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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE
FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS
CURSO DE DIREITO
Amanda Ribeiro da Costa
DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
Governador Valadares – MG
2011
AMANDA RIBEIRO DA COSTA
DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
Monografia para obtenção do grau de
bacharel em Direito apresentada à
Faculdade de Direito, Ciências
Administrativas e Econômicas da
Universidade Vale do Rio Doce.
Orientadora: Profª Ms.Beatriz Coelho
Governador Valadares - MG
2011
AMANDA RIBEIRO DA COSTA
DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
Monografia para obtenção do grau de
bacharel em Direito apresentada à
Faculdade de Direito, Ciências
Administrativas e Econômicas da
Universidade Vale do Rio Doce.
Governador Valadares, ______ de ___________________ de 2011
Banca Examinadora:
________________________________________________
Profª Ms.Beatriz Coelho
Universidade Vale do Rio Doce
_________________________________________________
Prof. Examinador
Universidade Vale do Rio Doce
_________________________________________________
Prof. Examinador
Universidade Vale do Rio Doce
Dedico em especial aos meus pais, pelo
apoio, incentivo e a grande torcida pela
concretização de mais uma graduação, aos
meus irmãos o apoio, aos meus cunhados
pelo carinho, aos meus sobrinhos pelo amor
e ao meu noivo pela força nessa longa
caminhada.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por mais esta conquista na minha
vida.
Quero agradecer as pedras preciosas da minha vida, meus pais MAURICIO e
ELOYSA, que nunca mediram esforços para fazer de mim uma pessoa feliz e
realizada.
Às minhas irmãs Adriana, Alessandra que estão presentes em todos os momentos
da minha vida e sempre me dando apoio em tudo.
Ao meu irmão Anderson que mesmo de longe torce por mim.
Aos meus cunhados André e Luzia pelo carinho.
Aos meus sobrinhos Fernandinha, Andrezinho e Enrico, os amores da minha vida
pela alegria que me contagia.
Ao meu noivo Nilo pelo amor e força nos momentos que mais precisei e por estar
sempre ao meu lado, torcendo por mim.
Aos meus amigos do curso em especial pelo companheirismo e amizade.
A minha orientadora Professora Beatriz pela dedicação e por compartilhar os
conhecimentos.
A todos, o MEU MUITO OBRIGADA!
Ninguém, pois, oprima ao seu
próximo; mas terás temor do teu Deus;
porque eu sou o Senhor, vosso Deus.
(Lev 24,17)
RESUMO
Neste trabalho é apresentado um assunto muito polêmico vivenciado na sociedade
que é a Descriminalização do aborto. Aborto é a interrupção da gravidez com a
destruição do produto da concepção. O produto da concepção pode ser dissolvido,
reabsorvido pelo organismo da mulher ou até mumificado, ou pode ainda a grávida
morrer antes da expulsão do feto. O aborto ele pode ser classificado em duas
espécies: espontâneo e provocado. Espontâneo é quando o aborto acontece
naturalmente e o provocado é quando a gravidez é interrompida por vontade da
mulher. Para muitos, a possibilidade de fazer o aborto não é totalmente amparada
pelo ordenamento jurídico e pela igreja católica. Por isso cada lugar busca
solucioná-lo da forma mais adequada ao meio em que vive, não esquecendo que as
leis são as mesmas. Assim, este estudo é para discutir os aspectos jurídicos da
legalidade do aborto de acordo com o Código Penal, Código Civil, posicionamentos
legais e religiosos, monografias, endereços eletrônicos e a Constituição Federal.
Palavras-chave: Aborto. Aspectos jurídicos.
ABSTRACT
This work a very controversial issue in society that exxperienced the
dercriminalização abortion. Abortion is the termination of pregnancy wity the
destruction of the product of conception. The product of conception can be dissolved,
reabsorbed y the body or even the mummified woman, pregnant or may even die
before the expulsion of the fetus. Abortion it can be classified in two species:
spontaneous or induced. Spontaneous abortion is when it happens naturally and is
caused when the pregnancy is interrupted by woman’s Will. For many, the possibility
of abortion is not fully supported by the legal system and the Catholic Church. So
every place seeking to fix it as appropriate to the environmet they live in, not
forgetting that the laws are the same. Thus, this study is to discuss the legal aspects
of the legality of abortion under the Criminal Code, Civil Code, legal and religious
positions, monographs, electronic addresses and the Federal Constitution.
Keywords: Abortion. Legal Aspects
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ABORTO E A SOCIEDADE ................................. 10
2.1 CONCEITO DO ABORTO ................................................................................... 12
2.2 CLASSIFICAÇÃO DO ABORTO ......................................................................... 13
3 CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO ......................................................................... 16
4 ABORTO SOB A VISÃO DO DIREITO ................................................................. 17
4.1 O ABORTO SEGUNDO O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO ................................ 17
4.2 O ABORTO PRATICADO POR MÉDICO ............................................................ 19
5 O ABORTO FRENTE Á POSTURA RELIGIOSA .................................................. 20
5.1 IGREJA CATÓLICA ............................................................................................ 20
5.2 IGREJA EVANGÉLICA........................................................................................ 22
5.3 ESPIRITISMO ..................................................................................................... 22
6 ARGUMENTOS EM FAVOR DA DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO ............. 23
6.1 ESTADO LAICO E DEMOCRÁTICO ................................................................... 23
6.2 JUSTIÇAS SOCIAIS E IGUALDADE DO GÊNERO ............................................ 24
6.3 SAÚDE PÚBLICA ................................................................................................ 25
6.4 A LIBERDADE SEXUAL ...................................................................................... 25
7 PROJETOS DE LEI SOBRE O ABORTO ............................................................. 27
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 30
9
1 INTRODUÇÃO
O aborto é um assunto muito discutido e polêmico por provocar muita
divergência de opiniões, principalmente na área médica e religiosa. Isto porque o
aborto abrange vários aspectos como as normas médicas, jurídicas e concepções
religiosas.
