universidade federal fluminense centro de...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FRANCISCO CARLOS DA SILVA ARAÚJO
SEGURIDADE SOCIAL: AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS COMO
FONTE DE CUSTEIO
Niterói
2003
1
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FRANCISCO CARLOS DA SILVA ARAÚJO
SEGURIDADE SOCIAL: AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
COMO FONTE DE CUSTEIO
Monografia apresentada à
Universidade Federal Fluminense
como requisito parcial para a
conclusão do curso de pós-graduação.
Professor Orientador: AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO
Niterói
2003
2
ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social: contribuições
sociais como fonte de custeio. Monografia (Pós-Graduação em Direito da
Administração Pública) – Centro de Estudos Sociais Aplicados.
Faculdade de Direito. Departamento de Direito Público. UFF, 2003, p.
95.
3
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FRANCISCO CARLOS DA SILVA ARAÚJO
SEGURIDADE SOCIAL: AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS COMO
FONTE DE CUSTEIO
Monografia apresentada à
Universidade Federal Fluminense
como requisito parcial para a
conclusão do curso de pós-graduação.
Aprovação em 26/11/2003.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________ Professor Orientador: AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO
______________________________________________________ Professor: RICARDO LODI RIBEIRO
Niterói
2003
4
À Regina, minha querida mulher, por todo amor, carinho e incentivo que
sempre recebi.
À Letícia e Isabela, minhas filhas, fonte inspiradora dos meus estudos.
Aos meus pais, pelo exemplo de família.
5
AGRADECIMENTOS Ao Professor Aurélio Pitanga Seixas, meu orientador, pelo apoio e incentivo na consecução da monografia. Aos demais professores, colegas de turma e ao secretário do curso, Gilberto José C. de Melo, cuja colaboração e boa vontade foram essenciais na travessia do que parecia ser impossível.
6
SUMÁRIO
Pág.
1. INTRODUÇÃO.................................................................................8
2. SEGURIDADE SOCIAL..................................................................9
2.1. No Direito Estrangeiro........................................................9
2.2. No Brasil.............................................................................12
2.2.1. A Seguridade Social na Constituição de 1988.......17
2.2.2. Princípios Constitucionais da Seguridade Social...21
3. CONTRIBUIÇÕES..........................................................................24
3.1. Origem.................................................................................25
3.2. Natureza Jurídica.................................................................27
3.3. Características......................................................................31
3.4. Classificação........................................................................33
4. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DA SEGURIDADE SOCIAL.........34
4.1. Financiamento da Seguridade Social...................................35
4.2. Regime Jurídico...................................................................38
4.3. Afetação dos Recursos Arrecadados...................................42
4.4. Competência e Arrecadação................................................43
4.5. Espécies...............................................................................44
4.5.1. Contribuições Sociais Arrecadadas pelo INSS......44
4.5.2. Contribuições Sociais Arrecadadas pela SRF........55
4.6. Imunidade............................................................................74
5. DESVIO DE RECURSOS DA SEGURIDADE SOCIAL.............78
6. QUADRO ATUAL DA SEGURIDADE SOCIAL E EFEITOS
DAS REFORMAS TRIBUTÁRIA E PREVIDENCIÁRIA NAS
CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL........................82
7. CONCLUSÃO.................................................................................87
7
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................89
9. ANEXOS................................................................................................92
9.1. Tabela 1- Receitas e Despesas da Seguridade Social (RGPS)..92
9.2. Tabela 2- Receitas e Despesas da Seguridade Social (RGPS e
Regime Próprio da União).........................................................93
9.3. Tabela 3- Utilização das Contribuições Sociais- 2000/2001.....94
9.4. Tabela 4- Utilização das Contribuições Sociais- 2002..............94
9.5. Tabela 5- Carga Tributária- 2002..............................................95
8
1. INTRODUÇÃO
A seguridade social compreende um conjunto de ações dos poderes públicos
e da sociedade, destinadas a assegurar o direito à saúde, à previdência social e à
assistência social. No Brasil, a ampliação do conceito de seguridade social surgiu
com a Constituição de 1988, conhecida como a Constituição Cidadã. Todos devem
ter o direito aos benefícios que ela distribui e o dever de contribuir para manter a
solidariedade entre gerações. Foi esse o ideário que orientou as políticas sociais
após a Segunda Guerra Mundial nos países mais desenvolvidos e transformou
aquelas sociedades em Estados de Bem-Estar Social (welfare state). Importa
consignar que esse resultado não foi conseqüência da ação do mercado, mas sim de
uma atitude deliberada das sociedades através do apoio à intervenção do Estado.
Foi essa sem dúvida a base sobre a qual se assentou o desenvolvimento econômico
e social das sociedades mais evoluídas.
Nada obstante os adeptos do Estado Liberal criticarem o sistema de
seguridade social, afirmando que o mesmo entrou em crise no final dos anos 70,
em decorrência do aumento significativo de beneficiários, face ao alongamento da
expectativa de vida e à incorporação de segmentos sociais desassistidos, como foi
o caso dos trabalhadores rurais, não podemos desmantelar o aparato do bem-estar
erigido nos anos 40 em favor dos defensores do Consenso de Washington que
pregam o Estado mínimo.
Para a manutenção de um sistema de proteção social, a Carta Magna vigente
estabeleceu um modelo misto de financiamento, prescrevendo no seu art. 195 que a
seguridade social será suportada por toda a sociedade, com recursos provenientes
tanto do orçamento fiscal das pessoas políticas como por meio de imposições de
contribuições sociais. Logo, o custeio direto da seguridade social deve ser feito
com o produto da cobrança das empresas, dos trabalhadores e sobre a receita de
9
concursos de prognósticos, ficando o custeio indireto por conta das dotações
orçamentárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
reservando ainda à União a competência residual para a regulamentação de novas
fontes de custeio.
As contribuições sociais destinadas à seguridade social, objeto do nosso
estudo, constituem uma espécie das contribuições sociais, cujo regime jurídico tem
seu arcabouço muito bem definido na Constituição vigente. Face à importância do
tema, uma vez que o legislador constituinte de 1988 enfatizou as citadas
contribuições como forma de manutenção do sistema de proteção social,
procuraremos examinar, a partir de posições adotadas pela jurisprudência e
doutrina, os seguintes pontos: a seguridade social e sua evolução no direito
comparado e no Brasil; as contribuições em sentido lato sensu, sua origem,
natureza jurídico-tributária, características e classificação; as contribuições da
seguridade social, as fonte de custeio, regime jurídico, a afetação dos recursos,
administração tributária responsável pela arrecadação e fiscalização, suas espécies
e as imunidades; análise da destinação dos recursos arrecadados e o desvio de
recursos arrecadados da seguridade social através da Desvinculação de Recursos
da União (DRU- art. 76 do ADCT-CF/88); e a situação atual da seguridade social e
os efeitos das reformas tributária e previdenciária nas contribuições da seguridade
social.
2. SEGURIDADE SOCIAL
Antes de aprofundarmos no estudo das contribuições sociais destinadas à
seguridade social, urge a necessidade de conhecermos a evolução histórica da
seguridade social no decorrer do tempo. Procuraremos ilustrar de forma bem
10
sucinta a sua gênese e desenvolvimento, tanto no direito estrangeiro como no
pátrio.
2.1. No Direito Estrangeiro
As primeiras manifestações do homem em relação à proteção social
remontam na Grécia e Roma antigas. Caracterizavam-se através de instituições de
cunho mutualista que tinham o objetivo de prestar assistência aos seus membros,
mediante contribuição, de modo a ajudar os mais necessitados. A família romana,
por meio do pater familias, tinha a obrigação de prestar assistência aos servos e
clientes. No período da Idade Média, algumas corporações profissionais criaram
seguros sociais para seus membros.
Em 1601, na Inglaterra, foi editada a Lei dos Pobres ( Poor Relief Act),
marco da criação da assistência social, que regulamentou a instituição de auxílios e
socorros públicos aos necessitados. Com fundamento nesta lei, o necessitado tinha
o direito de ser auxiliado pela paróquia. Os juízes da Comarca tinham o poder de
lançar imposto de caridade, que seria pago por todos os ocupantes e usuários de
terras, e nomear inspetores em cada uma das paróquias, visando receber e aplicar o
montante arrecadado.
Na Alemanha, Otto Von Bismark instituiu uma série de seguros sociais
destinados aos trabalhadores. Em 1883, foi criado o seguro-doença obrigatório
para os trabalhadores da indústria, custeado por contribuições dos empregados,
empregadores e do Estado. Em 1884, criou-se o seguro de acidente de trabalho
com o custeio a cargo dos empregadores. Já em 1889, foi instituído o seguro de
invalidez e velhice, custeado pelos trabalhadores, empregadores e Estado. Insta
registrar que as leis instituídas por Bismark, que criaram os seguros sociais, foram
pioneiras para a criação da previdência social no mundo. Tinham o objetivo de
11
evitar as tensões sociais existentes entre os trabalhadores, através de movimentos
socialistas fortalecidos com a crise industrial.
A Igreja, por seu turno, também teve uma participação nesse processo,
preocupando-se com o trabalhador diante das contingências futuras. Nos
pronunciamentos dos pontífices da época, verificamos especialmente na Encíclica
Rerum Novarum, de Leão XIII (1891), a idéia de criação de um sistema de pecúlio
ao trabalhador, custeado com parte do salário do mesmo, visando protegê-lo dos
riscos sociais.
Em 1897, na Inglaterra, através do Workmen’s Compensation Act, criou-se o
seguro obrigatório contra acidentes de trabalho, sendo o empregador responsável
pelo sinistro, independentemente de culpa, consolidando o princípio da
responsabilidade objetiva da empresa. Em 1907, foi instituído o sistema de
assistência à velhice e acidentes de trabalho. Em 1908, criou-se o Old Age
Pensions Act, com o objetivo de conceder pensões aos maiores de 70 anos,
independentemente de contribuição. Em 1911, através do National Insurance Act,
estabeleceu-se um sistema compulsório de contribuições sociais, que ficavam a
cargo do empregador, empregados e do Estado.
Como se observa, a criação da seguridade social, com destaque à
previdência social, foi fruto das transformações ocorridas no mundo, em especial
com a revolução industrial.
Posteriormente, passamos a uma nova fase, denominada de
constitucionalismo social, em que as Constituições dos países começam a tratar
dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.
12
A primeira Constituição a incluir a previdência social no seu bojo foi a do
México, de 1917 (art. 123). Em seguida, tivemos a alemã de Weimar, de 1919 (art.
163), que determinou ao Estado o dever de prover a subsistência do cidadão
alemão, caso não possa proporcionar-lhe a oportunidade de ganhar a vida com um
trabalho produtivo.
Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt instituiu o New Deal, através da
doutrina do Estado do bem-estar social (Welfare State), visando resolver a crise
econômica que assolava o país desde 1929. Objetivava a luta contra a miséria e a
defesa dos mais necessitados, em especial os idosos e desempregados. Em 1935,
foi instituído o Social Security Act, destinado a ajudar os idosos e a estimular o
consumo, bem como o auxílio-desemprego aos trabalhadores desempregados.
Na Inglaterra, o Plano Beveridge (1941), reformado em 1946, tinha como
objetivo constituir um sistema de seguro social que garantisse ao indivíduo
proteção diante de certas contingências sociais.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, prescrevia, entre
outros direitos fundamentais da pessoa humana, a proteção previdenciária. O art.
85 do citado diploma determinava que “todo homem tem direito a um padrão de
vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar social, inclusive
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, o direito à seguridade no caso de desemprego, doença, invalidez,
viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em
circunstâncias fora de seu controle”.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, em sua
convenção nº 102, aprovada em Genebra em 1952, traduzia os anseios e propósitos
no campo da proteção social, comuns às populações dos numerosos países que a
13
integram. Dispõe o citado diploma: “Seguridade Social é a proteção que a
sociedade proporciona a seus membros, mediante uma série de medidas públicas
contra as privações econômicas e sociais que de outra forma, derivam do
desaparecimento ou em forte redução de sua subsistência como conseqüência de
enfermidade, maternidade, acidente de trabalho ou enfermidade profissional,
desemprego, invalidez, velhice, e também a proteção em forma de assistência
médica e ajuda às famílias com filhos”.
Cabe ainda ressaltar os pactos realizados entre os países na defesa da
seguridade social, entre os quais, destacamos: Pact o dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (1966); Protocolo de São Salvador (1988),
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de S ão José da Costa Rica
– 1969).
2.2. No Brasil
Em nosso país, a preocupação com a proteção social do indivíduo nasceu
com a necessidade de implantação de instituições de seguro social, de cunho
mutualista e particular. Tivemos a criação das santas casas de misericórdia, como a
de Santos (1543), montepios e sociedades beneficentes.
A nossa primeira Constituição, de 1824, tratou da seguridade social no seu
art. 179, onde abordou a importância da constituição dos socorros públicos. O ato
adicional de 1834, em seu art. 10 delegava competência às Assembléias
Legislativas para legislar sobre as casas de socorros públicos. A referida matéria
foi regulada pela Lei nº 16, de 12/08/1834.
14
Em 1835, foi criada a primeira entidade privada em nosso país, o Montepio
Geral dos Servidores do Estado (Montgeral). Caracterizava-se por ser um sistema
mutualista, no qual os associados contribuíam para um fundo que garantiria a
cobertura de certos riscos, mediante a repartição dos encargos com todo o grupo.
O Código Comercial de 1850 dispôs em seu art. 79 que os empregadores
deveriam manter o pagamento dos salários dos empregados por no máximo 03
meses, no caso de acidentes imprevistos e inculpados.
Mais tarde, o Decreto nº 2.711, de 1860, regulamentou o financiamento de
montepios e sociedades de socorros mútuos.
A Constituição de 1891 foi a primeira a conter a expressão “aposentadoria”.
Preceituava no seu art. 75 que os funcionários públicos, no caso de invalidez,
teriam direito à aposentadoria, independentemente de nenhuma contribuição para o
sistema de seguro social.
Em 1919, o Decreto Legislativo nº 3.724, de 15/01/1919, instituiu o seguro
obrigatório de acidente de trabalho, bem como uma indenização a ser paga pelos
empregadores.
A Lei Eloy Chaves, Decreto Legislativo nº 4.682, de 24/01/1923, foi a
primeira norma a instituir no país a previdência social, com a criação das Caixas
de Aposentadoria e Pensão (CAP) para os ferroviários. A referida lei estabeleceu
que cada uma das empresas de estrada de ferro deveria ter uma caixa de
aposentadoria e pensão para os seus empregados. A primeira foi a dos empregados
da Great Western do Brasil. A década de 20 caracterizou-se pela criação das
citadas caixas, vinculadas às empresas e de natureza privada. O Decreto
Legislativo nº 5.109, de 20/12/1926, estendia os benefícios da Lei Eloy Chaves aos
15
empregados portuários e marítimos. Posteriormente, em 1928, através da Lei nº
5.485, de 30/06/1928, os empregados das empresas de serviços telegráficos e
radiotelegráficos passaram a ter direito aos mesmos benefícios.
Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que
tinha a tarefa de administrar a previdência social. A década de 30 caracterizou-se
pela unificação das Caixas de Aposentadoria e Pensão em Institutos Públicos de
Aposentadoria e Pensão (IAP). O sistema previdenciário deixou de ser estruturado
por empresa, passando a ser por categorias profissionais de âmbito nacional. Os
IAP’s utilizaram o mesmo modelo da Itália, sendo cada categoria responsável por
um fundo. A contribuição para o fundo era custeada pelo empregado, empregador
e pelo governo. A contribuição dos empregadores incidia sobre a folha de
pagamento. O Estado financiava o sistema através de uma taxa cobrada dos
produtos importados. Os empregados eram descontados em seus salários. A
administração do fundo era exercida por um representante dos empregados, um dos
empregadores e um do governo. Além dos benefícios de aposentadorias e pensões,
o instituto prestava serviços de saúde. Assim, foram criados os Institutos de
Aposentadoria e Pensão dos Marítimos (IAPM) em 1933, dos Comerciários
(IAPC) em 1934, dos Bancários (IAPB) em 1934, dos Industriários (IAPI) em
1936, dos empregados de Transporte e Carga (IAPETEC) em 1938. No serviço
público, foi criado em 1938 um fundo previdenciário para os servidores públicos
federais chamado de IPASE – Instituto de Pensão e Assistência dos Servidores do
Estado.
A Carta Magna de 1934 disciplinou a forma de custeio dos institutos, no
caso tríplice (ente público, empregado e empregador), conforme preconizava o art.
121, § 1º, “h”. Mencionava a competência do Poder Legislativo para instituir
normas de aposentadoria (art. 39, VIII, item d) e proteção social ao trabalhador e à
gestante (art. 121). Tratava também da aposentadoria compulsória dos
16
funcionários públicos (art. 170, § 3º), bem como a aposentadoria por invalidez dos
mesmos (art. 170, § 6º).
A Constituição de 1937, outorgada no Estado Novo, não inovou em relação
às anteriores. Apenas empregou a expressão “seguro social” ao invés de
previdência social em seu texto.
Em contrapartida, a Constituição de 1946 aboliu a expressão “seguro
social”, dando ênfase à previdência social e consagrando-a em seu art. 157. O
inciso XVI do citado artigo mencionava que a previdência social custeada através
da contribuição da União, do empregador e do empregado deveria garantir a
maternidade, bem como os riscos sociais, tais como: a doença, a velhice, a
invalidez e a morte. Já no inciso XVII tratava da obrigatoriedade da instituição do
seguro de acidente de trabalho por conta do empregador.
No início dos anos 50, quase toda população urbana assalariada estava
coberta por um sistema de previdência, com exceção dos trabalhadores domésticos
e autônomos. A uniformização da legislação sobre a previdência social ocorreu
com o advento do Regulamento Geral dos Institutos de Aposentadoria e Pensão,
aprovado pelo Decreto nº 35.448, de 01/05/1954.
A Lei nº 3.807, de 26/08/1960, Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS),
unificou os critérios de concessão dos benefícios dos diversos institutos existentes
na época, ampliando os benefícios, tais como: auxílio-natalidade, auxílio-funeral,
auxílio-reclusão e assistência social.
A Lei nº 4.214, de 02/03/1963, criou o Fundo de Assistência ao Trabalhador
Rural (FUNRURAL), no âmbito do estatuto do trabalhador rural.
17
O Decreto-Lei nº 72, de 21/11/1966, unificou os institutos de aposentadoria
e pensão, criando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), hoje INSS.
Com isso, o governo centralizou a organização previdenciária em seu poder.
A Constituição de 1967 não inovou muito em relação à Carta anterior. O art.
158 manteve quase as mesmas disposições do art. 157 da Lei Magna de 1946. O §
2º do art. 158 da Constituição de 1967 preceituava que a contribuição da União no
custeio da previdência social seria atendida mediante dotação orçamentária, ou
com o produto da arrecadação das contribuições previdenciárias, previstas em lei.
O sistema de seguro de acidente de trabalho integrou-se ao sistema
previdenciário com a Lei nº 5.316, de 14/09/1967. Foram criados adicionais
obrigatórios de 0,4% a 0,8% incidentes sobre a folha de salários, objetivando o
custeio das prestações de acidente de trabalho.
Os Decretos-Leis nºs 564 e 704, de 01/05/1969 e 24/07/1969,
respectivamente, estenderam a previdência social ao trabalhador rural.
A Emenda Constitucional nº 1, de 1969, não apresentou mudanças
significativas em relação às Constituições de 1946 e 1967.
A Lei Complementar nº 11, de 25/05/1971, instituiu o Programa de
Assistência ao Trabalhador Rural (Pro-Rural). Não havia contribuição por parte do
trabalhador, que tinha direito à aposentadoria por velhice, invalidez, pensão e
auxílio-funeral.
A Lei nº 5.859, de 11/12/1972, incluiu os empregados domésticos como
segurados obrigatórios da previdência social.
18
A Lei nº 6.367, de 19/10/1976, regulou o seguro de acidente de trabalho na
área urbana, revogando a Lei nº 5.316/67.
Em 01/07/1977, através da Lei nº 6.439, foi criado o SINPAS (Sistema
Nacional de Previdência e Assistência Social), destinado a integrar as atividades de
previdência social, da assistência social, da assistência médica e de gestão
administrativa, financeira e patrimonial das entidades vinculadas ao Ministério da
Previdência e Assistência Social. O SINPAS tinha a seguinte composição:
a) o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) cuidava da concessão e
manutenção das prestações pecuniárias;
b) o Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social
(INAMPS) tratava da assistência médica;
c) a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) prestava assistência
social à população carente;
d) a Fundação do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) promovia a execução
da política do bem-estar social do menor;
e) a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social
(DATAPREV) era responsável pelo processamento de dados da
Previdência Social;
f) o Instituto da Administração Financeira da Previdência Social (IAPAS)
era responsável pela arrecadação, fiscalização, cobrança das
contribuições e outros recursos e administração financeira;
g) a Central de Medicamentos (CEME) era responsável pela distribuição dos
medicamentos.
Com a Constituição de 1988, houve uma estruturação completa da
previdência social, saúde e assistência social, unificando esses conceitos sob a
moderna definição de “seguridade social” (arts. 194 a 204). Assim, o SINPAS foi
19
extinto. A Lei 8.029, de 12/04/1990, criou o Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS (fusão do INPS e IAPAS), vinculado ao então Ministério da Previdência e
Assistência Social, tendo sido regulamentado pelo Decreto nº 99.350, de 27/06/90.
O Decreto nº 99.060, de 07/03/1990 vinculou o INAMPS ao Ministério da Saúde.
Posteriormente, a Lei 8.689, de 27/07/1993, extinguiu o INAMPS. Houve,
também, a extinção da LBA e FUNABEM em 1995 e da CEME em 1997.
