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i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
NAILSON CORREIA DE ARAUJO
Estudo da variação do meio de cultura na produção de metabólitos secundários
pelo fungo endofítico Aspergillus niger
Orientador: Prof. Dr. Geraldo Humberto Silva.
SÃO CRISTÓVÃO - SE
2010
ii
NAILSON CORREIA DE ARAUJO
Estudo da variação do meio na produção de metabólitos secundários pelo fungo
endofítico Aspergillus niger.
Dissertação apresentada ao Núcleo de pós-graduação em
Química da Universidade Federal de Sergipe, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em Química.
Orientador: Prof. Dr. Geraldo Humberto Silva
SÃO CRISTÓVÃO
2010
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por sempre iluminar o meu caminho.
Ao orientador, Prof. Dr. Geraldo Humberto, pelo aprendizado, dedicação, paciência e
confiança.
À UFS, pela oportunidade de realizar este mestrado.
A todos os professores, funcionários e alunos do Departamento de Química, que
contribuíram para a concretização deste trabalho.
À Gilenilde, Givalda , Geize, Roberta e Edivaldo, alunos de iniciação científica, pelo
companheirismo e incansável ajuda.
Ao meu parceiro de pós-graduação Mário Ferreira, pela colaboração e parceria em todos
os momentos.
À minha namorada Simone Carvalho, e á minha filha Beatriz, pela compreensão da
minha ausência.
À profa. Dra. Ana Paula Gebelein Gervásio por disponibilizar o Laboratório de
Eletroforose, e ao MSc Marcos Valentin pela colaboração na obtenção dos dados
eletroforéticos.
Aos meus pais, Edison e Helena, e aos demais familiares pelo amor e apoio
incondicional nos momentos mais difíceis.
Aos coordenadores e diretores das escolas onde ministro aula, pelo apoio e incentivo.
iv
“ Sem luta não pode haver vitória. Se não existissem as dificuldades , os
esforços seriam inúteis; se não houvesse
sofrimento e provocações , não existiriam a paciência e a resignação.”
Alberto Montalvão
v
RESUMO
O fungo endofítico Aspergilus niger isolado da espécie vegetal Hancornia speciosa,
conhecida popularmente como mangabeira, foi cultivado nos meios suco de mangaba,
Czapeck e Caldo de Batata Dextrose (CDB) e levou ao isolamento e identificação de
seis substâncias em seus extratos, sendo elas os ácidos oxálico, cítrico, tartárico, p-
acetil-benzóico e hexilitacônico e a substância pirofeno. Visando encontrar a melhor
condição de cultivo para produção de pirofeno foi desenvolvido um método analítico
por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência para análise desta substância. O método
desenvolvido foi eficiente tanto para análise dos extratos quanto para análise do caldo
fermentado e permitiu avaliar o efeito dos diferentes meios e do tempo de cultivo na
produção desta substância. A maior produção de pirofeno foi obtida utilizando suco de
mangaba como meio de cultivo e o período ideal de fermentação para a produção de
pirofeno foi de 12 dias, quando cultivado no meio líquido CDB.
Palavras chaves: Aspergillus niger, fungos endofíticos, ácidos orgânicos e metabólitos
fúngicos.
vi
ABSTRACT
The endophytic fungus Aspergillus niger isolated from specie plant Hancornia
speciosa, commonly known as mangabeira, was cultivated in different culture media
and used for identification of six substances in their extracts, such as oxalic, citric,
tartaric, p-acetylbenzoic, hexylitaconic acids and phyrofen. For quantification of
pyrophen in different extracts, it was developed a method by High Performance Liquid
Chromatography that was efficient for both extract analysis and fermented broth. The
method allowed to evaluate the effect of different media ways and culture time on the
pyrophen. The analyzed media for pyrophen production were mangaba juice, Czapeck
and potato dextrose broth (PDB) and the highest yield was obtained using mangaba
juice. The effect of culture time was evaluated by cultivating the fungus in the PDB
medium, being the ideal period of fermentation for pyrophen production was 12 days.