Mesmo depois de vários projetos de leis surgido ainda faltam muitas leis
serem aceitas pelo Estado. Mas foram feitas várias pesquisas e sempre as votações
estão a favor da vida e não ao aborto.
O aborto que realmente é aceito, é aquele quando a mãe corre risco de
morte, ou em caso de estupro.
E para o desenvolvimento do assunto acima especificado, este trabalho está
estruturado em seis capítulos. Sendo que o primeiro conceitua e classifica o aborto.
O segundo capítulo relata as consequências do aborto. O terceiro descreve o aborto
sob visão do Direito e da área médica. O quarto capítulo relata o aborto frente às
posturas religiosas. E no quinto são delineados os argumentos em favor do direito
ao aborto. E no sexto e último capítulo são apresentados projetos de leis referentes
ao assunto discutido neste trabalho. E por fim as considerações finais vêm
finalizando a prática do aborto no ordenamento jurídico brasileiro.
Por isso, é necessário desejar muito ter um filho para que os riscos inerentes
à gravidez e ao trabalho de parto possam ser suportados de bom grado e com
satisfação pela mulher e para que a criança seja acolhida com muito amor, afinal ela
é inocente.
O que esta sendo proposto neste trabalho é o poder do Estado em tutelar
essa modalidade que é o aborto, tratando de um assunto muito conflituoso , pois
esta sendo um tema bastante discutido na sociedade.
Portanto este trabalho tem como objetivo analisar a interrupção de alguns
casos da gravidez, primando por uma abordagem puramente jurídica, científica e
teórica, pois, foram realizados através de várias análises de conceitos, ideias,
posicionamentos legais e religiosos, Código Penal, Código Civil, Constituição
Federal, monografias, endereços eletrônicos para uma melhor compreensão sobre o
assunto aqui estudado.
10
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O ABORTO E A SOCIEDADE
Na sociedade brasileira o aborto é um dos temas que mais provoca polêmica,
pois possui inúmeros posicionamentos, encontrando desde os que defendem a
descriminalização completa da conduta até os que lutam pela sua proibição total e
incondicional.
Não é nova, nem territorial, a polêmica sobre o direito ao aborto. Vários
movimentos contra ou a favor, se apóiam em argumentos diversos quanto à
possibilidade jurídica ou não da interrupção da gestação.
A questão do aborto é bastante complexa, pois envolve questões de ordem
religiosa, jurídica e moral. Quem defende a realização do aborto é porque busca
proteger o direito da pessoa humana, pois existem vários casos de anomalias que
ao conceber um filho resultante de uma situação tão sofrida, gera um trauma para
mãe sustentar uma gestação, onde a criança não terá viabilidade.
Segundo uma pesquisa feita através do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística), o tema tem gerado interesse:
[...] 76% (setenta e seis por cento) da população é favorável ao aborto no caso de problemas congênitos incompatíveis com a vida, como é o caso da anencefalia, por outro lado, relativamente às hipóteses legalmente permitidas, 79% (setenta e nove por cento) da população são favoráveis ao aborto no caso de risco de morte para a mulher, enquanto que, 62% ( sessenta e dois por cento) apóiam com o aborto em causa de gravidez resultante de estupro [...] ( ÉPOCA, 2005, p.65).
Ainda na pesquisa do IBOPE, é apresentado que o Ministério Público estudou
diversos casos e opinou pelo deferimento do alvará em 201 e pelo indeferimento de
62. Mas o juiz decidiu pelo deferimento de 250 e pelo indeferimento de 13 casos.
Estas decisões foram embasadas por pareceres já aplicados anteriormente, tendo
situações parecidas.
Conforme esta pesquisa, a sociedade, bem como profissionais da área
jurídica foi favorável à interrupção da gravidez no caso de anomalias absolutamente
incompatíveis com a vida. Para aqueles que são contra o ato do aborto, o direito à
vida deve ser preservado a todo custo, buscando fundamentações jurídicas,
filosóficas e até religiosas. Em relação ao aspecto jurídico, buscam mostrar que a
Constituição Brasileira assegura o direito à vida como direito individual e indisponível
11
e que a vida surge na concepção, sendo que através do seu poder soberano, o
Estado tem o dever de garantir a vida a todos, inclusive àqueles portadores de
anomalias graves.
Para Alan Guttmacher Institute (1994), que participou da pesquisa do IBOPE,
considera o aborto clandestino em seis países da América Latina, inclusive o Brasil,
onde são utilizadas diversas técnicas para interromper a gravidez. E uma ampla
variedade de procedimentos populares praticados pelas próprias mulheres ou por
pessoas não capacitadas resultam em sérios riscos à saúde destas gestantes,
levando muitas vezes ao óbito materno.