A seguridade social foi organizada, através da edição da Lei nº 8.080, de
19/09/1990 que cuidou da Saúde. Depois, pelas Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de
24/07/1991, que criaram, respectivamente, o Plano de Organização e Custeio da
Seguridade Social e o Plano de Benefícios da Previdência Social. E por último,
pela Lei nº 8.742, de 07/12/1993, que tratou da Lei Orgânica de Assistência Social
– LOAS.
A Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/1998, denominada de Reforma da
Previdência, introduziu profundas alterações no sistema previdenciário, dentre elas
destacam-se: modificação dos critérios de aposentadoria, tanto do servidor público,
como o trabalhador da iniciativa privada; vinculação da receita das contribuições
previdenciárias ao pagamento dos benefícios, previdência complementar etc.
A Emenda Constitucional nº 29, de 13/09/2000, alterou a Constituição,
assegurando os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços
públicos de saúde.
2.2.1. A Seguridade Social na Constituição de 1988
Quando os Constituintes insculpiram no Texto Constitucional o capítulo da Seguridade
Social (arts. 194 a 204) dentro das disposições da Ordem Social, visavam a ampliação e
democratização do acesso da população à saúde, à previdência social e à assistência social.
20
Nesse tripé, cuja implementação deveria envolver iniciativas dos Poderes Públicos e da
sociedade, os Constituintes depositaram suas esperanças de maior justiça social, bem-estar e
melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. O postulado fundamental da solidariedade social
(art. 3º, I) transparece como baliza para o sistema de seguridade social, rompendo
definitivamente com a lógica econômica do seguro privado, ou seja, a rígida correlação entre
prêmio e benefício.
Podemos definir a Seguridade Social, através do conceito de Sérgio Pinto
Martins: 1 “É um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a
estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra contingências que
os impeçam de prover as suas necessidades pessoais básicas e de suas famílias,
integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, visando
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.
A seguridade social é um direito social garantido no art. 6º da Carta Magna
de 1988. A competência para legislar sobre a seguridade social é privativa da
União, conforme preceitua o art. 22, XXIII, da Constituição de 1988.
2.2.1.1. Previdência Social
A previdência social é um seguro coletivo, público, compulsório, destinado
a estabelecer um sistema de proteção social, mediante contribuição, que tem por
objetivo proporcionar meios indispensáveis de subsistência ao segurado e a sua
família, quando ocorrer certa contingência prevista em lei.
Wladimir Novaes Martinez2 conceitua a previdência social “como a técnica
de proteção social que visa propiciar os meios indispensáveis à subsistência da
pessoa humana – quando esta não pode obtê-los ou não é socialmente desejável
1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. São Paulo: Atlas, 19ª ed., 2003, p. 43. 2 MARTINEZ, Wladimir Novaes. A seguridade social na Constituição Federal. São Paulo: LTR, 2ª ed., 1992, p.99.
21
que os aufira pessoalmente através do trabalho, por motivo de maternidade,
nascimento, incapacidade, invalidez, desemprego, prisão, idade avançada, tempo
de serviço ou morte – mediante contribuição compulsória distinta, proveniente da
sociedade e de cada um dos participantes”.
A previdência social consiste, portanto, em uma forma de assegurar ao
segurado, com base no princípio da solidariedade, benefícios ou serviços quando
seja atingido por uma contingência social. O sistema previdenciário público utiliza
o modelo de repartição simples, na qual os ativos contribuem para os inativos.
Logo, existe uma solidariedade entre os participantes no custeio do sistema, cujos
valores arrecadados destinam-se aos benefícios futuros.
O art. 201 da Constituição Federal dispõe que a previdência social será
organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, nos termos da lei, e atenderá a:
I- cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II- proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III- proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV- salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados
de baixa renda;
V- pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiros e dependentes.
As principais regras estão disciplinadas na Lei nº 8.213/91, que trata dos
benefícios previdenciários e regulamenta o caput do art. 201 da Carta Magna, e na
22
Lei nº 8.212/91, que dispõe sobre o custeio da seguridade social. Merece destaque
também o Decreto nº 3.048/99, que trata do Regulamento da Previdência Social.
Cabe destacar também a previdência privada, denominada de previdência
complementar prevista no art. 202 da Carta de 1988. Caracteriza-se por ser um
sistema de seguro complementar ao regime oficial, de caráter facultativo, de
natureza contratual. A Lei Complementar nº 109/2001 dispõe sobre o regime de
previdência complementar ao benefício pago pelo INSS. Já a Lei Complementar nº
108/2001 disciplina a previdência fechada da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de
economia mista e outras entidades públicas.
2.2.1.2. Assistência Social
A assistência social foi inserida na Constituição de 1988 nos arts. 203 e 204.
Encontra-se regulamentada pela Lei nº 8.742/93 ( Lei Orgânica da Assistência
Social – LOAS). É uma política social destinada a atender as necessidades básicas
dos indivíduos, traduzidas em proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência, à velhice e à pessoa portadora de deficiência. As prestações de
assistência social são destinadas aos indivíduos sem condições de prover o próprio
sustento de forma permanente ou provisória, independentemente de contribuição à
seguridade social.
Wladimir Novaes Martins3 define a assistência social como “um conjunto de
atividades particulares e estatais direcionadas para o atendimento dos
hipossuficientes, consistindo os bens oferecidos em pequenos benefícios em
dinheiro, assistência à saúde, fornecimento de alimentos e outras pequenas
3 Ibidem, p. 83.
23
prestações. Não só complementa os serviços da Previdência Social, como a amplia,
em razão da natureza da clientela e das necessidades providas”.
A principal característica da assistência social é ser prestada gratuitamente
aos necessitados. As ações governamentais na área da assistência social serão
realizadas com os recursos dos orçamentos dos entes federativos e mediante o
recolhimento das contribuições previstas no art. 195 da Constituição, além de
outras fontes, observando-se as seguintes diretrizes:
I- descentralização político-administrativa das ações;
II- participação da população.
2.2.1.3. Saúde
A Constituição de 1988 tratou da saúde como espécie da seguridade social.
Dispõe o art. 196 que a saúde é direito de todos e dever do Estado. A saúde é
garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A execução das ações de
saúde pode ser realizada diretamente pelo Estado ou através de terceiros, pessoa
física ou jurídica de direito privado, de forma complementar, conforme preconiza o
art. 199 da Constituição.
O art. 198 da Lei Maior dispõe sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que
é um conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das
fundações públicas, e instituições privadas de forma complementar, com as
seguintes diretrizes:
24
I- descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II- atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III- participação da comunidade.
A Lei nº 8.080/90 é a principal norma que trata da saúde. O art. 2º da Lei nº
8.212/91 dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para
sua promoção, proteção e recuperação.
A saúde pública é dever do Estado, logo a prestação do serviço é gratuita,
independentemente de ser o paciente contribuinte ou não da seguridade social.
O sistema de saúde será financiado pelo orçamento da seguridade social,
além de outras fontes (art. 198, § 1º da Constituição).
2.2.2. Princípios Constitucionais da Seguridade Social
O § único do art. 194 da Carta Magna vigente determina ao Poder Público,
nos termos da lei, organizar a Seguridade Social com base em objetivos, que
seriam na realidade princípios, pois são as proposições básicas, fundamentais ou
alicerces de um sistema.4
As leis nºs 8.212/91 e 8.213/91, atendendo ao disposto no diploma legal
supracitado, em consonância com o art. 59 do ADCT/88, instituíram o Plano de
4 Nada obstante o citado diploma legal preceituar que a seguridade social deva ser organizada com base em objetivos, adotamos o posicionamento do Prof. Sérgio Pinto Martins (“Direito da Seguridade Social”.São Paulo: Atlas, 2003, p. 76-77) que entende que a Seguridade Social tem princípios próprios que devem nortear as atividades
25
Organização e Custeio da Seguridade Social e o Plano de Benefícios da
Previdência social, respectivamente. O § único do art. 1º da Lei 8.212/91 menciona
os mesmos princípios constitucionais descritos no § único do art. 194 da
Constituição. Vejamos a seguir os citados princípios:
2.2.2.1. Universalidade da cobertura e atendimento
A seguridade social tem como postulado básico a universalidade, ou seja,
abranger todos os residentes de um país, que, diante de uma contingência terão
direito aos benefícios. Contudo, na prática, só terão direito aos benefícios e às
prestações da seguridade social de acordo com a disposição da lei. Só tem direito
aos benefícios da previdência social (art. 201), a pessoa que contribui. Já as
prestações nas áreas da saúde e da assistência social (arts. 196 e 203) são
destinadas ao cidadão, independentemente de sua contribuição.
2.2.2.2. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais
O Constituinte se preocupou com a uniformidade e equivalência das
prestações da seguridade social, uma vez que existiam diferenças entre os direitos
do trabalhador urbano e rural.
As prestações da seguridade social são divididas em benefícios e serviços.
Os benefícios são prestações em dinheiro, tais como a aposentadoria e a pensão. Já
os serviços são bens imateriais colocados à disposição da pessoa, como assistência
médica, reabilitação profissional, serviço social etc.
do Poder Público, tanto o Legislativo (na elaboração de leis), quanto o Executivo na edição de atos complementares à legislação.
26
A legislação previdenciária instituiu benefícios aos trabalhadores rurais e
urbanos inscritos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) sem qualquer
distinção.
2.2.2.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços
A seleção das prestações vai ser feita de acordo com as condições
econômico-financeiras do sistema de seguridade social. A lei irá dispor a que
pessoas as prestações serão estendidas. A distributividade tem caráter social, pois
deve atender prioritariamente aos mais necessitados.
2.2.2.4. Irredutibilidade dos benefícios
Os benefícios da previdência social devem ter o seu valor real preservado.
Assim, o constituinte assegurou a irredutibilidade dos benefícios da seguridade
social. A forma de correção dos benefícios deve ser feita de acordo com o disposto
em lei, com fulcro no § 4º do art. 201 da Carta Constitucional.
2.2.2.5. Eqüidade na forma da participação no custeio
O princípio da eqüidade na forma de participação no custeio da seguridade
social é um desdobramento dos princípios da igualdade e da capacidade
contributiva. Os contribuintes que se encontram em condições contributivas iguais
deverão ser tributados da mesma forma. Assim, a contribuição da empresa será
distinta à do trabalhador, pois este não tem as mesmas condições financeiras que
aquela. O § 9º do art. 195 da Constituição é um exemplo claro de eqüidade no
financiamento da seguridade social, ao possibilitar a diferenciação da base de
27
cálculo e alíquota da contribuição, em razão da atividade econômica ou utilização
intensiva de mão-de-obra.
2.2.2.6. Diversidade na base de financiamento
As fontes de financiamento devem ser diversificadas a fim de garantir a
manutenção do sistema de seguridade social. Além das fontes previstas nos incisos
I a III do art. 195 da Carta Magna, nada impede que se instituam outras fontes de
custeio, desde que por lei complementar, não tendo fato gerador ou base de cálculo
de imposto previsto na Constituição, nem sendo cumulativo, conforme art. 195, §
4º c/c art. 154, I do Texto Constitucional.
2.2.2.7. Caráter democrático e descentralizado da administração
O inciso VII, § único do art. 194 da Constituição, com redação alterada pela
Emenda Constitucional nº 20/98, dispõe que a gestão administrativa da Seguridade
Social é qüadripartide, com a participação do governo, aposentados, trabalhadores
e empregadores. Tal dispositivo se coaduna com o art. 10 da Constituição que
garante a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados de órgãos
do governo em que se discutam ou deliberem sobre assuntos relativos à seguridade
social. Como exemplo, temos o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS),
conforme art. 3º da Lei nº 8.213/91, que tem representantes do governo federal,
dos aposentados e pensionistas, dos trabalhadores e dos empregadores.
3. CONTRIBUIÇÕES
As contribuições são conhecidas no direito compara do por diversas
denominações, tais como impostos especiais, contrib uições especiais,
28
contribuições parafiscais, contribuições sui generis.5 Como as contribuições
diferem das demais exações tributárias, uma vez que não se caracterizam
somente por seu fato gerador, mas também têm por ob jetivo o financiamento
de certa atividade estatal dirigida aos seus contri buintes, pode o direito de
cada país tratá-las peculiarmente. Assim, antes de iniciarmos a análise das
contribuições sociais destinadas à seguridade socia l no direito brasileiro, faz-
se necessário o estudo das contribuições, no tocant e à sua origem, natureza
jurídica, características e classificação.
3.1. Origem
O estudo da doutrina de Direito Tributário, tanto a estrangeira, quanto a
pátria, é sempre importante, uma vez seus textos incorporam ensinamentos e
experiências que nos ajudam a solucionar determinados problemas surgidos dentro
de um contexto normativo definido.
Para conhecermos as contribuições, devemos entender os conceitos de
fiscalidade e parafiscalidade. O primeiro se caracteriza pela destinação dos
ingressos ao Fisco, já o segundo consiste na sua destinação aos órgãos ou entidades
que, não pertencendo ao núcleo da administração do Estado, são paraestatais,
5 Seguindo o entendimento de Ives Gandra da Silva Martins (Sistema Tributário na Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 118, 121, 123) denominamos de contribuições especiais. No direito pátrio, no tocante às contribuições sociais (art. 195, CF/88), tais exações não mais se situam no campo da parafiscalidade(que se situa fora do sistema tributário- como ocorria na Constituição anterior), mas passam com a CF/88, a serem espécies do gênero tributo. Não só no Brasil são as contribuições para a seguridade social entendidas como verdadeiras contribuições especiais. Giuliani Fonrouge salienta: “Em nuestra opinión se trata de uma contribuición especial tanto en la parte patronal como en la de obreros y empleados, por entender que se dans las conditiones que caractreizan esa categoría jurídico-financiera según la definimos anteriormente”.(Derecho Financiero. Buenos Aires: Depalma, 1970, p. 1028).
29
incumbidos de prestar serviços paralelos e inessenciais através de receitas
paraorçamentárias.
O conceito de parafiscalidade firmou-se na França em 1946, após a 2ª
Guerra Mundial, através do Relatório Schuman que incluiu como parafiscais os
recursos arrecadados destinados à previdência social e a outros encargos
intervencionistas do Estado. Para enfrentar as necessidades de alojamento,
assistência médica, alimentação e assistência social, o Estado foi obrigado a
atender as pessoas atingidas pelo efeito da guerra. Os recursos necessários
destinados ao custeio dessas necessidades não poderiam provir de dotações
orçamentárias normais, mas sim de recursos arrecadados por entidades específicas
não integrantes do Estado, mas que atuam de forma paralela à Administração
Direta.
Como observa Aliomar Baleeiro6, uma das características essenciais da
chamada parafiscalidade era a destinação especial ou afetação dessas receitas aos
fins específicos cometidos ao órgão oficial ou semi-oficial investido daquela
delegação. Esta afetação ocorria, freqüentemente, fora dos regimes de controle a
que estavam submetidos os tributos, seja porque as exigências pecuniárias
passavam a ser previstas em normas infra-legais (via delegações legislativas), seja
porque tratando-se de receitas auferidas diretamente por tais entidades, não eram
incluídas no orçamento e escapavam ao controle do Tribunal de Contas ou órgão
com função equivalente.7
Contudo, devemos fazer uma incursão na história, uma vez que as
contribuições atuais têm uma feição bem diferente daquela existente no passado.
Começando pela Idade Média, no período feudal, as exigências tinham um caráter
6 BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças, 11ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1976, p. 284. 7 GRECO, Marco Aurélio. Contribuições: uma figura sui generis. São Paulo: Dialética, 2000, p. 58.
30
sempre ad hoc, em face de eventos específicos ligados à vida privada do senhor,
tais como a sua redenção, o título de cavaleiro ou o dote para a filha mais velha do
senhor. Nos meados do século XII, surgiu outra hipótese, no caso de defesa do
reino em função de emergência pública. Como se observa, o conceito originado da
Idade Média foi o de necessitas regis et regni, ou seja, estava vinculado ao
interesse do Poder Público, melhor dizendo, às necessidades do Príncipe, e
posteriormente às do governo.
Feição diversa, no entanto, encontra-se a parafiscalidade surgida no século
XX. O Estado passou a assumir um papel mais ativo no campo social e econômico,
o que denominou de Estado Social ou Intervencionista. A partir do reconhecimento
de determinadas necessidades sociais ou econômicas, o Estado passou a atuar
positivamente nessas áreas, criando entidades específicas, fora de sua estrutura
básica, denominadas de paraestatais, que ficariam responsáveis pelo exercício das
atividades pertinentes. Por seu turno, estas entidades necessitavam de recursos
financeiros para executar tais atividades.
Emanuelle Morselli8 afirmou que a parafiscalidade era um produto da
descentralização institucional e que, embora semelhante à fiscalidade do ponto de
vista técnico, dela se separa no que concerne à essência e ao valor. Enquanto os
impostos fiscais ou políticos visam obter recursos para as atividades fundamentais
do Estado com base no princípio da capacidade contributiva, os ingressos
parafiscais, cobrados com base no princípio da solidariedade, procuram atender as
despesas inessenciais, tais como as relacionadas com a previdência social e
interesses dos grupos, que nos últimos anos foram atribuídos ao Estado. Entretanto,
prevaleceu a corrente doutrinária que considerava a parafiscalidade como
fenômeno fiscal; assim, as prestações parafiscais passaram a ser consideradas
8 MORSELLI, Emanuelle. Il Punto de Vista Teórico della Parafiscalità. Archivio Finanziario 9: p. 217 e seguintes.
31
tributos, assim pela doutrina italiana9 e francesa10. A doutrina brasileira sofreu
influência das duas correntes. Com o advento da Constituição de 1988, as
contribuições, em especial as contribuições da seguridade social, não mais se
encontram no campo da parafiscalidade, como ocorria na Constituição anterior.11
Tem-se que a partir daí, o fenômeno da parafiscalidade desapareceu no direito
brasileiro, diluindo-se no da fiscalidade. O desaparecimento da parafiscalidade na
vigência da Constituição de 1988 fica evidenciado de forma clara quando se estuda
o orçamento público. As contribuições sociais deixaram de ser paraorçamentárias
(para-budgeitares, off budget) para se transformarem em fontes orçamentárias, ou
seja, o orçamento da seguridade social passou a integrar a lei orçamentária anual,
juntamente com o orçamento fiscal (art. 165, § 5º).
3.2. Natureza Jurídica
Um assunto que sempre gerou entendimentos diversos na doutrina e na
jurisprudência diz respeito à natureza jurídico-tributária das contribuições sociais.
Estas até a Constituição de 1967 não tinham natureza tributária, uma vez que não
estavam inseridas no sistema tributário.12 Contudo, com a Emenda Constitucional
nº 01/69 passaram a ter sua instituição autorizada pelo art. 21, § 2º, item I,
juntamente com a de outros tributos, o que levou a doutrina majoritária a
considerar as contribuições sociais como tributo.13
9 GIANNINI, Achille Donato. I Concetti Fondamentali del Diritto Tributário. Turim: UTET, 1956, p.79; MICHELI. Gian Antonio. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978, p.111. 10 MÉRIGOT, Jean-Guy. Elementos de uma Teoria da Parafiscalidade. Revista de Direito Administrativo nº 33: 66, 1953; MEHL, Lucien. Elementos da Ciência Fiscal. Barcelona: Bosh, 1964, p. 201. 11 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Sistema Tributário na Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 118, 121 e 123. 12 Cf. art. 121, § 1º, da Constituição de 1934, que autorizou a cobrança de “contribuição igual da União, do empregador e do empregado em favor da velhice, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte”; art. 137, letra m, da Constituição de 1937; art. 157, item XVI, da Constituição de 1946; art. 158, item XVI, da Constituição de 1967, todos dispositivos inseridos no capítulo “Da Ordem Econômica e Social”. 13 BALEEIRO, Aliomar. Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 289; SOUZA, Rubens Gomes de. Natureza Tributária da Contribuição ao FGTS. Revista de Direito Administrativo nº 112, 1973, p. 39.
32
Com a Emenda Constitucional nº 8/77, foram as contribuições sociais
retiradas daquele art. 21, § 2º, item I, passando a integrar o art. 43, X, que cuidava
da competência legislativa da União. A partir daí, as opiniões se dividiram: alguns
juristas entendiam que a alteração constitucional não havia modificado a natureza
tributária da contribuição; outros defendiam que a modificação topográfica e de
competência implicou na alteração da própria natureza do seu ingresso, posição
esta que foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal, que só reconhecia a natureza
tributária das contribuições sociais no interregno entre as Emendas Constitucionais
de 1969 (nº 1) e de 1977 (nº 8).14
Com a Constituição de 1988, encerrou-se a polêmica criada com a Emenda
Constitucional nº 8/77 e as contribuições sociais, entre elas as destinadas à
seguridade social, foram reconhecidas como tributos. O art. 149 da Constituição,
inserido no capítulo do sistema tributário nacional, assentou de forma clara e
insofismável o caráter tributário dessas contribuições ao dispor de forma literal e
expressa, que se aplicam às contribuições os mais importantes princípios
constitucionais tributários: da legalidade, da irretroatividade, da anterioridade,
além da observância das normas gerais de Direito Tributário. E, como se não
bastasse, a Constituição remete o intérprete ao art. 195, inserido no título da
Ordem Social, que disciplina as contribuições sociais da seguridade social. Da
mesma opinião, reconhecendo o caráter tributário das citadas contribuições, temos
a jurisprudência uniforme do Supremo Tribunal Federal15, bem como a doutrina
14 Cf. RE 86.595-BA, Ac. do Pleno em 07.06.78, Rel. Min. Xavier de Albuquerque, RTJ 87/271, no qual o Min. Moreira Alves salientou: “Por isso mesmo, e para retirar delas caráter de tributo, a Emenda Constitucional nº 08/77 alterou a redação desse inciso..... o que indica, sem qualquer dúvida, que essas contribuições não se enquadram entre os tributos, aos quais já aludia, e continua aludindo, o inciso I desse mesmo art. 43”; RE 100.325-1-CE, Ac. da 1ª T., de 28.06.83, Rel. Min. Soares Muñoz, DJ de 12.08.83. 15 Cf. RE 146.733-9-SP, realizado em 29.06.92, RTJ 143: 684-704, no qual foi examinada a constitucionalidade da Lei 7.689/88, que tratava da Contribuição Social sobre o Lucro das pessoas jurídicas, o Relator Min. Moreira Alves, enfrentou a questão relativa à natureza jurídica das contribuições, manifestando entendimento no sentido de que, com a Carta de 1988, a classificação dos tributos passou a ser a seguinte: impostos, taxas e contribuições de melhoria, referidas no art. 145, além de duas outras modalidades, para cuja instituição só a União é competente: o
33
majoritária que mantém o mesmo entendimento do Excelso Pretório, destacando-se
os juristas Ives Gandra da Silva Martins16, Roque Antônio Carraza17, Geraldo
Ataliba18, Sacha Calmon19, Hugo de Brito Machado20 e José Eduardo Soares de
Melo21. Todavia, corrente adversa, defendida por Valdir de Oliveira Rocha22, Ruy
Barbosa Nogueira23 e Luiz Mélega24, preconiza que as contribuições previstas no
art. 149 não teriam natureza tributária, pois se tivessem, não haveria necessidade
de o citado artigo fazer remissão ao art. 146 da mesma norma, visto que as citadas
exações estariam de plano incluídas entre as normas gerais, objeto da legislação
tributária. Argumenta-se, ainda, que o art. 145 da Lei Maior indica apenas três
espécies de tributos: impostos, taxas e contribuições de melhoria. Como a lei não
contém palavras inúteis, a remissão feita pelo art. 149 da Constituição estaria a
mostrar que realmente não têm natureza tributária as contribuições nela previstas.
