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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE DIREITO MARIA ELISA FUDABA CURCIO PEREIRA TRIBUTAÇÃO SOBRE “VENDA DIRETA” PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL São Paulo 2015

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE DIREITO

MARIA ELISA FUDABA CURCIO PEREIRA

TRIBUTAÇÃO SOBRE “VENDA DIRETA” PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL

São Paulo 2015

1

MARIA ELISA FUDABA CURCIO PEREIRA

TRIBUTAÇÃO SOBRE “VENDA DIRETA” PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Direito Político e Econômico.

Área de concentração: Direito Econômico

ORIENTADOR: Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto

São Paulo 2015

2

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

E-MAIL DA AUTORA: [email protected]

MARIA ELISA FUDABA CURCIO PEREIRA

P436t Pereira, Maria Elisa Fudaba Curcio

Tributação sobre \"Venda Direta\" pela Previdência Social. / Maria Elisa

Fudaba Curcio Pereira. – 2015.

83 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) – Universidade

Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Orientador: José Francisco Siqueira Neto

Bibliografia: f. 11-77

1. Venda direta. 2. Venda porta-a-porta. 3. Venda por catálogo. 3.

Previdência social. 4. Vínculo empregatício. 5. . Revendedor porta-a-porta. I.

Título

CDDir 341.6

3

TRIBUTAÇÃO SOBRE “VENDA DIRETA” PELA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Direito Político e Econômico.

Aprovada em 18/08/2015

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto (Orientador) Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dra. Zélia Luíza Pierdoná Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari Universidade de São Paulo

4

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela vida e pela fonte de toda sabedoria.

Ao Prof. Dr. José Francisco Siqueira Neto, por me trazer de volta ao ambiente do

Direito. Por ter sido orientador durante o acompanhamento do trabalho e com sua

competência e inspiração nos fez chegar até aqui.

À Prof. Dra. Zélia Luiza Pierdoná, pela inspiração pessoal e profissional, pela co-

orientação e pela persistência.

Ao meu marido, Sérgio Henrique, pelo amor e pela paciência.

Aos meus Pais, por serem especiais, pelo amor incondicional sempre presente. Pela

educação, pelo berço acadêmico.

Aos meus irmãos Gustavo Orlando e Sérgio Augusto, amigos para a vida.

À Dra. Yolanda Cerqueira Leite, advogada à frente de seu tempo, pela aposta e

confiança. Hoje, pela amizade e inspiração.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho fosse

realizado, em especial o Sr. David Legher, Presidente da Avon Brasil e a Dra. Roberta

Kuruzu, Diretora Executiva da Associação Brasileira das Empresas de Vendas

Diretas.

5

“Maravilha é o desejo de conhecimento.”

“Nós não podemos ter pleno conhecimento de uma só vez. Nós devemos começar por acreditar; em seguida, podemos ser levados a dominar a prova para nós mesmos.”

“A justiça está nos indivíduos, bem como nos governantes.”

“A razão no homem é um pouco como Deus no mundo.”

São Tomás de Aquino, século XIII.

(http://www.egs.edu/library/thomas-aquinas/quotes/)

6

RESUMO

A tributação sobre “venda direta” pela Previdência Social é um assunto que tem

provocado debates entre juristas e formuladores de políticas públicas. Diante desta

realidade, desenvolveu-se o presente trabalho, a partir de uma pesquisa sobre o

ambiente da venda direta ou venda por catálogo. Mais especificamente, quanto a

forma de relação funcional entre os representantes de vendas e as empresas, sob a

perspectiva do Sistema Brasileiro de Previdência Social. A relação das empresas de

vendas diretas e dos representantes, juridicamente reconhecidos como vendedores

ambulantes, profissionais autônomos, baseia-se na ausência de vínculo empregatício.

Este foi o ponto de partida para a problematização, uma vez que estes vendedores

autônomos, em sua maioria, não estão inseridos no arcabouço da proteção social

constitucional da Previdência Social.

Palavras chave: Venda Direta, Venda Porta-a-Porta, Venda por Catálogo, Previdência

Social, Vínculo Empregatício, Revendedor Porta-a-Porta.

7

ABSTRACT

Taxation on "direct sales" activities by Social Security is an issue that has provoked

debate among legal experts and policy makers. Given this, this master's thesis is the

result of research focused on the environment of direct sales or mail order. More

specifically on the way of functional relationship between sales representatives and

companies from the perspective of the Brazilian System of Social Security. Based on

the absence of employment contract, the legal relation between direct sales companies

and representatives defines its conditions as independent vendors. This was the

starting point of the problematic, since these individual vendors are not included in the

constitutional social protection of Social Security.

Key words: Direct Sales, Sale Door-to-Door, Mail Order, Social Security, Employment

Relationship, Representative Door-to-Door.

8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEVD Associação Brasileira das Empresas de Vendas Diretas

AVON Avon Cosméticos Brasil

CF Constituição Federal de 1988

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE Código Nacional de Atividade Econômica

CNDL Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas

DSA Direct Sales Association

EC Emenda Constitucional

IR Imposto de Renda

ICMS Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

MEI Microempreendedor Individual

MVA Margem de Valor Agregado

9

PIB Produto Interno Bruto

PSPS Plano Simplificado de Previdência Social

RGPS Regime Geral da Previdência Social

RPPS Regime Próprio de Previdência Social

RPPS Regime Próprio de Previdência Social

WFDSA World Federation of Direct Sales Association

10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11

2. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........... 20

2.1. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO CONTEXTO DA SEGURIDADE SOCIAL .................... 21

2.2. PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL ......................................................................... 26

2.3. DAS CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A FINANCIAR A SEGURIDADE SOCIAL ..... 29

2.4. DA CONTRIBUTIVIDADE E A PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA ................................... 31

2.5. DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS .................................................................. 33

2.6. DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA .................................................................................. 34

2.6.1. Dos beneficiários da previdência social ............................................................................. 36

3. AS REVENDEDORAS E A EMPRESA .......................................................... 39

3.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS REPRESENTANTES DA VENDA DIRETA

...................................................................................................................... 41

3.2. SUBORDINAÇÃO ESTRUTURAL .................................................................. 46

4. DA NÃO-INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PELAS

EMPRESAS DE VENDA DIRETA ................................................................. 51

4.1. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE A ATIVIDADE DO

COMERCIANTE AUTÔNOMO ...................................................................... 57

4.2. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº47/2005 – REFORMA PREVIDENCIÁRIA .. 60

5. A PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO REVENDEDOR PORTA-A-PORTA . 62

5.1. NOTAS SOBRE O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, DIREITO TRIBUTÁRIO E A

VENDA-DIRETA ............................................................................................ 68

5.2. A PROBLEMÁTICA SOCIAL E A NECESSIDADE DE INCLUSÃO DOS

REVENDEDORES NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO ................................... 70

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 73

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 77

11

1. INTRODUÇÃO

A presente dissertação de Mestrado é o resultado de um trabalho de

pesquisa acadêmica desenvolvido no Programa de Mestrado em Direito Político e

Econômico da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que

teve por objetivo analisar:

(i) a possibilidade de a Previdência Social exigir a contribuição prevista

no artigo 195, I, alínea “a” da Constituição Federal1 de empresas de

vendas diretas, em relação aos valores que estas recebem dos

revendedores autônomos;

(ii) de forma menos abrangente, mas não de menor relevância, a

proteção previdenciária dos revendedores.

O método e o procedimento metodológico utilizados para a leitura e

observação foi o fenomenológico. Para a problematização, postulação das hipóteses

e conclusão, o método utilizado foi o dedutivo.

O presente trabalho voltou-se, principalmente, para a produção de

conhecimento na área jurídico-econômica, contribuindo de forma eficaz com os

demais levantamentos e pesquisas já realizados dentro deste campo. No Brasil, pelo

exame bibliográfico até aqui realizado, não foi identificado trabalho de mestrado

acadêmico com referido objeto e objetivo específicos.

A seleção do tema se deu em razão da preocupação em desenvolver

uma investigação que apresentasse como lema norteador uma das funções sociais

às quais o Estado se destina, que é garantir a dignidade da pessoa. Para fins desta

pesquisa, o recorte foi feito quanto à análise da proteção social do cidadão revendedor

porta-a-porta, que vive com o fruto do trabalho decorrente de tal atividade econômica.

1 Contribuição da empresa sobre folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados a pessoa física, mesmo que sem vínculo empregatício. BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

12

O tema foi escolhido tendo em conta a relevância e impacto

socioeconômico da venda direta no Brasil. Atualmente, este modelo de negócios

abarca em torno de 4,5 milhões de revendedores2 no País e movimenta cerca de R$

41,6 bilhões em volume de negócios (dado anual de 2013)3.

Neste contexto, a pesquisa fenomenológica identificou a relação

comercial existente entre as empresas de venda-direta e os revendedores autônomos.

A pesquisa revelou que a maioria dos revendedores autônomos não está

inserida de fato no sistema de proteção previdenciária. Constatado este fato, uma das

metas foi aclarar se a obrigação por tal inserção é esperada exclusivamente do

trabalhador autônomo ou se trata de obrigação a ser compartilhada com as empresas.

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes

Lojistas (CNDL) revelou que 72% dos autônomos informais não contribuem com a

Previdência Social.4 Um estudo global realizado entre agosto e setembro de 2014 pelo

banco HSBC, com 16 mil pessoas, em 15 países, revelou que, no Brasil, 53% da

população brasileira não estão economizando nem pretendem começar a poupar

exclusivamente para o período em que vão deixar o mercado de trabalho. 5

Alguns fatores são: o desemprego (35%), compra de imóvel (28%), crise

econômica global (27%), contração de dívida (26%) e a educação dos filhos (21%).

Nos últimos anos, a política econômica brasileira do Governo Federal foi

amplamente voltada a políticas sociais que visavam ao consumo e à movimentação

2 Associação Brasileira das Empresas de Vendas Diretas – ABEVD. Guia de Legislação no Brasil. Disponível em: < https://www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=imprensa> Acesso em: 25.jul.2014. 3 _________. Vendas Diretas ultrapassam R$ 40 bilhões em volume de negócios em 2013. Disponível em: <www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=imprensa&pagina=numeros_2013_2sem> Acesso em: 20.jul.2014 4 InfoMoney. 72% dos autônomos informais não contribuem com a Previdência Social. Disponível em: < https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/noticia/180-72dosautonomosinformaisnaocontribuemcomaprevidenciasocial> Acesso em: 23.nov.2014 5 OABPrev – RS. Aposentadoria tranquila depende de investimento e planejamento financeiro. Disponível em: <http://www.oabprev-rs.org.br/index.jsp?secao=noticias&idNoticia=183> Acesso em: 03;abr.2015.

13

do capital. Programas sociais como o “Minha Casa, Minha Vida”, desoneração

tributária de produtos da linha-branca e automóveis, incentivo ao uso do crédito

bancário, diminuição dos juros de empréstimos para moradia, incentivaram a que os

cidadãos brasileiros deixassem de poupar.

Dados históricos da venda-direta –

Ao estudar a origem da venda direta6, em termos gerais, pode-se dizer

que a venda direta surge com a comercialização de mercadorias, antes mesmo do

mercantilismo.7 Para fins de registro deste trabalho, o recorte temporal se deu a partir

do final do século XIX, momento em que a pioneira “The California Perfume

Company”, atual Avon, foi fundada em 1886, por David H. McConnell.

Mas o que vem a ser o modelo “porta-a-porta”, em inglês “door to door”,

ou “venda-direta”?

O modelo de venda porta-a-porta, como conhecemos, surgiu num

6 Direct Sales Association – DSA. History. Disponível em: <http://www.dsa.org/about-dsa/history-of-dsa> Acesso em: 19.jul.2014 7 Na era contemporânea, o modelo da venda direta teve início no final do Século XVIII, quando a Enciclopédia Britânica passou a ser uma das primeiras empresas a adotar este sistema de comercialização. Os famosos “yankees” ou mascates da Nova Inglaterra, eram jovens que acompanhavam os “pioneiros” ingleses na travessia do leste para o oeste dos Estados Unidos, durante o século XVIII. Os yankees seguiram os pioneiros para o oeste, servindo como um canal para bens, serviços e notícias entre localidades às vezes distantes e nas cidades mais próximas. A história da Southwestern Company remonta à primeira metade do século 19. Há indícios de que a empresa publicava panfletos religiosos, já em 1840, mas a empresa foi estabelecida em meados de 1850 como Southwestern Publishing House, sob a liderança do Rev. James Robinson Graves. Inicialmente, a empresa vendia seus produtos por meio do correio, mas após a Guerra Civil Americana, o Rev. Graves desenvolveu um novo conceito de vendas, envolvendo jovens do sul do país para vender os produtos “porta-a-porta”. A Avon, também uma das primeiras empresas de venda direta, teve seu início de operação quando um vendedor de livros chamado David H. McConnell fundou a empresa (1886) depois de perceber que suas clientes do sexo feminino se interessavam mais pelas amostras de perfume grátis que ele oferecia, do que seus livros vendidos porta-porta. Um aspecto interessante da história da Avon foi a percepção de McConnel de que as clientes ficavam em casa, enquanto seus maridos desempenhavam atividades profissionais. Era um momento de opções limitadas de emprego para as mulheres e a oportunidade de ganhos para a Avon poderia ser excelente. McConnel marcou o início da longa e bem sucedida história da empresa de capacitar as mulheres para a venda direta ao redor do globo.

14

período da história dos Estados Unidos da América no qual os homens estavam

inseridos no modelo de produção fabril e as mulheres, em grande proporção, se

restringiam ao ambiente privado doméstico.

O vínculo de subordinação dos operários ao empregador era (e ainda é)

um ingrediente próprio da determinada “forma de trabalho tradicional”. Não apenas no

ambiente fabril, mas também no comércio e na prestação de serviço, esta relação na

qual um lado “manda” e outro “obedece” é reconhecido como “taylorista-fordista”, em

referência a Frederick Winslow Taylor e Henry Ford.

A venda-direta surge como alternativa a esse modelo. Por meio da

venda-direta, indivíduos comuns podem se transformar em revendedores, “donos” de

seu tempo e autônomos em decidir o quanto querem se dedicar ao trabalho. O

princípio constitucional da livre-iniciativa é o fundamento para tal atividade.8

Na época da fundação da Avon, a grande perspicácia de McConnel foi

acessar uma força de trabalho impedida de trabalhar por barreiras sociais e um

mercado consumidor inexplorado, isto é, as mulheres. Flexibilidade de tempo,

autonomia da vontade e oportunidade de ganhos financeiros foram determinantes

para o sucesso deste novo modelo de negócios.

O fato antecede a norma positiva. É evidente que este novo modelo de

relação de trabalho informal fugiu do âmbito do direito laboral positivado na época.

