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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO RONALD LIMA DE GÓIS A CIDADE E O IDOSO: PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO NATAL/RN 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

RONALD LIMA DE GÓIS

A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

NATAL/RN

2012

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RONALD LIMA DE GÓIS

A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em

Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em

Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em

Arquitetura e Urbanismo.

Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-

Territoriais.

Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.

Orientador: Drª. Françoise Dominique Valéry.

NATAL/RN

2012

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RONALD LIMA DE GÓIS

A CIDADE E O IDOSO:

PARÂMETROS PARA DIMENSIONAMENTO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Tese apresentada à Coordenação do Curso de Doutorado em

Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em

Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Doutor em

Arquitetura e Urbanismo.

Área de Concentração: Urbanismo, Projetos e Políticas Físico-

Territoriais.

Linha de Pesquisa: Política e Projeto Territorial e Urbano.

Aprovado em: 06 de fevereiro de 2012.

BANCA EXAMINADORA

Drª. Françoise Dominique Valéry (Orientadora), UFRN

Drª. Gleice Azambuja Elali (Examinadora), UFRN.

Dr. Márcio Moraes Valença (Examinador), UFRN.

Dr. Fábio Oliveira Bitencourt Júnior (Examinador), UFRJ.

Dr. Aristides Inácio Ferreira Marques (Examinador), ISECENSA/RJ.

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À tia Marieta Lima, que nos deu as primeiras lições de desenho e hoje, aos 100 anos

de idade, nos dá lições de vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Françoise Valéry, pelas orientações, apoio e incentivo.

Agradeço à Alahyse Paiva pela ajuda nos desenhos desta Tese.

Agradeço à minha família, pelo apoio.

Agradeço a Fernando Antonny, pela normalização deste trabalho.

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Envelhecer é o preço que todos têm de pagar se quiserem continuar vivendo.

Érico Veríssimo

Se consideramos que não são os arquitetos os responsáveis pelas transformações

sociais, mas pelo desenho das soluções – que são políticas e que serão encontradas por todos

– devemos sempre estar aptos e dedicados para que, diante das oportunidades construídas,

não hesitarmos no cumprimento integral dos nossos papéis.

Derek Dellekamp (arquiteto mexicano)

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RESUMO

Diz respeito ao estudo da cidade em função dos impactos que serão causados na sua estrutura em decorrência do processo de envelhecimento da sociedade humana, principalmente no Brasil. Os enfoques mais importantes são aqueles relacionados com os problemas de acessibilidade, habitação e lazer, questões que mais afetam as pessoas com mais de 60 anos de idade. Além da análise dos problemas inerentes ao tema serão apresentadas propostas de intervenção urbana para que as cidades se tornem mais adequadas ao convívio das pessoas idosas. Para fundamentar este estudo foi efetuada uma revisão sobre diferentes teorias sobre a cidade, posteriormente um painel sobre a presença do idoso na sociedade, incluindo o Brasil, e nas cidades, objetivando uma visão, a mais ampla possível, sobre a forma como os idosos foram tratados ao longo da história. Com o objetivo de estabelecer paradigmas e parâmetros na abordagem do tema, procedeu-se a uma série de observações sistemáticas sobre o espaço urbano em diferentes cidades, no exterior e no Brasil, com trabalhos efetuados para inclusão social do idoso no espaço urbano, tais como Amsterdam, Barcelona, Brasília, Luanda e Rio de Janeiro, cidade considerada pela ONU, como laboratório físico-territorial urbano adequado às pessoas da terceira idade. A partir daí procurou-se obter, além de pesquisa bibliográfica e observações da experiência de outros países, a realização de pesquisa de campo e análise de Normas oficiais, a fundamentação teórica para estabelecer orientações quanto a maneira de planejar e projetar um espaço urbano mais adequado aos idosos. Palavras-Chave: Arquitetura – Idosos. Urbanismo – Idosos. Habitação – Idosos. Acessibilidade – Idoso.

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ABSTRACT

This thesis concerns the study of the city and impacts that will be caused in its structure due to the aging process of the human society, mainly in Brazil. The most important focus will be those related to problems of accessibility, leisure, housing, health and labor, issues that most affect people over 60 years of age. Beyond the analysis of inherent problems to the subject, proposals will be made for urban intervention that the cities become more suitable for the living of the elderly. To support this study, a review of different theories about the city was carried out, then a panel about the presence of the elderly in society, including Brazil, and in the cities, aiming at a vision, as broad as possible, on how the elderly were treated throughout history. In order to establish paradigms and parameters in the approach to the subject, a series of systematic observations on the urban space in different cities proceeded, in Brazil and abroad, with works aiming the inclusion of the elderly in urban areas, such as Amsterdam, Barcelona, Brasilia, Luanda and Rio de Janeiro, a city considered by the UN as physical and territorial urban laboratory suitable for the elderly. From there we tried to obtain, in addition to literature and observation of other countries’ experiences, the conduct of field research and official standards analysis, the theoretical basis for establishing guidelines on how to plan and design a more appropriate urban space for the elderly. Keywords: Architecture – Elderly. Urbanism – Elderly. Housing – Elderly. Accessibility – Elderly.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Etapas Metodológicas 18

Quadro 2 – As 10 principais Megalópoles do Mundo 19

Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo 21

Tabela 1 – Faixas etárias da População Idosa no Brasil 22

Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil. 23

Figura 1 – Plano de Mileto 38

Quadro 3 – Vantagens e desvantagens das formas Xadrez e Radial 39

Figura 2 – Plano de Cerdá, para Barcelona 40

Figura 3 – Dimensões das quadras de Ildefonso Cerda 40

Figura 4 – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona 40

Figura 5 – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao

pedestre 41

Figura 6 – Quadra tipo do Ensenble de Barcelona (Ildefonso Cerda) 41

Figura 7 – Esquina marcada como ponto de referência para as atividades urbanas e

humanas 42

Figura 8 – Esquina como espaço para as mais diversas atividades de lazer e convivência

humana 42

Figura 9 – Esquina como ponto de encontro de diferentes tipos humanos 42

Figura 10 – Esquina como fator de valorização do patrimônio construído 43

Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43

Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48

Figura 13 – Centro da Cidade de Tapiola (vista da área comercial) 48

Figura 14 – Cidade de Tapiola (transporte público de passageiros) 49

Figura 15 – Vista aérea de Tapiola 49

Tabela 2 – Evolução do número de Idosos no Brasil 55

Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS 56

Tabela 4 – População com mais de 60 anos 56

Figura 16 – Plano dos 3 Canais (Amsterdam-Holanda), onde são implantados os Hofjes, ou

“Abrigos”. 62

Figura 17 – Planta básica de um Hofje 62

Figura 18 – Hofje de Amsterdam (aspectos externos) 63

Figura 19 – Hofje de Amsterdam (aspectos internos) 63

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Figura 20 – Hofje (espaço interno) 64

Figura 21 – Hofje (atividade comunitária) 64

Figura 22 – Vista geral de Copacabana, Rio de Janeiro 67

Figura 23 – Idosos indo à praia em Copacabana 67

Figura 24 – Idosos no Calçadão de Copacabana 68

Figura 25 – Foto do Bairro Peixoto 68

Figura 26 – Visão aérea do Bairro Peixoto, enclave do bairro de Copacabana 69

Figura 27 – Planta: Habitações Individuais Geminadas (Brasília) 71

Figura 28 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 72

Figura 29 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 73

Figura 30 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 73

Figura 31 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas 74

Figura 32 – Mutilações do Plano de Lúcio Costa (HIG) para Brasília 75

Figura 33 – Mutilações ao projeto proposto às HIG 75

Figura 34 – Outras formas de mutilações ao projeto proposto às HIG 76

Figura 35 – Outro tipo de mutilação ao projeto proposto às HIG (gabarito da edificação) 76

Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas 79

Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese 81

Figura 36 – Problema de acessibilidade para pessoa da 3ª idade 83

Quadro 6 – Análise-Síntese do Ambiente 86

Quadro 7 – Limitação quanto à orientação e informação 87

Quadro 8 – Limitação quanto ao Deslocamento 88

Desenho 1 – Passeio com recuo para banco e espaço para cadeirante 90

Desenho 2 – Circulação em desnível para idosos e ciclistas 90

Quadro 9 – Limitação quanto ao Uso 91

Quadro 10 – Limitação quanto à Comunicação 92

Quadro 11 – Síntese das diretrizes para áreas de estar com componentes de acessibilidade 93

Quadro 12 – Circulação para pedestres 93

Quadro 13 – Caminhada e ciclismo 94

Quadro 14 – Áreas de alongamento com critérios de acessibilidade 94

Quadro 15 – Quadras esportivas 94

Desenho 3 – Pista de circulação para cadeirantes e pedestres 95

Desenho 4 – Lixeiras 95

Desenho 5 – Posicionamento de placas informativas 96

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Desenho 6 – Escadas 96

Quadro 16 – Alterações do corpo com o envelhecimento 97

Desenho 7 – Casa Oitocentista 102

Desenho 8 – Casa Moderna 103

Desenho 9 – Casa Contemporânea 105

Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo) 107

Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos 109

Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos 110

Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos. 112

Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança) 113

Quadro 18 – Tipologia de atendimento a idosos, em instituições 122

Desenho 13 – Visão humana (horizontal e vertical) 135

Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1 142

Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2 143

Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3 144

Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4 144

Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center 147

Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center 147

Quadro 19 – Tipos de habitação para idosos nos EUA 150

Figura 40 – Tipos de parcelamento urbano para Parques 158

Figura 41 – Parque Eclético: Jardim Botânico (Rio de Janeiro) 161

Figura 42 – Parque Eclético: Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro) 162

Figura 43 – Parque Moderno: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro) 164

Figura 44 – Parque Moderno: Lagoa do Abaeté (Salvador) 164

Figura 45 – Parque Contemporâneo: Parque da Costa Azul (Salvador) 166

Figura 46 – Parque Contemporâneo: Parque do Mindú (Manaus) 167

Desenho 18 – Área de estar completa 169

Desenho 19 – Cortes da área de estar 170

Desenho 20 – Área de estar simples 170

Desenho 21 – Piscina para idosos 171

Desenho 22 – Salão de danças para idosos 172

Desenho 23 – Anfiteatro ao ar livre 173

Desenho 24 – Mesa de jogos ao ar livre 173

Desenho 25 – Barras de alongamento 174

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Desenho 26 – Quadra de Volley-Ball 174

Desenho 27 – Rede da Quadra de Volley Ball 175

Desenho 28 – Quadra de bocha 175

Desenho 29 – Detalhes da quadra de bocha 176

Figura 47 – Esquema de Galeria Aberta 178

Figura 48 – Av. Guararapes (Recife), na década de 40 179

Figura 49 – Av. Guararapes (Recife) 179

Figura 50 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 179

Figura 51 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180

Figura 52 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) 180

Figura 53 – Centro de Luanda (capital de Angola) 180

Figura 54 – Centro de Luanda (Angola) 181

Figura 55 – Edifício Galeria em Mossoró (RN) 181

Figura 56 – Edifícios em Mossoró (RN) 181

Figura 57 – Acesso da Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 182

Figura 58 – Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália) 183

Desenho 30 – Calçada em esquina 184

Desenho 31 – Calçada mínima 185

Desenho 32 – Calçada com banca de jornais 186

Desenho 33 – Calçada com restaurante e bar 187

Desenho 34 – Calçada com ponto de ônibus em poste multi-uso 188

Desenho 35 – Calçada como galeria aberta 189

Figura 59 – Passarela elevada para pedestres 192

Figura 60 – Passarela elevada 192

Desenho 36 – Galeria (passarela) subterrânea 193

Figura 61 – Galeria subterrânea 194

Desenho 37 – Evolução das quadras urbanas 198

Desenho 38 – Proposta para o dimensionamento de praças e quadras 201

Desenho 39 – Dimensionamento de praças e quadras (corte esquemático) 202

Quadro 20 – Zonas Turísticas Homogêneas 206

Desenho 40 – Proposta para urbanização de áreas de praias 208

Desenho 41 – Corte esquemático para urbanização de praias 209

Desenho 42 – Detalhe da rampa de acesso à praia 209

Desenho 43 – Piscina de água salgada para banho de idosos 210

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Desenho 44 – Piscina de água salgada (detalhes de acessibilidade) 211

Desenho 45 – Planta e cobertura do quiosque de praia 212

Desenho 46 – Quiosques de praia (cortes) 213

Desenho 47 – Quiosques de praia (fachadas) 213

Desenho 48 – Posto de salvamento 214

Desenho 49 – Rampas e passeios com acessibilidade 215

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LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CEPAL Comissão Econômica para America Latina.

CIAM Congresso Internacional de Arquitetos Modernos

FIFA Federação Internacional de Futebol Associado.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas.

ISTED Institut des Sciences et des Techniques de L’Equipement et de L’Environnement

pour Le Devellopement.

OMS Organização Mundial de Saúde.

ONU Organização das Nações Unidas.

RDC Resolução da Diretoria Colegiada (ANVISA).

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

2 TEORIAS SOBRE A CIDADE 30

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA 36

2.2 NOVAS FORMAS URBANAS: A CIDADE JARDIM, A CARTA DE ATENAS E O

NOVO URBANISMO 43

2.3 O NOVO URBANISMO 47

2.3.1 O Novo Urbanismo na Europa 48

2.3.2 Urbanismo no Brasil de Hoje 50

3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES 53

3.1 O IDOSO NA HISTÓRIA: UM BREVE PAINEL. 53

3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE. 55

4 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS 59

4.1 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO EXTERIOR 59

4.2 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO BRASIL 66

4.2.1 Copacabana, Rio de Janeiro: esquinas, praças e praia. 66

4.2.2 Brasília: Superquadras e Habitações Individuais Geminadas. 70

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO 78

5.1 A CIDADE PARA O IDOSO: ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA 78

5.1.1 Acessibilidade Espacial 78

5.1.2 A Questão do Transporte Urbano 82

5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO 96

5.2.1 Como o idoso vive hoje no Brasil 100

5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira 101

5.2.2.1 A Casa Oitocentista 102

5.2.2.2 A Casa Moderna 103

5.2.2.3 A Casa Contemporânea 104

5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos 107

5.3 O DESENHO UNIVERSAL 114

5.3.1 Princípios do Desenho Universal 115

5.4 CLÍNICAS OU ESTABELECIMENTOS PARA IDOSOS 117

5.4.1 Classificação dos Idosos 117

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5.4.2 Graus de Dependência 117

5.4.3 Estrutura Física 118

5.4.4 Exigências Específicas 118

5.4.5 Programa Arquitetônico Mínimo 119

5.4.6 Formas de Assistência 120

5.4.7 Pessoal de Apoio 120

5.4.8 Para os Cuidados aos Residentes 120

5.4.9 Alternativas para o Atendimento ao Idoso 121

5.4.10 A Casa Segura 122

5.4.11 A Casa do Futuro 134

5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER 134

5.5.1 Visão Humana 135

5.5.2 O Espaço Urbano 140

5.5.3 Praças 146

5.5.4 Espaço Aberto. 148

5.5.5 Terrenos Acidentados 148

5.5.6 As Necessidades Espaciais dos Idosos 151

5.5.7 Espaços de Lazer 153

5.5.8 O Espaço Público 155

5.5.9 Espaço Urbano e o Idoso: O lazer na 3ª Idade 156

5.5.9.1 Parques Urbanos 157

5.5.9.2 Passeios Públicos 176

5.5.9.3 Praças 194

5.5.9.4 Praias 205

5.5.9.5 Pontos de Encontro 215

6 CONCLUSÕES 221

REFERÊNCIAS 226

APÊNDICES 236

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16

1 INTRODUÇÃO

É um fato comprovado estatisticamente o aumento da população idosa no país e no

mundo. Os avanços da ciência e da medicina no século XX acrescentaram cerca de 20 anos na

expectativa de vida das populações de um modo geral. Dados da Organização das Nações

Unidas confirmam que chega a cerca de 10,4%, o total de idosos no mundo (ONU, 2008). No

Brasil, o Censo de 2010 confirmou que 11% da população de 185 milhões de habitantes

(20,35 milhões) é de pessoas com mais de 60 anos de idade (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

Não apenas este crescimento populacional como também o aumento da expectativa de

vida tem feito com que a população idosa aumente a demanda, em função do tempo

disponível, por uma maior participação na prática de atividades sociais urbanas como o lazer;

pela idade e surgimento de doenças próprias desta fase da vida, por serviços de saúde, pela

reconfiguração da estrutura familiar (novos casamentos, incorporação de outros parentes no

seio da família etc.), por tipologias habitacionais alternativas aos asilos convencionais e pela

permanência no mercado de trabalho devido aos incentivos oferecidos pelo Estado brasileiro

que, em função das pressões econômicas e financeiras exercidas contra o sistema de

previdência social, incentiva os idosos a adiarem as suas aposentadorias.

41,6% dos idosos que trabalham o fazem em negócios próprios. 7,6% são

proprietários de empreendimentos que empregam outras pessoas. Destes, 19,3 são

idosos. Apenas 8,4 com carteira assinada. 5.5% apenas de pessoas da terceira idade

possuem atividades informais. 83% estão nas cidades e 17,2% na zona rural.

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010)

O problema se agrava quando se verifica, segundo o IBGE, que 29% dos

desempregados urbanos estavam entre 15 e 17 anos e 26% entre 18 e 19 anos. Ou seja,

pessoas que precisam entrar no mercado de trabalho e encontram vagas ocupadas, cada vez,

mais por pessoas idosas.

Este trabalho objetiva analisar o impacto causado na estrutura urbana com o

envelhecimento da população. Propor a estruturação, no meio urbano, de forma adequada à

terceira idade em função das modificações fisiológicas, psicológicas, sociais e econômicas

nesta fase da vida, de equipamentos nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.

Para tanto, a metodologia adotada contempla 3 etapas para abordagem do tema:

1ª. Fundamentação e Conceituação Teórica, a partir de pesquisas e revisão

bibliográfica enfatizando aspectos como idosos, cidade, acessibilidade, habitação e lazer, e

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17

como a cidade deve ser estruturada para atender este segmento populacional em processo cada

vez mais veloz de crescimento.

2ª. Pesquisa de Campo, primeiro a partir de uma prática de observações sistemáticas

realizadas no país (Brasília e Rio de Janeiro) e no exterior (Amsterdam e Barcelona), de como

os idosos vivenciam o espaço privado e público. Pesquisa direta com idosos abordando a sua

visão das questões urbanas que os afetam diretamente. Montagem, aplicação e tratamento dos

dados coletados.

3ª. São analisadas as etapas anteriores a partir da fundamentação teórica e das

pesquisas de campo no sentido de estabelecer parâmetros para as propostas de intervenção

objetivando a adoção de medidas práticas para tornar mais adequada para a população da

terceira idade, estruturas urbanas nas áreas de acessibilidade, habitação e lazer.

Nesta etapa são feitas análises de estruturas urbanas de cada setor relacionado,

enfatizando aspectos como acessibilidade, estruturas físicas, distribuição no espaço urbano,

mobiliário urbano, estágio de manutenção e necessidades de intervenção no sentido da

conservação ou adoção de novas propostas.

É importante, entretanto, conceituar o que é idoso e distinguir os tipos de idosos.

Conceitualmente, o envelhecimento representa a dinâmica da passagem do tempo e

a velhice a forma como a sociedade define as pessoas idosas. Envolve estudos

biológicos, psicológicos e sociológicos. Mais recentemente, considera também,

questões ambientais. A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem

do tempo nos processos fisiológicos ao longo do curso de vida e da velhice. A

psicologia do envelhecimento, por sua vez, se concentra nos aspectos cognitivos,

afetivos e emocionais relacionados à idade e ao envelhecimento, enfatizando o

desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em períodos específicos do ciclo

de vida e concentra-se nas circunstâncias sócio-culturais que afetam as pessoas

idosas. Os estudos ambientais procuram identificar os espaços e ambientes

adequados para uma vivência tranquila para os idosos, como os espaços urbanos,

questões de acessibilidade, habitação e lazer. (BRASIL, 2003).

Pela Lei 10.741, de 01/10/2003 (Estatuto do Idoso), é considerado idoso pessoas a

partir de 60 anos de idade. Quanto aos tipos de idosos, dois são considerados:

1. Idosos que se aposentam e mantêm a capacidade de cuidar de sí próprio,

proporcionando-lhes um lugar tranquilo e protegido em que possam receber

atenções e cuidados.

2. Idosos que necessitam de maiores cuidados, por não conseguirem cuidar de si

próprios devendo permanecer em estruturas geriátricas ligadas ao sistema da rede

hospitalar. (BRASIL, 2003)

Este trabalho contemplará os aspectos pertinentes ao Grupo 1 de idosos, conforme

esquematizado no quadro a seguir (Quadro 1).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

18

Quadro 1 – Etapas Metodológicas Etapas Relação das Etapas Metodologia Adotada

1ª Etapa Conceituação e Fundamentação Teórica Análise da Documentação Coletada e Tabulação

2ª Etapa Pesquisa de Campo: Exterior e País

Observações Sistemáticas no Exterior (Amsterdam e Barcelona)

Observações Sistemáticas no País (Brasília e Rio de Janeiro) Entrevistas.

Passeios e Caminhadas com Idosos

3ª Etapa Propostas de Intervenção Análise das Etapas Anteriores e Conclusões

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Dois temas de grande significado e complexidade permearão o debate e as

preocupações de governantes e planejadores durante o século XXI: a constatação e

consolidação irreversível de sermos uma civilização urbanizada e o surgimento de

um novo desafio, gerado pelos avanços na ciência e na medicina no século passado:

o envelhecimento das populações. Aqueles avanços mencionados possibilitaram o

incremento de 20 anos, em média, na expectativa de vida do ser humano

(KALACHE, 2005).

Quanto às cidades, o processo de globalização da economia, capitaneados pelos países

centrais, notadamente os EUA e aqueles da União Europeia, tem provocado um cenário

inédito nas relações humanas no mundo. Jamais na história da humanidade verificou-se uma

homogeneização de procedimentos, seja nas artes, nos costumes ou na cultura em geral como

estamos vivenciando no nosso tempo. Nunca houve a predominância de uma língua (inglês)

como vemos agora, nas relações entre as nações. Nunca ao longo da história da humanidade,

usou-se de forma tão uniformizada um mesmo paradigma tecnológico e as cidades nunca

foram tão parecidas como no século XXI, principalmente na pobreza ou mesmo miséria de

suas periferias.

Esta globalização da economia, segundo a Organização das Nações Unidas, trouxe um

acentuado processo de miséria em todo o mundo quando, ainda segundo a ONU, 800 milhões

de pessoas foram jogadas na mais completa miséria e passam fome. O corolário mais evidente

desse processo é o incremento da violência e da intolerância, representado pelos atos

terroristas seja de Estados ou de grupos.

No urbano, esse processo de globalização se apresenta, de forma muito frequente,

numa arquitetura de grandes edifícios cujo envoltório é feito de vidro espelhado que

proliferam em cidades como Manaus ou em cidades de estados do Nordeste brasileiro onde as

condições climáticas são opostas às das localidades para as quais a tecnologia desse tipo de

edificações foi concebida, gerando formidáveis problemas ambientais, notadamente no

consumo de energia, numa época de consideráveis restrições ao uso de combustíveis fósseis.

Uma grande contradição nesse processo é que os países ricos exportam as suas

tecnologias, materiais e equipamentos de características aplicáveis a países de clima

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temperado, implantando-os irracionalmente em países de clima tropical, tipificando-os como

edifícios “inteligentes”, deturpando assim, o próprio conceito de inteligência.

Entretanto, a questão não fica restrita apenas à construção de edifícios inadequados.

Nas reuniões internacionais (1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Vancouver,

em 1976 e 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Habitat/Istambul, em 1996) realizadas

sobre o habitat humano, países ricos reagem ao conceito de que a habitação é um direito.

Tentam na prática, impedir que governos de países, como o Brasil, Índia, entre outros,

invistam na produção de moradias e na infraestrutura das cidades, e deixem de pagar os

elevados juros das dívidas externas, condenando à decadência física e funcional as cidades

dos países pobres.

Com essa abordagem procuramos demonstrar a enorme influência com que os fatores

de ordem econômica interferem na questão urbana.

Constatando, no entanto, segundo dados oficiais, que atualmente, segundo a ONU,

50% da população mundial é urbanizada, com previsão de que em 2030 essa proporção cresça

para 60%, o foco dos grandes investidores internacionais voltou-se para as cidades,

principalmente naquelas localizadas em países periféricos, espaço das grandes concentrações

urbanas. Das 10 megalópoles previstas até 2015 pelos organismos internacionais, ONU

inclusive, 08 estarão nos países em desenvolvimento e apenas 02 (Tóquio e Nova Iorque) em

países ricos (Quadro 2). Tóquio será a grande cidade do mundo rico.

Quadro 2 – As dez principais Megalópoles do Mundo

Cidade País População (em milhões)

Tóquio Japão 37,0

Nova Delhi Índia 22,0

São Paulo Brasil 20,3

Munbai Índia 20,0

Cidade do México México 19,5

New York EUA 19,4

Xangai China 16,6

Calcutá Índia 15,5

Daca Bengladesch 14,7

Karachi Paquistão 13,1 Fonte: Weinberg; Betti (2011)

Os chamados países do 1º Mundo enfrentam os problemas decorrentes da urbanização

num estágio econômico consolidado: são ricos, enquanto os chamados países emergentes,

defrontam-se com toda sorte de mazelas (pobreza, saneamento básico, habitação, saúde,

educação, violência urbana etc.), provenientes dessa mesma urbanização, sem terem ainda a

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sua situação econômica consolidada, fato este que só agrava os problemas, tornando-os

bastante vulneráveis.

Organismos multilaterais que financiam investimentos em países emergentes, como o

Banco Mundial, trabalham com o conceito de “Cidade Produtiva”, objetivando a integração

das populações locais através de programas de regularização fundiária, a palavra de ordem do

momento (Programa de Simplificação Cartorial e Regularização Fundiária), onde os

beneficiados com os programas de regularização da terra, a partir do fato de contar com um

endereço e ser proprietário do seu lote ou de sua casa, quando essa existir, pois a prioridade é

de que a regularização da terra, possa retribuir, ao banco, os capitais investidos, na forma de

impostos ou taxas de comunicações, água, esgoto e energia. (daí o modelo neoliberal de

privatizações de empresas estatais exatamente nos setores essenciais de infraestrutura urbana).

A prioridade é sempre a via produtiva onde a cidade seja o foco e o comando das ações

dirigidas para a produção, a paz social e a eficácia da produção. A produção da casa e do

abrigo só possível, de forma legal, com a posse da terra, pode ser realizada de outras

maneiras, desde a autoconstrução até processos industrializados de construção. Sempre ao

sabor dos interesses do capital. A questão urbana, no entanto é mais ampla, e o seu tempo

mais longo, enquanto os investidores desejam um retorno rápido do dinheiro investido.

Annik Osmond (2009) informa o seguinte: Os impostos, taxas e tarifas cobrados,

geralmente muito altos (quando não calculados de forma desonesta como aconteceu, via

Agências Reguladoras, com as tarifas de energia elétrica no Brasil), provocaram em grande

parte, em alguns países asiáticos, a destruição completa da sua estrutura econômica. Os casos

mais conhecidos são os de Jakarta, Indonésia, onde a cidade e a economia foram destruídas.

Na República do Mali, 7º país da África em extensão territorial, cujo território, organizado de

acordo com suas tradições e cultura foi fatiado pelo Banco Mundial em 703 municípios, sem

levar em conta a realidade local, o resultado foi a falência da estrutura econômica do país.

Não devemos esquecer o caso da crise imobiliária dos EUA onde, na impossibilidade

de honrar as prestações, mutuários abandonaram bairros inteiros gerando uma das maiores

crises da história do sistema capitalista (2009/2010).

Diante de um conceito como o de “Cidade Produtiva”, como incluir cidadãos, como os

idosos que, aparentemente, não são mais “produtivos”.

A distribuição etária da população mundial atravessa a maior mudança da história. O

processo de envelhecimento é mais visível nos países pobres, mas ocorre em todos os

quadrantes do mundo, numa velocidade sem precedentes (Gráfico 1).

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Gráfico 1 – Faixas etárias da População Idosa no Mundo

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).

A combinação entre o aumento da expectativa de vida e a queda na taxa de natalidade

reflete avanços generalizados no combate a doenças e a melhora da qualidade de vida mesmo

nas regiões mais pobres do globo. Tal fato apresenta às gerações futuras o desafio de atender

às demandas crescentes de uma população composta de um número cada vez maior de idosos.

No Brasil, para citar o nosso exemplo, a população de idosos já chegou a 21 milhões (11% da

população). Na Inglaterra, em 2008, o número dos que têm 65 anos ou mais ultrapassou, pela

primeira vez na história, o de jovens com menos de 16 anos.

No início da existência do homem na terra, a vida durava entre 20 e 35 anos e a média

era arrastada para baixo por uma alta taxa de mortalidade durante a infância e a juventude

(Camerano, 2007). Por volta de 1900, a expectativa de vida subia para 45 anos ou 50 anos nos

países industrializados e começava a se elevar no resto do mundo. Um século depois, um

homem comum pode esperar viver até os 65 anos, na média, ou ultrapassar os 80 anos de

idade em algumas economias avançadas. Estudiosos do assunto, como Anne Baro, Monique

Bunel e Romain Sevestre, calculam que um homem que chega aos 60 anos sem maiores

problemas de saúde, geralmente conseguirá atingir ou mesmo superar os 80 anos.

No caso brasileiro se forem observadas as faixas etárias mais restritas acima de 60

anos, os números são os seguintes:

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Tabela 1 - Faixas etárias da População Idosa no Brasil

Idade. (Evolução) 2000 *

%

2010 *

%

60 a 64 anos 2,71 3,49

65 a 69 2,11 2,61

70 a 74 1,62 2,04

75 a 79 1,05 1,41

80 a 84 0,61 0,92

85 a 89 0,32 0,45

+ 90 0,15 0,24

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]). Nota: *Do total da População. 2009.

A edição de 2007 do Estudo Econômico e Social da ONU, adotou o tema

Desenvolvimento em um Mundo que Envelhece. No documento, a ONU mostra que a

expectativa de vida no Japão, a mais alta entre os países desenvolvidos, deve passar dos atuais

82 anos (registro feito entre 2000 e 2005), para 88 anos entre 2045 e 2050. O mesmo

acontecerá, no mesmo período, para Austrália, Canadá e Nova Zelândia quando os atuais 80

anos sofrerão uma evolução para 85 anos. Os EUA, também no mesmo período, passarão dos

atuais 77 anos para 82 anos em média.

Para os países em desenvolvimento, o relatório das Nações Unidas traz promessa de

mutações ainda maiores, como os sete anos a mais que serão conquistados na América Latina

(72 para 79 anos) e nos países da África, com os piores índices de desenvolvimento humano

do planeta, quando os atuais 49 anos terão uma evolução para 65 anos em 2050.

A distribuição etária da população mundial tende a se afastar da antiga estrutura

piramidal. A base será mais estreita em relação ao corpo, que terá de suportar um topo cada

vez mais alargado por uma massa de cidadãos com mais de 65 anos de idade (Gráfico 2).

Ainda, segundo a ONU (2008), “[...] a não ser que o crescimento econômico possa ser

acelerado de modo sustentável, essa tendência continuará a impor pesadas demandas às

populações em idade de trabalho para manter um fluxo de benefícios aos grupos mais velhos”.

A ONU conclui seu relatório afirmando: “[...] ainda que o envelhecimento da população seja

inevitável, suas consequências dependem das medidas adotadas para enfrentar os desafios que

o processo impõe.”

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Gráfico 2 – Pirâmides Etárias entre 1960 e 2010, no Brasil

Fonte: Weinberg; Betti (2011).

Para os dirigentes do Banco Mundial os problemas urbanos estão resumidos a três

grandes temas: 1. O crescimento urbano, inclusive do ponto de vista demográfico, e sua

gestão; 2. Mudanças Climáticas; e 3. Crise Econômica e Financeira.

A ação do Banco Mundial, no sentido de combater esses problemas, objetiva alcançar

a produção, a paz social e a eficácia da produção citadina (OSMOND, 2009).

Entretanto, começam a surgir críticas a essa visão do problema urbano, colocado pelo

Banco Mundial. Para alguns autores (Baro, Bunel, entre outros), principalmente urbanistas e

pesquisadores, pertencentes ao Institut des Sciences et des Techniques de l’Equipement et de

l’Environnement pour le Développement (ISTED)1, a questão demográfica não é o mal maior.

Tecnologias já são conhecidas para resolver muitos dos problemas ambientais e a crise

financeira já foi equacionada na ação do socorro aos bancos, promovida pelos governos dos

países mais atingidos. Essa ação só é possível hoje, devido os Tesouros Nacionais

controlarem 30% do dinheiro circulante, fato que na crise de 1929 não foi possível, pois os

Estados nacionais controlavam menos de 5% do dinheiro em circulação. Só uma ação

governamental, leia-se estatal, evitou, na presente crise, a derrocada geral (VIANA, 2010).

A problemática urbana hoje é consequência direta das desigualdades sociais. Só o

acesso das populações à terra, à habitação, aos serviços urbanos (saúde, água, esgoto,

educação, transportes e lazer), e a implantação de políticas de valorização do patrimônio

urbano e sócio-ambiental poderão reduzir os graves problemas urbanos, notadamente nas

cidades costeiras por receberem os maiores contingentes migratórios.

1 Organismo francês para o Planejamento Urbano.

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Retornando ao problema urbano específico do presente trabalho, a inserção do idoso

na estrutura urbana e destacando a situação brasileira, embora a questão seja universal, dados

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que, em 2040, teremos mais

de 52 milhões de idosos ou 27% da população.

Alexandre Kalache, brasileiro que é conselheiro da área de envelhecimento global da

Academia de Medicina de Nova Iorque e ex-chefe do Programa de Envelhecimento da

Organização Mundial de Saúde, afirma que “Para se preparar para uma sociedade que está

envelhecendo rápido como a brasileira é necessário haver um esforço coletivo, pois o

fenômeno terá impacto em todas as profissões” (KALACHE, 2005). A saúde será a mais

requisitada dessas áreas e as transformações já estão em curso. Só para ilustrar o fato, o Brasil

conta com 330.000 médicos; destes, 45.000 (13%) são pediatras, existem apenas 816 geriatras

(2,4%), 68% deles na região sudeste. Isto num país onde a taxa de fertilidade, em uma década,

caiu de 4,5 filhos por mulher para 1,08 filhos por mulher (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Adquirir o conhecimento necessário para lidar com

pessoas com mais de 60 anos será um desafio e a palavra de ordem é a prevenção. Este fato

demonstra que os cuidados com a saúde tendem a se estender para áreas fora da medicina.

A OMS lançou, em 2005, um documento (Guia Global: A Cidade Amiga dos Idosos)2,

no qual estabelece as diretrizes para a construção de um ambiente saudável, para um mundo

que se urbaniza e envelhece, a partir de 08 linhas de ação:

1. Espaços abertos e prédios.

2. Transporte.

3. Habitação.

4. Participação social.

5. Respeito e inclusão social.

6. Participação cívica e emprego.

7. Comunicação e informação.

8. Apoio comunitário e serviço de saúde.

Pensando em uma população saudável, o foco deve ser tanto aumentar a longevidade,

quanto melhorar a condição de vida, com isso o campo se alarga da geriatria para a

gerontologia. Profissionais, como arquitetos especializados em ambientes seguros para idosos,

2 Programa das Nações Unidas, por meio da Organização Mundial de Saúde (OMS), criado e coordenado pelo

médico brasileiro Alexandre Kalache (2005), com o objetivo de implantar um Guia das Cidades Amigas dos

Idosos, fixando diretrizes para a humanização do espaço urbano, tendo em vista o aumento da população idosa

no mundo (hoje de 600 milhões de pessoas com mais de 60 anos) e que, em 2025, poderá chegar a 1.200.000.000

de indivíduos.

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serão de fundamental importância nesse campo de atividade. Analisar a questão urbana,

dentro de uma perspectiva histórica, e propor métodos e parâmetros, na estruturação de

equipamentos, para uma cidade onde pessoas idosas, com bom nível de independência em

suas atividades, possam ter uma melhor qualidade de vida, são os objetivos desse trabalho.

Um dos grandes temas da atualidade, e que preocupa urbanistas, sociólogos, geógrafos

e filósofos em geral, é a questão do espaço público, sua apropriação por entidades particulares

e populações marginalizadas, além de sua decadência a partir dos centros urbanos,

extendendo-se até as periferias das grandes cidades.

Compreendido desde a antiguidade clássica como o espaço da “ação política”, ou ao

menos da “possibilidade da ação política na contemporaneidade”, esses espaços vêm a cada

dia, com o gigantismo das metrópoles ou descasos dos agentes políticos, sendo destruídos ou

substituídos pelo enclausuramento ou construção de espaços segregados, como os shopping

centers, os condomínios fechados e até mesmo dos chamados parques temáticos, criados mais

para o espetáculo e o entretenimento, constituindo o exemplo de uma nova configuração

espaço-tempo a que se denomina Metápolis (ASCHER, 1995), ou seja, uma nova relação

entre cidade-tempo e espaço da mobilidade, objetivando uma progressiva redução do tempo

necessário entre desejo e satisfação, ou seja, fenômeno urbano que, ultrapassando a escala

metropolitana, desliga-se de qualquer suporte territorial para basear-se em redes de

interconexões compostas por transportes visíveis e meios de comunicação invisíveis.

Estruturas ou espaços, pertencentes à cidade ou não, que permitem à metrópole o seu

funcionamento cotidiano. São novos paradigmas de algumas cenas cotidianas

“arquitetonizadas”, ou seja, de caráter eminentemente estético e, ao mesmo tempo,

esquecidos pela cultura arquitetônica cuja preocupação básica é o espaço interno.

Ângelo Serpa (2004) afirma que o abandono do espaço público e a segregação de

populações situadas na periferia tanto das cidades como do sistema capitalista trazem, como

corolário inevitável, os altos índices de violência tão comuns e constantes em todas as cidades

do mundo, gerando uma reação, de concepção neoliberal, na produção de “um novo espaço”,

destinado aos setores de rendas média e alta do extrato social.

O autor expõe ainda que, no caso brasileiro, relegando à segundo plano as grandes

demandas nas áreas habitacional, educacional e de saneamento urbano básico, entre outras, o

Estado, associado a entidades privadas (capital) ou mesmo por meio da ação direta desses

setores financeiros, representados por grandes conglomerados, produzem um tipo de espaço

de conteúdo visual, traduzindo-se em cenários estetizantes de conteúdos empresariais.

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São os chamados “projetos urbanos estratégicos”, quando estes agentes públicos e

privados estabelecem uma ação de longo prazo que, no fundo, representa a apropriação do

espaço público por segmentos políticos e corporativos. (SERPA, 2004).

Olivier Mongin3 escreve sobre a consciência europeia no período sombrio entre as

duas grandes guerras. Afirma que a cidade é uma questão de convívio. Portanto, de política. A

grande ameaça contemporânea para as cidades é o que ele chama de fluxo tecnológico. As

conexões em rede que interromperam a vivência que era possível exercitar às portas, umbrais,

esquinas e praças. Vizinhos não se falam mais, eles se conectam. Para isto, não precisam,

necessariamente, serem vizinhos. É esta solidão, travestida de ganho, que o autor aborda na

sua obra.

Rem Koolhass4 introduz o conceito de “urbano generalizado”, fato decorrente do

crescimento demográfico das entidades urbanas fora da Europa. Num quadro totalmente

diverso de 1930, por exemplo, quando apenas 10% da população era urbanizada, atualmente

estamos na metade e, em 2025, 2/3 dos humanos habitarão zonas urbanas. Segundo Mongin

(2010):

[...] nenhuma das megalópoles será europeia, elas estarão na América Latina, no

Sudeste Asiático e na África Subsaariana, numa extensão territorial e humana que

aponta para um caos de características imprevisíveis. O que aumentará este caos será

o peso das “conexões” (hub) no mundo da rede, das novas tecnologias, das ligações

entre cidades globalizadas, porque entrar em rede parece ser mais importante do que

se relacionar com a proximidade.

O tráfego pesado e o isolamento dos habitantes em espaços murados, ou numa visão

mais ampla, isolamento caracterizado pela falta de acesso ao trabalho, à educação, ao lazer e

ao convívio, associados à falta de infraestruturas mais elementares como vias urbanizadas, por

exemplo, que possibilitem o transporte público adequado e torne possível incorporar ao

contexto urbano as periferias das grandes cidades.

Há a necessidade de se evitar megalópoles verticais, de firme hierarquia, que isolam os

mais necessitados dos centros de decisão e a produção de um urbanismo com escala mais

humana, lutando contra cenários urbanos mais contemporâneos, aqueles que colocam os

lugares sob a pressão mais ou menos suportável dos fluxos de toda ordem, que desvalorizam o

espaço público em benefício do privado, que privilegiam as separações mais do que as

3 Antropólogo, historiador e filósofo francês, no seu livro: A Condição Urbana: A Cidade na Era da

Globalização. São Paulo: Estação Liberdade, 2010. Cujo título remete à Condição Humana, de André Malraux,

de 1933. 4 Arquiteto holandês.

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junções de uma convivência necessariamente conflituosa, ou seja, a poli: a cidade na escala

humana.

Talvez seja necessário estabelecer, ou criar, novas utopias. A utopia faz parte da

tradição da cidade. É nela que se pensa em primeiro lugar. A de Jerusalém, da Babilônia

Antiga, ou mesmo a polis grega, espaço onde podia-se conversar, conviver, mesmo revelando

desacordos e diferenças. Deixemos de lado, no entanto, Thomas More, o autor de Utopia, que

acreditava ser possível desenhar sobre uma mesa a cidade onde outros iriam viver.

Talvez o sonho, enfim a Utopia, hoje, significa inscrever os espaços no tempo e no

espaço, praticando o que alguns autores chamam de sub-urbanismo, (o contraponto

do sobre-urbanismo, das conexões em rede) exigindo que a percepção do lugar, do

local, preceda o Programa. (MONGIN, 2010).

Vive-se primeiro em um lugar, um espaço conhecido e sensorial, numa paisagem que

representa uma narrativa comum. “[...] a cidade é a coisa humana por excelência”, já afirmava

Claude Lévi-Strauss. Uma mistura de experiência vivida com sonho, natureza com cultura, de

objetivo com subjetivo.

Constata-se, na escalada da violência urbana que acomete todas as grandes cidades e,

particularmente, as cidades brasileiras, os alvos preferidos do crime organizado são

exatamente aqueles considerados como “ilhas de segurança”, como atestam os assaltos

constantes a condomínios residenciais fechados e shopping centers, comprovando a tese de

Jane Jacobs (2003, p. 379), de que o fator que garante maior segurança no espaço urbano é a

presença de pessoas nas ruas.

Este trabalho pretende colocar uma questão nova no debate: a presença no espaço

urbano de uma nova categoria de pessoas antes não existentes, ou existentes de forma muito

reduzida e não nas proporções hoje constatadas em decorrência do aumento de anos na

expectativa de vida.

O processo de envelhecimento vem passando por transformações significativas em

diversos dos seus aspectos, desde meados do século XIX. Basta verificar o caso brasileiro,

como exemplo: a expectativa de vida no início do século XX era de 33 anos de idade.

Atualmente, atinge-se os 73 anos e, para 2050, os 83 anos, segundo estudos do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (2010). São transformações que colaboram para

produzirem novos fatos, identidades e subjetividades que surgem a partir do momento em que

a velhice se torna alvo do mercado e consumo. Segundo a Nutrinews (2010), estima-se que

R$ 800.000.000,00 (oitocentos milhões de reais) é a renda nas mãos dos idosos no país.

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Apenas 5% são pobres. Desempenho muito melhor do que a população em geral, que conta

com 20% de indivíduos na faixa de pobreza. Até o início da idade moderna, a velhice estava

restrita ao ambiente familiar e privado, vivendo sob dependência e sem desempenhar papel

muito importante na sociedade. Olivier Mongin (2010) diz que “no cenário atual, passou a ser

vista como uma questão pública, já que o Estado e outras organizações privadas assumiram a

gerência da velhice, tentando homogeneizar suas representações.” Mudaram-se as ideias

referentes ao envelhecimento, principalmente aquelas vinculadas pela mídia. “É preciso

derrubar e expulsar ‘modelos’ vividos no passado para se inserir nos jeitos diferentes de hoje”

(MONGIN, 2010).

O idoso, atualmente, está inserido nas discussões de políticas públicas, na organização

de novos mercados de consumo, nas novas formas de lazer, não apenas para ser bem atendido,

mas muito mais para ser preparado para viver a sua condição de idoso. Interessa ao Estado e

empresas que o idoso seja consumidor e produza renda, além de estimulá-lo a cuidar de sua

saúde, reduzindo despesas para os cofres públicos ou planos de saúde.

Quanto mais a terceira idade investir em seu corpo, com cuidados com a saúde, tanto

mais benefícios ele proporcionará a si mesmo, às empresas, às entidades e ao Estado. São

necessários investimentos para produzir novos significados e ensinar novos estilos de vida

para os integrantes da terceira idade e os idosos. Os estilos de vida anteriores, na visão de

organismos multilaterais como a OMS e o Banco Mundial, devem ser desconstruídos por

serem inadequados para os dias de hoje. A velhice deve ser bem sucedida, vigorosa e sem

sofrimentos. Atingir esse alvo passa pelo consumo de diversos produtos, pela busca de

técnicas de rejuvenescer, pelos cuidados com o corpo e a saúde e, ainda, pela reinvenção do

corpo: plásticas, silicones, botox e ingestão de produtos que curam e emagrecem. Passa,

assim, o idoso a ser uma nova categoria cultural, o único responsabilizado pelos cuidados de

si mesmo, pela sua participação social.

Numa sociedade cada vez mais urbanizada, coloca-se hoje, à disposição dos idosos e

da terceira idade, espaços para atividades (academias) e programas de ensino (Universidade

da Terceira Idade) voltados para faixas etárias, onde ficam classificados e aprendem como

devem ser.

Países na Comunidade Europeia, como Itália e Alemanha, criaram um amplo

programa de lazer e turismo para a terceira idade a partir de uma constatação sócio-

econômica: o desemprego produzido durante a baixa estação turística entre outubro e abril,

com as demissões ocorridas no setor turístico, geradoras de altos custos pela obrigação do

auxílio desemprego, foi solucionado com a redução de 50% dos custos ao se proporcionar

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quinze dias de férias gratuitas para casais idosos. Mantiveram-se os empregos e criou-se um

programa de atenção à terceira idade. No Brasil, a gratuidade nos transportes interestaduais de

ônibus e tarifas diferenciadas nos aviões seguiu o mesmo caminho, conforme o Artigo 39, da

Lei 10.741 (BRASIL, 2003). Mas pode-se citar também, os Centros de Convivência dos

Idosos, Grupos da Terceira Idade, Escolas Abertas, Universidades da Terceira Idade, os já

citados programas turísticos, clubes que oferecem atividades físicas e diversões, lojas de

produtos de embelezamento para uma velhice saudável, tratamentos médicos, complementos

alimentares e outros tantos.

O Poder Público criou uma Política Nacional do Idoso, orientada pelo Estatuto do

Idoso (Lei 10.741/2003), através do qual assegura os direitos, a autonomia, a integração e a

participação desta categoria com sua cultura e educação para a cidadania. Proporciona-se todo

um comportamento moderno que desafia estas pessoas a se envolverem nas atividades e

adotarem novas formas de consumo e estilo de vida, sob pena de serem acusados de

‘culpados’ se ficarem relegados ao abandono e à dependência.

Mas, pelas considerações iniciais feitas a respeito da vida urbana, de uma civilização

globalizada e urbanizada, fica uma indagação: como o idoso poderia se beneficiar de todas as

conquistas citadas, obtidas até agora, num espaço urbano caótico e agressivo que, pelo menos

teoricamente, não proporcionará a sua completa integração em termos de espaços,

acessibilidade, edificações, públicas e privadas adequadas, de lazer, moradia adequada,

transportes e vivência comunitária?

Diante deste desafio a proposta da Tese é delinear a problemática teórica do idoso e

sua inserção na vida urbana, e também da cidade, sua evolução histórica e estágio atual e, a

partir desta discussão, estabelecer parâmetros para a infraestrtura urbana e equipamentos que

levem em consideração a inserção de um contingente populacional, os idosos, cada vez mais

numerosos. Inicialmente, apresentamos uma visão geral do tema proposto com as linhas

gerais da Tese, um plano geral do trabalho a ser desenvolvido. Na complementação do

trabalho, a Tese propriamente dita, serão acrescentados os elementos fundamentais (plantas,

cortes, vistas e ilustrações em geral), que possibilitarão a compreensão integral da ideia

proposta.

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30

2 TEORIAS SOBRE A CIDADE

A cidade ocidental moderna tem sido pensada sob distintas matrizes teóricas, com

diferentes graus de abstração e generalização. Busca-se formular um breve panorama de

algumas concepções que marcam o pensamento sobre a cidade. Trata-se, portanto, de um

recorte, o que implica na eleição de alguns paradigmas, na exclusão de outros, ante a

impossibilidade de contemplar todos os autores e tendências.

No caso do presente trabalho, A Cidade e o Idoso, não foi identificada, por parte dos

autores citados, uma preocupação específica com a problemática do idoso e as suas relações

com o espaço urbano. Todos os estudos, em várias disciplinas (psicologia, sociologia, entre

outras), até então, desenvolviam estudos e teorias que organizavam o desenvolvimento

humano sem levar em conta a velhice.

Só com a intensificação do processo de urbanização da humanidade e a carga de

estresse aí embutida, considerando-se ainda o aumento na expectativa de vida das pessoas,

novas linhas de investigação foram surgindo, inclusive a da Gerontologia, que passa a se

interessar por temas como: plasticidade (capacidade de mudança em face de experiência e

uso), adaptação, seleção e otimização de recursos e habilidades (referenciados pelas teorias

de Paul Baltes), sabedoria, dependência aprendida, seletividade emocional (Laura

Carstensen), hormesis (estressores de pouco impacto que beneficiam o organismo e o

preparam para enfrentar estressores de maior impacto); modelos teóricos para mensurar a

velhice bem sucedida (Rowe e Kahn) e a velhice acompanhada por incapacidades e

fragilidades (Linda Fried). A partir daí, surgiram as primeiras abordagens sobre o idoso e as

suas relações com o ambiente, entre eles o ambiente urbano.

O esforço do presente trabalho vai no sentido de entender primeiro o que é a cidade, à

luz de diferentes teorias, e posteriormente, estudar, à luz da Gerontologia e de outras ciências,

a inserção do idoso no ambiente urbano.

As diferentes teorias sobre a cidade estudam o ambiente urbano dentro de uma visão

mais ampla, não necessariamente destacando aspectos como gênero, faixa etária, etnia etc. É

compreensível não se falar em idosos quando grande parte das teorias conhecidas terem sido

apresentadas quando este problema não existia em face da pouca ou baixa expectativa de vida.

Portanto, procura-se aqui entender primeiro a cidade para, posteriormente, entender a terceira

idade e o impacto que esta causará no ambiente urbano.

Karl Marx (1918-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) entendiam a cidade ocidental

como o local de produção e reprodução do capital, produto da sociedade capitalista, e,

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31

portanto, parte integrante de processos sociais mais amplos. Para os autores, a cidade expressa

a miséria e a degradação da classe trabalhadora na Inglaterra (ENGELS, 1976), retomadas

depois em O Capital (Marx, 1867). Para eles “[...] a história de qualquer sociedade até os

nossos dias é a história da luta de classes” (MARX, 1998, p. 39). Deriva dessa concepção o

papel histórico e estratégico que os autores imputam à cidade industrial do século XIX, como

lócus da luta de classes. Berço da burguesia e de sua ascensão revolucionária, a cidade é

também o espaço onde se evidencia a exploração dos trabalhadores e onde, dialeticamente, tal

operação será superada, por meio da revolução operária. A cidade capitalista, nessa

perspectiva, tem concretude histórica.