Na investigação deste instituto foi estimado para 1991 um total de 1.443.350
abortamentos induzidos no Brasil, correspondendo a uma taxa anual de 3,65
abortamentos por 100 mulheres de 15 a 49 anos. O método consiste em utilizar,
como fonte dos dados, as internações por abortamento registradas no SIH-SUS, e
um multiplicador baseado na hipótese proposta que, no Brasil, 20% das mulheres
que induziram um aborto tiveram que ser hospitalizadas em consequência de
complicações. Foi também utilizado como fatores de correção um sub-registro de
12,5% e uma proporção de 25% de abortos espontâneos.
Os resultados mostram que houve uma redução de 38% no número de
abortamentos induzidos no Brasil: de 1.455.283 em 1992 para 1.066.993 em 1996,
mantendo-se neste patamar até 2005 (1.054.242 abortamentos induzidos). A grande
maioria (3 em cada 4 em 2005) destes casos ocorreu nas regiões nordeste e
sudeste do país brasileiro.
A taxa anual de abortamentos induzidos por 100 mulheres de 15 a 49 anos no
Brasil se reduz de 3,69 em 1992 para 2,07 em 2005, e o maior risco ocorre na região
nordeste com uma taxa de 2,73 em 2005, correspondendo, no entanto, a uma
redução de 50% em relação a 1992. A taxa mais baixa em 2005 (1,28/100) ocorre
na região sul.
Grande parte dos sistemas de saúde nos países em desenvolvimento,
independentemente da sua política em relação ao aborto induzido, não planeja
sistematicamente ou fornece atenção médica de emergência de maneira eficaz, para
mulheres que sofrem de complicações relacionadas ao aborto. Como resultado, o
tratamento frequentemente é atrasado e ineficaz, com graves consequências e
riscos à saúde da mulher (JHU – Population Information Program,1997).
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2.1 CONCEITO DO ABORTO
De acordo com o dicionário Silveira Bueno o conceito de aborto é:
s.m.[Med.]Ação ou efeito de abortar; interrupção de uma gravidez, abortamento;
[pop.] produção imperfeita,; monstro; coisa fora do comum.
A definição do aborto para o criminalista Fabbrini, (2001,p 93) é:
Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo (até três semanas de gestação), embrião (de três semanas a três meses) ou feto ( após três meses), não implicando necessariamente a expulsão. O produto da concepção pode ser dissolvido, reabsorvido pelo organismo da mulher ou até mumificado, ou pode a gestante morrer antes da expulsão.
Segundo Belo (1999, p.19):
Entende-se por aborto o ato de interromper o processo de uma gravidez com a conseqüente expulsão do feto do interior uterino. Etimologicamente, aborto quer dizer privação do nascimento. Advém do latim abortus, onde ab significa privação ortus, nascimento.
O aborto é caracterizado pela morte do feto, podendo ser de causas naturais,
acidentais ou criminosas. E só é considerado como crime quando não respeitadas
às normas dos artigos 124 a 127 do Código Penal Brasileiro. É importante salientar
que a partir da fecundação do óvulo já existe o embrião, e a interrupção da gravidez
independente do motivo já é considerado aborto.
Tratando-se que aborto é um problema vivenciado no mundo todo e vem
arrastando ao longo dos tempos. Por isso cada lugar busca solucioná-lo da forma
mais adequada ao meio em que vive, pois as leis são as mesmas. E com o tempo o
número de abortos e a mortalidade materna vêm crescendo cada vez mais. Como
consequência destes fatos, fez que nos últimos anos, praticamente todas as leis
referentes ao aborto passassem a permiti-lo, se não totalmente ou menos em
algumas situações especificas.
No período Imperial, evidenciou que:
[...] o Código Criminal do Império regulamentava a matéria em seu Título II – “Dos crimes contra a segurança individual” – Capitulo I –“ Dos crimes contra a segurança da pessoa e vida” – Secção III – “ aborto” – nos artigos 199 a 200. A sanção penal consignada nessas disposições pressupunha a prática de aborto por terceiro, com ou sem o consentimento da mulher (in artigo 199). Assim como o
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fornecimento, com o conhecimento de causa, de drogas ou quaisquer outros meios para fins abortivos ainda que a intenção não se realizasse (artigo 200). [...]
Neste período era lícito o auto-aborto, ficando a escolha da mulher se ela
queria ou não fazer o ato do aborto e se escolhesse realmente, ela era isenta de
punição legal. Na hipótese de aborto realizado através da intervenção de terceiros,
tendo como desfecho a morte da gestante, o Código Penal de 1831 era bem claro.
Remetia o fato às disposições geais sobre homicídio, atribuindo ao autor de delito
penas distintas, conforme a consciência ou não, da gestante, frente à prática das
manobras abortivas. (Costa, 1999).
Ao passar dos anos as alterações significativas ocorreram em 1890, 1940 e
1969. Atualmente o ordenamento jurídico brasileiro prevê duas modalidades de
manobras abortivas: as lícitas e as ilícitas, as quais estão elencadas nos artigos 124
a 129 do Código Penal.
O artigo 124 trata-se do auto-aborto, o qual se configura quando a gestante
queira por sua conta e risco, efetuar a execução do ato delituoso por meios químicos
ou físicos, independentemente de instigação ao auxílio de outrem.
