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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA REFLEXÕES COM BASE NO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO: PROPOSTA CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA). Rafaela Winklan de Almeida NATAL, DEZEMBRO DE 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

REFLEXÕES COM BASE NO ESTÁGIO CURRICULAR

OBRIGATÓRIO: PROPOSTA CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS (EJA).

Rafaela Winklan de Almeida

NATAL, DEZEMBRO DE 2016

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SUMÁRIO

Introdução.....................................................................................................3

Breve contextualização histórica da Educação de Jovens e Adultos......6

Perfil do aluno EJA e dificuldades do processo ensino-aprendizagem.....9

Reflexão sobre Metodologia, Práticas Pedagógicas e o Currículo destinados

a Educação de Jovens e Adultos- EJA........................................................12

O Papel do professor e a formação destes para atuar na modalidade da

EJA..............................................................................................................16

Notas conclusivas........................................................................................18

Referências bibliográficas...........................................................................21

3

INTRODUÇÃO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é direcionada aos jovens e

adultos por meio da rede pública (há escolas da rede privada também) de

ensino no Brasil. É uma modalidade de ensino que atende a uma

expressiva população de estudantes com características muito peculiares,

são jovens e adultos de baixa renda, no qual, muitas vezes seus pais

também não foram alfabetizados, perfis de indivíduos ativos, pais e mães

de família que veem na escola uma chance de adquirir novos

conhecimentos a fim de auxiliar na educação dos filhos, na superação de

melhores condições de vida, ou até mesmo sentirem mais participativos e

incluídos na sociedade, entretanto boa parte destes alunos busca uma

realização pessoal.

Na maioria das vezes esses sujeitos não tiveram acesso à escola

quando crianças; precisaram abandonar a sala de aula para trabalhar; ajudar

a família ou outro motivo que os impediu de estudar e concluir o ensino no

“tempo adequado”.

Durante a realização da disciplina de Estágio Supervisionado, do rol

de disciplinas curriculares do curso de Pedagogia, da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, em uma turma da EJA, percebi que o universo da

EJA está defasado. Observei professores realizando atividades iguais às

realizadas com o currículo regular, ou seja, por muitos momentos as aulas

tornavam-se entediantes, infantilizadas ou fora das vivências dos alunos.

Deste modo, o perfil do professor da EJA entra em discussão, visto

que o aluno desta modalidade de ensino é bem diferente dos alunos do

ensino regular, com isto, se faz necessário um professor com perfil

diferente, ciente de que a EJA não pode ser comparada ao ensino regular.

Esses docentes necessitam, então, serem dinâmicos, construtivos,

4

questionadores e além de tudo, respeitar a diversidade que o perfil EJA

exige. Logo, a necessidade que se faz, dentre outras, à redefinição do

currículo e da metodologia de ensino nas salas da EJA. Com essa mudança

seria possível buscar uma melhor formação para os alunos, oportunizando

um maior interesse e participação dos mesmos nas atividades curriculares,

desta etapa.

Nesse sentido, o presente trabalho problematiza a metodologia

infantilizada utilizada nas práticas pedagógicas na Educação de Jovens e

Adultos, e tem como objetivo de estudo:

descrever o surgimento da EJA como modalidade de ensino na

legislação brasileira;

pesquisar e analisar criticamente como é organizado o

currículo da EJA;

procurar refletir sobre a prática pedagógica desenvolvida em

salas de aula da EJA;

revelar o perfil do professor do aluno da EJA.

Este trabalho faz uma contextualização histórica da Educação de

Jovens e Adultos, pois é de suma importância refletir, primeiramente, a

constituição da modalidade a fim de discutir sua situação atual. Procuro

refletir sobre a metodologia e o currículo destinados à modalidade EJA,

com foco no professor e aluno no processo ensino-aprendizagem. Esses

fatores podem influenciar uma nova postura didático-pedagógica dos

docentes da Educação de Jovens e Adultos, visto que estes têm um papel

fundamental e são mesmo imprescindíveis no processo de ensino-

aprendizagem dos alunos.

A escolha do tema foi provocada, como já mencionado, durante o

período do estágio curricular obrigatório, a partir de inquietações e críticas

5

iniciais que fiz sobre as práticas pedagógicas infantilizadas e desatualizadas

desenvolvidas pela professora titular da sala de aula que, pelas minhas

observações, não eram adequadas ao contexto dos alunos da EJA.