Palavras chaves: Aspergillus niger, endophytic fungus, organic acid, fungus
metabolites.
i
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.................................................................................................... iv
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... v
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ............................................................ viii
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 OS FUNGOS ------------------------------------------------------------------------------------------ 2
1.2 FUNGOS ENDOFÍTICOS ----------------------------------------------------------------------- 2
1.2.1 Diversidade metabólica de fungos endofíticos ----------------------------------------- 3
1.3 Fungos do gênero Aspergillus ------------------------------------------------------------------- 7
2 OBJETIVOS 8
2.1 Objetivo geral ----------------------------------------------------------------------------------------- 8
2.2 Objetivos Específicos ------------------------------------------------------------------------------- 8
3 METODOLOGIA 9
3.1. Especificação dos materiais, instrumentos e reagentes utilizados. ----------------- 9
3.1.1. Meios de cultura ---------------------------------------------------------------------------------- 9
3.1.2. Cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC). ------------------------ 9
3.1.3. Cromatografia em Coluna (CC). ------------------------------------------------------------ 9
3.1.4. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). --------------------------------- 9
3.1.5. Ressonância Magnética Nuclear de 1H e
13C (RMN de
1H e
13C) ------------- 10
3.1.6. Espectrômetro de Massas -------------------------------------------------------------------- 10
3.1.7. Concentração de solvente. ------------------------------------------------------------------- 10
3.1.8. Solventes utilizados ---------------------------------------------------------------------------- 10
3.1.9. Equipamento de eletroforese --------------------------------------------------------------- 10
3.1.10. Outros equipamentos -------------------------------------------------------------------------- 10
3.2. Procedimentos Experimentais ----------------------------------------------------------------- 11
3.2.1. Obtenção do fungo ----------------------------------------------------------------------------- 11
ii
3.2.2. Cultivo do fungo em meio sólido --------------------------------------------------------- 11
3.2.3. Cultivo do fungo em meio líquido. ------------------------------------------------------- 11
3.2.4. Cultivo do fungo para obtenção da curva de crescimento em meio CBD. - 11
3.2.5. Determinação do peso seco do micélio ------------------------------------------------- 11
3.2.6. Obtenção dos extratos AcOEt de A. niger nos meios Czapek, CBD e suco
de mangaba. -------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
3.2.7. Fracionamento dos extratos AcOEt em Coluna Cromatográfica (CC) ------ 12
3.2.8. Fracionamento do segundo extrato CBD (CBD2) ---------------------------------- 16
3.2.9. Análise isocrática dos extratos AcOEt por Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (CLAE). ---------------------------------------------------------------------------------------- 18
3.2.10. Obtenção do padrão pirofeno. -------------------------------------------------------------- 18
3.2.11. Obtenção da curva de calibração do padrão Pirofeno. ----------------------------- 18
3.2.12. Identificação dos ácidos cítrico, tartárico e oxálico no caldo fermentado
pelo fungo A. niger utilizando Eletroforese Capilar de Zona. ----------------------------- 18
