universidade federal do rio grande do norte … · psicomotora, cognitiva, sócio afetivo e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA (EMUFRN)
LICENCIATURA EM MÚSICA
ARI GAMELEIRA DE NORONHA
A EDUCAÇÃO MUSICAL NO CONTEXTO NÃO FORMAL: Um relato de experiência na Igreja Assembleia de Deus - Projeto Mutirão
NATAL-RN
2016
ARI GAMELEIRA DE NORONHA
A EDUCAÇÃO MUSICAL NO CONTEXTO NÃO FORMAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS -
PROJETO MUTIRÃO
Monografia apresentada ao Curso de Graduação
em Licenciatura em música da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito
parcial para obtenção do Grau de licenciado. Sob a
Orientação da Professora Dra. Valéria Lázaro de
Carvalho
NATAL-RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial da Escola de Música
N852e Noronha, Ari Gameleira de.
A educação musical no contexto não formal: um relato de
experiência na Igreja Assembleia de Deus – Projeto Mutirão / Ari
Gameleira de Noronha. – Natal, 2016.
38 f.: il.; 30 cm.
Orientadora: Valéria Lázaro de Carvalho.
Monografia (graduação) – Escola de Música, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, 2016.
1. Música popular cristã - Monografia. 2. Música - Instrução e estudo - Monografia. I. Igreja Assembleia de Deus / Projeto Mutirão. II. Carvalho, Valéria Lázaro de. III. Título.
RN/BS/EMUFRN CDU 783:37
A EDUCAÇÃO MUSICAL NO CONTEXTO NÃO FORMAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS -
PROJETO MUTIRÃO
Ari Gameleira de Noronha
BANCA EXAMINADORA
Professor Dr. Eugênio Lima
Professora Dra. Valéria Lázaro de Carvalho
Professora Dra. Eliane Leão
Dedicatória: Dedico esta obra em primeiro
lugar ao Criador de todas as coisas, o
Eterno Deus, que me inspirou através do
seu Espírito, a acreditar que tudo é possível
mediante a fé que depositamos nele. Em
segundo lugar, à minha família, quero
honrar os meus pais que me educaram e
mostraram o caminho a seguir, a minha
esposa fiel companheira nas lutas do dia a
dia, e aos meus filhos que também foram
companheiros na UFRN. Enfim, aos meus
Professores onde pude ter o prazer de
receber orientações do mais alto nível
pedagógico, e em especial a Professora Dra.
Valéria Lázaro de Carvalho que também me
orientou nesta monografia.
RESUMO
A presente Monografia relata a importância da Música em um contexto não
formal de ensino de música como um meio de evangelização e aprendizado musical.
Este trabalho tem como principal objetivo comentar sobre o desenvolvimento de um
ensino de Bandinha Rítmica realizado na Igreja Assembleia de Deus/Projeto Mutirão.
Utilizamos como metodologia um Relato de Experiência que vem ancorado na pesquisa
qualitativa. Pesquisamos e trabalhamos com autores que desenvolveram pesquisas no
espaço não formal de ensino, além de descrevermos o papel importante que a Igreja e a
Música desenvolvem no espaço social e espiritual dos seus congregados, bem como as
dificuldades e progressos presentes no desenvolvimento do ensino de percussão.
Apresentamos a importância da música neste processo de ensino e aprendizagem,
analisamos o papel da música na educação, sua aplicação e seus benefícios no
desenvolvimento do indivíduo como interação e autoestima. A música, com maior ou
menor intensidade, está presente na vida do ser humano. Ela desperta emoções e
sentimentos de acordo com a capacidade de percepção que cada indivíduo possui para a
sua assimilação.
Palavras-chave: Aprendizagem; Socialização; Ensino de Música; Contexto não formal.
ABSTRACT
This monograph describes the importance of music in a non-formal context of
music education as a means of evangelization and musical learning. This work has as
main objective to comment on the development of a teaching Bandinha Rhythmic held
in the Church Assembleia de Deus / Projeto Mutirão. We used as one methodology
Experience Report that is anchored in qualitative research. We researched and worked
with authors who have developed research on no formal education, and describe the
important role that the Church and the music develop in the social space and spirit of
their congregants as well as the difficulties and present progress in the development of
percussion education. Here is the importance of music in the process of teaching and
learning, we analyze the role of music in education, its application and its benefits in the
development of the individual as interaction and self-esteem. The music, with greater or
lesser intensity, is present in human life. It awakens emotions and feelings according to
perception capacity that each individual has for its assimilation.
Keywords: Learning; Socialization; Music Education; non-formal context.
SUMÁRIO
1. DEDICATÓRIA: ............................................................................................ IV
2. RESUMO: ........................................................................................................ V
3. ABSTRACT: .................................................................................................. VI
4. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ....................................................................... 1
5. CAPÍTULO II: A MÚSICA E O PROCESSO DA MUSICALIZAÇÃO ....... 4
6. CAPÍTULO III: CONTEXTUALIZANDO A MÚSICA NO ENSINO
NÃO FORMAL .................................................................................................... 10
7. CAPÍTULO IV: ENSINO DA MÚSICA NO CONTEXTO NÃO FORMAL
NA IGREJA ASSEMBLÉIA DE DEUS/PROJETO MUTIRÃO........................ 15
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS: ........................................................................ 24
9. APÊNDICES: .................................................................................................. 26
10. ANEXOS: ...................................................................................................... 28
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ...................................................... 35
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um Relato de Experiência sobre o ensino de música
na Igreja Assembleia de Deus Projeto/Mutirão, localizada no bairro de Leningrado, no
município de Natal/RN. Temos como objetivo apresentar a importância da
musicalização como elementos contribuintes para o desenvolvimento da inteligência e a
integração do ser em um contexto não formal de ensino. Explicar como a musicalização
pode contribuir através de seus métodos de ensino, favorecendo o desenvolvimento
cognitivo-linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança nesse espaço.
O tema fala ainda sobre o papel da música na educação, não apenas como
experiência estética, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem como
instrumento para tornar o ambiente mais propício. As argumentações aqui apresentadas
farão acrescentar saberes importantes que se misturam e se complementam, no
entendimento de que a educação precisa de alegria e vida. Educar é uma tarefa que tem
que ser vivenciada com beleza e prazer.
Descrevendo o ensino de música nesse contexto e a repercussão que causa na
comunidade que participa desse projeto, escolhemos como metodologia para descrever
esse Relato de Experiência, um ensino qualitativo, para melhor compreendermos o que
envolve aprender música fora da tradicional e formal sala de aula. A pesquisa
qualitativa é realizada no contexto em que se pesquisa, ou seja, retratando a realidade de
cunho social e da descoberta dos fatos. Portanto ela enfatiza a interpretação em
contexto, buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, procuram
representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação
social. Ou seja, possibilita uma experiência mais real, é preciso estar inserido no
contexto onde se realiza o processo.
