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UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE NORTE CENTRO CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS Rebeca Marota da Silva DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DAS EÓLICAS NO RIO GRANDE DO NORTE (2002-2015): Microrregiões e Políticas de Desenvolvimento Local Natal, RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE NORTE

CENTRO CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS

Rebeca Marota da Silva

DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DAS EÓLICAS NO RIO GRANDE

DO NORTE (2002-2015): Microrregiões e Políticas de

Desenvolvimento Local

Natal, RN 2017

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Rebeca Marota da Silva

DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DAS EÓLICAS NO RIO GRANDE

DO NORTE (2002-2015): Microrregiões e Políticas de

Desenvolvimento Local

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito para obtenção do título de mestre em Estudos Urbanos e Regionais.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Fonseca Figueiredo

Natal, RN

2017

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Aos meus heróis, disfarçados de pais,

Sr. Erivan e Dona Jane, pelo amor, compreensão e fé.

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AGRADECIMENTOS

Todo produto de um trabalho árduo é resultado de apoio e incentivos

daqueles que nos rodeiam. Portanto, são inúmeros os agradecimentos pelo

resultado desta dissertação.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a sociedade potiguar, que

através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, contribuiu para a

minha formação acadêmica. Tenho esperança que este trabalho venha

fortalecer o debate sobre desenvolvimento local, possibilitando uma resposta

ao que em mim foi investido.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e

Regionais, que através da infraestrutura oferecida e da excelente formação dos

professores, viabilizou a elaboração desse trabalho e enriqueceu minha

formação acadêmica. Grata a todos os professores que integram o PPEUR.

Ao SEMAPA (Grupo de Pesquisa em Socioeconomia do Meio Ambiente

e Política Ambiental), que me acolheu como filha, creditando fé no meu

trabalho e despertando em mim o espírito de coletividade. Gratidão a todos os

colegas do SEMAPA pelas discussões acadêmicas e pelos leves cafés da

tarde.

Em especial agradecimento, às minhas amigas-irmãs-superpoderosas

que encontrei na Universidade, Anna Lidiane, Jelisse Vieira e Samara Taiana,

por permitirem que eu compartilhasse alegrias e angustias dessa fase vivida.

Agradeço meu orientador, Professor Fábio, por desde sempre acreditar

no meu trabalho, pelos incentivos nesse trilhar acadêmico e principalmente

pela paciência em me mostrar os melhores caminhos para a construção desse

trabalho. Gratidão!

Meus agradecimentos se entendem aos professores do

Gepetis/Depec/UFRN – Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho,

Inovação e Sustentabilidade do Departamento de Economia. Em especial aos

professores Denílson Araújo, Marconi Gomes e William Eufrásio, por deixarem

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a disposição o acesso ao Banco de Dados da RAIS/MTE e discutirem comigo

as informações quantitativas deste trabalho. Agradecida.

Grata aos Professores José Gomes Ferreira, William Eufrásio Nunes

Pereira e Danilo Araújo Fernandes por gentilmente aceitarem participar desta

banca.

Por fim, agradeço aos meus pais, irmãos e amigos que sempre

estiveram pertinho de mim ao longo desse desafio que tracei. Minha Gratidão!

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RESUMO

Este trabalho analisa a dinâmica socioeconômica do Rio Grande do Norte a partir da economia das eólicas (2002-2015) e as microrregiões onde são instalados os parques eólicos no estado. Por essa razão, é pedra angular dessa dissertação o focar na energia eólica como proposta de desenvolvimento local, compreendendo-se como centro da análise, a relação entre os investimentos eólicos e os territórios estudados. Para melhor percepção de como é possível a dinâmica econômica de uma região periférica, adotou-se como plataforma metodológica a investigação histórico-estruturalista da escola cepalina. A pesquisa parte da análise dos fatos históricos que se manifestaram em diferentes períodos, impactando positiva ou negativamente nas estruturas produtivas e sociais. Como procedimentos metodológicos foram realizados: revisão da literatura; observação empírica através de uma visita de campo; e consulta e análise de documentos. Elegeu-se como principal hipótese que apesar dos elevados investimentos, como é o caso da energia eólica no Rio Grande do Norte, ocorre uma baixa interação com a dinâmica regional local, não contribuindo para a diminuição de problemas estruturais, sociais e econômicos de uma região periférica. Conclui-se que apesar dos esforços nacionais em desenvolver o setor, no Rio Grande do Norte, a dinâmica socioeconômica foi influenciada de forma tangencial no que se refere a economia das eólicas, ou seja, sem profundas transformações. Destaca-se a urgência de concomitância entre as políticas nacionais de setor com as políticas locais de desenvolvimento. A economia das eólicas revela-se como promotora de desenvolvimento quando o Estado concilia as oportunidades que o setor desenvolve. Caso contrário, a economia das eólicas servir-se-á dos territórios em que se instala apenas como recurso para a reprodução do capital internacional sem se espraiar progresso pelo local.

Palavras Chave: Desenvolvimento Regional; Dinâmica Socioeconômica; Economia Das Eólicas; Microrregiões Eólicas; Políticas de Desenvolvimento Local

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ABSTRACT

Analyzes the socio-economic dynamics of Rio Grande do Norte from the economics of wind power (2002-2015) and micro-regions where are found the wind farms of the State. For this reason, it is the cornerstone of this dissertation the focus on wind power as local development proposal, figuring out how to center of analysis, the relationship between the wind farm investments and territories studied. For better understanding of how it is possible the economic dynamics of a peripheral region, it was used as methodological platform the historical research structuralist method of cepalina school. The research stems from the analysis of the historical facts that was expressed in different periods, impacting positively or negatively in the productive and social structures. As methodological procedures were performed: literature review; empirical observation through a field visit; and document consultation and analysis. It was elected as the main hypothesis that high investment, as is the case of wind energy in Rio Grande do Norte, result in conservatism and strengthening of local inequalities, there is a low interaction with the local regional dynamics, not contributing to the reduction of structural, social and economic problems of a peripheral region. It is concluded that despite the national efforts to develop the sector, in Rio Grande do Norte, the socioeconomic dynamics was influenced in a tangential way with regard to the economy of the wind, that is, without deep transformations. The economy of wind power is seen as a promoter of development when the State reconciles the opportunities that the sector develops. Otherwise, the economy of wind power will be used in territories where it is installed only as a resource for the reproduction of international capital without spreading progress through the site.

Key words: Local Development Policies; Micro-regions Wind; Regional Development; Socio-Economic Dynamics; Wind Power Economics;

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo de Relação de Dependência Produtiva da Economia Eólica. 47

Figura 2 – Microrregiões Eólicas Potiguares - 2017 ........................................ 68

Figura 3 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau .............................................. 69

Figura 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde .................................................... 83

Figura 5 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste ............................................... 92

Figura 6 – Microrregião Eólica Serra de Santana .......................................... 102

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Preços do Petróleo Bruto em Dólares (1971-1980) ...................... 39

Gráfico 2 – Mundo – Taxa de crescimento anual (%) da produção de

eletricidade por fonte eólica 2012/2002 ............................................................ 44

Gráfico 3 – Mundo - Participação (%) na produção mundial de energia eólica –

2012 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015). Elaborado pela

autora ............................................................................................................... 45

Gráfico 4 – Microrregião Mossoró-Macau - Emprego Formal por Setores

Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 76

Gráfico 5 – Microrregião Mossoró-Macau - Estabelecimentos produtivos –

2002-2015 ........................................................................................................ 77

Gráfico 6 – Microrregião Baixa Verde - Emprego Formal por Setores

Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 87

Gráfico 7 – Microrregião Baixa Verde - Estabelecimentos produtivos – 2002-

2015 ................................................................................................................. 88

Gráfico 8 – Microrregião Litoral Nordeste - Emprego Formal por Setores

Econômicos – 2002-2015 ................................................................................. 97

Gráfico 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Estabelecimentos produtivos –

2002-2015 ........................................................................................................ 98

Gráfico 10 – Microrregião Serra de Santana – Emprego Formal por Setores

Econômicos – 2002-2015 ............................................................................... 105

Gráfico 11 – Microrregião Serra de Santana – Estabelecimentos produtivos –

2002-2015 ...................................................................................................... 106

Gráfico 12 - Participação do Emprego Formal por Setores Econômicos -

Mossoró e Natal (2015) .................................................................................. 123

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação dos bancos de dados quantitativos coletados e descrição

......................................................................................................................... 26

Quadro 2 – Municípios das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte .... 27

Quadro 3 - Principais Políticas de Mercado para energia eólica ..................... 42

Quadro 4 – Estrutura Completa da Economia das Eólicas .............................. 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau - Empreendimentos de

Geração Eólica: em operação e em construção não iniciada........................... 73

Tabela 2 – População Urbana e Rural da Microrregião Mossoró-Macau – 2000,

2007 e 2010 ..................................................................................................... 73

Tabela 3 – Microrregião Mossoró-Macau - Número de Empregos Formais no

Segmento de Construção (2002-2015) ............................................................ 82

Tabela 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde – Empreendimentos de Geração

Eólica: em operação, em construção e em construção não iniciada ................ 84

Tabela 5 – População Urbana e Rural da Microrregião Baixa Verde – 2000,

2007 e 2010 ..................................................................................................... 85

Tabela 6 – Microrregião Baixa Verde - Número de Empregos Formais no

Segmento de Construção (2002-2015) ............................................................ 91

Tabela 7 – População Urbana e Rural da Microrregião Litoral Nordeste – 2000,

2007 e 2010 ..................................................................................................... 93

Tabela 8 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste – Empreendimentos de

Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada ... 94

Tabela 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Número de Empregos Formais no

Segmento de Construção (2002-2015) .......................................................... 100

Tabela 10 – Microrregião Eólica Serra de Santana – Empreendimentos de

Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada . 103

Tabela 12 – Microrregião Serra de Santana - Número de Empregos Formais no

Segmento de Construção (2002-2015) .......................................................... 108

Tabela 13 - População Urbana e Rural - Natal, Mossoró, Microrregiões Eólicas

e Rio Grande do Norte (2000 e 2010) Fonte: IBGE/IPEADATA. Elaborado pela

autora ............................................................................................................. 121

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.A.

ANEEL

Ao ano

Agência Nacional de Energia Elétrica

ABEEÓLICA Associação Brasileira de Energia Eólica

AET Autorização Especial de Transporte

BRICS Grupo Político de Cooperação entre os países Brasil, Rússia,

Índia, China e África do Sul

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe

CERNE Centro de Estratégias em Recursos Naturais & Energia

CODERN Companhia Docas do Rio Grande do Norte

COSERN Companhia Energética do Rio Grande do Norte

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

FINBRA Finanças do Brasil – Tesouro Nacional

FIT Feed-in Tarrifs

FMI Fundo Monetário Internacional

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

GW Gigawatt (Medida de Potência)

GWH Gigawatt-Hora

I CNDR I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEADATA

KM

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Quilômetro

ISS Imposto Sobre Serviços

KW Quilowatt (Medida de Potência)

KWH Quilowatt-Hora

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério das Minas e Energia

MTE Ministério do Trabalho e do Emprego

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

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MW Megawatt (Medida de Potência)

MWH Megawatt-Hora

O&M Operação e Manutenção

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU Organização das Nações Unidas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PETROBRÁS Petroleo Brasileiro S/A

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNDR Política Nacional de Desenvolvimento Regional

PROADI Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial

PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo

PROEÓLICA Programa Emergencial de Energia Elétrica

PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia

Elétrica

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

RIDES Regiões Integradas de Desenvolvimento

RMN Região Metropolitana de Natal

SEPLAN Secretaria do Estado do Rio Grande do Norte do Planejamento

e das Finanças

SEST/ SENAT Serviço Social do Transporte / Serviço Nacional de

Aprendizagem do Transporte

SINDIPEST Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e

Movimentação de Cargas Pesadas e Excepcionais

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

UFERSA Universidade Federal Rural do Semiarido

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18

1.1 Metodologia ................................................................................................ 21

1.2 Procedimentos Metodológicos ................................................................... 22

1.2.1 Revisão da Literatura ............................................................................ 22

1.2.2 Visita de Campo .................................................................................... 25

1.2.3 Consulta e análise de documentos...................................................... 26

1.3. Estrutura dos capítulos .............................................................................. 28

2 ENERGIA EÓLICA COMO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO ........... 30

2.1 O desafio do Desenvolvimento Sustentável ............................................... 30

2.2 Economia das Eólicas no cenário internacional ......................................... 38

2.3 Energia eólica nos países periféricos ......................................................... 43

3 ECONOMIA DAS EÓLICAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL ................. 51

3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional .................................................... 51

3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos ................................... 58

4 MICRORREGIÕES EÓLICAS DO RIO GRANDE DO NORTE ..................... 67

4.1 Mossoró-Macau .......................................................................................... 68

4.2 Baixa Verde ................................................................................................ 83

4.3 Litoral Nordeste .......................................................................................... 91

4.4 Serra de Santana ..................................................................................... 101

5 VICISSITUDES E LIMITES DA ECONOMIA POTIGUAR A PARTIR DA

PRODUÇÃO DE ENERGIA EÓLICA ............................................................. 110

5.1 Políticas Locais de Incentivo à Economia das Eólicas ............................. 110

5.2 Economia das Eólicas e integração regional: os papéis de Natal e

Mossoró.......................................................................................................... 120

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 127

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 130

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APÊNDICE A – RIO GRANDE DO NORTE: Região Metropolitana e

Microrregiões ................................................................................................ 136

APÊNDICE B – REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA VISITA DE CAMPO.... 137

APÊNDICE C – Tabelas sobre Emprego Formal e Estabelecimentos das

Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte ......................................... 141

ANEXO A – CAPACIDADE TOTAL DA INDÚSTRIA EÓLICA NO BRASIL . 145

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1 INTRODUÇÃO

Os fenômenos socioeconômicos do Nordeste são produtos de

determinações históricas que se manifestaram na região e se espraiaram pelos

seus estados, influenciando a formação dos territórios. Observando esse

processo de desenvolvimento regional, bem como os desequilíbrios

econômicos por ele desencadeados, analisaremos, neste estudo, o caso do

Rio Grande do Norte. No estado potiguar, a intervenção da Superintendência

do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a partir da década de 1960,

elevou os montantes de investimentos do capital industrial, porém, não criou

novos setores produtivos intensivos em tecnologia. Na realidade, reforçou os

setores produtivos tradicionais (têxtil, alimentos, confecções, salineiro etc.).

Esse fato, somado à desintegração produtiva de algumas economias do interior

do estado – como a produção de sal1, de scheelita, de algodão, juntamente

com a conservadora penetração do capital em regiões agrícolas, produtoras de

frutas para exportação – acabaram provocando uma significativa concentração

populacional e produtiva na Região Metropolitana de Natal (RMN), fragilizando

ainda mais a economia interiorana potiguar.

O fim da era desenvolvimentista2 e início das práticas neoliberais,

através da abertura econômica e redução do Estado nos anos 1990, foi

marcado pelo abandono de investimentos em áreas motores de

desenvolvimento. Entretanto, no período mais recente (2002-2014), foram

criados programas que buscavam resgatar o caminho traçado naquela época.

No que diz respeito aos incentivos às fontes de energias, deve-se lembrar de

que o Estado brasileiro tem incentivado a criação de novas matrizes

energéticas, sobretudo àquelas que não somente contribuirão para ampliar a

segurança energética nacional, mas também as que se incorporam ao novo

conceito de energia limpa, tais como a eólica e a solar.

1 Ainda que o Rio Grande do Norte seja o maior produtor nacional de sal, o processo de modernização das salinas, iniciado no final de 1960, resultou em uma significativa evolução do desemprego, dado que contingentes de força de trabalho empregados nesta atividade foram substituídos por máquinas e equipamentos, acelerando assim a produtividade e o aumento do produto. Esse processo é tratado teoricamente por Shumpeter (1985) como “destruição criativa”. 2 Langoni (1985); Lessa (1986).

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Com a necessidade nacional de novos investimentos no setor energético

e o atual debate sobre sustentabilidade, a região Nordeste entra em cena

ofertando os seus recursos naturais. Os argumentos em defesa da vocação da

região aliam-se às intensas e estáveis rajadas de ventos, fator importante na

definição do tamanho do território a ser ocupado pelos parques eólicos.

No Rio Grande do Norte, estado que possui elevados investimentos em

energia eólica, faz-se mister ampliar o debate sobre os efeitos da combinação

território e matriz renovável. Enquanto estruturas produtivas, os parques

eólicos são capazes de conectar escalas locais, nacionais e globais. Porém,

tais conexões podem ser pouco eficazes se o uso do território, enquanto um

ativo necessário à produção energética, intensificar a pobreza, a desigualdade,

limitar investimentos ou não se traduzirem em ativos sociais locais ou regionais

inibidores de vulnerabilidade social.

Os municípios potiguares, antes da atividade da energia eólica ser

implantada em seus territórios, desenvolviam a produção do petróleo,

fruticultura irrigada, extração de sal, pesca artesanal e os serviços. Atividades

essas que, no formato desenvolvido na região, não foram capazes de

alavancar o crescimento regional, mantendo o posicionamento periférico

desses lugares (CLEMENTINO, 1990; ARAÚJO, T., 1997; ARAÚJO, D., 2010;

ROCHA, 2013).

O desafio identificado para o Rio Grande do Norte é não repetir o erro de

atividades econômicas anteriores à produção de energia renovável. Ou seja, de

que forma os territórios ocupados pela atividade eólica, os quais recebem

grandes quantias de investimentos para as suas instalações, podem se

beneficiar ao ponto de reduzirem o cenário periférico no qual se encontram?

Neste trabalho apresenta-se, como principal hipótese, que apesar dos

elevados investimentos, como é o caso da energia eólica no Rio Grande do

Norte, ocorre uma baixa interação com a dinâmica regional local, não

contribuindo para a diminuição de problemas estruturais, sociais e econômicos

de uma região periférica.

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Assim, o objeto desta investigação deste trabalho é a energia eólica

como proposta de desenvolvimento local, em especial em regiões periféricas

como o Rio Grande do Norte. Propõe-se, como centro da análise, a relação

entre os investimentos eólicos e os territórios estudados.

Em 2005, foi outorgada a construção dos parques eólicos no Rio Grande

do Norte, iniciando assim um ciclo dinâmico específico da economia regional.

Considerando que a produção de energia eólica se constituiu como uma nova

proposta de desenvolvimento do estado, o objetivo principal desta dissertação

é analisar a dinâmica socioeconômica do Rio Grande do Norte a partir da

Economia das Eólicas (2002-2015). Ademais, a principal justificativa dos

mecanismos governamentais e de investidores do setor energético para a

instalação de parques eólicos é que esse movimento alavanca o progresso.

Portanto, como intuito de embasar esta análise, apresentam-se, como objetivos

específicos:

• averiguar qual a relação da Economia das Eólicas como a

construção do desenvolvimento sustentável;

• analisar como a Economia das Eólicas enquanto setor produtivo

surge no plano internacional e como se insere na periferia;

• analisar como a Economia das Eólicas atua no desenvolvimento

local, ou seja, como o Rio Grande do Norte, ao receber

investimentos na atividade, é capaz de mudar o seu quadro de

região periférica; e

• identificar como e se o formato dos investimentos dos parques

eólicos no estado possui capacidade de alavancar o

desenvolvimento regional.

Esta investigação justifica-se pelo recente movimento de implantação de

novas matrizes energéticas, sustentáveis ambientalmente, em regiões

periféricas com estruturas produtivas incipientes e frágeis indicadores sociais.

É importante analisar como uma nova atividade produtiva, com elevados

investimentos, pode ser desenvolvida em regiões que historicamente são

sustentadas por resultados produtivos limitados.

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Ademais, a corrente dissertação está integrada à pesquisa “Diagnóstico

socioeconômico em territórios ocupados pela energia eólica no litoral do polo

Costa Branca do Rio Grande do Norte” (FIGUEIREDO; SILVA, 2015),

financiada pelo edital Chamada MCTI/CNPQ/MEC/CAPES nº 22/2014,

associada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e à

Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

1.1 Metodologia

Para melhor compreensão de como se desenvolve uma região periférica

como o Rio Grande do Norte, adotou-se como plataforma metodológica o

método de investigação histórico-estruturalista (FURTADO, 1979;

RODRIGUEZ, 2009). Nesse paradigma metodológico, os fatos históricos

modificam as estruturas sociais, políticas e, notadamente, as econômicas. A

pesquisa parte da análise dos fatos históricos que se manifestaram em

diferentes períodos impactando positiva ou negativamente as estruturas

produtivas e sociais. Neste trabalho, o recorte temporal ocorre entre os anos

2002 e 2015.

A análise começa em 2002 por ser o ano em que se iniciam as primeiras

prospecções de projetos de parques eólicos na região estudada. O ano de

2015 foi escolhido como período final por registrar o último parque eólico a

entrar em operação no Rio Grande do Norte. Apesar da delimitação do referido

período, será realizada uma revisão de décadas anteriores, partindo de 1960,

quando há a maturação de estruturas produtivas tradicionais da região. Esta

retrospectiva se faz necessária para entender como estas diversas estruturas

interagem com o novo setor econômico – energia eólica – na atualidade.

O método histórico-estruturalista, desenvolvido pela escola de

pensamento econômico e social latino-americano3, compreende analisar um

modelo de uma matriz estrutural econômica incorporando fatores não

econômicos. Ou seja, quando as estruturas econômicas dos municípios

3 Fortemente influenciado pela escola de pensamento formada pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), em especial por Celso Furtado e Raúl Prebisch.

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produtores de energia eólica forem analisadas neste trabalho, também serão

considerados, para a caracterização de seus territórios, os fatores políticos e

sociais.

Assim, o modelo estrutural econômico localizado em determinado tempo

e espaço possui uma concretude histórica e social. Este método investigativo

apresenta-se bastante apropriado para as sociedades periféricas, como Rio

Grande do Norte, por objetivar caracterizar as diferentes estruturas econômicas

e seus distintos graus de desenvolvimento.

Seguindo as considerações de Furtado (1979), sobre o método histórico-

estrutural de análise, serão considerados dois vetores de variáveis endógenas

e exógenas ao modelo. É importante deixar claro que aqui não se trata de um

modelo matemático, mas de análise econômica estrutural. Isto é, o

comportamento das varáveis econômicas depende, em grande medida, dos

parâmetros não econômicos e a natureza destes pode modificar-se

significativamente em fases de rápida mudança social. Como Furtado (1979, p.

83) chama a atenção, “essa observação é pertinente com respeito a sistemas

econômicos heterogêneos, social e tecnologicamente, como é o caso das

economias subdesenvolvidas”.

1.2 Procedimentos Metodológicos

Para este trabalho, adotaram-se os seguintes procedimentos

metodológicos: Revisão da Literatura; Visita de Campo; e Consulta e análise de

documentos.

1.2.1 Revisão da Literatura

Para a consubstanciação teórica da pesquisa, foi realizada uma revisão

da literatura a respeito da inserção de energia eólica no contexto conceitual de

desenvolvimento econômico, desenvolvimento regional/local e

desenvolvimento sustentável e sobre a formação econômica potiguar.