Procurei aproveitar essa oportunidade de observações para iniciar a

pesquisa, a fim de complementar o estudo, foi realizado uma pesquisa

bibliográfica que segundo Fonseca ( 2002, pag. 32), “[...] é feita a partir do

levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios

escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites

com [...] objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre

o problema a respeito do qual se procura a resposta”.

Essa pesquisa utiliza de uma abordagem qualitativa, que de acordo

com Gerhardt e Silveira (2009, pag. 31) “[...] não se preocupa com

representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da

compreensão de um grupo social, de uma organização, etc.”.

As informações para responder aos objetivos propostos foram

fundamentadas em autores como Barreto (2006), Freire (1996); Gadotti

(2013), Miguel Arroyo (2007), Ribeiro (2001); Brasil (1996), o Parecer

(nº.11/2000) estabelecido pelo Ministério da Educação (MEC), Conselho

Nacional de Educação (CNE) e Câmara de Educação Básica (CEB) que

tratam de forma aprofundada as questões relacionadas ao tema investigado.

6

BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

A preocupação com a prática de formação do sujeito se inicia desde

a colonização do Brasil, mas segundo (Ribeiro, 2001), somente a partir da

década de 1930 que começa a consolidar a educação pública no país,

quando a sociedade passa por transformações causadas pela

industrialização e os centros urbanos concentrados populacionalmente. Em

1945, com o fim da ditadura do governo de Getúlio Vargas, o país vivia a

efervescência política da redemocratização. Percebia-se o alto índice de

analfabetismo, fator este que não favorecia ao período de eleições que se

encontrava. Nesse período, a educação de adultos define sua identidade

tomando a forma de uma campanha nacional de massa, a Campanha de

Educação de Adultos, lançada em 1947. Tinha como proposta uma

alfabetização rápida, em um curto período de tempo.

Devido às críticas à Campanha de Educação de Adultos que se

estendiam por todo o país, manifestou-se o educador Paulo Freire,

interessado em contribuir com novas reflexões sobre o problema do

analfabetismo e a consolidação de um novo paradigma pedagógico.

Segundo Ribeiro (2001, pág. 23), Paulo Freire pretendia oferecer aos

jovens e adultos “[...]uma ação educativa que não negasse sua cultura mas

que a fosse transformando através do diálogo”. Essa proposta iria favorecer

a esses educandos uma participação mais efetiva na sociedade,

considerando com suas realidades, suas experiências de vida e suas

culturas.

Assim, o método Paulo Freire se configura em uma ação

transformadora da sociedade, levando ao jovem e ao adulto analfabeto não

só a alfabetização, mas principalmente, a integração na sociedade e uma

visão crítica da realidade em que estão inseridos.

7

Em 1961, a Lei nº 4.024, regulamenta as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, reconhecendo a educação como direito de todos.

Determina que, referente ao ensino primário, ele torna-se obrigatório a

partir dos sete anos. Para os que iniciaram depois dessa idade, poderiam

continuar em classes de aceleração ou em cursos supletivos, visando

corrigir a distorção do fluxo escolar, ou seja, a defasagem entre a idade e a

série que os alunos deveriam estar cursando.

Nesse período e posterior a ele, surgem novos movimentos de base

voltados para a alfabetização de adultos, movimentos de educação e cultura

popular, adotando, em sua maioria, a filosofia e o método de alfabetização

proposto por Paulo Freire. Dentre os movimentos se destacaram foram o

Plano Nacional de Alfabetização de Adultos e a Campanha “De Pé no

Chão Também se Aprende a Ler”.

Em 1964, com a ditadura militar, período marcado por momentos de

extremo autoritarismo, repressão e diversos outros meios de manter o

regime, os programas de alfabetização (dentre deles o Programa Nacional

de Alfabetização) e educação popular também sofreram impactos, tornando

a educação rígida, controladora e disciplinadora. Foram vistos como uma

grave ameaça à ordem e seus promotores foram reprimidos.

