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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
MAURO TEIXEIRA TAVARES
AVALIAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO
MARTENSÍTICA POR DEFORMAÇÃO A FRIO NO
AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 321
CONTENDO DIVERSOS TEORES DE CARBONO
Niterói
2014
MAURO TEIXEIRA TAVARES
AVALIAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO
MARTENSÍTICA POR DEFORMAÇÃO A FRIO NO
AÇO INOXIDÁVEL AISI 321
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica da Universidade Federal
Fluminense como requisito parcial
para a obtenção do Grau de Mestre
em Engenharia Mecânica. Área de
Concentração: Metalurgia Física.
Orientador: Prof. DSc. JUAN MANUEL PARDAL
Niterói
2014
MAURO TEIXEIRA TAVARES
AVALIAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO
MARTENSÍTICA POR DEFORMAÇÃO A FRIO NO
AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 321
CONTENDO DIVERSOS TEORES DE CARBONO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para a obtenção do Grau de
Mestre em Engenharia Mecânica. Área de
Concentração: Metalurgia Física.
Aprovada em 28 de agosto de 2014.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Juan Manuel Pardal - Orientador
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Sérgio Souto Maior Tavares
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Manoel Ribeiro da Silva
Universidade Federal de Itajubá
Niterói
2014
À união dos povos latino-americanos. Ao ensino público gratuito, direito
de todos.
A meus pais Marcos Luiz Soares Tavares e Ana Lúcia Teixeira Tavares,
que se esforçaram, mesmo em momentos de dificuldades, para me formar
cidadão e me prover uma educação digna e de qualidade.
Ao meu irmão e amigo Marcos Teixeira Tavares pelo companheirismo e
amizade ao longo da vida.
A minha avó, Marilda dos Santos Teixeira, que também sempre tive como
mãe.
A Universidade Federal Fluminense (UFF) pela minha formação
acadêmica.
Especialmente à minha esposa, Aline Dantas Mohamed Tavares, pela
amizade, companheirismo, apoio e amor ao longo de todos os momentos da
vida.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Juan Manuel Pardal – meu orientador
e amigo pela sua predisposição, motivação e
conhecimento passado durante este importante
período de minha vida. Ao Professor Sérgio Souto Maior Tavares – pelo
convívio e conhecimentos passados durante a
elaboração desta tese.
Aos Professores integrantes do PGMEC, por terem
confiado em minha pessoa e na possibilidade de
conhecer o excelente grupo humano que constitui
este curso.
A todos os Professores do curso de Engenharia
Mecânica pela sua recepção e profissionalismo.
Aos Amigos do curso de Mestrado pela amizade e
o estudo em grupo.
Ao professor Manoel Ribeiro da Silva, pela gentil
hospedagem em sua casa e ajuda na realização de
procedimentos de medições magnéticas.
Ao Pesquisador Tarcísio Reis de Oliveira, pela
realização das análises de composição química do
material.
A Adriana Rocha pelo apoio e ajuda nas medições
por difração de Raios-X.
Ao Talles Ribeiro Montenegro e Juan Pablo Pardal
pelo trabalho inicial que gerou este estudo.
A CAPES pelo suporte financeiro para a realização
deste trabalho.
Especialmente à minha esposa, Aline Dantas
Mohamed Tavares, companheira em todos os
momentos da vida.
RESUMO
O aço AISI 321 é um aço inoxidável austenítico (AIA) estabilizado ao
titânio, sendo comunmente empregado em componentes de processo que
operem em temperaturas elevadas. Por possuírem ductilidade elevada, os
AIA costumam ser conformados, nos processos finais de fabricação, por
deformação plástica a frio. Este processo conduz à formação de martensitas
induzidas por deformação, cuja cinética dependerá da composição química
da liga. Nesta dissertação avaliaram-se os efeitos microestruturais
produzidos pela laminação a frio no aço inoxidável austenítico AISI 321
com diversos teores de carbono em amostras inicialmente solubilizadas.
Ciclos combinados de deformação e resfriamento a -196oC foram também
realizados. A fração volumétrica de martensita precipitada foi quantificada
por medidas magnéticas em amostras deformadas com diversos valores de
deformação verdadeira. Deste modo foi possível determinar a cinética de
precipitação da martensita induzida por deformação em função do teor de
carbono, permitindo ainda efetuar uma modelagem da mesma. Além disso,
algumas condições de deformação foram caracterizadas por difração de
raios-X (DRX), microscopia óptica (MO), microdureza Vickers e ensaios de
polarização eletroquímica por reativação cíclica (PERC). Os resultados
denotaram uma grande susceptibilidade de transformação martensítica na
liga com menor teor de carbono, oriunda tanto dos processos de
conformação como de resfriamento subzero. Esta liga também exibiu
maiores valores de dureza quando aplicados baixos níveis de deformação
verdadeira. No que tange à resistência à corrosão a liga mais susceptível de
transformação martensítica exibe um maior grau de sensitização (Ir/Ia). Os
resultados obtidos permitem verificar uma influência significativa do teor de
carbono nas propriedades do material estudado pela ação da deformação
plástica a frio.
Palavras-chave: Aço inoxidável AISI 321, Tratamento térmico subzero,
Deformação plástica a frio, Martensitas induzidas por deformação,
Propriedades magnéticas, Microdureza, Resistência à corrosão, Modelagem.
ABSTRACT
AISI 321 steel is an austenitic stainless steel, titanium-stabilized, being
commonly used in process components that operate at high temperatures.
Because they have high ductility, these steels are usually shaped in the final
manufacturing processes by cold plastic deformation. This process leads to
martensite formation induced by deformation, whose kinetics depends on
the chemical composition of the alloy. This dissertation evaluated the
microstructural effects produced by cold rolling in austenitic stainless steel
AISI 321 with different contents of carbon in solution treated samples.
Combined deformation and cooling cycles at -196°C were also conducted.
The volume fraction of martensite precipitated was quantified by magnetic
measurements on samples deformed with various values of true
deformation. Thus it was possible to determine the kinetics of the martensite
precipitation induced by deformation depending on carbon content, even
allowing the making of a model of it. In addition, some deformation
conditions were characterized by X-ray diffraction (DRX), optical
microscopy (OM), Vickers microhardness and electrochemical polarization
reactivation tests (DL-EPR). The results reflect a great susceptibility to
martensitic transformation in the alloy with lower carbon content, deriving
both from the forming processes as well as the subzero cooling. This alloy
also exhibited higher hardness values when applied to low levels of true
deformation. Regarding the corrosion resistance of the alloy more
susceptible to martensitic transformation, it exhibited a greater degree of
sensitization (Ir/Ia). The results obtained ascertain that there is a significant
influence of the carbon content on the properties of the studied material by
the action of cold plastic deformation.
Key-words: Stainless Steel AISI 321, Subzero heat treatment, Cold Plastic
Deformation; Martensite induced by deformation, Magnetic Properties; X-
Ray Diffraction, Micro hardness, Corrosion resistance, Modeling.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 2.1: Diagrama de Schaeffler. Microestruturas presentes para determinadas regiões de
diferentes composições químicas. Constituintes: A = Austenita; F = Ferrita, M = Martensita.
(INFOSOLDA, 2014)._______________________________________________________24
Figura 2.2: Microestrutura de AIA com presença de ferrita δ em forma de veios finos. (a) em
um aço AISI 203 atacado com reagente de Ralph. (b) em aço AISI 302-HQ atacado com
reagente de Kalling (GILAPA, 2011).___________________________________________28
Figura 2.3: Mudança da estrutura cristalina com a adição de Ni (IMOA, 2009)._________30
Figura 2.4: Influência do Ni na microestrutura dos aços inoxidáveis (IMOA, 2009).______30
Figura 2.5: Efeito do nitrogênio nas propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis
austeníticos (Adaptada de IMOA, 2010)._________________________________________31
Figura 2.6: Diagrama esquemático da influência de elementos de liga nos AIA (Adaptada de
LEE et al., 2010).___________________________________________________________36
Figura. 2.7: Efeitos do trabalho a frio na ductibilidade e resistência do HPASS 6% Mo –
0,2%N (Adaptada de IMOA, 2010)._____________________________________________38
Figura 2.8: Valores de tenacidade ao impacto com a variação de temperatura para os AI: (a)
austenítico, (b) duplex, (c) ferrítico (ASM, 2008).__________________________________40
Figura 2.9: Representação esquemática do material sensitizado em decorrência da formação
de carbonetos de cromo (Cr23C6) nos contornos de grão (NUCLEOINOX, 2014)_________41
Figura 2.10: Empobrecimento de cromo no AIA próximo ao contorno de grão devido à
precipitação de carbonetos de cromo (ASM, 2008).________________________________43
Figura 2.11: Cinética de precipitação de M23C6 para diversos teores de nitrogênio (Adaptada
de ASM, 2008)._____________________________________________________________44
Figura 2.12: Célula portátil utilizada para ensaio de PERC (ENNES, 2013).____________45
Figura 2.13: Amostra solubilizada de AISI 321. As partículas de nitreto de titânio (TiN) estão
indicadas por setas (MOURA et. al., 2008).______________________________________46
Figura 2.14: Amostra de AISI 321 envelhecida a 600oC por 24 horas sem tratamento de
estabilização prévio. Estrutura sensitizada (MOURA et. al., 2008).___________________46
Figura 2.15: Esquema da concentração de cromo abaixo da camada de óxido da superfície.
Ao lado direito da figura exibe-se o perfil da quantidade de cromo (Adaptada de IMOA,
2010).____________________________________________________________________48
Figura 2.16: Percentual de alívio de tensão no AIA AISI 347 em função da temperatura e do
tempo de tratamento térmico de alívio de tensão (TTAT) (Adaptada de IMOA, 2010)._____50
Figura 2.17: Curva esquemática TTT para os precipitados TiC e Cr23C6 (Adaptada de
MOURA et al., 2008)._______________________________________________________52
Figura 2.18: Dureza vs temperatura de estabilização para o AISI 321 (Adaptada de MOURA
et al., 2008)._______________________________________________________________53
Figura 2.19: Modelo de transformação martensítica (GILAPA, 2011)._________________54
Figura 2.20: Representação da relação entre redes CFC e CCC, mostrando a possibilidade
de coerência entre os planos efetuando-se o giro da rede CCC. As medidas representadas
estão em nm (Adaptada de GILAPA, 2011).______________________________________55
Figura 2.21: Detalhe das três possibilidades de transformação de austenita em martensita α’.
(a), (b) e (c) representam as três alternativas ao qual o eixo tetragonal pode se encaixar na
estrutura CFC. Somente os átomos de ferro foram representados na figura (SANTOS,
2008).____________________________________________________________________56
Figura 2.22: Diagrama esquemático exibindo (a) Tensões críticas para iniciar a
transformação martensítica em função da temperatura. (b) Energia livre da austenita e da
martensita em função da temperatura (GILAPA, 2011).____________________________57
Figura 2.23: Microestrutura do AIA AISI 301LN. (a) Bandas de cisalhamento. (b) Nucleação
das martensita α´ na interseção das bandas de cisalhamento (TALONNEN & HANNIEN,
2004).____________________________________________________________________60
Figura 2.24: Porcentagem de austenita transformada em austenita, no AIA AISI 304 com e
sem Cu na composição (GILAPA, 2011).________________________________________61
Figura 2.25: Elementos de liga e sua influência na EFE. (Adaptada de GILAPA, 2011).__62
Figura 2.26: Porcentagem de martensita precipitada em função da temperatura e
deformação verdadeira imposta no AIA AISI 304 (Adaptada de ASM, 2008).____________63
Figura 2.27: Reversão de martensita formada durante a deformação a frio em função da
temperatura para AIA AISI 304 (Adaptada de ASM, 2008).__________________________64
Figura 2.28: Comportamento da magnetização em função do campo magnético para o AISI
304L e 321 a 4,2K (Adaptada de KING & LARBALESTIER, 1973).___________________65
Figura 2.29: Comportamento da magnetização em função do campo magnético para o AISI
310 à temperatura ambiente, a 77K e a 4,2K (Adaptada de KING & LARBALESTIER,
1973).____________________________________________________________________66
Figura 2.30: Curva Magnetização de Saturação versus quantidade de ciclos de resfriamento,
para os AIA AISI 304L, 304N, 316LN, 321, 347 (Adaptada de KING AND LARBALESTIER,
1973).____________________________________________________________________69
Figura 2.31: Volume de martensita precipitada versus deformação verdadeira para o AIA
201-Modificado e outros dois AISI 304 estudados anteriormente. (Adaptada de TAVARES et
al., 2009)._________________________________________________________________71
Figura 2.32: Volume de martensita precipitada versus deformação verdadeira para diversos
AIA e AID. (Adaptada de TAVARES et al., 2011)._________________________________71
Figura 2.33: Difratograma exibindo a presença de ambas as martensita induzidas por
deformação no AIA AISI 201 Modificado. εv= - 0,0723 (Adaptada de TAVARES et al.,
2009).____________________________________________________________________72
Figura 2.34: Difratogramas do AIA AISI 301LN deformado por laminação uniaxial com 5%,
26% e 47% (Adaptado de ABREU et al., 2007).___________________________________73
Figura 2.35: Porcentagem de martensita precipitada versus deformação verdadeira para o
aço UNS S31803 levantada por propriedades magnéticas e por difração de raios-X
(Adaptada de TAVARES et al., 2006).___________________________________________73
Figura 2.36: Mapa de EBSD de uma amostra de AISI 301LN (ABREU et al., 2007)._____74
Figura 2.37: Relação das cores com a orientação cristalográfica (ABREU et al., 2007).__75
Figura 2.38: Mapa de EBSD para amostra de AIA AISI 301LN deformado por laminação a
frio a 5% da sua espessura. (a) Martensita; (b) Austenita (ABREU et al., 2007).________75
Figura 2.39: Mapa de EBSD para amostra de AIA AISI 301LN deformado por laminação a
frio a 10% da sua espessura. (a) Martensita; (b) Austenita (ABREU et al., 2007)._______76
Figura 2.40: Ajuste de uma função sigmoidal na cinética de precipitação de martensita
induzida por deformação para o AIA AISI 201 Modificado (TAVARES et al., 2009)._____78
Figura 2.41: Taxa de transformação martensítica do AIA AISI 201 Modificado (TAVARES et
al., 2009)._________________________________________________________________79
Figura 2.42: Fração (volumétrica ou em peso) de martensita em função da deformação
aplicada por laminação (TAVARES et. al., 2011)._________________________________80
Figura 2.43: Valores de dCα’/dε de transformação de martensita α’ em função da deformação
verdadeira aplicada por laminação (TAVARES et. al., 2011).________________________81
Figura 2.44: Evolução da microdureza em função da deformação verdadeira imposta no AID
UNS S31803 e no AIA AISI 304L (Adaptada de TAVARES et al., 2006).________________82
Figura 2.45: Comparação entre a evolução da microdureza com a deformação verdadeira
imposta nos AIA AISI 201 Modificado e AISI 304L (Adaptada de TAVARES et al., 2009)._83
Figura 2.46: Falha na região de curvatura de uma tubulação de AIA AISI 321 (JHA et al.,
2008).____________________________________________________________________83
Figura 3.1: Porções de tubos como recebidos: (a) BC, (b) MC e (c) AC._______________86
Figura 3.2: Vista da etapa de prensamento do AIA AISI 321 MC._____________________87
Figura 3.3: Detalhe da etapa de corte do AIA AISI 321 MC._________________________87
Figura 3.4: Material AIA BC após a operação de fresamento.________________________88
Figura 3.5: Porção de tubo de AIA BC denotando as etapas de processamento no material
para obtenção das amostras de trabalho.________________________________________88
Figura 3.6: Forno tubular para realização dos tratamentos térmicos em atmosfera
controlada. (a) Forno aberto. (b) Porta amostras de cerâmica com o posicionamento das
amostras. (c) Vista do forno efetuando o tratamento térmico das amostras._____________89
Figura 3.7: Laminador manual empregado para deformar plasticamente as amostras.____90
Figura 3.8: Medição da espessura de uma das amostras laminadas a frio.______________90
Figura 3.9: Detalhe do procedimento de resfriamento utilizando nitrogênio líquido (a)
vazamento de nitrogênio dentro do isopor. (b) Detalhe de uma das amostras imersa em
nitrogênio líquido.__________________________________________________________92
Figura 3.10: Corte com disco diamantado para preparação da amostra BC -1,26._______94
Figura 3.11: (a) Balança de medição utilizada e (b) acuracidade da medição realizada em
uma das amostras.__________________________________________________________94
Figura 3.12. Magnetômetro de amostra vibrante. Em detalhe, no canto inferior esquerdo, se
observa a localização da amostra entre as bobinas de aplicação do campo indutor
externo.___________________________________________________________________95
Figura 3.13: Esquema do magnetômetro de amostra vibrante EGG-PAR: 1- Fonte de
corrente; 2- Vibrador; 3- Eletroímã; 4- Região da amostra, ponta Hall que mede o campo e
as bobinas pick-up que lêem o sinal diferenciado; 5- Controlador; 6- Computador (PARDAL,
2012).____________________________________________________________________96
Figura 3.14: Representação gráfica da magnetização de saturação (ms) pelo ajuste de uma
função linear na amostra de AIA AISI 321 MC-0,52._______________________________97
Figura 3.15: Representação gráfica da magnetização de saturação (ms) pelo ajuste de uma
função linear considerando o valor inverso do campo indutor externo (H), na amostra de AIA
AISI 321 MC-0,52.__________________________________________________________98
Figura 3.16: Ajuste da reta no gráfico ln(-ln(Cα'(ε)/Cα's)) vs εv para obtenção de K e n, na
condição AC.______________________________________________________________99
Figura 3.17: Arranjo dos eletrodos no ensaio de PERC com uso de célula portátil.______103
Figura 3.18: Fixação da célula portátil na amostra de trabalho._____________________103
Figura 3.19: Ensaio de PERC sendo efetuado em uma das amostras mediante uso da célula
portátil.__________________________________________________________________104
Figura 3.20: Microdurômetro empregado para a caracterização dos materiais de
estudo.__________________________________________________________________105
Figura 4.1: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras BC com εv até -0,76._________________________________109
Figura 4.2: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras MC com εv até -0,76._________________________________110
Figura 4.3: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras AC com εv até -0,76._________________________________110
Figura 4.4: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA BC.____________________________________111
Figura 4.5: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA BCN.___________________________________112
Figura 4.6: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 MC.____________________________112
Figura 4.7: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 AC.____________________________113
Figura 4.8: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 ACN.___________________________113
Figura 4.9: Curvas comparativas de magnetização de saturação (ms) versus εv das amostras
estabilizadas BC, MC e ACN. ________________________________________________115
Figura 4.10: Curva da magnetização versus 1/módulo da εv para o AIA BC, realizada pelo
método convencional._______________________________________________________116
Figura 4.11: Curva da magnetização versus 1/ módulo de εv para o AIA BC, realizada pelo
método (1/H)._____________________________________________________________116
Figura 4.12: Fração de austenita transformada martensita α’ para os AIA estabilizados BC,
MC e AC.________________________________________________________________120
Figura 4.13: Fração de austenita transformada martensita α’ para as condições AIA BC, MC
e ACN.__________________________________________________________________121
Figura 4.14: Fração volumétrica de martensita precipitada versus módulo da deformação
verdadeira dos AIA estabilizados BC, MC, e AC comparados com outros aços recentemente
estudados. Onde: [1] - Tavares et al., (2006); [2] - Tavares et al., (2008); [3] - Tavares et al.,
(2011); [4] - Tavares et al., (2009).____________________________________________122
Figura 4.15: Curvas de Magnetização versus o módulo de εv do AIA BC e BCN.________123
Figura 4.16: Curvas de Magnetização versus o módulo de εv do AISI 321 AC e ACN.___124
Figura 4.17: Fração de martensita α’ precipitada em função do módulo de εv em amostras de
AIA BC e BCN.____________________________________________________________125
Figura 4.18: Fração de martensita α’ precipitada em função do módulo de εv em amostras de
AIA AC e ACN.____________________________________________________________126
Figura 4.19: Fração de austenita transformada em martensita em função do teor de carbono
em amostras apenas solubilizadas e resfriadas em N2 líquido._______________________127
Figura 4.20: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
BC._____________________________________________________________________128
Figura 4.21: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
BCN.____________________________________________________________________129
Figura 4.22: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
MC._____________________________________________________________________129
Figura 4.23: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
AC______________________________________________________________________130
Figura 4.24: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
ACN.____________________________________________________________________130
Figura 4.25: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA BC._________132
Figura 4.26: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA BCN._______132
Figura 4.27: Modelagem da cinética de precipitação de martensita AIA MC.___________133
Figura 4.28: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA AC._________133
Figura 4.29: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA ACN._______134
Figura 4.30: Microestruturas do AIA BC. (a) Amostra BC-0,00. (b) Amostra BC-0,17. (c)
Amostra BC-0,33.__________________________________________________________135
Figura 4.31: Microestruturas do AIA MC. (a) Amostra MC-0,00. (b) Amostra MC-0,17. (c)
Amostra MC-0,33._________________________________________________________135
Figura 4.32: Microestruturas do AIA AC. (a) Amostra AC-0,00. (b) Amostra AC-0,17. (c)
Amostra AC-0,33.__________________________________________________________136
Figura 4.33: Difratogramas das amostras BC de deformação verdadeiras: -0,00; -0,33;-
2,29.____________________________________________________________________137
Figura 4.34: Difratogramas das amostras AC de deformação verdadeiras: -0,33; -2,29._138
Figura 4.35: Difratogramas comparativos das amostras de AIA BC e AC com deformação
verdadeira de -0,33.________________________________________________________139
Figura 4.36: Difratogramas comparativos das amostras de AIA BC e AC com deformação
verdadeira de -2,29.________________________________________________________139
Figura 4.37: Difratograma da amostra MC-3,20._________________________________140
Figura 4.38: Difratograma da amostra ACN-3,82.________________________________141
Figura 4.39: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-0,00._________143
Figura 4.40: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-1,26._________143
Figura 4.41: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-2,29._________144
Figura 4.42: Ensaio de PERC realizado na amostra AC-0,17._______________________145
Figura 4.43: Ensaio de PERC realizado na amostra BC-0,17._______________________145
Figura 4.44: Valores da fração de austenita transformada em martensita e da razão Ir/Ia
obtidos em função do módulo de deformação verdadeira imposto no material.__________147
Figura 4.45: Microdureza Vickers versus módulo de deformação verdadeira nas condições
BC e MC. ________________________________________________________________148
Figura 4.46: Microdureza Vickers versus módulo de verdadeira nas condições BC e AC._149
Figura 4.47: Microdureza Vickers versus módulo de verdadeira nas condições MC e AC._149
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1: Elementos que promovem formação de ferrita e austenita nos aços (Adaptada de
IMOA, 2010).______________________________________________________________23
Tabela 2.2: Composição química básica (% em peso) de AI de grau padrão e principais
HPASS (Adaptada de IMOA, 2010).____________________________________________27
Tabela 2.3: Propriedades mecânicas à temperatura ambiente, segundo ASTM A240, de
alguns AIA solubilizados. LR- Limite de resistência. LE – Limite de escoamento (GILAPA,
2011).____________________________________________________________________37
Tabela 2.4: Temperaturas mínimas de solubilização de alguns AI (Adaptada de IMOA,
2010).____________________________________________________________________49
Tabela 2.5: Valores de Ms e Md30. (Adaptada de ABREU et al., 2007)._________________59
Tabela 2.6: Valores de EFE reportados na literatura. (Adaptada de ABREU et al., 2007;
GILAPA, 2011).____________________________________________________________62
Tabela 2.7: Transformação martensítica após resfriamento criogênico (Adaptada de KING &
LARBALESTIER, 1973)._____________________________________________________67
Tabela 3.1: Características dos tubos de AIA estudados.____________________________85
Tabela 3.2: Análise da composição química dos tubos de AIA como recebidos.__________86
Tabela 3.3: Espessura final (mm) e deformação verdadeira correspondente para as amostras
com ti = 3,18 mm em amostras solubilizadas de AIA BC, MC e AC.___________________91
Tabela 3.4: Espessura final (mm) e deformação verdadeira correspondente para as amostras
com ti = 3,18 mm em amostras solubilizadas de AIA BCN, MCN e ACN._______________93
Tabela 4.1: Análise da composição química das amostras de AIA estabilizadas ao titânio
estudadas, de acordo com as normas ASTM A240 e ASTM A312.____________________107
Tabela 4.2: Valores calculados de EFE para as amostras estudadas._________________107
Tabela 4.3: Temperaturas Ms e Md30 para cada designação de AIA estudado.___________108
Tabela 4.4: Valores de msi obtidos em todas as condições e métodos utilizados._________117
Tabela 4.5: Valores da msi dos AIA estabilizados ao titânio estudados e de outros AIA e AID
estudados previamente._____________________________________________________119
Tabela 4.6: Valores da magnetização e porcentagem de martensita em amostras apenas
solubilizadas e resfriadas em N2 líquido.________________________________________127
Tabela 4.7: Valores das constantes n e K obtidos da modelagem da transformação
martensítica.______________________________________________________________131
Tabela 4.8: Valores máximos e mínimos da primeira e segunda derivada na precipitação de
martensita. Valores de εvmáx, εv2
máx e εv2
min obtidos nessas condições.__________________134
Tabela 4.9: Porcentagem de austenita transformada em martensita para determinadas
condições de estudo. Medidas obtidas por difração de raios-X (DRX) e propriedades
magnéticas (PM).__________________________________________________________141
Tabela 4.10: Valores Ir/Ia obtidos nos ensaios PERC nos AIA BC e AC._______________144
Tabela 7.1: Massas (g) das amostras de AIA estudadas.___________________________162
Tabela 7.2: Valores de ms obtidos, pelo método convencional, nas amostras de AIA
estudadas.________________________________________________________________163
Tabela 7.3: Valores de ms obtidos, pelo método 1/H, nas amostras de AIA estudadas.____164
Tabela 7.4: Porcentagem de martensita precipitada nas amostras de AIA estudadas.____164
Tabela 7.5: Valores médios e desvio padrão da microdureza Vickers (HV) das amostras de
AIA BC, MC e AC estudadas.________________________________________________165
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO, p. 19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, p. 21
2.1 AÇOS INOXIDÁVEIS, p. 21
2.1.1 Aços Inoxidáveis Austeníticos, p. 24
2.1.1.1 Propriedades Mecânicas, p. 36
2.1.1.2 Fenômeno de Sensitização, p. 40
2.1.1.3 Tratamentos Térmicos, p. 47
2.1.1.3.1 Solubilização, p. 47
2.1.1.3.2 Alívio de Tensão, p. 49
2.1.1.3.3 Estabilização, p. 50
2.1.1.4 Aços Inoxidáveis Austeníticos Estabilizados, p. 51
2.1.1.4.1 AISI 321, p. 51
2.1.1.5 Transformação Martensítica por Deformação a Frio, p. 53
2.1.1.5.1 Resfriamento Criogênico, p. 63
2.1.1.5.2 Caracterização por Propriedades Magnéticas e Difração de Raios X, p. 69
2.1.1.5.3 Caracterização por EBSD, p. 74
2.1.1.5.4 Modelagem da Transformação, p.76
2.1.1.5.5 Caracterização por Medidas de Dureza, p. 81
2.1.1.5.6 Efeitos da Transformação Martensítica em Componentes AIA, p. 83
3 MATERIAIS E MÉTODOS, p. 85
3.1 MATERIAIS, p. 85
3.2 PRODUÇÃO DAS AMOSTRAS DE TRABALHO, p. 86
3.3 TRATAMENTO TÉRMICO, p. 89
3.4 DEFORMAÇÃO A FRIO DAS AMOSTRAS, p. 89
3.4.1 Tratamento Criogênico, p. 91
3.5 CARACTERIZAÇÃO POR PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM), p. 93
3.5.1 Preparação e determinação de massa das Amostras, p. 94
3.5.2 Medições de Magnetização, p.95
3.5.2.1 Modelagem da Cinética de Precipitação, p 99
3.6 MICROSCOPIA ÓTICA (MO), p. 100
3.7 MEDIÇÃO POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX), p. 100
3.7.1 Software Utilizado para a Análise dos Difratogramas, p. 101
3.7.2 Considerações na Quantificação das Fases por Difração de Raios-X, p. 101
3.8 ENSAIO DE POLARIZAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REATIVAÇÃO CÍCLICA
(PERC), p. 102
3.9 MEDIÇÃO DE MICRODUREZA VICKERS, p. 104
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 106
4.1 ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA, p. 106
4.1.1 Energia de Falha de Empilhamento e Temperaturas Ms e Md30, p. 107
4.2 PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM), p 109
4.2.1 Magnetização de Saturação, p. 109
4.2.2 Transformação Martensítica, p. 117
4.2.3 Influência do Resfriamento Criogênico, p. 123
4.2.4 Modelagem da Transformação Martensítica, p. 128 4.3 MICROSCOPIA ÓTICA, p. 135
4.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX), p. 137
4.4.1 Análise dos Difratogramas, p. 137
4.4.2 Quantificação de Fases, p. 141
4.5 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO, p. 142
4.5.1 Resultados dos Ensaios de PERC, p. 142 4.6 MICRODUREZA VICKERS, p. 148
5 CONCLUSÕES, p. 151
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS, p. 158
7 APÊNDICES, p. 162
7.1 MASSAS DAS AMOSTRAS, p. 162
7.2 PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM), p. 163
7.2.1 Resultados Obtidos no Ensaio VSM, p. 163
7.3 MICRODUREZA VICKERS, p. 165
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 170
1
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
O aço AISI 321 é um aço inoxidável austenítico (AIA) no qual contém Ti como
elemento estabilizante. Deste modo este tipo de material pode ser selecionado para serviços
em temperaturas elevadas, da ordem de 600°C a 700°C, onde os aços AISI 304 e 304L
exibem o fenômeno de sensitização. Entretanto, é importante observar que este material,
denominado de aço estabilizado, deve passar por um tratamento térmico de estabilização para
que posteriormente possam trabalhar na faixa de 600°C a 700°C. A estabilização deve ser
feita para provocar a precipitação dos carbonetos (TiC) retirando todo o carbono de solução
sólida. A temperatura de estabilização deve coincidir com o nariz (ou bico) das curvas TTT
para precipitação dos carbonetos TiC, ou seja, em torno de 900°C. Caso o aço AISI 321 não
seja previamente estabilizado, tratamentos na faixa de 600°C a 700°C promovem a
precipitação dos carbonetos de cromo. No entanto, é importante salientar que o uso deste aço
inoxidável em temperaturas elevadas é especialmente interessante porque a estrutura
austenítica apresenta boa resistência à fluência e os carbonetos finos de Ti nos contornos de
grão favorecem ainda mais esta propriedade. Portanto, esta classe de AIA é muito empregado
em linhas de sistema flare e tubos de fornos na indústria de petróleo.
