universidade federal do rio de janeiro centro de … · questionários foram analisados. buscamos,...

143
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências da Saúde INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA Conflitos de interesses nas pesquisas científicas Márcia de Cássia Cassimiro Rio de Janeiro 2010

Upload: vanque

Post on 30-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

Conflitos de interesses nas pesquisas científicas

Márcia de Cássia Cassimiro

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

Márcia de Cássia Cassimiro

Conflitos de interesses nas pesquisas científicas

Dissertação apresentada ao Instituto de

Estudos em Saúde Coletiva como parte dos

requisitos para obtenção do título de Mestre

em Saúde Coletiva

Profa. Dra. Marisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida Rego

Orientadora

Rio de Janeiro

2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

Conflitos de interesses nas pesquisas científicas

Márcia de Cássia Cassimiro

Profa. Dra. Marisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida Rego

Orientadora

Aprovada em: 25/02/2010

Examinadores:

_______________________________________

Profa. Dra. Marisa Palácios – IESC/UFRJ (Presidente e Orientadora)

Profa. Dra Tania Cremonini Araujo-Jorge – IOC/FIOCRUZ (titular)

Prof. Dr. Sérgio Rego – ENSP/FIOCRUZ (titular)

Profa. Dra. Sonia Maria Ramos de Vasconcelos – IBqM/CCS/UFRJ (titular)

Profa. Dra. Claudia Vater – IESC-UFRJ (suplente)

Prof. Dr. Marco Antônio Ferreira da Costa – EPSJV/IOC/FIOCRUZ (suplente)

i

ii

C345 Cassimiro, Márcia de Cássia. Conflitos de interesses nas pesquisas científicas / Márcia de Cássia Cassimiro. - Rio de Janeiro: UFRJ/ Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2010. 143f. : il.; 30 cm. Orientador: Marisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida Rego Dissertação (Mestrado)-UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2010. Referências: f. 102-121 1. Relações humanas. 2. Conflito - Administração. 3. Conflito interpessoal. 4. Bioética. 5. Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. Rego, Marisa Palácios da Cunha e Melo de Almeida. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. III. Título.

CDD 303.6

RESUMO

Conflitos de interesses nas pesquisas científicas

Este estudo tem como objetivo analisar como os membros dos Comitês de

Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) de uma universidade federal

brasileira identificam e manejam os conflitos de interesse presentes na

condução das pesquisas científicas na universidade federal brasileira.

Pretendemos, assim, contribuir para a elaboração e implantação de uma

política de manejo do conflito de interesses. Na pesquisa, com abordagem

qualitativa, utilizamos um questionário com perguntas abertas e fechadas,

bem como entrevistas individuais para a coleta de dados. Integraram a

amostra quatro (04) CEP, com 47 participantes. Destes, três (03) membros

foram entrevistados individualmente e onze (11) em grupo, e quinze (15)

questionários foram analisados. Buscamos, nas falas, pontos de interseção

entre o que dizem os entrevistados e a literatura. Comparamos os textos e os

dados publicados por pesquisadores de várias nacionalidades e inserções

institucionais, nos periódicos, com os discursos dos participantes da pesquisa,

com o objetivo de descobrir diferenças e possíveis semelhanças. Ao

analisarmos os diversos discursos, pretendemos contribuir para a elaboração

de uma política de manejo de conflito de interesses, bem como trabalhar para

implantá-la e sugerir a realização de mais pesquisas sobre a gestão dos

conflitos de interesse no Brasil, para que possamos aprofundar nossos

conhecimentos a respeito.

Palavras-chave: conflitos de interesses, bioética, Comitê de Ética em

Pesquisa com Seres Humanos (CEP), manejo e gestão de conflitos de

interesses financeiros.

iii

ABSTRACT

Conflicts of interests in the scientific research

This study aims to analyze how members of Human Research Ethics

Committee (CEP), from a federal university in Brazil identify and manage

conflicts of interest in the conduction of the scientific research in that institution.

We intend to contribute for the elaboration and implantation of one politics of

handling of the conflict of interests. The research, with qualitative approach,

used a questionnaire with open and closed questions, as well as individual

interviews for the collection of data. The sample was composed by four (04)

CEP, with 47 participants, of these three (03) members had individually been

interviewed and eleven (11) in group, and fifteen (15) questionnaires had been

analyzed. We seek in the speeches of the members of CEP, intersection points

between what the interviewed say and the literature. We compared the texts

and the data published by researchers all over the world, with the speeches of

the research subjects, in order to discover differences and possible similarities.

When analyzing the diverse speeches, we intend to contribute to elaborate a

policy of management of conflict of interests, as well as to work to implant it

and to suggest the accomplishment of more research projects on the

management of conflicts of interest in Brazil, so that we can deepen our

knowledge about the subject.

Keyword: conflicts of interests, bioethics, Human Research Ethics Committee

(CEP), handling and management of conflicts of financial interests.

iv

LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

QUADROS

Quadro 1.1 - Exemplos de métodos utilizados pelas empresas farmacêuticas para

obter resultados positivos em ensaios clínicos ...................................................... p.14

Quadro 1.2 - Métodos utilizados pelas indústrias farmacêuticas para influenciar a

prescrição médica .................................................................................................. p.30

Quadro 1.3 - Resoluções do Conselho Nacional de Saúde ................................... p.40

Quadro 2.1 – Códigos dos entrevistados .................................................... p.75

Quadro 2.2 – Composição dos CEP ........................................................... p.75

Quadro 2.3 – Área de formação dos integrantes dos CEP ......................... p.76

Quadro 2.4 – Quantitativo de instrumento da amostra ................................ p.81

GRÁFICOS

Gráfico 1.1 - Políticas de conflitos de interesses das escolas médicas norte-

americanas. 2009 ................................................................................................... p.33

v

DEDICATÓRIA

A João Joaquim Cassimiro (in memoriam).

À minha mãe querida, pelo carinho e afeto,

estímulo e apoio incondicional em todos os

momentos da vida.

vi

AGRADECIMENTOS

A Deus e à minha mãe, pelos ensinamentos recebidos.

À minha orientadora, Marisa Palácios, pelas suas observações sempre

tão pertinentes e convívio tranqüilizador para orientar.

À Dra. Tania Cremonini Araujo-Jorge, cientista e Diretora do IOC, pela

confiança, respeito e apoio ao trabalho no IOC. Seu olhar interdisciplinar

incentiva a refletir sobre Bioética e constitui ótimos indícios da potencialidade

desta área na FIOCRUZ, no Brasil e no mundo.

À PG em Saúde Coletiva, pelo espaço aberto para que eu pudesse

desenvolver a pesquisa. Um agradecimento especial ao Ivisson, colega de

turma e secretário do Curso, pela eficiência gentil com que conduz seu

trabalho.

Aos Drs. Claudia Vater e Sérgio Rego, pelas contribuições ao trabalho,

à época do exame de qualificação.

Às “crianças” e colegas do GT CI, especialmente Viviane e Delvaci.

Aos membros dos CEP da pesquisa. Vocês foram fundamentais para a

realização do estudo.

Um agradecimento mais que especial à Dra. Fernanda Veneu-Lumb,

pelo diálogo franco, profissionalismo, pelas sugestões e correções. Sua ajuda

foi fundamental para tornar compreensíveis os inúmeros pontos desta

pesquisa. Infinitamente muito obrigada!

Ao Dr. Marco Antonio da Costa, pelas ótimas aulas de metodologia e

pelas sugestões para organização e elaboração das idéias que resultaram

neste trabalho.

À Mônica Jandira, Mônica Oliveira, Fabíola Ferraz, Márcia Verônica e

Regina Petri, profissionais e AMIGAS que me confortam e ajudam a transpor

os obstáculos impostos pela labuta cotidiana.

Ao CEP FIOCRUZ pelo convívio, aprendizado e comprometimento

profissional para com a nossa população.

A todos aqueles que eu não pude citar nominalmente, mas que

ajudaram direta ou indiretamente nesta pesquisa.

vii

“É o trabalhador solitário o responsável pelo primeiro

avanço numa pesquisa. Os detalhes podem ser testados

por uma equipe, mas a primeira idéia pertence à iniciativa,

ao pensamento e à percepção de um indivíduo.”

(Sir Alexander Fleming)

viii

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................p.1

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ p.5

Conflitos de interesses: Um primeiro olhar ................................................... p.5

Objetivos ...................................................................................................... p. 9

CAPÍTULO 1 ......................................................................................................... p.11

Conflitos de interesses: Formas e manifestações ...................................... p.11

1.2.1. Conflitos de interesses na elaboração e resultados de pesquisas ... p.11

1.2. As relações entre pesquisadores e indústria farmacêutica e suas conseqüências para os pacientes ......................................................................... p.20

1.3. Conflitos de interesses em uma potência mundial .............................. p.26

1.3.1. Estados Unidos da América (EUA) ................................................... p.26

1.4. Conflitos de interesses no Brasil …...................................................... p.38

1.5. Manejo dos conflitos de interesses …................................................... p.42

2. Controle social dos conflitos de interesses ............................................................. p.47

2.1. As Sociedades médicas brasileiras ...................................................... p.55

2.2. Breve panorama do nascimento da Bioética......................................... p.56

2.2.1. Belmont Report (Relatório Belmont) ….............................................. p.60

2.2.2. Teoria principialista …........................................................................ p.61

2.3. Breve histórico dos abusos com seres humanos: A importância do Código de Nuremberg, da Declaração de Helsinque e do TCLE ....................................... p.63

2.3.1. Os abusos cometidos contra seres humanos ...............................…. p.63

2.3.2. O Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinki ........................ p.64

2.3.3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ...................... p.65

2.4. As comissões de ética em pesquisa na prevenção aos conflitos de interesses: Experiências dos EUA, Holanda, Polônia e Finlândia …..................... p.66

2.5. Brasil: O fortalecimento contínuo baseado em princípios bioéticos …. p.69

ix

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... p.72

Método …..................................................................................................... p.72

2.1. Local da pesquisa …............................................................................. p.74

2.2. Sujeitos da pesquisa …......................................................................... p.74

2.3. Instrumentos utilizados para o levantamento dos dados ….................. p.77

2.3.1. Questionário …................................................................................... p.77

2.3.2. TCLE ….............................................................................................. p.77

2.3.3. Roteiro de entrevistas ….................................................................... p.78

2.3.4. Entrevista em grupo …....................................................................... p.80

2.3.5. Reunião ….......................................................................................... p.80

3. Quantitativo de instrumento da amostra ….............................................. p.80

4. Limitação do método …............................................................................ p.81 CAPÍTULO 3 …...................................................................................................... p.83

Resultado e discussão ................................................................................ p.83

3.1. Bloco1. Pergunta 1. .............................................................................. p.83

3.2. Bloco 2. Pergunta 2. …......................................................................... p.91

3.3. Bloco 3. Pergunta 3. …......................................................................... p.92

3.4. Bloco 4. Pergunta 4. …......................................................................... p.94 CAPÍTULO 4 …...................................................................................................... p.98

Conclusão …................................................................................................ p.98

Recomendações ….................................................................................... p.100 REFERÊNCIAS …................................................................................................ p.102 APÊNDICES …..................................................................................................... p.122

Apêndice I – Questionário …...................................................................... p.122

Apêndice II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido …................ p. 129

Apêndice III – Roteiro de entrevistas …..................................................... p.131

x

1

APRESENTAÇÃO

Este estudo pretende contribuir para a elaboração e implantação de

uma política de manejo do conflito de interesses na Universidade Federal do

Rio de Janeiro. A escolha em desenvolver este tema é fortemente influenciada

pela minha experiência como Membro de Comitê de Ética em Pesquisa desde

1997, na Fundação Oswaldo Cruz, e também pela formação em Ciências

Humanas. Durante nove anos desempenhei a função de secretária em um

CEP de uma das Unidades da FIOCRUZ, localizada na zona Sul do Rio de

Janeiro, que desenvolve ensino, pesquisa e assistência na área materno-

infantil.

Em maio de 2005, deixei o IFF/FIOCRUZ, e a convite da então

pesquisadora Dra Tania Cremonini Araujo-Jorge, passei a integrar o Instituto

Oswaldo Cruz – IOC/FIOCRUZ. Naquele mesmo ano, o Dr. José Luiz Telles, à

época Coordenador convidou-me para atuar como Membro do CEP-

FIOCRUZ, onde permaneço, atualmente no segundo mandato.

O IOC foi criado em 1900 como uma iniciativa pioneira no país para a

produção de vacinas. Em seus 110 anos de existência, diversificou suas

ações e atualmente constitui um complexo que gera conhecimento, produtos e

serviços na área biomédica para atender as necessidades da saúde da

população brasileira. É crescente a preocupação do IOC com a ética em

pesquisa, tanto que a Bioética recebeu atenção especial e integrou a pauta da

campanha eleitoral da atual diretoria.

O apoio da Diretoria IOC contribui para fomentar ainda mais a cultura

sobre este tema em todos os âmbitos do IOC, em especial nos programas de

pós-graduação lato e Stricto sensu deste Instituto. O IOC está intrinsecamente

ligado à minha história de vida acadêmica na Bioética, e foi fundamental para

que eu pudesse me candidatar ao mestrado e desenvolver esta pesquisa, sob

a orientação da Profa. Dra Marisa Palácios, que me deu liberdade de criação,

depositou confiança e apoio, elementos essenciais para exercer com

responsabilidade esta função, que eu desejo com o apoio dos CEP

entrevistados ter alcançado.

2

O relacionamento entre médicos e a indústria farmacêutica recebeu

atenção considerável nos últimos anos. É o que demonstram Campbell et al.

(2007), ao entrevistaram médicos para coletar informações sobre as suas

associações financeiras com a indústria e os fatores que predizem essas

associações.

Os autores realizaram uma pesquisa nacional nos EUA, com 3.167

médicos, de seis especialidades distintas (anestesiologia, cardiologia,

medicina familiar, cirurgia geral, medicina interna e pediatria), no final 2003 e

início de 2004. De acordo com os resultados da pesquisa, a maioria dos

médicos (94%) relatou possuir algum tipo de relacionamento com a indústria

farmacêutica, e a maioria destas relações envolvia o recebimento de

alimentação no local de trabalho (83%) ou recebimento de amostras grátis de

medicamentos (78%). Mais de um terço dos entrevistados (35%) recebeu

reembolso de despesas oriundas de reuniões profissionais ou de programas

de educação médica continuada, e mais de um terço (28%) recebeu

pagamentos por consultorias, palestras, ou recrutamento de doentes para

ensaios clínicos. Os resultados indicaram que as relações entre médicos e

indústria farmacêutica são comuns e variam de acordo a especialidade e a

atividade profissional.

Vários estudos são realizados para mostrar a crescente associação

entre a fonte de financiamento de pesquisas e os resultados favoráveis de

ensaios clínicos randomizados controlados publicados em revistas médicas. É

o que demonstraram Yaphe et al. (2001), com o objetivo de determinar a

associação entre a fonte de apoio à pesquisa e os resultados publicados

destes ensaios clínicos. Os autores revisaram ensaios clínicos controlados

aleatórios (n = 314), de interesse geral publicados em cinco revistas médicas

durante um período de 2 anos. O resultado do estudo foi classificado como

positivo ou negativo. O apoio foi classificado como indústria farmacêutica ou

não-indústria. A associação entre a fonte de apoio e os resultados foi testada

com a estatística qui-quadrado. Resultados positivos foram encontrados em

77% dos estudos, achados negativos em 20% e um resultado incerto, em 3%.

Apoio de fontes comerciais foi encontrado em 68% dos ensaios. Achados

negativos foram encontrados em 13% dos que receberam apoio da indústria,

3

35% dos estudos receberam apoio da não-indústria (qui-quadrado = 18, 36, P

< 0, 0001, odds ratio = 3,54, intervalo de confiança 95% 1,90-6,62). Os

autores encontraram associação entre a fonte financiadora de apoio aos

estudos e a publicação dos resultados positivos. E concluíram que embora o

motivo para esta associação não possa ser determinado a partir dos dados

recolhidos apenas, futuros estudos podem esclarecer a importância deste

achado para pesquisadores preocupados com a relação de órgãos de

financiamento e a publicação de resultados de pesquisa.

Sabemos que não estamos sozinhas na busca pela implantação de

uma política centrada na transparência dos conflitos de interesses, isto é o

que mostra a matéria veiculada em 02 de julho de 2008, no Jornal da Band

(2008), que apresentou uma série de reportagens denunciando a indústria

farmacêutica. A primeira da série intitulada “Receita Marcada” estampa com

exclusividade o prejuízo ao consumidor, em função da relação existente entre

a indústria farmacêutica e a classe médica, alguns dos fragmentos da peça

publicitária:

Exclusivo, comida boa, hotéis de luxo, passeios com a família, esses são alguns dos presentes que os laboratórios distribuem em todo o país, para que médicos indiquem os seus remédios aos seus pacientes.

Convites para simpósios em hotéis de luxo no Brasil e

no exterior com tudo pago, jantares regados a muita comida e bebida alcoólica, brindes e sorteios de eletro-eletrônicos; desde o primeiro ano da faculdade de Medicina, os alunos já são assediados por funcionários da indústria farmacêutica. (JORNAL DA BAND, 2008).

De acordo com a matéria exibida pelo Jornal da Band (2008), em 2 de

julho de 2008, o Laboratório Novartis patrocinou um Congresso sobre

osteoporose, no período de sexta a domingo, realizado em um resort, situado

em Florianópolis (SC). A empresa ofereceu passagem aérea e hospedagem,

juntamente com desconto especial para os acompanhantes de 50 médicos.

Na manhã de sábado, os médicos assistiram a quatro palestras. O restante

do fim de semana foi livre. De acordo com a matéria, para verificar a venda

dos produtos, e quem os prescreve, a indústria farmacêutica negocia cópias

das receitas médicas diretamente com as farmácias. Ou seja, quanto maior o

4

consumo, mais dinheiro para a indústria farmacêutica. O setor fatura por ano

R$ 28 bilhões no país, 30% são investidos em marketing. Em nota, o

Laboratório Novartis, alegou que o evento teve cunho científico, e que o

objetivo do encontro foi atualizar os profissionais de saúde.

O Jornal O Globo de 30 de março de 2008 apresentou um artigo de

Pordeus (2008), intitulado “Ciência refém do marketing”. Em tom de denúncia,

Pordeus relatou o relacionamento entre médicos e indústria farmacêutica, que

vem ocorrendo no mundo, assim como os debates nos distintos segmentos

das sociedades civil e organizada, e organizações profissionais, editoriais e

promulgações de novas leis. De acordo com o artigo:

A indústria farmacêutica se tornou hoje a principal responsável pela construção da liderança intelectual e científica dos médicos. De um modo geral, são “eleitos” aqueles que estão mais diretamente envolvidos com os produtos a serem vendidos; os que desenvolvem estudos clínicos com os medicamentos do laboratório; e os que mais prescrevem esses medicamentos. (PORDEUS, 2008).

Há uma relação antagônica entre a ética do conhecimento que ordena

o conhecimento pelo conhecimento sem a preocupação com as

conseqüências dos atos, e a ética da proteção para com os seres humanos,

que requisita controle nos usos das ciências. É uma ética baseada na

compreensão, que trabalha o tempo todo com a incerteza e a contradição. É

o que Morin (1995, p. 92-95) classifica como “ética de aposta”. Por essa razão

a ação ética é freqüentemente carregada de conflitos de interesses, conflitos

de valores.

5

Introdução

Conflitos de interesses: Um primeiro olhar

A expressão conflito de interesses tem várias definições. Em Houaiss

(2001), por exemplo, o conflito de interesses é definido como um choque entre

os interesses pessoais e as obrigações precípuas de um indivíduo que exerce

um cargo de confiança, e ocorre quando dois ou mais indivíduos demonstram

interesse em um mesmo objeto ou assunto.

Thompson (1993) utilizando o primeiro significado apontado por

Houaiss, define conflito de interesses como um conjunto de condições nas

quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário

tende a ser influenciado impropriamente por um interesse secundário.

Os interesses primários são determinados pelos deveres profissionais

de um pesquisador, médico, professor ou profissional de saúde, e estão

relacionados ao paciente e à maneira como a investigação científica é

conduzida. Thompson classifica em três os interesses primários: saúde e bem-

estar do paciente, integridade na pesquisa clínica, educação dos futuros

profissionais (pesquisador, médico e professor).

Os interesses secundários são definidos como qualquer tipo de

interesse que possa afetar a prioridade do interesse primário. São prejudiciais

quando influenciam, corrompem ou distorcem a integridade e afetam o

julgamento do profissional em relação à saúde do paciente, à investigação

científica ou à educação. Estão incluídos como interesses secundários, por

exemplo, a publicação de resultados em periódicos de prestígio internacional,

o anseio por fama ou ascensão profissional, favorecimento de familiares,

fomento para pesquisas e ganho financeiro.

Spece et al. (1996), autores do livro Conflicts of interest in clinical

practice and research, apresentam os distintos personagens envolvidos em

6

uma pesquisa: o investigador, o paciente, o público, o patrocinador, a

instituição onde ocorre a pesquisa e a comunidade científica. Cada um

desses personagens tem anseios, interesses e desejos. Por exemplo, o

investigador quer ganhar reputação por meio de pesquisas efetivas, boas e

publicadas, respostas validadas e bem desenhadas e reputação justa por suas

habilidades, esforços e tempo envolvidos na pesquisa.

O paciente quer diagnóstico acurado e tratamento efetivo, baixo risco

de dano e deseja que o investigador coloque seus interesses acima dos

próprios. O público quer métodos diagnósticos e tratamentos efetivos, seguros

e baratos, a mínima demora na aplicação das pesquisas, estudos com o

menor custo possível e confiança na comunidade científica. Já o patrocinador

comercial quer pesquisa relevante para as necessidades de mercado,

achados de pesquisas no menor tempo possível, por uma questão de

contenção de despesa, proteção de interesses financeiros, tais como patentes

de medicamentos, e pesquisas conduzidas com seriedade.

A instituição onde ocorre a pesquisa busca reputação acadêmica,

subsídios financeiros para a pesquisa por parte da indústria ou de outros

financiadores, compatíveis com todos os seus interesses, proteção do

investimento, do planejamento à organização, incluindo a equipe escolhida

para a realização da pesquisa, retorno do investimento e vantagens de

marketing, associada à reputação. A comunidade científica visa à boa

reputação da Ciência em geral, bem como ao acesso a produtos e resultados

das pesquisas.

Segundo Motti (2007), esses personagens podem desempenhar

simultaneamente vários papéis e têm interesses particulares, eventualmente

conflitantes. Destacamos, como exemplo, três dos personagens: o

investigador, o patrocinador (empresa) e o paciente.

O patrocinador também tem interesses diversos. O primeiro é

desenvolver seu produto. Para isso, precisa de projetos bem feitos, do ponto

de vista científico; de certa disciplina (há um cronograma a cumprir e um

orçamento a respeitar, pois os recursos não são infinitos), além de seguir à

risca a legislação existente.

7

Já a empresa procura proteger seus interesses, seus ativos e patentes,

sendo essencial ater-se à forma com que são escritos e protegidos.

O paciente também possui seus interesses. Isto ocorre, por exemplo,

quando o indivíduo deseja participar de uma pesquisa por motivos altruístas,

mas pretende receber um tratamento efetivo e uma prioridade às suas

necessidades, não conseguida no Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo este a transparência e a exposição desses conflitos são

importantes e todas as informações devem constar do consentimento

assinado pelo paciente. Portanto, é imprescindível diferenciar o que é um

professor universitário, transmitindo conhecimento, de um garoto-propaganda.

Para Holmes et al. (2004), os conflitos de interesses financeiros são os

que mais chamam a atenção a princípio e podem incluir, entre outros:

consultorias; participação em sociedades; cargos de direção ou

gerenciamento de instituições; recebimento de honorários; concessões de

patentes; fundos de pesquisa; pagamento de viagens e palestras; auxílio para

congressos; presentes e brindes. Os autores afirmam ainda que os interesses

financeiros indiretos, apesar de mais difíceis de identificar, também são

importantes.

Pesquisadores da Duke University nos EUA avaliaram se os interesses

financeiros dos autores de trabalhos científicos foram revelados

consistentemente em artigos publicados sobre stents coronários. No estudo

realizado por Weinfurt et al. (2008) foram pesquisados no PubMed artigos

publicados em 2006 que forneceram evidências ou orientação quanto ao uso

de stents de artéria coronária, assim como informações sobre os interesses

financeiros dos autores. Em 746 artigos, de 2.985 autores, 83% dos artigos

não traziam menção à divulgação de conflito de interesses de nenhum autor.

Os autores da pesquisa concluíram que em raras situações os interesses

financeiros são divulgados, ou não são divulgados de forma coerente.

Segundo Smith (2006), quando médicos são pagos para realizar

pesquisas, admitir pacientes em hospitais para realizar tratamentos especiais,

eles têm conflitos de interesses financeiros. Do mesmo modo quando atuam

8

como consultores das empresas farmacêuticas, quando aceitam almoços

pagos pelas indústrias farmacêuticas ou quando possuem ações nessas

empresas.

O impacto dos conflitos de interesse financeiros sobre o

desenvolvimento da psiquiatria foi estudado por Heerlein (2007). Segundo o

autor, as indústrias farmacêuticas podem ser um trunfo importante para o

desenvolvimento da medicina, mas é necessário que os médicos aprendam a

controlar esta colaboração, para não comprometer a dependência da

profissão. Para este autor, os médicos devem honrar os fundamentos éticos e

respeitar o interesse dos pacientes acima de qualquer fonte financeira.

O conflito de interesses financeiros em pesquisa clínica provoca intenso

debate. De acordo com Kim et al. (2004), embora existam informações sobre

as perspectivas e os papéis das instituições acadêmicas, pesquisador,

indústrias patrocinadoras e periódicos científicos, pouco se sabe sobre as

perspectivas dos participantes de pesquisa. Utilizando uma base de dados

interativa sobre doenças crônicas, os autores pesquisaram os potenciais

conflitos em voluntários de pesquisa, através da internet. Os autores

analisaram a necessidade e o efeito da divulgação dos conflitos. A maioria

dos entrevistados respondeu ter informações sobre conflitos de interesse,

além de defender que os conflitos de interesse financeiros devem ser

divulgados e constar do consentimento informado (64% a 87%). Os autores

concluíram que a prática da não divulgação dos conflitos de interesses

financeiros nas pesquisas clínicas prevalece e parece contrária aos potenciais

valores dos participantes de pesquisa.

Em outro estudo, Cain et al. (2005), abordaram a discordância sobre a

necessidade de declarar o montante financeiro recebido pelos pesquisadores.

Os entrevistados se opuseram à divulgação do montante financeiro recebido

pelos pesquisadores, acreditando que os mesmos estão suscetíveis a

superestimar valores.

9

Diversos autores, no entanto, consideram que há pouca orientação

sobre como divulgar os interesses financeiros de pesquisadores para os

potenciais participantes de pesquisa. Weinfurt et al. (2006b) buscaram

determinar os interesses financeiros dos potenciais participantes de pesquisa,

a sua capacidade de compreender as informações divulgadas, suas

implicações e reações. Foram estudados 16 grupos focais em 3 cidades dos

EUA, incluindo 6 grupos de adultos saudáveis, 6 grupos de adultos com

doença crônica leve, 1 grupo de pais de crianças saudáveis, 1 grupo de pais

de crianças com leucemia ou tumor cerebral, 1 grupo de adultos com

insuficiência cardíaca, e 1 grupo de adultos com câncer. O foco das

discussões abrangeu uma variedade de tópicos incluindo relações financeiras

em pesquisa clínica, se os participantes deveriam ser informados sobre as

questões financeiras, e de que maneira as informações devem ser repassadas

aos voluntários de pesquisas. Os autores concluíram que os interesses

financeiros são importantes para os potenciais participantes de pesquisa e que

os obstáculos à efetiva divulgação necessitam melhor manejo.

A busca pela identificação e gestão dos conflitos de interesses nos

levou a formular os seguintes objetivos na pesquisa:

Objetivo Geral:

Analisar como os membros dos Comitês de Ética em Pesquisa de uma

universidade brasileira identificam e manejam os conflitos de interesses

presentes na condução das pesquisas científicas.

Objetivos específicos:

●Revisar bibliografia sobre conflitos de interesses: conceitos,

aplicações, métodos e estratégias de manejo em experiências internacionais;

e

10

●Analisar a percepção dos membros de Comitês de Ética em Pesquisa

de uma universidade brasileira sobre o que é, como identificam nos projetos e

como manejam os conflitos de interesses.

11

CAPÍTULO 1

CONFLITOS DE INTERESSES: FORMAS E MANIFESTAÇÕES

1.1.1. Conflitos de interesses na elaboração e resultados de

pesquisas

Mota (1998) oferece um exemplo dramático do poder da divulgação dos

resultados clínicos sobre as bolsas de valores e o mercado financeiro. O autor

afirma que as ações da Wellcome subiram sempre após a publicação de

resultados de ensaios clínicos envolvendo o AZT ou retrovir. Em agosto de

1989, em uma única manhã, os preços dobraram de valor após a divulgação

de resultados preliminares de um estudo com o AZT nos Estados Unidos.

Com o objetivo de estudar a relação entre o conflito de interesses e

resultados de pesquisa, Friedman et al. (2004) utilizaram três definições

distintas. A primeira é a proposta por Thompson (1993) e aborda critérios mais

amplos. Inclui toda e qualquer relação financeira, exceto o fornecimento

gratuito de drogas e equipamentos. A segunda aborda os critérios utilizados

pelo International Committee of Medical Journal Editors, que inclui exemplos

rigorosos de conflitos de interesses, tais como: consultoria, emprego,

acionista, honorários, registro de patente, exceto bolsas, prêmios,

financiamentos diversos e específicos para a pesquisa, fornecimento de

drogas e equipamentos, autores que exercem funções de palestrantes ou

membros de comitês científicos.

Os autores propuseram critérios que se aplicam a pesquisadores que

possuem algum tipo de associação financeira com empresas privadas, tais

como auxílio à pesquisa, consultoria, emprego, ações da empresa, registro de

patente na qual o autor poderá receber royalties ou financiamentos pessoais.

