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UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE NORTE
CENTRO CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS
Rebeca Marota da Silva
DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DAS EÓLICAS NO RIO GRANDE
DO NORTE (2002-2015): Microrregiões e Políticas de
Desenvolvimento Local
Natal, RN 2017
Rebeca Marota da Silva
DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DAS EÓLICAS NO RIO GRANDE
DO NORTE (2002-2015): Microrregiões e Políticas de
Desenvolvimento Local
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito para obtenção do título de mestre em Estudos Urbanos e Regionais.
Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca Figueiredo
Natal, RN
2017
Aos meus heróis, disfarçados de pais,
Sr. Erivan e Dona Jane, pelo amor, compreensão e fé.
AGRADECIMENTOS
Todo produto de um trabalho árduo é resultado de apoio e incentivos
daqueles que nos rodeiam. Portanto, são inúmeros os agradecimentos pelo
resultado desta dissertação.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a sociedade potiguar, que
através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, contribuiu para a
minha formação acadêmica. Tenho esperança que este trabalho venha
fortalecer o debate sobre desenvolvimento local, possibilitando uma resposta
ao que em mim foi investido.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e
Regionais, que através da infraestrutura oferecida e da excelente formação dos
professores, viabilizou a elaboração desse trabalho e enriqueceu minha
formação acadêmica. Grata a todos os professores que integram o PPEUR.
Ao SEMAPA (Grupo de Pesquisa em Socioeconomia do Meio Ambiente
e Política Ambiental), que me acolheu como filha, creditando fé no meu
trabalho e despertando em mim o espírito de coletividade. Gratidão a todos os
colegas do SEMAPA pelas discussões acadêmicas e pelos leves cafés da
tarde.
Em especial agradecimento, às minhas amigas-irmãs-superpoderosas
que encontrei na Universidade, Anna Lidiane, Jelisse Vieira e Samara Taiana,
por permitirem que eu compartilhasse alegrias e angustias dessa fase vivida.
Agradeço meu orientador, Professor Fábio, por desde sempre acreditar
no meu trabalho, pelos incentivos nesse trilhar acadêmico e principalmente
pela paciência em me mostrar os melhores caminhos para a construção desse
trabalho. Gratidão!
Meus agradecimentos se entendem aos professores do
Gepetis/Depec/UFRN – Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho,
Inovação e Sustentabilidade do Departamento de Economia. Em especial aos
professores Denílson Araújo, Marconi Gomes e William Eufrásio, por deixarem
a disposição o acesso ao Banco de Dados da RAIS/MTE e discutirem comigo
as informações quantitativas deste trabalho. Agradecida.
Grata aos Professores José Gomes Ferreira, William Eufrásio Nunes
Pereira e Danilo Araújo Fernandes por gentilmente aceitarem participar desta
banca.
Por fim, agradeço aos meus pais, irmãos e amigos que sempre
estiveram pertinho de mim ao longo desse desafio que tracei. Minha Gratidão!
RESUMO
Este trabalho analisa a dinâmica socioeconômica do Rio Grande do Norte a partir da economia das eólicas (2002-2015) e as microrregiões onde são instalados os parques eólicos no estado. Por essa razão, é pedra angular dessa dissertação o focar na energia eólica como proposta de desenvolvimento local, compreendendo-se como centro da análise, a relação entre os investimentos eólicos e os territórios estudados. Para melhor percepção de como é possível a dinâmica econômica de uma região periférica, adotou-se como plataforma metodológica a investigação histórico-estruturalista da escola cepalina. A pesquisa parte da análise dos fatos históricos que se manifestaram em diferentes períodos, impactando positiva ou negativamente nas estruturas produtivas e sociais. Como procedimentos metodológicos foram realizados: revisão da literatura; observação empírica através de uma visita de campo; e consulta e análise de documentos. Elegeu-se como principal hipótese que apesar dos elevados investimentos, como é o caso da energia eólica no Rio Grande do Norte, ocorre uma baixa interação com a dinâmica regional local, não contribuindo para a diminuição de problemas estruturais, sociais e econômicos de uma região periférica. Conclui-se que apesar dos esforços nacionais em desenvolver o setor, no Rio Grande do Norte, a dinâmica socioeconômica foi influenciada de forma tangencial no que se refere a economia das eólicas, ou seja, sem profundas transformações. Destaca-se a urgência de concomitância entre as políticas nacionais de setor com as políticas locais de desenvolvimento. A economia das eólicas revela-se como promotora de desenvolvimento quando o Estado concilia as oportunidades que o setor desenvolve. Caso contrário, a economia das eólicas servir-se-á dos territórios em que se instala apenas como recurso para a reprodução do capital internacional sem se espraiar progresso pelo local.
Palavras Chave: Desenvolvimento Regional; Dinâmica Socioeconômica; Economia Das Eólicas; Microrregiões Eólicas; Políticas de Desenvolvimento Local
ABSTRACT
Analyzes the socio-economic dynamics of Rio Grande do Norte from the economics of wind power (2002-2015) and micro-regions where are found the wind farms of the State. For this reason, it is the cornerstone of this dissertation the focus on wind power as local development proposal, figuring out how to center of analysis, the relationship between the wind farm investments and territories studied. For better understanding of how it is possible the economic dynamics of a peripheral region, it was used as methodological platform the historical research structuralist method of cepalina school. The research stems from the analysis of the historical facts that was expressed in different periods, impacting positively or negatively in the productive and social structures. As methodological procedures were performed: literature review; empirical observation through a field visit; and document consultation and analysis. It was elected as the main hypothesis that high investment, as is the case of wind energy in Rio Grande do Norte, result in conservatism and strengthening of local inequalities, there is a low interaction with the local regional dynamics, not contributing to the reduction of structural, social and economic problems of a peripheral region. It is concluded that despite the national efforts to develop the sector, in Rio Grande do Norte, the socioeconomic dynamics was influenced in a tangential way with regard to the economy of the wind, that is, without deep transformations. The economy of wind power is seen as a promoter of development when the State reconciles the opportunities that the sector develops. Otherwise, the economy of wind power will be used in territories where it is installed only as a resource for the reproduction of international capital without spreading progress through the site.
Key words: Local Development Policies; Micro-regions Wind; Regional Development; Socio-Economic Dynamics; Wind Power Economics;
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Ciclo de Relação de Dependência Produtiva da Economia Eólica. 47
Figura 2 – Microrregiões Eólicas Potiguares - 2017 ........................................ 68
Figura 3 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau .............................................. 69
Figura 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde .................................................... 83
Figura 5 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste ............................................... 92
Figura 6 – Microrregião Eólica Serra de Santana .......................................... 102
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Preços do Petróleo Bruto em Dólares (1971-1980) ...................... 39
Gráfico 2 – Mundo – Taxa de crescimento anual (%) da produção de
eletricidade por fonte eólica 2012/2002 ............................................................ 44
Gráfico 3 – Mundo - Participação (%) na produção mundial de energia eólica –
2012 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015). Elaborado pela
autora ............................................................................................................... 45
Gráfico 4 – Microrregião Mossoró-Macau - Emprego Formal por Setores
Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 76
Gráfico 5 – Microrregião Mossoró-Macau - Estabelecimentos produtivos –
2002-2015 ........................................................................................................ 77
Gráfico 6 – Microrregião Baixa Verde - Emprego Formal por Setores
Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 87
Gráfico 7 – Microrregião Baixa Verde - Estabelecimentos produtivos – 2002-
2015 ................................................................................................................. 88
Gráfico 8 – Microrregião Litoral Nordeste - Emprego Formal por Setores
Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 97
Gráfico 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Estabelecimentos produtivos –
2002-2015 ........................................................................................................ 98
Gráfico 10 – Microrregião Serra de Santana – Emprego Formal por Setores
Econômicos – 2002-2015 ............................................................................... 105
Gráfico 11 – Microrregião Serra de Santana – Estabelecimentos produtivos –
2002-2015 ...................................................................................................... 106
Gráfico 12 - Participação do Emprego Formal por Setores Econômicos -
Mossoró e Natal (2015) .................................................................................. 123
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Relação dos bancos de dados quantitativos coletados e descrição
......................................................................................................................... 26
Quadro 2 – Municípios das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte .... 27
Quadro 3 - Principais Políticas de Mercado para energia eólica ..................... 42
Quadro 4 – Estrutura Completa da Economia das Eólicas .............................. 46
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau - Empreendimentos de
Geração Eólica: em operação e em construção não iniciada........................... 73
Tabela 2 – População Urbana e Rural da Microrregião Mossoró-Macau – 2000,
2007 e 2010 ..................................................................................................... 73
Tabela 3 – Microrregião Mossoró-Macau - Número de Empregos Formais no
Segmento de Construção (2002-2015) ............................................................ 82
Tabela 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde – Empreendimentos de Geração
Eólica: em operação, em construção e em construção não iniciada ................ 84
Tabela 5 – População Urbana e Rural da Microrregião Baixa Verde – 2000,
2007 e 2010 ..................................................................................................... 85
Tabela 6 – Microrregião Baixa Verde - Número de Empregos Formais no
Segmento de Construção (2002-2015) ............................................................ 91
Tabela 7 – População Urbana e Rural da Microrregião Litoral Nordeste – 2000,
2007 e 2010 ..................................................................................................... 93
Tabela 8 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste – Empreendimentos de
Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada ... 94
Tabela 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Número de Empregos Formais no
Segmento de Construção (2002-2015) .......................................................... 100
Tabela 10 – Microrregião Eólica Serra de Santana – Empreendimentos de
Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada . 103
Tabela 12 – Microrregião Serra de Santana - Número de Empregos Formais no
Segmento de Construção (2002-2015) .......................................................... 108
Tabela 13 - População Urbana e Rural - Natal, Mossoró, Microrregiões Eólicas
e Rio Grande do Norte (2000 e 2010) Fonte: IBGE/IPEADATA. Elaborado pela
autora ............................................................................................................. 121
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A.A.
ANEEL
Ao ano
Agência Nacional de Energia Elétrica
ABEEÓLICA Associação Brasileira de Energia Eólica
AET Autorização Especial de Transporte
BRICS Grupo Político de Cooperação entre os países Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul
CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe
CERNE Centro de Estratégias em Recursos Naturais & Energia
CODERN Companhia Docas do Rio Grande do Norte
COSERN Companhia Energética do Rio Grande do Norte
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
FINBRA Finanças do Brasil – Tesouro Nacional
FIT Feed-in Tarrifs
FMI Fundo Monetário Internacional
GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
GW Gigawatt (Medida de Potência)
GWH Gigawatt-Hora
I CNDR I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPEADATA
KM
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Quilômetro
ISS Imposto Sobre Serviços
KW Quilowatt (Medida de Potência)
KWH Quilowatt-Hora
MMA Ministério do Meio Ambiente
MME Ministério das Minas e Energia
MTE Ministério do Trabalho e do Emprego
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
MW Megawatt (Medida de Potência)
MWH Megawatt-Hora
O&M Operação e Manutenção
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONU Organização das Nações Unidas
OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PETROBRÁS Petroleo Brasileiro S/A
PIB Produto Interno Bruto
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNDR Política Nacional de Desenvolvimento Regional
PROADI Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial
PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo
PROEÓLICA Programa Emergencial de Energia Elétrica
PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
RIDES Regiões Integradas de Desenvolvimento
RMN Região Metropolitana de Natal
SEPLAN Secretaria do Estado do Rio Grande do Norte do Planejamento
e das Finanças
SEST/ SENAT Serviço Social do Transporte / Serviço Nacional de
Aprendizagem do Transporte
SINDIPEST Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e
Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
UFERSA Universidade Federal Rural do Semiarido
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18
1.1 Metodologia ................................................................................................ 21
1.2 Procedimentos Metodológicos ................................................................... 22
1.2.1 Revisão da Literatura ............................................................................ 22
1.2.2 Visita de Campo .................................................................................... 25
1.2.3 Consulta e análise de documentos...................................................... 26
1.3. Estrutura dos capítulos .............................................................................. 28
2 ENERGIA EÓLICA COMO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO ........... 30
2.1 O desafio do Desenvolvimento Sustentável ............................................... 30
2.2 Economia das Eólicas no cenário internacional ......................................... 38
2.3 Energia eólica nos países periféricos ......................................................... 43
3 ECONOMIA DAS EÓLICAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL ................. 51
3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional .................................................... 51
3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos ................................... 58
4 MICRORREGIÕES EÓLICAS DO RIO GRANDE DO NORTE ..................... 67
4.1 Mossoró-Macau .......................................................................................... 68
4.2 Baixa Verde ................................................................................................ 83
4.3 Litoral Nordeste .......................................................................................... 91
4.4 Serra de Santana ..................................................................................... 101
5 VICISSITUDES E LIMITES DA ECONOMIA POTIGUAR A PARTIR DA
PRODUÇÃO DE ENERGIA EÓLICA ............................................................. 110
5.1 Políticas Locais de Incentivo à Economia das Eólicas ............................. 110
5.2 Economia das Eólicas e integração regional: os papéis de Natal e
Mossoró.......................................................................................................... 120
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 127
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 130
17
APÊNDICE A – RIO GRANDE DO NORTE: Região Metropolitana e
Microrregiões ................................................................................................ 136
APÊNDICE B – REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA VISITA DE CAMPO.... 137
APÊNDICE C – Tabelas sobre Emprego Formal e Estabelecimentos das
Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte ......................................... 141
ANEXO A – CAPACIDADE TOTAL DA INDÚSTRIA EÓLICA NO BRASIL . 145
18
1 INTRODUÇÃO
Os fenômenos socioeconômicos do Nordeste são produtos de
determinações históricas que se manifestaram na região e se espraiaram pelos
seus estados, influenciando a formação dos territórios. Observando esse
processo de desenvolvimento regional, bem como os desequilíbrios
econômicos por ele desencadeados, analisaremos, neste estudo, o caso do
Rio Grande do Norte. No estado potiguar, a intervenção da Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a partir da década de 1960,
elevou os montantes de investimentos do capital industrial, porém, não criou
novos setores produtivos intensivos em tecnologia. Na realidade, reforçou os
setores produtivos tradicionais (têxtil, alimentos, confecções, salineiro etc.).
Esse fato, somado à desintegração produtiva de algumas economias do interior
do estado – como a produção de sal1, de scheelita, de algodão, juntamente
com a conservadora penetração do capital em regiões agrícolas, produtoras de
frutas para exportação – acabaram provocando uma significativa concentração
populacional e produtiva na Região Metropolitana de Natal (RMN), fragilizando
ainda mais a economia interiorana potiguar.
O fim da era desenvolvimentista2 e início das práticas neoliberais,
através da abertura econômica e redução do Estado nos anos 1990, foi
marcado pelo abandono de investimentos em áreas motores de
desenvolvimento. Entretanto, no período mais recente (2002-2014), foram
criados programas que buscavam resgatar o caminho traçado naquela época.
No que diz respeito aos incentivos às fontes de energias, deve-se lembrar de
que o Estado brasileiro tem incentivado a criação de novas matrizes
energéticas, sobretudo àquelas que não somente contribuirão para ampliar a
segurança energética nacional, mas também as que se incorporam ao novo
conceito de energia limpa, tais como a eólica e a solar.
1 Ainda que o Rio Grande do Norte seja o maior produtor nacional de sal, o processo de modernização das salinas, iniciado no final de 1960, resultou em uma significativa evolução do desemprego, dado que contingentes de força de trabalho empregados nesta atividade foram substituídos por máquinas e equipamentos, acelerando assim a produtividade e o aumento do produto. Esse processo é tratado teoricamente por Shumpeter (1985) como “destruição criativa”. 2 Langoni (1985); Lessa (1986).
19
Com a necessidade nacional de novos investimentos no setor energético
e o atual debate sobre sustentabilidade, a região Nordeste entra em cena
ofertando os seus recursos naturais. Os argumentos em defesa da vocação da
região aliam-se às intensas e estáveis rajadas de ventos, fator importante na
definição do tamanho do território a ser ocupado pelos parques eólicos.
No Rio Grande do Norte, estado que possui elevados investimentos em
energia eólica, faz-se mister ampliar o debate sobre os efeitos da combinação
território e matriz renovável. Enquanto estruturas produtivas, os parques
eólicos são capazes de conectar escalas locais, nacionais e globais. Porém,
tais conexões podem ser pouco eficazes se o uso do território, enquanto um
ativo necessário à produção energética, intensificar a pobreza, a desigualdade,
limitar investimentos ou não se traduzirem em ativos sociais locais ou regionais
inibidores de vulnerabilidade social.
Os municípios potiguares, antes da atividade da energia eólica ser
implantada em seus territórios, desenvolviam a produção do petróleo,
fruticultura irrigada, extração de sal, pesca artesanal e os serviços. Atividades
essas que, no formato desenvolvido na região, não foram capazes de
alavancar o crescimento regional, mantendo o posicionamento periférico
desses lugares (CLEMENTINO, 1990; ARAÚJO, T., 1997; ARAÚJO, D., 2010;
ROCHA, 2013).
O desafio identificado para o Rio Grande do Norte é não repetir o erro de
atividades econômicas anteriores à produção de energia renovável. Ou seja, de
que forma os territórios ocupados pela atividade eólica, os quais recebem
grandes quantias de investimentos para as suas instalações, podem se
beneficiar ao ponto de reduzirem o cenário periférico no qual se encontram?
Neste trabalho apresenta-se, como principal hipótese, que apesar dos
elevados investimentos, como é o caso da energia eólica no Rio Grande do
Norte, ocorre uma baixa interação com a dinâmica regional local, não
contribuindo para a diminuição de problemas estruturais, sociais e econômicos
de uma região periférica.
20
Assim, o objeto desta investigação deste trabalho é a energia eólica
como proposta de desenvolvimento local, em especial em regiões periféricas
como o Rio Grande do Norte. Propõe-se, como centro da análise, a relação
entre os investimentos eólicos e os territórios estudados.
Em 2005, foi outorgada a construção dos parques eólicos no Rio Grande
do Norte, iniciando assim um ciclo dinâmico específico da economia regional.
Considerando que a produção de energia eólica se constituiu como uma nova
proposta de desenvolvimento do estado, o objetivo principal desta dissertação
é analisar a dinâmica socioeconômica do Rio Grande do Norte a partir da
Economia das Eólicas (2002-2015). Ademais, a principal justificativa dos
mecanismos governamentais e de investidores do setor energético para a
instalação de parques eólicos é que esse movimento alavanca o progresso.
Portanto, como intuito de embasar esta análise, apresentam-se, como objetivos
específicos:
• averiguar qual a relação da Economia das Eólicas como a
construção do desenvolvimento sustentável;
• analisar como a Economia das Eólicas enquanto setor produtivo
surge no plano internacional e como se insere na periferia;
• analisar como a Economia das Eólicas atua no desenvolvimento
local, ou seja, como o Rio Grande do Norte, ao receber
investimentos na atividade, é capaz de mudar o seu quadro de
região periférica; e
• identificar como e se o formato dos investimentos dos parques
eólicos no estado possui capacidade de alavancar o
desenvolvimento regional.
Esta investigação justifica-se pelo recente movimento de implantação de
novas matrizes energéticas, sustentáveis ambientalmente, em regiões
periféricas com estruturas produtivas incipientes e frágeis indicadores sociais.
É importante analisar como uma nova atividade produtiva, com elevados
investimentos, pode ser desenvolvida em regiões que historicamente são
sustentadas por resultados produtivos limitados.
21
Ademais, a corrente dissertação está integrada à pesquisa “Diagnóstico
socioeconômico em territórios ocupados pela energia eólica no litoral do polo
Costa Branca do Rio Grande do Norte” (FIGUEIREDO; SILVA, 2015),
financiada pelo edital Chamada MCTI/CNPQ/MEC/CAPES nº 22/2014,
associada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e à
Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).
1.1 Metodologia
Para melhor compreensão de como se desenvolve uma região periférica
como o Rio Grande do Norte, adotou-se como plataforma metodológica o
método de investigação histórico-estruturalista (FURTADO, 1979;
RODRIGUEZ, 2009). Nesse paradigma metodológico, os fatos históricos
modificam as estruturas sociais, políticas e, notadamente, as econômicas. A
pesquisa parte da análise dos fatos históricos que se manifestaram em
diferentes períodos impactando positiva ou negativamente as estruturas
produtivas e sociais. Neste trabalho, o recorte temporal ocorre entre os anos
2002 e 2015.
A análise começa em 2002 por ser o ano em que se iniciam as primeiras
prospecções de projetos de parques eólicos na região estudada. O ano de
2015 foi escolhido como período final por registrar o último parque eólico a
entrar em operação no Rio Grande do Norte. Apesar da delimitação do referido
período, será realizada uma revisão de décadas anteriores, partindo de 1960,
quando há a maturação de estruturas produtivas tradicionais da região. Esta
retrospectiva se faz necessária para entender como estas diversas estruturas
interagem com o novo setor econômico – energia eólica – na atualidade.
O método histórico-estruturalista, desenvolvido pela escola de
pensamento econômico e social latino-americano3, compreende analisar um
modelo de uma matriz estrutural econômica incorporando fatores não
econômicos. Ou seja, quando as estruturas econômicas dos municípios
3 Fortemente influenciado pela escola de pensamento formada pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), em especial por Celso Furtado e Raúl Prebisch.
22
produtores de energia eólica forem analisadas neste trabalho, também serão
considerados, para a caracterização de seus territórios, os fatores políticos e
sociais.
Assim, o modelo estrutural econômico localizado em determinado tempo
e espaço possui uma concretude histórica e social. Este método investigativo
apresenta-se bastante apropriado para as sociedades periféricas, como Rio
Grande do Norte, por objetivar caracterizar as diferentes estruturas econômicas
e seus distintos graus de desenvolvimento.
Seguindo as considerações de Furtado (1979), sobre o método histórico-
estrutural de análise, serão considerados dois vetores de variáveis endógenas
e exógenas ao modelo. É importante deixar claro que aqui não se trata de um
modelo matemático, mas de análise econômica estrutural. Isto é, o
comportamento das varáveis econômicas depende, em grande medida, dos
parâmetros não econômicos e a natureza destes pode modificar-se
significativamente em fases de rápida mudança social. Como Furtado (1979, p.
83) chama a atenção, “essa observação é pertinente com respeito a sistemas
econômicos heterogêneos, social e tecnologicamente, como é o caso das
economias subdesenvolvidas”.
1.2 Procedimentos Metodológicos
Para este trabalho, adotaram-se os seguintes procedimentos
metodológicos: Revisão da Literatura; Visita de Campo; e Consulta e análise de
documentos.
1.2.1 Revisão da Literatura
Para a consubstanciação teórica da pesquisa, foi realizada uma revisão
da literatura a respeito da inserção de energia eólica no contexto conceitual de
desenvolvimento econômico, desenvolvimento regional/local e
desenvolvimento sustentável e sobre a formação econômica potiguar.
