universidade sustentÁvel: a nova agenda socioambiental da puc-rio · conta da multiplicidade do...
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Departamento de Arquitetura e Urbanismo
UNIVERSIDADE SUSTENTÁVEL: A NOVA AGENDA
SOCIOAMBIENTAL DA PUC-RIO
Aluno: Mariana Vieira Soares e Fernanda leite da Silva
Orientador: Maria Fernanda Rodrigues Campos Lemos
Introdução
Vivemos atualmente em meio a uma crise socioambiental. Não apenas as cidades, mas
também as instituições precisam estar preocupadas em conseguir melhorar suas práticas
visando à sustentabilidade socioambiental. Uma universidade, por sua vez, é considerada um
importante articulador de transformações, na qual há uma concentração de conhecimento e
indivíduos capazes desenvolver novas práticas sustentáveis e articular pesquisas na área. Por
conta da multiplicidade do público que a frequenta e pela capacidade de auto gerir seus
processos, esta funciona como se fosse uma mini cidade e serve de modelo para instituições
menores.
O projeto da nova Agenda Socioambiental da PUC-Rio é um programa que tem por
objetivo revisar a Agenda Ambiental em vigor na universidade. O projeto lida com
conhecimentos acerca da sustentabilidade, os quais possuem carácter bastante interdisciplinar
sendo assim, articulou-se uma equipe de trabalho que fosse composta por alunos e professores
com áreas de conhecimento (graduações) diversas. Inicialmente, três bolsistas PIBIC foram
selecionados para dar início ao processo de revisão da Agenda Ambiental e durante os últimos
12 meses, trabalharam para estudar a sustentabilidade dentro da universidade.
A elaboração da nova agenda foi dividida em duas etapas de trabalho. A primeira, que
foi desenvolvida até agora, contou com a realização de workshops participativos —
discussões com alunos e professores da PUC, não integrantes do projeto —, levantamentos e
investigações sobre a universidade. Tais atividades permitiram construir as bases de
conhecimento sobre a universidade, coletar informações e desenvolver análises do território
— gerar um diagnóstico do campus — e definir as estratégias de transformação que nortearão
as metas e os programas que serão elaborados na segunda etapa.
A primeira etapa, portanto, compreende as três primeiras partes da agenda que
buscávamos definir: princípios, diagnóstico e diretrizes. Estes três itens eram o objetivo final
a se alcançar nesta primeira etapa, sendo eles os nossos resultados e objetivo final para a
metodologia que foi desenvolvido para o projeto de revisão da Agenda.
Metodologia
Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa entende-se que nesta primeira etapa
de trabalho era necessário analisar criticamente e desenvolver um conteúdo confiável acerca
de alguns dos temas que constituem agenda – aqueles que foram definidos como “temas
básicos” -, sendo estes: Biodiversidade, Água, Energia, Resíduos, Espaços construídos e de
convivência e Mobilidade. Os temas que integram a Agenda socioambiental foram divididos
em três grupos de trabalho, nos quais havia pelo menos um aluno-pesquisador PIBIC, alunos
voluntários e orientadores-professores da Universidade.
O seguinte relatório refere-se à metodologia utilizada pelo “Grupo de trabalho 3”, que
foi responsável por analisar o campus dentro dos temas "Espaços construídos e de
convivência” e “Mobilidade". Estes dois temas foram inseridos na revisão uma vez que nós
compreendemos que uma agenda socioambiental também deve considerar a relação do
homem com o espaço e não somente o espaço em si. É importante ressaltar que por conta da
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interdisciplinaridade da agenda foi utilizado um eixo metodológico que fosse capaz de
direcionar o trabalho como um todo, passível de alguma adaptação por cada um dos grupos de
trabalho em função das especificidades de cada tema pesquisado.
Primeiramente foi utilizada uma metodologia participativa que resultou na elaboração
de um diagnóstico de sensibilidade. Durante a Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio de
2016, o NIMA em conjunto com os responsáveis pela revisão da agenda, organizaram uma
semana de workshops para que cada um dos temas da agenda pudessem ser discutidos com a
comunidade PUC. Pretendia-se entender a opinião e a visão que os alunos tinham a respeito
de cada um dos temas, do ponto de vista da sustentabilidade. Este foi o primeiro passo para a
revisão efetiva da agenda, uma vez que a partir das discussões e da opinião dos próprios
usuários foi possível identificar uma série de possíveis diagnósticos que seriam e foram
confirmados ou refutados ao longo do processo de revisão.