Com a promulgação da Carta de 1988, entendemos que não resta a menor
dúvida que as chamadas contribuições especiais, entre as quais se incluem as de
custeio da seguridade social, objeto de nosso estudo, são, assim, tributos. Pelo que
se percebe do texto constitucional, o art. 149 menciona expressamente que as
contribuições, não importa a destinação que tenham, se sociais, de intervenção no
domínio econômico ou no interesse de categorias profissionais, submetem-se aos
empréstimo compulsório e as contribuições sociais, inclusive as de intervenção no domínio econômico e de categorias profissionais ou econômicas (arts. 148 e 149). 16MARTINS, Ives Gandra da Silva. A Constituição aplicada – Contribuições sociais. São Paulo: Cejup, 1991, v. 3, p. 15). 17 CARRAZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 302. 18 ATALIBA, Geraldo. Contribuição Social na Constituição. RDT 49/48. 19 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988- Sistema Tributário. São Paulo: Forense, 1991, p. 37. 20 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 330-331. 21 MELO, José Eduardo Soares de. Contribuições Sociais no Sistema Tributário. São Paulo: Malheiros, 1993, p. 194. 22 ROCHA, Valdir de Oliveira. Natureza Jurídica das Contribuições do art. 149 da Constituição. Repertório IOB de jurisprudência 1:8:471, 1995. 23 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 128. 24 MÉLEGA, Luiz. Algumas reflexões sobre o regime jurídico das contribuições na Carta Política de 1988. Direito tributário atual. São Paulo: Resenha Tributária, 1992, v. 11-12, p. 3.291 e 3.295.
34
princípios da legalidade (art. 150, I), da irretroatividade (art. 150, III, “a”), assim
como todas as normas gerais que caracterizam o regime tributário.
Analisando também a legislação ordinária, chegaremos à conclusão de que
as contribuições, em especial as destinadas à seguridade social, têm natureza
tributária. Basta examinarmos o art. 3º do Código Tributário Nacional, que
preceitua que tributo é “ toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em
lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
Como se verifica, a contribuição social destinada à seguridade social
também é compulsória, pois é instituída por lei, como a Lei nº 8.212/91. A mesma
exação é cobrada em moeda ou valor que nela se possa exprimir, ou seja, é paga
em dinheiro. A citada contribuição não constitui sanção de ato ilícito, não se
caracterizando como penalidade, mas uma determinação prevista em lei, que tem
por fato gerador, por exemplo, a folha de pagamento, o faturamento e o lucro das
empresas. A sua cobrança é realizada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada. Há um lançamento para constituição do crédito da
seguridade social por meio de uma atividade plenamente vinculada e obrigatória.
Para alguns autores a contribuição social confunde-se com os impostos,
outros com as taxas e a maioria entende que é uma espécie tributária autônoma.
Com efeito, a hipótese de incidência da taxa consiste numa atuação estatal
específica referida diretamente ao obrigado, como o exercício do poder de polícia
ou a disponibilidade do serviço; o imposto, num fato desvinculado de qualquer
atuação estatal referida ao sujeito passivo; já a contribuição consiste na decorrência
da atividade estatal referida indiretamente ao contribuinte, que lhe acarreta especial
interesse ou vantagem, ou seja, tem por pressuposto da obrigação um benefício
especial causado por uma atividade do Estado.
35
Uma breve incursão pela doutrina estrangeira demonstra algumas
peculiaridades acerca das contribuições em relação ao contexto normativo
brasileiro. Na Espanha, várias modificações na legislação levaram a doutrina a
entender que as cotas da seguridade social se sujeitam a alguns princípios da
fiscalidade (legalidade, não confiscatoriedade), e se tornam impostos com
destinação especial por força do disposto no art. 26, 2, da Ley General
Tributaria..25 Na Itália, o ingresso destinado ao financiamento de saúde tem a
denominação de taxa (tassa sulla salute); a Corte Constitucional, entretanto,
considera as cotas destinadas ao serviço sanitário nacional de natureza não
tributária26; porém, a doutrina majoritária entende que os recursos arrecadados
destinados à seguridade social se caracterizam como impostos com destinação
especial (imposte di scopo).27
Na Alemanha, as contribuições sociais, em especial as destinadas à
seguridade social (Sozialversicherungsbeiträge), se colocam fora do campo
tributário, o qual abrange os impostos, taxas e contribuições (Steuern, Gebühren,
Beiträge), aparecendo ora subordinadas ao conceito de ingresso ou tributo especial
(Sonderabgabe)28, ora de modo autônomo frente aos tributos.29 São ingressos não-
fiscais (nichfiskalisch) ou quase fiscais (Quasi-Steuern), que caracterizam-se pelos
seguintes traços: não se vinculam ao art. 105, que autoriza a criação dos impostos
(Steuern), mas ao artigo 74 da Constituição, que prevê as contribuições para a
seguridade (die öffentliche Fürsorge); têm natureza causal, visando à garantia dos
direitos do grupo a que pertence o contribuinte; fundamentam-se na solidariedade e
25 QUERALT, Juan Martin. Curso de Derecho Financiero y Tributário. Madrid: Tecnos,1995, p. 116; ALBIÑANA, Cesar. Sistema Tributario Español y Comparado. Madrid: ICE, 1983, p. 569. 26 Sentença 431 de 1987. 27 RUSSO, Pasquele. Lezioni de Diritto Tributário. V.1. Milano: Giuffrè, 1992, p. 31; FANTOZZI, Augusto. Diritto Tributário.Torino:UTET, 1991, p. 65. 28 TIPKE/LANG. Steuerrecht. Köln: O. Schmidt, 1989, p. 75. 29 KIRCHHOF, Ferdinand. Grundriss des Abgabenrechts. Steuern, Gebühren, Beiträge EG und Sonderabgaben.Heldelberg: C.F. Müller, 1991.
36
não na capacidade contributiva; destinam-se a fundos especiais, que não se
confundem com as despesas globais do Estado; se houver abuso na edificação do
seu conceito que lhes retire a natureza contraprestacional, passam a seguir o regime
constitucional dos impostos com destinação especial (Zwecksteuern).30
Na Argentina, as contribuições têm natureza tributária. Surgiram
contribuições destinadas à previdência social, câmaras agrícolas, fundos florestais,
centros de cinematografia, bolsas de comércio, entidades profissionais, cujas
características são fundamentalmente: não estarem incluídas no orçamento estatal,
não serem arrecadadas pelos organismos tipicamente fiscais e ingressarem
diretamente nas entidades responsáveis.31
3.3. Características
Feitas tais considerações sobre a natureza jurídica das contribuições,
partiremos para análise das características da citada exação.
Geraldo Ataliba assinala que as contribuições são tributos vinculados a uma
atuação estatal referida indiretamente ao contribuinte; afirma que “na contribuição,
ou se tem uma atuação estatal que produz um efeito, o qual (efeito) se conecta com
alguém (que é, pela lei, posto na posição de sujeito passivo), ou, pelo contrário, se
tem uma pessoa (que afinal será sujeito passivo) que desenvolve uma atividade, ou
causa uma situação que requer, exige, provoca ou desencadeia uma atuação
estatal”.32
Como se observa, o que caracteriza a contribuição é a vantagem diferencial
que se coloca o contribuinte em face de determinada atividade administrativa, que,
30 TIPKE/LANG. Ob. cit., p. 75. 31 VILLEGAS, Hector. Curso de finanzas, derecho financiero e tributario. Buenos Aires: Depalma, 1990, p. 114.
37
todavia, é desenvolvida em função do interesse geral. Alguns autores, como Gian
Antonio Micheli33, indicam como elemento da hipótese de incidência apenas a
vantagem auferida pelo particular em decorrência de uma atividade administrativa.
Outros, como A.D. Giannini34 , entendem que a contribuição ou “tributo speciale”
pressupõe ou a vantagem já referida ou uma maior despesa do ente público em
razão de sua atividade.
A posição dominante na doutrina é no sentido de caracterizar o pressuposto
das contribuições pela vantagem diferencial obtida pelo particular em decorrência
da atividade estatal.
De outro lado, é relativamente pacífico, entre doutrinadores e nos Tribunais,
que as contribuições são espécies tributárias que se caracterizam pela finalidade. A
contribuição tem como característica essencial a afetação das receitas a um
determinado órgão ou entidade para atender a finalidades assim determinadas.
O artigo 149 da Constituição Federal vigente prevê expressamente que as
contribuições correspondem ao “instrumento de atuação” da União nas áreas
social, econômica e corporativa. Nesta norma atributiva de competência para
instituir a exação, tipifica-se uma validação finalística de modo que as leis
instituidoras estarão em sintonia com a Constituição, e dentro do respectivo âmbito
de competência, se atenderem às respectivas finalidades identificadas a partir das
“áreas de atuação” qualificadas pelo artigo 149.35
Por tudo já exposto, verifica-se que a contribuição figura distinta dos demais
tributos, sendo exação vinculada a uma atuação estatal, que, embora não referida
32 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973, p. 165. 33 MICHELI. Gian Antonio.Corso di Diritto Tributário. Torino: UTET, 1972, p. 74-75. 34 GIANNINI, Achille Donato. Istituzioni di Diritto Tributario.Milano, Giuffrè,1968, p. 58-59. 35 GRECO, Marco Aurélio. Ob. Cit. p. 135-136.
38
diretamente ao contribuinte, com ele se relaciona, ou por um especial benefício que
obteve, ou por um maior gasto público que provocou. Aliás, ter como pressuposto
ou causa da obrigação a vantagem decorrente da atividade estatal está em
consonância com o critério adotado por nossa Constituição, no que concerne à
outorga de competências para instituir tais exações. Com efeito, as contribuições
podem ser instituídas, nos termos da Constituição, desde que para atender a
finalidades previamente definidas. Daí temos, as contribuições para atender à
intervenção do Estado no domínio econômico (CIDE), contribuições para o fundo
de garantia por tempo de serviço e as contribuições previdenciárias.
3.4. Classificação
O art. 149 da Constituição Federal dá a disciplina fundamental das
contribuições, estabelecendo que “compete exclusivamente à União instituir
contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesses das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem
prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo”. O legislador constituinte, portanto, consagrou três tipos de
contribuições, descritas em função de suas finalidades:
a) Sociais que financiam a intervenção do Estado na Ordem Social, se
dividem em dois tipos: contribuições sociais lato sensu e contribuições
sociais stricto sensu. As primeiras são as chamadas contribuições sociais
gerais, destinando-se: às entidades privadas de serviço social e de
formação profissional (SESI, SENAI, SENAC, etc) conforme art. 240 da
CF/88; ao salário-educação (art. 212, § 5º) e ao FGTS (art. 7º, III c/c art.
10, I, do ADCT). Por último, temos as contribuições sociais destinadas à
seguridade social, objeto do nosso estudo, previstas no texto
39
constitucional no art. 195, nos incisos I, II, III, tais como: a contribuição
da empresa sobre a folha de pagamento (contribuição previdenciária),
receita ou faturamento (COFINS), lucro (CSLL), concurso de
prognóstico e dos trabalhadores; no art. 239 (PIS/PASEP) e nos arts. 84 e
85 do ADCT (CPMF). Cabe ressaltar que o art. 149 atribui
exclusivamente à União a competência para instituir contribuições
sociais, mas permite, no § 1º, que os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituam contribuição para o custeio do sistema de
previdência e assistência social, cobrada de seus servidores e em
benefício destes.
b) Intervenção no domínio econômico, também denominadas de
contribuições econômicas. Visam financiar a intervenção do Estado na
Ordem Econômica. Como exemplo, temos o adicional para o frete que se
destina à renovação da marinha mercante (AFRMM) e a contribuição
sobre a importação e comercialização do petróleo e combustíveis (CIDE),
instituída pela Emenda Constitucional nº 33/2001 (art. 149, § 2º, inciso II,
CF/88), sendo regulamentada pela Lei nº 10.336/2001.
c) Interesse das categorias profissionais ou econômicas, também
denominadas de contribuições corporativas. Destinam-se a custear a
atuação de entes autárquicos ou entidades sindicais no controle e
fiscalização profissional ou na representação individual ou coletiva dos
interesses da categoria profissional. Assim, temos a contribuição sindical
e as contribuições para os conselhos de classe, tais como a OAB.
4. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DA SEGURIDADE SOCIAL
40
Levando-se em consideração o disposto nos arts. 193 e 194 da Constituição
vigente, verificamos que as contribuições sociais para seguridade social destinam-
se a cobrir não só as prestações de seguro social obrigatório de todos aqueles
filiados ao sistema previdenciário (art. 201 e 202), mas, também a saúde (art. 196)
e à assistência social (art. 203), prestadas de forma universal e indiscriminada a
todos, crianças, adolescentes, deficientes físicos, desempregados, carentes em geral
(art. 196 e 203, I, II, III, IV e V), independentemente do pagamento de qualquer
contribuição (art. 203), haja vista que serão custeados com recursos da seguridade
social e outras fontes (art. 198, § 1º e art. 204).
4.1. Financiamento da Seguridade Social
As contribuições sociais stricto sensu foram previstas no Texto
Constitucional como um dos instrumentos destinados ao financiamento da
seguridade social, assim entendida como um conjunto integrado de ações
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, assistência e previdência social.
Sua instituição se encontra regulamentada nos arts. 194 e 195 da Constituição.
O financiamento da seguridade social é feito através de um modelo misto,
conforme se observa no seu art. 195:
“Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições.... “
41
Conclui-se que o financiamento da seguridade social será suportado por toda
a sociedade, com recursos provenientes tanto das contribuições das empresas e
trabalhadores, como por meio do orçamento fiscal das pessoas políticas. A
contribuição da União para o custeio da seguridade social é constituída de recursos
adicionais do Orçamento Fiscal, fixados obrigatoriamente na Lei Orçamentária
Anual36, conforme art. 16 da Lei nº 8.212/91. O § único do mesmo dispositivo
legal dispõe ainda que a União é responsável pela cobertura de eventuais
insuficiências financeiras da seguridade social para o pagamento de benefícios de
prestação continuada.
Verifica-se que legislador constituinte se preocupou com o modelo de
financiamento da seguridade social. Cabe registrar a lição da doutrinadora Misabel
Dersi37, quando salienta:
“A forma mista de custeio- contribuições arrecadadas diretamente
pelos órgãos de seguridade social mais transferências de outras fontes
do orçamento fiscal do Estado – tem sido aquela considerada ideal
para conferir independência e a necessária estabilidade financeiras dos
órgãos previdenciários”.
Logo, a União é competente para instituir as seguintes contribuições sociais
destinadas à seguridade social:
36 Cabe ressaltar que as Leis de Diretrizes Orçamentárias vêm sistematizando as fontes de receita de seguridade social. A Lei nº 9.293, de 15/07/96, estabeleceu que o orçamento da seguridade social compreenderá as dotações destinadas a atender às ações de saúde, previdência e assistência social e obedecerá ao disposto nos arts. 194, 195, 196, 200, 201, 203 e 212, § 4º, da Constituição e contará, dentre outros, com recursos provenientes: I- das contribuições sociais previstas na Constituição; II- das receitas dos órgãos, fundos e entidades que integram, exclusivamente, este orçamento; III- da contribuição para o plano de seguridade social do servidor, que será utilizado para despesas no âmbito dos Encargos Previdenciários da União; IV- do orçamento fiscal. 37 DERZI, Misabel. Contribuição para o Finsocial. Revista de Direito Tributário nº 55. São Paulo. Malheiros, 1991, p. 196.
42
I- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos
ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício, o faturamento ou a receita, e o lucro;
II- do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não
incidindo contribuição sobre a aposentadoria e pensão concedidas pelo
Regime Geral de Previdência Social (INSS);
III- sobre a receita do concurso de prognósticos.
Além destas, poderão ser instituídas outras contribuições sociais, com base
na competência residual prevista no § 4º do art. 195 c/c o art. 154, I da Carta de
1988. O exercício da competência residual visa gravar outras bases de incidência
não previstas originalmente no texto constitucional, em caso de necessidade de
garantir a manutenção ou expansão da seguridade social. A instituição do tributo,
no caso, só pode ser feita por lei complementar, não podendo ter fato gerador ou
base de cálculo de outro imposto já existente e não seja cumulativo. Cabe ressaltar
que uma parcela da doutrina38 entende que as contribuições sociais criadas, com
fulcro nos dispositivos legais supramencionados, são impostos com destinação
específica. Trata-se de exceção à regra do art. 167, IV, da Constituição.
O art. 27 da Lei nº 8.212/91 dispõe sobre as outras receitas destinadas à
manutenção da seguridade social, tais como:
I- as multas, a atualização monetária e os juros moratórios;
38 Podemos destacar Hamilton Dias de Souza (MARTINS, Ives Gandra da Silva(Coordenador). Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 516). Para o autor “ a razão fundamental pela qual não se trata de contribuição social reside em razão de não haver referibilidade alguma entre os possíveis sujeitos passivos da exação prevista no dispositivo e a seguridade social. Qualquer um pode ser escolhido, desde que tenha capacidade contributiva e não um benefício, porquanto inexistente. È caso, pois, de imposto com destinação específica e não verdadeira contribuição”.
43
II- a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e
cobrança prestados a terceiros, no caso das contribuições destinadas ao
sistema “S” (SESI, SENAI, SENAC...), em que a Previdência recebe 3,5%
do montante arrecadado;
III- as receitas provenientes de prestação de outros serviços e de
fornecimento ou arrendamento de bens;
IV- as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras;
V- doações, legados e subvenções e outras receitas eventuais;
VI- 50% dos valores obtidos e aplicados oriundos do tráfico de
entorpecentes e drogas, na forma do § único do art. 243 da Carta Magna;
VII- 40% do resultado dos leilões dos bens apreendidos pela Secretaria da
Receita Federal;
VIII- outras receitas previstas em legislação específica.
Cabe acrescentar ainda que o art. 68 da Lei Complementar nº 101/2000 ( Lei
de Responsabilidade Fiscal) instituiu o Fundo do Regime Geral de Previdência
Social, vinculado ao Ministério da Previdência e Assistência Social, com a
finalidade de prover recursos para o pagamento dos benefícios do regime geral de
previdência social (RGPS).
Esse fundo, administrado pelo INSS, é constituído de:
I- bens móveis e imóveis, valores e rendas do INSS não utilizados na
operacionalidade deste;
II- bens e direitos que, a qualquer título, lhe sejam adjudicados ou que lhe
vierem a ser vinculados por força de lei;
44
III- receita das contribuições sociais para a seguridade social, previstas na
alínea “a” do inciso I e no inciso II do art. 195 da Constituição;
IV- produto da liquidação de bens e ativos de pessoa física ou jurídica em
débito com a Previdência Social;
V- resultado da aplicação financeira de seus ativos; e
VI- recursos provenientes do orçamento da União.
4.2. Regime Jurídico
O regime jurídico das contribuições para seguridade social é extraído das
normas constantes dos arts. 149 e 195, sem perder de vista os princípios
insculpidos39 no art. 194 da Constituição de 1988.
O art. 149 da Constituição dispõe sobre o regime jurídico das contribuições e
tem o seu caput redigido da seguinte forma:
“Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção do domínio econômico e interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146,
III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo ”. (grifo
nosso)
O fato é que o art. 149 é a regra-matriz das contribuições sociais e que
garante a natureza tributária das citadas exações, pois distribui competência para
39 O art. 194 da Constituição de 1988 preceitua como sendo objetivos, mas entendemos que são princípios, ou seja, diretrizes positivas a serem atendidas pelo legislador, pelo aplicador e pelo intérprete do Direito. Vide nota nº 4.
45
instituí-las à União, e limitadamente, aos Estados e Municípios (quanto às
contribuições da seguridade social de seus servidores, conforme § 1º do mesmo
dispositivo), com a observância das limitações constitucionais de tributação:
legalidade, reserva parcial de lei complementar, proibição de retroatividade e
anterioridade.
Como se observa, as contribuições para a seguridade social têm regime
jurídico, em parte, diverso das demais contribuições, não se sujeitando, por
exemplo, ao princípio da anterioridade, de que trata o art. 150, III, “b” , da
Constituição, mas sim à regra do art. 195, § 6º. Ademais, cabe registrar que o art.
