arte e cultura africana e afro-brasileira: conhecer para respeitar

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DESTAQUE. Este Trabalho de Curso, defendido por Andreia Soares em junho de 2012, foi destaque no XIX Forum em Arte e Ensino em função da importância da temática trabalhada. AVALIADOR: Me. Roberto dos Santos (http://lattes.cnpq.br/1135740854873321) ORIENTADORA: Ma. Ana Lúcia Beck (http://lattes.cnpq.br/2375559417849078)

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Page 1: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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Page 2: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Andréia Soares Marques

Arte e cultura africana e afro-brasileira:

Conhecer para respeitar

Canoas, julho de 2012.

Page 3: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

2

Andréia Soares Marques

Arte e cultura africana e afro-brasileira:

Conhecer para respeitar

Trabalho de Curso apresentado como

pré-requisito parcial para a obtenção

de título acadêmico de Licenciada em

Artes Visuais, pelo Curso de

Licenciatura em Artes Visuais da

Universidade Luterana do Brasil, sob

orientação dos professores Dr. Celso

Vitelli, Me. José Giuliano, Me. José

Carlos Broch e Ma. Ana Lúcia Beck.

Canoas, julho de 2012.

Page 4: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

3

Dedico este Trabalho de Curso à minha

família, pela paciência das minhas ausências

em momentos importantes e pela compreensão

diante dos inúmeros estresses. Em especial aos

meus filhos, Vinicius e Núbia, motivos de

alegria e busca do conhecimento. Aos meus

pais, Maria Rosilda (in memoriam) pelo

exemplo de garra da mulher negra, Newton

(in memoriam) por sua admiração ao

magistério e para minha mãe Didi, sempre

presente em minha vida, me apoiando.

Page 5: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

4

Agradeço aos meus antepassados por poder

estar presente neste momento descobrindo a

herança por eles deixada. A todos professores

orientadores dos estágios que ajudaram no

meu conhecimento e crescimento profissional.

As Equipes Diretivas das escolas em que

realizei os estágios, por terem me apoiado na

realização do meu trabalho. Aos alunos pela

oportunidade de dividir meu conhecimento.

Page 6: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

5

Encontrei minhas origens

Em velhos arquivos

Livros

Encontrei

Em malditos objetos

Troncos e grilhetas

Encontrei minhas origens

No leste

No mar em imundos tumbeiros

Encontrei

Em doces palavras

Cantos

Em furiosos tambores

Ritos

Encontrei minhas origens

Na cor da minha pele

Nos lanhos de minha alma

Em mim

Encontrei-as, enfim

Me encontrei.

Oliveira Silveira

Page 7: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

6

RESUMO

O presente Trabalho de Curso “Arte e cultura brasileira e afro-brasileira: conhecer para

respeitar” apresenta a trajetória do estágio desenvolvido na Escola Estadual de Ensino

Médio Caetano Gonçalves da Silva. A escola localiza-se no município de Esteio, estado

do Rio Grande do Sul. O estágio foi realizado em uma turma do 3º ano de Ensino Médio

na Educação de Jovens e Adultos. O tema desenvolvido visava refletir e conhecer a

produção cultural do negro na arte brasileira. O objetivo geral era proporcionar o

conhecimento de determinadas manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras,

reconhecendo a presença africana no Brasil, identificando as manifestações culturais

deste povo e sua influência na formação cultural brasileira. Como objetivos específicos,

pretendia que os alunos: Conhecessem o continente africano, sua diversidade cultural e

arte; Conhecessem a vida e as obras dos artistas plásticos que tivessem em suas obras

referências ao tema trabalhado; Debatessem questões presentes no trabalho dos artistas;

Realizassem atividades plásticas que remetessem as características das obras dos

artistas; Refletissem sobre a comunhão entre religiosidade e estética presente nos

trabalhos de alguns dos artistas trabalhados e Explorassem diferentes materiais;

Começamos a contar a história dos africanos no Brasil, a partir da Lei 10.639/03 que

tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira, a História da África

e dos africanos nos estabelecimentos de ensino público e privados. Levei ao

conhecimento dos alunos a contribuição do africano na construção da identidade

artística brasileira através da arte do artista plástico e museólogo Emanoel Araújo que,

através de estudos nos mostra que desde o Barroco era grande a contribuição destes

descendentes na arte brasileira. Elisa Larkin Nascimento, contribuiu nas pesquisas sobre

simbologia Adinkra, antigo sistema de escrita de um povo da atual região da República

do Gana e, parte da Costa do Marfim. São símbolos que representam valores, sendo

impressos sobre tecidos. Inicialmente eram usados em vestuários nas cerimônias

fúnebres e posteriormente, por líderes espirituais. Passou a ser um sistema de escrita,

também era esculpido em madeira, ferro e estampado em adereços. Atualmente são

aplicados nas paredes, adornos, logotipos e em cerâmicas. Após apresentar aos alunos a

arte africana, arte brasileira, influência da arte africana na cultura brasileira, realizamos

um estudo maior no simbolismo, principalmente o Adinkra. Rubem Valentim, Mestre

Didi e Mônica Nador contribuíram no presente trabalho através de suas artes para

realizar as atividades práticas dos alunos. A partir das análises da arte desenvolvida

pelos artistas citados, os alunos refletiram e fizeram seus trabalhos buscando a essência

apresentada nas obras de cada um destes artistas plásticos. Por fim cada aluno elaborou

um símbolo e o aplicou em um quadro de MDF, utilizando técnica de colagem com

areia colorida, criando composições.

Palavras-chave: Arte africana. Arte brasileira. Simbologia Adinkra.

Page 8: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................8

RECONHECIMENTO DO ESPAÇO DE ENSINO.......................................................14

1.1. Dados Gerais da Escola Observada .................................................................15

1.2. Observações Silenciosas ..................................................................................16

1.2.1. Primeira Observação Silenciosa .............................................................16

1.2.2. Segunda Observação Silenciosa .............................................................18

1.2.3. Terceira Observação Silenciosa ..............................................................19

1.2.4. Quarta Observação Silenciosa ................................................................19

1.2.5. Quinta Observação Silenciosa ................................................................21

1.2.6. Sexta Observação Silenciosa ..................................................................23

1.3. Análise das Observações Silenciosas ..............................................................24

1.4. Análise do Questionário com a Professora ......................................................26

1.5. Análise do Questionário dos Alunos ...............................................................28

PESQUISA SOBRE O TEMA NAS ARTES VISUAIS ................................................31

2.1. Arte Africana....................................................................................................32

2.2. Presença Africana na Cultura Brasileira...........................................................34

2.3. A Arte Negra Brasileira....................................................................................38

2.4. Simbolismo Adinkra.........................................................................................50

PROJETO E PRÁTICA DE ENSINO EM ARTES VISUAIS ......................................54

3.1. Dados Gerais da Escola e Turma da Prática de Ensino ..................................55

3.2 . Dados Gerais do Projeto de Ensino.................................................................55

3.3 . Prática de Ensino.............................................................................................56

3.3.1. Primeiro Encontro..................................................................................56

3.3.2. Segundo Encontro..................................................................................61

3.3.3. Terceiro Encontro...................................................................................67

3.3.4. Quarto Encontro.....................................................................................73

3.3.5. Quinto Encontro ....................................................................................80

3.3.6. Sexto Encontro.......................................................................................85

3.3.7. Sétimo Encontro.....................................................................................89

3.3.8. Oitavo Encontro.....................................................................................96

CONCLUSÃO...............................................................................................................103

REFERÊNCIAS............................................................................................................110

APÊNDICE 1- Avaliação da aluna estagiária...............................................................113

APÊNDICE 2- Questionário com a diretora da escola..................................................115

APÊNDICE 3- Questionário com a professora da escola.............................................118

APÊNDICE 4- Questionário com os alunos da escol .................................................121

Page 9: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

8

INTRODUÇÃO

Ao elaborar o tema de pesquisa, fiquei em dúvida sobre o assunto que

desenvolveria. Queria trabalhar a etnia negra, pois durante o Curso de Artes Visuais

poucas disciplinas realizaram atividades sobre a contribuição do negro nas artes. O tema

visava conhecer e refletir sobre a produção cultural africana na identidade brasileira.

Falar de arte africana é falar genericamente pois, no continente africano, há uma

diversidade de povos, línguas e culturas, assim como na arte onde também há

especificidades. A arte africana tradicional tem a principal função de representar valores

de uma cultura. A relação com a arte está muito ligada ao espiritual, desde o

nascimento, tendo forte ligação com a ancestralidade.

Realizando a pesquisa, tive dificuldade em selecionar o que trabalhar, uma

vez que a temática oportuniza desenvolver várias questões ligadas à produção cultural

do negro em nossa cultura. No decorrer do Curso de Artes, descobri a simbologia

Adinkra, antigo sistema de escrita de um povo da atual região da República do Gana e,

parte da Costa do Marfim. Busquei informações sobre os símbolos, porém a literatura

disponível era bastante restrita. Passei a procurar em sites brasileiros, que dispõem de

maiores informações. Todas as leituras realizadas contribuíram para me aprofundar na

compreensão e elaboração da pesquisa.

Senti necessidade de trabalhar com artistas negros brasileiros que

desenvolvessem a temática negra em suas obras. Realizar a seleção foi um processo

difícil, pois cada um realizava um trabalho bem específico sobre a questão. Cheguei até

Emanoel Araújo (1940), artista plástico, pesquisador e responsável pelo Museu Afro

Brasil; Abdias do Nascimento (1914-2011) militante da luta contra a discriminação

racial e pela valorização da cultura negra; Rubem Valentim (1922-1991) e Mestre Didi

(1917), artista plásticos negros que desenvolvem seus trabalhos estabelecendo uma

relação entre a religiosidade e identidade negra. Mônica Nador (1955), artista plástica

contemporânea, que apesar de não ser negra, desenvolve um trabalho na periferia de

São Paulo, através do Projeto Paredes Pinturas. Em se tratando de Brasil, a grande parte

dos moradores destes locais periféricos são afro-descendentes devido a questões

históricas, portanto um trabalho de auto-estima que muito contribuiu para desenvolver

Page 10: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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minha prática. A busca de informações sobre simbologia Adinkra me levou até a

pesquisadora Elisa Larkin Nascimento, que realizou uma ampla pesquisa sobre este

assunto. Descobri uma herança cultural nestes símbolos que enriquece e fundamenta a

experiência humana e que até então eu desconhecia.

Ao desenvolver o Projeto de Ensino, que foi aplicado nos dois níveis de

ensino onde realizei a prática, cheguei ao título Arte e cultura africana e afro-brasileira:

conhecer para respeitar, que desenvolve o tema sobre a formação cultural brasileira. O

projeto se justificava pelo fato de que desde janeiro de 2003 existe a lei 10.639 que

tornou obrigatório no currículo escolar o ensino da história e cultura africana e afro-

brasileira nas escolas públicas e privadas do país. A identidade cultural de uma nação

está vinculada através das interrelações culturais, portanto se faz necessário que o

professor leve para a sala a preocupação com a diversidade cultural, pois a escola é um

dos vários espaços existentes na sociedade, em que os indivíduos de diferentes culturas

se inter-relacionam. O objetivo geral era proporcionar o conhecimento de certas

manifestações artísticas africanas e afro-brasileiras, reconhecendo a presença africana

no Brasil, identificando as manifestações culturais deste povo e sua influência na

formação cultural brasileira. Os objetivos específicos eram:

- Conhecer o continente africano, sua diversidade cultural e arte.

- Conhecer a vida e as obras dos artistas plásticos Rubem Valentim, Mestre Didi e

Mônica Nador.

- Debater questões presentes no trabalho dos artistas.

- Realizar atividade plástica que remeta as características das obras dos artistas.

- Refletir sobre a comunhão entre religiosidade e estética presente nos trabalhos de

alguns dos artistas trabalhados.

- Explorar diferentes materiais.

A prática do Ensino Fundamental foi realizada no Centro Municipal de

Ensino Básico Clodovino Soares na cidade de Esteio com uma turma de 2º ano do ciclo

III (7ª série), Turma 23, no turno da tarde. Ao todo tivemos 14 encontros de um período

(45 min.) cada. Essa prática aconteceu no primeiro semestre de 2011.

Entre os conteúdos trabalhados, o estudo e pesquisa sobre simbologia

Adinkra foi algo que chamou atenção dos alunos, assim como a criação de símbolos

realizado por eles. Realizaram, como atividade de conclusão do meu estágio, uma

pintura no muro da escola que mexeu com a turma como um todo uma vez que saíram

Page 11: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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do espaço da sala de aula e puderam levar seu trabalho para um lugar em evidência.

Esta atividade aconteceu como encerramento da prática.

Através da prática de estágio consegui ver que atividades prazerosas, como

foi o caso de uma pintura realizada no muro da escola, motivam os alunos a

participarem do trabalho ainda que dê muito mais trabalho para o professor, visto que

são necessários materiais específicos e tempo para selecioná-los e organizá-los em outro

espaço que não a sala de aula. O estágio em Artes Visuais possibilitou repensar minha

prática pedagógica em alguns aspectos, como a metodologia de ensino, a importância de

outros profissionais ou disciplinas, estarem envolvidos no projeto de trabalho pois é um

outro olhar sobre o assunto, possibilitando outras discussões e propostas.

Os questionamentos sobre o conteúdo desenvolvido propiciaram uma busca

maior de conhecimento sobre o que estávamos trabalhando. A questão sobre o tempo

foi um fator colocado nas análises das aulas, promovendo dinamismo tanto na proposta

quanto nas intervenções. Apesar de já conhecer a turma, pois fiz o estágio na escola em

que trabalho, foi importante realizar esta prática para que eu repensasse minha

metodologia de ensino. A própria forma de organizar as aulas, que diferem do que a

supervisão escolar exige, já serviu para que eu visse o quanto é importante planejar e

aproveitar o tempo da melhor forma possível. O assunto abordado no meu tema de

pesquisa tomou uma proporção no município que, inclusive, recebeu verba, através do

Funproarte. Com isso foi possível adquirir todos os materiais usados nesta prática.

Já o estágio do Ensino Médio aconteceu na Escola Estadual de Ensino

Médio Caetano Gonçalves da Silva, na cidade de Esteio. Com o 3º ano, Turma 9 A

(EJA), no turno da noite. Ao todo foram 8 encontros com 2 períodos (40 min) cada.

Essa prática aconteceu no segundo semestre de 2011.

O conteúdo desenvolvido com a turma foi de interesse geral. Em vários

momentos os alunos verbalizavam a satisfação em ter aula de Artes. O que notei nas

minhas observações, pois as atividades propostas estavam a serviço da disciplina de

Ciências, que é a formação da professora referência de Artes da escola. Na maior parte

das aulas desenvolvidas, o material era levado por mim, poucos alunos levaram o que

eu solicitei. Esse fato me chamou atenção. Pensei que no trabalho com adultos isso não

aconteceria pois pareciam ser mais comprometidos, devido a idade. Vi que aluno tem

comportamento parecido em qualquer época da vida.

Page 12: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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Utilizei materiais e recursos diversos assim como a metodologia que

empreguei, fazendo uso de documentários, apresentações em multimídia praticamente

em todos os encontros. Houve contato dos alunos com muitas imagens, o que não

poderia deixar de ser, em se tratando de estágio em Artes Visuais. Porém, apesar de

oportunizar acesso a amplo material visual, o trabalho final, quando deveriam elaborar

um quadro com imagem criada pelos alunos não ficou bem elaborado. Isso se deve, em

grande parte, pelo fato de que a turma em que iniciei o estágio, não foi a mesma com a

qual encerrei este processo. Destes, apenas 3 permaneceram, e não eram alunos

frequentes. Portanto, houve ingresso de alunos novos que não passaram pelo processo

de reflexão e conhecimento do trabalho dos artistas. O calendário escolar do EJA é

diferente. Os alunos têm a chance de avançar durante o trimestre. O que acabou

acontecendo com grande parte da turma 9 A. Isto me deixou um pouco frustrada.

Esperava que a atividade que iria concluir o estágio ficasse melhor elaborada.

Penso que a prática realizada na turma serviu para que eu, além de ter

experiência, também pudesse vivenciar um nível de ensino com o qual ainda não havia

tido contato. A falta de autonomia do professor no espaço educacional foi algo que

posso salientar, visto que todas as produções elaboradas pelos alunos e que eu queria

expor nos corredores da escola, precisava ter a permissão da Equipe Diretiva. Com

relação à turma, a questão religiosa foi levantada por alguns alunos, visto que

trabalhamos com artistas que simbolizam em seus trabalhos as religiões de matriz

africana, e alunos que se opõem a esta crença foram contra, chegando ao ponto de se

negar a realizar uma atividade. Precisei ser flexível neste momento e propor uma

alternativa para que a tarefa fosse feita. Este fato me fez ver, mais uma vez, que o

professor não possui uma verdade absoluta. Vivemos em uma sociedade multicultural,

portanto, é importante que se conheça todos, ou o maior número possível, de pontos de

vista para mostrar aos alunos, não tomando partido de qualquer um. Mas mediando-os.

A prática no Ensino Médio serviu para que eu desmistificasse algumas

questões que, no meu ponto de vista, norteava este nível de ensino. Também foi

possível dialogar sem muitos “rodeios” utilizando um vocabulário da minha faixa etária,

uma vez que grande parte da turma era adulta. As aulas ocorriam de maneira tranquila,

os alunos levantavam questões pertinentes ao que estávamos conversando. A satisfação

que demonstravam quando eu propunha algo era incentivador. Encerrei minha prática,

em parte, frustrada por não ter conseguido concluí-la com os alunos de quando iniciei.