23
Seguindo a escola de pensamento cepalino, adotaram-se conceitos que
auxiliaram na análise, tais como:
a) Países Centrais e Periféricos: A tipologia “centro-periferia” foi
formulada por Raúl Prebisch (2000) para redefinir os diferentes
papeis desempenhados por dois setores do sistema capitalista. O
“centro”, que primeiro assimila o desenvolvimento técnico, possui
uma estrutura diversificada e integrada, especializada em
produtos industriais; a “periferia” tem um caráter unilateralmente
desenvolvido devido à existência simultânea de setores
“desenvolvidos” e “atrasados”, e seu papel principal é a produção
de matéria prima. Prebisch (2000) ressalta que os termos “centro”
e “periferia” não podem ser intercambiáveis com
desenvolvimento-subdesenvolvimento, o “centro” será sempre
desenvolvido, contudo poderá haver periferias desenvolvidas,
como no caso da Austrália e da Nova Zelândia. Já a noção de
desenvolvimento não implica somente na hierarquização de
nações dentro de um sistema global, mas o inevitável recorte
regional em cada país. Optou-se, neste trabalho, a designação
teórica de Centro-Periferia. A inserção dos Parques Eólicos no
Rio Grande do Norte acontece com a inserção do capital em uma
região periférica com histórico de baixíssimo nível de inversões
produtivas.
b) Desenvolvimento econômico: um fenômeno social notoriamente
histórico (FURTADO, 2009). Está diretamente relacionado ao
processo de civilização da humanidade ou, mais precisamente, ao
processo de humanização visto que, ao fim do resultado da
produção, as nações deveriam se encontrar com o mundo das
mercadorias e, a partir de então, possibilitar a estratificação social
com maior e melhor reprodução física e intelectual de suas
populações.
c) Desenvolvimento Sustentável: o conceito deve ser compreendido
para além dos efeitos preservacionistas e conservacionistas do
24
meio ambiente, presentes em diversas interpretações nas
Ciências Humanas e Sociais. O desenvolvimento sustentável é
um processo que, ao passo que transforma o meio físico em prol
do bem comum, requer a reprodução ininterrupta dos biomas
regionais como um princípio ético que se sobrepõe à simples
acumulação capitalista pela exploração irracional das riquezas
naturais. Principais autores utilizados: Furtado (1974); Sachs
(1993); Veiga (2005).
d) Políticas de Incentivo: a partir de List (1983), as políticas de
incentivos funcionam como instrumentos de intervenção
econômica que busca dotar determinada localidade, região ou
país de possibilidades capitalistas de crescimento. Esse
instrumento geralmente compõe um pool mais abrangente de
políticas intervencionistas, sendo de grande significância para a
atração do capital para áreas carentes da ação desse agente
econômico.
e) Desenvolvimento Local: esse desenvolvimento passou, da última
década do século XX aos dias de hoje, a ser foco de ação das
instâncias subnacionais/governamentais (entes federados e
municípios), devido ao maior afastamento da instância federal da
administração e condução de políticas universais de crescimento
e de desenvolvimento econômico. (OHMAI,1996; CASSIOLATO;
LASTRES, 2005; BRANDÃO, 2007)
f) Tecnologia: De acordo com Shumpeter (1985), esse fator de
produção é aqui entendido como variável que possibilita a
independência produtiva, aumentando, por um lado, a produção e
a produtividade, deslocando os preços relativos para baixo e
viabilizando maior acesso dos agentes econômicos à massa de
riqueza produzida. Por outro lado, é um fator que acirra os
conflitos de classes sociais, sobretudo entre o capital e o trabalho,
dado que sua utilização aguça a situação conjuntural de
desemprego.
25
g) Formação Econômica Potiguar: Segundo os principais autores
sobre a formação econômica potiguar - Cascudo (1955),
Clementino (1985, 1990) e Araújo (2010) – elaborou-se nesse
trabalho um breve histórico sobre a formação socioeconômica das
microrregiões eólicas do estado.
1.2.2 Visita de Campo
Nos dias 7 e 8 de abril de 2016, foi realizada uma visita de campo aos
municípios de Areia Branca, Serra do Mel, Porto do Mangue, Grossos, Tibau e
Mossoró. A visita foi uma atividade da pesquisa “Diagnóstico Socioeconômico
em Territórios Ocupados pela Energia Eólica do Polo Costa Branca do Rio
Grande do Norte” (FIGUEIREDO; SILVA, 2015), cujo objetivo era analisar, de
forma empírica, a relação entre desenvolvimento, território e energia renovável
nos municípios do Polo Costa Branca do Rio Grande do Norte que receberam
parques de geração de energias eólicas. Como a autora do presente trabalho
integrou o corpo de pesquisadores, apurou dados relevantes para compor esta
dissertação. Dentre os procedimentos metodológicos trabalhados na visita de
campo, utilizou-se no presente trabalho a Observação Empírica.
A observação empírica consiste em levantar dados sobre determinado
assunto, apurando informações preliminares. Este método gera aprendizado,
uma vez que se obtém conhecimento através das experiências vividas para
obter conclusões (RICHARDSON, 2012). Os instrumentos utilizados para a
apuração de informações na visita de campo foram registros fotográficos (que
se encontram no Apêndice B) e diário de campo.
No caso do corrente trabalho, o objetivo da aproximação da realidade do
objeto estudado, energia eólica, é evidenciar os parâmetros não econômicos,
aprimorando a análise posterior dos dados quantitativos coletados. A
observação empírica do cenário socioeconômico da região, realizada por meio
da visita de campo, foi importante para a escolha e análise dos dados
quantitativos trabalhados nessa dissertação.
26
1.2.3 Consulta e análise de documentos
Foram analisados documentos oficiais, através de relatórios gerados
tanto pelo Governo do Estado quanto por órgãos nacionais responsáveis pelo
setor energético, sobre a proposta de desenvolvimento sustentável através de
energias renováveis.
Para a construção da matriz estrutural do objeto de análise, o estudo
recorreu a dados quantitativos sociais e econômicos. Para tanto, foram
utilizados como fontes o banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e dados do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEADATA), como demonstra o Quadro 1.
BANCO DE DADOS DESCRIÇÃO
IBGE-IPEADATA População total, urbana e rural.
RAIS Emprego Formal e Estabelecimentos Produtivos.
ANEEL Empreendimentos Eólicos em Construção, em Construção
Não Iniciada e em Operação.
Quadro 1 – Relação dos bancos de dados quantitativos coletados e descrição Fonte: Elaborado pela autora.
Para a organização dos dados coletados, foram mapeados no Rio
Grande do Norte os municípios que possuem empreendimentos eólicos em
operação, em construção e/ou construção não iniciada até a data de 23 de
janeiro de 2017. Consideram-se, para fins de análise, os municípios que estão
nessas condições como integrantes das regiões eólicas potiguares. Para a
definição dessas regiões eólicas utilizou-se a metodologia do IBGE (1990) para
a divisão das microrregiões do país, utilizando-se os indicadores básicos de
estrutura de produção e interação espacial.
Portanto, respeitando a metodologia do IBGE (1990) para divisão de
microrregiões e seguindo a estrutura de produção e interação espacial, foram
27
elencados os municípios que possuem relação com a atividade de parques
eólicos, criando as Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte. Veja a
classificação no quadro a seguir:
MICRORREGIÃO MUNICÍPIOS JUSTIFICATIVA
MOSSORÓ-MACAU Tibau; Areia Branca; Serra
Do Mel; Macau; Guamaré;
Galinhos.
Possui municípios originais
de duas microrregiões
originais da classificação
do IBGE (1990), as
microrregiões Mossoró e
Macau.
BAIXA VERDE São Bento Do Norte;
Pedra Grande; Parazinho;
Jandaira; João Câmara;
Jardim De Angicos.
Foram integrados à
microrregião de Baixa
Verde os municípios de
Jardim de Angicos
(Angicos), Pedra Grande
(Litoral Nordeste) e São
Bento do Norte (Macau).
LITORAL NORDESTE São Miguel do Gostoso;
Touros; Rio Do Fogo;
Maxaranguape; Ceará-
Mirim.
Integrou a microrregião
Litoral Nordeste o
município de Ceará-Mirim,
que apesar de participar
da Região Metropolitana
de Natal sua estrutura
produtiva, se integra com o
Litoral Nordeste.
SERRA DE SANTANA Santana do Matos; Bodó;
Cerro Corá; Lagoa Nova;
Tenente Laurentino Cruz.
Todos os municípios
selecionados participam da
microrregião Serra de
Santana.
Quadro 2 – Municípios das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte Fonte: Elaborado pela autora
28
1.3. Estrutura dos capítulos
O trabalho está dividido em seis partes, incluindo a corrente introdução e
as considerações finais. No capítulo 2, “Energia eólica como proposta de
desenvolvimento”, busca-se confrontar os discursos oficiais sobre
desenvolvimento socioeconômico e sustentável com os fatos históricos de
implementação e atuação da Economia das Eólicas. Para tanto, a seção foi
dividida em três partes. Na primeira delas, “2.1 O desafio do Desenvolvimento
Sustentável”, realiza-se uma leitura crítica acerca do conceito de
sustentabilidade ambiental confrontando o conceito teórico com os discursos
de organizações internacionais sobre o tema. No segundo subcapítulo, “2.2
Economia das Eólicas no cenário internacional”, busca-se compreender como e
por que surge a produção energética eólica. No terceiro, “2.3 Energia eólica
nos países periféricos”, pretende-se responder o porquê do atraso da periferia,
frente aos países centrais, em entrar nesse setor energético.
O terceiro capítulo, “Economia das Eólicas no desenvolvimento local”,
analisa de que forma os investimentos locais modificam as estruturas
produtivas regionais. Para atender a este objetivo, dividiu-se o capítulo em
duas partes, na primeira, “3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional” é
realizada uma revisão dos principais investimentos feitos na região Nordeste
que foram capazes de modernizar as suas estruturas produtivas. Na segunda
parte, “3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos”, desenvolve-se
uma revisão teórica sobre desenvolvimento local e a relação com
empreendimentos eólicos, objetivando compreender a capacidade
transformadora dos investimentos eólicos no local.
No quarto capítulo, “Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte”
objetiva-se identificar as atividades produtivas tradicionais da região até a
inserção das eólicas no contexto mais atual. Para isso, o capítulo foi dividido
em quatros partes, descrevendo a análise de cada uma das microrregiões: 4.1
Mossoró-Macau; 4.2 Baixa Verde; 4.3 Litoral Nordeste e 4.4 Serra de Santana.
No quinto capítulo, “Vicissitudes e limites da economia potiguar a partir
da produção de energia eólica”, objetiva-se identificar como e se o formato dos
29
investimentos em parques eólicos no estado possui capacidade de alavancar o
seu desenvolvimento socioeconômico. Para tanto, dividiu-se em duas partes
este capítulo. A primeira, “5.1 Políticas Locais de Incentivos a Economia das
Eólicas”, trata-se de verificar se de acordo com os programas de incentivos
locais ao desenvolvimento, o cenário atual de produção de energia eólica no
Rio Grande do Norte está alcançando as metas estabelecidas pelos
programas. Na segunda parte, “5.2 Economia das Eólicas e Integração
Regional: Os papéis de Natal e Mossoró”, verificou-se também se a economia
das eólicas no estado promove integração regional e setorial.
Nas Considerações Finais, são apresentadas algumas conclusões
importantes sobre as principais discussões estabelecidas acerca do objeto de
estudo desta pesquisa.
30
2 ENERGIA EÓLICA COMO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO
Historicamente, o capital sempre prevaleceu sobre o bem-estar social e
o meio ambiente (FURTADO, 1974). Contudo, as sociedades capitalistas
buscam para seus territórios um desenvolvimento econômico que englobe
tanto os fatores sociais quanto os ambientais. Este desafio tem aumentado nos
últimos anos, principalmente com a necessidade de reestabelecer o equilíbrio
dos recursos naturais do planeta.
Os limites dos recursos energéticos, responsáveis por alimentar a
produção capitalista, somados aos impactos ambientais das diversas fontes
têm sido alvo de preocupações. Como forma de ampliar o debate da questão
ambiental, as fontes energéticas renováveis tornam-se oportunas no debate do
desenvolvimento sustentável.
Compreendendo os desafios para administrar melhor o uso dos
recursos, são analisadas neste capítulo – por meio de uma revisão acerca dos
principais debates sobre o desenvolvimento sustentável –, as principais
políticas de incentivo ao setor de energia renovável por fonte eólica e de qual
forma esse setor se insere no cenário econômico.
2.1 O desafio do Desenvolvimento Sustentável
O desenvolvimento econômico está diretamente relacionado ao
processo de civilização da humanidade ou, mais precisamente, ao processo de
humanização, dado que, ao fim do resultado da produção, as nações deveriam
se encontrar com o mundo das mercadorias e, a partir desse ponto, possibilitar
uma maior e melhor reprodução física e intelectual de suas populações.
Em que pese a importância científica de autores como Araújo (1997),
Cano (2008) e Furtado (2009), os quais argumentam que a renda e a riqueza
foram melhor desenvolvidas em sociedades periféricas nas fases em que o
crescimento do produto foi constante, não são esporádicos os equívocos
cometidos quando se associa desenvolvimento econômico ao crescimento da
riqueza, produto, entendendo os diferentes fenômenos como iguais. No
31
entanto, deve ser observado que o crescimento da riqueza pode ser um
excelente ponto de partida para se atingir o desenvolvimento econômico, mas
tributar, no capitalismo, que o crescimento da riqueza é suficiente para alcançar
o desenvolvimento é contribuir para ‘fetichizar’ ainda mais o difícil percurso das
sociedades, que buscam incessantemente a estratificação econômica e social.
Dentre as problemáticas socioeconômicas associadas ao modelo de
desenvolvimento pautado na produção destaca-se a questão ambiental. O ano
de 1972 ficou marcado por uma relevante preocupação internacional: o Planeta
Terra mostrava sinais de saturação dado o alto grau de entropia4 que foi
submetido durante séculos de exploração humana sobre os seus estoques de
recursos naturais5. Havia evidências científicas de que se o uso abusivo dos
recursos naturais continuasse no ritmo em que vinha se processando, não
apenas os recursos essências à vida estariam fortemente ameaçados, mas
também os ecossistemas, criando um desequilíbrio sem registro entre os
diferentes biomas existentes na terra (SACHS, 1993).
Estocolmo6 foi a sede desses debates que, apesar de não terem
apresentado uma solução real e efetiva à preocupação apontada
anteriormente, colocou na pauta do debate internacional um problema que
afetaria não somente a humanidade (pobres e ricos), mas o planeta. Ademais,
a questão da poluição foi admitida pela primeira vez como resultante de um
modus operandi próprio da produção e consumo em massa de mercadorias
destinadas ao consumo humano.
A análise do problema da poluição e suas consequências sobre a
biodiversidade terrestre fez do encontro de Estocolmo um avanço no sentido de
que não se caiu no fosso da conclusão fatalista de que o homem é o maior e
único depredador do meio ambiente. Estava-se admitindo, embora não
explicitamente, que uma forma específica de exploração dos recursos naturais
4 Grau de esgotamento do uso dos recursos naturais. Conceito desenvolvido na ciência econômica por Georgescu-Roegen (1971). Ver em Mueller (2005) o debate dos economistas sobre sustentabilidade por meio da análise Georgescu-Roegen. 5 Oficialmente, o encontro de 1972 foi registrado como Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Ver mais sobre o assunto em Sachs (1993). 6 Para compreender a relação das discussões sobre sociedade e meio ambiente desencadeadas pelas Conferências Internacionais sobre o Meio Ambiente (De Estocolmo a Rio +20) ver Figueiredo e Cruz (2013).
32
para a produção e o consequente consumo em massa de mercadoria –
portanto, de uma forma específica de sociedade – era a responsável pela
imoderação de tais limites planetários.
Essa forma de organização social e o modo de produzir mercadoria
eram (e são) os responsáveis pela aceleração da exaustão dos estoques
naturais e pela elevada massa de poluentes liberados na atmosfera, nos rios,
nos mares, nas florestas etc.
Não parecem ter sido esses os efeitos da produção para a reprodução
da vida em organizações sociais e modos de produção anteriores ao modo de
produção capitalista. Polany (2000) chama a atenção para a existência de
organizações sociais mais humanitárias, nas quais o valor de uso era a razão e
a motivação inicial da produção e da distribuição equitativa como uma prática
natural de existência social.
A natureza é imprescindível à reprodução e a própria existência da vida
humana no planeta. Desde os primórdios da humanidade, o homem tem
utilizado as riquezas naturais disponíveis para tornar a vida mais confortável e
longeva. Todavia, em sua origem, a utilização dos estoques dos recursos
naturais (fauna, flora, rios, mares, ventos etc.) tornou-se ameaçada na medida
em que a população cresceu e, pari passu, cresceu de forma desordenada e
predatória à exploração do meio ambiente.
A utilização do meio ambiente como fornecedor de matérias primas e
bens intermediários necessários à produção de outros bens e mercadorias para
o mercado, supostamente necessários e imprescindíveis à vida humana, é
próprio da organização social, cujo fim é a obtenção do lucro e não da vida
humana. Por esta razão, por que admitir os discursos presentes nas
convenções internacionais sobre o meio ambiente, da Convenção de
Estocolmo à Rio +20, no sentido de que o modo de produção e consumo
capitalista e a questão ambiental têm solução e contribuem para o
desenvolvimento assim como o desenvolvimento coopera para a solução dos
problemas ambientais?
33
Não se está afirmando que as Convenções de Estocolmo (1972), Rio-92,
Johanesburgo (2002) e Rio + 20 (2007) foram em vão. Muito pelo contrário,
esses encontros expuseram os principais países capitalistas – notadamente os
centrais – à comunidade internacional como os maiores poluidores do planeta e
tornou-se ação de ordem a exigência de que tais nações adotassem medidas
mitigadoras e preventivas. Principalmente quanto aos gases expelidos na
atmosfera, resultantes de padrões de produção com base na queima de
petróleo, carvão e uso indiscriminado da energia elétrica proveniente de hidro e
termelétricas etc. A própria Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE)7 admitiu o tamanho da irresponsabilidade
dos países centrais com o meio ambiente no início dos anos de 1990. Observe-
se:
O abismo entre o Norte e o resto do mundo se evidencia no fato de os países da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OCDE, com 16% da população do mundo e 24% da área terrestre, concentra 72% do produto bruto global, 73% do comércio internacional, 78% de todos os automóveis e 50% do consumo de energia. Ao mesmo tempo, respondem por 45% das emissões totais de óxido de carbono, 40% das de óxido sulfúrico, 50% das de óxido de nitrogênio e 60% da de emissão de resíduos industriais (OCDE, 1991 apud SACHS, 1992, grifos nosso).
Ao verificar as estatísticas registradas na citação acima, percebe-se que
a questão é difícil de ser resolvida priorizando ou o meio ambiente ou o
desenvolvimento capitalista. O capital produtivo e financeiro, que tem como
mira o lucro, não questiona os limites físicos do planeta, dado o fino trato que
têm com o curto prazo dos seus empreendimentos que, dilapidando o
patrimônio natural em nome do desenvolvimento para todos, apressam o
esgotamento dos recursos naturais e não renováveis.
Como bandeira positiva, afirma-se que o capital criou e tem a
capacidade de recriar novas tecnologias que podem ser – mas, nem sempre
7 A OCDE é uma organização internacional composta por 34 países de elevado PIB per Capita e Índice de desenvolvimento Humano (IDH), considerados países desenvolvidos. Entre os princípios desta organização estão a democracia representativa e a economia de livre mercado. Para saber mais sobre a OCDE, visite: <http://www.sain.fazenda.gov.br/assuntos/politicas-institucionais-economico-financeiras-e-cooperacao-internacional/ocde>.
34
são – usadas para corrigir os males, as deficiências, as incongruências do
modelo econômico praticado para desenvolver os países. Essa bandeira tem
sido deveras apreciada e bem vinda à conciliação do meio ambiente com o
desenvolvimento acrítico por certo número de cientistas de diversas áreas do
conhecimento, por políticos, por diversas instituições internacionais, por ONGs
etc.
Os argumentos em defesa da conciliação entre natureza e produção têm
como base dois pontos fundamentais: 1) não se pode congelar o meio
ambiente poupando-lhe de exploração racional e recorrentemente corrigível,
dado que existem tecnologias e técnicas de manipulação que são suficientes
para não pô-lo em risco e 2) não é justo privar a humanidade das benesses do
desenvolvimento derivado da utilização responsável dos recursos naturais.8
Como é possível observar, os argumentos são aparentemente relevantes do
ponto de vista científico e político e socialmente corretos dado o apelo de
inclusão de populações, regiões e países em uma dinâmica qualitativamente
diferenciada à dinâmica do desenvolvimento sustentável, ao menos como se
passou a entender a manifestação desse fenômeno desde Estocolmo.
Entretanto, deve-se observar que a nova tecnologia não tem poupado a
humanidade de catástrofes ambientais. Apesar do reconhecido avanço na
interpretação e na tentativa de correção dos males advindos do uso
inadequado dos recursos naturais, as ações com base no conceito de
desenvolvimento sustentável não pouparam a humanidade dos desastres
provenientes da exploração de tais recursos. Como exemplos desses
desastres registram-se os casos dos acidentes nucleares e químicos de Three
Mile Island, Chernobyl, Bhopal, o encolhimento do Mar de Aral, o aquecimento
global da atmosfera e o efeito estufa. No Brasil, recentemente (a partir dos
anos 2000), iniciaram-se um sem número de iniciativas dilapidadoras do meio
ambiente9, mas para o momento basta citar como exemplos o desmatamento e
8 Tanto autores neoclássicos e heterodoxos, que tratam sobre o tema desenvolvimento e meio ambiente, possuem essa perspectiva. Nesse trabalho utilizamos foram utilizados como referência autores heterodoxos, por exemplo Ignacy Sachs e Celso Furtado, que apontaram os citados pontos. 9 No Brasil existem diversos trabalhos que alertam para as ameaças do avanço da agropecuária nas regiões de cerrado e da floresta amazônica. Ver Klink; Machado (2005) e Cunha (2008).
35
as queimadas das florestas nacionais e o rompimento da Barragem de
Mariana, em Minas Gerais10.
O fato é que o desenvolvimento econômico sob o modo de produção
capitalista não é compatível com a ação e o conceito de desenvolvimento
sustentável, nem nos poluidores países centrais nem nos países periféricos,
ainda carentes de tecnologia e de consciência ecológica. Quanto aos países
centrais, não são, não devem ser e nem podem ser exemplos de
desenvolvimento sustentável dado sua enfática participação poluidora do
mundo. Ademais, Sachs (1993) foi detalhista ao registrar o definhamento em
processo da arquitetura social do Centro, resultando em uma geografia sócio-
espacial preponderantemente urbana – mas também rural – eivada de
problemas estruturais:
[...] convém lembrar que o modelo do Norte não pode ser considerado um sucesso. A proliferação dos guetos intra-urbanos, a deterioração dos subúrbios, o agravamento dos processos de exclusão e segregação social associados ao desemprego crônico, as tensões raciais e étnicas, a violência urbana, o consumo de drogas e a quase falência de algumas das cidades mais ricas, incapazes de assegurar um mínimo de serviços sociais para as populações marginalizadas, não recomendam especialmente a experiência dos países industrializados na gestão de suas cidades (SACHS, 1993, p. 31).
A periferia, de acordo com Sachs (1993, p.35), “prioriza o
desenvolvimento alertando para o perigo de imposições descabidas”, isto é,
para os perigos da degradação ambiental. Todavia, inexiste em Sachs (1993) o
entendimento que o Centro não questiona o modelo econômico em sua
essência. Obviamente que o não questionamento do modelo econômico
vigente, tanto no período em que o autor escreveu esse texto quanto agora,
nos anos 2000, não ofusca sua interpretação da necessidade de um
desenvolvimento sustentável urgente. Contudo, o que se pretende indagar
neste texto é que sem esse questionamento – também inexistente nesse livro
10 Sobre o caso do acidente na cidade de Mariana, MG, ver o Relatório desenvolvido pelo
Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS, 2015).
36
do Sachs (1993) e nos Policy Makers, bem como nos mundialmente
conhecidos Global Players – é possível alcançar de forma duradora o
desenvolvimento sustentável sob o modo de produção e consumo capitalista?
Se o desenvolvimento sustentável requer a harmonização entre o
crescimento econômico com o meio ambiente, de forma a beneficiar os
ecossistemas existentes no planeta, garantindo maior justiça social pela
integração e inclusão social nesse processo, é no mínimo duvidosa a
concretização desse conceito no modo de produção e consumo capitalista. Isso
só será em parte possível se os menos abastados da sociedade, os excluídos,
partirem para o conflito direto com o capital. Ora, como esperar
desenvolvimento sustentável sem reforma agrária (incluindo massas
crescentes de sem-terra) e sem reforma urbana (incluindo massas crescentes
de sem-teto)? E os desempregados, urbanos e rurais?
Sachs (1993) coloca essas e outras necessidades de mudanças na
relação dos seres humanos com o meio ambiente. Todavia, essa evolução
necessária não ocorrerá bastando reformar instituições e criar outras novas. É
preciso reconhecer que o modelo de desenvolvimento pautado na produção
deve ser repensado.
Desde quando Sachs (1993) publicou “Estratégias de Transição Para o
Século XXI: desenvolvimento e meio ambiente”, a preservação e a
conservação do meio ambiente foi colocada em prática e, sob muitos e
complexos aspectos, com sucesso relevante. Não obteve o mesmo alcance o
outro lado do desenvolvimento sustentável: a inclusão social.