149 não remete, em princípio, as contribuições sociais aos incisos II (igualdade),
IV (vedação ao confisco), V (limitações ao tráfego) e VI (imunidades) do artigo
150.40 A inexistência de norma que determine observar tais limitações mostra que
os regimes são diferentes e relevantes conseqüências podem ser extraídas dessa
não-determinação.
As contribuições sociais estão sujeitas à legalidade, tanto para sua instituição
quanto para sua alteração. O princípio da legalidade reflete a principal limitação
existente ao poder impositivo fiscal. A limitação constitucional consistente na
legalidade estrita aplica-se às contribuições para a seguridade social, com o mesmo
alcance das demais espécies tributárias. O art. 149 impõe não apenas a legalidade
geral (art. 5º, II), mas a legalidade estrita (artigo 150, I), tal como exigido para
impostos, taxas e contribuição de melhoria. Tais contribuições não podem ser
exigidas “em virtude de lei”, mas devem sê-lo “por lei”.
As contribuições sociais serão instituídas mediante o exercício das
competências ordinária ou residual. A primeira refere-se à regulamentação das
40 GRECO, Marco Aurélio. Ob. Cit., p. 73.
46
bases de incidência previamente descritas no art. 195, incisos I, II e III, da
Constituição. A segunda, com fulcro no § 4º do mesmo artigo, diz respeito à
possibilidade de expansão das bases de incidência para a garantia do sistema de
seguridade social. No exercício de seu mister, está o legislador adstrito às normas
estatuídas no art. 146, III:
“Art. 146. Cabe à Lei Complementar:
(...)
III- Estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição dos tributos e suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributárias;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas
sociedades cooperativas”.
A partir do dispositivo acima, observa-se que as contribuições sociais serão
instituídas com observância ao dispositivo do art. 146, III, ou seja, por lei
complementar que lhes defina os respectivos fatos geradores, bases de cálculo e
contribuinte. Contudo, excluem-se do princípio da reserva da lei complementar as
contribuições sociais referidas no art. 195 da Constituição, que incidem sobre a
folha de salários, o faturamento e o lucro, conforme entendimento do STF,41 uma
vez que o próprio texto constitucional já lhes define o fato gerador e base de
41 Cf. RE 138.284, Ac. do Pleno, de 01/07/92, Rel. Min. Carlos Velloso, RTJ 143:313: “ As contribuições do art. 195, I, II e III, da Constituição, não exigem, para a sua instituição, lei complementar. Apenas a contribuição do § 4º do mesmo art. 195 é que exige para a sua instituição lei complementar, dado que essa instituição deverá observar a técnica residual da União (CF, art. 195, § 4º c/c art. 154, I). Posto estarem sujeitas à lei complementar do art. 146, III, da Constituição, porque não são impostos, não há necessidade de que a lei complementar defina o seu fato gerador, base de cálculo e contribuintes (CF, art. 146, III, a)”. Em outra decisão o STF mantém o mesmo entendimento no RE 146.733-9-SP, DJ 06/11/92, Rel. Min. Moreira Alves, através de seu voto: “Note-se, ademais, que com relação aos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes, o próprio art. 146, III, só exige que estejam previstos na lei complementar de normas gerais quando relativos aos impostos discriminados na Constituição, o que não abrange as contribuições sociais, inclusive as destinadas ao financiamento da seguridade social, por não configurarem impostos”.
47
cálculo. Deve-se, pois, observar a lei complementar de normas gerais, nos termos
do art. 146, III, apenas no que for possível, ou seja, em relação às alíneas “b” e “c”.
O art. 149 subordina a instituição das contribuições para a seguridade social
ao princípio da proibição de retroatividade insculpido no art. 150, III, “a” , que
veda a cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos anteriormente à
vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. Como exemplo da
aplicação desse princípio tributário, temos a contribuição sobre o lucro líquido
(CSLL) instituída pela Lei nº 7.689, de 15/12/88, que teve o seu art. 8º declarado
inconstitucional por pretender atingir os fatos geradores ocorridos no ano de
1988.42
Em razão da anterioridade tributária, as alterações na legislação, como regra
geral, só produzem efeitos a partir do exercício financeiro subseqüente à sua
publicação. No que tange às contribuições para a seguridade social, o legislador
constituinte prescreveu que tais contribuições se subordinam ao princípio da
anterioridade nonagesimal, mitigado ou especial (art. 195, § 6º), em vez do
princípio da anterioridade clássico insculpido no art. 150, III, “b”.
Vejamos os citados dispositivos constitucionais:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
(...)
III- cobrar tributos:
(...)
42 Ibidem.
48
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que
os instituiu ou aumentou”.
Art. 195. (...)
§6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser
exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que
as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto
no art. 150, III, b”.
Assim, tratando-se de contribuições para a seguridade social, a Constituição
consagra a anterioridade de 90 dias, ou seja, qualquer que seja a data da publicação
da lei instituidora, ou que aumente a citada exação, a exigência respectiva somente
poderá ocorrer 90 dias após a sua publicação.
4.3. Afetação dos Recursos Arrecadados
As contribuições sociais destinadas à seguridade social possuem como
característica marcante, já dita anteriormente, a afetação do produto da arrecadação
às despesas com a seguridade social. Logo, os ingressos são a medida dos gastos.
Isso fica bem evidenciado no § 5º do art. 195 da Constituição Federal que dispõe:
“Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou
estendido sem a correspondente fonte de custeio total”.
Cabe ressaltar ainda que o inciso XI do art. 167 da Constituição,
acrescentado pela Emenda Constitucional nº 20/98, veda a utilização dos recursos
provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, “a”, e II, da Carta
Magna para realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do
Regime Geral da Previdência Social de que trata o art. 201 da mesma Carta.
49
A doutrina nacional considerava desnecessário o estudo da destinação dos
tributos no âmbito do Direito Tributário, com fundamento no art. 4º do CTN que
dispunha que o destino da arrecadação é irrelevante. Tal dispositivo legal aplica-se
aos impostos, mas em relação às contribuições sociais da seguridade social
encontra-se superado diante da Constituição de 1988, uma vez que o destino da
arrecadação é um elemento essencial a definição da citada exação. Para o
professor Marco Aurélio Greco43 a razão da contribuição é existir uma finalidade e
um determinado grupo, e a exigência do pagamento é feita em solidariedade ao
grupo à luz da finalidade, assim, o destino da arrecadação deve ser a favor desse
mesmo grupo, na busca da finalidade. Daí, o requisito do destino da arrecadação
ser o elemento essencial das contribuições sociais da seguridade social. A isto se
acrescenta o ensinamento de Pontes de Miranda44 quando dizia “as taxas há uma
vinculação intrínseca da arrecadação à atividade. O mesmo pode ser dito em
relação à contribuição. Se não há arrecadação vinculada ao grupo e à finalidade,
aquilo não é contribuição. É outra coisa”.
Um ponto que merece destaque refere-se à destinação constitucional das
contribuições sociais incidentes sobre o faturamento e o lucro, cujo produto
arrecadado seria destinado às ações de saúde e ao financiamento da seguridade
social. Muitas empresas alegaram a inconstitucionalidade da destinação
constitucional. Alegavam que não havia referibilidade entre o pagamento das
contribuições sociais (FINSOCIAL e contribuição sobre o lucro líquido-CSLL) e a
contraprestação estatal, e o recolhimento do tributo à Secretaria da Receita Federal
e não ao INSS; bem como que as citadas exações tinham natureza de imposto.
Todavia, o Supremo Tribunal Federal pacificou a matéria, considerando
constitucional a cobrança da contribuição social sobre o lucro líquido ( Lei nº
43 GRECO, Marco Aurélio. Ob. Cit. p. 239-240. 44 MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda nº 1 de 1969. São Paulo: RT, 1970, tomo II, p. 205. No mesmo sentido, a posição de Geraldo Ataliba (Hipótese de incidência tributária. São Paulo: RT, 1990, p. 205.)
50
7.689, de 15/12/88), concluindo que seria irrelevante o fato de a receita integrar o
orçamento fiscal da União, o que importa é que ela se destina ao financiamento da
seguridade social.45 O FINSOCIAL também foi considerado constitucional, salvo
no que concerne ao aumento das alíquotas, tendo o STF firmado a seguinte
orientação: “A teor do disposto no art. 195 da Constituição Federal, incumbe à
sociedade, como um todo, financiar, de forma direta e indireta, nos termos da lei, a
seguridade social, atribuindo-se aos empregadores a participação mediante bases
de incidências próprias – folha de salários, o faturamento e o lucro”.46
4.4. Competência e Arrecadação
A União tem competência para instituir as contribuições para a seguridade
social (art. 195, CF/88). O art. 33 da Lei nº 8.212/91 dispõe que a competência
para arrecadar, fiscalizar, lançar e normatizar o recolhimento das contribuições das
empresas (sobre a folha de pagamento), dos empregadores domésticos, dos
trabalhadores, bem como as contribuições incidentes sobre substituição, cabe ao
INSS; já as contribuições incidentes sobre o faturamento, lucro e a receita de
concurso de prognósticos incumbem à Secretaria da Receita Federal.
As contribuições para a seguridade social obedecem ao lançamento por
homologação com fulcro no § 4º do art. 150 do Código Tributário Nacional.
Assim, os contribuintes identificam o fato gerador, apuram o montante devido e
45 Cf. RE 138.284, Ac. do Pleno, de 01.07.92, RTJ 143: 313, 1992. O Min. Relator Carlos Velloso pronunciou-se em seu voto: “ Daí que a administração direta também tem receita de seguridade social, já que não pode compreender apenas de despesas. Por conseguinte, a Constituição não veda (ao revés, admite) a arrecadação de contribuição social para financiamento da seguridade social pela administração direta da União, não se podendo inquinar de inconstitucional a Lei nº 7.689/99, pelo fato de a contribuição por ela criada ser arrecadada pela própria União, através da Receita Federal (arts. 6º e 7º) nem pela remissão à legislação do imposto de renda para disciplinar a administração, lançamento, consulta, cobrança, penalidades, garantias e procedimento administrativo, no que couber o parágrafo único do art. 7º, visto que não há vedação constitucional para tanto”. 46 Cf. RE 150.755, Ac. do Pleno, de 18.11.92, RTJ 149/259.
51
efetuam o recolhimento, procedimento que depende da homologação da autoridade
fiscal.
O direito da seguridade social de apurar ou constituir seus créditos, previsto
no art. 45 da Lei nº 8.212/91, extingue-se após dez anos contados do primeiro dia
do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído ou na
data que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, a
constituição de crédito anteriormente efetuada.
No âmbito de suas respectivas competências, a Secretaria de Receita Federal
e o INSS, por intermédio dos auditores-fiscais da Receita Federal e da Previdência
Social, respectivamente, têm o poder-dever de arrecadar e fiscalizar o recolhimento
das contribuições sociais, constituir seus créditos pelo lançamento e promover a
cobrança, aplicar sanções e normatizar procedimentos relativos à arrecadação,
fiscalização e cobrança. As competências dos aludidos agentes fiscais estão
disciplinadas na Lei nº 10.593, de 06/12/2002.
4.5. Espécies
4.5.1. Contribuições Sociais Arrecadadas pelo INSS
4.5.1.1. Contribuição do Segurado
O inciso II do art. 195 da Constituição vigente prevê a contribuição do
trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de
previdência social (RGPS) de que trata o art. 201 da Constituição. A Lei nº
8.212/91 elenca, nos arts. 20, 21 e 25, a contribuição dos segurados empregados,
52
empregado doméstico, trabalhador avulso; dos segurados contribuinte individual e
facultativo e do segurado especial.47
I- Empregado, Empregado Doméstico e Trabalhador Avu lso
A contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e
trabalhador avulso será calculada mediante a aplicação de correspondente alíquota,
de forma não cumulativa, sobre o salário-de-contribuição mensal 48, conforme art.
20 da Lei nº 8.212/91, de acordo com a tabela vigente:49
Salário-de-Contribuição
(R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)
Até 560,81 7,65
560,82 a 720,00 8,65
720,01 a 934,67 9,00
934,68 a 1.869,34 11,00
O inciso I do art. 28 da Lei nº 8.212/91, dispõe q ue o salário-de-
contribuição para o empregado e trabalhador avulso é a remuneração auferida
em uma ou mais empresas, assim entendida a totalida de de rendimentos
pagos, devidos ou creditados a qualquer título, dur ante o mês, destinados a
retribuir o trabalho, qualquer que seja sua forma, inclusive as gorjetas, os
ganhos habituais sob a forma de utilidades e os ad iantamentos decorrentes de
47 Cf. a definição dos segurados da previdência social no art 12 da Lei nº 8.212/91. A expressão “contribuinte individual” engloba os empresários e autônomos e equiparados. Já o segurado facultativo é o maior de 16 anos, desde que não exerce atividade remunerada, não estando incluído como segurado obrigatório. Ex. dona de casa, estudante, síndico de condomínio e etc. 48 Salário-de-contribuição é a base de cálculo da contribuição previdenciária devida pelos trabalhadores. 49 Portaria INSS nº 727, de 30/05/2003.
53
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo
à disposição do empregador ou tomador de serviço, n os termos da lei ou do
contrato, ou, ainda, de convenção ou acordo coletiv o de trabalho ou sentença
normativa. Já o inciso II da mesma lei, preconiza q ue o salário-de-contribuição
do empregado doméstico é a remuneração registrada n a carteira de trabalho e
previdência social (CTPS).
O limite mínimo do salário-de-contribuição corresp onde ao piso salarial,
legal ou normativo, da categoria ou, inexistindo es te, ao salário-mínimo,
tomado no seu valor mensal, diário ou horário, conf orme ajustado e o tempo de
trabalho efetivo durante o mês , conforme disposto no § 3º do art. 28 da Lei nº
8.212/91.
II- Segurados Contribuinte Individual e Facultativo
A contribuição devida do segurado contribuinte individual e do segurado
facultativo é de 20% sobre o salário-de-contribuição, com fulcro no art. 21 da Lei
nº 8.212/91, obedecendo a tabela abaixo:50
Salário-de-Contribuição
(R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)
De 240,00 (valor mínimo)
até 1.869,34 (valor
máximo)
20,00
54
O salário-de-contribuição relativo ao contribuinte individual é a
remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade
por contra própria, durante o mês, observados os limites mínimo e máximo do
salário-de-contribuição. Já o salário-de-contribuição relativo ao segurado
facultativo é o valor por ele declarado, observados os limites supracitados.
Os segurados contribuintes individuais e facultativos estão obrigados a
recolher a contribuição ao INSS por iniciativa própria até o dia 15 do mês seguinte
ao da competência, conforme o art. 30, II da Lei nº 8.212/91.
III- Segurado Especial
O § 8º do art. 195 da Constituição, com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20/98, define o segurado especial como sendo:
“o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador
artesanal, bem como os respectivos cônjuges que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a
aplicação de um alíquota sobre o resultado da comercialização da
produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei”.
A contribuição do segurado especial, conforme o art. 25 da Lei nº 8.212/91,
corresponde ao percentual de 2,3% incidente sobre o valor bruto da
comercialização de sua produção rural. Este percentual é composto:
- 2,0% para a Seguridade Social;
50 Ibidem.
55
- 0,1% para financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de
incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho
(SAT);
- 0,2% para o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).
Sempre que o segurado especial vender sua produção rural à adquirente
pessoa jurídica, consumidora ou consignatária, estas ficarão subrrogadas na
obrigação de descontar do produtor e efetuar o respectivo recolhimento ao INSS.
O segurado especial além desta contribuição obrigatória, também poderá
contribuir facultativamente aplicando-se a alíquota de 20% sobre o respectivo
salário-de-contribuição, para fazer jus aos benefícios previdenciários com valores
superiores a um salário mínimo.
4.5.1.2. Contribuição da Empresa
O inciso I, alínea “a” do art. 195 da Constituição prevê várias
contribuições da empresa. A atual redação do dispos itivo, alterada pela
Emenda Constitucional nº 20/98, dispõe sobre a cont ribuição social do
empregador, da empresa e da entidade a ela equipara da na forma da lei,
incidente sobre a folha de salários e demais rendim entos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício.
É importante entender o conceito de empregador, em presa e entidade
equiparada, pois estes são os sujeitos passivos da obrigação tributária.
Empregador é definido no art. 2º da CLT como sendo a pessoa física ou
jurídica que assume o risco de sua atividade econôm ica, admite, assalaria e
56
dirige a prestação pessoal de serviços do empregado . Segundo a Lei nº
8.212/91, no seu art. 15, I, temos a definição de e mpresa , como sendo a pessoa
física ou jurídica que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural,
com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e en tidades da administração
pública direta, indireta e fundacional. Já o empreg ador doméstico, diante do
art. 15, II, é a pessoa física ou família que admit e a seu serviço, sem finalidade
lucrativa, empregado doméstico. No § único do art. 15, as entidades
equiparadas à empresa são o contribuinte individual em relação ao segurado
que lhe presta serviço, a cooperativa, a associação ou entidade de qualquer
natureza ou finalidade, a missão diplomática e repa rtição consular de carreira
estrangeira.
As contribuições sociais previstas no inciso I do art. 195 da Constituição
poderão ter suas alíquotas ou bases de cálculo dife renciadas, em razão da
atividade econômica ou da utilização intensiva de m ão-de-obra, conforme o §
9º do art. 195. É vedada a concessão ou anistia das contribuições de que
tratam os incisos I, “a”, e II do art. 195, para dé bitos em montante superior ao
fixado em lei complementar, conforme o § 11 do art. 195.
Conforme dispõe o art. 30 da Lei nº 8.212/91, com redação dada pela Lei
nº 9.876/99, além de recolher as contribuições a se u cargo (art. 22, I, II, III e IV),
a empresa é obrigada a arrecadar as contribuições d os segurados empregados
e trabalhadores avulsos (art. 20) a seu serviço, de scontando-as da respectiva
remuneração, até o dia 2 do mês seguinte ao da resp ectiva competência. Em
57
relação aos contribuintes individuais houve altera ção recente. Com a Medida
Provisória nº 83, de 12/12/2002, convertida na Lei nº 10.666, de 08/05/2003, as
empresas passaram a ser obrigadas a arrecadar a co ntribuição dos citados
contribuintes a seu serviço juntamente com a contri buição a seu cargo até o
dia 2 do mês seguinte ao da competência. Esta obrig ação também se aplica às
cooperativas de trabalho em relação à contribuição social devida pelo seu
cooperado.
I- Contribuição sobre a remuneração dos segurados empregado e trabalhador
avulso
Também denominada de contribuição sobre a folha de pagamento. A
redação original do art. 22, I, da Lei nº 8.212/91, determinava a contribuição de
20% a cargo das empresas sobre a remuneração paga a os empregados,
empresários, trabalhadores avulsos e autônomos. O a rt. 195, I da Constituição,
em seu texto original, somente permitia a contribui ção sobre a folha de
salários. Como se observa existia na época um confl ito da lei
infraconstitucional em relação à Constituição, pois a folha de salários tem uma
interpretação mais restrita, só recebe salário quem é empregado. Em
decorrência disso, o Supremo Tribunal Federal, atra vés das ADIn nº 1.108-1-DF
julgou inconstitucionais as expressões “empresários ” e “autônomos”, e logo
em seguida na ADIn nº 1.153-7-DF, o termo “trabalha dor avulso”, por entender
que não havia permissivo constitucional para instit uição do tributo com base
58
de cálculo tão ampliada. A Corte Suprema firmou ent endimento que a
remuneração paga aos segurados empresário, autônomo e avulso não estavam
abrangidas no conceito de folha de salários do art. 195, I da Constituição.
Posteriormente, foi editada a Lei Complementar nº 8 4/96 que passou a exigir a
contribuição da empresa em relação à remuneração pa ga daquelas pessoas,
atendendo ao disposto no art. 195, § 4º c/c o art. 154, I da Constituição.
Houve nova alteração tanto no texto constitucional , quanto na legislação
infraconstitucional. O art. 195, I, da Constituição , com redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20/98, alterou o texto, pa ssando a fazer referência a
“folhas de salários e demais rendimentos do trabalh o pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste ser viço, mesmo sem vínculo
empregatício”. Com isso, passou-se a ter três espéc ies: contribuição sobre o
total das remunerações relativas aos segurados empr egados e avulso;
contribuição sobre o total das remunerações relativ as aos contribuintes
individuais, e contribuição sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de
prestação de serviços dos cooperados através de coo perativa de trabalho. A
Lei nº 9.876/99, posteriormente, revogou a Lei Com plementar nº 84/96.
Com isso a redação do art. 22, I da Lei º 8.212/91 foi alterada, em
decorrência da Lei nº 9.876/99, passando a contribu ição da empresa ser
calculada à razão de 20% sobre o total das remunera ções pagas, devidas ou
creditadas a qualquer título, durante o mês, aos se gurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços, des tinadas a retribuir o
59
trabalho, qualquer que seja sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamen tos decorrentes de reajuste
salarial, quer pelos serviços efetivamente prestado s, quer pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços, no s termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo ou sentença normativa. 51
II- Contribuição sobre a remuneração do segurado contribuinte individual
A contribuição da empresa sobre a remuneração do contribuinte individual
que lhe preste serviço é de 20% sobre o total das remunerações ou retribuições
pagas ou creditadas no decorrer do mês, conforme art. 22, III da Lei nº 8.212/91.52
III- Contribuição sobre o custeio do acidente de trabalho
O art. 7º, XXVIII dispõe que o seguro contra aciden tes do trabalho (SAT)
fica a cargo do empregador, sem prejuízo da indeniz ação a que este está
obrigado, no caso de culpa ou dolo. Seu fundamento também está previsto no
art. 195, I, da Constituição quando assegura a inc idência da contribuição do
empregador para o financiamento da seguridade socia l sobre a folha de
salários.
