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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ANA PAULA MACHADO GABARDO ABORTO EM FETOS ANENCÉFALOS CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ANA PAULA MACHADO GABARDO

ABORTO EM FETOS ANENCÉFALOS

CURITIBA

2012

ANA PAULA MACHADO GABARDO

ABORTO EM FETOS ANENCÉFALOS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade

Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Martim Afonso Palma

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

ANA PAULA MACHADO GABARDO

ABORTO EM FETOS ANENCÉFALOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel em

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___de___________ de 2012.

___________________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Orientador: ______________________________________________

Prof. Martim Afonso Palma

_______________________________________________

Prof.(a)

Membro da Banca Examinadora

______________________________________________

Prof.(a)

Membro da Banca Examinadora

AGRADECIMENTOS

A minha gratidão é voltada primeiramente a Deus, pela

dedicação e persistência a mim presenteadas, e que com sua

infinita bondade guiou meus passos constantemente, não

permitindo que minha fé fosse abalada quando os momentos

foram difíceis e as incertezas presentes.

Agradeço de maneira infinita, a meus amados pais, Denise

e Paulo, pela luta diária e árdua na esperança de proporcionar um

conforto e um futuro melhor, e que em meio a tantas lágrimas e o

medo do amanhã, sempre estiveram incondicionalmente ao meu

lado, apoiando e incentivando a nunca desistir. Tamanha

gratidão não é passível de demonstração em pequenas palavras,

mas por ser tão forte e tão grande não cabe em meu peito e

transborda aos olhos.

Aos meus avós, Julia e Eorides, que em muito contribuíram

na formação do meu caráter, e que me ensinaram de forma

brilhante e da maneira mais sutil as melhores lições da vida.

De forma geral, a todos os meus familiares que sempre

estiveram ao meu lado me incentivando, e aos amigos que

conquistei ao longo desses 5 anos, pelos momentos onde as

alegrias e conquistas eram partilhadas, e pela compreensão nos

momentos onde as dificuldades eram presentes.

À minhas queridas chefas, Dras. Juliette Vilanova e Sílvia

Fráguas, que vêm me dando grandes oportunidades e comigo

partilhando de suas experiências e conhecimentos enquanto

brilhantes profissionais do Direito.

Ao Professor e Orientador Martim Afonso Palma, pela

dedicação a mim dispensada na elaboração do presente trabalho.

RESUMO

O presente trabalho visa analisar a intervenção terapêutica na gestação de fetos

anencéfalos, partindo da perspectiva de quatro análises propriamente ditas, quais

sejam, o posicionamento médico perante a anencefalia; os aspectos bioéticos; o ponto

de vista religioso frente ao aborto de qualquer natureza; o aborto no direito

comparado; e por último, o ponto de vista jurídico, partindo da análise dos votos

exarados pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal quando do julgamento da

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 54.

Palavras chave: Anencefalia, feto anencéfalo, ADPF/54.

ABSTRACT

This study aims to analyze the therapeutic intervention in pregnancy of an

anencephalic fetus, from the perspective of four analyzes themselves, namely, the

placement doctor before anencephaly; bioethical issues, the religious point of view

towards abortion of any kind, the abortion in comparative law, and finally, the legal

point of view, based on an analysis of the votes formally drawn up by ministers of the

Supreme Court when the trial of the claim of breach of fundamental precept No. 54.

Keywords: Anencephaly, anencephalic fetus, ADPF/54.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 8

2 O INÍCIO DA VIDA HUMANA......................................................... 10

2.1 TEORIAS JURÍDICAS SOBRE O INÍCIO DA VIDA......................... 12

2.1.1 Teoria Concepcionalista......................................................................... 12

2.1.2 Teoria Natalista....................................................................................... 12

3 A ANENCEFALIA............................................................................... 13

3.1 A CAUSA............................................................................................... 14

3.2 O DIAGNÓSTICO................................................................................. 15

3.3 A CONSEQUENCIA............................................................................. 16

4 O ABORTO NO DIREITO COMPARADO...................................... 17

4.1 A GEOGRAFIA DO ABORTO............................................................. 17

4.1.1 Países onde o aborto é totalmente proibido ou somente permitido para

salvar a vida da mãe................................................................................

18

4.1.2 Países onde o aborto é permitido para preservar a saúde da mulher.... 18

4.1.3 Países onde o aborto é permitido por motivos socioeconômicos........... 18

4.1.4 Países onde o aborto é totalmente permitido.......................................... 19

4.2 O ABORTO NO DIREITO ITALIANO................................................ 19

4.3 O ABORTO NO DIREITO PORTUGUÊS............................................ 19

4.4 O ABORTO NO DIREITO NORTE AMERICANO............................. 20

4.5 O ABORTO NO DIREITO BRITÂNICO.............................................. 20

4.6 O ABORTO NO DIREITO JAPONÊS.................................................. 20

4.7 O ABORTO NO DIREITO CHINÊS..................................................... 21

4.8 O ABORTO NO DIREITO ARGENTINO............................................ 21

5 O POSICIONAMENTO DAS RELIGIÕES FRENTE AO

ABORTO...............................................................................................

22

5.1 CATOLICISMO..................................................................................... 22

5.2 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ............................................................... 23

5.3 ESPIRITISMO........................................................................................ 23

5.4 IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS 23

5.5 JUDAÍSMO............................................................................................ 24

5.6 ISLAMISMO.......................................................................................... 24

5.7 IGREJA PRESBITERIANA................................................................... 24

5.8 UMBANDA E CANDOMBLÉ.............................................................. 24

5.9 IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA.......................................... 25

5.10 BUDISMO.............................................................................................. 25

5.11 HARE KRISHNA................................................................................... 25

6 ALGUNS PRINCÍPIOS FRENTE AO ABORTO EM FETOS

ANENCÉFALOS..................................................................................

26

6.1 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIOS.............................................................. 26

6.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA..................... 27

6.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE............................................................ 28

6.4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE.............................................................. 28

6.5 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE................................. 29

6.6 PRINCÍPIO DO RESPEITO À AUTONOMIA..................................... 29

7 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO

FUNDAMENTAL Nº 54 (ADPF/54)...................................................

30

7.1 O JULGAMENTO.................................................................................. 31

7.2 VOTOS E ARGUMENTOS A FAVOR DA INTERRUPÇÃO............. 32

7.3 VOTOS E ARGUMENTOS CONTRÁRIOS A INTERRUPÇÃO....... 34

7.4 A DECISÃO........................................................................................... 35

8 RESOLUÇÃO 1.989/2012 DO CONSELHO FEDERAL DE

MEDICINA...........................................................................................

36

9 DA NECESSIDADE DO ALVARÁ JUDICIAL APÓS O

JULGAMENTO DA ADPF/54...............................................................

37

10 CONCLUSÃO.......................................................................................... 38

REFERÊNCIAS......................................................................................... 40

1 INTRODUÇÃO

Inicialmente, cumpre esclarecer alguns pontos quanto à nomenclatura adotada

no título da presente monografia, “Aborto em Fetos Anencéfalos”.

Esse termo foi empregado no título, e por diversas vezes utilizados no

desenvolvimento do presente, por ser mais popularmente utilizado pela doutrina e

comportar maior compreensão ao tema estudado.

No entanto, é importante diferenciar no âmbito jurídico constitucional, o

binômio aborto e antecipação terapêutica do parto, pois ambos não se confundem.

Primeiro porque, quando falamos em aborto, o bem jurídico tutelado é a vida, a

qual não é presente quando o assunto é feto anencéfalo; e segundo, porque diferente do

aborto, a antecipação terapêutica do parto não pretende ceifar a vida do feto – mesmo

porque não há vida – e sim antecipar o momento oportuno do parto, referindo-se ao

fim natural da gestação de um anencéfalo, a morte prematura.

Dessa forma, apesar de ser adotado o termo aborto, o presente trabalho versa,

em verdade sobre a antecipação terapêutica do parto em fetos anencéfalos, sobretudo

com relação ao julgamento da ação de Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental nº 54, onde o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela sua

procedência e tal modalidade de aborto passou a ser descriminalizada.

Para adentrarmos na questão, há que se saber no consiste a anencefalia.

A anencefalia constitui grave malformação fetal que resulta da falha de

fechamento do tubo neural, com ausência de cérebro, calota craniana e couro

cabeludo, ocorrendo entre o 24º e 26º dia após a fecundação. A consequência

inevitável dessa ocorrência é a morte do feto. Quando o óbito não ocorre ainda dentro

do útero da gestante, a expectativa de vida do bebe é de poucas horas.