Em 1967, o governo militar criou o Movimento Brasileiro de

Alfabetização (MOBRAL), mais uma tentativa do Estado brasileiro de lidar

com a tensão social promovida pela negação histórica da educação para as

classes populares. Segundo, Haddad (2001, pag. 116 ) “[...]o MOBRAL

foi criticado pelo pouco tempo destinado à alfabetização e pelos critérios

empregados na verificação de aprendizagem. Mencionava-se que, para

evitar a regressão, seria necessária uma continuidade dos estudos em

educação escolar integrada, e não em programas voltados a outros tipos de

interesses como, por exemplo, formação rápida de recursos humanos”. Seu

objetivo principal era controlar a alfabetização da população, fazendo com

8

que os alunos aprendessem a ler, escrever e fazer cálculos, sem uma

preocupação maior com a construção da cidadania, deixando de lado a

formação crítica do aluno.

Em termos legais, apenas em 1971 o governo elaborou a Lei de

Diretrizes e Bases nº. 5.692, que reconheceu a educação de adultos como

um direito à cidadania, afirmando sua obrigatoriedade e gratuidade.

Durante essa década, o MOBRAL expandiu-se por todo o território

nacional, mas foi extinto em 1985 e seu lugar foi ocupado pela “Fundação

Educar”, até 1990. (PARECER 11/2000)

A Constituição de 1977 mantém a educação como direito de todos

(art. 168), e estende a obrigatoriedade da escola até os catorze anos.

Segundo o Parecer CNE/CEB 11/2000 (2000, pág.20), “[...] esta extensão

parece incluir a categoria dos adolescentes na escolaridade apropriada,

propiciando, assim, a emergência de uma outra faixa etária, a partir dos 15

anos, sob o conceito de jovem. Este conceito será uma referência para o

ensino supletivo”.

Uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº.

9.394, foi promulgada em 1996, com o objetivo de assegurar Educação

Básica e de qualidade a toda população brasileira, conforme consta no art.

37, parágrafo 1º da LDBEN:

Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente

aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar

os estudos na idade regular, oportunidades

educacionais apropriadas, consideradas as

características do alunado, seus interesses,

condições de vida e de trabalho, mediante cursos e

exames. (BRASIL, 1996, art. 37).

Historicamente, a Educação de Jovens e Adultos passou por um

grande período de batalha para conquistar um espaço significantemente na

9

sociedade. No decorrer dessa historia, vários sentidos e concepções foram

criados e transformados para caracterizar essa modalidade de ensino,

sempre com um enfoque político. Hoje em dia, tornou-se modalidade de

educação básica regular e reconhecida como direito público.

Vale ressaltar que a modalidade EJA vem seguindo com novas

tendências de mercado capitalista e com a necessidade crescente de

qualificação profissional, ao longo do tempo vem ganhando ênfase e várias

alternativas têm sido propostas (OLIVEIRA, 1996). É claro que a

modalidade vem ganhando, ao longo de sua trajetória, um foco amplo. Pois

para haver uma sociedade igualitária e uma educação eficaz, é necessária

que todas as áreas da educação sejam focadas e valorizadas, não é possível

desassociar uma da outra.

PERFIL DO ALUNO EJA E DIFICULDADES DO PROCESSO

ENSINO-APRENDIZAGEM

O Parecer CNE/CEB nº. 11/2000 estabelecido pelo Ministério da

Educação (MEC), Conselho Nacional de Educação (CNE) e Câmara de

Educação Básica (CEB), estabelece diretrizes curriculares para a EJA

apresentando o perfil do educando,

“[...]são adultos ou jovens adultos, via de

regra mais pobres e com vida escolar mais

acidentada. Estudantes que aspiram a

trabalhar, trabalhadores que precisam

estudar”. (Parecer CNE/CEB nº. 11/2000,

2000, pag. 9).

O público EJA é formado, por sua grande maioria, por pessoas de

classes sociais e econômicas mais baixas, porém movem-se para a escola

por uma motivação, seja buscando uma ressignificação para suas

competências, habilidades ou valores, ou tentando conquistar uma melhora

10

de vida, pessoalmente ou financeiramente. (Parecer CNE/CEB nº.

11/2000).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº

9394/96) assegura que a Educação de Jovens e Adultos será destinada aos

que não tiveram acesso ou oportunidade de continuar seus estudos no

ensino fundamental e médio na idade própria. O art. 4º, inciso I, II e VI, da

LDBEN (nº. 9394/96) garante que:

“O dever do Estado com a educação escolar pública será

efetivado mediante a garantia de ensino fundamental,

obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria; progressiva extensão da

obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio e oferta de

ensino noturno regular, adequado às condições do

educando.” (BRASIL, 1996, art.4º).

