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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA
CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO
VICTOR DA SILVA GONÇALVES
TURISMO E EDUCAÇÃO: uma análise das visitas guiadas no estádio do Maracanã
Niterói 2015
VICTOR DA SILVA GONÇALVES
TURISMO E EDUCAÇÃO: uma análise das visitas guiadas no estádio do Maracanã
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Bacharelado em Turismo como requisito parcial para conclusão do curso.
Orientador: Prof. D.Sc. Ari da Silva Fonseca Filho.
Niterói 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço minha família, o amor, carinho, ensinamentos nas horas que mais
preciso e por me acolher de um jeito especial, que só eles conseguem.
Especialmente minha mãe Rosemery e irmã Gabriela, que me mostram que eu
posso ser sempre uma pessoa melhor.
Meu avô Álvaro,por me mostrar sempre a importância da perseverança em
suas tarefas e o amor ao próximo, além de ser um dos modelos de pessoa que
sempre me inspiram a fazer o bem. Aos meus tios Álvaro e Júlio, que me permitem
ficar com eles, independente do momento, me ajudam nos meus trabalhos e me
incentivam a almejar novas conquistas.
Meu primo Álvaro, por ser meu melhor amigo e dividir parte desta jornada
comigo, me auxiliando quando necessário e me mostrando o caminho correto por
onde devo seguir, é uma honra ter você sempre ao meu lado.
Meus amigos do curso de turismo, que sempre com bom humor conseguiram
fazer com que a experiência da universidade fosse além do saber. O meu obrigado a
vocês: Nathalie Operti, Thayrine Pacheco, Larissa Mattos, Elaine Amaral, Raiza
Motta, Brenda Mayer, Princia Dionizio, Maíra Fernandes, Isabela Lima, Isabela
Seixas, Roberta DiMaulo, Roberta Gouvea, Helen Alvarenga.
Agradeço, especialmente, dois amigos que quero levar para toda a vida, que
sem eles jamais estaria aqui. Acompanharam-me por quase todas as aulas: Jean
Viana e Lucas Monteiro.
Os amigos fora da Universidade, Jefferson Emerick, Mara Silva, e Nelson
José, que me inspiraram e me motivaram a finalizar este projeto.
Os professores da Universidade Federal Fluminense, pelos ensinamentos e
aconselhamentos acadêmicos, em especial ao meu orientador Ari Fonseca Filho,
por suas aulas inspiradoras e por me fazer gostar tanto de suas disciplinas.
RESUMO
O presente trabalho visou mostrar a relação entre turismo e educação, considerando as visitas guiadas que acontecem no Museu do Estádio do Maracanã, mais especificamente com o Projeto Maraca Junior. Assim, levantou-se como questão norteadora: em que medida as visitas realizadas no museu do estádio do Maracanã, por meio de proposta de turismo pedagógico voltado às escolas de educação básica e ensino profissionalizante, servem para destacar o museu como espaço educativo? Com isso, o objetivo geral deste trabalho é elaborar um estudo sobre a relação turismo e educação a partir do Museu do Estádio do Maracanã, tendo em vista compreendê-lo como espaço lúdico e educativo. Os objetivos específicos são: investigar as teorias sobre turismo e educação com a finalidade de se destacar o museu como espaço de educação não-formal; descrever a visitação ao estádio do Maracanã, tendo em vista destacar não apenas a infraestrutura do equipamento turístico, mas principalmente o serviço educativo; e, por fim, analisar se a proposta educativa do museu tem o cuidado de equilibrar aspectos educativos e lúdicos, buscando melhor experiência cultural e turística para os visitantes. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo, utilizando a técnica da observação sistemática e uma breve entrevista com a responsável da visita, para tentar compreender como os funcionários do museu lidam com o caráter pedagógico dessas visitas, cujo público especial são de alunos de escola de ensino básico, ONGs ou instituições de ensino profissionalizante. Buscou-se compreender e se comprovou que o estádio, além de funcionar como espaço de lazer, possui o museu que agrega valor educativo na experiência cultural turistica. Palavras-Chave: Educação. Turismo Pedagógico. Maracanã. Museu e Lazer.
ABSTRACT
The present work showed the relation between tourism and education, considering the guided tours that happens in the museum of the Maracanã Stadium, specifically with the project Maraca Junior. Thinking about this, the main question is: how the museum of Maracanã stadium, thinking about the purpose of educational tourism related to basic school’s and vocational institutions’, is related to highlight the museum as an educational place? So the main objective of this work is conduct a study about the relation tourism and education, taking the museum of maracanã stadium as a base, trying to understand it as a playful and educational place. The specific objectives are investigate the theories of tourism and education trying to highlight the museum as a place of non-formal education; describe the visitation of the museum of the Maracanã stadium, highlighting not only its infrastructure as a tourism building, but mainly its educational service; And, lastly, analyse if the educational proposal of the museum is careful enough to balance playful and educational aspects, trying to improve the cultural and tourist experience for their visitors. So, it was accomplished a field visit, using the systematic observation methodology and a brief interview with the person responsible for the visits, trying to understand how the employers of the museum deal with the educational nature of these visits, that have a special audience as students of basic school, Non-Governmental Organizations or institutions of vocational education. Tried to understand and it was proved that the stadium, besides working as a leisure nad playful place, have a museum that aggregate educational value on the cultural and tourism experience. Key-words: Education. Educational Tourism. Maracanã. Museum and Leisure.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------- 7
1 TURISMO, EDUCAÇÃO E ESPAÇOS DE LAZER EDUCATIVO ---------------------- 9
1.1 TURISMO: ASPECTOS HISTÓRICOS ----------------------------------------------------- 9
1.2 TURISMO E EDUCAÇÃO, UMA RELAÇÃO INTRÍNSECA -------------------------- 13
1.3 TURISMO PEDAGÓGICO: APLICAÇÕES E CONCEITOS -------------------------- 15
1.4 DICOTOMIAS DOS MODELOS DE EDUCAÇÃO E LAZER COM O TURISMO 18
2 DESCRIÇÃO DO COMPLEXO MARACANÃ A PARTIR DO TRABALHO DE
CAMPO REALIZADO ------------------------------------------------------------------------------ 26
2.1 MOTIVAÇÕES E HISTÓRIA DO LOCAL ABORDADO ------------------------------- 26
2.2 VISITAS GUIADAS E OBSERVAÇÕES EM CAMPO --------------------------------- 28
3 RESULTADOS E OBSERVAÇÕES---------------------------------------------------------- 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------- 48
REFERÊNCIAS -------------------------------------------------------------------------------------- 50
APÊNDICE-------------------------------------------------------------------------------------------- 53
ANEXOS ---------------------------------------------------------------------------------------------- 55
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INTRODUÇÃO
O Estádio do Maracanã disponibiliza visitações ao seu acervo e outros
andares do prédio desde o final de 2013 sob a vigência do Consórcio Maracanã,
sendo estas visitas gerenciadas pela empresa Futebol Tour. Devido a um grande
número de visitantes de escolas e ONGs, foi criado no período pós-Copa do Mundo
de 2014 o Projeto Maraca Junior. Esse projeto tem como finalidade receber no
estádio grupos de alunos de escolas de educação básica, ONGs ou de escolas de
ensino profissionalizante, para uma visita personalizada, diferente da visita que os
turistas regulares do Maracanã realizam.
A motivação deste estudo aconteceu após um estágio supervisionado
obrigatório do autor desta monografia na empresa que administra a visita de grupos
no estádio. Buscou-se observar se essas visitas tinham também um caráter
educativo e se os idealizadores do projeto buscavam promover esse caráter, tendo o
estádio como palco do objeto de análise, que é o Projeto Maraca Junior.
O tema é relevante pelo Maracanã ser um grande atrativo da cidade do Rio
de Janeiro, ligado a cultura e paisagem da cidade, e também pela capacidade de
entendê-lo como um local de visitações que busca, acima do lazer, ser um espaço
de conhecimento e troca de experiências, tanto da população receptora quanto dos
turistas. Juntamente a este fator, apresentar o turismo pedagógico em um atrativo de
grande porte como modificador social, ajudando a integração social da cidade do Rio
de Janeiro, sendo possível observar que elementos da visita ao estádio do
Maracanã dialogam com o turismo pedagógico, já que também há pouco material
produzido na área, este trabalho tenta dialogar com autores que escreveram sobre o
assunto, também tentando fomentar novas matérias sobre o tema.
A pergunta problema que norteia a pesquisa é saber “Em que medida as
visitas realizadas no Museu Maracanã, por meio de proposta de turismo pedagógico
voltado às escolas de educação básica e ensino profissionalizante, servem para
destacar o museu como um espaço educativo?”, sendo o objetivo geral deste
trabalho elaborar um estudo sobre a relação turismo e educação a partir do Museu
do Estádio do Maracanã, tendo em vista compreendê-lo como espaço lúdico e
educativo. Os objetivos específicos são: investigar as teorias sobre turismo e
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educação com a finalidade de se destacar o museu como espaço de educação não
formal; descrever a visitação ao Museu Maracanã, tendo em vista destacar não
apenas a infraestrutura do equipamento turístico, mas principalmente o serviço
educativo; e, por fim, analisar se a proposta educativa do museu tem o cuidado de
equilibrar aspectos educativos com os lúdicos, buscando melhor experiência cultural
e turística para os visitantes. Estas perguntas foram pensadas pela influência do
atrativo e se eles conseguiam ver sua própria importância na cidade como um fator
de modificação da sociedade, por meio de um projeto pedagógico. Por meio de visita
com observações sistemáticas, aplicou-se um formulário para a responsável do
projeto, a fim de buscar esclarecimentos para atender os objetivos dessa pesquisa.
Apesar de ser um museu privado, a questão social e o entendimento dos
visitantes sobre o turismo na cidade, e como o Maracanã se insere nela, são
objetivos importantes do projeto Maraca Júnior.
No primeiro capítulo, abordou-se o ensino do turismo segundo Dias(2004) e
Lickorish e Jenkins(2000), buscando seus conceitos mais básicos e história; os
autores Boyer(2003), Brandão(2007), e Gohn(2006) com os conceitos ligados a
educação; e sobre os museus, lazer e suas relações com o turismo, os autores
abordados foram Gohn (2006), Rebelo(1998) e Marcellino(2000) mostrando como
acontece essa relação e como pode ser benéfica para a mistura de lúdico e
questões educativas, e os tipos de educação.
No segundo capítulo, foi descrita a administração atual do estádio, os
esquemas de visitas, lugares por onde a visita guiada é feita e como são os seus
discursos, além da parte de infraestrutura e um pouco de acessibilidade e
sustentabilidade do museu, não só no âmbito de questões relacionadas ao meio
ambiente, mas como um museu de tal porte, que exige qualidade.
No terceiro capítulo, foram vistos os resultados e observações feitas, além de
adicionados autores que corroboram as análises feitas das visitas realizadas no
estádio do Maracanã como sustentáveis, pressupondo o espaço do museu como
interativo e benéfico para os visitantes, tanto pela sua estrutura, quanto pelo
tratamento e relação de seus funcionários com os turistas que o visitam.
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TURISMO, EDUCAÇÃO E ESPAÇOS DE LAZER EDUCATIVO
Considerando que o conhecimento turístico se encontra em processo de
construção e que há muitos conceitos a serem explorados devido ao caráter
multidisciplinar dessa área do conhecimento, podemos dizer que a consolidação do
deste como ciência caminha devagar, mas caminha, e isso ocorre por meio do
crescimento de estudos científicos acerca do objeto turismo e também das
pequenas relações e análises que surgem a cada dia.
Sugere-se, com este trabalho, a abordagem do turismo segundo o caráter
educativo, a fim de mostrara importância de se pensar melhor a relação entre as
áreas de Turismo e Educação, bem como a importância de se criar ou manter
espaços de lazer que contribuam com o aprendizado.
Neste capítulo, será abordada essa relação, tendo em vista a oferta de
espaços que são, originalmente de lazer, mas que promovem o caráter educativo.
Para isso, é preciso compreender a evolução do conceito de turismo para a nossa
sociedade. Dessa forma, entenderemos como os espaços turísticos de lazer estão,
pouco a pouco, se mostrando educativos para a população.