Por tratar-se de enfermidade fetal incompatível com a vida, em boa parte dos

países do mundo, a interrupção da gravidez nesses casos é permitida. Isto porque, o

diagnóstico de anencefalia por ultrassom é 100% preciso, podendo a detecção

acontecer a partir da 12ª semana de gestação.

Em que pese o Brasil ser um país onde a prática abortiva é considerada crime

desde a edição do Código Penal datada de 1940, o artigo 128 do referido código prevê

duas hipóteses em que o aborto não é punido, quais sejam, o aborto necessário e o

aborto no caso de gravidez resultante de estupro, não prevendo, portanto a questão do

anencéfalo.

Dessa forma, as gestantes de fetos anencéfalos que possuíam o desejo de

interromper a gestação, pleiteavam esse direito perante o poder judiciário em busca da

concessão de um Alvará Judicial, o qual autorizava o aborto.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, essa prática teve início no ano de

1989, e a partir daí mais de 10.000 (dez mil) alvarás foram concedidos.

Diante deste quadro, no ano de 2004, o Conselho Nacional dos Trabalhadores

em Saúde (CNTS) apresentou ao STF uma Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental, a qual não postulava pela inconstitucionalidade dos dispositivos 124,

126 e 128, incisos I e II do código penal, mas tão somente que os referidos enunciados

fossem interpretados conforme a constituição de forma a reconhecer o direito de a

gestante submeter-se ao citado procedimento sem ter de apresentar uma autorização

judicial ou qualquer outra forma de permissão do Estado.

Depois de analisar o pedido liminar, o ministro relator, Marco Aurélio Mello,

aprovou o mesmo. Assim, durante três meses, entre julho e setembro de 2004, a

mulher que quisesse interromper a gravidez em caso de anencefalia não necessitava de

alvará judicial. No entanto, após forte oposição de alguns setores da sociedade, a

liminar foi cassada.

Em 2008, pela primeira vez, o Supremo fez uma convocação para audiências

públicas e ouviu testemunhos pessoais, exposições técnicas, científicas e jurídicas

sobre anencefalia.

As conclusões das audiências foram claras: o diagnóstico de anencefalia é feito

com 100% de certeza; a anencefalia é uma condição irreversível e letal em 100% dos

casos; a gestação de um feto anencefálico é de maior risco para a mulher; a interrupção

da gestação, nesse caso, não deve ser tratada como aborto, mas como antecipação

terapêutica do parto e, a anencefalia não se confunde com deficiência. A anencefalia é

uma condição de inviabilidade de vida extrauterina.

Finalmente, no dia 12 de abril de 2012, após longa tramitação, o Supremo

Tribunal Federal decidiu pela procedência da ação.

Portanto, a partir daquele momento, a realização da interrupção da gravidez de

fetos anencéfalos independe de autorização judicial, e sua pratica não constitui fato

típico.

2 O INÍCIO DA VIDA HUMANA

A definição do início da vida humana é muito controvertida.

Visto que a ciência não constatou com precisão o estágio em que a vida inicia,

surgem diversas correntes a respeito do momento em que começa a vida de uma

pessoa.

Nesse Sentido, Arthur Henrique Regis:

De forma sucinta há quatro correntes quanto ao início da vida

humana: a) as que defendem que o início da vida começa com a

fertilização; b) as que defendem que o início da vida começa com a

implantação do embrião no útero; c) as que defendem que o início da

vida começa com o início da atividade cerebral; e d) as que defendem

que o início da vida começa com o nascimento com vida do embrião (REGIS, 2005).

Por outro lado, explica-nos o biólogo americano Scott Gilbert (2003) que

existem cinco correntes para determinar quando a vida começa efetivamente. Cada

uma delas parte de uma característica essencial à existência dos seres humanos.

A primeira é a abordagem genética. Para ela, já há vida no momento da

fecundação, porque a união do espermatozoide ao óvulo dá origem a uma nova

combinação de genes, ou seja, a um DNA inédito.

Para o especialista em reprodução humana e defensor desta corrente, Arnaldo

Cambiaghi (2008), desde a fecundação existe um ser em formação, com perspectiva de

vir ao mundo e que, portanto, qualquer interrupção a partir desse estágio configura-se

crime. As doutrinas religiosas e também a ciência e a filosofia espírita são adeptas

dessa corrente e argumentam que a partir da concepção o espírito se une ao corpo,

existindo, portanto vida, devendo esta ser protegida até mesmo nos casos de fetos

anencéfalos.

A segunda hipótese defende que a vida começa quando o embrião chega ao

útero – quando a gestação tem cerca de 14 dias. Essa corrente é defendida por alguns

cientistas que sustentam que é nesse ponto que começa a divisão celular para a

formação dos órgãos – gastrulação. A gastrulação começa quando o zigoto, que a

partir desse ponto é chamado de embrião, instala-se no útero. Nesse sentido, Frediano

Momesso Teodoro

A teoria da gastrulação está fundamentada no fato de haver certas más-

formações naturais que possuem a composição genética da espécie, mas que

nunca darão lugar a um novo ser humano, como, por exemplo, a mola

hidatídica ou hidaltiforme e a teratoma. (2007, p. 29)

A terceira hipótese leva em consideração o início da atividade neuronal.

Como a morte cerebral é interpretada como fim da vida humana, por simetria, o

começo da atividade cerebral marcaria o seu princípio. Isso ocorre entre a 6ª e a 24ª

semana de gestação.

Observe-se o que diz a respeito da questão, Vera Iaconelli, psicóloga e mestre

em Psicologia pela USP: “Em termos médicos, o que diagnostica a morte, é a morte

cerebral e, neste caso, nem há cérebro – portanto não há como caracterizar o

anencéfalo como um ser vivo”. Acrescenta ainda que “Também não há como

caracteriza-lo com o status de humano, pois disso depende a existência de um cérebro

mesmo que com algum dano”. (Iaconelli, 2004).

Bem menos difundida, mas também presente é a abordagem ecológica, uma

quarta linha de pensamento. Para ela, a vida começa quando o pulmão já está formado,

e, portanto, o feto já é capaz de sobreviver fora do útero, o que aconteceria

normalmente no sétimo mês de gestação.

Com o avanço da medicina, esse critério fica mais difuso, pois há casos de

bebês que sobrevivem nascendo bem antes.

Um último ponto de vista defende que o feto só existe como vida quando se

torna biologicamente independente de sua mãe, ou seja, após o parto.

2.1 TEORIAS JURÍDICAS SOBRE O INÍCIO DA VIDA

2.1.1 Teoria Concepcionalista

O artigo 2º do Código Civil dita que a personalidade civil da pessoa começa

com o nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do

nascituro. Onde o nascimento com vida caracteriza-se pelo ato do nascituro respirar.

Desde a concepção o nascituro tem seus direitos assegurados pelo ordenamento

jurídico, com a condição que nasça com vida. Antes do nascimento o nascituro não

tem personalidade jurídica, mas tem natureza humana, razão de ser de sua proteção

jurídica pelo Código Civil.

Segundo Momesso, “o início da vida sempre foi e sempre será o exato instante

em que os gametas se encontram e se fundem.”, explica ainda que, entende-se por

concepção “o momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide. Irrelevante

se a fecundação se deu in vitro ou no útero.” (TEODORO, 2007, p.26).

2.1.2 Teoria Natalista

Essa teoria defende que a pessoa passa a ter personalidade a partir do

nascimento com vida. Para os que adotam esta corrente, o nascituro não é considerado

pessoa, e desde a sua concepção, possui apenas uma expectativa de direitos, isto

porque tudo depende do seu nascimento com vida.

Sobre os nascituros, segundo o professor Silvio Rodrigues, "como

provavelmente nascerá com vida, o ordenamento jurídico desde logo preserva seus

interesses futuros, tomando medidas para salvaguardar os direitos que, com muita

probabilidade, em breve serão seus.” (2000, p. 38).

3 A ANENCEFALIA

Para que se possa avaliar do ponto de vista bioético e jurídico a questão, é

importante ter em mente o que significa, do ponto de vista técnico, um feto

anencefálico.