Para dar continuidade à investigação sobre o campus foi desenvolvida uma nova etapa
na metodologia de trabalho. Era necessário mensurar o status de sustentabilidade dos temas
estudados dentro da Universidade hoje. Para isso foi necessário definir quais itens precisavam
ser mensurados, dentro de cada tema, de modo que as informações fossem utilizadas para a
geração de um diagnóstico concreto.
Os alunos-pesquisadores utilizaram o diagnóstico de sensibilidade e a problematização
do campus, resultado da SMA de 2016, e referências de agendas de instituições como
embasamento para trabalho de revisão da agenda.
Figura 1: Metodologia adotada para definição dos itens a serem mensurados sobre a universidade.
Figura 2: Exemplo de aplicação da metodologia.
Uma vez compreendido quais itens precisavam ser coletados, foi elaborada uma lista de
"itens de levantamento", que foram categorizados na “Planilha de ação”. Esta planilha é parte
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da ferramenta metodológica desenvolvida para a revisão da agenda e tinha por objetivo listar
os itens a serem coletados mas também traçar uma maneira de conseguir estes itens. Com isso
a planilha apresentava o itens e onde, quem, como e o andamento da tarefa (Figura 3).
Figura 3: Exemplo de preenchimento da “Planilha de ação”.
Para coletar as informações necessárias que foram listadas na “Planilha de ação” o que
definimos por “Itens de levantamento”, os grupos de trabalho utilizaram métodos variados.
No caso do nosso grupo de trabalho, o GT3, por lidar com temas que são necessárias análises
e observação da interação do usuário com o campus, foram usados métodos como:
1) A criação de um questionário, aplicado com alunos e funcionários da universidade para
saber sobre as condições e qualidade dos espaços de convívio da universidade e quais meios
de transporte são utilizados (figura 4 e figura 5);
Figura 4: ETAPA 1 do questionário aplicado aos usuários da Universidade. Esta etapa tinha como objetivo identificar os meios de transporte e os bairros dos usuários — alunos, professores e prestadores de serviço — da universidade.
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Figura 5: ETAPA 2 do questionário aplicado aos usuários da Universidade. Esta etapa tinha como objetivo
identificar os espaços de convivência mais e menos utilizados da universidade e o motivo para tal classificação, além de medir qualitativamente as condições de cada um desses locais.
2) Levantamentos fotográficos do campus apontando e catalogando algumas de suas
características físicas, construtivas e das diferentes interações do usuário com seus espaços;
3) Levantamento de dados numéricos, coletados junto aos órgãos de gestão da universidade
(figura 6);
Figura 6: Dados coletados na divisão de parqueamento da Universidade para saber o número de carros que estacionam dentro do campus.
4) Medições de temperatura e som, para avaliação de conforto ambiental;
5) Observação de aspectos citados na semana de ambiente de modo a confirmar ou descartar
situações apontadas pelos participantes dos workshops.
Como foi dito esta primeira etapa da revisão da Agenda Socioambiental, que
correspondeu a estes 12 meses de pesquisa, tinha por objetivo definir princípios, diagnósticos
e diretrizes. Estes 3 itens foram criados, enquanto nome e definição pelo grupo que trabalhava
na revisão da agenda, dando origem a documentos como glossários e planilhas, de modo a
indicar exatamente quais eram as definições do que buscávamos como resultado e como eles
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deveriam ser definidos. Sendo assim imediatamente após a coleta dos itens de levantamento
foi articulada à “planilha de ação” uma nova seção denominada, “Sistematização preliminar”,
que continha as informações adquiridas na SMA2016, as discussões do grupo de trabalho, os
dados adquiridos da partir dos itens de levantamentos, etc.
Nesta nova etapa do processo era necessário que todas essas informações estivessem
armazenadas em um mesmo documento para facilitar seu cruzamento, e deste modo
desenvolver o resultado que era buscado, a definição de:
1) Princípios: “O que deverá orientar a nossa atuação (e proposição), em cada tema, visando a
um grau ótimo de sustentabilidade socioambiental na universidade.”
Os princípios como a própria definição acima já diz é o cenário ideal, o qual a PUC
busca se enquadrar. Para uma ideia se tornar um princípio várias informações foram
compiladas e refinadas até ter-se uma definição final, ou o que chamamos de “síntese do
principio”, como pode ser visto na figura 7.