Page 13: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

12

No estágio IV precisei optar por um nível de ensino para relatar meu

processo de trabalho. Esta tarefa não foi fácil, uma vez que, no Ensino Fundamental

passei por experiências significativas para meu crescimento profissional. As atividades

elaboradas foram atraentes e incentivadoras. O fato da turma ter um vínculo comigo

também ajudou a desenvolver o estágio, porém, inicialmente pensei que seria fácil

trabalhar com estes alunos. Para minha surpresa precisei me desacomodar da situação

de professora da turma e buscar maior conhecimento sobre o assunto desenvolvido e

propor atividades desafiadoras. As propostas de trabalho foram além da sala de aula,

pois realizaram trabalhos nos muros da escola, como fechamento do projeto.

Na turma de Ensino Médio, foi preciso trabalhar sobre outra perspectiva,

uma vez que as aulas de Arte que a turma tinha estava a serviço de outra disciplina. Foi

preciso trabalhar com atividades que chamassem atenção dos alunos para o

conhecimento e fosse atraente nas propostas de trabalho. Consegui atingir os objetivos

que propus desenvolver, pois os alunos relatavam frequentemente, a satisfação do que

estavam descobrindo e aprendendo. As atividades desenvolvidas foram significativas

neste processo de conhecimento. As que mais chamaram atenção dos alunos foram as

máscaras, nas primeiras aulas, quando eles entraram em contato com muitos materiais.

Começaram aí a se dar conta que tinham potencial para desenvolver os trabalhos, o que,

inicialmente não acreditavam em suas potencialidades. Nas demais propostas era

possível observar que estavam perdendo o receio de não conseguir fazer os trabalhos.

Acabei optando por relatar a prática desenvolvida no Ensino Médio por

várias questões, uma delas se deve ao fato de que este momento serve para refletir sobre

o resultado que se chegou. Na conclusão do trabalho escrevo sobre o processo que

passei. Todos os momentos vivenciados, algumas vezes com os objetivos alcançados,

outros não. Os acertos, erros, tudo o que passei e fez parte deste crescimento, valeu

como experiência de vida e profissional.

Ainda na conclusão levanto questões referentes a todo o processo vivido no

estágio, como organização escolar, metodologia, identidade brasileira, expectativa em

relação a minha prática e importância da disciplina. Questões estas que me levaram a

refletir sobre o papel do arte-educador.

Ao final da conclusão, procuro fazer uma reflexão sobre o processo de

trabalho. Percebi que algumas atividades poderiam ter sido melhor elaboradas à medida

que eu deveria tê-las elaborado de maneira diferente, mais interessante. Volto meu olhar

Page 14: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

13

para todo o processo de trabalho do início do projeto, me detendo nas dificuldades, com

a intenção de usar a experiência de estágio como um aprendizado. Na busca do

conhecimento pretendo me preparar cada vez mais para aprimorar minha prática,

visando o aluno, que é o motivo maior para desenvolver o gosto pela arte.

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14

CAPÍTULO 1

RECONHECIMENTO DO ESPAÇO

DE ENSINO

Page 16: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

15

1.1. Dados gerais da escola observada

Em 1957 a Escola chamava-se Grupo Escolar Bento Gonçalves. Criada em

11 de fevereiro de 1958 pelo Decreto nº 8.621/58 e Decreto de Denominação nº 10.843

de 08 de outubro de 1959 e assinado pelo governador Ildo Meneguetti sendo

denominado Grupo Escolar Caetano Gonçalves da Silva, com sede na cidade de Esteio,

na Avenida Dom Pedro, nº 200. Atendendo crianças de 1ª a 5ª séries do Ensino

Fundamental.

Em 24 de abril de 1970 recebe como doação da Prefeitura Municipal de

Esteio, na gestão do então prefeito Clodovino Soares o terreno situado na Avenida Dom

Pedro, nº 790. Em 1975 o Grupo Escolar muda para o novo prédio, situado na Avenida

Dom Pedro.

Em 30 de dezembro de 1975 no parecer nº 1.163/75, do Conselho Estadual

de Educação com a portaria nº 1.574 é autorizada a implantação do Ensino Supletivo.

Em 06 de abril de 1976 é autorizada a implantação da 6ª série do ensino

fundamental. Em 14 de fevereiro de 1977 é autorizada a implantação da 7ª e 8ª séries do

ensino fundamental.

Em 22 de dezembro de 1977 pelo Decreto de Reorganização nº 26.443 do

governo de Sinval Guazelli o Grupo Escolar passa a ser denominado Escola Estadual de

1º Grau Caetano Gonçalves da Silva.

Em 15 de setembro de 1993, Parecer nº 1.306/93, e Escola é autorizada a

criar a Classe Especial para Deficientes Visuais.

Em 2001, pelo Decreto nº 41.286 de 18 de dezembro de 2001, a Escola

passa a denominar-se Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva,

com a criação da modalidade EJA para Ensino Médio.

Em 2007 foi instituído Ensino Fundamental de 9 anos. Atualmente a escola

possui cerca de 900 alunos distribuídos em três turnos (manhã, tarde e noite) atendendo

da Ed Infantil até o Ensino Médio.

Page 17: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

16

1.2. Observações silenciosas

1.2.1 Primeira observação silenciosa

16/08/2010

Ao chegar a escola, 10 minutos antes da troca de período, aguardei a

professora de Artes para conversar sobre o meu trabalho. Ao sinal do período (20 h)

ninguém da equipe diretiva encontrava a professora ou a turma. Após alguns minutos

“descobriram” que a turma 7 B (1º ano) estava na sala de vídeo juntamente com as

demais turmas do mesmo ano, acompanhadas pelas professoras de História e Geografia.

Assistiam ao filme Invictus (2010). Após conversar com a professora de

História e me apresentar, sentei e perguntei a uma aluna desde que horas estavam ali,

ela me disse que desceram para a sala no segundo período e, antes de sair a professora

de História entregou uma folha com questões que deveriam ser respondidas e

devolvidas na próxima aula:

Trabalho de Geografia, História,Artes, Filosofia e

Sociologia

Assista ao filme e depois responda às questões abaixo:

1-Ficha técnica do filme: título, direção, ano, produção,

atores principais e música.

2-Resumo (15 linhas) do tema do filme.

3-É um filme de ficção (fantasia), uma reconstrução

histórica ou um documentário?

4- Que episódio histórico ou contexto histórico retrata?

5-Desenhe numa folha de ofício a imagem que mais

chamou a sua atenção no filme.

6-O que determina a liberdade de um indivíduo e qual o

Page 18: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

17

seu valor?

7-Para você o que é dignidade?

8-No filme, que meios foram utilizados para romper as

barreiras raciais?

Durante a exibição do filme, no período em que permaneci, alguns alunos

conversavam sem dar importância à televisão. Outros atendiam ao celular ou jogavam.

Vale lembrar que havia 3 turmas do mesmo ano na sala.

Ao sinal (20h 40 min.) do recreio todos saíram da sala. Conversei

novamente com a professora de História e ela comentou que o filme continuaria até o 4º

período. Fui embora e a professora de Artes não havia assistido ao filme com os alunos.

Page 19: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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1.2.2. Segunda observação silenciosa

23/08/2010

Anterior ao período de Artes a turma tem aula de Biologia e, após é o

recreio que dura 15 minutos. Entre a troca de períodos, os alunos permanecem na sala.

A professora de Biologia é quem ministra as aulas de Artes, pois precisa completar a

carga horária da escola.

Ao conversar com a professora durante a observação, ela falou que seu

trabalho é interdisciplinar. Ou seja integra as disciplinas de Biologia e Artes. A proposta

de hoje é que os alunos construam moléculas de DNA, para isso ela solicitou que

trouxessem os seguintes materiais: arame, linha, canudos e miçangas.

A turma é pequena, 15 alunos, estavam presentes na aula de hoje, 12.

Desses 4 não trouxeram o material pedido. Os demais empenharam-se na construção da

molécula.

Desde que entrei na sala estava presente outra estagiária observando a

turma, porém a Supervisora deu-se conta de que já havia deixado a turma 7 B para que

eu fizesse as observações necessárias. E a outra estagiária faria sua prática em outro dia

e em outra turma com a mesma professora. Durante o período ela ficou junto comigo e

conversou com a professora para acertar a sua turma de prática. Enquanto nós duas

aguardávamos o final da chamada uma aluna aproximou-se e se apresentou, pensando

que fossemos colegas novas, eu disse que era estagiária e pedi para a professora que eu

me apresentasse. Embora esta seja minha segunda observação é a primeira em que eu

entro na sala apenas com a turma.

Ao sinal do recreio a professora pediu que os alunos concluíssem o trabalho

em casa e trouxessem na próxima aula.

Page 20: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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1.2.3 Terceira observação silenciosa

30/08/2010

Assim que eu entrei na sala fui falar com a professora sobre o questionário

de estágio. Combinamos que ele será aplicado na próxima aula.

Hoje estavam presentes 13 alunos, quatro entregaram o trabalho da aula

anterior (moléculas de DNA). A professora pediu aos demais que tragam na próxima

aula. Para a aula de Artes de hoje foi programado um documentário sobre glândulas e

hormônios. Antes de nos dirigirmos para a sala de vídeo a professora comentou comigo

que para a próxima aula, após o questionário os alunos farão uma pesquisa, na

biblioteca da escola, sobre o assunto do vídeo e, nas aulas seguintes irão elaborar, no

laboratório de informática, um trabalho utilizando o power point para um Seminário

que ela está organizando.

Ao pedir que se dirigissem à sala de vídeo uma aluna questionou o que

iriam fazer e a professora respondeu que assistiriam a um DVD sobre glândulas.

Durante o documentário grande parte dos alunos prestou atenção enquanto

duas alunas conversavam e riam em vários momentos. Após 30 minutos encerrou-se a

apresentação e a professora fez alguns comentários sobre o que foi visto. Ninguém fez

pergunta e foi solicitado que se dirigissem à sala. Alguns alunos não gostaram ter que

subir e, logo em seguida descer novamente visto que faltavam 8 minutos para o

intervalo. Saíram dirigindo-se ao pátio da escola.

Page 21: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

20

1.2.4. Quarta observação silenciosa

13/09/2010

Como em todas as observações, ao sinal de troca de períodos me dirigi à

sala, porém ninguém se encontrava no local. Precisei me dirigir até a Equipe Diretiva

para saber onde estava a turma. A mesma se encontrava no Laboratório de Informática.

Ao entrar localizei a professora e esta me falou que estavam lá desde o

segundo período, na aula de Biologia e permaneceriam até o horário de recreio. Portanto

a aula de Artes seria ocupada com pesquisa na Internet, pois os alunos estavam

preparando um seminário do conteúdo desenvolvido em Biologia.

Relembrei a professora o que havíamos combinado na última aula: eu

aplicaria o questionário e após, os alunos fariam a pesquisa na Biblioteca. A professora

falou da dificuldade de agendar o Laboratório de Informática e, como havia conseguido

os dois períodos (Biologia e Artes) neste espaço, pediu para que o questionário ficasse

para a próxima aula.

Os alunos estavam bastante envolvidos na realização da pesquisa. Todo o

conteúdo era colocado em uma pasta no computador. Todos estavam presentes. Cada

estudante ficou em um computador. A escola possui um Laboratório de Informática

com 25 computadores novos.

Ao sair, no final do período, procurei a Supervisora e a Diretora para pegar

o questionário que havia deixado na última aula que observei (30/08), porém nenhuma

delas havia respondido as questões, sendo que a supervisora não sabia onde o havia

colocado. Combinei que na próxima semana pegarei os questionários.

Page 22: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

21

1.2.5. Quinta observação silenciosa

27/09/2010

Ao chegar à escola procurei a direção para pegar o questionário. Foi

necessário entregar, pela segunda vez, as questões, pois o material anterior foi perdido

pela diretora. Conversando com a equipe diretiva, esta me informou que a turma 7B, e

as demais turmas do mesmo ano se encontravam na Casa de Cultura de Esteio

participando de um Seminário, desde às 18 h 30 min, sobre Movimento Negro na

Contemporaneidade. A organização da atividade foi feita pelo Grupo Unir Raças,

associação local empenhada em unificar etnias construindo a igualdade racial e social.

Durante o ano o grupo realiza atividades com ações afirmativas em relação a

implementação da lei 10.639/03. Fui até o espaço onde se realizava o evento.

Na programação constava as seguintes palestras:

Histórico do Movimento Negro

Palestrante: Profº Wagner Chagas (Licenciado em História/Ulbra;

Especialista em Gestão da Educação/Ulbra; Mestrado em

Educação/Unisinos)

Saúde da população negra

Palestrante: Stênio Rodrigues (Servidor Ministério da Saúde; Acadêmico de

Direito/Ulbra)

Quilombos

Palestrante:Ubirajara Toledo (Acadêmico de Direito/Unilasalle)

Ensino da História africana e afro-brasileira nas escolas-Lei

10.639/03

Palestrante: Profª Adiles da Silva Lima (Professora de Literatura/UFSM e

Especialista em Estudos africanos e afro-brasileiros)

Apesar de ter chegado após o horário de início do Seminário consegui sentar

próximo aos alunos e assistir a palestra da Profª Adiles que está ligado ao assunto que

irei desenvolver no estágio.

Page 23: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

22

Estavam presentes 13 alunos, todos prestaram atenção nas palestras, porém

ao final, quando abriram para perguntas, ninguém questionou os palestrantes. Apesar do

incômodo, observado nas expressões, quando a professora Adiles falou sobre os erros e

os acertos em relação a implementação da lei que trata do ensino da história e cultura

brasileira e afro-brasileira nas escolas nem mesmo os professores da escola fizeram

perguntas.

O Seminário acabou às 21h 15 min. Alguns alunos foram embora antes do

término e os que permaneceram até o final foram dispensados. A professora de Arte

comentou com os alunos que na próxima aula será feito um debate sobre as questões

levantadas nas palestras. Alguns alunos não gostaram de ter que retomar o assunto.

Page 24: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

23

1.2.6. Sexta observação silenciosa

04/10/2010

Estavam presentes 14 alunos. A professora iniciou o período retomando os

grupos de Biologia que, na aula de Arte, deveriam trazer materiais para a elaboração de

cartazes sobre assuntos relacionados à Biologia. Alguns alunos entenderam que o

material deveria ser levado na quinta-feira, quando eles teriam o segundo período de

Biologia da semana.

Iniciou uma discussão entre os alunos e a professora em função do tempo

para a pesquisa que os alunos não dispõe. A professora relembrou que há um dia da

semana (quarta-feira) que a escola libera os computadores do Laboratório de

Informática para pesquisa. Uma aluna, insatisfeita com o fato de ninguém da turma ter

avançado até o momento, reclamou e a professora encerrou a discussão dizendo que

quem não estivesse gostando que reclamasse para a vice-direção.

Conversei com a turma sobre o questionário que aplicaria. Realizei a leitura

das questões, junto com os alunos. Ao perguntar se havia dúvidas, duas alunas falaram

que não poderiam responder as questões 2-Como são as aulas de Arte? e 3-O que você

mais gosta nas aulas de Arte? pois não tiveram aula de Arte neste ano. Deixei a critério

delas responder ou não.

Após responderem as questões a professora mostrou as notas de Biologia e

Arte por solicitação de alguns alunos. Faltavam 15 minutos para o encerramento da aula

quando todos devolveram o questionário e seguiram mostrando e discutindo as notas

das duas disciplinas.

Na aula de hoje, me chamou a atenção que os alunos estavam divididos em

dois grupos. Alguns, mais antigos na turma, sentados de um lado da sala, enquanto

outros, que avançaram no decorrer do ano, estavam sentados do outro lado da sala.

Page 25: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

24

1.3. Análises das observações silenciosas

As aulas observadas na Escola Estadual de Ensino Médio Caetano

Gonçalves da Silva aconteceram no segundo semestre de dois mil e dez em uma turma

de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no noturno. Ao solicitar, junto a supervisora,

uma turma de Ensino Médio a mesma me deixou à vontade para escolher o ano que

desejaria observar. Falei da proposta de trabalho que gostaria de desenvolver no ano

seguinte e foi bem recebida, uma vez que a escola desenvolve projetos relacionados à

aplicação da lei 10.639/03 que trata do ensino da história e cultura afro-brasileira, bem

como a história da África e dos africanos em estabelecimentos de ensino públicos e

privados, no Brasil. “Ao tornar obrigatória sua inclusão na Educação Básica, estaremos

frente a uma imensa dificuldade: que História será esta a ser apresentada, se a maioria

dos professores em sala não teve contato com ela?” (LIMA, 2004, p.84).

Ficou acertado que observaria uma turma de 1º ano, nas sextas-feiras, no

terceiro período. No primeiro dia de observação, ao chegar a escola e me dirigir à sala

de aula, para minha surpresa, os alunos haviam sido dispensados. Houve falta de um

professor e a disciplina de Arte foi antecipada, ficando os alunos liberados para irem

embora. Em conversas com colegas que atuam em escola do estado me foi relatado que

esta é uma prática recorrente. “Um sistema público extremamente tolerante para faltas,

supostas licenças médicas, comissionamentos e uma série imensa de recursos e meios

para fugir da sala de aula, deixando os alunos...” (ANTUNES, 2010, P.157).