51 De acordo com o art. 22, § 1º da Lei nº 8.212/91, a alíquota é acrescida de 2,5%, no caso de banco comercial, banco de investimento, banco de desenvolvimento, caixa econômica, sociedade de crédito, financiamento e investimento, sociedade de crédito imobiliário, inclusive associação de poupança e empréstimo, sociedade corretora, distribuidora de título de valores, inclusive bolsa de mercadorias e de valores, empresa de arrendamento mercantil, cooperativa de crédito, empresa de seguros privados e de capitalização, agente autônomo de seguros privados e de crédito e entidade de previdência privada, aberta e fechada. 52 Ibidem.
60
Atualmente, a base de cálculo e as alíquotas do SAT encontram-se
disciplinadas no art. 22, II da Lei nº 8.212/91. A contribuição das empresas para
o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de
incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambie ntais do trabalho sobre o
total das remunerações pagas aos segurados empregad os e trabalhadores
avulsos é de um (risco leve), dois (risco médio) ou três (risco grave) por cento,
dependendo do grau de risco da atividade prepondera nte da empresa.
Considera-se atividade preponderante, a atividade, na empresa, que ocupa o
maior número de empregados e trabalhadores avulsos, conforme o anexo V do
Regulamento da Previdência Social, Decreto nº 3.048 /99.
As empresas alegaram a inexistência de relação jurí dica tributária que as
obrigue a recolherem o SAT, em decorrência da ausên cia do inciso II do art. 22
da Lei nº 8.212/91 dos requisitos essenciais à inst ituição e cobrança. Como
causa de pedir, as empresas sustentaram que o citad o dispositivo não define
de forma exaustiva todos os aspectos da hipótese de incidência, deixando ao
arbítrio da regulamentação por ato administrativo a conceituação de atividade
preponderante e dos riscos leve, médio e grave, o q ue viola os princípios da
estrita legalidade e da tipicidade tributária. Cont udo a matéria já se encontra
superada, o Superior Tribunal de Justiça vem entend endo que a cobrança do
SAT é constitucional, conforme se verifica no segui nte julgado: 53
53 Resp nº 222.067-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 20/03/2001.
61
“ Seguro. Acidente. Trabalho. Risco Preponderante. Ao tratar das
alíquotas do seguro de acidentes do trabalho – SAT, o art. 22, II, da
Lei nº 8.212/91 não violou o princípio da legalidad e inserido no art.
97, IV, do CTN, mesmo que tenha remetido ao Executi vo a
discricionariedade de especificar quais as atividad es que devam
sofrer a incidência menor, maior ou máxima. Os enqu adramentos
das atividades empresariais nos graus de risco são feitos mediante
listas anexas aos decretos regulamentadores, levand o-se em conta
a atividade preponderante, e o Direito brasileiro r eserva justamente
ao regulamento a função de explicitar o conteúdo da lei para fins de
sua execução. Outrossim, ainda que se trate de ques tão de
natureza tributária, não se pode negar que, ontolog icamente,
regula-se seguro de acidente de trabalho. Note-se q ue o especial
abordou o tema em nível estritamente infraconstituc ional”.
No mesmo sentido, recentemente, o Supremo Tribunal Federal 54
manifestou-se pela constitucionalidade do SAT, ente ndendo pela
desnecessidade de Lei Complementar para instituição da citada exação (art.
195, § 4º c/c art. 154, I, CF/88) e que o inciso II do art. 22 da Lei nº 8.212/91
define de forma satisfatória todos os elementos cap azes de fazer nascer a
obrigação tributária válida. A Corte Suprema entend eu, ainda, que o fato de a
lei deixar para o regulamento a complementação dos conceitos de “atividade
54 Cf. RE nº 343446-SC, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 20/03/2003.
62
preponderante” e “grau de risco leve, médio e grave ”, não implica ofensa ao
princípio da legalidade genérica (art. 5º, II, CF/8 8), e da legalidade tributária (art.
150, I).
As alíquotas de 1%, 2% e 3% do SAT serão acrescida s de 12(doze),
9(nove) ou 6(seis) por cento, sobre a remuneração d os segurados que exerçam
atividades especiais sujeitas a riscos ambientais q ue permitam a concessão de
aposentadoria especial após 15, 20 ou 25 anos, res pectivamente, destinada ao
custeio do referido benefício, conforme previsto no art. 57, § 6º da Lei nº
8.213/91. Essa contribuição adicional somente será devida pela empresa se o
segurado estiver exposto de forma contínua aos agen tes nocivos químicos,
físicos e biológicos prejudiciais à saúde ou à inte gridade física.
A contribuição para acidente de trabalho do produto r rural pessoa física,
do consórcio de produtores rurais-pessoa física, do segurado especial, do
produtor rural pessoa jurídica e da agroindústria s erá 0,1% sobre a receita
bruta da comercialização da produção rural.
Com o objetivo de estimular investimentos destinad os a diminuir os
riscos ambientais no trabalho, o Ministério da Prev idência e Assistência Social
poderá alterar o enquadramento de empresa que demon stre a melhoria das
condições do trabalho, com redução dos agravos à sa úde do trabalhador,
obtida através de investimentos em prevenção e em s istemas gerenciais.
63
Caberá ao INSS o monitoramento do controle e acompa nhamento de acidentes
de trabalho.
IV- Contribuição sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de
serviços de cooperado através de cooperativa
A empresa deverá recolher a contribuição de 15% so bre o valor bruto da
nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, rel ativamente a serviços que lhe
são prestados por cooperados, por intermédio de coo perativas de trabalhos,
conforme previsão no art. 22, IV da Lei nº 8.212/91 .
A cooperativa de trabalho não está sujeita à contribuição incidente sobre a
remuneração relativa ao contribuinte individual (art. 22, III), em relação às
importâncias por ela pagas, distribuídas ou creditadas aos respectivos cooperados,
a título de remuneração ou retribuição, por seu intermédio, tenham prestado
serviços às empresas.
V- Contribuição dos Clubes de Futebol Profissional
O texto original da Lei nº 8.212/91 obrigava os clubes de futebol a
recolherem a contribuição normal como as demais empresas, ou seja, a
contribuição sobre a folha de pagamento e o SAT. Contudo, com a Lei nº
8.641/93, modificou-se a tributação das citadas entidades. Assim, conforme o § 6º
do art. 22 da Lei nº 8.212/91, a contribuição empresarial devida da associação
desportiva que mantém equipe de futebol profissional à seguridade social passou a
ser de 5% sobre a receita bruta, decorrente da renda dos espetáculos desportivos
de que participe no território nacional e de qualquer forma de patrocínio,
64
licenciamento de uso de marcas e símbolos, de publicidade ou propaganda e
transmissão dos espetáculos desportivos, em substituição à contribuição de 20%
sobre a remuneração dos segurados empregados e a contribuição do SAT ( art. 22,
I e II, da Lei nº 8.212/91).
Insta salientar que essas regras se aplicam às associações desportivas que
mantém equipe de futebol profissional e que se organizem na forma da Lei nº
9.615, de 24/03/1998. As demais entidades desportivas contribuem como as
empresas em geral, ou seja, recolheram a contribuição sobre a folha de pagamento
e o SAT.
Caberá à entidade promotora do espetáculo, no caso a Federação ou
Confederação, a responsabilidade de efetuar o desconto de 5% sobre a receita bruta
decorrente da renda de espetáculos desportivos e o recolhimento do valor ao INSS,
no prazo de até dois dias úteis após a realização do evento, conforme § 7º do art.
22 da Lei nº 8.212/91. Já no § 9º do mesmo dispositivo legal, dispõe que no caso
da associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional receber
recursos de empresa ou entidade, a título de patrocínio, licenciamento de uso de
marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos, esta
última ficará com a responsabilidade de reter e recolher o percentual de 5% da
receita bruta decorrente do evento, sendo inadmitida qualquer dedução até o dia 2
do mês seguinte ao da competência.
VI- Contribuição do Produtor Rural Pessoa Física
A redação atual do art. 25 da Lei nº 8.212/91 dispõe que os produtores
rurais- pessoa física (art. 12, inciso V) são obrigados ao recolhimento de 2% sobre
a receita bruta da comercialização da produção, além da contribuição para o SAT
65
com a alíquota de 0,1% e 0,2 % para o SENAR sobre a mesma base de cálculo em
relação aos empregados que lhe prestam serviço em substituição às contribuições
dos inciso I e II do art 22. Considera-se receita bruta a proveniente do valor
recebido ou creditado pela comercialização da produção, assim entendida a
operação de venda ou consignação.
Equipara-se ao produtor rural pessoa física o consórcio simplificado de
produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que
outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para a
prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento
registrado em cartório de títulos e documentos.
O produtor rural pessoa física ainda contribui obrigatoriamente como
contribuinte individual com a alíquota de 20% sobre o seu salário-de-contribuição,
conforme art. 21 da Lei nº 8.212/91.
VII-Contribuição do Produtor Rural Pessoa Jurídica
O produtor rural pessoa jurídica não mais recolhe a contribuição de 20%
sobre a remuneração paga pelos segurados que lhe prestaram serviços. O art. 25 da
Lei nº 8.870, de 15/01/94, estabeleceu que a contribuição do produtor rural pessoa
jurídica será de 2,5% da receita bruta proveniente da comercialização de sua
produção. Esta contribuição substituiu a relativa à folha de pagamento.
Contribuirá, ainda, com 0,1% para o SAT e 0,25% para o SENAR sobre a mesma
base de cálculo.
Equipara-se ao produtor rural pessoa jurídica, para fim de contribuição, a
agroindústria, compreendida como produtor rural pessoa jurídica cuja atividade
66
econômica seja a industrialização de produção própria e adquirida por terceiros
(com exclusão para as sociedades cooperativas e as agroindústrias de piscicultura,
carnicultura, suinocultura e avicultura). Em relação às operações em que a
agroindústria presta serviço a terceiros, deverá recolher a contribuição como as
demais empresas, ou seja, as contribuições previstas no art. 22 da Lei nº 8.212/91.
4.5.1.3. Contribuição do Empregador Doméstico
O empregador doméstico contribui de maneira diferen ciada para a
Previdência Social. De acordo com o art. 24 da Lei nº 8.212/91, o empregador
doméstico paga mensalmente 12% sobre o salário de c ontribuição de seu(s)
empregado(s) doméstico(s), enquanto as empresas em geral recolhem sobre a
folha de pagamento. Cabe ao empregador recolher men salmente à Previdência
Social a sua parte e a do trabalhador, descontada d o seu salário mensal.
4.5.2. Contribuições Sociais Arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal
I- Contribuição provisória sobre movimentação fina nceira
Em 1993, por intermédio da Lei Complementar nº 77, de 13/07/93, foi
instituído o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira – IPMF, à alíquota
de 0,25% incidente sobre o lançamento a débito, por instituições financeiras, nas
contas junto a elas mantidas. A cobrança do IPMF vigorou de 01/01/94 até
31/12/94.
67
A Emenda Constitucional no 12, de 15/08/96, ao incluir o art. 74 no Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), outorgou competência à União
para instituir a Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF). Cabe ressaltar
que a CPMF foi criada por Emenda Constitucional e não por Lei Complementar
(art. 195, § 4º c/c art. 154, I, CF/88), uma vez que tem o fato gerador e base de
cálculo de impostos, no caso IR e IOF, e é tipicamente cumulativo. Por ser
“provisória” e não ser possível a inserção de competência para a União instituir a
CPMF no texto definitivo da Carta Magna, o legislador constituído inseriu-a no
ADCT com a EC nº 12/96, estabelecendo no § 2º do art. 74 a não aplicabilidade
para a CPMF do disposto nos arts. 153, § 5º e 154, I, da Constituição. Logo, foi
possível contornar a exigibilidade do § 4º do art. 195 da Constituição que exigia a
observância do art. 154, I, para instituição de outras fontes de custeio para garantir
a manutenção ou expansão da seguridade social.
O produto da arrecadação da contribuição seria destinado integralmente ao
Fundo Nacional de Saúde, para financiamento das ações e serviços de saúde e sua
alíquota não excederia a 25%, conforme §§ 1º e 3º da EC nº 12/96.
Em face da nova ordem constitucional, foi editada a Lei no 9.311, de
24/10/1996, regulando a CPMF, que deveria incidir sobre os fatos geradores
verificados no período de tempo correspondente a treze meses, contados após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que a instituiu (art. 20 da Lei
nº 9.311, de 1996). Contudo, este dispositivo legal foi alterado pela Lei nº 9.539,
de 12/12/1997, que dispôs sobre a incidência relativamente aos fatos geradores
ocorridos no prazo de 24 meses, contados a partir de 23 de janeiro de 1997.
A Emenda Constitucional no 21, de 18/03/99, incluiu o art. 75 no ADCT,
prorrogando a cobrança da CPMF pelo prazo de 36 meses, e também aumentou a
68
alíquota da contribuição para os exercícios financeiros de 1999, 2000, 2001 e 2002.
A prorrogação da CPMF, prevista na EC nº 21/99, mereceu debates quanto a sua
validade constitucional. Foi argumentado que a norma que antes instituiu essa
contribuição (Lei nº 9.311/96) teve sua vigência e eficácia limitadas no tempo, as
quais se exauriram em 23/01/99. Dessa forma, não seria possível, juridicamente, a
prorrogação de um diploma legal sem vigência à época da promulgação da EC nº
21/99. Essa controvérsia tem sido objeto de várias ações judiciais em curso e com
recursos no Supremo Tribunal Federal.55
A Emenda Constitucional nº 31, de 14/12/2000, aumentou novamente a
alíquota da CPMF para 0,38%, com a finalidade de compor o Fundo de Combate e
Erradicação da Pobreza, destinando 0,08% ao citado fundo.
Por fim, a Emenda Constitucional no 37, de 28/05/2002, determinou
prorrogação da CPMF até 31 de dezembro de 2004, mudança das alíquotas e
imunidade para as operações em bolsa de valores. Novamente, a CPMF foi
atacada como inconstitucional no STF. Os contribuintes argumentaram que teria
havido ofensa à regularidade formal do processo legislativo para a aprovação do
projeto de emenda, e, também, por vício material em face da agressão à cláusula
pétrea de proteção dos direitos individuais, diante da supressão do prazo de
anterioridade nonagesimal.56 O Supremo Tribunal Federal julgou improcedente a
pretensão dos contribuintes, argumentando que, como a alteração supressiva no
projeto foi de pequena monta, não havia necessidade de a emenda parlamentar da
Casa Revisora retornar à Casa Iniciadora. Quanto ao vício material, o Excelso
55 Vários contribuintes ingressaram em juízo argüindo a inconstitucionalidade da nova CPMF com a normatização dada pela EC nº 21/99. O STF, instado a manifestar-se sobre a constitucionalidade da citada Emenda nos autos da ADIn nº 2.031-5/99-DF, intentada pelo Partido dos Trabalhadores, indeferiu , por maioria dos votos, em 29/09/99, o pedido de liminar requerido. 56 TAVARES, Marcelo Leonardo. Ob. Cit. p. 274.
69
Pretório entendeu que a mera prorrogação do tributo não precisa observar o
cumprimento do princípio da anterioridade.57
O fato gerador da CPMF ocorre nas hipóteses previstas no art. 2º da Lei n°
9.311, de 1996:
I - no lançamento a débito, por instituição financeira, em contas correntes de
depósito, em contas correntes de empréstimo, em conta de depósito de poupança,
de depósito judicial e de depósitos em consignação de pagamento de que tratam os
parágrafos do art. 890 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, introduzidos pelo
art. 1º da Lei nº 8.951, de 13 de dezembro de 1994, junto a ela mantidas;
II - no lançamento a crédito, por instituição financeira, em contas correntes que apresentem saldo negativo, até o limite de valor da redução do saldo devedor; III - na liquidação ou pagamento, por instituição f inanceira, de quaisquer
créditos, direitos ou valores, por conta e ordem de terceiros, que não tenham
sido creditados, em nome do beneficiário, nas conta s referidas nos incisos
anteriores;
IV - no lançamento, e qualquer outra forma de movimentação ou transmissão de
valores e de créditos e direitos de natureza financeira, não relacionados nos incisos
anteriores, efetuados pelos bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira
comercial e caixas econômicas;
V - na liquidação de operações contratadas nos mercados organizados de
liquidação futura;
VI – em qualquer outra movimentação ou transmissão de valores e de créditos e
direitos de natureza financeira que, por sua finalidade, reunindo características que
permitam presumir a existência de sistema organizado para efetivá-la, produza os
mesmos efeitos previstos nos incisos anteriores, independentemente da pessoa que
57 Cf. ADIn nº 2.666-DF e ADIn nº 2.673-DF.
70
a efetue, da denominação que possa ter e da forma jurídica ou dos instrumentos
utilizados para realizá-la.
A CPMF não incide (art. 3º da Lei n° 9.311, de 1996, e Lei nº 10.306, de 8
de novembro de 2001):
I - no lançamento nas contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, suas autarquias e fundações;
II - no lançamento errado e seu respectivo estorno, desde que não caracterizem a
anulação de operação efetivamente contratada, bem como no lançamento de
cheque e documento compensável, e seu respectivo estorno, devolvidos em
conformidade com as normas do Banco Central do Brasil;
III - no lançamento para pagamento da própria CPMF, na condição de contribuinte
ou responsável;
IV - nos saques efetuados diretamente nas contas vinculadas do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço - FGTS e do Fundo de Participação PIS/PASEP e no saque
do valor do benefício do seguro-desemprego, pago de acordo com os critérios
previstos no art. 5° da Lei n° 7.998, de 11 de janeiro de 1990;
V - sobre a movimentação financeira ou transmissão de valores e de créditos e
direitos de natureza financeira das entidades beneficentes de assistência social, nos
termos do § 7º do art. 195 da Constituição Federal.
VI - no débito efetuado na conta de passivo de instituição financeira que registre
recursos de titularidade da União, de Estado, do Distrito Federal ou de Município,
utilizados para pagamento de restituição de tributos por conta e ordem do sujeito
ativo.
VII - nos lançamentos a débito nas contas correntes de depósito cujos titulares
sejam:
a) missões diplomáticas;
b) repartições consulares de carreira;
71
c) representações de organismos internacionais e regionais de caráter permanente,
de que o Brasil seja membro;
d) funcionário estrangeiro de missão diplomática ou representação consular, desde
que não tenha residência permanente no Brasil;
e) funcionário estrangeiro de organismo internacional que goze de privilégios ou
isenções tributárias em virtude de acordo firmado com o Brasil, desde que não
tenha residência permanente no Brasil;
VIII - nos lançamentos em contas correntes de depós ito especialmente abertas
e exclusivamente utilizadas pelas:
a) câmaras e prestadoras de serviços de compensação e de liquidação de que trata o
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 10.214, de 27 de março de 2001, em operações
relativas à transferência de fundos, de títulos, de valores mobiliários e de outros
ativos financeiros, inclusive moedas estrangeiras ou documentos representativos
dessas moedas;
b) companhias securitizadoras de que trata a Lei nº 9.514, de 20 de novembro de
1997, e sociedades anônimas que tenham por objeto exclusivo a aquisição, nas
condições fixadas pelo Conselho Monetário Nacional, de créditos oriundos de
operações praticadas no mercado financeiro, em operações relativas à:
1. captação de recursos por meio de emissão de títulos e valores mobiliários;
2. resgates, recompras e outras obrigações decorrentes da emissão de que trata o
item anterior;
3. cessão e aquisição de direitos de crédito;
4. aplicação de recursos nos mercados de renda fixa e de renda variável;
IX - nos lançamentos em contas correntes de depósito relativos a operações que
tenham por objeto ações ou contratos referenciados em ações ou índices de ações:
a) realizadas em mercados à vista e em mercados organizados de liquidação futura,
admitidos à negociação em bolsas de valores, de mercadorias e de futuros;
72
b) de compra e venda, à vista, em mercado de balcão organizado, assim
considerado pela Comissão de Valores Mobiliários;
c) intermediadas por instituição financeira, socied ade corretora de títulos e
valores mobiliários, sociedade distribuidora de tít ulos e valores mobiliários e
sociedade corretora de mercadorias.
X - nos lançamentos em contas de investidores estrangeiros relativos a entradas no
País e a remessas para o exterior de recursos financeiros empregados,
exclusivamente, nas operações referidas no inciso anterior.
Cabe destacar a destinação da arrecadação da CPMF para os exercícios de
2002, 2003 e 2004, da seguinte forma (Emenda Constitucional no 37, de 2002):
2 0 0 2
- 2 0 0
3
Percentual Destinatário
0,20% Fundo Nacional de Saúde, para financiamento
das ações e serviços de saúde
0,10 % Custeio da previdência social
0,08% Fundo de Combate e erradicação da Pobreza,
de que tratam os arts. 80 e 81 da ADCT
2 0 0 4 0,08%
Fundo de Combate e erradicação da Pobreza,
de que tratam os arts. 80 e 81 da ADCT
Insta salientar ainda os períodos de incidência da CPMF e suas alíquotas:
I- 0,20%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período de 23 de janeiro
de 1997 a 22 de janeiro de 1999;
II- 0,38%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período de 17 de junho
de 1999 a 16 de junho de 2000;
73
III- 0,30%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período de 17 de junho
de 2000 a 17 de março de 2001;
IV- 0,38%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período de 18 de março
de 2001 a 31 de dezembro de 2003;
V- 0,08%, relativamente aos fatos geradores ocorridos no período de 1º de janeiro
a 31 de dezembro de 2004.
A arrecadação da CPMF, em 2001, comparada com a arrecadação do IPMF,
em 1994, apresentou crescimento real de 63,44%, justamente por conta do
aumento da alíquota de 0,25% para 0,38%.