Entretanto, em virtude dos processos de fabricação a frio utilizados na indústria é de
extrema importância a avaliação das transformação martensítica e a consequente mudança das
propriedades do AIA AISI 321 em função da sua composição química.
Deste modo, no presente trabalho avaliaram-se os efeitos microestruturais produzidos
pela laminação a frio no aço inoxidável austenítico AISI 321 com baixo (BC), médio (MC) e
alto (AC) teores de carbono em amostras inicialmente solubilizadas. Além disso, foram
20
também realizados, ciclos combinados de deformação e resfriamento a -196oC para as
condições BC e AC de maneira a avaliar o efeito do resfriamento na transformação
martensítica. A fração volumétrica de martensita precipitada foi quantificada por medidas
magnéticas através de utilização de um magnetômetro de amostra vibrante (VSM). Os valores
da magnetização de saturação foram determinados em cada condição de deformação por
diferentes métodos propostos no presente estudo. Portanto, a cinética de precipitação da
martensita induzida por deformação em função do teor de carbono foi estimada
determinando-se o valor de magnetização de saturação intrínseca (msi) da condição contendo
100% de martensita para os AIA AISI 321 BC, MC, e AC, respectivamente. Verificou-se
ainda que a msi diminui com o aumento da quantidade de carbono presente na liga. A partir
das cinéticas levantadas para cada material avaliado foi efetuada uma modelagem fazendo uso
de uma função sigmoidal. Ensaios de caracterização complementares de difração de raios-X,
microscopia óptica (MO), microdureza Vickers e ensaios de polarização eletroquímica por
reativação cíclica (PERC) foram realizados em determinadas condições de deformação
imposta com o intuito de caracterizar e verificar a influência da martensita precipitada nas
propriedades estudadas.
Os resultados denotaram uma grande susceptibilidade de transformação martensítica
na liga BC quando comparada com as outras ligas estudadas em virtude da baixa energia de
falha de empilhamento (EFE), produto do baixo teor de carbono. Esta susceptibilidade de
transformação manifestou-se tanto nos processos de conformação como de resfriamento
subzero. Os ensaios de microdureza evidenciaram que em valores de deformação verdadeira
de até 0,52, a liga BC apresentou maiores valores de microdureza quando comparados às ligas
MC e AC como resultado da maior susceptibilidade de transformação martensítica. A liga BC
mostrou também ser susceptível de corrosão intergranular quando comparada com a liga AC
em amostras ensaiadas com mesmos valores de deformação verdadeira.
Os resultados obtidos no presente trabalho permitem verificar uma influência
significativa do teor de carbono no AIA AISI 321 na cinética de precipitação da martensita
oriunda da ação da deformação plástica frio e/ou do resfriamento criogênico. A microdureza e
a resistência à corrosão são afetadas pela precipitação desta fase. Deste modo o presente
trabalho exibe um grande interesse no que tange às propriedades obtidas durante o
processamento final desta classe de AIA na fabricação de diversos produtos, tal como tubos,
chapas e arames.
18
CAPÍTULO 2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 AÇOS INOXIDÁVEIS
Os aços inoxidáveis (AI) surgiram pela primeira vez quando cientistas tentavam
desenvolver um estado de passividade em ligas ferrosas. Em 1912 o experimento realizado
por Harry Bearley´s com a adição de 12,5% cromo (Cr) no ferro (Fe) deu início a produção
comercial do aço inoxidável (STREICHER, 2000). Neste caso, o material produzido possuía
uma matriz de estrutura martensítica. Logo, trabalhos posteriores aos realizados na França por
Guillet, e na Alemanha por Giesen & Monnartz, deram origem aos aços inoxidáveis ferro-
cromo-níquel (Fe-Cr-Ni) de matriz austenítica, universalmente conhecidos como 18%Cr –
8%Ni (DAVIS, 1996).
Portanto, os aços inoxidáveis são ligas ferrosas com alto teor de cromo (≥10,5% Cr) e
baixa concentração de carbono. O cromo é responsável por conferir ao material resistência à
corrosão, superior à encontrada nos demais aços (PADILHA & GUEDES, 1994). A alta
concentração de cromo forma uma fina película aderente de óxido de cromo (Cr2O3) que
protege à superfície da peça fornecendo deste modo resistência à corrosão (CALLISTER,
2001). Este fenômeno é conhecido como passivação e a formação ou não desta camada, sua
impermeabilidade e taxa de dissolução no meio corrosivo serão fatores preponderantes e
definidores da taxa de corrosão no metal (SILVA & MEI, 2006).
22
Outros elementos de liga também aumentam a resistência à corrosão do aço, pois
expandem sua faixa de passividade, tais como ocorre com a inserção de: molibdênio (Mo),
níquel (Ni), cobre (Cu) e nitrogênio (N) (PADILHA & GUEDES, 1994; CALLISTER, 2001).
Além disso, também são muito utilizados nos aços inoxidáveis o manganês (Mn), silício (Si) e
alumínio (Al) (PADILHA & GUEDES, 1994). Os elementos de liga adicionados, de maneira
geral, são utilizados para controlar e estabelecer as propriedades mecânicas, físicas e a
resistência à corrosão do material.
No entanto, é importante ressaltar que em determinadas condições de tratamento, o
carbono presente na composição pode facilmente combinar-se com o cromo, retirando-o de
solução sólida para formar carbonetos de cromo. Este processo é conhecido como
sensitização. Esse fenômeno ocorre nos contornos de grãos gerando áreas decromatizadas em
torno dos carbonetos de cromo assim formados, conduzindo à diminuição da resistência à
corrosão.
Os aços inoxidáveis são de grande interesse na engenharia devido às suas qualidades
como: alta resistência à oxidação e à corrosão e boas propriedades mecânicas a temperaturas
elevadas dependendo da sua estrutura característica (SILVA & MEI, 2006). Deste modo são
amplamente utilizados desde utensílios de baixo custo, móveis e materiais de cozinha até
componentes de veículos espaciais (SILVA et al., 2011).
Com base na microestrutura, existem cinco grupos os quais os AI podem ser
classificados de acordo com sua estrutura cristalina (PADILHA & GUEDES, 1994):
Austeníticos (AIA): em geral com 16-25% de cromo e 6-20% de níquel;
Ferríticos (AIF): em geral com 10,5 a 27% de cromo e baixo teor de carbono;
Martensíticos (AIM): em geral com 12-17% de cromo e 0,1 a 1,0% de
carbono;
Duplex (AID) e Superduplex (AISD): em geral com 23-30% de cromo e 2,5-
7% de níquel e adições de molibdênio;
Endurecíveis por precipitação: podem ser de matriz tanto martensítica
quanto austenítica, com adições de Cu, Ti, Al, Mo, Nb ou N.
A microestrutura formada está relacionada principalmente à composição química do
material e ao tratamento térmico imposto. Deste modo existem elementos que favorecem à
formação de ferrita e outros à formação de austenita na estrutura do aço, conforme pode ser
verificado em detalhe na Tabela 2.1 (IMOA, 2010).
23
Tabela 2.1: Elementos que promovem formação de ferrita e austenita nos aços (Adaptada de
IMOA, 2010).
Elementos Formadores de Ferrita Elementos Formadores de Austenita
Ferro Níquel
Cromo Nitrogênio
Molibdênio Carbono
Silício Manganês
Nióbio Cobre
Alumínio Cobalto
Titânio -
Tungstênio -
A avaliação da influência dos elementos de liga nas características microestruturais
dos aços inoxidáveis pode ser feita em função do cromo (Creq) e níquel equivalente (Nieq).
Estes parâmetros agrupam os elementos conforme seus efeitos ferritizantes e austenitizantes.
Diversas expressões para obter o Creq e Nieq foram obtidas empiricamente, podendo-se citar as
equações, 2.1 e 2.2, propostas por Pickering, (1976):
Nieq = Ni + 0,5.Mn + 30.C + 25.N + 0,3.Cu + Co + 5.V + 1,75.Nb 2.1
Creq = Cr + 2.Si + 1,5.Mo + 5,5.Al + 1,75.Nb + 1,5.Ti + 0,75.W + 5.V 2.2
Os valores das duas equações anteriores estão em porcentagem de peso. Os elementos
que contribuem para formação de austenita estão presentes na equação do Nieq e os elementos
que favorecem à formação de ferrita estão na de Creq.
O controle do ‘’balanço de fases’’, tanto de ferrita quanto de austenita no material,
determinará muitas das propriedades dos aços inoxidáveis, por isso a importância de seu
conhecimento. A Figura 2.1 apresenta uma importante ferramenta que faz uso do Creq e Nieq,
denominado de diagrama de Schaeffler. Este diagrama apresenta a relação entre composição
química e fases presentes na condição de como fundido, comumente de ser encontrado no
metal de solda em uma junta soldada. Este diagrama ilustra as regiões de composição química
para as diferentes fases, tornando viável a classificação do aço de interesse.
24
Figura 2.1: Diagrama de Schaeffler. Microestruturas presentes para determinadas regiões de
diferentes composições químicas. Constituintes: A = Austenita; F = Ferrita, M = Martensita.
(INFOSOLDA, 2014).
2.1.1 Aços Inoxidáveis Austeníticos
Conforme comentado, os aços inoxidáveis austeníticos (AIA) foram introduzidos no
início do século XX como resultado de trabalhos pioneiros efetuados na Europa. Este aço é o
mais popular dentre dos AI e, é muito utilizado nas industrias de alimentos, química,
energética, dentre outras. Os aços inoxidáveis receberam grande evolução tecnológica por
volta da década de 70, onde foi possível introduzir técnicas de refino e tecnologias de
tratamentos no material que viabilizaram o desenvolvimento de novos graus do aço,
aumentando assim a seu desempenho em serviço (IMOA, 2010).
Os graus austeníticos são os aços inoxidáveis mais comumente utilizados porque, em
muitas instancias, eles fornecem bons níveis de resistência à corrosão aliadas a excelentes
propriedades mecânicas (ASM, 2008). Podem ser utilizados, na arquitetura, na indústria
automotiva, em sistemas de exaustão, coxins e juntas, ou seja, em produtos que demandem
boa combinação de resistência e conformabilidade e, que ainda permitam redução de peso e
design mais arrojado. Muitas das aplicações submetidas nesses aços requerem de bom
25
desempenho do material durante as etapas de fabricação, principalmente nos processos de
estampagem, que podem ocorrer em conjunto com o dobramento, estiramento e embutimento.
Essas operações são dependentes das características do material, grau de deformação e
interface ferramenta-chapa, influenciando na geometria final e qualidade do produto
(GILAPA, 2011).
Os AIA são responsáveis por 70 a 80% da produção mundial dentre os AI e são
constituídos essencialmente de ligas Ferro-Cromo-Níquel, contendo em peso de 18-39% de
Cromo, 8-20% de Níquel e 0,03-0,1% de Carbono. Outros elementos de liga podem ser
acrescentados ao aço inoxidável austenítico de modo a fornecer maior resistência à corrosão e
outras propriedades importantes. Estes elementos e suas respectivas influências serão
abordados nesta seção.
Os AIA são os mais comuns e familiarizados tipos de aços inoxidáveis. Eles são
extremamente maleáveis e soldáveis e podem ser usados com sucesso desde temperaturas
criogênicas até temperaturas elevadas de operação. Os aços inoxidáveis austeníticos
apresentam diversas vantagens e desvantagens do ponto de vista metalúrgico quando
comparado a outros aços inoxidáveis, dentre elas pode-se citar (IMOA, 2010):
Elevada usinabilidade devido a sua boa ductilidade, mas também esta pode ser
dificultada quando aplicado trabalho a frio no material;
A estrutura cristalina é cúbica de face centrada (CFC) e apresenta ótima
ductilidade mesmo em temperaturas abaixo de 0oC. Não exibem perda de
resistência mecânica mesmo em altas temperaturas, como ocorre com os aços
ferríticos, que possuem estrutura CCC;
Não apresentam temperatura de transição dúctil frágil;
São considerados a classe de aços com maior tenacidade, porém a presença de
fase intermetálicas pode produzir perda de tenacidade no material;
São conhecidos por sua excelente resistência à corrosão quando submetidos a
meios agressivos;
Sua resistência à tração e dureza pode ser aumentada por operações de
encruamento;
As principais desvantagens desta classe de aços com relação às demais famílias são
(ASM, 2008):
26
Menor resistência às oxidações em temperaturas cíclicas do que os aços de
estrutura ferrítica, isto é devido ao seu maior coeficiente de expansão térmica
que tende a formar a camada passiva;
Maior susceptibilidade que as outras classes de AI à corrosão sob tensão (CST)
se exposto a ambientes agressivos;
A resistência à fadiga normalmente é por volta de 30% da tensão de ruptura, ao
contrário do caso dos aços inoxidáveis ferríticos que este valor fica em torno
dos 50 a 60%. Este fato aliado ao alto coeficiente de expansão térmica tornam
estes aços mais susceptíveis à fadiga;
Não são endurecíveis por tratamento térmico (IMOA, 2010).
No setor de transportes, em fabricação de vagões de trem, os aços inoxidáveis
austeníticos (AIA) possuem cada vez mais espaço, principalmente devido à sua característica
de endurecimento quando submetido a deformações plásticas. Essa importante característica
ocorre devido ao aparecimento de martensita induzida por deformação quando estas ligas são
trabalhadas a frio. No sistema Fe-Cr-Ni, a aplicação de deformação plástica pode levar além
de defeitos cristalinos à formação de martensita ε (paramagnética de estrutura hexagonal
compacta - HCP) e α’ (ferromagnética de estrutura CCC) a partir da deformação da austenita
(γ) (TAVARES et al., 2011). Esses efeitos serão abordados em detalhe na seção 2.1.1.5 deste
estudo.
Com o desenvolvimento dos aços, novas tecnologias foram introduzidas no
aperfeiçoamento dos AIA, tais como a: descarburização por argônio e oxigênio (AOD) e
descarburização a vácuo e oxigênio (VOD). A partir destes desenvolvimentos ponto tornou-se
possível produzir aços com baixo percentual de carbono na sua composição, intensificando o
controle químico e melhorando a homogeneização da estrutura, de modo a diminuir a
quantidade de inclusões presentes no material (IMOA, 2010). Os aços que tiraram vantagem
deste salto de tecnologia passaram a ser chamados de aços inoxidáveis de alta performance
(HPASS). A Tabela 2.2 apresenta a composição química dos principais aços inoxidáveis
austeníticos (AIA) de grau padrão e os classificados de alta performance.
27
Tabela 2.2: Composição química básica (% em peso) de AI de grau padrão e principais
HPASS (Adaptada de IMOA, 2010).
Grau UNS EN. C N Cr Ni Mo
Graus Padrão dos AIA
304L S30403 1.4307 0,03 0,10 18,0-20,0 8,0-12,0 -
321 S32100 1.4541 0,08 0,10 17,0-19,0 9,0-12,0 -
347 S34700 1.4550 0,08 0,10 17,0-19,0 9,0-13,0 -
316L S31603 1.4404 0,03 0,10 16,0-18,0 10,0-14,0 2,00-3,00
317L S31703 1.4438 0,03 0,10 18,0-20,0 11,0-15,0 3,00-4,00
309S S30908 1.4833 0,08 0,10 22,0-24,0 12,0-15,0 -
310S S31008 1.4845 0,08 0,10 24,0-26,0 19,0-22,0 -
AIA de Alta Performance (HPASS)
LIGA 20, 20Cb-3 N08020 2.4660 0,07 - 19,0-21,0 32,0-38,0 2,00-3,00
Liga 825 N08825 2.4858 0,05 - 19,5-23,5 38,0-46,0 2,50-3,50
317LM S31725 - 0,03 0,10 18,0-20,0 13,2-17,5 4,00-5,00
317LMN S31726 1.4439 0,03 0,10-0,20 17,0-20,0 13,5-17,5 4,00-5,00
904L N08904 1.4539 0,02 - 19,0-23,0 23,0-28,0 4,00-5,00
155N S31727 - 0,03 0,15-0,21 17,5-19,0 14,5-16,5 3,80-4,50
Liga 28 N08028 1.4563 0,02 - 26,0-28,0 30,0-34,0 3,00-4,00
4565 S, Liga 24 S34565 1.4565 0,03 0,40-0,60 23,0-26,0 16,0-19,0 3,00-5,00
20Mo-6 N08028 - 0,03 0,10-0,16 22,0-26,0 33,0-37,0 5,00-6,70
254N S32053 - 0,03 0,17-0,22 22,0-24,0 24,0-26,0 5,00-6,00
25-6MO, 1925 hMo N08926 1.4529 0,02 0,15-025 19,0-21,0 24,0-26,0 6,00-7,00
254 SMO S31254 1.4547 0,02 0,18-0,22 19,5-20,5 17,5-18,5 6,00-6,50
AL-6XN N08367 - 0,03 0,18-0,25 20,0-22,0 23,5-25,5 6,00-7,00
UR 66 S31266 1.4659 0,03 0,35-0,60 23,0-25,0 21,0-24,0 5,00-7,00
27-7MO S31277 - 0,02 0,30-0,40 20,5-23,0 26,0-28,0 6,50-8,00
3127 hMo, Liga 31 N08031 1.4562 0,02 0,15-0,25 26,0-28,0 30,0-32,0 6,00-7,00
354N N08354 - 0,03 0,17-0,24 22,0-24,0 34,0-36,0 7,00-8,00
654 SMO S32654 1.4652 0,02 0,45-0,55 24,0-26,0 21,0-23,0 7,00-8,00
Existem também os chamados aços inoxidáveis austeníticos do tipo lean, que
compreendem a maior porção de aços inoxidáveis austeníticos produzidos. Esses são
principalmente os graus 201, 301 e 304. Ligas com menos de 20% de cromo e 14% de níquel
são classificadas dentro dessa categoria não oficial (ASM, 2008).
O subgrupo de aços inoxidáveis austeníticos lean é amplamente utilizado por causa da
boa soldabilidade e conformabilidade.
A principal diferença dos aços inoxidáveis lean está na sua taxa de endurecimento,
quanto mais lean a liga for, menor a estabilidade da austenita. Quando AIA, desta categoria,
28
forem deformados, transformarão maior quantidade de austenita em martensita, aumentando
assim a taxa de endurecimento e diminuindo a ductilidade do material (ASM, 2008).
A microestrutura dos AIA depende dos elementos que compõem a liga durante o
processo de solidificação (PADILHA & GUEDES, 1994). Portanto, os AIA podem apresentar
em sua microestrutura pequenas porcentagens de ferrita (δ) conforme evidenciado por setas na
Figura 2.2.
Figura 2.2: Microestrutura de AIA com presença de ferrita δ em forma de veios finos. (a) em
um aço AISI 203 atacado com reagente de Ralph. (b) em aço AISI 302-HQ atacado com
reagente de Kalling (GILAPA, 2011).
Os aços inoxidáveis austeníticos apresentam, em determinadas condições, fases
secundárias geralmente indesejáveis. A microestrutura ideal do aço inoxidável austenítico
seria composta por grãos austeníticos, sem qualquer presença de compostos secundários ou
intermetálicos, porém infelizmente esta nem sempre é a condição de equilíbrio para os AIA,
já que elevados teores de elementos de liga presentes no material podem promover à
precipitação de fases deletérias durante o processamento termomecânico ou em serviço em
temperaturas elevadas (IMOA, 2010). As interações dos principais elementos de liga,
precipitados e fases secundárias são bastante complexas. Por este motivo são detalhados a
seguir alguns dos elementos de liga e suas interações com as fases secundárias que podem
surgir nos AIA.
Cromo: É um elemento formador de ferrita e tem como principal características a
formação do filme de passivação de óxido de cromo (Cr2O3) que adere à superfície e
29
aumenta a resistência à corrosão. O mesmo deve ser adicionado em uma porcentagem
de 10,5% ou mais, para formar uma fina película passiva no material. Quanto maior a
quantidade de cromo presente na liga, maior será a resistência à corrosão do AI,
entretanto, é importante destacar que em quantidades elevadas o Cr pode favorecer o
aparecimento da fase sigma (σ), cujo estudo será abordado ainda nesta seção. (IMOA,
2010).
Silício: Comumente este elemento está presente nos aços inoxidáveis (AI) em
concentrações entre 0,3% e 0,6%, em peso. O Si é utilizado nos AI durante o processo
de fabricação para favorecer a desoxidação ao longo do processo de fundição e
promover um aumento de resistência à corrosão quando o material for empregado em
serviços de altas temperaturas ou na presença de meios contendo ácido nítrico em altas
concentrações. Entretanto, este elemento tende a fragilizar a estrutura, pois forma
compostos tais como: FeSi, Fe2Si, Fe3Si, Fe5Si3 e Cr3Si. Além disso, cabe destacar que
o silício favorece à formação da fase deletéria em AID (GUNN, 2003; LIPPOLD &
KOTECKI, 2005).
Níquel: Este elemento atua como elemento austenitizante, promovendo a mudança de
estrutura cristalina do aço inoxidável de ferrítica (CCC) para austenítica (CFC),
conforme apresentado na Figura 2.3. Como consequência, o níquel (Ni) retarda as
reações no estado sólido e abaixa as temperaturas de início e final de transformação
martensítica (Mi e Mf). Além dos efeitos descritos anteriormente, este elemento
também promove aumento de tenacidade e aumento da resistência à corrosão, porém
não tão significativamente, quanto o fornecido pelo Cr. Nos aços inoxidáveis
austeníticos, o Ni, como bom formador de carbonetos, retarda à formação de
compostos intermetálicos e há indícios que pode influenciar na sua cinética de
precipitação (LIPPOLD & KOTECKI, 2005; IMOA 2009). Os aços inoxidáveis
austeníticos contêm pelo menos 6% de níquel, já os ferríticos contêm pouca ou
nenhuma quantidade deste elemento. Já os aços inoxidáveis duplex contêm Ni, na
faixa de 1,5 a 7%. A Figura 2.4 apresenta a influência do níquel na microestrutura
resultante (IMOA, 2010).
30
Figura 2.3: Mudança da estrutura cristalina com a adição de Ni (IMOA, 2009).
Figura 2.4: Influência do Ni na microestrutura dos aços inoxidáveis (IMOA, 2009).
Nitrogênio: Os AIA podem conter também N na sua composição. O N contribui
bastante para a elevação da resistência à corrosão da liga. Sem dúvida se não fosse
pelo preço do nitrogênio, que ajuda a estabilizar estes aços, os aços inoxidáveis
austeníticos seriam ainda mais utilizados na indústria (ASM, 2008). Este elemento,
quando adicionado em aços inoxidáveis, fornece algumas qualidades positivas, tais
como promover a precipitação de austenita, a elevação da resistência mecânica da liga
e aumento da resistência à corrosão por pites (GUNN, 2003). O nitrogênio tem
também grande influência no processo de fabricação em alguns aços inoxidáveis
como, por exemplo, os superduplex (AISD) (IMOA, 2009). O N também atua
reduzindo energia de falha de empilhamento (EFE) e aumenta a taxa de
endurecimento da austenita (IMOA, 2009). Em contrapartida, a tenacidade diminuiu
expressivamente com o aumento da adição deste elemento (SOKEI et al., 2004).
A Figura 2.5 apresenta a influência do nitrogênio nas propriedades mecânicas
dos aços inoxidáveis austeníticos (AIA).
31
Figura 2.5: Efeito do nitrogênio nas propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis austeníticos
(Adaptada de IMOA, 2010).
Manganês: Este elemento possui a função de estabilizar a fase austenítica (IMOA,
2010), como pode ser notado na equação 2.1. Além da função de estabilizador, o
manganês também proporciona um aumento da resistência mecânica e da resistência
ao desgaste do material (IMOA, 2010).
Cobre: A inserção de cobre nos aços inoxidáveis austeníticos propicia uma redução
da taxa de corrosão em meios não oxidantes, tais como ácido sulfídrico e misturas
ácidas fosfóricas. É utilizado como elemento de liga em alguns HPASS que foram
especificados para trabalhar nestas condições de serviço (IMOA, 2010). O cobre
também é conhecido por diminuir acentuadamente a resistência mecânica do material
quando presente em sua composição. É caracterizado por ser um elemento
estabilizador de martensita e, com a adição de aproximadamente 1,2% favorece à
obtenção de uma austenita mais difícil de experimentar transformação martensítica
1200
1100
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
32
(PARDO, 2006). Segundo Gonzalez et al., (2003) a adição de cobre leva a uma
melhora na estampabilidade, entretanto não é recomendável adições de mais de 3% de
Cu na liga, pois pode diminuir a conformabilidade do aço e dificultar o processo de
deformação.
O cobre favorece o aumento da energia de falha de empilhamento (EFE) da
austenita, considerando que é um dos fatores importantes que controlam os
mecanismos de deformação. Cabe ressaltar que, a adição por volta de 3,2% de Cu
contribuí para diminuir a formação de martensita ε. Isto é devido ao fato de que uma
maior energia de falha de empilhamento (EFE) promove uma redução na
suscetibilidade de formação deste tipo de martensita. Altas EFE diminuem também a
susceptibilidade de corrosão sob tensão (CST) no material (GILAPA, 2011).
Titânio e Nióbio: O Titânio (Ti) e o Nióbio (Nb) são elementos estabilizadores e
servem para aumentar a resistência à corrosão intergranular melhorando também as
propriedades mecânicas em altas temperaturas dos AIA (ABDEL et al., 2006). Estes
dois elementos são utilizados nos AIA para formar carbonetos e nitretos estáveis
mitigando a sensitização.
Como comentado o Nb e o Ti são também responsáveis por fornecer alta
resistência em temperaturas elevadas. Por isso aços inoxidáveis austeníticos como o
AISI 321 e AISI 347, que contém Ti e Nb em suas composições, são amplamente
utilizados em fornos e outros equipamentos que necessitem operar em temperaturas
elevadas. Estes elementos também tem a importância de agir como desoxidantes, por
isso em alguns casos são encontrados como elementos residuais nos HPASS (IMOA,
2010).
Enxofre: Em geral, o enxofre (S) interage negativamente nas propriedades dos AIA.
Porém, o S é caracterizado por fornecer boa usinabilidadade ao material, ao passo que
seu maior ponto negativo é reduzir a trababilidade à quente. Por este fato os aços
inoxidáveis austeníticos de alta performance (HPASS) contêm teores extra baixos de
enxofre, próximos de 0,001% em peso (IMOA, 2010).
Fósforo: Este elemento não fornece benefícios efetivos e ainda introduz dificuldades
na trababilidade a quente nos processo de forjamento e laminação a quente. O fósforo
propicia o aparecimento de trincas a quente durante o processo de resfriamento após
soldagens e, por isso, é considerado como elemento residual (IMOA, 2010).
33
Carbono: A principal e talvez única função positiva deste elemento seja de atuar
como endurecedor da austenita, por isso é muito utilizado em materiais cujas
aplicações requeiram de alta resistência em elevadas temperaturas como, por exemplo,
em tubos de trocadores de calor. Porém, sabe-se que em quantidades elevadas pode
favorecer o aparecimento de oxidação em aços inoxidáveis austeníticos, levando em
alguns casos à corrosão intergranular (IMOA, 2010). Com intuito de evitar este tipo de
corrosão muitas vezes é selecionado o uso destes aços com o sufixo ‘’L’’, que
possuem baixa quantidade de carbono, dificultando a ocorrência de corrosão
intergranular nos AIA. Os aços inoxidáveis austeníticos (AIA) padrão designados para
serviços que envolvam soldagem (tipos 304L e 316L) limitam o teor de carbono em
0,030% no entanto, alguns aços de alta performance limitam o teor de carbono por
volta de 0,020% (IMOA 2010).
É possível verificar, que se mantido em solução sólida o carbono tem um fator
relevante na resistência à corrosão por pite, representada pelo numero PREN (Piting
Resistence Equivalent Number) dada pela expressão 2.3 (ASM, 2008).
2.3
O carbono é considerado normalmente como uma impureza indesejada nos
AIA. Enquanto ele estabiliza a estrutura também tem uma elevada afinidade
termodinâmica com o cromo, de modo que se formam com facilidade carbonetos de
cromo M23C6 (ASM, 2008), fenômeno estudado na seção 2.1.1.4 neste trabalho. O
carbono sempre foi considerado completamente indesejável do ponto de vista da
corrosão devido à sua tendência de formar carbonetos de Cromo. Entretanto,
recentemente, um novo processo tem sido desenvolvido para supersaturar carbono na
austenita em temperaturas abaixo as quais ele tem mobilidade suficiente para formar
carbonetos. A austenita resultante deste processo possui alta dureza e elevada
resistência à corrosão. A partir destes resultados o carbono assim como o nitrogênio é
considerado atualmente como elemento benéfico na resistência à corrosão quando se
encontram em solução sólida, embora isso não seja observado em diversos estudos de
modo geral (ASM, 2008).
