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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Giuliano Dourado da Silva A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS SOB A LUZ DA LEI 11.232/2005 CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Giuliano Dourado da Silva

A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS SOB A LUZ DA LEI 11.232/2005

CURITIBA

2012

Giuliano Dourado da Silva

A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS SOB A LUZ DA LEI 11.232/2005

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas.

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

Giuliano Dourado da Silva

BACHAREL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, XX de Maio de 2012.

Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná

____________________________ Orientador: Prof. Marcelo Nogueira Artigas Instituição e Departamento _____________________________ Prof. Dr. Instituição e Departamento ____________________________ Prof. Dr. Instituição e Departamento

AGRADECIMENTO

“Primeiramente gostaria de agradecer e dedicar o presente trabalho a

minha família que proporcionou a possibilidade e a confiança necessária para continuar e finalizar este objetivo, agradecer minha namorada pelo

apoio e paciência incondicional que teve nestes longos anos da faculdade, agradecer meus amigos todos sem exceção pelo

companheirismo e que de alguma forma contribuíram para o meu bem-estar, agradecer todas as pessoas que de alguma forma contribuíram

para o meu crescimento intelectual e profissional, agradecer meu orientador pela paciência e tempo despendido para a elaboração do

presente trabalho e por fim agradecer a Deus pela oportunidade à vida e condições para torna-la cada vez sempre melhor ”

RESUMO

A presente monografia tem como discussão a aplicabilidade da lei

11.232/2005 no que tange à execução de alimentos e seu impacto sobre o

tema, uma vez que o legislador da referida lei omitiu-se a quando se tratasse

deste instituto. Com o disposto neste trabalho se verificará que as possíveis

imperfeiçoes ocasionadas pela omissão da lei não deve prosperar, uma vez

que a intenção da lei não foi excluir o procedimento alimentar.

Palavra Chave: Alimentos. Lei 11.232/2005. Execução, prisão civil.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................6 1 – ALTERAÇÕES NA EXECUÇÃO PROCESSUAL CIVIL INSERIDAS PELA LEI 11.232/2005......................................................................................8 1.1 Histórico .......................................................................................................8 1.1.1 Análise da Lei 11.232/2005 ....................................................................9 1.2 Liquidação de Sentença ...........................................................................10 1.3 Cumprimento de Sentença .......................................................................11 1.4 Impugnação – art. 475-L CPC ..................................................................13 1.5 Títulos Executivos Judiciais ......................................................................14 1.6 Execução Provisória – art. 475-O CPC ....................................................14 2 – ALIMENTOS .............................................................................................16 2.1 Histórico ....................................................................................................16 2.1.1 Características........................................................................................17 2.1.2 Reciprocidade.........................................................................................17 2.1.3 Irrepetibilidade .......................................................................................18 2.2 AÇÃO DE ALIMENTOS ............................................................................18 2.2.1 Valor da causa na ação de alimentos ....................................................19 2.2.2 Foro e Juízo competentes para as ações de alimentos ........................21 2.2.3 Dos alimentos definitivos, provisórios e provisionais .............................22 2.2.4 Extinção da obrigação alimentar ...........................................................24 3 – A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E SUA RECEPÇÃO NA LEI 11.232/2005 ....................................................................................................27 3.1 Título Executivo .........................................................................................27 3.1.1 Expropriação ..........................................................................................28 3.1.2 Desconto ................................................................................................30 3.1.3 O rito da coação pessoal .......................................................................33 3.2 ANÁLISE DA APLICABILIDADE DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI 11.232/2005 NA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS ............................36 3.2.1 Do principio constitucional .....................................................................36 3.2.2 Divergências à aplicabilidade da lei 11.232/2005 à execução de alimentos.........................................................................................................38 3.2.3 Considerações finais .............................................................................41 3.2.4 Tempo da prisão civil .............................................................................43 CONCLUSÃO .................................................................................................44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................46

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem o propósito de forma rápida demonstrar as

mudanças realizadas nas formas de execução por quantia certa com o

advento da lei 11.232/2005 (que alterou sobremaneira a execução de título

judicial por meio de processo autônomo). Tal lei efetuou mudanças no Livro II

do Código de Processo Civil, que trata “Do Processo de Execução”, unindo de

certa forma o processo de conhecimento ao processo de execução, pois após

a sentença que determinar o pagamento de quantia certa o credor não mais

utilizará a via autônoma de execução de título judicial e sim por meio

incidental utilizando-se do cumprimento de sentença que será peticionado nos

mesmos autos da ação de conhecimento.

Todavia o foco central do trabalho é de demonstrar que, por mais que

a referida lei tenha silenciado no que tange ao Capitulo V, Titulo II, Livro II do

CPC, que trata “DA EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA”, e de que

boa parte da doutrina e opiniões partilham do pressuposto da não

aplicabilidade da lei quando se tratar de obrigação alimentar, a referida lei

pode e deve ser aplicada à Execução de alimentos. Tratando-se da natureza

dos alimentos, estes, devem ser cobrados pelo meio mais ágil e célere.

Leonardo Grecco diz que “O fato de a lei ter silenciado sobre a execução de

alimentos não pode conduzir à idéia de que a falta de modificação dos arts.

732 a 735 do CPC impede o cumprimento da sentença”.

A presente monografia também trata sobre o rito especial da prisão

civil do devedor de alimentos no caso do não pagamento da prestação

alimentícia, cabendo ao credor a possibilidade e escolha de cobrar os

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alimentos definitivos por meio do cumprimento de sentença ou por força do

art. 733 do Código de Processo Civil, sendo que, se for a sentença definitiva,

será pela via incidental, seja pelo Cumprimento de Sentença, seja pela

coerção do art. 733 do CPC, porém, quando se tratar de sentença passível de

Recurso que não dispõe de efeito suspensivo, aí o cumprimento dependerá

de execução provisória, alertando que a possibilidade da prisão civil do

devedor de alimentos só será possível com relação às 3 (três) últimas

parcelas devidas pelo alimentante e que, existindo divida pretérita o credor

deverá se utilizar do que dispõe o art. 475-J do CPC (Cumprimento de

Sentença), introduzido pela Lei 11.232/2005.

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1 - CAPITULO ALTERAÇÕES NA EXECUÇÃO PROCESSUAL CIVIL INSERIDAS PELA LEI 11.232/2005 1.1 Histórico

A Lei 11.232/2005 de 22 de dezembro de 2005, originária do Projeto

de Lei nº 3.253/2004, foi sancionada com o objetivo de alterar a o Código de

Processo Civil para estabelecer a fase de Cumprimento de Sentença nos

processos de conhecimento e regrar as formas de execução de títulos

judiciais e/ ou extrajudiciais.

Como já dito no introdutório deste trabalho, antes ao advento da

referida lei, aquele que buscasse a satisfação total de uma obrigação já

reconhecida em um processo de conhecimento, se fazia compelido a iniciar

uma nova batalha judicial, para que fosse cumprido algo que já havia sido

decidido. Esta nova disputa judicial se repetia, porque era necessário que a

parte vencedora em um processo de conhecimento ingressasse com um

processo autônomo de execução para cumprimento da sentença judicial

originada daquele processo de conhecimento.

Neste “novo” processo, eram discutidos por vezes pontos

desnecessários que só faziam por procrastinar o adimplemento da obrigação,

como por exemplo, uma nova sentença incidental dentro de um processo de

conhecimento que já havia uma sentença. Por tal deixa, o devedor se fazia

valer de recursos utilizáveis no processo de conhecimento e que acabara por

procrastinar o desejo do credor em ter seu direito assistido.

Diante desta real demora que nosso judiciário se valia e com os

anseios da sociedade por uma forma mais célere aos processos, fez com que

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nosso legislador percebesse a necessidade de uma mudança, resultando na

edição da Lei 11.232/2005.

1.1.1 Análise da Lei 11.232/2005

A análise que se faz necessária é demonstrar os principais pontos

alterados pela Lei 11.232/2005 no processo de execução. De primeiro

momento, em seu artigo 1º a Lei alterou os artigos 162, 267, 269 e 463 do

Código de Processo Civil. Esta alteração extinguiu o antigo conceito de

sentença, para que se adequasse melhor a nova forma do processo

executório.

No segundo artigo da Lei, foram introduzidos os artigos 466-A, 466-B

e 466-C, que nada mais são do que reprodução literal dos artigos 639, 640 e

641 revogados pela mesma lei, porém o que houve, foi a exclusão destes do

Capítulo III do CPC, e a inclusão daqueles no Capítulo VII do mesmo código.