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Seguindo a escola de pensamento cepalino, adotaram-se conceitos que

auxiliaram na análise, tais como:

a) Países Centrais e Periféricos: A tipologia “centro-periferia” foi

formulada por Raúl Prebisch (2000) para redefinir os diferentes

papeis desempenhados por dois setores do sistema capitalista. O

“centro”, que primeiro assimila o desenvolvimento técnico, possui

uma estrutura diversificada e integrada, especializada em

produtos industriais; a “periferia” tem um caráter unilateralmente

desenvolvido devido à existência simultânea de setores

“desenvolvidos” e “atrasados”, e seu papel principal é a produção

de matéria prima. Prebisch (2000) ressalta que os termos “centro”

e “periferia” não podem ser intercambiáveis com

desenvolvimento-subdesenvolvimento, o “centro” será sempre

desenvolvido, contudo poderá haver periferias desenvolvidas,

como no caso da Austrália e da Nova Zelândia. Já a noção de

desenvolvimento não implica somente na hierarquização de

nações dentro de um sistema global, mas o inevitável recorte

regional em cada país. Optou-se, neste trabalho, a designação

teórica de Centro-Periferia. A inserção dos Parques Eólicos no

Rio Grande do Norte acontece com a inserção do capital em uma

região periférica com histórico de baixíssimo nível de inversões

produtivas.

b) Desenvolvimento econômico: um fenômeno social notoriamente

histórico (FURTADO, 2009). Está diretamente relacionado ao

processo de civilização da humanidade ou, mais precisamente, ao

processo de humanização visto que, ao fim do resultado da

produção, as nações deveriam se encontrar com o mundo das

mercadorias e, a partir de então, possibilitar a estratificação social

com maior e melhor reprodução física e intelectual de suas

populações.

c) Desenvolvimento Sustentável: o conceito deve ser compreendido

para além dos efeitos preservacionistas e conservacionistas do

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meio ambiente, presentes em diversas interpretações nas

Ciências Humanas e Sociais. O desenvolvimento sustentável é

um processo que, ao passo que transforma o meio físico em prol

do bem comum, requer a reprodução ininterrupta dos biomas

regionais como um princípio ético que se sobrepõe à simples

acumulação capitalista pela exploração irracional das riquezas

naturais. Principais autores utilizados: Furtado (1974); Sachs

(1993); Veiga (2005).

d) Políticas de Incentivo: a partir de List (1983), as políticas de

incentivos funcionam como instrumentos de intervenção

econômica que busca dotar determinada localidade, região ou

país de possibilidades capitalistas de crescimento. Esse

instrumento geralmente compõe um pool mais abrangente de

políticas intervencionistas, sendo de grande significância para a

atração do capital para áreas carentes da ação desse agente

econômico.

e) Desenvolvimento Local: esse desenvolvimento passou, da última

década do século XX aos dias de hoje, a ser foco de ação das

instâncias subnacionais/governamentais (entes federados e

municípios), devido ao maior afastamento da instância federal da

administração e condução de políticas universais de crescimento

e de desenvolvimento econômico. (OHMAI,1996; CASSIOLATO;

LASTRES, 2005; BRANDÃO, 2007)

f) Tecnologia: De acordo com Shumpeter (1985), esse fator de

produção é aqui entendido como variável que possibilita a

independência produtiva, aumentando, por um lado, a produção e

a produtividade, deslocando os preços relativos para baixo e

viabilizando maior acesso dos agentes econômicos à massa de

riqueza produzida. Por outro lado, é um fator que acirra os

conflitos de classes sociais, sobretudo entre o capital e o trabalho,

dado que sua utilização aguça a situação conjuntural de

desemprego.

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g) Formação Econômica Potiguar: Segundo os principais autores

sobre a formação econômica potiguar - Cascudo (1955),

Clementino (1985, 1990) e Araújo (2010) – elaborou-se nesse

trabalho um breve histórico sobre a formação socioeconômica das

microrregiões eólicas do estado.

1.2.2 Visita de Campo

Nos dias 7 e 8 de abril de 2016, foi realizada uma visita de campo aos

municípios de Areia Branca, Serra do Mel, Porto do Mangue, Grossos, Tibau e

Mossoró. A visita foi uma atividade da pesquisa “Diagnóstico Socioeconômico

em Territórios Ocupados pela Energia Eólica do Polo Costa Branca do Rio

Grande do Norte” (FIGUEIREDO; SILVA, 2015), cujo objetivo era analisar, de

forma empírica, a relação entre desenvolvimento, território e energia renovável

nos municípios do Polo Costa Branca do Rio Grande do Norte que receberam

parques de geração de energias eólicas. Como a autora do presente trabalho

integrou o corpo de pesquisadores, apurou dados relevantes para compor esta

dissertação. Dentre os procedimentos metodológicos trabalhados na visita de

campo, utilizou-se no presente trabalho a Observação Empírica.

A observação empírica consiste em levantar dados sobre determinado

assunto, apurando informações preliminares. Este método gera aprendizado,

uma vez que se obtém conhecimento através das experiências vividas para

obter conclusões (RICHARDSON, 2012). Os instrumentos utilizados para a

apuração de informações na visita de campo foram registros fotográficos (que

se encontram no Apêndice B) e diário de campo.

No caso do corrente trabalho, o objetivo da aproximação da realidade do

objeto estudado, energia eólica, é evidenciar os parâmetros não econômicos,

aprimorando a análise posterior dos dados quantitativos coletados. A

observação empírica do cenário socioeconômico da região, realizada por meio

da visita de campo, foi importante para a escolha e análise dos dados

quantitativos trabalhados nessa dissertação.

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1.2.3 Consulta e análise de documentos

Foram analisados documentos oficiais, através de relatórios gerados

tanto pelo Governo do Estado quanto por órgãos nacionais responsáveis pelo

setor energético, sobre a proposta de desenvolvimento sustentável através de

energias renováveis.

Para a construção da matriz estrutural do objeto de análise, o estudo

recorreu a dados quantitativos sociais e econômicos. Para tanto, foram

utilizados como fontes o banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e dados do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEADATA), como demonstra o Quadro 1.

BANCO DE DADOS DESCRIÇÃO

IBGE-IPEADATA População total, urbana e rural.

RAIS Emprego Formal e Estabelecimentos Produtivos.

ANEEL Empreendimentos Eólicos em Construção, em Construção

Não Iniciada e em Operação.

Quadro 1 – Relação dos bancos de dados quantitativos coletados e descrição Fonte: Elaborado pela autora.

Para a organização dos dados coletados, foram mapeados no Rio

Grande do Norte os municípios que possuem empreendimentos eólicos em

operação, em construção e/ou construção não iniciada até a data de 23 de

janeiro de 2017. Consideram-se, para fins de análise, os municípios que estão

nessas condições como integrantes das regiões eólicas potiguares. Para a

definição dessas regiões eólicas utilizou-se a metodologia do IBGE (1990) para

a divisão das microrregiões do país, utilizando-se os indicadores básicos de

estrutura de produção e interação espacial.

Portanto, respeitando a metodologia do IBGE (1990) para divisão de

microrregiões e seguindo a estrutura de produção e interação espacial, foram

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elencados os municípios que possuem relação com a atividade de parques

eólicos, criando as Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte. Veja a

classificação no quadro a seguir:

MICRORREGIÃO MUNICÍPIOS JUSTIFICATIVA

MOSSORÓ-MACAU Tibau; Areia Branca; Serra

Do Mel; Macau; Guamaré;

Galinhos.

Possui municípios originais

de duas microrregiões

originais da classificação

do IBGE (1990), as

microrregiões Mossoró e

Macau.

BAIXA VERDE São Bento Do Norte;

Pedra Grande; Parazinho;

Jandaira; João Câmara;

Jardim De Angicos.

Foram integrados à

microrregião de Baixa

Verde os municípios de

Jardim de Angicos

(Angicos), Pedra Grande

(Litoral Nordeste) e São

Bento do Norte (Macau).

LITORAL NORDESTE São Miguel do Gostoso;

Touros; Rio Do Fogo;

Maxaranguape; Ceará-

Mirim.

Integrou a microrregião

Litoral Nordeste o

município de Ceará-Mirim,

que apesar de participar

da Região Metropolitana

de Natal sua estrutura

produtiva, se integra com o

Litoral Nordeste.

SERRA DE SANTANA Santana do Matos; Bodó;

Cerro Corá; Lagoa Nova;

Tenente Laurentino Cruz.

Todos os municípios

selecionados participam da

microrregião Serra de

Santana.

Quadro 2 – Municípios das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte Fonte: Elaborado pela autora

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1.3. Estrutura dos capítulos

O trabalho está dividido em seis partes, incluindo a corrente introdução e

as considerações finais. No capítulo 2, “Energia eólica como proposta de

desenvolvimento”, busca-se confrontar os discursos oficiais sobre

desenvolvimento socioeconômico e sustentável com os fatos históricos de

implementação e atuação da Economia das Eólicas. Para tanto, a seção foi

dividida em três partes. Na primeira delas, “2.1 O desafio do Desenvolvimento

Sustentável”, realiza-se uma leitura crítica acerca do conceito de

sustentabilidade ambiental confrontando o conceito teórico com os discursos

de organizações internacionais sobre o tema. No segundo subcapítulo, “2.2

Economia das Eólicas no cenário internacional”, busca-se compreender como e

por que surge a produção energética eólica. No terceiro, “2.3 Energia eólica

nos países periféricos”, pretende-se responder o porquê do atraso da periferia,

frente aos países centrais, em entrar nesse setor energético.

O terceiro capítulo, “Economia das Eólicas no desenvolvimento local”,

analisa de que forma os investimentos locais modificam as estruturas

produtivas regionais. Para atender a este objetivo, dividiu-se o capítulo em

duas partes, na primeira, “3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional” é

realizada uma revisão dos principais investimentos feitos na região Nordeste

que foram capazes de modernizar as suas estruturas produtivas. Na segunda

parte, “3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos”, desenvolve-se

uma revisão teórica sobre desenvolvimento local e a relação com

empreendimentos eólicos, objetivando compreender a capacidade

transformadora dos investimentos eólicos no local.

No quarto capítulo, “Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte”

objetiva-se identificar as atividades produtivas tradicionais da região até a

inserção das eólicas no contexto mais atual. Para isso, o capítulo foi dividido

em quatros partes, descrevendo a análise de cada uma das microrregiões: 4.1

Mossoró-Macau; 4.2 Baixa Verde; 4.3 Litoral Nordeste e 4.4 Serra de Santana.

No quinto capítulo, “Vicissitudes e limites da economia potiguar a partir

da produção de energia eólica”, objetiva-se identificar como e se o formato dos

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investimentos em parques eólicos no estado possui capacidade de alavancar o

seu desenvolvimento socioeconômico. Para tanto, dividiu-se em duas partes

este capítulo. A primeira, “5.1 Políticas Locais de Incentivos a Economia das

Eólicas”, trata-se de verificar se de acordo com os programas de incentivos

locais ao desenvolvimento, o cenário atual de produção de energia eólica no

Rio Grande do Norte está alcançando as metas estabelecidas pelos

programas. Na segunda parte, “5.2 Economia das Eólicas e Integração

Regional: Os papéis de Natal e Mossoró”, verificou-se também se a economia

das eólicas no estado promove integração regional e setorial.

Nas Considerações Finais, são apresentadas algumas conclusões

importantes sobre as principais discussões estabelecidas acerca do objeto de

estudo desta pesquisa.

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2 ENERGIA EÓLICA COMO PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO

Historicamente, o capital sempre prevaleceu sobre o bem-estar social e

o meio ambiente (FURTADO, 1974). Contudo, as sociedades capitalistas

buscam para seus territórios um desenvolvimento econômico que englobe

tanto os fatores sociais quanto os ambientais. Este desafio tem aumentado nos

últimos anos, principalmente com a necessidade de reestabelecer o equilíbrio

dos recursos naturais do planeta.

Os limites dos recursos energéticos, responsáveis por alimentar a

produção capitalista, somados aos impactos ambientais das diversas fontes

têm sido alvo de preocupações. Como forma de ampliar o debate da questão

ambiental, as fontes energéticas renováveis tornam-se oportunas no debate do

desenvolvimento sustentável.

Compreendendo os desafios para administrar melhor o uso dos

recursos, são analisadas neste capítulo – por meio de uma revisão acerca dos

principais debates sobre o desenvolvimento sustentável –, as principais

políticas de incentivo ao setor de energia renovável por fonte eólica e de qual

forma esse setor se insere no cenário econômico.

2.1 O desafio do Desenvolvimento Sustentável

O desenvolvimento econômico está diretamente relacionado ao

processo de civilização da humanidade ou, mais precisamente, ao processo de

humanização, dado que, ao fim do resultado da produção, as nações deveriam

se encontrar com o mundo das mercadorias e, a partir desse ponto, possibilitar

uma maior e melhor reprodução física e intelectual de suas populações.

Em que pese a importância científica de autores como Araújo (1997),

Cano (2008) e Furtado (2009), os quais argumentam que a renda e a riqueza

foram melhor desenvolvidas em sociedades periféricas nas fases em que o

crescimento do produto foi constante, não são esporádicos os equívocos

cometidos quando se associa desenvolvimento econômico ao crescimento da

riqueza, produto, entendendo os diferentes fenômenos como iguais. No

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entanto, deve ser observado que o crescimento da riqueza pode ser um

excelente ponto de partida para se atingir o desenvolvimento econômico, mas

tributar, no capitalismo, que o crescimento da riqueza é suficiente para alcançar

o desenvolvimento é contribuir para ‘fetichizar’ ainda mais o difícil percurso das

sociedades, que buscam incessantemente a estratificação econômica e social.

Dentre as problemáticas socioeconômicas associadas ao modelo de

desenvolvimento pautado na produção destaca-se a questão ambiental. O ano

de 1972 ficou marcado por uma relevante preocupação internacional: o Planeta

Terra mostrava sinais de saturação dado o alto grau de entropia4 que foi

submetido durante séculos de exploração humana sobre os seus estoques de

recursos naturais5. Havia evidências científicas de que se o uso abusivo dos

recursos naturais continuasse no ritmo em que vinha se processando, não

apenas os recursos essências à vida estariam fortemente ameaçados, mas

também os ecossistemas, criando um desequilíbrio sem registro entre os

diferentes biomas existentes na terra (SACHS, 1993).

Estocolmo6 foi a sede desses debates que, apesar de não terem

apresentado uma solução real e efetiva à preocupação apontada

anteriormente, colocou na pauta do debate internacional um problema que

afetaria não somente a humanidade (pobres e ricos), mas o planeta. Ademais,

a questão da poluição foi admitida pela primeira vez como resultante de um

modus operandi próprio da produção e consumo em massa de mercadorias

destinadas ao consumo humano.

A análise do problema da poluição e suas consequências sobre a

biodiversidade terrestre fez do encontro de Estocolmo um avanço no sentido de

que não se caiu no fosso da conclusão fatalista de que o homem é o maior e

único depredador do meio ambiente. Estava-se admitindo, embora não

explicitamente, que uma forma específica de exploração dos recursos naturais

4 Grau de esgotamento do uso dos recursos naturais. Conceito desenvolvido na ciência econômica por Georgescu-Roegen (1971). Ver em Mueller (2005) o debate dos economistas sobre sustentabilidade por meio da análise Georgescu-Roegen. 5 Oficialmente, o encontro de 1972 foi registrado como Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. Ver mais sobre o assunto em Sachs (1993). 6 Para compreender a relação das discussões sobre sociedade e meio ambiente desencadeadas pelas Conferências Internacionais sobre o Meio Ambiente (De Estocolmo a Rio +20) ver Figueiredo e Cruz (2013).

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para a produção e o consequente consumo em massa de mercadoria –

portanto, de uma forma específica de sociedade – era a responsável pela

imoderação de tais limites planetários.

Essa forma de organização social e o modo de produzir mercadoria

eram (e são) os responsáveis pela aceleração da exaustão dos estoques

naturais e pela elevada massa de poluentes liberados na atmosfera, nos rios,

nos mares, nas florestas etc.

Não parecem ter sido esses os efeitos da produção para a reprodução

da vida em organizações sociais e modos de produção anteriores ao modo de

produção capitalista. Polany (2000) chama a atenção para a existência de

organizações sociais mais humanitárias, nas quais o valor de uso era a razão e

a motivação inicial da produção e da distribuição equitativa como uma prática

natural de existência social.

A natureza é imprescindível à reprodução e a própria existência da vida

humana no planeta. Desde os primórdios da humanidade, o homem tem

utilizado as riquezas naturais disponíveis para tornar a vida mais confortável e

longeva. Todavia, em sua origem, a utilização dos estoques dos recursos

naturais (fauna, flora, rios, mares, ventos etc.) tornou-se ameaçada na medida

em que a população cresceu e, pari passu, cresceu de forma desordenada e

predatória à exploração do meio ambiente.

A utilização do meio ambiente como fornecedor de matérias primas e

bens intermediários necessários à produção de outros bens e mercadorias para

o mercado, supostamente necessários e imprescindíveis à vida humana, é

próprio da organização social, cujo fim é a obtenção do lucro e não da vida

humana. Por esta razão, por que admitir os discursos presentes nas

convenções internacionais sobre o meio ambiente, da Convenção de

Estocolmo à Rio +20, no sentido de que o modo de produção e consumo

capitalista e a questão ambiental têm solução e contribuem para o

desenvolvimento assim como o desenvolvimento coopera para a solução dos

problemas ambientais?

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Não se está afirmando que as Convenções de Estocolmo (1972), Rio-92,

Johanesburgo (2002) e Rio + 20 (2007) foram em vão. Muito pelo contrário,

esses encontros expuseram os principais países capitalistas – notadamente os

centrais – à comunidade internacional como os maiores poluidores do planeta e

tornou-se ação de ordem a exigência de que tais nações adotassem medidas

mitigadoras e preventivas. Principalmente quanto aos gases expelidos na

atmosfera, resultantes de padrões de produção com base na queima de

petróleo, carvão e uso indiscriminado da energia elétrica proveniente de hidro e

termelétricas etc. A própria Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE)7 admitiu o tamanho da irresponsabilidade

dos países centrais com o meio ambiente no início dos anos de 1990. Observe-

se:

O abismo entre o Norte e o resto do mundo se evidencia no fato de os países da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento – OCDE, com 16% da população do mundo e 24% da área terrestre, concentra 72% do produto bruto global, 73% do comércio internacional, 78% de todos os automóveis e 50% do consumo de energia. Ao mesmo tempo, respondem por 45% das emissões totais de óxido de carbono, 40% das de óxido sulfúrico, 50% das de óxido de nitrogênio e 60% da de emissão de resíduos industriais (OCDE, 1991 apud SACHS, 1992, grifos nosso).

Ao verificar as estatísticas registradas na citação acima, percebe-se que

a questão é difícil de ser resolvida priorizando ou o meio ambiente ou o

desenvolvimento capitalista. O capital produtivo e financeiro, que tem como

mira o lucro, não questiona os limites físicos do planeta, dado o fino trato que

têm com o curto prazo dos seus empreendimentos que, dilapidando o

patrimônio natural em nome do desenvolvimento para todos, apressam o

esgotamento dos recursos naturais e não renováveis.

Como bandeira positiva, afirma-se que o capital criou e tem a

capacidade de recriar novas tecnologias que podem ser – mas, nem sempre

7 A OCDE é uma organização internacional composta por 34 países de elevado PIB per Capita e Índice de desenvolvimento Humano (IDH), considerados países desenvolvidos. Entre os princípios desta organização estão a democracia representativa e a economia de livre mercado. Para saber mais sobre a OCDE, visite: <http://www.sain.fazenda.gov.br/assuntos/politicas-institucionais-economico-financeiras-e-cooperacao-internacional/ocde>.

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são – usadas para corrigir os males, as deficiências, as incongruências do

modelo econômico praticado para desenvolver os países. Essa bandeira tem

sido deveras apreciada e bem vinda à conciliação do meio ambiente com o

desenvolvimento acrítico por certo número de cientistas de diversas áreas do

conhecimento, por políticos, por diversas instituições internacionais, por ONGs

etc.

Os argumentos em defesa da conciliação entre natureza e produção têm

como base dois pontos fundamentais: 1) não se pode congelar o meio

ambiente poupando-lhe de exploração racional e recorrentemente corrigível,

dado que existem tecnologias e técnicas de manipulação que são suficientes

para não pô-lo em risco e 2) não é justo privar a humanidade das benesses do

desenvolvimento derivado da utilização responsável dos recursos naturais.8

Como é possível observar, os argumentos são aparentemente relevantes do

ponto de vista científico e político e socialmente corretos dado o apelo de

inclusão de populações, regiões e países em uma dinâmica qualitativamente

diferenciada à dinâmica do desenvolvimento sustentável, ao menos como se

passou a entender a manifestação desse fenômeno desde Estocolmo.

Entretanto, deve-se observar que a nova tecnologia não tem poupado a

humanidade de catástrofes ambientais. Apesar do reconhecido avanço na

interpretação e na tentativa de correção dos males advindos do uso

inadequado dos recursos naturais, as ações com base no conceito de

desenvolvimento sustentável não pouparam a humanidade dos desastres

provenientes da exploração de tais recursos. Como exemplos desses

desastres registram-se os casos dos acidentes nucleares e químicos de Three

Mile Island, Chernobyl, Bhopal, o encolhimento do Mar de Aral, o aquecimento

global da atmosfera e o efeito estufa. No Brasil, recentemente (a partir dos

anos 2000), iniciaram-se um sem número de iniciativas dilapidadoras do meio

ambiente9, mas para o momento basta citar como exemplos o desmatamento e

8 Tanto autores neoclássicos e heterodoxos, que tratam sobre o tema desenvolvimento e meio ambiente, possuem essa perspectiva. Nesse trabalho utilizamos foram utilizados como referência autores heterodoxos, por exemplo Ignacy Sachs e Celso Furtado, que apontaram os citados pontos. 9 No Brasil existem diversos trabalhos que alertam para as ameaças do avanço da agropecuária nas regiões de cerrado e da floresta amazônica. Ver Klink; Machado (2005) e Cunha (2008).

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as queimadas das florestas nacionais e o rompimento da Barragem de

Mariana, em Minas Gerais10.

O fato é que o desenvolvimento econômico sob o modo de produção

capitalista não é compatível com a ação e o conceito de desenvolvimento

sustentável, nem nos poluidores países centrais nem nos países periféricos,

ainda carentes de tecnologia e de consciência ecológica. Quanto aos países

centrais, não são, não devem ser e nem podem ser exemplos de

desenvolvimento sustentável dado sua enfática participação poluidora do

mundo. Ademais, Sachs (1993) foi detalhista ao registrar o definhamento em

processo da arquitetura social do Centro, resultando em uma geografia sócio-

espacial preponderantemente urbana – mas também rural – eivada de

problemas estruturais:

[...] convém lembrar que o modelo do Norte não pode ser considerado um sucesso. A proliferação dos guetos intra-urbanos, a deterioração dos subúrbios, o agravamento dos processos de exclusão e segregação social associados ao desemprego crônico, as tensões raciais e étnicas, a violência urbana, o consumo de drogas e a quase falência de algumas das cidades mais ricas, incapazes de assegurar um mínimo de serviços sociais para as populações marginalizadas, não recomendam especialmente a experiência dos países industrializados na gestão de suas cidades (SACHS, 1993, p. 31).

A periferia, de acordo com Sachs (1993, p.35), “prioriza o

desenvolvimento alertando para o perigo de imposições descabidas”, isto é,

para os perigos da degradação ambiental. Todavia, inexiste em Sachs (1993) o

entendimento que o Centro não questiona o modelo econômico em sua

essência. Obviamente que o não questionamento do modelo econômico

vigente, tanto no período em que o autor escreveu esse texto quanto agora,

nos anos 2000, não ofusca sua interpretação da necessidade de um

desenvolvimento sustentável urgente. Contudo, o que se pretende indagar

neste texto é que sem esse questionamento – também inexistente nesse livro

10 Sobre o caso do acidente na cidade de Mariana, MG, ver o Relatório desenvolvido pelo

Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS, 2015).

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do Sachs (1993) e nos Policy Makers, bem como nos mundialmente

conhecidos Global Players – é possível alcançar de forma duradora o

desenvolvimento sustentável sob o modo de produção e consumo capitalista?

Se o desenvolvimento sustentável requer a harmonização entre o

crescimento econômico com o meio ambiente, de forma a beneficiar os

ecossistemas existentes no planeta, garantindo maior justiça social pela

integração e inclusão social nesse processo, é no mínimo duvidosa a

concretização desse conceito no modo de produção e consumo capitalista. Isso

só será em parte possível se os menos abastados da sociedade, os excluídos,

partirem para o conflito direto com o capital. Ora, como esperar

desenvolvimento sustentável sem reforma agrária (incluindo massas

crescentes de sem-terra) e sem reforma urbana (incluindo massas crescentes

de sem-teto)? E os desempregados, urbanos e rurais?

Sachs (1993) coloca essas e outras necessidades de mudanças na

relação dos seres humanos com o meio ambiente. Todavia, essa evolução

necessária não ocorrerá bastando reformar instituições e criar outras novas. É

preciso reconhecer que o modelo de desenvolvimento pautado na produção

deve ser repensado.

Desde quando Sachs (1993) publicou “Estratégias de Transição Para o

Século XXI: desenvolvimento e meio ambiente”, a preservação e a

conservação do meio ambiente foi colocada em prática e, sob muitos e

complexos aspectos, com sucesso relevante. Não obteve o mesmo alcance o

outro lado do desenvolvimento sustentável: a inclusão social.

