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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
AUTOR (A): ELIANE FERREIRA GOMES
EDUCAÇÃO INFANTIL: TRABALHANDO OS VALORES DO PROGRAMA
JUSTIÇA E ESCOLA.
NATAL
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
AUTORA: ELIANE FERREIRA GOMES
ORIENTADORA: PROFª.Ms. VANESSA ALESSANDRA CAVALCANTI PEIXOTO
EDUCAÇÃO INFANTIL: TRABALHANDO OS VALORES DO PROGRAMA
JUSTIÇA E ESCOLA.
Artigo apresentado ao Curso de Pedagogia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) como requisito parcial para obtenção
do grau de Pedagogo.
NATAL
2016
ELIANE FERREIRA GOMES
EDUCAÇÃO INFANTIL: TRABALHANDO OS VALORES DO PROGRAMA
JUSTIÇA E ESCOLA.
Artigo apresentado ao Curso de Pedagogia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) como requisito parcial para obtenção
do grau de Pedagogo.
Aprovado em _____/_____/_________.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Orientadora ProfªMs. Vanessa Peixoto
_______________________________________________
Professora Ms. Maria Patrícia Costa de Oliveira
________________________________________________
Professora Esp. Esthephania Oliveira Maia Batalha
NATAL
2016
RESUMO
A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, oferecida em Centros de Educação Infantil para crianças de zero a seis anos de idade, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da sociedade (BRASIL, 2010). A educação em valores deve ser trabalhada fundamentando-se no respeito mútuo, a fim de fortalecer a autoestima e a construção da identidade, respeitar a diversidade de expressões culturais, valorizar o trabalho coletivo e desenvolver a solidariedade. Quanto aos objetivos buscamos identificar como as professoras do Centro Municipal de Educação Infantil – CMEI Irmã Dulce trabalham pedagogicamente os valores na educação infantil. Como metodologia, realizou-se pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, buscando subsídios legais e teóricos em leis e documentos oficiais para o desenvolvimento do trabalho com valores, além dos documentos e dados do “Programa Justiça e Escola”. Quanto aos resultados, observou-se que as professoras do CMEI Irmã Dulce trabalham os valores – pilares – do programa “O Caráter Conta” oportunizando as vivências diárias de sala, fazendo com que gerem atitudes de respeito, cidadania, zelo, responsabilidade, senso de justiça e sinceridade, que são os seis pilares abordados pelo programa. Concluindo, educar para a cidadania envolve a formação de atitudes para com os outros, assim como a discussão dos aspectos éticos e políticos que envolvem os seres humanos. Tal proposta só é possível através da contínua avaliação e realimentação das práticas dos educadores, dentro de um processo de formação continuada. Palavras-chave: Educação Infantil. Valores. Formação Continuada.
ABSTRACT
Early childhood education, a step previous to elementary education, offered in Nursery Schools for children between zero and six years old, aims for the child’s full development, considering its physical, psychological, intelectual and social aspects (BRASIL, 2014). Education in values must be performed based on mutual respect, in order to consolidate self-esteem and the building of one’s identity, respect the diversity of cultural expressions, promote team work and build up solidarity. As far as objectives go, the study meant to investigate how the IrmãDulce CMEI (Municipal Nursery Education Center, acronym in Portuguese) teachers, specifically the ones in the level I class, present the values to children between 2 and 3 years old by means of the program “Justice and School”. Regarding results, it was observed that the IrmãDulce CMEI teachers showcase the values - pillars - of the program “Character Matters” using the classroom’s daily experiences, leading to acts of respect, citizenship, carefulness, responsibility, sense of justice and honesty, which are the six pillars of the program. In conclusion, educating for citizenship involves the encouragement of people’s interactions, as well as the discussion of the ethical and political aspects that involve human beings. Such proposal is possible only by the continuous evaluation and renewal of educators’ practices, within a process of continuing education.
Key words: Early childhood education. Values. Continuing education.
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1. INTRODUÇÃO
A temática proposta nesse trabalho surge à partir da minha atuação na
primeira etapa da Educação Básica, ou seja, na Educação Infantil, no ano de 2015,
como estagiária, no Centro Municipal de Educação Infantil - CMEI Irmã Dulce,
localizado no bairro de Felipe Camarão, onde pude estabelecer o primeiro contato com
crianças do nível I, com idade de 2 a 3 anos.
Diante dessa primeira experiência, foi observado que as professoras desse
CMEI desenvolviam um trabalho pedagógico utilizando os pressupostos do Programa
“Justiça e Escola”, que utilizava a metodologia do “Caráter Conta” e, era desenvolvido
pelo Poder Judiciário em parceria com a Secretária Municipal de Educação – SME. Esse
trabalho desenvolvido, e a parceria entre tais instâncias eram e são de grande
importância “pois esse bairro é muito conhecido pela mídia televisiva pelo alto índice
de criminalidade e tráfico de drogas”. (2009, p. 5).
Além desse primeiro contato, pude vivenciar uma oficina nesta instituição onde
a temática central era a sensibilização das professoras para se trabalhar com valores1
do caráter2, definidos por seis pilares: sinceridade, respeito, responsabilidade, senso
de justiça, zelo e cidadania, que tinha e tem como pressuposto teórico o Programa
“Justiça e Escola”. Sendo assim, percebi que esse assunto, para a Educação Infantil, era
de grande relevância, apesar de questionar se esse tema seria muito abstrato para as
crianças compreenderem.