Está excluído o fornecimento de medicamentos e equipamentos para

12

pesquisa, prêmios, bolsas, atuação como membro de comitê consultor ou

como palestrantes. O segundo critério se aplica aos casos em que

medicamentos, tratamentos ou produtos em teste pelo pesquisador são

produzidos pela empresa patrocinadora ou pertence a mesma classe de uma

droga produzida por uma empresa concorrente. O terceiro critério se aplica

aos casos, em que o produto estudado pelo pesquisador tem potencial

comercial de trazer lucros no futuro. Já o quarto critério se aplica quando a

apresentação dos resultados principais da pesquisa nega o produto do

concorrente ou advoga positivamente, apontando um custo-benefício

mostrando que o produto pesquisado tem potencial valor comercial.

Para Angell (2008), os laboratórios farmacêuticos planejam ensaios

clínicos para serem feitos por pesquisadores que são pouco mais que mão-de-

obra contratada, sejam os testes realizados em centros acadêmicos, sejam

nos consultórios médicos. Segundo Angell:

As empresas patrocinadoras ficam com os dados, e, em ensaios realizados múltiplos centros, pode ser que nem deixem os próprios pesquisadores ver tudo. As empresas analisam e interpretam os resultados, e decidem o que __ se é que algo __ deverá ser publicado. (ANGELL, 2008, p.119).

Segundo Bhandari et al. (2004), pesquisas financiadas pela indústria

farmacêutica são mais susceptíveis estatisticamente a resultados pró-

indústria, tanto em publicações de ensaios clínicos como em intervenções

cirúrgicas. Os autores analisaram uma série consecutiva de 332 ensaios

randomizados, publicados no período de janeiro de 1999 a junho de 2001, em

8 jornais de cirurgia e 5 revistas médicas. Destes, 158 eram ensaios clínicos,

87 estudos cirúrgicos e 87 ensaios clínicos de outras terapias. Em 122 (37%)

dos ensaios, os autores declararam receber financiamento da indústria

farmacêutica. Uma análise dessa amostra não justificada de ensaios revelou

que o financiamento da indústria foi associado com uma estatística significante

de resultado a favor do novo produto da indústria farmacêutica patrocinadora

do estudo (odds ratio [OR] 1,9, 95% intervalo de confiança [CI] 1.3-3.5). A

associação permaneceu significativa após ajuste para o estudo da qualidade e

tamanho da amostra (ajuste OR 1,8, IC 95% 1,1-3,0). Houve uma diferença

13

não significativa entre os ensaios cirúrgicos (OR 8,0; IC 95% 1,1-53,2) e os

ensaios de drogas (OR 1,6, IC 95% 1,1-2,8), ambas suscetíveis de ter uma

política de resultado pró-indústria (em relação OR 5,0, IC 95% 0,7-37,5,p =

0,14).

Felizmente, do ponto de vista das empresas farmacêuticas que

financiam os ensaios clínicos, mas infelizmente para a credibilidade das

revistas, os estudos publicados raramente produzem resultados desfavoráveis

para as indústrias farmacêuticas patrocinadoras. Prova disto é o estudo

realizado por Rochon et al. (1994), no qual foram analisados 56 ensaios

clínicos de antiinflamatórios para artrite, financiados pela indústria

farmacêutica. Nenhum dos relatórios publicados apresentou resultados

desfavoráveis para a indústria que os patrocinou. Cada experimento

demonstrou que a droga da empresa patrocinadora era superior, ou melhor,

em comparação com o tratamento utilizado à época.

O marketing farmacêutico para médicos, incluindo doações e patrocínio

para as atividades de educação médica continuada, suscita sérias questões

éticas. Preocupados com essa questão, Brett et al. (2003) investigaram sobre

o grau em que médicos consideram comum a comercialização farmacêutica

de atividades como eticamente problemática, e comparar as opiniões de

médicos experientes com a de médicos em formação. Para ambas as

qualificações, os resultados mostraram que a maior parte das atividades

comerciais não levantou grandes problemas éticos. Os entrevistados tendem a

fazer distinções sobre a pertinência ética de presentes, com base no valor

monetário e no tipo de doação. Alguns opinaram que houve violação das

orientações profissionais que tratam das interações entre médicos e empresas

farmacêuticas. Os autores concluíram que, apesar da publicidade sobre

problemas éticos no relacionamento entre médicos e a indústria farmacêutica,

médicos inexperientes e experientes de uma única instituição tiveram opiniões

distintas sobre a permissibilidade da diversidade de atividades de marketing

utilizadas pelas indústrias farmacêuticas.

14

Smith (2005) reconhece a necessidade de mais financiamento público

para as pesquisas, especialmente de pesquisadores altamente qualificados

para todos os ensaios clínicos. E ressaltou que, ao invés de simplesmente

publicar, as revistas médicas deveriam adotar uma postura crítica em relação

aos ensaios clínicos. Segundo este autor, os resultados dos protocolos

clínicos deveriam ser disponibilizados em sites da internet regulamentados.

Alguns dos exemplos utilizados pelas indústrias farmacêuticas, para obtenção

de resultados satisfatórios em ensaios clínicos, estão dispostos no Quadro

1.1.

QUADRO 1.1 - Exemplos de métodos utilizados pelas empresas

farmacêuticas para obter resultados positivos em ensaios clínicos

●Avaliar o seu medicamento contra um tratamento comprovadamente inferior. ●Testar suas drogas contra uma dose muito baixa de uma droga concorrente. ●Realizar avaliação de seu medicamento contra uma dose demasiado elevada de uma droga concorrente (tornando a sua droga menos tóxica). ●Realizar ensaios pequenos demais para mostrar superioridade entre uma droga concorrente. ●Utilizar vários parâmetros, e escolher para publicar apenas aqueles que apresentam resultados favoráveis. ●Realizar ensaios multicêntricos diversos, mas publicar apenar os resultados dos centros favoráveis. ●Incluir análise de subgrupo e selecionar para publicação aqueles que são favoráveis. ●Apresentar resultados que são mais susceptíveis de impressionar, por exemplo, a redução do risco relativo e não absoluto.

(SMITH, 2005, p.2)

Lexchin et al. (2003) realizaram uma revisão sistemática de 30 estudos

comparando os resultados das pesquisas financiadas pela indústria

farmacêutica com pesquisas financiadas por outras fontes. Aproximadamente

16 dos estudos analisados eram ensaios clínicos ou meta-análise. Os

primeiros estudos apresentaram mais resultados favoráveis para as empresas

patrocinadoras do que os outros (OR = 4,05; IC95%: 2,98 - 5,51). Nenhum

15

dos 13 estudos que analisaram métodos relatou que os ensaios financiados

pela indústria farmacêutica apresentavam pobre qualidade metodológica.

Nesta linha, vale citar o estudo realizado por Bero (2005), que

evidenciou que patrocínios comerciais, ganhos pessoais e financeiros

concedidos pela indústria para pesquisadores influenciam a publicação de

resultados mais favoráveis às indústrias. Segundo a autora, as instituições de

pesquisa tentam proteger as suas próprias reputações e as de seus docentes,

estabelecendo limites para a elaboração dos relatórios financeiros e sugere

que a organização patrocinadora imponha as práticas de gestão destinadas a

reduzir os conflitos ou minimizar o financiamento. Em um quarto dos projetos

desenvolvidos por uma Universidade dos EUA foi exigida a revisão e a gestão

dos conflitos de interesses, sendo o mais comum destas decorrentes da

elevada "taxa de consultoria" paga aos pesquisadores. A autora concluiu que

existe diferença de opinião na comunidade de pesquisadores acerca da

divulgação dos interesses financeiros, que as opiniões são importantes e

necessárias para garantir um nível razoável de liberdade e para manter a

confiança pública.

Para Weinfurt et al. (2006a), estratégias para a divulgação dos

interesses financeiros em pesquisas foram adotadas por vários institutos

norte-americanos. No entanto, pouco se sabe sobre a forma como são

tomadas as decisões relativas à divulgação dos interesses financeiros das

pesquisas para os potenciais participantes, incluindo o que é divulgado e as

razões para fazer essas determinações. Os autores buscaram compreender

as atitudes, crenças e práticas da revisão institucional, sobre os conflitos de

interesses presentes nas comissões, e sobre a revelação dos interesses

financeiros em pesquisas para os potenciais participantes. Vários temas

emergiram, incluindo o manejo geral dos conflitos de interesses, as

circunstâncias em que os interesses financeiros devem ser divulgados e os

benefícios da divulgação, o que deve ser divulgado, e os efeitos negativos dos

obstáculos à divulgação.

Os entrevistados citaram várias razões para a divulgação dos dados de

pesquisa, principalmente para promover a confiança nas instituições e reduzir

16

a responsabilidade legal. Houve um consenso de que a divulgação das

informações deve ocorrer no início do processo de tomada do termo de

consentimento. Outros entrevistados discordaram sobre a necessidade de

revelar o montante financeiro de determinadas pesquisas. Para os autores,

deixar claro os objetivos da divulgação e buscar a compreensão dos

potenciais participantes de pesquisas é crucial para garantir a integridade da

investigação clínica e para proteger os direitos e interesses dos participantes.

Schulman et al. (2002), concluíram que as instituições acadêmicas

raramente se certificam de que seus pesquisadores tenham total participação

no planejamento dos ensaios, livre acesso aos dados do ensaio e o direito de

publicar suas conclusões. Acrescentaram, a este sombrio esquema, a

participação do “escritor fantasma” (ghost writer), definido na literatura médica

como aquele indivíduo que elabora o protocolo de pesquisa, planeja as

análises estatísticas e escreve o artigo sem que seu nome integre os autores

responsáveis pela publicação.

Estudo de coorte realizado na Dinamarca, no período de 1994 e 1995

por Gøtzsche et al. (2007), analisou 44 ensaios patrocinados pela indústria

farmacêutica. Em 33 dos ensaios foram evidenciados a participação de

escritores fantasmas. Os estatísticos fantasmas integravam 31 dos ensaios

clínicos. Segundos os autores, uma maneira coerente de minimizar a

prevalência desses trabalhos fantasmas é a publicação prévia dos projetos

(protocolos) de pesquisa.

A atividade de ghost-writer em algumas situações pode estar associada

ao pouco comprometimento do pesquisador com os dados dos resultados da

pesquisa.

As conseqüências da influência avassaladora resultante das pressões

dos fabricantes são sentidas também na publicação dos resultados é o que

relatam Bodenheimer (2000); Montori et al. (2005), segundo os quais

pesquisas patrocinadas pela indústria farmacêutica têm probabilidade maior

de apresentar resultados favoráveis aos novos fármacos, comparados aos

tradicionais, do que as pesquisas independentes. Segundo os autores, é

17

comum pesquisas patrocinadas pelos fabricantes de medicamentos serem

interrompidas antes do programado. São estudos com resultados falaciosos,

que costumam distorcer as conseqüências de longo prazo dos tratamentos,

quando ocorrem efeitos adversos graves.

A associação com resultados favoráveis em pesquisas acadêmicas

financiadas pela indústria é um fenômeno observado por diversos autores,

segundo demonstram Glaser et al. (2005), em uma revisão de dados

empíricos sobre as atitudes e o envolvimento de pesquisadores com a

indústria farmacêutica e seus laços financeiros. A revisão dos dados revelou

que os pesquisadores em início de carreira estão preocupados com o impacto

dos vínculos financeiros na escolha das pesquisas, condução dos estudos e

publicação, mas esta preocupação é menor entre os pesquisadores já

envolvidos com a indústria. A confiança dos pesquisadores na publicidade

como uma forma de gerir conflitos revelou falta de consciência do real impacto

de incentivos financeiros em si mesmos e em outros pesquisadores.

Diversos ensaios clínicos são escritos e publicados por pesquisadores

com conflitos de interesses financeiros não-declarados. Segundo Perlis et al.

(2005), a literatura médica considera problemático o impacto destes conflitos,

assim como a discussão sobre a divulgação dos mesmos pelos responsáveis

pelos ensaios clínicos. Na opinião dos autores, o registro dos ensaios

minimizaria o viés da publicação dos conflitos de interesse financeiros. Apesar

de evolução médica na discussão deste tema, pouco se sabe sobre o papel o

quanto as pesquisas em dermatologia são afetadas pelo conflito de interesse

financeiro.

Os autores estudaram a extensão e o impacto do patrocínio da indústria

nos conflitos de interesse nas pesquisas em dermatologia. Foram registrados

os potenciais conflitos de interesses financeiros em 179 resultados de ensaios

clínicos publicados entre 1º de outubro de 2000 a 1º de outubro de 2003, em

quatro principais jornais de dermatologia. Os resultados mostraram que 43%

dos estudos analisados incluíram pelo menos um autor com conflitos de

interesse declarado. Os estudos mais propensos a relatar resultado positivo

demonstram maior qualidade metodológica, e incluíram maior tamanho

18

amostral. A conclusão dos autores é que conflito de interesses presente nas

pesquisas clínicas da área de dermatologia está potencialmente associado

com diferenças significativas em termos de metodologia e elaboração de

relatórios.

Na opinião de Emanuel et al. (1995), o custo elevado das pesquisas,

aliado aos ganhos econômicos pelos pesquisadores em instituições de ensino

e pesquisa e os laços destes com a indústria farmacêutica, aumentam os

conflitos de interesses, que acabam afetando diretamente os cuidados para

com o paciente, o voluntário de pesquisa e a sociedade.

A preocupação de que a relação financeira entre patrocinadores e

pesquisadores produz viés aos resultados de pesquisa foi estudada por

Riechelmann et al. (2007), ao avaliarem a epidemiologia dos conflitos de

interesse entre os autores dos ensaios clínicos e os editoriais em oncologia e

as relações entre a divulgação e a fonte de financiamento dos conflitos de

interesse.

Os autores realizaram um estudo transversal dos ensaios clínicos e

editoriais dos agentes antineoplásicos e de suporte às medicações publicados

no Journal of Clinical Oncology (JCO), durante o período de um ano. Os

resultados mostraram que dos 1.533 artigos publicados no JCO, no período de

1 º de janeiro de 2005 a 31 de janeiro de 2006, 332 foram incluídos na

amostra; 289 (87%) eram ensaios clínicos, e 43 (13%) eram editoriais. Destes,

44% dos ensaios clínicos recebeu da indústria farmacêutica financiamento

integral ou parcial. Pelo menos um conflito de interesse foi divulgado em 69%

dos ensaios clínicos, e em 51% dos editoriais. Os tipos mais comuns de

conflito de interesse relatados pelos autores foram pagamentos de consultoria,

honorários e fundos para pesquisa. Os maiores níveis de interesses

financeiros relatados pelos autores foram as bolsas de pesquisa, mas a

maioria dos autores com conflitos de interesses nos EUA recebeu menos de

US$ 10,000. Na análise multivariada, os autores de ensaios clínicos

conduzidos na América do Norte (América do Norte v Europa: odds ratio [OR]

= 2,9,P = .002) e de autores com ensaios inteiramente financiados (somente

pela indústria v sem fins lucrativos: OR = 13,8,P < .001) ou parcialmente

19

financiados (tanto pela indústria sem fins lucrativos v sem fins lucrativos

apenas: OR = 5,8,P <.001) apresentaram mais relatórios propensos a conflitos

de interesses financeiros e pessoais. Os autores concluíram que conflitos de

interesses são comuns nas pesquisas clínicas na área de câncer, geralmente

sob a forma de consultoria, honorários e fundos de pesquisa. A fonte de

financiamento do estudo foi significativamente associada com a divulgação

dos conflitos de interesses.

Segundo estudo realizado por Martinson et al. (2005), em junho de

2005, a revista Nature publicou um artigo sobre o comportamento impróprio de

pesquisadores norte-americanos. Segundo a matéria os pesquisadores

entrevistados admitiram cometer fraude na pesquisa científica, tais como

falsificação de dados, modificação de projeto e de metodologia, registro

inadequado de dados, plágios, entre vários outros.

Segundo Evans apud Schneider et al. (2005), o livro Fraude e

improbidade médica na pesquisa apresenta questões relacionadas à conduta

imprópria de médicos pesquisadores. Segundo os autores há dados muito

discrepantes relatados em pesquisas, tais como: valores de gráficos e tabelas

não correlacionados com dados impressos, ausência de somatório de

variáveis nas tabelas, além de várias outras incongruências.

É o que comprova Staropoli (2003), segundo o qual há pesquisadores,

que não participam do planejamento do projeto de pesquisa, e nem tampouco

são autorizados a publicar seus resultados isoladamente. Há casos inclusive,

em que os pesquisadores não têm permissão sequer para publicar os

resultados negativos da pesquisa, porque poderiam prejudicar as ações

comerciais da empresa financiadora.

Aliado a isto, é importante ressaltar que nem todas as revistas lidam

bem com resultados negativos.

Segundo Pearson et al. (1998), o principal imperativo ético é conciliar,

na metodologia das pesquisas, mecanismos de segurança, a fim de que os

conflitos sejam minimizados.

20

Pesquisa realizada por Friedberg et al. (1999), sobre a avaliação de

conflitos de interesse em análises econômicas de novos medicamentos

usados na área de Oncologia, demonstrou que pesquisadores que possuíam

relações financeiras com fabricantes de produtos farmacêuticos estão menos

propensos a criticar a segurança ou a eficácia desses agentes. Os autores

concluíram que o patrocínio das empresas farmacêuticas estava associado

com a redução da probabilidade de relatar resultados desfavoráveis.

1.2. As relações entre pesquisadores e indústria farmacêutica e

suas conseqüências para os pacientes

Segundo Okike et al. (2007), um quarto de todos os pesquisadores

biomédicos recebe financiamento de companhias farmacêuticas. Durante a

Reunião Anual da Academia de Cirurgia Ortopédica (AAOS), em 2002, 32%

dos cirurgiões ortopédicos relataram possuir algum tipo de conflito de

interesse financeiro em suas pesquisas. Nos EUA, as agências reguladoras

de atividade médica, a indústria farmacêutica e o governo vêm buscando

estabelecer um código de conduta que delimite as relações entre médicos e a

indústria. Os pesquisadores são recrutados em instituições universitárias

apenas para executar parte de um projeto, cujo protocolo de pesquisa já fora

estabelecido pelo patrocinador.

Studdert et al. (2004) e Blumenthal (2004) afirmaram que o conflito de

interesses não só envolve a prática médico-assistencial, mas, também, a

educação médica continuada e a pesquisa biomédica, na qual a indústria

farmacêutica é responsável por cerca de 60% do financiamento.

Estudo realizado por Hampson et al. (2007), a partir de dados das

reuniões anuais da American Society of Clinical Oncology (ASCO) para

determinar a freqüência, o tipo e valor monetário dos interesses financeiros

dos pesquisadores, no período de 2004 e 2005 mostrou que de um total de

21

7.0852 resumos analisados, sendo 3.529 correspondentes ao ano 2004, e

3.556 do ano de 2005, 23% dos mais de 75% dos resumos apresentavam um

ou mais autores com interesses financeiros pessoais estimados em mais de

US$ 10.000.

Bass et al. apud Angell (2008) afirmam que os acordos entre os

laboratórios farmacêuticos e as universidades representam uma renda

bastante significativa. Segundo exemplo desses autores, o chefe da psiquiatria

da Brown University Medical School teria recebido mais de US$ 500.000

durante o ano de 1998 em honorários de consultoria. Angell cita exemplos de

arranjos acadêmico-industriais da Harvard University, entre os quais no Dana-

Faber Câncer Institute, um hospital de Harvard, um acordo que concedeu à

Novartis direitos sobre as descobertas que levem ao desenvolvimento de

novas drogas para o câncer. A firma japonesa fabricante de cosméticos

Shiseido deu ao Massachusetts General Hospital, de Harvard, US$ 180

milhões por um período de uma década para ter direitos preferenciais sobre as

descobertas dos dermatologistas do corpo docente. A Merck estava

construindo um prédio de 12 andares, para pesquisas, ao lado do Harvard

medical School. Segundo reafirmou Angell (2008), dois terços dos centros de

medicina acadêmica detinham capital em companhias iniciantes que

patrocinavam algum tipo de pesquisa.

As interações entre médicos e representantes da indústria farmacêutica

chamaram a atenção de Chimonas et al. (2007), que basearam suas

pesquisas em seis grupos focais compostos por 32 médicos norte-americanos

de San Diego, Chicago e Atlanta, dos quais 18 oriundos de cuidados primários

e 14 especialistas (cirurgia torácica, hematologia, oncologia, cardiologia,

doenças infecciosas, urologia, ortopedia, gastroenterologia, pneumologia e

medicina geriátrica). A maioria (59%) trabalhava em consultório particular, e

mais de dois terços (69%) tinha mais de 10 anos de prática médica.

O objetivo dos autores foi determinar técnicas para a gestão das

incongruências cognitivas presentes nas relações dos médicos com os

representantes farmacêuticos, e discutir sobre o entendimento dos médicos

22

acerca da relação entre conflito de interesses e o marketing no atendimento

ao paciente.

Foi realizada uma análise qualitativa das transcrições dos grupos

focais, para determinar as atitudes dos médicos sobre o significado do conflito

de interesse, suas crenças sobre a qualidade da informação veiculada e o

impacto sobre a prescrição, e sua resolução do conflito entre o desejo para

vender o produto e a assistência ao paciente. Os resultados encontrados

mostram que os médicos compreendem o conceito de conflito de interesses e

aplicam às relações profissionais. No entanto, eles mantiveram opiniões

favoráveis e atitudes contraditórias em determinadas situações. Para resolver

a dissonância, os médicos usaram diversas negações e racionalizações, tais

como evitaram pensar sobre o conflito de interesses e, discordaram que as

relações com a indústria afetam o comportamento do médico. Os autores

concluíram que, embora os médicos tenham entendido sobre o conceito de

conflito de interesses, os resultados da pesquisa sugerem que as diretrizes

propostas pela maioria das principais sociedades médicas ainda são

insuficientes para coibir os conflitos. Segundo os autores, a proibição do

envolvimento de médicos com a indústria farmacêutica pode ser uma medida

eficaz.

Herxheimer (2003), explorou o tema das relações entre a indústria

farmacêutica e as organizações de grupos de auto-ajuda e de apoio a

pacientes do Reino Unido. Segundo este autor, a relação entre as indústrias

farmacêuticas e os pacientes é uma parceria desigual, que se desenvolveu ao

longo dos anos e que suscita questões sérias.

Greco et al. (2008) discutiram os diversos níveis onde as questões de

conflito de interesse são mais propensas a acontecer, tais como nas ações

das indústrias farmacêuticas, na relação com profissionais da área da saúde,

participação das universidades e institutos de pesquisa, nas comissões de

ética de pesquisa, incluindo as possíveis pressões exercidas pelas indústrias

farmacêuticas, pelos pesquisadores, patrocinadores e mesmo das próprias

instituições. Os autores enfatizaram a inter-relação entre os conflitos de

interesse e vulnerabilidade, e também possíveis causas e soluções para

23

diminuir os riscos de exploração de voluntários em pesquisa. Os autores

também enfatizaram a necessidade de garantir o acesso a produtos que são

comprovadamente eficazes para todas as pessoas que podem necessitar

deles. Sugeriram formas possíveis de capacitar os voluntários, para que se

tornem conscientes dos seus direitos. Os autores discutiram a necessidade de

separar os interesses econômicos das reais necessidades de saúde pública e

desmistificação de argumentos econômicos utilizados para justificar a redução

das exigências éticas. Segundos os autores é necessário estabelecer a

efetiva participação de todos os interessados em um organismo internacional

que represente realmente a todos, por exemplo, OMS, a fim de avaliar,

debater e diminuir os riscos dos diversos conflitos de interesse, visando o

estabelecimento de projetos de pesquisa, que possam realmente contribuir

para a redução das disparidades obscenas na área da saúde entre os países

desenvolvidos e os países em desenvolvimento.

Bekelman et al. (2003) estudaram o impacto e gestão de conflitos de

interesse financeiros na pesquisa biomédica. Os autores analisaram sete

estudos de corte transversal. De acordo com os autores, aproximadamente

um quarto dos pesquisadores apresentaram vínculos coma a indústria

farmacêutica. Os resultados encontrados demonstram que há uma grande

variedade na política de regulação do conflito de interesses entre as

instituições acadêmicas norte-americanas.

Em 2001, uma pesquisa nacional, realizada com médicos norte-

americanos (National Survey of Physicians), mostrou que 92% dos médicos

receberam amostras de drogas, 61% receberam refeições, ingressos para

eventos ou viagens, 13% receberam outros tipos de benefícios, e 12%

receberam incentivos para participação em ensaios clínicos. Wazana (2000)

analisou 16 estudos publicados entre 1982 e 1997, de acordo com o autor, em

média, os médicos se reúnem com representantes de indústrias farmacêuticas

quatro vezes por mês e residentes aceitam seis doações por ano, oriundas

dos representantes farmacêuticos.

24

Segundo Boyd et al. (2003b), nos EUA o patrocínio na área de

pesquisa clínica vem crescendo diariamente, assim como o financiamento e o

relacionamento individual entre as indústrias farmacêuticas e os

pesquisadores. Motivos como estes tem levado o governo federal, alguns

estados, e muitas universidades a promulgarem políticas para gestão de

conflitos de interesse, visando controlar e regulamentar o financiamento

presente no relacionamento entre pesquisadores e patrocinadores.

Para explorar as possíveis implicações das políticas de conflito de

interesses dos pesquisadores clínicos, os autores entrevistaram

pesquisadores clínicos em duas instituições onde as políticas de conflitos de

interesse são distintas. A característica mais evidente das entrevistas foi o

leque de percepções e atitudes manifestadas pelos pesquisadores e suas

implicações para os gestores, profissionais, sociedades e políticos

preocupados com os conflitos de interesse. Menos da metade dos

pesquisadores entrevistados descreveram com precisão as políticas de

conflitos de interesse de seu campus. Muitos dos entrevistados reconheceram

os riscos gerais associados aos conflitos de interesse, mas consideraram que

eles não estão pessoalmente em risco. O desafio fundamental é demonstrar a

todos os pesquisadores clínicos e não-clínicos, o potencial viés da pressão da

indústria e a relevância para a adoção de políticas de conflitos de interesses

aplicável a todos os pesquisadores.

As múltiplas relações entre pesquisadores clínicos, médicos e a

indústria farmacêutica foram quantificadas por Henry et al. (2005), em uma

pesquisa realizada com médicos australianos, no período de 2002 a 2003. Os

autores utilizaram um questionário com perguntas acerca dos aspectos

presentes nas pesquisas e sobre as relações entre médicos e indústrias

farmacêuticas. Foram incluídos no estudo todos os médicos, que devolveram

o questionário preenchido sobre as suas atividades de pesquisa. O

questionário foi enviado a 2.120 médicos especialistas, 823 (39%)

responderam. Destes, 338 (41%) relataram possuir envolvimento com a

indústria farmacêutica e patrocinadores de pesquisa. As associações mais

fortes foram observadas em médicos que receberam pagamento de

consultoria feito pelas indústrias farmacêuticas (OR, 9.0; IC 95%, 3.9-20.4) e

25

pela participação em conselhos consultivos (OR, 6.9; IC 95%, 5.1-9.6). Houve

uma forte relação entre a colaboração em pesquisa e a acumulação dos

vínculos com a indústria. Os autores concluíram que os médicos especialistas

em pesquisas clínicas que apresentaram mais relações com a indústria

farmacêutica estão muito mais susceptíveis de ter múltiplos vínculos adicionais

do que aqueles que não possuem relacionamentos com a indústria

farmacêutica em suas pesquisas. Os autores sugeriram que é imprescindível

as instituições desencorajarem os pesquisadores a desenvolver múltiplos

vínculos com a indústria farmacêutica.

Estudos realizados por Timimi (2005) e Fava (2006), demonstraram que

o envolvimento da psiquiatria com a indústria farmacêutica tem influência

negativa sobre a prática clínica e a educação médica, ameaçando inclusive o

desenvolvimento independente das ciências mentais. De acordo com estes

autores, os psiquiatras devem evitar ou minimizar a interação com as

empresas farmacêuticas.

Opinião semelhante foi defendida por Helmchen (2003), ao ressaltar

que uma das premissas da intervenção psiquiátrica é a confiança do paciente

em seu terapeuta. O autor sugere um esforço internacional da comunidade

psiquiátrica, para redefinir a relação entre médicos e indústria farmacêutica,

porque o envolvimento de psiquiatras com a indústria farmacêutica tem

aumentado intensamente nos últimos anos. O autor concluiu que a

cooperação entre psiquiatras e a indústria vão desde o que é necessário e

desejável até as práticas questionáveis e inaceitáveis de má conduta. O autor

baseou sua pesquisa em uma revisão detalhada da literatura, e apresentou 27

recomendações para discussão deste assunto com as Associações

psiquiátricas, com intuito de desenvolver orientações explícitas para as

relações entre os psiquiatras e a indústria farmacêutica.

Preocupados com os conflitos de interesses financeiros intrínsecos no

processo de desenvolvimento de drogas, Gray et al. (2007) estudaram sobre

como pacientes com câncer avançado inscritos em ensaios clínicos percebiam

os conflitos de interesses dos pesquisadores.

26

Foram entrevistados 102 pacientes com câncer avançado inscritos para

ensaios clínicos em fase I. Segundo os autores, 55% dos pacientes disseram

que não ficariam preocupados se os médicos envolvidos na execução do

ensaio clínico tivessem conflitos de interesse financeiros, ao passo que 65%

dos pacientes demonstraram preocupação quanto ao envolvimento de

médicos na execução da pesquisa. A maioria dos pacientes relatou que os

potenciais conflitos de interesse devem ser divulgados (52%) para os conflitos

de interesse financeiros e 61% para outros tipos de conflitos de interesse

intrínsecos em pesquisas.

A maioria dos pacientes estaria disposta a participar de ensaios após a

aprendizagem de informações sobre conflito de interesse (63%). Os pacientes

mais jovens expressaram mais preocupação com os conflitos de interesses

financeiros do que os pacientes mais velhos (odds ratio, 6,22; 95% CI, 1,41-

27,24). Os autores concluíram que os pacientes com câncer avançado são

igualmente preocupados com os diferentes tipos de conflitos de interesse.

