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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA VIDEANNY VIDENOV ALVES DOS SANTOS AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE RETINOL EM FÍGADOS FRESCOS E CONGELADOS DE FRANGOS DAS LINHAGENS COBB E ROSS NATAL 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA

VIDEANNY VIDENOV ALVES DOS SANTOS

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE RETINOL EM FÍGADOS FRESCOS E CONGELADOS DE FRANGOS DAS LINHAGENS

COBB E ROSS

NATAL2008

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VIDEANNY VIDENOV ALVES DOS SANTOS

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE RETINOL EM FÍGADOS FRESCOS E CONGELADOS DE FRANGOS DAS LINHAGENS

COBB E ROSS

Dissertação apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioquímica.Orientador: Roberto Dimenstein.

NATAL2008

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Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial Leopoldo

Nelson.

Santos, Videanny Videnov Alves dos. Avaliação da concentração de retinol em fígados frescos e congelados de frangos das linhagens Cobb e Ross / Videanny Videnov Alves dos Santos. - Natal(RN), 2008. 78 f.

Orientador: Roberto Dimenstein.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Departamento de Bioquímica. Programa de Pós-Graduação em Bioquímica.

1. Vitamina A – Dissertação. 2. Retinol – Dissertação. 3. Fígado – frango – Dissertação. 4. Frango congelado – Cobb e Ross – Dissertação. I. Dimenstein, Roberto. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BC CDU 577.161.1 (043.3)

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VIDEANNY VIDENOV ALVES DOS SANTOS

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE RETINOL EM FÍGADOS FRESCOS E CONGELADOS DE FRANGOS DAS LINHAGENS COBB E ROSS

Dissertação apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioquímica.

Aprovado em: 29/09/2008

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________Dr. Roberto Dimenstein

Departamento de Bioquímica - UFRN Orientador

____________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Alberto Bastos de Maria

Departamento de Ciências Fisiológicas - UNIRIO 1º Examinador

____________________________________________________ Profa. Dra. Roberta Targino Pinto Correia

Departamento de Engenharia Química - UFRN 2º Examinador

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Dedico esta obra

À Deus, meus pais, noivo e irmãos pelo incentivo e apoio.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares, em especial, meus pais, Ana Lúcia e Videncial Francisco, Carlos Sérgio e meu irmão Richardy, por todo amor, confiança, respeito e incentivo

nos momentos mais difíceis.

Ao meu orientador professor Roberto Dimenstein pelo ensinamento, paciência, confiança, incentivo e amizade dispensada durante a elaboração desse trabalho.

Ao programa de Pós-Graduação em Bioquímica.

Ao Sr. Luciano Simões de Melo, veterinário da Guaraves, pelo apoio à pesquisa e fornecimento das amostras de fígado.

Aos professores do DBQ por todos os conhecimentos transmitidos durante o curso.

Aos professores Luíz e Guilherme por todas as sugestões durante a qualificação.

Ao professor Carlos Lima pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa.

Aos funcionários do Departamento de Bioquímica, em especial à técnica Creuza Bernardo pelo incentivo, carinho e primeiros conhecimentos adquiridos.

Ao professor Henrique pela colaboração a esse trabalho.

À minha grande amiga Heryka Myrna, pela amizade, palavras de apoio, incentivo e ajuda a este trabalho.

Às alunas de iniciação científica, Ana Paula, Nathália Karoline e Jeane Franco, cuja ajuda foi imprescindível para a realização desse trabalho.

À amiga Danielle Soares, pelo companheirismo, palavras de apoio e agradável convivência durante todo o mestrado.

Às minhas amigas do laboratório da Bioquímica da Nutrição, Danielle Soares, Lígia Siqueira, Layana, Carolina, Ana Paula, Nathália Karoline, Jeane Franco, Katherine

Feitosa, Gabrielle e Samara, por tornarem o dia-a-dia no laboratório mais agradável.

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À minha turma do mestrado pela agradável convivência e amizade.

À minha querida avó Francisca Teixeira por toda a ajuda e acolhida durante esses anos do mestrado.

Ao meu tio Eugênio por toda ajuda dispensada sempre que foi preciso.

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse trabalho. Muito obrigada.

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"...se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente, lutarmos pelo melhor...O

melhor vai se instalar em nossa vida."

Carlos Drummond Andrade.

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RESUMO

A ingestão de quantidades adequadas de alimentos, incluindo aqueles ricos

em vitaminas, é necessária para uma vida saudável. A carência de vitamina A tem

sido caracterizada como um problema de saúde pública nos países em

desenvolvimento, entretanto, uma alta ingestão de vitamina A pode resultar em

efeitos tóxicos e teratogênicos. Altas concentrações de vitamina A tem sido

observadas nos fígados de animais. O objetivo deste trabalho foi avaliar os níveis de

retinol em fígados de frango e verificar o efeito da estocagem sob condições de

congelamento sobre esses níveis. Foram utilizados 64 fígados de duas linhagens de

frango, Cobb e Ross, provenientes de quatro diferentes propriedades. Examinamos

32 fígados de cada linhagem, 8 amostras de cada granja. As amostras de fígado

foram homogeneizadas individualmente, em seguida foram retiradas de cada

amostra 4 alíquotas. Uma das alíquotas foi analisada imediatamente após o abate

(T0), as demais foram analisadas após 30, 60 e 90 dias de armazenamento a –18oC

(T30, T60 e T90, respectivamente). A dosagem de retinol no fígado foi realizada

através da Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). Os níveis de retinol

variaram significativamente de acordo com a linhagem. O valor médio de retinol nas

amostras frescas da linhagem Cobb e Ross foi de 6678,0 ± 1337,4 e 8324,1 ±

1158,5 μg/100g, respectivamente. Valores de 4258 ± 918,7 e 4650,5 ± 1391,7

g/100g foram encontrados após 90 dias de estocagem para a linhagem Cobb e

Ross, respectivamente. O congelamento do fígado causou uma redução significativa

nos seus níveis de retinol, ocasionando uma perda de até 44% com relação aos

fígados frescos. A redução nos níveis de retinol ocorreu a partir de 30 dias de

estocagem. Mesmo com as perdas decorrentes do congelamento, a ingestão de

uma típica porção de 100 g de fígado, independentemente da linhagem do frango

analisada, ultrapassa todas as recomendações de consumo e o limite máximo de

ingestão tolerável de vitamina A (3000 μg/dia) para adultos.

Palavras-chave: Frango. Fígado. Retinol. Congelamento. CLAE.

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ABSTRACT

The intake of adequate quantities of food, including those rich in vitamins, is

necessary for a healthy life. The lack of vitamin A has been characterized as a public

health problem in developing countries, however, a high intake of vitamin A can result

in toxic and teratogenics effects. High concentrations of vitamin A have been

observed in the livers of animals. The objective of this study was to assess the levels

of retinol in chicken livers and verify the effect of frozen storage on these levels. 64

livers from two chicken strains, Cobb and Ross, were used, came from four different

farms. We examined 32 livers from each strain, 8 samples from each farm. Liver

sample were homogenized individually, then 4 aliquots were taken from each

sample. One of aliquots was analyzed immediately after slaughter (T0), the others

were analyzed after 30, 60 and 90 days of storage at -18oC (T30, T60 and T90,

respectively). Retinol dosage in the liver was determined by High Performance Liquid

Chromatography (HPLC). The levels of retinol varied significantly according to the

strain. The mean retinol value in the fresh samples was 6678.0 ± 1337.7 and 8324.1

± 1158.5 μg/100g in the Cobb and Ross strain, respectively. Values of 4258 ± 918.7

± 1391.7 and 4650.5 ± 1391.7 g/100g were found after 90 days of storage for Cobb

and Ross strain, respectively. The liver freezing caused a significant reduction in their

levels of retinol, causing a loss of up to 44% with respect to fresh livers. The

reduction in retinol levels occurred from 30 days of storage. Even with the losses

from the frozen, the ingestion of a typical portion of 100 g of liver, regardless the

chicken strain analyzed, surpass all recommendations of consumption and the

maximum tolerable intake of vitamin A (3000 g/day) for adults.

Keywords: Chicken. Liver. Retinol. Freezing. HPLC.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Estrutura química das diferentes formas de vitamina A....... 21

FIGURA 2 Conversão do -caroteno a retinol........................................ 22

FIGURA 3 Absorção e transporte do retinol........................................... 24

FIGURA 4 Estocagem do retinol............................................................ 26

FIGURA 5 Aviário da empresa de avicultura Guaraves......................... 41

FIGURA 6 Diluições do padrão de retinol para leitura em espectrofotômetro................................................................. 43

FIGURA 7 Diluição do padrão de retinol para sua aplicação no aparelho de CLAE................................................................ 44

FIGURA 8 Extração de retinol das amostras de fígado......................... 46

FIGURA 9 Perfil de eluição de retinol em CLAE.................................... 48

FIGURA 10 Curva de calibração dos padrões de retinol (2-64 ng/20 μL)......................................................................................... 50

FIGURA 11 Peso dos fígados da linhagem Cobb e Ross........................ 54

FIGURA 12 Concentração de retinol nos fígados frescos dos frangos das linhagens Cobb e Ross de diferentes granjas............... 55

FIGURA 13 Concentração média de retinol nos fígados frescos dos frangos das linhagens Cobb e Ross..................................... 56

FIGURA 14 Efeito da estocagem sobre a concentração de retinol nos fígados de frango de diferentes granjas............................... 58

FIGURA 15Comparação entre as atuais recomendações diárias de retinol (RDA) do Instituto de Medicina (2001) e as concentrações de retinol nos fígados analisados................. 66

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Conteúdo de vitaminas em fígado de frango in natura........... 18

TABELA 2 Composição da ração fornecida aos frangos.......................... 40

TABELA 3 Repetitividade das amostras de fígado................................... 51

TABELA 4Concentração de retinol nos fígados de frango e porcentagem de perda com o período de estocagem............................................................................... 57

TABELA 5 Níveis de retinol no fígado de frangos em diversos estudos e disponíveis em tabelas de alimentos................................... 62

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LISTA DE ABREVIATURAS / SIGLAS

ACAT Acil coenzima A retinol aciltransferase

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

CRABP Proteína celular ligadora de ácido

CRBP Proteína celular ligadora de retinol

DRI’s Dietary Reference Intakes

FAO Food and Agriculture Organization

HPLC High Performance Liquid Chromatography

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IVACG International Vitamin A Consultative Group

LPL Lipase lipoproteíca

LRAT Lecitina-retinol aciltransferase

OMS Organização Mundial de Saúde

RBP Proteína transportadora de retinol

RDA Ingestão dietética recomendada

RE Retinol equivalente

TTR Transtirretina

UL Limite máximo de ingestão tolerável

USDA United States Department of Agriculture

WHO World Health Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................ 14

