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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JAQUELINE ALVES DA SILVA A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

JAQUELINE ALVES DA SILVA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA

CURITIBA

2014

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JAQUELINE ALVES DA SILVA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel. Orientador: Prof. Msc. Daniel Ribeiro Surdi de Avelar

CURITIBA

2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

JAQUELINE ALVES DA SILVA

A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____ de ____________________ de 2014.

________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________ Prof.

Orientador Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________ Prof.

Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________ Prof.

Banca Examinadora Universidade Tuiuti do Paraná

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AGRADECIMENTOS

Começo por agradecer o nosso pai todo poderoso, pois é ele que nos dá o sopro da vida a cada amanhecer, ele com sua infinita bondade que nós carrega no colo nos momentos de dificuldades, quando pensamos em desistir, quando achamos que não vamos dar conta. A ti Senhor a minha eterna gloria. Agradeço especialmente ao meu orientador e mestre Dr. Daniel Ribeiro Surdi de Avelar, por ter aceitado essa missão de orientar esta acadêmica, tão indisciplinada. Mas que graças a suas aulas, seu amor por ensinar despertou em mim a paixão pelo processo penal. Certa vez eu lhe disse que havia escolhido estudar direito pela curiosidade em conhecer o Tribunal do Júri, e mal sabia você que estava realizando esse grande sonho quando lhe fui fazer uma pergunta ao final de uma aula, e você me perguntou se eu não tinha interesse em estagiar no Tribunal do Júri, não pode imaginar a felicidade que de mim tomava conta naquele momento, quase na reta final do curso, após ter adquirido bagagem o suficiente para entender a grandeza desse órgão. E te digo cada dia nesse estágio foi único e apaixonante, e levarei por toda vida tudo o que lá vivi e aprendi. Obrigada por tudo o que me ensinou, pelos conselhos, pelos convites a palestras e principalmente pela paciência. É graças a esse carisma e dedicação como professor que é bem quisto por todos os seus alunos. Agradeço também a querida professora Aline Guidalli Pilati que foi minha professora de Direito Penal logo que cheguei à Universidade Tuiuti, e posteriormente nas aulas de processo penal. Sempre amável e com muita dedicação em sua missão de ensinar. Enfim a todos os professores dessa querida instituição, que em algum semestre passaram para dividir o seu conhecimento. Obrigada.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a um anjo muito especial enviado por Deus. Pois foi graças a sua ajuda que esse sonho se tornou realidade. Serei eternamente grata por esse gesto tão sublime, pelas oportunidades, pelas conversas, pela paciência, por todos os bons e maus momentos passados. Sinto-me feliz por Deus ter colocado essa alma tão iluminada em minha vida, serei sempre admiradora desse pai e esposo maravilhoso que tu és, sempre dedicado e buscando o melhor para sua família, e foi sempre como a figura de um pai zeloso que o vi, por isso da denominação carinhosa de padrinho. Obrigada por essa oportunidade inigualável, porque o conhecimento é algo que ninguém pode nos tirar. Dedico também aos dois grandes homens da minha vida, já “in memória”, meu pai Pedro e meu tio e padrinho João Luiz, sei que onde estiverem vocês estarão ao meu lado me acompanhando, afinal, muitas foram às dificuldades ao longo dessa estrada, momentos de medo, desespero, alegrias, mas sei que se não fosse por uma grande força nada disso seria possível. Afinal, a morte é apenas uma passagem para o outro mundo. Dedico por fim a minha tia e madrinha Cicera, minha mãe Sonia, meu padrasto Vicente, Valderez que estiveram ao meu lado, principalmente com orações e correntes positivas. Aos meus amigos: Juliane, Fernanda, Priscila, Eluide, Izabele, Rodrigo, Alzidemilson,Carlos, Eloi, Vitor e Alcimar Garrett, não tenham dúvidas de que vocês fazem parte dessa grande conquista cada um com sua cota de participação, mas não menos importante. Mesmo porque não é fácil chegar de outra instituição e ter várias salas. Dedico a todos os meus familiares, amigos e colegas que direta ou indiretamente torceram por essa conquista. Muito obrigada a todos.

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Recebei a instrução e não o dinheiro. Preferi a ciência ao fino ouro,

Pois a Sabedoria vale mais que as pérolas E jóia alguma a pode igualar.

(BIBLIA SAGRADA, 1999, Provérbios 8:10-11).

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo analisar a decisão de impronúncia, sua forma de aplicação, bem como sua (IN)Constitucionalidade dentro do nosso atual ordenamento jurídico, tendo como base toda sua evolução histórica, princípios e garantias Constitucionais.

Palavras-chaves: Tribunal do Júri. Decisão de Impronúncia. Inconstitucionalidade.

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LISTA DE SIGLAS

AC Apelação Criminal

CADH Convenção Americana de Direitos Humanos

CF/88 Constituição Federal de 1988

CPP Código de Processo Penal

HC Habeas Corpus

RSE Recurso em Sentido Estrito

STF Supremo Tribunal Federal

TJDF Tribunal do Distrito Feeral

TJPR Tribunal de Justiça do Paraná

TJRJ Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI ...................................... 11

2.1 SURGIMENTO DO JÚRI NO BRASIL ............................................................ 12

2.2 TRIBUNAL DO JÚRI E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .................... 13

3 PROCEDIMENTO PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS

CONTRA A VIDA ........................................................................................... 20

4 A DECISÃO DE IMPRONÚNCIA ................................................................... 24

4.1 CONCEITO ..................................................................................................... 24

4.2 CONTEÚDO E FUNDAMENTAÇÃO .............................................................. 26

4.3 RECURSOS ................................................................................................... 26

4.4 PRAZO ........................................................................................................... 27

4.5 IMPRONÚNCIA E EFEITOS CIVIS ................................................................ 27

4.6 CRIMES CONEXOS ....................................................................................... 28

4.7 DESPRONÚNCIA ........................................................................................... 29

4.8 POSSIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DE NOVO PROCESSO ..................... 32

4.9 A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA IMPRONÚNCIA À LUZ DE ALGUNS

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................................ 34

4.9.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ................................................... 36

4.9.2 Princípio da Presunção de não Culpabilidade ............................................... 36

4.9.3 Princípio da Celeridade e da Duração Razoável do Processo ....................... 37

4.10 INCONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA .................. 38

5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 42

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44

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1 INTRODUÇÃO

Ao findar a graduação acadêmica, já na expectativa de conquistar o tão

almejado diploma, e reunir os familiares e amigos para comemorar mais uma etapa

vencida, tem-se a difícil missão de escolher um tema para dissertar, sendo esse pré

requisito para a conclusão do curso.

E nessa hora o desespero invade, afinal, quantos assuntos apaixonantes,

polêmicos e conflitantes nos são passados durante o decorrer dessa caminhada

acadêmica.

Justamente por conhecerem esse pânico que arrebata o discente, é dado o

auxilio de um orientador, escolhido para assessorar nessa escolha tão difícil.

E foi com a orientação do grande mestre que surgiu a ideia de falar sobre a

(IN)Constitucionalidade da Decisão de Impronúncia.Mas, para entender sobre esse

tema, é importante conhecer a sua história. Dessa forma, debruçar-se-á sobre a

riquíssima doutrina existente, para conhecer um pouco mais sobre ela.

A impronúncia é uma das mais importantes decisões tomada pelo

magistrado após a conclusão de todos os atos da audiência de instrução e

julgamento, com encerramento da fase da judicium accusationis, dentro do órgão

mais apaixonante do nosso judiciário, ou seja, o Tribunal do Júri.

Por mais que se estude sobre a origem do Tribunal do Júri, jamais se

chegará a uma decisão conclusiva de onde e como ele realmente nasceu. Mesmo lá

nos primórdios de sua existência, mesmo sem ter o conjunto de leis que se tem nos

dias atuais, e principalmente dos princípios constitucionais que norteiam todos os

demais ordenamentos, mas não se pode descartar a sua importância naquela

época, afinal, era com suas formas rudimentares, e muitas vezes desumanas, que

conseguia se colocar um freio nos cidadãos mais fervorosos.

Esses julgamentos passaram por inúmeras alterações, começando quando

as pessoas eram julgadas perante as praças públicas, evoluindo para os Tribunais.

O Tribunal do Júri que se destaca no ano de 1215 na Inglaterra, e daí pra diante se

espalha para todos os demais países. No Brasil, chegou com a vinda da família real,

passando pelos períodos de guerras, conflitos internos, bem como a ditadura militar,

ocorrendo mudanças significativas em cada uma delas. Entretanto conseguiu

sobreviver, estando sua competência assegurada na Constituição Federal de 1988,

para julgar os crimes dolosos contra a vida.

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O Tribunal do Júri é o único órgão onde o cidadão comum pode participar

ativamente das decisões do judiciário, julgando os seus pares. Deveras, é o cidadão

comum o mais apito para julgar os seus, pois que se encontram no mesmo círculo

social, conhecendo todas as dificuldades e a realidade de cada local.

O Tribunal do Júri foi mantido na Constituição Federal, observando todos os

princípios constitucionais, bem como todas as demais garantias.

Por fim, é nos crimes dolosos contra a vida que, após respeitar todos os

princípios fundamentais que norteiam o processo, tais como o contraditório, ampla

defesa e o devido processo legal - o magistrado decidirá pela Pronúncia, Absolvição

Sumária, Desclassificação ou Impronúncia.

É sobre a decisão de impronúncia, prevista no artigo 414, do Código de

Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.689/2008 que se abordará no

presente trabalho. Tendo como foco principal a ideia de inconstitucionalidade da

impronúncia defendida por ilustres juristas brasileiros, que alegam que essa decisão

fere alguns dos princípios basilares da nossa Constituição Federal e que, portanto,

não estaria de acordo com o que se espera dentro de um Estado Democrático de

Direito. Alegando também que com a alteração da Lei nº 11.689/2008 perdeu-se

uma grande oportunidade de sanar esse grave erro.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Ao realizar estudos sobre a história do Tribunal do Júri, encontrou-se o

posicionamento dos doutrinadores Guilherme de Souza Nucci e Paulo Rangel, os

quais sustentam que o Tribunal do Júri, nos molde que temos e conhecemos na

atualidade, surgiu com a Magna Carta da Inglaterra, no ano de 1215. Mas o referido

instituto jurídico não nasceu no berço inglês, pois antes dele já existiam outros

tribunais com suas características.

Guilherme de Souza Nucci ensina alguns tipos de Tribunais que existiram,

como por exemplo:

Na Palestina, havia o Tribunal dos Vinte e Três nas vilas em que a população fosse superior a 120 famílias. Tais Cortes conheciam a julgavam processos criminais relacionados a crimes puníveis com a pena de morte. Os membros eram escolhidos dentre padres, levitas e principais chefes de famílias de Israel. (...) Em Roma, durante a República, o Júri atuou, sob a forma de juízes em comissão, conhecidos por quoestiones. Quando se tornaram definitivos, passaram a chamar-se de quoestiones perpetuoe, por volta do ano de 155 a.C. (2013, p.45).

A doutrina dominante entende que sua origem ocorre na época em que o

Concílio de Latrão aboliu as ordálias ou Juízos de Deus.

As ordálias ou ordálios foram práticas antigas bastante conhecidas na Idade

Média. Consistiam na submissão do acusado a alguns desafios (geralmente provas

dolorosas ou perigosas), para que assim provasse sua inocência, pois acreditavam

na intervenção divina.

