direito civil - dolo - 2º s - outubro de 2012

57
Universidade Presbiteriana Mackenzie Direito Civil II DOLO Danillo Bernardo Cagnin Diogo Llacer Fábio Peres da Silva 3121642 0 Felipe Costa Ferreira 3123787 8 Jonatas Henrique da Silva 3120067 2

Upload: fabio-peres

Post on 16-Jan-2016

9 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Negócios Jurídicos - Dolo - 2012 - Mackenzie

TRANSCRIPT

Page 1: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Direito Civil II

DOLO

Danillo Bernardo CagninDiogo LlacerFábio Peres da Silva 31216420Felipe Costa Ferreira 31237878Jonatas Henrique da Silva 31200672José Augusto B. Fernandes de Lima 31205976

2º S

São Paulo

2012

Page 2: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Universidade Presbiteriana Mackenzie

DOLO

Pesquisa realizada a respeito do assunto “Dolo”, para a disciplina “Direito Civil II”, da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

São Paulo

2012

2

Page 3: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

SUMÁRIO

1. DOUTRINA

1.1. ASPECTOS GERAIS 4

1.2. “DOLUS BONUS” E “DOLUS MALUS” 5

1.3. DOLO PRINCIPAL E DOLO ACIDENTAL 5

1.4. DOLO POSITIVO E DOLO NEGATIVO 6

1.5. DOLO DE TERCEIRO 6

1.6. DOLO DO REPRESENTANTE 6

1.7. DOLO DE AMBAS AS PARTES (OU DOLO BILATERAL) 8

1.8. DOLO DE APROVEITAMENTO 8

2. ACORDÃOS

2.1. STJ - AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.428.731 - DF (2011/0257717) 9

2.2. RECURSO ESPECIAL Nº 1.175.577 - PR (2010⁄0004761-9) 13

2.3. RECURSO ESPECIAL N° 107.961 - RS (1996/0058493-1) 19

2.4. RECURSO ESPECIAL Nº 595.706 - RS (2003/0168947-5) 30

2.5. RECURSO ESPECIAL Nº 1.046.067 - MG (2008/0073680-4) 35

3. COMENTÁRIOS DOS ACÓRDÃOS 40

4. ENUNCIADOS DAS JORNADAS DE DIREITO CIVIL 42

5. BIBLIOGRAFIA 43

3

Page 4: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

1. DOUTRINA

1.1. ASPECTOS GERAIS

Dolo, em Direito Civil, é um dos vícios do consentimento.

Maria Helena Diniz, citando Clovis Bevilácqua, define o dolo como “o emprego de um artifício ou expediente astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro” (2012:502). Nessa definição são ressaltados os elementos que caracterizam o dolo de forma efetiva: os artifícios maliciosos (intenção de causar o erro), a indução ao engano da vítima e o uso do erro gerado em benefício próprio.

Em linguagem coloquial, é o que se chama “induzir alguém a erro num contrato” ou negócio jurídico. Não se deve, todavia, confundir o dolo com o erro, pois no dolo o engano é forçado intencionalmente por uma das partes ou terceiro(s), prejudicando a outra parte, enquanto o erro é decorrente de engano espontâneo da parte prejudicada, sem que pudesse ser caracterizada a indução.

Maria Helena Diniz (2012:502), a respeito da diferença entre dolo e erro, declara:

“o erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso, ao passo que o dolo é, intencionalmente, provocado na vítima pelo autor do dolo ou por terceiro, sendo, portanto, passível de anulação.”

Carlos Roberto Gonçalves sintetiza o conceito de dolo quando cita os irmãos Mazeaud: “la victime du dol non seulement s’ este trompée, mais a été trompée” (“a vítima do dolo não está só enganada, mas também foi enganada”).

O aspecto danoso do dolo é motivo suficiente para que este seja considerado de natureza objetiva e anulatória, permitindo a anulação do contrato por parte da vítima.

Para constituir o dolo como vício de consentimento, é necessário que:

O causador do dolo tenha a intenção de lesar ao outro O dolo não seja irrelevante O dolo seja o motivo da realização do negócio jurídico

São poucos os momentos em que o legislador, na esfera civil, diferencia culpa de dolo.

O dolo se diferencia da simulação, considerando-se que a vítima não participa do negócio simulado; aliás, observe-se que a simulação torna o contrato nulo, não anulável.

4

Page 5: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Conforme o texto do Código Civil, nos artigos 145 a 150, e os diversos doutrinadores, é possível classificar o dolo em:

“dolus bonus” e “dolus malus” dolo principal e dolo acidental; dolo positivo e dolo negativo; dolo de terceiro; dolo do representante; dolo de ambas as partes.

1.2. “DOLUS BONUS” E “DOLUS MALUS”

A primeira classificação do dolo é aquela que o divide em dolus bonus e dolus malus.

Por dolus bonus, entenda-se aquele que é tolerável, como, por exemplo, exacerbar as qualidades de um produto à venda. Carlos Roberto Gonçalves o define como sendo:

“(...) inocente, que consiste em blandícias, no apregoamento publicitário de qualidades, desde que não enganosa na utilização de artifícios menos graves que uma parte adote para levar a outra a contratar, ou para obter melhores proveitos no ajuste” [2012:440]

Não acarreta a anulação do negócio jurídico.

Quanto ao dolus malus, trata-se daquele que tem a pretensão de ludibriar a vítima contratante, prejudicando-a, através de através de atos, palavras ou mesmo do silêncio. Assim o descreve Carlos Roberto Gonçalves:

“Configura-se quando o negócio é realizado somente porque houve o induzimento malicioso de uma das partes. Não fosse o convencimento astucioso e a manobra insidiosa, a avença não teria concretizado” (2011:417)

Por sua gravidade, acarreta a nulidade do negócio jurídico, viciando-o e possibilitando indenização por perdas e danos.

1.3. DOLO PRINCIPAL E DOLO ACIDENTAL

O dolo principal é aquele que provocou a realização do negócio jurídico, pela sua existência. Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “configura-se quando o negócio é realizado somente porque houve o induzimento malicioso de uma das partes” (2011:417), de tal forma que, não fosse pelo artifício astucioso, o negócio e o dolo não se concretizariam.

Torna o negócio anulável, pois, de acordo com Caio Mário da Silva Pereira, ainda que o dolo acidental tenha motivado o negócio, este “só tem o efeito de anular o negócio jurídico quando chegue a viciar e desnaturar a declaração de vontade” (2012:417).

É diferente do dolo acidental, visto que nesse caso o negócio jurídico seria efetuado mesmo que esse evento não existisse.

5

Page 6: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Nesse caso, não se configura o vício, e o negócio não é anulável por conta do dolo. Segue o disposto no caput do artigo 146 do Código Civil:

“O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.”

1.4. DOLO POSITIVO E DOLO NEGATIVO

O dolo positivo é o ato em que se efetua o dolo, a atitude que induz ao erro. Maria Helena Diniz (2012:505) declara ser tal vício “o artifício astucioso que consta de ação dolosa”, na qual, afirmando falsidades sobre a qualidade do objeto do negócio, obtém-se o contrato.

Quanto ao dolo negativo, ocorre no momento em que se deixa de tomar a atitude que evitaria o engano da outra parte (chamado também de omissão dolosa).

Enseja a anulação do contrato, da mesma forma que o dolo positivo.

Caio Mário da Silva Pereira, a respeito, declara (2012:440):

“A malícia humana encontra meios variadíssimos de obrar, a fim de conseguir seus objetivos. Pode alguém proceder de maneira ativa, falseando a verdade, e se diz que procede por ação ou omissão. Mas é igualmente doloso, nos negócios bilaterais, o silêncio a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, a sonegação da verdade, quando, por comissão de circunstâncias, alguém conduz outrem a uma declaração proveitosa a suas conveniências, sub conditione, porém, de se provar que sem ela o contrato não se teria celebrado”

1.5. DOLO DE TERCEIRO

Ocorre quando o dolo é oriundo de outra pessoa, que não seja uma das duas partes do Negócio Jurídico.

Carlos Roberto Gonçalves (2011:421), a respeito desse tipo de dolo, explica que este é anulável caso comprove-se a cumplicidade com o terceiro pela parte lesadora. Se a parte beneficiada não souber da intenção do terceiro no dolo, o negócio não é anulado, mas a vítima tem o direito de exigir indenização por perdas e danos por parte do terceiro.

Nas palavras de Caio Mário da Silva Pereira (2012:442):

“A manobra dolosa que parte do terceiro anula o ato negocial apenas de ser conhecida de uma das partes. Se esta não preveniu, compactuo da malícia, e assumiu as consequências. Sendo ignorado de ambos, o negócio jurídico prevalece, sujeitando-se o terceiro, autor do dolo, ao ressarcimento das perdas e danos a quem foi enganado”

1.6. DOLO DO REPRESENTANTE

6

Page 7: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

No caso do dolo do representante, trata-se de alguém que, representando outro, induz a vítima ao dolo.

A respeito da relação entre representante e representado, quando da caracterização do dolo, Pereira (2012:442) afirma:

“O representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, pois age como se fosse o próprio representado. Quando atua no limite de seus poderes, considera-se o ato praticado pelo próprio representado. Se o representante induz ao erro a outra parte, constituindo-se dolo por ele na causa do negócio, este será anulável. Sendo o dolo acidental, o negócio subsistirá, ensejando a satisfação das perdas e danos”

Quanto ao papel das partes no negócio, e suas responsabilidades, Gonçalves (2011:422) declara que:

“O representante de uma das partes não pode ser considerado terceiro, pois age como se fosse o próprio representado. Quando atua no limite de seus poderes, considera-se o ato praticado pelo próprio representado. Se o representante induz ao erro a outra parte, constituindo-se dolo por ele na causa do negócio, este será anulável. Sendo o dolo acidental, o negócio subsistirá, ensejando a satisfação das perdas e danos”

Com respeito aos tipos de dolo de representante, o Código de 2002 representou inovação em relação a esse aspecto, diferenciando a representação legal, de curadores e tutores, da representação convencional, efetuada de forma voluntária.

No caso da representação legal, considera-se que o representado somente pode responder até o limite dos proventos que recebeu.

Gonçalves (2011:422) comenta, a respeito:

“O tutor, o curador, o pai no exercício do pátrio poder são representantes que a Lei impõe, sem que o representado, contra isso, se possa rebelar. Se estes atuam maliciosamente na vida jurídica, seria injusto que a lei sobrecarregasse com prejuízos advindos de sua má conduta o representado que não os acolheu e que, em geral, dada a sua incapacidade, não os podia vigiar”

Quanto à representação convencional, ambos, representante e representado, respondem solidariamente, de acordo com os limites da outorga recebida.

Pereira (2012:442) afirma, ainda, que se for comprovado que o representado desconhecia o que o representante fazia em seu nome, este só responderá quanto ao proveito obtido.

Citando Silvio Rodrigues, Gonçalves (2011:423) explica com clareza a gravidade do dolo de representante:

“... aquele que escolhe um representante, e lhe outorga mandato, cria um risco para o mundo exterior, pois o mandatário, usando o nome do mandante, vai agir nesse mundo de negócios criando relações de direito. Se é má a escolha,

7

Page 8: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

tem o mandante a culpa, e o dano resultante para terceiros deve ser por ele reparado.”

1.7. DOLO DE AMBAS AS PARTES (OU DOLO BILATERAL)

O dolo de ambas as partes, ou dolo bilateral, tem seus efeitos neutralizados, pois ninguém pode alegar torpeza se ambos os lados tiveram intenção de prejudicar ao outro.

Como diz o artigo 150 do Código Civil de 2002,

“Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.”