Partindo disso, vi a necessidade de buscar fontes alternativas e conversas com
os palestrantes da formação do Programa, e a pergunta que mais me inquietava era:
como trabalhar os pilares do Programa “O Caráter Conta3” na educação infantil? Diante
disso, participei da formação4 do Programa e pude ouvir vários relatos de gestores,
coordenadores e professores que já trabalhavam com a metodologia do “O caráter
conta” e me surgiu o desejo de escrever sobre esse assunto.
1Para o dicionário Aurélio (2001), valor é: “Qualidade que faz estimável alguém ou algo; valia. Importância de determinada coisa; preço, valia.” 2 Uma das definições de caráter que o dicionário Aurélio (2001) apresenta: “Os traços psicológicos, as qualidades, o modo de ser, sentir e agir de um indivíduo, um grupo, um povo.” 3 Programa “O Caráter Conta”, criado nos Estados Unidos, por Michael Josephson, professor de Direito da Universidade da Califórnia, que criou o “Josephson Institute”, com a proposta de ajudar os educadores em seu trabalho com crianças e jovens com o intuito de fortalecer suas vidas com valores éticos chamados de os “Seis Pilares do Caráter”. 4 Formação realizada pela Secretaria Municipal de Educação (SME) em parceria com o Departamento de Atenção ao Educando (DAE) e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), no período de 06/10/16 a 07/10/16.
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Visto que o trabalho desenvolvido pelo Programa “Justiça e Escola” busca
sensibilizar gestores, docentes, discentes, funcionários e pais, são de suma importância
à realização da parceria entre esses atores, visando envolver toda a comunidade em
prol de um bem comum. Por isso, considero um trabalho relevante para o
desenvolvimento da criança, pois, não é apenas para elas e sim abrange todos,
principalmente como experiência para a minha futura prática docente.
Nesse sentido, este artigo objetivou identificar formas de como as professoras
do CMEI Irmã Dulce, trabalham os valores na Educação Infantil com crianças de creche
e pré-escola, 2 a 5 anos, baseados no Programa “Justiça e Escola”, de modo que as
crianças consigam assimilar o que diz respeito a cada valor de forma contínua através
da própria vivência no espaço escolar, levando em consideração os seis pilares do
caráter conta e, buscando meios pelos quais a instituição infantil possa contribuir com
esse trabalho que afeta a formação das crianças e a comunidade escolar como um
todo.
Buscando contribuir com as discussões sobre o tema, este trabalho abordará,
na primeira sessão, como alguns documentos oficiais, leis e referenciais teóricos que
discutem os valores na educação infantil. Em seguida, falaremos da formação
continuada de professores e como isso implica no trabalho que elas desenvolvem com
as crianças de 2 a 5 anos. Na terceira sessão, faremos uma breve descrição do
Programa “Justiça e Escola”, com a metodologia do “Caráter Conta” no Rio Grande do
Norte – RN e em continuidade, será apresentado como esse programa realiza a
formação dos professores e sua implicação na formação sócio moral das crianças. Para
finalizar, apresentaremos a metodologia utilizada, os resultados e por fim, algumas
considerações.
2. Os valores na educação infantil segundo os documentos oficiais
Baseado nos documentos oficiais será exposto algumas definições do trabalho
com valores na educação infantil, Creche e pré-escola, que são eles: Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI (2010), Referencial curricular
nacional para a educação infantil – RCNEI (1998), Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDB (2014), Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (2015), e alguns
teóricos que defendem essa ideia. Como ponto de partida, temos como base o nível de
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ensino a que essa pesquisa está abrangendo, nesse caso, a educação infantil, que
segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil é:
A primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. (BRASIL, 2010. p. 12).
Com essa definição do nível de ensino, pode-se perceber que, os principais
sujeitos envolvidos nesse processo são crianças de 0 a 5 anos, ou seja, faixa etária em
que ocorrem muitas descobertas e aprendizagens. Com isso, é de extrema importância
que a instituição infantil insira no seu projeto político pedagógico e na proposta
curricular a questão dos valores.
Na prática diária a instituição de educação infantil necessita incluir o trabalho
com valores desde os conteúdos curriculares até as relações interpessoais, sendo
assim, será desenvolvido um trabalho coerente com a formação das professoras, que
nesse caso específico está relacionado ao trabalho desenvolvido no CMEI Irmã Dulce,
com crianças do nível I – 2 a 3 anos, da qual as professoras participaram da formação
do Programa “Justiça e Escola”.
No entanto, esse procedimento deve ser iniciado na família, pois, segundo as
DCNEI, a instituição de educação infantil deve sugerir como ação complementar
assumindo “a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado
das crianças com as famílias” (2010, p. 17). É nesse espaço que a criança irá vivenciar
novas experiências que conduzirão a necessidade de lidar com diversas pessoas.
O desenvolvimento da identidade e da autonomia está intimamente relacionado com os processos de socialização. Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos, contribuindo para que o reconhecimento do outro e a constatação das diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e aproveitadas para o enriquecimento de si próprias. (BRASIL, 1998. p. 11)
Segundo Sprinthall & Sprinthall (1997, p. 483) “a socialização é o processo de
aprendizagem dos costumes e regras da sociedade”. Inicialmente o campo de
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socialização da criança é a família, a partir do momento que ela é inserida na
instituição de educação infantil esse campo aumenta. Com isso se faz necessário à
aprendizagem de novas regras e a interação com outras pessoas, – crianças e adultos –
pensando na função dessas instituições infantis, entende-se que:
As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam considerados como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma consciente e intencional. A aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição. (BRASIL, 1998. p. 51).
