universidade federal fluminense mestrado … maria pinto... · orientadora: profa. dra. zenith rosa...

102
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES Autora: Lailah Maria Pinto Nunes Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde Niterói, novembro de 2015

Upload: voquynh

Post on 26-Dec-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS

PRECOCES

Autora: Lailah Maria Pinto Nunes

Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino

Linha de Pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde

Niterói, novembro de 2015

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES

Autora: Lailah Maria Pinto Nunes Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense como requisito para a obtenção do Grau de Mestre.

Linha de pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde

Niterói, novembro de 2015

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

N 972 Nunes, Lailah Maria Pinto. Capacitação multiprofissional em cuidados

precoces / Lailah Maria Pinto Nunes. – Niterói: [s.n.], 2015.

100 f.

Dissertação (Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial) - Universidade Federal Fluminense, 2015. Orientador: Profª Drª Zenith Rosa Silvino

1. Cuidados paliativos. 2. Qualidade de vida. 3.

Capacitação. 4. Educação em saúde. I. Título.

CDD 616.029

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

LAILAH MARIA PINTO NUNES

CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS

PRECOCES

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre.

Linha de pesquisa: O Contexto do Cuidar em Saúde.

Aprovada em ___ de ___________ de 2015.

Banca Examinadora

_____________________________________________________________ Profª Drª Zenith Rosa Silvino – UFF

Presidente

_____________________________________________________________ Profª Drª Marlea Chagas Moreira – UFRJ

1ª Examinadora

_____________________________________________________________ Profª Drª Taiza Florencio Costa – UFF

2ª Examinadora

Suplentes

_____________________________________________________________ Profª Drª Lia Cristina G. dos Santos – HGB/MS

_____________________________________________________________

Profª Drª Barbara Pompeu Christovam – UFF

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

DEDICATÓRIA

À minha querida avó Juracy, que

representa tudo para mim.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

AGRADECIMENTOS

A Deus pela força e saúde para completar esta jornada e por

nunca me deixar desistir, mesmo nas maiores adversidades.

À Professora Zenith Rosa Silvino, pela acolhida quando mais

precisei e por estar sempre ao meu lado nesta longa jornada

como minha orientadora.

Ao meu companheiro, Henrique, pela paciência e a ajuda nos

momentos mais difíceis.

Aos meus filhos, obrigada e desculpas pelas minhas

ausências.

Aos meus pais por serem meu exemplo de vida.

Às professoras Drª Marlea Chagas Moreira, Drª Taiza Florencio

Costa, Drª Barbara Pompeu Christovam e Drª Lia Cristina G.

dos Santos pelas valorosas contribuições.

Ao Instituto Nacional de Câncer (INCA) por permitir a

realização desta pesquisa.

À equipe de enfermagem da quimioterapia do INCA que,

através da beleza de seu trabalho, me inspira todos os dias.

À Raquel Ramos pelas valorosas contribuições.

Aos pacientes com câncer de mama com quem tanto aprendi e

pretendo continuar aprendendo.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

Créditos

Assessoria Técnica: Profª Drª Zenith Rosa Silvino

Revisão de português e formatação de texto: Ana Cristina Paes Pires

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

RESUMO

Apesar de todos os esforços empregados na detecção precoce, o câncer de mama apresenta altas taxas de mortalidade atribuídas ao diagnóstico tardio. Conta-se, no cenário oncológico atual, com o surgimento de novas drogas e tecnologias para prolongamento de vida que trouxeram dilemas éticos, como o momento ideal para encaminhamento de pacientes aos cuidados paliativos (CP). Como reflexo, tem-se uma grande demanda de pacientes sem possibilidades de cura que apresentam características e demandas específicas e a dificuldade de início precoce dos CP. Este estudo tem como objetivo geral desenvolver capacitação multiprofissional em CP precoces. Os objetivos específicos são: identificar, descrever e discutir a concepção de CP e qualidade de vida (QV) na percepção da equipe multiprofissional e sua articulação prática. Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional de Câncer, sob Certificado de Apreciação Ética nº 17685913.0.0000.5274. A coleta de dados ocorreu por entrevistas semiestruturadas e a análise com auxílio do software ALCESTE versão 4.9. Foram encontradas três categorias: Concepções de QV e CP; A teia das relações: profissional/paciente e trabalho em equipe; A prática dos CP. Os CP foram associados a aspectos relacionados à doença e ao paciente. A QV esteve associada à singularidade, saúde e manutenção da funcionalidade. A relação profissional/paciente está comprometida e o trabalho em equipe foi visto como importante. O produto gerado foi a elaboração do Programa de Capacitação Multiprofissional em Cuidados Paliativos Precoces. Ao final, questões complexas emergiram da pesquisa de campo, que foram suficientes para identificar lacunas no conhecimento e amparar a elaboração da capacitação voltada para o público-alvo. Descritores: Cuidados paliativos; Qualidade de vida; Capacitação; Educação em saúde.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

ABSTRACT

Despite all the efforts made in the early detection, breast cancer has high mortality rates attributed to late diagnosis. In the current oncological scenario, with the emergence of new drugs and technologies to prolongation of life, emerged ethical dilemmas, as the ideal time for referral of patients to palliative care (PC). As a reflection, there is a great demand of patients without healing possibilities of cure that have characteristics and specific demands and difficulty of the early onset PC. This study has the general objective to develop multi-professional training in early PC. The specific objectives are to identify, describe and discuss the design of PC and quality of life (QOL) in the perception of the multidisciplinary team and the practice articulation. This is a descriptive study of qualitative approach, carried out after approval by the Research Ethics Committee of the National Cancer Institute, under Certificate of Appreciation Ethics No. 17685913.0.0000.5274. The data were collected by semi-structured interviews and analyzed using the Alceste software version 4.9. Three categories were found: Conceptions of QOL and PC; The web of relations: professional/patient and teamwork; The practice of PC. The PC were associated with aspects of the disease and the patient. QOL was associated to uniqueness, health and maintenance functionality. The professional/patient relationship is committed and teamwork was seen as important. The product generated was the preparation of the Multidisciplinary Training Program in Palliative Care Early. In the end, complex issues emerged from the field of research, which were sufficient to identify gaps in knowledge and support the development of focused training for the target audience. Descriptors: Palliative care; Quality of life; Training; Health education.

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ALCESTE - Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte

APS Atenção Primária à Saúde

ASCO - American Society of Clinical Oncology

BVS - Biblioteca Virtual em Saúde

CAAE - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CACON - Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia

CEM - Código de Ética Médica

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

CGGA - Coordenação Geral de Gestão Assistencial

C.H.A. - Classificação Hierárquica Ascendente

C.H.D. - Classificação Hierárquica Descendente

COFEN - Conselho Federal de Enfermagem

CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

COREN - Conselho Regional de Enfermagem

CNS - Conselho Nacional de Saúde

CP - Cuidado Paliativo

ECOG - Estearn Cooperative Oncology Group

GM/MS - Gabinete do Ministro/Ministério da Saúde

HC - Hospital do Câncer

INCA - Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MEDLINE - Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

MPEA Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial

MS - Ministério da Saúde

NECIGEM - Núcleo de Pesquisa em Cidadania e Gerência na Enfermagem

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONS - Oncology Nursing Society

PNAO - Política Nacional de Atenção Oncológica

PNEPS - Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

PNH - Política Nacional de Humanização

PNPCC-RAS - Política Nacional de Prevenção e Controle de Câncer na Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas

QV - Qualidade de Vida

QT - Quimioterapia

RAS - Rede de Atenção em Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

U.C.I. - Unidade de Contexto Inicial

U.C.E. - Unidade de Contexto Elementar

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

UNACON - Unidades de Assistência de Alta Complexidade de Oncologia

WHO - World Health Organization

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Esquema das etapas da revisão integrativa. Rio de Janeiro, 2014

31

Figura 2 Percentual das classes de palavras sobre o total das unidades de contexto elementar do corpus. Rio de Janeiro, 2014

48

Figura 3 Número de unidades de contexto elementar por classes de palavras. Rio de Janeiro, 2014

48

Figura 4 Percentual das classes de palavras sobre o total de unidades de contexto elementar válidas. Rio de Janeiro, 2014

49

Figura 5 Número de palavras por análise das classes de palavras. Rio de Janeiro, 2014

49

Figura 6 Dendogramas da classificação hierárquica descendente. Rio de Janeiro, 2014

50

Figura 7 Esquema sobre o corpus intitulado cuidados paliativos precoces. Rio de Janeiro, 2014

51

Figura 8 Síntese da evolução dos pacientes com relação a terapia paliativa e qualidade de vida. Rio de Janeiro, 2014

72

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

LISTA DE QUADROS

Quadro 1

Síntese dos artigos sobre o momento para encaminhamento aos cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014

32

Quadro 2

Síntese dos artigos sobre características do encaminhamento aos cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014

35

Quadro 3

Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 2. Rio de Janeiro, 2014

52

Quadro 4

Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 5. Rio de Janeiro, 2014

53

Quadro 5

Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 3. Rio de Janeiro, 2014

54

Quadro 6

Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 4. Rio de Janeiro, 2014

55

Quadro 7

Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 1. Rio de Janeiro, 2014

56

Quadro 8

Conteúdo do plano de capacitação multiprofissional em cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014

75

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

SUMÁRIO

RESUMO vi

ABSTRACT vii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS viii

LISTA DE FIGURAS x

LISTA DE QUADROS xi

1 INTRODUÇÃO 14

2 BASES CONCEITUAIS 19

2.1 INTEGRAÇÃO DO TEMA COM O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 19

2.2 QUANDO A CURA NÃO É MAIS POSSÍVEL: DIFERENÇAS ENTRE TRATAMENTO PALIATIVO E CUIDADOS PALIATIVOS

22

2.3 A QUALIDADE DE VIDA E OS CUIDADOS PALIATIVOS 27

2.4 ENCAMINHAMENTOS AOS CUIDADOS PALIATIVOS PARA PACIENTES COM CÂNCER: ESTADO DA ARTE

29

2.4.1 Categoria 1: Momento para encaminhamento aos cuidados paliativos

31

2.4.2 Categoria 2: Características do encaminhamento aos cuidados paliativos

35

2.5 PRODUÇÃO TECNOLÓGICA: CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES

38

2.5.1 Tecnologia em saúde 39

2.5.2 Capacitação em serviço 40

3 METODOLOGIA 42

3.1 TIPO DE PESQUISA 42

3.2 DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO 42

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA 43

3.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA 44

3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS 44

3.6 OPERACIONALIZAÇÃO DO ALCESTE 46

4 RESULTADOS 47

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS 47

4.2 ANÁLISE FINAL DAS ENTREVISTAS 47

4.2.1 Categoria 1: Concepções de qualidade de vida e cuidados paliativos

51

4.2.2 Categoria 2: A teia das relações: profissional/paciente e trabalho em equipe

53

4.2.3 Categoria 3: A prática dos cuidados paliativos 55

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 57

5.1 CATEGORIA 1: CONCEPÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E CUIDADOS PALIATIVOS

57

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

5.2 CATEGORIA 2: A TEIA DAS RELAÇÕES: RELAÇÃO PROFISSIONAL/ PACIENTE E TRABALHO EM EQUIPE

61

5.3 CATEGORIA 3: A PRÁTICA DOS CUIDADOS PALIATIVOS 66

6 PRODUTO 74

6.1 PLANO DE CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES

74

6.1.1 Objetivos 74

6.1.2 Dinâmica e método 75

6.1.3 Conteúdo 75

6.1.4 Avaliação 76

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77

8 REFERÊNCIAS 80

9 OBRAS CONSULTADAS 90

APÊNDICES 91

Apêndice A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 92

Apêndice B. Roteiro de entrevista 95

Apêndice C. Dicionário do corpus cuidados paliativos precoces 96

ANEXO 97

Anexo 1. Parecer consubstanciado do CEP 98

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

14

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho surgiu da vivência profissional como enfermeira de uma

central de quimioterapia (QT), diretamente envolvida na assistência a pacientes

portadores de câncer de mama. Ao ingressar em instituição pública que presta

atendimento clínico e cirúrgico na área de oncologia, mais especificamente na

unidade III do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva

(INCA), responsável pelo tratamento do câncer de mama, alguns fatos

incitaram uma reflexão mais profunda.

As mudanças ocorridas com o envelhecimento populacional, mudanças

sanitárias e nas relações entre as pessoas e o ambiente ocasionaram uma

alteração no perfil de morbimortalidade brasileiro, levando à diminuição na

ocorrência das doenças infectocontagiosas e colocando as doenças crônico-

degenerativas como centro de atenção dos problemas de doença e morte da

população. Dentre essas doenças se destaca o câncer, cuja estimativa para o

ano de 2014, que será válida para o ano de 2015, aponta para a ocorrência de

aproximadamente 576 mil casos novos1.

Apesar de todos os esforços empregados na detecção precoce, o câncer

de mama apresenta altas taxas de mortalidade atribuídas ao diagnostico

tardio1. Dados da unidade III do INCA indicam que cerca de 40% dos pacientes

admitidos entre os anos de 2011 a 2013 apresentaram estádios avançados da

doença ao diagnóstico (estádios III e IV)2.

O tumor de mama estádio IV se caracteriza pelo envolvimento de outros

órgãos além da mama, o que é conhecido como doença metastática. O tempo

médio de sobrevida desses pacientes irá variar de 2 a 4 anos, portanto, neste

estágio, a doença é considerada incurável. É necessário o início do tratamento

paliativo, com o objetivo de alívio de sintomas e controle da doença3.

A terapia sistêmica é indicada, sendo que a hormonioterapia deve ser

empregada em 1ª linha sempre que possível. O tratamento quimioterápico

paliativo é recomendado para pacientes com receptores hormonais negativos,

metástases viscerais ou refratariedade a hormonioterapia. Podem ser usadas

uma infinidade de drogas e suas combinações, porém, para pacientes com

baixos escores de performance status ou insucesso após duas linhas de

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

15

tratamento prévias, a maioria das recomendações elaboradas pelas

sociedades oncológicas sugere que a QT deve ser suspensa e deve ter início a

abordagem dos cuidados paliativos (CP)4.

Os indicadores do uso de quimioterapia sistêmica da unidade III do

INCA, durante os anos de 2011 a 2013, apontaram que 45.5% das pacientes

atendidas receberam QT com proposta paliativa1,2a. Como reflexo desta

situação, tem-se uma grande demanda de pacientes com doença metastática

que apresentam características e necessidades específicas, diferentes de

pacientes com proposta de tratamento curativo.

Além disso, nas últimas décadas, vivencia-se no cenário oncológico o

surgimento de novas drogas e tecnologias para prolongamento de vida. Se por

um lado houve a promessa de aumento de sobrevida, depara-se hoje com

dilemas éticos, como qual o momento ideal para interrupção do tratamento

paliativo e introdução das medidas de CP3.

Períodos variáveis (meses, anos ou dias) de estabilidade no controle da

doença com a preservação da qualidade de vida (QV) é o que caracteriza a

trajetória institucional de pacientes com doença metastática atendidos na

unidade de tratamento de mama4. Porém, ao passo que ocorrem falhas das

medidas terapêuticas e consequente progressão de doença, o paciente sofre

uma grande carga de sintomas até que enfrente a interrupção do tratamento

paliativo e seja denominado como paciente fora de possibilidade terapêutica de

cura e com necessidade de acesso aos cuidados paliativos exclusivos.

Uma vez identificado como paciente fora de possibilidade terapêutica de

cura, existem duas alternativas: o paciente será encaminhado à unidade de

cuidados paliativos exclusivos (unidade IV do Instituto) ou, dependendo de

suas condições clínicas no momento do encaminhamento, irá ocupar um leito

da unidade de internação do Hospital do Câncer III (HCIII). Hoje, uma parcela

dos leitos da unidade de internação do HCIII é ocupada por pacientes fora de

possibilidades terapêuticas de cura.

Em tese, a permanência destes pacientes é justificada em caráter

transitório até que ocorra a transferência para a unidade de cuidados paliativos.

Na prática, a maioria dos pacientes acaba por falecer dentro da unidade de

a Dados do Registro Hospitalar do Instituto Nacional de Câncer III.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

16

internação. Neste fenômeno fica evidente o nó crítico do processo atrelado ao

momento do encaminhamento à unidade de cuidados paliativos exclusivos. Vê-

se, na prática, que a interrupção na provisão de tratamento paliativo ocorre

tardiamente no curso da doença.

A persistência das medidas de prolongamento de sobrevida em

detrimento de estratégias multiprofissionais e que priorizem o cuidado pode

acarretar em prejuízo à QV de pacientes e familiares, uma vez que estes não

se beneficiam de um cuidado integral fundamental no processo de

terminalidade4.

Nesse sentido, entende-se que a QV é considerada objetivo comum

entre cuidados e tratamento paliativo. Sua definição é: percepção do indivíduo

com relação a sua posição na vida no contexto dos sistemas de cultura e valor

em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações5.

Na maior parte das vezes as decisões sobre manutenção ou interrupção

de tratamento para prolongamento de sobrevida são tomadas com relação aos

critérios objetivos, como mensuração de volume tumoral ou dosagem de

marcadores tumorais séricos. Os dados sobre QV são complementares neste

processo, por fornecerem informações além do comportamento da doença6.

O CP de que estes pacientes necessitam se caracteriza pelos princípios

definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS):

Uma abordagem que visa à melhoria da qualidade de vida dos pacientes e suas famílias que enfrentam doença com risco de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio da identificação precoce e avaliação criteriosa e tratamento da dor e outros problemas físicos, psicossociais e espiritual

7.

Dentro desta perspectiva, este cuidado envolve a necessidade de

domínio de competências específicas por parte da equipe multiprofissional,

como o conhecimento sobre a QV no período de fim de vida, o controle de

sintomas e o resgate de relacionamentos interpessoais8.

Sendo assim, pode-se definir como situação-problema da pesquisa a

dificuldade de início precoce dos CP.

Como questões norteadoras, foram delimitadas:

1) Qual a concepção de CP e QV para a equipe multiprofissional?

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

17

2) Como ocorre a articulação destes conceitos para os membros da equipe

multiprofissional?

Considerando a problematização e as questões norteadoras

apresentadas, foram elaborados os seguintes objetivos:

Objetivo geral: Propor plano de capacitação multiprofissional sobre CP

precoces para a equipe da unidade III no INCA, tendo como base a QV

do paciente com câncer de mama.

Objetivos específicos: Identificar a concepção de CP pelos

profissionais de saúde; descrever como os profissionais de saúde

compreendem a QV do paciente com câncer de mama; e discutir a

articulação entre CP e QV nas falas dos profissionais.

A OMS, em sua publicação Global Atlas for Palliative Care, declara que

os CP são uma questão de direitos humanos. Neste documento é apontado o

aumento na necessidade de provisão de CP em razão do envelhecimento

populacional e aumento na incidência de câncer e outras doenças não

notificáveis9.

Apesar da reconhecida necessidade, sua provisão e acesso fora da

América do Norte, Europa e Austrália são raros e acontecem de forma

desarticulada10. O documento sinaliza que não há momento apropriado ou

limite de prognóstico para a provisão de CP, e é estimado que pessoas

apresentem maiores necessidades de CP antes do período do último ano de

vida.

A contribuição do estudo está na abordagem multiprofissional em CP,

embora estes ainda não estejam representados no Brasil por política pública de

saúde própria, o tema está presente em todos os níveis de atenção propostos

pela Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO)11.

A proposta de capacitação multiprofissional está amparada na

necessidade de humanização da atenção e na garantia de implantação de um

modelo de atenção multiprofissional, princípios e diretrizes da organização da

Rede de Atenção à Saúde (RAS) de pessoas com doenças crônicas12.

Em revisão de literatura sobre encaminhamento aos CP foram

apontados diversos benefícios associados ao encaminhamento precoce para

recepção desse tipo de cuidado, como: menor uso de recursos hospitalares,

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

18

maior sobrevida, menor ocorrência de depressão e maiores escores de QV.

Porém, mesmo em países com serviços de CP estruturados, os

encaminhamentos são considerados tardios13.

Como desafios aos encaminhamentos precoces, apontaram-se:

indefinições conceituais, de papéis e responsabilidades, e a oferta heterogênea

de serviços de CP. Nesse sentido, a proposta de capacitação multiprofissional

desenvolvida através de abordagem problematizadora se encontra em

consonância com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde

(PNEPS) e tem potencial para abordar as necessidades de conhecimento e

integração da equipe, podendo servir de referência para outras equipes que

enfrentem as mesmas dificuldades14.

Essa dissertação está inserida na linha de pesquisa “O contexto do

cuidar em saúde” do Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial

(MPEA) e no Núcleo de Pesquisa em Cidadania e Gerência na Enfermagem

(NECIGEM) e linha de pesquisa Gerência do cuidado em enfermagem.