Nos discursos e documentos oficiais das Nações Unidas não se

encontra uma crítica ao modelo dilapidador do meio ambiente, mas uma

intrínseca apologia à harmonia entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

Observe o trecho do documento “O futuro que queremos”, resultado da

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio

+20:

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Nós temos consciência que, para realizar um progresso significativo na direção da criação de economias verdes serão necessários novos investimentos, formação de novas habilidades, desenvolvimento, transferência e acesso a tecnologias, e fomentação de capacidade em todos os países. Nós reconhecemos em particular que precisamos oferecer apoio a países em desenvolvimento nesse sentido e concordamos em: a) Oferecer fontes de financiamento novas, adicionais e ampliadas para países em desenvolvimento; b) Lançar um processo internacional para promover o papel de instrumentos de financiamento inovadores para a criação de economias verdes; c) Eliminar gradualmente subsídios que exerçam efeitos consideravelmente negativos sobre o meio ambiente e sejam incompatíveis com o desenvolvimento sustentável, complementado com medidas para proteger grupos pobres e vulneráveis; d) Facilitar a pesquisa colaborativa internacional de tecnologias verdes envolvendo países em desenvolvimento, assegurando que as tecnologias desenvolvidas desse modo continuem sendo de domínio público e estejam disponíveis para países em desenvolvimento a preços acessíveis; e) Encorajar a criação de Centros de Excelência como pontos nodais para P&D de tecnologia verde; f) Apoiar cientistas e engenheiros e instituições científicas e de engenharia de países em desenvolvimento para fomentar seus esforços no desenvolvimento de tecnologias verdes locais e usar o conhecimento tradicional; g) Estabelecer um esquema de desenvolvimento de capacidade para oferecer aconselhamentos específicos para cada país e, quando apropriado, aconselhamentos específicos para cada região e setor. (ONU, 2012, p.8)

Alinhados com o discurso das Nações Unidas de preservação ambiental

e da necessidade de expansão da matriz energética, torna-se ainda mais

imperativo verificar se a introjeção das eólicas em regiões periféricas

contempla ao mesmo tempo a conservação do meio ambiente com cooperação

para a eliminação, mesmo que parcial, das desigualdades sociais. Nos tópicos

seguintes tratar-se-á da introjeção da energia eólica para além de uma

alternativa energética, mas como atividade econômica nos países centrais e

periféricos.

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2.2 Economia das Eólicas no cenário internacional

Para além do debate ambiental fortalecido em Estocolmo (1972), na

década 1970, as discussões acerca das novas Fontes Renováveis de Energia

foram postas em relevo com a Crise do Petróleo, em 1973. A partir desse ano,

a questão ambiental deixou de ser o único motivo que fortalecia o argumento

para os investimentos em fontes renováveis de energia. Observa-se que as

questões econômicas e políticas têm fomentado a defesa de incentivos à

produção energética nos países centrais e periféricos.

Durante o debate estabelecido em Estocolmo (1972), os países já

estavam cientes da crise energética petrolífera que se aproximava. Portanto,

para além da questão ambiental, revela-se mais uma vez a forte defesa do

sistema produtivo (alimentado pelo uso desenfreado dos recursos naturais),

que encontrava limites para o seu crescimento. A segurança energética é um

dos pilares para o desenvolvimento econômico no sistema capitalista. Como a

energia é um fator de produção essencial, estavam no centro das discussões

internacionais os limites das fontes energéticas tradicionais e a importância nas

fontes energéticas renováveis (PIMENTEL, 2011).

Pode-se afirmar que a crise do Petróleo de 1973 estabeleceu e agudizou

um longo conflito dos países da Organização dos Países Exportadores de

Petróleo (OPEP)11 com os países do Ocidente (maiores consumidores de

petróleo12). Esse conflito ficou marcado, sob o ponto de vista da análise

econômica, como responsável pela elevação do preço do barril e

consequentemente pela diminuição, em escala internacional, dos processos de

desenvolvimento econômico, principalmente das nações capitalistas ocidentais,

conforme o Gráfico 1.

11 Países que compõem a OPEP por Continentes: Oriente Médio: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Kuwait e Qatar; África: Angola, Argélia, Líbia e Nigéria; América do Sul: Equador e Venezuela.

12 Maiores consumidores de petróleo do Ocidente: Estados Unidos e Europa.

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Gráfico 1 – Preços do Petróleo Bruto em Dólares (1971-1980) Fonte: Macrotrends (2016)13

Essa crise, em certa medida, contribuiu para que as instituições e os

organismos desenvolvimentistas – os Estados Nacionais; o Banco Mundial, o

Fundo Monetário Internacional; a OCDE, a ONU, dentre outras agências

públicas e privadas – qualificassem os seus argumentos sobre a problemática

energética em âmbito internacional. Até esse período, as principais estruturas

produtivas faziam o uso intensivo de combustíveis fósseis. Sendo assim, os

países do centro dinâmico do capitalismo foram obrigados a inovar suas

estruturas de produção baseando-se em outras fontes de energia.

A substituição do uso dos combustíveis fósseis como fonte de energia

não é um processo simples. Ainda que seja a fonte energética mais poluidora

do planeta, os elementos que tornam esta fonte discutível vão além da questão

ambiental. Segundo Pimentel (2011), as outras fontes de energia em estágio

comercial (nuclear, eólica, solar, hidráulica) são alternativas, essencialmente,

para a produção de eletricidade, competindo mais com o carvão e o gás natural

do que com o petróleo.

A mudança de paradigma do petróleo não está em construção, pois o

petróleo para o planeta é uma questão de segurança energética, envolvendo

13 Disponível em: <http://www.macrotrends.net/1369/crude-oil-price-history-chart>. Acesso em: 7 de dez. 2016.

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poder geopolítico, econômico, cultural e bélico, elementos de disputa mundial

pela hegemonia (TAVARES, 1985).

As fontes de energias renováveis, apresentando-se mais como fontes

complementares do que alternativas, encontraram barreiras para o seu

desenvolvimento. A ampla difusão da tecnologia das fontes tradicionais e os

seus ganhos de escala criavam obstáculos à inserção de novas tecnologias

nos sistemas energéticos. Considerando que a questão energética é um

quesito de segurança nacional, um dos aspectos mais importantes para

independência e autonomia dos países, os gargalos para ampliação dos

investimentos em energias renováveis precisavam ser superados.

Desta forma, o Estado, nos diversos países, em busca de ampliar a

capacidade energética em seus territórios, cria políticas de incentivo à

produção de novas fontes de energias renováveis. É importante lembrar que

nos países centrais é forte o discurso de não intervenção do Estado na

economia, mas apoiados no debate da questão ambiental os países passaram

a investir na inovação dessa indústria nascente (CAMILLO, 2013).

Segundo Camillo (2013), as inovações no setor de energia eólica se

realizam por meio das políticas de inovação tecnológica e dos incentivos de

modernização contínua do mercado e da indústria. A autora, em sua tese “As

políticas de inovação da indústria de energia eólica: uma análise do caso

brasileiro com base no estudo de experiências internacionais” apresentou os

principais mecanismos de inserção e expansão da indústria de energia eólica

tanto em países centrais como em países periféricos, dividindo esses dois

grupos de nações entre pioneiros e seguidores.

A compreensão das políticas de inovação do setor eólico é importante,

pois ratifica como funciona o seu mercado. O mercado internacional do setor

eólico foi criado mediante uma demanda por novas fontes de energia.

Entretanto, a eólica encontrou barreiras à entrada no setor energético em geral

devido à existência de fontes tradicionais, como a hidroelétrica, as

termoelétricas e a extração de petróleo (PIMENTEL, 2011).

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As tecnologias energéticas tradicionais possuem vantagens competitivas

frente às novas fontes. Isso ocorre por já serem consideradas tecnologias

maduras. Desse modo, apresentam efeitos de aprendizado (learning by doing e

learning by using), ganhos de economia de escala, externalidades de rede

(resultante do crescimento da rede de usuários) e progresso técnico das

indústrias relacionadas (interdependência tecnológica) (CAMILLO, 2013).

Essas barreiras à insurgência de novas tecnologias funcionavam como

desestímulo à entrada de investidores no setor de energia eólica. Todavia,

como será apresentado à frente, foram criados incentivos que atraíram o

capital produtivo – nacional e estrangeiro – com inversões capazes de tornar a

energia eólica viável economicamente. Deve ser observado que a produção de

eólica surge com objetivos que vão além da questão ambiental, como por ser

viável, no curto e médio prazo, a acumulação de capital. A questão ambiental é

uma derivada da questão maior: o lucro.

Assim, as políticas de incentivo objetivam criar um ambiente competitivo

para a energia eólica frente às energias tradicionais. Com base em Camillo

(2013), construiu-se um quadro com as principais políticas de mercado: 1)

Sistema de Alimentação de Rede; 2) Sistema de Cotas; 3) Sistemas de Leilão.

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1) Sistema de

Alimentação de

Rede:

Essa política é conhecida na literatura internacional como Feed-in Tarrifs (FIT), a fixação dos preços da energia com base

na curva de aprendizado da tecnologia criará condições das tecnologias de energia eólica não maduras se tornarem

competitivas no longo prazo. O sistema apresenta a possibilidade de se impor tarifas específicas para cada tipo de fonte,

diferenciando, assim, os estágios de desenvolvimento de cada uma delas, embora também possa haver uma única tarifa

para todas. Desta forma, o setor se sente motivado a investir em P&D, reduzindo os custos de produção por kWh gerado;

2) Sistema de

Cotas:

É determinada uma meta às concessionárias de eletricidade para a produção e consumo de energia eólica. Este

mecanismo privilegia os grandes produtores e tecnologias mais maduras pois, como não há uma determinação do preço

de compra, as concessionárias procuram as mais baratas, que acabam sendo as tecnologias que estão mais próximas de

se tornarem mais competitivas. Dentro desse sistema, as concessionárias também podem alcançar suas metas com a

compra de certificados verdes. A certa quantidade de eletricidade resultante de recursos renováveis emite-se um

certificado (certificado verde), que se transforma em crédito, podendo ser comercializado entre as concessionárias.

3) Sistemas de

Leilão:

As tarifas pagas pelas concessionárias são definidas em certames, em um contrato de longo prazo de fornecimento de

energia e garantia de pagamento do montante outorgado. Esse sistema é o que apresenta maior proteção ao setor, com

preço e quantidades asseguradas no longo prazo garante-se a segurança da longevidade do investimento. Pela existência

desse alto grau de proteção, a incerteza em relação à rentabilidade do projeto, os custos de preparação para participar do

leilão e os custos de transação, em países com a indústria eólica mais desenvolvida esse sistema tem sido substituído

pelos anteriormente citados;

Quadro 3 - Principais Políticas de Mercado para energia eólica Fonte: Camillo, 2013. Elaborado pela autora

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Observa-se que a Economia das Eólicas, para além de possuir uma

vertente ambiental, que satisfaz a corrida internacional por fontes energéticas

menos poluidoras, apresenta atrativos para o investimento capitalista. Contudo,

vale ressaltar que esse setor foi alavancado devido às políticas desenvolvidas

pelo poder público que tornaram a atividade eólica competitiva frente às fontes

tradicionais.

Ressalta-se que, em um cenário de redução da participação do Estado

na intervenção das leis do mercado, o poder público amparou-se na ampla

discussão e importância dadas aos limites dos recursos naturais em âmbito

nacional e internacional para justificar a implementação de políticas de

incentivo à indústria energética nascente. Em que pese as pressões para um

Estado não interventor, defesa do mercado livre e competitivo, o setor eólico

recebeu incentivos para o seu desenvolvimento devido à necessidade de

ampliação de novas fontes de energia para contribuir com a segurança

energética nacional e com o melhor uso dos recursos naturais.

2.3 Energia eólica nos países periféricos

À semelhança dos países centrais, na periferia capitalista as

justificativas para os investimentos em empreendimentos eólicos vão além da

questão ambiental. A energia eólica passa a ser atrativa por ser um

investimento energético de curto/médio prazo para sua instalação (cerca de 3 a

5 anos para a construção dos parques), atendendo de forma breve a demanda

por eletricidade; pelos incentivos sobre o preço e ao avanço tecnológico do

setor e pela diminuição da dependência de petróleo e gás natural.

No período mais recente, constata-se que os investimentos em

empreendimentos eólicos nos países periféricos têm crescido mais do que nos

países centrais, com especial destaque para os BRICS, grupo de países em

desenvolvimento, formado em 2009, por Brasil, Rússia, Índia, China e África do

Sul, com o objetivo de criar políticas econômicas e financeiras para o

desenvolvimento de seus membros.

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No Gráfico 2, veja que as regiões do planeta que apresentaram taxas de

crescimento anual, de 2002 a 2012, da produção de eletricidade por fonte

eólica acima de 50% são América do Sul (51%), Europa Central (60,3%) e

Leste e Sudeste da Ásia (57,8%).

Gráfico 2 – Mundo – Taxa de crescimento anual (%) da produção de eletricidade por fonte eólica 2012/2002 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015). Elaborado pela autora

Apesar do pujante crescimento da produção eólica em países

periféricos, ainda é considerável a participação dos países desenvolvidos na

produção mundial de energia eólica (ver Gráfico 3). A justificativa para esse

cenário vai além do fato dos países periféricos entrarem no setor tardiamente,

mas pela forma como esses países incorporaram em seus limites a produção

de energia eólica.

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Gráfico 3 – Mundo - Participação (%) na produção mundial de energia eólica – 2012 Fonte: Fifteenth Inventory (2013) apud Macedo (2015)14. Elaborado pela autora

Na tese de Camillo (2013), é analisado o histórico de formação da

Economia das Eólicas em dois grupos de países: os pioneiros e os latecomers

(ou seguidores). Os países pioneiros foram aqueles que saíram na frente no

desenvolvimento do setor. Os latecomers foram aqueles que seguiram os

países pioneiros, incorporando as tecnologias já criadas pelos primeiros,

abrindo seus mercados e criando suas próprias políticas industriais. Essa

análise ajuda a entender como os diversos países se inseriram no setor. Vale

14 Na categoria “Outros” foram somadas as regiões: América Central e Caribe (0,7%); América do Sul (0,8%); Comunidade dos Estados Independentes (0,1%); África do Norte (0,4%); África Subariana (0%); Oriente Médio (0%).

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destacar que países periféricos, como o Brasil, ao ingressarem no setor de

energia eólica deixaram de cumprir etapas importantes para tornarem-se

independentes no ramo.

Esta pesquisa considera completa a cadeia produtiva da Economia das

Eólicas quando se desenvolvem, de forma concomitante, três etapas

importantes: tecnologia, indústria e mercado (ver Quadro 4).

Países Pioneiros Países Seguidores

Tecn

olo

gia

P&D

Pesquisa e Desenvolvimento: Busca pela viabilidade econômica e o aumento progressivo da confiabilidade da tecnologia

Centros especializados em energia eólica colaboram com a adaptação e a capacitação tecnológica

Estudos de Viabilidade

Programas demonstrativos e testes de campo: análise da viabilidade técnica, econômica e comercial

Programas de pesquisa em busca da autonomia tecnológica

Centros de Pesquisa e estações de testes

Líderes na realização e gerenciamento das atividades de P&D; Ponto focal na intervenção entre os atores da indústria

Estímulo à adaptação da tecnologia e incremento do processo de aprendizado tecnológico.

Indú

str

ia

Máquinas e Equipamentos

Fabricação do maquinário e dos equipamentos para produção de energia eólica

Importação de peças de máquinas e equipamentos e busca pelo domínio da tecnologia estrangeira

Construção, Transporte e conexão com a rede elétrica.

Construção de toda a infraestrutura para a implantação dos parques eólicos

Construção de toda a infraestrutura para a implantação dos parques eólicos

Me

rca

do

Distribuição Distribuição da produção ao sistema elétrico

Distribuição da produção ao sistema elétrico

Operação de Manutenção

Técnicos, conhecimento e peças de reposição para a manutenção do equipamento de geração de energia eólica

Técnicos, conhecimento e peças de reposição para a manutenção do equipamento de geração de energia eólica

Monitoramento da Produção e Vendas

Manutenção e busca por novos mercados

Manutenção e busca por novos mercados

Quadro 4 – Estrutura Completa da Economia das Eólicas Fonte: Camillo (2013). Elaborado pela autora

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O esgotamento da expansão eólica nos países centrais levou à busca

por novos mercados. Pela necessidade de ampliação do setor energético e por

ser um investimento de breve retorno, os países periféricos abriram suas portas

para o capital externo investir em energia eólica nos seus territórios. O principal

problema dessa abertura é a forma como tem acontecido, aprofundando a

dependência tecnológica e pouco contribuindo para o desenvolvimento

nacional (ver Figura1).

Figura 1 – Ciclo de Relação de Dependência Produtiva da Economia Eólica. Fonte: Elaborado pela autora

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Os países seguidores que foram bem-sucedidos no setor eólico quanto à

autonomia econômica e tecnológica, ao mesmo tempo em que abriam seus

mercados para os países pioneiros realizavam a transferência e/ou

licenciamento de tecnologia estrangeira como moeda de troca. Investiram em

programas de pesquisa por meio de fundos públicos e incentivos a P&D em

busca da autonomia tecnológica.

Desta forma, os países seguidores que se destacam no cenário

internacional no setor eólico buscaram desenvolver os três eixos importantes

para o setor. Enquanto isso, países que estão falhando em investir no eixo

tecnológico, investindo de forma insuficiente na indústria e focando no mercado

não conseguirão ser competitivos no setor eólico internacional, atuando como

espaços para a produção energética eólica sem autonomia tecnológica e

gerando lucros principalmente para o capital internacional.

Nesse contexto, com a alta dependência tecnológica e sem parte do

conhecimento industrial, os países seguidores marginais tornam-se meros

territórios receptores de investimentos com baixa integração local ao global,

sem a oportunidade de capturar os benefícios da implantação de uma indústria

eólica completa.

As principais benesses de um país possuir uma indústria eólica completa

estão na autonomia econômica para expandir a oferta para além de suas

fronteiras; na independência para modernização de suas tecnologias e na

segurança nas operações de manutenção por serem detentoras do

conhecimento científico-tecnológico.

No caso brasileiro, o principal programa de incentivo ao setor, o

Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA),

estabeleceu metas de crescimento ao setor por meio de um desenvolvimento

industrial desconectado com o contexto mundial, restando apenas a iniciativa

de políticas de incentivo ao mercado. A priorização das políticas de mercado

frente à indústria e à tecnologia foi de encontro com a estratégia adotada pelos

outros países que entraram tardiamente na indústria eólica, que enfatizaram a

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formação de uma indústria produtiva e o domínio da tecnologia importada

(CAMILLO, 2013).

Não se trata de afirmar que o PROINFA não trouxe resultados positivos

para o setor eólico brasileiro. A criação de um mercado tornou viável a

produção de energia eólica no Brasil. A crítica aqui construída é que, apesar do

Brasil apresentar-se com grande potencial de produção de energia eólica no

mundo, a sua indústria eólica é dependente tecnologicamente de outros

países. Portanto, o seu potencial é limitado ao mercado enquanto consumidor

de máquinas e equipamentos eólicos e geração de energia.

Assim, o quesito incremento do eixo tecnológico, crucial para o

desenvolvimento do setor eólico em nível nacional, o Brasil não atendeu de

forma satisfatória. A indústria brasileira eólica é de montagem, de menor peso

tecnológico e valor agregado. Segundo Camillo (2013), as políticas brasileiras

do setor não privilegiaram a indústria nacional ou a adaptação da tecnologia:

O Brasil não estabeleceu uma estratégia deliberada de aprendizado e inovação em energia eólica ou de incorporação local da tecnologia. O PROINFA não trouxe nenhum instrumento de estímulo direto ao aprendizado e ao desenvolvimento tecnológico endógeno das fontes alternativas – os instrumentos do programa focaram essencialmente o lado da demanda de energia com algumas medidas voltadas para a indústria de turbinas. Também não foi criado, desde então, nenhum novo programa ou incentivo à pesquisa com foco específico em energia eólica. Não se estimulou o desenvolvimento de um sistema local de certificação – as turbinas e componentes vêm com certificação de órgãos internacionais. E não se buscou estabelecer um centro de referência em energia eólica que pudesse realizar testes, projetos experimentais e funcionar como um ponto focal de interação entre os atores da indústria como ocorreu nos países líderes (CAMILLO, 2013, p.159).

Revela-se assim a necessidade de alinhamento tecnológico entre os

países centrais e países periféricos por meio da expansão da capacidade

instalada, desenvolvimento da tecnologia ou das indústrias de turbinas e

componentes etc. Para tanto, é necessário que os países periféricos alcancem

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a independência tecnológica mediante um planejamento governamental

podendo, de tal modo, se posicionar no mercado internacional de forma

competitiva.

Dessa forma, ao importar tecnologias e equipamentos, os países

periféricos devem atentar para o fato de como essa tecnologia chegou em seus

territórios. A forma como os países absorvem essas tecnologias irá determinar

o grau de independência e competitividade no setor.

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3 ECONOMIA DAS EÓLICAS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL

A Economia das Eólicas é uma atividade globalizada. Os diversos

agentes do setor interagem na troca de conhecimento, bens e serviços no

âmbito internacional. Essa dinâmica global foi destacada no capítulo anterior.

Neste momento do trabalho, vale a análise sobre como a Economia das

Eólicas concebe desenvolvimento na perspectiva local e regional,

principalmente naqueles territórios com estruturas produtivas fragilizadas e com

baixo dinamismo econômico.

No Brasil, em especial na região Nordeste, o desenvolvimento regional

foi possível por meio de políticas de incentivo ao desenvolvimento. Para

compreender como é possível modernizar estruturas produtivas de uma região

periférica, na primeira parte desse capítulo apresenta-se uma revisão de

literaturas sobre o desenvolvimento regional na perspectiva teórica da Questão

Regional. Na segunda parte do capítulo, aborda-se a relação de

empreendimentos eólicos com o desenvolvimento local.

3.1 Desenvolvimento e a Questão Regional

A presente seção objetiva revisar o desenvolvimento regional na

perspectiva teórica da Questão Regional. No final da década de 1950, teve

início no Brasil um debate sobre as desigualdades regionais e o quanto esse

problema revelava a baixa integração nacional e a condição de

subdesenvolvimento do país. Essa revisão se faz importante porque foi por

meio de políticas nacionais de desenvolvimento regional que uma região

periférica como o Nordeste, ainda que preserve características de

subdesenvolvimento, modernizou suas estruturas produtivas e integrou-se à

dinâmica econômica nacional.

Ao analisar o processo de modernização produtiva e integração

nordestina destaca-se a conjuntura potiguar, uma vez que o processo de

formação econômica do Rio Grande do Norte, assim como o da região

Nordeste, foi historicamente marcado por uma forma singular de acumulação

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capitalista (produtor marginal e complementar de matérias primas) – com maior

preponderância do agente capital mercantil.

A maior presença do capital mercantil nos principais setores econômicos

potiguares também revelou a débil expressão da produção de riqueza local,

sobretudo da indústria de transformação. Esta última foi relativamente

diversificada no território potiguar por volta do final dos anos de 1960, com

esforços desenvolvimentistas orientados pelo Governo Federal e executados

regionalmente pela Superintendência para o Desenvolvimento da Região

Nordeste (SUDENE) (GTDN, 1978).

A primeira análise científica sobre o subdesenvolvimento da região

Nordeste foi realizada pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do

Nordeste (GTDN), formado por volta de 1958/59, do qual, mais tarde, surgiria a

Sudene, em 1959. Os estudos do GTDN resultaram em um documento que

ficou conhecido por “Uma Política de Desenvolvimento para o Nordeste”

(GTDN, 1978). Neste texto foram registrados os principais pontos de

estrangulamento da economia nordestina. Dentre os vários problemas

constatados pelo Grupo, um teve relevância para a elaboração do trabalho: o

subdesenvolvimento nordestino (ARAÚJO, D., 2010).

O subdesenvolvimento era, antes de qualquer outro fator, produto das

relações capitalistas arcaicas pautadas em uma estrutura agrária

demasiadamente concentrada, de uma agricultura de baixo nível de

produtividade e de um sistema manufatureiro preponderantemente artesanal.

Para além desses registros, o GTDN selecionou vários outros problemas

sociais e políticos, tais como a forte concentração populacional em áreas de

difícil produção agrícola, analfabetismo etc. Atuar na perspectiva de modificar

essa realidade foi o maior desafio do GTDN. A indústria que seria instalada na

região deveria, a princípio, ter relação com suas potencialidades naturais

(GTDN, 1978).

Assim, partia-se do pressuposto de que para atuar sobre os

desequilíbrios regionais era necessário criar, no Nordeste, as condições

necessárias à industrialização. Industrializar o Nordeste era preciso, pois seu

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subdesenvolvimento era produto de débeis relações capitalistas (GOODMAN;

ALBUQUERQUE, 1974).

