universidade federal do rio grande do norte centro … · 2019-01-30 · costumo dizer que eu tenho...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA
NILMARA DE OLIVEIRA ALVES
OS EFEITOS DAS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA EM NIVEL CELULAR E MOLECULAR
NATAL-RN
2014
NILMARA DE OLIVEIRA ALVES
OS EFEITOS DAS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA EM NIVEL CELULAR E MOLECULAR
Tese apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para o título de doutora em Bioquímica.
Orientador(a): Silvia R. B. de Medeiros Co-orientador(a): Pérola C. Vasconcellos
NATAL – RN 2014
Alves, Nilmara de Oliveira. Os efeitos das queimadas na Amazônia em nível celular e molecular /Nilmara de Oliveira Alves. - Natal, 2014. 137f: il.
Coorientadora: profa Dra. Pérola C. Vasconcellos. Orientadora: Profa. Dra. Silvia R. B. de Medeiros. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica.
1. Amazônia - Tese. 2. Genotoxicidade - Tese. 3. Queima debiomassa - Amazônia - Tese. I. Medeiros, Sílvia R. B. II. UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte. III. Vasconcellos, Pérola C. IV. Título.
RN/UF/BSE01 CDU 630*43(811.3)
Catalogação da Publicação na FonteUniversidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu marido Joel e à minha filha Luana que juntos foram os grandes alicerces desta caminhada;
Aos meus pais, Rafael e Maria Francisca, pela confiança e
companheirismo;
Aos professores que acreditaram e permitiram a realização deste trabalho: Silvia Batistuzzo, Pérola Vasconcellos, Sandra Hacon e
Carlos Menck.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho é um resultado de dedicação e comprometimento, é a concretização de um sonho, que um dia não parecia estar ao meu alcance... Isaac Newton disse uma frase que resume a realidade desta conquista:
“Se eu conseguir ver mais que outros, foi porque estava em cima do ombro de gigantes...”
Muitos foram os gigantes que eu encontrei nesta caminhada e eu gostaria de agradecer especialmente algumas pessoas que acreditaram no meu trabalho e que me deram subsídios para chegar até aqui.
Joel a você dedico esta tese de doutorado e o meu coração. Sou abençoada por ter você em minha vida, por você me proporcionar o sentido pleno da felicidade. Além da admiração que tenho por todas as suas conquistas profissionais, eu admiro a pessoa que você é...Obrigada pelos ensinamentos diários, pela compreensão, pelos conselhos, por permitir a realização deste sonho.
Minha linda Luana, obrigada por você existir...Com você eu aprendo todos os dias. Descobri que é na simplicidade dos momentos que o amor verdadeiro se expressa na forma mais sublime: com o seu olhar doce, com o seu sorriso, com o seu jeito carinhoso dizendo “mamãe, eu cuido de você!”...Por você eu segui adiante e venci limites que eu não imagina ser possível. Você é tudo para mim!
Meus queridos pais, se hoje eu consegui realizar este sonho foi porque vocês sonharam junto comigo. Hoje eu posso compreender todo o esforço e o sacrifício para conseguir educar um filho. Obrigada por me darem uma estrutura sólida para que eu sempre pudesse ter a liberdade de escolha, mas acima de tudo por terem me ensinado que com honestidade, respeito e simplicidade tudo é possível.
Rafinha, Sil, Hayden e minha princesa Bia é com muito carinho que eu agradeço a confiança e admiração. Vocês também contribuíram para este crescimento profissional.
Agradeço também à minha nova família Ferreira e Brito que me receberam de braços abertos. É muito bom saber que eu posso contar com vocês. Iara e Priscila, obrigada pelo suporte que vocês me deram nesta caminhada. Cícero e Tetê vocês também contribuíram nesta nova conquista.
Silvia Batistuzzo, obrigada por ter aceito orientar a menina piauiense. Muitos professores não acreditaram que eu seria capaz de aprender e fazer o melhor. Você pensou diferente e me deu a oportunidade de buscar este sonho e voar. Após estes 6 anos de qualificação acadêmica, eu sigo o caminho da pesquisa com mais
maturidade e com a contínua busca do saber. Com certeza, isso não seria possível sem a convivência e a troca de experiências. Espero ter contribuído um pouco para o laboratório assim como eu aprendi com o seu grupo.
Vivi, eu sou eternamente agradecida por você ter sido minha orientadora de iniciação científica. Mais do que isso, nós somos grandes amigas. Com você eu aprendi o que significa uma pesquisa científica e foi possível acreditar neste sonho. Ao mesmo tempo, com você eu vivi momentos únicos e por muitas vezes você foi a amiga confidente, de bons conselhos e que sempre me passou muita segurança. Palavras nunca serão suficiente para expressar todo o carinho e respeito que eu tenho por você. Tenho certeza que iremos trabalhar juntas por muitas e muitas vezes...
Ao longo desta jornada eu tive a oportunidade de trabalhar com grandes pesquisadores e eu vi na convivência diária o segredo do sucesso: a simplicidade.
Pérola, o meu agradecimento é eterno. Costumo dizer que eu tenho algumas “mães” na pesquisa científica e você é uma delas. Nos momentos em que eu mais precisei você estava ao meu lado. Obrigada pela co-orientação e pela grande amizade que construímos. Você é especial!
Sandra Hacon, você também faz parte do grupo das minhas “mães” científicas. O seu incentivo e a sua confiança foram essenciais para a realização deste trabalho. Sem o seu apoio nada disso teria sido possível. Aqui registro o imenso carinho, admiração e respeito não somente pela pesquisadora que és, mas também pela pessoa maravilhosa que eu tive a oportunidade de conhecer. É um privilégio trabalhar com você e certamente iremos continuar trilhando uma longa parceria.
Menck, quando eu pedi a você a oportunidade de realizar os meus experimentos no seu laboratório era um momento de muitas mudanças na minha vida pessoal e profissional. O medo de receber um “não” me afligiu por vários dias, mas eu fui presenteada com o seu e-mail dizendo: “...certamente o laboratório está aberto para recebê-la...é como coração de mãe...sempre cabe mais um!” Naquele momento eu já percebi que você era especial! Eu não tenho palavras suficientes para agradecer pela oportunidade de conviver no seu laboratório e de fazer parte do seu grupo. Obrigada pelo voto de confiança e por contribuir na realização deste sonho!
Paulo Artaxo, obrigada pelo suporte contínuo e por acreditar no potencial deste trabalho. O seu apoio fez toda a diferença!
Agradeço também aos meus amigos que fazem e que já fizeram parte do laboratório de Mutagênese Ambiental da UFRN em especial ao Marcos Felipe, Milena, Déborah, Bia, Fábio, Joana, Jana, Richelly, Aline, Natália, Caio, Mayara, Thiago e Anuska.
Aos amigos do departamento de Bioquímica da UFRN, em especial a Cinthia Telles e a Jailma.
Aos companheiros do laboratório de Química Atmosférica da USP, em especial a Sofia.
Ao grupo do laboratório de Reparo do DNA que deixaram eu fazer parte dessa família: Clarissa, Letícia, Veri, Annabel, Camila, Alessandra, Alexandre, Marinalva, Maria Helena, Satoru, Luciana, Natália, Rosa, Janu, Juliana, Ligia, Francisco, Leo, Huma e Lívia. Cada um de vocês me ajudaram de alguma forma. Muito obrigada por tudo!
Ao laboratório de Poluição Atmosférica no Instituto de Física da USP.
Aos amigos da CETESB, em especial a Déborah Roubiceck, Flávia, Isabel e Célia.
Aos grandes amigos que mesmo com a distância nós estamos sempre juntos: Clênya, Andrea, Mara, Kelly Pansard, Paula Verônica, Alessandra e Márcia.
Aos meus queridos familiares piauienses que me admiram e que acreditam no meu sucesso.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo suporte financeiro e pela divulgação do meu trabalho no programa Popularização da Ciência.
“A humildade exprime, uma das raras certezas de que estou certo:
a de que ninguém é superior a ninguém”. (Paulo Freire)
RESUMO
A Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais
remanescentes no planeta e compreende a maior biodiversidade do mundo, correspondendo aproximadamente a 60% do território brasileiro. Entretanto, o desmatamento e as queimadas que ocorrem na região têm causado sérios prejuízos para a população que está sendo exposta. Diante desta situação, o objetivo do presente estudo foi avaliar os compostos químicos orgânicos presentes no extrato orgânico do MP menor que 10 µm (MP10) oriundo da queima da floresta Amazônica assim como os efeitos celulares e moleculares por eles causados em células de origem pulmonar. Com relação à composição química, a análise dos n-alcanos mostrou um predomínio da influência antrópica no período de queimadas intensas na região. Além disso, neste mesmo período, observou-se um aumento dos monossacarídeos marcadores da queima de biomassa. Também foram identificados os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e os seus derivados nas amostras coletadas na Amazônia. Os dados das concentrações dos HPA permitiram calcular o BaP-equivalente e observou-se que o dibenzo(a)antraceno contribui com 83% para o potencial risco carcinogênico de exposição às queimadas. Já para o potencial risco mutagênico, o benzo(a)pireno é o HPA que apresenta uma maior contribuição nesta análise. Pode-se destacar que o reteno foi o HPA mais abundante. Este composto foi genotóxico, além de causar morte por necrose nas células do pulmão humano. Nas análises biológicas, os dados mostraram que o material orgânico extraído é capaz de causar alterações genéticas tanto em células vegetais como em células do pulmão humano. Estes danos levaram a uma parada na fase G1 no ciclo das células expostas, aumentando a expressão das proteínas p53 e p21. Além disso, o MP
causou morte celular por apoptose, aumentando a marcação da histona -H2AX. Com resultados bem evidentes, o MP inalável também causou morte por necrose nas células do pulmão humano. Diante destes resultados, é importante enfatizar a redução e um melhor controle da queima de biomassa na região Amazônica. Afinal, como descrito recentemente pela Organização Mundial de Saúde, pode-se afirmar que a redução da poluição do ar poderá salvar milhões de vidas.
Palavras-chave: Amazônia, MP10, queima de biomassa, genotoxicidade, morte
celular e células do pulmão humano.
ABSTRACT
The Amazon holds over half of the planet's remaining tropical forests and comprises the largest biodiversity in the world, accounting for approximately 60 % of the Brazilian territory. However, deforestation fires in the region causes serious problems to exposed human. The aim of this study was to evaluate the chemical compounds as well as the cellular and molecular effects after exposure to organic material extracted from particulate matter less than 10 µm (PM10) in the Amazon region. As for the chemical composition, n-alkanes analysis showed a prevalence of anthropogenic influence during the fires in the region. In addition, there was a predominance of monosaccharides from biomass burning markers. Also, the Polycyclic Aromatic Hydrocarbons (PAH) and their derivatives have also been identified in samples collected in the Amazon. By using the PAH concentrations was possible to calculate the BaP-equivalent and it was found that the dibenz(a) anthracene contributes with 83% to potential carcinogenic risk. As for the potential mutagenic risk, the benzo (a) pyrene is the HPA that has a major contribution in this analysis. It may be noted that the retene was the most abundant PAH. This compound was genotoxic and cause death by necrosis in the human lung cells. In biological tests, the data showed that organic PM10 is capable of causing genetic damage in both plant cells and in human lung cells. This damage cause an arrest in the G1 phase of the cell cycle exposed, increasing the expression of p53 and p21.
Additionally, the PM10 caused cell death by apoptosis, increasing the foci of histone -H2AX. Given these results, it is important to emphasize the reduction and better control of biomass burning in the Amazon region thus improving the quality of health of the population being exposed. As clearly stated recently by the World Health Organization, the reduction of air pollution could save millions of lives annually.
Key-words: Amazon, PM10, biomass burning, genotoxicity, cell death and human lung cells.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: DISTRIBUIÇÃO DO MATERIAL PARTICULADO NAS VIAS AÉREAS COM RELAÇÃO AO
SEU TAMANHO AERODINÂMICO. FIGURA ADAPTADA DE NEMMAR ET AL. (2013). ....... 24
FIGURA 2: ESTRUTURA DOS COMPOSTOS PROVENIENTES DA PIRÓLISE DA CELULOSE. FIGURA
ADAPTADA DE SAARNIO (2013). .......................................................................... 28
FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DE UM ALCANO COM 13 CARBONOS
(TRIDECANO) E DOS ALCANOS ISOPRENÓIDES: PRISTANO E FITANO. ........................... 30 FIGURA 4: HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS CONSIDERADOS PRIORITÁRIOS
NO MONITORAMENTO AMBIENTAL DE POLUENTES ORGÂNICOS PELA ENVIRONMENTAL
PROTECTION AGENCY (EPA). FIGURA ORIGINAL DE DE OLIVEIRA ALVES (2010). . 32
FIGURA 5: VISÃO GERAL DAS POSSÍVEIS ETAPAS PARA A FORMAÇÃO DE NEOPLASMA
OCASIONADO PELOS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (HPA). FIGURA
ADAPTADA DE US-EPA (2010). ............................................................................. 34
FIGURA 6: REPRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DE DOIS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS
AROMÁTICOS (HPA) OXIGENADOS E NITROGENADOS. .............................................. 35
FIGURA 7: BIOMARCADORES DE EXPOSIÇÃO E OS EFEITOS DA POLUIÇÃO. ADAPTADO DE
DEMETRIOU ET AL. (2012). ................................................................................ 38
FIGURA 8: POSSÍVEIS MECANISMOS DE FORMAÇÃO DO MICRONÚCLEO (MN) E DAS PONTES
NUCLEOPLASMÁTICAS (PN). A) MN RESULTANTE POR ANEUGÊNESE. B) MN
RESULTANTE POR CLASTOGÊNESE E PN. C) PN FORMADO POR CROMOSSOMOS
DICÊNTRICOS RESULTANTES DA FUSÃO DOS TELÔMEROS. OS PONTOS AMARELOS
REPRESENTAM SONDAS QUE HIBRIDIZAM PARA A REGIÃO CENTROMÉRICA DOS
CROMOSSOMOS E OS PONTOS AZUIS REPRESENTAM AS SONDAS QUE HIBRIDIZAM COM
AS SEQUÊNCIAS TELOMÉRICAS NOS CROMOSSOMOS. FIGURA ADAPTADA DE FENECH
ET AL. (2011). ...................................................................................................... 43
FIGURA 9: RESPOSTAS DE DANOS AO DNA (RDD) E O PAPEL DA -H2AX. ....................... 46
FIGURA 10: REGULAÇÃO DOS PONTOS DE CHECAGEM PELA SINALIZAÇÃO DE RESPOSTAS DE
DANO AO DNA (RDD). .......................................................................................... 48
FIGURA 11: MORTE CELULAR POR APOPTOSE E NECROSE. FIGURA ADAPTADA DE KONO ET
AL. (2008)............................................................................................................ 51
FIGURA 12: MAPA DESTACANDO O MUNICÍPIO DE ALTA FLORESTA, NO ESTADO DO MATO
GROSSO, REGIÃO DO ARCO DO DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA. .............. 55
FIGURA 13: ESQUEMA DA MONTAGEM DO AMOSTRADOR ACOPLADO COM O INLET PARA A
COLETA DE MP10, UTILIZANDO FILTROS TEFLON. EM PARALELO, O ESQUEMA DA
MONTAGEM DO AMOSTRADOR DE PARTICULADO FINO E GROSSO (AFG) ACOPLADO COM
INLET, UTILIZANDO FILTROS DE POLICARBONATO. FIGURA ORIGINAL DE DE OLIVEIRA
ALVES (2010). ................................................................................................... 57
FIGURA 14: ESQUEMA DAS ANÁLISES QUÍMICAS E BIOLÓGICAS REALIZADAS COM O MATERIAL
ORGÂNICO EXTRAÍDO DO MP10 ATMOSFÉRICO. ........................................................ 59
FIGURA 15: IMAGENS QUE ILUSTRAM OS PARÂMETROS QUE FORAM ANALISADOS NO TESTE
CBMN APÓS A EXPOSIÇÃO DO MATERIAL PARTICULADO ORGÂNICO DE ALTA FLORESTA
UTILIZANDO AS CÉLULAS A549. (A) CÉLULA BINUCLEADA SEM MICRONÚCLEO, (B) CÉLULA BINUCLEADA COM MICRONÚCLEO, (C) PONTE NUCLEOPLASMÁTICA E (D) BROTO
NUCLEAR. ............................................................................................................. 62
FIGURA 16: MAPA DO BRASIL INDICANDO A REGIÃO AMAZÔNICA (EM VERDE) E UMA VISÃO
DETALHADA DA CIDADE DE PORTO VELHO E DO LOCAL DE AMOSTRAGEM. FIGURA
ADAPTADA DE BRITO ET AL. (2014). ...................................................................... 65
FIGURA 17: AMOSTRADOR DE ALTO VOLUME – HIVOL. A: IMAGEM DO HIVOL COM A CABEÇA
DE SEPARAÇÃO ANDERSEN. B: FILTRO DE QUARTZO NÃO AMOSTRADO NO HIVOL. C: HIVOL SENDO PROGRAMADO PARA O FUNCIONAMENTO. D: FILTRO DE QUARTZO APÓS A
AMOSTRAGEM. ...................................................................................................... 66
FIGURA 18: IMAGEM DA BALANÇA ESPECÍFICA PARA OS FILTROS DE QUARTZO NO
LABORATÓRIO DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA DA CETESB. ........................................ 67
FIGURA 19: APARATO DE SOXHLET UTILIZADO PARA EXTRAÇÃO DOS FILTROS COLETADOS. 68
FIGURA 20: ESQUEMA DAS ANÁLISES QUÍMICAS UTILIZANDO O MP10 COLETADO EM PORTO
VELHO, REGIÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA.............................................................. 69
FIGURA 21: ANÁLISES CELULARES E MOLECULARES UTILIZANDO O MP10 COLETADO EM
PORTO VELHO, REGIÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA. ................................................. 69
FIGURA 22: ANÁLISE DO MATERIAL PARTICULADO E BLACK CARBON ORIUNDOS DA QUEIMA
DE BIOMASSA EM ALTA FLORESTA. ......................................................................... 78
FIGURA 23: DISTRIBUIÇÃO DO ÍNDICE DE WAX NORMAL ALKANES (WNA) OBTIDO ATRAVÉS
DAS CONCENTRAÇÕES DOS N-ALCANOS IDENTIFICADOS EM ALTA FLORESTA. ............. 81
FIGURA 24: ANÁLISE DA PRESENÇA DE MICRONÚCLEO EM CÉLULAS BINUCLEADAS APÓS A
EXPOSIÇÃO AO MATERIAL ORGÂNICO EXTRAÍDO DO MP10 ATMOSFÉRICO. CN -
CONTROLE NEGATIVO SOMENTE COM DMEM; CD - CONTROLE NEGATIVO COM DMSO
0,1%; CP - CONTROLE POSITIVO: MISTURA DE HPA (10 NG/ML).* P<0,05 E *** P
<0,001 ESTATISTICAMENTE SIGNIFICATIVOS EM RELAÇÃO AO CONTROLE NEGATIVO DE
ACORDO COM O TESTE DE DUNNETT. ...................................................................... 84
FIGURA 25:DIAGRAMA BOX PLOT PARA A DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DA MÉDIA DE
MICRONÚCLEO OBTIDA PELO TESTE TRAD-MCN. O LIMITE SUPERIOR DA CAIXA INDICA O
PERCENTIL DE 75% DOS DADOS E O LIMITE INFERIOR DA CAIXA INDICA O PERCENTIL DE
25%. OS EXTREMOS DO GRÁFICO INDICAM OS VALORES MÍNIMO E MÁXIMO. A LINHA DA
CAIXA INDICA O VALOR DA MEDIANA DOS DADOS E OS CÍRCULOS CORRESPONDEM AOS
VALORES DA MÉDIA. CONTROLE NEGATIVO (NC) - DMSO 1% E CONTROLE POSITIVO
(CP) - 0,2% DE FORMALDEÍDO.**P <0,01 ESTATISTICAMENTE SIGNIFICANTES EM
RELAÇÃO AO CN DE ACORDO COM O TESTE DE DUNNETT. ........................................ 85
FIGURA 26: ANÁLISE COMPARATIVA DOS TESTES DE MICRONÚCLEO EM CÉLULAS
PULMONARES (TESTE CBMN) E EM CÉLULAS VEGETAIS (TRAD-MCN).*** P <0,001
ESTATISTICAMENTE SIGNIFICATIVOS ENTRE OS PERÍODOS DE AMOSTRAGEM DE ACORDO
COM O TESTE DE TUKEY. ....................................................................................... 86
FIGURA 27: VALORES MÁXIMOS, MÉDIOS E MÍNIMOS DOS FOCOS DE QUEIMADAS OBTIDOS
DURANTE O PERÍODO DE JANEIRO/1998 A JULHO/2014. FIGURA ADAPTADA DE INPE, 2014. .................................................................................................................. 86
FIGURA 28: CONCENTRAÇÕES DE MP10 E FOCOS DE QUEIMADAS OBTIDOS POR SATÉLITE
NO PERÍODO DE AMOSTRAGEM EM PORTO VELHO...................................87
FIGURA 29: CONCENTRAÇÃO MÉDIA E DESVIO PADRÃO DOS HIDROCARBONETOS
POLICÍCLICOS AROMÁTICOS ANALISADOS NAS AMOSTRAS DE PORTO VELHO.............. 88
FIGURA 30: HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS OXIGENADOS IDENTIFICADOS
EM PORTO VELHO, REGIÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA. ............................................ 91
FIGURA 31: IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DOS MONOSSACARÍDEOS MARCADORES DA
QUEIMA DE BIOMASSA NAS AMOSTRAS COLETADAS EM PORTO VELHO. ...................... 92
FIGURA 32: CONTRIBUIÇÃO DO LEVOGLUCOSANO NO MP10 COLETADO EM PORTO VELHO. . 92
FIGURA 33: SENSIBILIDADE DAS CÉLULAS A549 APÓS A EXPOSIÇÃO AO MATERIAL ORGÂNICO
DO MP10 ATMOSFÉRICO EM CONCENTRAÇÕES E TEMPOS DIFERENTES. CD: CONTROLE
DMSO (0,1%); HPA: MISTURA DOS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS
(30 NG/ML); RET: RETENO (30 NG/ML). ** P < 0,01 ESTATISTICAMENTE SIGNIFICANTE
EM RELAÇÃO AO CONTROLE NEGATIVO DE ACORDO COM O TESTE DE DUNNETT. ......... 93
FIGURA 34: DANOS AO DNA CAUSADO PELA EXPOSIÇÃO AO MP10 ORIUNDO DA QUEIMA DE
BIOMASSA NA AMAZÔNIA. CN: CONTROLE NEGATIVO (DMEM); CD: CONTROLE DMSO
(0,1%);HPA: MISTURA DOS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (30
NG/ML); RET: RETENO (30 NG/ML). * P<0,05 E ** P<0,01 ESTATISTICAMENTE
SIGNIFICANTE EM RELAÇÃO AO CONTROLE NEGATIVO DE ACORDO COM O TESTE DE
DUNNETT. ............................................................................................................ 94
FIGURA 35: ALTERAÇÕES NO CICLO CELULAR APÓS A EXPOSIÇÃO AO MP10 ATMOSFÉRICO. 95
FIGURA 36: PROTEÍNAS DO CHECKPOINT CELULAR (P53 E P21) FORAM ATIVADAS APÓS A
EXPOSIÇÃO DO MP10 NO PERÍODO DE 24 HORAS.* P<0,05 ESTATISTICAMENTE
SIGNIFICANTE EM RELAÇÃO AO CONTROLE NEGATIVO DE ACORDO COM O TESTE DE
DUNNETT. ............................................................................................................ 96
FIGURA 37: AUMENTO DOS FOCI DE -H2AX APÓS O TRATAMENTO COM O MATERIAL
PARTICULADO. * P<0,05 ESTATISTICAMENTE SIGNIFICANTE EM RELAÇÃO AO CONTROLE
NEGATIVO DE ACORDO COM O TESTE DE DUNNETT. .................................................. 97
FIGURA 38: IMAGENS DO TESTE DE IMUNOFLUORESCÊNCIA PARA A AVALIAÇÃO DA MARCAÇÃO
HISTONA NAS CÉLULAS EXPOSTAS AO MP10. O 4',6-DIAMIDINO-2-
PHENYLINDOLE (DAPI) SE LIGA AO DNA (EM AZUL) E O ANTICORPO -H2AX (EM
VERMELHO). ......................................................................................................... 98
FIGURA 39: MORTE POR APOPTOSE APÓS O TRATAMENTO COM MATERIAL PARTICULADO
ANALISANDO A POPULAÇÃO DE CÉLULAS EM SUB-G1 (72 E 96 HORAS DE EXPOSIÇÃO).99
FIGURA 40: AUMENTO DOS FOCI DE H2AX APÓS 72 HORAS DE EXPOSIÇÃO AO MATERIAL
PARTICULADO. .................................................................................................... 100
FIGURA 41: AUMENTO NA DUPLA MARCAÇÃO DA -H2AX E CASPASE-3 APÓS O TRATAMENTO
COM O MATERIAL PARTICULADO POR 72 HORAS. .................................................... 101
FIGURA 42: IMAGENS DO TESTE PARA DETECÇÃO MORFOLÓGICA POR MICROSCOPIA DE
FLUORESCÊNCIA. A) CÉLULA NORMAL; B) APOPTOSE INICIAL; C) APOPTOSE TARDIA E
D) NECROSE. ..................................................................................................... 102
FIGURA 43: MATERIAL PARTICULADO EMITIDO PELAS QUEIMADAS NA REGIÃO AMAZÔNICA
CAUSA MORTE CELULAR POR APOPTOSE E NECROSE. ............................................. 103
FIGURA 44: MEDIANA DA DISTRIBUIÇÃO DO TAMANHO DOS AEROSSÓIS MEDIDOS EM PORTO
VELHO NO PERÍODO DE QUEIMADAS. OS CÍRCULOS REPRESENTAM OS VALORES MÉDIOS
E AS BARRAS REPRESENTAM PERCENTIS 10 E 90. FIGURA ADAPTADA DE ARTAXO ET
AL. (2013).......................................................................................................... 108
FIGURA 45: MODELO DE AÇÃO DO MATERIAL PARTICULADO ORIUNDO DE QUEIMA DE
BIOMASSA EM CÉLULAS DO PULMÃO HUMANO......................................................... 118
LISTA DE QUADRO
QUADRO 1: COMPARAÇÃO ENTRE AS CONCENTRAÇÕES DO MATERIAL PARTICULADO
INALÁVEL PARA DIFERENTES PAÍSES. ADAPTADO DE NEMMAR ET AL. (2013). .......... 25
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: ALCANOS E HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (HPA) ENCONTRADOS EM ALTA FLORESTA. ....................................................................... 80
TABELA 2: VALORES DAS RAZÕES DIAGNÓSTICAS ENTRE HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS
AROMÁTICOS (HPA) OBTIDOS NA LITERATURA E NAS AMOSTRAS COLETADAS EM ALTA
FLORESTA. ........................................................................................................... 82
TABELA 3: VIABILIDADE DAS CÉLULAS A549 APÓS O TRATAMENTO COM O MATERIAL
ORGÂNICO EXTRAÍDO DO MP10 ATMOSFÉRICO. ........................................................ 83
TABELA 4: BAP-EQUIVALENTE CARCINOGÊNICO (BAP-TEQ) E MUTAGÊNICO (BAP-MEQ) PARA A EXPOSIÇÃO AOS HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS (HPA) ORIUNDOS DAS QUEIMADAS NA REGIÃO AMAZÔNICA. ................................................ 90
LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS
A549 Linhagem de células do pulmão humano Ac Acenafteno Ace Acenaftileno AFG Amostrador fino e grosso ANOVA Análise de Variância Ant Antraceno APHEIS Air Pollution and Health – A European Information System BaA Benzo(a)antraceno BaP Benzo(a)pireno BbF Benzo(b)fluoranteno BC Black carbono BeP Benzo(e)pireno BkF Benzo(k)fluoranteno BN Broto Nuclear Bper Benzo(g,h,i)perileno BSA Bovine Serum Albumin C Carbono CBMN Cytokinesis-block micronucleus CG Cromatografia gasosa Cm Carbono máximo CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CN Controle negativo CO Monóxido de carbono CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CP Controle negativo Cri Criseno DAF Diacetato de fluoresceína DAR Doenças do Aparelho Respiratório DBA Dibenzo(a)antraceno DCM Diclorometano DIC Detector de ionização de chama DMEM Dulbecco's Modified Eagle's Medium DMSO Dimetilsulfóxido DNA Ácido desoxirribonucleico DPOC Doença pulmonar obstrutiva crônica EM Espectrometria de massa EPA Environmental Protection Agency EROs Espécies Reativas de Oxigênio EUA Estados Unidos Fe Fenantreno Fl Fluoreno Fluo Fluoranteno G0 Estado quiescente das células no ciclo celular G1 Gap 1 G2 Gap 2 H Hidrogênio Hivol Amostrador de alto volume
HPA Hidrocarboneto Policíclico Aromático IARC International Agency for Research on Cancer IDN Índice de divisão nuclear InP Indeno (1,2,3,-cd)pireno INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPC Índice Preferencial de Carbono M Mitose MAA Média Aritmética Anual MGA Média Geométrica Anual MN Micronúcleo MT Mato Grosso MTT 3-(4,5-dimethyl-2-thiazolyl)-2,5-diphenyl-2H-tetrazolium bromide MP Material Particulado MP0,1 Material Particulado menor que 0,1 µm MP2,5 Material Particulado menor que 2,5 µm MP10 Material Particulado menor que 10 µm N Naftaleno nitro-HPA HPA nitrados NOx Óxido de nitrogênio O3 Ozônio oxi-HPA HPA oxigenados OMS Organização Mundial de Saúde PBS Tampão fosfato salino Pi Pireno PN Ponte Nucleoplasmática PTS RDD
Partículas Totais em Suspensão Resposta de Dano ao DNA
RH Recombinação Homóloga S Síntese SO2 Dióxido de enxofre SPSS Statistical Package for the Social Sciences Trad-MCN Micronúcleo em Tradescantia pallida eu União Européia XTT 2,3-Bis-(2-methoxy-4-nitro-5-sulfophenyl)-2H-tetrazolium-5-carboxanilide WNA Wax Normal Alkane
SUMÁRIO
1) Introdução .............................................................................................. 20
1.1) Poluição Atmosférica ...................................................................... 20
1.2) Região Amazônica .......................................................................... 21
1.3) Material Particulado (MP) ................................................................ 23
1.3.1) Composição química do MP........................................................ 26
1.4) Impactos das emissões do material particulado na saúde humana 36
1.4.1) Mecanismos de ação do material particulado ............................. 39
2) Objetivos ................................................................................................ 53
2.1) Objetivo Geral ................................................................................. 53
2.2) Objetivos Específicos ...................................................................... 53
3) Material e Métodos ................................................................................ 54
3.1) Metodologia para a pesquisa realizada em Alta Floresta ................ 54
3.1.1) Caracterização da área de estudo .............................................. 54
3.1.2) Coleta do MP10 ............................................................................ 56
3.1.3) Análise gravimétrica .................................................................... 57
3.1.4) Análise do Black Carbon (BC) ..................................................... 57
3.1.5) Extração do material orgânico do MP10 ....................................... 58
3.1.6) Fracionamento das amostras e análises químicas...................... 59
3.1.7) Análises biológicas ...................................................................... 60
3.1.8) Análise estatística ....................................................................... 64
3.2) Metodologia para a pesquisa realizada em Porto Velho ................. 64
3.2.1) Caracterização da área de estudo .............................................. 64
3.2.2) Coleta do MP10 ............................................................................ 66
3.2.3) Extração do material orgânico do MP10 ....................................... 67
3.2.4) Análise dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos ................. 70
3.2.5) Análise dos monossacarídeos..................................................... 71
3.2.6) Cultura celular e teste de viabilidade ........................................... 72
3.2.7) Ensaio de cometa alcalino .......................................................... 73
3.2.8) Deteção da fragmentação do DNA e ciclo celular por citometria de fluxo 74
3.2.9) Detecção da -H2AX e caspase-3 por citometria de fluxo .......... 74
3.2.10) Extração de proteínas e Western Blot ....................................... 75
3.2.11) Ensaio de fluorescência para a detecção de apoptose e necrose................................................................................................................76
3.2.12) Análise estatística ..................................................................... 77
4) Resultados ............................................................................................. 78
4.1) Resultados da pesquisa realizada em Alta Floresta ....................... 78
4.1.1) Dados do Material Particulado (MP) e Black Carbon (BC) .......... 78
4.1.2) Análise química ........................................................................... 79
4.1.3) Testes biológicos ......................................................................... 83
4.2) Resultados da pesquisa realizada em Porto Velho ......................... 86
4.2.1) Dados do MP10 ............................................................................ 86
4.2.2) Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e os seus derivados 88
4.2.3) Monossacarídeos marcadores da queima de biomassa ............. 91
4.2.4) Viabilidade celular ....................................................................... 93
4.2.5) Danos no DNA das células expostas ao material particulado ..... 94
4.2.6) Alterações no ciclo celular e ativação de checkpoints após a exposição ao material particulado ...................................................................... 95
4.2.7) Sinalização em resposta aos danos ao DNA .............................. 96
4.2.8) Análise dos tipos de morte celular em resposta ao dano no DNA 98
5) Discussão ............................................................................................ 104
5.1) Pesquisa realizada em Alta Floresta ............................................. 104
5.2) Pesquisa realizada em Porto Velho .............................................. 107
6) Considerações Gerais ......................................................................... 115
7) Conclusões .......................................................................................... 120
8) Referências.......................................................................................... 121
Introdução 20
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
1) Introdução
1.1) Poluição Atmosférica
A poluição atmosférica é um importante fator de risco ambiental no mundo,
principalmente para os grupos mais vulneráveis (crianças e idosos). Dentre os
possíveis contaminantes ambientais, a poluição do ar é aquela com maior alcance,
com capacidade de transportar partículas sem limites geográficos precisos
(FERREIRA, 2009). Dada a extensa variedade de fontes e processos que definem e
transformam a própria composição da poluição atmosférica, a compreensão de seu
impacto na saúde se torna um tópico de estudo desafiante.