Este estudo está estruturado da seguinte forma: bases conceituais,

metodologia, resultados, discussão dos resultados e produto, que é o plano de

capacitação multiprofissional em CP precoces.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

19

2 BASES CONCEITUAIS

Neste capítulo aborda-se a presença dos CP nas políticas públicas, as

diferenças entre esses cuidados, tratamento paliativo e QV, e o

encaminhamento precoce dos pacientes para recepção desses cuidados.

2.1 INTEGRAÇÃO DO TEMA COM O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O câncer no Brasil é considerado um relevante problema de saúde

pública, sendo tema nas agendas políticas e técnicas de todas as esferas de

governo devido às altas taxas de incidência e morbimortalidade associadas à

doença15.

A primeira abordagem ao tema “cuidados paliativos” aconteceu com a

criação da Portaria GM/MS nº 1.319, de 23 de julho de 2002, que instituiu o

Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos, com os

objetivos de: criar e determinar providências para cadastro e implementação

dos Centros de Referência em Tratamento da Dor Crônica no âmbito do

Sistema único de Saúde (SUS)16.

Com o objetivo de unificar as ações necessárias para a atenção integral

do câncer, o Ministério da Saúde lançou, em 8 de dezembro de 2005, a

PNAO17. Esta definiu ações a serem realizadas nos níveis de promoção e

vigilância em saúde, com foco na melhoria da QV e buscando um modo mais

saudável de viver. Descreve, ainda, as ações a serem realizadas nos diferentes

níveis de complexidade do sistema: atenção básica, média e alta

complexidades; incorporou programas de câncer do colo do útero e da mama e

controle do tabagismo e outros fatores de risco nos planos municipais e

estaduais de saúde; regulou a atenção oncológica, a avaliação tecnológica, a

educação permanente e a capacitação da equipe de saúde e o incentivo a

pesquisas.

Para sua organização e implementação foi criada a rede de atenção

oncológica composta pelas Unidades de Assistência de Alta Complexidade de

Oncologia (UNACON), os Centros de Assistência de Alta Complexidade em

Oncologia (CACON) e o Centro de Referência de Alta Complexidade em

Oncologia definidos, entre outros critérios, como:

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

20

UNACON – hospital que possua condições técnicas, instalações físicas,

equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de

assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico

definitivo e tratamento dos cânceres mais prevalentes no Brasil. Estas

instituições podem prestar assistência nas diversas áreas da oncologia,

devendo no mínimo contar com um Serviço de Cirurgia Oncológica e um

Serviço de Oncologia Clínica.

Com relação à estrutura física e funcional mínima e de recursos

humanos para serviços hospitalares gerais e específicos para UNACON

são citados: ambulatório, pronto-atendimento, serviços de diagnóstico,

enfermarias, centro-cirúrgico, unidade de terapia intensiva, hemoterapia,

farmácia hospitalar, apoio multidisciplinar, transplantes, CP, serviços de

cirurgia oncológica, de oncologia clínica, de radioterapia, de hematologia

e de oncologia pediátrica.

CACON – hospital que possua as condições técnicas, instalações

físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de

assistência especializada de alta complexidade para o diagnóstico

definitivo e tratamento de todos os tipos de câncer. Devem prestar

atendimento nos serviços de cirurgia oncológica, oncologia clínica,

radioterapia e hematologia. Ainda poderá, de acordo com a necessidade

estabelecida pelo respectivo gestor do SUS, contar com atendimento em

serviço de oncologia pediátrica.

Sua estrutura física e funcional mínima e de recursos humanos deve ser

similar ao UNACON. O CACON deve exercer o papel auxiliar, de caráter

técnico, ao gestor do SUS nas políticas de Atenção Oncológica e que

possua os seguintes atributos: ser hospital de ensino, certificado pelo

Ministério da Saúde e Ministério da Educação, de acordo com a Portaria

Interministerial MEC/MS nº 1.000, além de parâmetros estabelecidos de

acordo com base territorial de atuação.

A atuação de serviços isolados de radioterapia/quimioterapia passa a ter

caráter complementar aos UNACON e CACON, ou onde sua produção não

seja suficiente para suprir as demandas da portaria, que também estabeleceu o

número de UNACON e CACON necessários, com base na estimativa anual de

casos novos de câncer de determinada região/estado.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

21

Em 2010 foi criada a Portaria nº 4.279/GM/MS, que trata das diretrizes

para a estruturação da (RAS. A organização da RAS se apresenta como um

mecanismo de reestruturação do sistema de saúde, tanto na sua organização

quanto na qualidade da atenção prestada, com o objetivo de superar a

fragmentação sistêmica através do aprofundamento das ações efetivas para a

consolidação do SUS18.

A proposta da RAS visa à integração sistêmica através de algumas

características como: relações horizontais com centralização da comunicação

na Atenção Primária à Saúde (APS); equidade de importância dos pontos de

atenção em saúde (espaços que ofertam determinados serviços) e

contratualização, definida como a pactuação da demanda quanti/qualitativa,

através da definição clara de responsabilidades, objetivos de desempenho e

resultando em compromisso formal para ambas as partes.

Posteriormente houve a inclusão das ações de controle de câncer entre

os 16 objetivos estratégicos do Ministério da Saúde para o período 2011–2015,

com destaque para as ações de redução da prevalência do tabagismo e de

ampliação de acesso, diagnóstico e tratamento em tempo oportuno dos

cânceres de mama e do colo do útero, assim como a publicação da nova

Política Nacional de Prevenção e Controle de Câncer na Rede de Atenção às

Pessoas com Doenças Crônicas (PNPCC-RAS), por meio da Portaria nº 874,

de 16 de maio de 201319.

A PNPCC-RAS foi criada para consolidar a Portaria nº 4.279, por meio

da estruturação da RAS para pacientes oncológicos, com objetivo de redução

da mortalidade e da incapacidade causadas pelo câncer, diminuição da

incidência de alguns tipos de câncer, contribuição para a melhoria da QV dos

usuários, por meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce,

tratamento oportuno e CP. Possui como princípios gerais:

Reconhecimento do câncer como doença prevenível e necessidade de

oferta do cuidado integral através das diretrizes das RAS das pessoas com

doenças crônicas;

Organização das redes de atenção regionalizadas e descentralizadas;

Formação de profissionais e promoção da educação permanente;

Articulação intersetorial e garantia de ampla participação e controle social;

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

22

Incorporação e uso de novas tecnologias voltadas para a prevenção e

controle do câncer das pessoas com doenças crônicas, na RAS.

Estabelece diretrizes e princípios relacionados às áreas: promoção da

saúde, prevenção do câncer, vigilância, monitoramento e avaliação, cuidado

integral, ciência e tecnologia, educação e comunicação em saúde. Define as

responsabilidades das esferas de gestão do SUS e das estruturas operacionais

das RAS, além de apresentar estratégias de avaliação e monitoramento da

PNPCC-RAS, assim como seu financiamento.

A primeira abordagem ao tema “cuidados paliativos” foi realizada em

2002, antes mesmo da criação da primeira política de atenção oncológica. Esta

se restringiu ao controle e regulamentação do tratamento da dor crônica e uso

de opióides. Embora, sem dúvida, essa abordagem seja crucial para o

desenvolvimento dos CP, sabe-se que não é suficiente para garantir a

continuidade do cuidado.

Posteriormente, o tema apareceu na PNAO e na PRCC-RAS permeando

todos os níveis das ações, porém, em caráter coadjuvante. Ainda hoje não foi

lançada uma política resolutiva para a implementação da assistência paliativa

no âmbito do SUS. Já é tempo de o tema assumir seu protagonismo, uma vez

que, infelizmente, vive-se num país onde ocorre o diagnóstico tardio do câncer,

o que implica em um grande número de pacientes que terão necessidade deste

tipo de cuidado.

2.2 QUANDO A CURA NÃO É MAIS POSSÍVEL: DIFERENÇAS ENTRE TRATAMENTO PALIATIVO E CUIDADOS PALIATIVOS

O tumor de mama estádio IV se caracteriza pelo envolvimento de outros

órgãos além da mama, o que é conhecido como doença metastática. Segundo

a literatura, para o câncer de mama, os principais sítios de metástase são:

ossos, fígado, pulmão e sistema nervoso central20. Dados do registro hospitalar

da unidade III do INCA relacionados a admissões nos anos de 2011 a 2013,

indicam: 29,8% dos pacientes apresentaram estádio III (doença localmente

avançada) e 8,5% estádio IV ao diagnóstico (doença metastática). Somados,

esse grupo representou quase 40% dos pacientes admitidos neste triênio2,b.

b Dados do registro hospitalar do Hospital de Câncer (HCIII).

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

23

Este fato se deve, entre outras explicações, a dificuldade de acesso aos

serviços de mamografia encontrada pela maioria da população19.

O tempo médio de sobrevida desses pacientes irá variar de 2 a 4 anos.

A sobrevida será maior para o grupo que possuir doença metastática limitada

(linfonodos, pele, metástases pulmonares isoladas) ou metástases ósseas;

enquanto pacientes com múltiplas lesões viscerais ou metástases para sistema

nervoso central têm sobrevida média variando de 4 a 13 meses. Outros fatores

que irão influenciar a sobrevida são: idade, outras doenças coexistentes

(diabetes, doença coronariana), intervalo livre de doença, características da

biologia tumoral como grau de diferenciação, receptores hormonais e perfil

molecular, tratamento adjuvante prévio e o tratamento da doença metastática

propriamente dita21.

Esses fatores irão influenciar a escolha do tratamento empregado;

porém, aqueles considerados mais importantes na escolha do tratamento são:

status do receptor hormonal, receptor HER-2 e tratamentos prévios na doença

em estádio inicial21,22. Além desses fatores biológicos, também irão influenciar

a adesão ao tratamento, e consequentemente a sobrevida, os fatores sociais e

econômicos, como história de vida, contexto cultural e social; e fatores

psicológicos, como ansiedade e depressão21,22.

Somente uma pequena parcela dos pacientes diagnosticados com

câncer de mama estádio IV atingirá a sobrevida em 5 anos, portanto, a doença

é considerada incurável. O tratamento tem proposta paliativa, com o objetivo de

alívio de sintomas e controle da doença.

A terapia sistêmica é indicada, sendo que a hormonioterapia deve ser

empregada em 1ª linha sempre que possível, devido a seu padrão de resposta

e baixo perfil de toxicidade. A radioterapia tem seu uso restrito ao tratamento

de metástase isolada, de metástases ósseas múltiplas ou a radioterapia de

urgência para tratamento de síndromes paraneoplásicas, como a síndrome de

compressão medular ou síndrome de veia cava superior. A modalidade de

cirurgia empregada no tratamento paliativo é a mastectomia higiênica (retirada

do tecido mamário com finalidade de alívio da dor e do sofrimento, sem

intenção de cura) e seu uso é bastante limitado. Embora não haja possibilidade

de cura, pode-se atingir com as modalidades terapêuticas disponíveis

atualmente: um prolongamento da sobrevida que pode atingir anos23.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

24

O tratamento quimioterápico paliativo da mama é indicado para

pacientes com receptores hormonais negativos, metástases viscerais ou

refratariedade a hormonioterapia. Podem ser usadas uma infinidade de drogas

e suas combinações, e a escolha da droga é guiada, principalmente, pela

história prévia de tratamento. Porém, para pacientes com baixos escores de

performance status ou insucesso após 2 linhas de tratamento prévias, a

maioria das recomendações elaboradas pelas sociedades oncológicas sugere

que a QT deve ser suspensa e deve ter início o tratamento de suporte

isolado23.

Também se faz uso de inibidores de osteólise com a finalidade de alívio

da dor óssea e prevenção de fraturas em pacientes com metástases ósseas e

da terapia-alvo que conta com os seguintes agentes: pertuzumab, ado

trastuzumab emtansine, lapatinibe, bevacizumab, everolimus e trastuzumab.

Este último está associado ao aumento na sobrevida livre de progressão,

duração de respostas e sobrevida global quando associado à quimioterapia24.

Alguns dos objetivos desta modalidade de tratamento incluem o manejo

de sintomas e o prolongamento da sobrevida. A partir disso, encontram-se na

prática alguns desafios relacionados aos métodos de avaliação de resposta ao

tratamento. Existem critérios objetivos, como dosagem de marcadores tumorais

e mensuração do volume tumoral, que são facilmente mensuráveis, porém, não

são suficientes como determinantes de um plano terapêutico25.

O paciente com metástase é um paciente que apresenta algum sintoma

relacionado à doença, como dispneia, fadiga ou anorexia6. Acredita-se, então,

que na vigência de um tratamento sistêmico efetivo (QT ou hormonioterapia),

ocorra a diminuição do volume tumoral e, consequentemente, alívio na

sintomatologia apresentada pelo paciente. Porém, a relação entre volume

tumoral e QV do paciente ainda não foi claramente estabelecida25.

Por outro lado, a partir da definição de CP dada pela OMS7, alguns

conceitos podem ser destacados: qualidade de vida, início precoce e

tratamento multidisciplinar. A QV representa objetivo comum entre tratamento

paliativo e CP. Como identificação precoce, entendemos a necessidade deste

estudo em abordar os conceitos de encaminhamento precoce aos CP que tem

início dentro de uma unidade especializada em cuidado oncológico a paciente

portadora de câncer de mama. Os cuidados multidisciplinares estão

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

25

representados pela necessidade de avaliação e tratamento precoce da dor e

outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual, destacados nesta

definição.

O cuidado paliativo é um conceito calcado por princípios e não

protocolos. Não inclui nem exclui propostas de tratamento que visem à

extensão da sobrevida, como os tratamentos curativo e paliativo, mas sim,

ocorrendo em paralelo a eles. Possui diversas abordagens terapêuticas

centradas no doente/família, que podem ocorrer em paralelo aos tratamentos

curativos ou paliativos do câncer de mama, e tendem a se intensificar na

medida em que se aproxima o término da vida26.

O surgimento do termo cuidados paliativos se confunde com o termo

hospice que definia abrigos ou hospedarias destinados a receber e cuidar de

peregrinos e viajantes, no século V. No século XVII, surgiram na Europa

instituições de caridade que abrigavam pobres, órfãos e doentes. Essa prática

se disseminou através de organizações religiosas as quais, a partir do século

XIX, passaram a ter características de hospitais27.

O movimento hospice moderno foi introduzido pela inglesa Cicely

Sauders, com formação humanística e médica, através da fundação do St.

Christopher´s Hospice, em 1967. O encontro de Cicely Sauders com Elizabeth

Kluber-Ross, ocorrido em 1970, fez com que o movimento hospice crescesse

nos Estados Unidos, e nos anos 1980 o hospice ganhou cobertura do

Medicare, seguro social do governo norte americano28.

O hospice ou hospedaria, segundo a Academia Nacional de Cuidados

Paliativos, é uma casa de internação que realiza assistência paliativa. No Brasil

existem três unidades que prestam este tipo de assistência, sendo uma

conduzida por gestão privada (localizada em São Paulo) e duas públicas

(localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro)28.

Nos Estados Unidos, este tipo de serviço conta com reembolso pelo

Medicare, que é o sistema de saúde gerido pelo governo americano destinado

às pessoas com idade maior ou igual a 65 anos. Este tem como critérios para

indicação do hospice: expectativa de vida (ou prognóstico) avaliada em 6

meses ou menos e, ao aceitar a internação em hospedaria, concordar em abrir

mão de outras medidas que prolonguem a sobrevida. Na prática, isso significa

abrir mão de procedimentos como nutrição parenteral, hemotransfusões e QT;

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

26

procedimentos importantes que podem contribuir para a redução dos sintomas

de pacientes com câncer28.

Embora não possa representar uma mudança, o modelo de acesso

aberto aos CP foi criado nos Estados Unidos para atender aos pacientes

portadores de doença incurável, porém, com prognóstico superior a 6 meses

de vida, e para evitar que os indivíduos tenham que lidar com a "terrível

decisão" da renúncia ao tratamento. Seu objetivo é promover tratamento para

paliação dos sintomas e melhoria da QV, ainda que o paciente esteja

recebendo tratamento direcionado à doença. Embora pareça o modelo ideal de

tratamento para estes pacientes, a grande dificuldade encontrada neste país

está na sustentabilidade deste modelo, que envolve mais custos do que o

modelo de cuidados hospice, e, portanto, tem dificuldades de aprovação de

reembolso pelo Medicare29.

Assim, a definição de CP evoluiu de cuidados prestados no fim da vida

para uma abordagem paralela a terapia de prolongamento de sobrevida, e que

aumenta seu provimento conforme a morte se aproxima28.

Pode-se citar como princípios que representam os CP: afirmar a vida e

considerar a morte como um processo normal da vida; não acelerar nem adiar

a morte; integrar os aspectos psicológicos e espirituais e sociais no cuidado ao

paciente; oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão

ativamente quanto possível; oferecer sistema de suporte para os familiares

durante a doença do paciente e o luto; oferecer abordagem multiprofissional

para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo

acompanhamento no luto e; início precoce juntamente com outras medidas de

prolongamento de sobrevida, como quimioterapia e radioterapia, e incluir todas

as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações

clínicas estressantes28.

O cenário brasileiro encontra sérias dificuldades quanto à implantação

de serviços que ofereçam CP, seja na modalidade hospedaria ou acesso

aberto. Algumas delas são: dificuldade de formação profissional (ausência de

cursos de residência e poucos cursos de especialização de qualidade), poucos

serviços disponíveis que ofereçam essa modalidade de cuidado e preconceito

quanto a este cuidado, confundindo-o com medidas para contenção de custos

e eutanásia29.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

27

Sendo assim, pode-se entender que a principal semelhança entre CP e

tratamento paliativo está na busca pela QV como cerne do processo de tomada

de decisões. Porém, a principal diferença é a questão do prognóstico, que

limitaria a indicação ao tratamento paliativo para pacientes com expectativa de

vida inferior a 6 meses e opção pela exclusão de medidas de prolongamento

de sobrevida. Já no tratamento paliativo do câncer de mama, tem-se o

emprego de modalidades direcionadas ao tratamento da doença, porém, sem a

perspectiva de busca da cura.

Ao avaliar o tempo de sobrevida de uma pessoa, corre-se o risco de

determinar sua "morte social" antes da morte física. Isso acontece porque

quando se decreta que determinado paciente possui curto período de

expectativa de vida, corre-se o risco de negligenciar suas necessidades e de

suas famílias. Ou, ao contrário, quanto mais envolvidos com determinado

paciente, frequentemente tende-se a superestimar a sua expectativa de vida, o

que gera distorções como o retardo no encaminhamento ao hospice30.

Como ainda não se conseguiu adaptar os mecanismos de mensuração

de QV à assistência dentro de uma unidade para tratamento curativo que

oferece tratamento paliativo ao câncer de mama, vê-se que, frequentemente,

as decisões são tomadas baseadas em critérios objetivos, como a mensuração

do volume tumoral; pela crença de que quanto menor o volume da doença

metastática menor a carga de sintomas apresentada pelo paciente25. Esta

afirmativa pode ser verdadeira, porém, carece de maior confirmação através de

estudos científicos.

Na prática, avaliar prognóstico é uma questão bastante complexa, pois

envolve vários aspectos, não somente aspectos biológicos. Segundo o Manual

de Cuidados Paliativos: “mesmo que a morte seja um fenômeno biológico

claramente identificado, as percepções de significado, tempo e circunstâncias

em que o processo de morte e morrer se sucedem ainda permanecem num

conhecimento pouco estabelecido e ensinado”28.

2.3 A QUALIDADE DE VIDA E OS CUIDADOS PALIATIVOS

A QV é considerada objetivo comum entre cuidados e tratamento

paliativo. Como já dito anteriormente, tem como definição a percepção do

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

28

indivíduo com relação a sua posição na vida no contexto dos sistemas de

cultura e valor em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,

padrões e preocupações5.

É um conceito amplo que pode ser afetado de forma complexa pela

saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações sociais,

crenças pessoais e suas relações com características marcantes de seu

ambiente31.

Os dados aferidos através da mensuração da QV são relevantes por

fornecer informações além do comportamento da doença e englobar aspectos

relacionados ao bem-estar global do indivíduo, abrangendo os domínios

somático, psicológico e social. Na oncologia, a mensuração da QV é bastante

utilizada no desenho de estudos clínicos, fornecendo dados complementares

aos advindos da coleta dos dados de eventos adversos6,32.

Porém, por serem dados autorreportados, ou seja, de natureza subjetiva,

existem certas limitações quanto ao seu uso na prática clínica. Primeiro, por

conta da desconfiança gerada por dados autorreportados. A importância dos

dados obtidos com instrumentos de QV no processo de tomada de decisão

ainda parece ser bastante limitada, porque esta não está diretamente

relacionada ao prolongamento no tempo de sobrevida.