A ótica de Max Weber (1864-1920) é diferente. Ele concebe a cidade como do tipo-

ideal, demarcando um campo teórico diferenciado. Para ele, interessa explicitar a origem e o

desenvolvimento do capitalismo moderno e da racionalidade que o atravessa em todas as suas

esferas, destacando o papel que a cidade desempenha na emergência desse processo. Em The

City (1922), está sua observação mais sistemática sobre o fenômeno urbano. Estes escritos

foram, posteriormente, incorporados à obra Economia e Sociedade, sob o título A dominação

não legítima (1910/1921), onde ele aborda as diferentes tipologias de cidades. Ali ele reúne

uma variedade de estudos sobre a antiguidade, sobre a ética protestante, o espírito do

capitalismo e a moral econômica das grandes religiões. Ele procura ainda pesquisar a política

econômica urbana, tal como se desenvolveu na cidade medieval, e visava compreender o

papel da cidade no desenvolvimento do capitalismo moderno. Na sua forma típica ideal, ainda

segundo Weber, a cidade caracteriza-se por constituir-se como mercado e possuir autonomia

política, enfatizando ser o modelo medieval o seu tipo ideal de cidade.

Émile Durkheim (1858-1917) só indiretamente se interessa pela cidade. Focou seus

estudos mais na morfologia social. Analisa a sociedade a partir da disposição, em determinado

território, de uma massa de população de certo volume e densidade, concentrada nas grandes

cidades ou dispersas nos campos, que, servida por diferentes vias de comunicação, estabelece

diferentes tipos de contato. Portanto, é no contexto da anatomia da sociedade, em seus

aspectos nitidamente estruturais, que a cidade aparece como substrato da vida social,

acumulando e concentrando parcelas significativas da população.

Contrapondo-se aos preceitos teóricos e o alto grau de abstração e generalidades

presentes nos pensamentos de Marx, Engels, Weber e Durkheim, aparece a metodologia

largamente empiricista da Escola de Chicago, de onde surgiu o conceito de ecologia urbana.

Esta escola surgiu nos Estados Unidos da América em 1890, desenvolvida por

professores do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, entre eles Robert

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32

Park, Ernest Burguess e Roderick Mackenzie, promovendo um estudo detalhado dos

fenômenos sociais que corriam nos setores urbanos das metrópoles. Na época, houve um

aumento populacional repentino na cidade de Chicago e esta não estava preparada para

receber todo este contingente populacional, gerando uma serie de problemas sociais, como

criminalidade, bolsões de pobreza, desemprego e comunidades segregadas. A Escola de

Chicago, primeira do mundo a oferecer um curso de sociologia, inaugura uma reflexão

inédita, tratando-a como variável isolada, e, pelo feito, recebendo os créditos pela criação da

sociologia urbana. Embora numa postura crítica, recebeu influências de Durkheim e Spencer

e, na sua fundação, recebeu o apoio financeiro de John D. Rockfeller (REISSMAN, 1972).

Manuel Castells contesta esta sociologia que advoga a ideia da existência de um

urbano em si mesmo. Para Castells, não é uma postura científica, mas ideológica. Mesmo

procedente, essa crítica não invalida a importância dessa abordagem que se orienta pelos

conceitos da ecologia humana. A teoria de Robert Park, principal mentor intelectual da

Instituição sobre a ecologia humana e as áreas naturais, pressupõe uma analogia entre o

mundo vegetal e animal, de um lado, e o mundo dos homens, do outro, apoiando-se muitos

nos conceitos de Charles Darwin e sua Teoria da Evolução, quando introduz conceitos como

competição, processo de dominação, processo de sucessão, para explicar tal similaridade. A

cidade é apreendida por meio de um referencial de análise analógico à ecologia animal. Daí

ser identificada como Escola Ecológica.

Louis Wirth, outro expoente da Escola, afirma que a cidade produz uma cultura urbana

para além de seus limites espaciais. A cidade, atuando além dos seus limites físicos, propaga

um estilo de vida urbano e torna-se o lócus do surgimento do urbanismo como modo de vida.

Esta premissa é totalmente inovadora.

Transformando Chicago em um “laboratório social”, fato que marca o empirismo que

caracteriza a abordagem do fenômeno urbano pela Escola, na realidade é a tentativa de buscar

soluções concretas para uma cidade caótica, marcada por intenso processo de industrialização

e de urbanização, que ocorreu na virada do século XIX para o XX, um acentuado crescimento

demográfico gerado por um violento processo migratório, formando guetos de diferentes

nacionalidades, produtores de segregação urbana, ao lado de uma concentração populacional,

antes nunca observada, ocupando um território sem as mínimas condições de infraestrutura,

fermentam a teoria, pela Escola, da ideia de cidade como problema, impedindo ou

dificultando um pensamento com maior grau de abstração sobre o urbano (CHADWICK,

1976).

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A matriz principal da sociologia francesa considera o urbano como espaço socialmente

produzido, assumindo diferentes configurações de acordo com os vários modos de

organização socioeconômica e de controle político onde está inserido. É uma abordagem

semelhante à da “new urban sociology”. A interação entre as relações de produção, consumo,

troca e poder que se manifesta no ambiente urbano ganha mais importância na abordagem

francesa. Esse enfoque expressa o descontentamento dos neomarxistas franceses com a ideia

vinda da Escola de Chicago de que haveria um urbano por si mesmo, a partir do qual era

possível explicar uma série de fenômenos sociais.

Castells, Lojkine, Ledrut e Lefebvre apresentam novos paradigmas para a reflexão

sobre a cidade. Politiza-se a questão urbana, e novos agentes passam a interferir no processo:

os movimentos sociais urbanos, os meios de consumo coletivo, a estruturação social do

território na sociedade capitalista e o papel do Estado na urbanização. Lojkine (1981) discute

a questão do Estado na sociedade de capitalismo avançado, com base na hipótese de que a

urbanização, como uma forma desenvolvida da divisão social do trabalho, é um dos maiores

determinantes do Estado do Bem-estar Social. Ele analisa o papel do Estado na urbanização

capitalista, a relação da política urbana e suas dimensões na luta de classes e a questão dos

movimentos sociais urbanos diante do Estado.

Henri Lefebvre (1969) traz um novo enfoque sobre a cidade, concebendo-a como

reino da liberdade e do novo urbanismo. Em que pese a sua notoriedade como um dos maiores

teóricos do marxismo contemporâneo, tem suas últimas obras, no campo urbanístico,

criticadas, tanto por Castells (1977), quanto por Ledrut (1976), que afirmam que o autor

expulsa o marxismo do campo das lutas de classes para o da “cultura”, formulando assim,

uma concepção ideológica do urbano. Na ótica de Lefebvre, o urbano não representa apenas a

transformação, pelo capitalismo, do espaço em mercadoria, mas também a arena potencial do

cotidiano vivido como jogo, como Festa. Considera simplista a concepção que coloca, de um

lado, a empresa e a produção e, de outro, a sociedade e o consumo, o que não permite

desvendar a verdadeira dimensão do espaço. É uma clara resposta às críticas de Castells e

Ledrut.

Lefebvre conceitua ainda os espaços a partir de uma trilogia: espaço percebido

(perçu), correspondente à “prática espacial” que assegura a continuidade numa relativa

coesão. A prática espacial é diferente, conforme os conjuntos espaciais próprios de cada

formação social. O espaço concebido (conçu) é correspondente às “representações do

espaço”, pois este é concebido de acordo com as representações sociais que exercem na

sociedade a sua influência. O espaço vivido (vécu) é correspondente aos espaços de

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representação. É o espaço dos habitantes, dos utentes, que tentam se apropriar do espaço pelas

imagens e símbolos que o acompanham.

Aníbal Quijano, sociólogo peruano, inicia a reflexão latino-americana sobre a

urbanização e o desenvolvimento, no início dos anos sessenta, a partir do conceito de

“Colonialidade do Poder”. Ante o dispositivo de poder que gera o sistema mundo moderno-

mundo colonial e que é reproduzido estruturalmente no interior de cada estado nacional,

Quijano entende que “[...] a espoliação colonial é legitimada por um imaginário que

estabelece diferenças incomensuráveis entre o colonizador e o colonizado”. As noções de

“raça” e de “cultura” operam aqui como um dispositivo taxonômico que gera identidades

opostas. O colonizado aparece como o “outro da razão”, o que justifica o exercício de um

poder disciplinador por parte do colonizador. A maldade, a barbárie e a incontinência são

marcas “identitárias” do colonizado, enquanto a bondade, a civilização e a racionalidade são

próprias do colonizador. O conceito de “colonialidade do poder” amplia e corrige o conceito

de Michel Foucault (1979) de “poder disciplinar”, ao mostrar que os dispositivos pan-óticos

erigidos pelo Estado moderno inscrevem-se numa estrutura mais ampla, de caráter mundial,

configurada pela relação colonial entre centros e periferias devido à expansão europeia.

O confronto entre uma sociologia urbana de cunho ecológico, com origem nos EUA, e

uma sociologia preocupada com o urbano de forma mais abrangente, como defendida por

intelectuais europeus, principalmente franceses, despertou, no Brasil, o interesse de alguns

pensadores para trabalhar a sociologia urbana como disciplina especializada. Já na década de

1940, estudava-se no país por meio de pesquisas e reflexões sobre pequenas comunidades

urbanas, tendo como parâmetro os trabalhos desenvolvidos pelos antropólogos americanos

Donald Pierson e Charles Wagley. 5

A sociologia urbana brasileira, entendida como “ciência do urbano”, passa a existir de

fato a partir de 1968 com a obra Desenvolvimento e Mudança Social: formação da sociedade

urbano-industrial no Brasil, de Juarez Brandão Lopes, a primeira grande iniciativa de

reflexão sociológica sobre a relação entre desenvolvimento industrial, falência do modelo

patrimonial e urbanização. O trabalho de Lopes, os estudos latino-americanos, principalmente

a partir da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), incentivaram vários

sociólogos brasileiros na década de 1960, como Francisco de Oliveira, Paul Singer, Maria

5 Os antropólogos norte-americanos Donald Pierson e Charles Wagley, em meados do século XX, escreveram

um novo capítulo na história da antropologia no Brasil, até então pouco estudado, e que teve forte impacto

principalmente nas pesquisas sociais em saúde. O trabalho de ambos permitiu o engajamento de outros

antropólogos norte-americanos nos programas de assistência técnica ao Brasil.

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35

Célia Paoli, Luis Pereira, Lucio Kowarick, entre outros, a se aprofundarem sobre o tema.

Todos, entretanto, rejeitaram criticamente a Teoria da Marginalidade, demonstrando que esta

resulta não de um problema de integração social, mas de uma questão mais ampla, estrutural:

a preservação da pobreza é produzida através de mecanismos que nada têm de “marginais” ao

sistema.

Introduzem, ainda, conceitos sobre “periferização” e “espoliação urbana”, chamando

atenção para a dimensão política na urbanização, quando denunciam a dupla espoliação da

classe trabalhadora: como força de trabalho subjugada pelo capital e como cidadãos

submetidos à lógica da expansão metropolitana que lhes negava o acesso aos bens de

consumo.

Com relação à escola de Chicago, é fato consumado que ela exerceu grande influência

entre os pensadores brasileiros. Por sua vez, os preceitos da sociologia urbana francesa

marcaram os anos de 1980 como pano de fundo teórico dos estudos sobre as contradições

urbanas e, acima de tudo, o grande tema da época: os movimentos sociais urbanos. Apoiada

no pensamento marxista, a sociologia urbana francesa desenvolveu, juntamente com a teoria

da marginalidade, importantes estudos a respeito da cidade.

Atualmente, os estudos urbanos brasileiros, apesar de continuarem importando

paradigmas, desenvolvem um grande esforço para investigar e explicar as particularidades da

realidade urbana brasileira6. A temática da globalização, da violência, das drogas e do crime

organizado estão presentes nos estudos sobre as metrópoles brasileiras. A discussão sobre

uma cidade dividida, dual, em que o espaço dos ricos contrapõe-se ao dos pobres, resultantes

da globalização das economias urbanas, além de novos desafios que são postos como questões

dos espaços públicos, da acessibilidade aos bens de consumo urbano, pelas populações mais

pobres ou, então, por um campo sociológico novo, não verificado anteriormente, mas pela

quantidade de indivíduos nele incluído, em permanente crescimento e pela complexidade

espacial e socioeconômica contida no seu bojo, passa a preocupar e interessar diferentes áreas

de estudos: a questão do envelhecimento da população.

A estrutura e a forma do espaço urbano que deverão ser produzidas para inclusão

social dessa nova categoria sociológica, nos aspectos de acessibilidade, habitação e lazer,

entre outras exigências, exigiu um estudo, o mais abrangente possível, sobre a evolução da

6 Entre os anos 1980 e o período atual, foram intensificados os estudos urbanos no Brasil a partir da fundação de

vários cursos de pós-graduação nas Universidades do país e pela saída de estudantes brasileiros para estudar no

exterior. Também por ter sido, neste período, que o processo urbano brasileiro se intensificou exigindo uma

maior reflexão sobre o tema.

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36

forma dos sítios urbanos ao longo da história para fundamentar e procurar estabelecer

paradigmas e parâmetros adequados para este novo desafio.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FORMA URBANA

No presente capítulo abordaremos a evolução da forma urbana e a importância das

diferentes configurações do espaço urbanizado na tarefa de promover as relações de troca e o

funcionamento dos serviços que mantêm a vida urbana. Historicamente, arquitetos e

urbanistas trabalham suas propostas obedecendo a um conceito humanista, geral, priorizando

o ser humano sem tratamentos específicos por gênero ou faixa etária. Quando muito se

preocupam é com o espaço das crianças, dimensionando-o a partir das demandas da escala

infantil, como fez Lúcio Costa em Brasília, ao estabelecer critérios, no planejamento das

super-quadras, mais voltados para este segmento etário da população (COSTA, 1995).

Atendendo às crianças, nas suas demandas espaciais, com folga, acreditava Costa,

estariam atendidas as demais faixas etárias. “Para as crianças, tudo, para os idosos nada”

(VERAS, 1994). A cidade sempre foi planejada, intencional ou empiricamente, tendo como

base a figura humana. Só após o advento do automóvel este passou a ser a medida urbanística

básica. Os idosos, até pela sua pouca importância em termos quantitativos, nunca foram

levados em conta no planejamento urbano. Atualmente este quadro mudou, ou encontra-se em

mutação. A grande quantidade de pessoas com idade acima de 60 anos é uma realidade cada

vez mais presente e tem suscitado, nos planejadores, uma maior atenção com esta faixa etária

da população ao elaborar os seus projetos. Não apenas play-grounds, mas salão de danças,

pistas adequadas e especializadas para caminhada de idosos, áreas de estar com jogos de

salão, piscinas adequadas para idosos, quadras de brocha etc., passam a ser implantados no

espaço público. Mas como dimensioná-los? É o que este trabalho pretende mostrar a partir da

evolução da forma urbana e como ela se apresenta hoje.

A estrutura da cidade é formada, basicamente, por 4 elementos: ruas, praças,

quarteirões e lotes. Através do sistema viário fluem as relações de troca e os serviços que

mantêm a vida urbana. Por maiores que sejam as variações, basicamente todos os sistemas

viários se enquadram em três tipos – xadrez ou grelha, radial e o orgânico, ou espontâneo.

Pelo que foi observado anteriormente, as diferentes teorias, basicamente sócio-

econômicas, sobre a cidade, são reflexões bastante recentes, considerando-se o tempo

histórico. O mesmo não ocorre com a evolução da forma urbana, o desenho urbano como é

chamado hoje.

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37

Das mais antigas formas, o “traçado em xadrez” é o mais utilizado ao longo da

história. Inventada há mais de 4.000 anos, mas batizada somente em 473 a.C. pelo

arquiteto e urbanista grego Hipodamos, autor do paradigmático plano da cidade de

Mileto, a ‘quadrícula ortogonal’ (grid) assumiu diferentes dimensões e formatos

variáveis ao se disseminar pelo mundo (MUNFORD, 1996).

A variação mais comum é quando assume a forma retangular (passando a ser chamada

de grelha). Geralmente implantadas e mais adequadas para sítios planos, este tipo de

urbanização contrapõe-se ao padrão irregular e tortuoso encontrado em diversas cidades que,

por necessidade de defesa e proteção contra ataques inimigos, eram implantadas em áreas

montanhosas ou de relevo acidentado. É o caso, por exemplo, do período colonial brasileiro,

quando a forma urbana, como um todo, foi influenciada por questões econômicas e

ideológicas, que visavam instrumentalizar as cidades e construções com elementos de

controle e defesa do território, e a dominação da população, via cobrança de impostos.

Com o correr do tempo, com o advento da independência do país em setembro de

1822, não só a necessidade de defesa da costa quanto da cidade construída no interior, foi

reduzida. As cidades passaram a ser implantadas, a partir do século XIX, tendo em vista

outros parâmetros. Aspectos de ordem econômica, custos de construção, dificuldade de mão-

de-obra, entre outros fatores, passaram a influenciar a escolha do sítio, pois não se tinha a

necessidade de se implantar cidades sobre um relevo íngreme, principal característica do

período anterior.

Sítios menos acidentados passaram a ser escolhidos e o solo começou a ter valor

comercial, item que passou a influenciar, decisivamente a organização da forma urbana. A

partir do final do século XIX e início do século XX, surgem no interior do país,

principalmente nas regiões sul e sudeste, várias cidades com o milenar traçado xadrez.

O Brasil assumia a liderança na exportação de café e outras matérias primas desde o

início até meados do século XX, quando surgiram várias cidades, decorrentes deste

tipo de economia, utilizando o traçado xadrez (Bauru e Marília em São Paulo,

Londrina no Paraná) e, depois no Centro-Oeste (Catalão, Gurupi, Goianésia) aí já

influenciadas pela economia agropecuária e a construção de Brasília (WILHEIM,

1969).

A trama em xadrez se apresenta como ótima opção a partir do momento em que a terra

urbana passou a ter um excelente valor de troca e a urbanização em terrenos acidentados foi

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38

aos poucos sofrendo desvalorização. Exemplo, O Plano de Mileto7 (figura 1), que contempla

as quadras ortogonais, na forma xadrez, modelo de urbanização que influenciou e influencia

arquitetos e urbanistas de várias épocas (Quadro 3).

Figura 1 – Plano de Mileto.

Fonte: Gouveia (2003, p.25).

7 Quadrícula ortogonal, do urbanista grego Hipodamus. Século V. a.C.

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39

Quadro 3 – Vantagens e desvantagens das formas xadrez e radial.

Tipo Vantagens Desvantagens

Grelha

Facilita desenho e locação de vias e redes.

Divisão das quadras em lotes.

Descrição das propriedades.

Nomenclatura e numeração das ruas.

Flexibilidade para suportar mudanças e para

expansão.

Os lotes retilíneos, sem ângulos ou curvas,

simplificam o cálculo de áreas.

Facilitam o registro em cartório e

Comercialização.

Cria facilidades para o encontro das pessoas

aumentando a riqueza da vida urbana.

Conflita com topografia irregular.

Aumenta os percursos.

Dificulta diferenciação entre as ruas.

Cria paisagem monótona.

Provoca processos erosivos quando implantada

em terrenos acidentados.

Radial

Adapta-se à topografia irregular.

Possibilita percursos mais diretos entre dois

pontos.

Dificulta desenho e locação das vias e redes.

Divisão das quadras em lotes.

Descrição das propriedades.

Fonte: Gouveia (2008, p.25).

Apesar do traçado xadrez ter sido utilizado e testado ao longo da história, gregos e

romanos já o utilizavam, assim como os espanhóis na colonização da América, é importante

observar também as suas desvantagens. Mas a principal função urbana, que é promover o

encontro de pessoas para trocas comerciais e culturais, entre outras, é muito beneficiada pela

forma xadrez.

Um dos melhores exemplos de aplicação moderna do traçado xadrez é a expansão de

Barcelona, O Ensanche, proposto por Ildefonso Cerdá em 1863 (Figura 2). Cerdá adotou uma

malha xadrez de 113 X 113 metros (Figura 3), onde promoveu a fácil integração com os

núcleos existentes e o desenvolvimento das funções urbanas. Com uma relativa separação de

atividades, consegue minimizar problemas de poluição do ar com a orientação do sistema

viário principal de forma a permitir a penetração dos ventos dominantes pelas vias. Criou uma

dimensão de quarteirões baseada em elementos ambientais e formas baseadas em fatores

locais originais, possibilitando também a redução da temperatura, fator importante de

considerar na Catalunha, apesar de seu clima mediterrâneo. Importante citar as esquinas do

Plano de Cerdá: chanfradas em dimensões bastante generosas, constituem-se em verdadeiras

praças onde localizam-se cafés, bares e livrarias (Figura 4 a 6).

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Figura 2 – Plano de Cerdá, para Barcelona.8

Fonte: A Função da Arquitetura Moderna (c1979, p.52).

Figura 3 – Dimensões das quadras de Ildefonso Cerdá.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Figura 4 – Esquina padrão do Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

8 O Plano de Cerdá para Barcelona contemplava quadras com esquinas chanfradas, possibilitando a boa

visibilidade e espaços de convívio.

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Figura 5 – Esquina onde o edifício valoriza o espaço urbano, ao proporcionar abrigo ao pedestre.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

Figura 6 – Quadra tipo do Ensenble de Barcelona (Ildefonso Cerda).

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

O urbanista catalão Jordi Borja (2004) afirma que “[...] para se criar vida numa cidade,

é importante a existência de cafés, muitos cafés”. Este conceito de Borja, na realidade, é mais

amplo, contemplando, nas esquinas principalmente, livrarias, bares etc. Neste aspecto,

semelhante aos “botequins” existentes nas esquinas do Rio de Janeiro, Barcelona é um cidade

privilegiada, com uma qualidade de vida que foi acentuada com as reformas urbanas feitas

para as Olimpíadas de 1992 (Figuras 7 a 11).

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Figura 7 – Esquina marcada como ponto de referência para as atividades urbanas e humanas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

Figura 8 – Esquina como espaço para as mais diversas atividades de lazer e convivência humana.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

Figura 9 – Esquina como ponto de encontro de diferentes tipos humanos.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

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Figura 10 – Esquina como fator de valorização do patrimônio construído.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998b).

Figura 11 – Esquina Deux Magots (Paris).9

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998a).

2.2 NOVAS FORMAS URBANAS: A CIDADE JARDIM, A CARTA DE ATENAS E O

NOVO URBANISMO

Com a industrialização, intensifica-se o processo de urbanização da sociedade

provocando nos núcleos urbanos um grande impacto ambiental e sócio-econômico em

decorrência do aumento das densidades humanas numa estrutura urbana de origem medieval

na Europa medieval. Os conceitos de Cidade Jardim, propostos inicialmente por Ebenezer

Howard, em 1898, funcionaram como uma das alternativas para responder aos novos desafios

de uma sociedade industrial e urbanizada. Várias cidades europeias, por exemplo,

9 Ponto de encontro, histórico da capital francesa, frequentada por intelectuais e artistas de várias épocas, como

Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Miró, Albert Camus, Salvador Dali,

cineastas como Jean Luc Goddard, Louis Malle, entre outros. A fama do lugar confere à esquina, um espaço

urbano vivo e útil, como referência histórica e apelo turístico. Ainda hoje é bastante frequentada e parada

obrigatória para viajantes de todas as partes do mundo que visitam Paris.

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44

Amsterdam, em 1607, com o Plano dos Três Canais, do arquiteto Hendrick Staets, e Paris, sob

Napoleão III e o Barão de Haussman, entre 1851 e 1870, fizeram grandes reformas urbanas,

de certa forma inspiradoras da arquitetura e do urbanismo moderno (BENÉVOLO, 2005).

Nas Américas, tivemos, a partir das formações urbanas incas de Huanuco Pampa

(1.200 a 1.500 DC), e astecas de Tenochtitlan que, por volta do século XIV, já possuía um

desenho urbano em xadrez e sistemas de água e esgoto, sendo uma das maiores cidades do

mundo, com 250.000 habitantes. As cidades das Missões Jesuíticas, entre a Argentina, o

Brasil e o Paraguai. Os projetos mais recentes de cidades coloniais americanas, como

Charleston, Filadélfia e Sawannah. Depois, em 1792, George Washington contrata o arquiteto

francês Pierre Charles L’Enfant para projetar a própria capital do novo país. No Brasil,

tivemos, em 1893, o projeto de Belo Horizonte, realizado por Aarão Reis, que se inspira em

Haussman e L’Enfant para desenhar a nova capital mineira; o de Pereira Passos, no Rio de

Janeiro, em 1904; o de Alfredo Agache, também no Rio de Janeiro, em 1930. Outras cidades

planejadas incluíam também Volta Redonda, Goiana, Teresina e Natal. São planos ou projetos

onde não se encontra qualquer referência a questões de gênero, etnias, ou faixa etária, por

exemplo.

O Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), de 1928, cujo documento

produziu o que veio a ser conhecido como A Carta de Atenas, além de tecer as críticas mais

radicais ao traçado das cidades tradicionais (xadrez e radial), pregavam um urbanismo e uma

arquitetura que refletissem e reproduzissem o modo de produção industrial. Novos conceitos

de arquitetura surgiram a partir do CIAM, notadamente de um dos seus principais arquitetos,

o franco-suíço Charles Edouard Jeanneret-Gris, O Le Corbusier, e seus 5 princípios para uma

nova arquitetura: o Pilotis; a Planta Livre; a Fachada Autônoma; a Estrutura Independente;

e o Teto Jardim. A utilização de novos materiais, como o concreto, o vidro e o aço, e a

eficiência e a razão eram os objetivos finais. No urbanismo, pregava-se a separação de

funções da cidade. Objetivava-se separar o mais possível as atividades de trabalhar, habitar,

circular e recrear, postulados que serviram como normas para as cidades modernistas, numa

clara reação à excessiva sobreposição de atividades das cidades tradicionais, causadoras de

problemas de ordem sanitária, social e ambiental. Era a ideia amplamente disseminada de que

as cidades tradicionais estavam doentes, desprezando-se tudo que dizia respeito ao passado e

à própria história.

Em 1903, os conceitos de Cidade Jardim de Ebenezer Howard foram aplicados na

primeira cidade jardim da Inglaterra: Letchworth Garden City, localizada ao norte de Londres,

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45

com população atual de 33.600 habitantes. Também na Alemanha foi construída Hellerau em

1909, com população atual de 19.000 habitantes, sendo na realidade, um bairro de Dresden.

No período do pós-guerra, em 1946, a Inglaterra começa uma ampla reforma urbana

para desafogar Londres (cidade que, no início do século XIX, já era a maior do mundo com

1.000.000 de habitantes), criando as New Towns, onde foram amplamente aplicados os

princípios do CIAM, apesar das críticas de Nicholas Bullock10

, e que viriam a influenciar o

Plano de Brasília. Na New Town de Roehampton foi implantado o que talvez venha a ser o

primeiro conjunto habitacional para idosos (BENÉVOLO, 2005). A única citação sobre

habitação para idosos, especificamente, anterior a essa experiência inglesa, é feita também por

Benévolo (2005, p. 597), quando afirma que “[...] aos artistas, pobres e idosos, destinava-se o

sótão dos prédios de Paris”. É fácil compreender a falta de preocupação para com o abrigo

para os idosos em face da pouca expectativa de uma vida mais longa registrada antes de

meados do século XX. A maioria era abrigada em asilos religiosos ou pertencentes ao Estado.

Outro elemento importante era, e é, a presença do automóvel, desprezando-se o

transporte coletivo de massa. Sir William Holford, arquiteto inglês que presidiu o Concurso

Público para o Plano Piloto de Brasília, afirmava que o metrô, muito utilizado nas cidades

europeias, era um solução para resolver o transporte de passageiros das antigas cidades do

Velho Mundo e suas estruturas urbanas inadequadas. “[...] o homem moderno é composto de

cabeça, tronco, membros e automóvel”, afirmava.

Joaquim Guedes, arquiteto paulista que participou do concurso para a escolha do plano

para a nova Capital e que estruturou a sua proposta básica a partir da utilização de um metrô,

no desenvolvimento urbano da nova capital, jamais aceitou a rejeição de sua ideia. O metrô

foi implantado posteriormente (1994) e Brasília continua sofrendo, como todas capitais

brasileiras, com o excesso de automóveis, sua principal característica de transporte urbano de

passageiros.

Brasília constitui o modelo por excelência dos cânones modernistas. Patrimônio da

Humanidade tombado pela UNESCO, por ser monumento vivo do urbanismo moderno.

A Capital brasileira representa o ponto máximo do modelo modernista, mas antes,

outra cidade do Terceiro Mundo, Chandigarh, capital do Estado de Pendjab, Índia,

foi projetada por Le Corbusier, em 1951, com a colaboração de vários arquitetos

europeus e indianos. Esta é considerada a obra mais importante do mestre

(BENÉVOLO, 2005, p.705).

10

Arquiteto inglês, professor de Cambridge que, no seu livro “Building the post-war world”, critica o tipo de

reconstrução de Londres e outras cidades inglesas, fundamentada no Movimento Moderno, que não levava em

consideração os padrões e valores históricos ingleses.

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46

Iniciada em 1957 e inaugurada em 1960, Brasília sofreu grandes transformações,

assim como a arquitetura brasileira, principalmente pelos fatos políticos decorrentes do Golpe

Militar de 1964. O processo de urbanização foi intensificado, surgiu o Banco Nacional de

Habitação (BNH), quando foram construídos grandes conjuntos habitacionais na maioria das

capitais e cidades de médio porte do país. Em 1960, com a mudança da capital para Brasília, o

Rio de Janeiro transformou-se no Estado da Guanabara e o governador eleito, Carlos Lacerda,

em 1965, contrata o arquiteto e urbanista grego Constantinos Doxíades para elaborar um

Plano Diretor para a Cidade-Estado. Ainda na administração de Lacerda, importantes obras

foram implantadas, como o Aterro do Flamengo, Coordenado por Carllota Macedo Soares,

projeto de Carmem Portinho e Affonso Eduardo Reidy, com paisagismo de Roberto Burle

Marx. O Túnel Rebouças e a Adutora do Guandu, além de uma vasto e complexo programa

de remoção de favelas e construção de conjuntos habitacionais na periferia do Rio de Janeiro

também são deste período (DULLES, 2000).

Outra iniciativa foi o Plano Urbanístico da Barra da Tijuca, expansão da malha urbana

carioca por Lúcio Costa (1970/1988). Na década de 1990, tivemos as experiências dos

Projetos Favela-Bairro e Rio Cidade, quando o arquiteto Luis Paulo Conde, como secretário

de urbanismo e depois prefeito do Rio de Janeiro, promoveu grande intervenções urbanas

naquela cidade. São dignos de destaque estes planos, principalmente o Favela-Bairro e o Rio

Cidade, pelo pioneirismo na integração, via urbanismo, entre as várias classes sociais que

formam a sociedade carioca, pela introdução pioneira de conceitos de acessibilidade nas vias

públicas, pela padronização humanizada das áreas de pedestres, do mobiliário urbano e pela

devolução do espaço urbano à população (CAMPISTA, 1996).

Não deve ser deixado de mencionar o Plano Urbanístico de Palmas, capital do novo

Estado de Tocantins, realizado em 1989, pelos arquitetos e urbanistas Luis Fernando Cruvinel

e Walfredo Antunes de Oliveira Filho, última cidade a ser planejada no país.

Hoje, o país, com mais de 80% da população urbanizada, enfrenta sérios desafios de

infraestrutura e serviços urbanos (transportes, água, esgotos, atendimento de saúde e

segurança pública). Além de tudo, a questão ambiental passou a fazer parte da agenda política

e administrativa a partir dos sérios danos ambientais causados em muitas cidades pelo avanço

de uma urbanização desenfreada e caótica (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

ESTATÍSTICA, 2010)

Mas houve avanços quando a Constituição Brasileira de 1988, no seu Capítulo II – Da

Política Urbana – artigos 182 e 183, passou a considerar de forma clara as questões do

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47

ordenamento das cidades, tornando obrigatório o Plano Diretor para cidades com mais de

20.000 habitantes, cidades de interesse turístico e/ou ambiental e de zonas metropolitanas,

mesmo contando com populações inferiores a 20.000 habitantes. Em 10 de julho de 2001,

através da Lei 10.257, é criado o Estatuto da Cidade que regulamenta o texto constitucional.

2.3 O NOVO URBANISMO

Trata-se do movimento surgido nos Estados Unidos da América a partir do I

Congresso do Novo Urbanismo em 1983 e da Carta do Novo Urbanismo de 1996. A Carta é o

documento de referência do Congresso do Novo Urbanismo, formado por profissionais cujo

objetivo foi formalizar um novo enfoque para o urbanismo. Este movimento, na linha do pós-

modernismo, segue no mesmo pensamento de crítica ao urbanismo modernista de Jane

Jacobs, jornalista e socióloga americana que, no seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades

(2003), desenvolve implacável crítica ao modernismo. Entretanto, uma das principais críticas

contra os cânones modernistas, a de que é impossível mudar as complexas relações urbanas

com o desenho urbano, é, no fundo, retomada pelos adeptos do novo urbanismo, que propõem

um retorno ao urbanismo tradicional como forma de melhorar a vida nas cidades. Em síntese,

o novo urbanismo propõe:

1. Resgate à qualidade de vida nas cidades.

2. Melhoria do relacionamento entre o homem e a cidade.

3. Desenvolvimento sustentável de longo prazo, pois, em consideração, estaria o

impacto entre as novas e antigas intervenções urbanas e suas repercussões nos

planos social, econômico e ambiental.

Lideram este pensamento nos EUA, seis arquitetos (Peter Calthorpe, Andrés Duany,

Elizabeth Moule, Elizabeth Plater-Zyberk, Stefanos Polyzoides e Daniel Salomon). Todos

vinham da experiência de projetar algumas pequenas cidades e reconstrução de setores

urbanos. Parte do grupo atua também como docentes e todos trabalham intensamente como

arquitetos em seus escritórios.

Nos EUA, o novo urbanismo é novo apenas de estabelecer princípios relacionando ao

espaço regional com o espaço local pelo sistema de transportes, a estimular uma tipologia de

parcelamento do solo e organização das áreas residenciais retomando conceitos de Ebenezer

Howard, e de promover uma gestão dos espaços incluindo uma intensa participação popular.

O Novo Urbanismo está detalhado em 29 princípios onde os princípios de 1 a 9

contemplam a região: metrópole, cidades médias, grandes (city) e a pequena (town); os de 10

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48

a 17 referem-se ao bairro, ao setor (por exemplo, área histórica, portuária, cidade universitária

etc.) e ao corredor; 18 a 27 são relativas às quadras, ruas e edifícios.

2.3.1 O Novo Urbanismo na Europa

Na Europa, são muito semelhantes os pontos de convergência com os norte-

americanos: preocupações com a preservação histórica, conservação dos bens naturais, o

sentido de cidadania (o individual e o coletivo). Persistem os conceitos de Ebenezer Howard e

a repercussão do Plano da Cidade de Tapiola, Finlândia (Figura 12 e 13), e os conceitos pós-

modernistas desenvolvidos em Pounbury, na cidade de Dorchester, Inglaterra.

Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação

Fonte: Kärnä ([2001]).

Figura 13 – Centro da Cidade de Tapiola (vista da área comercial)

Fonte: Tapiola ([2008?]).

A cidade de Tapiola, fundada em 1953 dentro dos conceitos de Cidade Jardim, conta

hoje com 38.000 habitantes e seu idealizador foi um jovem advogado Heikki von Hertzen

que, junto com a Fundação Habitação da Finlândia, combateu a construção de apartamentos

repetitivos como estavam sendo construídos em diversos lugares. Com argumentos da sua

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49

visão humanista e das visitas que fizera às cidades jardins da Inglaterra, Hertzen defendia que

as pessoas tinham o direito de viver junto à natureza, convidou diversos arquitetos para a

Finlândia, organizou um concurso para a área central de Tapiola e acabou realizando o seu

sonho. Tapiola hoje é um ícone quanto às pessoas morarem perto da natureza, a mistura de

usos do solo é adequada e o sistema público de transporte funciona (Figuras 14 e 15).

Figura 14 – Cidade de Tapiola (transporte público de passageiros)

Fonte: Transporte em Tapiola ([20--?]).

Figura 15 – Vista aérea de Tapiola11

Fonte: Tapiola ([20--?]).

O Componente forte dos ideais do Novo Urbanismo é o resgate de tipologias

urbanísticas e arquitetônicas da cidade tradicional. Para empresas imobiliárias e determinados

arquitetos, também refere-se ao resgate de estilos passados. É uma atitude muito bem vinda ao

gosto popular dos EUA e de outros países.

O Príncipe Charles, da Inglaterra, em 1989, por meio da Prince of Wales Foundation

for Built Environment, promoveu uma reforma urbana no bairro de Poundbury, extensão da

cidade de Dorchester, numa área de 160 HA, para uso misto de 1.200 habitantes e a instalação

11

Pode-se observar o equilíbrio entre área construída e a natureza.

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50

de 40 unidades destinadas a comércio, serviços e indústrias leves e que ajudaram a formar os

13 princípios a serem estabelecidos no planejamento urbano de um espaço agradável para a

vida das pessoas.

Resumindo, o Novo Urbanismo propõe:

1. Respeitar: Os cidadãos. A escala humana. O meio ambiente através da

sustentabilidade. Uma atitude conciliadora.

2. Valorizar: O pedestre, o intercâmbio social. O espaço público por meio da

segurança. A beleza como bem comum. A natureza no contexto urbano.

3. Promover: Diferentes usos como moradia, trabalho e diversão num mesmo local.

Inclusão social e senso de comunidade. Integração local no meio regional. Melhor

desempenho do ambiente construído.

2.3.2 Urbanismo no Brasil de Hoje

No Brasil, houve um período de estagnação no setor da construção civil e na produção

de moradia, fruto dos ajustes feitos na economia, no período entre 1994 a 2002, dos governos

de Fernando Henrique Cardoso. De forma intensa, as atividades de construção civil foram

retomadas a partir da criação do Ministério das Cidades, no dia 1º de janeiro de 2003, cujo

objetivo é “Combater as desigualdades sociais transformando as cidades em espaços mais

humanizados ampliando o acesso à moradia, ao saneamento e ao transporte” (BRASIL, 2001).

O Ministério foi dividido em 04 secretarias: Habitação, Saneamento Ambiental, Transporte e

Mobilidade e Programas Urbanos.

Embora deva-se ressaltar o fato do Ministério atender uma velha reivindicação de

arquitetos, urbanistas e demais profissões que tratam com o urbano, no sentido de agrupar

todas as funções da cidade numa só estrutura administrativa, inexistem conceitos orientadores

no sentido de disciplinar e orientar, sobretudo orientar, o ordenamento das cidades. Estas

continuam crescendo ao sabor dos interesses econômicos, sobretudo os imobiliários. Embora

considerando as dificuldades de se estabelecer padrões de urbanização num país continental

como o nosso, seria por demais importante a existência de normas orientadoras de

ordenamento urbano, retomando o papel do Estado no seu planejamento.

Há menos de um século (até meados dos anos 60), as cidades brasileiras abrigavam

10% da população do país. Hoje abriga 82% num processo de exclusão e desigualdades sem

igual: 6,6 milhões de brasileiros não têm moradia; 11% não têm acesso à água tratada; e 50%

não são servidos por redes coletoras e tratamento de esgotos (BRASIL, 2001). Favelas se

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51

multiplicam em todas as cidades e a prioridade conferida ao transporte individual em

detrimento do transporte coletivo de passageiros transformou as nossas cidades,

principalmente as metrópoles, num sistema caótico e desumano de mobilidade urbana com

milhões de prejuízos ao país. O tráfico de drogas assumiu o papel do Estado em vários

municípios brasileiro, notadamente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a violência é um

processo presente e de fim imprevisível.

O Brasil é um país de 5.565 municípios, dos quais apenas 1.684 (os que possuem mais

de 20.000 habitantes) estão obrigados, constitucionalmente, a implantar os seus Planos

Diretores de Desenvolvimento Urbano. O grande avanço foi a obrigatoriedade de participação

popular e a criação do Conselho das Cidades, muito embora a dificuldade de identificar e

qualificar os atores participantes criem enormes dificuldades na aprovação de leis, normas e

outros instrumentos de gestão urbana.

As intervenções são pontuais, tendo como base a construção de conjuntos

habitacionais sem uma preocupação mais ampla com a cidade. Não existe uma estratégia de

crescimentos urbano para as cidades e os problemas vão se agravando quando o processo de

urbanização, em tudo caótica, atinge ou ocupa áreas de risco ou de preservação ambiental que

abrigam mananciais necessários ao abastecimento humano de água.

Programas governamentais para atenuar os problemas não são conduzidos

adequadamente. Um exemplo é o de moradias populares “Minha Casa, Minha Vida”, o

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC I e II)12

. Apresentado inicialmente como a

grande oportunidade de se planejar habitações condignas com uma urbanização mais rica, do

ponto de vista do desenho urbano, a saída do Ministro Olívio Dutra (PT) e sua equipe

(2003/2005), cedendo o lugar para aumentar a base de sustentação parlamentar do governo

Lula, ao senhor Márcio Fortes (PP), transformou-se num amplo programa voltado aos

interesses do setor da construção civil. As casas terão no máximo 35.00m² e os apartamentos

45.00m² (para compradores com renda de 1 a 3 salários mínimos e de 3 a 10 salários mínimos

respectivamente). Angola recentemente lançou um programa habitacional para baixa renda

onde as casas terão 100.00m², só para servir de comparação (RAPOSO; SALVADOR, 2007).

Como será visto mais adiante, fundamentado em parâmetros de acessibilidade, no

estudo de evolução da quadra urbana, em pesquisas efetuadas sobre a mobilidade da pessoa

idosa, é feita a proposta do dimensionamento de uma quadra urbana que possa atender de

12

Programas do Governo Federal com a finalidade de resolver os sérios problemas de infraestrutura como

aeroportos, portos, rodovia, ferrovias, saneamento básico, entre outros.

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52

forma mais adequada à determinação legal (RDC nº 283 e Lei 10.741/2003), que estabelece

um percentual de 5% nos novos conjuntos habitacionais, para pessoas idosas.

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53

3 O IDOSO NA SOCIEDADE E NAS CIDADES

3.1 O IDOSO NA HISTÓRIA: UM BREVE PAINEL.

São poucas as informações sobre o idoso nas antigas civilizações ou na história de

uma forma geral. De certa maneira um aspecto compreensível, pois morria-se cedo (até o

século XIX) antigamente. As poucas informações disponíveis reportam-se mais aos idosos

das classes mais abastadas, ou registros esparsos encontrados em poemas, peças teatrais ou

crônicas de época. Mais raras ainda são informações sobre idosos de classes menos

favorecidas. Entretanto, nos poucos documentos encontrados está sempre presente,

dependendo da civilização, a forma diferenciada de se tratar os idosos e o que tais

documentos nos ensinam para compreender a situação de hoje. (BEAUVOIR, 2007).

Sociedades ocidentais valorizavam o idoso mais pelos bens materiais adquiridos ao

longo da vida. Por outro lado, os orientais valorizavam o idoso pelos conhecimentos tácitos e

experiência para lidar com determinados problemas.

Sociedades, dependendo do período histórico, onde o trabalho árduo era exigido, os

idosos eram deixados de lado e, até mesmo, eliminados, pois não tinham como contribuir para

o grupo a que pertenciam. Em comunidades indígenas, por outro lado, os idosos, ainda hoje,

são muito valorizados e chegam a chefiar o grupo. A China, por ser uma sociedade autoritária

e hierarquizada, valoriza os seus idosos pelo conhecimento. Sua organização familiar e

patriarcal defendia que a família devia obediência aos idosos por serem detentores da

sabedoria (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).

Os judeus respeitavam os idosos por acreditarem que Deus os havia escolhido e

abençoado com a longevidade. Na Palestina, os anciões tinham participação destacada na

sociedade exercendo cargos importantes na vida pública. Os egípcios temiam a velhice e

almejavam vencê-la com um sonho de rejuvenescimento (BEAUVOIR, 2007).

Na Grécia e Roma antigas, não havia leis para proteger escravos, mulheres e idosos e

só generais e idosos que possuíam alguma riqueza detinham poder e prestígio sobre os demais

(BEAUVOIR, 2007; MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).

No início da Idade Média, com a invasão dos bárbaros, os idosos foram desprezados

por não poderem ajudar no trabalho árduo e nos esforços de guerra. Com a consolidação do

cristianismo, nesta mesma época, a Igreja Católica assumiu os cuidados com os idosos,

construindo abrigos e hospitais, e chegavam a utilizar até mosteiros e conventos para tal fim.

Com o surgimento da burguesia, no final da Idade Média, os idosos voltaram a ser

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54

prestigiados, principalmente aqueles que possuíam bens, como terras, e haviam acumulado

riquezas (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003). Com o Renascimento, os idosos voltaram

a ser desprezados, mas os motivos eram outros, não mais incapacidade para o trabalho, mas

por não possuírem mais os padrões de beleza e perfeição e apresentarem sinais de decadência

física e perderem o vigor da juventude (MASCARO, 2006.)

O desenvolvimento da tecnologia, a mecanização e o êxodo rural aumentaram as

dificuldades dos idosos, por suas limitações biomecânicas e inadaptação a novos serviços,

fazendo-os sentirem-se improdutíveis, dispensáveis e descartáveis (SIMÕES, 2007, p.32). O

advento da urbanização nas sociedades proporcionou que as autoridades observassem a

necessidade de maiores cuidados com os idosos. Em 1891, a Dinamarca promulgou uma Lei

de Assistência a Ancianidade e os Estados Unidos, em 1929, criou uma Lei de Seguridade

Social que previa uma aposentadoria, em forma de pensão, para aqueles que haviam parado

de trabalhar em função da idade. A partir daí, vários outros países tomaram medidas

semelhantes (MAZO; LOPES; BENNEDETTI, 2003).

No Brasil, inserido no contexto ocidental de nações, a preocupação com os idosos foi

iniciada na década de 30 do século XX, no governo de Getúlio Vargas, que promoveu leis de

cunho social (salário mínimo, Consolidação das Leis do Trabalho, sindicatos livres, entre

outras) e, mais recentemente, com a Constituição de 1988, e quando foi promulgado o

Estatuto do Idoso, PL nº 3.561 do deputado Paulo Paim (Lei nº 10.741/2003, sancionada pelo

Presidente Luis Inácio Lula da Silva em 01/10/2003), atualizado em 05/02/2010. No Sistema

Único de Saúde, existe atendimento preferencial para idosos na Rede Pública de Saúde. A

Resolução da Diretoria Colegiada-RDC nº 283, de 23/09/2005, da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária, estabelece normas para Estabelecimentos Residenciais para Idosos. Uma

grande conquista foi a extensão das aposentadorias para os trabalhadores rurais

(FUNRURAL), nos anos 1970.

Entre outros benefícios, o Estatuto do Idoso estabelece:

Distribuição gratuita de próteses, órteses e medicamentos.

Proibição de Planos de Saúde privados aumentaram mensalidades pelo critério de

aumento de idade.

Transporte urbano gratuito com reserva de 10% dos assentos para idosos.

Transporte interestadual gratuito com reserva de 2 vagas para idosos ou desconto de

50% no preço em vagas remanescentes.

Punição com rigor de atos de negligência, discriminação, violência e opressão contra

idosos.

Tratamento preferencial em tramitação de processos e execuções judiciais.

Abatimento de 50% no acesso a atividades culturais, esportes e lazer.

Reserva de 5% de unidades habitacionais em programas habitacionais financiados

ou promovidos pelo poder público.

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55

Atendimento prioritário na Rede de Saúde, bancos, correios ou qualquer serviço

público.

Dispensa de pagamento de imposto de renda para pessoas aposentadas.

Adoção de normas e critérios de acessibilidade nas vias e espaços públicos, prédios

e edificações em geral e nos equipamentos de transportes urbanos.

Proibição de impedir o acesso ao trabalho para pessoas com mais de 60 anos.

(BRASIL, 2003).

Pode-se observar, de imediato, as grandes transformações que precisarão ser feitas em

determinadas atividades, como as já citadas acima, no sentido de atender às recomendações e

normas do Estatuto do Idoso. Além do mais, deverá ser implantada, adaptada ou

redimensionada, uma grande quantidade de equipamentos no espaço público, nas atividades

culturais e de lazer e nas repartições, centros de compras e prédios em geral.

3.2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NO BRASIL DE HOJE.

Três grandes instituições nacionais estão pesquisando e apresentando dados sobre a

situação do idoso no Brasil: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o

Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais Aplicadas e a Fundação Perseu Abramo. Estima-se

que 11% da população, algo entre 19 e 21 milhões de pessoas, compõe o quadro da população

brasileira com mais de 60 anos. O Brasil, até 2.020, deverá ser o sexto país do mundo em

número de idosos. Espera-se que dentro de cinco anos o país conte com mais de 45.000

pessoas com mais de 100 anos de idade, segundo Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Os especialistas do IPEA apontam os avanços da qualidade de vida (saúde, educação e

habitação), verificados no século XX, ao lado da queda na taxa de fertilidade no Brasil nos

últimos 10 anos, entre 2000 e 2010 (a taxa de fertilidade por mulher caiu de 3,8 filhos para 1,8

filhos per capita), como os principais causadores do processo de envelhecimento populacional

(CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]) (Tabela 2).

Tabela 2 – Evolução do número de idosos no Brasil

Ano Nº de Idosos Nº de idosos com 80 anos ou mais

1950 2.210.318 209.180

2000 14.536.029 1.832.105

2050 55.555.895 3.065.000

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Tal situação provocará enormes dificuldades para os programas de previdência social,

notadamente aposentadorias, segundo alguns especialistas do mercado financeiro (por

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56

exemplo, Raul Veloso), que apresenta um quadro de falência da previdência social (Tabela 3),

muito embora, para vozes discordantes, estas estatísticas revelam, no fundo, desejos velados

de privatização do setor por organismos transnacionais. Não estariam sendo levados em conta

fundos de previdência, como o FINSOCIAL, o Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT), o

FGTS, entre outros que cobririam com folga os gastos previdenciários.

Tabela 3 – Evolução do número de contribuintes e aposentados do INSS:

Ano Contribuintes Aposentados

2008 34.600.000 22.700.000

2032 (Previsão) 43.400.000 47.700.000

2050 (Previsão) 43.900.000 61.700.000

Fonte: Camarano; Kanso; Mello ([2002]).

Como pode ser verificado, o fenômeno do envelhecimento deverá trazer grandes

problemas sócio-econômicos, caso nada seja feito para saná-lo. As previsões é de que o país

deverá apresentar índices de desenvolvimento econômico entre 4,5% e 7,5% ao ano, durante

algum tempo, aumentando os níveis de emprego e renda e, com isto, equilibrando as contas da

previdência. Poderá haver um colapso na previdência social se o número de beneficiários for

superior ao de contribuintes.

No quadro abaixo (Tabela 4), podemos observar o crescimento do número de idosos

no Mundo (desenvolvido e subdesenvolvido), relativamente ao Brasil.

Tabela 4 – População com mais de 60 anos.

Situação por países 1970 % 2005 % 2025 %

Mundo 31,9 8,4 672,4 10,4 1.192,6 15,1

Países em Desenvolvimento 165,4 6,2 428,3 8,2 849,6 12,8

Países Desenvolvidos 146,5 14,5 244,1 20,2 342,9 27,5

Brasil 5,5 5,7 16,5 8,8 35,1 25,4

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008). *Números absolutos (em milhões) e percentuais.