Nas palavras de Jorge de Rezende, a anencefalia é conceituada como “[…]

anomalia do sistema nervoso central que se caracteriza, genericamente, pela ausência

da abóbada craniana, massa encefálica reduzida a vestígio da substância cerebral.”.

Nas palavras do Professor Luís Roberto Barroso, na petição inicial da

ADPF/54, “a anencefalia é definida na literatura médica como a má-formação fetal

congênita por defeito do fechamento do tubo neural durante a gestação, de modo que o

feto não apresenta os hemisférios cerebrais e o córtex, havendo apenas resíduo do

tronco encefálico”.

Acerca das malformações, Wanderley Rodrigues Belo ensina que

As más formações se dividem em dois grupos: estruturais e

funcionais. As primeiras significam a falta ou mal funcionamento de

uma estrutura no organismo do bebê. Elas podem ir da falta de um

dedo à ausência da calota cerebral (anencefalia). (BELO, 1999, p. 83).

Para ele, consiste a anencefalia na

[…] ausência dos dois hemisférios cerebrais, é a ausência de função

total e definitiva do tronco cerebral. Em alguns casos, o feto poderá

sobreviver poucos dias fora do claustro materno. A afecção impede de

forma definitiva qualquer tipo de consciência e de relação com o

outro. (Ibid., p. 83).

Para a Professora Maria Helena Diniz o anencéfalo

pode ser um embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação

congênita, não possui uma parte do sistema nervoso central, ou

melhor, faltam-lhe os hemisférios cerebrais e tem uma parcela do

tronco encefálico (bulbo raquidiano, ponte e pedúnculos cerebrais).

Como os centros de respiração e circulação sanguínea situam-se no

bulbo raquidiano, mantém suas funções vitais, logo o anencéfalo

poderá nascer com vida, vinda a falecer horas, dias ou semanas

depois. (DINIZ, 2001, p.281)

Ainda, para o Professor Dr. Thomaz Rafael Gallop

A anencefalia é uma anomalia congênita grave na qual o feto têm ausência

de caixa craniana e da maior parte do encéfalo. Todos os fetos com

anencefalia são incompatíveis com a vida. O anencéfalo é um natimorto

cerebral. Pode haver uma sobrevida vegetativa por dias ou semanas mas a

morte é inexorável. (2007).

3.1 A CAUSA

A ocorrência da anencefalia não pode ser ligada a uma causa específica: é um

defeito multifatorial. Especialistas a relacionam, principalmente, às deficiências de

vitaminas do complexo B, especialmente o ácido fólico. Tanto que prescrevem a

ingestão, através de alimentos e suplementos vitamínicos, desta substância nos três

meses anteriores ao início da gestação e nos três meses posteriores à concepção.

Igualmente, no Brasil, foi determinado o enriquecimento da farinha com o ácido

fólico, a fim de prevenir o aparecimento de defeitos do tubo neural (Santos, 2007).

Dentre alguns fatores desencadeantes dos defeitos do tubo neural -

especificamente da anencefalia -, é possível citar o álcool, o tabagismo, o uso de

antiepiléticos e outras drogas de todos os gêneros (lícitas e ilícitas), alterações

cromossômicas (genéticas), histórico familiar, ou ainda exposição a altas temperaturas.

No entanto, este rol não é taxativo e não é possível precisar qual a contribuição exata

de cada uma destas causas para que o tubo neural não seja corretamente cerrado.

Este defeito faz com que o cérebro do feto não se forme. Assim, verifica-se que

o anencéfalo não possui nenhum tecido cerebral ou, se possuí-lo, este tecido é amorfo

e encontra-se solto no líquido amniótico. Não há, portanto, a formação dos hemisférios

cerebrais e nem do córtex cerebral.

De cada 10.000 nascimentos no Brasil, 8 são de fetos anencéfalos. A ciência

médica afirma que, em se tratando de um verdadeiro caso de anencefalia, a vida do

feto resulta totalmente inviabilizada. (GOMES, 2009, p.7).

3.2 O DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da anencefalia pode ser feito já a partir do terceiro mês de

gestação (entre a décima segunda e a décima quinta semanas), através da realização de

ultrassonografias. Isso porque o feto portador de anencefalia apresenta uma

característica única e inconfundível: não possui ossos do crânio, razão pela qual sua

cabeça não possui o formato arredondado. No local (e apenas em alguns casos) há

somente o couro cabeludo cobrindo a porção não fechada por ossos. (Gallop, 2007)

Visualmente, além da abertura que existe em sua cabeça, o anencéfalo possui

olhos saltados em suas órbitas, justamente porque estas não ficaram bem formadas em

razão da inexistência dos ossos do crânio. Outrossim, seu pescoço é mais curto do que

o pescoço de um feto normal.

Além do exame visual é possível a realização de exame biológico, através da

análise dos níveis de alfafetoproteína no soro materno e no liquido amniótico. Estes

níveis da 11ª até a 16ª semana de gravidez encontram-se sempre aumentados em

gestações de anencefálicos. (Santos, 2007).

Desta forma, o diagnóstico da anencefalia é inequívoco e não existem

possibilidades de erro.

Sobre o assunto Eliana Pacheco diz que “Atualmente, com o desenvolvimento

da Genética Humana e da Medicina Fetal, há maneiras super eficazes de diagnosticar a

anencefalia, sendo inexistentes as chances de um diagnóstico incorrer em erro.” (2009,

p. 19).

Ainda, convém realçar as palavras do Dr. Thomaz Rafael Gallop, citado por

Marco Aurélio Méllo:

A ultrassonografia disponível, sim, no Sistema Único de Saúde é 100%

segura. Existem dois diagnósticos em Medicina Fetal que são absolutamente

indiscutíveis: óbito fetal e anencefalia. Não há nenhuma dúvida para um

médico minimamente formado estabelecer esse diagnóstico. (ADPF/54)

3.3 A CONSEQUENCIA

Quando falamos em feto anencéfalo, não tratamos de um ser que apresentará

apenas deformidades físicas ou retardamentos mentais. Tais anormalidades não o

impediriam de sobreviver e de conviver.

Tratamos aqui, de um caso especialíssimo, de uma deformidade letal,

incompatível com a vida. Falamos em um ser que, se vier a nascer, não sobreviverá,

não poderá conviver, pois não possui condições para tanto.

Como veremos adiante, essa afirmação é unânime, pacifica e incontestável na

ciência médica.

Afirma o professor Thomaz Gallop

A anencefalia é uma das anomalias mais frequentes, mais prevalentes no

nosso meio. Ela é incompatível com a vida, não há atividade cortical,

corresponde à morte cerebral. Ninguém tem nenhuma dúvida acerca disso.

E continua

a respiração e o batimento cardíaco não excluem o diagnóstico de morte

cerebral. E mais: o coração e a respiração dos anencéfalos perduram por

pouco tempo – 75% não alcançam o ambiente extrauterino. Dos 25%

restantes, a maior parte tem cessados a respiração e o batimento cardíaco nas

primeiras 24 horas e os demais nas primeiras semanas. Ainda que exista

alguma controvérsia quanto a esses percentuais, [...] é indubitável que os

anencéfalos resistem muito pouco tempo fora do útero. (ADPF/54).

Em sua relatoria, quando do julgamento da ADPF/54, O Ministro Marco

Aurélio Mello expõe que “o anencéfalo jamais se tornará uma pessoa. Em síntese, não

se cuida de vida em potencial, mas de morte segura”, e fundamenta sua afirmação com

base nas inúmeras explanações de especialistas, neste mesmo sentido, ocorridas em

audiência pública realizada durante a tramitação da ação.

Nas palavras do representante da Sociedade de Medicina Fetal, Dr. Heverton

Neves Pettersen: “nós consideramos o feto anencéfalo um natimorto neurológico. Do

ponto de vista técnico, ele não tem sequer o desenvolvimento do sistema nervoso

central”. (ADPF/54).

Ainda, nas palavras do Dr. Rodolfo Acatauassú Nunes: “a anencefalia é, ainda,

nos dias de hoje, uma doença congênita letal”. (ADPF/54).

No mesmo sentido, o Dr. Jorge Andalaft Neto que, ao conceituar a anencefalia,

aduziu ser “letal e multifatorial”. (ADPF/54).

Para o Dr. Salmo Raskin, o anencéfalo sofre de uma “degeneração dos

neurônios, e a morte acontece dentre de horas ou dias”. (ADPF/54).