Sendo assim, a prática de trabalho com os valores não é um conteúdo explicito
da educação infantil, mais pode ser direcionado nas vivências de sala sem que haja
intencionalidade. Saber como trabalhar os valores na Educação Infantil é de grande
importância tanto para o profissional da área educacional quanto para as partes
envolvidas no processo, ou seja, a instituição infantil e as famílias, onde pode ser
realizado um trabalho em conjunto, de modo que dê significado ao que está sendo
proposto. Conforme o Programa “Justiça e Escola” “a formação e a disseminação de
valores são inerentes à família e à escola; devendo ser desenvolvidas em parceria”
(2012, p. 2).
Portanto, deve ser um trabalho em parceria com a família e toda comunidade
escolar, levando em consideração o cotidiano de cada criança, devendo sempre existir
essa união de ambos os lados envolvidos. De acordo com as DCNEI’s para a Educação
Infantil, as propostas de organização das instituições devem assegurar “a participação,
o diálogo e a escuta cotidiana das famílias” (2010, p. 19), confirmando o que foi dito
anteriormente, as famílias precisam participar ativamente desse processo. Em relação
ao trabalho em conjunto de toda comunidade, vejamos:
A colaboração de todos os setores da comunidade educativa no funcionamento da escola e no processo de ensino e aprendizagem dos alunos é um aspecto particularmente destacado nos informes e estudos sobre a qualidade da educação. Em uma época como a atual, em que as exigências
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feitas à educação são cada vez maiores e em que é difícil restringir a aprendizagem dos alunos ao horário escolar, é cada vez mais importante ampliar a participação e favorecer a colaboração entre todos os agentes educativos. (MARCHESI e MARTÍN, 2003. p. 126).
Sendo assim, fica claro que, qualquer trabalho desenvolvido no espaço
educacional em conjunto com toda comunidade fica mais viável e o resultado supera
expectativas, e não pode ser diferente com a ideia da difusão de valores desde os
primeiros anos de vida, na Educação Infantil, onde cada criança vai aprender de uma
forma singular, apresentando suas especificidades.
Por isso, devem-se incluir no dia a dia da instituição infantil valores morais,
éticos e sociais. Para o RCNEI (1998, p. 49) “os conteúdos abrangem, para além de
fatos, conceitos e princípios, também os conhecimentos relacionados a
procedimentos, atitudes, valores e normas como objetos de aprendizagem”, com isso
percebe-se a importância dos valores estarem inclusos na instituição infantil.
Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar uma educação baseada em condições de aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capacidades de cada criança, considerando as como pessoas singulares e com características próprias. [...] pretende que as instituições possam oferecer condições para que as crianças aprendam a conviver, a ser e a estar com os outros e consigo mesmas em uma atitude básica de aceitação, de respeito e de confiança. (BRASIL, 1998. p. 32-33; 46).
No interior da instituição infantil, onde acontecem as diversas situações de
aprendizagem, interação e socialização são de grande valia o destaque para as
capacidades das crianças, que diante de suas singularidades e especificidades
aprendem em ritmos diferentes, cabe ao professor respeitar esse limite.
O trabalho com valores não necessariamente será desenvolvido isoladamente,
este por si só não gera resultados significativos, ele precisa estar incluso em todas as
atividades, em todas as esferas da comunidade educacional. Para isso, é de extrema
importância trabalhar com todos os envolvidos, não apenas com as crianças, pois, na
grande maioria das vezes a criança observa o adulto para depois reproduzir
determinados comportamentos. No decorrer do texto falarei sobre a importância
desses pares mais experientes serem “modelo/exemplo” para as crianças, pois, elas os
observam e imitam.
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Por isso, o presente trabalho se fundamenta nas leis e documentos oficiais
sobre o trabalho com valores em parceria com o referencial teórico que também traz
sua contribuição para essa temática tão importante.
Tendo como premissa que este artigo está pautado numa reflexão sobre os
valores, especificamente os que são propostos pelo Programa “Justiça e Escola” e
trabalhados no CMEI Irmã Dulce, destaca-se a forma como eles são significativos para
as crianças da Educação Infantil, salientando os dados quantitativos dos CMEIS que
aderiram ao programa desde sua implantação na Secretária Municipal de Educação de
Natal - SME/NATAL, como será exposto em seguida. Outro dado importante a ser
considerado será de como a SME realiza a formação dos profissionais que fazem parte
desses CMEIS, com o intuito de alcançar os objetivos desse trabalho, como também
será explicitado no decorrer do texto.
Podemos utilizar como pressuposto para o campo da Educação Infantil o Art.
29. da LDB, “que trata sobre a finalidade dessa etapa que envolve o desenvolvimento
social, complementando a ação da família e comunidade” (BRASIL, 1996, p. 22), ou
seja, enfatiza a importância dessa parceria, como já foi exposta sobre o DCNEI, a LDB
também aborda essa questão e corrobora com essa ideia tão importante quando se
aborda o tema dos valores na educação infantil.