Na maior parte das vezes, as decisões são tomadas com relação aos

critérios objetivos, como a sobrevida livre de doença, intervalo livre de

progressão e sobrevida global, principalmente com relação aos tratamentos

com intenção curativa. Sem mencionar o alto custo envolvido na coleta dos

dados e na quantidade de tempo necessária para este procedimento33,34. Estes

dados estão muito limitados à questão de expectativa de vida, mas não

atendem às necessidades dos pacientes em processo de proximidade do fim

da vida, pois, não são capazes de expressar o que significa vida para eles.

Portanto, trabalha-se na prática clínica, tanto do ambulatório de

oncologia como na enfermaria, com os conceitos de funcionalidade através da

utilização das escalas de performance clínica. As mais comumente utilizadas

são os índices de Karnofsky e a escala de desempenho do Estearn

Cooperative Oncology Group (ECOG). A lógica das escalas é atribuir valores

percentuais e numéricos a parâmetros como nível de atividade funcional,

sintomas da doença e grau de dependência com relação ao autocuidado.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

29

Esses valores expressam piora ou melhora na condição clínica de determinado

paciente25.

As escalas devem ser mensuradas antes do tratamento de

prolongamento de sobrevida, visando garantir que o paciente possua

condições de tolerá-lo, e no curso deste, com o objetivo de fornecer subsídios

para avaliar a relação toxicidade/benefício clínico, uma vez que pacientes com

maior capacidade funcional e sintomas discretos tendem a obter melhor

resposta ao tratamento e têm uma sobrevida maior que aqueles com menores

capacidades funcionais e sintomas mais graves.

Estas escalas são capazes de documentar o declínio clínico. Índices na

escala de Karnofski inferiores a 70% têm indicação precoce de CP e inferiores

a 50% indicam terminalidade, reafirmando a elegibilidade para CP exclusivos28.

Além dessa escala, conta-se com a escala de Performance Paliativa,

que avalia a capacidade de deambulação, autocuidado, ingestão e nível de

consciência, além da atividade e evidência de doença. Essas escalas de

funcionalidade visam tornar objetivos os critérios funcionais, agregar valores e

avaliar a doença isoladamente. Desta forma, auxiliam o processo de tomada de

decisão quanto à escolha do melhor tratamento para determinado paciente,

porém, possuem como limitador a incapacidade de separar estes critérios de

condições de sofrimento intensas apresentadas pelos pacientes28.

2.4 ENCAMINHAMENTOS AOS CUIDADOS PALIATIVOS PARA PACIENTES COM CÂNCER: ESTADO DA ARTE

Neste tópico será apresentada a revisão integrativa realizada em seis

etapas, a saber: 1) elaboração da questão norteadora seguida pela busca dos

descritores; 2) seleção da mostra através de critérios de inclusão e exclusão; 3)

caracterização dos estudos; 4) análise crítica dos estudos; 5) discussão e

interpretação dos resultados; 6) apresentação da revisão e síntese do

conhecimento.

Para elaboração da questão norteadora utilizou-se a estratégia PICO

(acrônimo formado pelas primeiras letras das palavras em inglês Paciente,

Intervenção, Comparação e Resultados). Baseou-se na seguinte questão:

Quais as evidências disponíveis na literatura acerca de encaminhamentos e

consultas em CP para pacientes com câncer?

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

30

O levantamento dos dados ocorreu durante o período de setembro a

outubro de 2015, utilizando estudos publicados em janeiro de 2010 a outubro

de 2015, a partir das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval

System Online (MEDLINE).

Como critérios de inclusão foram utilizados os artigos publicados nos

últimos 5 anos, em adultos humanos, publicados em inglês, português ou

espanhol. Como critérios de exclusão foram utilizados: relatos de caso e artigos

de opinião, artigos em CP não exclusivamente à pacientes com câncer, artigos

sobre familiares de pacientes com câncer, terapias paliativas não relacionadas

aos encaminhamentos (ex. consultas cirúrgicas, radioterpápicas, intervenções

para dor, estudos clínicos).

Para a busca foram utilizados os descritores: “consultation and referral”,

“palliative care”, “cancer” do MeSH (Banco de descritores de artigos indexados

no MEDLINE) associados ao conector AND para cruzamento dos termos.

Para complementar a pesquisa e obedecendo aos mesmos critérios de

inclusão e exclusão, utilizou-se os descritores “encaminhamento e consulta” e

“câncer” da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) também associado ao conector

AND.

As etapas da revisão foram realizadas de acordo com a Figura 1.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

31

Figura 1. Esquema das etapas da revisão integrativa. Rio de Janeiro, 2014

Etapa 1: Pergunta de pesquisa: Quais as evidências sobre encaminhamentos aos Cuidados Paliativos para pacientes com

câncer?

Descritores: consultation and referral, pall iative

care, cancer e conector AND

Base de dados MEDLINETotal de artigos:136

Descritores: consulta e

encaminhamento e câncer

Base de dados:BVSTotal de artigos:10

Etapa 2: Seleção da amostraAplicação de critérios de inclusão e exclusão

Critérios de Inclusão: Artigos publicados nos últimos 5 anos, em humanos, publicados em inglês, português e

espanholCritérios de exclusão:

Relatos de caso e artigos de opinião, artigos em CP e não exclusivamente a pacientes com câncer, consultas

e encaminhamentos a partir das unidades de CP, artigos sobre familiares com câncer e outras terapias

com intenção paliativa

Total:21 artigos

Etapa 3: Caracterização dos estudosEstudos divididos em 2 categorias:

Categoria 1: Momento para encaminhamento aos CP e Categoria 2: Características dos encaminhamentos aos CP

Etapas 4: Análise artigos da Categoria 1: Momento para encmainhamento aos

CPTotal de artigos:11

Etapa 4: Análise dos artigos da categoria 2: Características dos

encaminhamentos aos CP.Total de artigos:10

Etapa 5: Discussão e apresentação dos resultadosEtapa 6: Síntese dos resultados

Fonte: elaborado pela autora.

Após a aplicação de critérios de exclusão e inclusão, obteve-se um total

de 21 artigos, divididos em duas categorias de análise: Categoria 1 - Momento

para encaminhamento aos CP e; Categoria 2 - Características do

encaminhamento ao CP.

2.4.1 Categoria 1: Momento para encaminhamento aos cuidados paliativos

Nesta categoria foram abordados aspectos relacionados aos

encaminhamentos precoces e tardios aos CP, além da análise do percentual

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

32

de pacientes encaminhados com relação à localização do tumor primário.

Foram encontrados 11 artigos (Quadro 1).

Quadro 1. Síntese dos artigos sobre o momento para encaminhamento aos cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014

Título/Ano Objetivo

Emergency department-triggered palliative care in advanced cancer: proof of concept/201533

Avaliar o processo de encaminhamento precoce a partir do departamento de emergência para o serviço de CP de pacientes com câncer avançado e incurável para comparar a proporção e momento apropriado do momento de encaminhamento.

Early integration of palliative care facilitates the discontinuation of anticancer treatment in women with advanced breast or gynecologic cancers/201434

Avaliar indicadores de saúde em mulheres com câncer ginecológico avançado após descontinuação do tratamento ativo com relação ao modelo de cuidado recebido (encaminhamento precoce X tratamento padrão).

Impact of timing and setting of palliative care referral on quality of end-of-life care in cancer patients/201535

Examinar o momento de encaminhamento aos CP e sua relação com indicadores de cuidado no fim de vida

Palliative care and hematological malignancies: increased referrals at a comprehensive cancer center/201336

Analisar tendência em número e proporção dos encaminhamentos aos serviços de CP e mudanças nas características dos encaminhamentos.

Early palliative intervention for patients with advanced cancer/201337

Comparação entre encaminhamentos tardios e precoces aos CP para pacientes com câncer avançado e estabelecer momento adequado para encaminhamento.

Early referral to supportive care specialists for symptom burden in lung cancer patients: a comparison of non-Hispanic whites, Hispanics, and non-Hispanic blacks/201238

Avaliar se o momento apropriado para encaminhamento ao CP e resultados do encaminhamento na carga de sintomas teve relação com raça e etnia em pacientes com câncer em hospital terciário.

Hospice referrals and code status: outcomes of inpatient pallaitve care consultation among asian americasn and pacific islanders with cancer/201139

Comparar encaminhamentos de pacientes com câncer ao hospice com relação a critérios como mudança de status funcional após consulta, etnia e planejamento de cuidados.

Components of early outpatient palliative care consultation in patients with metastatic nonsmall cell lung cancer/201140

Descrever prática de encaminhamento precoce aos CP e melhora na qualidade de vida, humor e sobrevida de pacientes com câncer.

Late referrals to home palliative care service affecting death at home in advanced cancer patients in Japan: a nationwide survey/201141

Identificar fatores que influenciaram o local da de morte entre pacientes recebendo CP domiciliar, com foco na identificação do momento apropriado ao encaminhamento ao home care.

Late referral to palliative care services in Korea/201142

Investigar padrões de encaminhamento precoce e tardios.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

33

Association between a name change from palliative to supportive care and the timing of patient referrals at a comprehensive cancer center/201143

Comparar características e disposição para alta de pacientes hospitalizados com câncer de pulmão com relação ao encaminhamento para CP X tratamento padrão.

Fonte: elaborado pela autora.

Nesta categoria houve predomínio de artigos norte-americanos. Neste

país, o encaminhamento para o hospice (unidade de internação em CP) é

coberto pelo sistema de saúde (Medicare), por reembolso, e requer, para sua

inclusão, pacientes com expectativa de vida inferior a 6 meses e abdicação de

qualquer terapia ativa para o câncer (como QT ou radioterapia)26.

Esse sistema de saúde, que opera por reembolso, fomenta os

encaminhamentos tardios aos CP, uma vez que obriga médicos e pacientes a

escolherem entre medidas curativas e tratamento paliativo. Além disso, ao

fornecerem cobertura às medidas de prolongamento de sobrevida e não

reembolsarem de forma diferenciada consultas que envolvam os processos

relacionados ao encaminhamento aos CPc (discussões de metas de cuidado

realistas com pacientes e familiares) acabam por favorecer a oferta de

tratamentos agressivos e fúteis na fase de fim de vida44.

Como medida para diminuir esta distorção, as entidades de classe

americanas, como a American Society of Clinical Oncology (ASCO),

produziram uma declaração de política em 2011, intitulada American Society of

Clinical Oncology Statement: Toward Individualized Care for Patients With

Advanced Cancer, que aponta o modelo de CP concomitante a terapia voltada

para o câncer avançado, como uma das estratégias para vencer as barreiras

de encaminhamento destes pacientes ao serviço de hospice, inclusive

apontando que programas que usam esta estratégia devem ser ampliados e

apoiados44. Essa recomendação é endossada pela declaração da Oncology

Nursing Society (ONS) em 2014.

Os benefícios do encaminhamento precoce que foram descritos em

artigo publicado em 201045 servem de referência para os artigos de

encaminhamento precoce devido à relevância de seus achados,

principalmente, a melhora na sobrevida de pacientes com câncer de pulmão

c Discussões de metas de cuidado e prognóstico realista para pacientes em fim de vida consomem mais tempo e são emocionalmente mais difíceis para a equipe

7.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

34

que receberam consultas antecipadas de CP, equiparando o efeito dessas

consultas ao uso da quimioterapia no prolongamento da sobrevida26.

Quanto à população priorizada nos artigos para encaminhamento

precoce foram apontados pacientes com tumores ginecológicos, de pulmão e

de cabeça e pescoço. Estas patologias compartilham prognóstico ruim

(expectativa de vida < 12 meses) e alta carga de sintomas requerendo

constantes visitas aos serviços de emergência e internações, tornando essas

populações interessantes sobre o ponto de vista de estudos intervencionistas,

de uso de serviços ou sobrevida45;48. Neste tipo de estudo é importante a

seleção de uma amostra homogênea e representativa para atingir significado

estatístico. Sendo assim, é correto classificar os pacientes com relação a uma

medida de prognóstico (expectativa de sobrevida).

Pacientes hematológicos apresentam características que os tornam uma

população com maiores índices de encaminhamentos tardios. O curso da

doença hematológica varia bastante, desde pacientes com linfoma, que podem

sobreviver longos períodos de tempo sem requerer tratamento quimioterápico,

até pacientes com leucemia aguda, que necessitam de regimes intensos de

tratamento49.

Os índices de cura para tumores hematológicos aumentam quando uma

terapia mais agressiva é empregada, porém, também aumentam os riscos de

complicações que ameaçam a vida, como sepse e sangramentos. Por conta

deste limite tênue entre terapia curativa e declínio clínico, um grande número

de pacientes hematológicos pode ter seu risco para morte e complicações dos

tratamentos subestimados e, por consequência, são mais tardiamente

encaminhados aos serviços de CP49.

De um modo geral, foram considerados encaminhamentos precoces aos

CP, desde encaminhamentos a partir da emergência, encaminhamentos de

pacientes com expectativa de vida de até 2 anos, pacientes recebendo

tratamento ativo para doença, pacientes recebendo tratamento ambulatorial

desde 7 dias até 3 meses antes da morte.

Encaminhamentos precoces foram associados a diversos benefícios

como: antecipação do recebimento da consulta de CP, menores internações na

emergência, hospitalizações e mortes na emergência nos últimos 30 dias de

vida, aumento na sobrevida, menos depressão, maior QV e sobrevida. Além

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

35

disso, foram associados à prestação de CP ambulatorial e aos maiores índices

de tratamento agressivo, pois, permitiram que pacientes pudessem suportar o

tratamento por mais tempo.

Os pacientes encaminhados precocemente foram relacionados às

seguintes patologias: câncer de pulmão de não pequenas células, colorretal e

tumores de cabeça e pescoço. Já os encaminhamentos considerados tardios

foram relacionados à ocorrência de tumores hematológicos e pacientes do

sexo masculino.

Encaminhamentos tardios variaram igualmente em definição, com

relação ao momento para encaminhamento. Estão presentes, mesmo em

serviços que provem CP ambulatorial e em patologias com prognóstico

sabidamente reservado (ex. tumores cerebrais). Também estiveram associados

a fatores socioeconômicos como tipo e modalidade de seguro saúde.

2.4.2 Categoria 2: Características do encaminhamento aos cuidados paliativos

Nesta categoria foram abordados aspectos facilitadores e barreiras aos

encaminhamentos aos CP. Foram encontrados 10 artigos elencados no quadro

abaixo.

Quadro 2. Síntese dos artigos sobre características do encaminhamento aos cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014

Título/Ano Objetivo

Hospice admissions for cancer in the final days of life: independent predictors and implications for quality measures/201450

Determinar características de pacientes encaminhadas ao hospice nos últimos 3 dias de vida e descrever proporções de encaminhamentos tardios

Clinical presentation and patterns of care for short-term survivors of malignant glioma/201451

Descrever a apresentação clínica de pacientes com glioma em período de fim de vida (<120 dias) e indicadores de CP e cuidados de fim de vida

Predictors of palliative care consultation on an inpatient gynecologic oncology service: are we following ASCO recommendations?/201452

Determinar preditores de consulta paliativa a pacientes internados e caracterizar encaminhamentos com relação às recomendações da Sociedade americana de Oncologia Clínica.

Oncologist factors that influence referrals to subspecialty palliative care clinics/201453

Fatores que influenciam o encaminhamento ambulatorial aos serviços de CP

Clinical characteristics of cancer patients referred early to supportive

Comparar características clínicas entre pacientes encaminhados precoce e

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

36

and palliative care/201354 tardiamente aos CP

What influences the willingness of community physicians to provide palliative care for patients with terminal cancer? Evidence from a nationwide survey/201355

Identificar a intenção de encaminhamento de médicos comunitários aos serviços e CP e fatores que influenciam essa intenção

Continua...

...continuação

Título/Ano Objetivo

Access to palliative care among patients treated at a comprehensive cancer center/201256

Determinar proporção de pacientes com câncer que receberam CP e preditores do encaminhamento

Referral practices of oncologists to specialized palliative care/201257

Descrever práticas de encaminhamento aos serviços de CP

Lung cancer physicians' referral practices for palliative care consultation/201258

Identificar fatores que influenciam encaminhamento aos serviços de CP

Palliative care out consultation service in a teaching hospital in Bangladesh/201159

Determinar características de encaminhamento, padrões de doença e consciência da doença e outros sintomas de pacientes que frequentam serviço ambulatorial de CP

Fonte: elaborado pela autora.

Serviram de gatilho para os encaminhamentos aos CP a presença de

declínio funcional e sintomas de difícil controle pelos pacientes. Foi rara a

ocorrência de encaminhamentos a pedido de pacientes e família,

demonstrando a importância da abordagem do assunto pelo profissional de

saúde. Alguns serviços foram chamados de cuidados de apoio, na tentativa de

superar o estigma relacionado ao nome CP. O suporte oferecido por estes

serviços permitiu que pacientes tolerassem por mais tempo as terapias

voltadas para a doença (como a quimioterapia).

Foram apontados como desafios aos modelos de encaminhamentos,

questões como indefinição quanto ao conceito de CP, indefinição de papéis e

responsabilidades, oferta heterogênea de serviços e dificuldades na

comunicação. Estes assuntos são abordados no Global Atlas of Palliative Care

at the End of Life elaborado pela Worldwide palliative care alliance (WPCA) e

OMS, em 2014, como barreiras a integração dos serviços9.

A American Society of Clinical Oncology declarou recentemente sua

visão de integração dos CP no modelo e visão de atendimento global do câncer

em 202043. O estudo de 201060 trouxe a descrição da integração de cuidados

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

37

de suporte e CP à prática oncológica. Foram descritos 3 modelos de cuidados:

o modelo de cuidados isolado, útil em consultórios e comunidades pequenas

em que o oncologista assume o cuidado ao câncer e as medidas paliativas,

porém, possui a desvantagem da falta de treinamento do profissional

oncologista em CP, restrições de tempo e risco de burnout do oncologista; o

modelo congresso e o modelo de cuidados integrados.

No modelo congresso, o oncologista faz diversos encaminhamentos aos

especialistas e o paciente é atendido pela equipe de CP somente em fase de

fim de vida. Esse modelo possui as desvantagens de ser cansativo e

dispendioso para pacientes e familiares, e, pela falta de interação entre

especialistas, pode resultar em prescrições conflitantes, interações

medicamentosas e agravamento ao invés de resolução de problemas.

No modelo de cuidados integrados, tem-se o oncologista atuando em

questões relacionadas ao câncer e o paliativista atuando na vasta maioria das

questões psicológicas e físicas. Essa abordagem traz mais benefícios para

oncologistas, pacientes e familiares e apresenta de uma forma prática a

viabilidade do tema desta revisão60.

Outra contribuição apresentada em um dos estudos60 foi a abordagem

de pacientes sobre prognóstico e metas do cuidado. Esta abordagem faz

analogia com a compra de um carro e as questões que devem ser levantadas

sobre imprevistos e medidas de conforto. Embora bastante criativo, não é

possível conhecer sua aplicabilidade à prática oncológica brasileira, uma vez

que não se tem conhecimento de seu uso na literatura.

Foram considerados como facilitadores dos encaminhamentos aos CP:

pacientes com altas cargas de sintomas e pior prognóstico, e aspectos

relacionados à prática oncológica, como experiências prévias positivas de

encaminhamento, e a visão de que médicos paliativistas dispõem de mais

tempo para acessar questões complexas. A mudança no nome do serviço para

serviço de suporte, ao invés de CP, também trouxe aumento nos

encaminhamentos.

Foram consideradas barreiras para encaminhamentos: a concepção de

que os CP constituem uma filosofia alternativa, incompatível com a terapia para

o câncer; crença de que a responsabilidade pela provisão dos CP é do

oncologista; falta de conhecimentos sobre serviços de CP disponíveis; e a

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

38

indisponibilidade de acesso a serviços que prestem atendimento integrado

(paralelo ao tratamento oncológico padrão).

O debate sobre o momento ideal para encaminhamento aos CP cresceu

como reflexo do surgimento das novas tecnologias para prolongamento de

sobrevida e apoia-se no ideal do encaminhamento precoce, que foi associado a

diversos benefícios, porém, sua prática parece ainda em evolução. Mesmo em

locais que dispõem de serviços de CP integrados aos cuidados oncológicos,

ainda se vivencia os encaminhamentos tardios. A população de pacientes com

tumores hematológicos encontra-se mais vulnerável a esse tipo de

encaminhamento.

Existem elementos facilitadores aos encaminhamentos relacionados ao

alívio de sintomas e a experiência prévia positiva com estes. Porém, como

barreiras surgiram a falta de oferta e aspectos conceituais que necessitaram

ser abordados na tentativa de expandir este cuidado a todos os pacientes com

câncer que os necessitam.