1.1 GALINÁCEOS.................................................................................. 14

1.1.1 Histórico......................................................................................... 14

1.1.2 Avicultura de corte........................................................................ 15

1.1.3 Importância da carne de frango................................................... 16

1.2 VITAMINA A.................................................................................... 18

1.2.1 Propriedades químicas, fontes e funções................................... 19

1.2.2 Absorção, transporte e estocagem.............................................. 23

1.2.3 Recomendações e requerimentos nutricionais.......................... 27

1.2.4 Deficiência de vitamina A............................................................. 28

1.2.5 Toxicidade e teratogenia............................................................... 31

1.3 O FÍGADO COMO FONTE DE VITAMINA A.................................. 33

1.4 OBJETIVOS..................................................................................... 37

1.4.1 Objetivo Geral................................................................................ 37

1.4.2 Objetivos Específicos................................................................... 37

2 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................. 39

2.1 MATERIAL BIOLÓGICO.................................................................. 39

2.2 PREPARO DAS AMOSTRAS.......................................................... 41

2.3 SOLVENTES................................................................................... 42

2.4 PREPARO DO PADRÃO DE RETINOL.......................................... 42

2.5 HIDRÓLISE ALCALINA E EXTRAÇÃO DO RETINOL.................... 44

2.6 DETERMINAÇÃO DO RETINOL POR CLAE.................................. 47

2.7 CONFIRMAÇÃO DO RETINOL E TEMPO DE RETENÇÃO DO RETINOL NAS AMOSTRAS DE FÍGADO DE FRANGO................ 49

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2.8 OTIMIZAÇÃO DO MÉTODO........................................................... 49

2.8.1 Curva de calibração....................................................................... 49

2.8.2 Teste de recuperação.................................................................... 50

2.8.3 Teste de repetitividade.................................................................. 51

2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA................................................................. 52

3 RESULTADOS................................................................................ 53

4 DISCUSSÃO................................................................................... 59

5 CONCLUSÕES............................................................................... 68

REFRERÊNCIAS............................................................................ 69

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1 INTRODUÇÃO

1.1 GALINÁCEOS

1.1.1 Histórico

As galinhas domésticas (Gallus gallus domesticus) pertencem à ordem

Galliformes, subordem Galli, família Phasianidae e sub-família Phasianinae

(ENGLERT, 1980).

A ave considerada ancestral das galinhas domésticas atuais viveu no

Sudoeste Asiático há milhares de anos. Esta ave foi denominada como Gallus

bankiva, hoje mais comumente conhecida como galinha Vermelha das Selvas (Red

Jungle Fowl), que até hoje habita as selvas da Índia. Provavelmente, quatro ou mais

espécies de galinhas silvestres contribuíram para a formação das galinhas

domésticas conhecidas atualmente (ENGLERT, 1980).

Na índia e na China a domesticação de galinhas ocorreu por volta de 3200

a.C. No Egito, desde aproximadamente 1400 a.C., as galinhas foram reproduzidas

em cativeiro, com ovos artificialmente incubados e os pintos eram criados para a

produção de carne e de ovos. Por volta de 1 d.C. as galinhas domesticadas eram

encontradas em muitas partes da Ásia Ocidental e Europa Oriental. Em 1607, elas

foram trazidas para a América pelos ingleses (MORENG; AVENS, 1990).

No Brasil, por volta do final do século XIX os primeiros galos e galinhas de

raça pura foram importados. Mas a exploração econômica de aves no Brasil se

iniciou em meados de 1930. Neste período os criadores já pensavam de certa forma

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15

em auferir lucros, tanto em relação à produção de ovos, como à de carne

(MALAVAZZI, 1977).

1.1.2 Avicultura de corte

O setor avícola destaca-se no cenário nacional e internacional por

apresentar um crescimento na produção e no consumo de carne de frango,

tornando-se assim uma atividade econômica cada vez mais relevante (SCANES,

2007). Os níveis elevados de produtividade nos últimos 30 anos devem-se às várias

conquistas tecnológicas que possibilitaram aos homens selecionar, de uma grande

variedade de características das galinhas, somente aquelas de interesse para seus

propósitos específicos. Estas características foram transmitidas à progênie através

de programas específicos de reprodução. Tais programas visam o melhoramento de

algumas características como peso corporal, índice de crescimento, viabilidade

elevada e resistência a doenças (MORENG; AVENS, 1990). Em 1970, eram

necessários 70 dias para o crescimento e engorda de um frango de corte que

consumia cerca de 2 Kg de ração para 1 Kg de ganho de peso, sendo que 80%

desse peso vivo poderia ser considerado comestível (GIROTTO; MIELE, 2004).

Atualmente um frango de corte atinge a idade de abate por volta dos 42 dias quando

está pesando aproximadamente 2,2 Kg, com conversão alimentar de 1,80 Kg de

ração/Kg de ganho de peso (BOOKERS et al., 2004).

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16

Além dos avanços genéticos, melhorias nos sistemas de manejo e

alimentação com o aprimoramento das exigências nutricionais também contribuíram

para o avanço da avicultura brasileira (GODOI et al., 2008).

Existem mundialmente mais de 300 raças puras de galinhas domésticas. As

principais raças utilizadas como matrizes para frangos de corte são a Cornish e a

Plymouth Rock (FIGUEIREDO, 2003; MALAVAZZI, 1990). O intenso processo de

seleção e cruzamentos tem originado linhagens específicas com características

próprias. Atualmente as raças híbridas são muito comuns e apresentam maior

produtividade do que as raças puras (MADEIRA et al., 2006). Dessa forma, as

linhagens utilizadas na moderna avicultura de corte são híbridos comerciais,

conseguidos através de gerações de cruzamentos entre diferentes raças com a

finalidade de aumento de produtividade, destacando-se atualmente as linhagens

Cobb, Ross, Hybro e Hubbard, que apresentam características diversas de

velocidade de crescimento, rendimento de carne e de exigências nutricionais

(NOTTER, 1999; VALLEJO et al., 1998; SANTINI et al., 2004; VIEIRA et al., 2007).

O Brasil destaca-se mundialmente como o terceiro maior produtor de

frangos de corte, sendo superado apenas pelos Estados Unidos e pela China, e líder

nas exportações mundiais, ocupando 25% do mercado mundial (FAO, 2006; IBGE,

2006; FAO, 2007a; USDA, 2008). Em 2005, a produção mundial de carne de frango

alcançada pelos Estados Unidos, China e Brasil foi de 15,9, 10,2 e 8,7 milhões de

toneladas, respectivamente (FAO, 2007b,c). O volume de abate de frangos no Brasil

em 2007 foi de 9,0 milhões de toneladas (IBGE, 2008).

1.1.3 Importância da carne de frango

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17

A carne de frango representa em torno de um terço da carne produzida e

consumida globalmente (SCANES, 2007). No Brasil, ela é uma das carnes mais

consumidas pela população (MOREIRA et al., 1998; FONSECA; SALAY, 2008). O

consumo per capita anual de carne de frango pela população brasileira progrediu no

período de 1986 a 2004, passando de cerca de 10 Kg para 34,8 Kg. Em 2005, esse

consumo passou a ser de 35,6 Kg, quase se igualando a quantidade consumida de

carne bovina (36,4 Kg) (USDA, 2006). Dessa forma, o Brasil está passando de um

país preponderantemente consumidor de carne bovina para um país consumidor

também de carne de frango (GIROTTO; MIELE, 2004; USDA, 2006).

A tendência favorável ao consumo da carne de frango deve-se basicamente

à alta qualidade do produto, à imagem de produto saudável e aos preços acessíveis

em relação às outras carnes (LEESON; SUMMERS, 1997; SCANES, 2007). Outra

vantagem dessa carne é o fato de não sofrer rejeição devido à crenças religiosas ou

culturais, fazendo da mesma um produto popular nos hotéis, instituições, etc

(LEESON; SUMMERS, 1997).

Constata-se também, nas últimas décadas, uma acelerada alteração na

forma de consumo da carne de frango no mercado geral. Ocorreu o crescimento da

preferência por frango em cortes em relação ao frango inteiro, por apresentar maior

valor agregado e maior conveniência e praticidade para o consumidor. Além disso,

dependendo do mercado, os produtos poderão ser fornecidos na forma in natura e

(ou) temperados, podendo ser resfriados ou congelados (SCHMIDT; FIGUEIREDO,

2003).

Os principais cortes de frango comercializados são a asa, coxa, sobrecoxa,

peito, coração, moela e fígado (SCHMIDT; FIGUEIREDO, 2003). Dentre eles

destaca-se o fígado por ser considerado uma fonte alternativa de alimento,

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18

principalmente na população de baixo poder aquisitivo, apresentando elevados

níveis de proteína, além de ser excelente fonte de ferro e vitaminas, tais como

vitamina A, ácido fólico, riboflavina e outras vitaminas do complexo B (Tabela 1)

(MONTE et al., 2007; AKASE et al., 2003; SPEEDY, 2003).

TABELA 1. Conteúdo de vitaminas em fígado de frango in natura.

VITAMINAS CONCENTRAÇÕES

Retinol 3290 g/100gTocoferóis 0,70 mg/100g

Tiamina 0,305 mg/100gRiboflavina 1,778 mg/100g

Niacina 9,728 mg/100gÁcido Pantotênico 6,233 mg/100g

Vitamina B12 16,58 g/100gVitamina C 17,9 mg/100g

Fonte: USDA (2007).

De todos os alimentos que habitualmente são consumidos, o fígado é,

juntamente com o ovo e a manteiga, a maior fonte de vitamina A (SAUVER, 1993).

1.2 VITAMINA A

Vitaminas são compostos orgânicos essenciais para reações metabólicas

específicas, que não podem ser realizadas por células dos tecidos a partir de

metabólitos ou outras substâncias orgânicas. Em 1912, Casimir Funk, isolou do

farelo de arroz uma substância com função amina. Como esta substância

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19

apresentou a capacidade de prevenir e curar o beribéri, Funk a designou de vitamina

(“amina vital”), ou seja, amina indispensável à vida (GUILLAND; LEQUEU, 1995).

A vitamina A foi a primeira das vitaminas a ser identificada (ROSS et al.,

1998). Em 1913, os pesquisadores McCollum & Davis da Universidade de Wisconsin

descreveram a vitamina A lipossolúvel e a sua importância. Inicialmente foi adotado

o termo fator lipossolúvel A, composto que estimularia o crescimento. Osborn e

Mendel na Universidade de Yale, concomitantemente, descobriram que o óleo de

fígado de bacalhau promovia o crescimento em ratos (BIESALSKI; GRIMM, 2007;

PENTEADO, 2003).