Através do debate estabelecido e sistematizado pelo GTDN entre os

anos de 1958 e de 1960, os autores que discutiam “A Questão Nordeste” –

como Celso Furtado, por exemplo – atribuíram à baixa taxa de industrialização

a responsabilidade pela criação de poucos empregos, pela baixa taxa de

crescimento econômico e pela baixa renda per capita da região. Todavia, a

história da desconcentração industrial, colocada em prática a partir dos anos de

1960, revelou que os problemas do subdesenvolvimento da região não se

restringiam àquele diagnóstico (ARAÚJO, D., 2010).

Após décadas de políticas voltadas à correção do ciclo produtivo

nordestino, a industrialização da região não reverteu de forma satisfatória o

quadro econômico e social para os agentes menos abastados. Embora exista

uma nova configuração econômica na região Nordeste, com implantação e

modernização de vários setores econômicos, foram preservados os principais

aspectos do subdesenvolvimento como, por exemplo, a concentração e baixa

mobilidade dos rendimentos médios da região, uma agricultura de matéria

prima e de alimentos pouco diversificada, bem como um setor de serviços

demasiado informal. Para além desses problemas, persiste ainda a secular

concentração da propriedade da terra (ARAÚJO, T., 1982).

Em meados da década de 1960, quando o “Modelo de Substituição de

Importações” encontrava-se em crise, buscou-se corrigir o ciclo econômico

brasileiro a partir da transferência de significativa quota de capitais do Sudeste

para a Região Nordeste. Procurava-se resolver dois problemas básicos do

subsistema capitalista brasileiro: 1) a tendência decrescente da taxa média de

lucro do polo e 2) o problema dos desníveis regionais que se expressava,

sobretudo, em constatações factuais de incipiente industrialização;

desemprego no campo e na cidade; secas constantes; forte concentração da

propriedade da terra etc. O Estado, por meio da SUDENE, tentava amenizar as

disparidades da região Nordeste frente ao Sudeste do país (ARAÚJO, D.,

2010).

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Deixando de lado os limites e as vicissitudes do deslocamento dirigido

de um determinado padrão industrial do Sudeste para o Nordeste, deve-se

registrar que a partir deste intento, o perfil econômico da região foi realmente

modificado. Desta forma, tal processo de desconcentração industrial acabou

por cumprir seu papel, que era viabilizar a acumulação capitalista do polo no

Nordeste do país. Com isso não se está afirmando que o Nordeste não foi

beneficiado por tal processo. Todavia, a desconcentração industrial-

conservadora – mas virtuosa, de acordo com Cano (2008) – do Sudeste para o

Nordeste acabou por preservar seu subdesenvolvimento, ou seja, o Nordeste

foi cooptado à dinâmica do ciclo econômico do Sudeste do país, especialmente

de São Paulo. Na verdade, esse “Nordeste” resumia-se quase que inteiramente

aos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará (MOREIRA, 1979).

É extensa a riqueza de dados que comprovam a mudança do perfil

produtivo do Nordeste: criação de novos empregos, um rápido surto de

urbanização, modificação nas relações de trabalho e das formas de produção,

dentre outros fatores inerentes ao processo de industrialização e afirmação de

um tipo específico de capitalismo: o industrial. Entre a metade dos anos de

1950 e os anos 1960, o Nordeste passou a ser o centro da atenção nacional. O

debate, bem como as ações políticas, estava estabelecido na órbita da

Questão Regional, que continuou viva no cenário nacional até o final da década

de 1970 (GOODMAN; ALBUQUERQUE, 1974).

É interessante ressaltar que a movimentação do capital industrial rumo

ao Nordeste foi mais intensa quando o centro dinâmico do sistema capitalista

brasileiro experimentou algum tipo de crise. Obviamente, esta não foi – e não é

– uma condição necessária e única para que o Nordeste se industrializasse.

O Estado, com a SUDENE, criou os mecanismos que, por um lado,

viabilizaram a migração dos capitais sudestinos e a acumulação destes no

Nordeste. Por outro lado, esteve empenhado em atuar sobre os desequilíbrios

regionais diminuindo o hiato industrial entre o polo econômico (Sudeste) e a

periferia brasileira (Nordeste).

Passados os tempos do fim do modelo de substituição de importação, na

década de 1980 a economia brasileira voltou a experimentar um novo momento

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de crise. Um dos resultados do Milagre Econômico brasileiro foi a significativa

dívida externa que, embora não tenha estrangulado a economia brasileira

naquela década, submeteu o ciclo econômico nacional a um longo processo de

recessão (CANO, 2008).

Foi nesse período 1980 que se manifestou a crise do endividamento

externo brasileiro, a qual se instalou quase que completamente sobre a

indústria nacional. Deste modo, a região mais atingida pela crise da dívida foi a

que se encontrava mais industrializada: Sudeste.

No decênio 1980-90, a taxa média anual de crescimento do PIB

brasileiro foi de 1,6% a.a. Para o Nordeste, este indicador foi de 3,3%. Nesta

região, os estados de maior taxa média de crescimento foram o Maranhão,

com 8,3% a.a., e o Rio Grande do Norte, com 7,4% a.a. Percebe-se que

também nesse segundo momento de crise nacional o Nordeste foi beneficiado.

O fato é que os investimentos realizados no Nordeste na década de 1970

experimentaram amadurecimento exatamente na década seguinte (ARAÚJO,

D., 2010).

A indústria no Rio Grande do Norte foi implantada a partir da dinâmica

do ciclo econômico nacional. Esse fato não submeteu a economia potiguar

totalmente à dinâmica do ciclo econômico do Sudeste, dado que em

determinados períodos, como já mencionado, o Rio Grande do Norte cresceu

acima do crescimento médio do país.

A terceira fase de crise da acumulação industrial brasileira é bem mais

recente. A indiscriminada abertura econômica praticada no início dos anos de

1990 até os dias atuais tem limitado em demasia os espaços econômicos

lucrativos do capital produtivo nacional, sobretudo o industrial. A adoção de

recomendações do Consenso de Washington15 pelas autoridades da América

Latina não apenas inaugurou o fim de um modelo específico de acumulação –

15 O Consenso de Washington foi um pacote de políticas macroeconômicas formuladas por instituições financeiras como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, em 1989, com o objetivo de promover o ajustamento econômico dos países periféricos que passavam por dificuldades econômicas. O pacote de medidas era composto por dez regras: disciplina fiscal; redução dos gastos públicos; reforma tributária; juros de mercado; câmbio de mercado; abertura comercial; investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições; privatização das estatais; desregulamentação de leis econômicas e trabalhistas; direito à propriedade intelectual. Mais em Carneiro (2002).

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o industrial estatal – que desde os anos de 1980 não mais se sustentava, como

inviabilizou qualquer tipo de iniciativa que tivesse como proposta reconstituir o

ciclo do capital produtivo (CHESNAIS, 1998).

Os capitais produtivos instalados no interior da economia brasileira,

principalmente na indústria, não suportaram o peso da abertura econômica e

não tiveram condições competitivas frente aos capitais internacionais que

atuavam e atuam no mesmo setor. Essa realidade levou a um novo surto de

desconcentração industrial no Brasil (CANO, 2008).

Apesar das políticas nacionais de desenvolvimento regional trazerem,

até a década de 1980, transformações produtivas para o Nordeste, critica-se

que políticas de cima para baixo, ou seja, centralizadas na União, muitas vezes

não levavam em conta as especificidades regionais. Por outro lado, a partir da

década de 1990 o fortalecimento do local, principalmente com políticas de

incentivos fiscais – guerra fiscal – buscando atrair para seus territórios

investimentos que garantissem a aderência da economia local à global, passou

a ser uma prática comum no país (ARAÚJO, D., 2010).

A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), em 2003,

trouxe um discurso conciliador entre as políticas de cima para baixo,

desenvolvimentistas, e as políticas de baixo para cima, com características

localistas. A PNDR trata a questão regional a partir das múltiplas escalas (a

local, a microrregional, a mesorregional, a nacional, a faixa de fronteira, o

semiárido, as Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDES) etc.), nas quais

devem atuar o poder público, levando em conta as especificidades das regiões

(MACEDO; COELHO, 2015).

A proposta da PNDR objetivou enfrentar a concentração de capital e

contribuir para a redução das desigualdades regionais e a ativação das

potencialidades de desenvolvimento das regiões brasileiras. Em síntese,

segundo Macedo e Coelho:

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[...] a política constituiu-se pelo objetivo da equidade, traduzido na redução das desigualdades de níveis de renda e oportunidades e condições de trabalho, e também pelo objetivo de competitividade, a partir da estruturação de uma base econômica regional capaz de ampliar sua inserção nos mercados nacional e mesmo internacional (2015, p. 471).

Apesar do PNDR ter trazido proposições e críticas importantes para o

debate sobre a questão regional, não passou da esfera retórica, visto que não

há registro de concretização das políticas que consubstanciam o plano. Em

2013, dez anos depois de lançada, o Governo Federal traz uma nova versão: a

PNDR II. O principal diferencial da PNDR II foi o amplo debate desenvolvido na

I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional (I CNDR), com a

participação da sociedade civil e órgãos do governo.

Segundo Macedo e Coelho (2015), o maior impasse da efetivação da

PNDR é a necessidade de construir o consenso político e federativo que o

encaminhamento da questão regional requer. A expectativa da efetivação da

PNDR era a aprovação de seu Projeto de Lei pelo Congresso Nacional. Mesmo

depois de três anos da elaboração de sua última versão, percebe-se que pouco

se avançou nos encaminhamentos da política regional brasileira.

Em meio ao recente debate acerca de desenvolvimento socioeconômico

nacional, avançando bem mais do que as políticas de desenvolvimento regional

seguem as políticas de incremento de setores estratégicos nacionais. Num

contexto em que a problemática energética revela-se como um limite para o

desenvolvimento nacional e fontes alternativas de energias assumem o papel

de acionar o desenvolvimento sustentável, busca-se investigar de que forma o

fenômeno desenvolvimento ocorre mediante as políticas setoriais (no caso

deste trabalho, setor energético eólico).

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3.2 Desenvolvimento local e empreendimentos eólicos

Na década de 1980, motivados pela crise da dívida e o fim de políticas

centralizadas desenvolvimentistas, inicia-se a Reforma do Estado fortalecida

pela Constituição 1988. Esta, conhecida como Constituição Cidadã, objetivava

a democratização das políticas públicas conferindo autonomia político-

administrativa aos municípios, modificando o padrão de relacionamento entre o

Estado e a sociedade. A elevação do poder local tem por um lado a

socialização do poder por meio de modelos de gestão pública articulados às

demandas sociais. Por outro lado, assume novas responsabilidades como a

ação econômica e geração de emprego e renda.

A gestão pública local possui o desafio de promover o desenvolvimento

num processo de reestruturação econômica que rompe com as integrações

regionais até então conhecidas. A nova base de utilização do território é

constituída pela a ciência, tecnologia e informação, criando uma integração

local/global.

Nesse contexto, inicia-se no Brasil o debate sobre desenvolvimento

local, no qual:

[...]o conceito de desenvolvimento local, entendido como um plano de ação coordenado, descentralizado e focalizado, destinado a ativar e melhorar – de maneira sustentável – as condições de vida dos habitantes de uma localidade, e no qual o desenvolvimento estimula a ampla participação de todos os atores relevantes (COELHO, 1996, p.48).

Os desafios principais do desenvolvimento econômico local são superar

os limites da restrição de poder de intervenção em fatores vinculados

diretamente à economia mundial e nacional e manobrar a falta de recursos

para investimento. Segundo Dowbor (1996), apesar dessas limitações a

administração local pode desempenhar algumas tarefas que contribuam para

superar os circuitos fechado de acumulação e gerar emprego e renda. Veja o

quadro Síntese de Ações do Governo Local:

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1) Criar um Ambiente Propício • Crédito comunitário

• Infraestrutura física

• Políticas Sociais

• Desburocratização

2) Formação Básica e Profissional

• Profissional

• Comunitária

3) Intervenção em Setores de Efeito Multiplicador

• Melhor articulação campo-cidade

• Franjas inferiores do mercado

• Setor Terciário

• Simplificação de Serviços Públicos

4) Incentivo a formas de organização da produção alternativa à empresa capitalista

• Cooperativas e empresas não lucrativas

5) Novas Formas de Ajuda e Cooperação

• Superar o assistencialismo estimulando as iniciativas produtivas

6) Articulação do desenvolvimento local com atores e dinâmicas externas

• As ações devem estar articuladas com as oportunidades e restrições colocadas pelo contexto global, sobre o qual o poder local não tem governabilidade;

• Cuidado com a especialização excessiva e definir o grau de autossuficiência produtiva pretendida ou possível, que pode variar em função das condições locais e das dinâmicas regional e nacional;

7) Produtividade social • Atenção aos fatores subutilizados, ou seja, promover o uso racional dos recursos de uma determinada comunidade.

Quadro 5 - Ações do Governo Local Fonte: Dowbor (1996). Elaborado pela autora

O Desenvolvimento Local passou, da última década do século XX aos

dias de hoje, a ser foco de ação das instâncias subnacionais/governamentais

(entes federados e municípios), devido ao maior afastamento da instância

federal da administração e condução de políticas universais de crescimento e

de desenvolvimento econômico.

Brandão (2007) destaca que quando há um Estado mínimo ou

supervalorização do papel de políticas locais, manifesta-se com significativa

permanência a tendência de reforçar e consolidar as forças de mercado, sem

levar em conta a presença de um contexto heterogêneo e desigual. A análise

sobre o local é importante; as políticas nacionais precisam identificar seu

potencial e somar para que não haja “um processo de agudização das marcas

do subdesenvolvimento desigual, excludente e segregador” (BRANDÃO, 2007,

p.35).

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Assim, na questão energética, a ação de um projeto nacional para a

segurança energética no Plano Nacional de Energias atenta para questões que

vão além do nacional. Deve-se compreender que os locais possuem diversos

problemas a serem superados. Portanto, como locais com economias pouco

dinâmicas e o social fragilizado poderiam transformar suas questões estruturais

com os investimentos e políticas do plano energético? Segundo Brandão, “é

preciso discutir a espacialidade dos problemas e implementar políticas levando

em consideração a escala específica desses problemas, mas em um contexto

em que esteja presente um projeto nacional de desenvolvimento” (BRANDÃO,

2007, p. 36).

As justificativas para os incentivos à Economia das Eólicas apoiam-se na

promoção da segurança energética nacional, no desenvolvimento sustentável e

socioeconômico que esta atividade pode vir a trazer. Existem diversos

trabalhos16 que abordam a importância da ampliação da matriz eólica para a

nação, entretanto, nesta dissertação objetiva-se compreender de que forma os

empreendimentos eólicos contribuem para o desenvolvimento local.

A atividade eólica ocorre em determinado espaço dotado de

características físico-naturais como, por exemplo, vastas extensões de terras

com abundância de ventos. Dessa forma, a intensidade e a velocidade das

correntes de vento constituem pré-requisitos indispensáveis ao sucesso do

citado empreendimento. Sabe-se que consideráveis montantes17 de capital são

investidos na construção de parques eólicos, mas como essa produção de

energia poderia alterar ou impulsionar a dinâmica socioeconômica do local?

A análise realizada analisou como uma região periférica como o estado

do Rio Grande do Norte poderia associar desenvolvimento local mediante a

chegada empreendimentos eólicos. No capítulo anterior, viu-se que nos países

seguidores da Economia das Eólicas, buscava-se a incorporação dessa nova

atividade ainda que tardiamente, garantindo a autonomia e a independência do

16 Além de trabalhos acadêmicos, os próprios documentos oficiais como o PROINFA e o PNE abordam o tema. 17 O valor médio em investimento inicial para usinas de médio e grande porte (acima de 30MW) é de R$ 4.200.000,00 por MW instalado. Esse valor inclui o aerogerador e infraestrutura civil e elétrica. Tudo isso dependendo das características de cada empreendimento, devendo assim ser analisado caso a caso (MACEDO, 2015).

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setor. No Brasil, a atividade eólica foi inserida pela urgência em resolver a

questão da crise energética elétrica. De acordo com as estratégias políticas

escolhidas, houve pouco cuidado em desenvolver um setor autônomo e

independente. A questão de segurança energética não foi resolvida de forma

que tornasse o país inovador e com destaque tecnológico internacional capaz

de revelá-lo como grande potencial para o desenvolvimento, independente do

setor (CAMILLO, 2013).

Logo, como se justifica a questão do desenvolvimento local? Como

estados periféricos, a exemplo do Rio Grande do Norte, que possuem uma

indústria precária e baixo desenvolvimento tecnológico, poderiam absorver os

benefícios dos investimentos em torno da Economia das Eólicas?

Nos discursos dos agentes locais, no Rio Grande do Norte tanto governo

quanto iniciativas privadas defendem a instalação dos parques eólicos devido à

geração de emprego e renda, justificativa pautada nos objetivos de

desenvolvimento local. No entanto, para a realização de um desenvolvimento

que modifique as estruturas produtivas locais e possa render benefícios no

longo prazo, é necessária a criação de parcerias no processo de “reengenharia

social”18.

Deve registra-se que é no planejamento que Gestor, promotor do

desenvolvimento local, objetiva reprojetar e reformar sistematicamente toda

uma organização, funções e processos. Devido às limitações financeiras da

gestão municipal, o promotor do desenvolvimento local torna-se agente

articulador de parcerias entre os atores sociais, criando assim uma rede de

colaboração. Dowbor (1996) define os tipos e formas de parcerias existentes:

18 Reengenharia é um conceito trabalhado originalmente por CHAMPY & HAMMER (1994) como uma estratégia empresarial. O conceito foi trazido para a Gestão Pública como Reengenharia Social para a reestruturação dos diversos setores estratégicos do setor estatal.

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A identificação dos atores sociais envolvidos em todos os momentos desse processo é fundamental. Esses atores podem ser, além do próprio governo local, os governos do estado e federal, ONGs, comunidades organizadas, instituições de pesquisa e formação, empresas, entidades corporativas, pessoas interessadas. Vai-se identificando os atores e suas capacidades de ação, seus interesses. Em um trabalho de articulação política, se constrói um aparato institucional mais ou menos formal que possa dinamizar essa relação que se pretende implantar: conselhos de desenvolvimento local, consócios intermunicipais, associações de mães, cooperativas, associações comunitárias, fundações comunitárias municipais, movimentos de revitalização de áreas degradadas e muitas outras formas (DOWBOR, 1996, p. 41).

Segundo Dowbor (1996), as parcerias precisam possuir objetivos claros,

diretos e um problema central que se pretende resolver ou minimizar. O autor

ressalta ainda a importância de se ter diagnósticos aprofundados, de forma a

deixar evidente quais são os limites e potencialidades locais que se pretende

atingir.

Os locais com empreendimentos eólicos conectam-se ao global

mediante a inserção dessa nova atividade econômica em um local que

demanda alta tecnologia. Segundo Borja e Castells (1997), existiriam sistemas

de colaboração e as redes de compromisso armadas no local como unidade de

propósitos e lealdade entre os agentes inseridos em uma coletividade

consorciada. Entretanto, Brandão (2007) critica essa solidariedade, afirmando

que sem uma articulação central sobre integrar local e global dificilmente um

território com diversas fragilidades estruturais poderá se beneficiar dos

investimentos que está recebendo.

No conceito de desenvolvimento local defende-se o incentivo às

atividades produtivas locais integradas com o global; estimulam-se as

potencialidades locais atraindo investimentos para essas regiões. Existem dois

tipos de empreendimentos importantes para o desenvolvimento local:

empreendimentos de grande porte, que geram um elevado número de

empregos, e os pequenos e médios empreendimentos, que absorvem uma

camada da população não incluída do processo produtivo.

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O caráter democrático do desenvolvimento local está em promover a

economia popular agregado à reestruturação produtiva. Dentre as estratégias

do desenvolvimento local está o fomento às formas associativas de pequenos

empreendedores como motor de integração econômica, com cooperativas,

microempresas, empresas domésticas, autoemprego, microunidades

econômicas (COELHO, p. 52, 1996).

Apesar da economia popular ser importante para absorver uma camada

não participante da reestruturação produtiva, o prefeito assume um papel de

empreendedor em busca de atrair os maiores empreendimentos para o

município. Por sua vez, os grandes empreendimentos estão cada vez mais

seletivos na busca de vantagens locacionais – recursos naturais, mão de obra,

infraestrutura física etc. Quando essas vantagens locacionais não são

encontradas ou não são suficientes para a barganha na atração de

empreendimentos suge uma guerra de atratividades, especialmente as fiscais.

Sobre a guerra de atratividades, Coelho (1996) destaca que:

Um projeto de desenvolvimento local deve reduzir esta guerra fiscal e de atratividades através de políticas regionais que integrem as potencialidades locais. Toda proposta de potencializar a economia local deve partir da necessidade imperiosa de resolver o problema da fragmentação e exclusão social (COELHO, p. 48, 1996).

O uso dos incentivos fiscais com política de atração de empresas de

grande porte tem sido a principal ferramenta utilizada pelos gestores locais.

Além das isenções, o gestor público ainda oferece outros benefícios como o

aforamento de imóveis públicos e até o acesso facilitado a serviços públicos. O

maior problema não chega a ser a oneração das receitas públicas pela isenção

fiscal, mas o despreparo dos gestores públicos municipais em criar redes de

solidariedade com os diversos setores produtivos locais para gerar uma

congruência com os setores preexistentes ou que possam vir a existir com o

grande empreendimento que se instala no município.

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Segundo Clementino (2001), a esfera municipal, no Nordeste brasileiro,

não se encontra preparada para fazer face às demandas sociais. A autora

desenvolve uma dura crítica aos gestores locais no Nordeste:

Na maioria dos municípios o formato organizacional está centrado em modelos arcaicos, desprovidos de capacidade técnica, funcionando como um espaço de alocação de emprego público para familiares e correligionários. Falta aos governos locais, na maioria dos casos, instrumentos gerenciais de planejamento, acompanhamento e avaliação, dificultando sobremaneira a adoção de uma agenda pública calcada nas necessidades da população e nas possibilidades de desenvolver uma ação mais efetiva para o desenvolvimento local. (CLEMENTINO, 2001, p.13).

No desenvolvimento local devem-se levar em conta as potencialidades

de locacionais, ou seja, suas especificidades históricas e socioeconômicas, e

as possibilidades permitidas pela sua geopolítica. Os empreendimentos eólicos

que se instalam no Rio Grande do Norte chegam em busca da matéria prima

abundante, ventos e vastas extensões de terras. Entretanto, a Economia das

Eólicas tem em sua base de movimentação o desenvolvimento tecnológico,

que além de ser débil no estado potiguar, não faz parte da formação

socioeconômica da região atuar na área de tecnologia. Desta forma, este

empreendimento instala-se no território potiguar possuindo uma relação pífia

com as atividades econômicas preexistentes.

Uma atividade de elevado teor tecnológico como a Economia das

Eólicas, ao se instalar em um território periférico – com diversos problemas

estruturais socioeconômicos, uma demanda ainda bastante reduzida em

relação aos produtos derivados da produção da energia eólica, bem como do

restante da incipiente economia local – incitam os agentes locais a se

esforçarem no processo de aprendizagem e capacitação. Esse esforço se faz

necessário para poder interpretar a informação, selecionar, comprar (ou

copiar), transformar e internalizar a tecnologia importada (CASSIOLATO;

LASTRES, 2005).

Para compreender o processo de inserção tecnológica na periferia é

importante não deixar de considerar a existência da dualização do sistema

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capitalista. A distribuição desigual dos ganhos do progresso técnico, que tem

origens tanto internas (conflitos de capital e trabalho para a apropriação de tais

ganhos) quanto, principalmente, derivações externas. As origens externas da

distribuição desigual dispõem de importantes implicações geopolíticas e

ocorrem com os países centrais concentrando os avanços na fronteira

tecnológica – e se especializando na produção e distribuição de bens e

serviços mais sofisticados, e os periféricos naqueles caracterizados por baixa

produtividade e baixo valor agregado (PREBISCH, 2000).

Nos países pioneiros e seguidores bem sucedidos em tecnologia de

energia eólica, as políticas de inovação foram fundamentais nesse processo19.

