a arte de se fazer respeitar

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  • A artede se fazerRESPEITAR

  • Ttulo original: Sanfte SelbstbehauptungCopyright 2006 por Ksel-Verlag, uma diviso da Verlagsgruppe,

    Random House GmbH, Mnchen, Alemanha (www.koesel.de)Copyright da traduo 2013 por GMT Editores Ltda.Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livropode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios

    existentes sem autorizao por escrito dos editores.

    A publicao deste livro foi negociada comUte Krner Literary Agent, S.L., Barcelona (www.uklitag.com)

    traduoCarlos Nougu

    preparo de originaisCristiane Pacanowski

    revisoJos Grillo, Natalia Klussmann e Rafaella Lemos

    diagramaoAbreus System

    capaSilvana Mattievich

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    B439aBerckhan, Barbara

    A arte de se fazer respeitar [recurso eletrnico] / Barbara Berckhan [traduo de Carlos Nogu];Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

    recurso digitalTraduo de: Sanfte selbstbehautungFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe Digital EditionsModo de acesso: World Wide WebISBN 978-85-7542-908-2 (recurso eletrnico)1. Assertividade (Psicologia). 2. Linguagem corporal. 3. Comunicao no-verbal. 4. Livros

    eletrnicos. I. Ttulo.

    13-1127 CDD: 153.69CDU: 159.9:316.722.2

    Todos os direitos reservados, no Brasil, porGMT Editores Ltda.

    Rua Voluntrios da Ptria, 45 Gr. 1.404 Botafogo22270-000 Rio de Janeiro RJ

    Tel.: (21) 2538-4100 Fax: (21) 2286-9244E-mail: [email protected]

    www.sextante.com.br

  • SUMRIO

    Introduo

    A primeira estratgia na arte de se fazer respeitar:a postura rgia

    A segunda estratgia na arte de se fazer respeitar:a vontade firme

    A terceira estratgia na arte de se fazer respeitar:a negativa amvel

    A quarta estratgia na arte de se fazer respeitar:a obstinao educada

    A quinta estratgia na arte de se fazer respeitar:a autoconfiana ousada

  • INTRODUO

    A arte de se fazer respeitar consiste em manter a calma, agir com dignidade e se expressar demaneira clara, sem atacar ningum verbalmente. Em vez de dar gritos exaltados, aja comdeterminao e elegncia. Em vez de car mudo, comunique-se claramente a m de evitar mal-entendidos.

    Neste livro apresento cinco estratgias simples e ecazes para conseguir que os outros orespeitem sem que isso seja um sacrifcio. As pessoas seguras de si certamente as colocam emprtica para se impor aos outros. Se voc tambm autoconante, bem provvel que j as utilize,mesmo que inconscientemente.

    Nos ltimos 12 anos trabalhando como especialista em comunicao, descobri essas estratgiasde autoarmao e as usei para elaborar um guia prtico. Os comentrios dos meus alunos meajudaram a aperfeio-las, tornando-as ainda mais teis.

    Gosto de ser prtica tanto em meus cursos quanto em meus livros, por isso dou preferncia ainstrues claras. Neste livro explicarei detalhadamente em que consiste a autoarmao. Voc aquiencontrar receitas para cada uma das cinco estratgias, alm de sugestes de frases que poder usarpara se expressar e as formas mais eficazes de fazer isso.

    Caber a voc transformar essas estratgias e adapt-las sua realidade. Se, por exemplo, voc tmido e no costuma levantar a voz, provavelmente se expressar com mais suavidade. Aocontrrio, se voc tem tendncia a ser duro quando se dirige a algum e a discutir com frequncia,certamente agir de maneira mais ousada e contundente do que proponho neste livro. Mas nadadisso problema. Nos diversos captulos voc encontrar sugestes e incentivos, e no dogmasincontestveis. Que tal se inspirar com as minhas propostas e adequ-las a seu prprio estilo,fazendo delas um hbito e tornando-as parte da sua personalidade? Agindo com naturalidade, semexageros, mantendo a calma e a segurana, voc conseguir ser espontneo e convincente.

    Voc logo perceber que as cinco estratgias esto estreitamente ligadas. A primeira tem a vercom sua linguagem corporal e a impresso que voc transmite aos outros. A segunda o ensina aexpor seus desejos de maneira incisiva, dizendo claramente o que quer. Com a terceira estratgiavoc conseguir dizer no sem diculdade, aprendendo a impor limites e a manter os outros sobcontrole. Se suas negativas ou seus desejos no forem bem recebidos por seu interlocutor, voc terque ser enrgico para fazer valer sua vontade, lanando mo de outra estratgia: a da obstinaoeducada. E, para terminar, conhecer a quinta estratgia, que certamente a mais importante: aautoconfiana ousada, sempre necessria.

    Espero que as dicas e os exemplos apresentados neste livro o ajudem a mudar sua maneira deagir, de modo que voc passe a ser respeitado em todas as situaes do dia a dia.

  • A PRIMEIRA ESTRATGIA NAARTE DE SE FAZER RESPEITAR:A POSTURA RGIA

    Todas as pessoas observam sua linguagem corporal, o analisam e fazem uma ideia de como voc .Elas o avaliam antes mesmo de voc falar qualquer coisa, e isso costuma acontecer de maneirainconsciente, ou seja, automaticamente.

    A linguagem corporal expressa seu estado de esprito.

    Nossa mente examina de imediato se a pessoa que est diante de ns forte e ameaadora oufraca e inofensiva. Nos primrdios da humanidade, essa avaliao automtica era muito importantepara distinguir depressa um amigo de um inimigo. Mas a primeira impresso continua a serfundamental hoje em dia. Ainda analisamos os outros e no s para saber se so perigosos, mastambm para ver se esto tensos, nervosos ou inseguros. E se a pessoa com quem interagimosdemonstra interesse por ns, observamos se ela verdadeiramente cordial ou se s aparenta s-lo.

    Esse processo transcorre sem que nos demos conta dele e no costuma ter maioresconsequncias. E da se o sujeito ao nosso lado no metr estiver nervoso ou se no lhedespertarmos interesse? Desde que ele no nos trate de maneira agressiva, pouco importa o que osgestos dele transmitem.

    Mas numa entrevista de trabalho ou quando pedimos algo a algum colega, a linguagemcorporal desempenha um papel muito importante.

    O QUE DIZEMOS SEM PALAVRAS

    Durante conversas importantes, presteateno sua linguagem corporal.

    Imagine-se na seguinte situao: em uma reunio, voc tenta convencer seu diretor de que apessoa ideal para o novo cargo de gerente do departamento. Ctico, ele lhe pergunta se voc seconsidera capacitado para assumir as responsabilidades e dar conta dos desaos inerentes funo.Voc responde, convencido: Mas claro! E, em seguida, fala de sua experincia e de suasaptides. O problema que voc no est consciente de sua linguagem corporal e no percebe quese encolheu ligeiramente na cadeira, contorcendo os dedos com nervosismo. Alm disso, voc falaolhando para o cho. No entanto, seu chefe repara no seu modo de agir. Ele escuta o que voc dizao mesmo tempo que capta os sinais que o seu corpo transmite. assim que ele forma uma ideia devoc. E, por mais convincentes que tenham sido suas palavras, voc ter dado a ele a impresso deque inseguro. O chefe desconar, questionando-se se voc de fato capaz de ocupar um cargo

  • gerencial. Com isso, bem provvel que voc receba um no como resposta.

    Sua linguagem corporal revela se voc uma pessoa segura de si ou no.

    Essa situao tambm pode ocorrer durante uma entrevista de trabalho ou em qualquer outraocasio em que voc precise se impor e se fazer respeitar. Se estamos nervosos ou ansiosos, logodeixamos escapar algum sinal de insegurana por meio da linguagem corporal. E, como na maiorparte do tempo no estamos conscientes dela, muitas vezes no nos damos conta de que emitimosesses sinais. Mas nosso interlocutor os percebe e reage a eles.

    Uma linguagem corporal que expresse segurana o ajudar a se fazer respeitar em praticamentetodas as situaes. Se no meio de uma conversa voc no se lembrar de um detalhe ou perder o oda meada, no ter problema, desde que transmita segurana e autoridade, pois assim seuinterlocutor no ir reparar em seus lapsos de memria. Mas se voc se senta curvado e mexe naroupa constantemente, nem mesmo o discurso mais perfeito passar uma boa impresso. E issoporque, instintivamente, acreditamos mais na linguagem corporal do que no que est sendo dito.

    Sua capacidade de parecer convincente e verossmildepende, em grande parte, de sua linguagem corporal.

    Desenvolvi uma estratgia que o ajudar a utilizar a linguagem corporal de maneira consciente:a postura rgia.

    Com ela voc conseguir: Fazer-se ouvir e ser levado a srio. Parecer seguro de si, mesmo que esteja inseguro. Aumentar sua credibilidade. Falar com tranquilidade e de modo convincente. Reforar sua autoconfiana e reduzir o nervosismo. Pensar melhor durante as conversas e responder mais prontamente.

    Duplamente til, a postura rgia tem como objetivo transmitir a seu interlocutor uma impressode autoridade ao mesmo tempo que faz com que voc se sinta mais seguro porque passou a adot-lade maneira consciente.

    A postura rgia tambm lhe proporcionasegurana interior.

    Como fica sua aparncia quando voc est inseguro?

    Que postura voc adota normalmente quando se sente inibido, tmido ou nervoso? Quando est

  • tenso ou com medo, como voc demonstra esses sentimentos?Na lista a seguir voc encontrar os sinais mais frequentes de insegurana e talvez identique

    um ou outro em si mesmo.

    A linguagem corporal dos inseguros

    Costumam manter as costas curvadas e o peito um pouco afundado. Com essa postura,algumas pessoas do a impresso de serem mais baixas e mais magras do que de fato so, tantode p quanto sentadas.

    Raramente, ou nunca, fazem contato visual. Com frequncia levantam um pouco os ombros. Quase no mexem a cabea e costumam xar o olhar numa nica direo. s vezes do um

    sorriso exagerado, como se quisessem agradar o outro, ou mordiscam o lbio, demonstrandoinsegurana.

    Quando esto de p, costumam colocar o peso do corpo sobre uma das pernas e cruzar a outra,seja pela frente ou por trs.

    Projetam os ombros ligeiramente para a frente, o que diculta a respirao e faz sua voz soarmais fraca e apressada.

    Alm de todas essas atitudes, as pessoas inseguras costumam mexer em joias ou acessrios queestejam usando. Elas tambm tm o hbito de alisar a roupa, se balanar, mudar vrias vezesde posio na cadeira, passar as mos pelo cabelo e apertar constantemente o boto da caneta.

    Aps ler esses tpicos, talvez se d conta de que, de vez em quando, voc transmite algumdesses sinais de insegurana. Se isso acontecer, no pense que a insegurana um defeito nemjulgue a si mesmo. normal ficar nervoso ou inseguro s vezes, e essa situao passageira.

    Pode at ser que voc perceba que emite alguns desses sinais mesmo sem estar inseguro. Talvezenrole uma mecha de cabelo, toque os brincos ou curve ligeiramente as costas quando se senta, poisesses so hbitos que voc adquiriu em algum momento e simplesmente os repete de modoautomtico, em qualquer ocasio. Isso prova que a linguagem corporal tambm se compe, emparte, de manias e costumes que as pessoas vo criando ao longo da vida.

    No incio de uma conversa, tente no se mover tanto,pois isso d a impresso de que voc est nervoso.

    Isso no exigir de voc muito esforo, no se preocupe. Basta controlar suas manias ou seuscacoetes, transmitindo autoconfiana e controle pessoa com quem est falando.