Na lição do Dr. José Aristodemo Pinotti, “um feto anencéfalo não tem cérebro e

não tem potencialidade de vida, sendo seu diagnóstico, quando corretamente feito,

letal em cem por cento dos casos”. (ADPF/54).

Nesse mesmo sentido, poderiam ser citados inúmeros estudiosos.

A conclusão é que o anencéfalo, invariavelmente, estará fadado à morte, ou pré-

morte.

Na metáfora do Ministro Carlos Ayres Britto “O anencéfalo é uma crisálida que

não chegará jamais ao estado de borboleta, porque não alçará voo jamais.”.

4 O ABORTO NO DIREITO COMPARADO

4.1 A GEOGRAFIA DO ABORTO

Anualmente, desde 1998, o Center for Reproductive Rights (CRR) produz o

mapa mundial das leis de aborto, a fim de comparar o status legal do aborto em

diferentes países.

Segundo dados do CRR, nos últimos 20 anos dezenas de países reviram suas

leis de aborto, mas 25% da população mundial ainda vive na zona vermelha, onde o

aborto é totalmente proibido, ou somente é permitido para salvar a vida da mulher.

Países com leis permissivas também não fornecem, necessariamente, acesso

prático. É o caso dos Estados Unidos, onde as mulheres têm o direito constitucional,

mas sofrem com barreiras implementadas pelo Estado: períodos de espera, requisitos

de aconselhamento obrigatório, consentimento dos pais etc.

Da leitura do mapa mundial das leis de aborto temos que:

4.1.1 Países onde o aborto é totalmente proibido ou somente permitido para salvar a

vida da mulher

Afeganistão, Angola, Bangladesh, Butão, Cisjordânia, Chile, Congo, Costa do

Marfim, El Salvador, Egito, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Gabão, Guatemala,

Guiné Bissau, Haiti, Honduras, Iêmen, Ilhas Marchall, Ilhas Salomão, Indonésia, Irã,

Iraque, Irlanda, Kiribati, Laos, Lesoto, Líbia, Madagascar, Malaui, Mali, Mauritânia,

Mauricia, México, Micronesia, Mianmar, Nicarágua, Nigéria, Omã, Palau, Panamá,

Papua Nova Guiné, Paraguai, República Central da África, República Democrática do

Congo, República Dominicana, Senegal, Síria, Somália, Sri Lanca, Sudão do Sul,

Suriname, Tanzânia, Timor Leste, Tonga, Uganda e Venezuela.

Vale esclarecer que dentre esses países, alguns admitem o aborto em situações

específicas, como de gestação gerada pelo estupro, por exemplo.

4.1.2 Países onde o aborto é permitido para preservar a saúde da mulher

Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bahamas, Benin, Bolívia, Burkinafaso,

Botsuana, Burundi, Camarões, Chadi, Colômbia, Comores, Costa Rica, Djibuti,

Equador, Eritréia, Etiópia, Gana, Guiné Equatorial, Irlanda do Norte, Israel, Jamaica,

Jordânia, Kuwaiti, Libéria, Malásia, Maldivas, Marrocos, Moçambique, Namíbia,

Níger, Nova Zelândia, Paquistão, Polônia, Qatar, Quênia, República da Coréia,

Ruanda, Samoa, Senegal, Santa Lucia, Serra Leoa, Seychelles, Suazilândia, Tailândia,

Trinidad e Tobago, Uruguai, Vanuatu e Zimbábue.

4.1.3 Países onde o aborto é permitido por motivos socioeconômicos

Austrália, Belize, Chipre, Fiji, Finlândia, Grã Bretanha, Índia, Islândia, Japão e

Taiwan, Zâmbia.

4.1.4 Países onde o aborto é totalmente permitido

África do Sul, Albânia, Alemanha, Armênia, Áustria, Azerbaijão, Bélgica, Bielo

Rússia, Bósnia Herzergovina, Canadá, Camboja, Cazaquistão, China, Cosovo,

Croácia, Cuba, Dinamarca, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Federação

Russa, França, Geórgia, Guiana, Guiana Francesa, Grécia, Groelândia, Holanda,

Hungria, Itália, Látvia, Lituânia, Moldova, Mongólia, Monte Negro, Nepal, Noruega,

Porto Rico, Portugal, Quirguistão, República Democrática da Coreia, República

Eslováquia, República Tcheca, Romênia, Sérvia, Suécia, Suíça, Svalbard, Tajikistan,

Tunísia, Turkmenistan, Turquia, Ucrânia, Usbequistan e Vietnã.

4.2 O ABORTO NO DIREITO ITALIANO

Ensina-nos o mestre e professor, Frediano José Momesso Teodoro (2008), em

sua obra intitulada “Aborto Eugênico” que “desde 1978, havendo perigo para a

gestante ou má formação fetal, a legislação italiana permite a prática do aborto” (2008,

p.228).

Quando houver risco de vida da mulher, ou a sua saúde fisica e mental, má

formação fetal e em casos de estupro, o aborto é permitido a qualquer tempo.

Entretanto, sendo por razões sociais, médicas e econômicas, o aborto somente será

permitido até a 13ª semana de gravidez.

4.3 O ABORTO NO DIREITO PORTUGUÊS

No dia 11 de Fevereiro de 2007, foi aprovada a lei nº 16/2007, que exclui a

ilicitude nos casos de interrupção voluntária da gravidez realizada por opção da mulher

nas primeiras 10 semanas.

Para que o aborto possa ocorrer, é obrigatória a concessão de um prazo mínimo

de três dias para a reflexão da gestante, que passará por acompanhamento psicológico

e técnico de serviço social, onde será informada a respeito da interrupção voluntaria e

suas consequências.

O procedimento deverá ser realizado por médico, ou sob a sua direção, em

estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento

da mulher grávida.

Segundo Teodoro (2008, p.227) sendo para salvar a vida da ou preservar a

saúde da gestante, o aborto deverá ser procedido até a 12ª semana de gestação; se a

gravidez for proveniente de estupro, o procedimento poderá ser realizado até a 16ª

semana de gestação, sendo indispensável a apresentação de queixa policial; “se houver

seguros motivos para prever que o nascituro venha a sofrer, de forma incurável, grave

doença ou má formação congênita, desde que comprovadas através de exames

idôneos” a interrupção da gravidez deverá ser realizada em até 24 semanas.

4.4 O ABORTO NO DIREITO NORTE AMERICANO

Nos Estados Unidos, o aborto é legal em todos os estados do país desde 1973, a

partir da decisão da Suprema Corte no caso Roe vs Wade.(LOPES, 2009, p. 72)

É facultado a gestante, até o fim do primeiro trimestre de gestação, decidir pelo

aborto, ou não, sem a interferência do Estado.

4.5 O ABORTO NO DIREITO BRITÂNICO

O aborto é permitido até as 24 semanas por razões sociais, médicas ou

econômicas. Permitida após as 24 semanas nos casos de risco para a vida da mãe, risco

de grave e permanente doença para a mãe e nos casos de risco de malformação do feto.

Nos países do Reino Unido o aborto é legal desde 1967. Nessa altura, a

legislação britânica era uma das mais liberais da Europa. Hoje, a maioria dos países

europeus adotou legislação semelhante.

4.6 O ABORTO NO DIREITO JAPONÊS

A legalização do aborto no Japão ocorreu em 1948, logo após a segunda guerra

mundial como uma forma de controle demográfico e econômico do país.

Inicialmente, a prática era permitida por razões médicas, eugênicas,

humanitárias e sociais. Hoje em dia, é facultado a gestante a opção de conceber ou não

o feto.

4.7 O ABORTO NO DIREITO CHINÊS

De uma forma geral, o aborto é permitido, bastando que a gestante solicite a

interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação.

Inclusive, prevê um instrumento denominado de política do filho único, que se trata de

uma política implantada pelo governo Chinês na década de 70 e tem como finalidade

tentar conter o avanço populacional. Isso se deve ao fato de o país se encontrar

atualmente com mais de um bilhão e trezentos milhões de habitantes.

Cada família pode ter apenas um filho, nas zonas urbanas, e dois, nas rurais e

apenas se o primeiro for menina. Àqueles que violarem a política do filho único, é

cobrada uma multa de 40 mil yuans, que equivalem a aproximadamente R$12.900,00

(doze mil e novecentos reais), exigida pelas autoridades locais.

Contudo, a legislação chinesa proíbe abortos forçados e veta o procedimento quando a

gravidez ultrapassa os 6 meses.