Segundo Erber & Cassiolato (1995), os Estados em nenhum momento

deixaram de intervir fortemente para fomentar o desenvolvimento produtivo e

tecnológico e a expansão de setores estratégicos para a dinâmica estrutural,

ainda que estas políticas fossem camufladas por imperativos estratégico-

militares.

Nos países centrais, a atuação do Estado no campo das políticas

industriais e tecnológicas ocorre com o interesse em promover as interações e

a cooperação entre os agentes visando a inovação e fomentando, ainda, a

consolidação das bases regionais para o desenvolvimento tecnológico, o

reforço de malhas de pequenas e médias empresas e o desenvolvimento de

atividades consideradas estratégicas para o crescimento econômico doméstico

(CASSIOLATO; LASTRES, 2005).

Seja na periferia ou nos países centrais, o papel do Estado é

fundamental para o desenvolvimento. Não existe um modelo global de

desenvolvimento e a cada caso aplicam-se novos conjuntos específicos de

requerimentos. No Brasil, a efetividade das políticas locais deve ser reforçada à

estratégia nacional e até supranacional. Mostra-se necessária uma

coordenação dos diferentes níveis (desde o local, ao nacional e internacional) e

tipos de políticas, assim como agências intervenientes – o que demanda uma

forma de ação que só pode ser realizada na instância mais elevada do governo

(CASSIOLATO; LASTRES, 2005).

19 Ver tópico 2.3 deste trabalho.

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Segundo Clementino (1996), as principais dificuldades do poder local

são a ausência de uma coordenação geral com uma definição clara de

competências em todos os níveis; a enorme heterogeneidade territorial,

econômica, social e política e a persistência de padrões culturais e práticas

adversas ao processo efetivo de descentralização. Sendo assim, o

desenvolvimento local, juntamente com o crescimento do poder local, ainda

dependem de políticas desenhadas em nível federal e/ou estadual.

Para o caso dos empreendimentos eólicos no desenvolvimento local,

considerando que se instalam em municípios com baixo dinamismo econômico,

dependentes de transferências governamentais, sugere-se que os gestores

locais busquem iniciativas de ações desencadeadoras que, por meio de

parcerias e sistemas de colaboração, juntamente com os diversos atores,

ajudem a criar políticas de desenvolvimento comunitário (cooperação e

serviços) e de desenvolvimento territorial.

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4 MICRORREGIÕES EÓLICAS DO RIO GRANDE DO NORTE

No presente capítulo buscou-se identificar como ocorre a integração das

microrregiões eólicas com a economia global. Para isso, considera-se que a

dinâmica da Economia das Eólicas vai além dos territórios onde estão

localizados os parques. Existe uma integração entre o local e o global. Apesar

do dinamismo local, as microrregiões dos parques eólicos interagem com

municípios mais pujantes economicamente e com maior oferta de bem e

serviços. Por exemplo, Natal (capital do Rio Grande do Norte) e Mossoró

(segunda cidade mais importante do estado) representam para as

microrregiões eólicas polos dinâmicos que oferecem uma melhor rede de

infraestrutura e serviços que as regiões onde os parques se encontram.

Dividiu-se esse capítulo em quatro partes. Em cada uma delas

identificou-se no estado potiguar as microrregiões eólicas, as suas economias

tradicionais e como elas se relacionam com a economia eólica. Nestas seções

desenvolveu-se uma análise sobre os aspectos geográficos e socioeconômicos

das microrregiões dessa nova atividade. O objetivo é compreender quem são

os locais que possuem parques eólicos e qual a sua relação com o restante do

Rio Grande do Norte.

Na Figura 2 foram mapeados os municípios potiguares que possuem

empreendimentos eólicos em operação, em construção e/ou construção não

iniciada. Consideram-se os municípios nessas condições como integrantes das

microrregiões eólicas potiguares. Para a definição das microrregiões eólicas

potiguares utilizou-se a mesma metodologia do IBGE (1990) para a divisão das

microrregiões do país, empregando os indicadores básicos de estrutura de

produção e interação espacial.

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Figura 2 – Microrregiões Eólicas Potiguares - 2017 Fonte: Aneel20. Elaborado pela autora

4.1 Mossoró-Macau

A microrregião Mossoró-Macau é composta pelos municípios de Areia

Branca, Galinhos, Guamaré, Macau, Serra do Mel e Tibau (ver Figura 3).

Definiu-se, nesse trabalho, o nome “Mossoró-Macau” para a microrregião pela

importância de Mossoró que, apesar de não possuir parques eólicos, é o centro

dinâmico desta microrregião. Segundo maior município do estado (produtivo e

populacional), possui uma grande infraestrutura de comércio e serviços que

atende a toda microrregião. Mais adiante nesse trabalho serão descritas as

funções de municípios do estado que participam da Economia das Eólicas sem

possuírem parques em seus territórios. Para esta análise, a definição de

microrregiões eólicas tem como objetivo compreender de que forma essas

áreas que receberam investimentos de forma direta para a construção de

parques eólicos tiveram suas dinâmicas econômicas alteradas.

20 Todos os municípios selecionados possuem parques em operação, exceto Cerro Corá, Jardim de Angicos, Maxaranguape e Tibau, que apenas possuem potência outorgada.

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Figura 3 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau Fonte: Elaborado pela autora.

Historicamente, na microrregião Mossoró-Macau, a agricultura, a

pecuária (carne fresca, carne seca, couro, tração), a pesca e o sal sempre

foram as principais atividades econômicas. Durante os séculos XVII e XVIII,

essas atividades possuíram aspecto mercantil e preponderantemente de

subsistência.

Segundo Cascudo (1955), desde o século XVII foi identificado potencial

salineiro da microrregião. Durante o século XVIII, a indústria de extração de sal

funcionava de forma rudimentar e complementar à produção de carne de sol, o

que ampliou o setor pecuário. Entretanto, essa indústria nascente ficou

abandonada por quase um século, por fazer concorrência com a Fazenda Real.

Somente a partir de 1889, com o Regime Republicano, foram retomados os

investimentos para a extração de sal, que estimulou também o povoamento da

área.

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No Ciclo do Gado (meados do século XVIII a início do século XX), as

regiões do interior do estado passaram a se integrar. A microrregião Mossoró-

Macau teve importância nesse processo. Diversas rotas importantes passavam

ou partiam do município de Mossoró, intensificando sua importância como

centro mercantil. Além do porto de Areia Branca, que era ponto de escoamento

de boa parte da produção do interior, permitindo constantes transações

comerciais com regiões vizinhas (CLEMENTINO, 1990).

Essas atividades econômicas seguem sem diversificações até o século

XX. Em meados da década de 1970, inicia-se na região uma nova e moderna

atividade, a exploração petrolífera. Essa nova matriz produtiva exige uma nova

infraestrutura e modifica as relações de bens e serviços.

Após pesquisas realizadas21 na década de 1970, a Bacia Potiguar, no

Rio Grande do Norte, passa a ser a segunda maior bacia petrolífera do país.

Com a intensificação da produção na década de 1980, a presença da indústria

petrolífera – representada, principalmente, pela PETROBRAS –, impulsiona a

dinâmica econômica do estado. A chegada da PETROBRAS no Rio Grande do

Norte ativa a economia por diversos vieses. O primeiro trata dos investimentos

para a instalação da indústria extrativa. Esse investimento vai desde obras de

infraestrutura de rodovias e construção civil até a compra de máquinas e

equipamentos para a extração de petróleo. O segundo refere-se à quantidade

de empregos e demais postos de ocupação que a empresa é capaz de gerar.

Neste item contam tanto aos empregos diretos, terceirizados, quanto a

contração de prestação de serviços. Por fim, o terceiro injetor na economia é o

pagamento de royalties22 aos municípios produtores de petróleo, adjacentes às

que produzem petróleo e por onde passam oleodutos, gasodutos, maquinários

etc.; ao Governo do Estado e a proprietários de terras onde existem atividades

produtivas da empresa (RODRIGUES NETO, 2008).

A indústria petrolífera potiguar, em que pese a sua importância

transformadora no Rio Grande do Norte, modificando o estágio de atraso em

21 Em 1965, a Petrobrás envia uma equipe de geologia para o Rio Grande do Norte para aprofundar os estudos sobre o petróleo na região. Em 1976, inicia-se a exploração comercial de petróleo no estado (RODRIGUES NETO, 2008). 22 O royalties são pagamentos realizados pelo direito de uso da terra por meio da exploração do petróleo aos proprietários.

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que se encontrava a economia potiguar, não foi a solução para que a economia

regional criasse um parque industrial completo. Segundo Araujo (2010), o

potencial energético, derivado da exploração do petróleo e gás natural, energia

eólica, energia solar e biocombustível, poderia ser utilizado como forma de

incentivar a instalação de vários gêneros de indústrias no Rio Grande do Norte.

Porém, esse fator de produção industrial não pareceu ser suficiente para tornar

a indústria potiguar competitiva.

Nos anos 2000, iniciam-se os estudos e pesquisas para implantação de

uma nova matriz energética no Rio Grande do Norte. A exemplo do que

ocorreu no Brasil, a indústria eólica potiguar age de forma preponderante no

eixo de produção energética, ou seja, objetiva apenas atender ao mercado de

geração de energia. No que tange às máquinas e equipamentos necessários

para a geração, no Rio Grande do Norte estão relacionadas à montagem de

equipamentos ou à confecção de menos intensivos em capital, como a

construção de torres eólicas.

Assim como a indústria petrolífera, a Economia das Eólicas ativou a

economia potiguar por meio da construção dos parques eólicos. Para uma

dinâmica socioeconômica duradoura e significativa para o estado, a Economia

das Eólicas deveria desenvolver a cadeia produtiva completa e/ou criar

mecanismos de atração de empreendimentos que viriam a se beneficiar da

energia gerada no estado.

O destino da energia gerada é a central de redes. Para o Governo do

Estado fica difícil negociar a energia produzida no RN como algo atrativo para

os diversos setores produtivos. Dessa forma, o discurso de que o Rio Grande

do Norte é autossuficiente em energia eólica não passa de uma falácia, pois

boa parte da energia produzida vai para a central de redes, não ficando apenas

no território potiguar.

Como a Economia das Eólicas é uma atividade recente no Rio Grande

do Norte, observou-se, neste trabalho, como o período de construção dos

parques eólicos acionou a socioeconomia das microrregiões do estado. É

importante atentar para a data de início de operação dos parques eólicos, pois

o período de construção dos empreendimentos acionou as economias e

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dinâmicas urbanas locais com as diversas atividades demandadas pela

Economia das Eólicas. De acordo com a Tabela 1, pode-se observar que na

microrregião Mossoró-Macau o primeiro parque eólico entrou em operação em

30 de dezembro de 2010, no município de Guamaré.

Na Tabela 1, visualiza-se 25 parques eólicos em operação na

microrregião Mossoró-Macau, o que representa 21% do total de parques

eólicos no estado. Nos municípios de Serra do Mel e Tibau, seis parques com

construções não iniciadas apresentam para a microrregião uma expectativa de

circulação produtiva durante os anos de construção dos parques.

Sabendo que o tempo médio de construção dos parques eólicos é de

três a cinco anos, analisou-se o comportamento populacional da região, a

evolução do emprego e o número de estabelecimentos produtivos por setor

econômico com o objetivo de verificar as principais variações no período de

2002 (ano anterior à construção dos parques) a 2015.

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Operação Em Construção Não Iniciada

Total

Data Operação

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Areia Branca 19/02/2013 6 160.400 - - 6 160.400

Galinhos 01/02/2014 2 118.570 - - 2 118.570

Guamaré 30/12/2010 8 284.450 - - 8 284.450

Macau 01/02/2014 1 68.470 - - 1 68.470

Serra do Mel 05/12/2015 8 192.000 4 111.300 12

303.300

Tibau - - - 2 52.500 2 52.500

Microrregião Mossoró-Macau

25 823.890 6 163.800 31 987.690

Tabela 1 – Microrregião Eólica Mossoró-Macau - Empreendimentos de Geração Eólica: em operação e em construção não iniciada23 Fonte: ANEEL. Elaboração da autora

Na Tabela 2, sobre a população urbana e rural da microrregião Mossoró-

Macau, são utilizadas as informações dos Censos Demográficos 2000 e 2010 e

Contagem da População 2007. O ano 2000 representa um período que

antecede a chegada das eólicas na microrregião, o ano 2007 apresenta dados

do período de início de construção dos parques e no ano 2010 alguns parques

já entram em operação – embora ainda haja um número significativo de

empreendimentos em construção.

2000 2007 2010

Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Areia Branca 17.861 4.669 22.530 19.531 4.867 24.398 20.317 4.998 25.315

Galinhos 1.001 766 1.767 1.258 891 2.149 1.238 921 2.159

Guamaré 3.599 4.550 8.149 4.232 7.505 11.737 4.407 7.997 12.404

Macau 18.612 7.088 25.700 20.989 6.143 27.132 21.966 6.988 28.954

Tibau 2.688 509 3.197 3.368 382 3.750 2.835 852 3.687

Serra do Mel 8.203 34 8.237 1.780 7.436 9.216 2.698 7.589 10.287

Microrregião Mossoró-Macau

51.964 17.616 69.580 51.158 27.224 78.382 53.461 29.345 82.806

Tabela 2 – População Urbana e Rural da Microrregião Mossoró-Macau – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora

23 A microrregião não possui empreendimentos eólicos em construção. Os dados são oriundos de consulta realizada em 23 de janeiro de 2017. Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm >. Acesso em: 23 de jan. 2017.

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Segundo a metodologia do IBGE, considera-se que a população é

urbana ou rural segundo a localização dos domicílios em relação ao perímetro

urbano estabelecido por lei municipal. A situação urbana abrange as áreas

correspondentes às cidades (sedes municipais), vilas (sedes distritais) ou áreas

urbanas isoladas. Na microrregião Mossoró-Macau, embora mais de 64% da

população seja urbana, no triênio em análise a população rural passou de

17.616 em 2000 para 27.224 em 2010, um crescimento de 55%.

O aumento da população rural na microrregião Mossoró-Macau pode ter

ocorrido devido às novas atividades produtivas (eólicas), servindo como fator

mantenedor e atrator de populações. De acordo com o trabalho de Macedo

(2014), as atividades eólicas se conciliam com as atividades do campo. O

arrendamento das terras para a produção de energia eólica possibilitou a

fixação do homem no campo, que com a renda extra recebida pode manter as

atividades rurais e realizar melhorias em suas condições de vida como, por

exemplo, a reforma das moradias, compra de móveis e utensílios

eletroeletrônicos domésticos, investimento nos estudos e em saúde.

O Gráfico 4 revela o cenário do emprego formal na microrregião

Mossoró-Macau, por setor econômico. Observa-se que o emprego nos setores

de Administração Pública, Indústria Mineral, Comércio e Serviços destacam-se

durante o período frente aos demais setores, representando uma média de

41%, 15,3%, 13,1% e 13,7%, respectivamente, em participação no número de

empregos gerados na região.

O peso do pelo setor Administração Pública reflete a realidade de

regiões com baixo dinamismo econômico e a dependência econômica no setor

público. Como será abordado adiante, esta realidade é a mesma nas demais

microrregiões, uma vez que aproximadamente 28% do emprego formal24 no RN

é gerado pela Administração Pública.

24 Dados da RAIS/MTE 2015.

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A participação do emprego no setor da Indústria Extrativa é significativo

pela intensa atividade de extração de mineral na microrregião, como dito

anteriormente: sal, petróleo, sheelita são alguns dos exemplos.

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Gráfico 4 – Microrregião Mossoró-Macau - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.

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Gráfico 5 – Microrregião Mossoró-Macau - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autor. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.

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No Gráfico 5 observa-se que, com exceção dos setores de

Administração Pública e Indústria Extrativa, que se mantiveram estáveis

durante o período de análise, os estabelecimentos produtivos dos demais

setores mais que dobraram seus números. Destaque para os setores de

comércio, de serviços e de construção que apresentaram o crescimento médio

anual do número de estabelecimentos produtivos de 55,6%, 49,8% e 34,9%,

respectivamente.

Sobre a influência da Economia das Eólicas na dinâmica econômica,

verifica-se que os órgãos oficiais da área de energia (ABEEÓLICA, CERNE,

ANEEL etc.) e Secretarias de Estado sinalizam que o setor de energia eólica

gera empregos diretos e indiretos nos setores de Indústria de Transformação,

de Comércio, de Serviços, de Construção e de Produção e Distribuição de

Eletricidade, Gás e Água. Veja a distribuição no Quadro 6:

Segmento Econômico Empregos Diretos Empregos Indiretos

Indústria de

Transformação

Fabricação de Torres, de Pás e de Aerogeradores; Fornecimento de Insumos.

Construção Obras relacionadas à instalação dos parques eólicos.

Comércio e Serviços Hotelaria, Restaurantes, Prestação de Serviços Jurídicos, Saúde etc.

Produção e Distribuição

de Eletricidade, Gás e

Água

Produção de energia elétrica (inclusive produção integrada); transmissão de energia elétrica; comércio atacadista de energia elétrica; distribuição de energia elétrica.

Quadro 6 – Definição de empregos diretos e indiretos gerados pela energia eólica por segmento econômico Fonte: Elaborado pela autora

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Apesar dos Gráficos 4 e 5 sinalizarem o crescimento dos setores mais

impulsionados pelas eólicas (Indústria de Transformação, de Comércio, de

Serviços e de Construção), é necessário verificar como cada um desses

setores está composto. Para além dos citados, verifica-se mais adiante o setor

de Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água, que na composição do

emprego e estabelecimentos possui uma baixa participação, mas como está

relacionado diretamente com o tema do trabalho é de valia uma análise mais

cuidadosa.

Para verificar como atua a Economia das Eólicas na microrregião, foram

analisados os dados de emprego formal juntamente com os estabelecimentos

produtivos por seguimento econômico. Com esses dados em conjunto,

identificou-se quais os setores mais se dinamizaram no período de análise

(2002-2015).

Os setores de Comércio e de Serviços juntos representam 26% do

emprego formal na microrregião. De acordo com a formação econômica da

região, este setor foi acionado como suporte às atividades principais, tais como

o sal, o gado, o petróleo e mais recentemente as energias eólicas. Estes

setores destacam-se tanto no número empregos que possuem quanto no

número de estabelecimentos. Entretanto, em termos de participação nos

setores econômicos, Comércio e Serviços são mais representativos quando se

observam os estabelecimentos produtivos. Um número de estabelecimentos

bem acima do número de empregos gerados caracteriza o porte dos

empreendimentos como sendo de micro ou pequeno porte. No caso da

microrregião Mossoró-Macau, em média 90% dos empreendimentos do setor

de Comércio é de micro porte, possuindo no máximo nove empregados. No

setor de Serviços a média é de 84% empreendimentos de micro porte e 11%

de pequeno porte, os quais possuem até 49 empregados.

Essa pulverização de muitas empresas de micro e pequeno porte é uma

característica dos setores de Comércio e de Serviços, principalmente em

microrregiões periféricas. Empresas desse perfil são muito dependentes do

dinamismo da economia. As micro e pequenas empresas são, em maior parte,

prestadoras de serviços de toda natureza. Por essa razão, ao crescer as

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atividades econômicas como um todo, notadamente a comercial, as micro e

pequenas empresas são quase que automaticamente acionadas.

Observe que, no período de 2005 a 2008, os setores de Comércio e de

Serviços experimentam uma elevada participação no número de

estabelecimentos da microrregião (Gráfico 6). Este salto é explicado pela

conjuntura macroeconômica, com o aumento de distribuição de renda via

programas sociais do Governo Federal25, que aumentou a renda das famílias,

que não por alguma motivação de origem local. Já a queda do número de

estabelecimentos, em 2009, também é reflexo da crise26 do período, o que

influenciou nas importações e no preço do dólar, atingindo diversos setores

econômicos.

A Indústria de Transformação obteve o crescimento médio anual (2002-

2015) de 17,3% no número de estabelecimentos produtivos. No ano de 2015, a

divisão do segmento indicou que 37% dos estabelecimentos são de Alimentos

e Bebidas, 18% de que Metalurgia e Fabricação de Produtos de Metal e 9% de

Máquinas e Equipamentos. No ano de 2014, foi inaugurada em Areia Branca

uma fábrica de torres de concreto para aerogeradores, o único

empreendimento da Indústria de Transformação diretamente relacionado com a

Economia das Eólicas. Segundo o banco de dados da RAIS, em 2015, a

divisão Máquinas e Equipamentos gerou 196 empregos, representando 17% do

emprego no setor na microrregião Mossoró-Macau.

A participação de um ramo tradicional e pouco intensivo em capital,

como Alimentos e Bebidas, é importante para a economia local o crescimento

da divisão Máquinas e Equipamentos. A instalação da fábrica de torres de

concreto para aerogeradores se revela como uma contribuição para a

modernização produtiva na região, que foi impulsionada pelo potencial eólico

do estado.

Todavia, a indústria eólica é composta, além da fabricação das torres,

pela fabricação de aerogeradores e pás, que infelizmente não se instalaram na

25 Sobre a influência do Bolsa Família na economia nos municípios brasileiros, ver o Relatório de Pesquisa INSPER (2009). 26 Sobre a crise de 2009, ver artigo de Leda Paulani (2010).

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região. Estas são as partes que mais demandam investimentos tecnológicos e

uma cadeia produtiva mais extensa, mas se instalaram em outros estados do

país. Segundo Macedo (2014), uma das justificativas para esses fabricantes

não se fixarem no Rio Grande do Norte é a insuficiente infraestrutura de

estradas e portos no estado para escoamento da produção, conforme mostra o

Quadro 7, disponível no Anexo 1 desta dissertação. Com relação ao segmento

de Construção, no período 2002-2015, o número de empregos formais obteve

um crescimento médio anual de 58%. Apesar do crescimento do setor, sua

participação na composição do emprego formal da microrregião Mossoró-

Macau é, em média, de 8%. Quanto às divisões que compõem o seguimento,

85% dos estabelecimentos produtivos são de Construção de Edifícios e Obras

de Engenharia Civil, 5% de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e

Telecomunicações, 4% de Preparação de Terreno, 3% de Obras de

Acabamento e de 2% de Obras de Instalações.

De acordo com a Tabela 3, a divisão do segmento de Construção, Obras

de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações apresentou

oscilação no número de empregos formais gerados no período 2002-2015.

Observe que no ano de 2004 atingiu ao número mais elevado, 593 empregos

formais. É neste ano que se iniciam as construções dos parques eólicos na

região. O destaque é que esse número cai com o avançar dos anos. Como

esse emprego é de caráter temporário, as vagas de deixam de existir com o fim

da construção dos parques.

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Preparação do

Terreno

Construção de Edifícios

e Obras de Engenharia

Civil

Obras de Infraestrutura

p/ Energia Elétrica e

p/ Telecomun.

Obras de

Instalações

Obras de

Acabamento

2002 0 159 1 0 0

2003 1 564 0 0 0

2004 1 1724 593 0 0

2005 5 298 184 0 0

2006 0 422 102 1 2

2007 0 536 1 0 1

2008 3 455 35 1 0

2009 14 687 96 0 1

2010 5 1536 54 0 0

2011 131 681 60 8 7

2012 96 812 28 24 3

2013 37 1608 3 45 5

2014 5 1821 1 11 3

2015 10 518 1 2 0

Tabela 3 – Microrregião Mossoró-Macau - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora

O segmento que gera empregos diretos para Economia das Eólicas,

Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água possui uma participação

média de 0,19% dos empregos formais da microrregião Mossoró-Macau.

Quando se verifica a composição do segmento, os empregos da divisão

Produção e Distribuição de Energia Elétrica surgem no ano de 2011, pois o

primeiro parque da microrregião começou a operar em dezembro de 2010.

Portanto, os empregos formais diretos da divisão Produção e Distribuição de

Energia Elétrica, na microrregião Mossoró-Macau, apresentam os seguintes

números: 10 empregos formais em 2011, 15 empregos formais em 2012, 14

empregos formais em 2013, 16 empregos formais em 2014 e oito empregos

formais em 2015.

Vale destacar que os parques em operação demandam mão de obra

terceirizada dos mais diversos serviços. Podem ser citados como exemplos os

auxiliares de serviços gerais, porteiros, até técnicos eletricistas e engenheiros,

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por isso há dificuldade em capturar quais empregos formais são diretamente

relacionados à Economia das Eólicas.

