A LITERATURA DE TEMÁTICA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NOS

ACERVOS DO PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA (PNBE)

PARA EDUCAÇÃO INFANTIL

Mestra Tatiana Valentin Mina Bernardes

Dra. Eliane Santana Dias Debus

PPGE/UFSC - 2018

APRESENTAÇÃO

Estudo sobre os acervos do Programa

Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) para

Educação Infantil, nas suas quatro edições

(2008, 2010, 2012 e 2014).

O PNBE foi um programa do governo

federal que distribuiu livros literários

gratuitamente para as escolas públicas

brasileiras por 17 anos, de 1997 a 2014.

MOTIVAÇÃO

O PNBE, sendo um programa de política pública de

leitura com abrangência nacional, como os acervos

destinados à Educação Infantil, nas edições de 2008,

2010, 2012 e 2014, trazem os livros de literatura de

Temática Africana e Afro-brasileira?

OBJETIVO Mapear e analisar os livros de Literatura Infantil dos

acervos do PNBE que focalizam as culturas africanas e

afro-brasileiras, seja pelo conteúdo, temática africana e

afro-brasileira, ou pela representação, texto e ilustração.

O estado do conhecimento foi

realizado junto a:

Reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e

Pesquisa em Educação (ANPED) - Nacionais e Regionais Sul

Sistema de Bancos de Teses e Dissertações da Biblioteca

Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD - IBICT)

Sistema de Banco de Teses e Dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES)

Recorte: 2003 a 2016

Descritores: Literatura Infantil e Juvenil

Educação das Relações Étnico-Raciais na

Educação Infantil

MAPEAMENTO

Levantamos, 28 trabalhos relacionados à Literatura

Infantil e Juvenil e à Educação das Relações Étnico-

Raciais.

Encontramos quatro pesquisas relacionadas ao

acervo PNBE e à Educação das Relações Étnico-

Raciais na Educação Infantil (três dissertações e uma

tese).

METODOLOGIA

O estudo foi divido em três etapas:

1) seleção e análise das listas dos livros enviados pelo PNBE

destinados à Educação Infantil nos anos de 2008, 2010,

2012 e 2014;

2) seleção dos títulos que contemplem a literatura africana e

afro-brasileira e

3) leitura e análise dos 61 títulos que tratem da temática

africana e afro-brasileira.

Para o desenvolvimento das reflexões e construção dos

procedimentos de pesquisa, realizamos uma análise

quantitativa e qualitativa, de cunho bibliográfico e

documental.

REFERENCIAL TEÓRICO

1) Políticas públicas de leitura, a pesquisa apoia-se em Débora Cristina de Araújo (2010,

2015), Lívio Lima de Oliveira (2008), Célia Regina Delácio Fernandes (2004, 2007, 2013);

2) Educação Infantil, nos estudos de Anete Abramovicz e Fabiana de Oliveira (2010,

2012), Maria Aparecida Bento (2012), Eliane Cavaleiro (2007), Beatriz Cerisara (1999),

Lucimar Dias (2010, 2012), Kulmam Júnior (1999, 2012), Fúlvia Rosemberg (1985, 2007,

2012), Trinidad (2012);

3) Literatura e Literatura de Temática Africana e Afro-brasileira, recorre a Antõnio Candido

(1995), Eliane Debus (2007, 2009, 2012), Maria Cristina Soares de Gouvêa (2000),

Marisa Lajolo (2003), Maria Lajolo e Regina Zilberman (1985), Maria Anória de Jesus

Oliveira (2003), Souza (2001, 2003), Regina Zilberman (2003);

4) Educação das Relações Étnico-Raciais, nas pesquisas de Anete Abramovicz e Fabiana

de Oliveira (2010, 2012), Anete Abramovicz (2012), Débora Cristina de Araújo (2015),

Lucimar Dias (2005), Nilma Lino Gomes (2012), Joana Célia dos Passos (2012), Fabiana

de Oliveira (2004), Maria Aparecida da Silva Bento; Silvia Pereira de Carvalho e Hédio

Silva Júnior (2012).

ANÁLISES: O PROTAGONISMO NEGRO

EM FOCO

Dos 360 livros que compõe os quatro acervos,

encontramos 61 livros.

Para analisá-los, criamos duas categorias:

1) livros com a Temática da Cultura Africana e

Afro-brasileira na linguagem visual (ilustração) e

2) livros com a Temática da Cultura Africana e

Afro-brasileira na linguagem verbal (palavra).

Para as referências dos livros quanto à

linguagem visual (ilustração) ou

linguagem verbal (palavra), nos

apoiamos em Vera Teixeira de Aguiar

(2004); Helen Denise Daneres Lemos

(2010) e Flávia Ramos e Neiva Panozzo

(2011).

Livros com a temática da cultura africana e

afro-brasileira na linguagem visual: 56 livros

Divisão em três subcategorias:

1. Livros com personagens negras como

protagonistas: 21 livros

2. Livros com personagens negras como

coadjuvantes: 8 livros

3. Livros com personagens negras como

figurantes: 27 livros

Livros com a temática da cultura africana e afro

brasileira na linguagem verbal: 5 livros

Divisão em duas subcategorias:

1. Livros com a temática da cultura

africana na linguagem verbal: 2 livros

2. Livros com a temática da cultura afro-

brasileira na linguagem verbal: 3

livros

ALGUNS RESULTADOS

Subcategorias 2008 2010 2012 2014 Total

Personagens negras protagonistas

linguagem visual

3 10 5 3 21

Personagens negras coadjuvantes

linguagem visual

1 4 1 2 8

Personagens negras figurantes linguagem

visual

7 11 4 5 27

Temática da cultura africana linguagem

verbal

1 - 1 - 3

Temática da cultura afro-brasileira

linguagem verbal

- 1 1 - 2

Ano Total de Livros

distribuídos

Quantidade de livros Temática da Cultura

Africana e Afro-brasileira

2008 60 12

2010 100 26

2012 100 12

2014 100 11

Número de títulos é pequeno: dos 360 somente 61 livros

Necessidade de incluir mais livros na linguagem verbal

Dos 21 livros com personagens negras como protagonistas:

sete dividem o protagonismo com personagens brancas e 14

são protagonistas sozinhas.