Serão imprescindíveis várias ações de âmbito global para aproximar o

paciente sem possibilidade de cura do cuidado paliativo, como mudanças

políticas que favoreçam encaminhamentos precoces e aumentem a oferta de

CP integrados. Paralelo a isso, deve-se implementar ações locais com o

objetivo de conscientização dos profissionais de saúde da importância da

assistência paliativa e articulação entre o papel do oncologista e do especialista

em CP.

2.5 PRODUÇÃO TECNOLÓGICA: CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES

A inserção precoce dos CP nas práticas oncológicas constitui desafio às

instituições de saúde de todo o mundo. Elas estão associadas às questões

como: dificuldades na comunicação e previsão de prognóstico, déficit de

conhecimento dos profissionais de saúde acerca dos princípios dos CP, e o

modelo atual de provisão de cuidados, que implica na escolha pelo paciente

entre medidas de prolongamento de sobrevida, e provisão dos CP

exclusivamente.

Através de estudo de campo, pôde-se perceber a presença destes

problemas nas falas dos profissionais que atuam na unidade de tratamento de

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

39

mama (HC III), ainda que exista a demanda pelo atendimento a esses

pacientes. Considerando que a prática paliativa emergiu como principal

categoria do estudo, buscou-se uma estratégia educativa que visasse inserir os

CP na prática.

Nesse sentido, o modelo de educação permanente foi adotado como

referência para as práticas educativas. Esta é definida pela Portaria GM/MS nº

1.996, de 20 de agosto de 2007, como conceito pedagógico, no setor da saúde,

para efetuar relações orgânicas entre ensino, ações e serviços, e entre

docência e atenção à saúde, sendo ampliado para as relações entre formação

e gestão setorial, desenvolvimento institucional e controle social em saúde61.

A educação permanente é aprendizagem no trabalho e voltada para o

trabalho, uma vez que se baseia nos conceitos da aprendizagem significativa e

na possibilidade de transformar as práticas profissionais. Tem seu gatilho na

problematização do processo de trabalho, com o objetivo de transformar as

práticas profissionais e a própria organização do trabalho, partindo das

necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores, pautadas

pelas necessidades de saúde das pessoas e populações.

2.5.1 Tecnologia em saúde

O processo de trabalho em saúde pautado no modelo assistencial

tradicional em que a prática é voltada para o saber biológico, centrando seus

recursos na doença ou conduta, produz uma saúde mecanicista com

predomínio de intervenções técnicas e medicalizantes62. Esse modelo tem sido

questionado no atendimento integral das necessidades do indivíduo, sendo

necessário reorganizar o processo de trabalho.

Para tanto, tem sido proposta a incorporação de estratégias

concomitantemente às medidas biomédicas, para que se tenha como o produto

da assistência o cuidado integral em detrimento do cuidado a doença. Dentro

desta perspectiva, destaca-se a incorporação das tecnologias leves em saúde

para a melhoria do processo produtivo63.

Pode-se definir tecnologia em saúde como o conjunto que envolve

instrumentos necessários para o trabalho, incluindo saberes e produtos

materiais e não materiais. Podem ser classificadas em: tecnologias duras, leve-

duras e leves62.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

40

As tecnologias duras são representadas pelos equipamentos, máquinas,

além de saberes e fazeres já estruturados. As tecnologias leve-duras se

referem às normas, protocolos e o conhecimento produzido em áreas

específicas do saber. As tecnologias leves são o produto das relações de

interação e subjetividade, possibilitando a produção de acolhimento, vínculo,

responsabilização e autonomização63.

Nesse sentido, buscou-se uma estratégia de educação em serviço

definida como capacitação e inserida no contexto de tecnologia leve-dura.

2.5.2 Capacitação em serviço

A capacitação é definida como um conjunto de ações intencionais e

planejadas, que têm como missão fortalecer conhecimentos, habilidades,

atitudes e práticas que a dinâmica das organizações não oferece por outros

meios. Constitui uma das estratégias mais usadas para enfrentar os problemas

de desenvolvimento dos serviços de saúde64.

De acordo com a PNEPS, pode-se esperar dos processos de

capacitação:

Melhora no desempenho pessoal e das funções do respectivo processo de

produção;

Contribuição para o desenvolvimento de novas competências;

Servir de substrato para transformações culturais de acordo com as novas

tendências, como a geração de práticas desejáveis de gestão, a atenção e

as relações com a população.

Sendo assim, a capacitação atua não somente como estratégia

educacional, mas, como parte da estratégia de mudança institucional. Porém,

para que se atinja progressivamente e sistematicamente todos estes

propósitos, é necessário que a capacitação seja capaz de superar desafios,

cujos principais são:

Modelo de conhecimento “escolar” meramente centrado na aquisição de um

conteúdo acadêmico;

Ruptura do paradigma do privilégio ao conhecimento acadêmico em

detrimento do conhecimento prático, este último conhecido como

conhecimento de segunda categoria

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

41

Ou seja, para atingir mudanças organizacionais é necessário mais que

uma visão educativa. É necessária uma observação das práticas de maneira

consciente e verbalizada, de modo a induzir o processo de reflexão ao grupo.

Para um processo de capacitação capaz de promover as ações

necessárias à modificação de comportamento e sustentáveis, faz-se imperativo

o uso da problematização como estratégia de integração da ação educativa às

práticas.

A metodologia da problematização segue o referencial de Charles

Maguerez e é desenvolvida em 5 etapas: observação da realidade, pontos-

chaves, teorização, hipóteses de solução, e aplicação à realidade64.

Na observação da realidade e de pontos-chaves tem-se a apresentação

dos dados sobre concepções práticas elaboradas pelo grupo, por meio da

pesquisa de campo sobre concepções de QV e CP para a equipe e a reflexão

crítica sobre esses dados.

Na etapa de teorização, apresenta-se a pesquisa bibliográfica sobre o

encaminhamento precoce aos CP. Com isso se pode observar a realidade dos

serviços onde há integração entre tratamento curativo e paliativo.

Na etapa de hipóteses de solução se realiza a discussão crítica sobre

barreiras e facilitadores do encaminhamento precoce à unidade de CP.

As rodas de conversa constituem estratégia da Política Nacional de

Humanização (PNH) com o objetivo de inclusão dos trabalhadores na gestão

dos processos de trabalho14. Estas possibilitam encontros dialógicos, criando

possibilidades de produção e ressignificação de sentido – saberes – sobre as

experiências dos participantes. Sua escolha se fundamenta na horizontalização

das relações de poder.

Na aplicação da realidade tem-se a discussão em grupo de estratégias

para implementação do encaminhamento precoce. Como instrumento para

avaliação apresenta-se a proposta da comparação entre o conhecimento pré e

pós-capacitação.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

42

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

Pesquisa descritiva exploratória com abordagem qualitativa, que é um

método de pesquisa definido como65:

O método que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.

O estudo exploratório permite ao investigador a definição do problema

de pesquisa e a formulação de hipótese com mais acurácia. Ainda permite que

o pesquisador escolha as técnicas mais apropriadas a sua pesquisa, e também

decida as questões a serem enfatizadas e detalhadas na investigação, e pode

sinalizar potenciais dificuldades, sensibilidades e áreas de resistência no

processamento de problema66.

Ou seja, a partir do problema central - a compreensão da concepção de

CP e QV para equipe multiprofissional e a influência desta concepção na

atuação da equipe, desenhou-se o objetivo de compreender essa concepção e

sua influência na atuação da equipe multiprofissional.

3.2 DESCRIÇÃO DA INSTITUIÇÃO

O INCA se caracteriza por ser o órgão do Ministério da Saúde (MS)

responsável pelo desempenho de ações nas áreas de assistência médico-

hospitalar, prestada direta e gratuitamente aos pacientes com câncer, como

parte dos serviços oferecidos pelo SUS. Atua em áreas estratégicas, como

prevenção e detecção precoce, formação de profissionais especializados,

desenvolvimento da pesquisa e geração de informação epidemiológica. É

composto por cinco unidades com clientela e ações específicas.

Na unidade I é prestado atendimento aos adultos e crianças com

diversos tipos de câncer; na unidade II são atendidos os pacientes com câncer

genital feminino e do tecido ósseo e conectivo; a unidade III é destinada a

pacientes com câncer de mama; na unidade IV presta-se assistência a

pacientes tratados nas outras unidades hospitalares do INCA, para CP e; na

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

43

unidade V são atendidos os pacientes com indicação de transplante de medula

óssea.

Sendo assim, a estrutura do instituto hoje é dividida entre as unidades

ditas “curativas” e a unidade de CP. A unidade III do INCA, onde foi

desenvolvido o estudo, é responsável pelo tratamento quimioterápico,

radioterápico e cirúrgico, além de exames diagnósticos, e de acompanhamento

e atividades em pesquisa clínica necessários ao tratamento de pacientes

acometidos pelo câncer de mama. No INCA, a unidade IV é responsável,

exclusivamente, pelo cuidado paliativo.

Vive-se hoje um paradoxo, pois, embora não seja a unidade responsável

pelo atendimento aos pacientes com proposta de CP, grande parte dos

pacientes atendidos na unidade III possui o diagnóstico de câncer de mama em

estágio avançado (estádios III e IV), o que se traduz em menor percentual de

cura e, portanto, maior possibilidade de serem submetidas ao tratamento

paliativo e posterior encaminhamento à unidade de tratamento de cuidados

paliativos exclusivos.

Atualmente a unidade III do INCA, nos setores de oncologia clínica e

ambulatório de quimioterapia, funciona com uma equipe multiprofissional

composta por 15 enfermeiros, 04 técnicos em enfermagem, 10 médicos

oncologistas clínicos, 03 psicólogos, 03 farmacêuticos, 04 assistentes sociais,

04 fisioterapeutas e 03 nutricionistas, que atuam nos serviços de ambulatório

de oncologia clínica, ambulatório de quimioterapia e ambulatório de cateteres e

enfermaria de oncologia clínica.

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA

A amostra contemplou 14 profissionais de saúde que exercem suas

funções no HC III e contou com 02 membros de cada categoria profissional

envolvidos no cuidado à paciente portadora de câncer de mama metastático e

com proposta de tratamento paliativo. As categorias foram: médicos,

enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, fisioterapeutas e assistentes sociais.

E suas escolhas foram motivadas por conta de serem estes profissionais que

têm contato com as pacientes no momento da transição do tratamento paliativo

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

44

para os cuidados paliativos, e, portanto, estão envolvidos na elaboração e

execução do plano de cuidados de cada paciente.

Foram selecionados apenas dois membros de cada categoria

profissional, uma vez que existem categorias com apenas 03 membros em seu

quantitativo de funcionários. Esta escolha se mostrou acertada, já que se

atingiu a saturação dos dados utilizando esse quantitativo de sujeitos.

3.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Este estudo é um subprojeto do estudo intitulado “Quando a cura não é

mais possível: trabalhando a paliação dentro de uma unidade paliativa”. Para

sua execução foi solicitada a autorização da Coordenação Geral de Gestão

Assistencial (CGGA) do INCA e o estudo foi enviado ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) da instituição, que o aprovou com o Certificado de

Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 17685913.0.0000.5274, em 09

de julho de 2014 (Apêndice B), atendendo, portanto, aos princípios da

Resolução nº 466/12, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de

Saúde (CNS), e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da

Saúde (CONEP/MS). Assegurou-se aos sujeitos que o estudo observaria, ao

máximo, a isenção do risco aos que aceitassem participar do mesmo.

Foi submetida emenda ao CEP em 04 de julho de 2014, retificando a

mudança na instituição coparticipante do estudo e da orientação, a qual foi

aprovada.

3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A coleta dos dados iniciou-se em junho de 2014. Foi utilizada a técnica

da entrevista semiestruturada, que foi gravada para melhor capturar o conteúdo

das informações. Todas as entrevistas aconteceram nos respectivos locais de

trabalho (clínica ou consultório) dos entrevistados, de modo a permitir que

estes se sentissem confortáveis durante o procedimento, e a melhorar a

qualidade dos dados.

A escolha desta técnica para coleta de dados está no sentido de

capturar o sentido amplo da comunicação verbal a respeito de determinado

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

45

tema específico, fundamental ao trabalho de campo, proposta pela pesquisa

qualitativa67.

Os dados foram obtidos mediante auxílio de um roteiro de entrevistas

(Apêndice A) composto de 05 perguntas direcionadas a CP, QV e aplicação

desses conceitos nas ações da equipe multiprofissional.

A análise de dados é uma etapa complexa que demanda tempo e

energia dos pesquisadores. O objetivo da análise de dados nos estudos

qualitativos é retratar a cultura como conhecida pelos seus informantes. Ela

começa logo após a coleta e termina quando o pesquisador e os sujeitos da

pesquisa se sentem satisfeitos com o resultado63.

Para refletir a perspectiva dos sujeitos, o pesquisador seleciona

indicadores ou extratos das notas de campo, como exemplos, comentários,

frases ou descrições detalhadas, para corresponder ao objetivo da

investigação. Isso promove prova da habilidade técnica de análise do

pesquisador, por fazerem voz a crenças, culturas, valores, normas, estruturas,

funções e símbolos68.

O ciclo analítico envolve a análise do dado em que o material é partido

em unidades e procuram-se categorias, padrões, teorias para que seja então

reestruturado de maneira significativa; e os procedimentos da análise deste

texto reestruturado envolvem a análise do conteúdo68.

Programas de software são usados para facilitar a análise dos dados,

permitindo uma ampliação na amostra e economia de tempo no processo de

análise. No estudo, as narrativas foram analisadas com o apoio do software

Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte

(ALCESTE) Version 4.9 pour Windows. O ALCESTE distingue classes de

palavras que representam diferentes formas de discurso no que se refere ao

tópico de interesse69.

Foram adotados os seguintes passos:

1) Etapa pré-analítica: preparo do corpus da análise, através da criação das 14

unidades de contexto iniciais (u.c.i) relacionadas ao corpus da análise

denominado “Cuidados Paliativos Inicais” 69.

2) Uso do software para classificação do corpus, com a criação das unidades

de contexto elementar (u.c.e.), organizadas de acordo com a classificação e

organização dos respectivos vocábulos69. Produção através do software da

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

46

classificação hierárquica descendente (c.h.d) através da relação entre as

classes e observação de semelhanças entre material analisado. Há a

produção do dendrograma, que é um gráfico hierárquico indicando a

fragmentação do texto e as relações estabelecidas entre as classes e suas

relações62.

3) Produção da classificação hierárquica ascendente (c.h.a) com as palavras

dentro das classes apresentadas na etapa anterior, constituída pela

distribuição dos léxicos que caracterizam o contexto temático das classes

resultantes da análise ALCESTE69.

3.6 OPERACIONALIZAÇÃO DO ALCESTE

Incialmente realizou-se uma pré-análise, caracterizada pelo preparo do

corpus das 14 entrevistas com profissionais de saúde. Nesta etapa, as

narrativas foram agrupadas em um texto único, de modo a preservar a

coerência e permitir uma lógica quantificável65. Em seguida, foi criado um

dicionário para homogeneização do corpus através da união de termos

correlatos (Apêndice C), para facilitar a análise estatística. Cada entrevista

realizada com os profissionais de saúde foi considerada uma u.c.i.

Precedendo cada u.c.i. foi denominada uma linha de comando chamada

“linha estrelada”, precedida de asteriscos, para o reconhecimento do programa.

As linhas estreladas ficaram assim estruturadas, de acordo com as

variáveis: categoria profissional, experiência prévia em CP, e atuação em

ambulatório ou unidade de internação. A nomenclatura utilizada nas linhas

estreladas, de acordo com as variáveis, foi a seguinte, de acordo com o

exemplo abaixo:

u.c.i. :1 *1 *entr_1 *prof_psi *trab_ambint *exper_sem * (*entr- entrevista; *prof_ categoria rofissional, * trab_ ambint- atuação no ambulatório e unidade de internação; *exper_sem-sem exepiêncai p´rvai na unidade de cuidados paliativos).

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

47

4 RESULTADOS

Este capítulo destina-se a apresentação das seguintes temáticas: perfil

dos entrevistados e análise final das entrevistas.

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS

A amostra final foi composta de 14 entrevistas com profissionais de

saúde distribuídas da seguinte forma: 02 (14%) assistentes sociais, 02 (14%)

enfermeiros, 02 (14%) farmacêuticos, 02 (14%) fisioterapeutas, 02 (14%)

médicos, 02 (14%) nutricionistas e 02 (14%) psicólogos.

Com relação à formação profissional, a grande maioria (85%)

apresentou pós-graduação em oncologia (residência/especialização).

Quanto à experiência profissional prévia com CP, o predomínio de

profissionais que não atuaram na unidade de CP, soma 12 profissionais (85%),

e apenas 02 profissionais (15%) que atuaram no HC IV. Os profissionais que

atuaram no HC IV tiveram tempo de atuação superior a 5 anos.

Com relação ao tempo de atuação no HC III, 70% (n=11) possuem

menos de 5 anos de atuação profissional, enquanto que 30% (n=3) atuam no

INCA há mais de 4 anos.

Com relação ao local de atuação profissional no HC III, 08 profissionais

atuaram exclusivamente no ambulatório (57%), 5 atuaram na enfermaria e

ambulatório (35%), e um profissional atuou exclusivamente na unidade de

internação (7%).

4.2 ANÁLISE FINAL DAS ENTREVISTAS

Como resultado da análise do corpus intitulado “Cuidados Paliativos

Inicias”, obteve-se: a) 14 linhas estreladas, ou linhas de comando que definem

as u.c.i. que representa a totalidade das entrevistas; (b) número total de

palavras no texto: 11.299; (c) número de palavras diferentes: 1866; (d)

frequência média de uma palavra: 6; (e) número de palavras com frequência

igual a 1 (hapax)d: 1005; (f) frequência máxima de uma palavra: 417.

d Hapax é um indicador que delimita o primeiro intervalo de X

2 considerado na análise Alceste.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

48

Após a redução do vocabulário bruto do corpus pelo software, obteve-se:

(a) número de formas reduzidas: 301; (b) número de palavras plenas: 141; (c)

número de formas estreladas: 26; (d) número total de u.c.e.: 283.

As 283 u.c.e. que compõem o corpus representam 100% do material

analisado, conforme Figura 2. Foram consideradas como válidas para análise

186 u.c.e., que representaram 66% de aproveitamento, tendo, assim, sido

descartadas 92 u.c.e., que representaram 34% do corpus.

Figura 2. Percentual das classes de palavras sobre o total das unidades de contexto elementar do corpus. Rio de Janeiro, 2014

Fonte: elaborada pelo software Alceste

A Figura 3 apresenta o universo de trabalho da pesquisa que é

constituído por 283 u.c.e., divididas em 5 classes.

Figura 3. Número de unidades de contexto elementar por classes de palavras. Rio de Janeiro, 2014

Fonte: elaborada pelo software Alceste

Destaca-se a Classe 1, que reúne a maior quantidade de u.c.e.,

responsável por 50% do material analisado (93 u.c.e). As Classes 2 e 5 são

constituídas, respectivamente, de 33 u.c.e. (17.7%) e 16 u.c.e. (8.6%). As

Classes 3 e 4 apresentam 25 u.c.e. (13.4%), e 19 u.c.e. (10.22%),

respectivamente.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

49

Figura 4. Percentual das classes de palavras sobre o total de unidades de contexto elementar válidas. Rio de Janeiro, 2014

Fonte: elaborada pelo software Alceste

A Figura 4 oferece um panorama da heterogênea distribuição dos dados,

onde se observou, além do domínio da Classe 1 sobre as demais classes, a

relevância da Classe 2 que se destaca das demais pelo seu percentual de

u.c.e. (17.7%). Uma vez que ambas abordaram os aspectos práticos e

conceituais dos CP, acredita-se estar em consonância com o objeto de estudo.

Observou-se um equilíbrio entre as Classes 3 e 4, enquanto a Classe 5 foi

menos representativa nesta análise, com relação ao número de u.c.e. geradas

(8.6%).

Com relação ao número de palavras plenas por análise de classes, na

Figura 5, notou-se um panorama mais homogêneo. Ainda há predominância

nas Classes 1 e 2, com 52 e 47 palavras, respectivamente. Porém, a Classe 5

apresentou 42 palavras que se traduziu em somente 16 u.c.e.

Figura 5. Número de palavras por análise das classes de palavras. Rio de Janeiro, 2014

Fonte: elaborada pelo software Alceste

O software realizou duas C.H.D., a partir da mudança no tamanho das

u.c.e. e no número de palavras analisadas, com o objetivo de ratificar a

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

50

classificação realizada no corpus. Na Figura 6 pode-se ver os dendogramas da

distribuição das palavras analisadas por classes.

