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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA REFLEXÕES SOBRE O LÚDICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL Débora Barbosa de Almeida Verônica Araújo Lima Diamantina 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLEXÕES SOBRE O LÚDICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA

EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL

Débora Barbosa de Almeida

Verônica Araújo Lima

Diamantina

2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

REFLEXÕES SOBRE O LÚDICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA

EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL

Débora Barbosa de Almeida

Verônica Araújo Lima

Orientador

Hilton Fabiano Boaventura Serejo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Educação Física da Universidade Federal

dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como parte

dos requisitos exigidos para a conclusão do curso.

Diamantina

2018

REFLEXÕES SOBRE O LÚDICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO NA

EDUCAÇÃO FÍSICA INFANTIL

Débora Barbosa de Almeida

Verônica Araújo Lima

Orientador

Hilton Fabiano Boaventura Serejo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Educação Física da Universidade Federal

dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como parte

dos requisitos exigidos para a conclusão do curso.

APROVADO em 26 / 02 / 2018

_______________________________

Leandro Batista Cordeiro

___________________________

Juliana Nogueira Pontes Nobre

_______________________________

Prof. Dr. Hilton Fabiano Boaventura Serejo

Débora Barbosa de Almeida

―A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E

ensinar e aprender não pode dar-se para fora da procura, fora da boniteza e da alegria‖.

Paulo Freire

Verônica Araújo Lima

―... não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu, é sobre escalar e sentir que o

caminho te fortaleceu...‖

Ana Vilela

À minha querida mãe, namorado, familiares e

amigos, que de muitas formas não me deixaram

desistir e acreditaram em mim. Dedico-lhes essa

conquista com gratidão e amor.

Débora Barbosa de Almeida

Primeiramente a Deus, por ser essencial em

minha vida. À toda minha família, que, com

muito carinho e apoio, não mediram esforços

para que eu chegasse até esta etapa da minha

vida.

Verônica Araújo Lima

AGRADECIMENTOS

Débora Barbosa de Almeida

Primeiramente á Deus, pela presença sentida e vivida.

Ao nosso professor e orientador Hilton, pela dedicação, conselhos e orientações. Uma

pessoa que está sempre disposta a ajudar e ensinar, compreendendo e respeitando as

dificuldades e necessidades de cada um.

Ao meu namorado Wesley, pelo apoio e motivação.

A minha querida família, que sempre foi minha base e o motivo pelo qual me esforço

para ser alguém melhor na vida.

Ao nosso motorista Romildo, por nos guiar com segurança e atenção todas as noites da

minha cidade à universidade.

A minha parceira de TCC Verônica, que foi fundamental para a conclusão deste

trabalho.

A UFVJM e todos os professores do curso que foram fundamentais para que eu

chegasse onde estou.

Aos meus amigos da turma, em especial a Neimar, Jackeline, Noel, Geane, Beatriz,

Renata, Rafael e Luiz que foram testemunhas do meu esforço e motivo da minha alegria em

todas as noites.

A todos que direta ou indiretamente me ajudaram a evoluir.

AGRADECIMENTOS

Verônica Araújo Lima

Primeiramente a Deus, por sempre iluminar meu caminho e por me conceder a

oportunidade de cursar o nível superior.

Aos meus pais, Georgina Araújo Santos (in memorian) e Sebastião de Souza Lima,

pelos ensinamentos e conselhos dados.

Aos meus irmãos, Soraya, Luiz Carlos e Marcks por todo apoio.

Em especial a minha filha Maria Eduarda, por me fazer ter ainda mais forças para

vencer e me tornar licencianda em Educação Física.

Ao meu companheiro Fábio Neves por todo incentivo dado ao longo desses anos.

Aos colegas e amigos que aqui fiz pelos momentos de tensão pré e pós avaliações,

pelas brigas e risadas.

Aos companheiros de estrada que tornaram o trajeto mais agradável e menos

cansativo.

A minha companheira de TCC Débora Almeida pela dedicação e paciência.

E por fim, mais não menos importante, agradeço a todos que de alguma forma

contribuíram para que a minha formação superior se concretizasse. A todos meu muito

obrigada!

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo refletir sobre as atividades lúdicas

no processo de ensino aprendizagem juntamente com sua importância dentro das aulas de

educação física infantil. Com a perspectiva de ampliar a visão sobre as contribuições do

lúdico dentro das aulas de Educação Física Infantil, a metodologia desse trabalho foi baseada

em uma revisão bibliográfica. O mesmo adota uma abordagem qualitativa, de caráter

exploratório. Sabemos que um dos ambientes mais importantes para as crianças é (ou deveria

ser) a escola, pois é principalmente através dela que poderão vivenciar e absorver a

experiência do brincar. O lúdico como instrumento pedagógico dentro das aulas de educação

física infantil tem por objetivo auxiliar a criança a obter melhor desempenho na aprendizagem

através de uma metodologia espontânea, divertida e recreativa. Esse estudo pode levantar

informações sobre a importância das brincadeiras lúdicas nas aulas de Educação Física e sua

ação dentro do processo ensino aprendizagem. O tema escolhido é importante para os

professores porque faz parte das ações educacionais.