Pode-se definir a poluição do ar como uma situação em que as substâncias
estão presentes em concentrações acima dos níveis normais do ambiente,
produzindo um efeito negativo nos seres humanos, animais, vegetais e materiais
(SEINFELD; WILEY, 2006).
Os poluentes atmosféricos podem ser emitidos por diferentes tipos de fontes.
As fontes de poluentes atmosféricos podem ser classificadas como naturais ou
antrópicas. Dentre as fontes naturais pode-se destacar: vulcão, maresia, evaporação
da vegetação, decomposição de matéria orgânica e incêndios. Por outro lado,
problemas graves de alterações do meio podem acontecer pela ação do homem,
tais como: a atividade industrial, o tráfego motorizado, a queima de biomassa e
outros (SEINFELD; WILEY, 2006).
Nos grandes centros urbanos, os veículos automotores estão entre as
principais fontes emissoras dos aerossóis e gases para a atmosfera. Soma-se a
isto, o crescimento das indústrias, a ressuspensão do solo e formação de aerossóis
secundários, que afetam de diversas formas a saúde humana e o ambiente
(CASTANHO; ARTAXO; F, 2001; CRIPPA et al., 2013).
Em contraste com as áreas urbanas, a Amazônia possui uma das regiões
menos impactadas por ações humanas. Porém, no período de seca, as queimadas
são responsáveis por emissões significativas de partículas de aerossóis para a
atmosfera que podem causar efeitos diretos e indiretos no clima e no funcionamento
do ecossistema amazônico (ARTAXO, 2002). As emissões de partículas finas
decorrentes das queimadas predominam no MP emitido para o ambiente,
Introdução 21
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
contribuindo de forma significativa para a alteração da composição química da
atmosfera amazônica, com implicações importantes em nível local, regional e global,
com valores que chegam a ultrapassar os limites observados em muitos centros
urbanos (ARTAXO, 2002; ARTAXO et al., 2006; CARMO et al., 2010).
1.2) Região Amazônica
A Amazônia representa mais da metade das florestas tropicais
remanescentes no planeta e compreende a maior biodiversidade do mundo (MALHI
et al., 2008). No Brasil, o bioma amazônico possui cerca de 5,5 milhões de km2, o
que corresponde aproximadamente 60% do território brasileiro (ARTAXO et al.,
2013). A atual área de abrangência da Amazônia Legal corresponde à totalidade dos
estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia (RO), Roraima, Tocantins e
parte dos estados do Mato Grosso (MT) e Maranhão.
A região Amazônica desempenha um papel vital na manutenção da
biodiversidade, na hidrologia e no clima regional. Entretanto, desde meados do
século XX, a bacia Amazônica tem passado por mudanças devido à expansão
agrícola, a exploração da madeira e ao crescimento urbano (RIZZO et al., 2013;
SOARES-FILHO et al., 2006).
Estas atividades humanas podem ter efeitos globais no balanço do carbono,
nas concentrações de gases de efeito estufa, nas partículas de aerossóis e no poder
de oxidação da atmosfera. Estudos recentes mostram que as interações entre o
desmatamento, o fogo e as secas intensas podem potencialmente levar a perdas de
armazenamento do carbono e as mudanças nos padrões de precipitações regionais,
aumentando a inflamabilidade da floresta (DAVIDSON et al., 2012).
As partículas de aerossóis de origem natural na Amazônia, encontradas nas
regiões da bacia onde a influência de atividades antrópicas é pequena, são uma
mistura de emissões naturais da floresta, poeira do solo e transporte de partículas
de aerossóis marinho. Estas partículas em regiões de floresta não impactadas são
emitidas diretamente sob a forma de grãos de pólen, bactérias, fragmento de folhas,
excrementos e fragmentos de insetos, além de processos de conversão gás-
partícula (ARTAXO et al., 1994, 1998). Além disso, uma contribuição importante de
Introdução 22
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
partículas provenientes de fora da bacia amazônica é através do transporte de
poeira do Saara (ARTAXO et al., 1998; FORMENTI et al., 2001).
Em condições naturais, as partículas o número de partículas finas inalável na
Amazônia é de cerca de 200 a 300 partículas/cm3 (MARTIN et al., 2010b). No
entanto, durante a estação seca, as condições atmosféricas mudam devido às
emissões de partículas em larga escala resultantes da queima de biomassa em
várias regiões da Amazônia. Neste cenário, o número de partículas aumenta
evidentemente, com cerca de 15.000 a 30.000 partículas/cm3 (ARTAXO, 2002).
Na Amazônia, a ocorrência do fogo é principalmente de origem antrópica.
Devido às altas taxas de precipitações, a ocorrência de incêndios naturais são
eventos raros na região (BOWMAN et al., 2011). No período da seca, grandes áreas
de florestas naturais são convertidas em pastagem e a principal ferramenta utilizada
por fazendeiros para remover a biomassa é o fogo. Também, as queimadas são
praticadas para fins diversos na agropecuária, nos desmatamentos para a retirada
da madeira e no preparo do corte manual em plantações de cana-de-açúcar
(ARTAXO et al., 2013; FUZZI et al., 2007).
É importante destacar que as duas mais severas secas na Amazônia no
último século ocorreu nos anos de 2005 e 2010. Apesar do maior número de
incêndios em 2010, houve um menor número de queima de florestas quando
comparado com o ano de 2005 na região. Tal evento está associado com a
diminuição do desmatamento florestal detectados de acordo com o Projeto PRODES
– Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite. Estes incêndios
ocorridos em 2010 estão associados com um grande número de queima de savanas
(TEN HOEVE et al., 2012).
Assim, uma grande quantidade de poluentes gerados pelas queimadas cobre
todo o arco do desmatamento da Amazônia. A pluma da fumaça se estende por
milhões de quilômetros, cobrindo uma grande parte da Amazônia e da América do
Sul, com significativos efeitos na saúde da população (ANDREAE, 1993). Os
aerossóis da queima de biomassa podem se deslocar por grandes distâncias e
influenciar áreas distantes das regiões de origem (ANDREAE et al., 2001). Logo, a
exposição humana às queimadas não necessariamente ocorre no local onde o foco
da queima está presente.
Introdução 23
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Os efeitos dos aerossóis emitidos pela queima de biomassa para a saúde
humana são significantes no arco de desmatamento da Amazônia Brasileira
(CARMO; ALVES; HACON, 2013; DE FARIAS et al., 2010; DE OLIVEIRA et al.,
2012; ROSA et al., 2008). Apesar de anos de estudos científicos sobre os impactos
dos poluentes atmosféricos e a atenção da mídia em relação aos desmatamentos e
incêndios florestais, acidentais ou intencionais, os potenciais efeitos à saúde das
populações tem sido pouco estudado pela comunidade científica no Brasil
(GONÇALVES, 2010).
Tal fato provavelmente acontece devido aos problemas de infraestrutura no
local, tais como deficiências nos serviços de saúde locais e dificuldades no
monitoramento de indicadores de exposição em uma região de proporções
continentais e dificuldade de acesso a muitas áreas (CARMO; ALVES; HACON,
2013).
Dentre os diversos poluentes emitidos pela queima de biomassa destaca-se o
MP, pois estas partículas podem alcançar as vias respiratórias inferiores, com
importantes efeitos na saúde (DONALDSON et al., 2001a; POPE, 2000).
Recentemente, a International Agency for Research on Cancer (IARC), vinculado
com a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a poluição atmosférica
como carcinogênicos para os humanos, colocando o MP como compostos
carcinogênicos do Grupo 1, principalmente pelas ocorrências de tumores nos
pulmões e na bexiga (IARC, 2013).
1.3) Material Particulado (MP)
O tamanho e a composição do MP dependem das fontes de emissão e dos
processos físico-químicos que ocorrem na atmosfera. O tamanho das partículas é,
em geral, expresso em relação ao seu tamanho aerodinâmico. As partículas
superiores a 10 µm, normalmente ficam depositadas nas cavidades oral e nasal. As
partículas inaláveis são aquelas com diâmetro aerodinâmico igual ou inferior a 10
µm (MP10). Estas partículas são dividas em grupos: as partículas grossas, com
diâmetro aerodinâmico entre 2,5 e 10 m; as partículas finas, com diâmetro
aerodinâmico menor que 2,5 m (MP2,5) e as partículas ultrafinas, com diâmetro
Introdução 24
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
aerodinâmico menor que 0,1m (MP0,1) (CORMIER et al., 2006; NEMMAR et al.,
2013) (Figura 1).
Figura 1: Distribuição do material particulado nas vias aéreas com relação ao seu tamanho aerodinâmico. Figura adaptada de NEMMAR et al. (2013).
Ao nível internacional as medidas de controle emissões do MP inalável
baseou-se no fato de que estas partículas podem alcançar as vias respiratórias
inferiores, atingindo os alvéolos pulmonares e causando efeitos negativos na saúde
(DONALDSON et al., 2001a; POPE, 2000). Em função disso, a OMS recomenda que
a concentração média do MP10 e MP2,5, em amostras ambientais de 24 horas, não
ultrapasse 50 e 25 µg.m-3, respectivamente.
No Brasil, os padrões de qualidade do ar são estabelecidos pelo Conselho
Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e não houve atualizações desde que foram
estabelecidos em 1990. Embora o tamanho das partículas presentes no MP seja
conhecido como determinante para a magnitude do agravo à saúde, no Brasil a
legislação vigente não tem nenhum parâmetro para as concentrações do MP2,5.
Introdução 25
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
No Quadro 1 pode-se observar os padrões diários e anuais de qualidade do
ar para o MP10 e MP2,5 em diferentes países. A OMS recomenda que a
concentração média de MP10, em amostras de 24 horas, não ultrapasse o limite de
50 µg.m-3, valor três vezes menor do que o previsto pela legislação brasileira.
Quadro 1: Comparação entre as concentrações do material particulado inalável para diferentes países. Adaptado de NEMMAR et al. (2013).
Origem
MP10 (µg.m-3)
MP2,5 (µg.m-3)
Anual Diária Anual Diária
OMS 20 50 10 25 União Europeia 40 50 25 - Estados Unidos 50 150 12 35 Califórnia 20 50 15 65 Japão 100 12 65 México 50 120 15 65 África do Sul 60 180 15 65 Índia (população sensível/residencial/industrial)
50/60/120 - - -
China (Classes I,II e III) 40/100/150 50/150/250 - 35 Brasil 50 150 - - OMS: Organização Mundial de Saúde
As lacunas normativas constatadas, aliadas aos problemas institucionais,
técnicos e econômicos, têm levado a insuficiência do monitoramento da qualidade
do ar no Brasil. Em um recente levantamento feito pelo Instituto Nacional de Energia
e Meio Ambiente no Brasil, constatou-se que apenas doze Estados da Federação
têm algum tipo de monitoramento de qualidade do ar. Todavia, a maior parte dessas
redes enfrentam dificuldades de manutenção, com muitas séries de dados não
representativas e lacunas temporais importantes de operação (SANTANA et al.,
2012).
Ainda dentro desse contexto, no Brasil, país onde aproximadamente 60% do
território correspondem ao bioma amazônico, não há nenhuma legislação de
qualidade do ar estabelecida para as emissões de queima de biomassa. Apesar dos
desafios, não se pode esquecer que na região amazônica, com circunstâncias
geográficas e ambientais distintas do restante do país brasileiro, aliadas a um
processo histórico de ocupação do território, o uso do fogo expõe a cada ano, uma
Introdução 26
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
grande parcela da população tornando-as vulneráveis aos seus efeitos
(GONÇALVES, 2010).
Estudos mostram que a exposição aos extratos obtidos no MP atmosférico,
inclusive a níveis abaixo do que é permitido pela OMS, são capazes de causar
diversos efeitos na saúde, tais como: aumento da resposta pró-inflamatória
(HUTTUNEN et al., 2012); danos ao DNA (CORONAS et al., 2009; DE OLIVEIRA
ALVES et al., 2011); estresse oxidativo e apoptose (MARTIN et al., 2010a).
Nesse sentido, destaca-se a pesquisa publicada por BALLESTER e
colaboradores (2008) realizada em 26 cidades europeias através dos dados obtidos
pelo grupo APHEIS (Air Pollution and Health – A European Information System)
demonstrou que a estimativa de redução nos níveis de MP2,5 anuais está associado
com a redução na taxa de mortalidade entre as pessoas com 30 anos de idade.
A habilidade do corpo em se proteger das partículas inaladas e a
susceptibilidade individual aos aerossóis estão ligados tanto ao tamanho quanto à
composição química das partículas (BONETTA et al., 2009; DONALDSON et al.,
2001b; KELLY; FUSSELL, 2012). Portanto, é importante buscar a identificação dos
compostos presentes nos aerossóis de uma determinada fonte de emissão.
1.3.1) Composição química do MP
Uma fração significativa do aerossol no ambiente é de origem antrópica.
Dentre os compostos químicos conhecidos no MP podem-se destacar: sulfato,
amónio, nitrato de sódio, cloreto, metais traços, material carbonáceo, elementos da
crosta terrestre e água (SEINFELD; WILEY, 2006).
A fração carbonácea dos aerossóis consiste tanto do carbono elementar
como do carbono orgânico. O carbono elementar, também chamado de Black
Carbon, é emitido diretamente na atmosfera, produzido principalmente pela queima
incompleta de combustíveis e biomassa. A presença significativa dessas partículas
que absorvem a radiação contribui para a redução da visibilidade e são
responsáveis por efeitos adversos para a saúde humana, tais como: problemas
respiratórios e cardiovasculares (SEINFELD; WILEY, 2006; ZANOBETTI;
SCHWARTZ, 2006).
Introdução 27
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
A composição do carbono orgânico do MP é bastante complexa. Uma
grande variedade de compostos orgânicos já foram identificados no MP inalável
oriundo da queima de biomassa, tais como: n-alcanos , n-alcenos, n-alcanóis, n-
alcanais, ácidos alcanóicos, ácidos alcenóicos, ácidos alcanodióicos, metil-
alcanoatos, etil-alcanoatos, metil-alcenoatos, guaiacol, guaiacol substituídos,
seringóis, seringóis substituídos, outros benzenos e fenóis substituídos, dímeros e
lignanas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), HPA alquilados, HPA
oxigenados (oxi-HPA), HPA nitrogenados (nitro-HPA), levoglucosano, manosano,
monometil-inositol, cumarinas, flavonóides, furanos, ácidos resínicos, diterpenóides,
fitosteróides, triterpenóides e outros (FINE; CASS; SIMONEIT, 2001, 2004).
Dentre os compostos orgânicos citados acima, serão destacadas informações
sobre o levoglucosano e os seus estereoisômeros; os n-alcanos; os HPA e os seus
derivados.
1.3.1.1) Monossacarídeos traçadores de queima de biomassa
O levoglucosano (1,6-anidro-β-D-glucopiranose), o manosano (1,6-anidro-β-
D-manopiranose) e o galactosano (1,6-anidro-β-D-galactopiranose) são bons
marcadores moleculares para a queima de biomassa, pois são derivados da pirólise
da celulose (composto presente em todos os tipos de madeira) e da hemicelulose
em altas temperaturas (acima de 300ºC), não sendo produzido por outros processos
de degradação (SIMONEIT et al., 1999) (Figura 2).
O levoglucosano é emitido em grande escala e é bastante estável na
atmosfera, facilitando a sua detecção a distâncias consideráveis da fonte de
emissão (GIANNONI et al., 2012). O percentual de levoglucosano formado com
relação à concentração total de componentes analisados na fumaça, proveniente da
queima controlada de espécies representativas da vegetação da floresta amazônica,
variou de 10 a 92% para gimnospermas, de 20 a 100% para angiospermas e de 22 a
100% para gramíneas (SIMONEIT et al., 1999). Esses autores também observaram
que a eficiência na formação do levoglucosano depende da intensidade da chama,
da aeração, da duração e temperatura do fogo e do tipo de vegetação queimada.
Introdução 28
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 2: Estrutura dos compostos provenientes da pirólise da celulose. Figura adaptada de SAARNIO (2013).
Na Amazônia, na pesquisa realizada por SCHKOLNIK; RUDICH (2006), as
concentrações de levoglucosano no MP2,5 variaram de 0,08 a 5,9 μg.m-3 durante a
estação seca, caindo abaixo do limite de detecção durante a estação chuvosa,
quando há menor número de focos de incêndio. Este composto também foi
encontrado nas frações finas das partículas, indicando ser um produto primário de
combustão.
Na Áustria, pesquisadores investigaram a contribuição da queima de
biomassa nos aerossóis durante um ano (CASEIRO et al., 2009). Os autores deste
estudo observaram que a presença do levoglucosano é predominante na área
residencial, sendo a queima da madeira o principal contribuinte para o MP orgânico.
Esse resultado pode ser explicado pelo uso intenso de lareiras no inverno.
Em Pequim (China), os pesquisadores buscaram compreender a relação
entre o levoglucosano e outros marcadores de queima de biomassa, como por
exemplo, o potássio e o manosano. A comparação mostrou que com a razão entre o
Introdução 29
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
levoglucosano e o potássio é possível distinguir as emissões da queima de resíduos
de colheita e madeira enquanto que com o estudo da razão entre levoglucosano,
manosano e galactosano, pode-se diferenciar o tipo de queima de madeira. Em
suma, com esta análise, é possível distinguir os diferentes tipos de queima de
biomassa e as suas origens (CHENG et al., 2013).
1.3.1.2) Hidrocarbonetos alifáticos
Os hidrocarbonetos alifáticos correspondem a uma ampla classe de
compostos orgânicos na qual uma das características é a baixa polaridade destas
moléculas. A esta classe pertencem os alcanos, ciclo-alcanos, alcenos, ciclo-
alcenos, alcinos, terpenos, hopanos, esteranos e outros compostos (ALVES, 2005).
Em particular, os n-alcanos são hidrocarbonetos alifáticos saturados, de
cadeia aberta não ramificada, que podem ser emitidos por fontes biogênicas ou
antrópicas. Na Figura 3 está representado a estrutura de um alcano com 13
carbonos.
Os n-alcanos são quimicamente estáveis, pois sua distribuição, reatividade e
volatilidade são relativamente baixas. Estas características favorecem o estudo
destes compostos como importantes traçadores no monitoramento do transporte
atmosférico e da origem da partícula (OMAR et al., 2007).
Estes hidrocarbonetos alifáticos apresentam perfis de distribuição peculiares.
Os compostos com forte predominância dos homólogos ímpares e alto índice
preferencial de carbono representam n-alcanos típicos de emissões biogênicas. Por
outro lado, os compostos derivados de combustíveis fósseis ou queima de biomassa
mostram um perfil onde não existe predominância de homólogos ímpares ou pares
(MAGALHÃES, 2005).
Destaca-se também os alcanos isoprenóides: pristano e fitano (Figura 3), que
são hidrocarbonetos alifáticos de cadeia ramificada com estrutura molecular comum
derivada do isopreno. O pristano e o fitano são produzidos a partir da degradação do
fitol, que é um álcool abundante na natureza constituinte da clorofila-a (ANDREOU;
RAPSOMANIKIS, 2009; MAGALHÃES, 2005).
Introdução 30
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 3: Representação da estrutura de um alcano com 13 carbonos (tridecano) e dos alcanos isoprenóides: pristano e fitano.
O Índice Preferencial de Carbono (IPC) é um parâmetro diagnóstico que
representa uma relação de proporcionalidade entre os compostos com o número par
de carbonos e os compostos com o número ímpar de carbonos (Equação 1).
Calcula-se o IPC com o intuito de prever se os n-alcanos são de origem biogênica
ou antropogênica. Os valores de IPC iguais ou menores à unidade mostram o
predomínio das emissões antropogênicas (ALVES, 2008; OMAR et al., 2007)
IPC = ∑ Concentração dos homólogos de carbono ímpares (1)
∑ Concentração dos homólogos de carbono pares
O Carbono máximo (Cm) representa o n-alcano com a maior concentração na
série homóloga e fornece uma importante indicação da contribuição biogênica ou
antrópica. Com a identificação do Cm é possível especificar na série dos n-alcanos
as assinaturas biogênicas (Cm igual ou maior que a C27), petrogênicas (Cm menor
que C23) e mistas (C23 > Cm < C26) (ALVES, 2008).
Além disso, com o estudo dos n-alcanos também é possível avaliar a
contribuição relativa das emissões biogênicas através do índice Wax Normal Alkane
(WNA), que pode ser estimado para os compostos individualmente de acordo com a
equação 2. Os valores negativos devem ser substituídos por zero (LADJI et al.,
2009):
Introdução 31
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
WNA (*Cn) = Cn – 0,5 x (Cn-1 + Cn +1) (2)
*Cn = concentração do n-alcano de acordo com o número de carbonos
Na pesquisa realizada em duas áreas urbanas na Algéria, LADJI e
colaboradores (2009) fizeram a análise de mais de 90 compostos orgânicos. Dentre
os compostos estudados, a análise dos n-alcanos mostrou um predomínio da
influência antrópica. O estudo também mostrou que com a análise do índice WNA,
as cêras de plantas contribuem com poucas emissões de n-alcanos para a
atmosfera, predominando as emissões de veículos automotores.
No estudo feito na região central da Amazônia, observou-se que na análise
dos hidrocarbonetos alifáticos há um predomínio das emissões biogênicas. Na
distribuição da série dos n-alcanos do C16 ao C35 , o Cm foi o C29. Os autores
concluíram que há uma forte contribuição de n-alcanos oriundos das cêras das
plantas na região Amazônica (SIMONEIT; CARDOSO; ROBINSON, 1990).
1.3.1.3) Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e os seus
derivados
Os HPA são um grupo de compostos orgânicos que contêm apenas carbono
(C) e hidrogênio (H) em sua estrutura e são constituídos por dois ou mais anéis
aromáticos. Eles são considerados como poluentes orgânicos persistentes e são
formados principalmente por processos de combustão incompleta tais como: a
combustão da queima de biomassa, emissões veiculares, industriais e outros
(KATSOYIANNIS; SWEETMAN; JONES, 2011; SIMONEIT, 2002).
Para a United States Environmental Protection Agency (US-EPA), os 16 HPA
considerados importantes no monitoramento ambiental de poluentes orgânicos
prioritários são: Naftaleno (N), Acenaftileno (Ace), Acenaftaleno (Ac), Fluoreno (Fl),
Fenantreno (Fe), Fluoranteno (Fluo), Antraceno (Ant), Criseno (Cri), Pireno (Pir),
Benzo(a)antraceno (BaA), Benzo(a)pireno (BaP), Benzo(b)fluoranteno (BbF),
Benzo(k)fluoranteno (BkF), Dibenzo(a,h)antraceno (DBA); Benzo(g,h,i)perileno
(BPer) e Indeno (1,2,3,-cd)pireno (InP) (Figura 4).
Introdução 32
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 4: Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos considerados prioritários no monitoramento ambiental de poluentes orgânicos pela Environmental Protection Agency (EPA). Figura original de DE OLIVEIRA ALVES (2010).
Dentro deste contexto, ressalta-se que o Reteno (Ret) é um HPA bastante
utilizado como marcador para a queima de biomassa, sendo encontrado no MP
atmosférico. Porém, este composto não está incluso na classificação dos HPA
prioritários de acordo com a US-EPA.
Uma das principais preocupações com relação a presença dos HPA na
atmosfera está relacionada com o seu potencial de exposição e os diversos efeitos
na saúde humana, pois alguns destes compostos têm sido caracterizados como
carcinogênicos, mutagênicos e teratogênicos (BOSTRÖM et al., 2002; CALLÉN;
LÓPEZ; MASTRAL, 2012; OKONA-MENSAH et al., 2005).
A US-EPA (2001) classificou sete HPA (BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, DBA, InP)
como prováveis cancerígenos para os seres humanos (Grupo 2B) . Estes mesmos
sete HPA também foram classificados pela IARC, onde o BaP e BaA são
considerados como prováveis agentes carcinógenos para os seres humanos (Grupo
2A) enquanto que os outros HPA foram classificados como possivelmente
carcinogênicos para os seres humanos (Grupo 2B) (IARC, 2010).
Introdução 33
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Embora o conhecimento da concentração do poluente seja importante para
indicar os riscos de exposição à saúde humana, ainda não foi definido a
concentração aceitável no ambiente para a maioria dos HPA. Entretanto, alguns
países monitoram as concentrações do BaP.
De acordo com o Expert Panel on Air Quality Standards (EPAQS, 1999), o
padrão de qualidade do ar para o BaP no Reino Unido é de 0,25 ng.m-3. Esta
concentração foi adotada com um objetivo estratégico para a melhoria da qualidade
do ar a ser alcançado até o dia 21 de dezembro de 2010 na Inglaterra, Escócia e
País de Gales. Na Europa, a DIRECTIVE OF THE EUROPEAN 2004/107/EC (2004)
estabeleceu para o BaP um valor igual a 1,0 ng.m-3 na concentração média do MP10.
Várias abordagens têm sido desenvolvidas para obter uma avaliação mais
precisa do potencial risco de exposição a uma mistura complexa de HAP utilizando
fatores de equivalência tóxica baseados no BaP. Um deles é o fator de equivalência
carcinogênico (TEF - carcinogenic equivalency factors) (CALLÉN et al., 2012;
COLLINS et al., 1998; JUNG et al., 2010). Além disso, a mutagenicidade de HPA
individuais relativo ao BaP também tem sido avaliado usando o fator de equivalência
mutagênico (MEF - mutagenic equivalency factor) proposto por DURANT et al.
(1996,1999).
Os valores de TEF e MEF combinados com as concentrações dos HPA
atmosféricos têm sido utilizado para calcular os equivalentes carcinogênicos (TEQ)
e os equivalentes mutagênicos (MEQ) em amostras ambientais. Dessa forma, além
do risco de exposição do BaP, é possível calcular o risco de exposição para outros
HPA que também causam danos à saúde (CALLÉN et al., 2012; JUNG et al., 2010).
A Figura 5 mostra uma visão geral dos principais eventos propostos para o
aparecimento de neoplasmas causados pela exposição aos HPA.
Introdução 34
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 5: Visão geral das possíveis etapas para a formação de neoplasma ocasionado pelos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA). Figura adaptada de US-EPA (2010).
Além dos impactos na saúde causados pelos HPA, estes compostos podem
sofrer reações na atmosfera, tais como: foto-oxidação, nitração, sulfonação e outros.