Por se tratar de um modelo de distribuição dinâmico, distinto do varejo tradicional, a

viabilidade do desenvolvimento da venda-direta se deu também pelo próprio vácuo do

direito positivo. A flexibilidade de horários e do nível de dedicação ao negócio não

depende de regulamentação, mas sim, pela decisão unilateral do empreendedor.

8 Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

15

Outro elemento fundamental da venda-direta foi o princípio da livre

iniciativa. Elemento que mais tarde foi prismado como um dos fundamentos da

República Brasileira.

No ordenamento jurídico brasileiro não há um conceito legal que

determine o que vem a ser o modelo de negócios da venda-direta. O que existe é uma

auto-regulamentação do setor, estabelecida e convencionada pelo Código de Ética e

pelo Estatuto da Associação Brasileira das Empresas de Vendas Diretas (ABEVD).9

Oportunamente, será apresentado o modelo organizacional associativo

das empresas de venda direta no Brasil e no Mundo. Por ora, apenas se pretende

pincelar conceitos fundamentais ao desenvolvimento lógico da presente dissertação.

De acordo com o “Estatuto do Revendedor Direto”10, a venda direta é um

sistema de comercialização de bens de consumo e serviços diferenciado, baseado no

contato pessoal, entre vendedores e compradores, fora de um estabelecimento

comercial fixo.

No entendimento do setor, a venda-direta11 baseia-se na alienação de

produtos e serviços no domicílio do consumidor ou em outros locais que não sejam

pontos permanentes. Do contrário, tratar-se-ia de modalidade do varejo tradicional. A

venda porta-a-porta é espécie de negócio entre pessoas físicas, fundado na relação

de confiança. De um lado denominadas revendedoras, comprando produtos

diretamente do fornecedor e de outro revendendo diretamente a consumidores,

auferindo lucro pela diferença dos preços de compra e revenda, arcando, inclusive,

com todos os ônus inerentes ao negócio.

9 Associação Brasileira das Empresas de Vendas Diretas – ABEVD. Guia de Legislação no Brasil. Disponível em: <https://www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=guia_legislacao&pagina=brasil> Acesso em: 20.jul.2014. 10 _________ Estatuto do Vendedor Direto. Disponível em: <https://www.abevd.org.br/htdocs/index.php?secao=guia_legislacao&pagina=brasil> Acesso em: 20.jul.2014. 11 Para fins de entendimento, os termos “venda direta” e “venda porta-a-porta” serão usados como sinônimos.

16

Seguindo o Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE), a venda-

direta é classificada como atividade do comércio varejista como segue:

a classificação das atividades do comércio varejista baseia-se

na gama de produtos vendidos, sem distinção da forma de

comercialização em loja ou fora de loja (por correio, catálogo,

porta-a-porta, internet, etc.) e apoia-se em conceitos e

convenções relativos a especialização e predominância.

Código Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), Seção G,

Divisão 47.

De acordo com a Lei nº 6.586 de 1978, considera-se comerciante

ambulante aquele que “pessoalmente, por conta própria e a seus riscos, exercer

pequena atividade comercial em via pública, ou de porta em porta”12. O artigo 2º

continua: “Não se considera comerciante ambulante, para os fins desta Lei, aquele

que exerce suas atividades em condições que caracterizem a existência de relação

de emprego com o fornecedor de produtos.”

Em conformidade com o Código Comercial Brasileiro (Lei nº 556, de

01.01.1850), podem ser comerciantes no País todos os que se achem na livre

administração de suas pessoas e de seus bens e que não estejam expressamente

proibidas pela Lei.

Nesta linha, o vendedor direto no Brasil é um revendedor autônomo e

independente, que adquire produtos das empresas de vendas diretas como pessoa

física e os revende aos seus clientes, com uma margem de lucro.

Introduzindo o assunto estudado na presente dissertação, passa-se a

discorrer sobre a venda-direta e a questão previdenciária. Os comerciantes

ambulantes, assim como os demais trabalhadores brasileiros, devem estar inseridos

12 BRASIL. Lei nº 6.586, de 6 de novembro de 1978. Classifica o comerciante ambulante para fins trabalhistas e previdenciários. Brasília, em 6 de novembro de 1978; Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6586.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

17

no sistema de previdência social brasileiro.13 O termo “trabalhador” é bastante amplo

e serve para identificar todo aquele que vive do seu trabalho. Não há dúvida de que o

revendedor, mesmo como pessoa física, seja contribuinte obrigatório para fins

previdenciários, nos termos da Lei nº 8.212/1991 e do Decreto nº 2.173/1997. O que

se coloca em pauta é se existe obrigação quanto ao recolhimento pelas empresas ou

ao menos obrigação acessória como, por exemplo, a exigência de comprovação de

recolhimento pelo revendedor como requisito para a venda.

A Constituição Federal de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”,

trouxe como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da

pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (artigo 1º). Em

seguida, no artigo 3º estão os objetivos fundamentais da República, dentre os quais

se dá destaque para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a

erradicação da pobreza e a marginalização.14

Neste contexto, a previdência social institui um importante instrumento

da proteção social. Dentre os direitos sociais, o trabalho e a previdência social são

elencados no rol do artigo 6º da Constituição Federal.

Assim, a análise da legalidade e da competência administrativa e

tributária do Estado Brasileiro reflete preocupação da Constituição Federal em garantir

que todos os cidadãos brasileiros estejam protegidos em seus direitos no que tange

a:

(i) admissibilidade de exigência de contribuição

previdenciária de empresas de vendas diretas, e

13_________ Classifica o comerciante ambulante para fins trabalhistas e previdenciários. Brasília, em 6 de novembro de 1978; Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6586.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 14_________ Lei nº 6.586, de 6 de novembro de 1978. Classifica o comerciante ambulante para fins trabalhistas e previdenciários. Brasília, em 6 de novembro de 1978; Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6586.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

18

(ii) existência ou não de vínculo de emprego entre as

empresas de vendas diretas e os revendedores

autônomos.

Outro aspecto considerado nesta dissertação diz respeito à constante

vigilância do Estado e o controle pela sociedade civil, pois permitem que se crie o

ambiente político para a formação de marcos regulatórios claros e adaptados à

realidade brasileira.

No entanto, a realidade social brasileira e a precariedade das relações

de trabalho, por vezes exigem que o princípio da viabilidade econômica seja

considerado fundamental na aplicação da legislação e da proteção social ao cidadão.

Em contrapartida, não se pode falar efetivamente em Estado

democrático de direito sem que se garanta a efetividade do princípio da igualdade. O

fundamento da democracia consiste no aspecto existencial da igualdade. Além disso,

como por vezes ressalta Alysson Mascaro em sua obra, onde estão relações de

produção capitalista, está também o Estado (MASCARO, 2012).

Aqui vem a singularidade do termo. A igualdade é política. Uma vez

política, é, portanto, discriminatória. Seguindo Aristóteles, a justiça vem pelo

tratamento igual dos iguais e desigual dos desiguais.

A igualdade política da democracia deve corresponder ao

princípio da homogeneidade a partir do qual e em nome do qual

possa se estabelecer a distinção entre cidadão e estrangeiro,

entre iguais e desiguais, entre amigo e inimigo.” Continua: “esta

idéia de homogeneidade substancial não conduziria

necessariamente à discriminação.15

15 BERCOVICI, G. Democracia, Inclusão Social e Igualdade. Congresso Nacional do CONPEDI/UEA, 15., 2006, Manaus, AM. Disponível em:

19

Diante do exposto até aqui, cumpre apresentar a estrutura do trabalho,

qual seja, analisar sob a perspectiva jurídica e social: (i) o conceito legal da venda

direta; e (ii) identificar a pertinência da exigibilidade de recolhimento pelas empresas,

da contribuição previdenciária.

http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/XIVCongresso/043.pdf. Acesso em: 20.out.2013.

20

2. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O presente capítulo tratará do sistema previdenciário brasileiro. “A

previdência social tem por objetivo assegurar aos seus beneficiários meios

indispensáveis de manutenção, em razão da inatividade, idade avançada, tempo de

serviço, desemprego involuntário, encargos de família e reclusão ou morte dos

segurados”.16

A previdência social no Brasil, surgiu como política social de caráter

permanente com a edição do Decreto n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido

como “Lei Eloy Chaves”. De filiação obrigatória, voltava-se ao resguardo de situações

de risco social decorrentes de enfermidade, velhice ou morte dos seus beneficiários.17

Inicialmente estabelecida na forma de caixas de aposentadoria e

pensões vinculadas a certas empresas, a previdência social apareceu a partir do

governo Vargas, estreando, assim, o processo de universalização com a implantação

dos institutos de aposentadoria e pensões organizados por categorias profissionais.

Apenas com a Lei n° 3.807, de 26 de agosto de 196018, houve a uniformização da

legislação existente sobre planos de benefícios e de custeio únicos.19

O período da ditadura militar foi marcado por importantes

transformações na previdência social. A primeira delas foi a unificação institucional

advinda com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (1966).

Posteriormente, o sistema foi ampliado e o universo de filiados incluiu o trabalhador

rural (1971), o empregado doméstico (1972), o jogador profissional de futebol (1973)

16 SILVA, P. O. J. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 1092. 17 DONADON, J.; MONTENEGRO. D. P. O Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios

Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015. 18 Conhecida como Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS. 19 “Detalhe importante dessa previdência social unificada foi que as regras concernentes aos direitos previdenciários nela previstos foram traçadas tendo em vista um modelo atuarial sustentável, ou seja, voltadas à manutenção do equilíbrio entre benefícios e custeio.” __________. O Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios Disponível em: <

http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015.

21

e o trabalhador temporário (1974), dentre outras categorias.20

Ainda de acordo com Donadon, a partir da década de 80, foram

instituídos novos benefícios como o salário-maternidade, flexibilizadas as regras que

garantiam a manutenção de equilíbrio na relação custeio/ benefício, a contagem de

tempo de trabalho fictício, fatores que compuseram parte da gênese dos déficits

financeiro e atuarial enfrentados pelo sistema a partir dos anos 80.

Em continuidade ao processo de evolução do Sistema da Previdência

Social, a Constituição Federal de 1988, criou o sistema da seguridade social21,

regulamentado pela em 1991 pela Lei nº. 8.21222, e pela Lei n° 8.21323, o qual inclui,

além da previdência, a saúde e a assistência social.

2.1. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NO CONTEXTO DA SEGURIDADE SOCIAL

Seguridade Social24 é o sistema de proteção que tem por objetivo

proteger a todos nas situações geradoras de necessidades, por meio de ações de

saúde, previdência e assistência social, conforme visto anteriomente.25

Esse sistema foi criado para garantir os objetivos do Estado Brasileiro

que são a erradicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais e

regionais.

Do ponto de vista histórico evolutivo, a seguridade social passou por

20 __________. O Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015. 21 Formado pela previdência, pela saúde e pela assistência social. 22 Que trata da organização da seguridade social e institui o seu plano de custeio. 23 Que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social. 24 Seguridade social: formado pela previdência, pela saúde e pela assistência social cuja regulamentação geral ocorreu em 24 de julho de 1991, com a aprovação da Lei nº. 8.212, e com a edição da Lei n° 8.213. 25 PIERDONA, Z. L. Seguridade Social. In: A. et al. (Ed.) DIMOULIS, D.; Dicionário Brasileiro de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p.344.

22

quatro fases: assistência privada, assistência pública, seguro social (previdência

social) e seguridade social. Tal processo evolutivo aconteceu de forma cumulativa,

pois a seguridade social congregou a assistência pública e privada, a previdência e a

saúde. (PIERDONÁ, 2007)

O sistema da seguridade social está enunciado nos artigos 194 a 204 da

Constituição.

Em destaque, o art. 194 da CF preceitua que a seguridade social

compreende um conjunto integrado de ações e de iniciativas dos poderes públicos e

da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à

assistência social. As iniciativas das ações são de responsabilidade dos poderes

públicos e da sociedade (art. 194). Ou seja, a responsabilidade pela efetivação não é

exclusiva do Estado.26

A seguridade social é o principal instrumento criado pela Constituição

Federal de 1988 para a implementação dos objetivos de construção de uma sociedade

livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, além da redução

das desigualdades sociais e regionais.27

A seguridade social apresenta duas faces: uma delas garante a saúde a

todos; a outra, objetiva a garantia de recursos para a sobrevivência digna dos

cidadãos nas situações de necessidade, os quais não podem ser obtidos pelo esforço

próprio.

Assim, a seguridade social abrange a previdência social, mas também a

saúde e a assistência. Esta está inserida na área da Ordem Social e tem como base

o primado do trabalho. São seus objetivos: o bem-estar e a justiça sociais (art. 193 da

26 Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 27 PIERDONA, Z. L. A Proteção Social na Constituição de 1988. Disponível em:

<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/16475-16476-1-PB.pdf> Acesso em: 27/07/2014

23

CF).28

A saúde29 é direito assegurado a todos os cidadãos brasileiros (acesso

universal) mediante políticas sociais e econômicas do Estado. Já a assistência social30

“será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à

seguridade social”.

A previdência será organizada sob a forma de regime geral, de caráter

contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio

financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: cobertura dos eventos de

doença, invalidez, morte e idade avançada; proteção à maternidade, especialmente à

28 “No que se refere ao custeio, embora o RGPS conte com recursos do orçamento da União, a maior parte da fonte de custeio dos benefícios por ele pagos provém das contribuições sociais, que constituem espécies tributárias, regulando-se, assim, sua arrecadação, fiscalização e cobrança pelos procedimentos e regras gerais aplicáveis aos impostos e demais exações federais. Essas cotizações em favor do sistema estão a cargo das empresas e dos trabalhadores. E, embora o art. 195 da Constituição da República confira diversidade à base de financiamento da seguridade social, ressalvando, inclusive, a possibilidade de instituição legal de outras hipóteses de incidência, as contribuições sociais que constituem receita do Fundo do Regime Geral de Previdência Social têm, em regra, como base de cálculo, a folha de salários e demais rendimentos do trabalho; excetuam-se, aí, apenas as chamadas “contribuições substitutivas”, que, em alguns casos e sob certas condições, apresentam bases de cálculo e alíquota diversas. Consagrado no § 5° do art. 194 da Constituição da República, e, especificamente para o RGPS, no caput do art. 201 dessa Carta Política, o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial tem por idéia motora a necessidade de manutenção de correlação entre benefício e custeio, de forma a garantir a estabilidade do próprio sistema de seguro social como um todo. Para possibilitar o cumprimento desse objetivo, o legislador constituinte estabelece que as receitas da seguridade social deveriam constituir orçamento próprio (§ 1° do art. 195), devendo as contribuições sociais das empresas e as dos segurados incidentes sobre as remunerações do trabalho serem destinadas, exclusivamente, para pagamento de benefícios (inciso XI do art. 167, incluído pela Emenda Constitucional n° 20, de 1998).” DONADON, J.; MONTENEGRO. D. P. O Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015. 29 Ibid. Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. BRASIL. Constituição Federal. 30 Ibid. Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, (...)