Palavras chaves: Lúdico. Criança. Educação Física Infantil.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 11 1.1 METODOLOGIA ............................................................................................................... 12

1.1.1 Tipo de Estudo ............................................................................................................. 12

1.1.2 Seleção da Amostra ..................................................................................................... 12 1.1.3 Análise De Dados ........................................................................................................ 12

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo Geral: ............................................................................................................ 13

1.2.2 Objetivos Específicos: ................................................................................................. 13 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 14

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................ 15 2.1 O lúdico .......................................................................................................................... 15

2.2 Lúdico e jogo .................................................................................................................. 16 2.3 Educação infantil ............................................................................................................ 18 2.4 Educação física infantil .................................................................................................. 19

2.5 O lúdico como instrumento pedagógico na educação física infantil ............................. 23

3. DISCUSSÕES ...................................................................................................................... 26 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 29 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 30

11

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como temática a abordagem do lúdico nas aulas de Educação

Física Infantil. Pretendemos trazer reflexões que possibilitem compreender o conceito da

ludicidade e suas contribuições para o processo de ensino-aprendizagem dentro das aulas de

Educação Física Infantil.

Nessa perspectiva, a aprendizagem e o aperfeiçoamento das práticas do ser humano

estão diretamente relacionados com o contato com as pessoas e o meio onde estão

inseridas. O brincar é parte essencial na vida da criança, é através da brincadeira que na

primeira infância o indivíduo consegue aprender coisas novas e interpretar o mundo ao seu

redor.

A criança precisa brincar para crescer. Segundo Piaget (1989), o desenvolvimento

da criança acontece através do lúdico, uma vez que, ele é fundamental para o

desenvolvimento motor, físico e até mesmo intelectual. Sendo assim, pode favorecer tanto

nos processos que estão em formação, quanto nos processos que estão por vir.

Um dos ambientes mais importantes para as crianças é a escola, pois é

principalmente através dela que poderão vivenciar a experiência do brincar. É de suma

importância que elas vivenciem essa fase da vida, pois, além das contribuições já citadas

anteriormente, a ludicidade também auxilia na socialização. Dessa forma, o lúdico tem uma

enorme função educativa e merece muita atenção por parte dos familiares e educadores

(professores), uma vez que, este possibilita a aprendizagem de forma significativa e

prazerosa (SANTOS, 2013).

Diante do exposto viu-se a importância de aprofundar mais esse tema. Por isso, ao

conversarmos, por coincidência, notamos que tínhamos interesses em comum em relação

ao assunto e que gostaríamos de escrever um trabalho sobre o seguinte tema: ―Lúdico e

Educação Física Infantil‖. A partir deste momento estabelecemos qual seria nosso

orientador, e então o convite foi feito e posteriormente aceito. Em seguida, marcamos um

encontro e traçamos nossa linha de pensamento, ideias para a pesquisa e de que forma ela

seria feita. Com o tema escolhido buscamos encontrar os nossos objetivos, e com base

neles começamos a desenvolver o nosso trabalho, já que estes foram o nosso

12

direcionamento para a busca por artigos e livros que dessem embasamento teórico. As

pesquisas foram feitas diariamente com o objetivo de nos aprofundarmos sobre o tema

escolhido. Assim foi possível extrairmos informações, ideias, conceitos, que estão nos

permitindo retratar separadamente dentro do nosso trabalho.

1.1 METODOLOGIA

1.1.1 Tipo de Estudo

Com a perspectiva de ampliar a visão sobre as contribuições do lúdico dentro das

aulas de Educação Física Infantil, a metodologia desse trabalho será baseada em uma

revisão bibliográfica. O mesmo será uma pesquisa com abordagem qualitativa, de caráter

exploratório.

1.1.2 Seleção da Amostra

A amostra foi selecionada a partir da busca de artigos e livros publicados que

continham as palavras chave relacionadas ao lúdico, criança e a educação física infantil.

Adotamos como critério de exclusão, a leitura inicial do resumo dos artigos e a introdução

dos livros, sendo que quando julgávamos que o objetivo do estudo se distanciava em

relação aos nossos objetivos, o mesmo era descartado. Foram feitos fichamentos dos artigos

e dos livros lidos, que posteriormente foram utilizados para o desenvolvimento do trabalho.

1.1.3 Análise De Dados

A análise de dados foi retratada na forma de um texto dissertativo, onde foram

tomados os devidos cuidados em relação às referências bibliográficas das obras que foram

utilizadas para a elaboração deste Trabalho de Conclusão de Curso.