Quando isso acontece, estes produtos formados podem ser mais tóxicos que os
seus precursores (MARINO; CECINATO; SISKOS, 2000).
Nesse contexto, duas classes de derivados dos HPA vêm sendo bem
estudadas: os HPA nitrados (nitro-HPA) e os HPA oxigenados (oxi-HPA). Os nitro-
HPA são compostos que contém um ou mais dois grupos nitro (NO2) ligados à
molécula de um HPA enquanto que os oxi-HPA são compostos que contém átomos
de oxigênio ligados à molécula do HPA precursor (SIMONICH; MOTORYKIN;
JARIYASOPIT, 2011). Na Figura 6 estão alguns exemplos de nitro e oxi-HPA.
Introdução 35
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 6: Representação da estrutura de dois Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) oxigenados e nitrogenados.
Os nitro e oxi-HPA podem ser emitidos diretamente pela combustão
incompleta de combustíveis fósseis, queima de biomassa, processos industriais,
incineradores entre outros. Adicionalmente, os derivados dos HPA também podem
ser formados na atmosfera pelas reações com outros compostos presentes no ar,
por exemplo: O3, NOx, SO2, N2O5, radicais OH na presença de luz (KARAVALAKIS
et al., 2011; RINGUET et al., 2012).
Em um estudo realizado em três cidades do estado de São Paulo foram
identificadas concentrações de HPA e dos seus derivados. As amostras coletadas
em Piracicaba e Araraquara tiveram níveis mais altos de oxi-HPA quando
comparadas com os resultados das amostras coletadas na cidade de São Paulo
(FRANCO, 2006). O trabalho relata que este dado deve estar associado à queima
da cana-de-açúcar que ocorrem nas cidades de Piracicaba e Araraquara.
Corroborando com este dado, na literatura, já foi relatado que a queima de biomassa
aumenta a capacidade oxidante da atmosfera, aumentando os níveis de ozônio e
consequentemente, os níveis de oxi-HPA podem ser mais elevados (LAZUTIN et al.,
1996; MI et al., 1998).
Introdução 36
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
No trabalho publicado por SIENRA (2006) foram identificados oxi-HPA na
atmosfera de Santiago, no Chile. Os resultados mostram que a concentração de
compostos mutagênicos e carcinogênicos foi bem maior quando comparada com
outras cidades, indicando que a população da cidade está exposta a uma grande
quantidade de compostos tóxicos presentes na atmosfera.
De fato, tanto os HPA como os seus derivados, apresentam uma grande
importância pelo seu potencial mutagênico e/ou carcinogênicos já identificados
(KAMEDA, 2011). Esta é uma das principais razões para preocupações acerca dos
níveis destes compostos na atmosfera.
1.4) Impactos das emissões do material particulado na saúde humana
Novos dados publicados pela OMS estimam que, em 2012, cerca de 7
milhões de pessoas morreram como resultado da exposição à poluição do ar, sendo
responsável por uma em cada oito mortes no mundo. Esta publicação confirma que
a poluição atmosférica é hoje o maior risco mundial de saúde ambiental (WHO,
2014).
São várias as consequências na saúde da exposição humana aos poluentes
atmosféricos, tais como: câncer; diminuição da função pulmonar; aumento das
doenças cardiovasculares; alergias; asma; efeitos adversos na reprodução e no
nascimento (INSTITUTE HEALTH EFFECTS, 2010). Estudos estimam que a fração
do MP sozinho causa um excesso de 3,1 milhões de morte no mundo como
resultado das doenças cardiopulmonares e câncer de pulmão em adultos e
infecções respiratórias agudas em crianças (LIM et al., 2012).
Em outubro de 2013, 24 especialistas de 11 países reuniram-se na IARC
(Lyon, França) para avaliar o efeito carcinógeno da poluição atmosférica em áreas
externas. Esta avaliação foi a última de uma série de estudos que começou a
especificar os produtos de combustão e fontes da poluição do ar, concluindo que o
MP é o grande responsável na ocorrência de câncer de pulmão e bexiga (LOOMES
et al., 2013).
Os resultados referentes a carcinogenicidade ocasionada pela exposição aos
poluentes atmosféricos, especificamente ao MP, são bem consistentes em estudos
epidemiológicos (KREWSKI et al., 2009; RAASCHOU-NIELSEN et al., 2013) e nas
Introdução 37
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
pesquisas com animais em laboratório (EPSTEIN; FUJII; ASAHINA, 1979; REYMÃO
et al., 1997). Além disso, é importante ressaltar que o aumento do risco de câncer do
pulmão também foi observado em áreas urbanas em que as concentrações de MP2,5
estavam abaixo dos níveis permitidos pelas legislações vigentes (RAASCHOU-
NIELSEN et al., 2013).
Além do câncer de pulmão, a exposição crônica ao MP2,5 é um fator de risco
nos casos de mortalidade por doenças cardiopulmonares (ENOMOTO; TIERNEY;
NOZAKI, 2008). Até mesmo se a inalação de MP2,5 ocorrer durante alguns minutos
ou horas, existe a probabilidade de infarto agudo do miocárdio, isquemia cardíaca,
arritmias, insuficiência cardíaca e morte súbita (BROOK, 2008). Em destaque, cita-
se o trabalho realizado por RIVERO et al. (2005), que ao expor ratos wistar ao MP2,5
da cidade de São Paulo durante 60 minutos, os autores observaram a diminuição da
variabilidade da frequência cardíaca nos animais.
Ainda há pesquisas que mostram que a poluição do ar está interferindo
negativamente no processo reprodutivo (SRAM, 1999). Estudos toxicológicos
mostram que os HPA e os metais pesados, também encontrados no MP atmosférico,
são ovotóxicos e disruptores endócrinos potenciais, que interferem com a função
ovariana, produzindo a depleção dos folículos, interrupção do crescimento folicular e
falência ovariana precoce (BORMAN et al., 2000; MILLER et al., 2004).
Dentro deste contexto, VERAS et al. (2008) demonstrou que os aerossóis
gerados por tráfego urbano pode alterar a morfologia funcional da placenta em
camundongos expostos. Outros trabalhos deste mesmo grupo de pesquisa relatam
que a exposição ao MP inalável urbano afeta negativamente funções e estágios do
processo reprodutivo (VERAS et al., 2009, 2010).
Na Malásia, MOTT et al. (2005) investigou os efeitos da exposição humana à
fumaça dos incêndios florestais ocorridos no sudeste asiático no ano de 1997. As
análises de séries temporais mostram um aumento no número de internações
respiratórias relacionadas com o incêndio, principalmente os de doença pulmonar
obstrutiva crônica e asma.
Introdução 38
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Ainda que a associação entre as concentrações do MP inalável e os seus
efeitos sobre a saúde humana tenha sido objeto de estudos de inúmeros grupos de
pesquisas, permanece em aberto a questão referente aos mecanismos biológicos
envolvidos na gênese de algumas doenças humanas ligadas à poluição atmosférica
(DEMARINI, 2013; DEMETRIOU et al., 2012).
Nesse sentido, as medições de marcadores biológicos de dose e efeito pode
melhorar a investigação dos efeitos na saúde de várias tipos de exposições,
incluindo a poluição do ar. Dessa forma, é possível fazer uma melhor avaliação da
exposição, contribuindo para a compreensão dos mecanismos assim como pode
fornecer avanços nos estudos biológicos e na investigação da susceptibilidade
individual (VINEIS; HUSGAFVEL-PURSIAINEN, 2005).
Na revisão sobre biomarcadores de exposição à poluição do ar e a sua
relação com o câncer de pulmão, DEMETRIOU e colaboradores (2012) relatam que
os biomarcadores podem refletir cada etapa em uma via causal da doença após à
exposição. Na Figura 7 são mostrados os marcadores biológicos e os seus
caminhos para o câncer.
Figura 7: Biomarcadores de exposição e os efeitos da poluição. Adaptado de DEMETRIOU et al. (2012).
Ressalta-se que na patogênese do câncer de pulmão, para o mecanismo
central são considerados os danos ao DNA e o estresse oxidativo assim como a
resposta inflamatória após a exposição aos poluentes. Tais eventos podem causar
danos cromossômicos e mutações. Estas mudanças junto com a regulação gênica
alterada, pode levar a perda do controle do ciclo celular e a instabilidade genômica
(DEMETRIOU et al., 2012; VINEIS; HUSGAFVEL-PURSIAINEN, 2005).
Introdução 39
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
1.4.1) Mecanismos de ação do material particulado
De fato, a poluição atmosférica é um sério risco para a saúde humana e dos
ecossistemas que estão expostos. A população que mora em regiões contaminadas
por poluentes aéreos sofrem uma exposição crônica, já que inalam cerca de 10.000
a 20.000 litros de ar por dia. Isso significa que mesmo em concentrações baixas, as
toxinas presentes nos aerossóis pode representar um risco para a saúde
(SCARPATO et al., 1993).
Logo, é importante conhecer os mecanismos nos quais as partículas inaladas
podem ocasionar as doenças respiratórias, inclusive a ocorrência do câncer de
pulmão. Os grandes desafios dos estudos relacionados aos mecanismos de ação
dos aerossóis são: i) identificar os compostos responsáveis pelos diversos efeitos da
poluição atmosférica na saúde e ii) desvendar como estas partículas se comportam
no organismo humano. São inúmeras variáveis que podem influenciar a ocorrência
de agravos à saúde (DEMETRIOU et al., 2012; KELLY; FUSSELL, 2012; VINEIS;
HUSGAFVEL-PURSIAINEN, 2005). Porém, o primeiro passo é compreender como
estas partículas se comportam em nível celular e molecular.
Sabendo que os resultados de carcinogenicidade em humanos e animais são
fortemente suportados por evidências de danos no material genético (BONASSI et
al., 2008; DEMARINI, 2013; LOOMES et al., 2013), são de extrema importância a
utilização de biomarcadores genotóxicos e mutagênicos no estudo dos efeitos
ocasionados pela exposição ao MP.
Na busca da identificação dos riscos impostos ao ambiente por
contaminantes, vários bioensaios têm sido realizados para avaliar os principais
efeitos associados ao material genético (ZEIGER, 2010), tais como: mutações
gênicas (substituições de base, deleções e inserções) e mutações cromossômicas
(clastogenicidade – alterações cromossômicas estruturais e aneuploidia – alterações
cromossômicas numéricas).
Para a análise genotóxica, destaca-se o teste cometa. É um ensaio específico
para a detecção de quebras de fita do DNA (SPEIT; HARTMANN, 2005). No Brasil,
pesquisadores investigaram os efeitos genotóxicos causados pelo extrato de HPA
provenientes da atmosfera urbana da região metropolitana de Porto Alegre utilizando
o teste cometa. Os resultados mostraram que a investigação dos danos ao DNA nas
Introdução 40
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
células de fibroblastos do pulmão causadas pelo extrato orgânico das partículas
aéreas permitiu avaliar os efeitos genotóxicos dos HPA associados com a
sazonalidade da região (TEIXEIRA et al., 2012).
Para avaliar a atividade mutagênica associada ao MP inalável destaca-se o
teste de Ames, que utiliza linhagens específicas de Salmonella typhimurium
(MARVIN; HEWITT, 2007). Trabalhos investigando o efeito dos extratos orgânicos
de MP10 obtiveram valores mais significativos na linhagem de Salmonella que são
sensíveis aos compostos orgânicos (YG1041), sugerindo que os nitro e oxi HPA
exerceram um papel fundamental na atividade mutagênica dessas amostras
(UMBUZEIRO et al., 2008a, 2008b).
Utilizando o teste para detecção de mutação e recombinação em células
somáticas de Drosophila melanogaster (SMART), DIHL et al. (2008) analisaram os
extratos orgânicos de partículas do MP10 e das partículas totais em suspensão. O
maior efeito detectado neste estudo foi o aumento da frequência de recombinação
homóloga (RH), enfatizando os riscos que podem estar correlacionados com a
poluição do ar (DIHL, 2008). Vale destacar que a RH é um evento associado a
diferentes etapas do processo de tumorigênese (BISHOP; SCHIESTL, 2003).
O teste de micronúcleo (MN) tem sido uma excelente ferramenta para avaliar
os efeitos mutagênicos de origem cromossômica (FENECH, 1997, 2002). O MN é
uma pequena massa nuclear delimitada por membrana e separada do núcleo
principal, sendo formado durante a telófase. Eles aparecem apenas em células que
completaram a divisão nuclear e são originados de fragmentos de cromossomos ou
cromossomos inteiros que se atrasam durante a migração cromossômica que ocorre
na anáfase. Desse modo, os MN representam perda da cromatina em consequência
do dano cromossômico estrutural ou dano no aparelho mitótico (FENECH et al.,
2011; HOLLAND et al., 2008).
A análise da qualidade do ar através da utilização de vegetais e do uso de
linhagens celulares como bioindicadores têm contribuído para o monitoramento
ambiental de diferentes locais e consequentemente para um prognóstico de risco à
saúde da população exposta (CRISPIM et al., 2012; POMA et al., 2006; SAVÓIA et
al., 2009). Desse modo, o teste de micronúcleo em Tradescantia (Trad-MCN) e o
teste de micronúcleo com bloqueio da citocinese (CBMN) têm sido amplamente
utilizado devido a sua alta sensibilidade a compostos genotóxicos.
Introdução 41
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
1.4.1.1) Teste de micronúcleo em Tradescantia (Trad-MCN)
O teste Trad-MCN tem sido bastante utilizado nos estudos de avaliação
genotóxica, podendo ser realizado com as inflorescências da Tradescantia pallida ou
dos clones de Tradescantia (BNL- 4430 e KU-20) (DE SOUZA LIMA; DE SOUZA;
DOMINGOS, 2009; ISIDORI et al., 2003; KLUMPP et al., 2004; SUYAMA et al.,
2002).
Este ensaio pode ser avaliado por dois sistemas experimentais: (i) in situ,
através da exposição aos agentes presentes na atmosfera, onde o efeito verificado é
proveniente de uma mistura complexa do ar e (ii) ex situ, através da exposição
direta do material que será avaliado, em hidroponia. O Trad-MCN mostrou-se
sensível a poluentes atmosféricos com experimentos tanto in situ(DE OLIVEIRA
GALVÃO et al., 2014; GUIMARÃES et al., 2000; ISIDORI et al., 2003) como no
sistema ex situ (CARVALHO-OLIVEIRA et al., 2005; DE OLIVEIRA ALVES et al.,
2011).
Pesquisadores analisaram a qualidade atmosférica de Córdoba – Argentina e
observou-se que houve uma correlação dose-resposta entre a frequência de MN e
os níveis das partículas totais em suspensão utilizando o Trad-MCN (CARRERAS;
PIGNATA; SALDIVA, 2006). O teste também foi sensível para detectar riscos
genotóxicos na cidade de Santo André no estado de São Paulo, onde os autores
indicaram os fatores climáticos (umidade relativa do ar, temperaturas e índices
pluviométricos) como condições relevantes na formação de MN (SAVÓIA et al.,
2009).
Em sistema hidropônico, foram analisados diferentes períodos de
recuperação da planta para os extratos com o poluente ozônio e concluíram que os
efeitos genotóxicos e mutagênicos para este composto podem ser observados entre
48 e 72 horas após a exposição (DE SOUZA LIMA; DE SOUZA; DOMINGOS, 2009).
Além disso, outro trabalho usando o sistema ex situ para o Trad-MCN, mostrou que
a fração solúvel inorgânica do MP10 coletado em São Paulo também é mutagênico
(BATALHA et al., 1999).
Na Amazônia, destaca-se a pesquisa realizada por SISENANDO et al. (2011),
onde os autores demonstraram através do Trad-MCN in situ que os poluentes
oriundos da queima de biomassa podem induzir danos genéticos. Além deste
trabalho, com o intuito de ampliar a pesquisa na região Amazônica e identificar os
Introdução 42
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
compostos químicos envolvidos nestes danos, o MP orgânico foi avaliado através do
Trad-MCN ex situ e os resultados mostraram que esse extrato tem um grande
potencial mutagênico. Nas amostras coletadas, foram detectados compostos
orgânicos mutagênicos e carcinogênicos que podem estar influenciado nos danos
genéticos encontrados (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2011).
De forma interessante, MARIANI e colaboradores (2009) demonstraram que o
Trad-MCN pode ser utilizado na avaliação dos riscos à saúde humana impostos
pelos poluentes atmosféricos. No caso, os autores fizeram uma associação entre a
frequência de MN em Tradescantia pallida e os dados de mortalidade causados por
doenças cardiovasculares e câncer.
1.4.1.2) Teste de micronúcleo com o bloqueio da citocinese (CBMN)
O teste CBMN baseia-se no uso da citocalasina B, que é um agente inibidor
da polimerização da proteína actina necessária para a formação do anel de
microfilamentos que induz a contração do citoplasma e clivagem da célula em duas
células-filhas (citocinese). O emprego da citocalasina B resulta em um acúmulo de
células binucleadas, facilitando a identificação de alguns marcadores de danos
genéticos. Além do MN, podem-se destacar outros marcadores de danos ao DNA,
tais como: pontes nucleoplasmáticas (PN) e broto nuclear (BN) (FENECH, 1997;
FENECH et al., 2011).
As PN originam-se durante a anáfase, quando os centrômeros de
cromossomos dicêntricos são puxados para os pólos opostos da célula durante a
mitose. Na ausência da ruptura da ponte na anáfase, a membrana nuclear
eventualmente rodeia o núcleo da célula-filha junto com a ponte e então, a PN é
formada. É importante destacar que essas PN são quebradas durante a citocinese,
mas podem ser acumuladas em células bloqueadas, portanto, esta é uma das
importâncias do teste CBMN (FENECH et al., 2003, 2011).
O BN é caracterizado por ter a mesma morfologia do MN, com a exceção de
que eles estão ligados ao núcleo por uma haste estreita ou larga de material
nucleoplasmático, dependendo do estágio do processo de brotação. Um dos
mecanismos propostos de formação do BN é que eles são decorrentes da
eliminação de DNA amplificado (FENECH et al., 2003, 2011).
Introdução 43
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Na Figura 8 pode-se observar alguns dos diferentes mecanismos de formação
do MN e de PN. O MN pode ser formado pela perda de um cromossomo inteiro
(Figura 8A) ou por quebra cromossômica (Figura 8B). Com relação às PN, elas
podem ser originadas pela formação de cromossomos dicêntricos resultantes por
quebras cromossômicas por um erro no reparo (Figura 8B) ou pela fusão da região
telomérica dos cromossomos (Figura 8C). Para distinguir estes eventos, uma opção
é utilizar sondas específicas para o centrômero e para o telômero dos cromossomos.
Figura 8: Possíveis mecanismos de formação do micronúcleo (MN) e das pontes nucleoplasmáticas (PN). A) MN resultante por aneugênese. B) MN resultante por clastogênese e PN. C) PN formado por cromossomos dicêntricos resultantes da fusão dos telômeros. Os pontos amarelos representam sondas que hibridizam para a região centromérica dos cromossomos e os pontos azuis representam as sondas que hibridizam com as sequências teloméricas nos cromossomos. Figura adaptada de FENECH et al. (2011).
A estreita relação entre o câncer de pulmão e compostos mutagênicos e/ou
carcinogênicos, associados ao fato de que a maioria das genotoxinas do MP são
inaladas atingindo regiões inferiores do trato respiratório, justifica os trabalhos
envolvidos na caracterização dos efeitos genotóxicos. Logo, vários pesquisadores
têm utilizado o teste CBMN para avaliar a genotoxicidade e mutagenicidade das
Introdução 44
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
partículas finas dos aerossóis de diferentes fontes de emissões (OH et al., 2011;
TANG et al., 2012).
No estudo sobre os efeitos genotóxicos ocasionado pela exposição
ocupacional oriundo das emissões veiculares foi realizado entre os policiais que
trabalham no trânsito na China. Além do questionário sobre os efeitos dos poluentes
atmosféricos na saúde, os pesquisadores realizaram o teste CBMN com linfócitos
para analisar os danos ao DNA. Os resultados mostraram um aumento na
frequência de MN quando comparado com o grupo controle, confirmando que a
poluição atmosférica urbana causa mutações no material genético (ZHAO et al.,
1998).
Destaca-se também o trabalho realizado por Oh e colaboradores (2011) que
mostraram que o material orgânico extraído do MP2,5 induz estresse oxidativo e
danos genotóxicos em linhagem de células do epitélio bronquial humano. Através do
teste CBMN, os autores observaram os efeitos genotóxicos em frações contendo
hidrocarbonetos alifáticos, HP, alqui-HPA, nitro-HPA, cetonas e quinonas.
1.4.1.3) Respostas a Danos no DNA (RDD)
A todo o momento, o genoma humano é constantemente exposto a diferentes
tipos de danos causados por fontes exógenas (radiações ultravioleta, MP e outros
compostos genotóxicos) e por subprodutos de processos endógenos (espécies
reativas de oxigênio durante a respiração e outros) (LOPEZ-CONTRERAS;
FERNANDEZ-CAPETILLO, 2012).
A quantidade de lesões que os seres humanos enfrentam é enorme, com
estimativas sugerindo que cada uma das 1013 células tem que lidar com cerca de
10.000 lesões por dia (LINDAHL; BARNES, 2000). A sinalização das respostas a
danos no DNA (RDD) é específica para o tipo de dano. A maioria das lesões são
devidamente resolvidas por mecanismos especializados. Porém, uma resposta
deficiente aos danos no DNA, em particular, a quebra de dupla fita do DNA,
ocasiona uma séria ameaça para a saúde humana (JACKSON; BARTEK, 2009).
Para este tipo de dano, um marcador sensível que tem sido bastante utilizado
é a ocorrência da fosforilação da histona tipo H2AX na serina 139 em mamíferos
(ser-129 em S. cerevisiae), denominada -H2AX (BONNER et al., 2008; GARCIA-
CANTON; ANADÓN; MEREDITH, 2012).
Introdução 45
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Embora o papel exato ainda seja controverso, considera-se que a sinalização
da forma fosforilada da histona H2AX pode estar envolvida no recrutamento de
vários fatores de reparação do DNA ao redor da lesão, tais como o complexo MRN e
as proteínas BRCA1 e RAD51(CANN; DELLAIRE, 2011). Dessa forma, a proteína -
H2AX tem sido considerada uma das principais proteínas sinalizadoras envolvida na
RDD, desempenhando um papel importante no seu reparo e mantendo a integridade
do genoma (VALDIGLESIAS et al., 2013).
Em pesquisa realizada na Itália foram coletadas partículas finas e ultrafinas
do MP atmosférico em diferentes estações do ano em Milão. Para investigar se
essas partículas causam quebras de dupla fita no DNA em co-cultura de células de
pulmão e monócitos, os autores analisaram a quantidade de foci de -H2AX por
citometria de fluxo, mostrando um aumento significado deste marcador nas amostras
coletadas no inverno (LONGHIN et al., 2013b).
Estudos mostraram que a fumaça do cigarro convencional gera um aumento
na formação de -H2AX em linhagem de células pulmonares de mamífero. O
processo não é dependente do ciclo celular, indicando a indução direta de quebras
de dupla fita no DNA pelos compostos presentes no cigarro (ALBINO; HUANG,
2004; TANAKA et al., 2007). Em concordância com o trabalho citado, a pesquisa
feita por TOYOOKA, IBUKI (2009) mostrou que a fumaça do cigarro induz um
aumento na formação de -H2AX em células do pulmão (A549) associando este
evento com a quebra de dupla fita no DNA.
Além de ser um marcador de quebra de dupla fita no DNA, o aumento da
formação da -H2AX pode ocorrer em resposta a outros danos, como por exemplo:
parada do ciclo celular, reparo do DNA e apoptose. Em particular a morte celular,
ROGAKOU et al. (2000) sugerem que durante a apoptose, devido a fragmentação
do DNA, pode ocorrer a formação de -H2AX. Diante de tal resultado, os autores
acreditam que o reparo do DNA e a apoptose podem partilhar passos iniciais
comuns relacionados com a cromatina.
Na Figura 9 estão sendo mostrados as vias da RDD. Em destaque está o
papel da -H2AX na sinalização de danos genotóxicos.
Introdução 46
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 9: Respostas de danos ao DNA (RDD) e o papel da -H2AX. Figura adaptada de SULLI; DI MICCO; D’ADDA DI FAGAGNA (2012).
Sabe-se que a ocorrência de danos genotóxicos, incluindo aqueles
ocasionados pela exposição ao MP, podem alterar a regulação do ciclo celular
(DEMETRIOU et al., 2012). A ativação das vias da RDD são determinadas por
várias quinases que consequentemente fosforilam e ativam diferentes proteínas que
coordenam a parada do ciclo celular e as vias de reparo para preservar a integridade
genômica (SULLI; DI MICCO; D’ADDA DI FAGAGNA, 2012). A retomada da
progressão do ciclo celular ocorre somente quando o dano no DNA for removido por
completo. Alternativamente, em casos de danos no DNA grave, a RDD pode induzir
a morte por apoptose em alguns tipos celulares (HALAZONETIS; GORGOULIS;
BARTEK, 2008).
Introdução 47
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Ainda neste contexto, a sinalização da RDD pode induzir uma parada no ciclo
celular permanente, denominada senescência celular, que é causada pelo acúmulo
de lesões ao DNA não reparadas que fortemente persistem sinalizando RDD ou
induzem a apoptose (FUMAGALLI et al., 2012).
Além disso, existem os pontos de checagem (ou checkpoints) que funcionam
como pontos de controle de qualidade. Caso haja dano ao material genético, ativa-
se uma cascata de sinais para bloquear a progressão do ciclo naquela célula,
colocando em funcionamento a maquinaria de reparo do material genético e/ou
acionando a apoptose por meio de sensores, sinalizadores e efetores específicos.
Esses pontos também são responsáveis por permitir a finalização correta dos
passos de uma fase precedente, regulando a transição para a fase seguinte
(VERMEULEN; VAN BOCKSTAELE; BERNEMAN, 2003).
As transições através das diferentes fases do ciclo celular são fortemente
regulados pela atividade de quinases dependentes de ciclina (CDK). As CDK são
ativadas por ciclinas e inibida pelos inibidores de CDK (CKIs) ou inibidores de
tirosina fosfolarilada. A ativação da RDD pode limitar a atividade das CDK e, assim,
prevenir a progressão do ciclo celular para a fase seguinte (G1 / S e G2 / M)
(ABRAHAM, 2001).
No processo de ciclo celular destaca-se a proteína p53. Ela é parte dos
mecanismos de pontos de checagem da célula. Quando ocorrem lesões no DNA, ela
interage com o ciclo celular na tentativa de identificar eventuais erros e permitir que
estes sejam reparados. É um fator de transcrição que bloqueia o ciclo celular e
impede a progressão para a fase S ou promove a morte celular. Entre seus efetores
está a p21, capaz de inibir as CDK (cyclin-depent kinase) responsáveis pela entrada
na fase S. A produção aumentada de p21 vai bloquear a atividade de quinase do
complexo ciclina/CDK; este, por sua vez, não irá fosforilar pRb, que não vai liberar o
fator E2F e o ciclo vai parar. Esta interrupção no ciclo tem por finalidade permitir que
o dano no DNA seja corrigido para que a célula continue sua divisão, ou então que a
célula seja encaminhada a apoptose, caso o dano seja deletério e não sujeito a
correções (BATCHELOR; LOEWER; LAHAV, 2009). A Figura 10 resume a regulação
dos pontos de checagem a partir da RDD.
Introdução 48
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 10: Regulação dos pontos de checagem pela sinalização de respostas de dano ao DNA (RDD). Figura original de LOPEZ-CONTRERAS & FERNANDEZ-CAPETILLO (2012).
Estudos in vitro têm demonstrado que o MP atmosférico pode inibir o
crescimento das células, reduzindo a proliferação e/ou podem provocar a morte das
células (DENG et al., 2007; GUALTIERI et al., 2011; POMA et al., 2006). A redução
da proliferação têm sido associada com a parada em várias fases do ciclo celular
(DENG et al., 2007; GUALTIERI et al., 2011; JALAVA et al., 2007).
No estudo realizado em Dunquerque, na França, os pesquisadores
investigaram a ocorrência de anormalidades moleculares na ativação da via de
sinalização do gene TP53-RB após a exposição ao MP2,5 utilizando como modelo a
linhagem de células do pulmão humano (células L132). Os experimentos in vitro
mostraram que a exposição ao MP atmosférico urbano, em curto prazo, alteraram a
expressão gênica e a concentração de proteínas de vários pontos de controle do
ciclo celular (p53, p21, ciclina D1, CDK, BCL2 e outros) da via de sinalização do
gene TP53-RB, causando tanto a proliferação celular quanto a morte por apoptose
(ABBAS et al., 2010).
Também com o intuito de investigar os mecanismos de ação do MP
atmosférico urbano de Milão, na Itália, os pesquisadores exploraram as alterações
no ciclo celular induzidas pelo MP2,5 utilizando a linhagem celular do epitélio
humano (BEAS-2B). Os dados mostram claramente que a exposição a estas
Introdução 49
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
partículas causaram uma parada no ciclo celular na fase G2. O aumento das células
em G2 foi seguido por uma parada temporária no ponto de transição entre a
metáfase e anáfase. Este evento foi associado com a presença de graves
aberrações no fuso mitótico (LONGHIN et al., 2013a).
1.4.1.4) Morte celular por apoptose e necrose
A morte celular por apoptose é uma das etapas de sinalização da RDD.
Entretanto, há também outros tipos de morte celular não apoptóticas, como a
necrose, autofagia, mitose catastrófica e senescência (SARASTE; PULKKI, 2000).
Alterações na coordenação desses tipos de morte celular podem contribuir no
processo de tumorigênese (GRIVICICH; REGNER; ROCHA, 2007). Dentro deste
contexto, pode-se destacar o processo de apoptose e necrose.
A apoptose ou morte celular programada é um evento essencial para a
manutenção do desenvolvimento dos seres vivos, sendo importante para eliminar
células defeituosas ou que não são mais necessárias ao organismo. As células em
apoptose caracterizam-se pelo estrangulamento da membrana sem perda de
integridade, condensação da cromatina, fragmentação do DNA, diminuição do
volume celular e formação de vesículas com membranas (corpos apoptóticos) sem
desintegração das organelas, exposição de moléculas sinalizadoras como
fosfatidilserinas (MEIER; FINCH; EVAN, 2000; SARASTE; PULKKI, 2000).