II- Contribuição para o financiamento da seguridade social
A Contribuição para o Financiamento da Seguridade S ocial (COFINS) é
uma contribuição social sobre o faturamento, tendo por base no art. 195, inciso
I, alínea “b” da Constituição. Foi instituída pela Lei Complementar nº 70, de
30/12/1991.58 Seus recursos são destinados exclusivamente ao cus teio das
despesas com atividades afins de saúde, previdência e assistência social. A
COFINS substituiu o FINSOCIAL, criado pelo Decreto- Lei nº 1.940/82 sob o
pálio da Constituição de 1967, alterada pela Emenda Constitucional nº 1/67. O
FINSOCIAL vigorou de forma temporária até a institu ição da COFINS, conforme
art. 56 do ADCT.
58 Além da Lei Complementar nº 70/91, temos as seguintes leis que tratam da citada exação: Lei nº 9.363, de 16 de dezembro de 1996; Lei n° 9.701, de 17 de novembro de 1998; Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998; Lei nº 9.990, de 21 de julho de 2000; Lei nº 10.147, de 21 de dezembro de 2000; Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; Lei nº 10.276, de 10 de setembro de 2001; Lei nº 10.312, de 27 de novembro de 2001; Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002; Lei nº 10.548, de 13 de novembro de 2002; Lei nº 10.560, de 13 de novembro de 2002; Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002; Medida Provisória nº 101, de 30 de dezembro de 2002; Medida Provisória nº 135, de 30 de dezembro de 2003.
74
São contribuintes da COFINS as pessoas jurídicas de direito privado e as
que lhes são equiparadas nos termos da lei pela legislação do imposto de renda,
inclusive as empresas públicas, as sociedades de economia mista e suas
subsidiárias.
Até o final o final de 1998, a COFINS incidia apenas sobre o faturamento da
empresa, ou seja, sobre a receita bruta decorrente da venda de produtos, de
serviços ou de produtos e serviços, ficando excluídas as rendas originadas de
outras fontes que não fossem produto da receita bruta. Contudo, a partir da
vigência da Lei nº 9.718/98, foi ampliado o conceito de faturamento (art 3º, § 1º),
este passou a corresponder à receita bruta, assim entendida a totalidade das receitas
auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevante o tipo de atividade por ela
exercida e a classificação contábil adotada para essas receitas, observadas as
exclusões admitidas em lei específica.
Os contribuintes insurgiram contra o alargamento da base de cálculo do
COFINS, nos termos do art. 3º da Lei nº 9.718/98, alegando a
inconstitucionalidade, pois contraria o conceito de faturamento previsto na redação
original do art. 195, I da Constituição. Alegaram que já tinha sido pacificado pelo
Supremo Tribunal Federal, no exame da Ação Declaratória de Constitucionalidade
nº 1-DF, seu entendimento quanto à noção restritiva de faturamento, nos limites da
receita bruta de venda de bens e serviços, que já havia sido objeto de análise no
Recurso Extraordinário nº 150.764. Tampouco a mudança do art. 195, I da
Constituição, através da Emenda Constitucional nº 20/98, de 15/12/1998, alterando
o citado artigo, incluindo a alínea “b” com a seguinte expressão “receita ou
faturamento”, não teria o efeito de convalidar a Lei nº 9.718/98 que foi publicada
antes da EC nº 20/98, uma vez que o exame da constitucionalidade de uma lei deve
ser efetivado em confronto com o texto constitucional em vigor no momento de
75
sua publicação. Todavia, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região tem entendido
que a alteração é constitucional.59 O Supremo Tribunal Federal iniciou a
apreciação da matéria no julgamento do RE nº 364.084-PR, no qual já foi
proferido voto favorável à constitucionalização do alargamento da base de cálculo,
conforme se observa:
“PIS e COFINS: Conceito de Faturamento- Iniciado o julgamento
de recurso extraordinário em que se questiona a constitucionalidade
das alterações promovidas pela Lei 9.718/98, lei de conversão da MP
1.724/98, que modificou a base de cálculo da COFINS e do PIS, cujo
art. 3º, § 1º, define o conceito de faturamento ("Art. 3º O faturamento
a que se refere o artigo anterior corresponde à receita bruta da pessoa
jurídica. § 1º. Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas
auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade
por ela exercida e a classificação contábil adotada para as receitas.").
Trata-se, na espécie, de recurso extraordinário interposto por
contribuinte - contra acórdão do TRF da 4ª Região que dera pela
constitucionalidade da Lei 9.718/98, determinando a observância do
prazo nonagesimal a partir da edição da Medida Provisória 1.724, de
29.10.98 -, em que se alega a inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º
da Lei 9.718, de 27.11.98, em face da redação original do art. 195, I,
da CF, sustentando que, até a data da promulgação da Emenda
Constitucional 20, de 15.12.98, que deu nova redação ao referido
dispositivo constitucional, o PIS e a COFINS somente poderiam ser
cobrados sobre o "faturamento" assim entendido como a renda obtida
das vendas de mercadorias e serviços. Em síntese, alega-se a
impossibilidade de uma lei, inconstitucional na origem, receber,
59 Cf. AG nº 40159 – 99.02.25839-5/RJ, 4ª Turma, decisão em 17/11/99, DJU em 09/08/2001 e MAS nº 30014- 1999.02.01.059135-0/RJ, 3ª Turma, decisão em 17/04/2001, DJU em 28/06/2001.
76
durante a vacatio legis, o embasamento constitucional que lhe faltava
antes de sua entrada em vigor, infirmando, portanto, a convalidação
do art. 3º da Lei 9.718/98 pela EC 20/98 - que, alterando a redação do
art. 195 da CF, introduzira a receita como base de cálculo, pois ao
tempo da edição da Lei não se havia procedido à alteração
constitucional. O Min. Ilmar Galvão, relator, entendendo que, na
vacatio legis, a lei pode receber o embasamento constitucional que lhe
falta e que o conceito de faturamento pode ser alterado por lei
ordinária, proferiu voto no sentido de conhecer em parte do recurso
extraordinário e lhe dar provimento para - considerando que a referida
Lei 9.718/98, resultante da conversão da MP 1.724/98, fora editada
para viger a partir de fevereiro de 1999, data em que veio a EC 20/98
a emprestar-lhe o embasamento constitucional que carecia - fixar o dia
01/02/99 como termo inicial para a contagem do prazo nonagesimal.
Após, o julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista do Min.
Gilmar Mendes. RE 346.084-PR, rel. Min. Ilmar Galvão, 12.12.2002.”
A alíquota geral da COFINS com o advento da Lei nº 9.718/98 passou de
2% para de 3% sobre a base de cálculo.60 Entretanto há alíquotas específicas para
determinados segmentos e produtos, bem como particularidades para a formação
da base de cálculo.
60 Recentemente, o governo federal editou a Medida Provisória nº 135, de 30 de dezembro de 2003, aumentando a alíquota de 3% para 7,6% (art. 2º), com vigência a partir de fev/2004. A partir dessa data, a COFINS incidirá em apenas uma etapa de produção, acabando com a cumulatividade, que consistia na cobrança em cascata em todas as etapas da cadeia produtiva. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário-IBPT (Jornal O Globo, edição de 04/11/2003, p. 17), que avaliou o impacto da mudança na forma de cobrança da COFINS, concluiu que, de 93 setores pesquisados, 67 terão aumento na carga tributária. Quem perde mais são as empresas prestadoras de serviço, por concentrarem gastos da mão-de-obra, que não gera crédito no pagamento da contribuição. A exemplo do que já acontece hoje com o modelo não cumulativo do PIS (base de cálculo das novas regras da COFINS), ficam fora da nova sistemática as empresas cujas receitas sejam decorrentes dos serviços de telecomunicações, de prestação de serviços jornalísticos e de radiofusão sonora e de sons e imagens. Pelas estimativas do IBPT, o governo deve arrecadar mais R$ 12 bilhões em 2004.
77
Para fins de determinação da base de cálculo da COFINS, em regra,
excluem-se as receitas:
- isentas ou não alcançadas pela incidência da contribuição ou sujeitas à alíquota
zero;
- não-operacionais, decorrentes da venda de ativo imobilizado;
- auferidas pela pessoa jurídica revendedora, na revenda de mercadorias em relação
às quais a contribuição seja exigida da empresa vendedora, na condição de
substituta tributária;
- de venda dos produtos de que tratam as Leis nºs 9.990, de 21 de julho de 2000,
10.147, de 21 de dezembro de 2000, 10.485, de 3 de julho de 2002, e 10.560, de 13
de novembro de 2002, ou quaisquer outras submetidas à incidência monofásica da
contribuição;
- referentes a:
a) vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos;
b) reversões de provisões e recuperações de créditos baixados como perda, que não
representem ingresso de novas receitas, o resultado positivo da avaliação de
investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e dividendos derivados
de investimentos avaliados pelo custo de aquisição, que tenham sido computados
como receita.
Do valor apurado da contribuição, a pessoa jurídica poderá descontar
créditos calculados em relação a:
- bens adquiridos para revenda, exceto em relação às mercadorias e aos produtos
referidos nos incisos III e IV do § 3o do art. 1º da MP nº 135/03;
78
- bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção
ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e
lubrificantes;
- energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa jurídica;
- aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados
nas atividades da empresa.
A COFINS proporcionou um ganho de arrecadação extraordinário no
período compreendido entre 1994 e 2001, com acréscimo real de 107,17%, em
decorrência dos seguintes fatores:
-ampliação da tributação da COFINS, em fevereiro de 1999, cuja alíquota passou
de 2% para 3% sobre o faturamento e incorporou a totalidade das receitas auferidas
pela pessoa jurídica, independentemente do tipo de atividade por ela exercida;
-incorporação das instituições financeiras na base de cálculo da COFINS;
-recuperação de valores atrasados que se encontravam sub judice e incorporação ao
fluxo normal de arrecadação de empresas dos setores elétrico, telecomunicações e
combustíveis;
-instituição da substituição tributária no setor automobilístico e tributação
monofásica no setor de combustíveis.
III- Contribuição social sobre o lucro líquido
O art. 195, inciso I, alínea “c”, da Constituição prevê a incidência sobre o
lucro. A contribuição sobre o lucro líquido (CSLL) foi instituída pela Lei nº
7.689, de 15/12/88.61
61 Além da Lei básica da CSLL (Lei nº 7.689/88) temos as seguintes leis que regulam a citada contribuição: Lei Complementar nº 70, de 30 de dezembro de 1991; Lei nº 8.034, de 12 de abril de 1990; Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995; Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995; Lei nº 9.316, de 22 de novembro de 1996; Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996; Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997; Lei nº 9.779, de 19 de janeiro de 1999; Lei
79
Instado a pronunciar sobre a Lei nº 7.689/88, o Supremo Tribunal Federal,
no julgamento do Recurso Extraordinário nº 146.733-9-SP, decidiu pela
constitucionalidade da instituição da contribuição social sobre o lucro líquido das
pessoas jurídicas, entendendo que a citada exação tem natureza tributária e não
necessitava de lei complementar, diferente das contribuições previstas no § 4º do
art. 195 da Constituição. Além disso, em relação à CSLL não se aplica o princípio
da anterioridade previsto no art. 155, III, alínea “b” da Carta Magna, mas sim o
prazo nonagesimal para vigência da citada contribuição, conforme o § 6º do art.
195. Contudo, o STF declarou inconstitucional a exigência da contribuição sobre
os lucros apurados no exercício de 1988, pois a citada Lei não observou os 90 dias
previstos no § 6º do art. 195 da Constituição para a exigência da contribuição.
São contribuintes da CSLL todas as pessoas jurídicas domiciliadas no País e
as que lhe são equiparadas pela legislação do imposto de renda.
Aplica-se à citada exação as mesmas normas de apuração e de pagamento
estabelecidas para o imposto de renda das pessoas jurídicas, mantidas a base de
cálculo e as alíquotas previstas na legislação em vigor.
A base de cálculo da CSLL está disciplinada no art. 2º da Lei nº 7.689/88,
como sendo o Lucro Líquido do período de apuração antes da Provisão do
Imposto de Renda, ajustado pelas adições e exclusões previstas em lei:
a) Adições, tais como:
- Valor das provisões não dedutíveis na determinação do Lucro Real, exceto a
provisão para o imposto de renda (Lei nº 8.981/95, art. 57)
nº 9.959, de 27 de janeiro de 2000; Lei nº 10.426, de 24 de abril de 2002; Lei nº 10.451, de 10 de maio de 2002; Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002; Medida Provisória nº 1.858-6/1999, atual Medida Provisória nº 2.158-35/2001, arts. 21 e 74.
80
- Valor da reserva de reavaliação efetivamente realizado durante o período de
apuração, cuja contrapartida não tenha sido computada no resultado do período
(Lei nº 8.034/90, art. 2º);
- Ajuste por diminuição do valor dos investimentos avaliados pelo patrimônio
líquido (Lei nº 8.034/90, art. 2º);
- Parcela dos lucros de contratos de construção por empreitada ou fornecimento
celebrados com pessoa jurídica de direito público, proporcional à receita recebida
no período, excluída em períodos anteriores (Lei nº 8.003/90, art. 3º);
- Reserva Especial - Realização (Lei nº 8.200/91, art. 2º);
- Juros sobre o Capital Próprio, em relação aos valores excedentes aos limites
estabelecidos na legislação do imposto de renda.
- Despesas não dedutíveis (Lei nº 9.249/95, art.13);
- Perdas no Exterior (Medida Provisória no 1.991-16/00, art. 21);
- Valores excedentes aos limites estabelecidos para o Preço de Transferência (Lei
nº 9.430/96, arts. 18 a 24 e IN SRF no 38/97);
- Valor dos lucros distribuídos disfarçadamente (Lei nº 9.532 de 1997, art. 60);
- Lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no Exterior, disponibilizados a
partir de 01/10/99, devem ser computados na base de cálculo da CSLL em 31 de
dezembro do ano-calendário da disponibilização (MP nº 1.858 de 1999, art. 21), a
partir de 01/01/2001 serão considerados disponibilizados na data do balanço em
que tiverem sido apurados (MP nº 2.158-35 de 2001, art. 74);
- Variações cambiais passivas nas operações não liquidadas - para quem opta por
tributar a variação cambial apenas por ocasião da liquidação da obrigação (art. 30
da MP nº 1.858-10 de 1999);
- Variações cambiais ativas – operações liquidadas (art. 30 da MP nº 1.858-10 de
1999);
- Perdas de créditos nos valores excedentes ao legalmente permitido (Lei nº 9.430
de 1996, art 9º, combinado com art. 28);
81
- Juros sobre empréstimos pagos ou creditados a controladas e coligadas
equivalentes a lucros não disponibilizados (MP nº 2.158/35, de 2001, art. 34)
NOTA:
Nos casos de cisão, fusão, incorporação ou extinção da pessoa jurídica durante o
ano-calendário de 2002, deverá ser tributado na data do evento, o valor
correspondente a esses ganhos que foram excluídos nos períodos anteriores.
b) Exclusões, tais como:
- O valor da reversão dos saldos das provisões não dedutíveis, baixadas no
período-base, seja por utilização da provisão ou por reversão (Lei nº 8.034/90, art.
2º);
- lucros e dividendos de investimentos avaliados pelo custo de aquisição, que
tenham sido computados como receita (Lei nº 8.034/90, art. 2º);
- ajuste por aumento no valor de investimentos avaliados pelo patrimônio líquido
(Lei nº 8.034/90, art. 2º);
- parcela dos lucros de contratos de construção por empreitada ou fornecimento
celebrados com pessoa jurídica de direito público (Lei nº 8.003/90, art. 3º),
calculada na proporção das receitas não recebidas até a data do balanço de
encerramento do período-base, em relação à receita total do contrato (Lei nº
8.003/90, art. 3º e ADN CST nº 5/91);
- variações cambiais ativas – operações não liquidadas (apropriação contábil para
quem opta por tributar a variação cambial apenas por ocasião da liquidação do
referido crédito) (art. 30 da MP nº 1.858-10/99);
- variações cambiais passivas – operações liquidadas (art.30 da MP nº 1.858/10 de
1999).
NOTAS:
1) O lucro líquido ajustado pelas adições e exclusões poderá ser reduzido por
compensação da base de cálculo negativa apurada, a partir de 01/01/92 (Lei nº
82
8.383/91, art. 44, parágrafo único), respeitado o limite de 30% daquele lucro
ajustado (Lei nº 8.981/95 art. 58);
2) A partir de 01/01/2000, a pessoa jurídica sucessora por cisão, fusão ou
incorporação, não poderá compensar a base de cálculo negativa da CSLL de anos
anteriores da sucedida (MP nº 1.991/00, art. 22);
3) No caso de cisão parcial, a sucessora poderá compensar a base de cálculo
negativa da CSLL de anos anteriores da sucedida, proporcionalmente à parcela
remanescente do patrimônio líquido desta (MP nº 1.991/00, art. 22);
4) O valor da CSLL não poderá ser deduzido, para efeito de determinação do
Lucro Real, nem de sua própria base de cálculo (Lei nº 9.316/96, art. 1º).
As empresas, em geral, atualmente, recolhem a contribuição sobre o lucro
com a alíquota de 9% sobre a base de cálculo.62
As pessoas jurídicas tributadas pelo lucro real trimestral deverão apurar a
CSLL trimestralmente, sendo que a base de cálculo corresponde ao resultado
contábil do período ajustado pelas adições determinadas, pelas exclusões
admitidas, e pelas compensações de base de cálculo negativa até o limite definido
em legislação específica vigente à época da ocorrência dos fatos geradores. O valor
da CSLL apurado não poderá ser deduzido para efeito de determinação do lucro
real e nem da sua própria base de cálculo.
As pessoas jurídicas tributadas na forma do lucro real anual devem pagar a
CSLL, mensalmente, determinada sobre a base de cálculo estimada, que será o
62 O art. 23, inciso II da Lei nº 8.212/91, no seu texto original, preceituava que as empresas em geral deveriam pagar a CSLL com alíquota de 10% sobre a base de cálculo e as instituições financeiras tinham a alíquota de 15%, conforme § 1º do art. 23 (passou para 23% a partir de 01/04/92, com a Lei Complementar nº 70/91). A Lei nº 9.249/95 passou a alíquota para 8% para as empresas em geral e 18% para as instituições financeiras(passou para 8% a partir de 01/01/99 com a MP nº 1.807/99). Passou para 12% no período de 05/99 a 01/2000 e 9% de 02/2000 a 12/2002 (MP 2.037-25/2000 e 2.158-35/2001). A partir de 01/01/2003, permaneceu em 9% (art. 37 da Lei nº 10.637/2002).
83
valor resultante da aplicação do percentual de 12% sobre a receita bruta mensal,
conforme definida em legislação específica, acrescidos dos valores relativos aos
ganhos de capital, das demais receitas e dos demais resultados positivos definidos
em lei.
A pessoa jurídica que levantar balanço ou balancete para suspender ou
reduzir o pagamento do IRPJ, em determinado mês do ano-calendário, deverá
apurar a base de cálculo da CSLL sobre o resultado do período apurado nesse
mesmo balanço, ajustados pelas adições determinadas, pelas exclusões permitidas
e compensações de base de cálculo negativa, observados os limites definidos na
legislação pertinente.
Os valores de CSLL efetivamente pagos, calculados sobre a base de cálculo
estimada mensalmente, no transcorrer do ano-calendário, poderão ser deduzidos do
valor da CSLL apurada no balanço levantado em 31 de dezembro do ano-
calendário (ajuste anual).
Os valores relativos ao ajuste dos preços de transferência e dos lucros,
rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior, por intermédio de filiais,
sucursais, controladas e coligadas serão computados no balanço levantado em 31
de dezembro do ano-calendário.
A pessoa jurídica tributada pelo lucro presumido ou pelo lucro arbitrado
deve apurar e pagar a CSLL trimestralmente. Nesse caso, a base de cálculo da
CSLL será a soma dos seguintes valores:
-o valor correspondente a 12% da receita bruta auferida no trimestre, conforme
definida na legislação específica;
84
-os valores correspondentes aos demais resultados e ganhos de capital assim
definidos nos termos da legislação específica;
-os valores relativos ao ajuste dos preços de transferência serão computados em 31
de dezembro do ano-calendário.
As entidades sem fins lucrativos não recolhem a contribuição sobre o lucro,
como as fundações, associações e sindicatos. O produtor rural pessoa física e o
segurado especial não pagam a contribuição sobre o lucro, conforme o § 3º do art.
23 da Lei nº 8.212/91.
IV- Contribuições para o programa de integração social e para o programa de formação do patrimônio do servidor público
A Contribuição para o PIS/PASEP surgiu a partir da unificação da
contribuição para o PIS (Programa de Integração Social), instituída pela Lei
Complementar nº 7, de 7 de setembro de 1970, com a contribuição para o PASEP
(Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público), instituída pela Lei
Complementar nº 8, de 3 de dezembro de 1970, conduzida pela Lei Complementar
nº 26, de 11 de setembro de 1975.63
Com o advento da Constituição Federal de 1988, embora mantendo o nome
anterior, a Contribuição para o PIS/PASEP64 passou a financiar o seguro-
desemprego, programas de desenvolvimento econômico (através do BNDES) e o
63 Além da legislação citada, temos as seguintes leis que tratam da Contribuição para o PIS/PASEP: Lei nº 9.363, de 16 de dezembro de 1996; Lei n° 9.701, de 17 de novembro de 1998; Lei nº 9.715, de 25 de novembro de 1998; Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998; Lei nº 9.990, de 21 de julho de 2000; Lei nº 10.147, de 21 de dezembro de 2000; Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001; Lei nº 10.276, de 10 de setembro de 2001; Lei nº 10.312, de 27 de novembro de 2001; Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002; Lei nº 10.548, de 13 de novembro de 2002; Lei nº 10.560, de 13 de novembro de 2002; Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002; Medida Provisória nº 101, de 30 de dezembro de 2002. 64 Nesse sentido, o STF, no Recurso Extraordinário nº 138.284-CE, transcrevemos o trecho do voto do Ministro Carlos Velloso, in verbis: “O PIS/PASEP passam, por força do disposto do art. 239 da Constituição, a ter destinação previdenciária. Por tal razão, as incluímos entre as contribuições de seguridade social. Sua exata classificação seria, entretanto, ao que penso, não fosse a disposição inscrita no art. 239 da Constituição, entre as contribuições sociais gerais”.