Nos discursos e documentos oficiais das Nações Unidas não se
encontra uma crítica ao modelo dilapidador do meio ambiente, mas uma
intrínseca apologia à harmonia entre o desenvolvimento e o meio ambiente.
Observe o trecho do documento “O futuro que queremos”, resultado da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio
+20:
37
Nós temos consciência que, para realizar um progresso significativo na direção da criação de economias verdes serão necessários novos investimentos, formação de novas habilidades, desenvolvimento, transferência e acesso a tecnologias, e fomentação de capacidade em todos os países. Nós reconhecemos em particular que precisamos oferecer apoio a países em desenvolvimento nesse sentido e concordamos em: a) Oferecer fontes de financiamento novas, adicionais e ampliadas para países em desenvolvimento; b) Lançar um processo internacional para promover o papel de instrumentos de financiamento inovadores para a criação de economias verdes; c) Eliminar gradualmente subsídios que exerçam efeitos consideravelmente negativos sobre o meio ambiente e sejam incompatíveis com o desenvolvimento sustentável, complementado com medidas para proteger grupos pobres e vulneráveis; d) Facilitar a pesquisa colaborativa internacional de tecnologias verdes envolvendo países em desenvolvimento, assegurando que as tecnologias desenvolvidas desse modo continuem sendo de domínio público e estejam disponíveis para países em desenvolvimento a preços acessíveis; e) Encorajar a criação de Centros de Excelência como pontos nodais para P&D de tecnologia verde; f) Apoiar cientistas e engenheiros e instituições científicas e de engenharia de países em desenvolvimento para fomentar seus esforços no desenvolvimento de tecnologias verdes locais e usar o conhecimento tradicional; g) Estabelecer um esquema de desenvolvimento de capacidade para oferecer aconselhamentos específicos para cada país e, quando apropriado, aconselhamentos específicos para cada região e setor. (ONU, 2012, p.8)
Alinhados com o discurso das Nações Unidas de preservação ambiental
e da necessidade de expansão da matriz energética, torna-se ainda mais
imperativo verificar se a introjeção das eólicas em regiões periféricas
contempla ao mesmo tempo a conservação do meio ambiente com cooperação
para a eliminação, mesmo que parcial, das desigualdades sociais. Nos tópicos
seguintes tratar-se-á da introjeção da energia eólica para além de uma
alternativa energética, mas como atividade econômica nos países centrais e
periféricos.
38
2.2 Economia das Eólicas no cenário internacional
Para além do debate ambiental fortalecido em Estocolmo (1972), na
década 1970, as discussões acerca das novas Fontes Renováveis de Energia
foram postas em relevo com a Crise do Petróleo, em 1973. A partir desse ano,
a questão ambiental deixou de ser o único motivo que fortalecia o argumento
para os investimentos em fontes renováveis de energia. Observa-se que as
questões econômicas e políticas têm fomentado a defesa de incentivos à
produção energética nos países centrais e periféricos.
Durante o debate estabelecido em Estocolmo (1972), os países já
estavam cientes da crise energética petrolífera que se aproximava. Portanto,
para além da questão ambiental, revela-se mais uma vez a forte defesa do
sistema produtivo (alimentado pelo uso desenfreado dos recursos naturais),
que encontrava limites para o seu crescimento. A segurança energética é um
dos pilares para o desenvolvimento econômico no sistema capitalista. Como a
energia é um fator de produção essencial, estavam no centro das discussões
internacionais os limites das fontes energéticas tradicionais e a importância nas
fontes energéticas renováveis (PIMENTEL, 2011).
Pode-se afirmar que a crise do Petróleo de 1973 estabeleceu e agudizou
um longo conflito dos países da Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP)11 com os países do Ocidente (maiores consumidores de
petróleo12). Esse conflito ficou marcado, sob o ponto de vista da análise
econômica, como responsável pela elevação do preço do barril e
consequentemente pela diminuição, em escala internacional, dos processos de
desenvolvimento econômico, principalmente das nações capitalistas ocidentais,
conforme o Gráfico 1.
11 Países que compõem a OPEP por Continentes: Oriente Médio: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait e Qatar; África: Angola, Argélia, Líbia e Nigéria; América do Sul: Equador e Venezuela.
12 Maiores consumidores de petróleo do Ocidente: Estados Unidos e Europa.
39
Gráfico 1 – Preços do Petróleo Bruto em Dólares (1971-1980) Fonte: Macrotrends (2016)13
Essa crise, em certa medida, contribuiu para que as instituições e os
organismos desenvolvimentistas – os Estados Nacionais; o Banco Mundial, o
Fundo Monetário Internacional; a OCDE, a ONU, dentre outras agências
públicas e privadas – qualificassem os seus argumentos sobre a problemática
energética em âmbito internacional. Até esse período, as principais estruturas
produtivas faziam o uso intensivo de combustíveis fósseis. Sendo assim, os
países do centro dinâmico do capitalismo foram obrigados a inovar suas
estruturas de produção baseando-se em outras fontes de energia.
A substituição do uso dos combustíveis fósseis como fonte de energia
não é um processo simples. Ainda que seja a fonte energética mais poluidora
do planeta, os elementos que tornam esta fonte discutível vão além da questão
ambiental. Segundo Pimentel (2011), as outras fontes de energia em estágio
comercial (nuclear, eólica, solar, hidráulica) são alternativas, essencialmente,
para a produção de eletricidade, competindo mais com o carvão e o gás natural
do que com o petróleo.
A mudança de paradigma do petróleo não está em construção, pois o
petróleo para o planeta é uma questão de segurança energética, envolvendo
13 Disponível em: <http://www.macrotrends.net/1369/crude-oil-price-history-chart>. Acesso em: 7 de dez. 2016.
40
poder geopolítico, econômico, cultural e bélico, elementos de disputa mundial
pela hegemonia (TAVARES, 1985).
As fontes de energias renováveis, apresentando-se mais como fontes
complementares do que alternativas, encontraram barreiras para o seu
desenvolvimento. A ampla difusão da tecnologia das fontes tradicionais e os
seus ganhos de escala criavam obstáculos à inserção de novas tecnologias
nos sistemas energéticos. Considerando que a questão energética é um
quesito de segurança nacional, um dos aspectos mais importantes para
independência e autonomia dos países, os gargalos para ampliação dos
investimentos em energias renováveis precisavam ser superados.
Desta forma, o Estado, nos diversos países, em busca de ampliar a
capacidade energética em seus territórios, cria políticas de incentivo à
produção de novas fontes de energias renováveis. É importante lembrar que
nos países centrais é forte o discurso de não intervenção do Estado na
economia, mas apoiados no debate da questão ambiental os países passaram
a investir na inovação dessa indústria nascente (CAMILLO, 2013).
Segundo Camillo (2013), as inovações no setor de energia eólica se
realizam por meio das políticas de inovação tecnológica e dos incentivos de
modernização contínua do mercado e da indústria. A autora, em sua tese “As
políticas de inovação da indústria de energia eólica: uma análise do caso
brasileiro com base no estudo de experiências internacionais” apresentou os
principais mecanismos de inserção e expansão da indústria de energia eólica
tanto em países centrais como em países periféricos, dividindo esses dois
grupos de nações entre pioneiros e seguidores.
A compreensão das políticas de inovação do setor eólico é importante,
pois ratifica como funciona o seu mercado. O mercado internacional do setor
eólico foi criado mediante uma demanda por novas fontes de energia.
Entretanto, a eólica encontrou barreiras à entrada no setor energético em geral
devido à existência de fontes tradicionais, como a hidroelétrica, as
termoelétricas e a extração de petróleo (PIMENTEL, 2011).
41
As tecnologias energéticas tradicionais possuem vantagens competitivas
frente às novas fontes. Isso ocorre por já serem consideradas tecnologias
maduras. Desse modo, apresentam efeitos de aprendizado (learning by doing e
learning by using), ganhos de economia de escala, externalidades de rede
(resultante do crescimento da rede de usuários) e progresso técnico das
indústrias relacionadas (interdependência tecnológica) (CAMILLO, 2013).
Essas barreiras à insurgência de novas tecnologias funcionavam como
desestímulo à entrada de investidores no setor de energia eólica. Todavia,
como será apresentado à frente, foram criados incentivos que atraíram o
capital produtivo – nacional e estrangeiro – com inversões capazes de tornar a
energia eólica viável economicamente. Deve ser observado que a produção de
eólica surge com objetivos que vão além da questão ambiental, como por ser
viável, no curto e médio prazo, a acumulação de capital. A questão ambiental é
uma derivada da questão maior: o lucro.
Assim, as políticas de incentivo objetivam criar um ambiente competitivo
para a energia eólica frente às energias tradicionais. Com base em Camillo
(2013), construiu-se um quadro com as principais políticas de mercado: 1)
Sistema de Alimentação de Rede; 2) Sistema de Cotas; 3) Sistemas de Leilão.
42
1) Sistema de
Alimentação de
Rede:
Essa política é conhecida na literatura internacional como Feed-in Tarrifs (FIT), a fixação dos preços da energia com base
na curva de aprendizado da tecnologia criará condições das tecnologias de energia eólica não maduras se tornarem
competitivas no longo prazo. O sistema apresenta a possibilidade de se impor tarifas específicas para cada tipo de fonte,
diferenciando, assim, os estágios de desenvolvimento de cada uma delas, embora também possa haver uma única tarifa
para todas. Desta forma, o setor se sente motivado a investir em P&D, reduzindo os custos de produção por kWh gerado;
2) Sistema de
Cotas:
É determinada uma meta às concessionárias de eletricidade para a produção e consumo de energia eólica. Este
mecanismo privilegia os grandes produtores e tecnologias mais maduras pois, como não há uma determinação do preço
de compra, as concessionárias procuram as mais baratas, que acabam sendo as tecnologias que estão mais próximas de
se tornarem mais competitivas. Dentro desse sistema, as concessionárias também podem alcançar suas metas com a
compra de certificados verdes. A certa quantidade de eletricidade resultante de recursos renováveis emite-se um
certificado (certificado verde), que se transforma em crédito, podendo ser comercializado entre as concessionárias.
3) Sistemas de
Leilão:
As tarifas pagas pelas concessionárias são definidas em certames, em um contrato de longo prazo de fornecimento de
energia e garantia de pagamento do montante outorgado. Esse sistema é o que apresenta maior proteção ao setor, com
preço e quantidades asseguradas no longo prazo garante-se a segurança da longevidade do investimento. Pela existência
desse alto grau de proteção, a incerteza em relação à rentabilidade do projeto, os custos de preparação para participar do
leilão e os custos de transação, em países com a indústria eólica mais desenvolvida esse sistema tem sido substituído
pelos anteriormente citados;
Quadro 3 - Principais Políticas de Mercado para energia eólica Fonte: Camillo, 2013. Elaborado pela autora
43
Observa-se que a Economia das Eólicas, para além de possuir uma
vertente ambiental, que satisfaz a corrida internacional por fontes energéticas
menos poluidoras, apresenta atrativos para o investimento capitalista. Contudo,
vale ressaltar que esse setor foi alavancado devido às políticas desenvolvidas
pelo poder público que tornaram a atividade eólica competitiva frente às fontes
tradicionais.
Ressalta-se que, em um cenário de redução da participação do Estado
na intervenção das leis do mercado, o poder público amparou-se na ampla
discussão e importância dadas aos limites dos recursos naturais em âmbito
nacional e internacional para justificar a implementação de políticas de
incentivo à indústria energética nascente. Em que pese as pressões para um
Estado não interventor, defesa do mercado livre e competitivo, o setor eólico
recebeu incentivos para o seu desenvolvimento devido à necessidade de
ampliação de novas fontes de energia para contribuir com a segurança
energética nacional e com o melhor uso dos recursos naturais.
2.3 Energia eólica nos países periféricos
À semelhança dos países centrais, na periferia capitalista as
justificativas para os investimentos em empreendimentos eólicos vão além da
questão ambiental. A energia eólica passa a ser atrativa por ser um
investimento energético de curto/médio prazo para sua instalação (cerca de 3 a
5 anos para a construção dos parques), atendendo de forma breve a demanda
por eletricidade; pelos incentivos sobre o preço e ao avanço tecnológico do
setor e pela diminuição da dependência de petróleo e gás natural.
No período mais recente, constata-se que os investimentos em
empreendimentos eólicos nos países periféricos têm crescido mais do que nos
países centrais, com especial destaque para os BRICS, grupo de países em
desenvolvimento, formado em 2009, por Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul, com o objetivo de criar políticas econômicas e financeiras para o
desenvolvimento de seus membros.
44
No Gráfico 2, veja que as regiões do planeta que apresentaram taxas de
crescimento anual, de 2002 a 2012, da produção de eletricidade por fonte
eólica acima de 50% são América do Sul (51%), Europa Central (60,3%) e
Leste e Sudeste da Ásia (57,8%).
Gráfico 2 – Mundo – Taxa de crescimento anual (%) da produção de eletricidade por fonte eólica 2012/2002 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015). Elaborado pela autora
Apesar do pujante crescimento da produção eólica em países
periféricos, ainda é considerável a participação dos países desenvolvidos na
produção mundial de energia eólica (ver Gráfico 3). A justificativa para esse
cenário vai além do fato dos países periféricos entrarem no setor tardiamente,
mas pela forma como esses países incorporaram em seus limites a produção
de energia eólica.
45
Gráfico 3 – Mundo - Participação (%) na produção mundial de energia eólica – 2012 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015)14. Elaborado pela autora
Na tese de Camillo (2013), é analisado o histórico de formação da
Economia das Eólicas em dois grupos de países: os pioneiros e os latecomers
(ou seguidores). Os países pioneiros foram aqueles que saíram na frente no
desenvolvimento do setor. Os latecomers foram aqueles que seguiram os
países pioneiros, incorporando as tecnologias já criadas pelos primeiros,
abrindo seus mercados e criando suas próprias políticas industriais. Essa
análise ajuda a entender como os diversos países se inseriram no setor. Vale
14 Na categoria “Outros” foram somadas as regiões: América Central e Caribe (0,7%); América do Sul (0,8%); Comunidade dos Estados Independentes (0,1%); África do Norte (0,4%); África Subariana (0%); Oriente Médio (0%).
46
destacar que países periféricos, como o Brasil, ao ingressarem no setor de
energia eólica deixaram de cumprir etapas importantes para tornarem-se
independentes no ramo.
Esta pesquisa considera completa a cadeia produtiva da Economia das
Eólicas quando se desenvolvem, de forma concomitante, três etapas
importantes: tecnologia, indústria e mercado (ver Quadro 4).
Países Pioneiros Países Seguidores
Tecn
olo
gia
P&D
Pesquisa e Desenvolvimento: Busca pela viabilidade econômica e o aumento progressivo da confiabilidade da tecnologia
Centros especializados em energia eólica colaboram com a adaptação e a capacitação tecnológica
Estudos de Viabilidade
Programas demonstrativos e testes de campo: análise da viabilidade técnica, econômica e comercial
Programas de pesquisa em busca da autonomia tecnológica
Centros de Pesquisa e estações de testes
Líderes na realização e gerenciamento das atividades de P&D; Ponto focal na intervenção entre os atores da indústria
Estímulo à adaptação da tecnologia e incremento do processo de aprendizado tecnológico.
Indú
str
ia
Máquinas e Equipamentos
Fabricação do maquinário e dos equipamentos para produção de energia eólica
Importação de peças de máquinas e equipamentos e busca pelo domínio da tecnologia estrangeira
Construção, Transporte e conexão com a rede elétrica.
Construção de toda a infraestrutura para a implantação dos parques eólicos
Construção de toda a infraestrutura para a implantação dos parques eólicos
Me
rca
do
Distribuição Distribuição da produção ao sistema elétrico
Distribuição da produção ao sistema elétrico
Operação de Manutenção
Técnicos, conhecimento e peças de reposição para a manutenção do equipamento de geração de energia eólica
Técnicos, conhecimento e peças de reposição para a manutenção do equipamento de geração de energia eólica
Monitoramento da Produção e Vendas
Manutenção e busca por novos mercados
Manutenção e busca por novos mercados
Quadro 4 – Estrutura Completa da Economia das Eólicas Fonte: Camillo (2013). Elaborado pela autora
47
O esgotamento da expansão eólica nos países centrais levou à busca
por novos mercados. Pela necessidade de ampliação do setor energético e por
ser um investimento de breve retorno, os países periféricos abriram suas portas
para o capital externo investir em energia eólica nos seus territórios. O principal
problema dessa abertura é a forma como tem acontecido, aprofundando a
dependência tecnológica e pouco contribuindo para o desenvolvimento
nacional (ver Figura1).
Figura 1 – Ciclo de Relação de Dependência Produtiva da Economia Eólica. Fonte: Elaborado pela autora
48
Os países seguidores que foram bem-sucedidos no setor eólico quanto à
autonomia econômica e tecnológica, ao mesmo tempo em que abriam seus
mercados para os países pioneiros realizavam a transferência e/ou
licenciamento de tecnologia estrangeira como moeda de troca. Investiram em
programas de pesquisa por meio de fundos públicos e incentivos a P&D em
busca da autonomia tecnológica.
Desta forma, os países seguidores que se destacam no cenário
internacional no setor eólico buscaram desenvolver os três eixos importantes
para o setor. Enquanto isso, países que estão falhando em investir no eixo
tecnológico, investindo de forma insuficiente na indústria e focando no mercado
não conseguirão ser competitivos no setor eólico internacional, atuando como
espaços para a produção energética eólica sem autonomia tecnológica e
gerando lucros principalmente para o capital internacional.
Nesse contexto, com a alta dependência tecnológica e sem parte do
conhecimento industrial, os países seguidores marginais tornam-se meros
territórios receptores de investimentos com baixa integração local ao global,
sem a oportunidade de capturar os benefícios da implantação de uma indústria
eólica completa.
As principais benesses de um país possuir uma indústria eólica completa
estão na autonomia econômica para expandir a oferta para além de suas
fronteiras; na independência para modernização de suas tecnologias e na
segurança nas operações de manutenção por serem detentoras do
conhecimento científico-tecnológico.
No caso brasileiro, o principal programa de incentivo ao setor, o
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA),
estabeleceu metas de crescimento ao setor por meio de um desenvolvimento
industrial desconectado com o contexto mundial, restando apenas a iniciativa
de políticas de incentivo ao mercado. A priorização das políticas de mercado
frente à indústria e à tecnologia foi de encontro com a estratégia adotada pelos
outros países que entraram tardiamente na indústria eólica, que enfatizaram a
49
formação de uma indústria produtiva e o domínio da tecnologia importada
(CAMILLO, 2013).
Não se trata de afirmar que o PROINFA não trouxe resultados positivos
para o setor eólico brasileiro. A criação de um mercado tornou viável a
produção de energia eólica no Brasil. A crítica aqui construída é que, apesar do
Brasil apresentar-se com grande potencial de produção de energia eólica no
mundo, a sua indústria eólica é dependente tecnologicamente de outros
países. Portanto, o seu potencial é limitado ao mercado enquanto consumidor
de máquinas e equipamentos eólicos e geração de energia.
Assim, o quesito incremento do eixo tecnológico, crucial para o
desenvolvimento do setor eólico em nível nacional, o Brasil não atendeu de
forma satisfatória. A indústria brasileira eólica é de montagem, de menor peso
tecnológico e valor agregado. Segundo Camillo (2013), as políticas brasileiras
do setor não privilegiaram a indústria nacional ou a adaptação da tecnologia:
O Brasil não estabeleceu uma estratégia deliberada de aprendizado e inovação em energia eólica ou de incorporação local da tecnologia. O PROINFA não trouxe nenhum instrumento de estímulo direto ao aprendizado e ao desenvolvimento tecnológico endógeno das fontes alternativas – os instrumentos do programa focaram essencialmente o lado da demanda de energia com algumas medidas voltadas para a indústria de turbinas. Também não foi criado, desde então, nenhum novo programa ou incentivo à pesquisa com foco específico em energia eólica. Não se estimulou o desenvolvimento de um sistema local de certificação – as turbinas e componentes vêm com certificação de órgãos internacionais. E não se buscou estabelecer um centro de referência em energia eólica que pudesse realizar testes, projetos experimentais e funcionar como um ponto focal de interação entre os atores da indústria como ocorreu nos países líderes (CAMILLO, 2013, p.159).
Revela-se assim a necessidade de alinhamento tecnológico entre os
países centrais e países periféricos por meio da expansão da capacidade
instalada, desenvolvimento da tecnologia ou das indústrias de turbinas e
componentes etc. Para tanto, é necessário que os países periféricos alcancem
50
a independência tecnológica mediante um planejamento governamental
podendo, de tal modo, se posicionar no mercado internacional de forma
competitiva.
Dessa forma, ao importar tecnologias e equipamentos, os países
periféricos devem atentar para o fato de como essa tecnologia chegou em seus
territórios. A forma como os países absorvem essas tecnologias irá determinar
o grau de independência e competitividade no setor.
51
3 ECONOMIA DAS EÓLICAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL
A Economia das Eólicas é uma atividade globalizada. Os diversos
agentes do setor interagem na troca de conhecimento, bens e serviços no
âmbito internacional. Essa dinâmica global foi destacada no capítulo anterior.
Neste momento do trabalho, vale a análise sobre como a Economia das
Eólicas concebe desenvolvimento na perspectiva local e regional,
principalmente naqueles territórios com estruturas produtivas fragilizadas e com
baixo dinamismo econômico.
No Brasil, em especial na região Nordeste, o desenvolvimento regional
foi possível por meio de políticas de incentivo ao desenvolvimento. Para
compreender como é possível modernizar estruturas produtivas de uma região
periférica, na primeira parte desse capítulo apresenta-se uma revisão de
literaturas sobre o desenvolvimento regional na perspectiva teórica da Questão
Regional. Na segunda parte do capítulo, aborda-se a relação de
empreendimentos eólicos com o desenvolvimento local.
3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional
A presente seção objetiva revisar o desenvolvimento regional na
perspectiva teórica da Questão Regional. No final da década de 1950, teve
início no Brasil um debate sobre as desigualdades regionais e o quanto esse
problema revelava a baixa integração nacional e a condição de
subdesenvolvimento do país. Essa revisão se faz importante porque foi por
meio de políticas nacionais de desenvolvimento regional que uma região
periférica como o Nordeste, ainda que preserve características de
subdesenvolvimento, modernizou suas estruturas produtivas e integrou-se à
dinâmica econômica nacional.
Ao analisar o processo de modernização produtiva e integração
nordestina destaca-se a conjuntura potiguar, uma vez que o processo de
formação econômica do Rio Grande do Norte, assim como o da região
Nordeste, foi historicamente marcado por uma forma singular de acumulação
52
capitalista (produtor marginal e complementar de matérias primas) – com maior
preponderância do agente capital mercantil.
A maior presença do capital mercantil nos principais setores econômicos
potiguares também revelou a débil expressão da produção de riqueza local,
sobretudo da indústria de transformação. Esta última foi relativamente
diversificada no território potiguar por volta do final dos anos de 1960, com
esforços desenvolvimentistas orientados pelo Governo Federal e executados
regionalmente pela Superintendência para o Desenvolvimento da Região
Nordeste (SUDENE) (GTDN, 1978).
A primeira análise científica sobre o subdesenvolvimento da região
Nordeste foi realizada pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do
Nordeste (GTDN), formado por volta de 1958/59, do qual, mais tarde, surgiria a
Sudene, em 1959. Os estudos do GTDN resultaram em um documento que
ficou conhecido por “Uma Política de Desenvolvimento para o Nordeste”
(GTDN, 1978). Neste texto foram registrados os principais pontos de
estrangulamento da economia nordestina. Dentre os vários problemas
constatados pelo Grupo, um teve relevância para a elaboração do trabalho: o
subdesenvolvimento nordestino (ARAÚJO, D., 2010).
O subdesenvolvimento era, antes de qualquer outro fator, produto das
relações capitalistas arcaicas pautadas em uma estrutura agrária
demasiadamente concentrada, de uma agricultura de baixo nível de
produtividade e de um sistema manufatureiro preponderantemente artesanal.