Ainda de acordo com os autores, os pacientes geralmente acreditam

que os conflitos de interesse devem ser divulgados aos participantes da

pesquisa. O fato de pacientes mais jovens terem expressado maior

preocupação com os conflitos financeiros, do que com outros tipos de

interesse pode ter influenciado a participação em ensaios clínicos. Os autores

sugeriram que o impacto real dos conflitos de interesse e a divulgação de

temas de pesquisa fossem avaliados com mais cautela.

1.3. Conflitos de interesses em uma potência mundial

1.3.1 Estados Unidos da América (EUA)

Estudo realizado por Cho et al. (2000) sobre as políticas de conflito de

interesses nas Universidades norte-americanas demonstrou que 55% das

políticas (n = 49) em vigor nas Universidades exigem que os professores

divulguem todos os seus conflitos, enquanto 45% (n = 40) exigem que apenas

os principais pesquisadores ou aqueles de conduzem pesquisas divulguem os

27

conflitos. Dezenove por cento das políticas (n = 17) prevêem limites aos

interesses financeiros das faculdades, empresas e patrocinadores, 12% (n =

11) especificaram limites admissíveis sobre os atrasos na publicação, e 4% (n

= 4) proíbem a participação de estudantes nos trabalhos patrocinados por

sociedade em que o corpo docente principal possua interesse financeiro. Os

autores concluíram que na amostra estudada a maioria das políticas sobre

conflitos de interesses em grandes instituições de pesquisa dos Estados

Unidos está ausente de especificidade sobre os tipos de relações com a

indústria, ou seja, o que é permitido ou proibido. A grande variação na gestão

dos conflitos de interesses entre as instituições pode causar confusões

desnecessárias entre os potenciais parceiros da indústria. A concorrência

entre universidades e empresas patrocinadoras, pode corromper os padrões

acadêmicos no longo prazo. É interesse das instituições desenvolverem

acordos sobre políticas de conflitos de interesses específicas e transparentes.

Com o objetivo de estudar a maneira como os estudantes de medicina

em fase clínica e pré-clínica interagem com a indústria farmacêutica, Hyman et

al. (2007) realizaram uma pesquisa em Harvard Medical School (HMS),

Boston, MA, USA, no período de novembro de 2003 a janeiro de 2004. Os

autores analisaram o modo como às respostas diferiram entre as classes. De

723 questionários, 418 foram respondidos e devolvidos - uma taxa de resposta

global de 58%. Um total de 107 (26%) estudantes considerou apropriado

aceitar presentes das indústrias farmacêuticas, e 76 (18%) concordaram que o

currículo médico deveria incluir eventos patrocinados pela indústria

farmacêutica. Muitos alunos 253 (61%) relataram não se sentir devidamente

instruído sobre as interações com a indústria farmacêutica. Tanto os

estudantes em fase pré-clínica, como os estudantes em fase clínica

apresentaram opiniões semelhantes para a maioria das suas respostas.

Nesta mesma linha, Steinman et al. (2001) pesquisaram, em um

programa universitário de Medicina Interna, os fatores que influenciaram o

relacionamento e as atitudes dos médicos residentes do primeiro e segundo

anos com a indústria farmacêutica. Dos noventa por cento dos residentes, de

ambos os anos que responderam (105 de 117) consideram uma atitude

28

positiva receber brindes e amostras da indústria farmacêutica. A maioria dos

entrevistados (61%) afirmou não sofrer influência em sua prescrição de

medicamentos, 16% afirmaram que o recebimento de brindes não os afeta (P

<.001). Comportamentos que foram muitas vezes incompatíveis com as

atitudes. Todos os residentes que consideraram conferência regada a almoços

(n = 13) e o recebimento de canetas (n = 18) inadequado tinham aceitado

estes tipos de brindes. Mais de dois terços concordaram que é adequado para

a instituição médica ter regras sobre as interações entre residentes e

professores com a indústria farmacêutica. Os autores concluíram que os

residentes detêm geralmente atitudes positivas para o recebimento de brindes,

acreditam que não são influenciados pela indústria farmacêutica, mas relatam

comportamentos incompatíveis com as suas atitudes. Os autores da pesquisa

sugeriram investir em programas de educação médica continuada, focado em

políticas específicas que possam auxiliar aos residentes desenvolver senso

crítico em relação à influência da indústria farmacêutica com os profissionais

de saúde.

Diversas universidades do mundo estão engendrando esforço para o

manejo do conflito de interesses. Um exemplo é a Universidade da Califórnia,

em Los Angeles – UCLA. O Guia da UCLA inclui uma síntese sobre outras

formas de conflito de interesses. Para fins da UCLA, conflito de interesses

públicos, interesse financeiro é qualquer valor econômico, incluindo relações

com entidades exteriores. Quando houver interesse financeiro, os

investigadores principais e o pessoal-chave devem divulgá-los ao patrocinador

do projeto de pesquisa. Em sua política geral de conflitos de interesses, o

Guia estabelece que nenhum de seus professores, funcionários ou gestores

devem exercer qualquer atividade que possa colocá-los em situação de

conflito de interesses. As políticas da UCLA, juntamente com outras

específicas abrangem a divulgação financeira, com medidas que foram

formuladas para cumprir as obrigações da UCLA para com o público, bem

como cumprir com diversas Leis estaduais e federais da Califórnia, que

exigem a divulgação dos interesses financeiros. De acordo com o Financial

conflicts of interest in research (2006), o item “Quando os interesses

financeiros devem ser divulgados”:

29

A divulgação de interesses financeiros é feita quando houver apoio às pesquisas, ou quando do recebimento de doações de entidades não-governamentais. Regulamentações federais exigem que a declaração de conflitos seja atualizada sempre que o pesquisador adquire novos interesses financeiros durante o curso de projeto. A regulamentação exige também o relatório de tudo que foi adquirido e gasto no projeto, do início ao término da pesquisa, independentemente da origem do recurso ser adquirido ou patrocinado pelo governo. (FINANCIAL CONFLICTS OF INTEREST IN RESEARCH, 2006).

Em The University of Michigan Standard Practice Guide (2005),

apresentam-se os procedimentos que todos os profissionais desta

Universidade devem seguir. De acordo com o Guia da Universidade de

Michigan, todos os atuais e potenciais conflitos de interesse ou compromisso

devem ser divulgados ao funcionário designado pela Universidade, avaliados

e, se verificado que os interesses são significativos, devem ser eliminados ou

geridos com base na Instrução Normativa que trata deste assunto.

Na Seção III, intitulada “Direitos e responsabilidades dos

profissionais da faculdade e membros de pessoal”, letra c, explicitam-se os

direitos e responsabilidades da Universidade no manejo dos conflitos, bem

como a divulgação das políticas se aplica a todos da Universidade, incluindo o

corpo docente e demais profissionais vinculado à mesma, e reforça-se que o

manejo dos conflitos deve ser feito em todos os níveis (escola, faculdade, ou

unidade administrativa), procedimentos de avaliação e gestão das divulgações

de conflito de interesses e de conflito de compromissos, normas e

procedimentos para todos os funcionários no que tange às suas ações para

solicitar e aceitar doações; e procedimentos para respostas e justificativas em

casos de transgressões desta política.

Segundo Moynihan (2003a) a American Medical Student Association's,

que representa 30.000 médicos estudantes, estagiários e residentes dos EUA,

tem desenvolvido uma campanha denominada Pharmfree – com o objetivo de

dar um basta aos almoços grátis, regados de brindes e amostras grátis de

medicamentos, programas de educação médica continuada patrocinados, e

aos conferencistas pagos. A aceitação de brindes, amostras grátis de drogas e

similares pelos profissionais da saúde é uma atitude fortemente combatida

30

pela associação norte-americana intitulada No Free Lunch (2009), que

defende a prática médica dissociada da promoção da indústria farmacêutica.

Os Estados Unidos têm bastante experiência e produção sobre o

manejo de conflitos de interesses. Destacamos, aqui, alguns exemplos.

Moynihan (2003b) classifica como sedutora a ação dos propagandistas

nos consultórios médicos e ambulatórios de hospitais, e apresenta quinze

métodos utilizados pelas indústrias farmacêuticas para influenciar a prescrição

médica, de acordo com o Quadro 1.2.

QUADRO 1.2. - Métodos utilizados pelas indústrias farmacêuticas

para influenciar a prescrição médica

●Convites para almoços e jantares de graça. ●Brindes e amostras grátis. ●Visitas regulares de representantes (presentes diretos). ●Viagens e estadias para eventos patrocinados pela indústria farmacêutica (presentes indiretos). ●Publicação de artigos científicos por “autores fantasmas”. ●Recursos financeiros (fundos) para associações profissionais e sociedades. ●Fundos para a manutenção de escolas médicas, disciplinas acadêmicas e autorias. ●Patrocínio de eventos de educação médica continuada, tais como congressos, simpósios, cursos de atualização e etc. ●Anúncios e propagandas patrocinados em periódicos de grande circulação médica. ●Patrocínio de associação de pacientes. ●Pagamentos de consultorias. ●Participação em ações da indústria farmacêutica. ●Pagamentos de líderes de opiniões. ●Condução de pesquisa patrocinada. ●Elaboração de diretrizes clínicas.

(MOYNIHAN, 2003)

A American Medical Student Association - AMSA (2009) defende o

marketing baseado em práticas de prescrição, o acesso global aos

medicamentos essenciais, e a eliminação dos conflitos de interesse na

medicina. A AMSA, em seu sítio intitulado Conflict of interest policies at

academic medical centers (2009) apresenta as políticas de conflitos de

31

interesse das 149 faculdades de medicina dos Estados Unidos da América. A

AMSA lançou o primeiro "PharmFree Scorecard" em 2007. O Balanced

Scorecard é um sistema de avaliação, que gradua as escolas médicas norte-

americanas sobre a presença ou ausência de uma política de regulação entre

seus alunos e professores e as indústrias farmacêuticas e de fabricação de

próteses e dispositivos para a área de saúde.

A metodologia adotada pela AMSA é riquíssima em informações, e o

seu relatório de avaliação de políticas de conflitos de interesses reflete os

resultados da avaliação sobre as políticas de conflitos de interesse das 149

faculdades de medicina norte americanas, com foco na interação entre alunos

e professores e indústria farmacêutica. O Balanced Scorecard examina os

potenciais conflitos de interesse criado pelo marketing da indústria.

Em síntese, o relatório do ano base 2008, da American Medical Student

Association Pharmfree Scorecard Archive (2009) pontua o instrumento de

coleta de dados focando nas políticas de conflitos de interesse diretamente

relacionadas ao marketing da indústria de produtos farmacêuticos e

dispositivos para a saúde com a educação médica. Os centros médicos

acadêmicos também devem ter políticas consistentes para garantir a

integridade da investigação básica e clínica, incluindo políticas que assegurem

aos pesquisadores trabalhar em colaboração com a indústria mantendo o

controle total do desenho do estudo, dados, análise e escrita. As políticas são

classificadas em cada um dos domínios listados a seguir, usando o seguinte

formato geral:

3 = Modelo de política

2 = Bom progresso em direção ao modelo de política

1 = A política é ausente ou pouco provável que tenha um efeito

substancial no comportamento

0 = Instituições que não respondem aos pedidos de informações sobre

suas políticas ou se recusam a participar recebem pontuação zero.

De acordo com o relatório, em circunstâncias excepcionais, um domínio

pode ser categorizado como Não-Aplicável (NA) e omitir o resultado. Este

modelo visa a aproximar os objetivos propostos com a realidade das políticas

32

em vigor, mas reconhecendo que pode haver diversas abordagens para um

único objetivo. A pontuação final é calculada a partir da pontuação total

acumulada para os domínios de 1 a 5, dividida pela pontuação total possível

multiplicado por 100. (Pontuação total possível = 15, a menos que um domínio

seja classificado como (NA.). Os graus são atribuídos da seguinte forma:

A ≥ 85%, B ≥ 70%, C ≥ 60%, D ≥ 40%, F <40%, I = Em processo. C* é

atribuído em duas situações: (1) políticas que se aplicam apenas aos

estudantes de medicina e/ou residentes, mas não docente, podem alcançar

um grau máximo de C*; (2) As políticas que são apenas diretrizes, sem

exigências formais, podem atingir um grau máximo de C*. A classificação Em

processo será atribuída a qualquer instituição que envie uma notificação

formal de que suas políticas estão em revisão. A instituição Sem-

comunicação receberá F.

De acordo com as políticas de conflitos de interesses das 149 escolas

médicas norte-americanas, 9% (6) receberam 36 B (24%), 18 C (12%) e 17 D

(11%). Trinta e cinco escolas (23%) recebem grau F. Um total de 5 escolas

recebeu F, porque não apresentavam novas políticas ou demonstraram

contínuo processo de desenvolvimento de política após permanecer por anos

Em processo. Atribuir pontuação F a uma escola que não tenha apresentado

políticas pode superestimar a verdadeira prevalência de políticas

inadequadas. No entanto, parece provável que a maioria das escolas que

optaram por não participar não implantou políticas fortes.

Duas escolas da Universidade da Califórnia e a Escola de Medicina de

Stanford receberam B. A Escola Adventista de Ciências da Saúde da

Universidade da Loma Linda e a Faculdade de Medicina do centro de Ciências

da Saúde da Universidade de Western receberam F. Outros resultados na

Califórnia incluíram um C e um I. A maioria das escolas médicas em

Massachusetts recebeu conceito alto no ranking. A Escola de Medicina da

Universidade de Harvard, Massachusetts, e a Escola de Medicina da

Universidade de Boston receberam B, já a Escola de Medicina da

Universidade de Tufts recebeu conceito D. As Escolas Médicas do Estado de

Nova York tiveram resultados mistos. A Escola de Medicina Mount Sinai, uma

das maiores instituições, recebeu A na pontuação. Entretanto, o restante das

10 escolas de Nova York recebeu dois C, três D, quatro F, e um I. As Escolas

33

Médicas de Illinois, algumas de prestígio nacional, melhoraram sua pontuação,

se comparada aos resultados obtidos no ano anterior.

O Balanced Scorecard não serve apenas para medir a força das

políticas de manejo de conflitos de interesses, mas também para fornecer

valiosos recursos para as instituições desenvolverem e aperfeiçoarem novas

políticas. A AMSA pode ajudar aos estudantes de medicina a promover

mudanças nas políticas de conflito de interesses, fornecer ferramentas,

palestras e modelos de gestão que possam auxiliar na formação do médico.

No gráfico 1.1, a seguir, observa-se que mais de um quinto das escolas

médicas norte-americanas (21%) melhoraram as suas políticas de conflitos em

2008. Quarenta e cinco instituições, aproximadamente um terço do total,

apresentaram graus A ou B. Isto significa um aumento substancial de mais de

29 escolas com A e B (19%) em 2008. Aproximadamente 30% dos estudantes

de medicina dos EUA estão estudando em escolas com graus A ou B.

GRÁFICO 1. 1 - Políticas de conflitos de interesses das escolas médicas

norte-americanas (2009)

Fonte: American Medical Student Association - AMSA (2009).

34

As Organizações (Conselhos) profissionais também buscam solucionar

os conflitos financeiros presentes nas pesquisas médicas. De acordo com a

American Academy of Orthopaedic Surgeons (2004), o cirurgião ortopédico

deve elaborar os relatórios de pesquisa clínica, explicitar seus vínculos

profissionais com a indústria, inclusive e declarar se atua na fabricação de

insumos e dispositivos para a saúde e divulgar qualquer interesse financeiro

recebido do fabricante.

A interação entre a indústria farmacêutica e a medicina foi o foco da

pesquisa realizada por Kerridge et al. (2005), sobre a extensão e a natureza

das relações entre a indústria farmacêutica e as organizações médicas

australianas. Os autores enviaram questionários para 63 organizações

médicas e receberam 29 respostas, tiveram uma taxa de resposta de 46%.

Dezessete dessas organizações (59%) relataram ter recebido algum tipo de

apoio de uma ou mais empresa farmacêutica. As conferências ministradas

durante o ano foram responsáveis pelo maior apoio recebido pelas

organizações, além deste foram recebidos apoio para a educação médica

continuada, pesquisa, viagens e aquisições para as bibliotecas.

A maioria das organizações tinha uma revista acadêmica ou boletim

informativo, e 10 aceitaram receitas provenientes da publicidade farmacêutica.

Vinte organizações tinham políticas ou orientações sobre a sua relação com a

indústria. Poucas organizações indicaram que não seriam capazes de

continuar suas atividades sem o apoio da indústria farmacêutica. Os autores

concluíram que estes dados indicaram um alto nível de interação entre a

indústria farmacêutica e as organizações médicas na Austrália. Enquanto a

maioria das organizações tem políticas para orientar a sua relação com a

indústria, não ficou claro se estas políticas são eficazes na prevenção de

conflitos de interesse e manutenção da confiança pública.

Dinan et al. (2006) revisaram as políticas de conflito de interesse na

área acadêmica, em 9 centros médicos dos Estados Unidos e entrevistaram

membros do Institutional Review Boards (IRB) e do Conflict of Interest

Committees (COIC) dessas instituições. Segundo os autores, muitas das

instituições utilizam processos de comunicação e gestão de conflitos de

35

interesse mais descentralizado do que os processos descritos nas suas

políticas. A maioria das instituições não tinha políticas claras e abrangentes

para orientar aos pesquisadores e voluntários de pesquisa sobre a revelação

de conflitos de interesse. Diferenças consideráveis na compreensão das

políticas de conflitos de interesse foram observadas entre funcionários do

Institutional Review Boards e do Conflict of Interest Committees.

Segundo Coleman et al. (2006), a ética na relação entre a indústria

farmacêutica e os médicos é fundamental para melhorar a descoberta de

novas drogas para a saúde pública da população. Em resposta às

inadequadas relações financeiras entre a indústria farmacêutica, os médicos e

as organizações nacionais representativas destes, foram propostas

recomendações destinadas a minimizar os conflitos de interesses, os riscos

jurídicos, e difusão de informação tendenciosa provenientes das indústrias

farmacêuticas.

Segundos os autores dessa pesquisa, apesar das iniciativas, as

práticas de prescrição médica podem ser indevidamente influenciadas pelo

marketing da indústria, levando os médicos inadvertidamente a divulgar

informações tendenciosas em favor da indústria farmacêutica. A Yale

University School of Medicine estabeleceu em seus centros acadêmicos

padrões éticos profissionais para o manejo dos conflitos, e desenvolveu

orientações para as relações dos professores com a indústria farmacêutica,

aprovadas em maio de 2005. Foram formuladas orientações para lidar com os

representantes da indústria farmacêutica nas áreas clínicas da faculdade.

Preocupada com a integridade científica de seus programas

educacionais e de pesquisa clínica, a American Society of Clinical Oncology

(2006) orientou seus associados na gestão de potenciais conflitos,

principalmente na divulgação de todos os interesses financeiros. Em sua

política geral sobre conflitos de interesses, a American Society of Clinical

Oncology exige que os participantes de programas de educação médica

continuada divulguem todos os interesses financeiros ou relacionamentos com

fins comerciais. A política de gestão de conflitos de interesses da American

Society of Clinical Oncology abrange: 1. Membros da American Society of

36

Clinical Oncology; 2. Empregados ou staff da American Society of Clinical

Oncology; 3. Profissionais da American Society of Clinical Oncology

contratados para eventos, reuniões, publicação e vários outros patrocínios; ou

4. Participação da American Society of Clinical Oncology em Conselhos

Administrativos, comissões e grupos de trabalho, ou em qualquer atividade

voluntária oficial.

A American Society of Clinical Oncology possui uma lista dos interesses

financeiros que devem ser divulgados, tais como consultorias, honorários,

transações comerciais com indústrias, todos os pagamentos relacionados com

o desenvolvimento de pesquisa clínica, além de outras remunerações, que

incluem despesas com viagens, presentes e etc.

De acordo com Bero (2005), os patrocínios comerciais, ganhos

pessoais e financeiros concedidos pela indústria para pesquisadores

influenciam a publicação de resultados favoráveis às indústrias. Segundo a

autora, as instituições de pesquisa tentam proteger as suas próprias

reputações e as de seus docentes, estabelecendo limites para a elaboração

dos relatórios financeiros e sugeriu que a organização patrocinadora imponha

as práticas de gestão destinadas a reduzir os conflitos ou minimizar o

financiamento.

Em um quarto dos projetos desenvolvidos por uma Universidade dos

EUA foi exigida a revisão e a gestão dos conflitos de interesses, sendo o mais

comum destes a elevada "taxa de consultoria" paga aos pesquisadores. O

grau de compreensão das políticas de conflitos entre os pesquisadores é

irregular. As diferenças de opinião existem na comunidade de pesquisadores

acerca da divulgação dos interesses financeiros é importante e necessária

para garantir o nível razoável de liberdade e manter a confiança pública.

Com o objetivo de entender as atitudes dos pesquisadores acerca das

políticas sobre conflitos de interesse, Lipton et al. (2004) realizaram uma

pesquisa transversal em nove faculdades do campus da Universidade da

Califórnia, Estados Unidos. Constam da pesquisa informações sobre as

avaliações gerais dos pesquisadores com tinham vínculos financeiros com a

indústria e com patrocinadores, e as reações destes pesquisadores frente ao

37

processo de implementação das políticas de conflito de interesse em seus

respectivos campi. Foram convidados para participar da entrevista 1.971

professores membros dos nove campi da Universidade da Califórnia. Destes,

779 professores participaram (39% da taxa de resposta). O estudo revelou

que a instituição era complexa, por vezes contraditória sobre os

relacionamentos acadêmicos com a indústria, e destacou lacunas na gestão

das políticas de conflitos de interesses. A maioria dos entrevistados estava

preocupada com a ilimitada relação financeira entre os pesquisadores e as

indústrias patrocinadoras. Alguns pesquisadores expressaram raiva ao longo

do processo de implementação das políticas na Universidade, rejeitando-as

sob a alegação de ferir a liberdade de cada profissional, a autodeterminação e

a integridade moral. O estudo sugeriu a necessidade de engendrar esforços

para incentivar a conscientização e a importância das políticas de conflitos de

interesses para todos os professores, visando aumentar a compreensão dos

docentes sobre os conflitos de interesses, especialmente a reavaliação dos

processos de execução das políticas em todos os níveis da Universidade.

Em meio à preocupação de que as pesquisas básica e clínica estão

cada vez mais vulneráveis às pressões das indústrias patrocinadoras, diversas

agências federais e organizações profissionais estadunidense estão

recomendando que as revistas divulguem suas políticas de conflitos de

interesse. Boyd et al. (2004c) analisaram a aplicação das políticas de conflitos

de interesse em campi da Universidade da Califórnia. Os resultados

mostraram que há variação entre os campi para definir as relações

problemáticas e para determinar as soluções adequadas para minimizar os

conflitos de interesse. O estudo sugere a importância da discussão local sobre

políticas de conflitos de interesses, que vise auxiliar a instituição para a

tomada de decisão, segundo as autoras da pesquisa há uma enorme pressão

para que haja maior regulação externa às normas profissionais.

Jagsi et al. (2009) estudaram as relações entre pesquisadores clínicos

e a indústria farmacêutica, com o objetivo de analisar a freqüência dos

conflitos de interesse nas publicações de alto impacto das pesquisas clínicas

sobre câncer. Os autores revisaram as pesquisas sobre câncer publicadas

38

em 8 jornais durante o ano de 2006, para determinar a freqüência de conflitos

de interesses, as fontes de financiamento das pesquisas e outras

características. Foi avaliada a associação entre a probabilidade de conflitos de

interesse, utilizando teste qui-quadrado. Os autores também compararam a

probabilidade de resultados positivos nos ensaios randomizados com e sem

conflitos de interesses declarados.

Os autores identificaram 1.534 pesquisas originais em oncologia, 29%

tinham conflitos de interesses (incluindo financiamentos de indústrias

farmacêuticas), 17% declararam receber financiamento de indústrias

farmacêuticas. A variação de conflitos de interesses por disciplina (P <.001),

origem continental (P <.001), e gênero (P <.001). A ocorrência de conflitos

variou consideravelmente, dependendo do local em que doença era estudada.

Os estudos com financiamentos de indústrias farmacêuticas eram mais

susceptíveis se concentrar no tratamento (62% vs 36%; P <.001), os ensaios

randomizados foram mais propensos a relatar resultados positivos quando

identificado conflitos de interesses (P = .04). Os autores concluíram que os

conflitos de interesses caracterizam uma minoria substancial das pesquisas

sobre câncer publicadas em revistas de alto impacto.

1.4. Conflito de interesses no Brasil

Em nosso país, o tema conflitos de interesses na pesquisa clínica é

pouco explorado na literatura, tendo sido estudado apenas por Alves et al.

(2007); Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (2007);

Palácios (2005) e Conselho Federal de Medicina (2000).

Preocupados com a ética na gestão pública, a discussão sobre o

gerenciamento dos conflitos de interesses, em 2004, a Escola de

Administração Fazendária, realizou o “Fórum sobre a Implementação de

Políticas sobre Conflitos de Interesses no Serviço Público (2004)”. Os

objetivos do Fórum foram rever experiências sobre o desenho e a

implementação de políticas de conflitos de interesses no setor público e

analisar como funcionam em seu ambiente nacional. O Fórum focou na

39

exploração de abordagens práticas na aplicação de diretrizes, referências e

ferramentas de gestão, visando melhorar a identificação, controle e

administração das situações de conflitos de interesses, bem como identificar

condições favoráveis para colocar em prática a política de gerenciamento de

conflitos de interesses no contexto nacional.

No Brasil, a regulamentação específica sobre a eticidade das pesquisas

em seres humanos dá-se a partir de 1988, quando da aprovação do primeiro

documento oficial brasileiro, denominado de Resolução CNS nº. 01/88 (CNS,

nº. 01/88). O foco dessa normativa visava a chamar a atenção para o

problema da ética em pesquisa com seres humanos no Brasil.

Transcorridos sete anos, o Conselho Nacional de Saúde (CNS)

constituiu um Grupo de Trabalho (GT), que iniciou uma ampla revisão da

literatura e das legislações nacional e internacional, inclusive consultas e

debates com pesquisadores, e organizações de diversos segmentos da

sociedade civil, com o objetivo de atualizar a Resolução e preencher lacunas

advindas do progresso científico.

Em 1996 foi promulgada uma nova Diretriz, denominada Resolução

CNS nº. 196/96 (CNS, nº. 196/96), fundamentada nos quatros princípios prima

facie (autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça). A partir desta

Resolução foram criados a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa,

vinculada ao Conselho Nacional de Saúde (CONEP/CNS), e os Comitês de

Ética em Pesquisa (CEP), visando assegurar os direitos e deveres dos

voluntários de pesquisa, do Estado e da comunidade científica. O principal

instrumento de trabalho dos CEP é a Resolução CNS 196/96.

A Resolução CNS 196/96 incorpora os seguintes itens: Preâmbulo (I),

Termos e Definições (II), Aspectos Éticos da Pesquisa envolvendo Seres

Humanos (III), Consentimento Livre e Esclarecido (IV), Riscos e Benefícios

(V), Protocolo de Pesquisa (VI), Comitê de Ética em Pesquisa (VII), Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa (VIII), Operacionalização (IX) e Disposições

Transitórias (X). A Resolução não é Lei, a sua eficácia está restrita à aceitação

pública. Conforme Oliveira:

40

As sanções aos eventuais abusos, no entanto, ficariam restritas a uma denúncia ao ministério público ou a uma condenação moral pública, que pode ter eficiência ou efeito punitivo, dependendo do fato de o infrator importar-se ou não com tal condenação. (OLIVEIRA, 2001, p.110).

Segundo Guilhem et al. (2008), a Resolução CNS 196/96 representa

um marco simbólico para a criação e a consolidação do sistema brasileiro de

revisão ética das pesquisas, do Sistema CEP/CONEP. A resolução contribuiu

de forma efetiva para a divulgação da bioética no Brasil e para a delimitação

de estudos e pesquisas em seres humanos.

Há ainda as Resoluções complementares, que são aquelas diretrizes

aprovadas após a Resolução CNS 196/96 entrar em vigor, de acordo com o

quadro 1.3.

QUADRO 1.3 - Resoluções do Conselho Nacional de Saúde

ANO RESOLUÇÃO DEFINIÇÃO 1988 01/1988 Regulamenta o credenciamento de centros de

pesquisas no país e recomenda a criação de CEP. REVOGADA

1986 196/1996 Define as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos

1997 240/1997 Define a participação de usuários no sistema CEP/CONEP e orienta sua escolha

1997 251/1997 Especifica normas para projetos em área temática especial de novos fármacos, vacinas e testes diagnósticos

1999 292/1999 Especifica normas para pesquisas coordenadas no exterior ou com participação estrangeira e pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior

2000 303/2000 Define normas para pesquisas na área de reprodução humana

2000 304/2000 Define normas para pesquisas em populações indígenas

2004 340/2004 Define diretrizes para análise de pesquisas na área de genética humana

2005 346/2005 Define a tramitação de projetos multicêntricos 2005 347/2005 Aprova diretriz para o armazenamento de material

biológico humano ou uso de material estocado em pesquisas anteriores

2007 370/2007 Estabelece normas para solicitação de registro, credenciamento ou renovação de CEP

Fonte: Brasil/MS/CNS/CONEP_RESOLUÇÕES

41

Para Lino (2007), a Resolução 196/96 é um ato administrativo

normativo do Ministério da Saúde destinado a cumprir o mandamento das Leis

8.080/90 e 8.142/90 no controle e fiscalização das ações em pesquisa

envolvendo seres humanos nos ambientes das instituições públicas ou

privadas. Como conseqüência da Resolução CNS 196/96, foi criada a

primeira legislação sanitária sobre pesquisa clínica em nosso país, a Portaria

nº. 911 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SVS), publicada em

1988 e ainda em vigor. A SVS foi substituída pela Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (ANVISA), que passou a ser responsável pela regulação

sanitária dos ensaios clínicos no Brasil (Nishioka et al..; 2006). Spinetti (2001)

ressalta que a implantação da Resolução 196/96 trouxe mudanças

significativas para a prática em pesquisa no país, sobretudo a implantação dos

CEP e o interesse de pesquisadores de diversas áreas, além do

reconhecimento das agências de fomento e dos periódicos.

Importante destacar a relevância para dois outros importantes

documentos no marco da ética em pesquisa envolvendo seres humanos, que

corroboram com as Resoluções do CNS:

Lei 11.105, de 24 de março de 2005, a Lei de Biossegurança – que

define normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que

envolvam organismos geneticamente modificados (OGM). É o caso de

ensaios clínicos com vacinas e de pesquisas com células-tronco embrionárias

ou que envolvam questões relacionadas à biossegurança. (Brasil, 2005).