Com a proibição de membros da igreja nas ordálias no IV Concílio de Latrão,

em 1215, começou a surgir novas formas de julgamentos com formas mais racionais

e menos desumanos (AS ORDÁLIAS..., 2014, página única).

Tourinho Filho leciona como era tratada as infrações penais na Inglaterra

antes da Instituição do Tribunal do Júri:

Antes da instituição do júri, na Inglaterra, as infrações penais graves eram reprimidas de duas formas, ambas brutais: a execução sumária, para os que fossem presos em estado de flagrância, e o appeal of fenoly, pelo qual o acusado se submetia a duelo judiciário com a pessoa que o denunciava (vítima ou familiares). Se fosse vencido antes do anoitecer, era condenado; se ganhasse ou não fosse vencido dentro naquele espaço de tempo, absolvido. Em 1166, no reino de Henrique II, pela lei conhecida como Assize of Claredon, passou haver, em cada

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localidade, o Grand Jury, constituído de 24 cidadãos. Cumpria-lhe, enquanto das visitas que os juízes itinerantes da Coroa faziam, com regularidade, aos diferentes condados do Reino, informá-los, sob juramentos, acerca das pessoas acusadas ou suspeitas de extorsão, assassinatos, roubos e outras infrações graves. Essas pessoas, assim acusadas, eram presas e julgadas. Daquele ano até 1215, o julgamento ficou afeto à Divindade. Os acusados eram submetidos aos juízos de Deus ou ordálios, notadamente o do ferro em brasa e o da água fria, conforme vimos ao tratar dos sistemas de apreciação das provas. Mais tarde, quando o Papa Inocêncio III aboliu os ordália e proibiu os clérigos de participarem daqueles julgamentos, os ingleses criaram o Petty Jury. (2011, p.137-138).

Enquanto na Europa Continental surgia o processo inquisitivo, na Inglaterra

florescia o Jury, em forma de substituição das ordálias. Nesse contexto, havia dois

tribunais do Júri: o grande e o pequeno. O primeiro era constituído de 24 (vinte e

quatro) cidadãos que decidiam se o acusado deveria ir a julgamento, sendo este

encaminhado ao pequeno júri, caberia a outros 12 (doze) cidadãos.

Com a Revolução Francesa, no final do século XVIII, a instituição foi levada

para a França. Sendo que no começo do século XIX, quando Napoleão ordenou as

reformas dos códigos, substitui-se o Grande Júri pelo juiz togado, com essa

mudança espalhando-se por quase toda a Europa.

2.1 SURGIMENTO DO JÚRI NO BRASIL

Tudo começou com a transferência da família real em novembro de 1807

para o Brasil.

Com a grande batalha travada entre os ingleses e Napoleão, a Inglaterra

queria salvar seu grande cliente das relações comerciais, ou seja, a Coroa

Portuguesa (RANGEL, 2010, p.587).

Sobre a chegada da família Real ao Brasil:

Em novembro de 1807, tropas Francesas cruzaram a fronteira de Portugal com Espanha e avançaram em direção a Lisboa. O príncipe Dom João, que regia o reino desde 1792, quando sua mãe Dona Maria fora declarada louca, decidiu-se, em poucos dias, pela transferência da Corte para o Brasil. Entre 25 e 27 de novembro de 1807, cerca de 10 a 15 mil pessoas embarcaram em navios portugueses rumo ao Brasil, sob a proteção da frota inglesa. Todo um aparelho burocrático vinha para a colônia: ministros, conselheiros, juízes da corte suprema, funcionários do tesouro, patentes do exército e da marinha, membros do clero, o tesouro real, os arquivos do governo, várias bibliotecas que serviriam de base da biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. (FAUSTO, 1999, p. 121, apud RANGEL, 2010, p.587, sem grifos no original).

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Com o fim da guerra e da derrota de Napoleão em 1814, iniciou-se um

processo político, perfazendo a permanência da Corte no Brasil. Em 1820 Portugal

passou por uma revolução Liberal, decorrente de uma crise política econômica,

obrigando Dom João VI retornar a Portugal em 1821, ficando seu filho Pedro no

Brasil.

Após o Grito do Ipiranga pelo Império brasileiro, e um longo período de

negociações, culminado com a aceitação do Governo Imperial, com as imposições

inglesas, e esta deixando sua influência na administração brasileira, por sua

dependência econômica.

Em 1822, quando Dom Pedro foi chamado pela Coroa Portuguesa a voltar

para Portugal, e o rei lusitano se negando a voltar, proclama o “Dia do Fico”,

declarando, posteriormente, a Independência do Brasil no dia 7 de setembro do

mesmo ano. E se torna Imperador com 24 anos, recebendo o título de Dom Pedro I.

Ocorre que o Júri nasceu através da Lei de 18 de julho de 1822, ou seja,

antes da proclamação da Independência do Brasil, estando ainda sobre o domínio

português, mas com forte influência inglesa.

Com a Independência do Brasil, o Decreto de 20 de outubro de 1823

estabeleceu que as leis portuguesas passariam a ter força em território brasílico,

desde que não conflitassem com a soberania e com o novo regime estabelecido.

Outrossim, o primeiro diploma processual (civil, comercial e penal) no Brasil

independente, se tornou as Ordenações Filipinas.

O nosso Júri, portanto, nasceu com a Lei de 18 de Julho de 1822, antes da

Independência do Brasil, e da primeira Constituição brasileira de 1824, nascendo

sob o domínio português, mas sob forte influência inglesa, em que pese o júri ter

sido, na época, um procedimento apenas para os crimes de imprensas, e com a

previsão de eleição dos jurados.

2.2 TRIBUNAL DO JÚRI E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O Júri nasceu e se desenvolveu com a idéia de se frear as vontades do

ditador, tirando das mãos do juiz o poder de julgar, e deixando-o nas mãos do povo.

Em 3 de maio de 1823 foi instalada a Assembleia Constituinte, sob a direção

de José Bonifácio de Andrade e Silva, que se espelhava no sistema parlamentar

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inglês, com o objetivo de criar um governo controlado pela elite por meio de uma

elegibilidade altamente restritiva. Ocorre que Dom Pedro I desagradou-se dessa

Constituição, pelo que dissolveu a Assembleia e impôs sua própria constituição.

A sociedade era formada por uma pequena minoria branca e mestiça, que

tinha participação ativa na vida política, por certo que, por considerar os escravos

como coisas, estes estavam excluídos da participação em sociedade.

O Brasil foi dividido em províncias, adotando como religião oficial a Católica

Apostólica e Romana, um governo monárquico, hereditário, constitucional e

representativo, dando a Dom Pedro o título de Imperador e defensor perpétuo do

Brasil.

A Constituição de 1824 conferia direito aos juízes a aplicar a pena, e aos

jurados decidir sobre os fatos. Estes, por sua vez, integravam o Poder Judiciário

com lugar tanto no cível quanto no crime.

Com o surgimento de várias crises locais e a necessidade de Dom Pedro I

retornar a Inglaterra, ficando em seu lugar seu filho Pedro II, de apenas 5 anos de

idade, o Brasil ficou sendo regido por figuras públicas que governavam em nome do

imperador, nos anos de 1831 a 1840, com isso ocorreram várias reformas para

suprimir ou diminuir os poderes da monarquia.

Dentre elas, nasceu o Código de Processo Criminal em 29 de novembro de

1832, pela Regência de Francisco de Lima e Silva, José da Costa Carvalho e João

Bráulio Muniz, dando maiores poderes aos juízes de paz, podendo estes prender e

julgar pessoas acusadas de pequenas infrações. O código também instituiu o Júri,

para julgar a grande maioria dos crimes, bem como o habeas corpus, concedido às

pessoas presas ilegalmente, ou cuja liberdade estivesse sendo ameaçada. Também

estabelecia que poderiam ser jurados apenas cidadãos que pudessem ser eleitores,

de reconhecido bom senso e probidade, logo, os que possuíssem boa situação

econômica.

Desta forma, Paulo Rangel instrui como era o júri nessa época:

O júri do império era a cópia aproximada do júri inglês pela própria história que antes contamos, ou seja, havia o grande júri e o pequeno júri. O primeiro, com debates entre os jurados, decidia se procedia a acusação contra o réu. Se os jurados respondessem afirmativamente, o réu seria submetido a julgamento perante o pequeno júri. Do Contrário, o juiz julgava improcedente a denúncia ou queixa (cf.arts.248 a 253 do CPCI). (2010, p.591).

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Importante destacar que:

O nosso Código de Processo consagrou os dois júris, dando ao grande júri o nome de júri de acusação e ao pequeno júri o nome de júri de sentença; entretanto, não seguiu completamente o sistema inglês, isto é, não admitiu que a queixa ou denúncia pudesse ser diretamente apresentada ao júri de acusação. Os arts. 144 e 145 determinavam, neste ponto, o sistema do nosso código: o juiz de paz, a quem era apresentada a queixa ou denuncia, depois de proceder as diligencias, inquirições, interrogatório, em suma, aos atos da formação da culpa, pronunciava ou não o indiciado, declarando procedente ou improcedente a queixa ou denuncia (ALMEIDA JÚNIOR, 1959, p. 233 apud RANGEL, 2010, p. 592, sem grifos no original).

O Tribunal do Júri do Império tendo origem na Inglaterra, berço da

democracia e dos direitos e garantias individuais, foi uma das mais democráticas já

existentes em nosso ordenamento jurídico, pois os jurados debatiam a causa entre

si para decidir se o réu iria ou não a plenário para ser julgado.

Com o período de Regência única, tendo como seu primeiro eleito o Padre

Diogo Feijó, em 1835 o Brasil foi marcado por várias rebeliões e revoltas provinciais

que exigiram do governo uma postura mais rígida, uma maior centralização dos

poderes e antecipar a maioridade do imperador Pedro II.

Conforme as Assembleias Provinciais foram ganhando autonomia,

começaram a surgir as disputas entre as elites regionais, com o intuito de controlar,

sozinhas, as Províncias que cresciam.

As mais conhecidas foram a Cabanagem, Guerra dos Cabanos, Sabinada,

Balaiada e Farroupilha, entre os anos de 1832 a 1845.

Em consequência dessas revoltas que se instalaram em várias províncias do

Brasil, em 3 de dezembro de 1841 ocorreu a reforma processual penal feita pela Lei

nº 261, e regulamentada pelo Decreto nº 120, de 31 de janeiro de 1841, sofrendo o

júri um duro golpe.

Quem ensina sobre essa reforma da Lei 261 de 1841 é João Mendes Júnior:

A Lei (261 de 1841) não melhorou as condições do sistema. Ao contrário: restringiu as atribuições dos juízes de Paz; criou os chefes de polícia, delegados, subdelegados, com atribuições judiciarias, inclusive a de formar a culpa e pronunciar em todos os crimes comuns; aboliu o júri de acusação, tornando independentes de sustentação as pronuncias proferidas pelos chefes de polícia e pelos juízes municipais, cabendo contra elas logo o recurso, e determinando que as pronuncias pelos delegados e subdelegados seriam sustentadas e revogadas pelos juízes municipais (1959, p.241, sem grifos no original).

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Outrossim, os delegados, subdelegados e juízes municipais eram nomeados

pelo imperador, ou pelo presidente das províncias. Por outro lado, quem elaborava

as listas de jurados eram os delegados de polícia. Desta forma, ficou mais fácil

pronunciar e condenar os réus, ou absolvê-los, de acordo com interesses.

Com a reforma, já não era mais necessário unanimidade de votos para

condenar a pena de morte, podendo decidir por duas terças partes de votos e, em

caso de empate, adotar-se-ia a decisão mais favorável ao réu, conforme

determinava o artigo 66, da Lei nº 261 de 1841.

