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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
RAFAEL JOSÉ DE MEDEIROS
DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO ACESSO TRANSMAXILAR À BASE DO CRÂNIO:
ESTUDO EM CADÁVERES HUMANOS
NATAL/RN
2019
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RAFAEL JOSÉ DE MEDEIROS
DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO ACESSO TRANSMAXILAR À BASE DO CRÂNIO:
ESTUDO EM CADÁVERES HUMANOS
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Cirurgião-Dentista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Profº Dr. Wagner Ranier Maciel Dantas Co-Orientador: Profª Dra. Karinna Veríssimo Meira Taveira.
NATAL/RN
2019
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RAFAEL JOSÉ DE MEDEIROS
DESCRIÇÃO ANATÔMICA DO ACESSO TRANSMAXILAR À BASE
DO CRÂNIO: ESTUDO EM CADÁVERES HUMANOS
Trabalho de conclusão de curso, apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para a obtenção do título de Cirurgião-dentista, o mesmo foi aceito e homologado pelos membros da banca examinadora.
Natal, 18 de Junho de 2019.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________ Profº Dr. Wagner Ranier Maciel Dantas
Departamento de Odontologia DOD-CCS/UFRN
________________________________________ Profª Dra. Karinna Verissimo Meira Taveira
Departamento de Morfologia DMOR-CB/UFRN
________________________________________
Profº Dr. André Luiz Marinho Falção Gondim Departamento de Odontologia
DOD-CCS/UFRN
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AGRADECIMENTO
O meu primeiro agradecimento é a Deus, por me permitir trilhar esse caminho
e me guiar sem desistir na busca pelos meus objetivos, me dando saúde e força de
vontade nessa árdua, mas gratificante, batalha.
Agradeço também a minha família, pelo inestimável apoio. Meus pais, José
Medeiros e Vitória da Mata Silva, embora de origem simples, vivendo da labuta da
terra, souberam educar a mim e ao meu irmão, Marcelo Lucas (a quem também
agradeço pela amizade e pelo companheirismo), e nos mostraram o valor que a
educação tem na vida e que através desta poderíamos nos tornar homens melhores
e vivermos em melhores condições. Estendo esse agradecimento ao meu irmão,
Marcos Luiz, aos meus avós, Maria da Mata e Damião Vigário, aos meus tios,
Emmanuel, Antônio, João e Francisca, e aos meus irmãos Ricardo e Sebastião, que,
com suas esposas, Cledna e Elianeide, respectivamente, me acolheram quando
iniciei essa jornada acadêmica e sem eles tudo teria sido mais difícil.
Devo também agradecimentos àqueles que das mais diversas formas me
ajudaram para que eu pudesse continuar minha trajetória. A minha carinhosamente
chamada “tia Lídia” e ao seu sobrinho, Álvaro Nôga, grande amigo que sempre me
ajudou, sou muito grato. Também agradeço com muito carinho ao estimado Prof.
Ms. Rodolfo Marinhos e a sua esposa Karla, ambos a quem admiro muito. Ednalva
Regis e Teresinha D’arc também merecem meu agradecimento por terem me
ajudado imensamente.
Aos colegas de turma que, de maneiras únicas me marcaram durante o trajeto
dessa história, estando presentes, não somente nos momentos bons, mas também
nos de grande dificuldade, a exemplo de Ricardo Moises, entre outros. Gostaria de
agradecer a minha dupla de clínica, Amanda de Lima. Também agradeço a minha
amada namorada, Taynã Paiva, que é como uma luz em momentos de escuridão
nessa jornada.
Agradeço imensamente ao meu orientador, Prof. Dr. Wagner Ranier Dantas
Marciel e a minha coorientadora, Profª Drª. Karinna Verríssimo Meira Taveira, por
terem compartilhado seus conhecimentos e por terem sido tão solícitos para me
orientar na construção deste trabalho.
Ao serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Departamento de
Odontologia da UFRN, agradeço pelas oportunidades a mim ofertadas, que me
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tornaram um acadêmico e uma pessoa melhor. Destaco nesse agradecimento o
Prof. Dr. Wagner Ranier Dantas Marciel, pela paciência no processo de orientação
não apenas deste trabalho, mas nas experiências vivenciadas nesse setor; o Prof.
Dr. Petrus Pereira Gomes, pelas oportunidades e pelos ensinamentos; os
residentes: Humberto Pereira Chaves, José Wittor de Macedo Dantas e Luiz Ferreira
de Almeida Neto; o cirurgião bucomaxilofacial Luiz Carlos Moreira Júnior; e o
estimado Mestre Kerlisson Paulino, pelos ensinamentos, tanto no Hospital
Monsenhor Walfredo Gurgel, quanto no Hospital Universitário Onofre Lopes.
À Universidade Federal Do Rio Grande do Norte, em especial ao
Departamento de Odontologia DOD/CCS-UFRN, por ter me fornecido subsídio para
minha formação, de forma séria e pautada em princípios éticos e com equidade, o
meu muito obrigado, assim como ao Departamento de Morfologia DMOR/CB-UFRN,
por ter me fornecido meios para construir este trabalho.
Por fim, agradeço a todos os docentes que, desde o início da minha vida
estudantil, me guiaram e ajudaram a construir valores, contribuindo, tanto na vida
acadêmica quanto na vida cidadã.