Resolução ANVISA RDC 219, de 20 de setembro de 2004 – regula a

pesquisa clínica com medicamentos, novas terapias, procedimentos médicos

e produtos para a saúde. Os protocolos devem ser submetidos, paralelamente

à revisão ética nos CEP e à avaliação da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA). Estão contempladas nesta Resolução as pesquisas com

produtos que requisitarão registro ou licenciamento no país. A avaliação ética

do protocolo é de competência do CEP e da CONEP. É de competência da

ANVISA fiscalizar com rigor à produção de medicamentos genéricos, já que é

42

desta também a responsabilidade em realizar os testes de bioequivalência e

biodisponibilidade. (ANVISA, 2004).

Resolução ANVISA RDC 39, de 05 de junho de 2008 – atualiza a

documentação requerida para a realização de pesquisa clínica no Brasil;

considerando a necessidade de aperfeiçoar a lista de documentos requeridos

à concessão de Licenciamento de Importação de medicamentos e produtos

para uso exclusivo em pesquisa clínica. O Art. 2° define que entende-se como

patrocinador a pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que apóia

financeiramente a pesquisa. (ANVISA, 2008).

A Resolução nº. 1.595/2000, do Conselho Federal de Medicina (2000)

determina que:

Ao proferir palestras ou ao escrever artigos divulgando ou promovendo produtos farmacêuticos ou equipamentos para uso na Medicina, os médicos declarem os agentes financeiros que patrocinam suas pesquisas e/ou apresentações. (RES. CFM, nº. 1.595/2000).

1.5. Manejo dos conflitos de interesses

Palácios (2005), considera que há diversas maneiras para o manejo

dos conflitos de interesses e todas apresentam vantagens e desvantagens,

mas sem dúvida é imprescindível que os diversos segmentos da sociedade

civil e organizada se articulem para discutir e negociar o que é aceitável e

quais as formas de evitar que conflitos de interesses possam resultar em

malefícios para os sujeitos da pesquisa e/ou colocar pesquisadores brasileiros

em situações de vulnerabilidade nas quais sua autonomia profissional possa

estar ameaçada. De acordo com Palácios:

Evitar conflito de interesses em pesquisas patrocinadas pela indústria farmacêutica seria evitar que o pesquisador tenha relação direta com a indústria. Nesse caso, o contrato para realização de pesquisa seria realizado com o centro de pesquisa. (PALÁCIOS, 2005, p. 97).

43

Estudo realizado por Williams-Jones et al. (2008), sobre o conteúdo e a

clareza das políticas de conflito de interesses em Universidades do Canadá,

demonstrou que as discussões sobre conflitos de interesses são abstratas e

tendem a se concentrar em interesses financeiros no âmbito da pesquisa

médica, pouca atenção tem sido atribuída a atuação dos Conflict of Interest

Committees ou as políticas que buscam gerenciar os conflitos de interesses.

Os autores fizeram as seguintes perguntas: As políticas da universidade

propostas pelos Conflict of Interest Committees são acessíveis e

compreensíveis?. Para quem se destinam essas políticas (professores,

funcionários, alunos)?. A atuação dos Conflict of Interest Committees está

claramente definida no âmbito destas políticas?, e quais os procedimentos

estabelecidos para evitar ou manejar tais conflitos?. Considerando as

questões éticas e de governo, o estudo analisou as políticas do Grupo dos

Treze (G13), dos Conflict of Interest Committees das universidades de

pesquisas canadense, utilizando ferramentas de análise automática de leitura,

análise de conteúdo ético e comparou os pontos fortes e fracos dos

documentos que norteiam essas políticas, com especial atenção à sua

clareza, legibilidade e utilidade na explicação e gestão dos conflitos de

interesses.

O site do International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE

(2009), um grupo de editores de revistas da área médica apresenta uma

variedade de informações sobre os princípios éticos relacionados à publicação

em revistas biomédicas, além da uma série de informações sobre a política

editorial do ICMJE.

No item acerca dos conflitos de interesses há considerações éticas que

devem ser seguidas para a condução e o relato de pesquisas biomédicas.

Segundo as políticas explicitadas neste site, quando os autores submetem um

manuscrito, seja um artigo ou uma carta, eles são responsáveis por revelar

todas as relações financeiras e pessoais que possam influenciar seu trabalho.

Para evitar ambigüidade, os autores devem declarar explicitamente se

os potenciais conflitos existem ou não. Os autores devem fazer a notificação

de conflitos de interesses no original, seguinte à página do título, fornecendo

detalhes, e se necessário, anexar uma carta acompanhando o manuscrito. Os

44

autores devem identificar todos os indivíduos que participam do manuscrito,

além da assistência recebida e divulgar a fonte de financiamento recebida. Os

pesquisadores devem revelar os potenciais conflitos aos participantes do

estudo e devem declarar no original se o fizeram.

Os editores também possuem obrigações, decidem se devem publicar

as informações reveladas pelos autores sobre potenciais conflitos. As

medidas adotadas pelo ICMJE visam ao manejo dos conflitos de interesses,

porque cada vez mais, pesquisadores recebem financiamento de empresas

comerciais, fundações privadas e do governo. As condições desse

financiamento têm o potencial de viés e podem desacreditar a pesquisa

científica. De acordo com o ICMJE, os cientistas têm obrigação ética de

apresentar resultados de pesquisa confiáveis para publicação. Os autores

devem descrever o papel do patrocinador no estudo. Os editores devem

publicar regularmente declarações sobre potenciais conflitos de interesses

relacionados com os compromissos da equipe da revista.

A World Intellectual Property Organization – WIPO (2010) estabeleceu

requisitos para a divulgação financeira de seus profissionais. Segundo as

normas é obrigatória a divulgação do demonstrativo financeiro ao Comitê de

Ética, responsável pela avaliação das informações financeiras prestadas pelos

empregados de nível de supervisão, tesouraria e contratos.

A Association of American Medical Colleges (2008) explicita que,

quando em circunstâncias justificáveis, o pesquisador clínico participar de um

estudo, os interesses financeiros para conduzir as pesquisas devem ser

rigorosamente analisados e acompanhados pela instituição na qual o

pesquisador possui vínculo.

Os Conselhos profissionais também buscam solucionar os conflitos

financeiros presentes nas pesquisas médicas. De acordo com a American

Academy of Orthopaedic Surgeons (2004), o cirurgião ortopédico deve ao

elaborar os relatórios sobre pesquisa clínica, explicitar seus vínculos

profissionais com a indústria, inclusive se atua na fabricação de insumos e

dispositivos e divulgar qualquer interesse financeiro recebido do fabricante.

45

Dinan et al. (2006) revisaram as políticas de conflitos de interesses na

área acadêmica, em 9 centros médicos nos Estados Unidos e entrevistaram

membros de Institutional Review Boards (IRB) e dos Conflict of Interest

Committees (COIC) dessas instituições. Segundo os autores, muitas das

instituições utilizam processos de comunicação e gestão de conflitos de

interesse mais descentralizado do que os processos descritos em suas

políticas.

De acordo com os autores, a maioria das instituições não apresentava

políticas claras e abrangentes para orientar aos pesquisadores e voluntários

de pesquisa sobre a revelação dos conflitos de interesses. Diferenças

consideráveis na compreensão das políticas de conflitos de interesses foram

observadas tanto no Conflict of Interest Committees quanto no Institutional

Review Boards.

Preocupados com a influência da indústria farmacêutica sobre a ciência

médica, Schneider et al. (2007) analisaram as práticas de divulgação

financeira e não financeira dos conflitos de interesses nas publicações em

língua alemã, a partir de uma busca sistemática da literatura, utilizando a base

de dados do PubMed, usando o termo MeSH, ou seja, "pesquisa em serviços

de saúde". A revisão foi realizada em 10 de julho de 2006. Foram

encontrados 124 artigos em 31 revistas. Foi examinado o tipo de instrução

sobre conflitos de interesses contidos nestas revistas. Os autores buscaram

saber se a Declaração de conflitos de interesse era esperada, e de que forma

os autores perceberam a necessidade da exigência deste instrumento. Os

resultados mostraram que 13 revistas (42%) não exigem qualquer Declaração

sobre os conflitos de interesses, enquanto que em 18 jornais (58%) havia

algum tipo de comentário sobre conflitos. Dezoito revistas se referiram

explicitamente aos requisitos do International Committee of Medical Journal

Editors – ICMJE, e o restante, 16 revistas se referiram de maneira diferente

aos conflitos, mas ressaltaram em suas instruções como divulgar eventuais

conflitos de interesses, centrando principalmente nas questões financeiras.

Uma Declaração sobre os conflitos de interesse foi explicitamente

publicada em 11 dos 71 artigos (15%) foram encontradas nas revistas que

46

exigiram a Declaração com a apresentação do artigo. Relacionando o número

total de artigos incluídos, isto significa explicitamente que o leitor recebeu

informações sobre potenciais conflitos de interesses em 9% dos casos (11 dos

124 artigos). Os autores concluíram que é necessária maior sensibilização

para os possíveis conflitos de interesse nas publicações alemãs relativas à

pesquisa em saúde., sugeriram controle dos critérios de divulgação das

instruções das revistas científicas. Entre outros aspectos, a explicitação do

montante financeiro e não financeiro dos conflitos de interesses, bem como a

publicação obrigatória das demonstrações recebidas.

A principal sociedade médica do Chile propôs diretrizes para melhor

controle dos conflitos de interesses. Segundo Nogales-Gaete et al. (2004), a

percepção limitada do problema e as estratégias de comercialização

destinadas à indústria não ajudam a minimizar o problema, porque as práticas

de divulgação,das políticas de manejo dos conflitos não alcançaram toda a

sociedade médica. Os autores recomendaram uma colaboração mundial

entre as organizações internacionais, com a participação da Organização

Mundial da Saúde.

Segundo Schofferman et al. (2007), diversos médicos dizem resistir à

influência dos conflitos de interesses em virtude de sua ética, educação,

habilidades intelectuais e treinamento científico. Mas, os autores

consideraram que qualquer pessoa pode ser afetada ou corrompida, já que há

um elevado grau de suscetibilidade, pois não há pessoas imunes. O potencial

conflito de interesses é um processo inconsciente e muito sutil, intrínseco na

medicina. Além disso, o fato do médico estar consciente sobre o

conhecimento ou a existência dos conflitos de interesses não elimina o efeito

sobre a sua conduta. Por esse motivo é imprescindível o manejo dos conflitos

de interesses.

47

2. Controle social dos conflitos de interesses

Estudo realizado por Tereskerz et al. (2009), sobre a prevalência do

apoio da indústria e a relação desta com a integridade das pesquisas

demonstrou que, nos EUA, a maioria dos ensaios clínicos é financiada pela

indústria e que a influência de patrocinadores atinge de maneira prejudicial os

objetivos das pesquisas. Os autores realizam um levantamento em escolas

médicas, para analisar os acordos financeiros existentes entre os

pesquisadores e as indústrias, visando melhor conhecer os efeitos do

patrocínio da indústria aos pesquisadores.

Os resultados mostraram que a relação dos médicos com a indústria

compromete o bem-estar dos participantes de pesquisa (9%), iniciativas de

pesquisa (35%), publicação de resultados (28%), interpretação de dados de

pesquisas (25%), e o avanço científico (20%). Para os autores, nos casos

analisados as relações financeiras com a indústria foram predominantes e

necessitam, portanto, de mais pesquisas que visem ao manejo de políticas

adequadas para coibir os laços entre as universidades e os patrocinadores.

Segundo Angell (2008), nos Estados Unidos, a indústria farmacêutica

cada vez mais conta com o setor acadêmico, pelo menos um terço dos

medicamentos comercializados pelos principais laboratórios farmacêuticos é

licenciado por universidades ou pequenas empresas de biotecnologia. Angell

(2009), em Drug companies & doctors: a story of corruption, comenta sobre as

relações entre companhias farmacêuticas e pesquisadores. Para Angell a

indústria farmacêutica detém gigantesco controle sobre a maneira como os

médicos avaliam e utilizam seus produtos. Os laços das indústrias

farmacêuticas com médicos, especialmente os catedráticos das escolas

médicas de prestígio, afetam diretamente os resultados das pesquisas, a

forma de exercer a medicina e até a classificação do conceito do que é

doença.

Ainda de acordo com o artigo de Charles Grassley, senador

republicano, da Comissão de Finanças, a maioria dos médicos recebe dinheiro

ou presentes de laboratórios de uma forma ou de outra, quer como

48

consultores, palestrantes em eventos patrocinados pela indústria

farmacêutica, quer como autores-fantasma de artigos escritos pelas empresas

ou seus agentes e como “pesquisadores” de estudos que consistem

simplesmente em medicar seus pacientes com uma droga e repassar os

resultados à companhia farmacêutica. Outros recebem almoços grátis,

brindes e presentes diversos. A contrapartida da indústria é promover os

encontros entre as associações profissionais, assim como a maioria dos

cursos de atualização exigidos dos médicos para que mantenham sua licença.

Na opinião de Angell, os patrocinadores preferem as escolas médicas,

em parte porque a pesquisa é encarada com seriedade, mas, principalmente,

porque lhes permite acesso a influentes professores-médicos, os

denominados formadores de opinião, que escrevem livros e artigos em

periódicos de prestígio, lançam compêndios e guias práticos, integram painéis

consultivos da Food and Drug Administration (FDA) e outros organismos

governamentais, lideram associações profissionais e falam nos inúmeros

eventos e jantares anuais acerca dos medicamentos prescritos. Os conflitos

de interesses afetam mais do que a pesquisa; moldam diretamente a maneira

de se exercer a medicina, por sua influência na prática profissional, nas

diretrizes governamentais e nas decisões da FDA. Angell concluiu que

quebrar a dependência da classe médica à indústria farmacêutica terá que ir

além da criação de comissões e outras atitudes.

De acordo com Jibson (2006), gerir a desconfortável aliança entre

educação médica e indústria farmacêutica não tem sido uma tarefa fácil,

porque a premissa que médicos são imunes à comercialização e possuem

liberdade para participar de qualquer atividade que desejar sem ser afetados

por possíveis conflitos de interesses é contraditória, pois há um conjunto

substancial de provas mostrando claramente que a comercialização afeta a

prática médica e que a indústria está disposta a corromper qualquer um que

tenha contacto com ela. O papel que a pesquisa clínica, a indústria e a

medicina acadêmica representam é de extrema importância para a população

mundial, mas é imprescindível que este processo de evolução social e

concepção política, sejam desempenhados visando não apenas o avanço do

49

conhecimento com base em preceitos éticos moralmente aceitáveis, mas a

transparência dos vínculos e a prestação de cuidados à saúde da população.

Como sugestão para melhor identificação desses papéis, o autor

propõe que a educação médica tenha um papel crucial na resolução dos

conflitos de interesse na prática médica e durante a comercialização de

drogas. É tarefa do preceptor (educador clínico) transmitir informação,

habilidades e atitudes aos estudantes de medicina. É fato que a indústria

possui grande participação financeira na prática médica e tem um interesse

legítimo na promoção de seus produtos. Os médicos se beneficiam dos

contactos com a indústria, participando de estudos com novas drogas, com

acesso a informações privilegiadas, portanto, os resultados das pesquisas

patrocinadas pela indústria são benéficos e desejáveis.

O autor apresentou diversas recomendações para lidar com esta

situação, a primeira é que deve haver clara distinção entre educação médica e

promoção de programas. Ambas são legítimas, mas não devem ser

confundida uma com a outra. Palestrantes e participantes devem ser claros

sobre estes aspectos. Em segundo lugar, as instituições e organizações

devem ser ativas no estabelecimento, promulgação e aplicação clara e

consistente das políticas que regulam as atividades educativas. Isto deve

incluir atenção para o contato entre a indústria e os formandos em todos os

níveis. Tanto para médicos preceptores, como para outros médicos, as

políticas deveriam refletir os valores e as normas da instituição ou profissão, e

servirem como padrão pelo qual os profissionais éticos julgam as suas ações.

Os padrões garantem a integridade do programa educacional e proporcionam

uma base objetiva para o credenciamento e a credibilidade dos envolvidos

neste processo. Em terceiro lugar, os programas de treinamento devem

manter o controle sobre todas as atividades educativas. O patrocínio não deve

ser o item mais importante da seleção do conteúdo de ensino dos programas

educacionais da faculdade. Os educadores têm obrigação especial de

preservar a integridade e a independência das atividades docentes. Em

quarto lugar, a divulgação financeira deve ser clara, sincera, e completa. Os

estagiários têm direito a conhecer os laços financeiros de seus professores,

assim como todos os seus vínculos acadêmicos. Em quinto lugar, os

50

programas de educação médica devem incluir formação didática, supervisão e

instrução médica sobre as interações com a indústria.

O autor concluiu que a ética pode ajudar na gestão ao perigo inerente

desta associação de diferentes sistemas, e requer cuidadosa atenção para

que se mantenha a independência clínica e a tomada de decisão educacional.

Aliado a isto, devem ser adotadas políticas para o manejo dos conflitos de

interesses, clareza dos papéis desempenhados por todos neste cenário,

transparência dos acordos financeiros, e rigoroso auto-exame para o sucesso

do ensino e da integridade da educação médica.

No Brasil, são utilizadas diversas técnicas para seduzir e aumentar

ainda mais os lucros das indústrias farmacêuticas. A principal delas é o

marketing. Temporão (1986) cita, como exemplos, a promoção de congressos,

visitas de propagandistas aos consultórios, anúncios em revistas técnicas e

até o financiamento de viagens para que o profissional conheça parques

industriais farmacêuticos dentro e fora do País. Nascimento (2005) corrobora

com esta afirmativa e vai mais longe ao afirmar que:

Uma das características da indústria farmacêutica no país reside no fato da concorrência entre as empresas se dar essencialmente por meio das práticas de marketing na disputa de fatias no mercado, com base fundamentalmente nos nomes de fantasia de cada medicamento. Esta realidade pede investimentos em publicidade, tanto em relação ao público em geral como em torno dos médicos e odontólogos, que atuam como intermediários para aceitação dos nomes de fantasia através do receituário. (...) O mercado farmacêutico brasileiro tem registrado um significativo crescimento no faturamento da indústria nos últimos anos. Os números, entretanto, demonstram que este faturamento tem crescido fundamentalmente devido á elevação de preços e não a um aumento da produção ou do consumo. (NASCIMENTO, 2005, p.27).

Segundo Nascimento (2005), os interesses econômicos de expansão

de mercado e acumulação de capital–consubstanciados no tripé formado pela

indústria farmacêutica, agências de publicidade e empresas de comunicação _

se sobrepõem aos interesses da cidadania e da saúde pública. A pressão dos

fabricantes sobre os profissionais de saúde e as agências reguladoras, a

propaganda de medicamentos, e a desigualdade na distribuição dos

51

medicamentos entre os distintos estratos sociais, vem provocando em

diversos autores o pronunciamento eloqüentemente contra a falta de

regulação das relações médicos/pesquisadores e indústria. Corroborando

com Nascimento, Rozenfeld (2008), reafirmou que:

A pressão dos fabricantes sobre os médicos e pesquisadores sempre foi intensa. Ainda hoje, os brindes são moeda corrente para a compra das consciências. Supõe-se que essas práticas sejam mais intensas em países como o nosso, com atuação tímida da vigilância sanitária. Elas geram um campo de influência do fabricante que nada tem de científico. (ROZENFELD, 2008, p. 561).

As relações financeiras com a indústria farmacêutica são controversas,

uma vez que tais envolvimentos podem representar conflitos de interesses.

Não se sabe em que medida a indústria farmacêutica apóia a educação

médica de pesquisa e influencia o comportamento dos médicos e

pesquisadores.

Estudo realizado por Stelfox et al. (1998) discutiu a segurança dos

antagonistas de canais de cálcio e proporcionou uma oportunidade para

examinar o efeito dos conflitos de interesses financeiros. Foram pesquisados

artigos médicos, em Inglês, publicados a partir de março de 1995 a setembro

de 1996, visando analisar nestes artigos a controvérsia sobre a segurança dos

antagonistas de canais de cálcio. Os artigos foram revisados e classificados

como tendo suporte, neutro ou contendo crítica com relação ao uso de

antagonistas de canais de cálcio.

Consultaram os autores dos artigos sobre suas relações financeiras

com ambos os fabricantes dos antagonistas de canais de cálcio e com os

fabricantes de beta-bloqueadores (enzima conversora de angiotensina -

inibidores, diuréticos e nitratos). Os resultados mostraram que os autores

favoráveis ao uso de antagonistas de canal de cálcio foram significativamente

mais prováveis do que neutro ou críticos em relação aos autores que

declararam possuir relações financeiras com os fabricantes de antagonistas

de canal de cálcio (96%, contra 60% e 37%, respectivamente; P <0,001). Os

resultados demonstraram forte associação entre os autores dos artigos sobre

52

a segurança dos antagonistas de canais de cálcio e suas relações financeiras

com a indústria farmacêutica.

Resnik (2004) examinou as questões éticas e legais relacionadas com a

divulgação de conflitos de interesses para os sujeitos de pesquisa, e discutiu

alguns estudos empíricos relacionados ao tema. O autor reafirmou que os

pesquisadores têm obrigação ética de revelar eventuais conflitos de interesses

para os sujeitos de pesquisa, desde que tomem medidas para ajudar a

compreender as informações sobre os conflitos de interesses e como

interpretá-lo.

Para reforçar e clarificar a obrigação legal de divulgar os conflitos de

interesse, os regulamentos federais devem ser alterados para incluir a

divulgação dos conflitos de interesses como um dos requisitos a integrar o

consentimento informado. Os Institutional Review Boards (IRB)

desempenham um papel fundamental para ajudar os pesquisadores a revelar

eventuais conflitos de interesses pessoais e também dos sujeitos de pesquisa.

Os Institutional Review Boards devem aprovar a divulgação dos conflitos nos

Consentimentos informados, e deve exigir que os pesquisadores revelem os

seus próprios interesses financeiros, e também quaisquer interesses dos

sujeitos de pesquisa, como condição para aprovação da pesquisa.

A gestão dos conflitos de interesses nos ensaios clínicos foi discutida

por Morin et al. (2002). Segundo os autores a interação entre a pesquisa

médica sem fins lucrativos e as indústrias farmacêuticas não é nova, mas tem

aumentado consideravelmente nos últimos anos, especialmente quando

grandes ensaios clínicos são necessários.

Na opinião dos autores, o compromisso com a aplicação de elevados

padrões éticos é essencial para garantir que a confiança da sociedade na

pesquisa científica não seja corrompida, e que os participantes dos ensaios

não se tornem apenas um meio para alcançar o fim. Os autores analisaram os

conflitos de interesses na realização de ensaios clínicos em nível acadêmico,

baseados na percepção da comunidade científica. Especificamente,

discutiram os papéis de cientistas e de profissionais de clínicas diferentes e a

53

importância de assegurar o consentimento dos participantes de ensaios

clínicos.

Os autores também discutiram os potenciais conflitos de interesses que

podem surgir quando os médicos ganham com a matrícula de seus próprios

pacientes como voluntários de ensaios clínicos e analisam vários casos em

que a divulgação de informações sobre o financiamento e a compensação

podem servir para minimizar tais conflitos.

Morin et al. (2002) enfatizaram que preservar a integridade da

investigação para proteger o bem-estar dos seres humanos que se inscrevem

em ensaios é essencial, além da exigência de que os médicos tenham

formação adequada para conduzir pesquisas e estejam familiarizados com a

ética em pesquisa. Quando um paciente estiver qualificado para se inscrever

em um ensaio clínico coordenado pelo médico que o acompanha, alguém que

não seja o próprio médico deverá obter o consentimento informado deste

participante. Os autores chamam a atenção para a divulgação dos incentivos

financeiros e para as questões relacionadas com o financiamento das

pesquisas clínicas.

Segundo Elliot (2009), identificar os limites de atuação das políticas de

conflito universitário é importante, para conseguir alcançar estratégias de

gestão e possível eliminação dos conflitos. O autor considera importante a

divulgação do fomento e dos conflitos de interesses financeiros, a fim de

assegurar a independência da pesquisa e manter a integridade da ciência.

O conflito de interesses financeiros também é uma preocupação para a

oftalmologia. Segundo Jampol et al. (2009), as relações entre médicos e

indústria farmacêutica, incluindo empresas e fabricantes de dispositivos devem

ser cuidadosamente analisadas pelo público e pela mídia. Os autores

relataram que na área de oftalmologia, as indústrias podem contribuir

beneficamente para a evolução do paciente e para o apoio à pesquisa. Mas,

podem surgir problemas éticos que afetam a prática dos oftalmologistas,

pesquisadores, professores acadêmicos, e das organizações oftalmológicas.

54

Visando à transparência na relação entre a indústria e os profissionais

médicos, a American Ophthalmological Society discutiu em maio de 2008 este

tema em um simpósio. Visando melhorar o diálogo entre os médicos, os

pesquisadores e os profissionais da sociedade, os envolvidos neste cenário, o

Conselho da American Ophthalmological Society desenvolveu procedimentos

para esclarecer questões resultantes da interface entre a indústria e a

oftalmologia.

Estudo realizado por Rowan-Legg et al. (2009), comparando as

orientações éticas de editores de revistas aos autores de artigos sobre os

requisitos institucionais para a aprovação e a divulgação dos conflitos de

interesses, demonstrou que todas as revistas das áreas de anestesiologia e

radiologia exigiam comprovação da aprovação da pesquisa pelo Institutional

Review Boards (IRB), além de outros requisitos variados. Os autores do

estudo concluíram que o respeito às normas éticas têm melhorado, embora

algumas lacunas permaneçam, especialmente quanto ao alcance da

divulgação das informações e limitação dos conflitos de interesses, porque as

diretrizes éticas necessitam de clareza e normatização.

Segundo MacDonald et al. (2009), muita atenção tem sido atribuída aos

conflitos financeiros nas pesquisas em biociências. No entanto,

surpreendentemente, pouco se concentra nos conflitos de interesses que

surgem na figura do médico preceptor e das relações deste com o aluno. Os

autores examinaram um espectro de situações relacionadas aos conflitos de

interesses em Universidades do Canadá, a supervisão dos cursos de pós-

graduação e as duplas relações comumente encontradas nas pesquisas, que

culminaram em potencial interesse financeiro. Os autores afirmaram que a

avaliação do preceptor pode levar ao viés na supervisão, e listaram os

conflitos financeiros merecedores de reconhecimento, que podem ocorrer

neste cenário, e apresentaram dois conjuntos de recomendações: uma para

os supervisores individuais, e outro para as instituições e gestores.

55

2.1. As Sociedades médicas brasileiras

Preocupada com o crescente assédio da indústria farmacêutica, a

Sociedade Brasileira de Diabetes (2008), situada na Cidade do Rio de Janeiro,

Brasil, criou uma Comissão para analisar situações complexas e que

necessitam de normas de conduta ética, nas relações entre os médicos e

demais profissionais da saúde e as indústrias farmacêuticas. A Sociedade

Brasileira de Diabetes aprovou Diretrizes específicas e as disponibilizou em

sua página eletrônica sob o título de “Ética: A Relação entre Médicos e a

Indústria”.

A regulação dos conflitos de interesse incorpora o Código de Conduta

da Sociedade Brasileira de Cardiologia – SBC (2007). A Sociedade Brasileira

de Cardiologia mantém o acervo dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia

(2006), com normatização específica sobre as Políticas de Conflitos de

Interesse, com destaque para o seguinte trecho no capítulo 7:

São considerados potenciais conflitos de interesse, a

relação de um autor, diretamente, ou indiretamente através da instituição promotora da pesquisa, com empresas que eventualmente possam se beneficiar dos resultados do estudo. Os seguintes tipos de relação são considerados como potencialmente conflitantes e devem obrigatoriamente ser declarados: Se nos últimos dois anos um dos autores:

1. Recebeu honorários de consultoria, palestras,

redação de textos ou quaisquer outros tipos de serviços remunerados prestados do fabricante do produto. 2. Recebeu auxílio do fabricante do produto (verbas de pesquisa, fornecimento de equipamentos, drogas, mão de obra) relacionados ao projeto em análise ou outro projeto que envolva o mesmo produto. 3. Recebeu auxílio do fabricante do produto para participação em congressos. 4. Deteve ações do fabricante do produto. 5. Houve envolvimento do fabricante do produto na coleta, análise, interpretação ou redação dos dados. 6. É empregado de empresa que possa se beneficiar direta ou indiretamente com os resultados do estudo. (SBC, 2006).

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (2010) faz menção em seu site

à declaração de conflitos de interesse financeiro. Segundo esta Sociedade, os

autores de trabalhos científicos devem declarar se o trabalho apresentado

recebeu qualquer suporte financeiro da indústria farmacêutica ou outra fonte

56

comercial, e declarar que nem o próprio autor ou qualquer parente de primeiro

grau possuiu interesse financeiro no assunto abordado no manuscrito. Ainda

de acordo com a referida Sociedade o autor deve explicitar em um formulário

específico disponível on-line, o tipo e a natureza do envolvimento que o

próprio ou seus parentes de primeiro graus tiveram nos últimos cinco anos

com empresas privadas ou organizações sem fins lucrativos.

A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (2010), em seu

site explicita que os autores de manuscritos ao submeterem artigos à esta

Sociedade devem anexar a Declaração de Conflito de Interesse, segundo a

Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.595/2000, Parecer de

aprovação do CEP onde a pesquisa foi realizada, e o Consentimento

Informado, quando o artigo tratar de pesquisa clínica com seres humanos.

Nesta linha, a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

(2010) exige que os autores de artigos submetidos à sua revista declarem

todos os conflitos de interesses existentes durante o desenvolvimento do

estudo. Inclusive, exige que, em caso de experimentos em seres humanos, o

autor indique se os procedimentos realizados estão em acordo com os

padrões éticos do comitê de experimentação humana responsável

(institucional, regional ou nacional) e com a Declaração de Helsinki. Quando

do relato de experimentos em animais, indicar se seguiu as leis sobre o

cuidado e uso de animais em laboratório.