85
benefício do abono anual para empregados de baixa renda (art. 239, caput c/c §§ 1º
a 4º), ressalvado, quanto à contribuição devida pelas entidades financeiras e
assemelhadas, o disposto no art. 72, V, do ADCT.
As Contribuições para o Pis/Pasep são destinadas à promoção da integração
do empregado na vida e no desenvolvimento das empresas e a formação do
patrimônio do servidor público, nos termos das Leis Complementares nº 7, de 7 de
dezembro de 1970, e nº 8, de 3 de dezembro de 1970.
São contribuintes das Contribuições para o Pis/Pasep as pessoas jurídicas de
direito privado e as que lhes são equiparadas nos termos da lei pela legislação do
imposto de renda, inclusive as empresas públicas, as sociedades de economia mista
e suas subsidiárias.
Há três modalidades de contribuição, conforme a seguir:
- Pis/Pasep sobre o Faturamento, cuja base de cálculo é o faturamento mensal, que
corresponde à receita bruta, assim entendida a totalidade das receitas auferidas pela
pessoa jurídica, sendo irrelevante o tipo de atividade por ela exercida e a
classificação contábil adotada para essas receitas, observadas as exclusões
admitidas em lei específica, cuja alíquota é 0,65%;
- Pis/Pasep Folha de Salários, cuja base cálculo é o total da folha de pagamento
mensal dos empregados da pessoa jurídica e a alíquota é de 1%;
- Receitas e Transferências, cuja base de cálculo é a arrecadação de receitas
(inclusive tributárias) ou o recebimento de transferências correntes e de capital,
pela pessoa jurídica de direito público interno, cuja alíquota é 1%.
A partir de 1º de janeiro de 2002, com a edição da Lei nº 10.637, de 30 de
dezembro de 2002, foi instituída a não-cumulatividade na cobrança das
86
Contribuições para o Pis/Pasep sobre faturamento. Assim, as pessoas jurídicas
enquadradas neste novo regime tributário passaram a recolher sobre a alíquota de
1,65% sobre a base de cálculo. Entretanto o princípio da não-cumulatividade não
se aplica nos casos a seguir relacionados, que deverão observar as normas vigentes
antes da edição daquela lei:
a) bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas
econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de
crédito imobiliário, sociedades corretoras, distribuidoras de títulos e valores
mobiliários, empresas de arrendamento mercantil e cooperativas de crédito,
empresas de seguros privados e de capitalização, agentes autônomos de seguros
privados e de crédito e entidades de previdência privada abertas e fechadas;
b) pessoas jurídicas que tenham por objeto securitização de créditos imobiliários e
financeiros;
c) operadoras de planos de saúde;
d) empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de
valores;
e) pessoas jurídicas tributadas pelo imposto de renda com base no lucro presumido
ou arbitrado;
f) pessoas jurídicas optantes pelo Simples;
g) pessoas jurídicas imunes a impostos;
h) órgãos públicos, autarquias e fundações públicas federais, estaduais e
municipais, e fundações (art. 61 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias da Constituição Federal de 1988);
i) receitas decorrentes das seguintes operações:
- sujeitas à substituição tributária,
- de venda dos produtos de que tratam as Leis no 9.990, de 21 de julho de 2000, no
10.147, de 21 de dezembro de 2000 (alterada pela Lei nº 10.548, de 13 de
87
novembro de 2002), e no 10.485, de 3 de julho de 2002, ou quaisquer outras
submetidas à incidência monofásica da contribuição;
- de compra e venda de veículos automotores poderão equiparar, para efeitos
tributários, como operação de consignação, as operações de venda de veículos
usados, adquiridos para revenda, bem assim dos recebidos como parte do preço da
venda de veículos novos ou usados;
- receitas decorrentes de prestação de serviços de telecomunicações.
V- Contribuição sobre a receita de concursos de pro gnósticos
O inciso III do art. 195 da Constituição estabelece contribuição social
incidente sobre a receita de concurso de prognósticos.
São considerados concursos de prognósticos todo e qualquer sorteio de
números, loterias, apostas, inclusive a realizada em reuniões hípicas, nos âmbitos
federal, estadual, distrital e municipal, tais como: loto, sena, loteria federal,
esportiva e etc.65
O art. 26 da Lei nº 8.212/91 dispõe que a contribuição sobre a receita de
concurso de prognósticos é composta pela renda líquida dos concursos, excetuando
os valores destinados ao Programa de Crédito Educativo.66 Entende-se como renda
líquida o total arrecadado, deduzido os valores destinados ao pagamento de
prêmios, impostos e despesas de administração, conforme for determinado na
legislação específica.
65 A loteria esportiva federal foi instituída pelo Decreto-Lei nº 594, de 27/05/69. Os Decretos nºs 66.118, de 26/01/70, e 68.702/71 regulamentam a referida norma. A Loto foi instituída pela Lei nº 6.717, de 12/11/97. A Caixa Econômica Federal faz a arrecadação e paga os prêmios. Cabe ressaltar que não estão incluídos entre loterias os concursos realizados por entidades privadas, tais como: bingos e sorteios via telefone (0800 ou 0900). 66 Contribuição= Renda Líquida-FIES. Atualmente 30% da renda líquida é destinada ao programa de crédito educativo, através do FIES (fundo de financiamento ao estudante de nível superior), através da Medida Provisória nº 1.827, de 27/05/99, reeditada até a de nº 2.094-28, de 13/06/2001, quando foi convertida na Lei nº 10.260, de 12/07/2001.
88
VI- Empresas optantes do SIMPLES
O inciso IX do art. 170 da Constituição preceitua que deve ser dado
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras que tenham sede e administração no país. Já o art. 179 da Carta Magna
determina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão
às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tratamento jurídico diferenciado, visando incentivá-las pela simplificação de suas
obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela
eliminação ou redução destas por meio de lei.
Em decorrência dos dispositivos constitucionais supracitados, a Lei nº 9.317,
de 05/12/96, instituiu o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e
Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES),
dispondo sobre o tratamento diferenciado às citadas empresas. O SIMPLES é um
sistema de pagamento opcional substitutivo de determinados tributos federais para
as microempresas e empresas de pequeno porte. O art. 9º da citada lei enumera as
empresas que não poderão optar pelo sistema.
A arrecadação e fiscalização são atribuições da Secretaria da Receita
Federal. Caberá a este órgão o repasse ao INSS do montante arrecadado relativa a
contribuição previdenciária patronal. As empresas optantes do SIMPLES somente
recolhem ao INSS a contribuição descontada dos segurados empregados e
trabalhadores avulsos.
89
A inscrição no SIMPLES implica no pagamento mensal unificado dos
seguintes impostos e contribuições:67
-IRPJ;
-PIS/PASEP;
-CSLL;
-COFINS;
-IPI;
-Contribuição do INSS- parte da empresa (art. 22 da Lei nº 8.212/91 e art. 25 da
Lei nº 8.870/94).
O valor devido mensalmente pelas empresas optantes do SIMPLES é
determinado mediante a aplicação de alíquota sobre a receita bruta mensal
auferida, que varia entre 3 a 8,6%, de acordo com o art. 5º da Lei n º 9.317/96. No
caso de pessoa jurídica contribuinte do IPI, os porcentuais referidos serão
acrescidos de 0,5%.
4.6. Imunidade
O legislador constituinte atribuiu tratamento tributário diferenciado às
entidades beneficentes de assistência social. Além de gozar da imunidade geral dos
impostos conferida pelo art. 150, VI, alínea “c” da Carta Magna, as citadas
entidades são imunes às contribuições sociais da seguridade social, conforme o §
7º do art. 195 da Constituição, in verbis:
“Art. 195. (...)
67 Podem ser incluídos também o ICMS e ISS, mediante convênio. A inscrição no Simples dispensa a empresa do recolhimento das contribuições sociais destinadas ao sistema “S”.
90
§ 7º. São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei”. (grifo nosso)
Nada obstante constar na redação do dispositivo constitucional a expressão
“isenção”, o que temos é uma imunidade. Em verdade, não se trata de isenção, uma
vez que esta é conferida por meio de lei ordinária, conforme art. 97, VI do CTN. Já
a imunidade está prevista na Constituição. É uma limitação constitucional ao poder
de tributar do Estado que se constitui em uma imunidade específica.
A propósito desse tipo de imunidade, cabe registrar a lição do professor
Ricardo Lobo Torres68 que entende que a imunidade das instituições de saúde e
assistência social é a proteção da liberdade. Pouco tem que ver com a capacidade
contributiva, que é princípio de justiça. De fato, a imunidade visa a proteger os
direitos da liberdade compreendidos no mínimo existencial, nas condições iniciais
para a garantia da igualdade de chance.
As entidades beneficentes de assistência social são imunes às contribuições
sobre a folha de pagamento, do SAT, COFINS e CSLL, desde que atendam os
requisitos cumulativos do art. 55 da Lei nº 8.212/91, a saber:
“Art. 55. Fica isenta das contribuições de que tratam os arts. 22 e 23
desta Lei a entidade beneficente de assistência social que atenda aos
seguintes requisitos cumulativamente:
I- seja reconhecida como de utilidade pública federal e estadual ou do
Distrito Federal ou municipal;
68 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário, vol. III. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
91
II- seja portadora do Certificado e do Registro de Entidade de Fins
Filantrópicos, fornecidos pelo Conselho Nacional de Assistência
Social, renovado a cada três anos (redação dada pela Lei nº 9.429, de
26.12.1996);
III- promova, gratuitamente e em caráter exclusivo, a assistência
social beneficente a pessoas carentes, em especial a crianças,
adolescentes, idosos e portadores de deficiência (redação dada pela
Lei nº 9.732, de 11.12.98);
IV- não percebam seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores,
benfeitores remuneração e não usufruam vantagens ou benefícios a
qualquer título;
V- aplique integralmente o eventual resultado operacional na
manutenção e desenvolvimento de seus objetivos institucionais,
apresentando, anualmente, ao órgão do INSS competente, relatório
circunstanciado de suas atividades (redação dada pela Lei nº 9.528, de
10.12.97).
(...)
§ 3º. Para os fins deste artigo, entende-se por assistência social
beneficente a prestação gratuita de benefícios e serviços a quem
dela necessitar (parágrafo acrescentado pela Lei nº 9.732, de
11.12.98).
§ 4º. O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS cancelará isenção
se verificado o descumprimento do disposto neste artigo (parágrafo
acrescentado pela Lei nº 9.732, de 11.12.98).
§ 5º. Considera-se também assistência social beneficente, para os
fins deste artigo, a oferta e a efetiva prestação de serviços de pelo
menos sessenta por cento ao Sistema Único de Saúde, nos termos
do regulamento (parágrafo acrescentado pela Lei nº 9.732, de
11.12.98)”. (grifo nosso)
92
Podemos definir a assistência social beneficente como sendo a prestação
gratuita de benefícios e serviços a quem destes necessitar, considerando-se pessoa
carente a que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção nem tê-
la provida por sua família, bem como ser destinatária da Política Nacional de
Assistência Social, aprovada pelo CNAS.69 O conceito de entidade beneficente de
assistência não só abrange as entidades de assistência social que tenham por
objetivo qualquer daqueles enumerados no art. 203 da Constituição, mas também
as entidades beneficentes de saúde e educação, pois entidade de assistência social é
toda aquela que visa assegurar os meios de vida aos carentes.
Como se observa, o art. 55 da Lei nº 8.212/91 ampliou os requisitos para
concessão da imunidade tributária de que trata o art. 14 do Código Tributário
Nacional para as entidades previstas na alínea “c” do inciso VI do art. 150 da
Constituição. Cabe registrar que o dispositivo em comento recebeu críticas de
diversos juristas70 , que questionaram a restrição trazida pela lei ao conceito de
entidade beneficente de assistência social. A Carta Magna vigente e o CTN trazem
como elementos definidores do caráter beneficente de uma entidade a premissa de
prestar assistência social aos necessitados, não auferir lucro com esta atividade e
atender aos ditames do art. 14 do CTN. Os opositores da lei argumentaram ainda
que o fato de se cobrar de alguns pelos serviços prestados não poderia afastar o
caráter beneficente das entidades para o gozo da imunidade, e que a lei, ao prever o
contrário, estaria em descompasso com os ditames constitucionais.
Irresignados com a Lei nº 9.732/98, que alterou o art. 55 da Lei nº 8.212/91,
a Confederação Nacional de Saúde-Hospitais, Estabelecimentos e Serviços (CNS)
69 TAVARES, Marcelo Leonardo. Ob.cit. p. 303-304. 70 MARTINS, Ives Gandra. Caderno Tributário Interpretado. São Paulo: Centro de Extensão Universitária/Editora Resenha Tributária, 1984, p. 123.
93
impetrou Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn nº 2.028-5-DF, perante o
STF, sustentando os argumentos supramencionados. Em 14/07/99, o Ministro
Marco Aurélio, no exercício da Presidência do STF, deferiu o pedido de medida
liminar em 14/07/99, determinando a suspensão do art. 1º, na parte que alterou a
redação do art. 55, III, e seus §§ 3º, 4º e 5º, bem como dos arts. 4º, 5º e 7º da Lei nº
9.732/98, que alterou o conceito de entidade de assistência social para a concessão
da imunidade prevista no art. 195, § 7º da Constituição. Em sua decisão o eminente
Ministro entendeu “que a Lei nº 9.732/98 adentrou no campo da limitação ao
poder de tributar sem obediência a norma inserta do art. 146 da Constituição, que
dispõe que cabe somente à lei complementar a imposição de limitações ao poder
de tributar. Ainda que se diga da aplicabilidade do art. 14 do CTN apenas à
imunidade dos impostos, a Lei nº 8.212/91 tomou em si a regência complementar
das condições suficientes para o gozo do benefício, considerando o instituto da
imunidade e não o da isenção, tal como previsto na lei retrocitada”. (...) Finalizou
concluindo “que a circunstância da entidade de assistência social, diante, até
mesmo, do princípio isonômico, mesclar a prestação de serviços, fazendo
gratuitamente aos menos favorecidos e de forma onerosa aos afortunados pela
sorte, não lhe retira a condição de beneficente”.
A liminar concedida pelo Ministro Marco Aurélio foi posteriormente
referendada no julgamento da ADIn, suspendendo-se, os efeitos das normas
contidas na Lei nº 9.732/98 (art. 1º, na parte que alterou o inciso III e acrescentou
os §§ 3º, 4º e 5º do art. 55 da Lei nº 8.212/91, além dos arts. 4º, 5º e 7º da Lei nº
9.732/98), sendo aplicáveis as determinações contidas no art. 55 da Lei nº
8.212/91, na redação original.
94
O pedido de isenção71 será requerido ao INSS, que verificará,
periodicamente, se a entidade beneficente continua atendendo aos requisitos do art.
55 da Lei nº 8.212/91. Deixando de atendê-los, perderá o direito a partir dessa data.
5. DESVIO DE RECURSOS DA SEGURIDADE SOCIAL
Ao colocar em destaque as contribuições sociais da seguridade social como
forma de manutenção do sistema de proteção social edificado pelo constituinte de
1988, não acolhemos, como também repudiamos a utilização dos recursos da
seguridade social para fins estranhos à sua finalidade.
Levando-se em consideração que as contribuições des tinadas à
seguridade social foram instituídas em função de um determinado gasto,
especificamente, a uma determinada finalidade socia l, entendemos que um
eventual desvio de finalidade ou tredestinação do p roduto da arrecadação
implica alteração das condições para o exercício da competência impositiva.
Os tributos possuem funções constitucionais, e em f ace destas legitimam-se.
Na mesma linha, entre nós, cabe registrar o ensinam ento da Professora
Misabel Dersi: 72
71 O § 1º do art. 55 da Lei nº 8.212/91 em sua redação denomina “isenção”, mas seria imunidade, como já comentamos.
95
“O contribuinte pode opor-se à cobrança de contrib uição que não
esteja afetada aos fins, constitucionalmente admiti dos; igualmente
poderá reclamar a repetição de tributo pago, se ape sar da lei,
houver desvio quanto à aplicação dos recursos arrec adados. É que,
diferentemente da solidariedade difusa ao pagamento dos
impostos, a Constituição prevê a solidariedade do c ontribuinte no
pagamento das contribuições e empréstimos compulsór ios e a
conseqüente faculdade outorgada à União de instituí -los, de forma
direcionada e vinculada, a certos gastos. Inexisten te o gasto ou
desviado o produto da arrecadação para outras final idades não
autorizadas na Constituição, cai a competência do e nte tributário
para legislar e arrecadar.”
Os avanços sobre os recursos da seguridade social não têm se limitado
ao legislador ordinário. Até mesmo por meio de emen das à Constituição,
inseriu-se no Texto Constitucional dispositivo prev endo a transferência de
recursos do orçamento social para o orçamento fisca l com o objetivo de gerar
superávit primário e pagar juros da dívida interna e externa. Tal fato vem
ocorrendo desde 1994, com a criação do Fundo Social de Emergência (FSE),
depois o Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e, mai s recentemente, com a
Desvinculação de Recursos da União (DRU), prevista no art. 76 do ADCT/88,
que permite a utilização do COFINS, CSLL e CPMF par a pagamento de
72 DERZI. Misabel. Atualização da obra de Aliomar Baleeiro. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 1034.
96
despesas distintas das destinadas à seguridade soci al. O citado artigo,
acrescentado pela Emenda Constitucional nº 27/2000, que regulamentou a
DRU, passou a ter a seguinte redação:
“Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa , no período de
2000 a 2003, vinte por cento da arrecadação dos imp ostos e
contribuições sociais da União, já instituídos ou que vierem a ser
criados no referido período, seus adicionais e resp ectivos
acréscimos legais”. (grifo nosso)
Vale registrar que as contribuições sociais dos emp regadores e
trabalhadores destinadas ao regime geral da previdê ncia social (INSS) estão
excluídas da DRU, por força do inciso XI do art. 16 7 da Constituição
(acrescentado pela Emenda Constitucional nº 20/98), in verbis:
“Art. 167. São vedados:
(...)
XI- a utilização dos recursos provenientes das cont ribuições sociais
de que trata o art. 195, I, “a”, e II, para a reali zação de despesas
distintas do pagamento de benefícios do regime gera l de
previdência social de que trata o art. 201”.
97
Assim, no nosso entendimento o Poder Constituinte d erivado não
poderia desvincular os recursos da seguridade socia l para fins diversos. Haja
vista que as contribuições sociais são instrumento basilar para a garantia de
uma série de direitos fundamentais do cidadão. Cabe ressaltar que o Estado
Democrático de Direito possui nas contribuições soc iais um dos principais
estribos para a intervenção no campo social. O cons tituinte originário vedou a
apresentação de proposta de emenda à Constituição t endente a abolir os
direitos e garantias individuais, com fulcro no art . 60, § 4º, IV. Assim, podemos
concluir que qualquer disposição no sentido de supr imir recursos para a
garantia e manutenção dos direitos sociais estará a tentando contra os direitos
e garantias individuais do cidadão. 73 Nesse sentido, a garantia e a efetiva
outorga de direitos sociais ao cidadão constituem u ma manifestação inerente
ao constitucionalismo atual, sendo dessa forma, mat éria inatacável, já que se
encontra petrificada na Constituição de 1988. No me smo diapasão, cabe
transcrever a lição de Paulo Bonavides: 74
“Em obediência aos princípios fundamentais que emer gem do
Título I da Lei Maior, faz-se mister, em boa doutri na, interpretar a
garantia dos direitos sociais como cláusula pétrea, matéria que
requer, ao mesmo passo um entendimento adequado dos direitos e
garantias do art. 60. Em outras palavras, pelos se us vínculos
73 SPAGNOL, Werther Botelho. As contribuições sociais no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 101-103. 74 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 503.
98
principais já expostos- e foram tantos na sua liqui dez inatacável-,
os direitos sociais recebem em nosso direito consti tucional
positivo uma garantia tão elevada e reforçada que l hes faz legítima
a inserção no mesmo âmbito conceitual da expressão direitos e
garantias individuais do art.60.
(...)
Tanto a Lei Ordinária como a emenda à Constituição que afetarem,
abolirem ou suprimirem a essência protetora dos dir eitos sociais,
jacente na índole, espírito e natureza de nosso ord enamento maior
padecem irremissivelmente da eiva de inconstitucion alidade, e
como inconstitucionais devem ser declaradas por juí zes e tribunais,
que só assim farão, qual lhes incumbe, a guarda bem sucedida e
eficaz da Constituição”.
Logo, a desvinculação de 20% do produto da arrecad ação das
contribuições sociais destinadas à seguridade socia l viola a Constituição por
comprometer o custeio de direitos fundamentais do c idadão.
A Carta Magna de 1988, embora tenha ampliado signi ficativamente a
cobertura de direitos sociais, não foi omissa quant o às fontes de financiamento
necessárias para a implementação de um sistema de p roteção social que
almejava a universalização e desvinculação de contr ibuição ao sistema como
condição de acesso aos benefícios. Em decorrência d isso foi instituído o
99
Orçamento da Seguridade Social em separado do Orçam ento Fiscal da União,
prevendo-se novas fontes de receita e ampliação das contribuições sociais já
existentes. Examinando-se os resultados da segurida de social para os anos de
2000, 2001 e 2002, apresentados na tabela 1, verifi camos a arrecadação das
contribuições sociais na ordem de R$ 120,6 bilhões, 136,8 bilhões e R$ 157,4
bilhões, respectivamente, destinadas aos gastos com saúde, previdência e
assistência social. Observa-se que no citado perío do tivemos resultado
positivo de R$ 26,6 bilhões (2000), R$ 31,4 bilhões (2001) e R$ 32,4 bilhões
(2002). Tais valores foram repassados ao Orçamento Fiscal da União para gerar
“superávit primário” acordado com o Fundo Monetári o Internacional e cuja
destinação é, essencialmente, o pagamento de juros e encargos da dívida
pública.