Com base nos dados acima, percebe-se que, em 1970, a percentagem de idosos no

Brasil era menor que a do mundo, dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento.

Em 2005, já supera a dos países em desenvolvimento. E, em 2025, a previsão é de que a

percentagem do número de idosos no país será superior à do mundo e à dos países em

desenvolvimento e se aproximará da dos países desenvolvidos.

Em 2002, reunida em Madrid, a Organização Mundial de Saúde, preocupada com o

aumento da população idosa no mundo, adotou o lema “Envelhecimento Ativo” para expressar

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57

a necessidade dos idosos terem uma vida saudável e ativa, estabelecendo medidas na área de

saúde para promover uma melhor qualidade de vida para a terceira idade, em que estejam

presentes a independência, a participação social, a assistência, a auto-realização e a dignidade.

Por outro lado, por ser um tipo de população que, na sua maioria, está aposentada e

dispõe de tempo livre, a principal medida tomada pelas autoridades envolvidas com o assunto

foi estabelecer, ao lado das preocupações com a saúde, ações concretas no sentido de criar

condições para preencher o tempo de ócio dos idosos: ou seja, uma política de lazer em todas

as áreas onde fosse possível atender essa demanda. Outra preocupação essencial é a questão

do abrigo: seja no caso das tipologias habitacionais ou o local, no espaço rural ou urbano,

principalmente, pois estamos vivendo uma época de urbanização acentuada em todas as partes

do mundo. Saúde, habitação e lazer com participação ativa na vida social, são os aspectos a

serem abordados no presente trabalhos tendo como objeto grupos da terceira idade.

Segundo o IBGE (2010), os idosos têm procurado cada vez mais os centros urbanos,

devido à infraestrutura urbana, notadamente nos serviços de saúde ou nas atividades

cotidianas, onde podem dispor de serviços de abastecimento, lazer e convívio, e aproveitando

as oportunidades de contato para desenvolver novas oportunidades, melhorando a sua

qualidade de vida. Sendo assim, torna-se imperativo analisar as suas necessidades quanto ao

uso do espaço privado que atende as suas necessidades individuais e também quanto ao uso

dos espaços públicos urbanos, parte da infraestrutura urbana necessária para garantir a

qualidade de vida nas cidades.

Deve ser ressaltado ainda que o envelhecimento é também uma questão de gênero.

Existe uma feminização da velhice. Considerando a população idosa como um todo, observa-

se que 55% dela é formada por mulheres. Quando desagregada pelos subgrupos de idade, a

diferença entre essas proporções aumenta, principalmente entre idosos. A proporção do

contingente feminino é mais expressiva quanto mais idoso for o segmento, fato explicado pela

mortalidade diferencial por sexo. Isso leva à constatação de que o “mundo dos muitos idosos

é um mundo de mulheres” (Carstensen; Pasupathi; Mayr, 2000). A prevalência de mulheres

também se tornou mais expressiva ao longo das décadas. Houve um aumento no período entre

1940 e 1960, embora com uma queda acentuada nas décadas seguintes.

As mulheres estão mais presentes nas cidades. Nas zonas rurais, a predominância é

masculina. Este fato é explicado pela maior participação das mulheres no fluxo migratório.

Isso implica necessidades distintas de cuidados para a população idosa. A predominância

masculina nas áreas rurais pode resultar em isolamento e abandono das pessoas idosas

(CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

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58

Lloyd-Sherlock (2009) afirma que, mesmo que a velhice não seja universalmente

feminina, ela possui um forte componente de gênero. Mulheres idosas experimentam maior

probabilidade de ficarem viúvas e em situação socioeconômica desvantajosa. Embora o perfil

esteja sendo alterado pela entrada cada vez mais acentuada de mulheres jovens no mercado de

trabalho, a maioria das idosas brasileiras de hoje nunca tiveram um trabalho remunerado

durante a vida adulta. Ressalte-se que, embora vivam mais do que os homens (em média sete

anos, segundo o Censo de 2010 do IBGE), passam por um período maior de debilitação física

antes de morrer do que eles. Já homens mais velhos têm maiores dificuldades de se adaptar à

saída do mercado trabalho, segundo Simões (2007).

A composição da população idosa por cor e raça não se diferenciou da distribuição da

população como um todo, em que há predominância da população de cor branca, seguida pela

parda. Dos 22 milhões de idosos, segundo o Censo de 2010, 13.354.000 se consideraram

brancos (60,7%), 6.764.000 (30,7%) se consideraram pardos, e 1.540.000 (7%) se

consideraram pretos. Amarelos e índios representam apenas 1,2% da população de idosos

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).

Comparadas aos homens, as mulheres idosas apresentam uma proporção mais elevada

de brancas e um menor número de pardas e pretas, fato que pode ser explicado pelos

diferenciais de mortalidade por raça. Deve-se também verificar a possibilidade da existência

de um problema de enumeração nas informações desagregadas por cor/raça por serem essas

resultantes de autodeclaração (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

Outro fator a ser levado em consideração diz respeito às influências que as questões de

gênero e etnias podem provocar nas tipologias habitacionais. Em geral, as mulheres aceitam

viver coletivamente, sem maiores preconceitos, com mais facilidade que os homens,

normalmente mais propensos ao isolamento (CAMARANO; KANSO; MELLO, [2002]).

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59

4 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS

4.1 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO EXTERIOR

Após revisão sobre diferentes teorias sobre a cidade e analisar a situação do idoso na

sociedade e nas cidades, tornou-se necessária uma pesquisa de campo em distintas cidades no

exterior e no país. O objetivo desta pesquisa de campo foi o de identificar cidades e locais

onde houvesse exemplos nos campos da arquitetura e urbanismo que contemplassem

propostas para atender demandas da pessoa idosa.

A partir da montagem prévia de um roteiro com base em pesquisa bibliográfica, Foram

definidas as cidades de Amsterdam, Holanda e Barcelona, Espanha, como pontos principais

de referência. A primeira cidade pelos exemplos históricos identificados e pela tradição na

prática do planejamento urbano. A segunda, além da sua tradição histórica no planejamento

urbano, pelos exemplos recentes de intervenções urbanísticas que a transformaram em

paradigma universal de cidade. Evidentemente, outras cidades foram observadas, de forma

mais superficial, como Tapiola na Finlândia, Paris e Nice na França.

No Brasil, os estudos foram feitos em Copacabana, Rio de Janeiro, cidade escolhida

pela ONU, pela grande quantidade de idosos ali residentes – aproximadamente 2% dos idosos

do país e 5% dos idosos da cidade, segundo o IBGE (2010) – como laboratório de pesquisas

sobre o idoso no que diz respeito a questões como inserção na comunidade, principalmente no

espaço público, na habitação e no lazer.

A outra cidade foi Brasília, cidade planejada, onde, além das características do

dimensionamento das áreas habitacionais na escala da criança, apresenta super-quadras

formando um quadrado de 600 X 600m, em Unidades de Vizinhança.

Conforme Edgar Graeff (1979, p.141):

[...] o princípio da organização de vizinhança era colocar dentro de uma distância

percorrivel a pé todas as facilidades necessárias diariamente ao lar e à escola, e

manter fora dessa área de pedestres as pesadas artérias de tráfego que conduzem

pessoas ou mercadorias que nada tem a ver com vizinhança. Uma vez determinada a

distância a pé, como o próprio critério de uma comunidade de face a face, seguia-se

que nenhum local de folguedos para a criança deveria ficar a mais de 500 metros das

casas a que servia, à escola primária e a área local de mercado.

Além das super-quadras, Lúcio Costa criou outros setores habitacionais, como as

Habitações Individuais Geminadas, HIG, com extrema semelhança, em termos conceituais e

de dimensionamento, com setores habitacionais do Plano dos 3 Canais de Amsterdam. Essas

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60

habitações eram, no princípio, destinadas aos operários da construção da nova capital, os

candangos, mas pela excelente localização foi, aos poucos, sendo ocupada pelas classes

média e média alta.

Tanto nas super-quadras, como nas HIG, procurou-se identificar áreas destinadas a

pessoas idosas, mas, como foi verificado em diversos planos urbanos estudados, os espaços e

equipamentos para esta faixa etária da população, uma questão recente, repetimos, estão

sendo implantados, de forma mais efetiva, adaptando-se à estrutura urbana existente nas

cidades tradicionais, planejadas ou não.

A busca por parâmetros que orientasse o dimensionamento dos espaços urbanos e

equipamentos para idosos foi, assim, o foco das pesquisas de campo apresentadas no presente

capítulo.

No exterior, no caso de Amsterdam, foi analisado o Plano dos Três Canais (1607) e

seus hofjes (abrigo em holandês), inicialmente com o objetivo de defesa da cidade contra

invasões inimigas e depois como local de habitação e abrigo para idosos.

Contrapondo-se à maioria das cidades europeias, produto do absolutismo que domina

os estados europeus, grandes ou pequenos, as cidades holandesas, no período, são governadas

como cidades-Estado medievais: o poder político é administrado coletivamente pela burguesia

mercantil, toda grande cidade é uma república independente, com leis e instituições próprias,

mesmo que adira a uma federação para defender os interesses comuns econômicos e militares

(BENÉVOLO, 2005, p. 536).

Amsterdam, na primeira metade do século XVI, é uma cidade portuária de porte

médio, já com 40.000 habitantes. É a cidade mais importante, tornando-se o centro de

comércio e da atividade bancária europeia, e cresce utilizando uma combinação de práticas

diversas: métodos administrativos medievais, aplicando as contribuições da ciência e da

tecnologia moderna e o espírito de regularidade da cultura visual renascentista. A cidade é

ampliada após a conquista pelas tropas de Guilherme, O Taciturno. Os muros de 1481 são

demolidos e o fosso perimetral se torna um canal interno da cidade. Em 1593, um novo

cinturão de muros é construído segundo técnicas militares modernas.

No início do século XVII, é projetada um nova e grandiosa ampliação, pelo arquiteto

Hendrik Staets, objetivando quadruplicar o tamanho da cidade. Em 1614, houve a abertura de

três canais residenciais a partir do Brouwersgracht, no lado oeste, rodeando a cidade

existente. Foram denominados o Anel de Canais (Grachtengordel). Em volta do anel, os

terrenos foram ocupados pelos cidadãos mais ricos. Os nomes dos canais homenageavam os

grupos mais influentes: O Herengracht (Canal de Cavaleiros, com 3,5km, era o mais interno)

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

61

era uma referência aos comerciantes. O Keisersgracht (do Imperador, tem 4km, canal

central), reverenciava o Sacro Império Romano e o Prinsengracht (do Príncipe, tem 4,5km)

lembrava a ligação da cidade com a Casa de Orange. As casas dos operários foram erguidas

ao largo das valas de drenagem do Jordaan. Os canais vão até a Zona Oriental onde é previsto

um Parque Público.

O governo desapropria, constrói os canais e vende os lotes de terrenos aos particulares

que desejem construir casas, recuperando assim os investimentos feitos. Os particulares

devem observar os minuciosos regulamentos de construção, que estebelecem os caracteres

dos edifícios e os ônus a cargo dos proprietários.

Cada canal tem 25 metros de largura (permitindo quatro corredores de 6 metros para

navios médios: um para cada sentido de trânsito e dois para paradas). Adjacentes aos canais,

em ambos os lados, com 11 metros de largura e duas fileiras de árvores (Olmos) ficam os

desembarcadouros. Entre os canais há duas fileiras de lotes edificáveis, com cerca de 50

metros de profundidade; entre as fachadas posteriores das casas, deve ficar um espaço livre de

pelo menos 48 metros, isto é, duas fileiras de jardins de 24 metros. Os desembarcadouros têm

extensão de 25km e podiam atracar ao mesmo tempo 4.000 navios (AMSTERDÃ, 1997).

No século XV, a Espanha dos Habsburgos tentaram impedir a reforma protestante que

varria o norte da Europa. A resistência holandesa resultou em 80 anos de guerras.

Inicialmente, Amsterdam ficou do lado espanhol. Mas, em 1578, na chamada Alteração,

mudou de lado e transformou-se na feroz capital protestante da nascente República

Holandesa.

Antes da Alteração, a igreja católica sustentava abrigos para pobres, idosos e doentes,

principalmente mulheres. Durante os séculos 17 e 18, ricos comerciantes protestantes

assumiram este papel e construíram centenas de asilos projetados ao redor de pátios e

conhecidos como hofjes (abrigo em holandês). Seguiam o padrão habitacional previsto para os

3 Canais. Por trás de suas fachadas, estão preservadas belas casas e tranquilos jardins.

Amsterdam manteve muitos hofjes que ainda seguem seu propósito inicial (Figuras 16 e 17).

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62

Figura 16 – Plano dos 3 Canais (Amsterdam-Holanda), onde são implantados os Hofjes, ou “Abrigos”.

Fonte: Amsterdã (1997).

Figura 17 – Planta básica de um Hofje.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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63

O Hofje representa, ainda hoje, o que de melhor pode ser feito em estruturas urbanas

mais complexas, pois possibilita o refúgio, a reclusão do indivíduo e a sua inserção no

contexto mais dinâmico da sociedade, ao lado das zonas mais movimentadas e agitadas das

cidades. Em geral, com lotes estreitos de 8.00 X 25.00m, funciona como uma espécie de túnel

do tempo entre o exterior e o interior das quadras da área central de Amsterdam (Figuras 18 e

19). Uma solução com vida útil de quase quatro séculos do arquiteto Hendrik Staets13

(AMSTERDÃ, 1997).

Figura 18 – Hofje de Amsterdam (aspectos externos)

14.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).

Figura 19 – Hofje de Amsterdam (aspectos internos)

15.

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).

13

Hendrik Staets é um nome pouco conhecido na história da Arquitetura e Urbanismo. Bem menos que Petrus

Berlage, Piet Mondrian e Pieter Post, este pelas ligações com o Brasil de Maurício de Nassau. Pelas pesquisas

efetuadas, sabe-se que Staets foi muito estudado por Le Corbusier que se aprofundou nos planos e tratados do

arquiteto e urbanista holandês. É possível que esta influência tenha sido extensiva a Lúcio Costa dado as

características do Plano de Brasília, notadamente na área da Habitações Individuais Geminadas, cujo conceito e

configuração são muito semelhantes às quadras do hofjes holandeses. Costa, no seu Memorial sobre o Plano para

Brasília, afirma haver se inspirado em vários aspectos urbanos de outras cidades para projetar a nossa capital: os

terraplenos chineses, os espaços centrais comparáveis à Veneza, a Torre de TV remetendo à Torre Eiffel, as

áreas de diversão lembrando Times Square, Broadway ou Trafalgar Square (AMSTERDÃ, 1997). 14

O Hofje tem a característica de possibilitar não só o convívio na cidade como, ao mesmo tempo, proporcionar

o refúgio e o necessário conforto aos seus habitantes. 15

Nota-se o bucolismo e o desenho adequado para o silêncio e o repouso.

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64

Ainda sobre os hofjes (Figuras 20 e 21), a opinião definitiva do eminente arquiteto

Edgar Graeff (1979, p.139):

[...] o Plano dos Três Canais é quase um milagre, não só pela singela riqueza das

soluções, mas também, por sua vitalidade e eficiência, que se prolongou por mais de

três séculos, criando uma ordenação urbana que não foi igualada em nenhuma outra

cidade. O traçado em teia-de-aranha, evitou as grandes perspectivas quase sempre

vazias e, não raro, teatrais e arrogantes. Os canais com 24 a 27 metros de largura,

estavam ladeados por passeios pavimentados e arborizados. Os lotes de 8 X 27

metros com uma distância mínima entre os fundos das construções formam um

espaço ajardinado e arborizado. A cobertura não pode ocupar mais do que 56% da

área de cada lote. O Plano colocou, assim, quase no centro da cidade, o que mais

tarde se caracterizou, por toda parte, como as delícias do subúrbio: o espaço aberto,

o sol, jardins, árvores, tranquilidade.

Figura 20 – Hofje (espaço interno).

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).

Figura 21 – Hofje (atividade comunitária).

Fonte: Ronald Lima de Góis (1998c).

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65

A tradição de planejamento urbano da Holanda é constante. Em 1902, Berlage elabora

o Plano para Amsterdam Sul. Em 1934, trinta anos mais tarde, Carl Van Eesteren elabora o

Plano Regulador de Amsterdam. Essa longa tradição de planejamento, sempre renovada e

apoiada por um vigoroso espírito comunitário, permitiu que a cidade se livrasse da ação

nefasta da especulação imobiliária, mantendo-se até agora como uma cidade esplêndida para

se viver em condições verdadeiramente urbanas; talvez seja a única grande cidade do mundo

em que isso ainda é possível.

Em Barcelona, procuramos analisar as quadras do Plano de Ildefonso Cerdá i Sonier, o

famoso Ensamble ou Ensanche ou ampliação da área da cidade. Assim como Amsterdam, a

opção por Barcelona, para uma observação sistemática, foi em decorrência da tradição

histórica de seus planos e pelo que ambas as cidades representam como exemplos, no tocante

à qualidade de seus espaços públicos e pelo que oferecem como possibilidade de inserção do

idoso. No seu conhecido Teoria Geral da Urbanização, Cerdá preconizava que as cidades

funcionam em torno de seis pontos essenciais:

1. Duplo conceito: Movimento e Repouso.

2. A rua deve fornecer redes de infraestruturas e trânsito e possibilitar a melhor

aeração e iluminação das habitações.

3. O conceito de inter-vias, representando a importância das quadras e do sistema

viário na estrutura das cidades.

4. O sistema de transporte é um elemento fundamental.

5. Os planos devem permitir a extensão ilimitada das cidades.

6. Deve haver união e interação entre a cidade antiga e a nova cidade.

As quadras propostas por Cerdá para Barcelona (1863), 113m X 113m, possuem

esquinas chanfradas à 45º que as transformam em verdadeiras praças16

. Em geral, adjacentes a

elas existem cafés, livrarias e outros equipamentos aglutinadores de convívio humano onde é

marcante a presença de idosos, gerando um intercâmbio salutar entre os moradores dos

andares superiores e de quadras vizinhas.

Sobre Buenos Aires, já foi afirmado que: “[...] é uma cidade onde em cada café, se

colocou uma esquina” (MONSIVAIS, 2004). Poderiam ser citados os “botequins”,

principalmente os de Copacabana, no Rio de Janeiro, pontos de encontro característico

16

Ver figuras 4 e 5.

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66

daquela cidade e que transformou o bairro numa espécie de laboratório para se identificar

espaços adequados aos idosos.

Barcelona, a partir de 1992, com as Olimpíadas, continua implementando vários

planos (Poblenu-22@bcn; Fórum Universal de Cultura; Sagrea-San Andreu; Plano Delta do

Llobregat), onde procura recuperar antigas áreas industriais, localizadas no centro da cidade,

abandonadas em decorrência da nova conjuntura econômica mundial e as transformações no

modo de produção daí advindas, substituindo-as e revitalizando-as por espaços de serviços,

cultura e lazer. Num paralelo com o Brasil e, mais especificamente o Rio de Janeiro, não por

acaso, Oriol Bohigas, arquiteto catalão responsável por alguns daqueles planos, foi convidado

para opinar sobre as operações urbanas cariocas, tendo em vista as Olimpíadas de 2016. Jane

Jacobs (1956) já afirmava: “[...] os idosos precisam de habitação na comunidade normal

muito mais do que paz, silêncio e uma linda vista”.

Resumindo, os exemplos de Amsterdam e Barcelona foram muito importantes para

fundamentar uma proposta de espaço para idosos. No plano individual da habitação ou do

espaço público. Poderiam ser citados outros exemplos, como as praças italianas, as esquinas

de Paris, as de pedestres de Nice, entre outros. Mas do que foi observado na pesquisa de

campo no exterior, estes dois exemplos, pelas suas características e em função do tema da

tese, são os mais apropriados.

4.2 OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS NO BRASIL

4.2.1 Copacabana, Rio de Janeiro: esquinas, praças e praia.

Copacabana (Figura 22), bairro do Rio de Janeiro, foi escolhido pela Organização

Mundial de Saúde como Laboratório para estudos e pesquisas sobre os idosos em decorrência

da grande quantidade de pessoas com mais de 60 anos que mora no local. A população do

Bairro, segundo o Censo de 2010, é de 161.178 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010). Destes, 33% são pessoas idosas, ou seja, 53.188,74

habitantes (1 em cada 3 habitantes) tem mais de 60 anos de idade (Figura 23 e 24).

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Figura 22 – Vista geral de Copacabana, Rio de Janeiro.

Fonte: Copacabana2 ([20--?]).

Figura 23 – Idosos indo à praia em Copacabana.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2009).

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Figura 24 – Idosos no calçadão de Copacabana.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2009).

Copacabana é formada ainda por dois setores urbanos contidos no seu perímetro: O

Leme, no prolongamento da Av. Atlântica, com 13.800 habitantes, e o Bairro Peixoto, enclave

bucólico, verdadeiro oásis, com cerca de 18.297 habitantes, no quadrilátero formado pelas

ruas Figueiredo Magalhães, Santa Clara, Tonelero e Henrique Oswald (Figura 25 e 26). Aqui

não existe comércio e o gabarito máximo é de 4 pavimentos. Inicialmente, era de 3 por

exigência do Comendador Paulo Felisberto Peixoto, proprietário das chácaras, depois

urbanizadas. O gabarito atual foi autorizado pelo prefeito Mendes de Morais, na década de

1950 (VELHO, 2002).

Figura 25 – Foto do Bairro Peixoto.

Fonte: Bairro Peixoto (2009).

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69

Figura 26 – Visão aérea do Bairro Peixoto, enclave do bairro de Copacabana17

.

Fonte: Coimbra ([2008]).

Apartamentos de um cômodo (a maioria) em Copacabana têm em média 27m². Os

maiores apartamentos, geralmente na Av. Atlântica, têm em média 220m² (7,2% do total). O

Bairro possui 82.239 domicílios residenciais, distribuídos em 1.800 prédios e 8.297

comerciais. A área média dos apartamentos é de 84,3m². Copacabana conta com 02 hospitais

particulares: o Copa D’Or e o São Lucas (este praticamente um hospital geriátrico). O bairro

não possui mais pessoas com menos de 15 anos nascidas nos hospitais locais. Normalmente

vão nascer em Ipanema ou Botafogo (VELHO, 2002).

Possui, no entanto, uma ampla rede de serviços (restaurantes, bares, boates, lojas,

hotéis, farmácias, padarias etc.). Há apenas um grande Posto de Saúde com 30 médicos. No

tocante aos transportes, possui duas estações de metrô (Cardeal Arcoverde e Siqueira

Campos), ampla rede de ônibus, que transportam 7.500.000/passageiros/mês, além de táxis e

17

À esquerda, em diagonal, a Av. Siqueira Campos. As duas grandes avenidas paralelas: Figueiredo Magalhães;

e Santa Clara, esta à direita da foto. No centro, entre as avenidas, a praça Edmundo Bitencourt. Acima, à

esquerda, a Praia de Copacabana. À direita, a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Morro do Cantagalo. Percebe-se, no

Bairro Peixoto, a atmosfera bucólica no meio do burburinho do bairro. Na região, pelo silêncio e o pouco

movimento, é a preferida por grande número de idosos. Com a vantagem de estarem perto de Copacabana. Para

aqui estão vindo hospitais e clínicas de repouso

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70

vans. O bairro possui 03 praças, 5 avenidas, 78 ruas, 6 travessas e 2 ladeiras. E, ainda: 1

teatro, 1 cinema, 5 igrejas católicas, 2 messiânicas, 2 presbiterianas, 2 batista e 3 sinagogas. A

maior avenida é a Atlântica com 4,5km, local de intenso lazer e de concentração de serviços

em função da praia e do visual belíssimo. Estão também no bairro, 4 favelas (Pavão-

Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Cabritos e Babilônia) (VELHO, 2002).

O arquiteto carioca Paulo Casé, em entrevista ao jornal O Globo, em junho de 2011,

afirmou: “[...] quem desejar ver o que é urbanismo deve observar e vivenciar uma esquina, ou

um cruzamento de Copacabana, com a sua complexa rede de serviços e lazer, trânsito de

veículos, e o vai-e-vem de pessoas que enchem de vida os lugares [...]” . O arquiteto reforça

aqui o ponto de vista de Jane Jacobs da necessidade de uma vida urbana intensa e

movimentada, com seus contrastes de sons, cheiros, ruídos e uma grande diversidade de

funções, como sendo a mais indicada para pessoas idosas do que “[...] paz, silêncio e uma

linda vista.” Talvez seja esta a motivação maior, ao lado da estrutura de serviços existentes,

para tantas pessoas idosas gostarem de morar em Copacabana18

.

4.2.2 Brasília: Superquadras e Habitações Individuais Geminadas.

A opção por Brasília para um estudo de caso (uma observação sistemática) deveu-se

às suas características de cidade planejada e pela singularidade de sua proposta urbanística e

arquitetônica no setor habitacional: As “super-quadras”, por ser um exemplo único, em

grande escala, da adoção do conceito de Unidade de Vizinhança, analisando-se ainda o seu

funcionamento depois de 50 anos da inauguração da capital federal.

As Habitações Individuais Geminadas (HIG), por constituir-se, na sua proposta

original, num padrão de habitação popular de alto nível, seja na sua concepção urbanística ou

arquitetônica. A proposta de Lúcio Costa, seja no conceito (residências em renque, com a

entrada principal abrindo para uma grande área gramada, pública, e o acesso de veículos pelo

lado posterior, deixando bem definidos os acessos para pedestres e veículos), nas dimensões

(lotes de 7 X 21, com moradia de dois pavimentos), como nos objetivos (o abrigo com

proteção, em todos os sentidos, para o morador), nos remete à solução dos hofjes de

Amsterdam, adotada por Hendrik Staets no século XVII. A diferença está na utilização do

18

Em geral, os apartamentos de Copacabana são pequenos (é grande o número dos chamados “cabeças-de-

porco” ou “quitinetes”, formados por sala, cozinha e banheiro e onde moram muitas pessoas. A média de 84,3m²

é decorrência dos grandes apartamentos existentes na Avenida Atlântica, com mais de 200m². O maior edifício

de Copacabana é o Richard (antigo 200) com 507 apartamentos e 45 andares, localizado na Av. Barata Ribeiro.

Copacabana é o local onde a maioria dos cariocas gostaria de morar.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

71

extenso gramado adjacente às habitações: em Amsterdam, totalmente cercadas pelas

residências, a área é, na realidade, um pátio fechado, embora para uso comum, mas

fundamentalmente um abrigo; enquanto para Brasília, Costa propõe uma área aberta, nos dois

lados adjacentes às avenidas W3 e L4 Sul (Figura 27), solução condizente com um urbanismo

moderno, aberto, com espaços públicos e privados integrados, diferentemente de Amsterdam,

onde os hofjes tinham como objetivo a proteção, principalmente de idosos, mulheres e

crianças, contra possíveis invasores. Respostas semelhantes, na essência, para épocas e

condições de vidas diferentes.

Figura 27 – Planta: Habitações Individuais Geminadas (Brasília)19

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Definindo sua proposta no Relatório do Plano Piloto, Costa (1995, p. 291) afirma:

[...] Quanto ao problema residencial, ocorreu a solução de criar-se uma sequência

contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os

lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente

arborizadas com árvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espécie

vegetal, com chão gramado e uma cortina suplementar de arbustos e folhagens, a

fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posição do observador, o conteúdo

das quadras, visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem.

19

Muito semelhante (em dimensões e conceito de moradia) aos Hofjes de Amsterdam, Lúcio Costa procurou

sempre adotar um conceito universal a alguns pontos de Brasília, como a Torre de TV (Torre Eiffel), os

terraplenos chineses etc. Como Hendrick Staets influenciou Le Corbusier, é factível imaginar que Costa sofreu,

indiretamente, esta influência na concepção das HIG.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

72

[...] Dentro destas “superquadras” os blocos residenciais podem dispor-se da

maneira mais variada, obedecendo porém, a dois princípios gerais: gabarito máximo

uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do tráfego de veículos do

trânsito de pedestres, mormente no acesso à escola primária e às comodidades

existentes no interior de cada quadra.

Ainda, segundo Maria Elisa Costa, arquiteta filha de Lúcio Costa:

[...] estruturalmente, uma superquadra é um conjunto de edifícios residenciais sobre

pilotis (que tem em Brasília, pela primeira vez, presença urbana contínua,

introduzindo uma alternativa às quadras convencionais) ligados entre si pelo fato de

terem acesso comum e de ocuparem uma área delimitada, no caso um quadrado de

280 X 280m, cercados dos quatros lados por renques de árvores de copa densa e

com uma população de 2.500 a 3.000 pessoas. O chão é público – os moradores

pertencem à quadra mas a quadra não lhes pertence e esta é a grande diferença entre

superquadra e condomínio. Não há cerca, nem guardas, e no entanto a liberdade de ir

e vir não constrange nem inibe o morador de usufruir seu território, e a visibilidade

contínua, assegurada pelos pilotis, contribui para a segurança (COSTA, Maria Elisa

apud COSTA, Lúcio, 1995, p. 326).

Esta proposta, coletiva, no entanto, vem sendo alterada não só pela apropriação

privada dos espaços imediatos aos blocos, mas também pelo desprezo à ideia do edifício, de

cada um dos blocos, como parte integrante de um espaço único, público, histórico (Figura 28

e 29)20

.

Figura 28 – HIG: Habitações Individuais Geminadas 21

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

20

Direcionadas para habitantes de baixo poder aquisitivo, as HIG, pela qualidade das habitações e sua

localização privilegiada, foi ocupada por setores da classe média e média-alta. Hoje, bastante modificada,

caracteriza-se pelo espaço urbano degradado e modificações na arquitetura das casas, onde foi abandonada a

unidade arquitetônica e imposto um modelo individualista de construção. 21

Planejadas inicialmente como conjunto uniforme, arquitetonicamente falando, padrão do lote (7x21), de um

pavimento, as HIG apresentavam como área principal um extenso gramado para uso do pedestre, e o acesso de

veículos na parte posterior. A importância dada ao automóvel inverteu estes usos.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

73

Figura 29 – HIG: Habitações Individuais Geminadas22

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Processo semelhante de descaracterização da proposta inicial de Lúcio Costa ocorre

numa área (inicialmente projetada para a população de trabalhadores de baixa renda, que

edificaram a capital federal, mas ao longo do tempo foi apropriada por setores da classe

média), extremamente bem localizada do Plano Piloto: o Setor de Habitações Individuais

Geminadas (na realidade em renque pois são fileiras de casas interligadas entre si) ao longo da

avenida W3, entre o Eixo Monumental e a Via de Ligação L4 Sul e adjacente ao Parque da

Cidade. Um dos melhores lugares para se morar em Brasília (Figuras 30 e 31).

Figura 30 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas23

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

22

O automóvel como referencial urbano provocou a inversão dos acessos principais das HIG. 23

Mesmo sendo mantida a área verde, observa-se constantes avanços e “puxados”, por meio de grades e muros,

sobre o espaço público representado pela área verde.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

74

Figura 31 – SHIG: Setor de Habitações Individuais Geminadas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Sua característica principal é possuir uma área verde central, com cerca de 50m de

largura, destinada a pedestres e ao convívio social, alpendres isolados ou não por cobogós e

profundidade equivalente a 12 residências com testada de 7.00m e profundidade de 21.00m (o

lote ideal segundo Lúcio Costa). Esta área liga a W3 com a via secundária W4 por onde é

feito, pelos fundos das residências, o acesso de veículos. O que chama logo a atenção é a

postura dos proprietários em personalizar sua habitação partindo de um conceito onde o

principal (a área verde) é transformado em secundário e a via para acesso de veículos

transformada em principal, talvez por influência de uma cultura urbana onde o automóvel, e

não o pedestre, determina a hierarquização do espaço urbano. Modificaram-se tipologias

arquitetônicas, esquadrias e volumetria das edificações. Jardins e passagens de pedestres

foram apropriados por moradores. Grades foram introduzidas no meio do espaço público onde

hoje, apesar da preservação das árvores originais, a aparência do local assemelha-se mais a

um quintal mal cuidado. O espaço arborizado entre a W3 e as casas foi invadido por

quiosques de todos os tipos e gostos. Garagens transformaram-se em salões de beleza. Casas

foram subdivididas e transformadas em pensões. O estilo singelo, de inspiração modernista,

próprias do período em que foram construídas, cedeu lugar a outros que vão do “colonial”, a

castelinhos, chalés de conteúdo “pós-moderno” a outros de caráter inclassificável.

Comparando o conceito e as dimensões entre os Hofjes e o SHIG salta aos olhos que

Lúcio Costa inspirou-se nos primeiros para a sua proposta habitacional de Brasília. Em outros

setores da capital, como já vimos, Lúcio Costa, adotou postura semelhante.

Mas, no caso brasileiro, esta situação mutiladora (Figuras 32 e 33) é decorrente da

falta de planejamento e de um plano de preservação, malgrado a condição de Patrimônio

Cultural da Humanidade, concedido à Brasília pela UNESCO (27 de dezembro de 1987).

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

75

Mais antigo, o Plano dos Três Canais de Staets permanece, na essência, intocado, mas de três

séculos depois. Aliás, uma característica dos planos implantados na Holanda, onde a

necessidade de um controle sobre o território, grande parte conquistados ao mar, estabelece

critérios mais rígidos de gestão urbana.

Figura 32 – Mutilações do Plano de Lúcio Costa (HIG) para Brasília24

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Figura 33 – Mutilações ao projeto proposto às HIG25

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Os críticos de Brasília, ou correntes pós-modernas da arquitetura e do urbanismo,

ressaltam a importância das pessoas usufruírem das suas habitações conforme as necessidades

e os desafios que a vida e sua dinâmica impõem. Outras obras de arte como pintura, escultura,

literatura, música, dança e cinema, são passíveis de censura. Com arquitetura existe a

mutilação. É o que se observa no Setor de Habitações Individuais Geminadas de Brasília

Figuras 34 e 35).

24

O plano dos 3 canais de Amsterdam mantém-se inalterado após mais de 4 séculos. O de Brasília, Patrimônio

da Humanidade, com apenas 50 anos, encontra-se mutilado 25

Questões de segurança, falta de respeito ao patrimônio da humanidade e a indiferença do poder público

provocam a prática da mutilação do Plano de Brasília.

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76

Figura 34 – Outras formas de mutilações ao projeto proposto às HIG26

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Figura 35 – Outro tipo de mutilação ao projeto proposto às HIG (gabarito da edificação).

Fonte: Ronald Lima de Góis (2010).

Diante do que foi visto acima, é extremamente importante, ao se criar espaços

destinados à pessoa idosa, a implantação de um conceito de desenho e gestão urbana que não

só possibilite e manutenção como a operação desses espaços, evitando situações como as

relatadas por Costa (1995, p.323):

O que ocorre em Brasília e fere nossa sensibilidade é essa coisa sem remédio,

porque é o próprio Brasil. A coexistência, lado a lado, da arquitetura e da

antiarquitetura, que se alastra; da inteligência e da anti-inteligência, que não pára; é

o apuro parede meia com a vulgaridade, o desenvolvimento atolado no sub-

desenvolvimento; são as facilidades e o relativo bem-estar de uma parte, e as

dificuldades e o crônico mal-estar da parte maior.

26

As mutilações frequentes no padrão habitacional descaracterizam por completo a proposta de Lúcio Costa.

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77

O que se constata, por motivos históricos e culturais, pela falta de uma cultura

urbanística, é a grande dificuldade de se implantar no país, padrões aceitáveis de urbanização.

O próprio poder público degrada os espaços públicos e o que se verifica atualmente é a

intensificação desse processo. Os interesses imobiliários, a busca por um local para morar, o

descaso na gestão dos espaços urbanos, geram problemas como os verificados recentemente

nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo.

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78

5 A CIDADE PARA O IDOSO: PROJETO E DIMENSIONAMENTO

5.1 A CIDADE PARA O IDOSO: ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE URBANA

A partir da premissa de que uma das melhores atividades para a saúde e o lazer do

idoso é a prática da deambulação, ou seja, andar, procurou-se, na presente pesquisa, observar

e acompanhar a prática da caminhada, por idosos, tendo como objetivo obter parâmetros que

orientem as propostas de ordenamento físico, implantação de pontos de apoio, áreas de

convívio, distâncias adequadas e equipamentos destinados para utilização por pessoas da 3ª

idade.

As áreas selecionadas que foram sistematicamente observadas, apresentavam ótimas

condições de se obter um quadro de amostras, pela alta presença de idosos, que

fundamentassem as propostas deste Capítulo 5.

A inclusão de Natal (Calçadão da Av. Engenheiro Roberto Freire) foi no sentido de

comparar parâmetros e pela boa presença de idosos em grande parte dos dias.

5.1.1 Acessibilidade Espacial

O tema “acessibilidade espacial” está se tornando cada vez mais comum em nosso

país, e refere-se à possibilidade de plena integração entre as pessoas e os ambientes, sem

segregá-las e permitindo que as atividades sejam realizadas com êxito, por todos os diferentes

usuários. Garantir a acessibilidade para todos é uma tarefa difícil, pois deve-se abranger as

necessidades espaciais de pessoas com as mais diferentes restrições, ou seja, pessoas com

limitações em desempenhar atividades devido às suas condições físicas associadas às

características dos ambientes.

Este levantamento será complementado com as recomendações propostas no tocante à:

Orientação e Informação, Deslocamento, Uso e Comunicação, os quatro componentes

exigidos, segundo Bins Ely e Dischinger (2004), para que os espaços sejam considerados

acessíveis:

Orientação e informação estão relacionadas com a compreensão dos ambientes,

permitindo que um indivíduo possa situar-se e deslocar-se a partir das informações

dadas pelo ambiente, sejam elas visuais, sonoras, arquitetônicas, entre outras. Por

exemplo, quando não se consegue identificar todo um ambiente a partir de seus

diferentes pontos, a presença de mapas e placas informativas contribui para a

orientação do usuário.

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79

Deslocamento corresponde às condições de movimento e livre fluxo que devem ser

garantidas pelas características das áreas de circulações, tanto no sentido vertical

como no horizontal. A implantação de pisos regulares e antiderrapantes, a presença

de corrimãos e patamares em escadas e rampas, presença de faixa de mobiliário fora

das áreas de circulação etc., são exemplos de características que contribuem com

este componente.

O uso é o componente que está relacionado com a participação em atividades e

utilização dos equipamentos, mobiliários e objetos dos ambientes, e é garantido a

partir de características ergonômicas adequadas aos usuários e de uma configuração

espacial que permita ao usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas

para jogos com espaço para cadeiras de rodas.

Comunicação corresponde à facilidade de interação entre os usuários com o

ambiente, e pode ser garantido a partir de configurações espaciais de mobiliários de

estar ou de tecnologias assistivas, como terminais de informação computadorizados,

para o caso de pessoas com problemas auditivos e de produção lingüística.

Estes quatro componentes trabalham sobre o conceito de Deficiência a partir do

Programa Brasil Acessível (Caderno 2: Construindo uma Cidade Acessível), que define as

características que identificam uma pessoa com restrição de mobilidade e, a partir desta

identificação, apoiada também na NBR 905027

, apresentar as propostas de intervenção para

áreas utilizadas por pessoas com dificuldade de locomoção ou de pessoas da 3ª Idade.

A Lei nº 5.296/04, art. 5. Inciso I (Quadro 4), relaciona e define os diferentes tipos de

Deficiência Física. A partir desta relação, são apontadas as recomendações técnicas para

tornar a utilização dos espaços públicos mais adequados às pessoas com necessidades

especiais.

Quadro 4 – Relação e definição dos diferentes tipos de deficiências físicas

Tipo da Deficiência Definição da Deficiência

Deficiência Física

Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando

o comprometimento da função básica, apresentando-se sob forma de paraplegia,

paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia, hemiplagia,

hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,

membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e

as que não produzem dificuldades para o desempenho de funções

Deficiência Auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por

audiograma nas frequências de 500hz, 1.000hz, 2.000hz e 3.000hz.

27

Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que fixa os padrões e critérios que visam a

propiciar às pessoas deficientes, condições adequadas e seguras de acessibilidade autônoma a edificações,

espaço, mobiliários e equipamentos urbanos.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

80

Deficiência Visual

Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a

melhor correção óptica; baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no

melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos em que a somatória da medida do

campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou ocorrência simultânea

de quaisquer das condições anteriores.

Deficiência Mental

Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestações

antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades

adaptativas, tais como: 1. Comunicação. 2. Cuidado Pessoal. 3. Habilidades Sociais. 4.

Utilização dos Recursos da Comunidade. 5. Saúde e Segurança. 6. Habilidades

Acadêmicas. 7 Lazer. 8. Trabalho.

Deficiência Múltipla Associação de duas ou mais deficiências

Fonte: Brasil (2004).

Nos últimos 150 anos presenciamos uma revolução profunda na mobilidade urbana. O

transporte nas cidades era feito por veículos movidos por tração animal (charretes e bondes).

Repentinamente, considerando o tempo histórico, surgiram os bondes elétricos, trens urbanos,

metrôs, ônibus, automóveis e bicicletas. A escala urbana alterou-se e as cidades passaram a

ser planejadas em função desses novos equipamentos sobre rodas.

Estruturadas em função da era industrial, as grandes cidades hoje, e certamente num

futuro próximo, representarão o espaço dos serviços: serviços de alta tecnologia e avanços

científicos onde as inovações e a cultura terão papel de destaque.

Essa nova configuração determinará uma complexa multiplicidade funcional, onde o

isolamento entre as funções, conforme preconizava o ideal modernista de cidade, estabelecido

pela Carta de Atenas (Habitar, Trabalhar-Estudar, Lazer e Circular) ficará, talvez, apenas

como um dado histórico do urbanismo.

Evidentemente que os postulados modernistas procuravam disciplinar o caos urbano

gerado pela industrialização e os seus objetivos foram, em parte, atingidos, tornando-se, no

mínimo, inadequado em face das novas realidades geradas pelo conhecimento humano.

A cidade do século XXI verá o fim do sistema pendular casa/trabalho ou casa/escola.

Serão apenas parte de um sistema multipolar de interesses dentro de uma simultaneidade e

diversidade de funções onde a figura dos fluxos deixa de ser representada por eixos, passando

a ser uma rede, na qual o eixo original continuará a ser importante mas não mais hegemônico.

Talvez fatos ainda persistentes na sociedade automotiva, como quando o fluxo de

veículos é sensivelmente reduzido durante as férias escolares, melhorando o trânsito nas

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81

cidades, seja ampliado, provocando um novo desenho urbano que leve em conta posturas mais

democráticas ao reduzir distâncias e tempos, ao superpor tarefas e funções, ao tornar mais

desfrutável cada momento, aproveitando o tempo do ócio da sociedade pós-industrial e

economizando esforços, energias e recursos, enfim ser um ambiente sustentável.

Mas, além de importante, nunca é demais lembrar, que no interior da “rede”

mencionada acima vivem seres humanos com sonhos, problemas cotidianos, necessidade de

trabalho e educação, lazer e refúgio, tratamento de saúde, de viver enfim, o que exige espaços

adequados para todas as atividades da vida humana.

Neste capítulo, abordaremos a questão da acessibilidade de uma forma mais ampla,

como o direito de todos de usufruírem os benefícios que a vida urbana oferece, bem como

parâmetros para orientar a intervenção em equipamentos habitacionais, de lazer e saúde. Com

este objetivo, além da consulta bibliográfica, procedeu-se a um conjunto de levantamentos de

dados, para efetuar avaliações e termos de comparações28

. As pesquisas de campo foram

realizadas nos seguintes locais (quadro 5):

Quadro 5 – Locais para pesquisa de campo da Tese.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

O objetivo das pesquisas foi o de avaliar a situação dos idosos que caminhavam nestas

localidades verificando as condições de mobilidade (tempo para percorrer determinada

distância, distância percorrida, tipo da caminhada, frequência/dia e condições físicas), e da

estrutura física (passeios, equipamentos, pontos de apoio etc.) existentes nestes lugares.

28

Ver Apêndices A, B, C e D.

Rio de Janeiro-RJ:

Av. Atlântica, entre o Clube Marimbás (Posto 6 – Praça Cel. Eugênio

Franco, 2 e a Av. Princesa Isabel. 4,5km.

Bairro Peixoto. Área compreendida entre as ruas Figueiredo Magalhães,

Santa Clara, Tonelero e Henrique Oswald.

Brasília-DF.

Habitações Individuais Geminadas, W3 Sul, entre o Eixo Monumental e a

Via de Ligação L4 Sul. 4km.

Natal-RN:

Calçadão da Av. Roberto Freire, entre o Praia Shopping e a Rua Sólon de

Miranda Galvão. 2km.

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82

O principal objetivo deste levantamento foi o de obter informações seguras para se

projetar futuras áreas (quadras, praças, passeios etc.), para idosos. Estas informações servirão

de parâmetros, comparativamente com outras quadras, praças e passeios, para propor e

dimensionar, da forma mais adequada possível, espaços e equipamentos para pessoas da

terceira idade.

Não foi possível a realização de pesquisa semelhante em Brasília, principalmente no

setor de Habitações Individuais Geminadas. Além de substancialmente mutiladas, as quadras

não possuem uma pista de caminhada que proporcione uma grande aglutinação de pessoas

idosas e onde fosse possível identificar, como em Copacabana, características de um

determinado grupo populacional numa atividade coletiva.

No Bairro Peixoto, os idosos permanecem mais em atividade de lazer contemplativo,

em geral tomando banho de sol sem praticar outro tipo de exercício. Os poucos entrevistados

afirmaram que utilizam o calçadão da Av. Atlântica para caminhar quando conseguem que

algum parente ou amigo os ajudem a atravessar a movimentada, e perigosa, Rua Tonelero.

Nesta localidade, na realidade um enclave de Cobacabana entre duas montanhas, é

possível desfrutar de um ambiente acolhedor sem as atribuladas atividades urbanas de

Copacabana propriamente ditas. Hospitais, hotéis, clínicas de repouso têm procurado o Bairro

Peixoto para se instalar, principalmente nas imediações de Praça Edmundo Bittencourt. É

significativa a população de pessoas idosas que procuram este local para viver sem abrir mão

da oferta de serviços que Copacabana proporciona.

A utilização da mesma metodologia no Calçadão da Av. Roberto Freire, em Natal,

RN, foi no sentido de conferir, comparar e compatibilizar os números obtidos em

Copacabana, com os de outras localidades.

5.1.2 A Questão do Transporte Urbano

Márcio Pochmann (2011), presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(IPEA), afirmou que em função do envelhecimento da população brasileira, as maiores

transformações estruturais a serem efetuadas no Brasil nos próximos anos serão do setor de

transporte no sentido de atender a um grande contingente populacional com dificuldades de

locomoção. Edifícios públicos e privados e espaços urbanos, estarão a exigir os mesmos

cuidados. No Brasil, 2/3 do orçamento familiar é gasto com alimentação e transporte.

Ao se falar em Mobilidade Urbana são imperiosas algumas considerações sobre o

transporte urbano de massa. A discussão é travada entre os que defendem o transporte de

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83

superfície (vias exclusivas para ônibus simples, articulado ou bi-articulado, VLT) ou a

alternativa do metrô.

1. O ideal é transformar o ônibus em metrô. Tira-se de 25 a 30% dos carros da rua.

2. O ônibus comum transporta 1,0 passageiro por m² de rua.

3. O ônibus em canaleta exclusiva transporta 2,0 passageiros por m² de rua

4. O ônibus articulado transporta 2,5 passageiros por m² de rua.

5. O ônibus bi-articulado transporta 4,0 passageiros por m² de rua.

6. Resolver o problema na superfície (máximo de 1.50m de altura) é melhor.

7. Resolver o problema com o metrô implica em se trabalhar no mínimo a 20.00 m

de profundidade. Gera-se muitos problemas de acessibilidade e segurança

individual.

8. O ônibus consegue uma velocidade de 2km por minuto.

9. O metrô consegue uma velocidade de 1km por minuto.

10. Caso o passageiro pague antes melhora o fluxo. O fundamental no transporte é

não esperar. (LERNER, 2003).

A principal dificuldade para o acesso de passageiros idosos e com alguma dificuldade

de locomoção aos veículos é a altura dos degraus (Figura 36). Medidas foram tomadas

(rampas acopladas aos veículos, plataformas etc.). Entretanto, o problema está em que os

empresários do setor montam seus ônibus em chassis de caminhões, mais altos e mais duros,

para aproveitar o desconto de 50% no custo e no imposto cobrado ao setor. É urgente uma

modificação nesta legislação para que chassis efetivamente projetados para veículos de

transporte urbano voltem a ser utilizados.

Figura 36 – Problema de acessibilidade para pessoa da 3ª idade

Fonte: Foletto (2005, p.22).

Outro problema urgente a ser resolvido diz respeito à exigência de que condutores

(motoristas) de ônibus obedeçam aos pedidos de paradas para embarcar pessoas idosas. Em

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84

geral, o pedido é atendido, mas constatam-se maus tratos representados por repreensões,

freiadas bruscas, embarque do idoso com o ônibus em movimento, entre outras formas.

Também falta uma política de informações e comunicação visual para o idoso, em

particular, e a população, em geral, onde se verificando-se a existência de paradas

descobertas, e a falta de letreiros indicando horários e roteiros.

Não por acaso, uma das exigências da Federação Internacional de Futebol (FIFA),

para a realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil, foi a de proceder a uma grande

intervenção e melhoria nos aspectos de mobilidade urbana. Natal/RN foi a mais exigida neste

quesito.

A Revista ProTeste, da Associação Brasileira de Defesa dos Consumidores, realizou

pesquisa em maio de 2010, com o objetivo de investigar situações relacionadas ao transporte

em diferentes linhas de ônibus do Rio de Janeiro, especialmente no que se refere ao

cumprimento da lei de gratuidade para idosos. Foram convidadas pessoas com mais de 65

anos de idade para testar o serviço e avaliá-lo.

Ao final da etapa de coleta, foi realizada entrevista com cada pesquisador a fim de

explorar a fundo as suas experiências. Foram realizadas também gravações em vídeo em

Copacabana, bairro que concentra a maior população de pessoas com mais de 65 anos do país,

afim de captar relatos e cenas de idosos em situações reais de uso do transporte público por

ônibus. Foram investigadas 23 linhas de diferentes empresas, sendo que todas trafegam por

Copacabana e três intermunicipais. Eis o resultado:

1. O ônibus parou na primeira vez que o idoso fez sinal? Sim (91,5%); Não: (8,5%)

2. Dos que ficaram na parada, quantas vezes foi preciso fazer o sinal para

embarcar? 1 vez (55,6%); 2 vezes (38,9%); 3 vezes (5,65).

3. O idoso conseguiu a gratuidade ao embarcar? Sim (91,5%); Não (8,5%).

(IDOSOS, 2010).

No Rio de Janeiro, existe um cartão magnético, o RioCard, fornecido pela prefeitura

municipal, que garante o passe livre aos idosos. Um inconveniente de viajar sem o cartão,

porém, não teve solução, segundo a pesquisa: mesmo após ter o direito de gratuidade aceito,

mais da metade dos idosos não pôde passar pela roleta. Eles precisavam subir pela porta de

embarque para mostrar o documento e, então, descer e subir de novo, agora pela porta de

desembarque. Para um idoso, especialmente se ele tiver dificuldade de locomoção, essa

ginástica não é nada saudável.