A revista da Associação Brasileira de Escolas Médicas – ABEM (2010)

exige dos autores a declaração de conflitos de interesses, bem como a

aprovação da pesquisa pelo CEP institucional.

2.2. Breve panorama do nascimento da Bioética

A utilização do termo Bioética ocorreu primeiramente em 1970, com a

publicação do artigo Bioethics, the science of survival, pelo oncologista Potter,

da Universidade de Wisconsin, em Madison. Potter concebeu a bioética como

57

uma nova disciplina. Para que o indivíduo alcançasse o caminho para a

sobrevivência era necessário que se estabelecesse uma ética baseada na

sobrevivência humana e nas situações de vida em ambiente saudável, que

combinaria os conhecimentos biológicos com o conhecimento dos sistemas de

valores humanos. A partir de 1971, o neologismo “bioética” foi amplamente

difundido com a publicação de sua obra intitulada “Bioethics: bridge to the

future”. Nesta o autor propõe uma ponte entre as ciências biológicas e os

valores morais, ou seja, uma ética baseada na democratização do

conhecimento científico, de acordo com Potter (1971):

(...) Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos (POTTER, 1971, p. 2).

Meses após Potter haver introduzido o neologismo Bioética, Hellegers,

da Universidade de Georgetown, em Washington, utilizou o termo “Bioética”,

mas com outro sentido. Para Reich apud Almeida (1995), segundo o modelo

Georgetown, a Bioética seria um campo interdisciplinar da própria filosofia

moral (e não entre ciência e filosofia como era para Potter), que deveria tratar

de dilemas biomédicos concretos restritos a três áreas:

a) os direitos e deveres dos pacientes e dos profissionais de saúde;

b) os direitos e deveres na pesquisa envolvendo seres

humanos; e c) a formulação de um guideline para a política pública,

o cuidado médico e a pesquisa biomédica. (REICH, 1995, p. 19-34).

Diversos fatores contribuíram para consolidação da bioética no campo

da área da investigação científica em seres humanos, especialmente os

relacionados às conquistas sociais, política e tecnológica. Segundo Diniz et

al. (2002):

Os anos 1960 foram a era da conquista dos direitos civis, o que fortaleceu o ressurgimento de movimentos sociais organizados, como o feminismo, o movimento hippie e o

58

movimento negro, entre outros grupos de minorias sociais, promovendo, com isso, um revigoramento dos debates acerca da ética normativa e aplicada. (...) Dois outros acontecimentos contribuíram para que a Bioética fosse definida como um novo campo disciplinar: as denúncias, cada vez mais freqüentes, relacionadas às pesquisas científicas com seres humanos, um tema fortemente impulsionado pelas histórias de atrocidades cometidas por pesquisadores nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial; e a abertura gradual da medicina, que, de uma profissão fechada e autoritária, passou a dialogar com os que David Rothman adequadamente denominou de estrangeiros em seu livro Estrangeiros à Beira do Leito: Uma História de como a Bioética e o Direito Transformaram a Medicina: primeiro os filósofos, os teólogos e os advogados e, depois, os sociólogos e os psicólogos, que passaram a opinar sobre a profissão médica, porém sob outras perspectivas profissionais. (DINIZ et al., 2002, p. 13-14).

Segundo Schramm (2002) a bioética possui o papel de descrever,

esclarecer e compreender as razões dos conflitos que envolvem agentes e

pacientes morais, utilizando todas as ferramentas disponíveis para a solução

dos conflitos. Schramm et al. (2001) defendem uma bioética da saúde

pública, denominada bioética da proteção e que serviria de alternativa para

enfrentar as crescentes necessidades coletivas na América Latina. A bioética

tem sua origem fundamentada no contexto da evolução dos países

desenvolvidos, e as transformações decorrentes do progresso científico dos

países do primeiro mundo reconhecidamente serviram para marcar uma maior

aproximação da medicina e da ética com a pesquisa clínica, e, em alguma

medida, para o fortalecimento da bioética como disciplina. Segundo Schramm

(2006):

(...) A bioética da proteção visa proteger aqueles que, devido às suas condições de vida e/ou saúde, são vulneráveis ou fragilizados a ponto de não poder realizar suas potencialidades e projetos de vida moralmente legítimos, pois as políticas públicas de saúde não os garantem. (SCHRAMM, 2006, p.147).

Já para Kottow (1995) a Bioética pode ser compreendida como:

O conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e legitimam eticamente os atos humanos, cujos efeitos afetam profunda e irreversivelmente, de maneira real ou potencial, os sistemas vitais. (KOTTOW, 1995, p.53).

59

Ainda segundo Kottow (2006), um dos traços característicos da Bioética

Latina Americana é:

Na desigualdade, toda ética terá de se inspirar em dois postulados sobre os quais não se pode transigir; a busca de justiça e o exercício da proteção. (KOTTOW, 2006, p.43).

Garrafa (2002) argumenta que devemos trabalhar a Bioética em uma

dimensão mais ampla e aplicada às situações que somente ocorrem nos

denominados “países periféricos”, ou seja, a Bioética da ética aplicada à

saúde pública e coletiva, intensificando os debates acerca dos problemas

persistentes e emergentes, tais como a exclusão social, a pobreza, a miséria e

a marginalização.

Rego et al. (2009) ressaltaram que um dos grandes desafios da bioética

seria:

Não o de não impor restrições às liberdades individuais, mas o de focar a formulação das políticas públicas nos interesses da coletividade, fundamentando-as criteriosamente do ponto vista ética. (REGO et al., 2009, p.33).

Reagindo aos sucessivos escândalos e à opinião pública, em 1974 o

congresso e governo norte-americano constituíram a National Commission for

the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research –

NCPHSBBR (Comissão nacional para a proteção dos seres humanos em

pesquisa biomédica e comportamental), cujo objetivo era identificar os

princípios éticos básicos, que deveriam nortear a experimentação em seres

humanos nas ciências do comportamento e na biomedicina. Segundo Oliveira

(2000):

Somente após a “conquista” dos direitos do homem na sociedade ocidental é que irá ocorrer a conquista da humildade, por parte de alguns sábios, no sentido de reconhecer a necessidade da Bioética como disciplina. (OLIVEIRA, 2000, p.230).

60

2.2.1. Belmont Report (Relatório Belmont)

A opinião pública estadunidense foi mobilizada por três importantes

acontecimentos que influenciaram de maneira marcante a história da saúde

pública norte-americana. Um dos acontecimentos ocorreu em 1963, no

Hospital Israelita de Doenças Crônica, em Nova York, onde foram injetadas

células cancerosas vivas em idosos doentes. O segundo ocorreu no período

de 1950 e 1970, no Hospital Estadual de Willowbrook, também em Nova York,

onde médicos injetaram vírus da hepatite em crianças com deficiência mental.

E o terceiro ocorreu em 1932, no Estado do Alabama, envolvendo 400 negros

com sífilis, recrutados para participarem de uma pesquisa sobre a evolução

natural da doença e deixados sem tratamento. Somente em 1972 após

denúncia no The New York Times a pesquisa foi interrompida. Restaram 74

pessoas vivas sem tratamento.

Como resposta a estes acontecimentos, o Governo e o Congresso

norte-americano constituíram, em 1974, a National Commission for the

Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research -

NCPHSBBR (Comissão nacional para a proteção dos seres humanos em

pesquisa biomédica e comportamental), que teve como objetivo principal

identificar os princípios éticos “básicos” que deveriam conduzir a

experimentação em seres humanos, o que ficou conhecido como o Belmont

Report (1979), ainda hoje considerado um marco histórico e normativo para a

Bioética (Reich, 1995), a partir deste Relatório três princípios éticos foram

eleitos, a saber:

1. Respeito pelas pessoas: Este princípio carrega consigo pelo menos dois outros pressupostos éticos: os indivíduos devem ser tratados como autônomos e as pessoas com autonomia diminuída (os socialmente vulneráveis) devem ser protegidas de qualquer forma de abuso;

2. Beneficência: Dentre os três princípios escolhidos,

esse é o que maior referência faz à história da deontologia médica no ocidente. Significa promover o bem-estar e os

61

interesses do paciente por intermédio da ciência médica e de seus representantes ou agentes;

3. Justiça: Esse princípio é o que mais intimamente

está relacionado às teorias da filosofia moral em vigor nos EUA por ocasião da elaboração do Relatório. Visa garantir a distribuição justa, eqüitativa e universal dos serviços de saúde e não causar riscos ou agravos. (REICH, 1995, p. 2767-2773).

Segundo Diniz et al. (2002):

(...) a estruturação mínima proposta pelo Relatório, representada pela eleição dos três princípios éticos, foi o pontapé inicial que a bioética necessitava para sua definitiva organização nos centros universitários e acadêmicos. (DINIZ et al., 2002, p.22-23).

2.2.2. Teoria Principialista

A Bioética ganhou um grande impulso e se consolidou teoricamente

nas universidades norte-americanas, com a publicação da obra em 1979,

intitulada Princípios da Ética Biomédica, de autoria do filósofo Beauchamp e

do teólogo Childress (1979). Os autores de Princípios da Ética Biomédica

integraram a National Commission for the Protection of Human Subjects of

Biomedical and Behavioral Research - NCPHSBBR (Comissão nacional para a

proteção dos seres humanos em pesquisa biomédica e comportamental),

responsável pela elaboração do Belmont Report. A proposta teórica de ambos

seguia o caminho aberto pelo Belmont Report. A questão central da teoria dos

quatro princípios, ou Teoria Principialista é equacionar os dilemas que podem

surgir durante a avaliação de uma situação em que dois ou mais princípios

entram em conflito. Segundo Jonsen (1994).

Os princípios deram destaque para as reflexões de uma maneira mais ampla, e menos operacionais dos teólogos e filósofos da época. E de maneira simples e objetiva fomentaram o diálogo entre diversos profissionais da área de saúde. (JONSEN, 1994, p. 130-147).

62

Segundo Schramm (1997):

O principialismo nasceu essencialmente da constatação de que vivemos em um mundo secularizado, politeísta, no qual não se pode mais ter como referência fundamentos centrais pelo qual a análise dos princípios de respeito á autonomia e de consentimento livre e esclarecido. (SCHRAMM, 1997, p.227-240).

Os autores do principialismo buscaram aliar princípios que eram

consagrados na ética médica (beneficência e não-maleficência), a outros dois

princípios que não estavam incorporados ainda (autonomia e justiça). O

princípio da beneficência possui larga tradição na ética médica hipocrática. O

princípio da não-maleficência está associado à máxima primum non nocere _

“acima de tudo, não cause danos”. O princípio da autonomia baseia-se nos

pressupostos de que a sociedade democrática e a igualdade de condições

entre os indivíduos são os pré-requisitos para que as diferenças morais

possam coexistir. Implica em respeitar a vontade do paciente ou do seu

representante, assim como os seus valores morais e crenças. O princípio da

justiça está mais intimamente ligado ao papel dos movimentos sociais

organizados da bioética e a atuação das sociedades como formadoras de

opinião. A despeito desta questão Almeida (1999) afirma que:

(...) Na impossibilidade de conformação de uma teoria ética unitária e de aceitação universal em sociedades plurais e democráticas, os princípios de beneficência, não-maleficência, justiça e respeito à autonomia são um conjunto de diretrizes para os profissionais de saúde frente a dilemas morais. (ALMEIDA, 1999, p.51-67).

A Teoria Principialista, segundo Oliveira (2001):

(...) Pelo modo como se originou, tem uma importância crucial para as pesquisas biomédica com seres humanos e influenciou a elaboração da Resolução CNS 196/96. Dada a funcionalidade, forneceu uma linguagem comum para reflexões mais abrangentes, um esquema claro para uma ética normativa que, tem de ser prática e produtiva, dado o volume de protocolos a serem analisados. (OLIVEIRA, 2001, p. 80).

63

2.3. Breve histórico dos abusos cometidos com seres humanos: A

importância do Código de Nuremberg, da Declaração de Helsinque e do

TCLE

2.3.1. Os abusos cometidos contra seres humanos

Diversos experimentos com seres humanos realizados em países

desenvolvidos suscitaram problemas éticos pela maneira abusiva, cruel e

desumana como foram feitos. As vítimas dessas atrocidades eram civis,

militares e crianças oriundas dos países em guerra como a Alemanha, onde

foram comprovados assassinatos, tortura e outros atos de extrema crueldade

realizados pelos médicos. Vale destacar alguns dos experimentos conduzidos

nos campos de concentração nazistas, retratados por Vieira et al. (1998):

Experimento sobre malária: Campo de concentração de Dachau (1942 a 1945), com a finalidade de comparar a eficiência de várias drogas usadas no tratamento da malária, mais de 1000 pessoas sadias foram propositalmente contaminadas com essa doença por mosquitos, ou por injeções de estratos das glândulas secretoras dos mosquitos. Muitas morreram e outras sofreram dores intensas e ficaram inválidas;

Experimento com veneno: Campo de concentração

de Buchenwald (1943 a 1944), para estudar o efeito de diversos venenos sobre seres humanos, foram administrados venenos secretamente aos indivíduos na comida. As vítimas ou morreram em conseqüência do veneno ou foram mortas imediatamente após, para ser feita a autópsia. Naquele mesmo período, indivíduos sob experimentação foram baleados com balas envenenadas; sofreram tortura até a morte.

Organização de coleção: Entre junho de 1943 e

setembro de 1944, 112 judeus foram selecionados com o propósito de completar uma coleção de esqueletos para a Universidade de Strasbourg. Antes de serem mortos, eram tiradas fotografias e feitas medidas antropométricas. Depois os corpos eram usados em pesquisas de anatomia para estudar raça, características patológicas, forma e tamanho do cérebro, além de outros testes. Em seguida, os cadáveres eram enviados para Strasbourg para dissecação. (VIEIRA et al., 1998, p.26-29).

Conforme ressaltam Guilhem et al. (2008), as atrocidades cometidas

pelos nazistas também se estenderam as crianças. Diversos abusivos foram

64

realizados em crianças, para ilustrar o horror da crueldade, Posner, citado por

Diniz e colaboradores, oferece um arrepiante testemunho relativo à pesquisa

de Mengele sobre as diferenças nas cores dos olhos entre gêmeos

adolescentes ciganos:

(...) na sala de trabalho perto da sala de dissecação, 14 gêmeos ciganos estavam esperando e chorando. Dr. Mengele não nos dirigiu uma única palavra e preparou uma seringa de dez centímetros cúbicos e outra de 15. De uma caixa, Mengele pegou Evipal e, de outra, clorofórmio, que estava em recipientes de 20 centímetros cúbicos, colocando tudo na mesa de operação. Depois disso, o primeiro gêmeo foi trazido... uma garota de quatorze anos. Dr. Mengele ordenou que se despisse a criança e que se colocasse a cabeça dela na mesa de dissecação. Então injetou Evipal intravenoso no braço direito da garota. Depois que ela adormeceu, ele sentiu o ventrículo esquerdo do coração e injetou dez centímetros cúbicos de clorofórmio. Após uma pequena convulsão, a criança estava morta... dessa maneira, todos os 14 adolescentes foram mortos (...). (SCHÜKLENK, 2000).

Mengele, então, removeu os olhos de todos os gêmeos mortos e os

enviou a Berlim para a realização de estudos futuros. Diniz et al. (2008)

ressaltam que “ao contrário do caso alemão, os japoneses utilizaram poucas

“cobaias prisioneiras”, pois o alvo principal era a população civil.

(...) A missão dos cientistas e sua equipe era a de disseminar epidemias em diferentes regiões, uma forma de guerra biológica disfarçada, porém com grande eficácia. Além da população civil, visava-se atingir plantações, de modo a causar a fome e aumentar a exposição das pessoas às epidemias. Em laboratórios bem equipados, eram realizadas vivissecções sem anestesia nos camponeses (GUILHEM et al, 2008, p.16).

2.3.2. O Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque

Após a Segunda Guerra Mundial, o Tribunal Militar Internacional

formulou, de maneira inédita, um posicionamento global sobre os aspectos

éticos inerentes à experimentação com seres humanos. As atrocidades

cometidas chocaram o mundo e chamaram a atenção para a urgência de criar

diretrizes (recomendações), que deveriam ser seguidas quando da realização

65

de pesquisas científicas feitas por médicos. O trabalho realizado pelo tribunal

ficou conhecido como Código de Nuremberg (1947), elaborado para auxiliar os

juízes na formulação das sentenças, dos 33 médicos alemães acusados de

“crimes de guerra e crimes contra a humanidade”. Trata-se de um decálogo,

ou seja, 10 recomendações éticas, cuja ênfase principal está atribuída ao

reconhecimento do consentimento livre e esclarecido, como peça fundamental

para que ocorra qualquer pesquisa com seres humanos.

Com base no Código de Nuremberg, focando principalmente nas

intervenções da pesquisa biomédica foi constituída a Declaração de Helsinque

(DH), elaborada pela Associação Médica Mundial, em 1964, que já sofreu

diversas revisões (Tóquio, 1975; Veneza, 1983; Hong Kong, 1989; Somerset

West, 1996; Edimburgo, 2000; Estados Unidos, 2002; Tóquio, 2004). Apesar,

das diversas revisões e modificações a DH, jamais teve modificado o seu

espírito humanista. Em seu primeiro princípio básico a DH afirma:

A pesquisa clínica deve adaptar-se aos princípios morais e científicos que justificam a pesquisa médica e deve ser baseada em experiências de laboratório e com animais ou em outros fatos cientificamente determinados. (WMA, 2004).

Segundo Greco et al. (2008), há uma pressão internacional intensa,

principalmente das indústrias farmacêuticas para que as exigências éticas

emanadas da Declaração de Helsinque (DH) sejam flexibilizadas, com o

objetivo de reduzir o nível de exigências éticas nas pesquisas realizadas em

voluntários dos países em desenvolvimento.

2.3.3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Diversas discussões na literatura legal, filosófica, institucional,

psicológica e médica têm ocorrido visando definir quais elementos devem

integrar o TCLE. Beauchamp et al. (1995) estabeleceram três componentes,

contemplando sete distintos itens, a saber:

I. Pré-Condições: 1. Capacidade para entender e decidir; 2. Voluntariedade no processo de tomada de decisão.

66

II. II. Elementos da Informação: 3. Explicação

sobre riscos e benefícios; 4. Recomendação de uma alternativa mais adequada; 5. Compreensão dos riscos, benefícios e alternativas.

III. III. Elementos do Consentimento: 6. Decisão

em favor de uma opção, dentre no mínimo duas propostas; 7. Autorização para a realização dos procedimentos propostos. (BEAUCHAMP et al., 1995, p. 1238-41).

Goldim (2000) ressalta a importância da utilização do TCLE em

pesquisas com seres humanos, segundo este autor:

A utilização do TCLE não garante que todos os participantes estejam plenamente cientes das questões envolvidas nesta investigação, mas ainda é a melhor forma disponível, pelo menos atualmente, para preservar o respeito a estas pessoas. (VICTORA et al., 2000, p. 79-89).

2.4. As comissões de ética em pesquisa na prevenção aos

conflitos de interesses: Experiências dos EUA, Holanda, Polônia e

Finlândia

McNeill (1993), deposita confiança no trabalho desempenhado pelas

Comissões de ética em pesquisa, discute a ética da experimentação em seres

humanos e defende que os interesses dos seres humanos não sejam

prejudicados nas pesquisas científicas. Para este autor a proteção dos

participantes de pesquisas depende da adequada análise ética feita pelas

comissões de ética em pesquisa, que seguir uma lógica radical pautada em

modelos éticos que assegure a proteção aos sujeitos de pesquisa. Ainda

segundo o autor, o sucesso dessas comissões está na busca do equilíbrio dos

interesses da ciência com os interesses dos seres humanos. O autor concluiu

que as Comissões são predominantemente influenciadas por membros de

instituições de pesquisa e pelos próprios pesquisadores, por isso que a

análise feita pelas Comissões deva proteger principalmente aos seres

humanos.

67

Na Holanda, segundo Kenter (2009) o sistema de avaliação das

pesquisas com seres humanos é descentralizado e integra o sistema de

revisão por pares. O sistema é constituído por um órgão independente do

governo, denominado Comitê Central de Pesquisa Envolvendo Seres

Humanos (ou Comitê Central), que regulamenta a revisão das propostas de

investigação por médico credenciado Comitês de Ética em Pesquisa (MREC).

A avaliação das propostas de pesquisas e todos os documentos do protocolo

de pesquisa são analisados por especialistas em uma única comissão. A

revisão das pesquisas com embriões humanos excedente é regulada

separadamente com base na lei dos embriões. O Comitê Central dá apoio aos

MREC credenciados, aos pesquisadores e aos patrocinadores. O país

desenvolveu um portal de acesso pela internet para reduzir a burocracia e

tornar o processo de fiscalização mais eficiente e transparente. O Comitê

Central estimula a confiança da sociedade nas pesquisas biomédicas,

fornecendo um registro público com dados básicos sobre as propostas de

pesquisa que foram revisadas pelos Comitês.

Czarkowski et al. (2009) realizaram uma pesquisa para determinar a

situação dos Comitês de Ética em Pesquisa, que na Polônia equivalem aos

Comitês de Bioética (BC). O BC é geralmente composto de 13 membros, 9

deles são médicos e quatro são não-médicos. Em 2006 os BC avaliaram uma

média de 27,3 ± 31,7 (variação: 0-131) de projetos com ensaios clínicos e 71,1

± 139,8 (intervalo: 0-638) de projetos de outros tipos de pesquisas médicas.

Em 2006, foi avaliada uma média de 10,3 ± 14,7 (variação: 0-71) de projetos

de pesquisa clínica foram avaliados por reunião. Após alteração das leis

polonesas (Diretiva 2001/20/CE), houve um aumento da porcentagem de

projetos avaliados. Os resultados confirmam a utilidade da criação dos BC em

universidades e faculdades médicas, institutos médicos e seções regionais de

médicos e dentistas, mas apontou para a racionalização da carga de trabalho

individual dos membros dos BC.

As relações financeiras entre os membros do Comitê de Ética e a

indústria foram estudadas por Campbell et al. (2006), em uma amostra

68

aleatória de 893 membros de Institutional Review Boards (IRB) em 100

instituições de ensino (taxa de resposta, 67,2%). Os autores aplicaram um

questionário focado nas relações financeiras que os membros do IRB podiam

ter com a indústria (por exemplo, emprego, participação em conselhos,

consultoria, recebimento de royalties, pagos por conferência).

Os resultados mostram que 36% dos membros do IRB tinham tido pelo

menos um relacionamento com a indústria. Dos entrevistados, 85,5%

disseram que nunca pensaram que a relação que outro membro de IRB

tivesse com a indústria pudesse afetar suas com o IRB. Outros entrevistados

(11,9%) disseram que raramente isto ocorreu, 2,4% disseram que ocorreu

algumas vezes, e 0,2% achavam que ocorreu com freqüência. Setenta e oito

entrevistados (15,1%) relataram que pelo menos um protocolo tenha sido

patrocinado por uma empresa ou com a qual o membro do IRB teve

relacionamento.

Dos 78 membros (62 membros votantes e 16 membros não-votantes),

57,7% relataram que sempre divulgaram a relação oficial ao IRB, 7,7%

disseram que às vezes não, 11,5% disseram que raramente declaravam o

envolvimento com empresas patrocinadoras, e 23,1% disseram que nunca

fizeram nenhum tipo de declaração sobre este assunto ao IRB.

Dos 62 membros votantes que relataram conflitos, 64,5% revelaram

que nunca analisaram projeto, 4,8% disseram que raramente analisavam,

11,3% disseram que às vezes não, e 19,4% disseram que sempre analisam. A

maioria dos entrevistados relatou que as opiniões dos membros do IRB, que

tinha experiência em trabalhar com a indústria foram benéficas na revisão dos

protocolos patrocinados pela indústria.

Os autores concluíram que as relações entre os membros do IRB com a

indústria são comuns, e os membros, por vezes, participaram das decisões

sobre protocolos patrocinados por empresas com as quais eles tinham alguma

relação financeira. Os autores sugeriram que regulamentos e políticas sejam

examinados para ter certeza de que existe uma forma adequada de lidar com

conflitos de interesses decorrentes das relações com a indústria.

Para Allen (2008), a interação entre as comissões de ética em pesquisa

e os pesquisadores é marcada pela desconfiança e por conflitos, pois a

69

conduta ética dos pesquisadores transformou a ética em pesquisa. O autor

sugeriu uma abordagem de governança alternativa, com forte foco institucional

na promoção e apoio à prática reflexiva de pesquisadores em cada etapa de

seu trabalho, objetivando estabelecer medidas que realmente facilitariam a

qualidade ética das pesquisas.

Segundo Hemminki (2005), o direito finlandês faz uma distinção legal

entre pesquisa e investigação médica de saúde, e diferencia os ensaios

clínicos. O ponto de partida das regras existentes é que os ensaios clínicos

representam menor interesse para os doentes e para a sociedade. Os

interesses comerciais não são considerados antiéticos. Os procedimentos

contrastantes de pesquisa e de cuidados de saúde podem seduzir os médicos

a introduzir inovações na prática médica, baseando-se em observações

sistemáticas e equivocadas. O autor concluiu que os objetivos e a qualidade

do trabalho dos comitês de ética devem ser avaliados continuamente, e

sugeriu a reformulação das Boas práticas clínicas da União Européia. Na

opinião do autor os Comitês de Ética não devem fomentar pesquisas pobres

simplesmente por razões legais.

2.5. Brasil: O fortalecimento contínuo baseado em princípios

bioéticos

A implantação de um CEP representa um importante avanço no cenário

da ética em pesquisa, e nas considerações éticas relativas à responsabilidade

social.

De acordo com dados exibidos no relatório, que apresenta um balanço

dos nove anos do trabalho realizado pela Comissão Nacional de Ética em

Pesquisa - CONEP (BRASIL/MS/CNS/CONEP, 2008), o Brasil possuía 584

CEP credenciados, dos quais 85% funcionam em instituições de ensino,

70

pesquisa e assistência, a maioria dos CEP está localizada nas regiões Sul e

Sudeste do país.

Em 2009 o Brasil expandiu o número de CEP totalizando em abril 604

CEP, destes 400 utilizam o Sistema Nacional de Informação sobre Ética em

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (SISNEP). O SISNEP é uma

ferramenta disponível na internet, com o objetivo de fortalecer o sistema

CEP/CONEP, desenvolvido pela CONEP e o Departamento de Informação e

Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), com a colaboração e a

participação inicial de 11 CEP. As instituições cujos CEP efetuaram o teste

inicial do SISNEP foram:

Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP - FIOCRUZ

Faculdade de Ciências da Saúde - UNB - Universidade de Brasília

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

HCFMRPUSP - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto da USP

HCFMUSP - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

Hospital de Clínicas de Porto Alegre - HCPA - POA-RS

Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas - IPEC - FIOCRUZ

Instituto Fernandes Figueira - IFF - Fundação Oswaldo Cruz

ISCMPA - Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS

Santa Casa de Misericórdia - Belo Horizonte – MG

O SISNEP foi implantado, visando a beneficiar os Usuários

participantes de pesquisa; facilitar o registro das pesquisas envolvendo seres

humanos, orientar a tramitação de projetos submetidos à apreciação ética,

integrar o sistema de avaliação ética das pesquisas no Brasil e implementar a

formação de um banco de dados nacional de pesquisas, agilizar a tramitação

e facilitar aos pesquisadores o acompanhamento de seus projetos, oferecer

informações para a melhoria do sistema de apreciação ética das pesquisas e

para o desenvolvimento de políticas públicas na área, e permitir o

71

acompanhamento pela população e dos diversos segmentos da sociedade,

especialmente, pelos participantes de pesquisas.

O Conselho Nacional de Saúde, por solicitação da CONEP substituiu o

SISNEP e lançou a Plataforma Brasil, em 15 de dezembro de 2009,

objetivando maior interação com agências regulatórias e de fomento a

pesquisa, instituições internacionais, editores científicos. A Plataforma Brasil é

a base nacional e unificada de registros das pesquisas com seres humanos

para todo o sistema CEP/CONEP, que articula diferentes fontes primárias de

informações sobre pesquisas com seres humanos no Brasil.

72

CAPÍTULO 2

MÉTODO

A pesquisa empreendida aqui foi parte de um projeto coordenado por

Palácios (2008), com apoio do CNPq, que tinha por objetivo estudar o conflito

de interesses na assistência e na pesquisa em saúde no complexo hospitalar

de uma universidade brasileira. Na população do estudo, além de membros de

CEP, foram incluídos pesquisadores com perfis variados, alunos e sujeitos de

pesquisa. Nesta dissertação trataremos dos dados relativos aos membros de

CEP.

Esta pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Stricto

sensu em Saúde Coletiva, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC),

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e foi aprovada pelo seu

Comitê de Ética em Pesquisa.

Visando a atingir os objetivos da pesquisa, optamos por uma análise

teórico-descritiva, com abordagem qualitativa. Gaskell (2004) ressalta que a

finalidade da pesquisa qualitativa é “explorar o espectro de opiniões, as

diferentes representações do assunto em questão”. Procuramos, com esta

escolha, dar voz às distintas percepções apresentadas pelos membros dos

Comitês de Ética em Pesquisa da universidade em estudo, sobre a maneira

como estes Comitês identificam e manejam os conflitos de interesse presentes

na condução das pesquisas científicas.

Por este tipo de pesquisa oferecer uma gama de ferramentas,

escolhemos a entrevista, com base na perspectiva de que a fala do

entrevistado tem a possibilidade, segundo Minayo (1994), de ser:

Reveladora de condições e ao mesmo ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas. (MINAYO, 1994, p.109).

73

A proposta de análise qualitativa de dados adotada por Minayo (1994),

denominada método hermenêutico-dialético, se ajusta à nossa pesquisa, já

que um dos pressupostos de análise desse método se refere ao fato como a

ciência se constrói em uma relação dinâmica entre a razão daqueles que a

praticam e a experiência que surge na realidade concreta. Segundo a autora,

a análise do material possui as seguintes finalidades:

●ultrapassagem da incerteza: o que eu percebo na mensagem, estará lá realmente contido? Minha leitura será válida e generalizável?

●enriquecimento da leitura: como ultrapassar o olhar

imediato e espontâneo e já fecundo em si, para atingir a compreensão de significações, a descoberta de conteúdo e estruturas latentes?