O artigo 3º da lei inseriu os artigos 475-A ao 475-H, estes foram

introduzidos no Capítulo IX. Ressalta-se que estes artigos em sua grande

maioria são reproduções parciais dos revogados artigos 603 a 610 que faziam

parte do Capítulo VI, antigo capítulo que tratava a liquidação de sentença.

Cumpre informar que o artigo 475-H foi o excluído de reprodução literal dos

artigos acima mencionados.

Já no artigo 4º foram criados os artigos 475-I ao 475-R, e o mais

importante para o presente trabalho, pois alterou de forma diversa o

Cumprimento de Sentença introduzido ao Capítulo X do Código de Processo

Civil.

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Os demais artigos da Lei alteraram algumas formas de procedimentos

como os embargos à execução contra fazenda pública e a redação do art.

1.102-C do Código de Processo Civil, tais alterações se mostram importantes,

porém não relevantes para o presente trabalho.

Entretanto, a Lei 11.232/2005 omitiu-se completamente no que tange

a execução das prestações alimentícias, pois não fez nenhuma alteração nos

artigos 732 a 735 do Código de Processo Civil, gerando pontos controversos

entre doutrinadores e jurisprudências, tema a ser debatido por este trabalho.

1.2 Liquidação de Sentença

Conforme já dito, a Lei 11.232/2005 alterou a tratativa da liquidação

de sentença, com o acréscimo dos artigos 475-A ao 475-H, compondo o

Capítulo IX do Código de Processo Civil. Tal mudança fez com que a

liquidação se tornasse uma nova fase processual após a sentença, que tem

como finalidade apurar os valores e/ ou obrigações de fazer ou não fazer em

que o devedor deveria adimplir, quando esta não for determinada na

sentença, conforme prevê o art. 475-A.

Outra importante mudança foi o disposto no parágrafo primeiro do art.

475-A, que passou a determinar que do requerimento da liquidação de

sentença não é mais necessário a citação do réu, e sim a mera intimação do

mesmo na pessoa de seu advogado.

É importante ressaltar que a liquidação de sentença só se faz

necessária quando não está claro o objeto ou valor que o devedor deverá

adimplir, pois se a condenação depender apenas de cálculo aritmético, aí o

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credor deverá requerer a satisfação da obrigação pela via do Cumprimento de

Sentença, conforme prevê o art. 475-B.

O art. 475-C, determina que só haverá a liquidação por arbitramento

quando for determinado na sentença ou convencionado entre as partes e

quando o objeto da liquidação exigir por sua natureza, onde será nomeado

perito pelo Juiz, que apresentará laudo sobre o qual as partes poderão se

manifestar no prazo de dez dias.

Salienta-se, que da decisão da liquidação de sentença o recurso

cabível é o de Agravo de Instrumento, conforme prevê o art. 475-H do CPC.

1.3 Cumprimento de Sentença

Anterior à implementação da Lei 11.232/2005, a execução por quantia

certa era regulada pelo Capítulo IV do Código de Processo Civil, onde não

existia nenhuma diferença entre processo executivo de título judicial e de

título extrajudicial. Com o advento da Lei, criou-se o Capítulo X no Código de

Processo Civil, que passou a tratar sobre o Cumprimento de Sentença,

regulado pelos artigos 475-I ao 475-R, onde se determinou que a execução

de título judicial passasse a ser uma fase do processo, não sendo mais

necessária a instauração de processo autônomo para satisfação de direito já

reconhecido.

Sobre o tema leciona Athos Gusmão Carneiro:

A sentença condenatória, pela Lei 11.232, passou a ser também de prevalecente eficácia executiva, ou seja, autoriza o emprego imediato dos meios executivos adequados à efetiva “satisfação” do credor, sem que a parte vencedora necessite ajuizar nenhum outro processo, sucessivo ou autônomo. (CARNEIRO, 2006, p.20-21).

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Ou seja, iniciado o processo de conhecimento, e havendo uma

sentença, a parte vencedora passa para uma nova fase no mesmo processo.

Sendo a sentença ilíquida passa para liquidação de sentença, sendo uma

condenação determinada, para o Cumprimento de Sentença.

Importante trazer à tona o disposto no art. 475-J implementado pela

Lei em questão, nela determinou-se que o devedor condenado ao pagamento

de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o fizer no prazo de 15

(quinze) dias, independentemente de intimação, acarretará multa de 10% no

montante da condenação.

O legislador entendeu que, para uma efetividade maior da lei, se o

devedor não pagar de maneira voluntária o que lhe foi incumbido em uma

sentença, até o prazo de 15 (quinze) dias, deve ser penalizado com a multa

disposta no artigo 475-J, para garantir a finalidade da edição da lei, ou seja, a

celeridade e economia processual.

Apesar do texto da lei induzir à idéia de que a sanção pecuniária

ocorreria de forma automática, o STJ já se pronunciou a respeito com

entendimento contrário à redação da lei, afirmando que se faz necessário a

intimação do devedor na pessoa de seu advogado.

Vejamos o que diz o entendimento do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. LEI N. 11.232, DE 23.12.2005. CUMPRIMENTO DASENTENÇA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. JUÍZO COMPETENTE.ART. 475-P, INCISO II, E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. TERMO INICIAL DO PRAZO DE 15 DIAS. INTIMAÇÃO NA PESSOA DO ADVOGADO PELAPUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL. ART. 475-J DO CPC. MULTA.JUROS COMPENSATÓRIOS. INEXIGIBILIDADE.

1. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado da decisão. De acordo com o art. 475-J combinado com os arts. 475-B e 614, II, todos do CPC, cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da

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decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo discriminada e atualizada.

2. Na hipótese em que o trânsito em julgado da sentença condenatória com força de executiva (sentença executiva) ocorrer em sede de instância recursal (STF, STJ, TJ E TRF), após a baixa dos autos à Comarca de origem e a aposição do "cumpra-se" pelo juiz de primeiro grau, o devedor haverá de ser intimado na pessoa do seu advogado, por publicação na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de quinze dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará a incidir sobre o montante da condenação, a multa de 10% (dez por cento) prevista no art. 475-J,caput, do Código de Processo Civil.

3. O juízo competente para o cumprimento da sentença em execução por quantia certa será aquele em que se processou a causa no Primeiro Grau de Jurisdição (art. 475-P, II, do CPC), ou em uma das opções que o credor poderá fazer a escolha, na forma do seu parágrafo único – local onde se encontram os bens sujeitos à expropriação ou o atual domicílio do executado.

4. Os juros compensatórios não são exigíveis ante a inexistência do prévio ajuste e a ausência de fixação na sentença.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (Resp. nº 940.274 – MS (2007/0077946-1).

1.4 Impugnação – art. 475-L CPC

É garantido ao devedor no Cumprimento de Sentença, a Impugnação

disposta no art. 475-L. Tal artificio mostra mais uma vez que a Lei

11.232/2005 baseia-se na celeridade do processo, inovando no sentido de

trazer a tona a Impugnação ao Cumprimento de Sentença, para questionar

pontos que anteriormente só podiam ser debatidos pelos Embargos à

Execução.

A impugnação deverá ser apresentada no prazo de quinze dias, a

contar da intimação do auto de penhora e avaliação, conforme determina o

art. 475-J, § 1º do CPC.

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As matérias que podem ensejar a Impugnação estão dispostas nos

incisos do art. 475-L, que elenca as situações que serão aceitas a

impugnação.

1.5 Títulos Executivos Judiciais

O artigo 475-N introduzido pela Lei 11.232, elencou em seus incisos

os títulos executivos judiciais, o que se mostra muito importante, pois a partir

daí a parte que tiver em seu poder um título executivo judicial poderá buscar

sua satisfação pela via mais célere que a Lei implementou.

Um título executivo judicial que se mostra importante citar é o que

está disposto no inciso I do referido artigo, que é a sentença proferida no

processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer,

entregar coisa ou pagar quantia. Esse título é o resumo da Lei 11.232/2005,

pois a partir da sentença que determinou a obrigação, a parte já pode

requerer seu cumprimento, sem a necessidade de um processo autônomo

para a execução daquele título.

1.6 Execução Provisória artigo 475-O

O artigo 9º da lei 11.232/2005 revogou o artigo 588 do CPC, que

regulava a execução provisória e inseriu o artigo 475-O que trouxe com ele

algumas consideráveis novidades no que tange a esta matéria.

Vejamos o que diz o artigo 475-I, § 1º do CPC abaixo transcrito:

“Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo

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§ 1º É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo”.