3.2.13. Otimização das condições eletroforéticas para a separação dos Ácidos
orgânicos ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 19
3.2.14. Preparo da curva analítica para o ácido oxálico ------------------------------------- 19
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 20
4.1 Obtenção e análise dos extratos de A. niger por RMN-------------------------------- 20
4.2 Isolamento e Caracterização da substância pirofeno nos extratos do fungo A.
niger crescido nos meios CBD, Czapek e suco de mangaba. ---------------------------------- 22
4.2.1. Quantificação da substância pirofeno nos extratos do fungo A. niger
crescido nos meios CBD, Czapek e suco de mangaba. --------------------------------------- 25
4.2.2. Avaliação da produção de massa seca (biomassa) pelo fungo A. niger em
função do tempo de cultivo. ---------------------------------------------------------------------------- 27
4.2.3. Avaliação da produção de extrato em meio BDA em função do tempo ---- 28
4.2.4. Avaliação da produção da substância pirofeno em CBD em função do
tempo. 28
4.3 Caracterização dos ácidos oxálico, tartárico e cítrico nas frações e no caldo
fermentado. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 30
iii
4.3.1. Caracterização do ácido oxálico ----------------------------------------------------------- 30
4.3.2. Caracterização do ácido cítrico (substância 3) --------------------------------------- 34
4.3.3. Caracterização do ácido tartárico (substância 4) ------------------------------------ 38
4.4 Caracterização das substâncias p-acetil-benzóico e ácido hexilitacônico ----- 40
4.4.1 Determinação estrutural do ácido p-acetil-benzóico (substância 5) --------- 40
4.4.2 Determinação estrutural do ácido hexilitacônico (substância 6). -------------- 42
5. CONCLUSÃO 46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 47
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Metabólitos Secundários Isolados de Fungos Endofíticos............................... 4
Tabela 2: Frações obtidas no fracionamento do extrato CBD2...................................... 17
Tabela 3. Deslocamento químico RMN de 1H (500 MHz, CDCl3) da substância 1 e dos
dados da substância na literatura............................................................................. 25
Tabela 4: Quantificação do pirofeno nos diferentes extratos obtidos de A. niger.......... 27
Tabela 5. Deslocamentos químico RMN de 1H da substância 6 e dados da substância
da literatura do ácido hexilitacônico...................................................................... 44
v
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Substâncias isoladas de fungos endofíticos...................................................... 5
Figura 2: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger
cultivado no meio suco de mangaba........................................................................ 13
Figura 3: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger
cultivado no meio CBD........................................................................................... 14
Figura 4: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger
cultivado no meio CZAPEK ................................................................................... 15
Figura 5: Fluxograma do fracionamento do extrato CBD2........................................... 16
Figura 6: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido no cultivo A.
niger em suco de mangaba...................................................................................... 21
Figura 8: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido do cultivo de
A. niger em CBD..................................................................................................... 21
Figura 9: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido do cultivo de
A. niger no meio líquido Czapek............................................................................. 22
Figura 10: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do pirofeno ( CDCl3)........................ 23
Figura 11: Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz , do pirofeno ( CDCl3)...................... 23
Figura 12: Espectro de massas do pirofeno obtido por electrospray modo positivo..... 24
Figura 13: Estrutura da substância 1 pirofeno............................................................... 24
Figura 14: Cromatograma do padrão pirofeno.............................................................. 26
Figura 15: Curva de calibração obtida por CLAE-DAD para a substância pirofen...... 26
Figura 16: Gráfico da produção de biomassa pelo fungo A. niger crescido no meio
CBD num período de 27 dias................................................................................... 27
Figura 17: Produção de extrato pelo fungo A. niger crescido no meio CBD num
período de 27 dias com intervalo de 3 dias.............................................................. 28
Figura 18: Gráfico da concentração do pirofeno no caldo fermentado obtido no cultivo
do fungo A. niger no meio CBD por um período de 27 dias, análise a cada 3 dias. 29
Figura 19: Concentração do pirofeno do fungo A. niger crescido no meio CBD num
período de 15 dias, com intervalo de 1 dia.............................................................. 30
vi
Figura 20: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do ácido oxálico ( CDCl3/DMSO)... 30
Figura 21: Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz, do ácido oxálico (CDCl3/DMSO-d6). 31
Figura 22: Espectro de massas do ácido oxálico obtido por electrospray modo