Já o artigo 128 do Código Penal traz as duas formas legais de aborto no
Brasil que são: o aborto necessário ou terapêutico e o aborto sentimental ou em
decorrência de estupro. Vale à pena ressaltar que além da situação fática adequar-
se pelo menos uma das hipóteses relacionadas acima, é necessária que o ato seja
praticado por um médico sendo contratado para cuidar da paciente e em condições
sanitárias adequadas.
2.2 CLASSIFICAÇÃO DO ABORTO
O aborto é divido em duas espécies: espontâneo ou provocado.
O aborto espontâneo ou natural ocorre quando há a interrupção espontânea
da gravidez, portanto não consiste em crime. Ele é determinado por causas
intrínsecas, tais como: maternas (defeitos uterinos, moléstias, problemas
psicológicos, etc.), paternais e fetais (má- formação do feto).
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Surge quando a gravidez é interrompida sem que seja por vontade da mulher.
Pode acontecer por vários fatores biológicos, psicológicos e sociais que contribuem
para que esta situação se verifique.
Já o aborto provocado acontece quando é desencadeado por interferências
exteriores de médicos, parteiras ou pela própria mãe.
E os motivos apresentados para justificar o ato são as seguintes: a) motivo
terapêutico: considerado como necessário para salvar a vida da gestante quando
esta corre perigo. b) motivo eugênico ou eugenêsio é um tipo de aborto preventivo
executado em casos em que há suspeita de que a criança possa nascer com
defeitos físicos, mentais ou anomalias, implicando em uma técnica artificial de
seleção do ser humano.
Atualmente, há uma forte tendência para aceitar o aborto eugênico como
terapêutico ou necessário. A ética deste tipo de abortamento é fortemente
contestada em muitos países do mundo, mas é reconhecida como uma prática legal
em outros locais, sendo inclusive suportada pelo sistema público da saúde.
Existem outras espécies também que são o aborto acidental que também não
configura crime, e é aquele que decorre de traumatismo ou outro acidente. A outra
espécie é o aborto social ou econômico que é aquele em que o nascimento
agravaria a crise financeira social, sendo que nesta modalidade haverá crime, pois
não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro.
De acordo com o Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares
do SUS (SIH/SUS) a série histórica de 1992 a 2005 mostra que o número de
internações no SUS por abortamento reduziu-se rapidamente, passando de 344.956
internações em 1992 para 252.917 em 1996 (uma redução de 26,7 % em 4 anos),
mantendo-se com valores próximos a 250.000 até 2005.
Quando comparamos o número de abortos induzidos com o número de
nascimentos vivos, podemos ter uma ideia da alta proporção de abortos realizados
no Brasil. O número estimado de abortos induzidos, em 1992, era equivalente a 43%
dos nascimentos vivos, mostrando que uma elevada proporção das gravidezes não
foi desejada, levando estas mulheres a recorrer ao abortamento.
Esta proporção caiu para 31% em 1996, mas apesar de ter diminuído na
década de 1990, ainda os abortos correspondem a cerca de 30% dos nascimentos
em 2005. Isto consolida também a ideia de que a anticoncepção no Brasil ainda não
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atingiu um volume suficiente para evitar a elevada proporção de gravidezes
indesejadas.
É perceptível a redução no número de internações por abortamento
registradas pelo SUS entre 1992 (344.956 internações) e 2005 (250.447)
abrangendo os grupos etários de 15 a 49 anos, o que reduziu também a estimativa
do número de abortos induzidos (de 1.455.283 para 1.056.573), da razão por 100
nascimentos vivos (de 43% para 29%) e das taxas anuais destes abortos por 100
mulheres de 15 a 49 anos (de 3,69 para 2,07).
Observamos uma diferença regional importante, sendo o risco de abortos
induzidos por 100 mulheres de 15 a 49 anos nas regiões nordeste e centro-oeste
maior que o dobro deste risco na região sul. Provavelmente parte destas diferenças
pode ser atribuída a uma utilização maior e mais eficaz de medidas
anticoncepcionais pelas mulheres na região sul, o que diminui a ocorrência de
gravidezes indesejadas e consequentemente a necessidade de recorrer à indução
do aborto.
Apesar de haver uma redução no risco de abortamento induzido, ele é ainda
apresenta diferenças regionais importantes em consequência da baixa utilização de
medidas anticoncepcionais nas regiões norte e nordeste.
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3 CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO
As consequências do aborto são: perfurações, infecções, hemorragias
externas, anemias, inflamações do útero, que se manifesta por meio de dores ao
nível do baixo ventre e corrimento, o que exigirá tratamentos especializados, que
nem sempre são coroados de êxito. Irregularidades nas regras, com cólicas durante
e após o período menstrual. Frigidez sexual e a esterilidade definitiva da mulher.
Necessidade de histerectomia (extração total do útero). Esgotamento, perturbação
nervosas. Envelhecimento precoce, aparecimento do tétano, que sobrevém após um
período de incubação de 4 a 8 dias, com evolução geralmente aguda e ainda vários
estados septicêmicos de alta gravidade. (PAPELO, 1993)
A legalização do aborto por outros motivos que não seja o terapêutico, por
várias nações do mundo, decorre de diversos fatores que poderão trazer enormes
consequências sociais como:
a) crescimento da população;
b) educação;
c) escassez de alimento e fome;
d) despesas enormes em hospitais públicos em decorrência de abortos
clandestinos.