4.8 O ABORTO NO DIREITO ARGENTINO

Em regra, a proibição do aborto tem previsão legal e desde o ano de 2008 o

Código Penal Argentino prevê sanções severas à mulher que consentir com o aborto e

ao médico e outros agentes de saúde que o realizarem.

A legislação é flexível em apenas duas hipóteses, quais sejam, quando a

gravidez trás risco a saúde da mulher, e quando a gravidez é resultado de estupro.

A segunda hipótese foi legalizada pela Suprema Corte da Argentina neste ano.

Anteriormente, somente mulheres com insanidade mental podiam passar pelo

procedimento.

5 O POSICIONAMENTO DAS RELIGIÕES FRENTE AO ABORTO

O Ministro Marco Aurélio Mello, quando do julgamento da ADPF/54,

introduziu seu voto utilizando como fundamento primeiro, a laicidade da República

Federativa do Brasil, e esclarecendo que a questão em foco não poderia ser analisada

sob a luz de orientações morais e religiosas, tendo em vista que as religiões não tem o

poder de guiar o tratamento estatal dispensado aos demais direitos fundamentais:

“concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer minoritárias,

não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada”.

(ADPF/54).

No mesmo sentido, posicionou-se o Ministro Celso de Mello: “A presente

controvérsia jurídica não pode nem deve ser reconhecida como disputa entre Estado e

Igreja, entre fé e razão, entre princípios jurídicos e teológicos.” (ADPF/54).

Vale destacar um trecho do voto do relator Marco Aurélio Mello,

A questão posta neste processo – inconstitucionalidade da interpretação

segundo a qual configura crime a interrupção de gravidez de feto anencéfalo

– não pode ser examinada sob os influxos de orientações morais religiosas.

Essa premissa é essencial à análise da controvérsia. Isso não quer dizer,

porém, que a oitiva de entidades religiosas tenha sido em vão. Como bem

enfatizado no parecer da Procuradoria Geral da República relativamente ao

mérito desta arguição de descumprimento de preceito fundamental, “numa

democracia, não é legítimo excluir qualquer ator da arena de definição do

sentido da Constituição. Contudo, para tornarem-se aceitáveis no debate

jurídico, os argumentos provenientes dos grupos religiosos devem ser

devidamente ‘traduzidos’ em termos de razões públicas”, ou seja, os

argumentos devem ser expostos em termos cuja adesão independa dessa ou

daquela crença. (ADPF/54).

Dessa forma, faz-se pertinente esclarecer, de forma muito breve, a opinião de

algumas religiões a respeito do aborto.

5.1 CATOLICISMO

O Código de Direito Canônico, prevê em seu título IV, dos delitos contra a vida

e a liberdade do homem: “cânone 1.398. Quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito,

incorre em excomunhão latae sententiae”, ou seja, o fiel é banido da religião no

momento em que comete o aborto.

Por considerar que, a partir do momento da concepção o novo ser humano já é

provido de alma, não pode e não deve, sob nenhuma ocasião, e a qualquer momento,

ter seu direito a vida, interrompido.

Desta forma, condenam o uso de métodos contraceptivos, como o DIU, a pílula

do dia seguinte, os anticoncepcionais, e até mesmo os preservativos.

5.2 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

Segundo as orientações bíblicas, a vida é considerada uma dádiva de Deus,

portanto, o aborto provocado é uma afronta a este preceito.

Quanto aos métodos anticoncepcionais, os mesmos podem ser utilizados de

acordo com a consciência de cada casal, que deverá eleger o meio mais apropriado.

No entanto, os meios que interrompem o processo de evolução de um óvulo já

fecundado, são equiparados ao aborto. Exemplo desses meios: certos tipos de DIU e

pílula do dia seguinte.

5.3 ESPIRITISMO

Aceita o aborto somente no intuito de salvar a vida da mãe.

Não prevê qualquer tipo de pena religiosa na terra, apenas alerta que o aborto

provocado gera consequências negativas, ao espírito.

Quanto aos anticoncepcionais, a religião adota o livre arbítrio, podendo cada

um escolher a forma, ou se deve utilizá-los ou não.

5.4 IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS –

MÓRMONS

O aborto não é aceito sob nenhuma forma, inclusive considerado como crime

hediondo e atentado contra a própria vida.

Os anticoncepcionais são amplamente aceitos.

5.5 JUDAÍSMO

Por considerar que a vida começa somente após o nascimento, não veem o

aborto como assassinato. No entanto, a religião condena o aborto por ser moralmente

restrito o fato de eliminar uma vida em potencial.

Aceitam o uso de qualquer forma de método contraceptivo.

5.6 ISLAMISMO

A religião condena o aborto de qualquer natureza, sendo tolerante apenas nos

casos em que a vida da gestante está em risco.

Visando o bem da família, aceitam o uso de qualquer método contraceptivo

desde que o casal esteja de comum acordo.

5.7 IGREJA PRESBITERIANA

Admite o aborto nos casos de estupro e quando a gravidez trás risco de vida, ou

danos à saúde da mãe.

Admitem o uso dos anticoncepcionais em sua totalidade.

5.8 UMBANDA E CANDOMBLÉ

Por acreditar que a vida de um filho é a continuação da vida de seus pais, a

religião recrimina o aborto. No entanto é condescendente para com a legislação, e por

isso tolera a interrupção da gravidez nos casos por ela admitida.

Não recrimina o uso de qualquer tipo de método anticoncepcional.

5.9 IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

A igreja não admite qualquer tipo de aborto provocado, sob o argumento de que

a vida pertence a Deus, e somente a ele cabe a decisão de tirá-la.

Quanto aos métodos contraceptivos, admitem o uso daqueles que impedem a

fecundação, mas criticam o uso posterior a ela.

5.10 BUDISMO

Para o budismo, o aborto provocado fere o primeiro mandamento, qual seja

“não matar”, e por esse motivo é considerado crime e repudiado pela religião.

Quanto aos métodos anticoncepcionais, eles são amplamente aceitos.

5.11 HARE KRISHNA

O aborto é visto como um ato de agressão à vida, e por esse motivo sua prática

é condenada.

Acreditam que tanto a mãe, como o feto e o individuo que efetivamente realizou

o aborto sofrerão, pela lei do karma, pelo mal que fazem.

Nas palavras de Giridhari Das, um dos líderes da religião no Brasil,

O aborto é o ato mais grosseiramente pecaminoso que um ser humano pode

realizar. O feto é um ser vivo do momento da concepção, portanto é o

assassinato de uma criança e, o que é muito pior, pela própria mãe, a quem

foi conferida por Deus o dever de proteger aquele ser indefeso.

Quanto ao uso dos contraceptivos, continua dizendo que

A recomendação prática é a limitação do sexo dentro do casamento. Sexo

fora do casamento sempre é problemático, pois há sempre o risco de gerar

um filho indesejado, o que é um enorme problema para a criança, os pais, a

família como um todo e toda a sociedade. Já o uso de contraceptivos é uma

questão menor nesta questão, com exceção do uso de DIU que gera um

potencial aborto a cada mês ou a pílula do "day after" já disponível em

alguns países. Mas já o uso de camisinha e pílula, o que dizer de métodos

naturais rítmicos, dentro do casamento, não implica em qualquer falha

moral.

6 ALGUNS PRINCÍPIOS FRENTE AO ABORTO EM FETOS

ANENCÉFALOS

6.1 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIOS

Há na doutrina, várias definições de princípios, as quais se valem dos mais

variados critérios, senão vejamos:

Para Roque Antonio Carrazza

Princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explicito, que,

por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos

vastos quadrantes do Direito e, por isso mesmo, vincula, de modo

inexorável, o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que

com ele se conectam.

Segundo os ensinamentos de Paulo Henrique dos Santos Lucon

nas ciências jurídicas, os princípios tem a grande responsabilidade de

organizar o sistema e atuar como elo de ligação de todo o

conhecimento jurídico com finalidade de atingir resultados eleitos; por

isso, são também normas jurídicas, mas de natureza anterior e

hierarquicamente superior as‘normas comuns’ (ou de ‘normas não

principais’)

Ainda, Marcelo Harger conceitua os princípios como sendo

normas positivadas ou implícitas no ordenamento jurídico, com um

grau de generalidade e abstração elevado e que, em virtude disso, não

possuem hipóteses de aplicação pré-determinadas, embora exerçam

um papel de preponderância em relação às demais regras, que não

podem contrariá-los, por serem as vigas mestras do ordenamento

jurídico e representarem os valores positivados fundamentais da

sociedade.