    COMO SENTAR-SE, FICAR DE P ECAMINHAR COM SEGURANA

  • Nas pginas a seguir, apresento duas maneiras possveis de adotar uma postura rgia. Na primeiradescrevo em detalhes como voc pode mudar sua linguagem corporal. A segunda maneira umpasso a passo resumido para ajud-lo a adotar essa postura em questo de segundos. Recomendoque voc leia com ateno cada uma dessas estratgias e coloque as duas em prtica.

    Estratgia de autoafirmao: a postura rgia

    1. No se encolha nem fique curvadoPara que sua linguagem corporal expresse segurana, voc deve manter a postura ereta. Ao

    sentar-se, no se encolha na cadeira nem se sente na beirada. O ideal que voc queconfortavelmente acomodado.

    2. Mantenha-se erguido e centradoQuando estamos nervosos ou estressados, costumamos levantar os ombros, quase como se nos

    protegssemos de um possvel golpe na nuca. Com o tempo, essa m postura enrijece suamusculatura e provoca dores no pescoo e na cabea. Portanto, abaixe os ombros e evite curv-lospara a frente, como se afundasse em si mesmo. Assim voc demonstrar ser uma pessoa segura desi. Quando estamos preocupados, tendemos a dirigir o olhar para uma s direo. Para no deixarque isso acontea, mantenha sempre a cabea erguida e mexa-a com naturalidade. Olhe ao redor egire a cabea para um lado e para outro. Ponha os braos e as pernas numa posio cmoda, semcruz-los ou deix-los muito abertos ou colados ao corpo. Quando estiver sentado, recomendo queseus ps fiquem apoiados no cho.

    3. Evite os gestos que indicam nervosismoFique atento para no fazer gestos que passem a ideia de que voc est nervoso, ainda mais no

    incio de uma conversa. Por exemplo, se voc tem tendncia a car balanando o p, melhor nocruzar as pernas. Se costuma car mexendo no relgio ou passando a mo no cabelo, leve consigoum bloco ou uma agenda em que possa fazer anotaes, mantendo assim as mos ocupadas.Escolha uma roupa que no amarrote com facilidade e que lhe caia bem, pois assim voc nosentir necessidade de ajeit-la com frequncia.

    4. Mantenha contato visual e permanea relaxadoFite seu interlocutor, mas desvie o olhar de vez em quando, j que olhar xamente para uma

    pessoa por muito tempo tambm sinal de insegurana. Portanto, recomendo que sustente o olharsempre que disser algo importante e convincente. Mas, de vez em quando, bom desviar os olhospara outra coisa. Isso no deve exigir muito esforo ou parecer articial. A postura rgia requerpouca fora muscular e deve ser digna e serena. Assim, permanea ereto, mas no enrijea osmsculos desnecessariamente. Respire fundo vrias vezes.

    A estratgia seguinte apresenta a postura rgia de forma resumida. Para que parea natural, importante que voc repita com frequncia os exerccios a seguir. Pratique em casa, quando estiverno nibus, fazendo compras ou em qualquer outra situao do dia a dia. Quando achar que j apraticou o bastante, adote sua prpria postura rgia nos momentos importantes.

  • Estratgia de autoafirmao: posturargia de forma resumida

    Quando estiver sentado Ocupe todo o assento. No se encolha num canto nem se sente na beirada. Mantenha as costas eretas e, se quiser, apoie-se no encosto. Endireite os ombros e abaixe-os um pouco. No cruze as pernas. Ponha os dois ps no cho e no os esconda debaixo do assento. No cruze os braos. Apoie-os relaxadamente nos braos da poltrona ou coloque as mos

    sobre as pernas. Segurar uma pasta ou uma agenda tambm pode ser uma boa ideia. Evite gestos que indiquem seu nervosismo e no se encolha. Mantenha contato visual com seu interlocutor, mas no olhe para ele o tempo todo. Respire relaxadamente e transmita segurana de maneira natural.

    Quando estiver de p Deixe as costas eretas. Endireite os ombros e abaixe-os um pouco. Mantenha a cabea erguida, sem enrijec-la, e mova-a com naturalidade. Descanse comodamente sobre as duas pernas. Deixe os braos estendidos e relaxados, evitando cruz-los no peito. Segurar uma pasta ou

    uma agenda na mo pode ajud-lo a permanecer nessa posio. Evite gestos que denotem nervosismo e no se encolha. Mantenha contato visual com seu interlocutor, mas no olhe para ele o tempo todo. Respire relaxadamente e transmita segurana de maneira natural.

    Quando estiver caminhando No corra nem caminhe apressadamente. Caminhe como se fosse um rei ou uma rainha.

    Mova-se com calma e serenidade. Mantenha a cabea erguida. Relaxe os msculos do rosto. Endireite os ombros e abaixe-os um pouco. Movimente os braos com naturalidade.

    MOSTRE SEGURANA DE MANEIRA NATURAL

    Voc vai perceber como esta estratgia de autoarmao simples e clara assim que a colocar emprtica. Na verdade, voc s precisa eliminar todos os hbitos e comportamentos que o diminuamou o rebaixem, libertando-se do nervosismo e da ansiedade. Ao fazer isso, voc ir resgatar algo

  • que sempre teve: sua postura natural. Dessa maneira, voc conseguir se manter centrado etransmitir segurana.

    A postura rgia no articial nem exagerada. apenas a que voc adota quando estcompletamente seguro de si.

    Quando comeam a praticar essa tcnica, as pessoas tendem a exagerar, esforando-se alm daconta, o que faz a postura parecer um pouco forada. Com isso, ficam como soldadinhos de chumboprendendo a respirao e permanecendo imveis. Tente encontrar um meio-termo, mantendo-seereto sem se enrijecer demais. Portanto, enquanto estiver de p ou caminhando, relaxe, mas noabandone a postura.

    Ao adotar a postura rgia, mantenha o corpo ereto masrelaxado, transmitindo segurana de maneira natural.

    Com ela, voc descobrir uma determinao serena e acapacidade de se superar constantemente. Sentar-se ou

    ficar de p majestosamente garante que voc esteja semprecom uma postura digna, mostrando que respeitvel.

    NUNCA MAIS SE SINTA INTIMIDADO

    Quando vai a um restaurante mais sosticado ou a uma loja luxuosa, voc algumas vezes se sentedeslocado? Se sua resposta for sim, no se preocupe: voc no a nica pessoa a se sentir assim.Isso tambm acontece comigo. automtico: assim que entro no local, sempre me vem aquelasensao de que no estou vestida adequadamente. Acabo cando insegura. Em vez de se deixardominar pela ansiedade, sugiro que voc aproveite essas ocasies para praticar sua postura rgia.

    Quando se sentir intimidado, adote a postura rgia.

    TRANSFORME-SE

    Nadine tinha 26 anos quando a conheci num dos meus cursos de autoarmao. Era uma daquelaspessoas que a princpio no se destacam na turma. Percebi que ela tinha diculdade em olhar paraos outros quando falava de si mesma. Ficava afundada na cadeira, como se estivesse se encolhendo,e, enquanto falava, parecia nervosa e se remexia o tempo todo, tentando fugir da situao.

    As pessoas que transmitem insegurana e nervosismo pormeio da linguagem corporal no costumam ser levadas a srio.

    Nadine estava cansada de ser tratada como criana pelos colegas de trabalho. Alm de ser amais nova da empresa, sua postura acanhada e insegura contribua para que eles no a levassem asrio. Quando se inscreveu no meu curso de autoarmao, seu objetivo era aprender a mudar sua

  • atitude e se livrar dessa imagem.No primeiro dia do curso nos dedicamos a analisar a linguagem corporal que expressa

    segurana. Quando apresentei a tcnica da postura rgia, Nadine logo se mostrou interessada epassou a coloc-la em prtica imediatamente. Ela se ergueu na cadeira, esforou-se para encarar osdemais participantes e comeou a caminhar pela sala com a cabea erguida, andando de maneiraconante e segura. Ela estava to segura de si que dava a impresso de ser uma prossional bemmais experiente sua postura era a de uma executiva. Com as tcnicas certas, em apenas umamanh Nadine desenvolveu seu prprio estilo de postura rgia e se transformou numa esplndidarainha.

    Todos ns temos nosso prprio estiloao adotar a postura rgia.

    O respeito que voc transmite estimula osoutros a lhe tratarem de maneira digna.

    A LINGUAGEM CORPORAL COMPLACENTE

    H pessoas que, ao longo da vida, se acostumaram a uma linguagem corporal complacente, que um misto de cortesia com uma postura um tanto submissa, com constantes gestos armativos com acabea. Diante dessa atitude, a pessoa com quem est interagindo pensa que voc far o que ela lhedisser, sem hesitar.

    Uma linguagem corporal excessivamente complacentecostuma expressar desamparo e submisso.

    No se deve confundir essa complacncia submissa com amabilidade. Ser amvel no signicaque voc no possa agir com determinao ou se fazer respeitar. Um sorriso amvel pode expressarotimismo e at conana. Um sorriso complacente, ao contrrio, demonstra fragilidade econdescendncia exageradas.

    Agir de modo submisso signica que desprezamos a ns mesmos e valorizamos nossointerlocutor alm da conta, colocando-o num pedestal e deixando que nos domine.

    Se nossa postura sempre complacente e submissa,tratando nosso interlocutor com deferncia excessiva,corremos o risco de no manifestar nossas opinies eno fazer valer nossos pontos de vista nas conversas.

    muito comum observar essa postura submissa nas mulheres. No faz muito tempo, asmeninas eram educadas para que fossem sempre carinhosas e complacentes, nunca questionassem

  • nada e no se recusassem a fazer o que lhes era pedido. Para algumas, esse comportamento setornou to automtico que, mesmo depois de chegarem idade adulta, elas continuaram a adot-lo.

    COMPLACENTES DEMAIS PARA DIZER NO

    Se sua linguagem corporal indica automaticamente sou agradvel e carinhosa, voc pode terproblemas, sobretudo quando quiser se fazer respeitar.

    Conhea a histria de Julia. Ela sorria para todo mundo e era uma boa ouvinte, mostrando-sesempre atenciosa e compreensiva. Porm, como muitas mulheres educadas e complacentes, Juliatinha dificuldade em dizer no aos outros.

    No trabalho, por exemplo, um de seus colegas constantemente repassava a ela algumas de suastarefas, sobrecarregando-a. Ela tinha o costume de deixar a porta da sala aberta, o que ele sempreinterpretava como um convite para entrar e puxar papo. Mas o objetivo dele, na verdade, era pedirque ela lhe fizesse algum favor. E Julia quase sempre atendia aos seus pedidos.

    Pessoas complacentes e submissas acabamsendo pegas desprevenidas.

    Esse colega reclamava que, mais uma vez, seu chefe lhe soterrara de trabalho e, por isso, eleprecisava dela para cumprir a tarefa no prazo estipulado. Ele dizia que ela era a nica na empresaque o entendia e que no pensava s em si mesma, pois estava sempre disposta a ajud-lo. Comseus sorrisos e seu jeito sempre agradvel, Julia se mostrava compreensiva. Antes mesmo de abrir aboca para responder, sua linguagem corporal j tinha dado sinais de que ela havia concordado.

    Pouco depois de se livrar das prprias atribuies despejando o trabalho em cima de Julia, ocolega se despedia dela, agradecendo-lhe por ajud-lo novamente.

    mais importante ser respeitado do que agradar os outros.