Em 1870, quando o Brasil sai vencedor da guerra com o Paraguai, o Código

de Processo Criminal do Império sofreu uma nova reforma por meio da Lei nº 2.033,

de 20 de setembro de 1871, regulada pelo Decreto nº 4.824, de 22 de novembro.

Com essa reforma, ocorreu a separação das funções da polícia e do Poder

Judiciário, extinguindo a jurisdição dos chefes de Polícia, Delegados e

subdelegados, no julgamento dos crimes, criando o Inquérito Policial. Logo, as

decisões do júri passavam a ser de duas terças partes dos votos; somente para a

pena de morte que necessitava da unanimidade dos votos, ocorrendo a maioria dos

votos, aplicaria a pena menor, consoante estabelecia o artigo 29, § 1º, da referida

lei.

Após o ano de 1852, com o enforcamento do rico fazendeiro Manoel da

Motta Coqueiro, vindo a descobrir posteriormente que ele era inocente, o Imperador

não mais permitiu que nenhuma pessoa fosse levada à pena de morte, nem mesmo

os escravos, existindo a pena de morte apenas em Lei. Esta punição, por fim, foi

abolida do País em 1890, com o advento da República.

Com o fim do regime monárquico, e a Proclamação da República em 15 de

novembro de 1889, o Brasil começou a se aproximar dos Estados Unidos, mas a se

afastar da Inglaterra. Essa aproximação tinha como objetivo o apoio dos Estados

Unidos para que o Brasil se tornasse a primeira potência Sul-americana, surgindo,

assim, uma constituição aproximada desses ideais políticos, econômicos e sociais.

E teve como grande defensor intransigente Rui Barbosa, o “Águia de Haia”,

que foi o autor do Projeto n° 1, de 5 de novembro de 1889, para a Decretação da

forma de governo brasileira: A República Federativa.

Em 24 de fevereiro de 1891 foi promulgada a primeira Constituição da

República dos Estados Unidos, o júri ganhou lugar no título referente aos cidadãos

brasileiros e na secção da declaração dos direitos, estabelecendo, no seu artigo 72,

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§ 31, que era mantida a instituição do jury. O júri foi regulado pelo Decreto nº 848, de

11 de outubro de 1890, organizando a Justiça Federal e criando o júri Federal com

doze jurados, sorteados dentre trinta e seis cidadãos do corpo de jurados estadual

da comarca.

O júri nessa fase encontra-se dentro do capítulo “Do Poder Judiciário”, no

artigo72, e não mais na Declaração de direitos do cidadão, como em 1981.

Com as várias crises políticas ocorrendo em todo o país, Vargas se sentiu

autorizado a instituir em 10 de novembro de 1937 a ditadura brasileira. Logo, nesse

contexto histórico, o nosso júri sequer foi trazido nessa Constituição.

Outrossim, em 5 de janeiro de 1938, foi promulgado o Decreto Lei nº 167,

sendo que esta foi considerada a primeira Lei nacional de processo penal da

República brasileira, o júri nessa fase vem com uma grande novidade:

O veredicto dos jurados deixava de ser soberano, admitindo apelação das decisões dos jurados desde que houvesse injustiça da decisão, por uma completa divergência com as provas existentes nos autos ou produzidas em plenário (art.92, b) podendo o Tribunal de Apelação (hoje Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal) aplicar a pena justa ou absolver o réu (art.96). (RANGEL, 2010, p.602).

O júri com o Estado Novo passou a ter 7 (sete) jurados no conselho de

sentença, escolhidos pelo juiz entre as pessoas da elite. Havia também a

incomunicabilidade entre os jurados, não podendo mais os jurados debater entre si

ou tirar dúvidas sobre o caso em questão.

Nessa fase, o júri julgava os crimes de: homicídio, atentado contra a vida por

envenenamento, infanticídio, suicídio, morte ou lesão corporal seguida de morte por

duelo, latrocínio e tentativa de roubo.

O atual Código de Processo Penal entrou em vigor na data de 3 de outubro

de 1941 e, praticamente, mantém o Tribunal do Júri do Decreto Lei 167, de 1938.

Em 29 de outubro de 1945 Getúlio Vargas foi deposto de seu cargo. Sendo eleito em

2 de dezembro de 1945 General Eurico Gaspar Dutra, assumindo em janeiro de

1946, com o novo governo e as promessas de mudança, em 18 de setembro de

1946, o Brasil ganhou sua quarta Constituição da República e a quinta da história,

sendo que nesta o Júri encontra guarida no artigo 141, § 28. O júri é mantido, com

número ímpar de jurados, sigilo nas votações, plenitude de defesa do réu, soberania

dos veredictos, e a competência para julgamento dos crimes dolos contra vida. Tão

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logo, as decisões do Júri passam a ser soberanas, elas também só poderão ser

revistas pelo próprio júri, não cabendo mais ao Tribunal de Apelação reformar suas

decisões. Para tanto, na data de 23 de fevereiro de 1948, foi editada a Lei nº 263,

que revogava os artigos 604, 605 e 606, do CPP.

Esse período democrático teve uma vida bem curta, durando apenas dezoito

anos e, após passar por vários governos conturbados, os militares assumem o

poder, chamando essa fase de Revolução de 1964, em 31 de março, mas isso não

passava de um Golpe de Estado.

Com isso, o país passava a ser administrado por Atos Institucionais (AI),

sendo que o primeiro foi o AI 1, em 9 de abril de 1964, suspendendo a vitaliciedade

dos magistrados por seis meses, dentre outras medidas.

A Constituição de 24 de janeiro de 1967 (BRASIL, 2014, página única)

manteve o Tribunal do Júri no seu artigo 150, § 18, in verbis: “São mantidas a

instituição e a soberania do júri, que terá competência no julgamento dos crimes

dolosos contra a vida”.

Em 13 de dezembro de 1968 foi editada a AI 5, que suspendera a garantia

do habeas corpus, e aposentara forçadamente três ministros do Supremo Tribunal

Federal: Evandro Cavalcanti Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal.

O AI 5 vigorou até início do ano de 1979. Com o fim da ditadura militar e as

Diretas Já, e a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, foi

promulgada a atual Constituição, em 5 de outubro de 1988, um novo período

democrático, ficando o júri estabelecido no inciso XXXVIII, do artigo 5°, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) A plenitude de defesa; b) O sigilo das votações; c) A soberania dos veredictos; d) A competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. (BRASIL, 2014, página única).

Denilson Feitoza comenta sobre o posicionamento do Tribunal do Júri

dentro da Constituição Federal, e defendendo esta como “cláusula pétrea”:

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Encontra-se previsto no título II da Constituição Federal, que trata “dos direitos e garantias fundamentais”. Sua localização sistêmica no sindica que foi instituído com a finalidade de ampliar o direito de defesa dos réus e o direito de liberdade, uma vez que o júri, em regra, tem decisões mais flexíveis e favoráveis aos réus do que os juízes togados, normalmente vinculados a decisões técnicas. De sua posição no referido capítulo, também concluímos que o júri não pode ser abolido nem por emenda constitucional, nos termos do art.60, § 4°, da CR. Costuma-se dizer que o dispositivo que reconhece o júri é “cláusula pétrea”, por não poder ser abolido por emenda constitucional. (2010, p.514-515).

Aramis Nassif finaliza dizendo que:

A atual carta é reflexo de amplo movimento popular e de intensa movimentação política. É fruto de atitudes corajosas e da persistência de um povo inteiro, cansado de arbitrariedade, em busca do resgate de sua integridade político-jurídica. Por isto mesmo que ela convoca cidadãos para compor a amostragem da sociedade e, soberanamente julgar seus pares”. (2009, p.23).

Por fim concluí-se que a atual Constituição Federal é resultado das grandes

lutas e batalhas do nosso povo, que sofreu e lutou bravamente para que nossos

direitos fossem garantidos.

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3 PROCEDIMENTO PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA

A VIDA

O Tribunal do Júri, como visto, possui competência para julgar os crimes

dolosos contra a vida, tentados ou consumados.

Não fazendo parte da competência do Tribunal do Júri o latrocínio, bem

acentua Denilson Feitoza:

O latrocínio (roubo seguido de morte), mesmo tendo o evento morte, não é considerado crime doloso contra a vida, mas crime contra o patrimônio, uma vez que o art.157, § 3°, do CP encontra-se no capitulo “dos crimes contra o patrimônio”, e, portanto, não é da competência do Tribunal do Júri. Trata-se de jurisprudência pacífica, conforme a Súmula 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri. (2010, p.515).

Para tanto, possui um procedimento escalonado ou bifásico.

A primeira fase é conhecida como Juízo de Admissibilidade, que consiste no

recebimento da denúncia, citação do réu, apresentação da resposta à acusação no

prazo de dez dias.

Se na resposta de acusação forem apresentadas preliminares, ou forem

juntados documentos, haverá a possibilidade de réplica por parte do Ministério

Público ou querelante, prevista no artigo409, do CPP, pelo prazo de 5 dias, antes da

audiência de instrução e julgamento. Para responder às preliminares alegas, e se

manifestar sobre os documentos juntados.

Em que pese existir previsão de absolvição sumária ao término do juízo de

acusação (artigo 415, do CPP), isso não impede que se aplique o artigo 397 do

CPP, e que logo após a resposta a acusação, o juiz tendo certeza, e possuindo o

grau de convencimento sobre absolvição sumária do acusado, o possa fazer, se

tornando inútil a designação de audiência de instrução e julgamento, para só então

poder absolvê-lo. Sendo assim, Gustavo Badaró (2012, p.470-471) leciona que

“existem, portanto duas absolvições sumárias: (1) a do art. 397, após o oferecimento

da resposta, tornando desnecessária a designação da audiência; (2) a do art. 415,

após o término do juízo de acusação.”

A audiência de instrução e julgamento consistirá na tomada de declarações

do ofendido, inquirição de testemunhas de acusação e de defesa, esclarecimento de

peritos, acareações, reconhecimento de pessoas ou coisas, e interrogatório do réu.

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Logo em seguida serão ofertadas as alegações finais orais, pelo prazo de 20 (vinte)

minutos prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos para ambas as partes, acusação e

defesa. Após serem concluídos todos os atos da audiência de instrução e

julgamento e encerrada a fase da judicium accusationis, o juiz presidente do Tribunal

do Júri possui quatro alternativas de decisão, podendo ser: Pronúncia (artigo 413,

CPP), impronúncia (artigo 414, CPP), absolvição sumária (artigo 415, CPP) ou a

desclassificação (artigo 419, CPP).

Nesse sentido, veja-se o entendimento da 1ª Turma do Supremo Tribunal

Federal, no julgamento do Habeas Corpus nº 94169, do Mato Grosso:

Habeas corpus. Processual penal. Sentença de pronúncia. Não-ocorrência de excesso de linguagem. 1. A fase processual denominada sumário da culpa é reservada essencialmente à formação de um juízo positivo ou negativo sobre a existência de um crime da competência do Tribunal do Júri. Ela se desenvolve perante o juiz singular que examinará a existência provável ou possível de um crime doloso contra a vida e, ao final, decidirá (1) pela absolvição sumária, quando presente causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade; (2) pela desclassificação do crime, quando se convencer de que o crime praticado não é doloso e contra a vida; (3) pela impronúncia, quando ausente a prova da materialidade ou de indícios de autoria; ou (4) pela pronúncia, se reputar presente a prova e os indícios referidos. 2. Deve-se reconhecer que essa fase requer o exame de provas, necessário, sem dúvida, para fornecer ao Juiz elementos de convicção sem os quais não estará habilitado a decidir e, sobretudo, a fundamentar a decisão que venha a proferir, sem que isso caracterize excesso de linguagem ou violação do princípio do juiz natural. 3. habeas corpus denegado. (Habeas Corpus nº 94169, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em 07/10/2008, DJe-236 DIVULG 11-12-2008 PUBLIC 12-12-2008 EMENT VOL-02345-01 PP-00178 RTJ VOL-00208-03 PP-01159).

