universidade metodista de sÃo paulo escola de...

112
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SILVANO TANSINI LESSI UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS A PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17 SÃO BERNARDO DO CAMPO 2017

Upload: others

Post on 31-May-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SILVANO TANSINI LESSI

UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS A

PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2017

Page 2: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

SILVANO TANSINI LESSI

UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS A

PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17

Dissertação apresentada em cumprimento

às exigências do Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Religião da

Universidade Metodista de São Paulo,

como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2017

Page 3: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

FICHA CATALOGRÁFICA

Page 4: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

A Dissertação de Mestrado intitulada “UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS

FESTAS JUDAICAS A PARTIR DE DEUTERONÔMIO 16,1-17”, elaborada por

Silvano Tansini Lessi foi apresentada e aprovada em 05 de Outubro de 2017, perante

banca examinadora composta pelos professores Doutores José Ademar Kaefer

(Presidente/UMESP), Tércio Machado Siqueira (Titular/ UMESP) e Antônio Carlos

Frizzo (Titular/ITESP).

Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração: Linguagens da Religião

Linha de Pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

Page 5: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

Esta pesquisa foi produzida com apoio da CAPES, que

ofereceu bolsa de estudos integral entre 2015 e 2017 e do

Instituto Ecumênico de Pós-Graduação da UMESP, que

ofereceu bolsa parcial entre 2015 e 2017.

Page 6: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

“Dedico para Daniela Lessi,

Geovanna Lessi e

Marianna Lessi, os amores

da minha vida”.

Page 7: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS, já que Ele colocou pessoas tão especiais ao

meu lado, sem as quais certamente não teria dado conta!

Aos meus pais, José Moacir e Margarida, meu infinito agradecimento. Sempre

acreditaram em minha capacidade. Obrigado pelo amor incondicional!

Ao meu sogro Candido Reis, à minha sogra Carmem Reis meu agradecimento

especial, pois a seu modo sempre se orgulharam de mim e confiaram em meu trabalho.

Obrigado pela confiança!

Ao Prof. Dr. José Ademar Kaefer pela sua orientação, total apoio,

disponibilidade, pelo saber que transmitiu, pelas opiniões e críticas, total colaboração ao

solucionar dúvidas e problemas que foram surgindo ao longo da realização deste

trabalho, bem como por todas as palavras de incentivo.

A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me

aconselhando e incentivando com carinho e dedicação.

À todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução

desta Dissertação de Mestrado.

Ao Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira, pela atenção e dispor que sempre

demonstrou. Aos meus queridos irmãos da IASD Central de Santo Amaro, pelo

carinho e paciência para comigo.

A todos os colegas de classe, que estudaram as mesmas disciplinas durante

estes quatro semestres, que com suas observações e suas pesquisas, contribuíram

para o aprendizado das disciplinas e de alguma forma, para a produção desta

dissertação.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

Religião da UMESP, com os quais tive a honra de poder compartilhar de seus

conhecimentos.

A todos da secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciências da

Religião, pela atenção dispensada e por todo o apoio.

Page 8: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Meu agradecimento mais profundo só poderia ser dedicado a uma pessoa

“minha Esposa”. Incondicionalmente, o tempo todo ao meu lado, nos momentos mais

difíceis que não foram raros neste último ano, sempre me fazendo acreditar que

chegaria ao final desta difícil, porém gratificante etapa.

Este período nos mostrou a verdade sobre nosso relacionamento, somos uma

Família! Sou grato por cada gesto carinhoso, cada sorriso, e ansioso por estar ao seu

lado, com nossas filhas Geovanna Lessi e Marianna Lessi, o resto da minha vida.

Obrigado Daniela Lessi, meu amor!!!

Page 9: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

“Os olhos do Senhor estão

sobre os justos; e os seus ouvidos,

atentos ao seu clamor”.

Salmos 34,15

Page 10: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

LESSI, Silvano Tansini. UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS

A PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17. São Bernardo do Campo: UMESP, 2017.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Faculdade de Humanidades e

Direito, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.

SINOPSE

A pesquisa trabalha as três principais Festas judaicas: Festa do pesah (juntamente com

a Festa dos pães ázimos), Festa das semanas e a Festa das tendas, trazendo um

embasamento teórico que perpassa os livros bíblicos do Antigo Testamento. Como pano

de fundo principal, esta pesquisa utilizou o conteúdo de Deuteronômio 16,1-17. Pode-se

dizer que não se conseguiu afirmar quando surgiram cada uma das Festas, entretanto

observou-se que estas Festas sofreram transformações no decorrer do tempo até os dias de

hoje. As comparações feitas através do estudo de textos do Antigo Testamento deram uma

visão melhor sobre estas transformações. A unificação da Festa do pesah com a Festa dos

pães ázimos, por serem Festas próximas uma da outra no calendário judaico, foi uma das

transformações importantes. Outra foi a centralização das três principais Festas no templo

de Jerusalém. A análise também perpassa pelos impactos que estas mudanças causaram

sobre o povo de Israel. O povo que tinha por costume comemorar as Festas num ambiente

familiar teve que mudar o local de suas adorações. A reforma feita pelo rei Josias também

teve grande impacto para o povo judeu. Podemos dizer que esta reforma teve uma

finalidade política e econômica. Por fim, também foram analisadas as mudanças que

ocorreram no calendário das três Festas. A Festa do pesah que era comemorada no mês de

Tisri passa a ser comemorado no mês de Abib no livro de Deuteronômio 16,1-17.

Palavras-chave: Festa do pesah, Festa dos pães ázimos, Festa das semanas, Festa das

tendas, Deuteronômio 16,1-17.

Page 11: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

LESSI, Silvano Tansini. AN ANALYSIS OF THE THREE MOST IMPORTANT

JUDAIC FEASTS ACCORDING TO DEUTERONOMY 16,1-17. São Bernardo do

Campo, UMESP, 2017. Thesis (Master of Sciences of Religion) - Humanities and

Law Faculty, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.

ABSTRACT

The research deals with the three most important Judaic Feasts: The Feast of Pesah (

Feast of Unleavened Bread), The Feast of Weeks and the Feast of Tabernacles, with a

theoretical basis that has the view of the biblical books of The Old Testaments. As

backdrop, this research has used the content of Deuteronomy 16, 1-17. It's said that it

wasn't for sure when each of these feasts appeared, but it was said that these feasts have

suffered alterations in the course of time until nowadays. The comparisons made

through the study of the texts in The Old Testaments have given a better view about

these alterations. The unification of The Feast of Pesah with The Feast of Unleavened

bread since they were close by each other in the Judaic calendar was one of the most

important alterations. Another one was the centralization of the three important feasts in

the temple of Jerusalem. The analysis also shows the impacts that these changes have

caused over the people of Israel. The people who used to celebrate the feasts in a

familiar surrounding had to change the place of their worship. The change made by

King Josiah also had a great impact over the Jewish people. It's said that such change

had a political and economic reason. At last, it was analyzed the changes that had

occurred in the calendar of the feasts. The Feast of Pesah which used to be celebrated

in the month of Tisri was then celebrated in the month of Abib, in Deuteronomy 16, 1-

17.

KEY WORDS: Feast of Pesah, Feast of Unleavened Bread, Feast of Weeks, Feast of

Tabernacles, Deuteronomy 16, 1-17.

Page 12: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18

CAPÍTULO I ................................................................................................................ 22

1 ANÁLISE EXEGÉTICA DE DEUTERONÔMIO 16,1-17 ................................... 22

1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 22

1.2 TRADUÇÃO: DEUTERONÔMIO 16,1-17 ............................................................ 22

1.2.1 Tradução literal interlinear .................................................................................... 22

1.2.2 Tradução literal: Texto Massorético de Deuteronômio 16,1-17............................ 28

2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO .................................................................................. 29

3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DO TEXTO ............................................................. 32

4 ANÁLISE DA COESÃO DO TEXTO ..................................................................... 32

5 GÊNERO LITERÁRIO ........................................................................................... 34

6 DATA E AUTOR ....................................................................................................... 35

7 ANÁLISE DO CONTEÚDO .................................................................................... 39

7.1 A FESTA DO PESAH E PÃES ÁZIMOS (V.1-8 ) ................................................. 39

7.2 A FESTA DAS SEMANAS (V.9-12) ...................................................................... 47

7.3 A FESTA DAS TENDAS (V.13-15) ....................................................................... 50

7.4 RESUMO DAS PEREGRINAÇÕES ANUAIS (V.16-17) ..................................... 51

8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 52

CAPÍTULO II ............................................................................................................... 54

2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS SEGUNDO OS LIVROS DO

ÊXODO, NÚMEROS E LEVÍTICO .......................................................................... 54

2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 55

2.2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS SEGUNDO: PESAH (ÊX 12,1-14; ÊX 23,18 E

34,25; LV 23,5-8; NM 28,16-25), SEMANAS (LV 23,15-22; NM 28,26-31), TENDAS

(LV 23,33-44; NM 29,13-39) ......................................................................................... 55

2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv

23,5-8; Nm 28,16-25) ..................................................................................................... 55

2.2.2 Comparação de Êx 12,1-14 com Deuteronômio 16,1-8 ........................................ 55

2.2.3 Comparação de Lv 23,5-8 com Deuteronômio 16,1-8 .......................................... 60

2.2.4 Comparação de Nm 28,16-25 com Deuteronômio 16,1-8..................................... 62

2.2.5 Textos sobre a Festa das Semanas (Lv 23,15-22; Nm 28,26-31) .......................... 63

2.2.6 Comparação de Lv 23,15-22 com Deuteronômio 16,9-12 .................................... 63

2.2.7 Comparação de Nm 28,26-31 com Deuteronômio 16,9-12................................... 66

2.2.8 Textos sobre a Festa das Tendas (Lv 23,33-44; Nm 29,13-39) ............................. 70

Page 13: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

2.2.9 Comparação de Lv 23,33-44 com Deuteronômio 16,13-15 .................................. 70

2.2.10 Comparação de Nm 29,13-39 com Deuteronômio 16,13-15............................... 76

3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 79

CAPÍTULO III ............................................................................................................. 81

3 A ORIGEM POPULAR DAS FESTAS: PESAH, SEMANAS E TENDAS ......... 81

3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 81

3.2 A ORIGEM DA FESTA DO PESAH....................................................................... 82

3.3 A ORIGEM DA FESTA DOS PÃES ÁZIMOS ...................................................... 85

3.4 A JUNÇÃO DA FESTA DO PESAH E A FESTA DO PÃES ÁZIMOS................ 87

3.5 A ORIGEM DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 88

3.6 OS NOMES DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 89

3.7 O TEMPO DA FESTA DAS SEMANAS ................................................................ 90

3.8 A ORIGEM DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 91

3.9 OS NOMES DA FESTA DAS TENDAS ................................................................ 94

3.10 O TEMPO DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 95

4 A REFORMA DAS FESTAS PELO REI JOSIAS ................................................ 95

5 O CALENDÁRIO JUDAICO................................................................................... 98

6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ........................................................... 101

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 103

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 109

Page 14: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

LISTA DE IMAGENS

Tabela 1 - ...................................................................................................... 32

Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais

proporcionam comparações interessantes de forma e detalhes com as leis

do Pentateuco (e.g. Dt 19,21)........................................................................

38

Figura 2 - Cabana (Sucá).............................................................................. 93

Figura 3 – Lulav ........................................................................................... 95

Figura 4 – Equivalência dos Meses do Ano do Calendário Judeu

(Conforme calendário lunar = 354 dias)........................................................

101

Figura 5 – O Calendário Judaico e a Correspondência com o Calendário

Ocidental.........................................................................................................

101

Page 15: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

SIGLAS E ABREVIAÇÕES

Livros da Bíblia

Ag Ageu

Am Amós

Cr 1-2 Crônicas

Ct Cântico dos Cânticos

Dn Daniel

Dt Deuteronômio

Ec Eclesiastes

Eclo Eclesiástico / Sirácida

Ed Esdras

Et Ester

Ex Êxodo

Ez Ezequiel

Gn Gênesis

Hc Habacuque

Is Isaías

Jl Joel

Jn Jonas

Jó Jó

Jr Jeremias

Js Josué

Jud Judite

Jz Juízes

Lm Lamentações

Lv Levíticos

1 Mc Macabeus

2 Mc Macabeus

Ml Malaquias

Mq Miquéias

Na Naum

Ne Neemias

Nm Números

Ob Obadias

Os Oséias

Pv Provérbios

Page 16: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

Rt Rute

Rs 1-2 Reis

Sb Sabedoria de Salomão

Sf Sofonias

Sl Salmos

Sm 1-2 Samuel

Tb Tobias

Zc Zacarias

LXX Septuaginta: With morphology. Electronic ed. Stuttgart: Deutsche

Bibelgesellschaft, 1979.

NBP Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.

NCBC The New Cambridge Bible Commentary

NOAB New Oxford Annotated Bible. New Revised Standard Version With The

Apocrypha, an Ecumenical Study Bible. Oxford: Oxford Uni-versity Press, 2010

[Kindle Edition].

OBO Orbis Biblicus et Orientalis

OBSO Oxford Biblical Studies Online

OTL The Old Testament Library

OTR Old Testament Readings (Routledge)

RIBLA Revista de Interpretação Bíblica Latino Americana

RV La Santa Biblia Reina-Valera 1960. Barueri: Sociedades Bíblicas Unidas,

1960.

SB Subsidia Bíblica

SS Semeia Studies (SBL)

SSN Studia Semitica Neerlandica

TDOT BOTTERWECK, G. Johannes; RINGGREN, Helmer; FABRI, Heiz-

Josef. Theological Dictionary of the Old Testament. 14 Vols. Grand Rapids/

Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 1975-2013.

TEL AVIV Journal of the Institute of Archaeology of Tel Aviv University

UCOIS The University of Chicago: Oriental Institute Seminars

UCOP University of Cambridge Oriental Publications

VT Vetus Testamentum

Page 17: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

VTSup Supplements to Vetus Testamentum

WiS MEYERS, Carol (ed.). Woman in Scripture: A Dictionary of Named and

Unamed Women in the Hebrew Bible, The Apocryphal/Deutero- canonical Books, and

the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 2000 [Kindle Edition].

ZAW Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft

Outras abreviações

a.C. antes de Cristo

apud citado por

AT Antigo Testamento

BH Bíblia Hebraica

d.C. Depois de Cristo

et al. et alii; e outros autores

gr. grego

heb. hebraico

i. e. id est; isto é

lat. latim

LXX septuaginta

v. verso/versículo

TM Texto Massorético

Page 18: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

18

INTRODUÇÃO

O presente estudo pretende analisar as principais Festas judaicas, trazendo um

embasamento teórico que perpassa os livros bíblicos do Antigo Testamento, atribuídos

através da história como descrição dos ensinamentos de Deuteronômio, até renomados

escritores contemporâneos que analisam o tema sob o seu aspecto histórico e também

conceitual.

Mesmo num universo de dezenas de comemorações religiosas, as chamadas Festas

de tradição judaica são consideradas as principais Festas dentro do calendário Judaico: a

Festa do Pesah e pães Ázimos; a Festa das Semanas e a Festa das Tendas. Este trabalho

pretende aprofundar somente nestas três.

Como pano de fundo principal, esta pesquisa utilizou o conteúdo de Deuteronômio

16,1-17. Apesar de vários estudiosos proporem estruturas diferentes para esta perícope,

optou-se por uma divisão em quatro partes. A primeira parte (v.1-8), composta por três

subdivisões, pesah (v.1-4), local de adoração (v.5-7) pão ázimos (v.8), a segunda parte fala

da Festa das semanas (v.9-12), a terceira parte trata da Festa das Tendas (v.13-15) e para

finalizar, o resumo das peregrinações anuais (v.16-17).

O principal objetivo desta dissertação é comparar as Festas, ou seja, analisar as suas

mudanças através dos tempos, verificando as diferenças apresentadas entre o período

descrito no livro de Êxodo até Deuteronômio.

As referências quanto ao Pesah no livro de Êxodo, são de uma Festa, cujo formato

era cada família fazer a sua Festa particular, sacrificando um animal de um ano, assando-o

sem cortar nenhum osso e consumindo na sua integralidade antes de nascer o sol. Se a

família fosse pequena, poderiam então juntar-se a mais famílias para comer o cordeiro.

Este era um ritual familiar e tinha o objetivo de proteger este núcleo.

A partir do livro de Deuteronômio, houve uma transformação significativa, sendo a

Festa do pesah atualizada e levada para o templo, juntando-se às comemorações da Festa

dos Pães Ázimo. Como as duas Festas ocorriam em datas próximas, foram então fundidas

num mesmo evento.

Para o pesquisador Mckenzie (1984) a palavra pesah tem um significado e

etimologia incertos. No uso, o termo parece designar tanto a Festa como a manducação do

animal no banquete festivo. O ritual do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de

Êx 12,1-28, onde está relacionado com a Festa dos Ázimos. O rito consiste de um banquete

em que um cordeiro de um ano é comido. O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que

Page 19: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

19

não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do

rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas

para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa

mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro

torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete

também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).

A Festa do pesah baseava-se na oferenda de um cordeiro, o melhor do rebanho,

como forma de pedir proteção à família. Já a Festa do Pães Ázimos baseava-se em

consumir um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. A

preparação da massa não devia exceder a 18 minutos para garantir que a massa não

fermentasse. De acordo com a tradição judaico-cristã, o pão Ázimo foi feito

pelos israelitas antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a

massa fermentar.

Do mesmo modo, a Festa das semanas que era voltada à agricultura, era realizada

no âmbito familiar, sendo posteriormente, a partir de Deuteronômio, trazida para o templo

como forma de agradecimento a Deus com um ritual.

A Festa das Tendas também foi transformada. O livro de êxodo é bem sucinto

quanto a esta comemoração, dizendo apenas que os primeiros frutos do trabalho das

famílias deveriam ser celebrado. Já o livro de Deuteronômio é mais rico em detalhes,

explicando que a celebração deveria começar após a colheita dos produtos, sendo

observados no templo por um período de sete dias, numa comemoração alegre e festiva que

deveria incluir toda a família, os empregados, o levita, o estrangeiro, órfão e a viúva, ou

seja, todos os menos abastados ou excluídos socialmente deveriam acompanhar o dono da

oferta, já que nesta época a Festa já era realizada no templo em Jerusalém.

Se compararmos com o Cristianismo, as três principais Festas judaicas representam

o Pesah, o Pentecostes e Tabernáculos que são assim chamadas em II Cr. 8:13 "Na Festa

dos Pães Ázimos, e na Festa das Semanas, e na Festa das Tendas." Páscoa é Pesah, que

significa passagem, em hebraico, derivado do fato de o anjo destruidor ter passado por

sobre toda a terra do Egito, na morte dos primogênitos, na instituição do pesah. Pentecostes

deriva de Penta, cinco em grego, em virtude de ser comemorada cinquenta dias após o

pesah, que é também chamada de Festa das Semanas, em virtude de acontecer sete

semanas, após o pesah. A Festa dos Tabernáculos é a terceira das três Festas principais, e é

chamada de Sucote, derivada de Sukáh, em hebraico, que significa Tendas ou Cabanas.

Page 20: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

20

No livro de Deuteronômio 16, os versículos 16-17 são os que se detêm a fazer um

resumo, descrito como Resumo das Peregrinações Anuais, que se aplica às três principais

Festas judaicas, que permitiam que em Israel fosse desenvolvido um senso de comunidade

nacional.

Dividido em três capítulos, este trabalho não pretende defender nenhuma tese ou

tirar conclusões fechadas. Isto seria impossível diante dos desencontros de informações e

da impossibilidade de precisão diante dos materiais encontrados. Segundo os pesquisadores

aqui citados, há dúvidas quanto aos períodos, quanto à época das ocorrências e até da

identidade dos criadores do livro de Deuteronômio. O que se pode determinar a partir da

pesquisa, são as transformações ocorridas através dos tempos, transformações que

envolveram o formato e, principalmente o local de suas realizações.

As tradições judaicas e cristãs, bem como muitos autores de correntes mais

conservadoras, afirmam que o conteúdo histórico do Pentateuco (livros de Genesis, Êxodo,

Levítico, Números e Deuteronômio) foi escrito por Moisés, por inspiração de YHWH.

Enquanto para muitos outros estudiosos, trata-se da propagação dos ensinamentos de

Moisés escrita por profetas que viveram em períodos posteriores.

O primeiro capítulo começa com uma tradução literal, analisando as variantes

textuais e as anotações massoretas. Depois segue-se com uma análise da formação do

Deuteronômio, a datação e o seu lugar vivencial. Por fim, a parte mais ampla do capítulo

traz a análise do conteúdo dessa passagem bíblica, como a sua composição, o seu uso e a

sua interpretação, principalmente pelos adeptos da religião de Israel.

No segundo capítulo fez-se a análise propriamente dita das três Festas, comparando

a forma descrita nos livros bíblicos de Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar

as principais diferenças das Festas judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Esta

análise buscou identificar como as Festas sofreram suas mudanças e se essas mudanças

tiveram alguma influência na sociedade judaica.

Já o terceiro capítulo faz uma avaliação da origem popular das principais Festas

judaicas “Pesah, Semanas e Tendas”. Foram investigados como cada Festa se originou ou

teve início, o desenvolvimento de cada uma e as transformações ocorridas com o passar do

tempo.

Mesmo em períodos não determinados, pois os registros históricos são imprecisos,

é possível identificar que as mudanças ocorreram de forma semelhante nas três Festas:

saindo de um contexto pequeno, local e familiar, e transformando-se em um evento de

grande impacto, onde o objetivo principal era ter um local único de adoração a YHWH e de

Page 21: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

21

levar as ofertas como forma de agradecimento pelas bênçãos recebidas.

Para López (2004) o cronograma festivo descrito em Deuteronômio convida a todos

a levar suas oferendas de acordo com a bênção que o Senhor lhes dá. Segundo a teoria, a

generosidade não deveria ser exercitada somente com as pessoas necessitadas, mas também

com o Senhor YHWH. Dizia ainda, que era isso que o Senhor esperava como

agradecimento de seus filhos.

A análise também perpassa pelos impactos que estas mudanças causaram sobre o

povo de Israel. E, por fim, também foram analisadas as mudanças nos calendários das três

Festas, que foram objeto deste estudo.

Segundo Mcmurtry (2012) até os dias atuais o Pesah é celebrado pelos Judeus de

forma muito semelhante àquela que era celebrada na época de Jesus. Isso deve-se ao fato

de que o povo judeu é bastante fiel as tradições, valorizando e exercitando esses ritos para

que o seu objetivo e as suas características não se percam com o passar do tempo.

Page 22: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

22

CAPÍTULO I

1 ANÁLISE EXEGÉTICA DE DEUTERONÔMIO 16,1-17

1.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo faremos uma análise exegética histórico-literária do texto de

Deuteronômio 16,1-17. Iniciando pela tradução literal, analisando as variantes textuais.

Em seguida será realizada a análise da formação do Deuteronômio já dividido em frases e

estrofes no momento da tradução, depois a datação e o lugar vivencial do Deuteronômio

com seus autores e leitores.

Será apresentada a análise do conteúdo de Deuteronômio 16,1-17, que é uma

seção mais extensa, analisando a composição, o seu uso na liturgia e a interpretação do

texto, investigando sua produção e recepção pelos indivíduos da religião de Israel.

Através deste estudo procuraremos encontrar a formação de Deuteronômio e

observar sua linguagem e forma. Assim, perceberemos as principais mudanças dentro do

texto de Deuteronômio 16,1-17.

1.2 TRADUÇÃO: DEUTERONÔMIO 16,1-17

1.2.1 Tradução literal interlinear

מור1 שית האביב את־חדש ש pesah פסח וע2Guarda mês de o o abib 1e farás

האבי בחדש כי אלהיך ליהוה o abib em mês de porquê teu Elohim a YHWH

יל ממצרים אלהיך יהוה הוציאך הל de noite. desde o Egito teu Elohim YHWH te fez sair3

שית 1 ה] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª pessoa masculino singular. Raiz ע ש ”e farás“ [עמור 2 .verbo qal infinitivo absoluto ש [יצא] verbo hiphil perfeito, 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz הוציאך 3

“te fez sair”

Page 23: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

23

gado צאן אלהיך ליהוה פסח וזבחת 2 4sE sacrificará pesah a YHWH teu Elohim miúdo

ר ק קום וב ן יהוה אשר־יבחר במ לשכno local e gado graúdo 6que escolher YHWH 5para fazer residir

ם שמו ש ali. nome dele

יו לא־תאכל 3 ל ץ ע מ ימים שבעת ח

dias sete de algo fermentado com ele Não comerás7

יו ל כי עני לחם מצות תאכל־ע porque aflição pão de ázimos comerás com ele

זון ארץ יצאת בחפ למען מצרים מ para que Egito desde a terra do saíste8 com pressa

ארץ צאתך יוםאת־ תזכר מצרים מ Egito desde a terra de o teu sair9 o dia de recordes10

י כל חייך ימ tuas vidas. dias de todos

אה 4 שבעת בכל־גבלך שאר לך ולא־יר sete de em todo teu território fermento contigo E não aparecerá11

ר ולא־ילין ימים תזבח אשר מן־הבש s dia 13e não pernoitará de a carne que 12sacrificares

”sacrificarás“ [זבח] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª pessoa masculino singular. Raiz וזבחת 4ן 5 ”para fazer residir“ [שכן] verbo verbo piel infinitivo construto. Raiz לשכ ”que escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz אשר 6 ”não comerás“ [אכל] verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz תאכל 7את 8 ”saiste“ [יצא] verbo qal perfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz יצ ”o teu sair“ [יצא] verbo qal infinito construto sufixo 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz צאתך 9 ”recordes“ [זכר] verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singula. Raiz תזכר 10אה 11 ”aparecerá“ [ראה] verbo niphal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz יר ”sacrificares“ [זבח] verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz תזבח 12 ”pernoitará“ [לין] verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz ילין 13

Page 24: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

24

ערב ראשון ביום ב לבקר ה para o amanhecer. o primeiro no dia pelo entardecer

סח לזבח תוכל לא 5 באחד את־הפ num de a pesah sacrificar14 poderás15 Não

ריך ן אלהיך אשר־יהוה שע לך נת para ti. o que dá16 teu Elohim que YHWH teus portões

קום כי 6 אלהיך יהוה אשר־יבחר אם־אל־המ

teu Elohim YHWH que escolher17 se ao local Porque

ן ם שמו לשכ את־הפסח תזבח ש a pesah sacrificarás ali nome dele para fazer residir18

רב ד השמש כבוא בע מוע época determinada o sol como entrar19 pelo entardecer

ים צאתך ממצר desde o Egito. teu sair

קום ואכלת ובשלת 7 יבחר אשר במ

escolher20 que no local e comerás21 E cozinharás22

נית בו אלהיך יהוה ופ e virarás23 nele teu Elohim YHWH

לכת בבקר ליך וה לאה ”sacrificar“ [זבח] verbo qal infinitivo construto. Raiz לזבח 14 ”poderás“ [יכל] verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz תוכל 15ן 16 ”o que dá“ [נתן] verbo qal participo masculino singular absoluto. Raiz נת ”escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz רחבי 17 ”para fazer residir“ [שכן] verbo piel infinitivo construto. Raiz ןכשל 18 ”como entrar“ [בוא] verbo qal infinitivo construto. Raiz כבוא 19 ”escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz יבחר 20 ”comerás“ [אכל] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz ואכלת 21 ”cozinharás“ [בשל] verbo piel waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz בשלת 22נית 23 ”virarás“ [פנה] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz ופ

Page 25: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

25

para as tuas tendas. e andarás24 pelo amanhecer

שת 8 ימים ש מצות אכל ת

ázimos comerás25 dias Seis de

ליהוה עצרת השביעי וביום a YHWH assembleia festiva o sétimo mas no dia

ס מלאכה תעשה לא אלהיך obra. farás26 não teu Elohim

בעת שבעה 9 ל תספר־לך ש ח ה מ

desde o começar27 enumerarás para ti28 semanas Sete

ש ה חרמ מ ל בק ח לספר ת para anunciar começarás no cereal em pé foice

ה בעות שבע ש semanas. sete

שית 10 בעות חג וע אלהיך ליהוה ש

teu Elohim a YHWH semanas Festas de E farás29

ן אשר ידך נדבת מסת תת deres30 que a tua mão a oferta voluntária de a medida de

רכך כאשר אלהיך יהוה יב teu Elohim. YHWH te abençoar31 conforme

לכת 24 ”andaras“ [הלך] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz וה ”comerás“ [אכל] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תאכל 25 ”farás“ [עשה] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תעשה 26ל 27 ח ה ”desde o começar“ [חלל] verbo hiphil infinitivo construto. Raiz מ ”enumerás“ [ספר] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תספר־לך 28שית 29 ”farás“ [עשה] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz וען 30 ”deres“ [נתן] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תתרכך 31 [ברך] verbo piel imperfeito 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz יב

“abençoar”

Page 26: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

26

מחת 11 ה אלהיך יהוה לפני וש את

tu teu Elohim YWHW perante E te alegrarás32

תךוא ועבדך ובתך ובנך וי מ והל e o levita e tua serva e teu escravo e tua filha e teu filho

ריך אשר והיתום והגר בשע e o órfão e o estrangeiro nos teus portões que

נה אלמ קום בקרבך אשר וה במ no local em teu interior que e a viúva

לשכן אלהיך יהוה יבחר אשר para fazer residir teu Elohim YWHW escolher33 que

ם שמו ש ali. nome Dele

יית כי־עבד וזכרת 12 ים ה מרת במצר וש

e guardarás34 em Egito foste35 que escravo E recordarás36

שית לה את־החקים וע א פ ה os estes. os estatutos e farás37

בעתש לך תעשה הסכת חג 13

sete de para ti farás38 as tendas Festa de

ומיקבך מגרנך באספך ימים e do teu lugar. da tua eira em teu recolher39 dias

מחת 32 ”alegrarás“ [שמח] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz וש ”escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz יבחר 33מרת 34 ”quardarás“ [שמר] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz ושיית 35 ”foste“ [היה] verbo qal perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz ה ”recordarás“ [זכר] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz וזכרת 36שית 37 ”farás“ [עשה] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz וע ”farás“ [עשה ] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תעשה 38

Page 27: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

27

מחת 14 ה בחגך וש ובתך ובנך את

e tua filha e teu filho tu em tua Festas E te alegrarás40

תך ועבדך וי ואמ והיתום והגר והל e o órfão e o estrangeiro a o levita e tua serva e teu servo

נה אלמ ריך אשר וה בשע nos teus portões. que e a viúva

חג ימים שבעת 15 אלהיך ליהוה ת

teu Elohim a YHWH Festas41 dias Sete de

קום רכך כי יהוה אשר־יבחר במ יב te abençoará42 porque YHWH que escolher43 no local

ובכל תבואתך בכל אלהיך יהוה e em todo teu produto em todo teu Elohim YHWH

ה יית ידיך מעש ח אך וה מ ש alegre. certamente e serás44 tuas mãos feito de

לוש 16 מים ש נה פע אה בש יר

Três vezes no ano 45aparecerá

אלהיך יהוה את־פני כל־זכורך teu Elohim YHWH perante todo o teu de qualidade masculina

קום ר אשר במ בחג יבח ”recolher“ [אסף] verbo qal infinitivo construto sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz באספך 39מחת 40 ”alegarás“ [שמח] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz ושחג 41 ”Festas“ [חגג] verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz תרכך 42 [ברך] verbo piel imperfeito 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz יב

“abençoará” ”escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz אשר־יבחר 43יית 44 ”serás“ [היה] verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz והאה 45 ”aparecerá“ [ראה] verbo niphal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz יר

Page 28: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

28

em Festa de escolher46 que no local

בעות ובחג המצות ובחג הש e em Festa de as semanas e em Festa de os ázimos

אה ולא הסכות את־פני יר perante aparecerá47 e não as tendas

ם יהוה יק ר vazio. YHWH

כברכת ידו כמתנת איש 17

conforme a benção de mão conforme a dádiva de Cada um

ס נתן־לך אשר אלהיך יהוה deu para ti48 que teu Elohim YHWH

1.2.2 Tradução literal: Texto Massorético de Deuteronômio 16,1-17

1 - Guarda o mês de o abib e farás pesah a YHWH teu Elohim porque em

mês de o abib te fez sair YHWH teu Elohim desde o Egito de noite.