    Julia tentava dizer alguma coisa, mas o colega j tinha deixado o trabalho sobre sua mesa, e elasentia que no poderia deixar de atender ao pedido dele. Na verdade, pensava que o que ele tinhapedido no era to complicado assim. Ela podia interromper os prprios afazeres e depois retom-los. Alm disso, achava que no valia a pena confront-lo nem relatar esse tipo de situao a seusuperior.

    claro que no h nada de errado em ajudar os outros. A questo que, se voc for bonzinhodemais e nunca disser no, algumas pessoas podem abusar de sua boa vontade. Havia ainda doisagravantes nessas situaes: alm de sempre peg-la desprevenida, o colega no dava a Julia odevido crdito pelo trabalho que ela tinha feito. Ou seja: ele nunca reconhecia a ajuda que ela lhedava, comentando com o chefe, por exemplo, que fora ela quem zera a anlise do balanotrimestral.

  • um direito seu aceitar ou no umtrabalho antes de come-lo.

    NO PERMITA QUE O PEGUEM DESPREVENIDO

    No curso de autoarmao, Julia perguntou como podia evitar que aquele colega continuasse a seaproveitar dela. Embora quisesse dar um m quela situao, ela cava apavorada com apossibilidade de ter que discutir com ele, pois achava que isso poderia acabar prejudicando oambiente de trabalho agradvel e harmonioso. Ento tentamos encontrar uma maneira de faz-lamudar de atitude e conseguir se fazer respeitar sem que precisasse se envolver numa discusso.

    Se voc quer mudar o rumo de uma conversa,antes precisa mudar sua linguagem corporal.

    Para evitar que aquela situao desagradvel e prejudicial se repetisse, Julia teria que mudar sualinguagem corporal. Em vez de sorrir para o colega, interromper o que estava fazendo e escutareducadamente o que ele tinha a dizer, teria que adotar uma postura digna e neutra.

    Se voc enfrenta esse mesmo problema em situaes semelhantes, os conselhos a seguir podemser muito teis para deixar para trs essa postura complacente e submissa que tanto o atrapalha:

    Adote a postura rgia ao iniciar uma conversa. Mantenha os olhos altura dos de seu interlocutor. Se ele est em p, levante-se tambm ou

    pea que ele se sente. Sua mesa no lugar para ningum se sentar. Talvez seja uma boa ideia colocar o telefone,

    uma pasta ou um enfeite onde as pessoas costumam se sentar, para evitar que isso volte aacontecer.

    No h nada de mau em sorrir amavelmente para cumprimentar o interlocutor. Mas faa carade paisagem quando estiver escutando o que ele tem a dizer e evite assentir ou fazer outrogesto que o leve a interpretar aquilo como concordncia.

    Quando o interlocutor comear a se lamentar e a contar como est precisando da ajuda dealgum, no sorria e no faa gestos que indiquem submisso.

    Mostre claramente que voc no est de acordo quando o colega lhe pedir algo que voc noqueira fazer. Balance a cabea em negativa e pare de olhar para ele. Se seu interlocutorcontinuar a tentar convenc-lo, voc pode levantar-se bruscamente ou dizer no! ou basta!em alto e bom som.

    Se, apesar de tudo, seu colega deixar o trabalho dele sobre sua mesa e desaparecer, comuniquea ele, de forma objetiva, seja por telefone ou e-mail, que ele esqueceu os documentos na suasala e que deve fazer o favor de passar para peg-los.

    Julia ter que dizer claramente ao colega que no ir mais fazer o trabalho dele. Mas para issoela no precisar atac-lo verbalmente nem censur-lo. Ela s precisar adotar a postura rgia e

  • explicar a ele, com franqueza e tranquilidade, que ele no deve mais contar com a ajuda dela parafazer o prprio trabalho.

    PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE A POSTURARGIA E A LINGUAGEM CORPORAL

    Eu gosto de sorrir para todo mundo e, como trabalho na rea de vendas, distribuo sorrisos o dia inteiro.No entanto, uma coisa me incomoda: no porque sorrio com frequncia que no tenho que ser levado asrio. Ser que precisarei mudar meu jeito de ser para que as pessoas me respeitem?

    Depende. Em primeiro lugar, no h nada de errado em sorrir. E, quando um cliente entranuma loja, espera que a pessoa que o atenda seja amvel e o trate com simpatia. Eu tambm gostode sorrir e no tenho nada contra o gesto. O importante a linguagem corporal que acompanha osorriso. Se voc mantm a postura rgia, seu sorriso transmitir segurana e dignidade. Mas houtras situaes em que melhor adotar uma expresso grave.

    Seu sorriso parecer sempre majestoso se voco combinar com uma postura rgia.

    Se algum faz ou diz algo que o deixe magoado ou ofendido, pare de ser amvel e de sorrir. Secontinuar a sorrir mesmo quando estiver sendo maltratado, como se dissesse que est gostando deser tratado dessa maneira. E assim voc faz os outros perderem o respeito por voc. Precisamos sercapazes de agir com severidade quando necessrio, sem que tenhamos que mudar nosso jeito de sere de agir na maioria das vezes.

    Quando falo, gesticulo muito. ruim gesticular tanto assim?Depende. Se voc uma pessoa expansiva e os gestos complementam sua fala, no h

    problema. Mas se os gestos denotam nervosismo, deixando-o agitado demais, voc acabatransmitindo insegurana ao seu interlocutor, o que no bom. Por isso sugiro que voc tentemudar esse hbito.

    Seus gestos devem reforar suas palavras,e no se contrapor a elas.

    No h problema se os seus gestos servem para enfatizar suas palavras, pois provvel queassim voc consiga atrair ainda mais a ateno de seus interlocutores. No entanto, ao lidar compessoas comedidas, melhor se conter um pouco, porque gestos exagerados ou entusiasmo de maiscostumam irrit-las.

    Tenho alguns amigos que falam pelos cotovelos. Quando comeam, no h nada que os faa parar.Ser que existe alguma maneira de fazer com que se controlem e no me incomodem tanto com suaconversa fiada?

  • Se voc tem amigos que no percebem que falam demais o tempo todo, cabe a voc dar umbasta. Mas no preciso ser drstico nem rude. Algumas mudanas em sua linguagem corporalpodem deter um tagarela incansvel. Mostre que voc no est dando muita ateno e v seafastando pouco a pouco. Faa tudo com suavidade, mas, quando ele se calar, tome a palavraimediatamente.

    Ao lidar com algum assim, sugiro que voc adote a postura rgia e troque sua expressoamvel e interessada por uma neutra. Deixe de sorrir e de assentir com a cabea e, em seguida, olhepara o lado, interrompendo o contato visual.

    Se isso no refrear o mpeto do falador, experimente se afastar um pouco, aumentando adistncia entre vocs. Vericar as horas no relgio, ler suas mensagens no celular ou anotar algo naagenda pode dar a entender que voc no est disposto a ouvi-lo falar sem parar.

    Se nenhuma dessas sugestes der certo e ele continuar o monlogo, recomendo que voc sejamais claro, mas sem trat-lo com grosseria. Aproveite, por exemplo, o momento que ele faz umabreve pausa para tomar flego e diga, de maneira amvel: Me desculpe, mas preciso dar umtelefonema, ou Nossa conversa est muito interessante, mas agora no tenho tempo, ou Comlicena, esto me chamando ali.

    Se por acaso voc encontrar essa pessoa em outras ocasies, antecipe-se e evite cair nessaconversa mole sem m. Fale com determinao, mas sem mago-la: Imagino que voc tenhamuitas novidades para me contar, mas deixe eu comentar algo importante antes que eu meesquea...

    COMO SE PROTEGER DO MAU HUMOR ALHEIO

    Costumo conhecer pessoas bastante sensveis nos cursos de autoarmao, e muitas delas tmenorme diculdade em lidar com as variaes de humor dos outros. Se algum por perto comea ase queixar ou dar mostras de que seu estado de nimo no dos melhores, elas logo cam de mauhumor tambm. E se sua volta os outros esto agitados e nervosos, elas se deixam contaminarpelo nervosismo. O que elas no sabem que sua vulnerabilidade que as deixa assim, merc dohumor alheio. Basta seu interlocutor fazer um comentrio mais duro que elas cam ofendidas. Edepois nada mais as anima.

    Voc tem o direito de no se deixar contaminarpelo mau humor dos outros.

    Como toda sensibilidade precisa de proteo, recomendo que voc adote a estratgia dacouraa. Ela muito til e o ajudar a manter o mau humor dos outros a distncia.

    Com essa estratgia, voc poder escutar seu interlocutor sem se deixar afetar pelo que ele diz.Os comentrios indelicados vo entrar por um ouvido e sair pelo outro sem que seu estado denimo se altere. Mesmo que todos sua volta estejam zangados ou nervosos, voc conseguirmanter a serenidade. Se precisar repreender algum, voc conseguir fazer isso sem que se sintamal depois, e tambm no adotar uma postura defensiva se receber crticas, pois saber lidar com

  • elas de maneira equilibrada.

    No importa o que os outros digam: se adotar a estratgia dacouraa, voc no se deixar contaminar pelo mau humor.

    COMO ATIVAR SUA COURAA E NO SE DEIXARAFETAR PELO QUE OS OUTROS FALAM

    bem provvel que voc j saiba o que sua couraa, esse estado que lhe permite observar comtranquilidade o que os outros fazem e ouvir o que eles tm a dizer sem se deixar afetar por isso nemlevar para o lado pessoal.

    Talvez voc no saiba explicar como conseguiu manter a calma diante de algum mal-humorado ou enfurecido. Mas a partir de agora voc saber ativar sua couraa e entrar em umestado de distanciamento sereno sempre que for necessrio.

    Estratgia de autoafirmao: sua couraa

    1. Adote a postura rgia. Respire tranquila e profundamente. Relaxe.2. Imagine que ao seu redor existe uma blindagem de vidro invisvel atravs da qual voc pode

    ver e ouvir tudo perfeitamente sem que nada possa feri-lo. Nada perigoso pode atravessar umablindagem to resistente. Essa sua couraa.

    3. No tenha pressa. Leve o tempo que for preciso para notar como essa delimitao imaginriao protege.

    4. Estas frases podem ajud-lo a erguer sua couraa num instante: Essa situao no tem nada a ver comigo. No vou me importar com esse comentrio grosseiro. Esse problema no me diz respeito, ento no vou me meter.5. Aconselho que voc coloque sua couraa prova primeiro em situaes sem muita

    importncia. Depois, quando estiver mais seguro, comprovar a ecincia dessa estratgia emquestes mais complicadas.

    No comeo, alguns de meus alunos pareceram cticos quando lhes apresentei essa estratgia.Eles achavam que desenvolver sua couraa era o mesmo que se fechar para os outros, isolando-sedo mundo. Mas eles estavam equivocados, pois justamente o contrrio: s quando no levamos aspalavras e os sentimentos do interlocutor para o lado pessoal que podemos realmente escutar comateno o que ele tem a nos dizer.

    Sua couraa lhe permitir escutar atentamenteo interlocutor sem se alterar.

    Sem a couraa, podemos facilmente car presos em nossos sentimentos e pensamentos, em vez

  • de nos concentrar no que esto nos dizendo. Com ela, poderemos aceitar com serenidade at oscomentrios desagradveis, como, por exemplo, crticas ao nosso trabalho.

    QUANDO AS CONVERSAS TERMINAMSEMPRE EM DISCUSSO

    Regina foi uma das alunas que se mostraram cticas quando expliquei a estratgia da couraa. Masela quis test-la e fez isso numa situao que a angustiava havia muito tempo: uma visita me.

    Sempre aconselho testar primeiro as estratgias de autoarmao em situaes simples, masRegina quis logo pr sua couraa prova lidando com questes que ela considerava muitocomplicadas.

    Ela comentou que sempre tivera um relacionamento difcil com a me, que s via o ladonegativo das coisas e reclamava o tempo todo. Desde pequena Regina teve que aguentar durascrticas e reprovaes, e tinha a constante impresso de que a me nunca caria satisfeita e felizcom nada do que ela fizesse.