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RESUMO
Introdução: As cirurgias para o tratamento das lesões da base do crânio passaram
por grandes avanços no decorrer da história, sendo a inserção da cirurgia
maxilofacial mais recente. Esta contribuiu notoriamente com o avanço do
tratamento de algumas lesões que acometem a base do crânio. Toda especialidade
cirúrgica precisa estar embasada em algumas outras ciências, sendo uma delas a
anatomia humana. Objetivo: Este trabalho busca apresentar uma descrição da
anatomia facial durante o acesso transmaxilar à base do crânio, utilizando para tal a
dissecação cadavérica. Metodologia: Foram realizadas dissecações em crânios
humanos adultos, que estão armazenados nos laboratórios de Anatomia Humana
do Departamento de Morfologia, do Centro de Biociências da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, simulando o acesso transmaxilar à base do crânio, para
descrever a anatomia visualizada nessa abordagem. Resultados: Diversos
achados anatômicos podem ser visualizados durante o acesso transmaxilar à base
do crânio e compreendem acidentes ósseos da maxila e dos ossos circundantes;
tecidos mucosos; vasos sanguíneos; nervos periféricos; tecido muscular, tecido
fibroso, sendo estes os principais grupos que constituem as estruturas anatômicas
encontradas durante o acesso. Conclusões: Foram observadas diversas estruturas
anatômicas relevantes durante o acesso transmaxilar à base do crânio, desde
estruturas ósseas, compreendidas a partir da maxila até o osso esfenóide,
passando por estruturas de tecidos moles da mucosa e feixes vasculonervosos,
com ênfase nos feixes vasculonervosos infraorbitário e palatino descendente, tendo
em vista sua importância cirúrgica.
Palavras-chaves: Anatomia; Base do Crânio; Cirurgia maxilofacial; Maxila
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ABSTRACT
Introduction: Surgeries for the treatment of skull base lesions have undergone great
advances throughout history, and the insertion of maxillofacial surgery has occurred
much more recently. However, the incorporation of maxillofacial surgery has
contributed to the advancement of the treatment of some lesions that affect the base
of the skull. Every surgical specialty needs is based on some other sciences, one of
them is human anatomy. Objective: This study aims to present a description of facial
anatomy during transmaxillary access to the base of the skull, using cadaveric
dissection. Methodology: Dissections were performed in adult human skulls, located
in the human anatomy laboratories of the Department of Morphology, of the
Biosciences center of the Federal University of Rio Grande do Norte, simulating the
transmaxillary access to the base of the skull, in order to describe the Anatomy
visualized in this approach. Results: Several anatomical findings can be visualized
during transmaxillary access to the base of the skull and include bony accidents of
the maxilla and surrounding bones; mucous tissues; blood vessels; peripheral
nerves, muscle tissue, fibrous tissue, these being the main groups that constitute the
anatomical structures found during access. Conclusions: We were able to observe
several anatomical structures that were relevant during transmaxillary access to the
base of the skull and that these structures were from bone structures that comprised
from the maxilla to the sphenoid bone, passing through structures of soft tissues of
the mucosa and neurovascular plexus, giving emphases to the infraorbital and palatal
descending neurovascular beam, considering their surgical importance.
Keywords: Anatomy; Base of the Skull; Maxillofacial surgery; Maxilla
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 1: Espécime cadavérico 1 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral
direita.
Imagem 2: Espécime cadavérico 2 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral
direita.
Imagem 3: Espécime cadavérico 3 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral
direita.
Imagem 4: Exemplo do espécime cadavérico 2 em uma vista lateral esquerda,
evidenciando osteotomia na região pré-goníaca esquerda, o procedimentos foi
executado bilateralmente em todos os espécimes cadavéricos.
Imagem 5: Exemplo do espécime cadavérico 3, onde a esquerda temos a presença
em uma vista ínfero-lateral do nervo alveolar inferior (*) observado durante a
dissecação, e a direita temos as vistas lateral, superior e inferior do seguimento
distal da mandíbula.
Imagem 6: Espécime cadavérico 1 na vista frontal, exemplificando a incisão
relaxante realizada com o intuito de fornecer alívio na área correspondente ao filtro
do lábio superior para dissecação subsequente.
Imagem 7: Espécimes cadavéricos 1, 2 e 3 na vista frontal, apresentando porção
proximal sem a mandíbula subjacente.
Imagem 8: Exemplo do espécime cadavérico 1 na vista frontal, exemplificando a
área da incisão realizada com o intuito de fornecer acesso a região anterior e lateral
da maxila para dissecação subsequente.
Imagem 9: Exemplo dos espécimes cadavéricos 1, 2 e 3, exemplificando a área do
feixe vasculonervoso infraorbitário, visualizado em todos os espécimes estudados;
Imagem 10: Espécime cadavérico 2 e 3 na vista frontal, exemplificando a realização
da osteotomia Lé Fort I.
Imagem 11: Espécime cadavérico 1 na vista ínfero-superior e espécimes
cadavéricos 2 e 3 na vista anterossuperior, exemplificando a realização da incisão
parassagital no tecido mole e osteotomia na região da sutura palatina mediana.
Imagem 12: Espécime cadavérico 1, 2 e 3, apresentando o grau de exposição
obtida para a região da mucosa da nasofaringe e orofaringe.
