aborto completo

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Introdução • O Direito ampara a vida humana desde a concepção. • Com a formação do ovo, depois embrião e feto, começam a tutela, a proteção e sanções da norma penal, porque daí em diante se reconhece no novo ser uma expectativa de personalidade a qual não poderia ser ignorada pela lei. • A destruição da vida humana intra- uterina até os instantes que precedem o parto constitui crime de aborto. Assim aborto criminoso é a morte dolosa do ovo.

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Page 1: Aborto Completo

Introdução• O Direito ampara a vida humana desde a

concepção.• Com a formação do ovo, depois embrião e feto,

começam a tutela, a proteção e sanções da norma penal, porque daí em diante se reconhece no novo ser uma expectativa de personalidade a qual não poderia ser ignorada pela lei.

• A destruição da vida humana intra-uterina até os instantes que precedem o parto constitui crime de aborto. Assim aborto criminoso é a morte dolosa do ovo.

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• Entende-se por ovo em Medicina Legal– produto normal da concepção até o momento do

parto.Esse conceito difere do de

• Obstetrícia, que considera como – Parto prematuro: >22 semanas <37 semanas• E que antes desse período classifica o Aborto em

– ovular, embrionário e fetal

• Parto prematuro é a expulsão do feto viável, antes do seu completo desenvolvimento. Em medicina legal, no que se refere ao aborto, a idade do produto da concepção não tem

interesse. É aborto independente da idade.

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• No Direito brasileiro, a codificação penal distinguiu quatro formas de aborto plenamente diferenciadas pela natureza do agente e pela existência ou não do consentimento da gestante:

• aborto provocado pela própria gestante,• aborto provocado sem o consentimento desta,• aborto provocado com o seu consentimento,• aborto realizado pelo médico.

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• Aborto, na definição de Júlio Fabbrini Mirabete:

“É a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo (até três semanas de gestação), embrião (de três semanas a três meses) ou feto (após três meses), não implicando necessariamente sua expulsão”.

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• Discute-se qual o termo mas correto: “aborto” ou “abortamento”. • Aborto é o produto expelido • Abortamento é o atoEm Medicina Legal, não há aborto sem abortamento,

pois o aborto espontâneo pertence ao estudo e à aplicação da Obstetrícia. Por outro lado, pode haver a tentativa de abortamento sem aborto.

A codificação penal ao incriminar o aborto não distingue entre ovo, embrião ou feto. Sempre que ocorrer intencionalmente a morte do concepto ou sua expulsão violenta seguida de morte está configurado o crime de aborto.

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• O crime de aborto consuma-se com a interrupção da gravidez e a morte do feto, mas a morte não precisa ser instantânea, ela pode se consumar depois. E a codificação penal ao incriminar o aborto não distingue entre ovo, embrião ou feto. Sempre que a gravidez for interrompida dolosamente, está configurado o crime do aborto.

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• A codificação penal vigente, pune-se no artigo 124, a mulher que praticou em si mesma ou permitiu que lhe praticassem o aborto. O artigo 125 estabelece o rigor da pena pelo aborto não consentido. No artigo 126 pune a lei qualquer pessoa que pratique, na gestante, o aborto, mesmo com o seu consentimento.

• O estatuto penal estabelece, no artigo 128, o aborto médico ou aborto necessário nos casos de perigo de vida da gestante ou quando resultou de estupro.

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Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

•Aborto necessárioI - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estuproII - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

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Aborto Terapêutico

• Realizado pelo médico para salvar a vida da gestante, encontra guarida no estado de necessidade, quando, para se salvar a vida da mãe (bem maior), cujo valor é mais relevante, sacrifica-se a vida do filho (bem menor).

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• O estado de necessidade de terceiro que permite ao médico o direito de praticar o aborto terapêutico deve ser aludido quando:– A mãe apresenta perigo vital– Este perigo esteja sob a dependência direta da

gravidez– A interrupção da gravidez faça cessar esse perigo para

a vida da mãe– Esse procedimento seja o único meio capaz de salvar

a vida da gestante– Sempre que possível, com a confirmação ou

concordância de outros dois colegas.