Com relação aos assentos preferenciais, em ônibus intermunicipais, a maior

concentração é na parte da frente dos veículos – o que facilita o acesso dos idosos. Já nos

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

85

ônibus municipais, em geral esses assentos ficam distribuídos mais para o meio ou logo após

a roleta. Em alguns veículos eles não foram localizados, embora a maioria (91,4%) os tenha e

sinalize claramente. Em média, cada ônibus avaliado possui entre três e quatro assentos para

idosos.

Algumas empresas não aceitaram o RioCard (8,5%). Entre todos os segmentos de

ônibus pesquisados, os com ar condicionado são os que, em maior proporção, não cedem

gratuidade aos idosos (20,5%). Em alguns veículos, porém, o idoso sem o RioCard em vez de

não seguir viagem ou ter que preencher uma ficha, foi solicitado a apresentar seu documento a

uma câmera para, só então, embarcar.

Os pesquisadores concluíram que ser idoso e andar de ônibus no Rio de Janeiro é “[...]

ter que superar o desrespeito e a falta de paciência por parte de motoristas, trocadores e

usuários” (IDOSOS, 2010). Um dos pontos negativos citados foi o de que os motoristas não

esperam os idosos sentar para seguir viagem, em geral provocando quedas. Outro aspecto

apontado é que, muitas vezes, eles param os veículos no meio da rua, em vez de encostar

próximo à calçada, para embarque e desembarque. Em outros casos foram tratados com

desrespeito e até com galhofas. Mas essa situação não foi observada só com funcionários das

empresas. Outros passageiros também, muitas vezes, foram poucos gentis, segundo os relatos,

principalmente em relação a ceder os assentos preferenciais. Foram constatados casos em que

havia idosos viajando em pé, enquanto não idosos ocupavam suas cadeiras.

De uma forma geral, os problemas relatados acima existem, em maior ou menor

proporcionalidade em todas as cidades brasileiras, muitas vezes por falta de uma fiscalização

adequada.

Os quadros apresentados a seguir (Quadros 6 a 15) indicam a forma como deve ser

planejado e dimensionado o espaço urbano a partir dos Tipos de Deficiências, das Normas de

Acessibilidade Espacial, das Pesquisas de Campo e da NBR 9050. A configuração dos

Quadros, revisados e ampliados, apoiou-se também no trabalho da arquiteta Vanessa Goulart

Dornelles, da Universidade Federal de Santa Catarina: Acessibilidade para Idosos em áreas

Públicas de Lazer (2006). São parâmetros a serem utilizados de uma forma geral, em espaços

públicos como calçadas (passeios públicos), parques, praças, praias, entre outros.

Evidentemente, necessitarão de alguns ajustes ou adaptações em função da topografia e da

cultura dos locais onde serão implantados.

Os materiais para execução dos equipamentos devem ser os mais resistentes possíveis,

evitando-se ao máximo a prática de reposição (equipamentos danificados por uso ou

depredações) ou manutenção onerosa.

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

86

A municipalidade deve adotar uma prática de padronização dos equipamentos e

materiais de acabamento, facilitando a reposição, quando necessária, e criando uma

identidade visual que caracterize as ações da administração.

Este Quadro (Quadro 6), básico para aplicação dos subsequentes, aqui apresentados,

indica os principais problemas que afetam a vida de pedestres em geral nas grandes cidades

do mundo e as medidas mitagadoras para atenuá-los, principalmente levando-se em

consideração pessoas com algum tipo de deficiência ou portadoras de mobilidade reduzida. É,

ao lado da NBR, um roteiro muito rico para ser aplicado em desenho urbano e arquitetura.

Quadro 6 – Análise-Síntese do Ambiente29

Mobiliário/Infraestrutura Urbana Observações Critérios de Acessibilidade

Áreas de Alongamento Evitar barras acima 1.70m por não serem

alcançadas por todos Deve permitir o uso para diferentes pessoas

Áreas para apresentações Dotá-las de pontos com áreas de sombra.

Presença de bancos ou apoios para platéia

em áreas de apresentação de espetáculos

com facilidade de uso.

Bancos Com encostos e próximo às áreas de

circulação

A forma da implantação conforme seu uso.

Critérios de Ergonomia.

Canteiros Elevados Mínimo 10cm de altura. Evitar mobiliário

próximo. Deve servir como informe visual e piso tátil

Escadarias Devem possuir patamares para descanso. Deve contribuir com o deslocamento sem

atrapalhar o fluxo.

Lixeiras Lixeiras de concreto evitam mais as

depredações

Material que facilite manutenção. Deve

haver simplicidade na abertura. Importante a altura.

Mesa de Jogos Devem permitir a aproximação de cadeiras

de rodas.

As áreas de estar e jogos devem permitir a

aproximação de cadeiras de rodas.

Passeios

Os passeios sem pisos-guia obrigam as

pessoas com deficiência visual a usar meios-

fio e edificações como referência

Deve ter informação tátil para facilitar

orientação e informação.

Pérgulas Equipamento referencial principalmente se associado com algum tipo de vegetação.

Possibilita o uso confortável dos espaços de estar.

Pisos

Evitar paralelepípedos. Evitar cores escuras

pois podem sugerir, para deficientes visuais,

a presença de buracos. Caso sejam desnivelados causam desconforto em

cadeirantes.

Devem ser nivelados, estáveis e

antiderrapantes.

Piso Podotáteis Devem ter continuidade em toda extensão dos passeios.

Servem para pessoas com restrições visuais.

Pistas de Ciclismo e de Caminhadas

Devem ser bem separadas com desníveis e

vegetação para evitar invasão dos ciclistas em áreas de caminhadas.

Usar diferentes tipos de pisos.

Placas de Publicidade Evitá-las nos passeios Quando existentes devem ter altura mínima

de 2.20m

Placas Informativas Superior a 1.00m facilita a leitura. Cuidado com a altura das placas.

Rampas

Inclinações de acordo com a NBR 9050.

Evitar marcações horizontais pois podem ser confundidas com degraus.

A forma de sinalização dos desníveis, em rampas ou escadarias, interfere no

deslocamento. Conforme a inclinação da

rampa o deslocamento pode ser prejudicado.

Relógio Solar e Biruta Servem com atrativos e pontos de

orientação.

Dotá-los de uma boa altura para servirem de

referenciais.

Semáforo para Pedestres Quando a via é larga é difícil a sua

identificação. Auxilia no Deslocamento.

Telefone Público A Cor verde musgo é a que mais facilita na identificação.

Usar de diferentes alturas para que possa ser,

também, utilizado por cadeirantes. Não

implantá-los nos passeios.

29

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

87

Travessia de vias veiculares

Devem ser perpendiculares aos passeios.

Possuir informação tátil. Evitar obstáculos como valas.

Deve possuir piso tátil. Deve haver

nivelamento entre a rua e o passeio. Deve

haver rebaixamento de guias

Vasos de Plantas No mínimo com 60cm de altura. Evitar que sejam da mesma cor do piso.

Vegetação.

Evitar muitas espécies juntas pois podem sugerir sujeira. Evitar uma única espécie,

pois sugere monotonia. 03 espécies é o

ideal.

Cor, odor, auxiliam na orientação.

Vendedores Ambulantes O número deve ser disciplinado. Causam barulho e o barulho prejudica a

comunicação.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 7 – Limitação quanto à orientação e informação.30

Atividades/ Restrição Restrição Física Ambiente

Recomendado

Normas Brasileiras

NBR 905 Proposta de Intervenção

Enxergar com clareza

objetos e ambientes

como planos verticais, mobiliário e obstáculos

no passeio.

Problemas no

Sistema Sensorial Visual

Ambientes bem

iluminados com

cores contrastantes p/

diferentes

elementos c/ campos de visão

livre.

Item 4.5. Dispõe sobre

parâmetros visuais e

exemplifica os ângulos de

alcance visual de uma pessoa em pé ou em cadeiras de rodas.

Evitar obstáculos visuais entre

0,79m e 1.93m

Uso de iluminação ou cores

contrastantes na lateral ou no

chão, marcando e delimitando os espaços e circulações. Presença de

iluminação superior, marcando os

obstáculos que não puderam ser excluídos. Utilizar cores no

mobiliário diferente do piso.

Perceber limites dos caminhos

Idem.

Caminhos delimitados, de

forma bem

definida, com cores diferentes.

Item 5.14. Dispõe sobre

sinalização tátil no piso. Este tipo de piso ajuda c/ a marcação

dos limites dos caminhos por

apresentar textura e cores contrastantes com o piso

predominante.

Usar iluminação embutida no piso

ou na extremidade inferior dos planos verticais associados ao uso

de cores contrastantes.

Distinguir desníveis com

mesma cor do passeio. Idem

Desnível com cor diferente do

passeio.

Item 5.13. Dispões sobre sinalização visual de degraus,

inicio e fim de rampas e

escadas, recomendando a implantação de uma sinalização

visual contrastante com o do

acabamento nas bordas dos

degraus e nas extremidades de

escadas e rampas.

Degraus e desníveis com texturas

e cores diferentes das dos passeios. Iluminação nos espelhos

dos degraus ou nas guias de

balizamento.

Diferenciar cores claras e tons pastéis.

Idem

Associação de uma cor clara

com outra forte

ou de fortes entre si

A norma não fala sobre esta restrição.

Utilizar cores diferenciadas

preferencialmente acentuando

contrastes em planos diferentes.

Ler ou compreender placas de sinalização.

Idem

Placas legíveis, com fontes

grandes e forte

contraste entre letras e fundo.

Item 5.5. Dispõe sobre

sinalização visual, indicando

contraste de cores mais adequadas: Preto x Amarelo.

Branco x Verde. Branco x

Vermelho, conforme a distância, sentido do

movimento, elevadores, escadas

e sanitários etc.

Utilizar sinalização de diferentes

formas (vertical x horizontal), relevo em “braille” para idosos

com deficiência visual.

Pictogramas táteis, explicando o movimento e organização

espaciais.

Dificuldade em entender símbolos informativos

Problemas no

Sistema Sensorial Visual

e Psicocognitivo

Usar pictogramas figuras e textos

Item 5.5.2. Dispõe sobre visibilidade da sinalização

indicando os contrastes entre

textos, figura e fundos. Item 5.5.4. Dispõe sobre a

dimensão de letras e números.

Item 5.5.5. Dispõe sobre dimensões de figuras.

Associação de diferentes formas

de informações: Sinais visuais e

sonoros. Sinalização com informações repetitivas com

símbolos, figuras e texto, podendo

estar em relevo para facilitar os deficientes visuais. Símbolos

internacionais para evitar duplos

sentidos. 2 idiomas para turistas.

Localizar Fonte Sonora

de Informações

Problemas no

Sistema

Informações

sonoras em

Item 5.7. Dispõe sobre

sinalização sonora indicando

Associação de sinais luminícos e

textuais aos sinais sonoros.

30

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

88

Sensorial

Auditivo

locais de pouco

ruído

que esta deve estar associada a

uma sinalização visual.

Perceber sinais sonoros de alta frequência.

Idem

Informações

sonoras de baixa

frequência

Idem Utilizar sinais com diferentes frequência com 2 sinais sonoros.

Dificuldade em lembrar

fatos e lugares

Problemas no

Sistema Cognitivo

Usos referenciais

no espaço urbano Nada consta na Norma

Utilizar vegetação ou elementos marcantes no espaço para facilitar

a orientação. Uso de elementos

com água (chafarizes e espelhos d’água). Vegetação pode ter cor

diferente ou odor marcante como o

jasmim.

Diminuição da atenção e concentração

Idem

Espaços e

elementos de

design simples

Idem

O mobiliário e elementos devem

ter uso fácil e intuitivo e ter um

design simples com elementos de fácil percepção. Usar cores para

definir ambientes e funções

diferentes.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 831

– Limitação quanto ao Deslocamento32

.

Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente

Recomendado

Normas Brasileiras

NBR 9050 Proposta de Intervenção

Andar em rampas ou

escadas sem patamares

Problemas no Sistema

Cardiovascular

ou Pulmonar

Rampas e Escadas com

patamares de

Descanso

Item 6.6.5. Dispõe sobre

patamares para escadas. Um patamar para, no mínimo, para

cada 3.2m de desnível (20

degraus de 16cm). E sempre que houver mudança de direção. Sua

largura deve ser igual aos lances

de escada e nunca inferior a 1.20m.

Implantação de patamares de

descanso com largura maior que circulação, permitindo descanso

sem atrapalhar o fluxo. Pode

haver bancos e outros mobiliários no patamar.

Atravessar ruas

rapidamente Idem

Faixas de

segurança e semáforo para

pedestres de

acordo com a velocidade de

caminhada de um

idoso

Item 6.10.9. Dispõe sobre faixa

de travessia para pedestres

determinando a largura (L) das faixas de acordo o fluxo (F) de

pedestres, segundo a seguinte equação: L = F/25 > 4

Item 6.10.10. Dispõe sobre

faixas elevadas que devem ser utilizadas em travessias com

fluxos superiores a 500

pedestres/hora e fluxo de veículos inferior a 100

veículos/hora ou ainda quando a

largura da via for inferior a 6.00m.

Item 6.10.11. Dispõe sobre

rebaixamento de calçadas para travessia de pedestres onde a

inclinação máxima da rampa

deve ser igual a 8,33%. Item 6.11. Dispõe sobre

passarelas de pedestres. Podendo

ser rampa, escada ou elevador.

Utilização de passarelas

superiores.. Faixas de pedestres

elevadas e presença de sonorização antes das faixas de

travessia, auxiliando na

diminuição da velocidade de veículos.

Nas faixas de circulação de

pedestres pode haver um estrangulamento da via de

veículos, diminuindo a distância

a ser percorrida. Em vias veiculares muito longas deve ser

previsto áreas de descanso

intermediárias. Bancos, Iluminação e lixeiras.

Caminhar Longos Percursos

Fadiga e Problemas no

Sistema

cardiovascular e pulmonar

Área de Estar ao

longo dos

passeios

Nada consta na Norma

Presença de áreas de estar e

descanso ao longo dos percursos

com disposição de bancos

Transpor Desníveis

(escadas ou degraus altos)

Problemas no

sistema músculo esquelético ou

Degraus com

altura de espelhos entre 16 e 18cm

Item 6.6.3 – Dispõe sobre

dimensionamento de escadas fixas estabelecendo que a altura

Recomenda-se rampas ao lado

de escadas permitindo a escolha do usuário.

31

Este quadro é fundamental para orientar o desenho urbano no que diz respeito a passeios públicos (calçadas,

rampas etc.) e dotar as vias de tráfego de medidas mitigadoras de humanização do espaço público. 32

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

89

cardiovascular (e) e a largura (p) devem estar de

acordo com a fórmula: 0,63m<p+2e<0,65 sendo que

0,28m<p<0,32 e 0,16<e< 0,18m

Desvio do mobiliário que

provocam riscos de

queda ao caminhar

Problemas no

Sistema Músculo-

esquelético,

Cardiovascular e Sensorial do

Equilíbrio

Área de

circulação livre

de obstáculos.

Item 9.4 – Dispõe sobre assentos fixos em espaços urbanos,

garantindo uma faixa livre de

circulação de no mínimo 1.20m. (Ver detalhe: Desenho 1).

Área de estar, jogos ou práticas

esportivas fora da área de circulação ou marcadas com

pisos de cor e textura

diferenciadas. Circulação com iluminação superior e inferior

quando for o caso.

Transpor desníveis vazados (grade ou tela ou

sem espelho).

Problemas no

Sistema

Sensorial de equilíbrio

músculo-esquelético que

dificultam a

articulação dos joelhos,

provocando

tropeços

Escadas e degraus com espelhos

fechados e com material maciço.

Item 6.6.1 – Dispõe sobre as

características de pisos e espelhos de escadas e degraus,

impedindo que as mesmas sejam

vazadas em rotas acessíveis

Utilizar espelhos fechados

marcados visualmente. Guarda corpos (fechados lateralmente

por vidro/alvenaria) e corrimãos

em duas alturas.

Andar em superfícies irregulares (buracos,

britas ou seixos)

Problemas no

Sistema

Sensorial de Equilíbrio.

Caminhos e pisos bem regulares e

firmes

Item 6.1.1. – Dispõe sobre pisos estabelecendo que devem ter

uma superfície regular, firme,

estável e antiderrapante. Não devem provocar trepidação em

equipamentos sobre rodas.

Os pisos devem ser contínuos,

sem espaço entre as pedras para evitar quedas. Presença de

corrimãos e guarda-corpos em

duas alturas nas circulações.

Andar em superfícies

inclinadas

transversalmente

Idem

Caminhos e

superfícies sem

inclinações

transversais.

Item 6.1.1. – Dispõe sobre pisos estabelecendo que a inclinação

transversal máxima em pisos

internos é de 2% e em pisos externos 3%. (Ver detalhe:

Desenho 2).

Utilizar inclinação para

escoamento de água com um

mínimo de 1%

Caminhos com percursos

muito sinuosos Idem

Caminhos com

poucas curvas subsequentes,

preferencialmente retilíneas.

Item 6.5.9. – Dispõe sobre

rampas em curvas, permitindo

um raio interno mínimo de 3.00m

Caminhos retos, com poucas

curvas. Cruzamentos entre circulações preferencialmente

em ângulos retos e de fácil visualização.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

90

Desenho 1 – Passeio com recuo para banco e espaço para cadeirante.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 2 – Circulação em desnível para idosos e ciclistas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

91

Quadro 933

– Limitação quanto ao Uso34

.

Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente

Recomendado

Normas Brasileiras

NBR 9050 Proposta de Intervenção

Alcançar objetos ou

dispositivos instalados fora de alcance

Diminuição da

Estatura do Alcance

Prateleiras e dispositivos

instalados entre

0,4m e 1,4m

Item 4.6 – Dispõe sobre sobre alcance manual, estabelece alturas

para pessoas em pé, sentadas ou

em cadeiras de rodas. A maior altura confortável possível

determinada para pessoa em pé:

1.55m e 0.55m

Presença de mobiliário objetos e/ou dispositivos com mais de

uma altura. Exemplo:

bebedouros.

Levantar-se com agilidade

Problemas no

Sistema

cardiovascular. Diminuição na

circulação.

Músculo esquelético com

enfraquecimento

muscular.

Acentos de

bancos e cadeiras com altura

superior a 38cm.

Item 4.6 – Dispõe sobre o alcance manual e estabelece a altura da

cavidade posterior do joelho

(popiliteal) até o piso que pode variar entre 0,38cm e 0,43cm

Bancos com apoios firmes que ajudem o usuário a se levantar.

Acionar dispositivos e

comandos que necessitem coordenação

motora e força.

Problemas no

Sistema Nervoso e músculo

esquelético.

Dispositivos

acionados por alavancas e

botões.

Item 4.6.6 – Dispõe sobre controles (dispositivos de

comando e acionamento)

definindo que os controles, botões, teclas e similares devem

ser acionados por pressão e alavanca e devem ter pelo menos

uma de suas dimensões igual ou

superior a 2,5cm.

Item 4.6.7 – Dispõe sobre altura

de comandos e controles: Min.

0,4m e Max. 1.20m

Utilização de mais de um tipo de dispositivo ou controle.

Exemplo: bebedouros acionados

por mão e pé.

Utilizar bancos sem

encostos

Problemas no

sistema sensorial

de equilíbrio músculo

esquelético.

Bancos e

assentos com encosto

Nada consta na Norma

Os assentos de bancos devem

fazer um ângulo com os assentos entre 100 e 110º

Perceber diferença de textura, objetos e pisos

Texturas bem diferenciadas

Texturas bem diferenciadas

Item 6.1.1 – Dispõe sobre pisos recomendando cautela nos

desenhos para que não causem

sensação de insegurança devido a impressão de tridimensionalidade.

Cores diferentes para texturas

diferentes associados a dois

sentidos (visual e háptico).

Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente

Recomendado

Normas Brasileiras

NBR 9050 Proposta de Intervenção

Executar ações de forma

rápida

Problemas no

Sistema Nervosos e

Músculo

esquelético

Mobiliário e

dispositivos de

fácil utilização que não

demandem

vários movimentos

Item 4.6 – Dispõe sobre alcance manual estabelecendo alturas

mínimas (0,5m) e máxima

(1.55m). Item 4.6.3 – Dispõe sobre

superfícies de trabalho

estabelecendo raios de alcance do

braço extendido frontal igual a

0,5m.

Utilização de cores para

identificar objetos e comandos,

como por exemplo: Padrão de cores internacionais de trânsito:

Vermelho: Não pode ser

manuseado ou o usuário deve

parar.

Verde: Para circulações ou

esperas que usuário deve seguir em frente.

33

Este Quadro orienta quanto ao uso de equipamentos e mobiliário urbano, sendo de grande importância sua

aplicação na arquitetura e no urbanismo. 34

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

92

Item 9.5.1. – Dispõe sobre área de aproximação de cadeira de rodas,

garantindo posicionamento para

aproximar frontalmente em bancadas cuja altura mínima deva

ser igual a 0.73m e profundidade

mínima de 0,3m

Adapta-se a mudanças de

temperatura

Problema no Sistema Nervoso

e Endócrino

As áreas de estar devem ter

ventilação,

sobreamento e temperatura

estável.

Nada consta na Norma sobre esta

restrição.

Presença de áreas com

elementos fdiferentes como

árvores e chafarizes que podem proporcionar sensações térmicas

variáveis possibilitando opção

de escolha. Criação de umsa zona intermediária, como espaço

de transição, entre uma área

muito arborizada e uma sem vegetação.

Perceber odores da

vegetação

Problemas no

Sistema

Sensorial,

Paladar e Olfato

Uso de

vegetação ou

outros tipos de

referenciais

como cores à parte.

Idem.

Utilização de vegetação com

odores fortes e agradáveis como referenciais espaciais.

Adaptar a visão a

mudanças de

luminosidade.

Problemas no

Sistema

Sensorial Visual.

Estabilidade e

uniformidade de luz no ambiente

urbano.

Idem.

Na existência de bosques muito

arborizados próximos a áreas de

circulação sem vegetação deve-se prever uma faixa de transição

com diminuição no porte e

espaçamento da vegetação.

Dificuldade em

compreender equipamentos novos.

Problemas no

Sistema Cognitivo

Design de fácil

compreensão de uso intuitivo.

Idem

Explicações em forma de textos

e figuras quanto à utilização de

novos equipamentos no espaço urbano como bebedouros e

terminais informatizados.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 10 – Limitação quanto à Comunicação35

.

Atividade/Restrição Restrição Física Ambiente

Recomendado

Normas Brasileiras

NBR 9050 Proposta de Intervenção

Perceber Falas

Problemas no

Sistema

Sensorial Auditivo

Iluminação e

espaços que

permitam leitura ideal

Nada Consta na Norma Bancos um de frente para os outros. Iluminação superior, sem

ofuscamento e pisos anti-reflexos.

Entender outras pessoas

em locais barulhentos Idem

Áreas de estar e

com funções de

interação entre pessoas

localizadas em

espaços com pouco ou

nenhum ruído.

Idem.

Uso de vegetação arbustiva ou

herbácea separando áreas de estar das veiculares ou de grande fluxo

de pedestres. Áreas de estar longe

de áreas destinadas às práticas esportivas.

Interagir com outras pessoas.

Irritabilidade Indocilidade

Idem. Idem.

Presença de vegetação que atraia a fauna, pois o canto dos

passarinhos relaxa a acalma as

pessoas. Idem para a presença de elementos com água.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

35

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

93

Quadro 11 – Síntese das diretrizes para áreas de estar com componentes de acessibilidade36

.

Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado

Informação Orientação

Cor Mesma cor do piso em áreas de estar para facilitar identificação do uso.

Uso da mesma cor no piso de áreas de

estar e circulações dificulta

diferenciação de funções.

Placas

Formas de explicação diferenciadas. Utilizar pictogramas, imagens gráficas e

textos com cores contrastantes entre a

informação e o fundo.

Informações próximas ao chão.

Deslocamentos

Acessos Áreas de estar com acesso visível. Desnível para acessar área de estar.

Dimensões

Bancos dispostos frontalmente devem

ficar distantes no mínimo .90cm, para

permitir acesso de cadeiras de rodas.

Circulações entre mobiliários inferiores a .90cm

Uso

Mobiliário Presença, próximo às áreas de estar de lixeiras e bebedouros.

Áreas de estar muito distantes das

circulações principais podem não ser

identificadas.

Iluminação Iluminação intermediária e inferior. Ausência de Iluminação

Vegetação Devem ser previstas áreas de estar tanto na sombra como no sol, criando opções

para o usuário.

Espécies vegetais com odor forte que

possam se tornar incômodas e que

atraiam insetos como abelhas, por exemplo.

Bancos

Implantá-los com distâncias máxima de

200.00m. Barras metálicas próximas aos

bancos ou outro tipo de apoio para ajudar cadeirantes.

Bancos sem apoios ou encostos. A inclinação entre o assento e o encosto

deve ser igual a 110º.

Comunicação Disposição

Variações da disposição dos bancos nas

áreas de estar. Recantos frontalmente ou 90º entre eles estimulam a interação

entre as pessoas.

Uma única disposição de mobiliário ao longo de uma via livre.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 12 – Circulação para pedestres37

.

Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado

Informação/Orientação

Iluminação

Iluminação superior nas vias e intermediária nos passeios. Iluminação

inferior ou pontos de luz onde houver

desníveis ou mudanças de planos.

Circulações sem iluminação,

principalmente escadas e rampas.

Cor Mudanças de planos com cores e texturas

diferenciadas.

Mesma cor nos elementos com mudanças de planos como pisos e

muros, degraus ou canteiros elevados.

Deslocamentos

Dimensões Faixa livre mínima com 2.40m de largura e altura de 2.20m.

Presença de mobiliário nas circulações.

Pisos

Estáveis, regulares, antiderrapantes e

antireflexivos.

Pisos que se desgastem com o tempo

criando buracos e desníveis.

Rejuntes e pisos no mesmo nível Pisos irregulares, como paralelepípedos, em circulações de pedestres.

Os desenhos dos pisos devem estar nas

laterais das circulações. Preferencialmente.

Desenhos no centro de circulações podem ser confundidos com desníveis.

Desníveis

Escadas e rampas devem ficar próximas

ou associadas. Ausência de rampas.

Corremãos e guarda corpos em duas alturas.

Ausência de corremãos e guarda corpos.

Marcação visual e tátil no piso, no início

e fim de rampas e escadas.

Ausência de marcações visuais e táteis

nos desníveis.

Usar escadas com espelhos fechados. Espelhos de escadas vazados.

Comunicação

Dimensões Circulações que permitam duplas de idosos andarem nos dois sentidos lado a

lado. Recomenda-se 2.40m

Circulações com menos de 1.00m.

Patamares para descanso.

Presença de recuos para descanso em escadas e rampas nas áreas de estar.

Ausência de recuos para descanso.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

36

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. 37

Idem.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

94

Quadro 13 – Caminhada e ciclismo38

.

Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado

Informação e Orientação

Sinal Visual

Quadras indicando a função das pistas

com altura superior a 1.20m. Sinalização no chão com cor forte.

Ausência de placas de informações.

Configuração

Espacial

As pistas devem estar separadas

visualmente com cores e texturas de pisos diferentes. Também para

obstáculos, como bancos. Por

exemplo.

As duas pistas não podem ter a mesma cor

do piso e devem ficar em níveis diferentes.

Deslocamentos Desníveis Devem ser vencidos por rampas de acordo com as Normas.

Presença de degraus nas pistas.

Uso

Mobiliário Obrigatoriamente, bancos, lixeiras e

bebedouros. Ausência de mobiliário para descanso.

Vegetação

A existência de árvores para sombreamento próximas às pistas

contribui para o conforto térmico

durante os exercícios.

Pistas sem sombreamento.

Comunicação Dimensões

Mínimo de 3.00m para permitir o

exercício de duas pessoas nos dois

sentidos.

Pistas de caminhadas com largura inferior a 1.50m.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 14 – Áreas de alongamento com critérios de acessibilidade39

.

Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado.

Informação e Orientação Sinalização

Visual

Placas indicando as áreas de

alongamento sinalizando as formas do

exercício de acordo com o equipamento

Ausência de Sinalização.

Deslocamento Configuração Espacial

Implantar os equipamentos

permitindo sua utilização e circulação

entre eles.

Não deixar os equipamentos de alongamento muito próximos entre si.

Uso

Mobiliário

Barras metálicas nos sentidos

horizontal e vertical. As barras

horizontais em diferentes alturas.

Barras horizontais com uma única altura.

Vegetação Arvores com função de sombreamento.

Áreas de Uso sem vegetação.

Comunicação Configuração

Espacial

Composições com mais de um

equipamento de alongamento

Equipamentos para alongamento isolados

para idosos que costumam caminhar juntos.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quadro 15 – Quadras esportivas40

.

Atividade/Componente Item Uso Recomendado Uso não Recomendado

Informação e Orientação

Sinalização

Visual

Placas indicando as funções das

quadras e proibições de uso. Ausência de Sinalização

Visualização

Implantar as quadras e arquibancadas

abaixo do nível das circulações de preferência em desníveis naturais.

Arquibancada elevada, fechada que impeça

o controle visual da área livre.

Deslocamento Configuração

Espacial.

Espaços de transição e circulação

entre a quadra e as áreas de lazer. Desníveis nas circulações

Uso Mobiliário

Presença de Bebedouros, lixeiras e

bancos. Ausência de espaços de estar para platéia.

Telas de proteção para pessoas nas

demais áreas próximas à quadra.

Ausência de proteção que impeça a bola de

sair da quadra.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

38

Quadros revisados e ampliados a partir de: DORNELES, Vanessa Goulart. Acessibilidade para Idosos em

Áreas Livres Públicas de Lazer. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). – Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. 39

Idem. 40

Idem.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

95

Desenho 3 – Pista de circulação para cadeirantes e pedestres.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 4 – Lixeira.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

96

Desenho 5 – Posicionamento de placas informativas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 6 – Escadas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

5.2 A CIDADE PARA O IDOSO: HABITAÇÃO

A Constituição Brasileira de 1988, no seu Capítulo VII – Da Família, da Criança, do

Adolescente e do Idoso – afirma no seu Artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o

dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo

sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.” E mais, no seu § 1º: “Os

programas de amparo aos idosos serão executados, preferencialmente, em seus lares”.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

97

Entretanto, em 200541

, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

publicou a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 283, estabelecendo os critérios para a

implantação e construção de Alojamentos de Longa Permanência para Idosos. Não há ainda,

a não ser em documentos e publicações isoladas, normas que orientem habitações isoladas

para idosos, como por exemplo, taxa de conforto mínima, dimensões espaciais, tipologia (se

horizontal ou vertical), quanto à localização, por exemplo, no campo ou na cidade.

Embora o idoso aqui estudado seja aquele que apresenta uma situação de

independência no tocante à mobilidade pessoal e capacidade de estabelecer relacionamentos

pessoais e sociais, além de poder desempenhar funções básicas como tratar de sua higiene

pessoal, preparar alimentos e fazer a manutenção do seu ambiente, optou-se por uma visão

mais abrangente sobre a situação habitacional dos idosos.

As maiores controvérsias ficam por conta das opções entre instituições coletivas, como

asilos, ou residências isoladas. Outro problema levantado é quanto à localização, se a

implantação será na malha urbana normal ou em bairros ou conjuntos específicos.

O idoso, pela condição própria do processo de envelhecimento, sofre profundas

transformações em seus aspectos bio-físio-psicológicos. Aspectos como fadiga mental,

desinteresse, diminuição da atenção e concentração são naturais. Têm um desempenho não

satisfatório nas aptidões psicomotoras ou em atividades que exigem agilidade mental e

coordenação. As deficiências, no que tange à memória e à aprendizagem, dizem respeito ao

comprometimento da memória visual e auditiva. A motivação é diminuída por problemas de

saúde e experiências prévias de aprendizagem.

São alterações orgânicas, morfológicas e tegumentares geradas no corpo humano com

o advento do processo de envelhecimento, segundo Moreira; Torres; e Barros (2004). Estas,

relacionadas no quadro a seguir (quadro 16), apenas como ilustração:

Quadro 16 – Alterações do corpo com o envelhecimento

Composição Corpórea Redução de 70% para 52% da água corporal total

Gordura Distribuição mais centrípeta

Estatura Após os 40 anos, cerca de 1 cm por década. Acentuada após os 70 anos pelo achatamento

vertebral, redução dos discos intervertebrais, cifose dorsal e achatamento do arco plantar.

Pele Lentidão da renovação epidérmica; adelgaçamento da derme; perda da elasticidade, da

lubrificação tegumentar; do tecido subcutâneo em membros e face. Maior propensão a

instalação de lesões; hipertrofia das células de pigmentação; despigmentação e palidez.

Pelos e Fâneros Alteração da pilificação; pilificação em regiões anômalas; pelos menos espessos e mais fracos;

perda gradativa da pigmentação; crescimento lentificado e espessamento das unhas, unhas

mais secas e quebradiças.

Olhos Surgimento do arco senil; afundamento; da elasticidade do cristalino e da acomodação visual;

41

Houve uma grande demora em regulamentar a Lei.

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

98

do tamanho da pupila e da velocidade de resposta à luz.

Ouvidos Tímpano torna-se mais espesso; degeneração do ouvido interno e do nervo auditivo levando à

presbiacusia.

Boca Mais seca com alterações no paladar; da superfície das gengivas, perda e escurcimento

progressivo dos dentes.

Nariz Aumento de tamanho e diminuição da capacidade olfativa.

Peso Tendência à redução de peso após os 60 anos em virtude da perda da massa muscular e

alterações orgânicas.

Fonte: Moreira; Torres; e Barros (2004)

Apoiado nas informações contidas neste quadro, o planejador urbano, urbanista ou

arquiteto, tem o devido instrumental teórico para trabalhar áreas habitacionais, principalmente

aquelas destinadas a idosos, de uma forma mais adequada, levando em consideração as

limitações impostas pelo processo de envelhecimento. O urbanismo contemporâneo tem como

um dos seus principais postulados criar zonas habitacionais junto a outros tipos variados de

usos do solo, procurando incentivar um maior intercâmbio cultural e econômico e evitar a

existência de vazios populacionais em determinados setores da cidade, como frequentemente

ocorre nas áreas comerciais centrais das grandes cidades. É uma constante, arquitetos,

urbanistas e gestores urbanos indicarem a necessidade de ocupar os centros das grandes

cidades com contingentes populacionais dos mais variados tipos humanos, como idosos, por

exemplo.

Numa malha já existente, será necessário identificar e classificar adequadamente áreas

onde idosos possam ser alojados de forma a que possam usufruir dos benefícios que

determinada estrutura urbana de comércio e serviços possa oferecer, sem perder a qualidade

de itens quanto à segurança, ausência de poluição (sonora, visual etc.), espaço de moradia e

áreas de lazer de forma mais próxima e sem necessidade de grandes deslocamentos.

Nos projetos de novas áreas residenciais, seja conjunto ou condomínios fechados, o

percentual de casas para idosos, determinado por Lei, em 3% do total das unidades, deve ser

implantado nas áreas próximas ao centro comunitário de comércio, lazer e serviços,

principalmente de saúde. Muito embora a determinação seja para conjuntos habitacionais

financiados pelo governo federal, nada impede de que empreendimentos privados sejam

projetados da mesma forma, nunca deixando os idosos distantes mais de 400m dos locais

onde possam obter algum tipo de apoio.

Em São Paulo, o governo municipal criou o programa Cidade dos Idosos. São

pequenos conjuntos de casas e/ou apartamentos. Gerontólogos e Urbanistas estão reticentes

quanto a esta tipologia habitacional. Existe o medo de se criar guetos. É importante o contato

do idoso com pessoas de outras faixas etárias, principalmente jovens.

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

99

Alguns fatores para adequação de uma boa qualidade de vida e bem-estar do idoso

estão relacionados com a moradia e a família. Daí a crítica feita ao sistema de Asilos. Por

melhor que funcionem, os idosos, em todos os casos estudados, revelam desconforto com a

ausência de familiares.

É no seio da família que podemos participar de um ambiente onde há possibilidade de

identificação, pela construção de nossa individualidade em companheirismo, respeito e

dignidade. Outro fator importante é a alimentação equilibrada e saudável, pois, ao oferecer

este suporte diário, o lazer e a cultura se tornam mais fáceis pela inclusão social.

No mais, o convívio diário com valores emergentes e a vida cada vez mais alterada

pela tecnologia permitem aos idosos terem a possibilidade de questionar, obterem respostas e

responderem por eles mesmos o que há de novo neste tempo que também é deles. Por fim,

uma maior participação social inclui, além do movimento físico, o mental, com atividades de

caminhadas, ginástica, entre outras, que ajudem na prevenção e promovam a saúde.

Já nos asilos é difícil encontrar tais fatores, principalmente nos asilos públicos. A falta

de estrutura, o espaço restrito, a ausência de pátios e jardins, os alojamentos que não

permitem a individualidade e, principalmente, a falta de profissionais qualificados (médicos,

enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, nutricionistas etc.); dificuldades financeiras

e, sobretudo, nenhum ou pouco contato com os familiares.

A este cenário, deve ser acrescentado o conflito do ritmo. Quanto maior e mais global

a cidade, mais acelerado é o ritmo e hostil o ambiente. O idoso, com a lentidão imposta por

suas condições físicas, se expõe aos riscos de acidentes e quedas e, mais grave ainda, à falta

de gentileza urbana.

Ao planejarmos os espaços, seja na escala do espaço público urbano ou no espaço

privado da habitação, é fundamental que se leve em conta o universo das pessoas e das

atividades da forma mais ampla possível: a arquitetura e o urbanismo devem ser pensados

para necessidades e desígnios humanos. Nessa linha, para que o idoso possa usufruir do

espaço construído, devem ser levados em conta uma série de elementos específicos para o

desenho da cidade e da habitação. Não se propõe aqui uma arquitetura e um urbanismo só

para idosos, mas garantir a inclusão de suas especificidades (“...cidade é boa para o idoso

quando é boa para toda a população”)

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

100

5.2.1 Como o idoso vive hoje no Brasil

Estruturou-se a análise aqui desenvolvida (IPEA e IBGE), a partir de dois vieses: a

situação sócio-econômica e o reflexo no setor habitacional. A família é uma das instituições

mais importantes e eficientes no tocante ao bem-estar dos indivíduos e à distribuição de

recursos. Ela faz parte da intermediação da relação entre o mercado e os indivíduos,

distribuindo rendimentos entre membros, assim como faz a intermediação entre o Estado e o

indivíduo, redistribuindo, direta ou indiretamente, os benefícios recebidos. Diante da

predominância, no mundo, de um modelo de políticas sociais que defende o enxugamento do

Estado, as famílias estão sendo, cada vez mais, convocadas a cuidar dos segmentos mais

dependentes da população. Em alguns países, é a única alternativa de apoio à pessoa idosa.

Esse apoio se manifesta tanto pela co-residência42

como pela transferência de bens e recursos

financeiros. Os membros das famílias ajudam-se procurando um bem-estar coletivo,

constituindo um espaço de “conflito cooperativo”, onde se cruzam as diferenças entre homens

e mulheres e as diferentes gerações, produzindo um variada gama de arranjos familiares.

No Jornal Folha de São Paulo (31 de julho de 2011), informa-se que a média de

pessoas, no Brasil, morando em um domicílio era de 3,79, segundo o Censo de 2000. Este

número caiu para 3,34, em 2010. O estado com maior número de pessoas por domicílio é o

Amazonas, com 4,43, e o menor o Rio Grande do Sul, com 2,99 pessoas/domicílio. O número

de famílias aumentou 2,4%, por outro lado, aumentou o número de domicílios, de 3,1, em

2000, para 3,2, em 2010. Aumentou também o número de pessoas morando sozinhas: em

2000, 11,5% das moradias para 12,0% das moradias em 2010. Em São Paulo, sete milhões de

pessoas vivem sozinhas. Não só na capital, como também no interior.

A alta taxa de fecundidade registrada no passado e o aumento na expectativa de vida

também alteraram os números relativos aos idosos. No Brasil, a população com 15 anos de

idade passou de 33,8% do total, em 1992, para 24%, em 2009, enquanto na população idosa

(com mais de 60 anos) houve crescimento: de 7,9%, em 2000, passou para 11,4%, em 2010.

Ao mesmo tempo, a participação dos idosos na renda familiar cresceu, não só pelos ganhos de

aposentadoria e pensões, mas também pelos rendimentos vindos do trabalho, revelando uma

população menos dependente de filhos e netos.

42

Co-residência: tipologia habitacional onde as áreas comuns (cozinha, banheiros e estar) são divididas por duas

famílias, separando-se as áreas íntimas como dormitórios.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

101

O número de idosos chefes de família aumentou, passando a ser a condição

predominante, inclusive entre as mulheres. Em 2009, aproximadamente 13,8 milhões de

pessoas com mais de 60 anos eram chefes de família. Deste total, 42.7% eram mulheres. Em

cerca de seis milhões de famílias, em que o idoso era chefe ou cônjuge, havia filhos adultos e,

em 2,3 milhões de famílias, havia netos. Nessas famílias, os idosos contribuíam com mais da

metade da renda familiar, invertendo uma tradicional relação de dependência.

Ainda pelos dados do IPEA (2007) e IBGE (2010), o país terá que estabelecer novas

prioridades em suas políticas públicas, principalmente na saúde e na geração de empregos.

Pelas projeções do IPEA, a partir de 2030, só continuarão a aumentar sua participação na

população os grupos de pessoas com mais de 45 anos de idade. O preconceito com o trabalho

dos mais velhos terá que ser revisto ou vai faltar gente para trabalhar em determinados setores

da economia.43

Diante do quadro acima, como definir uma tipologia habitacional (áreas, dimensões,

tipo de mobiliário e equipamentos, além da inserção na estrutura urbana)?

5.2.2 A Evolução da Casa Brasileira

Ao analisar as exigências mais comuns para se planejar a habitação para os idosos,

sentimos e necessidade de se fazer uma rápida retrospectiva histórica da casa brasileira, como

reflexo de uma situação social, pondo em destaque a posição do idoso. Evidentemente, a

retrospectiva deverá se pautar por uma tipologia de habitação considerada normal, seja de

caráter social ou de padrão mais alto, dada a dificuldade de uma análise mais profunda de

habitações subnormais, como favelas e mocambos, por exemplo, embora estas não deixem de

ser levadas em conta. Tal metodologia preocupa-se com o fato de que, ao se propor habitações

para idosos, estas devam possuir características e exigências de habitabilidade, ou seja,

construções atendendo a requisitos de normas técnicas.

43

O longo período sem investimentos (1990 a 2004) no setor de rodovias federais, principalmente, levou grande

parte dos engenheiros da área a se aposentarem ou procurarem outras atividades. Com a retomada dos

investimentos na recuperação e construção de rodovias, o país foi obrigado a recrutar antigos profissionais

(aposentados, principalmente) para realizar projetos, execução e fiscalização de obras rodoviárias. (Relatório

CONFEA, 2009).

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

102

5.2.2.1 A Casa Oitocentista

A habitação burguesa é um modelo de casa originado no século XIX, caracterizado

pela tripartição em espaços de prestígio, isolamento e rejeição, mais difundidos como social,

íntimo e serviços (Desenho 7). O espaço de Rejeição é formado pelo banheiro, cozinha e

dependência de empregada. O Espaço Íntimo são os quartos e sala de refeições. A sala de

visitas é o local de prestígio, a principal parte da casa, onde se recebem visitas (habitação

como vitrine de prestígio social). A loja, espaço de trabalho, é um anexo da casa (LEMOS,

1989).

A família tradicional burguesa era do tipo nuclear (família extensa), formada por pai,

mãe e muitos filhos. O pai trabalhava em casa e era o responsável pelo sustento da família.

Empregados domésticos eram responsáveis pelo funcionamento da casa e ficavam isolados

propositadamente pelos patrões, inicialmente nas senzalas e, depois, com a urbanização, no

sótão, parte superior dos sobrados. Era um modelo baseado nos sistemas de produção agrícola

feudal. (LEMOS, 1989).

Desenho 7 – Casa oitocentista

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

103

5.2.2.2 A Casa Moderna

A Casa Moderna no Brasil tem como principal característica a introdução, no

ambiente interno da habitação, das chamadas “áreas molhadas” (cozinha, banheiro e serviços)

(LEMOS, 1989). Antes consideradas áreas subalternas, curiosamente, hoje, determinam o

nível das habitações unifamiliares e multifamiliares, sendo, no caso dos sanitários, uma

verdadeira mania nacional.

Mas a evolução foi lenta. Com a urbanização essas áreas primeiro foram edificadas em

edículas (um anexo ao corpo principal da casa, onde ficavam área e dormitórios de serviços e

sanitários.). Só depois foram sendo, aos poucos, introduzidas no corpo principal da casa.

Geralmente um sanitário para toda a família e, posteriormente, a adoção dos sanitários

privativos para cada dormitório (as chamadas suítes) quando a situação financeira do

proprietário permitia.

Outra novidade foi a “Sala para TV”, um local onde as famílias possam usufruir desse

moderno meio de comunicação. Esse ambiente passou a ser o centro da habitação, antes

localizado nas salas de refeição (Desenho 8).

Desenho 8 – Casa Moderna

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

104

A habitação moderna caracteriza-se pela bipartição dia/noite. Os quartos e os

banheiros são espaços de uso íntimo e noturno (repouso). A cozinha centralizada, não mais

isolada do corpo da casa, e a sala de estar são o coração do funcionamento diurno da casa

(convívio). Os empregados, reduzidos a apenas um ou dois, são alojados em Edículas (anexo

onde também era instalada a área de serviço). Em função da redução no tamanho dos

ambientes das casas, deixa de existir o local para o trabalho.

Era também uma família do tipo nuclear, centralizada no pai e nas mães, com menos

filhos que a família burguesa, devido à queda de fecundidade, a partir do início do século XX.

O pai trabalhava fora, normalmente como funcionário de uma empresa (serviços, comércio ou

indústria), e era o responsável pelo sustento da família. A mulher passou a substituir, em

parte, a empregada doméstica, ficando responsável por parte do funcionamento da casa. Era

um modelo baseado numa sociedade de produção industrial, o homem como mão-de-obra

produtiva. (LEMOS, 1989).

5.2.2.3 A Casa Contemporânea

A habitação contemporânea (Desenho 9), tanto a habitação social quanto aquela

denominada de “alto padrão”, vem repetindo estas duas fórmulas há décadas. As variações

são mínimas. Em geral, caracteriza-se pela anexação, ou até eliminação, das dependências de

empregados, no máximo existindo um banheiro de serviço para atender a uma nova forma de

empregados domésticos, os diaristas, ou o chamado “quarto reversível”, que tanto pode servir

a um empregado, caso exista, como para um outro membro da família, principalmente quando

existem filhos de sexo diferentes. Entretanto, mesmo que agora tendam a habitar estes

espaços, grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da família nuclear tradicional, o

desenho desta habitação continua imutável, sob a alegação de que se chegou a um resultado

projetual economicamente viável, que atende às necessidades ‘básicas’ dos seus moradores.

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

105

Desenho 9 – Casa Contemporânea

Fonte: Casa Contemporânea (2011, p.23).

[...] arquitetura trata de um sujeito, o homem, que por definição e fatalidade é de

natureza cambiável, evolutiva. Ele é primeiro solteiro, depois casal, depois família,

com número indeterminado de filhos, depois dispersão dos filhos pelos seus

casamentos... Enfim a morte, de tal maneira que a moradia feita para uma família

não existe: o que existem são vários tipos de moradia para sucessivas idades. (LE

CORBUSIER apud TRAMONTANO, 2007).

Dessa afirmação, deve ser colocada a questão de novos grupos domésticos existentes,

muitas vezes em apenas certos períodos do ciclo de vida familiar, alternada ou

simultaneamente. Indaga-se então se a esta flexibilidade não deveria corresponder uma

flexibilidade do espaço? Nova família nuclear. Família monoparental. Uniões livres. Pessoas

vivendo sós. Coabitação sem vínculos conjugais ou de parentesco. E a presença, como nunca

na história, das pessoas idosas.

A compartimentação do espaço interno com funções definidas, que pressupõe a

noção de “cômodos”, data dos séculos XV e XVII, constituindo um momento

relativamente curto na história da habitação, enfatizada pelo Movimento Moderno já

no século XX. Não estaríamos hoje diante de novas alternativas de qualificação do

espaço, em uma sociedade tendendo a superequipar-se, onde o equipamento

qualificaria os espaços permitindo a sobreposição de funções. (TRAMONTANO,

2007).

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

106

No Brasil, o prestígio de uma residência e, por extensão, do seu proprietário, é

determinado pelo número de cômodos com funções bem definidas: sala de “almoço”, sala de

“jantar”, sala “de TV”, jardim de “inverno” etc. O surgimento da informática neste espaço

talvez exija a sala do “computador”. As atividades que ele propõe deveriam ser isoladas em

um compartimento próprio ou integrado ao lazer de vários indivíduos do grupo doméstico?

Mas, mesmo o computador, como já aconteceu com a TV, em função de um processo de

miniaturização, tem possibilitado a cada membro da família possuir o seu equipamento, assim

como o telefone celular, aumentando a individualização e o isolamento, revertendo um quadro

que apontava para a eliminação da compartimentação no interior das residências.

A crescente necessidade de independência dos indivíduos está dando origem a espaços

individuais privados que, ao mesmo tempo, podem comunicar-se entre si por meio de um

espaço interno comum, com um acesso direto para o exterior. Tal configuração poderia

indicar que a habitação contemporânea pode tornar-se um agrupamento de pequenas

habitações individuais com um apoio (tipo banheiro e cozinha, por exemplo) comum? Não

seria uma forma avançada (e planejada) dos “cortiços” tão comuns nas nossas cidades?

A introdução de novos elementos de comunicação: TV a cabo, internet, celulares etc.

indicam um novo tipo de espaço (onde o trabalho volta a ser feito no espaço da habitação) de

uso extremamente individual, o cyber espaço, “ante-câmara do mundo”, o local onde se

busca, individualmente, um contato com o mundo.

Todas estas questões foram levantadas no sentido de se procurar estabelecer,

metodologicamente, os parâmetros ou padrões, para projetar a casa do idoso. Para

fundamentar ainda mais esta pesquisa, procedeu-se a uma análise, no Brasil e no exterior, de

tipologias bem sucedidas que, ao longo da história, demonstraram a sua conformidade para

com os objetivos para os quais foram projetados.

No âmbito dos espaços internos da habitação, o que vemos por aqui é uma insistência

na reprodução ad nauseam da casa burguesa (ou casa grande), em doses diminutas e, em

função de um preconceito de partida, não nos permitimos experimentar ou ensaiar novas

formas de viver. Por que não admitir espaços de asseio que se assemelhem à famigerada área

de serviço, desconectando-a da cozinha (resquícios de um passado escravista e, depois, de

uma sociedade que oprimiu a mulher)? Ou repensar a exagerada quantidade de banheiros

multiplicados pelo número de dormitórios, acrescidas ainda de um banheiro social, ou lavabo,

que remonta às casas coloniais, nas quais o visitante ficava do lado e fora ou apartado da

família? Ou rever a excessiva compartimentação dos espaços que separam a vida, mesmo

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

107

dentro do ambiente familiar? Estas e outras questões compõem, hoje, a problemática

habitacional brasileira.

5.2.3 Conceituação e Dimensionamento dos Equipamentos

As principais tipologias habitacionais, encontráveis, por exemplo, nas periferias das

grandes cidades do mundo inteiro, permanecem aproximadamente as mesmas há décadas. O

Movimento Moderno europeu do entre-guerras constituiu o primeiro e único momento em

toda a história da Arquitetura em que o desenho e a produção de espaços de morar foram

integralmente revistos, analisados de acordo com critérios claramente formulados, cujos

resultados nortearam – e ainda norteiam – boa parcela de projetos de habitação em todo o

mundo ocidentalizado (Figura 37).