Passemos então a analise dos principais princípios envolvidos na questão do

abortamento de fetos anencefálicos.

6.2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A dignidade da pessoa humana é uma característica intrínseca e indissociável de

todo e qualquer ser humano pelo simples fato de tê-lo nascido nessas condições,

portanto, irrenunciável e inalienável, por se tratar de um atributo inerente a condição

de ser humano. Não se trata de uma concessão à pessoa humana, de forma que já lhe

pertence de forma inata, sendo atributo de sua própria essência, devendo ser tratado e

considerado como um fim em si mesmo.

Nesse sentido Immanuel Kant ensinou que:

No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando

uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por

outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não

admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade (2004,

p.65).

Sobre esse princípio, Débora Diniz, Doutora em Antropologia e Pós Doutora

em bioética discorre que:

O princípio da dignidade da pessoa humana deve ser considerado

fundamental para a ética da antecipação terapêutica. O diagnóstico da

má formação fetal incompatível com a vida é uma situação de extremo

sofrimento para as mulheres e os futuros pais. São situações em que

todos os recursos científicos disponíveis para reverter o quadro da má

formação são nulos (2004, p.81).

É inegável que assuntos polêmicos como esse, despertam manifestações de

normas de conteúdos éticos, religiosos e culturais, e estarão sempre sendo

questionados, no entanto, é importante saber adequar estes padrões a luz do princípio

da dignidade da pessoa humana, sabendo ser este um dos principais fundamentos da

República, previsto no artigo 1º de nossa Carta Magna.

Ademais, é sabido que a constituição de 1988 se integra ao movimento político

pós positivista, que busca a reaproximação entre o direito e a ética, afastando-o, por

consequência, da religião, afinal, direito é direito, religião é religião.

A propósito, na petição inicial que deu origem a ADPF nº 54, ao tratar do

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, Luiz Roberto Barroso faz uma analogia à

tortura:

Obrigar uma mulher a conservar no ventre por longos meses, o filho

que não poderá ter, impõe a ela sofrimento inútil e cruel. Adiar o

parto, que não será uma celebração da vida, mas um ritual de morte,

viola a integridade física e psicológica da gestante, em situação

análoga à tortura (BARROSO, 2005).

6.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

De acordo com o art. 5º, II da Constituição Federal “ninguém será obrigado a

fazer ou deixar de fazer, senão em virtude de lei”, portanto para o particular tudo o que

não é proibido pelo ordenamento jurídico é permitido, assim, todos tem ampla

liberdade de reger suas vidas da forma como bem entender, salvo disposição em

contrário.

6.4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE

É dever do Estado defender e garantir as liberdades, e jamais oprimi-las,

devendo assegurar o respeito a pluralidade de ideias, opiniões, de crenças e harmonizá-

las como os demais direitos fundamentais.

Por representar um conceito aberto, o direito a liberdade engloba uma

infinidade de direitos, dentre os quais podemos destacar a liberdade religiosa,

liberdade de pensamento, liberdade de imprensa e etc.

Dessa forma, antes do julgamento da ADPF nº 54, quando as decisões proibiam

a interrupção da gravidez nestes casos, restringiam e ofendiam, também, a liberdade da

gestante.

6.5 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

Referido princípio, diz respeito à capacidade de cada individuo autogovernar-

se, em vários sentidos, sem restrições internas ou externas. Dessa forma, devem ser

respeitados os valores morais de cada um. Vale dizer que, os atos de escolhas,

importam, obrigatoriamente, em responsabilidades, e que cada um deverá arcar com as

suas.

A título de definição, ensina-nos Daury Cesar Fabriz que

O princípio da autonomia da vontade justifica-se como princípio

democrático, no qual a vontade e o consentimento livres do individuo

devem constar como fatores preponderantes, visto que tais elementos

ligam-se diretamente com o princípio da dignidade da pessoa humana.

(FABRIZ, 2003, p.109)

6.6 PRINCÍPIO DO RESPEITO À AUTONOMIA

Um dos princípios basilares da ética biomédica, o respeito à autonomia é

tratado na obra de Beauchamp e Childress, como um princípio que defende que não

basta que a autonomia do ser humano seja reconhecida, a mesma deve ser respeitada

de forma efetiva, ou seja,

Ser autônomo não é a mesma coisa que ser respeitado como um agente

autônomo. Respeitar um agente autônomo é, no mínimo, reconhecer o

direito dessa pessoa de ter suas opiniões, fazer suas escolhas e agir com base

em valores e crenças pessoais. Esse respeito envolve a ação respeitosa, e não

meramente uma atitude respeitosa. Ele exige também mais que obrigações

de não intervenção nas decisões das pessoas, pois inclui obrigações para

sustentar as capacidades dos outros, para escolher autonomamente (2002,p.

143)

Em outras palavras, “o respeito pela autonomia implica tratar as pessoas de

forma a capacitá-las a agir autonomamente” (2002, p. 143).

De forma mais clara e aplicando ao caso, o ideal não é proibir ou obrigar a

interrupção da gestação de fetos anencefálicos, mas sim dar suporte à gestante, para

que a mesma tenha capacidade de escolher o que melhor lhe couber.

7 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL Nº

54 (ADPF/54)

Em 2004, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, ingressou com

a ação de arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF/54), junto ao

Supremo Tribunal Federal, requerendo à Corte Constitucional, a interpretação dos

dispositivos do Código Penal que tratam do aborto, à luz da Constituição Federal, e

dessa forma, declarando com eficácia erga omnes e efeito vinculante, a

descriminalização do aborto em caso de gravidez anencefálica, de forma que a

gestante, para submeter-se ao referido procedimento, não necessitasse apresentar

autorização judicial, ou qualquer outro tipo de permissão específica do Estado.

A petição foi assinada pelo jurista Luis Roberto Barroso, que utilizou vários

argumentos, dentre os quais podemos destacar:

a) a impossibilidade de vida extrauterina;

b) que obrigar a gestante a manter-se nessa condição, sabendo que a qualquer

tempo durante a gestação ou inevitavelmente após o nascimento, o feto ou o

recém nascido, viria a falecer, equipare-se a uma situação de tortura;

c) e que por se tratar de feto desprovido de cérebro, nem mesmo trata-se de

aborto, tendo em vista que legalmente o marco para morte de um individuo é

a morte cerebral.

Em contrapartida, outros setores da sociedade, de forma mais acentuada a Igreja

Católica, se manifestaram de forma contrária ao longo da ação, valendo-se de

argumentos dentre os quais podemos destacar:

a) que a partir do momento da fecundação já há uma vida em desenvolvimento

e que seu direito deve ser respeitado;

b) que, ainda que raras, há possibilidade de vida extrauterina;

c) que a legalização dessa modalidade de aborto, seria precedente e abriria

caminhos para a ampla e irrestrita legalização do aborto em geral; que esse

tipo de aborto é uma modalidade de aborto eugênico, utilizada pelos regimes

arianos, como o nazista, onde os fetos com deficiências físicas ou mentais

eram eliminados.

7.1 O JULGAMENTO

Após aproximadamente oito anos de tramitação, o processo foi a julgamento no

mês de abril do corrente ano (2012).

Após a leitura do relatório pelo Ministro Marco Aurélio Mello, houve a

sustentação oral pelo advogado da CTNS, Luis Roberto Barroso, que reiterou seus

fundamentos de forma pontual em quatro teses, quais sejam:

a) que a hipótese não é de aborto e que o fato é atípico;

b) que a hipótese já é colhida pelas exceções do Código Penal tendo em vista

que quando o aborto é necessário para salvar a vida da mulher, pondera-se a vida do

feto e a vida da mãe, e quando a gravidez é resultado de estupro, pondera-se a vida do

feto com a violência física e moral sofrida pela gestante. No caso do anencéfalo, não

há sequer expectativa de vida extrauterina, portanto seria esse caso menos gravoso que

os previstos no Código Penal, e que o mesmo só não encontra previsão expressa no

mesmo dispositivo daquelas porque à época de sua elaboração não haviam meios para

detecção da anomalia em questão.

c) Dignidade da Pessoa Humana: aqui, vale destacar um trecho de sua

sustentação

viola a dignidade da pessoa humana o Estado obrigar uma mulher a passar

por todas as transformações físicas e psicológicas pelas quais passa uma

gestante, só que nesse caso ela estará se preparando para o filho que não vai

chegar. O parto para ela não será uma celebração da vida, mas um ritual de

morte. Essa mulher não sairá da maternidade com um berço, mas com um

pequeno caixão. E terá de tomar remédios para secar o leite que produziu

para ninguém.