A apoptose pode ser ativada por vias normais ou por diferentes estímulos. A sua
ativação por compostos químicos pode ocorrer por duas vias: extrínseca e
intrínseca. A primeira inicia-se fora da célula, onde a proteína ligante Fas-L se liga
no receptor membro da família de receptores TNF (FAS) na superfície da célula,
desencadeando a ativação, primeiramente, das caspases 8 e 10 seguida das
caspases 3, 6 e 7. A outra via, ocorre dentro da célula e acontece quando as células
estão em estresse, podendo ser sinalizadas por proteínas pró-apoptóticas da família
Bcl-2 (bid, bax e bak), induzidas por espécies reativas de oxigênio(ERO) e por
cátions divalentes. Logo, a apoptose é uma forma energeticamente ativa de morte
celular, que acontece de maneira ordenada e que difere nos aspectos morfológicos,
bioquímicos e moleculares da necrose (MEIER; FINCH; EVAN, 2000; SARASTE;
PULKKI, 2000).
Introdução 50
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
A necrose é um tipo de morte na qual as células sofrem um insulto que resulta
no aumento do volume celular, agregação da cromatina, desorganização do
citoplasma, perda da integridade da membrana plasmática e consequentemente a
ruptura celular. Durante a necrose, o conteúdo celular é liberado, causando dano às
células vizinhas e uma reação inflamatória no local. A desregulação desse processo
pode causar várias doenças, incluindo neoplasias, doenças autoimunes e desordens
degenerativas(CUMMINGS; SCHNELLMANN, 2004; SARASTE; PULKKI, 2000).
Estudos prévios demonstram que o B(a)P e alguns ciclopentano-HPA
presentes no MP causam toxicidade na linhagem celular de hepatoma de ratos
(Hepa1c1c7), resultando em um aumento de apoptose dependente das
concentrações utilizadas (SOLHAUG et al., 2004).
Recentemente, um grupo de pesquisadores chineses analisaram a
citotoxicidade de algumas quinonas presente no MP atmosférico utilizando a
linhagem celular do pulmão humano (A549). Com os resultados obtidos, os autores
sugerem que a 1,2-naftoquinona pode causar morte celular por apoptose ou necrose
(SHANG et al., 2014).
Destaca-se também que partículas emitidas por diesel e nitro-HPA já foram
relatados como agentes causadores de apoptose em linhagem de hepatocarcinoma
celular(LANDVIK et al., 2007).
Na Figura 11 estão destacadas as diferenças morfológicas entre apoptose e
necrose.
Introdução 51
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 11: Morte celular por apoptose e necrose. Figura adaptada de KONO et al. (2008).
1.4.1.5) Mecanismo de ação do material particulado emitido pela
queima de biomassa
A classificação do MP como agente carcinogênico para humanos pela IARC
coloca em questão a identificação dos compostos individuais presentes no MP e o
potencial carcinogênico de cada componente bem como a investigação das
possíveis vias que podem contribuir para o risco do processo de carcinogênese
(HAMRA et al., 2014).
Introdução 52
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Apesar dos desafios, alguns pesquisadores buscam o conhecimento dos
mecanismos responsáveis pela ação do MP atmosférico urbano (BUDINGER et al.,
2011; DEMARINI, 2013; DONALDSON et al., 2001b). Entretanto, não há muitos
estudos voltados para as emissões provenientes da queima de biomassa.
Em particular, na Amazônia, os efeitos na saúde humana ocasionados pelo
MP emitido pela queima de biomassa é significante no arco do desmatamento da
região (CARMO; ALVES; HACON, 2013; DE OLIVEIRA et al., 2012; IGNOTTI et al.,
2010; ROSA et al., 2008). Porém, são poucos os estudos que investigam os efeitos
genotóxicos ocasionados pelas queimadas (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2011;
SISENANDO et al., 2011, 2012) e até o momento, não há publicações voltadas para
o estudo dos mecanismos de ação do MP.
Logo, isto justifica o interesse do presente trabalho em avaliar os efeitos do
material orgânico extraído (MOE) em nível celular e molecular utilizando como
sistema teste as células do pulmão humano.
Objetivos 53
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
2) Objetivos
2.1) Objetivo Geral
Analisar os compostos químicos orgânicos assim como os efeitos celulares e
moleculares do MP oriundos da queima de biomassa na região Amazônica.
2.2) Objetivos Específicos
- Analisar a composição química do MP oriundo da queima de biomassa na
Amazônia;
- Analisar a citotoxicidade celular com concentrações e tempo de exposição
diferentes utilizando a linhagem de células do pulmão humano (A549);
- Avaliar a genotoxicidade do MOE do MP10 atmosférico utilizando as células
A549;
- Avaliar a mutagenicidade do MOE através do teste de micronúcleo tanto em
células vegetais como em células do pulmão humano (A549);
- Analisar o ciclo celular após a exposição do MOE utilizando a técnica por
citometria de fluxo;
- Avaliar a expressão das proteínas p53 e p21 por Western Blot;
- Quantificar a formação de foci da -H2AX nas células expostas ao MOE por
citometria de fluxo;
- Identificar os tipos de morte celular (apoptose e necrose) nas células
pulmonares após a exposição ao MOE;
- Apresentar um modelo referencial da exposição ao MOE e os seus efeitos
em nível celular e molecular.
Material e Métodos 54
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3) Material e Métodos
Neste estudo foram selecionados duas áreas diferentes do arco de
desmatamento da região Amazônica para estudar tanto a composição química como
os efeitos celulares e moleculares causados pelo MP emitidos pelas queimadas.
Para facilitar a compreensão, a descrição da metodologia será dividida de acordo
com o local da pesquisa.
3.1) Metodologia para a pesquisa realizada em Alta Floresta (MT)
Os resultados desta pesquisa foram publicados na revista Environmental
Research (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2014).
3.1.1) Caracterização da área de estudo
O município de Alta Floresta está localizado no extremo norte do estado do
Mato Grosso e está a 830 Km² da capital do Estado, Cuiabá (latitude 14º37’10’’ ao
sul e longitude 57º29’09’’ ao oeste). O território apresenta uma área de 9.310,27 km2
(Figura 12). Com relação ao relevo, participa do Planalto Apiacás-Sucurundi e da
Depressão Interplanáltica Amazônia Meridional. No quadro florístico destacam-se a
Floresta ombrófila aberta e densa, a Floresta estacional e o Cerrado (IBGE, 2014). O
município encontra-se no trajeto de dispersão dos poluentes gerados pela prática da
queima de biomassa conhecida como “arco do desmatamento” com intensas
queimadas no período de seca na Amazônia.
Material e Métodos 55
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 12: Mapa destacando o município de Alta Floresta, no estado do Mato Grosso, região do arco do desmatamento da Amazônia Brasileira.
O clima é típico da região Amazônica brasileira, quente, úmido e tropical.
Possui ciclos bem definidos de seca e chuva: estação da chuva compreendida entre
novembro a abril; e a estação de intensa seca entre julho a outubro. Os meses de
maio e junho correspondem a um período intermediário, caracterizado pela redução
das chuvas e início da seca.
Este município foi selecionado para este estudo devido à prática de
desmatamentos para o preparo da terra e extensão das áreas de pastagens assim
como pela exploração da madeira, resultando no aumento da queima de biomassa.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre os estados
que compõe o arco do desmatamento na Amazônia brasileira, o MT teve a maior
concentração de focos de calor e de área desmatada nos últimos anos (DUBREUIL
et al., 2012).
Material e Métodos 56
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.1.2) Coleta do MP10
As coletas em Alta Floresta ocorreram em dois períodos, um de queima de
biomassa intensa (Agosto a Outubro/2008) e outro de queima de biomassa
moderada (Novembro/2008 a Janeiro/2009), conforme o protocolo descrito em DE
OLIVEIRA ALVES et al. (2011). Para a coleta do MP10 utilizou-se filtros do tipo teflon.
Nestes filtros foram determinadas as concentrações do MP10 e dos níveis de BC.
Estas amostras também foram utilizadas para teste de genotoxicidade e para a
identificação dos alcanos e HPA analisados neste trabalho.
O procedimento de coleta foi realizado através de um amostrador acoplado
com inlet para a coleta das partículas menores que 10 µm. O amostrador é
conectado a uma bomba de vácuo que succiona o ar atmosférico e a tubulação
passa por um medidor de fluxo que fornece o volume total do ar amostrado em
tempo real. Para isto, os equipamentos foram calibrados com um padrão e os
volumes amostrados corrigidos. Além disso, o circuito elétrico possui um horímetro
que fornece o tempo de amostragem, integrando em horas (DE OLIVEIRA ALVES,
2010).
Em paralelo, através de um outro método, o MP10 foi coletado através de um
sistema conhecido como amostrador fino e grosso (AFG) que separa as partículas
em duas frações: uma fina, definida por partículas menores que 2,5 µm e uma
grossa, definida por partículas com diâmetro entre 2,5 e 10 µm. Os filtros utilizados
nesta amostragem são de policarbonato.
É importante destacar que para ambos os métodos de coleta, os filtros
passaram por procedimentos de pesagem, foram montados no suporte do
amostrador e embalados com papel alumínio antes e depois da coleta. Após a
amostragem, os filtros foram levados para o laboratório de Física Atmosférica na
USP para a análise gravimétrica.
Na Figura 13 estão representados os dois tipos de coletas realizadas neste
estudo.
Material e Métodos 57
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 13: Esquema da montagem do amostrador acoplado com o inlet para a coleta de MP10, utilizando filtros teflon. Em paralelo, o esquema da montagem do amostrador de particulado fino e grosso (AFG) acoplado com inlet, utilizando filtros de policarbonato. Figura original de DE OLIVEIRA ALVES (2010).
3.1.3) Análise gravimétrica
O procedimento para a análise gravimétrica foi de acordo com o protocolo
seguido por DE OLIVEIRA ALVES (2010). A massa dos filtros dos tipos teflon e
policarbonato foram medidos antes e depois da amostragem. A partir da diferença
da análise gravimétrica foi possível determinar a massa do MP. Os filtros foram
pesados em uma balança microanalítica eletrônica de precisão nominal 1μg da
marca Mettler no Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Além disso, a massa do MP obtida foi subtraída da massa adquirida nos filtros
brancos. Estes filtros (não amostrados) foram submetidos ao mesmo processo dos
outros filtros que foram levados para a área de estudo, servindo como controle para
eliminar qualquer ganho de massa devido à absorção de água ou contaminação no
transporte e manuseio dos filtros.
3.1.4) Análise do Black Carbon (BC)
Para determinar a concentração do BC foi utilizada a análise de refletância no
Instituto de Física da USP. A técnica consiste na alta absorção de luz na região
visível, utilizando um refletômetro, Smoke Stain Refletometer, Diffusion System,
modelo M43D. Logo, o filtro coletado foi apoiado em um suporte e iluminado por
uma lâmpada de tungstênio. A luz refletida é então detectada por um foto sensor.
Material e Métodos 58
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Quanto menor a intensidade da luz refletida, maior é a quantidade de BC presente
na amostra (DE OLIVEIRA ALVES, 2010; MAENHAUT et al., 2002).
3.1.5) Extração do material orgânico do MP10
Para a extração do material orgânico do MP10 foram utilizados apenas os
filtros do tipo teflon. O protocolo escolhido foi o estabelecido por DE OLIVEIRA
ALVES et al. (2011). O material orgânico foi extraído por ultrasonicação utilizando
diclorometano na proporção de 1 ml do solvente para 1 mg do material coletado.
Cada filtro foi sonicado 3 vezes por 10 minutos e em seguida foi feito um pool para a
obtenção das amostras mensais. O volume do material orgânico extraído (MOE) foi
reduzido para 5 ml usando o rotavapor a vácuo e em seguida, a amostra foi seca
com nitrogênio puro. Uma vez que a concentração do MOE foi determinada, as
amostras foram estocadas à -20ºC, conforme sugerido por SATO et al. (1995).
Uma parte do MOE foi dissolvido em n-hexano para o fracionamento. A outra
parte foi dissolvida em dimetilsulfóxido (DMSO) e utilizado nas análises biológicas. É
importante destacar que para as duas análises, os filtros brancos, usados como
controle negativo, foram utilizados e passaram pelos mesmos procedimentos de
extração dos outros filtros coletados.
Na Figura 14 está representado um esquema das análises químicas e
biológicas realizadas com o MOE.
Material e Métodos 59
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 14: Esquema das análises químicas e biológicas realizadas com o material orgânico extraído do MP10 atmosférico.
3.1.6) Fracionamento das amostras e análises químicas
Para o fracionamento das amostras, cerca de 30 mg do MOE foi utilizado para
a análise. Os extratos foram separados por cromatografia líquida em gel de sílica. A
coluna utilizada (30 x 0.7 cm) tinha 1,5 g de gel de sílica (GOGOU; APOSTOLAKI;
STEPHANOU, 1998). Ressalta-se que para estas análises foi feito um pool dos
extratos orgânicos, pois a quantidade de massa nas amostras individuais não eram
suficientes para a detecção dos compostos.
Material e Métodos 60
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Neste trabalho, foram analisados os alcanos e os HPA. Para a coleta dos
alcanos foram utilizados 15 mL de n-hexano (fração 1) e para a coleta dos HPA
foram utilizados 15 mL de tolueno: n-hexano (5,6 : 9,4) (fração 2). Após a passagem
dos eluentes, cada fração foi reduzida para 2 ml no rotavapor com vácuo. Em
seguida, as amostras foram transferidas para um frasco, foram secas com nitrogênio
puro e estocadas a – 20ºC (GOGOU; APOSTOLAKI; STEPHANOU, 1998).
A exatidão do método foi avaliada através do teste de recuperação. A faixa
de recuperação para os n-alcanos foi de 71% a 95% e para os HPA foi de 81% a
100%.
Os compostos foram identificados e quantificados usando um cromatógrafo a
gás equipado com detector de ionização de chama (CG-DIC). O volume das
amostras injetadas foi igual a 1 µl. As temperaturas utilizadas no detector e injetor
foram respectivamente 320ºC e 300ºC. A identificação destes compostos foi
realizada por comparação com o tempo de retenção dos padrões e a quantificação
foi feita usando o método do padrão externo (VASCONCELLOS et al., 2011). Essa
análise foi realizada no laboratório de Química Atmosférica no Instituto de Química
da USP.
3.1.7) Análises biológicas
3.1.7.1) Cultura celular
A linhagem de células do pulmão humano tumoral (A549) foi selecionada para
este estudo. As células foram cultivadas em meio Dulbecco's Modified Eagle's
Medium (DMEM) High Glucose (LGC Biotecnologia). O meio foi suplementado com
10 % de soro fetal bovino (Cultilab, Brasil) e 1% de solução de
antibiótico/antimicótico (0.1 mg/mL penicilina, 0.1 mg/mL estreptomicina e 0.25
mg/mL fungizona) (Life Technologies, EUA).
A cultura foi mantida a 37ºC em atmosfera úmida com 5% de CO2. Após
atingirem aproximadamente 80% de confluência, as células em cultura foram soltas
da superfície através da tripsinização (10%) e em seguida, centrifugadas durante 5
min a 1500 rpm. O precipitado das células foi ressuspendido com solução salina de
tampão fosfato (PBS). A suspensão das células A549 foi ajustada para uma
concentração apropriada de acordo com o protocolo detalhado para os ensaios
citotóxicos e para o teste CBMN.
Material e Métodos 61
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.1.7.2) Ensaio de citotoxicidade
A citotoxicidade celular foi avaliada pelo ensaio que mede a habilidade das
células vivas de reduzirem 3-(4,5-dimethyl-2-thiazolyl)-2,5-diphenyl-2H-tetrazolium
bromide (MTT) a sais de formazana, de cor violeta, após o tratamento. Este ensaio é
conhecido como teste MTT (MOSMANN, 1983).
As células A549 foram cultivadas em placas de 96 poços, a 8 x103
células/poço e cultivado com DMEM contendo 10% de soro fetal bovino até a
aderência e crescimento das células (24 h). Depois, as células foram tratadas, em
diferentes concentrações (0,1 mg/L; 0,5 mg/L e 1,0 mg/L) do MOE tanto do período
de intensa como o de moderada queima de biomassa por 24 horas.
O teste MTT foi realizado em triplicata e a absorbância foi medida a 570 nm
no leitor de microplacas ELISA. Para cada tratamento, foi utilizado um controle
positivo (mistura de HPA (padrão) = 10 ng/ml) e um controle negativo (células
tratadas com o extrato dos filtros brancos). A viabilidade celular, em cada
tratamento, foi calculada a partir da fórmula matemática abaixo (fórmula 4):
Células mortas (%) = Absorbância do Teste – Absorbância do CN* x 100 (4)
Absorbância do CN*
*CN = Controle Negativo
3.1.7.3) Teste de micronúcleo com o bloqueio da citocinese (CBMN)
Para investigar o efeito genotóxico in vitro, foram utilizadas as células A549.
Este ensaio foi realizado utilizando a técnica padrão proposto por FENECH (2002)
com algumas modificações.
As células foram plaqueadas em placas de 6 poços, a 1,5 x105 células/poço
por 24 horas. Em seguida, as células foram expostas a diferentes concentrações
(0,1 mg.L-1; 0,5 mg.L-1 e 1,0 mg.L-1) do MOE do período de queima de biomassa
intensa e moderada. Após 24 horas, o material exposto foi retirado e acrescentou-se
o meio de cultura com citocalasina B (Sigma) na concentração de 5 µg.mL-1, com o
objetivo de observar o acúmulo de células binucleadas. Depois, retirou-se o meio de
cultura e acrescentou-se 2 ml de tripsina por 5 minutos (37ºC). Em seguida,
Material e Métodos 62
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
adicionou-se o meio de cultura para inativar a ação da tripsina. Uma vez que as
células foram ressuspendidas, elas foram transferidas para os tubos de 15 mL
previamente identificados. As células A549 foram centrifugadas a 1500 rpm por 5
minutos. Por último, foram fixadas com metanol e ácido acético (3:1) e então,
homogeneizadas. Cerca de 50 a 100 µl do material foram pingados em uma lâmina
previamente lavada e para a análise, onde as células foram coradas com Giemsa
(10%).
Os MN foram contados em 3.000 células binucleadas por tratamento. Outras
alterações nucleares também foram observadas, tais como as PN e o BN utilizando
um microscópio óptico comum com a objetiva de 40x (Figura 15). Destaca-se que
foram utilizados dois controles negativos (somente meio de cultura e DMEM +
DMSO 0,1%) e um controle positivo (mistura de HPA totais).
Figura 15: Imagens que ilustram os parâmetros que foram analisados no teste CBMN após a exposição do material orgânico extraído (MOE) de Alta Floresta utilizando as células A549. (A) Célula binucleada sem micronúcleo, (B) Célula binucleada com micronúcleo, (C) ponte nucleoplasmática e (D) broto nuclear.
Material e Métodos 63
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Além da avaliação da genotoxicidade, o teste CBMN permite avaliar a
citotoxicidade através do índice de divisão nuclear (IDN). O IDN foi determinado
usando a seguinte fórmula (5):
IDN = ( M1 + 2M2 + 3M3 + 4M4 ) / N (5),
onde M1 - M4 representa o número de células com 1 - 4 núcleos e N é o
número total de células de contadas, conforme os procedimentos de FENECH
(1997).
3.1.7.4) Teste de micronúcleo em Tradescantia pallida (Trad-MCN)
Para avaliar os efeitos genotóxicos do MP10 utilizando células vegetais,
optou-se pelo Trad-MCN conforme o trabalho executado por DE OLIVEIRA ALVES
et al. (2011). O protocolo deste teste foi estabelecido por MA (1981).
Assim como no teste CBMN, o MOE foi testado em três concentrações
diferentes (0,1 mg.L-1, 0,5 mg.L-1 e 1,0 mg.L-1) para os períodos de queima de
biomassa intensa e moderada. Ressalta-se que para o Trad-MCN, o extrato foi
dissolvido em DMSO (1%). Também foram realizados testes com o controle negativo
(filtros brancos) e com o controle positivo (formaldeído 0,2%).
Na realização do bioensaio, cerca de 45 talos de Tradescantia pallida
coletados de diferentes vasos previamente estabelecidos e controlados, foram
mantidos em laboratório com solução nutritiva de Hoagland, por 24 horas. Em
seguida, foram transferidos para Beckers contendo a solução teste (controles
negativo e positivo assim como as três concentrações do material orgânico para
cada mês) por 8 horas. Após o período de exposição, os talos foram submetidos a
um processo de recuperação por 24 horas com solução de Hoagland. Depois, os
botões foram fixados em solução de ácido acético e álcool (1:3) por 48 horas e
armazenadas em álcool 100%.
Para a análise, os botões foram dissecados e as anteras maceradas sobre a
lâmina, junto com uma gota do corante Carmin (2%). Somente as lâminas contendo
a fase em tétrade foram consideradas. Foram analisadas 300 tétrades por lâmina
em aumento de 400x, contando-se o número de tétrades normais e de tétrades com
a presença de um ou mais MN. A frequência de MN foi expressa em porcentagem
(número total de MN em 100 tétrades).
Material e Métodos 64
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.1.8) Análise estatística
Os cálculos estatísticos foram realizados utilizando Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), versão 15.0 e OriginPro 8, da seguinte forma:
i) Uma análise de variância (ANOVA) dos dados de MP10 e BC foi realizada,
considerando-se a regressão linear simples;
ii) ANOVA one-way foi utilizado em ambos os testes citotóxicos e
genotóxicos;
iii) O teste Dunnett foi utilizado para determinar o nível de significância entre o
grupo controle e o tratado bem como o teste Tukey para as comparações múltiplas.
As diferenças de médias e correlações foram consideradas significativas
quando p <0,05.
3.2) Metodologia para a pesquisa realizada em Porto Velho
3.2.1) Caracterização da área de estudo
O local de amostragem (08º 41’ 24’’ ao sul; 63º 52’ 12’’a oeste) está localizado
em uma área de reserva ecológica a 5 km norte da cidade de Porto Velho, localizada
no estado de Rondônia com 485.000 habitantes. Na maior parte do ano, a direção
do vento é no sentido norte, passando primeiro pelo local de amostragem, seguindo
em direção a cidade de Porto Velho. Dessa forma, os impactos da emissão urbana
são minimizados (BRITO et al., 2014) (Figura 16).
O município de Porto Velho, capital localizada ao norte do estado de
Rondônia, latitude 08º 45’ 43’’ sul e longitude 63º 54’ 14’’ oeste, encontra-se em uma
área de bioma amazônico, à margem direita do rio Madeira, afluente do rio
Amazonas (Figura 16). Situada entre a planície amazônica e o planalto central
brasileiro, apresenta relevo pouco acidentado, sem grandes elevações ou
depressões, com variações que vão de 70 a 500 m (GONÇALVES, 2010).
A região possui ciclos bem definidos de seca e chuva e situa-se no
trajeto de dispersão dos poluentes gerados tanto em países vizinhos quanto na área
do arco do desmatamento que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Mato
Grosso, Rondônia, Amazonas, Pará e Acre. Esta é uma área da região Amazônica
Material e Métodos 65
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
impactada pelas interferências humanas associadas com o uso do solo e pela
queima de biomassa (ARTAXO et al., 2013).
O clima predominante é o tropical chuvoso (úmido e quente), com
períodos bem definidos de chuva (meses de janeiro a março) e o período
mais seco corresponde entre os meses de julho a setembro. Os outros meses são
considerados um períodos de transição (GONÇALVES, 2010).
A variação da temperatura anual em Porto Velho é de 24°C e 26º C, com
temperatura máxima entre 30°C e 34°C e mínima entre 17º C e 23°C. Além da
temperatura, o conhecimento da precipitação pluviométrica são muito importantes
para a produtividade agrícola. A precipitação média anual no município é em torno
de 1.400 a 2.500 mm e mais de 90% desta ocorre na estação chuvosa (SEDAM,
2014).
Figura 16: Mapa do Brasil indicando a região amazônica (em verde) e uma visão detalhada da cidade de Porto Velho e do local de amostragem. Figura adaptada de BRITO et al. (2014).
Material e Métodos 66
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.2.2) Coleta do MP10
Na área próxima a cidade de Porto Velho foram coletados 50 amostras de
MP10 no período de julho/2011 a janeiro/2012 utilizando filtros de fibra de quartzo (20
x 25 cm). O tempo de amostragem foi de 48 horas no período de queima de
biomassa intensa e de 72 horas no período de queima de biomassa moderada.
Para esta coleta foi usado um amostrador de alto volume (Hivol) - HVS 3000 –
numa vazão aproximada de 1,13 m3.min-1. A cabeça de separação Andersen é
dotada de um conjunto de boqueiras que aceleram o ar de coleta para dentro de
uma câmara de impactação, onde as partículas maiores que 10 µm ficam retidas em
uma placa com spray de silicone. Logo, o MP10 é conduzido para fora da câmara e é
direcionado para o filtro de coleta, onde ficam retidas as partículas (Figura 17).
Figura 17: Amostrador de alto volume – Hivol. A: Imagem do Hivol com a cabeça de separação Andersen. B: Filtro de quartzo não amostrado no Hivol. C: Hivol sendo programado para o funcionamento. D: Filtro de quartzo após a amostragem.
Os filtros de quartzo, antes da amostragem, foram descontaminados
aquecendo-os a 800ºC por 8 horas. As pesagens dos filtros foram realizadas na
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) em São Paulo. As
condições de umidade foram controladas entre 30 e 40% e os filtros ficaram 48
horas sendo condicionados na sala de pesagem. A pesagem dos filtros foi feitas
Material e Métodos 67
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
antes e depois da coleta em uma balança específica para os filtros de quartzo (20 x
25 cm) (Figura 18).
Figura 18: Imagem da balança específica para os filtros de quartzo no laboratório de Poluição Atmosférica da CETESB.
Alguns procedimentos são necessários para manusear esse tipo de filtro.
Por exemplo, cada filtro foi embalado individualmente com papel alumínio e em
seguida, foram guardados em saco plástico com fechamento zip lok e armazenado a
4ºC, evitando perdas ou outras reações que possam ocorrer até a extração do
material orgânico. A concentração do MP10 foi determinada conforme o protocole
descrito na seção 3.1.3).
3.2.3) Extração do material orgânico do MP10
Os filtros de fibra de quartzo foram submetidos à extração utilizando o aparato
de Soxhlet com diclorometano por 24 horas (Figura 19).
Material e Métodos 68
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 19: Aparato de Soxhlet utilizado para extração dos filtros coletados.
Após a extração do MOE, o solvente foi evaporado utilizando rotavapor até 1
mL e em seguida, sob fluxo ameno de nitrogênio líquido. No total, 50 filtros foram
coletados e passaram por esse mesmo procedimento. Uma vez tendo o extrato
obtido, a metade da amostra foi utilizada para as análises químicas e a outra parte
foi utilizada para os estudos biológicos.
Com o intuito de garantir a quantidade exata de massa do material extraído,
um frasco sem amostra contendo apenas 200 µL de DCM foi pesado em uma
balança microanalítica eletrônica de precisão nominal 1μg. Em seguida, no mesmo
frasco utilizado anteriormente, o extrato orgânico extraído foi diluído em 200 µL de
DCM e pesado novamente. A diferença de massa obtida é a quantidade de massa
do MOE. Este procedimento foi realizado para os extratos obtidos de cada filtro,
incluindo os amostrados e os brancos (VALLE-HERNÁNDEZ et al., 2010).
Após a obtenção dos extratos orgânicos do MP10 atmosférico foram realizadas
as análises químicas (Figura 20), além das análises celulares e moleculares (Figura
21).
Material e Métodos 69
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 20: Esquema das análises químicas utilizando o material orgânico extraído (MOE) coletado em Porto Velho, região da Amazônia Brasileira.
Figura 21: Análises celulares e moleculares utilizando o material orgânico extraído (MOE) coletado em Porto Velho, região da Amazônia Brasileira.
Material e Métodos 70
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.2.4) Análise dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
3.2.4.1) Fracionamento das amostras
O MOE foi fracionado conforme o procedimento descrito por WEI et al. (2012),
utilizando diferentes solventes orgânicos para separação das classes dos
compostos.
Na fração 1 utilizou-se 40mL de n-hexano para obtenção dos alcanos. Na
fração 2, para a coleta dos HPA totais, nitro-HPA e oxi-HPA foram utilizados 100 mL
de DCM e n-hexano (1:1).
Neste trabalho serão apresentados apenas os resultados dos HPA e oxi-HPA
nas amostras coletadas, pois a análise dos nitro-HPA está em andamento.
3.2.4.2) Padronização do método analítico
Para a identificação e quantificação destes compostos foi utilizada a
cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM) (Agilent
7820A). A coluna utilizada foi de metil-fenil(5%) VF - 5 ms (30 m x 0,250 mm, 0,25
µm de espessura) (Agilent Tecnologies). A análise foi feita pelo modo Scan. Para os
HPA, o programa de temperatura do forno utilizado foi de 80 à 280ºC conforme o
protocolo estabelecido por VASCONCELLOS (1996). A rampa de temperatura
utilizada para os oxi-HPA foi de 60ºC para 200ºC à 20ºC. min-1 e 200ºC para 300ºC
à 5ºC. min-1, conforme o protocolo de KARAVALAKIS et al. (2010) e WEI et al.
(2012).
A determinação da curva analítica dos compostos analisados consistiu no
preparo de soluções padrões: HPA totais (fenantreno (Fe), antraceno (Ant),
fluoranteno (Fluo), pireno (Pi), reteno (Ret), benzo(a)antraceno (BaA), criseno (Cri),
benzo(b)fluoranteno (BbF), benzo(k)fluoranteno (BkF), benzo(e)pireno (BeP),
benzo(a)pireno (BaP), indeno(1,2,3-cd)pireno (InP), dibenzo(a,h)antraceno (DBA) e
benzo(g,h,i)perileno) (BPer) (Sigma). Os oxi-HPA foram: 9-fluorenona, 2-
metilantraquinona, benzo(a)antraceno-7,12-diona e 9,10-antraquinona adquiridos da
Sigma Aldrich. As soluções foram injetadas no CG/MS (Agilent 7820A).