No entanto o que se pode observar é que a execução provisória será

utilizada “no que couber” o mesmo modo que a definitiva, sendo necessário

que já se tenha uma sentença da execução que foi impugnada sem o efeito

suspensivo.

A iniciativa para a execução provisória é exclusivamente do

exeqüente que será responsável a reparar os danos que o executado possa

vir a sofrer, no qual será liquidado por arbitramento, caso venha a ocorrer a

modificação ou a reforma do titulo em grau de recurso.

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2 – CAPÍTULO

ALIMENTOS

2.1 Histórico

A lei que sempre regulou as relações familiares, sempre refletiu no

tema alimentos. Antigamente o poder familiar, que era conhecido como pátrio

poder, era exercido pelo homem, ou seja, ele era o mentor da família e da

sociedade conjugal, sendo de sua exclusiva obrigação a subsistência de seus

dependentes (esposa e filhos).

Em nosso Código Civil de 1916, os filhos havidos fora do casamento

não eram reconhecidos, logo não tinham direito a reconhecimento de

paternidade e muito menos o direito de alimentos para prover seu sustento, o

que de fato, beirava um absurdo, neste sentido leciona Maria Berenice Dias

(DIAS, 2006):

Somente 30 anos após, foi permitido ao filho de homem casado promover, em segredo de justiça, ação de investigação de paternidade, apenas para buscar alimentos.

Os 30 anos depois que a doutrinadora se refere é a Lei 8.883/1949,

que permitiu ao filho espúrio o ingresso da ação de investigação de

paternidade, porém somente para buscar alimentos e não o reconhecimento

parental. Só foi admitido o reconhecimento dos filhos no Brasil, com o advento

da Lei 7.841/89, após a Constituição Federal.

A partir de então o encargo alimentar começou a ser levado a sério no

Brasil. Existindo a necessidade de um filho ou ex-cônjuge de alimentos,

aquele que tivesse a obrigação, ou melhor, a condição deveria prestar a

assistência.

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2.1.1 Características

As características dos alimentos comportam classificações diversas.

Podem ser devidos por vínculo de parentalidade, afinidade e até por dever de

solidariedade. O objetivo principal dos alimentos é preservar a vida de quem

necessita dos mesmos, pois de acordo com a Constituição, a prestação de

alimentos não diz respeito somente ao particular, mas à sociedade em geral.

Neste sentido, leciona Yussef Said Cahali (CAHALI, 2006):

O direito a alimentos não pode ser objeto de transação ou renúncia, sendo restrita a vontade individual nas convenções a seu respeito.

Outra característica importante dos alimentos é a diferença de

obrigação alimentar de dever de sustento, a segunda diz respeito à obrigação

do poder familiar em sustentar o filho menor, e a primeira refere-se à

obrigação alimentar que existe independente de ter cessado o poder familiar

ou pela maioridade. As mudanças da natureza não ensejam o fim da

obrigação, pois esta precisa ser desconstituída judicialmente, em

conformidade com a Súmula 358 do STJ.

2.1.2 Reciprocidade

Em tese, a obrigação alimentar deve ser recíproca entre os cônjuges,

companheiros e parentes, em conformidade com o art. 1.694 e 1696 do

Código Civil.

O fator sempre levado em conta é a necessidade de um frente a

possibilidade de outro, podendo até mesmo um dia o credor alimentar se

tornar devedor, essa reciprocidade é baseada no dever de solidariedade.

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Conforme já dito, com relação aos alimentos que dependem do poder

familiar, que é a obrigação dos pais ou de quem detém o poder familiar em

prestar alimentos ao filho e/ ou dependente menor, estes não há o que se

falar em reciprocidade. Porém, a partir do momento em que estes

dependentes atingirem a maioridade surge a obrigação alimentar recíproca

em razão do vínculo parental.

2.1.3 Irrepetibilidade Importante trazer a tona o princípio da irrepetibilidade, pois apesar de

não ter nenhuma previsão no ordenamento jurídico é um principio pacífico na

doutrina e jurisprudência, além de ser de extrema importância.

A finalidade deste princípio é deixar claro que como a verba alimentar

serve para garantir a vida de quem necessita, impossível requerer em algum

tempo a devolução de valores despendidos para tal.

Ressalta-se, que mesmo vindo a ser o vínculo de paternidade

desconstituído, não cabe a restituição de alimentos. O único caso

extraordinário que poderá caber a restituição é no caso de comprovada má-fé

do credor de alimentos.

2.2 AÇÃO DE ALIMENTOS

A ação de alimentos é a via judicial para o credor de alimentos

satisfazer sua necessidade frente a possibilidade de quem lhe deve ou

deveria prestar alimentos. No ordenamento jurídico brasileiro se impõe que a

ação tenha rito diferenciado e mais célere, pois se houver prova concreta o

vinculo parental e/ ou da obrigação alimentar, é possível usar a via mais

célere para adimplemento do encargo alimentar.

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A legitimidade para ação de alimentos, enquanto menor ou incapaz,

se faz por quem detém sua guarda, na maioria dos casos práticos pela

genitora. Nos casos em que o credor de alimentos for relativamente capaz,

faz-se necessário a sua anuência no processo para a cobrança dos

alimentos.

Existe uma controvérsia em torno da natureza de titularidade em ação

alimentar relativa ao estado das pessoas, mais propriamente ao estado de

família, definindo-as entre as chamadas questões prejudiciais. Neste sentido

leciona Yussef Said Cahali (CAHALI, 2006):

Nela sempre está virtualmente compreendida uma questão relativa ao estado do reclamante, quer a respectiva ação seja proposta como principal, quer a questão de estado que a legítima tenha sido suscitada incidentemente, pois o direito aos alimentos depende em ultima análise do reconhecimento da existência de um liame de parentesco ou matrimonial, que se coloca como questão prejudicial e dá suporte jurídico à pretensão.

Desta forma, as opiniões que tratam a ação de alimentos como

meramente pessoais devem ser descartadas, pois nelas também devem ser

suscitadas as chamadas questões prejudiciais.

2.2.1 Valor da causa na ação de alimentos

No sistema do CPC de 1939, tinha-se que o valor da causa não

constituía requisito indispensável da ação de alimentos – no pressuposto de

tratar-se de ação de estado, considerava-se irrelevante a omissão, pois o

valor da causa não alteraria a competência recursal. (1ª Câmara Cível, TJSP,

28.08.1973, RJTJSP 26/237).

Todavia, o Código de Processo Civil em vigor dispõe em seu art. 259

o seguinte:

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Art. 259 – O valor da causa constará sempre da petição inicial e será: [...] VI – na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais, pedidas pelo autor;

Desta forma, fica determinado o disposto no Código de Processo Civil

para os efeitos práticos, apesar de esta determinação ter divergências

doutrinarias. Alguma das criticas ao dispositivo são no sentido de que o

mesmo resultado seria alcançado através da regra geral, disposta no art. 260

do Código de Processo Civil, com o adendo de que não existe nenhuma regra

sobre a competência em razão do valor da causa, não havendo assim motivo

para fixação especifica do valor na ação de alimentos.

Importante ressaltar, que nos casos que o valor da causa foi dado

apenas para efeitos fiscais, o valor apontado não servirá de fundamento para

a fixação da pensão, podendo ser fixado na sentença valor superior à aquele,

e não caracterizar julgamento ultra petita. Todavia, se o valor da causa

mostrar-se evidentemente exagerado, somente em função do disposto no art.

259, inc. VI do Código de Processo Civil, sem demonstrar de fato a

possibilidade do alimentante em arcar com tal pensão devida, a jurisprudência

tem determinado a aplicação do disposto no art. 261 do Código de Processo

Civil, que diz:

Art. 261 – O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o Juiz, sem suspender o processo, servindo-se, quando necessário, do auxílio do perito, determinará, no prazo de 10 (dez)dias, o valor da causa. Parágrafo único – Não havendo impugnação, presume-se aceito o valor atribuído à causa na petição inicial.

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Desta forma, cabe por vezes o devedor de alimentos, demonstrar sua

possibilidade real para que futuramente não lhe venha recair ônus derivados

da obrigação da prestação alimentar. Todavia, o quantum que se toma como

base para fixação do valor da causa, não será unânime, podendo, no decorrer

do processo, a fixação do valor da pensão tomar outro rumo.

2.2.2 Foro e juízo competentes para as ações de alimentos O artigo 100 do Código de Processo Civil, em seu inc. II, determina

que o foro competente para ação de alimentos é o do domicílio ou residência

do alimentado. Não importando se a demanda foi proposta pelo credor ou

pelo devedor de alimentos. Até mesmo a ação de oferta de alimentos deve

ser distribuída onde o alimentado reside.