13

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral:

Refletir sobre as contribuições das atividades lúdicas no processo ensino

aprendizagem, juntamente com sua importância dentro das aulas de Educação Física

Infantil, expressas em artigos e livros acadêmicos.

1.2.2 Objetivos Específicos:

Discutir os conceitos que abrangem a ludicidade nos artigos e livros analisados.

Compreender quais são as relações entre o lúdico e a Educação Física Infantil.

14

1.3 JUSTIFICATIVA

O lúdico proporciona às crianças desfrutar um mundo de fantasias, explorar sua

imaginação e aprender jogando e brincando. Dessa forma é indispensável que tenha total

atenção tanto no âmbito escolar quanto no familiar, pois é também através dele que os

alunos adquirem experiências educativas de forma inteligente, sem contar que, tais

experiências são possíveis de serem realizadas com seriedade, explorando a reflexão e o

lado emocional.

O tema escolhido é importante para os professores porque faz parte das ações

educacionais. Através da ludicidade a criança aprende e se desenvolve aos poucos, constrói

suas habilidades motoras, compreende o meio em que vive e adquire os laços de

companheirismo. Além disso, com o lúdico a criança dialoga através dos sons, gestos e

manipulação, desenvolvendo tanto a atenção quanto a imaginação e a memória. Dessa

forma, o estudo contribuirá nas ações práticas e educacionais dos profissionais da educação,

principalmente aos que de alguma forma trabalham com o público infantil.

Através da leitura de outras obras que também ajudaram na articulação desta

pesquisa, é que se almeja discutir como o lúdico influencia no desenvolvimento e na

aprendizagem do aluno, e que ensinar através do lúdico é ver como o brincar pode ser

diferenciado. Todavia, é relevante destacar que a ludicidade está imersa na cultura da qual

faz parte, então ela deve ser problematizada e questionada, pois, além de contribuir para um

aprendizado mais prazeroso, ela pode reforçar preconceitos, estereótipos e outras questões

que pouco ajudam a refletir sobre uma sociedade mais justa e humanizada.

15

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O lúdico

A origem da palavra ―lúdico‖ vem do latim ludus, que significa ―brincar‖

(SANTOS, 2002). Para Santos (2002), o lúdico faz parte das ações do ser humano e

caracteriza-se por ser espontâneo, funcional e satisfatório, ou seja, o que é importante na

atividade lúdica não é simplesmente o resultado, mas a ação, a vivência do movimento.

Ludicidade é, portanto, tudo quanto diverte e entretém o ser humano e envolve uma ativa

participação.

O lúdico merece total atenção dos educadores, já que contribui para o

desenvolvimento da criança. Cada criança tem suas próprias características, portanto, a

eficácia do método de ensino não atinge a todos da mesma forma. Para que haja sucesso

nesse processo, o educador deve utilizar-se dos mais diversos mecanismos de ensino,

incluindo as atividades lúdicas. Essas atividades devem ser capazes de estimular o

interesse, a interação, a capacidade de criar e recriar, a observação, e que possibilite as

crianças relacionar conteúdos e conceitos.

A partir da ludicidade, as ações cognitivas e afetivas proporcionam o

amadurecimento emocional, aumento da inteligência e da sensibilidade da criança, de

forma a garantir que suas potencialidades e afetividades se harmonizem.

Segundo Goetze (2015) as brincadeiras são atividades vitais para as crianças e são

importantes em todos os aspectos de sua construção, já que sua personalidade começa a se

firmar na ação do brincar, onde estão inseridas importantes funções, adequadas para

auxiliar a criança no seu desenvolvimento, na sua aprendizagem e na interação com o meio,

além da responsabilidade pela construção da identidade infantil, notando ainda que a

criança destina a maior parte do tempo ao brincar.

Brincando, as crianças criam seu próprio mundo, um mundo onde elas se sintam

bem, da maneira que elas querem e gostam. Desse modo, as ferramentas que elas utilizam

16

são os brinquedos, pois proporcionam a criança demonstrar e criar fantasias de suas

vivências e experiências.

Através do brincar, as crianças adquirem um melhor conhecimento e se sociabiliza

com facilidade, adquirem o espírito de grupo, aprendem a tomar decisões e percebem

melhor o mundo em que vivem. Segundo Vygotsky (apud Santos 2013, p.13), o lúdico

influencia muito no desenvolvimento da criança, pois, através do lúdico a criança

desenvolve sua curiosidade, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o

desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.

Todavia, maneiras de brincar estão substituindo as formas de interações lúdicas. As

brincadeiras como, pega-pega, esconde-esconde entre outras atividades recreativas estão

ficando cada vez mais de lado e sendo substituídas por atividades em que a criança tende a

ficar na condição de passividade física, além de menor interação social, diminuindo a

liberdade de criar e recriar. Uma das atividades que o professor pode usar para estimular o

interesse do aluno e facilitar na sua aprendizagem é o jogo.