    Quando a conheci, ela j tinha mais de 40 anos, porm sua relao com a me continuavatensa. Ela evitava ao mximo visit-la e, por isso, as duas s se viam no Natal, mas mesmo assim oencontro acabava em discusso.

    intil querer obter o reconhecimento deoutra pessoa. O nico reconhecimento de que

    voc realmente necessita o seu.

    Era sempre assim: a famlia sentava-se mesa para a ceia e a conversa transcorriatranquilamente, at Regina comear a falar de seu trabalho ou a contar sobre sua viagem de frias.A me ento passava a censur-la, apontando defeitos nas escolhas da lha e fazendo pouco-casode suas conquistas. Ao ouvir tantas reclamaes e crticas, Regina se irritava e batia boca com ela,na frente de toda a famlia. A me dizia que tinha o direito de opinar sobre a vida dela e que noiria car calada. Essa cena se repetia todo Natal. Em vez de desfrutar uma noite tranquila e em pazcom a famlia reunida, Regina passava o tempo brigando e discutindo. E foi por isso que ela quistestar a estratgia da couraa nessa ocasio.

    COMO NO LEVAR OS COMENTRIOSCRTICOS COMO ALGO PESSOAL

    Um ano depois, reencontrei Regina em um de meus cursos de autoarmao e ela me relatou suaexperincia utilizando as tcnicas que eu havia ensinado. Ela estava entusiasmada com a estratgiada couraa, cuja ecincia se comprovara numa de suas visitas me. Quando as habituais crticascomearam, em vez de explodir e iniciar a discusso, como sempre fazia, Regina ativou sua couraae decidiu no dar importncia aos comentrios. Embora sua me tenha falado muitas coisas

  • negativas, ela no se deixou afetar.Ouvi minha me dizer que eu era a maior decepo de sua vida e que eu nunca chegaria a

    lugar nenhum. Por mais mordazes que fossem seus comentrios, continuei ali sentada, sem discutirnem me alterar. Eu havia erguido minha blindagem e, pela primeira vez na vida, senti que suaspalavras no me afetavam, disse Regina.

    Cada um tem o direito de ser como , e desenvolver suacouraa impedir que as palavras dos outros o atinjam.

    E continuou: Eu nunca tinha parado para escut-la, porque sempre me ofendia com tudo oque ela falava e comeava a discutir. Naquele dia, porm, percebi quo decepcionada minha meestava, e pensei que, ao me dizer todas aquelas coisas, ela na verdade estivesse insatisfeita com aprpria vida. Talvez sempre tivesse alimentado o desejo de levar uma vida melhor atravs de mim.Mas isso no possvel, porque no posso viver a vida que ela idealizou. Percebi que era umamulher muito frustrada que simplesmente descarregava sua amargura nos outros. E eu era o alvopredileto de suas constantes crticas. Pela primeira vez em muitos anos, no discuti nem quei comraiva. Esse um problema dela, e eu no tenho nada a ver com isso. Ento posso armar queminha couraa funcionou muito bem.

    Voc tem o direito de NO se sentir responsvelpelo sofrimento das outras pessoas.

    A DISTNCIA QUE LHE CONVM

    Adotar a estratgia da couraa lhe proporcionar o distanciamento necessrio para no se deixarafetar pelas situaes. Com ela voc poder entender o que de fato acontece e identicar osmomentos crticos em que voc costuma se zangar e comear uma briga ou discusso. Assim, sermais fcil manter a serenidade e observar os acontecimentos sem se envolver.

    No importa o que seu interlocutor diga ou faa, voc no deve reagir de maneira impetuosa.Lembre-se: voc livre para no se deixar afetar. Mas, se decidir reagir, no tente mudar ouconvencer o outro. Ele tem o direito de ser como e, se o jeito dele lhe for prejudicial, sua couraase encarregar de proteger voc.

    Desenvolver sua couraa tambm o ajudar a abordar de maneira objetiva assuntos que antespoderiam lhe parecer constrangedores. Lembro, por exemplo, de um aluno que veio me perguntarcomo ele deveria lidar com um colega do trabalho que expelia um forte odor corporal.

    Sua couraa o ajuda a falar objetivamentesobre assuntos embaraosos.

    Francamente, no tenho a menor ideia de quais seriam as palavras adequadas nesse caso.

  • Depende do colega e da situao. Mas sei, sim, que preciso vestir a couraa. Se estivermos bemprotegidos, provvel que o outro no se sinta atacado, porque trataremos da questo comserenidade e de modo objetivo, sem ofender a pessoa.

    Experimente colocar em prtica a estratgia da couraa sempre que enfrentar situaes em quevoc se sente incomodado ou sem coragem para tocar em determinado assunto. Com isso vocpoder dizer coisas que dicilmente falaria se no tivesse o distanciamento que ela lhe proporciona.Portanto, quando sentir que a situao crtica, acione sua couraa.

    De tanto aplicar essa estratgia e comprovar seus benefcios, possvel que voc queira adot-lao tempo todo. Meus alunos relatam que isso frequentemente acontece com eles, ento no penseque voc o nico a passar por isso. No entanto, como todas as outras estratgias de autoarmao,no necessrio que ela seja colocada em prtica o tempo todo, para todas as situaesindiscriminadamente. H momentos em que importante deixar as emoes aorarem e sesensibilizar com o que acontece sua volta. Ou voc no vai querer se emocionar quando seucompanheiro lhe zer uma declarao de amor? Ou quando um beb sorrir para voc? Ou quandoadmira um belo pr do sol?

    A couraa no uma estratgia que precisa ser adotadao tempo todo. Ela apenas um conjunto de tcnicasque voc aplica a fim de manter a calma nas situaes

    com as quais costuma ter dificuldade de lidar.

    As cinco estratgias que apresento neste livro so bastante ecazes e o faro se sentir segurorapidamente, mas a postura rgia aplicada em conjunto com a couraa a que costuma dar maisresultados. Vi pessoas inseguras e tmidas se transformarem aps poucas horas de prtica com oauxlio dessas tcnicas. Seu jeito hesitante e envergonhado logo dava lugar a uma atitude conantee segura, que na verdade era um reflexo de uma transformao interna mais profunda.

    As estratgias apresentadas nos prximos captulos so mais verbais e se tornam ainda maisecazes se forem acompanhadas das tcnicas da postura rgia e da couraa. Depois que vocpraticar algumas vezes, seu corpo no demorar a aplic-las automaticamente sempre que fornecessrio.

  • A SEGUNDA ESTRATGIA NAARTE DE SE FAZER RESPEITAR:A VONTADE FIRME

    Esta segunda estratgia ajudar voc a obter o que quiser. Voc s precisar expressar seus desejosde maneira clara e direta, e seu interlocutor tender a atend-los. Portanto, expressar claramente oque voc quer fundamental na arte de se fazer respeitar.

    Neste captulo irei explicar como voc pode se expressar com clareza sem que ocorram mal-entendidos, e assim voc ter grandes chances de obter o que deseja. Com a estratgia da vontadefirme, voc poder:

    Formular suas prprias necessidades de maneira objetiva. Reunir coragem para expressar um pedido com clareza. Informar o que necessita. Expressar-se de modo que seu interlocutor tenha tendncia a concordar com voc. Receber uma possvel resposta negativa de maneira serena.

    MELHOR SE EXPRESSAR CLARAMENTEDO QUE FICAR FRUSTRADO POR NO TERSUAS EXPECTATIVAS ATENDIDAS

    No certo esperar que seu interlocutor saiba o que voc deseja apenas captando o seu olhar. Paraevitar aborrecimentos e frustraes, abra a boca e seja claro ao comunicar aos outros o que vocquer.

    Se voc permanecer calado, ningum saber do que precisa.

    Embora eu no possa garantir que voc ir sempre conseguir o que quer, ao colocar em prticaas tcnicas simples desta estratgia, as chances de ter seus pedidos atendidos aumentam. Nemsempre teremos que empreender um esforo extraordinrio ou utilizar uma retrica sosticada paranos fazermos respeitar. Muitas vezes expressar nosso pedido claramente j ser o bastante.

    Voc pode no acreditar, mas algumas pessoas, principalmente as que tm pouca autoconana,tm muita dificuldade em pensar e entender o que de fato desejam pedir.

    Voc tem o direito de pedir o que deseja. E seuinterlocutor tem o direito de atend-lo ou no.

    PESSOAS FCEIS DE LIDAR, POUCO EXIGENTES

  • PESSOAS FCEIS DE LIDAR, POUCO EXIGENTESE QUE NO INCOMODAM NINGUM

    As pessoas que no cultivam uma imagem positiva de si e no costumam se valorizar tendem apensar que os prprios desejos e necessidades no importam. Alm disso, elas so pouco exigentes,fceis de lidar e fazem um esforo constante para no se tornarem um peso para os demais. Por trsdessas caractersticas esconde-se a inteno inconsciente de no incomodar ningum e ser bemaceito por todos.

    S h uma pessoa no mundo que pode julgar seseus desejos so desmedidos ou no: voc.

    Essas pessoas mantm suas necessidades ocultas, s vezes reprimidas, mas sempre tmdisposio de satisfazer os desejos dos outros. Elas se ocupam de uma innidade de tarefas, quenem sempre so importantes, e ao m da lista j no lhes restam nem tempo nem energia paracuidar de si mesmas.

    Muitos desses indivduos com baixa autoestima esperam secretamente uma recompensa porserem to pouco exigentes e por se sacricarem tanto pelos outros. Eles tm a esperana de que umbelo dia chegar sua vez de ter seus desejos atendidos. Mas por que esperar tanto? E se esse diafosse hoje?

    Algumas pessoas podem at ser bem-sucedidas em alguns aspectos da vida, mas em outros soum verdadeiro asco, sem conseguir se impor e deixando-se dominar por pensamentos negativosou pela baixa autoestima.

    H algumas que no acham difcil falar o que querem no trabalho, mas cam totalmentetravadas em sua vida pessoal, sem conseguir expressar seus desejos e suas expectativas. Pode ser queelas tenham diculdade, por exemplo, em pedir ajuda aos familiares para resolver algum problema,ou em demonstrar ao companheiro que esto carentes e precisam de ateno.

    Seus desejos e suas necessidades fazem parte de voc. Noh motivo para se envergonhar deles nem para ocult-los.

    Por outro lado, existem pessoas que sabem expressar muito bem suas necessidades ouexpectativas famlia e aos amigos, mas quase no abrem a boca no trabalho. Por exemplo, em vezde pedir que aumentem a temperatura do ar-condicionado, simplesmente no dizem nada,preferindo passar frio.

    QUEM NADA DIZ NADA CONSEGUE

    Quando conheci Brenda, no imaginei que ela tivesse diculdade em se fazer respeitar. Uma jovemjornalista em incio de carreira, parecia ter bastante conana em si mesma, mas descobri que haviapassado por uma experincia que lhe mostrou que ela ainda tinha muito a aprender.

  • Tudo comeou quando ela tentava se recolocar no mercado. Para conseguir um emprego naredao do jornal local, ela concordou com a condio que o editor-chefe imps para contrat-la:seu perodo de experincia seria de seis meses, durante os quais ela receberia o salrio equivalenteao de um estagirio. Embora no achasse isso correto, Brenda aceitou a proposta porque acreditavaque essa era a nica maneira de voltar para o mercado. Mas sabia que se sairia bem na funo eimpressionaria o novo chefe, sendo efetivada aps os seis meses e passando a receber umaremunerao compatvel.

    Numa entrevista de emprego, voc tambm tem odireito de deixar claro o que espera do novo trabalho.