Para Vygotsky (apud Oliveira, 2005. p. 128) “as interações adulto – criança em
tarefas culturalmente estruturadas, com seus complexos significados, criam sistemas
partilhados de consciência culturalmente elaborados e em contínua transformação”. À
medida que a criança observa sua mãe, por exemplo, na realização de uma tarefa, se
for realizada repetidas vezes faz com que a criança consiga realizar a tarefa
independente. Para esse processo Vygotsky (apud Oliveira, 2005. p. 128) criou o
conceito de “zona de desenvolvimento proximal5, segundo ele a criança transforma
as informações que recebe de acordo com as estratégias e conhecimentos por ela já
adquiridos”. Sendo assim:
[...] os adultos ora tratam a criança como companheira em situações onde ela não tem a menor condição de ser companheira, ora não assumem o papel de companheiros, de
5Zona de desenvolvimento proximal, segundo Vygotsky (apud Oliveira, 2005. p. 129) refere-
se à distância entre o nível de desenvolvimento atual do indivíduo (ou seja, sua capacidade de apresentar uma ação independentemente de pistas externas – compreendendo, portanto, funções já amadurecidas) e a capacidade de responder orientado por indicações externas a ele (ou seja, baseada em funções em processo de amadurecimento).
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adultos, em situações onde é fundamental que as crianças aprendam condutas, práticas e valores que só irão aprender se forem iniciadas pelo adulto, seja comer com colher ou ler um livro. (BAZÍLIO; KRAMER, 2006, p. 121).
Os autores não especificam como sendo a família, mas, pode ser utilizado nesse
contexto, pois, eles estão cada vez mais sem disponibilidade para estar com as crianças
devido a diversos fatores e circunstâncias que não cabe especificar nesse texto, e esse
momento de estar com as crianças e dedicar-lhes atenção e cuidado, é necessário para
o aprendizado, incluindo os valores.
As crianças têm direitos constituídos por leis que levam em consideração todo
o seu desenvolvimento enquanto ser social e humano. Como afirma Bazílio e Kramer
(2006, p. 121) “falar que a criança é cidadã de direitos, é entender que ela tem direito
à brincadeira, a não tomar conta de outras crianças, a não trabalhar, a não exercer
funções que, em outras classes sociais, são exercidas por adultos”, a partir desse
direito da criança a instituição de educação infantil pode associar aos valores
necessários para uma convivência harmoniosa em sociedade. Defendo que esse
trabalho está baseado nas leis por entender que as crianças são sujeitos de direitos e
esses direitos – ter uma formação através de valores – serão expostos no decorrer do
texto.
Como embasamento legal para a realização do trabalho com valores, vejamos o
que diz a LDB, numa relação macro – educação básica – de abrangência, considerando
a importância desse trabalho:
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I – a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos dos cidadãos, de respeito ao bem comum e á ordem democrática; (BRASIL, 2014. p. 21).
Como foi exposto acima, em um contexto mais abrangente, não somente
especificando a Educação Infantil, mas vendo a Educação Básica como um todo, a LDB
traz uma citação importante: voltada para o exercício da cidadania e a inserção de
valores nos conteúdos curriculares, que na educação infantil está impresso nas áreas
de conhecimento que favorecem experiências e vivências às crianças. Isso implica que,
trabalhar valores na educação infantil é primordial e isso está garantido baseado na
principal lei que rege a educação brasileira.
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Dessa forma, nenhuma atividade, experiência e/ou vivência proposta pelas
professoras para as crianças de 2 a 5 anos, podem ser desenvolvidas isoladamente,
mais precisa ser agregada às áreas de conhecimento existentes na proposta curricular
para esta faixa etária. Lembrando que foi falado sobre a educação básica, e o que a lei
garante, para falar de forma macro da importância e necessidade de utilizar os valores
na e para a formação das crianças, mas o foco deste trabalho é a educação infantil.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, também aborda a temática
abrangendo crianças e adolescentes, no artigo 15 traz de uma forma ampla,
considerando a criança como um ser de direito:
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. (BRASIL, 2015. p. 12).
Sendo elas sujeitos de direitos constituídos por leis, a educação também é um
dos direitos que estão entre eles, e para isso o artigo 53 aborda em quais aspectos
esse direito deve ser levado em consideração.
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação profissional [...] (BRASIL, 2015. p. 20).
Sendo assim, o pleno desenvolvimento constituído por lei é resultado do
preparo que a criança tem quando está inserido na instituição infantil, sendo
considerados os valores como pressupostos para o exercício da cidadania. Mesmo
diante das diferenças de classes sociais, a instituição infantil assume um papel
importante, quando se trabalha as diferenças de forma a agregar e não dispersar, e
nesse contexto estará exercendo os valores.
Sendo assim, no trabalho que a instituição de educação infantil desenvolve
diariamente, que segundo as DCNEI (2010, p. 19) “a indivisibilidade das dimensões
expressivomotora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da
criança” os valores necessitam estar inclusos em todo seu processo, pois na educação
infantil, como foco central, as crianças conseguem de forma significativa construir
conhecimentos e vivenciar experiências acerca dos valores assumindo
comportamentos que refletem valores como sinceridade, respeito, responsabilidade,
senso de justiça, zelo e cidadania, e com eles surgirão novas ideias para o
aperfeiçoamento desse trabalho.
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Tendo em vista os valores acima pontuados, identifica-se no Programa “Justiça
e Escola” uma metodologia do “O caráter conta”, que propõe uma prática diária com
vivências onde as crianças, em sala de aula e/ou fora dela, podem compreender esses
valores. Tal programa e metodologia serão abordados na sessão seguinte de forma
detalhada.
3. Valores na Educação Infantil: Conhecendo os Programas “Justiça e Escola” e “O Caráter Conta”
Em qualquer atividade ou brincadeira podemos incluir os valores do programa.
As políticas públicas deveriam levar em consideração o que vem sendo desenvolvido
por esse e tantos outros programas destinados a manter um trabalho contínuo sobre
os valores.