Neste sentido Yussef Said Cahali (CAHALI, 2006), diz que “Apesar de

não haver expressa referência na lei civil, a obrigação alimentar é portable, ou

seja, deve ser oferecida pelo devedor no domicílio do credor.” Importante

trazer a tona, de que como o privilégio do foro é assegurado em benefício do

alimentando, pode ele abrir mão dessa prerrogativa e ingressar com o pedido

de alimentos no domicílio do alimentante. Em suma, a competência do foro

para ação de alimentos será de escolha do alimentando.

Se tratando de cumprimento de sentença, o credor de alimentos pode

invocar a regra do art. 475-P, introduzido pela Lei 11.232/2005, podendo optar

pelo juízo onde se encontram os bens do executado, ou seu domicílio. No que

tange à cumulação de alimentos, Maria Berenice Dias (DIAS, 2010) diz que:

“Ainda que haja cumulação de ações, prevalece o foro privilegiado do alimentando. Quando se trata de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, o tema encontra-se sumulado

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pelo STJ. Assim, também nas demandas de divórcio, anulação de casamento e dissolução de união estável. Havendo pleito alimentar, fixa-se a competência da sede do juízo de quem pede alimentos.”

Ou seja, qualquer ação que envolva pedido de alimentos, cumulados

ou não, usufruirá do foro privilegiado. A Súmula que a eminente doutrinadora

faz menção é a Súmula 1 do STJ, que diz que “O foro do domicílio ou da

residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de

paternidade, quando cumulada com a de alimentos.”

Ressalta-se, que quando tratarmos de idoso (EI 80), ou de crianças e

adolescentes (ECA), estes gozam de privilégio absoluto de foro,

independente, no caso do idoso, em ser credor ou devedor de alimentos.

2.2.3 Dos alimentos definitivos, provisórios e provisionais

No que tange a alimentos provisionais, Yussef Said Cahali (CAHALI,

2006) diz:

Entende-se por alimentos provisionais aqueles concedidos provisoriamente ao alimentário, antes ou no curso da lide principal. No pressuposto de que são concedidos também para atender às despesas do processo, são chamadas alimenta in litem, provisão ad litem ou expensa litis.

Diante disto, temos que a medida provisional visa a preservação de

um estado momentâneo de urgência ou assistência, mesmo a demanda de

cognição sumária estando incompleta.

Importante ressaltar a advertência do ilustre professor Ovídio Baptista

da Silva (SILVA, 1979) que diz “que nem tudo o que é provisório é cautelar,

assim como nem tudo o que é cautelar é provisório”.

23

A concessão de alimentos provisionais ocupa um lugar exclusivo nas

chamadas medidas cautelares, por mais que os alimentos desempenhem

uma função no mesmo sentido, ela não pode se misturar com os demais

provimentos cautelares. Conforme diz Lopes da Costa, citado por Maria

Berenice Dias (DIAS, 2010), “a providência, aqui, não visa a garantir a futura

satisfação de um direito, pois tende desde logo a realizar a pretensão (venter

non partitura dilationem)”.

A jurisprudência também tem se manifestado a respeito:

“Extraem-se da doutrina as características dos alimentos provisionais: representam uma entidade cautelar autônoma, a que corresponde uma forma de prestação jurisdicional específica; a sua concessão não antecipa os efeitos da decisão definitiva da lide; a decisão provisional e a sentença definitiva não terão necessariamente o mesmo conteúdo, uma vez que se fundam em pressupostos diversos de direito material. (1ª Câmara Cível, Ap. Cível 23.244 TJPR)”.

Destarte, a finalidade dos alimentos provisionais não é a prevenção e

sim a necessidade, sendo satisfativa a partir do momento que são atribuídos

ao interessado.

No que tange a pretensão de alimentos provisórios também pode ser

deferido a título de medida protetiva de urgência, pois tanto provisório quanto

provisional pertencem à categoria de alimentos antecipados. Todavia, nos

termos do art. 4º da Lei de alimentos, os alimentos provisórios são

estabelecidos na propositura da ação de alimentos, ou em momento posterior,

mas sempre antes da sentença, enquanto os provisionais são deferidos em

ação cautelar ou nos casos de ação de divórcio, anulação de casamento e

reconhecimento de união estável, com a finalidade de garantir a manutenção

da parte ou de financiar a demanda.

24

Os alimentos provisórios devem ser pagos desde o momento em que

o juiz os fixa, são devidos até mesmo que eventualmente, venham a ser

modificados no curso do processo, por sentença ou recurso. Importante

ressaltar que os alimentos provisórios são condicionados às necessidades do

alimentando e às possibilidades do alimentante.

Tratando-se de alimentos provisórios, a sentença poderá mantê-los,

majorá-los ou reduzi-los, como até mesmo decretar a perda do direito de

alimentos, que tinha sido deferido anteriormente a sentença. Todavia,

independente do curso da demanda, os alimentos provisórios fixados serão

devidos até a decisão final.

Por fim, quando se falar em alimentos definitivos, como o próprio

nome diz, conta a partir do trânsito em julgado da sentença que os fixou.

Sendo definitivos até algum fato superveniente que possa vir a modifica-los. O

alimentante terá a obrigação de prestar os alimentos ao alimentando, no

quantum definido a título de definitivos.

2.2.4 Extinção da obrigação alimentar

No que tange a extinção da obrigação alimentar, primeiramente,

importante fazer distinção entre a cessação e extinção do dever alimentar. Na

primeira, cessa o dever de alimentar, porém a obrigação permanece, ou seja,

é quando por algum fato superveniente o alimentante não poderá adimplir

com a obrigação alimentar, e por algum momento essa obrigação seja

cessada, porém, não extinta.

Na hipótese em que haja uma alteração de riqueza temporária do

alimentante, tornando impossível o pagamento dos alimentos, aí ocorrerá a

25

cessação. A extinção da obrigação alimentar atinge diretamente a relação

jurídica de direito material, ou seja, com fatos que nosso ordenamento jurídico

prevê a desobrigação do dever de alimentar, casos como novo casamento do

credor de alimentos ou sua morte.

Neste sentido, leciona Maria Berenice Dias (DIAS, 2010):

“Tal ocorre quando de novo casamento do credor ou no caso de sua morte. A maioridade do filho autoriza a cessação do encargo alimentar. Mister que o alimentante requeira judicialmente a exoneração, o que pode ocorrer nos mesmos autos em que os alimentos foram fixados”.

Desta forma, podemos interpretar que no caso de casamento, união

estável ou morte do credor de alimentos extingue a obrigação alimentar do

devedor de alimentos, e no caso de maioridade ou fato superveniente que

impeça a prestação alimentícia, cessa o dever de prestar alimentos.

Entende-se que o novo casamento ou união estável do credor de

alimentos extingue a obrigação alimentar, pelo fato deste novo vínculo estar

presente o dever de mútua assistência, presumindo-se o fim da necessidade

do credor. Lembrando que, quando se tratar de alimentos pelos pais em favor

dos filhos, esta linha de raciocínio não pode ser levada com muito rigor.

Se tratando de concubinato do credor de alimentos, também leva a

desoneração do dever de alimentos pelo alimentante, porém, este assunto

leva a algumas discussões doutrinárias, uma vez que a própria jurisprudência

nega o dever de mútua assistência no concubinato, pelo fato de que tal ato

não configura entidade familiar, não existindo obrigação alimentar. Assim,

cessando os alimentos pelo fato do credor cometer ou manter relação

concubinária pode levar a uma discrepância relevante. Maria Berenice Dias

(DIAS, 2010) diz sobre o assunto: “Reconhecer que o concubinato leva à

26

extinção do crédito alimentar tem nítido caráter punitivo e afronta a liberdade

sexual do alimentando”.

Existe mais um ponto em que o legislador busca punir o credor de

alimentos e exonerar o devedor da obrigação alimentar, que é quando ocorre

o procedimento indigno, nos termos do art. 1.708, parágrafo único do Código

Civil, sendo aí que o concubinato passa a ser um fator de desoneração da

obrigação alimentar, por se tratar de postura indigna. Todavia existem

entendimentos que a liberdade afetiva do credor de alimentos não pode ser

considerado postura indigna, ainda mais que com o término do casamento,

não mais persiste o dever de fidelidade.