2
Diante desse Relato de Experiência também achamos importante falar sobre
o ensino não formal de música com o intuito de formar o educador musical, além de
ressaltar o ensino de música deste contexto inserido na Igreja Assembleia de Deus
Projeto/Mutirão, onde foi desenvolvido a prática de bandinha rítmica que será abordado
aqui. Diante disso descreveremos o papel importante que a música exerce nesse
contexto religioso, a participação deste pequeno grupo de músicos, e a importância
dessa ferramenta como forma de melhoria no serviço religioso e evangelização para os
cristãos da comunidade.
Este trabalho monográfico divide-se em quatro capítulos. No primeiro,
introduzimos um resumo sobre como o ensino da Música ocorre dentro desse contexto.
No segundo, o processo de construção do conhecimento usado para desenvolver e
despertar o gosto musical dos alunos, assim como uma ferramenta pedagógica.
Utilizada de forma lúdica a música pode contribuir no desenvolvimento e formação da
criança, já que o conhecimento tem origem na experiência sensorial do ver, ouvir,
pegar, etc. (BRÉSCIA, 2003).
No terceiro capítulo, esboçamos a contextualização da música no ensino não
formal, a metodologia de renomados autores e seus discursos. Em seguida, no quarto
capítulo, apresentaremos o ensino de Música na Igreja Assembleia de Deus Projeto
Mutirão bem como a metodologia usada em auxilio para as crianças, além do projeto de
ensino que foi apresentado ao Pastor da Igreja, o plano de aula que foi desenvolvido,
bem como algumas peças que foram estudadas com os alunos que participam do
projeto.
Ao final, apresentaremos nossas conclusões sobre o relato de experiência do
projeto de musicalização com bandinha rítmica desenvolvido na Igreja, ressaltando as
contribuições e desafios encontrados e vencidos no desenvolvimento desse curso.
Falaremos também do crescimento tão significativo que essas dificuldades trouxeram,
onde ajudaram a tomar iniciativas que me fizeram refletir sobre nossa formação, vindo
de encontro com esta pratica de ensino musical.
3
Figura 9
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
O interesse em descrever sobre este assunto surgiu a partir de uma pesquisa
qualitativa, pois, como já estava inserido neste espaço, vimos a importância de
descrever esse Relato de Experiência, pois minha formação precisava ser mais
desenvolvida e trabalhada em uma pratica de ensino mais real, próximo da realidade
musical da comunidade.
4
CAPÍTULO II
A MÚSICA E O PROCESSO DA MUSICALIZAÇÃO
A música tem um grande poder em nossas vidas. Ela é capaz de transmitir
nossas culturas através do tempo, expressar nossos pensamentos, reviver sentimentos,
socializar, incluir socialmente e curar. BRÉSCIA (2003) afirma que “Pitágoras
demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento,
pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura”. Existem várias
maneiras de explorar a música em sala de aula, podendo ser através de cantigas de
rodas, paródias e criação de instrumentos artesanais. Todas estas maneiras de
musicalização exigem maior interação dos alunos, e por serem atividades diferentes que
fogem das “aulas tradicionais” certamente tem uma grande aceitação pelos mesmos.
Com a instituição da Lei nº 11.769/08, o ensino de música se tornou obrigatório
no currículo da Educação Básica. A musicalização na escola começando nos anos
iniciais pode ajudar no desenvolvimento dos alunos em várias áreas, entre elas:
psicomotora, cognitiva, sócio afetivo e cultural, como diz Tozetto:
É importante salientar que a Música é um potencial educativo por
vincular-se aos conhecimentos científicos ligados à Física e à
Matemática, às habilidades motoras e à destreza manual. É por esta
razão que o ensino da Música deve ser iniciado pelas práticas
educativas de Iniciação Musical como área de conhecimento e
sistematizadas nos seus conteúdos. (TOZETTO 2003, p. 07).
CHIARELLI e BARRETO (2003) também concordam com este pensamento
quando falam que as atividades de musicalização permitem que a criança conheça
melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem
a comunicação com o outro. As atividades podem contribuir como reforço no
desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Com
5
relação ao uso da música no desenvolvimento cognitivo da criança Chiarelli e Barreto
(op. Cit.) afirmam que:
A fonte de conhecimento da criança são as situações que ela tem
oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma, quanto
maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu
desenvolvimento intelectual (...), no desenvolvimento psicomotor (...) as
atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para que a
criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus
músculos e mova-se com desenvoltura (...) e no desenvolvimento sócio
afetivo (...) as atividades musicais coletivas favorecem o
desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, a
participação e a cooperação. Dessa forma a criança vai desenvolvendo o
conceito de grupo (...). (BARRETO, 2003, p. 03).
Quando se toma a música apenas como instrumento para aprendizagem ou
memorização de outros conteúdos (não-musicais) ou quando toda a atividade musical é
voltada para o preparo de “apresentações” em datas comemorativas, o conteúdo
propriamente musical (conteúdo relativo à linguagem musical) é deixado de lado; não se
dá à música o devido valor na formação do indivíduo e, consequentemente, não se
contribui para a sua efetivação no currículo das escolas regulares. Ora, a música não é
somente um instrumento em favor de outros conteúdos e nem deve estar somente a
serviço de animar festividades.
De acordo com Georg Lukács (KONDER, 1996, p. 29), a arte proporciona ao
homem um “[...] conhecimento sensível insubstituível” da realidade; a arte é, portanto,
uma forma de conhecer a realidade. E o seu papel na formação do indivíduo é, segundo
o filósofo húngaro, formar as convicções, desenvolver a percepção e a sensibilidade,
deslocar as fantasias e os desejos que moverão os homens a transformar a sociedade e a
si mesmos. Entretanto, para que haja a possibilidade de a música cumprir esse papel na
formação dos indivíduos, é necessário que os conteúdos próprios da linguagem musical
sejam trabalhados.
“Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento”
(BRASIL, 1998, p. 48), afirma claramente o documento. Essa abordagem está afinada
com ideias que têm sido veiculadas no campo da Arte nos últimos anos e que visam
resgatar os conteúdos específicos, não só da área de música, mas de todas as linguagens
artísticas. Os conteúdos próprios das diferentes linguagens se viram enfraquecidos,
levados a níveis muito elementares em decorrência da formação e atuação polivalente
6
do professor de Educação Artística, conforme dispunha a antiga Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, a lei 5 692/ 71.