A segunda fase, chamada de judicium causae, somente se inicia com a

preclusão da decisão de pronúncia, até o fim da sessão de julgamento perante o

Tribunal do Júri, onde o réu será julgado por 7 (sete) jurados que fazem parte do

conselho de sentença.

No presente trabalho será tratado, especificamente, sobre a decisão de

impronúncia, sendo que esta decisão é ineficaz para encaminhar o réu para

julgamento em Plenário. No entanto, antes de se adentrar no tema central do

estudo, interessante se fazer alguns breves apontamentos sobre as outras três

decisões que o magistrado pode tomar diante de um caso concreto.

A primeira delas é a Pronúncia. Prevista no artigo 413, do Código de

Processo Penal, trata-se de uma decisão proferida quando o juiz estiver convencido

da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de

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participação do réu. Logo, entende-se, como o convencimento do julgador para

enviar a causa ao Conselho de Sentença para julgamento do mérito.

Ademais, a natureza jurídica da decisão de pronúncia é uma decisão

interlocutória mista, pois o que se encerra não é o processo, mas sim uma fase do

procedimento, que autoriza o processo para o rito subsequente, que é a do

julgamento em plenário.

Outrossim, vale destacar que o recurso cabível para pugnar uma decisão de

pronúncia é o recurso em sentido estrito, previsto no artigo 581, inciso IV, do CPP.

A pronúncia não produz coisa julgada material, podendo ocorrer

desclassificação para outro crime, quando do julgamento em plenário, pelos jurados.

Porém, faz coisa julgada formal, pois uma vez preclusa a via recursal não poderá ser

alterada, salvo nas hipóteses, prevista em lei, nos termos do artigo 421, § 1º, do

CPP.

Portanto, uma vez preclusa a decisão de pronúncia, os autos estarão

prontos para seguir a fase subsequente, chamada de judicium causae. Lembrando

que a pronúncia é a única decisão que encaminha o réu para o julgamento em

plenário.

A segunda decisão judicial que pode ser adotada é a Desclassificação. De

acordo com o artigo 418, do CPP “o juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa

da constante na acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave”

(BRASIL, 2014, página única).

Para Nucci (2013, p. 122) a desclassificação “é a decisão interlocutória

simples, modificadora da competência do juízo, não adentrando o mérito, nem

tampouco fazendo cessar o processo”. E complementa o jurisconsulto, dizendo que:

[...] o juiz somente desclassifica a infração penal, cuja denúncia foi recebida como delito doloso contra a vida, em caso de cristalina certeza quanto á ocorrência de crime diverso daqueles previstos no art. 74, § 1º, do Código de Processo Penal. Outra solução não pode haver sob pena de se ferir dois princípios constitucionais: a soberania dos veredictos e a competência do júri para apreciar os delitos dolosos contra a vida. (Ibidem).

Ademais, quando a desclassificação de um fato for para outro também

dolosa - por exemplo, réu denunciado por infanticídio que é pronunciado por

homicídio - trata-se de uma desclassificação imprópria, pois a desclassificação

operou-se para outro crime que continua sendo de competência do Tribunal do Júri.

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Por outro lado, se a desclassificação ocorrer para outra figura típica que não

é de competência do Tribunal do Júri - por exemplo, réu denunciado por tentativa de

homicídio e pronunciado por lesão corporal, delito este que não é da competência do

Júri – operar-se-á uma desclassificação própria.

Portanto, a desclassificação pode ser própria ou imprópria, dependendo do

juízo competente para julgá-lo.

Outra decisão passível de acontecer é a Absolvição Sumária, estabelecida

no artigo 415, do CPP. Impossível discorrer sobre a absolvição sumária sem

colacionar o aludido dispositivo legal, in verbis:

Art.415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando: I – provada a inexistência do fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III – o fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art.26 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, salvo quando esta foi a única tese defensiva. (BRASIL, 2014, página única).

A absolvição sumária é uma decisão de mérito, que coloca fim ao processo,

fazendo coisa julgada material, e julgando improcedente a pretensão punitiva do

Estado. Ela ocorre quando o magistrado acolhe alguma das hipóteses do artigo 415,

do CPP.

Com o advento da Lei nº 11.689/2008, o artigo 415, do CPP teve muitas

alterações significativas. Aury Lopes Jr. destaca uma delas, dizendo que:

Uma das inovações relevantes da referida lei foi à acertada extinção do recurso ex officio da sentença de absolvição sumária, pois era uma teratologia processual completa um juiz decidir e recorrer da decisão que ele próprio proferiu, sendo evidente sua ilegitimidade (pois não parte interessada para recorrer) e também a violação do sistema acusatório. (2013, p.1021).

A Lei nº 11.689/2008 também inovou, ao ampliar os casos de absolvição

sumária, antes limitadas ás causas de exclusão da ilicitude ou culpabilidade.

Uma vez explanado, ainda que brevemente, sobre as decisões de

pronúncia, desclassificação e absolvição sumária, passar-se-á a abordar no próximo

capítulo a decisão foco do nosso trabalho, ou seja, a impronúncia.

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4 A DECISÃO DE IMPRONÚNCIA

4.1 CONCEITO

A decisão de impronúncia, com redação dada pela Lei nº 11.689/2008, é

assim estabelecida no artigo 414, do CPP, in verbis:

Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciara o acusado. Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova. (BRASIL, 2014, página única).

A sentença de impronúncia extingue o processo, devendo ser fundamentada

pelo magistrado, quando este, ao estudar o caso, não encontrar indícios suficientes

da autoria ou participação do réu, ou ainda, não se convencer da materialidade do

fato.

Ademais, a sentença de impronúncia faz coisa julgada formal, pois o

processo é extinto, não sendo possível nele se discutir a causa criminal. Não faz

coisa julgada material, pois a mesma causa poderá ser discutida contra o mesmo

réu, antes de ocorrer à extinção da punibilidade, em um novo processo, desde que,

haja nova prova, através de uma nova denúncia ou queixa.

Obtempera Eugenio Paccelli de Oliveira:

A rigor, ao menos para a classificação de atos judiciais que adotamos não se pode incluir a decisão de impronuncia entre as sentenças propriamente ditas. Tratar-se-ia, ao contrario, de decisão interlocutória mista, porque encerra o processo, sem, porem, julgar a pretensão punitiva, ou seja, sem implicar a condenação ou absolvição do acusado. No entanto, como nossa classificação dos atos processuais tem em mira a teoria dos recursos, isto é, da identificação dos recursos cabíveis, devemos incluir a decisão de impronuncia entre as sentenças, unicamente em atenção à opção legislativa (art.416, CPP), cujos termos indicam que “contra a sentença de impronúncia e de absolvição sumária caberá apelação”. E, como se sabe, não há apelação contra decisões interlocutórias. (2008, p.573).

Nossos Tribunais Superiores têm sido pacíficos no entendimento de que na

dúvida sobre a materialidade do fato, insuficiência de indícios de autoria ou

participação, ou ainda quando as provas apresentadas forem fracas e inconsistentes

para encaminhar o acusado para o conselho de sentença, a impronúncia é a decisão

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que se impõem, pois, nesses casos, as provas apresentadas ao conselho de

sentença não seriam suficientes para a condenação, ou o que é pior, podendo

mesmo inconsistentes culminar com a condenação do acusado. Na dúvida,

impronuncia o réu, a fim de evitar condenações errôneas.

Veja-se o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre a

decisão de impronúncia:

APELAÇÃO-CRIME. JÚRI. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. DECISÃO DE IMPRONÚNCIA. PROVA DA MATERIALIDADE. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. DECISÃO MANTIDA. 1. A acusação apela da decisão que impronunciou o réu, alegando que a prova mostra-se suficiente, para, nesta fase, de mero juízo de admissibilidade da acusação, submeter o réu ao julgamento pelo Júri. 2. Na hipótese, ante a ausência de indícios suficientes da autoria, a impronúncia mostra-se justificada. APELO MINISTERIAL IMPROVIDO. (Apelação Crime Nº 70055429849, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 11/12/2013). (TJ-RS – Apelação Criminal nº 70055429849 RS , Relator: Julio Cesar Finger, Data de Julgamento: 11/12/2013, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 21/01/2014).

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal acompanha o entendimento do

Tribunal do Rio Grande do Sul:

SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA. INDÍCIOS DE AUTORIA. INSUFICIÊNCIA. DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS. DESPROVIMENTO. I - DA EXEGESE DOS ARTIGOS 413 E 414, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, EXTRAI-SE QUE, PARA SER PRONUNCIADO, NÃO É NECESSÁRIO UM JUÍZO DE CERTEZA QUANTO À AUTORIA OU PARTICIPAÇÃO DO RÉU NO DELITO, MAS DE MERA PROBABILIDADE, DEVENDO OS INDÍCIOS SEREM SUFICIENTES DE MODO A DEMONSTRAR A VIABILIDADE DA ACUSAÇÃO. INCONSISTENTES OS INDÍCIOS, ESCORREITO É A SENTENÇA QUE IMPRONUNCIA O RÉU. II - RECURSO DESPROVIDO. (TJ-DF - AC: 20120810033193 DF 0003220-93.2012.8.07.0008, Relator: NILSONI DE FREITAS, Data de Julgamento: 08/08/2013, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 15/08/2013 . Pág.: 191)

No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, também

acompanha os demais Tribunais, sobre a decretação da impronúncia:

APELAÇÃO CRIME. TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO TORPE. IMPRONÚNCIA.INSURGÊNCIA DA ACUSAÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA DISSONANTE NAS DUAS FASES DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE OUTROS ELEMENTOS DE AUTORIA APTOS A AUTORIZAR A PRONÚNCIA. MANUTENÇÃO DA IMPRONÚNCIA. RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1088347-5 - Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina - Rel.: Macedo Pacheco - Unânime - - J. 12.12.2013).

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Os Tribunais de Justiça são uníssonos em manter as decisões de

impronúncia decretadas pelo juízo a quo, quando do julgamento dos autos não

encontrar presente suficientes indícios de autoria, ou a participação do acusado.

4.2 CONTEÚDO E FUNDAMENTAÇÃO

O magistrado, ao proferir uma sentença de impronúncia, deverá

fundamentá-la de forma clara e detalhada, embora de forma cuidadosa, pois o

Ministério Público pode recorrer da decisão, e ocorrendo a reforma por parte do

Tribunal de Justiça o caso será remetido ao Júri. Deve-se, portanto, o magistrado ao

proferir sua decisão manter sua imparcialidade.

No caso de não ser observada essa imparcialidade, Guilherme de Souza

Nucci (2013, p. 120) defende que “se assim acontecer, a decisão de impronúncia,

em termos inadequados, poderá ser lida em plenário pela defesa, gerando, em tese,

influência negativa sobre os jurados.”