2.2 Lúdico e jogo

O jogo expressa-se como uma opção expressiva e importante no exercício

pedagógico, e a possibilidade de compreender o jogo como processo educativo é refletir na

educação numa perspectiva criadora, autônoma e consciente. Através do jogo, não somente

se tem uma abertura para o mundo social e para a cultura infantil como se encontra uma

rica iniciativa de incentivar o seu desenvolvimento, pois, o jogo é o caminho através dos

quais os pensamentos e sentimentos são transmitidos pela criança, por isso ajuda no

desenvolvimento da fala e também interferem no desenvolvimento infantil, motor e moral

da criança. Outro ponto importante é a socialização, que é imprescindível para o

desenvolvimento moral e cognitivo.

O lúdico tem o poder de seduzir o interesse do aluno, que passa a aprender de forma

agradável. Vivemos em um tempo que a tecnologia avança rapidamente, inclusive na

educação. Nota-se que o avanço da tecnologia e dos instrumentos como computadores,

celulares, tabletes, videogames, entre outros objetos tecnológicos, tem contribuído para que

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as crianças brinquem de forma diferente, se comparado com antes da criação desses

equipamentos tecnológicos. Novas distrações estão surgindo para as crianças, brincadeiras

que eram comuns como as de roda, pega-pega, amarelinha, entre outras, estão dando lugar

as novas ferramentas tecnológicas. O que não quer dizer que a tecnologia não seja

importante, saber utilizar os novos dispositivos é útil e satisfatório, desde que sejam

utilizados com sabedoria e discernimento, como contribuir no desenvolvimento intelectual

e educacional das crianças. Porém, devemos saber que horas e horas em frente a telas de

computadores, celulares e televisões podem provocar o sedentarismo, que além de

prejudicar a saúde física, danifica também a saúde mental, e que a falta de interação

principalmente com pessoas da mesma faixa etária pode fazer com que a criança encontre

dificuldades de adaptação no mundo em que vive.

Dessa forma, é fundamental que o educador também utilize como ferramenta de

ensino as atividades lúdicas, e umas das ferramentas que pode ser explorada é o jogo. Sobre

isso, Carvalho (1992) afirma:

[...] desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância,

pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta,

através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto,

começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, real valor e atenção as

atividades vivenciadas naquele instante.

O jogo auxilia não somente o desenvolvimento social, moral e cognitivo, mas

também o político e o emocional. O jogo implica para a criança muito mais do que o

simples ato de brincar. Através do jogo, ela se comunica com o mundo em que vive e

também se expressa. A respeito disso, Macedo (apud Santos, 2013) diz que o jogo é uma

necessidade infantil, porque tem um objetivo educacional que começa como exercício

funcional. A criança que joga, adquire mais preparo para a fase adulta. O jogo tem um

papel amplo: leva a criança a refletir.

Além disso, segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(RCNEI) (BRASIL, 1998, p. 28):

―[...] os jogos de construção e aqueles que possuem regras, como os jogos de

sociedade (também chamados de jogos de tabuleiro), jogos tradicionais,

18

didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis

por meio da atividade lúdica‖.

Portanto, os jogos não têm apenas o objetivo de gastar a energia das crianças, mas é

um meio que enriquece o desenvolvimento intelectual e que pode contribuir

significativamente na educação, a partir do significado que o educador dá ao jogo.

Diante do exposto notamos o jogo como promotor da aprendizagem e do

desenvolvimento, que passa a ser considerado nas práticas escolares como importante

aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante das situações lúdicas como jogo pode ser

uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola

(KISHIMOTO, 1994).

2.3 Educação infantil

A educação e as ações relacionadas à primeira infância são assuntos tratados com

prioridades pelos órgãos responsáveis. No Brasil, a Educação Infantil, isto é, o atendimento

a crianças de zero a seis anos em creches e pré-escolas, é um direito assegurado pela

Constituição Federal de 1988. A partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, a Educação Infantil (IF) passa a ser definida como a primeira etapa da

Educação Básica (BRASIL, 1996).

Trabalhar com crianças de séries iniciais torna-se uma tarefa muito delicada, já que

se trata do início de sua formação e o começo da vida escolar. Na Educação Infantil (EI) o

objetivo deve ser muito mais do que somente aplicação de conteúdo, a criança deve ser

preparada para as possíveis situações do dia a dia, e um dos lugares mais adequados e

apropriados para isso é a escola.

Uma grande vantagem de se trabalhar com o lúdico no processo de ensino

aprendizagem é que o lúdico contribui para superar alguns métodos de ensino indesejáveis,

que são os finalizados, acabados, repetitivos e monótonos, que acabam se tornando

desagradáveis e pouco prazerosos.

Nesse sentido, vários estudos realizados já mostravam que os seis primeiros anos de

vida são essenciais para o desenvolvimento humano e para a formação da inteligência e da

personalidade. Segundo a LDB (BRASIL 1996, art. 29):

19

―a EI tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis

anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade.‖

Isso faz com que a Educação Infantil no Brasil comece a conquistar o seu espaço e

dar importância ao lúdico no cotidiano escolar.