Figura 7: Este trecho da tabela representa a primeira parte de 1/3 do número de colunas da “Sistematização preliminar”. Nesta figura podemos ver um exemplo de princípio sobre o tema de
Mobilidade. A coluna “síntese do princípio” corresponde ao princípio final, neste caso “Desmotorização” e as colunas anteriores correspondem ao caminho, os dados que foram excenciais para a definição deste.
2) Diagnósticos: Uma conclusão sintética e crítica sobre a situação atual do campus
(integrando aspectos negativos e positivos, presentes e futuros, que influenciam a condição de
sustentabilidade de cada tema).
Para cada um dos princípios, foram definidos também 1 ou mais diagnósticos. Estes
como diz na definição acima deveriam ser uma espécie de definição de problemas e pontos
positivos sobre as características do campus. Os diagnósticos servem como uma avaliação da
condição do campus.
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Figura 8: Este trecho da tabela representa a segunda parte de 1/3 do número de colunas da “Sistematização preliminar”. Nesta figura podemos ver exemplos de diagnósticos referentes ao princípio da “Desmotorização”. A coluna “síntese do diagnóstico” corresponde ao diagnóstico final e as colunas anteriores correspondem ao caminho, os dados que foram excenciais para a definição destes.
3) Diretrizes: O nível mais amplo de orientação para nortear metas, projetos e programas.
Funciona como a conexão entre estes e o diagnóstico, tendo em mente os princípios
estabelecidos.
As diretrizes são o primeiro passo para a definição das ações (projetos e programas) que
serão tomadas para ter uma universidade mais sustentável, elas ainda não são refinadas ao
ponto de já serem a ação a ser efetuada, mas indicam a ideia e dão a orientação para que os
projetos sejam definidos.
Como foi dito anteriormente, as metas, os programas e os projetos serão elaborados na
próxima etapa de revisão da agenda. A etapa 2 da revisão será efetuado no semestre 2017.2 e
não faz parte dos resultados destes 12 meses de pesquisa, mas foi necessários ter colunas
correspondentes a estes pois muitas vezes ao tentar definir um diretriz, que deve ser um ideia
mais geral acabávamos pensando em um projeto, o que pra nós é considerada um ação e não
um norteador.
Figura 9: Este trecho da tabela representa a terceira parte de 1/3 do número de colunas da “Sistematização preliminar”. Nesta figura podemos ver exemplos de diretrizes referentes aos
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diagnósticos da “Desmotorização”. A coluna “síntese das diretrizes” corresponde ao diagnóstico final e a colunas anterior corresponde ao caminho e dados que foram excenciais para a definição destas.
Resultados e discussões
O tema de “Espaços construídos e de convivência” relacionou a questão da
sustentabilidade com a preocupação em disponibilizar espaços, no campus da PUC-Rio, que
sejam apropriados para o dia-a-dia de seus usuários e, ao mesmo tempo, que permitam que
estes usufruam da relação que o campus possui com o ambiente natural. E o resultado de todo
este processo de trabalho foi um total de 4 princípios, 16 diagnósticos e 8 diretrizes, que serão
apresentados a seguir.
Princípio da Inclusão: compreende que, em um ambiente coletivo, como a
universidade, devem existir espaços capazes de acolher a diversidade de vida, humana e
também selvagem. Estes precisam ser democráticos; acessíveis; de fácil leitura e adequados
ao público e suas necessidades. Devem ser espaços conformados de modo que evitem formas
excludentes socialmente, economicamente, culturalmente, fisicamente, para que desse modo,
possamos estimular o senso de pertencimento da comunidade.
Nos levantamentos efetuados pelo grupo de trabalho, identificou-se que no conjunto de
espaços de convívio do campus, há apropriações e usos diversos e que os espaços que
possuem maior flexibilidade tendem a ser os mais procurados e utilizados (fig. 10). Porém,
nem todos os espaços de convívio do campus oferecem as condições adequadas para os usos
adotados, algumas vezes por oferecer recursos deficitários, como mobiliário e outros (fig. 11).
Uma diretriz para ampliar o grau de inclusão dos espaços de convivência do campus é a
melhoria na distribuição dos recursos em todo o campus, tendo em mente as necessidades dos
usuários em função dos usos que podem ser acolhidos e disponibilizados.