A seguir são elencadas as principais fases secundárias, indesejáveis, que podem estar
presentes nos aços inoxidáveis austeníticos:
34
Fase sigma (): Talvez seja a fase mais prejudicial que pode precipitar nos aços
inoxidáveis austeníticos, pois leva a uma perda de ductilidade e tenacidade do material
(SEDRIKS, 1996). Nos AIA é caracterizada por ser uma fase deletéria dura e frágil
rica e Cr e Mo. Possui elevada dureza pela dificuldade de gerar discordâncias móveis
(RAMÍREZ LONDOÑO, 1997). Seu surgimento é dependente da composição química
do material e se forma entre as temperaturas de 600 e 1000ºC. A fase sigma promove
forte redução na tenacidade ao impacto e perda de resistência à corrosão, além da
queda do alongamento.
A fase σ é comum aparecer em AIA que possuem mais de 16% Cr e menos de
32% Ni. Possui estrutura tetragonal (grupo de espaçamento P42/mnm), contendo 30
átomos por unidade de célula com parâmetros de rede a=8,8 Å e c = 4,544 Å. O
aparecimento desta fase é favorecida por altos níveis de Cr, Si, Mo, Ti, trabalho a frio
e pequeno tamanho de grão (RAMÍREZ LONDOÑO, 1997). A fase σ, no aço AISI
316, já foi encontrada com a seguinte composição em peso: 55% Fe, 29% Cr, 11% Mo
e 5% Ni. A cinética de precipitação, neste aço, se mostrou bastante lenta, nucleando-se
sempre incoerentemente com a matriz em locais de alta energia, como em contornos
de grão e maclas (PADILHA & GUEDES, 1994). Deste modo, a fase sigma leva a um
empobrecimento da matriz em elementos tais como: Cr, Mo, Ti, Nb e V.
Como mencionado, o limite inferior de temperatura para ocorrência de
precipitação desta fase intermetálica está em torno de 600oC e considera-se que em
valores abaixo desta temperatura a cinética de precipitação é bastante lenta
(PADILHA & GUEDES, 1994; MACHADO, 1999). Foi observado também que a
fase σ, nos aços inoxidáveis austeníticos, tem sua fração em volume tão maior quanto
maior a temperatura de envelhecimento. Outros estudos atribuem o local de
precipitação da fase sigma primeiro nos pontos triplos, depois nos contornos de grão e
depois de longo tempo em altas temperaturas, em maclas incoerentes e inclusões
intergranulares (KÄLLQVIST & ANDRÉN, 1999).
Fase Chi (χ): Esta fase tem como estrutura Fe36Cr12Mo10 e possui estrutura cúbica.
Assim como a fase sigma, a fase chi é frágil e reduz significativamente a resistência à
corrosão do aço, pois regiões adjacentes a esta fase estarão com baixos teores de
cromo e molibdênio (IMOA, 2010). Seu aparecimento está relacionado principalmente
à quantidade de Mo presente na liga, normalmente para teores superiores a 3% em
ligas Fe-Cr-Ni. A fase chi tem características similares à fase sigma, porém possui
35
como grande diferencial a capacidade de dissolver carbono. O nitrogênio influencia a
cinética de precipitação da fase χ, atrasando-a conforme a adição deste elemento
(SOKEI et al., 2004).
Estudos recentes avaliaram que para os aços inoxidáveis austeníticos ISO
5832-9, a fragilidade ocorre na faixa dos 800oC devido à presença da fase χ no
material envelhecido durante quatro horas. Portanto, cabe ressaltar que essa fase é
responsável, na grande maioria das vezes, da queda de tenacidade dos AIA (SOKEI et
al., 2004).
Fase Laves: A fase Laves, Fe2Mo, Fe2Ti, Fe2Nb, pode surgir nos aços inoxidáveis
austeníticos que possuem teor de molibdênio superior a 2% quando submetidos a
longos períodos de tratamentos térmicos de envelhecimento. A estrutura desta fase é
hexagonal e, possui os seguintes parâmetros de rede: a= 4,73 Å e c= 7,72-7,78Å. Essa
fase tem como características: alta capacidade de dissolver carbono, promover a queda
de ductibilidade no material e empobrecer a matriz em Mo, Ti, Nb (SOKEI et al.,
2004). O fato desta fase ter efeitos negativos na resistência à fluência, ainda não foram
confirmados (SOURMAIL, 2001).
Nos aços inoxidáveis austeníticos (AIA), além dos elementos de liga e fases descritos
anteriormente é importante citar a possível presença de carbonetos e nitretos, que
normalmente surgem devido ao fenômeno de sensitização, precipitando nos contornos de
grão. Nos AIA pode ocorrer precipitação de nitretos e carbonetos, pois a solubilidade do
carbono e nitrogênio cai significativamente em temperaturas abaixo de 1100oC (MACHADO,
1995). É considerado como patamar inferior para precipitação de tais fases intermetálicas a
faixa de 600oC, pois abaixo deste valor a precipitação se da de forma muito lenta.
A Figura 2.6 apresenta um esquema de rápida compreensão contendo os AIA mais
utilizados e os respectivos efeitos dos elementos de liga inseridos em sua composição
química.
36
Figura 2.6: Diagrama esquemático da influência de elementos de liga nos AIA (Adaptada de
LEE et al., 2010).
2.1.1.1 Propriedades Mecânicas
Devido à variedade de aços série 300, que abrangem os AIA, os mesmos exibem
ampla faixa de propriedades mecânicas, oferecendo boa ductilidade, tenacidade e resistência a
altas e baixas temperaturas, além de possuírem boa trababilidade, soldabilidade e melhor
resistência à fluência que os aços inoxidáveis ferríticos (ASM, 2008).
Os aços inoxidáveis austeníticos possuem tensão limite de escoamento 0,2%, na faixa
de 200 a 250 MPa, tensão limite de resistência entre 450 a 750 MPa e alongamento total na
faixa de 35 a 45% no estado solubilizado. A Tabela 2.3 apresenta as propriedades mecânicas
AISI 316
Adicionar Molibdênio
para aumentar a
Resistência a Corrosão
por Pite
AISI 304
Fe-18Cr-8Ni
AISI 347
AISI 321
Adicionar Nióbio para
evitar a Sensitização
Adicionar Titânio para
evitar a Sensitização
Reduzir a
quantidade de
Carbono para
minimizar a
Sensitização
AISI 316 L
AISI 304 L
37
de alguns AIA à temperatura ambiente em estado solubilizado, conforme a especificação
ASTM A240, (2014).
Tabela 2.3: Propriedades mecânicas à temperatura ambiente, segundo ASTM A240, de alguns
AIA solubilizados. LR- Limite de resistência. LE – Limite de escoamento (GILAPA, 2011).
Material DESIGNAÇÃO
UNS
LR
(MPa)
LE
(MPa)
Deformação (%)
em 50 mm
Dureza
HBmáx
AISI 301 UNS S30100 515 205 40 217
AISI 304 UNS S30400 515 205 40 201
AISI 316 UNS S31600 515 205 40 217
AISI 316L UNS S31603 485 170 40 217
AISI 316LN UNS S 31653 515 205 40 217
AISI 317 UNS S31700 515 205 40 217
AISI 317L UNS S31703 515 205 40 217
AISI 317LN UNS S31753 550 240 40 217
AISI 321 UNS S32100 515 205 40 217
AISI 347 UNS S34700 515 205 40 201
AISI 904L UNS N08904 420 220 40 ---
Algumas classes de AIA são metaestáveis e podem sofrer transformação por
deformação plástica da austenita inicial (γ), CFC, em martensita épsilon (ε), HCP,
paramagnética ou, em martensita (α΄), CCC, magnética. Esta transformação de fase além de
gerar uma mudança de propriedades magnéticas, gera um incremento da resistência mecânica
do material (IMOA, 2010).
O trabalho a frio nos aços inoxidáveis austeníticos é comumente utilizado devido à
robustez alcançada nas propriedades mecânicas. Poucos materiais metálicos podem consolidar
uma ótima resistência como os austeníticos conseguem. Alguns dos efeitos da transformação
martensítica estão representados na Figura 2.7. Cabe destacar que quando trabalhado a frio, o
material pode manter uma alta tensão de ruptura aliada a uma grande ductibilidade (ASM,
2008).
38
Figura. 2.7: Efeitos do trabalho a frio na ductibilidade e resistência do HPASS 6% Mo –
0,2%N (Adaptada de IMOA, 2010).
Portanto, a estrutura CFC confere boas propriedades mecânicas aos aços inoxidáveis
austeníticos e também fornece boa ductibilidade e resistência para serviços em temperaturas
elevadas. O trabalho a frio, nos AIA tem grande efeito no aumento da tensão limite de ruptura
de escoamento como pode ser observado na Figura 2.7.
A estabilidade da austenita é influenciada pela composição química do material e pela
temperatura. Alguns outros fatores preponderantes são o tamanho de grão, a taxa de
deformação e o estado de tensão. A transformação martensítica gera um incremento da
resistência, devido ao fato da martensita ser mais resistente do que a austenita
(LICHTENEFELD et al., 2006). Neste sentido a transformação martensítica e suas
consequências no aço inoxidável austenítico AISI 321, é o principal foco deste estudo e será
abordada com maior detalhe na seção 2.1.1.5.
Também é possível aumentar a resistência do material através da inserção de
elementos de liga em solução sólida na austenita. Como dito anteriormente, o carbono e
nitrogênio tem grande destaque como mecanismo de endurecimento por solução sólida
intersticial (PADILHA & GUEDES, 1994).
Alguns estudos relacionam a tensão limite de escoamento (LE) e tensão limite de
resistência (LR) para os aços austeníticos de acordo com as equações a seguir (ASM, 2008):
Ten
são
Lim
ite
de
Res
istê
nci
a –
Ten
são
Lim
ite
de
Esc
oam
ento
(MP
a)
Trabalho a Frio (%)
Alo
ng
amen
to (
%)
39
Outras pesquisas especificam as duas relações anteriores de outra forma, tal como
apresentado nas equações 2.6 e 2.7 (ASM, 2008):
Onde d representa o diâmetro médio do grão, em milímetros e δ representa a
porcentagem de ferrita (δ) presente no material. A acuracidade do resultado obtido com as
equações anteriores chega em torno de 20MPA e podem ser aplicadas tanto em aços
austeníticos quanto em duplex. É recomendado, sempre que se deseje fazer valer a influência
do carbono, que se utilizem as equações 2.4 e 2.5 ao invés das 2.6 e 2.7 (ASM, 2008).
Os AIA não possuem um ponto característico de tensão de escoamento, mas podem
começar a deformar plasticamente mesmo abaixo dos 40% do valor de tensão limite de
escoamento. Como via de regra, adota-se que em valores abaixo da metade da tensão limite de
escoamento a deformação é considerada completamente elástica e, em tensões de até 2/3 da
tensão de escoamento é produzida adicionalmente uma pequena deformação plástica. Esse
comportamento quase elástico é devido aos sistemas de escorregamentos de planos que
ocorrem em estruturas CFC, característica dos aços inoxidáveis austeníticos. Quando o
material é submetido a este tipo de deformação, provocada pelo trabalho a frio, as
40
discordâncias travam em determinados locais e formam um arranjo mais estável acarretando
em um valor de tensão limite de escoamento maior (ASM, 2008):
Outra importante característica dos AIA é a ausência de transição dúctil frágil, patamar
este existente nos materiais ferríticos e duplex. A Figura 2.8 apresenta as curvas de tenacidade
ao impacto desses tipos de aços inoxidáveis em estado solubilizado vs a temperatura de ensaio
do material. A ausência dessa transição, nos AIA, é atribuída à multiplicidade de meios de
planos de deslizamentos que podem ocorrer em uma estrutura CFC e, ao fato de não requerer
de ativação térmica. Este fato torna os AIA ótimos para utilização em temperaturas
criogênicas, tais como vasos de pressão contendo nitrogênio líquido (ASM, 2008). Entretanto,
nos AIA com susceptibilidade de precipitação de martensita (CCC), a tenacidade pode
experimentar uma queda se comparada com aqueles AIA com pouca susceptibilidade de
precipitação, tal como o AISI 310S.
Figura 2.8: Valores de tenacidade ao impacto com a variação de temperatura para os AI: (a)
austenítico, (b) duplex, (c) ferrítico (ASM, 2008).
2.1.1.2 Fenômeno de Sensitização
O fenômeno de sensitização ocorre quando os AIA são utilizados em serviço na faixa
de temperatura entre 500-800oC. Nesta faixa de temperatura pode ocorrer o processo de
corrosão intergranular quando o AIA é exposto a ambientes contendo ácido clorídrico ou soda
cáustica, levando a falhas prematuras do material. Neste contexto, os carbonetos M23C6
precipitam-se nos contornos de grãos e, consequentemente, levam ao empobrecimento de Cr
nas áreas adjacentes destes precipitados (PARDO, 2006).
Temperatura (oC)
Ten
acid
ade
(J)
41
O principal fator que leva à corrosão intergranular é a existência de um gradiente de
composição química quando comparadas a matriz com o contorno de grão. Mesmo que os
elementos presentes na liga façam com que ocorra a formação de camada passiva na estrutura,
a corrosão ainda pode existir devido à diferença de potencial eletroquímico existente entre
estas regiões com composições ou proporções químicas, muito divergentes (PELLICCIONE
et al., 2012).
No caso dos AI a corrosão intergranular ocorre devido a esta diferença de composição
química atrelada ao empobrecimento de cromo em regiões próximas aos contornos de grão
em consequência da formação de carbonetos, sendo este fenômeno conhecido como
sensitização. Os átomos de cromo que anteriormente se apresentavam em solução sólida no
aço difundem para os contornos de grão formando carbonetos de cromo, comprometendo a
resistência à corrosão do material (PELLICCIONE et al., 2012).
A Figura 2.9 ilustra esquematicamente o mecanismo do processo de sensitização do
material em decorrência da precipitação de carbonetos de cromo.
Figura 2.9: Representação esquemática do material sensitizado em decorrência da formação
de carbonetos de cromo (Cr23C6) nos contornos de grão (NUCLEOINOX, 2014)
As temperaturas típicas de ocorrência do fenômeno de sensitização podem ser
oriundas da realização de tratamentos térmicos para alívio de tensão (TTAT), serviços
prolongados de equipamentos de AIA que operem em altas temperaturas, tratamentos
térmicos impróprios, ou se manifeste na zona termicamente afetada (ZTA) de uma junta
soldada, dentre outros processos (PARDO, 2006).
42
Existem basicamente duas maneiras de mitigar os riscos de ocorrência de corrosão
intergranular ou sensitização. A primeira é reduzir o teor de carbono na liga, deste modo se
torna mais difícil a precipitação de carbonetos de cromo e outras fases, porém não inibe por
completo o seu surgimento. A segunda maneira é inserir elementos na liga afins pelo C em
determinadas temperaturas. Desta maneira, serão precipitados carbonetos sob certas condições
de tratamentos onde, estes elementos possuem maior afinidade com o carbono do que pelo
cromo. Deste modo, o cromo ficará livre na matriz austenita conferindo boa resistência à
corrosão ao material. Os elementos mais utilizados com esta finalidade são o nióbio (Nb) e o
titânio (Ti), que formam carbonetos muito mais estáveis, dependendo da temperatura, com o
carbono quando comparado com o Cr23C6 (PARDO, 2006; PELLICCIONE et al., 2012). Um
tratamento térmico, denominado de estabilização, é realizado em AIA que contenham Ti e
Nb, sendo uma das medidas para mitigar a ocorrência do fenômeno de sensitização. Os AI
que possuem esses elementos estabilizadores são chamados de aços estabilizados. Estes aços
serão abordados em detalhe na seção 2.1.1.4.
Estudos realizados nos AIA AISI 321, AISI 304L, 316L e o AISI 347, confirmaram
que todos estes aços supracitados não apresentam o fenômeno de sensitização na temperatura
de dissulfurização utilizadas nas refinarias, sendo esta por volta dos 380oC. Entretanto, a faixa
de 500oC é crítica para o aparecimento de carbonetos de cromo nos aços referenciados com a
exceção do AISI 347. Para este aço, a faixa crítica é por volta de 550oC. Foi também
comprovado empiricamente que os aços estabilizados são mais eficientes em combater à
sensitização do que os aços baixo carbono. Além disso, o Nb é mais eficiente que o Ti como
agente estabilizador (LIMA NETO et al., 2005).
A taxa de difusão nos AIA é suficiente para o carbono e cromo se segregarem no
contorno de grão. Neste sentido, a solubilidade do carbono na austenita é por volta de 0,4% na
solidificação, mas decresce com a queda da temperatura.
Em temperatura ambiente muito pouco do carbono fica solubilizado na austenita,
mesmo em uma liga contendo 0,03% de carbono a grande maioria do carbono fica em solução
supersaturada. A ausência de carbonetos nos aços inoxidáveis austeníticos é devido à baixa
taxa de difusão do carbono e também à baixa difusão do cromo na austenita. Em uma
quantidade de 0,06% de carbono presente na estrutura, tal como acontece no AISI 304, a
supersaturação é obtida por volta dos 850oC. Abaixo desta temperatura, a supersaturação
aumenta exponencialmente, enquanto a difusão decresce exponencialmente. Nesta faixa de
temperatura, a difusão nos contornos de grão é muito mais rápida do que no seio do grão.
Portanto, os contornos de grão são locais propícios de nucleação de carbonetos de cromo. A
43
Figura 2.10 mostra que, em certas regiões próximas do contorno, a porcentagem de cromo no
material é tão baixa que não se pode considerar sequer a liga como inoxidável (ASM, 2008).
Figura 2.10: Empobrecimento de cromo no AIA próximo ao contorno de grão devido à
precipitação de carbonetos de cromo (ASM, 2008).
A zona empobrecida em cromo se torna muito instável e é muito mais propicia a
formação de martensita quando deformada a frio (ASM, 2008).
Para restabelecer as propriedades dos AIA após o fenômeno de sensitização, um longo
tratamento térmico é requerido para eliminar as zonas empobrecidas em Cromo,
homogeneizando o mesmo na estrutura. O tratamento indicado é o denominado de
solubilização, que será abordado na seção 2.1.1.3.1 (ASM, 2008).
É importante destacar que não somente os carbonetos de cromo levam à queda da
resistência à corrosão, outras fases como a sigma e chi também agravam esta situação pois
retiram tanto cromo como molibdênio da matriz austenítica (PARDO, 2006). Elementos de
liga podem ter uma influência maior na precipitação de carbonetos devido a seu efeito na
solubilidade do carbono na austenita. Molibdênio e níquel aceleram a precipitação diminuindo
a solubilidade do carbono. Cromo e nitrogênio aumentam a solubilidade do carbono
retardando e diminuindo a precipitação de carbonetos. O nitrogênio, em particular, é muito
útil nesse ponto (ASM, 2008). A Figura 2.11 ilustra a influência do N no retardamento do
aparecimento de carbonetos durante trabalhos/tratamentos térmicos em temperaturas elevadas.
Zona empobrecida em Cromo
44
Figura 2.11: Cinética de precipitação de M23C6 para diversos teores de nitrogênio (Adaptada
de ASM, 2008).
Nota-se na Figura 2.11 que quanto mais nitrogênio é adicionado ao material maior é o
tempo que o aço inoxidável deve ser submetido a altas temperaturas para que aconteça a
precipitação de carbonetos de cromo.
Em determinadas situações, durante a inspeção de componentes, é dificultosa a
detecção da ocorrência do fenômeno de sensitização (PELLICCIONE et al., 2012), embora
recentemente, técnicas de caracterização não destrutivas por meio de réplicas metalográficas e
de ensaios eletroquímicos de polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) fazendo
uso de uma célula portátil mostrada na Figura 2.12, foram aplicadas em um espelho de um
gerador de gás inerte construído em AISI 310S com intuito de caracterizar a formação de
carbonetos de cromo e outras fases deletérias (ENNES, 2013). O ensaio de PERC fazendo uso
da célula portátil mencionada foi aplicado, no presente trabalho, para avaliar a resistência à
corrosão das amostras de AISI 321 estudadas.
Tempo (h)
Tem
per
atura
(oC
) N: 0,039%
N: 0,069%
N: 0,145%
N: 0,247%
0,01 0,1 1 10 100 1000 h
500
600
700
800
900
1000
M23C6
45
Figura 2.12: Célula portátil utilizada para ensaio de PERC (ENNES, 2013).
A técnica PERC, baseia-se no fato de que ao diminuir-se o potencial aplicado ao
material, a partir de uma condição onde este se apresenta completamente passivado, haverá a
quebra da película passiva preferencialmente nas zonas empobrecidas em Cr. Os resultados do
ensaio de polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) são avaliados através da
relação entre a corrente de reativação (Ir) e a corrente de ativação (Ia).
De acordo com alguns autores a taxa Ir/Ia pode ser relacionada com as três
microestruturas citadas na norma ASTM A262, (2010):
Ir/Ia <0,001 – step (sem indícios de sensitização);
0,001< Ir/Ia < 0,05 – dual (levemente sensitizada);
Ir/Ia >0,05 ditch (completamente sensitizado).
A análise comparativa das Figuras 2.13 e 2.14 exibe as consequências decorrentes do
fenômeno de sensitização. A Figura 2.13 corresponde a uma análise metalográfica do AIA
AISI 321 na condição solubilizado a 1100oC, ou seja sem indícios de sensitização. Nota-se a
presença dos nitretos de titânio (indicados por setas) e a estrutura em forma de degraus (step).
Já a Figura 2.14 mostra a metalografia de uma amostra de AISI 321 após envelhecimento a
600oC durante 24h sem tratamento prévio de estabilização, portanto a amostra apresenta alto
grau de sensitização, como pode ser observado nos contornos de grão (MOURA et. al., 2008).
46
Figura 2.13: Amostra solubilizada de AISI 321. As partículas de nitreto de titânio (TiN) estão
indicadas por setas (MOURA et. al., 2008).
Figura 2.14: Amostra de AISI 321 envelhecida a 600oC por 24 horas sem tratamento de
estabilização prévio. Estrutura sensitizada (MOURA et. al., 2008).
Moura et al. (2008), em um estudo recente no AIA AISI 321 utilizaram a técnica de
PERC empregando a solução padrão composta de 0,5 M H2SO4 + 0,01 M KSCN em uma
célula laboratorial fazendo uso de um potenciostato (MOURA et. al., 2008). Neste trabalho,
conforme descrito na seção 3.9, foram empregados no ensaio de PERC os mesmos parâmetros
e composição da solução característica, tal como efetudo por Moura et al., (2008).
47
2.1.1.3 Tratamentos Térmicos
Os tratamentos térmicos utilizados no AIA são somente aplicados para remover efeitos
de tensões residuais ou também para homogeneizar a microestrutura de modo dissolver fases
indesejadas (IMOA, 2010).
Para realização do tratamento térmico nos AIA é necessário que sejam removidos
todas as graxas, óleos e outros contaminantes presentes no material antes do procedimento.
Contaminantes contendo carbono são agentes indesejáveis, pois podem carbonizar e sensitizar
a superfície, levando a um aumento na susceptibilidade de corrosão intergranular.
Nas seções seguintes são descritos em detalhe os tratamentos térmicos usuais
aplicados a AIA.
2.1.1.3.1 Solubilização
O tratamento térmico de solubilização é realizado tanto após o processo de trabalho a
frio do material assim como para dissolver as fases secundarias que podem precipitar durante
trabalhos de soldagem em AIA. A solubilização também reduz as tensões residuais que
podem ser desenvolvidas durante a realização de soldagem, diminuindo o risco de ocorrer
corrosão sob tensão (CST). A condição solubilizada produz a melhor resistência à corrosão e
ductilidade possível para os AIA.
A atmosfera utilizada para realização do tratamento de solubilização normalmente é o
ar atmosférico, porém esta produz uma pequena camada de óxido que posteriormente deve ser
removida para restaurar a resistência à corrosão. No entanto, são também utilizadas
atmosferas de argônio (Ar), hélio (He), hidrogênio (H), vácuo, dentre outras de modo a
prevenir à formação de óxidos na superfície da peça, se tornando desnecessária a limpeza
posterior nesses casos (IMOA, 2010).
O método comunmente utilizado para limpeza da camada de óxidos é o pickling que
pode ser realizada pela aplicação de spray, gel ou pastas.
A espessura e coloração da camada de óxido formado superficialmente são
influenciadas pela temperatura e o tempo de tratamento térmico. Quanto maior a temperatura
e o tempo de exposição, maior a espessura da camada e mais escura esta ficará.
O aço inoxidável logo abaixo da camada de óxido tem uma resistência à corrosão
menor do que a material base, por conta da difusão de cromo na composição do óxido vindo
48
do metal durante a sua formação e posterior crescimento da camada. Portanto, na situação
descrita, haverá locais com quantidade de cromo menores que 10,5%, tal como descrito na
Figura 2.15. Deste modo, tanto a superfície oxidada quanto a zona empobrecida devem ser
removidas após o tratamento térmico, para posterior aplicação industrial do material (IMOA,
2010).
Figura 2.15: Esquema da concentração de cromo abaixo da camada de óxido da superfície. Ao
lado direito da figura exibe-se o perfil da quantidade de cromo (Adaptada de IMOA, 2010).
A combinação de elementos com baixo ponto de fusão, como cobre e zinco pode
resultar nociva, pois esses elementos podem penetrar no contorno de grão durante a realização
do tratamento térmico e resultar no processo chamado de fragilização por metal líquido.
Portanto, cuidados especiais na manipulação e limpeza devem ser considerados previamente à
realização de tratamentos térmicos e soldagens (IMOA, 2010).
A temperatura de solubilização deve estar acima daquela que assegure toda a
dissolução dos precipitados restaurando a resistência à corrosão do material. Para todos os
efeitos deve-se manter a temperatura em 2 a 3 minutos por milímetro de espessura, sendo o
suficiente para amolecer o material e dissolver pequenas quantidades de carbonetos e outras
fases secundárias. Se o material apresentar fases intermetálicas previas à solubilização, tais
como χ e σ, mais tempo será requerido para dissolver por completo esses elementos. Por outra
parte, o limite superior desta temperatura é determinado pela taxa de aquecimento e
considerações no tamanho da seção do material em questão. No entanto, deve-se evitar um
tempo excessivo, pois surgirão óxidos indesejáveis na sua superfície (IMOA, 2010). Desta
49
maneira a Tabela 2.4 apresenta as temperaturas mínimas de solubilização de modo a evitar a
formação de precipitados indesejáveis para algumas designações de AIA.
Tabela 2.4: Temperaturas mínimas de solubilização de alguns AI (Adaptada de IMOA, 2010).
UNS Denominação Temperatura de Solubilização
(oC)
S20101 AISI 201 1040
S30400/S30403 AISI 304 1040
S30409 AISI 304H 1040
S31600/S31603 AISI 316/316L 1040
S34700 AISI 347 1040
N08020 Liga 20, 20Cb-3 1150
N08904 904L 1095
N08367 AL-6XN 1105
S31254 254 SMO 1150
No tratamento de solubilização, o resfriamento deve ser realizado rapidamente para
evitar o aparecimento de carbonetos de cromo e outros precipitados. O método de
resfriamento depende de fatores como a espessura da peça e a composição química do aço
utilizado. Na maioria das situações, para o 304L e 316L pode ser resfriado ao ar. Conforme o
aumento do tamanho da seção, da quantidade de carbono e de outros elementos de liga, mais
enérgico deverá ser realizado o resfriamento (IMOA, 2010).
2.1.1.3.2 Alívio de Tensão
Nos AIA as temperaturas de alívio de tensões são menores que as de solubilização,
não sendo o suficientemente elevada para dissolver os precipitados e gerar o aumento de
ductilidade do material. O alívio de tensões remove alguma, porém não toda a tensão residual
do material. Este tipo de tratamento térmico é demorado quando se comparado com a
solubilização (IMOA, 2010).
Segundo IMOA, (2010) trabalhar com baixa temperatura de alivio de tensões nos AIA
significa trabalhar até a faixa de 540oC, de modo a minimizar a precipitação de carboneto de
cromo dependendo da composição da liga. Essa faixa é considerada segura, porém não alivia
grande parte das tensões residuais (IMOA, 2010).
50
Uma segunda faixa de trabalho, com temperatura intermediaria entre 540 e 900ºC, tem
um melhor resultado no que concerne ao alívio de tensões residuais, entretanto é preciso ter
muito cuidado nessa faixa de temperatura, pois haverá uma maior susceptibilidade de
precipitação de carbonetos de cromo. É válido ressaltar que a maior parte do alívio de tensões
ocorre nos primeiros minutos de tratamento térmico como pode ser observado na Figura 2.16,
para o AIA AISI 347, onde a tensão residual antes do tratamento é de 230 MPa (IMOA,
2010).
Figura 2.16: Percentual de alívio de tensão no AIA AISI 347 em função da temperatura e do
tempo de tratamento térmico de alívio de tensão (TTAT) (Adaptada de IMOA, 2010).
Quando são empregadas temperaturas intermediárias de alívio de tensões é necessário
se atentar para o efeito cumulativo de ciclo térmico de alívio da peça. Esse ciclo inclui o
aquecimento, a estabilização na temperatura e o resfriamento. Neste sentido, componentes
contendo soldas podem ser mais suscetíveis à precipitação de fases secundarias ou mais
susceptíveis à corrosão (IMOA, 2010).
2.1.1.3.3 Estabilização
Outro tratamento térmico muito utilizado em determinados tipos de AIA é o de
estabilização. Este tratamento é de aplicação no AIA estudado na presente dissertação,
Tempo de Tratamento de Alívio de Tensões (h)
Ten
são
Res
idu
al A
liv
iad
a (%
)
51
portanto sua abordagem será detalhada de maneira mais abrangente nas seções 2.1.1.4 e
2.1.1.4.1.