Guilherme de Souza Nucci ainda diz mais:

Pode-se argumentar, por certo, que, havendo novas provas, o processo seria desarquivado e teria prosseguimento. Portanto, aquela decisão (não anulada nem desentranhada dos autos), no futuro, ainda poderia ensejar influencia em relação aos jurados, caso o processo chegasse ao Tribunal Popular. Nessa hipótese, rara-diga-se a bem da verdade, o órgão acusatório poderia ingressar com mandado de segurança para desentranha-la dos autos. Com isso, os jurados não teriam acesso ao seu conteúdo, manifestamente favorável ao réu e não haveria quebra de igualdade entre as partes. (Ibid., p.120).

Razão pela qual deve-se manter o equilíbrio entre a acusação e defesa,

respeitando os princípios constitucionais.

4.3 RECURSOS

Tendo em vista que a sentença de impronúncia não faz coisa julgada, o réu

irresignado com esta, pode apelar (artigo 416, do CPP), almejando uma sentença de

absolvição sumaria (NUCCI, 2013, p.121).

Preconiza o artigo 416, do CPP (BRASIL, 2014, página única) que “contra a

sentença de impronuncia ou de absolvição sumaria caberá apelação.”

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Fernando da Costa Tourinho Filho ensina que:

Havendo recurso, se este for provido, será o réu pronunciado. Caberá recurso dessa decisão do Tribunal? Se a decisão não for unânime, podem ser opostos embargos infringentes ou de nulidade. E, ainda que unânime, nada impede possa ser interposto recurso extraordinário, ou especial, dês que a hipótese se subsuma na moldura das alíneas a, b, c ou d do item III do art.102 da Magna Carta ou a, b, ou c do item III do art. 105 do mesmo diploma. Também, dependendo da hipótese, pode ser impetrado habeas corpus, diretamente ao STJ, com fundamento no art. 105, I, c, da CF. (2011, p.154).

4.4 PRAZO

Sendo a apelação do artigo 416, do Código de Processo Penal o recurso

cabível para atacar uma decisão de impronúncia, o seu prazo para interposição é de

5 (cinco) dias, de acordo com o artigo 593, daquele Código.

Gustavo Badaró (2012, p. 478) comenta que “anteriormente, contra a

impronúncia, era cabível o recurso em sentido estrito, nos termos da redação

originária do inciso IV do art.581 do CPP”.

Transcorrido esse prazo, in albis, ocorre a preclusão do direito de recorrer da

sentença de impronuncia.

Veja-se o posicionamento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul sobre

o tema:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TENTATIVA DE HOMICÍDIO. DECISÃO DE IMPRONÚNCIA. INTEMPESTIVIDADE. 1. Recurso em que o Ministério Público postula a pronúncia do réu, alegando que, nesta etapa processual, não cabe exame valorativo da prova. 2. O recurso em sentido estrito, após a edição da Lei nº 11.689/2008, não é mais o recurso cabível contra decisão de impronuncia. Contudo, no presente caso, nem mesmo pela incidência do princípio da fungibilidade dos recursos, é possível conhecer do recurso, por intempestivo. 3. O recorrente foi intimado da decisão hostilizada em 21/08/2012 (certidão de fl. 97), mas a petição do recurso somente foi protocolada em 28/08/2012, ou seja, quando já decorrido o quinquidio legal. NÃO CONHECERAM DO RECURSO. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70055518278, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 18/12/2013). (TJ-RS - RSE: 70055518278 RS , Relator: Julio Cesar Finger, Data de Julgamento: 18/12/2013, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/02/2014).

4.5 IMPRONÚNCIA E EFEITOS CIVIS

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A decisão de impronúncia não possui nenhum efeito patrimonial, porém não

impede a responsabilidade civil do acusado que foi impronunciado. Podendo a

vítima propor ação de ressarcimento por danos sofridos no juízo civil, fato que

ocorrerá pelo processo de conhecimento, em que pese à impronúncia não ser um

título executivo judicial.

4.6 CRIMES CONEXOS

Havendo conexão entre um crime doloso contra a vida e um crime de

competência do juiz singular, ocorrendo a impronúncia do crime doloso contra a

vida, não pode o juiz condenar, ou absolver sobre o crime conexo, pois, neste caso,

lhe falta legitimidade para agir, pois cessa a competência do Tribunal Popular.

Deve-se lembrar que os crimes dolosos contra a vida exercem a vis atractiva

sobre os crimes conexos, de acordo com os artigos 76 e 78, inciso I, ambos do CPP.

Deve o juiz aguardar o transcurso do prazo para a interposição do recurso

de apelação, para daí então encaminhar o caso ao juiz competente, de acordo com

o artigo 81, parágrafo único, do CPP.

Paulo Rangel ainda trata da seguinte hipótese:

Pode acontecer de o juiz, na própria pronúncia, afastar uma qualificadora contida expressamente na denúncia e pronunciar apenas pelo homicídio simples. Neste caso, há uma impronúncia quanto à qualificadora e uma pronúncia quanto ao fato original (homicídio simples). (2010, p.648).

Cabe citar a decisão de um Recurso em Sentido Estrito, interposto no

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, sobre conexão e impronúncia:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME DE HOMICÍDIO. CRIME CONEXO DE FURTO. PLEITO DEFENSIVO DE IMPRONÚNCIA ACOLHIDO. Os indícios de autoria presentes nos autos não são suficientes para manter a sentença de pronúncia, a fim de remeter o recorrente a julgamento pelo tribunal popular. No caso dos autos, tais indícios estão baseados em meros boatos ou frágeis declarações de moradores da comunidade onde ocorreu o homicídio. Em casos como o presente, excetua-se o princípio do "in dúbio pro societate", tratando-se de dever estancar o feito, via despronúncia. RECURSO PROVIDO, POR MAIORIA. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70054617337, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete Andreis Sebben, Julgado em 08/08/2013). (TJ-RS - RSE: 70054617337 RS , Relator: Lizete Andreis Sebben, Data de Julgamento: 08/08/2013, Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 12/09/2013).

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No mesmo sentido, é o posicionamento do Tribunal de Justiça do Distrito

Federal:

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. DECISÃO DE PRONÚNCIA. MATERIALIDADE COMPROVADA E INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA. INVIABILIDADE. PORTE ILEGAL DE ARMA. CRIME CONEXO. COMPETÊNCIA DO JÚRI. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. NÃO CABE A IMPRONÚNCIA, QUANDO HÁ PROVA DA EXISTÊNCIA DO CRIME E INDÍCIOS DE AUTORIA SUFICIENTES PARA QUE SEJA O RÉU LEVADO A JÚRI POPULAR. 2. O AFASTAMENTO DAS CIRCUNSTÂNCIAS QUALIFICADORAS, NA PRIMEIRA FASE DO PROCEDIMENTO DOS CRIMES AFETOS AO TRIBUNAL DO JÚRI, SÓ SE MOSTRA VIÁVEL QUANDO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTES, OU TOTALMENTE DIVORCIADAS DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. 3. NÃO HAVENDO CERTEZA, PELOS ELEMENTOS COLHIDOS, DE QUE A ARMA FORA ADQUIRIDA E PORTADA COM A FINALIDADE ESPECÍFICA DA PRÁTICA DO DELITO CONTRA A VIDA, NÃO SE PODE AFASTAR, DE PLANO, A COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE SENTENÇA PARA JULGAR O CRIME CONEXO DE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. 4. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-DF - RSE: 20130410015155 DF 0001477-26.2013.8.07.0004, Relator: JESUINO RISSATO, Data de Julgamento: 08/08/2013, 3ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 14/08/2013 . Pág.: 203).

Por fim, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, acompanha o entendimento

dos demais Tribunais, com relação a vis atractiva do Tribunal do Júri nos crimes

conexos.

APELAÇÃO CRIMINAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO, FURTO QUALIFICADO TENTADO E COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO. DECISÃO DE IMPRONÚNCIA. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PRONUNCIAR OS RÉUS. ACOLHIMENTO. DIANTE DA PRESENÇA DE PROVAS DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA, A DECISÃO DE PRONÚNCIA É MEDIDA QUE SE IMPÕE. EVENTUAIS DÚVIDAS E VERSÕES CONFLITANTES QUE DEVEM SER DIRIMIDAS PELO CONSELHO DE SENTENÇA. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA SOBERANIA DO TRIBUNAL DO JÚRI E IN DUBIO PRO SOCIETATE. CRIMES CONEXOS DE FURTO TENTADO E COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO. INTELIGÊNCIA DO ART. 78, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL POPULAR. (TJ-SC - AC: 20120062698 SC 2012.006269-8 (Acórdão), Relator: Volnei Celso Tomazini, Data de Julgamento: 07/10/2013, Segunda Câmara Criminal).

4.7 DESPRONÚNCIA

A despronúncia ocorre quando o réu é pronunciado e interpõem recurso em

sentido estrito, acolhendo o recurso, o magistrado pode retratar-se, após já tê-lo

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pronunciado, ou pelo Tribunal de Justiça após julgar seu recurso. Eis por quê se

chama despronúncia (NUCCI, 2013, p.121).

Paulo Rangel (2010, p. 652) observa que “se o juiz ‘despronunciar’, ou seja,

impronunciar o réu e o MP resolver impugnar essa decisão, o recurso cabível será a

apelação (art.416 do CPP, com redação da Lei 11.689/08).”

Veja-se o entendimento dos Tribunais de Justiça sobre o tópico da

Despronúncia:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO QUALIFICADO - PROVAS FRÁGEIS - DECRETO DE PRONÚNCIA BASEADO APENAS EM TESTEMUNHAS QUE DIZEM TER OUVIDO COMENTÁRIOS DE TERCEIROS ACERCA DO PROVÁVEL AUTOR DO CRIME - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SEGUROS E CONVINCENTES DE AUTORIA - DESPRONÚNCIA DECRETADA - RECURSO PROVIDO. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE - 941778-7 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Marcos S. Galliano Daros - Unânime - - J. 22.02.2013).

Nesta forma, também é o entendimento do Tribunal do Rio Grande do Sul:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO QUALIFICADO E CRIME CONEXO. PRONÚNCIA. IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA. 1. Homicídio qualificado: Comprovada a materialidade e existentes indícios suficientes da autoria, não comprovadas, estreme de dúvidas, as teses defensivas - legítima defesa de terceiros e negativa de autoria - impõe-se a manutenção da pronúncia, porquanto compete ao Conselho de Sentença, com exclusividade, valorar a prova e decidir a respeito das versões apresentadas e da efetiva concorrência dos recorrentes ao delito. Qualificadora do motivo torpe mantida. 2. Delito previsto no artigo 14 da lei n. 10.826/03: Desclassificação do delito de receptação, 1º fato descrito na denúncia, para o crime do art. 14 da Lei de Armas. Verifica-se, porém, que o novo enquadramento ocorreu em afronta ao disposto no artigo 418 do CPP, vez que a alteração jurídica do fato não encontra correspondência com a descrição da conduta atribuída ao acusado, na denúncia, em cuja peça não estão descritas as circunstâncias elementares do crime do artigo 14 da lei n. 10.826/03. Afora isso, não existem indícios suficientes de prova colhida em juízo da autoria do crime. Despronúncia do recorrente Bruno. Recurso do réu Bruno parcialmente provido, no mais, negaram provimento aos recursos. (Tribunal de Justiça do RS, Recurso em Sentido Estrito Nº 70051620789, Segunda Câmara Criminal, Relator: Osnilda Pisa, Julgado em 28/01/2014). RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONÚNCIA FUNDAMENTADA EXCLUSIVAMENTE NO INQUÉRITO POLICIAL E NO DEPOIMENTO DE TESTEMUNHAS QUE NÃO VIRAM OS RESPONSÁVEIS PELO DELITO. DESCABIMENTO. 1. A prova certa da existência do crime e dos indícios suficientes de autoria é requisito para a pronúncia dos acusados, assim sendo, a falta de um ou de ambos enseja a impronúncia. 2. Os elementos informativos colhidos somente no curso da investigação policial não são considerados provas propriamente ditas, uma vez que não observam o contraditório e a ampla defesa; por isso não podem, isoladamente, influir na decisão de pronúncia. É imprescindível que

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sejam confortados, ao menos parcialmente, na fase judicial, para que possam ser utilizados, consequentemente, na fundamentação da decisão de pronúncia. Exigência sistemática do devido processo legal substancial. 3. No caso em tela, os indícios de autoria não se apresentam suficientes, pois nenhuma testemunha ouvida em juízo confirmou ter visto os autores do fato, que é negado pelos corréus. Neste contexto, a única informação capaz de fundamentar a decisão de pronúncia não foi confirmada na fase judicial, sendo impositiva a despronúncia. RECURSO PROVIDO. (Recurso em Sentido Estrito Nº 70054902044, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Julgado em 03/10/2013). (TJ-RS - RSE: 70054902044 RS, Relator: Jayme Weingartner Neto, Data de Julgamento: 03/10/2013, Terceira Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 23/10/2013).

O Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro também acompanha o

entendimento dos demais Tribunais:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PRONÚNCIA. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO PELA TORPEZA E RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA E ESTELIONATO NA FORMA TENTADA. DESEJO RECURSAL DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA PELA INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA OU ALTERNATIVAMENTE, A DESPRONÚNCIA. Quatro indivíduos foram denunciados pela realização da conduta comportamental prevista no art. 121, § 2º, incisos I e IV, n/f/do art. 29 e art. 171, caput, c/c art. 14, inciso II, n/f do art. 69, todos do CP, perpetrada em face da vítima FRANCISCO PEREIRA FÉLIX NASCIMENTO. Narra a exordial que uma terceira pessoa, ajustada em comunhão de ações e desígnios com os denunciados, desferiu golpes com instrumento contundente no crânio da vítima, causando as lesões que foram a causa eficiente de sua morte, posteriormente, levando o cadáver para a pista da BR-101 com o fito de simular um atropelamento. Após descrever a conduta imputada a cada qual, narrou a denúncia que a recorrente Tatiane concorreu eficazmente para o crime, ajustando-o previamente com os demais denunciados e, como funcionária da seguradora, realizou fraudulentamente um seguro de vida em nome da vítima, falsificando sua assinatura na respectiva proposta. O magistrado, quando da expedição da decisão interlocutória mista opugnada, houve-se com precisão cirúrgica e o devido cuidado para não se exceder na linguagem, e lá apontou os indícios da autoria delitiva, não se verificando dentre estes, porém, os elementos suficientes à caracterização dos indícios da autoria do crime do art. 121, § 2º, incisos I e IV, do CP, em relação à recorrente Tatiane. No que concerne aos delitos que ora se examinam, não bastam os indícios mínimos de autoria em relação, apenas, ao crime conexo àquele que promoveu a atração. É preciso que os autos exibam, também, os indícios mínimos de autoria em relação ao outro delito, o doloso contra a vida, de trato exclusivo pelo Tribunal do Júri, o que não foi apontado pelo minudente magistrado na interlocutória objurgada. Afastado qualquer exame de valor, as provas produzidas em Juízo não carreiam para Tatiane os necessários indícios de autoria do crime doloso contra a vida, impondo-se, por isto, a pretendida despronúncia. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO, na forma do voto do relator. (TJRJ; Oitava Câmara Criminal; Recurso em Sentido Estrito nº 0043572-43.2010.8.19.0004; Desembargador Gilmar Augusto Teixeira; Julgamento em 21/11/2013).

Sendo assim, verificou-se que sempre que as provas apresentadas forem

fracas, e que se constatada dúvida sobre a autoria, ou faltarem provas suficientes da

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autoria, tem-se conseguido reverter às decisões de pronúncia para uma

despronúncia.

4.8 POSSIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DE NOVO PROCESSO

Com a decisão de impronúncia, encerra-se o processo original. Ocorrendo

novas provas, poderá ser ofertada uma nova denúncia ou queixa, inaugurando um

processo diverso do já encerrado, desde que não tenha ocorrido a extinção da

punibilidade do réu.

Guilherme de Souza Nucci leciona que existem duas espécies de provas

novas:

Há duas espécies de provas novas: a) substancialmente novas: as que são inéditas, ou seja, desconhecidas até então, porque ocultas ou ainda inexistentes. Ex. surge à arma do crime, até então desaparecida, contendo a impressão digital do acusado; b) formalmente novas: as que já são conhecidas e até mesmo foram utilizadas pelo Estado, mas que ganham nova versão. Ex. uma testemunha, já inquirida, altera a versão e incrimina o réu, sem dar fundamento razoável para a modificação de comportamento. (2013, p.121).

Veja-se o entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal com

relação a provas novas:

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE HOMÍCIDIO. IMPRONÚNCIA PRÉVIA. PROVAS NOVAS. NOVO DEPOIMENTO E EXAME GRAFOSCÓPICO. RECEBIMENTO DE NOVA DENÚNCIA. POSSIBILIDADE. JUÍZO DE MERA PROBABILIDADE. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O JUÍZO EXARADO NA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA É DE MERA PROBABILIDADE, NÃO OBSTANDO OUTRO OFERECIMENTO DE DENÚNCIA NOS CASOS ONDE NOVAS PROVAS POSSAM ENSEJAR UM NOVO JUÍZO PRECÁRIO DE AUTORIA E DE MATERIALIDADE DO DELITO. 2. O HABEAS CORPUS É REMÉDIO RESTRITO ÀS HIPÓTESES DE ILEGALIDADE EVIDENTE, INCONTROVERSA E RELATIVA À MATÉRIA DE DIREITO, O QUE EXIGE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA DAS ALEGAÇÕES, ÔNUS QUE RECAI SOBRE A DEFESA. 3. ORDEM DENEGADA. (TJ-DF – HC nº 20130020169527 DF 0017826-19.2013.8.07.0000, Relator: GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 05/09/2013, 1ª Turma Criminal, Data de Publicação: Publicado no DJE : 16/09/2013 . Pág.: 185)

Para tanto, nosso ordenamento jurídico só aceita para a propositura de uma

nova denúncia ou queixa as provas substancialmente novas, ou seja, provas que

são desconhecidas ou inéditas, resguardando a segurança jurídica.

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Em pesquisa ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, encontrou-se um

julgado interessante, no qual o réu foi impronunciado no ano de 2004 e,

posteriormente, foi lhe ofertado nova denúncia no ano de 2005. O caso em tela

discute a eficácia da decretação da prisão do réu, sob a alegação de que este havia

fugido do distrito da culpa, porém não poderia este ter fugido do distrito da culpa,

uma vez que tinha sido impronunciado e essa decisão transitado em julgado. Ocorre

que não houve a citação pessoal do acusado sobre a nova denúncia, não

comparecendo para o interrogatório pessoal após a citação por edital, ficando o

processo suspenso até o cumprimento do mandado de prisão em 2010. Veja-se:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. CRIME SUPOSTAMENTE COMETIDO EM 18/12/2003. PACIENTE EM LIBERDADE. DECISÃO DE IMPRONÚNCIA EM 2004. TRÂNSITO EM JULGADO. NOVA DENÚNCIA. NÃO LOCALIZAÇÃO DO PACIENTE. SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO PRAZO PRESCRICIONAL. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA EM 2007 COM FUNDAMENTO NA NECESSIDADE DA PRESENÇA DO ACUSADO PARA JULGAMENTO PERANTE O TRIBUNAL DO JÚRI. MANDADO DE PRISÃO CUMPRIDO EM 2010. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDO. SUPERVENIÊNCIA DE DECISÃO DE PRONÚNCIA. MANUTENÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR COM FUNDAMENTO EM SUPOSTA FUGA DO PACIENTE. FATO NÃO COMPROVADO NOS AUTOS. ILEGALIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. O PACIENTE FOI DENUNCIADO EM 2003 PELA PRÁTICA DO CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. DURANTE O PROCESSO, FOI REVOGADA SUA PRISÃO PREVENTIVA E O PACIENTE RESPONDEU AO PROCESSO EM LIBERDADE, COMPARECENDO AOS ATOS PROCESSUAIS. EM 2004, O PACIENTE FOI IMPRONUNCIADO. NÃO FOI LOCALIZADO PARA A INTIMAÇÃO DA DECISÃO, MAS, EM SEGUIDA, COMPARECEU ESPONTANEAMENTE AO JUÍZO E DEU-SE POR INTIMADO. A DECISÃO TRANSITOU EM JULGADO. 2. POSTERIORMENTE, EM 2005, O MINISTÉRIO PÚBLICO OFERECEU NOVA DENÚNCIA CONTRA O PACIENTE, QUE NÃO FOI LOCALIZADO PARA A CITAÇÃO PESSOAL E NÃO COMPARECEU AO INTERROGATÓRIO APÓS CITAÇÃO POR EDITAL. FOI DETERMINADA A SUSPENSÃO DO PROCESSO E DO PRAZO PRESCRICIONAL, BEM COMO FOI REALIZADA A PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS. FINDA A INSTRUÇÃO ANTECIPADA, FOI DECRETADA A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE, COM FUNDAMENTO EXCLUSIVO NA NECESSIDADE DA PRESENÇA DO PACIENTE PARA SER SUBMETIDO AO TRIBUNAL DO JÚRI. 3. O MANDADO DE PRISÃO PREVENTIVA FOI CUMPRIDO EM 2010. FORMULADO PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA, O JUÍZO A QUO INDEFERIU O PLEITO, MANTENDO A FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA. SOBREVINDA DECISÃO DE PRONÚNCIA EM DESFAVOR DO PACIENTE, O JUÍZO MANTEVE A SUA PRISÃO CAUTELAR, COM FUNDAMENTO NA APLICAÇÃO DA LEI PENAL, JÁ QUE O PACIENTE TERIA FUGIDO DO DISTRITO DA CULPA, CAUSANDO TRANSTORNOS AO PROCESSO. 4. A FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE DECRETOU A PRISÃO PREVENTIVA, BEM COMO DA DECISÃO QUE MANTEVE A SEGREGAÇÃO CAUTELAR NA PRONÚNCIA, DEVE SER AFASTADA. 5. NÃO MAIS SUBSISTE, NA ATUAL SISTEMÁTICA PROCESSUAL, A

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NECESSIDADE DA PRESENÇA DO ACUSADO PERANTE O JÚRI, DE MODO QUE TAL FUNDAMENTAÇÃO, POR SI SÓ, NÃO É IDÔNEA PARA DECRETAR A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE. 6. IGUALMENTE, NÃO RESTOU COMPROVADO NOS AUTOS QUE O PACIENTE SE EVADIU DO DISTRITO DA CULPA. EM VERDADE, O PACIENTE HAVIA SIDO IMPRONUNCIADO E A REFERIDA DECISÃO HAVIA TRANSITADO EM JULGADO PARA ACUSAÇÃO E PARA DEFESA, DE MODO QUE O PACIENTE NÃO MAIS RESPONDIA A NENHUM PROCESSO CRIMINAL. ASSIM, NÃO ERA RAZOÁVEL EXIGIR-SE DO PACIENTE QUE COMUNICASSE EVENTUAL MUDANÇA DE ENDEREÇO AO JUÍZO, ALÉM DE QUE NÃO SE PODE DIZER - SEM ELEMENTOS CONCRETOS - QUE O PACIENTE FUGIU DO DISTRITO DA CULPA. 7. ADEMAIS, O SUPOSTO DELITO FOI COMETIDO EM 2003 E NÃO SE TEM, POR ORA, NOTÍCIA DE QUE O PACIENTE TENHA SE ENVOLVIDO EM OUTRO ATO CRIMINOSO DESDE ENTÃO. 8. DEVE, PORTANTO, SER REVOGADA A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE, SEM PREJUÍZO DE QUE OUTRA DECISÃO, DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA, SEJA PROFERIDA. 9. ORDEM CONCEDIDA, PARA REVOGAR A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE. (TJ-DF - HC: 58996120108070000 DF 0005899-61.2010.807.0000, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Data de Julgamento: 13/05/2010, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação: 26/05/2010, DJ-e Pág. 184).