Mesmo possuindo muitos lugares propícios para convivência e estudo, o campus ainda
não possui quantidade suficiente de espaços para atender confortavelmente a demanda e
diversidade de usuários, deste modo é necessário pactuar com a comunidade sobre o
desenvolvimento físico-espacial do campus, visando acolher as diferentes necessidades e
limites. É comum ver alunos em locais mais alternativos para realizar a atividade de estudos
(fig. 12), as vezes estas escolhas são por uma questão de preferência do usuário mas em
outras, pode ser por falta de assentos disponíveis na biblioteca ou a escassez de espaços que
possibilitem a realização de uma tarefa em grupo.
Além dos espaços de uso mais intensivo, a PUC-Rio é composta por um conjunto de
espaços de valor simbólico e histórico (fig. 13) que são pouco utilizados e/ou reconhecidos.
Figura 10: a arquibancada do Edificio Leme
é bastante utilizada por conta de sua
flexibilidade para usos diversos.
Figura 11: o mobiliário da lanchonete no
Edifício Kennedy é inadequado por ser
desconfortável ao uso que se predispõem.
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Tais edificações, por não fazerem parte do uso cotidiano dos usuários do campus, são muitas
vezes desprestigiados, mas trariam grande benefício à construção do senso de pertencimento
da comunidade se fossem evidenciados — seja por meio de métodos físicos (identificação
formal, iluminação diferenciada, dentre outras), seja pela intensificação de seu próprio uso.
Princípio da “Aprazividade”: tem a intenção de possuir um campus com espaços
cordiais, belos e que favoreçam o bem estar dos usuários, a interação entre pessoas e destas
com a natureza, permitindo a contemplação de belas paisagens, com conforto e segurança.
Neste princípio, o grupo de trabalho buscou identificar no território da Universidade,
áreas que fossem propícias para a criação de novos espaços. Alguns locais foram classificados
diretamente como de grande “aprazividade” pelas medições efetuadas pelo GT3 por terem
nível de ruído baixo e sensação térmica agradável. Alguns desses espaços já haviam sido
citados na XXII SMA e tiveram boas avaliações nos questionários aplicados. Em seguida da
identificação dos espaços considerados aprazíveis, o grupo buscou descobrir também outros
espaços que teriam potencial para tornarem-se aprazíveis e as razões para sua não menção
pelos entrevistados nesse momento.
Figura 16: estacionamento próximo ao Edificio Kennedy quebra a continuidade da vegetação do bosque e utiliza uma área compontecial para espaço de convivio em
estacionamento.
Figura 15: espaço ocioso, próximo ao Rio Rainha, pertencente ao prédio do IAG.
Figura 14: térreo do Edifício IMA.
Figura 13: Solar Grandjean de Montigny. Figura 12: alunos estudando no pilotis do Edifício Kennedy.
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Os espaços com potenciais (figs. 14, 15 e 16 — dentre outros) foram eleitos em função
dos seguintes critérios: (1) observação de apropriações informais, como indicativo de espaços
agradáveis ainda que não preparados para o estar; (2) localização, dando preferência àqueles
afastados de locais de conflito entre automóveis e pedestres; (3) subutilizadas, como áreas
livres ou áreas de estacionamento; (4) além das questões térmicas citadas anteriormente.
Espaços próximos ao bosque, lugares centrais e de elevada circulação de pedestres no
campus, foram considerados subutilizados e ociosos por serem destinados ao automóvel,
assim se tornam ambientes essenciais tendo em vista que poderiam fortalecer a relação das
pessoas com o meio ambiente. Estas informações foram sintetizadas em mapas e com a
sobreposição dos mesmos foi possível eleger os espaços mais adequados (figs. 17, 18).
Figura 18: locais considerados mais propícios para a instalação de espaços de convivência.
Figura 17: o mapa acima reune o mapaemento de área de apropriação informal, espaços de estacionamento, espaços subutilizados, espaços ocioso, e zonas de conflitos, indicadores que foram necessários para que pudessem ser definidos os locais mais aprazivéis e propícios para a instalação de espaços de convivência.
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As apropriações informais mencionadas são definidas espontaneamente pelos usuários,
mesmo que um mobiliário formal não tenha sido projetado, indicando um potencial para
novos espaços de convívio. Estes são escolhidos, em geral, seja pela presença de recursos;
pela sua localização próxima às atividades ou aos percursos; ou por sua qualidade ambiental,
indicando que para possuir um campus mais aprazível é necessário potencializar e/ou criar
mais espaços de convivência.
