universidade federal do rio grande do norte … · se comprovar o dolo dos agentes públicos, pois,...

55
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CAMPUS DE CAICÓ NIEGE MEDEIROS DE FARIA AS IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NA ESFERA JUDICIAL CAICÓ 2015

Upload: dotu

Post on 10-Feb-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

CAMPUS DE CAICÓ

NIEGE MEDEIROS DE FARIA

AS IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA NA ESFERA JUDICIAL

CAICÓ

2015

NIEGE MEDEIROS DE FARIA

AS IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA NA ESFERA JUDICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido e

apresentado ao curso de graduação em Direito da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

exigência parcial para obtenção do título de Bacharel

em Direito.

Orientador: Prof. Winston de Araújo Teixeira.

CAICÓ

2015

NIEGE MEDEIROS DE FARIA

AS IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DA LEI DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA NA ESFERA JUDICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido e

apresentado ao curso de graduação em Direito da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

exigência parcial para obtenção do título de Bacharel

em Direito.

Orientador: Prof. Winston de Araújo Teixeira.

Data de Aprovação: ____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Winston Teixeira de Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________

Prof. Luísa Medeiros Brito

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________

Prof. Saulo de Medeiros Torres

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Dedico este trabalho a minha mãe, Rosa, a

quem eu devo o dom da vida, pois sem ela

sequer existiria, e ao meu pai, Salviano, por

nunca ter medido esforços para proporcionar

uma educação de qualidade e me ajudar a

realizar os meus sonhos.

AGRADECIMENTOS

Registro meus agradecimentos a todos os responsáveis por me auxiliarem, seja de

forma direta ou indireta, a trilhar mais este caminho em minha vida, por meio de incentivo e

de palavras de apoio, fundamentais para que eu concluísse essa pesquisa.

Minha gratidão, primeiramente, a Deus, por nunca ter me abandonado, sempre me

iluminando e me enriquecendo de saúde para enfrentar os momentos mais difíceis da minha

vida.

Agradeço, especialmente, à minha mãe e ao meu pai, por todo o apoio empreendido,

bem como por terem acreditado na minha competência.

Ao meu namorado, que esteve sempre ao meu lado, oferecendo apoio, carinho, amor e

compreendendo as minhas ausências.

À minha tia Gorette e ao meu tio Adelson, por contribuírem de forma fundamental

para a minha educação e formação como ser humano, exercendo papel de segundos pais.

Ao meu professor orientador, Winston, por todo o auxílio prestado nesses últimos

meses, pelas suas orientações precisas e pelas incisivas pontuações, essenciais para a

elaboração deste trabalho.

À 3ª Promotoria de Justiça na Comarca de Caicó/RN e a todos os servidores do Órgão,

por terem facilitado tanto o acesso como a análise dos documentos essenciais para a

construção do estudo de caso, ressaltando, por oportuno, a honra que foi fazer parte desta

instituição, responsável por parcela significativa do meu aprendizado.

Ao corpo docente do curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte – CERES – Campus Caicó, por ter compartilhado seus ensinamentos e sabedoria.

A todos os meus colegas da Turma 2011.1, particularmente, às minhas amigas

Amanda Maia, Mariana Araújo, Mayara Loíse e Rafaela de Castro, pela amizade sedimentada

no decorrer de todo o curso. Valeram a pena os momentos de conversas, discussões e

angústias.

A todos, muito obrigada e um abraço.

RESUMO

A presente monografia objetiva analisar e obter dados a respeito da atuação do Ministério

Público do Rio Grande do Norte frente às demandas de improbidade administrativa e como

ocorre o trâmite dessas ações no Poder Judiciário Brasileiro, buscando verificar se, de fato, a

Lei nº 8.429/92, denominada de “Lei de Improbidade Administrativa”, é um mecanismo

efetivo no combate e repreensão à corrupção. Por meio das pesquisas documentais realizadas

na sede da 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó/RN, aliados aos dados consultados

no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, foi possível

averiguar que, das 09 (nove) ações de improbidade ajuizadas nos últimos 05 (cinco) anos, 04

(quatro) foram julgadas, havendo uma única condenação, confirmando, na prática, a

necessidade de melhor aparelhamento dos órgãos investigatórios e do próprio Judiciário.

Noutro norte, também se observou a necessidade de alteração desse diploma legislativo, a fim

de lhe dar maior efetividade.

PALAVRAS CHAVE: Improbidade Administrativa; Corrupção; Efetividade.

ABSTRACT

This monograph aims to analyze and obtain data about the action of State Prosecution Office

of Rio Grande do Norte against the administrative misconduct demands and how the

processing of these actions occurs in the Brazilian Judiciary, seeking to verify if, in fact, the

No. 8.429/92 Law, called "Administrative Improbity Law" is an effective mechanism to

combat and rebuke corruption. Through the documentary research realized at the headquarters

of the 3rd Prosecutor's Office of the District of Caico/RN, combined with the data found on

the website of the Court of Justice of Rio Grande do Norte State, it was possible to verify that,

in 09 (nine) administrative misconduct actions filed in the last five (05) years, four (04) were

judged, where there were a single condemnation, confirming, in practice, the need for better

equipment of investigative organs and the Judiciary itself. Elsewere, it also was noted the

need of changing this legislation text, in order to give it greater effectiveness.

KEYWORDS: Administrative Misconduct; Corruption; Effectiveness.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Levantamento da quantidade de Ações Civis Públicas judicializadas, nos anos de

2010 a 2014 ............................................................................................................................. 36

Quadro 2 - Detalhes do trâmite processual da demanda de 2010 ........................................... 37

Quadro 3 - Detalhes do trâmite processual das demandas de 2012 ........................................ 38

Quadro 4 - Detalhes do trâmite processual das demandas de 2013 ........................................ 41

Quadro 5 - Detalhes do trâmite processual das demandas de 2014 ........................................ 46

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10

2 NOÇÃO E EVOLUÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO DA IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA ............................................................................................................ 12

3 CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ............ 16

4 A IMPORTÂNCIA DA JUDICIALIZAÇÃO DAS AÇÕES DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA ............................................................................................................ 21

5 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE NO

COMBATE À CORRUPÇÃO ............................................................................................. 29

6 ESTUDO DE CASOS CONCRETOS ............................................................................. 36

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 51

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 53

10

1 INTRODUÇÃO

Na presente monografia será abordada quais as implicações jurídicas produzidas pela

Lei de Improbidade Administrativa (LIA) na seara judicial, no tocante a sua efetividade, isto

é, verificar se o diploma legislativo atingiu o resultado pretendido, qual seja: prevenção e/ou

diminuição considerável dos casos de corrupção. Além disso, também irá ser estudado a

imprescindibilidade da atuação do Ministério Público para concretização desse objetivo legal,

uma vez que ele é o principal legitimado para propor a respectiva Ação Civil Pública ou então

intervir nas demandas como fiscal da lei (art. 17), pois é o responsável por atuar na defesa do

patrimônio público, consoante preconizado na Carta Magna.

A fim de dar maior ênfase no campo prático, será incluído no estudo a desenvoltura da

3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó/RN nas demandas judicializadas pertinente à

temática, tendo em vista que ela, no âmbito de sua jurisdição, é o órgão ministerial

responsável pelas matérias referentes à defesa do patrimônio público e combate à sonegação

fiscal, entre outras atribuições.

Conforme será discutido adiante, há um aumento exponencial de casos de corrupção

ocorrendo em todo o país e, em contrapartida, nota-se, por parte do Parquet, o crescimento de

procedimentos investigatórios, como o Inquérito Civil, e o ajuizamento de ações pertinentes.

Todavia, na prática, a referida instituição acaba encontrando dificuldades para efetivar o

disposto na LIA e no art. 129, inciso III, da Carta Magna, principalmente devido à demora do

trâmite processual, mediante o uso indiscriminado de recursos pelos réus, e à dificuldade de

se comprovar o dolo dos agentes públicos, pois, dos 03 (três) atos de improbidade definidos

pela legislação, apenas um deles, aqueles que causam prejuízo ao erário (art. 10 da LIA),

admitem a modalidade culposa.

Diante do exposto, verifica-se a relevância do tema não só para o âmbito jurídico e

acadêmico, mas também para toda sociedade, já que se tentará esclarecer e aprofundar os

motivos que fazem com que, pelo menos aparentemente, os agentes públicos e particulares em

colaboração saíam impunes das investigações e/ou demandas judiciais instaurados com o

objetivo de combater as atuações ímprobas e efetivar as penas previstas no art. 37, §4º da

Constituição Federal e, esmiuçadas e ampliadas no art. 12 da LIA.

Saliente-se que o objetivo principal do presente estudo é verificar se de fato a Lei nº

8.429/92 cumpre com o objetivo para o qual foi criada, bem como constatar as dificuldades

e/ou empecilhos encontrados pela 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó/RN para

11

concretizar o disposto no mencionado diploma legislativo. Pretende-se também elucidar como

se desenvolve a atuação do mencionado órgão ministerial frente às ações de improbidade

administrativa.

O método científico utilizado na elaboração desse trabalho foi a pesquisa bibliográfica,

documental e jurisprudencial, e, por meio do método dedutivo, se chegou à conclusão

almejada pela presente monografia: a obtenção de dados que demonstrem a (in)efetividade

prática da LIA.

A pesquisa foi embasada pelos seguintes autores: Alexandre Mazza, Alisson Nichel,

Celso Antônio Bandeira de Mello, Fábio Medina Osório, Fabrício Bolzan, Fernanda Marinela

de Souza Santos, Flávia Cristina Moura Andrade, Gustavo Scatolino, Hely Lopes Meirelles,

João Trindade, José dos Santos Carvalho Filho, Lucas dos Santos Pavione, Maria Sylvia

Zanella Di Pietro, Matheus Carvalho e Mauro Roberto Gomes de Mattos.

Este trabalho está dividido em 06 (seis) capítulos, incluindo a presente introdução. Em

seguida, tem-se o segundo capítulo com a apresentação do conceito de improbidade

administrativa, bem como a sua evolução histórica no ordenamento brasileiro nos contextos

constitucionais.

O terceiro capítulo trata sobre as condutas definidas pelo legislador como

caracterizador da improbidade administrativa: os atos que importam em enriquecimento

ilícito, que causam prejuízo ao erário e aqueles que atentam contra os princípios da

Administração Pública. Tal tópico também explicita a necessidade de demonstração de dolo

ou culpa para configuração dos atos ímprobos.

Já o quarto capítulo se refere às especificidades das ações de improbidade

administrativa, ou seja, da judicialização do caso eventualmente investigado, abordando a

composição do rol dos sujeitos processuais e mecanismos procedimentais diferenciados,

como a notificação prévia, além das sanções aplicadas em caso de condenação.

No quinto capítulo é traçado o perfil histórico-institucional do Ministério Público,

destacando-se a importância da atuação extrajudicial e judicial no combate à corrupção, a

partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.

Por fim, no sexto capítulo serão analisados casos concretos de atuação da 3ª

Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó/RN nas ações civis públicas por ato de

improbidade administrativa propostas na 1ª Vara Cível da mesma comarca nos últimos cinco

anos, notadamente os seus aspectos práticos e prazo médio de tramitação.

12

2 NOÇÃO E EVOLUÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO DA IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

A improbidade administrativa pode ser conceituada, de uma maneira geral, como todo

ato ilegal ou que vá de encontro aos princípios basilares da Administração Pública, praticado

por agente público ou terceiro a ele equiparado, durante o exercício de função pública ou

decorrente desta.

Entretanto, convém esclarecer que a improbidade administrativa possui certas

nuances, tendo em vista que diversas vezes o conceito de imoralidade e improbidade acabam

erroneamente se confundindo, pois nem todo ato imoral será considerado necessariamente

ímprobo, podendo se caracterizar como mera irregularidade. Coadunam com tal entendimento

os doutrinadores Gustavo Scatolino e João Trindade1, que assim ensinam:

A improbidade seria mais grave que o desrespeito a moralidade. Os atos de

improbidade são atos violadores do dever de moralidade do agente público que

receberam tratamento especial do ordenamento jurídico, com consequências mais

severas. Reveste-se de uma imoralidade qualificada. A improbidade ocorre quando o

ato fere a moralidade, e a lesão penetra no seu ponto mais sensível. Trata-se de uma

imoralidade com caráter de desonestidade.

Para reforçar ainda mais a distinção entre moralidade administrativa e improbidade,

merece destaque as palavras de Maria Sylvia Zanella Di Pietro2:

[...] quando se fala em improbidade como ato ilícito, como infração sancionada pelo

ordenamento jurídico, deixa de haver sinonímia entre as expressões improbidade e

moralidade, porque aquela tem um sentindo muito mais amplo e muito mais preciso,

que abrange não só os atos desonestos ou imorais, mas também e principalmente

atos ilegais.

Assim, a moralidade administrativa norteia e direciona a atuação dos agentes públicos,

que devem agir, segundo preceitua o aludido princípio, e de acordo com a boa administração,

objetivando o bem comum. Nesse sentido se posiciona Emerson Garcia e Rogério Pacheco

Alves3:

[...] a moralidade torna obrigatório que o móvel do agente e o objetivo visado

estejam em harmonia com o dever de bem administrar. Ainda que os contornos do

1SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, João. Manual de Direito Administrativo. 3. ed. Salvador: jusPODIVM,

2015, p. 145. 2DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 971. 3 GARCIA, E.; ALVES, R. P. Improbidade Administrativa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 137-138.

13

ato estejam superpostos à lei, será ele inválido se resultar de caprichos pessoais do

administrador, afastando-se do dever de bem administrar e da consecução do bem

comum.

A moralidade limita e direciona a atividade administrativa, tornando imperativo que

os atos dos agentes públicos não subjuguem os valores que defluam dos direitos

fundamentais dos administrados, o que permitirá a valorização e o respeito à

dignidade da pessoa humana. Além de restringir o arbítrio, preservando a

manutenção dos valores essenciais a uma sociedade justa e solidária, a moralidade

confere aos administrados o direito subjetivo de exigir do Estado uma eficiência

máxima dos atos administrativos, fazendo que a atividade estatal seja

impreterivelmente direcionada ao bem comum, buscando sempre a melhor solução

para o caso.