Figura 6. Dendogramas da classificação hierárquica descendente. Rio de Janeiro, 2014

Primeira classificação hierárquica descendente

Segunda classificação hierárquica descendente

Fonte: elaborado pelo software Alceste

Os dendogramas geraram a divisão do conteúdo em três blocos, a partir

do reagrupamento gerado pela análise. Esses blocos geraram segmentos: (1)

composto pela Classe 1; (2) composto pelo conteúdo das Classes 2 e 5 e; (3)

gerado pelo conteúdo das Classes 3 e 4.

A partir desta classificação viu-se que as Classes 2 e 5 possuem

significados semelhantes que as aproximam, embora preservem sua

individualidade, uma vez que são duas classes distintas e formam o segmento

2. As Classes 3 e 4 também possuem a mesma relação de semelhança e

individualidade e opõem-se as Classes 2 e 5, uma vez que se apresentaram

separadas na primeira segmentação do corpus e formam o segmento 3 da

análise. Finalmente, tem-se o segmento 1 formado unicamente pela Classe 1,

que mantém aproximação semântica com o conteúdo das Classes 3 e 4.

Por fim, o programa realizou a c.h.a composta pelas palavras presentes

e seu grau de associação entre as classes.

Após a classificação e reordenamento realizados pelo ALCESTE,

encontrou-se três categorias que compuseram o corpus intitulado Cuidados

Paliativos Precoces (Figura 7). A Categoria 1 composta pela Classe 1 é

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

51

representada pela prática dos Cuidados Paliativos. A Categoria 2 (composta

pelo conteúdo das Classes 2 e 5) é intitulada Concepções sobre Cuidados

Paliativos e Qualidade de Vida, e a Categoria 3 intitulada A Teia das Relações

(composta pelo conteúdo das Classes 3 e 4).

Figura 7. Esquema sobre o corpus intitulado cuidados paliativos precoces. Rio de Janeiro, 2014

Cuidados Paliativos Precoces

Categoria 1:Concepções de

Qualidade de Vida e Cuidados

Paliativos

Categoria 2: A teia das relações:

Relação Pofissional Paciente e

trabalho em equipe

Categoria 3: A prática

dos cuidados paliativos

Classe 2:

Concepções de

Cuidados

Paliativos

Classe 5:

Concepções de

qualidade de

Vida

Classe

3:Relações

Profissional/

paciente

Classe 4:

Trabalho em

Equipe

Classe 1: O

caminho até os

Cuidados

Paliativos

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

4.2.1 Categoria 1: Concepções de qualidade de vida e cuidados paliativos

A categoria 1 representa os conceitos de CP e QV, descritos pelos

profissionais e é composta pelas Classes 2 e 5. Na Classe 2 têm-se as

concepções de CP, e na Classe 5 as concepções de qualidade de vida, como

se verá a seguir.

Classe 2: “Concepções de cuidados paliativos”

É formada por 23 formas reduzidas de palavras plenas, que constituem

as 23 u.c.e. extraídas do corpus da análise.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

52

Quadro 3. Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 2. Rio de Janeiro, 2014

FORMA REDUZIDA

X2 F CLASSE F CORPUS % CLASSE PALAVRAS PLENAS

OU CONTEXTO SEMÂNTICO

dor+ 61 17 22 77 alívio, controle da

sintoma+ 43 10 11 91 sintoma(s)

cur+ 30 10 14 7 cura, incurabilidade

conforto 23 6 7 86 conforto

objetivo+ 19 4 4 100 objetivo(s)

alivi+ 19 4 4 100 alívio, aliviar

sofrimento 19 4 4 100 Sofrimento

aspecto+ 19 4 4 100 aspecto(s)

fisic+ 16 6 9 67 físico(a)

avali+ 12 7 13 54 avaliar (ação)

doença 11 7 14 50 doença

pali+ 9 3 4 75 paliar(ação), paliativo

bem-estar 9 3 4 75 bem estar

qualidade de vida

9 12 34 35 qualidade de vida

depend+ 8 4 7 57 (in) dependente

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

A análise apresentou as seguintes formas reduzidas de palavras plenas

com maior poder de associação estatística (X2): dor, sintomas, cura, conforto,

físico, avaliar. Para essa equipe são relevantes aspectos relacionados ao

paciente (dor, sintomas, conforto, estado físico e sua avaliação) e aspectos

relacionados à doença, como a questão da incurabilidade e os CP não são

reconhecidos como tratamento.

Classe 5: “Concepções de qualidade de vida”

É formada por 19 formas reduzidas de palavras plenas, que constituem

as 19 u.c.e. extraídas do corpus da análise. Partindo das formas reduzidas de

palavras plenas com maiores valores de X2 construiu-se a classe intitulada

Concepções de qualidade de vida.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

53

Quadro 4. Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 5. Rio de Janeiro, 2014

FORMA REDUZIDA

X2 F CLASSE F CORPUS % CLASSE

PALAVRAS PLENAS OU CONTEXTO SEMÂNTICO

atividades 55 5 5 100 atividades

aliment+ 40 7 12 58 alimentar(ação)

qualidade de vida

30 11 34 80 qualidade de vida

vida 0 5 11 45 vida

instrumento+ 14 3 6 50 instrumento

saúde 13 2 3 67 saúde

conceito 13 2 3 67 conceito

qualidade 13 2 3 67 qualidade

questionar+ 13 2 3 67 questionário (s)

estado 13 2 3 67 estado

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

A análise apresentou as seguintes formas reduzidas de palavras plenas

com maior poder de associação estatística (X2): faz, atividades, alimentação,

qualidade de vida, realiza, coisas. Através das falas, a QV foi descrita como

conceito individual, saúde e manutenção da funcionalidade.

4.2.2 Categoria 2: A teia das relações: profissional/paciente e trabalho em equipe

A categoria 2 representa as relações, seja a relação

profissional/paciente descrita na Classe 3, seja o trabalho em equipe presente

na Classe 4.

A Classe 3 apresenta as relações profissional/paciente da seguinte forma:

Classe 3: “Relação Profissional/Paciente”

É formada por 19 formas reduzidas de palavras plenas, que constituem

as 19 u.c.e. extraídas do corpus da análise. Partindo das formas reduzidas de

palavras plenas com maiores valores de X2, construiu-se a classe intitulada

Relação profissional/paciente.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

54

Quadro 5. Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 3. Rio de Janeiro, 2014

FORMA REDUZIDA

X2 F CLASSE F CORPUS % CLASSE PALAVRAS PLENAS

OU CONTEXTO SEMÂNTICO

desej+ 20 3 3 100 desejo(s)

trab ambi 15 20 83 24 ambiente d etrabalho

conhec+ 14 5 9 56 conhecimento

prof med 14 12 38 32 profissional médico

pesso+ 13 11 34 32 pessoa (s)

relac+ 12 4 7 57 relação(cionamento)

convers+ 12 4 7 57 conversa(r)

atend+ 12 5 10 50 atender(dimento)

número+ 10 3 5 60 número(s)

poss+ 9 5 12 42 posso

falt+ 8 7 21 33 falta

encaminha+ 8 4 9 44 encaminha(mento)

trabalh+ 8 5 13 38 trabalho(ar)

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

A análise apresentou as seguintes formas reduzidas de palavras plenas

com maior poder de associação estatística (X2): desejo, ambiente de trabalho,

conhecimento, profissional médico, pessoa. Interpretou-se os achados da

seguinte forma: grande número de pacientes, vínculo profissional/paciente e

entre a equipe.

Classe 4: “Trabalho em equipe”

É formada por 19 formas reduzidas de palavras plenas, que constituem

as 19 u.c.e. extraídas do corpus da análise. Partindo das formas reduzidas de

palavras plenas com maiores valores de X2 construiu-se a classe intitulada

Trabalho em equipe.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

55

Quadro 6. Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 4. Rio de Janeiro, 2014

FORMA REDUZIDA

X2 F CLASSE F CORPUS % CLASSE

PALAVRAS PLENAS OU CONTEXTO SEMÂNTICO

psicolog+ 41 7 10 70 psicologia (psicólogo)

abertura 27 4 5 80 abertura

olh+ 27 4 5 80 olhar

importante 27 4 5 80 importante(s)

entr 10 24 9 23 39 entrevista 10

prof_assist 17 9 28 32 profissionais da assistência

ach+ 14 8 26 31 acha(o)

entr 2 14 4 8 50 entrevista 2

serviço+ 14 3 5 60 serviço(s)

med+ 11 8 29 28 médico(s)

enfermagem 11 3 6 50 enfermagem

enfermeiro+ 11 2 3 67 enfermeiro(s)

morte 11 2 3 67 morte

equipe multiprofiss

13 3 6 50 equipe multiprofissional

nutricion+ 11 3 6 50 nutricionista

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

A análise apresentou as seguintes formas reduzidas de palavras plenas

com maior poder de associação estatística (X2): psicologia, achar, médico,

momento. O estudo encontrou a necessidade do trabalho em equipe e as

dificuldades para sua realização.

4.2.3 Categoria 3: A prática dos cuidados paliativos

Trata-se da categoria mais importante da análise, uma vez que

representa 50% das u.c.e. de todo corpus. É formada pelo conteúdo da Classe

1, intitulada O caminho até os CP.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

56

Classe 1: “O caminho até os cuidados paliativos”

Esta classe é caracterizada por 27 formas reduzidas de palavras plenas,

que são as palavras mais características distribuídas nas 27 u.c.e. que

compõem a categoria.

O contexto semântico das formas reduzidas juntamente com os maiores

valores de X2 expressa um panorama geral da categoria intitulada Prática dos

cuidados paliativos e pode oferecer um olhar sobre esta complexa questão em

uma unidade “curativa”, através do discurso dos profissionais que nela atuam

(HC III).

Quadro 7. Formas reduzidas de palavras plenas da Classe 1. Rio de Janeiro, 2014

FORMA REDUZIDA

X2 F CLASSE F CORPUS % CLASSE

PALAVRAS PLENAS OU CONTEXTO SEMÂNTICO

Unidade_cuidados_pa

18 21 23 91 Unidade de cuidados paliativos

paciente+ 15 64 102 63 paciente(s)

paliativ+ 14 13 13 100 paliativo (a)

quimioterap+ 11 17 20 85 Quimioterapia, quimioterápico

conhecim+ 8 12 14 86 Conhecimento

trat+ 8 10 11 91 Tratamento

cuidado-paliativo

8 19 25 76 Cuidados paliativos

atendimento_domicil

5 5 5 100 atendimento domiciliar

tumor+ 5 5 5 100 tumor(es)

Fonte: elaborado pela autora com dados fornecidos pelo software Alceste.

Sendo assim, a análise apresentou as seguintes formas reduzidas de

palavras plenas com maior poder de associação estatística (X2):

Unidade_cuidados_pal, paciente+, paliativ+, quimioterap+, conhecim+. Estas

formas permitem articular a discussão em três conceitos importantes

relacionados à prática dos cuidados paliativos: visão do profissional X visão do

paciente, complexidade do paciente paliativo, e a construção do conhecimento

sobre CP.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

57

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo destina-se a discussão dos principais resultados

encontrados nas 3 categorias de análise: Concepções de qualidade de vida e

cuidados paliativos; A teia das relações: profissional/paciente e trabalho em

equipe e; A prática dos cuidados paliativos, além da apresentação da produção

tecnológica sobre a Capacitação Multiprofissional em Cuidados Paliativos

Precoces.

5.1 CATEGORIA 1: CONCEPÇÕES DE QUALIDADE DE VIDA E CUIDADOS PALIATIVOS

Classe 2: “Concepções de cuidados paliativos”

Segundo a OMS, os CP são abordagem para equipe multiprofissional no

intuito de melhor a QV através do início precoce e prevenção e alívio dos

sintomas7.

O tumor de mama estádio IV se caracteriza pelo envolvimento de outros

órgãos além da mama, o que é conhecido como doença metastática,

considerada incurável. Nesta etapa, o paciente recebe tratamento através da

terapia sistêmica (QT e hormonioterapia paliativas) com vistas ao manejo de

sintomas e ao prolongamento da sobrevida. Esses tratamentos produzem,

muitas vezes, efeitos adversos que podem comprometer o estado geral,

normalmente já deteriorado, do paciente com doença metastática. A

incurabilidade é bastante presente nos discursos sobre CP:

(...) Como fisioterapeuta é dar cuidado de conforto para o paciente aliviar a dor, (...), quando eu vejo que tem paciente aqui que já não tem mais condição de cura da doença e sofre um grande processo de tratamento com quimioterapia e radioterapia. (u.c.e 94 classe: e X

2: 16)

(...) Cuidados paliativos seria uma forma de atender a pessoa; o principal objetivo não seria mais a cura, seria dar uma qualidade de vida para a pessoa que está sobre esses cuidados (u.c.e:19 classe: 2 X

2:25)

O foco na questão da incurabilidade reproduz o pensamento de que o

cuidado paliativo só deve ser introduzido no momento em que não há mais

chance de cura. Este pensamento está baseado numa visão antiga dos CP,

que estava presente na definição da OMS de 1990, que o descrevia como: “o

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

58

cuidado total e ativo de pacientes cuja doença não é mais responsiva ao

tratamento curativo. São da maior importância: o controle da dor e outros

sintomas, como também os psicológicos, espirituais e sociais”70.

Ao mesmo tempo em que os CP são indicados na incurabilidade, eles

não são descritos como tratamento, o que leva a crer que o tratamento paliativo

não é visto como parte do cuidado paliativo; que é o que acontece na prática,

quando se tem uma fragmentação na assistência oferecida, com o tratamento

paliativo acontecendo na unidade “curativa” (HC III), e o cuidado paliativo

acontecendo na unidade de CP (HC IV), como se compreende através das

falas:

(...) Cuidados paliativos não chega a ser um tratamento para você atenuar os sintomas que a paciente sente, mas naquela doença ela não tem mais a cura, então você atenua o que ela pode vir a sentir, como dor, sensação de parestesia, enjôo (u.c.e:126 classe:2 X2:13)

(...) cuidado paliativo é quando o paciente não tem nenhum outro tratamento para a cura da doença, então a gente vai tentar minimizar os sintomas que apresentam, sejam relacionados à quimioterapia, à radioterapia (u.c.e: 142 classe:2 X2:19)

Esta característica está presente na forma como é desenvolvido o CP de

forma desarticulada no Brasil9. Porém, o modelo conceitual moderno descreve

os cuidados hospice (aqui, oferecidos no HC IV) como parte dos CP que, por

sua vez, estão contidos nos cuidados de apoio, que compreendem uma alta

gama de questões como sobreviventes, luto, diagnóstico e questões de fim de

vida60.

O cuidado à dor surge associado à incurabilidade da doença, como se

quando não houvesse mais nada a fazer só restasse o tratamento da dor.

(...) Cuidados paliativos são cuidados com pessoas que estão na terminalidade, não tem muito mais o que ser feito, o máximo que a gente pode fazer é minimizar a dor (u.c.e.63 classe:2 X2: 20)

A avaliação e controle da dor é parte importante dos CP e até mesmo

das boas práticas clínicas de um modo geral. Sabe-se que a dor é uma das

mais frequentes razões de incapacidade e sofrimento para pacientes com

câncer em progressão. Em algum momento da evolução da doença, 80% dos

pacientes experimentarão dor71.

A prevalência de dor aumenta com a progressão da doença. Dor

moderada ou intensa ocorre em 30% dos pacientes com câncer recebendo

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

59

tratamento, e em 60% a 90% dos pacientes com câncer avançado71. Portanto,

é natural que os profissionais de saúde destaquem a avaliação e o controle da

dor como aspectos importantes dos CP, como se observa nas frases a seguir:

(...) Eu entendo por cuidados paliativos você conformar, minimizar o máximo possível o que está causando a dor e o sofrimento para que aquela doença seja conduzida da melhor forma possível, não mais no aspecto de curar (u.c.e 47 classe:2 X2 :28)

(...) Tem que informar o paciente que está em cuidados paliativos da real intenção dos cuidados que são o alívio dos sintomas e das dores físicas (u.c.e: 47 classe:2 X2:28)

(...) O pouco que conheço de cuidados paliativos me dá embasamento para agir de forma a minimizar as dores e sofrimento desse paciente, diminuir as chances que eu coloque em risco a integridade física (u.c.e: 260 classe:2 X2:22)

O conceito de dor total, baseado no fato de que pacientes com doença

avançada se deparam com muitas perdas e limitações ao estilo de vida, se

traduz numa abordagem mais ampla do sofrimento, que associa sintomas

físicos e emocionais ao controle ótimo da dor. Nesse sentido, a fala dos

entrevistados que associam dor e outros sintomas físicos, presentes nos

discursos, está justificada por este conceito70.

Porém, deve-se deixar claro que a ausência, ou a pouca ênfase dada

aos aspectos psicossociais e espirituais, além da atenção ao binômio

paciente/família, como componentes importantes do cuidado paliativo, indicam

uma visão restrita dos CP.

Classe 5: “Concepções de qualidade de vida”

A QV é considerada objetivo comum entre cuidado e tratamento

paliativo. Sua definição é, de acordo com a WHO: a percepção do indivíduo

com relação a sua posição na vida, no contexto dos sistemas de cultura e valor

em que vive, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações8.

Quando se observa nas falas dos indivíduos a QV associada a um

conceito singular, tem-se a aproximação da definição da OMS, de conceito

autorreportado:

(...) A qualidade de vida acabou se tornando mais uma coisa que a gente fala sem pensar no significado, tem a ver com singularidade, cada pessoa tem que poder

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

60

dizer o que é qualidade de vida para si e a área de saúde generaliza e acha que esse conceito se adequa a todos. (u.c.e 79 classe:5 X 228)

(...) Qualidade de vida para mim é o que significa para cada um. O que é importante para a pessoa manter na vida, inclui coisas básicas como ausência de dor. Qualidade de vida no cuidado paliativo fica associado a poder seguir a vida, poder fazer alguma coisa prazerosa apesar da doença (u.c.e 2 classe:5 X2:19)

Porém, pelo fato de ser um conceito individual, surgem desafios de

como mensurar a QV na prática, importante objetivo para avaliar a manutenção

do tratamento e dos CP. Cada categoria profissional avalia de uma forma e faz

uso de instrumento próprio, como se pode ver:

(...) Quando a gente faz pesquisa aqui dentro, aplica questionário de qualidade de vida, de apoio social. A qualidade de vida é medida através de perguntas, como: qual a sua queixa?; você sente dor?; você consegue realizar atividades do dia a dia sozinha?; perguntas mais práticas ( u.c.e 93 classe:5 X2:57)

(...) Não se mede qualidade de vida através de instrumento específico. Mas, através do diagnóstico de enfermagem, pode-se avaliar se aquela pessoa recebeu orientação a respeito de um diagnóstico, se ela está realizando o tratamento e se está tendo um benefício. Outra maneira de avaliar é através dos relatos das atividades que ela realiza, do padrão de alimentação, tudo isso vai interferir na qualidade de vida (u.c.e 228 classe:5 X219)

(...) Como minha área é nutrição é mais na questão da antropometria, avaliação de peso, também na anamnese alimentar. O paciente quando não está se alimentando bem, consequentemente perde peso e isso interfere na qualidade de vida dele, ele fica mais deprimido, mais desanimado, relaciona isso com a piora da doença (u.c.e 141 classe:5X2:13)

A QV esteve associada à manutenção da funcionalidade, que é o

racional para o uso das escalas de performance status. Sua limitação é a pobre

avaliação de critérios subjetivos, presentes na definição da OMS:

(...) A gente avalia qualidade de vida através de perguntas sobre as funções do dia a dia. Como a maioria são donas de casa e são mulheres, é ver se elas conseguem fazer as funções como pentear cabelo, se vestir, utilizar coisas da cozinha (u.c.e 79 classe:5 X2:28)

(...) Ela vai ter um diferencial, mas se dentro daquele diferencial ela consegue realizar as atividades, coisas básicas necessárias, ela pode ter qualidade de vida mesmo dentro das limitações do tratamento, associado à manutenção das suas atividades. (u.c.e 227 classe:5 X2:24)

A QV foi associada à definição de saúde, que é um estado de completo

bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de

doença ou de enfermidade72:

(...) Qualidade de vida é um conceito amplo, é ter saúde mental, física, psíquica, ter qualidade alimentar, uma coisa multifatorial. É todo um composto que envolve o significado de saúde. (u.c.e 185 classe 5 X2:47)

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

61

(...) Qualidade de vida é ter condições econômicas, sociais, de moradia, alimentação para você sentir um bem-estar, você não sentir dor, conseguir fazer suas atividades de vida diária e não ficar frustrado por não conseguir cumprir algumas funções (u.c.e 124 classe:5 X2:41)

(...) Qualidade de vida é quando o paciente tem bem-estar físico, mental, psicológico, social, emocional; envolve ele estar conseguindo fazer bem as atividades, se alimentando bem, se locomovendo bem. (u.c.e 140 classe:5 X2:23)

Sendo assim, pode-se dizer que a equipe apresentou uma concepção de

CP baseada em conceitos antigos e refletindo a fragmentação na assistência

prestada aos pacientes. Estas características reforçam o modelo de provisão

de CP no Brasil, que acontece de forma desarticulada e isolada, e não

acompanha a tendência mundial de encaminhamentos precoces.