positivo.................................................................................................................... 31
Figura 23 : Eletroferograma do ácido oxálico, sendo: A - amostra analisada, B padrão -
na concentração de 0,025g/100mL. Tampão ácido bórico 100mmol/L+CTAB
0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s........................................................................ 32
Figura 24. Curva analítica para o ácido oxálico. A x C. Solução 25,0 mmol/L tampão
borato pH 9,00, modo de injeção hidrodinâmica, 30s, λ=254 nm e ddp de 12kV... 33
Figura 25: Curva de produção de ácido oxálico pelo fungo A. niger crescido no meio
CBD num período de 15 dias, com avaliação a cada de 3 dias............................... 33
Figura 26. Estrutura da substância 2 (ácido oxálico)..................................................... 34
Figura 27: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do ácido cítrico ( Mistura MeOH +
DMSO-d6)............................................................................................................... 35
Figura 28: Mapa de contorno HMBC do ácido cítrico.................................................. 36
Figura 29: Espectro de Massas do ácido cítrico obtido por eletrospray no modo
positivo..................................................................................................................... 37
Figura 30: Estrutura do ácido cítrico (substância 3)...................................................... 37
Figura 31: Eletroferograma do ácido citrico, sendo: A – amostra analisada, B padrão -
na concentração de 0,05g/100mL. Tampão ácido bórico 100mmol/L+CTAB
0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s........................................................................ 38
Figura 32 : Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do ácido tartárico ( CDCl3)............. 39
Figura 33: Eletroferograma do ácido tartárico, sendo: A – amostra analisada, B padrão
- na concentração de 0,025g/100mL. Tampão ácido bórico 100mmol/L+CTAB
0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s........................................................................ 39
Figura 34: Estrutura da substância 4 (ácido tartárico)................................................... 39
Figura 35: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do p-acetilbenzoico ( CDCl3).......... 41
Figura 36: Espectro de massas do p-acetilbenzóico obtido eletrospray modo positivo. 41
Figura 37: Estrutura da substância 5 (ácido p-acetil-benzóico).................................... 42
Figura 38: Estrutura do ácido hexilitacônico (substância 6)........................................ 42
vii
Figura 39 : Espectro de RMN de 1H das frações 3070-6............................................. 43
Figura 39 : Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz , do hexilitacônico ( CDCl3)............ 43
Figura 40 : Espectro de Massas do ácido hexilitacônico obtido por electrospray modo
positivo..................................................................................................................... 44
Figura 41: Espectro de Massa/Massa do íon 237 do ácido hexilitacônico.................... 45
viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
Deslocamento químico
Micra
1J Acoplamento a uma ligação
2,3J Acoplamento a duas ou três ligações
ACN Acetonitrila
AcOEt Acetato de Etila
BDA Meio de Batata Dextrose e Agar
CBD Meio líquido caldo de batata dextrose
C18 Sílica gel de fase reversa tipo C18
CC Cromatografia em Coluna
CCDC Cromatografia em Camada Delgada Comparativa
CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência
CLAE-DAD Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detector em Arranjo
de Diodos
d Dubleto
DCM Diclorometano
dd Duplo dubleto
ddd Duplo-duplo-dubleto
DMSO Dimetilsulfóxido
DMSO-d6 Dimetilsulfóxido deuterado
Fig. Figura
ix
grad. Gradiente
j Constante de acoplamento
[M]+ Íon molecular
m Multipleto
MeOH Metanol
m/z Relação massa - carga
ppm Parte por milhão
q Quarteto
RMN de 1 H Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio
RMN de 13
C Ressonância Magnética Nuclear de Carbono 13
s Singleto
Si Sílica
subst. Substância
t Tripleto
tR Tempo de Retenção
UV-Vis Ultra Violeta – Visível
1
1 INTRODUÇÃO
As plantas estão associadas a diversos tipos de organismos e entender os
mecanismos dessas interações tem despertado o interesse de diversos pesquisadores
(KOGEL; FRANKEM; HUCKELHOVEN, 2006). Dentre os vários organismos, os que
mais têm despertado interesse são os microrganismos associados a tecidos internos das
plantas chamados de endófitos, tais microrganismos se associam de forma mutualística,
competindo com patógenos, aumentando a tolerância a estresses abióticos
(SAIKKONEM et al., 1998, SCHARDL; LEUCHTMANN; SPIRRING, 2004) e
bióticos (CLAY, SCHARDL, 2002), recebendo em contra-partida, proteção e
nutrientes do seu hospedeiro. Esta relação entre microrganismos e a planta hospedeira
envolve a produção de metabólitos secundários (ESPOSITO; AZEVEDO, 2004). O
isolamento, caracterização e identificação da bioatividade dessas substâncias podem
conduzir a novos fármacos, pois estudo químico, com microrganismos em geral, levou a
descoberta de vários fármacos, onde se destacam: antibióticos, imunosupressores,
agentes redutores do colesterol sanguíneo entre outros (NEWMAN CRAAG, SNADER
2000, DEMAIN, 1999). Outro dado importante é que dos 974 novos fármacos aprovados
entre 1981 e 2006, 39% são de produtos naturais ou derivados destes (NEWMAN; CRAGG,
2007).