Acabei trocando a turma que faria as observações, permaneci no mesmo ano

(1º), agora passaria a observá-los na segunda-feira e a turma foi a 7B. Em vários

momentos a equipe diretiva me pareceu não saber o que se passava com a turma. Desde

o primeiro dia de observação, quando os alunos assistiam a um filme e ninguém da

equipe os encontrava, até o penúltimo dia de observação quando a turma participava de

um Seminário.

A sala de aula era dividida no diurno com turmas do Ensino Fundamental,

não há, nas paredes, materiais que marquem a presença dos alunos de EJA. As aulas de

Arte observadas, na verdade, nada tinham que remeta à disciplina, pois além da Arte,

em algumas aulas, estar a serviço da disciplina Biologia, sequer esta serventia estava a

Page 26: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

25

favor da criação do ambiente sala com apropriação dos alunos que deveriam ser

protagonistas do espaço. Assim, pode-se destacar que,:

[...] o fazer técnico-inventivo, o representar com imaginação o mundo da

natureza e da cultura, e o exprimir sínteses de sentimentos estão

incorporados nas ações do produtor da obra artísticas, na própria obra de

arte, no processo de apresentação dos mesmos à sociedade e nos atos dos

espectadores. Assim, num contexto histórico-social que inclui o artista, a

obra de arte, os difusores comunicacionais e o público, a Arte apresenta-se

como produção, trabalho, construção. Nesse mesmo contexto a arte é

representação do mundo cultural com significado, imaginação; é

interpretação, é conhecimento do mundo; é também, expressão dos

sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta,

que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação homem-

mundo. (FERRAZ e FUSARI, 2001, p.23)

A escola possui espaços amplos, há laboratório de informática, biblioteca,

sala de vídeo, refeitório, quadra de esportes e várias salas de aula. Os ambientes são

inúmeros, porém os trabalhos expostos são em número muito pequeno em relação a

quantidade de alunos da escola.

A falta de sintonia entre professor-aluno chamou minha atenção, grande

parte das aulas observadas a professora ficava sentada explicando as atividades,

enquanto poucos alunos perguntavam algo para a professora. Esta não sabia sequer o

nome dos alunos, pois em uma aula após a chama ela perguntou se alguém não havia

sido chamado. Um aluno levantou a mão e a educadora perguntou seu nome.

Demonstrando, neste recorte, falta de entrosamento.

Diante de tudo que pude observar, passei por um processo de reflexão sobre

minha prática pedagógica. Algumas vezes, diante das adversidades da profissão

acabamos deixando de lado o que acreditamos em nome do dar conta dos conteúdos,

esquecendo o sujeito principal da educação que é o aluno. A relação professor-aluno é

outro fator importante de destacar, visto que esta interação é fundamental para que se

estabeleça uma relação de confiança e um ambiente propício para que aconteça a

aprendizagem.

Page 27: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

26

1.4. Análise do questionário com a professora

No decorrer das observações silenciosas do Ensino Médio pude observar

fatos que vão de encontro ao que a professora respondeu no questionário. Presenciei

uma situação de conflito entre a educadora e os alunos quando da aplicação do

questionário, pelo fato de na aula de Arte a turma ter atividade de Biologia.

A professora possui formação em Ciências Biológicas e há quase dois anos

leciona Arte. Isto é comum em escolas estaduais, professores de outras disciplinas, para

completar em suas cargas horárias, acabam ministrando aulas de disciplinas que não são

habilitados. Embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394)

aprovada em 20 de dezembro de 1996, estabeleça em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O

ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da

educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. A aula

de Arte é vista com pouco valor, sendo que professor de qualquer área pode ministra-la.

Quando questionada sobre o conteúdo de Arte (como é selecionado e o que

está trabalhando) a professora respondeu que o trabalho na EJA se dá de forma

interdisciplinar, porém o que observei nas aulas não foi isso, pois normalmente a aula

de Arte estava a serviço da Biologia. Sobre isto pode-se considerar que,

[...] uma série de desvios vêm comprometendo o ensino da arte. Ainda é

comum as aulas de arte serem confundidas com lazer, terapia, descanso das

aulas “sérias” , o momento para fazer a decoração da escola, as festas,

comemorar determinada data cívica, preencher desenhos mimeografados,

fazer o presente do Dia dos Pais, pintar o coelho da Páscoa e a árvore de

Natal. (GUERRA, MARTINS e PICOSQUE, 1998, p.12),

Os materiais solicitados aos alunos são revistas, cola, lápis de cor, cola e

outros mais. No entanto em todas as aulas que observei, nenhum dos materiais citados

foi usado ou solicitado pela professora. Quanto à exposição dos trabalhos, não havia

nenhuma tanto na sala quanto em outros espaços da escola.

Coloquei uma questão referente à Lei 10.639/03 que estabelece diretrizes e

bases da educação nacional para incluir a história e cultura afro-brasileira e indígena na

Page 28: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

27

rede de ensino. A educadora respondeu que a disciplina de História fica responsável por

trabalhar o que estabelece a lei. Fica a cargo das demais disciplinas levar os alunos a

seminários que falem sobre a temática.

Neste ano, até o momento em que realizei as observações, os alunos não

haviam ido a exposições de arte. Ao conversar com a professora ela falou que eles

sempre vão à Bienal do Mercosul. Portanto neste ano não terão saída com esta

finalidade.

Page 29: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

28

1.5. Análise do questionário dos alunos

O questionário tem como finalidade conhecer os alunos e sua relação com a

disciplina, além de verificar o conhecimento que possuem sobre o assunto que será

desenvolvido no estágio prático. No dia da aplicação do questionário na turma que

realizei as observações, apenas um aluno faltou a aula.

Não há um gênero que prevaleça na turma, pois o número de homens e

mulheres é muito próximo um do outro. A faixa etária vai dos 18 aos 61 anos. Em maior

número é o de educandos de 18 anos, ao todo 3. Nas demais faixas há 1 pessoa com 19,

20, 21, 22, 27, 28, 29, 37, 39, 44 e 61 anos.

Nas questões referentes às aulas de Artes, grande parte dos alunos

respondeu que neste ano não houve aulas de Arte. Um aluno deixou a questão em

branco, enquanto que dois alunos “denunciaram” o que eu observei, a aula de Arte está

a serviço da aula de Biologia. Frequentemente os alunos faziam cartazes ou trabalhos

relacionados ao conteúdo de Biologia. Sobre isso Ferraz e Fusari (2001, p 24) afirmam:

No contexto da educação escolar, a disciplina Arte compõe o currículo

compartilhado com as demais disciplinas num projeto de envolvimento

individual e coletivo. O professor de Arte, junto com os demais docentes e

através de um trabalho formativo e informativo, tem a possibilidade de

contribuir para a preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo

em que vivem, saibam compreende-lo e nele possam atuar.

Ao perguntar o que mais gostavam nas aulas, alguns colocaram que as

atividades que valem nota. “A avaliação tem se caracterizado como disciplinadora,

punitiva e discriminatória, como decorrência, essencialmente da ação corretiva do

professor e os enunciados que emite a partir dessa correção.” (HOFFMANN, 2010,

p.89) O fato de terem deixado em branco a resposta, revela a falta de trabalho da

disciplina. Não podem falar de algo que não conhecem. O mesmo pode-se dizer sobre as

respostas à pergunta: Onde você vê arte? A resposta “em todos os lugares” demonstra

que não conseguem conceituar Arte.

Quando perguntados se conhecem algum artista, a grande maioria disse não

conhecer ninguém, enquanto dois alunos conhecem escultores e um aluno conhece um

grafiteiro.

Page 30: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

29

A prática da disciplina de Arte pode ser feita tanto em grupos, quanto

individualmente, pois ambas respostas foram sinalizadas.

O número reduzido de materiais que gostam de usar ficou explícito quando

assinalaram em maior número o lápis de cor, tinta e tesoura, demonstrando mais uma

vez o pouco contato com materiais artísticos. Como apontam Ferraz e Fusari (2001, p.94):

[...] é necessário vivenciar atividades práticas, nas quais se possa lidar

diretamente com a linguagem visual, para saber fazer, expressar, comunicar,

enfim, pensar visualmente. Desta forma, poderemos entender melhor os

nossos próprios trabalhos (nossa linguagem) e a dos outros autores, artistas

em variados contextos comunicacionais e ao longo da história da

humanidade.

A grande maioria desconhece a Arte Africana, alguns à relacionaram com a

dança, religiosidade e artesanato (máscaras). Penso que deveria ter colocado alguma

questão sobre Arte afro-brasileira, uma vez que desenvolverei um trabalho que está

ligado à aplicabilidade da Lei 10.639/03, que trata da história e cultura afro-brasileira ,

bem como a história da África e dos africanos.

A disciplina no currículo escolar é vista com grande importância, porém

foram significativas as respostas que negaram tal importância. Eu as transcrevo aqui:

“Porque em nenhum serviço público eu vou pintar, desenhar ou modelar é bom para

quem vai seguir a profissão artística” aluno de 19 anos; “Porque não vou aprender nada

que me possa ser útil” aluno de 18 anos. Estes relatos demonstram que os alunos nunca

tiveram um professor que mostrasse a importância da arte. Conforme Guerra, Martins e

Picosque (1998, p.37),

Somos rodeados por ruidosas linguagens verbais e não verbais – sistema de

signos – que servem de meio de expressão e comunicação entre nós,

humanos e podem ser percebidos por diversos órgãos dos sentidos.[...]

Nossa penetração na realidade, portanto, é sempre mediada por linguagens,

por sistemas simbólicos. O mundo por sua vez, tem o significado que

construímos para ele. Uma construção que se realiza pela representação de

objetos, idéias e conceitos, que por meio de diferentes sistemas simbólicos,

diferentes linguagens, a nossa consciência produz. Quando nos damos conta

Page 31: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

30

disso, vemos que a linguagem é a forma essencial da nossa experiência no

mundo e, consequentemente, reflete nosso modo de estar-no-mundo.

A aula de Arte deve possibilitar aos alunos conhecerem esses códigos não

verbais, fazendo com que eles signifiquem seus mundos e se sintam-se integrantes de

um espaço maior.

Page 32: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

31

CAPÍTULO 2

Pesquisa sobre tema nas

Artes visuais

Page 33: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

32

2.1. Arte africana

Algumas pessoas taxam a arte africana como sendo de povos sem cultura.

Cabe discordar visto que a influência dos povos deste continente na história mundial e

em especial na cultura brasileira, é muito grande. Porém ainda encontramos pessoas

com a visão distorcida a respeito desta arte. Carise (s/d, p.65) fala que “a arte africana

tradicional tribal é tão universal quanto a arte grega” referindo-se ao conteúdo estético e

espontaneidade criadora dessa arte.

Devido às características do continente africano, no que diz respeito a

diversidade de povos, línguas e culturas , também na arte encontramos especificidades

em relação a arte de culturas ocidentais. Assim conforme afirma Carise (s/d, p.66),

[...] na África, a arte não tem, apenas, um caráter estético; ela é, antes, uma

atividade criadora na qual o artista dá nova forma ao mundo unificando a

condição de homem e da humanidade, através de princípios que definem e

caracterizam uma época, uma tradição. Gira em torno de crenças, vive em

estreita relação com o homem, a natureza, os vivos e os mortos. O artista

africano exprime uma idéia, um símbolo, não reproduz, simplesmente, as

aparências visíveis da natureza, mas as forças interiores, procurando mais

captar uma realidade pensada do que vista.

Portanto, esta arte deve ser vista com um novo olhar, desprovido de uma

arte convencional dominante. Na verdade, ela é livre de influências técnicas, ela

expressa a diversidade cultural e étnica.

A arte africana foi por um longo período da história desconhecida. Alguns

etnólogos mostravam-se interessados nela, porém foi com o livro “Arte Negra” de Karl

Einstein que o assunto começou a ser discutido com maior interesse por artistas

modernos. Carise (s/d, p.67) comenta que “embora discutível sua teoria sobre cubismo

o tema reflete bem o papel decisivo que a arte africana vem desempenhando no

desenvolvimento dos conceitos estéticos do século XX”.

A arte africana tradicional está presente nas sociedades rurais e não tem a

intenção de reproduzir a realidade. A principal função desta arte é reproduzir valores

emocionais, em especial para as comunidades a qual pertence, pois estas pessoas podem

compreendê-la. Ela é apreciada pelo que representa e não pelo que aparenta.

Page 34: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

33

A chamada “arte negra” é um instrumento da relação espiritual das pessoas

da comunidade, acompanhando assim suas vidas, participando de rituais desde o

nascimento, passando por ritos de passagem, pela morte e continuando na ligação com a

ancestralidade.

As representações desta arte estão sujeitas a diversidade étnica, apresenta-se

sem a simetria e a proporção que poderíamos esperar. Normalmente a cabeça é

demasiado grande, pois ela representa a personalidade, o saber, principalmente quando é

a de uma pessoa mais velha da comunidade; a língua ultrapassa a boca, expressando a

fala, que é a chave da tradição oral; a barriga e os seios femininos representam a

fertilidade; os pés, muito grandes, são fixados na terra.

Essa arte africana, de base rural comunitária, feria a arte européia do século

XIX, porém, seu ‘expressionismo” atraiu pintores como Picasso e Braque quando eles

partiram para o cubismo. Nessa mesma época chamou a atenção dos europeus os

bronzes de Benin, que utilizavam-se da técnica da cera perdida que estava no patamar

mais elevado de técnica de fundição na Europa. Esta técnica antes mesmo de chegar ao

continente europeu já era usada pelos iorubas desde o século XVI.

A arte relatada até aqui era produzida no período pré-colonial. Ainda hoje

ela existe tanto para uso comunitário quanto para apreciação dos turistas.

Falar de arte africana é falar genericamente e isto é impossível visto que nos

referimos a um continente composto por mais de 50 países, com língua e cultura

próprias, onde cada povo desenvolveu sua arte especificamente, de acordo com suas

características.

Page 35: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

34

2.2. Presença africana na cultura brasileira

Quando falamos em África o senso comum acaba relacionando a um lugar

onde vivem povos com uma única cultura. Isso não é verdade. África é o nome de um

continente em que há mais de cinqüenta países, cada um com sua língua, costumes,

modo de viver, enfim uma cultura própria de cada país que compõe o continente.

Conforme Araújo (2003, p.7),

Lá vivem – e sempre viveram – povos diferentes uns dos outros, fazendo

deste continente um lugar riquíssimo na sua produção cultural. A África não

é uma só, são várias Áfricas. Um continente que produz e produziu

diferentes ritmos, histórias e ricas trajetórias.

Segundo o dicionário Aurélio uma das definições para cultura é “o

complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das

manifestações artísticas, intelectuais, transmitidos coletivamente, e típicos de uma

sociedade.” Podemos entender cultura como um conjunto de comportamento do

cotidiano: alimentação, moradia, vestimenta, crenças e rituais, nascimento e morte.

Devido a constituição do povo brasileiro e como ela se deu, temos

influência de vários povos. Entre estes estamos falando de pessoas que foram tiradas de

sua cultura para serem transformadas em mercadorias e serem vendidas como escravas.

Através de dados históricos temos a seguinte consideração,

Segundo dados reconhecidos por diversos estudiosos, o Brasil recebeu cerca

de quarenta por cento dos quase dez milhões de africanos que foram

transportados para as Américas no período compreendido entre os séculos

XVI e XIX. Esses números, por si só, indicam as estreitas ligações que, ao

longo do tempo, foram sendo tecidas entre o Brasil e o continente africano.

Pensar o Brasil a partir desse fato significa dar atenção a uma gama de

elementos culturais relacionados à diáspora africana que se tornaram parte

de nossa percepção do mundo e de nossas práticas cotidianas. (PEREIRA,

2007, p.22)

Traziam consigo muitos modos de ver o mundo e de reagir à vida. As

embarcações traziam outras maneiras de falar, rir, contar histórias, alegrias e ritmos.

“Os africanos e seus descendentes se inseriram na sociedade brasileira escravista de

Page 36: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

35

maneira ativa e participativa, e a cultura afro-brasileira de hoje pode ser vista como

produto dessa ação.” (ARAÚJO, 2003, p.50)

Apesar disso, a sociedade brasileira sempre tratou a cultura africana com

preconceito e violência. Aos olhos da elite brasileira no regime escravista tudo que se

referia a cultura africana era tido como exótico ou estranho, não sendo tratado como

fator de formação de nossa identidade.

Há pouco tempo começamos a contar a história dos africanos no Brasil. É

importante passar de um discurso escravista para mostrar efetivamente a contribuição

dos negros na formação da sociedade e identidade nacional.