Dar visibilidade à ludicidade na escola é perceber a criança como um ser que possui

uma linguagem própria de expressão, é permitir-lhe experienciar um envolvimento mais

profundo com que está sendo proposto. Assim, conforme explicita Bonfim (2010, p.21):

A Educação Infantil , mais do que antes, é vista como uma educação que visa

o desenvolvimento integral da criança, como confirma Bacelar (2009), onde

ele enfatiza que no início a mesma era vista como um atendimento

assistencialista no Brasil, mas observa que, ao longo dos anos, foi se

expandindo, foram surgindo outras perspectivas que visavam atender a outras

necessidades que não fossem apenas aquelas das mães que tinham que

trabalhar e por isso, precisavam de um local para deixar seus filhos. Hoje,

percebe-se a importância de cada atividade do cotidiano da criança, inclusive

das atividades lúdicas que devem fazer parte do processo do desenvolvimento

infantil.

Além do mais, a idade e as características das crianças devem ser respeitadas, pois,

se a atividade lúdica indicada não estiver de acordo com a maturidade do aluno, a atividade

se tornará mais uma vez desestimulante e cansativa. A ludicidade deve ter como foco a

criança no cotidiano atual. Enfatiza-se que nos primeiros anos de vida uma das principais

linguagens que a criança dispõe é a do movimento. Nessa perspectiva, a Educação Física

tem grande valor nessa fase, porque trabalha as manifestações culturais do movimento,

contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento infantil.

2.4 Educação física infantil

Desde o início do surgimento da disciplina Educação Física Escolar, grandes

modificações foram surgindo, tanto pelos fatores históricos, políticos e sociais. Devido a

isso, as aulas também foram se modificando, por exemplo: tivemos uma época na qual seus

objetivos eram voltados as modalidades esportivas, onde o foco era a formação de atletas, o

20

destaque era apenas aos mais habilidosos, aumentando ainda mais a desmotivação e a não

participação das aulas por parte dos alunos.

Ainda seguindo a linha de raciocínio anterior, nota-se que essa situação contribui

para a desvalorização da disciplina e nos faz perceber que alguns dos objetivos da educação

física não estão sendo reconhecidos e incorporados no planejamento feito pelos professores,

como por exemplo, a aplicação do lúdico nas séries iniciais. As atividades lúdicas não

podem ser consideradas como algo sem valor, já que atendem as necessidades do

desenvolvimento.

O papel da instituição escolar é colaborar para o processo de sistematização e

construção de conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade, de modo a

contribuir na apropriação desses saberes por parte dos alunos e alunas. Neste sentido, a

educação física apresenta a função político-social de possibilitar a conservação, renovação

e transmissão dos conhecimentos mais diretamente relacionados ao corpo e as práticas

corporais, ou seja, a cultura corporal de movimento.

A mais recente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional propõe que a

disciplina da Educação Física faça parte da proposta político pedagógica da escola. Art.26,

§ 3º.: ―A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente

curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população

escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos (BRASIL, 1996)‖ . Sendo assim, essa Lei

garante que deve ser ensinada Educação Física na escola, inclusive para crianças abaixo de

seis anos.

Além disso, a linguagem corporal é uma das principais abordagens a serem

trabalhadas na infância, já que é um elo integrador entre todos os aspectos (motores,

cognitivos, afetivo e social), permitindo assim, o contato com as mais diferentes

manifestações da cultura corporal de movimento, tendo em vista a dimensão lúdica como

elemento primordial para a ação educativa na infância, sem perder sua função pedagógica

(AYOUB, 2001).

Pode-se compreender assim, entre outros aspectos que a educação física infantil tem

por objetivo a organização da motricidade da criança, visando o desenvolvimento corporal

harmônico (físico-mental). Dessa forma, a aquisição de habilidades motoras, o controle

21

corporal, a utilização de movimentos como forma de expressão, a socialização,

manipulação de objetos, entre outros, devem ser trabalhados com a criança, sem esquecer

das necessidades individuais e as necessidades do grupo.

Além disso, assim como ocorre nas demais disciplinas, as aulas de educação física

devem ser planejadas passo a passo. A inserção da disciplina de Educação Física na EI só

será realmente considerada importante e fundamental se os profissionais que nessa área

trabalham estiverem participando efetivamente do projeto político pedagógico da escola.

Nesse sentido, percebemos que a Educação Física Infantil ajuda a organizar a

capacidade de reflexão pedagógica da criança, dando-lhe acesso ao conhecimento que já se

tem produzido sobre a cultura corporal, lembrando-se sempre de valorizar todas as

informações que as crianças já possuem, podendo o educador usufruir de todo seu acervo

lúdico para alcançar tal objetivo.