Figura 37 – Edifício residencial HILEA (São Paulo)44

.

Fonte: Edifício residencial HILEA (São Paulo) (2009, p.34).

44

Equipamento implantado em São Paulo (Brasil), destinado à moradia de idosos de alta faixa de renda. Os

custos de operação e manutenção inviabilizaram o empreendimento, que foi estatizado pelo Governo do Estado e

transformado na Fundação Lucy Montoro e destinado a idosos de todas as faixas de renda. Conta com

ambulatório, apartamentos individualizados, área de lazer, mini-shopping (inclusive cinema), área de ginástica

com piscina semi-olímpica, área de fisioterapia, salão de eventos, estacionamento privativo.

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

108

No entanto, os arquitetos Modernos previram uma habitação prototípica, que

correspondia a um homem, a uma cidade, a uma paisagem, igualmente prototípicos em sua

formulação. Criaram um arquétipo, o da habitação-para-todos, baseado em uma concepção

biológica do indivíduo, mas a abrangência das proposições que ele continha foi sendo

gradativamente desconsiderada pela lógica técnico-financeira dos empresários da construção,

que preferiram apropriar-se apenas de elementos e conceituações economicamente rentáveis.

É este arquétipo Moderno da 'habitação-para-todos', mesclado aos princípios da repartição

burguesa oitocentista parisiense, que veio sendo reproduzido ad infinitum, em todo o mundo

de influência ocidental, durante todo o nosso século, com pequena variação local, destinado a

abrigar, basicamente, a família nuclear. Porém, estudiosos de diferentes horizontes têm

apontado na mesma direção quando o assunto é a metrópole do século XXI: seu habitante

parece ser um indivíduo que vive, principalmente, sozinho, que se agrupa eventualmente em

formatos familiares diversos, que se comunica à distância com as redes às quais pertence, que

trabalha em casa, mas exige equipamentos públicos para o encontro com o outro, que busca

sua identidade através do contacto com a informação. O que tem a dizer a Arquitetura diante

deste quadro, se é que o tema Habitação já não lhe escapou de vez por entre os dedos para

tornar-se atribuição de investidores e usuários que não possuem outra referência senão os

modelos citados? Segundo quais critérios formularão novas propostas para o desenho deste

espaço?

Dentro do quadro acima, está posto o acentuado envelhecimento populacional, desafio

que o século XX colocou para o século 21: um acréscimo de 20 anos na expectativa de vida.

No caso brasileiro, representa uma cifra que ultrapassa a população de muitos países: 22

milhões de idosos, segundo o Censo de 2010.

Neste trabalho, já foram vistas as determinações legais, além da opinião de

especialistas, sobre a tipologia a ser adotada para abrigar idosos. Por outro lado, o Censo de

2010 verificou uma média por família em torno 3,09/pessoas, muitas delas chefiadas por

idosos. Destes, 37% ainda ajudam financeiramente aos filhos.

Analisando-se os 11 países, já estudados neste trabalho (Alemanha, Bélgica, Brasil,

Canadá, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, Reino Unido e Suécia), os quais detêm

juntos, 19% dos 578 milhões de idosos do mundo, verifica-se os seguintes tipos de habitação

para Idosos (Quadro 16):

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

109

Quadro 17 – Tipos de habitação para idosos

Forma de Habitação % Observações

Morando com Família 11 Como chefe da família ou amparado por ela.

Clínicas Especializadas 4 Idosos com algum tipo de enfermidade.

Residências com Apoio 2 Hotéis especializados para idosos de alta renda e/ou

estabelecimentos estatais e/ou filantrópicos para os demais.

Residências Próprias 83 Habitações Unifamiliares e Multifamiliares.

Total 100

Fonte: Organização das Nações Unidas (2008).

Observa-se, pelo quadro, que o idoso, com todas as suas limitações físicas, prefere

morar sozinho. A questão, tão somente, é como estabelecer uma tipologia que atenda,

adequadamente, esta preferência.

No caso brasileiro (3,09 pessoas/família), poderia ser formado os seguintes arranjos:

Idoso(a) morando sozinho(a).

Casal de Idosos.

Casal de Idosos mais um parente (filho ou filha).

Idoso(a) viúvo(a), ou separado(a) com dois parentes (sexos iguais).

Idoso(a) viúvo(a), ou separado(o) com dois parentes (sexos diferentes).

A prefeitura de São Paulo criou um programa habitacional para a 3ª Idade,

estabelecendo:

Habitações multifamiliares, edifícios de até 4 pavimentos, com unidades tipo kitinete

para idosos que vivem só, com 24.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço:

Sala/Quarto (14.40m²); Cozinha (4.80m²); Banheiro (4.80m²).

Habitações unifamiliares, casas, ou multifamiliares, apartamentos, em edifícios de até

4 andares com elevadores, para famílias de idosos casados, mais um parente, com

45.00m², seguindo a seguinte distribuição de espaço: Varanda (7.32m²); Sala

(12.00m²); Dormitórios (2) (9.00m², cada); Cozinha (4.80m²); Banheiro (2.88m²).

No caso de habitações unifamiliares em casas térreas, adotou-se pequenos conjuntos

de até 200 casas, mais praça, pequeno comércio, lavanderia, quadra de bocha.

Analisando-se a proposta da prefeitura de São Paulo (Desenho 10), poderemos

considerar:

1. O padrão das casas atende à proposta do Programa Minha Casa Minha Vida, que

determina 35.00m² para casas e 45.00m² para apartamentos.

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

110

2. A Taxa de Conforto é próxima da europeia que estabelece 25.00m²/Pessoa. (Instituto

Habitacional e de Reabilitação Urbana –Lisboa)

Atualmente, recomenda-se que os conjuntos habitacionais não ultrapassem 1.000

unidades habitacionais, mesmo assim, divididos em pequenos conjuntos de 200 unidades para

facilitar a administração, manutenção e operação destes conjuntos.

Considerando a exigência legal de 5% de habitações para idosos, o conjunto de 1.000

unidades teria 50 destinadas a idosos. E na subdivisão para 200 unidades, 10. Evitando-se,

assim que o idoso habite guetos só com pessoas da 3ª idade.

Os pequenos conjuntos têm a vantagem de poderem ser implantados, de forma mais

fácil e econômica, em pequenas áreas, dentro da malha existente, evitando a propagação do

grande problema da estrutura urbana do país que é o espalhamento das cidades de porte

médio. 200 casas poderiam abrigar até 600 habitantes, em 2HA, pela média familiar

brasileira. Com uma densidade de 300 a 350 habitantes por hectare, a mais recomendada, no

parcelamento urbano brasileiro, geralmente implanta-se 30 lotes por HA. O que representa

100 habitantes por HA, caso todos estejam ocupados, considerando-se a atual média familiar

de 3,09 pessoas/família, e apenas uma habitação por lote.

Segundo Mascaró (1996), “[...] considerando o padrão de moradia mais econômico, a

densidade mais adequada variou entre 300 e 350 habitantes por hectare, sendo o mínimo 40

habitantes por hectare para permitir uma utilização adequada da infraestrutura urbana”.

Desenho 10 – Casa para idoso ou casal de idosos.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

111

O padrão de quadra de 127,2 X 127,2, utilizando-se lotes de padrão alto (15 X 30) é

possível implantar habitações para 111 moradores, sendo 10 para idosos, em lotes de 15 X

15m (Desenho 11 e 12). Note-se que, na mesma quadra, implantou-se uma praça de

vizinhança de 80 X 100m (8.000m²), onde se poderia alojar mais 80 pessoas. Sem contar

pequenos espaços destinados a lojas de apoio (padaria, farmácia etc.) nas extremidades

superiores da quadra. Este mesmo padrão de quadra, utilizando o padrão econômico de

45.00m² para apartamentos, poderia alojar até 700 habitantes, mantendo-se a quadra e as áreas

de apoio.

[...] essas densidades, por sua vez, permitem ainda se ter uma boa qualidade

ambiental na cidade – região subtropical úmida – ambiências urbanas agradáveis

microclimaticamente quando associadas a perfis heterogêneos ou a afastamentos

laterais entre edificações – no caso de regiões subtropicais – pois favorecem a

insolação no inverno e a ventilação permanente no recinto urbano e nos ambientes

dos edifícios que a ele se abrem, contribuindo para retirar a poluição aérea.

(MASCARÓ, 1996).

Page 113: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

112

Desenho 11 – Quadra para inserção de idosos45

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

45

As dimensões da Quadra 127, 2 X 127,2 foram estabelecidas tendo em vista a resistência física dos idosos

obtidas nas pesquisas de campo em Copacabana, para percorrer 1km ou 1.000m. Andando 2 (duas) voltas em

torno da Quadra pode-se percorrer 1.017,6m. Como variação da proposta de Ildefonso Cerdá para Barcelona, foi

deslocado o espaço livre do interior daquela Quadra para o perímetro externo da presente proposta, resultando

um espaço, aberto, livre, dotado de equipamentos, ou seja, uma praça de vizinhança. Defronte à praça foram

implantados os lotes 5 X 30 (5% do total dos lotes da Quadra) para habitação de idosos. Sem abandonar o

tradicional partido xadrez, secularmente adotado em diferentes culturas, apenas foi introduzida uma pequena

modificação no sentido de torná-la mais humanizada.

Page 114: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

113

Desenho 12 – Quadra para inserção de idosos (detalhe da praça de vizinhança)46

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Tais afirmações também são válidas para outros climas do Brasil, como no semi-árido,

onde a arquitetura funciona com ventilação natural. Voltando à Mascaro (1996):

As densidades são, também, eficientes do ponto de vista energético ao aproveitar os

aspectos favoráveis ao clima local. Foi confirmado também o mesmo resultado para

climas frios, estabelecendo uma forte conexão existente entre a forma urbana e o uso

racional de energia.

O resultado formal do uso de densidades recomendadas tanto do ponto de vista

econômico como ambiental-energético talvez não seja o idealizado pelas teorias (Teoria da

Concentração Urbana, por exemplo) sobre o tema. Cidades compactas de centro densamente

desenvolvido é, sem dúvida, uma grande atração para arquitetos e urbanistas, mas também

para turistas que, romanticamente, vêem nelas lugares ideais para viver e experimentar a

vitalidade e variedade da vida urbana. Entretanto, a cidade compacta pode se tornar

superlotada e sofrer a perda da qualidade de vida com menos espaços abertos, maior

46

A praça foi dimensionada com o objetivo de atender à população idosa, mas nada impede de ser utilizada por

outras faixas etárias.

Page 115: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

114

congestionamento e poluição, podendo chegar a ser o tipo de lugar onde a maioria das pessoas

não gostaria de viver. Não é bom esquecer que a maioria das teses sobre adensamento urbano

parte de países europeus, densamente povoados, situação bem diferente do Brasil, país

continental e, ainda, para ser povoado em várias de suas regiões. Ressalte-se que as ideias que

justificam a cidade compacta tiveram pouco impacto na Inglaterra onde, no pós-guerra, houve

inúmeros movimentos de saída da cidade em favor das periferias.

No caso aqui considerado, uma quadra urbana onde possam ser alojados idosos,

obedecendo a recomendação legal de destinar 5% dos lotes para este segmento da população,

optou-se por um lote de 5 X 30 e uma casa com aproximadamente 60m², para um casal de

idosos ou idoso morando sozinho. Essas casas foram implantadas em frente a uma quadra de

vizinhança e seu entorno é composto por residências unifamiliares, em lotes de 15 X 30, com

índice de aproveitamento máximo de 1 e Taxa de Ocupação de 50%, configurando uma casa

de no máximo 450m² e mínima de 225m², destinada a famílias de características diversas e

com possibilidade de interagir com os moradores idosos.

A dimensão da Quadra possibilita que, dando apenas duas voltas no seu entorno, o

idoso possa completar 1km de caminhada e controlar o seu espaço/tempo de deambulação

diária. A praça conta com vários equipamentos de apoio (quadra de voleibol, quadra de bocha,

áreas de conversação, áreas de jogos de mesa, ponto de ônibus etc.), às atividades de lazer,

tanto do ponto de vista ativo como contemplativo.

As dimensões da Quadra (127,2 X 127,2m) aproximam-se das dimensões das quadras

de Ildefonso Cerdá (113 X 113m), obedecendo o partido xadrez, mas dimensionadas de

acordo com a pesquisa de campo realizada em Copacabana, observando principalmente a

capacidade física de pessoas entre 65 e 85 anos de idade, não excluindo evidentemente,

pessoas com idade abaixo ou acima desse patamar.

5.3 O DESENHO UNIVERSAL

O Desenho Universal conceitua aquilo que é aplicável ou comum a todos os

propósitos, condições e situações (Housing for the Lifespan of all People). No intuito de se

encontrar, no futuro, um padrão universalmente aplicável às residências e equipamentos,

muitos itens, das casas atuais podem e devem ser universalmente usáveis. O conceito de

desenho universal aumenta a quantidade de habitações utilizáveis, permitindo que pessoas

permaneçam em suas próprias casas na velhice.

Page 116: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

115

Diante deste quadro, é fundamental a definição do indivíduo a quem se quer atender,

com desenhos voltados para aquele padrão onde não se leva mais em conta os valores médios,

em termos físicos, da população, padrão este que vem se modificando ao longo do tempo,

principalmente na população brasileira.

Na nossa sociedade, hoje, há grande contingente de indivíduos com incontáveis

dificuldades físicas, representando milhões que se encontram fora da “média”: crianças,

idosos ou adultos com alguma restrição física, impossibilitados de ser parte integrante do

padrão para o qual, geralmente, eram aplicados os parâmetros de desenho e construção.

Muitas são as pessoas sobrevivendo a acidentes graves, doenças permanentes e uma

parcela cada vez maior de idosos que, com o passar do tempo, vão apresentando alguma

restrição de movimentos. Estas pessoas com dificuldades, às vezes banais, ou transitórias,

como ossos fraturados, doenças osteo-articulares, sequelas ou gravidez; sabem como é penoso

tentar viver normalmente em ambientes que não estão preparados para as suas dificuldades. É

necessário que os ambientes construídos para acomodar estas pessoas tenham que mudar para

acompanhar as necessidades atuais do mundo e da população.

5.3.1 Princípios do Desenho Universal

Segundo a NC State University. The Center for Universal Design – 1977, Desenho

Universal é “o desenho de produtos e ambientes para serem utilizados por todas as pessoas o

maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação ou desenho especial”, e baseia-se em

sete princípios, que são:

Princípio 1 - Uso Correto. O desenho é utilizável e comercializável para pessoas com

diversas capacidades/incapacidades.

1. Prever a mesma forma de uso para todos os usuários.

2. Evita segregação ou estigmatização de qualquer usuário.

3. Providencia igualmente privacidade, segurança e proteção para todos os usuários.

4. Torna o desenho atrativo para todos os usuários.

Princípio 2 - Flexibilidade de Uso. O desenho acomoda uma larga faixa de

preferências e habilidades individuais.

1. Prevê escolha da forma de utilização.

2. Aceita o uso ou acesso pela direita ou pela esquerda.

3. Facilita a precisão ou exatidão do usuário.

4. Prevê adaptação ao jeito do usuário.

Page 117: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

116

Princípio 3 - Uso simples e intuitivo. O uso do desenho é facilmente compreendido,

não importando a experiência do usuário, o seu conhecimento, suas aptidões linguísticas ou

nível de concentração.

1. Elimina complexidade desnecessária.

2. É consistente com a expectativa e a intuição do usuário.

3. Acomoda uma faixa grande de aptidões e habilidades lingüísticas.

4. Agrupa informações consistentes com sua importância.

Prevê efetiva lembrança e realimentação durante e depois da conclusão da tarefa.

Princípio 4 - Informação Perceptível. O desenho dá a necessária informação ao

usuário, não importando as condições do ambiente ou as habilidades sensoriais do usuário.

1. Usa modalidades diferentes para apresentação de informações essenciais:

(pictóricas, verbais e táteis).

2. Maximiza a legibilidade de informação essencial.

3. Descreve elementos de forma diferenciada, facilitando as instruções/indicações.

4. Prevê compatibilidade com uma variedade de técnicas ou equipamentos usados

por pessoas com limitações sensoriais.

Princípio 5 - Tolerância de Erro. O desenho minimiza os perigos e as consequências

adversas de ações não intencionais ou acidentais.

1. Arranja elementos que minimizem os perigos e os erros; elementos mais usados,

mais acessíveis; elimina isola ou esconde os elementos perigosos.

2. Prevê alerta para perigos e erros.

3. Prevê a falha de peças de segurança.

4. Desencoraja ações inconscientes em tarefas que requeiram vigilância.

Princípio 6 - Pouco Esforço Físico. O desenho pode ser usado de forma eficiente e

confortável com um mínimo de fadiga.

1. Permite ao usuário manter uma posição neutra do corpo.

2. Não exige grande esforço para operação.

3. Minimiza ações repetitivas.

4. Minimiza esforço físico de sustentação.

Princípio 7 - Tamanho e Espaço Para Aproximação e Uso. Prevê tamanho e espaço

apropriado para aproximação, a busca, a manipulação e o uso, não importando a altura,

postura ou mobilidade do usuário.

1. Prevê uma clara linha de visão para os elementos importantes para qualquer

usuário, sentado ou em pé.

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117

2. Torna o acesso a todos os componentes confortável para qualquer usuário sentado

ou em pé.

3. Aceita mãos ou próteses de tamanhos variados.

4. Prevê espaço adequado para o uso de equipamento auxiliar ou de ajudante.

5.4 CLÍNICAS OU ESTABELECIMENTOS PARA IDOSOS

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, clínica ou

estabelecimentos para idosos são Instituições governamentais ou não governamentais, de

caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a

60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania

(BRASIL, 2005).

5.4.1 Classificação dos Idosos

Com o aumento da expectativa de vida, a Gerontologia dividiu os idosos em 03

categorias, a seguir relacionadas, muito embora a legislação brasileira considere, como idosa,

pessoas com mais de 60 anos de idade.

1. Idosos “Jovens”: 60 a 75 anos de idade.

2. Idosos “Médios”: 76 a 86 anos de idade

3. Idosos “Velhos”: Acima de 86 anos de idade.

5.4.2 Graus de Dependência

Grau de Dependência I: Idosos independentes, mesmo que requeiram usos de

equipamento de auto-ajuda.

Grau de Dependência II: Idosos com dependência em até três atividades de auto-

cuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade e higiene; sem

comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada.

Grau de Dependência III: Idosos com dependência que requeiram assistência em todas

as atividades de auto-cuidado para a vida diária e ou comprometimento cognitivo

Grau de Independência ou de Autonomia: É o idoso que detém poder decisório e

controle sobre a sua vida.

Page 119: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

118

5.4.3 Estrutura Física

Toda construção, reforma ou adaptação na estrutura física das instituições, deve ser

precedida de aprovação de projeto arquitetônico junto à autoridade sanitária local bem como

do órgão municipal competente.

A instituição deve atender aos requisitos de infraestrutura física previstos nesta RDC,

além de exigências estabelecidas em códigos, leis ou normas pertinentes, quer na esfera

federal, estadual ou municipal e, normas específicas da Associação Brasileira de Normas

Técnicas.

A instituição de Longa Permanência para Idosos deve oferecer instalações físicas em

condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança e garantir acessibilidade a todas

as pessoas com dificuldade de locomoção segundo a Lei Federal 10.098/2000.

Quando o terreno da Instituição de Longa Permanência para Idosos apresentar

desníveis, deve ser dotado de rampas para facilitar o acesso e a movimentação dos residentes.

As Instalações Prediais de água, esgoto, energia elétrica, proteção e combate a

incêndio, telefonia e outras existentes, deverão atender às exigências dos códigos de obras e

posturas locais, assim como normas técnicas brasileiras pertinentes a cada uma das

instalações.

5.4.4 Exigências Específicas

1. Acesso Externo: Devem ser previstas, no mínimo, duas portas de acesso, sendo

uma exclusivamente de serviço.

2. Pisos Externos e Internos (inclusive de rampas e escadas): Devem ser de fácil

limpeza e conservação, uniformes, com juntas e com mecanismo antiderrapante.

3. Rampas e Escadas: Devem ser executadas conforme especificação da NBR

9050/ABNT, observadas as exigências de corrimão e sinalização. A escada e a

rampa de acesso à edificação devem ter no mínimo, 1.20m de largura.

4. Circulações Internas: As circulações principais devem ter largura mínima de 1.00

e as secundárias podem ter largura mínima de 0.80m, contando com luz de vigília

permanente.

5. Circulações com largura maior ou igual a 1.50m devem possuir corrimão dos dois

lados. Sendo menores que 1.50m podem possuir corrimão em apenas um dos

lados.

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119

6. Elevadores: Devem seguir as especificações da NBR 7192/ABNT e NBR

13.994/ABNT.

7. Portas: Devem ter um vão livre com largura mínima de 1.10m.

8. Janelas e guardacorpos devem ter peitoris de no mínimo 1,05m.

5.4.5 Programa Arquitetônico Mínimo

1. Sala Administrativa com lavabo anexo.

2. Sala para atividades Coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de

1,0m² por pessoa.

3. Sala de Convivência com área mínima de 1,3m² por pessoa.

4. Banheiros coletivos, separados por sexo, com no mínimo um box para vaso

sanitário que permita transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira de

rodas, conforme NBR 9050/ABNT.

5. Sala de Reuniões.

6. Espaço Ecumênico para meditação.

7. Refeitório com área mínima de 1m² por usuário, acrescido de local para guarda de

lanches, lavabo e luz de virgília.

8. Cozinha e Despensa.

9. Lavanderia.

10. DML (Depósito de Material de Limpeza).

11. Roupa Limpa/Roupa Suja.

12. Almoxarifado com área mínima de 12m².

13. Vestiário e Banheiro para funcionários separados por sexo. O Banheiro deverá ter

área mínima de 3,60m². Contando com bacia sanitária, lavatório e chuveiro. 01

para cada 10 funcionários ou fração. O vestiário deverá ter área mínima de

0,5m²/funcionário/turno.

14. Lixeira ou abrigo externo à edificação para armazenamento de resíduos até o

momento da coleta.

15. Área externa descoberta para convivência e desenvolvimento de atividades ao ar

livre (solário com banco, vegetação e outros).

16. Piscina e apoio (opcional e não exigível).

17. Dormitórios para 01 pessoa devem possuir área mínima de 7,50m², incluindo área

para guarda de roupas e pertences do residente.

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120

18. Dormitórios de 02 a 04 pessoas devem possuir área mínima de 5,50m² por cama,

incluindo área para guarda de roupas e pertences do residente. Devem possuir luz

de virgília e campanhinha de alarme.

19. Os dormitórios devem ter no máximo 04 residentes.

20. Deve ser prevista uma distancia de 0,80m entre duas camas e 0,50m entre a lateral

da cama e a parede paralela.

21. O banheiro deve possuir área mínima de 3,60m² com bacia sanitária, lavatório e

chuveiro, não sendo permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter

água, nem materiais que produzam brilho e reflexos.

22. A exigência de um ambiente, depende da execução da atividade correspondente.

23. Os ambientes podem ser compartilhados de acordo com a finalidade funcional e a

utilização em horários ou situações diferenciadas.

5.4.6 Formas de Assistência

O idoso conta com 03 opções para utilizar a Clínica:

1. Passar somente o dia e voltar para casa à noite.

2. Hospedar-se em fins de semana, feriados e férias.

3. Residir no local.

5.4.7 Pessoal de Apoio

1. Responsável Técnico, que responderá pela instituição junto à autoridade

competente. O RT deverá possuir formação de nível superior e carga horária

mínima de 20 horas semanais;

2. Cuidador: Pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para

realizar atividades da vida diária.

5.4.8 Para os Cuidados aos Residentes

1. Grau de Dependência I: Um Cuidador para 20 idosos, ou fração, com carga

horária de 8 horas/dia.

2. Grau de Dependência II: Um cuidador para cada 10 idosos, ou fração, por turno.

3. Grau de Dependência III: Um cuidador para cada 06 idosos, ou fração, por turno.

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

121

4. Para Atividades de Lazer: Um profissional com formação superior para cada 40

idosos com carga horária de 12 horas semanais.

5. Serviço de Limpeza: Um profissional para cada 100m² de área interna, ou fração,

por turno.

6. Serviço de Alimentação: Um profissional para cada 20 idosos, garantindo a

cobertura de dois turnos de 8 horas.

7. Setor de Lavanderia: Um profissional para cada 30 idosos, ou fração,

diariamente.A instituição poderá terceirizar os serviços de limpeza, alimentação e

lavanderia desde que apresente contrato e cópia do alvará sanitário da empresa ou

empresas terceirizadas.A instituição que terceirizar os serviços acima poderá

dispensar quadro de funcionários próprios e área física para eles destinadas,

inclusive os locais para realização dos serviços.

8. Setor Médico: A instituição deve possuir um profissional da área de saúde

vinculada à sua equipe de trabalho, com registro no respectivo Conselho de

Classe. Recomenda-se um Gerontólogo ou Geriatra.

5.4.9 Alternativas para o Atendimento ao Idoso

No Brasil, além das instituições públicas, existem diversas clínicas ou centros de

atenção aos idosos com número e formas variadas de atendimento. Em geral as clínicas não

ultrapassam os 30 pacientes mas, principalmente em São Paulo, já existem grandes estruturas,

inclusive com serviços de hotelaria, atendimento médico especializado, fisioterapia,

psicologia, lazer etc., voltados para idosos.

Começam a surgir também condomínios destinados a este segmento de mercado. É

uma tipologia muito semelhante as que são adotadas nos EUA ou da Costa Mediterrânea da

Itália, Espanha, Portugal e Nordeste do Brasil.

O urbanismo moderno indica a necessidade de, no meio das complexas e, em geral,

caóticas estruturas urbanas das cidades, implantar áreas de refúgio destinadas a idosos.

Na Holanda, principalmente Amsterdam, no chamado Plano dos 3 Canais, projetados

pelo arquiteto Hendrick Staets, no século XVII, existem os famosos Hofjes, ou “abrigos”,

muito utilizados por idosos. São áreas livres, ou pátios, implantados no meio de quadras

urbanas, de grande qualidade ambiental. Além de garantir conforto e privacidade aos idosos,

não os afasta das facilidades da vida urbana.

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

122

A legislação brasileira recomenda que na construção de conjuntos habitacionais, em

geral, pelo menos 5% das habitações sejam destinados a idosos.

Na Suíça, onde é permitida a Eutanásia, já existem clínicas especializadas em orientar

idosos para a morte.

Nos Estados Unidos, a iniciativa privada investe muito em estruturas destinadas a

idosos com tipologias destinadas a determinadas faixas etárias e que comportam desde

cidades ou conjuntos de 5.000 habitantes até clínicas especializadas. Em determinadas faixas,

principalmente para as pessoas acima de 80 anos, o serviço de atenção é realizado por

instituições religiosas, clubes de serviços ou instituições estatais de seguridade social. O

Quadro Nº 23 a seguir permite uma melhor explicação sobre estas estruturas.

Quadro 18 – Tipologia de atendimento a idosos, em instituições.

Hotel Clínica para Idosos

Tipologia:

1. Clínica Dia: O paciente passa o dia na clínica e dorme em casa.

Geralmente são idosos cujos parentes precisam trabalhar e necessitam

de apoio para cuidar do seu idoso. Atendimento particular. Máximo de

30 pacientes.

2. Asilos Públicos: Cuidam de idosos que não possuem ou foram

abandonados pela família.

3. Asilos Religiosos: Entidades religiosas que organizam abrigos pu

asilos para idosos carentes e sem família.

4. Residências Permanentes: Pacientes com bom poder aquisitivo que não

desejam incomodar familiares e passam a morar nessas estruturas.

Pode ser residências planejadas para tal fim ou até flats para

atendimento específico à idosos.

Fonte: Brasil (2005).

5.4.10 A Casa Segura

À “Casa Segura” deve-se aplicar de tal forma os 7 Princípios do desenho universal que

ao morador ou visitante que nela penetrar, o faça como que visualizando-a como uma casa

normal. Este é um preceito importante da Casa Segura (BARROS, 2000).

Porta da Frente (Externas):

Deve ser fácil de abrir para qualquer um, seja uma pessoa chegando em casa com as

mãos ocupadas ou uma pessoa idosa com bengala. São os mais variados tipo de fechaduras.

Dos mais simples aos mais sofisticados. Incluem trincos, ferrolhos, tranquetas e outros tipos

de sistemas que visam assegurar a segurança da casa. A maçaneta deve ser do tipo alavanca. É

mais fácil de ser manipulada que as do tipo redonda, seja por uma criança, ou por uma pessoa

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123

com artrite ou outra deficiência de movimento nas mãos. Uma instalação de fechadura acima

da maçaneta, facilita o acesso ao cilindro. Trincos de segurança do tipo deslizante são também

fáceis de serem manuseados. Cartões magnéticos ou fechaduras de controle remoto, ativados

á distância estão sendo, cada vez mais, utilizados.

As dobradiças devem ser de mola ou mola aérea. O idoso ao passar, não precisará

voltar para fechá-la. O espaço do piso ao lado da porta deve prever a aproximação de uma

pessoa com cadeiras de rodas, ou andador, que tem necessidade de um espaço maior para

manobras de aproximação para abrir a porta. 50 a 60 centímetros ao lado da porta são

suficientes. Na impossibilidade desse espaço é importante se adotar um controle automático

da porta. Caso seja térrea é importante que a entrada esteja próxima e de fácil acesso ao local

de desembarque, seja garagem ou passeio. O piso externo deve ser do tipo antideslizante. Na

entrada, caso o piso da casa seja mais alto, deve sempre existir uma rampa de acesso para

facilitar o movimento de cadeiras de roda e bengalas e aliviar o esforço despendido ao se

utilizar degraus. Caso seja uma soleira, deve ter uma pequena rampa na direção do desnível

impedindo tropeços. Capachos e tapetes devem ser abolidos. Caso seja necessários devem ser

colocados em rebaixos, alinhados ao piso e sempre pregados ou colados. Toda porta externa

deverá ter uma proteção contra intempéries (pequenas marquises, toldos etc.).

Segundo a NBR 9050 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,

2001), a porta deve ter, no mínimo, 80cm de largura. O ideal é que sejam até um pouco mais

largas. Caso sejam de duas folhas, uma delas deve ter 80cm. Existem dobradiças que

garantem uma abertura de 90º, medida que permite um vão livre maior.

Não esquecer a iluminação externa e a adoção de olho mágico ou visor. O olho mágico

deve ser colocado a 1.35m do piso. Para pessoas que usam cadeiras de rodas o ideal fica em

torno de 1.00m

Portas Internas:

Devem ser pivotantes ou de correr. Caso não haja a necessidade de trancá-las, deve-se

usar somente a alavanca que ajuda a puxá-las.

Salas de Estar e Jantar:

As salas devem ser simples, conter mobiliário de uso corrente, eliminando-se móveis e

objetos supérfluos que possam trazer riscos, como banquetas ou mesinhas muito baixas e

tapetes soltos. Caso sejam utilizados devem ter cores e texturas contrastando com as dos pisos

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

124

e paredes que delimitam bem a área de uso de cada um. A superfície deve ser fosca e lavável.

Os móveis devem ter bordas arredondadas para diminuir cortes e contusões.

As paredes devem servir de estímulo ao idoso. Cores neutras são mais garantidas mas

hoje existe uma grande quantidade de cores alegres que devem ser usadas desde que

mantenham a luminosidade dos ambientes.

A iluminação deve ser mais forte, uniforme e antiofuscante. Tanto superfícies de

trabalho como a mesa de refeições devem ter iluminação dirigida para facilitar a

concentração. Os idosos em geral são mais sensíveis ao ofuscamento e mais lentos na

adptação às diferentes luminosidades. Assim, o nível de iluminação deve ser 3 vêzes maior

que o normal, contínuo (vários pontos de intensidade, ao invés de um único) e antiofuscante.

Mobiliário:

Sofás e cadeiras, sem perder a funcionalidade e o conforto, tem que transmitir

segurança, com assentos mais altos (45 a 50cm do chão) e braços não muito macios, com

intensidade moderada. Cadeiras de apoio devem ter espaldar mais alto. Mesas de telefone e

mesas laterais de apoio não devem ter quinas vivas, nem tampos quebráveis e cortantes, como

as de vidro, mármores ou granitos. Abajur e luminárias devem ser de material inquebrável.

Estantes e outros móveis devem ser bem firmes, presos ao chão ou paredes e não

devem conter objetos muito pesados ou de vidro.

Aparelhos de TV e Som devem possibilitar uso confortável e fácil. Devem possuir

controle remoto, para que o próprio idoso faça valer suas preferências sem precisar se

deslocar constantemente e pedir ajuda a alguém.

Na Mesa de Jantar é preferível que as cadeiras sejam sem braços, porém firmes. A

altura deve ficar entre 72 e 75cm. As bordas das mesas devem ser arredondadas e o tampo de

preferência em material lavável. Objetos e utensílios usados nas refeições devem ser de

plástico, ou aço inox, inquebráveis e cores contrastantes. Os talheres de metal com desenho

largo, não muito pesados, que facilitem os movimentos inerentes a alimentação. Em torno da

mesa de jantar deverá ter espaço suficiente para uma movimentação sem restrições e

observados espaços para usos de pessoas em cadeiras de rodas.

São recomendáveis interruptores com desenho que facilitem a manipulação, por toque

de mão ou cotovelo, instalados a uma altura de 1.10m a 1.20m, ideais para o uso tanto de

adultos como de crianças. Indivíduos idosos geralmente apresentam dificuldades na elevação

dos braços e as suas articulações superiores também apresentam diminuição de movimentos.

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125

Evitar sempre que fios, elétricos ou de telefone, fiquem soltos pelo perigo que

representam. Fios soltos são responsáveis por uma quantidade muito grande de acidentes

caseiros como quedas, por exemplo.

Tomadas devem ficar a uma altura de torno de 45cm do piso. Esta altura permite ao

idoso alcançá-la, sem necessidade de abaixar-se demais e também diminuindo a possibilidade

de que tentem desligar aparelhos puxando pelo fio e não pela tomada. Atitude altamente

condenável pelo que pode provocar de curtos-circuitos a incêndios.

O manuseio de fios e tomadas também pode ser resolvida com uma medida técnica

muito utilizada nas modernas residências: os abjures são ligadas a tomadas, interligadas a

interruptores próximos da entrada/saída. Assim, a pessoa pode entrar e acender o abajur ao

mesmo tempo em que aciona o ponto de luz no teto. Fazendo o movimento inverso ao sair

sem necessidade de abaixar-se nas duas operações.

Outra medida que facilita muito a movimentação interna, permitindo que as luzes

sejam acesas e apagadas ao longo do caminho, na entrada ou saída, é a adoção de

interruptores do tipo three way. Um outro avanço tecnológico são os sensores de presença e

outros dispositivos eletrônicos que podem acionar, acendendo ou apagando, as luzes com a

simples presença ou ausência do morador.

As áreas de circulação devem ser providas de lâmpadas que se acendem

automaticamente quando diminui o índice de iluminamento do cômodo, permanecendo acesas

até que este índice atinja níveis aceitáveis e seguros.

A maior parte dos acidentes domésticos, como quedas e outras ocorrências, ocorre no

período noturno, fator que aumenta a importância da iluminação. O caminho quarto/banheiro

é onde acontece a maioria das quedas, provocando fraturas nos idosos. Evitar a todo custo as

áreas de sombra assim como os pontos de luz cent nos quartos. O uso de reguladores de luz –

dimmers – nos interruptores minimiza fatores de ofuscamento e diferenças entre áreas

iluminadas e escuras, facilitando a vida da pessoas idosa.

Convém manter lâmpadas de emergência ou uma lanterna comum a pilha nas

proximidades da cama. Evitar o uso de velas. O manuseio de fósforos para acender a vela,

numa situação de escuridão, ou causar problemas sérios aos idosos como incêndios.

Importante personalizar o ambiente. Tal atitude gera o sentimento de pertinência ao

local, contribuindo para a manutenção da identidade, controle da situação e auto-estima do

idoso.

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126

Os pisos devem ser antiderrapantes, tipo madeiras tratadas com resinas foscas, pisos

sintéticos, pedras foscas (principalmente em climas quentes). Tapetes antialérgicos e baixos,

de preferência desprovidos de pelo.

A luz natural, a ser filtrada através de persianas externas ou internas, deve estar

presente no ambiente da casa. As janelas deverão se de fácil manuseio, material leve, como

PVC e/ou alumínio. Em residências térreas é importante manter o idoso em contato com o

exterior, adotando-se peitoris mais baixos, ou transparentes, feitos de materiais resistentes,

que possibilitem ao idoso um interação com o ambiente externo, mesmo sentado num sofá ou

cadeiras de rodas. Para apartamentos recomenda-se adoção de varandas e terraços.

Quartos:

Portas com no mínimo, 0,80m.

Armários de roupa devem possuir portas leves, fáceis de fechar e abrir e sistema de

troca de ar (poderá ser de treliça ou telas).

Puxadores devem ser do tipo alça ou alavanca. Evitar os do tipo botão.

Cabideiros deverão ser colocados em posição mais baixa que a usualmente utilizada,

permitindo que os idosos retirem as roupas sem precisar se abaixar muito ou esticar os braços

para cima. Processo doloroso para quem tem problemas de articulação.

As gavetas devem possui a sua parte da frente em acrílico transparente para permitir

ao idoso identificar logo o conteúdo das mesmas. Devem trabalhar sobre deslizantes sintéticos

que permitam a abertura e o fechamento de forma suave e delicada. Devem possui trava para

evitar que, ao serem puxadas, saiam das corrediças e caiam, provocando algum acidente.

Prateleiras podem ser colocadas em alturas variáveis. Deve-se deixar furos que

permitam alturas diferentes.

Prevê iluminação interna dos armários. Normalmente as luminárias do teto ficam atrás

das pessoas que utilizam os armários, criando zonas de sombra que impedem uma boa

visualização.

A cama deve ser projetada de acordo com a pessoa que a utiliza. O colchão e sua

altura variam de acordo com o tipo físico e peso do usuário. Deve ser espaçosa (1.50m

mínimo) e altura entre 0.45m e 0.50m. A pessoa sentada na beira da cama deve ter a

possibilidade de por os pés no chão, evitando a hipotensão postural (tontura) que pode causar

quedas ao se levantar. Deve possuir uma cabeceira que permita ao idoso recostar-se com

facilidade e sem esforço adicional.

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As mesas de cabeceira são um acessório importante. Mantêm ao alcance das mãos do

idoso todos os materiais que ele possa precisar durante a noite ou nos períodos de descanso.

Devem estar 10cm mais altas do que o colchão, evitando que, durante o sono, a pessoa caia

sobre a mesinha ou desloque os objetos de cima dela com os travesseiros. Deve ser presa à

cama, à parede ou no chão, de forma tal que possa também ser usada como apoio para se

levantar.

O quarto deve ter calefação (em climas frios), ar condicionado ou ventilador de teto no

sentido de manter a temperatura dentro de padrões aceitáveis. Pode-se usar também o peitoril

ventilado para possibilitar a ventilação natural e fluxo de ventilação pela fórmula: Entrada de

Ar = Saída de Ar ou Entrada de Ar < Saída de Ar. Utilizando-se armários (vazados nos dois

lados) e bandeiras de porta para permitir a circulação do ar.

O abajur deve ser fixado à mesa de cabeceira, ou parede, para evitar quedas e ter uma

altura compatível com a posição de leitura preferida pelo idoso.

Os interruptores (luz no teto, abajur e os demais) devem ser colocados ao alcance das

mãos, mesmo o idoso estando deitado. Os do tipo three way são os mais indicados para evitar

que as pessoas precisem se levantar para apagar as luzes antes de dormir e também acionar, da

cama, a iluminação dos corredores e banheiros. Um luz noturna baixa, 0.45cm deve

permanecer permanentemente acesa.

Sistema de controle de voz, tipo “viva voz” são opcionais quando se tratar de idoso

assistido por familiares e acompanhantes.

Janelas no mesmo padrão das salas. Devem permitir um ambiente com menos ou mais

luz. Evitar cortinas pesadas. Estas podem ser acionadas por controle remoto.

Uma cadeira ou poltrona deverá ficar perto do armário, permitindo que a pessoa

sentada tenha condições aceitáveis de calçar meias e sapatos.

Usar pisos antiderrapantes, laminados, sintéticos ou madeiras, sempre com superfície

fosca par evitar reflexos que podem comprometer a visão do idoso.

Banheiros:

Um dos locais da casa onde se exige maiores cuidados no sentido de garantir

segurança para os usuários idosos. É o cômodo residencial onde ocorrem os acidentes mais

graves.

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Ao longo do processo de urbanização do país teve sua área sensivelmente reduzida,

principalmente quando houve a mudança na forma de morar e grande parte da população

brasileira trocou a casa pelo apartamento.

O banheiro deve ser ligeiramente mais largo para acomodar a entrada de uma cadeira

de rodas ou bengala, com acesso ainda para que outra pessoa possa entrar no recinto para

ajudar um cadeirante ou, por exemplo, uma criança nas suas atividades higiênicas.

O Brasil já dispõe de toda tecnologia necessária para se instalar os equipamentos de

segurança exigidos pela NBR 9050. Tanto para adaptação aos antigos banheiros como em

novas unidades.

A banheira só deve existir em um banheiro se houver espaço para um box de chuveiro

independente. Utilizar a banheira como box, ao mesmo tempo, é muito perigoso por causa da

superfície lisa e do espaço muito estreito.

Para facilitar pessoas com cadeiras de rodas, torneiras e comandos da banheira devem

ficar na parede externa, simplificando o acesso de outras pessoas.

As barras de apoio devem ficar, em relação à banheira, nas seguintes posições: [a]

horizontal: fixada a 20cm de altura em relação à borda da banheira; [b] vertical: fixada na

parte externa também a 20 cm da borda da banheira.

O chuveiro deve ter altura ajustável, para cima ou para baixo. O recurso da ducha para

chuveiro removível do tipo telefone é aceitável, pois pode ser deslocado para diversas

posições. O registro de abertura do chuveiro deve ser do tipo monocomando alavanca,

colocado à 1.00m do piso.

Saboneteiras ou porta shampoo, devem ser substituídos por recipientes para sabonete

líquido, fixados à parede, numa altura de 1.20m no máximo. Evitar prateleiras de vidro ou de

todo apoio saliente, cortante com quinas vivas.

Porta-Toalhas deve ficar próximo ao boxe. Podem servir também de barras de apoio

quando houver exigüidade de espaço para colocar o porta-toalhas e a barra de apoio exigida.

Bacias Sanitárias tem como regra geral, tradicional, altura de 38cm. Para atender

pessoas com dificuldade de locomoção exige-se que esta altura seja aumentada para 46cm,

possibilitando maior conforto ao sentar. Duas opções para esta situação são permitidas: [a]

Plataforma embaixo da bacia (concreto), com dimensões que não ultrapassem, em hipótese

alguma, mais que 5cm do perímetro da base da bacia; [b] Um acento mais alto. A válvula de

descarga deve ficar a uma altura máxima de 1.00m. No caso de caixa acoplada convém fazer

as devidas alterações sem deixar de obedecer ao que está estipulado quanto do uso de

válvulas.

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Duchas higiênicas, substituindo o bidê, devem ficar com uma altura de 45cm do piso.

Papeleiras devem ser do tipo externo facilitando o acesso e retirada do papel.

Barras horizontais, na lateral e no fundo, para apoio e transferência, devem ser fixadas

a 30cm de altura em relação ao assento da bacia. O comprimento deve ser de 90cm. No caso

de caixa acoplada apenas a barra lateral deve ser utilizada pois a existência da caixa dificulta

o acesso à barra.

Lavatórios podem ser utilizados com ou sem gabinete. Nos dois casos, deve ser

prevista uma área que seja suficiente para permitir a utilização do equipamento por uma

pessoa sentada com dificuldades de locomoção. Todo e qualquer elemento que dificulte o

acesso ao lavatório deve ser eliminado. A altura ideal para fixação do lavatório é de 80cm em

relação ao piso. Sendo que 70cm devem ficar livres para otimizar o uso por uma pessoa com

dificuldade de dobrar-se para a frente, sobre a cintura e ainda pelos que necessitam sentar-se.

Barras de apoio ao lado dos lavatórios são também recomendadas. Os gabinetes terão área de

fácil acesso sob o lavatório. Gavetas serão dotadas de travas nos deslizantes e devem ser

evitadas quinas vivas nas bancadas e nos gabinetes.

Sifões e tubulações, devem estar distantes da borda pelo menos 25cm e contar, com

elemento de proteção, evitando que as pessoas machuquem o joelho ou queimem no tudo de

água quente.

Torneiras devem ficar numa distância de 50cm em relação a face externa frontal do

lavatório e devem possuir comando acionado por alavanca ou célula fotoelétrica, facilitando a

utilização por pessoas com problemas de mobilidade das mãos e permitir controle da

temperatura da água. Torneira que possuem alavanca de ½ volta podem ser utilizadas, pois

são fáceis de abrir e fechar por pessoas com pouca habilidade manual.

Tomadas e interruptores devem estar numa altura entre 1,10 e 1.20m a partir do piso e

ser posicionadas fora das áreas molhadas ou onde possam ser atingidas por respingos

provenientes das atividades próprias do banheiro. As tomadas serão aterradas para evitar

curtos circuitos.

A iluminação adequada é uma necessidade para facilitar a movimentação, evitando

tropeções e escorregões que sempre representam perigos para qualquer pessoa. É importante

iluminar a área em torno do lavatório para utilização mais adequada e para facilitar a leitura

de rótulos e bulas de vidros de remédios, ou qualquer outro produto guardado nos gabinetes.

Recomenda-se manter neste local, ao alcance da mão, uma lanterna com lente de aumento

para qualquer emergência.

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Espelhos de armários, ou implantados sobre o lavatório, deverão possuir uma

inclinação de 10º para possibilitar que uma pessoa sentada possa utilizá-lo.

Lâmpadas devem iluminar os objetos e ser posicionados de forma a não ofuscar os

olhos. Pontos de luz diretos causam problemas em pessoas que usam lentes refratárias. É

importante o uso de lâmpadas noturnas nos banheiros e nos caminhos que levam dos quartos

ao banheiro, onde o índice de utilização é alto principalmente no período noturno.

Recomenda-se a instalação de luminárias de emergência, no caso de falta de luz.

Paredes e pisos devem ser claros para ajudar na iluminação. O mesmo deve ser feito

em relação à luz natural durante o dia.

Vidros e espelhos decorativos devem ser utilizados com o máximo de cautela

evitando-se as superfícies cortantes.

Acidentes relacionados com o banho ocorrem na sua grande maioria devido ao

cansaço físico e mental, misturados à fadiga por medicamentos e pelo calor da água.

Aparelhos intercomunicadores (telefones e alarmes) são recomendáveis para chamadas

de socorro de acordo com a idade e a necessidade do usuário. Portas que se abrem para fora

ou possuam dispositivos de remoção são também recomendáveis.

Cozinhas e Áreas de Serviço:

A cozinha moderna possui equipamentos e mobiliário que tornam o seu uso

extremamente fácil mesmo para pessoas com grandes limitações físicas, facilitando assim o

preparo de alimentos por gestantes, pessoas com necessidades especiais ou idosos.

O Fluxo de atividades numa cozinha eficiente segue uma sequência representada por:

a) Área de preparo: geralmente próxima à bancada da pia, para onde são levados os

alimentos que saem do refrigerador, freezer ou despensa, para serem limpos e

cortados.

b) Área de processamento: onde os alimentos são misturados e recebem os cuidados

necessários para serem consumidos (temperos, ingredientes diversos etc.).

c) Área de cocção: onde se encontram diversos equipamentos como fogão, forno,

micro-ondas, forno elétrico e grill.

Estas áreas devem ser colocadas em linha ou em forma triangular permitindo

economia de energia pessoal no deslocamento para cada um dos pontos a serem utilizados na

hora do preparo do alimento.

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Refrigeradores e freezers devem estar dispostos lado a lado, seja numa única peça ou

em duas. Estes equipamentos colocados desta forma facilitam o acesso por qualquer usuário

por possuírem portas altas e baixas, independente da altura do usuário. Inovações tecnológicas

como descongelamento automático, fábrica de gelo e torneira de água gelada na porta,

aumentam a produtividade nas cozinhas.

Fogões mais modernos têm botões de controle na parte da frente, o que os torna mais

fáceis de utilização por pessoas sentadas ou em pé.

Fornos possuem grades deslizantes, fixas nas laterais, o que faz com que o alimento

assado venha para fora do forno quando da abertura da porta, facilitando a retirada e evitando

queimaduras oriundas de vapores quentes do forno, que acontecem com relativa frequência.

Controle de escapamento de gases. É uma inovação no item segurança, de grande

utilidade. Os novos fogões bloqueiam automaticamente o fornecimento de gás quando a

chama se apaga. Podem ser também instalados em paredes, independente do fogão,

permitindo um melhor acesso.

Bancadas de pia e bancadas de trabalho devem ser de material resistente (granitos e

aço inox austenítico) com bordas sempre arredondadas. Já existe a possibilidade de ajustar-se

mecanicamente a altura das bancadas para os vários tipos de usuários mas é um item caro e

não produzido em escala industrial. Usualmente a altura indicada de uma bancada é de 85cm

a 90cm. O item determinante de uma bancada é o equipamento que está por baixo dela

(máquina de lavar pratos, trituradores etc.). Bancadas com a utilização destes equipamentos

pedem altura de 90cm. Prevê sempre um espaço sob as bancadas para que pessoas sentadas

em cadeiras de rodas, ou mesmo banquetas, possam executar serviços domésticos. Fogões e

pias podem ser instalados nos cantos onde seja imprópria a instalação de armários sob as

bancadas, economizando espaço na cozinha para instalação de outros utensílios ou

equipamentos.

Tábuas de apoio podem ser instaladas sob a forma de gavetas, permitindo que sejam

puxadas quando necessário, fornecendo um suporte ou uma área de uso adicional. A mesa de

refeições dentro da cozinha ou copa, pode servir de apoio para o preparo de refeições. É

recomendável deixar sempre um espaço livre, de apoio, para panelas, vasilhas e demais

utensílios de uso ao lado de cada equipamento, como fogão, por exemplo. Preferencialmente

entre 30cm e 45cm livres.

Armários de Cozinhas devem ser de material leve, durável, de fácil manutenção e

limpeza. Os superiores servem para guardar utensílios e mantimentos leves, além de pouco

utilizáveis. Os inferiores devem ter portas e gavetas fáceis de abrir, tendo corrediças com

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132

trava de segurança. Talheres ficarão em gavetas com divisões por peças (garfos, facas,

colheres, colherinhas etc.) facilitando a retirada.

Objetos de uso frequente devem ficar em locais de busca fácil e de acesso confortável.

Barras de Apoio instaladas na frente dos armários, entre a porta e a bancada, são

indicados pois permitem um apoio confiável para quem fica de pé.

Banquetas de alturas reguláveis ajudam as pessoas que não podem ficar de pé por

muito tempo, permitindo um descanso eventual.

Facilidades podem ser criadas para os que têm dificuldades de segurar utensílios:

bases para copos e pratos com furos que os mantém fixos e apoio para cortar legumes e

verduras mantendo-os fixados a tábuas.

Pias muito fundas exigem o apoio de tela plástica ou metálica (aço) que faz com que o

nível de trabalho fique mais alto e mais perto, melhorando a operacionalidade dos

equipamentos.

Espelhos acima do fogão permitem ver e supervisionar o progresso do cozimento no

fogão, principalmente para pessoas em cadeiras de rodas.