2 - E sacrificarás pesah a YHWH, teu Elohim, gado miúdo e gado graúdo

no local que escolher YHWH, para fazer residir nome Dele ali.

3 - Não comerás sobre ele/com ele algo fermentado, sete de dias

comerás com ele ázimos, pão de aflição, porque com pressa saíste

desde a terra do Egito, para que recordes o dia de o teu sair desde a

terra de Egito, todos dias de tuas vidas.

4 - E não aparecerá contigo fermento em todo teu território sete de dias, e

nem pernoitará de a carne que sacrificares pelo entardecer no dia o

primeiro para o amanhecer.

5 - Não poderás sacrificar a pesah, num de os teus portões, que YHWH,

teu Elohim, o que dá para ti.

ר 46 ”escolher“ [בחר] verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz יבחאה 47 ”aparecerá“ [ראה] verbo niphal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz יר ”deu“ [נתן] verbo qal perfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz נתן־לך 48

Page 29: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

29

6 - Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para fazer residir

nome dele ali, sacrificarás a pesah pelo entardecer, como entrar o sol,

época determinada de teu sair desde o Egito.

7 - E cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim,

nele e te virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas.

8 - Seis de dias comerás ázimos, mas no dia o sétimo, assembleia festiva a

YHWH, teu Elohim, não farás obra.

9 - Sete semanas enumerarás para ti, desde o começar foice no cereal em

pé começarás para anunciar sete semanas.

10 - E farás Festa de semanas a YHWH, teu Elohim, a medida de a oferta

voluntária de a tua mão que deres conforme te abençoar YHWH teu

Elohim.

11 - E te alegrarás perante YHWH, teu Elohim, tu, e teu filho, e tua filha,

e teu escravo, e tua serva, e o levita que nos teus portões, e o estrangeiro,

e o órfão, e a viúva que em teu interior no local que escolher, YHWH, teu

Elohim, para fazer residir nome dele ali.

12 - E recordarás que escravo foste em Egito, e guardarás e farás os

estatutos os este.

13 - Festa de as tendas farás para ti sete de dias, em teu recolher da tua

eira e do teu lagar.

14 - E te alegrarás em tua Festa tu, e teu filho, e tua filha, e teu escravo, e

tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que nos teus

portões.

15 - Sete de dias Festa a YHWH, teu Elohim, no local que escolher

YHWH, porque te abençoará YHWH, teu Elohim em todo teu produto e

em todo feito de tuas mãos, e serás certamente alegre.

16 -Três vezes no ano aparecerá todo o teu de qualidade masculina

perante YHWH, teu Elohim, no local que escolher, em Festa de os

ázimos, e em Festa de as semanas e em Festa de as tendas, mas não

aparecerá perante YHWH vazio.

17 - Cada um conforme a dávida de mão, conforme a benção de

YHWH, teu Elohim que deu para ti.

2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO

Page 30: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

30

A perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertence a um bloco narrativo chamado de

“livro da lei”. Esse bloco narrativo tem o seu início no capitulo 12,1 e termina com os

mandamentos que fazem referências as três peregrinações anuais ao santuário central: o

Pesah e do pão Ázimo (Matzá) (v.1-8), Semanas (xabu´ot) (v.9-12) e a Tendas (sukkōt )

(v.13-15), estas Festas são consideradas as principais Festas dentro do calendário Judaico.

Para López (2004) a perícope de Deuteronômio 16,1-17 está dentro do segundo

discurso de Moisés, fundamental em relação a sua importância, abrange a maior parte do

livro (Dt 4,44-28,68). Seus títulos o definem como a lei de Moisés (Dt 4,44) ou, mais

precisamente, como as normas, as leis e os preceitos de Moisés (Dt 4,45).

Nestes títulos se reflete claramente o fundamental do conteúdo, visto que o corpo

central do discurso é formado pelo código legal (Dt 12-25), observa-se três discursos feitos

por Moisés ao povo de Israel. Temos uma introdução que vai do Cap. 1,1-5, tendo o início

do primeiro discurso em (Dt 1,6-4,43), onde Moisés faz um retrospecto da atividade de

Javé em favor do povo de Israel, o povo é relembrado dos livramentos durante sua

peregrinação desde o Monte Sinai até a chegada ao Rio Jordão (1,6-3,29).

O segundo discurso está sendo concluído com uma seção oratória em que Moisés

apela a Israel para que atenda as exigências daquele que agiu em seu benefício (4,44-26,19)

(LÓPEZ, 2002, pg. 261). O coração do livro de Deuteronômio está no Cap. 5, depois de

uma breve introdução (4, 44-49) e continua até o final do Cap. 28. O terceiro discurso, Cap.

29,1-30,20, é realmente um apelo ao povo de Israel a aceitarem a aliança que Deus está

fazendo com eles. Este discurso é concluído com a declaração da escolha colocada perante

Israel, isto é, vida ou morte (30,15-20). Uma observação mais cuidadosa desta estrutura

revela que enquanto o segundo discurso é muito extenso Cap. 5 a 28, o primeiro Cap. 1 a 4

e o terceiro Cap. 29 a 30 são muito curtos. Parece que 1,1-5 é uma introdução editorial para

todo o livro, já que se refere ao fato de que Moisés encarregou-se de explicar esta lei (1,5).

Assim, 4,44-49 parece ser a introdução para o segundo discurso (THOMPSON, 1982, pg.

15).

Tabela 1 – Delimitação

Introdução 1,1-5

Page 31: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

31

Primeiro Discurso: Atos de Yhwh 1,6-4,43

Segundo Discurso: Lei de Yhwh

4,44-26,19

Terceiro Discurso: Aliança com Yhwh

26,1-30,20

Conclusão

31,1-34,12

Fonte: elaborado pelo autor

Quando analisamos a delimitação da perícope de Deuteronômio 16,1-17,

percebemos uma perícope completa. O capítulo que antecede a perícope em questão é

Deuteronômio 15,19-23, faz um chamado a Israel a desfrutar dos bens e uma observância

as leis acerca dos primogênitos do gado, e observamos que o verso 23 “Somente o seu

sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como água” finaliza a perícope. Para

López, Deuteronômio 15,19-23, faz parte das quatro leis “Deveres religioso-sociais”

(14,22-15,23) no livro de Deuteronômio (LÓPEZ, 2004, pg. 256). Uma última

demonstração de gratidão e confiança seria a oferta de animais primogênitos perfeitos a

Yahweh.

Logo a perícope de Deuteronômio 16,1-17, inicia no v.1 “Guarda o mês de Abib,

celebrando a Pesah ......” começa com o מור verbo qal infinitivo absoluto “Guardar” e ש

indica o início de uma nova orientação para o povo de Israel.

Desta forma, podemos encontrar uma separação entre o final do capítulo 15 e o

início do capítulo 16 de Deuteronômio. O ponto central da perícope de Deuteronômio 16,1-

17, é um calendário litúrgico (formalmente comparável aos calendários de Êx 23,14-17;

34,18-23; Lv 23), no qual se recolhem duas classes diferentes de Festas: o pesah, de origem

nômade, e as dos ázimos, das semanas e das tendas, de cunho tipicamente agrário.

A perícope de Deuteronômio 16,1-17, encerra-se convidando todos a levarem suas

ofertas ao local onde Deus havia escolhido, de acordo com a bênção que o Yahweh lhes dá.

Ninguém deve apresentar-se ao santuário de mãos vazias (Dt 16,17). A generosidade não

devia ser exercitada somente com as pessoas necessitadas. Já o v.18 começa uma nova

seção chamada “deveres dos juízes” que contém uma série de deveres aos juízes e ao

governo teocrático, com ênfase destacada sobre o poder judiciário, estabelece também

diretrizes para o comportamento civil numa sociedade teocrática. Os juízes e seus deveres

são tratados primeiro, em 16,18-20, já que eles eram o primeiro modo de governo civil

estabelecido sob a aliança, sendo assim, percebemos o começo de uma nova perícope.

Page 32: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

32

Como podemos ver a perícope de Deuteronômio 16,1-17, está dentro do livro da lei

e fala das três principais Festas judaicas, estas Festas são consideradas as mais importantes

para os Judeus. Os principais estudiosos possuem um consenso com respeito a delimitação

da perícope.

3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DO TEXTO

Apesar de vários pesquisadores proporem estruturas diferentes para a perícope de

Deuteronômio 16,1-17, a perícope é de fácil entendimento e clareza. Entre os

pesquisadores que propõem estruturas diferentes estão Carson (2009, pg. 332) que propõe

uma estrutura dividindo a perícope em três partes: o pesah e a Festa dos Pães Ázimos (1-8),

a Festa das Semanas (9-12) e a Festa das Tendas (13-17), já Watts (1994, pg. 292) propõe

que a estrutura, da perícope teria que ser dividida em 2 partes apenas: o pesah e a Festa dos

Pães Ázimos (1-8) e as demais Festas (9-17).

Através de estudos e pesquisas optou-se por apresentar a divisão da perícope de

Deuteronômio 16,1-17 em quatro partes. A primeira parte (v.1-8) será composta por três

subdivisões: pesah (v.1-4), local de adoração (v.5-7) e pão ázimos (v.8). A segunda parte

fala da Festa das semanas (v.9-12) e a terceira da Festa dos Tendas (v.13-15). Para finalizar

o resumo das peregrinações anuais (v.16-17).

As Principais Festas Judaicas

4 ANÁLISE DA COESÃO DO TEXTO

I. A Festa do Pesah (v. 1-4)

a) O Local do Pesah (v. 5-7)

b) A Festa dos Pães Ázimos (v. 8)

II. A Festa das Semanas (v. 9-12)

III. A Festa dos Tendas (v. 13-15)

IV. Resumo das Peregrinações Anuais (v. 16-17)

Page 33: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

33

Na perícope de Deuteronômio 16,1-17, é intercalada pelos relatos das três principais

Festas judaicas e atividades sociais. Temos a Festa do pesah (פסח) e Festa das semanas

בעות) .como legislação (חג הסכת) como referências celebrativas e a Festa das Tendas (חג ש

Pode-se afirmar com certa segurança tendo por base a análise nos temas e semânticas que

perpassam toda a perícope. Quase todos os versículos são iniciados por verbos imperfeitos

com waw consecutivo, a indicação de texto narrativo.

O texto possui início, meio e fim (situação inicial, desenlace, ação transformadora e

situação final). Vamos analisar os termos que se repetem dentro da perícope e aqueles

termos que estão interligados. Ao analisarmos o campo semântico pesah (פסח), percebemos

que ele aparece nos v.1, 2, 5 e enfatiza na saída do povo de Israel quando observamos que

nestes versos as palavras fez sair e saíste desde a terra do Egito aparecem nos mesmos

versos como um momento de libertação do povo da terra do Egito.

Os vocábulos no local (קום ocorre cinco vezes v. 2,7,11,15,16, temos que (במ

observar a notável ênfase posta no local onde a Festa devia ser celebrada, são repetidos

diversas vezes na perícope de Deuteronômio 16, e podemos ver a relevância e a

importância que o autor colocava ao lugar que o povo tinha que adorar a Deus.

Uma outra ênfase que encontramos nome dele (שמו) e observamos que ocorre três

vezes v. 2,6,11 para relatar que no templo YHWH estaria habitando naquele lugar. Também

o substantivo YHWH teu Elohim (יהוה אלהיך) são as palavras que ocorrem mais vezes

dentro da perícope (quinze vezes), quase todos os versos da perícope v.

1,2,5,6,7,8,10,11,15,16,17, e está relacionado na maioria das vezes com YHWH (ליהוה) que

aparece cinco vezes v. 1,2,8,10,15, observe que teu Elohim é uma afirmação para o povo

que YHWH era o Elohim deles, e que o povo devia adorar somente a YHWH como Deus e

que não existia nenhum outro Deus.

Uma outra palavra que ocorre várias vezes na perícope é o particípio relativo que

ocorre (catorze vezes) v. 2,4,5,6,7,10,11,14,15,16,17,18. Já o particípio negativo não (אשר)

ocorre três vezes, sendo que duas vezes está no início dos versos 3,5,8 dando ênfase no (לא)

que o povo não deveria fazer durante as Festas de Deuteronômio 16.

Desta forma, percebe-se que existe uma coesão na perícope através dos termos e

assuntos que perpassam todo o texto de Deuteronômio 16,1-17. Podemos então considerar

que a perícope de Deuteronômio 16,1-17, tem seu início no verso 1, e até o verso 8 traz a

primeira Festa (Pesah e Pão Ázimos), dos versos 9-12 (Festa das Semanas), versos 13-15

(Festa das Tendas). Já nos versos 16-17 encontramos o fechamento da perícope com um

cronograma que estabelece o comparecimento diante de YHWH.

Page 34: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

34

5 GÊNERO LITERÁRIO

O livro de Deuteronômio nos é apresentado sob a forma e estilo dos discursos de

Moisés, sendo dois breves, o primeiro e o terceiro, e um muito extenso, o segundo. Uma

análise cuidadosa dos discursos revela uma grande variedade de unidades literárias. Em

certa maneira o livro dá a impressão de extraordinária descontinuidade. Frequentemente

muda depressa de um tema para outro, com aparentes interrupções do fluxo de pensamento.

A despeito da grande repetição de vocabulário, há muitas mudanças de estilo, sendo uma

das mais importantes a grande variação do uso do singular “tu” e do plural “vós”. O livro

como um todo sugere a impressão de um mosaico notavelmente complexo de muitas peças

de material tradicional, de grande variedade, que tenham sido fundidas de modo a formar

uma unidade (THOMPSON, 1982, pg. 21).

Para Von Rad (2006) a perícope de Deuteronômio 16,1-17 é composta por uma

sequência litúrgica de vários eventos. No fato de a sequência litúrgica de um evento cúltico

ter que servir como moldura para uma grande obra literária teológica, podemos ver uma

vez mais, quanta dificuldade Israel encontrava para desenvolver teoricamente conteúdos

teológicos a partir de si mesmo. Esse estilo Deuteronômico, caracterizado pela infatigável

repetição de uma típica combinação de palavras, tem do princípio ao fim uma característica

exortativa e constitui uma palavra que se dirige ao interlocutor para conquistá-lo e cercá-lo

com juras carinhosas (RAD, 2006, pg. 216).

A natureza composta do livro poderia requerer que traçássemos o desenvolvimento

de ideias dentro dele, mas tudo o que podemos fazer aqui é indicar algumas ideias

principais. Deuteronômio é, antes de tudo, um livro da lei, um ponto frequentemente

negligenciado na erudição cristã. O propósito da lei é delinear um nível de performance

moral compatível com a auto-revelação de YHWH de Israel e da elevada vocação do povo

de judeu.

O núcleo central (12-26) contém os estatutos e leis do chamado pacto do país de

Moab. Enquanto este complexo se destaca exteriormente do restante do Pentateuco, como

unidade completa, o estilo mostra como uma obra literária que deve ser diferenciada das

demais fontes. A parte a amplidão do discurso é abundante e enfática, em íntima

correspondência com o seu escopo exortativo e a linguagem se caracteriza por locuções

típicas. Podemos simplesmente falar de um estilo deuteronomista que apelava para os

sentimentos da alma, com o seu pathos brando e envolvente (SELLIN e FOHRER, 2007,

pg. 323).

Page 35: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

35

Do ponto de vista formal, encontramos no livro de Deuteronômio quatro tipos de

textos: narrativos, legais, parenéticos e poéticos. Predominam os textos legais ocupando a

parte central do livro comumente conhecido como Código deuteronomista (Dt 12-26), onde

se encontra a perícope de Deuteronômio 16,1-17 (LÓPEZ, 2004, pg. 239).

Podemos concordar com o pesquisador López quando ele diz que o estilo do código

legal deuteronômico é pessoal, persuasivo e procura convencer. Daí que numerosas leis são

acompanhadas por exortações ou admoestações e de motivações com caráter histórico (cf.

Dt,16,1). As seções históricas também não são homogêneas no aspecto formal, mesmo que

se possam detectar alguns fios condutores (LÓPEZ, 2002, pg. 263).

Pode-se dizer que o livro de Deuteronômio traz o seu ponto central um discurso

narrativo principal “a Lei”, a principal seção do livro que envolve a perícope de

Deuteronômio 16,1-17 é dedicada a uma narrativa da exposição da lei de Deus. O estilo

utilizado na perícope é uma oratória histórica fluente e solene, buscando atingir, comover e

influenciar os ouvintes.

6 DATA E AUTOR

Nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos livros mais contestados

com respeito à sua autoria mosaica. Para o autor Osvaldo (2006), apesar de Deuteronômio

dar evidências de que foi escrito por Moisés (cf. 1,5;31,9,24) e de o Antigo Testamento (1

Rs 8,53; 2 Rs 14,6) e o Novo Testamento (cf. Mt 19,7,8; At 3,22-23; Rm 10,19) afirmar

que Moisés como seu autor, apesar de as tradições hebraicas e cristã apoiar maciamente a

autoria mosaica, os críticos racionalistas, a partir do século 19, têm afirmado que

Deuteronômio é uma “fraude piedosa” produzida no século VII a.C. por reformistas de

Judá, que teriam usado o livro para dar ímpeto ás reformas religiosas de Josias, legitimando

e impondo Jerusalém como o único santuário aceitável em Israel. Afirmam que o tal “livro

da lei” mencionado em 2 Reis 22 era um documento recente, orientando a nação como

obra mosaica (OSVALDO, 2006, pg. 159).

Diante disso, seguem algumas considerações dos principais pesquisadores. Um dos

pesquisadores Jack Ford (2009) diz que o livro de Deuteronômio é composto quase que

inteiramente de discursos atribuídos a Moisés. Há também breves seções históricas

consideradas da narrativa de Moisés. Os estudiosos que o adotam, digamos, ponto de vista

de Wellhausen, sustentam com várias modificações, que Deuteronômio é uma composição

que contém algum material antigo, parte do qual derivado de Moisés, mas produzido por

Page 36: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

36

um profeta ou escola de profetas pouco antes de 621 a.C. Neste ano, o livro da lei foi

descoberto por Hilquias, no Templo, e lido na presença do rei Josias (FORD, 2009, pg.

411).

Para Hoppe (1999) não existe um acordo universal quanto á crise especifica que

inspirou a criação do Deuteronômio. Uma das posições dos pesquisadores bíblicos,

mantidas a mais tempo, data do início do século XIX e identifica o livro de Deuteronômio

com o “livro da Lei” encontrado. Embora o livro inclua muito material datado do fim do

século VII a.C. e anterior, está claro que, na forma atual, o Deuteronômio data do Exílio

babilônico (587-539 a.C.). Essa data exílica para o Deuteronômio não elimina a

possibilidade de tradições mais primitivas terem sido usadas na criação do livro. Pelo

contrário, o Deuteronômio foi o resultado de uma reinterpretação consciente de antigas

tradições legais, a fim de dar a Israel, esperança para o futuro (HOPPE, 1999, pg. 188).

Entre os que defendem uma datação no século VII a.C, estão W. M. L. de Wete e

Julios Wellhausen, que argumentam basicamente que não há vestígios do Deuteronômio

nos profetas do século VIII a.C., ao passo que se percebe uma estreita relação entre

Deuteronômio e os profetas Jeremias e Ezequias (ambos do século VII). Não obstante,

argumentam também que nenhum outro conjunto de leis do Antigo Testamento

corresponde tão profundamente às medidas reformistas implantadas por Josias

(THOMPSON, 1982, pg. 58).

Von Rad (2006) diz que a configuração do Deuteronômio se deve aos levitas, que

não tinham nenhum interesse na monarquia do Norte, que no fim da monarquia estariam

empenhados num grande movimento de pregação. Quanto ao seu conteúdo, esta pregação

do Deuteronômio se prende a antiga tradição da anfictionia da aliança, conservada viva

pela prática do povo da terra. Como argumento para a origem do Norte, o autor aponta a

concordância entre Deuteronômio e Oséias (RAD, 2006, pg. 83).

Já López (2002) da mesma maneira como acontece com outros livros da Bíblia, o

Deuteronômio não se deve a um único autor, mas sim a vários autores e colaboradores. É o

resultado de um longo processo de formação que durou mais de séculos. A data chave é

proporcionada por 2 Reis 22-23. Neste texto conta-se que durante o reinado de Josias (640-

609 a.C.), mais concretamente no ano 622 a.C., realizaram-se reparações e reformas no

templo de Jerusalém, no curso das quais descobriu-se o “livro da lei”.

Os especialistas no assunto identificaram esse livro achado no templo com o

Deuteronômio atual, mas com uma versão menos desenvolvida. De acordo com isso, o ano

Page 37: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

37

622 a.C. se transforma no ponto chave para a datação do Deuteronômio. Supõe-se que

nesta data já existia o núcleo primitivo do Deuteronômio atual. Ficaram por determinar as

origens do livro e seu desenvolvimento posterior. O Reino do Norte (Israel), anos antes da

queda de Samaria (721 a.C.) e Babilônia depois da destruição de Jerusalém (586 a.C.)

poderiam construir respectivamente os pontos de partida e de chegada, mais prováveis no

processo de composição do Deuteronômio (LÓPEZ, 2002, pg. 264).

A forma exata dos discursos de Moisés é impossível de precisar. Igualmente

impossível de precisar é a data exata da composição definitiva do livro. A posição adota

pelo presente comentário é que uma porção substancial de Deuteronômio vem de um

período muito anterior ao século VII a.C. Na verdade, pode ter assumido parte de sua

forma presente no período geral da Monarquia Unida. Tal posição daria uma data entre os

séculos XI e X a.C., dois ou três séculos depois da morte de Moisés (THOMPSON, 1982,

pg. 67).

Mediante estas colocações vamos analisar duas hipóteses: 1) Hipótese

Documentária Clássica. Defendida por Graf-Wellhausen, o Deuteronômio tem sua

formação principal (cap.12-26). No décimo oitavo ano do rei Josias (621 a.C.), os

trabalhadores que estavam reparando a casa do Senhor encontraram “o livro da lei”.

Quando foi lido para o rei, este rasgou as vestes, lamentando-se por seu povo ter sido

desobediente as palavras desse livro. Sua penitência provocou um avivamento religioso

(2Rs 22-23). 2) Hipótese Deuteronômista. Um grande número de pesquisadores chegaram

a datar “o livro da lei” de acordo com a teoria de que teria sido composto imediatamente

antes de sua descoberta em 621. Essa concepção não se sustenta diante do escrito

acadêmico do século XX. Alguns retrocedem a data de Deuteronômio aos dias de

Manassés, ou de Ezequias, ou de Amós, ou ainda antes, aos dias de Samuel. Alguns

concluíram que Deuteronômio era o resultado, não a causa, das reformas de Josias.

Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais proporcionam

comparações interessantes de forma e detalhes com as leis do Pentateuco (e.g. Dt

19,21).

Page 38: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

38

Fonte: LASOR, HUBBARD, BUSH, A Torá pg.125

Na situação atual não existe nenhum consenso entre os pesquisadores. Estudos

sobre a crítica da reforma têm levado mais e mais estudiosos a reconhecer elementos bem

antigos em Deuteronômio. A possibilidade de que o livro esteja estruturado mais como os

tratados de suserania do segundo milênio do que os de meados do primeiro milênio

indicaria uma data mais remota. O estilo exortativo convence alguns estudiosos de que o

livro se baseia numa tradição que remonta ao próprio Moisés. Outros situam a tradição no

início da monarquia.

Ao analisarmos o livro de Deuteronômio conforme o temos, como muitas obras do

Antigo Testamento, parece ter sofrido um longo processo de composição. O processo

envolve atualização e modificação para atender ás necessidades de Israel, de acordo com as

mudanças ocorridas ao longo dos séculos. As coleções de leis diversas no discurso central

podem refletir esse processo de atualização. Ainda assim, o produto final, conforme

Page 39: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

39

analisado por técnicas recentes, revela uma unidade notável, apesar da aparente diversidade

em suas formas de discurso. Para Lasor, Hubbard e Bush (1999) se forem removidas as

glosas aparentemente posteriores e talvez alguns materiais nos capítulos finais, resta pouco

de Deuteronômio que não possa ser proveniente da época de Moisés. Com certeza há mais

probabilidade de Deuteronômio ter exercido grandes influências sobre os profetas que de

os profetas o terem produzido. Depois de dois séculos de estudos críticos, a evidência

talvez pareça indicar que, se Deuteronômio não for um registro das próprias palavras de

Moisés, é pelo menos uma tradição que representa Moisés com precisão e reflete com

fidelidade a aplicação por ele dada as leis e aos estatutos da aliança de YHWH de acordo

com as necessidades dos israelitas (LASOR; HUBBARD; BUSH, 1999, pg. 126).

7 ANÁLISE DO CONTEÚDO

7.1 A FESTA DO PESAH E PÃES ÁZIMOS (V.1-8 )

“1. Guarda o mês de o abib e farás pesah a YHWH teu Elohim porque

em mês de o abib te fez sair YHWH teu Elohim desde o Egito de noite. 2.

E sacrificarás pesah a YHWH, teu Elohim, gado miúdo e gado graúdo no

local que escolher YHWH, para fazer residir o nome Dele ali. 3. Não

comerás sobre ele/com ele algo fermentado, sete de dias comerás com ele

ázimos, pão de aflição, porque com pressa saíste desde a terra do Egito,

para que recordes o dia de o teu sair desde a terra de Egito, todos dias

de tuas vidas. 4. E não aparecerá contigo fermento em todo teu território

sete de dias, e nem pernoitará de a carne que sacrificares pelo

entardecer no dia o primeiro para o amanhecer. 5. Não poderás

sacrificar o pesah, num de os teus portões, que YHWH, teu Elohim, o que

dá para ti. 6. Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para

fazer residir nome dele ali, sacrificarás o pesah pelo entardecer, como

entrar o sol, época determinada de teu sair desde o Egito. 7. E

cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim, nele e te

virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas. 8. Seis de dias

comerás ázimos, mas no dia o sétimo, assembleia festiva a YHWH, teu

Elohim, não farás obra”.

Vamos aprofundar os estudos analisando o conteúdo de Deuteronômio, suas frases,

estrofes, termos e seus vocábulos. Usaremos a tradução apresentada no início deste

capitulo, levaremos em conta o contexto histórico, e social do povo de Israel. Nesta

primeira etapa vamos analisar os versos 1-8 de Deuteronômio 16.

A primeira expressão que vamos destacar no v.1 é a expressão “mês de Abib”

Esta expressão aparece duas vezes em nosso texto, considerado o primeiro .(את־חדש האביב)

mês do ano religioso hebraico, chamado de Nisã depois do exílio babilônico. Foi na época

Page 40: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

40

do Êxodo 12,2 que ele aparece pela primeira vez como o mês do pesah. Também

conhecido como o “mês das espigas verdes” Êx 9,31; Lv 2,14, este mês judeu, começava

entre o final de Março e o final de Abril, segundo a antiga tradição coincidia com o êxodo

do Egito e o rito pascal, os dois estavam ligados. A terminologia mais antiga sugere que a

lei em sua presente forma data de uma época em que a terminologia cananita ainda estava

em uso corrente. O fato de que Abib era na primavera, leva à conclusão que esta era uma

Festa da primavera e já que foi no mês de abib que YHWH tirara a Israel do Egito, a

historicização dessa Festa foi relativamente fácil para Israel.