Assim, o movimento agora é pela recuperação desses conteúdos tanto com a
referência na nova LDBEN (lei 9 394/ 96) ao ensino de Arte, ao invés de Educação
Artística, e a proposta das quatro áreas (Artes Visuais, Dança, Música e Teatro) trazida
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte, como com a formação do professor em
cursos de licenciatura em Música, Artes Visuais, Teatro e Dança.
A título de sistematizar as propostas de atividades, com base nesse fundamento
teórico (BAKHTIN 1997, p. 320) procura estabelecer algumas categorias que refletem
os modos de trabalhar com a música e outras linguagens para promover a compreensão
musical.
O enunciado é um elo na cadeia da comunicação verbal e não pode ser
separado dos elos anteriores que o determinam, por fora e por dentro, e
provocam nele reações-respostas imediatas e uma ressonância dialógica.
(1997, p. 320).
Na elaboração dessas categorias me apropriei dialeticamente das contribuições
de educadores musicais, entre eles: BRITO, 2003; PENNA, 1990; SCHROEDER e
SCHROEDER, 2002, 2004 e 2004a; QUEIROZ e MARINHO, 2007; PAREJO, 2007; e
FRANÇA, 2008. Seguem-se as categorias que, tendo como base os teóricos,
subsidiaram o planejamento das aulas (vide p. 25 e 26, Apêndice) e servirão de
referência para as análises dos resultados das experiências. Especificamente, foram
exploradas as categorias Corpo e Movimento, Rítmica, e Gesto e Palavra.
Corpo e Movimento: Nas atividades relacionadas a essa categoria, a intenção é
explorar as possibilidades de uso da movimentação corporal na compreensão/apreensão
de aspectos musicais, sobretudo, rítmicos e melódicos, (BRITO, 2003)
7
Figura 10
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Gesto e Palavra: Envolve atividades através das quais se procura relacionar
música, gesto e palavra. Podemos citar as parlendas, os brinquedos cantados (para os
quais se pode criar acompanhamentos simples, utilizando, por exemplo, diferentes sons
corporais – batidas de mãos, de pés ou batidas em outras partes do corpo, explorando as
diferentes possibilidades de produção sonora, (PENNA, 1990)
Desenho: Nas atividades que integram essa categoria, a proposta será que a
criança desenhe a partir de uma escuta musical com, no mínimo, dois objetivos – e esses
objetivos não são necessariamente excludentes: o primeiro, como forma de “traduzir”
impressões/percepções musicais para uma outra linguagem – de certa forma, mais
próxima da criança – e a segunda, como registro de escutas musicais, (SCHROEDER e
SCHROEDER, 2002, 2004 e 2004ª)
Contrastes: Um passo importante e elementar na apreensão da linguagem
musical é a percepção de contrastes – grosso modo, percepção da forma. Envolve a
escuta atenta de peças musicais, cuja forma seja “visivelmente” delimitada por
contrastes marcantes em termos de ritmo, de melodia, de andamento (diferentes
8
velocidades), de textura (diferentes arranjos instrumentais) etc. (QUEIROZ e
MARINHO, 2007)
Rítmica: Segundo (PAREJO, 2007), como a proposta que vem sendo
apresentada visa às possibilidades do professor não-especialista, o trabalho rítmico é
bastante elementar, mas ainda assim indispensável. A sugestão é que se parta de
canções folclóricas ou brinquedos cantados para os quais se propõe acompanhar com
palmas, batidas de pés, outros sons produzidos com o corpo ou instrumentos de
percussão (que podem ser construídos com sucata, como chocalhos de garrafinhas pet,
tambores de lata ou de potes plásticos etc.)
Figura 7
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Relaxamento: Longe de respaldar a ideia muito presente no senso comum de
que a música, sobretudo na escola, serve para relaxar, acalmar as crianças, não posso
deixar de incluir o relaxamento entre as categorias de trabalho com a música.
Entretanto, o relaxamento é entendido aqui como o momento especial de ouvir. Quer
dizer, o relaxamento envolve uma proposta de escuta, direcionada pelo professor – ouvir
com o objetivo de perceber esse ou aquele aspecto musical –, e acompanhada de uma
solicitação muito importante: nesse momento, só os ouvidos trabalham; as outras partes
do corpo relaxam. (FRANÇA, 2006 e 2008)
9
Nesse processo, podemos entender e assimilar melhor a teoria com a prática e,
por fim, aprofundar nosso conhecimento em relação a musicalização nos anos iniciais e
de que forma a mesma está sendo utilizada atualmente na escola. Diante dos resultados
até então obtidos, observei o quanto a música é importante na sala de aula mesmo sendo
utilizada como ferramenta para introdução de outros conteúdos ou como uma forma de
controle e relaxamento dos alunos.
Também, que o uso da música torna a aula mais lúdica contribuindo com a
interação dos alunos num processo dinâmico de ensino-aprendizagem. Concluí que
algumas de nossas hipóteses estão sendo confirmadas, como a facilidade de se
socializarem, assimilarem os conteúdos de outras disciplinas por meio da utilização da
música em sala de aula.
Figura 4
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
10
CAPÍTULO III
CONTEXTUALIZANDO A MÚSICA NO ENSINO NÃO FORMAL
Ao ingressar na área acadêmica em 2012. Passei a conhecer a metodologia de
ensino da música através dos estágios ao longo dos anos seguintes, pude vivenciar
aprendendo paralelamente com este trabalho social e voluntário que enriqueceram os
meus conhecimentos com detalhes que fazem a diferença para quem deseja ensinar em
ONGs, Igrejas e demais projetos sociais. Os cursos de licenciatura ou cursos de
formação continuada não garantem a formação docente – e muito menos a formação do
professor para atuar em projetos sociais. O professor que visa a atuar em projetos
sociais precisa, durante sua formação, experienciar o ser um professor em um projeto
social, com todas as suas características.
Por esse motivo, o curso de licenciatura tem aumentado expressivamente a carga
horária de estágio, prevendo inclusive a prática pedagógica em espaços como ONGs
(Organização Não-Governamental), OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público) e outros. Nesse sentido, a formação depende totalmente das
experiências vivenciadas, depende da relação com o outro. (MÚSICA, EDUCAÇÃO E
PROJETOS SOCIAIS, p. 125)
Ninguém forma ninguém: o sujeito se forma a partir das
oportunidades que tem, aquelas que se convertem em
experiências de aprendizagem de fato, a partir de sua
história anterior, do que valoriza e deseja, das relações que
estabelece com o outro” (SOLIGO, 2007, p.14).