Princípio da Integração: prevê uma associação entre os espaços construídos e
naturais, assim como entre o campus e seu entorno, para isso pressupõe uma adequação ao
ambiente natural em condições presentes e cenários futuros; o entendimento do complexo
construído e as atividades humanas como parte do ambiente natural. Estas relações podem ser
materializadas e aprimoradas de diversas formas, incluindo pela fisionomia, o aspecto dos
espaços e mecanismos de integração; metabolismo, entendido como as relações com o meio
ambiente e suas condições e necessidades naturais; e funcionalidade, a utilidade a qual este
mecanismo de integração serve
O campus da Gávea é visualmente e fisicamente pouco integrado com o bairro em que
se localiza, impactando negativamente a qualidade ambiental da Rua Marquês de São
Vicente, que possui uma caixa de rua estreita e limitada pelos prédios residenciais e pelos
muros da Universidade (fig. 19). Essa configuração de calçada, estreita e enclausurada, causa
uma sensação de desconforto para pedestre. A PUC Rio possui bastante vegetação em seu
território, o que concederia ao entorno um maior conforto ambiental caso seus limites fossem
mais permeáveis. O aumento da permeabilidade dos fechamentos do campus ampliaria a
visibilidade de seu espaço interno promovendo uma continuidade espacial na qual o espaço da
rua pareceria mais amplo.
O campus da Universidade é admirável por ser bastante arborizado e pela relação que
o seu usuário possui com a “natureza”, porém essa relação poderia ser aprimorada se
pensarmos numa integração metabólica e funcional. A presença de solos permeáveis é
primordial para a manutenção do ciclo da água, de um ambiente natural saudável e para a
mitigação de alagamentos. Apesar da universidade encontrar-se de acordo e até mesmo acima
da porcentagem exigida pela legislação para áreas permeáveis em relação à áreas construídas,
se consideramos a potencialidade que o território possui — pavimentações que podem ser
modificadas sem prejudicar o seu uso, por exemplo —, poderíamos aumentar a quantidade de
áreas com solo permeável. Do ponto de vista de aproveitamento do potencial do campus neste
quesito, considera-se que os espaços de estar ao longo da margem do Rio Rainha
pavimentados em concreto não só impossibilitam a drenagem natural como também
descaracteriza um espaço que poderia ter uma melhor integração com o ambiente natural do
campus (fig. 20).
Figura 20: espaço ao lado do rio possui pavimentação em concreto.
Figura 19: calçada da rua Marquês de São Vicente e muros do campus.
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Princípio da Vitalidade: busca utilizar os espaços do campus explorando as
diferentes oportunidades e a promoção de ambientes saudáveis que favoreçam o uso pleno dos
espaços da Universidade. Além desses ideais, este princípio também pretende garantir a não
obsolescência da conformação físico-espacial do sítio — durabilidade, manutenção,
preservação e adaptação do território.
A efetivação deste princípio é fundamental para que as metas alcançadas perdurem,
mas, pelos levantamentos feitos pelo grupo de trabalho, foi constatado que a universidade não
possui uma regulação geral para a manutenção da infraestrutura do campus, para a utilização
de materiais mais duráveis e sustentáveis na construção dos espaços, e/ou para o uso de novas
tecnologias e menor demanda de manutenção. Visando que parte das conquistas adquiridas
pela comunidade PUC-Rio não possam ser perdidas, é necessária a criação de uma norma ou
um setor responsável pela verificação dos equipamentos e infraestrutura e por sua manutenção
quando necessário.
O Campus na Gávea possui cerca de 60 anos, desse modo, a maior parte de suas
edificações não estão adaptadas — em termos de conforto térmico e lumínico — ao uso de
novas tecnologias e soluções sustentáveis, tornando-as muito dependentes de iluminação e
ventilação artificiais. Essa dependência, além de não se adequar aos ideais de
sustentabilidade, impede que a Universidade esteja preparada para eventos climáticos
extremos. Adequar as edificações à novas tecnologias contribuiriam não só com a questão
térmica e lumínica, mas também para a diminuição do gasto de energia e água, e emissão de
gases poluentes. A Universidade, então, poderia mitigar os eventos climáticos extremos em
seu campus usando estratégias de captação de água, promovendo diminuição dos alagamento
e economia de água; instalação de placas solares, promovendo economia de energia, etc.
A conformação físico-espacial da PUC-Rio já passou por diversas modificações ao longo de
sua história, buscando adequar-se à novas necessidades e fornecer mais conforto aos usuários.