Para além desses registros, o GTDN selecionou vários outros problemas
sociais e políticos, tais como a forte concentração populacional em áreas de
difícil produção agrícola, analfabetismo etc. Atuar na perspectiva de modificar
essa realidade foi o maior desafio do GTDN. A indústria que seria instalada na
região deveria, a princípio, ter relação com suas potencialidades naturais
(GTDN, 1978).
Assim, partia-se do pressuposto de que para atuar sobre os
desequilíbrios regionais era necessário criar, no Nordeste, as condições
necessárias à industrialização. Industrializar o Nordeste era preciso, pois seu
53
subdesenvolvimento era produto de débeis relações capitalistas (GOODMAN;
ALBUQUERQUE, 1974).
Através do debate estabelecido e sistematizado pelo GTDN entre os
anos de 1958 e de 1960, os autores que discutiam “A Questão Nordeste” –
como Celso Furtado, por exemplo – atribuíram à baixa taxa de industrialização
a responsabilidade pela criação de poucos empregos, pela baixa taxa de
crescimento econômico e pela baixa renda per capita da região. Todavia, a
história da desconcentração industrial, colocada em prática a partir dos anos de
1960, revelou que os problemas do subdesenvolvimento da região não se
restringiam àquele diagnóstico (ARAÚJO, D., 2010).
Após décadas de políticas voltadas à correção do ciclo produtivo
nordestino, a industrialização da região não reverteu de forma satisfatória o
quadro econômico e social para os agentes menos abastados. Embora exista
uma nova configuração econômica na região Nordeste, com implantação e
modernização de vários setores econômicos, foram preservados os principais
aspectos do subdesenvolvimento como, por exemplo, a concentração e baixa
mobilidade dos rendimentos médios da região, uma agricultura de matéria
prima e de alimentos pouco diversificada, bem como um setor de serviços
demasiado informal. Para além desses problemas, persiste ainda a secular
concentração da propriedade da terra (ARAÚJO, T., 1982).
Em meados da década de 1960, quando o “Modelo de Substituição de
Importações” encontrava-se em crise, buscou-se corrigir o ciclo econômico
brasileiro a partir da transferência de significativa quota de capitais do Sudeste
para a Região Nordeste. Procurava-se resolver dois problemas básicos do
subsistema capitalista brasileiro: 1) a tendência decrescente da taxa média de
lucro do polo e 2) o problema dos desníveis regionais que se expressava,
sobretudo, em constatações factuais de incipiente industrialização;
desemprego no campo e na cidade; secas constantes; forte concentração da
propriedade da terra etc. O Estado, por meio da SUDENE, tentava amenizar as
disparidades da região Nordeste frente ao Sudeste do país (ARAÚJO, D.,
2010).
54
Deixando de lado os limites e as vicissitudes do deslocamento dirigido
de um determinado padrão industrial do Sudeste para o Nordeste, deve-se
registrar que a partir deste intento, o perfil econômico da região foi realmente
modificado. Desta forma, tal processo de desconcentração industrial acabou
por cumprir seu papel, que era viabilizar a acumulação capitalista do polo no
Nordeste do país. Com isso não se está afirmando que o Nordeste não foi
beneficiado por tal processo. Todavia, a desconcentração industrial-
conservadora – mas virtuosa, de acordo com Cano (2008) – do Sudeste para o
Nordeste acabou por preservar seu subdesenvolvimento, ou seja, o Nordeste
foi cooptado à dinâmica do ciclo econômico do Sudeste do país, especialmente
de São Paulo. Na verdade, esse “Nordeste” resumia-se quase que inteiramente
aos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará (MOREIRA, 1979).
É extensa a riqueza de dados que comprovam a mudança do perfil
produtivo do Nordeste: criação de novos empregos, um rápido surto de
urbanização, modificação nas relações de trabalho e das formas de produção,
dentre outros fatores inerentes ao processo de industrialização e afirmação de
um tipo específico de capitalismo: o industrial. Entre a metade dos anos de
1950 e os anos 1960, o Nordeste passou a ser o centro da atenção nacional. O
debate, bem como as ações políticas, estava estabelecido na órbita da
Questão Regional, que continuou viva no cenário nacional até o final da década
de 1970 (GOODMAN; ALBUQUERQUE, 1974).
É interessante ressaltar que a movimentação do capital industrial rumo
ao Nordeste foi mais intensa quando o centro dinâmico do sistema capitalista
brasileiro experimentou algum tipo de crise. Obviamente, esta não foi – e não é
– uma condição necessária e única para que o Nordeste se industrializasse.
O Estado, com a SUDENE, criou os mecanismos que, por um lado,
viabilizaram a migração dos capitais sudestinos e a acumulação destes no
Nordeste. Por outro lado, esteve empenhado em atuar sobre os desequilíbrios
regionais diminuindo o hiato industrial entre o polo econômico (Sudeste) e a
periferia brasileira (Nordeste).
Passados os tempos do fim do modelo de substituição de importação, na
década de 1980 a economia brasileira voltou a experimentar um novo momento
55
de crise. Um dos resultados do Milagre Econômico brasileiro foi a significativa
dívida externa que, embora não tenha estrangulado a economia brasileira
naquela década, submeteu o ciclo econômico nacional a um longo processo de
recessão (CANO, 2008).
Foi nesse período 1980 que se manifestou a crise do endividamento
externo brasileiro, a qual se instalou quase que completamente sobre a
indústria nacional. Deste modo, a região mais atingida pela crise da dívida foi a
que se encontrava mais industrializada: Sudeste.
No decênio 1980-90, a taxa média anual de crescimento do PIB
brasileiro foi de 1,6% a.a. Para o Nordeste, este indicador foi de 3,3%. Nesta
região, os estados de maior taxa média de crescimento foram o Maranhão,
com 8,3% a.a., e o Rio Grande do Norte, com 7,4% a.a. Percebe-se que
também nesse segundo momento de crise nacional o Nordeste foi beneficiado.
O fato é que os investimentos realizados no Nordeste na década de 1970
experimentaram amadurecimento exatamente na década seguinte (ARAÚJO,
D., 2010).
A indústria no Rio Grande do Norte foi implantada a partir da dinâmica
do ciclo econômico nacional. Esse fato não submeteu a economia potiguar
totalmente à dinâmica do ciclo econômico do Sudeste, dado que em
determinados períodos, como já mencionado, o Rio Grande do Norte cresceu
acima do crescimento médio do país.
A terceira fase de crise da acumulação industrial brasileira é bem mais
recente. A indiscriminada abertura econômica praticada no início dos anos de
1990 até os dias atuais tem limitado em demasia os espaços econômicos
lucrativos do capital produtivo nacional, sobretudo o industrial. A adoção de
recomendações do Consenso de Washington15 pelas autoridades da América
Latina não apenas inaugurou o fim de um modelo específico de acumulação –
15 O Consenso de Washington foi um pacote de políticas macroeconômicas formuladas por instituições financeiras como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, em 1989, com o objetivo de promover o ajustamento econômico dos países periféricos que passavam por dificuldades econômicas. O pacote de medidas era composto por dez regras: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; abertura comercial; investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições; privatização das estatais; desregulamentação de leis econômicas e trabalhistas; direito à propriedade intelectual. Mais em Carneiro (2002).
56
o industrial estatal – que desde os anos de 1980 não mais se sustentava, como
inviabilizou qualquer tipo de iniciativa que tivesse como proposta reconstituir o
ciclo do capital produtivo (CHESNAIS, 1998).
Os capitais produtivos instalados no interior da economia brasileira,
principalmente na indústria, não suportaram o peso da abertura econômica e
não tiveram condições competitivas frente aos capitais internacionais que
atuavam e atuam no mesmo setor. Essa realidade levou a um novo surto de
desconcentração industrial no Brasil (CANO, 2008).
Apesar das políticas nacionais de desenvolvimento regional trazerem,
até a década de 1980, transformações produtivas para o Nordeste, critica-se
que políticas de cima para baixo, ou seja, centralizadas na União, muitas vezes
não levavam em conta as especificidades regionais. Por outro lado, a partir da
década de 1990 o fortalecimento do local, principalmente com políticas de
incentivos fiscais – guerra fiscal – buscando atrair para seus territórios
investimentos que garantissem a aderência da economia local à global, passou
a ser uma prática comum no país (ARAÚJO, D., 2010).
A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), em 2003,
trouxe um discurso conciliador entre as políticas de cima para baixo,
desenvolvimentistas, e as políticas de baixo para cima, com características
localistas. A PNDR trata a questão regional a partir das múltiplas escalas (a
local, a microrregional, a mesorregional, a nacional, a faixa de fronteira, o
semiárido, as Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDES) etc.), nas quais
devem atuar o poder público, levando em conta as especificidades das regiões
(MACEDO; COELHO, 2015).
A proposta da PNDR objetivou enfrentar a concentração de capital e
contribuir para a redução das desigualdades regionais e a ativação das
potencialidades de desenvolvimento das regiões brasileiras. Em síntese,
segundo Macedo e Coelho:
57
[...] a política constituiu-se pelo objetivo da equidade, traduzido na redução das desigualdades de níveis de renda e oportunidades e condições de trabalho, e também pelo objetivo de competitividade, a partir da estruturação de uma base econômica regional capaz de ampliar sua inserção nos mercados nacional e mesmo internacional (2015, p. 471).
Apesar do PNDR ter trazido proposições e críticas importantes para o
debate sobre a questão regional, não passou da esfera retórica, visto que não
há registro de concretização das políticas que consubstanciam o plano. Em
2013, dez anos depois de lançada, o Governo Federal traz uma nova versão: a
PNDR II. O principal diferencial da PNDR II foi o amplo debate desenvolvido na
I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional (I CNDR), com a
participação da sociedade civil e órgãos do governo.
Segundo Macedo e Coelho (2015), o maior impasse da efetivação da
PNDR é a necessidade de construir o consenso político e federativo que o
encaminhamento da questão regional requer. A expectativa da efetivação da
PNDR era a aprovação de seu Projeto de Lei pelo Congresso Nacional. Mesmo
depois de três anos da elaboração de sua última versão, percebe-se que pouco
se avançou nos encaminhamentos da política regional brasileira.
Em meio ao recente debate acerca de desenvolvimento socioeconômico
nacional, avançando bem mais do que as políticas de desenvolvimento regional
seguem as políticas de incremento de setores estratégicos nacionais. Num
contexto em que a problemática energética revela-se como um limite para o
desenvolvimento nacional e fontes alternativas de energias assumem o papel
de acionar o desenvolvimento sustentável, busca-se investigar de que forma o
fenômeno desenvolvimento ocorre mediante as políticas setoriais (no caso
deste trabalho, setor energético eólico).
58
3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos
Na década de 1980, motivados pela crise da dívida e o fim de políticas
centralizadas desenvolvimentistas, inicia-se a Reforma do Estado fortalecida
pela Constituição 1988. Esta, conhecida como Constituição Cidadã, objetivava
a democratização das políticas públicas conferindo autonomia político-
administrativa aos municípios, modificando o padrão de relacionamento entre o
Estado e a sociedade. A elevação do poder local tem por um lado a
socialização do poder por meio de modelos de gestão pública articulados às
demandas sociais. Por outro lado, assume novas responsabilidades como a
ação econômica e geração de emprego e renda.
A gestão pública local possui o desafio de promover o desenvolvimento
num processo de reestruturação econômica que rompe com as integrações
regionais até então conhecidas. A nova base de utilização do território é
constituída pela a ciência, tecnologia e informação, criando uma integração
local/global.
Nesse contexto, inicia-se no Brasil o debate sobre desenvolvimento
local, no qual:
[...]o conceito de desenvolvimento local, entendido como um plano de ação coordenado, descentralizado e focalizado, destinado a ativar e melhorar – de maneira sustentável – as condições de vida dos habitantes de uma localidade, e no qual o desenvolvimento estimula a ampla participação de todos os atores relevantes (COELHO, 1996, p.48).
Os desafios principais do desenvolvimento econômico local são superar
os limites da restrição de poder de intervenção em fatores vinculados
diretamente à economia mundial e nacional e manobrar a falta de recursos
para investimento. Segundo Dowbor (1996), apesar dessas limitações a
administração local pode desempenhar algumas tarefas que contribuam para
superar os circuitos fechado de acumulação e gerar emprego e renda. Veja o
quadro Síntese de Ações do Governo Local:
59
1) Criar um Ambiente Propício • Crédito comunitário
• Infraestrutura física
• Políticas Sociais
• Desburocratização
2) Formação Básica e Profissional
• Profissional
• Comunitária
3) Intervenção em Setores de Efeito Multiplicador
• Melhor articulação campo-cidade
• Franjas inferiores do mercado
• Setor Terciário
• Simplificação de Serviços Públicos
4) Incentivo a formas de organização da produção alternativa à empresa capitalista
• Cooperativas e empresas não lucrativas
5) Novas Formas de Ajuda e Cooperação
• Superar o assistencialismo estimulando as iniciativas produtivas
6) Articulação do desenvolvimento local com atores e dinâmicas externas
• As ações devem estar articuladas com as oportunidades e restrições colocadas pelo contexto global, sobre o qual o poder local não tem governabilidade;
• Cuidado com a especialização excessiva e definir o grau de autossuficiência produtiva pretendida ou possível, que pode variar em função das condições locais e das dinâmicas regional e nacional;
7) Produtividade social • Atenção aos fatores subutilizados, ou seja, promover o uso racional dos recursos de uma determinada comunidade.
Quadro 5 - Ações do Governo Local Fonte: Dowbor (1996). Elaborado pela autora
O Desenvolvimento Local passou, da última década do século XX aos
dias de hoje, a ser foco de ação das instâncias subnacionais/governamentais
(entes federados e municípios), devido ao maior afastamento da instância
federal da administração e condução de políticas universais de crescimento e
de desenvolvimento econômico.
Brandão (2007) destaca que quando há um Estado mínimo ou
supervalorização do papel de políticas locais, manifesta-se com significativa
permanência a tendência de reforçar e consolidar as forças de mercado, sem
levar em conta a presença de um contexto heterogêneo e desigual. A análise
sobre o local é importante; as políticas nacionais precisam identificar seu
potencial e somar para que não haja “um processo de agudização das marcas
do subdesenvolvimento desigual, excludente e segregador” (BRANDÃO, 2007,
p.35).
60
Assim, na questão energética, a ação de um projeto nacional para a
segurança energética no Plano Nacional de Energias atenta para questões que
vão além do nacional. Deve-se compreender que os locais possuem diversos
problemas a serem superados. Portanto, como locais com economias pouco
dinâmicas e o social fragilizado poderiam transformar suas questões estruturais
com os investimentos e políticas do plano energético? Segundo Brandão, “é
preciso discutir a espacialidade dos problemas e implementar políticas levando
em consideração a escala específica desses problemas, mas em um contexto
em que esteja presente um projeto nacional de desenvolvimento” (BRANDÃO,
2007, p. 36).
As justificativas para os incentivos à Economia das Eólicas apoiam-se na
promoção da segurança energética nacional, no desenvolvimento sustentável e
socioeconômico que esta atividade pode vir a trazer. Existem diversos
trabalhos16 que abordam a importância da ampliação da matriz eólica para a
nação, entretanto, nesta dissertação objetiva-se compreender de que forma os
empreendimentos eólicos contribuem para o desenvolvimento local.
A atividade eólica ocorre em determinado espaço dotado de
características físico-naturais como, por exemplo, vastas extensões de terras
com abundância de ventos. Dessa forma, a intensidade e a velocidade das
correntes de vento constituem pré-requisitos indispensáveis ao sucesso do
citado empreendimento. Sabe-se que consideráveis montantes17 de capital são
investidos na construção de parques eólicos, mas como essa produção de
energia poderia alterar ou impulsionar a dinâmica socioeconômica do local?
A análise realizada analisou como uma região periférica como o estado
do Rio Grande do Norte poderia associar desenvolvimento local mediante a
chegada empreendimentos eólicos. No capítulo anterior, viu-se que nos países
seguidores da Economia das Eólicas, buscava-se a incorporação dessa nova
atividade ainda que tardiamente, garantindo a autonomia e a independência do
16 Além de trabalhos acadêmicos, os próprios documentos oficiais como o PROINFA e o PNE abordam o tema. 17 O valor médio em investimento inicial para usinas de médio e grande porte (acima de 30MW) é de R$ 4.200.000,00 por MW instalado. Esse valor inclui o aerogerador e infraestrutura civil e elétrica. Tudo isso dependendo das características de cada empreendimento, devendo assim ser analisado caso a caso (MACEDO, 2015).
61
setor. No Brasil, a atividade eólica foi inserida pela urgência em resolver a
questão da crise energética elétrica. De acordo com as estratégias políticas
escolhidas, houve pouco cuidado em desenvolver um setor autônomo e
independente. A questão de segurança energética não foi resolvida de forma
que tornasse o país inovador e com destaque tecnológico internacional capaz
de revelá-lo como grande potencial para o desenvolvimento, independente do
setor (CAMILLO, 2013).
Logo, como se justifica a questão do desenvolvimento local? Como
estados periféricos, a exemplo do Rio Grande do Norte, que possuem uma
indústria precária e baixo desenvolvimento tecnológico, poderiam absorver os
benefícios dos investimentos em torno da Economia das Eólicas?
Nos discursos dos agentes locais, no Rio Grande do Norte tanto governo
quanto iniciativas privadas defendem a instalação dos parques eólicos devido à
geração de emprego e renda, justificativa pautada nos objetivos de
desenvolvimento local. No entanto, para a realização de um desenvolvimento
que modifique as estruturas produtivas locais e possa render benefícios no
longo prazo, é necessária a criação de parcerias no processo de “reengenharia
social”18.
Deve registra-se que é no planejamento que Gestor, promotor do
desenvolvimento local, objetiva reprojetar e reformar sistematicamente toda
uma organização, funções e processos. Devido às limitações financeiras da
gestão municipal, o promotor do desenvolvimento local torna-se agente
articulador de parcerias entre os atores sociais, criando assim uma rede de
colaboração. Dowbor (1996) define os tipos e formas de parcerias existentes:
18 Reengenharia é um conceito trabalhado originalmente por CHAMPY & HAMMER (1994) como uma estratégia empresarial. O conceito foi trazido para a Gestão Pública como Reengenharia Social para a reestruturação dos diversos setores estratégicos do setor estatal.
62
A identificação dos atores sociais envolvidos em todos os momentos desse processo é fundamental. Esses atores podem ser, além do próprio governo local, os governos do estado e federal, ONGs, comunidades organizadas, instituições de pesquisa e formação, empresas, entidades corporativas, pessoas interessadas. Vai-se identificando os atores e suas capacidades de ação, seus interesses. Em um trabalho de articulação política, se constrói um aparato institucional mais ou menos formal que possa dinamizar essa relação que se pretende implantar: conselhos de desenvolvimento local, consócios intermunicipais, associações de mães, cooperativas, associações comunitárias, fundações comunitárias municipais, movimentos de revitalização de áreas degradadas e muitas outras formas (DOWBOR, 1996, p. 41).
Segundo Dowbor (1996), as parcerias precisam possuir objetivos claros,
diretos e um problema central que se pretende resolver ou minimizar. O autor
ressalta ainda a importância de se ter diagnósticos aprofundados, de forma a
deixar evidente quais são os limites e potencialidades locais que se pretende
atingir.
Os locais com empreendimentos eólicos conectam-se ao global
mediante a inserção dessa nova atividade econômica em um local que
demanda alta tecnologia. Segundo Borja e Castells (1997), existiriam sistemas
de colaboração e as redes de compromisso armadas no local como unidade de
propósitos e lealdade entre os agentes inseridos em uma coletividade
consorciada. Entretanto, Brandão (2007) critica essa solidariedade, afirmando
que sem uma articulação central sobre integrar local e global dificilmente um
território com diversas fragilidades estruturais poderá se beneficiar dos
investimentos que está recebendo.
No conceito de desenvolvimento local defende-se o incentivo às
atividades produtivas locais integradas com o global; estimulam-se as
potencialidades locais atraindo investimentos para essas regiões. Existem dois
tipos de empreendimentos importantes para o desenvolvimento local:
empreendimentos de grande porte, que geram um elevado número de
empregos, e os pequenos e médios empreendimentos, que absorvem uma
camada da população não incluída do processo produtivo.
63
O caráter democrático do desenvolvimento local está em promover a
economia popular agregado à reestruturação produtiva. Dentre as estratégias
do desenvolvimento local está o fomento às formas associativas de pequenos
empreendedores como motor de integração econômica, com cooperativas,
microempresas, empresas domésticas, autoemprego, microunidades
econômicas (COELHO, p. 52, 1996).
Apesar da economia popular ser importante para absorver uma camada
não participante da reestruturação produtiva, o prefeito assume um papel de
empreendedor em busca de atrair os maiores empreendimentos para o
município. Por sua vez, os grandes empreendimentos estão cada vez mais
seletivos na busca de vantagens locacionais – recursos naturais, mão de obra,
infraestrutura física etc. Quando essas vantagens locacionais não são
encontradas ou não são suficientes para a barganha na atração de
empreendimentos suge uma guerra de atratividades, especialmente as fiscais.
Sobre a guerra de atratividades, Coelho (1996) destaca que:
Um projeto de desenvolvimento local deve reduzir esta guerra fiscal e de atratividades através de políticas regionais que integrem as potencialidades locais. Toda proposta de potencializar a economia local deve partir da necessidade imperiosa de resolver o problema da fragmentação e exclusão social (COELHO, p. 48, 1996).
O uso dos incentivos fiscais com política de atração de empresas de
grande porte tem sido a principal ferramenta utilizada pelos gestores locais.
Além das isenções, o gestor público ainda oferece outros benefícios como o
aforamento de imóveis públicos e até o acesso facilitado a serviços públicos. O
maior problema não chega a ser a oneração das receitas públicas pela isenção
fiscal, mas o despreparo dos gestores públicos municipais em criar redes de
solidariedade com os diversos setores produtivos locais para gerar uma
congruência com os setores preexistentes ou que possam vir a existir com o
grande empreendimento que se instala no município.
64
Segundo Clementino (2001), a esfera municipal, no Nordeste brasileiro,
não se encontra preparada para fazer face às demandas sociais. A autora
desenvolve uma dura crítica aos gestores locais no Nordeste:
Na maioria dos municípios o formato organizacional está centrado em modelos arcaicos, desprovidos de capacidade técnica, funcionando como um espaço de alocação de emprego público para familiares e correligionários. Falta aos governos locais, na maioria dos casos, instrumentos gerenciais de planejamento, acompanhamento e avaliação, dificultando sobremaneira a adoção de uma agenda pública calcada nas necessidades da população e nas possibilidades de desenvolver uma ação mais efetiva para o desenvolvimento local. (CLEMENTINO, 2001, p.13).
No desenvolvimento local devem-se levar em conta as potencialidades
de locacionais, ou seja, suas especificidades históricas e socioeconômicas, e
as possibilidades permitidas pela sua geopolítica. Os empreendimentos eólicos
que se instalam no Rio Grande do Norte chegam em busca da matéria prima
abundante, ventos e vastas extensões de terras. Entretanto, a Economia das
Eólicas tem em sua base de movimentação o desenvolvimento tecnológico,
que além de ser débil no estado potiguar, não faz parte da formação
socioeconômica da região atuar na área de tecnologia. Desta forma, este
empreendimento instala-se no território potiguar possuindo uma relação pífia
com as atividades econômicas preexistentes.
Uma atividade de elevado teor tecnológico como a Economia das
Eólicas, ao se instalar em um território periférico – com diversos problemas
estruturais socioeconômicos, uma demanda ainda bastante reduzida em
relação aos produtos derivados da produção da energia eólica, bem como do
restante da incipiente economia local – incitam os agentes locais a se
esforçarem no processo de aprendizagem e capacitação. Esse esforço se faz
necessário para poder interpretar a informação, selecionar, comprar (ou
copiar), transformar e internalizar a tecnologia importada (CASSIOLATO;
LASTRES, 2005).
Para compreender o processo de inserção tecnológica na periferia é
importante não deixar de considerar a existência da dualização do sistema
65
capitalista. A distribuição desigual dos ganhos do progresso técnico, que tem
origens tanto internas (conflitos de capital e trabalho para a apropriação de tais
ganhos) quanto, principalmente, derivações externas. As origens externas da
distribuição desigual dispõem de importantes implicações geopolíticas e
ocorrem com os países centrais concentrando os avanços na fronteira
tecnológica – e se especializando na produção e distribuição de bens e
serviços mais sofisticados, e os periféricos naqueles caracterizados por baixa
produtividade e baixo valor agregado (PREBISCH, 2000).