Levar ou não esta gestação a termo tem de ser uma escolha da mulher!

Esta é a sua tragédia pessoal, a sua dor. Cada pessoa, nessa vida, deve

poder decidir como lidar com o próprio sofrimento. O Estado não tem

o direito de querer tomar essa decisão pela mulher. Viola a dignidade

da pessoa humana submetê-la a um sofrimento inútil e indesejado.

(BARROSO, 2012, ADPF/54)

d) Obrigar a mulher a manter uma gestação quando ou enquanto o feto não seja

viável fora do útero, viola um conjunto de direitos fundamentais, dentre eles

a autonomia da vontade e igualdade, posto que

Só as mulheres engravidam. Se os homens engravidassem, a interrupção da

gestação — não apenas do feto anencefálico, mas qualquer gestação — já

teria sido descriminalizada há muito tempo, como observou, com a

sensibilidade costumeira, o ministro Carlos Ayres. Obrigar uma mulher a

manter a gestação que não deseja, não sendo o feto viável fora do útero, é

discriminá-la em relação aos homens, que não estão sujeitos a essa

obrigação. Ou a escolha é da mulher ou não haverá igualdade. (BARROSO,

2012, ADPF/54)

Após sua manifestação, foi a vez do Procurador Geral da República, Roberto

Gurgel, dar seu parecer, oportunidade em que defendeu a autonomia da vontade da

mulher afirmando que nessa questão extremamente delicada, cabe à ela decidir com

sua própria consciência sobre a interrupção da gravidez, e essa decisão não pode ser

proibida ou criminalizada pelo Estado. Quanto à tipicidade da prática, manifestou-se

nos seguintes termos

a prática não lesa os bens jurídicos tutelados pelos artigos 124 a 128 do

Código Penal. Isso porque o bem jurídico protegido pelas normas que

tipificam o aborto é a vida do feto. E, na interrupção de gravidez de feto

anencefálico, não é a ação da gestante ou de profissionais da saúde que

impede o seu nascimento com vida. O anencéfalo é um natimorto cerebral e,

portanto, o tipo não se caracteriza (GURGEL, 2012, ADPF/54).

Superada essa fase, os Ministros iniciaram a votação.

O ministro Luiz Antonio Dias Toffoli, não participou do julgamento. Declarou-

se impedido, pois havia se pronunciado sobre a ação quando exercia o cargo de

Advogado Geral da União.

7.2 VOTOS E ARGUMENTOS A FAVOR DA INTERRUPÇÃO

Na oportunidade, oito dos dez ministros votantes decidiram pela procedência da

ação, admitindo que a gestação do feto anencéfalo pode ser interrompida ao talante da

grávida, sem que esta escolha implique conduta criminosa.

Os ministros entenderam que de fato, em 100% dos casos de anencefalia, o

resultado é a morte do feto ou do recém nascido, seja ela intrauterina – em sua maioria

– ou extrauterina.

Ademais, como não há expectativa de vida, não há como mencionar o direito a

vida, garantido pela Constituição. O relator Marco Aurélio, considera inadmissível que

o direito a vida de um feto que sequer tem a expectativa da mesma, prevaleça em

detrimento a uma infinidade de garantias constitucionalmente adquiridas pela gestante,

e esclarece que “Aborto é crime contra a vida. Tutela-se a vida potencial. No caso do

anencéfalo, repito, não existe vida possível [...] O anencéfalo jamais se tornará uma

pessoa. Em síntese, não se cuida de vida em potencial, mas de morte segura”.

(ADPF/54).

No mesmo sentido, para a ministra Rosa Maria Weber, o que se discutiu não foi

o direito a vida do feto acometido por anencefalia, posto que de acordo com o

Conselho Federal de Medicina, o mesmo jamais terá condições de desenvolver uma

vida com capacidade psíquica, física e afetiva inata ao ser humano, pois não terá

atividade cerebral que o qualifique como tal. Segundo a ministra

só é ser humano vivo, para os fins do Direito, o organismo que possa vir a

desenvolver capacidades mínimas intrínsecas ao ser humano [...] não há

interesse me se tutelar uma vida que não vai se desenvolver socialmente.

Proteger a mulher nesse caso é proteger sua liberdade de escolha. (ADPF/54)

Dessa forma, prevaleceu a tese de que é desproporcional proteger o feto

anencefálico que invariavelmente não sobreviverá em detrimento da saúde da gestante,

que como vimos, é gravemente afetada.

A preservação da saúde – sobretudo a psíquica - da gestante foi ponto

fundamental na decisão do ministro Gilmar Mendes, que defendeu que “o aborto do

feto anencéfalo tem por objetivo zelar pela saúde psíquica da gestante [...] Não é

razoável, não parece tolerável que se imponha a mulher esse tamanho ônus à falta de

um modelo institucional adequado para resolver essa questão.” (ADPF/54).

Ao tratar dessa questão, o ministro Luiz Fux se manifesta nos seguintes termos:

O prosseguimento da gravidez gera na mulher um grave abalo psicológico, e,

portanto, impedir a sua interrupção da gravidez equivale a uma tortura,

vedada pela Carta Magna (art. 5º, III). Essa afirmativa tem apoio em dados

científicos, os quais apontam que a interrupção da gravidez tem o condão de

diminuir o sofrimento mental da gestante. (ADPF/54).

Sobre a tortura, concluiu Marco Aurélio que

O ato de obrigar a mulher a manter a gestação, colocando-a em uma espécie

de cárcere privado em seu próprio corpo, desprovida do mínimo essencial de

autodeterminação e liberdade, assemelha-se à tortura ou a um sacrifício que

não pode ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido. (ADPF/54)

Ainda, quanto a ausência de previsão legal, os ministros justificam que na época

em que o Código Penal foi editado, no ano de 1940, a tecnologia não possibilitava que

o anencéfalo fosse diagnosticado durante a gravidez, de forma que manifestou-se o

ministro Gilmar Mendes

O aborto de fetos anencéfalos está certamente compreendido, parece-me,

entre as duas excludentes da ilicitude, já previstas no Código Penal. Todavia,

era inimaginável para o legislador de 1940 prever essa circunstância, em

razão das próprias limitações tecnológicas existentes. Atualmente tornou-se

comum e relativamente simples descobrir a anencefalia fetal, de modo que a

não inclusão na legislação penal dessa hipótese de excludente de ilicitude

pode ser considerada uma omissão legislativa, não condizente com o Código

Penal e com a própria Constituição. (ADPF/54)

Pela procedência votaram os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Maria

Weber, Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Carmem Lucia, Carlos Ayres Britto, Gilmar

Mendes e Celso de Mello.

7.3 VOTOS E ARGUMENTOS CONTRÁRIOS A INTERRUPÇÃO

Restaram vencidos os ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso.

Para o ministro Ricardo Lewandowski, a tese de que o Código Penal não prevê

essa circunstância como passível de aborto porque a tecnologia da época não permitia

o diagnóstico, é falha, e contesta

E não se diga que à época da promulgação do Código Penal ou de sua

reforma, levadas a efeito, respectivamente, por meio do Decreto-lei nº 2.848,

de 7 de dezembro de 1940, e da Lei 7.209, de 11 de junho de 1984, não

existiam métodos científicos para detectar eventual degeneração fetal. Como

se sabe, os diagnósticos de deformidades ou patologias fetais, realizados

mediante as mais distintas técnicas, a começar do exame do líquido

amniótico, já se encontram de longa data à disposição da medicina

(ADPF/54)

Lewandowski ainda sustenta que referida decisão não cabe ao STF, pois o

mesmo não tem competência para legislar, e que estaria, portanto adentrando as

funções típicas do legislativo, extrapolando a competência do Supremo Tribunal

Federal

O STF, à semelhança das demais cortes constitucionais, só pode exercer o

papel de legislador negativo, cabendo a função de extirpar do ordenamento

jurídico as normas incompatíveis com a Constituição [...] Não é dado aos

integrantes do Judiciário, que carecem da unção legitimadora do voto

popular, promover inovações no ordenamento normativo como se fossem

parlamentares eleitos. (ADPF/54)

Para o presidente da Corte, Cezar Peluso, esse foi o julgamento mais importante

do STF, e um dos argumentos por ele defendidos é que “o aborto é conduta vedada de

modo frontal pela ordem jurídica”.