Marcas para designação de temperaturas, ajustes etc., devem contrastar com o fundo,

de forma que pessoas com visão debilitada possam enxergar o nível para o qual o

equipamento está ajustado ou ligado. Controles com marcações táteis ou auditivas também

são recomendáveis.

Luzes de Atenção ou pilotos de alerta devem ser bem visíveis para que as pessoas

possam saber se o equipamento está funcionando ou não. Os controles que ficam embutidos

em gabinetes tais como exaustores, luminárias, trituradores, serão montados na parte externa

das bancadas ou na parte frontal inferior dos gabinetes superiores, evitando-se assim que o

aparelho permaneça ligado inadvertidamente.

Despensas e locais para estocagem de alimentos e utensílios que são utilizados de

apenas eventualmente, devem ser criteriosamente estudados para que se encontre a melhor

solução para o caso. O que for usado com maior frequência deve ficar, sempre, nos locais

mais baixos e de fácil acesso.

Maçanetas, corrediças e dobradiças de uma cozinha devem ser colocadas de maneira a

facilitar os serviços de reposição e limpeza.

Utensílios apropriados para o dia-a-dia de idosos e pessoas com dificuldade em manter

as mãos firmes, sem força nos dedos, devem ser feitos preferencialmente de materiais

inquebráveis como plástico e poliocarbonato.

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133

Na Área de Serviço, os armários devem seguir as mesmas orientações da cozinha

quanto à praticidade, leveza e higiene, sendo bastante importante que sejam observados os

itens relacionados a aquecedores de gás, pois estes devem permanecer em ambientes sempre

ventilados e ter uma instalação cuidadosa e confiável. Aquecedores de última geração

possuem válvula eletrônica, que só aciona o fluxo de gás quando a água é aberta em um dos

pontos do banheiro. Isto propicia maior segurança, pois dispensa o uso do “piloto” que

mantinha a chama acesa.

A área de lavanderia deve ser dotada de tomada alta (1,10m a 1.20m) para ferro de

passar, de temperatura ajustável e controle automático que desliga o equipamento ao atingir

temperaturas mais elevadas. Tábuas de passar fixas também são recomendáveis, evitam

acidentes. E as de alturas reguláveis também são indicadas por proporcionar que uma pessoa

sentada possa cuidar de sua roupa.

Escadas, Plataformas e Elevadores:

Escadas fáceis de subir são sempre as mais seguras. Corrimãos ao longo dos degraus

são o fator de mais importante de segurança para todas as pessoas, chegando a ser

fundamental para algumas delas. Os degraus são um mal necessário e só perdem, em termos

percentuais de perigo para idosos, para os banheiros. Na medida em que as pessoas ficam

mais velhas, as escadas se tornam mais difíceis de usar e seu projeto se torna mais crítico,

exigindo atenção no desenho e na construção.

Degraus devem ser sempre executados na fórmula ideal 2h + P = 64cm. Onde h é a

altura do degrau e P o piso. Nunca utilizar pisos com altura inferior a 16cm nem altura

superior a 18cm. Piso entre 25 e 30cm (ideal). As pontas dos degraus devem ser guarnecidas

por material antiderrapante, e também marcadas do início até o final para que possam ser

identificados mesmo no escuro. Evitar degraus “em leque” ou com dimensões e formas

diferentes que não permitem o uso em toda a sua extensão.

Corrimãos devem ser instalados dos dois lados da escada e ser de 10 a 15cm mais

compridos do que a escada. É fundamental que possibilitem à pessoa se apoiar segurando-o

entre o polegar e os dedos, uma posição que permite maior segurança. Eles devem ser

instalados distando 5cm da parede, permitindo um espaço adequado para o encaixe das mãos

e fixados de forma a suportar 100kg em qualquer ponto de sua extensão. Utilizar material que

não cause ferimentos na mão do usuário.

Rampas são recomendadas por muitos especialistas para substituir escadas. Entretanto

a rampa ocupa uma grande quantidade de espaço, sendo desaconselhadas em residências.

Page 135: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

134

Além do mais a rampa exige que alguém ajude o cadeirante ou idosos no seu trajeto. São mais

indicadas para locais onde seu uso seja mais recomendável como escolas, clubes, estádios etc.

Plataformas Elevatórias são equipamentos muito utilizados hoje para o transporte de

idosos e pessoas com dificuldade de locomoção substituindo elevadores em locais específicos

como residências, clínicas, livrarias etc.

Elevadores são mais indicados para edificações com vários andares como edifícios de

corporativos, residenciais, hospitalares etc.

5.4.11 A Casa do Futuro

Embora ainda não sejam utilizadas em larga escala, aspectos como energia solar ou

eólica, reuso da água em determinados ambientes, melhor aproveitamento de ventilação e

iluminação naturais, sistema automatizados, via computadores, para o controle do uso da

água, da energia, da segurança, do acionamento de portas e janelas, entre outros avanços, já

são plenamente comprovados e utilizados em residências pelo mundo afora. Estes critérios de

sustentabilidade serão determinantes nas habitações já a partir deste século XXI. Outro fator

importante serão as exigências quanto ao desempenho técnico e funcional das habitações

principalmente no que concerne à operação e manutenção das edificações, trazendo maior

segurança para os seus habitantes.

5.5 A CIDADE PARA O IDOSO: LAZER

Para falar sobre uma cidade mais adequada para o idoso, julgou-se necessário uma

revisão ou releitura de concepções tradicionais de desenho urbano onde paradigmas e

parâmetros, usualmente e universalmente aceitos, aqui são apresentados como pontos de

partida para se dimensionar e estruturar os conceitos de acessibilidade, habitação e lazer a

serem propostos no presente trabalho.

A revisão, ou releitura, busca recuperar valores do desenho urbano que, hoje, parecem

ser desconsiderados, num processo de urbanização vertiginoso e caótico, que marca a vida nas

grandes cidades.

Page 136: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

135

5.5.1 Visão Humana

Nossos olhos possuem um campo geral e um campo particular de visão: No 1º caso

contempla formas gerais. No 2º caso contempla detalhes de objetos.

O campo geral de visão é um cone irregular na vertical e simétrico na horizontal,

conforme figura abaixo (Desenho 13).

Desenho 13 – Plano da visão humana, horizontal e vertical.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Limitações da Visão: Não podemos ver um objeto cuja distancia seja de 3.500

vezes o seu tamanho, enquanto a outras distâncias, o comportamento e relacionamento

humano se processam de outra maneira: Entre 90cm e 3.00m existe uma relação estreita. Duas

pessoas numa distância entre 1.20m e 2.40m podem estabelecer uma conversa.

A escala em arquitetura: É o elemento que relaciona os edifícios com nossa

capacidade de compreensão humana, dispondo as partes componentes no mesmo contexto.

A escala em desenho urbano: É o elemento que relaciona as cidades com nossas

faculdades de compreensão humana, dispondo as partes componentes no mesmo contexto.

Uma cidade e suas partes se acham interconexas e relacionadas com si mesmo e com os

Page 137: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

136

indivíduos, quando estes possuem a capacidade de compreender os seus entornos e sentir-se

“como em seu sítio” ou ambiente.

Arquitetos gregos utilizaram dimensões humanas (polegadas, pés, jardas etc.), para

dimensionar os seus edifícios. Arquitetos renascentistas lançaram mão de proporções abstratas

e arquitetos modernistas tomaram como base as novas tecnologias e exigências modernas. Um

exemplo disto foi a criação do MODULOR, pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier, que

procurava utilizar a escala humana, como base para dimensionar edifícios e cidades.

Entretanto as dimensões de uma cidade, ou de um edifício, não podem estar limitadas pela

capacidade física do homem, mas ordenadas pela capacidade de compreensão humana. Os

maiores edifícios e cidades resultarão acabados, prontos, geralmente imensas, se

introduzirmos a proporção humana em suas formas.

Pode-se empregar os princípios da proporção para criar impressões diferentes de

extensão e importância num edifício e cenário de uma cidade, dando, por exemplo, grandeza a

uma praça pequena ou sentido de intimidade a uma extensa. Os alcances ou efeitos da

proporção se estende desde a escala íntima de nosso mundo normal até o universo da escala

monumental. A proporção íntima é sensível e tutelar enquanto a monumental cria em nós um

dos efeitos citados a seguir.

1. Nos enobrece, nos eleva sobre nós mesmos até um mundo de sensações espirituais,

ou, ao contrário, nos oprime ou sufoca, com grandeza avassaladora. De onde vem tudo isto e

como podemos manejá-los influindo sobre a escala humana?

Penna (2011) afirma que, considerando o movimento da cabeça humana, uma boa

percepção do ambiente fica ao nível dos olhos com a cabeça equilibrada. A percepção resulta

deficiente com o movimento da cabeça no sentido ascendente ou descendente, ou seja, sem o

equilíbrio normal da cabeça.

Entre 90cm e 3.00m ou 1.20m e 3.60m, sendo 2.40m uma distância normal de

conversação, onde pode-se perceber as sutilezas de linguagem e os gestos faciais que

constituem a conversação (HALL, 1977).

Podemos distinguir uma expressão facial até uns 15m. Num palco, um ator pode

“projetar” sua expressão facial até 20m. Acima disto, a expressão facial deve ser

complementada com gestos de corpo e voz. Pode-se distinguir o semblante de um amigo a uns

25m; os gestos do corpo a 140m (distância máxima para diferenciar um homem de uma

mulher). Esta é também a medida para visualização dos jogadores ou atletas num campo de

futebol ou atletismo. Dimensiona-se, inicialmente, um estádio por esta medida básica.

Page 138: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

137

Finalmente, podemos perceber um indivíduo até 1.200m, além dos quais as dimensões são

muito pequenas para divisá-las.

2. Qual a conexão entre estas distâncias e o desenho urbano?

Os espaços “íntimos” de uma cidade são usualmente até 25m. O espaço urbano não

passa de 140m (a dimensão máxima, usualmente, aplicada para uma quadra urbana)

(SPREIREGEN, 1976). Num estudo sobre a evolução da quadra urbana, que apenas Nova

Iorque, talvez pela presença do automóvel, possui quadras com dimensões superiores a

140m.47

Nas vistas monumentais maiores que 1.200m, não intervem os elementos humanos. Às

vezes, estas regras são quebradas, mas sempre existindo uma previsão, no desenho, com a

adição de outros elementos importantes no sentido de oferecer um efeito singular

(SPREIREGEN 1976).

Outro exemplo recente são as novas normas da Federação Internacional de Futebol

Association (FIFA), para construção de estádios de futebol: A dimensão máxima, numa linha

horizontal, contínua, partindo do centro do gramado até o ultimo degrau de arquibancada não

deve ultrapassar 90m. As outras distâncias serão definidas pelas diagonais do campo unindo

os cantos de “corners” que não devem atingir, a partir de cada corner, até o ultimo degrau , no

máximo 160 m. Estas medidas garantem a boa visibilidade, inclusive para as placas de

publicidade na margem dos gramados e, fixam a capacidade máxima dos estádio em torno de

60.000 lugares.

Escala e circulação: A proporção urbana está determinada, também, pelos meios

que empregamos para movermos ao redor das nossas cidades, assim como pela forma que nos

movemos entre elas e a região.

O homem moderno caminha, no mais das vezes, apoiado em veículos movidos a

máquinas. Em nenhuma outra época da humanidade utilizou-se tanto de diferentes tipos de

máquinas para se locomover como a atual. De avião podemos cruzar o Brasil, país

continental, de norte a sul e de leste a oeste em, no máximo, cinco horas.

O entusiasmo pelas viagens de longo alcance, inclusive internacionais, só é igualado

por nossa necessidade de percorrer as cidades. Insistimos em uma acessibilidade a todas as

partes.

Ironicamente, enquanto surgem novos veículos, cada vez mais velozes, e as maiores

distâncias desaparecem ante nós, as curtas distâncias, nas cidades, transformam-se em

47

Ver também desenho 38 – Evolução das quadras.

Page 139: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

138

irritantes horas desperdiçadas. A maioria das nossas cidades não pode acomodar tantos

veículos sem reajustes frequentemente drásticos na sua estrutura viária. Mesmo em baixas

velocidades é difícil trafegar, hoje, na maioria das cidades brasileiras. A média em São Paulo

é de 20km/hora.

Temos conseguido ampliar notavelmente a proporção de viagens onde encontramos

liberdade, como no ar e no campo mas só, limitadamente, onde nós somos constrangidos a

fazê-lo: na cidade. Não obstante, a escala da cidade, definida no tocante à sua acessibilidade,

tem-se expandido enormemente,

Determinada, antigamente, pelas carruagens, depois por bondes e ônibus, que

permitiram os primeiros subúrbios, a escala de acessibilidade nas cidades modernas é maior

que em qualquer época, como também o seu congestionamento.

Na luta contra o congestionamento do tráfego, o homem tem considerado os possíveis

meios de transportes. Helicópteros, metrô (bom, eficiente, mas muito caro), Veículos Leves

sobre Trilhos (VLT), calçadas rolantes (experiência logo abandonada pelos alto custo de

manutenção), vias exclusivas para ônibus, táxis e micro-ônibus para curtas distâncias em

torno das áreas centrais.

Todas estas formas de transportes ajudam a determinar a proporção de movimentos e

circulação na cidade, isto é, a extensão da cidade, cuja utilização resulta do fácil acesso.

Porém, existe uma modalidade, realmente antiga e básica de transporte que, com frequência, é

esquecida, mas persiste como um dos melhores e mais determinantes no tocante à escala

humana: nossos pés.

Quando caminhamos, somos completamente livres para pararmos, girar, acelerar ou

diminuir o ritmo, ir para a direita ou para a esquerda, alternar os passos, desfrutar, enfim, de

uma grande liberdade de eleição e grau de contato com as pessoas e os lugares por onde

passamos. Enquanto isto, todo meio mecânico de transporte tem grandes limitações nestes

aspectos. Os meios mecânicos podem ampliar a escala de acessibilidade, porém o contato

máximo com o lugar ou espaço tão essencial para todo assentamento humano se obtém

caminhando.

As principais limitações na escala do passeio a pé são as distâncias e a velocidade;

grande número de pessoas, ao realizar suas tarefas diárias, caminham no máximo 750m, numa

velocidade de 4.0m por hora (SPREIREGEN, 1976).

Nas pesquisas de campo realizadas em Copacabana (Rio de Janeiro), Brasília/DF e

Natal/RN, no sentido de dimensionarmos as distâncias máximas suportáveis para caminhada

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139

de idosos, observamos tais parâmetros, inclusive a distância entre os postos de salvamento da

Av. Atlântica, em Copacabana, que é de 750m.

Esta escala determina a extensão dos principais agrupamentos e centros de atividades

em uma cidade. As dimensões das zonas comerciais centrais alcança aquilo que permite

funcionar como centros integrados.

As zonas de Wall Street, New York, diversos outros bairros comerciais, como o

Farmer’s Market, em Los Angeles, a Disneylândia, os terminais de grandes aeroportos e

centro comerciais, baseiam-se neste fator básico de escala humana. A média de percursos de

diferentes meios de circulação estando bem dimensionados, utilizando-se as zonas centrais de

pedestres como pontos médios, seus efeitos serão evidentes.

Uma grande metrópole pode ser observada como uma série de enclaves de pedestres,

centros comerciais, eixos cêntricos e zonas de vizinhança. Superpor a estes enclaves de

pedestres os meios de transportes públicos, acarretará percursos mais longos no sistema

viário, não obstante manter-se interconectado com as zonas de pedestres.

Todos os meios mecânicos de transportes podem unir as zonas de pedestres e fazê-las

acessíveis para um número muito maior de pessoas, porém a zona de pedestres deve ser o

elemento básico de desenho urbano.

Qualquer sistema mecânico de transporte, metrô, ônibus, VLT etc., pode anular ou

obscurecer estas áreas de pedestres, pode destruir as qualidades que tornam agradáveis estes

locais, entretanto o planejamento e o desenho urbano devem fazer com que os sistemas

mecânicos de transporte reforcem e criem áreas de pedestres.

É o caso de Montreal, Canadá. Conectados com as estações de metrô, diversos centros

de comércio e lazer, subterrâneos, também interconectados entre si por uma rede de túneis,

permitem a continuação das atividades diárias durante o período de inverno, sempre rigoroso,

naquele país. Também, na superfície, nos demais períodos do ano, as atividades são

incrementadas em torno das estações do metrô.

Um projeto de estacionamento para carros, ao ser organizado, na periferia dos centros

de cidade, deve criar um fluxo de pedestres entre esta periferia e o centro. Algumas cidades,

como Amsterdam, adotam também pistas para bicicletas, outro meio de transporte cada vez

mais utilizado nos grandes centros.

Os edifícios e espaços devem manter uma escala adequada com relação aos

indivíduos. Protegê-los também das alterações climáticas. A adoção da galeria (sistema onde

a projeção do corpo de edifício cobre as calçadas) é uma excelente solução, principalmente,

em países tropicais, caso da totalidade do Centro Histórico de Luanda, capital de Angola.

Page 141: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

140

Além de proporcionar sombra, protege também nos períodos de chuva, permite o

funcionamento das atividades comerciais, pontos de encontros, locais para embarque e

desembarque em ônibus, entre outros benefícios. É um sistema utilizado principalmente no

Rio de Janeiro e Recife, mas também em outras cidades brasileiras.

Escala e Parâmetros: Um elemento essencial na escala urbana são os objetos

familiares cuja presença e dimensões tenhamos nos acostumado: monumentos ou edifícios

que conhecemos bem, árvores, postes, janelas, arcadas, pontes, entre outros objetos, servem

para deduzirmos as dimensões das coisas que encontramos junto a eles. São os chamados

parâmetros, elementos cujo tamanho familiar proporciona um escala de referência para

objetos vizinhos.

Escala: época, conveniência, idade e hábitos: O nosso sentido de escala humana

varia de acordo como nossa idade e hábitos. Para uma criança, seu mundo é o ambiente de sua

casa, o pátio de sua escola, pátios e casas de seus amigos, a escola, a casa dos avôs, o

escritório do pai, e outras coisas mais, um pouco mais distantes, no mundo. Ao tempo que

cresce seu mundo se amplia e as partes separadas vão unindo-se entre si. Desde os anos de

juventude, o indivíduo se arrisca a explorar novas coisas, novos lugares e pessoas, com o que

estabelece e entrelaça a escala do seu mundo. Os anos de maturidade se conectam com o

mundo do lugar, do trabalho, dos amigos e da recreação. Com a chamada 3ª idade, as

atividades se encaminham para práticas mais seletivas, próprias deste período, motivadas pela

redução das aferências, da acuidade visual, da perda do tônus muscular entre outras

limitações.

Neste sentido, a escala humana varia também de acordo com aquilo que nos

acostumamos. São Paulo é, por exemplo, inicialmente, demasiado grande e imponente para

muita gente, porém com o tempo, as pessoas vão se acostumando a ela.

Em geral, o ser humano é bastante adaptável e a escala urbana, em grande medida, é

uma questão de um tratamento detalhado da cidade, assim como esta o é de sua extensão total.

O importante é aplicar, no desenho urbano, aspectos como espaços livres, massas, zonas de

atividades diversas e, principalmente, boa circulação.

5.5.2 O Espaço Urbano

Os espaços urbanos, iguais aos espaços arquitetônicos, podem estar dispostos,

espacialmente, à maneira de ilhas, sem relacionar-se com os espaços vizinhos ou, de outra

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141

forma, se bem interrelacionados, possibilitarem a sua observação e leitura, ao se passar de um

para outro.

A intenção de seu desenho pode buscar detalhar seu encadeamento, ressaltar um

edifício especial dentro do espaço ou sugerir uma direção importante de movimento. Assim

como os espaços arquitetônicos, os espaços urbanos podem ser concebidos apropriadamente,

como habitações e corredores: “[...] a cidade como casas, as casas como cidade” (ARTIGAS,

1989). De uma forma abstrata, como canais e depósitos de reserva de espaços, formando uma

hierarquização de tipos espaciais fundamentados em sua extensão.

No desenho urbano, esta hierarquia decorre desde a escala do pequeno, recintos

íntimos sobre os grandes espaços urbanos, culminando no vasto espaço da natureza na qual

está implantada a cidade.

As categorias do espaço urbano derivam da escala de distâncias próprias da visão

humana. Assim, espaços urbanos até 25 metros criam uma sensação de intimidade (dentro

desta distância poderemos distinguir um rosto humano). Era a escala das nossas belas ruas

residenciais antigas.

Já os grandes espaços urbanos não devem exceder 140m, no máximo, sem parecer

exorbitante, a menos que sejam introduzidos elementos intermediários que proporcionem uma

escala mais adequada ao ser humano. Poucas quadras urbanas e praças excedem esta

distância. Por outro lado, New York, como já foi visto, possui um desenho urbano com as

maiores quadras entre as grandes cidades (250m X .60m) 48

.

Os grandes espaços ou vistas podem funcionar como pano de fundo de um

monumento principal. Mas além de 1.200m, quando perde-se a referência visual humana, a

vista ou composição espacial deve incorporar outros elementos. Para a escala humana ficar

bem definida, uma exigência fundamental é o fechamento físico real ou articulação com as

formas urbanas. Este, quando fechado, é igual ao interior de uma taça, um tubo ou uma

recipiente qualquer: está sempre constituído por superfícies materiais.

Mas, até que ponto é necessário o fechamento?

Numa praça nos achamos suficientemente fechados por todos os lados sempre que a

nossa atenção se concentre sobre o espaço como uma entidade. Já numa avenida, quando o

fechamento só acontece em dois dos lados, a percepção do espaço deve ser compreendida

como um conduto de espaço.

48

O Central Park de New York possui uma dimensão de 4.000m X 800m. Mas é todo dimensionado na escala

humana através da criação de espaços menores, intercalados por massas de vegetação, lagos, áreas de lazer,

playgrounds e locais para apresentações artísticas, que lhe conferem um aspecto de intimidade.

Page 143: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

142

Quando circulamos por uma cidade, orientamos nosso ponto de vista por um ou outro

caminho de acordo com o que nos atrai. Não obstante, o nosso campo de visão frontal,

normal, a vista que percebemos quando se olha em linha reta para frente, nos proporciona

uma imagem principal do espaço onde nos encontramos.

Nosso campo de visão frontal define num espaço o grau de fechamento – sensação de

espaço – que percebemos. A sensação, seja uma rua ou um espaço livre, fica completamente

determinada pela relação entre a distância visual e a altura construída, vista segundo nosso

campo de visão frontal.

Quando a altura de uma fachada é igual à distância que dela nos encontramos (relação

1:1), a linha de coroamento da fachada se encontra formando um ângulo de 45º a partir de

nosso ponto de vista horizontal frontal, conforme desenho abaixo, posto que o edifício é mais

alto que o limite superior de nosso campo de visão frontal (30º), nos sentimos como

confinados (Desenho 14).

Desenho 14 – Visão humana (vertical) 1:1

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é igual à metade da distância que dela nos encontramos

(1:2) coincide com os limites de nossa visão normal. Esse é o umbral de corte, o limite

inferior em que aparece a sensação de confinamento (Desenho 15).

Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

143

Desenho 15 – Visão humana (vertical) 1:2

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é igual a 1/3 de nossa distância ao edifício, percebe-se a

parte superior segundo um ângulo de 18º. Nessa distância podemos distinguir os objetos

proeminentes para além do recinto com o qual compartilhamos dentro do mesmo espaço

(Desenho 16).

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

144

Desenho 16 – Visão humana (vertical) 1:3

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Quando a altura da fachada é de ¼ da nossa distância ao edifício vemos a parte

superior segundo um ângulo de 14º e o espaço perde sua capacidade de confinamento, ficando

as fachadas periféricas como bordas, e a sensação de zona aberta, não fechada (Desenho 17).

Desenho 17 – Visão humana (vertical) 1:4

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

145

Os arquitetos renascentistas obtiveram, assim, uma sensível regra para compor as

proporções entre largura e altura de uma praça urbana.

A altura da fachada é uniforme. A proporção entre a largura e a altura não pode

exceder 1/3. Não sendo observada esta proporção as paredes de fundo ficarão muito baixas e

o espaço se filtra. O confinamento espacial é também função da continuidade na superfície

das paredes: o jogo de fachadas dos edifícios deve subordinar-se aos espaços que formará (é a

regra que possibilitou a unidade da Praça São Marcos, em Veneza. Mesmo construída em

diferentes épocas e etapas mantém uma impressionante unidade arquitetônica).

O fechamento espacial pode ser atenuado, adotando-se uma boa quantidade de

aberturas nas paredes (cheios e vazios na proporção de 1:1) ou por variações na linha superior

dos edifícios.

Estes paradigmas devem permitir como ponto de partida. Alguns espaços urbanos

obtiveram um bom desenho com um confinamento apenas parcial: uma abertura ao longo de

uma rua movimentada. O Rockffeler Center de New York ocupa um pequeno espaço

relacionando-se com os altíssimos edifícios agrupados em seu entorno. As esquinas são

prismas abertos de ar e luz que proporcionam vistas além do espaço confinado. As aberturas

entre as edificações, neste caso, reduzem o que de outro modo seria uma acachapante

opressão devido à altura dos edifícios.

Com certeza o desenho de um espaço urbano agradável demanda, acima de tudo,

simplicidade em formas e detalhes. Por exemplo, imaginando-se um espaço urbano visto em

condições de uma brilhante iluminação: os detalhes resultam mais aparentes que o conjunto.

Num dia nublado, à tarde, com uma fraca ou tênue iluminação, perceberemos menos os

detalhes e mais o conjunto.

A grande vantagem de se pensar em termos de espaços urbanos é que podemos abarcar

uma miríade de elementos urbanos, à maneira de entidades, que resultarão mais valiosos em

conjunto que isolados.

A atenção ao espaço urbano pode ser estendida ao desenho de um “modelo” de

espaços na escala da cidade – formação de uma rede de canais e terrenos livres que

entrelaçam os distritos separando-os em uma textura inteligível para os seus usuários. Na

planificação da estrutura espacial de uma cidade deve-se ter o cuidado de projetar espaços

grandes e pequenos atendendo suas respectivas finalidades. As praças muito grandes e

avenidas extensas podem resultar inapropriadas ao dissociar, por exemplo, um bairro quando

sua intenção era unificá-lo.

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146

5.5.3 Praças

Para grande número de cidades, uma grande praça pública municipal é suficiente se

existirem outras menores, nos bairros, com funções de menor importância. Inclusive o custo

de implantação e manutenção é menor (MASCARÓ. 1987).

Uma grande praça pode ter edifícios focais proeminentes em seus extremos. Assim

como esculturas em seu centro. Pode atuar como base para destacar um ou mais edifícios

importantes. O Rockffeler Center e o Empire State Building são vistos de qualquer ponto de

Nova Iorque. No Rockffeler Center, encontram-se edifícios agrupados em torno de um espaço

relativamente pequeno, mas sempre repleto de gente. Nunca se perde contato e a noção do

conjunto (Figuras 38 e 39). Já o Empire State, um ícone à distância, desaparece à medida que

nos aproximamos dele. Sua base carece da distinção necessária para o reconhecimento do

entorno que poderia ser obtido com uma pequena praça em frente a ele.

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147

Figura 38 – Plano Geral do Rockeffeller Center

Fonte: rockefeller-center-new-york-new-york ([2011]).

Figura 39 – Visão Aérea do Rockeffeller Center

Fonte: rockefeller_new_york_city_center_new_york_cartao_postal ([s.d.]).

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148

5.5.4 Espaço Aberto.

O espaço aberto é outro tipo de ambiente urbano que deve ser cuidadosamente

trabalhado e entendido. Geralmente, este tipo de espaço contempla zonas verdes à maneira de

parques dentro das cidades ou junto a elas. Frequentemente, é confundida com espaço urbano,

estes, por excelência, caracterizado principalmente como um foco formal das múltiplas

atividades urbanas. A praça é para o encontro das pessoas, não necessariamente arborizada

(São Marcos, em Veneza; São Pedro e Praça de Spagna, em Roma; e Praça dos 3 Poderes, em

Brasília etc.).

O essencial de um espaço urbano bem desenhado são suas proporções, seu pavimento,

suas paredes e as atividades que os anima. A superfície do solo deve ser tratada para se andar

rápido ou induzir, no caso dos idosos, por exemplo, a uma caminhada mais lenta. Numa

grande praça aberta, a superfície deve ser desenhada de maneira que o pavimento fique

subdividido em zonas mais íntimas. O perfil da superfície dos edifícios em torno da praça,

deve ser tratado como um importante elemento do desenho. Uma superfície côncava é melhor

visualizada que uma superfície plana (Praça São Pedro, Roma), fato que a tornará muito mais

aconchegante e possibilitará uma melhor visão do conjunto.

5.5.5 Terrenos Acidentados

Os terraplenos sobre terrenos acidentados podem proporcionar bons resultados para

estabelecer diferentes graus de importância na hierarquização das edificações e espaços

urbanos. Em edifícios que possuam funções menos importantes, uma inclinação gradual de

pequenos desníveis é mais indicada. Usualmente, a ascensão proporciona uma sensação de

júbilo espiritual e os descensos à segurança e ao relaxamento.

Dotamos sempre nossas cidades de toda classe de objetos que consideramos como a

“decoração” de seus espaços, outorgando-lhes um valor estético, assim como um valor prático

que resultam, quase sempre, em bons resultados.

Toda cidade pode considerar-se como uma grande forma que se presta a seu próprio

desenho: o centro, denso e hermético, o abrigo que certos espaços urbanos nos proporciona, a

periferia, relaxada e dispersa, as implantações, de variadas maneiras, que articulam a

superfície do terreno e o vasto espaço da natureza que o circunda.

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

149

As ruas, as praças, os parques e outros espaços urbanos representam uma parte

fundamental para a celebração coletiva da vida nas cidades. Constituem um âmbito comum

que muitos não valorizam com a atenção que merecem. No espaço público produz-se a

socialização coletiva e, portanto, constitui-se a essência da cidade. É nestes lugares, onde se

processa o encontro entre os habitantes, e se produz a história contemporânea em processo de

formação.

Dados da ONU (2008) confirmam que a população idosa no mundo já alcançou o

índice de 6% do total dos habitantes do nosso planeta. No Brasil, cerca de 11% da população,

de 190 milhões de habitantes, ou seja 21 milhões, é de idosos, segundo dados do Censo de

2010. O IBGE confirma que os idosos têm procurado os centros urbanos devido à

infraestrutura, notadamente no setor de saúde, ou outras atividades cotidianas, como o lazer,

por exemplo. Com a aposentadoria, muitos dos que adquirem o tempo livre buscam novas

atividades. Os idosos, hoje no Brasil, na sua grande maioria, dispõem de boa saúde, ou bom

atendimento médico, e possuem boa renda, como já vimos anteriormente. É sempre bom

lembrar que apenas 5% são pobres, média melhor do que a observada no geral da população

quando este índice atinge os 20%.

Embora constituam uma geração que, na sua infância e adolescência não tiveram

acesso à educação, atingiram a idade adulta dispondo de meios de comunicação (jornais, rádio

e TV) que os deixaram bem informados. A boa renda os transformaram em consumidores

diferenciados e torna-se pertinente analisar as suas necessidades quanto ao espaço público

urbano, abertos ou confinados, parte de uma infraestrutura que possa lhes garantir uma melhor

qualidade de vida.

No nosso país, são raros os espaços adequados às necessidades dos idosos, pois ainda

enfrenta uma realidade que só nos últimos anos vem chamando a atenção de autoridades e

estudiosos do assunto. Outros países, como os EUA e os da Comunidade Europeia, já tratam

os idosos de uma forma prioritária. Na América do Norte, muitos idosos optam por morar em

pequenas cidades (de até 5.000 habitantes) ou condomínios residenciais exclusivos, com áreas

para jogos e espaços adequados ao seu entretenimento e conforto, muito embora a presença de

entidades públicas ainda represente grande parte dos cuidados com os idosos na fase mais

difícil da sua existência, conforme exemplos demonstrados abaixo (Quadro 19):

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

150

Quadro 19 – Tipos de habitação para idosos nos EUA.

TIPOTIPO ESCALAESCALA

PERFILPERFIL

DODO

RESIDENTERESIDENTE

PLANOPLANO

DEDE

SERVISERVIÇÇOOFINANCIADORFINANCIADOR

FAIXAFAIXA

ETARIAETARIA

ESTADO ESTADO

FFÍÍSICO DO SICO DO

RESIDENTERESIDENTEOBSERVAOBSERVAÇÇÕESÕES

NEW TOWNSNEW TOWNSGRANDEGRANDE

>5.000 hab.>5.000 hab.

APOSENTADOAPOSENTADO

NOVONOVO

SADIOSADIO

Plano de Plano de

SaSaúúde, de,

RecreaRecreaçção,ão,

outrosoutros

Privado com Privado com

objetivo de lucroobjetivo de lucro50 a 65 anos50 a 65 anos

AtividadesAtividades

ffíísicas, plenassicas, plenas

Residências Residências

isoladas, aptos, isoladas, aptos,

centro comercial e centro comercial e

lazer.lazer.

VILAS OU VILAS OU

CONDOMCONDOMÍÍNOS NOS

PARA IDOSOSPARA IDOSOS

MMéédiadia

1.000 a 5.0001.000 a 5.000

habitanteshabitantes

Aposentados na Aposentados na

fase inicial da fase inicial da

velhicevelhice

Limitada, sem Limitada, sem

plano de plano de

sasaúúde, de,

recrearecreaçção ao ão ao

ar livrear livre

IDEMIDEM 65 a 75 anos65 a 75 anosInIníício das cio das

dificuldades dificuldades

ffíísicassicas

Residência Residência

isoladas, em isoladas, em

renque, aptos, renque, aptos,

casas mcasas móóveis, veis,

comercio e lazercomercio e lazer

ResidênciasResidências

CompartilhadasCompartilhadas

GrandesGrandes

MMéédiasdias

PequenasPequenas

Aposentados na Aposentados na

idade idade

intermediintermediáária da ria da

velhicevelhice

IDEMIDEM

Filantropia,Filantropia,

PPúública e Clubes blica e Clubes

de Servide Serviççoo76 a 85 anos76 a 85 anos

Deslocamento Deslocamento

limitado e limitado e

seletivo.seletivo.

Residências Residências

UnifamiliaresUnifamiliares. .

Maioria mulheres Maioria mulheres

com mais de 70com mais de 70ªª..

AsilosAsilos PequenaPequena

Aposentados c/ Aposentados c/

saudesaude limitada, limitada,

exigindo exigindo

cuidadoscuidadosIDEMIDEM IDEMIDEM

86 anos ou 86 anos ou

mais.mais.IDEMIDEM

Sistema Sistema

pavilhonarpavilhonar e e

pequeno npequeno núúmeromero

de unidades de unidades

isoladas.isoladas.

Centro de Centro de

Tratamento Tratamento

ContinuadoContinuado PequenaPequena

SaSaúúde limitada de limitada

e doentese doentesPlano de Plano de

SaSaúúde e de e

recrearecreaçção ão

limitadalimitada

Filantropia Filantropia

PPúública e blica e

ReligiosaReligiosa

CompatCompatíível vel

com a com a

capacidade capacidade

do idosodo idoso

CompatCompatíível vel

com acom a

CapacidadeCapacidade

do idoso.do idoso.

Geralmente um Geralmente um

edifedifíício integrancio integran--

do habitado habitaçção, ão,

sasaúúde e lazer.de e lazer.

TIPOTIPO ESCALAESCALA

PERFILPERFIL

DODO

RESIDENTERESIDENTE

PLANOPLANO

DEDE

SERVISERVIÇÇOOFINANCIADORFINANCIADOR

FAIXAFAIXA

ETARIAETARIA

ESTADO ESTADO

FFÍÍSICO DO SICO DO

RESIDENTERESIDENTEOBSERVAOBSERVAÇÇÕESÕES

NEW TOWNSNEW TOWNSGRANDEGRANDE

>5.000 hab.>5.000 hab.

APOSENTADOAPOSENTADO

NOVONOVO

SADIOSADIO

Plano de Plano de

SaSaúúde, de,

RecreaRecreaçção,ão,

outrosoutros

Privado com Privado com

objetivo de lucroobjetivo de lucro50 a 65 anos50 a 65 anos

AtividadesAtividades

ffíísicas, plenassicas, plenas

Residências Residências

isoladas, aptos, isoladas, aptos,

centro comercial e centro comercial e

lazer.lazer.

VILAS OU VILAS OU

CONDOMCONDOMÍÍNOS NOS

PARA IDOSOSPARA IDOSOS

MMéédiadia

1.000 a 5.0001.000 a 5.000

habitanteshabitantes

Aposentados na Aposentados na

fase inicial da fase inicial da

velhicevelhice

Limitada, sem Limitada, sem

plano de plano de

sasaúúde, de,

recrearecreaçção ao ão ao

ar livrear livre

IDEMIDEM 65 a 75 anos65 a 75 anosInIníício das cio das

dificuldades dificuldades

ffíísicassicas

Residência Residência

isoladas, em isoladas, em

renque, aptos, renque, aptos,

casas mcasas móóveis, veis,

comercio e lazercomercio e lazer

ResidênciasResidências

CompartilhadasCompartilhadas

GrandesGrandes

MMéédiasdias

PequenasPequenas

Aposentados na Aposentados na

idade idade

intermediintermediáária da ria da

velhicevelhice

IDEMIDEM

Filantropia,Filantropia,

PPúública e Clubes blica e Clubes

de Servide Serviççoo76 a 85 anos76 a 85 anos

Deslocamento Deslocamento

limitado e limitado e

seletivo.seletivo.

Residências Residências

UnifamiliaresUnifamiliares. .

Maioria mulheres Maioria mulheres

com mais de 70com mais de 70ªª..

AsilosAsilos PequenaPequena

Aposentados c/ Aposentados c/

saudesaude limitada, limitada,

exigindo exigindo

cuidadoscuidadosIDEMIDEM IDEMIDEM

86 anos ou 86 anos ou

mais.mais.IDEMIDEM

Sistema Sistema

pavilhonarpavilhonar e e

pequeno npequeno núúmeromero

de unidades de unidades

isoladas.isoladas.

Centro de Centro de

Tratamento Tratamento

ContinuadoContinuado PequenaPequena

SaSaúúde limitada de limitada

e doentese doentesPlano de Plano de

SaSaúúde e de e

recrearecreaçção ão

limitadalimitada

Filantropia Filantropia

PPúública e blica e

ReligiosaReligiosa

CompatCompatíível vel

com a com a

capacidade capacidade

do idosodo idoso

CompatCompatíível vel

com acom a

CapacidadeCapacidade

do idoso.do idoso.

Geralmente um Geralmente um

edifedifíício integrancio integran--

do habitado habitaçção, ão,

sasaúúde e lazer.de e lazer.

Fonte: Altman; Lawton; Wonlhill (1984).

Muitas pesquisas estão sendo feitas, relacionadas ao projeto de ambientes para idosos,

mas a maioria é direcionada para asilos e residências. Entretanto os problemas relacionados

ao idoso, segurança e conforto, não se restringem aos ambientes internos. Grande parte dos

idosos utiliza espaços públicos urbanos e estes não estão, em via de regra, planejados para

atender às suas necessidades. Os espaços públicos urbanos, além de possibilitar um acesso

mais democrático, gratuito e irrestrito a qualquer grupo social, permite ao idoso o contato com

a natureza, estimula e possibilita o contato com outras pessoas, permite um maior bem-estar

físico e mental, a prática de esportes de acordo com sua faixa etária e o contato com o sol.

Entretanto, a forma caótica como se processa a urbanização da maioria das cidades brasileiras,

e a violência urbana, entre outros males, têm provocado a degradação desses espaços.

O crescimento das cidades e o consequente superpovoamento, além de provocarem

estresse nas pessoas devido ao ritmo acelerado verificado em todas as atividades humanas, é

acentuado pela redução no tamanho das edificações, por uma verticalização desenfreada e um

tipo de vida onde a privacidade das pessoas é cada vez menor. O lazer, no mais das vezes,

acontece em áreas comuns de edifícios e condomínios residenciais fechados, onde, por forças

das circunstâncias, normas rígidas de convívio têm de ser estabelecidas. Tal fato tira, na

maioria dos casos, a naturalidade das pessoas. O avanço da especulação imobiliária sobre as

áreas livres ainda existentes tem modificado o uso dos solo e a paisagem urbana, reduzindo os

espaços públicos, principalmente os abertos.

Page 152: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

151

Para atender essas necessidades para os idosos, população que cresce cada vez mais,

com disponibilidade de tempo para o ócio, a falta de espaços públicos de lazer é um problema

que precisa ser resolvido a curto prazo no Brasil. Resolver não só preenchendo os requisitos

básicos inerentes a esses espaços, mas também a questão de segurança, conforto e

acessibilidade. Muitos idosos deixam de usufruir dos benefícios de algumas atividades em

espaços públicos por falta de segurança (Declaração obtida na pesquisa de campo com

habitantes das HIG. Brasilia). Passeios públicos adequados, próximos da sua residência, ou

falta de meios de locomoção, para lugares onde possam obter o lazer desejado um pouco mais

distantes, são reclamações constantes feitas por idosos (ESTEVES NETO; LIMA, 1993).

5.5.6 As Necessidades Espaciais dos Idosos

Mudanças importantes afetam as pessoas ao envelhecerem. São mudanças físicas,

psicológicas, econômicas e até processos de valorização, ou não, pela sociedade. Tais

mudanças acarretam diversas consequências que influenciam o relacionamento do idoso com

o ambiente e com outras pessoas. As necessidades espaciais são, assim, aquelas que podem

ser superadas a partir de ambientes apropriados, que considerem as limitações e as

capacidades do usuário. Hunt (2006), psicólogo norte-americano, diz que as necessidades do

idosos podem ser divididas em 03: [1] Físicas; [2] Informativas; e [3] Sociais.

As Necessidades Físicas são as mais fáceis de serem percebidas, pois representam as

primeiras iniciativas a serem levadas em conta ao se projetar espaços para pessoas com

limitações ou deficiências físicas. Estão ligadas com a saúde física, segurança e conforto dos

usuários no ambiente. Portanto, um espaço físico projetado para suprir as necessidades físicas

dos idosos deve estar livre de obstáculos, ser de fácil manutenção e evitar acidentes. Deve

também ser atrativo para todos e estar de acordo com as características antropométricas e

biomecânicas da população a ser atendida (BINS-ELY; CAVALCANTI, 2001). Rampas, em

circulações com desníveis, para ajudar o deslocamento de idosos com problemas musculares,

bancos com encostos, assentos e apoios com altura máxima de 45cm, diminuem o esforço de

sentar e levantar dos idosos. Bebedouros com dispositivos ou comandos de pressão ou

movidos por células fotoelétricas para idosos com problemas de coordenação motora etc., são

também importantes.

As Necessidades Informativas referem-se ao modo como a informação sobre o meio-

ambiente é processada. São dois os aspectos principais para a informação ser processada: a

percepção, que é o processo para se obter ou receber a informação do ambiente; e a cognição,

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

152

processo pelo qual a pessoa organiza e relembra a informação recebida do ambiente (HUNT,

2006). Os espaços devem ser projetados, assim, de forma legível e possuir um suporte para

estimular os demais sentidos para que, na falha de um deles, o ambiente possa, por exemplo,

fornecer a informação por meio dos demais (BINS-ELY; CAVALCANTI, 2001). Para um

usuário com restrição visual, deve-se usar elementos com cores contrastantes, texturas e

odores diferenciados para servirem como referência para sua orientação. Já para idosos com

dificuldades de relembrar as informações adquiridas, deve-se adotar ambientes padronizados e

temáticos, com uso repetitivo de cores ou elementos que indiquem a mesma função ou

atividade.

As Necessidades Sociais são relacionadas com a interação social e o controle da

privacidade. Os locais projetados para idosos devem sempre possuir um aspecto familiar e

estimular um senso de comunidade, onde a vizinhança e a camaradagem ocorram de forma

natural. Optar por uma arquitetura cujos elementos ofereçam a oportunidade de controlar a

interação com a vizinhança. Sacadas, terraços abertos, escala conveniente etc. são exemplos a

serem levados em conta.

Nas grandes cidades atuais sobra pouca ou quase nenhuma oportunidade espacial

para a convivência, pois da forma pela qual são constituídas e renovadas, o vazio

que fica entre o amontanhado de coisas é insuficiente para permitir o exercício

efetivo das relações sociais produtivas em termos humanos. (MARCELINO, 1983,

p.59).

A explosão populacional causa, nas pessoas, além do estresse, devido ao ritmo

acelerado de vida (trabalho e trânsito), uma menor privacidade familiar, seja em função da

proximidade entre as edificações e a redução das suas dimensões. A intensa especulação

imobiliária têm reduzido os espaços destinados ao lazer, principalmente o público, e

modificado o uso do solo e a paisagem urbana.

Fugindo desta tensão, na direção contrária, buscam áreas onde possa relaxar e realizar

atividades de lazer, como verifica-se na ocupação intensiva, nos finais de semana, das faixas

litorâneas, principalmente no período de veraneio, em parques importantes e áreas públicas,

livres, organizadas para o lazer.

A existência dos espaços de lazer e a manutenção de sua qualidade são de capital

importância não apenas porque favorecem a articulação entre territórios, como a mistura e a

coesão social de lugares e pessoas, além do seu bem-estar.

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

153

Os idosos, então, possuindo disponibilidade de tempo para realizar atividades de lazer,

ressentem-se da inexistência desses locais, fato este que representa um sério problema a ser

resolvido pelas municipalidades brasileiras no mais rápido espaço de tempo.

Deve-se atentar para o fato de que esses espaços requerem cuidados especiais, como

segurança e conforto, em primeiro lugar.

5.5.7 Espaços de Lazer

É muito diversificada a tipologia de espaços de lazer: podem estar localizadas em

áreas fechadas ou em áreas livres. Algumas são destinadas a determinadas classes sociais ou

idades e outras são acessíveis a todos. Umas são localizadas em áreas urbanas centrais e

outras na periferia. Mas o mais importante é saber compreender as diferentes funções a que se

destinam, segundo a classificação de Dumazedier (1976) a seguir:

1. Espaços Cívicos: Locais voltados para obrigações oficiais de cunho

administrativo e político, como palácios, quartéis etc.

2. Espaços Comerciais: Locais destinados à venda e compra de mercadorias, como

shoppings, lojas, supermercados etc.

3. Espaços Culturais: Locais destinados à exposição de arte, música, filmes.

4. Espaços Educacionais: Locais de instituições de ensino em geral, universidades.

5. Espaços Domésticos: Locais para ambientes residenciais, incluindo pátios

internos.

6. Espaços Esportivos: Locais destinados à prática esportiva.

7. Espaços Gastronômicos: Locais destinados à alimentação: restaurantes, praças da

alimentação de shoppings e hipermercados etc.

8. Espaços Religiosos: Locais destinados a cultos religiosos.

9. Espaços Sociais: Locais destinados à associações ou entidades que estimulem a

interação entre grupos.

10. Espaços Turísticos: Locais relacionados com a prática do turismo, tais como

hotéis, pousadas, mirantes, campings, reservas florestais ou biológicas, áreas

litorâneas ou de lagos, lagoas, rios ou cursos d’água.

Segundo Ferrari (1977), a palavra LAZER vem do latim lícere (o que é permitido,

lícito etc.). Existem duas correntes que classificam o lazer:

1. Privilegia a questão do tempo, envolvendo o aspecto sociológico pois o conceito

de tempo livre só surgiu com a institucionalização da jornada de trabalho pós-

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

154

revolução industrial. Relaciona o lazer àquelas atividades que são realizadas sem

obrigações e normas, de livre e expontânea vontade, fora do horário de trabalho.

2. Esta corrente não privilegia a questão do tempo, pois envolve um aspecto

psicológico e comportamental, relacionado ao prazer e à recreação, ou re-criação:

“[...] qualquer situação que possa se constituir em oportunidades para a prática do

lazer” (FERRARI, 1977, p.101).

Classificando-se o lazer, deve-se priorizar o caráter das atividades e não as pessoas.

Assim procedendo, evita-se uma grande diversidade de atividades, de acordo com a realidade

social, econômica, demográfica e cultural. “As desigualdades de nível cultural e de nível

sócio-econômico, mais do que as disparidades de status profissional, explicam as mais

variadas formas de lazer” (SANTINNI, 1993, p.81).

Lazer Ativo: Caracterizado pelo esforço físico, andar, caminhar, correr, brincar,

praticar esportes. Enquanto o Lazer Passivo ou Contemplativo: As atividades não demandam

movimento ou esforço físico: conversar, descansar, apreciar o movimento de outrem, apreciar

paisagens, refletir, lanchar, ler, esperar (MACEDO, 2003).

Dumazedier (1976, p.34) afirma que:

Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre

vontade, seja para repousar, divertir-se, recriar-se, entreter-se ou ainda desenvolver

sua informação ou formação desinteressada, sua livre capacidade criadora, após

livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações familiares, profissionais ou sociais.

Ainda segundo Dumazedier (1976), o lazer possui três diferentes funções:

1. Descanso: atividade a que o indivíduo se propõe no sentido de que se restabeleça

do cansaço físico ou mental advindo de suas tarefas laborais.

2. Recreação, Divertimento, Entretenimento: atividades que buscam eliminar o tédio

e a monotonia da rotina diária.

3. Desenvolvimento Pessoal: atividades que possibilitam a interação social e a

aprendizagem, desde que voluntária, visando a um desenvolvimento da

personalidade.

Dumazedier (1976), ainda lista cinco áreas de interesse:

1. Artístico: atividades de conteúdo estético, ligadas ao belo, ao sentimento, à

emoção.

2. Intelectuais: atividades de conteúdo cognitivo, que visam ao desenvolvimento

pessoal, seja pela busca da informação, conhecimento ou aprendizagem.

Page 156: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

155

3. Manuais: atividades desenvolvidas com as mãos, onde uma matéria prima é

transformada.

4. Físicas: atividades relacionadas às práticas esportivas e à exploração de novos

lugares, passeios, caminhadas etc.

5. Sociais e Associativas: atividades de interação entre pessoas e grupos e os

relacionamentos humanos. Igrejas, clubes etc.

O lazer pode ser, ainda, classificado conforme o espaço: Público/privado, urbano/rural,

ou conforme a frequência: diariamente, semanalmente, quinzenalmente, ou conforme a forma:

individualmente, em grupo.

Considerando-se o lazer, associado ao tempo livre de obrigações com o trabalho, logo

o fato é relacionado com a aposentadoria, a qual, com o fim daquelas obrigações, permite ao

idoso maior disponibilidade para o lazer.

Preconceitos permeiam a aposentadoria numa sociedade acostumada a valorizar o

trabalho. É geralmente associada a uma vida inútil e desprovida de ações em benefício da

família e da coletividade. Muitas vezes, o próprio aposentado ou aposentada tem este

preconceito, considerando-a uma espécie de final de vida, deixando de usufruir uma fase da

vida plena de atividades e compromissos sociais, para um estilo de vida inativo e traumático.

Outras vezes inexiste uma preparação para viver plenamente a aposentadoria. Os avanços na

ciência, na medicina e na economia oferecem hoje, ao idoso, uma gama enorme de atividades

ou formas de viver, como a internet, por exemplo, que amplia, inclusive outras formas de

lazer e, até, de desenvolver alguma atividade remunerada.

A revolução dos transportes possibilita as viagens. Os avanços da medicina uma certa

tranquilidade de se praticar várias atividades sem perigos para a saúde. Mas, para vários

gerontólogos e geriatras, o isolamento é fatal e deve-se oferecer ao idoso espaços de

convivência, de preferência espaços públicos, que permitam aos maiores de 60 anos

desenvolver múltiplas atividades que o deixem em estado de equilíbrio, físico e psicológico,

em condições de usufruir da vida plenamente.