1.1 TURISMO: ASPECTOS HISTÓRICOS
O termo turismo, como é conhecido hoje, originou-se no século XIX com o
sentido geral de deslocamento, ou seja, quando as pessoas se deslocavam de um
lugar a outro por algum motivo ou interesse específico. Segundo Dias (2004), por
exemplo, as viagens que os gregos faziam para Delfos1 são precursoras do que
chamamos de turismo religioso. Essas viagens exigiam o envolvimento de
estabelecimentos de hospedagem e alimentação da cidade para uso dos visitantes.
Este fenômeno não explica ou caracteriza o surgimento do turismo, e também não é
foco deste trabalho esse estudo. No entanto, há elementos que fazem com que
esses atos sejam ligados, de forma geral, ao fenômeno turístico. Dias (2004) cita
1Famosa cidade grega, muito conhecida por seu sítio arqueológico e que hoje é Patrimônio
Mundial pela UNESCO.
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também os jogos olímpicos da Grécia Antiga, que eram grandes eventos que
mobilizavam milhares de pessoas, fazendo com que os recursos como
acomodações, comida, vinho, souvenirs2, entre outros, se esgotassem na cidade
que sediava o evento. Comenta, ainda, para nos mostrar como o termo é antigo,
sobre as viagens para destinos longínquos que ocorreram durante o período do
Império Romano.
Os cidadãos de mais posses dessa época tinham algumas propriedades em
outros locais, além de suas moradias, o que se compara ao nosso atual turismo de
veraneio. Isso, além da grande visitação às cidades que eram conhecidas por suas
magníficas fontes termais, que atraíam muitas pessoas, o equivalente ao turismo de
massa atual. Podemos perceber que essas viagens ou deslocamentos de antes não
são muito diferentes do que conhecemos hoje. A principal diferença está ligada à
facilidade da mobilidade que temos com os meios de transporte modernos.
Nem todas as viagens versavam somente sobre a busca do lazer. Sobre o
objeto de estudo proposto por este trabalho e, ainda sobre os aspectos históricos do
turismo, Dias (2004, p. 33), observa, também, que:
[...]a nobreza europeia (principalmente a inglesa) enviava seus filhos para viagens educativas que podiam durar até três anos e de modo geral eram acompanhados por um instrutor, um intelectual, que orientava seus pupilos de forma mais ou menos organizada durante a viagem. Esses deslocamentos ocorriam prioritariamente na Europa, além de Grécia e Oriente Médio, regiões consideradas berço da civilização e onde existia um grande número de monumentos expressivos que contribuíam para o aumento do status social de quem os visse. Assim ficaram conhecidos, admirados e se tornaram o sonho de visitação do povo da época, o Coliseu, a Torre de Pisa e os canais de Veneza na Itália, o templo de Atena na Grécia, as pirâmides do Egito, entre muitos outros.
Essas viagens mencionadas pelo autor ficaram conhecidas como Grand
Tour3, e eram realizadas pelos jovens de classe média-alta pela Europa,
funcionando como uma espécie de rito de passagem educacional. Diferenciavam-se
dos Petit Tours, que eram realizados somente nas imediações de Paris, por
exemplo. Os jovens aprendiam sobre arte e cultura, por exemplo, mas expostos a
grandes obras. Um tipo de aula prática. No decorrer do século XVIII, com a
2 Termo francês para designar o objeto que resgata as memórias que estão relacionadas a
um destino turístico. As lembranças trazidas pelos viajantes.
3 Em francês, Grand e Petit significam respectivamente, grande e pequeno. Nesse sentido, referem-
se a grandes ou pequenas viagens.
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Revolução Industrial, uma nova burguesia ascendente começaria a participar destes
Grand Tours, sendo impulsionada pelo propósito de afirmação social de uma nova
classe. Muitas viagens eram feitas, também, para que pudessem observar e
aprender novas técnicas da industrialização da época, advindas dos grandes
avanços tecnológicos.
Em relação ao deslocamento das pessoas nessa época, o advento que
melhor representa a tecnologia na melhora deste e, consequentemente, do turismo,
foi o emprego dos trens durante o século XIX (DIAS, 2004). Com essa tecnologia, as
pessoas podiam ser transportadas de um jeito mais confortável e seguro para vários
lugares, fazendo com que houvesse um aumento considerável de equipamentos de
alojamento, alimentação e souvenirs desses locais. Foi devido a isso que ocorreu o
grande marco do turismo moderno. Thomas Cook levou um grupo de 570 pessoas,
saindo de Leicester, na Inglaterra para um congresso contra o álcool em
Longhborough, também na Inglaterra. Várias atividades foram oferecidas durante a
viagem, como um todo, e até mesmo no deslocamento de trem. (LICKORISH;
JENKINS, 2000).
A esse respeito, Dias (2004, p.35) confirma:
A mais significativa contribuição de Cook foi organizar uma viagem com um pacote de serviços incluídos, como transporte, acomodação e atividades no local de destino, procedimento que passou a ser copiado em todo o mundo. As viagens que até então eram realizadas por necessidade — não eram aprazíveis e principalmente voltadas para a educação — tornaram-se atrativas; o entretenimento e o prazer tinham lugar garantido, e assim foi introduzido um novo conceito, o de gozar as férias em lugares distantes do seu local habitual de residência.
A viagem organizada por Thomas Cook é considerada o marco zero do
turismo moderno, com vários elementos de um pacote turístico que são oferecidos
nos dias de hoje, porém, em conformidade com as limitações de oferta da época.
Após essa viagem inicial, ele fez outras, aprimoradas, como a viagem de
barco para Escócia, em 1846, a que levou165 mil pessoas utilizando seus serviços
para a Primeira Exposição Mundial de Londres, em 1851. Realizou também a
primeira excursão ao continente europeu, em 1856 e aos Estados Unidos, em 1866,
além da primeira volta ao mundo, com nove pessoas e duração de 22 dias, em 1872
(DIAS, 2004).
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O turismo moderno tem grande contribuição de Thomas Cook, pois ele foi o
pioneiro na inteira organização de uma excursão. Esse modelo de viagens
organizadas como pacotes turísticos é muito comum hoje. Este conceito permitiu
que muitas pessoas passassem a viajar pela facilidade ao desburocratizar a viagem
pretendida. Uma pessoa, ao decidir viajar precisa lidar com a procura de local para
se abrigar, programação de todas as refeições, além das visitações, que geralmente
são o objetivo da viagem. Com a contribuição de Thomas Cook, os viajantes não
precisam mais lidar com este tipo de burocracia. Ele criou o primeiro itinerário oficial
descritivo de viagens, preparado especialmente para turistas,e de modo profissional.
Novamente, criando protótipos do que hoje chamamos de folheto de apresentação
de produto turístico.
Outra contribuição reside no fato de que Thomas Cook realizou também o
primeiro tour guiado por guias de turismo que se tem notícia, em uma viagem com
cerca de 350 pessoas à Escócia (DIAS, 2004).
Dentre o pioneirismo de Cook cita-se ainda a criação do cupom de hotel em
1867, precursor dos bilhetes de garantias de reservas de hotéis e um antecessor do
traveler'scheck, que era conhecido como Circular Note. Thomas Cook, conforme
pode ser visto,foi o promotor da mudança do turismo de sua forma como era
originalmente conhecido, para um turismo organizado,já com algumas amostras que
este fenômeno chegaria ao porte de um turismo de massa.
Ao fim do século XX, com a crescente importância do turismo na sociedade
pós-industrial que consegue direitos trabalhistas à férias e outros benefícios,
Lickorish e Jenkins (2000) apontam o surgimento de instituições que são criadas
para regulá-lo, como a Organização Mundial de Turismo em 1974. No Brasil, em
1966, foi criada o Embratur4, como empresa estatal, junto do Conselho Nacional de
Turismo para definir a política nacional para o setor à época. Hoje a instituição busca
a “[...] geração de desenvolvimento social e econômico para o País, por meio da
ampliação do fluxo turístico internacional nos destinos nacionais”5. Esses órgãos são
fundamentais para definição de diretrizes e para certa organização do turismo.
4 Instituto Brasileiro de Turismo - autarquia especial do Ministério do Turismo responsável pela
execução da Política Nacional de Turismo no que diz respeito à promoção, marketing e apoio à comercialização dos destinos, serviços e produtos turísticos brasileiros no mercado internacional.
5 Informação disponível em: <http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/embratur/>. Acesso em
maio de 2015.
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Como já foi dito anteriormente, o estudo histórico do turismo não é foco deste
trabalho, mas sim os pontos em que esse se encontra com a educação. Para
mostrar essa interdisciplinaridade, no próximo item será discutido o papel do turismo
quando este apresenta traços educativos que contribuem com o desenvolvimento do
aprendizado, seja ele cultural ou científico.
1.2 TURISMO E EDUCAÇÃO, UMA RELAÇÃO INTRÍNSECA
A troca de informação com fins educativos entre as pessoas ocorria desde a
pré-história e, até mesmo no relacionamento entre animais, há esta prática. Quando
uma ninhada, por exemplo, socializa com seus pais na hora de comer, observam
uma caçada ou brincam entre eles, treinamentos básicos de ataque ou defesa, e
instintos biológicos e sociais já fazem com que o conhecimento seja repassado para
os demais. Com o desenvolvimento social de tribos nômades, em que temos o ser
humano que se fixa em um local para então começar um processo mais amplo de
agricultura, com a criação de uma sociedade mais bem estruturada, o processo de
ensino poderia ser feito por todos da tribo, e não há diferenças sobre o que você
aprende, independente de quem ensina.
Sobre esse processo, Brandão (2007) chama atenção para o fato do processo
da troca de informações ser difusa em toda hierarquia social da tribo.Não há papel
daquele que ensina e daquele que aprende. Esse processo é feito por todos:
anciãos aprendem juntos aos membros mais novos do clã, percebendo a
participação de todos, em um núcleo de aprendizagem em que não há distinção de
quem aprende e quem ensina. Todos ligados em uma noção de conjunto.
Brandão (2007) exemplifica este processo educativo citando as práticas das
filhas que são chamadas pelas mães enquanto tecem cestos ou manuseiam a argila
para criação de potes, ou quando estão na cozinha, aprendendo com suas avós a
cozinhar e separar alimentos para as refeições. Já os meninos, ficavam próximos do
pai e aprendiam a arte de fabricação de armas. Assistiam, também, rituais religiosos
da tribo para que, quando fossem adultos inseridos naquela sociedade,
continuassem esse ciclo da aprendizagem para a próxima geração. Apesar de ser
mais comum os mais velhos, que tem mais conhecimento devido às experiências
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pelo tempo vivido, ensinarem os mais jovens, o contrário também é válido. Todos
aprendem com todos.
De acordo com Cambi (1999), o estudo da pedagogia teve início entre os
séculos XVIII e XIX, e foi desenvolvido por pessoas vinculadas a instituições de
ensino da época, com o objetivo de fazer com que a informação chegasse a outros
docentes, mas mantendo sempre o estudo afastado das práticas educativas que
ocorriam no mundo. Era algo mais teorecitista,apenas quem tinha o poder do
conhecimento nas universidades o discutia, sem aplicações práticas dos temas
estudados. O autor ainda observa que esta ideia de educação foi desenvolvida de
acordo com os princípios filosóficos adotados pelos docentes, e assim, colocando a
pedagogia muito próxima à filosofia, que vem desde o período da Grécia Antiga.
Nesses séculos, muitos conceitos, inclusive sobre a infância, foram postos sob uma
nova ótica, fazendo com que a pedagogia se adaptasse às mudanças surgidas.
Por sua vez, Brandão (2007, p.22) reitera:
Assim, tudo o que é importante para a comunidade, e existe como algum tipo de saber, existe também como algum modo de ensinar. Mesmo onde ainda não criaram a escola, ou nos intervalos dos lugares onde ela existe, cada tipo de grupo humano cria e desenvolve situações, recursos e métodos empregados para ensinar às crianças, aos adolescentes, e também aos jovens e mesmo aos adultos, o saber, a crença e os gestos que os tornarão um dia o modelo de homem ou de mulher que o imaginário de cada sociedade - ou mesmo de cada grupo mais específico, dentro dela - idealiza, projeta e procura realizar.