Políticas comprometidas com as crianças como cidadãs precisam enfrentar o pesado problema da nossa própria condição humana: a discriminação, a dificuldade de lidar com diferenças e de reconhecer que o que torna o ser humano singular é o fato de ser plural. Nessas políticas, é crucial o papel da formação cultural de crianças, jovens e adultos porque com a literatura, teatro, cinema, poesia, música, mídia, com a escola podemos nos constituir como pessoas críticas, com ética voltada para a justiça, a solidariedade e um espírito de coletividade que teimo ainda em defender. Retomo esses valores universais e aposto no seu potencial de formação. (BAZÍLIO; KRAMER, 2006. p. 100).
Os autores defendem o trabalho com valores, incluindo em práticas diversas e
meios pelos quais a escola está inclusa e dentro do espaço educativo podemos incluir
os demais citados por eles. Nos planejamentos das aulas sempre aparecem, cinema,
contação de história, rodas de música, teatro de fantoche ou contação de história com
encenação, tudo isso contribui para a manifestação e continuidade do trabalho com
valores.
O ‘Programa Justiça e Escola’ é desenvolvido pelo Poder Judiciário do Rio
Grande do Norte em parceria com as secretárias de educação estadual e municipal,
tendo como base inicial a necessidade da população em conhecer o Poder Judiciário e
também seus direitos e deveres, uma vez que os trabalhos realizados pelo Programa
envolvem escola, pais e educadores.
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Este Programa utiliza os princípios do programa “O caráter conta” criado nos
Estados Unidos, por Michael Josephson, professor de Direito da Universidade da
Califórnia, abrange seis pilares que são os valores sinceridade, respeito,
responsabilidade, senso de justiça, zelo e cidadania e que são explicitados através das
cores azul, amarelo, verde, roxo, vermelha, laranja.
Ressaltando a importância de se trabalhar os valores junto à família é que o
Programa tem como objetivo inicial a conscientização dos pais, alunos e educadores
sobre os direitos e deveres, demonstrando a forma de exercê-los, promovendo
esclarecimentos sobre questões relativas à cidadania, à ética, à justiça e os caminhos
do Judiciário.
A metodologia adotada no “Justiça e Escola”, baseia-se na utilização contínua
por parte dos professores dos seis pilares do caráter, bem como através de projetos
norteados por esses valores. Além disso, são realizadas palestras visando dar apoio à
escola, pais família e comunidade sobre temas que versarão sobre direitos e deveres
do cidadão, a importância do judiciário e o seu funcionamento, o papel do ministério
público na sociedade e assuntos relevantes no contexto escolar tais como: bullying,
ECA, Lei Maria da Penha, pedofilia, drogas, orientação sexual, entre outros que são
definidos pela comunidade escolar. (NATAL, 2012. p. 3).
Durante a oficina que participei no CMEI Irmã Dulce, comecei desde os
preparativos para que fosse realizada. Quando iniciou pensei até que fosse algo
cansativo e enfadonho, mas me surpreendi com o resultado, eu considerava que
trabalhar os valores do programa era muito complexo para as crianças, e fiquei me
questionando como seria realizado esse trabalho.
Primeiro houve uma sensibilização para que nós – adultos – conseguíssemos
em primeiro plano, compreender como é na prática o desenvolvimento de situações
que favoreçam esse trabalho. Foi muito envolvente, estavam todos atentos e
participantes, gestoras, professoras, estagiárias e funcionários.
No decorrer dos dias, após essa oficina, comecei a observar como as
professoras estariam incluindo os valores em suas práticas, e pude constatar que, a
maioria começou a conversar mais com as crianças, de modo a ouvi-las. Nas
brincadeiras, as professoras começaram a ser mais participantes, como se fosse um
deles, no faz de conta também estavam diretamente ligadas às crianças, de modo a
auxiliar no processo da construção dos valores.
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Aproveitando esse programa, a gestão do CMEI inclui em todas as salas um
espaço destinado para os livros “O cantinho literário”, pois até então ficavam
guardados num espaço reservado, e quando a professora precisava utilizar em sala,
solicitava. Inicialmente começou a trabalhar o zelo, em específico, para manter os
livros intactos, porém não foi fácil a realização desse processo, pois as crianças
rasgavam as páginas em pedaços bem pequenos.
Diante disso, houve uma constante repetição da mesma atividade, para que
elas conseguissem assimilar que deveriam ter zelo pelos livros, pois serviriam não só
para eles mais para os outros colegas que viriam no ano seguinte.
Portanto, afirmo a importância de uma formação docente que possibilite às
professoras desenvolver práticas pedagógicas que estejam permeadas por
experiências e vivências em que possam contribuir para a formação das crianças e os
valores que elas construirão enquanto sujeitos cidadãos.
4. A Formação de professores de educação infantil para trabalhar valores
Quando falamos em formação de professores, de uma forma geral, analisamos
que se faz necessário essa ação para que estejam sempre em formação continuada e
contínua, pois as professoras devem está em constante processo de construção de
novos conhecimentos para que sua prática seja permeada por ação-reflexão-ação,
proposto por Paulo Freire (1996. p. 22), quando aborda “na formação permanente dos
professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima
prática”. Vejamos a definição de formação que Gatti & Barreto apresenta:
O processo de formação é definido como um movimento orientado a responder aos diversos desafios que se sucedem no que se poderia identificar como diferentes fases da vida profissional: o início da carreira, o processo de desenvolvimento e os tempos mais avançados em que o professor consolida sua experiência profissional. (GATTI; BARRETO, 2009. p. 203).