O termo do v.1, 6 “te fez sair” (הוציאך), faz referência a libertação do povo de Israel

do cativeiro que eles viviam no Egito, e faz menção da libertação do Egito “de

noite” (ילה Podemos ver que o povo saiu as presas e não observamos uma preparação .(ל

para a viajem que eles iriam fazer. Uma outra ênfase que encontramos “YHWH o teu

Elohim” (יהוה אלהיך) são as palavras que ocorre mais vezes dentro da perícope, (15 vezes),

quase todos os versos da perícope v. 1, 2, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 15, 16, 17, observe que teu

Elohim é uma afirmação para o povo que YHWH era o Elohim deles, e que o povo devia

adorar somente a YHWH como Deus e que não existia nenhum outro Deus. Esta expressão

é muito forte dentro da perícope, vemos uma repetição clara, onde o autor lembra a todo

momento Deus para o povo.

A palavra “pesah” (פסח) pode ser vista no v. 1, 2, 5, 6, faz uma referência para o

povo com respeito ao termo v. 3, 6 “o teu sair desde a terra do Egito” (ארץ מצרים (צאתך מ

podemos ver o pesah como um momento de libertação do povo da terra do Egito. São

oferecidas duas explicações diferentes para o significado do substantivo pesah: Primeira

são derivações do verbo psh, que apoiam as interpretações de pesah, uma derivação que

alguns estudiosos veem como meramente secundário, popular etimológica dos lexomas

historicamente não relacionados entre si e tenta em vez de derivar o significado de pesah de

uma consideração histórica dos arredores de Israel. Já na segunda os pesquisadores

interpretam pesah, como um rito da passagem, um festival lunar, um ritual de inspeção, e

apoiam o significado de psh como “passar por ou poupar”, outros a interpretam como

uma dança ritual ritmada retratando o Êxodo como uma dança lunar, ou como um rito de

fertilidade derivado dos saltos de fertilidade do longo dessas linhas interpretativas

(BOTTERWECK, 2011, pg. 1).

Para o pesquisador Mckenzie (1984) a palavra pesah tem um significado e

etimologia incertos. No uso, o termo parece designar tanto a Festa como a manducação do

animal no banquete festivo. O ritual do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de

Page 41: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

41

Êx 12,1-28, onde está relacionado com a Festa dos Ázimos. O rito consiste de um banquete

em que um cordeiro de um ano é comido. O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que

não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do

rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas

para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa

mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro

torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete

também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).

Segundo o pesquisador Champlin (2001) a Festa do pesah que aparece em

Deuteronômio, e observada anualmente por Israel, durante toda a sua marcha pelo deserto,

agora estava sendo transferida para o santuário central, em Jerusalém. Logicamente, isso

foi feito por antecipação, mas acabou ocorrendo na realidade. Yahweh-Elohim baixou as

ordens acerca da festividade original, determinando a sua transferência. E o único Deus (o

Eterno Todo-poderoso, de acordo com os nomes usados) foi honrado dessa maneira.

(CHAMPLIN, 2001, pg. 818).

O “pesah” (פסח) e o “pães ázimos” (מצות) estavam estreitamente relacionadas. Os

v.1-2 e 5-7 descrevem o pesah; os v.3-4,8 descrevem a Festa dos pães ázimos. Essas duas

Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor deles. A

importância do rito pascoal na celebração dos ázimos e a consequência subordinação dos

ázimos à pesah, mostram a importância crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De

rito familiar (Êx 12) passou a ser uma Festa nacional, no santuário central. Para

compreender a importância do pesah e a sua união com os ázimos, nada melhor do que

mostrar a estrutura de Deuteronômio 16,1-7:

A. Observa o mês de Abib, celebrando o Pesah em honra a Javé, teu

Deus, porque foi uma noite do mês de Abib que Javé, teu Deus, te fez sair

do Egito (v.1).

B. Imolarás para Javé, teu Deus o Pesah, gado grande e miúdo, no lugar

que Javé tiver escolhido para fazer habitar o seu nome (v.2).

C. Não comerás pão fermentado com estas vítimas. Durante sete dias,

comerás pão sem fermento... (v.3a).

D. Pão da aflição, pois saíste da terra do Egito ás pressas. Para que te

lembres assim durante toda a tua vida do dia em que saíste da terra do

Egito (v.3b).

E. Não se encontrará fermento durante sete dias, em todo vosso

território. E da carne que tiveres imolado á tarde do primeiro dia, nada

se guardará para a manhã seguinte (v.4).

O ponto central da estrutura de Deuteronômio é construir por duas referências à

saída do Egito e pela “historização” dos ázimos. A saída do Egito encontra também um

Page 42: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

42

eco importante nos marcos externos, que iniciam e concluem, além do motivo do pesah

(A/A’). Do pesah se fala em B/B’, onde são detalhadas as circunstâncias locais (em A/A’

se acrescentam as circunstâncias temporais). O rito do pesah é especificado em C/C’, ponto

de enlace entre o pesah e os ázimos (LÓPEZ, 2004, pg. 258).

Consequentemente o termo do v.2 “e sacrificarás pesah” (וזבחת פסח), este sacrifício

do pesah devia ser tomado de ambos, “o gado graúdo” (ר ק ”e o gado miúdo“ (וב ( צאן) ,

enquanto que para o pesah propriamente dita, indicava-se um cordeiro (Êx 12,3). A fim de

indicar o pesah de maneira mais específica, chamada de “a carne que sacrificares à tarde”

ערב) ר אשר תזבח ב .(מן־הבש

Os animais que podiam ser sacrificados vinham dos rebanhos: touros e carneiros

Nm 28.19,24. Em Lv 1,14-16 e II Cr 30,21-24; 35,7-9 encontramos as cinco espécies de

animais que podiam ser sacrificadas. O animal apropriado para os sacrifícios era o carneiro,

posteriormente, porém outros animais passaram a ser incluídos. O touro não substituiu o

carneiro conforme alguns têm pensado. O Targum de Jonathan distingue entre tipos de

oferendas. O animal original era o carneiro. Outras oferendas chegaram a acompanhar o

original, extraídas dos rebanhos, especialmente no caso das ofertas pacíficas (CHAMPLIN,

2001, pg. 819).

Outro termo a ser analisado aparece nos v.2, 7, 11, 15, 16 é “no local que escolher

YHWH” (קום אשר־יבחר יהוה ou seja, no local central de adoração que veio a substituir (במ

todos os demais santuários: o templo de Jerusalém. Quanto a essa “escolha”, feita por

YHWH, podemos ver Deuteronômio 12,5 que fala da centralização do culto.

Com o passar do tempo e com reformas feitas referente a Festa do pesah,

observamos que o livro da lei em Deuteronômio, centraliza o local de sacrifício do pesah

ao povo. Antes cada família fazia a sua celebração em suas casas, agora surge um novo

local. Esta mudança pode ser compreendida por meio da expressão “no local que escolher

YWHW teu Elohin”, (קום אשר יבחר יהוה אלהיך ;que está em Deuteronômio 14,22.24.25 (במ

15,19; 16,2.7.6.11.15.

O pesah deve ser mantido no lugar "YHWH optou por colocar nele seu nome" (v.

2b). O santuário originalmente mencionou a lei Deuteronômista, não é clara. Mas para

colocar em prática a lei, e manter o reino do sul, só podia ser entendido que foi construído

o templo de Salomão em Jerusalém.

Quando analisamos o v.6, 7 de Deuteronômio podemos ver que nesse santuário

deveria ir todo o povo de Israel para passar a noite do pesah (v.6, 7a), e na manhã seguinte,

aqueles que tomaram parte no culto deve ir "para as suas tendas", ou seja, para as suas

Page 43: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

43

casas (v.7b). Com isso, o pesah é convertido novamente, como nos tempos antigos, em

uma Festa de peregrinação, quando tinha sido uma Festa de família há séculos. Através da

ligação do pesah para o santuário de Jerusalém devia garantir a pureza do ritual e garantir a

unidade do povo. Sempre em tempos de dificuldades e perigos religiosos, tem sido

motivado a força na unidade e é levado a unidade a pensar em se fortalecer. No entanto,

para o legislador Deuteronômista, a prescrição não foi ditada simplesmente por interesses

práticos. A lei da unidade de culto surgiu como uma consequência lógica da unidade

dogmática fundamental do YHWH (HAAG, 1980, pg. 84).

Para o pesquisador Römer (2008) existe apenas um único santuário legítimo em

Israel49, que corresponde ao templo de Jerusalém, embora o nome da cidade nunca seja

mencionado nem no Deuteronômio nem em todo o Pentateuco50. A centralização do culto

implica também centralização da economia e da política, como mostram as leis coligidas

em Deuteronômio 13-18 (RÖMER, 2008, pg. 11).

Muitos pesquisadores acreditam e avançam a hipótese de que o pesah era uma

combinação de duas Festas independente no início e alegam que a união destas Festas foi

uma consequência da centralização no templo de Jerusalém, tornando uma tendência

prática cultual de restringir o lugar do culto sacrificial a um único santuário. É usado o

livro de Deuteronômio para comprovar esta tese. Baseado no relato em 2 Reis 23, também

é muito frequentemente assumir que a primeira tentativa de centralizar o culto e,

consequentemente o pesah foi levada a cabo pelo rei judaico Josias no sétimo Século

(PROSIC, 2004, pg. 35).

Para a pesquisadora Prosic (2004) os objetivos na centralização nunca se

materializaram completamente. Apesar de se tornar o templo de Jerusalém nunca se tornou

o único templo onde YHWH foi adorado. Mesmo tão tarde quanto o período de Hasmoneo,

lá era o templo em Leontopolis, enquanto os samaritanos, mesmo depois de João Hircanus

destruiu seu santuário, obstinadamente se recusou a reconhecer a autoridade de Jerusalém e

continuou a considerar o Monte Gerizim como o lugar escolhido por YHWH.

A controvérsia entre os israelitas de Jerusalém e os samaritanos em relação ao

templo que será o único lugar legítimo do culto sacrificial talvez derive do livro do

Deuteronômio que, embora insista em um único santuário, nunca dá realmente a

49 Nos livros bíblicos, “Israel” é muitas vezes um termo altamente ideológico que denota, a partir de uma

perspectiva interna, os verdadeiros adoradores da divindade Javé. 50 Esta discrição pode ser explicada primeiramente pela ficção literária do Deuteronômio, segundo o qual a

eleição de Jerusalém ainda não é efetiva, já que o povo não entrou na terra e ainda não existe uma monarquia

(davídica). De modo mais geral, Jerusalém nunca é mencionada no Pentateuco, apesar de algumas alusões

claras (Gn 14; Dt 12). Este fato permitiu que o Pentateuco se tornasse a Escritura Sagrada não só para os

judaítas, mas também para os samaritanos (para os quais o lugar santo de Javé é o monte Garizim).

Page 44: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

44

localização precisa do lugar ao qual o culto sacrificial deve ser restringida. Na maioria das

vezes, ele se refere a ele como o lugar que o Senhor escolherá para seu nome morar dentro.

Tanto quanto acadêmicos habitualmente conectar este lugar escolhido com Jerusalém, o

ponto é que ele poderia igualmente se referir ao Monte Gerizim ou para o assunto qualquer

outro local, enquanto o templo estiver na terra prometida e dedicado a Javé (PROSIC,

2004, pg. 36).

As leis do livro de Deuteronômio são instituídas para o futuro do povo de Israel.

Quando falamos da centralização do templo, podemos dizer que a centralização é parte de

um futuro idealizado e, como tal, uma projeção que ainda não foi encontrada e nesta

perspectiva, é possível afirmar que, em termos históricos, o Deuteronômio precedeu a

centralização. Por outro lado, é igualmente possível afirmar que, em vez de ser uma base

sobre a qual as disputas entre os judeus e os samaritanos foram construídas, a sua omissão

em Deuteronômio para nomear o templo central é um reflexo da realidade e pretende ser

um estratagema diplomático para dar legitimidade a Jerusalém e Gerizim.

Não podemos afirmar que o período histórico em que a legislação deuteronômica

foi formada. O que é importante é que, em termos de ligação da prática cultual a um único

lugar, há uma correspondência significativa entre a realidade da centralização e as

exigências do Deuteronômio.

Esse fato melhora significativamente a credibilidade deste livro bíblico como fonte

de informação. Nos tempos imediatamente antes da destruição do segundo templo, o culto

sacrificial, incluindo a observância das três principais Festas, foi realizado principalmente

no lugar escolhido de YHWH, como estipulado no Deuteronômio. Embora os efeitos da

centralização nas Semanas e Tendas dificilmente atraiam a atenção dos estudiosos, além de

reconhecer que eles deveriam ser realizados no santuário central, o Pesah é assumido como

tendo sido muito afetada por eles, tanto estrutural quanto funcionalmente. A linha básica do

raciocínio é que a observância do sacrifício do pesah, originalmente um rito familiar

realizado nas habitações familiares, foi transferido para o templo central, mudando assim o

seu caráter em uma Festa do templo de peregrinação.

A transformação levou à sua fusão com a Festa do pão Ázimos, o festival de

peregrinação original. Esta explicação baseia-se principalmente na diferença assumida na

apresentação do pesah nas fontes do Êxodo e nas comparações entre suas descrições e a do

Deuteronômio. As presumivelmente mais velhas fontes de E e J, que designam pão Ázimos

como uma Festa de peregrinação sem mencionar explicitamente o sacrifício do pesah, são

tomadas como prova de que este último não tinha o caráter de uma peregrinação antes da

Page 45: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

45

centralização, uma vez que o Deuteronômio exige explicitamente que ela seja realizada no

templo no primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos. É uma Festa de peregrinação que dura

sete dias e está marcada por dois traços distintivos, o sacrifício dos animais do pesah

(PROSIC, 2004, pg. 38). A centralização destas duas Festas tinha como objetivo fortalecer

o santuário central e unir o povo para uma adoração a YHWH no local onde ele havia

escolhido para ali morar. Embora o Deuteronômio não ser bem claro o local onde o povo

devia adorar a YHWH, podemos ver que os dados nos levar ao templo de Jerusalém como

local de adoração.

O termo “pão de aflição” (לחם עני) que aparece no v. 3, assim chamado por causa

de sua associação com os terrores sofridos por Israel no Egito. Esse pão era insosso, tal

como as experiências dos filhos de Israel no Egito tinham sido sem atrativos. Esse pão

fazia-os lembrar da servidão e das privações pelas quais tinham passado. A circunstância

que ditava que não se deveria comer pão levedado acabou florescendo como uma Festa

separada, a dos Pães Ázimos. Alguns estudiosos supõem que essa Festa já existisse, e

acabou historicamente associada à Festa da Páscoa.

O povo de Israel, ao sair apressadamente do Egito, não foi capaz de fermentar a sua

massa, o que mostra a conexão e as circunstâncias históricas. Mediante as celebrações

anuais, Israel relembrar-se-ia de como YHWH os tirara do nada para a redenção na Terra

Prometida. A Festa do pesah e do Pães Ázimos nunca deveria ser esquecida. Servia de

memorial permanente do Poder divino, que os tinha libertado. Ação de graças e fidelidade

eram atitudes requeridas da parte do povo israelita, nessas comemorações.

O termo do v.7 “e cozinharás” ( ובשלת), para o pesquisador Pfeiffer (2001), esta

palavra faz referência a refeição do pesah, são encontradas em Êx 12,1-51 e Deuteronômio

16,1-8. A palavra traduzida como "cozinhar" (לכן) aqui, é traduzido "ferver" em outros

lugares (por exemplo, Êx 23,19, 1 Samuel 2, 13-15). Isto parece contradizer Êx 12,9, onde

os israelitas são orientados a não comer o pesah cru ou cozido. No entanto, 2 Cr 35,13

relata a celebração de uma Festa do Pesah, durante o reinado de Josias, e explica que as

pessoas "cozidos (לכן) os sacrifícios do pesah sobre o fogo aberto. O uso de לכן com

"fogo" (שכ) sugere que a palavra poderia ser usada para falar de ferver ou assar.

As referências à pesah imediatamente depois dessa designação v.5, 6 também

devem ser tomadas evidentemente nesse sentido restrito. 7.a cozerás, e comerás criam sem

necessidade, um conflito com Êx 12,9, traduzindo o verbo beishal por “cozer”. Só a adição

específica de “com água” ou “em panelas” é que dá a este verbo hebraico o significado

definido de “cozer”. Quando definido mais extensamente com “no fogo”, significa

Page 46: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

46

claramente “assar”. Em si mesmo ele é ambíguo. Esta ambiguidade em Deuteronômio

16,7 deve-se ao fato que a maneira de se preparar o sacrifício para a refeição já fora

estabelecida e não era atual preocupação de Moisés (PFEIFFER, 2001, pg. 231).

Para Haag (1980) especificamente falando do "sacrifício" (zbh; v.2, 4, 6) do pesah,

enquanto prescrição yahvistica (Êx 12,21) e a prescrição sacerdotal no pesah (Êx 12, 6) fala

de imolar (sbt) o pesah. Certamente a imolação do animal pascal teve, desde os tempos

antigos, um caráter sacrificial. Mas enquanto o Código Sacerdotal insiste em eliminar o

caráter sacrificial, barramos na legislação Deuteronômica que empenha em insistir

precisamente, e enquadrar o pesah, através da sua ligação ao templo, no rito do culto de

sacrifício que foi feito lá. Era permitido cozinhar v.7 o pesah e, portanto divido em

pedaços, uma posição formal e determinada no Êx 12,9; Nm 9,12. Esta inovação foi

necessária porque a vítima sacrificial também tomou o gado maior (HAAG, 1980, pg. 85).

Levinson (2000) explica uma anomalia chave na lei do pesah em Deuteronômio

16,1-7, restringindo o sacrifício de animais do rebanho: "Vá, selecione genealógicos

animais para suas famílias e abate o cordeiro pascal" (Êx 12,21). Também fornece

instruções de reparação específica.

Devem comer o cordeiro na mesma noite, comerão assado no fogo, com pães

ázimos e ervas amargas. Não coma dele cru, nem cozido em água, mas sim assado sobre o

fogo, com a cabeça, pernas e órgãos internos (Êx 12,8-9). Deuteronômio diverge a partir

destes requisitos, tanto na especificação do animal para abate e nos meios para a sua

preparação:

ם׃ ו ש ן שמ ה לשכ ר יהו קום אשר־יבח ר במ ק אן וב יך צ ה אלה סח ליהו חת פ וזב

E sacrificarás páscoa a YHWH teu Elohim gado miúdo e gado graúdo no local que

escolher YHWH para fazer residir nome dele ali (Dt 16,2).

ל לאה לכת קר וה נית בב ו ופ יך ב ה אלה ר יהו ר יבח קום אש כלת במ וא יך׃ובשלת

E cozinharás e comerás no local que escolher YHWH teu Elohim nele e virarás pelo

amanhecer e andarás para as tuas tendas (Dt 16,7).

Para explicar a divergência do Deuteronômio, Levinson oferece esta sugestão: a

extensão do foco do cordeiro pascal a qualquer animal de rebanho ou bando está em

consonância com forte interesse do Deuteronômio no rebanho, e rebanho como estando

entre as bênçãos típicas da terra (Dt 7,13; 12,6). O vocabulário da lei em geral, incluindo a

"ferver" em vez de "assar", está de acordo com esta tendência no livro. Pesah é, portanto,

sujeita às exigências da construção teológica do Deuteronômio (LEVINSON, 2000, pg.

277).

Page 47: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

47

No v. 8 encontramos o termo “assembleia festiva” (עצרת). O sétimo dia da Festa

era dia de assembleia solene a YHWH te Elohim (aseret). O termo é usado para descrever

reunião de gente para celebração de ritos públicos de qualquer espécie, especialmente no

sétimo dia do pesah ou no oitavo dia da Festa das Tendas, considerada uma reunião de

grande número de pessoas com determinado objetivo (THOMPSON, 1982, pg. 188).

Outra expressão que encontramos no v. 8 e deve ser destacada é “seis de dias

comerás ázimos” (שת ימים תאכל מצות essa festividade prolongava-se por seis dias, e o (ש

sétimo dia era um sábado santo em que havia uma assembleia solene. Em outros trechos é

ordenado que o pão ázimo deveria ser comido por sete dias (Êx 12,1). Alguns

pesquisadores tentam harmonizar a questão, supondo que o ato de comer continuasse no

sétimo dia, e que esse dia também fosse um sábado santo, um dia de solene convocação.

Mas outros supõem que, em uma época posterior, houvesse algumas diferenças quanto ao

modus operandi da Festa. Nas diferenças podem surgir desenvolvimentos históricos

(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).

7.2 A FESTA DAS SEMANAS (V.9-12)

“9. Sete semanas enumerarás para ti, desde o começar foice no cereal em

pé começarás para anunciar sete semanas. 10. E farás Festa de semanas

a YHWH, teu Elohim, a medida de a oferta voluntária de a tua mão que

deres conforme te abençoar YHWH teu Elohim. 11. E te alegrarás

perante YHWH, teu Elohim, tu, e teu filho, e tua filha, e teu escravo, e tua

serva, e o levita que nos teus portões, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva

que em teu interior no local que escolher, YHWH, teu Elohim, para fazer

residir nome dele ali. 12. E recordarás que escravo foste em Egito, e

guardarás e farás os estatutos os este”.

Nesta Festa chamada “Festa da Semana” em hebraico (בעות é considerada uma (חג ש

das ocasiões mais importante do povo de Israel por muitos séculos, provavelmente sua

origem fosse uma festividade agrícola dos cananeus. Ela marcava o início da colheita de

cevada, na primavera, no mês Abib, o primeiro mês do ano Judaico.

A Festa das Semanas, como as outras grandes Festas anuais, era uma ocasião de

alegria em que os adoradores participavam de uma refeição cerimonial ou Festa sacrifical

perante YHWH, na presença de Deus (Dt 12,7; 14,26; 26,11). A presente Festa, como as

outras, foi idealizada para a participação da família, dos servos, dos levitas, dos

estrangeiros residentes, dos órfãos e das viúvas. Era, afinal das contas, apenas uma

Page 48: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

48

participação nas bênçãos abundantes com que Deus abençoara seu povo (THOMPSON,

1982, pg. 189).

Vamos analisar algumas expressões que estão nos versos 9-12, sobre a Festa das

Semanas. Uma das expressões que aparece duas vezes com ênfase no v. 9, no início e no

fim do verso é a expressão “sete semanas” (בעת deste verso é tirado o nome da ,(שבעה ש

Festa “Festas das Semanas”.

Ela prescreve não uma data fixa, mas apenas uma data relativa, respeitando as

condições climáticas e regionais do espaço geográfico. A Festa das Semanas apesar de ter

esse nome ela é celebrada durante um dia, no quinquagésimo dia, após as sete semanas

seguintes ao início da colheita dos cereais (KRAMER, 2006, pg. 49). Esta expressão “sete

semanas” (בעת utilizado duas (ספר) utilizada para abrir e concluir o v. 9, o verbo ,(שבעה ש

vezes, impondo à narrativa um caráter de obrigatoriedade e periodicidade a uma Festa que

tem um determinado tempo para começar (FRIZZO, 2009, pg. 90).

A expressão que aparece no v.10 "ofertas voluntárias da tua mão" (נדבת ידך), a

palavra assim traduzida não aparece em nenhum outro lugar do Antigo Testamento. A

equivalente em aramaico significa “suficiência”. A ideia pode ser de uma oferta

proporcional ao nível social. A derivação da palavra é obscura. Isso permitiu que as

pessoas trouxessem ofertas de acordo com o quanto o YHWH havia dado a cada um (Dt

16,17). Este é um princípio universal de doar (2 Co 8-9).

A ideia é a de uma oferenda suficiente ou proporcional. Mas, a porção apropriada

foi deixada a cargo da consciência iluminada de cada um (Êx 34,20). Os v.16 e 17 fazem

essa ordem aplicar-se a todas as três Festas. Os sacrifícios oferecidos nessa ocasião eram

dois pães a serem movidos diante do Senhor, sete cordeiros, um touro jovem e dois

carneiros como oferta queimada, juntamente com as ofertas de cereal e de libações. O

sentido deste versículo é mais bem esclarecido no v.17. Os hebreus foram instruídos a dar

uma oferta voluntária de acordo com a medida em que YHWH lhes tivesse dado a colheita.

Não foi fixada nenhuma porcentagem específica, mas esperava-se a liberalidade (Dt 15,14).

Talvez Paulo tivesse em mente este versículo, ao afirmar qual o padrão cristão quanto às

dádivas (I Co 16,2). As doações devem ser de acordo com a prosperidade de cada um; e

entendemos que toda prosperidade é conferida pelo Senhor (Tg 1,17). Dentro do contexto

cristão, uma porcentagem de menos de dez por cento é uma proporção pequena

(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).

Outra expressão que aparece em quase todo o bloco é “Festa” (חג) significa mais

que “festival”; inclui a ideia de uma peregrinação religiosa. De fato, deriva de um verbo

Page 49: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

49

que significa “fazer uma peregrinação”, “fazer uma jornada a um objetivo de

reverência”. A palavra árabe haj descreve a sagrada peregrinação dos muçulmanos a

Meca. A palavra “Festa” (חג) originalmente significa “saltar” e, por sua vez, é a Festa

alegre com dança e instrumentos musicais. O termo é, particularmente, revelado para as

três grandes Festas de peregrinação: Pesah, Semanas, Tendas (Pesah, Chavuot, Sukkot, Dt

16,16), quando o povo subia a Jerusalém a pé cantando os belos salmos graduais).

O termo “oferta voluntária” (נדבת), encontrado nos v.10 e 17 permitiu que as

pessoas trouxessem ofertas de acordo com o quanto o Senhor havia abençoado cada um (Dt

16,17). Este é um princípio universal de doar (2 Cor 8-9). Podemos afirmar que esta

expressão está ligada ao termo encontrado também no v.10 “conforme te abençoar YHWH

teu Elohim” ( רכך יהוה כאשר אלהיך יב ), salientamos que a oferta vai ser conforme a pessoa

foi abençoada por YHWH e que ela não precisa doar nada mais.

Para o pesquisador Sanchez (2002) a expressão do v.11 “e te alegrarás perante

YHWH” ( מחת יהוה לפני וש ) é um convite a uma festividade. A Festa é nada mais do que

uma ocasião de desestruturar o cotidiano de modo controlado, com a finalidade de

reconstruí-lo. No desejo de construir o novo, entrelaçam-se realidades religiosas e sociais.

O v.11 é um destaque significativo, ao acentuar certa interação, envolvendo YHWH, a

família e demais grupos sociais. Apresenta uma interação entre o ser divino e demais

setores sociais. Na esfera familiar: “tu” (ה na ;(ובתך) ”e a tua filha“ (ובנך) ”e teu filho“ (את

esfera social: “e o teu escravo” (ועבדך) “e a tua serva” (תך וי) ”e o levita“ (ואמ e o“ (והל

estrangeiro” (והגר) e o órfão (והיתום) “e a viúva” (נה אלמ .que vive entre tuas portas (וה

Tal analogia, envolvendo relações feitas na esfera do culto e do social, assinala que

diante de YHWH, prevalece o vínculo de irmandade (SÁNCHEZ, 2002, pg. 297).

No v.12 “recordarás que escravo foste em Egito” ( ים וזכרת כי־עבד יית במצר ה ), temos

aqui a grande motivação do povo de Israel. YHWH interessa-se pelo bem-estar do povo de

Israel. Ele demonstrou isso ao libertar Israel da servidão no Egito, um tema repetido por

cerca de vinte vezes no Deuteronômio. Israel sofrera perseguições e privações quando

estava no Egito. Mas, YHWH foi generoso e propiciou um escape, e em seguida, um

território pátrio, a saber, a herança estipulada dentro do Pacto Abraâmico (Gn 15,18). Essas

bênçãos deveriam atuar como motivos para o povo de Israel mostrar-se generoso com os

membros menos afortunados e dependentes da sociedade.

A referência a escravidão do Egito no v.12 não tem a função de fundamentar a

Festa das Semanas, como ocorre no caso do pesah, mas a de explicar por que se deve

convidar para a Festa as classes sociais mais necessitadas.

Page 50: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

50

7.3 A FESTA DAS TENDAS (V.13-15)

“13. Festa de as tendas farás para ti sete de dias, em teu recolher da tua

eira e do teu lagar. 14. E te alegrarás em tua Festa tu, e teu filho, e tua

filha, e teu escravo, e tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a

viúva que nos teus portões. 15. Sete de dias Festa a YHWH, teu Elohim,

no local que escolher YHWH, porque te abençoará YHWH, teu Elohim

em todo teu produto e em todo feito de tuas mãos, e serás certamente

alegre”.

A descrição contida em Deuteronômio 16,13-15 é mais rica em detalhes do que

Êxodo 23,16. A celebração deveria começar após a colheita dos produtos da eira e do lagar,

sendo observada no Templo por sete dias num clima de muita alegria e festividade. Em tal

ritual, deveriam estar presentes além da família e dos empregados, o levita, o estrangeiro, o

órfão e a viúva que pertence a mesma cidade do ofertante. Como a Festa era celebrada em

Jerusalém, significa que as pessoas mencionadas acompanhavam o celebrante (DIAS,

2004, pg. 22).

A frase do v.13 “Festa das Tendas” (חג הסכת) é tradicionalmente conhecida como a

Festa dos Tabernáculos. As "tendas" (BJ51) agora é preferível às "tabernáculos"

tradicionais (KJV52, ARC53), à luz do significado do termo שס cabana, cabine”, mas“ ה

"cabines" são frequentemente associadas com feiras de artesanato em Inglês americana

contemporânea. Mais claro é o termo Inglês "abrigos" (NIV54), mas isso não reflete a

natureza temporária do arranjo de vida. Esta Festa foi uma comemoração das andanças, dos

israelitas depois que saíram do Egito, sugerindo que a tradução como "abrigos

temporários" é mais apropriado.