Não importa o quão grande ou influente em uma região sejam a sociedade e
seus participantes, o papel da educação sempre estará presente para que haja a
socialização da cultura aos indivíduos mais jovens, e a afirmação dos adultos,
propiciando novo saberes ou reafirmando-os. Novos métodos de ensino, sendo ou
não voluntariamente criados para isso, podem sempre ser renovados, mesmo que
seja pela simples observação de jovens na relação com os adultos ou na vivência
diária, fortalecendo essa transmissão da cultura, com o objetivo de transformar
aquele que aprende em um cidadão ativo, consoante às necessidades da sociedade
em que deverá atuar.
Percebe-se que o ensino não precisa, necessariamente, estar vinculado a
instituições de ensino, que conhecemos como regulares para que haja um processo
educativo. Mais adiante, no próximo item deste capítulo, diferenciaremos os tipos de
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saberes e como eles são adquiridos. Por ora, consideremos o aprendizado por meio
da cultura pra entendermos o que seria um “turismo pedagógico”.
1.3 TURISMO PEDAGÓGICO: APLICAÇÕES E CONCEITOS
Podemos dizer, com base no que foi apresentado até aqui, que os temas
turismo e educação possuem certos laços. Com base nas suas raízes históricas,
incluindo os objetivos pelos quais as pessoas também viajavam, o turismo já era
utilizado de maneira que as pessoas pudessem aprender com suas viagens. Boyer
(2003) cita que a invenção do Grand Tour pelos aristocratas ingleses, como vimos
anteriormente,já tinha essa função pedagógica, mostrando as primeiras raízes do
hoje chamamos de Turismo Pedagógico. O autor indica que as viagens feitas nos
Grand Tours eram ligadas a alguma instituição de ensino e eram acompanhadas por
preceptores (guias pedagógicos), com obras de referência para que houvesse uma
avaliação posterior. As viagens duravam de 3 a 5 anos e eram feitas em continente
europeu, sendo Roma e Europa Ocidental os principais locais de preferência para os
estudos destes alunos abastados. Eles não iam praticar o turismo por lazer, ócio ou
comércio. Tinham o intuito de aprender com outras culturas em diferentes
sociedades.
Boyer (2003) cita também os tipos de viagens em que monitores iam como
pedagogos com os estudantes em excursões, que seriam as raízes dos atuais
trabalhos de campo realizados por instituições de ensino para aulas práticas acerca
do conteúdo teórico aprendido em sala de aula. Alunos e mestres aplicavam o que
era aprendido em sala de aula, porém em locais fora da classe, que tivessem o
elemento a ser estudado.
Outro tema citado pelo autor, que justifica que educação e turismo se juntam
como meio difusor de conhecimento, eram as colônias de férias, comandadas
prioritariamente por Protestantes, que ocorriam já a partir do século XIX. Estas
instituições tinham caráter social, procurando afastar crianças dos grandes centros
urbanos durante suas férias, principalmente as crianças de famílias que não eram
ricas, para que pudessem ocupar e educar os filhos dos trabalhadores que não
tinham férias garantidas. Segundo ele, com a Igreja Protestante ganhando maior
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difusão, essa prática se espalhou mais, tendo também o objetivo de educar os
jovens nas doutrinas religiosas. Com o passar dos anos,houve um desenvolvimento
do turismo junto da pedagogia, para que, por exemplo, práticas de lazer pudessem
ser inseridas nas instituições de ensino.Estas formas de excursões têm elementos
que fazem a junção de turismo com a educação de um indivíduo, mas não estão
completamente ligadas ao que chamamos aqui de turismo pedagógico, por não
terem fundamentação ou objetivos que a expliquem (BOYER, 2003).
Fernández Fústez (1991 apud FONSECA FILHO, 2007) considera que
turismo e educação podem se referir a duas práticas: a primeira, em que o turismo é
ensinado para indivíduos que buscam um conhecimento específico na área, voltado
para o mercado, que é o conhecimento ensinado em instituições de ensino superior
ou de ensino profissionalizante; e a segunda, o turismo usado como um meio para a
educação, como uma atividade que educa e desenvolve positivamente os
indivíduos, tentando mostrar algumas de suas faces, como ética e preocupação com
o meio ambiente, sem o objetivo principal de ter uma formação profissionalizante
para o mercado. Assim, considerando esta segunda prática dita por Fústez (1991
apud FONSECA FILHO, 2007) a que mais se aproxima de turismo pedagógico.
Para Beni (2002, p. 426), caracteriza-se como:
Retomada de uma prática amplamente utilizada nos Estados Unidos por colégios e universidades particulares, e também adotada no Brasil por algumas escolas de elite, que consistia na organização de viagens culturais mediante o acompanhamento de professores especializados da própria instituição de ensino com programas de aulas e visitas a pontos históricos ou de interesse para o desenvolvimento educacional dos estudantes.
Vale ressaltar que escolas públicas também participam dessa prática,
podendo ser até mesmo atividade obrigatória em alguns casos. Uma instituição
participa do aprendizado, levando-o àqueles que desejam aprender, e utiliza-se do
turismo como meio de obtenção de um conhecimento que vai além da sala de aula.
Um modo complementar a um projeto pedagógico já estabelecido. Deveria ser um
método da educação formal usar o turismo como ferramenta de aprendizado, já que,
informalmente, aprendemos algo novo a todo tempo quando interagimos com o
mundo em que estamos.
Brandão (2007) fala de algumas relações a respeito da criação das escolas,
quando a pedagogia passa a querer formatar o modo de ensino de uma determinada
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prática e associar a elas regras para que a educação seja feita de modo mais eficaz
e eficiente, de acordo com as práticas estudadas pela pedagogia e com o auxílio de
um indivíduo, que seria um mentor, um especialista na área de ensino para os
demais alunos.
Considerando a multidisciplinaridade do turismo, o seu alcance pode ser
amplo em relação às diversas áreas e âmbitos de educação que temos. O turismo
pode ser uma ferramenta para sensibilização e posterior conscientização de
indivíduos, seja no ciclo básico da escola, no ensino superior, profissionalizante,
ensino para o cidadão de uma cidade que recebe turistas, ou até mesmo ensino
para um turista estar apto a receber e participar de uma cultura diferente da sua.
Entretanto, Fonseca Filho (2007) mostra que há um enfoque maior dado para
a questão comercial do turismo pedagógico, principalmente nos âmbitos de ensinos
técnico, superior e de formação de indivíduos para o mercado de trabalho em geral.
Em sua pesquisa, o autor apresenta obras com a visão de outros autores que
provam a importância da pedagogia no turismo. Cita Trigo (2000), que mostra a
importância de boas instituições de ensino com o intuito de formação de bons
profissionais para a área de turismo, fazendo um apanhado histórico do ensino do
turismo e também problematizando a área educacional e os próprios cursos
superiores desta área. Rejowski (1996), que fala da produção científica que é feita e
a direta ligação dela à criação e produção de pesquisas voltadas ao ensino técnico e
superior de turismo; e, por fim, apresenta o ponto de vista de Ansarah (2002), que
discute o ensino do turismo no Brasil devido ao crescente número de instituições de
ensino superior que passam a oferecer o curso de Bacharelado em Turismo,
fazendo, assim, a relação entre a educação e como ela é usada para o
desenvolvimento destes profissionais.
Fonseca Filho (2007, p.13) afirma:
Fica claro então que esses autores estão direcionando a questão da educação para o turismo destinada ao ensino profissionalizante e superior, vislumbrando uma seriedade em pesquisas, planejamentos e desenvolvimento do turismo no Brasil, porém não encontramos entre eles referência alguma à escola básica, passando a ideia de que esta fica alheia ao processo de desenvolvimento turístico.
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Com isso, destacamos o interesse da presente pesquisa em levantar
experiências e reflexões de turismo na educação básica, buscando aprofundar a
relação entre as áreas de turismo e educação, já que as publicações e estudos
ainda são escassos e pontuais. Dessa forma, atividades como as desenvolvidas
pelo museu do Maracanã e que serão descritas no próximo capítulo, seriam melhor
compreendidas e aceitas pela sociedade, bem como seriam mais praticadas pelas
escolas regulares.
O que temos, é que escolas em que a disciplina de turismo faz parte do
currículo dos mais jovens não obtêm uma mudança imediata no ambiente escolar
onde atuam ou na sociedade em que o grupo está inserido. Projetos com essa
finalidade não são levados em frente após alguns anos, muitas vezes por mudanças
na estruturação do governo, remanejamento de recursos das cidades ou falta de
apoio de diversas áreas para as instituições que tentam manter projetos que ligam
turismo e educação(FONSECA FILHO, 2013).
1.4 DICOTOMIAS DOS MODELOS DE EDUCAÇÃO E LAZER COM O TURISMO
Gohn (2006) diferencia os tipos de educação e relata como são atribuídas
suas características, de acordo com observações a respeito de como a educação
acontece na sociedade. Primeiramente, explicando os tipos de educação, seja esta
formal, informal e não-formal, em que mostra a primeira como sendo aquela cuja
instituição de ensino trabalha conteúdo específicos com reconhecimento oficial,
estruturada em séries, grau ou ano, seguindo programas, currículo e tendo
diplomação. A educação informal é a que uma pessoa aprende por socialização com
outras pessoas de seu cotidiano, como familiares e amigos e que carregam uma
carga de valores e culturas herdadas por essas pessoas e estão sendo repassadas
de novo; e, por fim, a educação não-formal, que se aprende no cotidiano de um
indivíduo, vivenciando experiências diárias e compartilhando-as com outras
pessoas.
No que diz respeito ao educador de cada campo, Gohn (2006) cita os
professores sendo os principais agentes da educação formal. O "outro" com quem
se interage seria o da educação não-formal e, na educação informal, os parentes,
19
vizinhos e até mesmo meios de comunicação de locais frequentados. A autora
descreve os locais onde se educa nestes processos educativos, como dentro de
instituições de ensino regulamentadas por lei na educação formal, ou na educação
não-formal, lugares que poderiam ser territórios onde o indivíduo passa seu tempo,
desde que haja interação com o próximo e uma intencionalidade. Por fim, os locais
da educação informal são os que possuem alguma identidade relacionada à idade,
sexo, religião, nacionalidade, como, por exemplo, o culto frequentado, o bairro em
que mora, a residência do indivíduo.
Explica, ainda, a situação em que se educa nestes processos: na educação
formal o modo como se educa é em um ambiente com regras e padrões já definidos
anteriormente. Na não-formal, as situações interativas são criadas pelos
participantes em ambientes que a autora diz serem “construídos coletivamente” e
que há muita importância na participação dos indivíduos, mesmo sabendo que ela é
optativa, tentando mostrar que quem participa também faz parte do processo; a
intenção de troca de saberes é relevante neste processo. Por fim, na educação
informal, o processo é espontâneo, no desenvolvimento da interação social.
Quanto às caracterizações e modalidades educativas, temos que a educação
formal tem tempo, local e organização específicos, seguindo uma sistematização de
atividades e, ainda, divisão por idade ou conhecimento, com um responsável
especialista em determinada área. O objetivo desta modalidade é que haja
aprendizagem efetiva, gerando uma titulação para o indivíduo seguir graus mais
avançados de conhecimento.
Gohn (2006) fala que na educação informal, o aprendizado não é organizado
e não possui sistematização, mas é permanente. Dá-se por práticas e experiências
anteriores, geralmente do antigo orientando o novo, atuando no campo das emoções
e sentimentos dos indivíduos, sem o objetivo da obtenção de resultados. As atitudes
relacionadas a esta modalidade de educação estão ligadas ao senso comum do
indivíduo de uma determinada realidade a se desenvolver para o futuro, tornando,
assim, o seu pensar e agir espontâneo perante aquela realidade. Como último tópico
a educação não-formal atua voltada a um grupo, sem organização por idade e
conteúdo, relacionando-se à coletividade e construção de cidadania coletiva e
solidariedade destas. Pode-se enumerar alguns objetivos da educação não-formal,
como a consciência e como agir em grupos coletivos; formação do indivíduo para o
mundo (não só para mercado de trabalho); sensibilização para percepção do
20
indivíduo dentro de uma comunidade; e outras que podem vir a interagir, observar os
demais e ter sentimento de “auto-valorização”, entendendo-os como seres humanos,
realçando valores de igualdade, respeitando as diferenças (étnicas, religiosas,
culturais) e aprendendo a entender e interpretar melhor o mundo que o cerca.