De igual modo, pode-se definir a moralidade administrativa como sendo a

correspondência entre os motivos determinantes da conduta administrativa e suas finalidades

concretas, ou seja, deve ocorrer a adequação entre os meios e os fins visando o interesse

público. Além disso, essa expressão diz respeito ao conteúdo ético do trabalho administrativo

(FAZZIO JÚNIOR, 2014, p. 92).

Dessa forma, percebe-se que o conceito de improbidade está intimamente relacionado

à desonestidade, pois decorre da violação não só do princípio da moralidade administrativa,

mas também de todos os outros previstos no caput do art. 37 da Constituição Federal, como a

legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência.

Com relação a evolução no meio jurídico do tema em análise, vale mencionar que

antes da promulgação da Constituição Federal de 1988 já existiam no ordenamento brasileiro

diplomas legislativos preocupados em combater as condutas corruptas dos administradores.

A Carta Magna de 1934 foi a primeira constituição responsável por assegurar aos

cidadãos a legitimidade para anular os atos lesivos ao patrimônio de qualquer um dos entes

federados, conforme previa o seu art. 133, item 38.

Posteriormente, a Constituição Federal de 1946 trouxe à tona as sanções para os casos

de enriquecimento ilícito do agente público, consoante depreende-se da leitura da parte final

do seu art. 141, §31, que assim dispõe “a lei disporá sobre o sequestro e o perdimento de bens,

no caso de enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo ou função pública, ou

de emprego em entidade autárquica”.

Visando dar efetividade ao disposto acima, foi editada a primeira norma

infraconstitucional tratando da temática, a Lei nº 3.164/57, que ficou popularmente conhecida

como Lei Pitombo-Godói Ilha. Tal diploma legislativo foi responsável, entre outras coisas,

por impor a necessidade de registro público dos valores e bens integrantes do patrimônio

privado dos ocupantes de cargos ou função pública da União e autarquias (art. 3º).

14

No ano seguinte, foi sancionada a Lei nº 3.502/58 (Lei Bilac Pinto) com o intuito de

complementar a supracitada Lei nº 3.164/57, que se encarregou de esmiuçar as hipóteses de

enriquecimento ilícito decorrentes do abuso de cargo ou função. Segundo Maria Sylvia

Zanella Di Pietro4, as mais importantes alterações trazidas pela norma ora em comento foram:

a) deixou claro que o sequestro e a perda dos bens são aplicáveis ao servidor público

e ao dirigente ou empregado de autarquia; b) considerou como servidor público

todas as pessoas que exercessem na União, nos Estados, nos Territórios, no Distrito

Federal e nos Municípios, quaisquer cargos, funções ou empregos, civis ou

militares, nos órgãos dos três Poderes do Estado; [...] g) deixou claro que o sequestro

é medida acautelatória que deveria ser seguida da ação principal, cujo objeto era a

perda dos bens sequestrados em favor da pessoa jurídica autora ou litisconsorte,

além do ressarcimento integral de perdas e danos sofridos pela entidade.

Reconhecendo a importância do tema, a constituinte, quando da promulgação da atual

Constituição Federal em 1988, incorporou novamente ao texto constitucional a questão acerca

dos atos de improbidade administrativa (art. 37, §4º), contudo, sem regulamentá-lo, função

esta que coube à legislação infraconstitucional, especificamente a Lei nº 8.429/92, a qual, em

seu art. 25, revogou expressamente os 02 (dois) antigos diplomas citados acima.

Outrossim, a LIA cuidou em ampliar consideravelmente as hipóteses de atos

considerados ímprobos, tendo em vista que nas Constituição passadas e nas 02 (duas)

revogadas leis, sua caracterização limitavam-se às condutas que ocasionassem enriquecimento

ilícito. Também foi a partir da entrada em vigor da LIA que as punições previstas no art. 37,

§4º da Carta Magna de 1988 aos demais atos ímprobos (lesão ao erário e violadores dos

princípios administrativos) puderam finalmente ser aplicadas.

Assim, realizada a presente explanação histórica sobre a evolução da improbidade

administrativa, restou nítida a atenção e importância dada pelo constituinte e, posteriormente,

pelo legislador ordinário, em dar maior ênfase à necessidade de se proteger o patrimônio

público dos mal administradores.

Tal busca pela moralização na Administração Pública ganhou, recentemente, mais um

mecanismo legal, quando da sanção da Lei nº 12.846/03, denominada “Lei Anticorrupção”,

em vigor desde 2014, cuja meta é a “responsabilização objetiva administrativa e civil de

pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira”

(art. 1º).

4DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, op. cit., p. 973.

15

Discorrendo acerca desse novíssimo diploma legislativo, o advogado Alisson Nichel5

declarou em artigo que a principal inovação trazida por ele consistira no fato de que as

punições aos atos de corrupção também se estenderiam às pessoas jurídicas, ou seja, as

sanções não mais se restringiriam à pessoa do agente público ou privado que

praticar/participar do ato ilegal, como ocorre na LIA. Outra diferença apontada pelo

supramencionado autor em comparação com a LIA ocorre no tocante ao principal alvo da

Lei nº 12.846/03, cujo objetivo é a responsabilização dos corruptores, deixando em segundo

plano os agentes públicos corrompidos.

5NICHEL, Alisson. Afinal, o que muda com a lei anticorrupção. Jornal Gazeta do Povo, [S.I] ago. 2014.

Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-direito/artigos/afinal-o-que-muda-com-

a-lei-anticorrupcao-ebsr7q3gxnqgt3obf560wxzri>. Acesso em: 27 out. 2015.

16

3 CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Os atos de improbidade administrativa, segundo classificação prevista na própria Lei

nº 8.429/92, enquadram-se em 03 (três) modalidades, quais sejam: os atos que importam em

enriquecimento ilícito, os que ocasionam prejuízo ao erário e, por fim, os violadores dos

princípios da Administração Pública.

Preliminarmente, é importante mencionar que o rol trazido nos arts. 9º, 10 e 11 da LIA

são meramente exemplificativos, conforme já pacificado na doutrina, tendo em vista que a

expressão “notadamente” trazida no caput de cada um desses dispositivos deixa bastante

explícito tal característica. Dessa forma, basta que a conduta praticada pelo sujeito ativo do

ato se encaixe no elemento nuclear dos tipos para restar caracterizado o ato ímprobo.

Nesse diapasão, os doutrinadores Gustavo Scatolino e João Trindade6 esclarecem de

forma sucinta que “a enumeração dos atos, nos artigos 9º, 10 e 11 é apenas exemplificativa. É

possível o ato ilícito praticado não estar expresso nos referidos artigos, mas, ainda sim, o

agente ser enquadrado na Lei de Improbidade”.

Seguindo a sequência prevista na Lei nº 8.429/92, os atos de improbidade que

importam em enriquecimento ilícito são aqueles em que o agente aufere algum tipo de

vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa

incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja

concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual,

bem como aquelas que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de

órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou

concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual (art. 1º).

Logo, da leitura do supramencionado dispositivo, percebe-se que o conceito de

Administração Pública previsto na LIA abarca todas as pessoas jurídicas cujo capital social é

composto também por dinheiro público, abrangendo a administração direta e indireta de

qualquer dos poderes, em todos os níveis. Em síntese, as pessoas jurídicas atingidas por atos

de improbidade e, consequentemente, que passam a deter a legitimidade subjetiva ativa da

respectiva ação são os entes federativos, os órgãos administrativos centrais em todas as

esferas, as entidades da Administração indireta, órgãos dos parlamentos, dos judiciários, do

6SCATOLINO, Gustavo; TRINDADE, op. cit., p. 760.

17

Ministério Público tanto no âmbito estadual, quanto federal; dos tribunais de contas de todos

os níveis, empresas incorporadas e/ou dependentes do controle do Poder Público e, por fim,

pelas entidades privadas que gerem qualquer espécie de verbas provenientes de incentivos

públicos (FAZZIO JÚNIOR, 2014, p. 25).

Dessa forma, recairá nessa espécie de improbidade prevista no art. 9º da referida

norma todo aquele que:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer

outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,

gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,

permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas

entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,

permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal

por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores

públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para

tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de

contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de

tal vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer

declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro

serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de

mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º

desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à

evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou

assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de

verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para

omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou

valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta

lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Assim, da leitura atenta do supracitado dispositivo legal, percebe-se que o cerne para

configuração do ato de enriquecimento ilícito, na hipótese ora discutida, é justamente a

obtenção de vantagem econômica nas suas mais variadas formas.

18

Em seguida, prevê a norma aqui debatida os atos que ocasionam prejuízo ao erário

serão qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades, consoante

assegura o seu art. 10, substancialmente quando o agente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou

regulamentares aplicáveis à espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que

de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das

formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do

patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a

prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por

preço superior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e

regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das

formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para

celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los

indevidamente;

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou

regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz

respeito à conservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir

de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,

equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de

servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

XIV - celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de

serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades

previstas na lei;

XV - celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia

dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei;

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio

particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos

transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de

parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à

espécie;

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,

rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a

entidade privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das

formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a

observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

19

XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da

administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;

XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;

XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com

entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de

qualquer forma para a sua aplicação irregular.

Por fim, o art. 11 da LIA também dispõe que se caracteriza como improbidade

administrativa todo ato que atenta contra os princípios da Administração Pública, ou qualquer

ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade

às instituições, notoriamente quando o agente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que

deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da

respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o

preço de mercadoria, bem ou serviço.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na

legislação.

Então, constata-se que essas 03 (três) modalidades de atos ímprobos possuem um

escalonamento de gravidade, pois variam dentre as condutas mais gravosas para a sociedade

(art. 9º), até as mais brandas, mas não menos importantes, como os atos que atentam contra os

princípios administrativos (art. 11). Tal gradação pode ser verificada nas sanções que são

estipuladas para cada um desses atos, as quais serão posteriormente discutidas.

Saliente-se ainda que, da análise das hipóteses elencadas nos supracitados dispositivos,

é nítida a preocupação do legislador em configurar como ato ímprobo aqueles que diretamente

confrontam o dever de probidade, que deve predominar na Administração Pública.

Evidenciando tal percepção, o doutrinador Hely Lopes Meirelles7 ensina que:

O dever de probidade está constitucionalmente integrado na conduta do

administrador público como elemento necessário à legitimidade de seus atos. O

velho e esquecido conceito romano do probus e do improbus administrador público

está presente na nossa legislação administrativa, como também na Constituição da

7MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 97.

20

República que pune a improbidade na Administração, com sanções políticas,

administrativas e penais [...].

Portanto, caso a conduta realizada pelo sujeito ativo acabe se enquadrando

simultaneamente em todos os tipos, ou seja, se a mesma conduta transgredir mais de uma

espécie de improbidade administrativa, deverá ser aplicadas as sanções previstas para a

infração mais grave8.

Para caracterização desses atos, é preciso que seja comprovado o dolo ou a culpa do

agente público, uma vez que a LIA adotou a responsabilidade subjetiva. Contudo, os atos que

importam em prejuízo ao Erário admitem a modalidade culposa. Esclarecendo o assunto, o

doutrinador Alexandre Mazza9 afirma que:

É ponto pacífico na doutrina e jurisprudência que não há responsabilidade objetiva

na Lei de Improbidade (STJ: Resp 414.697). [...] Atos de improbidade que importam

enriquecimento ilícito do agente (art. 9º) e os que atentam contra princípios da

Administração (art. 11) só podem ocorrer diante de condutas dolosas. Porém, os atos

de improbidade que causam lesão ao erário (art. 10) admitem forma culposa ou

dolosa. Segundo o STJ, a conduta culposa ocorre quando o agente não pretende

atingir o resultado danoso, mas atua com negligência, imprudência ou imperícia

(Resp 1.127.143). [...] Portanto, se a conduta do agente não foi maliciosa,

intencional ou de má-fé, falta-lhe o elemento subjetivo imprescindível para

caracterização da improbidade que causa enriquecimento ilícito ou atentatória contra

princípios da Administração.

Como se percebe, o elemento subjetivo das condutas descritas nos arts. 9º e 11 acima

transcritos restringem-se ao dolo; neles, a culpa não se compadece com a fisionomia do tipo.

Em miúdos, não se pode dizer que o agente público receba vantagem indevida ou viole um

princípio por imprudência, imperícia e negligência. Contudo, entendeu o legislador quando a

conduta do servidor resultar unicamente um comprovado prejuízo ao erário, aí sim, não

importará se agiu com dolo ou culpa para caracterização do ato ímprobo.

8ANDRADE, Flávia Cristina Moura; PAVIONE, Lucas dos Santos. Improbidade Administrativa. Salvador:

JusPODIVM, 2010, p. 167. 9MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 617-618.

21

4 A IMPORTÂNCIA DA JUDICIALIZAÇÃO DAS AÇÕES DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA

As ações de improbidade administrativa possuem natureza civil, uma vez que no seu

processamento será utilizada, subsidiariamente, e naquilo que não for conflitante, a Lei nº

7.347/85, pois os dispositivos da LIA são mais específicos e tratam apenas das peculiaridades

que devem constar nas respectivas ações.

O doutrinador José dos Santos Carvalho Filho10 conceitua essa ação da seguinte

maneira:

É aquela em que se pretende o reconhecimento judicial de condutas de improbidade

na Administração perpetradas por administradores públicos e terceiros, e a

consequente aplicação das sanções legais, com escopo de preservar o princípio da

moralidade administrativa.

Diante disso, será o sujeito passivo na ação judicial exatamente o sujeito ativo do ato

de improbidade administrativa, que, segundo a própria Lei nº 8.429/92, é o agente público que

exerce, ainda que transitoriamente com ou sem remuneração, por eleição, nomeação,

designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,

emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior (art. 2º). Ainda poderá

figurar no polo passivo da demanda o particular que, mesmo não sendo agente público, induza

ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma

direta ou indireta (art. 3º).

Então, da análise dos dispositivos acima citados, percebe-se que rol dos sujeitos que

podem figurar no polo passivo da demanda é muito amplo, pois envolve os agentes públicos,

independentemente do vínculo que possuam com a Administração Pública, além de incluir

qualquer particular beneficiado. Celso Antônio Bandeira de Mello11 ensina que a LIA adotou

o conceito genérico de agentes públicos, a saber:

Esta expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode conceber para

designar genérica e indistintamente os sujeitos que servem ao Poder Público como

instrumentos expressivos de sua vontade ou de sua ação, ainda quando o façam

apenas ocasional ou episodicamente.

10CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: L. Juris,

2010, p. 1166. 11MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010, p.

244.

22

Ademais, tratando sobre o sujeito ativo do ato de improbidade administrativa, dispõe

Waldo Fazzio Júnior12:

Nessa conceituação do sujeito ativo de ato de improbidade administrativa, réu no

respectivo processo, o legislador desconsidera expressamente o tempo de exercício,

a modalidade remuneratória e a natureza do vínculo.

A integração dos textos dos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.429/92 produz um conceito de

agente público que não se ajusta à grande parte da doutrina administrativa, ao

envolver partícipes de entidades privadas em que há participação de recursos

públicos.

Sintetizando tal entendimento, fica perfeitamente claro que pode ser réu em ação de

improbidade, qualquer pessoa, desde que capaz, vinculada de qualquer modo à Administração

Pública, em caráter permanente ou temporário, com ou sem remuneração, podendo ter sido

nomeada, designada, comissionada, eleita ou contratada, para exercício em algumas das

pessoas jurídicas previstas no art. 1º e seu parágrafo da LIA (FAZZIO JÚNIOR, 2014. p. 49).

Objetivando sanar qualquer dúvida sobre o enquadramento de terceiros como réus na

ação de improbidade, Flávia Cristina e Lucas dos Santos13 exemplificam as hipóteses de

ocorrência da seguinte forma:

Atuação de Terceiro: examinemos a atuação do terceiro no cometimento de ato de

improbidade administrativa:

Indução para a prática do ato: neste caso, o terceiro incita o agente à prática do ato

de improbidade, entendendo-se como um suporte moral ou psicológico dado. Não

importa se o terceiro tenha logrado algum proveito, econômico ou não, com sua

conduta.

Concorrência para a prática do ato: o ato de concorrência é mais amplo, e

geralmente implica numa ação do terceiro, consubstanciado no fornecimento de

alguma prestação material ou qualquer outra modalidade de auxílio, não importando,

também nesse caso, se o terceiro auferirá algum benefício com o ato de

improbidade.

Lograr Proveito com o Ato: ainda que o terceiro não participe diretamente da prática

do ato de improbidade, ainda assim será responsabilizado caso se beneficie, direta

ou indiretamente do mesmo. O proveito aqui referido deve ser considerado de

maneira ampla, não se restringindo ao seu aspecto econômico.

Contudo, esclareça-se que a imputação das sanções previstas na Lei de Improbidade

Administrativa aos particulares somente é cabível quando haja ato de improbidade praticado

por agente público, ao qual adere por indução, concorrência ou mediante a percepção dos

frutos que sabe serem decorrentes do ilícito qualificado. Significa dizer que não é possível

responsabilizar o terceiro particular quando não há um agente público no caso concreto. Tal

12 FAZZIO JÚNIOR, W. Improbidade Administrativa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 48-49. 13ANDRADE, Flávia Cristina Moura; PAVIONE, Lucas dos Santos, op. cit., p. 44-45.

23

entendimento, inclusive, já se encontra consolidado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a

saber:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO

DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PROPOSTA APENAS CONTRA

PARTICULAR. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. AUSÊNCIA DE

AGENTE PÚBLICO NO POLO PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO

NÃO PROVIDO. PRECEDENTES.

I - A abrangência do conceito de agente público estabelecido pela Lei de

Improbidade Administrativa encontra-se em perfeita sintonia com o construído pela

doutrina e jurisprudência, estando em conformidade com o art. 37 da Constituição

da República.

II - Nos termos da Lei n. 8.429/92, podem responder pela prática de ato de

improbidade administrativa o agente público (arts. 1º e 2º), ou terceiro que induza ou

concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer

forma direta ou indireta (art. 3º).

III - A responsabilização pela prática de ato de improbidade pode alcançar terceiro

ou particular, que não seja agente público, apenas em três hipóteses: a) quando tenha

induzido o agente público a praticar o ato ímprobo; b) quando haja concorrido com o

agente público para a prática do ato ímprobo; ou c) tenha se beneficiado com o ato

ímprobo praticado pelo agente público.

IV - Inviável a propositura de ação de improbidade administrativa contra o

particular, sem a presença de um agente público no polo passivo, o que não

impede eventual responsabilização penal ou ressarcimento ao Erário, pelas vias

adequadas. Precedentes.

V - Recurso especial improvido. (REsp 1405748/RJ, Rel. Ministra MARGA

TESSLER (JUÍZA FEDERAL CONVOCADA DO TRF 4ª REGIÃO), Rel. p/

Acórdão Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em

21/05/2015, DJe 17/08/2015, grifo nosso)14.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LITISCONSÓRCIO

PASSIVO. AUSÊNCIA DE INCLUSÃO DE AGENTE PÚBLICO NO PÓLO

PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE DE APENAS O PARTICULAR RESPONDER

PELO ATO ÍMPROBO. PRECEDENTES.

1. Os particulares que induzam, concorram, ou se beneficiem de improbidade

administrativa estão sujeitos aos ditames da Lei nº 8.429/1992, não sendo, portanto,

o conceito de sujeito ativo do ato de improbidade restrito aos agentes públicos

(inteligência do art. 3º da LIA).

2. Inviável, contudo, o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente e

apenas contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no

polo passivo da demanda.

3. Recursos especiais improvidos. (REsp 1171017/PA, Rel. Ministro SÉRGIO

KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/02/2014, DJe 06/03/2014, grifo

nosso)15.

14BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1405748/RJ. Data da Publicação: 17 ago. 2015.

Necessidade da presença de agente público para responsabilização por improbidade administrativa. Disponível

em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/103635164/stj-06-11-2015-pg-2828-2829>. Acesso em: 09 nov. 2015. 15BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1171017/PA. Data da Publicação: 06 mar. 2014.

Inviabilidade de propositura de ação civil pública por improbidade administrativa apenas em desfavor de

particular. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24973962/recurso-especial-resp-1171017-

pa-2009-0242733-1-stj/inteiro-teor-24973963>. Acesso em: 09 nov. 2015.

24

Em contrapartida, o rol dos sujeitos ativos é bastante restrito porque a legitimidade

para propor recai apenas ao Ministério Público ou a pessoa jurídica interessada, de acordo

com o art. 17 da LIA. Explicando com maestria sobre a última pessoa citada, tem-se o

ensinamento de Waldo Fazzio Júnior16:

A LIA utiliza, no seu art. 17, caput, a expressão “pessoa jurídica interessada” para

designar um dos legitimados à propositura da ação civil pública de improbidade. É o

sujeito passivo do ato de improbidade, aquela contra quem foi praticado, a que foi

lesionada no seu patrimônio ou na sua integridade como ente administrativo, por

conduta ímproba de agentes públicos e terceiros.

Em outras palavras, sujeito passivo imediato do ato de improbidade administrativa é

a pessoa jurídica interessada que, sob o aspecto processual, tem legitimação

concorrente para acionar o agente público que, ao seu serviço, infringiu as normas

ético-jurídicas da probidade.

Destaque-se ainda, que quando o autor for o Parquet, a entidade jurídica prejudicada

deverá ser intimada para, caso queira, atuar como litisconsorte ativo (§3º). Por outro lado

quando o autor for a própria pessoa jurídica lesada, o órgão ministerial atuará como fiscal da

lei, sob pena de nulidade (§4º). Nesse ponto, mostra-se incontroverso a importância do órgão

ministerial no combate à corrupção, tendo em vista que ele será o principal executor da ação

de improbidade administrativa, que configura, nos dias atuais, como um dos principais meios

para obtenção de tal objetivo.

Apesar de tal ação seguir o rito ordinário, o art. 17 da LIA prevê uma série de

peculiaridades. A fundamental delas acontece quando a ação é recebida no foro competente,

pois, se isso ocorrer, deverá ser notificado o acusado para, no prazo de 15 (quinze) dias,

apresentar defesa prévia, conforme o §7º do dispositivo em análise. Segundo o autor Matheus

Carvalho17, a função desse mecanismo é oportunizar ao acusado “convencer o juiz a indeferir

a petição inicial de plano, considerando a inadequação da via eleita”. Mencionada notificação

ocorre em momento anterior à decisão de deferimento ou não da peça exordial pelo autor,

visando oportunizar ainda mais o direito à ampla defesa e ao contraditório.

Portanto, após a apresentação da defesa prévia por parte do acusado, se o magistrado

decidir sobre a adequação da ação proposta, confirmará o recebimento da petição inicial, e,

consequentemente, ordenará a citação do Réu, com fulcro no §9º do art. 17 da LIA. Ressalta-

se que, a partir desse ponto, a ação seguirá normalmente o rito ordinário, uma vez que o

sujeito passivo tomará ciência da demanda.

16 FAZZIO JÚNIOR, W., op. cit., p. 26. 17CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Administrativo. 2. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015, p. 962.

25

Nessa fase judicial, ocorre outra singularidade, pois da decisão que receber a peça

pórtica caberá agravo de instrumento (§10). De acordo com o doutrinador Matheus Carvalho18

“isso é uma peculiaridade da ação de improbidade, haja vista o fato de que nas ações

ordinárias não há previsão de recurso em face do recebimento da petição inicial, considerada

como mero despacho”. Em que pese não haja previsão legislativa expressa, no caso de

indeferimento da inicial o recurso cabível é o de apelação, consoante consolidado na doutrina

e jurisprudência.

Por fim, convém mencionar que o STJ possui o entendimento de que para inicial

acusatória de improbidade ser recebida é preciso apenas que o autor demonstre meros indícios

da prática do ato ímprobo, uma vez que nessa etapa deve predominar o princípio do in dubio

pro societate. Seguem abaixo os julgados que confirmam tanto o posicionamento do STJ,

bem como de outros tribunais pátrios:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. POSSÍVEL PROMOÇÃO PESSOAL EM

PROPAGANDA OFICIAL. INDÍCIOS SUFICIENTES PARA O RECEBIMENTO

DA PETIÇÃO INICIAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO

SOCIETATE. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO E PROBATÓRIO NO

CASO EM CONCRETO. INOCORRÊNCIA. CONCLUSÃO ALCANÇADA A

PARTIR DOS FUNDAMENTOS UTILIZADOS NO ACÓRDÃO RECORRIDO.

OCORRÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DOS DISPOSITIVOS TIDO

COMO VIOLADOS.

1. De acordo com a orientação jurisprudencial deste Sodalício, existindo meros

indícios de cometimento de atos enquadrados na Lei de Improbidade

Administrativa, a petição inicial deve ser recebida, fundamentadamente, pois,

na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e 9º, da Lei n. 8.429/92, vale o

princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do

interesse público. Precedentes. 2. No caso em tela, a análise dos fundamentos expostos no acórdão recorrido - sem

que com isso seja necessário realizar o revolvimento do conjunto fático e probatório

constante dos autos - há indícios de prática de ato de improbidade, tendo em vista

que a promoção pessoal em informes publicitários oficiais é conduta que pode ser

enquadrável nos ditames da Lei nº 8.429/92, não havendo, assim, que se falar na

ausência de justa causa para o processamento da demanda.

3. Além disso, observa-se ser por demais prematura a extinção do processo com

julgamento de mérito, tendo em vista que nesta fase da demanda, a relação jurídica

sequer foi formada, não havendo, portanto, elementos suficientes para um juízo

conclusivo acerca da demanda.

4. Não houve o revolvimento de provas e fatos - o que é vedado na via recursal

eleita a teor da Súmula 7/STJ - tendo em vista que, no caso em concreto, a

circunstância quanto à existência de indícios de prática de ato qualificado por

improbidade administrativa fora retirada do próprio acórdão, quando afirmou que a

parte ora agravante - agente público do Município de Vitória/ES - inseriu seu nome

no informe publicitário veiculado para estimular o contribuinte a pagar em dia o

IPTU.

5. Além disso, não há que se falar em falta de prequestionamento dos dispositivos

tidos como violados nas razões do recurso especial - art. 17, §§ 8º e 9º da Lei nº

18CARVALHO, Matheus, op. cit., p. 963.

26

8.429/92 - tendo em vista que houve manifestação expressa a respeito dos mesmos

no acórdão recorrido. Inviabilidade, assim, de aplicar as Súmulas 282 e 356, do

Supremo Tribunal Federal.

6. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Relator: Ministro MAURO

CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 07/03/2013, T2 - SEGUNDA

TURMA, grifo nosso)19.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AJUIZADA PELO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. VERBAS FEDERAIS SUJEITAS À

PRESTAÇÃO DE CONTAS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INDÍCIOS SUFICIENTES DA

EXISTÊNCIA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

RECEBIMENTO DA INICIAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN DUBIO

PRO SOCIETATE. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. A presença do Ministério Público Federal, órgão da União, na relação jurídica

processual como autor faz competente a Justiça Federal para o processo e

julgamento da ação (competência ratione personae), consoante o art. 109, inc. 1, da

Constituição Federal/88. (Precedente do STJ).

2. A verba utilizada pelo município no caso em tela é oriunda da União, estando

sujeita à prestação de contas perante órgão à ela pertencente, legitimando a atuação

do MPF, fato que corrobora a necessidade de processamento do feito perante a

Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, CF/88 e da Súmula 208 do Superior

Tribunal de Justiça.

3. A decisão que recebe a inicial da ação civil pública de improbidade administrativa

está condicionada apenas à existência de indícios suficientes da prática de ato de

improbidade (art. 17, § 6º, da Lei 8.429/92), não comportando a análise do mérito

em sua inteireza.

4. Constatada a presença de indícios mínimos da participação do agravante, na

qualidade de chefe do gabinete da Prefeitura do Município de Ilhéus/BA, que teria

se beneficiado de simulação societária para burlar procedimento licitatório, o qual

pode ter ensejado violação aos princípios da Administração Pública, deve ser

recebida a inicial, nos termos do art. 17, § 9º, da Lei 8.429/92.

5. Agravo de instrumento não provido. Embargos de declaração prejudicados. (TRF-

1 - AG: 705933520134010000, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL

MONICA SIFUENTES, Data de Julgamento: 02/12/2014, TERCEIRA TURMA,

Data de Publicação: 12/12/2014)20.

Observa-se que o referido entendimento jurisprudencial está em consonância com o

disposto no §6º do art. 17 da LIA, uma vez que exige a instrução da ação com documentos ou

justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade. Para

Flávia Cristina e Lucas dos Santos21 “o dispositivo não exige prova pré-constituída, que se

comprove cabalmente o ato de improbidade, contentando-se o legislador com a existência de

indícios suficientes para firmar a convicção do magistrado [...]”.

19BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1317653 SP (2011/0273537-2). Data da Publicação:

07 mar. 2013. Aplicação do princípio do in dúbio pro societate na fase de recebimento da inicial de improbidade

administrativa. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23082034/agravo-regimental-no-

recurso-especial-agrg-no-resp-1317653-sp-2011-0273537-2-stj>. Acesso em: 19 set. 2015. 20BRASÍLIA. Tribunal Regional Federal (1ª Região). AG 105665220144010000. Data da Publicação: 22 nov.

2014. Prevalência do princípio in dubio pro societate na fase de recebimento de ação de improbidade.

Disponível em: <http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/164680436/agravo-de-instrumento-ag-

105665220144010000>. Acesso em: 19 set. 2015. 21ANDRADE, Flávia Cristina Moura; PAVIONE, Lucas dos Santos, op. cit., p. 217.

27

Diante do exposto, verifica-se a importância da judicialização dos casos que envolvam

improbidade administrativa como forma de coibir e/ou repreender as práticas desonestas dos

agentes públicos, pois elas possuem especificidades essenciais para tramitação de uma

demanda tão complexa, bem como punir aqueles que, de alguma forma, surrupiaram o erário

público.

Sobre as sanções, o art. 37, §4º da Constituição Federal dispõe “os atos de

improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário [...]”.

Constata-se, a partir desse dispositivo, que há o mínimo de 04 (quatro) consequências

no caso de cometimento de um ato de improbidade. Por sua vez, o art. 12 da norma

infraconstitucional ora em análise ampliou o rol estabelecido na Carta Magna, instituindo

como forma punitiva o pagamento de multa civil e proibição de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, bem como estabeleceu a

gradação para cada modalidade de ato ímprobo.

Segundo os juristas Fernanda Marinela e Fabrício Bolzan22, a natureza jurídica dessas

sanções se enquadra em um novo ramo do ordenamento jurídico, denominado “Direito

Sancionador Judicial”. Em sua obra, ensinam que:

Ele se situa entre o Direito penal e o Direito administrativo (em outras palavras: está

fora do Direito penal e do Direito administrativo, mantendo com eles apenas alguns

pontos de interconexão). Distingue-se do Direito penal porque não se permite a

aplicação de penas privativas de liberdade; de outro lado, suas sanções não

produzem o efeito secundário típicos das sanções penais (antecedentes criminais,

reincidência etc). Também não se situa na linha do Direito administrativo porque é

aplicado pelo juiz e não por uma autoridade administrativa.

As penalidades previstas na lei de improbidade administrativa ficaram regulamentadas

da seguinte forma:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na

legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a

gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao

patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até

três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

22SANTOS, Fernanda Marinela de Souza (Org.); BOLZAN, Fabrício (Org.). Leituras Complementares de

Direito Administrativo. 2. ed. Salvador: JusPODIVM, 2010, p. 16-17.

28

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores

acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da

função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de

multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da

função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de

multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e

proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. (grifo nosso)

Assim, da leitura do caput do supramencionado dispositivo, restou nítido que a

aplicação dessas penas ocorrerá por meio da via judicial, uma vez que cabe ao magistrado

definir quais as sanções irão ser aplicadas no caso concreto, de acordo com a extensão do

dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente (parágrafo único).

Esmiuçando esse entendimento, Matheus Carvalho23 esclarece que:

É interessante ressaltar que, em julgado recente, o Superior Tribunal de Justiça,

passou a entender que a aplicação de todas as penalidades, decorrentes do ato de

improbidade e previstas no art. 12 da lei 8.429/92, podem ser aplicadas,

independentemente, do pedido explícito pelo autor da ação. In casu, não se estaria

diante de sentença extra petita uma vez que todas as sanções previstas em lei são

pedidos implícitos da ação de improbidade.

Logo, caso o Ministério Público proponha a ação de improbidade e não inclua entre

seus pedidos expressos a aplicação de multa, por exemplo, tal sanção poderá, ainda

assim, ser aplicadas, se o juiz entender cabível, diante da gravidade da infração

praticada.

No mesmo sentido, Gustavo Scatolino e João Trindade24 discorrem que “[...] caberá ao

Poder Judiciário, com a autonomia que lhe é atribuída, decidir quais sanções serão aplicadas

em cada caso, dentro dos limites definidos pela lei”.

Portanto, como bem destacado pelos doutrinadores, verifica-se que o entendimento da

Corte Superior (STJ) é no sentido de que o juiz não está vinculado aos pedidos da exordial de

improbidade administrativa, ou seja, o magistrado que julgar os fatos poderá aplicar qualquer

uma das sanções previstas no art. 12 da LIA, mesmo que não expresso na inicial.

23CARVALHO, Matheus. op. cit., p. 964. 24SCATOLINO, Gustavo; TRINTADE, João. op. cit., p. 748.

29

5 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE NO

COMBATE À CORRUPÇÃO

Após a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, o Ministério Público

passou a ter maior independência de atuação, tendo em vista que foi prevista a sua autonomia

funcional e administrativa, conforme §§ 1º e 2º do art. 127 da CF. Assim, deixou de ser

vinculado aos outros Poderes da República, já que a Carta Magna de 1967, em seu art. 138,

§2º, instituía que seria o Parquet responsável por representar a União em juízo, isso fazia com

que ficasse estritamente relacionado com a persecução dos interesses do Poder Executivo.

Ademais, a atual Carta Magna foi a responsável por outorgar ao órgão ministerial a

independência e autonomia para exercer de forma eficaz, as suas funções previstas no caput

do art. 127: “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do

Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis” (grifo nosso).

Dessa forma, ficou o Ministério Público encarregado de tutelar, entre outras coisas, o

patrimônio público e, consequentemente, a moralidade administrativa, conforme preceitua o

art. 129, inciso III da CF, ipsis litteris: “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para

a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos”. Por conseguinte, o Parquet acabou assumindo um relevante papel de supervisão

da Administração Pública, uma vez que está diretamente relacionada à ideia de patrimônio

público.

Dessa maneira, acaba atuando tanto na esfera judicial, quanto na extrajudicial, já que é

o responsável pela instauração de procedimentos investigatórios, bem como propõe as ações

civis públicas. Então, quando o Parquet atua com base na Lei nº 8.429/92, está objetivando

atender aos interesses difusos e coletivos, e, portanto, funciona como legitimado

extraordinário, pois postula em nome próprio o direito de toda a coletividade (alheio),

configurando a substituição processual. Logo, contra as condutas ímprobas devidamente

constatadas, poderá se utilizar da ação de improbidade prevista na supramencionada lei.

A partir dessa explanação, vale destacar ainda que, no âmbito da Comarca de

Caicó/RN, cabe à 3ª Promotoria de Justiça o papel de combate à corrupção, tendo em vista

que está encarregada, dentre outras matérias, da defesa do patrimônio público e do controle

dos atos da Administração Pública que importem em improbidade administrativa, conforme

30

art. 1º, inciso III, da Resolução nº 004/2009 do Colégio de Procuradores de Justiça (CPJ) do

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN), que dispõe:

Art. 1º Os Promotores de Justiça da Comarca de Caicó, de 3ª entrância, exercerão

suas atribuições da seguinte forma:

[...]

III - O 3º PROMOTOR DE JUSTIÇA, perante a 1ª Vara Cível e de forma

cumulativa, judicial e extrajudicialmente, com atribuições cíveis, para o combate à

Sonegação Fiscal; defesa do Patrimônio Público e controle dos atos da

Administração Pública que importem em improbidade administrativa; tutela de

Fundações e Entidades de Interesse Social; defesa do Meio Ambiente, Urbanismo,

bens de interesse histórico, artístico, cultural, turístico e paisagístico; e defesa da

Cidadania.

Portanto, na persecução de tal objetivo, a referida unidade ministerial atua em 02

(duas) vertentes, sendo a primeira delas na esfera extrajudicial, por meio de diversos

mecanismos, dentre eles, alguns tipos de procedimentos instituídos na Lei Orgânica Nacional

(Lei nº 8.625/93). No âmbito do MPRN, o órgão ministerial dispõe dos seguintes

procedimentos: Notícias de Fato (NF), Procedimentos Preparatórios (PP), Inquéritos Civis

(IC). Tais procedimentos servem para apurar fatos que possam autorizar a tutela de interesses

ou direitos a cargo do Ministério Público, além de servir para a coleta de elementos

probatórios, que irão nortear a sua atuação.

A Resolução nº 002/2008 do CPJ é a utilizada pelo MPRN para regulamentar à

instauração e tramitação desses procedimentos, em especial o IC e o PP. De acordo com essa

norma, o Parquet optará pelo segundo procedimento, quando os elementos iniciais existentes

não forem suficientes para instauração direta de um inquérito civil (art. 2º).

Assim, na teoria, a regra é que sejam instaurados Inquéritos Civis para viabilizar as

investigações. Entretanto, na prática, em virtude do princípio da celeridade processual e da

instrumentalidade das formas, se for verificado que na denúncia ou representação existam

documentos que atestem a materialidade de indícios de irregularidades, poderá ser instaurado

qualquer um desses dois citados procedimentos administrativos, ficando a escolha à critério

do Promotor de Justiça.

No caso do órgão de execução do MPRN perceber que o tempo provável para a

colheita de informações e solução seja mais demorado devido à complexidade do caso será

instaurado de plano um IC, pois o art. 29 da mencionada Resolução estabelece o prazo

máximo de duração de 01 (um) ano, prorrogável pelo mesmo período, por até 03 (três) vezes,

mediante decisão fundamentada.

31

Em contrapartida, se ficar nítido que o tempo para colher os elementos probatórios

será mais célere, devido à baixa complexidade do caso, bem como de uma fácil resolução do

problema, optará pela instauração de um PP, porque de acordo com o art. 30 da mesma

resolução, o seu prazo é de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual prazo, uma única vez, em

caso de motivo justificável.

Recentemente, por meio da Resolução nº 015/2014, o CPJ alterou a já citada

Resolução nº 002/2008 para nela inserir a instauração e tramitação da Notícia de Fato. Tal

procedimento será escolhido se a representação ou denúncia feita não dispuser de documentos

contundentes, já que o prazo dela é bem menor que o do PP e IC, sendo de 30 (trinta) dias,

prorrogável uma única vez por igual período (art. 3º, §1º). Caso esse prazo seja esgotado e for

verificada a necessidade de maiores diligências e/ou investigações, poderá ser instaurado o

procedimento preparatório ou inquérito civil em seu lugar, conforme art. 5º, incisos IV e V da

supracitada Resolução. Vale aqui destacar que, antes mesmo da edição desse ato normativo,

tal instrumento sempre foi utilizado pelo Parquet estadual, de modo que buscou o CPJ

regularizar um hábito já praticado pelos seus membros.

Partindo para o campo prático, nessas atuações extrajudiciais, via de regra, se for

verificado forte indício de cometimento de um ato ímprobo, a 3ª Promotoria de Caicó/RN,

antes de entrar com a ação de improbidade administrativa, emite um Recomendação para

tentar convencer o agente público a cessar a irregularidade identificada. Restando ele inerte,

não haverá dúvidas quanto ao dolo da conduta desse agente, facilitando sua comprovação na

via judicial.

Desse modo, percebe-se que a intervenção judicial por parte do MPRN, em geral, está

condicionada às suas atuações em procedimentos investigatórios, uma vez que só utilizará da

ação de improbidade quando tiver colecionado as provas necessárias, bem como caracterizado

o dolo do agente.

No entanto, em que pese exista clara essencialidade do Parquet nos casos envolvendo

patrimônio público, não pode ele sozinho combater os atos ímprobos, pois isso exige, além de

uma atuação contundente, um processamento célere e prudente dessas demandas no Poder

Judiciário Brasileiro, para que consiga obstar a reincidência dessa espécie de corrupção, sem,

contudo desrespeitar as garantias constitucionais como a presunção de inocência e o devido

processo legal conferidos aos réus.

Ademais, outro mecanismo que vem tentando ser utilizado pelos órgãos ministeriais

brasileiros no combate à corrupção é o instituto da delação premiada nas ações de

32

improbidade administrativa, que consiste em uma forma de facilitar o andamento das

investigações por meio da ajuda de terceiros envolvidos na ocorrência de algumas das

condutas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 da LIA. A estes delatores, em contrapartida, seria

concedido alguns benefícios como moeda de troca. No entanto, a sua utilização na área cível é

bastante controvertida, uma vez que tal instituto pertence ao direito penal, estando previsto,

sobretudo, nos arts. 13 e 14 da lei nº 9.807/99.

Além de ser utilizado majoritariamente na esfera criminal, o art. 17, §1º da Lei nº

8.429/92 é categórico ao impor a vedação de qualquer espécie de transação, acordo ou

conciliação nas ações de improbidade, fazendo com que a sua utilização nessas ações torne-se

bastante discutível, pois a ocorrência desse instituto não deixa de ser uma espécie de acordo,

em troca de amenizações nas sanções, que venham a ser por ventura aplicadas.

A jurisprudência parece ser no sentido da impossibilidade de aplicação da delação

premiada pelos argumentos expostos acimas. Seguem os julgados do Tribunal Regional

Federal da 1ª Região (TRF1) e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT):

ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

NULIDADE QUE NÃO SE CONFIGURA EM RAZÃO DE SUPOSTO

IMPEDIMENTO DO JUIZ A QUO. INEXISTÊNCIA DE PRERROGATIVA DE

FORO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE. FUSÃO DE RECURSOS FEDERAIS E

ESTADUAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INDEFERIMENTO

DE PROVA PERICIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO

CARACTERIZADO. INOCORRENCIA DE BIS IN IDEM. ESQUEMA

GAFANHOTO. ART. 10, I, XI E XII, DA LEI Nº 8.429/92. COMPROVAÇÃO.

DEMONSTRAÇÃO DE DOLO.. EXTENSÃO DOS BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO

PREMIADA. IMPOSSIBILIDADE. ART. 17, § 1º, DA LEI Nº 8.429/92.

SENTENÇA REFORMADA EM PARTE EM RELAÇAO AOS RÉUS QUE

OBTIVERAM DELAÇÃO PREMIADA. SENTENÇA CONFIRMADA EM

RELAÇÃO AOS DEMAIS RÉUS.