2.1.1.4 Aços Inoxidáveis Austeníticos Estabilizados
Os AIA estabilizados são materiais que apresentam uma ampla variedade de
aplicações, sendo as duas designações mais utilizadas o AISI 321 e o AISI 347. O AISI 321,
estabilizado ao titânio, e o AISI 347, estabilizado ao nióbio, muitas vezes são utilizados em
equipamentos submetidos a altas temperaturas devido a sua elevada resistência à fluência,
característica atribuída aos finos carbonetos de Ti e Nb precipitados nos contornos de grão de
uma estrutura CFC (MOURA et. al., 2008). É comum, nos AIA estabilizados, os carbonetos
precipitarem intergranularmente nas discordâncias e/ou em regiões com alta energia de falha
de empilhamento (EFE), dentro da matriz (KÄLLQVIST & ANDRÉN, 1999).
Estes aços não são fornecidos previamente estabilizados, ou seja, é necessário que o
comprador, após adquirir o material, realize o tratamento térmico de estabilização de modo a
garantir as propriedades desejadas. A norma ASTM A358, (2001) estabelece que a
temperatura de estabilização deva ser de acordo mutuo entre o fabricante e o cliente.
Estudos recentes avaliaram as mudanças microestruturais ocorridas no aço inoxidável
austenítico AISI 347 solubilizado quando submetido a posterior tratamento de
envelhecimento (KÄLLQVIST & ANDRÉN, 1999). Neste estudo, foi observado que,
tanto na condição solubilizada quanto na envelhecida, a 500oC por 46675 h, o carbono e o
nióbio permaneceram dissolvidos na matriz. Porém, ao se elevar a temperatura de
envelhecimento até a faixa 600 a 700oC praticamente todo carbono e nióbio foram
precipitados (KÄLLQVIST & ANDRÉN, 1999).
2.1.1.4.1 AISI 321
O aço inoxidável AISI 321 é muito utilizado na fabricação de componentes da
indústria aeroespacial e em sistemas de exaustão a quente, sendo conhecido por possuir boa
conformabilidade, alta resistência à corrosão e elevada dureza em temperaturas criogênicas
(JHA et al., 2008).
Assim como comentado na seção 2.1.1.2, nesta classe de AIA deve-ser efetuado um
tratamento térmico de estabilização entre 850 e 950oC para logo poder o material ficar
52
exposto a temperaturas da ordem de 600oC sem riscos de sensitizar., conforme apresentado na
Figura 2.17.
Figura 2.17: Curva esquemática TTT para os precipitados TiC e Cr23C6 (Adaptada de
MOURA et al., 2008).
Resultados de estudos anteriores afirmam que a estabilização no aço inoxidável
austenítico AISI 321 é efetiva à temperatura de 900oC mas, não à temperatura de 1000
oC
(SOUSA et al., 2006). Já Moura et al., (2008) verificaram que o tratamento de estabilização
pode ocorrer, no AISI 321, em temperaturas acima de 950oC, pois as amostras estabilizadas a
975oC e 1000
oC apresentaram somente um pequeno grau de sensitização quando expostas
posteriormente a uma temperatura de 600oC por um período de 100h.
Cabe ressaltar que o nitrogênio também compete com o carbono pelo titânio presente
nos AIA AISI 321 para formação de nitretos. Portanto, é necessário ter titânio suficiente para
combinar com todo o carbono presente estequiometricamente (ASM, 2008). Para isto, é
necessário que o percentual em peso de titânio exceda cinco vezes o de carbono mais o de
nitrogênio. Entretanto, para o caso do AISI 321H esta razão deve exceder pelo menos quatro
vezes (ASTM A240, 2014; ASTM A312, 2014).
Recentemente, foi abordada a influência da precipitação de carbonetos de titânio na
dureza do AIA AISI 321 (MOURA et al., 2008). Os resultados, apresentados na Figura 2.18,
mostraram que finos carbonetos de titânio, precipitados no intervalo de 800 a 900oC,
aumentam a dureza. Este aumento foi obtido quando o tratamento de estabilização ocorreu na
faixa de temperatura citada, porém observou-se que em temperaturas acima de 900oC ocorre
um decréscimo da dureza devido a presença de precipitados de carbonetos de titânio mais
grosseiros. Por este motivo as amostras tratadas 1000oC tiveram a menor dureza encontrada.
1100 Temperatura de Solubilização
T (oC)
Tempo (h)
950
850
600
TiC
Cr23C6
~ 1 h
53
A partir de 1000oC, o material apresentou novamente um incremento no valor de dureza
devido à dissolução parcial do TiC e o endurecimento por solução sólida da austenita pela
ação do carbono dissolvido (MOURA et al., 2008).
Figura 2.18: Dureza vs temperatura de estabilização para o AISI 321 (Adaptada de MOURA
et al., 2008).
Os efeitos da relação entre os carbonetos presentes nos contornos de grão e os grãos
adjacentes em um material submetido à fluência creep foi investigada no aço inoxidável AISI
321. O contato interfacial entre os TiC nos contornos e os grãos vizinhos, mostraram índices
de Miller menores do que aqueles entre Cr23C6 e os seus grãos adjacentes, sugerindo que a
energia livre interfacial entre os TiC e os grãos próximos é menor do que dos Cr23C6 com os
seus respectivos grãos. Ainda tratando deste assunto, foi verificado que a formação e o
crescimento das cavidades nos contornos do TiC é mais retardada do que nos Cr23C6, levando
a extensão da vida à fluência ou creep do aço AISI 321 (MIN & NAM, 2003).
2.1.1.5 Transformação Martensítica por Deformação a Frio
Dentre outros, os aços inoxidáveis austeníticos tais como os AISI 301, 304, 316 e 321,
são suscetíveis de transformação martensítica induzida por deformação. A austenita
Temperatura de Estabilização (oC)
Dure
za (
HV
30)
Grosseiros
Dissolução
Condição Solubilizado
54
transforma-se em martensita via deslocamento do plano atômico. Dois tipos distintos de
martensita podem ser formados: épsilon (ε) que é uma martensita paramagnética, que
precipita na forma hexagonal compacta (HC), e a martensita α’, que é ferromagnética, de
estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) com a mesma configuração cristalográfica de ferrita
(SMAGA et al., 2008).
Este tipo de transformação pode levar a efeitos tanto positivos quanto negativos para
um metal. O lado positivo é que eleva a dureza e a transformação induz os efeitos de
plasticidade (TRIP), levando a um aumento na resistência. Porém sabe-se que a deformação
plástica destes materiais também acarretam redução relativa da ductibilidade e aumentos
locais na dureza. Por conta destes importantes efeitos, uma análise mais próxima das
consequências da transformação martensítica em aços austeníticos metaestáveis é um
requerimento fundamental para uma aplicação econômica, viável e segura em indústrias como
a nuclear, química e energética (SMAGA et al., 2008).
A martensita ε precipita inicialmente em até o máximo de 5% em estágios iniciais de
deformação, ou seja, com pequenos valores de deformação verdadeira (εv). Com o incremento
da εv a martensita α’ passa a surgir no seio da estrutura austenítica.
A transformação martensítica é uma transformação de fase adifusional e a mudança de
estrutura se da devido uma deformação homogênea da fase geradora, portanto é inevitável que
a martensita formada apresente o mesmo número de átomos do cristal da fase mãe que o
formou (GILAPA, 2011). A região transformada apresenta mudança de forma, passando a
apresentar elevada resistência mecânica devido ao elevado numero de discordâncias. A Figura
2.19 apresenta um modelo básico da transformação martensítica.
Figura 2.19: Modelo de transformação martensítica (GILAPA, 2011).
55
O plano de hábito representado na Figura 2.19 é a interface entre a fase mãe
(austenita) e sua fase produto (martensita). Estes planos em que as ripas de martensita se
formam geralmente são considerados um plano não distorcido. Entretanto, existe uma
deformação microscópica que ocorre na formação da ripa de martensita devida à
movimentação dos átomos através cisalhamento paralelo ao plano de hábito. Esse tipo de
deformação é conhecido como deformação plena invariante (GILAPA, 2011).
Sabe-se que a transformação ocorre devido a um movimento dos átomos de modo a
existir uma coerência entre a austenita e a martensita. As estruturas cristalinas, da austenita e
martensita são diferentes, CFC e CCC, respectivamente e, por isto, esta interface é
considerada semicoerente. No entanto, a martensita pode ser formada na estrutura através de
um mínimo movimento atômico partindo da austenita. Este movimento seria capaz de
converter um reticulado em outro por meio de expansão ou contração dos eixos
cristalográficos. A partir daí, ambas as estruturas passam a ter uma semelhança, pois a célula
CCC poderia ser formada no interior de duas células unitárias de austenita. A Figura 2.20
apresenta em detalhe o esquema de uma das possibilidades, em nível atômico, da
transformação martensítica γ→α’. Ao passo que na Figura 2.21 são apresentadas todas as
possibilidades desta transformação (GILAPA, 2011).
Figura 2.20: Representação da relação entre redes CFC e CCC, mostrando a possibilidade de
coerência entre os planos efetuando-se o giro da rede CCC. As medidas representadas estão
em nm (Adaptada de GILAPA, 2011).
0,355
0,251
0,251
0,286
0,286
0,286
56
Figura 2.21: Detalhe das três possibilidades de transformação de austenita em martensita α’.
(a), (b) e (c) representam as três alternativas ao qual o eixo tetragonal pode se encaixar na
estrutura CFC. Somente os átomos de ferro foram representados na figura (SANTOS, 2008).
De acordo com a Figura 2.22 a transformação martensítica pode ocorrer de três
maneiras (LICHTENFELD et al., 2006):
1. Transformação espontânea (térmica);
2. Nucleação assistida por tensão;
3. Nucleação induzida por deformação (TRIP).
Onde, normalmente a terceira forma se da na seguinte sequencia: δ → ε → α’
(SPENCER et al., 2004);
A transformação espontânea por temperatura se inicia quando material é resfriado em
uma temperatura inferior à da inicio de transformação martensítica (Ms) e, se completa
quando a temperatura atinge uma temperatura limite de transformação chamada de Mf
(Ms>Mf) (GILPA, 2011). Nesse estágio, a força motriz química (ΔG) é suficiente para a
formação das primeiras ripas de martensita, não sendo necessária a aplicação de tensão
(Figura 2.22 (b)). Neste caso, a nucleação de martensita se da preferencialmente nos defeitos
do reticulado cristalino em arranjos metaestáveis que favorecem à sua formação. Nestas
condições a formação de martensita cessa se o resfriamento for interrompido e a temperatura
mantida constante. A martensita ε pode ser formada neste estágio (em baixas temperaturas)
(a) (001)γ || (001) α
[100] γ || [1 α
(c) (001)γ || (100) α
[100] γ || [0 α
(b) (001)γ || (010) α
[100] γ || [1 α
57
mesmo na ausência de deformação plástica. No caso para a formação de martensita α’ uma
deformação plástica deverá ser imposta.
Figura 2.22: Diagrama esquemático exibindo (a) Tensões críticas para iniciar a transformação
martensítica em função da temperatura. (b) Energia livre da austenita e da martensita em
função da temperatura (GILAPA, 2011).
A análise da Figura 2.22 é de grande valia para entender os fatores que impedem a
ocorrência da mudança de fase. Neste sentido a inter-relação da Ms é fundamental pois é um
parâmetro de estabilidade da austenita em relação à transformação no resfriamento. O valor
de Ms varia de acordo com a composição química do aço. Nos AIA esse valor pode ser obtido
através das equações empíricas 2.8, 2.9 e 2.10, cujos elementos de liga devem ser
considerados em porcentagem em peso (ABREU et al., 2007; GILAPA, 2011).
58
Em temperaturas um pouco mais elevadas, logo acima de Ms, passa a ser necessária
uma determinada tensão para a nucleação de martensita, portanto nesta região a martensita é
formada quando a tensão está na região de deformação elástica da austenita (trecho AB da
Figura 2.22 (a)). Nesta região a martensita pode ser formada desde que a força motriz química
(ΔG térmica) seja completada por uma força auxiliar (tensão) mecânica externa (Figura 2.22
(b)). Portanto, no trecho AB da curva da Figura 2.22 (a) a martensita pode ser transformada a
partir de uma tensão elástica que gera deformação elástica no material. Essa transformação de
martensita ocorre até o escoamento da austenita, a uma temperatura designada por Msσ
(GILAPA, 2011).
Acima de Msσ
a martensita α’ nucleia somente com a aplicação de deformação
plástica, cuja tensão aplicada correspondente permanece aproximadamente constante (inicio
do trecho BC). Nesta situação a formação de martensita dependerá da formação de novos
sítios, que surgem devido à interação de discordâncias.
A força motriz química para a transformação martensítica (ΔG) dependerá da
composição química da austenita e da temperatura. A força mecânica ΔGmec é dependente do
estado de tensão, devido à carga aplicada e a mudança de volume que ocorre durante a
transformação (TALONEN, 2007).
Em temperaturas acima da máxima em que ocorre a formação de martensita α’
induzida por deformação plástica (Md), a austenita se torna mais estável dificultando a
formação de martensita em decorrência do aquecimento da peça durante o processo de
deformação plástica.
O grau de estabilidade da martensita é muitas vezes avaliado pelo parâmetro Md30, que
é a temperatura na qual 50% da martensita α’ é obtida para uma deformação verdadeira de 0,3
no ensaio de tração. Empiricamente o valor de Md30 foi relacionado por diversas equações, na
qual duas delas são apresentadas neste trabalho pelas 2.11 e 2.12 (ABREU et al., 2007;
GILAPA, 2011). Neste contexto, a formação de martensita à temperatura ambiente é
termodinamicamente possível, mas a força motriz para iniciar a mudança de fase não é
suficiente para ocorrer espontaneamente (GILAPA, 2011).
59
Abreu et al., (2007), determinaram os parâmetros Ms e Md30 para os AIA AISI 301LN
e AISI 316L, utilizando as equações 2.10 e 2.11, respectivamente. Os resultados são
apresentados na Tabela 2.5.
Tabela 2.5: Valores de Ms e Md30. (Adaptada de ABREU et al., 2007).
Amostra MS (oC) Md30(
oC)
AISI 301LN -161,8 19,1
AISI 316L -179,6 -67,1
Em materiais de estrutura CFC, as falhas de empilhamento são uma das imperfeições
mais importantes. Estas são introduzidas pela dissociação das discordâncias parciais de
Shockely tendo um papel fundamental na sequencia do processo de deformação plástica. Este
tipo de defeito planar engloba a capacidade de encruamento, a corrosão sobtensão, a
capacidade de estiramento e o tipo e quantidade de martensita formada (GILAPA, 2011).
Por volta de 1960, foi levantada a hipótese que a martensita ε seria nucleada a partir
dos defeitos de falha de empilhamento. Em 2011, estudos também atribuíram às falhas de
empilhamento a função de nucleação para formação de maclas e martensita épsilon. Quando a
primeira discordância se dissocia em duas parciais de Shockley no material, a sequência típica
da estrutura CFC muda para HCP, gerando uma falha de empilhamento. A sequência de
empilhamento que é na forma ABCABCABC gera uma pequena área com empilhamento
HCP na forma ABABABCABC que por ventura gera a fase paramagnética martensita ε
(GILAPA, 2011). Portanto o valor da EFE intrínseca tem grande influência na formação de
ambos os tipos de martensita: ε e α. (BRACKE et al., 2006). Há relatos que a martensita
épsilon é favorecida em ligas com baixa EFE, por isto pode ser formada quando a EFE
intrínseca for menor que 20mJ/m2. Já a martensita α’ pode ser formada em valores superiores
a 20mJ/m2. No entanto, de acordo com Krupp et al., (2010) a martensita α΄ (CCC) pode
nuclear em materiais com baixa EFE (<20 mJ/m2) na interseção das ripas da martensita ε
sendo a transformação resultante γ→ε→α΄. Já para materiais com alta EFE (>20mJ/m2), a
nucleação de martensita pode ocorrer na interseção das bandas de cisalhamento com as falhas
de empilhamento (FE), tal como mostrado nas Figuras 2.23 (a) e (b), na interseção das bandas
60
de cisalhamento com o contorno de grão, com o contorno de maclas de deformação ou, ainda
na interseção das microbandas de cisalhamento (TALONEN & HANNIEN, 2004;
LICHTENFELD, 2006).
Figura 2.23: Microestrutura do AIA AISI 301LN. (a) Bandas de cisalhamento. (b) Nucleação
das martensita α´ na interseção das bandas de cisalhamento (TALONEN & HANNIEN,
2004).
Estudos da transformação martensítica durante o ensaio de tração de um aço AISI 304
foram realizados e verificou-se que a martensita ε se forma com níveis baixos de deformação
plástica e alcança um pico para uma deformação de aproximadamente 5%, diminuindo
gradualmente até zero com o aumento da deformação imposta (MANGONON & THOMAS,
1970). Em contrapartida, a martensita α’ experimenta um incremento contínuo com o
aumento da deformação plástica imposta. Resultados similares foram reportados em um aço
AISI 316 deformado por laminação e tração uniaxial (SEETHARAMAN & KRISHNAN,
1981). Já outras análises, abordaram o efeito de diferentes taxas de deformação e estados de
tensões sobre o AIA AISI 304. Em pequenas deformações verdadeiras e aplicando altas taxas
de deformação, por volta de 103/s, a martensita α’ se forma mais rapidamente, do que com
baixa taxa de deformação (10-3
/s). No entanto, em deformações verdadeiras maiores que 0,25
esse quadro se inverte. Esse comportamento foi atribuído ao aquecimento adiabático que
devido à alta taxa de deformação inibe à formação de martensita. Foi observado também no
AISI 304 que há maior quantidade de martensita formada quando aplicada tensões biaxiais do
que tensões uniaxiais (GILAPA, 2011).
Sabe-se que a transformação direta γ→α’ também pode ocorrer através de uma reação
de discordâncias (BOGERS & BURGUERS, 1964). Como comentado a susceptibilidade da
transformação martensítica induzida por deformação aumenta com a diminuição do valor da
(b) (a)
61
energia de falha de empilhamento (EFE) (REICK et al., 1996). Isto explica porque o aço
inoxidável AISI 316 (EFE ≈ 50mJ/m2) é menos metaestável que o aço AISI 304 (EFE ≈ 18
mJ/m2). A transformação γ→α’ tem sido muito menos estudada nos aços inoxidáveis duplex
(AID). Neste contexto, recentemente investigou-se a transformação martensítica no aço AID
UNS S31803 observando que o mesmo experimenta a formação da martensita α’ (REICK et
al., 1996; TAVARES et al., 2006), porém mostrou-se menos suscetível que nos aços
austeníticos convencionais.
Deste modo, esforços se centralizam em investigar a influência de elementos de liga
na EFE dos AIA. Elementos tais como, níquel, magnésio, molibdênio e cobre aumentam o
valor da EFE. Por outro lado o manganês, cromo, cobalto e silício diminuem a EFE.
Estudos realizados por Choi e Jin, (1997) analisaram a porcentagem de austenita
transformada em martensita em função da quantidade de cobre presente na composição nos
aços AISI 304. O material foi deformado pelo processo de trefilação. As curvas obtidas neste
estudo mostram uma função sigmoidal conforme apresentado na Figura 2.24.
.
Figura 2.24: Porcentagem de austenita transformada em austenita, no AIA AISI 304 com e
sem Cu na composição (GILAPA, 2011).
É notável a redução da susceptibilidade de formação de martensita no AIA AISI 304
quando é inserido cobre na sua composição. Um comportamento semelhante foi obtido por
González et al. (2003) em ensaio de tração em um AISI304 com diferentes teores de cobre.
É interessante tomar nota que a influência da interação entre os elementos pode fazer
com que elementos químicos que normalmente aumentam a EFE passem a agir de forma
contraria (TAVARES et al., 2009). A Figura 2.25 apresenta a influência do percentual em
62
peso de diversos elementos de liga na EFE ao passo que a Tabela 2.6 apresenta valores de
EFE para alguns AIA (GILAPA, 2011).
Figura 2.25: Elementos de liga e sua influência na EFE. (Adaptada de GILAPA, 2011).
Tabela 2.6: Valores de EFE reportados na literatura. (Adaptada de ABREU et al., 2007;
GILAPA, 2011).
Ligas EFE
(mJ/m2)
Percentual em peso do elemento
Cr Ni Mn N C
301LN 7,4 17,91 6,53 1,80 0,10 0,03
304 17,8 18,2 8,1 1,71 0,05 0,05
304 L 18,0 18,31 8,28 0,82 --- 0,03
305 34,0 18,02 11,85 1,64 --- 0,07
310S 94,0 24,7 18,8 1,73 --- 0,05
316 78,0 17,15 13,01 1,4 --- 0,06
316L 50,8 16,91 9,97 1,72 --- 0,03
310S-N 42,9 25 20,1 0,84 0,33 0,05
Varias equações foram propostas na literatura em termos de determinar a EFE em
função dos elementos presentes na liga. A equação 2.13 foi proposta por Vitos et al., (2006),
enquanto isso a equação 2.14 proposta por Schram & Reed, (1975) propõem a seguinte
relação para a EFE:
x(Al, Cr, Cu, Si) (%Peso)
EF
E (
mJ/
m2)
63
EFE= 25,7 + 2.(%Ni) +410(%C) - 0,9(%Cr) -77(%N)-13.(%Si)- 1,2.(%Mn) 2.13
EFE=-53 + 6,2(%Ni) + 0,7(%Cr) + 3,2(%Mn) + 9,3%(Mo) 2.14
2.1.1.5.1 Resfriamento Criogênico
Conforme comentado, nos AIA a transformação martensítica pode ocorrer
simplesmente por resfriamento. Para isto, a temperatura do material deve-se encontrar abaixo
da temperatura ambiente. Quanto mais estável for a liga mais difícil de precipitar martensita
mesmo em temperaturas criogênicas. Neste contexto, a Figura 2.26 apresenta a variação de
formação de martensita em função da temperatura e deformação verdadeira aplicada no aço
inoxidável AISI 304 (ASM, 2008).
Figura 2.26: Porcentagem de martensita precipitada em função da temperatura e deformação
verdadeira imposta no AIA AISI 304 (Adaptada de ASM, 2008).
A formação de martensita nestas ligas é estável é não reverte até esta liga ser aquecida
a temperaturas acima das apresentadas na Figura 2.27 ao qual ela foi formada (ASM, 2008).
Mar
tensi
ta (
%)
Deformação Verdadeira
64
Figura 2.27: Reversão de martensita formada durante a deformação a frio em função da
temperatura para AIA AISI 304 (Adaptada de ASM, 2008).
Reed & Mikesell, (1960) também estudaram a transformação martensítica somente por
resfriamento a baixas temperaturas nos AIA AISI 302, 303, 304, 308, 310, 316, 321 e 347.
Neste estudo as únicas amostras a não apresentarem qualquer transformação de austenita para
martensita α’ foram os aços AISI 303 e 304, depois de repetidos ciclos de mudanças da
temperatura ambiente para 77K e 20K. Posteriormente, Guntner & Reed, (1962) reportaram
algumas amostras de AISI 304 e 304L serem susceptíveis de transformação martensítica em
ensaios mecânicos conduzidos em temperaturas de aproximadamente 4,2K.
King & Larbalestier, (1973) verificaram a transformação de aproximadamente 5% da
austenita em martensita α’ em solenoides supercondutoras de AISI 321 quando resfriadas a
4,2K. Este estudo, ainda corrobora que outros graus de AIA, além dos AISI 303 e 304, podem
se tornar instáveis quando submetidos a baixas temperaturas.
O problema da decomposição da austenita em baixa temperatura tem como agravante
que, em certas circunstâncias, a martensita α’ tem um volume específico maior do que a
austenita. Portanto essa formação é acompanhada por um aumento de volume (KING &
LARBALESTIER, 1973).
O comportamento dos AIA quando submetidos a ciclos de resfriamento e deformação
a 77K e a 4,2K foram estudados em detalhe por King & Larbalestier, (1973). Neste sentido
foram ensaiadas amostras de AIA em três condições: como recebida, solubilizada e
Porc
enta
gem
de
mar
tensi
ta α
’
Temperatura (oC)
65
sensitizada. As curvas da Figura 2.28 apresentam o comportamento dos valores de
magnetização dos AIA AISI 321 e 304L como recebidos quando submetidos a temperaturas
da ordem de 4,2K. Segundo King & Larbalestier, (1973), as curvas que apresentam resultados
lineares de magnetização com o campo externo aplicado, tais como as obtidas nos AIA AISI
304L (Figura 2.28), 309N, 309 e 316LN, sugerem uma característica paramagnética, ou seja,
não há martensita α’ precipitando no resfriamento até 4,2K, partindo da temperatura
ambiente. Já as curvas com comportamento não linear são características de materiais
ferromagnéticos e estas foram observadas nos AIA AISI 321 (Figura 2.28), 347 e 310. Neste
contexto, na Figura 2.29 se observam as curvas de magnetização levantadas em diferentes
temperaturas no AIA AISI 310 detectando-se uma grande variação dos valores de
magnetização conforme o decréscimo da temperatura de 77K para 4,2K. Deste modo, no AIA
AISI310, grande parte da martensita é precipitada quando submetido à temperatura de 4,2K.
Figura 2.28: Comportamento da magnetização em função do campo magnético para o AISI
304L e 321 a 4,2K (Adaptada de KING & LARBALESTIER, 1973).
Mag
net
izaç
ão (
G)
Campo (KOe)
66
Figura 2.29: Comportamento da magnetização em função do campo magnético para o AISI
310 à temperatura ambiente, a 77K e a 4,2K (Adaptada de KING & LARBALESTIER,
1973).
De maneira a avaliar o comportamento da magnetização do material quando
submetido a resfriamento criogênico cíclico, King & Larbalestier, (1973) submeteram
amostras de AIA a diversos resfriamentos desde a temperatura ambiente até 77K e a 4,2K. Os
resultados para este caso revelaram que os aços austeníticos AISI 304L, 309N, 309 e 316LN,
321, 347 e 310 utilizados neste estudo apresentaram basicamente três comportamentos
reagindo ao resfriamento criogênico cíclico (KING & LARBALESTIER, 1973):
a) Todas as amostras dos AIA AISI 304L, 304N, 309, e o 316LN apresentaram
curvas paramagnéticas reversíveis com comportamento linear quando aplicados
campos de até 3 kOe para todas as temperaturas estudadas. Portanto, esses aços
apresentaram-se completamente austeníticos e estáveis.
b) Os AIA AISI 321 e 347 apresentaram um leve comportamento ferromagnético
quando resfriados inicialmente a 4,2K. Este magnetismo foi retido quando a
amostra atingiu novamente a temperatura ambiente; aumentando seu valor quando
Mag
net
izaç
ão (
G)
Campo (KOe)
67
o aço foi resfriado a 77K seguido de resfriamento até 4,2K. Portanto, nestes aços
ocorre a transformação martensítica devido ao resfriamento e, pode-se concluir
que, a quantidade de martensita α’ aumenta a cada resfriamento, ou seja, o
resfriamento cíclico no AISI 321 e 347 conduz ao aumento da precipitação de
martensita a cada resfriamento.
c) A magnetização do aço AISI 310 mostrou-se variável com a temperatura, porém
independente da ordem ou número de tratamentos de resfriamentos executados.
A Tabela 2.7 apresenta os efeitos do resfriamento em alguns dos aços analisados, tanto
para um resfriamento único, como para um resfriamento cíclico ficando evidente que a
quantidade de martensita formada depende, além do material, do tratamento térmico aplicado
na amostra.
Tabela 2.7: Transformação martensítica após resfriamento criogênico (Adaptada de KING &
LARBALESTIER, 1973).
AISI Condição *
Martensita α' precipitada (%)
Resfriamento
Único**
Resfriamento
Cíclico***
304L
Como Recebido 0,00 0,00
Solubilizado 0,00 0,00
Sensitizado 0,00 1,40
304N
Como Recebido 0,00 0,00
Solubilizado 0,00 0,00
Sensitizado 0,00 0,00
316LN
Como Recebido 0,00 0,00
Solubilizado 0,00 0,00
Sensitizado 0,00 0,00
321
Como Recebido 1,70 3,40
Solubilizado 2,00 3,70
Sensitizado 1,10 3,10
347
Como Recebido 0,30 3,90
Solubilizado 0,40 1,30
Sensitizado 3,40 11,20
*Solubilizado: 1075oC por 30 min. - resfriamento na água.
* Sensitizado: 700oC por 1 semana - resfriamento no ar.
* 1 ciclo de resfriamento até 4,2K ou 77K.
** 10 ciclos seguidos de resfriamento até 77K e mais 5 até 4,2K.
68
Como pode ser visto na Tabela 2.7 os aços ao nitrogênio, 304N e 304LN não
apresentaram mudança alguma, tanto no primeiro resfriamento proveniente do tratamento
térmico, quanto nos resfriamentos subsequentes. Deste modo, estes aços foram considerados
extremamente estáveis à transformação martensítica. Já o 304L só se mostrou susceptível à
transformação quando sensitizado, apresentando 1,40% de martensita transformada.
Entretanto, o AISI 321 e o AISI 347, apresentaram suscetibilidade de transformação
martensítica, tanto no resfriamento único quanto no resfriamento cíclico. A quantidade de
martensita é próxima à obtida quando o material está na condição de recebimento de fábrica,
porém a quantidade difere quando comparada com a condição sensitizada. Nota-se que
mesmo após diversos resfriamentos cíclicos, a quantidade de martensita continua a aumentar
em todas as condições, porém esta variação é mais intensa na condição sensitizada,
principalmente no AISI 347 (KING & LARBALESTIER, 1973).