Por outro lado, muito se fala sobre novas provas para acusar o réu, mas

quando as provas são de sua inocência? O código não traz nenhuma solução para

essa situação.

Paulo Rangel defende a ideia de que, nesses casos, deve-se usar,

analogicamente, a ação de revisão criminal, afinal, essa norma foi criada para

reparar erro judiciário, resgatando a dignidade da pessoa humana, razão pela qual,

defende a ideia de usá-la analogicamente para desfazer a coisa julgada formal, pois

naquele processo nada mais se pode fazer.

Por outro norte, há quem sustente que, para tal situação, poderia se utilizar a

ação declaratória, prevista no artigo 4º, do Código de Processo Civil, que assim diz:

A sentença de impronuncia produz coisa julgada formal, vez que não há julgamento de mérito. Mas, como referido anteriormente, traz irrefutável prejuízo ao impronunciado, vez que, diante da prova de sua inocência, não pode ver declarada a sua absolvição, com o que, pelo estigma processual, sua dignidade permanece ofendida. Entendo que, aplicando a analogia, deve-se fazer uso da ação declaratória prevista no art.4º do Código de Processo Penal. (NASSIF, 2002, p.95 apud RANGEL, 2010, p.645).

4.9 A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DA IMPRONÚNCIA À LUZ DE ALGUNS

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Antes de se passar ao tópico principal e final desse trabalho, é importante

tratar um pouco sobre Constituição Federal e seus princípios. E quem traz um

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conceito sobre Constituição são Ricardo Chimenti, Fernando Capez, Marcio Rosa e

Marisa dos Santos (2006, p. 1) para os quais “a Constituição é a lei fundamental ao

Estado e ao seu povo, ditando ao primeiro os limites de atuação como forma de

proteger ou tutelar o segundo.”

E nesse contexto sobre limites de atuação e forma de proteger, Montesquieu

(1995, apud CHIMENTI; SANTOS; ROSA; CAPEZ, 2006, p.1), já dizia a muito sobre

o poder: “É uma experiência eterna que todo homem que tem poder é levado à dele

abusar: ele o faz até que encontre limites.”

Analisando o que Monstesquieu retrata sobre o poder, é fácil entender o

motivo pelo qual a Constituição foi criada, e qual é a sua função, ou seja, cabe a

esta impor limites, bem como legitimar o exercício do seu poder.

E Kelsen (apud CHIMENTI; SANTOS; ROSA; CAPEZ, 2006, p.2)

complementa dizendo que “a Constituição é a lei fundamental, a primeira imposta

pelo Estado e a que vincula o modo de elaboração de todas as demais normas

jurídicas.”

Razão pela qual conclui-se que toda e qualquer norma deve estar em acordo

com essa máxima, pois esta é o princípio fundante de todas as outras. Motivo pelo

qual a Constituição Federal dita princípios que devem ser respeitados, para que não

haja conflito e desequilíbrio entre as normas. Esses princípios fundamentais servem

como regra-matriz para a elaboração, interpretação e integração do sistema jurídico.

Sendo assim, é importante complementar que:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao principio implica ofensa não apenas a um especifico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade [...]. Representa insurgência contra todo o sistema, subversão de valores fundamentais. (MELLO, apud CHIMENTI; SANTOS; ROSA; CAPEZ, 2006, p. 34).

E dentre esses princípios fundamentais encontra-se a máxima presente no

artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, qual seja: o Princípio da

Dignidade da Pessoa Humana.

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4.9.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

Sendo este princípio fundamental e referencial Constitucional unificador dos

direitos inerentes à pessoa humana, ele nasceu a partir do cristianismo, com o

conceito de pessoa como ser espiritual e dotada de valores, logo, de direitos

fundamentais, bem como de dignidade.

Razão pela qual Luiz Regis Prado destaca que:

Desse modo, o coerentemente com a sua finalidade maior, o Estado de Direito democrático e social deve consagrar e garantir o primado dos direitos fundamentais, abstendo-se de práticas a eles lesivas, como também propiciar condições para que sejam respeitados, inclusive com a eventual remoção de obstáculos à sua total realização. (2007, p.137).

Entretanto, toda e qualquer norma deve ser criada respeitando esse

princípio fundamental, e conclui Luiz Regis Prado (2007, p. 138), segundo o qual

sustenta que “toda e qualquer lei que viole a dignidade da pessoa humana deve ser

reputada como inconstitucional.”

Portanto a decisão de impronúncia é inconstitucional por violar o princípio da

dignidade da pessoa humana, uma vez que declara não ter encontrado os menores

indícios de que o acusado seja autor do crime a ele imputado, e mesmo assim o

deixa no limbo da espera, não o absolvendo. Fazendo com que o acusado amargue

essa decisão para o resto da sua vida. Pois, mesmo que passe o prazo prescricional

e não ocorra à reabertura do processo com uma nova denúncia, o acusado terá

sempre um caso indefinido, que não declarou sua culpa, muito menos sua inocência,

ferindo profundamente sua dignidade enquanto pessoa humana.

Dessa forma, finaliza-se sobre esse princípio fundamental com a frase do

estudioso Beccaria (Becaria, p.316 apud PRADO, 2007, p. 137), para quem “não

existe liberdade onde as leis permites que, em determinadas circunstâncias, o

homem deixe de ser pessoa e se converta em coisa.”

4.9.2 Princípio da Presunção de não Culpabilidade

Previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal (BRASIL, 2014,

página única), segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em

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julgado de sentença penal condenatória”, este princípio como regra geral da

liberdade, e fundamental do estado de direito, advindo do in dúbio pro reo.

A exceção ao princípio da presunção de não culpabilidade e que decorre

deste, é o instituto da prisão, como a prisão em flagrante, e a prisão cautelar, dentro

outros. Não podendo admitir a expedição automática de mandado de prisão, por

sentença penal condenatória, bem como decisão de pronúncia, quando ainda existir

meios para impugná-las.

Outrossim, com relação às provas no processo, o referido princípio indica

que a dúvida com relação à prova dos fatos, a não demonstração da materialidade e

autoria, favorecem ao réu.

Nelson Nery Junior leciona sobre a questão do ônus da produção da prova:

A questão do ônus da prova ser atribuível ou não ao réu para que possa ser absolvido é, a nosso juízo, irrelevante, porque, em virtude da presunção de não culpabilidade, ele não precisa fazer a prova do álibi ou das excludentes de antijuridicidade e de culpabilidade. Ao revés, a acusação é que precisa derrubar a presunção constitucional iuris tantum que milita em favor do réu, comprovando o contrário do que dela resulta, isto é, a culpa (strictu Sensu) do réu. Condenação, só com prova induvidosa da culpabilidade, prova essa cujo ônus cabe á acusação. (2010, p.305).

Dessa forma, concluí-se que, sendo o órgão acusador o responsável por

comprovar os fatos alegados na denúncia crime, ou queixa, e falhando esse na sua

pretensão acusatória, não deve o réu ser prejudicado por isso, sendo impronunciado

e ficar aguardando que surja novas provas para um nova denúncia, ou o prazo

prescricional para ter a certeza que nenhuma acusação surgira contra ele, havendo

dúvida, e não comprovação da autoria e materialidade do crime, essas devem ser

favoráveis ao réu e não prejudicá-lo.

4.9.3 Princípio da Celeridade e da Duração Razoável do Processo

Trata-se do desdobramento do principio do direito de ação, do artigo 5º,

inciso XXXV, da CF/88.

Em acréscimo ao rol dos direitos e garantias fundamentais, a Emenda

Constitucional nº 45/4 inseriu o inciso LXXVIII, no artigo 5º, da CF/88 (BRASIL,

2014, página única), in verbis: “A todos no âmbito judicial e administrativo, são

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assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade

de sua tramitação (...).”

Dessa forma Nelson Nery Junior assevera que:

[...] com muito maior razão se pode afirmar que a justiça tem de ser feita da forma mais rápida possível, sempre observando os preceitos constitucionais que devem ser agregados ao principio da celeridade e razoável duração do processo, como o devido processo legal, a isonomia, o contraditório e ampla defesa, o juiz natural (administrativo e judicial) etc. (2010, p. 320).

Razão pela qual a decisão de impronúncia não respeita a duração razoável

do processo, uma vez que, o impronunciado deverá conviver com uma incerteza

durante vinte anos, isso não parece célere e nem tempo razoável.

Após a explanação desses princípios basilares, passar-se-á ao tópico final

desse trabalho, ou seja, sobre a inconstitucionalidade da decisão de impronúncia.

4.10 INCONSTITUCIONALIDADE DA DECISÃO DE IMPRONÚNCIA

Paulo Rangel é um dos grandes defensores da ideia sobre a

inconstitucionalidade da decisão de impronúncia, pois o que se espera dentro de um

Estado Democrático de Direito é a segurança jurídica, e que as decisões judiciais

tenham fim. Por esse viés, é notório que a impronúncia não oferece nenhuma

segurança ao acusado, uma vez que este não tem a certeza que o Ministério Público

pedirá sua absolvição.

Ademais, não se encontrando indícios suficientes de que o acusado é o

autor do fato, é inaceitável que ele permaneça sentado no banco de reserva,

vivendo na insegurança, aguardando a extinção da punibilidade, ou até que

apareçam novas provas.

Paulo Rangel ainda sustenta que:

A decisão de impronuncia é um nada. O indivíduo não está nem absolvido nem condenado. Se solicitar sua folha de antecedentes, consta o processo que está paralisado pela impronúncia. Se precisar de folhas de antecedentes criminais sem anotações, não terá. E pior: o Estado disse que não há os menores indícios de que ele é o autor do fato, mas não absolveu. Por quê? Porque essa decisão é resquício do sistema inquisitorial, da época em que o réu tinha que, a todo custo, ser condenado. (2010, p.643-644).

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Outrossim, a decisão de impronúncia fere o princípio da presunção de

inocência do acusado, afinal, se o Estado não consegue provar a culpa do

incriminado, não é lícito que se sacrifique a dignidade do deste, em que pese, o

próprio processo já lhe causar um mal irreparável, que jamais se esquecerá.

Fauzi Hassan Choukr acompanha esse pensamento, alegando que o artigo

da impronúncia não é compatível com a Constituição de 1988 e com a Convenção

Americana de Direito Humanos - CADH, pois:

a) Viola o princípio da presunção de inocência, com a imposição de uma “suspeita indefinida” (nos limites da prescrição), na qual o Estado afirma a inocorrência do crime e aduz não haver indícios de autoria para, ao final, impor a possibilidade de voltar a efetuar a persecução sobre os mesmos fatos; b) Justifica, sob o manto de “controvérsia jurisprudencial” (RT 636/320), que possam existir provimentos que não ponham fim a uma determinada pretensão, como se não houvesse ocorrido qualquer tipo de atividade cognitiva sobre o objeto do processo. (2009, p.107).