4.2 Baixa Verde

A microrregião eólica Baixa Verde, composta pelos municípios de São

Bento do Norte, Jandaíra, Jardim de Angicos, João Câmara, Parazinho e Pedra

Grande, é caracterizada pela pesca, produção de mel de abelha e

agropecuária (ver Figura 4). O município mais importante da microrregião é

João Câmara, com maior centro comercial e maior população. Na formação do

território, no início do século XX, a construção da Estrada de Ferro Central do

Rio Grande do Norte favoreceu o desenvolvimento e integração dos municípios

com o restante do estado. A microrregião possuía produção algodoeira e

criação de gado bovino, mas a chegada da estrada de ferro possibilitou a

indústria se desenvolver, aumentou as áreas produtivas culturas agrícolas e de

pecuária, além da criação de centros comerciais.

Figura 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde Fonte: Elaborado pela autora

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Para além do gado e do algodão, na região de Baixa Verde há a

produção de mel de abelha no município de Jandaíra, caracterizada pela coleta

artesanal, rudimentar. Ainda assim, a sua produção é destaque no estado. Já

no município de São Bento do Norte, as principais atividades são a pesca e o

plantio de subsistência.

Em 2012, entrou em operação o primeiro parque eólico na microrregião

Baixa Verde, em João Câmara. Além de ser o primeiro município a possuir um

parque em operação, João Câmara é que mais possui parques eólicos em

operação – 27 – e Parazinho está em segundo lugar, com 22 parques. Esses

municípios que já possuíam um setor terciário desenvolvido serviram de apoio

à Economia das Eólicas, tanto que a microrregião Baixa Verde é a maior do

estado em produção de energia eólica. O potencial eólico e a estrutura já

existente favoreceram a concentração de parques instalados.

Operação Em Construção

Construção Não Iniciada

Primeiro Parque

entrar em Operação

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Jandaíra 21/05/2016 4 120.000 - - 5 150.000

Jardim De Angicos - - - - - 2 56.000

João Câmara 04/05/2012 27 696.560 - - 7 171.000

Parazinho 29/03/2014 22 629.200 - - - -

Pedra Grande 05/04/2014 8 132.400 3 65.100 - -

São Bento do Norte 25/02/2015 3 80.000 7 195.600 6 136.400

Microrregião Baixa Verde

64 1.658.160 10 260.700 20 513.400

Rio Grande do Norte

120 3.309.750 16 417.000 38 920.500

Tabela 4 – Microrregião Eólica Baixa Verde – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção e em construção não iniciada27 Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora. Consulta realizada em 23/01/2017

27 Dados obtidos em consulta realizada no dia 23 de janeiro de 2017. Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm >. Acesso em: 23 de jan. 2017.

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Sobre o perfil populacional da microrregião Baixa Verde, apesar da

população urbana crescer mais que a rural, ainda existe uma grande proporção

de população rural (ver Tabela 5). Ou seja, 38,9% da população de Baixa

Verde é rural. Os municípios de população mais urbanizados, João Câmara

(70,3% em 2010) e Parazinho (64,7% em 2010), são os que historicamente

foram os mais desenvolvidos quanto à infraestrutura de bens e serviços,

atraindo assim a formação urbana com maior densidade.

Quanto à influência do objeto de análise proposto nessa dissertação –

Economia das Eólicas –, no crescimento populacional da microrregião de Baixa

Verde chama atenção a elevada participação da população rural (39%), acima

até mesmo da participação da população rural potiguar (22%). Este dado

sinaliza que a energia eólica contribui para a fixação do homem no campo, uma

vez que sua atividade não interfere nas atividades agrícolas tradicionais.

Apesar desta constatação, deve-se levar em consideração que os parques

eólicos começaram a ser construídos na região a partir de 2009. Como o último

dado censitário sobre população urbana e população rural é do ano de 2010, a

análise torna-se limitada.

2000 2007 2010

Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Jandaíra 3.792 2.332 6.124 3.684 2.763 6.447 3.954 2.847 6.801

Jardim de Angicos

544 2.126 2.670 482 2.054 2.536 433 2.174 2.607

João Câmara 19.956 9.292 29.248 20.930 9.493 30.423 22.657 9.570 32.227

Parazinho 3.060 1.265 4.325 3.035 1.737 4.772 3.137 1.708 4.845

Pedra Grande

1.292 2.725 4.017 1.230 2.688 3.918 1.161 2.360 3.521

São Bento do Norte

925 2.453 3.378 1.099 2.430 3.529 1.038 1.937 2.975

Microrregião Baixa Verde

29.569 20.193 49.762 30.460 21.165 51.625 32.380 20.596 52.976

Tabela 5 – População Urbana e Rural da Microrregião Baixa Verde – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora

Em relação ao perfil econômico, observa-se a distribuição de emprego

formal e estabelecimentos produtivos por setores econômicos nos Gráficos 6 e

7. Ao longo do período de análise – 2002 a 2015 –, os segmentos

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Administração Pública, Serviços, Comércio e Agricultura concentram o maior

número de empregos formais do território A Administração Pública, com 61%

em participação, segue a estatística do Rio Grande do Norte: Comércio (14%),

Serviços (8%) e Agricultura (8%) são segmentos que se destacam devido à

formação econômica da microrregião Baixa Verde.

Ao deter-se na análise do número de Estabelecimentos Produtivos, ao

longo do período 2002-2015, como mostra o Gráfico 7, observa-se a

concentração nos segmentos de Comércio (56%) e Serviços (23%). Estes

dados, cruzados com os empregos formais, indicam que os setores de

Comércio e Serviços são caracterizados por empreendimentos de micro porte

por apresentarem 94% e 88% dos estabelecimentos, respectivamente, com até

nove empregados.

De acordo com a Tabela 5, a região possui 10 parques eólicos em

construção e 20 parques que ainda não começaram a ser construídos, o que

significa que a microrregião ainda pode ampliar a sua oferta de serviços devido

à crescente demanda do setor eólico.

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Gráfico 6 – Microrregião Baixa Verde - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria. Dados Disponíveis em Tabela no Apêndice C.

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Gráfico 7 – Microrregião Baixa Verde - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: Rais – MTE. Elaboração Própria. Dados disponíveis em Tabela no Apêndice C.

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Sabendo que os setores impulsionados pela Economia das Eólicas que

geram empregos diretos são: Indústria de Transformação, Construção e

Produção e Distribuição de Eletricidade, analisaram-se esses setores

detalhadamente.

Sobre a Indústria de Transformação, o número de estabelecimentos

produtivos apresentou um crescimento médio anual (2002-2015) de 24,9%. No

ano de 2015, a microrregião possuía 24 estabelecimentos produtivos divididos

em: 46% de Alimentos e Bebidas; 13% de Fabricação de Produtos de Madeira,

Móveis e Diversos; 13% de Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos;

8% de Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios; 8% de Fabricação de

Máquinas Aparelhos e Materiais Elétricos; 4% Fabricação de Produtos

Químicos; 4% Fabricação de Artigos de Borracha e Plástico; 4% de Fabricação

de Produtos de Metal Exceto Máquinas e Equipamentos.

Apesar de não ser possível identificar, no banco de dados da RAIS,

empreendimentos de Máquinas e Equipamentos, no caso desta microrregião

existe uma fábrica de torres de concreto para aerogeradores, inaugurada em

Parazinho, no ano de 2011. Essa fábrica, diferente da microrregião anterior, foi

registrada na divisão de Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos –

Classe de Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso

e Estuque. A fábrica operou nos anos de 2011, 2012 e 2013, pois possui a

característica de fábrica itinerante. Segundo Costa:

Essa fabricação se destina apenas à demanda do próprio parque, onde se instala uma usina móvel que serve de suprimento à instalação. Após a conclusão da instalação de um parque, a usina é desativada ou removida para outra área onde um novo parque, pertencente à mesma empresa, está sendo instalado (2015, p.79).

Nos anos de operação da fábrica na microrregião Baixa Verde (de 2011

a 2013), o emprego formal gerado na classe de Fabricação de Artefatos de

Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso e Estuque representou 52%, 10% e

12%, respectivamente, do número de empregos gerados pela Indústria de

Transformação da microrregião Mossoró-Macau. O primeiro ano o

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90

desempenho foi bastante representativo, pois ocorria a expansão os parques

eólicos na área. Apesar de ainda existirem parques em construção e a serem

construídos, a única fábrica de torres de concreto para aerogeradores da

microrregião foi desmontada.

No segmento de Construção, no período 2002-2015, o número de

empregos formais obteve um crescimento médio anual de 51,7%. Esse

segmento foi o quarto que mais cresceu no período, perdendo apenas para os

setores tradicionais da microrregião, como: Comércio (66,7%), Administração

Pública (66%) e Agricultura (59,6%). Mesmo com o significativo crescimento do

setor, sua participação na composição do emprego formal em Baixa Verde é,

em média, de 3%, atingindo a maior participação em 2011, com 11,2%.

De acordo com a Tabela 6, os empregos formais se concentram na

divisão do segmento de Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil.

Observe que o emprego gerado referente às Obras de Infraestrutura para

Energia Elétrica está zerado. Existem duas justificativas para este fato. A

primeira trata de parte dos registros de emprego na RAIS referentes a atividade

de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica foi registrada no segmento de

Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil. A segunda refere-se a

demanda de serviços dessa divisão à capital potiguar, uma vez por se localizar

próxima a microrregião e por ter uma gama de estabelecimentos do setor

preparada para ofertar esse tipo de serviço.

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91

Preparação do

Terreno

Construção de Edifícios

e Obras de Engenharia

Civil

Obras de Infraestrutura

p/ Energia Elétrica e

p/ Telecomun.

Obras de

Instalações

Obras de

Acabamento

2002 0 4 0 0 0

2003 0 3 0 0 0

2004 0 19 0 0 0

2005 0 211 0 0 0

2006 0 2 0 0 0

2007 0 10 0 0 0

2008 0 11 0 0 0

2009 0 34 0 0 0

2010 0 105 0 0 0

2011 2 524 0 0 5

2012 4 468 0 0 5

2013 3 56 0 0 0

2014 6 103 0 0 0

2015 6 220 0 4 0

Tabela 6 – Microrregião Baixa Verde - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora

Com relação ao segmento que gera empregos diretos para Economia

das Eólicas, Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água, a

participação média foi de 0,50% dos empregos formais da microrregião Baixa

Verde. Na composição do segmento, os empregos formais da divisão Produção

e Distribuição de Energia Elétrica surgem no ano de 2011. Entretanto, o

segmento alcançou, em 2015, a participação de 2,20% no número empregos

da microrregião. Nos anos anteriores sua participação é próxima a zero.

4.3 Litoral Nordeste

O Litoral Nordeste é composto pelos municípios Ceará-Mirim,

Maxaranguape, Rio do Fogo, São Miguel do Gostoso e Touros (ver Figura 5). A

sua formação está associada à produção agrícola de extensão canavieira e

pequenas produções agrícolas e pesqueiras de subsistência. Por sua relação

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92

com a plantação de cana-de-açúcar do período colonial, é a microrregião de

formação mais antiga e com a maior população.

Figura 5 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste

Fonte: Elaborado pela autora

Segundo a Tabela 7, a participação da população rural é superior à

população urbana, sendo 57% e 43%, respectivamente, em 2010. Essa

característica segue pelo seu histórico de formação econômica

preponderantemente de produções agrícolas e pesqueiras de subsistência. O

destaque é para o município de Ceará-Mirim, cuja população urbana

ultrapassou a população rural em 2010, embora esta continue possuindo uma

elevada participação (48%).

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93

2000 2007 2010

Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Ceará-Mirim 30.839 31.585 62.424 32.947 32.503 65.450 35.494 32.647 68.141

Maxaranguape 3.017 4.984 8.001 3.515 5.454 8.969 3.889 6.552 10.441

Rio do Fogo 3.620 5.597 9.217 3.784 5.969 9.753 3.748 6.311 10.059

São Miguel do Gostoso

2.902 4.678 7.580 3.679 5.131 8.810 4.131 4.539 8.670

Touros 7.594 20.285 27.879 7.842 21.594 29.436 7.922 23.167 31.089

Microrregião Litoral Nordeste

47.972 67.129 115.101 51.767 70.651 122.418 55.184 73.216 128.400

Tabela 7 – População Urbana e Rural da Microrregião Litoral Nordeste – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora

Segundo Cascudo (1955), em meados do século XVII a microrregião

ainda era habitada por índios tupis e cariris. Com a expansão da indústria

canavieira, vieram negros da África para o trabalho escravo, base para

formação de uma sociedade de senhores de engenho com poder econômico.

Apesar da época açucareira ter contribuído para a formação

socioeconômica da microrregião, ela não criou dinamismos. Até mesmo o

município de Ceará-mirim, que compõe hoje a Região Metropolitana de Natal,

ainda é muito dependente da oferta de serviços e infraestrutura da capital.

Dessa forma, a vinda das eólicas para microrregião pouco transformou o local,

uma vez que a cesta de bens e serviços demandado pela Economia das

Eólicas vem de um município melhor estruturado, como Natal.

A microrregião Litoral Nordeste possui baixo dinamismo econômico,

sendo dependente da relação com a capital potiguar no que se refere à

demanda por bens e serviços com um nível de complexidade urbana. O Litoral

Nordeste experimentou um lento processo de urbanização, a exemplo do que

aconteceu do Rio Grande do Norte, devido à fatores como um histórico atraso

na modernização agrícola, indispensável para dar suporte à formação do

mercado de trabalho urbano; a entrada tardia do capital industrial como agente

dinâmico da acumulação e o desinteresse das elites mercantis em assumir os

riscos da industrialização (ARAUJO, 2010).

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A chegada das eólicas pouco conseguiu modificar esse cenário na

microrregião Litoral Nordeste. A economia que se estabeleceu na região

concebeu uma relação de pouca demanda, sendo o município unicamente

espaço de instalação de parques eólicos. Diversos prestadores de serviços de

suporte para a atividade eólica vêm de Natal, gerando uma baixa integração

com a microrregião. Esta relação de Natal com o Litoral Nordeste evidencia a

característica de polaridade da capital em relação à microrregião, concentrando

os estabelecimentos produtivos dinâmicos por possuir uma melhor

infraestrutura de logística, prestação de serviços e melhor articulação político-

econômica.

No Litoral Nordeste foi construído o primeiro parque eólico comercial do

Rio Grande do Norte, no município de Rio do Fogo, em julho de 2016. De

acordo com a Tabela 8, a microrregião possui 16 parques em operação, seis

em construção e 10 em construção não iniciada. A previsão é que, até 2020, a

microrregião já tenha 32 parques em operação.

Em Operação Em Construção

Construção Não Iniciada

Primeiro Parque

entrar em Operação

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Ceará-Mirim 01/06/2015 5 145.800 -

- - -

Maxaranguape -

- 3 56.000

Rio do Fogo 15/07/2006 2 77.300 -

- 7 147.300

São Miguel do Gostoso

05/04/2014 6 135.200 5 129.300 - -

Touros 04/11/2016 3 71.400 1 27.000 - -

Região Litoral Nordeste

16 429.700 6 156.300 10 203.300

Tabela 8 – Microrregião Eólica Litoral Nordeste – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada28 Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora

28 Consulta realizada no dia 23 de janeiro de 2017.

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95

O Gráfico 8 mostra o comportamento do emprego formal na microrregião

Litoral Nordeste no período 2002-2015, destacando a Administração Pública,

com participação média de 37,5%; Comércio, com participação média de

11,3%; Serviços, cuja participação média é de 27,8% e a Agricultura, com

participação média de 11,5%. A Administração Pública reflete o comportamento

de concentração dos empregos formais no estado, atingindo a participação

máxima de 49,7% dos empregos formais no ano de 2011. Segue-se a hipótese

de que a participação do número de empregos na Administração Pública

municipal aumenta quando aumentam as Receitas Municipais. Este

cruzamento de dados será apresentado no próximo capítulo deste trabalho.

A Agricultura, presente na estrutura produtiva da microrregião, apresenta

um número significativo de estabelecimentos, com a participação de 14,3% no

número de estabelecimentos totais. O segmento fica atrás de Comércio, com

45,6%, e Serviços, com 27,6%, na média do período 2002-2015. Outro

destaque para a Agricultura é o crescimento médio de 36% a.a. no período

analisado. Como observado, a estrutura produtiva da microrregião Litoral

Nordeste permaneceu a mesma desde a sua formação econômica (ver Gráfico

9).

Outro setor que merece destaque é a Indústria de Transformação, que

possui uma participação média de 7,8% no número de empregos formais

(2002-2015). No ano de 2015, a divisão do segmento verificou que 48,2% dos

estabelecimentos são de Alimentos e Bebidas, 14,3% de Confecções, 8,9% de

Fabricação de Produtos de Madeira, Móveis e Diversos e 8,9% de Metalurgia e

Fabricação de Produtos de Metal. A predominância nos segmentos tradicionais

de alimentos e bebidas e confecções revela o caráter da Indústria de

Transformação da microrregião Litoral Potiguar.

A divisão Metalurgia e Fabricação de Produtos de Metal é composta

pelas classes: Fabricação de Esquadrias de Metal (dois estabelecimentos);

Têmpera, Cementação e Tratamento Térmico do Aço, Serviços de Usinagem,

Galvanotécnica e Solda (um estabelecimento); Fabricação de Outros Produtos

Elaborados de Metal (um estabelecimento). A composição desta divisão não

apresenta relação direta com a energia eólica.

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96

A divisão desse segmento industrial que poderia possuir relação com a

energia eólica é a Fabricação de Produtos de Minerais Não metálicos, classe

de Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento, Gesso e

Estuque. No Litoral Nordeste existem dois estabelecimentos registrados nessa

classe, entretanto trata-se de fábricas de pré-moldados de concreto para a

construção civil em geral. Portanto, não possui fábrica de torres de concreto

para aerogeradores como nas microrregiões Mossoró-Macau e Baixa Verde.

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Gráfico 8 – Microrregião Litoral Nordeste - Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE

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Gráfico 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE NORTE CENTRO CIÊNCIAS ...€¦ · através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, contribuiu para a ... urgência de concomitância entre

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Nos gráficos acima, o segmento de Construção apresentou uma

evolução interessante, em que pese o fato de não possuir elevadas

participações na economia da microrregião Litoral Nordeste. Quando foi

analisado o ano de 2002, período bem anterior ao início das construções dos

parques eólicos, esse segmento apresentava a participação de 2,2% dos

estabelecimentos produtivos e 0,28% dos empregos formais. Em 2015, o setor

passa a representar 10% dos estabelecimentos produtivos e 4,58% dos

empregos formais.

No ano de 2015, o seguimento de Construção da microrregião Litoral

Nordeste estava composto por quatro divisões: Preparação do Terreno, com

2% dos estabelecimentos; Construção de Edifícios e Obras de Engenharia

Civil, com 75% dos estabelecimentos; Obras de Instalações, com 13% dos

estabelecimentos; Obras de Acabamento, com 10% dos estabelecimentos.

Durante todo o período 2002-2015, não foram encontrados registros de

estabelecimentos de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica. As

atividades de Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica foram absorvidas

pela divisão Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil (ver Tabela

9).

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Preparação do

Terreno

Construção de Edifícios

e Obras de Engenharia

Civil

Obras de Infraestrutura

p/ Energia Elétrica e

p/ Telecomun.

Obras de

Instalações

Obras de

Acabamento

2002 0 36 0 0 0

2003 0 104 0 0 0

2004 10 169 0 0 0

2005 22 65 0 0 0

2006 39 137 0 0 0

2007 38 16 0 7 0

2008 21 118 0 18 0

2009 171 114 0 18 0

2010 260 80 0 21 0

2011 4 62 0 53 2

2012 2 235 0 41 3

2013 83 351 0 71 11

2014 27 734 0 68 16

2015 7 475 0 40 67

Tabela 9 – Microrregião Litoral Nordeste - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora

Na Tabela 9 chama-se a atenção para as divisões do segmento de

Construção: Preparação do Terreno e Construção de Edifícios e Obras de

Engenharia Civil. Observe que, no ano de 2010, a Preparação do Terreno

atinge o número mais elevado, 260 empregos formais. Apesar do primeiro

parque da microrregião iniciar suas operações em 2006, é a partir de 2010 que

a microrregião atingiu o maior volume de parques eólicos em construção.

Quanto à divisão Construção de Edifícios e Obras de Engenharia Civil, possui

uma elevação nos anos 2012-2015 – ao que parece recebeu muito mais o

impacto de programas federais, como “Minha Casa, Minha Vida”29 e PAC30, do

que impulsionados pelas construções dos parques eólicos na microrregião.

29 O Programa “Minha Casa Minha Vida” é um programa do Governo Federal em parceria com

estados, municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos, que oferece condições atrativas para o financiamento de moradias para famílias de baixa renda. Ver mais em: http://www.minhacasaminhavida.gov.br/

30 O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – objetiva promover o planejamento e

execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo para o seu desenvolvimento acelerado e sustentável. Ver mais em: http://www.pac.gov.br/

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101

O setor que cria empregos com o início das operações dos parques

eólicos, Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água possui uma

participação média de 1,2% dos empregos formais da microrregião Litoral

Nordeste. Entretanto, ao analisar a composição do segmento, verificou-se que

os empregos da divisão Produção e Distribuição de Energia Elétrica surgiram

no ano de 2008, e representam 1,4% do total de empregos do seguimento. Ou

seja, 98,6% dos empregos pertencem à divisão Captação, Tratamento e

Distribuição de Água, sendo assim pouco significativo o emprego relacionado à

Produção e Distribuição de Eletricidade.

4.4 Serra de Santana

Os municípios de Bodó, Cerro Corá, Lagoa Nova, Santana do Mato e

Tenente Laurentino Cruz formam a Microrregião Eólica Serra de Santana (ver

Fitura 6). Serra de Santana possui dois momentos históricos em sua formação

econômica. O primeiro é a histórica cotonicultura e pecuária. Pela proximidade

com o Seridó31 do estado, essas atividades se fizeram presentes também em

Serra de Santana. O segundo momento é a exploração de minérios, que foi a

atividade mais importante para a formação populacional da microrregião, por

atrair pessoas de várias partes do estado.

31 Ver mais em Apêndice 1.

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102

Figura 6 – Microrregião Eólica Serra de Santana Fonte: Elaborado pela autora

Atualmente, a microrregião recebe os impactos da Economia das

Eólicas. Serra de Santana foi a última região do estado a receber parques

eólicos. Região central potiguar, sua característica serrana é propícia para a

construção dos parques eólicos. O primeiro parque entrou em operação em

janeiro de 2016 e, até a data da última consulta no banco de dados da ANEEL,

em janeiro de 2017, a microrregião já possuía 15 parques em operação e dois

parques com potência outorgada. Até a data de análise não possuía parques

em construção, como mostra a Tabela 10:

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103

OPERAÇÃO EM CONSTRUÇÃO

OUTORGADA

Município Primeiro Parque entrar em Operação

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Parq

ues

Potência Outorgada

(Kw)

Bodó 30/01/2016 9 260.000 - - - -

Cerro Corá - - 2 40.000

Lagoa Nova 02/03/2016 4 92.000 - - - -

Santana do Matos

14/07/2016 1 18.000 - - - -

Ten. Laurentino Cruz

19/02/2016 1 28.000 - - - -

Microrregião Serra de Santana

15 398.000 0 0 2 40.000

Tabela 10 – Microrregião Eólica Serra de Santana – Empreendimentos de Geração Eólica: em operação, em construção, em construção não iniciada Fonte: ANEEL. Elaborado pela autora

Nos últimos dois decênios (2000-2010), a configuração da população da

Microrregião Eólica Serra de Santana pouco mudou. Apesar de a população

rural ter diminuído, sua participação ainda é elevada, representando 55% da

população total em 2010.

2000 2007 2010

Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Bodó 1.230 1.545 2.775 1.395 1.147 2.542 1.393 1.032 2.425

Cerro Corá 4.790 6.049 10.839 5.013 5.877 10.890

4.742 6.174 10.916

Lagoa Nova 5.688 6.370 12.058 6.139 7.028 13.167

6.801 7.182 13.983

Santana Do Matos

7.160 8.827 15.987 6.588 7.724 14.312

6.895 6.914 13.809

Ten Laurentino Cruz

1.261 3.151 4.412 1.286 3.834 5.120 1.152 4.254 5.406

Microrregião Serra de Santana

20.129 25.942 46.071 20.421 25.610 46.031 20.983 25.556 46.539

Tabela 11 – População Urbana e Rural da Microrregião Serra de Santana – 2000, 2007 e 2010 Fonte: IBGE. Elaborado pela autora.