5.5.8 O Espaço Público

No presente trabalho, serão apresentadas propostas de intervenções no espaço público

urbano no sentido de analisá-los, qualificá-los e prepará-los para que sejam utilizados por

pessoas da terceira idade. Foram selecionados cinco tipos de espaços urbanos (Cinco P’s),

considerados de fundamental importância para as atividades de lazer nas cidades:

Page 157: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

156

1. Parques. Urbanos em geral. Parque Urbano de Bairro. Classificação, localização,

dimensionamento e equipamentos em geral e para 3ª idade. Critérios de

acessibilidade.

2. Passeios Públicos: Calçadas cobertas e descoberta. Galerias. Passarelas. Via de

pedestres. Classificação. Tipologias. Dimensionamento. Equipamentos em geral e

para a 3ª Idade. Critérios de Acessibilidade.

3. Praças. Urbanas em geral. Praças de Unidades de Vizinhança ou Bairro.

Classificação, localização, dimensionamento e equipamentos em geral e para 3ª

idade. Critérios de acessibilidade.

4. Praias. Oceânicas, lacustres e fluviais. Classificação, localização e equipamentos

em geral e para 3ª idade.

5. Pontos de Encontros. Esquinas, Cafés, Bares e Botequins, Livrarias, Lan Houses,

Saunas. Classificação, localização, equipamentos em geral e para 3ª idade.

Critérios de acessibilidade.

A classificação dos equipamentos será feita em função da bibliografia estudada e pela

resultante de observações diretas feitas em várias cidades. A localização seguirá o mesmo

parâmetro, considerando-se também o que estipulam planos diretores de algumas cidades

onde o equipamento tem forte presença e qualidade superior. O dimensionamento será feito

em função da bibliografia estudada e de observações sistemáticas feitas em algumas cidades,

onde o equipamento existe com alto padrão urbano. Os equipamentos levarão em

consideração o que determina as Normas Brasileiras e as restrições, físicas e psicológicas,

existentes para pessoas da 3ª idade. Os critérios de acessibilidade serão aplicados de acordo

com a Norma Brasileira 9050.

5.5.9 Espaço Urbano e o Idoso: O lazer na 3ª Idade

Este trabalho abordará a prática do lazer pelos idosos enfocando 5 tipos de espaços

públicos onde, segundo observações diretas e grande parte da bibliografia consultada, pessoas

com mais de 60 anos de idade utilizam com mais frequência.

1. Parques Urbanos.

2. Passeios Públicos.

3. Praças.

4. Praias.

5. Pontos de Encontro.

Page 158: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

157

5.5.9.1 Parques Urbanos

A Bibliografia que aborda as áreas verdes nas cidades é muito vasta. O Colégio de

Arquitetos de Madrid, Espanha, recomenda 10% da área urbana de um município, para ser

destinada a áreas verdes. A Organização das Nações Unidas, 10m²/per capita. A Legislação

Urbanística brasileira estabelece nas normas a respeito do parcelamento do uso-do-solo, que

15% deste parcelamento deve ser destinado para áreas verdes. Kevin Linch 1 ha de parque

para recreação infantil para cada 2.000 habitantes a distâncias não superiores a um

quilômetro.

Ferrari (1977, p.621) recomenda 12,14 HA, com um raio de influência de 8km. 1 ha

serve até 5.000 habitantes. Um parque urbano deve atender de 50.000 a 100.000 habitantes. O

Departamento de Planejamento Urbano de Los Angeles, EUA, determina para Unidades

Residenciais e Unidades de Vizinhança, 1m²/habitante. Para Zonas Setoriais, 8 a 9m² por

habitante.

Muitos urbanistas recomendam, atualmente, a subdivisão das áreas de parques urbanos

em pequenas áreas, de até 1 HA, espalhadas pela cidade (MASCARÓ, 1987, p.182). A

vantagem é muito clara, as distâncias a percorrer para utilizar essas áreas, principalmente para

idosos, são menores, dispensa o uso de transportes e o uso fica mais frequente, atendendo ao

conceito de uso diário de Dumazidier, conforme a frequência do uso. A frequência semanal

ou quinzenal ficaria para os grandes parques urbanos, do tipo Central Park, NY (420 ha),

Hyde Park, Londres (250 ha), Parque do Flamengo, Rio de Janeiro (120 ha), Parque do

Ibirapuera, São Paulo (158 ha), ou o Bois de Boulogne, Paris (846 ha).

Os defensores da ideia de fracionamento de uma grande área verde em pequenas áreas

espalhadas pela cidade devem informar que este fracionamento encarece muito o custo da

infraestrutura urbana. Ou seja, um parque central é mais econômico do que várias pequenas

áreas, com o mesmo somatório de área, espalhadas pela cidade. Cada espaço verde, via de

regra, está circundado de ruas habitadas, e, portanto, com redes de infraestrutura (água,

eletricidade, esgoto etc.) utilizadas de um só lado rua. A figura a seguir (Figura 40) mostra os

dois exemplos e uma estimativa de custos, supondo-se que, nas duas situações, as áreas

representam 10% da área total da cidade hipotética. No primeiro caso, o parque é central e, no

segundo caso, o parque é subdividido em 6 áreas distintas.

Page 159: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

158

Figura 40 - Tipos de parcelamento urbano para Parques

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012). *Baseado em proposta de Juan Mascaró.

O planejador terá que relacionar o custo benefício entre as duas soluções, abordando,

no caso dos idosos, questões como acessibilidade, frequência do uso, segurança, custo com

transportes, entre outros aspectos, para tomar uma decisão.

Em geral divide-se um Parque Urbano nos seguintes setores:

1. 50% Para atividades de lazer ativo. (Área para show, camping, lagos,

piquenique, piscinas, play grounds, quadras, quiosques, salão de danças etc.).

2. 25% Para áreas de Bosques e Reserva Florestal (exclusivamente).

3. 15% Para pistas de ciclismo e caminhadas de pedestres.

4. 05% Para Usos Institucionais ( Auditório, biblioteca, estufa, museus, restaurante).

5. 05% Para Usos Administrativos. (Diretoria, Garagens, Posto de Saúde, Posto

Policial, oficinas, sanitários públicos,

Ainda divide-se um Parque Urbano Central, quanto aos equipamentos:

1. Administração (com maquete física do parque).

2. Áreas de Alongamentos.

3. Áreas com água (pequenos lagos, fontes, córregos etc.).

4. Biblioteca.

5. Cômoro. (elevação adjacente aos lagos).

6. Churrasqueiras.

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159

7. Sanitários Públicos. (M) e (F).

8. Espetáculos e manifestações Públicas.

9. Estufa.

10. Piquenique.

11. Piscinas (Hidroterapia para idosos e Piscinão para usuários em geral).

12. Pistas de Caminhadas e Pistas de Ciclismo. (Bicicletário) (Trenzinho).

13. Pista de Skate.

14. Playgrounds. Aeromodelismo e Modelismo naval.

15. Posto Policial e Posto de Saúde.

16. Quadras de jogos. (Volley-Ball, Bocha, Tênis, Futsal etc).

17. Quiosques.

18. Restaurante. (Sala de Danças) (Casa de Chá).

19. Salas de Jogos ou Sala de Danças.

Quanto aos tipos de Parques Urbanos, esta análise se fundamentará, entre outros,

apoiada, principalmente no trabalho de Macedo e Sakata (2003), pela objetividade e

pertinência dos aspectos registrados. Os tipos de parques são: Ecléticos, Modernos e

Contemporâneos.

Parques Ecléticos.

Os parques urbanos planejados segundo os parâmetros ecléticos apresentam as

seguintes características:

1. À semelhança dos parques europeus, possuem uma configuração formal

estruturados por grandes maciços arbóreos, extensos relvados e lagos artificiais,

ou naturais, sinuosos.

2. São espaços de lazer contemplativo estruturado para a prática do footing ou

passeios, no qual, além de contemplar a paisagem, a aristocracia do século XIX,

utilizava para ver e se visto. Destinava-se também para passeios de barco, festejos

locais e apresentação de música.

3. É concebido com uma rede de caminhos que se cruzam, criando nós de circulação

e alamedas. Este traçado pode ser de forma orgânica ou geométrica obedecendo

eixos de circulação que acentuam pontos focais, segundo o modelo francês de

composição.

4. O traçado desses caminhos conduz a pontos focais de interesse, cria recantos

sinuosos que abrigam elementos pitorescos como quiosques, grutas, roseirais,

Page 161: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

160

pérgulas, ilhas, monumentos, coretos, chafarizes, fontes luminosas, estátuas e

templos. Esses espaços são muitas vezes temáticos (chineses, franceses etc.).

5. São comuns viveiros de plantas viveiros de aves e pequenos zoológicos, bem

como animais soltos como cotias, patos e pavões.

6. A presença da água está em fontes, chafarizes, lagoas e espelhos d’água, sinuosos

ou geométricos.

7. O uso da vegetação, (forrações, massas arbustivas e arbórea) é bastante elaborado

com espécies exóticas, principalmente europeias, e nativas compondo cenários

bucólicos.

8. Essas imagens mostram claramente, em seus traçados, a dubiedade formal

clássico-romântica do projeto eclético do parque brasileiro.

São exemplos deste tipo de parque o Jardim Botânico, A Quinta da Boa Vista (Figuras

41 e 42), o Campo de Santana no Rio de Janeiro e o Campo de São Bento em Niterói. O

Parque do Ipiranga, o Parque da Luz em São Paulo, o Parque Reneé Gianetti em Belo

Horizonte e o Parque Rodrigues Alves em Belém-PA.

A partir dos anos 40 do século XX, este modo de projetar vai se modificando em

função das mudanças que ocorrem, então, na sociedade. Os parques ecléticos tornam-se

obsoletos, perante as novas necessidades de lazer da sociedade, que passa a demandar

equipamentos como playgrounds, quadras esportivas, lanchonetes etc. Muitos parques passam

por reformas, mas conservam seu caráter e se mantêm como locais vivos e atraentes como

pontos de referência nos centros urbanos. O modelo eclético perdura como referência

projetual a ponto de alguns de seus elementos característicos poderem ser vistos até nas linhas

projetuais posteriores, a moderna e a contemporânea. Muitos deles chegaram aos nossos dias

bastante íntegros do ponto de vista formal, embora em outros casos tenham sofrido mutilações

para a introdução de edifícios, equipamentos culturais e recreativos.

Page 162: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

161

Figura 41 – Parque Eclético: Jardim Botânico (Rio de Janeiro)49

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

49

Parque caracterizado por grandes perspectivas para obtenção de efeitos estéticos, preservação ambiental,

introdução de conceitos de áreas educacionais e desenho de base geométrica.

Page 163: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

162

Figura 42 – Parque Eclético: Quinta da Boa Vista (Rio de Janeiro)50

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

Parques Modernos.

A partir da Revolução de 30 e em decorrência da Semana de Arte Moderna de 1922,

nova corrente de pensamento, de fundo nacionalista, passa a exercer um forte influência no

pensamento e na vida nacional. No período, são também grandes as transformações na

sociedade brasileira, entre elas um acelerado processo de urbanização onde a população passa

a ocupar mais densamente os centros urbanos e desenvolver novos hábitos que se refletem no

programa dos parques públicos.

A valorização das atividades recreativas ao ar livre é uma dessas mudanças que

provocaram o aparecimento de equipamentos adequados à sua prática: áreas de convívio

familiar equipadas para piqueniques, quadras esportivas e playgrounds. Paralelamente, ocorre

a valorização das atividades culturais, gerando áreas próprias para desenvolvê-las nos

parques, como anfiteatros, bibliotecas, museus, teatros, entre outros equipamentos.

50

Parque caracterizado por grandes perspectivas objetivando a valorização dos edifícios existentes, preservação

ambiental, e desenho de base mista, com estruturação geométrica, mas apresentando áreas com desenho mais

livre

Page 164: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

163

A valorização do lazer ativo provocou profundas alterações na estrutura geral –

funcional e morfológica – do parque. O movimento Moderno, influenciando diferentes áreas

da cultura nacional (arquitetura, artes plásticas, literatura, música etc.), influencia também

uma nova concepção estética nos parques públicos ao romper com a produção paisagística

anterior representada pelo Ecletismo:

1. Possui a mesma configuração morfológica estruturada pelos elementos dos

parques ecléticos, como bosques, gramados e corpos d’água, mas sem tentar obter

a paisagem de um país europeu.

2. A linguagem formal e visual utiliza linhas despojadas, de formas mais

geométricas, de desenho mais definido e limpo. Os parterres são abandonados,

como também os caminhos sinuosos, os elementos românticos e pitorescos, os

canteiros ajardinados e as podas topiárias.

3. A área dos parques é totalmente recortada por uma rede de caminhos, menos

rebuscada e com função diversa: no parque moderno, a rede de caminhos faz a

ligação entre os diferentes equipamentos de forma mais direta e é aproveitada para

práticas esportivas.

4. A vegetação tropical predomina, podendo ser nativa ou exótica, organizada, com

cenários bucólicos, seguindo, no entanto, uma linguagem mais naturalista tropical.

5. A água, ainda de caráter contemplativo, é desenhada em formas ortogonais, ora

curvas, mas sempre assimétricas.

6. O espaço do parque, na sua totalidade, é subdividido em áreas funcionalmente

para piqueniques, lazer infantil, lazer cultural, esportes e contemplação. Em

alguns casos essas atividades encontram-se concentradas em duas áreas bastante

diferenciada: Lazer Ativo, onde se localizam as quadras, os playgrounds, teatros

ao ar livre e pontos de apoio como lanchonetes e sanitários. A outra é voltada para

o Lazer Contemplativo, normalmente ocupada por um bosque já existente e

permeada por trilhas e caminhos com pontos de atração, como mesas para

piqueniques e churrascos, mirante e lagos.

7. É parte integrante desses parque elementos construídos, como jardineiras,

anfiteatros, arquibancadas, bancos, mesas, fontes, monumentos além de pisos e

murais com desenhos altamente elaborados.

Esta tipologia de parque trouxe significativas mudanças conceituais para a produção

dos espaços de lazer, alterando a concepção da própria paisagem. O ideal bucólico-

contemplativo persiste ainda neste período, porém novas perspectivas se abrem para um uso

Page 165: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

164

mais diversificado e democrático do parque, ao ser transformado em uma área de lazer para

todas as faixas etárias e sociais.

São exemplos desses parques o Parque Moinho de Vento (Porto Alegre. RS), o

Bosque João Paulo II e o Parque Birigui (Curitba-PR), o Parque Ecológico do Tietê e o

Ibirapuera (São Paulo-SP), O Parque do Flamengo (Rio de Janeiro-RJ), a Lagoa do Abaeté

(Salvador-BA) (Figuras 43 e 44) e a Orla da Praia de Iracema (Fortaleza-CE).

Figura 43 – Parque Moderno: Parque do Flamengo (Rio de Janeiro)51

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

Figura 44 – Parque Moderno: Lagoa do Abaeté (Salvador)52

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

51

Parque caracterizado pela introdução de equipamentos de lazer, preservação e recomposição ambiental.

Desenho livre, seguindo a topografia da aera. 52

Parque caracterizado pela introdução de equipamentos de lazer, preservação ambiental e desenho livre,

seguindo a topografia da área.

Page 166: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

165

Parques Contemporâneos:

A década de 80 marca o início de um processo de liberdade na concepção do espaço

livre urbano, consequência do questionamento cultural ocorrido nas décadas de 60 e 70, que

colocou em xeque os já tradicionais princípios modernistas, seja na arquitetura, no urbanismo

e no paisagismo. Antigos valores do Ecletismo são retomados, principalmente os estéticos.

Mas são fundidos às novas formas de uso. Tudo é permitido. A Linha Contemporânea de

parques caracteriza-se, acima de tudo, pelo experimentalismo, não definindo padrões rígidos

como o Ecletismo e o Modernismo.

Do Modernismo, herda alguns valores, e introduz a ecologia como um importante

instrumento de preservação na vegetação nativa no meio urbano. Outra vertente do parque

contemporâneo é aquela que sofre influência de paisagistas americanos, franceses e espanhóis

na forma da simetria no desenho dos canteiros, no uso da vegetação, na utilização da água em

formas elaboradas e o reaparecimento dos canteiros de espécies floríferas, formando tapetes

coloridos e, ao lado de outros elementos de ordem formal, resulta em espaços dotados de

plasticidade inédita.

Ao lado do uso dessas formas inovadoras, no seu arcabouço formal, observa-se uma

tendência de retorno ao Ecletismo, como a valorização dos espaços de contemplação e a

reintrodução de elementos decorativos como pérgolas, mirantes, pontes e pórticos. Aí surgem

também os parques temáticos. Os parques públicos apresentam temas que rememoram algum

evento histórico ou homenageiam alguma etnia importante para a cidade. O Lazer Ativo

continua valorizado com as atividades esportivas e o culto ao corpo torna indispensável a

presença dos mais variados equipamentos que permitam a prática de esporte.

1. O Programa funcional é predominantemente de Lazer Ativo, embora muitos

parques contemporâneos apresentem um programa mais Contemplativo. O culto

ao corpo ganha importância e com ele a disponibiidade e a diversificação de

equipamentos esportivos.

2. Ecossistemas naturais como mangues, antes considerados de menor dignidade,

passam a ser valorizados como charcos, manguezais, áreas remanescentes de mata

nativa, velhas pedreiras e aterros. A educação ambiental passa a ser realizada no

espaço dos parques e a sinalização reforça a conscientização ecológica.

3. O retorno aos antigos valores se funde às novas tecnologias e tudo pode ser

experimentado, cuja características mais marcantes, influenciadas pelo paisagismo

de países como Espanha, EUA, França e Japão, onde grandes áreas de piso com

Page 167: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

166

pouca ou controlada vegetação, aparecem ao lado de elementos escultóricos ou da

arquitetura pós-moderna.

4. Os parques podem ser temáticos, destacando algum fato histórico ou alguma etnia

importante para a história do local onde está implantado.

5. A vegetação segue a ideologia da preservação dos ecossistemas, acompanha a

tematização dos espaços compondo cenários variados.

6. A água permanece como um importante elemento estruturador dos espaços na

forma de lagos já existentes, nascentes, fontes, jorros e bicas.

São exemplos desta tipologia de parques o Parque Cidade de Toronto (São Paulo-SP),

o Parque Arruda Câmara (Rio de Janeiro-RJ), os Parques da Pedreira, Bosque do Alemão e o

Jardim Botânico (Curitiba-PR), Parque da Costa Azul (Salvador-BA), Parque do Mindú

(Manaus-AM) (Figuras 45 e 46) e o Parque do Parreão (Fortaleza-CE).

Figura 45 – Parque Contemporâneo: Parque da Costa Azul (Salvador)53

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

53

Parque caracterizado pela preservação ambiental e pequena introdução de equipamentos recreacionais.

Page 168: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

167

Figura 46 – Parque Contemporâneo: Parque do Mindú (Manaus)54

.

Fonte: Macedo; Sakata (2003).

Sendo assim, embora a questão do idoso seja um tema surgido e colocado em

discussão no final do século XX, observa-se nos conceitos de parques, aqui analisados, uma

quase completa inexistência ou preocupação com áreas e equipamentos, na estrutura desses

espaços públicos, voltados para pessoas da terceira idade. As referências são generalizadas,

desprovida de um conteúdo mais detalhado. A não ser que o Lazer Contemplativo seja a área

destinada aos maiores de 60 anos. Entretanto, gerontólogos, geriatras e outros estudiosos do

tema, são enfáticos em considerar a atividade física e a vida ao livre, em espaços abertos,

como de fundamental importância para a qualidade de vida das pessoas da terceira idade.

Além do mais, só a partir de 1995, com a Lei 8.987, fixando as diretrizes para a

Acessibilidade das Pessoas com Necessidades Especiais, a posterior Lei 10.098/2000 que

regulamentou a matéria, e a instituição, em 30 de junho de 2004, da NBR 9050, o tema entrou

na pauta de planejadores, administradores públicos e entidades da sociedade civil. A grande

maioria, senão a totalidade dos parques, são pré-existentes à essa Legislação.

54

Parque caracterizado pela preservação da floresta existente com a introdução de poucos equipamentos

recreacionais.

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168

A fundamentar a questão, na época, estavam os dados do IBGE, que apontavam cerca

de 24 milhões de pessoas, no Brasil, portadores de alguma deficiências. Os dados são do

Censo de 2000. Hoje, já concluído o Censo de 2010, estima-se que cerca de 15% da

população de 195 milhões de habitantes sejam portadores de alguma necessidade especial.

Acrescente-se a este o número o fato de que 11% (21 milhões de pessoas) da população são

de idosos com mais de 60 anos, fase da vida onde se apresentam vários tipos de deficiências,

físicas, principalmente.

Caso seja adicionado ao convívio social dessas pessoas, outras duas, pais ou amigos, o

número de pessoas envolvidas com indivíduos com dificuldade de locomoção passa a ser de

mais de 130 milhões de brasileiros, ou seja, quase toda a população do país tem alguma

relação direta ou indireta com pessoas de mobilidade reduzida. Os parques já existentes e os

que serão criados precisam, urgentemente, incorporar à sua estrutura, equipamentos que

contemplem pessoas da 3ª idade.

Outra prioridade é a criação de parque que atenda às classes menos favorecidas. Os

atuais parques são distantes dos bairros periféricos e procuram atender mais uma emergente

classe média e a valorização imobiliária de áreas em crise. Essa compreensão instiga uma

problematização sobre diferentes concepções da noção de segregação. Seria a prioridade a

locais não periféricos uma forma de segregação ou, ao contrário, tratar-se-ia simplesmente de

um dos indícios de abandono e pouca prioridade do Estado. Outra questão a ser enfatizada é a

questão da sustentabilidade desses parques, seja pela falta de manutenção, permanência ou de

segurança pública.

Alguns equipamentos, básicos, para Parques são indicados a seguir (Desenhos 18 a

29).

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169

Desenho 18 –Área de estar completa

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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170

Desenho 19 – Cortes da área de estar

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 20 – Área de estar simples

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 172: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

171

Desenho 21 – Piscina para idosos55

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

55

Piscina projetada e construída no modelo “prainha” (partindo-se de uma cota “0” -zero- até a profundidade

desejada, no caso 1.50m) em rampa com inclinação de 5%.

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172

Desenho 22 – Salão de danças para idosos.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 174: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

173

Desenho 23 – Anfiteatro ao ar livre.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 24 – Mesa de jogos ao ar livre

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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174

Desenho 25 – Barras de alongamento.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 26 – Quadra de Voley-Ball.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 176: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

175

Desenho 27 – Rede da Quadra de Voley-Ball.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 28 –Quadra de bocha.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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176

Desenho 29 – Detalhes da quadra de bocha.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

5.5.9.2 Passeios Públicos

a) Passeios Comum (Calçadas).

O Sistema Viário: Divisão e Hierarquização

Vias Arteriais: São vias interurbanas. Ligam duas cidades separadas por área rural,

podendo contorná-las ou entrar nelas. Podem também ligar dois pólos de uma área conurbada

(duas cidades inicialmente separadas que, ao se expandirem, ficam unificadas). Podem ser de

3 Tipos:

1. Auto-Estradas: Tráfego direto, bloqueadas, com interseções em níveis diferentes.

Acessos muito espaçados.

2. Expressas: Tráfego direto, mas as interseções podem ser no mesmo nível. Não é

exigido o bloqueio, podem ter acesso às propriedades laterais mas através de vias

marginais.

3. Principais: Vias Livres Comuns. As vias principais são aquelas que tem grande

importância dentro da cidade e que devem conciliar a fluidez (desenvolvimento

contínuo do tráfego) com o acesso às propriedades lindeiras e com o transporte

coletivo. Não é importante a velocidade.

Page 178: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

177

Outros tipos de Vias:

1. Coletoras: são vias de segunda grandeza, que coletam e distribuem o tráfego por

bairro e alimentam as principais.

2. Locais: são as vias que dão acesso direto às áreas residenciais, comerciais e

industriais.

3. Especiais: são as de usos exclusivos de ônibus, bicicletas ou pedestres.

Além de acesso aos diversos tipos de usos do solo que se apresentam ao longo de seu

percurso, a rua também serve de passagem aos veículos que se destinam a outras ruas. Este

último tipo de tráfego, por não ter ligação direta com a rua em que está circulando, constitui

um elemento que perturba o uso do solo e seus acessos. Por sua vez, o acesso ao uso do solo

(com as constantes entradas e saídas de veículos das propriedades situados nos terrenos

lindeiros, mais o estacionamento permanente e as paradas para deixar passageiros) perturba o

tráfego de passagem.

A hierarquização das vias visa diminuir os conflitos resultantes desta superposição. No

caso de certas vias locais, a hierarquização, aliada a certas características de desenho, pode

chegar a eliminar todo o tráfego de passagem.

A circulação de pedestres e veículos, vista até aqui com seus interesses diversos, de

acesso ao uso do solo lindeiro de passagem, dá origem a vários conflitos, como pode ser

observado. A primeira solução para reduzi-los é a mais conhecida de todas e consiste em criar

áreas de uso só de pessoas, chamadas de calçadas ou passeios, e áreas de uso predominante

de veículos (eventualmente de pessoas), chamadas faixas ou pistas de rolamento ou caixas de

rodagem.

Embora esta solução seja antiga e lógica, não dá conta de todos os conflitos ( em todas

as cidades carros estacionam sobre passeios!) e o uso intensivo e sem controle do automóvel

exige outras soluções como passarelas – elevadas ou subterrâneas – ligando dois lados de

uma rua ou avenida.

b) Passeios Cobertos (Galerias Abertas e Fechadas)

Galerias Abertas

São soluções muito utilizadas em países tropicais onde a presença da chuva ou,

principalmente do sol, exigem a proteção do pedestre. Caracterizam-se por manter a calçada

livre, mas coberta pelo corpo da edificação que, a partir do 2º piso, mantém sua testada e os

outros andares no limite do terreno lindeiro. É uma solução muito utilizada no Rio de Janeiro

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178

(Av. Presidente Vargas) e Recife (Av. Guararapes) e algumas cidades africanas, como

Luanda, Angola e indianas (Figuras 47 a 56). Praças como as de São Marco, Veneza; Praça

Vêndome, Paris; e Praça Maior, na Espanha; entre outros países, também utilizam esta

solução contornando o espaço livre da praça. O 1º e o 2º pavimentos são utilizados para loja e

sobre-loja e os demais andares para escritórios e/ou unidades habitacionais. As vantagens

desse tipo de passeio são muito grandes.

1. Cria pontos de encontro, principalmente nos locais onde existem cafés, bares ou

livrarias, por exemplo.

2. Dispensa o uso de postes para iluminação do passeio. As luminárias podem ficar

fixadas no teto ou pilares das galerias. Nos pilares podem ser fixados também

telefones públicos, lixeiras ou outro Mobiliário Urbano.

3. Dispensa o uso de abrigos independentes para paradas de ônibus

4. Dificulta ou impede que veículos estacionem sobre o passeio. O fato de serem

cobertas confere às galerias uma certa privacidade ou exclusividade de uso.

5. Permite a circulação de pessoas no sol ou na chuva, mantendo as atividades de

comércio e serviços em permanente funcionamento.

Figura 47 – Esquema de Galeria Aberta.

Fonte: Vieira (2010).

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179

Figura 48 – Av. Guararapes (Recife), na década de 4056

.

Fonte: Vieira (2010).

Figura 49 – Av. Guararapes (Recife)

Fonte: Vieira (2010).

Figura 50 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)

Fonte: Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) ([s.d.]).

56

Av. Guararapes em Recife (Pernambuco). Uma das primeiras cidades brasileiras a adotar este tipo de espaço

urbano. Uma proposta portuguesa para os trópicos.

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180

Figura 51 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)

Fonte: Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro) ([s.d.]).

Figura 52 – Av. Presidente Vargas (Rio de Janeiro)

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Figura 53 – Centro de Luanda (capital de Angola)57

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

57

Predominante o tipo de espaço urbano formado por Edifícios Galerias.

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181

Figura 54 – Centro de Luanda (Angola)58

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Figura 55 – Edifício Galeria em Mossoró (RN)59

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Figura 56 – Edifícios em Mossoró (RN)

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

58

A tradição tipológica do urbanismo português, já visto em Recife e Rio de Janeiro, apresenta-se com grande

intensidade no Centro de Luanda. 59

O edifício galeria é solução indicada para climas quentes, do tipo tropical, por exemplo na cidade de Mossoró

(RN), nordeste brasileiro.

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182

Galerias Fechadas

Em geral são ruas cujo tráfego de veículos pode ser eliminado sem maiores prejuízos

para sua fluidez. Podem ser cobertas como a famosa Galeria Victor Emanuel II em Milão,

Itália, ou a Galeria Menescal no Rio de Janeiro, entre as avenidas Copacabana e a Barata

Ribeiro, com a testadas das lojas abrindo para rua coberta.

Transitar pelas calçadas, principalmente das grandes cidades, de forma segura e

confortável é uma tarefa difícil. Em geral, nestes espaços destinados ao ir e vir das pessoas, é

fácil encontrar obras, buracos, bicicletas, veículos, desníveis acentuados, vendedores

ambulantes, mobiliário urbano implantado de forma inadequada e, até, bares ou “puxados” de

restaurantes.

Figura 57 – Acesso da Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália).

Fonte: Jane (2006).

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183

Figura 58 – Galeria Vitor Emanuel II (Milão – Itália).

Fonte: Valencia ([s.d.]).

A qualidade de um passeio público pode ser definida e medida por 3 fatores: Fluidez,

Conforto e Segurança. Um passeio ou calçada com fluidez apresenta largura e espaço livre

compatíveis com o fluxo de pedestres, permitindo que andem com velocidade constante. Um

passeio ou calçada com conforto apresenta um piso liso e antiderrapante, mesmo quando

molhado. Este deve ser quase horizontal e apresentar declividade máxima de 2%. Um passeio

ou calçada segura não oferece aos pedestres nenhum perigo de queda ou tropeço.

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre

problemas urbanos incluem quedas de pedestres na calçada ou na própria via, mesmo sem a

participação, direta ou indireta, de veículos. Realizada em São Paulo (2003), a pesquisa

revelou 9 quedas por grupo de 1.000 habitantes a um custo médio de R$ 2,5 mil por queda.

Tropeços e quedas em calçadas não acontecem somente com idosos. Cada vez mais

crianças e jovens são vítimas de calçadas mal cuidadas. Mas, cuidar de calçada é dever de

quem? As calçadas são consideradas públicas, mas a responsabilidade de conservá-las é

privada. O proprietário da edificação urbana cujo trecho de calçada esteja na frente de seu

estabelecimento comercial ou residencial é responsável pela sua manutenção. Tal fato cria um

conflito muito grande que existe na legislação e impede que o assunto seja conduzido de

Page 185: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

184

forma linear. Em geral, cada um faz a calçada do jeito que quer. Essa construção aleatória é

que provoca as péssimas condições da maioria das calçadas brasileiras. Caminhar a pé faz

parte do cotidiano da grande maioria da população brasileira, assim é necessário tornar as

calçadas acessíveis. Rampas para cadeirantes, piso táteis para deficientes visuais, pisos com

materiais adequados, duradouros e de fácil manutenção e conservação, são algumas das

medidas a serem adotadas.

Fatores que determinam uma boa calçada (Desenhos 30 a 36): Largura das calçadas

(depende do número de pedestres esperados e o espaço que ocupam. Em geral, no Brasil,

utiliza-se um a largura mínima de 2.00m); Largura da área de Separação (As áreas de

separação entre o tráfego veicular e o de pedestres são desejáveis para prover melhor nível de

conforto, segurança pública e segurança de pedestres); Inclinação Transversal (As calçadas

ou passeios devem ser construídos para acomodar todos os pedestres e deve ser o mais plano

possível, em geral i:2%).

Desenho 30 – Calçada em esquina60

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

60

Deve existir rampas com acessibilidade para cadeirantes, poste de iluminação pública, recuo para

estacionamentos paralelos ao meio fio, e esquina chanfrada para auxiliar a visibilidade tanto de pedestres quanto

de veículos. Deve ser incentivado o uso de equipamentos que promovam o ponto de encontro, tais como cafés,

livrarias, bares e botequins.

Page 186: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

185

Desenho 31 – Calçada mínima61

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

61

Deve ter toda a sua largura e extensão livre para o pedestre. O único equipamento permitido é o poste de

iluminação pública, desde que metálico e de forma cilíndrica com diâmetro máximo de 15cm.

Page 187: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

186

Desenho 32 – Calçada com banca de jornais62

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

62

Equipamento muito utilizado em diferentes capitais do mundo. A confecção da Banca deve ser de material

removível. O comércio permitido deve se apenas para venda de material jornalístico, cigarros, cartões postais,

mapas e outros objetos de apoio ao pedestre. Vedada o comércio de qualquer tipo de alimento.

Page 188: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

187

Desenho 33 – Calçada com restaurante/bar63

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

63

Modelo de ocupação da calçada muito utilizado em diferentes capitais do mundo. Deve-se permitir o

equipamento apenas com estruturas móveis, teto de lona ou poliéster e vedações laterais de plástico transparente.

Deve permitir um mínimo de 2.00m para o passeio e uma faixa de 1.00m para colocação de jardineiras, fixação

de postes e lixeiras. Excelente equipamento para dinamização do espaço público e lazer.

Page 189: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

188

Desenho 34 – Calçada com ponto de ônibus em poste multi-uso64

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

64

O Poste multiuso permite a existência de vários elementos num só equipamento: Iluminação pública da faixa

de rolamentos; Iluminação pública do passeio; Ponto de ônibus coberto; Banco; Lixeira; Telefone; Jardineira.

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189

Desenho 35 – Calçada como galeria aberta65

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Rampas: São desejáveis em todas as travessias, tanto nas interseções quanto nas entre-

quadras. Rampas facilitam não só pessoas em cadeiras de rodas, mas todos os pedestres,

especialmente carrinho de mão, carrinhos de bebê, malas com rodas, idosos e pessoas com

alguma dificuldade de locomoção.

Obstáculos: Podem não ser identificados pelos pedestres, principalmente os com

deficiências visuais. Obstáculos aéreos devem ser retirados da rota dos pedestres. Os que

invadem os passeios devem ter altura mínima de 2.10m. Em muitas cidades o poder público

municipal admite a implantação, com estruturas móveis, madeira ou metálicas, de bares ou

65

Uma solução das mais importantes soluções urbanísticas já adotadas no mundo inteiro mas, primordialmente,

em países tropicais, onde a existência de sol e chuva, podem prejudicar a vida normal das cidades. Elimina o

ponto de ônibus isolado. Elimina também a necessidade de postes de iluminação pública, pois esta pode ser

fixada no teto da galeria. Permite o funcionamento do comércio e serviços. Pode tornar-se um excelente ponto de

encontro e, dependendo das dimensões, um ótimo local para eventos. Embora indicada para climas quentes, é

bastante utilizada em países de clima temperado como excelente proteção contra a neve.

Page 191: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

190

restaurantes sobre o passeio. Nestes casos deve-se limitar as dimensões desses equipamentos e

estipular pelo menos 2.00m de circulação livre para pedestres.

Iluminação: Fator preponderante de segurança pública, a iluminação aumenta a

visibilidade e o conforto dos pedestres que caminham à noite. A iluminação deve ser

reforçada em áreas de grande concentração de atividades noturnas, como igrejas, escolas,

centros comunitários e passarelas.

Drenagem: A micro-drenagem permite o escoamento superficial direto da água

precipitada evitando que fique acumulada no passeio.

Arborização: A arborização desempenha várias funções no ambiente da rua. Para é

fundamental a escolha das espécies, a forma de plantio e o processo de manutenção. Para isto

deve-se seguir certos critérios:

1. Seleção das espécies: a vegetação está estritamente relacionada com o tipo de solo

e com as condições ambientais (regime de chuvas, ventos, temperaturas etc.).

Usar, de preferência, espécies nativas. Espécies exóticas poderão ser usadas desde

que submetidas a testes por profissionais especializados. O uso inadequado poderá

redundar em fracasso, o que, considerando a extensão das ruas acarretará grandes

prejuízos.

2. Estrutura e Porte: O porte compreende a altura do tronco mais a altura e largura

da copa. Compreende a conformação espacial do tronco, galhos e ramos.

Inicialmente verificar se estas duas qualidades são compatíveis com as

caracerísticas da rua e particularmente da calçada. Ver desenho nº

3. Folhas e flores: As folhas devem ser analisadas quanto à cor. Em geral

apresentam muitas variedades de tonalidades que se modificam de acordo com a

luz do sol, a sombra, a luz artificial ou as estações do ano. As folhas devem ser

analisadas quanto à forma, dimensões texturas (lisas, ásperas, com nervuras. etc.).

São qualidades bastante sutis que se bem utilizadas, podem apresentar excelentes

resultados no ambiente da rua. Entretanto, um aspecto importante é a perenidade

das folhas. Espécies que perdem folhas podem causar problemas de limpeza

urbana. Observar também a florescência. Fica bonito intercalar árvores que

floresçam em épocas diferentes.

4. Qualidades Botânicas: Importante é o tempo de crescimento e as alterações que a

espécie sofre na idade adulta. Interessa também o tipo de solo a que a espécie

melhor se adapta e a necessidade de ser regado.

Page 192: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

191

5. Disposição da Vegetação: Calçadas com menos de 2.50 de largura não podem, ou

não devem receber árvores. É importante observar a distância entre as árvores. Em

linha, a distância entre os troncos é, no mínimo, a soma dos raios das duas copas.

Uma terceira árvore pode ser implantada, formando um triângulo, plantada 15cm

para fora das circunferência das copas anteriores. As árvores podem ser colocadas

em linha, de forma contínua ou descontínua, formando um ritmo. Podem ser

intercaladas espécies com qualidades plásticas diferenciadas quanto à estrutura,

porte e florescência.

6. Cuidados especiais: Ao selecionar as espécies e tomar a decisão de como colocar

sua disposição nas calçadas verificar se as copas não interferirão na rede aérea ou

nos veículos, principalmente, em vias estreitas com grande circulação de ônibus e

caminhões. As raízes não devem ser do tipo que se alastram horizontalmente, para

evitar interferências com redes subterrâneas ou destruição da pavimentação. O

ideal são raízes verticais, pivotantes.

7. Plantio: O plantio deve ser feito a uma distância maior que 0,80m do meio-fio. As

covas devem ser 60cm mais largas e 25cm mais profundas que o contorno das

raízes.

8. Poda: A poda deve acompanhar a forma da árvore.

Mobiliário Urbano: Bancos, cabines telefônicas, postes de iluminação pública,

lixeiras, caixas de correio, abrigos para paradas de ônibus, devem sempre permitir uma

passagem para pedestre de no mínimo, 1.20m. Devem ser implantados de preferência em

acréscimos nas calçadas enquadrando zonas de estacionamento. Recomendável utilizar Postes

Multi-uso66

.

c) Passarelas Elevadas ou Subterrâneas

Passarelas elevadas (Figuras 59 e 60) são equipamentos em geral utilizados para

travessia de pedestres entre dois lados de uma rua. Ficam obrigatoriamente a 4.80m do solo.

Possuem largura e altura de 2.50m. São construídas em estrutura metálica ou concreto (para

garantir o maior vão possível) e piso e teto de argamassa armada (utiliza-se também placas

metálicas, fechadas ou de grelhas, no piso e cobertura de fibra-de-vidro.

66

Ver figur 34 – Calçada com ponto de ônibus e poste multi-uso.

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192

Figura 59 – Passarela elevada para pedestres67

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Figura 60 – Passarela elevada68

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

As desvantagens do seu uso dizem respeito à necessidade de rampas de grande

extensão (a inclinação de 5% exige uma rampa de 96.00m), gerando dificuldades de

implantação no meio urbano. Plataformas elevatórias estão sendo utilizadas para o acesso de

idosos ou outras pessoas com dificuldade de locomoção. Mas é alto o custo de manutenção

dessas plataformas. Outro ponto ainda não resolvido são os fechamentos laterais, feitos de

telas ou outro elemento vazado, que não protege em dias de frio ou chuvas.

Passarelas Subterrâneas (Desenho 36 e Figura 61) são alternativas de via utilizada para

a travessia de pedestres entre os dois lados de uma rua. Possuem largura de 3.00 a 5.00m e

altura de 2.50m. Essas vias exigem uma manutenção e vigilância constante. Em geral, quando

pouco utilizadas, transformam-se em pontos de venda de drogas ou são utilizadas para

assaltos. Para combater este problema, algumas dessas passarelas contam com lojas ou postos

policiais no interior ou possuem uma parte aberta, ou teto translúcido, na parte superior de

67

Localizada na Av. João Filgueiras Lima. Arquiteto: “Lelé”. 68

Idem.

Page 194: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

193

onde pode ser observado o movimento de pessoas. Utiliza-se também exposição de artistas e

artesões. O uso de ambas as passarelas são recomendáveis em avenidas muito largas, de

tráfego intenso, quando a interrupção do trânsito, por meio de semáforos, poderá ser muito

longa.

Desenho 36 – Galeria (passarela) subterrânea

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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194

Figura 61 – Galeria subterrânea69

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

5.5.9.3 Praças

A Praça é um espaço urbano, público, amplo, descoberto, ou coberto em parte, no qual

se costuma realizar grande variedade de atividades. Há múltiplas formas e tamanhos e

construídas em todas as épocas, mas não há uma cidade no mundo que não conte com uma.

Pela relevância e vitalidade dentro da estrutura de uma cidade, são consideradas como salões

urbanos.

Desde as suas origens, ao longo dos séculos, a praça é um órgão importante da cidade

incorporado à vida da comunidade como seu espaço mais convidativo, mais vivo e utilizado.

Já na pré-história, as tribos primitivas, ao agruparem-se em círculos, criava o espaço que viria

a ser para sempre o palco da vida comunitária. Elas são o centro por excelência da via urbana.

Ao redor delas, erguem-se os edifícios mais importantes e muitos monumentos que assinalam

a história das nações ali estão implantados. Por ser lugar de encontro, também abrigam os

mais diversos eventos festivos. A função econômica, Praça do Mercado, também lhe é

69

Passarela subterrânea de pedestres, ligando a Rua Santa Clara com a Av. Figueiredo Magalhães, no bairro

Peixoto, Copacabana, Rio de Janeiro

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195

inerente ao possibilitar as mais diversas transações. Outra função é a militar, que está na

origem de muitas cidades. O termo, na linguagem castrense, equivale à cidade.

Desde a Ágora grega ao Foro romano, povos que valorizavam os aspectos públicos da

vida urbana, até as Praças de Alimentação dos modernos Shopping Centers, ponto nevrálgico

destes templos do consumo, a praça, mesmo passando por grandes transformações na sua

estrutura física, manteve a essência das suas funções: promover o encontro e a possibilidade

de convívio entre os homens, mesmo considerando suas diferenças ou culturas. As diferentes

concepções de praças são, na realidade, um desafio constante para arquitetos, paisagistas e

urbanistas.

São conhecidos os embates conceituais sobre praças ente Oscar Niemeyer e Roberto

Burle Marx: um querendo praças sem a presença de vegetação (função para parques) e o outro

argumentando na direção oposta, ou seja, a praça, obrigatoriamente – principalmente num

país tropical de muito sol – precisa de árvores e vegetação.

À parte essas polêmicas, o importante é identificar os equipamentos e as dimensões de

uma praça no espaço público urbano.

a) As diferentes concepções de praças

Várias são as definições para o termo praça. Mesmo com as divergências entre

autores, a praça é caracterizada como um espaço público, destinado à convivência entre os

cidadãos, contextualizado em ambiente urbano e livre de edificações. No Brasil, o termo

praça é comumente associado à ideia de áreas livres, geralmente ajardinadas, repletas de

equipamentos públicos destinados à recreação de seus usuários, conflitando, em muito, com

as concepções que os europeus têm sobre este tipo de equipamento urbano.

Quanto à forma: Quadrangular; Irregular; Elíptica; Circular; Semi-cricular; Alongada.

Quanto às características sensoriais: Dura ou Seca (piso contínuo, nivelado ou não,

preponderante na composição); Jardim (vegetação preponderante na composição);

Azul (água preponderante na composição); Amarela (praias).

Quanto às dimensões: Maior; Mercado; Átrios; Pátios; Largos.

Historicamente, as praças são considerados “espaços de respeito” e sua localização em

geral antecede igrejas ou catedrais (Praça de São Pedro-Roma. São Marcos-Veneza, ambas na

Itália) palácios (Praça Maior-Espanha) e edifícios destinados ao poder (Praça dos 3 Poderes –

Brasília), A exceção veio na idade média quando espaços livres (Largos) resultantes de um

processo de urbanização espontânea eram utilizados para as feiras-livres, apresentações

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196

artísticas e outros tipos de manifestações populares que se materializava representando o

espírito de coletividade da população.

Carla Ferreira de Macedo (2003), em seus estudos sobre praças contemporâneas, feitos

a partir de praças brasileiras, relaciona duas premissas básicas para conceituar tais espaços –

Uso e Acessibilidade – conceituando-os como espaços livres urbanos destinados ao lazer e ao

convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos.

Os primeiros espaços livres públicos urbanos surgiram no entorno das igrejas. Ao seu

redor foram se instalando edifícios públicos, palacetes, casas comerciais e outros

equipamentos que serviam como local de convivência para a comunidade. Neste aspecto os

adros das igrejas (Igreja de São Francisco, Ouro Preto-MG e o Pátio de São Pedro, Recife-PE)

foram fundamentais no processo de consolidação dos espaços públicos.

b) Forma Urbana e Praças

A forma urbana influenciou o traçado dos logradouros públicos. A colonização

espanhola é caracterizada por ruas com traçado em cruz. Belgas, franceses, holandeses e

ingleses, obedeciam a sistemas em xadrez, radiocentricos e lineares. Em geral, em espaços

pré-determinados, utilizavam quadras, nas mesmas dimensões das destinadas à habitação,

comércio ou serviços públicos, para servirem de praças. Já as cidades de colonização

portuguesa cresceram de forma expontânea assumindo configurações de acordo com a

topografia dos terrenos, de maneira informal, quando não à margem da lei.

Gouveia (2008, p.141), assinala que, no final do século XIX e início do XX, o lote

urbano que até então possuía pouco ou nenhum valor de troca, abrigando casa e quintal, com

a valorização da terra, passa a ser desenhado de forma retilínea – retangular – que, no fundo,

representava a facilidade de se calcular sua área, o registro em cartório e posterior

comercialização. No Brasil, principalmente nas maiores cidades, apresentava-se com pequena

testada (em geral entre 6.00 e 10.00m) voltadas para a rua (os impostos também eram

cobrados pelas dimensões das testadas) e se alongavam para dentro da quadra. Esse tipo de

forma dos lotes apesar de representar ganhos em termos de maior otimização das

infraestruturas urbanas, apresentavam o inconveniente de dificultar a organização dos

sistemas de iluminação e ventilação das edificações. Entretanto, esta forma de organização

espacial sugere alguns elementos que, se apropriados hoje em dia, no que diz respeito à

iluminação e ventilação, podem se tornar fortes instrumentos de economia na infraestrutura

urbana das cidades.

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197

No início do século XX, proliferaram, nos principais centros urbanos brasileiros, dois

tipos de assentamentos humanos: as vilas e as favelas. As vilas – tipo de parcelamento com

lotes, organizados em torno de uma rua local, foram muitas vezes construídas por fábricas

para abrigar e controlar seus operários. Atualmente, tais espaços têm sido valorizados em

função basicamente da tranquilidade e segurança que oferecem, além da boa localização na

malha urbana, em que pese a degradação e desqualificação dos seus equipamentos.

As favelas são assentamentos urbanos irregulares que passaram a tomar forma,

segundo alguns autores, principalmente no Rio de Janeiro (embora hoje seja um problema de

toda cidade brasileira), então capital federal, após a guerra de Canudos, quando soldados que

participaram da campanha, não tendo onde morar, passaram a ocupar as encostas das

montanhas que fazem parte da topografia da cidade.

São comunidades com forte degradação urbana, onde imperam a pobreza e o

desemprego. Não existe infraestrutura urbana e proliferam doenças variadas e um acentuado

índice de suicídios. As habitações são precárias, embora muitas feitas de materiais

convencionais, principalmente pelo fato de estarem implantadas em áreas de risco. A ausência

do estado originou a implantação, nestes locais, das condições propícias para o tráfico de

drogas e outros tipos de contravenções que resultaram em verdadeiros enclaves de violência

urbana.

O problema foi agravado com o forte processo de urbanização sofrido pelo Brasil após

1964. De uma população, onde 70% dos habitantes viviam no campo, em menos de 20 anos, o

país passou a contar com 80% de pessoas nas suas áreas urbanas. Sem moradias e precisando

sobreviver, a população, ante a necessidade de morar perto do trabalho, passou a ocupar

maciçamente áreas de favelas.

Ante o avanço da violência e do tráfico, o Estado brasileiro, além das práticas de

repressão policial, ensaia ações de integração e apoio social a estas comunidades, através de

programas de urbanização, tipo Favela-Bairro, e amplo programa habitacional.

Embora não esteja no objetivo do presente trabalho, a ele diz respeito em face de,

nessas comunidades, ser grande o número de pessoas idosas que sofrem as consequências de

um Estado omisso em relação a uma melhor qualidade de vida para seus habitantes.

Nas propostas de urbanização, no sentido de integrar e tornar acessível ao meio urbano

legal, este grande contingente populacional, alternativas diversas de padrões de urbanização

estão sendo experimentados a partir de processos de regularização fundiária e da ênfase na

criação de espaços públicos de lazer, inclusive praças.

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198

c) A Quadra e a Praça

Voltando à questão da forma urbana e levando-se em consideração o modelo

tradicional usado no Brasil (xadrez ou grelha), em que pese exceções como Brasília e, talvez

Palmas, com propostas diferenciadas de uso-do-solo, torna-se importante o dimensionamentos

de quadras e, consequentemente, praças, no presente trabalho.

Embora historiadores afirmem que o sistema de quadras urbanas já era conhecido

desde 4.000 a.C., remonta a 475 a.C., o sistema de quadras mais antigo que se conhece ou,

pelo menos, o mais conhecido: o Plano de Mileto, feito pelo arquiteto Hipodamos de Mileto.

As quadras possuíam 25 X 50m. Outro sistema conhecido é o da cidade de Tingá, na Argélia

(100 d.C.) com quadra de 20 X 20m. Segue-se depois algumas cidades americanas:

1. 1817 – Nova York (60 X 250m).

2. 1840 – Sacramento (90 X 90m).

3. 1867 – Portland (60 X 60m).

4. 1869 – Houston (75 X 75m).

Desenho 37 – Evolução das quadras urbanas.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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199

O Plano de Ildefonso Cerdá para Barcelona é de 1859 (Quadra de 113 X 113m). A

urbanista Jane Jacobs condena veementemente as quadras longas, como as de Nova York

(planejadas para evitar muitos cruzamentos de automóveis). Ela afirma que:

[...] quadras longas esvaziam as ruas, neutralizam as vantagens potenciais que as

cidades propiciam à incubação, à experimentação e a numerosos empreendimentos

pequenos ou específicos, na medida em que estes precisam de cruzamentos muito

maiores de pedestres para atrair fregueses e clientes. (JACOBS, 2003, p.197)

Trazendo como consequência os longos percursos para pedestres (principalmente

pessoas idosas e portadoras de alguma necessidade especial). O esvaziamento das ruas, além

dos longos percursos, provoca a insegurança com o surgimento de marginais devido à

ausência de povo nas ruas, o grande fator de segurança urbana, ainda segundo Jacobs.

Na China, está em curso uma política urbana de se reduzir o tamanho das quadras.

Objetiva-se aumentar a presença das pessoas nas ruas e andando a pé.