Após estes esclarecimentos sobre essas modalidades de educação e suas
respectivas características, é válido ressaltar também a importância do indivíduo ser
especialista na área dos grupos que são educados, tornando o aprendizado mais
eficiente para todos (BRANDÃO, 2007).
Rebelo (1998) ressalta a importância da educação ligada ao turismo vista por
três óticas principais: a educação para o turismo, turismo como atividade educativa e
setores que se beneficiam com a junção destas duas disciplinas.
A autora indica que a educação para o turismo é importante para que o
impacto gerado nos locais turísticos seja diminuído ou superado pela sensibilização
dos estratos da sociedade a serem educados para receber o turismo, como, por
exemplo, a comunidade receptora, o próprio turista, os governantes, os escolares,
os profissionais da área ou até mesmo aspectos da educação turística, como a
educação ambiental e a acessibilidade.
Sobre o turismo como atividade educativa, Rebelo (1998, p 93) diz:
Numa visão macro educacional, o turismo se impõe como atividade educativa por ser uma força social emergente, objeto de teorias do conhecimento, ambiente para manifestação de teorias de aprendizagem, tema real na vida de muitas comunidades escolares, portanto de necessidade e de interesse local para estudo.
Indica ainda, que usar o turismo como atividade cultural e educativa estimula
e entusiasma a participação do aluno, além de tornar o aprendizado multidisciplinar,
já que engloba outras matérias escolares, como história, geografia e matemática.
Essa prática propicia a educação e também a formação de centros de ensino em
locais turísticos, o que favorece tanto o turismo, com maior visitação ao atrativo,
como o ensino, que é aplicado em lugares onde culturas diferentes se encontram,
aumentando a socialização dos visitantes que vão com objetivo educacional com os
turistas. Além disso, podem observar na prática matérias que são abordadas
geralmente em sala de aula, agregando, então, outros métodos ao aprendizado, não
apenas a educação-formal.
21
Setores como hotelaria, comércio, a comunidade em geral, organismos de
meio ambiente, entre outros, procuram informações acerca de cursos, informações
na imprensa, campanhas educativas, etc., por meio de apoios institucionais, para
que a própria instituição se profissionalize, buscando maior valorização no mercado
para atender essa demanda (REBELO 1998).
Ainda para a autora, os motivos para que haja a união entre turismo e
educação são dois: a expectativa regional sobre o turismo e a qualidade de vida da
comunidade. Além delas,um local com potencialidade turística deve se conscientizar
da importância do turismo para que possa conviver com esta realidade, participar
dela e desenvolver paz e fonte de renda nestes locais. Independente da motivação
de fazer estas mudanças, buscando o desenvolvimento, (seja motivação pessoal,
socioeconômica, institucional) as ofertas de educação ligadas ao turismo precisam
atender à realidade do local, buscando um melhor equilíbrio social e ligado à
regionalização.
A respeito da expectativa regional sobre o turismo, ela acredita que, após a
comunidade se entender como turística começa a se educar também não formal ou
informalmente para reaprender diante à nova realidade, melhorando o
desenvolvimento do turismo local, a qualidade dos serviços oferecidos e a
sensibilização da população.
No que diz respeito à qualidade de vida da população residente, Rebelo
(1998) cita que um turismo ligado a programas de educação deve melhorar essa
qualidade. Para isso, o tipo de educação deve ser também de qualidade, solidária,
consciente e com esperança, já que a felicidade da população será importante no
convívio que terão com os turistas, levando em conta também que eles irão ter sua
renda a partir dos visitantes que passarão pela localidade.
Sobre conscientização turística, ela diz que tem como finalidade o
desenvolvimento favorável de uma localidade turística, na tentativa de mostrar a
realidade da população receptora aos turistas, tentando fazer também com que essa
população tome a frente das decisões ligadas ao turismo, tornando-se sujeitos
desse desenvolvimento. Essa conscientização pode ocorrer partindo da educação
formal, nas escolas que pretendem formar indivíduos que vivem em local turístico ou
de instituições propriamente feitas para profissionalização; da educação não-formal,
por instituições sociais; e, da educação informal, pela comunidade ao se dar conta
da importância turística da localidade.
22
Por fim, os efeitos positivos da educação turística de uma comunidade podem
ser benéficos nos âmbitos do turismo e da educação de determinada localidade.
Com relação ao turismo pode-se capacitar mão-de-obra, formar especialistas e
conscientizar a comunidade, tornando-a assim, exemplo para outras. E, no âmbito
da educação, complementar e ampliar a educação do município, afirmar os
processos de educação e turismo dos municípios, dando-os mais autonomia e
pensamento crítico sobre sua realidade e apoio ao turismo sustentável (REBELO
1998).
Entretanto, Gohn (2006) aprofunda mais e fala da importância da participação
coletiva daqueles que aprendem, dos tutores, dos familiares e amigos, para ir além
dos próprios muros da educação formal, e ser mais ativos, não só na instituição que
ensinam, como para formar cidadãos atuantes na sociedade que estão inseridos,
preparando-os até mesmo para influência de políticas sociais. Segundo a autora,
algumas medidas para projetos pedagógicos vêm de ordens superiores, que nem
sempre estão cientes da realidade e das possibilidades que a prática e o cotidiano
de educadores e alunos vivem, formando uma “inclusão excludente”, que quer
fomentar um tipo de prática que nem sempre será benéfica ou aproveitada de fato
pelas pessoas que participarão das atividades.
Já Dumazedier (1976, p.34), conceitua o lazer e o apresenta como:
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais [...].
Essas observações mostram o quanto o lazer se envolve em atividades fora
das obrigações cotidianas, de currículo oficial, especialmente em caráter de repouso
e recreativo, pensando na lógica de sociedade industrial. Entretanto, quando
abordamos o tema numa lógica pós-industrial, atividades de lazer têm seus
significados aumentados, pensando na qualidade de vida dos indivíduos. Pensando
nas possibilidades do lazer, aliado a um estilo de vida que modifica a sociedade,
Dumazedier (1980, p. 56) aponta que
[...] supõe uma maneira de viver não somente o dinheiro, mas também o espaço e o tempo. Significa, de fato, antes de mais nada, estilo de lazer,
23
pois é no tempo de lazer que nascem os novos modelos de vida, chamados “estilos de vida”- um gosto mais intenso pela natureza, através não só do camping mas de todas as atividades das férias, um novo estilo de vida corporal, com o gosto pelo bom desempenho, nascido do esporte. A seguir, esses novos modelos de vida de lazer fazem pressão sobre os outros modos de vida - do trabalho, da família, da religião, da vida na comunidade - e tentam mudá-los, no sentido de uma melhoria qualitativa. Essa aspiração à qualidade de vida significa que o objetivo do estilo de vida do lazer não se limita apenas ao aumento do nível de vida, em vista de melhores padrões, mas melhorá-la em função das aspirações da pessoa; em outras palavras, reorganizar o trabalho de maneira que seja menos árduo, que mais se adapte às necessidades individuais, liberando mais tempo livre [...].
Assim, observa-se a importância de como atividades lúdicas transformam as
realidades de quem participa delas, influenciando as pessoas a tentar mudar a
lógica de estilo de vida para estilo de lazer, pensando-se em ter maior qualidade de
vida, não só nos padrões sociais, mas com foco em aspirações individuais e as
próprias realizações, aumentando ainda mais o tempo livre para usufruir de opções
culturais, criando gostos por novos modelos.
Marcellino (1996) indica que para o melhor entendimento do lazer, há de se
prestar atenção nos aspectos tempo e atitude. No aspecto tempo, a pessoa tem sua
relação exclusiva com o lazer, podendo exercer qualquer tipo de atividade, que seria
lúdica para ela. Já no aspecto atitude, outras vertentes são levadas em
consideração, como quanto tempo tem de lazer, quais características e condições
para realizar a atividade, etc. Apesar desses dois aspectos, para que possa
entender melhor o fenômeno, há mais de uma esfera para o lazer, seja como
descanso, caráter recreativo ou por desenvolvimento pessoal. O autor ainda fala
sobre as possibilidades de atividades cotidianas que são espontâneas e podem ser
oportunidades para reflexão das pessoas quanto a realidade que elas estão
inseridas, tendo grande caráter educativo e observando que componentes lúdicos
que fazem parte do lazer “denunciam a realidade” e mostram diferenças entre
obrigações diárias e prazer (MARCELLINO, 1996).
Marcellino (2000, p.98) cita a importância de “[...]se beneficiar de aspectos
característicos do lazer, como a espontaneidade na escolha dos temas e o caráter
lúdico como forma de abordagem”, mostrando a importância de alguém instruído
que acompanhe e faça o diálogo de como atividades de lazer podem ser benéficas
para a educação, já que não há disciplinas específicas para o lazer na escola básica
formal, sendo a educação física das escolas a única área geralmente abordada, e
24
não o lazer como um todo, mas sabe-se d dificuldade para que isso aconteça, até
por questões burocráticas, de ideologia ou competência (MARCELLINO, 2000).
No que diz respeito à locais de cultura, mais especificamente um museu, ao
envolver cultura e educação aliadas ao lazer, o aprendizado lúdico fica ainda mais
interessante, especialmente para crianças e jovens, revelando que a associação do
aprendizado com qualquer prática de lazer é positiva. Marcellino (1996) mostra que
a educação, aliada ao turismo, neste caso, pode trazer, além do caráter educacional,
o caráter lúdico à atividade que pode promover também um tempo de lazer, tendo
carga crítica contra a alienação, juntando as duas propostas e mostrando para quem
participa da prática, que os objetivos de práticas lúdicas ou educativas podem ser
mesclados.
Mesmo com todos os preconceitos existentes quando se aborda a relação entre lazer e educação, é mais fácil verificar a aceitação das atividades, levadas a efeito no tempo livre, como veículos de educação, principalmente quando esta é encarada de maneira mais ampla, como um processo que se desenvolve ao longo da vida das pessoas. E as possibilidades de desenvolvimento pessoal e social que a prática do lazer oferece estão próximas ou se confundem com os objetivos mais gerais da educação (MARCELLINO, 1996, p. 70).
Na fala do autor, nota-se que as duas práticas se relacionam, e o lazer se faz
importante na educação, influenciando positivamente tanto os objetivos das
atividades lúdicas, que se tornam atividades práticas das teorias vistas em sala de
aula, quanto no âmbito da prática educacional, permitindo uma fuga do tradicional e
do cotidiano,inserindo práticas de lazer que vão além do lado apenas motivacional
para o aluno.
Por fim, em relação aos conceitos de turismo pedagógico, Ansarah (2002) cita
duas vertentes desta prática: fazer com que os estudantes se tornem mais
ambiciosos pelo saber, permitindo que eles consigam melhorar a forma como
aprendem a partir de suas experiências de vida, sabendo desenvolver senso crítico,
habilidades de discernimento e integração em suas visitas; e a capacidade do
turismo pedagógico de socialização entre estudantes, melhorando suas
competências e preparando-os para o trabalho sustentável seja na área ligada ao
turismo, ou na sociedade que estão inseridos.
25
Nos próximos capítulos, será apresentada uma descrição do complexo
Maracanã e como o museu do estádio aborda a questão pedagógica das visitas
guiadas que lá acontecem.
26
1 DESCRIÇÃO DO COMPLEXO MARACANÃ A PARTIR DO TRABALHO DE
CAMPO REALIZADO
Neste capítulo apresentaremos a motivação do autor por ter escolhido o
estádio do Maracanã como o local da sua pesquisa, junto de um breve histórico da
parte administrativa e reformar do estádio. Junto a isso, todo o roteiro feito pelos
grupos que visitam o estádio, com descrição dos espaços e, por fim, uma análise
das respostas da pessoa que é encarregada dos turistas que usam o serviço do
Maraca Junior.