Entretanto, muitas vezes essas modificações são feitas de modo isolado e não são levadas para
o conhecimento de todos os outros órgãos da Universidade. Atualmente, não se tem
documentado situação da conformação físico-espacial do campus. Produzir um registro que
contenha todas as edificações, e que seja atualizado a cada mudança efetuada no espaço
físico, é importante para documentação das modificações e também para que qualquer um
possa ter acesso às informações sobre o território da Universidade. Por exemplo, tendo acesso
às informações efetivas sobre o campus, os alunos poderiam propor projetos de melhoria da
universidade, incentivando uma maior participação dos alunos na evolução e melhoria do
campus, tornando a Universidade num laboratório vivo.
O tema de “Mobilidade” dentro da PUC-Rio abrange questões que vão desde a escala
urbana até a local, dentro dos limites físicos do campus. O tema considera os efeitos que os
usuários da Universidade causam à cidade e ao meio ambiente no contexto de transporte. Os
itens considerados nesse tema são, principalmente, do ponto de vista da eficiência da
mobilidade dos usuários, conforto na experiência destes dentro da universidade, e como ela se
conecta à cidade por meios de transporte e acessos.
Princípio da Acessibilidade: abrange a facilidade e boas condições para acessar o
sítio e seu espaço interno, por meio da estrutura físico-espacial — pavimentações e dimensões
adequadas ao conforto do usuário. Este princípio promove equidade no uso do espaço e dá
autonomia a todos os usuários, aprimorando a relação destes com o ambiente construído e
natural.
Foi identificado no Campus, que as opções de acesso ao sítio são bastante reduzidas,
possuindo apenas duas. O acesso pela Marquês de São Vicente é diminuto e não adequado à
proporção de alunos que a Universidade possui (fig. 21) e o acesso que considerado como
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sendo o principal do campus — pela Padre Leonel Franca — é confuso, não convidativo e
nem legível (fig. 22). Neste acesso, os caminhos destinados para o uso de diferentes modais
(ônibus, automóveis, bicicletas e peatonal) dividem o mesmo espaço ou se cruzam com
frequência, são desconfortáveis pelas suas dimensões e são considerados ineficientes. Aliado
ao “nó” causado pela circulação intensa, as várias entradas sinalizadas de forma precária
prejudicam o entendimento dos acessos, dificultando a chegada ao campus. Sendo assim, é
necessário reestruturar o acesso ao campus, principalmente pela Avenida Padre Leonel
Franca, junto ao terminal de ônibus, reduzindo a sobreposição de fluxos com acessos
conflituosos, ampliando sua legibilidade e visibilidade.
Dentro do campus, a mobilidade por conta de todos os usuários e suas formas de
locomoção ainda é limitada, não possuindo acesso universal em sua totalidade, como pisos
táteis, rampas etc. Em alguns locais foram feitas adaptações como implantação de rampas e
pisos táteis (figs. 23 e 24) mas além de não haver uma continuidade do auxílio, alguns
precisam de manutenção. Outro fator que prejudica a locomoção dentro do campus são as
pavimentações irregulares em sua estrutura física, tornando o espaço universitário excludente
à diversidade de pessoas que o frequentam (fig. 25). Para se tornar mais sustentável e
acessível, a Universidade deve, então, adequar o campus às necessidades de locomoção de
todos os seus usuários, considerando, a pluralidade de pessoas e necessidades existentes.
Figura 25: a vila possui pavimentação em
paralelepipedo, o que dificulta o acesso ao local por parte de alunos e/ou funcionários portadores de deficiência.
Figura 23: rampa construída no térreo do Edificio IMA. A rampa adá acesso a área de “lazer” no térreo mas não da acesso as salas de aulas do
prédio.
Figura 24: piso tátil na escada do Edifício Leme. Foram instalados pisos táteis em vários locais da PUC mas não há uma continuidade.
Figura 22: acesso pela Padre Leonel Franca é confuso, não é convidativo e nem legível.
Figura 21: acesso ao campus pela rua Marquês de São Vicente.
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Princípio da Conectividade: tem em mente garantir locomoção eficiente por parte
dos usuários dentro do campus, incluindo ter um preparo de resiliência do sítio para que
condições naturais desfavoráveis não interrompam a experiência dos usuários. Esse princípio
intenciona incentivar o uso do transporte público coletivo para que a pegada de carbono dos
usuários seja mitigada e haja maior eficiência principalmente no percurso entre a casa e a
universidade.