24

gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salário-

família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; e

pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e

dependentes, observado o disposto no § 2º31.

A proteção previdenciária, no pacto federativo, como regra geral, é de

competência da União. Tal competência tem como objetivo conceder proteção

isonômica a todos os trabalhadores. 32

A previdência social divide-se em regime geral e regime dos servidores

públicos. 33 O regime geral da previdência social (RGPS) abrange os trabalhadores

urbanos e os rurais. Já a assistência social, por sua vez, protege qualquer ser humano

dependente, carente, que se encontre em situação de necessidade básica.

A regra geral da previdência é a de que estão vinculados ao regime geral

todos os trabalhadores que exerçam atividade remunerada e que, simultaneamente,

não estejam filiados a regime próprio de previdência, a tento, a previdência social tem

por objetivo proteger a todos os trabalhadores e seus dependentes.

O RGPS admite a filiação de segurados facultativos, podendo livremente

integrar esse regime qualquer pessoa maior de 16 anos, desde que não integre a

categoria de segurado obrigatório nem esteja vinculada a regime próprio de

31 Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (...) BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 32 PIERDONA, Z. L. A previdência social no pacto federativo: as contribuições dos segurados e a violação à isonomia. In: GIOIA, F. H.; PIERDONÁ, Z. L. Pacto Federativo, Tributação e Cidadania. São Paulo: 2015. p.307. 33 Ibid. Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.

25

previdência.34

Quanto ao regime de previdência dos servidores públicos, denominado

Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), apresenta suas políticas e regras

estabelecidas e executadas pelo Ministério da Previdência Social (MPS). De caráter

compulsório, todos os servidores públicos estarão submetidos às regras do regime

próprio previdenciário do ente federativo que o tenha instituído. Há limitadores de

“teto” e “subtetos” definidos pela Emenda Constitucional nº 41/2003.35

Em resumo, todos têm direito à saúde, a assistência fica restrita a quem

dela necessitar e, em relação à previdência social, além de ser de filiação obrigatória,

tem caráter contributivo, ou seja, em tese quem não contribuir não terá direito aos

seus benefícios.

Quanto ao financiamento da seguridade social, o art. 195 da CF prevê a

participação de toda a sociedade, de forma direta e indireta, o que revela o Princípio

da Solidariedade aplicável à proteção social.

Forma direta de financiamento da seguridade social: é efetivada pelas

contribuições sociais previstas no art. 195, no art. 239 e na EC n. 12, da CF. Outras

contribuições podem ser instituídas por Lei Complementar.36

Forma indireta de financiamento da seguridade social: se dá com a

destinação de recursos previstos nos orçamentos dos entes federativos

34 DONADON, J.; MONTENEGRO. D. P. O Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015. 35 Estão excluídos deste grupo os empregados das empresas públicas, os agentes políticos, servidores temporários e detentores de cargos de confiança, todos filiados obrigatórios ao RGPS. 36 O princípio da solidariedade é norte, uma vez que o financiamento da seguridade social está a cargo de toda sociedade brasileira.

26

2.2. PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

O presente item tem por objetivo elencar os princípios norteadores da

seguridade social. O parágrafo único do art. 194 e o caput e o §5º do art. 195, ambos

da CF, estabelecem aquilo que a doutrina tem chamado de princípios da seguridade

social.

Abaixo serão listados os referidos princípios e tecidas considerações

apenas sobre aqueles que têm relação direta com o objeto do presente trabalho.

I. Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento37: a

universalidade é o primeiro princípio específico e, a partir dele, devem ser

compreendidos os demais.

Tal princípio remonta às prestações e aos beneficiários da seguridade

social, revela a adoção de um sistema protetivo amplo, o único capaz de atingir o bem-

estar e a justiça sociais, que são objetivos da ordem social. Está em consonância com

o sistema de seguridade social, uma vez que amplia a ideia de seguro social, o qual

é dirigido apenas aos trabalhadores.

A seguridade social é o instrumento utilizado pelo Estado para realizar o

bem-estar e a justiça sociais, o que somente será realidade quando todos tiverem

acesso a um padrão mínimo.

Por isso, o princípio da universalidade é intrínseco à seguridade, na

medida em que cabe ao Estado e à sociedade garantir a todos o mínimo necessário.

A universalidade deve ser entendida no sistema de seguridade social

como um todo e não em relação a cada uma das áreas de forma isolada. Nesse

sentido, a saúde, a partir da CF de 1988, é dirigida a todos. Já a previdência e a

assistência, devem ser compreendidas de maneira complementar uma em relação à

outra. Isso porque a previdência protege os trabalhadores e seus dependentes e exige

37 BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 194, parágrafo único, inciso I. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

27

contribuição. Com isso, nem todos são protegidos, necessitando da subárea

assistência social que acolherá os necessitados. Dessa forma, unindo as duas

subáreas, tem-se a universalidade.

Isso não significa que o Poder Público não deva criar políticas

legislativas visando à inclusão na previdência social de todos aquele que vivem do

fruto do seu trabalho, já que, na hipótese do não recolhimento, estariam protegidos

pelo sistema da assistência social, uma vez que o subsistema de previdência social

tem por objetivo, conforme mencionado acima, proteger o trabalhador e os seus

dependentes.

II. Princípio da uniformidade e equivalência das prestações às

populações urbanas e rurais: consagra a equivalência dos benefícios e serviços das

populações urbanas e rurais.

III. Princípio da seletividade e distributividade na prestação dos

benefícios e serviços: este princípio revela uma contenção provisória da efetivação do

princípio da universalidade, referido acima. Ou seja, rumo à universalização, o

legislador infraconstitucional, discricionariamente, deverá escolher etapas, buscando

a proteção de todos. Um exemplo seria a criação de alíquotas diferenciadas visando

à efetiva inclusão previdenciária de todos os trabalhadores.

IV. Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios: previsto no

artigo 194, parágrafo único, IV da CF, a irredutibilidade está relacionada ao seu valor

nominal, assim como também é aplicado à remuneração dos trabalhadores em

atividade.

V. Princípio da equidade: é dirigido ao custeio da seguridade social

e abrange diversos aspectos, dentre os quais a capacidade econômica dos

contribuintes. A ela devem ser acrescentadas as especificidades relacionadas com o

sistema de proteção social, como a observância da relação entre a contribuição e as

prestações, a empregabilidade, etc., conforme preceito do §9º do art. 195 da CF.

Considerando o objeto do presente trabalho, o primeiro aspecto referido

28

tem maior importância, já que a legislação, ao definir as alíquotas das contribuições a

cargo dos trabalhadores, deverá observar a capacidade contributiva do sujeito

passivo.

VI. Princípio da diversidade da base de financiamento: a CF, por meio desse

princípio, exige diversas fontes de financiamento para a seguridade social e não

apenas a forma tradicional de custeio da previdência social (contribuição do

trabalhador e da empresa sobre a remuneração).

Isso porque, além de ter ampliado a proteção, concedendo saúde a

todos e não apenas a seus trabalhadores e seus dependentes e protegendo os

necessitados por meio da assistência social, a remuneração já não tem a importância

econômica como tinha em outras épocas. De acordo com Zélia Pierdoná38, o Brasil

inicialmente adotou o modelo de Bismarck, sendo que a remuneração era o fator de

produção que tinha maior expressão econômica. Entretanto, houve alteração desse

quadro, decrescendo o fator trabalho em face do aumento do capital, diminuindo

proporcionalmente a receita sobre aquele fator. A CF de 1988 ampliou o sistema

protetivo passando de modelos isolados, que visavam proteger determinados setores

da população, para um sistema de seguridade social, o qual objetiva atender a todos

os cidadãos nas situações geradoras de necessidades.

VII. Princípio da gestão da seguridade social: a CF, no art. 194,

parágrafo único, inciso VII, determinou que a gestão da seguridade social deve ter

caráter democrático e descentralizado.

VIII. Princípio do custeio prévio: o § 5º, do art. 195, da CF determina

que “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado

ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”. Ou seja, para a criação ou

majoração de benefícios ou serviços da seguridade social, será sempre necessária a

indicação prévia da forma como serão financiadas.

38 PIERDONA, Z. L. A Proteção Social na Constituição de 1988. Disponível em: <

http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/16475-16476-1-PB.pdf> Acesso em: 27/07/2014

29

IX. Princípio da solidariedade: a CF traz, por meio dos caputs dos

artigos 194 e 19539, demonstrações da existência do princípio da solidariedade, uma

vez que as ações de seguridade social são de responsabilidade, tanto dos poderes

públicos, como da sociedade, revelando a existência do princípio da solidariedade no

que tange à execução do sistema. Além disso, o financiamento da seguridade social

é encargo de toda a sociedade, de forma direta e indireta. Assim, por meio da

solidariedade dos membros da sociedade, os poderes públicos garantirão saúde a

todos, assistência aos necessitados e previdência aos trabalhadores e seus

dependentes.

2.3. DAS CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A FINANCIAR A SEGURIDADE

SOCIAL

Conforme visto no item anterior, a Constituição de 1988 ampliou a

proteção social, garantindo saúde a todos (art. 196), assistência aos necessitados (art.

203) e previdência aos trabalhadores urbanos e rurais e aos seus dependentes (art.

201 e art. 40). Com isso, o financiamento não poderia ficar mais restrito às

contribuições sobre a remuneração do trabalho.40 A própria Constituição já

estabeleceu pressupostos de diversas contribuições de seguridade social (incisos do

art. 195 e art. 239 da CF), além de ter permitido a criação de outras fontes (art. 195,

§4º da CF).

Atualmente, há sete contribuições destinadas a financiar a seguridade

social: contribuição da empresa sobre a folha de pagamento (folha de salário e demais

39 Art. 194, caput. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Art. 195, caput. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: (...) BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 40PIERDONÁ, Z. L. As contribuições previdenciárias da empresa sobre a folha e do trabalhador no contexto das contribuições de seguridade social. In: SANTOS, N. C.;

LIMA, J. A. B.; FRIGO, G Temas de Direito Tributário, Estudo em homenagem a Eduardo Bottallo. SÂO PAULO: Saraiva, 2013.

30

rendimentos); contribuição da empresa sobre receita e faturamento; contribuição da

empresa sobre o lucro; contribuição dos trabalhadores; contribuição sobre receita de

concurso de prognóstico; contribuição do importador; e, PIS/ PASEP.

Assim, as sete contribuições acima referidas, são destinadas a financiar

o sistema de proteção social com um todo. Ou seja, a previdência, a saúde e a

assistência social.

Dentre as sete, apenas duas são destinadas exclusivamente à

previdência (art. 167, XI da Constituição Federal41): da empresa sobre a folha e dos

trabalhadores. As citadas contribuições podem ser chamadas de contribuições

previdenciárias, uma vez que são destinadas apenas a custear a previdência.

A destinação dessas duas contribuições exclusivamente à previdência

social não determina que apenas elas sejam dirigidas à mencionada área da

seguridade social. Assim, as outras cinco podem ser destinadas também à

previdência, pois têm por finalidade o financiamento da seguridade social como um

todo.

Uma vez que a contribuição sobre a folha e demais rendimentos e a

contribuição dos trabalhadores são destinadas à previdência social, é possível afirmar

que as contribuições sobre o rendimento do trabalho têm por objetivo garantir a

efetividade da proteção social dirigida aos trabalhadores.

Para ter acesso às prestações previdenciárias, o trabalhador precisa

contribuir, conforme previsão expressa tanto no art. 201 (Regime Geral de Previdência

Social) como no art. 40 (Regime Próprio de Previdência Social, dirigido aos servidores

públicos titulares de cargos efetivos) da CF.

41 Art. 167. São vedados: XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201 BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 14.dez.2014.

31

Justamente por isso, as contribuições previdenciárias devem incidir

sobre os referidos rendimentos, os quais são considerados para efeito da contribuição

e repercussão dos benefícios. Com exceção do segurado especial, o fato gerador42

das contribuições previdenciárias incide sobre os citados rendimentos, tanto para

aquele que recebe a remuneração, em razão de atividade laboral, como para aquele

que se beneficia com o trabalho (empresa). Este tema será detalhado mais adiante.

2.4. DA CONTRIBUTIVIDADE E A PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA

No item anterior, verificou-se que a previdência social exige o pagamento

de contribuições43 para que o trabalhador e/ou seus dependentes façam jus aos

benefícios. Assim, independente da forma como o serviço é realizado e remunerado,

os trabalhadores devem contribuir.

Com isso, cumpre ao legislador instituir contribuição atendendo ao

princípio da equidade na forma de participação no custeio mencionado no item 2.2.

Lembrando que, das sete contribuições destinadas a financiar a seguridade social (art.

167, XI da Constituição Federal44), apenas duas podem ser classificadas como

42 Para o segurado especial, a base de cálculo é a receita advinda da comercialização de sua produção. (Artigo 195, §8 da CF). 43 Em relação ao servidor público, o caput do art. 40 da CF prescreve que:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. No que tange ao Regime Geral, a contributividade da proteção previdenciária está prevista no caput do art. 201 da CF: Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei. BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 14.dez.2014. 44 Ibid. Art. 167. São vedados: XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201

32

contribuições previdenciárias. São elas: da empresa sobre a folha e dos

trabalhadores.45

A CF de 1988, em seu art. 40, estabeleceu regras específicas para a

concessão de benefícios previdenciários aos servidores públicos, delimitando o

regime próprio de previdência social (RPPS) dos servidores da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios46, e de forma expressa preceituando o caráter

contributivo da proteção previdenciária a eles dirigida.

No que tange aos trabalhadores em geral, o caráter contributivo da

referida proteção está previsto no caput do art. 201 da CF.

Assim, todo trabalhador brasileiro deverá contribuir diretamente para ter

acesso à proteção previdenciária. Sua contribuição, conforme já referido, incidirá

sobre a remuneração do trabalho.

Com isso, a lei, ao instituir sua contribuição (art. 195, inciso II da CF),

deverá estabelecer a remuneração do trabalho como base de cálculo. O mesmo se

dará em relação à contribuição da empresa sobre a folha de salário e demais

rendimentos do trabalhador pagos ou creditados à pessoa física, mesmo que sem

vínculo empregatício, a qual está pressuposta no artigo 195, I, alínea “a” da CF.

45 Ibid. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; ... II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;... 46 Os principais dispositivos que regem a previdência dos servidores públicos, titulares de cargo efetivo constam do art. 40 da CF, que estabelece os princípios básicos de funcionamento desse Regime, além de determinar os critérios para que os servidores sejam aposentados ou para que seus dependentes recebam benefício, em caso de morte.

33

2.5. DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS

No decorrer do presente trabalho, verificou-se que das sete

contribuições de seguridade social pressupostas na Constituição, duas delas são

destinadas apenas à previdência social: da empresa sobre a folha e do trabalhador.