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104

A baixa urbanização da região também é reflexo de sua dinâmica

econômica. Observe que no Gráfico 10 o setor de Administração Pública

representa mais de 60% dos empregos formais da microrregião. Em segundo

lugar surge o setor de Serviços, representando 13% dos empregos, e em

terceiro o Comércio, com 8%.

Nos estabelecimentos produtivos, Comércio lidera com a participação de

58,5%. A característica do comércio da região é de micro e pequeno porte, com

191 estabelecimentos de micro porte – até 9 empregados –, e 8

estabelecimentos de pequeno porte – até 49 empregados. Com essas

informações sobre o emprego formal, por setor, é possível caracterizar o baixo

dinamismo econômico apresentado pela microrregião.

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Gráfico 10 – Microrregião Serra de Santana – Emprego Formal por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE.

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Gráfico 11 – Microrregião Serra de Santana – Estabelecimentos produtivos – 2002-2015 Fonte: Rais – MTE. Elaboração Própria.

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Os setores mais dinâmicos e que possuem uma relação mais próxima

com a Economia das Eólicas, Construção e Indústria de Transformação,

possuem participações médias no emprego de 3,3% e 3,2%, respectivamente.

Ambos atingiram a participação mais elevada justamente no período em que se

iniciaram as construções dos parques eólicos na microrregião, a partir de 2013.

Neste ano, a Construção chegou a 17,3% de participação. A Indústria de

Transformação atingiu sua maior participação em 2015, com 9,5% dos

empregos formais em Serra de Santana. Detalhando a participação da

Economia das Eólicas na composição desses setores, é possível observar que

a Indústria de Transformação obteve o crescimento médio (2002-2015) de

26,4% a.a. no número de estabelecimentos produtivos. No ano de 2015, a

divisão do segmento apontou que 38,5% dos estabelecimentos eram de

Alimentos e Bebidas, 30,8% de Fabricação de Produtos de Madeira, 11,5% de

Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos e 15,4% de Artigos de

Borracha e Plástico.

Dentro da divisão Fabricação de Produtos de Minerais Não Metálicos

está a classe Fabricação de Artefatos de Concreto, Cimento, Fibrocimento,

Gesso e Estuque, que poderia conter fábricas de torres de concreto para

aerogeradores, mas no caso desta microrregião, os empreendimentos dessa

classe são pré-moldados para a construção civil em geral.

Com relação ao segmento de Construção, a participação dos

estabelecimentos produtivos, em 2014, segundo as divisões que compõem o

seguimento são: 78,9% de Construção de Edifícios e Obras de Engenharia

Civil; 10,5% de Obras de Acabamento; 5,3% de Preparação de Terreno; 5,3%

Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações.

De acordo com a Tabela 12, a divisão do segmento de Construção,

Obras de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações apresenta

empregos formais gerados apenas em 2013 e 2014, período de construção dos

primeiros parques da microrregião – lembrando que os empregos criados no

período de construção são temporários.

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108

Preparação do

Terreno

Construção de Edifícios

e Obras de Engenharia

Civil

Obras de Infraestrutura

p/ Energia Elétrica e

p/ Telecomun.

Obras de

Instalações

Obras de

Acabamento

2002 0 0 0 0 13

2003 0 53 0 0 13

2004 0 0 0 0 8

2005 0 19 0 0 0

2006 0 0 0 0 0

2007 0 0 0 0 0

2008 0 3 0 0 0

2009 0 5 0 0 0

2010 0 4 0 0 2

2011 0 46 0 0 3

2012 0 373 0 0 0

2013 2 502 210 0 0

2014 5 194 348 0 3

2015 0 26 0 0 1

Tabela 11 – Microrregião Serra de Santana - Número de Empregos Formais no Segmento de Construção (2002-2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora.

Sobre o segmento Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água,

registra-se que o seu destaque ocorre por ser formador de empregos diretos

para Economia das Eólicas de forma permanente. Este possui uma

participação média de 0,6% dos empregos formais da microrregião Serra de

Santana. Na composição do segmento, os empregos da divisão Produção e

Distribuição de Energia Elétrica cresceram 21,8% a.a no período de 2002-

2015.

Na análise das microrregiões eólicas podemos destacar os seguintes

pontos:

• Naquelas regiões que já possuíam uma maior organização de suas

estruturas econômicas, a eólica incorporou maiores impulsos de setores

relacionados, ou seja, quanto maiores as ofertas de bens e serviços da

região, maior será o relacionamento da atividade eólica com o local;

• Para aqueles locais que são insuficientes na oferta de bens e serviços, a

economia das eólicas irá importa-los de outro lugar, nisso está incluso a

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109

demanda máquinas e equipamentos, oferta de mão de obra qualificada

e serviços diversos;

• Desta forma, o setor eólico ao se instalar no estado do Rio Grande do

Norte, gera empregos pontuais para o setor e impulsiona a economia de

forma indireta, preponderantemente no período de construção dos

parques. O destaque na criação de empregos e de novos

estabelecimentos produtivos ocorre nos setores já existentes no estado,

não contribuindo para ampliação de setores mais intensivos em capital e

tecnologia como a indústria eólica.

Apesar do volume de empregos formais dos setores que geram

empregos diretos e indiretos durante a construção dos parques, deve-se

observar que esses empregos de caráter temporário geram impactos nas

microrregiões eólicas, não sustentando em longo prazo a dinâmica econômica

formada. Ainda que a criação de novos empregos nos parques em operação, o

volume criado é pequeno frente ao mercado de trabalho como um todo. Isso

ocorre por o Rio Grande do Norte não ter formado a cadeia completa da

Economia das Eólicas. Esta problemática é tratada no quinto capítulo deste

trabalho.

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110

5 VICISSITUDES E LIMITES DA ECONOMIA POTIGUAR A PARTIR DA

PRODUÇÃO DE ENERGIA EÓLICA

No presente capítulo objetivou-se identificar como e se o formato dos

investimentos em parques eólicos no estado do Rio Grande do Norte possui

capacidade de alavancar o seu desenvolvimento socioeconômico. De acordo

com os programas de incentivos locais ao desenvolvimento, verificou-se a

produção de energia eólica no estado e se esta vem alcançando as metas

planejadas. Ademais, a corrente análise tem como objetivo fulcral revelar se a

economia das eólicas no estado promove integração regional e setorial. Como

apresentado nos capítulos anteriores, a indústria eólica potiguar apresenta uma

cadeia produtiva incompleta, desta forma, a análise busca verificar se esta

fragilidade pode criar percalços multiplicadores, que obstaculizem uma possível

dinâmica socioeconômica mais pujante no Rio Grande do Norte.

5.1 Políticas Locais de Incentivo à Economia das Eólicas

Ao que se refere às políticas de incentivo ao desenvolvimento da energia

eólica32, como já comentado no tópico 1.3 deste trabalho, foram de

responsabilidade da União, por meio do PROINFA e da realização dos leilões

para a fonte eólica, com principal foco no mercado. As políticas nacionais em

prol da energia eólica possuíam o objetivo principal de ampliar a capacidade

produtiva do setor de energia. Conforme explicado anteriormente, garantir a

ampliação do abastecimento de energia elétrica era uma questão de segurança

energética nacional.

Segundo o anuário Cenários da Energia Eólica (2015), dentre as

principais reivindicações dos investidores em energia eólica estão a garantia de

Mercado, a Desoneração de Impostos em toda a cadeia produtiva e

Infraestrutura.

32 A respeito de Políticas de Incentivo de Inovação à energia eólica ver Camillo (2013), e sobre as diversas políticas de incentivos à energia eólica brasileira ver detalhes em Macedo (2015).

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111

A garantia de mercado é feita atualmente por meio de leilões33 para a

fonte eólica. Contudo, segundo o anuário Cenários (2015), para os investidores

esta política é limitada e precisa ser ampliada. Quanto ao mercado de energia

eólica nacional, ocorre a necessidade da criação de um calendário definido de

leilões e ampliação da quantidade mínima (400 MW) de energia eólica prescrita

para o governo comprar.

Outro importante desafio do mercado, apontada por Macedo (2015),

trata-se da ampliação das linhas de transmissão, o que tem sido um dos

maiores entraves na expansão da energia eólica. Além da necessidade de

ampliação dos investimentos em construção de linhas, existe uma falta de

sincronia entre os prazos de construções dos parques e os das linhas de

transmissão. É de grande importância que ao término das construções dos

parques já existam linhas de transmissão elétricas prontas para realizarem o

escoamento da energia produzida para a Rede Central Elétrica. Caso contrário,

os produtores são penalizados em custos de manutenção do sistema sem o

escoamento da energia.

O principal programa de infraestrutura do país, Programa de Aceleração

do Crescimento (PAC), criado em 2007, que objetiva promover a retomada do

planejamento e execução de obras de infraestrutura, incluindo a energética,

tem investido na ampliação da transmissão de energia. Segundo o Quadro 7,

no Rio Grande do Norte foram investidos aproximadamente R$ 794 Milhões em

Obras de Transmissão de Energia.

33 Acerca do histórico dos leilões no Brasil, ver detalhes no Capítulo 3 da tese de Macedo (2015)

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112

Projeto Executor: Unidade Federativa:

Município(S): Estágio: Investimento Previsto

SE EXTREMOZ II – RN Narandiba S.A. RN Extremoz Concluído R$ 24.663.000,00

LT 230 KV MOSSORÓ II - MOSSORÓ IV – RN

Cia hidroelétrica do São Francisco

RN Mossoró Em obras R$ 39.600.000,00

LT 230 KV PARAÍSO - AÇU II, C3 – RN

Cia hidroelétrica do São Francisco

RN Açu, Santa Cruz, Mossoró

Em obras R$ 61.330.000,00

LT 230 KV CEARA-MIRIM 2 / JOÃO CAMARA II C-2 RN

Esperanza S.A. RN Ceará-Mirim, João Câmara

Concluído R$ 60.690.000,00

LT 230 KV CEARÁ-MIRIM II - TOUROS - RN

Cia hidro elétrica do São Francisco

RN Ceará-Mirim, Touros

Em obras R$ 44.200.000,00

LT 230 KV PARAÍSO - LAGOA NOVA - RN

Cia hidro elétrica do São Francisco

RN Santa Cruz, Lagoa Nova

Concluído R$ 67.510.000,00

LT 500 KV ACU III / JOÃO CAMARA III C-1 RN - RN

Esperanza S.A. RN Açu, João Câmara

Em obras R$ 143.910.000,00

LT 500 KV CAMPINA GRANDE III / CEARA-MIRIM 2 C-2 PB/RN - PB RN

Cia Energetica Potiguar S.A.

PB - RN Campina Grande/PB, Ceará-Mirim/RN

Concluído R$ 127.080.000,00

LT 500 KV CEARÁ-MIRIM - CAMPINA GRANDE III – RN PB

Extremoz S.A. PB - RN Ceará-Mirim/RN Campina Grande/PB

Concluído R$ 158.165.000,00

LT 500 KV CEARA-MIRIM 2 / JOÃO CAMARA III C-2 RN -

Esperanza S.A. RN Ceará-Mirim, João Câmara

Concluído R$ 67.530.000,00

LT 500 KV MILAGRES II - AÇÚ III - CE RN

Abengoa S.A. CE - RN Milagres/CE, Açu/RN

Em licitação de obra Valor não divulgado

LT 500KV QUIXADÁ - AÇU III - CE RN

Esperanza S.A. CE - RN Quixadá/CE, Açu/RN

Em licitação de obra Valor não divulgado

12 Projetos R$ 794.678.000,00

Quadro 7 - Investimentos do PAC em Transmissão de Energia Elétrica no RN até 31 de dezembro de 2016 Fonte: PAC. Elaborado pela autora

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113

O desenvolvimento da Economia das Eólicas possui outro gargalo com

relação à infraestrutura, trata-se das dificuldades logísticas de transportar e

entregar os produtos para montar os parques eólicos. As principais vias de

transporte de equipamentos eólicos são rodoviárias e marítimas. A estrutura

dessas vias é decisória na escolha do local onde serão instalados os parques e

fábricas de equipamentos eólicos.

O problema central das vias marítimas é a estrutura portuária. No caso

do Rio Grande do Norte, a infraestrutura portuária é composta por três portos.

O primeiro é o Terminal Portuário de Natal, situado em Natal, à margem direita

do Rio Potengi, a 3 quilômetros (Km) de sua foz. O terminal é administrado

pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (CODERN), destacando-se na

exportação de frutas e outras cargas refrigeradas, as quais perfazem cerca de

30% da movimentação do escoadouro, além de rochas (quartzitos) e

cabotagem de cargas em contêiner.

O segundo é o Porto-ilha de Areia Branca, também administrado pela

CODERN, com a capacidade de movimentação de 3,4 milhões de toneladas de

sal por ano. É um porto offshore especializado no escoamento do sal marinho

produzido no noroeste do estado, cuja representatividade no total da produção

nacional é de 95%.

O terceiro é o Porto de Guamaré, administrado pela PETROBRÁS. Esse

terminal portuário é especializado no embarque e desembarque de pequenas e

médias cargas usadas pela referida empresa na operação da refinaria Clara

Camarão. Sobre esses portos, Macedo (2015) pondera:

[...] não comportam navios de grande porte, nem linha de cabotagem para movimentar grandes contêineres. Logo, não apresentam uma estrutura compatível para o transporte de equipamentos eólicos, como pás e torres, nem escala de produção no segmento metalmecânico capaz de atrair fabricantes da indústria eólica, podendo, assim, aproveitar das economias de escopo que esse setor engendra por meio do processo de diversificação da produção. (MACEDO, 2015, p. 313)

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Apesar dos investimentos do Governo Federal em infraestrutura em

logística no país, o Rio Grande do Norte não possui um porto com a

capacidade necessária para atender as demanda da Indústria Eólica. Este fato

revela-se como um entrave ao setor uma vez que o porto é um elemento da

infraestrutura que está diretamente relacionado com a escolha dos locais para

instalação de Fábricas de Pás e Turbinas34. As fábricas desses equipamentos

podem ser instaladas em qualquer território – até mesmo naqueles que não

possuem potencial de geração eólica –, mas o mais importante para essas

fábricas é a possibilidade de escoamento da produção, e um porto que

comporte as necessidades do setor torna-se fundamental.

A questão das rodovias parece ser tão problemática quanto a marítima.

Macedo (2015) aponta que as principais vicissitudes das rodovias são:

• Escala na demanda: ausência de sincronização entre entrega das

cargas realizada pelos caminhões nos portos e a ancoragem dos navios,

que acarreta risco de equipamentos parados;

• Limite de transporte diário: são permitidas no máximo duas carretas por

dia e não é permitido o tráfego noturno nas BRs, além da demanda de

licença para o fechamento de alguns trechos do percurso. Elevando

assim a demora no transporte dos equipamentos e encarecimento da

operação. Segundo o documento Mais RN, a solução para esse caso

seria a criação de um corredor logístico, com infraestrutura que permita

que os equipamentos cheguem sem barreiras aos locais de destino;

• Autorização Especial de Transporte (AET): para realizar a viagem

desses equipamentos é necessária solicitar autorização ao

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT),

elevando o prazo para a entrega dos equipamentos;

• Manutenção das rodovias: devido ao valor agregado dos equipamentos,

as condições das rodovias representam uma preocupação e cuidado

maior com o seu transporte.

34 As fábricas de torres encontraram uma solução para evitar o transporte para longas distâncias sendo construídas e operando de forma temporária perto dos parques eólicos em construção, evitando assim as dificuldades e custos de cabotagem.

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115

Para melhorar a situação delicada dos transportes de equipamentos por

via rodoviária, encontraram-se dois tipos de parcerias institucionais: uma

promovida pela ABEEÓLICA, que criou o GT Logística, e a outra pelo CERNE,

organizando um mapeamento de um corredor de passagem.

Segundo Macedo (2015), o GT Logística, em parceria com fabricantes

de aerogeradores, empresas de transporte terrestre e cabotagem e com o

Sindicato Nacional das Empresas de Transporte e Movimentação de Cargas

Pesadas e Excepcionais (SINDIPESA), formulou para o curso de transporte de

cargas especiais, oferecido pelo Serviço Social do Transporte e Serviço

Nacional de Aprendizagem do Transporte (SEST/SENAT), um módulo

específico sobre o setor eólico. O módulo sobre o transporte de carga de

equipamentos e componentes eólicos é importante para a formação dos

profissionais que realizam o curso, que é obrigatório para quem realiza o

transporte de cargas especiais. Ao abordar a temática, o GT Logística contribui

para a prevenção de possíveis avarias e superação de dificuldades no

transporte dos equipamentos e componentes eólicos.

O mapeamento do corredor de passagem de máquinas e equipamentos

eólicos, organizado pelo CERNE em parceria com transportadoras, empresas

empreendedoras, Governo do Estado, Prefeituras e companhias, como a

COSERN (distribuidora de energia) e a CODERN (administradora do porto de

Natal), segue no sentido de criar uma solução única que viabilize o processo de

transporte (CERNE, 2014).

Por meio das políticas de incentivo à produção de energia eólica, houve

uma elevação da demanda industrial, ou seja, de máquinas e equipamentos

para a geração energética. Entretanto, quando se iniciou a corrida nacional

pela ampliação da matriz energética, a indústria nacional era incipiente e foi

necessária uma quantidade de máquinas e equipamentos importados.

Do início da inserção eólica no país, nos anos 2000, ao período mais

recente, 2017, a cadeia produtiva da indústria eólica conseguiu avançar no

sentido de consolidar-se no setor. Todavia, ainda é dependente da tecnologia e

dos principais componentes dos equipamentos eólicos de origem externa. Este

foi o resultado das políticas nacionais para a expansão energética que priorizou

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116

os incentivos à criação do mercado, negligenciando os eixos industriais e

tecnológicos (CAMILLO, 2013).

De forma paliativa, algumas medidas foram tomadas como forma de

incentivar a indústria nacional e local. Do ponto de vista nacional, o incentivo

principal dado à indústria foi a criação de uma linha de crédito especial para o

setor eólico pelo BNDES, permitindo uma abertura de financiamento com juros

reduzidos, prazos compatíveis com o tipo de investimento e eliminação do risco

cambial na importação de componentes e peças eólicas (MACEDO, 2015).

O financiamento do BNDES se aplica à produção e aquisição de

máquinas e equipamentos nacionais, estimulando assim a indústria nacional.

Os projetos de parques eólicos podem ser financiados em até 80% pelo

BNDES, com a seguinte metodologia:

[...] credenciamento e a apuração do conteúdo local para aerogeradores, estabelecendo metas físicas, divididas em etapas, que deverão ser cumpridas pelos fabricantes de acordo com um cronograma previamente estabelecido” (MACEDO, p. 241, 2015).

Além do crédito a juros baixos, outra via de estímulo à industrialização

são as políticas locais de desenvolvimento industrial. As principais medidas que

a gestão local pode adotar para promover a indústria eólica são: infraestrutura -

obras viárias, água, esgoto, energia e telefonia –, incentivos fiscais – por meio

da isenção de impostos – e promoção de qualificação de mão de obra e de

Centros de Pesquisa e Desenvolvimento.

O Rio Grande do Norte não possui um programa específico para o

desenvolvimento das eólicas que englobe as medidas enunciadas

anteriormente. Até mesmo o Programa de Apoio ao Desenvolvimento

Industrial35 (PROADI), não viabiliza empreendimentos do setor eólico. O Estado

potiguar, como visto no capítulo anterior, possui uma fábrica de torres de

35 PROADI é regido pela Lei 7.075, de 17/11/1997 e o Decreto 13.723, de 24/12/1997. Detalhes

sobre a participação do PROADI no desenvolvimento industrial potiguar ver o Capítulo 3 do

Livro de Araújo (2010).

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117

concreto que não tem o direito de receber o benefício por estar no setor de

Construção, não englobado pelo programa de isenção. Apesar dos múltiplos

esforços do Governo do Rio Grande do Norte para atrair investimentos em

energia eólica, a gestão local não criou um programa específico de incentivos

ao setor. Contudo, em 2013, o Governo do Estado assinou um acordo de

empréstimo firmado junto ao Banco Internacional para Reconstrução e

Desenvolvimento – Banco Mundial – para implementação do Projeto Integrado

de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte – Projeto RN

Sustentável –, cuja proposta é:

Apoiar o Governo do Estado a atingir os seus resultados estratégicos planejados a partir da combinação de investimentos que favoreçam o crescimento econômico inclusivo, a redução da pobreza, a prosperidade partilhada, a redução das desigualdades e uma ampla base de desenvolvimento humano. (RIO GRANDE DO NORTE, [201-], p.19)

Na proposta do RN Sustentável estão a promoção de investimentos em

estratégia de desenvolvimento regional integrado, por meio do financiamento

de infraestrutura socioeconômica (estradas, equipamentos turísticos etc.),

investimentos socioambientais e produtivos com base na redução das

desigualdades regionais. Neste quesito, a questão energética para o Rio

Grande do Norte se encaixa no Plano Estratégico do Governo do RN,

financiado pelo RN Sustentável/Banco Mundial num plano de longo prazo, até

2035. Desse plano identificaram-se os seguintes objetivos que estão

associados, de forma direta e indireta, com a promoção do setor de energia

eólica no Rio Grande do Norte:

• Estabelecer, no Rio Grande do Norte, um Parque Tecnológico que

articule áreas estratégicas de desenvolvimento de empresas de base

tecnológica com foco na geração de emprego de alta qualificação e

renda para o estado;

• Restaurar e realizar a manutenção de todas as rodovias existentes no

RN, em ritmo de 100 Km/ano para restauração e 500 Km/ano de

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118

conservação regular, mantendo o novo padrão técnico definido pelo

DER;

• Incentivar a implantação de parques eólicos no estado por meio da

cessão dos terrenos públicos com alta incidência de vento para a

instalação desses empreendimentos; concessão de benefícios fiscais

para compra de equipamentos e de incentivos para produção de

equipamentos e insumos no Estado do RN.

Observe que os objetivos do Plano Estratégico do Governo do Estado

vão ao encontro das principais reivindicações dos investidores em energia

eólica: parque tecnológico, infraestrutura logística e incentivos industriais

(CENÁRIOS, 2015). As principais metas relacionadas a esses objetivos podem

ser conferidas no Quadro 8. Nota-se que, em 20 anos, o Estado pretende

sextuplicar a quantidade produzida de energia eólica, que saltará de 2,3 GW,

em 2015, para 13,9 GW, em 2035.

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OBJETIVO

INDICADOR

V0

METAS

2016 2018 2020 2015 2030 2035

Aumentar o conteúdo tecnológico da produção do Estado

Participação dos setores de média e alta intensidade tecnológica na produção da indústria de transformação do RN Fonte: PIA-Empresas/IBGE

38% (2013)

38% 40% 42% 46% 48% 50%

Ampliar e melhorar a qualidade da malha rodoviária

% Km Construídos Fonte: DER

3000 Km

(100%)

5% 10% 10% 10% 10% 10%

% Km Recuperados Fonte: DER

3000 Km

(100%)

20% 40% 40% 60% 60% 60%

% de rodovias com conceito "bom" ou "ótimo" no estado geral na Pesquisa CNT

41,3% (2015)

45,5% 49,7% 53,9% 64,4% 74,9% 85,4%

Ampliar e diversificar a matriz energética com foco em fontes renováveis

Produção de energia eólica no RN Fonte: ANEEL/CERNE

2,3 GW

(2015)

- - 4,7 GW

7,0 GW

12,1 GW

13,9 GW

Produção de energia solar no RN Fonte: ANEEL (2015) e projetos Bionenergy, Braxenergy e PETROBRÁS

1 (2015)

- - 122 MW

322 MW

800 MW

2000MW

Quadro 8 - Indicadores e Projetos Estratégicos de incentivo direto e indireto à Economia das Eólicas Fonte: SEPLAN (2016). Elaborado pela autora

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120

A produção de energia eólica comercial começou as suas operações em

2006, mas veja que até os dias atuais (2017), o Governo do Rio Grande do

Norte, apesar de apresentar um plano estratégico de desenvolvimento, ainda

está na fase de planejamento. Uma atividade que já está há 10 anos em

operação no estado sobreviveu até o momento sem políticas efetivas de

incentivo por parte do Governo do Estado. Ratifica-se a limitação do gestor

público em impulsionar o setor, e a importância dos programas nacionais,

mesmo fragmentados, na promoção do setor eólico.

5.2 Economia das Eólicas e integração regional: os papéis de Natal e Mossoró

Os municípios de Mossoró e Natal, apesar de não possuírem parques

eólicos, são considerados os maiores municípios (produtivos e populacionais)

do Rio Grande do Norte. Ambos são polos regionais e concentram uma gama

de comércios e serviços que atendem ao estado. Desta forma, este tópico

tratará da importância desses municípios para Economia das Eólicas potiguar.