27

3 – CAPÍTULO

A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E SUA RECEPÇÃO NA LEI 11.232/2005

3.1 Título Executivo

A forma de a obrigação alimentar se tornar um título executivo e ser

passível de execução se faz por duas maneiras. A primeira judicialmente por

decisão interlocutória ou sentença, tornando-a um título executivo judicial,

podendo o credor a partir de então requerer o cumprimento de sentença. A

segunda é a extrajudicial, que seria a obrigação alimentar lavrada por

escritura pública, documento público assinado pelo devedor de alimentos ou

documento particular firmado pelo devedor e por duas testemunhas nos

moldes do art. 585, inc. II do Código de Processo Civil.

Conforme já dito após a sentença que constituiu um título executivo

judicial, seja ela definitiva ou não, dá ensejo à fase de cumprimento de

sentença. Com o advento da Lei 11.232/2005, extinguiu-se a execução dos

títulos executivos judiciais, sendo substituído pelos mecanismos mais céleres

que a lei implementou.

Com a reforma no Código de Processo Civil, ocorreu a alteração da

eficácia da sentença que definia obrigação alimentar, passando de

condenatória para executiva. Não tem cabimento usar o rito revogado de

execução de título executivo judicial pelo simples fato da omissão do

legislador quanto aos artigos 732 a 735 do Código de Processo Civil.

Neste sentido, brilhantemente leciona Maria Berenice Dias (DIAS,

2010):

“Claro que os créditos alimentares não podem ser afastados dessa possibilidade de cobrança pelo simples fato de o legislador ter se

28

olvidado de proceder à alteração no título que trata da execução de alimentos (CPC 732 a 735)”.

Vale lembrar que não só as sentenças, mas também as decisões

interlocutórias que fixam alimentos provisórios e provisionais são passiveis de

cumprimento. Se a ação de alimentos estiver em andamento far-se-á em

autos apartados.

No que tange aos títulos executivos extrajudiciais, estes, não

dependem de homologação judicial. Anteriormente, em títulos extrajudiciais

que envolviam alimentos só se admitia a execução pelo rito da expropriação

(art. 732 CPC), e sem qualquer motivo aparente, negava-se na execução de

título extrajudicial o rito da coação pessoal (art. 733 Código de Processo

Civil), somente pelo fundamento de que esse rito só era possível se tal título

fosse derivado de sentença ou decisão judicial.

No entanto, a Lei 8.953/94, ao alterar o inciso II do art. 585 do Código

de Processo Civil, aumentou a gama de títulos executivos extrajudiciais.

Referida lei também foi omissa no que tange à execução de alimentos,

porém, se aplica a mesma regra da Lei 11.232/2005, ou seja, tal omissão não

pode afastar o uso dos meios legais para a busca do crédito alimentar e muito

menos impedir o uso de vias legais para a cobrança do débito.

3.1.1 Expropriação

A tutela da obrigação alimentar se faz por meio de três mecanismos: o

desconto (art. 734 do CPC), a expropriação (art. 646 do Código de Processo

Civil) e a coação pessoal (art. 733 par. 1 do Código de Processo Civil).

Falando um pouco da expropriação, esta é viável para a cobrança de

débitos alimentares vencidos há mais de 3 (três meses), independente do

29

título ser judicial ou extrajudicial. Proposta a execução pela modalidade de

expropriação, o credor de alimentos indicará bens a serem penhorados e ao

despachar a inicial, o juiz já determinará o cumprimento e fixará o pagamento

dos honorários advocatícios. O réu será citado para em 3 (três) dias efetuar o

pagamento da dívida, se a fizer neste prazo, a verba honorária anteriormente

definida é reduzida pela metade (Art. 652-A, parágrafo único, CPC), e se não

o fizer, o oficial de justiça procederá a penhora e à avaliação dos bens, dando

preferência a penhora de dinheiro.

A forma atual mais praticada, para efetivar essa preferência é por

meio da penhora on-line, que é a possibilidade da constrição de dinheiro em

depósito de conta corrente ou aplicação financeira em nome do executado. O

juiz só pode determinar a penhora on-line a requerimento do exequente, o

que será feito por meio de requerimento ao Banco Central – BACEN, por via

do aplicativo denominado Bacenjud, se existir ativos em nome do executado,

no mesmo ato será bloqueado os valores relativos à dívida. Importante

ressaltar, que se o juízo à que se requer a penhora on-line, não estiver

conveniado ao referido aplicativo, a penhora se dará via ofício. Salienta-se

que nenhum Juiz é obrigado a conveniar-se ao Bacenjud, conforme decisões

pacíficas no TJ/PR. Segue:

Agravo de instrumento. Penhora on-line. Magistrado não está obrigado à utilização do convênio. Ausência de obrigatoriedade legal. Decisão mantida. Recurso desprovido. (4183724 PR 0418372-4, Relator: Joatan Marcos de Carvalho, Data de Julgamento: 17/10/2007, 16ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 7483)

30

Todavia, nem sempre ocorrendo a penhora on-line, ocorrerá

necessariamente a constrição de dinheiro, podendo ocorrer penhora de cotas

sociais, imóveis e veículos ou outra coisa que ocorra de forma eletrônica, que

se comunique com o serviço da penhora on-line.

Neste sentido, leciona Maria Berenice Dias (DIAS, 2010):

“Proceder à penhora, por meio eletrônico, atende aos princípios da efetividade, máxima utilidade da execução ao credor e menor onerosidade ao devedor (CPC 620). Do mesmo modo não afronta quer o princípio do contraditório quer o da ampla defesa”.

Iniciada a execução, no prazo de 15 (quinze) dias da juntada aos

autos do mandado de citação, caberá ao executado a faculdade de oferecer

embargos (art. 738, CPC), independente de penhora, depósito ou caução (Art.

736, CPC). Ressalta-se que os embargos não tem efeito suspensivo e se no

prazo dos embargos, o executado proceder o depósito de 30% do valor da

execução, poderá requerer o parcelamento do saldo em até seis parcelas

mensais, nos termos do art. 745-A do CPC.

Se rejeitados os embargos opostos, o bem penhorado é vendido em

hasta pública, vertendo o valor da arrematação para o credor. O crédito

alimentar tem preferencia absoluta neste caso.

3.1.2 Desconto

Determinada a obrigação alimentar, e não cumprida esta

determinação, cabe ao credor executar as dividas alimentares do alimentante.

Cumpre informar que a lei dá preferência a modalidade de desconto (art. 734

CPC), que é a retenção dos valores a título de alimentos diretamente da

remuneração do executado, mediante o desconto em folha salarial. Esta

31

modalidade obriga ao empregador do alimentante, ou ente público que a ele

seja vinculado, o desconto dos alimentos no pagamento do alimentante, com

a devida discriminação em folha, não o fazendo, pode responder por perdas e

danos e pelo crime de desobediência.

Maria Berenice Dias (DIAS, 2010) diz que:

“Não só as parcelas mensais podem ser abatidas dos ganhos do alimentante – também o débito executado pode ser descontado, de modo a não comprometer a sobrevivência do devedor”.

Diante disto, se o devedor tiver parcelas vencidas da obrigação

alimentar, é possível o desconto de todo o débito somado, além das futuras

prestações, obviamente como a eminente doutrinadora ensina, se não

comprometer a sobrevivência do alimentante.

Em regra é permitido um desconto de no máximo 30% nos

vencimentos do alimentante, em nosso estado o Tribunal de Justiça, fixou

esta porcentagem também para evitar prejuízo ao sustento do executado,

conforme se verifica na decisão abaixo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE DETERMINOU O DESCONTO EM FOLHA DE PENSÃO FIXADA EM DECORRÊNCIA DE ATO ILÍCITO - AUSÊNCIA DE NULIDADE - PRESTAÇÃO DE CARÁTER ALIMENTÍCIO - POSSIBILIDADE DE DESCONTO EM FOLHA - NÃO CARACTERIZAÇÃO DE PENHORA DE SALÁRIO - LIMITAÇÃO DE 30% DOS RENDIMENTOS PARA EVITAR PREJUÍZO AO SUSTENTO DOS EXECUTADOS - ENTENDIMENTO DA JURISPRUDÊNCIAPRIMEIRO- DECISÃO MANTIDA RECURSO DESPROVIDO em folha de pagamento da empregadora do réu, referente à indenização por morte do esposo e pai dos autores, a quem cabia o sustento de sua família, em razão do nítido caráter alimentar da prestação". (REsp 194.581/MG) (6404504 PR 0640450-4, Relator: José Augusto Gomes Aniceto, Data de Julgamento: 25/02/2010, 9ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 351)

32

Ainda que o executado tenha bens para garantir a execução, é

possível o pagamento mediante desconto, de modo parcelado, essa

possibilidade não é mais gravosa ao devedor, e atende, de forma efetiva, à

necessidade do alimentado.