Verificou-se, ainda, que as citadas contribuições devem incidir sobre o rendimento do

trabalho. Também conforme já mencionado, as referidas contribuições foram

instituídas pela Lei nº 8.212/91.

No que tange à contribuição da empresa, o art. 22 da citada lei,

estabelece as alíquotas e bases de cálculo em relação a cada tipo de segurado que a

empresa remunera.

Além disso, a lei define a empresa (art. 15, I) como “a firma individual ou

sociedade que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural, com fins

lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da administração pública direta,

indireta e fundacional”.

O parágrafo único do mesmo dispositivo equipara a condição de

empresa, para os efeitos da Lei 8.212 de 1991, o contribuinte individual em relação

a segurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa, a associação ou entidade

de qualquer natureza ou finalidade, a missão diplomática e a repartição consular de

carreiras estrangeiras.

Como já mencionado acima, mas agora em destaque, a Lei nº 9.876 de

1999 deu nova redação ao artigo 12 da Lei 8.212 de 1991, criando a figura do

“contribuinte individual”.

Para saber qual contribuição a empresa deve pagar, é necessário

observar a espécie de segurado que se está remunerando. Ou seja, para que exista

obrigação da empresa, há que se tenha salário ou remuneração de trabalho sem

vínculo empregatício.

Com a nova redação do artigo 12 da Lei nº 8.212 de 1991, foi

34

estabelecido que, para fins previdenciários, os segurados obrigatórios (aquele que

exerce atividade remunerada)47 são classificados em cinco grupos: empregado,

empregado doméstico, trabalhador avulso, segurado especial e contribuinte

individual.

Em relação à contribuição do trabalhador (art. 195, inciso II da CF), o

legislador estabeleceu as alíquotas e base de cálculo nos art. 20 (para o empregado,

empregado doméstico e trabalhador avulso), art. 21 (contribuinte individual) e art. 25

(segurado especial) da Lei nº 8.212/91.

Para fins de seleção de evidências para sustentação da presente

dissertação, destaca-se a figura do segurado contribuinte individual, na qual estão

incluídos revendedores da venda-direta.

Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: ... V - como contribuinte individual: ... h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não;

Assim, no presente item, apenas foram mencionados os dispositivos

legais que instituíram as contribuições previdenciárias da empresa e do trabalhador,

as quais serão retomadas em espaço apropriado.

2.6. DA PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA

A previdência social é direito fundamental que depende do cumprimento

de um dever fundamental. Ou seja, da necessidade de contribuição do segurando.

Como dito acima, juntamente com a assistência social e a saúde, compõem o conjunto

da proteção social que a Constituição Federal chamou de “Seguridade Social”.

47 Alem do segurado obrigatório, o regime geral de previdência social prevê a figura do segurado facultativo, que é aquele que, sem exercer atividade remunerada, recolhe para a previdência social de maneira voluntária. Para tanto, a legislação exige que tenha mais de 16 anos.

35

São dois os tipos de regimes da previdência: regime geral e regimes

próprios.48

O regime geral é abrangente e residual. Tem por objetivo proteger a

todos os trabalhadores, excetuando apenas aqueles inseridos nos regimes próprios,

instituídos pelos entes da Federação para dar proteção aos seus servidores titulares

de cargos efetivos.

Por meio dos dois regimes, o Estado deu acesso a todos os

trabalhadores à Previdência Social. Os segurados e seus dependentes possuem a

segurança de que estarão protegidos nas contingências sociais em razão dos

benefícios previdenciários. A contrapartida pelos trabalhadores está na exigência do

Poder Público quanto ao pagamento das contribuições durante determinado tempo.

O artigo 201 da CF trouxe o desenho do regime geral da previdência

social, aplicada obrigatoriamente a todos os trabalhadores49, como explicado acima,

com exceção dos servidores públicos titulares de cargos efetivos dos entes da

Federação e dos militares.

Os limites da proteção previdenciária são juridicamente fixados. O limite

aplicável ao regime geral é de dez salários de contribuição.

Atualmente, existem limites diferenciados para os dois regimes. Porém,

a CF preceitua que os entes federativos poderão adotar o mesmo limite aplicado ao

48 BRASIL. Lei nº 9.796, de 5 de maio de 1999. Dispõe sobre a compensação financeira entre o Regime Geral de Previdência Social e os regimes de previdência dos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos casos de contagem recíproca de tempo de contribuição para efeito de aposentadoria, e dá outras providências. Brasília, em 5 de maio de 1999; Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9796.htm>. Acesso em: 29.mar.2015. 49 Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, (...) BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014.

36

regime geral. Neste caso, deverão ser criadas previdências complementares aos seus

servidores, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais.

Todos os preceitos constitucionais mencionados acima referem-se à

previdência obrigatória, isto é, apresenta como pressupostos o exercício de atividade

remunerada e a contraprestação direta do segurado.

Quanto à prestação complementar prevista na CF, artigo 20250, esta se

caracteriza por seu caráter “complementar” e organizado de forma autônoma em

relação ao regime geral de previdência social. O regime de previdência privada

apresenta como característica a facultatividade. Tem por objetivo possibilitar a

continuidade do padrão de vida do trabalhador, complementando a aposentadoria dos

regimes obrigatórios.51

Ainda, a União e as unidades federativas, por iniciativa do Poder

Executivo, poderão fixar o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime

geral de previdência social de que trata o art. 201, para o valor das aposentadorias e

pensões a serem concedidas, desde que instituam regime de previdência

complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo.

No que tange ao RGPS, os seus beneficiários são os elencados no

subitem a seguir.

2.6.1. Dos beneficiários da previdência social

Os destinatários das prestações de previdência social do Regime Geral

de Previdência Social (RGPS) são os beneficiários, gênero das espécies segurados e

50 Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por Lei nº complementar. BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 51 Lei nº complementar 108 e 109 de 2001.

37

dependentes.

São beneficiários: 1. Segurados e, 2. Dependentes.

1. Segurados:

a. Obrigatórios

Empregado

Empregado doméstico

Trabalhador avulso

Contribuinte individual

Segurado especial

b. Facultativos

2. Dependentes52:

a. O cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não

emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)

anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental

que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim

declarado judicialmente.

b. Pais.

c. O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21

(vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência

intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente

incapaz, assim declarado judicialmente.

Para fins de análise do presente trabalho, destaca-se o contribuinte

individual.

Contribuinte individual é a classe de trabalhador prevista pela Lei nº

52 Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado. BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em: 31.mai.2015.

38

8.212/91, que teve a sua redação dada pela Lei nº 9.876/9953, reunindo segurados:

empresário, autônomo e equiparado a autônomo. O revendedor da venda direta se

enquadra nesta categoria. Nesta linha, uma vez figurando os revendedores como

contribuintes individuais, seguindo o inciso V do art. 12 da Lei nº 8.212 de 1991, os

revendedores são segurados obrigatórios.

O Decreto nº 3.048 de 1999, em seu art. 9º, § 15, III veio para

regulamentar o referido dispositivo legal. Assim segue:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as

seguintes pessoas físicas:

...

V - como contribuinte individual:

...

j) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter

eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

l) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade

econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não;

...

§ 15. Enquadram-se nas situações previstas nas alíneas "j" e "l"

do inciso V do caput, entre outros:

...

III - aquele que, pessoalmente, por conta própria e a seu risco,

exerce pequena atividade comercial em via pública ou de porta

em porta, como comerciante ambulante, nos termos da Lei nº

6.586, de 6 de novembro de 1978; ...

Tem havido, nos últimos anos, intensos esforços do governo federal com

o objetivo de avançar na qualidade do serviço prestado no que tange à proteção

previdenciária brasileira. Estes esforços incluem medidas como a redução do tempo

de atendimento, reconhecimento de direitos, além da simplificação das formas de

inclusão previdenciária.54

53 Que alterou a redação original da Lei nº 8.212 de1991. 54 Por exemplo, a inclusão previdenciária que foi objeto da emenda constitucional nº 47/2005, a qual será tratada no decorrer do presente trabalho.

39

3. AS REVENDEDORAS E A EMPRESA

A World Federation of Direct Sales Association (WFDSA) é a associação

global que congrega as chamadas Direct Sales Associations, estas por sua vez de

âmbito nacional. De acordo com essa entidade global, estimou-se que em 2008

existiam aproximadamente 1.300 organizações de venda direta no planeta.55

Dados mais recentes, publicados em julho de 2014, trazem que

globalmente o setor de venda direta movimentou em 2013 mais de 178 trilhões de

dólares. Um crescimento de 8,1% em relação ao ano anterior.56 Quanto ao número de

representantes, segundo os dados da WFDSA, hoje há mais de 96,2 milhões, sendo

que destes, 4,4 milhões são brasileiros. Em volume de vendas, o Brasil é o 5º país.

Na sua frente estão: Estados Unidos, China, Japão e Coréia do Sul, nesta ordem.

Este contingente de pessoas atua principalmente em: 1. Cuidados

Pessoais (81%), Produtos para Casa (18%), Nutrição e Alimentação (0,8%), Lazer e

Produtos Educacionais (0,1%), Outros (0,1%).57 Apesar destes se tratarem de

pesquisa realizada em 2008, pela condição da pesquisadora de ser funcionária de

uma das empresas do setor, foi possível constatar por meio de dados internos que a

distribuição continua permanente, com pequenas variações de 1 a 3%.

A “venda direta” é a relação mercantil baseada na alienação de produtos

e serviços no domicílio do consumidor ou em outros locais que não sejam pontos fixos.

Nesta modalidade de varejo58, pessoas físicas ou revendedores compram produtos

DIRETORIA DO INSS. Os Desafios da Gestão do Regime Geral de Previdência Social. In: BRASIL. Ministério da Previdência. Debates. Previdência Social: Reflexões e desafios Disponível em: < http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/3_100202-164641-248.pdf>. Acesso em: 31.mai.2015. 55 MACHADO, R. Venda Direta, a vitória do autônomo empreendedor. São Paulo: Editora Alaúde, 2008. p. 55 56 World Federation of Direct Sales Association. Global Direct Selling ‐ 2013 Retail Sales.

Disponível em: <http://www.wfdsa.org/files/pdf/global-stats/Sales_Report_2013.pdf>. Acesso em: 20.ago.2014. 57 __________. Venda Direta, a vitória do autônomo empreendedor. São Paulo: Editora Alaúde, 2008. p. 56 58 Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. CONCLA – Comissão Nacional de Classificação. Disponível em:

40

diretamente do fornecedor (indústria ou distribuidor) e os revendem no sistema “porta-

em-porta”, auferindo lucro pela diferença dos preços de compra e revenda, arcando,

inclusive, com todos os ônus inerentes à atividade econômica.

O posicionamento do setor, representado pela ABEVD, é de que a venda

direta apresenta três atrativos principais para que um indivíduo se torne representante:

1. é uma oportunidade acessível de geração de renda; 2. é uma forma de compra de

produtos a preços menores para consumo próprio; 3. é uma oportunidade de trabalho

para aqueles que desejam se tornar empreendedores autônomos e não possuem

renda suficiente para iniciar seu próprio negócio.

Segundo dados colhidos por Hideko Miyata (2011), o setor tem se

expandido nas últimas três décadas, a taxas superiores ao crescimento do PIB

nacional (taxa média anual de crescimento, entre 2001 e 2010, foi de 14,87%).

A venda direta, da forma como está estabelecida hoje no Brasil, se trata

de operação de compra e venda entre:

Necessariamente nessa ordem.

O processo da venda direta envolve necessariamente três elementos-

chave: o vendedor direto, o consumidor e a empresa. O aumento do culto à beleza, a

vontade de realização pessoal e profissional da mulher e a necessidade de aumento

da renda familiar fazem com que este mercado cresça a cada ano.

Como a relação entre revendedores é mercantil, não há obrigatoriedade

<http://www.cnae.ibge.gov.br/divisao.asp?coddivisao=47&TabelaBusca=CNAE_200@CNAE%202.0> Acesso em: 31/08/2014

INDÚSTRIA/ IMPORTADORA DISTRIBUIDORA PESSOA FÍSICA

41

de cumprimento de horários, nem exigência de dedicação exclusiva a uma única

marca. Além disso, o revendedor pode atuar, simultaneamente, na comercialização

dos produtos de diversas empresas de venda direta e, ainda, exercer qualquer outra

atividade profissional ou remunerada.

A peculiaridade desta espécie de varejo é que o empreendedor

autônomo ou revendedor é pessoa física e não possui estabelecimento próprio. Como

atividade autônoma, os riscos do negócio são totalmente arcados pelo revendedor.

Atualmente, a atividade da venda direta é regulada pela Lei nº 6.586 de

1978, conhecida como Lei nº do Comerciante Ambulante. O art. 1º da Lei classifica

como “comerciante ambulante aquele que, pessoalmente, por conta própria e a seus

riscos, exercer pequena atividade comercial em via pública, ou de porta em porta.” O

SEBRAE reconhece que esta atividade acontece sem que haja vínculo empregatício

dele com a empresa que fornece os produtos comercializados.59

Ao analisar a estrutura da venda direta é possível afirmar que, pela

capilaridade nacional dos representantes, este seria um dos mais eficazes meios de

distribuição de produtos. A empresa Avon Cosméticos Brasil, que apresenta 19

campanhas por ano (em média 20 dias), percorre 4,8 milhões de quilômetros por

campanha para realizar as suas entregas em todos os municípios do Brasil.

3.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS REPRESENTANTES DA VENDA DIRETA

Nesta seção, procurou-se dar um panorama dos perfis socioeconômicos

dos revendedores e da relação que estes têm com as vendas. A grande participação

feminina neste setor se deve ao fato de que, para o sucesso da venda direta, as

relações de venda normalmente acontecem dentro das residências. Assim, relações

interpessoais, de confiança, íntimas e fortes são a “alma do negócio”. O exemplo da

59 SEBRAE Nacional. O enquadramento das consultoras de beleza e o MEI. Disponível em <http://sebraemgcomvoce.com.br/2010/07/29/o-enquadramento-das-consultoras-de-beleza-e-o-mei/> Acesso em: 14.dez.2014.

42

primeira revendedora Avon, nos idos de 1880, é o perfeito retrato do que se tem até

os dias atuais. David McConnell, fundador da Avon e vendedor dos produtos,

percebendo que a entrada nas casas para expor seu portfólio e fazer negócios era

muito difícil por ele ser homem, convida sua vizinha Ms. Albee para que trabalhe como

representante e, em menos de dez anos, a Avon já contava com mais de 25 mil

revendedoras nos Estados Unidos da América.