    Ela passou a integrar a equipe de reprteres do caderno de cultura, escrevendo timas matriase realizando seu trabalho de maneira brilhante. claro que ela era bem mais experiente quequalquer estagirio, apesar da remunerao reduzida. Brenda precisou reduzir bastante suasdespesas durante o perodo de experincia, mas sabia que ele logo terminaria e seu salrio seriaequiparado ao dos outros reprteres.

    No entanto, infelizmente, isso no aconteceu. Os dias se passavam e nada mudava. Brendacontinuava a fazer seu trabalho, mas no houve nenhum reajuste em seu salrio. Seu chefe, comosempre, era de poucas palavras e s falava com ela sobre seus artigos. Ser que ele tinha seesquecido do acordo ou ela entendera errado?, pensava Brenda. Ser que nada mudaria mesmodepois de ela passar pelo perodo de experincia?

    Se voc est indignado com alguma coisa,abra a boca e aborde o assunto. Ficar calado

    no ajudar a resolver a questo.

    Brenda decidiu esperar mais um pouco para ver se aquela situao mudava. No entanto, a cadadia que passava ela se sentia mais insegura e as dvidas a atormentavam. O que aconteceria se elachamasse o chefe para conversar sobre o assunto? Ser que ele no estava satisfeito com o trabalhodela e resolvera estender o perodo de experincia para avali-la melhor? Mas, apesar da incerteza,ela sabia que desempenhava bem a funo, ento no conseguia entender por que o acordo deaumentar seu salrio no havia sido cumprido.

    claro que Brenda no teria passado por toda essa angstia se tivesse logo procurado o chefepara tratar da questo. Porm, depois de esperar trs semanas, a insegurana tomara conta dela detal forma que ela mal dirigia a palavra ao chefe, com medo de que ele a demitisse. Embora elasempre se mostrasse uma defensora enrgica das matrias que escrevia e se colocasse bem nasreunies, estava encontrando uma diculdade enorme em lidar com a questo do salrio, e isso foiminando cada vez mais sua autoconfiana.

    Pensar demais sobre qualquer coisa pode acabar com a suaautoconfiana. No perca tempo e fale logo sobre o assunto.

  • Certo dia, num almoo com um colega da redao, ela comentou o assunto. Ele cou chocadopor Brenda ainda no ter feito nada para resolver algo que tanto a incomodava. Como voc podese contentar com um salrio to baixo? E por que est demorando tanto para procurar o chefe econversar sobre isso? Se isso tivesse acontecido comigo, eu j teria falado com ele h muito tempo.Aqui ningum ganha nada de mo beijada, ento se quiser que seu salrio seja reajustado conformeo combinado, vai ter que lutar por isso. S voc e mais ningum pode fazer isso, disse o colega.

    Seguindo esses conselhos, Brenda respirou fundo e se dirigiu sala do chefe. Como sempre, eleparecia muito ocupado, mas ela no desistiu e disse que precisava falar com ele. Diante da expressoapressada dele, Brenda no perdeu tempo e foi logo lhe falando que seu perodo de experincia deseis meses j havia passado. Depois, um tanto hesitante, ela perguntou se tinha passado no teste ese seria efetivada.

    No espere que os outros venham at voc. Tomea iniciativa e chame-os para conversar.

    O chefe fez uma cara mal-humorada e respondeu que sim, claro, do contrrio ela no estariamais ali. Ela ento perguntou se ele se lembrava de ter combinado reajustar seu salrio depois dom de seu perodo de experincia. O homem a interrompeu e disse que se lembrava perfeitamentede ter dito aquilo, mas quis saber por que ela tinha demorado tanto para falar com ele.

    Envergonhada, Brenda murmurou algo sobre estar sobrecarregada de trabalho. Mas ele noachou sua desculpa razovel e foi duro com ela. A senhora tem tanto trabalho que no pode perderum minuto do seu tempo se preocupando com o prprio salrio?, perguntou ele.

    Constrangida por ser tratada como se fosse uma criana, Brenda tentou dar alguma resposta,mas o chefe se antecipou e disse que o salrio seria corrigido e encerrou a conversa.

    A discrio silenciosa no costuma ser recompensada.

    Apesar de tudo, Brenda tirou um grande peso das costas, e seus temores e sua inseguranaacabaram. O jornal reajustou seu salrio e ela foi efetivada.

    Aquela situao lhe serviu como uma grande lio. Desde ento, ela nunca mais perdeu de vistaestes princpios:

    Se voc no pergunta nem corre atrs de seus direitos, nada acontece e voc fica a ver navios. Esperar traz insegurana e dvidas que podem ser evitadas. preciso tomar a deciso de agir. A discrio silenciosa no recompensada.

    O DRAMA DAS PESSOAS COMPETENTES

    Para Brenda, passar por aquela situao foi a melhor maneira de aprender a lidar com seus desejos,pedidos e exigncias. Com esse aprendizado, ela conseguir evitar o drama das pessoascompetentes, que so muito ecientes, se matam de trabalhar e, por isso, esperam reconhecimento,

  • uma promoo ou um aumento salarial. Eles acreditam que seus superiores notaro todo o seuempenho e cam esperando por isso. No entanto, enquanto eles esperam, outros funcionrios quesabem manifestar de maneira clara o que querem so persistentes na reivindicao. E, em geral,obtm timos resultados.

    Entre as suas competncias deve estar a de agirem defesa de seus prprios interesses.

    Ser competente tambm pressupe defender-se e garantir que seus interesses sejam atendidos.Em vez de esperar, pea logo o que quer. Em vez de se amargurar ou invejar os outros, v embusca do que voc deseja.

    A estratgia de autoarmao a seguir o ajudar a fazer seus pedidos de maneira inequvoca.Mas, antes de pedir algo, importante ter clareza sobre o que voc quer. Portanto, reserve umtempo para conhecer melhor a si mesmo e identificar quais so seus principais desejos.

    Estratgia de autoafirmao: a vontade firme

    1. Escolha o momento adequadoVoc precisa de um interlocutor que esteja bastante atento e possa seguir seu discurso. Portanto,

    assegure-se de que a conversa poder transcorrer tranquilamente e sem interrupes. Adote apostura rgia e acione sua couraa. Isso o ajudar a falar com serenidade e a no tomar a reao dooutro como algo pessoal.

    2. Expresse-se de maneira precisa e amvelComunique de maneira breve e objetiva o que voc quer. Seja sempre educado e no se esquea

    de dizer por favor e de usar as expresses eu gostaria ou eu queria.

    3. No pea demais de repenteNo uma boa ideia pedir muitas coisas de uma vez s. Assim, ao longo da conversa, restrinja-

    se a apenas um ou dois pedidos, pois pouco provvel que seu interlocutor se lembre de mais doque isso.

    4. Mantenha uma atitude positivaOmita tudo aquilo que possa contrariar seu interlocutor. Nada de lamentos, insultos ou

    ameaas. Porque, diante de tanta negatividade, a maioria das pessoas costuma ncar o p e assumiruma postura defensiva, seguindo o lema ningum fala assim comigo. Seu interlocutor se sentirmais motivado a aceitar seu pedido se voc mantiver uma atitude amvel ou, pelo menos, neutra.

    AS CINCO DIFICULDADES MAIS FREQUENTES AOFAZER UM PEDIDO OU EXPOR UM DESEJO

  • Eu disse a ele o que precisava ser feito, mas ele simplesmente me ignorou.Minha filha nunca faz o que eu lhe peo.Faz meses que peo a meu marido que me ajude a lavar a loua no m de semana, mas ele no

    se levanta do sof.

    Em todos os cursos que dou ouo reclamaes desse tipo. E, quando algum aluno me conta queno consegue que seus desejos e pedidos sejam atendidos, co curiosa para saber por que issoacontece. nesse momento que comea a parte do curso de que realmente gosto. o que chamoadequar uma estratgia de autoarmao vida cotidiana. No papel, tudo parece razovel, mascomo funciona na vida real? Como colocar essas estratgias em prtica?

    Ento, peo a meus alunos que expliquem em detalhes o que zeram e disseram, e como asoutras pessoas reagiram. E ca claro que sempre cometemos os mesmos erros e mal-entendidos.Esses tropeos fazem com que um pedido no seja entendido de maneira correta ou que sejaimediatamente rejeitado. A seguir, apresento-lhe os cinco tropeos mais frequentes e ensino comoevit-los.

    COMO EVITAR A PRIMEIRA DIFICULDADE:NO PEA COISAS IMPOSSVEIS

    H pedidos que seu interlocutor no pode ou que lhe seria muito custoso atender. Por exemplo, oque um adolescente poderia fazer se sua me reclamasse da cara feia que ele faz quando acordacedo no m de semana para ajud-la na faxina e pedisse que ele no casse daquele jeito? Como olho vai atender a esse pedido? H algum capaz de mudar de cara, se no for com cirurgiaplstica? Acho que seria difcil ou at impossvel.

    Seu interlocutor s pode atend-lo se oseu pedido estiver ao alcance dele.

    Eu entendo o que a me pretendia quando pediu ao lho que no casse de cara feia. Masduvido que um pedido ajude num caso desse tipo, pois a maioria das pessoas no pode mudar seuestado de esprito s porque lhe pedem isso. Elas podem at dissimul-lo, mas no mud-locompletamente.

    Pedir a algum que mude seu gnio tambm algo difcil. Lembro-me de uma mulher num doscursos se queixando de que seu marido nunca queria falar com ela quando eles passavam porperodos problemticos na relao conjugal. Ela sempre pedia que ele no se fechasse, que aprocurasse para que eles tentassem resolver a questo juntos. Mas ele cava cada vez mais distante,isolando-se em suas prprias angstias. Ela queria solucionar o problema falando sobre o assunto;ele preferia no falar nada. No que algum dos dois estivesse errado. Eles simplesmente tinhamgnios muito diferentes.

    No tente mudar o gnio de ningum.

  • Todos ns temos um determinado gnio, formado em nossa mais tenra infncia. O queexperimentamos naquela poca cou gravado profundamente em nossa personalidade. E, emboratenhamos boa vontade, difcil mudar nosso modo de agir. As pessoas so como so e muitopoucas podem mudar de gnio, mesmo se o desejarem com todas as foras.

    Assim, se voc pedir a algum que seja de outra maneira, dificilmente conseguir algo.

    Dirija seu pedido a quem possa atend-lo.

    Tambm vai ser complicado se voc reivindicar algo improvvel ou impossvel. Por exemplo,pedir um aumento salarial numa empresa que est prestes a falir. Ou tentar conseguir um quartonum hotel que j est lotado. Em princpio, no h nada de mau em querer um quarto de hotel ouum aumento. Mas voc tem que dirigir seu pedido a quem possa atend-lo.

    COMO EVITAR A SEGUNDA DIFICULDADE:PREFIRA POUCAS FRASES CURTASA UMA TORRENTE DE PALAVRAS

    H pessoas que se explicam muito quando pedem algo. E s vezes as explicaes acabam dando aimpresso de serem justicativas. Aqueles que agem dessa maneira costumam ter grandesexpectativas. Querem que os outros saibam como eles se sentem e que os compreendam, poisacham que, se os entenderem, seus pedidos sero atendidos.

    Mas no assim que funciona. Palavras e explicaes em excesso no necessariamentegarantem que seu interlocutor o compreenda. Ao contrrio: mais provvel que ele que confusocom tanta informao.

    Explicaes longas costumam causar maisconfuso do que promover a compreenso.

    H, ainda, mais um problema: algumas pessoas no sabem escutar e no conseguem seconcentrar por muito tempo. Nem sempre possvel perceber isso, porque muitos maus ouvintesmantm contato visual o tempo todo e assentem com a cabea. E esses sinais nos enganam.