Ao falarmos de cultura afro-brasileira devemos citar a religiosidade,

fortemente influenciada pelo africano. Embora há de se verificar que não se trata de

uma vivência religiosa uniforme, que trata iguais todos os afrodescendentes em todas as

regiões do país. Sobre a vivência religiosa brasileira temos,

[...] Por um lado, temos o Candomblé, religião de origem africana ou

como também é chamada, a religião dos orixás. Os orixás, de

procedência iorubá, segundo os preceitos sagrados, cuidam de partes

específicas do mundo e da natureza. Há orixás que zelam pela

colheita, pelo raio, pela chuva, pelo mar, pela afetividade etc. Entre os

mais conhecidos, estão, Exu (mensageiro e guardião das

encruzilhadas), Ogum (deus da guerra, do ferro, da tecnologia), Xangô

(deus da justiça e do trovão), Iemanjá (deusa da maternidade, do mar),

Iansã ( deusa das tempestades, dos raios, dos ventos), Oxum (deusa da

fertilidade, do amor), Nanã ( deusa da lama, da terra), Oxalá (deus da

criação). (PEREIRA,2007, p. 24/25)

A inserção nos currículos escolares da cultura afro-brasileira permite o

conhecimento da nossa diversidade cultural visto que tivemos influência de várias

regiões do continente africano. Este conhecimento também aponta os conflitos

existentes nesta questão uma vez que há dificuldade na sociedade brasileira de lidar com

mecanismos de exclusão que ela mesma sustenta uma vez que é difícil para muitas

pessoas reconhecer os valores da população afrodescendente. Pereira (2007, p.53/54)

cita como exemplo a seguinte situação:

Conceição nasceu no dia 8 de dezembro, no final dos anos 70 do século XX,

dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição e, em algumas religiões

afrodescendentes ou afro-brasileiras, a Oxum, orixá feminino que controla a

fecundidade e reina sobre todos os rios, exercendo seu poder sobre as águas

doces, fundamental para a vida na Terra.

Page 37: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

36

Sua família, adepta da umbanda, uma religião afro-brasileira, desejou

homenagear Oxum, colocando este nome na menina. Segundo ela, houve o

impedimento no cartório e a família imediatamente lhe deu o nome de

Conceição para homenagear Oxum, sem repressão.

Por muito tempo, mais de vinte anos, ela relata que tinha vergonha de contar

esta história e dizia que seu nome era em homenagem a Nossa Senhora da

Conceição.

Ao compartilhar, coletivizar sua lembrança, sua história identitária,

Conceição libertou sua memória e sua própria identidade e certamente sua

história lembrada e contada foi disparadora de outras memórias e de outras

identidades.

A história acima, narra o fato de uma autoridade negar-se a registrar a

criança conforme o desejo da família, uma visão eurocentrista, visto que o nome não

estaria de acordo com a religião imposta às pessoas e tida como ideal. A rejeição

demonstra a visão dos valores culturais afrodescendentes. Por outro lado a solução

encontrada pelos pais, de vincular o nome, através do sincretismo, ao modelo religioso

dominante, mostra que nem sempre a ordem social está aberta a dialogar, reconhecer o

valor de outras culturas.

No dia 9 de janeiro de 2003 foi aprovada a lei 10.639, que tornou

obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira, assim como História da

África e dos africanos em todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados, no

Brasil. Segundo o texto da lei, nesses conteúdos estariam incluídos, a luta dos negros na

formação da sociedade brasileira. Eis o texto base da Lei:

Lei 10.639,de 9 de janeiro de 2003

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da

Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-

Brasileira", e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Lei n

o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida

dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-

Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o

estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a

cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,

resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e

política pertinentes à História do Brasil.

Page 38: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

37

§ 2

o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão

ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de

Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3o (VETADO)"

"Art. 79-A. (VETADO)"

"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia

Nacional da Consciência Negra’."

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

Esta lei não foi criada de forma autoritária, mas por conta de décadas de luta

de entidades ligadas ao Movimento Negro que viam a necessidade de mostrar a

participação e contribuição do negro na história brasileira. Porém, a lei por si não basta,

é necessário que haja engajamento dos professores de todas as áreas para fazer valer seu

conteúdo. De acordo com Lima. (2004, p.86):

É essencial cobrar das autoridades, em especial dos gestores de instituições

de ensino, o apoio para fazer da iniciativa da lei uma realidade. Foi

estabelecida a obrigatoriedade, mas ela não basta, para que o obrigatório se

torne viável e produtivo tem que haver investimento na formação

A lei tem alguns anos, mas efetivamente ainda é pouco aplicada, sendo

necessário maior comprometimento e desejo de conhecer a verdadeira história dos

africanos e afro-brasileiros para que todos os alunos, independente de sua origem,

possam conhecer a cultura que contribuiu para nossa identidade brasileira. A inclusão

de temas referentes às culturas africana e afro-brasileira nas escolas, aponta para o

estabelecimento de políticas afirmativas, permitindo um reparo da sociedade brasileira

reconhecendo sua dívida para com os africanos e seus descendentes. Também é possível

perceber que o Estado e a sociedade brasileira estão empenhados em valorizar a

contribuição do povo africano na cultura brasileira.

Page 39: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

38

2.3. A arte negra brasileira

Quando se fala em arte negra brasileira, dificilmente pensamos em artes

plásticas, normalmente pensamos em música, que é um campo bastante explorado e

divulgado pelos afrodescendentes, ou, quando muito, no teatro.

A contribuição do negro na formação cultural brasileira está limitada à

escravidão e ao legado na música, à literatura, ao sincretismo religioso e aos costumes.

Pouco, ou nada é falado sobre a contribuição do negro na arte brasileira. Da mesma

forma pode-se dizer da maneira como o povo era retratado. Sobre como o brasileiro era

pintado na Academia Imperial, no século XIX,

O modelo era um homem branco, não muito jovem, descarnado, mesmo

malfeito. Os alunos e o professor olhavam para o triste indivíduo, mas não o

reproduziam sobre o papel, onde apareciam belas figuras que nada tinham

com a imagem viva, mas sim com a imaginação. Ironia dos fatos: só a

imaginação podia dar conta de um recado imposto, para o qual nunca se

levara em consideração as peculiaridades do contexto. Não que devêssemos

nos incomodar com o tipo e as deficiências do modelo, e sim como o modo

de encará-lo e de absorvê-lo. Veja o caso do negro. Por preconceitos sociais

e estéticos, ele ficaria ausente de nossa arte oficial durante o século XIX,

apesar de sua substantiva presença física no corpo do país. Oscar Pereira da

Silva, por exemplo, tratando do tema da escravidão, não o faria através da

escrava negra que os seus olhos encontravam facilmente em torno, mas com

a escrava romana, branca e anacrônica no final do século. (FERRAZ e

FUSARI, 2001, p.139)

No século XVIII os artistas que se destacavam eram de origem africana,

porém essa arte estava ligada a padrões eurocêntricos. Alguns artistas tinham em suas

manifestações artísticas características afro-brasileiras, mas somente no século XX

aparecem artistas com o propósito de colocar explicitamente uma arte de origem

africana, ligada a sua ancestralidade. Assim,

[...] pode-se aprofundar os conceitos de modernismo e modernidade que

foram incorporados às culturas brasileiras e latinoamericanas ao longo do

século XX, e que resultaram em manifestos e movimentos de vanguarda.

Esta mudança de posicionamento frente à arte trouxe na prática uma

liberação expressiva e o surgimento de novas posições artísticas, estéticas e

sociais. Surge, como resposta a essas inovações, a organização de sistemas

culturais, artísticos (salões de arte, criações de museus, Bienal de São Paulo

Page 40: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

39

etc.), quando acontecem novas rupturas e formulações. (FERRAZ e

FUSARI, 2001, p. 141)

A partir de então aparecem artistas com a intenção de criar uma linguagem

que não estivesse ligada a essa arte eurocêntrica, e sim a uma arte africana. Valorizar

essa arte colabora na construção da identidade negra e resgata a auto-estima desse

grupo.

Não são tão poucos os brasileiros negros que se dedicaram às artes, nem é

pequeno o valor artístico de suas produções artísticas. O museólogo e artista plástico

Emanoel Araújo tem se dedicado ao resgate desses artistas, contribuindo assim para a

nossa cultura brasileira.

Emanoel Araújo (Fonte: www.geledes.org.br)

Page 41: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

40

Araújo, 1976

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Em seus estudos no que se refere a contribuição do artista negro

brasileiro, Emanoel Araújo faz a seguinte divisão:

Barroco e Rococó

Neste período podemos citar os pintores: Manuel da Cunha, Leandro

Joaquim, Raimundo Costa e Silva, Manuel Dias de Oliveira, Francisco Pedro do

Amaral, José Teófilo de Jesus, Veríssimo de Freitas, José Rodrigues Nunes, Antônio

Joaquim Franco Velasco, Silvestre de Almeida Lopes, José Patrício da Silva Manso,

Jesuíno do Monte-Carmelo e Jesuíno Francisco de Paula Gusmão.

Page 42: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

41

Imaculada Conceição. José Patrício da Silva Manso, 1777-1780.

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Quanto a escultura temos: Antônio Franciso Lisboa, o Aleijadinho,

Valentim da Fonseca e Silva (o Mestre Valentim), Francisco das Chagas, Bento

Sabino dos Reis e Domingos Pereira Baião.

Page 43: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

42

A crucificação. Aleijadinho, 1796-1799.

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Artistas do século XIX

Na Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, despontaram os maiores

artistas negros do século XIX. Alguns desses artistas são os irmãos Timóteo da Costa

(João e Artur), Estêvão Silva, Antônio Rafael Pinto Bandeira, Horácio Hora, Antônio

Firmino Monteiro, Leôncio da Costa Vieira, Rafael Frederico, Emanoel Zamor,

Benedito José Tobias, Francisco Manuel Chaves Pinheiro e Crispim do Amaral.

Page 44: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

43

Retrato de mulher. Benedito José Tobias, s/d.

(Fonte: www.negroearte.blogspot.com)

Artistas do século XX e contemporâneos

São poucos os artistas negros ou descendentes de negros no Brasil

contemporâneo no meio oficial das artes visuais. Eles surgem em regiões do país onde

há, mais que em outras, uma certa classe média negra, como no Nordeste na Bahia,

principalmente em Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, entretanto, mesmo sendo

minoria, os negros tem acesso à educação de forma igualitária aos demais habitantes, o

que possibilitou também o surgimento de artistas plásticos negros.

Alguns dos artistas plásticos importantes nesse período são: Abdias do

Nascimento, Adão Pinheiro, Alcir Dias, Antonio Bandeira, Cesar Romero, Chico

Diabo, Cosme Martins, Crispim Pinheiro, Daviran Magalhães, Delima Medeiros,

Emanoel Araújo, Edísio Coelho, Edival Ramosa, Genilson Soares, Gervane de Paula,

Gina Barcelos, Gutê, Heitor dos Prazeres, Hélio Oliveira, Iedamaria, Jamison Pedra,

José Cláudio da Silva, José de Dome, José Igino, Juarez Paraíso, Justino Marinho,

Lizar, Maria Adair, Maria Lídia Magliani, Messias dos Santos, Messias Neiva, Mestre

Saul, Nuguetti, Otávio Araujo, Paixão, Ricardo de Ozias, Rubem Valentim, Rui Silva,

Sérgio Amaro, Sérgio Vidal, Sinésio Brandão, Waldemberg e Wanderley Caramba.

Page 45: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

44

Brinquedo de armar. Maria Lídia Magliani, 1978.

(Fonte:wwww.margs.rs.gov.br)

A trajetória artística e obras de alguns destes artistas, conferimos a seguir:

Rubem Valentim

Nasceu em Salvador (BA) em 1922 e faleceu em São Paulo em 1991.

Autodidata, com suas pinturas de base geomética, tornou-se um nome importante nas

artes plásticas brasileiras. "Minha linguagem plástico-visual signográfica está ligada aos

valores míticos profundos de uma cultura afro-brasileira (mestiça-animista-fetichista)",

dizia Valentim, que também morou no Rio de Janeiro e em Brasília, onde viveu durante

20 anos. "Com o peso da Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue negro

nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para o que se faz no mundo - a

contemporaneidade; criando os meus signos-símbolos, procuro transformar em

linguagem visual o mundo encantado, mágico, provavelmente místico que flui

continuamente dentro de mim". Conforme depoimentos sobre sua arte no DVD “Rubem

Valentim: geometria sagrada” (2001).

Page 46: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

45

Rubem Valentim

(Fonte: http://omenelicksegundoato.blogspot.com)

Emblemas.Rubem Valentim,s/d.

(Fonte: www.encuentroentredosmares.com)

Page 47: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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Abdias do Nascimento

Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Franca em 1914. Conheceu

descalço a vida rural e urbana daquele tempo ainda perto da escravatura. Trabalhava na

cidade e brincava nas fazendas onde sua mãe prestava serviços, às vezes como ama-de-

leite. Desse tempo ficam as lembranças e desejo de liberdade. Como adulto, os vários

talentos e formas de expressão de Abdias Nascimento voltam-se para o avanço da causa

anti-racista. Na dramaturgia, poesia e pintura, no engajamento na luta internacional pan-

africanista e na atuação como deputado federal, senador e secretário de estado,

desenvolve aspectos dessa luta, a que dedicou plenamente sua vida.

Abdias do Nascimento

(Fonte: http://fefadepaula.blogspot.com)

Padê de exu. Abdias do Nascimento,1988

(Fonte: www.abdias.com.br)

Page 48: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

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Mestre Didi

Deoscóredes Maximiliano dos Santos nasceu em 1917 em Salvador (BA).

Escritor e escultor, cria objetos rituais desde criança tendo forte influência do culto aos

orixás. Sua mãe, uma renomada ialorixá baiana, foi uma das responsáveis por sua

formação religiosa. Seus trabalhos, de cunho ritual, são feitos com materiais naturais.

Ancestralidade e visão de mundo africano se fundem com sua experiência de vida

exprimindo-as em suas esculturas. Entre os anos de 1946 e 1989, publica livros sobre a

cultura afro-brasileira, alguns com ilustrações de Caribé. Em 1966, contratado pela

Unesco, viaja para a África Ocidental e realiza pesquisas comparativas entre Brasil e

África. Entre as décadas de 60 a 90, participa como membro de institutos de estudos

africanos e afro-brasileiros e como conselheiro em congressos com a mesma temática,

no Brasil e no exterior. Em 1980, funda e preside a Sociedade Cultural e Religiosa Ilê

Asipá do culto aos ancestrais Egun, em Salvador.

Mestre Didi

(Fonte: http://www.new.divirta-se.uai.com.br)

Page 49: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

48

Mestre Didi,s/d

(Fonte: www.encuentroentredosmares.com)

Mônica Nador

Há também artistas engajados no desenvolvimento de atividade que fogem

da arte de museus e galerias. Este é o caso de Mônica Nador, artista que resolveu

transformar os muros e as paredes das periferias ou regiões bem pobres no seu ateliê a

céu aberto. O Jardim Miriam Arte Clube – JAMAC. Fundado em 2003 é uma

associação civil sem fins lucrativos onde também abriga o ateliê e a residência da

artista plástica. Conforme dados do site oficial do projeto: Formado por artistas e

moradores do Jardim Miriam, periferia da cidade de São Paulo, o JAMAC visa

constituir-se como um núcleo gerador de ações artísticas, que tragam benefícios

concretos para os moradores da periferia, desde a melhoria das habitações até o ensino

de ofícios, a partir da apresentação de conceitos mais abstratos que promovam a

ampliação da visão de mundo dos participantes, desenvolvendo a consciência crítica e

trabalhando a noção de cidadania dos mesmos, utilizando-se do potencial transformador

da arte. (www.jamacdigital.wordpress.com)

O fato de citar esta artista em um texto que se propõe refletir sobre a arte

negra brasileira se deve seu trabalho encontrar-se inserido em periferias. A partir da

abolição da escravatura os negros foram residindo nas regiões periféricas das cidades.

Portanto, pode-se afirmar que,

A mesma situação se repetia nas cidades.[...] A exclusão racial não

aconteceu apenas no âmbito do trabalho. Pode-se notar também que

os negros foram excluídos geograficamente. Por conta de sua

precária condição financeira, eles foram obrigados a residir em

regiões periféricas das cidades, habitando cortiços e pequenas

casinhas de aluguel nos bairros afastados do centro paulistano e

favelas que surgiram nos morros cariocas.(MATTOS, 2007,p. 107)

Page 50: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

49

Mônica Nador

(Fonte: http://www.onspeed.com.br)

Autoria compartilhada. Mônica Nador, 2011

(Fonte: http://autoriacompartilhada.wordpress.com)

Page 51: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

50

2.4. Simbolismo Adinkra

Em sua pesquisa sobre os símbolos Adinkra, Nascimento (2009) os definem

como ideogramas que compõem um antigo sistema de escrita do povo ocã da África

Ocidental, atualmente República de Gana e parte da Costa do Marfim. São mais de 80

símbolos que transmitem aspectos da história, da filosofia e dos valores socioculturais

dos povos africanos. Portanto, adinkra são símbolos que representam provérbios, sendo

ideogramas impressos, repetidamente, sobre tecidos.

Símbolo da autoridade, legitimidade, legalidade do estado e das façanhas heroicas.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)

Símbolo da unidade na diversidade.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)

Page 52: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

51

Símbolo do conhecimento, da aprendizagem permanente e da busca contínua do saber

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com)

Símbolo da resistência e desafio às dificuldades.

(Fonte: adinkra.org)

Constituem um código de conhecimentos referentes às crenças e a história

do povo. A escrita de símbolos adinkra é um conjunto de sistema de valores.

Inicialmente esses símbolos eram usados para enfeitar o vestuário destinado

às cerimônias fúnebres. Posteriormente, os tecidos adinkra passaram a ser usados por

Page 53: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

52

líderes espirituais em rituais e cerimônias. Não eram usados no dia-a-dia, também pelo

fato do tecido desbotar.