2.1 MOTIVAÇÕES E HISTÓRIA DO LOCAL ABORDADO
A escolha do Estádio Jornalista Mário Filho ou Maracanã6 como objeto
principal de observação do tema deste trabalho se dá pelo fato do estádio ser um
dos grandes símbolos, tanto para a cidade do Rio de Janeiro quanto para o Brasil,
no que se diz respeito a um espaço cultural de lazer da população. População, essa,
que frequenta o estádio principalmente para assistir partidas de futebol, uma das
atividades culturais esportivas que o brasileiro gasta mais tempo de lazer, levando
em consideração uma pesquisa feita pelo SESC,em 20137. Segundo esta pesquisa,
9% dos entrevistados praticam este tipo de atividade de segunda-feira a sexta-feira
e 23% dos entrevistados praticam aos fins de semana, ocupando o décimo terceiro
lugar de atividade que se gasta mais tempo em dias de semana (segunda a sexta-
feira) e nono lugar aos fins de semana. Além disso, o estádio tem um enorme peso
para o esporte até mesmo como atrativo turístico, pois já sediou final de copa do
mundo e inúmeros outros torneios, desde 1950, ano de sua inauguração.
Motivo de orgulho para alguns, a paixão de muitos brasileiros pelo futebol é
conhecida internacionalmente, fazendo parte até mesmo de campanhas da
Embratur para promoção do Brasil, visando a visitação de estrangeiros ao país.
Sendo essa uma de outras várias práticas culturais do brasileiro em território
6 Estádio Jornalista Mário Filho, inaugurado em 1950 e popularmente conhecido como Maracanã ou
Maraca. Situa-se à Rua Professor Eurico Rabelo, Rio de Janeiro, Brasil.
7Disponível em:<http://www.sesc.com.br/wps/wcm/connect/cac99ed0-4052-406b-a0ac-
d92fcade0737/sintese_brasil.pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=URL&CACHEID=cac99ed0-4052-406b-a0ac-d92fcade0737>. Acesso em: 02 jun. de 2015.
27
nacional, a pesquisa do SESC diz que a população usa seu tempo com cuidados
pessoais e com a saúde (99% dos brasileiros nos dias de semana e 98% fazem aos
fins de semana), assistir TV (94% dos brasileiros nos dias de semana e 90% aos fins
de semana) e fazer trabalhos remunerados (65% dos brasileiros fazem nos dias de
semana e 31% aos finais de semana).
A análise que faremos do Maracanã tem um sentindo de observá-lo como um
grande espaço de educação não-formal e informal, como caráter educativo de suas
visitas guiadas ao museu existente dentro do estádio, mostrando uma especificidade
que pode ser tema de análise. Outro motivo da escolha do Maracanã foi a presença
e atuação do autor deste trabalho como monitor das visitas no museu8. O estádio
como um atrativo turístico com significados diferentes para públicos específicos foi o
que mais chamou a atenção. Sendo um grande atrativo turístico da cidade para
visitantes de fora do estado do Rio de Janeiro ou do país; um espaço de lazer para
cariocas que visitam com familiares e amigos de outros estados; e um espaço de
aprendizado para escolas que vão ao Maracanã para sair dos muros do colégio e
usar o turismo e o lazer como complemento dos estudos. Após o término do estágio
e participação na disciplina de Turismo e Educação da Universidade Federal
Fluminense, foi possível para o autor ter uma visão teórica da prática que observara
durante o período de estágio no local, podendo usar os temas abordados em sala de
aula nesta pesquisa monográfica, relacionando seus temas.
O estádio é tombado e está inscrito no Livro de Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico do IPHAN, desde dezembro de 20009, mas passou por
uma reforma em 2010 e foi reaberto no ano de 2013 para a Copa das
Confederações do mesmo ano, o interior do estádio já mudou bastante, deixando
sua fachada do jeito que era, apesar de já ter passado por várias outras reformas
aprovadas pelo IPHAN, até mesmo por motivos de segurança, mudanças mínimas
foram feitas para garantir que a paisagem do estádio onde está situada seja a menor
possível, seja pensando o Maracanã como patrimônio edificado ou como local de
prática cultural do cidadão que vá assistir a uma partida. É administrado atualmente
pelas empresas Odebrecht Participações e Investimentos S.A.10, IMX Venues e
Arena S.A e AEG Administração de Estádios do Brasil LTDA, formando o grupo
8 Estágio obrigatório do curso de Bacharelado em Turismo pela UFF, realizado no ano de 2014.
9 http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/1567.
10 Empresa líder, com 90% das ações do Maracanã.
28
Consórcio Maracanã, que comandará o estádio por um período de 35 anos. No final
do ano de 2013, a empresa Futebol Tour Agência de Viagens e Eventos LTDA pode
montar e esquematizar a admissão de turistas ao estádio do Maracanã. Foi possível
fazer esta pesquisa junto a um grupo guiado de uma instituição de ensino. Notou-se
o percurso que eles fazem, as percepções sobre como são feitas as visitas e as
informações sobre o estádio durante o passeio. Um dos pontos negativos da
pesquisa de campo foi não conseguir estar em uma visita guiada com alunos dos
cursos de guias de turismo, para que pudesse ouvir assuntos relacionados ao
turismo no discurso dos guias, que também é um dos pontos que se entra em pauta
nas visitas.
As admissões de turistas, entre janeiro e junho de 2014 aconteciam com dois
esquemas principais de visitas: com guias e sem guias.Somente após a Copa do
Mundo a ideia de criar uma área de serviços oferecidos voltada para objetivos
educacionais entrou, de fato, em prática.
2.2 VISITAS GUIADAS E OBSERVAÇÕES EM CAMPO
Neste estudo, a coleta de dados foi feita por observação sistemática no local,
registros fotográficos, entrevistas informais com funcionários da empresa que
administra as visitações ao Maracanã e formulário para a pessoa responsável da
área do turismo pedagógico do museu. As visitas de cunho educacional podem ser
feitas todos os dias, pois estão abertas diariamente, de nove da manhã até às cinco
da tarde, exceto em dias de partidas de futebol, quando fecham duas horas antes da
abertura dos portões do estádio para os torcedores. O tour guiado de segunda-feira
à quinta-feira custa R$36, aos sábados, domingos e feriados R$40 e as visitas não
guiadas custam R$24 de segunda-feira a quinta-feira e R$30 aos sábados,
domingos e feriados.
Não há uma diferenciação entre os turistas que entram no museu do
Maracanã, pois a empresa não faz contagem de visitantes que vão com diferentes
intuitos e nem se são moradores da cidade do Rio de Janeiro, turistas de outras
cidades ouguias de turismo, fazendo apenas a contagem de visitações diárias.Por
29
informação dos próprios funcionários, visitam o Maracanã uma média de 850
pessoas por dia, que, por mês, torna-se aproximadamente 25.500 visitantes.
Considerando que às quartas-feiras as visitas guiadas são exclusivamente
para instituições de ensino ou ONGs, ou seja, elas são gratuitas, temos que cerca
de 1/7 dos visitantes do Maracanã são de públicos não pagantes que usufruem da
visita de cunho pedagógico. Aproximadamente 3.642 visitantes, além de mais cinco
horários toda semana destinados a projetos sociais que, ao considerarmos que tem
o máximo de visitantes em um grupo de cinquenta pessoas, adiciona-se 250
visitantes a mais, totalizando cerca de 3.892 visitas de cunho pedagógico gratuitas
de ações sociais como, por exemplo, Projeto Circulando, Projeto da Vila Olímpica,
Projetos Sociais de UPPs, Projeto Casa Reviver, entre outros. Os projetos
Circulando e UPP Social são feitos pela prefeitura do Rio de Janeiro e, segundo a
própria prefeitura, estes projetos tem como objetivo integrar as áreas dos projetos à
cidade, promover desenvolvimento social, econômico e urbano no território e fazer
com que as pessoas que participam reflitam sobre suas vidas, se socializem com
outros locais e tenham novas perspectivas para elas mesmas.
Outras instituições podem participar do projeto Maraca Junior11, mas pagam
por ele como visita normal, podendo ser agendada ou não.Geralmente são escolas
particulares ou por meio de empresas que fazem turismo pedagógico no estado do
Rio de Janeiro. Esse agendamento é um pedido feito pela administração do museu
por causa de uma possível sobrecarga de pessoas em uma determinada localidade
do museu, fazendo com que não se tenha tempo suficiente ou aproveitamento do
espaço com conforto para esses grupos. O público que visita o Maracanã na quarta-
feira (dia da semana separado para instituições com gratuidade da entrada),
segundo informação repassada em entrevista informal com a responsável do
Maraca Júnior, é de uma maioria de crianças de sete a doze anos, do ensino
fundamental de colégios públicos.Nas visitas com guias, os turistas acompanham o
guia de turismo do museu do maracanã pelos espaços comuns.
a) Acervo principal
11
Projeto para lidar com visitas guiadas para instituições de ensino.
30
O piso térreo do museu, onde ficam expostas algumas obras relacionadas a
questões históricas do estádio, como estátuas de artilheiros, bustos de personagens
famosos que visitaram o estádio, objetos marcantes da história, lembranças dos
jogos da Copa do Mundo de 2014 e Copa das Confederações de 2013, entre outros.
No acervo principal há os elevadores e uma escada rolante para acesso aos outros
andares. Também há espaços onde os turistas podem interagir com aparelhos de
videogame e ‘fazer um gol no maracanã’, bem como uma televisão com fones de
ouvido para escutar e assistir aum vídeo sobre as obras do Maracanã como um
todo, em queartistas fizeram os sons da obra misturados a ritmos musicais famosos.
Neste espaço, o discurso dos guias aborda histórias dos objetos que e é o ponto de
início do passeio, onde também os outros tipos de turistas recebem as informações
sobre a visitação.
Figura 1:Acervo Principal do museu. Foto: Acervo próprio, 2015.
b) A Tribuna de Imprensa
Onde radialistas e imprensa em geral transmitem e narram os jogos para as
emissoras, localizado no quinto andar. O discurso abordado é sobre história de
partidas marcantes do Maracanã e o trabalho feito pelos profissionais da imprensa
de lá. Este andar não é acessível ao Maraca Junior por questões de segurança, a
pedido da brigada de incêndio do Estádio12.
12
Os funcionários relataram um incidente com crianças que passaram pelos elevadores, pularam dentro dele e o enguiçaram, fazendo com que ficassem presas até a manutenção retira-las. Depois disso, decidiram não usar mais os elevadores para grupos de crianças, apenas espaços no térreo e escadas rolantes.
31
Figura 2:Tribuna de Imprensa. Foto: Acervo próprio, 2015.
c) Tribuna de Honra
Onde pessoas solenes e convidadas assistem às partidas de futebol.
Localizado no primeiro andar, onde também não há acesso para o Maraca Junior,
por ser exclusivamente de elevador. Nesta área, o discurso feito relembra eventos
importantes que não estão relacionados ao futebol especificamente, bem como os
recordes de público do Maracanã; No terceiro andar também há a visitação de um
camarote onde pessoas podem alugar para eventos ou até mesmo para partidas, e
possuem serviços a mais no local, mas a visitação deste espaço só é possível se
acompanhar uma visita guiada, nem mesmo visitantes sozinhos podem entrar.
Figura 3: Tribuna de Honra. Foto: Acervo próprio, 2015.
32
d) Maracanã Mais
Andar específico para o público que frequenta o estádio pagando o ingresso
mais caro dos jogos de futebol, onde há Buffet para os pagantes dos jogos e
assentos especiais próximos ao campo. Durante os dias que não tem jogos, possui
um espaço para que crianças que visitem o museu do estádio possam ter um local
para interagir uns com os outros, caso a escola permita este tempo. Nessa parte do
estádio, o acesso é feito por escadas rolantes, permitindo a passagem de todos os
grupos. O discurso dos guias relembra grandes jogadores que passaram pelo
estádio, fazendo sua história. Neste momento também é feita interação com os
participantes dos grupos, perguntando os times das crianças, quantas já vieram ao
estádio, se alguém da família já os trouxe. Isso permite uma socialização entre os
visitantes no tempo que podem ficar lá após o discurso dos guias de turismo.