Defende que se o anencéfalo morre, é porque ele tem vida, e se assim o é, a

mesma deve ser resguardada.

Assegura ainda que referido tema é de competência do legislativo: “Não temos

legitimidade para criar, judicialmente, esta hipótese legal. A ADPF não pode ser

transformada em panaceia que franqueie ao STF a prerrogativa de resolver todas as

questões cruciais da vida nacional”.

7.4 A DECISÃO

Assim, por 8 votos a 2, os Ministros decidiram pela procedência da ação, nos

seguintes termos:

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou

procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da interpretação

segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta

tipificada nos artigos 124, 126, 128, incisos I e II, todos do Código Penal,

contra os votos dos Senhores Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello

que, julgando-a procedente, acrescentavam condições de diagnóstico de

anencefalia especificadas pelo Ministro Celso de Mello; e contra os votos

dos Senhores Ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso (Presidente),

que a julgavam improcedente. Ausentes, justificadamente, os Senhores

Ministros Joaquim Barbosa e Dias Toffoli. Plenário, 12.04.2012..

(ADPF/54)

Portanto, não constitui fato típico a interrupção da gravidez de fetos

anencéfalos. Dessa forma, os médicos que realizam as cirurgias, e as gestantes que

optam pela interrupção da gravidez não cometem o crime de aborto, e portanto, essa

pratica independe de qualquer tipo de permissão do Estado.

8 RESOLUÇÃO 1.989/2012 DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

Após o julgamento da ADPF/54, na qual o Supremo Tribunal Federal declarou

a constitucionalidade da antecipação terapêutica do parto nos casos de gestação de feto

anencéfalo, o que não caracteriza o aborto tipificado no Código Penal, e com ele não

se confunde, o Conselho Federal de Medicina (CFM) editou a resolução 1.989/2012, a

qual dispõe sobre o diagnóstico de anencefalia para a antecipação terapêutica do parto.

Para que a antecipação possa ocorrer, é necessário que haja um diagnóstico

médico inequívoco, o qual é realizado por meio de exame ultrassonográfico.

A realização e a interpretação do referido exame, bem como a emissão do

respectivo laudo é de competência exclusiva do médico.

Portanto, fica resolvido que na ocorrência do diagnóstico inequívoco de

anencefalia o médico pode, a pedido da gestante, independente de autorização do

Estado, interromper a gravidez.

O diagnóstico realizado através de exame ultrassonográfico a partir da 12ª

semana de gestação deverá conter duas fotografias, identificadas e datadas: uma com a

face do feto em posição sagital; a outra, com a visualização do polo cefálico no corte

transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de parênquima cerebral

identificável; também deverá conter laudo assinado por dois médicos, capacitados para

tal diagnóstico.

Concluído o diagnóstico de anencefalia, o médico deve prestar à gestante todos

os esclarecimentos que lhe forem solicitados, garantindo a ela o direito de decidir

livremente sobre a conduta a ser adotada.

Ante o diagnóstico de anencefalia, a gestante tem o direito de manter a

gravidez; interrompe-la imediatamente, independente do tempo de gestação, ou adiar

essa decisão para outro momento.

Independente da decisão da gestante, o médico deve informá-la das

consequências, incluindo os riscos decorrentes ou associados de cada uma.

Se a gestante optar pela manutenção da gravidez, ser-lhe-á assegurada

assistência médica pré-natal compatível com o diagnóstico.

Tanto a gestante que optar pela manutenção da gravidez quanto a que optar por

sua interrupção receberão se assim o desejarem, assistência de equipe

multiprofissional nos locais onde houver disponibilidade.

É importante frisar que a antecipação terapêutica do parto pode ser realizada

apenas em hospital que disponha de estrutura adequada ao tratamento de complicações

eventuais, inerentes aos respectivos procedimentos.

Preocupado com a recorrência de gestação de feto anencefalo – que é

cerca de 50% maior de ocorrer – o CFM prevê que, realizada a antecipação terapêutica

do parto, o médico deve informar à paciente os riscos de recorrência da anencefalia e

referenciá-la para programas de planejamento familiar com assistência à contracepção,

enquanto essa for necessária, e à préconcepção, quando for livremente desejada,

garantindo-se, sempre, o direito de opção da mulher.

9 DA NECESSIDADE DO ALVARÁ JUDICIAL APÓS O JULGAMENTO DA

ADPF/54

Como amplamente exposto, após o julgamento da ADPF/54, às gestantes de

fetos anencéfalos que desejarem interromper a gestação, não mais necessitam de

autorização judicial ou de qualquer tipo de permissão do Estado.

Conforme explica o capítulo anterior, o Conselho Federal de Medicina editou

uma resolução regulamentando o procedimento, e dispondo que na ocorrência do

diagnóstico inequívoco de anencefalia o médico pode, a pedido da gestante,

independente de autorização do Estado, interromper a gravidez.

Não é o que vem ocorrendo na prática. Alguns médicos ainda exigem, para a

realização da antecipação, que a gestante apresente uma autorização judicial.

Por esse motivo, O Ministério da Saúde vem promovendo cursos e demais

políticas a fim de capacitar os médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) para

atendimento a mulheres grávidas de fetos anencéfalos.

10 CONCLUSÃO

Ao analisar a questão da interrupção terapêutica da gestação de fetos

anencéfalos, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, entendeu,

reconheceu e acolheu os argumentos trazidos pelo Conselho Nacional dos

Trabalhadores em Saúde, que defendiam a possibilidade de ocorrência, alegando que

os fetos na verdade são natimortos cerebrais, não possuem expectativa de vida

extrauterina e que por isso não há que se falar em direito a vida, mas que por outro

lado, obrigar a gestante a levar a gestação a termo, sabendo que a qualquer tempo

durante a gravidez ou invariavelmente após o nascimento, o feto ou recém nascido,

viria a falecer, equipara-se a uma situação de tortura, ferindo princípios

constitucionais.

Decidindo procedência da ADPF/54, reconhecendo o direito e a autonomia da

mulher gestante de feto anencéfalo, e a ela conferindo o poder de decidir sobre sua

vontade, sobre seu próprio corpo, de acordo com a sua essência e com as suas crenças,

da melhor forma como lhe prouver, o Supremo Tribunal Federal deu um grande passo,

não rumo ao futuro, mas sim finalmente se chegando ao presente.

No ano de 1940, quando o Código Penal Brasileiro foi editado, trouxe duas

hipóteses em que o aborto não é criminalizado. Esta modalidade – aborto de

anencéfalo - não faz parte do rol, pelo simples fato de que à época, não haviam meios

de diagnosticar o mal ainda no ventre.

O Direito como todos os outros ramos do conhecimento, deve acompanhar os

avanços sociais, a legislação deve se atualizar à medida que a sociedade evolui. Apesar

da morosidade na tramitação, e da longa espera pelo julgamento, o direito finalmente

subsumiu-se à atualidade.

Dentro desse enfoque alcançamos uma conquista onde, sobretudo, a dignidade

da pessoa humana foi respeitada e garantida, onde a mulher gestante de um feto

anencéfalo pode exercer seu direito de liberdade de escolha e da autonomia

reprodutiva e decidir pelo prosseguimento ou não de seu estado gravídico.

Sem embargo, não falamos aqui de uma liberdade sem regras, pois para que

possa ocorrer a interrupção da gestação nestes casos, há que ser respeitada a resolução

1.989/12 do Conselho Federal de Medicina, o qual dispõe que é necessário que haja

um diagnóstico médico inequívoco, realizado por meio de exame ultrassonográfico a

partir da 12ª semana de gestação, e deverá conter duas fotografias, identificadas e

datadas: uma com a face do feto em posição sagital; a outra, com a visualização do

polo cefálico no corte transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de

parênquima cerebral identificável; também deverá conter laudo assinado por dois

médicos, capacitados para tal diagnóstico. Cumpridas as formalidades, o médico,

independente de autorização judicial, ou qualquer permissão do Estado, poderá realizar

a interrupção da gestação, sem que isso implique conduta criminosa.

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