Então, se considerarmos a formação como um processo em movimento
orientado, iremos afirmar o que Paulo Freire (1996) trata sobre ser um processo de
ação-reflexão-ação. Para a educação infantil não é diferente, o educador infantil que
acredita no seu potencial enquanto ser profissional está sempre buscando novas
situações de aprendizagens. Partimos do pressuposto que
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Para que a educação infantil se concretize como um segmento importante no processo educativo, não bastam leis que garantam isso no papel nem tampouco teorias elaboradas sobre o desenvolvimento infantil. As pessoas que trabalham diretamente com as crianças precisam estar continuamente se formando, para exercer sua função da melhor maneira possível, de forma a favorecer o desenvolvimento infantil em diversos aspectos, promovendo a ampliação das experiências das crianças e de seus conhecimentos. (FREIRE. 1999 p. 78).
A formação de professores é um processo muito importante, pois facilita tanto
para o professor quanto para a criança a possibilidade de adquirir novos
conhecimentos, ou, aprofundamento dos já existentes. Numa formação continuada
sempre existe socializações de experiências, que são riquíssimas de sugestões que
podem ser trabalhadas no dia a dia da sala de aula, cabe ao professor fazer as possíveis
adequações.
Um dos aspectos considerados no “Programa Justiça e Escola” com a
metodologia “O Caráter Conta” é a formação continuada. A Secretária Municipal de
Educação – SME, em parceria com o Departamento de Atenção ao Educando -
DAE/SME, realiza uma formação a cada dois anos onde existe uma quantidade de
vagas destinadas a cada escola e/ou CMEI do município. No intervalo entre esse
período há uma equipe no DAE que realiza junto às escolas palestras, seminários e
oficinas, com o objetivo de manter essa formação.
Acredito que a formação do educador, em geral, esteja intrinsecamente relacionada com a formação do cidadão, seja ele criança, adulto ou jovem. Portanto, almejar uma educação de qualidade para as crianças, que contribua para a formação de sua cidadania (sujeitos críticos, criativos, autônomos, responsáveis, cooperativos, participantes) é estar permanentemente voltado para a formação das educadoras que com elas interagem. (FREIRE, 1999. p. 79).
Segundo a autora, a formação dos educadores é algo que está diretamente
relacionado com a formação do ser enquanto cidadão, não havendo distinção de
idade. Portanto, para manter um trabalho valorativo requer primeiro trabalhar com os
professores, para que eles sintam-se participantes e ativos nesse processo, pois
também são cidadãos de direitos.
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[...] é fundamental que os profissionais tenham acesso aos conhecimentos produzidos. Defendo aqui a formação como direito à educação; direito de crianças, jovens e adultos, também dos professores. Formação, nas áreas básicas do conhecimento – língua, matemática, ciências naturais e ciências sociais – e formação cultural, que crie oportunidades de discutir valores, preconceitos, experiências e a própria história. (BAZÍLIO; KRAMER, 2006).
Vejamos então que a formação de professores não deve se deter apenas nas
áreas específicas do conhecimento, mas, além disso, envolver ideias voltadas para o
trabalho com valores. Falar em formação de professores é abranger uma gama de
conhecimentos que estão inter-relacionados, não se pode falar de trabalho com
valores isolados, eles perpassam pelos conteúdos específicos, e mediante a atitude do
professor esse trabalho pode se tornar significativo.
Para Kramer et. al. (1999, p. 88) “se queremos um trabalho voltado para a
criança como produtora de cultura, ideias, transformação, vida, é essencial que a
educadora que interage com ela também seja assim considerada”, isso implica numa
formação de professores continua e que tenha ligação direta com a prática. Não
devemos falar em formação utópica apenas como certificação, necessitamos de
formações condizentes com o dia a dia da sala de aula.
Essa formação deve ser sistemática e permanente; não basta apenas um curso ou outro de capacitação, já que as questões da educação são muitas e envolvem reflexões cotidianas. Precisa ser uma formação vinculada à prática, que se dê na ação do educador com as crianças [...] (FREIRE, 1999 p. 79).
Portanto, a formação de professores aqui discutida está diretamente
relacionada com o trabalho de valores, e a própria metodologia do Programa “Justiça e
Escola” é baseada numa formação que seja coerente com a prática, caso contrário não
seria significativo o trabalho desenvolvido por eles. Logo a seguir abordarei a
metodologia adotada para a realização desse trabalho.
5. METODOLOGIA
O trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica a fim de fazer levantamento
de alguns autores que abordam o trabalho com valores na educação infantil, além dos
documentos oficiais para servir de embasamento legal sobre a temática e materiais
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cedidos pela coordenação do programa “Justiça e Escola” na SME/DAE, esse último
será útil para a compreensão da prática da formação continuada dos professores.
Vejamos o que diz Fonseca (2002) sobre a pesquisa bibliográfica:
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta. (FONSECA, 2002, p. 32).
Sendo assim, é de grande relevância esse procedimento, pois, faz com que o
pesquisador situe o seu objetivo a fim de encontrar as possíveis soluções para o
problema em questão, que nesse caso seria “como trabalhar os valores – do Programa
Justiça e Escola – na educação infantil”. Baseando-se nas leis que regem a educação
brasileira, especificamente para o campo da educação infantil, traz um embasamento
legal para a prática desse trabalho nas instituições infantis.
Com isso, será uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo6, que para
explicar esse conceito trago as considerações de González (2015)
A Epistemologia Qualitativa defende o caráter construtivo interpretativo do conhecimento, o que de fato implica compreender o conhecimento como produção e não como apropriação linear de uma realidade que se nos apresenta. (GONZÁLEZ, 2015. p. 5).