Nos países pioneiros e seguidores bem sucedidos em tecnologia de
energia eólica, as políticas de inovação foram fundamentais nesse processo19.
Segundo Erber & Cassiolato (1995), os Estados em nenhum momento
deixaram de intervir fortemente para fomentar o desenvolvimento produtivo e
tecnológico e a expansão de setores estratégicos para a dinâmica estrutural,
ainda que estas políticas fossem camufladas por imperativos estratégico-
militares.
Nos países centrais, a atuação do Estado no campo das políticas
industriais e tecnológicas ocorre com o interesse em promover as interações e
a cooperação entre os agentes visando a inovação e fomentando, ainda, a
consolidação das bases regionais para o desenvolvimento tecnológico, o
reforço de malhas de pequenas e médias empresas e o desenvolvimento de
atividades consideradas estratégicas para o crescimento econômico doméstico
(CASSIOLATO; LASTRES, 2005).
Seja na periferia ou nos países centrais, o papel do Estado é
fundamental para o desenvolvimento. Não existe um modelo global de
desenvolvimento e a cada caso aplicam-se novos conjuntos específicos de
requerimentos. No Brasil, a efetividade das políticas locais deve ser reforçada à
estratégia nacional e até supranacional. Mostra-se necessária uma
coordenação dos diferentes níveis (desde o local, ao nacional e internacional) e
tipos de políticas, assim como agências intervenientes – o que demanda uma
forma de ação que só pode ser realizada na instância mais elevada do governo
(CASSIOLATO; LASTRES, 2005).
19 Ver tópico 2.3 deste trabalho.
66
Segundo Clementino (1996), as principais dificuldades do poder local
são a ausência de uma coordenação geral com uma definição clara de
competências em todos os níveis; a enorme heterogeneidade territorial,
econômica, social e política e a persistência de padrões culturais e práticas
adversas ao processo efetivo de descentralização. Sendo assim, o
desenvolvimento local, juntamente com o crescimento do poder local, ainda
dependem de políticas desenhadas em nível federal e/ou estadual.
Para o caso dos empreendimentos eólicos no desenvolvimento local,
considerando que se instalam em municípios com baixo dinamismo econômico,
dependentes de transferências governamentais, sugere-se que os gestores
locais busquem iniciativas de ações desencadeadoras que, por meio de
parcerias e sistemas de colaboração, juntamente com os diversos atores,
ajudem a criar políticas de desenvolvimento comunitário (cooperação e
serviços) e de desenvolvimento territorial.
67
4 MICRORREGIÕES EÓLICAS DO RIO GRANDE DO NORTE
No presente capítulo buscou-se identificar como ocorre a integração das
microrregiões eólicas com a economia global. Para isso, considera-se que a
dinâmica da Economia das Eólicas vai além dos territórios onde estão
localizados os parques. Existe uma integração entre o local e o global. Apesar
do dinamismo local, as microrregiões dos parques eólicos interagem com
municípios mais pujantes economicamente e com maior oferta de bem e
serviços. Por exemplo, Natal (capital do Rio Grande do Norte) e Mossoró
(segunda cidade mais importante do estado) representam para as
microrregiões eólicas polos dinâmicos que oferecem uma melhor rede de
infraestrutura e serviços que as regiões onde os parques se encontram.
Dividiu-se esse capítulo em quatro partes. Em cada uma delas
identificou-se no estado potiguar as microrregiões eólicas, as suas economias
tradicionais e como elas se relacionam com a economia eólica. Nestas seções
desenvolveu-se uma análise sobre os aspectos geográficos e socioeconômicos
das microrregiões dessa nova atividade. O objetivo é compreender quem são
os locais que possuem parques eólicos e qual a sua relação com o restante do
Rio Grande do Norte.
Na Figura 2 foram mapeados os municípios potiguares que possuem
empreendimentos eólicos em operação, em construção e/ou construção não
iniciada. Consideram-se os municípios nessas condições como integrantes das
microrregiões eólicas potiguares. Para a definição das microrregiões eólicas
potiguares utilizou-se a mesma metodologia do IBGE (1990) para a divisão das
microrregiões do país, empregando os indicadores básicos de estrutura de
produção e interação espacial.
68
Figura 2 – Microrregiões Eólicas Potiguares - 2017 Fonte: Aneel20. Elaborado pela autora
4.1 Mossoró-Macau
A microrregião Mossoró-Macau é composta pelos municípios de Areia
Branca, Galinhos, Guamaré, Macau, Serra do Mel e Tibau (ver Figura 3).
Definiu-se, nesse trabalho, o nome “Mossoró-Macau” para a microrregião pela
importância de Mossoró que, apesar de não possuir parques eólicos, é o centro
dinâmico desta microrregião. Segundo maior município do estado (produtivo e
populacional), possui uma grande infraestrutura de comércio e serviços que
atende a toda microrregião. Mais adiante nesse trabalho serão descritas as
funções de municípios do estado que participam da Economia das Eólicas sem
possuírem parques em seus territórios. Para esta análise, a definição de
microrregiões eólicas tem como objetivo compreender de que forma essas
áreas que receberam investimentos de forma direta para a construção de
parques eólicos tiveram suas dinâmicas econômicas alteradas.
20 Todos os municípios selecionados possuem parques em operação, exceto Cerro Corá, Jardim de Angicos, Maxaranguape e Tibau, que apenas possuem potência outorgada.
69
Figura 3 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau Fonte: Elaborado pela autora.
Historicamente, na microrregião Mossoró-Macau, a agricultura, a
pecuária (carne fresca, carne seca, couro, tração), a pesca e o sal sempre
foram as principais atividades econômicas. Durante os séculos XVII e XVIII,
essas atividades possuíram aspecto mercantil e preponderantemente de
subsistência.
Segundo Cascudo (1955), desde o século XVII foi identificado potencial
salineiro da microrregião. Durante o século XVIII, a indústria de extração de sal
funcionava de forma rudimentar e complementar à produção de carne de sol, o
que ampliou o setor pecuário. Entretanto, essa indústria nascente ficou
abandonada por quase um século, por fazer concorrência com a Fazenda Real.
Somente a partir de 1889, com o Regime Republicano, foram retomados os
investimentos para a extração de sal, que estimulou também o povoamento da
área.
70
No Ciclo do Gado (meados do século XVIII a início do século XX), as
regiões do interior do estado passaram a se integrar. A microrregião Mossoró-
Macau teve importância nesse processo. Diversas rotas importantes passavam
ou partiam do município de Mossoró, intensificando sua importância como
centro mercantil. Além do porto de Areia Branca, que era ponto de escoamento
de boa parte da produção do interior, permitindo constantes transações
comerciais com regiões vizinhas (CLEMENTINO, 1990).
Essas atividades econômicas seguem sem diversificações até o século
XX. Em meados da década de 1970, inicia-se na região uma nova e moderna
atividade, a exploração petrolífera. Essa nova matriz produtiva exige uma nova
infraestrutura e modifica as relações de bens e serviços.
Após pesquisas realizadas21 na década de 1970, a Bacia Potiguar, no
Rio Grande do Norte, passa a ser a segunda maior bacia petrolífera do país.
Com a intensificação da produção na década de 1980, a presença da indústria
petrolífera – representada, principalmente, pela PETROBRAS –, impulsiona a
dinâmica econômica do estado. A chegada da PETROBRAS no Rio Grande do
Norte ativa a economia por diversos vieses. O primeiro trata dos investimentos
para a instalação da indústria extrativa. Esse investimento vai desde obras de
infraestrutura de rodovias e construção civil até a compra de máquinas e
equipamentos para a extração de petróleo. O segundo refere-se à quantidade
de empregos e demais postos de ocupação que a empresa é capaz de gerar.
Neste item contam tanto aos empregos diretos, terceirizados, quanto a
contração de prestação de serviços. Por fim, o terceiro injetor na economia é o
pagamento de royalties22 aos municípios produtores de petróleo, adjacentes às
que produzem petróleo e por onde passam oleodutos, gasodutos, maquinários
etc.; ao Governo do Estado e a proprietários de terras onde existem atividades
produtivas da empresa (RODRIGUES NETO, 2008).
A indústria petrolífera potiguar, em que pese a sua importância
transformadora no Rio Grande do Norte, modificando o estágio de atraso em
21 Em 1965, a Petrobrás envia uma equipe de geologia para o Rio Grande do Norte para aprofundar os estudos sobre o petróleo na região. Em 1976, inicia-se a exploração comercial de petróleo no estado (RODRIGUES NETO, 2008). 22 O royalties são pagamentos realizados pelo direito de uso da terra por meio da exploração do petróleo aos proprietários.
71
que se encontrava a economia potiguar, não foi a solução para que a economia
regional criasse um parque industrial completo. Segundo Araujo (2010), o
potencial energético, derivado da exploração do petróleo e gás natural, energia
eólica, energia solar e biocombustível, poderia ser utilizado como forma de
incentivar a instalação de vários gêneros de indústrias no Rio Grande do Norte.
Porém, esse fator de produção industrial não pareceu ser suficiente para tornar
a indústria potiguar competitiva.
Nos anos 2000, iniciam-se os estudos e pesquisas para implantação de
uma nova matriz energética no Rio Grande do Norte. A exemplo do que
ocorreu no Brasil, a indústria eólica potiguar age de forma preponderante no
eixo de produção energética, ou seja, objetiva apenas atender ao mercado de
geração de energia. No que tange às máquinas e equipamentos necessários
para a geração, no Rio Grande do Norte estão relacionadas à montagem de
equipamentos ou à confecção de menos intensivos em capital, como a
construção de torres eólicas.
Assim como a indústria petrolífera, a Economia das Eólicas ativou a
economia potiguar por meio da construção dos parques eólicos. Para uma
dinâmica socioeconômica duradoura e significativa para o estado, a Economia
das Eólicas deveria desenvolver a cadeia produtiva completa e/ou criar
mecanismos de atração de empreendimentos que viriam a se beneficiar da
energia gerada no estado.
O destino da energia gerada é a central de redes. Para o Governo do
Estado fica difícil negociar a energia produzida no RN como algo atrativo para
os diversos setores produtivos. Dessa forma, o discurso de que o Rio Grande
do Norte é autossuficiente em energia eólica não passa de uma falácia, pois
boa parte da energia produzida vai para a central de redes, não ficando apenas
no território potiguar.
Como a Economia das Eólicas é uma atividade recente no Rio Grande
do Norte, observou-se, neste trabalho, como o período de construção dos
parques eólicos acionou a socioeconomia das microrregiões do estado. É
importante atentar para a data de início de operação dos parques eólicos, pois
o período de construção dos empreendimentos acionou as economias e
72
dinâmicas urbanas locais com as diversas atividades demandadas pela
Economia das Eólicas. De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que na
microrregião Mossoró-Macau o primeiro parque eólico entrou em operação em
30 de dezembro de 2010, no município de Guamaré.
Na Tabela 1, visualiza-se 25 parques eólicos em operação na
microrregião Mossoró-Macau, o que representa 21% do total de parques
eólicos no estado. Nos municípios de Serra do Mel e Tibau, seis parques com
construções não iniciadas apresentam para a microrregião uma expectativa de
circulação produtiva durante os anos de construção dos parques.
Sabendo que o tempo médio de construção dos parques eólicos é de
três a cinco anos, analisou-se o comportamento populacional da região, a
evolução do emprego e o número de estabelecimentos produtivos por setor
econômico com o objetivo de verificar as principais variações no período de
2002 (ano anterior à construção dos parques) a 2015.
73
Operação Em Construção Não Iniciada
Total
Data Operação
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Areia Branca 19/02/2013 6 160.400 - - 6 160.400
Galinhos 01/02/2014 2 118.570 - - 2 118.570
Guamaré 30/12/2010 8 284.450 - - 8 284.450
Macau 01/02/2014 1 68.470 - - 1 68.470
Serra do Mel 05/12/2015 8 192.000 4 111.300 12
303.300
Tibau - - - 2 52.500 2 52.500
Microrregião Mossoró-Macau
25 823.890 6 163.800 31 987.690
Tabela 1 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau - Empreendimentos de Geração Eólica: em operação e em construção não iniciada23 Fonte: ANEEL. Elaboração da autora
Na Tabela 2, sobre a população urbana e rural da microrregião Mossoró-
Macau, são utilizadas as informações dos Censos Demográficos 2000 e 2010 e
Contagem da População 2007. O ano 2000 representa um período que
antecede a chegada das eólicas na microrregião, o ano 2007 apresenta dados
do período de início de construção dos parques e no ano 2010 alguns parques
já entram em operação – embora ainda haja um número significativo de
empreendimentos em construção.
2000 2007 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Areia Branca 17.861 4.669 22.530 19.531 4.867 24.398 20.317 4.998 25.315
Galinhos 1.001 766 1.767 1.258 891 2.149 1.238 921 2.159
Guamaré 3.599 4.550 8.149 4.232 7.505 11.737 4.407 7.997 12.404
Macau 18.612 7.088 25.700 20.989 6.143 27.132 21.966 6.988 28.954
Tibau 2.688 509 3.197 3.368 382 3.750 2.835 852 3.687
Serra do Mel 8.203 34 8.237 1.780 7.436 9.216 2.698 7.589 10.287
Microrregião Mossoró-Macau
51.964 17.616 69.580 51.158 27.224 78.382 53.461 29.345 82.806
Tabela 2 – População Urbana e Rural da Microrregião Mossoró-Macau – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora
23 A microrregião não possui empreendimentos eólicos em construção. Os dados são oriundos de consulta realizada em 23 de janeiro de 2017. Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm >. Acesso em: 23 de jan. 2017.
74
Segundo a metodologia do IBGE, considera-se que a população é
urbana ou rural segundo a localização dos domicílios em relação ao perímetro
urbano estabelecido por lei municipal. A situação urbana abrange as áreas
correspondentes às cidades (sedes municipais), vilas (sedes distritais) ou áreas
urbanas isoladas. Na microrregião Mossoró-Macau, embora mais de 64% da
população seja urbana, no triênio em análise a população rural passou de
17.616 em 2000 para 27.224 em 2010, um crescimento de 55%.
O aumento da população rural na microrregião Mossoró-Macau pode ter
ocorrido devido às novas atividades produtivas (eólicas), servindo como fator
mantenedor e atrator de populações. De acordo com o trabalho de Macedo
(2014), as atividades eólicas se conciliam com as atividades do campo. O
arrendamento das terras para a produção de energia eólica possibilitou a
fixação do homem no campo, que com a renda extra recebida pode manter as
atividades rurais e realizar melhorias em suas condições de vida como, por
exemplo, a reforma das moradias, compra de móveis e utensílios
eletroeletrônicos domésticos, investimento nos estudos e em saúde.
O Gráfico 4 revela o cenário do emprego formal na microrregião
Mossoró-Macau, por setor econômico. Observa-se que o emprego nos setores
de Administração Pública, Indústria Mineral, Comércio e Serviços destacam-se
durante o período frente aos demais setores, representando uma média de
41%, 15,3%, 13,1% e 13,7%, respectivamente, em participação no número de
empregos gerados na região.
O peso do pelo setor Administração Pública reflete a realidade de
regiões com baixo dinamismo econômico e a dependência econômica no setor
público. Como será abordado adiante, esta realidade é a mesma nas demais
microrregiões, uma vez que aproximadamente 28% do emprego formal24 no RN
é gerado pela Administração Pública.
24 Dados da RAIS/MTE 2015.
75
A participação do emprego no setor da Indústria Extrativa é significativo
pela intensa atividade de extração de mineral na microrregião, como dito
anteriormente: sal, petróleo, sheelita são alguns dos exemplos.
76
Gráfico 4 – Microrregião Mossoró-Macau - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.
77
Gráfico 5 – Microrregião Mossoró-Macau - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autor. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.
78
No Gráfico 5 observa-se que, com exceção dos setores de
Administração Pública e Indústria Extrativa, que se mantiveram estáveis
durante o período de análise, os estabelecimentos produtivos dos demais
setores mais que dobraram seus números. Destaque para os setores de
comércio, de serviços e de construção que apresentaram o crescimento médio
anual do número de estabelecimentos produtivos de 55,6%, 49,8% e 34,9%,
respectivamente.
Sobre a influência da Economia das Eólicas na dinâmica econômica,
verifica-se que os órgãos oficiais da área de energia (ABEEÓLICA, CERNE,
ANEEL etc.) e Secretarias de Estado sinalizam que o setor de energia eólica
gera empregos diretos e indiretos nos setores de Indústria de Transformação,
de Comércio, de Serviços, de Construção e de Produção e Distribuição de
Eletricidade, Gás e Água. Veja a distribuição no Quadro 6:
Segmento Econômico Empregos Diretos Empregos Indiretos
Indústria de
Transformação
Fabricação de Torres, de Pás e de Aerogeradores; Fornecimento de Insumos.
Construção Obras relacionadas à instalação dos parques eólicos.
Comércio e Serviços Hotelaria, Restaurantes, Prestação de Serviços Jurídicos, Saúde etc.
Produção e Distribuição
de Eletricidade, Gás e
Água
Produção de energia elétrica (inclusive produção integrada); transmissão de energia elétrica; comércio atacadista de energia elétrica; distribuição de energia elétrica.
Quadro 6 – Definição de empregos diretos e indiretos gerados pela energia eólica por segmento econômico Fonte: Elaborado pela autora
79
Apesar dos Gráficos 4 e 5 sinalizarem o crescimento dos setores mais
impulsionados pelas eólicas (Indústria de Transformação, de Comércio, de
Serviços e de Construção), é necessário verificar como cada um desses
setores está composto. Para além dos citados, verifica-se mais adiante o setor
de Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água, que na composição do
emprego e estabelecimentos possui uma baixa participação, mas como está
relacionado diretamente com o tema do trabalho é de valia uma análise mais
cuidadosa.
Para verificar como atua a Economia das Eólicas na microrregião, foram
analisados os dados de emprego formal juntamente com os estabelecimentos
produtivos por seguimento econômico. Com esses dados em conjunto,
identificou-se quais os setores mais se dinamizaram no período de análise
(2002-2015).
Os setores de Comércio e de Serviços juntos representam 26% do
emprego formal na microrregião. De acordo com a formação econômica da
região, este setor foi acionado como suporte às atividades principais, tais como
o sal, o gado, o petróleo e mais recentemente as energias eólicas. Estes
setores destacam-se tanto no número empregos que possuem quanto no
número de estabelecimentos. Entretanto, em termos de participação nos
setores econômicos, Comércio e Serviços são mais representativos quando se
observam os estabelecimentos produtivos. Um número de estabelecimentos
bem acima do número de empregos gerados caracteriza o porte dos
empreendimentos como sendo de micro ou pequeno porte. No caso da
microrregião Mossoró-Macau, em média 90% dos empreendimentos do setor
de Comércio é de micro porte, possuindo no máximo nove empregados. No
setor de Serviços a média é de 84% empreendimentos de micro porte e 11%
de pequeno porte, os quais possuem até 49 empregados.
Essa pulverização de muitas empresas de micro e pequeno porte é uma
característica dos setores de Comércio e de Serviços, principalmente em
microrregiões periféricas. Empresas desse perfil são muito dependentes do
dinamismo da economia. As micro e pequenas empresas são, em maior parte,
prestadoras de serviços de toda natureza. Por essa razão, ao crescer as
80
atividades econômicas como um todo, notadamente a comercial, as micro e
pequenas empresas são quase que automaticamente acionadas.
Observe que, no período de 2005 a 2008, os setores de Comércio e de
Serviços experimentam uma elevada participação no número de
estabelecimentos da microrregião (Gráfico 6). Este salto é explicado pela
conjuntura macroeconômica, com o aumento de distribuição de renda via
programas sociais do Governo Federal25, que aumentou a renda das famílias,
que não por alguma motivação de origem local. Já a queda do número de
estabelecimentos, em 2009, também é reflexo da crise26 do período, o que
influenciou nas importações e no preço do dólar, atingindo diversos setores
econômicos.
A Indústria de Transformação obteve o crescimento médio anual (2002-
2015) de 17,3% no número de estabelecimentos produtivos. No ano de 2015, a
divisão do segmento indicou que 37% dos estabelecimentos são de Alimentos
e Bebidas, 18% de que Metalurgia e Fabricação de Produtos de Metal e 9% de
Máquinas e Equipamentos. No ano de 2014, foi inaugurada em Areia Branca
uma fábrica de torres de concreto para aerogeradores, o único
empreendimento da Indústria de Transformação diretamente relacionado com a
Economia das Eólicas. Segundo o banco de dados da RAIS, em 2015, a
divisão Máquinas e Equipamentos gerou 196 empregos, representando 17% do
emprego no setor na microrregião Mossoró-Macau.
A participação de um ramo tradicional e pouco intensivo em capital,
como Alimentos e Bebidas, é importante para a economia local o crescimento
da divisão Máquinas e Equipamentos. A instalação da fábrica de torres de
concreto para aerogeradores se revela como uma contribuição para a
modernização produtiva na região, que foi impulsionada pelo potencial eólico
do estado.
Todavia, a indústria eólica é composta, além da fabricação das torres,
pela fabricação de aerogeradores e pás, que infelizmente não se instalaram na
25 Sobre a influência do Bolsa Família na economia nos municípios brasileiros, ver o Relatório de Pesquisa INSPER (2009). 26 Sobre a crise de 2009, ver artigo de Leda Paulani (2010).
81
região. Estas são as partes que mais demandam investimentos tecnológicos e
uma cadeia produtiva mais extensa, mas se instalaram em outros estados do
país. Segundo Macedo (2014), uma das justificativas para esses fabricantes
não se fixarem no Rio Grande do Norte é a insuficiente infraestrutura de
estradas e portos no estado para escoamento da produção, conforme mostra o
Quadro 7, disponível no Anexo 1 desta dissertação. Com relação ao segmento
de Construção, no período 2002-2015, o número de empregos formais obteve
um crescimento médio anual de 58%. Apesar do crescimento do setor, sua
participação na composição do emprego formal da microrregião Mossoró-
Macau é, em média, de 8%. Quanto às divisões que compõem o seguimento,
85% dos estabelecimentos produtivos são de Construção de Edifícios e Obras
de Engenharia Civil, 5% de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e
Telecomunicações, 4% de Preparação de Terreno, 3% de Obras de
Acabamento e de 2% de Obras de Instalações.
De acordo com a Tabela 3, a divisão do segmento de Construção, Obras
de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações apresentou
oscilação no número de empregos formais gerados no período 2002-2015.
Observe que no ano de 2004 atingiu ao número mais elevado, 593 empregos
formais. É neste ano que se iniciam as construções dos parques eólicos na
região. O destaque é que esse número cai com o avançar dos anos. Como
esse emprego é de caráter temporário, as vagas de deixam de existir com o fim
da construção dos parques.
82
Preparação do
Terreno
Construção de Edifícios
e Obras de Engenharia
Civil
Obras de Infraestrutura
p/ Energia Elétrica e
p/ Telecomun.
Obras de
Instalações
Obras de
Acabamento
2002 0 159 1 0 0
2003 1 564 0 0 0
2004 1 1724 593 0 0
2005 5 298 184 0 0
2006 0 422 102 1 2
2007 0 536 1 0 1
2008 3 455 35 1 0
2009 14 687 96 0 1
2010 5 1536 54 0 0
2011 131 681 60 8 7
2012 96 812 28 24 3
2013 37 1608 3 45 5
2014 5 1821 1 11 3
2015 10 518 1 2 0
Tabela 3 – Microrregião Mossoró-Macau - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora
O segmento que gera empregos diretos para Economia das Eólicas,
Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água possui uma participação
média de 0,19% dos empregos formais da microrregião Mossoró-Macau.
Quando se verifica a composição do segmento, os empregos da divisão
Produção e Distribuição de Energia Elétrica surgem no ano de 2011, pois o
primeiro parque da microrregião começou a operar em dezembro de 2010.