A QV para esta equipe foi marcada por critérios objetivos, sem a

relevância dos aspectos espirituais, sociais e psicológicos, que compõem o

conceito de QV, proposto pela OMS.

5.2 CATEGORIA 2: A TEIA DAS RELAÇÕES: RELAÇÃO PROFISSIONAL/ PACIENTE E TRABALHO EM EQUIPE

Classe 3: “Relação Profissional/Paciente”

No Brasil, houve um incremento no número de casos novos de câncer

de mama da ordem de 4.120, dos anos 2013 a 20141. Além disso, com o

advento das novas tecnologias para prolongamento da sobrevida no câncer,

houve um aumento importante no número de pacientes, que não foi

acompanhado da proporcional ampliação do quadro de recursos humanos3,69,

trazendo desafios ao atendimento da população.

Assim, como ferramenta para implementação da descentralização,

princípio importante do SUS, e de modo a garantir o acesso universal, foi

criado o rol de diretrizes, objetivos, metas e indicadores pactuados de acordo

com as diretrizes nacionais, definidas pelo CNS73.

Os indicadores foram criados como ferramenta de avaliação e

planejamento em saúde. Porém, acabaram por se traduzir em uma gestão

baseada na necessidade de se atingir números, que contribui para o

desequilíbrio a favor de medidas de prolongamento de sobrevida (QT ou

radioterapias), que podem ser contabilizadas, em detrimento das medidas

difíceis, consumidoras de tempo e energia que compreendem os CP.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

62

Na prática, a gestão baseada em números foi percebida pelo aumento

dos pacientes atendidos na unidade III do INCA, que foi atingida à custa da

perda de qualidade da assistência e perda de vínculo entre paciente e

profissional de saúde:

(...) isso já existiu anos atrás, você atendia os mesmos pacientes, era melhor porque você conhecia o paciente, você passa a atender pessoas com as quais você não se identifica e eu não estou falando de identidade social, as pessoas são diferentes, são identificações pessoais que a gente não tem com essas pessoas. (u.c.e 219 Classe:3 X2:15)

(...) Mas ia precisar de mais tempo, de mais profissionais, na verdade tem que ter uma vontade institucional de mudar as coisas que não existe, gestora pelo menos não, porque para quem conta números, se você tem que atender cem pacientes, se você atender melhor, você acaba atendendo vinte (u.c.e 204 Classe:3 X2:22)

(...) É uma perda de tempo, por mais que você não lembre da pessoa, nem que você atenda duzentos, acaba lembrando de uma coisa, mas isso não é mais possível aqui hoje em dia. (u.c.e 218 Classe:3 X2:15)

Na verdade, essa perda de vínculo é extremamente prejudicial para o

paciente que tende a ficar inseguro quanto ao seu tratamento, em um momento

crítico como a interrupção de um tratamento oncológico, além de ferir

importantes princípios éticos, como o de não abandono. Porém, pode-se notar

repercussões ainda mais importantes para a saúde dos profissionais, podendo

levar a síndrome de burnout74, caracterizada pela exaustão emocional,

distanciamento das relações pessoais e diminuição do sentimento de

realização pessoal, como se nota nas falas:

(...) Então você acaba atendendo animais e as pessoas se sentem animais. A paciente fala: doutor, depois da neoadjuvância vão arrancar minha mama inteira, vão arrancar a mama toda? (u.c.e 220 Classe:3 X2:23)

(...) A medicina, os cuidados de enfermagem são baseados na formação de um vínculo, hoje, isso não existe aqui, também pela questão do número porque quem está atendendo é o da vez, é o que tem pra hoje. (u.c.e 213 Classe: 41X2:18)

Ainda que nas falas os profissionais se refiram a esse momento do

encaminhamento para o HC IV com certa tranquilidade, é possível perceber o

descontentamento com essa conduta:

(...) Então não é uma coisa tão terrível assim, porque você não conhece a pessoa, na mesma hora que você está atendendo ela você encaminha para a unidade de cuidados paliativos, uma pessoa que você conhece pela primeira vez. (u.c.e 213 Classe:3 X2:18)

(...) Para os outros eu não posso falar, mas para mim, depende do paciente, da identidade que você tem com a pessoa. Hoje em dia o encaminhamento é fácil

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

63

porque a gente não tem nenhum vínculo com o paciente, cada hora é um médico que atende, então, cada paciente é um número para a gente. (u.c.e 211 classe:3 X2:16)

E a gestão, baseada em números, acaba por contaminar as relações

profissionais, impedindo a continuidade do tratamento e aumentando a

sensação de frustração profissional:

(...) O médico que encaminha o paciente não o vê, então não sei como vou conversar com ele se na próxima consulta quem atende a paciente é outro médico. (u.c.e 13 Classe:3 X2:15)

(...) com relação à prescrição eu posso até questionar o médico, mas a decisão é dele, eu vou no médico que está na supervisão, as vezes é um mais aberto, às vezes é um mais sisudo (u.c.e 58 Classe:3 X2:16)

Classe 4: “Trabalho em equipe”

O trabalho multiprofissional em saúde é uma modalidade de trabalho em

equipe, criada como estratégia para enfrentar o intenso processo de

especialização, que surgiu a partir da ideologia positivista que fragmentava as

disciplinas de forma isolada. Visa cumprir um objetivo comum que pode ser o

cumprimento de metas institucionais, resolução de problemas de saúde de uma

determinada população ou otimização de recursos. Para isso, indivíduos com

diferentes competências devem atuar de forma integrada, em um ambiente que

favoreça a discussão e articulação de saberes, a multidisciplinaridade e a

perspectiva da integralidade75,76.

As ações multidisciplinares, na atenção ao câncer de mama, devem ser

iniciadas a partir do diagnóstico e devem fazer parte do cuidado integral a esse

tipo de paciente. Os benefícios esperados com o trabalho em equipe

multidisciplinar em oncologia contemplam três esferas: a do paciente, a do

profissional e da instituição77.

Para o paciente tem-se o aumento na sobrevida, através da agilidade no

diagnóstico e no processo de tomada de decisão. Para o profissional, tem-se o

aumento na satisfação profissional, mais eficiência no trabalho, porém,

acompanhada de maior exposição a conflitos interpessoais. Para a instituição,

tem-se o uso mais eficiente dos recursos78. Essa equipe entendeu o trabalho

em equipe em saúde como importante:

(...) eu acho que tem que envolver, tem que ter um olhar múltiplo, até interdisciplinar; eu acho que, em raríssimas exceções, eu participei de uma

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

64

discussão entre paciente, médico, enfermeiro, assistente social, psicóloga, para traçar o momento desse paciente junto com a família. (u.c.e. 159 Classe: 4 X2: 28).

(...) Eu acho que o cuidado paliativo não está só em tratar a doença mas tratar as demandas, até espirituais, uma questão emocional, dentro de um cuidado paliativo está envolvido muito mais outras situações do que a própria doença. (u.c.e. 150 Classe: 4 X2: 10)

(...) Do psicólogo porque ela vai saber da notícia e vai precisar de acompanhamento psicológico, do nutricionista para uma boa alimentação, acho que precisa de todo mundo. Em parte, existe a equipe multiprofissional em saúde (u.c.e. 128 Classe: 4 X2: 22)

(...) Entender se essa pessoa está tendo qualidade de vida vai da percepção da própria equipe multiprofissional e da família, em todo o momento a gente não escuta só a pessoa, tem que escutar tudo, inclusive o silêncio, quando você percebe que pode ter algo errado ali, ou que pode estar ajudando. (u.c.e. 18 Classe: 4 X2: 17)

Ainda que importante, existem barreiras à implementação deste trabalho

em equipe. Notam-se as barreiras na comunicação, ficando o diálogo atrelado

às condutas individuais, e a falta de incentivo dos gestores para compensar

essas barreiras:

(...)A gente tem uma abertura com a psicologia, com a enfermagem em si na unidade de internação, com alguns médicos, não todos, mas alguns profissionais não têm essa visão. (u.c.e. 163 Classe: 4 X219)

(...) Pode ter um pouquinho de desinteresse, pode ter alguns profissionais que não se sentem à vontade em participar. Eu acho importante participar nem que seja para que o outro nem escute, é importante você falar. (u.c.e. 163 Classe: 4 X2: 19)

(...) A partir do momento em que não tem abertura, você via perdendo o interesse de peitar alguma coisa, de brigar por alguma coisa, mas a gente precisava do apoio da chefia, de oportunidade. (u.c.e. 163 Classe: 4 X2 19)

(...) Tem profissionais que são mais abertos de você levar uma demanda ou um questionamento, dá abertura pra você falar, mas tem outros que não, e eu não estou identificando isso só na figura do médico. É da equipe multiprofissional de um modo geral. (u.c.e. 162 Classe: 4 X2 24)

Peduzzi79 conceituou a equipe multidisciplinar em saúde, baseado no

referencial de Habermas (1989), que divide o trabalho como ação racional e

estratégica e o agir comunicativo. Duas categorias distintas de trabalho são

estabelecidas a partir deste referencial: o trabalho do tipo integração e do tipo

agrupamento.

No trabalho em equipe do tipo agrupamento há fragmentação e

justaposição de funções, há ênfase numa rígida divisão do trabalho e

individualidade de cada área ou ações.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

65

No trabalho em equipe do tipo integração há articulação das funções e

interações entre os agentes, flexibilidade da divisão do trabalho e

complementariedade e colaboração no exercício da autonomia técnica e sem

independência das ações.

Há dificuldade maior em lidar com a equipe médica, que aparece como

centralizadora na tomada de decisões:

(...) Infelizmente nem todos as profissões tem algum treinamento sobre isso. O diálogo depende mais da pessoa do que qualquer outra coisa. Talvez tenham profissões que tenham um olhar mais amplo, como a enfermagem, psicologia, o serviço social, mas aqui se percebe que tem uma barreira muito grande com os médicos. (u.c.e. 25Classe: 4 X2 17)

(...) É muito importante o envolvimento de todos, porque aqui as decisões são muito médicas, então tem o médico que tem um olhar e às vezes ele só vê aquele momento daquele paciente, sem englobar aquilo que ele pode estar causando de emocional nele e na família também. (u.c.e. 160 Classe: 4 X2 12)

O trabalho em oncologia se caracteriza pela exposição constante a

conflitos, como: frequentes perdas por morte, pressão exercida pelo modelo

biomédico que privilegia a cura, trabalho constante com doenças graves e

tristeza de familiares, gerando, durante a carreira profissional, sensação de

frustração e impotência frente à incurabilidade80. Além disso, dentro da própria

equipe multiprofissional, depara-se com várias diferenças na formação dos

profissionais que podem ser responsáveis por conflito no momento de tomada

de decisão.

O modelo médico hegemônico é descrito como modelo de atenção à

saúde que apresenta as seguintes características81: 1) individualismo; 2)

saúde/doença como mercadoria; 3) ênfase no biologismo; 4) a historicidade da

prática médica; 5) medicalização dos problemas; 6) privilégio da medicina

curativa; 7) estímulo ao consumismo médico; 8) participação passiva e

subordinada dos consumidores. Como integrantes do modelo médico

hegemônico, podem ser mencionados o modelo médico assistencial privatista e

o modelo de atenção gerenciada.

É considerado como representação desta modalidade de assistência, o

Projeto de Lei nº 25/02, conhecido como Ato Médico, que é descrito por

pesquisadores como medida protecionista que visa restringir o acesso aos

serviços de saúde da população à autorização médica82. O modelo médico

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

66

hegemônico é, portanto, antônimo do conceito de trabalho em equipe e da

atenção humanizada, proposta pela PNH.

Criada em 2003, como objetivo de efetivar os princípios do SUS no

cotidiano das práticas de atenção e gestão, e incentivar trocas solidárias entre

gestores, trabalhadores e usuários, a PNH atua através dos princípios da

transversalidade, indissociabilidade entre atenção e gestão, protagonismo,

corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos.

A transversalidade é atuar reconhecendo que as diferentes

especialidades e práticas de saúde podem conversar com a experiência

daquele que é assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de

forma mais corresponsável14.

A indissociabilidade entre gestão e atenção é entendida como

mecanismo através do qual trabalhadores e usuários devem buscar conhecer

como funciona a gestão dos serviços, e participar ativamente do processo de

tomada de decisão nas organizações de saúde e nas ações de saúde

coletiva14.

A política aposta na inclusão de trabalhadores, usuários e gestores, na

produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho, e na comunicação

como “motor” de mudanças14. Sendo assim, a maneira como ocorre o trabalho

em equipe dentro do HC III não atende aos requisitos da PNH, quando

centraliza as decisões na figura de uma categoria profissional apenas (médico),

aumentando a insatisfação profissional das demais categorias.

Nesta categoria, a relação profissional/paciente foi atingida pela pressão

na grande demanda de pacientes, como resultado de uma gestão que valoriza

apenas a produtividade em detrimento da qualidade na assistência. Os

resultados provocados por este modelo refletiram na perda de vínculo e na

frustração profissional.

O trabalho em equipe refletiu a ausência de um trabalho multidisciplinar

e reforçou o modelo médico hegemônico, que contraria as diretrizes da PNH.

5.3 CATEGORIA 3: A PRÁTICA DOS CUIDADOS PALIATIVOS

Classe 1: “O caminho até o cuidado paliativo”

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

67

A categoria 3 descreve a trajetória do paciente com câncer de mama,

dentro da instituição, e a maneira como são articuladas as práticas

profissionais para atender a este paciente.

No Brasil, as práticas profissionais são regidas pelos respectivos

conselhos representantes das diversas categorias. Nesse sentido, vale

destacar a abordagem dada aos CP no Código de Ética Médica (CEM)6 e na

Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 464, de

20/10/201483 e Parecer do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo

(COREN SP) nº 023/201184.

O CEM aborda assuntos amplos como a visão humanista da medicina, a

não realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários,

e o não abandono aos pacientes terminais. Já as resoluções dos conselhos de

enfermagem tratam de assuntos específicos como o atendimento domiciliar e a

sedação paliativa, respectivamente.

A unidade de CP do INCA (HC IV) surge nos discursos como o local

ideal para que os pacientes recebam este de cuidado. Ainda que se reconheça

a presença de um grande número de pacientes na unidade III que necessitam

destes cuidados, o HC IV possui melhor capacidade de atender a esse

paciente. Há destaque para o serviço oferecido pelo HC IV de atendimento

domiciliar, tendo sido citado, por alguns entrevistados, como uma estratégia de

oferta de CP que poderia ser adotada pela instituição curativa (HC III):

(...) O atendimento domiciliar feito na unidade de cuidados paliativos conta com vários profissionais, se a gente agenda pacientes em cuidados paliativos, a paciente que já tem metástase não vem, se tivesse alguém para ir até eles eu acho que seria melhor (u.c.e. :138 classe: 2 X2:12)

(...)São poucos fisioterapeutas aqui para muita demanda, elas vêm aqui de três em três meses e a gente orienta, vê como elas estão usando o andador, se estão em cadeira de rodas, se fosse na unidade de cuidados paliativos teria atendimento domiciliar (u.c.e. 137 classe: 2 X2:16)

Embora o atendimento na área de CP do INCA tenha se iniciado, em

1986, na unidade II, com o programa de assistência ao paciente fora de

possibilidade terapêutica, somente em 2004 é que foi fundado o HC IV,

responsável pelo atendimento ativo e integral aos pacientes do instituto

portadores de câncer avançado sem possibilidade de cura85.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

68

Este tem como missão promover e prover CP oncológicos da mais alta

qualidade, com habilidade técnica e humanitária, com foco na obtenção da

melhor QV a seus pacientes e familiares, por meio de trabalho multiprofissional

e com estrutura de consultas ambulatoriais, visitas domiciliares, unidades de

internação e serviço de pronto atendimento, além de fornecer treinamento de

profissionais na área de CP86.

A visita domiciliar ou atendimento domiciliar é um serviço oferecido pelo

HC IV para pacientes com dificuldades de locomoção ou que não têm

condições clínicas de comparecer ao atendimento ambulatorial. Nele, a equipe

multiprofissional presta atendimento aos pacientes matriculados no HC IV, de

acordo com avaliação médica, que residem no município do Rio de Janeiro e

municípios vizinhos, num raio de 70 km, em local de fácil acesso80. Os

benefícios deste tipo de assistência incluem: melhoria da QV, maior

participação da família nos cuidados e redução dos custos institucionais com

atendimentos ambulatoriais e internações87.

É reconhecida a existência de um grande número de pacientes que

necessitam de assistência paliativa, porém, o encaminhamento para o HC IV

acontece tardiamente no curso da doença, como identificado nas falas:

(...) São muitos pacientes e é difícil lidar com esse quantitativo. Estatisticamente, o número de pacientes fazendo quimioterapia é muito maior que os tratamentos adjuvantes e neoadjuvantes. (u.c.e: 201 classe:1 X2:8)

(...) Por que tem situações que a gente sinaliza, mas já não é caso de encaminhar para a unidade de cuidados paliativos que vai se beneficiar? Mas a paciente é muito nova, vamos tentar, depois de um mês a pessoa vem a falecer, ou pior ou acaba sendo transferida mesmo. (u.c.e. :167 Classe:1 X2:7).

O encaminhamento tardio aos CP é um problema comum, até mesmo

em países com provisão de serviços de CP de modo integrado. Como

dificuldades no encaminhamento precoce tem-se a indefinição quanto ao

conceito de CP X hospice, indefinição de papéis e responsabilidades entre

paliativistas e oncologistas, oferta heterogênea de serviços de CP e

dificuldades na comunicação no momento da transição e interrupção das

medidas terapêuticas ativas60.

Surge um paradoxo a partir do momento que estes profissionais

identificam a unidade IV como referência para a assistência paliativa. Por que,

então, os encaminhamentos tardios? A justificativa parece estar presente na

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

69

visão do paciente, que tende a associar a unidade IV à morte, conforme a

seguinte fala:

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

70

(...) A paciente tem uma visão errônea do cuidado paliativo, principalmente aqui na unidade de tratamento da mama. Como é uma unidade aqui do lado, a visão que elas têm é que vai ali pra morrer, porque o encaminhamento é tardio (u.c.e.: 173 classe:1 X2:14)

De fato, há uma proximidade geográfica entre as duas unidades, (HC III

e IV) que se localizam em prédios contíguos e compartilham a mesma porta de

entrada. Associar o encaminhamento tardio à visão equivocada da paciente é

uma afirmativa que carece de comprovação científica, e leva à seguinte

reflexão: será que a visão da paciente é errônea quando na prática os

encaminhamentos são mesmo tardios ou será que essa é a projeção do

pensamento do próprio profissional sobre os CP?

A complexidade do paciente paliativo está presente nas falas quando é

relatado que ele tem deterioração da capacidade física, que ele vem muitas

vezes à unidade e, naturalmente, que requer mais atenção e cuidados. Há uma

grande demanda de recursos institucionais, como se pode identificar:

(...) O paciente que faz tratamento curativo faz alguns meses e depois fica vindo em controle no ambulatório. O paciente paliativo é muito mais frequente, não sei se ele está em número maior, quem está paliativo passa a ficar vindo no mínimo de dois em dois meses no ambulatório; está sempre em tratamento. (u.c.e. 201 classe:1 X2:8)

De fato, a complexidade do paciente paliativo já foi abordada em estudo

de Bruera60, que propõe um modelo de provisão de CP integrados à prática

oncológica, no qual o oncologista atua em questões relacionadas ao câncer e o

paliativista atua na vasta maioria das questões psicológicas e físicas. Essa

abordagem traz mais benefícios a oncologistas, pacientes e familiares.

Talvez esse contraste entre o grande número de pacientes e a

complexidade de seus cuidados justifique a crença de que esse paciente seria

melhor atendido na unidade de CP.

Os conhecimentos em CP estão em reconhecer a condição de

incurabilidade do paciente, e são adquiridos de forma informal, sem a oferta ou

participação da instituição:

(...) Como a gente entrou há pouco tempo na unidade, já tinham pessoas que foram nos passando essa visão de cuidado paliativo (u.c.e: 130 Classe:1 X2: 16).

(...) Os conhecimentos aqui são mais buscar fora (u.c.e 239 classe:1 X2: 8)

O meu conhecimento sobre cuidados paliativo influencia na minha paciente quando eu não vou mais ter a intenção de cura (...) (u.c.e: 107 classe:1 X27)

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

71

Esta categoria se destacou por discutir a prática dos CP dentro de uma

unidade de tratamento de mama, mediante conflitos entre o local onde este

cuidado deve ser prestado e a maneira como ele é compreendido e até mesmo

a discussão sobre o encaminhamento tardio, tão prejudicial a pacientes sem

possibilidade terapêutica de cura.