1. Verifica-se não merecer acolhida a alegação de nulidade do réu Neudo Ribeiro

Campos em virtude do suposto impedimento do MM. Juiz a quo para a condução do

presente feito. Ora, a circunstância de o magistrado haver se declarado suspeito em

outro processo no qual o ora apelante figurava igualmente como réu, não conduz à

conclusão de que estaria o mesmo impedido de funcionar na presente demanda.

2. Também não há que se cogitar em foro privilegiado por prerrogativa de função

nas ações de improbidade administrativa, tendo em vista que a questão já se

encontra superada, no âmbito jurisprudencial, com o julgamento da ADIn nº 2.797-

DF, pelo egrégio Supremo Tribunal Federal, em que restou reconhecida a

inconstitucionalidade da Lei nº 10.628/2002. Aplicação de precedentes

jurisprudenciais do egrégio Supremo Tribunal Federal.

3. Do mesmo modo, não há que se falar, na espécie, na incompetência da Justiça

Federal para o processamento e julgamento da presente ação. Tem-se, na hipótese

em discussão, que a fusão dos recursos federais com os estaduais, em conta única

estadual, por si só, já inclui, proporcionalmente, verba federal nos pagamentos,

lícitos ou não, circunstância que bastaria para materializar, em caso de pagamentos

ilícitos, o interesse da União na apuração dos fatos, que, supostamente, teriam

lesionado o erário federal. Aplicação de precedente jurisprudencial deste Tribunal

Regional Federal.

33

4. In casu, verifica-se que a produção de prova pericial em questão mostra-se

dispensável, considerando haver nos autos prova documental suficiente e hábil a

demonstrar a origem dos valores desviados, tais como a Informação nº 027/2003-

SR/RR (fls. 207/209) e o Laudo n.º 204/03-SR/RR (fls. 494/515). Dessa forma, não

há que se falar, na hipótese em discussão, em cerceamento de defesa pelo

indeferimento da prova pericial, uma vez que existindo nos autos pareceres técnicos

ou elementos elucidativos suficientes, com base nos artigos 420, II e 427 do CPC, o

juiz pode indeferir a produção de prova pericial. Além disso, na forma do artigo 130

do CPC, cabe ao julgador avaliar a necessidade de sua produção, para o fim de

formar o seu convencimento.

5. Não merece prosperar a alegação de ocorrência, in casu, de bis in idem, tendo em

vista que, na forma do disposto no art. 12 da Lei nº 8.429/92, o agente que pratica

ato de improbidade administrativa encontra-se sujeito às diferentes esferas de

responsabilidade previstas no ordenamento jurídico - administrativa, judicial, civil e

penal, não havendo que falar, portanto, no caso, em dupla punição.

6. No caso em exame, verifica-se que restou evidenciado o ato de improbidade que

consistia na distribuição de cotas pelo governador à deputada, a qual, através de

funcionária de seu gabinete, atuava como procuradora de pessoas comuns

prometendo ajuda financeira e as relacionava como falsos servidores para serem

incluídos em folha de pagamento do Departamento de Estradas de Rodagem -

DER/RR ou do Estado de Roraima, dentro de sua cota.

7. A conduta ímproba atribuída aos réus, ora apelantes, subsume àquela prevista no

art. 10, incisos, I, XI e XII, da Lei nº 8.429/92. É o que se depreende da apreciação

dos documentos do Inquérito Policial nº 253/2003 que instrui a inicial (fls. 53/824),

mais precisamente os de fls. 207/209 e 494/515, assim como dos depoimentos

prestados pelos requeridos Carlos Eduardo Levischi e Diva da Silva Bríglia (fls.

125/128 e 366/378) e pelas testemunhas em juízo (mídias de fls. 1.483 e 1.513a e

1.513b).

8. Não se afigura juridicamente possível a extensão dos benefícios da delação

premiada aos requeridos em ação de improbidade, uma vez que se trata de

benefício penal e a legislação não prevê qualquer extensão dos benefícios à

esfera cível, como fez o julgador. 9. De fato, diferentemente do que ocorre na ação civil pública regida pela Lei nº

7.347/85, em se tratando se ação civil por ato de improbidade administrativa, não há

que cogitar na mitigação do princípio da indisponibilidade do interesse público, por

aplicação, na espécie, do estabelecido no art. 17, § 1º, da Lei nº 8.429/92.

10. Sentença reformada em parte em relação aos réus Carlos Eduardo Levischi, Diva

da Silva Bríglia e a Lize da Rocha Pereira, para afastar a aplicação do benefício da

delação premiada, devendo ser extraída cópia integral dos autos a ser remetida à

origem, a fim de que o magistrado profira nova sentença, como entender de direito

no que concerne a esse réus, sem o aludido benefício. Parcial ressalva do

entendimento da relatora que entendia aplicável o disposto no artigo 515, I, do CPC.

11. Sentença confirmada em relação aos réus Neudo Ribeiro Campos e Suzete de

Macedo Oliveira.

12. Apelações dos réus desprovidas.

13. Apelações do Ministério Público Federal e da União parcialmente providas.

(TRF-1 - AC: 1741520044014200, Relator: JUÍZA FEDERAL CLEMÊNCIA

MARIA ALMADA LIMA DE ÂNGELO (CONV.), Data de Julgamento:

08/04/2014, QUARTA TURMA, Data de Publicação: 02/06/2014, grifo nosso)25.

APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INSTITUTO

CANDANGO DE SOLIDARIEDADE. IRREGULARIDADES NO CONTRATO

DE GESTÃO Nº 22/2004, FIRMADO COM A CODEPLAN. PRETENSÃO DE

APLICAÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA E DO PERDÃO JUDICIAL.

25BRASÍLIA. Tribunal Regional Federal (1ª Região). Apelação Cível nº 200442000001738. Data da

Publicação: 02 jun. 2014. Impossibilidade de extensão dos benefícios da delação premiada nas ações de

improbidade. Disponível em: <http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/161368422/apelacao-civel-ac-

1741520044014200>. Acesso em: 29 set. 2015.

34

IMPROPRIEDADE DA ANALOGIA. INSTITUTOS RESTRITOS AO ÂMBITO

PENAL.

1. VERSANDO A PRESENTE HIPÓTESE SOBRE ATOS DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, NÃO HÁ COMO APLICAR,

ANALOGICAMENTE, OS BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO PREMIADA E DO

PERDÃO JUDICIAL, INSTITUTOS ESPECÍFICOS DA ESFERA PENAL,

MORMENTE CONSIDERANDO QUE A PROCEDÊNCIA DO PEDIDO

DECORREU DA ANÁLISE CONJUNTA DOS CONTRATOS FIRMADOS

PELO INSTITUTO, CORRESPONDENTES TERMOS ADITIVOS, DA

DOCUMENTAÇÃO ORIUNDA DO TRIBUNAL DE CONTAS DO

DISTRITO FEDERAL E DA DIFERENÇA CONSTATADA ENTRE AS

NOTAS FISCAIS EMITIDAS. ALEGAÇÃO DE LEGALIDADE DA

COBRANÇA DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO AFASTADA.

IMPOSSIBILIDADE DE A ORGANIZAÇÃO SOCIAL OBTER LUCRO.

DISPENSA INDEVIDA DE LICITAÇÃO. DANO AO ERÁRIO.

COMPROVAÇÃO. DOLO DO AGENTE DEMONSTRADO. PRETENSÃO

DE REDUÇÃO DA MULTA CIVIL. IMPOSSIBILIDADE.

ARBITRAMENTO JÁ FIXADO NO MÍNIMO LEGAL. 2. É ILÍCITA A COBRANÇA DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO PELO

INSTITUTO CANDANGO DE SOLIDARIEDADE, SEJA PORQUE

INEXISTENTE PREVISÃO LEGAL OU CONTRATUAL NESSE SENTIDO,

SEJA PORQUE NÃO CONSIDERADOS OS CUSTOS DE CADA ATIVIDADE

DESENVOLVIDA, SEJA, AINDA, PORQUE AS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

NÃO PODEM OBTER FINS LUCRATIVOS. 3. A CONDUTA DOLOSA DO

RÉU RESTOU DEVIDAMENTE DEMONSTRADA, EIS QUE, NO EXERCÍCIO

DA PRESIDÊNCIA DO INSTITUTO, ANUIU COM O INCREMENTO DOS

VALORES DOS CONTRATOS DE GESTÃO SEM AS CAUTELAS DEVIDAS E

PROPICIOU O FAVORECIMENTO DE TERCEIROS.

4. NÃO HÁ QUE SE FALAR EM REDUÇÃO DA MULTA CIVIL APLICADA,

EIS QUE JÁ FIXADA NO MÍNIMO LEGAL (UMA VEZ O VALOR DO DANO).

ALEGAÇÃO DO DIRETOR DE GESTÃO DA COODEPLAN DE QUE NÃO

POSSUÍA CIÊNCIA DA FRAUDE NEM COMPETÊNCIA PARA DISPENSAR O

PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. REJEIÇÃO. CONDENAÇÃO NA ESFERA

CRIMINAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. PREVALÊNCIA. SENTENÇA

MANTIDA.

5. O FATO DE O RÉU NÃO TER SIDO DENUNCIADO NOS AUTOS DE AÇÃO

PENAL ORIGINÁRIA NÃO O SOCORRE, PORQUANTO JÁ PROCESSADO E

DEFINITIVAMENTE CONDENADO NA ESFERA CRIMINAL PELA

CONDUTA DE TER DISPENSADO ILICITAMENTE LICITAÇÃO.

6. DIANTE DA PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA

CONDENAÇÃO DO RÉU PELO CRIME DO ARTIGO 89 DA LEI Nº 8.666/1993,

COM MAIOR RAZÃO DEVE SER MANTIDA A SUA CONDENAÇÃO PELO

ATO DE IMPROBIDADE DESCRITO NO INCISO VIII DO ARTIGO 10 DA

LIA, EIS QUE AQUELA ESFERA, COMO É SABIDO, É MAIS EXIGENTE E

RIGOROSA.

7. APELAÇÕES DOS RÉUS NÃO PROVIDAS. (TJ-DF - APO: 20050110533584

DF 0011872-67.2005.8.07.0001, Relator: J.J. COSTA CARVALHO, Data de

Julgamento: 26/03/2014, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE :

15/04/2014 . Pág.: 123, grifo nosso)26.

26DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. APO 20050110533584 DF (0011872-

67.2005.8.07.0001). Data da Publicação: 14 abr. 2014. Inaplicabilidade da deleção premiada em sede de

improbidade administrativa. Disponível em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/116666114/apelacao-

reexame-necessario-apo-20050110533584-df-0011872-6720058070001/inteiro-teor-116666134>. Acesso em:

29 set. 2015.

35

No entanto, o doutrinador Matheus Carvalho27 se posiciona no sentido de

admissibilidade deste instituto nas ações de improbidade, fazendo as ponderações que se

seguem:

Outrossim, deve-se considerar que a Lei de Improbidade Administrativa, criada

como instrumento para combate à corrupção, apresenta dificuldades no que tange às

investigações mormente nos casos que envolvem grandes associações criminosas e

esquemas de corrupção com agentes de alto escalão.

Assim, a delação premiada seria uma forma de auxiliar o poder público no combate

a condutas violadoras da moralidade pública, permitindo a punição dos responsáveis

por grandes esquemas de corrupção, permitindo ao Ministério Público atingir o topo

da pirâmide, alcançando todos os responsáveis pelos atos danosos.

Saliente-se, ainda, que não se vislumbra empecilho legal à aplicação analógica do

instituto da colaboração premiada, uma vez que a Lei de Introdução às normas do

Direito Brasileiro (Decreto-lei nº 4.657/42) estabelece, no seu art. 4º, que “quando a

lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os

princípios gerais de direito”.

Todavia, embora se mostrem coerentes os argumentos trazidos pelo supramencionado

autor, aparenta ser mais acertada a posição de inadmissibilidade de aplicação do instituto ora

em análise no âmbito da improbidade administrativa. Também tratando sobre o tema, o

advogado Mauro Roberto Gomes de Mattos28, em um artigo, destaca que a delação premiada

serviria, no máximo, para dar ensejo a uma investigação por meio dos procedimentos

administrativos, como, o Inquérito Civil, buscando a produção de outras provas que fossem

capazes de demonstrar indícios de autoria e materialidade da prática algum ato ímprobo.

27CARVALHO, Matheus. op. cit., p. 972. 28MATTOS, Mauro Roberto Gomes. Delação premiada não serve para fins admissibilidade de ação de

improbidade administrativa. Rio de Janeiro, dez. 2014. Disponível em:

<http://www.gomesdemattos.com.br/artigos/DELACAO_PREMIADA_NAO_SERVE_PARA_FINS_DE_ADM

ISSIBILIDADE_DE_ACAO_DE_IMPROBIDADE_ADMINISTRATIVA.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2015.

36

6 ESTUDO DE CASOS CONCRETOS

Com o resultado da análise documental e de material concedido pela 3ª Promotoria de

Justiça na Comarca de Caicó/RN em 05 e 06 de outubro do ano corrente, foi possível a

obtenção de dados importantes e precisos capazes de demonstrar como ocorre a atuação

prática do supracitado órgão ministerial.

Saliente-se que todos os dados e situações fáticas obtidas e citados na presente

pesquisa estão de acordo com as informações obtidas das petições iniciais e demais

documentos pertencentes à supracitada unidade ministerial, bem como das peças processuais,

como sentenças, despachos e decisões fornecidos virtualmente, por meio de consulta

processual, no site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte

(www.tjrn.jus.br).

Pois bem, nessa etapa, foi realizado um levantamento do número total de ações civis

públicas de improbidade administrativa instauradas nos anos de 2010 até 2014, isto é, em um

lapso temporal de 05 (cinco) anos, através de uma avaliação estatística baseada em valores

absolutos, chegando-se ao seguinte resultado:

Quadro 1: Levantamento da quantidade de Ações Civis Públicas judicializadas

Total de

Ações Civis

Públicas

Ajuizadas

em 2010

Total de Ações

Civis Públicas

Ajuizadas em

2011

Total de Ações

Civis Públicas

Ajuizadas em

2012

Total de

Ações Civis

Públicas

Ajuizadas

em 2013

Total de

Ações Civis

Públicas

Ajuizadas

em 2014

Total de

Ações Civis

Públicas

Ajuizadas nos

últimos 5 anos

1 0 2 5 1 09 Fonte: Elaborado pela autora

De posse desses dados, percebe-se que o número de ações ajuizadas foi bastante

inconstante, pois quando parecia que iria haver um aumento crescente da quantidade de

inicias produzidas pelo Parquet, logo, em seguida do ano que houve maior número das ações

de improbidade instauradas (2013), ocorreu uma redução significativa para apenas um

ajuizamento em todo o ano de 2014.