Com o relacionamento e simpatia, o cerne do negócio está na rede de

consumidores que a representante cria com o objetivo de vender produtos para

“melhorar a imagem e a autoestima” das pessoas. As empresas de venda direta,

conscientes dessa dependência da força de trabalho feminina, operam fortemente o

relacionamento e o espírito empreendedor feminino. Como forma de manter a atração

na atividade, são promovidas festas e bailes, premiação em forma de viagens, carros,

reconhecimentos por tempo de “casa” e valores pecuniários às mulheres que se

destacam muitas vezes superiores à média do mercado de emprego.

Em uma pesquisa realizada pelo pesquisador Miyata60, com

revendedores da venda direta na região metropolitana de São Paulo, identificou-se

que para todos os entrevistados, a flexibilidade do trabalho é a principal vantagem em

se trabalhar no sistema.

Por sua vez, a Avon realizou em 2012 uma pesquisa em âmbito

nacional61. A amostra apresentava 98% de mulheres, 72% dos revendedores vêm na

venda direta um complemento de renda. A idade média é de 42 anos, 57% fazem

estoque de produtos e 94% compram além dos produtos de revenda, produtos para

consumo próprio. O tempo médio que um revendedor permanece vinculado à Avon é

de 4,2 anos.

60 MIYATA, H. Novos sentidos do trabalho: ocupações precárias na economia urbana no Brasil contemporâneo. In: PROCEDINGS OF XIII JORNADA DO TRABALHO, 1., 2012,

Presidente Prudente. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000142012000100057&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 13.dez.2014. 61 AVON COSMÉTICOS. Pesquisa Representative Satisfaction. Outubro, 2012.

43

Comparando com o trabalho de Miyata, a amostra também foi

majoritariamente feminina (97%), faixa etária entre 35 e 55 anos (84%), em sua

maioria concluiu o ensino médio (75%). Um aspecto importante é que 76% desses

empreendedores autônomos não contribuíam para a previdência social.

Um levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional de

Dirigentes Lojistas) revelou que 72% dos autônomos informais não recolhem

contribuição para o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).62

Miyata constatou que 58% dos empreendedores haviam trabalhado

anteriormente em empregos formais (“com carteira assinada”) e estavam sem uma

atividade formal, 42% nunca tiveram emprego formal e apenas 6% estavam de fato

empregados.

O perfil sociológico continua: 35% da amostra desempenhavam outras

atividades autônomas como manicure, cabeleireiros, empregadas domésticas e

diaristas, babás, trabalhadora em banca de jornal. Importante destacar: 42% dos

entrevistados afirmaram que o ganho advindo da atividade de venda direta refletia a

renda principal da família. Apenas 34% dos casos, como renda compartilhada com

familiares; para 24% dos casos, o ganho com a venda direta foi considerada uma

renda complementar.

Cumpre ressaltar que a pesquisa realizada pela Avon foi de amplitude

nacional. Em contrapartida, Miyata se restringiu à grande São Paulo. Talvez isto

justifique a incompatibilidade de alguns dados quando comparados entre as duas

pesquisas.

O recente livro lançado pela socióloga Ludmila Costhek Abílio63 foi o

resultado de análise empírica de 25 entrevistas com revendedoras da empresa Natura

em São Paulo e em Paris, o que lhe permitiu constatar algumas características

62 InfoMoney. 72% dos autônomos informais não contribuem com a Previdência Social. Disponível em: < https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/noticia/180-72dosautonomosinformaisnaocontribuemcomaprevidenciasocial> Acesso em: 23.nov.2014 63 ABILIO, L. C. Sem maquiagem, o trabalho de um milhão de revendedoras de cosméticos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2014.

44

comuns entre as entrevistadas.

Para algumas delas, quando perguntadas se eram revendedoras da

Natura, a resposta era “não”, pois eram professoras. Esta afirmação é importante, pois

evidencia que a atividade da revendedora não é reconhecida por elas como trabalho

formal. Além disso, se, para algumas, ser revendedora é motivo de orgulho, para

outras, por conta da trajetória profissional, é motivo de sentimento de não

pertencimento.

Em sua maioria, as consultoras recebem em média 30% do valor total

do que é vendido e pagam às empresas os restante 70%. O contrato de compra e

venda e o boleto bancário são os atos jurídicos que formalizam a relação comercial

entre revendedor e a empresa. Já, entre revendedor e clientes, a relação acontece

em bases informais e pessoais. Daí surgem os relatos sobre “calotes” dos

consumidores.

Outra característica do negócio é que em geral os boletos vêm para as

revendedoras com data de vencimento após o término da chamada “campanha”64.

Assim, para iniciar a atividade da venda direta, o empreendedor não precisa fazer

nenhum investimento prévio. A lógica é “vender para depois pagar a empresa”.

O valor total do boleto em sua maioria apresenta pedidos de compra

feitos pelos consumidores (produtos vendidos) e produtos pedidos para consumo

próprio. Isto, por exemplo, determina a variação do ICMS a pagar, uma vez que, pela

lógica tributária, se o produto foi comprado para consumo próprio, não há que se falar

neste tributo.

As empresas de venda direta não permitem que os revendedores abram

lojas próprias. Assim, a fim de oferecer uma experiência com os produtos, as

empresas líderes têm criado espaços para demonstração dos produtos (ex.: Casa

Natura, na Rua Oscar Freire na cidade de São Paulo, Espaço Amway na Rua Augusta,

64 Campanha: termo utilizado pelas empresas de venda direta para designar o período enquanto o “catálogo” está vigente para compra. Pode variar de 20 dias a 3 ou 4 meses, dependendo da empresa.

45

também em São Paulo). Quando a experimentação não é possível, as próprias

revendedoras, por estratégia de venda, acabam por montar seus próprios “kits” de

demonstração.

A loja informal – É muito comum, especialmente nos grandes centros,

serem vistas lojas ou estabelecimentos comerciais multimarcas, com vitrines repletas

de produtos exclusivamente vendidos para representantes da venda direta. Apesar

das empresas não permitirem lojas com marcas próprias (ex.: loja Avon), os

revendedores montam suas lojas mesclando produtos da venda-direta e produtos

tradicionalmente encontrados no varejo tradicional.

Especificamente para esse tipo de loja, há três perfis de consumidores

ou compradores:

(i) consumidores que querem comprar os produtos a pronta-

entrega.

(ii) revendedores sem estoques que precisam atender a

demanda de um cliente e, assim, compram de outro revendedor,

no caso o proprietário da loja.

(iii) “revendedores dos revendedores”, ou seja, pessoas que

não se cadastraram nas empresas de venda direta por: 1. temer

assumir dívidas e compromisso, ou 2. por estar com o chamado

“nome sujo” e assim não poderem se cadastrar nas empresas. A

revendedora da revendedora é um caso de informalidade dentro da

informalidade.

Outro aspecto socioeconômico relevante é o fato de que a venda por

relacionamento garante que os produtos cosméticos cheguem a praticamente todos

os lugares do Brasil. Alguns dados revelam o papel social que os produtos ao serem

vendidos a consumidores do país todo trazem: A Avon atualmente é a empresa que

mais vende livros, calçados e Bíblias.

Tributação – Por ora, uma breve pincelada quanto ao tema tributário é

importante para compor o perfil sociológico (mais à frente será objeto de estudo). O

Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é recolhido pela

46

indústria ou pela importadora, seguindo o regime da substituição tributária. Em cada

estado da federação as empresas de venda direta estabelecem individual ou

setorialmente convênios ou regimes especiais com as Fazendas Estaduais que

determinam as margens de valor agregado (MVA) que comporão a base de cálculo

do ICMS a ser recolhido.

Para a pesquisadora Ludmila Abílio (2014), essa forma de taxação

possibilita que as empresas operem dentro da legalidade tributária, ao mesmo tempo

em que traduzem na ausência de emissão de nota fiscal uma forma de não

reconhecimento de atividade laboral das representantes.

3.2. SUBORDINAÇÃO ESTRUTURAL

O Estado é um fenômeno especificamente capitalista. Nas relações de

produção capitalista se dá uma organização social que separa os produtores diretos

dos meios de produção, estabelecendo uma rede necessária de trabalho assalariado.

O Estado moderno se revela como um aparato necessário à reprodução capitalista,

assegurando a troca de mercadorias e a própria exploração da força de trabalho sob

forma assalariada.

As instituições jurídicas essenciais ao mercado de trabalho que se

consolidam por meio do aparato estatal são: o sujeito de direito, a garantia do contrato

e a autonomia da vontade.

Atualmente, o elemento fundamental da dualidade entre o trabalhador

assalariado e o trabalhador independente ou autônomo fundamenta-se na definição

da relação de trabalho.

O contrato de trabalho como ato jurídico surgiu na Europa entre o final

do século XIX e o início do século XX como forma de superar o dogma liberal da

igualdade das partes na relação contratual. Foi a forma que o Estado encontrou de

intervir nas relações de trabalho a fim de proteger o trabalhador e, por consequência,

47

evitar o abuso do poder empresarial.65

A livre iniciativa e a valorização do trabalho humano são fundamentos

da República Brasileira e da ordem econômica.66 O avanço social e o progresso

econômico passam pela lógica da convergência necessária entre os princípios da livre

iniciativa empresarial e do trabalho como valor fundante da República.67

A tradicional relação jurídica de emprego é caracterizada pela presença

conjunta dos elementos previstos nos artigos 2º e 3º, da CLT: a pessoalidade, a

onerosidade, a não-eventualidade e a subordinação. Em que pese a necessidade de

coexistência desses pressupostos, cada vez mais a subordinação tem ganhado maior

relevância no reconhecimento do vínculo empregatício.68

65 VIÑA, J. G. O valor do trabalho autônomo e a livre-iniciativa no ordenamento espanhol. In: FREDIANI, Y. A Valorização do Trabalho Autônomo e a Livre-Iniciativa. Porto Alegre: LexMagister, 2015. p.83 66 Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, (...) BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. 67 MANNRICH, N. Reinventando o Direito do Trabalho: novas dimensões do trabalho autônomo. In: FREDIANI, Y. A Valorização do Trabalho Autônomo e a Livre-Iniciativa.

Porto Alegre: LexMagister, 2015. p.231 68 “Assim sendo, junto à necessidade de uma revisão ampliativa do conceito referido, desvelou-se a subordinação estrutural, a qual analisa a subordinação objetivamente, com enfoque na atividade prestada pelo trabalhador, e na natureza dessa atividade, se essencial ou não ao funcionamento da empresa empregadora. Dessa forma, há uma relação de dependência recíproca entre empregador e empregado, sendo que um precisa da estrutura organizacional da empresa, sem a qual não há trabalho a ser feito e, por conseguinte, o outro do trabalho realizado, sem o qual a estrutura empresarial não funciona. O trabalho não se separa da pessoa que o presta e, nesse sentido, a subordinação não se dá entre o empregador e seu subordinado exclusivamente (análise subjetiva da subordinação), mas sim entre a complexidade organizacional de uma instituição e o serviço prestado individualmente pelo colaborador.” (grifos do original) BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª região, Acórdão 9ª Turma. Vínculo de Emprego. Subordinação Estrutural – Partes: Avon Cosméticos Ltda. Como recorrente, e Claudia Pereira Safira e Velox Consultoria RH Ltda. Rio de Janeiro. Disponível em: < http://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/TRT-1/attachments/TRT-1_RO_00010175920125010079_b474a.pdf?Signature=FfODCDOknPCJtjyuZickq8LpKUU%3D&Expires=1430669362&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XEMZACAXCMBA&response-

48

A situação de subordinação do empregado ao empregador é elemento

base da determinada “forma de trabalho”, correspondente à encontrada

principalmente nas fábricas, no comércio e algumas prestações de serviço. Nas

relações de produção capitalistas se dá uma organização social que separa os

produtores diretos dos meios de produção, estabelecendo uma rede necessária de

trabalho assalariado.

A existência de um nível apartado dos agentes econômicos individuais

dá a possibilidade de influir na constituição de subjetividades e lhes distribuir garantias

jurídicas que corroboram para a perpetuação da própria circulação mercantil e

produtiva.

Devido à circulação mercantil e à posterior estruturação de toda a

sociedade sobre parâmetros da troca, exsurge o Estado como terceiro em relação à

dinâmica entre capital e trabalho.

A partir da terceira revolução industrial, a forma predominante de

trabalho alterou-se consideravelmente. É evidente que a forma tradicional de emprego

não desapareceu e, claro, nem desaparecerá. Ocorre que, cada vez mais a difusão

das novas formas de prestação laboral tem proporcionado o surgimento de outras

formas de trabalho que coexistem com a forma tradicional de subordinação.

Com o advento destas novas formas de trabalho, os estudiosos do direito

do trabalho, ao se debruçarem sobre a pertinência do conceito de subordinação, nos

tempos atuais colocam sob judicie a sua permanência ou a necessidade de

reinvenção. Sob este pano de fundo, surge entre os doutrinadores brasileiros a figura

do “trabalho parassubordinado”, vinda do direito italiano, que coloca alguns

trabalhadores (entre eles, os representantes comerciais) em uma situação

intermediária entre os autônomos e os trabalhadores tradicionais.

As situações empíricas ou reais preocupam os operadores e pensadores

content-type=application/pdf&x-amz-meta-md5-hash=36de28c8c2c445ac97efe94a157468f5>. Acesso em: 02.mai.2015

49

do Direito do Trabalho. As condições às quais os trabalhadores são submetidos

devem ser levadas em conta quando se reflete sobre como reinventar o trabalho sem

necessariamente qualificá-lo como autônomo ou subordinado e sem necessariamente

onerar um dos polos, de modo a inviabilizar economicamente a relação. “Qual o

motivo para se acreditar que o Direito do Trabalho não deva envolver o trabalhador,

por conta de valores universais que queremos preservar, como se o papel do Estado

se limitasse a proteger apenas o empregado?”69

Como dito acima, a subordinação é um pressuposto que define a relação

de emprego. Por meio da subordinação se identifica o trabalhador convencional

tutelado pela CLT, distinguindo-o do trabalhador autônomo. Diante do direito

positivado brasileiro, o seu reconhecimento à situação fática é decisivo para a

configuração cristalina da relação de emprego. Constitui-se como peça importante

para o reconhecimento dos direitos e garantias trabalhistas, os quais, em regra, são

assegurados em sua plenitude apenas aos empregados.

Ocorre que, diante das atuais formas de trabalho, especialmente

reforçadas pela Internet, a subordinação em sua visão clássica (o poder de direção

do empregador e o dever de obediência do empregado), não pode mais ser vista como

critério essencial para a definição da relação de emprego. Sua aplicação literal e

restritiva, estaria privando uma grande massa de trabalhadores de ter acesso aos

direitos trabalhistas inerentes aos empregados.

Assim, diante da figura da parassubordinação, há duas correntes de

juslaboristas brasileiros: os que simplesmente rechaçam o instituto, reafirmando sua

absoluta inadequação ao nosso direito positivo e os que tendem a estudar de que

forma esta figura possa eventualmente ser aproveitada na compreensão das novas

formas de trabalho do mercado brasileiro.