Material e Métodos 71
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.2.4.3) Teste de recuperação
O teste de recuperação foi realizado para validar o método analítico
empregado. A recuperação de um analito indica a quantidade de determinada
espécie química recuperada no processo em relação à quantidade real presente na
amostra. Para tanto, foram utilizados filtros de fibra de quartzo não amostrados
(branco), nos quais foi determinado o volume de um padrão de concentração
conhecida. Em seguida, os filtros foram submetidos à extração por Soxhlet e ao
fracionamento. As frações obtidas foram injetadas no CG/EM (Agilent 7820A) e
posteriormente analisadas.
3.2.4.4) Concentrações do BaP equivalente
Neste estudo foram analisados o BaP equivalente carcinogênico (BaP-TEQ) e
para o BaP equivalente mutagênico (BaP-MEQ). Os cálculos foram feitos
multiplicando a concentração de cada HPA com o TEF para o potencial risco
carcinogênico obtido por NISBET & LAGOY (1992) e com o MEF para o potencial
risco mutagênico obtido por DURANT et al. (1996,1999).
O BaP-TEQ (fórmula 3) e o BaP-MEQ (fórmula 4) para a soma dos HPA
foram calculados:
(BaP-TEQ)∑8HPA: [BaA] x 0,1 + [Cri] x 0,01 + [BbF] x 0,1 + [BkF] x 0,1 + [BaP] x
1 + [InP] x 0,1 + [DBA] x 5 + [BPer] x 0,01 (3)
(BaP-MEQ)∑8HPA: [BaA] x 0.082 + [Cri] x 0,017 + [BbF] x 0,25 + [BkF] x 0.11 +
[BaP] x 1 + [InP] x 0,31 + [DBA] x 0,29 + [BPer] x 0,19 (4)
3.2.5) Análise dos monossacarídeos
As análises dos monossacarídeos marcadores de queima de biomassa
(levoglucosano, manosano e galactosano) foram feitas no Finnish Meteorological
Institute, Air Quality Research na Finlândia, com a colaboração do pesquisador Dr.
Risto Hillamo.
Material e Métodos 72
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Uma parte do filtro de quartzo com o MP10 foi extraído com água deionizada e
os compostos foram identificados pela cromatografia de troca iônica de alta
eficiência combinada com a espectrometria de massa com ionização por
electrospray (HPLC-IE-MS). Todos os procedimentos usados para esta análise estão
descritos em SAARNIO et al. (2010).
3.2.6) Cultura celular e teste de viabilidade
A linhagem A549, derivada de células do pulmão humano, foi utilizada como
bioindicador nas análises celulares e moleculares. A manutenção da cultura celular
seguiu o protocolo já citado na seção 3.1.7.1).
Para analisar a viabilidade das células expostas ao MP10 foi utilizado o teste
2,3-Bis-(2-methoxy-4-nitro-5-sulfophenyl)-2H-tetrazolium-5-carboxanilide (XTT) (Cell
Proliferation Kit, Roche, Suíça) com as seguintes concentrações do MOE: 50
µg.mL1, 100 µg.mL-1, 200 µg.mL-1 e 400 µg.mL-1, em diferentes tempos de
exposição: 24, 48, 72 e 96 horas. Ressalta-se que a maior concentração do material
orgânico (400 µg.mL-1) equivale a 30 µg.m-3 da concentração do MP10.
Após o término do período de exposição, o meio de cultura foi removido e as
células foram cuidadosamente lavadas com solução salina (PBS). Em seguida, uma
solução do sal XTT em PBS foi adicionada às células, que foram novamente
incubadas na estufa por 90 a 120 minutos 37ºC, 5% de CO2. Após esse período, o
sobrenadante foi transferido para placas de 96 poços.
A leitura da absorbância foi feita no espectrofotômetro (GloMax Multi
Detection System, Promega, EUA). Os valores de absorbância (OD=OD 560nm –
OD 750nm) foram aferidos fazendo a leitura no comprimento de onda de 492 nm,
com a leitura de referência no comprimento de onde de 650 nm. Os resultados foram
expressos em porcentagem relativa ao controle conforme descrito por (QUINET et
al., 2014) QUINET et al. (2014).
Material e Métodos 73
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.2.7) Ensaio de cometa alcalino
O ensaio de cometa alcalino é um ensaio de boa sensibilidade para detecção
de danos no DNA. Para a realização deste teste foi utilizado o protocolo adaptado de
SINGH et al. (1988). No ensaio foram utilizadas 105 células em placas de 35 mm
de diâmetro.
As células foram expostas ao MOE nas seguintes concentrações: 50 µg.mL-1,
100 µg.mL-1, 200 µg.mL-1 e 400 µg.mL-1. Como controle positivo foi utilizado uma
mistura de HPA totais (Fe, Ant, Fluo, Pi, BaA, Cri, BbF, BkF, BeP, BaP, InP, BPer e
DBA) na concentração de 30 ng.mL-1. Além disso, foi investigado o efeito do
composto reteno (30 ng/mL), que é um HPA marcador de queima de biomassa. Para
todo o experimento, o tratamento de exposição foi de 24 horas.
Para a coleta, as células foram centrifugadas, ressuspendidas em 20 µl de
PBS e 180 µl de agarose Low-Melting Point 0.5%. Essas células foram
delicadamente plaqueadas em duas lâminas de microscopia previamente recobertas
com uma camada de agarose 1.5%, cobertas com lamínulas e mantidas a 4°C
por no mínimo 10 minutos, para a polimerização da agarose. Após esse
período as lamínulas foram retiradas e as lâminas incubadas por aproximadamente
16 horas a 4°C em solução de lise (2.5 M NaCl, 100 mM EDTA, 10 mM Tris pH 9.5 –
ajustado com NaOH; na hora da utilização foram acrescentados 1% Triton X-100 e
10% DMSO).
Após a lise, as lâminas foram mantidas por 25 minutos na cuba de
eletroforese (BioRad) para a desnaturação do DNA em tampão de eletroforese
(2mM EDTA, 300 mM NaOH pH > 13) antes da corrida. A eletroforese foi realizada
por 25 minutos a 25 V e 300 mA. Após a eletroforese, as lâminas foram
neutralizadas 3 vezes por 5 minutos com o tampão de neutralização (0.4 M Tris pH
7.5) e fixadas por no mínimo 30 minutos com etanol 100% gelado (estoque à
20°C).
A coloração foi feita com 40 µL da solução de brometo de etídio (20 µg/mL)
imediatamente antes da leitura no microscópio óptico de fluorescência com filtro de
510-560 nm e barreira de 590 nm. Foram visualizados 100 cometas em cada lâmina,
preparada em duplicata, usando o software Komet 6.0. Os resultados foram plotados
pelo momento da cauda (do inglês “Olive tail moment”).
Material e Métodos 74
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
3.2.8) Detecção da fragmentação do DNA e ciclo celular por citometria
de fluxo
Após a exposição das células A549 ao extrato orgânico em diferentes tempos
de tratamento, as células foram coletadas juntamente com o sobrenadante e
centrifugadas a 2000 rpm por 5 minutos. O precipitado foi colocado em tubos de 15
mL e fixado com etanol 70% gelado e armazenado à - 20ºC. Antes da análise, os
tubos foram centrifugados a 2000 rpm por 5 minutos e os sobrenadantes foram
descartados. Depois, as células foram lavadas com 1 mL de PBS e centrifugadas
novamente sob as mesmas condições (BATISTA, 2008).
Em seguida, as células foram marcadas com 200 µL da solução de Propidium
iodide (PI), com a concentração de 50 µg/mL (PI + Triton + RNase A (0,03 mg/mL) +
PBS) e foram mantidas no escuro por pelo menos 30 minutos em temperatura
ambiente. Depois, a solução PI foi desprezada e o precipitado celular foi
ressuspendido em PBS para a leitura da fluorescência no citômetro
Guava EasyCyte Plus System (Guava Technologis, Hayward, CA, EUA) (BATISTA,
2008).
Para a análise da fragmentação do DNA utilizou-se um software (Guava
Express Pro) para a quantificação da população em sub-G1 (considerada como toda
a fluorescência inferior ao pico que corresponde à fase G1 do ciclo celular). Para a
análise do ciclo celular foi utilizado o software ModFit LT (Verity Software House,
Topsham, ME, EUA).
3.2.9) Detecção da -H2AX e caspase-3 por citometria de fluxo
Para a dupla marcação de PI com -H2AX (marcador de danos no
DNA) ou caspase 3 ativada (marcador de morte celular por apoptose), as
células A549 foram coletadas e fixadas com paraformaldeído 1% em PBS por 15
minutos no gelo, antes da fixação com etanol 70%. Após a fixação, as células foram
centrifugadas e lavadas com PBS-T BSA (0,2% Triton X-100, 1% BSA),
centrifugadas novamente e bloqueadas/permeabilizadas por 5 minutos em PBS-T
BSA.
Material e Métodos 75
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Após o bloqueio as células foram centrifugadas e os precipitados
ressuspendidos em 50 µL de anticorpo primário anti--H2AX (ser-139 mouse mAb,
clone JBW301, Upstate/Millipore) ou anti-caspase 3 ativada conjugado com FITC
(rabbit 559341 BD Pharmingen, EUA) 1:500 em PBS-T BSA, incubados por 1 hora
a temperatura ambiente, sob agitação.
Na marcação para -H2AX, após a incubação as células foram lavadas duas
vezes e incubadas com 50 µL de anticorpo secundário anti-mouse FITC (Sigma),
1:200 em PBS-T BSA por 1 hora a temperatura ambiente, sob agitação
(QUINET et al., 2014). Após a incubação com o anticorpo secundário as células
foram novamente lavadas duas vezes com PBS-T BSA e a marcação com PI
realizada com descrito na seção 3.2.8).
3.2.10) Extração de proteínas e Western Blot
A extração das amostras protéicas foi realizada com tampão RIPA (10 mM
Tris-Cl pH 7.4, 5 mM EDTA, 150 mM NaCl, 1% Triton X-100, 1% desoxicolato de
sódio, 0.1% SDS) por amostra, adicionado de coquetel de inibidor de proteases
(Merck Millipore, Alemanha) e PMSF (concentração final: 1 mM) ou benzonase
(Millipore). As amostras foram homogeneizadas com o tampão e incubadas por
20 minutos no gelo. Após a incubação, as amostras foram centrifugadas (16000
g por 20 minutos a 4°C) e os sobrenadantes transferidos para novos tubos,
armazenados a -20°C.
A quantificação das amostras foi feita pelo método colorimétrico de BCA
(Pierce TM BCA Protein Assay Kit, Thermo Scientific, EUA), com leitura a 562
nm após 30 minutos de incubação a 37°C.
Os experimentos de Western Blot foram realizados em géis de SDS-PAGE,
em condições desnaturantes. A concentração dos gel foi de 10% (2.5 ml Tris 1.5
M pH = 8.8, 4 ml Acrilamida/Bisacrilamida 30%, 50 μl SDS 20%, 200 μl APS 10%,
3 μl Temed e 3.3 ml água deionizada). Foram aplicados de 30-50 μg de proteína de
cada amostra, desnaturadas a 95°C por 3 minutos, juntamente com o Tampão de
Amostra 4X (0.065 M Tris pH = 6.8, 10% glicerol, 2% SDS, 2% β-mercaptoetanol,
0.002% azul de bromofenol).
Material e Métodos 76
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
A eletroforese foi realizada sob uma voltagem de 100 V, com Tampão
de Corrida 1X (Tampão de Corrida 10X: 192 mM Glicina, 250 mM Tris, 1% SDS). A
transferência foi realizada em membrana de nitrocelulose (Trans-Blot Transfer
Medium, BioRad, EUA), previamente equilibrada por 3 minutos em Tampão de
Transferência (800-900 mL Tampão de Corrida 1X, 10% - 20% metanol, água
deionizada QSP 1 L) antes da transferência, realizada por 90 minutos a 65 V.
Após a transferência as membranas foram coradas com Ponceau S
(0,1 g Ponceau em 100 mL de ácido acético 10%) e lavadas com água destilada. O
bloqueio foi realizado com TBS 0.1% Tween 20 (TBS 1X: 50 mM Tris-HCl pH
= 7.4, 150 mM NaCl) (TBS-T) acrescido de 5% leite (Molico) por uma hora, sob
agitação, à temperatura ambiente.
As incubações com os anticorpos primários (diluídos na solução de
bloqueio) foram realizadas por aproximadamente 24 horas a 4°C. Foram feitas
3 lavagens de 10 minutos cada com TBS-T, sob agitação. Os anticorpos
secundários foram incubados por uma hora à temperatura ambiente, sob
agitação. As membranas foram novamente lavadas com TBS-T (3 lavagens de
10 minutos cada) e reveladas por 1 minuto com substrato quimioluminescente
para peroxidase (Immobilon Western Chemiluminescent HRP Substrate, Millipore). A
visualização foi realizada no aparelho ImageQuant 300 (GE Healthcare, EUA).
Os anticorpos utilizados foram: anti-p53 (mouse mAb to p53, AHO0152,
Life Technologies, diluição 1:500); anti-GAPDH (Mouse pAb to GAPDH, 6C5
SC-32233, Santa Cruz Biotechnology, diluição 1:1000); secundários anti-mouse
IgG (Sigma, diluição 1:1000).
3.2.11) Ensaio de fluorescência para a detecção de apoptose e
necrose
Esse ensaio baseia-se na capacidade diferencial de entrada dos
diferentes corantes (DAF, que cora o citoplasma; Hoechst, um corante supravital
intercalante da dupla-fita; e o PI, que cora somente as células com a membrana já
permeabilizada) fluorescentes de acordo com a permeabilidade das membranas
celulares, o que permite a análise do tipo de morte celular (apoptose ou
Material e Métodos 77
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
necrose) de acordo com a fluorescência dos corantes e da morfologia das
células.
Após o tratamento celular de 72 e 96 horas com as concentrações de MP10
previamente escolhidas, as células A549 foram lavadas com PBS, centrifugadas e
ressuspendidas com 20 µL da solução com os corantes. Em seguida, 10 µL foram
pingados na lâmina, cobertos com a lamínula e imediatamente foram feitas as
análises por microscopia de fluorescência. Para cada tratamento foram analisadas
500 células e houve uma repetição de 3 experimentos independentes. No total,
1.500 células foram analisadas para cada concentração ou composto conforme o
protocolo descrito por BATISTA (2008).
Vale ressaltar que foi utilizado o controle negativo (somente com o meio de
cultura DMEM e DMSO 0,1%) e o controle positivo (mistura de HPA totais: Fe, Ant,
Fluo, Pi, BaA, Cri, BbF, BkF, BeP, BaP, InP, BPer e DBA – 30 ng/mL). O composto
reteno (30 ng/mL) também foi avaliado neste teste.
3.2.12) Análise estatística
Os resultados obtidos foram submetidos à análise estatística realizada com o
auxílio dos programas computacionais: GraphPad Prism versão 5.0, Statistical
Package for Social Sciences (SPSS) versão 15.0 e OriginPro 8. Uma análise de
variância (ANOVA) foi utilizada para os dados obtidos nos testes de viabilidade
celular, genotóxico e morfológico assim como nos resultados obtidos por citometria
de fluxo e por Western Blot. O teste Dunnett foi utilizado para determinar o nível de
significância entre o grupo controle e o tratado bem como o teste Tukey para as
comparações múltiplas. Também foi utilizada a regressão linear para ver a
correlação entre os compostos marcadores de queima de biomassa. A análise foi
significativa com p < 0,05.
Resultados 78
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
4) Resultados
4.1) Resultados da pesquisa realizada em Alta Floresta
Os resultados da pesquisa realizada em Alta Floresta foram publicados na
revista Environmental Research (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2014).
4.1.1) Dados do Material Particulado (MP) e Black Carbon (BC)
Para estudar os efeitos mutagênicos dos aerossóis foram coletadas 51
amostras do MP em Alta Floresta, região da Amazônia Brasileira. Na Figura 22 estão
representadas as concentrações das partículas finas (menores que 2,5 µm) e
grossas (entre 2,5 µm e 10 µm) coletadas pelo sistema AFG utilizando os filtros de
policarbonato. Além disso, foram medidas as concentrações do MP10 e BC coletados
nos filtros Teflon. Ressalta-se que a soma das partículas finas e grossas
correspondem à concentração do MP10.
Figura 22: Distribuição das concentrações do material particulado e Black Carbon em Alta Floresta no período de agosto a dezembro de 2008.
Ao comparar os resultados obtidos pelas duas metodologias utilizadas neste
trabalho observa-se que os dados foram similares. Por exemplo, no período de
queima de biomassa intensa a concentração média do MP10 coletado nos filtros dos
Resultados 79
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
tipos teflon e policarbonato foram 34 µg.m-3 e 33 µg.m-3, respectivamente. Para o
período de queima de biomassa moderada a concentração média foi de 16 µg.m-3
para as amostras dos filtros do tipo teflon e de 18 µg.m-3 para as amostras dos filtros
de policarbonato. Nota-se que há um predomínio das partículas finas em relação a
partículas grossas em todos os meses amostrados.
As maiores concentrações de MP10 e BC foram encontradas no período de
queima de biomassa intensa (agosto e setembro/2008). A análise da regressão
linear mostra que o MP10 e BC tiveram uma significante correlação (p <0.001 e
R2=0.88).
4.1.2) Análise química
As concentrações dos alcanos e dos HPA identificados nas amostras
coletadas em Alta Floresta estão mostrados na Tabela 1.
Os compostos alifáticos (n-alcanos) identificados e quantificados
compreendem o intervalo de C18 a C34. A soma da concentração total dos n-alcanos
durante os períodos de queima de biomassa intensa e moderada foram de 21,8
ng.m-3 e 103,2 ng.m-3, respectivamente. A concentração mais elevada em ambos os
períodos analisados foram observadas em C29. Os valores do IPC foram de 0,9 e 1,4
nos períodos de queima de biomassa intensa e moderada, respectivamente.
Os alcanos isoprenóides pristano e fitano também foram analisados. A razão
entre estes compostos foram de 1,30 e 1,09 para a intensa e moderada queima,
respectivamente.
Neste estudo, 15 HPA foram identificados e quantificados no extrato orgânico.
O reteno foi o HPA mais abundante para ambos os períodos analisados em Alta
Floresta, representando aproximadamente 43% da concentração total dos HPA. De
acordo com a classificação da IARC, vários compostos mutagênicos foram
identificados, tais como: Fe, Fluo, Pir, B(e)P e BghiP. Além disso, os compostos
BbF, BkF, BaP e InP, que são considerados mutagênicos e carcinogênico, também
foram identificados nos extratos. É importante destacar que o BaP foi identificado
apenas no período de queima de biomassa intensa.
Resultados 80
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Tabela 1: Alcanos e Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) identificados em Alta Floresta.
Queima de biomassa intensa
Queima de biomassa moderada
n-alcanos (ng.m-3) C18 1,7 1,0 C19 0,9 0,7 C20 1,9 0,9 C21 0,9 0,9 C22 1,0 1,3 C23 0,9 2,6 C24 1,0 3,7 C25 1,4 6,0 C26 1,2 9,0 C27 2,1 11,9 C28 1,4 15,1 C29 2,7 24,2 C30 1,1 14,6 C31 1,3 3,2 C32 0,7 2,4 C33 0,6 4,4 C34 1,0 1,3 Total 21,8 103,2 Pristano (ng.m-3) 1,4 1,2 Fitano (ng.m-3) 1,1 1,1 IPC Cmax
0,9 C29
1,4 C29
HPA (ng.m-3) Naftaleno 0,10 0,10 Acenafteno 0,15 <LD Acenaftileno 0,52 0,40 Fluoreno 0,36 0,18 Antraceno 0,10 <LD Fenantreno 0,10 0,05 Fluoranteno 0,09 0,05 Pireno 0,06 0,04 Reteno 1,50 1,25 Benzo(a)pireno 0,06 <LD Benzo(e)pireno 0,10 0,15 Benzo(g,h,i)perileno 0,09 0,10 Benzo(b)fluoranteno 0,12 0,10 Benzo(K)fluoranteno 0,05 0,22 Indeno(1,2,3,-dc)pireno 0,10 0,11 Total 3,50 2,75 < LD: abaixo do limite de detecção
Resultados 81
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
A análise de WNA mostra que houve um predomínio das emissões biogênicas
no período de queima moderada na Amazônia (Figura 23).
Figura 23: Distribuição do índice de Wax Normal Alkanes (WNA) obtido através das concentrações dos n-alcanos identificados em Alta Floresta.
Para identificar a origem da emissão dos HPA, foram calculadas as razões
das concentrações entre alguns compostos. As razões selecionadas para a
comparação com outros estudos foram: Fluo/(Fluo + Pir), BFs/BPer, InP/(InP +
BPer), (BPerP/BeP) and BaP/BeP (Tabela 2). O valor das razões obtidas neste
trabalho é similar com outros estudos que têm como principal fonte a queima de
biomassa.
Resultados 82
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Tabela 2: Valores das razões diagnósticas entre Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) obtidos na literatura e nas amostras coletadas em Alta Floresta.
Razões de
HPA
Queima de biomassa intensa (neste
estudo)
Queima de biomassa moderada
(neste estudo)
Aerossóis de queimadas
Aerossóis
de coníferas
Aerossóis de Túneis
Aerossol urbano
Fluo/(Fluo+Pir) 0,85 0,81 0,25-0,70a
0,51-0,68 b
0,53-0,86c
0,48-0,93d
0,65e
0,56f
0,18-0,88g 0,54
h 0,40-0,85
i
0,65-0,87j
0,13-0,95k
0,40-0,79l
0,64-0,97m
BFs/BPer 1,89 3,28 3,2-12a
2,7-33b
3,5c
5,2-9,5d
3,6 e,f
- 0,79 h -
InP/(BPer+InP)
0,53
0,52
0,15-0,49
a
0,24-0,57b
-
0,31
h
-
BPer/BeP
0,96
0,67
0,87
c,d
-
-
-
BaP/BeP
0,57 <LD - - - 0,40-1,00i
0,40-0,80j
0,40-1,00k
0,40-0,70l
0,50-0,10m
aVicente et al. (2012) – PM2,5
bVicente et al. (2012) – PM10 - PM2,5
cVicente et al. (2011) – PM2,5
dVicente et al. (2012) – PM10 -PM2,5
eAlves et al. (2011) ) – PM2,5
fAlves et al. (2011) – PM10 - PM2,5 gOros and Simoneit (2001)
hOliveira et al. (2011)
iVasconcellos et al. (2011) – Autumn/2003
jVasconcellos et al. (2011) – Winter/2003 kVasconcellos et al. (2011) – Spring/2003
lVasconcellos et al. (2011)-Summer/2003 mVasconcellos et al. (2011) – Autumn/2004
< LD: abaixo do limite de detecção
Resultados 83
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
4.1.3) Testes biológicos
4.1.3.1) Teste de viabilidade celular
Para estudar o comportamento das células do pulmão humano (A549) em
resposta ao tratamento com o MOE foi realizado o teste MTT para avaliar a
viabilidade das células.
A Tabela 3 mostra que na presença do extrato orgânico, em ambos os
períodos de análise, a viabilidade das células foi reduzida na medida em que houve
o aumento da concentração testada. Entretanto, somente na concentração mais alta
(1,0 mg/L) teve uma diferença significativa em relação ao controle negativo
(**p<0.01).
Ressalta-se que o controle positivo utilizado neste teste foi selecionado com o
objetivo de obter uma concentração para a análise nos testes de genotoxicidade.
Logo, a concentração de 10 ng.mL-1 da mistura de HPA foi ideal para visualizar os
danos genéticos, porém não afetou a viabilidade das células.
Tabela 3: Viabilidade das células A549 após o tratamento com o material orgânico extraído do MP10 atmosférico.
Concentrações (mg.L-1)
Queima de biomassa intensa
Queima de biomassa moderada
MP orgânico usando células A549 (% viabilidade ± Desvio Padrão)
CDa 107,41 ± 0,57 105,87 ± 0,41 0.1 102,07 ± 0,68 102,03 ± 0,51 0.5 87,59 ± 0,59 91,60 ± 0,53 1.0 75,90 ± 0,52** 94,03 ± 0,50 CPb 93,95 ± 0,68 93,17 ± 0,43
a Controle com DMSO 0,1%
b Controle Positivo: 10 ng/mL da mistura de HPA
**p <0.01 Estatisticamente significante quando comparado com o controle negativo (DMEM) de acordo com o teste Dunnett.
4.1.3.2) Testes de micronúcleo
A análise comparativa do potencial genotóxico do MP orgânico coletado em
Alta Floresta foi avaliada em dois sistemas: in vitro, com o teste CBMN e ex situ,
com o teste Trad-MCN.
Resultados 84
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Os resultados do teste CBMN são mostrados na Figura 24. O valor do IDN
como um índice de inibição da proliferação celular foi semelhante ao do grupo
controle e variou entre 1,5 e 1,7.
No teste CBMN, para o período de intensa queima de biomassa, observou-se
um aumento significativo na frequência de MN, de um modo dependente da
concentração, quando comparados com o controle negativo (p <0,001). No outro
período analisado, caracterizado pela moderada queima de biomassa, apenas nas
concentrações 0,5 mg/L e 1,0 mg/L do extrato orgânico, foi observado que a
formação de MN aumentou significativamente quando comparada com o controle
negativo. Estes efeitos também foram comparáveis aos danos induzidos pelo
controle positivo (mistura de HPA) (Figura 24).
O tratamento com o extrato orgânico obtido do MP10 de Alta Floresta não
induziu aumento significativo na formação de PN e BN quando foram comparados
com o controle negativo.
Figura 24: Análise da presença de micronúcleo em células binucleadas após a exposição ao material orgânico extraído do MP10 atmosférico. CN - Controle negativo somente com DMEM; CD - Controle negativo com DMSO 0,1%; CP - controle positivo: mistura de HPA (10 ng/mL).* p<0,05 e *** p <0,001 estatisticamente significativos em relação ao controle negativo de acordo com o teste de Dunnett.
O teste Trad-MCN (ex situ) mostra que, no período de queima de biomassa
intensa, houve um aumento significativo na frequência de MN com as concentrações
Resultados 85
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
testadas. No entanto, durante o período de queima de biomassa moderada, apenas
a concentração mais alta (1,0 mg.L-1) foi significante em relação ao controle negativo
(p <0,001) (Figura 25).
Figura 25:Diagrama Box plot para a distribuição dos valores da média de micronúcleo obtida pelo teste Trad-MCN. O limite superior da caixa indica o percentil de 75% dos dados e o limite inferior da caixa indica o percentil de 25%. Os extremos do gráfico indicam os valores mínimo e máximo. A linha da caixa indica o valor da mediana dos dados e os círculos correspondem aos valores da média. Controle Negativo (NC) - DMSO 1% e controle positivo (CP) - 0,2% de formaldeído.**p <0,01 estatisticamente significantes em relação ao CN de acordo com o teste de Dunnett.
Ao comparar os resultados obtidos pelos dois testes de MN (CBMN e Trad-
MCN) nota-se que ambos os ensaios mostraram que a frequência média de MN no
período de intensa queima de biomassa é maior em relação ao período de
moderada queima de biomassa (p<0.001) (Figura 26).
Resultados 86
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 26: Análise comparativa dos testes de micronúcleo em células pulmonares (teste CBMN) e em células vegetais (Trad-MCN).*** p <0,001 estatisticamente significativos entre os períodos de amostragem de acordo com o teste de Tukey.
4.2) Resultados da pesquisa realizada em Porto Velho
4.2.1) Dados do MP10
Através do monitoramento de queimadas e incêndios realizado pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2014) obteve-se uma série histórica dos
focos de queimadas detectados por satélite no período de janeiro/1998 a julho/2014.
Com esse dados, observa-se um aumento significativo nos focos de queimadas para
os meses de julho a setembro no estado de Rondônia (Figura 27).
Figura 27: Valores máximos, médios e mínimos dos focos de queimadas obtidos durante o período de janeiro/1998 a julho/2014. Figura adaptada de INPE, 2014.
Resultados 87
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
As concentrações do MP10 obtidas nas 50 amostras coletadas em Porto Velho
no período de Julho/2011 a Março/2012 utilizando um amostrador de alto volume
(Hivol). A concentração média do MP10 nos meses de julho a setembro foi de 28,82
µg.m-3. Em concordância com os focos de queimadas obtidos pelo INPE, esse é o
período onde ocorre uma maior prática de queimadas. Nos meses de outubro/2011
a março/2012, a concentração média do MP10 foi de 13,80 µg.m-3, sendo este um
período chuvoso na região amazônica (Figura 28). Ressalta-se que neste período
específico, devido às políticas públicas implantadas pelo governo federal e estadual,
ocorreu uma redução acentuada das queimadas.
Na Figura 28 também está destacada a série temporal dos focos de queimadas
identificados por satélite pelo INPE e as concentrações do MP10 para o mesmo
período de amostragem medidos em Porto Velho. Observa-se que existe uma
tendência no aumento das concentrações do MP10 na medida em que ocorre um
aumento dos focos de queima.
Figura 28: Concentrações de MP10 e focos de queimadas obtidos por satélite no período de amostragem em Porto Velho.
Resultados 88
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
4.2.2) Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e os seus
derivados
Nas 50 amostras coletadas foram analisados os HPA totais e os oxi-HPA. A
precisão do método selecionado foi avaliado através do teste de recuperação. A
faixa de recuperação para os HPA foi de 72 a 99%. Para os oxi-HPA a faixa de
recuperação foi de 70 a 93%. A recuperação para os compostos com maior
volatilidade (acenaftileno e fluoreno) foram abaixo de 60% e, portanto, não foram
analisados neste trabalho.
Os HPA foram identificados e quantificados e observou-se uma diferença
significativa em relação às concentrações de HPA destes compostos no período de
queima intensa e moderada em Porto Velho (Figura 29).
Dos 14 HPA quantificados, o Ret foi o composto mais abundante durante
toda a análiseDe acordo com a IARC, dentre os HPA considerados somente
mutagênicos foram identificados: Fe, Fluo, Pir, BeP e BPer. Além destes compostos,
o BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, InP , DBA e BPer são considerados mutagênicos e
carcinogênicos, sendo também encontrados nas amostras em Porto Velho.
Figura 29: Concentração média e desvio padrão dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos analisados nas amostras de Porto Velho.