    Por isso importante que voc seja capaz de resumir e de chegar rapidamente ao pontoprincipal da questo. No d explicaes longas. Diga o que quer e espere para ver se seuinterlocutor faz alguma pergunta. Se fizer, d uma resposta breve e concisa.

    Voc no tem que explicar seu pedido.

    C entre ns: voc no precisa explicar ou justicar seu pedido. Voc deseja algo e isso basta.Querer acrescentar mais explicaes pressupe uma concesso de sua parte. Voc, e somente voc,pode julgar se seu pedido justificado ou no.

  • COMO EVITAR A TERCEIRA DIFICULDADE:NO AJA DE FORMA INFANTIL QUANDO PEDIR AJUDA

    Eu tinha certeza de que, hoje em dia, as pessoas no costumam agir de maneira infantil paraconseguir ajuda dos outros. Talvez algumas se njam de ingnuas e faam gracinhas, mas eu noachava isso muito provvel. Bom, isso era o que eu pensava at testemunhar a seguinte cena: umamulher se inclinava sobre uma central telefnica, apertando os botes para tentar atender s vriaslinhas que tocavam ao mesmo tempo. Ao ver que um homem apareceu na sala, ela logo fazbeicinho, cara de desesperada, para que ele casse com pena dela e se dispusesse a ajud-la. Ele,como um verdadeiro heri, logo foi ao seu socorro, livrando-a das garras daquele monstro malvado.

    Pela maneira como falamos de ns mesmos,mostramos aos outros como eles podem nos tratar.

    Ele falou para ela car calma e lhe mostrou como o aparelho funcionava. Ela deu um sorrisosedutor e agradeceu com voz melosa. O homem ento deu uma risada, sem lev-la muito a srio.

    Eu mal acreditei que aquela cena era real. Para mim mais parecia uma pegadinha que depoisseria exibida na televiso. Como algum poderia se colocar naquele papel?

    Pensei que eu talvez voltasse a encontrar aquela mulher em algum de meus cursos deautoarmao, e seria bem provvel que ela se queixasse de como seus colegas do sexo masculinozombavam dela, de que no assumia tarefas de maior responsabilidade e de que no progredia naempresa. Esses so problemas de imagem que ela mesma criou.

    Seus comentrios tambm mostram aos outros como voc quer que eles o tratem. Com umapostura infantil e frases do tipo Sou desajeitada demais, no consigo entender, voc est seprejudicando e transmitindo uma avaliao negativa de si e provavelmente ser essa imagem queos outros iro registrar.

    Quando pedir ajuda, no fale nada que deponha contra voc.

    No h nada de errado em admitir que no se sabe fazer algo. Pode ser que voc no estejamuito familiarizado com a internet, que no entenda nada de mecnica de automveis ou que noconsiga mudar de lugar os mveis da sala sozinho. Mas nem por isso voc desajeitado, intil ouimprestvel.

    Apresento a seguir uma lista com sugestes de como pedir ajuda sem se menosprezar: Adote sua postura rgia. Admita que voc no sabe fazer determinada tarefa ou que no consegue realiz-la sozinho.

    Voc no tem que se envergonhar disso nem se sentir mal por depender de outra pessoa. Quando pedir ajuda a algum, descreva fatos objetivos em uma frase breve. Por exemplo:

    No entendo nada de planilhas do Excel. Por favor, voc poderia me ajudar com essa aqui?,ou No sei como trocar pneu. Ser que voc poderia me dar uma mozinha?, ou No

  • consigo carregar essa pilha de livros sozinha. Voc se incomodaria de me dar uma ajuda?

    Isso, sim, uma maneira adulta de se comunicar, sem que ningum se sinta rebaixado ouconstrangido por pedir ajuda. Desse modo voc manter sua dignidade, ainda que se sinta incapazou no saiba exatamente o que fazer.

    COMO EVITAR A QUARTA DIFICULDADE:PREFIRA POUCAS FRASES CURTAS A UMA TORRENTEDE PALAVRAS E EXPRESSE UM PEDIDO CLAROEM VEZ DE RECORRER A INDIRETAS

    A maior parte dos mal-entendidos surge a partir de insinuaes. Insinue algo e voc correr o riscode ser mal interpretado.

    Imagine esta situao: voc est no trabalho e sai da sala para tirar cpias de um documento.Chegando l, voc percebe que a mquina no est funcionando direito. Na hora passa por pertoum colega seu, e voc comenta:

    Ah, que bom que voc passou aqui! A xerox entrou em greve de novo, acredita?Com um comentrio desse, est implcito um pedido de ajuda, mas pode ser que ele no

    interprete dessa maneira e diga apenas: U, ela enguiou de novo? Ainda bem que no preciso xerocar nada hoje.E, tendo dito isso, segue adiante. E voc ca decepcionado por ele ter se mostrado to pouco

    prestativo.

    Muitas vezes as pessoas no entendem indiretas.

    Mas ser que ele de fato foi pouco prestativo? Ou simplesmente no entendeu sua indireta?O interlocutor livre para escolher como interpretar o que lhe dizem. E muitas vezes ele no

    entende o que a pessoa quer dizer nas entrelinhas. Aludir a um fato (por exemplo, a xerox entrouem greve de novo) no um pedido, mas uma simples constatao. Algo como a Terra redonda ou hoje quarta-feira, que tampouco so pedidos.

    Quanto mais claramente voc expressar seu pedido,maior a chance de que ele seja atendido.

    Voc pode dizer A lata de lixo est cheia, Algum precisa aparar a grama ou O computadorpifou de novo, e nada acontecer. Tudo isso so constataes, no pedidos.

    O teste a seguir demonstrar que uma indireta pode ser interpretada de maneiras muitodiferentes. Ele consiste numa srie de frases acompanhadas de trs possveis interpretaes paracada uma delas. Adivinhe o que realmente queria dizer a pessoa que as pronunciou.

  • Ah, voc dirige rpido demais, est a quase 120 por hora!Isso indica:1. Admiro sua percia ao volante. Sua maneira de dirigir fantstica!2. Nunca tinha passado por esse lugar a uma velocidade to alta. uma experincia totalmente

    nova.3. Voc dirige rpido demais. Por favor, v mais devagar.

    Nossa, como est quente aqui.Isso significa:1. surpreendente como o ambiente fica carregado quando todas as janelas esto fechadas.2. As janelas esto totalmente fechadas e no entra nem uma frestinha de ar.3. Por favor, voc poderia abrir um pouco uma das janelas para que entre um pouco de ar

    fresco?

    Agora, sim, voc me deixou zangado! Precisa me interromper toda vez que eu falo?Isso significa:1. No consigo entender por que voc tem esse mau hbito. Ser que voc se diverte fazendo

    isso?2. Estou irritado e no estou tolerando suas interrupes. Mas daqui a pouco isso passa e

    voltarei a ser mais paciente com voc.3. Faa o favor de no me interromper.

    Se voc um especialista em falar por meio de indiretas, certamente ter marcado sempre aterceira opo. Mas h muito mais interpretaes possveis para cada um desses enunciados.

    Quando se trata de fazer um pedido, acabe com as adivinhaes e os mal-entendidos. Porque,enquanto seu interlocutor puder escolher livremente como interpretar seus comentrios, pode serque ele no aja da maneira que voc quer. Portanto seja claro e no permita que o interpretem mal.

    Veja a seguir algumas das sugestes que o ajudaro a expressar seus pedidos sem que haja mal-entendidos.

    Formule seus pedidos sem dar chancea interpretaes equivocadas.

    Diga com poucas palavras simples o que quer do outro. Seja amvel ou, pelo menos, neutro.Por exemplo:

    Por favor, voc poderia...?Eu gostaria que...Eu queria o seguinte: ...Eu queria lhe pedir que...Poderia me fazer a gentileza...?

  • Se voc informa um fato e quer que a outra pessoa faa algo, diga claramente o que deseja. Omelhor usar duas frases simples. Primeiro o fato e depois o pedido. Por exemplo:

    A sopa est fria. Poderia me trazer uma sopa quente, por favor?A lata de lixo est cheia. Voc me faria o favor de levar o lixo para fora quando sair?No sei o que est acontecendo, mas o motor est fazendo um barulho estranho. Poderia dar

    uma olhada?

    COMO EVITAR A QUINTA DIFICULDADE:SEJA HBIL AO EXPRESSAR SEU ABORRECIMENTO

    Tal como o lubricante automotivo, a gentileza garante que no haja atritos nos relacionamentosinterpessoais. Atendemos de bom grado aos pedidos feitos de maneira gentil, mas resistimos ssolicitaes rudes ou grosseiras. No entanto, sabemos que ser atencioso e tratar as pessoas comcortesia nem sempre to simples no dia a dia, ainda mais se estamos nervosos por algum motivoou aborrecidos com algum.

    Um pedido feito de maneira amvel temgrandes chances de ser atendido.

    Pense num casal mesa de um barzinho. Enquanto esperam pelo garom, a mulher acende umcigarro, sem nem perguntar se o homem se incomoda. Mas ele logo se zanga:

    Quanta falta de considerao! Voc sabe muito bem que no suporto fumaa de cigarro emesmo assim acende um na minha frente? um absurdo!

    Vamos ser francos: h um pedido oculto nessas palavras? Qual ser a provvel reao dafumante? Ser que ela apagar o cigarro imediatamente? Acho que no, principalmente depois deser tratada dessa maneira. O mais provvel que responda a esse ataque com um contra-ataque:

    Mas quem voc pensa que ? Pensa que todo mundo tem que fazer s a sua vontade? Noadmito que ningum fale comigo nesse tom.

    E com esse clima de briga comea a discusso.

    Por trs de uma enxurrada de crticas esconde-se um pedido.

    Muitas pessoas acreditam equivocadamente que, para se fazer respeitar, precisam tratar osoutros com rispidez, censurando-os e, algumas vezes, at elevando o tom de voz. Pode ser que essetratamento funcione com uma criana de 3 anos, mas um adulto certamente no car satisfeito aoser tratado desse jeito.

    Quanto mais voc atacar seu interlocutor, menoschance ter de que seus pedidos sejam atendidos.

  • Se voc critica, censura ou d bronca, seu interlocutor certamente car na defensiva. Ele senegar a atend-lo porque se sente atacado. bem provvel que ele pare de prestar ateno ao quevoc diz, comece a se defender de suas acusaes, menospreze o assunto, ponha a culpa em voc eat se recuse a continuar a conversa.

    claro que nem todas as pessoas se fecham quando algum as repreende. Os psicoterapeutas eos mestres zen, por exemplo, sabem suportar os ataques e as crticas rspidas sem assumir umapostura defensiva. Mas talvez eles sejam os nicos.

    Como devemos agir se estamos aborrecidos mas ainda assim queremos que algo mude? Emprimeiro lugar, preciso admitir que estamos aborrecidos, mas sem deixar que esse estado deesprito atrapalhe o que realmente importante: que a outra pessoa atenda nosso pedido.

    Portanto, se voc quer que seu pedido seja atendido, aja com equilbrio e sabedoria, reprimindosua fria e explicando o que quer com o mximo de objetividade e neutralidade.

    Fale com seu interlocutor sem culp-lo e sem adotar um tom grosseiro ou usar palavrasofensivas. Antes de cham-lo para conversar, acalme-se e tenha bem claro em sua mente o quevoc quer falar. Primeiro reflita, depois aja.

    Concentre-se no que quer de seu interlocutor. Nada de sermes ou recriminaes. Expresse seudesejo com clareza para no ser mal interpretado e utilize palavras amveis.

    Escute com ateno a resposta dele. Lembre-se de que seu interlocutor tem o direito de dizersim ou no ao seu pedido. E que, antes de responder, ele tambm tem o direito de pensar comtranquilidade.