Pereira (2012:443) afirma, a respeito do dolo bilateral:

“Se ambas as partes se houverem reciprocamente enganado, compensam-se os dolos respectivos, a nenhuma delas sendo permitido alegá-lo, para anular o ato, ou reclamar indenização, pois, do contrário, beneficiar-se-ia da própria torpeza, o que o direito não tolera: “nemo de improbitate sua consequitur actionem””

1.8. DOLO DE APROVEITAMENTO

Carlos Roberto Gonçalves fala do dolo de aproveitamento, aquele pelo qual uma pessoa aproveita-se da inexperiência do outro para induzi-lo ao dolo. Nas palavras do autor (2011:423-424):

“Essa espécie de dolo constitui elemento subjetivo de outro defeito do negócio jurídico, que é a lesão. Configura-se quando alguém se aproveita da situação de premente necessidade ou da inexperiência do outro contratante para obter lucro exagerado, manifestamente desproporcional à natureza do negócio (CC, art. 157)

8

Page 9: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2. ACÓRDÃOS

2.1. STJ - AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.428.731 - DF (2011/0257717-3)

RELATOR : MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUESAGRAVANTE : GARCIA MORENO VIEIRA CHAVESADVOGADO : ANDRÉ PUPPIN MACEDO E OUTRO(S)AGRAVADO : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEFADVOGADO : LUCIANO CAIXETA AMÂNCIO E OUTRO(S)

EMENTAADMINISTRATIVO. FGTS. SAQUE. DOLO. REVISÃO DO POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL RECORRIDO. SÚMULA N. 7 DO STJ.

1.A Corte a quo afirmou, incisivamente, que a parte recorrente incorreu em dolo, quando da utilização do FGTS para a compra de seu imóvel. Para infirmar tais fundamentos, como o pretendeu a parte recorrente, faz-se necessário o revolvimento de matéria fático-probatória e o reexame de cláusulas contratuais, o que é inviável em sede de recurso especial pelo óbice dos enunciados n. 7 e 5, respectivamente, da Súmula desta Corte.

2. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, o seguinte resultado de julgamento:

"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque."

Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Castro Meira, Humberto Martins e HermanBenjamin (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 28 de fevereiro de 2012.MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES , Relator

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES(Relator):

Trata-se de agravo regimental interposto por Garcia Moreno Vieira Chaves contra decisão monocrática de minha relatoria sintetizada nos seguintes termos:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO.FGTS. SAQUE. DOLO. REVISÃO DO POSICIONAMENTO DO TRIBUNALRECORRIDO. SÚMULA N. 7 DO STJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃOPROVIDO.

Defende a inaplicabilidade do veto das Súmulas 5 e 7 do STJ, sob o argumento de que "o recurso especial não se ateve aos fatos ou ao contrato anteriormente entabulado entre as partes, mas apenas ao que foi afirmado pelo acórdão recorrido no momento de realizar a subsunção dos fatos à norma" (e-STJ fl. 291).

Requer a reconsideração da decisão agravada, ou seja o feito submetido a julgamentopelo órgão colegiado.

É o relatório.

9

Page 10: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.428.731 - DF (2011/0257717-3)EMENTA

ADMINISTRATIVO. FGTS. SAQUE. DOLO. REVISÃO DO

POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL RECORRIDO. SÚMULA N. 7 DO STJ.

1.A Corte a quo afirmou, incisivamente, que a parte recorrente incorreu em dolo, quando da utilização do FGTS para a compra de seu imóvel. Para infirmar tais fundamentos, como o pretendeu a parte recorrente, faz-se necessário o revolvimento de matéria fático-probatória e o reexame de cláusulas contratuais, o que é inviável em sede de recurso especial pelo óbice dos enunciados n. 7 e 5, respectivamente, da Súmula desta Corte.

2. Agravo regimental não provido.

VOTO

O SENHOR MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES(Relator):

Penso que é caso de manter a decisão agravada por seus próprios fundamentos, uma vez que a parte agravante não trouxe nenhum argumento que pudesse ensejar a reforma do juízo monocrático:

Trata-se de agravo de instrumento, com fulcro nos arts. 544 e seguintes do CPC, contra decisão que negou seguimento ao recurso especial.

O Tribunal a quo prolatou acórdão, nos seguintes termos:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. SAQUE DE FGTS PARA AQUISIÇÃO DEIMÓVEL RESIDENCIAL. DOLO DO FUNDISTA. ANULAÇÃO DO ATOJURÍDICO DE LIBERAÇÃO DOS VALORES FUNDIÁRIOS.

1. Caso concreto em que o Recorrente sacou seu FGTS para suposta compra de imóvel residencial.

2. Não restam dúvidas quanto à existência de dolo, como se depreende facilmente dos depoimentos prestados à Polícia Federal pelo Recorrente e seu irmão.

3. Salta aos olhos o artifício malicioso empregado pelo Recorrente para se apossar dos recursos do FGTS, consistente em liquidar o contrato de compra e venda que deu ensejo à liberação dos recursos por meio de compensação e, consequentemente, repassar os valores fundiários da conta de seu irmão para a sua.

4. Tal conduta, além de ilegal, desvirtua totalmente a finalidade da norma prevista no art. 20, inciso VII, da Lei nº. 8.036/90, que é permitir a aquisição ou construção de imóvel residencial para o fundista que não tenha moradia própria.

5. Correta, portanto, a anulação do ato jurídico de liberação do saldo da conta vinculado ao FGTS do Apelante, com esteio no artigo 147, inciso II, do Código Civil de 1916.

6. Apelação integralmente rejeitada.

Contra tal ato decisório foram opostos embargos de declaração, julgados emdecisão com ementa a seguir transcrita:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃOINEXISTENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO DA CAUSA.

1. Destinam-se os embargos de declaração a corrigir obscuridade, contradição, omissão ou inexatidão material do julgado (art. 535 do Código de Processo Civil).

10

Page 11: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2. Contradição é vício interno do voto/Acórdão e se resume à dissociação entre os fundamentos e a conclusão de um julgamento, o que não se verificou na espécie.

3. A intenção da parte embargante é rediscutir a matéria, o que não é possível em sede de embargos de declaração, devendo o inconformismo quanto ao entendimento acolhido no julgamento da apelação ser objeto do recurso cabível.

4. Embargos de Declaração rejeitados.

A parte agravante, em sede de recurso especial, indicou violação dos arts. 143 e 249 do Código Civil de 1916, por entender que não houve dolo quando da utilização do FGTS para a compra de seu imóvel.

Foi apresentada contraminuta.

É o relatório. Passo a decidir.

Não prospera o agravo de instrumento.

É pacífico o entendimento jurisprudencial sobre a impossibilidade de se reexaminar matéria probatória, nos recursos excepcionais. Nesse sentido, a Súmula n. 7 do STJ define que “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. Na mesma linha, a Súmula n. 279 do STF: “para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.

A Corte a quo afirmou, incisivamente, que a parte agravante incorreu em dolo, quando da quando da utilização do FGTS para a compra de seu imóvel. Veja-se trecho do acórdão recorrido (e-STJ fl. 221):

No que tange ao dolo, não restam dúvidas quanto a sua existência, como se depreende facilmente dos depoimentos prestados à Polícia Federal pelo Recorrente e seu irmão.

Para esclarecimento da questão, transcrevo trecho da douta sentença:

“O irmão do réu, em depoimento prestado à Polícia Federal (fls. 122/124), afirmou que comprou o imóvel de seu irmão por trinta e oito mil reais, apenas declarando valor inferior para recolher menor valor de ITBI. Afirmou, ainda, que, proposta a recompra do imóvel, a mesma foi aceita, ate porque ainda não havia pago os valores.

Logo após, alegou que restituiu ao réu os valores que recebeu a título de FGTS (fls. 123/124 e 133).

Da mesma forma, o réu afirmou, no depoimento de fls. 121/122, que os valores retirados do FGTS permaneceram na conta de seu irmão, o qual deveria, posteriormente, repassa-los a si.”Salta aos olhos o artifício malicioso empregado pelo Recorrente para se apossar dos recursos do FGTS, consistente em liquidar o contrato de compra e venda que deu ensejo à liberação dos recursos por meio de compensação (eis o motivo pelo qual o irmão do Apelante ainda não havia lhe pagado pela compra do imóvel), e, consequentemente, repassar os valores fundiários da conta de seu irmão para a sua.

Tal conduta, além de ilegal, desvirtua totalmente a finalidade da norma prevista no art. 20, inciso VII, da Lei nº. 8.036/90, que é permitir a aquisição ou construção de imóvel residencial para o fundista que não tenha moradia própria.

Correta, portanto, a anulação do ato jurídico de liberação do saldo da conta vinculado ao FGTS do Apelante, com esteio no artigo 147, inciso II, do Código Civil de 1916.

Para infirmar o acórdão recorrido, como o pretendeu a parte recorrente, faz-se necessário o revolvimento de matéria fático-probatória e o reexame de cláusulas contratuais, o que é inviável

11

Page 12: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

em sede de recurso especial pelo óbice dos enunciados n. 7 e 5, respectivamente, da Súmula desta Corte. A esse respeito:

É pacífica a orientação dos tribunais superiores de não admitir recursos excepcionais para a simples revisão de prova, tendo em vista o seu caráter de controle da higidez do direito objetivo (...).

Isso decorre de uma velha lição: não é possível a interposição de recurso excepcional para a revisão de matéria de fato. Não cabe recurso extraordinário com o objetivo de o tribunal superior reexaminar prova, tendo em vista que esse pleito não se encaixa em qualquer das hipótese de cabimento desse recursos.

(DIDIER JR. Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil, v. 3. 6. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2008, p. 250)

Dessarte, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento.

Pelas considerações expostas, NEGO PROVIMENTO ao agravo regimental.

É como voto.

12

Page 13: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2.2. RECURSO ESPECIAL Nº 1.175.577 - PR (2010⁄0004761-9)  RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : SUL AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S⁄A ADVOGADO : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S)RECORRIDO : CHRISTIAN ALBERTO ROCKER  ADVOGADO : ANA PAULA VEZZARO LAGO E OUTRO(S)RECORRIDO : HONORIS MARIA SIVIERO RÖCKER E OUTROADVOGADO : JOÃO BATISTA DOS ANJOS RECORRIDO : JEAN AUGUSTO RÖCKER ADVOGADO : JOÃO BATISTA ATHANÁSIO E OUTRO(S)

EMENTA DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA. CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO SUSPENSA. VELOCIDADE ACIMA DA PERMITIDA. ART. 768 DO CC⁄02. DOLO OU CULPA GRAVE. NEXO CAUSAL. NÃO COMPROVAÇÃO. AGRAVAMENTO DO RISCO NÃO CONFIGURADO. EXCLUDENTE DA COBERTURA DO SEGURO. NÃO CARACTERIZADA.

1. Para a configuração da hipótese de exclusão da cobertura securitária prevista no art. 768 do CC⁄02, exige-se que a conduta direta do segurado importe num agravamento, por culpa grave ou dolo, do risco objeto do contrato.2. A não discussão, pelo acórdão recorrido, da questão concernente à condução com carteira de motorista suspensa, impossibilita sua análise nas vias estreitas do recurso especial.  3. Para livrar-se da obrigação securitária, a seguradora deve provar que a condução em alta velocidade teria sido, efetivamente, a causa determinante do sinistro e que o segurado tenha direta e intencionalmente agido de forma a aumentar o risco.4. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 18 de novembro de 2010(Data do Julgamento)  MINISTRA NANCY ANDRIGHI, Relatora  RECURSO ESPECIAL Nº 1.175.577 - PR (2010⁄0004761-9)  RECORRENTE : SUL AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S⁄A ADVOGADO : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S)RECORRIDO : CHRISTIAN ALBERTO ROCKER  ADVOGADO : ANA PAULA VEZZARO LAGO E OUTRO(S)RECORRIDO : HONORIS MARIA SIVIERO RÖCKER E OUTROADVOGADO : JOÃO BATISTA DOS ANJOS RECORRIDO : JEAN AUGUSTO RÖCKER ADVOGADO : JOÃO BATISTA ATHANÁSIO E OUTRO(S) RELATÓRIO