A par disso, faz-se necessário verificar como se sucedeu a atuação do supracitado

órgão do MPRN, bem como analisar o trâmite processual de cada demanda judicializada.

Dando início à análise, verifica-se que, no ano de 2010, houve a judicialização de uma

única Ação Civil Pública (ACP) protocolado pelo nº 0004482-98.2010.8.20.0101, cujos

demais detalhes seguem abaixo:

37

Quadro 2: Detalhes do trâmite processual da demanda de 2010

Número do Processo de

Improbidade

Partes

Sentença

Recursos

Interpostos

Trânsito

em

Julgado

0004482-98.2010.8.20.0101

Ministério

Público do RN x

Valdenir Batista

de Araújo

Proferida

em

25/06/2012

-

Procedente

03 Recursos

pelo Réu –

Embargos de

Declaração,

Apelação e

Recurso

Especial

Não

Fonte: Elaborado pela autora

Com relação ao processo acima, vale ressaltar que a inicial da ACP foi elaborada pelo

Promotor de Justiça Diogo Maia Cantídio, tendo como objetivo a condenação do Réu

Valdenir Batista de Araújo pela prática de enriquecimento ilícito e violação ao princípio da

moralidade administrativa, com fundamento nos arts. 9°, caput, e 11, caput, inciso I, todos da

LIA, pois o mesmo teria se apropriado indevidamente de valores advindos de 379 (trezentos e

setenta e nove) processos, no período em que exerceu a função pública de diretor do Juizado

Especial Cível e Criminal em Caicó/RN, de julho de 2002 até janeiro de 2007.

Destaque-se que ao longo desse processo, foi comprovado que a parte demandada teria

se apropriado do valor de R$ 83.389,81 (oitenta e três mil, trezentos e oitenta e nove reais e

oitenta e um centavos), referente aos pagamentos de dívidas e obrigações decorrentes de

processos judiciais, aos quais o réu tinha a posse em razão do cargo. Apesar do Sr. Valdenir

Batista ter comprovado a quitação do débito antes do julgamento da presente demanda,

conforme certidão anexada aos autos, tal fato não impediu a sua condenação no ato de

improbidade, uma vez que a Sentença, proferida em 25/06/2012, acabou reconhecendo a

prática do ato de enriquecimento ilícito (art. 9º da LIA), por meio do julgamento de mérito

(art. 269, I do CPC) e, consequentemente, a condenação nas sanções do art. 12, inciso I, da

Lei n° 8.429/92, nos seguintes termos:

[...] 1º) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos; 2º) proibição de

contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da

qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; 3º) perda da função ou cargo

público ocupado quando do trânsito em julgado desta sentença e 4º) multa civil no

valor de 20% (vinte por cento) do valor apropriado.

38

Acontece que, apesar da referida sentença ter sido proferida há mais de 03 (três) anos,

ela ainda não transitou em julgado. Portanto, não houve a efetivação das penas cominadas,

tendo em vista que dependem do trânsito em julgado. Ficou nítido, por meio de consulta

processual realizada pelo site do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Norte, que o

Réu interpôs 03 (três) recursos ao longo da lide, o último foi o Recurso Especial perante o

Superior Tribunal de Justiça, que se encontra ainda pendente de julgamento desde

10/03/2015, ocasião em que os autos foram encaminhados ao supramencionado Tribunal.

Quanto ao ano de 2011, não foi ajuizada perante à 1ª Vara Cível da Comarca de

Caicó/RN nenhuma ação de improbidade administrativa de autoria da 3ª Promotoria de

Justiça, motivo pelo qual, passa-se a análise do ano seguinte.

Em 2012, ocorreu a judicialização de 02 (duas) Ações Civis Públicas de improbidade

administrativa, ambas distribuídas em 22/11/2012, tendo sido protocoladas, respectivamente,

sob o nº 0006743-65.2012.8.20.0101 e 0005314-63.2012.8.20.0101, detalhadas abaixo:

Quadro 3: Detalhes do trâmite processual das demandas de 2012

Número do Processo de

Improbidade

Partes

Sentença

Recursos

Interpostos

Trânsito

em

Julgado

0006743-65.2012.8.20.0101

Ministério Público

do RN x Rivaldo

Costa, Janduí

Fernandes, Delane

Maria de Araújo

Medeiros e

Wilson Rodrigo

Bezerra Ribeiro

Não, processo

suspenso

desde

27/05/2014.

03 Recursos

por um dos

Réus –

Embargos de

Declaração,

Agravo de

Instrumento e

Embargos de

Declaração em

sede recursal.

Não.

0005314-63.2012.8.20.0101

Ministério Público

do RN e Estado

do RN x Marcos

Antônio de Jesus

Moreira

Proferida em

25/11/2014

-

Improcedente

01 Recurso

pelo Autor –

Apelação

Não

Fonte: Elaborado pela autora

Referente ao primeiro processo do quadro acima, a inicial foi elaborada com base no

Procedimento Preparatório nº 002/2011, cujo objeto era apurar possível irregularidade

ocorrida em inexigibilidade de licitação aprovada por Wilson Rodrigo de Bezerra Ribeiro,

Presidente da Comissão de Licitação, requerida pela Secretária Municipal de Administração

de Caicó/RN à época, Sr.ª Delane Maria de Araújo Medeiros, e que teria culminado na

39

contratação dos serviços técnicos especializados do Instituto Nacional de Advocacia,

Pesquisas, Estudos e Eventos (INAPE), representada por Janduí Fernandes, na quantia de R$

84.000,00 (oitenta e quatro mil reais), tudo durante a gestão do Prefeito de Caicó, Rivaldo

Costa.

Portanto, o Parquet acabou entendendo que os requeridos supracitados teriam

contribuído, direta ou indiretamente, para a lesão ao patrimônio público, pois todos

concorreram para efetivar a mencionada contratação, quando concordaram com a proposta

apresentada e ao propor a inexigibilidade de licitação, beneficiando a referida empresa em

detrimento do erário municipal e dos princípios constitucionais, todas essas informações

levantadas da inicial da ACP.

Como o magistrado da 1ª Vara Cível da Comarca de Caicó entendeu pela existência de

indícios contundentes da ocorrência de improbidade administrativa, acabou recebendo a ação

de improbidade administrativa, dando-se regular andamento do feito de acordo com o art. 17,

§9º da LIA e também devido ao fato que nessa fase processual vigora o princípio do in dubio

pro societate, conforme explicado anteriormente.

Em virtude desse recebimento, apesar do magistrado ter agendado Audiência de

Instrução e Julgamento para o dia 02/04/2014, o processo acabou ficando suspenso, devido ao

Agravo de Instrumento interposto contra a supramencionada Decisão, cumprindo o

determinado no art. 17, §10 da LIA. Portanto, nesse caso concreto não se chegou sequer a

realização de audiência e a se proferir sentença, apesar de já ter se passado mais de 02 (dois)

anos desde o recebimento da inicial. Além desse recurso, também foram interpostos 02 (dois)

embargos de declaração, um no juízo a quo e outro no juízo ad quem.

Destaque-se ainda a demora de tramitação do supramencionado Agravo interposto

pelo Réu, tendo transcorrido mais de 02 (dois) anos, apenas, no Egrégio Tribunal de Justiça,

já que o processo foi distribuído por dependência em 30/10/2013, e, foi encerrado somente em

17/10/2015.

Em contrapartida, com relação a segunda Ação Civil Pública por Improbidade

Administrativa protocolada em 2012, possui como objetivo a condenação do Réu Marcos

Antônio de Jesus Moreira nas sanções do art. 12, III, da Lei nº 8.429/92, em razão da suposta

prática de ato de improbidade administrativa que importou em violação de princípios da

administração pública, com base no art. 11, inciso II, da Lei nº 8.429/92, quando exerceu o

cargo de Diretor do Presídio Estadual do Seridó (PES), consistente no ocultamento de faltas

de apenados, através de alteração e inserção de declarações falsas das suas respectivas fichas

40

de frequência, fazendo constar sua presença, impedindo, em ambos os casos, a análise e

julgamento de eventuais sanções disciplinares; ocultamento de fugas dos apenados ao Juízo

de Execuções Penais e do Ministério Público, dificultando a sua recaptura; exigiu supostos

pagamentos indevidos e em proveito próprio pelo uso de espaço do estabelecimento prisional;

teria se apropriado de verbas destinadas a detentos pelo trabalho desenvolvido dentro da

unidade presidiária, de acordo com a inicial de autoria do Parquet.

A inicial foi recebida em 21/10/2013, com fulcro no art. 17, §§ 6º e 9º da LIA, isto é,

mais de 01 (um) ano após o protocolamento da exordial. Em seguida, ocorreu o ingresso do

Estado do Rio Grande do Norte como litisconsorte ativo da demanda. O Réu apresentou

Contestação em 10/02/2014. Foi marcada Audiência de Instrução e Julgamento para o dia

12/08/2014, tendo sido resignada para o dia 18/09/2014, quando então foi realizada, contando

com a presença dos representantes do Estado do Rio Grande do Norte e do Ministério Público

do Estado do Rio Grande do Norte, por meio, respectivamente, do Procurador do Estado Dr.

Francisco de Sales Matos e do Promotor de Justiça Dr. José Alves de Rezende Neto, além da

parte ré e seu causídico, o Dr. Sebastião Rodrigues Leite Júnior. No mesmo ato também

procedeu-se à oitiva das testemunhas arroladas no processo.

A Sentença foi proferida em 25/11/2014, e diferentemente da já analisa em 2010,

julgou improcedente a demanda com resolução de mérito, fundamentada no art. 269, I do

CPC, alegou o magistrado que diferentemente da fase inicial, vigoraria agora o princípio do in

dubio pro reu, pelo qual somente diante da certeza quanto à responsabilização pela prática de

ato de improbidade administrativa é que seria possível operar uma eventual condenação.

Diante disso, acabou entendendo que não teriam provas contundentes nos autos capaz de

justificar uma condenação pela prática dos supostos supramencionados atos de improbidade

administrativa, pois não restaram comprovados pela prova testemunhal e depoimentos

prestados, ademais ressaltou que o dolo do agente não ficou comprovado, bem como que no

caso concreto o demandado não tinha plena consciência da ilicitude e reprovabilidade da

conduta praticada.

Diante disso, o Ministério Público acabou interpondo o recurso de Apelação, que foi

recebida no efeito devolutivo e suspensivo, consoante Decisão Interlocutória proferida em

28/05/2015 e remetida ao Egrégio Tribunal de Justiça em 03/09/2015. Portanto, percebe-se

que o processo já está com mais de 03 (três) anos de tramitação e não houve o trânsito em

julgado da supracitada sentença, bem como que em sede recursal está com pouco mais de 02

(dois) meses em andamento no juízo ad quem.

41

Continuando, 2013 foi o ano que mais foram ajuizadas Ações Civis Públicas de

improbidade administrativa de autoria do órgão ministerial analisado em comparação ao

demais anos, pois apenas neste ano ocorreu o protocolamento de 05 (cinco) petições inicias e

que serão analisadas na sequência estabelecida no quadro abaixo:

Quadro 4: Detalhes do trâmite processual das demandas de 2013

(continua)

Número do Processo de

Improbidade

Partes

Sentença

Recursos

Interpostos

Trânsito

em

Julgado

0104870-04.2013.8.20.0101

Ministério

Público do RN x

José Orlando de

Medeiros,

Aldenira Dalva

Lima de

Medeiros e

SAFET

Não, concluso

para sentença

desde

10/09/2015

Não houve

interposição de

recurso

Não

0104867-49.2013.8.20.0101

Ministério

Público do RN x

Paulo Emídio de

Medeiros, José

Nivan dos

Santos, Genilson

Medeiros Maia e

M.P Vale,

representada por

Maria Patrocina

Vale

Não, na

Secretaria para

agendar

audiência de

instrução e

julgamento

desde

13/07/2015

01 Recurso por

um dos Réus –

Agravo de

Instrumento

Não

0103290-36.2013.8.20.0101

Ministério

Público do RN e

Município de

Caicó x Rivaldo

Costa,

Montagem

Produção &

Eventos LTDA,

Godofredo

Fernandes Neto,

Clédina Simone

Gomes e Wilson

Rodrigo Bezerra

Ribeiro.

Não

01 Recurso por

um dos Réus –

Agravo de

Instrumento

Não

42

Quadro 4: Detalhes do trâmite processual das demandas de 2013

(conclusão)

Número do Processo de

Improbidade

Partes

Sentença

Recursos

Interpostos

Trânsito

em

Julgado

0101075-87.2013.8.20.0101

Ministério

Público do RN e

Município de

Caicó x Rivaldo

Costa,Montagem

e Produção &

Eventos LTDA

ME, Godofredo

Fernandes Neto,

Clédina Simone

Gomes

Não

03 Recursos

pelos Réus – 02

Embargos de

Declaração e

Agravo Retido

Não

0101072-35.2013.8.20.0101

Ministério

Público do RN x

Dilson Freitas

Fontes e Sídilon

Maia Thomaz de

Nascimento

Proferida em

14/05/2015 –

Improcedente

(não

recebimento

da inicial).

01 Recurso pelo

Autor –

Apelação

Não

Fonte: Elaborado pela autora

Em relação a primeira ACP proposta no ano de 2013, foi distribuída em 23/12/2013,

possuindo como pretensão a condenação dos requeridos José Orlando de Medeiros, na

qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores do Município de São Fernando/RN, e

Aldenira Dalva Lima de Medeiros, na qualidade de representante legal e executora dos

serviços prestados pela empresa Serviços de Assessoria Técnica e Financeira, nas sanções

fixadas no art. 12, II, da Lei nº 8.429/92, pela suposta infração ao disposto no art. 10, caput,

incisos I e II, e art. 11, V, do mesmo diploma legislativo. Na ocasião, entendeu o Ministério

Público que os réus firmaram irregularmente um contrato administrativo onde a empresa

SATEF prestaria serviços especializados na área de assessoria técnica, financeira, legislativa e

administrativa à Câmara Municipal de Vereadores de São Fernando/RN.