    Repita seu pedido ainda com muita tranquilidade se ele no for compreendido da primeiravez.

    Mas o que acontece se voc quiser muito mostrar que est zangado e que deseja que aceitemseu pedido? Apesar de ser mais difcil, com disciplina e habilidade voc pode ser atendido.Recomendo que voc no descarregue sua frustrao no interlocutor. Expresse o que voc estsentindo de maneira que ele se identique com voc sem car na defensiva. Fale de si e de seussentimentos, em vez de pr a culpa nele.

    Quando falar na primeira pessoa, diga como se sente, sem fazer comentrios de mau gosto ouataques verbais. Diga, por exemplo, estou decepcionado, em vez de voc me decepcionou. Emvez de comentar algo do tipo Voc conseguiu me deixar nervoso com a confuso que armounovamente, ento a partir de agora quero que..., prera algo menos pessoal, como: Fiquei muitochateado, por isso gostaria de lhe pedir...

    Mencionar os prprios sentimentos numa mensagem pessoal exige certa disciplina verbal. Emvez de comear a falar sem parar, contenha-se por um momento e verique como se sente. Depoisreflita sobre qual seria a melhor maneira de expressar suas emoes.

    Em vez de acusar o outro, fale de seus sentimentos.

    No incio, talvez voc considere um pouco estranho esse novo modo de falar e lidar com aspessoas. Mas isso mudar com a prtica, e voc perceber que tratar as pessoas de maneira amvel muito mais ecaz do que critic-las ou repreend-las o tempo todo. Com uma mensagem pessoal

  • voc mostra que no est de acordo com algo, e faz isso sem atacar ningum. Assim, as chances deseu interlocutor escut-lo de verdade sero maiores. O importante que, depois da mensagempessoal, voc seja capaz de fazer um pedido concreto e objetivo: s assim seu interlocutor saber oque voc deseja.

    PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE AESTRATGIA DA VONTADE FIRME

    Acho boa a ideia de expressar verbalmente meus desejos e vontades. Mas ser que sempre necessrio dizertudo? As pessoas tambm se entendem sem que precisem dizer nada.

    verdade que possvel se comunicar de maneiras no verbais. Quando as pessoas trabalhamou vivem juntas h muito tempo, elas passam a se conhecer melhor e conseguem estabelecer umasintonia. Com o tempo, sabem dizer como o outro est se sentindo e o que est pensando s deolh-lo, sem que ningum diga nada.

    No entanto, tambm existem pontos desfavorveis, como posso atestar durante meus cursos.Muitas vezes ouo armaes que de certa forma revelam a decepo da pessoa que as fez: Fazmuito tempo que trabalhamos juntos, e ele j deveria saber que eu no gosto disso. Ou Estamoscasados h tantos anos que minha mulher j deveria conhecer minhas necessidades. Sempre queouo frases desse tipo, sei que algum est se sentindo sufocado pelas prprias expectativas e pelosseus desejos no atendidos.

    No hesite em falar de seus desejos e expectativas com osoutros, mesmo que vocs se conheam h muito tempo.

    No correto esperar que uma pessoa saiba do que voc precisa. uma iluso achar que otempo contribui para as pessoas se conhecerem mais e que, por isso, elas no precisam mais secomunicar. Como se fosse possvel ler os pensamentos dos outros e saber automaticamente o quedesejam... Mas as coisas no so assim na realidade. As pessoas mudam com o passar dos anos. Eas relaes tambm.

    Nem voc nem eu somos a mesma pessoa que ramos h 10 anos. Ns aprendemos eevolumos constantemente, e o que ontem considervamos importante pode nos parecer indiferentehoje. Um assunto que de manh no nos afetava pode ter uma importncia enorme para ns noite. Constantemente temos novas ideias e pensamentos.

    A maioria das relaes no termina por causa de uma briga,e sim por causa do silncio.

    um erro achar que conhecemos os outros. O importante comunicar-se constantemente paraque cada um entenda os anseios e desejos do outro e, assim, os dois se mantenham em sintonia.

    Havia muitas discusses no meu antigo trabalho. Mas agora mudei de emprego e me pergunto se eu

  • deveria falar sobre o que quero e quais so minhas expectativas.Talvez seja melhor voc no expor todos os seus desejos assim que chegar no novo emprego.

    Mas importante que, enquanto se adapta ao novo ambiente, j v mostrando quem voc . Trata-se, em resumo, de uma mistura de adaptao e persistncia. Aprenda os costumes da empresa:repare, por exemplo, se ao chegarem de manh as pessoas se cumprimentam com um aperto demo ou com um ol! descontrado. E v identicando o que seus colegas esperam de voc. Mastambm mostre seus gostos, o que deseja, o que prefere e o que o aborrece.

    Todas as aspiraes que expressar criaro a base para um melhor entendimento. Voc no umlivro cifrado, mas algum com quem os outros devem aprender a se relacionar com educao erespeito. Faa isso no ritmo que considerar adequado.

    Como devo agir se me disserem que sou egosta por causa do que eu desejo e do que eu peo?Na minha opinio, se ser egosta dar mais ateno aos prprios desejos e necessidades, em vez

    de encarregar os outros dessa responsabilidade, no considero isso algo negativo. Agir dessa forma comportar-se como adulto.

    No permita que a palavra egosta o faa se sentir culpado.

    No h nada de errado em cuidar bem de si mesmo e ir em busca de seus prprios desejos, poisassim voc certamente conseguir ajudar as pessoas com quem convive. Quem sabe tratar-se comcarinho consegue cuidar dos outros de maneira igualmente carinhosa.

    Mas voc j parou para pensar por que certas pessoas o rotulam de egosta quando voc estapenas cuidando dos seus prprios interesses? Em geral, elas tm como objetivo manipul-lo e fazercom que voc se sinta culpado por agir dessa maneira. Ou ento so pessoas amarguradas porsempre terem aberto mo dos prprios sonhos e expectativas em favor dos outros, mas estocansadas de ser assim ou sentem inveja de quem vai em busca do que quer.

    Voc no deveria dar tanta importncia ao que pensam as outras pessoas. Cada um ter aopinio que quiser ter, independentemente do que voc diga ou faa, e isso no deveria afet-lo. E,apesar disso, voc far o que lhe parecer correto. Coloque em prtica as tcnicas da postura rgia eda couraa que apresentei anteriormente e voc no ter dificuldade em lidar com pessoas assim.

    No dependa do julgamento dos outros.

    A MANEIRA SIMPLES DE OBTER O MELHOR

    E quanto a voc? Atreve-se a pedir tudo o que deseja?Eu tambm j tive diculdade em expressar minhas necessidades e meus desejos, e eram raras

    as vezes em que eu ousava pedir o que queria. S com o tempo e aprendendo com os exemplos deoutras pessoas consegui entender que dizer o que se quer, de maneira clara e objetiva, torna a vidamuito mais fcil e prazerosa.

  • O exemplo que relato a seguir me inspirou a mudar meu jeito de agir. Certa vez eu tinhaacabado de chegar ao hotel em que caria hospedada para participar de um curso deaperfeioamento. Eu estava na recepo quando uma mulher saiu apressada de um dos elevadorescarregando sua mala e veio falar com o atendente.

    Desculpe, posso falar com ele um minutinho? perguntou-me ela educadamente. Sim, claro respondi, abrindo espao para que ela se aproximasse e falasse com o

    recepcionista.Ela me agradeceu e se dirigiu ao rapaz, entregando-lhe uma chave: Ol. Vocs me colocaram nesse quarto, mas quando entrei l vi que ele d para a rua e o achei

    muito barulhento. Por favor, poderia me trocar para um quarto com vista para o parque?O recepcionista verificou seu computador e logo lhe deu a chave de outro quarto.A mulher sorriu satisfeita e lhe fez mais um pedido: Obrigada. Eu gostaria de pedir mais uma coisa: vi que nas camas h aqueles travesseiros

    enormes e macios, de pena de ganso, que algumas pessoas adoram, mas que no fazem bem minha coluna. Por gentileza, voc poderia troc-los por travesseiros menores e mais firmes?

    claro. Vou pedir agora mesmo camareira que faa a troca. A senhora deseja mais algumacoisa?

    No, muito obrigada respondeu ela e voltou ao elevador.

    Ao fazer um pedido, d aos outros aoportunidade de o atenderem.

    Aquela mulher sabia muito bem o que queria e conseguia expressar seus desejos com clareza.Isso me inspirou. Depois de v-la em ao, eu tambm pedi para car em um quarto tranquilo comvista para o parque. E meu pedido foi atendido!

    Na manh seguinte, eu a encontrei no salo do restaurante durante o caf da manh eaproveitei a oportunidade para conversar com ela. Reparei que, como eu, ela tomava um ch, mas odela parecia diferente do que estava sendo servido.

    Este aqui um ch verde japons disse ela. Eu adoro este tipo de ch. mesmo? No vi esse tipo na mesa do buf. Voc o trouxe de casa? No, perguntei ao garom se eles tinham e pedi que me trouxessem.Fiquei impressionada! Aquela mulher pedia tudo o que queria. Ela agia com autoconana e

    tratava os outros com muita simpatia e cordialidade. Eu a observei fazendo isso com naturalidade eentendi que eu no precisava me contentar com aquilo que me davam. No haveria nada de erradoem aceitar, mas aprendi a pedir o que acreditava ser o melhor para mim.

    Seus pedidos no devem ser um fardo,mas um sinal da sua autoconfiana.

    Aquela mulher determinada e autoconante me ensinou que fcil conseguir algo melhor sem

  • muito sacrifcio. Basta pedir.

    SOBRE ESCRPULOS E OUTROS FREIOS AOS DESEJOS

    Talvez nossos pedidos no sejam atendidos to rapidamente e com tanta facilidade, mas no custanada tentar e se empenhar, se for necessrio.

    Mas por que resistimos a dar o primeiro passo quando se trata de pedir o que queremos? O quenos impede de expressar nossas vontades e expectativas? Ns mesmos criamos obstculos queparecem intransponveis e reprimimos nossos desejos. Em vez de tentar s para ver o que acontece at por curiosidade , s vezes somos excessivamente sensatos e agimos como se j soubssemosde antemo o que acontecer.

    Se antes mesmo de tentar voc alimenta pensamentosnegativos do tipo Isso no vai dar em nada, voc est

    impedindo a si mesmo de conseguir o que quer.

    Como especialista em comunicao, dediquei bastante tempo ao estudo dos bloqueios que nosrestringem na hora de pedir algo com desenvoltura. Ou seja: o que nos impede de expressar nossosdesejos verbalmente?

    O MEDO DO NO

    O que acontecer se recusarem meu pedido e me derem um no como resposta? Eu me sentirei a piorpessoa do mundo.

    Meus alunos costumam falar frases desse tipo. Quem pensa assim acredita que melhor nocorrer riscos e no pedir nada, s para nunca ter que ouvir um no. O medo toma conta dessaspessoas e as impede de agir.

    Um no no uma derrota apenas uma resposta.

    Para receber uma resposta negativa com serenidade, voc precisa de duas coisas: primeiro, umaatitude relaxada para ouvir o no e entender que ele apenas uma resposta ao seu pedido, nadaalm disso. Se voc v que o no simplesmente isso, no se deixar afetar.

    s vezes um no apenas uma etapa numa conversa.

    Em segundo lugar, voc necessita de algumas ferramentas retricas que lhe permitam tirarproveito das respostas negativas. Porque s vezes um no no a ltima palavra, mas s umaetapa numa conversa. Se voc tiver jogo de cintura, poder negociar com a pessoa e tentar

  • convenc-la a mudar de resposta.