Resultados 89
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Para avaliar o potencial risco carcinogênico e mutagênico para a exposição
aos HPA foram calculados o BaP-equivalente (BaP-TEF e BaP-MEF). As
concentrações calculadas para oito HPA considerados mutagênicos e
carcinogênicos e para os compostos individuais são mostrados na Tabela 4.
Ao analisar o BaP-TEF e BaP-MEF para a soma dos oito HPA (BaP, BaA, Cri,
BbF, BkF, InP , DBA e BPer) observa-se que no período de queima de biomassa
intensa o potencial risco carcinogênico e mutagênico é aproximadamente o dobro
quando comparado com o período de queima de biomassa moderada. Além disso,
os HPA que mais contribuíram para os BaP-equivalentes foram o BaP e DBA.
Resultados 90
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Tabela 4: BaP-equivalente carcinogênico (BaP-TEQ) e mutagênico (BaP-MEQ) para a exposição aos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) oriundos das queimadas na região Amazônica.
BaP-TEQ (ng.m-3) para a exposição dos HPA oriundos da região Amazônica
Queima de biomassa intensa
Queima de biomassa moderada
TEFa Média ± DPb TEFa Média ± DPb ∑8HPA NA 1,970 ± 0,47 NA 0,840 ± 0,03 Benzo(a)pireno 1,00 0,260 ± 0,18 1,00 0,100 ± 0,10 Benzo(a)antraceno 0,10 0,026 ± 0,21 0,10 0,015 ± 0,18 Criseno 0,01 0,002 ± 0,19 0,01 0,001 ± 0,19 Benzo(b)fluoranteno 0,10 0,014 ± 0,12 0,10 0,007 ± 0,07 Benzo(k)fluoranteno 0,10 0,015 ± 0,15 0,10 0,006 ± 0,06 Indeno(1,2,3-cd)pireno
0,10 0,024 ± 0,30 0,10 0,014 ± 0,18
Dibenzo(a)antraceno 5,00 1,650 ± 0,34 5,00 0,700 ± 0,18 Benzo(g,h,i)perileno 0,01 0,001 ± 0,15 0,01 0,000 ± 0,09 Total de amostras 19 31
BaP-MEQ (ng.m-3) para a exposição dos HPA oriundos da região Amazônica
Queima de biomassa intensa
Queima de biomassa moderada
MEFc Média ± DPb MEFc Média ± DPb ∑8HPA NA 0,530 ±
0,62** NA 0,230 ± 0,12
Benzo(a)pireno 1,000 0,260 ± 0,18 1,000 0,100 ± 0,10 Benzo(a)antraceno 0,082 0,021 ± 0,20 0,082 0,012 ± 0,20 Criseno 0,017 0,004 ± 0,18 0,017 0,002 ± 0,17 Benzo(b)fluoranteno 0,250 0,035 ± 0,13 0,250 0,017 ± 0,07 Benzo(k)fluoranteno 0,110 0,016 ± 0,14 0,110 0,006 ± 0,07 Indeno(1,2,3-cd)pireno
0,310 0,074 ± 0,33 0,310 0,043 ± 0,18
Dibenzo(a)antraceno 0,290 0,095 ± 0,39 0,290 0,040 ± 0,16 Benzo(g,h,i)perileno 0,190 0,030 ± 0,19 0,190 0,015 ± 0,08 Total de amostras 19 31
aTEF:Toxic Equivalente Factors para o potencial risco de câncer relativo ao BaP (NISBET & LAGOY,1992)
bDP:Desvio Padrão
cMEF:Mutagenic Potency Factor para o potencial risco mutagêncio relativo ao BaP (DURANT et al.,
1996,1999).
Para as análises dos oxi-HPA, foram selecionados quatro compostos: 9-
fluorenona, 2-metilantraquinona, benzo(a)antraceno-7,12-diona e 9,10-antraquinona.
Toda a metodologia foi padronizada assim como a identificação e quantificação dos
compostos. O composto 2-metilantraquinona (192,2 pg.m-3) e o 7,12-
benzo(a)antracenoquinona (145,9 pg.m-3) foram os mais abundantes dos oxi-HPA
identificados (Figura 30).
Resultados 91
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 30: Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos oxigenados identificados em Porto Velho, região da Amazônia Brasileira.
4.2.3) Monossacarídeos marcadores da queima de biomassa
As concentrações dos compostos: levoglucosano, manosano e galactosano
identificados e quantificados nas amostras de MP10 coletadas em Porto Velho estão
mostrados na Figura 31. Como esperado, a correlação entre estes marcadores foi
muito boa: (levoglucosano e manosano – R2= 0.97; p<0.0001), (levoglucosano e
galactosano – R2= 0.98; p<0.0001) e (manosano e galactosano – R2= 0.93;
p<0.0001). Para algumas amostras, os derivados manosano e galactosano ficaram
abaixo do limite de detecção.
Ao analisar todo o período de amostragem é evidente o aumento do
levoglucosano e dos seus monômeros nos meses de julho a setembro, sendo este o
período onde ocorre a queima de biomassa intensa na região (Figuras 31 e 32).
Ressalta-se que no pico de queimada, a concentração do levoglucosano
corresponde a quase 8% do total do MP10. Este valor representa uma significante
contribuição da queima de biomassa nas partículas inaláveis (Figura 32).
Resultados 92
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 31: Identificação e quantificação dos monossacarídeos marcadores da queima de biomassa nas amostras coletadas em Porto Velho.
Figura 32: Contribuição do levoglucosano no MP10 coletado em Porto Velho.
Resultados 93
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Após a análise dos compostos marcadores da queima de biomassa foram
selecionadas apenas as amostras do período de queima de biomassa intensa para
avaliar os efeitos celulares e moleculares utilizando as células do pulmão humano.
4.2.4) Viabilidade celular
Os resultados do teste XTT mostraram que não houve perda da viabilidade
das células expostas às concentrações do MOE no período de 24 e 48 horas. A
partir da maior concentração testada (400 µg/mL) no período de 72 horas foi
observada uma diferença significativa em relação ao controle negativo. No período
de 96 horas de exposição, nas concentrações de 200 µg/mL e 400 µg/mL do MOE,
as células foram mais sensíveis ao tratamento e observou-se uma diminuição da
atividade mitocondrial (Figura 33).
Além do tratamento com o meio DMEM, utilizou-se o DMSO (0,1%) como
controle negativo e não teve nenhuma diferença entre eles. Para a mistura de HPA
(30 ng/mL) (controle positivo) e para o HPA reteno (marcador de queima de
biomassa) observou-se a perda de viabilidade das células a partir das 72 horas de
exposição a esses compostos (Figura 33).
Figura 28: Sensibilidade das células A549 após a exposição ao material orgânico extraído em concentrações e tempos diferentes. CD: controle DMSO (0,1%); HPA: mistura dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (30 ng/mL); Ret: Reteno (30 ng/mL). ** p < 0,01 Estatisticamente significante em relação ao controle negativo de acordo com o teste de Dunnett.
Resultados 94
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
4.2.5) Danos no DNA das células expostas ao material particulado
Após a obtenção das concentrações viáveis (não tóxicas) através do teste de
viabilidade celular, realizou-se o ensaio cometa alcalino para verificar se o MOE
causa danos genotóxicos. Após 24 horas de exposição observou-se uma dose
resposta em todas as concentrações testadas, mostrando que as partículas
orgânicas oriundas das queimadas na Amazônia podem gerar danos no DNA
(Figura 34).
Neste mesmo experimento foi utilizada a mistura de HPA (30 ng/mL) como
controle positivo e o seu efeito foi confirmado. Além disso, utilizou-se uma
concentração do composto reteno (30 ng/mL) para avaliar a sua genotoxicidade,
pois são poucos trabalhos que investigam os danos genéticos causados por este
marcador de queima de biomassa. Surpreendentemente, o reteno foi genotóxico,
com alta significância em relação ao controle negativo (p<0,01) (Figura 34).
Figura 34: Danos ao DNA causado pela exposição ao MP10 oriundo da queima de biomassa na Amazônia. CN: controle negativo (DMEM); CD: controle DMSO (0,1%);HPA: mistura dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (30 ng/mL); Ret: Reteno (30 ng/mL). * p<0,05 e ** p<0,01 Estatisticamente significante em relação ao controle negativo de acordo com o teste de Dunnett.
Resultados 95
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
4.2.6) Alterações no ciclo celular e ativação de checkpoints após a
exposição ao material particulado
A marcação do conteúdo do DNA com PI foi utilizado para a análise do ciclo
celular das células do pulmão humano expostas ao extrato orgânico do MP10 emitido
pelas queimadas em Porto Velho. A Figura 35 mostra o perfil do ciclo celular das
células A549 após o tratamento com as partículas orgânicas por 24 horas. Os dados
mostraram que apenas na maior concentração testada (400 µg/mL equivale a 30
µg.m-3) houve uma parada na fase G1.
Figura 35: Alterações no ciclo celular após a exposição ao MP10 atmosférico.
Resultados 96
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Tendo em vista que ocorreu uma parada em G1 no período de 24 horas, foi
de interesse analisar a expressão das proteínas p53 e p21 nestas mesmas
condições. Os resultados do Western Blot mostraram que há um aumento na
expressão dessas duas proteínas de checkpoint do ciclo celular com diferença
significativa em relação ao controle negativo (Figura 36).
Figura 36: Proteínas do checkpoint celular (p53 e p21) foram ativadas após ao material orgânico extraído no período de 24 horas.* p<0,05 Estatisticamente significante em relação ao controle negativo de acordo com o teste de Dunnett.
4.2.7) Sinalização em resposta aos danos ao DNA
Sabendo que o MOE é genotóxico e que provoca parada no ciclo celular na
fase G1, investigou-se a ocorrência da sinalização da histona -H2AX.
Após o tratamento com o MOE durante 24 horas de exposição, observou-se
uma tendência no aumento dos foci de -H2AX com diferença significativa (p<0,05)
(Figura 37).
Resultados 97
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 37: Aumento dos foci de -H2AX após o tratamento com o material particulado orgânico extraído. * p<0,05 Estatisticamente significante em relação ao controle negativo de acordo com o teste de Dunnett.
Resultados 98
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Ressalta-se que também foi realizado o teste de imunofluorescência para a
avaliação da marcação histona H2AX nas células expostas ao MP10. Abaixo estão
algumas imagens obtidas desta análise (Figura 38).
Figura 38: Imagens do teste de imunofluorescência para a avaliação da marcação histona -H2AX nas células expostas ao material orgânico extraído. O 4',6-diamidino-2-phenylindole (DAPI) se liga ao
DNA (em azul) e o anticorpo -H2AX (em vermelho).
4.2.8) Análise dos tipos de morte celular em resposta ao dano no DNA
A marcação do DNA com PI também serve para o estudo das células em
apoptose, que corresponde às populações de células com quantidade de DNA
menor que o da célula em G1 (sub-G1), o que sugere a ocorrência de fragmentação
do DNA.
Resultados 99
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Para o período de 72 e 96 horas de exposição, um aumento na fragmentação
do DNA das células foi observado para a concentração de 400 µg/mL, sendo
significativo em relação ao controle negativo (p<0,01). É interessante ressaltar que
não foi observada uma mudança significativa entre os dois tempos de exposição
analisados (Figura 39).
Figura 39: Morte por apoptose após o tratamento com material particulado orgânico analisando a população de células em sub-G1 (72 e 96 horas de exposição).
Resultados 100
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Sabe-se que o aumento dos foci de -H2AX também pode ser resultado da
ocorrência de apoptose. Notou-se que após 72 horas de exposição, na maior
concentração testada do MOE (400 µg/mL equivale a 30 µg.m-3), houve um aumento
na marcação para a histona H2AX bem evidente e significativo tanto com relação
ao controle negativo quanto com relação à concentração de 200 µg/mL (p<0,01)
(Figura 40).
Figura 40: Aumento dos foci de H2AX após 72 horas de exposição ao material particulado.
Com o intuito de investigar se o aumento dos foci de H2AX está associada
com a fragmentação do DNA durante a apoptose após 72 horas de exposição ao
MOE foi feita uma análise com uma dupla marcação da histona H2AX e da
caspase-3. Os dados mostram que à medida que ocorre aumenta os foci de H2AX
ocorre também um aumento na ativação da caspase-3 (Figura 41).
Controle negativo
200 µg/mL
Controle negativo
400 µg/mL
3.41% -H2AX 10.57% -H2AX
**
0
2
4
6
8
10
12
14
CN 200 µg/mL 400 µg/mL
Po
rcen
tag
em
da f
luo
rescên
cia
da
his
ton
a
H2A
X (
%)
Concentrações testadas
**
Resultados 101
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 41: Aumento na dupla marcação da -H2AX e caspase-3 após o tratamento com o material particulado orgânico por 72 horas.
Outra forma de avaliar os tipos de morte celular é através da marcação
simultânea com os 3 corantes fluorescentes DAF, PI e Hoechst, pois permite a
determinação do tipo de morte celular de acordo com a morfologia das
células visualizadas no microscópio de fluorescência. Quando uma célula é
normal, apresenta o núcleo azul intacto (Figura 42A). A apoptose inicial é
caracterizada pelo núcleo azul condensado e fragmentado (Figura 42B) enquanto
que na apoptose tardia observa-se o núcleo vermelho condensado e fragmentado
(Figura 42C). Já a célula em necrose, apresenta o núcleo vermelho intacto (Figura
42D).
Controle negativo
400 µg/mL
Controle negativo
400 µg/mL
H2AX Caspase – 3
10e0 10e1 10e2 10e3 10e4Green Fluorescence (GRN-HLog)
10
e4
10
e3
10
e2
10
e1
10
e0
Yell
ow
Flu
ore
sce
nce (
YL
W-H
Lo
g)
M1
10e0 10e1 10e2 10e3 10e4Green Fluorescence (GRN-HLog)
10
e4
10
e3
10
e2
10
e1
10
e0
Yell
ow
Flu
ore
sce
nce (
YL
W-H
Lo
g)
Plot4: Gated by : Gate 1
10e0 10e1 10e2 10e3 10e4Green Fluorescence (GRN-HLog)
10
e4
10
e3
10
e2
10
e1
10
e0
Yell
ow
Flu
ore
sce
nce (
YL
W-H
Lo
g)
M1
10e0 10e1 10e2 10e3 10e4Green Fluorescence (GRN-HLog)
10
e4
10
e3
10
e2
10
e1
10
e0
Yell
ow
Flu
ore
sce
nce (
YL
W-H
Lo
g)
Plot4: Gated by : Gate 1
Controle negativo 400 µg/mL
Resultados 102
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Figura 42: Imagens do teste para detecção morfológica por microscopia de fluorescência. A) Célula normal; B) Apoptose inicial; C) Apoptose tardia e D) Necrose.
Após 72 horas de exposição ao MOE, nas concentrações de 200 µg/mL e 400
µg/mL, os dados mostram que há a ocorrência de apoptose inicial (4,4% e 6,8%),
apoptose tardia (5,2% e 10%) e necrose (18,8 e 30,8%), respectivamente (Figura
43A).
Além disso, a mistura de HPA (controle positivo) nesta análise causou tanto a
morte por apoptose quanto por necrose. Já na exposição com o composto reteno,
observou-se apenas morte por necrose com diferença significativa em relação ao
controle (p<0,01) (Figura 43).
Após 96 horas de exposição ao MOE, observa-se que há um aumento visível
para a necrose nas duas concentrações testadas (200 µg/mL e 400 µg/mL). A
mistura de HPA (controle positivo) continua causando morte por apotose e necrose.
Para a exposição com o reteno, há um aumento da morte por apoptose e é evidente
a morte por necrose (Figura 43B).
Resultados 103
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
A) 72 horas de exposição
B) 96 horas de exposição
Figura 43: Material particulado orgânico emitido pelas queimadas na região Amazônica causa morte celular por apoptose e necrose.
Discussão 104
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
5) Discussão
5.1) Pesquisa realizada em Alta Floresta
A queima de biomassa que ocorre sistematicamente na região da Amazônia
como parte do processo de desmatamento tem um efeito adverso sobre a saúde
humana e o meio ambiente (DE FARIAS et al., 2010; DE OLIVEIRA ALVES et al.,
2011; SISENANDO et al., 2011, 2012). No entanto, nesta região há poucos estudos
que associam a poluição atmosférica e danos genéticos.
Na avaliação feita por KELLY & FUSSELL (2012), os autores relatam que a
maior lacuna no conhecimento da toxicidade do MP está relacionada com a falta de
conhecimento sobre os componentes presentes nestes aerossóis, bem como sobre
as suas características físicas e químicas. O presente trabalho centrou-se na
composição química e nos danos genéticos do MP inalável e é a primeira pesquisa
que comparou o efeito genotóxico do MOE nos períodos de queima de biomassa
intensa e moderada na região amazônica, utilizando dois ensaios com diferentes
bioindicadores.
Em Alta Floresta as concentrações de MP10 apresentaram grandes diferenças
entre os períodos de intensa e moderada queima de biomassa. Em concordância
com este resultado, imagens de satélite nesta mesma região registraram 182 focos
de incêndio durante o período de intensa queima de biomassa e apenas 5 focos de
incêndio para o período de moderada queima de biomassa (INPE, 2008).
Em Alta Floresta, as concentrações do MP10 foram abaixo do limite
estabelecido pela OMS para 24 horas. Entretanto, os compostos orgânicos
presentes no extrato orgânico causaram danos no material genético de células
vegetais e do pulmão humano. Este resultado é muito importante porque os estudos
realizados por DE OLIVEIRA ALVES et al. (2011) e CORONAS et al. (2009)
sugeriram uma reavaliação dos padrões estabelecidos pelos órgãos ambientais e de
saúde, em termos de composição química e potencial genotóxicos do MP.
Os dados obtidos nesta pesquisa mostraram uma boa correlação entre MP10 e
BC durante todo o período de amostragem. Resultados semelhantes foram
observados em Alta Floresta por MAENHAUT et al. (2002). Além disso, estudos
também mostraram que o BC provavelmente contribui para vários efeitos adversos
para a saúde (CANÇADO et al., 2006; HOEK et al., 2002). Outro estudo mostrou
Discussão 105
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
que o BC correlaciona com o aumento do risco de hospitalização por infarto do
miocárdio (ZANOBETTI; SCHWARTZ, 2006).
Nas análises do MP de Alta Floresta, observou-se o predomínio da fração fina
nos aerossóis. De acordo com BRÄUNER et al. (2007), o MP pode causar diversos
efeitos incluindo o estresse oxidativo, resultando em dano ao DNA e em outras
macromoléculas.
Na análise química das amostras coletadas foram identificados os n-alcanos
variando do C18 ao C34, bem como os compostos pristano e fitano. A determinação
do Cmax (C29) durante os dois períodos de amostragem mostram que há emissões
biogênicas. É importante salientar que os n-alcanos oriundos da queima de
biomassa são indistinguíveis dos alcanos de cera de plantas no aerossol ambiente
(SIMONEIT et al., 1996). Estes resultados estão de acordo com os dados obtidos
por OROS & SIMONEIT (2001), onde os autores fizeram uma descrição dos
componentes orgânicos em aerossóis proveniente da queima de biomassa em áreas
florestais da Califórnia e Oregon.
Outro parâmetro para avaliar a contribuição biogênica nas análises dos
alcanos é quando o resultado da razão entre pristano / fitano é superior a 1. Este
resultado é evidente durante os dois períodos de amostragem (1,30 e 1,09 para os
períodos de intensa e moderada queima de biomassa, respectivamente).
O valor do IPC encontrado durante o período de intensa queima indica uma
influência antrópica diretamente associada à queima de biomassa (IPC ~ 0,9).
Resultados semelhantes foram encontrados por DE OLIVEIRA ALVES et al. (2011),
em Tangará da Serra (MT) durante o período de queima de biomassa. No entanto,
durante o período de moderada queima, o IPC indicou um predomínio da influência
biogênica nas amostras (IPC ~ 1,4). Além disso, o índice WNA mostra que a
emissão biogênica é maior no período de queima moderada, corroborando com os
resultados do IPC.
Resultados da análise dos HPA indicaram o reteno como o composto mais
abundante em ambos os períodos de amostragem. O reteno é um marcador
conhecido da combustão de madeira(RAMDAHL, 1983). Esse resultado está
corroborando com outros estudos realizados em áreas de incêndios florestais
(ALVES et al., 2011; VICENTE et al., 2012). Compostos classificados como
cancerígenos e mutagênicos pela IARC foram identificados durante os dois períodos
Discussão 106
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
de amostragem. No entanto, durante o período de queima de biomassa moderada, o
BaP estava abaixo do limite de detecção, o que sugere que outros componentes são
responsáveis pelo efeito genotóxico observado nas concentrações mais elevadas.
Estudos anteriores demonstraram que as concentrações de HPA têm grandes
variações na composição e nas diferentes fontes de emissões. Assim, algumas
relações entre estes compostos são uma ferramenta poderosa para entender a
origem das fontes de emissões (VASCONCELLOS et al., 2011; WANG et al., 2009).
As razões entre os Fluo / (Fluo + Pir), BF/ BPer e InP / ( BPer + InP ) obtidos para
ambos os períodos deste estudo estão de acordo com aqueles relatados na
literatura para diferentes fontes de queima de biomassa (OROS; SIMONEIT, 2001;
VICENTE et al., 2011, 2012).
A razão de diagnóstico para BPer/BeP para as amostras de Alta Floresta
durante a intensa queima foi 0,96 e durante a moderada queima foi 0,67. NIELSEN
et al. (1996) relatam que esses índices têm sido usados para diferenciar entre as
emissões de tráfego ( BPer / BeP ~ 2,02 ) e de não- tráfego ( BPer / BeP ~ 0,80).
A relação BaP/BeP durante o período de intensa queima de biomassa foi de
0,57. No trabalho de VASCONCELLOS et al. (2010) os pesquisadores relataram que
esta razão pode ser um indicador importante para o cálculo do envelhecimento das
partículas. A razão BeP/(BaP+BeP) indica a influência da reatividade da atmosfera
na composição do MP, pois o BeP é mais inerte e BaP é facilmente decomposto
pela luz e por compostos oxidantes (VASCONCELLOS et al., 2011).
Para avaliar o potencial genotóxico de uma amostra é interessante realizar
diferentes testes. Os bioensaios escolhidos para este estudo foram bem sucedidos
na detecção de compostos genotóxicos presentes no ar. Dentre as pesquisas
realizadas na região amazônica, apenas um estudo, conduzido por DE OLIVEIRA
ALVES et al. (2001), usou o Trad- MCN (ex situ) para avaliar os efeitos do extrato
orgânico de queimadas na região.
Além disso, este foi o primeiro trabalho que avaliou o efeito genotóxico do
MOE usando células do pulmão humano (in vitro) na Amazônia. É importante
ressaltar que foram utilizados linhagem de células A549 porque as células
pulmonares é um dos principais alvos quando as toxinas são inaladas. Também,
este sistema de células é uma boa ferramenta para analisar as lesões
Discussão 107
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
cromossômicas, pois elas são células metabolizadoras capazes de biotransformar
xenobióticos (FOSTER et al., 1998).
O teste CBMN indicou que no período de queima de biomassa moderada, nas
concentrações de 0,5 mg/L e 1,0 mg/L de extrato orgânico, houve um aumento
significativo na formação de MN quando comparado com o controle negativo
enquanto que para o Trad- MCN foi significativo apenas na maior concentração.
Este resultado pode ser explicado pela maior sensibilidade das células in vitro e pela
atividade metabólica da célula A549. Também, alguns compostos mutagênicos
presentes nesta fração podem ter contribuído para este efeito.
Os dados de ambos os testes de MN, para as mesmas concentrações,
mostraram que a frequência de MN do período de queima de biomassa intensa é
maior em relação ao período de queima moderada. Este resultado pode estar
associado à presença do BaP nos extratos do período de intensa queima de
biomassa. Curiosamente, os extratos orgânicos de Tangará da Serra, utilizando
Trad- MCN indicaram resultados semelhantes (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2011).
Este estudo confirmou o efeito genotóxico do MOE tanto em células vegetais quanto
em células do pulmão humano.
5.2) Pesquisa realizada em Porto Velho
Estudos realizados na região Amazônica têm mostrado que a exposição da
população aos poluentes oriundos da queima de biomassa aumentam os riscos de
doenças respiratórias agudas (CARMO; ALVES; HACON, 2013; IGNOTTI et al.,
2010). Sabe-se que a inalação dessas partículas com compostos tóxicos além de
serem fatores de risco determinantes para o acometimento e agravos de infecções
respiratórias e cardiovasculares, há também uma forte correlação entre a poluição
do ar e a mortalidade por câncer de pulmão (FAJERSZTAJN et al., 2013).
De fato, quanto menor for o tamanho aerodinâmico do MP, maiores serão os
efeitos inflamatórios dessas partículas nos pulmões (DONALDSON et al., 2001a).
Baseado nisso, ressalta-se que no trabalho publicado por ARTAXO et al. (2013),
analisando a distribuição do tamanho das partículas dos aerossóis em Porto Velho,
no mesmo local de amostragem deste presente estudo, observa-se que no período
Discussão 108
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
de seca há um aumento significativo no número de partículas com diâmetro de
aproximadamente 100 nm (Figura 44).
Figura 44: Mediana da distribuição do tamanho dos aerossóis medidos em Porto Velho no período de queimadas. Os círculos representam os valores médios e as barras representam percentis 10 e 90. Figura adaptada de ARTAXO et al. (2013).
O dado acima é de extrema importância, pois as nanopartículas atingem os
alvéolos pulmonares e podem provocar diversos efeitos na saúde (NEMMAR et al.,
2013). A população exposta às queimadas na Amazônia inalam essas partículas e
ainda são desconhecidos os seus mecanismos de ação.
Diante deste fato, esta pesquisa buscou trazer novos conhecimentos sobre os
efeitos do MP emitido pelas queimadas a nível de danos no DNA e de morte celular
usando como modelo as células do pulmão humano, contribuindo assim para um
melhor entendimento dos riscos da exposição ao MP, principalmente para os grupos
mais vulneráveis.
Neste estudo, as concentrações do MP10 não excederam o limite
recomendado pela OMS. Entretanto, é importante ressaltar que somente os dados
das concentrações do MP10 não indicam necessariamente a genotoxicidade destas
partículas, sendo importante a identificação de compostos químicos e a investigação
dos efeitos na saúde em nível celular e molecular (BONETTA et al., 2009; KELLY;
FUSSELL, 2012).
Discussão 109
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Sabendo disso, após a coleta do MP10, foram realizadas a identificação e
quantificação de compostos químicos nas amostras coletadas em Porto Velho. Os
dados obtidos na análise dos HPA mostraram a presença de compostos
mutagênicos e carcinogênicos (BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, InP , DBA e BPer), sendo
estes compostos encontrados em maiores concentrações no período de queima
intensa na região. Estes dados corroboram com outros trabalhos realizados na
Amazônia que analisaram os HPA no período de seca (DE OLIVEIRA ALVES et al.,
2011, 2014).
O reteno foi o HPA encontrado em maior quantidade nas amostras de Porto
Velho, sendo este um marcador de queima de biomassa (RAMDAHL, 1983). Vale
ressaltar que mesmo no período de queima de biomassa moderada, o reteno
continua sendo o composto emitido em maior quantidade. No trabalho realizado por
SHEN et al. (2012), os autores ressaltam que o reteno pode ser emitido por outros
tipos de queima de biomassa. Logo, o reteno encontrado neste estudo também pode
estar sendo emitido por outras fontes, além das queimadas de florestas que ocorrem
na região. Um trabalho mais detalhado sobre os diferentes tipos de origem dos HPA,
nesta mesma área da Amazônia, está em andamento pela autora deste estudo.
É importante destacar que a análise do BaP-TEF mostrou um potencial risco
carcinogênico para as pessoas expostas aos HPA identificados na queima de
biomassa na Amazônia. O valor obtido para o BaP-TEF no período de queima de
biomassa intensa referente a soma dos oito HPA (BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, InP ,
DBA e BPer) foi aproximadamente 4 vezes maior quando comparado com o estudo
feito em residências (oudoor e indoor) na cidade de Nova York por JUNG e
colaboradores (2010).
Com relação ao potencial risco mutagênico referente a exposição aos HPA na
Amazônia, com a análise do BaP-MEQ notou-se uma diferença nas concentrações
do período de queima de biomassa intensa e moderada. De forma interessante, o
BaP-MEF no período de queima de biomassa intensa referente a soma dos oito HPA
(BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, InP , DBA e BPer) foi similar aos resultados obtidos no
estudo em residências (oudoor e indoor) na cidade de Nova York (JUNG et al.,
2010).
Além disso, a exposição ao BaP e ao DBA representam um maior risco para o
potencial carcinogênico e mutagênico na Amazônia. No período de queima de
Discussão 110
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
biomassa intensa, a contribuição do BaP e DBA para o BaP-TEQ foram
aproximadamente 13% e 83%. Entretanto, nas pesquisas realizadas em residências
no Japão e em Nova York o BaP foi o composto que mais contribui para o potencial
risco carcinogênico (JUNG et al., 2010; OHURA et al., 2004).
Por outro lado, no período de queima de biomassa intensa em Porto Velho, o
BaP foi o HPA que mais contribuiu para o BaP-MEQ (aproximadamente 49%)
diferentemente dos dados obtidos no estudo por JUNG et al.(2010), que
identificaram os compostos InP e BPer como os maiores contribuintes para o
potencial risco mutagênico.
Além da análise dos HPA totais foi realizada a análise dos HPA oxigenados
nas amostras coletadas na região de Porto Velho. A identificação destes compostos
é de extrema importância, pois estudos reportam que os oxi-HPA podem ser mais
mutagênicos do que os HPA totais (PEDERSEN et al., 2004; UMBUZEIRO et al.,
2008a).
O benzo(a)antraceno-7,12-diona foi um dos compostos detectados em maior
quantidade dentre os oxi-HPA identificados neste estudo. Este composto junto com
o 9,10-antraquinona foi analisado por KNECHT et al. (2013) com relação a sua
toxicidade utilizando o teste de embrião com Zebrafisher e mostrou ter um papel
significativo no aumento do estresse oxidativo in vivo. Além disso, a exposição ao
benzo(a)antraceno-7,12-diona diminuiu o oxygen consumption rate (OCR), que é
uma medida relacionada a respiração mitocondrial.