Natal é a capital do Rio Grande do Norte. Em 2010, o censo registrou

que a cidade possuía 803.739 habitantes, com a população 100% urbanizada

(Ver Tabela 13). Em Natal, está a prestação dos serviços mais sofisticados do

estado, a presença de Universidades, Institutos Técnicos, Centros de

Pesquisa, Unidades Hospitalares de Alta Complexidade, diversos serviços de

Engenharia etc, além de a cidade possuir a presença do Terminal Portuário de

Natal, centralizando a distribuição dos principais produtos importados e

exportados pelo estado.

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Município/ Microrregião

2000 2010

Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Município de Mossoró

199.081 14.760 213.841 237.241 22.574 259.815

Município de Natal

712.317 - 712.317 803.739 - 803.739

Microrregião Baixa Verde

29.569 20.193 49.762 32.380 20.596 52.976

Microrregião Litoral Nordeste

47.972 67.129 115.101 55.184 73.216 128.400

Microrregião Mossoró-Macau

51.964 17.616 69.580 53.461 29.345 82.806

Microrregião Serra de Santana

20.120.9 25.942 46.071 20.983 25.556 46.539

Rio Grande do Norte

2.036.673 740.109 2.776.782 2.464.991 703.036 3.168.027

Tabela 123 - População Urbana e Rural - Natal, Mossoró, Microrregiões Eólicas e Rio Grande do Norte (2000 e 2010) Fonte: IBGE/IPEADATA. Elaborado pela autora

Mossoró, segunda maior cidade do estado, possui importância histórico-

cultural, econômica e regional. A formação histórica da Microrregião Mossoró-

Macau, apresentada no capítulo anterior, condiz com a formação do município

de Mossoró. Atualmente, Mossoró é considerada a capital do Oeste Potiguar

por organizar importantes eventos culturais e de negócios que promovem a

econômica regional, dentre eles: Mossoró Cidade Junina; Festa da Liberdade;

Feira Internacional de Fruticultura Tropical Irrigada (EXPOFRUIT)); Festa do

Bode; Feira do Livro de Mossoró; Feira Industrial e Comercial da Região Oeste

(FICRO); Festa de Santa Luzia (MOSSORÓ, [201-]).

A distribuição do emprego formal em Natal e Mossoró por setores da

economia anuncia a estrutura produtiva desses municípios, conforme pode ser

observado no Gráfico 12. Observe-se que os segmentos de Comércio e de

Serviços juntos somam mais de 60% do emprego formal, evidenciando a

relevância do setor terciário nesses municípios.

Em Natal não existe empregos nos segmentos de Agricultura e Extrativa

Mineral. Já em Mossoró esses dois setores somam 11% do emprego formal do

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122

município, com destaque para a fruticultura irrigada, a indústria salineira e a

indústria extrativa (em especial o petróleo).

Com relação ao objeto desse trabalho, Economia das Eólicas, os

principais setores que possuem relação com as eólicas – Indústria de

Transformação, Produção e Distribuição de energia elétrica e Construção –

representam juntos, em Natal, 13% do emprego formal municipal e, em

Mossoró, 17% do emprego formal municipal. Apesar da participação no

emprego formal da capital ser menor do que em Mossoró, em números

absolutos Natal é bem superior, com 37.698 empregos nos três setores

mencionados. Em seguida vem Mossoró, com 11.650 empregos gerados.

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Gráfico 122 - Participação do Emprego Formal por Setores Econômicos - Mossoró e Natal (2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora

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Foram elencados, no capítulo anterior, os segmentos que possuem

relação direta e indireta com a energia eólica. Na Tabela 14, apresenta-se o

número de empregos formais nas divisões dos segmentos selecionados, a fim

de identificar a importância de Natal e Mossoró frente ao setor eólico potiguar.

Mossoró Natal Mic. Baixa Verde

Mic. Litoral

Nordeste

Mic. Mossoró-

Macau

Mic. Serra de Santana

RN

Produção e Distribuição de Energia Elétrica

5 844 107 2 8 0 1084

Obras de Infraestrutura p/ Energia Elétrica e p/Telecomunicações

87 1028 0 0 1 0 1794

Fabricação de Produtos de Minerais Não-metálicos

764 419 11 4 2 10 6524

Fabricação de Produtos de Metal, exceto Máquinas e Equipamentos

326 595 2 21 26 0 1420

Fabricação de Máquinas e Equipamentos

404 419 0 13 199 1 1439

Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos

80 116 56 0 0 0 299

Tabela 14 - Número de Empregos Formais nas Divisões Selecionados – Mossoró, Natal, Microrregiões Eólicas e Rio Grande do Norte (2015) Fonte: RAIS/MTE. Elaborado pela autora

A divisão entre produção e distribuição de energia elétrica compreende

as atividades de produção de energia elétrica de origem hidráulica, térmica,

nuclear, eólica, solar, etc.; de transmissão e de distribuição de energia elétrica;

do comércio atacadista de energia elétrica; de manutenção de redes de

eletricidade quando executada por empresas de produção e distribuição de

energia elétrica; de serviços de medição de consumo de energia elétrica e de

manutenção de medidores de eletricidade. Desta forma, torna-se inviável

mensurar a relação direta entre a geração de emprego e a energia eólica.

Porém, como esta é a classificação mais próxima da energia eólica que o

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Bando de Dados da RAIS traz, analisou-se o comparativo de Natal e Mossoró

com as Microrregiões Eólicas.

Natal concentra 78% do emprego formal em Produção e Distribuição de

Energia Elétrica do estado. Dois pontos fundamentais que justificam essa

concentração são: 1) elevada demanda energética da capital potiguar e 2) sede

da Companhia de Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). A COSERN

é a sexta maior distribuidora de energia elétrica do Nordeste em número de

clientes e a quinta em volume de energia fornecida. A potência instalada de

1.406 MWH passa por 62 subestações, 53,9 mil Km de linhas de distribuição e

transmissão (COSERN, 201-).

Os empregos formais em obras de infraestrutura para energia elétrica e

para as telecomunicações estão divididos entre Mossoró e Natal. A

concentração entre os municípios polo se justifica pela localização dos

estabelecimentos produtivos desse setor ser em municípios estratégicos, o que

não impede a realização de contratos para operarem em outros municípios do

estado.

As quatro últimas divisões selecionadas são da Indústria de

Transformação: fabricação de produtos de minerais não-metálicos; fabricação

de produtos de metal exceto máquinas e equipamentos; fabricação de

máquinas e equipamentos; fabricação de máquinas, aparelhos e materiais

elétricos. Os empregos formais dessas divisões se concentram também em

Natal e Mossoró, com exceção da divisão de fabricação de máquinas e

equipamentos. Na microrregião Mossoró-Macau, no município de Areia Branca,

existe um fábrica de torres de concreto para aerogeradores, elevando o

número de empregos da região.

Em que pese a pujança das economias de Natal e Mossoró, a análise da

estrutura produtiva desses municípios mostra que elas atuam de forma

tangencial à Economia das Eólicas. Por serem polos regionais, atraem

demandas por serviços especializados que as microrregiões eólicas não são

capazes de oferecer. A relação desses polos com as microrregiões serve

exatamente para evidenciar o grau de integração regional entre esses

territórios através de um setor econômico. Mas essa integração evidência

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também o grau de dependência das microrregiões eólicas aos serviços

oferecidos pelos polos.

Neste capítulo, apresentou-se a situação da Economia das Eólicas do

Rio Grande do Norte, segundo a sua capacidade de promoção do

desenvolvimento socioeconômico e regional. Conclui-se que, apesar dos

esforços nacionais para desenvolver o setor, no Rio Grande do Norte a

dinâmica socioeconômica foi influenciada de forma tangencial, ou seja, sem

profundas transformações.

Destacou-se, no decorrer deste capítulo o Plano Estratégico de

Desenvolvimento do Governo do Rio Grande do Norte, que apesar de

apresentar uma estrutura abrangente de promoção ao desenvolvimento, pouco

foi executado. Ressaltou-se também a polaridade de Natal e Mossoró em

relação à Economia das Eólicas; evidenciou-se que este setor possui baixa

relevância socioeconômica para os municípios citados apesar de Natal e

Mossoró apresentarem uma importante estrutura que viabiliza o

desenvolvimento das eólicas no estado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, analisou-se a dinâmica socioeconômica do Rio Grande

do Norte a partir da introdução da atividade econômica através de parques

eólicos no período compreendido entre 2000-2015. Adotou-se como objeto de

pesquisa a energia eólica como proposta de desenvolvimento local,

compreendendo-se como centro da análise a relação entre os investimentos

eólicos e os territórios estudados.

No cenário global, destaca-se a importância das convenções

internacionais sobre a questão ambiental na influência das políticas públicas de

incentivos ao setor energético renovável, em geral, e energia eólica, em

específico. O avançar do debate sobre a questão ambiental, motivou o

progresso das inovações em energias alternativas renováveis, em

complementaridade às fontes energéticas fósseis. Ademais, revela-se as

diferenças entre os países centrais e periféricos na implantação das fontes

energéticas eólicas, evidenciando que as heterogeneidades histórico-

econômicas entre centro-periferia influenciaram nas relações de dependência

tecnológicas dos países periféricos.

No desenvolvimento regional, constatou-se que diferentemente dos

elevados montantes de investimentos que transformaram e modernizaram a

região Nordeste do Brasil entre os anos 1960-1980, não ocorreu o mesmo

efeito com os locais que receberam os investimentos em empreendimentos

eólicos. Isso ocorreu devido a falta de sincronia das políticas nacionais de

incentivos ao setor com as políticas locais de desenvolvimento.

Em que pese essas ações paliativas que o poder local pode adotar, para

ocorrer um desenvolvimento local integrado ao desenvolvimento geral – que os

empreendimentos eólicos poderiam ser capazes de conferir maior

dinamicidade –, faz-se importante a existência de um programa nacional de

desenvolvimento regional ativo. Esse programa deveria valer-se das

especificidades de cada localidade, sendo capaz de oferecer opções de

integração local/global, a partir da construção de redes, da articulação local de

fornecedores e de pontos centrais de fluxo de informação.

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O mapeamento das microrregiões eólicas identificou como ocorreram os

investimentos dos parques eólicos no Rio Grande do Norte. Sinalizou-se que a

depender do grau de dinamismo de cada microrregião, a economia das eólicas

revela-se com maior ou menor grau de intercessão com a socioeconomia local.

Isso ocorre devido as significativas demandas que os empreendimentos eólicos

possuem para desenvolver-se. Ou seja, um empreendimento eólico ao se

instalar numa microrregião que não possui infraestrutura necessária para as

suas fases de construção e operação, vai buscar esses serviços em outro

lugar, importando o que for necessário para a sua realização.

De acordo com a configuração socioeconômica das microrregiões

eólicas do Rio Grande Norte, com fragilidades que limitam o progresso das

eólicas, destacam-se Natal e Mossoró como centros dinâmicos que ofertam

bens e serviços para todo o estado. Ressalta-se a relação dos polos com as

microrregiões, configurando a integração regional do estado frente a economia

das eólicas, em que pese que esses municípios possuam uma estrutura

produtiva e tecnológica aquém do que o demanda o setor eólico.

Nesse sentido, a microrregião com mão de obra de baixa qualificação,

sem desenvolvimento tecnológico e sem infraestrutura logística, possui um

relacionamento tangencial com a economia das eólicas. Uma importante

vantagem para essas microrregiões é a oportunidade de modernização de seu

equipamento urbano, dado que empreendimentos no período de construção

realizam parceria para a melhoria de rodovias e até mesmo serviços públicos

como saúde (suporte e melhorias de postos de saúde) e educação

(treinamento de mão de obra local). Destaca-se como desvantagem a perda de

oportunidade de absorver para o longo prazo a dinâmica temporária do período

de construção dos parques. Por isso, se faz urgente que os gestores locais

coloquem em prática políticas e parcerias que gerem uma efetiva

modernização da dinâmica socioeconômica local.

Enfatiza-se neste trabalho a urgência de concomitância entre as políticas

nacionais de setor com as políticas locais de desenvolvimento. A economia das

eólicas revela-se como promotora de desenvolvimento quando o Estado

concilia as oportunidades que o setor progride. Caso contrário, a economia das

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eólicas servir-se-á dos territórios em que se instala como recurso para a

reprodução do capital internacional sem se espraiar progresso pelo local.

O trilhar da economia das eólicas no Rio Grande do Norte, pouco

contribuiu para o desenvolvimento de uma economia mais pujante. Observa-se

que as maiores variações socioeconômicas no estado estão muito mais

relacionadas com políticas nacionais, tais como PAC e Minha Casa, Minha

Vida, do que com impactos do setor eólico. Todavia, destaca-se dois pontos: o

primeiro é que em municípios interioranos sem nenhuma atividade econômica

dinâmica, ao receber investimentos em energia eólica, vislumbra a

oportunidades de modificar sua realidade socioeconômica. Entretanto, segundo

ponto, se esses investimentos não forem conduzidos de forma a potencializar

as vocações locais, a oportunidade torna-se perdida, como foi no caso de

diversos municípios do Rio Grande do Norte.

Como principais perspectivas desse trabalho, credita-se na formação

para pesquisas de profundidade nos municípios produtores de energia eólica

em estados periféricos como Rio Grande do Norte, com o objetivo de identificar

as relações entres os atores envolvidos e impactados pela atividade eólica.

Além de chamar a atenção da importância da elaboração de políticas públicas

de desenvolvimento regional, integradas entre o local e o global. O gestor de

políticas públicas deve-se estar atento em criar condições para que os

investimentos possuam conexão com as vocações locais, ou criar mecanismos

para que ocorra a integração econômica entre o empreendimento e as

atividades locais.

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APÊNDICE A – RIO GRANDE DO NORTE: Região Metropolitana e Microrregiões

Fonte: IDEMA-RN (adaptado pela autora) O IDEMA seguiu a classificação de microrregiões do IBGE. Neste mapa fizemos a delimitação da Região Metropolitana de Natal, segundo a Lei Complementar Estadual Nº 391, de 22 de julho de 2009

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APÊNDICE B – REGISTROS FOTOGRÁFICOS DA VISITA DE CAMPO

Figura 1 - Parques eólicos em Galinhos (RN) Fonte: Arquivo da autora

Figura 2 - Estrada de acesso à Fábrica de Torres Eólicas Acciona, em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora

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Figura 3 – Proximidades entre Fábrica de Torres e parque eólico construído em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora

Figura 4 - Fábrica de Torres de Concreto Acciona, em Areia Branca (RN) Fonte: Arquivo da autora

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Figura 5 - Parque eólico construído próximo à vegetação Caatinga, em Guamaré (RN) Fonte: Arquivo da autora

Figura 6 - Estrada de terra batida criada para acesso aos parques eólicos em Guamaré (RN) Fonte: Arquivo da autora

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Figura 7 - Pastagem de animais próximo à torre eólica Fonte: Arquivo da autora

Figura 8 - Habitação rural próximo ao Parque Eólico Fonte: Arquivo da autora

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APÊNDICE C – Tabelas sobre Emprego Formal e Estabelecimentos das Microrregiões Eólicas do Rio Grande do Norte

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

3.404 3.581 3.371 4.859 4.955 5.049 4.696 5.516 4.410 4.769 4.293 4.898 5.553 6.117

2 - Serviços 734 868 838 1.559 1.673 1.224 2.173 2.218 1.841 1.888 2.008 1.870 2.027 1.599

3 - Comércio 581 782 863 913 913 951 1.724 1.694 1.822 1.632 2.420 2.397 1.824 1.862

4 - Construção 160 565 2.318 487 527 538 494 798 1.595 887 963 1.698 1.841 531

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

19 19 21 22 24 23 21 16 25 31 15 14 16 24

6 - Industrias de Transformação

515 485 543 687 335 314 356 380 890 905 911 911 1.051 1.165

7 - Indústrias Extrativas 1.471 1.400 1.462 1.428 1.908 2.045 1.220 1.609 2.051 2.137 2.053 1.838 1.810 1.875

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

359 475 558 357 388 438 432 456 432 418 491 445 500 499

Total 7.243 8.175 9.974 10.312 10.723 10.582 11.116 12.687 13.066 12.667 13.154 14.071 14.622 13.672

Tabela 1 – Microrregião Mossoró-Macau – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

11 12 10 11 14 10 12 14 15 16 13 14 16 14

2 - Serviços 103 120 137 510 516 514 607 218 233 254 266 272 292 295

3 - Comércio 166 204 229 800 724 777 874 337 380 400 436 467 485 479

4 - Construção 18 25 30 86 85 85 88 38 46 47 57 43 81 67

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

2 2 3 3 3 6 6 3 3 5 5 5 6 6

6 - Industrias de Transformação 35 36 31 94 77 88 92 32 36 43 36 41 44 43

7 - Indústrias Extrativas 21 21 21 35 35 35 29 15 20 25 26 25 25 24

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

20 29 41 59 58 52 54 33 34 31 32 31 35 39

Total 376 449 502 1.598 1.512 1.567 1.762 690 767 821 871 898 984 967

Tabela 2 – Microrregião Mossoró-Macau – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

1.672 1.721 1.617 2.027 1.817 2.347 2.302 2.241 2.426 2.513 2.420 2.647 2.156 2.415

2 - Serviços 333 252 363 315 341 253 191 160 208 267 322 322 349 368

3 - Comércio 176 303 279 330 294 375 514 537 651 734 731 782 882 941

4 - Construção 4 3 19 211 2 10 11 34 105 531 477 59 109 230

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

10 11 13 12 13 12 10 10 10 16 4 28 18 107

6 - Industrias de Transformação

58 75 70 87 104 105 118 141 152 372 234 212 212 252

7 - Indústrias Extrativas 0 0 24 27 21 20 17 20 26 26 32 42 68 77

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

34 124 281 438 295 211 312 334 277 284 289 326 412 471

Total 2.287 2.489 2.666 3.447 2.887 3.333 3.475 3.477 3.855 4.743 4.509 4.418 4.206 4.861

Tabela 3 – Microrregião Baixa Verde – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

10 11 10 13 11 12 11 10 11 12 12 12 12 12

2 - Serviços 32 36 40 170 172 178 197 49 55 66 77 87 91 97

3 - Comércio 73 112 120 323 339 371 397 164 168 184 184 191 221 224

4 - Construção 4 4 4 16 13 12 15 12 11 16 20 15 16 18

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

5 5 5 5 5 5 5 5 5 6 1 2 2 8

6 - Industrias de Transformação 6 11 9 26 19 25 30 17 18 20 28 21 27 24

7 - Indústrias Extrativas 0 0 2 5 3 3 5 2 3 2 2 2 3 4

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

11 11 15 29 28 33 43 28 23 15 22 18 25 27

Total 141 190 205 587 590 639 703 287 294 321 346 348 397 414

Tabela 4 – Microrregião Baixa Verde – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

3.263 3.496 3.583 3.970 4.473 4.758 4.451 3.625 4.461 4.942 3.739 3.573 5.712 5.965

2 - Serviços 6.686 6.051 9.371 8.324 4.697 2.820 1.581 1.184 1.346 1.236 1.282 1.385 1.702 2.081

3 - Comércio 604 742 677 761 902 1.137 1.045 1.161 1.313 1.505 1.613 1.894 2.032 2.160

4 - Construção 36 104 179 87 176 61 157 303 361 121 281 516 845 589

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

117 136 128 129 145 115 150 140 145 155 136 150 139 143

6 - Industrias de Transformação

1.418 722 777 874 901 741 793 880 837 839 917 908 987 887

7 - Indústrias Extrativas 48 46 41 40 65 22 37 70 76 73 72 48 44 47

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

504 934 1.060 1.260 1.250 2.319 2.273 2.245 1.360 1.080 914 860 998 987

Total 12.676 12.231 15.816 15.445 12.609 11.973 10.487 9.608 9.899 9.951 8.954 9.334 12.459 12.859

Tabela 5 – Microrregião Litoral Nordeste – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

11 10 9 11 10 9 10 10 11 10 11 10 10 11

2 - Serviços 91 92 91 451 476 542 550 171 182 223 232 260 298 334

3 - Comércio 163 184 193 630 633 669 682 317 358 394 418 484 509 555

4 - Construção 8 9 18 39 32 30 45 25 29 37 40 59 92 120

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

3 4 3 6 8 6 6 5 5 5 5 5 4 5

6 - Industrias de Transformação 24 22 24 78 80 88 95 40 42 46 51 56 60 56

7 - Indústrias Extrativas 5 5 5 11 11 10 5 5 4 4 5 5 5 4

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

67 88 91 160 159 169 179 126 125 127 118 116 115 120

Total 372 414 434 1.386 1.409 1.523 1.572 699 756 846 880 995 1.093 1.205

Tabela 6 – Microrregião Litoral Nordeste – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

1.733 1.842 1.840 2.177 2.239 2.287 2.268 2.325 2.313 2.427 2.503 2.300 2.527 2.675

2 - Serviços 213 282 297 607 671 584 591 576 395 117 602 263 302 336

3 - Comércio 72 96 109 155 160 206 223 245 307 359 429 489 531 584

4 - Construção 13 66 8 19 0 0 3 5 6 49 373 714 550 27

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

19 14 16 15 18 20 12 22 27 30 19 24 26 30

6 - Industrias de Transformação

50 30 31 32 39 36 54 77 103 138 138 206 288 400

7 - Indústrias Extrativas 68 49 3 13 39 35 25 24 23 13 40 102 103 107

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

5 14 15 14 5 6 5 12 4 11 11 36 39 35

Total 2.173 2.393 2.319 3.032 3.171 3.174 3.181 3.286 3.178 3.144 4.115 4.134 4.366 4.194

Tabela 7 – Microrregião Serra de Santana – Número de Empregos Formais por Setores Econômicos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

1 - Administração Pública, Defesa e Seguridade Social

10 10 10 10 9 9 9 10 10 10 10 8 10 10

2 - Serviços 16 16 18 211 238 232 272 25 27 30 38 36 44 61

3 - Comércio 33 44 44 268 298 333 351 110 129 146 157 171 172 199

4 - Construção 1 3 1 4 7 7 7 3 2 10 6 13 19 6

5 - Produção e Distribuição de Eletricidade, Gás e Água

5 4 4 4 4 5 4 5 6 6 3 3 3 3

6 - Industrias de Transformação 5 4 4 20 22 23 31 7 6 8 7 9 16 26

7 - Indústrias Extrativas 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 3 3

8 - Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Pesca

5 4 4 7 7 6 6 5 4 4 5 10 10 11

Total 76 86 86 525 587 616 682 166 185 215 227 251 277 319

Tabela 8 – Microrregião Serra de Santana – Número de Estabelecimentos Produtivos – 2002-2015 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

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ANEXO A – CAPACIDADE TOTAL DA INDÚSTRIA EÓLICA NO BRASIL

Empresa Capacidade anual (MW)

Local

AEROGERADORES

Acciciona 300 Simões Filho (BA)

Alstom 600 Camaçari (BA)

Gamesa 200 Camaçari (BA)

GE 750 Campinas (SP)

Siemens 250 Jundiaí (SP)

Vestas 400 Fortaleza (CE)

WEG 210 Jaguará do Sul (SC)

Wobben 500 Sorocaba (SP)

Lmpsa 1.000 Suape (PE)

Total 4.200

PÁS

Tecsis 6.500 Sorocaba (SP)

Aeris/Suzlot 1.500 Pécem (CE)

Wobben/Enercor 1.500 Sorocaba (SP) e Pécem (CE)

Eólice/LMWindpowe 900 Suape (PE)

Total 10.400

TORRES

Acciciona 100 Areia Branca (RN)

Tecnomaq 240 Fortaleza (CE)

Wobben* 500 Pécem (CE), Prazinho (RN), Gravataí (RS)

RM Eólica 450 Suape (PE)

Torrebrás 220 Camaçari (BA)

SAWE/Engebas 250 Cubatão (SP)

Intecnial 100 Erechin (RS)

Máquinas Piratininga 150 Recife (PE)

Alstom 120 Canoas (RS)

ICEC 100 Mirassol (SP)

Brasilsat 80 Curitiba (PR)

ArcelorMittal/CTZ Eolic Tower*

120 Móvel

Total 2.430

Fonte: Cenários da energia eólica – Anuário 2014/2015. A quantidade pode variar de acordo com a demanda.