A teoria da subordinação estrutural tem sido invocada para estender a

proteção trabalhista aos indivíduos que prestam serviços, porém não têm inteira

69 MANNRICH, N. Reinventando o Direito do Trabalho: novas dimensões do trabalho autônomo. In: FREDIANI, Y. A Valorização do Trabalho Autônomo e a Livre-Iniciativa. Porto Alegre: LexMagister, 2015. p.232

50

liberdade para decidir sobre a atividade econômica em que é usado, ainda que

proprietários do bem de produção.

A dependência do indivíduo, pessoa física, para com o empregador

constitui a marca reveladora da relação de emprego. Se não houver vínculo de

subordinação, ainda que onerosa, não-eventual e pessoal, não será considerada

como relação derivada de um contrato de trabalho.

De forma sintética, a aplicação empírica dos conceitos da teoria da

subordinação estrutural está condicionada à identificação de quem assume os riscos

envolvidos com a prestação dos serviços. Se os riscos são integralmente assumidos

pelo tomador, o prestador de serviços é um trabalhador, e com ele todos os direitos

inerentes à atividade laboral prevista na CLT.

“Ninguém conseguiu prever nem conseguimos até agora nos adaptar a

essa chamada era do conhecimento, com tantos impactos no mundo do trabalho,

afetando de forma estrutural o mercado de trabalho . Enfrentamos o desafio da

realidade – que se impõe ao direito, por ser mais veloz.”70

70 MANNRICH, N. Reinventando o Direito do Trabalho: novas dimensões do trabalho autônomo. In: FREDIANI, Y. A Valorização do Trabalho Autônomo e a Livre-Iniciativa. Porto Alegre: LexMagister, 2015. p.231

51

4. DA NÃO-INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PELAS

EMPRESAS DE VENDA DIRETA

Para fins de inspiração para a reflexão que se segue, pede-se ter em

mente os excertos do artigo 195 da CF, abaixo transcritos:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a

sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,

mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada

na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho

pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe

preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

Por sua vez, o artigo 22 da Lei nº 8.212 de 199171, descreve as alíquotas

71 Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços;

52

e bases de cálculo da contribuição previdenciária a cargo da empresa, conforme já

visto no item 2.4.

Diante dos fragmentos constitucionais, acima transcritos, e legais em

nota de rodapé, indaga-se:

Seria a atividade da venda-direta fato gerador de contribuição

previdenciária, à luz do art. 195, I, “a”, da CF e do art. 22, inciso III da Lei nº

8.212/91?

Para responder tal problemática, mister se faz trazer à lumen o conceito

proposto pela Lei nº 6.586 de 1978 do que se considera “comerciante ambulante”:

Art. 1º. Considera-se comerciante ambulante aquele que,

pessoalmente, por conta própria e a seus riscos, exerce

pequena atividade comercial em via pública, ou de porta em

porta.

Assim, no artigo de abertura (art. 1º) a referida Lei estabelece que a

atividade realizada pelo comerciante ambulante é equiparada à do vendedor porta-

porta.

O artigo 2º da citada lei, por sua vez, determina que não serão

considerados comerciantes ambulantes aqueles que exercem atividades em

condições que caracterizem a existência de relação de emprego com o fornecedor

dos produtos.

Destarte, para fins da presente sessão, é necessário estabelecer

algumas bases. Do que já foi exposto, apreende-se que: (i) a relação jurídica existente

IV - quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm>. Acesso em: 31.mai.2015.

53

entre as empresas de venda direta é uma relação mercantil, de compra e venda de

produtos; (ii) não se caracteriza o vínculo empregatício; (iii) não há qualquer forma de

prestação de serviços das revendedoras para as empresas de “venda direta”.

(i) A relação jurídica existente entre as empresas de venda porta-a-

porta é uma relação mercantil, de compra e venda de produtos: nessa espécie de

negócio, as partes são, de um lado as pessoas físicas, denominadas revendedoras,

que compram produtos, e de outro o fornecedor. Trata-se de comerciantes autônomos

que adquirem os produtos da empresa de venda direta, alienando-os por conta própria

e, após descontar despesas como, por exemplo, transporte, auferem lucro pela

diferença dos preços, de compra e revenda, arcando, também, com todos os ônus

inerentes ao negócio da atividade autônoma.

Em tal atividade, a autonomia e liberdade negocial se mostram

incompatíveis com a relação de emprego. Cumpre ainda mencionar que grande

parcela do universo de revendedores compra produtos também para consumo

próprio.72

(ii) Não se caracteriza o vínculo empregatício: entre empresa e

revendedor não há que se falar em vínculo empregatício, pois não estão presentes os

requisitos pessoalidade, onerosidade, subordinação jurídica e habitualidade.

(iii) Não há qualquer forma de prestação de serviços das

revendedoras para as empresas de “venda direta”. A dúvida que poderia permanecer

ainda seria se a atividade de venda exercida pelo revendedor caberia classificar como

prestação de serviços.

Aplicando o conceito trazido no parágrafo anterior, a prestação é uma

obrigação de fazer por parte do prestador. Na venda porta-a-porta, o revendedor

apenas entrega ao consumidor o que já existe. Não há que se falar em prestação de

serviços. “A compra e revenda são inconciliáveis com a figura da prestação de

72 De acordo com pesquisa realizada pela Avon Cosméticos, 94% dos revendedores compram, além dos produtos de revenda, produtos para consumo próprio. AVON COSMÈTICOS. Pesquisa Representative Satisfaction. Outubro, 2012.

54

serviços, pois seu objetivo não é a produção de utilidade material ou imaterial, mas a

comercialização de utilidade já existente”.73

Para se caracterizar uma prestação de serviços, deve-se reunir três

elementos: o prestador, o tomador e o preço do serviço. Desta forma, o exercício da

prestação deve ser realizado por alguém (denominado prestador); sua atuação

necessariamente deve visar a produzir uma utilidade relativamente a outra pessoa

(tomador), a qual, consequentemente, remunera o prestador (preço do serviço).

Passado o ponto de que a relação existente entre revendedor e empresa

da venda-direta não se trata de relação de emprego, a despeito das peculiaridades da

“venda direta”, persiste o debate no bojo do Ministério da Previdência Social quanto à

proposta que visa a exigência de contribuição previdenciária74 incidente sobre as

quantias recebidas dos revendedores.

Os critérios da tradução do texto normativo ao esquema sintático-

semântico da regra-matriz são uma forma de ilustrar o limite da imposição jurídica no

que concerne a criação e imposição de recolhimento de tributos. Trata-se de fronteiras

de até aonde o legislador tributário pode ir, diante dos limites constitucionais impostos.

Acrescenta-se que a realização do fato gerador deve ser a relação tributária entre o

sujeito passivo e o ente tributante.

Tomando o art. 195, I, “a”, da CF75 e aplicando sobre o texto positivo a

73 CARVALHO, P. B. Tributação sobre “vendas diretas” pelo INSS. Disponível em: <http://www.parasaber.com.br/textos/tributacao-sobre-%E2%80%9Cvendas-diretas%E2%80%9D-pelo-inss-analise-sobre-a-possibilidade-do-instituto-nacional-de-seguridade-social-inss-exigir-contribuicao-previdenciaria-de-empresas-de-venda-dire/> Acesso em: 01/05/2014 74 As contribuições são diversas, conforme a espécie de segurado que a empresa remunera. A Lei nº 8.212/ 1991 estabelece cinco espécies de segurados obrigatórios: empregados, domésticos, avulsos, contribuintes individuais e segurados especiais. Desta forma, para identificar qual a contribuição a ser paga pela empresa, é necessário observar a espécie de segurado. Para as empresas há três possibilidades de segurados para os quais pode haver obrigação de recolhimento: empregados, avulsos e contribuintes individuais. As três espécies de segurados integram a folha de pagamento das empresas. 75 O artigo 195, I, alínea “a” da Constituição Federal define a folha de salário* (remuneração da categoria de trabalhadores formada pelos empregados) e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados à pessoa física, mesmo que sem vínculo empregatício como base de cálculo para fundamentar a contribuição prevista no art. 22 da Lei nº 8.212/1991.

55

regra-matriz de incidência tributária (inciso III do art. 22 da Lei nº 8.212/91), identifica-

se a seguinte norma-padrão:76

Hipótese:

critério material: pagar ou creditar salários e demais

rendimentos do trabalho a empregado ou prestador de

serviço;

critério espacial: território nacional;

critério temporal: momento do pagamento ou

creditamento do salário e demais rendimentos do trabalho.

Consequente:

critério pessoal:

ativo: União77;

passivo: empregador, empresa e entidade a ela

equiparada na forma da lei;

critério quantitativo: base de cálculo: valor da folha

de salário e dos demais rendimentos pagos ou creditados

à pessoa física que preste serviços, com ou sem vínculo

empregatício;

alíquota: percentual fixado em lei (art. 22, inciso III

da Lei nº 8.212 de 1991).

O art. 195, I, “a” da CF dispõe que, para fins de instituir contribuição de

seguridade social, a base de cálculo deve ser a “folha de salários e demais

*Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. BRASIL. CLT. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 01.mai.2015. 76 CARVALHO, P. B. Tributação sobre “vendas diretas” pelo INSS. Disponível em:

<http://www.parasaber.com.br/textos/tributacao-sobre-%E2%80%9Cvendas-diretas%E2%80%9D-pelo-inss-analise-sobre-a-possibilidade-do-instituto-nacional-de-seguridade-social-inss-exigir-contribuicao-previdenciaria-de-empresas-de-venda-dire/> Acesso em: 01/05/2014 77 Atualmente, é a Receita Federal do Brasil a responsável pela administração da contribuição em tela.

56

rendimentos do trabalho, pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que

lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício”. Ou seja, o critério material

será o pagamento desses valores. Não havendo relação de emprego, descaracteriza-

se a remuneração como salário.78

Ainda em destaque, o art. 149, combinado com o art. 195, I, “a”, da CF,

atribui à União a competência para instituir contribuições de seguridade social também

sobre os “demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à

pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício”.79

Não existindo relação de emprego, não existindo prestação de serviços,

o evento “venda direta” não encontra enquadramento na hipótese de incidência da

referida contribuição.

78 Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços; IV - quinze por cento sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm>. Acesso em: 31.mai.2015. 79 “Rendimentos do trabalho” não integram a base de cálculo da contribuição previdenciária, que abarcaria apenas folha de salários e remuneração fruto de prestação de serviços, sendo inadmissível exigir recolhimento sobre quaisquer valores cuja natureza não sejam as acima.

57

Para finalizar a reflexão do presente item, do que foi exposto até aqui,

conclui-se que diante do atual arcabouço positivo:

(i) a relação existente entre revendedor porta-a-porta e empresas é

uma relação mercantil na qual o primeiro compra mercadorias e vende a

consumidores, de forma não habitual, o que afasta a configuração de vínculo

empregatício e relação de prestação de serviços;

(ii) a autonomia e liberdade negocial se mostram incompatíveis com

a relação de emprego, uma vez que a capacidade de empreender depende desses

dois elementos para o seu sucesso;

(iii) as normas constitucionais e infraconstitucionais vigentes não

permitem hoje a exigência de pagamento pelas empresas de venda-direta de

contribuição previdenciária percebida quanto à relação mercantil existente entre os

revendedores e as empresas.

4.1. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE A ATIVIDADE DO

COMERCIANTE AUTÔNOMO

A distinção entre trabalho autônomo e subordinação estrutural é um dos

grandes desafios do Direito do Trabalho, pois como visto até aqui, diversas razões

justificam o recurso ao trabalho autônomo no modelo da venda-direta, não se

limitando a alguns poucos casos de motivações fraudulentas. Cumpre ressaltar que

para os casos de fraude à Justiça do Trabalho deve ser implacável uma vez que além

de prejudicar, em princípio, o prestador de trabalho, macula a reputação das demais

empresas do setor.

Tal desafio deve ser urgentemente pacificado em âmbito regulatório para

que se afastem a insegurança jurídica e os impactos econômicos que provoca, seja

na vida do trabalhador, que busca na Justiça do Trabalho o amparo forçado para o

reconhecimento de pretenso vínculo de emprego, seja no cotidiano das empresas,

pelo elevado potencial passivo trabalhista. Para o próprio Estado, a fragilidade do

58

entendimento disperso nas diferentes cortes do País deixam em aberto o recolhimento

correto das contribuições sociais a título de FGTS, Previdência Social e mesmo

Imposto de Renda, em razão da informalidade.

O revendedor é verdadeiro comerciante autônomo80. Seus ganhos

financeiros equivalem aos valores resultantes da atividade comercial. Por esse motivo,

inexistindo vínculo de emprego e prestação de serviço, não está a empresa de venda

direta obrigada ao recolhimento da contribuição prevista no art. 195, I, “a”, da

Constituição Federal. Porém, quanto às pessoas físicas, no caso os revendedores,

não se pode admitir que estejam excluídas da previdência social, uma vez que

exerçam atividade remunerada.

O comerciante ambulante é aquele que pessoalmente, por conta própria

e a seus riscos, exerce pequena atividade comercial remunerada em via pública ou

de “porta em porta”. Trata-se de pessoa física, portanto, segurado obrigatório.

Prescreve o art. 9º, V, l do Decreto nº 3.048/99 que as pessoa físicas

que exercem, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com fins

lucrativos ou não, são contribuintes individuais e, portanto, segurados obrigatórios da

previdência social. Acrescenta-se a esse dispositivo o §15, III, do mesmo Decreto:

enquadram-se nas situações previstas nas alíneas "j" e "l" do inciso V do caput, entre

outros: aquele que, pessoalmente, por conta própria e a seu risco, exercem pequena

atividade comercial em via pública ou de porta em porta, como comerciante

ambulante, nos termos da Lei nº 6.586/1978.

Neste sentido, sustenta Mannrich que “autonomia corresponde à

principal característica do trabalhador por conta própria: ao submeter-se ao próprio

comando, assume o risco de sua atividade. Trabalhador autônomo é, pois, a pessoa

80 “A 6ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho negou provimento a agravo de instrumento de uma executiva de vendas da Avon Cosméticos que pretendia o reconhecimento de vínculo empregatício com a conhecida empresa de cosméticos. O TST manteve o entendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região que considerou que os serviços eram feitos sem subordinação e pessoalidade, o que afasta o vínculo.” Revista Consultor Jurídico. Vendedora da Avon não possui vínculo de emprego. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-abr-27/representante-vendas-avon-nao-possui-vinculo-emprego.> Acesso em: 01.mai.2015.

59

natural que, habitualmente e por conta própria e mediante remuneração, exerce

atividade econômica de forma independente, mediante estrutura empresarial própria,

ainda que modesta.”81

O autor traz ainda que as características do trabalhador autônomo são:

pessoalidade; autonomia; exercício de atividade econômica; habitualidade; estrutura

empresarial; independência, ainda que relativa, tanto do ponto de vista econômico,

quanto técnico.