Se as citadas possibilidades de pagamento se mostram inviáveis,

pode o credor, dependendo do título executivo que dispor buscar o

cumprimento da sentença, a execução pelo rito da prisão civil ou a execução

de título extrajudicial. Conforme já levantado no presente trabalho, a eleição

do modo de execução é facultada ao credor de alimentos, não podendo o

devedor se opor a um procedimento em favor de outro.

Ressalta-se que distribuída a execução, ou iniciado o cumprimento de

sentença, o alimentando pode obter certidão comprobatória da execução,

para assim, proceder averbação no registro de imóveis, veículos ou de

qualquer outro bem passível de penhora ou arresto.

Importante lembrar, que a obrigação alimentar é personalíssima,

sendo de total dever da pessoa que tiver tal encargo. Não cabe ao credor, se

alimentante tornar-se inadimplente, requerer que quem tenha a

responsabilidade alimentar – cônjuges, companheiros, pais, avós, parentes –

passe a ser compelido a efetuar os pagamentos das prestações alimentícias.

Para tanto, é necessário buscar em juízo o reconhecimento da obrigação

alimentar de cada um deles.

Como já dito por diversas vezes, a redação da Lei 11.232/2005, não

alterou e nem revogou nenhum dispositivo do Capítulo V do Título II, do

Código de Processo Civil, que trata da execução de prestação alimentícia.

Por tal motivo, boa parte da doutrina, sustenta que à execução de alimentos

33

não se aplica aos moldes da lei, enquanto por outro lado existem inúmeras

justificativas que se mostram ao contrário, o que será exposto adiante.

A execução dos alimentos tem tratamento em capítulo próprio no

Código de Processo Civil, sendo composta dos artigos 732 a 735, além de

previsão na Lei de Alimentos. Com o advento da Lei 11.232/2005, fixados os

alimentos em sentença, é possível buscar seu cumprimento (CPC 475-J). E

em posse de título executivo extrajudicial, cabe a sua cobrança mediante

ação própria.

3.1.3 O rito da coação pessoal

A lei não distinguiu que tipo de título ensejaria à cobrança da

obrigação alimentar – se judicial ou extrajudicial – para ser cobrada sob o rito

da coação pessoal. A nossa Carta Magna, dispõe da possibilidade da coação

pessoal em caso de inadimplemento de obrigação alimentar (art. 5º, inc.

LXVII). O art. 19 da Lei de Alimentos e o art. 733 do Código de Processo Civil

também recepcionam esta modalidade.

Desta forma, se tratando de alimentos estabelecidos em sentença

definitiva, o credor de alimentos pode buscar o pagamento nos mesmos

autos. Porém, se a sentença ainda estiver sujeita a recurso, o cumprimento

deverá ser feito em procedimento autônomo, por via da execução provisória

(Art. 475-O, CPC). Nas duas hipóteses, cabe ao credor a faculdade de pedir a

intimação do devedor para realizar o pagamento da prestação alimentícia no

prazo de 15 (quinze) dias (Art. 475-J, CPC), ou requerer sua citação para

pagamento em 3 (três) dias, aí sim, sob a pena da prisão civil prevista nos

dispositivos supracitados.

34

A escolha por uma ou outra modalidade estará condicionada ao

tempo de inadimplência das parcelas alimentícias, se vencida há mais de 3

(três) meses, é defeso ao credor requerer o rito da coação pessoal.

Sempre houve grandes dificuldades do judiciário em efetivar a prisão

civil do devedor, e fixou o entendimento, jurisprudencialmente, de que só

caberia o uso dessa via executória somente para a cobrança das três últimas

prestações vencidas. Este entendimento baseou-se na ideia de que a dívida

alimentar acumulada por um grande período perderia o seu caráter

indispensável, a garantir a sobrevivência do alimentando.

Esta limitação de três parcelas acabou por ser um efetivo meio

coercitivo, não onerando demasiadamente o devedor, de modo a inviabilizar o

pagamento, diante do tamanho do acúmulo da dívida. Tal entendimento foi

bem aceito pela maioria, levando ao STJ sumular a respeito da matéria:

“Súmula 309 – O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo”.

Alguma parte da doutrina discorda veementemente dessa limitação.

Diz Cristiano Chaves de Farias (FARIAS 2006, p. 29-55):

“Manter a estrutura da prisão civil fundada no débito do trimestre antecedente à citação para a ação alimentar é ter uma visão míope de uma norma constitucional, enxergando de maneira turva a realidade latente da vida. Somente permitida a prisão civil assim, restarão sacrificados direitos fundamentais do credor, incentivando o devedor relapso”.

Todavia, Maria Berenice Dias (DIAS, 2010), diz que a limitação que

ocorre é de outra forma:

35

“Buscada a cobrança pelo rito da coação pessoal referente a um número superior de parcelas, acaba o juiz por limitar a demanda, determinando que o credor faça uso da via expropriatória quanto às parcelas pretéritas”.

De qualquer forma, a jurisprudência relativiza o numero das parcelas

vencidas e admite a execução de quantidade superior à três parcelas pelo rito

da coação pessoal. Além de não haver necessidade de que estejam vencidas

três prestações, podendo ser uma única parcela, ou de parcelas alternadas,

para o credor buscar a cobrança.

Se proposta a execução pelo rito da coação pessoal, o réu é citado

para pagar, provar que pagou ou justificar a impossibilidade de fazê-lo, no

prazo de três dias (Art. 733, CPC). Por se tratar de ação de execução, o réu

deve ser citado pessoalmente e nunca pelo correio, podendo ocorrer a citação

por hora certa e edital.

Em caso extremo de esquiva do devedor da citação para a execução

pelo rito da coação pessoal, é admitida a possibilidade de interceptação

telefônica do devedor para conseguir localizá-lo. Ainda que nossa

Constituição Federal preze pela inviolabilidade do sigilo das comunicações

telefônicas, esta é uma das hipóteses em que pode se justificar tal medida.

Por questão de razoabilidade ao confrontar os princípios constitucionais: o

direito à intimidade (do devedor) e o direito à vida (do credor), não restam

duvidas sobre qual deve prevalecer, neste sentido decisão do TJ/RS:

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. CABIMENTO. Tentada a localização do executado de todas as formas, residindo este em outro Estado e arrastando-se a execução por quase dois anos, mostra-se cabível a interceptação telefônica do devedor de alimentos. Se por um lado a Carta Magna protege o direito à intimidade, também abarcou o princípio da proteção integral a crianças e adolescentes. Assim, ponderando-se os dois princípios sobrepõe-se

36

o direito à vida dos alimentados. A própria possibilidade da prisão civil no caso de dívida alimentar evidencia tal assertiva. Tal medida dispõe inclusive de cunho pedagógico para que outros devedores de alimentos não mais se utilizem de subterfúgios para safarem-se da obrigação. Agravo provido. (Agravo de Instrumento nº 70018683508, Sétima Câmara Cível, TJRS).

Se o executado for citado e apresentar justificativa para não

pagamento e/ ou não pagar as prestações alimentícias, o juiz não aceitando

tal justificativa, decretará sua prisão. O devedor dos alimentos só poderá sair

da prisão mediante a quitação das parcelas que ensejam a execução e de

todas que chegaram a vencer até a data do pagamento.

3.2 ANÁLISE DA APLICABILIDADE DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS

PELA LEI 11.232/2005 NA EXECUÇÃO DE ALIMENTOS

3.2.1 Do princípio constitucional

Conforme já dito, está explícito em nossa Constituição, em seu art. 5º,

inc. LXXVIII, que é assegurado a todos no âmbito judicial ou administrativo,

sempre o modo mais célere dos processos, este dispositivo incluído pela

Emenda Constitucional nº 45, de 2004, passou a ser chamado de princípio da

celeridade processual.

O que se busca com o referido principio é a efetividade dos processos

judiciais no país, e entende-se por processo efetivo, a obtenção, em prazo

razoável, de uma decisão judicial justa e eficaz.

Ressalta-se, que antes do advento da Emenda Constitucional nº. 45,

o princípio da celeridade já tinha previsão, como direito fundamental na

Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o famoso pacto de São José

da Costa Rica, tratado este, o qual o Brasil é signatário.