Portanto, os empregos formais diretos da divisão Produção e Distribuição de
Energia Elétrica, na microrregião Mossoró-Macau, apresentam os seguintes
números: 10 empregos formais em 2011, 15 empregos formais em 2012, 14
empregos formais em 2013, 16 empregos formais em 2014 e oito empregos
formais em 2015.
Vale destacar que os parques em operação demandam mão de obra
terceirizada dos mais diversos serviços. Podem ser citados como exemplos os
auxiliares de serviços gerais, porteiros, até técnicos eletricistas e engenheiros,
83
por isso há dificuldade em capturar quais empregos formais são diretamente
relacionados à Economia das Eólicas.
4.2 Baixa Verde
A microrregião eólica Baixa Verde, composta pelos municípios de São
Bento do Norte, Jandaíra, Jardim de Angicos, João Câmara, Parazinho e Pedra
Grande, é caracterizada pela pesca, produção de mel de abelha e
agropecuária (ver Figura 4). O município mais importante da microrregião é
João Câmara, com maior centro comercial e maior população. Na formação do
território, no início do século XX, a construção da Estrada de Ferro Central do
Rio Grande do Norte favoreceu o desenvolvimento e integração dos municípios
com o restante do estado. A microrregião possuía produção algodoeira e
criação de gado bovino, mas a chegada da estrada de ferro possibilitou a
indústria se desenvolver, aumentou as áreas produtivas culturas agrícolas e de
pecuária, além da criação de centros comerciais.
Figura 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde Fonte: Elaborado pela autora
84
Para além do gado e do algodão, na região de Baixa Verde há a
produção de mel de abelha no município de Jandaíra, caracterizada pela coleta
artesanal, rudimentar. Ainda assim, a sua produção é destaque no estado. Já
no município de São Bento do Norte, as principais atividades são a pesca e o
plantio de subsistência.
Em 2012, entrou em operação o primeiro parque eólico na microrregião
Baixa Verde, em João Câmara. Além de ser o primeiro município a possuir um
parque em operação, João Câmara é que mais possui parques eólicos em
operação – 27 – e Parazinho está em segundo lugar, com 22 parques. Esses
municípios que já possuíam um setor terciário desenvolvido serviram de apoio
à Economia das Eólicas, tanto que a microrregião Baixa Verde é a maior do
estado em produção de energia eólica. O potencial eólico e a estrutura já
existente favoreceram a concentração de parques instalados.
Operação Em Construção
Construção Não Iniciada
Primeiro Parque
entrar em Operação
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Jandaíra 21/05/2016 4 120.000 - - 5 150.000
Jardim De Angicos - - - - - 2 56.000
João Câmara 04/05/2012 27 696.560 - - 7 171.000
Parazinho 29/03/2014 22 629.200 - - - -
Pedra Grande 05/04/2014 8 132.400 3 65.100 - -
São Bento do Norte 25/02/2015 3 80.000 7 195.600 6 136.400
Microrregião Baixa Verde
64 1.658.160 10 260.700 20 513.400
Rio Grande do Norte
120 3.309.750 16 417.000 38 920.500
Tabela 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção e em construção não iniciada27 Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora. Consulta realizada em 23/01/2017
27 Dados obtidos em consulta realizada no dia 23 de janeiro de 2017. Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm >. Acesso em: 23 de jan. 2017.
85
Sobre o perfil populacional da microrregião Baixa Verde, apesar da
população urbana crescer mais que a rural, ainda existe uma grande proporção
de população rural (ver Tabela 5). Ou seja, 38,9% da população de Baixa
Verde é rural. Os municípios de população mais urbanizados, João Câmara
(70,3% em 2010) e Parazinho (64,7% em 2010), são os que historicamente
foram os mais desenvolvidos quanto à infraestrutura de bens e serviços,
atraindo assim a formação urbana com maior densidade.
Quanto à influência do objeto de análise proposto nessa dissertação –
Economia das Eólicas –, no crescimento populacional da microrregião de Baixa
Verde chama atenção a elevada participação da população rural (39%), acima
até mesmo da participação da população rural potiguar (22%). Este dado
sinaliza que a energia eólica contribui para a fixação do homem no campo, uma
vez que sua atividade não interfere nas atividades agrícolas tradicionais.
Apesar desta constatação, deve-se levar em consideração que os parques
eólicos começaram a ser construídos na região a partir de 2009. Como o último
dado censitário sobre população urbana e população rural é do ano de 2010, a
análise torna-se limitada.
2000 2007 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Jandaíra 3.792 2.332 6.124 3.684 2.763 6.447 3.954 2.847 6.801
Jardim de Angicos
544 2.126 2.670 482 2.054 2.536 433 2.174 2.607
João Câmara 19.956 9.292 29.248 20.930 9.493 30.423 22.657 9.570 32.227
Parazinho 3.060 1.265 4.325 3.035 1.737 4.772 3.137 1.708 4.845
Pedra Grande
1.292 2.725 4.017 1.230 2.688 3.918 1.161 2.360 3.521
São Bento do Norte
925 2.453 3.378 1.099 2.430 3.529 1.038 1.937 2.975
Microrregião Baixa Verde
29.569 20.193 49.762 30.460 21.165 51.625 32.380 20.596 52.976
Tabela 5 – População Urbana e Rural da Microrregião Baixa Verde – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora
Em relação ao perfil econômico, observa-se a distribuição de emprego
formal e estabelecimentos produtivos por setores econômicos nos Gráficos 6 e
7. Ao longo do período de análise – 2002 a 2015 –, os segmentos
86
Administração Pública, Serviços, Comércio e Agricultura concentram o maior
número de empregos formais do território A Administração Pública, com 61%
em participação, segue a estatística do Rio Grande do Norte: Comércio (14%),
Serviços (8%) e Agricultura (8%) são segmentos que se destacam devido à
formação econômica da microrregião Baixa Verde.
Ao deter-se na análise do número de Estabelecimentos Produtivos, ao
longo do período 2002-2015, como mostra o Gráfico 7, observa-se a
concentração nos segmentos de Comércio (56%) e Serviços (23%). Estes
dados, cruzados com os empregos formais, indicam que os setores de
Comércio e Serviços são caracterizados por empreendimentos de micro porte
por apresentarem 94% e 88% dos estabelecimentos, respectivamente, com até
nove empregados.
De acordo com a Tabela 5, a região possui 10 parques eólicos em
construção e 20 parques que ainda não começaram a ser construídos, o que
significa que a microrregião ainda pode ampliar a sua oferta de serviços devido
à crescente demanda do setor eólico.
87
Gráfico 6 – Microrregião Baixa Verde - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.
88
Gráfico 7 – Microrregião Baixa Verde - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: Rais – MTE. Elaboração Própria. Dados disponíveis em Tabela no Apêndice C.
89
Sabendo que os setores impulsionados pela Economia das Eólicas que
geram empregos diretos são: Indústria de Transformação, Construção e
Produção e Distribuição de Eletricidade, analisaram-se esses setores
detalhadamente.
Sobre a Indústria de Transformação, o número de estabelecimentos
produtivos apresentou um crescimento médio anual (2002-2015) de 24,9%. No
ano de 2015, a microrregião possuía 24 estabelecimentos produtivos divididos
em: 46% de Alimentos e Bebidas; 13% de Fabricação de Produtos de Madeira,
Móveis e Diversos; 13% de Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos;
8% de Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios; 8% de Fabricação de
Máquinas Aparelhos e Materiais Elétricos; 4% Fabricação de Produtos
Químicos; 4% Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico; 4% de Fabricação
de Produtos de Metal Exceto Máquinas e Equipamentos.
Apesar de não ser possível identificar, no banco de dados da RAIS,
empreendimentos de Máquinas e Equipamentos, no caso desta microrregião
existe uma fábrica de torres de concreto para aerogeradores, inaugurada em
Parazinho, no ano de 2011. Essa fábrica, diferente da microrregião anterior, foi
registrada na divisão de Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos –
Classe de Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso
e Estuque. A fábrica operou nos anos de 2011, 2012 e 2013, pois possui a
característica de fábrica itinerante. Segundo Costa:
Essa fabricação se destina apenas à demanda do próprio parque, onde se instala uma usina móvel que serve de suprimento à instalação. Após a conclusão da instalação de um parque, a usina é desativada ou removida para outra área onde um novo parque, pertencente à mesma empresa, está sendo instalado (2015, p.79).
Nos anos de operação da fábrica na microrregião Baixa Verde (de 2011
a 2013), o emprego formal gerado na classe de Fabricação de Artefatos de
Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso e Estuque representou 52%, 10% e
12%, respectivamente, do número de empregos gerados pela Indústria de
Transformação da microrregião Mossoró-Macau. O primeiro ano o
90
desempenho foi bastante representativo, pois ocorria a expansão os parques
eólicos na área. Apesar de ainda existirem parques em construção e a serem
construídos, a única fábrica de torres de concreto para aerogeradores da
microrregião foi desmontada.
No segmento de Construção, no período 2002-2015, o número de
empregos formais obteve um crescimento médio anual de 51,7%. Esse
segmento foi o quarto que mais cresceu no período, perdendo apenas para os
setores tradicionais da microrregião, como: Comércio (66,7%), Administração
Pública (66%) e Agricultura (59,6%). Mesmo com o significativo crescimento do
setor, sua participação na composição do emprego formal em Baixa Verde é,
em média, de 3%, atingindo a maior participação em 2011, com 11,2%.
De acordo com a Tabela 6, os empregos formais se concentram na
divisão do segmento de Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil.
Observe que o emprego gerado referente às Obras de Infraestrutura para
Energia Elétrica está zerado. Existem duas justificativas para este fato. A
primeira trata de parte dos registros de emprego na RAIS referentes a atividade
de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica foi registrada no segmento de
Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil. A segunda refere-se a
demanda de serviços dessa divisão à capital potiguar, uma vez por se localizar
próxima a microrregião e por ter uma gama de estabelecimentos do setor
preparada para ofertar esse tipo de serviço.
91
Preparação do
Terreno
Construção de Edifícios
e Obras de Engenharia
Civil
Obras de Infraestrutura
p/ Energia Elétrica e
p/ Telecomun.
Obras de
Instalações
Obras de
Acabamento
2002 0 4 0 0 0
2003 0 3 0 0 0
2004 0 19 0 0 0
2005 0 211 0 0 0
2006 0 2 0 0 0
2007 0 10 0 0 0
2008 0 11 0 0 0
2009 0 34 0 0 0
2010 0 105 0 0 0
2011 2 524 0 0 5
2012 4 468 0 0 5
2013 3 56 0 0 0
2014 6 103 0 0 0
2015 6 220 0 4 0
Tabela 6 – Microrregião Baixa Verde - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora
Com relação ao segmento que gera empregos diretos para Economia
das Eólicas, Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água, a
participação média foi de 0,50% dos empregos formais da microrregião Baixa
Verde. Na composição do segmento, os empregos formais da divisão Produção
e Distribuição de Energia Elétrica surgem no ano de 2011. Entretanto, o
segmento alcançou, em 2015, a participação de 2,20% no número empregos
da microrregião. Nos anos anteriores sua participação é próxima a zero.
4.3 Litoral Nordeste
O Litoral Nordeste é composto pelos municípios Ceará-Mirim,
Maxaranguape, Rio do Fogo, São Miguel do Gostoso e Touros (ver Figura 5). A
sua formação está associada à produção agrícola de extensão canavieira e
pequenas produções agrícolas e pesqueiras de subsistência. Por sua relação
92
com a plantação de cana-de-açúcar do período colonial, é a microrregião de
formação mais antiga e com a maior população.
Figura 5 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste
Fonte: Elaborado pela autora
Segundo a Tabela 7, a participação da população rural é superior à
população urbana, sendo 57% e 43%, respectivamente, em 2010. Essa
característica segue pelo seu histórico de formação econômica
preponderantemente de produções agrícolas e pesqueiras de subsistência. O
destaque é para o município de Ceará-Mirim, cuja população urbana
ultrapassou a população rural em 2010, embora esta continue possuindo uma
elevada participação (48%).
93
2000 2007 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Ceará-Mirim 30.839 31.585 62.424 32.947 32.503 65.450 35.494 32.647 68.141
Maxaranguape 3.017 4.984 8.001 3.515 5.454 8.969 3.889 6.552 10.441
Rio do Fogo 3.620 5.597 9.217 3.784 5.969 9.753 3.748 6.311 10.059
São Miguel do Gostoso
2.902 4.678 7.580 3.679 5.131 8.810 4.131 4.539 8.670
Touros 7.594 20.285 27.879 7.842 21.594 29.436 7.922 23.167 31.089
Microrregião Litoral Nordeste
47.972 67.129 115.101 51.767 70.651 122.418 55.184 73.216 128.400
Tabela 7 – População Urbana e Rural da Microrregião Litoral Nordeste – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora
Segundo Cascudo (1955), em meados do século XVII a microrregião
ainda era habitada por índios tupis e cariris. Com a expansão da indústria
canavieira, vieram negros da África para o trabalho escravo, base para
formação de uma sociedade de senhores de engenho com poder econômico.
Apesar da época açucareira ter contribuído para a formação
socioeconômica da microrregião, ela não criou dinamismos. Até mesmo o
município de Ceará-mirim, que compõe hoje a Região Metropolitana de Natal,
ainda é muito dependente da oferta de serviços e infraestrutura da capital.
Dessa forma, a vinda das eólicas para microrregião pouco transformou o local,
uma vez que a cesta de bens e serviços demandado pela Economia das
Eólicas vem de um município melhor estruturado, como Natal.
A microrregião Litoral Nordeste possui baixo dinamismo econômico,
sendo dependente da relação com a capital potiguar no que se refere à
demanda por bens e serviços com um nível de complexidade urbana. O Litoral
Nordeste experimentou um lento processo de urbanização, a exemplo do que
aconteceu do Rio Grande do Norte, devido à fatores como um histórico atraso
na modernização agrícola, indispensável para dar suporte à formação do
mercado de trabalho urbano; a entrada tardia do capital industrial como agente
dinâmico da acumulação e o desinteresse das elites mercantis em assumir os
riscos da industrialização (ARAUJO, 2010).
94
A chegada das eólicas pouco conseguiu modificar esse cenário na
microrregião Litoral Nordeste. A economia que se estabeleceu na região
concebeu uma relação de pouca demanda, sendo o município unicamente
espaço de instalação de parques eólicos. Diversos prestadores de serviços de
suporte para a atividade eólica vêm de Natal, gerando uma baixa integração
com a microrregião. Esta relação de Natal com o Litoral Nordeste evidencia a
característica de polaridade da capital em relação à microrregião, concentrando
os estabelecimentos produtivos dinâmicos por possuir uma melhor
infraestrutura de logística, prestação de serviços e melhor articulação político-
econômica.
No Litoral Nordeste foi construído o primeiro parque eólico comercial do
Rio Grande do Norte, no município de Rio do Fogo, em julho de 2016. De
acordo com a Tabela 8, a microrregião possui 16 parques em operação, seis
em construção e 10 em construção não iniciada. A previsão é que, até 2020, a
microrregião já tenha 32 parques em operação.
Em Operação Em Construção
Construção Não Iniciada
Primeiro Parque
entrar em Operação
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Ceará-Mirim 01/06/2015 5 145.800 -
- - -
Maxaranguape -
- 3 56.000
Rio do Fogo 15/07/2006 2 77.300 -
- 7 147.300
São Miguel do Gostoso
05/04/2014 6 135.200 5 129.300 - -
Touros 04/11/2016 3 71.400 1 27.000 - -
Região Litoral Nordeste
16 429.700 6 156.300 10 203.300
Tabela 8 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada28 Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora
28 Consulta realizada no dia 23 de janeiro de 2017.
95
O Gráfico 8 mostra o comportamento do emprego formal na microrregião
Litoral Nordeste no período 2002-2015, destacando a Administração Pública,
com participação média de 37,5%; Comércio, com participação média de
11,3%; Serviços, cuja participação média é de 27,8% e a Agricultura, com
participação média de 11,5%. A Administração Pública reflete o comportamento
de concentração dos empregos formais no estado, atingindo a participação
máxima de 49,7% dos empregos formais no ano de 2011. Segue-se a hipótese
de que a participação do número de empregos na Administração Pública
municipal aumenta quando aumentam as Receitas Municipais. Este
cruzamento de dados será apresentado no próximo capítulo deste trabalho.
A Agricultura, presente na estrutura produtiva da microrregião, apresenta
um número significativo de estabelecimentos, com a participação de 14,3% no
número de estabelecimentos totais. O segmento fica atrás de Comércio, com
45,6%, e Serviços, com 27,6%, na média do período 2002-2015. Outro
destaque para a Agricultura é o crescimento médio de 36% a.a. no período
analisado. Como observado, a estrutura produtiva da microrregião Litoral
Nordeste permaneceu a mesma desde a sua formação econômica (ver Gráfico
9).
Outro setor que merece destaque é a Indústria de Transformação, que
possui uma participação média de 7,8% no número de empregos formais
(2002-2015). No ano de 2015, a divisão do segmento verificou que 48,2% dos
estabelecimentos são de Alimentos e Bebidas, 14,3% de Confecções, 8,9% de
Fabricação de Produtos de Madeira, Móveis e Diversos e 8,9% de Metalurgia e
Fabricação de Produtos de Metal. A predominância nos segmentos tradicionais
de alimentos e bebidas e confecções revela o caráter da Indústria de
Transformação da microrregião Litoral Potiguar.
A divisão Metalurgia e Fabricação de Produtos de Metal é composta
pelas classes: Fabricação de Esquadrias de Metal (dois estabelecimentos);
Têmpera, Cementação e Tratamento Térmico do Aço, Serviços de Usinagem,
Galvanotécnica e Solda (um estabelecimento); Fabricação de Outros Produtos
Elaborados de Metal (um estabelecimento). A composição desta divisão não
apresenta relação direta com a energia eólica.
96
A divisão desse segmento industrial que poderia possuir relação com a
energia eólica é a Fabricação de Produtos de Minerais Não metálicos, classe
de Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso e
Estuque. No Litoral Nordeste existem dois estabelecimentos registrados nessa
classe, entretanto trata-se de fábricas de pré-moldados de concreto para a
construção civil em geral. Portanto, não possui fábrica de torres de concreto
para aerogeradores como nas microrregiões Mossoró-Macau e Baixa Verde.
97
Gráfico 8 – Microrregião Litoral Nordeste - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE
98
Gráfico 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE
99
Nos gráficos acima, o segmento de Construção apresentou uma
evolução interessante, em que pese o fato de não possuir elevadas
participações na economia da microrregião Litoral Nordeste. Quando foi
analisado o ano de 2002, período bem anterior ao início das construções dos
parques eólicos, esse segmento apresentava a participação de 2,2% dos
estabelecimentos produtivos e 0,28% dos empregos formais. Em 2015, o setor
passa a representar 10% dos estabelecimentos produtivos e 4,58% dos
empregos formais.
No ano de 2015, o seguimento de Construção da microrregião Litoral
Nordeste estava composto por quatro divisões: Preparação do Terreno, com
2% dos estabelecimentos; Construção de Edifícios e Obras de Engenharia
Civil, com 75% dos estabelecimentos; Obras de Instalações, com 13% dos
estabelecimentos; Obras de Acabamento, com 10% dos estabelecimentos.
Durante todo o período 2002-2015, não foram encontrados registros de
estabelecimentos de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica. As
atividades de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica foram absorvidas
pela divisão Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil (ver Tabela
9).
100
Preparação do
Terreno
Construção de Edifícios
e Obras de Engenharia
Civil
Obras de Infraestrutura
p/ Energia Elétrica e
p/ Telecomun.
Obras de
Instalações
Obras de
Acabamento
2002 0 36 0 0 0
2003 0 104 0 0 0
2004 10 169 0 0 0
2005 22 65 0 0 0
2006 39 137 0 0 0
2007 38 16 0 7 0
2008 21 118 0 18 0
2009 171 114 0 18 0
2010 260 80 0 21 0
2011 4 62 0 53 2
2012 2 235 0 41 3
2013 83 351 0 71 11
2014 27 734 0 68 16
2015 7 475 0 40 67
Tabela 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora
Na Tabela 9 chama-se a atenção para as divisões do segmento de
Construção: Preparação do Terreno e Construção de Edifícios e Obras de
Engenharia Civil. Observe que, no ano de 2010, a Preparação do Terreno
atinge o número mais elevado, 260 empregos formais. Apesar do primeiro
parque da microrregião iniciar suas operações em 2006, é a partir de 2010 que
a microrregião atingiu o maior volume de parques eólicos em construção.
Quanto à divisão Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil, possui
uma elevação nos anos 2012-2015 – ao que parece recebeu muito mais o
impacto de programas federais, como “Minha Casa, Minha Vida”29 e PAC30, do
que impulsionados pelas construções dos parques eólicos na microrregião.
29 O Programa “Minha Casa Minha Vida” é um programa do Governo Federal em parceria com
estados, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos, que oferece condições atrativas para o financiamento de moradias para famílias de baixa renda. Ver mais em: http://www.minhacasaminhavida.gov.br/
30 O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – objetiva promover o planejamento e
execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Ver mais em: http://www.pac.gov.br/
101
O setor que cria empregos com o início das operações dos parques
eólicos, Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água possui uma
participação média de 1,2% dos empregos formais da microrregião Litoral
Nordeste. Entretanto, ao analisar a composição do segmento, verificou-se que
os empregos da divisão Produção e Distribuição de Energia Elétrica surgiram
no ano de 2008, e representam 1,4% do total de empregos do seguimento. Ou
seja, 98,6% dos empregos pertencem à divisão Captação, Tratamento e
Distribuição de Água, sendo assim pouco significativo o emprego relacionado à
Produção e Distribuição de Eletricidade.
4.4 Serra de Santana
Os municípios de Bodó, Cerro Corá, Lagoa Nova, Santana do Mato e
Tenente Laurentino Cruz formam a Microrregião Eólica Serra de Santana (ver
Fitura 6). Serra de Santana possui dois momentos históricos em sua formação
econômica. O primeiro é a histórica cotonicultura e pecuária. Pela proximidade
com o Seridó31 do estado, essas atividades se fizeram presentes também em
Serra de Santana. O segundo momento é a exploração de minérios, que foi a
atividade mais importante para a formação populacional da microrregião, por
atrair pessoas de várias partes do estado.
31 Ver mais em Apêndice 1.
102
Figura 6 – Microrregião Eólica Serra de Santana Fonte: Elaborado pela autora
Atualmente, a microrregião recebe os impactos da Economia das
Eólicas. Serra de Santana foi a última região do estado a receber parques
eólicos. Região central potiguar, sua característica serrana é propícia para a
construção dos parques eólicos. O primeiro parque entrou em operação em
janeiro de 2016 e, até a data da última consulta no banco de dados da ANEEL,
em janeiro de 2017, a microrregião já possuía 15 parques em operação e dois
parques com potência outorgada. Até a data de análise não possuía parques
em construção, como mostra a Tabela 10:
103
OPERAÇÃO EM CONSTRUÇÃO
OUTORGADA
Município Primeiro Parque entrar em Operação
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Parq
ues
Potência Outorgada
(Kw)
Bodó 30/01/2016 9 260.000 - - - -
Cerro Corá - - 2 40.000
Lagoa Nova 02/03/2016 4 92.000 - - - -
Santana do Matos
14/07/2016 1 18.000 - - - -
Ten. Laurentino Cruz
19/02/2016 1 28.000 - - - -
Microrregião Serra de Santana
15 398.000 0 0 2 40.000
Tabela 10 – Microrregião Eólica Serra de Santana – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora
Nos últimos dois decênios (2000-2010), a configuração da população da
Microrregião Eólica Serra de Santana pouco mudou. Apesar de a população
rural ter diminuído, sua participação ainda é elevada, representando 55% da
população total em 2010.
2000 2007 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Bodó 1.230 1.545 2.775 1.395 1.147 2.542 1.393 1.032 2.425
Cerro Corá 4.790 6.049 10.839 5.013 5.877 10.890
4.742 6.174 10.916
Lagoa Nova 5.688 6.370 12.058 6.139 7.028 13.167
6.801 7.182 13.983
Santana Do Matos
7.160 8.827 15.987 6.588 7.724 14.312
6.895 6.914 13.809
Ten Laurentino Cruz
1.261 3.151 4.412 1.286 3.834 5.120 1.152 4.254 5.406
Microrregião Serra de Santana
20.129 25.942 46.071 20.421 25.610 46.031 20.983 25.556 46.539
Tabela 11 – População Urbana e Rural da Microrregião Serra de Santana – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora.