13

Page 14: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

 A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):  Cuida-se de recurso especial interposto por SUL AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S⁄A com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo TJ⁄PR.Ação: de cobrança, sob o rito ordinário, ajuizada por HONORIS MARIA SIVIERO RÖCKER, FABIANA CRISTINA RÖCKER ROCHENBACK, CHRISTIAN ALBERTO RÖCKER E JEAN AUGUSTO RÖCKER em face da recorrente, após o indeferimento do pedido administrativo, pleiteando o pagamento do prêmio do seguro de vida contratado entre a ré e Hermenegildo Alberto Röcker, marido e pai dos autores, o qual veio a falecer em decorrência de acidente de trânsito (e-STJ fls. 04⁄21). Em sua contestação (e-STJ fls. 103⁄127), a ré sustenta que o segurado, ao dirigir em alta velocidade e com a carteira de habilitação irregular, teria aumentado o risco objeto do contrato. Sentença: entendeu que a presente demanda comportaria julgamento antecipado (e-STJ fls. 299) julgou procedente o pedido inicial para condenar a recorrente ao pagamento da "indenização por morte acidentária do segurado, no valor de R$161.110,00 (cento e sessenta e um mil e cento e dez reais), corrigido monetariamente desde a data de negativa de pagamento administrativo (26⁄04⁄2004) pelo IGP-M, e acrescido de juros de mora de 12% ao ano, na proporção de 25% para cada autor" (e-STJ fls. 308⁄323).Acórdão: o TJ⁄SC negou, por unanimidade, provimento ao recurso de apelação da ré (e-STJ fls. 337⁄348), ora recorrente. O acórdão foi assim ementado (e-STJ fls. 747⁄758):APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO DE VIDA EM GRUPO - CDC - APLICABILIDADE -CONDUÇÃO DE VEÍCULO EM EXCESSO DE VELOCIDADE - AGRAVAMENTO DE RISCO - INOCORRÊNCIA - INTENÇÃO DE AGRAVAMENTO - AUSÊNCIA DE PROVAS - EXCLUSÃO DE COBERTURA QUE SE MOSTRA ABUSIVA - INDENIZAÇÃO DEVIDA - JUROS MORATÓRIOS - INCIDÊNCIA DA CITAÇÃO - APELAÇÃO - PARCIAL PROVIMENTO.1.- Os contratos de seguro devem ser interpretados de forma mais benéfica ao consumidor, os quais são regidos pelos princípios da mais estrita boa-fé ("bona fidei negotia" - art. 765 do C.C.), assim como as regras que o disciplinam, onde a má-fé, o dolo ou a culpa grave não se presumem, impondo-se a seguradora o dever de demonstrá-los;2.- A agravação do risco merece exame de forma restritiva, isto é, só se pode considerá-la como existente quando, na realidade, houver prova concreta que o segurado agiu intencionalmente para sua consumação;3.- Havendo prova cabal da inexistência de voluntariedade do condutor do veículo, não ocorre o agravamento do risco, que só assim se caracteriza e, se apenas houve culpa, mesmo que confessa, deve a seguradora honrar o contrato e pagar a indenização ao beneficiário, sob pena de descaracterizar a essência do contrato de seguro, no qual o segurado visa, não só se prevenir contra ato de terceiro como seu próprio;4.- Quanto ao termo inicial dos juros moratórios, tratando-se de responsabilidade contratual, eles incidem a partir da citação, conforme precedentes desta Corte e dos Tribunais Superiores.  Recurso especial: interposto com base nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional (e-STJ fls. 421⁄439), aponta, além de divergência jurisprudencial, ofensa ao art. 768 do CC⁄02, porquanto o fato de o segurado dirigir em velocidade acima da permitida e com a carteira de habilitação suspensa configura agravamento do risco. Juízo de admissibilidade: após a apresentação das contrarrazões (e-STJ fls. 446⁄462, 464⁄473 e 475⁄483) e admitido o apelo na origem (e-STJ fls. 485⁄487), subiram os autos a este Tribunal.É o relatório.RECURSO ESPECIAL Nº 1.175.577 - PR (2010⁄0004761-9)  RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : SUL AMÉRICA SEGUROS DE VIDA E PREVIDÊNCIA S⁄A ADVOGADO : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S)RECORRIDO : CHRISTIAN ALBERTO ROCKER  ADVOGADO : ANA PAULA VEZZARO LAGO E OUTRO(S)

14

Page 15: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RECORRIDO : HONORIS MARIA SIVIERO RÖCKER E OUTROADVOGADO : JOÃO BATISTA DOS ANJOS RECORRIDO : JEAN AUGUSTO RÖCKER ADVOGADO : JOÃO BATISTA ATHANÁSIO E OUTRO(S) VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora):  I – Da delimitação da controvérsiaCinge a controvérsia a determinar se nesta demanda a condução, pelo segurado, de veículo em velocidade acima da permitida e com a carteira de habilitação suspensa devem ser consideradas como agravantes do risco de sua morte, a eximir o segurador do pagamento de indenização prevista em contrato de seguro de vida, conforme regra contida no art. 768 do CC⁄02.  II – Do prequestionamentoA matéria jurídica versada no art. 768 do CC⁄02 foi debatida no acórdão recorrido de modo a evidenciar o prequestionamento, requisito de admissibilidade do recurso especial.  III – Do agravamento do risco.  Violação do art. 768 do CC⁄02. A recorrente aponta ofensa ao art. 768 do CC⁄02, em face do acórdão do TJ⁄PR que determinou o pagamento de indenização securitária ao segurado, falecido em decorrência de acidente de trânsito, no qual se envolveu ao conduzir veículo com a carteira de motorista suspensa e em excesso de velocidade.  A seguradora busca, pela invocação do dispositivo de lei acima elencado, convencer de que o comportamento do segurado, ao dirigir em velocidade acima da permitida e com a habilitação suspensa, teria provocado o aumento do risco coberto pela avença, expondo-se a perigo desnecessário, comportamento esse excludente da cobertura do seguro de vida. Na disciplina do Código Civil atual, o art. 757 define que "pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados". Segundo se infere da sistemática adotada pelo CC, a responsabilidade do segurador fica adstrita somente aos riscos assumidos e previstos no contrato e, vale dizer, não ficando esclarecido quais os riscos contratualmente garantidos, a responsabilidade deverá abranger todos os riscos peculiares à modalidade do seguro contratado, aplicando-se, dessa forma, a interpretação mais favorável ao segurado, como já decidiu esta Corte (REsp 492.944⁄SP, 3ª Turma, minha relatoria, DJ de 05⁄05⁄2003).Contudo, nem sempre é tarefa fácil precisar quando os danos são decorrentes do risco assumido, haja vista que, uma vez formalizado o contrato, podem ocorrer fatos que agravem os riscos previstos na apólice, seja em decorrência de força maior, de atos de terceiro ou, ainda, em virtude de atitudes do próprio segurado. No que concerne a essa última hipótese, o CC⁄02 disciplinou no art. 768 que "o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato" (sem destaque no original). Agravar o risco significa, portanto, o aumento da probabilidade de ocorrência da lesão ao interesse garantido ou da extensão do dano, alterando as circunstâncias previstas na formação do contrato. Essa vedação em agravar os riscos durante a vigência do contrato é exigida do segurado em razão do dever de agir com boa-fé (art. 765 do CC⁄02), evitando-se, assim, que seja o segurador compelido a responder injustamente por outros riscos que não os acordados inicialmente em vista de certas situações fáticas, o que, em última análise, acabaria por afetar o equilíbrio da mutualidade dos segurados.Para que possa ter aplicação a regra contida no dispositivo de lei em comento, exige-se a conjugação de duas condições. A primeira diz respeito à intencionalidade. Enquanto o diploma civil anterior parificava toda e qualquer agravação (Art. 1.545. Enquanto vigorar o contrato, o segurado abster-se-á de tudo quanto possa aumentar os riscos, ou seja, contrários aos termos do estipulado, sob pena de perder o direito do seguro.), o CC⁄02 previu que, para a configuração de tal agravamento, mister que o segurado aja intencionalmente de forma a aumentar o risco, ou seja, voluntariamente se arrisque ao resultado danoso. Esta Corte, em diversos precedentes envolvendo acidente provocado por segurado em estado de embriaguez, firmou o entendimento de que essa conduta – conquanto existente entre ela e

15

Page 16: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

o evento danoso um nexo causal –, exime o segurador do pagamento do capital estipulado. Nesse sentido, vejam-se os seguintes julgados: REsp 973.725⁄SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 15⁄09⁄2008; REsp 599.985⁄SC, 4ª Turma, César Asfor Rocha, DJ de 02⁄08⁄2004; REsp 341.372⁄MG, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 31⁄03⁄2003; REsp 685.413, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 26⁄06⁄2006; REsp 212.725⁄RS, 4ª Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 19⁄12⁄2003. Como observa Carlos Roberto Gonçalves (Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 476) "a culpa grave é a decorrente de uma violação mais séria do dever de diligência que se exige do homem mediano. Costuma-se dizer que a culpa grave ao dolo se equipara. Ocorre, na responsabilidade civil automobilística, em casos de excesso de velocidade, de ingresso em cruzamentos com o semáforo fechado, de direção em estado de embriaguez etc.".Dessa forma, ainda que haja na doutrina quem defenda a configuração da agravação do risco somente na hipótese de ocorrência de dolo (Pedro Alvim. O contrato de seguro. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 224⁄225), esta Corte acabou adotando a orientação no sentido de que o art. 768 do CC⁄02 também encontra aplicação na hipótese de conduta culposa grave. É o que se infere pelos precedentes acima citados – envolvendo casos de acidente de trânsito em que o condutor encontrava-se embriagado – além do seguinte julgado: REsp 189.009⁄SP, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 14⁄02⁄2000. No mesmo sentido, registre-se a orientação dos seguintes doutrinadores: Sérgio Cavalieri Filho. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2007, p. 426⁄427; Ernesto Tzirulnik, Flávio de Queiroz B. Cavalcanti e Ayrton Pimentel. O Contrato de seguro de acordo com o novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: RT, 2002, p. 80⁄81; Celso Marcelo de Oliveira. Teoria geral do contrato de seguro. Campinas: LZA, 2005, v. I, p. 284 e Leone Trida Sene. Curitiba: Juruá, 2009, p. 108.Por conseguinte, constata-se, pela simples leitura do preceito de lei, que a agravamento dos riscos deve ocorrer de forma proposital, porquanto – como contrato bilateral que é –, somente tal atitude afetaria a equivalência objetiva da prestação. Nesse sentido, vale destacar ainda a percuciente lição de Ernesto Tzirulnik, Flávio de Queiroz B. Cavalcanti e Ayrton Pimentel (O Contrato de seguro de acordo com o novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: RT, 2002, p. 80⁄81) ao analisar a retidão conceitual da norma:Quando durante a execução do contrato celebrado o segurado agrava intencionalmente o risco, o comportamento revela o perecimento do interesse legítimo, objeto do contrato. Afinal, para que seja legítimo o interesse garantido é imprescindível que o segurado deseje preservar o status quo e não queira, nem lhe seja vantajosa, a realização do risco.Além disso, ao desejar a realização do risco é perdida a função social do contrato, ferida a boa-fé objetiva, desaparecida a fidúcia e rompido o equilíbrio entre as prestações.  Por oportuno, menciona-se ainda a lição de Pontes de Miranda (Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970, t. V, p. 329), preocupado em fornecer um critério objetivo para qualificar a conduta do segurado, observou:Para que haja a pena, é preciso que mudança haja sido tal que o segurador, se ao tempo da aceitação existisse o risco agravado, não teria aceito a oferta ou teria exigido prêmio maior. Ainda nesse sentido, destaca José Augusto Delgado (Comentários ao novo Código Civil: das várias espécies de contrato. Do seguro. Coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2004. v. XI, t.1, p.243) que "a jurisprudência tem firmado posição no sentido de que o fenômeno da agravação do risco merece exame de forma restritiva, isto é, só se pode considerá-la como existente quando, na realidade, houver prova concreta que o segurado agiu intencionalmente para a sua consumação". De outro lado, há de se registrar que a intencionalidade não se afigura como critério único para a configuração do agravamento do risco. O entendimento jurisprudencial recente buscou amenizar os efeitos do agravamento dos riscos por ato voluntário do segurado, pendendo para a solução de que se deve analisar a conduta do segurado no contexto do sinistro, ou seja, imprescindível que haja um nexo de causalidade entre o comportamento do agente e o evento danoso.  A propósito, vejam-se os seguintes precedentes: REsp 599.985⁄SC, 4ª Turma, César Asfor Rocha, DJ de 02⁄08⁄2004; REsp 654-995⁄MG, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 14⁄08⁄2007; REsp 341.372⁄MG, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 31⁄03⁄2003; REsp 685.413⁄BA, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 07⁄03⁄2006; REsp 212.725⁄RS, 4ª Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ de 19⁄12⁄2003 e REsp