●integração das descobertas: que vão além da

aparência, num quadro de referência da totalidade social no qual as mensagens se inserem. (MINAYO, 1994, 197-198).

A partir da leitura dos questionários e das transcrições, pudemos

buscar, nas falas, pontos de interseção entre o que dizem os entrevistados e a

literatura. Comparamos os textos e os dados publicados nos periódicos por

pesquisadores de várias nacionalidades e inserções institucionais, com os

discursos dos participantes da pesquisa, com o objetivo de descobrir

diferenças e possíveis semelhanças.

Esse procedimento visou a atender o objetivo da pesquisa, que é

conhecer como os membros dos Comitês de Ética em Pesquisa da

universidade identificam e manejam os conflitos de interesse presentes na

condução de pesquisas submetidas à apreciação dos CEP da universidade, a

partir da experiência de cada um desses membros dos CEP da universidade e

quais conflitos eles próprios possuem.

Com base em Minayo et al. (2008); Chizzotti (2003), Pavão (2001),

Vìctora et al. (2000) construímos as etapas da análise, da seguinte forma:

transcrição de entrevistas, análise dos questionários, codificação dos

entrevistados (integrantes dos CEP: coordenador, membro, secretária e

Representante de Usuários), e codificação dos CEP, leitura comparativa dos

textos das entrevistas, articulação entre os sentidos encontrados nos

74

depoimentos, busca por sugestões dos CEP, para identificar e manejar os

conflitos de interesse presentes na condução das pesquisas científicas na

universidade.

Para alcançar os objetivos da pesquisa, aplicamos um questionário com

perguntas abertas e fechadas, bem como realizamos entrevistas individuais e

em grupo gravadas em meio digital.

O projeto foi submetido à análise ética dos CEP da universidade, e

somente após a aprovação e liberação dos pareceres a pesquisa foi iniciada.

2.1. Local da pesquisa e composição dos CEP selecionados

Realizamos a pesquisa em 04 (quatro) dos 07 (sete) CEP, a saber:

CEP 01, CEP 02, CEP 03, e CEP 04. Visando assegurar a confidencialidade e

a preservação do anonimato os CEP foram codificados.

2.2. Sujeitos da pesquisa

A fim de preservar o anonimato dos participantes, nós os codificamos.

Preservar o anonimato dos entrevistados é essencial, por isso optamos em

codificar os CEP, e não fornecer a localização geográfica destes Comitês. Na

citação e na análise das falas, no entanto, decidimos manter a inserção

institucional dos integrantes, já que, é importante, para nós, conhecer os

discursos de cada indivíduo, segundo a função que ocupam (Coordenador,

membro, secretária ou Representante de Usuários). Observamos, no Quadro

2.1, os códigos atribuídos aos entrevistados, a partir da função destes nos

Comitês.

75

QUADRO 2.1 – Códigos dos entrevistados

Função no CEP CEP 01

CEP 02

CEP 03

CEP 04

Coordenador C-01 C-02 C-03 C-04 Membro M-01 M-02 M-03 M-04

Representante de Usuários R-01 R-02 R-03 R-04 Secretaria S-01 S-02 S-03 S-04

Comitês de Ética (CEP) CEP01 CEP02 CEP03 CEP04

No caso de mais de um membro, o participante foi identificado por

letras (M-01A, M-01B, etc.).

A composição de cada um dos CEP variou entre o mínimo de dez e o

máximo de quinze integrantes por Comitê. O critério mínimo estabelecido pela

Resolução CNS 196/96 é de sete membros. A composição dos CEP é definida

a critério da instituição, sendo pelo menos metade dos membros com

experiência em pesquisa eleitos pelos seus pares. Portanto, todos os CEP

estavam de acordo com o estabelecido na Resolução CNS 196/96, conforme

podemos melhor observar melhor no quadro 2.2:

QUADRO 2.2 – Composição dos CEP

Composição (Nº de participantes)

CEP 01

CEP 02

CEP 03

CEP 04

Nº Parcial

Coordenador 1 1 1 1 4 Membros 9 7 7 12 35

Representante de Usuário 1 1 1 1 4 Secretária 1 1 1 1 4

Total 12 10 10 15 47

Predominantemente a faixa etária dos integrantes dos CEP variou entre

41 a 50 anos, seguida da faixa etária entre 51 a 60 anos. Em apenas um CEP

houve variação (31-40) anos.

76

Em 03 CEP a coordenação era exercida por mulheres, sendo duas

médicas, e a outra, enfermeira. No outro CEP a coordenação era

desempenhada por um homem. Identificamos diversidade das linhas de

pesquisa dos integrantes (coordenadores e membros). Todos os

coordenadores integravam o quadro efetivo da universidade, assim como a

maioria (95%) dos membros era oriunda de diversos setores desta mesma

instituição.

Observamos a presença de Representante de Usuários, exigência da

Resolução CNS 240/97, em todos os 04 CEP. Em um único CEP havia duas

secretárias, em dois, uma. Já em outro não havia nenhuma exclusiva para o

Comitê. Importante ressaltar, embora não seja o foco desta pesquisa, que a

secretária constitui o primeiro contato ente o pesquisador, o CEP e a

instituição.

Visando a preservar o anonimato dos participantes, a formação dos

membros, coordenadores, Representante de Usuários e secretária será

apresentada de maneira global, sem correlacionar ao CEP ao qual estão

inseridos, conforme Quadro 2.3:

QUADRO 2.3 – Área de formação dos integrantes dos CEP

Formação Total Advogado 2

Assistente Social 3 Dentista 1

Economista 1 Enfermeiro 12 Engenheiro 1 Farmacêutico 1 Filósofo 1

Fisioterapeuta 1 Fonoaudiólogo 1 Historiador 1 Médico 13

Pedagogo 1 Psicólogo 3

Programador visual 1 Lingüista 1 Sociólogo 1

77

Os 04 CEP apresentaram formação multidisciplinar, com membros

oriundos de várias áreas do conhecimento. Portanto, estão de acordo com o

preconizado no item VII. 4 da Resolução CNS 196/976. Novamente,

2.3. Instrumentos utilizados para o levantamento de dados:

2.3.1. Questionário

Segundo Oliveira (2004), o questionário “é a forma mais usada para

coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja”

(Oliveira, 2004, p. 120). Esta afirmação é corroborada por Abric (1994), que

considera o questionário a técnica mais utilizada no estudo das

representações. Utilizamos um questionário (Apêndice I) com 11 páginas,

totalizando 45 perguntas e a seguinte divisão em blocos:

Bloco I – Dados pessoais e de trabalho: 13 perguntas

Bloco II – Atividade no CEP: 22 perguntas

Bloco III – Conflitos de interesse: 10 perguntas

2.3.2 TCLE

Todos os 47 integrantes dos CEP foram convidados a participar da

pesquisa. Os que aceitaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido – TCLE (Apêndice II), autorizando a gravação da conversa. A

participação no estudo foi voluntária, mediante convite por e-mail e por

telefone com informação dos objetivos da pesquisa e garantia do pesquisador

de que as informações prestadas seriam confidenciais e sigilosas, utilizadas

apenas para esta pesquisa.

78

2.3.3. Roteiro de entrevistas

Utilizamos um Roteiro de entrevistas (Apêndice III). As entrevistas

foram gravadas e realizadas individualmente ou em grupo. Imediatamente

após, foram transcritas e analisadas.

Para Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada tem como

característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e

hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. O foco principal seria

colocado pelo investigador-entrevistador. De acordo com Triviños (1987), a

entrevista semi-estruturada:

“(...) favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações. (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).

Já para Manzini (1990), a entrevista semi-estruturada está focalizada

em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas

principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias

momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer

emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão

condicionadas a uma padronização de alternativas.

Vale ressaltar, que tanto Triviños (1987), quanto Manzini (2003)

apresentam pontos semelhantes em relação à necessidade de perguntas

básicas e principais para atingir o objetivo da pesquisa. Dessa maneira,

Manzini salienta que é possível um planejamento da coleta de informações por

meio da elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos

pretendidos.

No caso desta pesquisa sobre conflitos de interesses, o roteiro

(Apêndice III) serviu para coletar as informações básicas e organizou o

processo de interação com os Comitês. Buscamos discutir, nas entrevistas,

79

os seguintes questionamentos a partir da percepção dos Membros em sua

prática cotidiana:

1. Quais conflitos devem ser objeto de controle?

2. Que conteúdo deve ter uma política de manejo em termos de

propósitos, princípios, escopo e procedimentos?

3. Como envolver os diversos segmentos da sociedade na discussão

dos conflitos de interesses, especificamente os pesquisadores?

4. Sugestões e/ou soluções apontadas para o manejo dos conflitos de

interesses.

As entrevistas foram gravadas e realizadas individualmente ou em

grupo, com o seguinte número de entrevistados por CEP: CEP 01: seis (06)

entrevistados em grupo, CEP 03: três (03) entrevistados individualmente, e

CEP 04: cinco (05) entrevistados em grupo. As 14 (quatorze) entrevistas

foram ouvidas e rigorosamente transcritas para análise.

Se a entrevista individual tem suas particularidades, a entrevista em

grupo também congrega algumas das vantagens dos métodos etnográficos.

Kahn et al. apud Minayo (1961) denominam a entrevista como sendo uma:

Conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e entrada (pelo entrevistador) em temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo. (KAHN et al., 1961, p. 52).

Parafraseando Selltiz et al. (1987), nossas escolhas e percepção vão

ao encontro de dados da literatura, que afirmam que, ao contrário dos

questionários que apresentam índice de devolução muito baixo, as entrevistas

costumam ter um índice de respostas bem mais amplo, uma vez que é mais

comum as pessoas aceitarem falar sobre determinados temas.

80

2.3.4. Entrevista em grupo

Dois CEP cederam, antes de suas reuniões ordinárias em novembro ou

dezembro de 2009, um espaço de tempo para que apresentássemos a

pesquisa e realizássemos a entrevista em grupo. Explicamos o que se

pretendia discutir naquele encontro, tendo como ponto de partida pesquisar

sobre a percepção dos membros dos CEP em sua prática cotidiana acerca

dos conflitos, conteúdo que deve ter uma política de manejo em termos de

propósito, princípios, escopo e procedimentos.

2.3.5. Reunião

Nestes encontros, conseguimos informações que nos ajudaram

identificar quais CEP tinham interesse em participar da pesquisa. Os

membros presentes que manifestaram interesse receberam o TCLE (Apêndice

II) e o Questionário (Apêndice I). Explicamos os objetivos da pesquisa,

esclarecemos eventuais dúvidas e deixamos com o coordenador e a

secretária cópias do TCLE (Apêndice II) e do Questionário (Apêndice I). Após

uma semana, iniciamos os contatos por telefone, pessoalmente e por e-mail

para saber quem havia respondido e quando podíamos apanhar o

questionário. O contato foi importante e facilitou o rápido acesso aos dados.

3. Quantitativo de instrumentos da amostra

Observamos no Quadro 2.4, o quantitativo de instrumento aplicado e

que integrou a amostra e o número de questionários devolvidos. A

orientadora é coordenadora de um destes CEP, portanto, não integrou a

amostra. Além dela, foram excluídas as entrevistas de outros 4 (quatro)

81

Membros do mesmo CEP, porque integravam o projeto conflitos de interesse

na universidade.

QUADRO 2.4 – Quantitativo de instrumento da amostra

CEP da amostra CEP

01

CEP

02

CEP

03

CEP

04

Total

Nº de integrantes 12 10 10 15 47

Nº de entrevistados individualmente 0 3 0 0 3

Nº de entrevistados em grupo 6 0 0 5 11

Nº de questionários devolvidos 2 7 5 1 15

Nº de presentes à reunião 8 8 7 10 33

4. Limitações do método

Um dos limites foi a baixa adesão a utilização do questionário, de certa

forma compensada com as entrevistas em grupo ou individuais. Além disso,

contratempos na condução da pesquisa limitaram o tempo comprometendo o

cronograma. A demora na emissão do parecer, as idas e vindas para atender

as infindáveis exigências em alguns CEP foram alguns dos contratempos

relacionados ao processo de aprovação da pesquisa.

Ficou evidente a dificuldade em atingir metas, pois o cronograma do

pesquisador é distinto daquele do programa de pós-graduação, que, por sua

vez, é diferente da agenda dos CEP e mais ainda do prazo máximo de 24

(vinte e quatro) meses estabelecido pela CAPES, para finalização do

mestrado.

Quanto ao questionário, uma das desvantagens é o recebimento por

vezes de respostas com lacunas. Um CEP inteiro não concedeu nenhuma

entrevista individual, apesar das inúmeras tentativas feitas, este mesmo CEP

respondeu apenas um questionário.

82

Quando indagados sobre os motivos, todos disseram que o

questionário era “extenso demais ou confuso”, e que responder ou conceder

entrevista individual demandaria um tempo de que eles não dispunham, pois

estavam às vésperas do recesso das atividades acadêmicas na universidade.

Alguns disseram que iam viajar em férias.

83

CAPÍTULO 3

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisamos aqui as respostas obtidas dos questionários e das

entrevistas (individuais e em grupo) com os coordenadores, membros,

Representantes de Usuários e secretárias dos CEP 01, CEP 02, CEP 03 e

CEP 04. As respostas dos entrevistados transcorreram no contexto de uma

conversação informal. A interferência da pesquisadora foi a mínima possível,

evitando assim o término precoce da entrevista e interrupção da fala do

entrevistado.

Apresentaremos e discutiremos os resultados por bloco, a partir das

perguntas feitas aos entrevistados e aos que responderam ao questionário,

para que se possa ter uma compreensão global e temática das opiniões sobre

conflitos de interesses.

Analisando as falas dos três (03) entrevistados individualmente e dos

onze (11) entrevistados em grupo e dos quinze (15) questionários devolvidos é

possível observar a percepção destes quando indagados sobre:

3.1. Bloco 1: Pergunta 01. Quais conflitos de interesses devem ser objeto

de controle

Observamos, nas falas a seguir, a preocupação dos membros de CEP

com a identificação dos conflitos de interesses quando da leitura dos

protocolos de pesquisa.

84

“Devemos nos preocupar toda vez que os pacientes estejam sendo

utilizados como cobaias. Ou seja, empresas X saúde.” (M-03A - entrevistado

individualmente).

A questão do acesso ao medicamento pós-estudo é identificada como

conflitos de interesses uma vez que as empresas financiadoras não têm

aceitado a liberação para os sujeitos de pesquisa do melhor tratamento

comprovado pelo estudo após seu término. A aceitação de protocolos sem

garantia de acesso é um indicador de que o interesse do pesquisador em

participar da pesquisa superou seu interesse primário com o bem-estar dos

pacientes envolvidos.

“Todos os conflitos devem ser controlados. É fundamental garantir o

acesso ao medicamento após o término da pesquisa e assegurar ao paciente

a continuidade ao uso do remédio.” (M-03C - entrevistado individualmente).

A identificação de que ainda não há, mesmo dentro dos CEP, a

habilidade necessária para identificação das situações que possam levar os

pesquisadores a passar por cima dos melhores interesses de seus pacientes,

em função de um interesse secundário econômico ou de prestígio, está

presente na fala a seguir.

“Eu sugiro ampliação da discussão sobre este tema em diversos fóruns,

porque o assunto ainda é pouco ou nada conhecido, principalmente na área

acadêmica.” (C-04 - entrevistado em grupo).

É interessante notar nas falas a seguir que os entrevistados,

ultrapassam a identificação dos conflitos e já esboçam ações para serem

desenvolvidas para a gestão dos conflitos. Se os laboratórios que financiam

as pesquisas têm interesse nos resultados, a influência é inevitável e pode

comprometer o bem-estar do paciente e a integridade da pesquisa.

85

“A gente fica na mão dos laboratórios. Sugiro que haja controle e

explicitação de todos os conflitos, nas instituições, pesquisadores e

laboratórios.” (R-01 - entrevistado em grupo).

Limitar a relação indústria-universidade a algumas áreas?

“A Universidade tem que ter uma ação clara, quase impositiva,

explicitando quais pesquisas podem receber financiamento da indústria e o

valor aceitável.” (M-01A - entrevistado em grupo).

Ou eliminar essa relação?

“Uma medida radical é os funcionários da Universidade não aceitar

nenhum tipo de fomento. Seria o ideal em minha opinião, mas nós temos uma

limitação de verba enorme e real.” (M-01B - entrevistado em grupo).

O entrevistado a seguir extrapola os limites da universidade para

apontar que há uma naturalização da prática de receber presentes e brindes,

de toda sorte de propaganda. Tornar essas práticas objeto de reflexão ética,

“desnaturalizando” como nosso entrevistado enfatiza, é o primeiro passo para

se poder identificar conflito de interesses.

“A Medicina e demais Ciências estão impregnadas dessa relação

promíscua com os laboratórios. O laboratório paga o almoço, o tal do simpósio

satélite na hora do almoço, ninguém presta atenção a nada, mas o laboratório

vende, mostra a experiência dele no produto. Eu acho que a questão primeira

a ser atacada é desnaturalizar. Não é natural que haja conflito de interesses.”

(M-01C - entrevistado em grupo).

Esta percepção também é ressaltada por Weinfurt et al. (2009), ao

reafirmarem que “a boa gestão de conflitos de interesse deve ser baseada em

objetivos políticos claros”.

86

Em relação à divulgação ou não dos conflitos financeiros no Brasil, vale

ressaltar que a Resolução do CFM nº. 1.595/2000 determina que “os médicos

declarem os agentes financeiros que patrocinam suas pesquisas e/ou

apresentações”.

Mas, a literatura e nossos entrevistados acharam que isto só não é

suficiente. A percepção dos nossos entrevistados é que a divulgação

financeira seja explícita e que o manejo preferencialmente ocorra em todos os

segmentos da sociedade. Nossos entrevistados sugerem que a melhor

resposta aos conflitos de interesses financeiros é a divulgação, conforme se

pode observar nas falas de: C-04 e M-03B:

“A transparência e ampla divulgação das pesquisas pela instituição,

independentemente de ter ou não financiamento devem ser disponibilizadas

em local de fácil acesso para conhecimento de toda população.” (C-04 -

entrevistado em grupo).

“A transparência em tudo é fundamental, mas não é assim que as

coisas são tratadas em nosso país, não há divulgação daquilo que é

moralmente aceitável e isto gera equívocos e aumenta a corrupção e o desvio

de verbas que poderia beneficiar toda população.” (M-03B - entrevista

individual e questionário).

Identificamos similaridades nas falas dos nossos entrevistados, com as

encontradas na literatura sobre este tema. Segundo pesquisas realizadas por

Weinfurt et al. (2006), Appelbaum et al. (1982, 1987), Dresse (2002) e

Friedman et al. (2007), um dos maiores desafios para a divulgação dos

interesses financeiros é promover a compreensão informada e substancial.

Autores como Grady et al. (2006), e Hall (2007) consideram que os potenciais

participantes de pesquisa constantemente expressam o desejo de ser

informados sobre os interesses financeiros em estudos clínicos. Segundo

nosso entrevistado M-03C:

“Em pesquisa, o paciente fica vulnerável, porque é ofertado a ele um

mundo maravilhoso. Parafraseando, oferecem ao paciente o Mundo de Alice,

87

só que a ilusão acaba, por isso quando analiso projeto exijo que tudo esteja

bem claro no projeto e no TCLE. É imprescindível informar à família ou ao

acompanhante deste o que é pesquisa, quem está ganhando, o que e quanto

para realizar o estudo. Temos que exigir clareza e explicitação destas

informações no projeto.” (M-03C - entrevistado individualmente).

Para Angell (2008), o conflito de interesses é mais um sério problema

ético envolvendo os laboratórios e a produção cientifica. A autora exemplifica

como os laboratórios têm buscado instituir novos mercados, criando remédios

para doenças ainda não estabelecidas, tais como os medicamentos para

ansiedade social ou para o "transtorno da disforia pré-menstrual". A percepção

do nosso entrevistado M-03 confirma o achado na literatura, conforme

observamos a seguir:

“Outra coisa, que é uma aberração é o cadastro, aquele cartãozinho de

pseudo desconto que os laboratórios entregam aos médicos, para que estes

prescrevam determinado medicamento e o paciente seja quase que obrigado

a usar somente aquele medicamento que lhe foi prescrito e algumas vezes

sem comprovação suficiente na literatura de que é realmente eficaz. A

fabricação de doenças virou festa, para atender a determinadas indústrias

farmacêuticas.” (M-03C - entrevistado individualmente).

No Brasil, segundo Franco (2001), a ausência de políticas direcionadas

para pesquisa clínica, tais como apoio por parte dos órgãos governamentais,

falta de valorização por parte das instituições e sociedades, constitui um dos

maiores problemas para se realizar pesquisa. Segundo Nascimento (2005) e

Rozenfeld (2008), a pressão dos fabricantes sobre os médicos e

pesquisadores sempre foi intensa. Isto ocorre, segundo estes autores, pela

ausência de regulação das relações médicos/pesquisadores e indústria. A

percepção acerca da atuação nociva dos propagandistas é expressada pelo

entrevistado M-03C no seguinte depoimento:

“O propagandista tem que cumprir uma meta semanal, mensal e tudo é

quantitativo para o bolso dos envolvidos, exceto para o paciente, que mesmo

88

com o tal cartão de desconto, ainda assim tem que pagar muito caro para

adquirir o medicamento, por isso muitas vezes não consegue levar a diante o

tratamento.” (M-03C - entrevistado individualmente).

A utilização de pacientes como cobaia esteve presente na fala de um

dos membros dos CEP encontra apoio na literatura internacional sobre a

utilização de cobaias humanas. Vale ressaltar o Estudo Tuskegee, no

Alabama (EUA), com 400 portadores de sífilis. Somente em 1972, depois de

se arrastar por quatro décadas, após uma denúncia do New York Times esse

estudo foi encerrado. Importante destacar que a penicilina era a droga

indicada como tratamento básico para a sífilis desde 1943. Em 1997, o então

presidente Bill Clinton foi a público pedir desculpas à comunidade do Alabama.

Além desta pesquisa que violou todos os princípios éticos, segundo

Henry Beecher (1966), cerca de 80 abusos do tipo ocorreram nos EUA.

Beecher publicou um estudo com 22 dessas pesquisas, e mostrou ao mundo

uma realidade até então comodamente escondida: que o horror do uso de

seres humanos como cobaia não era exclusividade nazista.

No Brasil, os CEP são co-responsáveis pelas pesquisas, e, juntamente

à CONEP, decidem quais pesquisas podem ser realizadas, observando os

princípios éticos e metodológicos. Nesse contexto, as pesquisas com

cooperação estrangeira, ou as pesquisas clínicas que visam a encontrar novos

fármacos ou medicamentos, somente são aprovadas se o participante da

pesquisa e seu país tiverem algum benefício direto.

Além disto, a Resolução CNS 196/96, e as resoluções complementares,

assim como diversos outros documentos nacionais e internacionais,

respaldam os CEP legalmente, para requisitar aos pesquisadores que, ao

término dos estudos nesta área, o medicamento em teste seja garantido e

disponibilizado à população que participou da pesquisa.

Ao analisarmos os questionários, observamos que a preocupação com

a disponibilidade da droga, após o termino da pesquisa é identificada pelo

entrevistado M-03E:

“Quando analiso projeto, cobro que esteja claro no protocolo e no

TCLE, que a medicação será garantida ao voluntário e que o fornecimento da

89

droga terá continuidade sem ônus ao paciente após o término da pesquisa.”

(M-03E - questionário).

Em relação ao viés em pesquisas, ressaltamos que a preocupação

relatada por um dos nossos entrevistados foi discuta por Chalmers (2004),

Chan et al. (2004), Dickersin (2004), além de vários outros autores, os quais

consideram que os vieses tendem a levar a conclusões de que os tratamentos

médicos são mais eficazes do que eles são na verdade. Podendo, resultar em

sofrimento desnecessários e óbito, desperdício de recursos com tratamentos

sem eficácia e muitas vezes de alta periculosidade. A percepção do nosso

entrevistado M-03B ilustra com muita similaridade os estudos citados na

literatura internacional:

“Os conflitos acabam gerando viés e comprometem o financiamento de

todas as pesquisas, interferem na assistência e em todas as áreas da saúde.”

(M-03B - entrevista individual e questionário).

Os almoços grátis, amostras de medicamentos, fins de semanas em

resort e uma infinidade de outros mimos concedidos aos médicos, para que

prescrevam os medicamentos de uma determinada empresa é algo que

chamou muito a atenção dos nossos entrevistados. Ressaltamos duas falas

que consideramos marcantes sobre essa questão:

“Todos os médicos (...) que eu conheço (...) TODOS participam de no

mínimo 8 a 10 congressos nacionais e internacionais, viagens de férias. Eu

tento falar com o médico. Aí dizem “O Doutor está em Miami”. E eu pergunto:

Fazendo o que? Me responderam: “Em congresso.” “Perai”, mas não tem

nenhum congresso em Miami. (...) Depois a gente fica sabendo que o médico

passou 15 de férias em Miami, em hotel 5 estrelas, tudo pago pelo laboratório,

que são fortíssimos .” (R-01 - entrevistado em grupo).

“É uma máfia, onde vários estão imbricados, quem fabrica, vende, faz a

propaganda e prescreve, até as farmácias ganham com isso, porque informam

90

ao laboratório o cadastro do médico quando a receita chega ao balcão.” (M-

03C - entrevistado individualmente).

O assunto vem sendo amplamente discutido pelas associações

médicas estadunidenses, a este exemplo, a No Free Lunch (2009), que

defende a prática médica dissociada da promoção da indústria farmacêutica.

Moynihan (2003b) classifica como sedutora a ação dos propagandistas nos

consultórios médicos e ambulatórios de hospitais e listou os 15 métodos mais

utilizados pelas indústrias farmacêuticas que influenciam a prescrição médica.

Lamentavelmente, essa prática assola também o Brasil e foi apresentada da

seguinte maneira por nosso entrevistado M-03:

“Passou da hora de colocarmos um freio na festa dos contratos de

gaveta entre prescritores e indústria farmacêutica.” (M-03C - entrevistado

individualmente).

Ainda de acordo com três (03) dos nossos entrevistados, citamos a

seguir as falas extraídas dos questionários, que ilustram a percepção destes

acerca dos conflitos que devem ser objeto de controle:

“Financiamento de pesquisa não-declarado pelo pesquisador.” ((M-03D

- questionário).

“Financiamentos pessoais recebidos pelo pesquisador e fornecimento

de medicação para pesquisa sem que haja garantia de continuidade após o

término do estudo .” ((M-03E - questionário).

“Obtenção de benefícios indiretos, independentemente do cargo ou

função que desempenha o profissional.” ((M-03F - questionário).

91

3.2. Bloco 2. Pergunta 02. Que conteúdo deve ter uma política de manejo

em termos de propósitos, princípios, escopo e procedimentos?

Nas respostas dos entrevistados, fica evidente a necessidade de

monitorar as pesquisas aprovadas pelos CEP, CONEP e ANVISA, levando em

consideração principalmente o bem-estar do Usuário do sistema público de

saúde, o paciente ou voluntário de pesquisa, que são pessoas em sua grande

maioria vulneráveis em todos os aspectos: social, político e biológico.

Na concepção do entrevistado M-03B, o conteúdo de uma política deve

ser completo e incluir até mesmo o tipo de relacionamento financeiro com as

indústrias farmacêuticas:

“É fundamental que a política abranja a todos e seja o mais explicita

possível, minuciosa em relação ao que pode e o que não deve ser aceito,

principalmente quanto aos fomentos oriundos das indústrias farmacêuticas.”

(M-03B - entrevista individual e questionário).

As respostas dos entrevistados em grupo e individualmente, e também

aqueles que responderam ao questionário se assemelham com os estudos

citados na literatura. O caminho sinalizado pelos entrevistados é a busca pela

gestão dos conflitos e implantação de uma política “não-engessada”, mas que

possa dialogar com os personagens envolvidos neste cenário. Segundo

comentado o entrevistado M-03B:

“O manejo se torna difícil porque a questão cultural pesa muito.

Incomoda-me essa maldita corrupção, pois ela afeta todos os segmentos da

sociedade. A saúde é um bem-estar biopsicossocial, não podemos pensar o

sujeito isoladamente, o ser humano é um conjunto.” (M-03B - entrevista

individual e questionário).

Consideramos que é imprescindível ouvir a todos os segmentos da

sociedade civil e organizada, em benefício de uma política coletiva. A urgência

92

de uma discussão conjunta fica evidente nas falas dos entrevistados M-03A,

M-03C e M-01D ao reafirmarem que:

“Uma política deve visar à proteção dos Usuários respeitando os

princípios éticos já em uso”. (M-03A - entrevistado individualmente).

“Uma política de manejo de conflitos de interesse deve ter preocupação

com o sujeito vulnerável de pesquisa. O ser humano em primeiro lugar

sempre.” (M-03C - entrevistado individualmente).

“Eu acho necessário o monitoramento das pesquisas aprovadas, em

atuação conjunta que envolva a CONEP, os CEP e a Instituição.” (C-04 -

entrevistado em grupo).

“Eu acho que pensar uma política é pensar os mecanismos de controle

das pesquisas que transcende os Comitês de Ética. É pensar como dar

visibilidade ao usuário, aos Serviços, a população de um modo geral sobre as

pesquisas.” (M-01D - entrevistado em grupo).

3.3. Bloco 3. Pergunta 03. Como envolver os diversos segmentos da

sociedade na discussão dos conflitos de interesses, especificamente os

pesquisadores?

A partir das respostas dos entrevistados, evidenciamos que a discussão

dos conflitos deve ser feita dentro e fora da universidade, inclusive com a

participação de pacientes. Além disto, a discussão deve preferencialmente

contar com profissionais de diversas áreas tais como do Direito, filosofia

dentre outros. Exemplificamos com os discursos que marcaram nossa

afirmativa:

“Devemos levar a discussão para dentro da universidade e envolver

também os pacientes.” (M-03A - entrevistado individualmente).

93

“Sugiro discutir o tema conflito de interesses em fóruns diversificados,

convidar outros profissionais para o debate, além de médicos, não—médicos,

mas principalmente debatermos com os filósofos, advogados e bioeticistas.”

(M-03B - entrevistado individualmente).