O tamanho do desvio de recursos da seguridade socia l para outros
gastos do governo federal fica evidenciado nas tab elas 3 e 4, que demonstram
que quase 50% das contribuições sociais foram desvi adas de sua destinação
constitucional quando somadas todas as fontes de re cursos. Daí a irrefutável
conclusão de que o governo federal vem-se utilizand o indevidamente das
contribuições sociais, desviando-as de sua finalida de e convertendo-as em
instrumento de arrecadação fiscal, o que se configu ra hoje numa distorção no
sistema tributário, tais como o COFINS, CPMF e a CS LL, de grande potencial
arrecadatório e, ainda, pelo fato do produto da arr ecadação não ser repartido
com os Estados e Municípios.
100
O fato mais escandaloso foi a instituição da CPMF com o objetivo de
melhorar a saúde pública, mas a sua totalidade de r eceita não foi depositada
aonde deveria ser... O Mestre Aliomar Baleeiro defe ndia o controle do emprego
do produto arrecadado, pois decorrente lógico da na tureza pública e
obrigatória da exação fiscal.
6. QUADRO ATUAL DA SEGURIDADE SOCIAL E EFEITOS DAS REFORMAS TRIBUTÁRIA E PREVIDENCIÁRIA NAS CONTRIBUIÇÕES DA SEGURIDADE SOCIAL
O Regime Geral de Previdência Social – RGPS, cujo p lano de benefícios
regula-se pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , fornece proteção aos seus
segurados, os quais se classificam em obrigatórios e facultativos. O RGPS
possui 21,1 milhões de beneficiários, dos quais 13, 8 milhões, ou seja, quase
66% do total, recebem benefício de até um salário m ínimo. São 7,1 milhões na
clientela urbana e 6,7 milhões na clientela rural.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, 2001,
revelam que dos 70,6 milhões de trabalhadores brasileiros (exclusive estatutários e
militares), apenas 30 milhões contribuem para a previdência social. Ou seja, 40,6
101
milhões não possuem cobertura alguma de regime previdenciário. Desses 40,6
milhões, 18,7 milhões de pessoas possuem rendimento mensal acima de um salário
mínimo e podem ser considerados como economicamente capazes de contribuir e
ter, em contrapartida, direito ao plano de benefícios, desde que sejam
implementadas algumas medidas de estímulo a sua adesão ao regime.
Fica evidenciado que grande parte dos trabalhadores brasileiros trabalha na
informalidade sem carteira assinada, sem previdência ou sem direitos trabalhistas
assegurados. Tal situação decorre em função da excessiva carga de tributos sobre a
folha de pagamento das empresas, bem como a cumulatividade dos tributos
indiretos. Com isso, o custo do emprego é elevado, gerando o desemprego.
Neste sentido, a Proposta de Emenda à Constituição, PEC – 41-A, que trata
da Reforma Tributária, inclui a possibilidade da desoneração da folha de
pagamento, vez que prevê a hipótese de substituição, total ou parcial, da
contribuição prevista no inciso I, “a” do artigo 195 da Constituição (contribuição
patronal sobre a folha de pagamento) pela contribuição incidente sobre a receita ou
faturamento prevista no inciso I, “b” do artigo 195 – a COFINS, e trata também da
não-cumulatividade dessa contribuição, para alguns setores da economia.
Por meio de tal medida, o Governo espera estimular o emprego formal,
incentivando os setores que empregam mais, tornando -os mais competitivos,
visando a redução da carga tributária das empresas, hoje em torno de 37% do
PIB, o que permitirá o aumento do emprego junto ao mercado formal de
trabalho e o aumento da competitividade.
102
A proposta de substituição da folha pela contribuição sobre a receita ou
faturamento vem sendo criticada, em especial pelos empresários e os tributaristas.
Tal medida representa verdadeira contradição. Ao mesmo tempo em que o
Governo acena no sentido de eliminar a cumulatividade da "atual" contribuição
sobre o faturamento, a COFINS (conforme art. 1° da PEC-41-A, que inclui o § 12
do art. 195 da Constituição Federal), promoverá a majoração da alíquota da
contribuição sobre o faturamento.
A substituição da folha de pagamento pelo faturamento como base de
contribuição patronal previdenciária poderá trazer reflexos negativos em todos os
demais tributos federais, estaduais e municipais que têm as receitas, ou o
faturamento, como base de incidência ou decorrem da fidedignidade de sua
informação, tais como ICMS, ISS, PIS, IPI, Imposto de Renda (pessoa jurídica),
Contribuição sobre o Lucro, pois o acirramento da tributação sobre o faturamento
promoverá a generalização da “ocultação” da receita e do faturamento por parte
das empresas.
Nos termos do § 13 do art. 195, na redação proposta pelo relatório aprovado
da PEC n º 41/03, poder-se-á criar uma "nova" COFINS, que incidirá sobre as
mesmas pessoas jurídicas e sobre os mesmos fatos geradores, de forma que não
vemos como atingirá aquelas que se encontram na economia informal e levar à
redução da informalidade no mercado trabalho.
Ao contrário, poderá ocorrer elevação na carga tributária porque, com o fim
da cumulatividade (conforme previsto no § 12 do art. 195, na redação do relatório)
e a necessidade de substituir as receitas geradas pela contribuição patronal,
necessariamente haverá aumento na alíquota do COFINS, tanto para compensar
possíveis perdas de arrecadação com o fim da cumulatividade – incidência da
103
contribuição em todas as etapas da fabricação do mesmo produto -, quanto para
substituir a arrecadação da contribuição patronal sobre a folha de pagamento.
Cabe ressaltar que a COFINS atingiu, entre 1995 e 2001, um incremento de
75% na sua arrecadação e que a CARGA TRIBUTÁRIA GLOBAL variou, de
29,46% do PIB em 1994, para até 36,5% do PIB em 2002, sendo que 45% dessa
carga é baseada em tributos sobre o consumo e a produção, cumulativos e
distorcidos, tornando o Brasil menos competitivo na venda de mercadorias e
serviços.
Logo, a possibilidade desta nova contribuição ser cumulativa para alguns
setores da economia constitui-se em um contra-senso à intenção de prover
incentivo à geração de novos empregos, visto que tributos cumulativos são
regressivos e desestimulam o cumprimento das obrigações tributárias pelas
empresas ainda na informalidade e, por outro lado, a sobretaxação de empresas
intensivas em capital ou de alta tecnologia desestimula os ganhos de produtividade,
tornando-as menos competitivas no mercado global, onde o acirramento da
competição dá a tônica.
Nada obstante a discussão sobre a substituição, total ou parcial, de uma fonte
especializada de receita da previdência, no caso a folha de pagamento por uma
contribuição adicional da COFINS, o mais grave na PEC nº 41/2003 é alteração do
art. 76 do ADCT/88, permitindo a prorrogação da desvinculação das receitas da
União até 2007. Tal medida compromete, de forma perversa, as políticas públicas
de saúde, previdência e assistência social, uma vez que desvia recursos da
seguridade social para o caixa único do tesouro e os direciona para o pagamento
aos credores internos e externos.
Em 2002 foram arrecadados, conforme tabela 1, R$ 20 bilhões de CPMF e
quase R$ 64 bilhões entre COFINS e CSLL e, desse montante de R$ 84 bilhões,
104
apenas R$ 23 bilhões chegaram aos cofres do INSS para as ações da Previdência
Social e da Assistência Social, enquanto outros R$ 21 bilhões foram repassados
para a Saúde, conforme se verifica na tabela 4.
Portanto, mais de R$ 40 bilhões deixaram de ser repassados para as ações da
Seguridade Social e foram utilizados no pagamento de juros das dívidas interna e
externa e outras ações do Governo Federal, enquanto isso divulga-se o “déficit” da
previdência e mais de 40 milhões encontram-se excluídos de um sistema de
proteção social.
Cinco anos após o ajuste expresso na Emenda Constitucional nº 20/98, com
supressões e restrições de benefícios no regime geral da previdência social-RGPS e
no regime dos servidores públicos, volta-se a falar em reforma previdenciária, com
a Proposta de Emenda Constitucional nº 40 (PEC nº 40/2003). As justificativas são
as mesmas de sempre: o déficit da previdência e a correção das distorções dos
planos de benefícios, em especial no regime dos servidores públicos; extinguir
privilégios injustificáveis, capazes de inviabilizar o sistema e evitar que seus
problemas afetem o crescimento econômico. “Sem a reforma, o Brasil quebra”, diz
o slogan alarmista. No tocante ao regime geral de previdência social-RGPS, as três
mudanças fundamentais constantes do texto da reforma da previdência (PEC 40)
são: 1 - elevação do teto de contribuição e de benefícios, passando de R$ 1.869,34
para R$ 2.400,00; 2 – reforço ao caráter exclusivamente público do seguro de
acidentes do trabalho, reinserindo-o no conjunto dos eventos cobertos pelo regime
geral de previdência social; e 3) previsão de sistema especial de inclusão para
atender aos trabalhadores de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios no
valor de um salário mínimo. No tocante ao regime próprio de previdência dos
servidores públicos, destacamos a instituição da contribuição social sobre os
proventos de aposentadoria e pensão acima do teto do RGPS (R$ 2.400,00).
105
O Ministério da Previdência Social vêm sistematicam ente, anunciando a
reforma da previdência como medida para eliminar o déficit de suas contas, na
ordem de R$ 17 bilhões em 2002, e estimada em R$ 19 bilhões em 2003,
quando deverá atingir 1,4% do Produto Interno Bruto . Contudo, estudiosos
sobre o assunto, bem como entidades respeitadas com o a ANFIP- Associação
Nacional dos Fiscais da Previdência Social 75 demonstraram cabalmente, ao
longo dos últimos anos, a inexistência de “déficit” no âmbito do orçamento da
seguridade social, especialmente porque no quadro a tual, mesmo somadas
todas as despesas do regime geral de previdência so cial- RGPS e dos regimes
próprios dos servidores federais civis e militares, e todas as despesas com
saúde e assistência social, a União ainda tem saldo de caixa positivo R$ 15,09
bilhões (tabela 2), podendo-se dar ao luxo de desti nar receitas da seguridade
social, originalmente vinculadas às suas despesas, para outras finalidades.
Com relação à seguridade social, conforme se verifi ca na tabela 1, apenas no
ano de 2002, o governo deixou de alocar aproximadam ente R$ 33 bilhões para
programas de saúde, assistência social e previdênci a, a título de produzir os
“superávits primários” acordados com o Fundo Monetá rio Internacional. Mais
alarmante, é o desvio de recursos da seguridade soc ial, que somente no ano
de 2000 a 2002, o governo desviou R$ 94 bilhões par a pagamento de despesas
do orçamento fiscal e para fazer o ajuste fiscal. 76
75 Matéria publicada no Jornal do DIAP- encarte especial- fevereiro/março 2003, p. 11-12. 76 Ibidem p. 14.
106
A fim de preservar a seguridade social, e em especial a previdência social,
caberia sim ao governo federal promover uma revisão das renúncias fiscais no que
tange às entidades beneficentes de assistência social, bem como o regime de
tributação diferenciado a determinados segmentos, tais como os clubes de futebol,
setor rural, empresas optantes do regime de tributação simplificada-SIMPLES (Lei
nº 9.317/96). Na mesma forma, não deveriam ser mais concedidas anistias pelo
governo federal, através dos parcelamentos especiais, como o Programa de
Recuperação Fiscal- REFIS (Lei nº 9.964/2000) e o Parcelamento Especial - PAES
(Lei nº 10.684/2003), pois tais medidas favorecem o inadimplemento das
contribuições sociais.
Segundo estimativas do Ministério da Previdência Social, a perda da
arrecadação em decorrência das renúncias fiscais chegou a R$ 8,4 bilhões e R$ 9,2
bilhões, em 2001 e 2002, respectivamente. Mister se faz necessário um combate
rigoroso à sonegação fiscal das contribuições, além das fraudes, tais como os
desvios de recursos da previdência e da saúde. Para isso, deve-se fortalecer a
administração tributária, com a melhoria das condições de trabalho dos auditores-
fiscais, bem como com o fortalecimento das operações conjuntas, denominadas de
forças-tarefa (Ministério Público, Polícia Federal e Fisco). Além disso, urge
também a cobrança dos grandes devedores incluídos na dívida ativa da previdência
social e da União. Recentemente, o Ministério da Previdência77 publicou pela
primeira vez a lista dos seus devedores, obedecendo ao art. 81 da Lei nº 8.212/91,
totalizando o valor de R$ 153 bilhões (posição maio/2003). Dos 28 maiores
devedores, 16 são empresas estatais, tais como Petrobrás, Caixa Econômica
Federal, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Banco Central. A lista
negra da Previdência inclui também partidos políticos, clubes de futebol, empresas
de aviação e empresas pertencentes a parlamentares.
77 Dados extraídos do Jornal O Globo, edição de 15/05/2003, p.1 e 3. Dados extraídos do Jornal O Globo, edição de 15/05/2003, p.1 e 3.
107
7. CONCLUSÃO
O tema proposto vem sendo objeto de intensa discussão na doutrina
nacional, uma vez que as contribuições têm participação substancial na carga
tributária das empresas.78 Procuramos na presente monografia estudar as
contribuições sociais destinadas à seguridade social como forma de financiamento
do sistema de proteção social, edificado pelo legislador constituinte de 1988, cujo
fim visava garantir a todos o direito à saúde, à assistência e previdência social.
Ao longo do trabalho, procuramos analisar a gênese das contribuições
sociais como uma evolução tributária dentro da forma de Estado atual. Desta
forma, o Estado não mais tributa apenas para fins de manutenção da máquina
administrativa, não está mais adstrito ao orçamento fiscal, mas a uma tributação
mais ampla. Neste contexto, as contribuições sociais assumem um papel relevante,
pois têm por função a garantia de recursos necessários à efetivação pelo Estado de
uma série de direitos fundamentais consagrados ao cidadão por força do
mandamento constitucional.
As contribuições da seguridade social constituem uma espécie das
contribuições sociais, cujo regime jurídico encontra-se disciplinado, em especial,
nos arts. 149 e 195 da Constituição de 1988. Analisamos o seu regime jurídico,
que apresenta certas peculiaridades em relação às demais espécies tributárias do
nosso ordenamento jurídico, bem como a afetação dos recursos da seguridade
social.
Abordamos, ainda, a fonte de financiamento da seguridade social, prevista
no art. 195 da Carta Magna, na qual estabelece que o sistema de proteção social
108
será financiado por toda a sociedade, de forma direta e indireta, com recursos
provenientes tanto do orçamento fiscal das pessoas políticas como por meio de
imposição de contribuições sociais arrecadadas das empresas, trabalhadores e
sobre o concurso de prognósticos.
Sem sombra de dúvida, a Constituição de 1988 foi moderna ao prever
múltiplas fontes de financiamento para a seguridade social não vinculando as
contribuições sociais a nenhuma despesa específica entre as políticas de saúde,
assistência e previdência social. Contudo, a EC nº 20/98 representou um retrocesso
ao vincular as contribuições sobre a folha de pagamento às despesas do RGPS.
No final do ano passado ouvimos a expressão “A esperança venceu o medo”,
como referência à vitória do Partido dos Trabalhadores na disputa pela Presidência
da República. Essa frase representou para a grande maioria da população brasileira
a declaração expressa de seus anseios de mudança por um país mais justo, mais
honesto, mais correto, mais solidário. Mas o que temos visto até o momento, foi a
adoção de propostas do governo passado e manutenção da política econômica do
governo anterior. Em relação à PEC nº 41/2003, propõe-se a prorrogação da
Desvinculação de Recursos da União-DRU (art. 76 do ADCT/88, acrescentado
pela EC nº 27/2000) até 2007, permitindo a utilização dos recursos da seguridade
social para fins diversos à sua finalidade. Fica evidenciado que as contribuições
sociais destinadas à seguridade social vêm sendo cada vez mais utilizadas como
um instrumento de arrecadação fiscal, não atendendo às finalidades sociais. Com
isso, o Governo Federal vem desviando os recursos para o seu orçamento fiscal,
promovendo o ajuste fiscal, produzindo superávit primário, e garantindo o
pagamento de juros e encargos da dívida interna e externa. Já a desoneração da
folha de pagamento, pode em contrapartida aumentar a carga tributária, em face do
78 Cf. Tabela 5 que detalha a participação das contribuições sociais destinadas à seguridade social na carga tributária do ano de 2002.
109
aumento da alíquota do COFINS. Por último a PEC nº 40/2003, que trata da
reforma da previdência dos servidores públicos, não apresenta medidas concretas
que incluam os 40 milhões de trabalhadores excluídos do regime de previdência
social.
Esperamos que os nossos governantes e políticos tenham em mira a
importância da seguridade social, proposta pelo legislador constituinte de 1988,
como um sistema de proteção social, que visa promover a inclusão social e a
redução das desigualdades sociais. Esse é, sem dúvida, o ideário que o Brasil deve
almejar para construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBIÑANA, Cesar. Sistema Tributario Espanõl y Comparado. Madrid: ICE,
1983.
ATALIBA, Geraldo. Contribuição social na Constituição. RDT 49/48.
_________. Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1973.
BALEEIRO, Aliomar. Atualiz. DERZI, Misabel de Abreu Machado. Limitações
constitucionais ao poder de tributar. Rio de Janeir o: Forense, 1997.
_________.Uma introdução à Ciência das Finanças. Forense, 1976.
BARROSO, Luis Roberto. Constituição da República Federativa do Brasil anotada
e legislação complementar. São Paulo: Saraiva, 1998.
110
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros,
2000.
CANOTILHO, J.J. Gomes. Constituição dirigente e vin culação do legislador.
Coimbra: Almedina, 1992.
CARRAZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São
Paulo: Malheiros, 1993.
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à Constituição de 1988- Sistema
Tributário. São Paulo: Forense, 1991.
DERZI, Misabel de Abreu Machado. Contribuição para o Finsocial. Revista de
Direito Tributário, nº 55. São Paulo: Malheiros, 19 91.
FANTOZZI, Augusto. Diritto Tributário.Torino:UTET, 1991.
FONROUGE, Giuliani. Derecho Financiero. Buenos Aires: Depalma, 1970.
GIANNINI, Achille Donato. I Concetti Fondamentali del Diritto Tributário.
Turim: UTET,1956.
_________. Istituzioni di Diritto Tributario.Milano, Giuffrè,1968.
GRECO, Marco Aurélio. Contribuições uma figura sui generis. São Paulo:
Dialética, 2000.
HARADA. Kiyoski. Direito Financeiro e Tributário. S ão Paulo: Atlas, São Paulo,
1998.
KIRCHHOF, Ferdinand. Grundriss des Abgabenrechts. Steuern, Gebühren,
Beiträge EG und Sonderabgaben.Heldelberg: C.F. Müller, 1991.
MACHADO, Hugo Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros,
2000.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. A seguridade social na Constituição Federal. São
Paulo: LTR, 1992.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva,
2000.
111
_________.Sistema Tributário na Constituição de 1998. São Paulo: Saraiva, 1992.
_________.Caderno Tributário Interpretado. São Paulo: Centro de Extensão
Universitária/Editora Resenha Tributária, 1984.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2003.
MEHL, Lucien. Elementos da Ciência Fiscal. Barcelona: Bosh, 1964.
MÉLEGA, Luiz. Algumas reflexões sobre o regime jurídico das contribuições na
Carta Política de 1988. Direito tributário atual. São Paulo: Resenha Tributária,
1992, v. 11-12.
MELO, José Eduardo Soares de. Contribuições sociais no sistema tributário. São
Paulo: Malheiros, 1993.
MÉRIGOT, Jean-Guy. Elementos de uma Teoria da Parafiscalidade. Revista de
Direito Administrativo 33: 66, 1953.
MICHELI. Gian Antonio. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1978.
_________.Corso di Diritto Tributário. Torino: UTET, 1972.
MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967, com a Emenda nº 1
de 1969. São Paulo: RT, 1970, tomo II.
MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de Direito Tributário. Rio de Janeiro:
Forense, 1993.
MORSELLI, Emanuelle. Il Punto de Vista Teórico della Parafiscalità. Archivio
Finanziario 9.
NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1989.
QUERALT, Juan Martin. Curso de Derecho Financiero y Tributário. Madrid:
Tecnos,1995.
ROCHA, Valdir de Oliveira. Natureza jurídica das Contribuições do art. 149 da
Constituição. Repertório IOB de jurisprudência 1:8:471, 1995.
RUSSO, Pasquele.Lezioni de Diritto Tributário. V.1. Milano: Giuffrè, 1992.
SOARES DE MELLO, José Eduardo. Contribuições sociais no sistema tributário.
São Paulo: Malheiros, 1996.
112
SOUZA, Rubens Gomes de. Natureza Tributária da Contribuição ao FGTS.
Revista de Direito Administrativo nº 112, 1973.
SPAGNOL, Werther Botelho. As contribuições sociais no direito brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, 2002.
TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003.
TIPKE/LANG. Steuerrecht. Köln: O. Schmidt, 1989.
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e
Tributário, vol. III. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
VILLEGAS, Hector. Curso de finanzas, derecho financiero e tributario. Buenos
Aires: Depalma, 1990.
113
9. ANEXOS
TABELA 1- Receitas e Despesas da Seguridade Social (1) – Saldo com o Regime Geral de Previdência Social (RGPS)
114
TABELA 2- Receitas e Despesas da Seguridade Social (1) – Saldo com o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) + Regime Próprio da União