Quadro 1: Estruturas anatômicas relevantes evidenciadas durante o acesso
transmaxilar à base do crânio.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 10
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................. 11
3 OBJETIVOS ............................................................................................................................. 14
3.1 OBJETIVO GERAL: ................................................................................................................ 14
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ................................................................................................ 14
3.3 HIPÓTESES ............................................................................................................................. 15
4 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 15
4.1 DESENHO DO ESTUDO ....................................................................................................... 15
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA.................................................................................... 15
4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO .................................................................................................. 15
4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ................................................................................................. 16
4.5 COLETA DOS DADOS ........................................................................................................... 16
4.6 LOCAL DE COLETA DOS DADOS ...................................................................................... 17
4.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ...................................................................... 17
4.8 ELENCO DE VARIÁVEIS ....................................................................................................... 17
4.8.1 Variáveis dependentes ........................................................................................................... 17
4.8.2 Variáveis independentes ........................................................................................................ 17
4.8.3 Variáveis independentes de confusão ................................................................................. 18
4.9 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................................... 18
4.10 PARECER ÉTICO ................................................................................................................... 18
5 RESULTADOS ......................................................................................................................... 19
5.1 DISSECAÇÕES ....................................................................................................................... 19
6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 28
7 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 31
ANEXOS ............................................................................................................................................... 33
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1 INTRODUÇÃO
A cirurgia da base do crânio passou por grande avanço nos últimos tempos. A
cirurgia maxilofacial, bem mais recentemente, deu sua contribuição para essa
especialidade da medicina, sendo sua atuação voltada para fornecer acesso à base
do crânio com o menor dano funcional aos nervos cranianos e ao tecido encefálico.
Apesar de se tratar de uma promissora área de atuação para a cirurgia maxilofacial,
ainda é pouco explorada, fazendo-se necessários maiores estudos para uma maior
disseminação das técnicas transfaciais de acesso à base do crânio (ISOLAN, 2011).
O conhecimento envolvido para a execução de procedimentos complexos
deve está atrelado preferencialmente à prática prévia em modelos anatômicos, pois
tal medida tende a diminuir exponencialmente o insucesso dos procedimentos
cirúrgicos operatórios e reduz o impasse ético associado especialmente aos
cirurgiões menos experientes e/ou aqueles com uma curva de aprendizagem baixa
em determinado procedimento (ISOLAN, 2009).
Em suma, a técnica para o acesso transmaxilar à base do crânio se destaca
por fornecer amplo acesso à região da base do crânio com mínimo dano estético
(LÓPEZ, 2014). Porém, uma das bases para o desenvolvimento de qualquer
procedimento cirúrgico está no estudo da anatomia da área de interesse na
intervenção cirúrgica (ISOLAN, 2009). Portanto, o estudo da anatomia da região do
terço médio da face é de suma importância para a compreensão do acesso
transmaxilar à base do crânio.
11
2 REVISÃO DA LITERATURA
Durante o acesso transmaxilar à base do crânio um dos passos mais críticos
e que deve ser destacado é a osteotomia Le Fort I, que é caracterizada por uma
linha de fratura que vai desde a abertura piriforme em direção ao processo
pterigóide do osso esfenóide, mais especificamente até a sutura pterigomaxilar,
sendo cada osteotomia realizada bilateralmente, mas a história dos acessos
transmaxilares é de longa data. Estes foram descritos inicialmente por Langebeck,
em 1861, sendo que de lá para cá vem sofrendo inúmeras modificações. Porém,
tais acessos só ganharam embasamento científico a partir dos estudos sobre
microcirculação óssea, propostos por Bell em 1975 (CATUNDA et al., 2011).
Do ponto de vista macroscópico, o crânio é uma das áreas de maior
complexidade anatômica, pois envolve uma grande quantidade de estruturas, uma
ampla rede neurovascular em um espaço relativamente restrito, e isso faz com que
procedimentos nesse segmento corpóreo sejam de grande dificuldade para os
cirurgiões que nele atuam. Além disso, como mostra Isola (2011), dentre as regiões
corpóreas, a que talvez venha a apresentar maior dificuldade para ser acessada
pelo cirurgião é a base do crânio, uma vez que para tal é necessário afastamento
do tecido cerebral. Sendo assim, em algumas situações, são necessárias outras
formas de acesso a essa região anatômica, pois o acesso por meio de técnicas
convencionais podem gerar danos irreversíveis, como os associados a lesões dos
tecidos encefálicos, dos vasos cranianos, dos nervos cranianos, podendo gerar
uma considerável morbidade ou, em alguns casos, a morte. Tendo em vista tal fato,
dentre as inúmeras técnicas que auxiliam o neurocirurgião na obtenção de acesso
à base do crânio, existem aquelas que se utilizam da via transfacial das quais
podem ser destacadas as abordagens transmandibuloglossopalatina, descrita por
Villegas et al. (2015), e a abordagem transmaxilar segmentada, descrita por López
et al. (2014).
Di Leva et al. (2014) mostram que a correta compreensão da anatomia da
base do crânio permite a equipe de CBC um melhor entendimento das patologias
que afetam a base do crânio e tornam o planejamento cirúrgico mais bem
elaborado, permitindo assim uma melhor indicação da técnica para acesso à base
do crânio. Além disso, do ponto de vista ósseo, a base do crânio apresenta
considerável diferença entre sua porção intra e extracraniana, uma vez que, do
12
ponto vista intracraniano, a base do crânio é dividida em três porções, denominadas
de fossas, em que, no sentido anteroposterior, são denominadas de fossa anterior,
fossa média e fossa posterior e tais fossas têm relacionamento direto com o
encéfalo, dura-máter craniana, nervos cranianos. Já a porção externa da base não
apresenta compartimentalização como a vista intracraniana. Em uma vista inferior,
de anterior para posterior, é possível visualizar as maxilas e os ossos palatinos, na
porção mais anterior; os ossos temporais e o osso esfenoide, na porção média; e o
osso occipital que corresponde à fossa posterior e cereberal mais posteriormente.