A música nos mostra que não é somente uma associação de sons e palavras,
mas sim, um rico instrumento que pode fazer a diferença nas instituições de ensino,
pois, ela desperta o indivíduo para um mundo prazeroso e satisfatório para a mente e
para o corpo, que facilita a aprendizagem e também a socialização do mesmo. Enfim, a
música no cotidiano pode não somente ajudar as crianças no aprendizado, mas também
nos casos de crianças com problemas de relacionamentos ou inibição.
11
No contexto de ensino não formal, a utilização desta ferramenta visa aprofundar
o conceito de música na aprendizagem, como processo de transformações e mudanças
muito importantes que completem o conhecimento que está sendo desenvolvido e
estimulado, para termos ciência de que vamos lidar com indivíduos diferentes que
merecem todo o nosso respeito e dedicação, em busca do melhor que a educação puder
proporcionar.
Nos últimos vinte anos, alguns setores da sociedade organizada estão
desenvolvendo ações voltadas para a educação dos marginalizados – ou em situação de
risco, sobretudo crianças e jovens. Os chamados projetos sociais são tentativas de
reorientar os setores que não conseguiram ter espaço na ordem moderna. (MÚSICA,
EDUCAÇÃO E PROJETOS SOCIAIS, © dos autores, 1ª edição 2014.
Não conhecemos hoje em dia uma definição única ou consensual de “educação
não-formal” (ou de “aprendizagem não-formal). Estes termos são ainda objecto de
interpretações diferentes de acordo com as diferentes culturas, tradições nacionais ou
contextos político-educativos de cada país ou região. Nas últimas décadas, “Educação
Não-Formal" tornou-se a noção sumária para aquilo que, no passado, se designava por
"educação fora da escola". (PINTO, Maio de 2005)
Assumimos hoje, de fato, que a educação não-formal se distingue da educação
formal (ou ensino tradicional) em termos de estrutura, da forma como é organizada e do
tipo de reconhecimento e qualificações que este tipo de aprendizagem confere. No
entanto, a educação não-formal é vista como complementar – e não contraditória ou
alternativa – ao sistema de educação formal e deve, pois, ser desenvolvida em
articulação permanente com a educação formal. (PINTO, Maio de 2005)
Ao longo dos últimos anos, a necessidade de formação permanente, mostrou-nos
que o desenvolvimento de competências variadas pode ser conseguido através da
aprendizagem em contextos quer formais, ou não-formais. Enquanto a educação formal
tem lugar nas escolas, colégios e instituições de ensino superior, tem currículos e regras
de certificação claramente definidos, a educação não-formal é acima de tudo um
processo de aprendizagem social, centrado no formando/educando, através de atividades
que têm lugar fora do sistema de ensino formal e sendo complementar deste.
12
Enquanto um sistema de aprendizagem, vem sendo prática comum sobretudo no
âmbito do trabalho comunitário, social ou juvenil, serviço voluntário, atividade de
organizações não-governamentais ao nível local, nacional e internacional. Abrangendo
uma larga variedade de espaços de aprendizagem: das associações às empresas e às
instituições públicas, do sector juvenil ao meio profissional, ao voluntariado e às
atividades recreativas.
A educação não-formal tem formatos altamente diferenciados em termos de
tempo e localização, número e tipo de participantes (formandos), equipes de formação,
dimensões de aprendizagem e aplicação dos seus resultados. É importante sublinhar, no
entanto, que o fato de não ter um currículo único não significa que não seja um processo
de aprendizagem estruturado, baseado na identificação de objetivos educativos, com
formatos de avaliação efetivos e atividades preparadas e implementadas por educadores
altamente qualificados.
É, aliás, neste sentido que a educação não-formal se distingue mais fortemente
da educação formal. Em educação não-formal, os resultados da aprendizagem individual
não são julgados. Isso não significa, no entanto, que não haja avaliação. Ela é, regra
geral, inerente ao próprio processo de desenvolvimento e integrada no programa de
atividades. Assume vários formatos e é participada por todos: formadores e formandos
no sentido de aferir progresso ou reconhecer necessidades suplementares. Do ponto de
vista externo ao processo pedagógico propriamente dito, a eficácia dos mecanismos de
aprendizagem em educação não-formal pode ser apreciada e avaliada pela investigação
social e educacional com o mesmo grau de credibilidade que a educação formal.
O conceito de educação não-formal envolve, como uma parte integrante do
desenvolvimento de saberes e competências, um vasto conjunto de valores sociais e
éticos tais como os direitos humanos, a tolerância, a promoção da paz, a solidariedade e
a justiça social, o diálogo inter-geracional, a igualdade de oportunidades, a cidadania
democrática e a aprendizagem intercultural, entre outros. Para além disto (e em função
disto mesmo), a educação não-formal coloca a tônica no desenvolvimento de métodos
de aprendizagem participativos, baseados na experiência, na autonomia e na
responsabilidade de cada formando.
13
A multiplicidade de espaços de atuação é apontada por (DELBEN, 2003) como
uma das particularidades da formação do professor de música. Nesse sentido, tanto no
Brasil como no exterior, tem sido crescente o número de investigações sobre os
processos de ensino e aprendizagem musical que ocorrem fora do espaço escolar.
Sejam em manifestações culturais, em projetos comunitários, em grupos
musicais, em programas de rádio ou televisão, ou em processos de auto-aprendizagem.
No entanto, poucas são as pesquisas que articulam esses diferentes espaços de atuação
profissional e a formação inicial do professor. Entre esses diversos contextos, o
“terceiro setor e demais espaços alternativos como associações de bairro, creches, casas
e cursos de apoio ao idoso e aos portadores de necessidades especiais” se apresentam
como um mercado de trabalho que está “em franco desenvolvimento para o educador
musical” (OLIVEIRA, 2003: 95).
Essa proposição é compartilhada por (KLEBER, 2003), que vê o terceiro setor e
os projetos sociais como “um campo emergente e significativo para a realização de um
trabalho em educação musical que se alinhe ao discurso que invoca a inclusão social”
(KLEBER, 2003: 3). Os projetos sociais são “ações estruturadas e intencionais, de um
grupo ou organização social, que partem da reflexão e do diagnóstico sobre uma
determinada problemática" (STEPHANOU et al., 2003: 1).
A música tem exercido um papel importante nesses projetos. Ela “participa de
forma considerável na configuração do nosso dia-a-dia [e suas] propriedades de certa
forma nos desafiam a [usá-la] de modo dirigido como meio em todas as áreas da
atuação social” (WICKEL, 1998: 17).