“O primeiro passo vocês já deram com esta pesquisa. Acho que vocês

devem levar a pesquisa à diante, discutir os resultados desta etapa. Fácil não

é, mas servirá inclusive para fazer os pesquisadores refletirem sobre essa

história do pagamento de congressos, estadia em hotéis luxuosos, almoços

grátis, amostra-grátis, consultorias, vantagens pessoais e familiares e tantas

outras coisas.” (M-03C - entrevistado individualmente).

Brennan et al. (2006), propuseram uma política de manejo dos conflitos

nos Centros Médicos Acadêmicos dos Estados Unidos, visando à eliminação

dos conflitos existentes na relação entre os médicos e a indústria. As medidas

propostas focaram na proibição de brindes aos médicos pelos fabricantes de

medicamentos, próteses e dispositivos para a saúde, incluindo refeições e

pagamentos com viagens e programas de educação continuada.

Para Jibson (2006), é necessária melhor identificação dos papéis que

cada um representa (médico, preceptor, instituição, paciente, e indústria).

Segundo o autor, a educação médica desempenha um papel crucial na

resolução de conflitos de interesse na prática médica e durante a

comercialização de drogas. A percepção de um dos nossos entrevistados

corrobora com a literatura e traz ainda uma discussão maior à questão do

recrutamento de pacientes da esfera pública para atender ao setor privado, de

acordo com M-03B:

“O recrutamento de pacientes do setor público para o setor privado é

outra vergonha. Há prescritores que são cooptados pela indústria farmacêutica

e usam os pacientes públicos para aumentar seus lucros, porque o prescritor

não vai testar algo novo em um paciente rico, informado, culto, não. Ao invés

disto, o prescritor testa no pobre, miserável.” (M-03B - questionário).

94

Os acordos entre médicos e laboratórios existem e sempre vão existir.

A questão é dar visibilidade ao processo de maneira equânime, para que

pacientes, voluntários de pesquisas, representante de usuários e sociedade

civil possam participar dos debates. O processo deve ser inclusivo, e não

excludente, para que todos possam ser ouvidos, mesmo que não cheguemos

a um consenso. A experiência em Bioética nos ensinou que conflitos são

aqueles problemas cujas soluções lançam novos dilemas.

3.4. Bloco 4. Pergunta 04. Sugestões ou soluções apontadas para o

manejo dos conflitos de interesses

Este bloco reforça as falas anteriores dos nossos entrevistados e

finaliza com as sugestões ou soluções identificadas pelos mesmos para o

manejo ou gestão dos conflitos.

“Divulgação dos conflitos de interesses, quanto mais pessoas souberem

melhor.” (M-03A - entrevistado individualmente).

“Divulgar o que está sendo feito, quem está fazendo e como está sendo

feito é imprescindível. A comunicação é a mola propulsora.” (M-03B -

entrevistado individualmente).

“Discussão franca nos fóruns com a participação de outros profissionais

é fundamental. Aliado a isto, as ações dos CEP e da Instituição devem ser

divulgadas amplamente e em locais de fácil acesso para conhecimento de

todos. Não basta o relatório entre pesquisador CEP-CONEP.” (M-03B -

entrevistado individualmente).

“Transparência e ampla divulgação das ações do CEP e da Instituição

em locais de fácil acesso, para que as pesquisas desenvolvidas sejam de

95

conhecimento de todos e não de alguns poucos”. (C-04 - entrevistado em

grupo).

“Apresentar os resultados desta pesquisa em fóruns e buscar

mecanismos pra implantá-la.” (C-04 - entrevistado em grupo).

Segundo Palácios (2005) a reflexão sobre os conflitos deve incluir os

pesquisadores, os CEP, as instituições de pesquisa e os Usuários. Este é um

dos caminhos a ser percorrido, não esquecendo que esta batalha com a

indústria farmacêutica será árdua, com vantagens e desvantagens para todos

os envolvidos.

Medidas visando ao controle dos conflitos foram adotadas em diversos

países, tais como os Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Uma dessas

medidas é a utilização da declaração de conflitos, a exemplo do que é feito

desde 1998, pelo Food and Drug Administration (FDA), que exige a

explicitação dos vínculos pelos pesquisadores.

A transparência, a visibilidade e o apoio ao trabalho desempenhado

pelos CEP foram clamados pelos nossos entrevistados e constituem um

importante indício da necessidade de melhor atenção ao papel deste órgão na

instituição, principalmente assegurando boas condições de funcionamento. A

reafirmação da importância do papel dos CEP e a importância do trabalho

conjunto entre os Comitês, a CONEP e a Instituição é fundamental, para

alcançar resultados satisfatórios em benefício de todos. Citamos a seguir a

percepção de dois dos nossos entrevistados acerca deste assunto:

“Não basta delegar aos CEP esta função; é preciso uma atuação

conjunta que envolva a CONEP, os CEP e a Instituição.” (C-04 - entrevistado

em grupo).

96

“Falta este debate aqui nas regiões Sul e Sudeste imaginem em pontos

mais remotos deste Brasil. Preocupa-me e muito a falta de comunicação ou a

má utilização dela.”

Os depoimentos de nossos entrevistados estão em consonância com

dados encontrados na literatura. A este exemplo, Resnik (2004) deixa claro

que para reforçar e clarificar a obrigação legal de divulgar os conflitos de

interesse, os regulamentos federais devem ser alterados para incluir a

divulgação dos conflitos de interesse como um dos requisitos a integrar o

consentimento informado.

É preciso convidar para o debate os Conselhos Regionais de Medicina,

a Ordem dos Advogados do Brasil, os juízes, os administradores, os filósofos,

as organizações de defesa dos direitos dos pacientes, os representantes de

defesa do consumidor e etc., para que se possa pautar uma política de

manejo compatível com as normas e Leis em vigor do Brasil. De acordo com

M-03C:

“O diálogo deve estar presente, a ética em pesquisa deveria ser

discutido nas Escolas, nos cursos de graduação e sempre incluir os currículos.

A universidade ter implementado este tema nos currículos é um ótimo

indicador, mas ampliar a discussão é fundamental. Temos pessoas atuantes

no campo da área em pesquisa neste Brasil, precisamente aqui no Rio de

Janeiro.” (M-03C - entrevistado individualmente e questionário).

Todos os entrevistados foram importantes para esta pesquisa, assim

como as sugestões identificadas pelos mesmos sobre os conflitos de

interesses em sua prática cotidiana.

Reunir os depoimentos e os questionários, e analisá-los

minuciosamente foi uma tarefa laboriosa e muito prazerosa. Destacar, entre

todos os que integraram nossa amostra, uma fala que sintetizasse a

percepção de todos os CEP que participaram da pesquisa, foi mais difícil

ainda, mas esperamos ter alcançado nossos objetivos e deixamos o seguinte

97

depoimento que muito nos marcou, pois traduz a necessidade de

desdobramento desta pesquisa:

“Que esta pesquisa tenha continuidade e possa ser implantada pela

universidade como iniciativa pioneira de pessoas preocupadas não apenas

com o crescente assédio das indústrias farmacêuticas, mas principalmente

com os seres humanos vulneráveis. Sucesso e lutem pelo que acreditam,

porque ser ético neste País é mais que uma batalha, é uma guerra.” (M-03C -

entrevistado individualmente e questionário).

98

CAPÍTULO 4

CONCLUSÃO

As considerações éticas exigem plena divulgação dos conflitos de

interesses intrínsecos nas pesquisas acadêmicas, tema a ser destacado na

investigação científica, revistas, jornais e outros meios de comunicação, e

também requerem adequada gestão de tais conflitos pelas instituições. Os

conflitos de interesse são inerentes à maioria dos relacionamentos entre os

indivíduos e destes com as empresas, e certamente, a pesquisa envolvendo

seres humanos não é exceção.

As falas dos nossos entrevistados em muito se assemelham com os

textos discutidos em nossa revisão da literatura sobre os conflitos. Mais que

isso, os membros dos CEP entrevistados clamam por uma maior

sensibilização para os conflitos de interesses nas pesquisas, e nos serviços de

saúde, não apenas no Rio de Janeiro, local de realização desta pesquisa, mas

para a gestão dos conflitos no Brasil, já que está é uma preocupação mundial.

Pouco se sabe sobre a natureza, extensão e conseqüências das

relações financeiras entre a indústria e os pesquisadores brasileiros. Muitas

vezes, a participação de pesquisadores do país de acolhimento é restrita a

realização dos estudos em fase III ou IV. Por isso, é fundamental a atualização

permanente às questões éticas e bioéticas, especialmente os países em

desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

As relações entre patrocinadores e pesquisadores foram muito

comentadas pelos nossos entrevistados. A literatura nos mostrou como esta

preocupação incômoda é uma questão mundial. Portanto, o Brasil está

inserido neste contexto e vem se preocupando cada vez mais com a

explicitação destas relações, inclusive quanto aos aspectos inerentes à autoria

99

e a publicação dos dados de pesquisa, propriedade intelectual e participação

nos benefícios econômicos gerados pelas descobertas em parcerias. As

relações entre todos os personagens devem se basear no compartilhamento

de informações e na confiança mútua. Neste sentido, as resoluções

complementares do CNS podem ser utilizadas como ferramentas legais para

os convênios técnico-científicos.

Nossos entrevistados reafirmam, assim como se vê na literatura, a

importância do CEP. Mas chamam a atenção para o fato de que há muitos

membros de CEP sem formação em ética, além da ausência de recursos

financeiros e administrativos específicos para os Comitês. Diversos

entrevistados clamam para que haja mais esforço no sentido de viabilizar

programas de capacitação, que incluam o tema Bioética para estas

comissões. O trabalho desempenhado pelos CEP depende de duas condições

essenciais: legitimidade e infra-estrutura adequada, esta última incluindo

equipe preparada, facilidades operacionais, organizacionais e orçamento

próprio.

A implantação de um CEP representa um importante avanço, nas

considerações éticas relativas à responsabilidade social. Historicamente, os

CEP nascem como resposta da cultura contemporânea às implicações morais

das tecnociências biomédicas. Por isso, as discussões sobre a ética em

populações vulneráveis devem fazer parte da formação de todos os

profissionais da Saúde e da Educação visando a prepará-los para observância

dos preceitos bioéticos.

A melhor maneira de assegurar a integridade do processo de pesquisa

é que revisores, autores, editores e representantes de Usuários evitem

vínculos que comprometam sua autonomia. Caso não seja viável, a decisão

recomendada é declarar todos os tipos de conflitos de interesses para não

comprometer a pesquisa.

No contexto brasileiro, é de fundamental importância reconhecer a força

e a legitimidade dos CEP, parceiros no processo de revisão ética e co-

responsáveis pelas pesquisas com seres humanos.

100

Recomendações

Com base no que vimos durante a pesquisa, fizemos as

recomendações a seguir:

1. Sugerimos a realização de mais pesquisas sobre a gestão dos

conflitos de interesses no Brasil, para que possamos aprofundar nossos

conhecimentos a respeito;

2. Criar um mecanismo para facilitar a divulgação dos conflitos de

interesses é uma alternativa possível. Os exemplos de outros países podem

nos ajudar a construir o(s) nosso(s). O caminho é tornar transparente a

relação conflituosa.

3. Criar mecanismos de avaliação do impacto das ações dos CEP, com

aferição da adesão às normas, da repercussão e sensibilização para o

trabalho desempenhado pelos Comitês.

4. Regulamentação mais estreita, incluindo a eliminação ou modificação

das práticas comuns relacionadas com pequenos presentes, amostras grátis

de medicamentos.

5. Constituir núcleos de pesquisas clínica e básica para conduzir

estudos direcionados para o interesse público do Brasil, com foco nas

doenças negligenciadas.

6. Incentivar jovens pesquisadores sobre o papel que representam nos

centros de pesquisa e para o desenvolvimento da Ciência.

7. Melhorar o diálogo entre a CONEP e os CEP, de forma mais

integrada e participativa. Se a interface for repensada, o intercâmbio dos CEP

com os pesquisadores certamente será promissor para todos da sociedade,

101

inclusive para os pacientes, voluntários, pesquisadores e instituições de

ensino e pesquisa.

8. A CONEP deveria auxiliar os CEP no processo de divulgação de

suas ações, formular ferramentas para tornar explicito os projetos aprovados

pelos CEP, em cada instituição, de maneira que os Usuários tenham

conhecimento das pesquisas que estão em andamento naquele local. A

Plataforma Brasil não supre esta recomendação, pois, a nosso ver, depende

do paciente ou voluntário ter acesso a internet. É fundamental que haja

transparência, explicitação e informação.

102

REFERÊNCIAS

ADVANCED MEDICAL TECHNOLOGY ASSOCIATION. Code of ethics on interactions with health care professionals. 1995. Disponível em: <http://www.advamed.org/MemberPortal/About/code/>. Acesso em: 10 abr. 2008.

ALLEN, G. Getting beyond form filling: the role of institutional governance in human research ethics. J. Acad. Ethics, v. 6, n. 2, p. 105-116, 2008.

ALMEIDA, J. L. T. Respeito à autonomia do paciente e consentimento livre e esclarecido: uma abordagem principialista da relação médico-paciente. 1999. 129 f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Escola Nacional de Saúde Publica, Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 1999.

ALVES, E. M. O.; TUBINO, P. Conflito de interesses em pesquisa clínica. Acta Cir. Bras. v. 22, n. 5, p. 412-415, 2007.

AMERICAN ACADEMY OF ORTHOPAEDIC SURGEONS. Code of ethics and professionalism for orthopaedic surgeons. 2004. Disponível em: <http://www.aaos.org/about/papers/ethics/code.asp>. Acesso em: 24 abr. 2008.

AMERICAN MEDICAL ASSOCIATION. Council on ethical and judicial affairs. Conflicts of interest: biomedical research. 1999. Disponível em: <http://www.ama-assn.org/ama/pub/category/8470.html>. Acesso em: 24 abr. 2008.

AMERICAN SOCIETY OF CLINICAL ONCOLOGY. Revised conflict of interest policy. J. Clin. Oncol., v. 24, p. 519-521, 2006.

AMERICAN MEDICAL STUDENT ASSOCIATION PHARMFREE SCORECARD ARCHIVE 2008. In: AMERICAN MEDICAL STUDENT ASSOCIATION. Disponível em: <http://www.prescriptionproject.org/assets/pdfs/Scorecard2008Archive.pdf>. Acesso em: 11 out. 2009.

ANGELL, M. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos. Rio de Janeiro: Record, 2008.

103

ANGELL, M. Drug companies & doctors: a story of corruption. The New York Review of Books, v. 56, n. 1, 2009. Disponível em: <http://www.nybooks.com/articles/22237>. Acesso em: 30 mar. 2009.

APPELBAUM, P. S.; ROTH, L. H.; LIDZ, C. The therapeutic misconception: informed consent in psychiatric research. Int. J. Law Psychiatry, v. 5, p. 319-329, 1982.

APPELBAUM, P.S. et al. False hopes and best data: consent to research and the therapeutic misconception. Hastings Cent. Rep., v. 17, p. 20-24, 1987.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESCOLAS MÉDICAS. Revista da Associação Brasileira de Escolas Médicas. Rio de Janeiro, Disponível em: < http://www.educacaomedica.org.br/>. Acesso em: 10 abri. 2010.

ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL COLLEGES. Protection subjects, preserving trust, promoting progress: policy and guidelines for the oversight of individual financial interests in human subjects research: Task force on financial conflicts of interest in clinical research. 2001. Disponível em: <www.aamc.org/research/coi/firstreport.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2008.

BASS, A. Drug companies enrich brown professor. Boston Globe, 1999. Disponível em: <http://www.narpa.org/drug_companies_enrich_researcher.htm>. Acesso em: 10 abr. 2008.

BEAUCHAMP, T. L.; CHILDRESS, J. F. Principles of biomedical ethics. New York: Oxford University Press, 1979.

BEAUCHAMP, T. L.; FADEN, R. Meaning and elements of informed consent. In: REICH, W. Encyclopedia of bioethics. New York: McMillan, 1995. p. 1238-1241.

BECKER, Howard S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1994.

BEECHER, H. K. Ethics and clinical research. New England Journal of Medicine, v. 274, n. 24, p.1354-1360,1966.

104

BEKELMAN, J. E.; LI, Y.; GROSS, C. P. Scope and impact of financial conflicts of interest in biomedical research: A systematic review. Journal of the American Medical Association, v. 29, p. 454-465, 2003.

BELMONT REPORT. 1979. Disponível em: <http://www.hhs.gov/ohrp/humansubjects/guidance/belmont.htm>. Acesso em: 13 ago. 2009.

BERO, L. A. Managing financial conflicts of interest in research. Journal of the American College of Dentists, v. 72, n. 2, p. 4-9, 2005.

BHANDARI, M. et al.. Association between industry funding and statistically significant pro-industry findings in medical and surgical randomized trials. Canadian Medical Association Journal, v. 170, p. 477-480, 2004.

BLUMENTHAL, D. Doctors and drug companies. N. Eng. J. Med., v. 351, p. 1885-1890, 2004.

BODENHEIMER, T. Uneasy alliance: clinical investigators and the pharmaceutical industry. N. Eng. J. Med., v. 342, p. 1539-1544, 2000.

BOURDIEU, P. A miséria do mundo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.

BOYD, E. A.; BERO, L. A. Defining financial conflicts and managing research relationships: an analysis of university conflict of interest committee decisions. Science and Engineering Ethics, v. 13, n. 4, p. 415-435, 2007.

BOYD, E. A.; CHO, M. K.; BERO, L. A. Financial conflict-of-interest policies in clinical research: issues for clinical investigators. Academic Medicine, v. 78, n. 8, p. 769-774, 2003.

BOYD, E. A.; LIPTON, S.; BERO, L. A. Implementation of financial disclosure policies to manage conflicts of interest. Health affairs, v. 23, n. 2, p. 206-214, 2004.

105

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 39, de 05 de junho de 2008. Aprova o Regulamento para a realização de pesquisa clínica e dá outras providências. Diário oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 06 jun. 2008. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>. Acesso em: 10 out. 2008.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 219, de 20 de setembro de 2004. Aprova o regulamento para elaboração de dossiê para a obtenção de comunicado especial para a realização de pesquisa clínica com medicamentos e produtos para a saúde. Diário oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 set. 2004. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/e-legis/>. Acesso em: 10 out. 2008.

BRASIL. Lei n. 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5º, 6º, 7º, 8º, 9º, 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 mar. 2005. Seção 1, p. 1. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/>. Acesso em: 09 out. 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Gráfico do relatório 9 anos. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/comissao/eticapesq.htm> . Acesso em: 08 out. 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resoluções. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html>. Acesso em: 08 out. 2008.

BRENNAN, T. A. et al. Health industry practices that create conflicts of interest: a policy proposal for Academic Medical Centers. Journal of the American Medical Association, v. 295, p. 429-433, 2006.

BRETT, A. S.; BURR, W.; MOLOO, J. A survey of physicians. Arch. Intern. Med., v. 163, p. 2213-2218, 2003.

106

CAIN, D. M.; LOEWENSTEIN, G.; MOORE, D. A. The dirt on coming clean: perverse effects of disclosing conflicts of interest. Journal of Legal Studies, v. 34, p. 1–25, 2005.

CAMPBELL, E. G. et al. A national survey of physician-industry relationships. N. Engl. J. Med., v. 356, p. 1742-1750, 2007.

CAMPBELL, E. G. et al. Financial relationships between institutional review board members and industry. N. Engl. J. Med., v. 355, n. 22, p. 2321-2329, 2006.

CHALMERS, I. In the dark: drug companies should be forced to publish all the results of clinical trials. New Scientist, v. 181, p. 19, 2004.

CHAN, A. W. et al. Empirical evidence for selective reporting of outcomes in randomized trials: comparison of protocols to publications. Journal of the American Medical Association, v. 291, p. 2457-2465 2004.

CHIMONAS, S.; BRENNAN, T. A.; ROTHMAN, D. J. Physicians and drug representatives: exploring the dynamics of the relationship. J. Gen. Intern. Med. v. 22, n. 2, p. 184-190, 2007.

CHO, M. K. et al. Policies on faculty conflicts of interest at US universities. Journal of the American Medical Association, v. 284, p. 2203-2208, 2000.

COLEMAN, D. L.; KAZDIN, A. E.; MILLER, L. A. et al. Guidelines for interactions between clinical faculty and the pharmaceutical industry: one medical school's approach. Acad. Med., v. 81, n. 2, p. 154-60, 2006.

CONFLICT OF INTEREST POLICIES AT ACADEMIC MEDICAL CENTERS. In: AMERICAN MEDICAL STUDENT ASSOCIATION. 2009.Disponível em: <http://www.amsascorecard.org/>. Acesso em: 11 out. 2009.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM nº. 1.595, de 18 de maio 2000. Proíbe a vinculação da prescrição médica ao recebimento de vantagens materiais oferecidas por agentes econômicos interessados na produção ou comercialização de produtos farmacêuticos ou equipamentos de uso na área médica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 de maio de 2000. Sec. 1, p. 18.

107

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Conflito de interesses em pesquisa clínica. OSELKA, G. W.; OLIVEIRA, R. Y. (org.). São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Centro de Bioética, 2007. 102 p. (Série Cadernos de Bioética).

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE (Brasil). Resolução CNS nº. 01, de 13 de julho de 1988. Aprova as Normas de Pesquisa em Saúde. Estabelece aspectos éticos em pesquisa em seres humanos. Revoga a portaria 16 de 27.11.81, da Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Medicamentos que instituiu o termo de consentimento de risco (TCR). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 14 jun. 1988.

COSTA, M. C. C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1987.

COUNCIL ON GOVERNMENTAL RELATIONS. The Bayh-dole act: a guide to the law and implementing regulations. 1999. Disponível em: <http://www.cogr.edu/docs/Bayh_Dole.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2009.

CZARKOWSKI, M.; RÓśANOWSKI, K. Polish Research Ethics Committees in the European Union System of Assessing Medical Experiments. Sci. Eng. Ethics, v. 15, p. 201–212, 2009.

DE ANGELIS, C. D. et al. Is this clinical trial fully registered? A statement from the International Committee of Medical Journal Editors. N. Engl. J. Med., v. 325, p. 2436-2438, 2005.

DICKERSIN, K. How important is publication bias? A synthesis of available data. AIDS Educ. Prev., v. 9, p. 15-21, 1997. Supplement 1.

DINAN, M. A. et al. Comparison of conflict of interest policies and reported practices in academic medical centers in the United States. Accountability in Research, v. 13, n. 4, p. 325-342, 2006.

DINIZ, D. et al.. Ética em pesquisa: experiência de treinamento em países sul-africanos. 2. ed. rev. e ampli. Brasília: Ed. UnB : Ed. Letras Livres, 2008. 208 p.

DINIZ, D.; GUILHEM, D. O que é bioética. São Paulo: Brasiliense, 2002. 122p. (Coleção primeiros passos; 315).

108

DRESSER, R. The ubiquity and utility of the therapeutic misconception. Soc. Philos. Policy, v. 19, p. 271-294, 2002.

ELLIOTT, C. Scientific Judgment and the Limits of Conflict-of-Interest Policies. Accountability in Research, v. 15, n. 1 , p. 1-29, 2008.

EMANUEL, E. J.; STEINER, D. Institutional conflict of interest. New England Journal of Medicine, v. 332, n . 4, p. 262-268, 1995.

ESTADOS UNIDOS. National Institutes of Health. Alcohol, Drug Abuses, and Mental Health Administration. Proposed guidelines for policies on conflict of interest. In: NIH guide for grants and contracts. Bethesda, MD: National Institutes of Health; 1989 (18):32. Disponível em: <http://grants.nih.gov/grants/guide/historical/1989_09_15_Vol_18_No_32.pdf>. Acesso em: 13 fev. 2007.

EVANS, S. Statistical aspects of the detection of fraud. In: Lock, S. ; WELLS, F.; FARTHING, M. (Org.). Fraud and misconduct in medical research. London: BMJ Publ., 2001. p. 61-74.

FAVA, G. A. A different medicine is possible. Psychother Psychosom., v. 75, p. 1-3, 2006.

FINANCIAL CONFLICTS OF INTEREST IN RESEARCH. Who, what, when, where and why: a quick guide. Disponível em: <http://www.ucl.ac.uk/finance/finance_pages/coi_policy.htm#type_conflict>. Acesso em: 29 jul. 2009.

FÓRUM sobre a implementação de políticas sobre conflitos de interesses no serviço público. Rio de Janeiro: Gráfica da Escola de Administração Fazendária, 2004. 211 p.

FRIEDBERG, M. et al.. Evaluation of conflict of interest in economic analyses of new drugs used in oncology. J. Am. Med. Assoc., v. 282, p.1453-1457, 1999.

FRIEDMAN, J. Y. et al. Perspectives of clinical research coordinators on disclosing financial conflicts of interest to potential research participants. Clin. Trials, v. 4, p. 272-278, 2007.

109

FRIEDMAN, L. S.; RICHTER, E. D. Relationship between conflicts of interest and research results. J. Gen. Intern. Med., n. 19, p. 51-56, 2004.

GADELHA, M. I. P. Pesquisa clínica e indústria farmacêutica. Cadernos de Ética em Pesquisa, v. 6, n. 15, p. 24-30, 2005.

GARATTINI, S.; BERTELE, V. Efficacy, safety, and cost of new anticancer drugs. British Medical Journal, v. 325, p. 269-271, 2002.

GARRAFA, V. Bioética, poder e injustiça: Por uma ética de intervenção. O Mundo da Saúde, v. 26, n. 1, 2002.

GARRAFA, V.; KOTTOW, M.; SAADA, A. Bases conceituais da bioética: enfoque latino-americano. São Paulo: Gaia, 2006. 284 p.

GARTLAND, J. J. The conflicts-of-interest policy for The Journal of Bone and Joint Surgery. J. Bone Joint Surg. Am., v. 67, p. 671,1985.

GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2004.

GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W.;

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GLASER, B. E.; BERO, L. A. Attitudes of academic and clinical researchers toward financial ties in research: a systematic review. Science and Engineering Ethics, v. 11, n. 4, p. 553-573, 2005.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997.

GOLDIM, J. R. O consentimento informado e sua utilização em pesquisa. In: VICTORIA, C. G. In: Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. 136 p.

GØTZSCHE, P. C. et al. Ghost authorship in industry-initiated randomised trials. PloS Med., v. 4, n . 1, 2007. Disponível em:

110

<http://www.plosmedicine.org/article/info:doi/10.1371/journal.pmed.0040019>. Acesso em: 09 ago. 2009.

GRAY, S. W. et al. Attitudes toward research participation and investigator conflicts of interest among advanced cancer patients participating in early phase clinical trials. J. Clin. Oncol., v. 25, n. 23, p. 3488-3494, 2007.

GRECO, D.; DINIZ, N. M. Conflicts of interest in research involving human beings. J. Int. Bioethique, v. 19, n. 1-2, p. 143-154, 202-203, 2008.

GUILHEM, D.; DINIZ, D.. O que é ética em pesquisa. São Paulo: Brasiliense, 2008. 105p. (Coleção primeiros passos; 332).

GUILHEM, D.; GRECO, D. A Resolução CNS 196/1996 e o sistema CEP/CONEP. Apresenta as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e revoga a Resolução 01/1988. In: Curso de atualização a distância em ética em pesquisa. Brasília, DF: NESPROM/CEAD (Ambiente virtual de aprendizagem, módulo 3). Disponível em: <http://nespromead.universidadevirtual.br/mod>. Acesso em: 08 ago. 2008.

HALL, M. A.; BOBINSKI, M. A.; ORENTLICHER, D. Health care law and ethics. 7. ed. New York: Aspen, 2007.

HAMPSON, L. A. et al.. Frequency, type, and monetary value of financial conflicts of interest in Cancer Clinical Research. Journal of Clinical Oncology, v. 25, p. 3609-3614, 2007.

HARRINGTON, P. Faculty conflicts of interest in an age of academic entrepreneurialism: An analysis of the problem, the law and selected university policies. J. Coll. Univ. Law, v. 27, p. 775-831, 2001.

HEERLEIN, A. What is the impact of financial conflicts of interest on the development of psychiatry? World Psychiatry. v. 6, n. 1, p. 36–37, 2007.

HELMCHEN, H. Psychiatrists and the pharmaceutical industry. Nervenarzt. v. 74, p. 955-964, 2003.

HEMMINKI, E. Research ethics committees: agents of research policy? Health Research Policy and Systems. v. 3, n. 6, 2005.

111

HENRY, D. et al. Ties that bind: Multiple relationships between clinical researchers and the pharmaceutical industry. Arch. Intern. Med., v. 165, n. 21, p. 2493-2496, 2005.

HERXHEIMER, A. Relationships between the pharmaceutical industry and patients' organizations. British Medical Journal, v. 326, p. 1208-1210, 2003.

HOLMES, D. R. JR. et al. Conflict of interest. Am. Heart J., v. 147, p. 228-237, 2004.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva: 2001.

HYMAN, P. L et al. Attitudes of preclinical and clinical medical students toward interactions with the pharmaceutical industry. Acad. Med., v. 82, n. 1, p. 94-99, 2007.

INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDICAL JOURNAL EDITORS. Disponível em: <http://www.icmje.org/ethical_4conflicts.html>. Acesso em: 11 out. 2009.

JAGSI, R. et al. Frequency, nature, effects, and correlates of conflicts of interest in published clinical cancer research. Cancer, v. 115, n. 12, p. 2783-2791, 2009.

JAMPOL, L. M. et al. A perspective on commercial relationships between ophthalmology and industry. Arch. Ophthalmol., v. 127, p. 1194-1202, 2009.

JIBSON, M. Medical Education and the Pharmaceutical Industry: Managing an Uneasy Alliance. Acad. Psychiatry, v. 30, p. 36-39, 2006.

JONSEN, A. R. Foreword. In: DUBOSE E. R., HAMELL, R. P., O’CONNELL, L.J. (Ed.). A matter of principles: ferment in U.S. bioethics. Pennsylvania: Trinity Press International, 1994. JORNAL DA BAND. Denúncia do Jornal da Band sobre a indústria farmacêutica. Rio de Janeiro, 2008. (Receita marcada). Reportagem. Disponível em:

112

<http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92062&CNL=1>. Acesso em: 02 jul. 2008.