1.2.1 Propriedades químicas, fontes e funções

A vitamina A é uma vitamina lipossolúvel essencial para os seres humanos e

outros vertebrados em importantes processos biológicos (INSTITUTE OF

MEDICINE, 2001). Seu papel no ciclo visual foi estabelecido por Wald em 1935 e

parece ser o único totalmente elucidado (DOLINSKY; RAMALHO, 2003). Além da

função visual, a vitamina A também participa da expressão gênica, reprodução,

desenvolvimento embrionário, função imune e crescimento e diferenciação das

células epiteliais; (QUADRO et al., 2004; ZILE, 1998).

Essa vitamina é um álcool amarelo claro cristalino, isoprenóide e insaturado,

cuja estrutura química é composta de um anel -ionona conjugado a uma cadeia

lateral isoprenóide contendo um grupo polar no seu final (Figura 1), sendo chamada

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de retinol em alusão a sua função específica na retina do olho (LATHAM, 1997;

CHAGAS et al., 2003; DEBIER; LARONDELLE, 2005).

O termo genérico vitamina A inclui qualquer composto que possui atividade

biológica de todo trans retinol, sendo encontrada na natureza em duas formas:

vitamina A pré-formada e pró-vitamina A. Os retinóides correspondem à vitamina A

pré-formada, sendo constituídos pelo retinol e seus metabólitos (Figura 1), bem

como análogos sintéticos relacionados estruturalmente ao retinol, com ou sem

atividade biológica. As diferentes formas de vitamina A encontradas nos tecidos

animais são o retinol, retinal, ácido retinóico e ésteres de retinila (GUO et al., 2001).

O retinol é o principal retinóide circulante no organismo e a partir do seu

metabolismo são sintetizados os demais retinóides funcionais de ocorrência natural

(QUADRO et al., 2004; AZAÏS -BRAESCO; PASCAL, 2000). O primeiro metabólito

resultante da oxidação reversível do retinol é o retinaldeído (retinal), um componente

essencial à visão. Em seguida, o retinal pode ser oxidado irreversivelmente a ácido

retinóico, que não exerce função na visão nem na reprodução, sendo potente em

promover a diferenciação e crescimento do tecido epitelial (QUADRO et al., 2004;

BIESALSKI; GRIMM, 2007; FRANCO, 1998). Dentre os ésteres de retinila, o

palmitato de retinila é a forma predominante (DEBIER; LARONDELLE, 2005) (Figura

1).

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Figura 1. Estrutura química das diferentes formas de vitamina A. Fonte: Baseada em Penniston e Tanumihardjo, 2006.

O termo pró-vitamina A é usado para designar vários carotenóides que

atuam como precursores de vitamina A (KARADAS et al., 2005). Apesar de mais de

600 carotenóides terem sido isolados de fontes naturais, apenas cerca de 50

possuem atividade de vitamina A, sendo o -caroteno o mais potente carotenóide

precursor dessa vitamina (SOLOMONS, 2006; DURING; HARRISON, 2004). Cada

molécula de -caroteno é clivada em duas moléculas de retinol (SCOTT;

RODRIGUEZ-AMAYA, 2000) (Figura 2).

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Figura 2. Conversão do -caroteno a retinol. Fonte: AMBRÓSIO; CAMPOS; FARO, 2006.

Na natureza, a vitamina A aparece na forma esterificada e

conseqüentemente é solúvel em diferentes graus em muitos solventes orgânicos e

insolúvel em água. A vitamina A é susceptível a oxidação e isomerização quando

exposta a luz, oxigênio, metais reativos e temperaturas elevadas, sendo instável em

meio ácido e estável em meio alcalino (SOLOMONS, 2006; LESKOVÁ et al., 2006;

PENTEADO, 2003).

Nutriente essencial, a vitamina A é requerida em pequenas quantidades pelo

organismo humano (FAO/WHO, 2004; LESKOVÁ et al., 2006). Por não ser

sintetizada no organismo, a vitamina A deve ser fornecida pela dieta (CHAGAS et

al., 2003). Os retinóides são encontrados na natureza exclusivamente em alimentos

de origem animal, sendo o fígado, ovos, leite e óleos de peixe fontes ricas nessa

vitamina. Os carotenóides, que correspondem à provitamina A, são encontrados

principalmente em vegetais de coloração amarelo-alaranjado e vegetais folhosos

verde-escuros, tais como manga, mamão, cenoura e abóbora (DEBIER;

LARONDELLE, 2004; RAMALHO et al., 2006a; VALDEZ C et al., 2000; FAO/WHO,

2004).

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1.2.2 Absorção, transporte e estocagem

Os alimentos contêm derivados da vitamina A (os ésteres de retinila) ou

provitaminas A (principalmente o -caroteno) (BIESALSKI; GRIMM, 2007). As

diferentes formas vitamínicas A sofrem ações sucessivas do suco gástrico,

pancreático e intestinal, para possibilitar a sua dissociação da matriz alimentar,

liberando assim os ésteres de retinila para o intestino (GUILLAND; LEQUEU, 1995;

SOLOMONS, 2006). Os ésteres de retinila dietéticos são então hidrolisados, para

que possam ser absorvidos pelas células da mucosa intestinal (BIESALSKI; NOHR,

2004). A hidrólise dos ésteres de retinila a retinol ocorre no lúmen intestinal pela

ação de duas enzimas, a hidrolase pancreática e uma hidrolase da superfície de

membrana das células mucosas intestinais ou enterócitos, na presença de sais

biliares. O retinol assim liberado é incorporado às micelas lipídicas sob influência dos

sais biliares e a seguir é absorvido para o interior do enterócito. A eficiência da

absorção do retinol é largamente dependente da quantidade e qualidade das

gorduras presentes na dieta (DEBIER; LARONDELLE, 2004; CHAGAS et al., 2003

GUILLAND; LEQUEU, 1995).

No interior do enterócito, o retinol é complexado à uma proteína

transportadora de retinol intracelular, a RBP celular tipo 2 (CRBP II), para ser

reesterificado com ácidos graxos de cadeia longa pela ação das enzimas lecitina-

retinol aciltransferase (LRAT) e acil coenzima A retinol aciltransferase (ACAT). A

LRAT é uma enzima expressa principalmente no intestino, fígado e olhos, com ação

catalítica na transesterificação do retinol com um dos grupos acil presentes na

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lecitina. (PIANTEDOSI et al., 2005; QUADRO et al., 2004; DEBIER; LARONDELLE,

2005).

O éster de retinila recém-formado é incorporado em quilomícrons e lançado

para linfa até a circulação geral, onde são parcialmente degradados pela lipase

lipoprotéica (LPL) (BENNEKUM et al., 1999). A maior parte dos ésteres de retinil

permanece nos quilomícrons durante sua conversão a quilomícrons remanescentes

(HARRISON; GAD; ROSS, 1995). Durante este processo, uma pequena quantidade

de ésteres de retinila pode ser absorvida por tecidos extra-hepáticos tais como os

pulmões, rins, tecido adiposo, baço e músculo esquelético. Os quilomícrons

remanescentes são transportados para o fígado, junto com os ésteres de retinila, e

absorvidos por receptores específicos de membrana hepática (Figura 3)

(PENNISTON; TANUMIHARDJO, 2006; INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

Figura 3. Absorção e transporte do retinol.RE- ésteres de retinila; ROH- retinol; QM- quilomícron; QMR- quilomícron remascente; LPL-

lipase lipoprotéica. Fonte: Adaptada de Debier e Larondelle, 2004.

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Os carotenóides, assim como o retinol, são incorporados em micelas para

sua absorção intestinal. A maioria dos carotenóides pró-vitamina A são clivados no

enterócito e convertidos a retinol, através da enzima 15-15’ -caroteno

monoxigenase (DEBIER; LARONDELLE, 2005).

A biodisponibilidade da vitamina A, que é a capacidade de absorção,

armazenamento ou utilização desse nutriente pelo organismo, é afetada pelo estado

nutricional individual e pela integridade da mucosa intestinal (SOLOMONS, 2006;

PENTEADO, 2003). Alguns fatores nutricionais importantes para a biodisponibilidade

da vitamina A são os níveis de proteínas, necessárias para a síntese de proteínas

transportadoras e gorduras (FAO/WHO, 2004; PENNISTON, 2006).

Quando a ingestão dietética de vitamina A é adequada, até 90% dos ésteres

de retinila são estocados no fígado (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001; SOLOMONS,

2006). Nesse órgão, apenas as células parenquimais e estreladas estão envolvidas

no metabolismo da vitamina A. Os ésteres de retinila são hidrolisados por ésteres de

retinila hidrolases a retinol nas células parenquimais ou hepatócitos. O retinol liga-se

à proteína plasmática transportadora de retinol (RBP) para ser liberado na

circulação. No sangue, a holo-RBP associa-se com outra proteína de transporte, a

transtirretina (TTR). Esta ligação previne a filtração glomerular do complexo

retinol:RBP:TTR, além de aumentar a afinidade da RBP ao retinol. O retinol é

transportado nesse complexo para vários tecidos, incluindo os olhos. O retinol que

não é imediatamente lançado na circulação pelo fígado passa para as células

estreladas do fígado (também conhecidas como células de Ito), onde liga-se à CRBP

I e é esterificado pela LRAT, essencialmente como retinil palmitato, oleato e

linoleato, permanecendo armazenado até a necessidade de subseqüente

mobilização para manter as concentrações sangüíneas de retinol normais (RAILA et

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SOLOMONS, 2006; DEBIER; LARONDELLE, 2004) (Figura 4). A maioria

dos metabólitos da vitamina A são excretados na urina (INSTITUTE OF MEDICINE,

2001).

Figura 4. Estocagem do retinol.RE- ésteres de retinil; ROH- retinol; QMR- quilomícron remascente; RBP- proteína

carregadora do retinol; TTR- transtirretina. Fonte: Adaptada de Debier e Larondelle, 2004.

Ao atingir o tecido-alvo, o retinol entra na célula através de um mecanismo

que envolve receptores específicos de membrana que reconhecem a RBP

(PENTEADO, 2003). No interior da célula o retinol pode ser oxidado a retinal, que

por sua vez pode ser oxidado a ácido retinóico (QUADRO et al., 2004; AZAÏS -

BRAESCO; PASCAL, 2000). As enzimas álcool desidrogenase e desidrogenase de

cadeia curta catalisam o primeiro passo, que é reversível. A oxidação irreversível do

retinaldeído a ácido retinóico é catalisada pela aldeído desidrogenase e citocromo P-

450 (OLSON, 1996; AZAÏS-BRAESCO; PASCAL, 2000).

Há dois isômeros biologicamente ativos do ácido retinóico: todo trans ácido

retinóico e o 9-cis ácido retinóico. O ácido retinóico liga-se à proteína ligante de

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ácido retinóico (CRABP I ou II) e o complexo formado é transportado para o núcleo,

onde liga-se a receptores nucleares específicos. No núcleo, o ácido retinóico liga-se

a sequências de DNA próximas a genes marcados, regulando a expressão desses

genes que medeiam quase todas as funções biológicas da vitamina A (BLOMHOFF,

1994; NAPOLI, 1999).