Considerando que o de meio de transporte da maioria dos usuários para chegar ao
campus é por transporte público, foi diagnosticado que, novamente, que o acesso é
considerado problemático. O terminal de ônibus na Avenida Padre Leonel Franca, é
considerado mal estruturado e pouco confortável devido a suas dimensões e condições de
acessibilidade (fig. 26), o que torna o uso do transporte público desestimulante para os
usuários. Ao facilitar a integração do transporte público coletivo com o campus, o cenário
pode ser revertido, incentivando mais pessoas a optarem por esse meio de chegar o campus,
reduzindo ainda mais a emissão de gases poluente em função do meio de transporte utilizado.
Tanto nos percursos no interior da Universidade quanto em seus acessos diretos no
entorno, foi diagnosticado que as vias e calçadas não estão adaptadas para eventos de
alagamento em dias de chuva, tornando-os bastante dificultados (fig. 27). No local designado
para acesso de pedestres ao campus pela Padre Leonel Franca, não existe nenhum tipo de
cobertura para que os estudantes possam se abrigar em dias de chuva (fig. 28). Sendo a PUC-
Rio localizada em um campus de intensa relação com o ambiente natural, especialmente pelo
aspecto topográfico e de solos, foi identificado que há falta de preocupação em relação aos
caminhos das águas pluviais e seus efeitos na mobilidade dos usuários. Exemplos incluem
áreas empoçadas nos acessos, e solos de terra exposta os quais, ao serem saturados, tornam-se
desconfortáveis ao caminhar e algumas vezes extrapolam suas delimitações e sujam as vias
principais. Para tornar a universidade mais sustentável, os percursos dentro do campus devem
ser resilientes a intempéries, promovendo uma melhor integração do meio físico com natural,
garantindo que a mobilidade de usuários não seja afetada.
Figura 26: o terminal de ônibus da Padre Leonel Franca possui calçadas estreitas e os pontos são confusos.
Figura 27: os acessos de pedestre não
possuem cobertura.
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Princípio da Segurança: define que as sinalizações sejam claras e informativas nos
acessos e dentro do sítio, promovendo maior segurança e conforto para circulação dos
diferentes meios de transporte e a pé. Sendo fácil se localizar e circular dentro do campus, a
clareza na leitura garante fluxos e usos mais proveitosos, diminuindo principalmente a
sensação de desorientação por parte dos usuários, aprimorando a relação destes com o seu
meio.
Foi observado a existência de conflito entre pedestres e veículos dentro do campus e
em seus acessos, afetando a mobilidade dos usuários e ameaçando a segurança dos mesmos,
alguns desses conflitos ocorrem em função das vias e pontes compartilhadas ou pela
preferência do pedestre em andar no meio das vias (fig 29). Isso também ocorre de modo
preocupante ao acesso de terminal de ônibus da Avenida Padre Leonel Franca.
Em parte esse conflito pode ser atribuído às sinalizações utilizadas, tanto nos acessos
quanto no interior do campus. Essas, sejam contendo informações de trânsito ou indicações
dos prédios, possuem precariedades, limitando a mensagem que se pretende transmitir ao
usuário (fig. 30). Tal mensagem passa a não ser assimilada da forma mais eficiente ou é
incompleta, causando transtorno ao usuário por não conseguir se relacionar com o meio.
Outro aspecto que dificulta a circulação no campus é falta de um sistema de linguagem
comum nas sinalização, já que não há um grupo de referências padronizadas que criam uma
linguagem própria de leitura reconhecível do sítio. Outra situação que interfere na eficiência
do uso da universidade é que a localização de departamentos e/ou órgãos específicos
existentes não se encontram ilustradas ou sinalizadas. Tais informações podem ser
encontradas no site da universidade, mas tampouco são localizadas de forma rápida e
eficiente. Ao buscar informações sobre os departamentos, esse aspecto se agrava, pois cada
site, independente, possui um padrão/linguagem diferente do outro. De uma forma geral, tanto
em âmbito digital quanto físico, as indicações existentes são precárias e há dificuldade de
saber onde se localizam destinos de interesse por parte dos usuários.
Tendo em mente os diagnósticos expostos acima, para que o uso da universidade seja
aprimorado e se torne mais seguro, é necessário facilitar a legibilidade e localização no
campus e em seus acessos para comunidade PUC e convidados (sinalização, hierarquia
espacial, dentre outros) e reduzir os pontos de conflito entre veículos e pedestres (reduzir
carros/ desdobramento).
Figura 28: em dias de chuva vários locais, como este, ficam com poças d’água que atrapalham a
circulação.