Por meio da análise dos dados foi possível ter a compreensão de QV

para os profissionais de saúde, e a noção de conceito singular, de difícil

mensuração, associada à funcionalidade e à definição de saúde.

Os CP foram representados pela equipe com foco na questão da

incurabilidade do câncer, eles não estavam associados ao tratamento paliativo,

indicando que, conceitualmente, tratamento e CP são questões distintas.

Também esteve presente, no discurso dos participantes, a necessidade do

controle da dor.

Na articulação entre CP e QV encontrou-se grande fragilidade, uma vez

que estes foram vistos como independentes. Os CP foram associados a seu

desenvolvimento, idealmente, na unidade de cuidados paliativos (HC IV).

Embora este seja considerado o local ideal para desenvolvimento deste tipo de

cuidado, foi notada a ocorrência do encaminhamento tardio a esta unidade.

Justificou-se este fato com sustentação na visão errônea do paciente, que

associa a unidade IV ao lugar para morrer. Porém, se na prática, os

encaminhamentos são considerados tardios, será que esta visão da paciente é

errada?

Também foi relatada a complexidade do paciente paliativo, que requer

grande demanda de recursos institucionais. Talvez esta complexidade seja a

justificativa para que o HC IV surja como local ideal para o desenvolvimento de

CP.

Foram destacadas, nas falas, as relações, sejam elas entre profissionais

e pacientes e entre a equipe de saúde. As relações profissionais/pacientes

foram marcadas pelo aumento no número de pacientes com demandas

paliativas, atingido à custa da qualidade na assistência e perda de vínculo,

prejudicial também ao profissional de saúde, que demonstrou

descontentamento com esta situação. Foi notado prejuízo nas relações

interprofissionais.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

72

Quanto ao trabalho em equipe, foram notadas barreiras à sua

implementação, como barreias na comunicação e a centralização de decisões

na equipe médica.

Pode-se sintetizar a evolução dos achados na figura abaixo, que

reforçou a necessidade de uma ação educativa na área de CP precoces.

Figura 8. Síntese da evolução dos pacientes com relação a terapia paliativa e qualidade de vida. Rio de Janeiro, 2014

Fonte: Elaborado pela autora

Na prática, a partir do momento em que o paciente é diagnosticado com

doença metastática da mama, tem-se início o tratamento paliativo, que visa

melhorar a QV e controle dos sintomas e da doença (benefício clínico). Porém,

em algum momento, ocorrerá falha das medidas terapêuticas e ocorre o

encaminhamento a unidade de CP.

A pesquisa evidenciou que este encaminhamento é complexo,

principalmente pela incapacidade de compreensão da relação entre QV e CP.

Viu-se, pelas falas dos entrevistados e pelo levantamento bibliográfico, que os

Diagnóstico de Metástase

Tratamento paliativo

Benefício clínico Falha no tratamento

paliativo

Óbito

QV (carga de sintomas)

QV (carga de sintomas)

Nó crítico: encaminhamento

aos cuidados paliativos

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

73

encaminhamentos ocorrem tardiamente no curso da doença, ocasionado

prejuízo para os pacientes e familiares envolvidos no processo.

Observou-se, também, que o encaminhamento tardio teve impacto na

saúde dos trabalhadores da equipe multiprofissional, evidenciado pela

presença de insatisfação e frustração associados à perda de vínculo

profissional. Estes achados basearam a construção de um plano de

capacitação multiprofissional em cuidados paliativos precoces.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

74

6 PRODUTO

Foi desenvolvido um plano de capacitação multiprofissional em CP

precoces para construir, com a equipe, aplicações práticas de CP precoces.

Para tanto, utilizou-se o recurso da capacitação, entendida como estratégia de

educação permanente em saúde, concebida em dois módulos, com as

seguintes temáticas:

- 1º Módulo: Conhecimentos básicos em CP precoces. Ocorrerá apresentação

de estudo de campo realizado para apresentação dos dados sobre concepções

práticas elaboradas pelo grupo e evidências acerca de estratégias adotadas

nos serviços de CP precoces.

- 2º Módulo: Aplicação prática dos CP precoces. Elaboração de roda de

conversa multidisciplinar para discussão de barreiras e oportunidades para a

incorporação dos CP precoces.

Sendo assim, a estratégia de problematização para capacitação

multiprofissional seguirá o programa abaixo delineado.

6.1 PLANO DE CAPACITAÇÃO MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS PRECOCES

6.1.1 Objetivos

1. Apresentar dados da pesquisa: “Quando a cura não é mais possível:

trabalhando a paliação dentro de uma unidade curativa”, elaborada pela equipe

multiprofissional da unidade de tratamento da mama sobre concepções de QV

e CP, e sua articulação prática;

2. Apresentar evidências científicas acerca de estratégias adotadas pelos

diferentes serviços que implementaram os CP precoces;

3. Discutir barreiras e oportunidades para a incorporação dos CP precoces

dentro da realidade da equipe multiprofissional da unidade de tratamento de

mama;

4. Buscar ações para a introdução dos CP precoces dentro das atividades

desenvolvidas no HC III, discutidos na roda de conversa.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

75

6.1.2 Dinâmica e método

Será utilizada a capacitação como estratégia de educação permanente,

presente na PNAO e baseada na problematização.

Público alvo: profissionais de saúde que atuam na unidade III do INCA.

Pré-requisito: não possui.

Carga Horária: 4 horas divididas em dois módulos de 2h cada (Módulo I:

Conhecimentos básicos em CP precoces e Módulo II: Aplicação prática dos CP

precoces.

Nº de Vagas: de acordo com a demanda institucional. A princípio, prevê-se a

realização de rodas de conversa com 8 a 15 participantes.

Período de realização: conforme demanda institucional.

Ambiente organizacional: a ser combinado com a educação continuada do

INCA.

6.1.3 Conteúdo

Quadro 8. Conteúdo do plano de capacitação multiprofissional em cuidados paliativos. Rio de Janeiro, 2014 Módulo I: Conhecimentos básicos em cuidados

paliativos precoces (CP) Recursos

- Apresentar dados da pesquisa: “Quando a cura não é mais possível: trabalhando a paliação dentro de uma unidade curativa”, elaborada pela equipe multiprofissional da unidade de tratamento da mama sobre concepções de QV e CP e sua articulação prática.

Identificação das concepções e aplicações práticas trazidas pela pesquisa

Identificação das necessidades de CP e QV da clientela.

Identificação das relações, seja através do trabalho em equipe ou relação profissional/paciente

- Apresentar evidências científicas acerca de estratégias adotadas pelos diferentes serviços que implementaram os CP precoces. - Apresentação das modalidades de encaminhamento precoce internacionais. - Apresentação dos desafios e benefícios deste encaminhamento

Duração: 2h

Aula expositiva

Instrutor: Lailah Maria Pinto Nunes

Participantes: equipe multiprofissional do HC III

Local: Auditório HCIII

Recurso visual: Data show

Continua...

...continuação

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

76

Módulo II: Aplicação prática dos cuidados paliativos precoces

Recursos

Discutir barreiras e oportunidades a incorporação dos CP precoces dentro da realidade da equipe multiprofissional da unidade de tratamento de mama.

Identificação de barreiras e facilitadores do encaminhamento precoce na unidade III.

Buscar ações para a introdução dos CP inicias dentro das atividades desenvolvidas no HC III, discutidos na roda de conversa.

Duração: 2hs

Roda de conversa

Instrutor: Lailah Maria Pinto Nunes e pesquisador auxiliar.

Participantes: equipe multiprofissional do HC III

Local: Auditório HCIII

Recurso: roda de conversa com elaboração de documento com as ações propostas.

Fonte: elaborado pela autora.

6.1.4 Avaliação

A avaliação se dará por meio da participação dos membros da equipe

multiprofissional na roda de conversa, do engajamento nas discussões, e na

elaboração das ações para introdução precoce dos CP nas atividades do HC

III.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

77

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste estudo conclui-se que o problema do início precoce dos

CP é bastante complexo. Dentro do contexto do HC III, ele esteve presente no

discurso da equipe multiprofissional nos aspectos da prática dos CP, nas

concepções de CP e QV e nas relações profissional/paciente e entre

profissionais.

A prática dos CP esteve representada pela escolha do hospice como

local ideal ao atendimento desses pacientes, com ênfase na visita domiciliar. A

equipe reconheceu a existência de um grande número de pacientes que

necessitam dos CP na unidade de tratamento oncológico de mama (HC III),

porém, o encaminhamento acontece tardiamente no curso da doença, fato

atribuído à visão errônea dos pacientes que associaram CP à morte.

Foi notado o déficit de conhecimento sobre CP, assim como para as

pessoas que adquiriram algum treinamento. Tal conhecimento foi considerado

insuficiente para atuar junto a esse paciente.

As concepções de CP trazidas pela equipe foram associadas aos

aspectos da doença e do paciente. Com relação à doença, predominaram as

questões da ênfase na incurabilidade e no fato de não coexistência das

medidas de tratamento paliativo. Essa postura espelhou o modelo de provisão

de CP no Brasil, que acontece de forma desarticulada. Como relação ao

paciente, verificou-se a ênfase no alívio da dor, sintoma predominante nos

pacientes com doença avançada. Embora, mesmo que se objetive melhor a QV

proposta na definição de CP da OMS, domínios psicossociais, espirituais e

mesmo físicos parecem ser negligenciados.

As concepções de QV foram associadas à singularidade e a aspectos

relacionados à funcionalidade. Os discursos incutiram dificuldade em se traçar

um conceito homogêneo de QV para a equipe, constatada pela presença de

diversos instrumentos para mensuração da QV. Além disso, restringir a QV a

aspectos funcionais confirma a opção de sua avalição mediante de critérios

meramente objetivos.

A esperada articulação entre CP e QV não foi um elemento importante

encontrado nesta pesquisa. Isto porque os entrevistados os descreveram

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

78

isoladamente, ou seja: para esta equipe, CP e QV são conceitos

independentes.

Emergiu, no entanto, o debate sobre as relações profissional/paciente e

multiprofissionais, cuja análise permitiu discutir o modelo de gestão baseado

em indicadores, associados somente ao aumento da produtividade. Este

modelo privilegia ações de tratamento e negligencia ações difíceis e

consumidoras de tempo e esforços atreladas aos encaminhamentos ao CP.

Como consequência, os profissionais demonstraram insatisfação com a perda

de vínculo.

O trabalho em equipe foi marcado pela centralização das decisões na

figura médica, trazendo frustração e dificuldades na comunicação com os

demais membros da equipe. Este fato corrobora a existência de um modelo

médico-hegemônico na instituição, que se opõe às diretrizes da PNH.

O estudo das relações permitiu identificar um novo fenômeno: o impacto,

para a saúde do trabalhador, dos encaminhamentos tardios dos pacientes

oncológicos para a unidade de CP. Este fato relevante merece atenção em

pesquisas futuras.

Na literatura, o encaminhamento precoce aos CP apresentou benefícios

como melhoria da QV e da sobrevida dos pacientes. Seu desenvolvimento

acontece, predominantemente, em países com serviços estruturados em CP.

Porém, mesmo nestes, ainda se encontram desafios para a sua

implementação, como a definição do momento ideal do encaminhamento,

gerando encaminhamentos considerados tardios.

Essa complexidade permitiu elaborar um programa de capacitação

multiprofissional em CP precoces, baseado na metodologia da problematização

e como estratégia da PNEPS.

Como limitações deste estudo, destaca-se o número de profissionais

entrevistados, que foi determinado pela característica das categorias

multiprofissionais que compõem a equipe multiprofissional do cenário do

estudo. Vale ressaltar que outras pesquisas são necessárias para validar o

potencial dos resultados em outros cenários, com outras equipes.

Além disso, não foi ignorado que o processo de decisão sobre o

encaminhamento ao hospice é produto da relação médico/paciente. Cabe aos

outros profissionais apresentar à equipe a maneira como esse processo é visto,

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

79

e entender, minimamente, como a equipe médica compreende a tomada de

decisão, porém sem interferir diretamente. Para que se tenha resultado efetivo,

é preciso criar estratégias para estimular a participação da equipe médica na

capacitação.

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

80

8 REFERÊNCIAS

1. Ministério da Saúde (BR), Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – INCA, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro. Estimativa 2014: incidência de câncer no Brasil [Internet]. Rio de Janeiro, RJ: INCA; 2014 [cited 2015 Mar 10]. Available from: http://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/homepage/outros-destaques/estimativa-de-incidencia-de-cancer-2014/estimativa_cancer_24042014.pdf.

2. Sousa AF. Estádio III e IV mama 2011 a 2013. [Área de Registro de Câncer

HC III, Coordenação Geral de Gestão Assistencial do INCA] [Intranet]. Rio de Janeiro: INCA, 2015.

3. Polovich M, Olsen M, LeFebre KB. Chemotherapy and Biotherapy Guidelines

and recommendations for practice. 4th ed. Pittsburgh: Oncology Nursing Society; 2014.

4. Souza, RS. Pacientes oncológicos em quimioterapia paliativa: perfil e

relações entre sintomas, capacidade funcional e qualidade de vida [dissertação] [Internet]. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais; 2011 [cited 2015 Mar 15]. Available from: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/GCPA-8NGJEU/raissa_silva_souza.pdf?sequence=1.

5. The WHOQOL Group. The World Health Organization quality of life

assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc sci med [Internet]. 1995 [cited 2015 Mar 31];41(10):1403-09. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/027795369500112K.

6. Lotti RBC, Barra AA, Dias RC, Markley ASD. Impacto do tratamento do

câncer de mama na qualidade de vida. Rev bras cancerol [Internet]. 2008 [cited 2015 Mar 31];54(4):367-71. Available from: http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v04/pdf/367_372_Impacto_do_Tratamento_de_Cancer_de_Mama.pdf.

7. World Health Organization. WHO definition of palliative care [Internet]. 2014

[cited 2014 Feb 10]. Available from: http://www.who.int/cancer/palliative/definition/en/

8. Cardoso DH, Muniz RM, Schwartz Eda, Arrieira ICO. Cuidados paliativos na

assistência hospitalar: a vivência de uma equipe multiprofissional. Texto contexto - enferm. [Internet]. 2013 Dec [cited 2016 Feb 09];22(4):1134-41. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072013000400032&lng=en. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072013000400032.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

81

9. World Health Organization, Worldwide palliative care alliance. Global atlas of

palliative care at the end of life [Internet] 2014 [cited 2015 Mar 12]. Available from: http://www.who.int/nmh/Global_Atlas_of_Palliative_Care.pdf

10. Lynch T, Connor S, Clark D. Mapping levels of palliative care development:

a global update. J Pain Symptom Manage [Internet]. 2013 [cited 2015 Mar 12];45(6):1094-106. Available from: http://www.thewhpca.org/resources/item/mapping-levels-of-palliative-care-development-a-global-update-2011

11.Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Cuidado Paliativo.

São Paulo: CREMESP; 2008. 12. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2015 Mar 02]. Available from: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2015/06/diretrizes-_cuidado_pessoas-_doencas_cronicas.pdf 13. Chaves JHB, Mendonça VLG, Pessini L, Rego G, Nunes R. Cuidados

paliativos na prática médica: contexto bioético. Rev dor [Internet]. 2011 jul/set [cited 2015 Mar 02];12(3):250-5. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132011000300011&script=sci_arttext

14. Ministério da Saúde (BR), Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política

Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2004 [cited 2015 Mar 02]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_2004.pdf

15. Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia - ABRALE.

Transdisciplinaridade em Oncologia: caminhos para um atendimento integrado. São Paulo: HR; 2009.

16. Ministério da Saúde (BR). Portaria MG/MS nº 1.319, de 23 de julho de

2002. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos [Internet] [cited 2014 Nov 12]. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/constructore/objetos/portaria_1319.pdf

17. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Política Nacional de Atenção

Oncológica. Nota técnica [Internet] 2005 Nov. [cited 2014 Nov 12]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_oncologica.pdf

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

82

18. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 4.274/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a Organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único da Saúde [Internet] [cited 2014 Nov 12]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt4279_30_12_2010.html

19. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 874/GM/MS, de 16 de maio de 2013.

Institui a Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer na rede de Atenção em Saúde das Pessoas com doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Sáude [Internet] [cited 2014 Nov 12]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0874_16_05_2013.html

20. Guameri V, Conte P. The curability of breast cancer and treatment of

advanced disease. Eur. j. nucl. med. mol. Imaging. [Internet]. 2004 Jun [cited 2014 Jul 02];31 Suppl 1:149-61. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15107948

21. Cruz MR, Buzaid AC, Barros CH, Mayer IA. Mama: doença metastática. In:

Buzaid AC, Maluí FC, Lima CMR (Ed.). Manual de Oncologia Clínia do Brasil 2015 [Internet] [cited 2016 Jan 02]. Available from: http://mocbrasil.com/moc-tumores-solidos/cancer-de-mama/3-mama-doenca-metastatica/

22. Costa MA. Detecção precoce do câncer de mama metastático é importante

e pode alterar o prognóstico? Revista GEBECAM. [Internet] 2010. [cited 2016 Jan 02];1(1):5-6. Available from: http://www.gbecam.org.br/downloads/REVISTA_GBECAM_ED-01.pdf

23. Ministério da Saúde (BR), Instituto Nacional de Câncer José Alencar

Gomes da Silva. Controle do câncer de mama: tratamento [Internet]. [cited 2014 Oct 11]. Available from: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_controle_cancer_mama/tratamento

24. National Comprehensive Cancer Network. Guideline for treatment for

cancer by site: Breast cancer. NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology [Internet]. Washington: NCCN; 2015 [cited 2016 Jan 11]. Available from: http://www.nccn.org/professionals/physician_gls/f_guidelines.asp#site

25. Bonassa EMA, Gato, MIR. Terapêutica oncológica para enfermeiros e

farmacêuticos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2012. 26. American Society of Clinical Oncology. The debate on hospice care. J

Oncol Pract [Internet]. 2008 May [cited 2016 Jan 11];4(3):153-7. Available from: http://jop.ascopubs.org/content/4/3/153.full.pdf+html

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

83

27. Ferrell BR, Coyle N. Oxford Textbook of palliative nursing. 3 ed. USA: Oxford University Press; 2010.

28. Matsumoto, DY. Cuidados Paliativos: conceitos, fundamentos e princípios.

In: Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos [Internet]. Rio de Janeiro: Diagraphic; 2009. p.14-9 [cited 2015 Nov 2]. Available from: http://www.santacasasp.org.br/upSrv01/up_publicacoes/8011/10577_Manual%20de%20Cuidados%20Paliativos.pdf

29. Sepulveda C, Marlin A, Yoshida T, Ulrich A. Palliative Care: The World

Health Organization´s global Perspective. J Pain Synptom management [Internet]. 2002 Aug [cited 2015 Dec 4];24(2):91-6. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12231124

30. Otis-Green S, Sidhu RK, Ferraro CD, Ferrell B. Integrating social work into

palliative care for lung cancer patients and families: a multidimensional approach. J Psychosoc Oncol [Internet]. 2014 [cited 2015 Dec 4];32(4):431-46. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4106696/

31. Andrade M, Silva SR. Administração de quimioterápicos: uma proposta de

protocolos de enfermagem. Rev. bras. enferm [Internet]. 2007 Jun [cited 2012 Jul 01];60(3):331-5. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n3/a16.pdf

32. Cleary J, Ddungu H, Distelhorst SR, Ripamonti C, Rodin GM,. Bushnaq MA

et al. Supportive and palliative care for metastatic breast cancer: Resource allocations in low- and middle-income countries. A Breast Health Global Initiative 2013 consensus statement. Breast [Internet]. 2013 Oct [cited 2015 Jul 01];22(5):616-27. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23972474

33. Kistler EA, Morrison RS, Richardson LD, Ortiz JM, Grudzen CR. Emergency

department-triggered palliative care in advanced cancer: proof of concept. Acad emerg. med. [Internet] 2015 Feb [cited 2016 Jan 01];22(2):237-9. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25639187

34. Rugno FC, Paiva BS, Paiva CE. Early integration of palliative care facilitates

the discontinuation of anticancer treatment in women with advanced breast or gynecologic cancers. Gynecol oncol. [Internet] 2014 Nov [cited 2015 Jan 01];135(2):249-53. Available from: https://www.sgo.org/wp-content/uploads/2012/09/Rugno-et-al-Early-integration.pdf