O “autônomo” tradicional do senso comum se confunde com

profissionais liberais, sendo assim reconhecidos pela própria sociedade, a exemplo

de corretores de imóvel, advogados e médicos.

Diante do texto positivo acima, empreende-se que o revendedor porta-

a-porta “é segurado da previdência social na categoria de contribuinte individual,

sujeitando-se à legislação previdenciária que rege a contribuição e caracterizando-se

como contribuinte individual.

Encontra-se, desse modo, obrigado a recolher contribuição para a

previdência social, fazendo jus aos benefícios correspondentes”.82

Nesse sentido, o caput do art. 21 da Lei nº 8212/91 estabelece, como

regra geral, que o contribuinte individual deverá recolher a alíquota de 20% sobre a

remuneração que auferir por conta própria.

Além da regra geral acima mencionada, o §2º do mesmo artigo

estabelece as contribuições de 11% (inciso I) e de 5% (inciso II, “a”), as quais serão

comentadas no próximo item.

81 MANNRICH, N. Reinventando o Direito do Trabalho: novas dimensões do trabalho autônomo. In: FREDIANI, Y. A Valorização do Trabalho Autônomo e a Livre-Iniciativa.

Porto Alegre: LexMagister, 2015. p.235 82 CARVALHO, P. B. Tributação sobre “vendas diretas” pelo INSS. Disponível em: <http://www.parasaber.com.br/textos/tributacao-sobre-%E2%80%9Cvendas-diretas%E2%80%9D-pelo-inss-analise-sobre-a-possibilidade-do-instituto-nacional-de-seguridade-social-inss-exigir-contribuicao-previdenciaria-de-empresas-de-venda-dire/> Acesso em: 01/05/2014

60

Consequentemente, a inscrição do revendedor e o recolhimento das

contribuições conferem os benefícios da legislação previdenciária (aposentadoria,

pensão aos beneficiários, auxílio-doença, salário-maternidade e outros).

4.2. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº47/2005 – REFORMA PREVIDENCIÁRIA

A emenda constitucional 47/2005 acrescentou o §12 ao art. 201 da CF,

o qual dispõe que a “lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para

atender a trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem

exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que

pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor

igual a um salário-mínimo.”

Atendendo o dispositivo constitucional acima transcrito, nos últimos

anos, o legislador federal vem estabelecendo diversas políticas públicas com vistas a

estimular o aumento da cobertura da proteção social83.

Uma delas é a possibilidade de o contribuinte individual recolher 11%

sobre o salário mínimo para obter benefícios previdenciários, exceto aposentadoria

por tempo, também sobre o salário mínimo (art. 21, §2º, inciso I da Lei nº 8.212/91,

com redação dada pela Lei nº 12,470/11).

Outro exemplo de política pública foi a instituição, por meio de lei

complementar, do chamado Microempreendedor Individual – MEI, permitindo a

inclusão, no “simples”, de trabalhadores por conta própria com faturamento anual de

até R$ 36 mil.84

83 BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20.jul.2014. § 13. O sistema especial de inclusão previdenciária de que trata o § 12 deste artigo terá alíquotas e carências inferiores às vigentes para os demais segurados do regime geral de previdência social. Constituição Federal de 1988. 84 Atualmente este valor está atualizado para um faturamento anual no valor de R$ 60 mil.

61

A figura do MEI conferiu tratamento previdenciário diferenciado ao

empresário individual cujo faturamento anual era de até R$ 36 mil, ou R$ 3 mil

mensais.

O objetivo desta nova medida social visava garantir que praticamente

todos os trabalhadores classificados como “por conta própria”, a exemplo dos

revendedores porta-porta, passassem a poder recolher 5% sobre o salário mínimo,

para ter acesso à proteção previdenciária (art. 21, § 2º, inciso II, “a” da Lei 8.212/91,

com redação dada pela Lei nº 12,470/11). Ressalte-se que, da mesma forma que na

hipótese de recolher 11%, o segurado terá direito a benefícios exceto aposentadoria

por tempo, no valor de um salario mínimo.

Assim, com essas medidas, tem-se a possibilidade de o revendedor

recolher alíquotas reduzidas, de 11% e 5%. Neste último caso, apenas na hipótese de

ser MEI.

62

5. A PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO REVENDEDOR PORTA-A-PORTA

Diante do exposto até aqui, pode-se afirmar que a atual legislação não

permite que se exija qualquer obrigação tributária, seja principal ou acessória85, pelas

empresas de venda-direta, no que tange ao pagamento de contribuição previdenciária

decorrente da relação entre revendedor e empresa. Simplesmente não há fato

gerador.

Porém, o problema social está posto. Apesar da inexigibilidade pelas

empresas e da obrigação do revendedor em contribuir com a previdência social, a

massiva maioria desta população não está inserida em tal proteção constitucional.

Vários são os motivos para tal exclusão. O simples fato de a contribuição, ainda que

pequena, diminuir a lucratividade de vendas já figura como razão suficiente para que

os revendedores não pretendam recolher tal tributo. Além disso, programas sociais de

renda, como o “Bolsa Família”, podem se revelar impeditivos para que os

microempreendedores individuais continuem a receber o benefício pecuniário,

cumulativamente ao ganho resultante da atividade de venda direta.

Verificou-se que para fazer jus às prestações previdenciárias, os

segurados devem contribuir. O legislador, ao instituir as contribuições, deve obedecer

ao princípio da isonomia, o qual, em matéria de custeio da seguridade social, é

efetivado pelo princípio da equidade na forma de participação em custeio (art. 194,

parágrafo único da CF).86

O art. 4º da Lei nº 6. 586/1978 obriga que o comerciante ambulante seja

se inscreva na Previdência Social, na categoria de contribuinte individual.

Não são abrangidas pela Lei nº n º 6.586/78 outras atividades que,

85 Exemplo de obrigações acessórias: obrigar que as empresas de vendas diretas vendam seus produtos apenas a revendedores cadastrados no sistema do MEI ou mesmo como contribuintes autônomos. Neste caso, a figura do revendedor que compra seus produtos para consumo próprio, nem poderia estar inscrita em tais situações, pois não seria contribuinte típico. 86 PIERDONA, Z. L. A previdência social no pacto federativo: as contribuições dos segurados e a violação à isonomia. In: GIOIA, F. H.; PIERDONÁ, Z. L. Pacto Federativo, Tributação e Cidadania. São Paulo: 2015. p.307

63

apesar de exercidas em vias ou logradouros públicos, sejam objeto de legislação

específica.

São encargos tributários do revendedor: contribuição previdenciária,

imposto de renda e imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços, o ICMS.87

Assim, os revendedores, por serem pessoas físicas, não emitem nota

fiscal e circulam com a nota emitida pela empresa.

Em 2006, com a criação da figura do microempreendedor individual

(MEI), foi estabelecida, conforme visto no item anterior, uma forma facilitada de

formalização, o microempreendedor individual, à qual o revendedor porta-a-porta

pode recorrer.

No âmbito do MEI, o empreendedor deve obrigatoriamente faturar no

máximo até R$ 60 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio

ou titular. Esta seria uma forma de os empreendedores que não queiram continuar

participando do sistema econômico como autônomos sejam inseridos como pessoas

jurídicas.

Ao empreendedor enquadrado como MEI é concedida uma forma de

“cesta de benefícios legais”, inclusive o acesso à cobertura previdenciária, com

contribuição diferenciada.

Retomando, para fins da temática do presente tópico, a pesquisadora

87 No que tange ao Imposto de Renda incidente sobre o lucro auferido pelo revendedor, que é pessoa física, é recomendável que este escriture em livro caixa as suas atividades para que se possa apurar a efetiva lucratividade, nos termos do regulamento do Imposto de Renda. A própria ABEVD expõe em sua página na Internet uma espécie de roteiro legal para auxiliar os revendedores. No âmbito estadual, o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços, é recolhido pela empresa de venda-direta (fornecedora), seguindo o regime da substituição tributária. Em cada estado da federação as empresas de venda direta estabelecem individual ou setorialmente convênios ou regimes especiais com as Fazendas Estaduais que determinam as margens de valor agregado (MVA) que comporão a base de cálculo do ICMS a ser recolhido. Associação Brasileira das Empresas de Vendas Diretas – ABEVD. Guia de Legislação no Brasil. Disponível em: < http://www.abevd.org.br/venda-direta/guia-de-legislacao-no-brasil/> Acesso em: 01.05.2015.

64

Zélia Pierdoná em artigo publicado recentemente88 traz que as “Leis de Custeio e

Benefício Previdenciários”, Leis nº 8.212/91 e 8.213/91, respectivamente,

estabelecem que os trabalhadores, para fins previdenciários, são considerados

segurados obrigatórios e classificados em cinco grupos (até a edição da Lei nº

9.876/99 eram sete): empregado, empregado doméstico, avulso, segurado especial e

contribuinte individual (espécie criada pela Lei nº 9.876/99, a qual juntou os

autônomos, os equiparados a autônomos e os empresários). Uma vez que a

previdência visa substituir os rendimentos do trabalhador, nas situações de

necessidade, advindas de contingências sociais, a remuneração do trabalho, como

regra geral, é a base de cálculo de suas contribuições.

A Lei 8.212/91 instituiu as alíquotas e as bases de cálculo das

contribuições dos segurados (tanto os obrigatórios, quanto o facultativo). A

mencionada lei, prevê que são aplicadas as alíquotas de 8, 9 e 11% aos empregados

domésticos. A base de cálculo (salário-de-contribuição, nos termos utilizados pela Lei

8.212/91), é a remuneração registrada na Carteira de Trabalho e Previdência Social

(art. 28, II da Lei de Custeio).

Em linhas gerais, a regra para o contribuinte individual e para o segurado

facultativo é a de que devem contribuir com 20% sobre o salário-de-contribuição89

(não foram tratadas aqui as exceções, por não se tratar do objeto da pesquisa).

A opção à alíquota de 5%, apenas é concedida ao micro-empreendedor

individual90. Todos os demais contribuintes individuais, quando trabalharem por conta

88 Ibid. 89 O referido salário-de-contribuição é a base de cálculo sobre a qual incidirá a contribuição. Nos termos do art. 28, III, corresponde a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o teto, no caso do contribuinte individual. No caso de segurado facultativo corresponde ao valor por ele declarado, também observado o limite máximo (Inciso IV do mesmo artigo legal). 90 Art. 21, §2º. No caso de opção pela exclusão do direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, a alíquota de contribuição incidente sobre o limite mínimo mensal do salário de contribuição será de: ... II. 5% (cinco por cento): a) no caso do microempreendedor individual, de que trata o art. 18-A da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;

65

própria, somente fazem jus a opção de 11% e não de 5%, como ocorre com o micro-

empreendedor individual.

Ressalta-se, ainda, que tanto o microempreendedor, quanto os demais

que optarem pela alíquota de 11%, terão direito a todos os benefícios, salvo à

aposentadoria por tempo de contribuição, no valor de um salário-mínimo. Ou seja, a

contribuição é diferente, mas os benefícios são iguais.

A opção de 11%, referida no parágrafo anterior, também é concedida ao

segurado facultativo, nas mesmas condições, ou seja, sobre o salário mínimo com

direito a benefícios de um salário mínimo, salvo aposentadoria por tempo de

contribuição.

A Lei nº 12.470/2011 modificou a Lei nº 8.212/91, permitindo que o

segurado facultativo, sem renda própria, que se dedique exclusivamente ao trabalho

doméstico, no âmbito de sua residência, desde que pertencente a família de baixa

renda, também poderá optar pela alíquota de 5% sobre o salário mínimo, com direito

a benefícios, salvo a aposentadoria por tempo de contribuição, de um salário mínimo.

Considerando o direito de opção às alíquotas de 11 e 5%, referidas

acima, seriam as referidas opções uma violação ao princípio da isonomia?

O legislador, ao instituir as contribuições dos segurados, deve observar

a Constituição Federal, especialmente no que tange aos princípios de seguridade

social, em especial o princípio da equidade na forma de participação do custeio, o

qual, como visto anteriormente, efetiva o princípio da isonomia, no campo do custeio

da proteção social.

Quando o legislador institui as alíquotas alternativas de 11% e de 5%,

do contribuinte individual e do segurado facultativo, seguindo o pensamento da

BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm>. Acesso em: 31.mai.2015.

66

pesquisadora Zélia Pierdoná, violou o princípio acima citado.91

A legislação permitiu que os segurados recolhessem as alíquotas de

11% e de 5% sobre um salário mínimo, com direito a benefícios, também no valor de

um salário mínimo. Ressalta-se que, no caso da citada opção, os segurados não farão

jus à aposentadoria por tempo de contribuição.

Como visto, apenas o MEI (contribuinte individual) e o segurado

facultativo, sem renda própria, que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico,

no âmbito de sua residência, desde que pertencente a família de baixa renda (a

legislação estabelece que a renda é de até dois salários mínimos), terão direito a

recolher 5% sobre o salário mínimo.

Os demais contribuintes individuais e facultativos, no caso de opção pelo

recolhimento sobre o salário mínimo, para obtenção de benefícios de um salário

mínimo e sem direito à aposentadoria por tempo de contribuição, deverão recolher

11% e não 5%, como ocorre com o MEI e o segurado facultativo, de família de baixa

renda que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico. Ressalta-se que, além

de estarem incluídos nas mesmas espécies de segurados (contribuinte individual e

facultativo), terão direito aos mesmo benefícios (no valor de um salário mínimo e sem

direito à aposentadoria por tempo de contribuição).

Assim, deve ser analisada se a diferença de alíquotas de 11% e de 5%

encontra ou não fundamento de validade no texto constitucional, uma vez que a lei

não deve ser fonte de privilégios, mas instrumento regulador da vida social que

necessita tratar de forma equitativa todos os cidadãos.

Ainda, seguindo Pierdoná, “supõe-se, habitualmente, que o agravo à

isonomia radica-se na escolha, pela lei, de certos fatores diferenciais existentes nas

pessoas, mas que não poderiam ter sido eleitos como matriz de discrímen. Isto é,

acredita-se que determinados elementos ou traços característicos das pessoas ou

91 Menciona-se alíquotas alternativas, pois a alíquota do contribuinte individual, quando não presta serviço a uma empresa e a do segurado facultativo é de 20%.

67

situações são insuscetíveis de serem colhidos pela norma como raiz de alguma

diferenciação, pena de se porem às testilhas com a regra da igualdade.”92

O legislador, ao fixar as alíquotas de 11% ou de 5% não mostra um

vínculo de correlação lógica para que, um tipo de contribuinte individual e um tipo de

segurado facultativo, possam recolher 5%, enquanto os demais contribuintes

individuais e segurados facultativos tenham que recolher 11%, para terem acesso

aos mesmos benefícios.