Vários sistemas de escrita percorrem a história africana quanto ao

surgimento da grafia e o adinkra é um deles. Na verdade, a grafia nasce na África com

os hieróglifos e seus antecessores. Sobre a origem desta simbologia,

De acordo com a história oral, o conjunto dos adinkra tem origem numa

guerra que o rei dos asante – Asantehene – Osei Bonsu moveu contra o rei

Kofi Adinkra de Gyaaman, hoje uma região da Costa do Marfim. O rei

Adinkra teve a audácia de copiar o gwa, banco real do Asantehene e símbolo

da soberania e do poder do Estado. Assim provocou a ira do Asantehene,

que foi à luta. Vencida a guerra, os asante dominaram a arte dos adinkra,

passando a ampliar o espaço geográfico onde impunham sua presença. Antes

disso eram patrimônio dos malam e dos denkyira, povos da África ocidental

que desenvolveram a técnica no passado remoto. Trata-se, então, de um

antigo sistema africano de escrita. A importância desse fato é

incomensurável porque a ciência etnocentrista européia negou que a África

tivesse história alegando que seus povos nunca criaram sistemas de escrita.

(GÁ e NASCIMENTO, 2009, p. 22/23)

Ainda com base nos estudos de Nascimento (2009), os adinkras representam

ideias expressas em provérbios. Além da representação grafada, são esculpidos em

madeira, ferro, estampados em adereços e tecidos. Muitas vezes são associados a

realeza, identificando soberanos ou linhagens. Assim, o conceito de escrita vai além da

noção que temos de letra grafada. No século XVII foi levado ao império Ashanti por um

homem que havia ido ao reino vizinho e trouxe o primeiro tear e símbolo. A partir daí a

tarefa de tear e estampar passou a ser masculina. Hoje isso mudou, a estamparia é feita

por mulheres, porém o tear continua sendo tarefa masculina. A tinta usada era extraída

de uma árvore, kuntunkuni e a clara de ovo ajudava no brilho. Além de serem usados na

estamparia, também eram entalhados nos bancos dos imperadores Ashanti. Atualmente,

ainda que as pessoas utilizem diferentes símbolos para representar sentimentos

particulares, cabe ao imperador uma estampa exclusiva. Os tecidos adinkra são usados

pelos ganeses em diversas ocasiões, como casamento e batismo, por exemplo. Além de

serem utilizados sobre tecidos, também são aplicados nas paredes, adornos, logotipos e

em cerâmicas.

Page 54: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

53

O momento é de restabelecimento de conexões com nossas origens.

Africanos espalhados pelo mundo são herdeiros de uma civilização que deu origem à

escrita, astronomia, matemática, engenharia, medicina, filosofia e ao teatro.

O conhecimento e o desenvolvimento estão ligados à história da África. A

lei 10.639/03, que trata da história e cultura afro-brasileira , bem como a história da

África e dos africanos, tem como objetivo levar este conhecimento até então distante da

população. Através dela há uma recuperação de identidade brasileira, pois a falta de

referências sobre essa história e cultura significa ignorar nossas raízes africanas. “Os

estudos africanos deixaram de ser exclusivamente uma demanda do movimento social

negro para se tornarem uma necessidade de toda a sociedade.” (GÁ e NASCIMENTO,

2009, p. 14). Importante ressaltar que desconhecer o valor da cultura africana na

construção da identidade do povo brasileiro colabora para a baixa autoestima,

impedindo o acesso às oportunidades e a luta pelos seus direitos.

Page 55: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

54

CAPÍTULO 3

Projeto e Prática

de Ensino

em Artes Visuais

Page 56: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

55

3.1. Dados gerais da escola e turma da prática

Escola Estadual de Ensino Médio Caetano Gonçalves da Silva

Diretora: Conceição Sachs da Silva

Endereço: Rua Dom Pedro, 790 – Centro – Esteio / RS

Turma: 9 A - terceiro ano/ EJA

Professora referência: Fabiana Rebelatto

3.2. Dados gerais do Projeto de Ensino

Título do projeto:

Arte e cultura africana e afro-brasileira: conhecer para respeitar

Tema:

Formação cultural brasileira

Justificativa:

Desde janeiro de 2003 existe a lei 10.639 que tornou obrigatório no

currículo escolar o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas

públicas e privadas do país. A identidade cultural de uma nação é constituída através

das inter-relações culturais, portanto se faz necessário que o professor leve para a sala a

preocupação com a diversidade cultural, pois a escola é um, dos vários espaços

existentes na sociedade, em que os indivíduos de diferentes culturas se inter-relacionam.

Objetivo geral:

Proporcionar o conhecimento de determinadas manifestações artísticas

africanas e afro-brasileiras, reconhecendo a presença africana no Brasil, identificando as

manifestações culturais deste povo e sua influência na formação cultural brasileira.

Page 57: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

56

3.3. Prática de Ensino

3.3.1. Primeiro Encontro

Aulas 1 e 2

Data: 22/09/2011

TEMA: Continente africano

CONTEÚDO: Apresentações iniciais. Apresentação do projeto das aulas,

conhecimentos sobre o continente africano.

ATIVIDADES:

Redação sobre conhecimentos pessoais dos temas propostos pela professora;

Interpretação de texto e vídeo;

Confecção de livro de imagens

OBJETIVOS:

Conhecer o continente africano e sua cultura;

Estabelecer relações entre o conhecimento popular e o conhecimento

científico;

Expressar-se oralmente e por escrito.

Ler e interpretar texto;

Debater as ideias principais do texto;

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apresentação de vídeo, questionário escrito e atividades

individuais.

MATERIAIS E RECURSOS

Computador, projetor multimídia, papel cartaz, folhas A3 e A4, papel

vegetal, lápis de desenho, mapa do continente africano e fotocópias com texto de

Rubem Alves.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades propostas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

Page 58: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

57

PLANEJADO

Iniciarei me apresentando e pedirei que os alunos se apresentem, falando

seu nome e a expectativa em relação as aulas. Conversarei sobre o trabalho que

desenvolverei com a turma durante o estágio, formação cultural brasileira, dando ênfase

a herança africana e sobre a 8ª Bienal do Mercosul comentando sobre o trabalho de Arte

Postal. Perguntarei sobre a possibilidade de visita à Bienal (casa M) pois, se aceitarem

realizar o trabalho de Arte Postal, os mesmos estarão expostos neste espaço. Após as

conversas e apresentações, entregarei uma folha onde os alunos responderão o que

sabem sobre África; Ver; Olhar.

Assistiremos ao documentário Janela da Alma no qual são entrevistados

artistas, intelectuais e pessoas ditas comuns da Europa e do Brasil, com diferentes

dificuldades de visão que vão desde a miopia à cegueira. Os depoimentos discorrem

sobre ver, não ver e ver de maneira diferente, única. Ao término do mesmo

conversaremos sobre o que foi respondido na folha e o que assistiram no vídeo.

Entregarei o texto de Rubem Alves “A complicada arte de ver”.

Conversaremos sobre o que foi lido, principalmente sobre o que é ver e o que é olhar.

No quadro, irei colocar as definições sobre ver e olhar.

Irei propor a realização de um Livro de Imagens onde, durante as aulas

serão colocados os trabalhos, fotos ou escritos sobre as atividades. O formato do livro

será do continente africano. Entregarei papel vegetal com o contorno do continente

africano, em dois tamanhos. Cada aluno irá contornar o tamanho escolhido, em papel

cartaz e em folha A3ou A4, esta será a capa e a primeira folha do trabalho.

Para a próxima aula pedirei os seguintes materiais: lápis,tinta( preto, azul,

vermelho, amarelo e branco) rolo para pintura,pincel; EVA, bandejas de isopor,

radiografias antigas (lavadas com água sanitária), quadro em MDF, revistas velhas,

cola, tesoura, argila, jornais, papel cartaz, lápis de cor e caneta hidrográfica.

REALIZADO

Ao chegar na escola procurei a supervisora para organizar a sala de vídeo

onde passaria o documentário. Esta me encaminhou para a secretária que buscou o

projetor multimídia para conectar ao notebook. Porém as caixas de som não

Page 59: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

58

funcionaram, então organizamos a televisão e o DVD. Penso que com o projetor seria

melhor visualizar o filme já que a sala de vídeo é ampla e os alunos tendem a sentar-se

no fundo da mesma.

Ao sinal de início do segundo período, 19h 20 minutos, perguntei pela

professora titular, mas ela não estava, pedi que a orientadora me acompanhasse até a

sala de aula. Solicitei a chamada e ela falou que não estava pronta, me orientou a passar

uma folha para que os alunos assinassem. Chegando à sala de aula a vice-diretora estava

entregando uma folha para que os alunos pintassem. A orientadora a chamou dizendo

que eles teriam aula comigo. Entrei, me apresentei e pedi que guardassem a atividade

pois ela não seria utilizada.

Estavam presentes na sala 20 alunos. Perguntei quantos haviam na turma,

responderam que este módulo havia iniciado na quarta-feira, 21/09, portanto um dia

antes e 25 pessoas compareceram a aula. Desta forma deduzi que na turma há 25

estudantes, mas é necessário esperar a listagem oficial para que eu possa me programar

com o número exato de alunos.

Conversei com a turma sobre o estágio, o que trabalharemos nos seis

encontros e a temática do meu trabalho. Ouvi, ao fundo, um aluno falar “Finalmente

vamos ter aula de Artes” outros, próximos disseram “ Ainda bem que não é a Fabiana”

se referindo a professora titular que é formada em Biologia e , na escola dá aula de

Ciências e Artes. Perguntei se havia interesse da turma em ir a 8ª Bienal do Mercosul e

se alguém já havia ido nesta edição em algum dos locais onde acontece a exposição.

Mostraram-se bastante empolgados com a possibilidade de visita e ninguém foi visitar o

evento. Quando perguntei se alguém havia visitado alguma exposição de arte, apenas

um aluno levantou o braço, dizendo que foi com a escola no Margs em 2009, não soube

dizer o nome da exposição.

Entreguei uma folha onde os alunos responderam o que sabiam sobre

África, Ver e Olhar. Ressaltei que as palavras não estavam relacionadas entre si,

deveriam responder isoladamente sobre cada um dos termos. Enquanto respondiam,

coloquei no quadro os materiais necessários para as próximas aulas e o nome do projeto

de estágio. Li a relação dos materiais, expliquei que deveriam lavar as radiografias com

água sanitária, os quadros de MDF poderiam ser do tamanho que desejassem e farão

parte do trabalho de conclusão do meu estágio. Fiz um breve comentário sobre o tema

“Identidade Brasileira”. Recolhi as folhas e encaminhei a turma até a sala de vídeo.

Page 60: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

59

Na sala, grande parte da turma sentou-se nas últimas cadeiras. Durante a

projeção do documentário algumas alunas conversavam em tom alto, o que acabou

dificultando a escuta de alguns depoimentos. Me dirigi a estas alunas pedindo que, se

desejassem poderiam conversar do lado de fora da sala para que não atrapalhassem os

colegas. A conversa acabou e o DVD foi assistido com atenção. O tempo de duração do

documentário é de 73 minutos e não foi possível assisti-lo até o final. Desliguei o

aparelho de DVD faltando 10 minutos para o término. Perguntei se alguém gostaria de

comentar o que foi assistido. Enquanto entregava o texto do educador Rubem Alves “A

complicada arte de ver” alguns alunos falaram sobre o olhar seletivo , o olhar do falcão,

citado pelo escritor José Saramago e a capacidade de “ver” com os outros sentidos que

não a visão.

Perguntei se alguém desejava fazer a leitura do texto. Como ninguém se

pronunciou eu a fiz, mas antes de terminá-la fui interrompida pelo sinal do recreio (8h

40 minutos). Pedi que terminassem a leitura em casa e, na próxima aula, retomaremos o

texto. Os alunos foram para casa pois o professor de Literatura, período que sucede a

aula de Artes, não estava na escola.

ANÁLISE

A ausência da professora titular e o fato da vice-diretora estar na sala de aula

entregando uma atividade de pintura fez com que eu percebesse a falta de comunicação

entre supervisão e vice-diretora. Senti um certo descaso com a turma ou talvez com a

disciplina pois a atividade era totalmente inadequada para um terceiro ano do ensino

médio.

Em relação a fala dos alunos sobre a professora titular, que tem sua

formação em outra disciplina, se percebe que suas atividades não estão satisfazendo os

estudantes. Quando fiz as observações de suas aulas percebi que a Arte estava a serviço

de sua disciplina de formação, Biologia, pois o que ela propunha eram atividades

ilustrativas ao conteúdo de Ciências. Sobre a formação do professor de Arte Fusari e

Ferraz (2001, p. 53) comentam,”no caso do professor de Arte, a sua prática-teoria e

estética deve estar conectada a uma concepção de arte, assim como a consistentes

concepções pedagógicas”.

Sobre as respostas escritas na folha que entreguei em aula, foi possível

observar que em relação a África há dificuldade de entendimento da palavra pois vários

Page 61: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

60

alunos escreveram se tratar de um país, enquanto que África é um continente. Apenas

quatro escreveram se tratar de um continente que originou a espécie humana e

encontramos várias culturas sendo que algumas delas influenciaram a cultura brasileira.

As demais respostas ficaram nos esteriótipos vinculados nas mídias, como muita

pobreza, miséria,lugares selvagens, alto índice de mortalidade, sub-desenvolvimento,

baixa expectativa de vida e muitas doenças.

Sobre Ver e Olhar as respostas confundiram-se, enquanto que o primeiro

termo se refere a algo mais profundo, como diz o texto de Rubem Alves, “O ato de ver

não é coisa natural. Precisa ser aprendido”. O segundo se refere a algo mecânico.

Conforme afirma Fusari e Ferraz (2001, p. 78),

Educar o nosso modo de ver e observar é importante para transformar e ter

consciência da nossa participação no meio ambiente, na realidade cotidiana.

Ver significa essencialmente conhecer, perceber pela visão, alcançar com a

vista os seres, as coisas e as formas do mundo ao redor. A visualização

ocorre em dois níveis principais. Um deles se refere ao ser que está vendo,

com suas vivências, suas experiências. O outro é o que a ambiência lhe

proporciona. Mas, ver não é só isso. Ver é também um exercício de

construção perceptiva onde os elementos selecionados e o percurso visual

podem ser educados.E observar? Observar é olhar , pesquisar, detalhar

estar atento de diferentes maneiras às particularidades visuais, relacionando-

as entre si.

Enquanto algumas respostas foram superficiais, uma em relação a Ver me

chamou atenção “Enxergar o mundo de um jeito diferente, e que este diferente seja para

mudar...” Nas respostas sobre olhar destaco “É apenas um gesto”, entendi a palavra

gesto como algo que se faz instintivamente, sem grandes reflexões.

ENCAMINHAMENTOS

No próximo encontro retomaremos as respostas dadas na folha com o que

assistiram no documentário e leram no texto levado para casa. A atividade prática não

foi realizada devido ao tempo, ficando para a próxima aula.

Page 62: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

61

3.3.2. Segundo Encontro Aulas 3 e 4

Data: 29/09/2011

TEMA: Continente africano

CONTEÚDO: Arte africana

ATIVIDADES:

Ler e interpretar textos;

Apreciação de Power Point sobre arte africana;

Fazer capa do Livro de Imagens;

Realizar atividade no Livro de Imagens

OBJETIVOS:

Debater as ideias principais do texto

Conhecer a arte africana;

Expressar-se oralmente, por escrito e plasticamente.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apresentação de CD Rom e atividade individual.

MATERIAIS E RECURSOS

Computador, projetor multimídia, papel cartaz, papel color set, folhas A3 e

A4, papel vegetal, lápis de desenho e mapa do continente africano.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

PLANEJADO

Darei início a aula entregando crachás de mesa com o nome dos alunos para

que coloquem sobre a mesa. Retomarei a aula anterior comentando o documentário e o

texto. Perguntarei se alguém gostaria de falar sobre o que foi visto ou lido. Explicarei o

motivo dos nomes, assim como aprenderemos a ver o continente africano além do que a

mídia divulga sobre o mesmo, eu gostaria de conhecê-los a começar chamando-os pelo

nome. Comentarei sobre o agendamento da 8ª Bienal do Mercosul, dia 5/10 no

Santander Cultural. Passarei uma folha onde colocarão o nome completo e o RG para

enviar à organização da exposição.

Colarei no quadro três cartazes com os seguintes títulos África, Ver e Olhar

e sobre eles as respostas dadas no primeiro encontro. Entregarei para os alunos

Page 63: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

62

pequenos textos sobre os termos trabalhados. Após, faremos a leitura e comentaremos o

conteúdo dos textos.

Perguntarei o que os alunos sabem sobre arte africana. Levarei a turma até a

sala de vídeo para apreciação de uma apresentação em Power Point sobre arte africana

elaborada pela professora, onde serão mostrados exemplos da cerâmica, arquitetura e

máscaras africanas.

(Fonte:http://ivanirh2m4.blogspot.com/2010/11/influencia-das-midias-na-educacao.html)

Entregarei papel vegetal com o contorno do continente africano, em dois

tamanhos. Cada aluno irá contornar o tamanho escolhido, em papel cartaz e em folha

A3 ou A4. Esta será a capa do trabalho. Como primeira atividade do Livro de Imagens

irei propor que realizem dobraduras de máscaras em papel color set. Esta atividade será

feita em papel A3 ou A4, conforme o tamanho do livro.

REALIZADO

Assim que cheguei na escola a orientadora veio falar sobre a Bienal,

dizendo que havia feito agendamento para todo o turno da noite no dia 27/10 e me

perguntou em que data eu preferia ir com a turma de estágio, se 5/10, como eu já havia

agendado ou a nova data. Preferi conversar com a turma e decidirmos juntos. Combinei

que daria a data após a minha aula.