Através desse arcabouço ósseo, passam inúmeras estruturas anatômicas,
incluindo estruturas neurovasculares que vão dar vascularização às estruturas
encefálicas e fornecem inervação às estruturas extra e intracranianas, e tais feixes
neurovasculares saem da porção da cavidade craniana por meio dos forames,
fissuras e canais que estão na base do crânio, e como exemplo de vasos que
adentram o crânio há a artéria meníngea média, que Krayenbühl et al. (2008)
descreveram como sendo um vaso que adentra o crânio por um pequeno forame
anterior ao processo espinhoso do osso esfenoide, denominado de forame
espinhoso; além da artéria meníngea média, passa pelo forame, o ramo nervoso
meníngeo do nervo mandibular, sendo a artéria a responsável pela irrigação da
dura-máter craniana, e o ramo meníngeo do nervo mandibular responsável por dar
inervação à parte das meninges cranianas. Anteromedialmente a este forame, está
localizado o forame oval, que dá passagem ao nervo mandibular, ramo do nervo
trigêmeo, sendo tal nervo responsável pela inervação de estruturas faciais incluindo
a sensibilidade ao dentes mandibulares, sensibilidade da parte do terço inferior da
face, inervação motora aos músculos da mastigação e dentre outras ações. Além
da artéria meníngea média. Leon-Ariza et al. (2017) descreveram que as artérias
vertebrais também são responsáveis pela irrigação das estruturas encefálicas e tais
vasos adentram o crânio pelo forame magno, além das artérias vertebrais, o forame
magno se relaciona com nervos cranianos e com a medula e seus invólucros
meníngeos. Juntamente com as artérias vertebrais, as artérias carótidas vão atuar
na irrigação do encéfalo. Costa et al. (1996) ressaltam a importância do sistema
carótico para a irrigação das cavidades cranianas e orbitária, ao passo que esta
artérias adentram o crânio por meio dos canais caróticos, localizados bilateralmente
em cada osso temporal anteromedial ao forame jugular, sendo as artérias
vertebrais e as artérias carótidas responsáveis pela formação do círculo arterial do
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cérebro. Além das artérias supradescritas, Tubbs et al. (2015) discorrem sobre a
emergência da veia jugular interna pelo forame jugular, juntamente com os nervos
cranianos glossofaríngeo, vago e acessório, além de outras estruturas anatômicas.
Esta breve descrição da anatomia da base do crânio demonstra a
complexidade anatômica desta região e a importância por parte dos profissionais
envolvidos nas cirurgias da base do crânio do estudo desta anatomia.
Porém, no caso do acesso transmaxilar à base do crânio, além da
compreensão da anatomia da base do crânio, é fundamental a compreensão da
anatomia da maxila e das estruturas faciais relevantes para o acesso, o que inclui
o osso vômer, o processo pterigoideo do osso esfenoide e os tecidos moles que
revestem o teto da cavidade oral, o assoalho da cavidade nasal e formam o palato
mole.
As maxilas, cada uma localizada em uma hemiface, são ossos pneumáticos
irregulares que compreendem grande parte do terço médio da face e são unidas no
plano sagital mediano por meio da sutura intermaxilar e além de se articularem entre
si, se articulam com o osso frontal, nasal, zigomático, com os ossos vômer e
palatino, e por ser um osso pneumático apresenta em seu interior uma cavidade
aerada revestida por mucosa com epitélio respiratório, sendo tal cavidade
denominada de seio maxilar (TEIXEIRA; REHER; REHER, 2012).
Além da compreensão da osteologia da região facial, também é necessário
compreender a inervação e a vascularização desse segmento corpóreo. Em seu
trabalho, Rodella et al. (2012) mostram que o nervo trigêmeo (quinto par entre os
nervos cranianos) é responsável por fornecer inervação a grande parte dos
segmentos faciais, incluindo elementos dentários, mucosa oral, mucosa rinossinusal,
maxila, periósteo que reveste os ossos da face. Esse nervo craniano tem origem
encefálica aparente na região lateral a ponte encefálica, sendo constituído por três
subdivisões: a primeira delas chamada de divisão oftálmica (V1), a segunda, de
divisão maxilar (V2) e a terceira, de divisão mandibular (V3), essa última, além do
componente sensitivo, apresenta fibras motoras.
A importância da compreensão da anatomia facial e da base do crânio para
emprego das abordagens por via facial à base do crânio pelas equipes de CBC está
relacionada ao tratamento de diversas enfermidades. López et al. (2014) mostram o
condroma como a principal dessas patologias, sendo que a mesma ocorre
geralmente na região do clivo, tendo em vista que tais tumores são originários a
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partir de restos epiteliais da embriológica notocorda, esta que por sua vez tem seu
término mais craniano na região que corresponde ao clivo, por isso essa região é a
mais afetada na base do crânio. Porém, além dos condromas da região do clivo,
outras patologias também são tratadas por intermédio dos acessos transfaciais e
essas incluem os meningiomas do forame magno, as lesões vasculares da região
anterior do cérebro, alguns tumores da hipófise, as anomalias do dente do áxis, os
tumores nasofaringeanos e a invaginação basilar.