Figura 4: Maracanã Mais. Foto: Acervo próprio, 2015.
e) Vestiário
Espaço que possui camisas personalizadas de acordo com temas
específicos13. Nesta área, os guias indicam que só não é possível retirar as camisas
dos locais, mas que podem aproveitar do jeito que quiserem o espaço. Televisões
mostram vídeos de ex-jogadores falando de jogos específicos que marcaram suas
13
Camisas especiais de equipes que jogaram a Copa do Mundo no maracanã, camisas de equipes que foram campeãs no estádio, camisas da equipe campeã do campeonato carioca, entre outros.
33
carreiras no estádio. Foi uma das oportunidades que o grupo aproveitou para tirar
uma foto juntos.
Figura 5:Vestiário. Foto: Acervo próprio, 2015.
f) Zona de Aquecimento dos jogadores
Espaço em que é pedido para que o grupo se sente para assistir ao vídeo do
hino nacional brasileiro na final da Copa das Confederações de 2013, jogo em que o
Brasil foi campeão jogando contra a Espanha.
Figura 6: Zona de Aquecimento dos jogadores. Foto: Acervo próprio, 2015.
34
g) Zona Mista
Em queos jogadores se encontram para entrar no campo e onde há duas
maquetesdo estádio para serem observadas. É apenas caminho de passagem para
a lateral do campo.
Figura 7: Zona Mista. Foto: Acervo próprio, 2015.
h) Lateral do Campo
Onde turistas podem sentar no banco de reservas e ter tempo livre para tirar
fotos do estádio e do banco de reservas, sem ultrapassar as grades de proteção e
sem entrar no gramado. Não há discurso dos guias nesta área e os visitantes tem
tempo livre para ficar lá e tirar fotos do jeito que quiserem, além de interagir entre
eles.
35
Figura 8: Lateral de Campo. Foto: Acervo próprio, 2015.
i) Estúdio de TV
Onde acontecem as entrevistas pós-jogo. Os guias explicam como são feitas
as entrevistas e se despedem do grupo, que ainda fica ali para tirar algumas fotos
simulando entrevistas de imprensa.
Figura 9:Estúdio de TV. Foto: Acervo próprio, 2015.
Estas visitas acompanhadas são feitas por um guia de turismo contratado da
empresa, que faz o percurso contando histórias sobre construção do estádio e suas
renovações, figuras importantes que já visitaram o estádio, o trabalho exercido pelos
profissionais do futebol nas áreas específicas onde os turistas passam, como os
36
radialistas da área de imprensa14 ou massagistas e jogadores que usam os
vestiários. A visita sem guia é mais barata, R$ 24,00 de segunda a quinta e R$ 30
sextas, sábados, domingos e feriados e não inclui o Camarote durante o passeio,
além de não haver acompanhamento do guia, mas há placas de informações para
objetos específicos e há também a possibilidade de alugar áudio guia em inglês,
português e espanhol, caso alguém queira informação sem necessariamente ter
tempo estabelecido pelas visitas de grupos guiados.
Sobre as percepções do local, observou-se que o local tem uma boa estrutura
física, há inúmeros prestadores de serviços que fazem a manutenção passando
pelos locais de visitação para garantir que todos os equipamentos do local
funcionam em ordem, inclusive para garantira limpeza, que é feita por funcionários
terceirizados. Em todos os locais onde passam turistas, existe pelo menos um
monitor contratado da empresa que tira dúvidas e tem o treinamento para explicar
curiosidades da área, além de vigias que cuidam do patrimônio, mas que não tem
permissão de passar qualquer tipo de informação referente ao estádio para os
turistas. A empresa que administra a visitação exige que apenas os monitores façam
essa mediação, já que foram treinados para explicar ou buscar explicações para os
que perguntarem, inclusive caso sejam necessárias línguas estrangeiras para
responder.
Todo o espaço do museu do estádio possui elementos que conjugam lazer e
educação. Em todos os locais por onde passam os guias com grupos do Maraca
Junior há algum tipo de informação relevante do estádio, e, na maioria do percurso,
os alunos passam tempo escutando o discurso dos guias sobre o Maracanã, de
figuras importantes que passaram por lá como, por exemplo, a Rainha Elizabeth II e
quais as solenidades que veio ver ao Brasil além de ir a um estádio, como a
presença dela em abertura de pontes e prédios específicos da época;fala-se dos
maiores shows da história do Maracanã e até mesmo sobre sustentabilidade, pois o
estádio, assim que acabou sua mais nova reforma, tem selos de garantia de adoção
de medidas sustentáveis e a importância deles não só para o estádio, mas também
para o planeta, que também é conteúdo que faz parte da visita. Quando o grupo se
aproxima das arquibancadas do estádio e é possível ver algumas mudanças
14
Alguns técnicos dos meios de comunicação preparam seus materiais de trabalho durante as visitas, em dias que haverá jogo após o fechamento do museu, permitindo que os turistas tenham contato com eles.
37
estruturais no teto, como canos que captam água da chuva que é reaproveitada na
irrigação do campo e banheiros, painéis solares que reduzem o gasto energético por
uma fonte de energia que causa quase nenhum impacto e a cobertura de fibra de
vidro autolimpante, que não faz necessário uso de água e material de limpeza. No
circuito da visita, após discurso dos guias da determinada área, há um período de
alguns minutos para tirar fotos ou apenas apreciar o local que estão.
Especificamente três locais são os que mais chamaram atenção na
visita15considerando estes pontos os que as crianças ficaram mais tempo,
interagiram mais entre elas e quiseram continuar lá mesmo após a visita.
Primeiramente, o vestiário, pois há a possibilidade de interação total com o local,
pode-se sentar nas almofadas que sentam os jogadores, tocar e tirar fotos com as
camisas expostas, que mudam de tempos em tempos, entrar na sala de
aquecimento e usufruir totalmente do local. No vestiário há também TVs que passam
um vídeo mostrando depoimentos e imagens de quatro finais de campeonatos
disputados no Maracanã e que marcaram a vida dos quatro grandes clubes do Rio
de Janeiro (Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama).
Além disso, na sala de aquecimento, que é uma extensão dos vestiários, é
passado um vídeo16em que todos que estão lá na sala de aquecimento podem
sentar no chão e assistir. É um vídeo retirado da internet em que aparecem imagens
da Seleção Brasileira de 2013 cantando o Hino Nacional Brasileiro na final da Copa
das Confederações, em que o Brasil saiu vitorioso em partida disputada no estádio
do Maracanã. Este local específico mexeu mais com os visitantes, pois podiam
interagir em um ambiente quede fato os jogadores ídolos para algumas daquelas
crianças passam tempo. Saber que estavam onde seus ídolos geralmente passam,
vestem-se e se preparam para seu trabalho, alimenta o imaginário dos visitantes.
Algumas se sentiram até mesmo inspiradas de estar ali após ver os vídeos dos
jogadores cantando o hino nacional, exaltando a pátria. Alguns professores até
incentivaram para que pudessem aprender a cantar o hino nacional.
O segundo local onde há um comportamento diferenciado é a lateral do
campo. Como não há discurso dos guias de turismo, os alunos podem interagir entre
eles muito mais, participando de brincadeiras nos bancos de reservas e até mesmo
15
Observação feita por meio da experiência de estágio e por pesquisa de campo no museu.
16 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9x1hWNsirJQ>. Acesso em: 02 jun. de 2015.
38
nas grades que não os deixam passar para o gramado. Foi um espaço que, até
mesmo os professores, fizeram registros fotográficos, pois nunca estiveram tão perto
do campo em uma visita específica assim. A impossibilidade de visitantes ou até
mesmo funcionários de lá entrarem no gramado ocorre pelo fato de que caso o
calçado de alguma pessoa não tenha passado por higienização, bactérias podem
danificar o gramado, que precisa estar em boas condições para os jogos. Além
disso, segundo entrevista informal com funcionários do museu, no início da abertura
do museu, não havia grades de proteção e os turistas podiam chegar perto do
gramado e até tocá-lo, mas com o passar do tempo, alguns visitantes arrancavam
partes da grama como lembrança do passeio, estragando parte da lateral do campo,
e causando prejuízo ao consórcio que administra o estádio.
Por fim, no acervo principal, o último lugar onde há maior interação, deve-se a
existência de uma TV com videogame, que os visitantes fizeram fila para participar
do jogo no final do passeio, enquanto alguns outros preferem lanchar. Apesar de ser
um objeto feito para o lazer, este aparelho consiste em uma lembrança do estádio, e
faz-se válida a sua presença, uma vez que estimula a interação dos visitantes em
mais um momento exclusivo de lazer, mas ligado diretamente à educação.
Durante a entrevista, parte deste trabalho, realizada na visita ao Maracanã no
dia 18 de maio de 2015, com a responsável da área educacional das visitações,
algumas informações obtidas foram úteis para observarmos como é feita essa parte
do turismo e educação em um ambiente nascido e criado para o lazer.
Descobriu-se que o projeto foi pensado, principalmente, durante o
acontecimento da Copa do Mundo. O estádio ficou fechado para as visitações, mas
a Futebol Tour percebeu que um dos públicos que eles tinham mais dificuldades
para lidar era o de instituições de ensino, principalmente escolas de ciclo
básico.Decidiram, então,abrir uma área específica para este tipo de visitas, levando
em consideração que as instituições de ensino chegavam ao estádio com grupos de
15 a 50 pessoas, aproximadamente, sempre utilizando a visita guiada, pois
gostavam do conteúdo informado nessa modalidade. Entretanto, a capacidade de
carga para a visita padrão com duração de aproximadamente uma hora, era no
máximo de 50 pessoas.
Após a volta da empresa na administração das visitas do Maracanã, em
agosto de 2014, a atual responsável pela área de ensino criou esseprojeto chamado
Maraca Junior, como parte específica para lidar com instituições de ensino. Não há
39
nenhum pedagogo ou turismólogo trabalhando lá, mas quatro dos seis membros são
estudantes de curso superior em turismo ou guias de turismo. Uma estagiária que
faz curso superior em artes cênicas e a supervisora do projeto, que também é
estudante de turismo, todos eles possuem uma segunda língua, seja inglês ou
espanhol isso os ajuda no trabalho, por já terem recebido colégios bilíngues, que
necessitavam visitas em outras línguas. Há monitores do maracanã que sabem
libras, mas apenas uma, que ajuda caso haja a necessidade.
A responsável pelo projeto foi perguntada se ela considerava o Maracanã
como uma instituição que além do lazer, também promovia a educação, foi
respondido que: “[...]sim, o roteiro do Maraca Junior foi baseado na estrutura
curricular de escolas e os guias têm discurso baseado nela” (informação verbal). A
entrevistada também ressaltou que já teve contato com turismo pedagógico
anteriormente, em um município de Rio das Ostras, na Região Lagos do Rio de
Janeiro.
Outro questionamento do pesquisador foi querer saber se o Maraca Junior
entra em contato com as instituições que o visitam para saber o tipo de conteúdo
que elas querem abordar, para que possam saber que tipo de discurso fazer para
grupos específicos que o visitam. A entrevistada respondeu:
[...]caso necessite algum assunto mais específico, os colégios entram em contato por e-mail avisando a necessidade, para que os guias de turismo possam pegar as informações, seja com a escola ou algum assunto que não é abordado na visita ‘padrão’ para que seja abordado na hora (informação verbal).
Sobre o feedback por meio dos e-mails recebidos pela empresa, a
responsável da área diz que eles recebem semanalmente cerca de 4 a 5
comentários de instituições de ensino que agradecem muito o atendimento recebido
pela equipe e pela paciência de todos. Entretanto, não há informações relacionadas
ao conteúdo do discurso dos guias e do material oferecido pelo projeto, que contém
algumas informações e desenhos para pintura, conforme pode ser verificado no
anexo A deste trabalho. Esta cartilha pode ser entregue para qualquer pessoa, mas
elas são distribuídas para todas as escolas de ensino básico que vão lá. Após a
visita é dado um tempo para os estudantes do ensino básico para preencher a
cartilha do anexo A e se sobrar tempo revisitar a área.