Ao sinal de início do período, me dirigi à sala de aula e, no caminho,

encontrei a professora Fabiana, titular da turma. Ela me olhou com espanto e falou: “Tu

aqui?” Conversamos rapidamente e ela pediu para “dar uma palavrinha” com os alunos.

Page 64: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

63

Como ela não estava presente na aula anterior, se apresentou como professora titular e

disse que eles teriam aula comigo até o dia 27 de outubro. Ressaltando no final “Vejam

se vão conseguir a façanha de rodar em Arte.”

Retomei o vídeo “Janela da Alma” e o texto de Ruben Alves, perguntei se

alguém gostaria de fazer algum comentário. Um aluno disse que nunca havia parado

para pensar na diferença de ver e olhar, que para ele até então, estas palavras tinham o

mesmo significado.

Após os comentários, coloquei na parede cartazes com as respostas dadas na

aula anterior.

Trabalho da turma (Fonte: MARQUES, 2011)

Fiz a leitura de todas as respostas, a cada cartaz comentava a resposta e

falava sobre o conceito. No cartaz sobre a África, mostrei o mapa do continente

ressaltando a diversidade de cultura, religião e língua lá existentes. Comentei sobre os

enganos que cometemos ao nos referir a este continente. O mesmo aconteceu nos dois

cartazes seguintes. Enquanto falava, alguns alunos faziam anotações no caderno.

Ao terminar perguntei se alguém gostaria de comentar sobre o que foi

falado. Ninguém se pronunciou. Pedi à turma que fosse para a sala de vídeo. Perguntei

aos alunos o que sabiam sobre arte africana. Comentaram que nunca estudaram ou

viram algo sobre esta arte. Assistimos a uma apresentação em Power Point sobre Arte

Africana.

Page 65: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

64

Alunos conhecendo a Arte Africana

(Fonte: MARQUES, 2011)

Alunos conhecendo a Arte Africana

(Fonte: MARQUES, 2011)

Durante a exibição da apresentação os alunos copiaram no caderno os

conceitos sobre Arte Africana; Máscaras; Cerâmica e Arquitetura. Após a apresentação

retornamos para a sala.

Page 66: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

65

Propus a realização de máscaras africanas através de dobradura e recorte de

papel color set.

Aluno Alexandre fazendo a máscara

(Fonte: MARQUES, 2011)

Nenhum aluno conseguiu concluir a máscara. Alguns preferiram levar para

casa para terminar, enquanto outros deixaram com a professora para concluir na

próxima aula.

Ao terminar o período uma aluna comentou “A aula passa muito rápido! A

gente nem vê o tempo passar.”

ANÁLISE

Na conversa com a supervisora sobre a ida a Bienal em todos os momentos

quando ela se referia à saída usava a expressão “passeio”. Isso me chamou atenção pois

o significado de passear, me parece algo sem compromisso enquanto que a ida à Bienal

deveria ser vista com objetivo de conhecer Arte, criar nos alunos o hábito de visitar

exposições e também realizar trabalhos pós visita. Ferraz e Fusari (2001, p.143)

comentam a importância do contato com a Arte,

Acreditamos, pois, que o contato direto (ou indireto, quando através de

ilustrações, fotos etc) com as obras de arte brasileira contemporâneas, bem

Page 67: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

66

como debates, as produções em arte e as reflexões sobre as mesmas,

facilitarão o aprendizado do ver, do ouvir, do sentir, enfim, o melhor

entendimento desses trabalhos.

O espanto da professora titular ao me ver só reforçou o que eu havia

observado na aula anterior, a falta de comunicação na escola se dá em vários setores.

Pensei que os alunos achariam infantil colocar o nome em crachás, ainda

que de mesa, mas para minha surpresa eles adoraram, inclusive uma aluna comentou

“Eu sempre quis ter um...”

Penso estar sendo muito bem recebido o tema que estou abordando em aula,

pois os alunos estão participando, questionando e interagindo nas aulas. O grande

problema que estou vendo nas aulas é o fator tempo. Hoje foi o segundo encontro e

mais uma vez não consegui realizar o Livro de Imagens. Estamos indo para o terceiro

encontro, portanto, metade do meu período de estágio. Conversarei com a turma sobre o

cancelamento desta proposta.

Na apresentação em Power Point todos alunos prestaram atenção, enquanto

alguns faziam algumas observações a respeito das imagens mostradas.

Ao realizarem a atividade da máscara, vários solicitaram ajuda para

desenhá-la, enquanto que outros mostraram-se criativos nas formas dadas a elas.

ENCAMINHAMENTOS

No próximo encontro, combinarei que os 20 minutos iniciais da aula serão

para conclusão da atividade (máscaras africanas).

Page 68: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

67

3.3.3. Terceiro Encontro Aulas 5 e 6

Data: 06/10/2011

TEMA: Rubem Valentim

CONTEÚDO: Vida e obra de Rubem Valentim

ATIVIDADES:

Conclusão das máscaras africanas

Apreciação de Power Point, com o artista plástico Rubem Valentim

Análise de algumas obras

Atividade plástica com papéis (cartaz e celofane) com as características da

obra do artista

OBJETIVOS:

Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Rubem Valentim;

Debater questões presentes no trabalho do artista.

Realizar atividade plástica que remeta as características das obras de Rubem

Valentim.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apreciação de Power Point e atividade em grupos.

MATERIAIS E RECURSOS

Computador, projetor multimídia, papel celofane, papel cartaz, tesoura,

estilete e fita adesiva.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

PLANEJADO

Iniciarei a aula retomando a atividade realizada na aula anterior, que não foi

concluída. Pedirei que terminem as máscaras, para isso darei um tempo de

aproximadamente 20 minutos. Irei recolher os trabalhos para expor nos corredores da

escola.

Dando continuidade a minha proposta de estágio, perguntarei quais artistas

plásticos brasileiros os alunos conhecem. E artistas plásticos brasileiros que trabalham

com a temática africana?

Page 69: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

68

Levarei os alunos para assistir a uma apresentação, elaborado por mim,

sobre o artista plástico Ruben Valentin. Durante a projeção farei intervenções diante de

alguns trabalhos do artista, como:

O que as obras despertam em você?

Como são as obras?

O que lhe chamou atenção?

Valentim,1974.

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Valentim, 1975.

(Fonte:www.artenaescola.com.br)

Page 70: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

69

Irei propor atividade em trio usando formas geométricas desenhadas em

papel cartaz, vazando as figuras com estilete e, no verso, colando papel celofane.

Pedirei que os grupos se formem por afinidades (musical, religiosa, esportista...) e a

partir disto elaborem um símbolo que represente o assunto escolhido. Primeiramente

farão um rascunho e, depois passarão para a conclusão do trabalho. Após a atividade

prática irão explicar o símbolo criado através de um texto.

REALIZADO

Conforme encaminhei na aula anterior, iniciei a aula de hoje combinando

que terminariam as máscaras e o tempo para isto seria de, aproximadamente, 20

minutos. Porém foi necessário um período (40 min) para concluir a atividade. Todos

ficaram envolvidos com o trabalho. Enquanto concluíam eu organizava um varal para

secar as máscaras. A medida que terminavam as penduravam.

Aluno Sonino pintando sua máscara.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 71: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

70

Algumas máscaras da turma no varal.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Perguntei à turma quais artistas plásticos brasileiros conheciam. Não

souberam nomear. Alguns falaram de Van Gogh e Leonardo Da Vinci, porém nenhum

brasileiro nem que trabalhe com a temática africana. Falei que a partir de hoje

conheceriam alguns artistas plásticos brasileiros que têm como características em suas

obras o trabalho com a temática africana.

Nos dirigimos para a sala de vídeo, previamente organizada por mim antes

de iniciar o período. Apresentei o artista Rubem Valentim e algumas de suas obras.

Durante a apresentação, fiz as seguintes perguntas:

O que as obras despertam em você?

Como são as obras?

O que lhe chamou atenção?

Nas respostas, os alunos caracterizaram os trabalhos como: geométrico,

simétrico e colorido (uso de cores fortes).

Retornamos para a sala, escrevi as características dadas, no quadro. Solicitei

que trabalhassem, no máximo, em trio. Escolhessem uma afinidade (musical, religiosa,

esportista...) a partir disso criassem um símbolo, recortassem com estilete e, por último,

colassem com fita adesiva o celofane. Após, escrevessem o significado do símbolo

criado em uma folha de caderno para me entregar.

Page 72: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

71

Trabalho realizado pelo aluno Moacir.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Alunas Morgana e Camila

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 73: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

72

ANÁLISE

Os períodos da aula de Artes passam muito rápido. Os alunos aproveitam ao

máximo o tempo, mas não estão conseguindo concluir as atividades propostas. Penso

que, para dar conta do projeto de estágio vou precisar de mais encontros do que eu

imaginava.

Em relação as máscaras, alguns alunos não realizaram a atividade como foi

proposta, pois as características observadas nelas não eram as que vimos nos materiais

que levei (apresentação) para análise. Foi necessário retomar as imagens da

apresentação para que os alunos criassem a estética de seus trabalhos.

Ao iniciarem o esboço dos símbolos precisei chamar a atenção dos alunos

para que conversassem e trocassem ideias de como seria a imagem do grupo. Sobre a

questão das referências de imagens relata Martins (1998, p.136),

O olhar já vem carregado de referências pessoais e culturais; contudo,

é preciso instigar o aprendiz também para um olhar cada vez mais

curioso e mais sensível às sutilezas.[...] Nutrir esteticamente o olhar é

alimentá-lo com muitas e diferentes imagens, provocando uma

percepção mais ampla da linguagem visual; olar diferentes modos de

resolver as questões estéticas, entrando em contato com os conceitos e

a história da produção nessa linguagem.

ENCAMINHAMENTOS

As atividades não foram concluídas neste encontro. Combinei com a turma

que ficaria com os trabalhos para que na próxima aula eles fossem concluídas.

Page 74: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

73

3.3.4. Quarto Encontro

Aulas 7 e 8

Data: 13/10/2011

TEMA: Mestre Didi

CONTEÚDO: Vida e obra de Mestre Didi

ATIVIDADES:

Conclusão da atividade plástica a partir das obras de Rubem Valentim

Apreciação de DVD sobre o artista plástico Mestre Didi

Análise de algumas obras

Criação de escultura com materiais naturais

OBJETIVOS:

Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Mestre Didi;

Debater questões presentes no trabalho do artista;

Fazer uma escultura com materiais naturais.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apreciação de DVD (Mestre Didi: arte ritual) e atividade

em grupos.

MATERIAIS E RECURSOS

Televisão, DVD, papel celofane, papel cartaz, tesoura, estilete, fita adesiva,

cola quente, flores secas, contas, arames, palha e cipó.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

PLANEJADO

Entregarei os esboços recolhidos no encontro anterior, pedindo que se

reúnam em grupos e deem continuidade no trabalho. Pedirei que concluam a atividade

no primeiro período.

Assistiremos, na sala de vídeo, ao documentário Mestre Didi: Arte ritual.

Após, retomarei algumas obras mostradas no DVD para analisarmos. Farei os seguintes

questionamentos:

Estas imagens lhe causam que tipo de sensação?

Page 75: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

74

Como você vê a conexão entre estética e religião?

Qual a importância dos materiais usados pelo artista em suas obras?

Mestre Didi, 2001.

(Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Page 76: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

75

Mestre Didi, 2001

(Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Após conversa sobre as obras do artista pedirei aos alunos que se reúnam

em grupos de, no máximo três pessoas. Representem, através de uma escultura, sua

religiosidade utilizando materiais naturais. Os trabalhos serão recolhidos para

exposição.

REALIZADO

Iniciei a aula pedindo aos alunos que retomassem os símbolos criados na

aula anterior e concluíssem a atividade. Dois alunos vieram conversar comigo sobre o

trabalho, pois não estavam presentes na última aula, expliquei como deveriam proceder.

Apenas uma dupla conseguiu concluir a atividade no primeiro período, os

demais necessitaram dos dois períodos. Notei que alguns poucos apresentaram

dificuldade na utilização dos materiais, principalmente o estilete. Também observei que

houve frustação ao passar o símbolo criado para o papel cartaz, uma vez que criaram

símbolos que na hora de vazar a figura não ficou como no rascunho.

Page 77: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

76

Aluna fazendo o trabalho.

(Fonte: MARQUES,2011)

Aluno concluindo a atividade.

(Fonte: MARQUES,2011)

Page 78: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

77

Alunos realizando o trabalho

(Fonte: MARQUES,2011)

Atividade realizada pelos alunos Bárbara, Jerri e Luiz.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Solicitei aos alunos que terminavam a atividade escrevessem o significado

do símbolo criado. Os textos criados explicavam de modos mais diversos, alguns

tinham cunho religioso “Nosso símbolo representa o cálice da igreja católica, onde o

padre coloca em um cálice o vinho que representa o corpo e o sangue de Jesus.”;

musical “A ideia foi criar cifras estilizadas, opostas umas as outras, criando uma forma

Page 79: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

78

diferenciada...” e também existencial “Este símbolo foi criado com a intenção de

representar a vida em seis etapas: gestação, nascimento, crescimento, aprendizado,

amadurecimento e envelhecimento.” Uma dupla usou o Salmo 128, porém não o

explicou. Também em um caso não houve fundamentação no texto, pois apenas

escreveram que em seu trabalho havia figuras geométricas inspirados nas obras de

Rubem Valentim. Recolhi as atividades para avaliar e expô-las nos corredores da escola.

Ao sinal do recreio alguns alunos saíram da sala e o professor de Português

pediu licença para deixar seus materiais na mesa. Concordei e, ao ver alguns alunos

concluindo o trabalho, comentou “Que bonitinhos, fazendo trabalhinhos!” Ninguém

comentou nada e ele se retirou para o intervalo.

ANÁLISE

Durante a atividade observei que grande parte da turma estava empenhada

em realizá-la da melhor maneira possível. Fui solicitada em vários momentos, algumas

vezes para opinar, outras para analisar os símbolos. Notei que houve dificuldade no

recorte com o estilete, uma vez que nesta atividade o uso da motricidade fina é grande e

exige dos alunos algo que deveria ter sido desenvolvido na infância.

Ao pedir que explicassem, através de texto, seus símbolos imaginei que

reclamariam, porém, para minha surpresa, isto não aconteceu. Em vários momentos

espero uma reação da turma que não acontece devido a maturidade da mesma, isto é

bastante positivo.

No geral esta atividade escrita serviu como reflexão para a prática. Foi

positivo realizá-la uma vez que os alunos não fizeram um trabalho apenas por fazer,

mas o fundamentaram, trocando ideias entre si. Apesar de ter chamado atenção para que

tivessem alguns cuidados como centralização da imagem e estética, alguns trabalhos

foram entregues sem o devido cuidado. Notei imagens onde se nota o traçado do lápis a

falta de cuidado em relação a ocupação do espaço na folha e a falta de harmonia no uso

das cores.

Sobre a fala do professor de Português, penso que foi totalmente

inadequada, tanto no tom irônico, quanto ao fato de infantilizar os alunos. Hoffmann

(2003, p.7) questiona o papel da escola,

Seria o papel da escola preparar indivíduos para a nova organização

do mundo do trabalho, formando sujeitos competentes, competitivos e

consumidores? Ou possibilitar o acesso e o desenvolvimento de

saberes e de competências necessárias para inserção dos aprendentes

como cidadãos críticos, participativos, propositivos numa sociedade

Page 80: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

79

em transformação? A escola deve treinar os alunos para a seleção do

vestibular ou prepara-los para a vida, para além do mercado?

Trabalho realizado pelos alunos Elisângela e Ismael.

(Fonte: MARQUES, 2011)

ENCAMINHAMENTOS

Solicitei aos alunos, que ainda não o fizeram, devido as faltas, que

entreguem os trabalhos (máscara e símbolo) na próxima aula.

Combinei que na próxima aula assistiremos ao DVD sobre o artista plástico

Mestre Didi.

Page 81: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

80

3.3.5. Quinto Encontro

Aulas 9 e 10

Data: 20/10/2011

TEMA: Mestre Didi

CONTEÚDO: Vida e obra de Mestre Didi

ATIVIDADES:

Conclusão da atividade plástica a partir das obras de Rubem Valentim

Apreciação de DVD sobre o artista plástico Mestre Didi

Análise de algumas obras

Criação de escultura com materiais naturais

OBJETIVOS:

Conhecer a vida e algumas obras do artista plástico Mestre Didi;

Debater questões presentes no trabalho do artista;

Fazer uma escultura com materiais naturais.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apreciação de DVD e atividade em grupos.

MATERIAIS E RECURSOS

Televisão, DVD, papel celofane, papel cartaz, tesoura, estilete e fita adesiva,

cipó, palha, flores secas e búzios.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

PLANEJADO

Entregarei os esboços recolhidos no encontro anterior, pedindo que se

reúnam em grupos e deem continuidade no trabalho. Pedirei que concluam a atividade

no primeiro período.

Assistiremos, na sala de vídeo, ao documentário Mestre Didi: Arte ritual.

Após, retomarei algumas obras mostradas no DVD para analisarmos. Farei os seguintes

questionamentos:

Page 82: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

81

Estas imagens lhe causam que tipo de sensação?

Como você vê a conexão entre estética e religião?

Qual a importância dos materiais usados pelo artista em suas obras?

Mestre Didi, 2001.

(Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Mestre Didi, 2001

(Fonte: www.museuafrobrasil.org.br)

Page 83: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

82

Após conversa sobre as obras do artista pedirei aos alunos que se reúnam

em grupos de, no máximo três pessoas. Representem, através de uma escultura, sua

religiosidade utilizando materiais naturais. Os trabalhos serão recolhidos para

exposição.

REALIZADO

Ao me dirigir para a sala encontrei, no corredor, a professora titular de Arte.

Ela me perguntou se eu estava fazendo a chamada. Respondi que havia pedido algumas

vezes a lista tanto para ela quanto para a supervisora e, como não recebi, em todos os

encontros passava uma lista para os alunos assinarem. Ela pediu que eu entregasse as

listas para passar para a chamada.

Hoje não foi possível usar a sala de vídeo e, fiquei sabendo pela supervisora

que em cada andar há uma televisão e um aparelho de DVD itinerante, sendo que a sala

onde o armário com estes equipamentos fica guardado fica ao lado da minha turma.

Pedi a um aluno que buscasse o armário e, assistimos ao DVD “Mestre Didi: arte ritual”

na sala de aula. O DVD faz parte de uma coleção “O mundo da arte” do Instituto Arte

na escola.

Alunos assistindo DVD.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 84: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

83

Durante a exibição os alunos ficaram atentos, porém não fizeram perguntas.

Ao final do documentário perguntei o que haviam achado e como caracterizariam as

obras do artista. Os alunos responderam que nunca ouviram falar do Mestre Didi e,

quando eu falei, na aula anterior sobre ele, alguns imaginaram se tratar de um

capoeirista. Gostaram das esculturas apresentadas, caracterizando o trabalho: colorido,

utiliza materiais orgânicos, cultura afro-brasileira está presente no seu trabalho assim

como a religiosidade.

Solicitei que se organizassem em grupos e elaborassem uma escultura que

representasse sua religiosidade, utilizando os seguintes materiais: cipó, palha, búzios,

contas e flores secas.

Alunas realizando o trabalho.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Durante a atividade os alunos envolveram-se com os materiais

disponibilizados, principalmente a palha.

Page 85: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

84

ANÁLISE

Durante a exibição do DVD, notei que uma aluna sentiu-se incomodada

por ter imagens de orixás e ela ser de uma religião que não admite cultos de matriz

africana. Ao propor a atividade ela não entendeu a proposta e disse: “Se tiver que fazer

estes santos eu não vou fazer”. Expliquei que cada grupo irá elaborar uma escultura que

represente sua religiosidade. Penso ser importante que no espaço escolar possa ser um

espaço para dialogar com as diferentes religiões. Sobre isso, Pereira (2007, p.51) diz,

A inserção de elementos referentes às culturas indígenas e afrodescendentes,

por exemplo, nos currículos escolares brasileiros tem um sentido político

relevante, já que oferece aos docentes e discentes a oportunidade, por um

lado, de pensar a realidade social brasileira a partir de sua diversidade

cultural e, por outro, de realizar uma revisão crítica dos conteúdos até então

considerados oficiais.

O trabalho apresentado por este grupo, além de usar os materiais

disponibilizados, também elaborou um origami. Fizeram uma ave e acrescentaram na

escultura. Os demais trabalhos representavam algumas cruzes e dois grupos

representaram orixás.

Trabalho dos alunos

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 86: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

85

3.3.6. Sexto Encontro

Aulas 11 e 12

Data: 27/10/2011

TEMA: 8ª Bienal do Mercosul

CONTEÚDO: Visita a Bienal

ATIVIDADE:

Ida ao roteiro “Geopoéticas” nos Armazéns do Cais do Porto.

OBJETIVOS:

Visitar uma exposição de Arte;

Refletir sobre fronteiras, migração e subversão de símbolos nacionais;

METODOLOGIA:

Visitação mediada a uma exposição de Arte.

MATERIAIS E RECURSOS

Ônibus

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a participação e envolvimento dos

alunos e conforme o alcance dos objetivos propostos.

PLANEJADO

A aula se dará em um espaço diferente, pois os alunos visitarão a uma

exposição de Arte. O roteiro de visitação será Geopoéticas, no Armazém 5 do Cais do

Porto.

Pedirei aos alunos que prestem atenção às explicações dos mediadores e,

questionem, sem receio. Combinamos que a saída será 18h e 30 min.

REALIZADO

Ao chegar à escola, por volta das 18h e 15 min, os ônibus já estavam nos

esperando, assim como alguns alunos. Devido ao horário, não foi possível esperar a

chegada de mais alunos, pois iríamos pela BR 118 em um horário de muito movimento.

Deveríamos estar no Cais às19h e 30 min. Dos três ônibus, inicialmente agendados, um

Page 87: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

86

foi dispensado pois a Supervisora fez um levantamento, durante a semana, de quem iria

a exposição.

Da turma que faço estagio, foram 5 alunos. No total foram 67 alunos.

Na exposição, durante as explicações da mediadora os alunos interagiam

perguntando e respondendo aos questionamentos.

Ida à Bienal

(Fonte MARQUES, 2011)

Page 88: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

87

Orientações da mediadora

(Fonte MARQUES, 2011)

Apreciação da obra do artista Duke Riley

(Fonte MARQUES, 2011)

Page 89: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

88

Apreciação do trabalho da artista Manuela Ribadeneira.

(Fonte:MARQUES, 2011)

ANÁLISE

A ida à 8ª Bienal do Mercosul estava agendada desde o início do estágio.

Inicialmente iríamos no dia 05/10 apenas um ônibus, porém a Supervisora da escola

conseguiu agendar três ônibus para todo o turno da noite em outra data. Após conversar

com os alunos e professores ficou decidido que todos iriam no agendamento feito pela

Supervisora, 27/10.

Durante as explicações da mediadora os alunos interagiam perguntando e

respondendo aos questionamentos. Algumas vezes olhavam com estranheza as obras,

mas a medida que era explicado mudavam suas expressões. Arslan (2006,p. 41)

comenta a respeito disso,

A dificuldade de interagir com produções artísticas visuais pode ter origem,

entre outros fatores, na ausência de museus, galerias, oficinas e casas de

cultura em algumas regiões. O interesse em estudar ou apreciar arte surge

também pelo relacionamento com a linguagem artística. Sem acesso a

equipamentos culturais a população pode não desenvolver hábitos, valores,

atitudes na relação com a cultura, nem é capaz de construir o olhar crítico

sobre as produções artísticas visuais[...]

Page 90: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

89

3.3.7. Sétimo Encontro Aulas 13 e 14

Data: 03/11/11

TEMA: Símbolos

CONTEÚDO: Simbologia Adinkra

ATIVIDADES:

Apreciação de uma apresentação em Power Point sobre símbolo Adinkra;

Pesquisa sobre provérbios brasileiros e africanos;

Criação de símbolo a partir de um provérbio.

OBJETIVOS:

Conhecer a história dos símbolos adinkra e seus significados;

Pesquisar provérbios brasileiros e africanos;

Criar símbolos a partir de provérbios.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apreciação de Power Point e atividade em grupo.

MATERIAIS E RECURSOS

Computador, projetor multimídia, fotocópias, papel canson A4, lápis, caneta

para retroprojetor, acetato e estilete

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e

envolvimento dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos

objetivos propostos.

PLANEJADO

Iniciarei a aula na sala de vídeo, onde projetarei, no computador, uma

apresentação em Power Point sobre Simbologia Adinkra. Após, entregarei fotocópias de

símbolos adinkra, com seus significados. As folhas circularão entre todos os alunos para

que conheçam alguns símbolos.

SÍMBOLO ADINKRA BASEA DO NO CORPO HUMANO

Um estilo particular de penteado do herói guerreiro.

Símbolo da bravura.

Page 91: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

90

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM FORMA ABSTRATA

O elo ou a corrente.

Estamos ligados tanto na vida como na morte. Aqueles que partilham

relações consangüíneas nunca se apartam.

Símbolo das relações humanas, da unidade, interdependência, fraternidade e

cooperação.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM OBJETO FEITO PELO

HOMEM

Espadas cerimoniais de Estado

O grande general que se aposenta sempre tem uma espada real do descanso.

Símbolo da autoridade, legitimidade, legalidade do Estado e das façanhas

heróicas.

Page 92: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

91

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO NA VIDA VEGETAL

Semente da árvore wawa.

Ela é forte e resistente como a árvore wawa.

Símbolo da força física, resistência e perseverança.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM CORPO CELESTIAL

Filha do céu.

Cria do ser supremo, dependo Dele e não de mim mesma.

Minha luz é o reflexo da Dele.

Page 93: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

92

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

SÍMBOLO ADINKRA BASEADO EM ANIMAL

Compartilham um só estômago, porém brigam pela comida.

Símbolo da unidade na diversidade e advertência contra as brigas internas

quando existe um destino em comum.

(Fonte: http://negromostraatuaface-atividades.blogspot.com/2009/09/aula-2-arte-africanaadinkra.html)

Ao terminar a apreciação, pedirei que leiam e escolham um provérbio

brasileiro ou africano que circulará em folhas fotocopiadas entre os alunos. A partir do

provérbio escolhido os alunos irão criar um símbolo que represente seu provérbio.

REALIZADO

A partir da aula de hoje a turma ficou reduzida, pois o projeto EJA permite

avanços trimestrais. Portanto, agora são 12 os alunos da turma. Destes, apenas dois

Page 94: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

93

foram à Bienal. Perguntei sobre suas impressões diante das obras. Um aluno disse ter

achado legal, diferente. Enquanto outra aluna falou que nunca tinha ido a uma

exposição e adorou. Pensou que iria ver quadros e o que viu a deixou surpresa. Quanto

ao local, a beira do Guaíba, achou encantador, principalmente o por do sol. Os demais

alunos não foram por diversos motivos.

Comentei com a turma que na aula de hoje conheceriam a simbologia

adinkra. Nos dirigimos à sala de vídeo. Durante a projeção, alguns alunos comentavam

sobre os símbolos, dizendo que o fato dos homens ganeses criarem estampas é

interessante, pois, a princípio esta atividade parece ser feminina. Conversamos sobre

alguns símbolos mostrados e retornamos para a sala. Sentaram-se em grupos e criaram

seus símbolos, relacionando com os provérbios apresentados.

Símbolo criado por alunos.

Provérbio africano: “Uma mentira estraga mil verdades.”

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 95: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

94

Símbolo criado pelos alunos.

Provérbio africano“É a água calma e silenciosa que afoga o homem.”

(Fonte: MARQUES, 2011)

Ao terminar a criação dos símbolos, pedi que copiassem o desenho no

acetato e, com estilete, recortassem o símbolo.

ANÁLISE

A conversa inicial, sobre a visita à Bienal foi importante, principalmente

para os alunos que não foram porque não tiveram interesse. As impressões da aluna que

participou da atividade deixou curiosos alguns colegas. É importante contato com arte,

pois “o objetivo maior de uma nutrição estética é provocar leituras que possam

desencadear um aprendizado de arte ampliando as redes de significação do fruidor”

(MARTINS, 1998, p. 140).

A princípio havia pensado no roteiro do Santander Cultural onde há obras

do artista chileno Eugênio Dittborn, houve possibilidade de irmos, inclusive com

agendamento. Porém a Supervisora da escola agendou para todo turno da noite em outra

data e em outro roteiro, e esta nova data foi melhor acolhida por professores e alunos do

turno. Havia pensado em uma atividade onde os alunos trocariam entre si seus

trabalhos, lembrando a arte postal de Dittborn.

Page 96: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

95

Os símbolos criados ficaram interessantes, não houve desenho

estereotipado, a atividade foi pensada e conversada em conjunto. Dos três grupos que se

formaram, apenas um conseguiu recortar o acetato. Para escolher o provérbio, houve

leitura dos mesmos após mostrar os símbolos adinkras. Após a leitura, os grupos

escolheram um provérbio e criaram o desenho que melhor o representasse.

ENCAMINHAMENTOS

Para a próxima aula, os dois grupos que não recortaram o acetato o farão

para concluir esta etapa do trabalho. Pedi aos alunos que tragam os quadros de MDF

que solicitei na primeira aula. Sugeri que tragam um quadro grande por grupo, para a

atividade.

Page 97: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

96

3.3.8. Oitavo Encontro Aulas 15 e 16

Data: 10/11/11

TEMA: Mônica Nador

CONTEÚDO: Vida e obra da artista plástica Mônica Nador

ATIVIDADES:

Conclusão da atividade da aula anterior.

Apreciação de uma apresentação em Power Point da vida e obra da artista

plástica Mônica Nador.

Elaboração de um esboço para aplicação de símbolos, criados pelos alunos,

em um quadro de MDF.

Responder a uma avaliação das aulas de Artes e auto-avaliação

OBJETIVOS:

Conhecer a vida, a obra e o trabalho desenvolvido nas periferias do mundo

pela artista Mônica Nador;

Elaborar um quadro com símbolos;

Realizar avaliação escrita das aulas de Artes;

Fazer auto-avaliação por escrito.

METODOLOGIA:

Aula expositiva, apreciação de Power Point sobre a artista plástica,

atividade em grupo e registro escrito.

MATERIAIS E RECURSOS

Computador, projetor multimídia, quadros de MDF, areia colorida, cola,

pincel, acetato, jornais e estilete.

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita de acordo com a produção, participação e envolvimento

dos alunos com as atividades solicitadas e conforme o alcance dos objetivos propostos.

PLANEJADO

Iniciarei, entregando os símbolos criados na aula anterior, os acetatos e

os estiletes. Ao terminarem a atividade, iremos à sala de vídeo para que conheçam a

artista Mônica Nador e o trabalho desenvolvido no JAMAC (Jardim Miriam Arte

Clube).

Page 98: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

97

Mônica Nador

(Fonte: www.estadao.com.br)

Sem títul,1996Mônica Nador

(Fonte: http://www.paraduncan.blogspot.com)

Page 99: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

98

Projeto Paredes Pinturas – JAMAC

(Fonte: http://afonsopost.blogspot.com)

Retornando à sala de aula, os alunos irão se reunir em grupo. Farão um

rascunho pensando em como organizar o símbolo no quadro, tendo como referência o

trabalho desenvolvido no JAMAC, no projeto Paredes Pinturas. A partir disso,

colocarão o acetato no MDF, passarão cola e, em seguida, a areia colorida.

Após concluírem a atividade, entregarei um questionário de avaliação das

aulas de Artes e, depois uma auto-avaliação.

Avaliação de Artes

A partir dos conteúdos desenvolvidos nas aulas de Arte, responda:

1- O que acrescentou no teu conhecimento sobre a arte e a cultura africana e afro-

brasileira?

2- O que destacarias das aulas?

3- O que poderia ter sido melhor?

Em relação aos materiais e as técnicas desenvolvidas nas aulas, o que tens a considerar?

Auto-avaliação

1) De que forma eu participei das aulas de Arte?

2) O que eu aprendi?

3) Em relação aos trabalhos em grupo eu ...

Page 100: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

99

REALIZADO

Ao início do período entreguei as imagens da aula anterior para que os

grupos concluíssem a atividade. Os dois grupos que precisavam terminar suas

atividades foram rápidos nos trabalhos, cerca de 15 minutos.

Nos dirigimos à sala de vídeo, onde projetei a apresentação da biografia da

artista e o trabalho desenvolvido no JAMAC. Os alunos falaram da importância para a

auto-estima dos moradores das periferias, pois suas casas ficaram mais bonitas com as

pinturas.

Voltamos à sala de aula e os grupos se reuniram para elaborar um esboço do

trabalho a ser aplicado nos quadros de MDF. Assim que terminaram o projeto, passaram

a executar a atividade com o acetato, a cola e a areia colorida

Alunos realizando o trabalho.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 101: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

100

Enquanto realizavam a atividade eu fui até o corredor para expor trabalhos

de alunos que entregaram após os prazos. Ao retornar, observei que um grupo fez o

trabalho diferente do que haviam planejado.

À medida que concluíam a atividade entregava a avaliação e a auto-

avaliação, para que respondessem. Quanto aos critérios para avaliar Arslan(2006, p. 84)

diz,

Os resultados das avaliações devem expressar suas conquistas e esforços, a

persistência, a dedicação à aprendizagem e a postura criadora. A avaliação

não pode ser sanção de caráter expiatório, mas uma maneira de informar

estudantes e professores sobre o desenvolvimento da aprendizagem, para que

possam ajustar seus processos, Nesse sentido, avaliar tem caráter formativo e

informativo.

ANÁLISE

Na atividade proposta para hoje os alunos a realizaram com empenho e

dedicação, comentaram o desapontamento de ser a última aula. A um grupo utilizou a

areia de maneira diferente da que haviam programado. Inicialmente haviam pensado em

usar duas cores, porém ao colocar a areia houve divergência entre alguns integrantes do

grupo que queriam usar todas as cores, o que acabou acontecendo. O resultado não ficou

bom, devido ao uso excessivo da cor. O grupo não pensou na harmonia.

Trabalho dos alunos.

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 102: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

101

Trabalho dos alunos.

(Fonte: MARQUES,2011)

Um grupo quis usar a cor azul, embora eu tenha comentado que o fundo

escuro impediria a visualização da imagem. Sugeri que preenchessem a figura com

areia. Porém, o grupo preferiu deixar apenas o contorno. O resultado não ficou bom.