Nas últimas décadas tem-se intensificado a busca de metabólitos secundários
bioativos de fontes renováveis (STROBEL, 2004 e GUNATILAKA, 2006), sendo os
microrganismos, em especial os fungos, uma alternativa nessa busca. Uma das
principais vantagens em se trabalhar com microrganismos é o controle dos processos
operacionais, pois em comparação com as plantas, os fungos crescem mais rapidamente,
num período de tempo e espaço menor onde as condições de cultivo podem ser alteradas
para direcionar a produção de metabólitos de interesse (PEARCE, 1997). Os processos
fermentativos, por exemplo, podem ser otimizados através da mudança de substrato,
controle da temperatura, pH e tempo de cultivo levando a um grande aumento na
produção da substância alvo (ALCANO, 1994).
2
1.1 OS FUNGOS
Os fungos apresentam um conjunto de características próprias que determinam
sua diferenciação das plantas, pois, não sintetizam clorofila, não têm celulose na sua
parede celular, exceto em alguns fungos aquáticos, não armazenam amido como
substância de reserva, sendo organismos quimiorganotróficos, cujo corpo pode ser
unicelular (leveduriforme) ou pluricelular (filamentoso) (SILVA, 2005). São
encontrados em diferentes lugares como água, solo, ar, animais e plantas
(HAWKSWORTH, 2001).
Estudos sugerem que o número de espécies de fungos existentes é muito superior
às espécies já conhecidas, tomando por base a proposta mais aceita de que existam cerca
de 1,5 milhões de espécies de fungos (HAWKSWORTH, 1991), alguns autores
consideram que mais de um milhão de espécies permanecem desconhecidas e que, uma
parte substancial destas são o que consideramos fungos endofíticos (STONE, et al.,
2004).
Os fungos são divididos em vários grupos, tais como, coprófilos, micro-parasitas de
água doce, marinhos, termófilos, epifíticos, endofíticos, entre outros (AINSWORTH;
SUSSMAN, 1996). Entre os diversos grupos, podemos destacar os endofíticos, que
interagem com a planta hospedeira e com o ambiente por meios químicos e biológicos,
produzindo diversas substâncias, que podem, inclusive, ser utilizadas pelas plantas
.(AZEVEDO,1998, SHULTZ et al., 2002, PUPO et al 2006, ZHANG ; SONG , 2006;
FIRAKOVA, STURDICOOVA, MUCKOVA, 2007; GALLO et al., 2008).
1.2 FUNGOS ENDOFÍTICOS
O termo endofítico é utilizado desde o século XIX. (AZEVEDO, 1998, GIMENEZ,
et al., 2007). Atualmente, sabe-se que os endofíticos pertencem a um grupo de
microrganismos que estão presentes nos tecidos internos da planta onde estão
associadas. Nos últimos anos as pesquisas com química de fungos que habitam esses
vegetais, chamados fungos endofíticos, têm demonstrado que alguns compostos de
origem vegetal também são produzidos por estes fungos, indicando haver genes em
comum entre plantas e fungos, sendo que alguns autores propõem a ocorrência de uma
transposição de genes para explicar tal fato (AZEVEDO, 1998). Por exemplo, o taxol,
3
um diterpenóide produzido pela planta Taxus brevifolia e largamente utilizado no
tratamento de câncer mamário e de útero é também produzido por um fungo endofítico,
o Taxomyces andreamae, encontrado associado com T. brevifolia (STIERLE et al.,
1993). A camptotecina, um agente antitumoral que é produzida pela planta
Campthotheca acuminata e pelo fungo endofítico Fusarium solani isolado desta planta
(KUSARI et al. 2009a). Uma outra substância característica do metabolismo vegetal, a
podofilotoxina, foi identificada no extrato do fungo endofítico Aspergillus fumigatus
isolado da planta Juniperus communis (KUSARI et al. 2009b). Ressalte-se, portanto, o
fato de que a ação farmacológica de plantas medicinais pode estar relacionada
substâncias produzidas por fungos endofíticos (AZEVEDO et al. 2000).
No Brasil, encontramos trabalhos acerca dessa diversidade química dos endofíticos
em PEREIRA, et al., 1993; SOUZA, 1996; ARAÚJO, 1996; RODRIGUES et al., 1996;
AZEVEDO 1998; SOUZA et al., 2004; RUBINI et al., 2005.