A Festa dos tabernáculos ou das tendas, também chamada de “Festa da colheita”,

tal como a Festa dos Pães Ázimos, durava uma semana, isto é, do dia quinze ao vinte e um

do sétimo mês. Era seguida por um oitavo dia de descanso (Lv 23,36-39). O nome

Tabernáculo reflete o costume de habitarem em tendas durante o festival, o que servia de

lembrete da vida no deserto. O nome “colheita” indica que esta Festa era o ponto alto do

ano da agricultura, quando as uvas e os cereais já tinham sido colhidos (PFEIFFER, 2001,

pg. 232).

51 Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2010. 52 Bíblia King James Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica Ibero-Americana, 2013. 53 Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. 54 Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional Português-Inglês. São Paulo: Editora Vida, 2003.

Page 51: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

51

Nos calendários mais antigos esta é a Festa da armazenagem. Devia ser celebrada

quando houveres recolhido da tua eira e do teu lagar (v.13), ao tempo da colheita durante

o outono, nos meses de setembro e outubro.

Gratidão pela colheita e alegria festiva eram as características marcantes desta

Festa, o povo se reunia no templo de Jerusalém para comemorar a boa colheita que tiveram

naquele ano.

7.4 RESUMO DAS PEREGRINAÇÕES ANUAIS (V.16-17)

“16. Três vezes no ano aparecerá todo o teu de qualidade masculina

perante YHWH, teu Elohim, no local que escolher, em Festa de os

ázimos, e em Festa de as semanas e em Festa de as tendas, mas não

aparecerá perante YHWH vazio. 17. Cada um conforme a dávida de

mão, conforme a benção de YHWH, teu Elohim que deu para ti”.

Quando analisamos os dois últimos v.16 e 17 da nossa perícope percebemos que

Deuteronômio simplesmente repete a antiga lei, mas agora ela é aplicada às peregrinações

até o santuário central, em Jerusalém, o lugar escolhido por YHWH (Dt 12,5). O termo no

v.16 “aparecerá todo o teu de qualidade masculina” (אה כל־זכורך significa que todos ,(יר

tinham a obrigação de comparecer, excetos os cegos, as crianças, as mulheres, os servos, os

enfermos e os idosos que não podiam suster-se de pé.

Para o pesquisador Champlin (2001) uma pergunta bem interessante pode ser feita

no v.16 da perícope. Por que só os homens? Será que isso reflete o papel submisso das

mulheres? Certamente o antigo Oriente não era igualitário, mas as mulheres eram honradas

dentro de Israel (por exemplo, Provérbios 31).

Ela acredita que existem duas boas possibilidades: Primeira; as mulheres eram

necessárias em casa em um ambiente pecuário e agrícola, especialmente se os homens

estavam ausentes. Segunda; a prática dos homens só teria visivelmente marcado adoração

de Israel como diferente do culto da fertilidade dos cananeus, onde eram esperadas as

mulheres (CHAMPLIN, 2001, pg. 820).

O v. 16 faz uma observação que ninguém deveria ir de mãos vazias “e não

aparecerá perante YHWH vazio” ( אה את־פני ם יהוה ולא יר יק ר ) refere-se a obrigação de

realizar os sacrifícios apropriados e levar as ofertas voluntárias adequadas. Cada

participante deverá levar suas ofertas segundo a bênção divina. A generosidade deve ser

exercitada tanto para com YHWH como também para pessoas necessitadas.

Page 52: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

52

O modo de conclusão, no v.16 surge pela última vez a participação das Festas,

destacando novamente que o lugar de sua celebração é o santuário central. Entre os

aspectos distintivos destas Festas ressalta-se o fato de serem Festas de peregrinação.

O calendário festivo de Deuteronômio encerra-se convidando todos a levar suas

oferendas, de acordo com a benção que o Senhor lhes dá. Ninguém deve apresentar-se ao

santuário de mãos vazias (Dt 16,17). A generosidade não deveria ser exercitada somente

com as pessoas necessitadas, também com o Senhor, seu Deus. Era está a responsabilidade

que o Senhor esperava dos corações agradecidos dos seus filhos, que não apenas

reconhecessem o Senhor, mas que fossem agradecidos também pelos dons do seu amor

(LÓPEZ, 2004, pg. 283).

Os v.16 e 17 são versículos de resumo que se aplicam as três principais Festas

judaicas. Estas Festas permitiam que Israel desenvolve-se um senso de comunidade

nacional.

8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS

O perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertence a um bloco narrativo, chamado

“livro da lei” e neste livro encontramos as três principais Festas judaicas que estão sendo

estudadas “pesah, ázimos, semanas e tendas”. A perícope está dentro do segundo discurso

feito por Moisés.

Ao analisarmos a estrutura de Deuteronômio 16,1-17, chegou-se a uma divisão em

quatro partes que acreditamos ser a mais correta. Na primeira parte temos a Festa do Pesah

e a Festa do Ázimo nos v.1-8, na segunda parte temos a Festa das Semanas que está nos

v.9-12, na terceira parte a Festa das Tendas v.13-15 e o resumo final chamado de

peregrinação anual nos v.16-17. Esta divisão é a mais apropriada para o nosso estudo e foi

utilizada para a análise do conteúdo.

A perícope de Deuteronômio 16,1-17 para Von Rad (2006) é composta por uma

sequência litúrgica de vários eventos. No fato de a sequência litúrgica de um evento cúltico

ter que servir como moldura para uma grande obra literária teológica, podemos ver uma

vez mais, quanta dificuldade Israel encontrava para desenvolver teoricamente conteúdos

teológicos a partir de si mesmo. Esse estilo Deuteronômico, caracterizado pela infatigável

repetição de uma típica combinação de palavras, tem do princípio ao fim uma característica

exortativa e constitui uma palavra que se dirige ao interlocutor para conquistá-lo e cercá-lo

com juras carinhosas (RAD, 2006, pg. 216).

Page 53: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

53

Vimos também que nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos

livros mais contestados com respeito à sua autoria mosaica. Porém temos evidência que o

escritor do livro de Deuteronômio foi Moisés. Chegamos à conclusão que a datação do

livro é de VII a.C. e a maioria dos pesquisadores concorda com esta ideia.

Aprofundamos nosso estudo analisando o conteúdo da perícope de Deuteronômio

16,1-17, suas frases, estrofes, termos e seus vocábulos, levamos em conta o contexto

histórico e social do povo de Israel. A Festa do pesah e a Festa do ázimos (v.1-8),

observamos que a palavra pesah tem um significado e etimologia incertos. No uso, o termo

parece designar tanto a Festa como a manutenção do animal no banquete festivo. O ritual

do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de Êx 12,1-28 onde está relacionado com

a Festa dos ázimos. O rito consiste de um banquete em que um cordeiro de um ano é

comido. O cordeiro deveria ser assado inteiro, e aquilo que era comido no banquete devia

ser queimado no dia seguinte. Esta Festa era considerada familiar onde o chefe da casa

reunia a família para a participação da Festa e tinha como seu principal benefício, a

proteção da família e do rebanho.

A Festa mencionada em Deuteronômio 16,1-8 modifica a prática do ritual, a

imolação do cordeiro torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado somente no

templo de Jerusalém, o banquete também deve ser comido no templo. Agora com a Festa

do pesah centralizada no templo, o chefe da família deveria se deslocar anualmente para o

templo para o grande dia festivo.

A Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos estavam estreitamente relacionadas.

Estas duas Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor

deles. A importância do rito pesah na celebração dos ázimos mostram a importância

crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De rito família (Êx 12) passou a ser uma

Festa nacional, no santuário central.

A Festa das Semanas (v.9-12) é considerada uma das ocasiões mais importantes do

povo de Israel por muitos séculos, sua origem é uma festividade agrícola. Ela marca o

início da colheita na primavera no mês chamado de Abib considerado o primeiro mês do

ano judaico. A Festa das semanas, como as outras grandes Festas anuais, era uma ocasião

de alegria em que os adoradores participavam de uma refeição cerimonial ou Festa

sacrifical perante YHWH. A presente Festa, como as outras, foi idealizada para a

participação da família, dos servos, dos levitas, dos estrangeiros residentes, dos órfãos e

das viúvas. Era, afinal das contas, apenas uma participação nas bênçãos abundantes com

que YHWH abençoará o seu povo com uma boa colheita.

Page 54: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

54

Ao analisarmos a Festa das tendas (v.13-15) observamos que a celebração desta

Festa deveria começar após a colheita dos produtos da eira e do lagar, sendo observada no

templo de Jerusalém por sete dias num clima de muita alegria e festividade. Em tal ritual

deveria estar presente além da família e dos empregados, o levita, o estrangeiro, o órfão e a

viúva que pertence à mesma cidade de oferta. Como a Festa era celebrada em Jerusalém,

significa que as pessoas mencionadas acompanhavam o celebrante, o chefe da família. A

gratidão pela colheita e alegria festiva eram as características marcantes desta Festa, o povo

se reunia no templo para comemorar a boa colheita que tiveram naquele ano.

Após a análise dos dois últimos versos 16 e 17 da nossa perícope, percebeu-se que

Deuteronômio simplesmente repete a antiga lei, mas agora ela é aplicada ás peregrinações

até o santuário central em Jerusalém, o lugar escolhido por YHWH. Sendo assim, podemos

dizer que os últimos versos 16 e 17 são versículos de resumo que se aplica as três

principais Festas judaicas. Estas Festas permitiam que Israel devolve-se um senso de

comunidade nacional.

CAPÍTULO II

2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS SEGUNDO OS LIVROS DO

Page 55: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

55

ÊXODO, NÚMEROS E LEVÍTICO

2.1 INTRODUÇÃO

No capítulo anterior fizemos uma análise exegética histórico-literária do texto de

Deuteronômio 16,1-17, iniciando pela tradução literal, analisando as variantes textuais e as

anotações massoretas. Na sequência foi realizada a análise da formação do Deuteronômio,

já dividido em frases e estrofes no momento da tradução, depois a datação e o lugar

vivencial do Deuteronômio, com seus autores e leitores. Em seguida fizemos a análise do

conteúdo de Deuteronômio 16,1-17, que é uma seção mais extensa, analisando a

composição, o seu uso na liturgia e a interpretação do texto, investigando sua produção e

recepção pelos indivíduos da religião de Israel.

Este capítulo focará na análise das três principais Festas judaicas segundo os livros

do Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar as principais diferenças das Festas

judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Pretende-se identificar como as Festas

sofreram suas mudanças e se essas mudanças tiveram alguma influência na sociedade

judaica. Será realizada também uma breve comparação dos livros de êxodo, Números e

Levíticos com o texto de Deuteronômio 16,1-17 e identificar as mudanças que as Festas

sofreram.

2.2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS SEGUNDO: PESAH (ÊX 12,1-14; ÊX 23,18 E

34,25; LV 23,5-8; NM 28,16-25), SEMANAS (LV 23,15-22; NM 28,26-31), TENDAS

(LV 23,33-44; NM 29,13-39)

2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv

23,5-8; Nm 28,16-25)

2.2.2 Comparação de Êx 12,1-14 com Deuteronômio 16,1-8

“1. E falou o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo: 2.

Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro

dos meses do ano. 3. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos

dez deste mês, tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos

pais, um cordeiro para cada casa. 4. Mas, se a família for pequena para

um cordeiro, então, tome um só com seu vizinho perto de sua casa,

conforme o número das almas; conforme o comer de cada um, fareis a

conta para o cordeiro. 5. O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um

Page 56: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

56

macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras. 6. e o

guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da

congregação de Israel o sacrificará à tarde 7. E tomarão do sangue e pô-

lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o

comerem. 8. E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães

asmos; com ervas amargosas a comerão. 9. Não comereis dele nada cru,

nem cozido em água, senão assado ao fogo; a cabeça com os pés e com a

fressura. 10. E nada dele deixareis até pela manhã; mas o que dele ficar

até pela manhã, queimareis no fogo. 11. Assim, pois, o comereis: os

vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na

mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do SENHOR. 12. E

eu passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo primogénito na

terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses

do Egito farei juízos. Eu sou o SENHOR. 13. E aquele sangue vos será

por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por

cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu

ferir a terra do Egito. 14. E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-

eis por Festa ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por

estatuto perpétuo55”..

Ao estudarmos o tema pesah encontramos alguns textos relevantes para a nossa

pesquisa. O texto de Êx 12,1-14 é conhecido como o primeiro que fala sobre o pesah,

apesar de não aparecer a palavra pesah, temos o consenso que este texto é uma celebração

do pesah. Êx 12,1-14, o texto institui a tradição de uma Festa. Como em outros casos,

também essa celebração é uma adaptação de ritos anteriores ás vezes compartilhados com

outros povos, que agora tem um novo significado em virtude de uma nova experiência

histórica e religiosa.

Antes de entramos no texto é importante ressaltar que a cerimonia do pesah não foi

inventada por Moisés na saída do povo do Egito. O pesah era um ritual de pastores, para a

propiciação dos deuses, quando havia a mudança dos pastos de águas purificadoras do

inverno para o verão e também uma forma de proteção do rebanho e da família.

Andiñach (2006) afirma que sacrificar um animal e comê-lo no círculo da família é

um rito dos povos nômades e está vinculado à gratidão pela vida e pela provisão de

alimentos. Pintar com sangue partes das habitações concedia imunidade a doenças e

animais selvagens, de modo que esse rito se tornou sinal de redenção. A adoção desse rito

como uma Festa em Israel implicou que fosse vinculado à gratidão e não pelos alimentos,

mas pela libertação da opressão. O sagrado instala-se, portanto, no tempo cíclico e

manifesta-se por meio de objetos cotidianos, como um cabrito, o sangue e a refeição da

família (ANDIÑACH, 2006, pg. 154).

Como podemos ver no v.2 “Este mês será para vós o princípio dos meses; será o

55 Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009

Page 57: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

57

primeiro mês do ano” há uma nova ordenança a comemoração do pesah, indica que o ano

israelita tinha começado num tempo diferente, provavelmente com o mês mais tarde

chamado de tsiri, que corresponde ao nosso mês de setembro ou outubro. Como estamos

vendo no v.2 há uma mudança no calendário, o pesah que era comemorado no mês tsiri

passa a ser comemorado no sétimo mês “Abib” no calendário judaico, geralmente

corresponde aos meses de março-abril do nosso calendário. O texto de Deuteronômio 16,1

confirma esta alteração “Guarda o mês de Abib”, o início da Festa do pesah no templo

começava no mês de Abib, e com o passar do tempo este mês passou a se chamar Nisã. No

v.1 de Deuteronômio percebemos um propósito da inclusão do pesah entre os festivais da

primavera, um rito que era observado como um festival familiar, agora deve ser transferido

para o santuário em Jerusalém como parte da centralização total de todos os cultos (Dt

16,5).

O Êx 12,3 traz como deveria ser o preparo para a Festa do pesah, deviam começar

quatro dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). A palavra um cordeiro” é neutro se“ שה

aplica tanto a cordeiro como a cabrito, sem limitação de idade. Porém, a idade foi fixada

por estatuto (Êx 12,5) em um ano, e se podia escolher um cordeiro ou um cabrito. É

interessante observar que em geral os hebreus preferem cordeiro a cabrito.

Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o número de pessoas para quem

um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que todos os membros da família,

homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa. É interessante frisar que deveria

ser levado em conta a quantidade que cada um comeria, crianças e idosos não deveriam ser

contados da mesma forma que os homens em pleno vigor da vida. Consequentemente,

como podemos observar no v. 4 mais de duas famílias poderiam se unir para comemorar o

pesah.

Observou-se que o cordeiro deveria ser sem defeito e danos. Uma pessoa devota

ensinaria que o animal “cego”, “coxo” ou “enfermo” não seria aceitável na cerimônia do

pesah. Mais adiante (Lv 22,20-25) uma lei proibiu o uso de animais imperfeitos para o

sacrifício obrigatório, embora pudessem ser apresentados como oferta voluntária.

Para Botterweck (2011) as instruções para os rituais do pesah no livro Êx 12,1-14

aparentemente preservam uma tradição pré-sacerdotal de um evento de sacrifício comunal

(no nível do clã), que foi celebrado muito antes do surgimento das tradições historicizadas

do festival. É possível que Êx 12,1-14 seja um texto tardio, um velho costume que ainda

domina um pesah familiar, um tempo antes da existência do culto centralizado no templo

(BOTTERWECK, 2011, pg. 03).

Page 58: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

58

Um detalhe bem interessante está no v. 6 e confirma que a Festa do pesah era

familiar e que o chefe de cada família deveria oferecer o sacrifício por si mesmo e por sua

família. Somente o líder da família poderia intervir pela família oferecendo o cordeiro no

momento do ritual do pesah. A palavra ים ערב ה “crepúsculo” significa literalmente “entre

as duas tardes”. Essa disposição é explicada de duas formas. Alguns dizem que a primeira

“tarde” começa com o pôr do sol e a segunda com o fim do crepúsculo. O pesquisador

Eben Ezra considera que o crepúsculo durava aproximadamente uma hora e 20 minutos. A

ordem de Deuteronômio 16,6 “Ali sacrificarás o pesah à tarde, ao pôr do sol”, parece

apoiar esse ponto de vista. Já outros consideram que a primeira “tarde” se inicia quando o

sol começa a se declinar de forma visível desde o zênite, por volta das três horas da tarde, e

a “segunda parte”, com o começo do pôr do sol.

O rito principal, a imolação da vítima pascal, deve ocorrer conforme o texto de

Deuteronômio 16,6 “á tarde, ao pôr-do-sol”. Com a ordem de retornar para casa pela

manhã “sairá pela manhã e voltará ás tuas tendas (Dt 16,7) podemos constatar que este

verso fortalece o verso anterior de Deuteronômio 16. A celebração dura da tarde a manhã,

mas isso só era possível numa época em que o pesah ainda não era associado a Festa dos

ázimos, que durava “sete dias” (Êx 23,15).

A preparação da refeição pascal requer tempo e deveria estar pronta antes da meia-

noite. A palavra “tarde” em hebraico, bem como em outras línguas, não se limita ao tempo

depois do pôr do sol. Em vista disso, o costume de sacrificar o animal a tarde pode já ter

estado em uso muito antes de as autoridades eclesiásticas da era rabínica o terem aprovado

oficialmente.

Moisés cumpriu o desígnio e instruiu as famílias hebreias a sacrificar um cordeiro,

molhando o umbral de suas portas com o sangue do animal abatido. Isso seria um sinal do

povo de Deus para que, quando o anjo da morte passasse pelo Egito, preservasse a vida do

primogênito dos lares marcados, como fora escrito em Êx 12,1-14. O Pesah é um memorial

e uma ordenança permanente. Os Judeus celebram o pesah hoje praticamente da mesma

forma, em substância, como celebravam no tempo de YHWH, porque eles preservam suas

tradições com tenacidade e fidelidade (MCMURTRY, 2012, pg. 17).

No mesmo livro, o anjo que fora enviado por YHWH arrebatou a vida de todos os

primogênitos do Egito, desde os animais até o filho do próprio faraó. Após esse ocorrido, o

faraó, temendo sofrer outras retaliações da ira daquele Deus, decidiu libertar o povo de

Israel, um fato que desencadeou o êxodo desse povo à terra de Canaã.

Page 59: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

59

A justificativa de como seria construído o fundamento da realização do pesah e a

preservação da data e sua comemoração na posteridade, emerge da memória desse processo

de libertação. Na citação anterior do livro do Êxodo, é possível encontrar a prescrição para

que essa festividade se torne eterna, posteriormente, no mesmo capítulo, a seguinte

determinação:

“Portanto guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para

sempre. E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos

dará, como tem dito, guardareis este culto. E acontecerá que, quando

vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o

sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel

no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o

povo inclinou-se, e adorou” (Êx 12,24-27).

Para o pesquisador Willi-Plein (2001) julga-se comumente que a própria lei pascal

Deuteronomista (Dt 16,1-8) difere da praxe suposta em Êx 12 em pelo menos dois pontos.

Em concordância com as demais fontes, também o Deuteronômio fala de uma pesah de

YHWH; conta, portanto no fundo, com a possibilidade de outras celebrações pascais, e vê o

sentido do pesah já vista na comemoração do êxodo. Nesse contexto os pães ázimos são

interpretados como “o pão da miséria”, que lembra a pressa da saída da casa da escravidão

(Dt 16,3). Também aí, portanto, os pães ázimos não pertencem a Festa dos ázimos, mas

essencialmente o pesah. Também o texto Deuteronomista acentua que da carne nada pode

ficar até de manhã, embora com uma curiosa combinação das datas. Mas, sobretudo é

inculcado que o abate não pode ser feito lá onde mora o povo, mas somente no santuário

central (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 112).

Diferente de Êx 12, Dt 16,2 prevê para o pesah “gado miúdo e gado graúdo”, mas

talvez se trate de imolações secundárias. Outra discrepância segundo Willi-Plein (2001)

está na determinação (Dt 16,7) de que a carne deve ser “cozida e comida”, o que contradiz

claramente o que determina em Êx 12,8, a saber, que a carne deve ser comida depois de

“assada ao fogo” (e em hipótese nenhuma cozida em água: Êx 12,9), bem de acordo com a

forma primitiva de preparar carne, possivelmente também para diferenciá-la claramente da

carne sacrifical (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 113).

Já o pesquisador Dias (2006) fala que o livro do Deuteronômio, ao legislar sobre a

celebração do pesah, como memorial eterno = Zikkaron, (“para te recordares assim

durante toda a tua vida”, Dt 16,1-7), já impõe a Festa do pesah como uma anamnese em

que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental” cristã através da repetição

vivencial do acontecimento salvífico do Êxodo do Egito (2 Rs 23,21-23; Esd 6,19-22; Ez

Page 60: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

60

45,18-20). O pesah não é apenas um acontecimento do passado histórico de Israel, a sua

historicização litúrgica tornou-a centro de gravidade e eixo de todo o culto ao longo do ano

litúrgico judaico, dando-lhe dimensão anamnésica-litúrgica-escatológica (DIAS, 2006, pg.

31).

Em Êx 23,18 e 34,25 encontramos a passagem pertence ao “Livro da Aliança, e o

segundo chamado livro do “Decálogo cultual”. Certamente, em Êx 23,18 “Não oferecerás

sangue do meu sacrifício com pão levado, nem ficará gordura da minha Festa durante a

noite até amanhã” o pesah não aparece de uma forma clara; no entanto, a analogia com Êx

34,25 “Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com pão levado; nem ficará o sacrifício

da Festa do pesah da noite para a manhã”, mostra um paralelo com o pesah.

O nome desta Festa tem sua origem nos matstsôt que é a forma plural da raiz

matsats, que designa um pão sem fermento, geralmente preparado ás pressas para refeições

e hospedes inesperados. Na ocasião do êxodo, esta foi a refeição dos israelitas. A partir de

então, os matstsôt passaram a ser comidos anualmente junto com ervas amargas na

celebração do pesah (DIAS, 2004, pg.16).

Embora o livro da aliança seja considerado como a mais antiga coleção de livros de

Israel, a legislação sobre o culto Êx 23,18 deve ser de procedência posterior. É como

inclusão de um editor que, com fácil vocabulário, pretendia completar determinações do

livro da aliança de Êx 34,25 pertencente a antiga lei do culto (HAAG, 1980, pg. 32).

Para Hagg (1980) Êx 34 ocupa uma situação particular em especial no v. 25. A

norma diz assim na redação tradicional: “Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com

pão levedado. Não ficará a vítima da Festa do pesah da noite para a manhã”.

As palavras pão levedado e Vitima em Êx 34,25 deram-lhe a oportunidade de se

reunir com prescrição de Deuteronômio 16,3 de modo que a determinação de

Deuteronômio 16,4b “também da carne que sacrificares á tarde, no primeiro dia, nada

ficará até pela manhã”, acrescenta a Êx 34,25a “Não oferecerás o sangue do meu

sacrifício com pão levado; nem ficará o sacrifício da Festa do pesah da noite para a

manhã”. Assim, é certo que tão Êx 34,25b foi inserido quando Deuteronômio 16,4b ainda

estava imediatamente para 16,3a. Porque em Deuteronômio 16,1-8, o v.3, 4a. e 8, são

exibidos como um extra adicionado, que pretende introduzir os seus direitos antigos, a

Festa dos pães ázimos, renegado pelo Deuteronômio. A introdução de Deuteronômio 16,

4b após Êx 34,25 foi realizada, portanto, entre a codificação da ordenança do pesah

Deuteronômico e sua ampliação através v.3, 4a. e 8 (HAAG, 1980, pg. 34).

2.2.3 Comparação de Lv 23,5-8 com Deuteronômio 16,1-8

Page 61: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

61

“5. No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a Páscoa do

SENHOR; 6. E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Asmos do

SENHOR: sete dias comereis Asmos; 7. No primeiro dia, tereis santa

convocação; nenhuma obra servil fareis; 8. Mas sete dias oferecereis

oferta queimada ao SENHOR; ao sétimo dia haverá santa convocação;

nenhuma obra servil fareis”.

Ao analisarmos o texto de Lv 23,5-8, percebemos que ele faz parte do Código de

Santidade e em certos lugares claramente mostra as marcas das tradições cultuais do Velho

Testamento que são preservadas neste corpo de leis. Se colocamos este Código de

Santidade no período imediato pré-exílico ou exílio precoce, os sinais desse período tardio

são inconfundíveis. Podemos ver que os v. 4-8 estão estabelecendo primeiro que a Festa do

pesah deve ser realizada no décimo quarto dia do primeiro mês. O pesah elemento aparece,

portanto, independentemente (como em Deuteronômio 16,1) ao lado ou antes da Festa dos

pães ázimos. A última Festa segue o pesah e começa no dia décimo-primeiro do primeiro

mês, dura uma semana inteira com grandes dias de celebração. Durante a semana as

oferendas queimadas devem ser apresentadas.

A legislação do pesah em Lv 23,5-8 pressupõe a celebração do pesah no santuário

central. Embora Lv 23,5-8 pega em Deuteronômio 16,1-7 a Festa do pesah e a Festa dos

pães ázimos e as associam juntas e em sequência, podemos identificar e distinguir em Lv

23,5-8 e Deuteronômio 16,1-7 duas observâncias separadas. Não temos nenhuma grande

diferença do texto de Lv 23,5-8 para os outros textos que falam sobre o pesah e a Festa dos

pães ázimos.

Na Festa dos pães Ázimos, que conforme Lv 23,6 era celebrada “aos quinze dias

deste mês”, só deveriam ser comidos os matsot por um período de sete dias. Este cuidado

em se comer apenas pães sem fermento significava a ausência de qualquer elemento da

colheita anterior, ou seja, deixava-se de lado, neste período, os alimentos feitos com

produtos da antiga colheita, que constituíam a mesa tradicional de todos os dias. O texto de

Deuteronômio 16,3 reafirma que o povo teria que comer apenas pães sem fermento durante

os sete dias da Festa. A Festa dos ázimos é associada à Festa do pesah, essas duas

celebrações são normalmente consideradas uma só Festa.

Percebe-se na referência sobre a Festa do pesah, ao inserir nesta celebração, a

prática dos ázimos e os textos da tradição sacerdotal (Lv 23,5-8; Nm 26,16-25; Êx 12,1-20)

falam de duas Festas sucessivas. Enquanto que o pesah, segundo a instituição de Êx 12,1-

14, é celebrada na lua cheia do décimo quarto dia do primeiro mês do ano (primavera), a

Festa dos Ázimos começa no dia seguinte à celebração do pesah, portanto, o décimo quinto

Page 62: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

62

dia do mês determinado, sendo celebrada por sete dias (MALATY, 2005, pg. 231).

O v.7-8 fala de uma santa convocação “no primeiro dia, tereis santa convocação;

nenhuma obra servil fareis; 8 mas sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao

sétimo dia haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis”, percebe-se que o

primeiro e o último dia da Festa eram de santa convocação, no quais não se devia fazer

nenhuma obra servil. Quando comparamos com o texto de Deuteronômio 16,8 percebemos

que só temos a santa convocação no último dia da Festa, diferente de Lv 23,7-8 que fala da

santa convocação no primeiro e no último dia da Festa.

2.2.4 Comparação de Nm 28,16-25 com Deuteronômio 16,1-8

“16. Porém, no primeiro mês, aos catorze dias do mês, é a Páscoa do

SENHOR. 17. E, aos quinze dias do mesmo mês, haverá Festa; sete dias

se comerão pães asmos. 18. No primeiro dia, haverá santa convocação;

nenhuma obra servil fareis; 19. Mas oferecereis oferta queimada em

holocausto ao SENHOR, dois bezerros e um carneiro, e sete cordeiros de

um ano; ser-vos-ão eles sem mancha. 20. E a sua oferta de manjares

será de flor de farinha misturada com azeite; oferecereis três décimas

para um bezerro e duas décimas para um carneiro. 21. Para cada

cordeiro oferecereis uma décima, para cada um dos sete cordeiros; 22.

E um bode, para expiação do pecado, para fazer expiação por vós. 23.

Estas coisas oferecereis, além do holocausto da manhã, que é o

holocausto contínuo. 24. Segundo este modo, cada dia oferecereis, por

sete dias, o manjar da oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR;

além do holocausto contínuo, se oferecerá isto com a sua libação. 25. E,

no sétimo dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis”.

Os últimos dos principais textos sobre a Festa do pesah se encontra em Nm 28,16-

25. Quando analisamos o v.16 vemos que a única oferta especial ordenada para o pesah, 14

de Abib, era o cordeiro pascal em si (Êx 12,6). Esta Festa não fora observada desde que

Israel partira de Cades-Barneia. De acordo com o v.17 a Festa do Pasah ocorria na tarde do

dia 14 (Êx 12,6). O décimo quinto dia era o da Festa dos pães ázimos (Lv 23,6). O cordeiro

pascal era imolado no final da tarde do dia 14 e comido com pães ázimos e ervas amargas

depois do pôr do sol, isto é, já no dia 15. É interessante observar que em Dt 16,1-8 não

encontramos em nenhum momento que os pães ázimos teriam que ser comidos com ervas

amargas. Isso não significa que o povo não comia mais as ervas amargas, provavelmente o

deuteronomista não quis entrar nos detalhes do que o povo deveria comer e foi mais

objetivo falando apenas no pão sem fermento.