Tal contratação, segundo o órgão ministerial, almejava beneficiar a empresa

contratada, configurando contratação de pessoal em substituição ao regular concurso público,

tendo em vista que processo nº 093/2010 que originou o contrato objeto dos autos não teria

sido precedido de procedimento administrativo de dispensa de licitação, o que evidenciaria

uma suposta afronta ao princípio constitucional da legalidade, por inobservância das normas

da Lei nº 8.666/93.

43

Recebida a inicial, por meio da Decisão Interlocutória Proferida em 13/05/2015, foi

designada Audiência de Instrução e Julgamento para o dia 09/07/2015, que aconteceu

regularmente, contando com a presença da parte autora, representada pelo Promotor de Justiça

Dr. Vicente Elísio de Oliveira Neto e os réus.

Entretanto, desde a apresentação das alegações finais por ambas as partes, datada de

10/09/2015, isto é, desde finda a fase instrutória do processo, ele se encontra concluso para

sentença, conforme consulta processual realizada no site do Poder Judiciário do Rio Grande

do Norte. Portanto, em que pese já tenha se transcorrido quase 02 (dois) anos do ajuizamento

da lide, sua finalização se mostra iminente.

A segunda ACP do ano de 2013 foi protocolada sob o nº 0104867-49.2013.8.20.0101

e distribuída em 08/01/2014, cujo objeto consiste na condenação dos seus demandados Paulo

Emídio de Medeiros, José Nivan dos Santos, Genilson Medeiros Maia e a empresa M.P. Vale

(Fabril Fashion), essa representada pela Sra. Maria Patrocina Vale, pelo suposto dano ao

erário público ocasionado e violação os princípios da Administração Pública em razão da

cessão de bem imóvel público, para fins particulares alheios ao interesse público, realizada de

forma irregular e em desacordo com ditames legais.

Ao despachar a inicial, houve o recebimento da peça vestibular em 26/11/2014 apenas

em face dos réus Paulo Emídio de Medeiros, José Nivan dos Santos e a empresa M.P. Vale

(Fabril Fashion), tendo o magistrado entendido não haver justa causa na inclusão de Genilson

Medeiros, no polo passivo da demanda. Após a apresentação de Contestação pelos requeridos

e tendo o Ministério Público apresentado impugnações as mesmas, o processo está

aguardando agendamento de Audiência de Instrução e Julgamento desde 13/07/2015.

Destaque-se que, apesar do processo não estar sentenciado, mesmo possuindo 01 (um)

e 09 (nove) meses de tramitação, um dos réus, o Sr. José Nivan dos Santos, já se utilizou do

recurso de Agravo de Instrumento contra a citada decisão que recebeu a inicial em seu

desfavor. No entanto não obteve a suspensividade da decisum, bem como que o recurso ainda

está em tramitação no juízo ad quem desde 10/02/2015.

A terceira ACP detalhada no quadro acima foi distribuída em 02/09/2013 e

protocolada sob o nº 0103290-36.2013.8.20.0101, pelo suposto cometimento de atos que

teriam causados lesão ao erário e/ou atentados contra os princípios da Administração Pública

c/c ressarcimento dos danos causados, ajuizada em face de Rivaldo Costa, ex-prefeito do

Município de Caicó/RN, a empresa Montagem Produção & Eventos Ltda ME, Godofredo

Fernandes Neto, Clédina Simone Gomes e Wilson Rodrigo Bezerra Ribeiro, ex-presidente da

44

comissão permanente de licitação do Município de Caicó/RN, almejando a condenação dos

demandados nas sanções fixadas no art. 12, incisos II e III, pela suposta infração ao disposto

no art. 10, caput, inciso VIII, e art. 11, caput, inciso I, todos da Lei nº 8.429/92, pelo fato de

terem contribuído para a contratação da empresa citada, por meio da inexigibilidade de

licitação, para que promovesse o Carnaval de 2009 na cidade de Caicó/RN irregularmente,

porque tal situação violaria o art. 25, III, da Lei nº 8.666/93.

Diante disso, o magistrado acabou recebendo a inicial em face de todos os réus em

14/05/2014. Em seguida, ocorreu a apresentação das Contestações pela parte passiva e da

impugnação por parte do autor, procedendo-se ao agendamento de Audiência de Instrução e

Julgamento para o dia 28/07/2015, no entanto, a pedido do próprio Ministério Público, houve

o adiamento para 19/08/2015, ocasião em que a audiência foi iniciada, e contou com a

presença do Representante do Ministério Público, Dr. José Alves de Rezende Neto, do

Município de Caicó, representado pelas Procuradoras Dra. Ana Kalyne Dias Guedes,

OAB/RN 9930-D, e Dra. Kamila Gentil de Araújo, OAB/RN 9448, dos réus Rivaldo Costa e

Wilson Rodrigo Bezerra Ribeiro, acompanhados do causídico Hindenberg Fernandes Dutra,

OAB/RN 3838, e dos réus Clédina Simone Gomes e Godofredo Fernandes Neto,

acompanhados do causídico Síldilon Maia Thomaz do Nascimento, OAB/RN 5806.

No entanto, a referida audiência restou prejudicada devido ao fato do advogado dos

réus Clédina Simone, Godofredo Fernandes e a empresa Montagem e Produção também

exercer o cargo público de provimento efetivo e/ou em comissão na Câmara Municipal de

Caicó, integrando a pessoa jurídica do Município de Caicó, assim, o representante das

mencionadas partes estaria impedido de atuar em face ou contra a Fazenda com a qual possui

vínculo administrativo de trabalho, motivo pelo qual foi determinado pelo juiz da 1ª Vara

Cível que, no prazo de 10 (dez) dias, as supracitadas partes sanassem o defeito de

representação.

Portanto, o processo tramita há pouco mais de 02 (dois) anos e está pendente da

mencionada diligência para que possa ser efetivamente realizada a audiência de instrução e

julgamento e, consequentemente, seja devidamente sentenciado. Por fim, o demandado

Wilson Bezerra interpôs Agravo de Instrumento contra a decisão de recebimento, que

igualmente ainda está em tramitação no Egrégio Tribunal de Justiça desde 27/06/2014, data

em que foi distribuído no juízo ad quem.

A quarta ACP de improbidade relacionada no quadro acima foi protocolada sob o nº

0101075-87.2013.8.20.0101 e distribuída em 22/03/2013, possuindo algumas das partes da

45

anterior ACP analisada, quais sejam: Rivaldo Costa, Montagem Produção & Eventos Ltda -

ME, Godofredo Fernandes Neto e Clédina Simone Gomes, mas, dessa vez, fundada no fato do

Prefeito de Caicó ter ludibriado o processo licitatório na modalidade pregão presencial,

incluindo exigências que comprometeram, restringiram ou frustraram o seu caráter

competitivo no intuito de garantir a vitória da empresa citada para fornecer a apresentação de

várias bandas musicais durante o carnaval de 2011, violando o disposto no art. 3º, § 1º, I, da

Lei nº 8.666/93.

Argumentou o Ministério Público que todos os réus praticaram o ato de improbidade

que viola os princípios da administração pública, bem como lesionaram o erário, pois, além de

impedir a apresentação de propostas que poderiam ser mais vantajosas economicamente ao

Município de Caicó/RN, firmaram contratos acima dos valores médios praticados no

mercado. Diante disso, houve o recebimento da inicial em 31/07/2013. Em seguida, foi

agendada Audiência de Instrução e Julgamento para o dia 23/04/2015, que ocorreu

regularmente, contando com a presença do Representante do Ministério Público, Dr. José

Alves de Rezende Neto, o réu Rivaldo Costa acompanhado do causídico Hindenberg

Fernandes Dutra, OAB/RN 3838, e os réus Clédina Simone Gomes e Godofredo Fernandes

Neto, acompanhados do causídico Síldilon Maia Thomaz do Nascimento, OAB/RN 5806,

com a oitiva das testemunhas indicadas.

Ato contínuo, o Município de Caicó/RN foi habilitado nos autos como litisconsorte

ativo. Por fim, foi reconhecida a mesma impossibilidade de representação dos réus pelo

advogado que também exerce a função de procurador da Câmara Municipal de Vereadores de

Caicó, sendo determinado, por meio de Decisão Interlocutória proferida em 30/09/2015, que

Clédina Simone e Godofredo Fernandes sanassem o problema da representação processual,

com a substituição do causídico.

Desse modo, constata-se que o processo está tramitando há cerca de 02 (dois) anos e

07 (sete) meses e ainda não se encontra sentenciado. Vale ainda mencionar que foram

interpostos 03 (três) recursos durante seu trâmite, sendo 02 (dois) Embargos de Declaração

contra a decisão de recebimento, bem como 01 (um) Agravo Retido.

Partindo-se para a análise da última ACP proposta pela 3ª Promotoria de Justiça da

Comarca de Caicó/RN no ano de 2013, bem como seguindo a ordem exposta no quadro

acima, ela foi protocolada sob o nº 0101072-35.2013.8.20.0101 e distribuída em 21/03/2013

em desfavor de Dilson Freitas Fontes, Presidente da Câmara Municipal de Caicó, e Síldilon

Maia Thomaz do Nascimento, Procurador Geral da referida Casa Legislativa, almejando a

46

condenação deles pela suposta prática de ato de improbidade administrativa previsto no art.

11, caput, da Lei nº 8.429/92, pois supostamente violaram o princípio da legalidade e do

concurso público quando não procederam com a criação dos cargos efetivos de procurador e

de contador da casa legislativa e, consequentemente, não os incluíram no concurso público

deflagrado na época.

Logo de início foi arguido exceção de suspeição, motivo pelo qual o andamento do

processo ficou suspenso pelo período de 20/06/2013 a 22/04/2015, data em que o processo foi

reativado.

Após isso, em 14/05/2015, o magistrado acabou entendendo pelo não recebimento da

inicial, através de Sentença, alegando ausência de justa causa, a teor do disposto no art. 17,

§8º. As razões para a rejeição da inicial consistiram basicamente no fato de não ter havido

qualquer recomendação do órgão ministerial para que os supramencionados cargos fossem

criados como de provimento efetivo.

Consequentemente, o Parquet interpôs o recurso de Apelação, que foi recebida no

efeito suspensivo e devolutivo, conforme Decisão proferida em 19/07/2015. No entanto, os

autos ainda não foram remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do

Norte.

Quanto ao ano de 2014, foi ajuizada perante o órgão judiciário competente uma única

ACP de improbidade administrativa, protocolada sob o nº 0103253-72.2014.8.20.0101 e

distribuída em 15/08/2014 de autoria do Promotor de Justiça José Alves de Rezende Neto,

cujo resumo processual segue abaixo:

Quadro 5: Detalhes do trâmite processual das demandas de 2014

Número do Processo

Partes

Sentença

Recursos

Trânsito

em

Julgado

0103253-72.2014.8.20.0101

Ministério

Público do RN x

Rita Rejane

Pereira de

Araújo,

Município de

São Fernando,

Genilson de

Medeiros Maia

e Souza &

Freitas LTDA

Proferida em

27/11/2014 –

Improcedente

(não

recebimento

da inicial).

01 Recurso pelo

Autor –

Apelação

Não

Fonte: Elaborado pela autora

47

O processo acima detalhado foi proposto em face das pessoas supramencionadas no

quadro acima, pois os demandados teriam incorrido em ato de improbidade previsto no art.

11, caput, da Lei nº 8.429/92, pelo fato da Secretária Municipal de Saúde ter violado o

princípio da impessoalidade quando utilizou de recursos públicos para mandar confeccionar

1000 (mil) leques com suposto intuito de promoção pessoal, durante as festividades da

padroeira do Município de São Fernando/RN, mediante dispensa de licitação para contratação

da empresa requerida.

Por meio de Decisão Interlocutória datada de 19/09/2014 foi indeferida a medida

cautelar de indisponibilidade de bens dos requeridos e determinada a notificação prevista no

art. 17, §7º da LIA.

Ato contínuo, o magistrado da 1ª Vara Cível da Comarca de Caicó, por meio de

Sentença proferida em 27/11/2014, acabou não recebendo a inicial, julgando improcedente de

plano a demanda, devido à falta de justa causa, pois entendeu que no leque acostado aos

autos, constava apenas o hino de louvor à Festa de Nossa Senhora do Patrocínio e, no verso,

uma mensagem de incitação da população a participar dos festejos de comemoração da

mencionada padroeira. Reconheceu o juiz que apesar desse apetrecho ter sido confeccionado a

partir de recursos públicos, entendeu não existir qualquer manifestação de cunho político ou

de necessária promoção pessoal nele, além do valor gasto com tal divulgação ter sido ínfimo.

Ademais, também não visualizou nenhuma espécie de conluio entre a sociedade empresária e

do gestor público municipal demandado.

Em contrapartida, o Ministério Público interpôs Apelação, almejando a reforma da

supracitada sentença, que foi recebida no efeito devolutivo e suspensivo, consoante Decisão

datada de 29/09/2015. Contudo, ainda não foi remetida ao juízo ad quem, pois a juntada das

contrarrazões por parte dos demandados só ocorreu em 27/10/2015.

Dessa forma, corroborando com as postulações da presente análise, é possível

observar algumas constatações. A primeira delas é de que dos nove processos averiguados,

apenas 04 (quatro) possuem sentença proferida, sendo que apenas 01 (uma) delas foi julgada

procedente, enquanto as demais foram contrárias ao pleiteado, sendo 02 (duas) pela recusa

imediata da inicial e a restante proferida após a devida instrução, com as coletas de provas,

inclusive em audiência.

Além disso, verificou-se que em todos os processos em que as sentenças foram

desfavoráveis, a 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Caicó, prontamente e

tempestivamente, interpôs recurso de apelação. Vale salientar ainda que, nenhuma das

48

sentenças transitaram em julgado, seja por causa da interposição de recurso por parte do polo

passivo, seja pela interposição pelo polo ativo.

Assim, percebe-se que do universo de 04 (quatro) sentenças proferidas, somente 01

(uma) foi favorável à condenação do réu nas sanções do art. 12 da lei nº 8.429/92.

Sem entrar no mérito da questão, afere-se que existe uma dificuldade por parte do

Parquet em juntar elementos probatórios e deixar nítido o dolo do agente, já que tal elemento

é indispensável para caracterização de um ato ímprobo.