A abordagem transmaxilar à base do crânio apresenta algumas vantagens se
comparada aos acessos convencionais à base do crânio, pois, como destaca Caubi
et. al. (2008), o acesso transmaxilar à base do crânio tem com vantagens a redução
no risco de lesão ao sétimo par craniano e, portanto, redução no déficit da
motricidade da musculatura da mímica facial, pois existe a mínima manipulação
deste nervo; além disso, outra vantagem do acesso transmaxilar à base do crânio é
que não são realizadas incisões na face, sendo todas as incisões restritas à
cavidade bucal. Porém, as complicações relacionadas ao acesso estão ligadas à
necrose dos segmentos osteotomizados e perdas de elementos dentários.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL:
Descrever a anatomia cirúrgica do acesso transmaxilar à base do crânio por
meio da dissecação de cabeças humanas adultas, analisando a relevância cirúrgica
de tais estruturas para o acesso cirúrgico transmaxilar à base do crânio.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
I. Verificar quais estruturas anatômicas são mais relevantes no acesso
transmaxilar à base do crânio;
II. Verificar as características descritas na literatura sobre o acesso transmaxilar
à base do crânio;
III. Identificar as principais dificuldades ao executar o acesso transmaxilar à
base do crânio descritos na literatura.
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3.3 HIPÓTESES
I. Existem estruturas anatômicas relevantes a serem consideradas no acesso
transmaxilar à base do crânio;
II. Não existem estruturas anatômicas relevantes a serem consideradas no
acesso transmaxilar à base do crânio;
III. Existem parâmetros anatômicos para o acesso transmaxilar à base do
crânio;
IV. Não existem parâmetros anatômicos para o acesso transmaxilar à base do
crânio;
V. Existem características morfológicas das estruturas anatômicas que
influenciam no acesso transmaxilar à base do crânio;
VI. Não existem características morfológicas das estruturas anatômicas que
influenciam no acesso transmaxilar à base do crânio;
4 METODOLOGIA
4.1 DESENHO DO ESTUDO
Estudo do tipo experimental e descritivo.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Foram selecionadas 3 cabeças humanas adultas formalizadas
adequadamente há um período mínimo de seis meses, localizadas nos
laboratórios de Anatomia Humana, do Centro de Biociências da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Cabeças humanas adultas, adequadamente formalizadas há um período
mínimo de seis meses, localizadas nos laboratórios de Anatomia Humana, do
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Departamento de Morfologia, Centro de Biociências da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, que se apresentem com a boca entreaberta (para permitir o
acesso maxilar).
4.4 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Cabeças humanas não formalizadas;
Cabeças humanas com inadequado processo de formalização;
Cabeças humanas infantis;
Cabeças humanas formalizadas de forma adequada, porém,
apresentando danos às maxilas.
4.5 COLETA DOS DADOS
A coleta de dados foi realizada com cabeças humanas selecionadas para o
estudo. Inicialmente, foi realizada remoção da mandíbula por meio de incisão dos
tecidos moles, utilizando lâmina de bisturi de número 10, em linha reta, partindo da
comissura bucal em direção ao ângulo da mandíbula. Além disso, foi realizada
osteotomia do ramo da mandíbula seguindo essa mesma orientação. Feito isso, foi
realizada uma incisão de um lado a outro passando pela mucosa do assoalho bucal
e pela raiz da língua. Após a remoção do segmento inferior da face, foi executada a
incisão com lâmina de bisturi número 15 do vestíbulo da boca na região entre os
molares superiores para exposição da parede anterior da maxila. Uma vez exposta
a maxila, foi utilizado cinzel unibizelado (Cinzel de Wagner reto de 6mm–
Quinelato®), para realizar osteotomia no sentido anteroposterior no septo nasal
(utilizando cinzel com guia) e nas paredes medial e lateral do seio maxilar e com o
objetivo de separar o processo pterigoideo do osso esfenoide do processo
piramidal do osso palatino, onde foram utilizados cinzéis curvos (Cinzel de Wagner
curvo de 6mm – Quinelato®). Ainda utilizando cinzel reto (Cinzel de Wagner reto de
6mm – Quinelato®), as maxilas foram separadas na região correspondente à sutura
palatina mediana. Logo após a mobilização dos segmentos maxilares, foi
executada incisão linear na mucosa do palato duro, com lâmina de bisturi de
número 15, partindo da região da gengiva entre os incisivos em direção ao palato
mole, onde foi feita uma incisão perpendicular ao plano sagital mediano no palato
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mole, também utilizando lâmina de bisturi de número 15. Foram realizadas
fotografias e descrições das estruturas anatômicas pertinentes, durante todas as
fases da dissecação.
4.6 LOCAL DE COLETA DOS DADOS
Laboratórios de Anatomia Humana do Departamento de Morfologia, no Centro
de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
4.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Para obtenção dos dados foram utilizadas fotografias profissionais com o
objetivo de descrever tais estruturas anatômicas.
As fotografias foram obtidas com o emprego da câmera digital Canon EOS Rebel
T6 18MP a uma distância média de 50 cm dos espécimes cadavéricos e os
arquivos de imagem obtidos tiveram o fundo da imagem removidos por meio do
editor de imagens GIMP 2.10.0 (32-bit).
4.8 ELENCO DE VARIÁVEIS
4.8.1 Variáveis dependentes
VARIÁVEL DEFINIÇÃO CATEGORIAS
Peças
anatômicas
formolizadas.
Tecidos biológicos
preservados
com o fixador
formol.