16

Page 17: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

685.413, 3ª Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 26⁄06⁄2006. Por oportuno, extrai-se desse último julgado o seguinte trecho: Evidentemente, a contratação de um seguro não impõe que o segurado tenha que se preocupar ainda mais com sua segurança do que antes de contratá-lo. O que se busca com o seguro é mais tranquilidade. Por essa razão é que, com admirável sabedoria, o Código Beviláqua (Art. 1.456) determina que o Juiz, na aplicação do Art. 1.457, tempere com equidade o alegado agravamento do risco, desprezando "probabilidades infundadas".A interpretação sistemática desses dispositivos complementares revela que a cobertura securitária só desaparece quando o agravamento do risco for causa eficiente e determinante para a ocorrência do sinistro. A postura do segurado, capaz de excluir a responsabilidade da seguradora deve ser de tal modo grave que se aproxime do dolo. (sem destaque no original) Diante das ponderações acima vertidas, constata-se que, na hipótese dos autos, apesar de ter restado comprovado que o segurado conduzia seu veículo, no momento do acidente, em velocidade acima da permitida e portando carteira de habilitação suspensa, não restou assentado nas instâncias ordinárias que esses dois fatores teriam sido determinantes para a ocorrência do sinistro. De fato, a sentença proferida pelo Juízo de primeiro grau de jurisdição e confirmada pelo Tribunal de origem (e-STJ fl. 320), ao transcrever trecho do laudo pericial, é expressa em afirmar que "as condições de tempo e da pista eram boas, não se sabendo ao certo o motivo do descontrole do veículo, o qual, contudo e numa mera presunção, pode ser resultante da alta velocidade em que trafegava" (sem destaque no original).  Ora, se a velocidade excessiva em que o segurado conduzia seu automóvel "poder ser" motivo do descontrole do veículo, é porque não ficou comprovado que ela realmente foi a causa do acidente. Com efeito, a locução verbal "pode ser" exprime uma ideia de dúvida, anuncia a velocidade excessiva como causa possível, hipotética, incerta do acidente, mas não como causa certa e inquestionável. Constata-se, ademais, que no acórdão recorrido nem sequer foi discutida a questão concernente à condução com carteira de motorista suspensa, a propiciar sua análise nas vias estreitas do recurso especial.  Além disso, ainda que assim não fosse, ou seja, mesmo que tivesse restado caracterizado o nexo causal entre o sinistro e a velocidade excessiva, há de se ressaltar que apenas o risco agravado intencionalmente pelo segurado determina o perecimento do direito ao recebimento do capital. Veja-se que, na hipótese dos autos, igualmente esse requisito não se encontra preenchido, conforme se depreende pela leitura do acórdão do TJ⁄PR, do qual se extrai o seguinte excerto (e-STJ fl. 413): No caso não é possível presumir o dolo ou a culpa grave do segurado como excludente de responsabilidade não podem ser presumidos, e se ocorrente, devem estar exaustivamente demonstrados pela seguradora, o que não ocorreu. Dessa forma, não havendo comprovação cabal de que o segurado tenha direta e intencionalmente agido de forma a aumentar o risco e de que a condução em alta velocidade teria sido a causa determinante do acidente, não há que se falar em violação do art. 768 do CC⁄02. Aliás, considerando que o contrato de seguro se sujeita ao CDC, o ônus da prova acerca dessa demonstração incumbiria a seguradora, que, como visto, nada produziu nesse sentido.A seguradora deve, portanto, ser responsabilizada a prestar a cobertura securitária pactuada, que, "a toda evidência, constitui um risco inerente à própria atividade e natureza da cobertura de eventos incertos, mas previsíveis, de acordo com as circunstâncias usuais encontráveis no trânsito" (REsp 341.372⁄MG, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ de 31⁄03⁄2003).Em conclusão, além de não haver ofensa ao art. 768 do CC⁄02, entendo não haver dissídio jurisprudencial, tendo em vista que a matéria impugnada pela recorrente com fundamento na alínea "c" do permissivo constitucional, qual seja, a discussão acerca da interpretação do art. 768 do CC⁄02 é a mesma tratada na alínea "a", de modo que a análise do mérito da impugnação torna desnecessária a reapreciação da questão, que necessariamente convergirá para o que se decidiu quanto à violação. Forte nessas razões, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.É como voto.

17

Page 18: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2.3. RECURSO ESPECIAL N° 107.961 - RS (1996/0058493-1)

RELATOR : MIN. BARROS MONTEIRORECTE (S) : PEDRO DIAS DE MEIRA E OUTROSADVDO (S) : LUIZ JUAREZ NOGUEIRA DE AZEVEDO E OUTROSRECDO (S) : ANTONIO ALVES XAVIER E OUTROSADVDO (S) : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTROS

EMENTA

LESÃO. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS. ENGANO. DOLODO CESSIONÁRIO. VÍCIO DO CONSENTIMENTO. DISTINÇÃO ENTRELESÃO E VÍCIO DA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE. PRESCRIÇÃOQUADRIENAL.

- Caso em que irmãos analfabetos foram induzidos à celebração do negócio jurídico através de maquinações, expedientes astuciosos, engendrados pelo inventariante- cessionário. Manobras insidiosas levaram a engano os irmãos cedentes que não tinham, de qualquer forma, compreensão da desproporção entre o preço e o valor da coisa. Ocorrência de dolo, vício deconsentimento.- Tratando-se de negócio jurídico anulável, o lapso da prescrição é o quadrienal (art. 178, § 9o, inc. V, "b", do Código Civil).

Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:Prosseguindo no julgamento, decide a Quarta Turma do SuperiorTribunal de Justiça, por maioria, não conhecer do recurso, vencidos os Srs.Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira, na forma dorelatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado.Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Aldir PassarinhoJúnior.

Brasília, 13 de março de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de AguiarPresidenteMinistro Barros MonteiroRelator

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO:

- Pedro Dias de Meira e outros ajuizaram a presente ação contra Antônio Alves Xavier e outros, objetivando a declaração de nulidade da cessão de direitos hereditários feita pelo primeiro co-autor e seu falecido irmão Oleriano Dias de Meira a José Alves Xavier: (a) por violação do art. 1.133, I, do Código Civil, ou (b) em razão da presença da lesão; ou se assim não for, a declaração de inexistência de citação no inventário que se processou pelo falecimento de Joaquina Meira de Quadros, ficando em decorrência nula a sentença homologatória de partilha, assim como as transcrições imobiliárias, a fim de que os bens do Espólio retornem a seus legítimos donos, sob as seguintes alegações:

No dia 19.04.37, Joaquina Meira de Quadros, em testamento público, deixou como legado a Pedro Dias de Meira e Oleriano Dias de Meira um bem imóvel, neste termos:

"A meus agregados Oleriano Dias de Meira e Pedro Dias de Meira, irmãos, quero que também como legado e em partes iguais, caiba o resto das partes de posses de terras de cultura que

18

Page 19: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

tenho herdadas de meu pai e compradas de Manoel Francisco de Quadros, e situada entre os rios Colorado e Cotovelo, no segundo distrito deste município, dito restantes das mesmas partes a ser apurada quando venha a ser feita a medição e divisão da referida posse entre os condôminos dela".

Joaquina Meira de Quadros veio a falecer em 17.12.59 e a 23.10.59 seus herdeiros ingressaram com o inventário, nomeado inventariante José Alves Xavier, sendo testamenteiro Nestor Sampaio de Quadros.

Entre os bens arrolados, achava-se "uma parte de terra de cultura, com área de dez alqueires de terra, mais ou menos, ou seja, 242.000 m², mais ou menos, na posse de terra de cultura, situada na Serra Geral, entre os rios Colorado e Cotovelo, no 2o distrito deste município, na parte oriental da posse, dividindo com terras de Alberto Graeff, Aladim de Quadros, Ângelo Pagliarini, Tubino Marcondes e outros, havida pela inventariada em herança de seus pais Firmiano Pereira de Quadros e Galdina Honorata de Quadros e comprada de Manoel Francisco de Quadros".

José Alves Xavier, o mentor de tudo, queria fazer com que todos acreditassem que esse era o imóvel destinado aos "morenos analfabetos" e, numa manobra insidiosa, criou a malsinada escritura de cessão de direitos hereditários, em data de 15.12.59, quando se achava prestes a findar o inventário. Elaborou, através de "experts", o texto da escritura pública,impondo-a a Pedro e a Oleriano com maquinações e artifícios.

Mais tarde, estes últimos, verificando o logro de que foram vítimas, nãose conformando com o expediente astucioso, revoltaram-se contra isso e, emmaio de 1.984, Pedro e os descendentes de Oleriano, visando a reaver oimóvel, ingressaram com ação de nulidade do inventário e partilha. Essademanda veio a ser julgada improcedente, sob o fundamento de que, pelostermos da escritura, Pedro e Oleriano haviam cedido todos os seus direitoshereditários a José Alves Xavier. A decisão foi confirmada pelo Tribunal deJustiça do Estado.

Não obstante terem os Desembargadores rejeitado o apelodos autores, a voz experimentada do Desembargador Luís Fernando Kochdeixou entremostrado o caminho para sanar a injustiça:

"Se, por outro lado, o preço não correspondeu à área vendida, por serem osvendedores analfabetos, o que agora se alega em apelação, o fato não foi objeto da ação, mesmo porque não se pretende a nulidade do instrumento de cessão"

O Magistrado, no ato decisório, limitou-se a dizer que a cessão compreendera todos os direitos possuídos pelos cedentes; apenas constatou que Pedro e Oleriano cediam todos os direitos. Na mesma linha persistiu o Eg. Tribunal. Embora formalmente perfeito o instrumento público, existem duas motivações que são apropriadas ao seu desfazimento: 1º - a cessão é nula, eisque beneficiou o testamenteiro de fato, José Alves Xavier (art. 1.133, inc. I, do Código Civil); 2º - a presença do instituto da lesão, já que o referido José Alves Xavier, valendo-se de circunstâncias, reduziu Pedro e Oleriano à sua mercê.

Os cedentes eram analfabetos, enquanto que o cessionário, inventariante nos autos de inventário, tendo como procurador o mesmo bacharel mandatário do testamenteiro, Nestor Sampaio de Quadros, que se mostrou omisso.

De outra parte, José Alves Xavier tornou-se proprietário de um patrimônio considerável, com plena consciência da vantagem, desfalcando o patrimônio de Pedro e Oleriano, que em troca pouco receberam. Na posição de testamenteiro e inventariante, José Alves Xavier abusou da inexperiência dos "morenos analfabetos".

Toda a venda e compra, se inobservada a característica da comutatividade, é nula. Na precedente ação de nulidade, é reconhecida ausência da cumutatividade. No caso, pois, a lesão está escancarada.

Na lesão é presumido o dolo; a coisa e os frutos devem ser restituídos desde a época do contrato.

19

Page 20: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Obedecendo ao princípio da eventualidade, pedem, ainda, a declaração de inexistência da citação de ambos no inventário de Joaquina Meira de Quadros. Na condição de legatários, deveriam ter sido citados, mesmo que tivessem alienado seus direitos. Além disso, há a alertar para a inexistência formal do termo de transigência; a falta de assinatura do termopelo Magistrado torna nulo o inventário.

Na contrariedade, os réus argüíram; a) prescrição; b) coisa julgada; c) desnecessidade de citação dos cedentes no inventário. Após a réplica, os autores formularam pedido de declaração incidente, pretendendo que se declare ter havido a cessão de somente uma área correspondente a 10 alqueires e, com relação ao restante, a ser medido e demarcado, não houve cessão alguma de direitos.

Na sentença, a Mma. Juíza de Direito julgou extinto o processo; a uma, pela ocorrência da prescrição em relação ao pedido principal; a duas, pela ocorrência da coisa julgada com respeito aos pedidos alternativos. Além disso, reputou improcedente o pedido de declaração incidente.