35. Hui D, Kim SH, Kwon JH, Tanco KC, Zhang T, Kang JH, et al. Access to

palliative care among patients treated at a comprehensive cancer center. Oncologist [Internet] 2012 Dec [cited 2015 Jun 01];17(12):1574-80. Available from: http://theoncologist.alphamedpress.org/content/17/12/1574.full.pdf+html

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

84

36. Corbett CL, Johnstone M, Trauer JM, Spruyt O. Palliative care and hematological malignancies: increased referrals at a comprehensive cancer centre. J Palliat Med. [Internet] 2013 May [cited 2015 Jun 01];16(5):537-41. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23822210

37. Otsuka M, Koyama A, Matsuoka H, Niki M, Makimura C, Sakamoto R, Sakai

K, Fukuoka M. Early palliative intervention for patients with advanced cancer. Jpn. J. Clin. Oncol. [Internet] 2013 Aug [cited 2015 Jun 01];43(8):788-94. Available from: http://jjco.oxfordjournals.org/content/43/8/788.full.pdf+html

38. Reyes-Gibby CC1, Anderson KO, Shete S, Bruera E, Yennurajalingam S.

Early referral to supportive care specialists for symptom burden in lung cancer patients: a comparison of non-Hispanic whites, Hispanics, and non-Hispanic blacks. Cancer. [Internet] 2012 Feb [cited 2015 Jun 01];118(3):856-63. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.26312/pdf

39. Bell CL, Kuriya M, Fischberg D. Hospice referrals and code status:

outcomes of inpatient palliative care consultation among asian americans and pacific islanders with cancer. J Pain Symptom Manage [Internet]. 2011 Oct [cited 2015 Jun 01];42(4):557-64. Available from: http://www.jpsmjournal.com/article/S0885-3924(11)00134-5/fulltext

40. Jacobsen J, Jackson V, Dahlin C, Greer J, Perez-Cruz P, Billings JA, et al.

Components of early outpatient palliative care consultation in patients with metastatic nonsmall cell lung cancer. J Palliat Med [Internet]. 2011 Apr [cited 2015 Jun 01];14(4):459-64. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21417739

41. Fukui S, Fujita J, Tsujimura M, Sumikawa Y, Hayashi Y, Fukui N. Late

referrals to home palliative care service affecting death at home in advanced cancer patients in Japan: a nationwide survey. Ann Oncol [Internet] 2011 Sep [cited 2015 Jun 01];22(9):2113-20. Available from: http://annonc.oxfordjournals.org/content/22/9/2113.long

42. Baek YJ, Shin DW, Choi JY, Kang J, Mo HN, Kim YH, Kim S, Jung KW, Joo

J, Park EC. Late referral to palliative care services in Korea. J Pain Symptom Manage. [Internte] 2011 Apr [cited 2015 Jun 01];41(4):692-9. Available from: http://www.jpsmjournal.com/article/S0885-3924(10)01020-1/fulltext

43. Dalal S, Palla S, Hui D, Nguyen L, Chacko R, Li Z, et al. Association

between a name change from palliative to supportive care and the timing of patient referrals at a comprehensive cancer center. Oncologist [Internet] 2011 [cited 2015 Jun 05];16(1):105-11. Available from: http://theoncologist.alphamedpress.org/content/16/1/105.long

44. Temel JS; Greer JA; Muzikansky A; Gallagher ER; Admane S; Jackson VA,

et al. Early palliative care for patients with metastatic non-small-cell lung

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

85

cancer. N Eng J Med. [Internet] 2010 Aug [cited 2015 Jun 01];363(8):733-42. Available from: http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa1000678

45. Araujo LHL, Baldotto CS, Zukin M, Vieira FMAC, Victorino AP, Rocha VR et

al. Sobrevida e fatores prognósticos em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas assistidos na saúde suplementar. Rev. bras. epidemiol. [Internet] 2014 [cited 2015 Jun 08];17(4):1001-14. Available from: http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v17n4/pt_1415-790X-rbepid-17-04-01001.pdf

46. Armstrong DK. Relapsed ovarian cancer: challenges and management

strategies for a chronic disease. Oncologist [Internet] 2002 Oct [cited 2015 Aug 08];7(Suppl 5):20-8. Available from: http://theoncologist.alphamedpress.org/content/7/suppl_5/20.long

47. Blackledge GI, Lawton F, Redman C, Kelly K. Response of patients in

phase II studies of chemotherapy in ovarian cancer: implications for patient treatment and the design of phase II trials. Br J Cancer. [Internet] 1989 Apr [cited 2015 Jun 08];59(4):650-3. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2247161/pdf/brjcancer00126-0168.pdf

48. Cojocariu OM1, Huguet F, Lefevre M, Périé S. Facteurs pronostiques et

prédictifs des cancers des voies aérogigestives supérieures. Bull Cancer. [Internet] 2009 Abr [cited 2015 Jun 09];96(4):369-78. Available from: http://www.jle.com/fr/revues/bdc/e-docs/facteurs_pronostiques_et_predictifs_des_cancers_des_voies_aerodigestives_superieures_280729/article.phtml

49. Hung YS, Wu JH, Chang H, Wang PN, Kao CY, Wang HM et al.

Characteristics of patients with hematologic malignancies who receives palliative care consultation services in a medical center. Am J Hosp Palliat Care [Internet] 2013 Dec [cited 2015 Jun 09];30(8):773-80. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23298875

50. O'Connor NR, Hu R, Harris PS, Ache K, Casarett DJ. Hospice admissions

for cancer in the final days of life: independent predictors and implications for quality measures. J Clin Oncol [Internet] 2014 Oct [cited 2015 Jul 09]; 32(28):3184-9. Available from: http://jco.ascopubs.org/content/32/28/3184.long

51. Collins A, Sundararajan V, Brand CA, Moore G, Lethborg C, Gold M, et al.

Clinical presentation and patterns of care for short-term survivors of malignant glioma. J Neurooncol [Internet] 2014 Sep [cited 2015 Jun 09]; 119(2):333-41. In: PubMed; PMID: 2488983 Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24889839

52. Lefkowits C, Binstock AB, Courtney-Brooks M, Teuteberg WG, Leahy J,

Sukumvanich P, et al. Predictors of palliative care consultation on an inpatient gynecologic oncology service: are we following ASCO

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

86

recommendations? Gynecol Oncol. [Internet] 2014 May [cited 2015 Jun 09];133(2):319-2. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0090825814001760

53. Schenker Y, Crowley-Matoka M, Dohan D, Rabow MW, Smith CB, White

DB et al. Oncologist factors that influence referrals to subspecialty palliative care clinics. J Oncol Pract [Internet] 2014 Mar [cited 2015 Jul 10];10(2):37-44. Available from: http://jop.ascopubs.org/content/early/2013/12/02/JOP.2013.001130.full.pdf.

54. Kwon JH, Hui D, Chisholm G, Ha C, Yennurajalingam S, Kang JH et al.

Clinical characteristics of cancer patients referred early to supportive and palliative care. J Palliat Med [Internet] 2013 Feb [cited 2015 Nov 4]; 16(2):148-55. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3569943/

55. Peng JK, Chiu TY, Hu WY, Lin CC, Chen CY, Hung SH. What influences

the willingness of community physicians to provide palliative care for patients with terminal cancer? Evidence from a nationwide survey. Jpn J Clin Oncol [Internet] 2013 Mar [cited 2015 Oct 12];43(3):278-85. Available from: http://jjco.oxfordjournals.org/content/43/3/278.long

56. Hui D, Kim SH, Roquemore J, Dev R, Chisholm G, Bruera E. Impact of

timing and setting of palliative care referral on quality of end-of-life care in cancer patients. Cancer [Internet] 2014 Jun [cited 2015 Oct 12];120(11):1743-9. Available from: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.28628/pdf

57. Wentlandt K, Krzyzanowska MK, Swami N, Rodin GM, Le LW, Zimmermann

C. Referral practices of oncologists to specialized palliative care. J Clin Oncol [Internet] 2012 Dec [cited 2015 Oct 12];30(35):4380-6. Available from: http://jco.ascopubs.org/content/30/35/4380.long

58. Smith CB, Nelson JE, Berman AR, Powell CA, Fleischman J, Salazar-

Schicchi J et al. Lung cancer physicians' referral practices for palliative care consultation. Ann Oncol [Internet] 2012 Feb [cited 2015 Oct 10];23(2):382-7. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3265546/

59. Ahmad NU, Haque MF, Khan F, Kamal MM. Palliative care out patient

consultation service in a teaching hospital in Bangladesh. Mymensingh Med J [Internet] 2011 Jan [cited 2015 Oct 12];20(1):98-103. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21240171

60. Bruera E, Hui D. Integrating supportive and palliative care in the trajectory of

cancer: establishing goals and models of care. J Clin Oncol [Internet] 2010 [cited 2015 Oct 12];28(25):4013-17. Available from: http://jco.ascopubs.org/content/28/25/4013.short

61. Andrade GVB, Polletti JN. Modelos de atenção à saúde no Brasil. Rede

HumanizaSUS [Internet]. 2013 [cited 2015 May 12]. Available from:

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

87

http://www.redehumanizasus.net/65571-modelos-de-atencao-a-saude-no-brasil

62. Pilati R. Análise Fatorial Confirmatória da Escala de Impacto do

Treinamento do Trabalho. Psicol. teor. Pesqui. 2005;21(1):43-51. 63. Ferri SNM, Pereira MJB, Mishima SM, Caccia-Brava MCG, Almeida MCP.

As tecnologias leves como geradoras de satisfação em usuários de uma unidade de saúde da família. Interface comun. saúde educ. [Internet] 2007 Dec [cited 2015 May 12];11(3):515-29. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832007000300009&script=sci_arttext.

64. Mitre SM, Siqueira BR, Mendonça JMG, Morais NMP, Meirelles CAB, Pinto-

Porto Cláudia et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação profissional em saúde: debates atuais. Ciênc. saúde coletiva [Internet]. 2008 Dec [citado 2014 Oct 10];13(Suppl 2):2133-44. Available from: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000900018

65. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8

ed. São Paulo: Hucitec; 2004. 66. Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em enfermagem

7 ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. 67. Munhall PL. Nursing research a qualitative perspective. 5 ed. Jones &

Barnett Learning: Massashusets; 2012. 68. Souza ES, Rodrigues MAS, Rocha FEC, Martins CR. Guia de utilização do

software Alceste: uma análise lexical aplicada a interpretação dos discursos de atores na agricultura. Planaltina: Embrapa Cerrados; 2009.

69. Azevedo DM, Costa RKS, Miranda FAN. Uso do Alceste na análise de

dados qualitativos: contribuições na pesquisa em enfermagem. Rev. Enferm. UFPE on line [Internet] 2013 Jul [cited 2014 12];7(esp):5015-22. Available from: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/viewFile/3297/pdf_3090

70. Organização Mundial da Saúde. Constituição da Organização Mundial da

Saúde (OMS/WHO) – 1946 [Internet]. In: Universidade de São Paulo. Biblioteca Virtual de Direitos Humanos [cited 2014 Jun 14]. Available from: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html

71. Ministério da Saúde (BR), Instituto Nacional de Câncer José Alencar

Gomes da Silva. Cuidados paliativos oncológicos: controle da dor [Internet].

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

88

Rio de Janeiro: INCA; 2001 [cited 2014 Jan 12]. Available from: http://www.inca.gov.br/publicacoes/manual_dor.pdf

72. Seidl EMF, Zannon CMLC. Qualidade de vida e saúde: aspectos

conceituais e metodológicos. Cad. saúde pública, [Internet] 2004 Apr [cited 2015 Jan 12];20(2):580-8. Available from: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v20n2/27.pdf

73. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa,

Departamento de Articulação Interfederativa. Caderno de diretrizes, objetivos, metas e indicadores: 2013-2015 [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2013 [cited 2015 Jan 12]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_diretrizes_objetivos_2013_2015.pdf

74. Trigo TR., Teng CT, Hallak JEC. Síndrome de burnout ou estafa

profissional e os transtornos psiquiátricos. Rev. psiq. clín [Internet] 2007 [cited 2015 Jan 12];34(5):223-33. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832007000500004

75. Gomes R, Deslandes SF. Interdisciplinaridade na saúde pública: um campo

em construção. Rev. latinoam. enferm. [Internet] 1994 Jul [cited 2015 Jan 12];2(2):103-14. Available from: http://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/1159/1177

76. Marques SB. O princípio constitucional da integralidade de assistência à

saúde e o projeto de lei n. 219/2007: interpretação e aplicabilidade pelo Poder Judiciário. Rev. direito sanit. [Internet] 2009 [cited 2015 Jun 20];10(2):64-86. Available from: http://www.revistas.usp.br/rdisan/article/view/13163/0

77 Neves LMT, Aciole GG. Desafios da integralidade: revisitando as

concepções sobre o papel do fisioterapeuta na equipe de Saúde da Família. Interface comun. saúde educ. [Internet] 2011 [cited 2015 Jun 27];15(37):551-64. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832011000200018

78. Pilati R, Abbad GS. Análise Fatorial Confirmatória da Escala de Impacto do

Treinamento do Trabalho. Psicol. teor. pesqui. [Internet] 2005 [cited 2015 Mar 27];21(1):43-51. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v21n1/a07v21n1.pdf

79. Peduzzi M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev.

saúde pública. [Internet] 2001 [cited 2014 Jul 15];35(1):103-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v35n1/4144.pdf

80. Tremblay D, Roberg D, Cazale L, Touati N, Maunsell E, Latreille J, et al.

Evaluation of the impact of interdisciplinarity in cancer care. BMC Health

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

89

Serv Res. [Internet] 2011 [cited 2014 Jul 18];(11):1-10. Available from: http://www.biomedcentral.com/1472-6963/11/144

81. Teixiera CF. Promoção e vigilância da saúde no contexto da regionalização

da assistência à saúde no SUS. Cad. saúde pública [Internet]. 2002 [cited 2015 Oct 10];18(Suppl):S153-S62. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2002000700015&script=sci_arttext

82. Melo MB, Brandt LC. Ato médico: perda da autoridade, poder e resistência.

Psicol. cienc. prof. [Internet] 2005 Mar [cited 2015 Oct 10];25(1):14-29. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932005000100003&script=sci_arttext

83. Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução COFEN nº 464, de 20

de outubro de 2014. Normatiza a atuação da equipe de enfermagem na atenção domiciliar [Internet]. Diário Oficial, 3 Nov 2014 [cited 2015 May 26]. Available from: http://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=276411

84. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (BR). Parecer COREN-

SP GAB nº 023/2011. Sedação paliativa em oncologia [Internet]. 2011 [cited 2015 May 26]. Available from: http://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/parecer_coren_sp_2011_23.pdf

85. Ministério da Saúde (BR), Instituto Nacional de Câncer José Alencar

Gomes da Silva – INCA. Estrutura. Hospital do câncer IV (HC IV). [Internet] [cited 2015 May 26]. Available from: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=233

86. Ministério da Saúde (BR), Universidade de São Paulo, Instituto para o

Desenvolvimento da Saúde. Manual de Enfermagem. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. Available from: http://www.ee.usp.br/doc/manual_de_enfermagem.pdf

87. Ministério da Saúde (BR), Instituto Nacional de Câncer José Alencar

Gomes da Silva – INCA. Rede Câncer [Internet]. Assistência: visita domiciliar reduz custos e garante bem estar de mais pacientes [cited 2015 May 26]. Available from: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/fd72c7004eb6937e89a29bf11fae00ee/16_assistencia.pdf?MOD=AJPERES

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

90

9 OBRAS CONSULTADAS

Araújo MMT. Comunicação em cuidados paliativos: proposta educacional para

profissionais de saúde [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo,

Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2011.

Berbel. NAN. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas:

diferentes termos ou diferentes caminhos. Interface comun. saúde educ.

[Internet]. 1998 Fev [cited 2015 Mar 18];2(2):139-54. Available from:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-

32831998000100008&script=sci_abstract&tlng=pt

Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na

Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de

Educação Permanente em Saúde/Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão

do Trabalho e da de ação na Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.

Sampaio J, Santos GC, Agostini M, Salvador AS. Limites e potencialidades das

rodas de conversa no cuidado em saúde: uma experiência com jovens no

sertão pernambucano. Interface comun. saúde educ. 2014 Dec; 18(Suppl

2):1299-312.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

91

APÊNDICES

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

92

Apêndice A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Rua Dr. Celestino, 74 24020-091 – RJ – Brasil Tel (21) 2629-9493

e-mail: [email protected]! A referência de hiperlink não é válida.

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(1ª VIA – PESQUISADOR) (2ª- VIA PROFISSIONAL)

Título do estudo: Quando a cura não é mais possível: trabalhando a paliação dentro de uma unidade curativa Pesquisador responsável: Lailah Maria Pinto Nunes Instituição a que pertence o pesquisador responsável: UFF- Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Orientadora: Prof.ª Dr.ª Zenith Rosa Silvino Telefones para contato: (21) 81186923. E-mail: [email protected] Nome ou sigla do participante: _____________________________________ Você está sendo convidado para participar voluntariamente como sujeito da pesquisa. Antes de concordar em participar desta pesquisa e responder a entrevista, é muito importante que você compreenda as informações e instruções contidas neste documento. Objetivos: Compreender a concepção de cuidados paliativos para a equipe multiprofissional e a influência desta concepção na atuação da equipe; identificar e comparar o sentido dos conceitos de cuidados paliativos / qualidade de vida para os diferentes membros da equipe multidisciplinar e observar as rotinas de atividades desenvolvidas pela equipe multiprofissional e a inserção dos conceitos de cuidados paliativos e qualidade de vida nessas discussões. Procedimento do estudo: Sua participação nesta pesquisa consistirá na participação em entrevista concedida a pesquisadora e gravada através de recurso de áudio. Posteriormente, a pesquisadora assistirá as reuniões multidisciplinares do round da enfermaria clínica e da atividade de clínica ampliada e acompanhará o comportamento desta equipe através da técnica de observação participante. Riscos: Todos os nossos esforços estarão dirigidos para que não exista nenhum desconforto para o sujeito da pesquisa e nem risco para a integridade da sua saúde.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

93

Benefícios: Acreditamos que a pesquisa irá contribuir para a discussão do tema de cuidados paliativos no âmbito da equipe multidisciplinar auxiliando no diálogo entre os membros da proposta de uma assistência integral e humanizada. Caráter confidencial: Garantimos que na apresentação dos dados será mantido o sigilo quanto a sua identidade. Os roteiros do questionário serão identificados por algarismos arábicos garantindo a sua privacidade e o seu anonimato. Custos: Não haverá nenhum custo para o sujeito da pesquisa. Bases da participação: A pesquisadora deverá responder todas as suas dúvidas antes da sua decisão em participar do estudo em caráter voluntário. Você tem o direito de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento, sem nenhuma penalidade e sem perder os benefícios aos quais tenha direito. Garantia de esclarecimento: Os participantes do estudo poderão entrar em contato com a pesquisadora para novos esclarecimentos pelo telefone e e-mail descritos acima.

_____________________________ _____________________________ Rubrica do voluntário Rubrica do pesquisador

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

94

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Rua do Resende, 128 – sala 203 Tel: 21 3207-4550 e 3207-4556

DECLARAÇÃO Declaro para os devidos fins que fui devidamente orientado(a) quanto à finalidade e objetivos do projeto, e concordo (ASSINANDO EM DUAS VIAS) em participar do mesmo como sujeito de investigação, uma vez que não terei qualquer prejuízo pessoal ou profissional. ENTREVISTADO: ________________________________________________ Eu, abaixo assinado, expliquei completamente os detalhes relevantes deste estudo ao sujeito da pesquisa indicado acima. PESQUISADOR: _________________________________________________

____________________, ___ de ____________ de 20__.

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

95

Apêndice B. Roteiro de entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1) O que você compreende por qualidade de vida?

2) Como e a partir de quais instrumentos podemos mensurar a qualidade de

vida?

3) O que você define por cuidados paliativos?

4) Acredita que o conhecimento sobre qualidade de vida e cuidados paliativos

influenciam as ações da equipe multiprofissional? Como?

5) Como seus conhecimentos sobre cuidados paliativos influencia a assistência

prestada ao paciente?

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

96

Apêndice C. Dicionário do corpus cuidados paliativos precoces

DICIONÁRIO

Atendimento domiciliar: Visita domiciliar

Aberto: Simpático

Equipe multiprofissional: Equipe

Morte: Óbito

Organização: Sistema

Realizar cuidados paliativos: paliar

Terminal: Suporte não invasivo

Terminalidade: Fim de vida, dias contados de vida, finitude

Treinamento: Capacitação, curso, formação

Unidade de internação: Internação, quinto andar, andar

Unidade tratamento mama: HC 3

Unidade cuidados paliativos: HC 4

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

97

ANEXO

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

98

Anexo 1. Parecer consubstanciado do CEP

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

99

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria Pinto... · Orientadora: Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Enfermagem

100