É evidente que essas preocupações são da esfera política. As autoridades de
todas as nações preocupam com o equilíbrio entre população, produção e consumo,
com o objetivo de evitar o caos social. A superpopulação traz como consequência
maior, a densidade demográfica como decorrência de inúmeros problemas de ordem
administrativa e de difícil solução, entre eles o problema de habitação, do trabalho e
da alimentação.
Considerando a dificuldade na esfera da família ocorre a mesma coisa. Um
casal de baixa renda com vários filhos se vê às voltas com as mesmas dificuldades
tendo como consequência a penúria, por falta de habitação adequada, trabalho
devidamente remunerado e alimentação adequada. Esta situação gera desespero,
aflição, marginalização, delinquência e ameaça à sociedade. Como o assunto já
constitui um grave enigma social, é natural que as autoridades sejam conduzidas e
até forçadas à legalização do aborto provocado.
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4 ABORTO SOB A VISÃO DO DIREITO
4.1 O ABORTO SEGUNDO O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
No nosso país a prática abortiva liberada é quando existem situações
extremas, como a gravidez de risco de morte para gestante e nos casos de estupro.
Isso consta no artigo 128 do Código Penal:
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário: Se não há outro meio para a vida da gestante. Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
De acordo com Rocha (2000), a prática do aborto quando cometida em
defesa da honra da gestante, ou seja, quando a grávida foi estuprada, é plenamente
justificável, de acordo com as leis referentes ao assunto. Em conflito com os direitos
de personalidade, aborda-se o direito ao uso do corpo da gestante violado, como
também seu direito à honra e à integridade física e psíquica, contrapondo-se com o
direito à vida do nascituro. Com isto, o constrangimento físico, a tortura psíquica, o
vexame social ao qual a vítima foi submetida, constituem a redução de sua
dignidade, dever constitucional do Estado para com ela.
É permitido também o aborto terapêutico, entretanto, com o avanço da
ciência, a tendência é diminuir os casos onde a prática do aborto será considerada
salvamento de vida ou da integridade física da gestante. Várias complicações serão
abolidas através de métodos da medicina moderna, sem muitos agravamentos à
gestante e ao nascituro.
A lei penal brasileira só admite aborto nestes dois tipos, sendo contra os
demais. De acordo com os artigos do Código Penal Brasileiro:
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 – Provocar o aborto em si mesmo ou consentir que outrem lho provoque: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 – Provocar aborto, sem consentimento da gestante: Pena – reclusão, de 3 (três ) a 10 (dez) anos. Art. 126 – Provocar o aborto com o consentimento da gestante: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
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Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (quatorze anos), ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido através de fraude, grave ameaça ou violência. Forma qualificada Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sobre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Um exemplo é o aborto de anencefálicos que de acordo com Supremo
Tribunal Federal – STF (2005), verificou-se que, na retomada do julgamento da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº54, os ministros
do Supremo Tribunal Federal analisaram no dia 27 de abril de 2005, o cabimento da
ADPF proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CTNS).
Por sete votos a quatro, os ministros resolveram dar sequência à tramitação do
processo no Supremo, para posterior decisão quanto à legalidade da interrupção de
gravidez de fetos anencefálicos (ausência de formação cerebral).
Segundo Freitas (2005), a gravidez do feto anencéfalo resulta em inúmeros
problemas maternos durante a gestação. A FEBRASCO – Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia – enumera tais complicações maternas,
dentre elas: eclampsia, embolia pulmonar, aumento do volume do líquido amniótico
e até a morte materna.
As complicações maternas mais comuns durante a gestação de fetos
anencéfalos de acordo com o autor são:
a) Prolongamento da gestação além de 40 semanas;
b) Associação com polihidrâmnio, com desconforto respiratório, estase
venenosa, edema de membros inferiores;
c) Associação com DHEG ( Doença Hipertensiva Especifica da Gestação);
d) Associação com vasculopatia periférica de estase;
e) Alterações comportamentais e psicológicas;
f) Dificuldades obstetrícias e complicações no desfecho do parto de
anencéfalos de útero (parto entre 38 a 42 semanas de gestação, tempo
considerado normal);
g) Necessidade de apoio psicoterápico no pós-parto e no puerpério;
h) Necessidade de registro de nascimento e sepultamento desses recém-
nascidos;
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i) Necessidade de bloqueio da lactação;
j) Puerpério com maior incidência de hemorragias maternas por falta de
contratilidade uterina;
k) Maior incidência de infecções pós-cirurgicas devido às manobras
obstétricas do parto de termo.
Acrescente ainda que cerca de 20% a 33% dos anencéfalos apresentam
outras malformações congênitas graves, incluindo defeitos cardíacos como
hipoplasia de ventrículo esquerdo, coarctação da aorta, persistência do canal
arterial, atresia pulmonar e ventrículo único.
Os fetos portadores dessa anomalia não viverão nem bem ou mal, vindo a
falecer logo após o parto. Por isso que a votação ficou de sete a quatro a favor do
aborto aquelas crianças que possui essa anomalia.
4.2 O ABORTO PRATICADO POR MÉDICO
Estão relacionados com o art. 128 do CP pois nele se pune o aborto praticado
por médico: I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II – se a gravidez
resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou III –
quando incapaz, de seu representante legal; como se vê, no Brasil, o abortamento é
crime. Somente nesses dois casos ele é permitido. Assim mesmo sob orientação
médica. O primeiro é a do chamado “aborto necessário”. Em regra, as legislações o
permitem, considerando-o caso de estado de necessidade, porque há dois
interesses em conflito: a vida biológica do feto e da mãe.