Esses alunos, em sua maioria são trabalhadores que, iniciaram sua

experiência com o trabalho muito cedo. São alunos que após um dia

exaustivo de trabalho, se direcionam para as escolas, mesmo cansados, mas

com a intenção de estudar. É fato que, entre eles, há também

desempregados e trabalhadores temporários e informais. Costa, Álvares e

Barreto (2006) ressalta que, é imensurável a quantidade de saberes que

cada um destes alunos possuem em função das atividades que realizam ou

realizaram. E que a escola, precisamente, deve pensar em formas de

potencializar essas competências que os jovens e adultos possuem em suas

vidas.

Os alunos jovens e adultos, pela sua experiência de vida, desfrutam

de um saber sensível cujo esses conhecimentos são extremamente

positivos, e precisa ser cultivado e valorizado pelo educador, pois com

Costa, Álvares e Barreto (2006, pág. 7), menciona “[...] representa a porta

11

de entrada para exercitar o raciocínio lógico, a reflexão, a análise, a

abstração e, assim construir um outro tipo de saber: o conhecimento

científico”.

Em conformidade com as observações vistas no estágio curricular

obrigatório realizado, sobre os alunos, pude perceber que eles

demonstravam ter interesse existente em serem alfabetizados. A turma não

era numerosa, mais ou menos vinte e cinco alunos, de caráter bem

heterogêneo, pois era composta de estudantes de dezessete a oitenta e dois

anos, formada por mais adultos e idosos do que jovens adolescentes.

Atentei que os adultos e idosos eram mais assíduos diferente dos jovens

adolescente. Todos conviviam sociavelmente bem e mostravam atenção as

aulas da professora titular. A turma encontrava-se no primeiro segmento da

modalidade EJA, equivalente aos anos iniciais do Ensino Fundamental, em

vista disso, pendurava grandes dificuldades principalmente na alfabetização

e letramento.

Um ponto importante que observei nesse período foi um olhar para

evasão escolar. A evasão é um grande problema que a modalidade (EJA)

enfrenta dentro das escolas. Foi notado desde o primeiro dia de observação

que, grande parte dos estudantes nunca estavam presentes em todos os dias

de aula, tornando isso um sério problema para o processo de aprendizagem.

Muitos desses estudantes tinham vontade de estudar, porém o cansaço

físico após um árduo dia de trabalho causava desmotivação para irem à

escola à noite, sendo um dos motivos que age de contra peso no processo

de aprendizagem, resultando muitas vezes na evasão escolar.

Dessa forma, é importante que o processo educativo não se restrinja

apenas à aquisição de conhecimentos, mas que desenvolva nos alunos suas

habilidades e capacidades de pensar, e fazendo associação entre o que

aprendeu ao seu meio. Assim, a alfabetização deve voltar-se para formação

12

do ser humano e, principalmente, para sua autonomia. Essa educação deve

ser entendida como tomada de consciência para que os alunos se insiram

mais aptos e ativos na sociedade, transformando e alcançando seus

objetivos.

REFLEXÃO SOBRE METODOLOGIA, PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS E O CURRÍCULO DESTINADOS A EDUCAÇÃO

DE JOVENS E ADULTOS- EJA.

Um novo caminho vem sendo constituído para a educação de jovens

e adultos no sentindo de preservar os elementos essenciais de uma

educação básica que ensine a viver melhor pelo conhecimento, pela

experiência e pela construção de uma cultura pessoal. Ribeiro (2001, pag.

14) referente à proposta curricular, apresenta uma reflexão pedagógica

dessa modalidade educativa, “[...]Elas não constituem propriamente um

currículo, muito menos um programa pronto para ser executado. Trata-se

de um subsídio para a formulação de currículos e planos de ensino, que

devem ser desenvolvidos pelos educadores de acordo com as necessidades

e objetivos específicos de seus programas”.

Por se tratar de uma modalidade de ensino destinada a um

atendimento de pessoas com faixas etárias diferentes, sujeitos com vastas

experiências de vida, em relação ao currículo da EJA, é indissociável uma

proposta curricular sem que leve em conta, as especificidade e diversidades

presentes no universo desses sujeitos devem-se considerar suas origens

culturas, saberes e conhecimentos.