Conforme o autor, o conhecimento produzido não é algo estático, está sempre
em transformação e recebendo contribuições. A seguir, o autor acrescenta a ideia
apresentada anteriormente:
Quando afirmamos o caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, desejamos enfatizar que o conhecimento é uma construção, uma produção humana, e não algo que está pronto para conhecer uma realidade ordenada de acordo com
6 Segundo Fonseca (2002, p. 20) “a pesquisa qualitativa se preocupa com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”.
20
categorias universais do conhecimento. (GONZÁLEZ, 2015. p. 6).
É de suma importância o trabalho com a pesquisa qualitativa, pois através dela
o pesquisador pode encontrar diversas formas de aprofundamento e construção de
conhecimento7 em determinado tema.
Em seguida levaremos em consideração os dados quantitativos para que seja
alcançado mais um dos objetivos desse trabalho, que é a quantidade de CMEIS que
aderiram ao Programa Justiça e Escola desde sua implantação na SME.
Em relação à pesquisa quantitativa, vejamos:
Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa quantitativa podem ser quantificados. [...] A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. [...] A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. [...] A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente. (FONSECA, 2002. p. 20).
A proposta da pesquisa qualitativa e quantitativa veio em conjunto com um
instrumento que foi a observação de uma sala do Centro Municipal de Educação
Infantil Irmã Dulce, localizado no bairro de Felipe Camarão, zona oeste de Natal/RN. O
espaço escolhido para realização dessa observação está organizado em sua estrutura
física da seguinte forma: cinco salas, sendo quatro para turmas integrais e um para
turmas parciais; três banheiros, sendo dois para crianças e um para funcionários;
cozinha equipada; dois depósitos, sendo um dentro da cozinha para guardar os
alimentos e outro fora para materiais diversos; uma sala pequena que serve como
direção e secretaria; um almoxarifado; um pátio.
O CMEI Irmã Dulce ainda dispõe de ambientes abertos destinados a realização
de diversas situações de aprendizagens, como: um parque de plástico num ambiente
arborizado; um parque de madeira em ambiente a céu aberto;uma caixa de areia a céu
aberto; uma pracinha na mangueira, arborizada.
O quadro de funcionários do CMEI Irmã Dulce está estruturado da seguinte
forma: duas gestoras, sendo uma financeira e a outra pedagógica; duas coordenadoras
7 Segundo González (2015, p. 7) “o conhecimento é um processo de construção que encontra sua legitimidade na capacidade de produzir, permanentemente, novas construções no curso da confrontação do pensamento do pesquisador com a multiplicidade de eventos empíricos coexistentes no processo investigativo”.
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pedagógicas, sendo uma do turno matutino e a outra do vespertino; dez professoras,
sendo três do seletivo e sete do quadro; oito estagiárias para as turmas integrais; uma
cozinheira e uma auxiliar de cozinha; dois ASGs; quatro porteiros, sendo dois diurnos e
dois noturnos e duas secretarias.
O desenvolvimento desse trabalho foi instrumentalizado por observação
participante de uma sala, especificamente nível I que é composta por 20 crianças de 2
e 3 anos, do CMEI Irmã Dulce, com o intuito de alcançar um dos objetivos propostos
nesse trabalho, identificar quais os meios que a professora utiliza para explorar e
incentivar o trabalho com os valores do Programa Justiça e Escola.
Sobre a observação participante vejamos as considerações:
A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. (GIL, 2008. p. 103).
A inserção do pesquisador no interior do espaço a ser pesquisado gera
vantagens significativas, que segundo Florence Kluckhon (apud GIL, 2008) pode ser, a
facilidade e rapidez no acesso as informações que se pretende observar, possibilita o
acesso a informações que o grupo considera como privado e a captação de palavras de
esclarecimentos que acompanham o comportamento dos observados.
Com base nessa metodologia apresentada, irei abordar na seção seguinte os
resultados alcançados mediante todo esse processo, considerando os objetivos
propostos para esse trabalho.
6. Resultados: O que pensam e fazem as professoras do CMEI Irmã Dulce acerca dos valores (zelo, respeito, responsabilidade, senso de justiça, cidadania e sinceridade).
Baseado nas práticas diárias da sala do nível I, e as pesquisas realizadas durante
o processo de elaboração desse trabalho vejo que, trabalhar valores na educação
infantil está diretamente relacionado com as vivências e a relação professor-aluno.
[...] valores como honestidade, coragem, compromisso, responsabilidade, assim como outras idéias importantes na educação, perpassam o dia-a-dia da relação professor-aluno.
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Quanto mais o professor é próximo do aluno, mais influência tem sobre seu comportamento. O professor precisa também ter a possibilidade e a capacidade de inquietar-se, de reconhecer a história e as possibilidades de seus alunos e, sobretudo, de ter fé no crescimento deles. (CUNHA apud LOPES, 1999, p. 122).
Mediante o trabalho desenvolvido no CMEI Irmã Dulce, mais específico no nível
I com crianças de 2-3 anos pode-se perceber que a professora R. desenvolve, em sua
prática diária, situações de aprendizagens que inclui de forma implícita os valores do
Justiça e Escola, ou seja, a medida que se faz necessário uma intervenção ela sempre
orienta a criança mostrando os combinados da sala.
Existem diversas formas de trabalhar os valores, dentre elas estão a música, a
literatura, o teatro, a brincadeira, os combinados de sala e tantas outras maneiras.
Para isso, segundo a formadora F. “a prática pedagógica é que vai indicar a forma mais
adequada de como se trabalhar os valores com as crianças, não existe uma receita
pronta”.