Assim, o professor de Educação Física deve ser o mediador, deve interagir com as

crianças lhes proporcionando situações de aprendizagem, ou seja, deve estar atento para

reformular as atividades quando necessário, mediar conflitos, fazer seus planejamentos de

aula visando a progressão dos alunos, além de compreender cada estágio de

desenvolvimento para estimular corretamente cada etapa.

De acordo com Oliveira (2002):

O estudo do papel do educador junto às crianças não pode descuidar das

relações que elas estabelecem entre si nas diferentes situações. Atos

cooperativos, imitativos, diálogos, disputas de objetos e mesmo brigas, entre

tantos outros, são grandes momentos de desenvolvimento. Todas essas

situações são frequentes nas creches e pré-escolas, devendo os professores

criar situações para lidar positivamente com elas (p. 141).

Assim sendo, podemos dizer que a Educação Física tem um papel de extrema

importância na Educação Infantil, visto que, pode proporcionar as crianças uma diversidade

de experiências através das quais elas podem desenvolver sua criatividade, ter contato com

pessoas que não sejam do seu ambiente familiar, descobrir seu próprio corpo por meio de

novos movimentos, além de descobrir os limites do mesmo. Isso significa que a Educação

Física estará auxiliando no desenvolvimento motor, cognitivo e social afetivo da criança,

mesmo ainda sofrendo com alguns estereótipos e preconceitos no campo educacional, ela

22

tem enorme prestígio na primeira infância. A Educação Física consegue fazer este auxilio

de uma forma prazerosa através de jogos, brincadeiras.

23

2.5 O lúdico como instrumento pedagógico na educação física infantil

A criança quando chega ao ambiente escolar trás consigo uma bagagem de

conhecimento e aprendizagem conquistados no seu convívio social, porém é através da vida

escolar, com o apoio das atividades lúdicas, que elas vão conquistando e adquirindo novos

conhecimentos sobre o mundo ao seu redor. Optar por aplicar atividades envolvendo o

lúdico nas aulas de Educação Física Infantil (EFI) é de grande importância visto que

estimula a criatividade, dando a aprendizagem uma qualidade, de maneira que estimule o

desenvolvimento social, cognitivo, afetivo e psicomotor.

O lúdico é parte integrante do mundo infantil, os jogos e os brinquedos fazem parte

da infância da criança, onde a realidade e o faz de conta se inter-relacionam. No entanto,

não podemos considerar que o lúdico seja algo não serio, ou apenas diversão, mas sim, algo

de extrema importância que auxilia de forma significativa o processo ensino aprendizagem

na fase da infância.

Conforme Aguiar (1998, p.36)

A atividade lúdica é reconhecida como meio de fornecer à criança um

ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a

aprendizagem de várias habilidades, além de trabalhar estas habilidades na

criança, ajudará no desenvolvimento da criatividade, na inteligência verbal-

linguística, coordenação motora, dentre outras. Partindo da consideração de

que as atividades lúdicas podem contribuir para o desenvolvimento Intelectual

da criança, Platão ensinava matemática às crianças em forma de jogo e

preconizava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados por

jogos educativos.

Portanto, o lúdico como instrumento pedagógico tem como um dos seus objetivos

auxiliar a criança a obter melhor desempenho na aprendizagem através da utilização de

uma metodologia espontânea, divertida e recreativa. As aulas de Educação Física Infantil

podem ser trabalhadas levando em consideração três pilares: a experiência corporal, a

experiência material e a experiência de interação com o meio (social) (BASEI, 2008).

A experiência corporal está relacionada à cultura do movimento, sendo assim,

proporciona as crianças um leque de possibilidades de movimentos que as façam

compreender seu corpo, perceber os movimentos de forma consciente. Já a experiência

24

material esta relacionada a manipulação de objetos, cuja manipulação ajudará a criança a

ter autonomia sobre o mesmo, ajudando também na sua coordenação motora. Por fim, a

experiência de interação com o meio será a todo o momento vivenciada, pois sempre

haverá contato com os demais colegas, em atividades trabalhadas em grupo, em momentos

de descontração.

Contudo, para que o lúdico de fato contribua no processo de aprendizagem, ou seja,

na construção do conhecimento é necessário que o educador norteie as atividades propostas

para que ao final, a atividade tenha obtido um caráter pedagógico. É importante que o

brincar seja orientado pelo professor, porém a função desse profissional não pode ser de

decidir e sim mediar, observar e potencializar, sem impor a sua forma de agir, para que a

criança aprenda descobrindo e compreendendo, e não simplesmente imitando, de forma a

perceber se a criança está constantemente buscando conhecer o mundo e desenvolvendo-se

corporalmente.

O brincar pode ser considerado como uma forma de oportunizar o movimento, com

o objetivo de fazer com que a criança tenha domínio e conhecimento do seu corpo, através

das experiências sensoriais, corporais e expressivas, contribuindo para o conhecimento do

mundo de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

(BRASIL, 2010).