Segundo Ferrari (2011), uma importante consideração a se fazer é o

reconhecimento deste jovem como um sujeito, cuja história não é a mesma

de outros jovens de sua faixa etária. Para a autora, é imprescindível que o

jovem da EJA seja visto como uma pessoa, “[...]cujas condições de

13

existência remetem à dupla exclusão, de seu grupo de pares da mesma

idade e do sistema regular de ensino, por evasão ou retenção” (FERRARI,

2011, p. 2).

Como proposta curricular da EJA, suas práticas educativas têm como

intenção generalizar, aperfeiçoar ou transformar. A proposta curricular

enfatiza a construção de conceitos, possibilitando ao aluno ampliar sua

capacidade de aprender, tendo em vista a aquisição de conhecimentos, bem

como a formação de atitudes e de valores. Na Proposta Curricular da EJA

são desenvolvidos conteúdos, de modo integrado à qualificação

profissional, possibilitando ao aluno a formação profissional básica para o

trabalho e o desenvolvimento de suas aptidões para a vida produtiva.

(RIBEIRO, 2001)

A alfabetização é uma das principais finalidades da EJA, mas não é a

única. Segundo o Parecer CNE/CEB 11/2000, são destacadas quatro

funções para a EJA, uma delas é a associação à escolaridade compensatória

para pessoas que não conseguiram ir para a escola quando crianças. De

acordo como consta no Parecer CNE/CEB 11/2000 (2000, pág. 21),

“Esse Parecer destaca quatro funções do então

ensino supletivo: a suplência (substituição

compensatória do ensino regular pelo supletivo via

cursos e exames com direito à certificação de

ensino de 1º grau para maiores de 18 anos e de

ensino de 2º grau para maiores de 21 anos), o

suprimento (completação do inacabado por meio

de cursos de aperfeiçoamento e de atualização.), a

aprendizagem e a qualificação.” (BRASIL, 2000,

pag.21).

14

A leitura de mundo feita pelos alunos compõe a questão curricular do

que deve ser ensinado em sala de aula. É nesse entendimento de alunos da

EJA, que o educador Paulo Freire (FREIRE, 1996, pag. 78) aponta o que é

preciso “[...] ir "lendo” cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos

populares com quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior

de que é parte.”

O modelo de educação voltado para os jovens e adultos é o modelo

voltado para o presente, não tornando o futuro como primordial. Para

Miguel Arroyo (2007), quanto ao currículo, ressalta a importância desse

ser voltado para os saberes e as vivências dos sujeitos. Nessa concepção

notamos a valorização dos saberes adquiridos no decorrer da vida com as

diversas “leitura de mundo”.

Nesse sentido, diante das observações e estudos a respeito do perfil

dos alunos da EJA da turma do estágio curricular obrigatório, tive o intuito

de gerar um planejamento das aulas adequado à realidade dos alunos. O

projeto pedagógico teve como objetivo conhecer, dialogar, refletir e

problematizar atividades com o foco na escrita e na leitura. O objetivo foi

saber o que os alunos sabiam e tinham mais interesse. Foi relatado um

pouco da vida escolar de cada aluno, além de cada um dizer o que mais

gosta de estudar em sala de aula. Os resultados foram de diversos temas,

como poesia, literatura de cordel, música, produção de textos e outros. Os

alunos participaram satisfatoriamente das aulas, expressando suas opiniões,

questionando e mostrando-se interessados ao resolverem as atividades

propostas. Envolveram-se nas propostas e, segundo relatos, percebemos

que os conteúdos foram significativos para os mesmos, conforme Costa,

Álvares e Barreto (2006, pág. 7) afirma:

15

“[...]A grande maioria deles é especialmente

receptiva às situações de aprendizagem:

manifestam encantamento com os procedimentos,

com os saberes novos e com as vivências

proporcionadas pela escola”.