A observação participante foi desenvolvida em um mês – outubro/2016 – onde
a cada dia eu analisava e participava das atividades que eram desenvolvidas em sala, e
mediante a necessidade inseria os valores em diversos momentos, como por exemplo,
na hora destinada para o uso de livros literários pelos alunos eu e a professora R.
falávamos da importância daquele momento e quais cuidados eles deveriam ter para o
manuseio dos livros.
Para a professora R. trabalhar os valores do Programa Justiça e Escola com a
metodologia do Caráter Conta é de grande relevância, desde que seja realizado
conforme as especificidades dos alunos, a faixa etária, suas vivências e preferências.
Trabalhar a partilha de brinquedos, por exemplo, é um momento mágico, acrescenta.
Segundo Lopes (1999, p. 122) “a maior tarefa dos educadores consiste em
serem eles mesmos plenamente, e ajudar para que outros também o sejam”. Sendo
assim, é uma dupla tarefa, manter em constante transformação o seu
desenvolvimento e auxiliar a outros a alcançar esse objetivo, e os valores estão
incluídos nesse desenvolvimento.
Em relação aos resultados quantitativos, será exposta uma tabela onde
apresentará quantidades de CMEIS que aderiram ao Programa Justiça e Escola desde
sua implantação na Secretaria Municipal de Educação, e em seguida uma breve
reflexão sobre os dados apresentados.
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Tabela 1– instituições infantis que aderiram e participaram das formações promovidas pelo programa justiça e escola
ANO FORMAÇÃO QUANTIDADE DE
CMEIS QUE ADERIRAM AO PROGRAMA
QUANTIDADE DE EDUCADORES
FORMADOS
2007 I 0 0
2008 II 0 0
2009 III 1 1
2010 IV 0 0
2010 V 4 4
2011 VI 0 0
2011 VII 0 0
2014 VIII 21 34
Fonte: Dados extraídos de documentos cedidos pela coordenação do Programa Justiça e Escola na SME.
Observando os dados descritos na tabela acima, pode-se perceber que, a
adesão dos CMEIS ao Programa Justiça e Escola só iniciou-se no ano 2009, e no ano de
2011 não houve nenhuma adesão. Porém, em 2014 houve um salto quantitativo em
relação ao número de CMEIS, que considero terem refletido sobre a importância do
trabalho com valores e aderiram ao Programa, elevando o número de professores
formados.
Durante minha participação na formação do ano de 2016 – dados ainda não
estavam computados – percebi que durante as oficinas eram descritas algumas
atividades que poderiam ser desenvolvidas nas escolas, e também eram relatadas
experiências significativas que já haviam sido concretizadas ou ainda estava em
execução. As maiorias dessas experiências partiam de alguma dificuldade que a escola
estava enfrentando, ou até mesmo dos próprios projetos trabalhados.
Baseando-se nas observações realizadas no CMEI Irmã Dulce percebi uma
atividade muito interessante, as professoras faziam um momento de contação de
história e em seguida conversavam com as crianças sobre o assunto que estava
abordando, logo após as crianças eram instigadas a realizarem uma atividade prática,
exemplo, a história contada foi ‘O cabelo de Lelê’, trabalhando o respeito, a
sinceridade e o zelo, após esse momento as próprias crianças faziam uma encenação,
estando todas as participantes caracterizadas. Na realidade elas próprias estavam
vivenciando a história e o que a personagem passava, por suas diferenças.
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Outro momento como esse foi com a história ‘Zeca cata trecos’, onde a
professora trabalhou a organização dos brinquedos que ficam na sala e são utilizados
por eles. Após a contação da história, as crianças foram realizar a atividade prática,
onde todas foram organizar os brinquedos, separando pelas especificidades, legos,
pelúcia, carros, bonecas e etc. Também separaram os brinquedos quebrados que não
tinham mais consertos.
Portanto, a realização de trabalhos com valores na educação infantil está
diretamente relacionada com a prática pedagógica do cotidiano das instituições de
educação infantil, não é uma proposta nova e sim o que já está descrito nas leis que
rege a educação como o todo. Só será concretizada se o professor incluir em sua
prática docente os valores inerentes ao desenvolvimento da criança enquanto cidadã.
7. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Considerando todo o trabalho realizado pelo CMEI Irmã Dulce na perspectiva
da inserção e disseminação dos valores do Programa Justiça e Escola, pode-se
identificar que, através das situações de aprendizagens de sala o professor pode incluir
o trabalho com valores, ou seja, vai depender do potencial profissional que ele tem
para fazer um elo dos conteúdos curriculares com os valores apresentados na proposta
do programa.
Vejamos então o compromisso da educação infantil em assegurar o direito das
crianças ao respeito, a exercer a sua potencialidade, a sua cidadania. O desafio de
fazer desta etapa da educação básica, uma oportunidade para a criança ultrapassar os
limites da cognição, chegando a patamares de vivência de outros valores fundamentais
da educação, como os apresentados pelo Programa “Justiça e Escola”.
Trabalhar valores na educação infantil requer não apenas atividades com as
crianças, mais sim envolver os próprios educadores numa prática de formação
continuada refletindo sobre o que já realizam na sua prática cotidiana, fazendo
conexão com as novas experiências apresentadas nas formações.
Portanto, educar para a cidadania envolve a formação de valores e atitudes,
assim como a discussão dos aspectos éticos e políticos que envolvem os educadores,
as crianças, suas famílias e suas comunidades.
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REFERÊNCIAS
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