Em que pese o titular da ação penal ter ofertado a peça acusatória; a qual,

por sua vez, for recebida pelo juiz; ato contínuo, produzidas as provas, não

encontrando indícios suficientes de que o réu é o autor do fato criminoso a ele

imputado, lhe impronunciando, deixando-o no aguardo da prescrição à espera de um

milagre.

Milagre por parte do órgão acusador de que apareçam novas provas para

condená-lo. Mas, se essas provas não foram encontradas a tempo, se não foram

descobertas assim que desvelado o crime, qual é hora propícia para encontrá-las?

Como descobri-las com passar do tempo? Onde elas caem no esquecimento pelo

passar dos anos, onde provas, principalmente as testemunhais, muitas vezes, são

apagadas, como queima de arquivo.

Milagre também por parte do acusado, que passará todo o prazo

prescricional torcendo para que não apareçam novas provas, para que não volte a

passar por toda essa situação humilhante e vexatória.

Nesse contexto, é preciso lembrar que existem dois tipos de pessoas

passíveis de impronúncia.

Os primeiros são os que realmente são culpados pelo fato criminoso e,

nesse caso, não há dúvidas de que ele se sentirá muito prazeroso por ser

impronunciado - e ainda zombará dos órgãos competentes por não obter êxito em

encontrar provas condenatórias contra ele.

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Mas, também, tem-se o réu impronunciado que realmente é inocente, que,

sem dúvida, sentirá aliviado por não ter que ir para o sistema prisional, mas, por

outro lado, são pessoas que zelam por seu nome, sua reputação, que pelo fato de

terem sido indiciadas em um inquérito policial, terem sido denunciadas perante um

juiz togado, sentirão uma grande mácula em seu peito, e isso lhe acompanhará por

toda sua vida, pois, para essas, toda a noite quando elas deitarem sua cabeça no

travesseiro, sua consciência as lembrarão que passaram por todo esse processo

humilhante, sem poder provar sua inocência e, para essas pessoas, talvez a decisão

melhor fosse ir à júri popular e, perante os seus pares, receber uma sentença de

absolvição, lavando a sua alma e o seu caráter perante sociedade.

No aspecto financeiro, a referida decisão também pode causar transtornos

para o acusado que vive no limbo da impronúncia, pois o legitimado poderá propor

no civil ação de ressarcimento de danos, causando-lhe irreparável prejuízo.

Greco também considera a decisão de impronúncia inconstitucional,

ressaltando-se que a decisão de impronúncia é a única em nosso sistema jurídico

que permite que um mesmo réu possa responder duas vezes pelo mesmo fato:

Apesar de a questão não ter sido ventilada, entendemos que essa disposição é inconstitucional, por violar o principio de liberdade de que ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato. Por que nos crimes dolosos contra a vida alguém pode sofrer o constrangimento de um processo penal sem que isso extinga definitivamente a pretensão punitiva e nos demais crimes não? Qual a diferença do homicídio com relação ao latrocínio, por exemplo? Neste, normalmente muito mais reprovável, considerado, alias crime hediondo, a absolvição por falta de provas impedira qualquer nova ação penal sobre o mesmo fato. (2010, p. 394).

Aury Lopes Jr. concorda com a ideia defendida por Rangel, dizendo se tratar

de uma decisão substancialmente inconstitucional, que viola a presunção de

inocência e o in dúbio pro reo, defendendo que a melhor solução seria a decisão

absolutória. E complementa dizendo que:

A impronúncia remonta a uma racionalidade tipicamente inquisitória, em que o herege não deveria ser plenamente absolvido, senão que – como explica EYMERICH – ‘ o inquisidor tomará cuidado para não declarar em sua sentença de absolvição que o acusado é inocente ou isento, e sim esclarecer bastante que nada foi legitimamente provado contra ele; desta forma, se, mais tarde, trazido novamente diante do tribunal for indiciado por causa de qualquer crime, possa ser condenado sem problemas, apesar a sentença de absolvição. (2013, p.1.019).

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Sobre as críticas levantadas sobre a inconstitucionalidade da decisão de

impronúncia, Guilherme de Souza Nucci leciona que:

Não existe similar modalidade de decisão no procedimento comum, alheio ao júri. Se as provas foram colhidas, respeitado o devido processo legal, com seus corolários principais (ampla defesa e contraditório), não se encontrando suficiência de elementos para encaminhar o caso a julgamento de mérito pelo juízo natural da causa (o Tribunal Popular), o indicado seria a absolvição. Perdeu-se a oportunidade de sanar esse estranho meio-termo, que torna a impronuncia uma sentença provisória, algo inconciliável com o processo penal democrático almejado pela Constituição Federal de 1988. (2013, p.119).

Nucci faz uma importante observação ao dizer que fora do Tribunal do Júri

não existe outra decisão que tenha passado pela produção de provas, observando

os princípios do contraditório e da ampla defesa e, mesmo assim, mantém o

acusado no limbo, destoando de tudo o que foi almejado pela Constituição Federal.

Diante do exposto conclui-se que a decisão de impronúncia, com efeito, é

inconstitucional, pois viola os principais princípios corolários, tais como a presunção

de inocência, o prazo razoável de um processo e, principalmente, o princípio da

dignidade da pessoa humana.

Autores como Paulo Rangel, Fauzi Hassan Choukr, Guilherme de Souza

Nucci e Aury Lopes Jr. defendem fielmente essa idéia. Juristas que brilhantemente

se debruçaram sobre o tema, estudando incansavelmente, correlacionando com as

garantias existentes em nossa Constituição e demais ordenamentos, concluindo, por

fim, que essa decisão deveria ter sido banida do nosso ordenamento jurídico com a

reforma da Lei nº 11.689/08, e que, na dúvida, a melhor solução seria a absolvição

sumária.

Afinal, não tem cabimento uma mesma pessoa ser processada duas vezes

pelo mesmo fato, e pior, viver aguardando até que um crime se prescreva sem

nenhuma segurança, como se os processos judiciais não tivessem fim.

Em que pese o entendimento dos brilhantes doutrinadores, os Tribunais

Superiores não tem se manifestado sobre o tema, e a impronúncia continua sendo

aplicada diariamente em nosso judiciário, passando por cima de todos os princípios

constitucionais e, principalmente, de tudo aquilo que se espera dentro de um Estado

Democrático de direito.

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5 CONCLUSÃO

Diferente de muitos países que já baniram o Tribunal do Júri dos seus

ordenamentos jurídico, o Brasil ainda o mantém, como forma de dar ao acusado um

julgamento mais justo.

O Tribunal do Júri foi instituído no Brasil em 18 de junho de 1822. Passando

por muitos momentos importantes vividos por nosso país, e foi inserido em nossa

atual Constituição Federal no artigo 5º, inciso XXXVIII, como direito e garantia

individual, não podendo ser suprimido nem por emenda constitucional, por se tratar

de cláusula pétrea.

Portanto, antes de um caso ser encaminhado ao conselho de sentença, o

processo passa pela primeira fase, conhecida como juízo de admissibilidade, na

qual, após o oferecimento da denúncia pelo Ministério Público e o recebimento da

acusação pelo juiz, ocorrerá a produção de provas, respeitando a ampla defesa, e o

contraditório.

Se nessa fase o Ministério Público não conseguir manter a denúncia

formulada e o juiz não encontrar provas, indícios suficientes, ou exista dúvidas de

que o acusado seja o autor do crime imputado, o juiz proferirá uma decisão de

impronúncia contra o acusado.

Logo, o acusado estará no limbo, pois enquanto não ocorrer a prescrição, o

acusado poderá vir a responder pelo mesmo fato criminoso, desde que haja novas

provas, ou seja, inéditas, que não eram conhecidas no momento do julgamento

anterior.

Diferentemente do que ocorre, a decisão de impronúncia não transitará em

julgado, tendo a pretensão punitiva esgotada somente com a prescrição do crime.

Razão pela qual, muitos doutrinadores defendem a idéia de que a

impronúncia é inconstitucional, pois o que se almeja dentro de um Estado

Democrático de Direito é que os processos tenham um tempo razoável de duração,

não se estendendo demasiadamente, causando grandes sofrimentos, e ferindo a

dignidade do acusado, vivendo em dúvida constante sobre a sua inocência.

Em que pese à alteração feita com o advento da Lei nº 11.689/08, essa não

trouxe alterações significativas sobre a decisão de impronúncia, perdendo de reparar

as grandes afrontas aos princípios básicos da atual Constituição Federal.

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Por fim, a decisão de impronúncia apenas deixa uma sensação de

insegurança jurídica, ao deixar um caso sem solução, e como diz Paulo Rangel,

deixando o acusado no banco de reserva, não o condena, mas também não o

absolve, fica aguardando que surjam novas provas, numa verdadeira afronta ao

Estado Democrático de Direito.

Para quê ter uma Constituição repleta de garantias, se as mesmas não são

respeitadas? Onde fica o princípio da presunção de inocência do acusado? O

princípio da dignidade da pessoa humana? Se a Constituição, no seu artigo 5º,

inciso LVII, garante que toda pessoa será presumidamente inocente, até a sentença

penal condenatória transitada em julgado, como admitir uma decisão que não

transita em julgado? Sendo essa a pergunta que não quer calar, razão pela qual

muitos doutrinadores defendem sobre a sua inconstitucionalidade.

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REFERÊNCIAS

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_______. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Habeas Corpus nº 58996120108070000-DF 0005899-61.2010.807.0000, Relator Desembargador Roberval Casemiro Belinati, Data de Julgamento 13/05/2010, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação 26/05/2010, DJ-e p. 184. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Apelação Criminal nº 1088347-5, Região Metropolitana de Londrina - Foro Central de Londrina, Relator Desembargador Macedo Pacheco, 1ª Câmara Criminal, decisão unânime , julgado em 12.12.2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Recurso em Sentido Estrito nº 941778-7, Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, Relator Desembargador Marcos S. Galliano Daros, 1ª Câmara Criminal, decisão unânime, julgado em 22.02.2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Criminal nº 70055429849-RS, Relator Desembargador Julio Cesar Finger, Data de Julgamento 11/12/2013, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação Diário da Justiça do dia 21/01/2014. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso em Sentido Estrito nº 70055518278-RS, Relator Desembargador Julio Cesar Finger, Data de Julgamento 18/12/2013, Primeira Câmara Criminal, Data de Publicação Diário da Justiça do dia 04/02/2014. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Recurso em Sentido Estrito nº 70054617337-RS, Relator Desembargadora Lizete Andreis Sebben, Data de Julgamento 08/08/2013, Segunda Câmara Criminal, Data de Publicação Diário da Justiça do dia 12/09/2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso em Sentido Estrito nº 70051620789, Segunda Câmara Criminal, Relator Desembargador Osnilda Pisa, julgado em 28/01/2014. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Recurso em Sentido Estrito nº 70054902044-RS, Relator Desembargador Jayme Weingartner Neto, data de julgamento: 03/10/2013, Terceira Câmara Criminal, data de publicação Diário da Justiça do dia 23/10/2013. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>. Acesso em: 21 mar. 2014. _______. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Recurso em Sentido Estrito nº 0043572-43.2010.8.19.0004, Oitava Câmara Criminal, Relator Desembargador Gilmar Augusto Teixeira, Julgamento em 21/11/2013. Disponível em

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