Foi também observado que, durante a realização do experimento, certa quantidade de
martensita α’ forma isotermicamente nestes aços. Isso ficou mais evidente no AIA AISI 347
onde a magnetização aumentou de 461 para 478 G em um período de 8 minutos com a
amostra mantida a 77K, resultando em um aumento de 3,7% para 3,9 % de α’. Ao retornar à
temperatura ambiente e sendo resfriado novamente a quantidade de martensita aumentou para
4,6%. Portanto, conclui-se que apesar do resfriamento direto ser mais efetivo em propiciar o
aumento da quantidade de martensita na estrutura, o efeito do resfriamento isotérmico é muito
significante devendo ser levado em consideração ao se determinar a quantidade de martensita
formada na temperatura analisada (KING & LARBALESTIER, 1973).
Através da analise da Figura 2.30, King & Larbalestier, (1973) verificaram a
quantidade limite de martensita que pode precipitar em amostras de AISI 304L, 304N,
316LN, 321, 347, em função do número de resfriamentos até 77K.
69
Figura 2.30: Curva Magnetização de Saturação versus quantidade de ciclos de resfriamento,
para os AIA AISI 304L, 304N, 316LN, 321, 347 (Adaptada de KING AND LARBALESTIER,
1973).
Como pode-se observar na Figura 2.30 os aços 304L, 304N e 316LN permaneceram
sem alterações microestruturais pelo efeito dos resfriamentos cíclicos. Ao analisar as curvas
obtidas para os AISI 321 e 347, pode-se observar que mais martensita é obtida nos primeiros
resfriamentos para o AISI 321, porém o efeito cumulativo do resfriamento é mais
representativo no AISI 347. Tanto o AISI 321 quanto o 347 apresentam uma redução na
derivada de formação de martensita com o aumento dos ciclos de resfriamento, ou seja, cada
vez que efetuado o resfriamento tem menos influência na formação de martensita. No seu
trabalho King & Larbalestier, (1973) realizaram 23 resfriamentos em cada amostra, porém
ainda assim não foi possível obter o valor de ciclos limite que promova a máxima formação
de martensita por meio destes tratamentos.
2.1.1.5.2 Caracterização por Propriedades Magnéticas e Difração de Raios X
A caracterização da transformação martensítica induzida por deformação a frio em
AIA e AID é comumente avaliada por propriedades magnéticas com resultados bastante
precisos. Medidas baseando-se na permeabilidade magnética do material fazendo uso de um
ferritoscópio são de grande utilidade pela simplicidade e portabilidade deste equipamento sem
requerer a remoção de material para estudo. Entretanto, medidas baseadas na magnetização de
saturação (ms) do material fazendo uso de um magnetômetro de amostra vibrante ou Vibrating
No Ciclos de Resfriamento até 77K.
Mag
net
izaç
ão d
e S
atu
raçã
o (
G)
70
Sample Magnetometer (VSM) são de grande acurácia, porém requer em de uma pequena
massa de material para sua caracterização. Adicionalmente, para um AIA deverá ser
determinado preliminarmente a ms de uma condição que tenha experimentado uma
transformação martensítica total, por meio da utilização da equação 2.15 (TAVARES et al.,
2008):
2.15
Sendo Cα’ a fração volumétrica de fases ferromagnéticas, no caso martensita α’, ms é o
valor da magnetização de saturação para um determinado grau de deformação verdadeira
imposta na amostra e, msi corresponde ao valor da magnetização de saturação intrinseca
quando amostra estiver contendo 100% martensita ou 100% ferrita no caso do estudo em
AID. Na amostra de msi são efetuadas caracterizações por difração de raios-X com o intuito
de verificar a ausência da fase austenítica garantindo a sua total transformação em martensita.
Assim como no AIA AISI 321 estudado no presente trabalho, Tavares et al., (2006);
(2008); (2009); (2011) e (2014) utilizaram o valor de magnetização de saturação (ms) para
determinar a fração volumétrica de martensita precipitada, após a deformação plástica, em
diversos AIA e AID. Nesses estudos, a magnetização de saturação intrínseca de martensita
(msi) encontrada em emu/g ou Am2/kg foram: 133,0 para o AID UNS S31803; 157,1 no AIA
AISI 301LN; 140,0 para o AIA AISI 201 Modificado; 140,2 no AID UNS S32304. Assim
sendo, as curvas da porcentagem de austenita transformada em martensita versus deformação
verdadeira foram levantadas por meio desta metodologia nestes materiais e comparadas com o
AIA AISI 304, tal como mostrado nas Figuras 2.31 e 2.32. As curvas aqui apresentadas
exibem um formato do tipo sigmoidal, podendo-se efetuar uma modelagem das mesmas, tal
como abordado na seção 2.1.1.5.5.
71
Figura 2.31: Volume de martensita precipitada versus deformação verdadeira para o AIA 201-
Modificado e outros dois AISI 304 estudados anteriormente. (Adaptada de TAVARES et al.,
2009).
Figura 2.32: Volume de martensita precipitada versus deformação verdadeira para diversos
AIA e AID. (Adaptada de TAVARES et al., 2011).
Fra
ção d
e au
sten
ita
tran
sform
ada
em m
arte
nsi
ta
Deformação Verdadeira
AISI 2XX (Tavares, 2009)
AISI 304 (Mészaros, 2005)
AISI 304 (Tavares, 2008)
72
Diferentemente do observado na caracterização por propriedades magnéticas, a técnica
de caracterização de difração por raios-X permite ainda a possível caracterização da
martensita metaestável paramagnética épsilon (ε), presente em proporções pequenas em
alguns AIA para baixos níveis de deformação plástica a frio, tal como descrito na seção
2.1.1.5. Tavares et al., (2009) confirmaram a presença de martensita ε no AIA AISI 201
Modificado com εv= - 0,0723, como apresentado na Figura 2.33. Além disso, foram
detectados picos intensos de martensita α´ denotando a forte suscetibilidade de transformação
nesse AIA estudado.
Figura 2.33: Difratograma exibindo a presença de ambas as martensita induzidas por
deformação no AIA AISI 201 Modificado. εv= - 0,0723 (Adaptada de TAVARES et al.,
2009).
Abreu et al., (2007), avaliaram a precipitação de martensita no AIA AISI 301LN
baseando-se na técnica de difração de raios-X (DRX). A Figura 2.34 apresenta os
difratogramas levantados em amostras deformadas por laminação uniaxial com 5%, 26% e
47%. Nos respectivos difratogramas fica evidente a maior presença de martensita α’ nas
amostras com maior deformação.
2θ
Inte
nsi
dad
e (c
/s)
73
Figura 2.34: Difratogramas do AIA AISI 301LN deformado por laminação uniaxial com 5%,
26% e 47% (Adaptado de ABREU et al., 2007).
Quantificações de martensita induzida por deformação a frio por difração de raios-X
foram efetuadas por Tavares et al., (2006) fazendo uso do método de comparação direta e,
considerando os mesmos fatores de espalhamento atômico na ferrita e austenita do AID UNS
S31803. Os resultados assim obtidos exibem similaridade com aqueles levantados por
medidas de propriedades magnéticas baseadas na magnetização de saturação fazendo uso do
VSM, tal como se exibe nas curvas da Figura 2.35 (TAVARES et al., 2006).
Figura 2.35: Porcentagem de martensita precipitada versus deformação verdadeira para o aço
UNS S31803 levantada por propriedades magnéticas e por difração de raios-X (Adaptada de
TAVARES et al., 2006).
Deformação
Po
rcen
tag
em d
e m
arte
nsi
ta α
’
Deformação Verdadeira
Deformação
Deformação
Quantificação Magnética
Difração de Raios-X
74
2.1.1.5.3 Caracterização por EBSD
Apesar das técnicas de propriedades magnéticas e a difração de raio X serem técnicas
amplamente utilizadas para caracterizar as fases presentes em ligas ferrosas, sabe-se que
muita informação no aspecto microestrutural é desprezada nestes tipos de ensaios. Com o
intuito de obter informações em pequenas áreas do material, a técnica de electron backscatter
difraction (EBSD), baseada nas linhas de Kikuchi, é muito utilizada (SANTOS, 2008).
O principio de funcionamento desta técnica reside na emissão de um feixe de elétrons
sobre parte da amostra cristalina localizada no interior da câmara de um microscópio
eletrônico de varredura (MEV). Como resultado da interação dos elétrons emitidos e a
amostra, surge a emissão de elétrons retroespalhados pela difração de elétrons em planos
cristalinos. Caso a amostra esteja inclinada por volta de 70o em relação ao feixe emissor,
ocorre uma intensificação da emissão em determinadas regiões, gerando linhas características
denominadas de Kikuchi. Cada par das linhas supracitadas corresponde à difração de elétrons
em certos planos cristalográficos.
Abreu et al. (2007), avaliaram a quantidade de martensita precipitada devido à
deformação plástica em amostras de aço inoxidável austenítico AISI 301LN baseadas na
mudança de textura percebida na superfície do material. Basicamente, o AISI 301LN
solubilizado apresenta uma configuração somente austenítica, sem presença de martensita na
estrutura tal como observado no padrão da Figura 2.36. O mapa de cores desta figura esta
relacionado com a orientação cristalográfica da Figura 2.37.
Figura 2.36: Mapa de EBSD de uma amostra de AISI 301LN (ABREU et al., 2007).
75
Figura 2.37: Relação das cores com a orientação cristalográfica (ABREU et al., 2007).
De maneira a visualizar os efeitos da deformação plástica e consequente precipitação
de martensita nos resultados apresentados nesta metodologia de análise, as Figuras 2.38 e
2.39, apresentam os mapas de EBSD no mesmo material, porém deformado a 5 e 10 % da sua
espessura, respectivamente. Além de estabelecer a direção preferencial das fases existentes, os
resultados da análise de EBSD fornecem o valor da fração de martensita precipitada. No caso
do material deformado a 5% da sua espessura (Figura 2.38) precipitou-se 15,5% de
martensita, ao passo que no material deformado a 10% (Figura 2.39) precipitou-se 19% de
martensita, encontrando-se ambos os resultados próximos aos obtidos pela técnica de difração
de raios-X. Entretanto, para deformações de 26% e 47% não foi possível obter um bom
padrão de EBSD (ABREU et al., 2007).
(a) (b)
Figura 2.38: Mapa de EBSD para amostra de AIA AISI 301LN deformado por laminação a
frio a 5% da sua espessura. (a) Martensita; (b) Austenita (ABREU et al., 2007).
76
(a) (b)
Figura 2.39: Mapa de EBSD para amostra de AIA AISI 301LN deformado por laminação a
frio a 10% da sua espessura. (a) Martensita; (b) Austenita (ABREU et al., 2007).
2.1.1.5.4 Modelagem da Transformação
O estudo de equações obtidas a partir de valores experimentais é de extrema
importância de modo a estabelecer uma análise comparativa com todos os AI sujeitos a
fenômenos de transformação martensítica. Esse tipo de modelagem não é simples para
materiais metaestáveis, devido à complexa interação entre as condições externas, evolução
microestrutural e resposta mecânica. A seguir são apresentadas algumas equações encontradas
na literatura para a fração volumétrica de austenita transformada em martensita α’ com a
deformação verdadeira imposta em AIA e AID.
A quantidade de martensita α’ formada pode ser obtida utilizando a teoria
desenvolvida por Olson e Cohen (TALONEN & HANNIEN, 2004). A equação que relaciona
a fração volumétrica de martensita α’ (Cα’
) com a deformação (ε) é dada por:
Nessa equação α e β são constantes dependentes da temperatura e o expoente n tem
valor fixo igual a 4,5. A constante α está relacionada ao caminho de formação de banda de
cisalhamento e é fortemente influenciada pela EFE nos AIA. Já a constante β é proporcional à
probabilidade de nucleação de um embrião de martensita α’ nas interações das bandas de
cisalhamento (TALONEN & HANNIEN, 2004).
Choi & Jin, (1997) analisaram os valores experimentais obtidos da porcentagem de
austenita transformada em martensita em função da deformação imposta no processo de
77
trefilação para o aço AISI 304 e o aço AISI 304 contendo cobre na sua composição. Curvas
sigmoidais, obtidas nesta análise, exibiram o melhor ajuste para ambos os casos.
Modelagens da cinética de precipitação de martensita fazendo uso de uma função
sigmoidal foram efetuados por Tavares et al., (2009); (2011) e (2014) no AIA AISI 201
modificado e no AID Lean Duplex UNS S32304 , respectivamente. Nestes estudos, a
modelagem do volume de fração de martensita (Cα’), formada como resultado da deformação
plástica é dada pela equação 2.17 (TAVARES et al., 2009).
Onde:
Cα(ε): Fração volumétrica de fase martensita (α´) induzida por deformação.
Cα's: Valor de saturação da fração volumétrica de α´ precipitada.
ε: Deformação verdadeira imposta na amostra.
n: Constante relacionada com a velocidade de transformação de α´.
K: Constante do tempo, relacionada com o período inicial de transformação de α´.
A linearização da equação 2.17 permite a obtenção das constantes n e K, tal como
mostrado na equação 2.18 (TAVARES et al., 2009).
KnnC
Cn
s
)ln(
'
)(
Os valores do n e do K são obtidos por méio do ajuste de uma reta no gráfico ln(-
ln(Cα(ε)/Cα's)) vs. ε. O valor de Cα's seria a máxima quantidade de martensita que pode ser
formada, ou limite de evolução da precipitação desta fase, sendo geralmente adotada a
unidade para AIA e, no caso dos AID teoricamente corresponderia à fração volumétrica de
austenita da condição não deformada ou solubilizada.
Através da equação 2.17 podem ser obtidas as equações 2.19 e 2.20, que descrevem a
taxa da transformação de acordo com a deformação verdadeira imposta na amostra.
)()()).((
'
))(('Kne
s
Kn eCend
dC
78
)()1()()).(())(())((2
2
)(
2Kne
s
KnKn eCeend
Cd
A Figura 2.40 mostra o ajuste da fração volumétrica de martensita precipitada (Cα'(ε)
versus a deformação verdadeira imposta (ε) no aço AIA AISI 201 modificado que, mediante
determinação das constantes n = 4,120 e K = 0,361, resultou na obtenção de um coeficiente de
correlação R2
= 0,993.
Figura 2.40: Ajuste de uma função sigmoidal na cinética de precipitação de martensita
induzida por deformação para o AIA AISI 201 Modificado (TAVARES et al., 2009).
Fazendo uso da equação 2.19 Tavares et al., (2009) determinaram a deformação
verdadeira de ε = 0,34 que promoveu a máxima taxa de transformação, tal como observado
na Figura 2.41. Cabe ressaltar que, o referido valor corresponde ao ponto de inflexão da curva
sigmoidal da Figura 2.42.
Po
rcen
tag
em d
e M
arte
nsi
ta
Deformação Verdadeira
79
Figura 2.41: Taxa de transformação martensítica do AIA AISI 201 Modificado (TAVARES et
al., 2009).
Mediante o emprego da equação 2.17, Tavares et al., (2011) e (2014) modelaram
também a fração volumétrica de martensita obtida em função da deformação verdadeira
imposta no aço inoxidável lean duplex UNS S32304. No estudo do ano de 2011 os autores
modelaram a cinética de transformação, tanto em amostras deformadas a frio na mesma
direção que a de laminação durante o processo de fabricação (X) quanto perpendicular a esta
(Y). A modelagem resultante teve uma boa correlação como mostrado pela linha continua e
tracejada pela Figura 2.42. Neste trabalho, observou-se em geral que a cinética de
precipitação de martensita independe da direção de deformação imposta em relação à direção
de laminação, apesar de se observar que a transformação foi ligeiramente mais rápida para
pequenas deformações em amostras deformadas na mesma direção de laminação da chapa
processada (X) (TAVARES et. al., 2011).
Tax
a d
e T
ran
sfo
rmaç
ão M
arte
nsí
tica
Deformação Verdadeira
80
Figura 2.42: Fração (volumétrica ou em peso) de martensita em função da deformação
aplicada por laminação (TAVARES et. al., 2011).
No ajuste das funções da Figura 2.42 foram calculados n = 3,408 e K = 0,418 obtendo-
se R2
= 0,995 para a condição X, ao passo que para a condição Y, estimou-se n = 3,438 e K =
0,487 resultando na obtenção de um coeficiente de correlação R2
= 0,995 (TAVARES et. al.,
2011). Como se pode notar a modelagem se aproxima muito dos resultados experimentais
sendo, portanto também adotada no presente estudo.
Tavares et al., (2011) também calcularam a taxa de transformação martensítica em
função da deformação verdadeira, tal como observado na Figura 2.43 para ambos as direções
de deformação plástica a frio do material. Neste estudo, a máxima taxa de transformação nas
amostras do grupo X foi 0,546, sendo atingida para um valor de deformação verdadeira de
0,416. Na direção de deformação do grupo Y, a máxima taxa de transformação foi 0,548,
alcançada para uma deformação verdadeira de 0,491. A Figura 2.43 deixa claro que a dCα’/dε
de transformação nas amostras deformadas na direção paralela à direção de laminação
industrial é maior para deformações verdadeiras de baixo valor, porém se torna menor para
um valor de deformação verdadeira igual ou maior a 0,449.
81
Figura 2.43: Valores de dCα’/dε de transformação de martensita α’ em função da deformação
verdadeira aplicada por laminação (TAVARES et. al., 2011).
2.1.1.5.5 Caracterização por Medidas de Dureza
Tavares et al., (2006) avaliaram comparativamente a susceptibilidade de
transformação martensítica no AIA AISI 304L e no AID UNS S31803 por meio do
incremento do valor de microdureza na austenita em função da deformação plástica imposta.
Os valores de microdureza obtidos assim como o percentual de martensita presente no
material são apresentados de forma conjunta na Figura 2.44, destacando-se que a dureza da
fase austenítica do AID é significativamente maior quando comparada com o AIA AISI 304L
para a condição de εv igual a zero.
dC
α’/dε
82
Figura 2.44: Evolução da microdureza em função da deformação verdadeira imposta no AID
UNS S31803 e no AIA AISI 304L (Adaptada de TAVARES et al., 2006).
Através da análise comparativa da Figura 2.44, fica evidente que o aço AISI 304L
apresenta uma maior taxa inicial de endurecimento por trabalho a frio devido a uma maior
metaestabilidade da fase austenítica. Enquanto o AID não experimentou transformação
martensítica alguma em estágios iniciais de deformação, o AISI 304L teve a precipitação de
59,8% conduzindo a valores de dureza próximos em ambos os materiais de estudo
(TAVARES et al., 2006).
Uma análise similar foi efetuada por Tavares et al. (2009) porém abordando
comparativamente os AIA AISI 304 com o do AIA 201 Modificado, de maneira a verificar a
influência da transformação martensítica na microdureza, tal como apresentado na Figura
2.45. Nestas condições, detecta-se um maior incremento na microdureza no AISI 201
Modificado em virtude a uma maior susceptibilidade de transformação martensítica tal como
considerado na Figura 2.45.
Mic
rod
ure
za (H
V)
Deformação Verdadeira
Duplex (UNS S31803)
Austenítico (AISI 304L)
Carga 50g
83
Figura 2.45: Comparação entre a evolução da microdureza com a deformação verdadeira
imposta nos AIA AISI 201 Modificado e AISI 304L (Adaptada de TAVARES et al., 2009).
2.1.1.5.6 Efeitos da Transformação Martensítica em Componentes de AIA
Os efeitos da transformação martensítica são de grande interesse na inspeção em
componentes de processo tanto na fabricação quanto em serviço, havendo poucas evidencias
da influência da precipitação desta fase na integridade de componentes construídos em AIA
AISI 321. Neste sentido, JHA et al., (2008) analisaram uma trinca de aproximadamente 50mm
de extensão ao longo do eixo central de curvatura em uma tubulação de AIA AISI 321
especificada para passagem de propelente líquido LH2. A falha, tal como se exibe na Figura
2.46, ocorreu durante a realização de um teste de qualificação da tubulação.
Figura 2.46: Falha na região de curvatura de uma tubulação de AIA AISI 321 (JHA et al.,
2008).
Mic
rod
ure
za (H
V -
0,0
5 k
gf)
Deformação Verdadeira
84
Jha et al., (2008) atribuíram o motivo da falha à precipitação de martensita durante o
processo de fabricação, mais especificamente, no processo de dobramento efetuado em baixas
temperaturas onde a austenita foi transformada em martensita, conduzindo a um decréscimo
da tenacidade do material. O efeito de fragilização foi intensificado pela presença de finas
trincas na superfície interna da tubulação devido a um processo de extrusão inapropriado,
assim como a presença de inclusões de óxidos presentes no material que atuaram como
concentradores de tensões.
Neste estudo foi observado que nas regiões onde a deformação plástica foi maior, ou
seja no centro da curvatura onde ocorreu a trinca, a quantidade de martensita presente, medida
por uso de um ferritoscópio, se encontrava por volta de 35 a 55%. Já nas regiões mais
afastadas, praticamente não deformadas, os valores ficaram por volta de 0,2% (JHA et al.,
2008).
Deste modo, poderia ser estabelecida uma correlação, dependente da cinética de
precipitação de martensita do AIA em estudo na vida útil de equipamentos de processo que
operem em condições elevadas e/ou cíclicas de pressão, assim como de temperaturas
criogênicas. A vida remanescente de uma autoclave em função do teor de martensita
precipitada medida por meios não destrutivos, como ser pelo uso de um ferritoscópio, seria de
grande valia para monitorar o desempenho destes equipamentos durante sua vida útil.
Outro controle de interesse que poderia ser avaliado, por meio de propriedades
magnéticas, seria no processo de trefilação de arames de AIA, onde devido ao grau de
deformação imposto haverá um gradiente de precipitação de martensita ao longo da seção do
mesmo.
113
CAPÍTULO 3
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 MATERIAIS
Para a realização deste trabalho, foram usadas três porções de diferentes tubos de aço
inoxidável austenítico (AIA) estabilizados ao titânio de modo a avaliar o fenômeno de
transformação martensítica quando aplicados diferentes graus de deformação a frio.
A Tabela 3.1 apresenta a identificação e as características dos segmentos de cada tubo
como recebido. De acordo com a Tabela 3.2 a identificação destes tubos baseou-se no teor de
carbono que estes possuíam. Desta forma, a Figura 3.1 exibe as porções de tubos como
recebidos identificados como baixo (BC), médio (MC) e alto carbono (AC), respectivamente.
Tabela 3.1: Características dos tubos de AIA estudados.
Identificação do
Material (Id) Produto Dimensões (mm)
Tratamento
Térmico Norma Atendida
BC Baixo
Carbono
Tubo com
costura
Ø = 406; t = 9,5
Solubilização
---
MC Médio
Carbono Ø = 89; t = 3,2 A 312TP321
AC Alto
Carbono Ø = 60; t = 3,2 A 312TP321H
(a) (b) (c)
86
Tabela 3.2: Análise da composição química dos tubos de AIA como recebidos.
Id Percentagem em Peso do elemento (%)
Cr Ni Mn Si Ti C S P Mo N
BC 17,1100 9,2200 0,8530 0,5220 0,1000 0,0148 0,0024 0,0320 0,0620 0,0140
MC 17,1600 9,0800 1,5000 0,4100 0,3800 0,0350 0,0090 0,0240 --- 0,0160
AC 17,5267 9,7933 1,6537 0,3033 0,4500 0,0642 0,0062 0,0280 0,3170 0,0084
Figura 3.1: Porções de tubos como recebidos: (a) BC, (b) MC e (c) AC.
Vale ressaltar que, de acordo com a Tabela 3.2, os valores dos elementos foram
levantados mediante uso de espectroscopia de emissão ótica a exceção do C, S e N que foram
determinados em todos os casos por combustão via instrumental. Desta análise foi possível
levantar os valores de Ms, Md30 e EFE a partir das equações apresentadas na seção 2.1.1.5.
3.2 PRODUÇÃO DAS AMOSTRAS DE TRABALHO
As porções de tubos MC e AC foram prensadas, conforme mostrado para o material
MC na Figura 3.2. Posteriormente os mesmos foram cortados em dimensões próximas de
15mm x 10mm, tal como observado na Figura 3.3.
Por outra parte, a porção de tubo BC com 9 mm de espessura, dispensou da etapa de
prensamento. Neste caso, inicialmente foi cortado parte desta porção mediante uso de serra
mecânica e, em seguida, suas superfícies foram fresadas até atingir uma espessura uniforme
de 3,2 mm, tal como exibido na Figura 3.4. Finalmente, foram efetuados cortes finais de
modo a obter amostras de trabalho de 15mm x 10mm x 3,2mm. A Figura 3.5 apresenta o
material BC como recebido, assim como a sequência de obtenção de amostras do material ao
decorrer as etapas de corte e usinagem. Cabe ressaltar que, a direção da dimensão de maior
valor das amostras de trabalho produzidas (15mm) foi, em todos os casos, paralela ao eixo
87
longitudinal dos tubos estudados. Deste modo, estabeleceu-se de que o processo de laminação
posterior fosse efetuado sempre no sentido longitudinal da tubulação com redução da
espessura desta.
Figura 3.2: Vista da etapa de prensamento do AIA AISI 321 MC.
Figura 3.3: Detalhe da etapa de corte do AIA AISI 321 MC.
88
Figura 3.4: Material AIA BC após a operação de fresamento.
Figura 3.5: Porção de tubo de AIA BC denotando as etapas de processamento no
material para obtenção das amostras de trabalho.
89
3.3 TRATAMENTO TÉRMICO
As amostras de trabalho foram submetidas a um tratamento térmico de solubilização à
temperatura de 1100oC durante 40 minutos em um forno tubular em atmosfera controlada
contendo argônio como gás inerte, tal como apresentado na Figura 3.6. Cabe destacar que o
tratamento térmico de solubilização foi realizado para cada um dos grupos de amostras
produzidas BC, MC e AC sendo o resfriamento posterior destas na água à temperatura
ambiente.
Figura 3.6: Forno tubular para realização dos tratamentos térmicos em atmosfera controlada.
(a) Forno aberto. (b) Porta amostras de cerâmica com o posicionamento das amostras. (c)
Vista do forno efetuando o tratamento térmico das amostras.
3.4 DEFORMAÇÃO A FRIO DAS AMOSTRAS
As amostras tratadas termicamente, de acordo com o exposto na seção 3.3, foram
posteriormente laminadas a frio na direção longitudinal, obtendo-se deste modo diferentes
valores de deformação verdadeira mediante uso da equação 3.1. A laminação foi efetuada em
todos os casos por meio da utilização de um laminador manual apresentado na Figura 3.7.
Vale ressaltar que as espessuras finais médias (tf) foram obtidas, em cada amostra, mediante
uso de paquímetro digital marca Digimess por meio da realização de três medições ao longo
da mesma, tal como se apresenta na Figura 3.8. A Tabela 3.3 exibe os valores de espessura
final e de deformação verdadeira obtidos em cada material estudado.
v = ln (tf/ti) 3.1
90
Sendo:
εv: Deformação verdadeira (adimensional);
ti: Espessura inicial (mm);
tf: Espessura final (mm).
Figura 3.7: Laminador manual empregado para deformar plasticamente as amostras.
Figura 3.8: Medição da espessura de uma das amostras laminadas a frio.
91
Tabela 3.3: Espessura final (mm) e deformação verdadeira correspondente para as amostras
com ti = 3,18 mm em amostras solubilizadas de AIA BC, MC e AC.
Amostra
No
Material
BC MC AC
1 tf 3,18
εv 0,00
2 tf 2,90
εv - 0,09
3 tf 2,67
εv - 0,17
4 tf 2,29
εv - 0,33
5 tf 1,89
εv - 0,52
6 tf 1,49
εv - 0,76
7 tf 1,16
εv - 1,01
8 tf 0,90
εv - 1,26
9 tf 0,62
εv - 1,64
10 tf 0,42
εv - 2,01
11 tf 0,32
εv - 2,29
12 tf --- 0,20
εv --- - 2,77
13 tf --- 0,13
εv --- - 3,20
14 tf --- 0,08
εv --- - 3,68
3.4.1 Tratamento Criogênico
De modo avaliar o efeito do resfriamento criogênico na transformação martensítica as
amostras de trabalho BC, MC e AC apenas solubilizadas foram imersas em nitrogênio liquido
por intervalo de 2 minutos, tal como observado na Figura 3.9. Após esse período de tempo as
amostras foram retiradas do banho liquido até atingirem novamente a temperatura ambiente,
destacando-se que este ciclo foi efetuado em 5 (cinco) oportunidades. Deste modo, foi
possível estabelecer uma análise comparativa da transformação martensítica nestas condições
92
de resfriamento criogênico cíclico com as amostras apenas solubilizadas. Cabe ressaltar que
as amostras assim produzidas foram denominadas de BCN-0,00, MCN-0,00 e ACN-0,00,
respectivamente.
Adicionalmente, conforme apresentado na Tabela 3.4, amostras resfriadas em
nitrogênio líquido e, logo deformadas, foram também produzidas para as condições BC e AC
de maneira a avaliar a influência do resfriamento criogênico na precipitação de martensita
durante o processo de laminação. Para tal, o mesmo ciclo de resfriamento criogênico imposto
para as amostras solubilizadas foi intercalado durante o processo sequencial de deformação,
frisando que, impendentemente do grau de deformação verdadeira final da amostra, este ciclo
foi efetuado também em 5 (cinco) oportunidades ao decorrer do processo de laminação. As
medições de temperatura efetuadas neste processo foram realizadas em todos os casos com
termômetro digital LASER. Cabe ressaltar, que as amostras produzidas por esta rota
receberam a denominação de BCN e ACN, tal como observado na Tabela 3.4.