40
A entrevistada foi questionada sobre a diferença entre o Maraca Junior e os
outros serviços oferecidos, respondeu que:
[...]é o foco específico na grade curricular de alunos de ensino fundamental e a redução do roteiro, já que por problemas de segurança, quando certa vez crianças entraram no elevador e pularam dentro dele, fez com que o elevador ficasse parado, prendendo as pessoas que estavam dentro, fazendo com que a manutenção tivesse que retirar eles de lá. Após este incidente, o Maraca Junior só passa por andares onde há acesso de escada rolante ou no térreo (informação verbal).
O objetivo do Maraca Junior, de acordo com a responsável da área, é atender
a demanda específica que foi gerada no período pré-copa, que escolas e outras
instituições chegavam com grupos muito grandes de pessoas, fazendo com que a
visita fosse menos confortável para todos os turistas, e demoravam muito nos
elevadores, passando pelas salas sempre cheias, com filas grandes. O que mudou
com o agendamento de visitas, é que se pode trabalhar melhor a logística dos
grupos que chegam, o que ajuda na qualidade da visita tanto para visitas de cunho
educacional, quanto as visitas regulares das outras pessoas que entram para
conhecer o museu.
Por fim, a entrevistada foi questionada se achava que o turismo pedagógico
poderia auxiliar no desenvolvimento do aluno, a responsável respondeu que:
[...] o turismo pedagógico auxiliaria o aluno no sentido de que este pode ver a
teoria em sala de aula a aprender na prática, entendendo o funcionamento do
turismo, fazendo com que ele sinta que também faz parte de um local que seja
turístico, sendo esta pessoa moradora,aumentando o interesse pela carreira turística
e a importância do fenômeno na economia (informação verbal).
Foi apresentado neste capítulo, um descritivo do Complexo Maracanã,
mostrando a rotina do museu a partir de uma visita, bem como recolhidas
informações de relatos dos funcionários do museu. No próximo capítulo será
apresentada uma análise desta visita e da representação do museu para a
comunidade, considerando o que foi apresentado até aqui.
41
2 RESULTADOS E OBSERVAÇÕES
Com a apresentação das informações relacionadas ao trabalho feito no
museu do Maracanã, algumas práticas descritas no referencial teórico podem ser
reafirmadas pelo modelo de tour feito no espaço do estádio pelos guias da área
pedagógica. Os três tipos de grupos de turistas mais frequentes do Maraca Junior
(alunos de ensino fundamental de escolas públicas;grupos de jovens ligados a
projetos sociais; e grupos de cursos técnicos de guias de turismo) tem abordagens
diferentes dos guias, com conteúdo complementares para cada tipo de grupo
específico, mostrando a ligação interdisciplinar do turismo quando visto com caráter
educativo. Seja com uma abordagem mais técnica, quando professores
acompanhantes dos grupos de futuros guias de turismo tomam os guias do Museu
do Maracanã como exemplo, fortalecendo as ideias de modalidades educativas de
Ansarah (2002); ou com uma abordagem mais lúdica, com escolas de ensino
fundamental, com alunos mais jovens, retomando as ideias de Marcellino (2000)
O ponto central é a modalidade de educação não-formal citada por Gohn
(2006) que o Maraca Junior executa, apesar de ter conteúdos relacionados as três
modalidades. No conteúdo abordado, a modalidade informal está presente durante o
aprendizado que adquire ao interagir com seus outros colegas do grupo, turistas e
visitantes, como o tempo livre no Maracanã Mais,em que há a possibilidade de um
espaço para interação entre os integrantes dos grupos, ou quando simulam fazer
entrevistas na sala de imprensa com, até mesmo, visitantes internacionais,
brincando em uma entrevista entre treinadores de clubes diferentes; e, a não-formal,
quando o próprio indivíduo do grupo vive uma experiência no Maracanã e pode
compartilhá-la com outros colegas, professores e, posteriormente, em suas casas,
como por exemplo, o grupo entrar de mãos dadas no gramado, como se fosse
realmente uma equipe de futebol, ou tirar fotos ao lado das camisas dos seus
jogadores ídolos no vestiário, marcando um gol no videogame ou escutando e lendo
as curiosidades das placas espalhadas sobre os itens do museu.
O mesmo se aplica aos educadores, quando há momentos que os integrantes
dos grupos têm contato com os próprios professores que os acompanham de modo
formal, que passam informações específicas para eles, o contato não-formal do
monitor que repassa algumas informações mais específicas sobre os estádios e,
42
informalmente, com seus colegas de grupo, que contam as próprias histórias e
experiências ou de conhecidos que estão ligados ao estádio, seja em uma visita à
arquibancada do estádio em um jogo contado pelo colega, professores contando
suas próprias vivências ou até mesmo de outros turistas que estão no local e podem
fazer esta interação e socialização com os grupos durante os locais onde se permite
mais tempo livre para interagir uns com os outros.
Nessas interações, há uma troca sem distinção de quem aprende e quem
ensina. Professores aprendem de experiências de alunos que já foram lá, monitores
e guias que estão trabalhando aprendem sobre a história do estádio ao encontrar
um morador da cidade do Rio de Janeiro que o frequentava a mais anos,
adicionando informações úteis que fazem com que o sentimento de valor que o local
tem aumente naqueles que estão presentes, valorizando o atrativo, não só como um
patrimônio turístico para a cidade, mas como um equipamento cultural para os
munícipes.
Essas ações nos remetem às falas de Brandão (2007) e Gohn (2006), no que
diz respeito ao jeito como o aprendizado pode ocorrer, sem diferenciação de quem
ensina e quem está sendo ensinado, em que o novo pode ensinar ao antigo,
aprendendo-se com qualidade, além da valorização de construção coletiva do
conhecimento, que,todos que quiserem, podem participar das discussões e
acrescentar.
Apesar da educação formal acontecer apenas na escola regular e o Maraca
Junior se basear em objetivos ligados à ela, podemos observar que estas trocas de
informações, experiência de ir ao local, o espaço onde o atrativo está inserido e a
possibilidade de uma interação com turistas que não estão ligados à realidade da
cidade do Rio de Janeiro, que nunca dialogaram com uma cidade que tem partidas
de futebol quase todos os meses do ano, são relações que podem ter como
resultado os mesmos da educação não-formal, como a formação do indivíduo para o
mundo em que vive, e até além, ir ao encontro de culturas diferentes, mantendo este
indivíduo aberto ao outro, dando mais valor às igualdades, respeitando as diferenças
culturais, como as que são defendidas também por Gohn (2006), quando aborda
essa questão.
Outro importante dado é a valorização do profissional da área do turismo. As
informações de Fonseca Filho (2007), relacionadas ainda a uma maior parte da
educação no turismo estar direcionada à área profissionalizante, confirmam-se nas
43
visitas guiadas do Maraca Junior, observando que, no próprio discurso da
responsável pela área, os objetivos do projeto observam o Maracanã como um local
onde a educação aparece no discurso da profissionalização para o mercado de
trabalho. Esta constatação não é ruim, mas deve ser complementar aos outros
objetivos. O projeto dos tours educacionais, mais especificamente com grupos de
futuros guias de turismo,vai até o estádio para observar a postura dos profissionais
que trabalham lá para serem tomados como exemplo, além do conteúdo específico
do Maracanã como atrativo cultural do Rio de Janeiro e como ele está inserido na
cidade.
É ótimo para o mercado de trabalho, turistas e desenvolvimento turístico de
uma localidade que tenhamos futuros guias de turismo, bem profissionalizados e
que podem observar outros profissionais mais experientes sendo tomados como
exemplo em um importante atrativo da cidade. Mas, não se pode limitar o
aprendizado do turismo apenas a pessoas que servem os turistas que visitam a
cidade. É necessário que possamos entender o papel do turismo na sociedade que
vivemos, como ele é feito, produzido e entendendo parte de sua complexidade, já
que o Rio de Janeiro, apenas no carnaval de fevereiro de 2015, conseguiu atrair
cerca de 977 mil turistas segundo a RioTur17.
Ter uma população que entenda a cidade como turística, podendo ver seu
potencial e analisando o contexto que está inserida ajuda o morador a tratar melhor
o viajante, entender-se como turista e até mesmo envolver os cidadãos na política
da localidade, seja para saber o que exigir com relação às ações e projetos políticos
para a área de turismo. Entender o atrativo, sua história, relação com a localidade e
o contexto que está inserido são elementos que ajudam o indivíduo a estar presente
e ativo na sociedade que faz parte, reafirmando Krippendorf (2000) e a humanização
do turismo, formando cidadãos de cidades turísticas.
Uma preocupação do Maracanã, tanto em sua construção, como no conteúdo
das escolas, e até mesmo no discurso dos guias de turismo do museu do estádio, é
na parte ambiental e ética. Citado até mesmo pela responsável do Maraca Júnior, a
temática de sustentabilidade é vista como uma das principais, levando em
consideração a estrutura do Maracanã após sua reabertura em 2013. O estádio
procurou atender normas específicas para garantir que sua estrutura física fosse
17
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/turismo/2015/02/rio-de-janeiro-recebeu-977-mil-turistas-e-arrecadou-r-2-2-bi>. Acesso em junho de 2015.
44
considerada amais sustentável possível, economizando luz e reutilizando água
captada da chuva.
Toda essa temática é explicada para todos os visitantes que fazem visitas
guiadas, independente de participar do projeto Maraca Junior ou qualquer outro
turista. Podemos fazer leituras sobre este tipo de discurso, a primeira é mostrar que
a estrutura das reformas foi modificada para atender a regras que fazem com que
haja a preocupação com o meio ambiente e preocupação ecológica; pode ser
entendido como corte de custos para a empresa, já que não é mais o Estado do Rio
de Janeiro que administra o Maracanã e pode também entender como um tipo de
marketing para a empresa, para que ganhe mais credibilidade ao mostrar para quem
visita a sua preocupação em relação ao meio ambiente e, assim, vender mais
serviços.Apesar destas demonstrações, independente de qual vertente ou objetivo
real que a empresa administradora do Maracanã tenha, promover o turismo como
atividade que aumente a percepção da ética e impulsiona melhoramentos para
cuidado do meio ambiente para aqueles que vão fazer as visitações, sem
necessariamente ter uma ligação com a profissionalização do indivíduo, são um jeito
de poder também observar esta educação do turismo.
Outras curiosidades do museu estão ligadas a parte sustentável e de
acessibilidade. No Maracanã Mais (espaço visitado) há um discurso específico dos
guias sobre a sustentabilidade estrutural do estádio. Esse discurso é aproveitado
pelo Maraca Junior em palestras, e fala da acessibilidade no estádio, que é
influência na sustentabilidade de museus. A visita pode ser feita por pessoas com
deficiências físicas e, todo acesso, até mesmo entre os andares é possível graças a
rampas e elevadores disponíveis ao uso. O próprio museu empresta cadeiras de
roda caso algum visitante necessite.
Além disso, piso podotátil para cegos e corrimãos com braile estão nas áreas
de acesso comum a torcedores18. As partes do museu estão, então, equipadas para
que este tipo de turista específico possa interagir, e contam também com áudio-
guias. Para deficientes auditivos, todos os vídeos apresentados nos televisores
espalhados por todo o museu têm legenda, possibilitando a leitura. Apesar de ser
um museu com investimento privado, pensado também como negócio, há atitudes
sustentáveis praticadas pelo museu do Maracanã para que o visitante consiga fruir
18
Exceto nas áreas de imprensa e de local de uso de jogadores.
45
melhor tanto a ida ao local, aproveitando o máximo que conseguir de sua visita ao
acervo e locais do estádio, quanto pela questão de segurança dos turistas e das
próprias obras que estão armazenadas lá.