1.2.3 Recomendações e requerimentos nutricionais

Valores de referência para a ingestão de nutrientes são estabelecidos e

periodicamente revisados para a avaliação da dieta. Assim, são incorporados novos

conhecimentos sobre eventuais manifestações aos extremos de exposição, ou seja,

sinais de carência decorrentes de ingestão insuficiente, ou de toxicidade, que

indicam efeitos adversos decorrentes do excesso de consumo (PADOVANI et al.,

2006) .

As Dietary Reference Intakes (DRI’s) representam o conjunto de referência

de ingestão de nutrientes, estabelecidos para uso no planejamento e avaliação de

dietas para pessoas aparentemente saudáveis (AMAYA-FARFAN; DOMENE;

PADOVANE, 2001).

O requerimento médio de vitamina A para um indivíduo é definido como a

quantidade necessária dessa vitamina, expressa como microgramas de retinol

equivalente (μg RE), para prevenir os sinais clínicos de deficiência, permitir o

crescimento normal e reduzir os riscos de morbidade e mortalidade severa

relacionada à vitamina A em qualquer grupo populacional (FAO/WHO, 2004). A

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ingestão dietética recomendada (RDA) é o nível de ingestão diária suficiente para

satisfazer os requerimentos nutricionais de 97 a 98% dos indivíduos saudáveis,

compreendidos em um determinado grupo, por gênero e estágio de vida. O limite

máximo de ingestão tolerável (UL) de vitamina A é o nível mais alto de ingestão

diária de vitamina A que não apresenta risco de efeitos adversos à saúde em quase

todos os indivíduos (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

De acordo com as DRI’s, a ingestão dietética recomendada de retinol para

crianças na faixa de 1 a 3 anos é de 300 μg/dia e de 4 a 8 anos é de 400 μg/dia.

Para homens a partir de 14 anos recomenda-se uma ingestão igual a 900 μg/dia e

para mulheres a partir de14 anos, 700 μg/dia; grávidas entre 19-50 anos, 770 μg/dia

e para lactantes (19-50 anos), 1300 μg/dia. E o limite máximo de ingestão tolerável

(UL) de vitamina A é de 3000 μg/dia para adultos (INSTITUTE OF MEDICINE,

2001).

1.2.4 Deficiência de vitamina A

A deficiência de vitamina A ou hipovitaminose A, juntamente a carência

energético-protéica e anemia, encontra-se entre as deficiências nutricionais de maior

importância epidemiológica, sendo a segunda deficiência nutricional mais comum no

mundo (SOUZA; VILAS BOAS, 2002; SOLOMONS, 2006). Estima-se que 250

milhões de pessoas no mundo sejam deficientes em vitamina A (ROSS;

ZOLFAGHARI, 2004). Sua prevalência é particularmente alta na Ásia, África e

América Latina. No Brasil, pensava-se que o problema estaria limitado às regiões

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Norte e Nordeste, entretanto, a deficiência de vitamina A acontece em todo país,

sem se restringir às áreas mais pobres (RAMALHO; FLORES; SAUNDERS, 2002;

ZANCUL, 2004).

A carência de vitamina A é causada principalmente por uma ingestão

inadequada de alimentos fontes dessa vitamina e é agravada pelo aparecimento de

infecções (LATHAM, 1997). Essa ingestão inadequada de vitamina A prejudica as

funções fisiológicas, tanto em crianças como em indivíduos adultos, ainda que os

sinais clínicos de carência não sejam evidentes (DOLINSKY; RAMALHO, 2003).

Uma variedade de razões justifica o consumo insuficiente desta vitamina, sobretudo

a falta de conhecimento e a não preferência pelos alimentos ricos em vitamina A,

seja pelo seu custo ou hábito alimentar (SOMMER, 1995).

As conseqüências da carência dessa vitamina são bem conhecidas:

problemas oculares, retardo no crescimento e desenvolvimento, menor eficiência do

sistema imune e maiores índices de morbidade e mortalidade infantil (CHAGAS et al,

2003).

Os grupos tradicionalmente considerados de risco são as mulheres em idade

fértil, grávidas, lactantes e crianças de até 6 anos de idade (FAO/WHO, 2004;

RAMALHO; FLORES E SAUNDERS, 2002). Estima-se que 3 milhões de crianças,

principalmente em países em desenvolvimento, apresentam alguma forma de

xeroftalmia, termo usado para designar as manifestações oculares decorrentes da

deficiência de vitamina A, e até 500.000 ficam cegas anualmente. A hipovitaminose

A também é uma das maiores causadoras de morbidade e mortalidade entre

crianças nos países em desenvolvimento (FAO/WHO, 2004; LATHAM, 1997). O

Ministério da Saúde (2000) reconhece que a carência de vitamina A está associada

a 23% das mortes por diarréia em crianças brasileiras. No primeiro trimestre da

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gestação, quando os órgãos estão sendo formados, a exposição do feto a severa

deficiência ou excesso de vitamina A pode resultar em anomalias congênitas

(FAO/WHO, 2004).

Na deficiência de vitamina A, a integridade das barreiras epiteliais e o

sistema imune são comprometidos antes das alterações da função visual, o que

caracteriza a deficiência subclínica ou marginal de vitamina A. O principal sintoma

clínico da hipovitaminose A é a xeroftalmia. A sua fase inicial é caracterizada por

prejuízos na adaptação da visão ao escuro devido à diminuição da capacidade em

regenerar a rodopsina, conhecida como cegueira noturna. Um estágio mais

avançado é caracterizado por alterações do epitélio ocular que resultam em secura

da conjuntiva, conhecida como xerose da conjuntiva. O próximo estágio é o

aparecimento das manchas de Bitot, que são manchas superficiais de cor

esbranquiçada. Outro estágio ainda mais avançado é a xerose da córnea, podendo

conduzir à úlcera de córnea ou ceratomalácea e, finalmente, cegueira parcial ou total

(SOMMER, 1995; LATHAM, 1997; MACHLIN, 1990).

Outros sinais e sintomas de deficiência de vitamina A incluem a

queratinização das membranas mucosas que revestem o trato respiratório, urinário e

reprodutivo, diminuindo o papel de barreira que essas membranas exercem para

proteger o organismo contra infecções microbianas (GERALDO et al., 2003).

Os especialistas propõem três tipos de estratégias de intervenção no

combate a hipovitaminose A nos grupos considerados de risco: a suplementação

com doses maciças como medida emergencial de curto prazo; enriquecimento de

alimentos em médio prazo; e diversificação dietética através da educação alimentar

como solução definitiva (CHAGAS et al., 2003).

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Em alguns países medidas emergenciais a curto prazo são adotadas,

entretanto, a medida mais efetiva é a educação nutricional, que estimula o aumento

do consumo de alimentos ricos em vitamina A (DOLINKY; RAMALHO, 2003;

SOUSA; VILAS BOAS, 2002).

1.2.5 Toxicidade e teratogenia

A ingestão de quantidades de vitamina A pré-formada acima do

requerimento normal leva a hipervitaminose, que pode resultar em efeitos tóxicos e

teratogênicos, tais como distúrbios de diferenciação celular (VLIET et al., 2001;

PENNISTON; TANUMIHARDJO, 2006; MAJCHRZAK; FABIAN; ELMADFA, 2006).

Elevada ingestão de -caroteno não tem demonstrado causar hipervitaminose A

(INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

Uma excessiva ingestão de vitamina A é usualmente resultado do consumo

a longo prazo de altos níveis de suplementos, mas é também associada ao consumo

de fígado e/ou produtos de fígado em combinação com o uso diário de suplementos

de vitamina A (MAJCHRZAK; FABIAN; ELMADFA, 2006).

Os sintomas de hipervitaminose foram principalmente descritos nos

exploradores árticos após alimentação rica em fígado de peixes do mar,

apresentando esses indivíduos um quadro de intoxicação vitamínica A aguda

(FRANCO, 1999).

A toxicidade aguda é caracterizada por dor de cabeça, aumento da pressão

fluído cérebro-espinhal, cansaço, sonolência, vertigens, náusea, vômitos e aumento

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das fontanelas em crianças (síndrome de Marie-See) (HATHCOCK; HATTAN, 1990;

EL BEITUNE; DUARTE; QUINTANA, 2004). Uma intoxicação aguda por vitamina A

em homens é rara, mas uma única dose de aproximadamente 150.000 μg em

adultos e quantidade proporcionalmente menor em crianças pode ser tóxico

(HOWELLS; LIVESEY, 1998; INSTITUTE OF MEDICINE, 2001). Uma intoxicação

crônica, incluindo efeitos no sistema nervoso, anormalidades hepáticas e na pele,

mudanças ósseas e outros efeitos adversos, podem ocorrer por uma prolongada

ingestão diária de vitamina A excedendo 7500 μg por anos e 30000 μg por meses

para adultos e 6000 a 20000 μg em crianças (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001;

PENNISTON; TANUMIHARDJO, 2006).

Raramente ocorre toxicidade por ingestão de alimentos fonte de vitamina A

pré-formada. Quando isso ocorre, usualmente resulta do consumo muito freqüente

de fígado (FAO/WHO, 2004).

A ação teratogênica da vitamina A tem sido demonstrada em várias espécies

de animais (CHAGAS et al., 2003). Em humanos, há evidências de má formação em

crianças, quando as mães consomem altas doses de vitamina A durante a gestação

(>7500 μg /dia) (OMS, 2001). Rothman et al. (1995) mostrou que existe um risco de

anomalias congênitas nas mulheres que consomem mais de 4500 μg de vitamina A

por dia na alimentação. Embora exista pouca informação na literatura sobre doses

semanais ou mensais de vitamina A, que representem risco para mulheres em idade

fértil ou em diferentes estágios de gestação, o alto potencial teratogênico justifica a

precaução na indicação dessa vitamina para mulheres em idade fértil (CHAGAS et

al., 2003; FAO/WHO, 2004).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2001) e o International Vitamin A

Consultative Group (IVACG) (1986) recomendam que mulheres gestantes,

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independente do seu estado nutricional em vitamina A, não devem ultrapassar a

ingestão diária de 3.000 μg dessa vitamina. Visto que, em humanos há evidências

de má formação em crianças quando as mães consomem altas doses de vitamina A

durante a gestação (> 3000 μg/dia) (ROTHMAN et al., 1995). Por outro lado sabe-se

que a ingestão suplementar de ferro tem sido usada para combater a anemia

durante a gravidez, uma vez que 50 a 75% das mulheres sofrem de anemia por

deficiência de ferro, e esta pode causar sérias conseqüências ao feto incluindo

prematuridade, abortos espontâneos e doenças fetais. Alternativamente, o fígado

geralmente é recomendado para suprir essa deficiência por ser um alimento rico em

ferro (AKASE et al., 2003). Nesse contexto, observa-se durante a gravidez, um

aumento no hábito de consumir fígado, que é considerado um alimento muito rico

em vitamina A (PENTEADO, 2003). Sendo assim, o aumento do consumo de fígado

no início da gestação como estratégia ao combate da anemia pode causar a

hipervitaminose A.