Figura 3.9: Detalhe do procedimento de resfriamento utilizando nitrogênio líquido (a)
vazamento de nitrogênio dentro do isopor. (b) Detalhe de uma das amostras imersa em
nitrogênio líquido.
(a) (b)
93
Tabela 3.4: Espessura final (mm) e deformação verdadeira correspondente para as amostras
com ti = 3,18 mm em amostras solubilizadas de AIA BCN, MCN e ACN.
Amostra
No
Material
BCN MCN ACN
1 tf 3,18
εv 0,00
2 tf 2,90 --- 2,90
εv - 0,09 --- - 0,09
3 tf 2,67 --- 2,67
εv - 0,17 --- - 0,17
4 tf 2,29 --- 2,29
εv - 0,33 --- - 0,33
5 tf 1,89 --- 1,89
εv - 0,52 --- - 0,52
6 tf 1,49 --- 1,49
εv - 0,76 --- - 0,76
7 tf 1,16 --- 1,16
εv - 1,01 --- - 1,01
8 tf 0,90 --- 0,90
εv - 1,26 --- - 1,26
9 tf 0,62 --- 0,62
εv - 1,64 --- - 1,64
10 tf 0,42 --- 0,42
εv - 2,01 --- - 2,01
11 tf 0,32 --- 0,32
εv - 2,29 --- - 2,29
12 tf --- 0,20
εv --- - 2,77
13 tf --- 0,13
εv --- - 3,20
14 tf --- 0,08
εv --- - 3,68
15 tf --- 0,07
εv --- - 3,82
3.5 CARACTERIZAÇÂO POR PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM)
A seguir será dada uma descrição do procedimento adotado para a caracterização das
propriedades magnéticas (PM) de todas as amostras obtidas por meio do uso de um
magnetômetro de amostra vibrante (VSM).
94
3.5.1 Preparação e determinação de massa das Amostras
As amostras foram cortadas mediante a utilização de uma cortadora de precisão com
disco diamantado pertencente à Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), fazendo uso de
uma baixa velocidade de rotação (200 RPM). A utilização deste dispositivo, mostrado na
Figura 3.10, permitiu gerar amostras de pequenas dimensões minimizando os efeitos de
deformação nas extremidades de cada amostra produzida.
Figura 3.10: Corte com disco diamantado para preparação da amostra BC -1,26.
É importante ressaltar que as amostras obtidas neste procedimento de corte foram
retiradas da porção central da amostra, de maneira a evitar a influência da deformação
irregular presente nas extremidades da mesma, tal como mostrado durante o corte da amostra
na Figura 3.10.
Logo após o corte, cada amostra foi pesada em uma balança digital METTLER
AE240, de cinco casas decimais de precisão, tal como exibe a Figura 3.11.
Figura 3.11: (a) Balança de medição utilizada e (b) acuracidade da medição realizada em uma
das amostras.
(a) (b)
95
Cabe ressaltar que, todas as medições realizadas nesta etapa são apresentadas na seção
7.1.
3.5.2 Medições de Magnetização
A curva de magnetização (M), em emu, em função do campo magnético externo
aplicado (H), em G, foi levantada em cada amostra a partir da utilização de um magnetômetro
de amostra vibrante (VSM) marca LAKESHORE modelo 4500 pertencente à Universidade
Federal de Itajubá (UNIFEI), tal como mostrado na Figura 3.12. Este equipamento constitui-
se dos componentes básicos esquematizados na Figura 3.13.
Figura 3.12. Magnetômetro de amostra vibrante. Em detalhe, no canto inferior esquerdo, se
observa a localização da amostra entre as bobinas de aplicação do campo indutor externo.
96
Figura 3.13: Esquema do magnetômetro de amostra vibrante EGG-PAR: 1- Fonte de corrente;
2- Vibrador; 3- Eletroímã; 4- Região da amostra, ponta Hall que mede o campo e as bobinas
pick-up que lêem o sinal diferenciado; 5- Controlador; 6- Computador (PARDAL, 2012).
Neste trabalho, as amostras com deformação verdadeira de até 0,76, inclusive, foram
ensaiadas mediante a aplicação de um campo externo de até 15000 G (1,5 T). Entretanto, as
amostras com maiores valores de deformação verdadeira foram ensaiadas com a aplicação de
campos magnéticos de até 10000 G (1,0 T) em virtude da fácil magnetização destas amostras
com campos externos de baixo valor.
O computador (item 6 da Figura 3.13) forneceu, após a realização de cada ensaio, os
valores de magnetização (B) em emu para cada valor do campo indutor externo aplicado (H)
em G. Logo, levando em consideração a massa de cada amostra e, fazendo uso do programa
Origin 7.0, foram representadas graficamente todas as curvas de magnetização (B) em emu/g
para cada deformação verdadeira imposta nos materiais de estudo. Os valores obtidos a partir
das representações gráficas efetuadas se encontram no apêndice 7.2 do presente trabalho.
Em cada curva de B versus H foi determinado o valor de magnetização de saturação
(ms) em cada amostra pelo ajuste de uma reta para valores de campo (H) entre 90 e 100%,
aproximadamente. Em seguida, foi determinado o valor da ordenada à origem da função como
o valor de ms em (emu/g), tal como efetuado convencionalmente em diversos trabalhos
recentes (TAVARES et al., 2006, 2008, 2011, 2014). A Figura 3.14 mostra um exemplo
característico de obtenção da ms para a amostra MC com -0,52 de deformação verdadeira.
Neste trabalho, o valor de ms para cada amostra foi também determinado pela representação
97
gráfica de M versus 1/H, sendo o valor ms obtido quando o campo indutor externo (H) tende
ao infinito (MIYAKE et al., 1991; CULLITY & GRAHAM, 2009; ELMASSALAMI et al.,
2011; TAVARES et al., 2014). A Figura 3.15 exibe um exemplo da determinação do valor de
ms para a amostra MC com -0,52 de deformação verdadeira.
Figura 3.14: Representação gráfica da magnetização de saturação (ms) pelo ajuste de uma
função linear na amostra de AIA AISI 321 MC-0,52.
98
Figura 3.15: Representação gráfica da magnetização de saturação (ms) pelo ajuste de uma
função linear considerando o valor inverso do campo indutor externo (H), na amostra de AIA
AISI 321 MC-0,52.
Por fim, a fração volumétrica da martensita foi determinada em cada condição
analisada fazendo uso da equação 2.15, tal como mencionado na seção 2.1.1.5.2. Neste
contexto, a magnetização intrínseca da martensita (msi) foi obtida através do valor da ms para
a condição de máxima deformação verdadeira imposta nos AIA BC e MC de acordo com a
Tabela 3.3. Já no caso do AIA AC, devido à maior estabilidade da austenita em termos de
transformação martensítica, o valor da msi foi o mesmo adotado para a máxima condição de
deformação verdadeira imposta, da amostra que recebeu resfriamentos cíclicos durante o
processo de deformação (ACN -3,82), tal como exposto na Tabela 3.4.
Neste trabalho, uma metodologia semelhante à descrita previamente para a
determinação de ms de cada condição analisada foi ainda implementada para a determinação
do valor da magnetização intrínseca da martensita α’ (msi). Neste caso, a obtenção msi foi feita
mediante o ajuste de uma reta na representação gráfica de ms versus (1/εv) para valores de 1/εv
entre 0 e 2. Assim sendo, o valor obtido da ordenada na origem da função é a magnetização
intrínseca da martensita α’ quando 1/εv tende ao impróprio. Este valor foi então comparado ao
determinado convencionalmente, tal como descrito no parágrafo anterior.
99
3.5.2.1 Modelagem da Cinética de Precipitação
Um estudo da modelagem da cinética de precipitação foi empregado neste
trabalho fazendo uso da metodologia descrita na seção 2.1.1.5.5 através da utilização da
equação 2.17 proposta por Tavares et al., (2009). Nesta modelagem foram utilizados os
valores experimentais obtidos por magnetismo da fração volumétrica de martensita para as
condições BC, BCN, MC, AC e ACN. Os valores de K e n foram determinados, nessas
condições de estudo utilizando a expressão 2.18, levando em consideração os valores
experimentais correspondentes ao trecho continuo de aumento na precipitação de martensita,
ou seja, descartando-se os valores no período de incubação e próximos da saturação na
precipitação, tal como mostrado na Figura 3.16 para obtenção de K e n, na condição ACN.
Nestas modelagens, realizadas mediante uso de um programa desenvolvido em Microsoft
Excel®, os valores de dCα’/dε foram calculadas fazendo uso das equações 2.19 e 2.20,
permitindo ainda estimar, em cada condição, o valor de deformação verdadeira (εvmáx) que
promoveu a máxima taxa de transformação da martensita (dCα’/dε). Vale ressaltar, que os
coeficientes de correlação (R2) foram ainda estimados para cada condição. Os resultados
assim obtidos foram analisados e comparados com outros reportados na literatura (TAVARES
et al., 2009, 2011 e 2014).
Figura 3.16: Ajuste da reta no gráfico ln(-ln(Cα'(ε)/Cα's)) vs εv para obtenção de K e n, na
condição AC.
100
3.6 MICROCOPIA ÓTICA (MO)
As análises metalográficas foram realizadas em um microscópio ótico marca Zeiss
modelo NEOPHOT 32 do Laboratório de Metalografia e Tratamentos Térmicos (LABMETT)
da Universidade Federal Fluminense (UFF) em amostras solubilizadas e deformadas em
diversas condições nos AIA BC, MC e AC.
Depois de efetuado o lixamento e polimento das amostras mediante procedimento
metalográfico convencional, as amostras de estudo foram avaliadas metalograficamente
mediante a utilização de um ataque eletroquímico, através da aplicação de 9V durante 30
segundos com a amostra fixada no anodo (+), fazendo uso de uma solução aquosa contendo
10% de ácido oxálico.
Mediante o uso deste reagente, foram avaliadas características microestruturais de
cada condição, tais como contornos de grão, maclas, presença de precipitados de TiN e/ou
Cr23C6, assim como de martensitas induzidas por deformação.
3.7 MEDIÇÃO POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX)
Análises por DRX foram realizadas para a caracterização e quantificação das fases
presentes em diversas amostras das condições BC, MC e AC empregando-se uma varredura
lenta do feixe com o intuito de obter valores mais precisos nos difratogramas obtidos. Os
difratogramas de raios-X foram assim obtidos em um difratômetro BRUKER
modelo D8
Discover do Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC) da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), utilizando radiação CoK com
comprimento de onda 1,78901Å sem monocromador. Os ensaios foram realizados em um
intervalo angular de varredura em 2 de 45º-109,99º. As medições foram realizadas à
temperatura ambiente em modo contínuo de varredura, com passo angular de 0,01º e tempo de
contagem de 190,9980 segundos. A tensão e corrente utilizadas nos ensaios foram 35KV e
40mA, respectivamente.
Entretanto, análises por DRX com varredura rápida do feixe incidente foram
realizadas nas condições MC e ACN com deformações verdadeiras de -3,20 e -3,82,
respectivamente. Está rápida análise teve apenas como intuito de verificar a total
transformação (α´) em ambas as condições estudadas. Neste caso, as amostras foram
ensaiadas no Laboratório de Difração de Raios X (LDRX) do Instituto de Física da UFF em
101
um equipamento marca BRUKER® modelo D8 Advance, empregando uma fonte de radiação
de CuK com comprimento de onda 1,58400Å sem monocromador. Cabe ressaltar que,
um intervalo angular em 2 de 45º a 109,97º foi utilizado em ambas as amostras analisadas.
Todos os ensaios foram conduzidos à temperatura ambiente em modo contínuo de varredura,
com passo angular de 0,0190º e tempo de contagem de 19,2 segundos. A tensão e corrente
utilizadas nos ensaios foram 40KV e 40mA, respectivamente.
3.7.1 Software Utilizado para a Análise dos Difratogramas
Os dados provenientes dos ensaios de difração de raios-X, foram tratados utilizando o
programa X´ Pert Highscore da PHILIPS
pertencente à Universidade Federal do Ceará
(UFC). Este programa detecta, identifica e ajusta automaticamente os picos encontrados por
raios-X com grande precisão. Sendo assim, é possível a obtenção precisa do ângulo de Bragg
(), altura do pico de difração, distância interplanar (d) e área integrada de cada pico de
difração, entre outras funções. A quantificação de fases pelo método de comparação direta,
descrito em 3.8.2, entre os picos existentes de cada fase foi efetuada por meio de um
programa similar ao desenvolvido por Pardal, (2012) em Microsoft Excel para aços maraging.
3.8.2 Considerações na Quantificação das Fases por Difração de Raios-X
A quantificação de fases por DRX foi efetuada pelo método de comparação direta,
proposto por Cullity, (1978). Neste sentido, no presente trabalho foi utilizado um programa
desenvolvido previamente em Microsoft Excel® para quantificar transformações de fases em
aços maraging por esta metodologia (PARDAL, 2012). Cabe ressaltar que a adaptação e
utilização deste programa foi empregado com sucesso, no trabalho reportado por Tavares et
al., (2006) no estudo da transformação martensítica do AID UNS S31803. Neste programa,
foram considerados fatores de espalhamento atômico semelhantes para as fases e α´. Além
disso, os picos de difração correspondentes aos planos de cada fase foram comparados todos
contra todos durante as quantificações de maneira a minimizar o efeito da direção preferencial
(PARDAL, 2012).
Deste modo, considerando-se que as condições estudadas são isentas de ferrita (), foi
possível viabilizar a quantificação de fases determinando assim a porcentagem de martensita
102
presente nas diversas amostras de aço inoxidável austenítico estabilizados ao titânio ensaiadas
por difração de Raios-X no modo lento de varredura, tal como mencionado na seção 3.8.
3.8 ENSAIO DE POLARIZAÇÃO ELETROQUÍMICA DE REATIVAÇÃO CÍCLICA
(PERC)
As análises por polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) foram
efetuadas no LABMETT - UFF fazendo uso da célula portátil apresentada na Figura 2.12
(ENNES, 2013). Os ensaios foram conduzidos na referida célula em virtude da inviabilidade
de confecção de eletrodos convencionais atribuído às pequenas espessuras presentes nas
amostras em determinadas condições de teste.
Do mesmo modo que a célula convencional, a célula portátil de teste consistiu do uso
de um contra eletrodo de platina (Pt) e um eletrodo de referência de calomelano saturado
(SCE), tal como apresentado na Figura 3.17. Como se observa nesta figura, o contato da
solução com amostra de teste se efetua através de um orifício de 2,5 mm de diâmetro na parte
inferior da célula portátil. Cabe ressaltar que, a referida célula é auto suportada por meio de
molas dispostas a 120º entre sim, como mostrado na Figura 3.18 (ENNES, 2013). O contato
elétrico da amostra se efetua, em cada caso, pela tensão exercida pelo o´ring da célula tanto
na amostra como na superfície de um eletrodo porta amostra do mesmo material, tal como se
apresenta nas Figuras 3.17 e 3.18. Este eletrodo porta amostras foi especialmente
confeccionado para comportar o terminal correspondente ao eletrodo de trabalho do
potenciostato, tal como efetuado no seu estudo por Ennes, (2012). Cuidados especiais no
acabamento superficial do eletrodo porta amostras foram levados em consideração de modo
verificar a continuidade elétrica do conjunto amostra-terminal, sendo esta verificada em cada
condição, através do uso de multímetro digital.
103
Figura 3.17: Arranjo dos eletrodos no ensaio de PERC com uso de célula portátil.
Figura 3.18: Fixação da célula portátil na amostra de trabalho.
Como exibe a Figura 3.19, todos os ensaios de PERC foram efetuados à temperatura
ambiente com aeração natural em um potenciostato galvanostato µAutolab® Type III,
fazendo uso de uma solução aquosa contendo 0,5M H2SO4 + 0,01M KSCN de acordo com o
empregada por Moura et al., (2008) no estudo do AIA AISI 321. Neste caso, a varredura foi
Amostra
Contra eletrodo
Eletrodo de
Referência
o´ring Porta amostra
104
iniciada após a estabilização do potencial com o circuito aberto (0,4VSCE). Em seguida, o
potencial, medido em relação ao eletrodo de referência, foi aumentado no sentido anódico
com uma taxa de 1mVSCE/s até 0,3VSCE. Finalmente, atingido este valor, a varredura foi
invertida no sentido catódico até o valor original do potencial de circuito aberto. A perda de
resistência à corrosão foi avaliada a partir da relação entre o pico da corrente de reativação (Ir)
e da corrente de ativação (Ia) na varredura anódica, como apresentado na seção 2.1.1.2.
Figura 3.19: Ensaio de PERC sendo efetuado em uma das amostras mediante uso da célula
portátil.
3.9 MEDIÇÃO DE MICRODUREZA VICKERS
Medições de microdureza Vickers foram realizadas nas amostras BC, MC e AC
utilizando um microdurômetro Digital Microhardness Tester da Digimess pertencente ao
LABMETT - UFF. No microdurômetro apresentado na Figura 3.20, foram realizadas, em
média, 8 medidas de dureza por amostra, empregando-se uma carga de 9,8N e tempo de
duração de cada ensaio de 15 segundos. Deste modo, foi possível avaliar a influência da
precipitação de martensita, nesta propriedade mecânica, mediante a comparação dos valores
105
de dureza obtidos nas amostras BC, MC e AC diante iguais valores de deformação verdadeira.
A seção 7.3, nos apêndices, apresenta as tabelas contendo os valores médios e o desvios
padrão de dureza medidos nas amostras BC, MC e AC para as diferentes condições de
deformação.
Figura 3.20: Microdurômetro empregado para a caracterização dos materiais de estudo.
106
CAPÍTULO 4
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Conforme citado na seção 2.1.1.4.1 do presente estudo, para o AI ser considerado
enquadrado dentro da especificação AISI 321, tanto na ASTM A240 quanto na ASTM A312,
este deve possuir sua composição química dentro de determinado padrão. Para o percentual de
titânio presente, este valor deve atender as equações 4.1 e 4.2 para o aço, em questão, ser
classificado como Tipo 321 ou Tipo 321H, respectivamente. De acordo com a Tabela 3.1,
sabe-se que o material contendo teor intermediário de carbono (MC) atende à norma ASTM
A312TP321, ao passo que material contendo maior teor de carbono (AC) atende à norma
ASTM A312TP321H.
4.1
4.2
A partir das expressões anteriores, juntamente com as composições fornecidas na
Tabela 3.2 do presente estudo, podem ser verificados se os aços estabilizados de estudo
atendem às normas supracitadas. Os resultados obtidos para cada condição de aço estabilizado
estudado são apresentados na Tabela 4.1.
107
Tabela 4.1: Análise da composição química das amostras de AIA estabilizadas ao titânio
estudadas, de acordo com as normas ASTM A240 e ASTM A312.
Id Percentagem em peso dos elementos (%)
Ti 5.(C + N) 4.(C + N)
BC 0,1000 0,1440 ---
MC 0,3800 0,2550 ---
AC 0,4500 --- 0,2904
Os resultados obtidos na Tabela 4.1 evidenciam que o AIA estabilizado ao Ti
contendo baixo teor de carbono (BC) não se enquadra na classificação das normas ASTM
A240 e ASTM A312, em virtude do teor de Ti ser inferior a cinco vezes a soma do percentual
de C e N.
4.1.1 Energia de Falha de Empilhamento e Temperaturas Ms e Md30
A Tabela 4.2 exibe os valores calculados da energia de falha de empilhamento (EFE),
obtidos a partir das equações 2.13 e 2.14 propostas por Vitos et al., (2006) e Scharam & Reed
(1975), respectivamente. Na Tabela 4.2 também foram estimados os valores da EFE
intrínseco do carbono (EFEc), utilizando apenas o termo que contem o C da expressão 2.13.
Logo, em seguida, foi determinada a influência que o carbono possui em relação ao valor da
EFE total em valores percentuais.
Tabela 4.2: Valores calculados de EFE para as amostras estudadas.
Id %C EFE (mJ/m
2) EFEc (mJ/m
2) Influência do C
na EFE (%) Equação 2.13 Equação 2.14 Equação 2.13
BC 0,0148 25,91 19,45 6,05 23,35
MC 0,0350 34,40 20,11 14,35 41,72
AC 0,0642 49,26 28,23 26,32 53,43
Da análise da Tabela 4.2, verifica-se uma influência significativa do teor de carbono
no valor da EFE resultante a partir da utilização da equação 2.13. Como poderá ser verificado,
na seção 4.2, essa diferença percentual refletiu significativamente na transformação
martensítica das ligas estudadas. Deste modo é de grande importância, na estimativa da EFE
da liga, fazer uso de equações que levem em consideração o teor de carbono contido na liga.
108
Neste contexto, fazendo uso da equação 2.14, tem-se como exemplo, uma pequena variação
entre a EFE para as designações BC e MC em virtude do teor de C da liga não ser levado em
consideração. Porém, como será abordado em 4.2, se manifestam diferenças significativas na
cinética de transformação martensítica entre ambas as designações produto de uma grande
diferença do valor da EFE de acordo com o reportado por Reick et al., (1996).
Analisando a Tabela 4.2, também se depreende que a influência na EFE total da
quantidade de carbono presente nos AIA AISI 321 MC e AC é muito mais significativa
quando comparado com o AIA estabilizado BC, chegando a representar um 179 % e 228 %
maior, respectivamente.
No presente estudo foram também avaliados os valores das temperaturas Ms e Md30
para as amostras de estudo de AIA estabilizados ao Ti. Os valores de Ms foram calculados
utilizando as equações 2.8, 2.9 e 2.10, descritas em 2.1.1.5. A Tabela 4.3 apresenta os
resultados obtidos para cada material (BC, MC e AC) utilizando cada uma das equações
mencionadas. Já os valores Md30 foram calculados com base nas equações 2.11 e 2.12,
propostas por Abreu et al., (2007) e Gilapa, (2011), respectivamente.
Tabela 4.3: Temperaturas Ms e Md30 para cada designação de AIA estudado.
Id Ms Md30
Equação 2.8 Equação 2.9 Equação 2.10 Equação 2.11 Equação 2.12
BC -100,98 -21,76 -69,81 64,84 148,84
MC -189,15 -70,49 -118,60 52,16 136,16
AC -363,80 -167,46 -215,60 24,26 108,26
Os valores obtidos na Tabela 4.3 deixam claro que tanto a temperatura Ms quanto Md30
possuem influência significativa do percentual de carbono presente na liga, de maneira que
diminuem com aumento do teor de C presente na liga
Outro interessante resultado é observado ao se comparar os valores de Ms e Md30
encontrados na Tabela 4.3 com os valores obtidos em estudos anteriores para outras
designações de AIA (Tabela 2.5). É notório, que nos AIA AISI 301LN e AISI 316L os
valores das temperaturas Ms e Md30, calculados utilizando as equações 2.10 e 2.11, são
significativamente menores que os obtidos nos AIA estabilizados ao Ti BC e MC. Entretanto,
ao comparar os valores de Ms e Md30 do AIA AISI 321 AC, nota-se que a temperatura Ms é
sensivelmente menor à obtida pelo AIA AISI 316L, enquanto o valor de Md30 se mostrou
consideravelmente maior.
109
4.2 PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM)
4.2.1 Magnetização de Saturação
O principal objetivo da realização de ensaios no VSM foi obter o valor de
magnetização de saturação (ms) da cada amostra através das curvas de magnetização (M)
versus campo magnético aplicado (H), tal como apresentadas exemplificativamente nas
Figuras 3.14 e 3.15. Neste sentido, algumas destas curvas estão apresentadas nas Figuras 4.1 a
4.3, que em uma análise simplória exprimem os efeitos do grau de deformação verdadeira na
magnetização das amostras, para as condições BC, MC e AC, respectivamente. Pode-se notar
que, em todos os casos, o valor de magnetização da amostra aumenta juntamente com o
incremento na deformação plástica do material, corroborando-se com a teoria relatada na
seção 2.1.1.5 do presente estudo Para uma melhor visualização optou-se por apresentar
somente as curvas das amostras com menor valor de deformação verdadeira, que foram as
magnetizadas com valores de campo indutor externo de 15000 G.
Figura 4.1: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras BC com εv até -0,76.
110
Figura 4.2: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras MC com εv até -0,76.
Figura 4.3: Representação gráfica da magnetização (M) versus o campo magnético indutor
externo (H), para amostras AC com εv até -0,76.
111
As Figura, 4.4 e 4.5 apresentam os valores de magnetização de saturação (ms) em
função do módulo da deformação verdadeira imposta nas amostras solubilizadas contendo
baixo teor de carbono (BC e BCN), respectivamente. Estas curvas foram traçadas para ambos
os métodos de análise, convencional e 1/H, tal como exemplificado nas Figuras 3.14 e 3.15,
respectivamente. Seguindo um procedimento semelhante, as Figuras 4.6 à 4.8 apresentam as
curvas da magnetização de saturação versus o módulo da deformação verdadeira para as
outras três condições estudadas do AIA AISI 321: MC, AC e ACN.
Figura 4.4: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA BC.
112
Figura 4.5: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA BCN.
Figura 4.6: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 MC.
113
Figura 4.7: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 AC.
Figura 4.8: Magnetização de saturação (ms) versus módulo de εv, obtidas nos métodos
convencional e 1/H nas amostras de AIA AISI 321 ACN.
114
Nota-se que o efeito da deformação plástica no valor da magnetização da amostra
também é evidente ao se analisar as curvas das Figuras 4.4 a 4.8, onde os valores de
magnetização de saturação alcançados aumentam e se aproximam, quanto maior for o valor
da deformação verdadeira (εv) imposta no material. Observa-se também, que os valores de ms
obtidos pelo método convencional são levemente menores daqueles calculados pelo método
do valor inverso do campo (1/H), vide Tabelas 7.2 e 7.3. Este fato ocorre em virtude de no
método 1/H, o valor de ms ser determinado quando a amostra se encontra totalmente saturada
devido ao campo indutor externo tender ao impróprio e, por isto, esta metodologia é mais
precisa do ponto de vista matemático se comparado com o método usualmente empregado.
Uma análise comparativa das Figuras 4.4 a 4.8 também põe de manifesto que o valor
da ms é dependente da quantidade carbono presente no material. Isto ocorre devido à
influência do C na energia de falha de empilhamento (EFE), calculada com base na equação
3.1. Quanto menor a EFE, maior a susceptibilidade de precipitação de martensita α’ na
estrutura. Com isto, nota-se comparando, por exemplo, as Figuras 4.4 com a 4.7 que a
magnetização de saturação intrínseca (msi) é atingida mais facilmente nas amostras com
menores teores de carbono. Desta maneira as curvas de magnetização (ms) versus módulo da
deformação verdadeira imposta (εv) nas amostras para as designações BC e MC, atingiram a
saturação (msi) com valores de 150,21 Am2/Kg e 134,25 Am
2/Kg para εv de -2,29 e -3,20,
respectivamente. No caso do AIA AC, não foi possível atingir a msi, mesmo com uma εv de -
3,68. Neste caso, a magnetização de saturação intrínseca (msi) só foi atingida após a realização
de sucessivos resfriamentos em nitrogênio (ACN) aliada a uma εv da ordem de -3,82. Neste
caso a msi correspondeu a 120,15 Am2/Kg. Cabe ressaltar que nas condições das msi
determinadas foi verificado o 100% de transformação martensítica por difração de raios-X
(DRX), tal como será abordado na seção 4.5.1.
Portanto, pode-se perceber que o valor de msi varia de acordo com a quantidade de
carbono presente na liga, sendo inversamente proporcional ao teor de C. Deste modo quanto
maior o percentual de C contido na liga menor o valor da msi, em virtude do C afetar no
momento magnético dos átomos de ferro (Fe) das ligas estudadas (BOZORTH, 1968;
TEBBLE & CRAIK, 1969).
Mediante uma análise particular das Figuras 4.4 e 4.5, pode-se concluir que apesar do
resfriamento em nitrogênio promover um aumento da magnetização para estágios iniciais de
deformação, o valor da msi da condição BCN é semelhante ao obtido para a condição apenas
deformada (BC), dando indícios que a msi obtida é intrínseca da liga.
115
A Figura 4.9 apresenta as curvas das Figuras 4.4, 4.6 e 4.8. Estas curvas foram
representadas somente no método convencional de análise para as amostras de AIA BC, MC e
ACN, respectivamente. Nesta figura é possível verificar claramente a diferença obtida no
valor de msi em função do teor de carbono presente nas três condições.
Figura 4.9: Curvas comparativas de magnetização de saturação (ms) versus εv das amostras
estabilizadas BC, MC e ACN.
A metodologia utilizada para ajuste das retas dos gráficos de magnetização (M) vs 1/
εv foi a descrita na seção 3.6 e as Figuras 4.10 e 4.11 apresentam, a título de exemplo, como
foram determinados estes valores para as amostras de AIA BC. Considerando, portanto, o
método onde a deformação verdadeira tende ao infinito, foram estimados os valores de 151,34
emu/g e 156,25 emu/g para a magnetização de saturação intrínseca (msi) das amostras BC, nos
métodos: convencional e 1/H, respectivamente.
Curvas semelhantes foram traçadas também para as amostras BCN, MC, AC e ACN e
os resultados, com os valores de msi obtidos tanto a partir dos gráficos magnetização de
saturação versus εv quanto magnetização de saturação versus 1/ εv, nos métodos convencional
e 1/H, são apresentados na Tabela 4.4.
116
Figura 4.10: Curva da magnetização versus 1/módulo da εv para o AIA BC, realizada pelo
método convencional.
Figura 4.11: Curva da magnetização versus 1/ módulo de εv para o AIA BC, realizada pelo
método (1/H).
117
Tabela 4.4: Valores de msi obtidos em todas as condições e métodos utilizados.