Trabalho dos alunos

(Fonte: MARQUES, 2011)

Page 103: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

102

O terceiro grupo seguiu o planejado e teve como resultado do trabalho uso

de cor e espaço adequados a proposta.

Em relação a avaliação de Artes os alunos escreveram, na pergunta 1, que as

atividades acrescentaram, principalmente por muitos não terem tido em anos anteriores

aula de arte, o conhecimento obtido sobre o continente africano também foi marcante.

Um aluno escreveu que “não imaginava a riqueza deste continente”. A variedade dos

trabalhos e dos materiais foi o que destacaram na pergunta 2. O trabalho dos artistas

apresentados durante o estágio também foi lembrado nesta questão. Em minhas análises

destaquei, várias vezes, o fato do tempo ser pouco para concluir as atividades. O mesmo

aconteceu nas respostas da questão 3, sobre o que poderia ter sido melhor, ressaltaram

que “quando a atividade estava boa, ela terminava” . Gostaram muito dos materiais

utilizados nas aulas, destacando a variedade de técnicas.

Quanto a auto-avaliação os alunos colocaram-se participativos, grande parte

disse ter aprendido mais nas semanas em que eu dei aula que nos últimos anos nas aulas

de Artes. Sobre os trabalhos em grupo alguns alunos disseram sentir dificuldade em

aceitar a opinião dos colegas diante dos trabalhos propostos.

ENCAMINHAMENTOS

A cola, utilizada no trabalho, não secou. Combinei com a turma que, na

próxima semana, retornaria à escola para expor os quadros e, após algumas semanas

eles poderiam retirar os quadros.

Page 104: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

103

CONCLUSÃO

Apesar de ser professora há alguns anos, foi importante e significativo este

momento de prática, pois em todos os encontros, após elaborar a aula, havia o momento

de reflexão do que foi desenvolvido. Neste momento, eu analisava a teoria e como ela

foi aplicada, podendo rever minha prática. Agora, refletindo sobre todos os encontros do

estágio, observei que outras propostas deveriam ter sido seguidas diante de alguns

resultados obtidos.

Esse processo de ação/ reflexão contribui para desenvolver melhor minhas

aulas. Hoje vejo que minha metodologia está melhorando a partir deste processo.

Consigo elaborar uma aula, aplica-la e refletir sobre o que foi trabalhado e tentar

melhorar na aula seguinte. Claro que nem sempre os resultados são o esperado, mas

diante de adversidades consigo me sair melhor devido aos momentos de reflexão.

É necessário que o professor saia da pretensa detenção do saber e repense

sua prática, revendo a metodologia que aplica nas aulas. Quando o aluno não alcança o

objetivo proposto, nem sempre a dificuldade é de aprendizagem. Pode haver dificuldade

de ensinar, daí ser importante a análise da aula para refletir a partir do que foi

alcançado dentro do que foi programado.

Durante minha prática de estágio, pude observar outras questões que

nortearam o trabalho que desenvolvi. A organização escolar, quando presenciei alguns

fatos na escola que penso acabaram interferindo na minha prática. A metodologia, que é

a maneira como o professor organiza, orienta e desenvolve as atividades, visando a

compreensão de determinados conteúdos o desenvolvimento de certas competências. A

importância da disciplina tanto em relação à maneira como os alunos veem a Arte,

como os professores se relacionam com a mesma. E a interdisciplinaridade entre a arte e

as diversas possibilidades de trabalho com as demais disciplinas trabalhadas na escola.

Em relação à organização escolar, observei em vários momentos, que a

equipe diretiva da escola em que realizei o estágio tinha dificuldade em dialogar. Foram

várias as situações em que eu precisava saber onde poderia expor os trabalhos dos

alunos e precisava perguntar para várias pessoas da equipe até obter uma resposta.

Também em relação aos materiais, como TV e DVD, por exemplo, até que alguém

Page 105: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

104

respondesse, falava com algumas pessoas. Senti, na escola, vários fatos que pareciam

não estar bem esquematizados, quando o assunto se referia ao humano, havia uma certa

desordem.

Em vários encontros, constatei que colocava na organização escolar a

dificuldade de desenvolver o que havia programado, porém me dei conta de que possuo

um certo preconceito em relação às escolas estaduais e o trabalho desenvolvido por elas.

A minha vida profissional sempre se deu em municípios e penso que há melhor

administração visto a proporção dos mesmos em relação ao alcance da Secretaria

Estadual de Educação e as escolas que administra. Por outro lado, existe minha vivência

como estudante que se deu em escola cuja mantenedora era a SEC e tive várias

passagens marcadas negativamente. Portanto, carrego o olhar de aluna frustrada em

alguns períodos da vida escolar.

No meu primeiro contato com a turma de estágio, Educação de Jovens e

Adultos, os alunos receberam uma folha com desenhos para pintar, pois não havia

professora titular e a pessoa que estava com eles não sabia que eu iniciaria meu estágio

naquele dia. Percebi que a atividade proposta era inadequada para alunos do último ano

do ensino médio. Assim que me apresentei e falei sobre a proposta de estágio, esta foi

bem acolhida e alguns deles falaram do desejo em relação às aulas de Arte. Ao mesmo

tempo que fiquei satisfeita com a receptividade, também fique preocupada em

corresponder à expectativa deles. Isso fez com que eu me cobrasse mais ao programar

as aulas e, nos encontros que seguiram, percebi o prazer na realização dos trabalhos.

Porém agora, refletindo sobre o que programei, penso que algumas atividades poderiam

ter sido desenvolvidas ou propostas de outra forma.

O assunto que desenvolvi na prática partiu de uma lei e da necessidade, que

eu observei, de se trabalhar a cultura brasileira. Dois artistas escolhidos, Ruben

Valentim e Mestre Didi, têm em sua temática de trabalho a religiosidade de matriz

africana. Eu percebi o incômodo deste assunto, principalmente com alunos que são de

religião que tem uma visão fechada de outras religiões que supõem serem “do mal”.

Isso ficou evidente na aula 4, quando propus a criação de uma escultura que abordasse a

religiosidade. Este fato me alertou para o papel do professor de intermediar relações em

sala. O quanto devemos ser profissionais, levando os alunos a refletirem sobre os

assuntos sem tomarmos partido ou posição diante deste tipo de questão.

Page 106: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

105

Antes de desenvolver meu projeto de pesquisa, precisava saber o que os

alunos sabiam sobre algumas questões que norteiam o assunto que desenvolveriam: a

arte africana e afro-brasileira. Inicialmente, pedi que escrevessem e posteriormente

conversassem, sobre o que eles sabiam a respeito da África, ver e olhar. Os alunos

relataram diversas vezes a importância de fazer uma atividade em que pudessem refletir

sobre alguns assuntos do dia-a-dia. A partir deste exercício, quando eu apresentava os

artistas plásticos e seus trabalhos, senti a turma mais participativa e crítica nas questões

que propunham análise.

Faltou, da minha parte, fundamentar teoricamente os alunos, explicando

objetivamente como teria que ser o resultado final da atividade. Explicar a importância

da estética, do uso das cores e, até mesmo como usar os materiais que estavam

disponíveis. Utilizei várias técnicas de trabalho porém, senti falta, no encontro 3 de um

trabalho melhor estruturado na pintura. Neste dia as máscaras confeccionadas foram

pintadas e deixaram a desejar no que se refere à aplicação das tintas. Alguns alunos

demonstraram dificuldade em recortar. Trabalhar a motricidade fina em adultos é mais

complicado do que em criança ou adolescente.

Sobre minha prática, penso que uma das funções do professor é oportunizar

acesso a ambientes como museus e exposições de vários tipos, e mostrar que o aluno

pode transitar nestes meios. Assim como é importante o uso de tecnologias sejam

utilizadas nas aulas para que se tornem mais atraentes. Porém, durante o estágio, levei a

turma a uma das mostras da 8ª Bienal do Mercosul e poucos alunos foram à exposição,

por diversos motivos. Ainda não faz parte do hábito de nossos alunos este tipo de saída.

Devo ressaltar que é oportunizado e comentado com os alunos o quanto este tipo de

atividade cultural nos enriquece, mas é triste ver que colegas professores, que fazem

parte de uma elite cultural, não possuem este hábito e, muitos veem nesta saída escolar

um passeio apenas para contar como dia letivo.

Ao utilizar as diversas tecnologias disponíveis na escola, como projetor

multimídia, DVD e notebook senti uma certa dificuldade em organizá-las, não por não

saber do funcionamento, mas por problemas técnicos que são imprevisíveis e acabam

atrapalhando o planejamento da aula. Constatei isto em alguns encontros, quando

precisava de auxílio, ora para instalar os equipamentos, ora para pegar a chave das salas

onde os mesmos estavam guardados. Os alunos gostavam do uso destas tecnologias,

diziam que as aulas estavam dinâmicas. Por outro lado, penso nos professores que

Page 107: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

106

gostariam de utilizar estes materiais, mas as dificuldades que encontram para ter acesso

aos mesmos devem ser desestimulantes. Talvez alguns não os utilizem por este fato. No

5º encontro fiquei sabendo da existência de uma televisão e de um DVD, que ficavam

guardados em uma sala ao lado da minha. Estes materiais poderiam ser levados para a

sala de aula, o que tornaria o tempo de deslocamento bem menor, uma vez que eu usava

estes materiais em praticamente todos os encontros e, apenas no final do estágio, eu

tomei conhecimento disto. Penso que os encontros anteriores teriam sido mais ágeis se

eu soubesse disto anteriormente.

No decorrer das aulas, percebi o crescimento dos alunos em relação ao uso

dos materiais. Não tinham o hábito de usar tinta, estilete e régua, por exemplo. As

técnicas de trabalho como recorte e colagem também não faziam parte do cotidiano

escolar da turma. Foi necessário retomar a forma de utilizar os materiais e explicar

exemplificando a atividade para que os trabalhos ficassem esteticamente bem

elaborados. Os próprios alunos se deram conta das dificuldades que tinham em trabalhar

com os materiais e como foram melhorando suas produções a partir da manipulação

sistemática dos mesmos.

Em vários momentos os alunos me surpreenderam em suas atitudes. Como

por exemplo o episódio ocorrido no segundo encontro, quando entreguei crachás com os

nomes, pois tenho dificuldade em gravá-los e, por não ter a lista dos matriculados,

possuía o nome de quem estava presente na aula anterior. Houve cobrança sobre o não

recebimento do nome e pedido para que eu o trouxesse na semana seguinte. Apesar da

idade mais avançada, alguns alunos têm comportamento parecido com quem está no

ensino fundamental. Quando não era possível concluir uma atividade em aula,

perguntava se podiam levá-la para casa para que a terminasse. Imaginei que aqueles que

levassem o material, trariam a atividade pronta. Porém isso nem sempre acontecia,

várias atividades voltavam da mesma forma que foram. Devido à faixa etária dos

alunos, me pareceu que o comprometimento seria maior. Também é importante ver que

o aluno tem outras atribuições além de serem estudantes. Há na turma mães, pais, donas

de casa, profissionais que trabalham o dia inteiro. Porém o professor não se deve ter

uma visão assistencialista, e ficar penalizado pelas condições de vida do aluno, supondo

que ele é incapaz de ter um tempo para o estudo além do espaço escolar. É preciso que o

estudante, independente da idade e do nível escolar, se envolva com os estudos,

aprimorando seus conhecimentos.

Page 108: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

107

Senti dificuldade no entendimento da continuidade de alguns trabalhos,

como aconteceu nos encontros 3 e 4 quando deveriam recortar com estilete um acetato

com o símbolo criado por eles. Eu deveria ter alertado quanto ao trabalho com este tipo

de material. Não é uma atividade que estejam acostumados a fazer e eles não projetaram

como seria o resultado neste tipo de material. Se eu tivesse levado um modelo,

mostrando a atividade ao colocar o papel celofane, talvez tivessem visualizado seus

trabalhos. Em alguns casos não houve uma projeção de como seria a atividade após a

criação do símbolo. Algumas vezes o óbvio precisa ser dito, pois ele pode não o ser para

todos.

A avaliação é o resultado de um processo de trabalho que envolve a

compreensão, produção, participação e envolvimento nas atividades, alcançando os

objetivos propostos. Em minha prática, precisei lidar com duas turmas devido a

organização das turmas da EJA. Há avanços nas turmas a cada trimestre e o período da

minha prática se deu exatamente neste processo, portanto, faltando dois encontros para

encerrar meu estágio a maior parte da turma avançou e outros alunos entraram para a

turma.

Penso que se a avaliação final com a turma de estágio tivesse sido feita pelo

grupo que iniciou o processo e passou por todos os exercícios de reflexão, o resultado

teria sido melhor pois teriam agregado todo o conhecimento adquirido no decorrer das

aulas e aplicado no trabalho.

Havia, de um lado, a avaliação que eu precisava entregar para a professora

titular da turma, que era expressa através de notas. E também era necessário que eu

avaliasse o trabalho que desenvolvi como resultado do meu estágio.

Os momentos avaliativos eram angustiantes. Porém, pude perceber o

crescimento dos alunos em relação ao que propunha e na utilização dos materiais e,

consequentemente no resultado do trabalho. Em relação a minha prática que também

deveria ser avaliada, penso que eram importantes, uma vez que em meio a tudo que

precisava dar conta, também era a parada necessária para ver o que havia conseguido

alcançar ou não.

Atualmente, em alguns momentos da minha prática como professora, faço

esta reflexão para conseguir alcançar meus objetivos. Noto em minha prática um

crescimento profissional. Hoje, posso dizer que sou uma professora mais preocupada

em avaliar, não somente os alunos, mas também a as aulas que planejo.

Page 109: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

108

A avaliação da turma, ao final do estágio, foi feita com base nas três últimas

aulas. Devido aos avanços e, por ter tido praticamente duas turmas, creio que deveria ter

solicitado a auto avaliação de ambas, para que pudesse ter a dimensão da aprendizagem

nas aulas de Artes durante minha prática. Como resultado de todo o processo que

desenvolvi, fiquei apenas com o da turma que menos tempo trabalhei.

Desde as aplicações dos questionários com a professora e com os alunos,

observei que as aulas de Artes, por parte da escola e da professora, eram ministradas por

profissionais não habilitados que estavam a serviço de outra disciplina. Isso foi uma

constatação. Em muitos momentos, os alunos demonstraram o desejo de ter aula de

Artes com uma pessoa que realmente ministrasse uma aula bem elaborada, com

propostas fundamentadas.

Não quero ter a pretensão de achar que as minhas aulas foram

maravilhosas, mas por fazer parte de um processo de conclusão do Curso de Artes

Visuais, procurei propiciar aulas atraentes que fossem ao encontro do assunto que

desenvolvi no meu projeto de pesquisa. Penso que tive como resultado a possibilidade

de repensar minha prática pedagógica refletindo sobre a maneira de abordar e lidar com

situações cotidianas que acabam interferindo no que foi planejado.

Normalmente, os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas contemplam

atividades interdisciplinares, porém, em um estágio é muito difícil que isso ocorra, visto

que o estagiário é quem está desenvolvendo suas atividades para obtenção de uma

prática que o leve a um resultado. Por outro lado, é possível que as demais disciplinas

da escola estabeleçam parcerias para trabalhar a partir de assuntos desenvolvidos. Na

primeira aula, quando assistimos ao documentário Janela da Alma, poderia ter realizado

um trabalho de parceria com a disciplina de Filosofia. Claro que naquele momento

sequer cogitei esta possibilidade. Refletindo sobre a prática é que vi o que poderia ser

feito além do que propus.

Ao desenvolver o estágio, me deparei agora no papel de professora, portanto

não queria repetir o que havia passado como estudante, momentos frustrantes e

opressores. Meu período escolar, no ensino fundamental, ocorreu durante a Ditadura

Militar, penso que isso influenciou muito a metodologia aplicada nas aulas por meus

professores e, consequentemente minha memória afetiva em relação a este espaço de

ensino. Em algumas situações, principalmente quando queria expor os trabalhos dos

alunos, me dirigia até a vice-diretora para saber o local que poderia usar e ela

Page 110: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

109

perguntava se o material que utilizaria para colar iria manchar a parede. Agora, revendo

algumas situações vejo o quanto minha história de vida estudantil influenciou minha

história de vida profissional pois este período também era de aprendizagem.

Ao elaborar esta conclusão, refletindo minha prática, vejo o quanto cresci

profissional e pessoalmente. As situações vivenciadas fizeram com que eu passasse pela

experiência com um nível de ensino até então desconhecido como professora. Também

foi importante passar por situações que talvez eu não venha experienciar trabalhando

com o Ensino Fundamental, pois são próprios do universo adulto. Desde as propostas de

atividades com uso de materiais impossíveis de usar com crianças, como estilete, até os

debates maduros com as experiências de vida trazidas pelos alunos.

Trabalhar com o Ensino Médio me fez conhecer um aluno adulto, com outra

perspectiva de vida e educação. Realizar as atividades para este educando me fez

conhecer uma realidade que ha algum tempo eu tinha interesse em conhecer. Hoje,

tenho maior interesse em trabalhar com este tipo de aluno, pois percebi que há maior

interesse dele na busca do conhecimento. A partir das experiências deste estágio, passei

a ser uma profissional mais interessada em planejar uma boa aula e preocupada com a

metodologia para aplica-la de uma forma mais atrativa. Posso dizer que de tudo que

vivenciei o que mudou em mim foi o amadurecimento e a consciência profissional.

Page 111: Arte e cultura africana e afro-brasileira: Conhecer para respeitar

110

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