1. Satisfatória
2. Imprópria
4.8.2 Variáveis independentes
VARIÁVEL DEFINIÇÃO CATEGORIAS
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Variações anatômicas Diferenças
morfológicas entre
elementos que compõe
um grupo humano.
1. Presente
2. Ausente
4.8.3 Variáveis independentes de confusão
Conservação das
peças anatômicas
Peças anatômicas
podem ter ou não ter
seu processo de
conservação
adequada.
1. Satisfatória
2. Precária
Dissecação Abertura e/ou
separação de tecidos
para estudar diferentes
órgãos ou peças
anatômicas.
1. Satisfatória
2. Precária
4.9 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Os dados observados foram descritos e comparados com a literatura
para obtenção de referenciais anatômicos a serem respeitados durante o
acesso transmaxilar à base do crânio.
4.10 PARECER ÉTICO
O presente estudo foi submetido à apreciação e aprovado pelo
Cômite de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (CEP- Central/UFRN) sob o número 3.325.782, como pode ser
observado no Anexo 1.
19
5 RESULTADOS
Durante as dissecações foi possível visualizar em todos os espécimes
dissecados a presença de diversas estruturas anatômicas, incluindo
estruturas neurovasculares, acidentes ósseos, dentre outras estruturas que
serão destacas a seguir.
Os dados foram obtidos a partir de determinados momentos críticos,
que foram: FASE 1: antes de iniciada a dissecação, onde foi avaliado o
estado das peças cadavéricas; FASE 2: após a remoção da mandíbula,
onde foi avaliado o grau de mobilidade dos tecidos moles, para acesso ao
terço médio facial; FASE 3: após a elevação do retalho mucoperiosteal e da
mucosa nasal; FASE 4: após a osteotomia tipo Le Fort I e mobilização da
maxila; FASE 5: após osteomia parasagital do palato e incisão da mucosa
palatina.
5.1 DISSECAÇÕES
FASE 1: Na análise inicial, foi observado que as peças cadavéricas
apresentavam toda sua pele dissecada, com excessão da pele da região da
piramide nasal, as peças cadavéricas apresentavam as arcadas
parcialmente edêntulas e na análise dos terços faciais foi possível observar
uma relação entre os terços faciais do tipo mesofacial, os espécimes
cadavéricos apresentavam uma boa relação maxilomandibular, como é
possível visualizar nas imagens 1, 2 e 3.
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FASE 2: na segunda fase do estudo, foi realizada em todas os espécimes
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 1 Espécime cadavérico 1 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral direita
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 2 Espécime cadavérico 2 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral direita
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 3 Espécime cadavérico 3 nas vistas lateral esquerda, frontal e lateral direita
21
cadavéricos uma incisão com bisturi (lâmina 15 em cabo 3) em tecido mole,
desde a região do ângulo da boca, até a região da depressão pré-goníaca;
em seguida, foi empregada uma osteotomia com cinzel e martelo de Mead,
como evidenciado na imagem 4; uma vez realizada a separação neste plano
tecidual bilateralmente, foi empregada uma incisão na região da raiz da
língua de forma a gerar duas porções: uma proximal, que corresponde ao
segmento que compreende a maxila e a porção mais posterior do ramo e
côndilos mandibulares; e uma distal, que compreende língua, músculos
supra-hiódeos, região de corpo da mandíbula, dentes e tecidos de suporte, e
demais tecidos anexos, como pode ser visualizado na imagem 5.
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 4 Exemplo do espécime cadavérico 2, em uma
vista lateral esquerda, evidenciando osteotomia na região
pré-goníaca esquerda, o procedimento foi executado
bilateralmente em todas os espécimes cadavéricos.
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 5 Exemplo do espécime cadavérico 3, onde à esquerda há a presença em uma vista ínfero-lateral
do nervo alveolar inferior (*) observado durante a dissecação, e à direita, as vistas lateral, superior e
inferior do seguimento distal da mandíbula.
22
FASE 3: na segunda fase da dissecação, foi observado o grau de mobilidade
dos tecidos moles da região labial e da bochecha superiormente, onde foi
observada a presença de hipomobilidade do retalho outrora realizado, e
diante disso foi realizada uma incisão relaxante na região mediana do lábio
superior e, a partir desta, foi obtida uma adequada mobilidade dos tecidos
moles, como pode ser evidenciado na imagem 6.
Após a realização da incisão relaxente no plano sagital do lábio
superior, foi obtido adequado acesso à região a ser incisada, como
observado nas figuras 6 e 7.
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 6 Espécime cadavérico 1 na vista frontal, exemplificando a incisão relaxante realizada com o intuito de fornecer alívio na área correspondente ao filtro do lábio superior para dissecação subsequente.
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Ainda na fase 3, foi realizada uma incisão mucoperiosteal com lâmina
de bisturi (lâmina 15 em cabo 3) exemplificado na imagem 8, e a partir de
então, prosseguiu-se realizando a elevação do periósteo com espátula
(espátula 21) devido à friabilidade do tecido que não permitia o uso de um
descolador de Molt 9.
Continuando a dissecação, foi exposto grande parte da região anterior
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 7 Espécimes cadavéricos 1, 2 e 3 na vista frontal, apresentando porção proximal sem a mandíbula subjacente.
Imagem 8 Exemplo do espécime cadavérico 1 na vista frontal, exemplificando a área da incisão realizada com o intuito de fornecer acesso à região anterior e lateral da maxila para dissecação subsequente.