Gouveia (2008, p.143) afirma que “para facilitar a acessibilidade a pé, a quadra deve

ser menor que 200m e maior que 140m, evitando o aumento do número de ruas e o custo do

parcelamento”.

No caso de se planejar uma quadra que contemple praças ou quadras habitacionais

para idosos, a proposta do presente trabalho é que se leve em consideração a capacidade, leia-

se resistência, do idoso em percorrer determinadas distâncias.

Na pesquisa direta, realizada em Copacabana (Av. Atlântica) e Natal (Calçadão da Av.

Roberto Freire), chegou-se a um padrão de circulação para idosos em torno de 40 min/1km,

ou seja 4 min/100m.

A diversidade de renda, origem e faixas etárias, comuns na sociedade brasileira,

sugere uma malha urbana diversificada, com diferentes formas e dimensões dos lotes, para

abrigar habitação térrea, sobreposta, coletiva e outras (inclusive os 5% das unidades para

idosos, exigidos por Lei, para Conjuntos Habitacionais financiados pelo poder público), que

propiciem a construção de um espaço urbano o mais diversificado e dinâmico possível, o qual

facilite a apropriação por diversos seguimentos da população.

Em geral, os lotes no Brasil, verificados alguns planos diretores, são:

1. 10 X 30 ou 10 X 20.

2. 12 X 30 ou 12 X 25.

3. 15 X 30.

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200

Planejar uma quadra que contemple essas diferentes alternativas e, talvez, mais um

lote de 5 X 15, para habitações geminadas ou em renque para idosos considerando as diversas

configurações familiares e a média brasileira de 3,09 pessoas/família (censo de 2010), além

do tempo de caminhada para contornar o quarteirão, foi encontrada a dimensão de 127,2m X

127,2m.

As alternativas remetem de imediato, para a possibilidade de seguir, como parâmetro,

as mesmas dimensões para a Praça. O período para se percorrer o seu perímetro de 508,8m

(área de 1,6 ha ou 16.198m²) seria de 20 minutos (40min/Km) e a partir daí seria

dimensionado os seus equipamentos, assim distribuídos:

1. Área de Piso: 60% (Livres).

2. Área Verde: 20% (árvores, arbustos e gramados).

Equipamentos: 20% (bancos, lixeiras, bebedouros, lanchonetes, coretos, pontos de

ônibus, telefones públicos, lan house, salão coberto – aberto ou não – para jogos e danças,

sanitários públicos, playgrounds, pistas de caminhadas, equipamentos de ginástica e

floricultura. Fontes e espelhos d’água seriam opcionais).

A presença de quadras de esportes não é recomendável pela possibilidade de

incomodar com bolas perdidas, pessoas não participantes dos jogos, como gestantes e idosos,

por exemplo. Poderia haver a possibilidade de isolá-las, através de telas, embora isso

desvirtue o princípio de espaço livre. Em último caso, estipular o seu uso apenas para

crianças.

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201

Desenho 38 - Proposta para o dimensionamento de praças e quadras.70

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

70

Para esta proposta foi adotada as proporções usualmente utilizadas nas praças italianas onde o lado maior é

semelhante a duas vezes o lado menor. E este define a altura dos edifícios lindeiros.

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202

Desenho 39 - Dimensionamento de praças e quadras (corte esquemático).

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

d) Praças de Vizinhança

Em um mesmo bairro podem existir várias praças de vizinhança, conforme a

população, e o ideal é que elas sirvam até 2000 moradores. O seu atendimento normal abrange

um raio de 400 m, pois as estatísticas têm mostrado que a mãe ou o pai não leva a pé os seus

filhos para o lazer em distâncias acima de 55m e, mesmo assim, depende das condições de

tráfego. Por essa razão, tais praças não devem estar localizadas junto a avenidas ou ruas com

trânsito intenso.

Normalmente, estas praças se compõem de dois espaços bem definidos - um para o

parque infantil, que deve ter prioridade, e outro para descanso, com as indispensáveis

instalações sanitárias. A área para este conjunto oscila entre 2400 a 3000m², e a sua menor

Page 204: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

203

dimensão não deve ser inferior a 30m. Se for incluída uma quadra polivalente para recreação

esportiva, de jovens e adultos, serão necessários mais 600m². As praças de vizinhança devem

constituir a principal meta na política paisagística de qualquer administração municipal, face

ao seu elevado significado social.

Paralelamente, destaca-se que é o gênero de obra mais fácil de se conseguir a

participação comunitária.

Quando não há praça de vizinhança, os moradores a improvisam de diversas maneiras.

A mais simples e usual é solicitar à prefeitura a interdição dos veículos em um trecho de rua,

para determinado dia e hora, com o fim de promover recreação, espetáculos ou festas infanto-

juvenis. Outra solução tem sido a utilização de terrenos baldios, com a autorização prévia do

seu proprietário. Ocorre também o uso das áreas livres e de esportes das escolas públicas –

inclusive, na maioria dos países, já não se admitem salas de aula ociosas durante o dia ou à

noite, utilizadas para os mais variados fins comunitários e até para reuniões de associações. É

a associação que deve tomar a iniciativa, entrando em entendimentos com autoridades,

diretores de escola e proprietários, mas também deve supervisionar e fiscalizar o bom uso dos

espaços e equipamentos, assim como assumir a responsabilidade por eventuais danos e

limpeza.

e) Praças de Alimentação

Praças de Alimentação tornaram-se uma característica padrão dos shoppings: uma

peça incrivelmente popular e muitíssimo importante nos modernos shoppings centers. Um

agrupamento de pequenos estabelecimentos de alimentação, onde clientes usam mesas de uma

área comum. Em princípio modestas, tornaram-se o principal agente comercial e social desses

templos de consumo. Começaram como uma coleção fragmentada de nichos de alimentação

espalhados por todo o shopping, onde houvesse espaço disponível. Hoje cresceram em

estrutura e sofisticação e, às vezes, servem como âncora dos shoppings: um importante

componente do varejo que, encontrando-se num ambiente certo, podem servir como seu

próprio ponto de destino.

As Praças de Alimentação geram um movimento de consumidores cada vez maior

onde, além de intensificar o comércio varejista e impulsionar ramos menos ativos dos

shoppings, funcionam como um importante ponto de convívio das modernas sociedades

urbanas, funcionando, inicialmente com atendimento geral, as modernas praças criaram

Page 205: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

204

espaços preferenciais para idosos, gestantes, mulheres com crianças de colo e pessoas com

necessidades especiais.

Uma praça de alimentação mínima, para proporcionar retorno financeiro e conforto ao

usuário, deve possuir 500 assentos. Deve contar também com 10 a 12 locatários e para cada

locatário de 30 a 35 lugares exigindo para cada caso entre 300 e 420 lugares. 5% desses

assentos devem ser projetados e reservados para idosos, gestantes e pessoas com algum tipo

de dificuldade de locomoção. Este é o ponto de partida no dimensionamento. Mas cada

shopping é um shopping e a quantidade dos assentos deve ser calculada caso a caso. Este tipo

de equipamento vem sendo utilizado também em aeroportos e hospitais de grande porte.

f) As Praças do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)

O governo federal, através do Plano de Aceleração do Crescimento e no intuito de

complementar os planos habitacionais e de urbanização, criou uma linha especial de

financiamento de praças públicas de acordo com os seguintes critérios:

1. Praças com 700m²: Edifício de 4 pavimentos. Sala de Cinema com 48 lugares.

Biblioteca, Telecentro. Centro de Assistência Social e Salas Multiuso.

2. Pelo que se observa são equipamentos para serem implantados em áreas com

pouca disponibilidade de terreno, como favelas, por exemplo. Funcionarão mais

como Centro de Lazer.

3. Praças com 3.000m²: Edifício multiuso. Sala de cinema para 60 lugares.

Telecentro. Biblioteca. Centro de Assistência Social. Salas Multiuso. Pista de

Skate. Jogos de Mesa. Espaço Criança. Quadra Coberta. Equipamento de

Ginástica. Pista de Caminhada.

4. Praças com 7.000m²: Edifício multiuso. Cineteatro para 120 lugares. Telecentro.

Biblioteca. Centro de Assistência Social. Quadra de areia. Jogos de Mesa. Pista de

Skate. Espaço Idosos. Espaço Crianças. Anfiteatro. Quadra Poliesportiva coberta.

Equipamento de ginástica e Pista de Caminhada.

Para Ferrari (1977, p.621), 1 ha serve a 5.000 habitantes. 7.000 atenderá 3.500

habitantes. Para Gouveia (2008, p.134.), a praça deve ter no mínimo de 4.000 a 5.000m² (1/2

ha) ou, considerando a população usuária 5.00m² por habitante.

Considerando os dois fatores preponderantes para o funcionamento de uma boa praça,

ou seja, Acessibilidade e uso – pelo maior tempo possível – acrescentaríamos a imperiosa

Page 206: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

205

necessidade de áreas de sombra, condições de segurança e boa integração com o sistema

viário local.

5.5.9.4 Praias

A orla marítima é um dos principais pontos para o lazer de qualquer idade. O Brasil

possui 8.500 km de costa, aproximadamente 300 municípios litorâneos e uma população

estimada, pelo último Censo, de 32 milhões de habitantes. Subjacente aos aspectos de

territorialidade, encontra-se a crescente geração de conflitos quanto à destinação dos terrenos

e demais bens sob o domínio do Estado brasileiro, ou seja, da União, com reflexos nos

espaços de convivência e lazer, especialmente das praias que são consideradas de uso comum

do povo.

O Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente (Secretaria de

Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos) e o Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão (Secretaria do Patrimônio da União), criaram o Projeto Orlas no sentido

de criar procedimentos técnicos para gestão de nossa orla, cujas bases estão expressas em dois

documentos: Fundamentos para Gestão Integrada onde são apresentados os fundamentos

conceituais e os arranjos políticos institucionais, como base para orientar e avançar na

descentralização da gestão da orla para a esfera municipal. Focaliza a importância do projeto

como estratégia de resgatar a atratividade desse espaço democrático de lazer além dos

aspectos intrínsecos de gestão patrimonial que interagem na sustentabilidade das ações de

intervenção propostos pelos municípios. O segundo documento: Manual de Gestão, orienta

por meio de linguagem técnica simplificada, o diagnóstico, a classificação e caracterização

da situação atual, a composição de cenários de usos desejados e as respectivas ações de

intervenção para realizá-los. Um Plano de Intervenção, a ser gerido por um Comitê Gestor

processará a integração entre os poderes envolvidos e a sociedade.

O Projeto Orlas contempla uma ação sistemática de planejamento da ação local

visando repassar atribuições da gestão deste espaço, atualmente alocadas no governo federal,

para a esfera do município, incorporando normas ambientais na política de regulamentação

dos usos dos terrenos e acrescidos de marinha, buscando aumentar a dinâmica de mobilização

social neste processo.

Trata-se, portanto, de uma estratégia de descentralização de políticas públicas,

enfocando um espaço de alta peculiaridade natural e jurídica: a Orla Marítima.

Page 207: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

206

Como o objeto do presente trabalho é a cidade e o seu processo de humanização, tendo

em vista principalmente pessoas idosas, o enfoque deste subcapítulo será as praias urbanas de

acordo com a classificação apresentada no item 8 “classificação da orla”, publicação conjunta

dos Ministérios do Meio-Ambiente e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.

Além disso, podemos apresentar uma proposta de classificação de Zonas Turísticas

Homogêneas (15 a 130 habitantes/ha):

Quadro 20 – Zonas Turísticas Homogêneas

Locais de Vocação: A B C

Excelente: 15 25 45

Médio: 30 55 75

Econômico: 70 100 130

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

É importante delimitar bem essas áreas, pois geralmente o turista de alta renda exige

locais e atendimentos específicos para a sua permanência nos lugares que frequenta.

a) O Turista Idoso

Já foi relatado no presente trabalho, que apenas 5% dos idosos, no Brasil, são pobres.

Situação melhor do que a população em geral onde os pobres representam 20% da população.

Em geral, já livre de outras obrigações profissionais e familiares, entre outras,

dispondo de um razoável quadro de saúde, este tipo de turista tende a procurar as melhores

condições em termos de equipamentos, para o seu lazer.

Entretanto, a praia, por ser um espaço democrático, deve estabelecer uma tipologia de

equipamentos que atende todas as faixas sociais. Não por acaso, as praias brasileiras

apresentam contradições de usos que vão do hotel, ou restaurante, de alto luxo, convivendo

com barracas rústicas, de construções rudimentares, sem qualquer tipo de infraestrutura, como

é muito comum principalmente, mas não exclusivamente, na orla marítima do Nordeste.

Intervenções no setor já consolidado da zona urbana contígua à praia só podem ser

feitas ao nível de passeios, iluminação, pavimentação etc. com a chamada iniciativa privada,

assumindo a qualificação dos seus equipamentos, como hoteis, restaurantes bares etc.

Page 208: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

207

Entretanto, na faixa mais próxima ao mar, é possível propor equipamentos e serviços

que atendam à população de um modo geral e idosos em particular, principalmente no tocante

às novas Normas de Acessibilidade e ao Estatuto do Idoso.

Em geral, nestes espaços, existe a apropriação de terras públicas tanto por pessoas de

alta como de baixa renda, os primeiros com empreendimentos de grande porte (hotéis, resorts,

condomínios fechados etc.) ou casas de alto padrão e os segundos com estruturas

rudimentares de pau-a-pique onde comercializam refeições à base de frutos do mar e bebidas.

Não raramente, drogas.

O processo de descentralização proposto pelo Projeto Orlas, como concepção, é

interessante. Mas é muito preocupante a administração da orla marítima por municípios sem

nenhuma estrutura, técnica ou financeira, onde os prefeitos utilizam os espaços públicos como

moeda de barganha política.

De um modo geral, qualquer que seja o nível da praia, são necessários os seguintes

equipamentos:

Área Seca (Calçadão):

1. Apoio aos Ambulantes (basicamente chuveiros e bebedouros).

2. Área Lazer para pescadores aposentados.

3. Bancos cobertos a cada 200m e lixeiras e bebedouros anexo.

4. Boxe de Informações Turísticas.

5. Bicicletário.

6. Ciclovia.

7. Equipamentos de Ginástica.

8. Placas de Sinalização com indicação de distância a cada 200m. Indicação do uso

da praia (permitido: Sim/Não).

9. Postos Salva Vidas (Sanitários Públicos) (M) e (F) e Chuveiros de Praia. Eles

deverão ser implantados a cada 500m. Conectados ao SAMU.

10. Posto Policial.

11. Postes Multi-Uso.

12. Quiosques para venda de água de coco e refrigerantes em geral.

13. Mirante.

14. Rampas. (i: 5%).

15. Área de lazer, onde a topografia permitir, com piscina de água salgada, contendo

filtros especiais para purificação da água e critérios de acessibilidade para pesso-

Page 209: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

208

as com dificuldade de locomoção. Aqui pode ser implantada a área de lazer para

pescadores aposentados. Prevê sanitários públicos (M) e (F) com acessibilidade.

16. Calçadão com no mínimo 7.20m. Área livre para circulação no mínimo 2.40m. O

piso deverá antiderapante, do tipo intertravado e cores diferenciadas marcando

áreas de caminhadas e de locação de equipamentos. Ver Passeio Público.

Área Molhada (Areia da Praia).

1. Zoneamento de áreas para a prática de esportes.

2. Zoneamento de áreas para a fixação de barracas de proteção solar.

3. Lixeiras.

Em geral este é o partido urbanístico mais utilizado em todas as capitais brasileiras

com praias urbanas (Desenhos 40 a 41): São Luis, Fortaleza, Natal, Recife, Maceió, Aracajú,

Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Florianópolis. A exceção fica com João Pessoa, PB, que

instituiu um rigoroso controle de gabarito na sua orla marítima (Tambaú) e, parcialmente,

Natal. São Paulo, Curitiba e Porto Alegre não possuem praias urbanas.

Desenho 40 - Proposta para urbanização de áreas de praias

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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209

Desenho 41 - Corte esquemático para urbanização de praias.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 42 - Detalhe da rampa de acesso à praia.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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210

Via de regra, os processos de humanização das praias contemplam mais o alargamento

das áreas de pedestres e a introdução de equipamentos de apoio. No presente trabalho, um

novo equipamento, inexistente em todas as praias analisadas, as piscinas de água salgada, à

beira mar, é proposto. Os idosos, em geral, temem o banho de mar em função da insegurança

provocada pelas ondas e corrente marítimas que não permitem usufruir de forma segura desse

benefício. Piscinas, dotadas de filtros especiais, utilizando a água do mar, podem suprir esta

carência (Desenhos 43 e 44).

Desenho 43 - Piscina de água salgada para banho de idosos71

.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

71

As piscinas devem ser providas de rampas com declividade de 5%. Profundidade máxima entre 1.20m e

1.50m. Possuir uma área de deck equivalente ao dobro da área de banho, pois muitos usuários preferem apenas

permanecer nas suas margens. A localização deve ser de forma a possibilitar o seu abastecimento pelo mar.

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211

Desenho 44 - Piscina de água salgada (detalhes de acessibilidade).

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Nos quiosques de praia (Desenhos 45 a 47), deve ser permitido apenas a venda de

água-de-côco e/ou refrigerentes e vedada a venda de comidas que exijam cocção.

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212

Desenho 45 - Planta e cobertura do quiosque de praia

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 214: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

213

Desenho 46 - Quiosques de praia (cortes)

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Desenho 47 - Quiosques de praia (fachadas)

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

Page 215: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

214

Quanto aos postos de salvamento (Desenho 48), devem existir com uma distância

mínima de 500m e máxima de 750m entre eles. No térreo, é recomendada a implantação de

sanitários públicos (uma grande deficiência da maioria das praias brasileiras) com critérios de

acessibilidade para ambos os sexos. De forma alternada, a parte térrea pode funcionar como

Posto Policial.

Desenho 48 – Posto de salvamento.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

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215

Desenho 49 - Rampas e passeios com acessibilidade.

Fonte: Ronald Lima de Góis (2012).

5.5.9.5 Pontos de Encontro

O Conceito do presente trabalho para pontos de encontros será fundamentado em dois

princípios básicos:

1. Locais urbanos de grande atratividade pelo que é produzido no espaço do

equipamento onde se dá o encontro. Qualidades ambientais como tratamento

estético, ausência de poluição de qualquer espécie, mobiliário adequado e

segurança.

2. Locais onde se possa conversar, trocar ideias, conviver acima de tudo.

Na complexa sociedade urbana contemporânea são variados os pontos de encontros,

inclusive os realizados por meios eletrônicos como a internet, mas muitos deles não

preenchem os requisitos necessários onde, acima de tudo, seja possível o contato humano.

Assim, relacionaremos apenas aqueles locais onde a presença das pessoas seja, de fato, o mais

importante, notadamente pessoas da 3ª Idade.

Antiquários, Bibliotecas, Bancas de Jornal, Bares, Botequins, Cafés, Casas de Chá,

Galerias de Artes, Motéis, Saunas Públicas, Sebos, Tabacarias.

Neste aspecto, vários autores, não só arquitetos e urbanistas, indicam as esquinas das

cidades como ponto de encontro, urbano por excelência. Em povoados e cidades, a esquina

tem sido tudo e sem recompensas mitológicas. É o santuário de encontros e de esperas

intermináveis, a oportunidade do espetáculo único, a conversão da geometria em espaço de

confianças e desconfianças. Ela atesta aquilo que é previsível e origina o inconcebível.

Page 217: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

216

O que é a esquina na grande cidade? Função do traço urbano, lugar-comum da

memória visual, dispositivo geométrico que calcula tudo menos o acaso. A esquina é

naturalmente urbana, equivalente das árvores ou das rochas ou dos montículos das paragens.

Jordi Borja, urbanista espanhol, e Allan Jacobs, ex-diretor de Planejamento Urbano de

Londres, afirmam: “É fundamental de que, pelo menos em locais de alta densidade, em cada

quarteirão, principalmente nas esquinas, sejam implantados bares, cafés, lojas e restaurantes”.

Brasília é sempre criticada pela ausência de esquinas. Segundo alguns autores, desde o

começo, a capital brasileira foi condenada à monotonia arquitetônica porque as esquinas não

tiveram a oportunidade de se confabular a favor ou contra os transeuntes, porque foram

ignorados em prol da gratidão dos prédios ou de alguma outra metáfora do impossível.

Segundo o escritor mexicano Carlos Monsiváis (2004): “É sabido: se não contiver sua própria

negação, o ordenamento de uma cidade termina por anulá-la”.

Mas Brasília tem os seus defensores: o arquiteto Pompeu Figueiredo de Carvalho,

assim responde aos críticos do Plano Urbanístico de Lúcio Costa: “a avaliação de qualquer

coisa requer o seu conhecimento e fundamentos pertinentes mínimo, mas é comum validação

de muitas críticas sem o aval desses pressupostos”. Tal acontece com as críticas de

pseudointelectuais sobre Brasília, uma experiência do engenho da humanidade, marco

histórico e mundial no processo civilizatório na construção de assentamentos humanos que,

inequivocamente, tem muito a ensinar ainda hoje, em menor ou maior grau a vários humanos

em todo o globo, por muito tempo.

Duas críticas são as mais comuns. A primeira é que Brasília é altamente segregadora,

inclusive socialmente, pois é fundamentada nas quatro funções da cidade declaradas na Carta

de Atenas, durante o IV CIAM, realizada em Atenas em 1933, onde se colocam os princípios

da arquitetura moderna sob a liderança do arquiteto franco-suíço Charles Edouard Jeaneret,

mais conhecido como Le Corbusier. A segunda é que não favorece a interação entre as

pessoas, pois faltam esquinas e pontos de encontro; contribuiria ainda para isto o fato da

separação entre as funções.

Sobre a primeira crítica, cabe ressaltar que a separação de funções – o zoneamento –

não é uma invenção da Carta de Atenas. Surge com os primeiros assentamentos humanos e

evolui na medida em que crescem os agrupamentos humanos e evolui na medida em que

crescem estes agrupamentos e seus assentamentos se tornam mais complexos. Há atividades

compatíveis e incompatíveis, cujas interações podem ser positivas ou negativas. Isto acontece

na mais simples estrutura espacial – a casa urbana – onde há lugares para estar, dormir,

cozinhar etc., e não poderia ser diferente na escala urbana cuja tecelagem socioespacial é bem

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217

mais complexa, exigindo portanto uma ordem para otimizar e evitar conflitos entre diferentes

atividades.

O zoneamento é feito segundo um momento histórico, cultural e tecnológico. Cidades

medievais precisaram fazer zoneamento mais radical para evitar as grandes epidemias. Por

exemplo, as ruas não poderiam mais ser veículos de pessoas, animais, carros e esgotos sem a

devida separação. Houve também a necessidade de separar as águas boas das águas

insalubres. Depois, bem mais tarde, com a revolução industrial, houve a necessidade de

separar as unidades fabris. Corolariamente, é nas grandes aglomerações, cujos centros cívicos

estavam distantes da natureza, que surgiram as grandes áreas exclusivamente verdes.

O zoneamento de Brasília é bastante engenhoso por separar e interagir atividades em

escala humana em torno da moradia. Outras atividades estão distantes, mas bem próximas do

que nas cidades orgânicas. Quem mora em uma quadra está sempre perto, na escala do

pedestre, dos serviços de vizinhança, educação, lazer, comércio, restaurantes, bares, pontos de

encontro, e de vias arteriais do sistema viário que o leva a distâncias maiores, geralmente de

carro, como em outras cidades, mas que em Brasília poderia ser feito por transporte público,

mais viável de ser implantado do que em qualquer outra cidade brasileira. A separação entre

veículos e pedestres está presente em quase todas as cidades brasileiras e do mundo., pois há

sempre calçadas e as chamadas pistas de veículos. Separação tão comum que passa

despercebida ao leigo. Os modernistas tentam fazer isto de modo mais confortável,

principalmente devido ao aumento de veículos automotores, cada vez mais rápidos. Hoje,

décadas depois, defende-se pistas exclusivas para bicicletas, transporte público e outros

modos de transporte, mas com pontos de articulações intermodais.

Estas políticas e soluções, hoje discutidas sob o conceito de mobilidade urbana, ainda

não totalmente implantadas em Brasília são, nesta cidade, mais viáveis que em qualquer outra

cidade brasileira. Os grandes espaços verdes entre os blocos de apartamentos são abertos a

qualquer morador da cidade e mesmo ao visitante, apesar de haver tentativas de transformar

as quadras em condomínios fechados, rechaçada pelo poder público, não em nome do

patrimônio da humanidade, mas em obediência ao interesse social do solo urbano,

preservando-se ao máximo o controle público sobre a ganância dos interesses privados e

segregacionista.

Sobre a segunda crítica, cabe dizer que Brasília apresenta uma tessitura espacial

diferente e, consequentemente, as esquinas e pontos de encontro, portanto, apresentam

tipologias diferentes das encontradas nas cidades tradicionais. Quem realmente a conhece e

viveu e, vencendo preconceitos, procurando se integrar um pouco com sua gente, inclusive

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218

aquela recém-chegada, percebe que tal juízo não tem fundamento. Na cidade abundam as

esquinas e pontos de encontro. Há aquele mais antigo, aquele procurado por jovens, outro que

procura a melhor empada ou a melhor carne de sol. Pontos de encontro são encontrados

inclusive em shopping centers, geralmente nas entradas, fora das praças de alimentação,

diferentes de outras cidades. Há padarias simples e sofisticadas. Por sua vez, as esquinas das

cidades tradicionais estão em decadência, pela concentração do comércio em supermercados e

shopping centers, que acabaram com padarias, açougues e vendas. Os remanescentes

sobrevivem ainda com a venda de bebidas “curtas” frequentados por homens idosos que

certamente não terão seus filhos como seguidores. As alternativas, hoje, para os mais jovens,

são as lojas de conveniência dos postos de gasolina.

Assim como a Carta de Atenas sofre críticas na base de quem não leu, mas não gostou,

Brasília sofre as críticas de quem não a visitou e não gostou. Sofre ainda críticas levianas de

intelectuais de outras áreas, sem nenhum aval de uma análise baseada em dados concretos.

Vale o testemunho do especialista Edmond Bacon, que não tinha visto e não tinha gostado,

mas que mudou sua avaliação quando esteve lá. Ele teve a honestidade de refazer esta parte

do livro colocando o texto anterior no final do capítulo:

Muito difamada por críticos, muitos dos quais nunca a viram, Brasília está na

arquitetura contemporânea como o exemplo mais significativo de uma cidade

concebida como um todo. E seria tolo, de fato, para um arquiteto, não tirar proveito

da lição que ela oferece. Infelizmente, Brasília não pode ser entendida, exceto

quando vivenciada no chão da própria cidade. Uma razão para isso foi apontada pelo

próprio Lucio Cosa, autor do projeto básico de Brasília. Antes de eu visitar a cidade,

ele disse que Brasília poderia ser apreendida somente em relação às nuvens que,

continuamente passando por cima da cidade, jogam pontos de luz e sombra sobre as

formas arquiteturais. [...] Sem vê-la, exceto em ilustrações, eu mesmo havia

condenado Brasília, e no anexo a este livro eu incluí a declaração que eu teria usado

se não tivesse visitado a cidade. Eu havia julgado o eixo do espaço entre os prédios

dos ministérios (...) como inadequadamente ‘quebrado’ pela massa delgada das

torres gêmeas da administração situadas por trás da cúpula do senado e da câmara

dos deputados. Só depois de ver o lugar em primeira mão eu percebi que o espaço é

todo contido entre as colinas em forma de bacia ao redor da cidade. (BACON, 1975,

p.235. Tradução nossa.)

Seu próprio criador, o arquiteto Lúcio Costa, aceita a apropriação do espaço feito pelo

povo, de forma comunitária e coletiva. No entanto, refuta a transformação das tentativas de

transformar as superquadras em condomínios fechados.

A concepção do espaço brasiliano cria as condições objetivas para uma nova cultura –

genius loci – que se sedimentará nas duas próximas gerações. A forma final de uma cidade,

sempre mutante, é o resultado de um diálogo entre quem planeja e a usa em determinado

tempo. É necessário o diálogo entre o saber de ofício e o leigo.

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219

Mas, à parte conceituações teóricas, que devem ser vistas dentro de uma visão

epistemológica, o fato é que esquinas tradicionais existem como as do edifício Kavanagh, em

Buenos Aires, cidade de quem se afirma que “[...] em cada café se colocou uma esquina”. Ou

o Deux Magots, café e esquina na interseção do Boulevard Saint Germain e a Rue de Rennes,

em Paris, ponto de encontro de vanguardistas, Ernest Hemingway e depois existencialistas

como Sartre, Simone de Beauvoir, e Alberto Camus, entre outros. O Chilehaus, em

Hamburgo, ou o Bonjour Tristesse, Berlim, Alemanha, os Quattro Canti de Palermo, Sicília,

Itália, o cruzamento de Times Square em New York, Picadilly em Londres, as esquinas de

Barcelona ou, por que não, o Café São Luis, nas esquina das ruas Cel. Cascudo com Princesa

Isabel, Cidade Alta, Natal, RN. O fato é que as cidades precisam destes pontos de encontro.

Jane Jacobs (2003) apresenta 4 iniciativas para promover o que ela chama de

Diversidade Urbana:

1º Necessidade de Usos Principais e Combinados:

O Distrito, ou Bairro, e sem dúvida o maior número possível de segmentos que o

compõem, deve atender a mais de uma função principal; de preferência a duas. Estas

devem garantir a presença de pessoas que saiam de casa em horários diferentes, mas

sejam capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (JACOBS, 2003, p.167).

2º Necessidade de Quadras Curtas: “A maioria das quadras deve ser curta; ou seja, as

ruas e as oportunidades de virar esquinas sevem ser frequentes” (JACOBS, 2003, p.167).

3º Necessidade de Prédios Antigos: “O distrito, ou bairro, deve ter uma combinação de

edifícios com idades e estados de conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios

antigos” (JACOBS, 2003, p.167).

4º Necessidade de Concentração: “O Distrito, ou bairro, precisa ter uma concentração

suficientemente alta de pessoas, sejam quais sejam seus propósitos. Isso inclui pessoas cujo

propósito é morar lá” (JACOBS, 2003, p.167).

É bastante interessante a proposta que ela apresenta para os usos de velhos e novos

edifícios. Evidentemente, questões de ordem socioeconômica e culturais poderão indicar

outro caminho nestes usos, mas não deixa de ser uma excelente orientação para os vários

projetos que estão para ser implantados, no Brasil, objetivando a recuperação de áreas centrais

em várias capitais brasileiras.

Ao olhar à sua volta, você verá que somente as atividades bem estabelecidas, que

tem giro alto e são padronizadas ou muito subsidiadas conseguem normalmente

arcar com os custos das construções novas. Redes de lojas, redes de restaurantes e

bancos instalam-se em novas construções. Mas bares de bairro, restaurantes típicos e

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220

casas de penhores, instalam-se em prédios antigos. Supermercados e lojas de

calçados geralmente se instalam em prédios novos; boas livrarias e antiquários

raramente o fazem. Teatros líricos e museus de arte subvencionados instalam-se em

prédios novos. Mas fomentadores informais das artes – estúdios, galerias, lojas de

instrumentos musicais, material artístico, sala dos fundos onde os negócios de fundo

de quintal de baixo rendimento, permitem travar uma conversa prolongada – estes se

instalam em prédios antigos. Talvez ainda mais significativos, centenas de empresas

comuns, necessárias para a segurança e a vida nas ruas e nos bairros e reconhecidas

por sua utilidade e pela qualidade do pessoal, conseguem sair-se melhor em prédios

antigos e são inexoravelmente aniquilados pelos custos fixos das construções novas.

(JACOBS, 2003).

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221

6 CONCLUSÕES

Ao escrever este trabalho sobre a Cidade e o Idoso – Parâmetros para

dimensionamento em Arquitetura e Urbanismo – a principal preocupação foi fazer uma ampla

revisão nas diferentes teorias sobre a cidade e da evolução histórica da forma urbana. Nesse

empenho, salta à vista, de imediato, os desencontros entre as concepções filosóficas, da

sociologia e da economia e os conceitos e paradigmas estabelecidos por diferentes correntes

urbanísticas que, diga-se passagem, procuravam, muitas vezes, apoios teóricos naquelas

mesmas concepções.

Foi assim desde Charles Fourier com o seu Falanstère (1808), passando por Robert

Owen com as Villages Unity (1817) e Ebenezer Howard e suas cidades jardins (1898), houve

sempre desencontros entre teorias e prática urbanística. Mesmo correntes progressistas nunca

conseguiram por em prática, de forma plena, planos e propostas para a cidade. Engels e Marx

(1848), principalmente o primeiro, que analisou de forma objetiva a situação da moradia nas

cidades inglesas e advogava que a produção da habitação fosse um direito da própria classe

trabalhadora e não fruto de “práticas paternalistas” das classes dirigentes, conseguiram influir

no processo. Haja visto que figuras expressivas do marxismo europeu, como o arquiteto

Hannes Meyer (1930), ex-diretor da Bauhaus e expulso da escola por Mies van der Hohe pelo

seu, segundo Hohe, radicalismo (1931), não encontrou respaldo às suas propostas de

arquitetura e urbanismo no “socialismo real” de Joseph Stálin (1933) e, também, acabou

expulso da Rússia.72

Curiosamente, foram os socialistas utópicos e outros progressistas que conseguiram

implantar algumas inovações nos planos urbanos, como as experiências feitas em países

nórdicos, na Alemanha (Frankfurt) Inglaterra (Liverpool) e, principalmente, Holanda com

Amsterdam. Na capital holandesa talvez as diminutas dimensões e escassez de áreas de

expansão, onde grande parte das terras do país foram conquistadas avançando sobre o mar, a

necessidade de uma ocupação racional do espaço tenha levado à criação de uma cultura de

planejamento territorial, principalmente urbana, que teve inicio com Hendrick Staeets e seu

Plano dos 3 Canais (1607), passando por Hendrick Berlaus e seu Plano para Amsterdam Sul

(1904), chegando até os nossos dias.

72

Jordi Borja, urbanista catalão, apresenta em recente entrevista, o seu estranhamento ao constatar que, no

Brasil, em governos de centro e centro-direita, sempre era convocado para opinar sobre as nossas cidades, e que,

atualmente com governos de esquerda dirigindo o país, foi esquecido.

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222

Em geral, os planos conhecidos que vingaram o foram sob o respaldo de um grande

autoritarismo, como a Paris de Haussmann (1870), ou grande vontade política, como a

Brasília de Juscelino Kubitscheck e Lúcio Costa (1956). Outros planos, com altos e baixos

nas suas implantações, estiveram sob as pressões de grandes problemas políticos e

humanitários, como os que geraram as New Town inglesas no período posterior à segunda

grande guerra. O mesmo podendo-se dizer de outros países que tiveram as suas cidade

destroçadas pela guerra.

Os norte-americanos com seu pragmatismo é que, aliando avanços tecnológicos e

capital, conseguiram produzir suas cidades mais de acordo com a ideologia de mercado e livre

iniciativa, onde as cidades, principalmente no norte do país, foram implantadas tendo em vista

retirar da produção do espaço urbano o máximo de lucro possível.

Em todos os exemplos verificados, não se encontrou referencia exclusiva, na produção

do espaço construído, a grupos étnicos, religiosos, ou por faixa etária, como os idosos. A

questão dos idosos não estava posta, como já afirmou, o filosófo Paul Baltes ( 2003). A

produção da cidade, no máximo, levava em conta as crianças, tratando-se as demais faixas

etárias como participantes unitários de contingentes humanos com suas aspirações e

necessidades mais elementares. Talvez aqui, o homem ideal ou universal, que as teorias

modernistas contidas na Carta de Atenas (1931), procurava atender.

Entretanto é necessário salientar que em todas as teorias urbanísticas analisadas

verifica-se, como não poderia deixar de ser, uma grande preocupação humanística, muitas

delas postas à disposição de arquitetos e urbanistas e nunca postas em prática, sendo assim

desde Vitrúvio (16 a.C.) ou Alberti (1452), passando pelo Modulor de Le Corbusier (1939)

até às novas normas de acessibilidade, onde, parece, idosos serão melhor aquinhoados quando

da produção do espaço humano. Jürgen Habermas (1999), grande filósofo alemão, costuma

afirmar que o “Projeto Moderno”, é um projeto inacabado. Muitos dos preceitos e normas

atuais de acessibilidade e sustentabilidade, já estavam contempladas na Carta de Atenas. São

muitos os bons exemplos, inclusive construídos, espalhados pelo mundo. Precisa-se

urgentemente, resgatá-los, dando-lhes talvez uma nova interpretação à luz de novos

paradigmas e parâmetros estabelecidos pela ciência e tecnologia.

Uma cidade será boa para o idoso quando for boa para toda a sua população. O que se

pode fazer é influir na implantação de equipamentos que, sem fugir do contexto social e

humano onde a cidade esteja inserida, o idoso seja contemplado e, acima de tudo, respeitado

na sua condição social, humana e cultural.

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223

Processos de Gentrificação estão em andamento em várias cidades brasileiras,

principalmente aquelas que serão sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, especialmente

o Rio de Janeiro que, além da Copa do Mundo, sediará os jogos Olímpicos de 2016. Os

principais projetos prevêem intervenções profundas nos setores de mobilidade e

acessibilidade urbana, habitação e, evidentemente, hotelaria e praças esportivas

Como já foi visto no Capítulo 3, O Idoso na Sociedade e nas Cidades, a questão dos

idosos é, historicamente, um fato recente. Só a partir da segunda metade do século XX os

organismos internacionais, como a OMS/ONU, governos e instituições de pesquisas

despertaram para o tema.

O aumento considerável da população idosa em todos as partes do mundo,

consequência dos avanços verificados na saúde e na descoberta de novos medicamentos e na

qualidade de vida, em geral, colocaram, por outro lado, este novo desafio para a sociedade

humana.

Processos paralelos, o aumento da expectativa de vida e a urbanização da humanidade,

delimitaram o espaço onde os problemas advindos do envelhecimento populacional estão, ou

estarão, mais evidentes e onde exigirão os maiores investimentos: a cidade.

Com o objetivo de verificar as consequências do envelhecimento no espaço urbano,

sentiu-se a necessidade de um trabalho de campo realizado por meio de visitas à cidades no

Brasil e no exterior onde, além de medidas tradicionais de humanização, foram adotadas

iniciativas específicas para a pessoa idosa.

Com exceção de Amsterdam, Holanda, onde os Hofjes implantados por Hendrik

Staets, em 1607, no Plano dos Três Canais e em Tapiola, Finlândia, outras cidades, da que

foram visitadas, apresentam soluções mais voltadas para crianças e adolescentes.

Equipamentos urbanos, nas observações feitas nesses locais não contemplavam preocupações

específicas com esta parcela da população em que pese a qualidade das intervenções

efetuadas, onde em casos isolados, os idosos pudessem ser atendidos em suas necessidades de

convívio humano mais elementares.

As maiores demandas, verificadas em todas as cidades estudadas (Amsterdam-

Holanda, Barcelona-Espanha, Tapiola-Finlândia, Brasília e Rio de Janeiro (Brasil) e Luanda

(Angola), para atender de forma adequada aos idosos, estão diretamente relacionadas com as

questões de acessibilidade (acessos à edificações e espaços públicos), transporte urbano

(Locais preferenciais para idosos. Relação adequada na altura entre o piso do passeio público

e o piso do veículo. Pontos de Paradas dos veículos com equipamentos de apoio ao idoso,

etc.) e habitação (Tipologia das unidades habitacionais e do conjunto urbano.

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224

Dimensionamento das quadras na escala das possibilidades físicas dos idosos. Áreas de lazer

e de atendimento médico nas proximidades do núcleo habitacional, entre outras medidas).

Embora com um incremento crescente de iniciativas nos setores indicados, elas são

ainda bastante tímidas, necessitando não só readequação urgente nos espaços existentes e

implantação adequada nos seguintes espaços urbanos:

Parques: com áreas específicas para as pessoas idosas, com zoneamento adequado

para atividades físicas, de descanso e convívio. Áreas para jogos de salão. Área para danças.

Lanchonetes. Posto médico para eventuais demandas.

Passeios Públicos: Adoção de cuidados com o nivelamento do piso e tipo do material.

Equipar e repaginar áreas de galerias já existentes e incentivar, por meio de legislação urbana,

em novas áreas urbanas, a adoção desta secular forma de apropriação do espaço urbano.

Estabelecer formas de convívio entre o passeio de pedestres e eventuais equipamentos

urbanos (tais como bares, cabines telefônicas, postes de iluminação pública, pontos de ônibus,

bancas de jornais, etc.).

Praças: Dimensionamento adequado com facilidade no acesso entre vias de trânsito e

áreas de pedestres. Áreas para jogos que exijam baixo esforço físico. Áreas para jogos de

salão. Zoneamento adequado que possibilite um convívio harmonioso entre pessoas de

diferentes faixas etárias. Espaçamento adequado entre os bancos (nunca superior a 200m,

etc.).

Praias: Aqui a principal preocupação deve ser a de possibilitar a necessária segurança

para que as pessoas idosas utilizem zonas de praia com segurança (piscina de água salgada é

um bom equipamento). Áreas de sombra com equipamentos que possibilitem reidratação e

descanso. Postos de Salvamento com sanitários providos de equipamentos de acessibilidade e

pontos de atendimento médico, com distâncias entre eles de 500m, no mínimo, e 750m, no

máximo.

Pontos de Encontros: Esquinas ou outros espaços, estratégicamente bem situados no

espaço urbano, providos de cafés, confeitarias, livrarias, sebos, salões de beleza, galerias de

arte e bibliotecas, etc.

As grandes intervenções estarão mais relacionadas com as readequações nas cidades.

Estas estão aí, construídas, com espaços urbanos bem ou mal tratados. Em áreas novas

poderão ser, mais facilmente, adotadas as medidas que atendam as pessoas idosas. Tudo, na

realidade, é mais um problema de consciência do problema e de gestão pública.

Mas a realidade brasileira exige investimentos profundos em infraestrutura,

notadamente saneamento (água e esgotos), rodovias, portos e aeroportos, no sentido de tornar

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225

mais humanas as nossas cidades, promovendo a inserção de maiores parcelas, da população

brasileira, nos padrões aceitáveis de qualidade de vida.

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236

APÊNDICE A – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO

DE IDOSOS 1

Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.

Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-

cesa Isabel (Leme).

Período: Matutino.

Objeto: 10 idosos com idade entre 65 e 75 anos.

Dia: 21 de maio de 2010.

Nº Nome do

Idoso Renda Idade Trecho Percorrido

Tempo

Utilizado

Outro tipo

de Lazer Observações

01 Ailton 10SM 75 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h e 30m

Jogar cartas,

Conversar,

Cinema,

TV.

Caminhada

Simples

02 Armando 8SM 75 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 1h

Bater Papo e

ver TV.

Caminhada

Simples

03 Belarmina 5SM 68 Posto 6 ao Posto 1

4,5km 1h e 45m

Visitar

amigos e

dançar

Caminhada

Simples

04 Benício 6SM 65 Posto 6 ao Posto 1

4,5km 1h.

Namorar e

Dançar

Caminhada e

Trote (até

cansar)

05 Carminha 10SM 66 Posto 6 ao Posto 2

3.75km

Entre 1 e

2 horas

Dançar, ver

TV e visitar

amigos

Caminha

conversando

com amigos.

06 Carlos 15SM 70

Variável. Caminha ½

hora em dias alternados

a conselho médico. Não

utiliza os Postos como

referência.

½ h

Leitura e

ouvir

música.

Caminhada

Simples

07 Castanho 5SM 70 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h

Jogar

Gamão e

Cartas.

Caminhada

Simples

08 Querubino 6SM 72 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 45m

Jogar

conversa

fora e ver

TV.

Caminha em

trote.

09 Ivete 5SM 75

Variável. Caminha nos

finais de semana por

recomendação médica.

1h.

Fazer e

receber

Visitas.

Caminhada

Simples.

10 Zaíra 10SM 65 Posto 6 ao Posto 3

2,5km 1h

Dançar e

namorar.

Caminhada

Simples

Observaçõs Complementares:

Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro

Extensão do Local 4,5km. Entre o Clube Marimbás (Posto 6) e a Av. Princesa Isabel

Pontos de Referência Postos de Salvamento na Orla Marítima. Distância de 750m entre eles.

Média para percorrer 1km 40 minutos ou 4 minutos para 100 metros.

Variação de Tempo 60 minutos

Nível Social Classe média e média alta

Faixa de Renda 5 a 10 salários mínimos

Pontos de Apoio na Orla Posto de Salvamento, Quiosques e Policiamento.

Tipo do Piso Pedras Portuguesas

Referências Urbanas Edifícios significativos, como hotéis, por exemplo

Page 238: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

237

APÊNDICE B – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO

DE IDOSOS 2

Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.

Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-

cesa Isabel (Leme).

Período: Matutino.

Objeto: 10 idosos com idade entre 76 e 85 anos.

Dia: 22 de maio de 2010.

Nº Nome do

Idoso Renda Idade Trecho Percorrido

Tempo

Utilizado

Outro tipo

de Lazer Observações

01 Rafael 5SM 78 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 1/2h

Jogar Truco

e Cartas

Caminhada

Simples.

02 Resende 5SM 79 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h

Conversar

com amigos

Caminhada

Simples.

03 Rolim 8SM 80 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 1/2h

Festas da

Igreja que

frequenta.

Caminhada

Simples.

04 Paulo 10SM 79 Posto 4 ao Posto 1

2,25km 1h Viajar

Caminhada

Simples

05 Sebastião 8SM 80

Variável. Obedece

orientação médica de

caminhar ½ hora

diariamente.

1/2h

Ver TV e

receber

visita de

amigos para

conversar

Caminhada

Simples

06 Telêmaco 10SM 78 Idem 1/2h Viajar com a

esposa.

Caminhada

Simples.

07 Terezinha 5SM 75 Idem 1/2h Ver TV. Caminhada

Simples.

08 Talvanes 8SM 78 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h e 30m Ver TV.

Caminhada

Simples

09 Telma 10SM 80 Posto 3 ao Posto 5

1,5km 1/2h Ir á missa

Caminhada

Simples.

10 Vilany 5SM 79 Posto 3 ao Posto 6

2,25km 1h e 30m

Passear na

Praia

Caminhada

Simples.

Observações Complementares:

Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro

Extensão do Local 4,5km entre o Clube Marimbás e a Av. Princesa Isabel

Pontos de Referência Postos de Salvamento

Média para percorrer 1km 30 a 90 minutos

Variação de Tempo 60 minutos

Nível Social Classe média e média alta

Faixa de Renda 5 a 10 salários mínimos

Pontos de Apoio na Orla Postos de Salvamento e Quiosques

Tipo do Piso Pedras Portuguesas

Referências Urbanas Edificios significativos, como hotéis, por exemplo

Page 239: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

238

APÊNDICE C – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO

DE IDOSOS 3

Local: Av. Atlântica – Copacabana-RJ.

Trecho: Entre o Clube Marimbás (Praça Cel. Eugênio Franco, 2, Posto 6) e a Av. Prin-

cesa Isabel (Leme).

Período: Matutino.

Objeto: 10 idosos com idade acima de 85 anos.

Dia: 22 de maio de 2010.

Nº Nome do

Idoso Renda Idade Trecho Percorrido

Tempo

Utilizado

Outro tipo

de lazer Observações

01 Afonso 5SM 87

Variável. Em geral anda

pouco ou de casa até a

mesa de jogo na praia

- Ler e ver

TV.

Os filhos o

trazem, às vezes,

em cadeira de

rodas.

Idade Trecho

Percorrido Tempo Utilizado

Outro tipo de

Lazer Observações

02 Dalton 8SM 86 Posto 6 até Posto 4

1,5km 1h Leitura

Caminhada

Simples

03 Deisianne 10SM 88

Variável. Anda ½ hora

em dias alternados por

recomendação médica.

1/2h Leitura e

Novelas

Caminhada

Simples

04 Dionísio 5SM 86 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 45m Ver TV.

Caminhada

Simples

05 Elton 10SM 87 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 45m

Clube de

Dança

Caminhada

Simples

06 Ernestina 5SM 86 Posto 4 ao Posto 2

1,5km 1/2h

Clube de

Dança

Caminhada

Simples

07 Felipe 8SM 86

Não caminha. Vem à

praia para bater papo

com amigos.

- Jogar cartas

ou dominó -

08 Francisco 5SM 86 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h

Jogar truco

e conversa

fora

Caminhada

Simples

09 Vilson 5SM 87 Posto 6 ao Posto 3

2,25km 1h Jogar Truco

Caminhada

simples

acompanhando o

amigo Francisco

10 Xavier 5SM 88 Posto 6 ao Posto 4

1,5km 45m Ver TV

Caminhada

Simples.

Observações Complementares:

Local da Pesquisa Av. Atlântica – Copacabana – Rio de Janeiro

Extensão do Local 4,5km entre o Clube Marimbás (Posto 6) e a Av. Princesa Isabel

Pontos de Referência Postos de Salvamento

Média para percorrer 1km 30 a 90 minutos

Variação de Tempo 45 a 60 minutos

Nível Social Classe Média (a maioria aposentados)

Faixa de Renda 5 salários mínimos

Pontos de Apoio na Orla Postos de Salvamento e Barracas instaladas para avaliar pressão arterial

Tipo do Piso Pedras Portuguesas

Referências Urbanas Principalmente a rua transversal onde mora

Page 240: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ... · Figura 11 – Esquina Deux Magot (Paris) 43 Figura 12 – Centro da Cidade de Tapiola com área de recreação 48 Figura

239

APÊNDICE D – PESQUISA DE CAMPO (LEVANTAMENTO E DADOS): GRUPO

DE IDOSOS GERAL

Local: Calçadão da Av. Roberto Freire – Natal-RN.

Trecho: Entre o Praia Shopping e a Rua Sólon Galvão (2km)

Período: Vespertino.

Objeto: 10 idosos com idade entre 65 e 85 anos.

Dia: 10 de setembro de 2010.

Nº Nome do

Idoso Renda Idade Trecho Percorrido

Tempo

Utilizado

Outro tipo

de lazer Observações

01 Rui 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 30m Ver TV. Caminhada

Simples Idade

Trecho

Percorrido Tempo Utilizado

Outro tipo de

Lazer Observações

02 Silvio 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 30m Praia Caminhada

Simples

03 Sérgio 8SM 65 Todo o Calçadão 1h. Praia Caminhada

Simples

04 Telmo 15SM 65 Todo o Calçadão 1h Shopping Caminhada

Simples

05 Tereza 5SM 68 Todo o Calçadão 1h e 30m

Cinema e

visitar

amigos.

Caminhada

Simples.

06 Ubiracy 5SM 69 Todo o Calçadão 1h e 30m

Bater papo

com os

amigos

Caminhada

Simples.

07 Venerando 8SM 70 Todo o Calçadão 1h e 45m Praia e

Shopping.

Caminhada

Simples

08 Vinícius 10SM 75 Todo o Calçadão 1h e 30m Acessar

Internet

Caminhada

Simples.

09 Verônica 10SM 70 Todo o Calçadão 1h e 45m Novelas Caminhada

Simples

Observações Complementares:

Local da Pesquisa Calçadão da Av. Roberto Freire – Capim Macio – Natal RN

Extensão do Local 2 km. Entre o Praia Shopping e a Rua Sólon Galvão

Pontos de Referência Praia Shopping, UnP e o Supermercado Extra.

Média para percorrer 1km 90 minutos.

Variação do Tempo 60 minutos

Nível Social Classe Média e Média Alta

Faixa de Renda 10 salários mínimos

Pontos de Apoio no Trecho Não existe.

Tipo do Piso Pedra Portuguesa

Referências Urbanas Principalmente o Praia Shopping.