Tocante à lesão, considerou que não se aplica a prescrição vintenária, mas sim o prazo previsto no art. 178, § 9o, V, "b", do Código Civil.

Apelaram os autores e a Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por maioria, deu provimento ao recurso para, afastando as assertivas de prescrição e coisa julgada, limitar o alcance da cessão a 10 alqueires, declarando a nulidade da mesma cessão em relação à área restante, a ser apurada na forma determinada no testamento. O voto condutor do V.

Acórdão, da lavra do Exmo. Sr. Desembargador Eliseu Gomes Torres, entendeu que a prescrição não é quadrienal, porque houve no caso lesão enorme e, assim, é ela vintenária. Concluiu que, com referência à área a ser apurada, o ato não é apenas nulo, mas inexistente. Asseverou, mais, que os autos estão recheados de interrupções adequadamente feitas e que revelam, tal como os demais pedidos ajuizados, a ferrenha disposição dos autores emdefender o seu direito.

Acolheram-se os declaratórios opostos pelos autores, também por maioria de votos, para esclarecer que o percentual da honorária fixado incidirá sobre o valor da condenação. Não foram conhecidos os aclaratórios apresentados pelos réus, que alegavam supressão de instância e pronunciamento incompleto pelo Sr. Desembargador vencido.

Os demandados aviaram, concomitantemente, embargos infringentes e recurso especial, restando este último sobrestado.

O Quarto Grupo de Câmaras Cíveis recebeu os embargos infringentes para declarar a prescrição da ação, vencidos os Srs. Desembargadores Sérgio Gischkow Pereira, Eliseu Gomes Torres e Léo Afonso Einloft Pereira. Do voto vencedor proferido pelo Sr. Desembargador Paulo Heerdt colhe-se:

"As questões na ação de nulidade do contrato de cessão de direitos hereditários sãos as seguintes:

a) enorme lesão consistente em terem, através do contrato, cedido, não apenas mais ou menos dez alqueires, como constava do testamento, mas mais do que isso; b) haver nulidade porque impossibilitada a cessão em favor de testamenteiro;c) nulidade de citação no processo de inventário;d) alternativamente, ao invés de nulidade, declaração da abrangência do contrato de cessão.

As questões relativas à nulidade por infração ao disposto no art. 1.133 do CC e à nulidade de citação no processo de inventário, não foram causa de divergência e, por isso, não são objeto dos embargos.

20

Page 21: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Ocorreu divergência quanto ao prazo de prescrição da ação de revisão do contrato por motivo de enorme lesão e quanto à ocorrência de coisa julgada relativamente à declaração dita incidente, mas que, na verdade, constituiu pedido alternativo: pretendeu-se a nulidade do contrato ou a redução de seu objeto.Assim, a primeira indagação a ser enfrentada é a do prazo prescricional: em caso de lesão se dá a prescrição da ação em quatro ou em vinte anos? Ainda que no caso concreto não se possa visualizar a prova da lesão, pois sequer foram medidas as terras para, assim, se verificar da lesão, é necessário que seperquira da sua natureza jurídica. Sendo causa de nulidade, não prescreveria; sendo causa de anulabilidade, em quatro anos.Na lição de ARNALDO RIZZARDO, define-se como lesão ou enorme lesão 'O NEGÓCIO DEFEITUOSO EM QUE UMA DAS PARTES, ABUSANDO DA INEXPERIÊNCIA OU DA PERMANENTE NECESSIDADE DA OUTRA, OBTÉM VANTAGEM MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONAL AO PROVEITO RESULTANTE DA PRESTAÇÃO OU EXAGERADAMENTE EXORBITANTE DENTRO DA NORMALIDADE. ' (Contratos, vol. I, pág. 204).Logo se vê que não pode ser confundida com a teoria da imprevisão, embora ambas possam ser consideradas exceção ao princípio da pacta sunt servanda.Na primeira, o princípio está fundado, como ensinam PLANIOL e RIPERT, na presunção de que as partes, de comum acordo, subordinaram a execução do contrato à manutenção do estado de coisas existentes no dia de sua formação (Apud OTHON SIDOU, 'Revisão Judicial dos Contratos', Forense, pág. 12).Assim, a cláusula rebus sic stantibus significa que o vínculo contratual se deve considerar subordinado à continuação do estado de fato existente ao tempo de sua formação, de tal sorte que, modificado o ambiente objetivo por circunstâncias supervenientes e imprevistas, a força obrigatória do contrato não deve ser mantida, justificando-se a intervenção judicial. (ob. e pág. cit. ).Pela simples conceituação, se percebe que a onerosidade que eventualmente possa advir de um contrato está na modificação da situação das coisas, fenômeno estranho à vontade das partes.Contudo, nem a imprevisão nem a lesão mereceram norma expressa no direito obrigacional brasileiro.Esta última, por isso, na expressão de WILSON DE ANDRADE BRANDÃO, 'situa-se ao lado dos outros vícios da vontade, insuscetível de neles apagar os seus contornos próprios.' ('A Lesão e Contrato no Direito Brasileiro', Ed. Aidê, 3a ed., pág. 103).LUIS MOISSET DE ESPANES demonstra, em estudo de direito comparado que algumas legislações adotaram fórmulas objetivas, seguindo o Direito Romano. É o caso do Direito Francês, que, através de fatos objetivos, procura combater a lesão, levando em conta o desequilíbrio entre as prestações como elemento básico ('La Lesion Em Los Actos Jurídicos', Cordoba 1965, pág. 61).Deste modo o Código Francês, em seu art. 1.118, permite a rescisão contratual por lesão somente quando especialmente prevista em lei a situação fática.A par desse sistema, encontram-se o sistema misto da Alemanha e o subjetivo dos países anglo-saxônicos, em que se leva em conta, não apenas a desproporção, mas o elemento confiança, servindo de exemplo a relação entre pais e filhos. A simples desproporção de prestações no sistema inglês não pode levar a anulação do contrato.Por último, indica o jurista os países que não aceitam a instituição. Entre eles coloca o Brasil.Realmente não consagra nossa legislação a enorme lesão como causa autônoma, capaz de ensejar revisão de contrato.Não se nega que modernamente o princípio da pacta sunt servanda vem sofrendo mitigações acentuadas. Há muito os tribunais vêm rechaçando cláusulas leoninas e admitindo a revisão judicial da manifestação de vontade das partes.Esta tendência veio a consagrar-se na Lei nº 8.078/90 (Código de Proteção ao Consumidor) que, nos contratos que versem relações de consumo, entre fornecedor e consumidor, relacionou cláusulas abusivas, especialmente nos contratos de adesão. Merece destaque o art. 51, IV, ao reprimir cláusula que coloque o consumidor em desvantagem exagerada, com ameaça ao equilíbrio contratual.Todavia, ainda que se admita a enorme lesão com o fundamento para a invalidação da manifestação de vontade do contratante, é certo que, não estando regulada em lei, deve ser

21

Page 22: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

equiparada aos vícios de manifestação de vontade ,exigindo-se causas subjetivas, já que, por ausência de norma legal expressa, inviável se veja nela causa de nulidade.Sustenta CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA que o conceito moderno de lesão emana do concurso do elemento objetivo - que seria a obtenção de lucro patrimonial excedente - e o elemento subjetivo, que consiste no abuso da premente necessidade, inexperiência ou leviandade da outra parte.Acrescenta o civilista: 'Não basta que um contrato seja prejudicial, mas é preciso que, além da vantagem que um contratante aufira, se verifique, ainda, a especulação em torno da situação particular que levou o outro a celebrar o contrato que lhe é tão desfavorável' (Lesão nos Contratos, Forense, 1993, pág. 165).Invocando RENÉ DEKKERS, ensina ARNALDO RIZZARDO que 'a lesão é inassimilável em qualquer um dos vícios de vontade, mas caracteriza-se por outros elementos que desvirtuam a vontade e fazem emitir um querer defeituoso.' (ob. cit., pág. 209).Arrimado na posição de WILSON DE ANDRADE BRANDÃO, conclui RIZZARDO que 'tendo contornos próprios, por si apenas provoca a anulação do ato.' (ob. e pág. cit. ).Tenho que assim o é.O Código Civil, ao sistematizar os defeitos dos atos jurídicos, enunciou as causas de nulidade em seu art. 145 e, as de anulabilidade, no art. 147. Estas últimas dizem todas com vícios de consentimento.Ora, se não está a enorme lesão entre as causas de nulidade do art. 145, forçoso concluir que, se como causa de rescisão puder ser invocada, o será por equiparação aos vícios de consentimento. Logo, o defeito da manifestação de vontade levará à anulação e não à nulidade.A partir dessa conclusão fácil perceber que a ação que visa a revisão de contrato de cessão de direitos hereditários, porque teria ocorrido lesão enorme, tem prazo prescricional de quatro anos, nos termos do disposto no art. 178, § 9o, V, b, do Código Civil, pois que a vício de consentimento se equipara.Assim, pedindo vênia à douta maioria, acolho os embargos para, nos termos do voto vencido, negar provimento à apelação.(...).No Direito Romano, a lesão era prevista na Lei Segunda, e lá se admitia especificamente para o caso de usura, considerando a usura como um contrato de objeto ilícito. Então, era uma causa objetiva que invalidava o contrato. Os nossos autores colocam a usura como a hipótese específica de lesão determinada, que poderia levar ao objeto ilícito. Essa é a posição também de Caio Mário da Silva Pereira, no sentido específico de que, havendo lesão de usura, levaria ao objeto ilícito e seria causa de nulidade.Assim sendo, Sr. Presidente, a partir desta conclusão, de que se trata de um vício de consentimento, que não se confunde com o erro, nem com o dolo, nem com a coação, mas que deve ser colocado ao lado desses vícios, é fácil perceber que a ação que visa à revisão do contrato de cessão de direitos hereditários, porque teria ocorrido lesão enorme, tem prazo prescricional de quatro anos, nos termos do disposto no art. 178, § 9o, inc. V, letra b, do Código Civil, pois que a vício de consentimento se equipara " (fls. 322/326).

Inconformados, os autores manifestaram recurso especial com fulcro nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, apontando vulneração dos arts. 145, II, e 177 do Código Civil, e 4o, "b", e § 3o, da Lei n. 1.521, de 26.12.51, além de dissídio jurisprudencial. Sustentaram que a Lei n. 1.521/51. que trata da economia popular define como ilícito penal "obter ou estipular, emqualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida". Não só a lesão enormevoltou a figurar no sistema do direito positivo brasileiro, como também significa que no caso ilícito é o objeto da cessão de direitos hereditários operada. Daí ainvalidade do contrato por nulidade e não por mera anulabilidade.Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido na origem.O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento e provimento.É o relatório.

22

Page 23: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (RELATOR): -

José Alves Xavier, antecessor dos réus, celebrou com o co-autor Pedro Dias de Meira e seu falecido irmão Oleriano Dias de Meira contrato de cessão de direitos hereditários, através do qual estes últimos lhe transferiram todos os direitos que lhes foram legados por Joaquina Meira de Quadros, bens estes constantes de uma fração de terras de cultura, sem benfeitorias, com 10 alqueires mais ou menos, remanescente de partes de posse, a ser apurada quando vier a ser feita a medição e divisão entre os condôminos. Ocorre que, findo o inventário de Joaquina Meira de Quadros, se verificou que o resto das áreas ou as sobras são muito maiores que os 10 alqueires citados, ultrapassando 500 hectares ou 200 alqueires. O preço pago não correspondera à área efetivamente vendida e assim sendo, com plena consciência da vantagem, José Alves Xavier tornou-se proprietário de gleba considerável, desfalcando o patrimônio de Pedro e Oleriano que, em troca, pouco receberam. Daí a invocação pelos autores do instituto da lesão, sustentando que na espécie ocorre em razão dela a nulidade do contrato, pela ilicitude do objeto, e não a sua mera anulabidade.