1.2.1 Diversidade metabólica de fungos endofíticos
Os metabólitos secundários bioativos isolados de fungos endofíticos pertencem a
diversas classes químicas incluindo alcalóides, fenilpropanóides, peptídeos, esteróides,
xantonas, fenóis, quinonas, terpenóides, citocalasinas, isocumarinas, compostos
alifáticos e clorados (TAN; ZOU, 2001; SCHULZ; BOYLE, 2005). Vários desses
compostos podem apresentar diversas atividades biológicas como antibacteriana,
antifúngica (ZHANG et al., 2009; GUO et al., 2008), antitumoral (WANG et al., 1999 ),
antiviral (GUO et. al., 2008), antioxidante (VALENTOVA et al., 2003), inseticida
(FINDLAY; JOHNSON, 1997), atividades antidiabéticas e imunossupressoras
(DEMAIN, 2000; TAN e ZOU, 2001). Considerando-se a vasta biodiversidade fúngica
e a especificidade nas colonizações das plantas hospedeiras por fungos, pode-se dizer
que a química de microrganismos endofíticos tem sido pouco estudada (SANTOS et al.,
2008). A tabela 1 relaciona alguns metabólitos produzidos por fungos endofíticos com
suas atividades biológicas.
4
Tabela 1 : Metabólitos Secundários Isolados de Fungos Endofíticos
Produtos Naturais Atividade
biológica
Fungo Referência
2-cloro-5-metoxi-3-
metilcicloexa-2,5-
dien-1,4-diona
Antimalárica e
citotóxica
Xylaria sp. BORGES et al.,
2009
Nigerasperona A e B - Aspergillus niger
BORGES et al.,
2009
Nigerasperona C Antioxidante e
antifúngica
Aspergillus niger BORGES et al.,
2009.
3,12-
diidroxicalameneno e
3,12-diidroxicadaleno
Citotóxica Phomopsis cassiae SILVA et al., 2006
1-(2-hidroxi-6-
metoxifenil)-butan-1-
ona
Antifúngica Nodulosporium sp. BORGES et al.,
2009
8α-acetoximultiplolide
A
Antifúngica Phomopsis sp. BORGES et al.,
2009
Chaetopiranina Citotóxica e
antioxidante
Chaetomium
globosum
BORGES et al.,
2009
Diterpeno pimarano Inseticida Fungo não
identificado
isolado de (Abies
balsamea)
FINDLAY et al.,
1995
Ácido rhizoctônico Antibacteriana Rhizoctonia sp. MA et al., 2004
Phomopsolido A Antibacteriana Penicillium sp. STIERLE et al.,
1993
Citosporona D Antibacteriana Cândida albicans BRADY et al. 2000
Auraspirona A Atividade
antioxidante
Aspergillus niger
SONG et al. 2004
Rubrofusarem B Atividade
citotóxica
Aspergillus niger SONG et al. 2004
Ácido Tensiuico Antibacteriana Aspergillus niger
HASEGAWA et
al., 2007
Neoplaeter Citotóxica e
antifúngica
Neoplaconema
napellum
PETRINI, 1991.
Taxol
Anticancerígena Taxomyces
andreanae
GUO et al., 2008
Camptotecina Anticancerígena Entrophospora
infrequens
SPITELLER et al.,
2005.
Brefeldina A Anticancerígena Aspergillus
clavantus
GUNATILAKA,
2006.