Outra circunstância desfavorável para concretização da efetividade da Lei de

Improbidade Administrativa é o tempo do processo, porque a tramitação dessas demandas no

Poder Judiciário costumam ser mais demoradas do que processos comuns, cujo direito

material seja mais simples e de fácil resolução por meio de conciliação.

Observou-se também que, mesmo existindo processo em andamento desde 2010, ainda

não foi possível a sua execução, devido à ausência do trânsito em julgado. Além disso, outro

fator que pode ter influenciado no insucesso dessas ações de improbidade é que o órgão

ministerial visitado desde 2010 vem sendo ocupado por promotores de justiça substitutos, ou

seja, que estão passando transitoriamente por tal Comarca.

Portanto, diante dessas constatações, ficou nítido que existe uma série de óbices para a

concretização do disposto na lei no tocante ao combate à corrupção, bem como ficou

comprovado que, para a Lei nº 8.429/92 possa, de fato, diminuir esses casos existentes na

Administração Pública Brasileira, isto é, seja efetiva, apenas a existência da norma em si no

ordenamento jurídico é insuficiente, sendo também necessário aparelhar os principais

responsáveis pela sua aplicação, quais sejam, o Ministério Público em sua função

investigativa, e o Judiciário na priorização e/ou especialização dos julgamentos em demandas

dessa natureza, como já ocorre na Justiça da Infância e Juventude.

Buscando uma solução à morosidade judiciária de uma maneira geral, o Conselho

Nacional de Justiça (CNJ), fazendo uso da sua importante função constitucional, traçou metas

a ser cumpridas pelos Tribunais. Segundo informações retiradas no próprio sítio eletrônico do

CNJ (http://www.cnj.jus.br), essas metas, de aplicação nacional, tratadas inicialmente como

metas de nivelamento, foram definidas pela primeira vez no 2º Encontro Nacional do

Judiciário, que aconteceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 2009. Ao final do Encontro,

os tribunais brasileiros traçaram 10 (dez) metas de nivelamento para o Judiciário ainda para

aquele ano de 2009. O grande destaque foi a Meta 2, que determinou aos tribunais que

49

identificassem e julgassem os processos judiciais mais antigos, distribuídos aos magistrados

até 31/12/2005.

Nos dias 5 e 6 de novembro de 2012, durante o 6º Encontro Nacional, o CNJ

finalmente decidiu priorizar o tema debatido no presente trabalho, a proteção da probidade

administrativa, ocasião em que as metas para 2013 foram aprovadas. Dentre elas, destacou-se

aquela que se denominou como Meta 18, que almejava “identificar e julgar, até 31/12/2013,

as ações de improbidade administrativa e ações penais relacionadas a crimes contra a

administração pública, distribuídas até 31/12/2011”.

A supramencionada meta, que envolveu vários órgãos de todas as esferas da

jurisdição, destacou a necessidade de priorizar o processo e julgamento de ações relativas às

práticas lesivas ao patrimônio público e aos princípios da administração pública. Ainda de

acordo com o CNJ, seria por causa disso, que tais ações continuaram sendo acompanhadas em

2014, com renumeração da Meta 18 para Meta 4, com o objetivo de “identificar e julgar até

31/12/2014 as ações de improbidade administrativa [...], sendo que: na Justiça Estadual [...] as

ações distribuídas até 31 de dezembro de 2012 [...]”.

Atualmente, para o ano de 2015, foi mantida tal meta, inclusive com a mesma

numeração, só que agora com a seguinte redação:

META 4 – Priorizar o julgamento dos processos relativos à corrupção e à

improbidade administrativa (STJ, Justiça Federal, Justiça Estadual e Justiça Militar

da União e dos Estados).

Identificar e julgar até 31/12/2015:

Na Justiça Estadual, pelo menos 70% das ações de improbidade administrativa e das

ações penais relacionadas a crimes contra a administração pública distribuídas até

31/12/2012 [...].

Diante disso, verificou-se nos Estudos de Caso realizados que a 1ª Vara Cível da

Comarca de Caicó/RN conseguiu cumprir a Meta 18 original, nascida em 2012, já que, dentre

os analisados anos de 2010 até 2014, a única ACP de improbidade administrativa ajuizada até

a data limite de 31/12/2011 (processo nº 0004482-98.2010.8.20.0101) foi devidamente

julgado em 25/06/2012.

O mesmo se observou na Meta 4 de 2014. Há nos dados levantados a informação de

que, em 2012, foram ajuizadas 02 (duas) ACP’s de improbidade. Nessa ocasião, observou-se

que o processo nº 0005314-63.2012.8.20.0101, distribuído em 22/08/2012, foi julgado em

25/11/2014, ou seja, dentro do prazo estabelecido. Por sua vez, embora o processo nº

0006743-65.2012.8.20.0101, distribuído em 22/11/2012, ainda não tenha sido sentenciado,

50

importa esclarecer que ele se encontra dentro da Meta 4 de 2015, a qual determina a redução

de 70% (setenta por cento) das demandas referentes à improbidade, distribuídas até final de

2012, estabelecendo o seu julgamento até o termo de 31/12/2015.

Conclui-se que, na medida do possível, o Juízo analisado vem conseguindo cumprir

com as denominadas metas nacionais, uma vez que as demandas mais antigas encontram-se

julgadas. No entanto, o mesmo não se pode afirmar das ações ajuizadas mais recentemente,

que, em sua maioria, estão pendentes de julgamento.

Logo, a interposição dessas ações ainda se mostra indispensável, pois apenas o fato de

existir uma demanda dessa natureza em desfavor de um agente público já gera um grande

efeito à imagem do Ministério Público frente à sociedade.

Em consonância com o exposto, tem-se a opinião do advogado e doutor em direito

administrativo, Fábio Medina Osório29, exposta na Revista de Doutrina da 4ª Região, onde o

mesmo ressalta a importância da LIA como sendo uma das grandes conquista da sociedade

brasileira e, que após o seu nascedouro vem ocorrendo um avanço no combate a má gestão

pública, sobretudo, devido ao fato das ações de improbidade estarem sendo manejada por

instituições republicanas independentes. No entanto, também reconhece a necessidade de

avanços na atuação ministerial para concretizar o disposto na lei nº 8.429/92, pois ao final do

seu texto afirma que apesar dos avanços, ainda existem lacunas e falhas nas instituições

fiscalizadoras que merecem ser diagnosticadas e corrigidas.

29OSÓRIO, Fábio Medina. Conceito e tipologia dos atos de improbidade administrativa. Revista de Doutrina

da 4ª Região, Porto Alegre, n.50, out. 2012. Disponível em:

<http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao050/Fabio_Osorio.html>. Acesso em: 22 out. 2015.

51

7 CONCLUSÃO

Como já dito alhures, a Lei nº 8.429/92 revela-se um importante instrumento para se

alcançar a diminuição da corrupção no Brasil, bem como se mostra como precursora do

desenvolvimento do país, pois almeja expurgar da Administração Pública os agentes que

tentam desvirtuar a coisa pública e impedir o progresso nacional.

No entanto, tendo em vista o paralelo traçado entre a repressão aos atos corruptos

representada pelo número de ações interpostas e de condenações transitadas em julgado,

chegou-se a conclusão, por meio do cruzamento desses dados, que a supracitada norma não

possui efetividade prática, já que as ações de improbidade ajuizadas entre 2010 até 2014 pela

3ª Promotoria de Justiça de Caicó/RN tiveram pouco impacto, levando-se em consideração a

importância do tema e a frequência com que tais atos costumeiramente acontecem, além de

não ter ocorrido o trânsito em julgado de nenhuma das 09 (nove) demandas ajuizadas.

Independentemente dos fatores que possam influenciar nessa constatação,

demonstrou-se no estudo que o número de condenações é ínfimo em relação às ações

propostas. Ademais, verificou-se que apesar de um único agente público ter sido condenado

(Valdenir Batista de Araújo), ele ainda não foi efetivamente punido, tendo em vista a ausência

do trânsito em julgado da ACP correspondente, demonstrando que embora muitas vezes

identificado o corrupto, sua sanção acaba demorando demasiadamente.

Assim, com relação à constatação de poucas ACP’s ajuizadas, isso não retira a

importância da atuação do Ministério Público no combate aos atos de improbidade, mas

mostra que a caminhada ainda será longa e árdua, devendo o Parquet continuar buscando a

sua máxima eficiência para diminuir a corrupção, por meio de seu melhor aparelhamento

interno (aprimoramento, especialização e modernização) e externo (auxílio das Polícias

Judiciárias, órgãos de fiscalização, parcerias estratégicas etc).

No tocante ao Poder Judiciário, apesar de certa forma ter se conseguido atingir as

metas impostas pelo CNJ, ainda evidencia-se que deve haver uma maior dedicação às ações

de improbidade administrativa, através, por exemplo, de criação de varas especializadas no

assunto, não mais sendo concebível que continuem persistindo na demora excessiva e baixos

resultados em ações dessas espécies, pois, frise-se, não houve o trânsito em julgado de

nenhum dos processos analisados, apesar do mais antigo ter sido distribuído em 2010.

Tendo em vista que os réus nas ações de improbidade acabam apresentando duas

espécies de defesa (prévia e contestação), outra solução viável para tentar reduzir a falta de

52

efetividade do diploma legislativo ora em comento seria a implementação de alterações na sua

área processual, como deslocar a notificação e apresentação de defesa prévia disposta no art.

17, §7º, para a fase pré-processual, ou seja, para o procedimento administrativo disciplinar do

órgão vinculado ou procedimentos investigatórios instaurados pelo Ministério Público,

concedendo o mesmo prazo de 15 (quinze) dias para o investigado exercer o direito de defesa.

Essa possibilidade de apresentação de defesa preliminar ainda na fase administrativa, além de

otimizar o trâmite processual dessas demandas, serviria para minimizar a quantidade de ações

de improbidade temerárias.

Por fim, pode-se concluir que a Lei de Improbidade e a sua respectiva ação estão

distantes de atingir o ponto aceitável, em termos de efetividade e celeridade, já que existem

muito entraves, e para eles serem superados será necessário contar com a iniciativa do

legislador e dos operadores do direito, medidas estas, infelizmente, de adoção de médio a

longo prazo.

53

REFERÊNCIAS

ANDRADE, F. C. M.; PAVIONE, L. dos S. Improbidade Administrativa. Salvador:

JusPODIVM, 2010.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso

em: 01 set. 2015.

______. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes

públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em: 02 ago.

2015.

______. Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. Dispõe sobre a responsabilização

administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública,

nacional ou estrangeira, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm>. Acesso em: 27

out. 2015.

______. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1317653 SP (2011/0273537-2). Data

da Publicação: 07 mar. 2013. Aplicação do princípio do in dúbio pro societate na fase de

recebimento da inicial de improbidade administrativa. Disponível em:

<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23082034/agravo-regimental-no-recurso-especial-

agrg-no-resp-1317653-sp-2011-0273537-2-stj>. Acesso em: 19 set. 2015.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1405748/RJ. Data da Publicação: 17 ago.

2015 Necessidade da presença de agente público para responsabilização por improbidade

administrativa. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/103635164/stj-06-11-

2015-pg-2828-2829>. Acesso em: 09 nov. 2015.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 1171017/PA. Data da Publicação: 06 mar.

2014. Inviabilidade de propositura de ação civil pública por improbidade administrativa

apenas em desfavor de particular. Disponível em:

<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24973962/recurso-especial-resp-1171017-pa-2009-

0242733-1-stj/inteiro-teor-24973963>. Acesso em: 09 nov. 2015.

______. Tribunal Regional Federal (1ª Região). AG 105665220144010000. Data da

Publicação: 22 nov. 2014. Prevalência do princípio in dubio pro societate na fase de

recebimento de ação de improbidade. Disponível em: <http://trf-

1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/164680436/agravo-de-instrumento-ag-

105665220144010000>. Acesso em: 19 set. 2015.

______. Tribunal Regional Federal (1ª Região). Apelação Cível nº 200442000001738. Data

da Publicação: 02 jun. 2014. Impossibilidade de extensão dos benefícios da delação premiada

nas ações de improbidade. Disponível em: <http://trf-

54

1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/161368422/apelacao-civel-ac-1741520044014200>. Acesso

em: 29 set. 2015.

CARVALHO, M. Manual de Direito Administrativo. 2. ed. Salvador: JusPODIVM, 2015.

CARVALHO FILHO, J. dos S. Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro:

L. Juris, 2010.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. APO 20050110533584 DF

(0011872-67.2005.8.07.0001). Data da Publicação: 14 abr. 2014. Inaplicabilidade da deleção

premiada em sede de improbidade administrativa. Disponível em: <http://tj-

df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/116666114/apelacao-reexame-necessario-apo-

20050110533584-df-0011872-6720058070001/inteiro-teor-116666134>. Acesso em: 29 set.

2015.

FAZZIO JÚNIOR, W. Improbidade Administrativa. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

GARCIA, E.; ALVES, R. P. Improbidade Administrativa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MATTOS, M. R. G. Delação premiada não serve para fins admissibilidade de ação de

improbidade administrativa. Rio de Janeiro, dez. 2014. Disponível em:

<http://www.gomesdemattos.com.br/artigos/DELACAO_PREMIADA_NAO_SERVE_PAR

A_FINS_DE_ADMISSIBILIDADE_DE_ACAO_DE_IMPROBIDADE_ADMINISTRATIV

A.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2015.

MAZZA, A. Manual de Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

NICHEL, A. Afinal, o que muda com a lei anticorrupção. Jornal Gazeta do Povo, [S.I], ago.

2014. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-

direito/artigos/afinal-o-que-muda-com-a-lei-anticorrupcao-ebsr7q3gxnqgt3obf560wxzri>.

Acesso em: 27 out. 2015.

OSÓRIO, F. M. Conceito e tipologia dos atos de improbidade administrativa. Revista de

Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n.50, out. 2012. Disponível em:

<http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao050/Fabio_Osorio.html>. Acesso em: 22

out. 2015.

SANTOS, F. M. de S. (Org.); BOLZAN, F. (Org.). Leituras Complementares de Direito

Administrativo. 2. ed. Salvador: JusPODIVM, 2010.

SCATOLINO, G.; TRINDADE, J. Manual de Direito Administrativo. 3. ed. Salvador:

JusPODIVM, 2015.