A despeito de alegada a lesão com um dos fundamentos jurídicos da pretensão vestibular, estou em que na verdade, já na peça exordial, os demandantes descreveram os fatos que, ao fim e ao cabo, revelam a ocorrência vício do consentimento. Principiam por afirmar que o mentor de tudo fora o inventariante José Alves Xavier que, numa manobra insidiosa, criou a malsinada escritura de cessão de direitos hereditários. Pelos termos em que vazada a petição inicial, José Alves Xavier engendrou a trama toda, descrevendo o imóvel no inventário com característicos semelhantes àquelas insertas na escritura de cessão, de tal forma que, com este artifício, passou ao final a deter a titularidade do bem em detrimento dos dois irmãos que haviam recebido o preço correspondente a apenas 10 alqueires. Quer dizer, foram logrados pelo inventariante, conforme está escrito no petitório inaugural. Ora, o ludibrio, o engodo, constituem o dolo, um dos vícios da manifestação da vontade previstos na lei civil. Segundo o clássico conceito de Clóvis Bevilaqua "dolo é o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato, que o prejudica, e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro" (Código Civil Comentado, vol. I, pág. 331, 3a ed. ). Para o insigne civilista, "o agente doloso induz o outro em erro; mas o erro é apenas, como diz Saleilles, o meio pelo qual o autor do dolo atua sobre a vontade. No erro, a idéia falsa é do agente; no dolo é uma elaboração da malícia alheia" (ob. citada, pág. 332).

Tem-se, pois, que no caso se configurou o dolo, no qual se acha ínsita, de um lado, a idéia de prejuízo da vítima e, de outro, a vantagem do autor ou de terceiro. Foi nesse sentido, por sinal, que se pronunciaram, no julgamento dos embargos infringentes, os Srs. Desembargadores Ulderico Cecatto e Alceu Binato de Moraes, sendo deste último a observação de que, "sob o manto dessa discutidíssima tese da lesão enorme, está embutida a alegação de engano, erro e logro. Ora, isso é vício de vontade" (fls. 333).

Não é fácil extremar-se, com efeito, a lesão dos chamados vícios do consentimento.

O Prof. Caio Mário da Silva Pereira leciona que o conceito de lesão, aproximado da noção moderna, emana do concurso de dois elementos: o objetivo e o subjetivo. O primeiro - "obtenção de lucro patrimonial excedente de um quinto do valor corrente ou justo - decorre da comparação entre a vantagem obtida e esse valor". O segundo elemento "consiste no abuso da premente necessidade, inexperiência ou leviandade da outra parte. É a base da teoria da lesão, segundo De Page. Não basta que um contrato seja prejudicial, acrescenta, mas é preciso que, além da vantagem que um contratante aufira, se verifique, ainda, a especulação em torno da situação particular que levou o outro a celebrar o contrato, que lhe é tão desfavorável. Diante disso, apura-se que o outro contratante, o beneficiado, praticou um ato consciente, positivo, ao se aproveitar daquelas condições desfavoráveis ao lesado" (Lesão nos Contratos, págs. 164 165, 5a ed. ). O característico da lesão é o dolo de aproveitamento, o abusar daquele estado psíquico da outra parte, para obter vantagem patrimonial (ob. citada, pág. 168).

23

Page 24: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

Pela lição do eminente Mestre, um dos mais ardorosos defensores desse instituto em nosso país, poder-se-ia afirmar encontrar-se delineada, em tese, a lesão no caso dos autos: os autores referem-se repetidamente aos dois irmãos cedentes como "os morenos analfabetos". Diga-se em princípio, porque prova acerca da inexperiência, da inferioridade destes, não há. Existe apenas a alegação formulada pelos autores, pois o feito terminou por ser julgado antecipadamente pela Mma. Juíza de Direito.

De todo modo, a distinção entre o instituto da lesão e os vícios do consentimento vem realçada pela Professora Anelise Becker em sua obra "Teoria Geral da Lesão nos Contratos". Para ela, "o fato de que a subjetividade da lesão apenas possa ser entendida no sentido de que a relação de valor entre as prestações é influenciada, condicionada, pela situação de inferioridade da vítima, porém, não significa que necessariamente tenha havido erro, dolo, coação ou qualquer vício de consentimento, embora possam ocorrer situações-limite. O equívoco está em que, tratando-se de lesão, o consentimento do contraente lesado, em regra, é hígido: ele quer o contrato e seus efeitos, compreende a desproporção entre as prestações e, por isso, a lesão é, em princípio, estranha à teoria dos vícios do consentimento. Inseri-la aí culminou por deformar o instituto. " (pág. 131, ed. 2.000).

Bem de ver que, na hipótese "sub judice", os irmãos analfabetos foram induzidos à celebração do negócio jurídico através de maquinações, de expedientes astuciosos, criados pelo inventariante José Alves Xavier. Mediante tais manobras insidiosas é que levaram a engano os irmãos cedentes, que não tinham, de qualquer forma, compreensão da desproporção entre o preço e o valor da coisa que realmente estavam transferindo. Tanto não tinham compreensão da mencionada desproporção que perseguem, agora, a diferença resultante do logro em que caíram.

Em suma, trata-se aqui de vício do consentimento, de dolo, caso em que o lapso prescricional é o quadrienal, como estabelece o art. 178, § 9o, inc. V, letra "b", do Código Civil. O negócio jurídico em tela é simplesmente anulável e não nulo, como pretenderam fazer ver os autores, certamente com o escopo de obviar a ocorrência da prescrição em prazo mais curto.Não fora isso, há mais um motivo para reputar-se como quadrienal, na espécie, o prazo da prescrição. Consoante anota Wilson de Souza Campos Batalha, "o Projeto de Código Civil brasileiro procurou, de certa forma, instituir a rescindibilidade por lesão, no texto do artigo 169, em que se consideram como causas de anulabilidade, ao lado do erro, do dolo, da coação e da fraude contra credores - o estado de perigo e a lesão" (Defeito dos Negócios Jurídicos, pág. 107, ed. 1.985). Esta observação conforta a conclusão do Sr. Relator dos embargos infringentes, o ilustre Desembargador Paulo Heerdt, no sentido de que, colocando-se a lesão ao lado dos vícios de manifestação da vontade, a eles equiparando-se o lapso prescricional à mesma aplicável é também o do art. 178, § 9o, inc. V, letra "b", do CC.

Demais, o ato anulável pode ser ratificado pelas partes, enquanto o nulo é irreparável, insuscitável de ratificação. Tal distinção bem denota que na espécie se cuida mesmo de anulabilidade, porquanto passível o ato de convalidação, o que seria inadmissível se se tratasse de ato nulo.

Por derradeiro, o dissenso interpretativo não é passível de aperfeiçoar-se, uma vez diversas as bases fáticas em que se assentam os arestos postos em confronto, bastando assinalar- se que o paradigma enfoca a cobrança de honorários advocatícios acima do que seria usual, não contando ademais com as circunstâncias peculiares à presente demanda.

Do quanto foi exposto, não conheço do recurso, prejudicado o RESP interposto a fls. 249/273.

É como voto.

24

Page 25: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0058493-1 RESP 00107961/RSPAUTA: 16/11/2000 JULGADO: 16/11/2000

RelatorExmo. Sr. Min. BARROS MONTEIROPresidente da SessãoExmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIARSubprocurador-Geral da RepúblicaEXMA. SRA. DRA. CLAUDIA SAMPAIO MARQUESSecretário (a)CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECK

AUTUAÇÃORECTE : PEDRO DIAS DE MEIRA E OUTROSADVOGADO : LUIZ JUAREZ NOGUEIRA DE AZEVEDO E OUTROSRECDO : ANTONIO ALVES XAVIER E OUTROSADVOGADO : JEFERSON ANTONIO ERPEN E OUTROS

SUSTENTAÇÃO ORALSustentou, oralmente, o Dr. Luiz Juarez Nogueira de Azevedo, pelosrecorrentes.CERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epígrafe,em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:Após os votos do Sr. Ministro-Relator e do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha,não conhecendo do recurso, pediu VISTA o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.Aguardam os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Sálvio de FigueiredoTeixeira.O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 16 de novembro de 2000CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECKSECRETÁRIO(A)

25

Page 26: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RECURSO ESPECIAL N° 107.961 - RS (1996/0058493-1)RELATOR : MINISTRO BARROS MONTEIRORECORRENTE : PEDRO DIAS DE MEIRA E OUTROSADVOGADO : LUIZ JUAREZ NOGUEIRA DE AZEVEDO EOUTROSRECORRIDO : ANTÔNIO ALVES XAVIER E OUTROSADVOGADO : JEFERSON ANTÔNIO ERPEN E OUTROS

VOTO VISTA (VENCIDO)

O MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR:

O recurso foi assim relatado pelo em. Min. Barros Monteiro, que dele não conheceu: Leu relatório e voto.

Com a devida vênia, tenho que a melhor orientação está com a minoria do egrégio Grupo, que afastou a prescrição da ação.

As instâncias ordinárias admitiram tratar-se de caso de lesão, uma vez que na celebração do contrato uma das partes alienou o seu patrimônio por preço irrisório, por quantia inferior a 5% do seu valor real, cedendo uma gleba com mais de 200 alqueires pelo preço correspondente a 10 medidas. A lesão enorme é instituto antigo, que nos veio do Direito Romano, foi acolhido pelo Direito Português e esteve na Consolidação de Teixeira de Freitas. Não figurou, é verdade, no Código Civil de 1917, mas ressurgiu na Lei 1.521, de 26.12.1951, que definiu não apenas o ilícito penal da usura real ("obter ou estipular em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade da outra parte lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida", art. 4o, alínea b), mas também estabeleceu regra de direito civil, expressa no parágrafo terceiro desse mesmo artigo, que tem como nula a estipulação de lucro usurário.

Logo, a lesão enorme é hipótese presente no ordenamento civil do país, causa de nulidade que se instala na fase genética da obrigação, quando na celebração do contrato uma das partes, nas circunstâncias acima descritas, obtém vantagem exagerada às custas da outra.

A nulidade, quando pleiteada a sua declaração pela parte interessada, pode ser obtida em juízo mediante o exercício de um direito potestativo, e como se trata de um direito sem pretensão, o efeito do tempo que determina a sua extinção é hipótese de decadência. O seu prazo não está expressamente regulado na lei, e por isso há de se entender que ele corresponde ao tempo da prescrição do direito de crédito que o titular do direito teria contra o réu. Tal prazo prescricional é o dos direitos pessoais, que se conta em vinte anos (art. 177 do CCivil).

Posto isso, conheço do recurso e lhe dou provimento, para afastar a preliminar de prescrição.

É o voto.

26

Page 27: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RECURSO ESPECIAL N° 107.961 - RSVOTOO SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA:

Acompanho o voto do eminente Relator.Não conheço deste recurso, considerando prejudicado o recurso especial que está às fls. 249/273, que, por omissão da instância originária, não foi objeto de processamento e de apreciação no juízo de admissibilidade.

RECURSO ESPECIAL N° 107.961 - RSVOTOO EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR:

- Sr. Presidente, pelo que vi da ementa, trata-se de anulabilidade do ato e não de nulidade. Com a máxima vênia, seguindo a coerência de ponto de vista já manifestado em precedente, acompanho o voto do eminente Ministro- Relator, não conhecendo do recurso.

RECURSO ESPECIAL N° 107.961 – RS

VOTO-VENCIDOO SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA:Sr. Presidente, já formada a maioria, acompanho o voto de V. Exa. Tendo, no caso, por caracterizada a enorme lesão, em face da peculiar situação dos prejudicados. Reservo-me, no entanto, a reexaminar o tema em outra oportunidade, em face, inclusive, da orientação desta Turma, a que me filio, no respeitante à nulabilidade do ato jurídico na hipótese do art. 1.032 do Código Civil.Data venia, voto com a divergência, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento.