Dos 35 livros com personagens negras como secundárias

(oito coadjuvantes e 27 figurantes): as personagens negras

aparecem em papéis subalternos e as ilustrações apresentam

imagens estereotipadas ou são representados com traços

semelhantes as personagens brancas.

Nas análises dos 61 livros analisamos

positivamente somente 12 livros

OUTROS RESULTADOS

Poucos autores e ilustradores negros.

Maioria dos livros, dentre os 61 analisados, foi editada nas cidades

de Belo Horizonte (MG), 16 livros, e São Paulo (SP), 34 livros.

Alguns autores e ilustradores tiveram mais de um livro contemplado

nos acervos das quatro edições.

Outras possiblidades de pesquisa:

Tematizar sobre o pertencimento racial dos autores e ilustradores;

Verificar o ano de publicação dos livros

Averiguar a região em que os livros foram produzidos e editados.

Levantar a produção literária anterior dos autores e ilustradores

Os 12 livros representam positivamente as personagens negras, seja em

relação ao fenótipo (características física, cabelo, cor da pele, entre outras),

como na representação do contexto do enredo (papéis sociais e participação

na narrativa). Mas Evidenciam uma lacuna no que se refere à inserção de

títulos sobre a temática, falta que não se justifica, uma vez que há uma

variedade de livros publicados pelo mercado editorial.

A maioria dos livros contemplados nos acervos do PNBE, o branco

predomina como uma referência de normalidade, promovendo uma visão

hegemônica.

Fortalecimento da ideia de que o negro é um sujeito inferior: sub-

representações e descrições negativas das características e traços das

personagens negras.

Representações que favorecem cada vez mais a perpetuação do

racismo e a naturalização da branquitude.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na maioria dos livros, o branco predomina como uma referência de

normalidade, promovendo uma visão hegemônica.

Fortalecimento da ideia de que o negro é um sujeito inferior: sub-

representações e descrições negativas das características e traços das personagens

negras.

representações que favorecem cada vez mais a perpetuação do racismo e a

naturalização da branquitude. Grande parte das ilustrações não apresentam as

características físicas do povo negro.

As personagens negras são pintadas com a cor marrom.

Tentativa de compor tipos de cabelos crespos, mas que diferem das

características reais do cabelo negro.

Alguns livros ainda apresentam as personagens negras com características

caricaturizadas: com traços extremamente exagerados, formato das bocas e narizes

desproporcionais e enormes; bocas extremamente vermelhas; expressões faciais

disformes; tons de pele matizados, cabelos descomunais, elementos carregados de

estereótipos racistas. Tais representações foram recorrentes.

ALGUNS QUESTIONAMENTOS

1) Por que o PNBE – como um programa de política pública de leitura que teve

como objetivo possibilitar a professores e alunos o acesso aos bens culturais,

por meio da distribuição gratuita de livros de literatura, do incentivo à leitura, e

da expansão de bibliotecas escolares – sabendo da existência da publicação

de textos literários que tematizam a cultura africana e afro-brasileira de

maneira positiva, não os contemplou nos acervos do programa?

2) Se a escolha e a seleção dos livros eram realizadas a princípio por um

conjunto de profissionais (mestres, doutores e profissionais da Educação)

e, a partir de 2006, ficou a cargo do CEALE (grupo de estudos para

alfabetização, leitura e escrita), com apoio de profissionais de 16 estados do

Brasil, vinculados a instituições públicas de Ensino Superior e a escolas

básicas, e temos, assim, um grupo de profissionais especializados e estudiosos

da literatura, porque, então, não priorizaram um número maior de títulos

com a Temática da Cultura Africana e Afro-brasileira?

3) Por que não foram mais criteriosos nas

análises, para vetar os livros com características

estereotipadas e elementos pejorativos,

preconceituosos e racistas?

CONCLUSÃO

O racismo não está na pauta de discussões e acaba sendo

reforçado.

Necessidade de mais atenção nas escolhas e seleções dos

livros para inclusão das questões raciais e também pensar

propostas no que se refere ao uso desses títulos nas instituições

beneficiadas.

Relevância da implementação de políticas públicas de leitura,

como o PNBE, que esteve em vigor por 17 anos, de 1997 a

2014.

[...] “A música forte do tambor invade as ruas e as cidades. Viaja nas ondas do ar”. (p.7) [...] “É a canção do povo negro”. (p. 11) [...] “Canção que veio da África e ecoou por todo canto do planeta”. (p. 13) [...] “toca a música da liberdade”. (p. 14) [...] “acorda, minha gente!” (p. 16) [...] “É hora de cantar a igualdade. É hora de curtir as diferenças. É hora de quebrar as correntezas do preconceito racial”. (p. 18, 19 e 20) (Trecho do livro Koumba e o tambor Diambê, de Madu Costa, 2009)

Obrigada!!!