Considerando a natureza das atividades musicais nas ONGs calcadas na ação de
fazer música, a abordagem sobre a performance musical foi tratada a partir das
argumentações de BLACKING (1995) e SMALL (1995). Destaca-se que para Blacking
a performance musical é “um evento padronizado na interação do sistema social, cujo
significado não pode ser entendido ou analisado isoladamente de outros eventos no
sistema” (p. 227-8).
Para SMALL (1995) a performance está associada ao “fazer musical” e ao
“senso de musicalidade das pessoas como fruto da interação interpessoal. Como foi
mencionado, importa nesse aspecto que o processo de ensino e aprendizagem de música
14
considera o seu eixo conduzido pela “ação de fazer música” ou “musicando” (SMALL,
1995), incorporando os processos coletivos intersubjetivos e dialógicos.
A performance musical, nessa perspectiva, abrange “os rituais”, “os jogos”, “o
entretenimento popular” e as formas de interação as quais são entendidas como espaços
de ensino e aprendizagem musical. A análise e interpretação consideraram o amplo
espectro de uma performance musical incorporando a “escuta, a providências para se
realizar uma performance” como elaboração de arranjos, composições, escolha de
repertório, os ensaios, a dança, a preparação do espaço.
Enfim as atividades que estão relacionadas à natureza de uma performance
musical (SMALL, 1995; BLACKING, 1995). A pedagogia da música foi abordada
como um processo que trata “da relação entre pessoas e músicas e o processo de
apropriação e transmissão das músicas” como propõem KRAEMER (2000) e SOUZA
(1996, 2001b).
Tal compreensão justifica a argumentação de SMALL, (1995) que esse campo
abrange os diferentes espaços em que acontece as práticas musicais quais sejam,
educacional, formal ou informal, intencional ou ocasional, e, por isso, as ações
educativas permeiam todos os segmentos sociais, como é o caso das ONGs. A discussão
e reflexão sobre as dimensões e funções do conhecimento-pedagógico musical e suas
implicações partem da premissa de que estes são aspectos do próprio fenômeno/objeto,
sem pensá-lo fragmentado.
Segundo (SMALL,1995), essa visão do campo epistemológico da educação
musical busca contribuir para a delimitação dos limites e das intersecções da área
considerando o conhecimento específico, transversalisado por outros campos do
conhecimento pedagógico musical.
Assim, todo esse processo entendido como um fato social total foi observado,
analisado e interpretado nas ONGs selecionadas, abarcando os aspectos físico,
institucional e simbólico, como possibilidade de produção de novas formas de
conhecimento musical. A análise incorpora assim, a interconexão de quatro dimensões
denominadas como: institucional, histórica, sociocultural e de ensino e aprendizagem
musical. O significado do termo pedagógico não se restringe, portanto, somente aos
processos de ensino e aprendizagem, mas é entendido com um campo pluridimensional
conectado.
15
CAPÍTULO IV
ENSINO DA MÚSICA NO CONTEXTO NÃO FORMAL NA IGREJA
ASSEMBLÉIA DE DEUS PROJETO MUTIRÃO
Nas igrejas protestantes do século XVIII, antes dos órgãos, os instrumentos de
orquestra apareceram com a função de enfatizar o canto. Nas igrejas evangélicas foi
fundamental a influência dos americanos. A comunidade patrocinava apresentações de
orquestras completas e a igreja utilizava coros de trombones especialmente em reuniões
ao ar livre (HUSTAD, 1991). A formação atual das bandas de música nas igrejas,
originam-se desta influência. Elas têm a função de acompanhamento ou de
apresentações instrumentais no decorrer do culto.
As bandas nas igrejas têm uma formação de orquestra e a participação de
instrumentos de base (guitarra, contrabaixo elétrico e bateria). Pesquisa feita em três
igrejas evangélicas, (Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Estado do Rio Grande
do Norte, Templo Central, em Natal-RN, Igreja Evangélica Assembleia de Deus do
Estado do Rio Grande do Norte, em Parnamirim-RN, e a Primeira Igreja Batista de
Natal, em Natal-RN), revelam que apenas 20% dos instrumentos utilizados nas igrejas
pertencem ao músico, e mostra que 80% dos instrumentos utilizados pertencem à
própria igreja, em especial os instrumentos de base (Guitarra, baixo, teclado, etc.).
Os alunos que estudam teoria musical na banda de música, tem a grande
oportunidade de praticar o que aprenderam. O repertório das bandas evangélicas são os
hinos tradicionais de cada igreja, podendo ser executados da maneira como escrito nos
hinários ou com outros arranjos, utilizando ritmos brasileiros e/ou internacionais. Na
mesma banda são aceitos músicos de vários níveis. Os iniciantes geralmente utilizam
partituras facilitadas, e os mais experientes utilizam as partituras originais.
16
Nas igrejas evangélicas essas apresentações podem ser internas ou externas,
como, por exemplo, nos grandes eventos para a evangelização. A aplicação dos
ensinamentos da Bíblia Sagrada incentivou a formação de um determinado grupo que
através da música, conduzisse a adoração praticada pelos membros da igreja.
São os chamados grupos de louvor que possuem a função de acompanhar e
direcionar o canto congregacional (canto em uníssono onde todos na congregação
participam cantando), podendo ser chamados também de ministérios de louvor.
Formado por um grupo de instrumentistas e cantores que têm a responsabilidade de
conduzir o canto coletivo nas igrejas evangélicas (COSTA, 2008). Esses instrumentos
se resumem a violão e/ou guitarra, baixo elétrico, bateria (podendo ter percussão),
teclado. Pode haver ou não um instrumento de sopro para fazer solos nas introduções
dos hinos.
As bandas e orquestras evangélicas de algumas igrejas visitadas apresentam
alguns problemas de qualidade técnica instrumental e de interpretação musical.
Geralmente os músicos tocam muito forte, mas o tocar em conjunto ajuda o praticante a
ter noção de intensidade. É muito importante focar que as bandas evangélicas apesar
desses problemas tem sido grande celeiro de onde saem ótimos músicos para as grandes
orquestras e bandas seculares.
Nas igrejas, os estudantes de música possuem estímulos para o aprendizado
musical devido ao fato de utilizarem o que aprendem de forma quase simultânea à
prática musical nos cultos (COSTA, 2008). Além disso não há dúvidas que “tocar um
instrumento sozinho e tocar em grupo é muito diferente”. A relação restrita entre aluno
e professor pode se tornar monótona.
A musicalização abrange aspectos importantes com objetivos educacionais, e é
uma ferramenta que auxilia o educador a cumprir bem o seu papel, tendo em vista que
17
educar exige alegria, emoção, comprometimento, além de trazer experiências que
enriquecem a relação entre as pessoas.