27

Page 28: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0058493-1 RESP 00107961/RSPAUTA: 16/11/2000 JULGADO: 13/03/2001RelatorExmo. Sr. Min. BARROS MONTEIROPresidente da SessãoExmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIARSubprocurador-Geral da RepúblicaEXMA. SRA. DRA. CLAUDIA SAMPAIO MARQUESSecretário (a)CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECTE : PEDRO DIAS DE MEIRA E OUTROSADVOGADO : LUIZ JUAREZ NOGUEIRA DE AZEVEDO E OUTROSRECDO : ANTONIO ALVES XAVIER E OUTROSADVOGADO : JEFERSON ANTONIO ERPEN E OUTROSCERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epígrafe,em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:Prosseguindo no julgamento, a Turma, por maioria, não conheceu do recurso,vencidos os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio de Figueiredo Teixeira. OSr. Ministro Aldir Passarinho Junior acompanhou os votos dos Srs. Ministros Relator eCesar Asfor Rocha.Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e AldirPassarinho Junior. Vencidos os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Sálvio deFigueiredo Teixeira.O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 13 de março de 2001CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECKSECRETÁRIO(A) 

28

Page 29: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2.4. RECURSO ESPECIAL Nº 595.706 - RS (2003/0168947-5)

RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : PERONI JORNALISMO E MARKETING LTDAADVOGADO : MÁRIO LUIZ MADUREIRA E OUTRORECORRIDO : UNIÃO

EMENTA

ADMINISTRATIVO. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA.RECONVENÇÃO. COBRANÇA EXCESSIVA. CAUÇÃO NÃO ABATIDA. ART.1.531 DO CC/16. SÚMULA 159/STF.1. A gravidade da pena contida no artigo 1.531 do revogado Código Civil exige, para sua aplicação, a prova inconcussa e irrefutável do dolo, da má-fé ou da malícia do credor.2. "Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil" (Súmula 159/STF).3. A simples circunstância de o credor haver deixado de deduzir do montantecobrado o valor da caução contratual não dá ensejo, por si só, à sanção cominada no artigo1.531 do Código Civil de 1916.4. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins, HermanBenjamin, Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.Brasília, 12 de agosto de 2008 (data do julgamento).Ministro Castro MeiraRelator

29

Page 30: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RECURSO ESPECIAL Nº 595.706 - RS (2003/0168947-5)RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : PERONI JORNALISMO E MARKETING LTDAADVOGADO : MÁRIO LUIZ MADUREIRA E OUTRORECORRIDO : UNIÃORELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator):

Cuida-se de recurso especial fundado na alínea "a" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, interposto contra acórdão da Vigésima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

"AÇÃO DE COBRANÇA. LICITAÇÃO. PERMISSÃO DE USO DE ÁREASCONCEDIDAS PELA RFFSA. RECONVENÇÃO.

Não comprovados os fatos alegados em reconvenção e comprovada a responsabilidade do reconvinte pela não assinatura do Termo de Permissão relativo à área 'B',correto o juízo de improcedência.Apelo improvido" (fl. 449).A recorrente aponta ofensa ao artigo 1.531 do Código Civil de 1916. Entende que deveria ser aplicada à recorrida a penalidade contida no referido dispositivo legal, "em razão de a RFFSA não ter ressalvado, nos valores pretendidos, cobrar aquelas quantias dadas a título de caução pela recorrente quando da contratação do TPU".As contra-razões foram apresentadas às fls. 471-476.Inadmitido o recurso especial na origem, a recorrente interpôs agravo de instrumento, que foi provido, determinando-se a subida dos autos para melhor exame.É o relatório.

30

Page 31: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

EMENTA

ADMINISTRATIVO. DIREITO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. RECONVENÇÃO. COBRANÇA EXCESSIVA. CAUÇÃO NÃO ABATIDA. ART. 1.531 DO CC/16. SÚMULA 159/STF.

1. A gravidade da pena contida no artigo 1.531 do revogado Código Civil exige, para sua aplicação, a prova inconcussa e irrefutável do dolo, da má-fé ou da malícia do credor.2. "Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1.531 do Código Civil" (Súmula 159/STF).3. A simples circunstância de o credor haver deixado de deduzir do montante cobrado o valor da caução contratual não dá ensejo, por si só, à sanção cominada no artigo 1.531 do Código Civil de 1916.4. Recurso especial não provido.

VOTOO EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator):

Prequestionada a tese sobre a qualgravita o dispositivo legal tido por vulnerado, conheço do recurso especial pela alínea "a" do permissivoconstitucional.Antes de adentrar no mérito da discussão, cumpre destacar que, ao contrário do preconizado nodespacho de admissibilidade do recurso especial, a solução da hipótese em apreço não enseja o reexame deprovas, vedado pelo enunciado da Súmula 7/STJ.A questão aqui debatida é unicamente de direito. Consiste em saber se a cobrança de dívida sem o abatimento da caução prestada por ocasião da assinatura do contrato inadimplido caracteriza, por si só, má-fé,dolo ou malícia do credor, capaz de ensejar a aplicação da penalidade prevista no artigo 1.531 do Código Civilde 1916. Desse modo, não há necessidade de revolver o conjunto fático-probatório dos autos.Superado o óbice da Súmula 7/STJ, passo a analisar o recurso especial.A penalidade encartada no artigo 1.531 do Código Civil de 1916 supõe a má-fé, o dolo ou a malíciado credor na realização de cobrança indevida de dívida já paga, no todo ou em parte. Nesse sentido, osseguintes julgados deste Sodalício:"CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PROTESTO DETÍTULO, INSCRIÇÃO E MANUTENÇÃO DE NOME EM SERASA. CONDENAÇÃODA EXEQÜENTE APENAS PELO ÚLTIMO FATO. VALOR FIXADO.RAZOABILIDADE. ART. 1.531 DO CC. INAPLICABILIDADE À ESPÉCIE.AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ.I - (...)II - (...)III. A aplicação do art. 1.531 do Código Civil tem recebido da jurisprudênciatratamento afastado da mera exegese literal da norma, exigindo, para que a penalidade tenhalugar, comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qualtenha plena consciência de que é indevida ou já está paga, situação diversa da encontrada nos autos.IV. Recurso especial não conhecido" (REsp 466.338/PB, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJU de 19.12.03);"RESPONSABILIDADE CIVIL. PROTESTO INDEVIDO DE DUPLICATA.NEGLIGÊNCIA ATRIBUÍDA AOS RÉUS, DADA A FALTA DE ACEITE NO TÍTULOOU DE PROVA DA ENTREGA DA MERCADORIA. MATÉRIAFÁTICO-PROBATÓRIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA RECONHECIDO COMRESPEITO À EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DO ORIGINAL DA CÁRTULA.INAPLICABILIDADE AO CASO DA NORMA DO ART. 1.531 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.(...)A imposição da penalidade prevista no art. 1.531 do Código Civil de 1916 pressupõe aexistência de uma cobrança judicial acima do valor que realmente for devido, formulada demaneira maliciosa pelo credor. Requisitos inexistentes na espécie.Recurso especial parcialmente conhecido, e, nessa parte, provido" (REsp 344.583/RJ,Rel. Min. Barros Monteiro, DJU de 28.03.05);"PROCESSO CIVIL - EXECUÇÃO FISCAL - EXECUÇÃO EXCESSIVA - ART. 1.531 DO CÓDIGO CIVIL.1. A cobrança excessiva por parte do Poder Público, em execução fiscal, não gera a sanção do art. 1.531 do Código Civil.2. O dispositivo reporta-se exclusivamente às obrigações por ato ilícito, só tem aplicação quando há má-fé, sendo a boa-fé presumida, e não se confunde com o dano

31

Page 32: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

processual do art. 16 do CPC.3. Recurso especial improvido" (REsp 507.310/PR, Rel. Min. Eliana Calmon DJU de 01.12.03);"RECURSO ESPECIAL EXECUÇÃO FISCAL. ICMS. ERRO NO PREENCHIMENTO DE GUIA DE RECOLHIMENTO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 1.531 DO CC. APLICAÇÃO CONDICIONADA Á MÁ-FÉ DO CREDOR. APLICABILIDADE DA SÚMULA 159 DO STF.I. A sanção do art. 1531 apresenta caráter de exceção e é imposta apenas nos casos de comprovada malícia da parte (Aplicação da Súmula 159 do STF). Justificado o equívoco da Fazenda em ajuizar execução fiscal para cobrança de dívida registrada como não paga, por equívoco do contribuinte ao preencher a guia de recolhimento do ICMS, despropositada se revela a imputação da pesada penalidade perpetrada pelo susomencionado dispositivo, visto que, da exação não se infere nenhum propósito doloso manifesto pelo Fisco no sentido de causar prejuízo ao contribuinte.II. Recurso provido" (AGREsp 130.854/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJU de 26.06.00).No mesmo toar, confira-se o enunciado da Súmula 159 da Suprema Corte, de seguinte teor:"Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá lugar às sanções do art. 1531 do Código Civil".Como se vê, na linha dos precedentes deste Tribunal e do Pretório Excelso, a gravidade da pena contida no artigo 1.531 do revogado Código Civil exige, para sua aplicação, a prova inconcussa e irrefutável do dolo, da má-fé ou da malícia do credor.Na hipótese, a recorrente pretende consignar como má-fé do recorrido o fato de ter cobrado as prestações contratuais não pagas sem haver abatido o valor da caução prestada, com o objetivo de garantir o cumprimento da avença. Ao apreciar o recurso de apelação, a Corte de origem assim se pronunciou:"Por fim, no que concerne à aplicação do art. 1531, CC, sem razão a apelante. A autora não demanda por dívida já paga e tampouco em quantia superior a devida. Busca, isto sim, o adimplemento do contratado entre as partes. A caução é garantia do cumprimento do contrato. O fato de ter buscado a cobrança da dívida sem abatimento da caução prestada não configura pretensão de pagamento em dobro, de dívida já paga ou em quantia superior à devida.Na mesma esteira, a alegação relativa ao pagamento porquanto postulada quantia superior a devida. Isto porque o pleito da autora vem alicerçado no contrato firmado entre as partes.Demais, a incidência do art. 1531 do CC só é cabível quando demonstrado o dolo ou a culpa da parte. Para tanto necessário o ajuizamento de ação própria ou em sede de reconvenção (APC's 196186985 e 595192097) porquanto sabido que na contestação o réureage à ação do autor.No caso concreto, inobstante a reconvenção oposta, ausente naquela peça qualquer pedido nesse sentido" (fls. 452-453).Desse modo, não merece reparos o aresto recorrido. A simples circunstância de o credor haver deixado de deduzir do montante cobrado o valor da caução contratual não dá ensejo, por si só, à sanção cominada no artigo 1.531 do Código Civil de 1916. Não se infere do aludido fato o manifesto propósito doloso do recorrido em "demandar por dívida já paga", até porque nada impede, ao cabo, a compensação dos valores.Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.É como voto.

32

Page 33: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2003/0168947-5 REsp 595706 / RSNúmeros Origem: 1195996077 200200847461 598259950PAUTA: 12/08/2008 JULGADO: 12/08/2008

RelatorExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRAPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRASubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA VASCONCELOSSecretáriaBela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃORECORRENTE : PERONI JORNALISMO E MARKETING LTDAADVOGADO : MÁRIO LUIZ MADUREIRA E OUTRORECORRIDO : UNIÃOASSUNTO: Administrativo - Licitação

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe nasessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do(a)Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques eEliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 12 de agosto de 2008

VALÉRIA ALVIM DUSISecretária

33

Page 34: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

2.5. RECURSO ESPECIAL Nº 1.046.067 - MG (2008/0073680-4)

RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA

RECORRENTE : BOZANO SIMONSEN CENTROS COMERCIAIS S/A E OUTROSADVOGADO : RACHEL BARCELOS PEREIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : GUIMARAES E QUEIROZ LTDAADVOGADO : GERALDO FARIA ABREU E OUTRO(S)

EMENTA

DIREITO CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. REVISÃO DECLÁUSULAS CONTRATUAIS. PRESCRIÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA.RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. O prazo prescricional de 4 (quatro) anos previsto no art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916 não se aplica nas hipóteses em que a pretensão do autor, de contestar a validade de determinada cláusula contratual, não se baseia na eventual existência erro, dolo, simulação ou fraude na celebração do contrato impugnado.2. Recurso especial conhecido e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.Brasília (DF), 04 de fevereiro de 2010(Data do Julgamento).MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMARelator

34

Page 35: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA

RECORRENTE : BOZANO SIMONSEN CENTROS COMERCIAIS S/A E OUTROSADVOGADO : RACHEL BARCELOS PEREIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : GUIMARAES E QUEIROZ LTDAADVOGADO : GERALDO FARIA ABREU E OUTRO(S)

RELATÓRIO

MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA:

Trata-se de recurso especial manifestado por BOZANO SIMONSEN CENTROS COMERCIAIS S/A e OUTROS com base no art. 105, III, "a", da Constituição Federal.