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• É lícito o aborto terapêutico em determinadas condições e independem do consentimento da gestante ou de terceiros, pois essa prática pode estar em um estado de tal gravidade que a lei já ampara plenamente e a Medicina conceitua como de indispensável intervenção.

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Aborto Sentimental

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• Sempre que houver processo criminal em andamento, antes de o médico praticar o aborto, é aconselhável obter autorização do juiz ou dos representantes do Ministério Público, cujo consentimento deixará o profissional em situação de não lhe caber, no futuro, nenhuma responsabilidade.

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Aborto Eugênico

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• Atualmente vem-se insistindo na interrupção da gravidez até a 24ª semana, por indicação médica, nas gestantes cujo produto da concepção seja portador de condições capazes de determinar alteração patológica incompatível com a plenitude da vida e sua integridade na sociedade.

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Distinção Entre Feto Malformado e Inviável

• As malformações fetais, dependendo da gravidade, não provocam a morte do feto ao nascer. Ainda que se encontram presentes anomalias congênitas, é possível que o feto malformado sobreviva, porém com certas limitações no que diz respeito a sua qualidade de vida

• A malformação pode ser tão severa, ou estar associada a outras anomalias, que torna o feto inviável, ou seja, o prognóstico morte é certo e irreversível. São casos, por exemplo, em que um ou vários órgãos vitais (tais como o cérebro, bexiga ou rins) não se formam ou são malformados.

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• O aborto seletivo em fetos anencefálicos não pode ser incluído entre os chamados “abortos eugênicos”, pois estes evitam o nascimento de crianças com graves defeitos físicos ou perturbações psíquicas, ao passo que aquele apenas promove a interrupção de uma gravidez cujo feto não tem nenhuma condição de vida autônoma.

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Sobre anencefalia

São exemplos de malformações decorrentes de erros de fechamento do tubo neural, que impossibilitam a vida extra-uterina:

• anencefalia: é definida pela ausência dos hemisférios cerebrais e do crânio. Podendo ou não ser acompanhada por espinha bífida e polidrâmnio. Não se formam as partes anterior e central do cérebro.

• acrania: corresponde à ausência do crânio, na presença de um cérebro malformado.

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CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária do Conselho Federal de Medicina realizada em 10 de maio de 2012,

resolve:

• Art. 1º Na ocorrência do diagnóstico inequívoco de anencefalia o médico pode, a pedido da gestante, independente de autorização do Estado, interromper a gravidez.

• Art. 2º O diagnóstico de anencefalia é feito por exame ultrassonográfico realizado a partir da 12ª (décima segunda) semana de gestação e deve conter:

I - duas fotografias, identificadas e datadas: uma com a face do feto em posição sagital; a outra, com a visualização do polo cefálico no corte transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de parênquima cerebral identificável;

II - laudo assinado por dois médicos, capacitados para tal diagnóstico.

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• Art. 3º Concluído o diagnóstico de anencefalia, o médico deve prestar à gestante todos os esclarecimentos que lhe forem solicitados, garantindo a ela o direito de decidir livremente sobre a conduta a ser adotada, sem impor sua autoridade para induzi-la a tomar qualquer decisão ou para limitá-la naquilo que decidir:

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Aborto Social

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Aborto por motivo de honra• Proteção à honra e a reputação, nessa forma de aborto, a

mulher coloca-se na difícil situação de manter a honra e preservar o fruto do seu afeto. De início, o amor sobreleva-se à honra e surge a gravidez, em seguida, a honra sobrepõe-se ao amor e impõe-lhe a destruição do filho.

• É a causa mais freqüente de aborto, e é justificado pela defesa da honra, ocorre geralmente de maneira clandestina e é onde se registra os maiores índices de morte entre as mulheres. Neste caso geralmente não é punido quem pratica tal ato, pois ocorre na clandestinidade.