AIA
Valores de Magnetização de Saturação Intrínseca (msi)
ms vs │εv│
Método Conv.
ms vs │εv│
Método 1/H
ms vs 1/│εv│
Método Conv.
ms vs 1/│εv│
Método 1/H
BC 150,21 152,71 151,34 156,25
BCN 149,44 153,66 149,30 154,60
MC 134,25 137,67 135,63 139,60
AC 73,89 75,66 63,29 65,48
ACN 120,15 123,35 99,16 101,56
Cabe neste momento do trabalho efetuar uma ressalva para explanar a metodologia
utilizada para definir os valores de msi que foram utilizados na determinação da fração de
austenita transformada em martensita, tal como será abordado na seção 4.3.2. Estes valores
foram definidos como o ponto de magnetização de saturação máximo das curvas 4.4 a 4.8,
que como se esperava foram os das amostras mais deformadas em cada condição.
Para todas as amostras contendo baixo e médio teor de carbono (BC, BCN e MC) o
método para determinar a msi da amostra com base na curva magnetização vs 1/v foi
satisfatório, como pode ser verificado na Tabela 4.4. Nas amostras BC e MC, o valor
conseguido pelo método 1/εv é aproximadamente 0,8% e 1% maior ao obtido
convencionalmente, respectivamente. Entretanto notou-se que nas amostras AC e ACN, a
aplicação do método 1/εv conduziu a resultados não satisfatórios por possuir poucos valores
experimentais no domínio de εv que contenham altos teores de martensita.
4.2.2 Transformação Martensítica
Com base nos resultados obtidos nas propriedades magnéticas e os valores de
magnetização de saturação intrínseca obtidos na análise dos gráficos apresentados na seção
4.2.1, foi possível avaliar a quantidade austenita transformada em martensita α’ devido à
deformação plástica imposta.
Para a determinação da porcentagem de martensita precipitada (Cα’) foi utilizada a
equação (2.15) para todas as condições de amostra de AIA estudadas: BC, BCN, MC, AC e
ACN. As equações 4.3 a 4.7 representam estas equações, onde os valores de msi são os
denominadores das expressões.
118
Sendo:
ms: Magnetização de saturação da amostra analisada pelo método convencional
(emu/g) e;
Cα’: Fração volumétrica de martensita.
Note-se que nas expressões anteriores foi considerado, nos materiais com a mesma
quantidade de carbono submetidos a resfriamento cíclicos ou não, o mesmo valor no
denominador da expressão. Este denominador foi o valor mais alto de magnetização obtido
para aquela condição de aço, pois como concluído anteriormente o valor de msi é intrínseco do
material.
A Tabela 4.5 expressa um comparativo entre valores da msi de alguns AIA e AID
estudados previamente, com os obtidos no presente trabalho nas amostras de AIA BC, MC e
AC.
119
Tabela 4.5: Valores da msi dos AIA estabilizados ao titânio estudados e de outros AIA e AID
estudados previamente.
Material Magnetização de Saturação
Intrínseca (Am2/kg)
UNS S31803 (TAVARES et al., 2006)
133,00
AISI 301LN (TAVARES et al., 2008)
157,10
201 Modificado (TAVARES et al., 2009)
140,00
UNS S32304 (TAVARES et al., 2011)
140,20
BC 150,20
MC 134,25
AC 120,15
Como pode-se observar na Tabela 4.5, os valores de msi se encontram bem próximos
com os obtidos nos aços estudados por Tavares et al., (2006, 2008, 2009, 2011). O AIA AISI
321 BC apresentou um valor de msi bem próximo ao valor obtido para o AISI301LN. Já o
AIA AISI MC apresentou valor semelhante ao do AID UNS S31803. Por fim a condição AC,
do AISI 321, foi a que apresentou menor valor de msi dentre todos os AI mostrados na Tabela
4.5, com valor igual 120,15 Am2/kg.
A partir do uso das equações anteriores (4.3 a 4.7) foram traçadas as curvas da fração
de austenita transformada em martensita (γ→α’) em função da deformação verdadeira para
cada uma das condições estudadas. A Figura 4.12 apresenta as curvas comparativas para as
amostras de AIA estabilizados ao Ti BC, MC e AC.
120
Figura 4.12: Fração de austenita transformada martensita α’ para os AIA estabilizados BC,
MC e AC.
A análise da Figura 4.12 reafirma a teoria que o percentual de carbono, e
consequentemente a EFE, tem grande influência na susceptibilidade de transformação
martensítica nos AIA estabilizados ao titânio. Analisando por exemplo a quantidade de
martensita precipitada, fixando-se a εv das amostras em -0,52, a condição BC já possui
92,75% de sua estrutura tomada de martensita enquanto no mesmo valor de deformação
verdadeira, a amostra de MC tem sua estrutura composta por volta de 15,05% de martensita e
a amostra AC tão somente 5,36%.
Nota-se que no presente trabalho, assim como ocorrido em estudos anteriores
(GILAPA, 2011) que as curvas de fração de austenita transformada em martensita versus
deformação verdadeira, apresentaram características de uma função sigmoidal, onde quanto
menor a quantidade de carbono mais inclinada se torna a curva, o que indica que o material é
mais suscetível à transformação martensítica induzida por deformação plástica a frio.
Outro interessante resultado obtido, ao se analisar as curvas da Figura 4.12, é que
somente os AIA BC e MC alcançaram 100% de martensita em sua estrutura com a aplicação
da deformação plástica, ficando o AC com somente 61,5% da sua estrutura composta de
martensita α’. Esse resultado certifica que a inserção de carbono dificulta a transformação
121
γ→α’ ou γ→ε→α’ e por este motivo foi realizada a preparação de uma amostra com
deformação verdadeira de -3,82 submetida ao N2 nos intervalos dos passes de laminação
(ACN-3,82).
A Figura 4.13 apresenta uma análise comparativa das três curvas contendo amostras
deformadas até a condição de saturação de martensita, ou seja, foi inserida a curva ACN no
lugar da AC. Note-se que mesmo também chegando à saturação de martensita α’, a curva
ACN continua sempre abaixo da MC que por sua vez fica abaixo da BC.
Figura 4.13: Fração de austenita transformada martensita α’ para as condições AIA BC, MC e
ACN.
De maneira a permitir a consulta detalhada de todas as condições estudadas (BC,
BCN, MC, AC, ACN), os valores da porcentagem de martensita α’ precipitada estão
apresentados na Tabela 7.4 do apêndice do presente estudo.
Da análise da Tabela 7.4, avaliando-se comparativamente as condições BC, MC e AC,
apenas solubilizada, observa-se uma forte susceptibilidade de transformação martensítica da
condição BC, com valores de 332% e 821% maiores do que a condições MC e AC,
respectivamente. Este fato pode ter sido originado principalmente do resfriamento brusco
oriundo do tratamento térmico de solubilização realizado, que pode ter promovido tensões
internas e/ou contração transformando parcialmente a austenita na martensita, embora não se
122
descarte uma leve influência do processo de corte na produção da amostra para ser ensaiada
no magnetômetro de amostra vibrante (VSM). Estes fatos levam a considerar que a
temperatura de inicio da transformação martensítica (Ms) da condição BC esteja próxima da
temperatura ambiente.
É interessante ressaltar, na Figura 4.13 que, quanto menor a quantidade de carbono
presente na estrutura, menor deformação verdadeira é necessária para saturar de martensita a
estrutura. Para a amostra BC, é necessária uma εv da ordem de -0,52. Para o MC por volta de -
2,77 e para o ACN só foi alcançada a saturação com -3,68 de deformação verdadeira.
Todo o cálculo das curvas de fração de martensita transformada em austenita vs
deformação verdadeira foram efetuados com base no método convencional, de maneira a
permitir uma comparação de resultados com outros trabalhos recentes que empregaram esta
mesma metodologia em diferentes aços (TAVARES et al.,2006; TAVARES et al., 2008;
TAVARES al., 2009; TAVARES et al., 2011). Desta maneira, pôde-se estabelecer um
comparativo das cinéticas de transformação de diversos AI, tal como mostrado na Figura
4.14.
Figura 4.14: Fração volumétrica de martensita precipitada versus módulo da deformação
verdadeira dos AIA estabilizados BC, MC, e AC comparados com outros aços recentemente
estudados. Onde: [1] - Tavares et al., (2006); [2] - Tavares et al., (2008); [3] - Tavares et al.,
(2011); [4] - Tavares et al., (2009).
123
É evidente ao observar na Figura 4.14, que a cinética de precipitação de martensita é
mais sensível no AIA BC que nas outras designações de AI estudados recentemente. Os
valores obtidos para esta condição estão próximo a do aço AISI 301LN.
Já os AISI 321 MC e AC, em função da maior quantidade de carbono e maior valor da
energia de falha de empilhamento, apresentaram um comportamento muito menos sensível
que os outros aços estudados previamente. No caso do AISI 321 AC, em função da maior
EFE em decorrência de um elevado teor de C, exibiu uma cinética muito mais lenta do que os
outros aços estudados, sendo somente comparável ao do aço inoxidável duplex (AID) UNS
S31803.
4.2.3 Influência do Resfriamento Criogênico
A análise das propriedades magnéticas em amostras de AIA estabilizadas ao titânio
com baixo e alto teor de carbono quando resfriadas ao N2 durante a laminação (BCN e ACN)
geraram resultados bastante interessantes. A Figura 4.15 apresenta uma análise comparativa
das curvas de magnetização versus εv para amostras BC e BCN, ambas utilizando o método
convencional. Em seguida uma análise semelhante é apresentada na Figura 4.16, porém para
amostras contendo alto percentual de carbono, AC e ACN.
Figura 4.15: Curvas de Magnetização versus o módulo de εv do AIA BC e BCN.
124
Figura 4.16: Curvas de Magnetização versus o módulo de εv do AISI 321 AC e ACN.
Da análise de ambas as curvas anteriores é fácil perceber que ciclos de resfriamentos
criogênicos intercalados durante o processo de laminação dos AIA BCN e ACN aceleram
significativamente a precipitação de martensita em tais aços. Resultados semelhantes foram
reportados por King e Larbalestier em 1973.
Na curva da Figura 4.15, mesmo na condição BC já tendo saturado de martensita
facilmente sem resfriamento cíclico, nota-se que a inserção de nitrogênio nos interpasses da
laminação acelera o processo de magnetização da estrutura. A amostra BC de εv igual -0,09
por exemplo, passou do valor de magnetização de 16,47 emu/g para 97,95 emu/g na condição
BCN. Já nas condições de deformação verdadeira superior a -0,52, em módulo, os valores
magnetização nas duas condições passam a ser muito próximos sendo observado que o
patamar máximo, na faixa de 150 emu/g, foi conservado.
As Figuras 4.17 e 4.18 apresentam as curvas da quantidade de martensita precipitada
em amostras deformadas plasticamente em temperatura ambiente comparadas com os valores
obtidos nas amostras imersas no N2 durante o processo laminação, para os AIA com baixa e
alta porcentagem de carbono presente na estrutura, respectivamente. Para o desenvolvimento
das referidas curvas foi utilizado o método convencional de análise.
125
A análise da Figura 4.17, referente ao AISI contendo alto percentual de carbono (AC),
deixa evidente que o nitrogênio tem um efeito de facilitar a precipitação de martensita durante
a deformação plástica também nos aços contendo alto percentual de carbono.
É interessante notar que mesmo na amostra sem deformação plástica, ou seja, com
deformação verdadeira igual a zero, há diferença no valor de magnetização de saturação
quando o AIA estudado é submetido ao N2. O aumento no valor de magnetização de saturação
foi da ordem de 1262% na amostra BCN-0,00 quando comparada a BC-0,00, na Figura 4.17.
Já na condição AC-0,00 para ACN-0,00, da Figura 4.18, esse aumento foi de 830%. Em
termos de valores, BC-0,00 com ms igual 4,68 emu/g passa para 59,04 emu/g quando
resfriado ciclicamente no N2 (BCN-0,00), Já AC-0,00 passa de 0,46 emu/g para 3,82 emu/g no
ACN-0,00.
Figura 4.17: Fração de martensita α’ precipitada em função do módulo de εv em amostras de
AIA BC e BCN.
126
Figura 4.18: Fração de martensita α’ precipitada em função do módulo de εv em amostras de
AIA AC e ACN.
É interessante notar que em amostras contendo menor quantidade de carbono (BC e
BCN) os efeitos do nitrogênio em menores valores de deformação verdadeira são mais
significativos. Todavia, ao se observar as curvas da Figura 4.18 observa-se que, nas amostras
com maior quantidade de carbono na estrutura (AC e ACN), os efeitos do resfriamento
criogênico são mais significativos em maiores valores de deformação verdadeira. A título de
exemplo, a quantidade de α’ presente na estrutura da amostra na deformação verdadeira igual
a -0,33 passa de 0,88% para 3,78% quando submetido a resfriamentos cíclicos no N2. Já para
altas deformações verdadeiras impostas, como εv igual a -3,68, a amostra AC-3,68 passa de
61,5% para 97,36% quando submetida ao resfriamento nos interpasses de laminação.
Em amostras apenas solubilizadas, o posterior resfriamento cíclico em nitrogênio
liquido das amostras BCN-0,00, MCN-0,00 e ACN-0,00 denotaram uma grande
susceptibilidade de transformação martensítica. Como era de se esperar a condição BCN-0,00
teve um maior aumento na martensita transformada de 1266% quando comparada com a
condição BC-0,00. Já as condições MCN-0,00 e ACN-0,00 tiveram aumentos de 837%
quando comparadas com as condições MC-0,00 e AC-0,00, respectivamente. Com o intuito
de realizar uma melhor caracterização deste fenômeno a Figura 4.19 apresenta os valores da
127
fração de austenita transformada em martensita em função do teor de carbono em amostras
apenas solubilizadas e resfriadas em N2 líquido. Os resultados obtidos, também podem ser
analisados por meio da Tabela 4.6.
Figura 4.19: Fração de austenita transformada em martensita em função do teor de carbono
em amostras apenas solubilizadas e resfriadas em N2 líquido.
Tabela 4.6: Valores da magnetização e porcentagem de martensita em amostras apenas
solubilizadas e resfriadas em N2 líquido.
AIA Magnetização (εv = 0) Porcentagem de Martensita α’
BC 4,68 3,12
BCN 59,04 39,51
MC 1,26 0,94
MCN 10,59 7,89
AC 0,46 0,38
ACN 3,82 3,18
128
4.2.4 Modelagem da Transformação Martensítica
Para modelar a porcentagem de martensita precipitada e determinar os valores das
constantes n e K, para cada condição de AIA estudada (BC, BCN, MC, AC e ACN), foram
utilizadas as equações 2.17 e 2.18, respectivamente.
Com base na metodologia apresentada na seção 3.5.2.1, foram traçadas as curvas da
modelagem desenvolvida para todas as amostras de AIA estudadas. As Figuras 4.20 a 4.24
apresentam os resultados obtidos para a fração de martensita precipitada em função do
módulo da deformação verdadeira imposta. As curvas modeladas também apresentam os
pontos experimentais obtidos durante as análises realizadas no VSM, de modo a permitir a
verificação da precisão e eficácia do método de modelagem utilizado.
A Tabela 4.7, apresenta os resultados das constantes n e K, obtidos por meio do ajuste
de uma reta no gráfico ln(-ln(Cα’(ε)/Cα's)) versus o módulo da deformação verdadeira,
conforme metodologia demonstrada em detalhe na Figura 3.16.
Figura 4.20: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
BC.
129
Figura 4.21: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
BCN.
Figura 4.22: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
MC.
130
Figura 4.23: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
AC.
Figura 4.24: Modelagem da martensita α’ precipitada em função do módulo de εv da amostra
ACN.
131
Tabela 4.7: Valores das constantes n e K obtidos da modelagem da transformação
martensítica.
AIA BC BCN MC AC ACN
n 7,43 4,47 1,18 0,99 0,95
K 0,16 0,05 1,12 1,72 1,88
R2 0,97 0,97 0,83 0,98 0,99
As Figuras 4.20 a 4.24 comprovam que a modelagem desenvolvida representa de
forma representativa os resultados obtidos experimentalmente onde, o valor do coeficiente R2,
da Tabela 4.7, ratifica a utilização correta da equação empregada. Observa-se facilmente que
a inclinação das curvas diminui com o aumento da quantidade de carbono presente na liga.
Portanto, o valor de n, da Tabela 4.7, diminui com o aumento da quantidade de C. Já a
constante K, que é indicativa do período de incubação da formação de α´, aumenta com a
quantidade de C presente na liga.
A influência do resfriamento criogênico nos interpasses da laminação também foi
estudada conforme observado na Tabela 4.7 pelas constantes n e K. No caso da condição BC,
o resfriamento tende a diminuir fortemente o período de incubação da transformação
martensítica (K) em virtude que a condição solubilizada e resfriada no nitrogênio possui uma
alta susceptibilidade de transformação. Deste modo é afetado o valor de n, com sua
consequente diminuição, já que parte da transformação foi inicialmente consumada. Todavia,
nas amostras de AIA AISI 321 AC o resfriamento criogênico cíclico (ACN) promoveu um
leve aumento da constante n relacionada à cinética de transformação de α´, assim como uma
tênue diminuição do período de incubação da transformação martensítica (K), estando de
acordo com os resultados apresentados para esta condição de tratamento.
As Figuras 4.25 a 4.29 apresentam a modelagem para a cinética de precipitação de
martensita em função de deformação imposta (d(Cα´(ε)/dε) em linha contínua. Já em linha
pontilhada é representada a segunda derivada de Cα’(ε).
132
Figura 4.25: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA BC.
Figura 4.26: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA BCN.
133
Figura 4.27: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA MC.
Figura 4.28: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA AC.
134
Figura 4.29: Modelagem da cinética de precipitação de martensita no AIA ACN.
De forma geral, a representação da primeira e a segunda derivada das funções
sigmoidais modeladas nas Figuras 4.20 a 4.24, fornecem informações bastante interessantes.
A Tabela 4.8 apresenta os resultados dos valores máximos e mínimos obtidos para cada uma
destas derivadas, além dos valores das deformações verdadeiras correspondentes aqueles
valores máximos na primeira (εvmáx) e na segunda derivada (εv2
máx), assim como o valor
mínimo (εv2
min) da segunda derivada.
Tabela 4.8: Valores máximos e mínimos da primeira e segunda derivada na precipitação
de martensita. Valores de εvmáx, εv2
máx e εv2
min obtidos nessas condições.
AIA BC BCN MC AC ACN
(d(Cα’(ε)/dε)máx 2,77 1,66 0,43 0,22 0,35
(d2(Cα’(ε))/dε
2)máx 17,31 1,72 0,43 0,19 0,28
εvmáx 0,16 0,05 1,13 1,72 1,88
εv2
máx 0,03 0,00 0,31 0,75 0,87
εv2
min 0,29 0,26 1,94 2,69 2,89
Como pode-se notar o valor de deformação verdadeira que promoveu a cinética
máxima de transformação da martensita (εvmáx) aumenta substancialmente com o teor de C
contido na liga. Entretanto, como era de se esperar a condição com resfriamento criogênico
135
cíclico em amostras com baixo teor de C (BCN) teve uma redução drástica do valor de εvmáx
quando comparada com aquela condição apenas deformada (BC). Por fim, o valor de εvmáx
não teve mudanças significativas na condição com resfriamento criogênico cíclico em
amostras com alto teor de C (ACN) se comparada com aquela condição apenas deformada
(AC).
4.3 MICROSCOPIA ÓTICA
Com intuito de avaliar os resultados obtidos por propriedades magnéticas, foram
realizadas análises metalográficas que confirmassem os resultados encontrados no método
VSM. As Figuras 4.30, 4.31 e 4.32 apresentam as metalografia obtidas para três condições de
deformação dos AIA: BC, MC e AC, respectivamente. Uma análise comparativa entre as
figuras evidencia a variação na porcentagem de martensita precipitada em cada material de
acordo com deformação plástica imposta. Neste sentido as Figuras 4.30 a 4.32 (b) e (c)
denotam a presença de martensitas induzidas por deformação (α’). Nota-se que as amostras
com -0,33 de deformação verdadeira, exibem uma maior proporção de martensita do que as
amostras com -0,17 de deformação verdadeira, corroborando os resultados obtidos por
propriedades magnéticas (PM).
Figura 4.30: Microestruturas do AIA BC. (a) Amostra BC-0,00. (b) Amostra BC-0,17. (c)
Amostra BC-0,33.
Figura 4.31: Microestruturas do AIA MC. (a) Amostra MC-0,00. (b) Amostra MC-0,17. (c)
Amostra MC-0,33.
136
Figura 4.32: Microestruturas do AIA AC. (a) Amostra AC-0,00. (b) Amostra AC-0,17. (c)
Amostra AC-0,33.
Prosseguindo com a avaliação comparativa das Figuras 4.30 a 4.32 ainda é importante
salientar que, para um mesmo valor de deformação verdadeira (-0,17 ou -0,33), amostras com
maior percentual de C apresentaram menor quantidade de martensita precipitada, em virtude
da maior EFE.
A análise comparativa das metalografias das Figuras 4.30 (a), 4.31 (a) e 4.32 (a), que
correspondem às amostras somente solubilizadas, indicam uma forte susceptibilidade de
transformação martensítica da condição BC, tal como reportado na caracterização por
medidas magnéticas. A significativa quantidade de martensita observada, neste caso pode ser
proveniente em parte da micro deformação plástica da superfície examinada durante o
processo de lixamento e polimento, além de ser considerada que a Ms esteja próxima da
temperatura ambiente e, que o modo de resfriamento, no tratamento de solubilização, possa
ter acarretado em tensões internas e/ou contração transformando parcialmente a austenita na
martensita durante o resfriamento da amostra.
Foi também observado nas amostras apenas solubilizadas, ou seja, com deformação
verdadeira igual a zero, a ausência de carbonetos de cromo na microestrutura, garantindo o
sucesso do tratamento térmico de solubilização efetuado.
De maneira geral, são observadas nas microestruturas, clássicas maclas de
recozimento e precipitados de nitreto de titânio (TiN) na matriz. Além disso, observa-se
qualitativamente um aparente menor tamanho de grão da austenita da condição BC quando
comparado com as condições MC e AC.
137
4.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX)
A seguir são descritos os resultados dos espectros de difração de raios-X obtidos nos
diferentes materiais para diversas condições de deformações verdadeiras impostas. Além
disso, na seção 4.5.2 é apresentada a quantificação de fases pelo método de comparação direta
nas condições de estudo, onde os valores obtidos são comparados com aqueles levantados por
PM.
4.4.1 Análise dos Difratogramas
Os difratogramas realizados em fonte de cobalto, evidenciando a influência da
deformação plástica, são apresentados nas Figuras 4.33 e 4.34 para as condições BC e AC,
respectivamente.
Figura 4.33: Difratogramas das amostras BC de deformação verdadeiras: -0,00; -0,33; -2,29.
138
Figura 4.34: Difratogramas das amostras AC de deformação verdadeiras: -0,33; -2,29.
Os difratogramas contidos nas Figuras 4.33 e 4.34 apresentam resultados bastante
interessantes do efeito do aumento da deformação verdadeira na precipitação de martensita na
estrutura. Nestas figuras, quanto maior é a deformação imposta, os picos de austenita (γxxx)
tendem a diminuir ou a desaparecer, como consequência disso, surgem picos de martensita
(α´xxx) aumentando a sua intensidade difratada com o aumento de deformação verdadeira.
É interessante notar que no difratograma da amostra BC-0,00, foi observada a
presença de martensita α’ na estrutura, corroborando com os resultados obtidos por MO.
Também foi detectado um pico de martensita ε, de acordo com a teoria citada por Mangonon
e Thomas (1970), em que a martensita metaestável ε aparece somente para pequenos valores
de deformação verdadeira.
Assim como obtido nos ensaios realizados no VSM por PM, a amostra de AIA BC
com deformação verdadeira igual -2,29 apresentou somente picos martensita na sua estrutura,
enquanto isso a amostra AC-2,29 exibiu ainda austenita (γ) na sua estrutura.
Os difratogramas comparativos apresentados nas Figuras 4.35 e 4.36 apresentam a
influência da quantidade de carbono na transformação martensítica. A Figura 4.35 exibe os
resultados para amostras BC-0,33 e AC-0,33, enquanto a Figura 4.36 apresenta a mesma
análise, porém em amostras mais deformadas (BC-2,29 e AC-2,29).
139
Figura 4.35: Difratogramas comparativos das amostras de AIA BC e AC com deformação
verdadeira de -0,33.
Figura 4.36: Difratogramas comparativos das amostras de AIA BC e AC com deformação
verdadeira de -2,29.
140
A intensidade difratada dos picos das Figuras 4.35 e 4.36, evidenciam a influência da
quantidade de carbono na transformação martensítica. Amostras de AIA contendo maior teor
de carbono apresentam menor susceptibilidade a transformação martensítica, para um mesmo
valor de deformação verdadeira. Os resultados assim apresentados estão em concordância
com os valores levantados por uso do VSM.
Conforme comentado, na seção 3.7, medidas por DRX, empregando fonte de cobre,
foram efetuadas nas condições MC-3,20 e ACN-3,82 com intuito de confirmar somente a
presença de picos de martensita. De acordo com as análises por DRX, os difratogramas
levantados para os AIA MC e AC (Figuras 4.37 e 4.38) com deformações verdadeiras de -
3,20 e -3,82 tiveram, respectivamente, 100% de transformação martensítica.
Figura 4.37: Difratograma da amostra MC-3,20.
141
Figura 4.38: Difratograma da amostra ACN-3,82.
4.4.2 Quantificação de Fases
Na Tabela 4.9 são apresentados os resultados da quantificação de fases realizadas por
DRX pelo método de comparação direta e por meio de propriedades magnéticas (PM), de
maneira a facilitar a comparação dos resultados obtidos por ambas às metodologias.
Tabela 4.9: Porcentagem de austenita transformada em martensita para determinadas
condições de estudo. Medidas obtidas por difração de raios-X (DRX) e propriedades
magnéticas (PM).
AIA Valores percentuais de martensita (α’)
BC AC
εv DRX PM DRX PM
-0,00 47,30 3,12 --- ---
-0,33 71,81 76,77 47,98 0,88
-2,29 100,00 100,00 74,31 31,34
Os cálculos de quantificação por DRX das fases martensita e austenita pelo método de
comparação direta apresentaram resultados discrepantes com aqueles levantados por
142
propriedades magnéticas nas amostras AC-0,33 e AC-2,29. Contudo, a condição BC apenas a
amostra solubilizada (BC-0,00) denotou grande divergência de resultado em virtude do
lixamento da superfície da amostra, na caracterização por DRX, promover uma forte
precipitação de martensita dissimulando o valor real obtido para nesta condição.
Na condição BC-0,33 a porcentagem de martensita precipitada apresentou uma
discrepância de somente 1% no resultado, enquanto a amostra BC-2,29, tanto por DRX
quanto por PM, apresentou o mesmo resultado, 100% de martensita α’ na estrutura.
Portanto, de forma qualitativa os resultados obtidos por difração de raios-X estão de
acordo com os obtidos por exames metalográficos e medidas magnéticas, observando-se um
teor de martensita crescente em função do maior grau de deformação verdadeira imposta e, do
menor teor de C contido na liga.
Especificamente, alguns resultados foram discrepantes em determinadas condições e,
segundo Zhao et al., (2001), apesar da vasta utilização do método de difração de Raio-X, este
ensaio é classificado como uma técnica de precisão intermediária, portanto, caso necessário, é
prudente e mais confiável adotar os resultados obtidos por meio dos ensaios por medidas
magnéticas, pois são classificados como de alta precisão.
4.5 AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO
4.5.1 Resultados dos Ensaios de PERC
Nesta seção são apresentados os resultados obtidos nos ensaios de polarização
eletroquímica por reativação cíclica (PERC) em determinadas condições de tratamento.
As Figuras 4.39 a 4.41 apresentam as curvas de PERC obtidas para as amostras de
AIA AISI 321 nas condições AC-0,00, AC-1,26 e AC-2,29, respectivamente, de modo a
permitir a avaliação da influência da deformação verdadeira sobre a razão de Ir/Ia.
143
Figura 4.39: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-0,00.
Figura 4.40: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-1,26.
144
Figura 4.41: Ensaio de PERC realizado na amostra de AIA AISI 321 AC-2,29.
A análise da Figura 4.39, que corresponde à condição apenas solubilizada (AC-0,00),
indica que não foi detectado qualquer indicio de presença de carboneto de cromo na estrutura
devido à razão Ir/Ia ser igual a zero. Deste modo, o resultado encontrado está de acordo com
análise microestrutural realizada nesta condição, tal como apresentado na seção 4.4.
Como visto anteriormente, o aumento do módulo do valor da deformação verdadeira
na amostra gera um incremento da quantidade de martensita na estrutura onde, estudos
recentes atribuíram a queda da resistência à corrosão dos aços inoxidáveis austeníticos à
precipitação de martensita α’ (JAFARI, 2010; LEBAN & TISU, 2013). Jafari, (2010)
menciona que a resistência à corrosão da fase martensítica é menor à da fase austenítica.
Portanto, seguindo esta lógica, a amostra AC-2,29 deveria apresentar uma microestrutura
mais susceptível de corrosão do que a do AC-1,26. Este fenômeno pode ser corroborado
facilmente ao analisar os resultados de Ir/Ia para o AIA AC apresentados na Tabela 4.10.
Tabela 4.10: Valores Ir/Ia obtidos nos ensaios PERC nos AIA BC e AC.
Deformação
Verdadeira (εv)
Ir/Ia
-0,00 -0,17 -1,26 -2,29
BC 0,0134 0,2712 0,2119 0,1240
AC 0,0000 0,0179 0,0554 0,0605
145
Adicionalmente, as Figuras 4.42 e 4.43 apresentam os ensaios PERC realizados em
amostras AC e BC possuindo valor de εv, igual a -0,17.