O oxi-HPA 2-metilantraquinona foi o composto encontrado em maior
quantidade nas amostras de Porto Velho. SHANG et al. (2014) mostra que a
exposição a este composto aumenta o número de espécies reativas de oxigênio
(EROs) na mesma linhagem de células do pulmão humano (A549) utilizada neste
estudo.
Em referência aos monossacarídeos, a análise dos levoglucosano, manosano
e galactosano mostraram claramente que no período de julho a setembro as
queimadas contribuem de forma significativa nas concentrações dos aerossóis. Este
resultado corrobora com outros trabalhos realizados na Amazônia (GRAHAM, 2002;
MAYOL-BRACERO, 2002) (GRAHAM, 2002; MAYOL-BRACERO, 2002).
Discussão 111
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Com as concentrações viáveis para a análise de genotoxicidade, os dados
obtidos através do teste cometa mostram que o material orgânico oriundo da queima
de biomassa é capaz de causar danos no DNA das células do pulmão humano. Os
HPA mutagênicos e carcinogênicos assim como os oxi-HPA encontrados nestas
amostras podem estar influenciando neste resultado. Outros testes que avaliam os
danos genéticos já foram feitos com as amostras de diferentes regiões da Amazônia
e mostram que o MP é genotóxico e mutagênico (DE OLIVEIRA ALVES et al., 2011,
2014). Além disso, trabalhos com poluentes atmosféricos de origem urbana, também
utilizaram o teste cometa e observaram que o MP orgânico causa danos no material
genético com diferentes linhagens de células (BRÄUNER et al., 2007; OH et al.,
2011; TEIXEIRA et al., 2012).
Diferentemente dos HPA homocíclicos que são considerados como poluentes
prioritários pela EPA, o reteno não está incluso na avaliação do risco dentre os HPA.
Além disso, não há muitos trabalhos que associam a exposição deste poluente na
atmosfera à saúde humana. É importante destacar que os dados obtidos no teste
cometa mostrou que o reteno foi capaz de causar danos no DNA nas células do
pulmão humano. Este resultado representa uma alerta para maiores investigações e
reavaliações, pois este composto emitido por queimadas pode potencializar os
efeitos genotóxicos observados neste estudo.
Ressalta-se que o reteno também é encontrado em sedimentos aquáticos. Na
pesquisa realizada por MARIA & CORREIA (2005), os autores demonstram que este
HPA foi genotóxico no estudo com Anguilla anguilla L., aumentando a atividade
hepática destes peixes após a exposição. Outros trabalhos alertam sobre os danos
tóxicos detectados em testes com peixes após a exposição ao reteno (HAWLICZEK
et al., 2012; ILLIARD; UERBACH; ODSON, 1999).
Após as evidências que o material orgânico extraído do MP10 causa danos
genotóxicos, investigou-se se estas partículas eram capazes de causar alterações
no ciclo celular das células expostas. Os resultados mostraram que para a maior
concentração testada ( 400 µg/mL equivale a 30 µg.m-3) houve uma parada no ciclo
celular na fase G1. Associado a este efeito, houve um aumento na expressão das
proteínas p53 e p21. Sabe-se que em resposta a um dano, a p53 induz a expressão
da p21 que interrompe o avanço do ciclo celular na transição da fase G1 para a fase
Discussão 112
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
S por inibição das quinases dependentes de ciclinas (CDK) (COLLINS; GARRETT,
2005).
De forma similar com os dados obtidos com o MP oriundo da queima de
biomassa na Amazônia, alguns estudos mostram que o MP urbano pode causar
alterações no ciclo das células. Na pesquisa realizada por ZHANG et al. (2007), os
autores observaram que o MP urbano obtido pela US-EPA induziu uma parada no
ciclo celular na fase G1, inibiu a síntese de DNA, bloqueou a proliferação celular e
causou a diminuição das ciclinas E, A, D1 e (CDK)2.
Ainda dentro deste contexo, destaca-se o trabalho realizado por LONGHIN et
al. (2013), onde os pesquisadores mostraram que as células do epitélio bronquial
expostas ao MP2,5 orgânico proveniente da área urbana de Milão causa alterações
no ciclo celular, com parada na fase G2/M.
Em concordância com a parada no ciclo celular, observou-se um aumento na
marcação da histona H2AX fosforilada (-H2AX) na maior concentração testada do
material orgânico (400 µg/mL equivale a 30 µg.m-3) após 24 horas de exposição.
Curiosamente seria interessante avaliar esta marcação em um período menor de
exposição para analisar se nas primeiras horas de exposição ao MP ocorre uma
maior quantidade de foci de -H2AX. De fato, a histona -H2AX é conhecida como
um marcador indicativo da presença de diversos tipos de dano no DNA, servindo
para o recrutamento de proteínas de checagem do ciclo celular, reparo e
apoptose, sendo assim importante na manutenção da integridade do genoma
(LUKAS; LUKAS; BARTEK, 2011).
O aumento da marcação de H2AX também pode estar associada com alguns
HPA encontrados nas amostras coletadas em Porto Velho, pois no trabalho
realizado por AUDEBERT et al. (2012), os pesquisadores utilizaram esta marcação
para estimar a genotoxicidade de alguns HPA. Os resultados destes autores
mostraram que a exposição individual de alguns HPA (BaA, BbF, BcF, BkF, Cri, InP,
DBA, 7,12 – dimetil-benzo(a) antraceno, dibenzo(a,i)pireno e BaP) aumentaram a
indução dos foci de H2AX na linhagem celular HepG2. Interessantemente, a
maioria destes compostos também foram identificados nas amostras de MP10
coletadas na região de Porto Velho.
Discussão 113
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Os resultados obtidos neste trabalho relacionados ao ciclo celular e marcação
de -H2AX indicam a presença de danos não reparados após a exposição ao
material orgânico do MP10 atmosférico. Em comparação com alguns estudos que
analisaram os efeitos da fumaça do cigarro em células pulmonares, observa-se
também que houve um aumento nos foci de -H2AX e os autores associam com a
quebra de dupla fita no DNA (JORGENSEN et al., 2010; TANAKA et al., 2007).
Além da análise do ciclo celular, a marcação com o Iodeto de Propídeo (PI),
um intercalante da fita dupla de DNA, permite a detecção da população em
subG1, ou seja, com um conteúdo de DNA menor do que células em fase
G1 (< 2n). Essa fragmentação do DNA ocorre durante o processo de morte celular
por apoptose, que é um processo que envolve a ação regulada de enzimas
catabólicas (proteases e nucleases), e leva a mudanças características na
morfologia nuclear, como a condensação e fragmentação da cromatina, com a
formação de fragmentos de DNA de múltiplos de aproximadamente 200 bp
(KROEMER; DALLAPORTA; RESCHE-RIGON, 1998). Em concordância com os
ensaios de viabilidade celular, os experimentos obtidos por citometria de fluxo
detectaram um aumento na população em sub-G1 nas células do pulmão
humano após 72 e 96 horas de exposição ao MP orgânico.
Ainda no período de 72 horas de exposição ao MP, notou-se um aumento
significativo na marcação de -H2AX. Este resultado pode ser explicado pela
fragmentação do DNA que ocorre durante a apoptose, que aumenta a quantidade de
foci H2AX (ROGAKOU et al., 2000). Assim, a análise bem evidente da associação
da ativação da caspase – 3 com a histona H2AX corroborou esta explicação. Em
acordo com o presente trabalho, ABBAS e colaboradores (2010) demonstraram que
o MP de origem urbana causa proliferação celular e apoptose em células do pulmão.
Uma vez que foi observado que o material orgânico extraído do MP10 causa
apoptose nas células do pulmão, investigou-se também a ocorrência de outros tipos
de morte. Curiosamente, detectou-se que além da morte por apoptose, há uma alta
ocorrência de necrose nas células analisadas. Este dado é bem interessante, pois
estudos mostram que a ocorrência de necrose aumenta a resposta inflamatória
(PROSKURYAKOV; GABAI; KONOPLYANNIKOV, 2002). Logo, tal ocorrência
provavelmente pode ter alguma relação com o aumento de hospitalizações por
doenças respirtórias já identificadas no período de queimadas na Amazônia.
Discussão 114
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Destaca-se também que a mistura de HPA utilizada no teste para avaliar os
diferentes tipos de morte celular por microscopia de fluorescência mostrou a
ocorrência tanto de apoptose como de necrose. Além da queima de biomassa, estes
compostos também são encontrados em emissões veiculares, industriais, inclusive
na fumaça do cigarro. No trabalho feito por VAYSSIER et al. (1998), os autores
relatam que a fumaça do cigarro causa morte celular tanto por apoptose como por
necrose em células de mamíferos. Também SOLHAUG et al. (2004) mostraram que
os HPA induzem sinais apoptóticos.
A utilização do teste morfológico para diferenciar a morte por apoptose e
necrose mostrou que o reteno é capaz de causar morte principalmente por necrose
nas células do pulmão humano. Este dado merece atenção, pois além de causar
morte celuar, o reteno também foi considerado genotóxico de acordo com os dados
obtidos nesta pesquisa. Dessa forma, pode-se concluir que a presença do reteno,
que é o composto mais abundante nas análises dos HPA nas amostras coletadas na
região de Porto Velho, pode ser um dos grandes contribuintes para os danos
observados nas células do pulmão humano.
É interessante ressaltar que a concentração de 400 µg/mL utilizada neste
estudo equivale a 30 µg/m3. Este valor está abaixo do limite recomendado pela OMS
(valor diário MP10 = 50 µg/m3). Entretanto, os resultados desta pesquisa mostraram
que ainda assim estas partículas inaláveis causam danos no material genético e
morte celular.
Considerações Gerais 115
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
6) Considerações Gerais
A Amazônia é o maior bioma do planeta e ocupa mais da metade do território
brasileiro. Com as estações bem definidas, no período de julho a setembro é
observado um aumento na frequência de queimadas na região do arco do
desmatamento, causando sérios problemas para o meio ambiente e para a saúde da
população que está sendo exposta.
Diante desta problemática, investigou-se a composição química e os efeitos
celulares e moleculares do MP emitido pela queima de biomassa na região de Alta
Floresta e de Porto Velho.
Com o estudo realizado em Alta Floresta, pode-se observar através da
análise dos alcanos que há um predomínio da influência antrópica associada com o
aumento de queimadas no período de seca nesta região. Além disso, a análise do
WNA mostrou uma evidente contribuição biogênica nas amostras coletas no período
de queima moderada.
Em Porto Velho, para a análise da contribuição da queima de biomassa
identificou-se os compostos levoglucosano, manosano e galactosano que mostraram
um evidente predomínio da queima de biomassa no período de intensas queimadas
na região. Interessantemente, no pico de queima, o levoglucosano corresponde a
quase 8% do total do MP10 coletado, dado este que significa uma importante
contribuição deste compostto nas partículas inaláveis.
Também foram analisados os HPA nestas duas localidades. A análise da
razão de origem dos HPA mostram que estes compostos têm o predomínio de
emissões oriundas da queima de biomassa. Logo, este resultado contribui nas
evidências do predomínio das emissões de queimadas nesta área de estudo.
Em ambas regiões da Amazônia, o reteno foi o HPA encontrado em maior
quantidade para todo o período de amostragem, sendo este também um marcador
para a queima de biomassa. Este dado incentivou a busca sobre a genotoxicidade
deste composto e posteriormente a sua análise.
Os resultados mostarram que o reteno é capaz de causar danos ao DNA em
células do pulmão humano. Além disso, mostrou que este HPA também causa
claramente morte por necrose nas células estudadas. Este resultado é um
diferencial na pesquisa, pois até o momento não há estudos voltados para a
genotoxicidade e para o tipo de morte celular provocada por este composto em
Considerações Gerais 116
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
células pulmonares. Logo, pode-se afirmar que o reteno também está contribuindo
nos danos genéticos causados pela exposição ao MP neste estudo.
Além disso, na análise dos HPA, foram identificados e quantificados
compostos mutagênicos e carcinogênicos nas amostras coletadas em ambas as
regiões selecionadas para o presente estudo. Com a análise individual dos HPA nas
50 amostras coletadas em Porto Velho foi possível calcular o BaP-equivalente para
alguns HPA (BaP, BaA, Cri, BbF, BkF, InP, DBA e BPer) identificados na região
Amazônica. No período de queima de biomassa intensa o DBA foi o composto que
mais contribui para o potencial risco carcinogênico (BaP-TEQ) e o B(a)P foi o HPA
que mais contribuiu para o potencial mutagênico (BaP-MEQ).
De forma interessante, nas amostras coletadas tanto em Alta Floresta como
em Porto Velho, o B(a)P que é um composto conhecido pelo potencial carcinogênico
e mutagênico foi detectado no período de queima intensa nestas áreas da região
Amazônica. Por outro lado, no período de queima moderada em Alta Floresta, este
composto ficou abaixo do limite de detecção.
O resultado acima é interessante, pois nas análises comparativas de
genotoxicidade e mutagenicidade realizadas com as amostras de Alta Floresta, os
testes Trad-MCN e CBMN mostraram que o MP oriundo do período da queima
intensa de biomassa é mutagênico. Nesta mesma região, ao fazer uma análise
comparativa da frequência de micronúcleo do período de queima intensa em relação
ao período de queima moderada, observa-se uma diferença significativa. Logo, o
B(a)P pode estar contribuindo fortemente para a diferença nesta análise
comparativa. É importante destacar que outros compostos mutagênicos que não
foram caracterizados nas amostras de Alta Floresta, tais como os HPA oxigenados e
nitrogenados, também podem estar contribuindo para os danos genéticos
observados nas células estudadas.
Assim como nas amostras coletadas em Alta Floresta, também observou-se
que o MP oriundo do período de queima intensa na região de Porto Velho é
genotóxico. Além dos HPA encontrados nestas amostras, os oxi-HPA também foram
caracterizados e podem estar contribuindo para os danos ao DNA observados nas
células do pulmão humano.
Considerações Gerais 117
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Uma vez sabendo que o MP oriundo das queimadas da região Amazônica é
capaz de causar danos genotóxicos e mutagênicos, buscou-se estudar os
mecanismos de ação destas partículas inaláveis à nivel celular e molecular
utilizando as células do pulmão humano. Para esta investigação, utilizou-se as
amostras coletadas em Porto Velho.
A maior concentração (400 µg/mL) utilizada neste estudo para avaliar os
mecanismos de ação das partículas inaláveis corresponde a concentração de 30
µg.m-3. Este valor é abaixo do limite aceitável para o meio ambiente pelas
legislações nacionais e internacionais, mas corresponde a concentração média do
MP10 encontrada na Amazônia no período de queimadas intensas.
Embora seja uma concentração considerada baixa de acordo com a
legislação da WHO, ao analisar o ciclo celular das células expostas ao MP10
orgânico no período de 24 horas, observou-se que houve uma parada na fase G1.
Em associação com este resultado, notou-se também que um aumento na
expressão das proteínas p53 e p21 que são consideradas pontos de checagem do
ciclo celular.
A ocorrência de danos genotóxicos e mutagênicos ocasionados pela
exposição ao MP alteraram a regulação do ciclo celular. A retomada da progressão
do ciclo celular ocorre somente quando o dano no DNA é removido por completo.
Neste caso, observou-se que as respostas ao dano no DNA induziram a morte por
apoptose nas células do pulmão humano. Neste estudo, a morte celular por
apoptose foi confirmada por diferentes ensaios, tais como a análise da população
em sub G1, o teste morfológico por microscopia de fluorescência e o aumento na
ativação da caspase-3 por citometria de fluxo.
Além da morte por apoptose, observou-se que o material orgânico do MP10 é capaz
de causar morte por necrose. Sabe-se que a morte por necrose possivelmente
aumenta a resposta pró-inflamatória nas células. Este resultado pode estar
associado com a ocorrência de doenças inflamatórias na via respiratória.
Em suma, apesar dos diferentes ensaios utilizados com as amostras de Alta
Floresta e Porto Velho, a fonte predominante é a emissão da queima de biomassa
na região Amazônica e os resultados mostram que o MP orgânico é genotóxico e
mutagênico. Além disso, foi possível pela primeira vez analisar os danos celulares e
moleculares causados pelas partículas emitidas pela queima de biomassa e as
Considerações Gerais 118
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
possíveis vias que podem elevar os riscos da indução da tumorigênese no pulmão.
Então, propõe-se o seguinte modelo para a ação do MP emitido pela queima de
bioma (Figura 45).
Figura 45: Modelo de ação do extrato orgânico obtido do MP10 oriundo de queima de biomassa na Amazônia utilizando o sistema em células do pulmão humano.
Com os resultados acima, é possível começar a entender a ação do extrato
orgânico presente no MP10 emitido pela queima de biomassa na região Amazônica.
É importante enfatizar a importância da redução e um melhor controle da queima de
biomassa na região Amazônica. Afinal, como descrito recentemente pela OMS, a
redução da poluição do ar poderá salvar milhões de vidas (WHO, 2014).
Considerações Gerais 119
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
Além dos resultados apresentados nesta tese, outros estudos estão sendo
realizados com o extrato orgânico do MP10 emitido pela queima de biomassa na
Amazônia, tais como:
- Análise dos HPA nitrogenados;
- Identificação de fontes ou processos de aerossóis na atmosfera utilizando
modelos receptores na composição química;
- Investigação dos mecanismos de autofagia;
- Análise da ocorrência de mutação gênica utilizando o teste de Ames.
Conclusões 120
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
7) Conclusões
- O material orgânico extraído (MOE) emitido pela queima de biomassa é
genotóxico e mutagênico;
- O MOE causa alterações no ciclo celular com parada na fase G1,
aumentando a expressão das proteínas p53 e p21;
- O MOE aumenta os foci de H2AX e este evento pode estar associado tanto
com os danos ao DNA como com a fragmentação do DNA durante a apoptose;
- O MOE do MP10 emitido pela queima de biomassa intensa causa morte por
apoptose e por necrose, sendo que esta última pode ser um fator que contribui para
a resposta pró-inflamatória;
- O reteno é genotóxicos e causa causa principalmente morte por necrose nas
células do pulmão humano;
- O dibenzo(a)antraceno contribuiu com 83% para o BaP-TEF∑8HPA, sendo
este o composto com o maior risco para o potencial carcinogênico;
- O benzo(a)pireno é o HPA que mais contribuiu para o potencial risco mutagênico
(BaP-MEF∑8HPA).
Referências 121
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
8) Referências
ABBAS, I. et al. Occurrence of molecular abnormalities of cell cycle in L132 cells after in vitro short-term exposure to air pollution PM(2.5). Chemico-biological interactions, v. 188, n. 3, p. 558-65, 5 dez. 2010.
ABRAHAM, R. T. Cell cycle checkpoint signaling through the ATM and ATR kinases. Genes & development, v. 15, n. 17, p. 2177-96, 1 set. 2001.
ALBINO, A. P.; HUANG, X. Induction of H2AX Phosphorylation in Pulmonary Cells by Tobacco Smoke: A New Assay for Carcinogens. Cell Cycle, v. 3, n. 8, p. 1060-1066,
1 ago. 2004.
ALVES, C. AEROSSÓIS ATMOSFÉRICOS: PERSPECTIVA HISTÓRICA, FONTES, PROCESSOS QUÍMICOS DE FORMAÇÃO E COMPOSIÇÃO ORGÂNICA. Química Nova, v. 28, n. 5, p. 859-870, 2005.
ALVES, C. A et al. Emission of trace gases and organic components in smoke particles from a wildfire in a mixed-evergreen forest in Portugal. The Science of the total environment, v. 409, n. 8, p. 1466-75, 15 mar. 2011.
ALVES, C. A. Characterisation of solvent extractable organic constituents in atmospheric particulate matter: an overview. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 80, n. 1, p. 21-82, mar. 2008.
ANDREAE, M. O. Global distribution of fires seen from space. Eos, Transactions American Geophysical Union, v. 74, n. 12, p. 129, 1993.
ANDREAE, M. O. et al. Transport of biomass burning smoke to the upper troposphere by deep convection in the equatorial region. Geophysical Research Letters, v. 28, n. 6, p. 951-954, 15 mar. 2001.
ANDREOU, G.; RAPSOMANIKIS, S. Origins of n-alkanes, carbonyl compounds and molecular biomarkers in atmospheric fine and coarse particles of Athens, Greece. The Science of the total environment, v. 407, n. 21, p. 5750-60, 15 out. 2009.
ARTAXO, P. Physical and chemical properties of aerosols in the wet and dry seasons in Rondônia, Amazonia. Journal of Geophysical Research, v. 107, n. D20, p. 8081, 2002.
ARTAXO, P. et al. Efeitos Climáticos de partículas de aerossóis biogênicos e emitidos em queimadas na Amazônia. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 21, n. 3a, p. 168-189, 2006.
ARTAXO, P. et al. Atmospheric aerosols in Amazonia and land use change: from natural biogenic to biomass burning conditions. Faraday Discussions, v. 165, p.
203, 2013.
Referências 122
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
ARTAXO, P. . et al. Fine Mode Aerosol Composition in Three Long Term Atmospheric Monitoring Sampling Stations in the Amazon Basin. Journal of Geophysical Research, v. 99, p. 22857-22868, 1994.
ARTAXO, P. . et al. Large-scale aerosol source apportionment in Amazonia. Journal of Geophysical Research, v. 103, p. 31837-37847, 1998.
BATALHA, J. R. et al. Exploring the clastogenic effects of air pollutants in São Paulo (Brazil) using the Tradescantia micronuclei assay. Mutation research, v. 426, n. 2,
p. 229-32, 19 maio 1999.
BATCHELOR, E.; LOEWER, A.; LAHAV, G. The ups and downs of p53: understanding protein dynamics in single cells. Nature reviews. Cancer, v. 9, n. 5, p. 371-7, maio 2009.
BATISTA, L. F. Z. Mecanismos de indução de apoptose pela presença de danos ao DNA: um estudo sobre o papel de p53 na resistência de células de glioma a agentes quimioterápicos. Tese de do ed. São Paulo: [s.n.]. p. 159
BISHOP, A. J. .; SCHIESTL, R. H. Role of homologous recombination in carcinogenesis. Experimental and Molecular Pathology, v. 74, n. 2, p. 94-105, abr.
2003.
BONASSI, S. et al. Chromosomal aberration frequency in lymphocytes predicts the risk of cancer: results from a pooled cohort study of 22 358 subjects in 11 countries. Carcinogenesis, v. 29, n. 6, p. 1178-83, jun. 2008.
BONETTA, S. et al. DNA damage in A549 cells exposed to different extracts of PM(2.5) from industrial, urban and highway sites. Chemosphere, v. 77, n. 7, p.
1030-4, nov. 2009.
BONNER, W. M. et al. γH2AX and cancer. Nature reviews. Cancer, v. 8, p. 957-
967, 2008.
BORMAN, S. M. et al. Ovotoxicity in female Fischer rats and B6 mice induced by low-dose exposure to three polycyclic aromatic hydrocarbons: comparison through calculation of an ovotoxic index. Toxicology and applied pharmacology, v. 167, n. 3, p. 191-8, 15 set. 2000.
BOSTRÖM, C.-E. et al. Cancer risk assessment, indicators, and guidelines for polycyclic aromatic hydrocarbons in the ambient air. Environmental health perspectives, v. 110 Suppl , p. 451-88, jun. 2002.
BOWMAN, D. M. J. S. et al. The human dimension of fire regimes on Earth. Journal of biogeography, v. 38, n. 12, p. 2223-2236, dez. 2011.
BRÄUNER, E. V. et al. Exposure to ultrafine particles from ambient air and oxidative stress-induced DNA damage. Environmental health perspectives, v. 115, n. 8, p. 1177-82, ago. 2007.
Referências 123
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
BRITO, J. et al. Ground based aerosol characterization during the South American Biomass Burning Analysis (SAMBBA) field experiment. Atmospheric Chemistry and Physics Discussions, v. 14, n. 8, p. 12279-12322, 14 maio 2014.
BROOK, R. D. Cardiovascular effects of air pollution. Clinical science (London, England : 1979), v. 115, n. 6, p. 175-87, set. 2008.
BUDINGER, G. R. S. et al. Particulate matter-induced lung inflammation increases systemic levels of PAI-1 and activates coagulation through distinct mechanisms. PloS one, v. 6, n. 4, p. e18525, jan. 2011.
CALLÉN, M. S. et al. Nature and sources of particle associated polycyclic aromatic hydrocarbons (PAH) in the atmospheric environment of an urban area. Environmental pollution (Barking, Essex : 1987), p. 1-9, 11 dez. 2012.
CALLÉN, M. S.; LÓPEZ, J. M.; MASTRAL, A M. Apportionment of the airborne PM10 in Spain. Episodes of potential negative impact for human health. Journal of environmental monitoring : JEM, v. 14, n. 4, p. 1211-20, abr. 2012.
CANÇADO, J. E. D. et al. The Impact of Sugar Cane–Burning Emissions on the Respiratory System of Children and the Elderly. Environmental Health Perspectives, v. 114, n. 5, p. 725-729, 13 jan. 2006.
CANN, K. L.; DELLAIRE, G. Heterochromatin and the DNA damage response: the need to relax. Biochemistry and cell biology = Biochimie et biologie cellulaire, v.
89, n. 1, p. 45-60, fev. 2011.
CARMO, C. N.; ALVES, M. B.; HACON, S. D. S. Impact of biomass burning and weather conditions on children’s health in a city of Western Amazon region. Air Quality, Atmosphere & Health, v. 6, n. 2, p. 517-525, 10 nov. 2013.
CARMO, C. N. DO et al. Associação entre material particulado de queimadas e doenças respiratórias na região sul da Amazônia brasileira. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 27, n. 1, p. 10-16, jan. 2010.
CARRERAS, H. A.; PIGNATA, M. L.; SALDIVA, P. H. N. In situ monitoring of urban air in Córdoba, Argentina using the Tradescantia-micronucleus (Trad-MCN) bioassay. Atmospheric Environment, v. 40, n. 40, p. 7824-7830, dez. 2006.
CARVALHO-OLIVEIRA, R. et al. Diesel emissions significantly influence composition and mutagenicity of ambient particles: a case study in São Paulo, Brazil. Environmental research, v. 98, n. 1, p. 1-7, maio 2005.
CASEIRO, A. et al. Wood burning impact on PM10 in three Austrian regions. Atmospheric Environment, v. 43, n. 13, p. 2186-2195, abr. 2009.
CASTANHO, D. A.; ARTAXO, P.; F, I. DE. Wintertime and summertime São Paulo aerosol source apportionment study. v. 35, p. 4889-4902, 2001.
Referências 124
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
CHENG, Y. et al. Biomass burning contribution to Beijing aerosol. Atmospheric Chemistry and Physics, v. 13, n. 15, p. 7765-7781, 13 ago. 2013.
COLLINS, I.; GARRETT, M. D. Targeting the cell division cycle in cancer: CDK and cell cycle checkpoint kinase inhibitors. Current opinion in pharmacology, v. 5, n. 4,
p. 366-73, ago. 2005.
COLLINS, J. F. et al. Potency equivalency factors for some polycyclic aromatic hydrocarbons and polycyclic aromatic hydrocarbon derivatives. Regulatory toxicology and pharmacology : RTP, v. 28, n. 1, p. 45-54, ago. 1998.
CORMIER, S. A. et al. Origin and Health Impacts of Emissions of Toxic By-Products and Fine Particles from Combustion and Thermal Treatment of Hazardous Wastes and Materials. Environmental Health Perspectives, v. 114, n. 6, p. 810-817, 26 jan.
2006.
CORONAS, M. V et al. Genetic biomonitoring of an urban population exposed to mutagenic airborne pollutants. Environment international, v. 35, n. 7, p. 1023-9,
out. 2009.
CRIPPA, M. et al. Wintertime aerosol chemical composition and source apportionment of the organic fraction in the metropolitan area of Paris. Atmospheric Chemistry and Physics, v. 13, n. 2, p. 961-981, 23 jan. 2013.
CRISPIM, B. D. A. et al. Biomonitoring the genotoxic effects of pollutants on Tradescantia pallida (Rose) D.R. Hunt in Dourados, Brazil. Environmental science and pollution research international, v. 19, n. 3, p. 718-23, mar. 2012.
CUMMINGS, B. S.; SCHNELLMANN, R. G. Measurement of cell death in mammalian cells. Current protocols in pharmacology / editorial board, S.J. Enna (editor-in-chief) ... [et al.], v. Chapter 12, p. Unit 12.8, 1 set. 2004.
DAVIDSON, E. A et al. The Amazon basin in transition. Nature, v. 481, n. 7381, p. 321-8, 19 jan. 2012.
DE FARIAS, M. R. D. C. et al. Prevalence of asthma in schoolchildren in Alta Floresta- a municipality in the southeast of the Brazilian Amazon. Revista brasileira de epidemiologia = Brazilian journal of epidemiology, v. 13, n. 1, p. 49-57, mar.
2010.
DE OLIVEIRA ALVES, N. GENOTOXICIDADE E COMPOSIÇÃO DO MATERIAL PARTICULADO EMITIDO PELA QUEIMA DE BIOMASSA: UM ESTUDO DE CASO EM TANGARÁ DA SERRA, REGIÃO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA. Dissertaçã ed. Natal: [s.n.]. p. 82
DE OLIVEIRA ALVES, N. et al. Genotoxicity and composition of particulate matter from biomass burning in the eastern Brazilian Amazon region. Ecotoxicology and environmental safety, v. 74, n. 5, p. 1427-33, jul. 2011.
Referências 125
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
DE OLIVEIRA ALVES, N. et al. Genetic damage of organic matter in the Brazilian Amazon: a comparative study between intense and moderate biomass burning. Environmental research, v. 130, p. 51-8, abr. 2014.
DE OLIVEIRA, B. F. A. et al. Risk assessment of PM2.5 to child residents in Brazilian Amazon region with biofuel production. Environmental health : a global access science source, v. 11, p. 64, jan. 2012.
DE OLIVEIRA GALVÃO, M. F. et al. Cashew nut roasting: Chemical characterization of particulate matter and genotocixity analysis. Environmental research, v. 131C, p. 145-152, 7 abr. 2014.
DE SOUZA LIMA, E.; DE SOUZA, S. R.; DOMINGOS, M. Sensitivity of Tradescantia pallida (Rose) Hunt. “Purpurea” Boom to genotoxicity induced by ozone. Mutation research, v. 675, n. 1-2, p. 41-5, 30 abr. 2009.