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Neste sentido, diz Ada Pellegrini Grinover (GRINOVER, 2008):

“Inquestionavelmente oferecidos pelas leis processuais, de modo que a reforma infraconstitucional fica umbilicalmente ligada à constitucional, derivando de ordem expressa da Emenda n. 45/2004. Trata-se, portanto, de fazer com que a legislação processual ofereça soluções hábeis à desburocratização e simplificação do processo, para garantia da celeridade de sua tramitação”.

Desta forma, imperiosa a importância dos jurisdicionados terem seus

conflitos sanados em prazos razoáveis, pois a aplicabilidade deste princípio

infere diretamente sobre outros princípios constitucionais, como o do devido

processo legal, da inafastabilidade da jurisdição, da dignidade da pessoa

humana, entre outros.

Posto isso, adentramos no quesito alimentos. Tratando-se de

alimentos que diz em respeito à vida, urge mais ainda a necessidade da

aplicação do princípio da celeridade processual. E por se tratar de questão de

sobrevivência, tal necessidade não pode ficar a mercê das delongas do

Judiciário.

Destarte, não há o que se falar da não aplicabilidade da lei

11.232/2005 na execução de alimentos, uma vez que a redação da lei

constitui de forma pura e cristalina uma maior celeridade ao processo de

execução, e por demais outros motivos, mas principalmente por uma ordem

constitucional, tal melhoria não pode ser negada àqueles que mais

necessitam dessa agilidade.

A legislação deve acompanhar os anseios da sociedade, e uma

simples omissão do legislador não pode prejudicar toda parcela da sociedade

brasileira.

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3.2.2 Divergências à aplicabilidade da lei 11.232/2005 à execução de

alimentos

Conforme dito diversas vezes no presente trabalho, a reforma

promovida pela Lei 11.232/2005 se omitiu a respeito do que disciplina o

disposto nos artigos 732 a 735 do CPC, que trata da execução de alimentos.

E existem entendimentos doutrinários que seguem a linha de raciocínio de

que a execução de alimentos não será realizada nos moldes da Lei

11.232/2005, neste sentido diz Araken de Assis (ASSIS, 2009):

“A reforma da execução do título judicial, promovida pela lei 11.232/2005, não alterou, curiosamente, a disciplina da execução de alimentos, objeto do Capítulo V do Título II do Livro II (Do processo de execução). Por conseguinte, não se realizará consoante o modelo do art. 475-J e seguintes. Continua em vigor a remissão dos arts. 732 a 735 ao Capítulo IV do Título II do Livro II do CPC, em que pese tais disposições mencionarem explicitamente, a execução de ‘sentença’”.

Apesar de respeitar a opinião do eminente doutrinador, esta, se

mostra um pouco arcaica, pois não pode a simples omissão do legislador

prejudicar todo o ordenamento jurídico e inclusive previsão constitucional que

determina sempre a prevalência da economia e celeridade processual (Art. 5º,

inc. LXXVIII da CF).

Em contramão diz Ernane Fidélis dos Santos (SANTOS, 2006):

“A execução de prestação alimentícia pode ser feita de maneira diversas, inclusive na forma comum, seguindo, agora, o art. 475-J, mas com a possibilidade de se aplicar a antiga regra do art. 732, parágrafo único, com permissão de levantamento mensal das importâncias depositadas, haja ou não impugnação, não sendo de se permitir qualquer efeito suspensivo”.

A opinião de Ernane Fidélis dos Santos se mostra mais coerente,

tendo como parâmetro os dias de hoje, reservando a faculdade ao credor de

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alimentos na forma de buscar a pretensão alimentar, resguardando-lhe a

forma anterior à lei 11.232/2005, pois esta não alterou o dispositivo da

execução de alimentos, porém, lhe assegura também o direito de gozar das

benevolências que a Lei inseriu no ordenamento jurídico.

O ilustre professor Araken de Assis, não está sozinho na idéia da não

aplicabilidade da lei na execução de alimentos, Humberto Theodoro Júnior

(JUNIOR, 2007) diz:

“Como a lei 11.232/2005 não alterou o art. 732 do CPC, continua prevalecendo na ação de alimentos o primitivo sistema dual, em que o acertamento da execução forçada reclamam o manejo de duas ações separadas e autônomas: uma para condenar o devedor a prestar alimentos e outra para força-lo a cumprir a condenação. (...) O procedimento executivo é, pois, o dos títulos extrajudiciais (Livro II) e não o de cumprimento de sentença instruído pelos atuais arts. 475-J a 475-Q”.

Por sorte, de quem é favorável à aplicabilidade da lei na execução de

alimentos, Ernane Fidélis também não está sozinho em sua linha de

raciocínio, vejamos o que diz Alexandre Freitas Câmara (CÂMARA, 2007):

“(...) É interessante notar, porém, que o legislador da Lei n. 11.232/05 “esqueceu-se” de tratar da execução de alimentos, o que pode levar à impressão de que esta continua submetida ao regime antigo, tratando-se tal módulo processual executivo como um processo autônomo em relação ao módulo processual de conhecimento. Assim, porém, não nos parece. Não seria razoável supor que se tivesse feito uma reforma no Código de Processo Civil destinada a acelerar o andamento da execução de títulos judiciais e que tal reforma não seria capaz de afetar aquela execução do credor que mais precisa de celeridade: a execução de alimentos. Afinal, como se disse em célebre frase de um saudoso intelectual brasileiro, Hebert de Souza (o Betinho), ‘quem tem fome tem pressa’. Assim sendo, nos parece inegável que a Lei n. 11.232/05 deve ser interpretada no sentido de que é capaz de alcançar os dispositivos que tratam da execução de prestação alimentícia”.

Num segundo momento, se a não aplicabilidade da lei na execução

de alimentos está sujeita a uma simples omissão, o direito a defesa e

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contraditório do alimentante não poderia existir mais, interpretando a lei em

um sentido literal, vejamos o que diz de forma brilhante Maria Berenice Dias

(DIAS, 2010)

“Há um fundamento que põe por terra qualquer justificativa de emprestar sobrevida à execução por quantia certa de título executivo judicial relativo a alimentos. O Capítulo II do Título III do Livro II do CPC que se intitulava: “Dos Embargos à Execução fundada em sentença”, agora se denomina: “Dos Embargos à Execução contra a fazenda pública”. Ou seja, não existem mais no estatuto processual pátrio embargos à execução de títulos judicial. Esse meio impugnativo só pode ser oposto na execução contra Fazenda Pública. A vingar o entendimento que empresta interpretação literal ao art. 732 do CPC, chegar-se-ia à esdruxúla conclusão de que o devedor de alimentos não dispõe de meio impugnativo, pois não tem como fazer uso dos embargos à execução”.

Portanto, por mais que tivessem sobrevida, eventuais embargos

prejudicariam o devedor de alimentos, uma vez que com seu efeito

suspensivo, decorrente da própria lei, já haveria a suspensão do processo, ou

seja, somente com a mera oposição destes. Agora, quando se tratar de

impugnação, novo meio de defesa inserido pela lei 11.232/2005, que só teria

efeito suspensivo se atendido o requisito disposto no art. 475-M do CPC.

Porque as alterações introduzidas pela lei só atendem aos interesses

do devedor de alimentos, pois à ele é facultado normalmente a impugnação

trazida pela reforma da lei, e não ao credor de alimentos, que presume-se a

parte mais frágil desta relação jurídica.

A jurisprudência também tem divergências a respeito do tema, apesar

da grande maioria entender que a execução de alimentos pode e deve ser

direcionada à luz da lei 11.232/2005, segue uma decisão a favor da

aplicabilidade.

Neste sentido:

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APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. ACORDO HOMOLOGADO PELO JUÍZO. INADIMPLEMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO QUE EXTINGUIU A EXECUÇÃO. INSURGÊNCIA DO EXEQUENTE. ADOÇÃO DO PROCEDIMENTO MAIS CÉLERE, INTRODUZIDO PELA LEI N. 11.232/2005. POSSIBILIDADE. VERBA DE CARÁTER EMERGENCIAL. DESNECESSIDADE IN CASU DE NOVO PROCEDIMENTO PARA EXECUTAR O CRÉDITO ALIMENTAR. REFORMA NECESSÁRIA. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO.11.232Tratando-se de execução de verba de caráter emergencial, deve-se possibilitar a aplicação do cumprimento de sentença introduzido pela Lei n. 11.232/2005, não se justificando in casu a extinção do procedimento execucional após dois anos de seu processamento, sob o fundamento de que a execução de alimentos deve seguir os ritos específicos dos artigos 732 e 733 do Código de Processo Civil.11.232732733Código de Processo Civil

(354952 SC 2011.035495-2, Relator: Jairo Fernandes Gonçalves, Data de Julgamento: 18/11/2011, Quinta Câmara de Direito Civil, Data de Publicação: Apelação Cível n. , de Indaial)

Assim, não restam dúvidas de que atualmente as mudanças da lei

11.232/2005 fazem procedimentos mais céleres e vantajosos, tanto para o

credor de alimentos quanto para o devedor de alimentos, e desta forma

imperiosa à aplicabilidade da lei na execução de alimentos.