JORNAL DA BAND. Laboratórios promovem sorteios para medicação de seus remédios. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.band.com.br/jornaldaband/conteudo.asp?ID=92261&CNL=1>. Acesso em: 03 jul. 2008.

KENTER, M.J.H. Regulating human participants protection in medical research and the accreditation of medical research ethics committees in the Netherlands. J. Acad. Ethics, v. 7, p. 33-43, 2009.

KERRIDGE, I. et al. Cooperative partnerships or conflict-of-interest? A national survey of interaction between the pharmaceutical industry and medical organizations. Intern. Med. J., v.35, p. 206-210, 2005.

KIM, S. Y. et al. Potential research participants' views regarding researcher and institutional financial conflicts of interest. J. Med Ethics, v. 30, n. 1, p. 73-79, 2004.

KLIGERMAN, J. Bioética em saúde pública. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 48, n. 3, 2002.

KORN, D. Conflicts of interest in biomedical research. J. Am. Med. Assoc., v. 284, p. 2234-2237, 2000.

KRIMSKY, S. When conflict-of-interest is a factor in scientific misconduct. Med. Law, v. 26, n. 3, p. 447-463, 2007.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

LEXCHIN, J. et al. Pharmaceutical industry sponsorship and research outcome and quality. British Medical Journal, v. 326, p. 1167-1170, 2003.

LINO, M. H. M. Pesquisas envolvendo seres humanos: fundamentos éticos e jurídicos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. 2007. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)- Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro, 2007.

113

LIPTON, S.; BOYD, E. A.; BERO, L. A. Conflicts of interest in academic research: policies, processes, and attitudes. Accountability in Research, v. 11, n. 2, p. 83-102, 2004.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagem qualitativa. São Paulo, EPU, 1986.

MACDONALD, C.; WILLIAMS-JONES, B. Supervisor-student relations: examining the spectrum of conflicts of interest in bioscience laboratories. Account Res., v. 16, n. 2, p.106-126, 2009.

MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. São Paulo: Didática, 1990. v. 26/27, p. 149-158.

MANZINI, E. J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semi-estruturada. In: MARQUEZINE: M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE; S. (Orgs.) Colóquios sobre pesquisa em educação especial. Londrina: EDUEL, 2003. p.11-25.

MARTINSON, B. C.; ANDERSON, M. S.; VRIES, R. Scientists behaving badly. Nature, v. 435, p. 737-738, 2005.

MAURER, J. J. The proper conduct of research. Avian Diseases, v. 51, p. 1-7, 2007.

MCNEILL, P. M. The ethics and politics of human experimentation, Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1993. 315 p.

MELLO, M. M.; CLARRIDGE, B. R.; STUDDERT, D. M. Academic medical centers standards for clinical-trial agreements with industry. N. Engl. J. Med., v. 352, p. 2202-2210, 2005.

MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABRASCO, 1994.

MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R.; CONSTANTINO, P. Missão prevenir e proteger: condições de vida, trabalho e saúde dos policiais militares do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2008.

114

MONTORI, V. M. et al. Randomized trials stopped early for benefit a systematic review. Journal of the American Medical Association, v. 294 , p. 2203-2209, 2005.

MOORE, N.; YVES, J.; BERTOYE, P. H. Integrity of scientific data: transparency of clinical trial data. Thérapie, v. 62, n. 3, p. 211-216, 2007.

MORIN, E. Os meus demônios. Lisboa: Publ. Europa-América, 1995. 233 p.

MORIN, K. et al. Managing conflicts of interest in the conduct of clinical trials. Journal of the American Medical Association, v. 287, p. 78-84, 2002.

MOTA, J. A. C. A criança como sujeito de experimentação científica: uma análise histórica dos aspectos éticos. 1998. 250 f. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1998.

MOYNIHAN, R. Who pays for the pizza? Redefining the relationships between doctors and drug companies. 1: Entanglement. British Medical Journal, v. 326, p. 1189-1192, 2003b.

MOYNIHAN, R. Who pays for the pizza? Redefining the relationships between doctors and drug companies. 2: Disentanglement. British Medical Journal, v. 326, p. 1193-1196, 2003a.

NASCIMENTO, A. C. Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. Isto é regulação? São Paulo: SOBRAVIME, 2005. 152 p.

NATIONAL survey of physicians. Part II: doctors and prescription drugs. Washington, DC: Kaiser Family Foundation, 2002.

NETO, F. M. Avaliação crítica da pesquisa clínica no Brasil. 2001. 213 f. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, 2001.

NISHIOKA, A. S.; SÁ, P. F. G. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a pesquisa clínica no Brasil. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 52, p. 60-62. 2006. No free lunch. 2009. Disponível em: <http://www.nofreelunch.org/>. Acesso em: 09 ago. 2009.

115

NOGALES-GAETE, J. et al. Conflicto de interés: una reflexión impostergable. Panel del comité editorial. Rev. Chil. Neuro-psiquiat., v. 42, p. 9-21, 2004.

OKIKE, K; KOCHER, M. S. The legal and ethical issues surrounding financial conflict of interest in Orthopaedic research. J. Bone Joint Surg. Am., v. 89, p. 910-913, 2007.

OLIVEIRA, M. L. C. A conquista da ética na pesquisa com seres humanos. O Mundo da Saúde, v. 24, n. 3, maio/jun. 2000.

OLIVEIRA, M. L. C. Comitê de Ética em Pesquisa no Brasil: das bases teóricas à atividade cotidiana: um estudo das representações sociais dos membros dos CEPS. Brasília, 2001. 267 f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde)–Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2001.

OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisas TGI,TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 2004.

PALÁCIOS, M. Ética em pesquisa: O conflito de interesses na assistência e na pesquisa no contexto da produção de medicamentos em uma universidade brasileira. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Rio de Janeiro: UFRJ; CNPq, 2008.

PALÁCIOS, M. O conflito de interesses nas pesquisas que envolvem humanos. In: SCHRAMM, F. R. et al. (Org.). Bioética, riscos e proteção. Rio de Janeiro: UFRJ; FIOCRUZ, 2005, 256 p.

PERLIS, C. S.; HARWOOD, M.; PERLIS, R. H. Extent and impact of industry sponsorship conflicts of interest in dermatology research. J. Am. Acad. Dermatol., v. 52, n. 6, p. 967-71, 2005.

PHARMACEUTICAL RESEARCH AND MANUFACTURERS OF AMERICA. Code on interactions with healthcare professionals. 2004. Disponível em: <http://www.pharma.org/files/PhRMA%20Code.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2007.

PORDEUS, V. Ciência refém do marketing. O Globo, Rio de Janeiro, 30 mar. 2008. p. 39.

116

POTTER, V. R. Bioethics: bridge to the future. New Jersey: Prentice-Hall, 1971.

POTTER, V. R. Bioethics: bridge to the future. New Jersey: Prentice-Hall, 1971.

RANSTAM, J. et al. Fraud in medical research: an international survey of biostatisticians. Control. Clin. Trials, v. 21, n. 5, p. 415-27, 2000.

REA, L. M.; PARKER, R. A. Metodologia de pesquisa: do planejamento à execução. São Paulo: Pioneira, 2000.

REICH, W. T. National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. The Belmont Report: Ethical principles and guidelines for the protection of human subjects of research. In: REICH, W. T. (Ed.). Encyclopedia of Bioethics. New York: Macmillan, 1995.

REICH, W. T. The word “bioethics”: its birth and the legacies of those who shaped it. Kennedy Institute of Ethics Journal, v. 4, n. 4, p. 319-333, 1994.

REICH, W. T. The word “bioethics”: the struggle over its earliest meanings. Kennedy Institute of Ethics Journal, v. 5, n.1, p.19-34, 1995.

REGO, S. Encontro debaterá ética e aspectos regulatórios na pesquisa com crianças. Informe Eletrônico da ENSP, 17 set. 2009. Disponível em: <ttp://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?matid=18280&origem=4 >. Acesso em 18 set. 2009.

REGO, S.; PALÁCIOS, M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Bioética para profissionais de saúde. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009. 160 p. (Temas em saúde).

RELMAN, A. S. Dealing with conflicts of interest. N. Eng. J. Med., v. 310, p. 1182-1183, 1984.

RESNIK D. Disclosing conflicts of interest to research subjects: an ethical and legal analysis. Account Res., v. 11, n. 2, p. 141-159, 2004.

117

RIECHELMANN, R. P. et al.. Disclosure of conflicts of interest by authors or clinical trials and editorials in oncology. J. Clin. Oncol., v. 25, p. 4642-4647, 2007.

ROCHON, P. A. et al. A study of manufacturer-supported trials of nonsteroidal anti-inflammatory drugs in the treatment of arthritis. Arch. Intern. Med., v. 154, p.157–163, 1994.

ROWAN-LEGG, A. et al. A comparison of journal instructions regarding institutional review board approval and conflict-of-interest disclosure between 1995 and 2005. J. Med. Ethics, v. 35, n. 1. p. 74-78, 2009.

ROZENFELD, S. Farmacêutico: profissional de saúde e cidadão. Rev. S. C. Col. v. 13, p. 558-812, 2008. Suplemento.

SCHAFER A. Biomedical conflicts of interest: a defence of the sequestration thesis learning from the cases of Nancy Olivieri and David Healy (The Olivieri Symposium). J. Med. Ethics, v. 30, p. 1-29, 2004.

SCHEINEIDER, B.; SCHÜKLENK, U. Temas especiais em ética em pesquisa. In: Diniz, D.; Guilhem, D.; Schuklenk, U. Ética em pesquisa: experiência de treinamento em países sul-africanos. Brasília: Ed. UnB: Editora Letras Livres, 2005. 192 p.

SCHNEIDER, N.; LINGNER, H.; SCHWARTZ, F. W. Disclosing conflicts of interest in german publications concerning health services research. BMC Health Services Research, v. 7, p. 78-83, 2007.

SCHRAMM, F. R. Bioética para quê. Revista Camiliana da Saúde,v. 1, n. 2, p.14-21, 2002.

SCHRAMM, F. R. Bioética sem universalidade? Justificação de uma bioética latino-americana e caribenha de proteção. In: GARRAFA, V.; KOTTOW, M.; SAADA, A. Bases conceituais da bioética: enfoque latino-americano. São Paulo: Gaia, 2006. 284 p.

SCHRAMM, F. R. Da bioética privada à bioética pública. In: FLEURY, S. (Org). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Ed. Lemos,1997.

118

SCHRAMM, F. R.; KOTTOW, M. Princípios bioéticos em salud pública: limitaciones y propuestas, Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 4, p. 949-956, 2001.

SCHÜKLENK, U. Protection the vulnerable: Testing times for clinical research ethics. Soc. Sci. Med., v. 51, p. 969-977, 2000. Disponível em: <http://www.wits.ac.za/bioethics/res.htm>. Acesso em: 19 set. 2003.

SCHULMAN, K. A. et al.. A national survey of provisions in clinical trial agreements between medical schools and industry sponsors. N. Engl. J. Med., v. 1, p. 335, 2002.

SISMONDO, S. Pharmaceutical company funding and its consequences: a qualitative systematic review. Contemp. Clin. Trials, v. 29, n. 2, p. 109-113, 2008.

SMITH, R. Conflicts of interest: how money clouds objectivity. J. R. Soc. Med., v. 99, p. 292-297, 2006.

SMITH, R. Medical journals are an extension of the marketing arm of pharmaceutical companies. PLoS Med., v. 2, n. 5, p. 138, 2005. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Código de conduta. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.cardiol.br/conheca/pdf/Codigo-CondutaSBC.pdf >. Acesso em: 17 jan. 2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Normatização dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Rio de Janeiro, 2006.Disponível em: <http://www.arquivosonline.com.br/publicacao/normatizacaon.asp>. Acesso em: 17 jan. 2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Anais Brasileiro de Dermatologia. Rio de Janeiro, [21--]. Disponível em: <http://www.anaisdedermatologia.org.br/public/instrucoes/conflito.aspx>. Acesso em: 25 jan. 2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Ética: a relação entre médicos e a indústria. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/index.php>. Acesso em: 04 jul. 2008.

119

SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL. Instruções aos autores. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/revistas/rsbmt/pinstruc.htm>. Acesso em: 25 jan. 2010.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA. Normas para publicação: instruções aos autores. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://www.rbo.org.br/normas_publicadas.asp?idIdioma=1>. Acesso em: 25 jan. 2010.

SPECE, R. G.; SHIMM, D.S.; BUCHANAN, A. E. Conflicts of interest in clinical practice and research. New York, Oxford University Press, 1996. 453 p.

SPINETTI, S. R. Análise ética em artigos científicos que envolvam seres humanos, no período de 1990-1996. São Paulo, 2001. 190 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública)-Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, São Paulo, 2001.

STAROPOLI, J. F. Funding and practice of biomedical research. J. Am. Med. Assoc., v. 290, p. 112, 2003.

STEINMAN, M. A.; SHLIPAK, M. G.; MCPHEE, S. J. Of principles and pens: attitudes and practices of medicine housestaff toward pharmaceutical industry promotions. Am. J. Med. v. 110, n. 7, p. 551-557, 2001.

STELFOX, H.T. et al.. Conflict of interest in the debate over calcium-channel antagonists. N. Engl. J. Med., v. 338, p. 101-106, 1998.

STEVENSON, H. C.; BORUCH, R. F. Ethical issues and approaches in AIDS research. In. Ostrow, D. G.; Kessler, R. C. Methodological issues in AIDS behavioral research. New York: Plenum Press, 1993.

STUDDERT, D.; MELLO, M. M.; BRENNAN, T. A. Financial conflicts of interest in physicians’ relationships with the pharmaceutical industry – Self regulation in the shadow of federal prosecution. N. Eng J. Med., v. 351, p. 1891-1900, 2004.

TEMPORÃO, J. G. A propaganda de medicamentos e o mito da saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

120

TERESKERZ, P. M. et al. Prevalence of industry support and its relationship to research integrity. Account Res., v. 16, n. 2, p. 78-105,

THOMPSON, D. F. Understanding financial conflicts of interest. N. Eng. J. Med., v. 329, p. 573-576, 1993.

TIMIMI, S. Psychiatry has effectively become a commodity that is being sold to the drug industry. Mental Health Today, 2005.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

United States Food and Drug Administration. Financial disclosure by clinical investigators; final rule; action on petition for reconsideration. Maryland, USA: Department of Health and Human Services , 1998. v. 63, p. 72171-72181.

UNITED STATES PUBLIC HEALTH SERVICE. Objectivity in research: final rule. Maryland, USA .1995. v. 60, p. 35809-35819.

UNIVERSITY of Michigan standard practice guide. Michigan, 2008. 290 p. Disponível em: <http://hr.umich.edu/procedures/spg201-65-1.html>. Acesso em: 24 jul. 2008.

VÍCTORA, C. G. et al. Pesquisa qualitativa em saúde: uma introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. 133 p.

VIEIRA, S.; HOSSNE, W. Pesquisa médica e a metodologia. São Paulo: Pioneira, 1998. 161 p.

WAZANA, A. Physicians and the pharmaceutical industry: is a gift ever just a gift? Journal of the American Medical Association, v. 283, p. 373-380, 2000.

WEINFURT ,K.P. et al. Views of potential research participants on financial conflicts of interest: barriers and opportunities for effective disclosure. J. Gen. Intern. Med., v. 21, p. 901-906, 2006.

121

WEINFURT, K, P. et al. Views of potential research participants on financial conflicts of interest: Barriers and opportunities for effective disclosure. J. Gen. Intern. Med., v. 21, p. 901-906, 2006.

WEINFURT, K. P. et al. Consistency of financial interest disclosures in the biomedical literature: the case of coronary stents. Exeter, UK: University of Exeter, 2008. Disponível em: <http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0002128>. Acesso: 21 jan. 2010.

WEINFURT, K. P. et al. Disclosing conflicts of interest in clinical research: Views of Institutional Review Boards, Conflict of Interest Committees, and Investigators. J. Law Med. Ethics, v. 34, n. 3, p. 581-481, 2006.

WEINFURT, K. P. et al. Disclosure of financial relationships to participants in clinical research. N. Engl. J. Med., v. 361, n. 9, p. 916-921, 2009.

WILLIAMS-JONES, B.; MACDONALD, C. Conflict of interest policies at Canadian Universities: clarity and content. J. Academic Ethics, v. 6, n. 1, p. 79-90, 2008.

WORLD INTELLECTUAL PROPERTY ORGANIZATION – WIPO. 2010. Disponível em: <http://www.wipo.int/portal/index.html.en>. Acesso em 10 fev. 2010.

WORLD MEDICAL ASSOCIATION. Declaration of Helsinki: ethical principles for medical research involving human subjects. 2008. Disponível em: <http://www.wma.net/e/policy/b3.htm>. Acesso em: 31 jul. 2009.

YAPHE, J. et al.. The association between funding by commercial interests and study outcome in randomized controlled drug trials. Family Practice, v. 18, p. 565-568, 2001.

ZAGO, M. A. A pesquisa clínica no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, v. 9, n. 2, p. 363-374, 2004.

122

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

Questionário para Membros de CEP

Código CEP: ______

Projeto: Ética em pesquisa: O conflito de interesses na assistência e na

pesquisa no contexto da produção de medicamentos em uma universidade

brasileira

I – DADOS PESSOAIS E DE TRABALHO

1.1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 1.2. Faixa Etária: ( )<30 ( ) Entre 31-40 ( ) Entre 41-50 ( ) Entre 51-60 ( ) 61 ou mais 1.3. Escolaridade: ( ) Nível Médio Completo ( ) Nível Médio Completo ( ) Superior completo ( ) Superior incompleto ( ) Pós-graduação completo ( ) Pós-graduação incompleto 1.4. Qual sua área de formação? 1.5. Tempo de Formação 1.6. Tem vínculo com a Universidade?

Apêndice I

123

( ) Sim Que cargo que ocupa? Há quanto tempo? ( ) Não Onde trabalha? Há quanto tempo? Caso você tenha vínculo com a Universidade responda as questões de 1.7 a 1.13. 1.7. Descreva suas atividades de ensino: Na graduação: Na residência: Na pós graduação Lato Sensu: Na pós graduação Stricto Sensu: 1.08. O(A) Sr(a) tem atividades de pesquisa? ( ) Sim Linhas de Pesquisa em que atua? É bolsista de produtividade do CNPq? ( ) Sim Nível: ( ) Sênior ( ) 1A ( ) 1B ( ) 1C( ) 1D ( ) 2 ( ) Não 1.09. Em quantos projetos de pesquisa está envolvido? ___ projetos. Em quantos é: Pesquisador Responsável: Pesquisador: Colaborador: Consultor: Outros: 1.10. Participa ou participou de pesquisas financiadas pela indústria (farmacêutica ou de equipamentos ou insumos)? ( ) Sim ( ) Pesquisa básica: ( )Pesquisa Clínica: ( ) Não 1.11. O(A) Sr(a) tem atividades de assistência? ( ) Sim ( ) Ambulatório ( ) Enfermaria ( ) Apoio diagnóstico ( ) Não 1.12. O(A) Sr(a) tem atividades de gestão ou administrativas? ( ) Sim ( ) Atividades administrativas. Especifique: ( ) Gestão na unidade acadêmica. Especifique: ( ) Gestão na unidade suplementar. Especifique: ( ) Não 1.13. Participações no último ano fora da estrutura universitária (membro de comissão, comitê, diretoria de sociedade e/ou associação)? Especifique: Período:

II- ATIVIDADE NO CEP

2.1. Função no CEP: ( ) Membro Titular ( ) Membro Suplente

124

2.2. Representante do usuário? ( ) Sim Vinculado a alguma associação específica? ( ) Sim Qual? Há quanto tempo? 2.3. Há quanto tempo atua no CEP? 2.4. Como veio compor o CEP? ( ) Convidado ( ) Indicado ( ) Eleito ( ) Outros: 2.5. Participa (participou) de alguma atividade/evento em ética em pesquisa nos últimos três anos? ( ) Sim Em qual Instituição? Ano: Carga horária: Patrocinada: ( ) Pela indústria ( ) Por agência de fomento nacional ( ) Por agência de fomento estrangeira ( ) Por outra organização: ( ) Não 2.6. Quantos projetos relata em média por reunião? 2.7. Quais os tipos de projetos costuma relatar? (de alguma especialidade, de um dos grupos I, II ou III da CONEP) 2.8. Descreva como é a discussão dos protocolos na reunião do CEP. Há mudanças nos pareceres iniciais? ( ) Sim Em que situações? ( ) Não 2.9. Qual a opinião do(a) Sr.(a) acerca do trabalho desempenhado pelo CEP? (vantagens e desvantagens para comunidade acadêmica, sujeitos de pesquisa e instituição). 2.10. Em sua opinião, quais as vantagens e desvantagens da pesquisa científica envolvendo humanos para: A instituição: Os sujeitos de pesquisa: O Pesquisador principal: Os outros pesquisadores: Os colaboradores (fora da instituição): 2.11. Quais são os financiadores das pesquisas que são avaliadas em seu CEP? Privados Nacionais: Privados Internacionais: Públicos Nacionais: Públicos Internacionais:

125

2.12. A seguir estão listados alguns benefícios oferecidos pelos patrocinadores de pesquisa aos pesquisadores. O(A) Sr.(a) acredita que tais benefícios podem influenciar alguma decisão de médicos em relação a seus pacientes (escolha de medicamento, inclusão de paciente em pesquisa, etc.)? Por favor, informe o quanto o(a) Sr.(a) acredita que o benefício da coluna 1 possa influenciar de 0 (não influencia nada) a 5 (influencia muito). Esses benefícios devem ser avaliados pelo CEP como conflito de interesses?

Benefícios pessoais Grau de influência sobre a decisão do médico?

Deve ser avaliado pelo

CEP como conflito de

interesses?

Bolsa pessoal 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Financiamentos 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Consultorias 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Emprego 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Propriedade de ações da empresa

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Fellowships 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Participação em comitê consultor

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Convites para palestras 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Viagens a congressos nacionais

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Viagens a congressos Internacionais

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Diárias 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Hospedagem 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Benefícios extensivos a familiares

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Honorários outros. 0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

Possibilidade de registro de patente (royalties ou financiamentos pessoais)

0 1 2 3 4 5 ( ) Sim ( ) Não

2.13. Quando se trata de estudos multicêntricos, o(a) Sr.(a) avalia os acordos sobre propriedades dos dados? ( )Sim Quais são os principais elementos que o(a) Sr.(a) observa nestes acordos: Quando o patrocinador é a indústria: Agências de fomento internacionais: Outros financiamentos: ( ) Não

126

2.14. O(A) Sr.(a) vê problema ético na questão da propriedade dos dados de pesquisa?

( ) Sim Qual? ( ) Não 2.15. Nas pesquisas que o CEP avalia, há algum controle se os resultados foram publicados? ( ) Sim Que tipo de controle? ( ) Não 2.16. O(A) Sr.(a) tem conhecimento de alguma pesquisa aprovada pelo CEP cujos resultados não foram publicados? ( ) Sim Por que não foram publicados? Como o CEP tomou conhecimento? Que medidas adotou o CEP? ( ) Não 2.17. Sobre a ação dos representantes dos laboratórios (propagandistas) em que situações o(a) Sr.(a) vê problemas éticos?

Benefícios pessoais Na Universidade No Consultório Em eventos Amostra grátis ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não Financiamento almoço grátis

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Viagens a congressos nacionais

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Viagens a congressos Internacionais

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Diárias ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não Hospedagem ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não Benefícios extensivos a familiares

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Convites para palestras

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Brindes até R$1.000,00

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Brindes acima de R$1.000,00

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

Fornecimento de materiais, insumos e equipamento.

( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não ( ) Sim ( ) Não

OUTROS (indique abaixo)

2.18. Da relação entre indústria e assistência, especifique: Aspectos positivos: Aspectos Negativos: 2.19. Dos projetos avaliados no CEP, com relação ao recrutamento como, onde e quando são captados os sujeitos de pesquisa,

127

Quando há significativo benefício para o sujeito? – (quando não há ainda tratamento eficaz, tratamento revolucionário, ou seja, quando há uma grande vantagem em participar). Quando as vantagens do novo procedimento não são tão significativas, ou é uma pesquisa fase IV? 2.20. O CEP já recebeu alguma reclamação de sujeito de pesquisa que tenham sido incluídos indevidamente? ( ) Sim O que foi feito? ( ) Não E excluídos? ( ) Sim O que foi feito? ( ) Não 2.21. O CEP recebeu alguma denúncia relativa aos projetos de pesquisa? ( ) Sim Descreva a(s) situação (ões) ( ) Não 2.22. O CEP já recebeu alguma reclamação sobre sua atuação? ( ) Sim De quem? ( )CONEP ( ) Sujeito de Pesquisa ( ) Direção ( ) Outros Descreva as situações. O que foi feito? ( ) Não

III- CONFLITO DE INTERESSES

3.1. O (A) Sr.(a) acha que existe algum Conflito de Interesses relacionado a quem faz pesquisa? ( ) Sim Descreva as situações. ( ) Não 3.2. O que caracteriza o Conflito de Interesses na pesquisa clínica? Poderia dar exemplo(s) de situações de Conflito de Interesses presentes no(s) protocolo(s) que analisou?

3.4. Como o CEP intervém nas situações de Conflito de Interesses? 3.5. Em sua opinião, o Conflito de Interesses pode ser controlado/ evitado? ( ) Sim Que tipo de papel a Universidade pode ter neste controle? E a ANVISA? E a CONEP? ( ) Não 3.6. Que fatores o(a) Sr.(a) acredita serem capazes de influenciar a decisão de participar do sujeito de pesquisa?

128

3.7. Os membros de CEP podem estar expostos a situações de Conflitos de Interesses? ( ) Sim Como o(a) Sr.(a) os caracterizaria? ( ) Não 3.8. O membro de CEP sofre algum tipo de pressão de pesquisadores, gestores e/ou financiadores? ( ) Sim Especifique: ( ) Não 3.9. Acha que alguma dessas situações de Conflito de Interesses podem influir negativamente sobre o cuidado oferecido ao paciente? ( ) Sim Justifique: ( ) Não 3.10. Que outras propostas o(a) Sr.(a) apresentaria para monitorar/controlar os Conflitos de Interesses?

129

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Título: Ética em pesquisa: O conflito de interesses na assistência e na pesquisa no contexto da produção de medicamentos em uma universidade brasileira

Você foi selecionado a participar do projeto de pesquisa “Ética em pesquisa:

O conflito de interesses na assistência e na pesquisa no contexto da produção de medicamentos em uma universidade brasileira”, de responsabilidade da pesquisadora Marisa Palácios.

O projeto tem como objetivo estudar o conflito de interesses na assistência e na pesquisa no complexo hospitalar. A idéia é identificar e caracterizar de que maneira interesses secundários podem influenciar as decisões de médicos em detrimento de melhor atendimento dos pacientes. Como resultado final, o projeto pretende oferecer subsídios para elaboração de uma proposta de manejo de conflito de interesses. Serão entrevistados profissionais de saúde, alunos e pacientes com perguntas sobre conflito de interesses.

Devido à escassa reflexão sobre o tema Conflito de Interesses no Brasil, faz-se necessário desenvolver pesquisas relacionadas ao tema, a fim de tornar visíveis os conflitos, refletindo e estabelecendo acordos sobre o que é possível e o que não deve ser permitido nas pesquisas em saúde, oferecendo assim mais segurança aos sujeitos de pesquisa e mais credibilidade aos resultados de pesquisas nesta área.

Você participará da pesquisa respondendo a um dos quatro questionários (sujeito de pesquisa, alunos, membros de CEP e pesquisadores) correspondente a sua categoria. Trata- se de um questionário semi-estruturado, contendo perguntas abertas e fechadas. A aplicação dos questionários será feita pela equipe de trabalho de campo, que está devidamente treinada. O período de coleta de dados será de setembro a dezembro de 2009.

Quanto aos riscos da pesquisa, poderá haver constrangimentos com relação às situações não adequadas eticamente que serão levantadas. Esse risco será minimizado com o total anonimato. Quando situações forem apresentadas para

Instituição responsável: Instituto de Estudos em Saúde Coletiva / IESC: (21) 2598-9293 Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ

Pesquisadora responsável: Marisa Palácios Prof. Adjunta Faculdade de Medicina da UFRJ CPF- 462371277-04 RG 52-42010-5

Apêndice II

130

discussão, procurar-se-á fazer de forma a não ser possível identificar e expor qualquer funcionário ou paciente. O principal benefício para os participantes será ter um conjunto de informações sobre o complexo hospitalar que poderá resultar em melhoria das condições de exercício profissional. O projeto de pesquisa será apresentado aos CEP das unidades hospitalares, e somente será iniciada a pesquisa após sua aprovação.

Seu nome não constará no questionário e não será utilizado de maneira nenhuma em qualquer momento da pesquisa, o que garante o anonimato. Os resultados contribuirão para a caracterização dos conflitos de interesses e das situações que o favorecem ou dificultam para a elaboração de uma política de manejo de conflito de interesses. O material ficará arquivo pelo período de 5 (cinco) anos no CEP/IESC. Após esse período o material será destruído.

Sua participação é voluntária e você poderá recusar-se a participar ou retirar seu consentimento a qualquer momento da pesquisa. Você não terá qualquer penalização por isso.

O Termo só deverá ser assinado mediante ao esclarecimento de toda e

qualquer dúvida, que poderá ser explicada pela pesquisadora Marisa Palácios no telefone 9997- 5677, através do email [email protected], ou nos CEP correspondentes a instituição da pesquisadora e a unidade hospitalar.

Eu, _______________________________________________________

declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, do projeto de

pesquisa acima descrito.

______________________________________________ Nome e assinatura do participante voluntário do projeto

Rio de Janeiro, _____ de ____________ de _______.

131

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Centro de Ciências da Saúde

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

O que se pretende discutir nesta conversa são os seguintes questionamentos

a partir da percepção dos integrantes de CEP (Coordenador, membros,

Representante de Usuários e Secretário) em sua prática cotidiana:

1. Quais conflitos de interesses devem ser objeto de controle?

2. Que conteúdo deve ter uma política de manejo em termos de propósitos,

princípios, escopo e procedimentos?

3. Como envolver os diversos segmentos da sociedade na discussão dos

conflitos de interesses, especificamente os pesquisadores?

4. Sugestões ou soluções apontadas para o manejo dos conflitos de

interesses.

Apêndice III