1.3 O FÍGADO COMO FONTE DE VITAMINA A

Após o abate, além da carcaça obtêm-se do animal certa quantidade de

subprodutos, as vísceras, que são aproveitadas para processamento industrial e

utilizadas como fonte alternativa de alimento, sendo o valor nutritivo desses órgãos

compatível ou superior ao da carcaça (MONTE et al., 2006; YAMOTO; MACEDO;

MEXIA, 2004).

O fígado, assim como outras vísceras de animais, é uma importante fonte de

proteína animal acessível à população de baixo poder aquisitivo, além de ser uma

excelente fonte de ferro e vitaminas, sobretudo de vitamina A (ROSA et al., 1985;

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MADRUGA; REZER; MELO, 2003; AKASE et al., 2003). Dados divulgados pelo

IBGE (2003) demonstram que o consumo de miúdos de frango na classe com menor

rendimento monetário (até R$ 400,00 mensais: 104g/ano/habitante) está entre os

três maiores do Brasil, embora os maiores consumidores de miúdos estejam entre

as classes de rendimento monetário acima de R$ 1.600,00 (1.600,00 a 3.000:

226g/ano/habitante; mais de 3.000: 344g/ano/habitante). O mesmo estudo revelou

que entre os estados nordestinos o Rio Grande do Norte é o que apresenta maior

consumo de miúdos de frango (223g/ano/habitante), sendo maior que o consumo

médio do país (153g/ano/habitante) (IBGE, 2003). Apesar de esse alimento ser de

fácil acesso à população de baixa renda, o consumo per capita de miúdos de frango

pela população do Rio Grande do Norte indica um consumo de fígado relativamente

baixo com relação ao consumo de outras partes do frango (MONTE et al., 2006;

IBGE, 2003).

Sabe-se que no Brasil o consumo de vitamina A por indivíduo, encontra-se

aquém do recomendado em todas as regiões do país (GERALDO et al., 2003).

Estima-se ainda que em países onde a deficiência de vitamina é prevalente, mais de

80% do retinol é suprido de fontes vegetais, cuja biodisponibilidade é menor quando

comparada a vitamina A pré-formada (FAO/WHO, 2004; PENNISTON;

TANUMIHARDJO, 2006). O Rio Grande do Norte assim como outros estados do

Nordeste brasileiro são áreas endêmicas em deficiência de vitamina A (GERALDO et

al., 2003). O consumo regular de fígado de frango por essa população poderia

contribuir para minimizar o problema de deficiência de vitamina A entre os

segmentos mais vulneráveis da população por ser uma fonte muito rica em vitamina

A (GUILLAND; LEQUEU, 1995). Os dados apresentados por Vliet et al. (2001)

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demonstram o efeito comparável da ingestão de uma porção de fígado à ingestão de

uma única dose de suplemento de vitamina A.

Por outro lado, vale ressaltar que a excessiva ingestão de vitamina A através

do freqüente consumo de fígado ou de suplementos de vitamina A estão associados

ao desenvolvimento de hipervitaminose A (FAO/WHO, 2004).

Recentemente, o interesse a respeito dos níveis muito elevados de vitamina

A nos fígados de animais tem aumentado (MAJCHRZAK; FABIAN; ELMADFA,

2006). Aquino et al. (2006), em estudo realizado no Brasil, analisaram a

concentração de retinol no fígado bovino e encontraram média de 16.948 μg/100g.

Estudos realizados em outros países como Bangladesh, Canadá, Áustria,

Reino Unido e Escócia mostraram variações na concentração de vitamina A nos

fígados de galinhas, mas todos apresentaram um conteúdo elevado dessa vitamina,

sugerindo uma excessiva suplementação da alimentação animal com vitamina A

(BHUIYAN, 2002; KANG; CHERIAN; SIM, 1998; MAJCHRZAK; FABIAN; ELMADFA,

2006; HOWELLS E LIVESEY, 1998; SURAI et al., 1998). Heinonen (1990) apud

Howells e Livesey (1998) observaram valores médios de 37.000 μg/100g de vitamina

A nos fígados de galinhas da Finlândia.

Outra preocupação existente é a possibilidade da degradação da vitamina A

durante o armazenamento, pois é conhecido que as vitaminas são instáveis em

alimentos (ZANCUL, 2004; LESKOVÁ et al., 2006). A estabilidade desses nutrientes

é afetada por fatores físicos e químicos, sobretudo pela exposição ao oxigênio, luz,

umidade e temperaturas elevadas. A extensa perda das vitaminas durante o

processamento e estocagem dos alimentos depende da sua sensibilidade a tais

fatores (WIRAKARTAKUSUMAH; HARIYADI, 1998).

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Perdas no conteúdo de vitamina A comumente ocorrem durante a

estocagem de alimentos e processamento. O grande número de duplas ligações

conjugadas presentes em sua estrutura as tornam facilmente oxidáveis (FAO/WHO,

2004). As perdas ocorrem, sobretudo por isomerização na presença de luz e

oxigênio (PENTEADO, 2003; LESKOVÁ et al, 2006).

As condições usuais de estocagem para comercialização do frango inteiro e

seus cortes são congelamento e refrigeração (UBA, 2008). O tempo aconselhado

para o armazenamento em congelamento da carne de aves é de 8 meses a –18oC

(ORDÓÑEZ et al., 2005). O congelamento é usado para minimizar o crescimento

bacteriano (ROMEU-NADAL; CASTELLOTE; LÓPEZ-SEBATER, 2007). Entretanto,

a estocagem pode resultar em perdas de vitamina A por ela ser sensível à oxidação

(LESKOVÁ et al., 2006).

Estudos abordando o efeito do congelamento sobre o conteúdo de retinol

são escassos, tornando-se assim importante obter esse tipo de informação. Vidal-

Valverde et al. (1998) observou perdas significativas no conteúdo de retinol no leite

com poucos meses de estocagem sob temperatura de congelamento. Apenas o

estudo conduzido por Howells e Livesey (1998) retrataram o efeito do período de

congelamento do fígado sobre sua concentração em vitamina A, que também

observaram redução na concentração vitamínica decorrente da estocagem,

entretanto esse estudo utilizou fígado bovino, não existindo esse tipo de estudo com

fígado de frango.

No Brasil, não existem estudos abordando o conteúdo de retinol no fígado

de frango. Os poucos dados existentes na literatura são provenientes de tabelas de

alimentos que, na maioria das vezes, não especificam a origem dos dados ou o

método de análise, tampouco especificam as características inerentes ao animal,

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tais como origem genética, forma de criação, ou outros fatores que podem

influenciar essa concentração. A informação sobre o efeito do congelamento sobre o

conteúdo de retinol no fígado também é útil, pois a avaliação da ingestão nutricional

dos indivíduos e populações necessita do conhecimento da composição dos

alimentos, levando em consideração a forma e o período usual de estocagem antes

de chegar ao consumidor (SURAI et al., 1998; GUILLAND; LEQUEU, 1995).

Diante do exposto, torna-se essencial o conhecimento sobre a concentração

de retinol nos fígados de frangos e a variação deste nutriente durante o

armazenamento sob condições de congelamento, uma vez que a ingestão adequada

do fígado pode ser importante para combater o problema de deficiência nas regiões

prevalentes em hipovitaminose A, de forma que não conduza ao desenvolvimento de

efeitos tóxicos e teratogênicos.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Avaliar a concentração de retinol em fígados de frangos das linhagens Cobb

e Ross e verificar a influência do congelamento sobre essa concentração.

1.4.2 Objetivos Específicos

Determinar a concentração de retinol em fígados de frangos das linhagens

Cobb e Ross;

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Avaliar a influência da linhagem das aves sobre a concentração de retinol

no fígado;

Verificar o efeito do tempo de congelamento sobre a concentração de

retinol do fígado;

Comparar a concentração de retinol encontrada nos fígados analisados

com as atuais recomendações dietéticas desta vitamina para adultos,

crianças e gestantes.

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2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAL BIOLÓGICO

Nesse estudo, 64 fígados de duas linhagens de frango, Cobb e Ross, foram

coletados em abatedouro regional de uma empresa de comercialização de frango de

corte no período de Dezembro de 2007 e Janeiro de 2008. As aves abatidas eram

provenientes de quatro diferentes granjas, sendo examinados 32 fígados de cada

linhagem (8 amostras de cada granja). Todos os animais eram criados em sistema

industrial intensivo, alimentados com a mesma ração, de preparação da própria

empresa, à base de milho, soja, farinha de carne e suplemento vitamínico e mineral

(Tabela 2). Eram abatidos entre 37 e 42 dias de idade. A densidade populacional

nos aviários era de 11,85 aves/m2, sendo alojadas 15000 aves em um galpão com

dimensão de 115 m de comprimento × 11 m de altura (Figura 5).

Os fígados das aves abatidas foram coletados, rapidamente resfriados e

transportados ao Laboratório de Bioquímica da Nutrição do Departamento de

Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Imediatamente, as

amostras foram pesadas, homogeneizadas e preparadas para as análises.

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TABELA 2. Composição da ração fornecida aos frangos.

Ingredientes (%)Milho 58,0Farelo de soja 30,0Farinha de carne 3,0Óleo vegetal 2,0Fosfato bicálcico 1,0Calcário 5,0Sal comum 0,3Suplemento vitamínico e mineral1 0,6DL-Metionina 0,1Composição calculada Proteína (%) 20,00Energia (Kcal/Kg) 2850Cálcio (%) 2,50Fósforo (%) 0,60Metionina + cistina (%) 0,77Metionina (%) 0,45Lisina (%) 1,06

1 Suplemento vitamínico e mineral (quantidade/Kg do produto): vit. A- 10.000UI; vit. D3- 2350UI; vit. E- 6mg; vit. K3- 2,5mg; vit. B1- 1,40mg; vit. B2- 6mg; vit. B6- 2,8mg; vit. B12- 16mg; niacina- 40mg; ácido pantotênico- 12mg; biotina- 65mg; ácido fólico 1mg; manganês- 70mg; zinco- 60mg; ferro- 50mg; cobre- 9mg; iodo- 1mg; selênio- 0,3mg.

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Figura 5. Aviário de uma empresa de avicultura de corte. Sistema industrial intensivo de criação; Aves da linhagem Ross.

2.2 PREPARO DAS AMOSTRAS

Os fígados foram pesados individualmente. A cada fígado foi adicionada

quantidade equivalente ao seu peso de solução salina (NaCl) a 0,9%, em seguida

cada amostra de fígado foi homogeneizada com um triturador, formando assim um

homogeneizado de fígado a 50%, do qual tomaram-se 4 alíquotas de 1g. A amostra

fresca foi analisada imediatamente após o abate, sendo assim denominada de

tempo zero (T0), as demais alíquotas foram estocadas a –18oC para a realização

das análises laboratoriais aos 30, 60 e 90 dias de armazenamento (T30, T60 e T90,

respectivamente).