O currículo, portanto deve se orientar pelo conhecimento que o aluno

tem e sobre quem ele é. Devemos atentar para que o currículo escolar da

EJA não reproduza simplesmente os currículos, métodos e materiais da

educação infanto-juvenil. Ele deve se apresentar mais flexível,

reconhecendo processos de aprendizagem informais e formais, de modo

que os estudantes possam obter novas aprendizagens e autodeterminem

suas biografias educativas. Conforme o Parecer CNE/CEB 11/2000) (2000,

pag. 61), [...]“A flexibilidade curricular deve significar um momento de

aproveitamento das experiências diversas que estes alunos trazem consigo

como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos e seu

cotidiano. A flexibilidade poderá atender a esta tipificação do tempo

mediante módulos, combinações entre ensino presencial e não–presencial e

uma sintonia com temas da vida cotidiana dos alunos, a fim de que possam

se tornar elementos geradores de um currículo pertinente.”

O PAPEL DO PROFESSOR E A FORMAÇÃO DESTES PARA

ATUAR NA MODALIDADE DA EJA.

A Educação de Jovens e Adultos, é muito recente e tida como

diferenciada. Esta modalidade de educação visa atender aos jovens e

adultos com caracteristicas próprias, que não tiveram oportunidade de

concluirem os seus estudos em tempo normal, possibilitando ao educando

não só uma proposta de linguagem escrita e o conhecimento básico para o

16

acesso a outros graus de ensino, mas a integração social desse indivíduo.

(PARECER 11/2000)

O educador não pode ser simplesmente um repassador de conteúdos

e tarefas, mas deve ser capaz de produzir atividades que possuam sentido e

significado para o ensino-aprendizado de seus educandos. Os alunos da

EJA necessitam de um professor com perfil diferente, como Freire

menciona (1996, pag. 28), “[...]essas condições implicam ou exigem a

presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos,

rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.” De acordo com

(BARRETO, 2006, p. 23), o conhecimento não está “nem fora nem dentro”

dos indivíduos, ele “se constrói na relação dos seres humanos com o

mundo” e que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as

possibilidades para sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996,

pág.24).

Acostumados ao ensino regular, a maioria dos professores tendem a

reproduzir as práticas, saberes e conceitos que já dominam, esquecendo que

a modalidade EJA requer uma prática mais crítica. A EJA tem de ser

encarada como um atendimento específico, que pede um currículo próprio.

Como sabemos, as aulas da EJA devem ser dinâmicas e atrativas

para que não haja casos de evasão, pois a maioria dos alunos são

responsáveis pelo sustento familiar, ou seja, chegam à escola, cansados

após um dia de trabalho, neste caso, cabe ao professor estar preparado para

enfrentar os desafios que surgem dentro das salas de aula, a fim de superar

as dificuldades, facilitar e incentivar o aprendizado dos jovens e adultos.

Durante o período de observações referentes à didática da professora

titular da turma no qual realizei o estágio curricular obrigatório, percebi

que a professora realizava atividades infantilizadoras, com um olhar um

pouco equivocado diante o que realmente os perfil do aluno EJA necessita.

17

No meu ponto de vista, eram atividades pedagógicas precárias que

tornavam as aulas entediantes ou fora das vivências dos alunos.

Entendo que a EJA só se tornará efetiva quando os nela envolvidos

se derem conta que é preciso, antes, de tudo, comprometer-se com o saber,

com o desenvolvimento do ser humando que adentra nas escolas, com a

transformação da realidade social e individual dos participantes desse

processo.

Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

9.394/96, fica reconhecido que a EJA, institui um trato didático-pedagógico

diferenciado para esse público, no qual prevê também que a formação dos

profissionais da educação deverá atender às diversas modalidades de

ensino, incluindo a Educação de Jovens e Adultos, com suas

especificidades e saberes docentes característicos desta modalidade. Isso,

consequentemente, provocou mudanças no que se refere à formação dos

professores, pois esta lei como já foi exposto, orienta que todos os cursos

de formação de professores devam atender às diversas modalidades.

Nessa perspectiva é necessário que os docentes aprendam a trabalhar

com o que os alunos já sabem previamente, sabendo compreender que em

sua maioria são indivíduos presos no tempo e espaço. A configuração dos

sujeitos da EJA de forma homogenia não condiz com a realidade desses

indivíduos, pois suas caracterizações desfiguram o que é real.

[...]“deixo”, então, aos professores e professoras da EJA a tarefa

política, educativa e por que não dizer afetiva de descobrir na

recuperação da trajetória de seus jovens alunos e jovens alunas

as “portas de acesso” ao sujeito.” que pode conhecer na medida

em que é reconhecido no jogo da aprendizagem escolar.