O segundo caso está relacionado com a violência de desastrosa
consequências psíquico para a mulher e para a família, requerendo a atenção do
médico e do jurista. A tendência, todavia, da maioria, ainda é considerar o aborto por
estupro como crime, porque a obrigação da mulher violentada é comunicar à polícia
e passar pelo posto médico para um exame preventivo, salvo em casos de
impedimento.
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5 O ABORTO FRENTE Á POSTURA RELIGIOSA
SANT’ANA (2005, P.25) relata que “partindo do princípio de que o direito à
vida é um dom recebido diretamente de Deus e que os homens são apenas
administradores dela, existe um consenso entre as crenças religiosas no que diz
respeito ao caráter sagrado da vida. Como consequência, proíbe-se qualquer
intervenção do homem sobre ela. Dessa forma, muitas religiões são contra a
interrupção da gravidez, ainda que o feto seja portador de anomalia fetal
incompatível com a vida.
ZIMMER (2010, P.25) refere-se que “o dogma religioso diz que a vida começa
a partir da fecundação, e este tem sido o principal argumento para o
aprofundamento da restrição e até mesmo à tentativa de se acabar com o direito
definitivo da interrupção da gravidez”.
Contudo, não pode servir tais discussões para fundamentar leis, políticas
públicas ou decisões do judiciário. Infelizmente, nos poderes legislativo, executivo e
judiciário, a intervenção das religiões, tem sido o principal empecilho para o avanço
das conquistas democráticas das mulheres.
5.1 IGREJA CATÓLICA
Desde início da sua história a mais de 2.000 anos a igreja católica define o
aborto como uma desordem moral grave. A igreja católica é a que tem a postura
mais radical sobre o aborto. Nem mesmo a interrupção da gravidez praticada para
salvar a vida da gestante foi considerada favorável pela igreja.
O papa Pio XII em 1944 no discurso a união médico-biológico na Itália,
excluiu todo aborto, isto é, qualquer ato que vise destruir diretamente a vida humana
ainda não nascida. (Casti connubbi, 1998).
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB se manifestou sobre a
decisão do STF acerca do aborto de anencéfalos, que diz que:
A CNBB acolheu com satisfação a decisão do Supremo Tribunal Federal que, no dia 20 de outubro de 2004, revogou a liminar concedida anteriormente por um Ministro do mesmo STF, permitindo
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o aborto dos bebês anencéfalos. A nova decisão reafirma o principio do pleno respeito à dignidade e à vida do ser humano, não importando o estagio de seu desenvolvimento, ou a condição em que ele se encontra. Esse princípio, que fundamenta todos os demais direitos da pessoa, é base e condição para a convivência social digna, justa e solidária. Ao mesmo tempo em que manifesta seu apreço a todos que, no cumprimento de sua missão cívica, buscam a defesa da vida e da dignidade humana no ordenamento jurídico brasileiro, a CNBB renova a disposição de prestar sua colaboração com as iniciativas éticas voltadas a afastar da convivência social todas as formas de violência e agressão à vida e à dignidade da pessoa, convidando todos os brasileiros e brasileiras a abraçarem, sem titubeios, esta nobre causa. ( AGNELO, 2004).
A CNBB baseia-se em razões antropológicas e científicas, acreditando que o
ser humano, independente da sua forma ou estágio, é pessoa humana, sujeito e
nunca uma coisa.
A igreja católica acredita que não é lícito encerrar prematuramente uma
gravidez, mesmo sabendo que o feto não terá chance alguma de sobreviver fora do
útero da mãe.
Ela se opõe ao aborto em nome da fé e da lei natural, que no íntimo de todo
ser proclama: “não matar o inocente”. Os católicos falam no bom senso pensando no
bem da sociedade.
Os direitos inalienáveis da pessoa devem ser reconhecidos e respeitados pela
sociedade civil e pela autoridade política. Os direitos do homem não dependem nem
dos indivíduos, e nem dos próprios pais.
O Concílio Vaticano II condenou o aborto com grande virilidade dizendo que a
vida deve ser protegida com extrema solicitude, desde o primeiro momento da
concepção, definindo o crime do aborto como abominável. O Código Canônico de
1917 previa para o aborto, a pena máxima látea sententia, ou seja, excomunhão
automaticamente. (PAULO II, 2.000)
Afinal, a igreja católica é uma das mais respeitadas instituições da história
mundial. Ela deixa claro que é contra qualquer tipo de violação a integridade do
homem, não admitindo em hipótese nenhuma o aborto, pois se trata de um crime
grave contra a moral da vida humana, independente da raça, cor, sexo.
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5.2 IGREJA EVANGÉLICA
Já a evangélica tem uma postura diferente, pois dá maior importância à vida
materna e admite o aborto terapêutico, mas não encara o aborto como método de
controle da natalidade e nem é favorável ao aborto eugênico quando há viabilidade
para o feto, mesmo portador de deficiência. O problema é complexo. Os direitos de
mãe e filho se igualam. Mas o estado de necessidade justificaria a morte do filho em
benefício da mãe.
Afinal, a igreja evangélica dá grande importância à vida da mãe, mas deixa
livre a questão para ser resolvida por médicos e pelos próprios pais.