No livro de Nm 12,21-23 não dão qualquer indicação de que o ritual do pesah seja

associado a mudança de pastagens. Segundo Nm 12,22, este ritual foi realizado à noite.

Mais tarde datando da noite do dia 14/15 do primeiro mês (Lv 23,5, Êx 12,6) poderia estar

Page 63: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

63

lembrando que o ritual noturno do pesah ocorreu durante a noite da primavera e lua cheia,

os dias e noites da lua cheia eram considerados perigoso durante o mês da primavera

(Provérbios 7,20). A lei sacrificial em Nm 28,16-25 desenvolve amplamente o tema da

expiação já elevado no Êx 12,1-14. O objetivo do pesah na separação de Israel entre as

nações (Êx 12,12-13), bem como sua função de expiação recentemente adquirida é para a

pureza do culto, para a exclusão dos incircuncisos do pesah.

Um detalhe bem interessante e que precisamos comentar é que no v. 19 “mas

oferecereis oferta queimada em holocausto ao SENHOR, dois bezerros e um carneiro, e

sete cordeiros de um ano; ser-vos-ão eles sem mancha”, encontramos uma orientação de

quantos bezerros, carneiros e cordeiros teriam que ser sacrificados, enquanto em Dt 16,2

“Sacrificarás para Yahweh teu Deus uma páscoa, ovelhas e bois...” não fala da

quantidade, mas sim que ovelhas e bois precisam ser sacrificados. O livro de Deuteronômio

é mais objetivo com as ordenanças.

2.2.5 Textos sobre a Festa das Semanas (Lv 23,15-22; Nm 28,26-31)

2.2.6 Comparação de Lv 23,15-22 com Deuteronômio 16,9-12

“15. Depois, para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o

dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras

serão. 16. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinquenta

dias; então, oferecereis nova oferta de manjares ao SENHOR. 17. Das

vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de

farinha serão, levedados se cozerão; primícias são ao SENHOR. 18.

Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem mancha, de um ano, e

um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua

oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de cheiro

suave ao SENHOR. 19. Também oferecereis um bode para expiação do

pecado e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico. 20. Então, o

sacerdote os moverá com o pão das primícias por oferta movida perante

o SENHOR, com os dois cordeiros; santidade serão ao SENHOR para o

sacerdote. 21. E, naquele mesmo dia, apregoareis que tereis santa

convocação; nenhuma obra servil fareis; estatuto perpétuo é em todas as

vossas habitações pelas vossas gerações. 22. E, quando segardes a sega

da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem

colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o

estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”.

Segundo o pesquisador McMurtry (2012) a Festa das semanas, também conhecida

como Festa da colheita, shavout e, mais popularmente como pentecostes, faz parte do

antigo calendário israelita. O autor comenta que tentar abordar as origens dessa celebração,

Page 64: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

64

seria uma tarefa extremamente exaustiva, já que a mesma data da época dos cananeus e

outros povos do Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações. A

Festa hebraica é chamada de Festa do shavout. Shavout significa “semanas” e se refere às

semanas que estão entre as Festas das primícias e do pentecostes. Esse é um tempo de

celebração pelo fato de Deus ter dado a lei aos judeus, por isso também é chamada de Festa

da entrega da lei, ou época da entrega da lei. É costume nesse período consumir somente

laticínios, porque as palavras da torá são comparadas ao sabor do leite e do mel na língua

(MCMURTRY, 2012, pg. 69).

Contudo, o autor comenta que é possível presumir que o costume da realização da

Festa das semanas, foi originalmente pertente aos cananeus, por três principais razões: os

agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no

período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham

a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como semi-nômades nas montanhas

centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o

povo israelita se tornou agricultor sedentário.

Conforme McMurtry (2012) no antigo testamento o processo litúrgico mais

desenvolvido relacionado a essa Festa, se dava em Lv 23,15-22, contudo, em Dt 16,9-15 é

possível notar uma liturgia que reflete um período distinto e, como consequência, um

ambiente novo de celebração. Sendo assim, relacionando o nome da Festa, pentecostes não

foi denominação própria da segunda Festa do antigo calendário, no antigo testamento, essa

Festa era, inicialmente, designada por diferentes nomes, como:

Festa da colheita ou sega – em hebraico “hag haqasir”, já que trata do

período da colheita de grãos como trigo e cevada, sendo que Festa da

colheita fora seu nome original;

Festa das semanas – em hebraico “hag xabu’ot”, cuja denominação se dá no

período em que dura a celebração, isto é, durante sete semanas, já que se

inicia cinquenta dias após a páscoa, devido à colheita da cevada, enquanto

que seu encerramento se dá sete semanas depois, na ocasião da colheita do

trigo;

Dia das primícias dos frutos – em hebraico “yom habikurim”, cuja

denominação é justificada no fato de que há a entrega de uma oferta

voluntária a Deus, dos primeiros frutos que são colhidos da terra na saga.

Possivelmente a oferta das primícias ocorria em cada uma das três principais

Page 65: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

65

festividades. Sendo que na páscoa havia a entrega da ovelha nascida naquele

ano, na segunda uma porção dos primeiros grãos e na terceira os primeiros

frutos; e,

Festa de pentecostes – cuja razão para a denominação em questão pode ser

diversa, como o fato de que nos últimos trezentos anos do antigo testamento,

os gregos assumirem o poder do mundo, impondo sua língua, que se tornou

popular entre os judeus. Em hebraico a denominação pode ser “hag

haqasir” ou “hag xabu’ot”, mas suas denominações originais se perderam e

foram substituídas, predominantemente por pentecostes, que significa

justamente cinquenta dias depois da páscoa. De forma que, devido ao poder

do império grego, possivelmente o nome em questão se tornou popular a

partir de então.

No livro de Lv 23,15-22, encontramos a segunda Festa do ano - correspondente à

arranjo do calendário cultual - é a Festa das semanas. Esta seção trata primeiro de como

calcular o tempo em que essa Festa deve ser realizada lugar (v.15 e 16). Sete semanas ou

cinquenta dias devem ser contados o dia seguinte ao sábado (isto é, a partir do primeiro dia

da Festa dos pães ázimos). Mais uma vez a semana do festival é aberta e fechada com duas

grandes assembleias solenes.

Analisemos verso por verso. No v.16 observamos que esta Festa acontecia 50º dia

após a apresentação do molho da oferta movida, no dia 16 de abib, ou seja, no 6º dia do

terceiro mês no fim de maio ou começo de junho. Era conhecida como já vimos de “Festa

das semanas ou Festa das primícias” (Êx 34,22). Depois que o molho da oferta movida era

apresentado no começo da colheita, antes que a nova produção pudesse ser usada, o

pentecoste marcava o fim da estação da colheita, embora alguns grãos fossem guardados

para o cultivo nas montanhas mais altas.

Era o reconhecimento feliz da dependência de Israel em relação a YHWH como

doador de tudo. Nesta ocasião, não se apresentava um molho das primícias, mas dois pães

de flor de farinha levedados e cozidos, com sete cordeiros, um novilho e dois carneiros (Lv

23,17-18). Eram oferecidos também um bode como oferta pelo pecado e dois cordeiros

como oferta pacífica (v.19). Na celebração do pesah, nenhum fermento podia ser comido

ou encontrado na casa dos israelitas. No pentecoste, dois pães levedados (v.17) deviam ser

apresentados.

O v.22 repete a instrução dada em Lv 19,9-10. Parece apropriado que uma atenção

Page 66: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

66

especial fosse dada ao pobre e ao estrangeiro em um tempo em que havia o bastante para

todo tempo da colheita. As dívidas, sacrifícios e ritos que serão oferecidos durante a Festa

das semanas são enumerados em detalhe. A seção conclui então com a demanda: "E

quando ceifa a colheita da tua terra, não colherás os cantos de teu campo, nem ajuntarás

a colheita da tua colheita; os deixarás para os pobres e para os estrangeiros: Eu sou o

Senhor vosso Deus” (v.22).

Já o v.24 fala que no primeiro dia do sétimo mês era um sábado, quando ocorria

“santa convocação”. Nesse dia as trombetas soavam pois, o dia da expiação estava

próximo e os primeiros nove dias do mês eram de preparação para esse solene dia. O

primeiro dia do sétimo mês do calendário religioso era o ano novo, o primeiro dia do

calendário civil. No primeiro dia do sétimo mês a grande Festa é iniciada por um ponto

característico "sopro de trombetas". Nenhuma obra pode ser feita, e os holocaustos têm que

ser apresentados a YHWH.

No dia das primícias, em outras palavras, naquele dia em que deveriam ser trazidas

oferendas apropriadas de ação de graças tornava-se um sábado ou descanso, e que nenhum

trabalho servil poderia ser feito durante o período (Lv 23,21).

2.2.7 Comparação de Nm 28,26-31 com Deuteronômio 16,9-12

“26. Semelhantemente, tereis santa convocação no dia das primícias,

quando oferecerdes oferta nova de manjares ao SENHOR, segundo a

vossa Festa das Semanas; nenhuma obra servil fareis. 27. Então,

oferecereis ao SENHOR por holocausto, em cheiro suave, dois bezerros,

um carneiro e sete cordeiros de um ano; 28. E a sua oferta de manjares

de flor de farinha misturada com azeite: três décimas para um bezerro,

duas décimas para um carneiro; 29. Para cada cordeiro uma décima,

para cada um dos sete cordeiros; 30. Um bode, para fazer expiação por

vós. 31. Além do holocausto contínuo e a sua oferta de manjares, os

oferecereis com as suas libações”.

Outro texto que fala sobre a Festa das semanas está em Nm 28,26-31. O v. 26 fala

sobre “o dia das primícias” esta é uma expressão incomum. Também é chamada de “Festa

da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho” (Êx 23,16) e “Festa das semanas”, na

época de ceifar os primeiros frutos da colheita do trigo (Êx 34,22; Dt 16,10 e Lv 23,15-21).

Outra frase bem interessante no v.26 “oferta nova de manjares” tem como

principal característica no seu dia a oferta nova de manjares. Consistia de dois pães

chamados de “primícias ao YHWH” (Lv 23,17). Eles eram feitos do primeiro trigo a

Page 67: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

67

amadurecer. Junto com os pães, eram oferecidos, um novilho, dois carneiros, dois cordeiros

como oferta pacifica e um bode como oferta pelo pecado (Lv 23,18-19).

Além da Festa das semanas, o antigo calendário israelita apontava uma terceira

festividade a ocorrer no período outonal, entre setembro e outubro. Essa Festa também era

denominada de Festa da colheita, mas na sega das frutas, sobretudo da uva, figo e tâmara.

A bíblia hebraica denomina essa Festa de Festa dos tabernáculos ou das Tendas

(MCMURTRY, 2012, pg. 70).

O autor retoma dizendo que, ao passo em que o pesah era uma festividade caseira, a

Festa das semanas era uma celebração popular, realizada na roça ou nos locais de cultivo

do trigo e da cevada. Posteriormente, essa celebração foi transportada aos locais de culto,

especialmente no templo de Jerusalém, de forma que diversos relatos bíblicos não apontam

de forma clara a ordem em que acontecia o culto, mas presume-se que algumas etapas da

liturgia eram:

A cerimônia era iniciada quando a foice era lançada sobre as espigas, de

forma que era necessário respeitar a recomendação do direito de respigar

dos pobres e estrangeiros;

A festividade prosseguia com a peregrinação para o local de culto;

O povo trabalhador se reunia com suas famílias, amigos e estrangeiros, de

forma que a cerimônia em questão se denomina “santa convocação” e tinha

como premissa o fato de que, durante aqueles dias não era permitido que

ninguém trabalhasse, já que esse período era considerado solene, para

desfrute da alegria e oferta de graças pela proteção de Deus;

No local da Festa o feixe de trigo ou cevada era apresentado em oferta a

Deus, na qualidade de doador da terra e fonte de todo o bem;

Os participantes da Festa se alimentavam de uma parte das ofertas

apresentadas pelos agricultores,

Durante as sete semanas da Festa, outros objetivos eram incluídos na celebração,

pois para além da ação de graças pela terra frutífera, tratava de consolidar a memória da

libertação dos escravos no Egito e cuidar para a obediência dos estatutos divinos

(MCMURTRY, 2012, pg. 71).

Sendo assim, o autor aponta que o pentecostes celebra a libertação e o descanso no

tempo perfeito, ocorrendo exatamente no tempo do fim da colheita da cevada – cuja data é

Page 68: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

68

6 de Sivam. A Festa das semanas é a atzeret, isto é, a Festa que marca o final da temporada

do pesah. Algumas das principais características dessa festividade é o fato de que era alegre

e solene, a celebração tinha dedicação exclusiva a YHWH, a festividade era aberta a todos

os produtores, seus familiares, pobres, levitas e estrangeiros.

Todo o povo que se apresentava diante de YHWH, reconhecia e afirmava seu

compromisso de fraternidade e responsabilidade pela promoção de laços comunitários,

além do povo hebreu, era bem-vindo nessa festividade. A ação de graças era pelo dom da

terra e pelos estatutos divinos. Por se tratar de uma convocação, ninguém trabalhava e a

celebração também se dava sobre o ciclo da vida, cujo reconhecimento da palavra de Deus

se dava na origem da vida, da semente à árvore, do fruto ao alimento.

A Festa das semanas, como uma celebração ocorrer cinquenta dias após a páscoa,

também trata de relembrar a chegada ao Monte Sinai, local em que Moisés recebeu de

YHWH o dom da lei. Também como se estende por sete semanas, daí surge o nome “Festa

das semanas”.

O pesquisador Araújo (2015) por sua vez, explica que a terra e o trabalho eram

elementares à vida humana no antigo testamento, de forma que esses elementos

impossibilitavam pensar no homem sem essas realidades. No livro de Genesis 1-2, há a

descrição de que tudo fora criado por Deus e tudo se encontra sob domínio e cuidado do ser

humano.

Ainda com a capacidade de criação, também havia o extasiar-se perante à

grandiosidade e beleza universais. A primeira resposta humana à maravilha de Deus era

sentir algo extraordinário, divino, sobrenatural que pudesse dar sentido a tudo o que forma

o universo. Assim, o povo de Israel enxergava o universo como algo vindo da bondade de

Deus (ARAÚJO, 2015, pg. 325).

O autor prossegue dizendo que o povo de Israel, consciente de que todas as coisas

são criação de um único YHWH e que tudo se encontra sob seu domínio, também se

conscientizou de que tudo era um dom divino. A terra para o plantio, a chuva para fazê-lo

crescer, o fruto que nasce da terra, tudo é uma benção de YHWH para o povo eleito. Por

outra perspectiva, a estiagem também era encarada como castigo de YHWH.

A Festa das semanas era, para o povo de Israel, o momento de dizer à YHWH sobre

sua gratidão a tudo que é sua obra, demonstrar que o povo da aliança se sentia agradecido

por ser lembrado, tratado com carinho e ter terra e chuva para cultivar

Conforme o pesquisador Araújo (2015) o Salmo 65 apresenta uma imagem clara da

relação de Deus e seu povo, abençoando os trabalhos, uma ação que é própria e divina, isto

Page 69: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

69

é, a prova de que Deus atua junto ao homem, participando de seus esforços e do trabalho

humano. Assim, se para os cananeus e outros povos vizinhos era preciso um culto de

fertilidade, em uma relação de subordinação às forças de uma divindade atuando por meio

das forças da natureza, o povo de Israel tinha a participação ativa de Deus no trabalho

humano (ARAÚJO, 2015, pg. 326).

O autor comenta que a torá não reprime a autonomia do homem, mas sim, lhe

permite uma plena liberdade. O livro sagrado é, de fato, para o povo da aliança, um fruto

vindo diretamente das mãos de YHWH para ensinar seus filhos, garantir-lhes a vida, a

presença de YHWH entre seu povo. A torá é para esse povo, o fruto mais valioso dado por

YHWH aos homens, sobretudo ao povo de Israel, que recebeu das mãos do próprio YHWH

o fruto da liberdade. O autor comenta que o relato que narra a descida do espírito santo é

relacionado diretamente à revelação do Sinai – com o vento, o fogo e as línguas. De forma

que no evento do pentecostes cristão, novamente Deus demonstra seu amor, abrindo-o a

todos os povos. O bom fruto é oferecido pelo espírito santo, que estabelece na terra a lei do

amor no coração da humanidade. O autor comenta que, em sua origem mais antiga, a Festa

das semanas era campestre, no término da colheita de cereais (ARAÚJO, 2015, pg. 327).

Esse momento era importante na vida dos trabalhadores dedicados ao cultivo da

terra, de forma que não era possível deixar passar sem recordar a YHWH, sem exteriorizar

sua gratidão. Dessa forma, os produtos, devido às graças divinas, puderam ser colhidos do

solo, as primícias eram separadas e ofertadas a YHWH. Por essa razão também essa

celebração se denomina Festa das primícias.

No período do templo, a Festa das semanas era caracterizada pelas peregrinações,

em que grandes grupos de agricultores vinham de todas as províncias do país, a celebração

era animada e pitoresca. Os peregrinos vinham de longe e faziam longas caminhadas e em

grupos eles se dirigiam a Jerusalém. Cada pessoa trazia a sua oferta em cestos, as primícias

de trigo, cevada e frutas. Esses produtos que atribuíram renome ao solo de Israel. Quando

chegavam a cidade santa, eram acolhidos pelos sacerdotes, adentravam o templo e faziam a

oferta de seu cesto aos sacerdotes. A cerimônia era completada com a evocação de hinos e

toques de harpa, além de outros instrumentos musicais.

Ao relatar sobre os costumes da Festa das semanas, o autor aponta que os três dias

precedentes a ela, são exclusivamente dedicados ao estudo da Torá e outros textos

sagrados. A população se prepara para receber a Festa, como os israelitas no deserto, que se

preparavam, por ordem de Moisés, para o “terceiro dia”. Costumava-se passar a primeira

Page 70: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

70

noite da festividade em vigília, entregando-se a debates sagrados com amigos (ARAÚJO,

2015, pg. 330).

O pesquisador McMurtry (2012) aponta que a Festa das semanas, tanto no antigo

quanto no novo testamento, era uma celebração cosmopolita, o que significa que reunia

muitas pessoas de todas as raças e condições sociais. A variável entre os relatos é a

quantidade de participantes do evento, pois no ato dos apóstolos, relata-se que uma

multidão se reunia em Jerusalém, ao passo que o relato de Deuteronômio, diz respeito a um

público bem menor (MCMURTRY, 2012, pg. 80).

O autor comenta que a fraternidade era motivada entre agricultores na Festa das

semanas, tanto de acordo com os textos de Levítico quanto de Deuteronômio. Porém, essa

fraternidade é apresentada, de forma plena, na reunião que é relatada no livro atos dos

apóstolos, por meio do termo grego “koinonia comunhão”. Tal comunhão entre

trabalhadores do campo que, na prática, formaram o mutirão para a colheita do trigo.

2.2.8 Textos sobre a Festa das Tendas (Lv 23,33-44; Nm 29,13-39)

2.2.9 Comparação de Lv 23,33-44 com Deuteronômio 16,13-15

“33. E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: 34. Fala aos filhos de Israel,

dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos

Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias. 35. Ao primeiro dia, haverá

santa convocação; nenhuma obra servil fareis. 36. Sete dias oferecereis

ofertas queimadas ao SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa convocação e

oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; dia solene é, e nenhuma

obra servil fareis. 37. Estas são as solenidades do SENHOR, que

apregoareis para santas convocações, para oferecer ao SENHOR oferta

queimada, holocausto e oferta de manjares, sacrifício e libações, cada

qual em seu dia próprio; 38. Além dos sábados do SENHOR, e além dos

vossos dons, e além de todos os vossos votos, e além de todas as vossas

ofertas voluntárias que dareis ao SENHOR. 39. Porém, aos quinze dias

do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra,

celebrareis a Festa do SENHOR, por sete dias; ao dia primeiro, haverá

descanso, e, ao dia oitavo, haverá descanso. 40. E, ao primeiro dia,

tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos

de árvores espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o

SENHOR, vosso Deus, por sete dias. 41. E celebrareis esta Festa ao

SENHOR, por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas

gerações; no mês sétimo, a celebrareis. 42. Sete dias habitareis debaixo

de tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; 43. para que

saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em

tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.

44. Assim, pronunciou Moisés as solenidades do SENHOR aos filhos de

Israel”.

Page 71: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

71

A Festa das tendas, cabanas ou tabernáculos, é uma festividade em comemoração

da colheita de outono, considerada a terceira principal Festa judaica. O primeiro dia da

Festa das tendas é o 15º dia do sétimo mês do ano, de forma que a natureza do evento é

uma santa convocação cujo regime segue o mesmo de um sábado semanal com abstenção

das atividades normais do cotidiano, para a dedicação desse período em consagração de

Deus.

A ideia da Festa é a colheita dos frutos típicos da época, marcando a saída do ano

agrícola, ramos de palmeira e árvores frondosas, além de viver ao longo de sete dias das

tendas (sukkot), isto é, habitações provisórias. Esta festividade reserva diversos

significados, sendo um estatuto perpétuo a toda Israel, que recordava ao povo o êxodo do

Egito.

Conforme o pesquisador McMurtry (2012) a Festa das tendas era um tempo de

alegria e celebração que envolvia estrangeiros, de forma que cada sétimo ano, no ano

sabático, os escravos eram libertados, a torá era lida publicamente durante os sete dias nas

tendas. O templo de Salomão fora dedicado durante os dias dessa festividade, de forma que

Esdras e Neemias guardaram o festival. O autor comenta que existem dois principais rituais

que ocorrem durante a Festa das tendas, são eles:

a) Os sacerdotes tocavam os shofares durante os sete dias da Festa.

Quatro plantas eram usadas na celebração dos Tabernáculos: a Palma

(Lulav), o Salgueiro (Aravah) e ramos de Murta (Hadassa) que eram

amarradas em feixes utilizando um fio de ouro, referidos coletivamente

como Lulavs, porque o Lulav era a planta principal, e esse pacote era feito

com a mão direita; e na mão esquerda ia o etrog (a folha do limão), sendo

então movidas em conjunto e enquanto se curvavam, acenavam em seis

direções; para os quatro cantos da Terra, para cima e para baixo (para o

céu e para a Terra). [...]

b) No primeiro dia da Festa, 13 touros eram sacrificados, 12 no segundo,

11 no terceiro, diminuindo a cada dia até que sete touros eram

sacrificados no sétimo dia, perfazendo um total de 70 touros. Os rabinos

dizem que os 70 touros representavam as setenta nações do mundo. [...]

c) O sétimo dia foi chamado Hosha’Na Rabba que significa o Dia do

Grande Hosana (MCMURTRY, 2012, pg. 108).

O autor comenta que foi Ezequiel quem profetizou a restauração dessa festividade,

bem como fora Oséias que mencionou em suas profecias o evento, contudo, a mais

específica referência relacionada a essa celebração, encontra-se na grande profecia

messiânica do milênio, quando YHWH já estiver governando com seus eleitos toda a

Terra. Zacarias profetiza que os gentios, durante o milênio, observarão as Festas de

Elohim, ou então serão punidos por Ele, caso não as observarem.

Page 72: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

72

McCurtry (2012) explica que no oitavo dia da Festa das tendas, o último grande dia

dessa festividade, também é um dia de santa convocação, de descanso. Esse dia era

denominado de assembleia de encerramento, de forma que foi Salomão quem observou a

convocação do oitavo dia e se despediu do povo no nono dia. Esdras também fez a

convocação de uma assembleia solene no oitavo dia (MCMURTRY, 2012, pg. 109).

Encontramos no livro de Lv 23,33-44 a ordem divina para a comemoração da Festa

das tendas, que expõe que aos quinze dias do sétimo mês, a Festa das tendas será dada ao

senhor durante sete dias. No primeiro deve ocorrer a santa convocação, nenhum trabalho

servil deve ser executado. Durante sete dias devem ser oferecidas ofertas queimadas ao

senhor, ao oitavo dia haverá outra santa convocação, as ofertas queimadas serão

apresentadas.

Este dia será solene, não será realizado nenhum trabalho servil, no primeiro dia

serão tomados os frutos das árvores, as folhas das palmeiras e ramos de árvores cheias de

folhas, durante sete dias o homem se alegrará perante o senhor. Esta Festa será celebrada

durante sete dias, todos os anos, seu estatuto é perpétuo pelas próximas gerações. Durante

sete dias os homens habitarão em tendas, para que saibam que Deus fez os filhos de Israel

nelas habitarem quando foram retirados do Egito.

A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava

no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da

antiga aliança. Esta é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,

de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais deste

evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo.

O pesquisador Dias (2006) explica que a Festa das tendas era celebrada no início do

mês de tichri, entre setembro e outubro, lembrando a estadia no deserto dos israelitas em

busca da terra prometida, cujas habitações eram tendas, já que viviam como peregrinos.

Esta Festa se tornou em uma data de alegria, a Festa da alegria da lei (simhat thorah), a

Festa histórica da aliança que aclama a Javé e libação da agua, que é celebrada de forma

popular em meio à natureza e com a evocação de cânticos e em tendas fabricadas com

ramos de árvores (DIAS, 2006, pg. 23).

Outra expressão que está no v. 34 é mês sétimo esse era um mês atarefado em

Israel. Nesse mês ocorria a Festa do Ano Novo ou das trombetas (v.23-25). Isso tinha

começo no primeiro mês do ano civil, que correspondia ao primeiro mês do ano religioso, o

mês de tishri, anteriormente chamado ethanim. Em seguida, havia também o dia da

Page 73: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

73

expiação, no décimo dia daquele mês (v.26-32). E havia a Festa dos tabernáculos, que

começava no dia quinze daquele mês.

Quando o povo de Israel já possuía casas permanentes, esta Festa prosseguiu. E

então o povo deixava suas residências confortáveis a fim de viver em tendas por sete dias.

Estas tendas eram feitas de ramos de árvores. Isso os israelitas faziam a fim de relembrar as

durezas por que passaram, mas também os cuidados divinos protetores e providenciais que

beneficiaram seus antepassados no deserto.

No v.35 há um chamado a uma “santa assembleia”. Ou seja, reuniões sagradas e

nacionais, de fundo religioso, cuja finalidade era o de ajudar o povo a unir-se em torno do

YHWH e sua nova maneira de viver. Essas eram as festividades de um povo separado:

auxílios à espiritualidade. O termo “assembleia” significa que o povo era chamado para

“reunir-se”. Esta Festa era uma ocasião de celebração e de alegria, com grande regozijo e

em meio a sonidos de trombetas, eles carregavam ramos de salgueiros ao interior do

templo, de tal modo que as pontas ficavam penduradas, formando uma espécie de cúpula.

As tendas eram preparadas para servirem de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo

habitava nelas em meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia

tirado o povo de Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário, embora então eles

não dispusessem de residências fixas. Os ramos também eram usados para fazer as tendas

nas quais os israelitas moravam durante a Festa.

Era, portanto, a ocasião mais feliz do ano, quando amigos e vizinhos renovavam o

companheirismo e moravam juntos em amor e harmonia. A Festa das tendas comemorava

o tempo em que Israel viveu em tendas no deserto durante os 40 anos de peregrinação (Dt

16,12-15).

No v. 36 a expressão “Ofertas queimadas” aparece por duas fezes neste versículo.

Nos dias do segundo templo eram oferecidos os seguintes holocaustos: treze touros, dois

carneiros, catorze cordeiros, com o acompanhamento das apropriadas ofertas de cereais,

além de uma libação e de um bode como oferta pelo pecado (Nm 29,12-39). Em seguida

vinham as ofertas pacíficas, os votos, as ofertas voluntárias. Enquanto esses sacrifícios

eram oferecidos, os levitas entoavam o hallel festivo, o que sucedia também nas Festas do

pesah e das semanas. O termo hallel significa “louvor”, referindo-se aos Salmos 113-118.

O processo era repetido em cada um dos sete dias da Festa, exceto pelo fato de que o

número de animais era menor. A tarde do segundo dia, naquilo que era chamado de Festa

secundária, bem como em cada uma das cinco noites sucessivas, era celebrado o “regozijo

do transporte de água”, no átrio do templo. Eram acesos quatro grandes candelabros de

Page 74: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

74

ouro, no centro do átrio e a luz que emanava deles tornava-se visível na cidade inteira. Em

torno dessas lâmpadas homens piedosos dançavam diante do povo cantando hinos e

cânticos de louvor. Também eram usados instrumentos musicais.

A expressão “sábados do Senhor” aparece no v.38, a referência é aos vários semi-

sábados que estavam envolvidos nas Festas (v.7,8,21,25 e 36), bem como ao sábado pleno

do dia da expiação (v.28), e naturalmente, devemos entender os sacrifícios levados a efeito

naqueles dias, e não meramente o descanso que era assim ordenado. Não há que duvidar de

que também estão em foco os sábados regulares, ou seja, os sábados semanais, os quais

tinham suas próprias exigências e sacrifícios.

Outros sacrifícios oferecidos eram as ofertas voluntárias e as ofertas voluntárias-

votivas, ou seja, aqueles tipos de ofertas voluntárias que incluíam alguma forma de voto,

bem como ofertas que expressavam um agradecimento piedoso. As Festas e jejuns

especiais, as celebrações anuais descritas neste capítulo, não excluíam os sábados

regulares, nem as várias outras formas de ofertas. As atividades comuns da vida podiam

continuar normalmente, além da observância dos dias especiais de Festa.

Os dois versículos anteriores 37 e 38 são gerais, referindo-se às várias festividades

anuais, bem como aos deveres religiosos regulares do sábado e seus sacrifícios. Todavia, os

v.39-43 fazem-nos voltar à Festa das tendas cuja descrição fora interrompida no v.36. Os

elementos do v. 39 são repetidos com base nos v.34-36, onde são oferecidas as notas

expositivas. Em adição a isso, porém, este versículo identifica a Festa em questão como

uma celebração agrícola, visto que ocorria por ocasião da colheita dos frutos da terra.