Assim, apenas se a alíquota de 5% permitida a um tipo específico de

contribuinte individual (MEI) e a um tipo específico de segurado facultativo, fosse

estendida a todos os contribuintes individuais e segurados facultativos, haveria o

atendimento ao princípio da isonomia.

Defende a pesquisadora Pierdoná que, “além de inconstitucional a

diferenciação de alíquota, gera uma grande injustiça, bem como deixa o sistema de

proteção previdenciária incoerente. Isso, não somente entre as pessoas que estão

incluídas, pela legislação previdenciária, na mesma espécie de segurado, como

também entre as duas espécies de segurados agraciados pelo legislador com a

alíquota de 5%.”93

Como referido acima, o microempreendedor individual (classificado pela

legislação previdenciária como contribuinte individual) pode optar pela alíquota de 5%

sobre o salário mínimo, para ter benefícios, exceto a aposentadoria por tempo de

contribuição, no valor, também, de um salário mínimo.

Outras categorias, a exemplo do faxineiro, também classificado pela

legislação previdenciária como contribuinte individual, para ter acesso aos mesmos

benefícios, deverá recolher 11%.

92 PIERDONA, Z. L. A previdência social no pacto federativo: as contribuições dos segurados e a violação à isonomia. In: GIOIA, F. H.; PIERDONÁ, Z. L. (Coord.) Pacto Federativo, Tributação e Cidadania. São Paulo: 2015. p.307. 93 Ibid.

68

Não há diferenças reais que justifiquem tal discriminação, pois tanto a

capacidade de contribuir, quanto a informalidade estão presentes em ambos os tipos

de contribuinte individual.

Outro exemplo de injustiça se apresenta quando se compara as duas

espécies de segurados (contribuinte individual e segurado facultativo), posto que

conforme acima mencionado, o faxineiro tem que recolher 11%, enquanto o segurado

facultativo, sem renda própria, que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico,

no âmbito de sua residência, desde que pertencente a família de baixa renda, pode

recolher 5% para ter acesso aos mesmos benefícios.

Os exemplos trazidos acima demonstram a deliberação sobre as

alíquotas de 5% e de 11% foram fixadas aleatoriamente, e, além de não respeitar o

princípio da equidade na forma de participação do custeio, traz incoerências ao

sistema de proteção previdenciária.

5.1. NOTAS SOBRE O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, DIREITO TRIBUTÁRIO E A

VENDA-DIRETA

No Livro V da Ética a Nicômaco, Aristóteles trata do conceito de justiça.94

Na perspectiva universal, a justiça é tomada como manifestação geral da virtude como

submissão do que é justo à luz da lei. No entanto, ao exaltar a equidade, do bom

julgamento do caso concreto, da adaptação do geral às necessidades especiais, é

que se alcançaria o justo efetivo.

Para Aristóteles, o ofício do jurista é assemelhado ao uso da régua

flexível da lei às especificidades do caso concreto.95 A equidade (ou o justo) se revela

no abandono da universalidade da norma fria e objetiva. Para Aristóteles, a própria

existência do Estado depende da reciprocidade fundada na proporção, pois os seres

94 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 3. ed. São Paulo: Edipro, 2009. p. 145. 95 “Aristóteles compara o ofício do juiz, na equidade, àquele de quem julga conforme a Régua de Lesbos. Nessa ilha do mundo grego, os construtores se valiam de uma régua flexível, que se adaptava à forma das pedras, sem ser rígida.” – MASCARO, A. L. Filosofia do Direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.78.

69

humanos requerem a capacidade de combater o não justo com o não justo (o mal com

o mal).

Na linha do que preconiza Aristóteles, a origem da dificuldade é que a

equidade não é justiça legal, pois a lei é sempre geral e universal. Além disso, “justiça

é a qualidade em função da qual diz-se de um homem que está disposto a fazer a livre

escolha aquilo que é justo. (...) No ato injusto, ter demasiado pouco é sofrer injustiça,

ao passo que ter demasiado é fazer (cometer) a justiça.”96

A Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, é

repleta de normas jurídicas dedicadas a resguardar e garantir direitos a todos os

cidadãos. No que tange à seguridade social, o art. 194 é exemplo claro dessa

preocupação sobremaneira quanto à abrangência dos benefícios assegurados, quais

sejam: universalidade, uniformidade, equivalência e irredutibilidade dos benefícios.

Uma crítica que vem à tona é o fato de que estabelecida a universalidade

da cobertura e do atendimento, em matéria de seguridade social, o constituinte não

ousou fazer o mesmo no que concerne ao custeio do magno programa protetivo da

seguridade. Da mesma forma, as receitas tributárias permitidas pelo constituinte para

o custeio da seguridade destinados a financiamento da saúde, da previdência e da

assistência social, são aqueles relacionados no art. 195.97

96 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 3. ed. São Paulo: Edipro, 2009. p. 161. 97 Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 02.05.2015.

70

De modo simplista, a previdência nada mais é do que uma forma de

seguro social, que tem por objetivo garantir subsistência aos contribuintes ou seus

dependentes nas hipóteses de infortúnios ou aposentadoria, enquanto (como exposto

anteriormente) a assistência social prima pelo amparo de qualquer ser humano

dependente, carente, que se encontre em situação de necessidade básica. A

assistência, além de não possuir caráter universal e independer de contribuição, não

se destina a prover recursos para custear eventos futuros; seu objetivo é imediato,

cobrindo necessidades atuais.98

A CF, em seu art. 150, II proíbe que o Estado dê tratamento desigual a

contribuintes que se encontrem em situação equivalente, seja com base na ocupação

profissional ou função exercida. Não obstante, esta máxima não impõe que todos os

contribuintes devam receber tratamento tributário igual, mas sim, que as pessoas,

físicas ou jurídicas, encontrando-se em situações econômicas idênticas, deverão ser

submetidas ao mesmo regime jurídico, com as particularidades que lhe forem

próprias.

Assim, coube ao legislador, diante da singularidade das diversas

espécies de sujeitos passivos, eleger fatos distintivos eficazes para atender às

especificidades dos casos submetidos à imposição da norma matriz de incidência

tributária em voga, de modo que se mantenha a correspondente equivalência entre as

múltiplas situações empíricas sobre as quais haverá de incidir carga tributária.

Portanto, justifica-se o tratamento diferenciado de 11% e 5% mencionados no item

anterior.

5.2. A PROBLEMÁTICA SOCIAL E A NECESSIDADE DE INCLUSÃO DOS

REVENDEDORES NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO

Atualmente, a grande massa dos 4,5 milhões de revendedores da venda-

98 CARVALHO, P. B. Tributação sobre “vendas diretas” pelo INSS. Disponível em: <http://www.parasaber.com.br/textos/tributacao-sobre-%E2%80%9Cvendas-diretas%E2%80%9D-pelo-inss-analise-sobre-a-possibilidade-do-instituto-nacional-de-seguridade-social-inss-exigir-contribuicao-previdenciaria-de-empresas-de-venda-dire/> Acesso em: 01/05/2014

71

direta no Brasil, notadamente está excluída da previdência social. Cientes desta

situação de vulnerabilidade de tão vultoso grupo de cidadãos brasileiros, por iniciativa

do Ministério da Previdência, foi firmado em 2004 um termo de cooperação técnica

entre a ABEVD e esse Ministério.

O objeto deste acordo, renovado consecutivamente até hoje é: a

promoção de ações e atividades que contribuam para o processo de informação e

conscientização dos promotores e gerentes de vendas e dos revendedores

autônomos das empresas associadas à ABEVD, no que tange aos direitos e deveres

do trabalhador em relação à Previdência Social como instrumento de proteção da

cidadania.99

Os objetivos deste Termo de Cooperação são:

a) capacitar de promotores e gerentes de vendas como multiplicadores

para disseminação das informações pertinentes ao Regime Geral da Previdência

Social aos revendedores autônomos das empresas de vendas associadas à ABEVD;

b) inserir de conteúdos sobre a Previdência Social nas oportunidades de

desenvolvimento profissional dos revendedores autônomos das empresas

associadas, promovidas pela ABEVD, inclusive dos conteúdos relacionados ao regime

previdenciário próprio dos revendedores autônomos atualmente em vigor;

c) realizar de campanhas patrocinadas pela ABEVD, destinadas aos

clientes, visando à divulgação dos benefícios e serviços oferecidos pela Previdência

Social e procedimentos de inscrição no Regime Geral.100

Desta forma, do ponto de vista do setor das empresas de venda-direta,

o esforço que se fez terminou no cumprimento do Termo acima. Regularmente, a

Associação envia relatórios de atividades nos quais descreve os locais onde os

99 BRASIL, Ministério da Previdência Social. Termo de Cooperação Técnica Nº 001/2004. Disponível em: <http://previdencia.gov.br/arquivos/office/3_081014-105202-730.pdf>. Acesso em: 02.05.2015. 100 Ibid.

72

treinamentos foram realizados, insere cópia dos materiais impressos distribuídos nas

caixas dos revendedores, além do número de pessoas treinadas.

73

CONCLUSÃO

Com fundamento nas considerações desenvolvidas na presente

dissertação, passa-se a responder a indagação trazida em fase introdutória, qual seja,

identificar se há pertinência quanto à exigibilidade de recolhimento, pelas empresas,

da contribuição previdenciária relativa à venda de produtos pelos revendedores porta-

a-porta.

Conforme exposto, o elo jurídico estabelecido entre as empresas de

“venda direta” e os revendedores, pessoas físicas ou não, é uma relação mercantil,

de compra e venda de produtos. Não há dúvidas quanto à não caracterização do

vínculo empregatício, pela ausência do quarteto dos requisitos formais que são:

pessoalidade, onerosidade, subordinação jurídica e habitualidade.

Também não há que se falar em relação de prestação de serviços entre

os revendedores e as empresas de “venda direta”, pois inexiste obrigação de fazer,

mas sim a compra de produtos e posterior alienação, com aferição de lucro resultante

da diferença entre o valor da compra e o valor de revenda, descontados os custos

inerentes à atividade do revendedor (ex.: alimentação, transporte, etc.).

A competência tributária constitucional deve ser vista como prerrogativa

das das pessoas políticas, cabendo a elas a faculdade de legislar para produzir

normas jurídicas, neste caso, sobre tributos, especificamente sobre contribuições

previdenciárias.

Consoante esta prerrogativa, a permissão legislativa conferida pela

Constituição, traduzida nas regras de competência tributária, funcionam promontório

delimitador da faculdade de tributar, ficando o ente público circunscrito a agir dentro

dos limites competências conferidos pelo legislador constituinte.

O art. 195 da CF estipula de forma eficaz as formas de financiamento da

seguridade social no Brasil. Em nenhum excerto há autorização quanto à exigência

de contribuição previdenciária das empresas de venda direta, relativamente aos

valores recebidos de seus clientes.

74

Caberia, sim, se fosse verificado vínculo empregatício ou prestação de

serviço entre revendedores e empresas. O rendimento percebido pela atividade de

venda porta-a-porta é o lucro que auferem os revendedores na operação negocial,

qualificando-se, por esse motivo, como contribuinte individual (segurado obrigatório).

Os revendedores não recebem salário e nem pagamento por serviço ou obra

prestada.

Lucro decorrente de ato de venda não pode ser confundido com folha de

salários ou remuneração paga a prestadores de serviços. Trata-se de naturezas

distintas.

O art. 194 da CF define o que seja seguridade social. Além disso, traça

as metas a serem perseguidas na implementação dos direitos relativos à saúde,

previdência e assistência social. Este dispositivo traz também as garantias e princípios

aos cidadãos: universalidade, uniformidade, equivalência e irredutibilidade dos

benefícios securitários.

No entanto, a universalidade prevista não autoriza a instituição de tributo

diverso daqueles elencados pelo art. 195, salvo o disposto no parágrafo 4º do art. 195

da CF, combinado com o art. 154, I, também da CF, que permitiria tal instituição por

meio de lei complementar.

Ao mesmo tempo em que o constituinte assegurou à população o acesso

à saúde e aos benefícios da previdência e assistência social, conferiu aos

contribuintes a certeza de que seriam expropriados de valores a título de contribuições

apenas nas hipóteses por ele relacionadas como fonte de custeio.101

Desta forma, fundamentar a exigência pela previdência social de

contribuição previdenciária das empresas com fulcro no art. 194 não deve prosperar.

101 CARVALHO, P. B. Tributação sobre “vendas diretas” pelo INSS. Disponível em: <http://www.parasaber.com.br/textos/tributacao-sobre-%E2%80%9Cvendas-diretas%E2%80%9D-pelo-inss-analise-sobre-a-possibilidade-do-instituto-nacional-de-seguridade-social-inss-exigir-contribuicao-previdenciaria-de-empresas-de-venda-dire/> Acesso em: 01/05/2014

75

A Emenda Constitucional (EC) nº 47/05 inseriu dois novos parágrafos ao

art. 201 da CF. Tal alteração previu um sistema especial de inclusão previdenciária

para trabalhadores de baixa renda e aqueles sem renda própria que se dediquem

exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que

pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor

igual a um salário-mínimo, bem como a fixação de alíquotas e carências inferiores aos

vigentes para os demais segurados do regime geral de previdência social.

Trata-se de benefícios criados pelo legislador e não da criação de nova

competência tributária à União, com vistas a fomentar a imposição de nova

contribuição destinada a custear rendimentos às pessoas elencadas no art. 201 da

CF. Desta forma, ficam mantidas as espécies de contribuições previstas no art. 195

da CF, analisado anteriormente.

A reforma trazida pela EC 47/05 não alterou as fontes de financiamento

da seguridade social. De forma alguma pode-se aceitar que o legislador legitimou a

pretensão do INSS de exigir contribuições previdenciárias das empresas de “venda

direta” sobre os valores percebidos pelos revendedores.

Por fim, a dúvida quanto ao papel social das empresas de venda direta.

É corrente o entendimento da equipe técnica do Ministério da Previdência de que

legislação ordinária ou complementar poderia modificar dispositivos do Código Civil

ou ainda do Código Comercial, de forma a somente permitir que se exija comprovação

de regularidade previdenciária do contribuinte autônomo em voga (revendedor) como

requisito para efetivação da relação mercantil.

O art. 5º, XIII da CF assegura o direito ao livre exercício profissional.

Aceitar que as empresas de venda-direta imponham limite estabelecido em lei como

requisito para a efetivação da venda de seus produtos a seus clientes (no caso,

revendedores) seria aceitar que norma tributária possa vir a afetar os atos do

comércio, descritos no Código Civil. Somado a isso, seria transferir ao particular

(empresas de venda-direta) a obrigação de impor sanção administrativa, reservada a

entes de direito público. Sem falar que semelhante norma traria uma desigualdade

76

entre cidadãos, uma vez que traria apenas ao contribuinte empresa de venda-direta

tal obrigação fiscalizatória e punitiva.

77

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