A música nos mostra que não é somente uma associação de sons e palavras, mas
sim, um rico instrumento que pode fazer a diferença nas instituições de ensino, pois, ela
desperta o indivíduo para um mundo prazeroso e satisfatório para a mente e para o
corpo, que facilita a aprendizagem e também a socialização do mesmo. Enfim, a música
no cotidiano pode não somente ajudar as crianças no aprendizado, mas também nos
casos de crianças com problemas de relacionamentos ou inibição.
No contexto de ensino não formal, a utilização desta ferramenta visa aprofundar
o conceito de música na aprendizagem, como processo de transformações e mudanças
muito importantes que completem o conhecimento que está sendo desenvolvido e
estimulado, para termos ciência de que vamos lidar com indivíduos diferentes que
merecem todo o nosso respeito e dedicação, em busca do melhor que a educação puder
proporcionar.
Nos últimos vinte anos, alguns setores da sociedade organizada estão
desenvolvendo ações voltadas para a educação dos marginalizados – ou em risco de o
serem -, sobretudo crianças e jovens. Os chamados projetos sociais são tentativas de
reorientar os setores que não conseguiram ter espaço na ordem moderna. (MÚSICA,
EDUCAÇÃO E PROJETOS SOCIAIS, © dos autores, 1ª edição 2014.
Desde o ano de 2003 eu exerço um trabalho social voluntário onde a música faz
parte do projeto voltado para as comunidades carentes. Depois de muitos anos, em
2012, quando ingressei na EMUFRN, esta atividade passou a ter um formato também
educativo, através da aprendizagem na área da licenciatura em música. Pude perceber
que, se canalizasse esta metodologia musical para as variadas comunidades onde já
exercia o projeto solidário, iria obter um maior e melhor resultado.
Este Relato de Experiência no qual enfrentei no ano de 2014 em uma das
comunidades no Bairro de Leningrado, periferia da Zona Oeste de Natal. Onde pude
18
vivenciar pela primeira vez o resultado dos ensinamentos obtidos na academia de
música da UFRN, desta vez no campo externo, sem supervisor, somente a
responsabilidade minha de colocar em prática o ensino adquirido durante os 4 anos que
passei, principalmente das disciplinas, Estágio Supervisionado, Atividades Orientadas e
Bandinha Rítmica.
Estas crianças de 6 a 14 anos, passaram a ter todos os domingos ensino sobre
música que iria mudar as suas vidas. Sempre animadas, estas crianças estavam tendo
uma oportunidade de aprenderem música se divertindo com as mais variadas técnicas ao
longo de muitos domingos que iriamos enfrentar.
Figura 3
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Esta pequena comunidade é formada por pessoas moradoras em um conjunto
residencial na periferia de Natal e ao mesmo tempo parte destes moradores se
congregam em uma denominação religiosa perto de suas casas. Nesta igreja haviam dois
grupos de fiéis que cantavam louvores em seus cultos, um grupo composto por senhoras
19
e outro por jovens de faixa etária de 14 anos. Em suas apresentações sempre usavam um
play-back para acompanhá-los. Foi pensando também nisso que idealizei e coloquei em
ação o projeto de musicalização infantil no formato de “Bandinha Rítmica”.
Através de colaboradores de algumas denominações religiosas e amigos,
conseguimos adquirir os instrumentos de percussão necessários como tambores,
pandeirolas, triângulos e afouxés, assim como também algumas flautas doces para que
então pudéssemos em todos os domingos pela manhã logo após o ensino religioso,
intitulado de “Escola Dominical”.
Que começava as 09:00h e ia até as 11:00h. Logo em seguida começavam as
nossas regências que se estendiam após as 12:00h. Este ensino de música para as
crianças era oferecido a todas as idades que quisessem participar tanto da igreja como
da comunidade em geral.
Com relação as músicas que iríamos utilizar para as regências, achei melhor
inserir músicas do próprio hinário da igreja, “Harpa Cristã”, onde as crianças já sabiam
decoradas as letras pois cantavam em seus cultos dominicais, ficando mais fácil a
assimilação do canto com a técnica de toques dos instrumentos. Mas, à princípio não
usamos instrumentos nas 3 primeiras regências. Começamos com as técnicas básicas de
percussão, sem o canto, somente introdução ao ritmo, pulso e acento, com um
conhecimento genérico de cada instrumento onde todos iriam poder tocar no decorrer
das futuras aulas, mas por enquanto puderam conhecer os seus sons e timbres variados.
Todo início das aulas começávamos com alongamentos, respiração e brincadeiras
em conjunto, interagindo com todos que em geral somavam 15 alunos variando de
domingo a domingo. Fui informado pelo pastor da congregação que ao longo das aulas
sempre falávamos sobre os resultados de performances de cada aluno, que estas crianças
eram muito carentes da parte familiar.
Uns chegaram a confessar que seus pais bebiam muito, outros que seu pai estava
preso; alguns, reclamavam que apanhavam muito dos pais. Senti uma tristeza quando
soube que o pai de dois alunos veio a falecer naquela situação e a eles pareciam que não
tinha acontecido nada, pois não passavam isso para mim; então, vi naquelas crianças
20
que estas atividades era como se fosse uma fuga e ou um passatempo que tinham aos
domingos. Além de ser algo novo e diferente, eles viviam intensamente estes momentos
como se fossem únicos.
Na denominação evangélica Assembleia de Deus Projeto/Mutirão, onde pude
estabelecer este projeto de musicalização, as crianças já tinham uma certa musicalidade
devido aos ensaios semanais do pequeno grupo de louvor, ou seja: bastaria focalizar
mais na área instrumental e harmonizar o grupo. A música já fazia parte do cotidiano
das crianças integrantes deste projeto.
Eu já conhecia uma boa parte delas e suas histórias. Passei a conhecer mais
ainda devido ao convívio semanal com elas. Na minha função de educador musical
neste projeto diante do contexto, tinha a responsabilidade de exercer a influência em
cada aluno para que eles se sentissem livres em saber que algo lhes pertencia, para então
conquistarem a dignidade necessária para a vida em sociedade.
Eu podia ver e sentir uma sensação de bem-estar, pois esses alunos, que
estavam à margem da sociedade, a maioria deles sem uma estrutura familiar, seus olhos
brilharem com um sorriso estampado em seus rostos quando pegavam os instrumentos
de percussão e tocavam, para eles, era uma honra participar de um grupo musical e ao
mesmo tempo levava em conta os seus sentimentos, a sua realidade social, suas
preferências e vivências musicais, dando sentido as suas vidas.