5.3 ESPIRITISMO
A doutrina espírita é radicalmente contra o aborto, somente sendo aceita em
caso de perigo real da morte da mãe, pois se entende que o ser referido seja
encarnado no mundo, após o nascimento, não sendo assim, é entendido como
assassinato.
Pois, o ser que desenvolve no ventre materno, a partir da fecundação o óvulo
já é uma pessoa, sujeita de direitos e constituída de corpo e alma. A doutrina espírita
fala que o aborto impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de
instrumento o corpo que se estava formando. Alertando que antes de encarnar,
escolhe esta ou aquela prova (o nascimento em corpo defeituoso ou mesmo a morte
logo após o parto), como oportunidade de aprendizado e resgate de erros cometidos
no seu passado.
De acordo com Kardec (2000. P.78):
Constitui crime a provocação do aborto em qualquer período da gestação? - Há crime sempre que transgredida a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, porque isso impede a alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.
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6 ARGUMENTOS EM FAVOR DA DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
O reconhecimento da competência ética das mulheres para decidir sobre sua
sexualidade e reprodução é o princípio dos direitos humanos e da cidadania que
substancia os direitos sexuais e reprodutivos.
Isto significa a possibilidade que as mulheres exerçam a sexualidade livre da
descriminação, coerção e violência e que tenham os seus direitos garantidos à
concepção, à proteção da maternidade, à anticoncepção, e à interrupção de uma
gravidez não desejada ou não planejada.
Este fundamento coincide com os princípios constitucionais de direito à
liberdade e privacidade. Os direitos sexuais e reprodutivos não são apenas
prerrogativas negativas, ou seja, que restringem a ingerência do Estado sobre a
liberdade e privacidade individual.
São considerados também direitos sociais, em especial no que se refere ao
princípio constitucional de direito à saúde. Como consequência disso cabe ao
Estado oferecer as condições necessárias para que eles sejam exercidos
plenamente. A imposição que as mulheres levem adiante a gravidez indesejada e a
criminalização da sua interrupção, com eventual condenação à prisão quando
recorrem ao aborto, desrespeita sua capacidade de decisão autônoma como pessoa
e infringem seus direitos à liberdade, privacidade e bem estar.
6.1 ESTADO LAICO E DEMOCRÁTICO
Desde o séc. XIX, o Estado brasileiro não possui uma religião oficial,
mantendo-se neutro e imparcial no que se referem os temas religiosos. O princípio
laico garante o respeito à livre associação religiosa, mas não autoriza qualquer
descriminalização religiosa a impor concepções morais sobre as leis e políticas
públicas.
Nos países que o aborto é liberado, esse direito é estendido a todas as
cidadãs, independente de sua adesão ou não a qualquer credo religioso. Por outro
lado as legislações restritivas, como a brasileira, impedem que mulheres exerçam
seu direito de escolha.
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Os princípios constitucionais e a qualidade laica do Estado são pressupostos
da democracia.
É irracional supor que milhares de mulheres que recorrem ao aborto ilegal a
cada ano no Brasil sejam condenadas e encarceradas. Ao contrário do que sugerem
as posições dogmáticas, a criminalização não protege a vida do feto e, sobretudo,
implica riscos e danos para as mulheres. Nesse sentido, desrespeita seu direito a
uma vida digna e plena.
6.2 JUSTIÇAS SOCIAIS E IGUALDADE DO GÊNERO
Os efeitos da criminalização do aborto distribuem de modo desigual na
sociedade brasileira. A pobreza representa maior vulnerabilidade para as mulheres
que recorrem ao aborto clandestino, sem condições de buscar procedimentos
seguros. A desigualdade atinge especialmente as mulheres muito pobres, negras e
jovens. A pobreza representa também maior vulnerabilidade às denúncias, punições,
humilhações e abusos quando recorrem aos serviços públicos de saúde com
abortamento incompleto, por medo muitas vezes de evitar chegar aos serviços.
A desigualdade entre gêneros está presente na prática sexual. Nem sempre
as mulheres podem negociar o sexo, ou seja, dizer sim ou não. Muitas vezes a
gravidez indesejada resulta desta incapacidade.
As mulheres não engravidam sozinhas, mas a criminalização do aborto isenta
os homens de sua responsabilidade. Isto significa desrespeito aos princípios de
igualdade entre homens e mulheres.
O aborto é um procedimento médico que responde a uma necessidade de
saúde específica das mulheres. Ao negar este acesso, o Estado infringe o princípio
de não descriminação em razão do gênero.
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6.3 SAÚDE PÚBLICA
O aborto inseguro é um grave problema de saúde pública que contribui para
os altos índices de mortalidade e enfermidade materna.
Realizado em condições inseguras nas clínicas clandestinas o procedimento
oferece às mulheres graves riscos a sua saúde, como a perfuração do útero. Sofrem
sequelas permanentes, como infertilidade e histerectomia (retirada do útero) sendo
esta última a quinta causa de internação hospitalar de mulheres no Sistema Único
de Saúde – SUS.
Na perspectiva da saúde pública a legalização do aborto não pode ser
adotada como medida isolada. Precisa ser acompanhada de políticas amplas e
efetivas de saúde reprodutiva que garantam acesso ao pré-natal, parto, puerpério,
assistência à anticoncepção, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis –
inclusive Aids – e outras necessidades de mulheres ( e de homens) relativas a este
campo da saúde.