Narram os autos que a recorrida ajuizou ação ordinária em desfavor dos recorrentes, visando a declaração de nulidade da cláusula 4ª, §§ 1º ao 4º, do Contrato de locação com ele celebrado, bem como a condenação deles ao pagamento da importância que se apurar em liquidação de sentença, referente às diferenças entre os valores cobrados a título de aluguel e aqueles realmente devidos.Após regular processamento do feito, sobreveio sentença que extinguiu o feito com a resolução do mérito, em virtude do reconhecimento da prescrição do próprio fundo de direito pleiteado, ao entendimento de que a pretensão de anular ou rescindir o contrato – pela ocorrência e erro no momento de sua celebração – teria prescrito em 4 (quatro) anos, nos termos do art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916 (fls. 211/212).O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em sede de apelação, reformou a sentença a fim de afastar a prescrição e determinar que outra seja proferida em seu lugar, com a apreciação das demais questões deduzidas pelas partes litigantes. Isso porque a autora não estaria a pleitear "a declaração de nulidade da cláusula do contrato por nenhum dos vícios de consentimento elencados no art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916, nem mesmo em razão de pretenso erro ao ensejo da celebração do contrato" (fl. 268). A respectiva ementa foi assim concebida (fl. 263):

EMENTA: AÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL.PRESCRIÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA.

Não há que se falar em aplicação do prazo prescricional de quatro anos, previsto no art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916, se não aconteceu quando da celebração do contrato, erro enenhum dos outros defeitos elencados no mencionado dispositivo.

Sustentam os recorrentes que o Tribunal de origem, ao afastar a incidência, no caso concreto, do art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916, o teria afrontado, na medida em que restaria claro que "a causa de pedir fundamenta-se na alegada existência de erro na contratação" (fl. 277). Isso porque "Restou afirmado pela Recorrida a ocorrência de ambiguidade nas cláusulas contratuais como sendo um artifício das Recorrentes para a indução em erro no ajuste, corroborando a aplicação do dispositivo legal supra destacado" (fl. 278).

Contrarrazões às fls. 286/288.

Provido o agravo de instrumento interposto contra a decisão que inadmitiu na origem o recurso especial (fl. 295), subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

35

Page 36: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

RECURSO ESPECIAL Nº 1.046.067 - MG (2008/0073680-4)

EMENTA

DIREITO CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. REVISÃO DECLÁUSULAS CONTRATUAIS. PRESCRIÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA.RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. O prazo prescricional de 4 (quatro) anos previsto no art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916 não se aplica nas hipóteses em que a pretensão do autor, de contestar a validade de determinada cláusula contratual, não se baseia na eventual existência erro, dolo, simulação oufraude na celebração do contrato impugnado.2. Recurso especial conhecido e improvido.

VOTO

MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA (Relator):

Como relatado, insurgem-se os recorrentes contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais que, em sede de apelação, reformou a sentença a fim de afastar a prescrição nela reconhecida e determinar que outra seja proferida em seu lugar, com a apreciação das demais questões deduzidas pelas partes litigantes. Isso porque a autora não estaria a pleitear "a declaração de nulidade da cláusula do contrato por nenhum dos vícios de consentimento elencados no art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916, nem mesmo em razão de pretenso erro ao ensejo da celebração do contrato" (fl. 268).O referido dispositivo legal tem a seguinte redação:Art. 178. Prescreve:....................................................................................§ 9º Em 4 (quatro) anos:....................................................................................V - a ação de anular ou rescindir os contratos, para a qual se não tenha estabelecido menor prazo; contado este:....................................................................................b) no de erro, dolo, simulação ou fraude, do dia em que se realizar o ato ou o contrato;Pois bem.Infere-se da leitura da petição inicial que a pretensão da autora, ora recorrida, era a declaração de nulidade da cláusula 4ª do contrato de locação, não apenas em virtude da suposta ambiguidade nela existente em relação à regra contida na cláusula 3ª do mesmo pacto, que, por mais favorável, deveria prevalecer, mas também porque supostamente estaria em confronto com a Lei 9.069/95, que veda o reajuste de aluguéis em periodicidade inferior a 12 (doze) meses.A propósito, confira-se o seguinte trecho da petição inicial (fl. 6): Conclui-se, portanto, pela flagrante violação contratual, haja vista a existência da Cláusula 3ª do Contrato de Locação onde expresso o valor do aluguel devido para cada período da locação, praticando as Rés valores diferenciados daqueles ajustados.Em segundo plano, e o que é pior, conclui-se pela violação de texto legal, haja vista que, como dito, a imposição na Lei 9.069/95 que veda expressamente o reajuste de aluguéis em periodicidade inferior a 12 (doze) meses. Vale lembrar, aqui, que já no primeiro mês houve majoração do aluguel, o mesmo se verificando nos meses seguintes.Para justificar os reajustes constantes, clamam as Rés pela validade da Cláusula Quarta e seus Parágrafos, cujos termos contrariam frontalmente o que foi ajustado na Cláusula 3ª, letra "b", sendo este o cerne da questão posta em julgamento, ou seja, a declaração de nulidade da Cláusula 4ª e seus Parágrafos com a prevalência da Cláusula 3ª, letra "b", onde ajustado entre as partes o valor dos aluguéis para todo o período de vigência contratual. (Grifos no original)Em outras palavras, conclui-se que a autora em momento nenhum pleiteou a anulação do contrato de locação pela existência de vício de consentimento (erro), mas tão-somente que prevalecesse as disposições previstas na Cláusula Terceira, "b", em relação à Cláusula Quarta.Com efeito, a partir da leitura sistemática de toda a petição inicial, observa-se que a utilização da palavra "erro" pela recorrida, além de ter sido feita genericamente, também o foi de forma

36

Page 37: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

não-técnica, na medida em que não se referia à eventual existência de vício de consentimento disciplinado nos arts. 86 a 91 do Código Civil de 1916.Impende ressaltara, outrossim, que tal referência deu-se a título de obter dictum, na medida em que a autora não se referia especificamente ao contrato de locação por ela celebrado, mas de forma genérica. Confira-se (fl. 11):A questão é de fácil entendimento, ou seja, muitos locadores, entenda-se, empreendedores de Shopping Centers, com o objetivo de burlar a lei e induzir os locatários a erro, consignam cláusulas ambíguas ou de difícil interpretação, as quais reclamam do Judiciário uma melhor análise e interpretação favorável ao lojista. (Grifos no original)Tal entendimento é corroborado pelo parágrafo seguinte ao acima transcrito, onde a tese arguida pela recorrente é novamente explicitada. Verbis (fl. 11):No presente caso, quando da celebração do Contrato de Locação, entendia a Autora que o valor do aluguel mensal estava determinado para todo o período de vigência da locação, todavia, baseado em cláusulas obscuras, ambíguas e difícil interpretação, as Rés majoraram os aluguéis ao seu contento.Destarte, com base na fundamentação acima, entendo que não há falar em afronta ao art. 178, § 9º, V, "b", do Código Civil de 1916.Ante o exposto, conheço do recurso especial e nego-lhe provimento.É o voto.

37

Page 38: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

QUINTA TURMA

Número Registro: 2008/0073680-4 REsp 1046067 / MGNúmeros Origem: 10024044585578002 10024044585578003 200701904419 24044585578PAUTA: 17/12/2009 JULGADO: 04/02/2010

RelatorExmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMAPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHOSubprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. ÁUREA M. E. N. LUSTOSA PIERRESecretárioBel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃORECORRENTE : BOZANO SIMONSEN CENTROS COMERCIAIS S/A E OUTROSADVOGADO : RACHEL BARCELOS PEREIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : GUIMARAES E QUEIROZ LTDAADVOGADO : GERALDO FARIA ABREU E OUTRO(S)ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Locação de Imóvel

CERTIDÃOCertifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessãorealizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:"A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso, mas lhe negou provimento."Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Laurita Vaz votaram com oSr. Ministro Relator.Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.Brasília, 04 de fevereiro de 2010LAURO ROCHA REISSecretário

38

Page 39: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

3, COMENTÁRIOS AOS ACÓRDÃOS

AGRAVO 1428731

No recurso exposto anteriormente, temos o pedido de seguimento do recurso especial, que trataria sobre o saque do FGTS para compra de imóvel, no caso em que o réu vendeu o imóvel ao próprio irmão por preço inferior ao do valor do imóvel e efetuou o saque do FGTS para a recompra do mesmo imóvel, que ainda não tinha sido pago pelo irmão.

O dolo se caracteriza neste caso, pela forma maliciosa em que o réu tentou resgatar seu FGTS sem causa fortuita, sendo isto proibido.

O acórdão por fim decidiu, por votação unanime, negar provimento ao agravo uma vez que o recurso especial não deve ter característica de simples reexame dos fatos.

RECURSO ESPECIAL 1175577

O recurso em questão trata de uma apólice de seguro de vida, que a seguradora, recorrente, se negou a pagar sob o pretexto do contratante, o recorrido, ter agido com dolo ou culpa grave no sinistro que acabou por matar o pai do contratante, que era segurado, extinguindo o contrato e assim a obrigação da recorrente pagar a indenização prevista no contrato.

Neste caso não foi dado provimento ao recurso sob a alegação de que não havia provas de que o recorrido tivesse a intenção de bater o carro e matar o próprio pai, por votação unanime.

RECURSO ESPECIAL 107961

Neste caso, os autores da ação recorrida, pleiteavam direitos testamentários, cedidos ao testamenteiro por meio de um contrato.

Foram utilizadas artimanhas na formulação de tal contrato, visando estas artimanhas apenas reduzir os autores, que eram analfabetos e desprovidos de conhecimentos técnicos, e lucrar com isso, o que caracteriza o a lesão, que é pressupõe o dolo. Tendo isso em vista, a decadência quadrienal do prazo de entrar com ação declaratória de nulidade ou anulabilidade, o recurso dos autores não foi reconhecido, por terem estes ajuizado a ação depois de ter se extinguido o prazo.

Neste ponto o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, divergiu dos outros Ministros tendo em vista que houve lesão grave, e que neste caso a prescrição é vintenária.

RECURSO ESPECIAL 595706

No acordão exposto, houve a cobrança de parcelas do pagamento, sem antes a dedução do valor da caução do montante. O recorrente alegou dolo por

39

Page 40: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

parte do recorrido por este fato de não ter deduzido do montante o valor da garantia.

Os Ministros, por unanimidade, não deram provimento sob o argumento de que o dolo deve ser provado de forma irrefutável e que a simples não dedução do valor não caracteriza a má-fé, uma vez que a caução é uma garantia de pagamento e nada impede a saudação da divida.

RECURSO ESPECIAL 1046067

Trata-se de ação declaratória de nulidade de clausula contratual, em que a recorrente pleiteia a anulação de clausula em contrato de aluguel tendo em vista que esta clausula, além de ambígua, vai contra a legislação, alegando assim a existência de dolo por parte do recorrido.

A cláusula trata dos reajustes do aluguel, que segundo o contrato seriam feitas em períodos menores que os doze meses prescritos em legislação.

O STJ conheceu do recurso, porem não deu provimento, pelo fato de que, não houve dolo, tão pouco ilegalidade, pelo fato que o contrato não estipulava que o aluguel seria reajustado em certo período menor de 12 meses, e sim que o aluguel seria cobrado de acordo com o período, pratica legal, que não acarreta na anulação do contrato.

40

Page 41: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

4, ENUNCIADOS DAS JORNADAS DE DIREITO CIVIL

Seguem os enunciados do STJ envolvendo o assunto “dolo”, proferidos nas Jornadas de Direito Civil.

150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.

41

Page 42: Direito Civil - DOLO - 2º S - Outubro de 2012

5. BIBLIOGRAFIA

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro, volume 1: teoria geral do Direito Civil. 29ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012.

GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito civil, volume 1 : parte geral. 9. edição. São Paulo : Saraiva, 2011.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 25ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2012. (Revista e atualizada por Maria Celina Bondin de Moraes).

42