104
A baixa urbanização da região também é reflexo de sua dinâmica
econômica. Observe que no Gráfico 10 o setor de Administração Pública
representa mais de 60% dos empregos formais da microrregião. Em segundo
lugar surge o setor de Serviços, representando 13% dos empregos, e em
terceiro o Comércio, com 8%.
Nos estabelecimentos produtivos, Comércio lidera com a participação de
58,5%. A característica do comércio da região é de micro e pequeno porte, com
191 estabelecimentos de micro porte – até 9 empregados –, e 8
estabelecimentos de pequeno porte – até 49 empregados. Com essas
informações sobre o emprego formal, por setor, é possível caracterizar o baixo
dinamismo econômico apresentado pela microrregião.
105
Gráfico 10 – Microrregião Serra de Santana – Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE.
106
Gráfico 11 – Microrregião Serra de Santana – Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: Rais – MTE. Elaboração Própria.
107
Os setores mais dinâmicos e que possuem uma relação mais próxima
com a Economia das Eólicas, Construção e Indústria de Transformação,
possuem participações médias no emprego de 3,3% e 3,2%, respectivamente.
Ambos atingiram a participação mais elevada justamente no período em que se
iniciaram as construções dos parques eólicos na microrregião, a partir de 2013.
Neste ano, a Construção chegou a 17,3% de participação. A Indústria de
Transformação atingiu sua maior participação em 2015, com 9,5% dos
empregos formais em Serra de Santana. Detalhando a participação da
Economia das Eólicas na composição desses setores, é possível observar que
a Indústria de Transformação obteve o crescimento médio (2002-2015) de
26,4% a.a. no número de estabelecimentos produtivos. No ano de 2015, a
divisão do segmento apontou que 38,5% dos estabelecimentos eram de
Alimentos e Bebidas, 30,8% de Fabricação de Produtos de Madeira, 11,5% de
Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos e 15,4% de Artigos de
Borracha e Plástico.
Dentro da divisão Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos
está a classe Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento,
Gesso e Estuque, que poderia conter fábricas de torres de concreto para
aerogeradores, mas no caso desta microrregião, os empreendimentos dessa
classe são pré-moldados para a construção civil em geral.
Com relação ao segmento de Construção, a participação dos
estabelecimentos produtivos, em 2014, segundo as divisões que compõem o
seguimento são: 78,9% de Construção de Edifícios e Obras de Engenharia
Civil; 10,5% de Obras de Acabamento; 5,3% de Preparação de Terreno; 5,3%
Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações.
De acordo com a Tabela 12, a divisão do segmento de Construção,
Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações apresenta
empregos formais gerados apenas em 2013 e 2014, período de construção dos
primeiros parques da microrregião – lembrando que os empregos criados no
período de construção são temporários.
108
Preparação do
Terreno
Construção de Edifícios
e Obras de Engenharia
Civil
Obras de Infraestrutura
p/ Energia Elétrica e
p/ Telecomun.
Obras de
Instalações
Obras de
Acabamento
2002 0 0 0 0 13
2003 0 53 0 0 13
2004 0 0 0 0 8
2005 0 19 0 0 0
2006 0 0 0 0 0
2007 0 0 0 0 0
2008 0 3 0 0 0
2009 0 5 0 0 0
2010 0 4 0 0 2
2011 0 46 0 0 3
2012 0 373 0 0 0
2013 2 502 210 0 0
2014 5 194 348 0 3
2015 0 26 0 0 1
Tabela 11 – Microrregião Serra de Santana - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora.
Sobre o segmento Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água,
registra-se que o seu destaque ocorre por ser formador de empregos diretos
para Economia das Eólicas de forma permanente. Este possui uma
participação média de 0,6% dos empregos formais da microrregião Serra de
Santana. Na composição do segmento, os empregos da divisão Produção e
Distribuição de Energia Elétrica cresceram 21,8% a.a no período de 2002-
2015.
Na análise das microrregiões eólicas podemos destacar os seguintes
pontos:
• Naquelas regiões que já possuíam uma maior organização de suas
estruturas econômicas, a eólica incorporou maiores impulsos de setores
relacionados, ou seja, quanto maiores as ofertas de bens e serviços da
região, maior será o relacionamento da atividade eólica com o local;
• Para aqueles locais que são insuficientes na oferta de bens e serviços, a
economia das eólicas irá importa-los de outro lugar, nisso está incluso a
109
demanda máquinas e equipamentos, oferta de mão de obra qualificada
e serviços diversos;
• Desta forma, o setor eólico ao se instalar no estado do Rio Grande do
Norte, gera empregos pontuais para o setor e impulsiona a economia de
forma indireta, preponderantemente no período de construção dos
parques. O destaque na criação de empregos e de novos
estabelecimentos produtivos ocorre nos setores já existentes no estado,
não contribuindo para ampliação de setores mais intensivos em capital e
tecnologia como a indústria eólica.
Apesar do volume de empregos formais dos setores que geram
empregos diretos e indiretos durante a construção dos parques, deve-se
observar que esses empregos de caráter temporário geram impactos nas
microrregiões eólicas, não sustentando em longo prazo a dinâmica econômica
formada. Ainda que a criação de novos empregos nos parques em operação, o
volume criado é pequeno frente ao mercado de trabalho como um todo. Isso
ocorre por o Rio Grande do Norte não ter formado a cadeia completa da
Economia das Eólicas. Esta problemática é tratada no quinto capítulo deste
trabalho.
110
5 VICISSITUDES E LIMITES DA ECONOMIA POTIGUAR A PARTIR DA
PRODUÇÃO DE ENERGIA EÓLICA
No presente capítulo objetivou-se identificar como e se o formato dos
investimentos em parques eólicos no estado do Rio Grande do Norte possui
capacidade de alavancar o seu desenvolvimento socioeconômico. De acordo
com os programas de incentivos locais ao desenvolvimento, verificou-se a
produção de energia eólica no estado e se esta vem alcançando as metas
planejadas. Ademais, a corrente análise tem como objetivo fulcral revelar se a
economia das eólicas no estado promove integração regional e setorial. Como
apresentado nos capítulos anteriores, a indústria eólica potiguar apresenta uma
cadeia produtiva incompleta, desta forma, a análise busca verificar se esta
fragilidade pode criar percalços multiplicadores, que obstaculizem uma possível
dinâmica socioeconômica mais pujante no Rio Grande do Norte.
5.1 Políticas Locais de Incentivo à Economia das Eólicas
Ao que se refere às políticas de incentivo ao desenvolvimento da energia
eólica32, como já comentado no tópico 1.3 deste trabalho, foram de
responsabilidade da União, por meio do PROINFA e da realização dos leilões
para a fonte eólica, com principal foco no mercado. As políticas nacionais em
prol da energia eólica possuíam o objetivo principal de ampliar a capacidade
produtiva do setor de energia. Conforme explicado anteriormente, garantir a
ampliação do abastecimento de energia elétrica era uma questão de segurança
energética nacional.
Segundo o anuário Cenários da Energia Eólica (2015), dentre as
principais reivindicações dos investidores em energia eólica estão a garantia de
Mercado, a Desoneração de Impostos em toda a cadeia produtiva e
Infraestrutura.
32 A respeito de Políticas de Incentivo de Inovação à energia eólica ver Camillo (2013), e sobre as diversas políticas de incentivos à energia eólica brasileira ver detalhes em Macedo (2015).
111
A garantia de mercado é feita atualmente por meio de leilões33 para a
fonte eólica. Contudo, segundo o anuário Cenários (2015), para os investidores
esta política é limitada e precisa ser ampliada. Quanto ao mercado de energia
eólica nacional, ocorre a necessidade da criação de um calendário definido de
leilões e ampliação da quantidade mínima (400 MW) de energia eólica prescrita
para o governo comprar.
Outro importante desafio do mercado, apontada por Macedo (2015),
trata-se da ampliação das linhas de transmissão, o que tem sido um dos
maiores entraves na expansão da energia eólica. Além da necessidade de
ampliação dos investimentos em construção de linhas, existe uma falta de
sincronia entre os prazos de construções dos parques e os das linhas de
transmissão. É de grande importância que ao término das construções dos
parques já existam linhas de transmissão elétricas prontas para realizarem o
escoamento da energia produzida para a Rede Central Elétrica. Caso contrário,
os produtores são penalizados em custos de manutenção do sistema sem o
escoamento da energia.
O principal programa de infraestrutura do país, Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), criado em 2007, que objetiva promover a retomada do
planejamento e execução de obras de infraestrutura, incluindo a energética,
tem investido na ampliação da transmissão de energia. Segundo o Quadro 7,
no Rio Grande do Norte foram investidos aproximadamente R$ 794 Milhões em
Obras de Transmissão de Energia.
33 Acerca do histórico dos leilões no Brasil, ver detalhes no Capítulo 3 da tese de Macedo (2015)
112
Projeto Executor: Unidade Federativa:
Município(S): Estágio: Investimento Previsto
SE EXTREMOZ II – RN Narandiba S.A. RN Extremoz Concluído R$ 24.663.000,00
LT 230 KV MOSSORÓ II - MOSSORÓ IV – RN
Cia hidroelétrica do São Francisco
RN Mossoró Em obras R$ 39.600.000,00
LT 230 KV PARAÍSO - AÇU II, C3 – RN
Cia hidroelétrica do São Francisco
RN Açu, Santa Cruz, Mossoró
Em obras R$ 61.330.000,00
LT 230 KV CEARA-MIRIM 2 / JOÃO CAMARA II C-2 RN
Esperanza S.A. RN Ceará-Mirim, João Câmara
Concluído R$ 60.690.000,00
LT 230 KV CEARÁ-MIRIM II - TOUROS - RN
Cia hidro elétrica do São Francisco
RN Ceará-Mirim, Touros
Em obras R$ 44.200.000,00
LT 230 KV PARAÍSO - LAGOA NOVA - RN
Cia hidro elétrica do São Francisco
RN Santa Cruz, Lagoa Nova
Concluído R$ 67.510.000,00
LT 500 KV ACU III / JOÃO CAMARA III C-1 RN - RN
Esperanza S.A. RN Açu, João Câmara
Em obras R$ 143.910.000,00
LT 500 KV CAMPINA GRANDE III / CEARA-MIRIM 2 C-2 PB/RN - PB RN
Cia Energetica Potiguar S.A.
PB - RN Campina Grande/PB, Ceará-Mirim/RN
Concluído R$ 127.080.000,00
LT 500 KV CEARÁ-MIRIM - CAMPINA GRANDE III – RN PB
Extremoz S.A. PB - RN Ceará-Mirim/RN Campina Grande/PB
Concluído R$ 158.165.000,00
LT 500 KV CEARA-MIRIM 2 / JOÃO CAMARA III C-2 RN -
Esperanza S.A. RN Ceará-Mirim, João Câmara
Concluído R$ 67.530.000,00
LT 500 KV MILAGRES II - AÇÚ III - CE RN
Abengoa S.A. CE - RN Milagres/CE, Açu/RN
Em licitação de obra Valor não divulgado
LT 500KV QUIXADÁ - AÇU III - CE RN
Esperanza S.A. CE - RN Quixadá/CE, Açu/RN
Em licitação de obra Valor não divulgado
12 Projetos R$ 794.678.000,00
Quadro 7 - Investimentos do PAC em Transmissão de Energia Elétrica no RN até 31 de dezembro de 2016 Fonte: PAC. Elaborado pela autora
113
O desenvolvimento da Economia das Eólicas possui outro gargalo com
relação à infraestrutura, trata-se das dificuldades logísticas de transportar e
entregar os produtos para montar os parques eólicos. As principais vias de
transporte de equipamentos eólicos são rodoviárias e marítimas. A estrutura
dessas vias é decisória na escolha do local onde serão instalados os parques e
fábricas de equipamentos eólicos.
O problema central das vias marítimas é a estrutura portuária. No caso
do Rio Grande do Norte, a infraestrutura portuária é composta por três portos.
O primeiro é o Terminal Portuário de Natal, situado em Natal, à margem direita
do Rio Potengi, a 3 quilômetros (Km) de sua foz. O terminal é administrado
pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (CODERN), destacando-se na
exportação de frutas e outras cargas refrigeradas, as quais perfazem cerca de
30% da movimentação do escoadouro, além de rochas (quartzitos) e
cabotagem de cargas em contêiner.
O segundo é o Porto-ilha de Areia Branca, também administrado pela
CODERN, com a capacidade de movimentação de 3,4 milhões de toneladas de
sal por ano. É um porto offshore especializado no escoamento do sal marinho
produzido no noroeste do estado, cuja representatividade no total da produção
nacional é de 95%.
O terceiro é o Porto de Guamaré, administrado pela PETROBRÁS. Esse
terminal portuário é especializado no embarque e desembarque de pequenas e
médias cargas usadas pela referida empresa na operação da refinaria Clara
Camarão. Sobre esses portos, Macedo (2015) pondera:
[...] não comportam navios de grande porte, nem linha de cabotagem para movimentar grandes contêineres. Logo, não apresentam uma estrutura compatível para o transporte de equipamentos eólicos, como pás e torres, nem escala de produção no segmento metalmecânico capaz de atrair fabricantes da indústria eólica, podendo, assim, aproveitar das economias de escopo que esse setor engendra por meio do processo de diversificação da produção. (MACEDO, 2015, p. 313)
114
Apesar dos investimentos do Governo Federal em infraestrutura em
logística no país, o Rio Grande do Norte não possui um porto com a
capacidade necessária para atender as demanda da Indústria Eólica. Este fato
revela-se como um entrave ao setor uma vez que o porto é um elemento da
infraestrutura que está diretamente relacionado com a escolha dos locais para
instalação de Fábricas de Pás e Turbinas34. As fábricas desses equipamentos
podem ser instaladas em qualquer território – até mesmo naqueles que não
possuem potencial de geração eólica –, mas o mais importante para essas
fábricas é a possibilidade de escoamento da produção, e um porto que
comporte as necessidades do setor torna-se fundamental.
A questão das rodovias parece ser tão problemática quanto a marítima.
Macedo (2015) aponta que as principais vicissitudes das rodovias são:
• Escala na demanda: ausência de sincronização entre entrega das
cargas realizada pelos caminhões nos portos e a ancoragem dos navios,
que acarreta risco de equipamentos parados;
• Limite de transporte diário: são permitidas no máximo duas carretas por
dia e não é permitido o tráfego noturno nas BRs, além da demanda de
licença para o fechamento de alguns trechos do percurso. Elevando
assim a demora no transporte dos equipamentos e encarecimento da
operação. Segundo o documento Mais RN, a solução para esse caso
seria a criação de um corredor logístico, com infraestrutura que permita
que os equipamentos cheguem sem barreiras aos locais de destino;
• Autorização Especial de Transporte (AET): para realizar a viagem
desses equipamentos é necessária solicitar autorização ao
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT),
elevando o prazo para a entrega dos equipamentos;
• Manutenção das rodovias: devido ao valor agregado dos equipamentos,
as condições das rodovias representam uma preocupação e cuidado
maior com o seu transporte.
34 As fábricas de torres encontraram uma solução para evitar o transporte para longas distâncias sendo construídas e operando de forma temporária perto dos parques eólicos em construção, evitando assim as dificuldades e custos de cabotagem.
115
Para melhorar a situação delicada dos transportes de equipamentos por
via rodoviária, encontraram-se dois tipos de parcerias institucionais: uma
promovida pela ABEEÓLICA, que criou o GT Logística, e a outra pelo CERNE,
organizando um mapeamento de um corredor de passagem.
Segundo Macedo (2015), o GT Logística, em parceria com fabricantes
de aerogeradores, empresas de transporte terrestre e cabotagem e com o
Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas
Pesadas e Excepcionais (SINDIPESA), formulou para o curso de transporte de
cargas especiais, oferecido pelo Serviço Social do Transporte e Serviço
Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT), um módulo
específico sobre o setor eólico. O módulo sobre o transporte de carga de
equipamentos e componentes eólicos é importante para a formação dos
profissionais que realizam o curso, que é obrigatório para quem realiza o
transporte de cargas especiais. Ao abordar a temática, o GT Logística contribui
para a prevenção de possíveis avarias e superação de dificuldades no
transporte dos equipamentos e componentes eólicos.
O mapeamento do corredor de passagem de máquinas e equipamentos
eólicos, organizado pelo CERNE em parceria com transportadoras, empresas
empreendedoras, Governo do Estado, Prefeituras e companhias, como a
COSERN (distribuidora de energia) e a CODERN (administradora do porto de
Natal), segue no sentido de criar uma solução única que viabilize o processo de
transporte (CERNE, 2014).
Por meio das políticas de incentivo à produção de energia eólica, houve
uma elevação da demanda industrial, ou seja, de máquinas e equipamentos
para a geração energética. Entretanto, quando se iniciou a corrida nacional
pela ampliação da matriz energética, a indústria nacional era incipiente e foi
necessária uma quantidade de máquinas e equipamentos importados.
Do início da inserção eólica no país, nos anos 2000, ao período mais
recente, 2017, a cadeia produtiva da indústria eólica conseguiu avançar no
sentido de consolidar-se no setor. Todavia, ainda é dependente da tecnologia e
dos principais componentes dos equipamentos eólicos de origem externa. Este
foi o resultado das políticas nacionais para a expansão energética que priorizou
116
os incentivos à criação do mercado, negligenciando os eixos industriais e
tecnológicos (CAMILLO, 2013).
De forma paliativa, algumas medidas foram tomadas como forma de
incentivar a indústria nacional e local. Do ponto de vista nacional, o incentivo
principal dado à indústria foi a criação de uma linha de crédito especial para o
setor eólico pelo BNDES, permitindo uma abertura de financiamento com juros
reduzidos, prazos compatíveis com o tipo de investimento e eliminação do risco
cambial na importação de componentes e peças eólicas (MACEDO, 2015).
O financiamento do BNDES se aplica à produção e aquisição de
máquinas e equipamentos nacionais, estimulando assim a indústria nacional.
Os projetos de parques eólicos podem ser financiados em até 80% pelo
BNDES, com a seguinte metodologia:
[...] credenciamento e a apuração do conteúdo local para aerogeradores, estabelecendo metas físicas, divididas em etapas, que deverão ser cumpridas pelos fabricantes de acordo com um cronograma previamente estabelecido” (MACEDO, p. 241, 2015).
Além do crédito a juros baixos, outra via de estímulo à industrialização
são as políticas locais de desenvolvimento industrial. As principais medidas que
a gestão local pode adotar para promover a indústria eólica são: infraestrutura -
obras viárias, água, esgoto, energia e telefonia –, incentivos fiscais – por meio
da isenção de impostos – e promoção de qualificação de mão de obra e de
Centros de Pesquisa e Desenvolvimento.
O Rio Grande do Norte não possui um programa específico para o
desenvolvimento das eólicas que englobe as medidas enunciadas
anteriormente. Até mesmo o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Industrial35 (PROADI), não viabiliza empreendimentos do setor eólico. O Estado
potiguar, como visto no capítulo anterior, possui uma fábrica de torres de
35 PROADI é regido pela Lei 7.075, de 17/11/1997 e o Decreto 13.723, de 24/12/1997. Detalhes
sobre a participação do PROADI no desenvolvimento industrial potiguar ver o Capítulo 3 do
Livro de Araújo (2010).
117
concreto que não tem o direito de receber o benefício por estar no setor de
Construção, não englobado pelo programa de isenção. Apesar dos múltiplos
esforços do Governo do Rio Grande do Norte para atrair investimentos em
energia eólica, a gestão local não criou um programa específico de incentivos
ao setor. Contudo, em 2013, o Governo do Estado assinou um acordo de
empréstimo firmado junto ao Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento – Banco Mundial – para implementação do Projeto Integrado
de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte – Projeto RN
Sustentável –, cuja proposta é:
Apoiar o Governo do Estado a atingir os seus resultados estratégicos planejados a partir da combinação de investimentos que favoreçam o crescimento econômico inclusivo, a redução da pobreza, a prosperidade partilhada, a redução das desigualdades e uma ampla base de desenvolvimento humano. (RIO GRANDE DO NORTE, [201-], p.19)
Na proposta do RN Sustentável estão a promoção de investimentos em
estratégia de desenvolvimento regional integrado, por meio do financiamento
de infraestrutura socioeconômica (estradas, equipamentos turísticos etc.),
investimentos socioambientais e produtivos com base na redução das
desigualdades regionais. Neste quesito, a questão energética para o Rio
Grande do Norte se encaixa no Plano Estratégico do Governo do RN,
financiado pelo RN Sustentável/Banco Mundial num plano de longo prazo, até
2035. Desse plano identificaram-se os seguintes objetivos que estão
associados, de forma direta e indireta, com a promoção do setor de energia
eólica no Rio Grande do Norte:
• Estabelecer, no Rio Grande do Norte, um Parque Tecnológico que
articule áreas estratégicas de desenvolvimento de empresas de base
tecnológica com foco na geração de emprego de alta qualificação e
renda para o estado;
• Restaurar e realizar a manutenção de todas as rodovias existentes no
RN, em ritmo de 100 Km/ano para restauração e 500 Km/ano de
118
conservação regular, mantendo o novo padrão técnico definido pelo
DER;
• Incentivar a implantação de parques eólicos no estado por meio da
cessão dos terrenos públicos com alta incidência de vento para a
instalação desses empreendimentos; concessão de benefícios fiscais
para compra de equipamentos e de incentivos para produção de
equipamentos e insumos no Estado do RN.
Observe que os objetivos do Plano Estratégico do Governo do Estado
vão ao encontro das principais reivindicações dos investidores em energia
eólica: parque tecnológico, infraestrutura logística e incentivos industriais
(CENÁRIOS, 2015). As principais metas relacionadas a esses objetivos podem
ser conferidas no Quadro 8. Nota-se que, em 20 anos, o Estado pretende
sextuplicar a quantidade produzida de energia eólica, que saltará de 2,3 GW,
em 2015, para 13,9 GW, em 2035.
119
OBJETIVO
INDICADOR
V0
METAS
2016 2018 2020 2015 2030 2035
Aumentar o conteúdo tecnológico da produção do Estado
Participação dos setores de média e alta intensidade tecnológica na produção da indústria de transformação do RN Fonte: PIA-Empresas/IBGE
38% (2013)
38% 40% 42% 46% 48% 50%
Ampliar e melhorar a qualidade da malha rodoviária
% Km Construídos Fonte: DER
3000 Km
(100%)
5% 10% 10% 10% 10% 10%
% Km Recuperados Fonte: DER
3000 Km
(100%)
20% 40% 40% 60% 60% 60%
% de rodovias com conceito "bom" ou "ótimo" no estado geral na Pesquisa CNT
41,3% (2015)
45,5% 49,7% 53,9% 64,4% 74,9% 85,4%
Ampliar e diversificar a matriz energética com foco em fontes renováveis
Produção de energia eólica no RN Fonte: ANEEL/CERNE
2,3 GW
(2015)
- - 4,7 GW
7,0 GW
12,1 GW
13,9 GW
Produção de energia solar no RN Fonte: ANEEL (2015) e projetos Bionenergy, Braxenergy e PETROBRÁS
1 (2015)
- - 122 MW
322 MW
800 MW
2000MW
Quadro 8 - Indicadores e Projetos Estratégicos de incentivo direto e indireto à Economia das Eólicas Fonte: SEPLAN (2016). Elaborado pela autora
120
A produção de energia eólica comercial começou as suas operações em
2006, mas veja que até os dias atuais (2017), o Governo do Rio Grande do
Norte, apesar de apresentar um plano estratégico de desenvolvimento, ainda
está na fase de planejamento. Uma atividade que já está há 10 anos em
operação no estado sobreviveu até o momento sem políticas efetivas de
incentivo por parte do Governo do Estado. Ratifica-se a limitação do gestor
público em impulsionar o setor, e a importância dos programas nacionais,
mesmo fragmentados, na promoção do setor eólico.