    SOBRE A ARTE DE ACEITAR UM NO COM SERENIDADE

    Espero que esta segunda estratgia sirva de estmulo para voc pedir tudo o que quiser comtranquilidade.

    Se voc se atrever a pedir coisas com mais frequncia, ter duas experincias: por um ladoperceber que seus pedidos so atendidos sem problema, mas, por outro, estar mais preparado paralidar com a recusa de vez em quando. Voc pode no obter algumas das coisas que deseja, mas issono um problema nem signica que voc agiu errado ou que seu interlocutor seja uma pessoaruim. S significa que seu pedido no pode ser atendido naquele momento.

    Sempre vale a pena fazer um pedido. Mesmoque a resposta seja um no.

    Uma resposta negativa indica que seu pedido no ser atendido nesse determinado momento,mas isso pode mudar no futuro, se voc se mostrar obstinado e usar a criatividade para insistir nopedido.

    Quando seu interlocutor diz no, isso quer dizer que ele est se recusando a atender seupedido, e no que est rejeitando voc. Sempre que o outro decide algo, a deciso tem a ver comele, no com voc. Sua couraa o ajudar a no levar a negativa dele como algo pessoal.

    COMO TIRAR PROVEITO DE UM NO

    Uma aluna que assistiu a um de meus cursos me perguntou o que ela poderia fazer, efetivamente,quando algum se negasse a atender um de seus pedidos. Ela usou como exemplo uma situao queacabara de ocorrer:

    Semana passada, fui a uma de minhas lojas preferidas e vi um casaco maravilhoso na vitrine.Decidi entrar para experimentar e quei contente quando vi que ele me caa muito bem. A cortambm era linda, porm o preo estava acima do que eu estava disposta a pagar, ento perguntei vendedora se ela faria um desconto. Ela rapidamente respondeu que no poderia, e fui emborachateada por no ter comprado o casaco. Como posso agir depois de receber uma negativa comoessa?

    Eu disse a ela que ter um pedido negado no signica que a conversa chegou ao m e lheexpliquei a estratgia que desenvolvi.

    Estratgia de autoafirmao: comoconseguir algo depois de um no.

  • 1. Pergunte os motivos que levaram a pessoa a dizer noNem sempre voc entender no primeiro momento por que lhe respondem com uma negativa.

    Muitas vezes no existe um fundamento concreto. Pergunte por que no possvel. Em geral, sevoc souber os motivos, poder encontrar uma soluo.

    No lhe deram um desconto para comprar o produto que voc tanto gostou?Por que no? Voc j pensou que isso pode ter acontecido porque a vendedora no est

    autorizada a dar descontos. Mas e se voc pedir a ela que consulte o dono ou o gerente da loja parasaber se, nesse caso, pode ser feito um desconto especial? Pode ser que assim voc consiga algumacoisa.

    2. Pea conselhos e solues a seu interlocutorSeu interlocutor no atende seus pedidos, mas talvez ele tenha conhecimentos ou alguma

    experincia que lhe possam ser teis. J pensou em lhe fazer perguntas simples e diretas e tentartirar proveito dos valiosos conselhos que ele pode fornecer? Explique bem seu problema e pergunteo que ele faria no seu lugar. Por exemplo:

    O que o senhor faria se estivesse no meu lugar? Que conselho a senhora me daria para que eu consiga realizar meu desejo? Em sua opinio, como eu deveria agir para obter o que quero?

    3. Escute o interlocutor com atenoAlgumas solues surgem de palavras que s vezes nem so notadas. Portanto, sugiro que voc

    faa vrias perguntas e preste bastante ateno s respostas. Ao perceber que voc est ouvindoatentamente, seu interlocutor talvez que animado e lhe conte alguns truques secretos. Dequalquer maneira, ao fim da conversa, agradea-lhe pela ajuda.

    4. Comece a negociarO que aconteceria se voc mudasse um pouco seu desejo? Por exemplo, diminuindo-o ou

    reduzindo-o metade. Ou trocando-o por outro. Vamos supor que voc tenha conseguido umareduo no preo de um carro zero quilmetro, no qual voc pensou em incluir alguns opcionais,que esto com o preo cheio. Tente negociar, dizendo que contrata os itens opcionais se o vendedorlhe der de brinde o conjunto de tapetes ou a aplicao do insullm, por exemplo. Amplie seu lequede desejos e seja mais flexvel.

    Com o tempo voc perceber que as respostas negativas no doem. A verdadeira prova decoragem consiste em expressar um pedido e saber exatamente o que se quer. Isso j magnco porsi s, no importa o que acontea depois. Est claro que um sim seria melhor, mas um no jno ter o mesmo efeito devastador em voc. O melhor pedir muito e perguntar com frequncia.s vezes a resposta ser um sim, outras vezes ser um no. Mas pelo menos voc ter tentado.Voc se surpreender com tudo o que pode conseguir se perder o medo de receber um no comoresposta.

    No captulo seguinte, apresento a terceira estratgia na arte de se fazer respeitar. Trata-se deimpor limites, de dizer no aos outros. O que acha disso? Voc sabe dizer no?

  • A TERCEIRA ESTRATGIA NAARTE DE SE FAZER RESPEITAR:A NEGATIVA AMVEL

    Talvez isso acontea com frequncia: voc diz sim quando na verdade queria dizer no. provvel que voc no quisesse se envolver em determinada questo, mas acabou aceitando porquetem dificuldade em se recusar a fazer algo. Por que isso acontece?

    A DIFCIL PALAVRA NO

    Voc capaz de impor limites s exigncias e s expectativas dos outros? Se s vezes lhe parecedifcil, saiba que voc no est sozinho. Dizer no e impor limites uma parte muito importantena arte de se fazer respeitar.

    Se em meus seminrios eu elaborasse uma lista das principais questes das quais os alunoscostumam se queixar, dizer no estaria em primeiro lugar. Eu prpria sinto essa dificuldade.

    Dizer no o protege do perigo dedesperdiar seu tempo e sua energia.

    Embora me dedique a estudar e praticar a autoarmao h mais de 12 anos, ainda enfrentodiculdades em dizer no ou acabo deixando que opinem e se intrometam em meus problemas ou at cando calado quando deveria me pronunciar, mesmo que no concorde com o que estsendo feito.

    um erro pensar que algum dia dominaremos totalmente a arte de nos fazer respeitar e queestaremos para sempre seguros. Aprendemos e evolumos durante a vida toda. Nas diversassituaes pelas quais passamos, estamos sempre exercitando nosso poder de pedir e exigir, de imporlimites e dizer no, de agir com conana e sermos determinados em realizar nossos objetivos.Essas questes nos preocupam aos 15 anos e continuam a nos preocupar aos 50, aos 60, o queprova que a tarefa de se autoafirmar no termina nunca.

    O processo de se autoafirmar estende-se pelavida inteira e no termina nunca.

    Como em todas as estratgias de autoarmao deste livro, eu gostaria de ensin-lo a se fazerrespeitar com suavidade. Trata-se de dizer no sem fazer mal a ningum nem causar mgoas ouressentimentos.

    Com a estratgia da negativa amvel, voc:

  • Saber se defender e no deixar que ningum se aproveite de voc. Poder dizer o que no lhe agrada. Evitar que os outros se intrometam em seus problemas. Evitar intrometer-se nos problemas dos outros. Poder interromper e rejeitar atitudes injustas e ofensivas.

    SOBRE BURROS E OUTROS ANIMAIS DE CARGA

    No impor limites aos outros e dizer no poucas vezes tem consequncias. Se voc temdiculdade em expressar suas negativas com rmeza, muito provavelmente se sentir como umfantoche, preso entre suas expectativas e as obrigaes que os outros criam para voc.

    Descrevo a seguir algumas situaes comuns provocadas pela falta de imposio de limites. Vejase voc se identica com alguma delas. Assim, quem sabe, voc passa a reconhecer um padro emseu modo de agir e consiga fazer mudanas que lhe traro benefcios.

    O que acontece quando voc impe poucos limites

    Voc puxa a carroaQuando algo para de funcionar, as pessoas logo recorrem a voc em busca de uma soluo.

    Como voc no se faz de rogado, logo interrompe o que estava fazendo para consertar o que fornecessrio, anal melhor endireitar as coisas antes que um desastre acontea. E, desse modo, vocse transforma num burro de carga, fazendo tudo o que lhe pedem, sem nunca se recusar a ajudar. como se voc fosse um m e atrasse pessoas menos hbeis e outras que s querem explor-lo.

    Ningum lhe d atenoMuitas das pessoas com quem voc convive no demonstram muita considerao ao lidar com

    voc. Em casa, por exemplo, seus familiares podem largar as coisas em qualquer lugar, porquesabem que voc sempre as recolhe. Outros podem falar pelos cotovelos sem dar a mnima se voc seinteressa pelo assunto. Alguns lhe do presentes com os quais voc no tem a menor anidade. Sevoc tem a sensao de que ningum presta muita ateno s suas preferncias, isso pode acontecerporque as pessoas no sabem do que voc gosta. Porque bem provvel que voc diga no poucasvezes e no defina limites claros.

    Intrometem-se em seus problemasNossa! Como voc dirige mal!, Esse penteado no combina com seu rosto. Voc devia tentar

    usar um coque, Essa roupa no lhe caiu bem. Parece que voc cou mais gordo, Voc nodeveria perder seu tempo com aquele cara. Essa relao no vai dar em nada. Voc j ouviualguma frase desse tipo? Se j ouviu, ento as pessoas devem se intrometer na sua vida comfrequncia e criticar tudo o que voc faz. Isso acontece o tempo todo, mas voc raramente impedeessas pessoas de continuarem a opinar sobre sua vida.

  • Voc se responsabiliza pelos desamparadosVoc gosta de cuidar dos outros? Mas, em vez de oferecer-lhes ajuda de vez em quando, voc

    na verdade assume as responsabilidades deles e muitas vezes acaba deixando a prpria vida de lado.Voc est sempre por perto e nunca os incentiva a se virarem sozinhos. Assim, no desurpreender que sobre to pouco tempo para cuidar de si mesmo.

    Voc se identica com algum desses tpicos? No se espante se descobrir que se identica comquase todos. Preocupar-se e ajudar os outros, ser capaz de arregaar as mangas e pr mos obra,estar disposto a dar conselhos... no errado doar-se para fazer o bem para o outro. No entanto, preciso impor-se um limite para evitar que essas aptides sejam desperdiadas. Um limite capazde impedir que se aproveitem de voc. Esse limite o seu no.

    Se voc diz sim e concorda em fazer tudo o que lhe pedem,corre o risco de os outros se aproveitarem de voc.

    Como nas outras estratgias deste livro, neste caso tampouco se trata de voc se proibir ouabandonar de vez determinada atitude. Trata-se mais precisamente de encontrar o equilbrio. Aspessoas que s dizem sim necessitam do contrapeso de um enrgico no. Assim, alegre-se de terum esprito aberto, de seu dinamismo e de sua preocupao com os outros, mas tambm dena bemos limites. Mostre aos outros at onde eles podem ir. Diga sim, mas tambm imponha suasexigncias. E deixe bem claro quando algum zer algo que o prejudique, o magoe ou abuse de suaboa vontade.

    DIZER NO COM DETERMINAO E CLAREZA

    Em princpio, dizer no muito simples. O importante no fazer rodeios nem falar alm donecessrio. Manifeste sua negativa com segurana. A voz rme e tranquila lhe indicar que vocest bem decidido e que no vale a pena questionar sua negativa. A tcnica consiste em pronunciaro no como se fosse inquestionvel.

    Estratgia de autoafirmao: dizer no

    1. Reconhecer o prprio noAntes de uma conversa, descubra o que no quer