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Princípio da “Desmotorização”: tem como foco a facilitação do transporte por meios
não poluentes e/ou coletivos, tendo em vista os ganhos para sustentabilidade socioambiental,
melhoria da qualidade de vida, redução do caos urbano causado pelo excesso de veículos
motores etc. Essa mudança de hábito do uso individual de automóveis para o uso de formas
alternativas, como por exemplo, por transporte público e bicicleta, diminuem a emissão de
gases poluentes e o número de veículos nas ruas, diminuindo o impacto no fluxo de acesso ao
campus e em seu entorno.
A presença simbólica e física do automóvel dentro do campus universitário é muitas
vezes considerada excessiva, causando desconforto para os pedestres e ocupando regiões de
potencial para outros usos. Estacionamentos de automóveis ocupam 20% da área livre total
dentro do campus; são regiões mal tratadas dos pontos de vista estético e ambiental e que
reduzem o espaço de convívio possível (fig. 31). Considerando não só o uso dos automóveis
como também o incentivo a formas de transporte alternativas, foi diagnosticado que a infra-
estrutura existente é insuficiente para alocar bicicletas e há pouco incentivo ao seu uso por
parte da universidade, também alguns bicicletários foram improvisados, em meio a circulação
de entrada principal de pedestres e não possuem cobertura de proteção (fig. 32).
Além dos fatores internos ao campus, as sinalizações nos terminais de transporte público são
insuficientes e sem padronização, desestimulando o uso do transporte coletivo (fig. 33). Foi
observado que não há uma forma coesa, clara e compreensível para que os usuários saibam
informações sobre as linhas de ônibus que chegam até a PUC, fazendo com que
frequentadores e visitantes do campus muitas vezes prefiram o uso do automóvel particular.
Figura 33: terminal de
ônibus com lixo aculado ao lado da placa que indica os pontos de cada linha de
ônibus.
Figura 31: extensos
espaços de estacionamento Figura 32: locais para
alocar as bicicletas são improvisados e sem cobertura.
Figura 30: problemas com sinalizações, placa encoberta por vegetação.
Figura 29: conflito entre pedestres e veículos dentro do campus.
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Conclusões
O trabalho elaborado neste ano de pesquisa desenvolveu princípios sustentáveis a serem
seguidos, diagnósticos sobre a atual condição da universidade e diretrizes para nortear as
metas e os programas que serão pensados e desenvolvidos para aprimorar as práticas da
universidade no que se refere à ampliação de sua sustentabilidade socioambiental. Isso nós
permitiu ter como resultado a primeira parte da nova Agenda socioambiental da PUC-Rio.
Como continuação da metodologia participativa de elaboração da revisão da agenda
todos os resultados que apresentados neste relatório também foram apresentados durante a
XXIII Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio, em junho de 2017. Mais uma vez a equipe
NIMA e o grupo responsável pela revisão da agenda organizaram durante uma semana
workshops para apresentar e discutir com a comunidade PUC o trabalho que foi desenvolvido.
As discussões que ocorrerão após a apresentação dos resultados foram direcionadas para
validar e/ou complementar o trabalho que já havia sido desenvolvido e também para discutir
possíveis programas e projetos, já visando possuir a participação dos usuários do campus na
segunda etapa de revisão da agenda que iniciará em 2017.2 (figuras 34 e 35).
Referências
1 - GUATTARI, Felix. As três ecologias. 18. Ed. Campinas: Papirus, 2007. 56p.
2 – BUSTOS ROMERO, Marta Adriana. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano.
2. Ed. São Paulo: Proeditores, 2000. 123p.
3 – GEHL, Jan. Cidades para pessoas. 2. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. 262p.
4 – ROGERS, Richard George. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona: Gustavo
Gili, 2001. 180p.
5 – WILSON, Edward. Covenção sobre a Diversidade Biológica (CDB). 1988.
6 - NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE MEIO AMBIENTE (NIMA). “Agenda Ambiental PUC-Rio”. 2009. 32p. Disponível em <http://www.nima.puc-rio.br/noticias/agenda_ambiental.pdf>. Acessado em maio 2017.
Figura 34: XXIII Semana de Meio
Ambiente da PUC-Rio, e discussão
sobre os resultados da primeira etapa
da revisão da Agenda socioambiental.
Figura 35: os papéis coloridos foram utilizados para que os alunos participantes do workshop pudessem contribuir com ideia para possíveis projetos para a segunda etapa de revisão da agenda.