(ARROYO, 2007, P. 57).

18

Embora haja uma diversidade de fatores que definem a situação do

estudante da EJA, a formação docente qualificada é um meio importante

para se evitar o trágico fenômeno da evasão ou dor fracasso escolar.

Quando os alunos interagem no próprio processo educativo,

participando, construindo, questionando e principalmente refletindo sobre o

que se faz na sala de aula, permitimos que eles construam suas próprias

experiências, desenvolvendo assim, sua autonomia.

Segundo Brandão (2005, pag. 58), para Paulo Freire, “[...]a educação

é prática da liberdade, para o autoconhecimento e vivência criativa. O

alfabetizando exerce papel ativo no processo de aprendizado, interagindo

com o professor”.

Constato que o perfil do professor da EJA é multifacetado e plural, e

que não existe um perfil pronto, mas sim que ainda está para ser construído.

Vale ressaltar que é de fundamental importância compreendermos quem

são os professores que atuam na EJA. É preciso, ainda, que as políticas

públicas de formação docente avancem neste sentido, implementando e

efetivando políticas que visem uma formação consistente e de qualidade,

para que os professores possam ter autonomia no processo de ensino-

aprendizagem, independentemente da modalidade e/ou segmento que

venha lecionar.

NOTAS CONCLUSIVAS

O presente trabalho se motivou a partir das minhas vivências no

estágio curricular obrigatório, em razão de práticas docentes inadequadas

observadas, no qual me causou profundas reflexões, e a busca de respostas

a questões que envolvem: a prática pedagógica desenvolvida em salas de

aula da EJA; o surgimento da modalidade EJA; como é organizado o

currículo da EJA; quem são os alunos e os docentes da EJA.

19

O Estágio foi um período em que busquei relacionar aspectos

teóricos com aspectos práticos. Uma oportunidade em que pude perceber a

necessidade em assumir uma postura não só crítica, mas também reflexiva

em relação à prática educativa diante da realidade e a partir dela, buscar

cumprir uma educação de qualidade, na qual é garantida na LDB - Lei nº

9394/96.

O estudo contribuiu para uma reflexão sobre a caracterização da

modalidade EJA e seus sujeitos, pois a EJA se caracteriza como uma

modalidade que possui suas próprias particularidades.

Por meio de uma pesquisa acerca do histórico da Educação de Jovens

e Adultos no Brasil, foi possível evidenciar que a sua trajetória é marcada

por muitas transformações, com importantes conquistas na legislação.

(PARECER 11/2000)

Diante a proposta curricular da EJA, considera-se trabalhar

conteúdos e metodologias adaptadas à realidade dos alunos, de forma que

os envolva na sociedade ativamente. Essa proposta inclui, além da

aquisição da leitura e escrita, a formação humana, a valorização da

diversidade e a construção da cidadania. Além disso, é preciso incentivar a

reflexão a respeito do papel da escola, do professor, dos educando, qual a

finalidade real que estes pretendem atingir.

Por se tratar de uma modalidade diferenciada, necessitando de um

atendimento mais característico, nota-se que, na maioria dos casos, os

educadores desse público são improvisados e não tendo o preparo

específico para atender esse público. O educador não pode trabalhar a

educação de forma fragmentada, mas voltar seu olhar para uma prática que

inclua em uma única ação metodologia, propostas, conteúdos e práticas

adaptadas à realidade de seus alunos, sejam eles crianças, adolescentes,

jovens ou adultos.

20

O educador deve, em sua prática, proporcionar o conhecimento de

forma que envolva o aluno em todas as dimensões do saber e os

proporcione uma inserção na sociedade com mais autonomia e segurança

de suas ações. Gadotti (2013) relata que Freire em suas aulas preparatórias,

insistia na associação da educação com a realidade, segundo ele, o ser

humano tem mais facilidade em aprender a ler e escrever quando seu

aprendizado está relacionado nas suas próprias experiências de vida.

Diante os estudo e reflexões, pude constatar que a educação é um

desafio constante, na qual a luta contra o insucesso escolar, as novas

metodologias e técnicas de ensino, a qualificação dos professores, a

integração escola-família são requisitos fundamentais no processo de

educar para a vida.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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