Estão em pauta a cevada, o trigo, o azeite e o vinho e os produtos usados em vários

tipos de oferenda. Por essa razão, a Festa é chamada de “Festa da colheita” (Êx 23,16;

34,22). Esta Festa ocorria durante o outono, quando a colheita já havia terminado. Quando

comparamos com Deuteronômio 16,13-16 observamos que o autor desconhece o acréscimo

do oitavo dia com santa assembleia, como encontramos em Levítico.

O texto faz referência ao caráter alegre da Festa e a obrigação da participação de

todos que moram na cidade indistintamente (filhos, servos, levitas, estrangeiros, órfãos,

viúvas) (Dt 16,16). A obrigação de apresentar-se diante de YHWH e a proibição de

apresentar-se com mãos vazias são mantidos (v.16-17), bem como o clima de alegria

familiar e social da Festa e sua centralidade em Jerusalém.

O v.40 fala que tal como os sacerdotes tinham de ser homens sem defeito (Lv

21,17) e os animais sacrificados precisavam ser perfeitos (Lv 22,20), assim também os

ramos usados durante essa Festa precisavam ser tirados de árvores formosas, precisavam

Page 75: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

75

ser ramos de árvores frondosas. Eram permitidos ramos de várias espécies vegetais:

palmeiras, salgueiros e ramos de várias árvores frondosas, para que formassem um dossel

espesso. Nos dias do segundo templo, as normas vigentes especificavam que, se os ramos

tivessem sido tirados de “árvores incircuncisas” (Lv 19,23) ou de primícias imundas (Nm

18,11-12), ou se exibissem alguma forma de defeito, seu uso estaria vedado. Os ramos de

árvores frondosas querem dizer árvores cuja folhagem cobre abundantemente os galhos.

A expressão “vos alegrareis” também encontrado no v. 40 leva o povo a se alegrar

pela colheita abundante, posteriormente, tanto por essa razão como também por estarem

lembrando a redenção de Israel da servidão egípcia, após o que os filhos de Israel

desfrutaram segurança e abundância no deserto, em face da providência de YHWH. Essa

alegria era expressa por meio de cânticos, danças, louvor, cerimonial música instrumental,

leituras, agitação de ramos etc.

Todos os israelitas, aqueles que estavam vivendo nos dias de Moisés, quando a

Festa foi instituída, como também aqueles que ainda nasceriam, em todas as gerações

subsequentes, deveriam continuar observando a Festa. O v.41 reforça a declaração sobre

estatuto perpétuo “vossos descendentes”. Ninguém deveria pensar que esta Festa se

limitava aos “tempos de Moisés”. O versículo aponta para todos os “israelitas nativos”.

As crianças pequenas, que não eram capazes de resistir aos rigores da vida ao ar livre, por

serem pequenas demais, estavam isentas, mas não as crianças em geral. A Mishnah

isentava as mulheres em geral (Mishnah Succah, cap. 2, sec. 6), mas todos os israelitas do

sexo masculino, mesmo que fossem pequenos, tinham de participar da Festa.

Já o v.43 vincula a Festa original da colheita com o êxodo histórico, quando Israel

foi livrado da servidão aos egípcios. A antiga Festa da colheita assumiu um novo

significado quando foi ligada à redenção de Israel do Egito. O agradecimento por um

suprimento abundante, da parte de YHWH, tornou-se um agradecimento específico pela

redenção e pela provisão e cuidados protetores que o povo de Israel desfrutou em sua

experiência no deserto.

O povo de Israel, que veio a ocupar segura e felizmente a terra de Canaã, deveria

relembrar-se de um período passado de provisões divinas especiais, quando seus

antepassados estavam em necessidade, em perigos diversos, estrangeiros no deserto,

quando YHWH cuidou deles.

O capitulo de Levítico 23 termina assegurando-nos que Moisés, o mediador entre

YHWH e o povo de Israel, havia cumprido o seu dever, tendo transmitido tudo quanto lhe

Page 76: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

76

fora ordenado dizer aos filhos de Israel (23,2). Cabia a Israel pôr em prática todos os

complicados estatutos e mandamentos que YHWH havia determinado.

2.2.10 Comparação de Nm 29,13-39 com Deuteronômio 16,13-15

“13. E, por holocausto, em oferta queimada, de cheiro suave ao

SENHOR, oferecereis treze bezerros, dois carneiros e catorze cordeiros

de um ano; ser-vos-ão eles sem mancha. 14. E, pela sua oferta de

manjares de flor de farinha misturada com azeite, três décimas para um

bezerro, para cada um dos treze bezerros, duas décimas para cada

carneiro, entre os dois carneiros; 15. E, para um cordeiro, uma décima,

para cada um dos catorze cordeiros; 16. E um bode, para expiação do

pecado, além do holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua

libação. 17. Depois, no segundo dia, doze bezerros, dois carneiros,

catorze cordeiros de um ano, sem mancha; 18. E a sua oferta de

manjares e as suas libações para os bezerros, para os carneiros e para os

cordeiros, conforme o seu número, segundo o estatuto; 19. E um bode,

para expiação do pecado, além do holocausto contínuo, a sua oferta de

manjares e as suas libações. 20. E, no terceiro dia, onze bezerros, dois

carneiros, catorze cordeiros de um ano, sem mancha; 21. E as suas

ofertas de manjares e as suas libações para os bezerros, para os

carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número, segundo o

estatuto; 22. E um bode, para expiação do pecado, além do holocausto

contínuo, e a sua oferta de manjares, e a sua libação. 23. E, no quarto

dia, dez bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano, sem

mancha; 24. A sua oferta de manjares e as suas libações para os

bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o número,

segundo o estatuto; 25. E um bode, para expiação do pecado, além do

holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 26. E, no

quinto dia, nove bezerros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano,

sem mancha; 27. E a sua oferta de manjares e a suas libações para os

bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o número,

segundo o estatuto; 28. E um bode, para expiação do pecado, além do

holocausto contínuo, e a sua oferta de manjares e a sua libação. 29. E,

no sexto dia, oito bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano,

sem mancha; 30. E a sua oferta de manjares e as suas libações para os

bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número,

segundo o estatuto; 31. E um bode, para expiação do pecado, além do

holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 32. E, no

sétimo dia, sete bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano,

sem mancha; 33. E a sua oferta de manjares e as suas libações para os

bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número,

segundo o seu estatuto; 34. E um bode, para expiação do pecado, além

do holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 35. No

oitavo dia, tereis dia de solenidade; nenhuma obra servil fareis; 36. E,

por holocausto, em oferta queimada de cheiro suave ao SENHOR,

oferecereis um bezerro, um carneiro, sete cordeiros de um ano, sem

mancha; 37. A sua oferta de manjares e as suas libações para o bezerro,

para o carneiro e para os cordeiros, conforme o seu número, segundo o

estatuto; 38. E um bode, para expiação do pecado, além do holocausto

contínuo, e a sua oferta de manjares, e a sua libação. 39. Estas coisas

fareis ao SENHOR nas vossas solenidades, além dos vossos votos, e das

vossas ofertas voluntárias, com os vossos holocaustos, e com as vossas

Page 77: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

77

ofertas de manjares, e com as vossas libações, e com as vossas ofertas

pacíficas”.

Nm 29,13-39 traz poucos detalhes diferentes da Festa das tendas abordado assim

em Lv 23,33-44, no entanto, vamos salientar alguns detalhes importantes no texto de Nm

29,13-39.

Os v.14 e 15 trazem a expressão “pela oferta de manjares”, esse tipo de ofertas

sempre acompanhavam os sacrifícios de animais. Cada novilho era acompanhado por três

quartas partes de um efa de farinha, cada carneiro, por duas quartas partes, e cada cordeiro,

por uma quarta parte de um efa de farinha, tudo misturado com as devidas quantidades de

azeite. Essa oferta também acompanhava as oferendas diárias e as oferendas de dia de

sábado, e também havia as libações normais. Ficava entendido que YHWH aspirava o

aroma agradável (v.13), e bebia do vinho vertido à base do altar de bronze, ou dos

holocaustos, deleitando-se e aceitando as oferendas.

No v. 16 nos é apresentado “um bode”, esse animal era sacrificado como oferta

pelo pecado. Quanto a esse símbolo (Lv 6,25 e 30 e 4,1-35) era oferecido em adição ao

holocausto contínuo dos sacrifícios diários (Nm 28,3-6). Ademais, visto que o dia caía em

um sábado, provavelmente também era feito em adição às oferendas próprias de um sábado

(Nm 28,9-10).

As oferendas dos seis dias que se sucediam a Festa que aparece no v. 17, eram as

mesmas que eram oferecidas no primeiro dia (29,12), exceto pelo fato de que a cada dia, o

número de novilhos diminuía, um por dia. Isso significa que no sétimo dia da Festa eram

oferecidos sete novilhos. Talvez essa redução gradual do número de novilhos oferecidos

simbolizasse a lua, em quarto minguante, ou talvez fosse um artifício para indicar o

número “sete”, o número da perfeição, no último dia. Por isso, no primeiro dia, treze

novilhos fossem oferecidos propositadamente. Alguns estudiosos veem nisso outro

simbolismo: a redução gradual do pecado diante de YHWH, à medida que o povo de

YHWH põe em prática a sua fé. Atingir simbolicamente o número “sete” é algo que fala

do sistema sacrificial que, finalmente, atingiu perfeição no único e perfeito sacrifício.

O v.19 é idêntico ao v.16, exceto pelo fato de que aqui está em pauta o segundo dia

da Festa. Todos os sacrifícios e ofertas de manjares eram os mesmos nos dois dias, mas um

novilho a menos era sacrificado. As oferendas diárias continuavam, as oferendas do sábado

também continuavam, tal como também as libações.

Esses quinze versículos (20-34) não nos proveem nenhuma informação nova além

daquelas que já nos tinham sido dadas até o v. 18. A única diferença é que, nos dias

Page 78: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

78

sucessivos, do “terceiro” ao “sétimo”, um novilho a menos era oferecido a cada dia, de tal

modo que, tendo começado com treze, no primeiro dia, sete novilhos eram oferecidos no

sétimo dia.

Podemos ver no v.35 que no “oitavo dia” termina o ciclo de sete dias da Festa das

tendas, havia uma celebração especial, uma espécie de apêndice da Festa. Estritamente

falando, porém, não fazia parte da Festa, mas era uma espécie de confirmação do ciclo que

acabara de ser devidamente observado. Era um dia de sábado.

Os v.36-38 mostram que os mesmos tipos de animais eram sacrificados, mas em

número menor. Apenas um novilho (em lugar de sete), apenas um carneiro (em lugar de

dois), apenas sete cordeiros (em lugar de catorze), mas igualmente um bode, e tudo

acompanhado pelas devidas ofertas de manjares e libações, tal como se fizera nos outros

sete dias.

Além das ofertas do sábado, havia aquelas outras descritas nestes três versículos,

associadas à Festa das tendas, além dos sacrifícios diários, que jamais eram

descontinuados, sem importar a grande matança que havia em ocasiões especiais.

Encontramos no v.39 um sumário e uma exortação à obediência. Este versículo

atuava como incentivo ao povo de Israel para que efetuasse todas as oferendas e sacrifícios

que tinham sido ordenadas como oferendas diárias, oferendas sabáticas, para as várias

festividades especiais que aparecem nos capítulos 28 e 29 de Números.

McMurtry (2012) explica que o significado espiritual desta festividade paira que, de

todas as menções feitas a ela, tanto no antigo quanto no novo testamento, existem símbolos

que envolvem seu significado espiritual para a contemporaneidade. A colheita significa que

a Festa das tendas é a última Festa judaica no ano litúrgico. A sétima Festa no sétimo mês.

A colheita representa o coroamento dos esforços em diversas atividades.

As tendas em si, representam a mudança a que se destinam os sete dias da Festa,

pois os israelitas saiam de suas casas para habitar em tendas, logo, as tendas devem ser um

período para que o indivíduo rompa com a rotina em que vive, entrando em algo novo em

Deus. A busca pela ruptura com condicionamentos mentais, tradições, buscando a inserção

de algo novo em YHWH. Além disso, as tendas representam os dias de restauração de

Jerusalém, como narra Neemias, que demonstra uma variedade espiritual. A tenda que é

construída para a festividade, representa essa habitação em que o homem é o ramo que

forma essa tenda, unidos pelo laço do amor e formando uma tenda única, um santuário que

deve servir de habitação a YHWH (MCMURTRY, 2012, pg. 110).

Page 79: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

79

Durante a Festa das tendas, segundo o autor, o monte do templo ficava totalmente

iluminado com tochas e lanternas, uma cena que é utilizada também por YHWH para

ilustrar um ensinamento: “No templo completamente iluminado Jesus declarou ser Ele

mesmo a verdadeira luz, e essa declaração é diretamente ligada ao versículo do Hallel

[...] salmo 118:27” (MCMURTRY, 2012, pg. 111).

O autor aponta que juntamente a todo o contexto da Festa das tendas, há um

constante lembrete sobre o número sete, o número da perfeição espiritual. O sukkot é a

sétima Festa celebrada por sete dias durante o sétimo mês do calendário religioso. Gênesis

aponta que YHWH descansou no sétimo dia após a criação, ao passo que a Festa das tendas

é uma época de júbilo. YHWH dá a alegria como mandamento, em Deuteronômio 16, 13-

14, bem como aponta que esse período deve ser de intensa alegria, que até mesmo a Terra

deve sentir a felicidade.

O autor também comenta que a Festa das tendas também é denominada de Festa do

ajuntamento ou seiva, pois exatamente como toda colheita é armazenada em um mesmo

lugar no tempo do sukkot – o que explica a razão para os judeus colocarem a palha do

milho nas portas das casas ao final de setembro – também a Festa da colheita celebra o

ajuntamento de todos os povos.

A Festa das Tendas era a última Festa agrícola celebrada durante o ano depois de

terminar a colheita (Êx 23,16; 34,22). Era uma Festa de peregrinação quando o povo de

Israel saia para adorar a YHWH no santuário central de Jerusalém (Dt 16,15). Era uma

Festa muito alegre a qual o povo expressava sua alegria e a gratidão a YHWH (Lv 23,40;

Jz 21,19-21; Dt 16,14). Durante a Festa, os israelitas moravam em tendas feitas de ramos

de palmeiras e ramos de árvores frondosas. A Festa é um memorial do tempo em que

YHWH fez Israel habilitar em tendas durante sua peregrinação no deserto depois da saída

do Egito.

Hoje em dia, quando o Templo não existe, os judeus as comemoram onde quer que

estejam e cumprem seus rituais não apenas para relembrar os eventos do passado, mas para

recordar as principais crenças judaicas. Uma particularidade importante de Deuteronômio

16 é a não prescrição de preceitos cultuais, tais como sacrifícios, em direta oposição com

Nm 29, que gira somente em torno de aspecto sacrifical da Festa. Característica da tradução

Deuteronomista é a ênfase no aspecto coletivo, da comunidade reunida, que se abre

também para o estrangeiro, diferente de Lv 23, que é restrito ao povo israelitas.

3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS

Page 80: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

80

As três principais Festas judaicas passaram por momentos diferentes e sofreram

transformações no decorrer de sua história. Neste capítulo foram realizadas comparações

dos textos de Êxodo, Números, Levítico que falam das três principais Festas judaicas com

o texto de Deuteronômio 16,1-17 e procuramos mostrar as mudanças que as Festas

sofreram com o passar do tempo.

Os primeiros textos analisados neste capítulo falam sobre a transformação da Festa

do pesah. Nota-se que a Festa do pesah a princípio era uma Festa familiar que tinha como

principal objetivo a proteção do rebanho e da família. É importante ressaltar que a

cerimonia do pesah não foi inventada por Moisés na saída do povo do Egito. A Festa do

pesah foi resgatada por YHWH e destinada somente a adoração a ele. Percebemos que as

suas transformações foram bem pontuais mais que tiveram uma importância muito grande.

Por exemplo, o mês de adoração que eram no mês de Tsiri passa para o mês de Abib no

calendário judaico.

A preparação da Festa deveria ser quatro dias antes e era usado um cordeiro ou

cabrito e não tinha limite de idade para o animal. Porém, a idade foi fixada por estatuto (Êx

12,5) em um ano. Com o passar do tempo e a centralização da Festa no templo, o cordeiro

de um ano sem defeito e dano passou a ser o principal animal para o sacrifício. Diferente de

Êx 12, Dt 16,2 prevê para o pesah “gado miúdo e gado graúdo”, mas talvez se trate de

imolações secundárias. Outra discrepância está na determinação (Dt 16,7) de que a carne

deve ser cozida e comida” o que contradiz claramente o que determina em Êx 12,8, a saber

que a carne deve ser comida depois de “assada ao fogo”.

Ao analisarmos os textos sobre a Festa das semanas percebemos que dois temas

principais marcam a Festa: a gratidão e a comunhão. É uma gratidão pelos frutos da terra,

que no caso do trigo e da cevada são a base da alimentação do povo. É a gratidão pela terra

que produz, pelo pedaço de chão que se tem para morar e trabalhar. Gratidão por elementos

concretos e palpáveis da vida que YHWH dá, em dimensões que vão além da pessoa,

estendem-se ao grupo, à comunidade e à sociedade. A transformação da Festa das semanas

foi quase inevitável em Israel, uma vez que ao longo da história toda tradição e costumes

foram sendo reinterpretado a partir da fé em YHWH.

Considerada a terceira principal Festa judaica a Festa das tendas é uma festividade

em comemoração da colheita de outono. Seu principal objetivo é a colheita dos frutos da

época, marcando a saída do ano agrícola. Também considerada uma Festa familiar que era

realizada no próprio campo, com o passar do tempo foi centralizada no templo e a família

Page 81: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

81

passou construir tendas no templo como um ato de adoração a YHWH. Apesar de suas

mudanças a Festa das tendas foi a que ao estudarmos os textos sofreu menos alterações.

Apesar de todas mudanças as três principais Festas judaicas continuam tendo uma

importância significativa para o povo judeu e diante disso, mesmo existindo outras Festas,

A Festa do pesah, a Festa dos pães ázimos e a Festa das tendas são consideradas as

principais Festas judaicas para o povo judeu.

CAPÍTULO III

3 A ORIGEM POPULAR DAS FESTAS: PESAH, SEMANAS E TENDAS

3.1 INTRODUÇÃO

Nos capítulos anteriores estudamos a análise exegética histórico e literário, fizemos

Page 82: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

82

uma tradução literária analisando as variantes textuais, a análise da formação do

Deuteronômio, datação, lugar, autores e leitores. Foi feita também uma análise do conteúdo

da perícope de Deuteronômio 16,1-17 que foi uma seção mais extensa e com detalhes de

conteúdo.

Foi realizada uma análise das três principais Festas judaicas segundo os livros do

Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar as principais diferenças das Festas

judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Identificou-se como as Festas sofreram

suas mudanças e se tiveram alguma influência na sociedade judaica. Uma breve

comparação dos livros de êxodo, Números e Levíticos com o texto de Deuteronômio 16,1-

17 identificou as mudanças que as Festas sofreram.

Este capitulo tem como objetivo falar da origem popular das principais Festas

judaicas “Pesah, Semanas e Tendas” a partir do desenvolvimento da análise dos textos

bíblicos dos capítulos I e II. Como cada uma delas sofreram as suas mudanças e quais

foram as suas principais relevâncias para o povo de Israel. Falaremos também do nome de

cada Festa, o calendário destas Festas, bem como se sofreram algum tipo de mudança.

Analisaremos o calendário judaico e suas transformações no decorrer do tempo.

3.2 A ORIGEM DA FESTA DO PESAH

Ao falarmos da origem do pesah entramos num campo de muitas incertezas, e não

conseguimos ter dados suficientes para esclarecer sobre a celebração no período pré-

israelitas. O que podemos perceber através dos estudos dos textos no Antigo Testamento é

que o pesah tinha, na sua origem, um sabor tipicamente pastoral: migração para novas

pastagens na lua cheia da primavera; vestimentas para a viagem; alimentos de ocasião

(ervas amargas e pão cozidos sobre chapas de pedra); sacrifício para a fecundidade do

rebanho e sangue propiciatório contra as ciladas da viagem (RAVASI, 1985, pg. 59).

O pesah tem como sua origem uma celebração em que os pastores têm como o

recurso mais importante e precioso o rebanho. Quando colocamos o pesah como uma

celebração de pastores, estamos distinguindo o pesah das outras três Festas (Festa dos

Ázimos, Festa das Semanas, Festa das Tendas), estas Festas são consideradas como Festas

de peregrinação mencionadas nos mais antigos calendários litúrgicos (Êx 23,14-17; 34,18-

23), nota-se que a Festa do pesah não está representada nestes textos. No judaísmo, é a

etapa mais solene do calendário civil e litúrgico. Ocupa, porém, essa posição privilegiada

somente depois de ter percorrido um complexo itinerário, cujos inícios se perdem nas

Page 83: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

83

arcaicas tradições nômades de povos pré-israelitas.

Para o pesquisador Lacoste (1998) o pesah era chamada de Festa da primavera, a

celebração ocorria durante a lua cheia, desenrola-se, portanto, de noite e reunia toda a

família. Seu ponto alto é a oferenda de um animal a YHWH, em sinal de dedicação e num

gesto de súplica, visando obter a proteção divina. A partir da imolação de um animal,

cordeiro ou cabrito, de um ano de idade, o pai de família cumpria o rito do sangue, depois

presidia uma refeição em que a carne da vítima tinha sido previamente assada. A vítima

oferecida é comida em uma refeição que sela a unidade dos membros da família entre si e

com YHWH (LACOSTE, 1998, pg. 1349).

Provavelmente no início, esta oferenda não era para YHWH, mas a alguma outra

divindade protetora do rebanho. Essa divindade talvez tivesse ligada à fertilidade ou a

doenças do rebanho, e sua ira precisava ser aplacada com oferendas. Só mais tarde é que

YHWH é incorporado na tradição até se tornar uma Festa anual do templo, sendo

introduzido como norma para todo o povo.

O rito do sangue e a refeição pascal são os elementos mais característicos do antigo

sacrifício do pesah. De início era só refeição, o pascal é um acréscimo posterior, quando a

Festa passa a ser ligada à tradição do Êxodo. O rito do sangue está associado ao rito da

refeição, que a completa manifestando a comunhão com a divindade que concede a chuva e

favores a fecundidade do rebanho. Dessa forma, o ritual está nitidamente separado do

âmbito secular. O sentido é que essa refeição alimenta, mas de forma diferente, não

devendo ser confundida com as refeições regulares.

A intenção do redator bíblico é mostrar que a revelação bíblica está associada à

história ou pretende ser histórica, pois o povo sabe que o lugar privilegiado para o

conhecimento e a celebração é a história. O pesah, nascido como rito não histórico e

naturalista, também faz parte da corrente histórica e humana, é retirada da natureza e é

inserida na história. O rito do sangue consiste em ungir as entradas das tendas com sangue

da vítima pascal, é um rito de proteção de valor, destinado a desviar as potências hostis e a

proteger delas a morada.

Com o sangue nas portas das tendas para afastar toda a força maligna, ou “o

exterminador” (no hebraico maxehit, Êx 12,13.23) ou saqueador, bando de destruição (1

Sm 13,17; 14,15), o exterminador maxehit poderia ser qualquer tipo de agressor,

enfermidade, desgraça, peste ou acidente que poderia ocorrer com os membros da família

ou os seus animais.

O medo do exterminador maxehit marca o pesah pré-israelita. Estas forças poderiam

Page 84: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

84

trazer danos à vida dos pastores (Êx 12,1-13. 21-28). O rito é destinado a afastar os seres

que se encontravam fora da morada, já que a aplicação do sangue é feita só sobre as

ombreiras da entrada (Êx 12,23), mas também visava a proteção dos animais da família.

Não temos nenhuma referência de um santuário, nem sacerdote no pesah pré-israelita, era

uma celebração noturna e familiar.

Para Vaux (2003) o pesah aparece como um ritual de pastores e é um sacrifício de

nômades ou seminômades, aquele de todos os rituais israelitas que mais se aproxima dos

sacrifícios dos antigos árabes: não há intervenção de sacerdotes, não há relação com o altar,

mas há a importância do rito de sangue. Acontece na primavera o sacrifício de um animal

novo para obter a fecundidade do rebanho. É uma Festa que pode marcar, como tem sido

proposto, a partida para a transumância de primavera, mas que não é suficientemente

explicada por ela. É geralmente uma oferenda para o bem do rebanho, como era a antiga

Festa árabe do mês de radjab, o primeiro mês da primavera. Os outros detalhes do pesah

acentuam esse caráter de Festa de nômades, come-se a vítima assada no fogo, sem que haja

necessidade de utensílios de cozinha, ela é comida com pão sem fermento, o que é ainda

hoje pão dos beduínos, e com ervas amargas, que não são legumes cultivados em uma

horta, mas plantas do deserto que os beduínos sabem escolher para temperar sua

alimentação frugal.

De acordo com Vaux (2003) esta Festa não é a oferenda dos “primogênitos” do

rebanho, os textos mais detalhados sobre a escolha da vítima e sobre os ritos da Festa não

estão escritos em lugar nenhum. Porém, Êx 34,19-20 inseriu a lei dos primogênitos entre a

prescrição da Festa dos ázimos e sua conclusão natural no v.20b, como mostra a

comparação com Êx 23,15, e Êx 13,1-2. 11-16, aproxima da lei dos primogênitos do pesah

e dos ázimos. É uma ligação artificial, para a qual a décima praga serviu de intermediária

na noite do pesah, YHWH feriu os primogênitos do Egito e poupou as casas marcadas pelo

sangue do sacrifício pascal, é por isso, diz Êx 13,15, que se imolam os primogênitos dos

animais e que se resgatam os primogênitos do homem. Mas, esta ligação é secundaria, nada

a expressa no ritual pascal e a lei dos primogênitos é dada à parte no velho Código da

Aliança (Êx 22,28-29) (VAUX, 2003, pg. 526).

Por isso, para compreender plenamente as páginas pascais do Êxodo, é necessário

“celebrá-las” na liturgia, como o fará sistematicamente o judaísmo. O pesah torna-se

então, uma Festa eminente eclesial a dois níveis. Antes de tudo a nível familiar, como o

atesta Êx 12,3-4: “Ao dez deste mês cada um tomará para si um cordeiro por família (...).

Mas se a família for pequena para um cordeiro, então se juntará com o vizinho (...)”. O

Page 85: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

85

pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do cordeiro

em uma ceia de comunhão. A tenda familiar, portanto, é o primeiro lugar para a celebração

e o chefe da tenda o pai é o presidente desta pequena assembleia litúrgica. Considerada

uma Festa muito antiga, a Festa do pesah remonta à época em que os israelitas ainda eram

seminômades, ela é até anterior ao Êxodo.

3.3 A ORIGEM DA FESTA DOS PÃES ÁZIMOS

Enquanto o rito do pesah teve sua origem na esfera semi-nômade, a Festa dos pães

Ázimos (Matzá) pertencia à esfera agrícola e as observâncias são de fundos diferentes, é

portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela, celebram o início da ceifa.

Devemos começar a considerar o nome da Festa. É chamado a Festa dos pães Ázimos em

Êx 23,15; 34,18.

Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a Festa, mas sabe-se

que este costume é muito antigo e que também existia fora de israel. Em dois textos (Êx

23,14-16 e 34,18-23), a Festa aparece junto com duas outras Festas anuais, também

relacionadas com o ciclo da colheita. Dessa forma, estamos diante de uma celebração

originalmente agrária, que foi depois vinculada com a história da libertação. Significativo é

que esta migração se deu de um ritmo cíclico, pertencente ao âmbito do sagrado e

ritualístico, para um evento pontual e irrepetível, relacionado com a história (ANDIÑACH,

2006, pg.157).

O primeiro documento legislativo importante ao lidar com a Festa do pão Ázimo

pertence a um dos extratos mais antigos da lei judaica “o Código da Aliança”. Isto assume

uma posição decisiva em favor da interpretação histórica da Festa: Êx 23,14-16 “Três

vezes no ano me celebraras Festa. A Festa dos pães Ázimos guardarás; sete dias comerás

pães ázimos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado no mês de abibe; porque nele

saíste do Egito...”

Não se pode concluir muito do texto porque existe um silêncio sobre o rito do

cordeiro. No entanto, esse texto é significativo pois fala sobre a "Festa dos pães ázimos",

aplicando o nome agrícola. Nota-se também como ele justifica sua prescrição do texto

legislativo: "porque nele saíste do Egito”. Esta justificativa é importante e nos diz

algo sobre a necessidade de explicar a liturgia, uma vez que deixa o único simbolismo

simplesmente natural. Um observador contemporâneo ao participar de uma refeição com

pão sem fermento, podia compreender o seu significado óbvio, especialmente dentro de um

Page 86: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

86

contexto específico (MAERTENS, 1964, pg. 113).

O significado original do rito parece ter sido o seguinte: Os agricultores reunidos

nos santuários e a terra cultivada na colheita de cevada, a fim de desfrutar os primeiros

grãos novos e os pães frescos em uma devota observância. Nada fermentado era permitido,

pois o novo não podia ser misturado com a produção do ano anterior. Ofertas à deidade,

sacrifícios e agradecimentos cerimônias de entrega provavelmente estavam ligadas a esse

rito.

Toda celebração é dirigida para YHWH. O texto de Êx 23,14 que remete as ações

de YHWH para com o povo de Israel é característico. A colheita de ação de graças é para

YHWH sozinho. Porém, enquanto o festival é tirado da religião de Baal, as ações culticas

excluem o mito da natureza.