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2.3 SOLVENTES

Os solventes utilizados (etanol 95%, etanol absoluto, hexano e metanol)

foram de grau CLAE (Merck).

2.4 PREPARO DO PADRÃO DE RETINOL

Soluções de padrão estoque foram preparadas individualmente usando

padrão de todo trans retinol (Sigma) e estocadas protegidas da luz a -18ºC. Para a

obtenção de cada padrão estoque, pesou-se 1,0 mg de retinol, que foi diluído em 1,0

mL de etanol absoluto e agitado por 30 segundos. A partir do padrão estoque foram

realizadas duas diluições em etanol absoluto, para obter-se o padrão de leitura com

concentração aproximada de 10 μg/mL, sendo realizada a leitura deste em

espectrofotômetro para confirmação da concentração do padrão.

O comprimento de onda utilizado para a leitura foi de =325 nm e o

coeficiente de absorção ou coeficiente específico de extinção ( 1%, 1 cm em etanol)

foi %=1780, como descrito por Olson (1996) e Milne e Botnen (1986),

respectivamente. Na Figura 6 apresenta-se o esquema de diluição do padrão. Em

seguida, tem-se a fórmula utilizada no cálculo da concentração real do padrão.

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Padrão Estoque(1000 μg/mL) (1ª Diluição)

1,0 mg Retinol + 1 mL Etanol Absoluto (Agitar 30 segundos)

Padrão de Trabalho(100 μg/mL) (2ª Diluição)

0,1 mL Padrão Estoque + 0,9 mL Etanol Absoluto

Padrão de Leitura(10 μg/mL) (3ª Diluição)

0,1 mL Padrão de Trabalho + 0,9 mL Etanol Absoluto

Leitura no Espectrofotômetro 1 mL do Padrão de Leitura

1 mL de Etanol Absoluto (Branco)

Figura 6. Diluições do padrão de retinol para leitura em espectrofotômetro.

Fórmula para a determinação da concentração real do padrão:

[ Padrão ] = Aº%

Onde: [Padrão] = concentração do padrão em gramas de retinol por 100 mL

da solução de leitura (g %); Aº = leitura da absorbância realizada no

espectrofotômetro; % = coeficiente específico de extinção de retinol em etanol ( % =

1780).

Após a confirmação da concentração real do padrão, o padrão trabalho foi

diluído uma vez em etanol absoluto, levando sua concentração a aproximadamente

1 g/1 mL (20 ng/20 μL) para aplicação no aparelho de Cromatografia Líquida de

Alta Eficiência (CLAE), como demonstra o esquema apresentado na figura 7.

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Padrão de Trabalho(100 μg/mL)

0,1 mL Padrão Estoque + 0,9 mL Etanol Absoluto

(Agitar 30 segundos)

Padrão de Aplicação(1 μg/mL)

0,01 mL Padrão de Trabalho + 0,99 mL Etanol Absoluto

(Agitar 30 segundos)

Figura 7. Diluição do padrão de retinol para sua aplicação no aparelho de CLAE.

2.5 HIDRÓLISE ALCALINA E EXTRAÇÃO DO RETINOL

A extração e dosagem do retinol no fígado foram baseadas no método

descrito por Karadas et al. (2005), com modificações (Figura 8). Para a detecção do

retinol presente nos fígados de frango foi pesado 1g do homogeneizado em tubos de

polipropileno com tampa rosqueável de 15 ml, envoltos com papel alumínio para

impedir a degradação da vitamina A pela ação da luz. Foram adicionados 1 mL de

etanol a 95%, em seguida, os ésteres de retinila foram hidrolisados com 0,5 mL de

hidróxido de potássio a 60%. A solução foi mantida em banho-maria a 45ºC por 2

horas.

A extração dos lipídeos das amostras foi realizada em 3 lavagens

sucessivas utilizando 2 mL de hexano. Após a adição do solvente, as amostras

foram agitadas, centrifugadas por 10 minutos (500xg) e os sobrenadantes foram

removidos e adicionados em um novo tubo. Na primeira extração retirou-se 1,5 mL

do sobrenadante e nas duas últimas extrações foram retirados 2 mL da fase

hexânica. Os sobrenadantes obtidos das três extrações foram reunidos no mesmo

tubo. Deste foi transferida uma alíquota de 0,5 mL para um tubo de polipropileno de

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5 mL com tampa rosqueável, para sua evaporação sob atmosfera de nitrogênio, em

banho-maria a 37ºC. Os extratos secos obtidos foram armazenados a -18ºC.

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1 g Homogeneizado (fígado + solução salina 0,9%)

0,5 mL KOH 60%

1 mL etanol 95% Agitação por 1 min.

Banho-maria a 45ºC por 120 min

+

+

2 mL hexano

Agitação por 1 min.; centrifugação por 10 min.

1ª Recuperação (1,5 mL sobrenadante)

2 mL hexano

Precipitado

2 mL hexano

2ª Recuperação (2 mL sobrenadante)

Agitação por 1 min; centrifugação por 10 min.

3ª Recuperação (2 mL sobrenadante)

Evaporação de 0,5 mLda fase hexânica sob N2

20 μL injeção em CLAE

Precipitado

Precipitado

Agitação por 1 min; centrifugação 10 min.

Descartado

Ressuspensão em 1 mL de etanol absoluto.

Fasehexânica

Figura 8. Extração de retinol das amostras de fígado.

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2.6 DETERMINAÇÃO DO RETINOL POR CLAE

A concentração do retinol das amostras foi determinada por Cromatografia

Líquida de Alta Eficiência (CLAE). No momento da análise, os extratos foram

ressuspendidos em 1 mL de etanol, agitados por 1 minuto e 20 μL foi injetado no

CLAE para as análises.

O retinol foi quantificando usando cromatógrafo LC-10 AD Shimadzu,

acoplado a um desgaseificador modelo DGU-2A, a um detector SPD-10 A Shimadzu

UV-VIS e integrador Cromatopac C-R6A Shimadzu, com uma coluna CG nucleosil

C18 (fase reversa) de 4,0 mm × 25 cm e auto injetor com “looping” de 20 L. A fase

móvel utilizada foi metanol 100%, com fluxo de 1 mL/min. O comprimento de onda

utilizado para detecção foi =325 nm. O tempo de retenção do retinol observado foi

aproximadamente de 3,7 minutos (Figura 9).

A identificação e quantificação do retinol nas amostras foram estabelecidas

por comparação com o tempo de retenção (Figura 9) e a área do padrão de retinol.

Ambos, padrão de retinol e amostras de fígado foram aplicados em duplicata.

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Figura 9. Perfil de eluição de retinol em CLAE.

A) Cromatograma do padrão de retinol todo trans de 26,3 ng/20 L; B) amostra de fígado da linhagem Cobb C) amostra de fígado da linhagem Ross. (20 L de injeção) (Os valores correspondem ao tempo de retenção em minutos).

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2.7 CONFIRMAÇÃO DO RETINOL E TEMPO DE RETENÇÃO DO RETINOL NAS

AMOSTRAS DE FÍGADO DE FRANGO

A presença de retinol nas amostras de fígado, bem como seus respectivos

tempos de retenção, foram confirmados previamente pela adição de padrões de

retinol em concentrações conhecidas às amostras de fígado de frango e então

observada a sobreposição dos picos (amostra + padrão) com conseqüente aumento

da área dos picos correspondentes (”spiking”).

2.8 OTIMIZAÇÃO DO MÉTODO

Para a otimização da metodologia empregada nesse estudo foram

analisados os seguintes parâmetros analíticos: linearidade, exatidão e precisão.

2.8.1 Curva de calibração

Curvas analíticas foram construídas periodicamente usando o padrão de

retinol em diferentes concentrações. O cálculo das concentrações de retinol foi

baseado nestas curvas.

A linearidade das curvas foi determinada avaliando-se a proporcionalidade

entre a resposta do detector e a concentração dos padrões. Para tal finalidade,

foram preparados a partir do padrão de leitura, padrões de aplicação nas

concentrações de 2, 4, 8, 16, 32 e 64 ng/20 μL. A curva de calibração, obtida por

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regressão linear (área do pico versus concentração do padrão), utilizando-se seis

pontos de concentração da solução padrão, apresentou boa linearidade. Um

coeficiente de correlação acima de 0,990 foi obtido, possibilitando desta forma a

quantificação do retinol pelo método do padrão externo (Figura 10).

Figura 10. Curva de calibração dos padrões de retinol (2-64 ng/20 μL).

2.8.2 Teste de recuperação

A exatidão do método (porcentagem de recuperação) foi determinada

adicionando-se quantidades conhecidas do padrão de retinol em três amostras de

fígado. Essas amostras foram submetidas à hidrólise alcalina e às demais etapas

propostas pelo método: 3 extrações com hexano, evaporação a 37ºC sob atmosfera

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de nitrogênio, diluição em etanol absoluto grau HPLC e dosagem do retinol por

CLAE com metanol como sua fase móvel.

As recuperações obtidas para o retinol nas amostras de fígado de frango

estavam na faixa de 99,5 a 100%, indicando assim uma exatidão confiável da

metodologia utilizada. Intervalos aceitáveis de recuperação geralmente estão entre

80,0 e 110,0% (PINTO; JARDIM, 2000).

2.8.3 Teste de repetitividade

O estudo da precisão do método envolveu a dosagem de 3 alíquotas de uma

mesma amostra de fígado em três dias consecutivos, obtendo-se uma média de 9

determinações. Essas amostras passaram pelas etapas do método descritas nos

subitens 2.5 e 2.6 e foram armazenadas secas e congeladas para posterior

dosagem do retinol. O coeficiente de variação (CV) obtido foi 6,4% (Tabela 3). Este

valor indica uma precisão aceitável, uma vez que, valores em torno de 15% são

considerados admissíveis de acordo com a literatura (PINTO; JARDIM, 2000).

TABELA 3. Repetitividade das amostras de fígado.

Retinol Repetitividade

Média (μg/100g) 5430,8

D.P. 345,1

CV (%) 6,4* média de 9 determinações, 3 a cada 24h. D.P.: desvio padrão. CV (%): coeficiente de variação

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52

2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados obtidos foram expressos em média ± desvio padrão. A análise

estatística foi realizada através do “software” “Statistica” versão 6.0 (Statsoft).

Para determinar as diferenças nos pesos dos fígados e nas concentrações

de retinol entre as linhagens e entre as propriedades, bem como verificar o efeito do

período de estocagem sobre esses níveis, foi realizada a análise de variância

(ANOVA). O teste de Tukey foi usado para comparar as médias que foram

estatisticamente diferentes. As diferenças foram consideradas estatisticamente

significativas para p < 0,05.