Mevicolina Agente redutor de
colesterol
Monascus ruber DEMAIN, 2000
Naftopirona
Inibidores da
enzima HMG
CoA redutase
Chrysosporium
pannorum
OGAWA et al.,
1991
Aurasperona A Antioxidante Aspergilus niger SONG et al., 2004
5
Figura 1: Substâncias isoladas de fungos endofíticos
O
N
SNH
O
O
OH
CH3
CH3
CH3
CH3
Cl
O
O
O
CH3
NH
O
O
OO
O O
O
O
O
OHO
O
CH3
OH
OH
CH3
CH3
CH3
CH3
CH3
O
O
O
OOH
CH3
CH3
CH3
CH3
H
H HO
OO
O
OH
O
CH3
CH3
OH O
CH3
O
CH3
O
CH3
O
OHOH
OH
O
O
O
O
CH3
CH3
CH3
CH3
OH
OH
O
O
C7H15
N
NH
NH
O
CH3
OH
CH3
H
H
H
Penicilina
Taxol
Viridina
Mevicolina
Fomopsolido A
Ergometrina
Ácido rizoctônico
2-cloro-5-metoxi-3-metil-2,5-
dien-1,4-diona
Citosporona D
6
Continuação da Figura 1
O
CH3
OH
CH3 CH3
H
CH3O
O
H
CH3
O
H
H
OH
O
O
CH3
O
O
O
O
OH
CH3
OH
CH3
CH3
O O
OO
CH3
OH
O
CH3
CH3
O O
CH3 CH3
CH3
O
CH3
O
O
O OH
CH2
OOH
CH3
NH
O
O
O
CH3
O
O
OH
OH
NH2O
CH3
OO
CH3
CH3 CH3
O
O
ON
N
O
O
O
OH
CH3
Bicoumanigrina
Ác Tensiuico B
Auraspirona A
Brefeldina A Diterpeno primarano
Camptotecina
Neoplaeter
Naftopirona
7
A produção de tais substâncias promissoras, podem ser otimizadas ajustando o
processo fermentativo, o que leva a uma maior produção do metabólito alvo (DEMAIN,
2000), sendo portanto, uma fonte renovável (STROBEL, 2004 e GUNATILAKA,
2006).
1.3 Fungos do gênero Aspergillus
O gênero Aspergillus, pertence à classe dos Mitospóricos, é largamente
encontrado na natureza, presente em frutas, vegetais e outros substratos em
decomposição capazes de fornecer o alimento necessário ao seu crescimento
(PELCZAR, et al., 1996). Metabolicamente, são versáteis e várias espécies têm sido
descritas como produtoras de metabólitos (GEISER et al., 1996, PELCZAR; CHAN;
KRIEG, 1997, YU; KELLER, 2005).
Em 1893, Wehmer descobriu que alguns fungos possuíam a capacidade de
acumular ácido cítrico durante seu cultivo (SIEBERT e SHULZ, 1979). Dentre estes
fungos os do gênero Aspergillus têm se destacado, principalmente, por sua habilidade
em produzir ácido cítrico. Atualmente, a produção comercial de ácido cítrico é realizada
por processos fermentativos, utilizando fermentação em superfície ou submersa,
empregando o fungo Aspergillus niger (REED, 1991).
O gênero A. niger tem se destacado, principalmente, por sua habilidade em
produzir ácidos orgânicos, por isso o crescente estudo neste campo, onde destacamos o
ácido cítrico e oxálico (BIZUKOJC; LEDAKOWICZ, 2004 e SAYER; GADD, 1997).
Inúmeros mecanismos têm sido propostos, com relação à sua regulação e síntese, dando
ênfase à produção destes ácidos que é influenciada por várias condições ambientais, tais
como, o pH do meio, fontes de carbono (C), nitrogênio (N), e micronutrientes
(PAPAGIANNI et al., 2005 XU et al., 1989; HAQ et al., 2003), despertando estudos
com o objetivo de aumentar a produção dos mesmos, inclusive em presença de álcoois
(SAHA et al., 1999).
Também existem pesquisas sobre a capacidade dos ácidos orgânicos em
influenciar a solubilização de fosfatos inorgânicos (CUNNINGHAM; KUIACK, 1992),
pois estes, secretados pelos microrganismos, podem diminuir o pH ou atuar como
agentes quelantes dos metais dos fosfatos inorgânicos liberando fosfato solúvel (SALIH
et al.,1989; NAHAS, 1991).
8
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Estudar o efeito de diferentes meios de cultura e do tempo de cultivo na produção de
metabólitos secundários pelo fungo endofítico Aspergillus niger isolado de Hancornia
speciosa.