24
da maxila; para melhor exposição, também foi dissecada a mucosa nasal em
sentido látero-medial, incialmente supero-inferior na parede nasal lateral,
seguindo com a dissecação do assoalho da cavidade nasal e, em seguida, foi
realizada uma dissecação infero-superior na parede medial, tendo em vista a
exposição da região anterior da maxila; além do tecido ósseo subjacente e da
mucosa nasal, foi observada a presença do feixe vásculo nervoso
infraorbitário, como pode ser evidenciado na imagem 9.
FASE 4: uma vez realizada a exposição da região anterior da maxilar, foi
prosseguida com a elevação do periósteo da região posterior da maxilar, por meio
da tuneilização até a região que corresponde ao túber da maxila; em seguida, foi
realizada a proteção da mucosa nasal e, a partir de então, foi realizada a osteotomia
do segmento maxilar, semelhante ao procedimento de osteotomia de Lé Fort I, em
que a referência foi a região do ápice do canino superior bilateralmente, sendo a
osteotomia feita há cerca de 5mm desta referência anatômica. O desenho da
osteotomia pode ser observado nas imagens 10.
Após a manobra de mobilização da maxila, foi possível visualizar em cada
espécime cadavérico, além da mucosa nasal, outrara descrita, a mucosa sinusal, a
presença dos limites do assoalho da cavidade nasal, do seio maxilar bilateralmente,
lateralmente foi possível visualizar os processo zigomáticos da maxila. Já no plano
sagital mediano, foi evidenciada a presença do septo nasal, onde foi possível
observar porções ósseas e cartilaginosas deste; além disso, também foi possível
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 9 Exemplo dos espécimes cadavéricos 1, 2 e 3, exemplificando a área do feixe vasculonervoso infraorbitário, visualizado em todos os espécimes estudados
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visualizar a presença do feixe vasculonervoso palatino em seu trajeto descendente.
Todavia, tal estrutura não foi observada em todos os espécimes e, nos que foram
observados, não foi possível realizá-lo bilateralmente. Porém, a ausência de tal
estrutura, provavelmente se deve à técnica, uma vez que nem sempre é possível
preservar tal estrutura, já que o tecido ósseo apresentava elevada maleabilidade,
sendo necessária a execução da osteotomia em todo o comprimento da maxila. Tais
achados podem ser visualizados nas imagens 10 e 11.
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
FASE 5: uma vez realizada a mobilização do segmento maxilar, foi executada uma
osteotomia no plano sagital mediano na área correspondente à sutura palatina
mediana, em seguida foi realizada uma incisão paramediana no tecido mole do
palato duro e mole: no palato mole, a incisão visou preservar a anatomia da úvula
palatina, nesta dissecação foi possível visualizar, além das estruturas supracitadas,
os músculos que constituem o véu palatino. Uma vez concluída a dissecação, foi
possível visualizar em todos os espécimes cadavéricos a região anterior de parte da
mucosa da rinofaringe e exposição da mucosa anterior da orofaringe, como pode ser
visualizado nas imagens 11 e 12, sendo tais áreas de interesse para o acesso à
base do crânio com adequado afastamento, tendo em vista se tratar de uma área
com pouca exposição.
Imagem 10 Espécime cadavérico 2 e 3 na vista frontal, exemplificando a realização da osteotomia Le Fort I.
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Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 11Espécime cadavérico 1 na vista ínfero-superior e espécimes cadavéricos 2 e 3 na vista
anterosuperior, exemplificando a realização da incisão parassagital no tecido mole e osteotomia na
região da sutura palatina mediana;
Fonte: Peças do Departamento de Morfologia (DMOR- UFRN). 2019.
Imagem 12 Espécimes cadavéricos 1, 2 e 3, apresentando o grau de exposição obtido para a região da mucosa da nasofaringe e da orofaringe.
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Foi encontrado um razoável número de estruturas anatômicas relevantes ao
acesso maxilar, seja por sua importância morfofuncional ou por serem marcos de
referência durante ao acesso. Essas estruturas anatômicas são acidentes ósseos da
maxila e ossos vizinhos; tecidos mucosos; vasos sanguíneos; nervos periféricos,
tecido muscular, tecido fibroso. Sendo, portanto, estes os principais grupos a que
constituem as estruturas anatômicas encontradas durante o acesso transmaxilar à
base do crânio. A tabela 1 apresenta as estruturas anatômicas relevantes
observadas durante o acesso transmaxilar à base do crânio.
Estruturas anatômicas Espécime cadavérico
Abertura piriforme 1, 2 e 3
Forame e feixe vasculonervoso
infraorbitário 1, 2 e 3
Processo zigomático da maxila 1, 2 e 3
Espinha nasal anterior 1, 2 e 3
Seios maxilares 1, 2 e 3
Septos ósseos do seio maxilar 3
Septo nasal 1, 2 e 3
Feixe vasculonervoso palatino
maior (bilateral) 1
Feixe vasculonervoso palatino
maior (unilateral) 3
Músculos do véu palatino 1, 2 e 3
Espinha nasal posterior 1, 2 e 3
Forame e feixe vasculonervoso
nasopalatino 1, 2 e 3
Sutura palatina transversa 1, 2 e 3
Quadro 1: Estruturas anatômicas relevantes evidenciadas durante o
acesso transmaxilar à base do crânio.
Fonte: UFRN (2019).