Em relação ao tempo, o espaço e os materiais disponíveis para a ação do brincar nas

escolas voltadas para as crianças, sabe-se que este brincar e o ambiente para o lúdico de

forma espontânea estão comprometidos (SAURA, 2014). O ambiente para a realização das

atividades lúdicas deve ser agradável e as crianças devem se sentir descontraídas e

confortáveis. A falta de materiais adequados pode prejudicar o trabalho do professor na

hora de passar as atividades.

Quando nos referimos à palavra espontânea, entende-se como a participação da

criança de forma livre nas atividades escolhidas por elas. O brincar espontâneo além de

promover o desenvolvimento físico e motor também atua como fator de desenvolvimento

psicológico, intelectual e social (SAURA 2014), pois, as crianças não veem o mundo como

os adultos, elas não ficam pressionadas e não se preocupam com os resultados das ações.

25

De acordo com o trabalho de Kunz (2007), se os professores desejarem como intuito

dos seus momentos de Educação Física com as crianças, que estas tenham tempo para

serem crianças e que sejam aceitas como se encontram no momento presente de suas vidas,

o brincar livre e espontâneo - o se-movimentar, conceito difundido pelo autor, no qual a

criança tem autonomia na escolha, no momento e na maneira de brincar – deve ser um

conteúdo a ser seguido e valorizado em suas práticas. Brincar livremente não pode mais ser

visto apenas como desperdício de tempo e tão pouco destituído de consequências na

aprendizagem e no desenvolvimento, sobretudo quando se refere ao mundo das crianças

(HOLT, 2006).

Além disso, segundo Anjos (2013) as brincadeiras não são apenas uma forma de

entretenimento para gastar as energias das crianças, mas formas de enriquecer e colaborar

para o desenvolvimento intelectual das mesmas. Ela não é simplesmente uma distração para

os alunos, ao contrário, ocupa lugar de extraordinária importância na Educação Física

escolar, pois a mesma estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação motora,

as capacidades intelectuais, o empreendimento individual, possibilitando o avanço dos

conhecimentos teórico-práticos.

Concluindo, a Educação Física preocupa-se com a expressividade da criança, seu

movimento/brincadeira. O brincar espontâneo, da mesma forma que o tempo e sua

utilização, geram influências no processo de formação das crianças, e não podem ser

negligenciados e considerados aspectos neutros dentro deste contexto. (STAVISK, 2013).

26

3. DISCUSSÕES

Ao analisarmos o conceito de lúdico em diferentes literaturas que o apresentam,

podemos perceber certas concepções no que diz respeito a sua compreensão, pois alguns

relacionam o lúdico aos jogos e brincadeiras e o compreendem como uma atividade

diferente que deixa as aulas mais dinâmicas, atrativas.

Nos dicionários são mostrados os significados frequentemente atribuídos ao lúdico,

qualificado como um adjetivo ―que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos‖, os

quais constituem ―a atividade lúdica das crianças‖ (FERREIRA, 1986). Esta informação

nos leva a questionamentos, pois restringe o lúdico apenas às crianças, como se as outras

faixas etárias que praticam apenas das atividades ―sérias‖ não pudessem desfrutar das

atividades lúdicas, como se o lúdico tivesse caráter improdutivo. Outro fator é que mostra o

lúdico apenas como jogos e brincadeiras, não expõem os fatores culturais, sociais e os

demais valores atribuídos.

Dentro da etimologia do lúdico a palavra "ludus" abrange toda a rede de

significados de jogos, sejam eles, de recreação, competição, de azar, apresentações teatrais,

entre outros. Isso nos permite observar que seu significado vai além das ações das

crianças, ele abrange também as ações dos adultos (HUIZINGA, 2014).

Ainda dentro do latim temos a palavra "serius" que é o oposto a palavra "ludus".

Para Aristóteles (apud BROUGERE, 2003), o jogo é entendido como uma oposição ao

trabalho, necessário para que o indivíduo repouse e recomponha a sua energia para o

trabalho. Sendo assim, o jogo não se associa ao prazer ou ao lazer, estes considerados como

a expressão da felicidade e da virtuosidade.

Para Santin (1994) a ludicidade é fantasia, imaginação e sonhos que se constroem

como um labirinto de teias urdidas com materiais simbólicos. Segundo o autor, o impulso

lúdico que habita o imaginário humano contrapõe-se à ―coisificação‖ do humano, à

racionalidade técnica, à razão científica e à lógica racional do capitalismo.

Ainda sobre as visões de lúdico, Alves (2003) em sua pesquisa sobre o ―corpo

lúdico Maxakali‖, entende o lúdico como um valor presente na essência do ser humano que

27

representa, por meio do seu corpo, tanto as possibilidades quanto a diversidade da espécie

humana, ao mesmo tempo em que lhe proporciona prazer e alegria.