Eu contemplava a realidade do significado da frase: “A música é importante”,
um exemplo concreto do que essa afirmação significa. “Vai muito além do significado
comumente atribuído a ela, como, por exemplo, o de entretenimento” (FIALHO, 2003,
p. 89). A música como fenômeno cultural constitui uma das mais ricas e significativas
expressões do homem, sendo produto das vivências, das crenças, dos valores e dos
significados que permeiam sua vida. A etnomusicologia tem ampliado as perspectivas
do estudo da música, apontando para a necessidade de compreendermos essa expressão
na cultura e, também, como cultura (MERRIAM, 1964).
Diante do que aprendí na academia na disciplina “Bandinha Rítmica”, pude
colocar em prática algumas atividades que faziam a diferença, como por exemplo; a
marcha do soldado contando 1, 2, com todos em círculo, revezando ora batendo palmas,
mãos nas coxas, nestes exercícios os alunos aprendiam a noção de ritmo, pulso, tempo e
acento, já outro exercício como o do trenzinho com fila indiana e mãos nos ombros do
21
colega à frente, aprendiam a acelerar e diminuir o ritmo ouvindo a ordem de voz que era
dada, além de outras atividades, enfim, todas com a ausência de instrumentos.
Da quarta regência em diante começamos agora a trabalhar com os instrumentos
de percussão, novamente apresentei um a um para que se familiarizassem. A ansiedade
de poder tocar era grande. Uns queriam o tambor, outros o triângulo e assim este dia
praticamente foi atípico pois esperavam por ele e me perguntavam quando chegaria.
Mas enfim, todos neste dia aprenderam o significado de cada um, os sons, os timbres,
agudos e graves, a forma como se tocava cada um com disciplina.
No decorrer das regências, depois de três semanas, começamos a utilizar todos os
instrumentos trazendo a memória deles a marcha do soldado. Com todos de pé, em
círculo, passei a usar o mesmo exercício das aulas passadas, apenas com uma diferença
que agora em vez de usarem as mãos com palmas, estavam marcando o andamento com
todos os instrumentos, o tambor marcando o acento, e os outros instrumentos o ritmo, a
pulsação e o tempo. Como sempre, todos maravilhados e alegres com aquela sensação
de aprendizado que naqueles momentos executavam todos juntos em harmonia.
A cada domingo colocávamos em prática uma novidade. Achei por bem, neste
dia, introduzir canções do cotidiano dos alunos que são os hinos da “Harpa Cristã”, o
hinário congregacional da igreja, onde eles semanalmente cantam sem acompanhamento
de instrumento musical, mas devido a assiduidade nos cultos todos sabem entoar vários
hinos com as letras decoradas, assim como também neste dia também apresentei para
eles um instrumento de sopro, a flauta doce. Fizemos um teste de aptidão para aqueles
que desejassem aprender, a partir daquela data reservamos mais tempo para formar oito
flautistas. Quanto ao compasso para os instrumentos de percussão, introduzimos
inicialmente o compasso ternário de valsa, ¾, e o compasso binário 2/8 para marchinha.
Geralmente nas igrejas protestantes, há uma variedade de grupos de louvores e
canções variadas que chegam até ser um pouco excessiva devido a diversificação
através da demanda de cantores, grupos e bandas, que tiveram um grande crescimento
nestas duas últimas décadas, acompanhando o ritmo “Gospel Music”, movimento este
22
que renovou a música de igreja ditando uma nova concepção com vários ritmos em suas
canções, assim como também usos e costumes dentro do cenário musical.
Existe uma outra maneira do canto congregacional ocorrer que foi gerada pela
aplicação dos ensinamentos da Bíblia Sagrada, gerando a formação de um determinado
tipo de formação que através da música, conduz a adoração praticada pelos membros da
igreja. Pequenos grupos, chamados “grupos de louvor” se apresentam à frente da
comunidade, na hora do culto, incentivando a participação dos fiéis com a ajuda de um
projetor de slides com o texto dos hinos, facilitando a participação de todos.
Mas nesta comunidade, esses acessórios são considerados luxo, primeiro
porque as condições financeiras não permitem, segundo que a própria tradição de
igrejas e ou comunidades pequenas, acostumadas com a simplicidade e rapidez, muitas
se resumem a um play-back, com exceções de algum instrumentista com violão fazendo
com que haja acompanhamento de pequenos hinos decorados pela congregação que
cantam sem uma previsão e ou ordem, mas em decorrência de momentos variados que
fazem parte do culto.
Com esta movimentação musical crescendo cada vez mais, algumas
denominações protestantes resolveram proibir o uso de certos instrumentos de
percussão, neste caso específico como minoria, algumas proibiram o uso da bateria,
alegando que além de fazer muito barulho, incitava as pessoas a dançarem gerando
sensualidade, segundo alguns pastores.
Aqui em nossa região, especificamente na cidade onde moro, Natal, e interior
do Estado do RN, cresceu bastante grupos de senhoras que formavam bandas de
percussão com os seguintes instrumentos: tambores, triângulos, afouxés e pandeirolas,
para cantarem louvores dentro das igrejas com o nível técnico bastante baixo, segundo
os pastores que conhecem estes grupos, puderam detectar alguns problemas que
estavam afetando a parte litúrgica, como altura do som dos instrumentos era muito
superior ao das vozes das senhoras, assim como também o ritmo que não tinha uma
certa harmonia, se parecia muito com o ritmo da umbanda.
Como testemunha ocular, pude escutar reclamações e até pessoas colocando
mãos nos ouvidos em algumas denominações onde a incidência e repercussão dos
23
tambores eram muito altas, principalmente em templos pequenos e médios, sabendo
destas coisas, passei a imprimir uma certa harmonia entre os instrumentos com a
maioria dos compassos binários que foi aceito por todos e quanto aos alunos gostaram
bastante dos exercícios com a disciplina dos toques que fizeram com que se
acostumassem a ponto de identificarem já o ritmo certo para este e ou aquele hino que
iriam entoar nos ensaios.
Figura 2
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
A partir do desenvolvimento desse projeto, pude comprovar a importância da
música e quanto poder ela tem de capacitar e envolver pessoas na sua melodia que cura
e se une a igreja para resgatar pessoas. Onde eles se permitem transformar e renovar-se
a cada dia. A música modifica e age no indivíduo até ele ter o pensamento musical
formado e poder atuar na área com essa importância.
Ao final do primeiro trimestre, resolvemos dar nome ao grupo de: “Bandinha
Ôh Glória!”, que agora já participavam da liturgia acompanhando o pastor Joel quando
entoava o canto inicial do culto, para a alegria de todas as crianças que acompanhavam
corretamente as melodias, no compasso e ritmo corretos.