DEMARINI, D. M. Genotoxicity biomarkers associated with exposure to traffic and near-road atmospheres: a review. Mutagenesis, v. 28, n. 5, p. 485-505, set. 2013.
DEMETRIOU, C. A et al. Biomarkers of ambient air pollution and lung cancer: a systematic review. Occupational and environmental medicine, v. 69, n. 9, p. 619-
27, set. 2012.
DENG, F. et al. Effects of dust storm PM2.5 on cell proliferation and cell cycle in human lung fibroblasts. Toxicology in vitro : an international journal published in association with BIBRA, v. 21, n. 4, p. 632-8, jun. 2007.
DIHL, R. R. Nitrocompostos e extratos orgânicos de partículas aéreas são indutores de toxicidade genética em células somáticas de Drosophila melanogaster. Tese de Do ed. Porto Alegre: [s.n.]. p. 111
DIRECTIVE OF THE EUROPEAN 2004/107/EC. Directive 2004/107/EC of the European Parliament and of the Council of 15 December 2004 Relating to Arsenic, Cadmium, Mercury, Nickel and Polycyclic Aromatic Hydrocarbons in Ambient Air. In: [s.l: s.n.].
DONALDSON, K. et al. Ultrafine particles. Occupational and environmental medicine, v. 58, n. 3, p. 211-6, 199, mar. 2001a.
DONALDSON, K. et al. Ambient particle inhalation and the cardiovascular system: potential mechanisms. Environmental health perspectives, v. 109 Suppl , n. August, p. 523-7, ago. 2001b.
DUBREUIL, V. et al. Impact of land-cover change in the southern Amazonia climate: a case study for the region of Alta Floresta, Mato Grosso, Brazil. Environmental monitoring and assessment, v. 184, n. 2, p. 877-91, jan. 2012.
Referências 126
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
ENOMOTO, M.; TIERNEY, W. J.; NOZAKI, K. Risk of human health by particulate matter as a source of air pollution -Comparison with tobacco smoking-. The Journal of Toxicological Sciences, v. 33, n. 3, p. 251-267, 2008.
EPAQS. Polycyclic Aromatic Hydro- carbons. In: Expert Panel on Air Quality Standards. The Stationery Office, London.: [s.n.]. v. The Statio.
EPSTEIN, S. S.; FUJII, K.; ASAHINA, S. Carcinogenicity of a composite organic extract of urban particulate atmospheric pollutants following subcutaneous injection in infant mice. Environmental Research, v. 19, n. 1, p. 163-176, jun. 1979.
FAJERSZTAJN, L. et al. Air pollution: a potentially modifiable risk factor for lung cancer. Nature reviews. Cancer, v. 13, n. 9, p. 674-8, set. 2013.
FENECH, M. The advantages and disadvantages of the cytokinesis-block micronucleus method. Mutation research, v. 392, n. 1-2, p. 11-8, 1 ago. 1997.
FENECH, M. Chromosomal biomarkers of genomic instability relevant to cancer. Drug discovery today, v. 7, n. 22, p. 1128-37, 15 nov. 2002.
FENECH, M. et al. HUMN project: detailed description of the scoring criteria for the cytokinesis-block micronucleus assay using isolated human lymphocyte cultures. Mutation Research/Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, v. 534,
n. 1-2, p. 65-75, jan. 2003.
FENECH, M. et al. Molecular mechanisms of micronucleus, nucleoplasmic bridge and nuclear bud formation in mammalian and human cells. Mutagenesis, v. 26, n. 1,
p. 125-32, jan. 2011.
FERREIRA, A. B. Avaliação do risco humano a poluentes atmosféricos por meio de biomonitoramento passivo: um estudo de caso em São Mateus do Sul, Paraná. Tese de doutorado - Faculdade de Medicina, p. 90, 2009.
FINE, P. M.; CASS, G. R.; SIMONEIT, B. R. Chemical characterization of fine particle emissions from fireplace combustion of woods grown in the northeastern United States. Environmental science & technology, v. 35, n. 13, p. 2665-75, 1 jul. 2001.
FINE, P. M.; CASS, G. R.; SIMONEIT, B. R. T. Chemical Characterization of Fine Particle Emissions from the Fireplace Combustion of Wood Types Grown in the Midwestern and Western United States. Environmental Engineering Science, v.
21, n. 3, p. 387-409, maio 2004.
FORMENTI, P. et al. Saharan dust in Brazil and Suriname during the Large-Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia (LBA) - Cooperative LBA Regional Experiment (CLAIRE) in March 1998. Journal of Geophysical Research, v. 106, n.
D14, p. 14919, 1 jul. 2001.
Referências 127
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
FOSTER, K. A. et al. Characterization of the A549 Cell Line as a Type II Pulmonary Epithelial Cell Model for Drug Metabolism. EXPERIMENTAL CELL RESEARCH, v. 243, p. 359-366, 1998.
FRANCO, A. Nitro- e oxi-HPA no material particulado atmosférico: algumas contribuições para uma abordagem integrada. Tese de do ed. São Paulo: [s.n.]. p. 119
FUMAGALLI, M. et al. Telomeric DNA damage is irreparable and causes persistent DNA-damage-response activation. Nature cell biology, v. 14, n. 4, p. 355-65, abr. 2012.
FUZZI, S. et al. Overview of the inorganic and organic composition of size-segregated aerosol in Rondônia, Brazil, from the biomass-burning period to the onset of the wet season. Journal of Geophysical Research, v. 112, n. D1, p. D01201, 6 jan. 2007.
GARCIA-CANTON, C.; ANADÓN, A.; MEREDITH, C. γH2AX as a novel endpoint to detect DNA damage: applications for the assessment of the in vitro genotoxicity of cigarette smoke. Toxicology in vitro : an international journal published in association with BIBRA, v. 26, n. 7, p. 1075-86, out. 2012.
GIANNONI, M. et al. The use of levoglucosan for tracing biomass burning in PM₂.₅ samples in Tuscany (Italy). Environmental pollution (Barking, Essex : 1987), v.
167, n. March 2009, p. 7-15, ago. 2012.
GOGOU, A. I.; APOSTOLAKI, M.; STEPHANOU, E. G. Determination of organic molecular markers in marine aerosols and sediments: one-step flash chromatography compound class fractionation and capillary gas chromatographic analysis. Journal of Chromatography A, v. 799, n. 1-2, p. 215-231, mar. 1998.
GONÇALVES, K. DOS S. QUEIMADAS E ATENDIMENTOS AMBULATORIAIS POR DOENÇAS RESPIRATÓRIAS EM CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO, RONDÔNIA. Fundação O ed. Rio de Janeiro: [s.n.]. p. 140
GRAHAM, B. Water-soluble organic compounds in biomass burning aerosols over Amazonia1. Characterization by NMR and GC-MS. Journal of Geophysical Research, v. 107, n. D20, p. 8047, 2002.
GRIVICICH, I.; REGNER, A.; ROCHA, A. B. DA. Morte celular por apoptose. Revista brasileira de cancrologia, v. 53, n. 3, p. 335-343, 2007.
GUALTIERI, M. et al. Airborne urban particles (Milan winter-PM2.5) cause mitotic arrest and cell death: Effects on DNA, mitochondria, AhR binding and spindle organization. Mutation research, v. 713, n. 1-2, p. 18-31, 1 ago. 2011.
GUIMARÃES, E. et al. Detection of the genotoxicity of air pollutants in and around the city of São Paulo (Brazil) with the Tradescantia-micronucleus (Trad-MCN) assay. Environmental and experimental botany, v. 44, n. 1, p. 1-8, 1 ago. 2000.
Referências 128
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
HALAZONETIS, T. D.; GORGOULIS, V. G.; BARTEK, J. An oncogene-induced DNA damage model for cancer development. Science (New York, N.Y.), v. 319, n. 5868, p. 1352-5, 7 mar. 2008.
HAMRA, G. B. et al. Outdoor Particulate Matter Exposure and Lung Cancer: A Systematic Review and Meta-Analysis. Environmental health perspectives, 6 jun. 2014.
HAWLICZEK, A et al. Developmental toxicity and endocrine disrupting potency of 4-azapyrene, benzo[b]fluorene and retene in the zebrafish Danio rerio. Reproductive toxicology (Elmsford, N.Y.), v. 33, n. 2, p. 213-23, maio 2012.
HOEK, G. et al. Association between mortality and indicators of traffic-related air pollution in the Netherlands: a cohort study. Lancet, v. 360, n. 9341, p. 1203-9, 19
out. 2002.
HOLLAND, N. et al. The micronucleus assay in human buccal cells as a tool for biomonitoring DNA damage: the HUMN project perspective on current status and knowledge gaps. Mutation research, v. 659, n. 1-2, p. 93-108, 2008.
HUTTUNEN, K. et al. Low-level exposure to ambient particulate matter is associated with systemic inflammation in ischemic heart disease patients. Environmental research, v. 116, p. 44-51, jul. 2012.
IARC. Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans. In: Some Non-heterocyclic Poly- cyclic Aromatic Hydrocarbons and Some Related Exposures. International Agency for Research on Cancer, v. 92, 2010.
IARC. Outdoor air pollution a leading environmental cause of cancer deaths. IARC Communications, v. 221, 2013.
IBGE. Dados demográficos das cidades brasileiras. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php>. Acesso em: 10 jul. 2014.
IGNOTTI, E. et al. Air pollution and hospital admissions for respiratory diseases in the subequatorial Amazon : a time series approach Poluição do ar e admissões hospitalares por doenças respiratórias na Amazônia subequatorial : abordagem de séries temporais. v. 26, n. 4, p. 747-761, 2010.
ILLIARD, S. O. M. B.; UERBACH, K. I. Q.; ODSON, P. E. V. H. TOXICITY OF RETENE TO EARLY LIFE STAGES OF TWO FRESHWATER FISH SPECIES. v. 18, n. 9, p. 2070-2077, 1999.
INPE. Portal do Monitoramento de Queimadas e Incêndios. Disponível em:
<http://www.inpe.br/queimadas>.
Referências 129
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
INSTITUTE HEALTH EFFECTS. Traffic-Related Air Pollution: A Critical Review of the Literature on Emissions, Exposure, and Health Effects, Special Report 17. Boston: [s.n.].
ISIDORI, M. et al. In situ monitoring of urban air in Southern Italy with the Tradescantia micronucleus bioassay and semipermeable membrane devices (SPMDs). Chemosphere, v. 52, n. 1, p. 121-6, jul. 2003.
JACKSON, S. P.; BARTEK, J. The DNA-damage response in human biology and disease. Nature, v. 461, n. 7267, p. 1071-8, 22 out. 2009.
JALAVA, P. I. et al. Heterogeneities in inflammatory and cytotoxic responses of RAW 264.7 macrophage cell line to urban air coarse, fine, and ultrafine particles from six European sampling campaigns. Inhalation toxicology, v. 19, n. 3, p. 213-25, mar.
2007.
JORGENSEN, E. D. et al. DNA damage response induced by exposure of human lung adenocarcinoma cells to smoke from tobacco- and nicotine-free cigarettes. Cell cycle (Georgetown, Tex.), v. 9, n. 11, p. 2170-6, 1 jun. 2010.
JUNG, K. H. et al. Assessment of benzo(a)pyrene-equivalent carcinogenicity and mutagenicity of residential indoor versus outdoor polycyclic aromatic hydrocarbons exposing young children in New York City. International journal of environmental research and public health, v. 7, n. 5, p. 1889-900, maio 2010.
KAMEDA, T. Atmospheric chemistry of Polycyclic Aromatic Hydrocarbons and related compounds. Journal of Health Science, v. 57, n. 6, p. 504-511, 2011.
KARAVALAKIS, G. et al. Biodiesel emissions profile in modern diesel vehicles. Part 2: Effect of biodiesel origin on carbonyl, PAH, nitro-PAH and oxy-PAH emissions. The Science of the total environment, v. 409, n. 4, p. 738-47, 15 jan. 2011.
KATSOYIANNIS, A.; SWEETMAN, A. J.; JONES, K. C. PAH molecular diagnostic ratios applied to atmospheric sources: a critical evaluation using two decades of source inventory and air concentration data from the UK. Environmental science & technology, v. 45, n. 20, p. 8897-906, 15 out. 2011.
KELLY, F. J.; FUSSELL, J. C. Size, source and chemical composition as determinants of toxicity attributable to ambient particulate matter. Atmospheric Environment, v. 60, p. 504-526, dez. 2012.
KLUMPP, A. et al. Influence of climatic conditions on the mutations in pollen mother cells of Tradescantia clone 4430 and implications for the Trad-MCN bioassay protocol. Hereditas, v. 141, n. 2, p. 142-8, jan. 2004.
KREWSKI, D. et al. Extended follow-up and spatial analysis of the American Cancer Society study linking particulate air pollution and mortality. Res Rep Health Eff Inst.,
v. 140, p. 5-114, 2009.
Referências 130
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
KROEMER, G.; DALLAPORTA, B.; RESCHE-RIGON, M. The mitochondrial death/life regulator in apoptosis and necrosis. Annual review of physiology, v. 60, p. 619-42, jan. 1998.
LADJI, R. et al. Annual variation of particulate organic compounds in PM10 in the urban atmosphere of Algiers. Atmospheric Research, v. 92, n. 2, p. 258-269, abr. 2009.
LANDVIK, N. E. et al. Effects of nitrated-polycyclic aromatic hydrocarbons and diesel exhaust particle extracts on cell signalling related to apoptosis: possible implications for their mutagenic and carcinogenic effects. Toxicology, v. 231, n. 2-3, p. 159-74, 7 mar. 2007.
LAZUTIN, L. et al. Surface ozone study in campinas, Sao Paulo, Brazil. Atmospheric Environment, v. 30, n. 15, p. 2729-2738, ago. 1996.
LIM, S. S. et al. A comparative risk assessment of burden of disease and injury attributable to 67 risk factors and risk factor clusters in 21 regions, 1990-2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet, v. 380, n. 9859, p. 2224-60, 15 dez. 2012.
LINDAHL, T.; BARNES, D. E. Repair of Endogenous DNA Damage. Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology, v. 65, p. 127-134, 1 jan. 2000.
LONGHIN, E. et al. Cell cycle alterations induced by urban PM2.5 in bronchial epithelial cells: characterization of the process and possible mechanisms involved. Particle and fibre toxicology, v. 10, p. 63, jan. 2013a.
LONGHIN, E. et al. Season linked responses to fine and quasi-ultrafine Milan PM in cultured cells. Toxicology in vitro : an international journal published in association with BIBRA, v. 27, n. 2, p. 551-9, mar. 2013b.
LOOMES, D. et al. The carcinogenicity of outdoor air pollution. The Lancet Oncology, v. 14, n. 13, p. 1262-1263, dez. 2013.
LOPEZ-CONTRERAS, A. J.; FERNANDEZ-CAPETILLO, O. Signalling DNA Damage. INTECH, v. Chapter 8, p. 233-262, 2012.
LUKAS, J.; LUKAS, C.; BARTEK, J. More than just a focus: The chromatin response to DNA damage and its role in genome integrity maintenance. Nature cell biology,
v. 13, n. 10, p. 1161-9, out. 2011.
MAENHAUT, W. et al. Two-year study of atmospheric aerosols in Alta Floresta, Brazil: Multielemental composition and source apportionment. Nuclear Instruments and Methods in Physics Research Section B: Beam Interactions with Materials and Atoms, v. 189, n. 1-4, p. 243-248, abr. 2002.
Referências 131
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
MAGALHÃES, D. Determinação de compostos orgânicos em material particulado emitido em queimadas de cana-de-açúcar. Dissertaçã ed. São Paulo: [s.n.]. p. 76
MARINO, F.; CECINATO, A; SISKOS, P. A. Nitro-PAH in ambient particulate matter in the atmosphere of Athens. Chemosphere, v. 40, n. 5, p. 533-7, mar. 2000.
MARTIN, S. et al. Low doses of urban air particles from Buenos Aires promote oxidative stress and apoptosis in mice lungs. Inhalation toxicology, v. 22, n. 13, p.
1064-71, nov. 2010a.
MARTIN, S. T. et al. Sources and properties of Amazonian aersol particles. Reviews of Geophysics, v. 48, p. 2008RG000280 (1-42), 2010b.
MARVIN, C. H.; HEWITT, L. M. Analytical methods in bioassay-directed investigations of mutagenicity of air particulate material. Mutation research, v. 636,
n. 1-3, p. 4-35, 2007.
MAYOL-BRACERO, O. L. Water-soluble organic compounds in biomass burning aerosols over Amazonia 2. Apportionment of the chemical composition and importance of the polyacidic fraction. Journal of Geophysical Research, v. 107, n.
D20, p. 8091, 2002.
MEIER, P.; FINCH, A; EVAN, G. Apoptosis in development. Nature, v. 407, n. 6805, p. 796-801, 12 out. 2000.
MI, H.-H. et al. Effect of the gasoline additives on PAH emission. Chemosphere, v.
36, n. 9, p. 2031-2041, abr. 1998.
MILLER, K. P. et al. In utero effects of chemicals on reproductive tissues in females. Toxicology and applied pharmacology, v. 198, n. 2, p. 111-31, 15 jul. 2004.
MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular growth and survival: Application to proliferation and cytotoxicity assays. Journal of Immunological Methods, v. 65,
n. 1-2, p. 55-63, dez. 1983.
NEMMAR, A. et al. Recent advances in particulate matter and nanoparticle toxicology: a review of the in vivo and in vitro studies. BioMed research international, p. 279371, jan. 2013.
OH, S. M. et al. Organic extracts of urban air pollution particulate matter (PM2.5)-induced genotoxicity and oxidative stress in human lung bronchial epithelial cells (BEAS-2B cells). Mutation research, v. 723, n. 2, p. 142-51, 16 ago. 2011.
OHURA, T. et al. Polycyclic Aromatic Hydrocarbons in Indoor and Outdoor Environments and Factors Affecting Their Concentrations. Environmental Science & Technology, v. 38, n. 1, p. 77-83, jan. 2004.
Referências 132
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
OKONA-MENSAH, K. B. et al. An approach to investigating the importance of high potency polycyclic aromatic hydrocarbons (PAHs) in the induction of lung cancer by air pollution. Food and chemical toxicology : an international journal published for the British Industrial Biological Research Association, v. 43, n. 7, p. 1103-16, jul. 2005.
OMAR, N. Y. M. J. et al. Levels and distributions of organic source tracers in air and roadside dust particles of Kuala Lumpur, Malaysia. Environmental Geology, v. 52, n. 8, p. 1485-1500, 20 jan. 2007.
OROS, D. R.; SIMONEIT, B. R. . Identification and emission factors of molecular tracers in organic aerosols from biomass burning Part 1. Temperate climate conifers. Applied Geochemistry, v. 16, n. 13, p. 1513-1544, out. 2001.
PEDERSEN, D. U. et al. Human-cell mutagens in respirable airborne particles in the northeastern United States. 1. Mutagenicity of fractionated samples. Environmental science & technology, v. 38, n. 3, p. 682-9, 1 fev. 2004.
POMA, A. et al. Genotoxicity induced by fine urban air particulate matter in the macrophages cell line RAW 264.7. Toxicology in vitro : an international journal published in association with BIBRA, v. 20, n. 6, p. 1023-9, set. 2006.
POPE, C. A. Epidemiology of fine particulate air pollution and human health: biologic mechanisms and who’s at risk? Environmental health perspectives, v. 108 Suppl , n. August, p. 713-23, ago. 2000.
PROSKURYAKOV, S. Y.; GABAI, V. L.; KONOPLYANNIKOV, A G. Necrosis is an active and controlled form of programmed cell death. Biochemistry Biokhimii a, v. 67, n. 4, p. 387-408, abr. 2002.
QUINET, A. et al. Gap-filling and bypass at the replication fork are both active mechanisms for tolerance of low-dose ultraviolet-induced DNA damage in the human genome. DNA repair, v. 14, p. 27-38, fev. 2014.
RAASCHOU-NIELSEN, O. et al. Air pollution and lung cancer incidence in 17 European cohorts: prospective analyses from the European Study of Cohorts for Air Pollution Effects (ESCAPE). The lancet oncology, v. 14, n. 9, p. 813-22, ago. 2013.
RAMDAHL, T. Retene—a molecular marker of wood combustion in ambient air. Nature, v. 306, n. 5943, p. 580-582, 8 dez. 1983.
REYMÃO, M. S. et al. Urban air pollution enhances the formation of urethane-induced lung tumors in mice. Environmental research, v. 74, n. 2, p. 150-8, jan. 1997.
RINGUET, J. et al. Diurnal/nocturnal concentrations and sources of particulate-bound PAHs, OPAHs and NPAHs at traffic and suburban sites in the region of Paris (France). The Science of the total environment, v. 437, p. 297-305, 15 out. 2012.
Referências 133
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
RIZZO, L. V. et al. Long term measurements of aerosol optical properties at a primary forest site in Amazonia. Atmospheric Chemistry and Physics, v. 13, n. 5, p. 2391-2413, 1 mar. 2013.
ROGAKOU, E. P. et al. Initiation of DNA fragmentation during apoptosis induces phosphorylation of H2AX histone at serine 139. The Journal of biological chemistry, v. 275, n. 13, p. 9390-5, 31 mar. 2000.
ROSA, A. M. et al. Análise das internações por doenças respiratórias em Tangará da Serra - Amazônia Brasileira. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 34, n. 8, ago. 2008.
SANTANA, E. et al. Padrões de qualidade do ar : experiência comparada Brasil, EUA e União Européia. Instituto ed. São Paulo: [s.n.]. p. 81
SARASTE, A; PULKKI, K. Morphologic and biochemical hallmarks of apoptosis. Cardiovascular research, v. 45, n. 3, p. 528-37, mar. 2000.
SAVÓIA, E. J. L. et al. Biomonitoring genotoxic risks under the urban weather conditions and polluted atmosphere in Santo André, SP, Brazil, through Trad-MCN bioassay. Ecotoxicology and environmental safety, v. 72, n. 1, p. 255-60, jan.
2009.
SCARPATO, R. et al. Two years’air mutagenesis monitoring in a northwestern rural area of Italy with an industrial plant. Mutation research, v. 319, p. 293-301, 1993.
SEDAM. SECRETARIA DO ESTADO E DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL DE RONDÔNIA. Disponível em: <http://www.sedam.ro.gov.br>. Acesso em: 10 jun. 2014.
SEINFELD, J. H.; WILEY, J. Atmospheric Chemistry and Physiscs from Air Pollution to Climate Change. 2. ed. [s.l: s.n.]. p. 1 -1248
SHANG, Y. et al. Airborne quinones induce cytotoxicity and DNA damage in human lung epithelial A549 cells: the role of reactive oxygen species. Chemosphere, v. 100, p. 42-9, abr. 2014.
SIMONEIT, B. R. . Biomass burning — a review of organic tracers for smoke from incomplete combustion. Applied Geochemistry, v. 17, n. 3, p. 129-162, mar. 2002.
SIMONEIT, B. R. T. et al. Natural Organic Compounds as Tracers for Biomass Combustion in aerosols. Biomass Burning and Global Change, v. 1, p. 509-518, 1996.
SIMONEIT, B. R. T. et al. Levoglucosan, a tracer for cellulose in biomass burning and atmospheric particles. Atmospheric Environment, v. 33, n. 2, p. 173-182, jan. 1999.
Referências 134
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
SIMONEIT, B. R. T.; CARDOSO, J. N.; ROBINSON, N. An assessment of the origin and composition of higher molecular weight organic matter in aerosols over Amazonia. Chemosphere, v. 21, n. 10-11, p. 1285-1301, jan. 1990.
SIMONICH, S. L. M.; MOTORYKIN, O.; JARIYASOPIT, N. PAH intermediates: Links between the atmosphere and biological systems. Chemico-biological interactions, v. 192, n. 1-2, p. 26-9, 30 jun. 2011.
SISENANDO, H. A et al. Genotoxic potential generated by biomass burning in the Brazilian Legal Amazon by Tradescantia micronucleus bioassay: a toxicity assessment study. Environmental health : a global access science source, v. 10, p. 41, jan. 2011.
SISENANDO, H. A. et al. Micronucleus frequency in children exposed to biomass burning in the Brazilian Legal Amazon region: a control case study. BMC oral health, v. 12, n. 1, p. 6, jan. 2012.
SOARES-FILHO, B. S. et al. Modelling conservation in the Amazon basin. Nature, v.
440, n. 7083, p. 520-3, 23 mar. 2006.
SOLHAUG, A. et al. Polycyclic aromatic hydrocarbons induce both apoptotic and anti-apoptotic signals in Hepa1c1c7 cells. Carcinogenesis, v. 25, n. 5, p. 809-19, maio 2004.
SPEIT, G.; HARTMANN, A. The comet assay: a sensitive genotoxicity test for the detection of DNA damage and repair. Methods in molecular biology (Clifton, N.J.), v. 314, p. 275-86, jan. 2005.
SRAM, R. J. Impact of air pollution on reproductive health (Editorial). Environmental health perspectives, v. 107, p. A542-A543, 1999.
SULLI, G.; DI MICCO, R.; D’ADDA DI FAGAGNA, F. Crosstalk between chromatin state and DNA damage response in cellular senescence and cancer. Nature reviews. Cancer, v. 12, n. 10, p. 709-20, out. 2012.
SUYAMA, F. et al. Pollen mother cells of Tradescantia clone 4430 and Tradescantia pallida var. purpurea are equally sensitive to the clastogenic effects of X-rays. Brazilian journal of medical and biological research = Revista brasileira de pesquisas médicas e biológicas / Sociedade Brasileira de Biofísica ... [et al.], v. 35, n. 1, p. 127-9, jan. 2002.
TANAKA, T. et al. ATM activation accompanies histone H2AX phosphorylation in A549 cells upon exposure to tobacco smoke. BMC cell biology, v. 8, p. 26, jan. 2007.
TANG, T. et al. Investigations on cytotoxic and genotoxic effects of laser printer emissions in human epithelial A549 lung cells using an air/liquid exposure system. Environmental and molecular mutagenesis, v. 53, n. 2, p. 125-35, mar. 2012.
Referências 135
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
TEIXEIRA, E. C. et al. DNA-damage effect of polycyclic aromatic hydrocarbons from urban area, evaluated in lung fibroblast cultures. Environmental pollution (Barking, Essex : 1987), v. 162, p. 430-8, mar. 2012.
TEN HOEVE, J. E. et al. Recent shift from forest to savanna burning in the Amazon Basin observed by satellite. Environmental Research Letters, v. 7, n. 2, p. 024020, 1 jun. 2012.
UMBUZEIRO, G. et al. Mutagenicity and DNA adduct formation of PAH, nitro-PAH, and oxy-PAH fractions of atmospheric particulate matter from São Paulo, Brazil. Mutation research, v. 652, n. 1, p. 72-80, 29 mar. 2008a.
UMBUZEIRO, G. A. et al. A preliminary characterization of the mutagenicity of atmospheric particulate matter collected during sugar cane harvesting using the Salmonella/microsome microsuspension assay. Environmental and molecular mutagenesis, v. 49, n. 4, p. 249-55, maio 2008b.
VALDIGLESIAS, V. et al. γH2AX as a marker of DNA double strand breaks and genomic instability in human population studies. Mutation research, v. 753, n. 1, p. 24-40, 2013.
VALLE-HERNÁNDEZ, B. L. et al. Temporal variation of nitro-polycyclic aromatic hydrocarbons in PM10 and PM2.5 collected in Northern Mexico City. The Science of the total environment, v. 408, n. 22, p. 5429-38, 15 out. 2010.
VASCONCELLOS, P. C. et al. Seasonal Variation of n-Alkanes and Polycyclic Aromatic Hydrocarbon Concentrations in PM10 Samples Collected at Urban Sites of São Paulo State, Brazil. Water, Air, & Soil Pollution, v. 222, n. 1-4, p. 325-336, 21 maio 2011.
VERAS, M. M. et al. Chronic exposure to fine particulate matter emitted by traffic affects reproductive and fetal outcomes in mice. Environmental research, v. 109, n. 5, p. 536-43, jul. 2009.
VERAS, M. M. et al. Air pollution and effects on reproductive-system functions globally with particular emphasis on the Brazilian population. Journal of toxicology and environmental health. Part B, Critical reviews, v. 13, n. 1, p. 1-15, jan. 2010.
VERMEULEN, K.; VAN BOCKSTAELE, D. R.; BERNEMAN, Z. N. The cell cycle: a review of regulation, deregulation and therapeutic targets in cancer. Cell proliferation, v. 36, n. 3, p. 131-49, jun. 2003.
VICENTE, A. et al. Measurement of trace gases and organic compounds in the smoke plume from a wildfire in Penedono (central Portugal). Atmospheric Environment, v. 45, n. 29, p. 5172-5182, set. 2011.
VICENTE, A. et al. Organic speciation of aerosols from wildfires in central Portugal during summer 2009. Atmospheric Environment, v. 57, p. 186-196, set. 2012.
Referências 136
Nilmara de Oliveira Alves Tese de doutorado - UFRN
VINEIS, P.; HUSGAFVEL-PURSIAINEN, K. Air pollution and cancer: biomarker studies in human populations. Carcinogenesis, v. 26, n. 11, p. 1846-55, nov. 2005.
WANG, Z. et al. Characterization of organic compounds and molecular tracers from biomass burning smoke in South China I: Broad-leaf trees and shrubs. Atmospheric Environment, v. 43, n. 19, p. 3096-3102, jun. 2009.
WHO. Burden of disease from the joint effects of Household and Ambient Air Pollution for 2012. World Health Organization, 2014.
ZANOBETTI, A.; SCHWARTZ, J. Air pollution and emergency admissions in Boston, MA. Journal of epidemiology and community health, v. 60, n. 10, p. 890-5, out.
2006.
ZEIGER, E. Historical perspective on the development of the genetic toxicity test battery in the United States. Environmental and molecular mutagenesis, v. 51, n.
8-9, p. 781-91, 2010.
ZHAO, X. et al. Genotoxicity and chronic health effects of automobile exhaust: a study on the traffic policemen in the city of Lanzhou. Mutation Research/Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, v. 415, n. 3, p. 185-190, jul. 1998.