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3 RESULTADOS

Os pesos médios dos fígados dos frangos estudados encontram-se na figura

11 e foram similares entre as granjas da mesma linhagem (p > 0,05). A linhagem

Cobb apresentou fígados com peso médio de 43,2 g, enquanto que os fígados da

linhagem Ross apresentaram peso médio de 44,2 g. Não houve diferença no peso

do fígado entre as linhagens (p > 0,05).

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A)

B)

Figura 11. Peso dos fígados da linhagem Cobb e Ross (p > 0,05).

A) Linhagem Cobb; B) Linhagem Ross. * O valor de cada granja é a média de 8 diferentes amostras. ** n=32.

As concentrações de retinol nos fígados frescos de frangos nas diferentes

granjas encontram-se na figura 12. Não houve diferença significativa (p > 0,05) entre

as granjas ao analisar os dados da linhagem Cobb, como era esperado, uma vez

que o sistema de manejo dos animais era o mesmo, assim como a alimentação e a

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idade de abate. Ao analisar os valores de retinol dos fígados da linhagem Ross,

pode-se constatar que os da granja A apresentaram um valor médio

significativamente mais elevado do que os da granja D (p < 0,05). Essas diferenças

entre as granjas podem refletir variações nas condições do local de criação, tais

como a temperatura do ambiente.

Figura 12. Concentração de retinol nos fígados frescos dos frangos das linhagens Cobb e Ross provenientes de diferentes granjas (n=8).

* Diferença significativa entre as médias (p < 0,05).

Os níveis médios de retinol nos fígados frescos (T0) de frangos das

linhagens Cobb e Ross estão demonstrados na figura 13. Os dois grupos de aves

apresentaram altas concentrações de retinol e a linhagem do animal exerceu

influência significativa sobre essas concentrações. Os fígados de frangos da

linhagem Ross apresentaram níveis de retinol significativamente mais elevados (p <

0,001).

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Figura 13. Concentração média de retinol nos fígados frescos dos frangos das linhagens Cobb e Ross (n=32).

a,b Diferença estatisticamente significativa entre linhagem Cobb e Ross (p < 0,001).

O efeito da estocagem a -18ºC sobre a concentração de retinol nos fígados

de frango e a porcentagem de perda dessa vitamina estão demonstradas na tabela

4. Nas duas linhagens estudadas, houve um decréscimo nos valores médios de

retinol com o tempo de armazenamento do fígado, sendo que a linhagem Ross

apresentou perdas significativas (p < 0,05) a partir do primeiro mês de estocagem

(T30); enquanto que na linhagem Cobb, a redução foi significativa após 2 meses de

armazenamento (T60). O decréscimo percentual de retinol nos fígados de frango da

linhagem Cobb foi entre 9,6 e 36,2% do primeiro ao terceiro mês de estocagem

(T90) em relação ao tempo zero. Na linhagem Ross estes valores foram de 12,9 a

44,1%, também em relação ao fígado fresco (T0). No entanto, o percentual de perda

nas duas linhagens foi mais acentuado aos 90 dias de congelamento. Em relação à

linhagem Cobb, foi observado um decréscimo percentual de retinol no fígado de

aproximadamente 9% por mês, entretanto, a redução aos 90 dias de

armazenamento foi de 23% em relação ao segundo mês (T60). O mesmo foi

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observado na linhagem Ross, que até os 60 dias de armazenamento apresentou

redução percentual em torno de 14% ao mês, sendo essa redução mais acentuada

com 90 dias de estocagem (25%).

Tabela 4. Concentração de retinol nos fígados de frango e porcentagem de perda com o período de estocagem.

Período de estocagem (dias)

0 30 60 90

Retinol Perda Retinol Perda Retinol Perda Retinol PerdaFígados

*

μg/100g (%) μg/100g (%) μg/100g (%) μg/100g (%)

Cobb 6678,0 ± 1337,4aA 6035,1 ± 1165,5aA 9,6 5540,5 ± 1198,8bA 17,0 4258,0 ± 918,7bA 36,2

Ross 8324,1 ± 1158,5 aB 7248,4 ± 1252,8 bB 12,9 6235,5 ± 1479,7 bB 25,1 4650,5 ± 1391,7 bA 44,1

a,b Médias seguidas de letras minúsculas diferentes, na mesma linha, diferem significativamente (p < 0,05).A,B Médias seguidas de letras maiúsculas diferentes, na mesma coluna, diferem significativamente (p < 0,05). * n= 32.

Com relação à estabilidade do retinol de acordo com a granja, observa-se

que a redução de retinol nos fígados da linhagem Cobb foi significativa (p < 0,05)

apenas no terceiro mês de armazenamento (T90) nas granjas C e D, enquanto que a

granja B apresentou uma redução significativa (p < 0,05) no valor médio de retinol a

partir do primeiro mês de congelamento (T30) (Figura 14A).

Com relação à linhagem Ross, a granja C apresentou um decréscimo

significativo (p < 0,05) no valor médio de retinol do fígado com 30 dias de

armazenamento sob condições de congelamento, diferentemente das demais

propriedades cujos valores médios decresceram significativamente após 60 dias de

estocagem (Figura 14B).

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A)

B)

Figura 14. Efeito da estocagem sobre a concentração de retinol nos fígados de frango de diferentes granjas (n=8).

A) Linhagem Cobb; B) Linhagem Ross. * Diferença estatisticamente significativa entre as médias (p < 0,05).

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4 DISCUSSÃO

As linhagens utilizadas atualmente na avicultura são híbridos comerciais,

conseguidos através de gerações de cruzamentos entre diferentes raças com a

finalidade de aumento de produtividade (NOTTER, 1999; VALLEJO et al., 1998). A

avicultura brasileira caracteriza-se ainda pelo emprego do sistema intensivo de

criação de frango de corte com um grande número de aves por metro quadrado

visando o aumento dos lucros, entretanto, uma alta densidade populacional pode

afetar o desempenho da ave e o desenvolvimento das vísceras dos frangos devido

ao aumento da temperatura ambiente (FILHO et al., 2003; MOREIRA et al., 2004;

FURLAN et al., 2000; BOOTJE; HARRISON, 1985).

As diferenças individuais na linhagem Ross observadas nesse estudo

através das variações na concentração média de retinol nos fígados frescos

provenientes de diferentes granjas podem refletir variações nas condições do local

de criação do animal. Segundo Bottje e Harrison (1985), o ambiente no qual o

animal se encontra pode influenciar o seu desempenho, pois fatores como a

temperatura ambiental e stress podem afetar a ingestão de alimento.

As duas linhagens estudadas são as predominantes na avicultura de corte

mundial e nacional (SANTINI et al., 2004; VIEIRA et al., 2007). A empresa

fornecedora dos fígados estudados comercializa esse produto em todo o estado do

Rio Grande do Norte com investimentos para atender a demanda do mercado

nordestino. Este foi o primeiro estudo no Brasil a verificar as concentrações de

retinol nos fígados de frango e a influência da linhagem sobre essas concentrações.

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Os fígados de frangos das duas linhagens estudadas, Cobb e Ross,

apresentaram alta concentração de retinol (6678,0 g/100g e 8324,1 g/100g,

respectivamente) quando comparados às outras importantes fontes de vitamina A,

tais como leite (21 g/100g), queijo (66 g/100g) e ovo (379 g/100g) (TACO, 2006).

60

Esses valores elevados podem ser justificados pelo fato dos frangos criados

em sistema intensivo serem alimentados com ração balanceada contendo todos os

nutrientes necessários para suprirem as necessidades alimentares dessas aves,

inclusive às de vitamina A. Na realidade, na criação das aves domésticas,

freqüentemente são adicionadas à ração 2 a 3 vezes mais vitamina A do que as

exigências normais da ave, sendo o excesso dessa vitamina armazenado no fígado,

que é o principal órgão de estocagem da vitamina A (TORRES, 1979; RAMALHO et

al., 2008).

Os dados obtidos por nós mostram que a linhagem do animal exerceu

influência significativa sobre a concentração de retinol no fígado. A linhagem Ross

apresentou nos fígados frescos concentrações médias de retinol significativamente

mais elevadas do que os valores observados na linhagem Cobb. Considerando que

as duas linhagens foram submetidas ao mesmo modo de criação, apresentavam a

mesma alimentação e possuíam a mesma idade de abate, provavelmente a

diferença encontrada entre a concentração de retinol de seus fígados deve-se as

características inerentes à linhagem. Possivelmente podem existir diferenças entre

as duas linhagens na capacidade de conversão do -caroteno a retinol ou em sua

capacidade de absorção. Segundo Torres (1979), embora não seja generalizado,

algumas linhagens de frango apresentam maior exigência em determinados

nutrientes devido às diferenças na sua absorção, fator que está relacionado à

própria fisiologia do animal. Majchrzak, Fabian e Elmafda (2006), quando analisaram

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61

a concentração de retinol no fígado de duas raças comerciais de frango, observaram

que a raça da ave, em alguns casos, pode exercer maior influência sobre essa

concentração do que a idade do animal e a alimentação oferecida a ele. Aquino et

al. (2006) reportou que as diferenças observadas na concentração de retinol dos

fígados de dois grupos de gado provavelmente foi um resultado das características

genéticas do animal relacionadas à capacidade de conversão do -caroteno a

retinol.

61

Ao comparar os dados disponíveis em algumas tabelas de composição de

alimentos aos resultados do presente estudo, observou-se que os valores

apresentados por Philipp (2002) (11325 μg/100g) foram superiores à concentração

média de retinol nos fígados frescos de frango estudados por nós (Cobb: 6678,0

μg/100g; Ross: 8324,1 μg/100g). Entretanto, ambas as linhagens apresentaram

valores superiores aos reportados pela USDA (2007) (3290 μg/100g), por Franco

(1998) (4000 μg/100g) e pela TACO (2006) (3863 μg/100g). A maior parte dos dados

apresentados por essas tabelas não especificam a origem dos dados nem o método

de análise utilizado e nenhuma delas informa a raça ou linhagem da ave.

O valor médio de retinol obtido nos fígados de frango da linhagem Cobb foi

similar ao valor médio relatado por Majchrzak, Fabian e Elmafda (2006) (5600

μg/100g), em estudo realizado na Áustria com as linhagens TA-58 e Hybro.

Entretanto, esse autor observou variações nesses níveis de acordo com a linhagem

do animal (TA-58: 2820μg/100g; Hybro: 13000 μg/100g). A concentração máxima de

retinol obtido na linhagem Ross (granja A: 9296,5 μg/100g) foi similar à

concentração média encontrada por Howells e Livesey (1998) (9690 μg/100g) em

estudo realizado no Reino Unido com fígado de frango, cuja raça não foi

especificada. Por outro lado, em outros países como Bangladesh (12000 μg/100g),

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Canadá (18760 μg/100g), Finlândia (37000 μg/100g) e Escócia (31240 μg/100g), as

concentrações observadas nos fígados de frango foram maiores do que os valores

médios obtidos em ambas as linhagens estudadas (BHUIYAN, 2002; KANG et al.,

1998; HEINONEN, 1990 apud HOWELLS E LIVESEY,1998; SURAI et al., 1998).