Em relação ao jogo, Kishimoto (1999) tem a seguinte visão: o jogo é criado e

recriado pelo ser humano. A criança é um ser em pleno processo de apropriação da cultura,

precisando participar dos jogos de uma forma espontânea e criativa. Assim, é possível dizer

que os jogos são capazes de aumentar a curiosidade, a criticidade e a confiança. Além

disso, desenvolverão capacidades para resolver problemas direcionados ao conhecimento,

necessário para a adaptação do mundo da cultura.

Em relação a EI foi possível enfatizar nos trabalhos lidos a importância de dar

prioridade aos primeiros seis anos, já que a primeira infância é um período crucial na vida

das crianças; é nesta fase que elas conquistam capacidades fundamentais para o

desenvolvimento de habilidades que irão impactar na sua vida adulta. E por se tratar do

início de sua formação e da sua vida escolar, cuidar da educação infantil é cuidar do futuro

das nossas crianças. Uma das principais ferramentas para essa conquista é o brincar.

Sobre isso, Bonfim (2010) frisa que as atividades lúdicas para as crianças não são

apenas desejos, mas são necessidades ocultas. Já Saura (2014) considera o brincar como

forma de favorecer o movimento; para ela, brincando, a criança conhecerá mais seu corpo,

seus limites, desejos e o mundo em que vive.

Sabemos que com a promulgação da lei das Diretrizes e Bases, Lei nº 9.394/96 a

Educação Física alcançou um grande avanço, pois este documento veio para estabelecer a

obrigatoriedade da disciplina na Educação Básica. Embora saibamos que apesar da

obrigatoriedade a Educação Física ainda tem muito que avançar dentro do ambiente

escolar, pois esta ocupa um importante papel na construção do conhecimento e na

reconstrução da sociedade (BRASIL, 1996).

Entendemos ainda que a EF tem muito a contribuir no processo de formação da

criança, visto que a disciplina tem facilidade de fazer as experiências corporais se

aproximarem diretamente do lúdico, método através do qual o aprendizado parece ter maior

avanço.

28

Para Ayoub (2001) a Educação Física na Educação Infantil pode configurar-se

como um espaço em que a criança brinca com a linguagem corporal, com o corpo, com o

movimento, alfabetizando-se nessa linguagem:

Brincar com a linguagem corporal significa criar situações nas quais a criança

entre em contato com diferentes manifestações da cultura corporal (entendida

como as diferentes práticas corporais elaboradas pelos seres humanos ao

longo da história, cujos significados foram sendo tecidos nos diversos

contextos sócioculturais), sobretudo aquelas relacionadas aos jogos e as

brincadeiras, às ginásticas e às danças, sempre tendo em vista a dimensão

lúdica como elemento essencial para a ação educativa na infância. Ação que

se constrói na relação criança/adulto e criança/criança e que não pode

prescindir da orientação do(a) professor(a).

No que diz respeito à relação professor/aluno (criança), esta necessita ser

constituída de forma gradativa e conjunta entre escola e comunidade, fortalecendo assim, o

trabalho na educação infantil. Sabemos ainda que a criança possui seu tempo de

aprendizagem e é preciso saber respeitá-lo, criando um contexto de ludicidade que seja

atrativo para que essa criança desperte o interesse pelos saberes a serem aprendidos e os

novos desafios que serão propostos.

Apesar de não ter sido um dos objetivos da nossa pesquisa, não podemos deixar de

retratar a falta de discussões que abordem a temática do lúdico sobre fatores

problematizadores de nossa sociedade, como questões voltadas aos preconceitos e aos

estereótipos.

Assim, não basta uma vivência ser lúdica para que contribua com a educação, pois

alguns dos problemas presentes em nossa cultura podem ser reforçados. Exemplificando

essa questão, podemos reproduzir os papéis sociais atribuídos aos homens e as mulheres

através do brincar.

29

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das diferentes abordagens em torno do conceito de lúdico, compreende-se

que ainda há muitas dúvidas para concluir e chegar ao conceito mais apropriado. Uma das

causas dessa dificuldade de percepção pode estar relacionada as palavras ou ao termo

lúdico que são: jogos e brincadeiras.

O lúdico como meio pedagógico está além de ser apenas jogos e brincadeiras, de

garantir divertimento, suas características são bem mais acentuadas como: desenvolver

habilidades motoras e intelectuais, fixar conteúdos de maneira prazerosa e envolvente,

permitindo assim ao educando produzir sua aprendizagem.

Concluindo, este estudo permitiu-nos compreender o quanto o lúdico pode

contribuir na EFI, levando a criança a conhecer, compreender e construir seus próprios

conhecimentos, dando a ela a oportunidade de adquirir diferentes experiências e

habilidades.

Assim, esta pesquisa pode vir a permitir que o educador possa refletir, compreender

e se conscientizar sobre as vantagens do lúdico, fazendo com que ele possa se adequar a

determinadas situações de ensino.

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