3.2.3 Considerações finais

Já trabalhando no campo da admissão da aplicação da lei no que

tange à alimentos, urge a necessidade de expor considerações de algumas

mudanças trazidas pela lei 11.232/2005.

A primeira delas, falando-se no processo sincrético, é a

obrigatoriedade da intimação do devedor para cumprimento da sentença, sob

pena da multa de 10% prevista no art. 475-J.

Apesar de a lei ser clara em relação a isso, existem divergências

doutrinarias à respeito da necessidade de intimação do devedor ou não,

quando se tratar dos 15 dias após a condenação.

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Vejamos o que diz Alexandre Freitas Câmara (CÂMARA, 2007):

“Para os mais necessitados economicamente, que já cumpriram suas obrigações com muita dificuldade um aumento de dez por cento sobre o valor do débito dificilmente assustará (afinal, quem já não tem como pagar o principal, certamente não terá como pagar o valor acrescido da multa). No extremo oposto, os economistas poderosos certamente são capazes de pagar o que devem e, o fato de se submeterem a uma multa de dez por cento não os inibirá na busca por procrastinar a satisfação do crédito”.

Desta forma, parte de doutrina acredita ser imprescindível a intimação

do réu, pelo correio, para efetuar o pagamento, aí sim sob a pena

cominatória. É importante ressaltar que a multa tem finalidade de estimular o

adimplemento da obrigação, mostrando-se importante a ciência do devedor

da incidência da mesma.

Outro ponto importante a destacar no presente trabalho e que até

agora não fora suscitado é o prazo prescricional dos alimentos, previsto no

art. 206, § 2º, do Código Civil. Faz necessário distinguir que o direito aos

alimentos é imprescritível, porém, o direito às prestações vencidas e

inadimplidas não é.

O prazo prescricional do crédito alimentar é de 2 (dois) anos e a

prescrição pode ser decretada de oficio pelo juiz (Art. 219, § 5º, do CPC).

Cabe lembrar que se tratando de menores absolutamente incapazes, e

durante o exercício do poder familiar, não ocorrerá a prescrição, conforme dita

o art. 198, inc. I do Código Civil e o art. 197, inc. II do mesmo código,

respectivamente.

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3.2.4 Tempo da prisão civil

Por fim, apesar de o presente trabalho ter tratado sobre o rito da

coação pessoal que permite a prisão civil do devedor de alimentos, faltou

tecer alguns comentários de como irá proceder esta prisão.

Existe uma divergência em relação ao prazo de prisão quando se

tratar do devedor de alimentos. O Código de Processo Civil determina, em se

tratando de alimentos provisionais, o tempo de 1 (um) a 3 (três) meses (Art.

733, par. 1, do CPC). Em contrapartida a Lei de Alimentos em seu art. 19,

limita o tempo de custódia em até sessenta dias, quando se tratar de

alimentos definitivos.

Para obter um equilíbrio entre as duas normas, o judiciário tem

decretado prisões no prazo não superior a sessenta dias.

Vejamos decisões nesse sentido:

HABEAS CORPUS. PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. RENOVAÇÃO DO DECRETO DE PRISÃO. PRAZO QUE NÃO EXCEDE AO LIMITE LEGAL.Não há ilegalidade na renovação da prisão civil do devedor de alimentos, uma vez que o prazo total não excedeu o limite legal estabelecido no § 1º do art. 733 do CPC. Ordem denegada.§ 1º733CPC (163751 MT 2010/0035443-2, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 22/06/2010, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/07/2010)

Nesta decisão, o STJ seguiu a regra expressa no Código de Processo

Civil, permitindo uma renovação da prisão, vez que não ultrapassou o limite

máximo de 3 (três) meses que o art. 733, § 1º determina.

Seguindo o equilíbrio mencionado de 60 (sessenta) dias, segue

decisão do TJ/RS:

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AGRAVO INTERNO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS PELO RITO DA PRISÃO.1- ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA PELA AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO DÉBITO ATUALIZADO. INOCORRÊNCIA.2- ABATIMENTO DE MENSALIDADES ESCOLARES SUPOSTAMENTE PAGAS PELO EXECUTADO. PRECLUSÃO.3- PRAZO MÁXIMO PARA A PRISÃO CIVIL DE 60 DIAS, INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 733, § 1º DO CPC E 19 DA LEI DE ALIMENTOS.RECURSO IMPROVIDO. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Agravo Interno Nº 70029715117, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Claudir Fidelis Faccenda, Julgado em 07/05/2009)733§ 1ºCPC19LEI DE ALIMENTOS (70029715117 RS , Relator: Claudir Fidelis Faccenda, Data de Julgamento: 07/05/2009, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 13/05/2009)

CONCLUSÃO

O processo é o meio pelo qual as pessoas resolvem seus conflitos.

Quanto menos tempo o processo durar melhor será para as partes, para o

judiciário e para a sociedade. O art. 5º, LXXVIII da Constituição garante a

todos a razoável duração do processo e os meios que possibilitem a

celeridade na tramitação processual.

Para garantir maior celeridade aos processos, algumas leis alteraram

mecanismos relevantes na forma do processo de execução. A lei 11.232/2005

possibilita a efetividade das decisões judiciais. É importante mencionar o que

Alexandre de Moraes ensina sobre o princípio da celeridade processual,

segundo o autor:

“Os processos administrativos e judiciais devem garantir todos os direitos às partes, sem, contudo, esquecer a necessidade de desburocratização de seus procedimentos e na busca de qualidade e máxima eficácia de suas decisões. (Alexandre de Moraes. Direito Constitucional. 26ª edição. p. 108)”

Para garantir essa celeridade a lei 11.232/2005 alterou a forma de

execução no código de processo civil, sendo que a mudança mais importante

foi a que determinou que a sentença do processo de conhecimento não

encerra um processo, mas abre uma nova fase, a fase de execução.

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A seqüência do processo desenvolve-se pela liquidação da sentença:

fase responsável pela apuração do valor da obrigação indeterminada. Dentro

dessa fase não há sentença de liquidação, mas sim uma decisão

interlocutória, tal decisão pode ser discutida através de agravo de

instrumento, não sendo cabível apelação, o que agiliza a liquidação e a

execução, se houver condenação de valor determinado, é facultado a parte o

cumprimento de sentença.

Para forçar o pagamento da sentença o art. 475-J foi implantado e

determina a aplicação de uma multa sobre o valor da condenação (multa de

caráter punitivo). Essa multa estabelece que se descumprido o prazo para o

pagamento uma multa de 10% sobre o valor da condenação será acrescida

no valor devido.

O executado também tem garantias no processo e pode impugnar a

execução, contudo, a impugnação não tem, em regra, efeito suspensivo, o

que permite o prosseguimento da execução. Quanto à execução provisória

esta corre por conta do exeqüente, quando couber.

Deste modo, todas as alterações benéficas trazidas pela lei

11.232/2005, devem atender qualquer espécie de instituto que necessite de

sua invocação. No caso do presente trabalho, a execução de alimentos.

Independente se a redação da lei silenciou-se a respeito dos

dispositivos que tratam a questão alimentar, por inúmeros motivos elencados

no trabalho, a recepção aos alimentos pela lei, não pode ser negada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA

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DIAS, Maria Berenice. manual de direito das famílias. – 7. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

FARIAS, Cristiano Chaves de. prisão civil por alimentos e a questão da atualidade da dívida à luz da técnica de ponderação de interesses: o tempo é o senhor da razão. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 29-55.

NADER, Paulo. curso de direito civil; v. 5: direito de família / Paulo Nader. – Rio de Janeiro: Forense, 2009.

NERY JUNIOR, Nelson e Nery, Rosa Maria de Andrade. código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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THEODORO JUNIOR, Humberto. as novas reformas do código de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

Execução dos Alimentos e as Reformas do CPC Disponível em: sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/230107.pdf

A EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E A APLICABILIDADE DA LEI Nº 11.232/2005 EM SUA SISTEMÁTICA. Disponível em: www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=4363