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Clonagem para fins terapêuticos

• Geneticistas e embriologistas vêm propondo técnicas capazes de produzir a clonagem de seres humanos a partir de manipulação de embriões humanos.

• Os defensores dessa ideia afirmam que só há vida humana após a nidação (10º ao 14º dia), antes desse período seria vida biológica.

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Meios abortivos• As substâncias toxicas podem ser de orignes vegetal e mineral .

Entre as de origem vegetal, tem sido largamente usada • Tóxicos– Vegetal• Jalapa, sene, sabina, apiol, arruda, quinino, centeio

espigado, cabeça-de-negro, quebra-pedra.– Entre as substancias de origem mineral, as de emprego mais

largo foram.– Mineral• Fósforo, arsênico, antimônio, bário, chumbo e mercúrio.Intoxicando a gestante sem o aborto, com o aborto, aborto e

morte da mulher , e morte do ovo com aborto

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•Mecânicos-Diretos

usados na cavidade vaginalTamponamentos, duchas alternadas de água fria e quente, cópulas repetidas

colo do útero Cauterização, esponjas, dilatadores mecânicos, laminárias colocadas no canal cervical com finalidade de dilatá-lo

cavidade uterinaPunção das membranas,

Sondas de borracha, agulhas de croché, penas de ganso, varetas de bambu, palitos de picolé.

-IndiretosTraumatismos abdominais

Massagens ou compressas do ventre

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• A curetagem é o meio mais largamente usando, principalmente pelos abortadores que tem nessa técnica uma manobra rápida e de fácil execução

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Complicações do aborto criminoso

• As complicações são as mais variáveis e se mostram de considerável interesse médico-pericial, resultando lesões corporais de natureza leve ou grave, ou até mesmo a morte.

• Quando o meio empregado para o aborto é o mecanico, as eventualidades são as mais diversas. As mais graves são embolias gasosas devido à entrada de ar na veias uterinas, as perfurações de útero, as leões de alça intestinais e peritonite, a gangrena uterina, o tétano pós-aborto.

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• Lesões simples podem comprometer a parede vaginal, os fundos de saco vaginais, o colo ou simplesmente o útero.

• A necessidade de distinguir as perfurações das ruturas:– Perfurações: há sempre um trajeto retilíneo– Ruturas: na grande maioria, ocorrem no final da

gestação e estão mais situadas no segmento inferior ou corpo uterino, trajeto tortuoso há bordas irregulares

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Perícia

• O diagnóstico de aborto criminoso é delicado e complexo, necessitando, por isso, de um cuidado maior por parte do perito.

• Para tanto, é necessário considerar o exame da vitima (comprovação da gravidez e das lesões), a distinção com os abortos patológicos e traumático, a comprovação da prática abortiva, a identificação do meio causador e o exame dos restos fetais.

Page 31: Aborto Completo

Exame da vítima

Lesoes genitais ou extragenitaisEvidencia do diagnostico de gravidez – pois

aborto só se configura na mulher gestante.

(Comprovação da gravidez e das lesões)

• A distinção com os abortos patológico e traumático, a comprovação da prática abortiva, a identificação do meio causador e o exame dos restos fetais.

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Aborto recente na mulher viva

– Biópsia da mucosa uterina à procura de formações de vilosidades coriais.

– Examinar seios (pigmentação areolar, rede venosa de Haller, tubérculos de Montegomery e secreções), cloasma, linha nigra, hipertricose etc.

– Exame de genitália: edema dos grandes e pequenos lábios, lóquios serssanguinolentos ou serosos, excepcionalmente lesões do períneo e da fúrcula, presença do objeto usado, lesões do colo do útero deixadas pelas pinças de Museaux.