A gravidez indesejada não decorre apenas do sexo forçado ou
“irresponsável”, como se costuma dizer. A tecnologia contraceptiva atualmente
disponível tem efeitos colaterais e ainda não apresenta limites no que se refere à
eficácia.
6.4 A LIBERDADE SEXUAL
A criminalização do aborto busca força para as mulheres que engravidam a
levar a gestação até ao final. É uma medida de “maternidade compulsória” cuja
lógica é fortemente influenciada pela doutrina católica, que só admite o sexo para a
procriação. Prega não apenas a condenação criminal do aborto como a interdição do
uso de qualquer método anticoncepcional, exceto os considerados “naturais”. A
criminalização sistemática do aborto é uma estratégia moral e legal de controle da
sexualidade das mulheres, já que apenas elas engravidam nas relações sexuais. .
Ao observar que em vários países, como no Brasil, o aborto é permitido no
caso do estupro confirma-se este traço de controle. Na origem, esta exceção não
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tem como objetivo proteger a integridade das mulheres, mas evita o nascimento de
uma criança cuja existência poderia ameaçar a “honra” e o patrimônio familiar.
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7 PROJETOS DE LEI SOBRE O ABORTO
Uns anos atrás, vários projetos de leis sobre aborto foram surgindo para
satisfazer conveniências, ou até para abrigar interesses desnecessários. A história
nos traz exemplos, que hoje com a consciência moral mais esclarecida passamos a
ver nitidamente o absurdo das mesmas.
Muitos desses projetos estão logo abaixo com seus respectivos objetivos:
a) Projetos PL 1135 e PL 21, ambos descriminalizam o aborto em geral e na
votação que teve com o bloco do governo ficou de 33 x 0. Assim, 33 dos
33 deputados que compuseram a Comissão de Seguridade Social e
Família da Câmara dos Deputados - CSSF votaram sim à vida;
b) Projeto de lei nº 660/07, acrescenta inciso ao art. 128 do Decreto – lei nº
2.848, de 07 de dezembro de 1940 – Código Pena. Explicação: isenta de
pena a prática de aborto terapêutico em caso de grave e incurável
anomalia do feto, incluindo o anencéfalo, que implique na impossibilidade
de vida extra-uterina.
c) Projeto de lei nº 478/07, dispõe sobre o Estatuto e dá outras providências.
Explicação: Altera o Decreto-lei nº 2.848, de 1940 e a lei nº 8.072 de
1990.
d) Projeto de lei nº 7.443/06, dispõe sobre a inclusão do tipo penal de aborto
como modalidade do crime hediondo. Explicação: Altera a lei nº 8.072 de
1990.
e) Projeto de lei nº 5.364/05, dispõe sobre a punibilidade do aborto no caso
de gravidez resultante de estupro.
f) Projeto de lei nº 5058/05, regulamenta o artigo 226 paragrafo 7º da
Constituição Federal, dispondo sobre a inviolabilidade do direito à vida,
definindo a eutanásia e a interrupção voluntária da gravidez como crimes
hediondos, em qualquer caso.
g) Projeto de lei nº 4.834/05, acrescenta inciso ao artigo 128 do Decreto – lei
nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Explicação ementa: isentando de
punição o aborto provocado por médico quando o feto é portador de
anencefalia comprovada por laudos independentes de dois médicos.
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h) Projeto de lei nº 4360/04, acrescenta inciso ao artigo 128 de Decreto – lei
nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 – Código Penal. Isentando de pena
a prática de “aborto terapêutico” em caso de anomalia do feto, incluindo o
feto anencéfalo que implique em impossibilidade de vida extra-uterina.
Esses projetos citados acima estão em andamento ainda esperando uma
resposta mais concreta da parte superior.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, que mesmo o aborto sendo um assunto bastante discutido se
constitui em um dos grandes problemas atuais, provocando muita divergência de
opiniões, principalmente na área médica e religiosa.
A Constituição, realmente, exige a preservação e a tutela da vida, todavia,
acrescenta, “com dignidade”. Exigir que a mãe carregasse seu ventre um ente, sem
qualquer chance de sobrevida, como é o caso de várias anomalias. Não é só matar
a mãe psiquicamente como constrangê-la ao sofrimento dramático que ninguém tem
o direito de impor-lhe algo que não queira.
Assim proibir o aborto no caso de anomalia e risco de morte da mãe não é
admissível em um Estado Laico desde que seja comprovado com laudos médicos.
Com a permissão, cada um terá o direito de escolher, e poderá agir de acordo com a
sua crença, já com a proibição, a fé de alguns é imposta a todos constituindo
tratamento desumano e inadmissível tortura, psicológica e emocional.
Depois das pesquisas através das doutrinas, sites, monografias e outros
deram para notar profundas alterações no comportamento e nas condições que se
estabelecem na vida cotidiana nos dias presentes, a exigir mecanismos eficazes de
proteção à pessoa humana.
Num Estado democrático de direito, respeitado e guardião das liberdades e
dos direitos fundamentais, e inconstitucionalmente separado de qualquer igreja,
todos são, ou têm o dever de serem laicos. Laicos no sentido de preservar a
separação entre o que é valor pessoal e o efetivo exercício do direito, em relação ao
direito do aborto.
Afinal, após um parto deve surgir a vida com amor e dignidade e não ser um
funeral (morte) ou uma criança que carregue o peso por não ser bem vinda na
família.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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