O festival é centralizado, os homens têm de aparecer "diante da face do Senhor

Deus" (Êx 23,17; 34,24) e no Êx 33,19 a casa do Senhor é mencionada. A existência de um

santuário central certamente deve ser pressuposto para o culto nos calendários de Êx 33 e

34. Tentativas foram feitas para historicizar a Festa dos pães Ázimos, bem como o pesah.

O lugar ocupado pela Festa dos pães Ázimos no culto do calendário das três Festas anuais

mostra claramente que era uma Festa de peregrinação como foi celebrado todos os anos. As

duas passagens Êx 33,15 e 34,18, aponta para o período anterior à monarquia. Para o

período monárquico de 1 Reis 9,25 (2 Crônicas 8,13) testemunha o status e a importância

da primavera festiva (KRAUS, 1965 pg.47)

Para Vaux (2003) a Festa dos pães ázimos é uma Festa agrícola que só começou a

ser celebrada após a entrada em Canaã, como diz Lv 23,10 a propósito do primeiro feixe. É

possível que os israelitas tenham emprestado esta Festa dos cananeus. Pode-se evocar a

este respeito a execução dos descendentes de Saul no lugar alto de Gibeá, 2 Sm 21,9-11,

acontecida no princípio da ceifa da cevada, seguindo um ritual não israelita (VAUX, 2003,

pg. 528).

É importante dizer que para Vaux (2003) em Israel a Festa dos ázimos sempre

estiveram ligados a semana, elas duram sete dias, Êx 23,15; 34,18, de um sábado a outro,

Êx 12,16; Dt 16,8; Lv 23,6-8, o que justificou a inserção da lei do sábado após a dos

ázimos em Êx 34,21, com a informação “foi no tempo...da ceifa”, que começa com os

ázimos. Esta relação com o sabá indica que não se trata só de sete dias quaisquer

consagrados a uma Festa, com equivalentes fora de Isarel, mas de uma Festa ligada ao

sistema da semana, e isto é confirmado pela contagem fixa a Festa das semanas sete

semanas após os ázimos, Lv 23,15; Dt 16,9.

Page 87: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

87

A Festa dos ázimos mesmo de origem cananéia assumiu, parece que desde a sua

adoção, um caráter propriamente israelita. Sendo uma Festa agrícola, ela dependia do

amadurecimento da colheita e não podia ter data mais precisa que o mês de Abib, tal é o

estado dos calendários de Êx 23 e 34 e também do Deuteronômio.

3.4 A JUNÇÃO DA FESTA DO PESAH E A FESTA DO PÃES ÁZIMOS

Observou-se que a Festa do pesah era celebrada no mesmo mês da Festa dos pães

ázimos, e precisamente na lua cheia. Quando ela foi transformada pelo Deuteronômio e

pela reforma de Josias em uma Festa de peregrinação, como já era a Festa dos pães ázimos,

pareceu conveniente unir as duas datas, a própria prescrição antiga e independente de

comer pão sem fermento no pesah favoreceu esta combinação, talvez também a influência

de ritos locais, como o do santuário de Gilgal, Js 5,10-12. A data do pesah, já fixada na lua

cheia, continuou como era e os ázimos lhe foram ligados, seguindo-a imediatamente

durante sete dias.

No décimo quarto dia do primeiro mês é celebrada o pesah e no décimo quinto o

festival semanal de pão sem fermento começa (Lev. 23,4). No período após o Exílio a

Festa do pesah e do pão ázimo tinha o status e a dignidade da Festa principal da

comunidade cultural em Jerusalém. As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21)

foram decisivas para este desenvolvimento, e seus significados tornaram-se cada vez mais

evidentes no período que se seguiu. Mas, é possível que a marca do predomínio do festival

da primavera foi influenciada pelo arranjo do calendário babilônico, em que o ano começou

na primavera (Êx 12,2). Particularmente por contraste com os grandes festivais de Ano

Novo com os quais os exilados se tornaram, a tradição da Festa do pesah e da pão ázimo

parece ter crescido em importância. Este desenvolvimento pode ser visto também no Norte

no período após o exílio.

Devemos observar que a celebração do pesah e a dos ázimos foram mais tarde

unidas à saída do Egito e associadas à lei sobre os primogênitos (Êx 13,1. 11-16). Este

nexo se explica pelo relato da décima praga (Êx 11) que atinge os primogênitos do Egito ao

passo que o flagelo poupa os israelitas graças ao sangue da vítima pascal (Êx 12,13). Por

essa razão, Êx 13,15 declara que todo primogênito do homem deve ser resgatado. Isso,

porém não transforma ao pesah num rito de oferenda dos primogênitos do rebanho

(LACOSTE, 1998, pg. 1350).

O texto de Deuteronômio 16,1-8 parece, a primeira leitura a unir Festa do pesah

Page 88: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

88

com a Festa dos pães ázimos mais estreitamente ainda que os textos sacerdotais

apresentados. Para Vaux (2003) o texto é compósito. Os v.1,2,4b-7 são relativos ao pesah:

ela é celebrada no mês de abib, mas o dia não é indicado. A vítima pode ser escolhida entre

o gado grande ou pequeno e deve ser imolada ao pôr-do-sol, não no lugar onde se quiser,

mas “no lugar escolhido por YHWH para lá fazer habitar o seu nome”, a saber, em

Jerusalém. É neste santuário que ela deve ser assada e comida durante a noite, de manhã

cada um volta para casa. Já os v.3,4 e 8 remetem, por outro lado, aos ázimos, durante sete

dias, se comerá ázimos, um “pão de miséria” (VAUX, 2003, pg. 523).

Tanto a Festa do pesah, como a Festa dos pães ázimos eram Festas separadas e com

o passar do tempo e por serem duas Festas próximas na questão de datas, elas foram unidas

com um só proposito.

3.5 A ORIGEM DA FESTA DAS SEMANAS

Estudar a fundo a origem da Festa das semanas nos trará imensas hipóteses que

muitas vezes não iriamos conseguir solucioná-las. Tércio Siqueira (2016) diz:

“seria extremamente exaustivo tentar abordar a origem dessa Festa a

partir dos cananeus, ou de outros povos do Antigo Oriente Médio.

Todavia, é perfeitamente justo suspeitar que o costume de realizar a

Festa das semanas pertencia aos cananeus56”.

O autor expõe três razões que o leva a suspeitar que a Festa das semanas tem uma

forte descendência canaanita, e concordo com estas suspeitas.

A primeira é que os agricultores sedentários cananeus dominavam os férteis vales

de Canaã quando os hebreus chegaram a Canaã. Segunda hipótese seria que originalmente

os hebreus ou israelitas não eram agricultores, mas pastores de ovelhas, vivendo como

seminômades nas montanhas centrais e estepes localizadas nas periferias das ricas regiões

agrícolas de Canaã. A terceira e última hipótese é que pouco a pouco, o povo israelita veio

torna-se agricultor e sedentário. É interessante notar que todas estas hipóteses fortalecem o

desenvolvimento de que o povo teve com o passar dos tempos e com suas conquistas.

Não temos quase nada sobre a Festa das semanas no período pre-exilico, mas

encontramos bons materiais do período pós-exílico e os períodos judaicos tardios, que nos

últimos tempos tem sido minuciosamente investigado, obtivemos bons resultados sobre o

56 http://portal.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/a-Festa-de-pentecostes-no-antigo-

testamento.

Page 89: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

89

significado da Festa das semanas através dos estudos destes materiais.

Para Kraus (1965) a Festa das semanas é uma celebração que o povo israelita

herdou da cultura dos cananeus. Ela era expressão de gratidão pela colheita do trigo e da

cevada. Por isso, o jubilo da colheita e a alegria da Festa são as notas principais da

celebração (KRAUS, 1965, pg. 57).

A Festa das semanas foi ligada a história da salvação. Utilizando a indicação de Êx

19,1 segundo a qual os israelitas chegaram ao Sinai no terceiro mês após sua saída do

Egito, que aconteceu no meio do terceiro mês, se fez da Festa das semanas a comemoração

da Aliança. Já 2 Cr 15,10 mesmo que sem referência expressa à Festa das semanas, coloca

no terceiro mês uma Festa religiosa do reinado de Asa, para uma renovação da Aliança. A

ligação torna-se explicita no livro dos Jubileus, que põe no dia da Festa das semanas todas

as alianças que ele encontra no Antigo Testamento, desde a de Noé até a do Sinai. Era na

Festa das semanas que a seita de Qumram, que a si mesma chamava de comunidade da

Nova aliança, celebrava a renovação da Aliança, a mais importante de suas Festas (VAUX,

2003, pg. 530).

Afirma-se que a Festa das semanas tem em seu contesto uma Festa agrícola e sua

origem é anterior ao êxodo do Egito, comemorava a colheita de cereais no final da

primavera. Os hebreus adotaram essa prática antiga e em Israel costumavam oferecer os

cereais e os frutos dessa época do ano.

3.6 OS NOMES DA FESTA DAS SEMANAS

A Festa das semanas possui vários nomes, por exemplo: Hag há-Qatsir, Festa da

colheita (Êx 23,16), trata-se da última colheita do ano, a sega do trigo. Concretizava-se a

feição agrícola, na época do Templo, pela oferenda de dois pães.

Hag há-Shavuot, Festa das semanas (Dt 16,10; Êx 34,22), relativa as sete semanas

de ´omer: “contarás sete semanas. A partir do momento em que lançares a foice nas

espigas, começaras a contar sete semanas. O início da Festa acontece cinquenta dias depois

da Festa do pesah, com a colheita da cevada e finaliza com a colheita do trigo. Celebrarás

então a Festa das semana...(Dt 16,9-10).

Yom há-Bikkurim, dia das primícias (Nm 28,26), primícias da colheita, era como se

consideravam os dois pães mencionados em Lv 23,17, não se podiam oferecer as demais

primícias, sem antes as ter apresentado a YHWH (AVRIL, 1997, pg. 52). Para Tércio

Page 90: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

90

Siqueira, este nome tem sua razão de ser na entrega de uma oferta voluntária, a YHWH,

uma oferta dos primeiros frutos da terra colhido naquela sega (Nm 28,26)

3.7 O TEMPO DA FESTA DAS SEMANAS

Como vimos anteriormente, a Festa do pesah era uma Festa caseira, celebrada com

a família em suas casas, já a celebração da Festa das semanas era uma celebração agrícola,

originalmente, realizada no local de plantio, no lugar onde se cultivava a cevada o trigo

entre muitos produtos que o povo plantava naquela época.

Segundo os livros de Lv 23,15-16; Dt 16,9 a Festa das semanas era realizada após

sete semanas da celebração da Festa dos pães ázimos. De acordo com Lv 23,15 as “sete

semanas” devem ser contadas a partir do dia seguinte o sábado. Em Dt 16,9 são “sete

semanas” desde o momento em que você começa a colocar a foice na colheita. Este cálculo

significa que a colheita da cevada e a colheita de trigo estão ligados por um período de sete

semanas, ou que a partir da Festa dos pães ázimos “sete semanas” ou “cinquenta dias” (Lv

23,16) devem ser contados. A Festa das Semanas foi originalmente o festival que concluiu

um período especial de sete semanas. Os costumes e ritos ligados a esta Festa foram

originalmente direcionados exclusivamente com a colheita (Êx 23,16; 34,22).

Para Kraus (1965) o júbilo da colheita e a alegria festiva são as principais

celebrações. Não há dúvida de que os israelitas adotaram as semanas da população cananea

nativa, o que significa que a todo o período das “sétimas semanas” foi retomado pelos

regulamentos culturais do Antigo Testamento. Não podemos afirmar com certeza o

significado original deste período “sete semanas”. Há pouca evidência para nos ajudar no

ambiente cananeu, mas não devemos ignorar o fato de que o “período de sete” era um

importante elemento da tradição cultica ugarítica (KRAUS, 1965, pg. 59).

Poucos textos como este de Lv 23,15-16 exprimem com sobriedade e profundidade

o sentido das Festas agrícolas e sua reinterpretação histórica realizada pelo povo bíblico.

Como qualquer uma das Festas de primícias, a das semanas expressa a atitude consciente

de Israel, de que os frutos da terra são dons de YHWH.

Fazendo as contas das “sete semanas”, a Festa das semanas acontecia na época

correspondente ao início do verão. Segundo Pereira (1997) a fixação destas datas

provavelmente decorreu da regulamentação sacerdotal que anexou a Festa das semanas à

Festa dos ázimos, regidas pelo ciclo agrícola. Porém, os ázimos foram conjugados com as

festividades do pesah, que era calculada pelo ciclo lunar que regia e definia os meses do

Page 91: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

91

calendário. Isto aconteceu em torno do século VII a. E.C. para a organização da vida

religiosa (PEREIRA, 1997, pg. 19).

3.8 A ORIGEM DA FESTA DAS TENDAS

Nenhuma das três grandes e principais Festas anuais de Israel foi tão complexa em

sua história e sua tradição como foi a Festa das tendas. Por mais que tentemos afirmar

quando a Festa começou, quais eram seus principais objetivos, não temos detalhes de

quando começou e aonde começou. Podemos considerar que os principais mantenedores

desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à

perspectiva produtiva.

Deuteronômio 31,10 fala de uma celebração que veio "a cada sete anos" no tempo

da Festa das tendas. Em 1 Rs 8,1 fala de atos de adoração que devem ser considerados

quando chegarmos a examinar as tradições locais de Jerusalém. Segundo 1 Rs 9,25, no

tempo de Salomão, o festival de outono, celebrado no Templo e acompanhado de

sacrifícios, foi a principal Festa do ano. As oferendas de sacrifício são a tônica do festival

na regulação, Ez 14,2. Zc 14,16 reflete tradições características da Festa das tendas.

O pesquisador Araújo (2011) fala que no geral, pode-se afirmar que não existe

quase nenhum elemento comum entre os diversos relatos a respeito da Festa das tendas (Ex

23; 34; Lv 23; Nm 29 e Dt 16). Existe apenas uma característica que forma o fio condutor

entre estes diversos relatos, com exceção de Nm 29,23 o caráter agrícola da Festa, que

permanecerá durante o decorrer dos séculos como um elemento distintivo da Festa das

tendas. As demais características variam de livro para livro do Pentateuco.

Em geral, os textos falam de sete dias mais um, que é o oitavo (Lv 23; Nm 29; Dt

16). Os relatos da Festa das tendas, no Pentateuco, apenas afirmam a obrigação da

celebração anual desta Festa, junto com as outras duas, pesah e semanas, respectivamente.

Nos relatos que sucedem o Pentateuco encontraremos a Festa em relação com a vida

pública de Israel (ARAÚJO, 2011, pg. 20).

A ação de graça para a colheita e alegria festiva foram a chave para a Festa (Dt

16,14, Lv 23,40). Os costumes do original agrícola podem ser claramente vistos em Juízes

21,19-21, danças faziam parte da Festa das tendas, em que se celebravam de modo alegre

as provisões de YHWH no deserto (Dt 16,15, Lv 23,41). No livro de Nm 8,18 “descanso

solene” observamos que, sobre o governo de Neemias foi acrescentado um dia a mais neste

período festivo.

Page 92: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

92

Podemos dizer que o semanário da construção das tendas, era composto por vários

ramos de árvore de diferentes espécies e tamanhos, por exemplo: palmeiras e oliveiras.

Durantes os sete dias a família habitava nestas tendas realizando várias modalidades de

expressões religiosas, dentre ela destaca-se a leitura dos textos sagrados, que era a prática

constante no conjunto celebrativo, pois a identidade singular da formação de cada

praticante vinha deste momento de adoração.

Figura 2 - Cabana (Sucá)

Fonte: Avril, 1997, pg. 88

A partir de então, e sob a ótica dos camponeses, o espaço de representação era

construído para o desenrolar da solenidade, o qual passava a adquirir dimensões de

plenitude. Isso ocorria devido ao fato de que o local de produção tornar-se-ia ressignificado

pelos partidários da mesma crença, que atribuíam outro sentido àquele território,

revestindo-o de uma função simbólica específica para abrigar a presença do sagrado, numa

Festa de ação de graças. Assim, a árvore e os seus ramos representavam a fertilidade da

terra para essa civilização agrária, contudo, após o período do exílio babilônico, essa

exaltação atravessou por um processo de ressignificação (PETRUSKI, 2016, pg. 157).

A Festa das tendas sofreu sua primeira mudança quando passou a significar e a

comemorar a peregrinação de quarenta anos do povo de Israel no deserto do Sinai, durante

este período o povo viveu em tendas e estavam a caminho da terra prometida. Desta forma,

a Festa agrícola tem sua primeira transformação, ao ser situada na vida nômade do povo no

deserto.

A pesquisadora Petruski (2016) diz que a modificação de perspectiva é justificada a

partir do momento que os expatriados vivenciaram algumas celebrações que os moradores

da Mesopotâmia faziam para o seu Deus da chuva e da fertilidade chamado Baal, e

Page 93: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

93

relacionaram-na com a sua, pois a mesma possuía uma proximidade com a realizada pelos

cativos. Assim, quando os exilados retornaram à sua terra, e o culto se tornou centralizado,

a primeira mudança no conjunto celebrativo se operou.

Tal mudança estava relacionada ao local de sua execução, isto é, ela deixou de estar

centrada no campo para ocorrer no interior ou no entorno do santuário, onde se

desenvolviam todas as demais cerimônias nacionais desse povo. Assim, operou-se uma

espiritualização histórica, ou seja, de uma Festa agrária retirou-se todos os seus elementos

agrários, para dar luz a acontecimentos ligados ao deserto, relacionados, sobretudo, à

Aliança do Sinai (PETRUSKI, 2016, pg. 158).

Considerada a Festa da última colheita do ano, sobretudo do vinho e do óleo, a Festa

das tendas era celebrada com um ritual muito rico e original. Tinha particular importância o

assim chamado rito de Lulav57 e a Libação da água58. O rito de lulav está ligado ao

mandamento do Levítico, segundo o qual a Festa das tendas deve ser celebrada do seguinte

modo: “No primeiro dia, tomai frutos de cedro, ramos de palma, feixes de mirto e dos

salgueiros das ribeiras, e alegrai-vos diante de YHWH, vosso Deus, durante sete dias” (Lv

23,40).

Os peregrinos fieis a estas normas se dirigiam ao templo de Jerusalém, trazendo na

mão esquerda um cedro e na mão direita um ramo de palma entrelaçada com mirto e

salgueiro, cantando louvores (Sl 113-118) os agitavam no ar, na direção dos quatro pontos

cardeais.

Figura 3 - Lulav

57 O Lulav é a maior folha da palmeira. 58 Ritual realizado durante a Festa das tendas (Ez 47,1-10; Zc 14,6-16; Jo 7,37-39).

Page 94: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

94

Fonte: https://br.pinterest.com/explore/lulav-and-etrog/?lp=true

De acordo com outra interpretação, Lulav representam as diversas categorias de

Israel e do gênero humano, que embora diferentes umas das outras, foram todavia, uma só

realidade e unidade.

No Lulav, eram utilizadas quatro espécies de plantas: a palmeira, o mirto ou murta,

o salgueiro e a cidreira. As três primeiras eram reunidas num feixe simbolizando a colheita

do outono. Um detalhe que precisamos considerar em relação à Festa das tendas é que se

buscava pela chuva na próxima estação de plantio, pois era ela que preparava e fertilizava a

terra para um novo período de boa colheita.

O rito de Libação da água se desenvolvia da seguinte maneira: os sacerdotes

carregavam, por toda a noite, a água em garrafas douradas, da fonte de Siloé até o átrio do

templo, acompanhados pela população em Festa, que trazia tochas e lanternas, dançavam,

cantavam, recitavam salmos de peregrinação (124-134) e tocavam instrumentos musicais.

A água era utilizada de manhã como libação durante o culto da manhã.

Vale lembrar que para esse povo seria uma maldição se as chuvas não caíssem no

período certo, como pode ser constatado nos textos em Dt 28,23-24; 38-40 e Lv 26,10-20.

As Sagradas Escrituras também trazem alguns relatos de tristeza do povo em relação a falta

de chuvas nos campos, levando padecimento e penúria a determinadas comunidades (Jr

14,2-6 e Am 4,7-8) (PETRUSKI, 2016, pg. 158).

É uma Festa muito popular até hoje em Israel, quando é costume criar pequenas

cabanas (Sucá) nos jardins das casas, onde se celebra a ocasião. A Festa, que normalmente

é celebrada no mês de setembro (15 de Tishrei, no calendário hebraico), com uma semana

de duração, recorda ao judeu a história da salvação, sobretudo a peregrinação de 40 anos

pelo deserto, quando o povo hebreu não possuía casa própria e nem terra, vivendo em

cabanas, em tendas. É uma das três Festas em que o povo peregrinava até o Templo de

Jerusalém, uma das três mais importante, junto com o pesah e semanas.

3.9 OS NOMES DA FESTA DAS TENDAS

Page 95: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

95

Quanto ao nome da Festa, também aqui não temos um fio condutor. A obra do

Êxodo usa a expressão “Festa da Colheita” (Êx 23,16; 34,22) porque é uma celebração de

ação de graças para as bênçãos da colheita, enquanto Levítico e Deuteronômio preferem a

expressão “Festa das tendas” (Lv 23,34 e 43; Dt 16,13 e 16; 31,10) porque comemorou a

proteção de YHWH ao povo, e como eles moravam em cabanas durante a sua permanência

no deserto. Uma particularidade é Lv 23, que junto com a expressão “Festa das tendas”

também usa “Festa do Senhor”. Lv 23, ordena o uso de ramos e habitar em tendas durante

sete dias, como memória da saída do Egito e caminhada do deserto.

O nome da Festa em hebraico “sukkot”, que literalmente significa "cabines" ou

"cabanas", é representado na Vulgata latina como tabernacula, da qual derivamos a

designação “Festa dos Tabernáculos” esta expressão é usada mais no Novo Testamento.

3.10 O TEMPO DA FESTA DAS TENDAS

De acordo com o Código da Aliança, a Festa das Tendas deveria acontecer no final

da temporada da colheita, nos últimos dias do ano civil (Êx 23,16). Se compararmos com o

nosso calendário, o período ora citado corresponde ao mês de Outubro.

Para a pesquisadora Petruski (2016) nas primeiras vezes em que essa festividade se

sucedeu, não havia estabelecido um dia fixo para a sua salinização, pois a mesma dependia

do tempo de amadurecimento dos frutos, o que era variável na região devido ás

interferências climáticas. A instituição de uma data fixa para sua execução só ocorreu após

o período do primeiro exílio babilônico em 598 a.C., quando os sacerdotes do Templo a

firmaram no 15º dia do 7º mês – Tishri (que era o último mês do calendário). Uma vez que

o dia dos judeus começa ao pôr-do-sol, a Festa começa ao pôr-do-sol na conclusão do dia

14 e continua por sete dias até o pôr-do-sol após o 21º dia no mês judeu Tishri. Assim, após

o término da colheita e a partir do instante em que a mesma estivesse devidamente

armazenada e salvaguardada, era o momento de cumprir com o que YHWH havia

estabelecido aos homens (PETRUSKI, 2016, pg. 154).

4 A REFORMA DAS FESTAS PELO REI JOSIAS

Page 96: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

96

De acordo com o relato da reforma em 2 Rs 22,23, que parece ser baseado, em

geral, em anais oficiais, enquanto 2 Cr 34,35 é menos fidedigno, o sumo sacerdote

Helcides descobriu o livro da lei ou Protodeuteronômio no Templo de Jerusalém. Essa

afirmação tem sido interpretada de várias maneiras. Não pode, porém, ser colocada

nenhuma questão quanto a uma possível fraude sacerdotal ou quanto a uma descoberta no

sentido de origens lendárias para legitimar documentos novamente compostos. Devemos

supor que realmente foi descoberto um rolo, depois de ter estado no Templo durante um

tempo considerável. Isso podia ser fruto do costume de se depositarem documentos

importantes no Templo (2 Rs 19,14). Se o Protodeuteronômio se originou como um livro

da Lei composto no Reino do Norte e revisto em Jerusalém, é razoável supor que tenha

sido conservado no Templo depois de ser revisado e talvez no contexto das medidas

iniciais tomadas contra os cultos assírios, redescoberto mais ou menos acidentalmente.

Quando o rei Josias recebeu o rolo pelo sacerdote Helcias ele percebeu que a lei não estava

sendo obedecida e ordenou imediatamente a consulta a YHWH. O rei aconselhou-se com

os anciões de Judá e convocou uma assembleia geral do povo no recinto do templo de

Jerusalém. Com a leitura do rolo pelo rei Josias houve uma comoção pelo povo e todos os

aceitaram como uma nova lei que não estava sendo colocada em prática. Todas as

obrigações que foram lidas do rolo tornaram-se obrigatórias para o rei e o povo.

Seguindo a aceitação do livro da Lei, Jerusalém e seus arredores junto do Templo

foram purificados. Os pertences do culto assírio foram removidos e destruídos, naquilo que

ainda não tinha sido feito. A reforma fez uma tentativa de eliminar o culto de Baal da vida

religiosa de Israel, houve a eliminação dos vasos religiosos e imagens dedicadas a Baal e

Asherah (2 Rs 23,4-6). Este esforço foi reforçado pela legislação de Deuteronômio 7,15. O

segundo ato foi a centralização do culto em Judá, todos os santuários existentes por toda a

zona rural foram considerados culturalmente impuros e ordenou-se a todos os sacerdotes de

YHWH que se apresentassem em Jerusalém (SELLIN e FOHRER, 2007, pg. 382).

Willi-Plein (2001) fala que logo que a informação do conteúdo do livro fora lida o

rei Josias encaminha uma rigorosa reforma cultual (2 Rs 22,3-5. 8-10), cujo o objetivo é o

cumprimento da exigência deuteronomista de centralizar o culto. Correspondendo à

unicidade de YHWH (Dt 6,4 será, daí para frente, o fundamento da profissão de fé

israelita), deverá haver também um só santuário, onde ele deixará habitar seu nome e onde

ele deixará os israelitas sentirem sua benignidade, no culto sacrifical.

A reforma de Josias identifica esse único lugar do culto com Jerusalém. Também

Israel tornou-se potencialmente unificado, reunindo-se três vezes por ano, nas três

Page 97: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

97

principais Festas de peregrinação (Dt 16), no único lugar, na presença de YHWH (WILLI-

PLEIN, 2001, pg. 120).

Em Deuteronômio 16,1-8 vemos o processo pelo qual Deuteronômio (como o

"Livro da Lei" que foi a base da reforma de Josias em 2 Reis 22) procura elevar o pesah,

que os israelitas celebraram anteriormente em casa, em um festival de peregrinação e ao

mesmo tempo, a fim de preservar o número tradicional de três Festas de peregrinação e

para colocá-lo no lugar da Festa dos pães Ázimos, que também foi observada na primavera

(KRAUS, 1965 pg.50).

Em 2 Reis 23,21 “Deu ordem o rei a todo o povo, anunciando: Celebrai o

sacrifício de pesah, a Yahweh, o Eterno, vosso Deus, exatamente como está escrito no

Livro da aliança!”, aprendemos como foi adotada e observada a lei prática de adoração no

período de Josias. Esse relato faz ponto especial que não pode ser negligenciado e

certamente o povo não havia guardado tal pesah nos dias dos juízes que julgaram Israel,

nem em todos os dias dos reis de Israel, nem dos reis de Judá, mas no décimo oitavo ano do

rei Josias foi o pesah guardado ao Senhor em Jerusalém.

Esta passagem destina-se a deixar bem claro que quando pensamos na Festa do

pesah como peregrinação e Festa do santuário, não devemos pensar nisso como uma

inovação absoluta, mas como a reintrodução de um velho costume do período antes da

monarquia. A tendência tem sido considerar esta referência a uma tradição cultual do

período dos juízes como sem fundamento histórico e para vê-lo como a reivindicação de

um conservador movimento consciente da tradição.

Se perguntarmos se existe alguma evidência nas tradições do Antigo Testamento do

período dos juízes de um pesah que todo o Israel celebrou, somos confrontados por Josué

5,10-11.

“Enquanto os filhos de Israel estavam acampados em Gilgal,

celebravam o sacrifício de pesah, no décimo quarto dia do mês, ao pôr

do sol, nas planícies de Jericó. 11 No dia seguinte à pesah, comeram dos

produtos daquela terra: pães sem fermento e grãos de trigo tostados”.

Que se refere a Festa do pesah e a Festa dos pães Ázimos que foi comemorada por

"todo Israel" em Gilgal. Na medida que Josias incluiu a Festa do pesah como uma das

Festas de peregrinação e centralizou a Festa no templo, isso significou uma mudança

extraordinária e nova para o período monárquico.

As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21) foram decisivas para este

Page 98: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

98

desenvolvimento e seus significados tornaram-se cada vez mais evidentes no período que

se seguiu. A adoração que Israel praticava com a Festa do pesah e do pão ázimo não caiu

completa do céu, mas foram sendo aperfeiçoadas com o passar do tempo. A Festa do pesah

e a Festa dos pães ázimos eram ao princípio duas Festas separadas, e o que parece, a

primeira era mais antiga que a segunda. E é possível que elas tenham sido juntadas com as

Festas das semanas e das tendas pela primeira vez na Reforma de Josias.

Podemos considerar este aspecto da “reforma” de Josias como nada além de uma

ação administrativa para apertar o controle estatal sobre agricultura, indústria e comércio.

Josias representando as preocupações da classe dominante que buscava a riqueza,

apropriou-se destas tradicionais celebrações religiosas. Ao centralizar as três principais

Festa judaicas Josias também estaria fortalecendo o seu governo economicamente, tudo

estaria centralizado no templo de Jerusalém fortalecendo o seu governo e sua

administração.

5 O CALENDÁRIO JUDAICO

Com o desenvolver da organização e estruturação da sociedade judaica no pós-

exílio, as Festas já assimiladas passam por uma regulamentação, ou seja, estabelece-se um

calendário padrão a ser seguido.

As tradições do calendário cultual passam por uma adaptação muito decisiva e

ajuste no Deuteronômio. A observância das três grandes Festas anuais é estabelecida neste

calendário cultual abrangente. Como em Êx 23,I7 e 34,23, depois das três ordenanças o

mandamento principal é novamente definido como um resumo em uma fórmula final.