Figura 4.42: Ensaio de PERC realizado na amostra AC-0,17.
Figura 4.43: Ensaio de PERC realizado na amostra BC-0,17.
146
A comparação entre as Figuras 4.42 e 4.43 permitem determinar o comportamento do
material, em termos de resistência à corrosão, em função da quantidade de carbono presente
na microestrutura. É evidente, comparando estas figuras, que a amostra com menor teor de
carbono (BC) apresenta um valor da razão Ir/Ia bem superior à amostra com alto teor de
carbono (AC). Este efeito é atribuído à quantidade de martensita presente na microestrutura.
Como foi observado, amostras com baixo teor de carbono apresentam valores de energia de
falha de empilhamento mais baixos e, consequentemente geram mais martensitas durante o
processo de deformação plástica a frio quando comparada com amostras contendo maiores
teores de carbono (AC).
Salientando que ambas as condições solubilizadas para os AIA BC e AC se
encontravam isentas de Cr23C6, tal como apresentado nos resultados obtidos por MO, o ensaio
de polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) na condição BC-0,00 apresentou
um pequeno pico de reativação (Ir) atribuído à presença de martensita α’ nesta condição,
como comentado nas seções 4.4 e 4.5.2. Por outro lado, conforme comentado a amostra AC-
0,00 não apresentou pico de reativação algum.
Como é facilmente verificado nos valores da Tabela 4.10, observa-se de fato que as
amostras com maior quantidade de carbono sempre apresentam menores valores da razão Ir/Ia,
fixando-se o valor da deformação verdadeira. Portanto, o aumento do teor de carbono
influência positivamente na resistência à corrosão em AIA deformados a frio.
A Figura 4.44 apresenta os valores da Tabela 4.10 em forma gráfica, onde os valores
da fração de austenita transformada em martensita e os valores da razão Ir/Ia são apresentados
em função do módulo da deformação verdadeira imposta.
147
Figura 4.44: Valores da fração de austenita transformada em martensita e da razão Ir/Ia
obtidos em função do módulo de deformação verdadeira imposto no material.
Com base na Figura 4.44, pode-se perceber que nas amostras AC, que possuem
austenita e martensita na estrutura mesmo em altos valores de deformação verdadeira, o
material experimenta o fenômeno de sensitização, crescendo a razão Ir/Ia com o aumento da
deformação plástica.
Nas amostras da condição BC da Figura 4.44 percebe-se que, quando aplicado um
baixo valor de deformação, há um incremento significativo na razão Ir/Ia relacionado ao alto
grau de sensitização do material. Porém, observa-se também que conforme a amostra BC é
deformada, esta se transforma em monofásica, ou seja, composta somente por martensita.
Como consequência, o grau de sensitização (Ir/Ia) experimenta uma diminuição no seu valor
com o aumento da deformação plástica imposta. Este interessante resultado da indícios que o
grau de sensitização da amostra pode ser dependente da existência de uma estrutura bifásica
(γ e α’) no material. Para corroborar este fenômeno sugere-se avaliar os resultados de ensaios
de polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) em amostras de AIA AISI 310 em
estado solubilizado e, quando deformadas plasticamente com diferentes valores de
deformação verdadeira. No caso de não se apresentarem picos de reativação (Ir) durante os
148
ensaios nas amostras deformadas devido à alta estabilidade de transformação da fase
austenítica desta liga, poderia se concluir que o fenômeno de sensitização, neste estudo para o
AIA BC, poderia estar estreitamente relacionado com a existência de uma estrutura bifásica
(α’ e γ) conjuntamente com a quantidade de martensita precipitada.
4.6 MICRODUREZA VICKERS
As Figuras 4.45 a 4.47 apresentam comparativamente os valores médios de
microdureza em função do módulo da deformação verdadeira imposta para os três materiais
estudados. Nestas figuras também foi acrescentado o percentual de martensita presente em
determinadas condições de deformação verdadeira de maneira a facilitar o entendimento do
comportamento das curvas.
Figura 4.45: Microdureza Vickers versus módulo de deformação verdadeira nas condições BC
e MC.
149
Figura 4.46: Microdureza Vickers versus módulo de verdadeira nas condições BC e AC.
Figura 4.47: Microdureza Vickers versus módulo de verdadeira nas condições MC e AC.
150
Com base nas Figuras 4.45 a 4.47, nota-se que nas amostras com deformação
verdadeira igual a zero, os valores de microdureza são praticamente similares, embora, a
amostra BCS-0,00, além de apresentar um aparente menor tamanho de grão na análise por
MO, teve 3,18% da sua estrutura composta por martensita α’. Portanto, talvez por estes
motivos, teve uma dureza levemente maior do que a condição AC, tal como observado na
Figura 4.46, mesmo possuindo menor quantidade de carbono na microestrutura.
Ao analisar as curvas das Figuras 4.45 e 4.46 percebe-se que em baixos valores de
deformação verdadeira os efeitos de endurecimento oriundos da transformação martensítica
pela deformação plástica imposta são mais significativos do que os gerados pelo encruamento,
nas amostras contendo baixo percentual de carbono (BC). Por este motivo, tanto as curvas de
microdurezas MC como AC mantém-se abaixo da curva BC nos estágios iniciais de
deformação das Figuras 4.45 e 4.46. Similares resultados foram obtidos por Tavares et al.,
(2006) e (2009) em termos de que a liga mais susceptível de transformação martensítica exibe
um maior endurecimento principalmente em estágios iniciais de deformação.
Analisando-se a curva de microdureza BC, das Figuras 4.45 e 4.46, para uma
deformação verdadeira igual a -0,52, tem-se 92,75% da sua estrutura transformada em
martensita. Deste modo, a partir desse estágio o efeito de endurecimento passa a ser quase
exclusivamente em função do encruamento, tendo apenas um leve incremento na
microdureza.
Por outro lado, a curva AC da Figura 4.46, apresenta um crescimento intenso e
continuo da microdureza ultrapassando os valores da condição BC em valores de εv iguais e
maiores a -1,64. Portanto, existe um efeito sinérgico na microdureza pela transformação
martensítica γ→α’ em estágios avançados de deformação plástica.
Nas curvas da Figura 4.47 percebe-se um valor muito parecido da microdureza entre
as amostras MC e AC diante mesmos valores de deformação verdadeira imposta. Entretanto,
em algumas condições se verificam valores de microdureza levemente superiores na condição
MC produto de uma maior metaestabilidade da austenita, observando-se uma tendência ao
mesmo comportamento comparativo descrito entre BC e AC.
153
CAPÍTULO 5
5 CONCLUSÕES
O presente trabalho, no qual foi estudado o fenômeno da transformação martensítica
no aço inoxidável austenítico (AIA) AISI 321 em função de teor de carbono (C) e do ciclo
térmico imposto, permite concluir que:
1. Com a utilização das equações da estimativa da energia de falha de
empilhamento (EFE) propostas na literatura foi verificada uma influência
significativa do C no aumento deste parâmetro para as designações estudadas.
2. Através dos valores de composição química das designações estudadas
verificou-se que as temperaturas de inicio da transformação martensítica (Ms)
e, aquela na qual 50% da martensita α’ é obtida para uma deformação
verdadeira de 0,3 no ensaio de tração (Md30), diminuem com aumento do teor
de C presente na liga.
3. Foram levantadas, de modo satisfatório, as curvas de magnetização (M) versus
deformação verdadeira imposta na amostra para as designações baixo carbono
(BC) e médio carbono (MC), atingindo a saturação (msi) com valores de 150,21
Am2/Kg e 134,25 Am
2/Kg para εv de -2,29 e -3,20, respectivamente. No caso
do AIA alto carbono (AC), não foi possível atingir a msi mesmo com uma εv de
-3,68.
152
4. Os resfriamentos cíclicos no material com baixo carbono (BCN) promoveram
um aumento da magnetização para estágios iniciais de deformação. Entretanto,
o valor da msi é semelhante ao obtido para a condição apenas deformada, dando
indícios que a msi obtida é intrínseca da liga.
5. Considerando que a msi é intrínseca na liga, foi possível determinar, através de
resfriamentos criogênicos cíclicos suplementares à deformação imposta, na
condição ACN a msi aplicando-se uma εv de -3,68. Este resultado foi
corroborado por análises por difração de raios-X (DRX).
6. Foi verificado que o teor de C diminui o valor da msi, pois o C afeta o momento
magnético dos átomos de ferro (Fe) das ligas estudadas.
7. A estimativa da magnetização de saturação (ms) quando o valor inverso do
campo magnético indutor externo (1/H) tende a zero foi efetuada com sucesso
em todas as condições estudadas. Esta metodologia é mais precisa do ponto de
vista matemático se comparado com o método usualmente empregado. Como
esperado, os valores da magnetização de saturação obtidos em todos os casos
estudados foram maiores que os determinados pelo método tradicional.
8. O valor de magnetização intrínseca da martensita para o aço estudado foi
também estimada por uma metodologia semelhante à empregada para a
obtenção da magnetização de saturação, de cada condição, realizando-se
mediante a representação gráfica do valor inverso da deformação verdadeira
imposta. Pelo formato das curvas levantadas, esta metodologia foi
satisfatoriamente aplicada nas condições BC e MC, onde o valor conseguido
por este método é, respectivamente, 0,8% e 1% maior ao obtido
convencionalmente.
9. De acordo com os resultados obtidos por medidas magnéticas, o AIA BC tem
uma grande susceptibilidade de transformação martensítica quando comparado
com as condições MC e AC, sendo sua cinética de transformação ainda maior
do que outras designações de AIA estudados recentemente, tais como AISI
153
301LN e AISI201 Modificado. Este fato, foi atribuído ao extra baixo teor de
carbono contido na liga quando comparado com as demais designações. Já o
AISI 321 AC, em função da maior EFE em decorrência de um elevado teor de
C, exibiu uma cinética muito mais lenta do que os outros aços estudados, sendo
somente comparável ao do AID UNS S31803. Como era de se esperar, a
designação MC resultou em um comportamento intermediário em relação às
designações BC e AC, respectivamente.
10. Avaliando-se comparativamente as condições BC, MC e AC, apenas
solubilizada, observou-se uma forte susceptibilidade de transformação
martensítica da condição BC, com valores de 332% e 821% maiores do que a
condições MC e AC, respectivamente. Este fato pode ter sido originado
principalmente do resfriamento brusco oriundo do tratamento térmico de
solubilização realizado, que pode ter promovido tensões internas e/ou
contração transformando parcialmente a austenita na martensita, embora não se
descarte uma leve influência do processo de corte na produção da amostra para
ser ensaiada no magnetômetro de amostra vibrante (VSM). Estes fatos levam a
considerar que a temperatura de inicio da transformação martensítica (Ms) da
condição BC esteja próxima da temperatura ambiente.
11. A quantidade de carbono presente na liga aumenta significativamente o valor
da EFE sendo, portanto inversamente proporcional à suscetibilidade de
precipitação de martensita induzida por deformação a frio nos AIA de estudo.
12. Ciclos de resfriamentos criogênicos intercalados durante o processo de
laminação dos AIA BCN e ACN aceleram o processo de precipitação de
martensita a partir da austenita na microestrutura.
13. Em amostras apenas solubilizadas, o posterior resfriamento cíclico em
nitrogênio liquido das amostras BCN-0,00, MCN-0,00 e ACN-0,00 denotaram
uma grande susceptibilidade de transformação martensítica. Como era de se
esperar a condição BCN-0,00 teve um maior aumento na martensita
transformada de 1266% quando comparada com a condição BC-0,00. Já as
154
condições MCN-0,00 e ACN-0,00 tiveram aumentos de 839% e 837% quando
comparadas com as condições MC-0,00 e AC-0,00.
14. .As curvas de fração de austenita transformada em martensita versus
deformação verdadeira, levantadas neste trabalho apresentaram características
de uma função sigmoidal.
15. A equação )).((
')´(
Kne
s eCC
representa com bastante precisão os
resultados obtidos experimentalmente para as condições de estudo. Nela, a
constante n, que representa a cinética de transformação de α´, diminui com o
aumento da quantidade de C. Já a constante K, que é indicativa do período de
incubação da formação de α´, aumenta com a quantidade de C presente na liga.
16. O resfriamento criogênico cíclico das amostras durante o processo de
laminação promoveu a um leve aumento da constante n relacionada à cinética
de transformação de α´, assim como uma tênue diminuição do período de
incubação da transformação martensítica (K) na condição ACN. No caso da
condição BCN, um alto valor de austenita transformada em martensita na
condição apenas solubilizada produto do resfriamento criogênico cíclico,
promoveu uma diminuição do valor de K a valores próximos de zero. Este fato,
leva obter valores menores da constante n relacionada à cinética de
transformação, já que como condição inicial sem deformação (BCN-0,00)
aproximadamente 40% de austenita foi transformada em martensita.
17. O valor de deformação verdadeira que promoveu o valor de α’
ε máximo de
transformação da martensita aumenta substancialmente com o teor de C
contido na liga. Entretanto, como era de se esperar a condição com
resfriamento criogênico cíclico em amostras com baixo teor de C (BCN) teve
uma redução drástica do valor de εvmáx quando comparada com aquela
condição apenas deformada (BC). Finalmente, o valor de εvmáx não teve
mudanças significativas na condição com resfriamento criogênico cíclico em
amostras com alto teor de C (ACN) se comparada com aquela condição apenas
deformada (AC).
155
18. As análises metalográficas denotaram um teor crescente de martensita em
função do maior grau de deformação verdadeira imposta nas amostras.
Verificou-se ainda por esta metodologia, uma menor quantidade de martensita
precipitada quanto maior teor de carbono presente na liga, através da avaliação
comparativa das condições BC, MC e AC diante mesmos valores de
deformação verdadeira.
19. A análise comparativa das metalografias das condições BC, MC e AC
solubilizadas indicam uma forte susceptibilidade de transformação martensítica
da condição BC, tal como reportado na caracterização por medidas magnéticas.
A significativa quantidade de martensita, neste caso pode ser proveniente em
parte da micro deformação plástica da superfície examinada durante o processo
de lixamento e polimento, além de ser considerada que a Ms esteja próxima da
temperatura ambiente e, que o modo de resfriamento, no tratamento de
solubilização, possa ter acarretado em tensões internas e/ou contração
transformando parcialmente a austenita na martensita durante o resfriamento da
amostra.
20. O tratamento térmico de solubilização efetuado nas condições BC, MC e AC
teve resultado satisfatório em virtude de não se detectarem sinais de
precipitação intergranular de carbonetos de cromo (Cr23C6).
21. Nas condições observadas por microscopia óptica (MO) foram observadas
clássicas maclas de recozimento e precipitados de nitreto de titânio (TiN) na
matriz. Além disso, observou-se qualitativamente um aparente menor tamanho
de grão da austenita da condição BC, quando comparado com as condições MC
e AC.
22. As análises qualitativas dos difratogramas obtidos por difração de Raios-X
(DRX) evidenciam que, com a introdução de um maior valor de deformação
verdadeira, todos os picos difratados da austenita diminuem de intensidade, ao
passo que os de martensita surgem e/ou aumentam, em intensidade. Mediante
esta técnica de caracterização corrobora-se ainda a menor susceptibilidade de
transformação quanto maior o teor de carbono presente na liga. Os resultados
156
assim apresentados estão em concordância com os valores levantados por uso
do VSM.
23. Na condição BC apenas solubilizada foi noticiada a presença de picos de
martensita (α’), corroborando a forte susceptibilidade de transformação desta
condição, tal como apresentado nas caracterizações por propriedades
magnéticas e por MO. Neste caso, ainda foi detectado um pico de martensita
épsilon (ε) como consequência do baixo valor da EFE (19-26mJ/m2) da liga.
24. De acordo com as análises por DRX, os difratogramas levantados para os AIA
MC e AC com deformações verdadeiras de -3,20 e -3,82 tiveram,
respectivamente, 100% de transformação martensítica.
25. Os cálculos de quantificação por DRX das fases martensita e austenita pelo
método de comparação direta apresentaram resultados discrepantes com
aqueles levantados por propriedades magnéticas nas amostras AC-0,33 e AC-
2,29. Entretanto, na condição BC apenas a amostra solubilizada (BC-0,00)
denotou grande divergência em virtude de que o lixamento da superfície da
amostra, na caracterização por DRX, promoveu uma forte precipitação de
martensita dissimulando o valor realmente obtido para dita condição.
26. Comparativamente, as técnicas de caracterização por exames metalográficos e
de difração de raios-X estão de acordo com os resultados obtidos por medidas
magnéticas, observando-se um teor de martensita crescente em função do
maior grau de deformação verdadeira imposta e, do menor teor de C contido na
liga.
27. O ensaio de polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) na
condição solubilizada BC-0,00 apresentou um pequeno pico de reativação (Ir)
atribuído à presença de martensita α’ desta condição. Diferentemente a amostra
com alto teor de C apenas solubilizada (AC-0,00) não apresentou pico de
reativação algum, salientando que ambas as condições se encontravam isentas
de Cr23C6, tal como apresentado nos resultados obtidos por MO.
28. Avaliando-se comparativamente os valores da razão entre a corrente de
reativação e de ativação (Ir/Ia) na mesma condição de deformação verdadeira a
157
frio imposta nos AIA BC e AC, conclui-se que, o aumento da deformação na
amostra promove a queda da resistência à corrosão dos aços inoxidáveis
austeníticos estudados em virtude de um maior valor de Ir/Ia, como produto da
maior transformação de austenita em martensita. Portanto, a condição BC é
susceptível de corrosão com baixos valores de deformação verdadeira impostos
no material. Por fim, o aumento do teor de carbono influência positivamente na
resistência à corrosão em AIA deformados a frio.
29. No que concerne ao ensaio de microdureza Vickers, a condição BC possui,
comparativamente em relação à AC, elevados valores de microdureza em
amostras sujeitas a estágios iniciais de deformação verdadeira em até -0,76,
onde 96,14% da austenita é transformada em martensita. Logo depois, apesar
de possuir 100% de martensita, o aumento na dureza na condição BC é
somente atribuído ao fenômeno de encruamento imposto nessas condições de
deformação, ao passo que na condição AC, o maior aumento na dureza é
promovido pelo efeito concomitante da precipitação de martensita atrelado ao
fenômeno de encruamento. No caso da condição MC, a curva de microdureza é
bastante próxima à da condição AC, porém com o mesmo comportamento
comparativo ao descrito entre BC e AC.
CAPÍTULO 6
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com base ao exposto no presente estudo são recomendados os seguintes tópicos como
sugestão para trabalhos futuros:
1. Analisar a influência de tratamentos térmicos de sensitização e estabilização na
cinética de transformação martensítica do aço inoxidável austenítico AISI 321
quando submetido a diferentes níveis de deformação plástica por laminação a
frio.
2. Avaliar a influência da transformação martensítica no AIA AISI 347.
3. Avaliar os efeitos da transformação martensítica, em amostras deformadas
plasticamente em frio com baixos valores de deformação verdadeira, no AIA
AISI 321 fazendo uso de um microscópio eletrônico de varredura (MEV)
empregando a técnica de difração de elétrons retroespalhados (EBSD).
4. Avaliar a transformação de reversão da martensita em austenita (α’→γ),
mediante emprego de análise termomagnética (TMA) fazendo uso de um forno
acoplado ao magnetômetro de amostra vibrante (VSM) ou por meio de uso de
uma balança termomagnética. Através deste método poderá ser avaliada, por
meio de uma determinada taxa de aquecimento, a temperatura em que se inicia
a reversão (α’→γ) nas três condições de estudo (BC, MC, AC).
159
5. .Efetuar tratamentos térmicos de reversão (α’→γ) nas amostras estudadas.
6. Efetuar um estudo por emissão magnética espontânea (Spontaneous Magnetic
Emission - SME) das condições de estudo (BC, MC e AC) de modo detectar a
temperatura de início da transformação martensítica (Ms) durante o
resfriamento deste tipo de ligas contendo austenita metaestável. Este
dispositivo é capaz de detectar a emissão de um ruído magnético espontâneo
durante a migração da interface de martensita/austenita, quando nenhum campo
magnético externo é aplicado.
7. Realizar um estudo da determinação do teor de martensita precipitada mediante
uso do ferritoscópio comparando os valores obtidos com aqueles levantados no
VSM diante mesmos níveis de deformação verdadeira.
8. Avaliar a influência da taxa de deformação na cinética de precipitação da
martensita nos AIA estudados fazendo uso de uma máquina de tração de baixa
taxa de deformação (BTD). Verificar nestes ensaios se a precipitação de
martensita ocorre em valores menores do limite de escoamento do material.
9. Efetuar na condição BC, tratamentos térmicos complementares de
solubilização em amostras com resfriamento moderado (no ar) e, lento (no
forno) de maneira a correlacionar as tensões residuais (medidas por DRX), o
tratamento térmico e a susceptibilidade de transformação martensítica da liga
estudada.
10. Realizar um estudo da influência da cinética de precipitação de martensita em
função do tamanho de grão presente nas microestruturas da AIA.
11. Realizar uma análise dos efeitos dos ciclos de resfriamento criogênico durante
a deformação de amostras de AIA AISI 321 MCS.
12. Avaliar a influência do tempo de resfriamento em nitrogênio líquido na
precipitação de martensita α’ nos AIA estudados.
160
13. Conforme mencionado na revisão bibliográfica, avaliar a possibilidade de
transformação martensítica por criogenia no AIA AISI 310 mediante ensaios
termomagnéticos.
14. Avaliar a possibilidade de uso de outros reagentes para caracterizar por
microscopia óptica (MO) e MEV as martensitas induzidas por deformação.
15. Efetuar a quantificação de fases por difração de Raios-X (DRX) pelo método
de Rietveld nos materiais estudados.
16. Observar no microscópio óptico (MO) a superfície ensaiada pelo ensaio de
polarização eletroquímica de reativação cíclica (PERC) de modo a verificar a
influência da transformação martensítica na resistência à corrosão.
17. Avaliar os resultados de ensaios de polarização eletroquímica de reativação
cíclica (PERC) em amostras de AIA AISI 310 em estado solubilizado e,
quando deformadas plasticamente com diferentes valores de deformação
verdadeira. No caso de não se apresentarem picos de reativação (Ir) durante os
ensaios nas amostras deformadas devido à alta estabilidade de transformação
da fase austenítica desta liga, poderia se concluir que o fenômeno de
sensitização, neste estudo para o AIA BC, poderia estar estreitamente
relacionado com a existência de uma estrutura bifásica (α’ e γ) conjuntamente
com a quantidade de martensita precipitada conforme considerado na teoria do
presente estudo.
18. Realizar caracterizações da resistência à corrosão por ensaios
potenciodinâmicos avaliando-se comparativamente as designações estudadas
diante iguais valores de deformação verdadeira. Nestes casos pode ser
determinado o potencial de corrosão do circuito aberto (Eocp), razão (Ir/Ia)
através do ensaio de PERC, potencial de pite (Ep) e de repassivação (Erp)
mediante polarização anódica cíclica.
19. Realizar análises comparativas de PERC em amostras deformadas mediante
ciclos de resfriamento criogênicos e à temperatura ambiente em diversos AIA
161
que promovam distintas frações volumétricas de martensita para iguais
condições de deformação plástica imposta.
20. Efetuar ensaios de microdureza em amostras deformadas e submetidas a
resfriamento cíclico em nitrogênio liquido (BCN e ACN). Desta maneira,
poderão comparadas as medidas de microdureza, assim obtidas, com as
amostras deformadas à temperatura ambiente, correlacionando os valores
obtidos com a quantidade de martensita presente na microestrutura.
21. Avaliar o efeito da precipitação de martensita na trefilação de fios de AIA
diversos, analisando as quantidades presentes de cada fase e microdureza ao
longo da seção do fio.
CAPÍTULO 7
7 APÊNDICES
7.1 MASSAS DAS AMOSTRAS
Na Tabela 7.1 estão expressas todas as massas, em gramas, das amostras de AIA
ensaiadas no VSM, conforme descrito na seção 3.5.1.
Tabela 7.1: Massas (g) das amostras de AIA estudadas.
εv
Massa (g)
BC BCN MC AC ACN
-0 0,27171 0,17937 0,11888 0,28352 0,12346
-0,09 0,18807 0,14976 0,09340 0,20487 0,22950
-0,17 0,25013 0,12640 0,11800 0,22953 0,16082
-0,33 0,19587 0,08671 0,10609 0,14584 0,16478
-0,52 0,18878 0,11823 0,20224 0,14327 0,16744
-0,76 0,13482 0,12333 0,10299 0,19381 0,12417
-1,01 0,13184 0,12298 0,06633 0,11788 0,09200
-1,26 0,11865 0,06194 0,03667 0,08084 0,08874
-1,64 0,09420 0,04796 0,02224 0,05891 0,05781
-2,01 0,04945 0,02978 0,03400 0,05442 0,04039
-2,29 0,03875 0,02460 0,03334 0,04719 0,03525
-2,77 - - 0,03526 0,03027 0,02600
-3,20 - - 0,02617 0,03715 0,17740
-3,68 - - - 0,02235 0,01494
-3,82 - - - - 0,00534
163
7.2 PROPRIEDADES MAGNÉTICAS (PM)
7.2.1 Resultados Obtidos no Ensaio VSM
A Tabela 7.2 e 7.3 apresentam todos os valores obtidos de magnetização de saturação
(ms) nas amostras de AIA estudadas. A Tabela 7.2 resume os resultados obtidos utilizando o
método convencional e a Tabela 7.3 o método de análise se baseando no valor inverso do
campo (1/H).
Tabela 7.2: Valores de ms obtidos, pelo método convencional, nas amostras de AIA
estudadas.
εv Magnetização (emu/g) – Método Convencional
BC BCN MC AC ACN
-0 4,68 59,04 1,26 0,46 3,82
-0,09 16,47 97,95 1,74 0,67 6,12
-0,17 76,18 105,42 2,31 0,73 7,38
-0,33 115,31 120,50 9,03 1,06 4,54
-0,52 139,32 140,12 20,20 3,50 11,51
-0,76 142,79 148,84 41,53 6,45 15,63
-1,01 150,01 145,09 50,23 9,88 19,29
-1,26 149,01 140,86 51,61 16,83 18,84
-1,64 146,25 146,89 76,22 20,24 38,52
-2,01 143,80 147,96 89,15 38,24 45,23
-2,29 150,21 149,44 115,33 37,65 62,51
-2,77 - - 134,91 53,67 76,56
-3,20 - - 134,25 70,47 91,43
-3,68 - - - 73,89 116,98
-3,82 - - - - 120,15
164
Tabela 7.3: Valores de ms obtidos, pelo método 1/H, nas amostras de AIA estudadas.
εv Magnetização (emu/g) – Método 1/H
BCS BCSN MCS ACS ACSN
-0,00 5,73 65,65 1,86 1,04 4,61
-0,09 18,34 107,68 2,41 1,30 6,90
-0,17 81,69 116,89 3,02 1,31 8,71
-0,33 121,43 132,93 10,51 1,65 5,44
-0,52 144,68 151,25 21,60 4,22 12,49
-0,76 148,20 153,53 43,76 7,24 16,69
-1,01 152,41 153,46 53,06 10,92 20,73
-1,26 152,45 153,49 54,86 18,12 19,79
-1,64 151,33 153,64 80,33 21,55 41,01
-2,01 148,71 151,62 92,83 40,05 46,88
-2,29 152,71 153,65 119,26 39,80 64,80
-2,77 - - 136,91 55,46 78,30
-3,20 - - 137,67 72,88 92,64
-3,68 - - - 75,66 119,41
-3,82 - - - - 123,35
A Tabela 7.4 apresenta a fração de austenita transformada em martensita em todas as
amostras de AIA estudadas: BC, BCN, MC, AC e ACN.
Tabela 7.4: Porcentagem de martensita precipitada nas amostras de AIA estudadas.
εv Porcentagem de Martensita (α')
BC BCN MC AC ACN
0 3,12 39,51 0,94 0,38 3,18
0,09 10,96 65,54 1,30 0,56 5,09
0,17 50,71 70,55 1,72 0,61 6,14
0,33 76,77 80,64 6,72 0,88 3,78
0,52 92,75 93,76 15,05 2,91 9,58
0,76 95,06 100,94 30,94 5,37 13,01
1,01 96,14 97,09 37,42 8,22 16,05
1,26 99,20 94,26 38,44 14,01 15,68
1,64 97,36 98,29 56,77 16,85 32,06
2,01 95,73 99,01 66,40 31,83 37,65
2,29 100,00 100,00 85,91 31,34 52,03
2,77 - - 100 44,67 63,73
3,2 - - 100 58,66 76,10
3,68 - - - 61,50 97,37
3,82 - - - - 100,00
165
7.3 MICRODUREZA VICKERS.
A Tabela 7.5 apresenta os valores médios e desvio padrão obtidos da realização dos
ensaios de microdureza Vickers (HV) para as amostras de AIA BC, MC e AC estudadas.
Tabela 7.5: Valores médios e desvio padrão da microdureza Vickers (HV) das amostras de
AIA BC, MC e AC estudadas.
MICRODUREZA VICKERS (HV)
Deformação
Verdadeira -0,00 - 0,09 - 0,17 - 0,33 - 0,52 - 0,76 -1,01 - 1,26 - 1,64 - 2,01 - 2,29
BC
148
± 6
276
± 8
344
± 7
355
± 5
358
± 5
377
± 9
389
± 8
394
±7
403
± 8
424
± 8
437
± 8
MC
146
± 12
199
± 5
241
± 13
292
± 10
348
± 6
390
± 6
401
± 7
444
± 14
431
± 4
465
± 7
492
± 11
AC
132
± 3
178
± 6
214
± 12
269
± 6
337
± 6
364
±9
392
± 5
400
± 8
433
± 11
477
± 12
459
± 9
227
CAPÍTULO 8
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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