Bhuiyan (2002) utilizou aves da linhagem Sonali, resultante do cruzamento entre

frangos das raças Rhode Island Red e Fayuomi, e encontrou valores de retinol duas

vezes mais elevados do que o conteúdo médio observado nos fígados da linhagem

Cobb. O valor máximo de retinol na linhagem Ross foi duas vezes menor do que a

concentração média reportada por Kang, Cherian e Sim (1998) (18760 μg/100g),

que avaliou as concentrações hepáticas de retinol na raça White Leghorn. A

concentração média de retinol encontrada nos fígados dos frangos da linhagem

Ross foi aproximadamente 4 vezes menor do que os valores obtidos por Surai et al.

(1998), em estudo realizado com galinhas da raça Rhode Island Red (Tabela 5).

Tabela 5- Níveis de retinol no fígado de frangos em diversos estudos e disponíveis em tabelas de alimentos.

Retinol no Referências fígado Método de Raça ou Origem dos

( g/100g) análise linhagem dadosHeinonen (1990) 37000 CLAE _ Finlândia

Howells; Livesey (1998) 9690 CLAE _ Reino Unido

SURAI et al (1998) 31240 CLAE Rhode Island Red Escócia

Kang; Cherian; Sim (1998) 18760 CLAE WhiteLeghorn Canadá

Bhuiyan (2002) 12000 CLAE Sonali Bangladesh

Majchrzak; Fabian; Elmafda (2006) 2820; 13000 CLAE TA-58 e

Hybro Áustria

Franco (1998)a 4000 - - -

Philipp (2002)a 11325 - - -

TACO (2006)a 3683 CLAE - Brasil

USDA (2007)a 3290 CLAE - EUA

Santos (2008)b 6678; 8324 CLAE Cobb e Ross Natal-RN

62

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63a Dados disponíveis em tabelas de alimento. b Dados referentes a este estudo. - Informação não mencionada.

Os níveis médios de retinol encontrados no presente estudo foram, em geral,

inferiores aos trabalhos supracitados. Essas variações em relação a outros países

refletem, em parte, as especificidades genéticas dos frangos, mas também

diferenças quanto à suplementação vitamínica da alimentação das aves. Em geral, a

ingestão dietética de vitamina A determina seu armazenamento no fígado (SURAI et

al., 1998). Na atual produção de aves, as fontes usuais de vitamina A são os

carotenóides, especialmente o -caroteno, mas principalmente os suplementos com

ésteres de retinila e em alguns casos com -caroteno (HOWELLS e LIVESEY, 1998;

KARADAS et al., 2005). O grau de suplementação com vitamina A varia em

diferentes países e é consideravelmente mais elevada do que o requerimento

fisiológico do animal (SURAI et al., 1998). A adição de uma quantidade muito maior

do que a realmente necessária é empregada como uma margem de segurança

devido às prováveis perdas vitamínicas durante o processamento e estocagem da

ração (TORRES, 1979). Pelo fato do fígado ser uma víscera usada como item

alimentar na dieta humana, a suplementação em vitamina A da alimentação animal

deve ser realizada com cautela.

Na literatura, há pouca informação sobre o efeito do congelamento no

conteúdo de retinol do fígado. Este foi o primeiro estudo a verificar a influência do

congelamento sobre os níveis de retinol nos fígados de frango. Nosso estudo

revelou um decréscimo significativo no conteúdo de retinol nos fígados armazenados

sob temperatura de congelamento. Essa forma de estocagem é usualmente indicada

nas embalagens desses produtos alimentícios para permitir um prazo máximo de

consumo de até um ano, por minimizar o crescimento bacteriano (ROMEU-NADAL;

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CASTELLOTE; LÓPEZ-SEBATER, 2007). Entretanto, os dados desse estudo

demonstraram que o armazenamento do fígado resultou em perdas vitamínicas.

64

Resultados semelhantes foram encontrados por Howells e Livesey (1998),

os quais mostraram que a concentração de vitamina A no fígado bovino decresceu,

em média, 4% ao mês em um período de 8 meses de armazenamento. No presente

estudo, o decréscimo percentual de retinol no fígado após 90 dias foi de 36%

(linhagem Cobb) e 44% (linhagem Ross). Pode-se observar que ocorreu uma maior

redução na linhagem Ross, e essa perda apresentou-se significativa após 30 dias de

armazenamento dos fígados à temperatura de congelamento, enquanto a linhagem

Cobb apresentou redução significativa apenas com 60 dias de estocagem. No

entanto, ao se avaliar o efeito da estocagem em cada granja, pode-se observar que

a linhagem Cobb apresentou redução significativa após 90 dias de estocagem na

maior parte das granjas, e com relação à linhagem Ross aos 60 dias de estocagem.

A estabilidade do retinol não foi a mesma para as duas linhagens,

possivelmente devido às diferenças relacionadas às proporções das diferentes

formas de vitamina A, retinol livre e ésteres de retinila, armazenadas no fígado de

cada linhagem. A vitamina A é a mais lábil das vitaminas, sendo o retinol livre menos

estável do que os ésteres de retinila (GUILLAND; LEQUEU, 1995; OTTAWAY, 1993;

PANFILI; MANZI; PIZZOFERRATO, 1998). Majchrzak, Fabian e Elmafda (2006),

observaram altas concentrações de retinol livre nos fígados de frango, o que poderia

explicar a relativa instabilidade da vitamina A nesse alimento. Em estudo realizado

com leite, Vidal-Valverde et al. (1992) observaram perdas significativas no conteúdo

de retinol após um período de 4 a 8 meses de estocagem à temperatura de

congelamento. Estudos sobre a composição dos ésteres de retinila em alimentos e

sua correlação com a estabilidade da vitamina A precisam ser explorados.

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As variações quanto à estabilidade apresentada pelos fígados das aves

provenientes das diferentes granjas de uma mesma linhagem podem refletir

diferenças na taxa de degradação durante a estocagem das amostras ou ser o

resultado de uma inadequada homogeneização da ração, levando a um acesso

diferenciado pelas aves às diferentes fontes de vitamina A, especialmente os

carotenóides, que segundo Surai et al. (1999) podem influenciar na distribuição de

ésteres de retinila nos tecidos. Outra hipótese seria a própria estocagem da ração

que pode resultar em perdas vitamínicas, sobretudo das provitaminas A por serem

extremamente susceptíveis a oxidação, devido a sua estrutura altamente insaturada,

e por sua suplementação dietética influenciar a distribuição dos ésteres de retinila no

organismo (LESKOVÁ et al., 2006; SURAI et al., 1999).

65

Considerando a RDA para crianças na faixa de 1 a 3 anos de 300 μg/dia e

de 4 a 8 anos de 400 μg/dia e para adultos de 700 μg/dia (mulheres) e 900 μg/dia

(homens) (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001), verificou-se que o consumo de um

fígado de frango fresco da linhagem Cobb (3339 μg/50g) e Ross (4412,1 μg/50g),

ultrapassa todas as recomendações de ingestão diária de vitamina A segundo as

DRI’s. Levando-se em consideração que a porção de ingestão de carne e fígado é

tipicamente de 100g, o consumo de dois fígados de ambas as linhagens (linhagem

Cobb: 6678/100g; Ross: 8824,1/100g) excede o limite máximo de ingestão tolerável

de vitamina A (3000 μg/dia) para adultos (Figura 15), mesmo após 90 dias de

estocagem, cuja concentração de retinol ainda é consideravelmente elevada

(linhagem Cobb: 4258 g/100g; Ross: 4650,5 g/100g), dessa forma, seu consumo

deve ser moderado. Segundo Allen e Haskell (2002), a ingestão excessiva e

contínua de fígado de animais que contenha concentração acima de 3000 μg/100g,

pode resultar em toxicidade da vitamina A. O consumo diário dessa vitamina por

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mulheres grávidas apresenta um potencial risco teratogênico, por esta razão

mulheres em período gestacional devem evitar o seu consumo (VLIET et al., 2001;

CHIEF MEDICAL OFFICER, 1990 apud HOWELLS; LIVESEY, 1998).

66

Figura 15. Comparação entre as atuais recomendações diárias de retinol (RDA) do Instituto de Medicina (2001) e as concentrações de retinol nos fígados analisados.

A= RDA crianças 1-3 anos; B= RDA crianças 4-8 anos; C= RDA mulheres; D= RDA mulheres grávidas, 19-50 anos; E= RDA homens; F= UL para adultos; G=concentração de retinol linhagem Cobb ( g/100g); H= concentração de retinol linhagem Ross ( g/100g).

Vale ressaltar que as funções desempenhadas pela vitamina A no

organismo humano justificam a relevância do consumo regular desta vitamina

através da dieta. Dessa forma, o consumo regular do fígado de frango pode ser útil

no combate da deficiência de vitamina A nas regiões de risco, incluindo o Nordeste

do Brasil. Havendo para isso a necessidade de programas que promovam a

modificação de hábitos alimentares para que a população geral passe a ter

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conhecimento e preferência pelos alimentos fonte de vitamina A, tendo em vista que

a ingestão de alimentos ricos em vitamina A é preferível à suplementação

medicamentosa (ZANCUL, 2004; DOLINSKY; RAMALHO, 2003). Como o fígado de

frango é uma fonte muito rica de vitamina A, ele poderia ser utilizado na elaboração

de uma farinha de fígado para suplementar a merenda escolar como uma medida

para auxiliar no combate da deficiência dessa vitamina entre pré-escolares. Os

dados relatados nesse estudo podem assim servir como parâmetro para a

população, possibilitando que ela se beneficie de maneira adequada das qualidades

nutricionais do fígado de frango.

67

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68

5 CONCLUSÕES

Os fígados de frango analisados no presente trabalho apresentaram alta

concentração de retinol em relação a outras fontes desse nutriente.

A linhagem do animal exerceu influência significativa sobre os níveis de retinol

do fígado de frango, sendo que a linhagem Ross apresentou os valores mais

elevados.

Houve um decréscimo significativo no conteúdo de retinol nos fígados de

frango de ambas as linhagens armazenados sob temperatura de congelamento a -

18oC, ocorrendo uma maior redução e em menor tempo na linhagem Ross.

Perdas nutricionais em retinol ocorreram a partir de 30 dias de estocagem do

fígado, sendo as maiores reduções observadas após 90 dias de congelamento.

Mesmo com as perdas em retinol decorrentes do congelamento, a ingestão

de uma típica porção de 100 g de fígado de frango, independente da linhagem

analisada, excede todas as recomendações de ingestão diária e a UL de vitamina A

(3000 μg/day) para adultos.

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