5.2 Economia das Eólicas e integração regional: os papéis de Natal e Mossoró
Os municípios de Mossoró e Natal, apesar de não possuírem parques
eólicos, são considerados os maiores municípios (produtivos e populacionais)
do Rio Grande do Norte. Ambos são polos regionais e concentram uma gama
de comércios e serviços que atendem ao estado. Desta forma, este tópico
tratará da importância desses municípios para Economia das Eólicas potiguar.
Natal é a capital do Rio Grande do Norte. Em 2010, o censo registrou
que a cidade possuía 803.739 habitantes, com a população 100% urbanizada
(Ver Tabela 13). Em Natal, está a prestação dos serviços mais sofisticados do
estado, a presença de Universidades, Institutos Técnicos, Centros de
Pesquisa, Unidades Hospitalares de Alta Complexidade, diversos serviços de
Engenharia etc, além de a cidade possuir a presença do Terminal Portuário de
Natal, centralizando a distribuição dos principais produtos importados e
exportados pelo estado.
121
Município/ Microrregião
2000 2010
Urbana Rural Total Urbana Rural Total
Município de Mossoró
199.081 14.760 213.841 237.241 22.574 259.815
Município de Natal
712.317 - 712.317 803.739 - 803.739
Microrregião Baixa Verde
29.569 20.193 49.762 32.380 20.596 52.976
Microrregião Litoral Nordeste
47.972 67.129 115.101 55.184 73.216 128.400
Microrregião Mossoró-Macau
51.964 17.616 69.580 53.461 29.345 82.806
Microrregião Serra de Santana
20.120.9 25.942 46.071 20.983 25.556 46.539
Rio Grande do Norte
2.036.673 740.109 2.776.782 2.464.991 703.036 3.168.027
Tabela 123 - População Urbana e Rural - Natal, Mossoró, Microrregiões Eólicas e Rio Grande do Norte (2000 e 2010) Fonte: IBGE/IPEADATA. Elaborado pela autora
Mossoró, segunda maior cidade do estado, possui importância histórico-
cultural, econômica e regional. A formação histórica da Microrregião Mossoró-
Macau, apresentada no capítulo anterior, condiz com a formação do município
de Mossoró. Atualmente, Mossoró é considerada a capital do Oeste Potiguar
por organizar importantes eventos culturais e de negócios que promovem a
econômica regional, dentre eles: Mossoró Cidade Junina; Festa da Liberdade;
Feira Internacional de Fruticultura Tropical Irrigada (EXPOFRUIT)); Festa do
Bode; Feira do Livro de Mossoró; Feira Industrial e Comercial da Região Oeste
(FICRO); Festa de Santa Luzia (MOSSORÓ, [201-]).
A distribuição do emprego formal em Natal e Mossoró por setores da
economia anuncia a estrutura produtiva desses municípios, conforme pode ser
observado no Gráfico 12. Observe-se que os segmentos de Comércio e de
Serviços juntos somam mais de 60% do emprego formal, evidenciando a
relevância do setor terciário nesses municípios.
Em Natal não existe empregos nos segmentos de Agricultura e Extrativa
Mineral. Já em Mossoró esses dois setores somam 11% do emprego formal do
122
município, com destaque para a fruticultura irrigada, a indústria salineira e a
indústria extrativa (em especial o petróleo).
Com relação ao objeto desse trabalho, Economia das Eólicas, os
principais setores que possuem relação com as eólicas – Indústria de
Transformação, Produção e Distribuição de energia elétrica e Construção –
representam juntos, em Natal, 13% do emprego formal municipal e, em
Mossoró, 17% do emprego formal municipal. Apesar da participação no
emprego formal da capital ser menor do que em Mossoró, em números
absolutos Natal é bem superior, com 37.698 empregos nos três setores
mencionados. Em seguida vem Mossoró, com 11.650 empregos gerados.
123
Gráfico 122 - Participação do Emprego Formal por Setores Econômicos - Mossoró e Natal (2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora
124
Foram elencados, no capítulo anterior, os segmentos que possuem
relação direta e indireta com a energia eólica. Na Tabela 14, apresenta-se o
número de empregos formais nas divisões dos segmentos selecionados, a fim
de identificar a importância de Natal e Mossoró frente ao setor eólico potiguar.
Mossoró Natal Mic. Baixa Verde
Mic. Litoral
Nordeste
Mic. Mossoró-
Macau
Mic. Serra de Santana
RN
Produção e Distribuição de Energia Elétrica
5 844 107 2 8 0 1084
Obras de Infraestrutura p/ Energia Elétrica e p/Telecomunicações
87 1028 0 0 1 0 1794
Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos
764 419 11 4 2 10 6524
Fabricação de Produtos de Metal, exceto Máquinas e Equipamentos
326 595 2 21 26 0 1420
Fabricação de Máquinas e Equipamentos
404 419 0 13 199 1 1439
Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos
80 116 56 0 0 0 299
Tabela 14 - Número de Empregos Formais nas Divisões Selecionados – Mossoró, Natal, Microrregiões Eólicas e Rio Grande do Norte (2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora
A divisão entre produção e distribuição de energia elétrica compreende
as atividades de produção de energia elétrica de origem hidráulica, térmica,
nuclear, eólica, solar, etc.; de transmissão e de distribuição de energia elétrica;
do comércio atacadista de energia elétrica; de manutenção de redes de
eletricidade quando executada por empresas de produção e distribuição de
energia elétrica; de serviços de medição de consumo de energia elétrica e de
manutenção de medidores de eletricidade. Desta forma, torna-se inviável
mensurar a relação direta entre a geração de emprego e a energia eólica.
Porém, como esta é a classificação mais próxima da energia eólica que o
125
Bando de Dados da RAIS traz, analisou-se o comparativo de Natal e Mossoró
com as Microrregiões Eólicas.
Natal concentra 78% do emprego formal em Produção e Distribuição de
Energia Elétrica do estado. Dois pontos fundamentais que justificam essa
concentração são: 1) elevada demanda energética da capital potiguar e 2) sede
da Companhia de Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). A COSERN
é a sexta maior distribuidora de energia elétrica do Nordeste em número de
clientes e a quinta em volume de energia fornecida. A potência instalada de
1.406 MWH passa por 62 subestações, 53,9 mil Km de linhas de distribuição e
transmissão (COSERN, 201-).
Os empregos formais em obras de infraestrutura para energia elétrica e
para as telecomunicações estão divididos entre Mossoró e Natal. A
concentração entre os municípios polo se justifica pela localização dos
estabelecimentos produtivos desse setor ser em municípios estratégicos, o que
não impede a realização de contratos para operarem em outros municípios do
estado.
As quatro últimas divisões selecionadas são da Indústria de
Transformação: fabricação de produtos de minerais não-metálicos; fabricação
de produtos de metal exceto máquinas e equipamentos; fabricação de
máquinas e equipamentos; fabricação de máquinas, aparelhos e materiais
elétricos. Os empregos formais dessas divisões se concentram também em
Natal e Mossoró, com exceção da divisão de fabricação de máquinas e
equipamentos. Na microrregião Mossoró-Macau, no município de Areia Branca,
existe um fábrica de torres de concreto para aerogeradores, elevando o
número de empregos da região.
Em que pese a pujança das economias de Natal e Mossoró, a análise da
estrutura produtiva desses municípios mostra que elas atuam de forma
tangencial à Economia das Eólicas. Por serem polos regionais, atraem
demandas por serviços especializados que as microrregiões eólicas não são
capazes de oferecer. A relação desses polos com as microrregiões serve
exatamente para evidenciar o grau de integração regional entre esses
territórios através de um setor econômico. Mas essa integração evidência
126
também o grau de dependência das microrregiões eólicas aos serviços
oferecidos pelos polos.
Neste capítulo, apresentou-se a situação da Economia das Eólicas do
Rio Grande do Norte, segundo a sua capacidade de promoção do
desenvolvimento socioeconômico e regional. Conclui-se que, apesar dos
esforços nacionais para desenvolver o setor, no Rio Grande do Norte a
dinâmica socioeconômica foi influenciada de forma tangencial, ou seja, sem
profundas transformações.
Destacou-se, no decorrer deste capítulo o Plano Estratégico de
Desenvolvimento do Governo do Rio Grande do Norte, que apesar de
apresentar uma estrutura abrangente de promoção ao desenvolvimento, pouco
foi executado. Ressaltou-se também a polaridade de Natal e Mossoró em
relação à Economia das Eólicas; evidenciou-se que este setor possui baixa
relevância socioeconômica para os municípios citados apesar de Natal e
Mossoró apresentarem uma importante estrutura que viabiliza o
desenvolvimento das eólicas no estado.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, analisou-se a dinâmica socioeconômica do Rio Grande
do Norte a partir da introdução da atividade econômica através de parques
eólicos no período compreendido entre 2000-2015. Adotou-se como objeto de
pesquisa a energia eólica como proposta de desenvolvimento local,
compreendendo-se como centro da análise a relação entre os investimentos
eólicos e os territórios estudados.
No cenário global, destaca-se a importância das convenções
internacionais sobre a questão ambiental na influência das políticas públicas de
incentivos ao setor energético renovável, em geral, e energia eólica, em
específico. O avançar do debate sobre a questão ambiental, motivou o
progresso das inovações em energias alternativas renováveis, em
complementaridade às fontes energéticas fósseis. Ademais, revela-se as
diferenças entre os países centrais e periféricos na implantação das fontes
energéticas eólicas, evidenciando que as heterogeneidades histórico-
econômicas entre centro-periferia influenciaram nas relações de dependência
tecnológicas dos países periféricos.
No desenvolvimento regional, constatou-se que diferentemente dos
elevados montantes de investimentos que transformaram e modernizaram a
região Nordeste do Brasil entre os anos 1960-1980, não ocorreu o mesmo
efeito com os locais que receberam os investimentos em empreendimentos
eólicos. Isso ocorreu devido a falta de sincronia das políticas nacionais de
incentivos ao setor com as políticas locais de desenvolvimento.
Em que pese essas ações paliativas que o poder local pode adotar, para
ocorrer um desenvolvimento local integrado ao desenvolvimento geral – que os
empreendimentos eólicos poderiam ser capazes de conferir maior
dinamicidade –, faz-se importante a existência de um programa nacional de
desenvolvimento regional ativo. Esse programa deveria valer-se das
especificidades de cada localidade, sendo capaz de oferecer opções de
integração local/global, a partir da construção de redes, da articulação local de
fornecedores e de pontos centrais de fluxo de informação.
128
O mapeamento das microrregiões eólicas identificou como ocorreram os
investimentos dos parques eólicos no Rio Grande do Norte. Sinalizou-se que a
depender do grau de dinamismo de cada microrregião, a economia das eólicas
revela-se com maior ou menor grau de intercessão com a socioeconomia local.
Isso ocorre devido as significativas demandas que os empreendimentos eólicos
possuem para desenvolver-se. Ou seja, um empreendimento eólico ao se
instalar numa microrregião que não possui infraestrutura necessária para as
suas fases de construção e operação, vai buscar esses serviços em outro
lugar, importando o que for necessário para a sua realização.
De acordo com a configuração socioeconômica das microrregiões
eólicas do Rio Grande Norte, com fragilidades que limitam o progresso das
eólicas, destacam-se Natal e Mossoró como centros dinâmicos que ofertam
bens e serviços para todo o estado. Ressalta-se a relação dos polos com as
microrregiões, configurando a integração regional do estado frente a economia
das eólicas, em que pese que esses municípios possuam uma estrutura
produtiva e tecnológica aquém do que o demanda o setor eólico.
Nesse sentido, a microrregião com mão de obra de baixa qualificação,
sem desenvolvimento tecnológico e sem infraestrutura logística, possui um
relacionamento tangencial com a economia das eólicas. Uma importante
vantagem para essas microrregiões é a oportunidade de modernização de seu
equipamento urbano, dado que empreendimentos no período de construção
realizam parceria para a melhoria de rodovias e até mesmo serviços públicos
como saúde (suporte e melhorias de postos de saúde) e educação
(treinamento de mão de obra local). Destaca-se como desvantagem a perda de
oportunidade de absorver para o longo prazo a dinâmica temporária do período
de construção dos parques. Por isso, se faz urgente que os gestores locais
coloquem em prática políticas e parcerias que gerem uma efetiva
modernização da dinâmica socioeconômica local.
Enfatiza-se neste trabalho a urgência de concomitância entre as políticas
nacionais de setor com as políticas locais de desenvolvimento. A economia das
eólicas revela-se como promotora de desenvolvimento quando o Estado
concilia as oportunidades que o setor progride. Caso contrário, a economia das
129
eólicas servir-se-á dos territórios em que se instala como recurso para a
reprodução do capital internacional sem se espraiar progresso pelo local.
O trilhar da economia das eólicas no Rio Grande do Norte, pouco
contribuiu para o desenvolvimento de uma economia mais pujante. Observa-se
que as maiores variações socioeconômicas no estado estão muito mais
relacionadas com políticas nacionais, tais como PAC e Minha Casa, Minha
Vida, do que com impactos do setor eólico. Todavia, destaca-se dois pontos: o
primeiro é que em municípios interioranos sem nenhuma atividade econômica
dinâmica, ao receber investimentos em energia eólica, vislumbra a
oportunidades de modificar sua realidade socioeconômica. Entretanto, segundo
ponto, se esses investimentos não forem conduzidos de forma a potencializar
as vocações locais, a oportunidade torna-se perdida, como foi no caso de
diversos municípios do Rio Grande do Norte.
Como principais perspectivas desse trabalho, credita-se na formação
para pesquisas de profundidade nos municípios produtores de energia eólica
em estados periféricos como Rio Grande do Norte, com o objetivo de identificar
as relações entres os atores envolvidos e impactados pela atividade eólica.
Além de chamar a atenção da importância da elaboração de políticas públicas
de desenvolvimento regional, integradas entre o local e o global. O gestor de
políticas públicas deve-se estar atento em criar condições para que os
investimentos possuam conexão com as vocações locais, ou criar mecanismos
para que ocorra a integração econômica entre o empreendimento e as
atividades locais.
130
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136
APÊNDICE A – RIO GRANDE DO NORTE: Região Metropolitana e Microrregiões
Fonte: IDEMA-RN (adaptado pela autora) O IDEMA seguiu a classificação de microrregiões do IBGE. Neste mapa fizemos a delimitação da Região Metropolitana de Natal, segundo a Lei Complementar Estadual Nº 391, de 22 de julho de 2009
137
APÊNDICE B – REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA VISITA DE CAMPO
Figura 1 - Parques eólicos em Galinhos (RN) Fonte: Arquivo da autora
Figura 2 - Estrada de acesso à Fábrica de Torres Eólicas Acciona, em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora
138
Figura 3 – Proximidades entre Fábrica de Torres e parque eólico construído em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora
Figura 4 - Fábrica de Torres de Concreto Acciona, em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora
139
Figura 5 - Parque eólico construído próximo à vegetação Caatinga, em Guamaré (RN) Fonte: Arquivo da autora
Figura 6 - Estrada de terra batida criada para acesso aos parques eólicos em Guamaré (RN) Fonte: Arquivo da autora
140
Figura 7 - Pastagem de animais próximo à torre eólica Fonte: Arquivo da autora
Figura 8 - Habitação rural próximo ao Parque Eólico Fonte: Arquivo da autora
141
APÊNDICE C – Tabelas sobre Emprego Formal e Estabelecimentos das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
3.404 3.581 3.371 4.859 4.955 5.049 4.696 5.516 4.410 4.769 4.293 4.898 5.553 6.117
2 - Serviços 734 868 838 1.559 1.673 1.224 2.173 2.218 1.841 1.888 2.008 1.870 2.027 1.599
3 - Comércio 581 782 863 913 913 951 1.724 1.694 1.822 1.632 2.420 2.397 1.824 1.862
4 - Construção 160 565 2.318 487 527 538 494 798 1.595 887 963 1.698 1.841 531
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
19 19 21 22 24 23 21 16 25 31 15 14 16 24
6 - Industrias de Transformação
515 485 543 687 335 314 356 380 890 905 911 911 1.051 1.165
7 - Indústrias Extrativas 1.471 1.400 1.462 1.428 1.908 2.045 1.220 1.609 2.051 2.137 2.053 1.838 1.810 1.875
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
359 475 558 357 388 438 432 456 432 418 491 445 500 499
Total 7.243 8.175 9.974 10.312 10.723 10.582 11.116 12.687 13.066 12.667 13.154 14.071 14.622 13.672
Tabela 1 – Microrregião Mossoró-Macau – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
11 12 10 11 14 10 12 14 15 16 13 14 16 14
2 - Serviços 103 120 137 510 516 514 607 218 233 254 266 272 292 295
3 - Comércio 166 204 229 800 724 777 874 337 380 400 436 467 485 479
4 - Construção 18 25 30 86 85 85 88 38 46 47 57 43 81 67
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
2 2 3 3 3 6 6 3 3 5 5 5 6 6
6 - Industrias de Transformação 35 36 31 94 77 88 92 32 36 43 36 41 44 43
7 - Indústrias Extrativas 21 21 21 35 35 35 29 15 20 25 26 25 25 24
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
20 29 41 59 58 52 54 33 34 31 32 31 35 39
Total 376 449 502 1.598 1.512 1.567 1.762 690 767 821 871 898 984 967
Tabela 2 – Microrregião Mossoró-Macau – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
142
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
1.672 1.721 1.617 2.027 1.817 2.347 2.302 2.241 2.426 2.513 2.420 2.647 2.156 2.415
2 - Serviços 333 252 363 315 341 253 191 160 208 267 322 322 349 368
3 - Comércio 176 303 279 330 294 375 514 537 651 734 731 782 882 941
4 - Construção 4 3 19 211 2 10 11 34 105 531 477 59 109 230
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
10 11 13 12 13 12 10 10 10 16 4 28 18 107
6 - Industrias de Transformação
58 75 70 87 104 105 118 141 152 372 234 212 212 252
7 - Indústrias Extrativas 0 0 24 27 21 20 17 20 26 26 32 42 68 77
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
34 124 281 438 295 211 312 334 277 284 289 326 412 471
Total 2.287 2.489 2.666 3.447 2.887 3.333 3.475 3.477 3.855 4.743 4.509 4.418 4.206 4.861
Tabela 3 – Microrregião Baixa Verde – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
10 11 10 13 11 12 11 10 11 12 12 12 12 12
2 - Serviços 32 36 40 170 172 178 197 49 55 66 77 87 91 97
3 - Comércio 73 112 120 323 339 371 397 164 168 184 184 191 221 224
4 - Construção 4 4 4 16 13 12 15 12 11 16 20 15 16 18
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 1 2 2 8
6 - Industrias de Transformação 6 11 9 26 19 25 30 17 18 20 28 21 27 24
7 - Indústrias Extrativas 0 0 2 5 3 3 5 2 3 2 2 2 3 4
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
11 11 15 29 28 33 43 28 23 15 22 18 25 27
Total 141 190 205 587 590 639 703 287 294 321 346 348 397 414
Tabela 4 – Microrregião Baixa Verde – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
143
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
3.263 3.496 3.583 3.970 4.473 4.758 4.451 3.625 4.461 4.942 3.739 3.573 5.712 5.965
2 - Serviços 6.686 6.051 9.371 8.324 4.697 2.820 1.581 1.184 1.346 1.236 1.282 1.385 1.702 2.081
3 - Comércio 604 742 677 761 902 1.137 1.045 1.161 1.313 1.505 1.613 1.894 2.032 2.160
4 - Construção 36 104 179 87 176 61 157 303 361 121 281 516 845 589
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
117 136 128 129 145 115 150 140 145 155 136 150 139 143
6 - Industrias de Transformação
1.418 722 777 874 901 741 793 880 837 839 917 908 987 887
7 - Indústrias Extrativas 48 46 41 40 65 22 37 70 76 73 72 48 44 47
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
504 934 1.060 1.260 1.250 2.319 2.273 2.245 1.360 1.080 914 860 998 987
Total 12.676 12.231 15.816 15.445 12.609 11.973 10.487 9.608 9.899 9.951 8.954 9.334 12.459 12.859
Tabela 5 – Microrregião Litoral Nordeste – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
11 10 9 11 10 9 10 10 11 10 11 10 10 11
2 - Serviços 91 92 91 451 476 542 550 171 182 223 232 260 298 334
3 - Comércio 163 184 193 630 633 669 682 317 358 394 418 484 509 555
4 - Construção 8 9 18 39 32 30 45 25 29 37 40 59 92 120
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
3 4 3 6 8 6 6 5 5 5 5 5 4 5
6 - Industrias de Transformação 24 22 24 78 80 88 95 40 42 46 51 56 60 56
7 - Indústrias Extrativas 5 5 5 11 11 10 5 5 4 4 5 5 5 4
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
67 88 91 160 159 169 179 126 125 127 118 116 115 120
Total 372 414 434 1.386 1.409 1.523 1.572 699 756 846 880 995 1.093 1.205
Tabela 6 – Microrregião Litoral Nordeste – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
144
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
1.733 1.842 1.840 2.177 2.239 2.287 2.268 2.325 2.313 2.427 2.503 2.300 2.527 2.675
2 - Serviços 213 282 297 607 671 584 591 576 395 117 602 263 302 336
3 - Comércio 72 96 109 155 160 206 223 245 307 359 429 489 531 584
4 - Construção 13 66 8 19 0 0 3 5 6 49 373 714 550 27
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
19 14 16 15 18 20 12 22 27 30 19 24 26 30
6 - Industrias de Transformação
50 30 31 32 39 36 54 77 103 138 138 206 288 400
7 - Indústrias Extrativas 68 49 3 13 39 35 25 24 23 13 40 102 103 107
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
5 14 15 14 5 6 5 12 4 11 11 36 39 35
Total 2.173 2.393 2.319 3.032 3.171 3.174 3.181 3.286 3.178 3.144 4.115 4.134 4.366 4.194
Tabela 7 – Microrregião Serra de Santana – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social
10 10 10 10 9 9 9 10 10 10 10 8 10 10
2 - Serviços 16 16 18 211 238 232 272 25 27 30 38 36 44 61
3 - Comércio 33 44 44 268 298 333 351 110 129 146 157 171 172 199
4 - Construção 1 3 1 4 7 7 7 3 2 10 6 13 19 6
5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água
5 4 4 4 4 5 4 5 6 6 3 3 3 3
6 - Industrias de Transformação 5 4 4 20 22 23 31 7 6 8 7 9 16 26
7 - Indústrias Extrativas 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 3 3
8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca
5 4 4 7 7 6 6 5 4 4 5 10 10 11
Total 76 86 86 525 587 616 682 166 185 215 227 251 277 319
Tabela 8 – Microrregião Serra de Santana – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.
145
ANEXO A – CAPACIDADE TOTAL DA INDÚSTRIA EÓLICA NO BRASIL
Empresa Capacidade anual (MW)
Local
AEROGERADORES
Acciciona 300 Simões Filho (BA)
Alstom 600 Camaçari (BA)
Gamesa 200 Camaçari (BA)
GE 750 Campinas (SP)
Siemens 250 Jundiaí (SP)
Vestas 400 Fortaleza (CE)
WEG 210 Jaguará do Sul (SC)
Wobben 500 Sorocaba (SP)
Lmpsa 1.000 Suape (PE)
Total 4.200
PÁS
Tecsis 6.500 Sorocaba (SP)
Aeris/Suzlot 1.500 Pécem (CE)
Wobben/Enercor 1.500 Sorocaba (SP) e Pécem (CE)
Eólice/LMWindpowe 900 Suape (PE)
Total 10.400
TORRES
Acciciona 100 Areia Branca (RN)
Tecnomaq 240 Fortaleza (CE)
Wobben* 500 Pécem (CE), Prazinho (RN), Gravataí (RS)
RM Eólica 450 Suape (PE)
Torrebrás 220 Camaçari (BA)
SAWE/Engebas 250 Cubatão (SP)
Intecnial 100 Erechin (RS)
Máquinas Piratininga 150 Recife (PE)
Alstom 120 Canoas (RS)
ICEC 100 Mirassol (SP)
Brasilsat 80 Curitiba (PR)
ArcelorMittal/CTZ Eolic Tower*
120 Móvel
Total 2.430
Fonte: Cenários da energia eólica – Anuário 2014/2015. A quantidade pode variar de acordo com a demanda.