Se começarmos a partir desta fórmula conclusiva em Deuteronômio 16,16-17,

podemos ver imediatamente o primeiro problema que o texto deuteronômico apresenta. O

v.16, em comum com os calendários culticos mais velhos, tais como encontramos em Êx

23,14-17 e 34,18-23, exige para a primavera apenas uma Festa dos pães ázimos. Já no livro

de Deuteronômio 16,1-8, por outro lado, surge um festival chamado de pesah com

regulamentos detalhados, dos quais não houve menção nas antigas leis cultuais ou que foi

indicado com apenas algumas notas rituais em conexão com o calendário do culto (Êx

23,18, 19b; 34, 2, 5, 26b).

Os requisitos Deuteronômicos, portanto, pela primeira vez incluem o pesah nos

regulamentos culticos do calendário de festividade, e relaciona-o com a Festa dos Pães

Ázimos. Para Kraus (1965) isto dá origem a uma discrepância, que deve ser explicadas por

Page 99: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

99

uma análise do texto. Uma Festa de sete dias de pães ázimos, cujo último dia deve ser

celebrado por uma assembleia cultual (Dt 16,8) não pode ser conciliada com o regulamento

em (Dt 16,7), de acordo com o qual deve voltar à sua casa na manhã seguinte a refeição do

pesah.

Se compararmos o calendário cultual do Deuteronômio com os regulamentos mais

antigos em Êx 23,10 e Êx 34,18 o que particularmente, juntamente com muitos pontos de

detalhe é que uma demanda de centralização e uma extensão do círculo dos que tomam

parte no culto vem à tona. Estes parecem ser os objetivos dos autores que são responsáveis

pela concepção deuteronômica.

Também não devemos ignorar as conexões com as reformas do culto de Josias, rei

da Judéia. Entretanto, seria um erro não tomar nota dos traços característicos da teologia e

da tradição Deuteronomistas que também apontam para o período mais antigo. Diferentes

extratos de regulamentos e conceitos em Deuteronômio 16,1-17 não podem ser plenamente

compreendidos e adequadamente explicados meramente do ponto de vista da crítica

literária (KRAUS, 1965, pg. 28).

Portanto, o primeiro resultado provisório da nossa análise a ser observado, é que o

calendário cultual Deuteronômico está ligado ao regulamento relativo ao pesah com a

instituição da Festa dos pães ázimos, ligam o regulamento relativo do pesah com a

instituição da Festa dos pães sem fermento que a tendência para a centralização emerge, e

que, em comparação com práticas anteriores, o círculo dos que participam no culto é

alargado.

MCMurtry (2012) classifica as três Festas judaicas, cujas festividades anuais eram:

Pesah – 14 de abib (nisã); Pães Ázimos – 15-21 de abib (nisã); Semanas, ou Pentecostes –

6 de sivã; Toque de Trombeta – 1° de etanim (tisri); Dia da Expiação – 10 de etanim (tisri);

e, Tendas – 15-21 de etanim (tisri), com uma assembleia solene no dia 22. As festividades

periódicas antes do exílio, que eram: Sábado semanal; Lua nova; Ano sabático (a cada 7

anos); e, Ano do jubileu (a cada 50 anos). E as festividades pós-exílio, que eram:

Festividade da Dedicação – 25 de quisleu; e, Festividade de Purim – 14, 15 de adar

(MCMURTRY, 2012, pg. 15).

Figura 4 – Equivalência dos Meses do Ano do Calendário Judeu (Conforme

calendário lunar = 354 dias)

Page 100: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

100

Fonte: Dias, 2006, pg. 37

Figura 5 – O Calendário Judaico e a Correspondência com o Calendário Ocidental

Fonte: Coelho, 1999, pg. 25

O autor explica que as três principais Festas judaicas, que eram periódicas, por

vezes foram denominadas de “Festas da peregrinação”, uma vez que reunia todos em

Jerusalém, em épocas fixas, cujas celebrações eram designadas pelo termo hebraico

“Moh‛édh”. Contudo, o termo “hhagh” era utilizado para se referir de forma exclusiva a

cada uma das celebrações.

1º. Nisan Março/Abril (30 dias)

2º. Iyyar Abril/Maio (29 dias)

3º. Sivan Maio/Junho (30 dias)

4º. Tammuz Junho/Julho (29 dias)

5º. Av Julho/Agosto (30 dias)

6º. Elul Agosto/Setembro (29 dias)

7º. Tichri Setembro/Outubro (30 dias)

8º. Marhechwan Outubro/Novembro (29/30 dias)

9º. Kislev Novembro/Dezembro (29/30 dias)

10º. Tevet Dezembro/Janeiro (29 dias)

11º. Chevat Janeiro/Fevereiro (30 dias)

12º. Adar Fevereiro/Março (29 dias)

13º. VeAdar (mês “embolístico” ou totobUhm = “junto”, de 30 dias

em sete vezes de cada ciclo de 19 em 19 anos lunares e

sempre nos anos 3,6,8,11,14,17,19)

Page 101: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

101

Essas são as principais Festas que fazem parte da tradição judaica, desde as mais

antigas até as contemporâneas. Contudo, a essa pesquisa interessam apenas as três

primeiras, que são conhecidas, majoritariamente, como as três principais Festas judaicas.

6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS

Ao analisar as três principais Festas judaicas, percebemos que não podemos afirmar

com toda a clareza como elas surgiram. O que sabemos é que cada uma destas Festas

sofreu transformações com o decorreu do tempo.

A Festa do pesah que era usada para a proteção do rebanho e da família e era uma

Festa familiar foi com o passar do tempo sendo transformada até chegar ao templo de

Jerusalém. Logo no início da Festa do pesah ela não tinha como objetivo adorar a YHWH,

provavelmente ela tinha como objetivos adorar a outras divindades protetoras dos

rebanhos.

O pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do

cordeiro em uma ceia de comunhão. A família, portanto, é o primeiro lugar para a

celebração e o chefe da família o pai é o presidente dessa pequena assembleia litúrgica.

Considerada uma Festa muito antiga como já vimos, a Festa do pesah remonta à época em

que os israelitas ainda eram seminômades, e podemos dizer que ela é até anterior ao Êxodo

e sofreu alterações até ser centralização no templo de Jerusalém.

A Festa dos pães ázimos tem como sua origem a esfera agrícola e as observâncias

são de fundos diferentes, é portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela

celebram o início da ceifa. Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a

Festa, mas sabemos que esse costume é muito antigo e que também existia fora de Israel. A

Festa dos ázimos assumiu, parece que desde a sua adoção, um caráter propriamente

israelita, sendo uma Festa agrícola, ela dependia do amadurecimento da colheita e não

podia ter data mais precisa que o mês de abib.

Vimos também que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas

separadas, porém comemoradas no mesmo mês, e precisamente na lua cheia. Com a

reforma do rei Josias estas duas Festas foram unidas em uma comemoração apenas. No

décimo quarto dia do primeiro mês é celebrado a Festa do pesah e no décimo quinto a

Festa dos pães ázimos. No período após o Exilio a Festa do pesah e a Festa dos pães

ázimos tinham o status e a dignidade da Festa principal da comunidade cultural em

Jerusalém.

A segunda Festa do calendário judaico é a Festa das semanas, sua origem não

Page 102: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

102

sabemos com certeza, o que sabemos que era uma Festa também voltada para a agricultura,

e que depois com o passar do tempo foi centralizada no templo. Para Kraus (1965) a Festa

das semanas é uma celebração que o povo israelita herdou da cultura dos cananeus. Ela era

expressão de gratidão pela colheita do trigo e da cevada. A Festa das semanas também foi

ligada à história da salvação. Os israelitas adotaram essa pratica antiga e em Israel

costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa época do ano no templo de Jerusalém

como um ato de agradecimento pela boa colheita.

Considerada a terceira Festa mais importante, a Festa das tendas era uma Festa

muito complexa. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram seus

principais objetivos, não temos detalhes a este respeito. Podemos considerar que os

principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas

estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É uma Festa muito popular até os dias

de hoje no templo de Jerusalém em Israel e como de costume o povo cria pequenas cabanas

(Sucá) nos jardins das casas e no templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa.

Quando estudamos a reforma de Josias vimos com clareza as transformações que as

Festas sofreram, estes relatos estão principalmente no livro de 2 Rs 22-24. A reforma de

Josias identifica um único lugar do culto em Jerusalém. Também Israel tornou-se

potencialmente unificado e tendo somente um local de adoração. Os templos que existiam

fora de Jerusalém foram todos destruídos e os sacerdotes foram convidados a adorar

somente a YHWH no templo central de Jerusalém. Esta reforma também teve um objetivo

político e econômico. Com a centralização das Festas em Jerusalém Josias pretendia

fortalecer a economia de Jerusalém.

Ao estudarmos o calendário judaico percebemos que com o desenvolver da

organização e estruturação da sociedade judaica no pós-exilio, as Festas já assimiladas

passam por uma regulamentação, ou seja, estabelece-se um calendário padrão a ser seguido

pelo povo. As tradições do calendário cultual passam por uma adaptação muito decisiva e

ajuste no Deuteronômio. A observância das três grandes Festas anuais é estabelecida neste

calendário cultual abrangente. Os requisitos Deuteronômicos, portanto, pela primeira vez

incluem o pesah nos regulamentos culticos do calendário de festividade, e relaciona-o com

a Festa dos pães ázimos.

Page 103: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Festas assinalam importantes momentos na vida de uma pessoa ou

comunidade. Elas sempre fizeram parte das tradições do povo de YHWH, que celebrava

ocasiões especiais como, por exemplo, nascimento, colheitas e outros tipos de festividades.

Fizeram também parte dessas tradições especialmente as Festas religiosas que eram

observadas anualmente, como expressão de culto em gratidão e honra a YHWH.

A presente dissertação buscou analisar as três principais Festas judaicas - a Festa

do Pesah e Pães Ázimos; a Festa das Semanas e a Festa das Tendas -. Nesse contexto, além

de pesquisadores da atualidade, foram consultados vários comentários bíblicos, os livros

bíblicos do Antigo Testamento, que formam o Pentateuco (Genesis, Êxodo, Levítico,

Números e Deuteronômio).

O estudo baseou-se, prioritariamente, na análise do texto de Deuteronômio, livro

bíblico do Antigo Testamento que tem seu conteúdo bastante debatido por estudiosos

contemporâneos, que contestam e divergem sobre a sua criação e autoria em grande parte

das exposições e afirmações ali encontradas.

Analisando, principalmente, a perícope de Deuteronômio 16,1-17, que explica as

principais Festas judaicas, pode-se afirmar que o texto procura levar o povo a uma

adoração a YHWH, no local onde foi escolhido para que se apresente em agradecimento

pelas bênçãos da proteção e boa colheita.

Seguindo o estudo da perícope de Deuteronômio 16,1-17, entende-se que o estudo

das Festas judaicas nos mostra um simbolismo ainda maior, pois a cada período bíblico o

formato das Festas judaicas era atualizado, sendo modificado em seu modo de realização,

local e época do ano.

No livro de Êxodo, por exemplo, as três Festas aparecem como ritos de adoração e

agradecimento a um Deus que protege o rebanho, as colheitas e principalmente a família.

Já em Deuteronômio esses ritos são modificados e a sua realização passa a se desenvolver

no templo de Israel, lugar definido como único para celebrar e levar as ofertas das famílias

a YHWH.

A primeira parte do trabalho procurou debruçar-se sobre o texto, começando pela

tradução literal interlinear: texto Massorético de Deuteronômio, a delimitação do texto, que

trata da perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertencente a um bloco narrativo, chamado de

“livro da lei”. Este bloco narrativo também conhecido como terceiro grande discurso de

Moisés, tem o seu início no capitulo de Deuteronômio 12,1 e termina com os mandamentos

Page 104: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

104

que fazem referências às três peregrinações anuais ao santuário central: a Festa do Pesah

(hag pesah) e dos Pães Ázimos (hag matzá) (v.1-8), Festa das Semanas (hag xabu´ot) (v.

9-12) e a Festa das Tendas (hag sukkōt) (v.13-15). Essas Festas são consideradas as

principais Festas judaicas dentro do calendário judaico.

Conforme Von Rad (1966) a perícope de Deuteronômio mostra a dificuldade que

Israel encontrava para desenvolver conteúdos teológicos teóricos a partir de si mesmo. Esse

estilo Deuteronômico, caracterizado pela repetição de uma típica combinação de palavras,

tem do princípio ao fim uma característica exortativa e constitui-se de palavras dirigidas ao

interlocutor a fim de conquistá-lo.

O conteúdo da perícope também é estudado neste capítulo, evidenciando o

contexto histórico e social do povo de Israel ao longo das frases, estrofes e termos. No

segundo capítulo o caminho percorrido foi comparativo. Fez-se uma análise das três Festas

judaicas citadas acima e a comparação das suas versões entre os livros de Êxodo, Números

e Levítico com a perícope de Deuteronômio 16,1-17 que foi a base desta pesquisa. Quanto

à Festa do Pesah e Pães Ázimos, se compararmos o Livro de Êxodo e Deuteronômio pode-

se afirmar que é a que mais apresenta transformações e mudanças relevantes.

A Festa do Pesah tem seu início como um ritual pequeno, que ocorre no seio

familiar, cujo objetivo era a gratidão pela proteção do rebanho e pela proteção da família.

No decorrer da história se torna a mais importante comemoração do ano, para a qual as

famílias se deslocam até o templo de Jerusalém, em peregrinação, para festejar no único

local designado como sagrado para receber o povo que trazia suas ofertas e rituais, este

com objetivo de gratidão, pela proteção de YHWH. Um dos principais motivos da

centralização da Festa no templo de Jerusalém também visa a centralização do tributo, que

o povo trazia em forma de oferta, para a manutenção de toda a estrutura do templo,

composta por sacerdotes e um grande grupo de funcionários. Visa também a unificação do

Estado em torno da proposta da reforma do rei Josias, no século VII a.C,. pois, um culto

descentralizado representa um país difícil de governar.

O livro de Êxodo diz como deveria ser o preparo para esta Festa: começar quatro

dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o

número de pessoas para quem um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que

todos os membros da família, homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa.

Há outras diferenças significativas na comparação entre Êxodo e Deuteronômio sobre a

Festa do Pesah. Entre elas a escolha do animal a ser oferecido no ritual, a forma de preparo

para o consumo pelas pessoas, o mês de sua realização e o horário do oferecimento do

Page 105: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

105

sacrifício.

Para o pesquisador Dias (2006) o livro do Deuteronômio impõe à Festa ao pesah

uma anamnese em que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental.” “O pesah

não é apenas um acontecimento do passado histórico de Israel, a sua historicização

litúrgica tornou-a centro de gravidade e eixo de todo o culto ao longo do ano litúrgico

judaico, dando-lhe dimensão anamnésica-litúrgica-escatológica” (DIAS, 2006, pg. 31).

Em relação à Festa das Semanas, também conhecida como Festa da Colheita ou

Pentecostes, o pesquisador McMurtry (2012) diz que falar das suas origens seria uma tarefa

extremamente exaustiva, já que a mesma, data da época dos cananeus e de outros povos do

Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações.

Segundo ele, é possível presumir que o costume da realização da Festa das

Semanas foi originalmente pertencente aos cananeus, por três principais razões: os

agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no

período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham

a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como seminômades nas montanhas

centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o

povo israelita se tornou agricultor sedentário. Contudo, esta conclusão de McMurtry (2012)

deve ser contestada, uma vez que já há meio século se tem comprovado de que o povo de

Israel é originário do próprio povo cananeu. Mas, se pode resgatar desta teoria a

confluência entre povos seminômades das estepes, que praticavam o pastoreio e os povos

sedentários que praticavam a agricultura. Esta mescla de costumes está por trás da Festa

das semanas.

Duas preocupações cruciais surgem quando se analisa a Festa das Semanas: a

gratidão pelos frutos da terra, que no caso do trigo e da cevada são a base da alimentação

do povo, e a comunhão, uma forma de gratidão que vai além da pessoa, estendendo-se ao

grupo, à comunidade e à sociedade. A transformação da Festa das Semanas foi quase

inevitável em Israel, uma vez que ao longo da história toda a tradição e costumes foram

sendo reinterpretados a partir da adoração à YHWH.

A Festa das Semanas marca o final da temporada do pesah e as principais

características do evento é o fato de que era alegre e solene. A celebração tinha dedicação

exclusiva à YHWH e era aberta a todos os produtores, seus familiares, pobres, levitas e

estrangeiros. A participação de todos familiares, pobres, levitas e estrangeiros era muito

importante e significava que não deveria haver diferenças na sociedade e povo de YHWH.

Page 106: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

106

A prática da Festa das semanas vai contra uma sociedade que exclui os pobres e

estrangeiros de participar das celebrações.

A transformação da Festa das Semanas foi quase inevitável em Israel, uma vez

que ao longo da história toda a tradição e costumes foram sendo reinterpretados a partir da

adoração à YHWH e a centralização da Festa no templo de Jerusalém foi de uma

importância considerável para o povo judeu.

Já a Festa das Tendas ou Tabernáculos era um evento em comemoração à colheita

de outono e era considerada a terceira principal Festa judaica. O primeiro dia da Festa das

Tendas era o 15º dia do sétimo mês do ano. A ideia da Festa era a colheita dos frutos

típicos da época, marcando a saída do ano agrícola, além de viver ao longo de sete dias em

tendas, ou seja, habitações provisórias.

A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava

no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da

antiga aliança. Essa é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,

de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais desse

evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo. As tendas eram

preparadas para servir de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo habitava nelas em

meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia tirado o povo de

Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário.

Tendo iniciado também como Festa familiar, com o passar do tempo foi

centralizada no templo e a família passou a construir tendas no templo como um ato de

adoração a YHWH. Mesmo tendo sido atualizada, entre as três principais Festas de

tradição judaica, foi a que sofreu menor impacto, em termos de mudanças ou alterações.

A terceira e última parte deste trabalho foi dedicada à análise da origem popular

das principais Festas judaicas “Pesah, Ázimos, Semanas e Tendas”. Também foram

exploradas as mudanças sofridas por estes eventos através dos tempos e as suas principais

relevâncias para o povo de Israel, tanto no período do Antigo Testamento, como também as

heranças deixadas e que ainda têm reflexos nos dias atuais. Depois de todo o estudo

realizado sobre as três principais Festas judaicas, não é possível afirmar com precisão

como foi o surgimento de cada uma delas. O que ficou claro por meio da pesquisa foram as

transformações que elas tiveram, envolvendo desde o formato de execução, período do ano

e, principalmente, o seu simbolismo para o povo.

Ao falarmos da origem do pesah, não se tem dados suficientes para esclarecer

sobre a sua celebração no período pré-israelita. O que se sabe é que esta Festa originou-se

Page 107: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

107

como uma celebração em que os pastores têm como o recurso mais importante e precioso,

o rebanho. Quando colocamos o pesah como uma celebração de pastores, estamos

distinguindo o pesah das outras três Festas (Ázimos, Semanas e Tendas), consideradas

como Festas de peregrinação, mencionadas nos mais antigos calendários litúrgicos (Êx

23,14-17; 34.18-23). No judaísmo, o Pesah, é a etapa mais solene do calendário civil e

litúrgico. Este privilégio ocorre depois de ter percorrido um complexo itinerário, cujos

inícios se perdem nas arcaicas tradições nômades de povos pré-israelitas.

Vimos também que a Festa do ázimos tem como sua origem a esfera agrícola.

Observamos que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas separadas

mas comemoradas no mesmo mês, e com o passar do tempo por serem bem próximas elas

foram unidas.

A Festa das semanas também tem como sua origem uma Festa voltada à

agricultura. Para Kraus (1965) a Festa das semanas é uma celebração que o povo israelita

herdou da cultura dos cananeus. Ela era expressão de gratidão pela colheita do trigo e da

cevada. A Festa das semanas também foi ligada à história da salvação. Os israelitas

adotaram essa prática antiga e em Israel costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa

época do ano no templo de Jerusalém como um ato de agradecimento pela boa colheita.

Considerada uma Festa muito complexa, mas que sofreu poucas mudanças no

decorrer dos tempos, a Festa das Tendas é considerada a terceira Festa mais importante no

calendário judaico. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram

seus principais objetivos, não temos detalhes de quando começou e aonde começou.

Podemos considerar que os principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa

agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É

considerada até os dias de hoje uma Festa muito popular no templo de Jerusalém em Israel

e como de costume o povo constrói pequenas cabanas (Sucá) nos jardins das casas e no

templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa. Não é no templo, mas ao redor, fora das

muralhas, onde era o templo em Jerusalém. O templo não existe mais.

Neste último capítulo também foram analisadas a reforma que estas três

principais Festas tiveram no período do rei Josias. Considerado um dos principais

reformistas das três grandes Festas citadas acima. Josias quando encontra o livro perdido

de Deuteronômio, lê o livro e percebe que precisa fazer algumas reformas nestas três

Festas. Seu interesse, além de religioso, é sobretudo político, pois via no culto o meio para

centralizar o poder e ampliar seu domínio sobre novos territórios. Uma das reformas que

estudamos foi a unificação da Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos, bem como a

Page 108: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

108

centralização das três Festas no templo de Jerusalém. Também Israel tornou-se

potencialmente unificado, tendo somente um local de adoração. Os templos que existiam

fora de Jerusalém foram todos destruídos e os sacerdotes foram convidados e obrigados a

adorar somente a YHWH no templo central de Jerusalém. Esta reforma também teve um

objetivo político e econômico. Com a centralização das Festas em Jerusalém Josias

pretendia fortalecer a economia e o poder de Jerusalém.

Ainda serão necessárias muitas pesquisas sobre a três principais Festas judaicas. O

estudo destas Festas no Novo Testamento, que não foi apontado neste estudo, pode ser de

grande esclarecimento e pode trazer respostas mais claras sobre o significado das Festas.

De certa forma, acredito que os meus estudos sobre a três principais Festas judaicas não

terminam aqui e que este estudo foi somente o ensaio para uma nova etapa de estudos

sobre este assunto tão significativo para a compreensão da cultura dos povos da Bíblia e

para os que hoje se orientam por ela.

Page 109: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

109

REFERÊNCIAS

Bíblias

Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

Bíblia de Estudo Almeida Revisada e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,

1999.

Bíblia Hebraica Stuttgartensia: SESB Version. Electronic ed. Stuttgart: German Bible

Society, 2003.

Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. Saõ Paulo: Paulus, 2010.

Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.

Bíblia King James Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica Ibero-Americana, 2013.

Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional Português-Inglês. São Paulo: Editora Vida,

2003.

FRANCISCO, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português: Vol. 1

Pentateuco. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

FRANCISCO, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português: Vol. 2

Profetas Anteriores. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014.

Dicionários

DOUGLAS J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, pgs. 1206-

1209.

FILHO, Fernando B. Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008, pgs. 750-

752.

HARRIS, R. Laird, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São

Paulo: Vida Nova, 1998, pgs. 1223-1224.

LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas, 1998, pgs.

1348-1352.

MONLOUBOU, L. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vozes, 2002, pgs.

595-597.

MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1984, pg. 696.

SCHÖKEL, L. Alonso. Dicionário Bíblico hebraico-português. São Paulo: Paulus, 1997.

Page 110: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

110

Jenni E., Westermamm C.. Diccionario Teologico Manual del Antguo Testamento V.1,

Madrid: Cristiandad, 1985.

Artigos e Livros

ANDIÑACH, Pablo R. El Libro Del Êxodo. Madri: Ediciones Sígueme, 2006, pgs. 152-

160.

ARAÚJO, G. L. A Festa de Shavout: Pentecostes. Rio de Janeiro: ATeo, 2015, pgs. 310-

329.

ARAÚJO, G. L. História da Festa Judaica das Tendas. São Paulo: Paulinas, 2011, pgs. 11-

20.

AVRIL, Anne-Catherine. As Festas Judaicas. São Paulo: Paulus, 1997, pgs. 07-88.

BOTTERWECK, G. Johannes. Theological Dictionary of the Old Testament. Michigan:

Revised, 2011, pgs. 01-14.

CARSON, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, pgs. 330-

332.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo Volume 1.

São Paulo: Hagnos, 2001, pgs. 305-741.

CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo Volume 2.

São Paulo: Hagnos, 2001, pgs. 817-821.

COELHO, Antonio C. As Festas Judaicas e o Cristianismo. São Paulo: Paulinas, 1999.

CROATTO, J.S. e KRUGER, R. Métodos Exegéticos. Buenos Aires: Publicaciones

Educab, 1993.

DA SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas,

2000.

DIAS, G. J. A. C. As festas na Bíblia. In: ______. As religiões da nossa vizinhança:

história, crença e espiritualidade. Porto: Universidade do Porto, 2006, pgs. 23-38.

FIELD, David. O Mundo da Bíblia. São Paulo: Edições Paulinas, 1986, pgs. 195-203.

FORD, J. Comentário Bíblico Beacon. V.1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das

Assembleias de Deus, 2009, pgs. 450-452.

GERSTENBERGER, Erhard S., Israel no Tempo dos Persas Século V e IV antes de Cristo.

São Paulo: Loyola, 2002. pgs. 456-466.

HOPPE, Leslie J. Comentário Bíblico Introdução ao Pentateuco. V.1. São Paulo: Loyola,

1999, pgs. 200-202.

Page 111: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

111

Haag, Herbert. De la Antigua a la Nueva Pascua: Historia y Teologia de la Fiesta Pascual.

Salamanca: Sígueme , 1980. pgs. 30-90.

KRAMER, Pedro. Origem e Legislação do Deuteronômio. São Paulo: Paulinas, 2006, pgs.

45-50.

KRAUS, Hans Joachim. Worship in Israel-A Cultic History of the Old Testament. Grã-

Bretanha: Blackwell Publishers, 1965, pgs. 26-74.

LASOR, William S., HUBBARD, David A., BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo

Testamento - A Torá. São Paulo: Vida Nova, 1999, pgs. 121-138.

LEVINSON, Bernard M. The Hermeneutics of Tradition in Deuteronomy: A Reply to J. G.

McConville. In: JBL 119, n.02, 2000, pgs. 269-289.

LOPEZ, Félix G. Comentário ao Antigo Testamento. V.1. São Paulo: Ave-Maria, 2002,

pgs. 261-310.

LOPEZ, Félix G. O Pentateuco. São Paulo: Ave-Maria, 2004, pgs. 226-268.

MACKINTOSH, C. H. Estudos Sobre o Livro de Deuteronômio V.II. Lisboa: Santelmo,

1991, pgs. 177-204.

MAERTENS, Thierry. Fiesta em Honor a Yahe. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1964, pgs.

107-145.

MALATY, Tadros Y. A Patristic Commentary – The Book of Deuteronomy. California:

2005, pgs. 229-241.

MCMURTRY, G. S. As Festas Judaicas do Antigo Testamento: Seu Significado Histórico,

Cristão e Profético. Curitiba: A. D. Santos Editora, 2012, pgs. 05-120.

MEYERS, Carol. Social Theory and the Study of Israelite Religion. Atlanta: Society of

Biblical Literature, 1992, pgs. 141-161.

OSVALDO, Carlos. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Editora

Hagnos, 2006, pgs.159-180.

PETRUSKI, M. R. O Senhor Seja Louvado! A Festa das Tendas e dos Pães Ázimos na

Bíblia Sagrada. São Paulo: Revista Caminho v.21, n.1, 2016, pg. 154-158

PFEIFFER, Charles F.; HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody. V.1. São

Paulo: Imprensa Batista Reguar, 2001, pgs. 229-332.

PROSIC, Tamara, The Development and Symbolism of Passover until 70 CE. New York:

Published by T&T Clark International, 2004, pgs. 33-71.

RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento. Vol. 1 e 2. São Paulo: Targumim,

2006, pgs. 215-227.

RAD, Gerhard Von. The Old Testament Library. Pennsylvania: Westminster, 1966,

Page 112: UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE …tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1718/2/Silvano... · 2018-03-21 · universidade metodista de sÃo paulo escola de comunicaÇÃo,

112

pgs.109-115.

RAVASI, Gianfranco. Êxodo. São Paulo: Paulinas, 1985, pgs. 57-72.

RÖMER, Thomas. A Chamada Histórica Deuteronomista. Petrópolis: Editora Vida, 2008.

SÁNCHEZ, E. Deuteronomio: Introducción y Comentario. Buenos Aires: Kairos, 2002,

pg. 297.

SCHWANTES, Milton. O Direito dos pobres. São Leopoldo, Oikos, São Bernardo do

Campo: Editeo, 2013.

SELLIN E.; FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Paulus, 2007, pgs.

231-382.

SIMIANÝOFRE, Horácio (org.). Metodologia do Antigo Testamento. São Paulo: Loyola,

2000.

THOMPSON, J. A. Deuteronômio Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982,

pgs. 11-49.

VAUX, R. de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Editora Teológica,

2003, pgs. 521-542.

WILLI-PLEIN, Ina. Sacrifício e Culto no Israel do Antigo Testamento. São Paulo: Edições

Loyola, 2001, pgs. 119-129.

Teses e Dissertações

DIAS, Everson Medeiros. Dízimo uma expressão de gratidão, espontaneidade e

compromisso com Deus: Uma análise da origem e história do dizimo no Antigo

Testamento. São Bernardo do Campo. Universidade Metodista de São Paulo, 2004.

(Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião).

FRIZZO, Antonio Carlos. A Trilogia Social: Estrangeiro, Órfão e Viúva no Deuteronômio

e sua Recepção na Mishná. PUC-Rio de Janeiro, 2009. (Tese de Doutorado em Ciência da

Religião).

PEREIRA, Cristine Capeleti. Da colheita á Descida do Espirito Santo: A Festa das

Semanas. São Bernardo do Campo. Universidade Metodista de São Paulo, 1997.

(Dissertação de Mestrado em Ciência da Religião).