Godoy (2015) aponta fatores sustentáveis para museus, como planejamentos
que garantam seu acesso e possibilidade de usá-los como espaço de transformação
social. Na visitação ao Maracanã, existe como exemplos a quarta-feira como dia
gratuito19para escolas e instituições públicas de ensino ou ONGs ou até mesmo o
projeto Maraca Junior em si; acolhimento do público com base em princípios da
hospitalidade, tendo como exemplo estagiários de turismo que tem contato teórico
com esta disciplina podendo aplicá-la em um atrativo turístico e recebendo feedback
positivo de visitantes; visitas interativas e personalizadas para diferentes grupos; e
disponibilidade de informações online e presencialmente, visando a excelência em
atendimento. São essas algumas destas práticas apontadas pela autora que são
praticadas no museu do Maracanã.
Outra preocupação importante é saber que a equipe está preparada e dispõe
das informações dos lugares. Já que, além dos guias de turismo, existem monitores
em todos os locais por onde passam os turistas do Maracanã, que são responsáveis
por sempre ajudar qualquer pessoa e esclarecer dúvidas, dar informações quando
perguntados sobre o estádio, mostrando que preza pela informação, seja indicada
pelos estagiários ou funcionários que recebem o treinamento da empresa para
trabalhar nos postos. Além disso, o tempo da visita do grupo é indeterminado,
apesar da visita com acompanhamento dos guias durar aproximadamente uma hora,
o grupo pode permanecer até a hora que os portões se fecham, caso queiram. Isto
mostra uma iniciativa que vai ao contrário do roteiro da vida do dia-a-dia, muito
refletido nas escolas. Delimitar tempo para uma atividade de lazer vinculada à
educação pode causar interferência da junção das duas práticas, que é exatamente
a proposta de turismo pedagógico. Krippendorf (2000) fala da questão de
delimitação de tempo nas atividades de viagem (mais para viagem de massa, mas
que pode ser aplicado o conceito), usar o tempo que seria de lazer propício para
usufruir como bem entender ser seguido por um itinerário rígido de horários e
atividades é uma volta à rotina, um padrão que os indivíduos já seguem quando não
estão no tempo de lazer, vivendo suas rotinas. As escolas passam por calendários
19
Os demais são pagos conforme indicado no item 2.2 deste trabalho (p.27).
46
restritos, aulas já estabelecidas até o fim dos semestres e um padrão de ensino.
Apesar de também ter horários, a possibilidade de deixar os grupos usufruírem de
seu espaço para enriquecimento cultural, adquirir novos conhecimentos e fazer com
que as pessoas interajam com o grupo e possam socializar e, consequentemente,
com mais tempo para socialização e educação, já é suficiente para que os grupos
que visitam dialoguem melhor com o lúdico das viagens de turismo educacional.
Além disso, outro ponto importante é a auto-realização que o turista citado por
Krippendorf (2000) promove ao fazer uma visita. Ele cita que em grandes atrativos
de massa, os turistas podem estar alienados da situação do local e do próprio
atrativo em relação a como este está inserido naquela sociedade. Com o Maraca
Junior, há certa possibilidade de fugir desta lógica, já que estas visitas não alienam
os grupos do turismo. Pelo contrário, ensinam o papel do turismo na sociedade e
como estes grupos que fazem a visitação pelo Maraca Junior estão inseridos na
lógica do turismo e na participação do atrativo Maracanã, não só vendo-o como local
de entretenimento e partidas de futebol, mas para além do conhecimento produzido
pelos próprios turistas, com trocas de experiências nas socializações. Não apenas
receber informações dos monitores e guias de turismo que trabalham lá, mas
também fortalecendo a ideia de Ansarah (2002) no que diz respeito à interação
destes indivíduos com outras culturas para um desenvolvimento social. Este é um
dos motivos pelo qual não se aplica todas as lógicas de um turismo de massa no
atrativo Maracanã. Turistas que procuram o descanso, fuga de suas realidades,
podem encontrar isso no próprio estádio, mas o espaço do museu consegue ser
plural de tipos de turismo que podem ser feitos lá.
Vale lembrar que mesmo o ambiente sendo não-formal, o projeto específico é
feito também para escolas e, de certo modo, tem a formalidade da escola pela
presença de professores ou responsáveis controlando a viagem dos alunos, não
estão totalmente livres da formalidade.
Por fim, há de se observar os aspectos lúdicos do estádio, que unem lazer à
educação. Primeiramente, observar que há tempo livre para que os visitantes dos
grupos do Maraca Junior interajam em todos os locais e também quando são
liberados após a visitação com os guias de turismo. Isso já indica o lazer da
atividade, este tempo livre para poder interagir com o local e outros turistas e ter a
liberdade de escolha do que ver dentro do museu do estádio, aliado às várias
informações que ampliem seus conhecimentos, à praticas lúdicas, reafirmando
47
Marcellino (1996), que mostra que estas duas práticas podem andar juntas,
apresentando o lazer como cultura, com troca de experiências entre pessoas
diferentes.
Estas instituições que participam do Projeto Maraca Junior, tendo ou não o
intuito de aproveitar o lazer como processo educativo, já o faz só de abrir à visitação
de grupos para ir lá, o que é benéfico. Além disso, a fala dos guias sobre a inserção
dos indivíduos dos grupos visitantes em uma sociedade de cidade turística, já
mostra que além de estarem formando indivíduos que entendam o turismo, estes
indivíduos entendam o lazer, observado que o turismo é uma forma desse lazer,
tentando melhorar seu lado favorável, como contribuição na criatividade do indivíduo
e seu desenvolvimento social e pessoal. E, por fim, o auxílio de monitores
capacitados para fazer com que os grupos participantes do projeto sejam instruídos
para e pelo lazer, tentando fazer com quem conteúdo e atividades lúdicas se
mesclem para aprimoramento da educação destes indivíduos (MARCELLINO,
2000).
Assim, é possível afirmar que o projeto Maraca Junior consegue dialogar com
algumas práticas de turismo pedagógico nas suas visitações, segundo os autores
como Ansarah (2002) e Gohn (2006) do referencial teórico, tendo como principais
vertentes a importância com o meio; sensibilização da população local por meio de
dias gratuitos para instituições de ensino e ONGs da cidade, com discurso lúdico,
ligados ao lazer e com elementos de lazer tanto na fala dos guias de turismo, como
elementos e equipamentos de lazer dentro do museu.
Além disso, é possível ver que o atrativo se apresenta como local de
educação, tanto pelo discurso da responsável pelo projeto, quanto pelo esforço de ir
às escolas, buscar saber de projetos ligados ao turismo pedagógico em outras áreas
e capacitar seus membros que trabalham como monitores para que as informações
passadas sejam corretas e feitas de modo lúdico e informativo, ao mesmo tempo.
48
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As visitas de grupos ao estádio do Maracanã, em especial as feitas pelos
monitores e guias do projeto Maraca Junior podem proporcionar aos visitantes uma
experiência de enriquecimento pessoal e social, primeiro por entrar em um
imaginário de um local simbólico para os apreciadores do futebol, que possui muitas
histórias e que mexe com as emoções de quem visita o estádio, por usar símbolos
de patriotismo e da cultura relacionada ao esporte; segundo, por somar a isto uma
experiência educativa muito interativa, com monitores bem preparados, para
entender de assuntos que ligam o atrativo à vida daqueles que visitam o local,
fazendo que com quem realize a visita sinta o quão importante o estádio é para a
cidade do Rio de Janeiro.
Observa-se que um dos pontos importantes do projeto vai além da educação.
É dar a oportunidade de alunos que tem o sonho de visitar o atrativo e que apreciam
o futebol, poderem entrar no Maracanã e conhecê-lo, passando pelos locais onde
seus ídolos passam, de forma gratuita, com conteúdo e qualidade. Mostra também a
importância do turismo pedagógico, especialmente em municípios turísticos, e o
quão importante é esse assunto na escola, pois, além de já estar presente em
cursos profissionalizantes, este estudo na educação básica permite que os alunos
melhorem o conhecimento sobre a área do turismo. Dessa forma, podem se tornar
cidadãos com preocupações relevantes ao tema turismo, minimizando seus
possíveis impactos negativos.
O projeto mostra que uma ida a um museu não é apenas lúdica ou apenas
educativa e pode sim fazer esta união de temas. Independentemente se a escola vá
por atitude dos próprios professores ou por meio de agências especializadas em
turismo pedagógico, essa união dos dois temas é clara e essencial. Isso, aliado à
hospitalidade dos monitores do local que prezam pela segurança e qualidade no
atendimento, pois não é apenas um atrativo da cidade, há também uma empresa
que tem clientes e precisa agradá-los.
De maneira sustentável, tanto no que diz respeito às estruturas do prédio e
políticas adotadas, quanto na própria hospitalidade pelos funcionários que trabalham
nas visitações do Maracanã como um museu, o estádio consegue ter um feedback
positivo, já que escolas mandam e-mail semanais elogiando o trabalho e pela
49
preocupação de ter estagiários e funcionários que entendem da área de turismo na
prática e teoria, para que haja educação de qualidade e excelência do serviço
prestado.
Por fim, esta pesquisa acadêmica motiva a busca pelo conhecimento em
turismo, seja expandido com qualidade por várias instituições, para que possamos
entendê-lo e para que seja pensado e compreendido também pelos nossos
cidadãos. Além disso, espera-se que inspire outros atrativos que possuem visitações
a fazer uma sensibilização de seus turistas, expandindo as opções de serviços,
procurando uma especialização deste atendimento específico de público. Dessa
forma, se aguarda uma futura geração de cidadãos que se preocupa com o turismo,
para que o mantenha sustentável, garantindo o futuro bem estar, não só dos
atrativos em si, mas também da própria população receptora.
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APÊNDICES
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO APLICADO E RESPOSTAS OBTIDAS
P: Possui turismólogos ou pedagogos trabalhando?
R: Não, são 6 funcionários e 4 deles são estagiários do curso de turismo
P: Considera o Maracanã como instituição de ensino?
R: Sim, o roteiro do tour Maraca Junior foi montado fazendo referência à estrutura
curricular das escolas, com os guias fazendo alusão às matérias que os alunos
estudam. Por exemplo, a história da cidade, política, entretenimento,
sustentabilidade e acessibilidade.
P: Já procuraram saber como são os projetos pedagógicos das instituições que
fazem as visitações?
R: Quando somos procurados pelas escolas, a parte pedagógica consegue atender
assuntos específicos relacionados ao Maracanã, como as visitas históricas,
sustentabilidade e turismo, dependendo da instituição e grupo que vem até aqui.
P: Quem é o turista que vocês atendem?
R: A maioria são crianças do ensino fundamental, de 7 a 12 anos, mas atendemos
também cursos de guias de turismo e temos 5 horários na semana reservados para
projetos sociais. Por exemplo, o Projeto Circulando, Vila Olímpica, UPP.
P: Qual a porcentagem de visitantes da área pedagógica comparado com os outros?
R: Não temos acesso a essa contagem de turistas, mas são cerca de 850 pessoas
por dia e um dia da semana dedicado apenas a instituições com esse objetivo, na
quarta-feira.
P: Qual o tipo de feedback recebido pelas escolas do turismo pedagógico daqui?
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R: O maior feedback que recebemos é de como foram bem tratados, que a visita foi
muito boa e que os guias e monitores são bem receptivos e solícitos, e que
adorariam vir de novo.
P: Qual a diferença entre o turismo pedagógico e os outros serviços oferecidos?
R: Foco específico em grade dos anos e o roteiro é reduzido por orientação de
segurança da brigada de incêndio do Maracanã.
P: Qual o objetivo do turismo pedagógico do museu do Maracanã?
R: Atender uma demanda específica que foi gerada durante o pré-copa pois as
visitas de escolas faziam com que a capacidade de pessoas que cabem dentro do
museu para uma visita mais confortável fosse afetada
P: Como acha que o turismo pedagógico auxilia no desenvolvimento de um aluno?
R: O turismo pedagógico dá ao aluno a oportunidade de vivenciar o que aprendem
na sala de aula fazendo ligação completa ao turismo experimental além de levá-los à
compreender a importância do setor para a economia do país, podendo despertar o
interesse pela carreira turística.