24
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino não formal refere-se àquelas atividades que, embora sejam
organizadas, operam fora do sistema educacional formal. Identifiquei-me com esta
modalidade de ensino, pois incentivou-me para servir a interesses particulares e
necessidades de aprendizagem de subgrupos específicos, como, por exemplo, este de
musicalização infantil na modalidade de bandinha rítmica.
Vimos, portanto, que as ações desenvolvidas neste projeto tiveram o intuito de
ampliar as discussões sobre a prática de ensino da música no contexto não formal. Além
disso, mostrar que o ensino não se limita à mera transmissão do conhecimento, mas
envolve as relações interativas entre estudantes e professores que vão construindo e
reconstruindo suas aprendizagens. Identifiquei que a formação precisa estar atrelada ao
desenvolvimento de habilidades e competências mobilizando diversos recursos
cognitivos para enfrentar situações.
Na referida disciplina, que possui como objetivo promover o estudo prático e
crítico de situações que caracterizam o trabalho educativo em espaços não formais, e
desenvolver conhecimentos e habilidades que capacitem o licenciando a planejar e
executar ações didáticas, e foi essa a dinâmica priorizada no desenvolvimento desse
projeto. Nessa visão, o aluno precisa desenvolver habilidades e competências, a partir
da vivência de situações-problema, em que professores e alunos possam buscar
informações, construir conhecimentos, inovar por meio de novas descobertas,
25
contribuindo para transformação social. Assim, percebi neste projeto que a prática de
ensino voltada para a educação não formal precisa ser entendida como um processo
interativo que congrega conhecimentos acadêmicos e populares de forma dialética e
indissociável, que contribui na formação de um ser cidadão.
O presente relato que foi desenvolvido na Assembleia de Deus Projeto/Mutirão,
possibilitou as crianças e jovens uma oportunidade de participar mais ativamente da
comunidade tocando ou cantando, ou seja, veio ao encontro com o resgate e uma
novidade para os jovens da comunidade, além de reestruturar ministérios e trazer as
pessoas e jovens do projeto para participarem de encontros realizados pela igreja. Essa
pesquisa foi de grande contribuição para minha formação, pude de forma concreta
avaliar-me e utilizar as práticas de ensino de acordo com a formação adquirida e
moldada.
Os desafios com certeza possibilitaram-me um crescimento bem significativo e
digno de muito orgulho, no caminho do ensino e do aprendizado. É preciso estar com o
pensamento aberto a críticas e a novas oportunidades para desenvolver um trabalho que
possibilita o amadurecimento profissional e acadêmico. Percebi que os alunos que
permaneceram até o final, tiveram um crescimento melhor, alguns não assíduos, ainda
tinham dúvidas, ou não lembravam determinado ritmo, e foi preciso falar da
importância de praticar o instrumento em casa, que houvesse esse interesse da parte de
cada um para a dedicação no estudo individual em suas casas.
No entanto ressalto que de acordo com os resultados coletados, que foram muito
positivos, os jovens que adquiriram experiência tendo como parâmetro os exercícios e
vários fatores indicando que o ensino da musicalização para as crianças em espaços não
formais, visando o processo de aprendizado, socialização e bem-estar é uma
necessidade para a sociedade, e evoluir cada vez mais, no mundo todo. Pois é necessário
desenvolver uma relação entre a música e a vida cotidiana identificando questões éticas
e sociais. Como futuro profissional do ensino de música destaco a relevância do
incentivo à formação cultural e cientifica dos indivíduos através dos contextos não
26
formais, para que dessa forma reconheçam seu meio e saibam como interagir com ele de
maneira autônoma.
APÊNDICES
ESCOLA DE MÚSICA ASSEMBLEIA DE DEUS PROJETO MUTIRÃO
Professor: Ari Noronha
PLANO DE AULA Nº 1
IDENTIFICAÇÃO:
Tema: (Corpo e Movimento) (Rítmica) (Gesto e Palavra)
Duração: 50 minutos
Espaço: Assembleia de Deus Projeto Mutirão
Turma: única
Turno: Manhã
Disciplina: Música
1. OBJETIVOS:
Utilizar de exercícios rítmicos para despertar o interesse.
Ensinar as canções que serão ensaiadas.
Compor em coletivo o arranjo instrumental dessas músicas.
2. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Através desses objetivos, queremos que os alunos tenham um conhecimento
básico de ritmo, possam começar a gostar e apreciar mais a música e despertar
seu lado criativo dentro da criação musical.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
1º momento
Iniciar a aula apresentando as canções.
2º momento Ensinar a tocar os instrumentos
3º momento
27
Cantar a música implementando os instrumentos.
4. RECURSOS DIDÁTICOS:
Violão.
Flauta.
Instrumentos percussivos.
5. AVALIAÇÃO:
5.1 Aspectos a serem avaliados:
Nível de interesse e conhecimento prévio de música.
Desenvolvimento motor.
Capacidade de decorar a letra.
Nível de afinação.
ESCOLA DE MÚSICA ASSEMBLEIA DE DEUS PROJETO MUTIRÃO
Professor: Ari Noronha
PLANO DE AULA Nº 2
IDENTIFICAÇÃO:
Tema: (Corpo e Movimento) (Rítmica) (Gesto e Palavra)
Duração: 50 minutos
Espaço: Assembleia de Deus Projeto Mutirão
Turma: única
Turno: Manhã
Disciplina: Música
1. OBJETIVOS:
Utilizar de exercícios rítmicos para despertar o interesse.
Ensinar as canções que serão ensaiadas.
Compor em coletivo o arranjo instrumental dessas músicas.
2. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Através desses objetivos, queremos que os alunos tenham um conhecimento
básico de ritmo, possam começar a gostar e apreciar mais a música e despertar
seu lado criativo dentro da criação musical.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
1º momento
Iniciar a aula fazendo aquecimentos e alongamentos interativos
2º momento Ensaiar as músicas
3º momento Cantar a música implementando os instrumentos.
4. RECURSOS DIDÁTICOS:
28
Violão.
Flauta.
Instrumentos percussivos.
5. AVALIAÇÃO:
5.1 Aspectos a serem avaliados:
Nível de interesse e conhecimento prévio de música.
Desenvolvimento motor.
Capacidade de decorar a letra.
Nível de afinação.
ANEXOS
Figura 1– Foto externa
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
34
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Figura 8 – Foto interna
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Figura 9 – Foto interna
35
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
Figura 10 – Foto interna
Fonte – Acervo do pesquisador e autor
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36
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