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6 DISCUSSÃO
A hipótese I foi comprovada, uma vez que foram encontrados resultados
relevantes em todas as fases do processo de dissecação, assim como a hipótese III
que também foi comprovada, pois mediante o observado é possível estabelecer
parametros anatômicos para o acesso transmaxilar à base do crânio. Outra hipótese
que também foi comporvada foi a da existência de características morfológicas que
influenciam no acesso transmaxilar à base do crânio, uma vez que foi observado que
as estruturas anatômicas envolvidas modificam consideravelmente a obtenção do
acesso.
Corroborando com o esposto por Fritsch, Singh e Morcos (2000), este estudo
observou que as estruturas de interesse para o acesso transmaxilar à base do crânio
são: no aspecto anterior, abertura piriforme; septo nasal, cartilaginoso
superoanteriormente e ósseo inferoposteriormente; o processo frontal da maxila,
conectado por meio de suturas aos ossos nasais e ao osso frontal; mais
posterolateralmente, o processo zigomático da maxila e o próprio osso zigomático.
Outros acidentes anatômicos que podem ser visualizados na vista anterior são o
forame infraorbitário e o feixe vasculonervoso homônimo e a crista zigomática,
localizada superiormente entre o ponto mais lateral do processo zigomático e o
segundo molar, inferiormente. Já na região posterior, podem ser evidenciados o
palato, duro e mole; e as placas medial e lateral do processo pterigóide do osso
esfenóide. A convexidade que pode ser visualizada na região posterior da maxila e a
tuberosidade maxilar.
Segundo Fritsch, Singh e Morcos (2000), no aspecto superior pode ser
visualizada grande parte do assoalho da órbita e tais autores puderam observar o
processo palatino surgindo como uma placa horizontal do osso da maxila no limite
entre o corpo e o processo alveolar, sendo esses ossos palatinos formados por um
par de processo palatinos da maxila em uma distribuição horizontal e por placas
verticais.
Outra área de interesse destacada por Fritsch, Singh e Morcos (2000) foi a
sutura pterigomaxilar que consiste em uma área que não pode ser visualizada
diretamente durante o acesso transmaxilar na fase de execução da osteotomia Le
Fort I, mas que tem sua importância destacada durante a separação da maxila do
29
osso esfenóide, sendo que a sutura pterigoomaxilar é descrita como sendo a
conexão entre a maxila e a placa pterigóide lateral e bilateralmente.
Semelhante ao que foi observado por Sirjani e Furtan (2010), ao se criar uma
osteotomia tipo Le Fort I para acesso à base do crânio, tem-se uma abertura que se
afunila no sentido anteroposterior, a partir da região anterior da maxila em direção à
área das coanas. Neste estudo, foi observado que após a realização da osteotomia
Le Fort I e da osteotomia sagital, foi possível obter uma ampla exposição da
cavidade nasal; do assoalho da órbita, através da visão pelo seio maxilar, além do
próprio seio maxilar. Entertanto, em seu estudo, Sirjani e Furtan (2010) relataram a
visualização das células etmoidais posteriores; região posterior da órbita e fossa
pterigopalatina, tais estruturas não sendo evidenciadas neste estudo. O que poderia
justificar a não visualização de tais estruturas é o fato de que neste estudo a
osteotomia do septo nasal foi realizada no mesmo nível da osteotomia das paredes
laterais da cavidade nasal e do seio maxilar, sendo que em seu estudo os autores
realizaram a osteotomia do septo em um nível mais superior, permitindo uma maior
visualização de toda região posterosuperior da cavidade nasal. Todavia, neste
estudo não foi possível realizar osteotomia em tal nível, uma vez que foram
utilizadas cabeças humanas formalizadas, e que dado o processo de formalização,
apresentam considerável dureza dos tecidos moles e redução desta na contraparte
de tecidos duros, sendo que isso dificulta e até mesmo impossibilita a obtenção de
um descolamento e afastamento adequado para obtenção de uma osteotomia mais
alta.
7 CONCLUSÃO
Diversas estruturas anatômicas relevantes foram observadas neste estudo,
contemplando, desde estruturas ósseas que comprendidas a partir da maxila até o
osso esfenóide, passando por estruturas de tecidos moles da mucosa e feixes
vasculonervosos, dando ênfase aos feixes vasculonervosos infraorbitário e palatino
descendente, tendo em vista sua importância cirúrgica. Logo, foi observado que
existem variações de algumas estruturas descritas na literatura em relação aos
achados visualizados neste estudo. Contudo, deve-se levar em consideração o tipo
de conservação que os espécimes cadavéricos foram submetidos, a variação no
tempo de conservação, tudo isso interfere nos graus de rigidez tecidual, modificando
30
o que tende a ser visto durante o estudo.
Outro fator importante que merece destaque foi o grau de dificuldade
observado para esse acesso, tendo em vista a considerável quantidade de passos a
serem executados e como resultado final foi possível observar a restrita visualização
da região posteior da nasofaringe que foi obtida, o que poderia justificar o baixo
emprego da técnica e a especificidade dos casos para os quais a técnica é
recomendada.
Sendo assim, para uma maior compreensão e expansão da técnica é
necessário mais estudos, empregando amostras de maior tamanho e com processos
de formalização diferentes ou em espécimes cadavéricos frescos, para assim serem
removidos os vieses deixados pela baixa amostra e pelo processo de conservação
cadavérica.
Portanto, tendo em vista a não existência de estudos dessa natureza nessa
área, este estudo piloto serviu para despertar a busca por pesquisas futuras nesse
campo do conhecimento.
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REFERÊNCIAS
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ANEXOS Anexo 1: Parecer do cômite de ética em pesquisas UFRN (CEP-CENTRAL/UFRN).
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