Page 33: Aborto Completo

Aborto antigo na mulher viva

• Quanto mais antigo mais difícil será a perícia

• Restos antigos de membranas, cicatrizes de fúrcula ou de vagina e roturas himenais não são elementos que possam justificar a prática abortiva

Page 34: Aborto Completo

Aborto recente em mulher morta

• Estudo orientado para órgãos internos– Forma e tamanho das lesões e a disposição do

colo uterino, a existência de lesões e secreções do leito uterino, as dimensões e a forma do corpo uterino. O perimétrio que normalmente é liso, úmido e brilhante apresenta-se no aborto espessado e lacerado.

Page 35: Aborto Completo

Aborto antigo na mulher morta

• Resultados na maioria das vezes são inconciliáveis com um diagnóstico de certeza de aborto criminoso.

Page 36: Aborto Completo

Exclusão do aborto espontâneo e do aborto traumático

• Espontâneo (patológico)– Considerar todas as patologias da gravidez e as

patologias maternas

• Traumático– Levar em conta as lesões traumáticas existentes

em regiões diversas do aparelhos reprodutor feminino

Page 37: Aborto Completo

Evidências de provocação do aborto

• Evolução do aborto– Cores mais intensas e hemorragias mais prufusas,

expulsão parcial dos restos ovulares e evolução clínica mais lenta

• Lesões maternas– Lesões produzidas por ação química, térmica ou

mecânica

Page 38: Aborto Completo

Identificação do causador

• Com finalidade de caracterizar com precisão o carater doloso do aborto.

• Indicar o instrumento ou meio utilizado para prática abortiva no sentido de buscar identificação com a prática ou com a vítima como, por exemplo, a pesquisa de vilosidades coriais em sondas ou instrumentos utilizados

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Exame dos restos fetais

• Evidencia de lesões vitais ou post mortem

– Não se deve esquecer de mandar a exame os restos fetais, principalmente para se diagnosticarem evidências de lesões vitais ou post mortem

Page 40: Aborto Completo

QUESITOS NA PERÍCIA DO ABORTO CRIMINOSO

• NA VIVA:– se há vestígio de provocação de aborto e se é recente– qual o meio empregado, tem valor inestimável afim

descaracterizar o ato doloso– se, em conseqüência do aborto ou do meio empregado

para provocá-lo, sofreu a gestante incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente, ou perda, ou inutilização de membro, sentido e função, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou deformidade permanente.

– se a gestante é alienada, ou débil, ou menor de 14 anos.

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QUESITOS NA PERÍCIA DO ABORTO CRIMINOSO

NA MORTA (após necropsia):– se houve morte– se a morte é precedida de provocação de aborto– qual o meio empregado para a provocação do

aborto– qual a causa morte– se a morte da gestante sobreveio em

conseqüência ou do meio empregado para provocá-lo

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Laudo médico-legal do aborto (protocolo)

1. Comprovação da gravidez.2. Comprovação da existência de aborto:

a) Aborto em gravidez incipiente: Ausência de sinais de probabilidade; microbiópsia da mucosa uterina – formação de vilosidades coriais;

b) Aborto em gravidez avançada: Na viva: Sinais de probabilidade, testes biológicos e histopatologia dos restos ovulares e membranosos. Na morta: Exame de corpo lúteo ovariano, das lesões e modificações uterinas e da presença de embolia das células trofoblásticas em vasos do pulmão:

c) Aborto de gravidez antiga: restos de membrana, cicatrizes e de fúrcula e períneo (na viva). Estudo do útero e dos ovários (na morta)

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3. Excluir a origem patológica ou acidental:a) Aborto patológico (patologia da gravidez, patologia

materna);b) Aborto acidental (traumas físicos, traumas psíquicos).

4. Comprovar a prática do aborto:a) Provar que foi provocado:

a.1) Evolução (dores, hemorragias, expulsão e evolução clínica);

a.2) Lesões maternas (lesões mecânicas, químicas e físicas).5. Exame dos restos fetais:

a) Lesões vitais ou post mortem.6. Exame do instrumento suspeito.7. Comprovação presença de vilosidades coriais.