2.2 Objetivos Específicos
Cultivar o fungo Aspergillus niger em diferentes meios de cultura e obter os extratos
brutos;
Fracionamento dos extratos;
Analisar os extratos através de cromatografia líquida de alta eficiência modo analítico;
Isolar as substâncias presentes nos extratos e caracterizá-las por espectrometria de RMN
e Massas;
Quantificar a substância pirofeno nos extratos brutos obtidos em diferentes meios;
Colaborar para o conhecimento da relação planta-fungo visando, principalmente,
contribuir para uma melhor produção de metabólitos.
9
3 METODOLOGIA
3.1. Especificação dos materiais, instrumentos e reagentes utilizados
3.1.1. Meios de cultura
Meios de cultura sólidos
BDA - Batata Dextrose Ágar da Acumedia
39 g/L de água destilada e esterilização (15 min à 121°C)
Meio de cultura líquido
CBD – Caldo de Batata dextrose da Acumedia
24 g/L de água destilada e esterilização (15 min à 121°C)
CZAPEK- da Himedia
35 g/L de água destilada e esterilização (15 min à 121°C)
SUCO DE MANGABA- in natura
170 gramas de fruta por litro de água destilada e esterilização (15 min à 121°C)
3.1.2. Cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC)
As análises em CCDC foram feitas usando placas de alumínio para TLC com sílica
gel 60 ALUGRAM® e indicador de fluorescência UV254. As revelações foram
efetuadas com irradiações UV de 254 nm e 360 nm, exposição a iodo sublimado e verde
de bromo-cresol (preparado com 1,5g de KMnO4, 10g de K2CO3 e NaOH 10% 1,25 ml
em 200 ml de água).
3.1.3. Cromatografia em Coluna (CC)
A cromatografia em coluna foi realizada usando sílica de fase reversa
AccuBondIISPE ODS (18) da Agilent technologies, e sílica de fase normal Sílica Gel
60 (0,063-0,200 mm) da Proquimios.
3.1.4. Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)
As análises por CLAE foram realizadas em aparelho Shimadzu, acoplado ao
detector SPD–M2DA 330 PhotoDiodo-Array Ultra-Violeta (PDA-UV), coluna analítica
de fase reversa Shimpack (ODS, 5 μm, 150 x 4,6 mm) e coluna semi-preparativa de fase
reversa Phenomenex (ODS, 10 μm, 250 X 10,0 mm).
10
3.1.5. Ressonância Magnética Nuclear de 1H e
13C (RMN de
1H e
13C)
Os experimentos uni e bidimensionais foram realizados em espectrômetro Varian
INOVA-500 operando a 500 MHz para o núcleo de 1H e em 125 MHz para o núcleo de
13C. Foi utilizado TMS como referência interna.
3.1.6. Espectrômetro de Massas
Os espectros de massas foram obtidos em espectrômetro QTOF (Micromass) pelo
modo de ionização electrospray (ESI).
3.1.7. Concentração de solvente
Foram feitas sob pressão reduzida, usando rota-evaporador da marca Fisaton
modelo 801.
3.1.8. Solventes utilizados
Os solventes utilizados foram hexano, diclorometano, acetato de etila, metanol,
acetonitrila das marcas Synth, Mallinckrodt e J.T.Baker. Os solventes deuterados
utilizados foram metanol, clorofórmio e dimetilsulfoxido da marca Tedia.
3.1.9. Equipamento de eletroforese
Aparelho constituído de: CE LINEAR modelo 200 equipado com detector UV-Vis,
Capilar de sílica fundida (Polymicro) com diâmetro interno 75μm e externo de 375μm,
sem recobrimento interno com 24 cm efetivos. Estação Cromatográfica (Data Apex
Ltda, USA). Fonte de alta voltagem CZE 100R (Spellman modelo CZE 30PN1000).
Eletrodo de platina do pólo positivo e negativo. Suportes de madeira. Bomba
peristáltica com 13 canais, Ismatec, modelo mp.
3.1.10. Outros equipamentos
Autoclave vertical - Prismatec Ind. e Comercio Ltda
Câmera de fluxo laminar – Filterlux
Balança analítica - Schimadzu AY- 220
11
3.2. Procedimentos Experimentais
3.2.1. Obtenção do fungo
O fungo Aspergillus niger foi isolado das folhas sadias de Hancornia speciosa
coletadas no povoado Parque Santa Rita, em São Cristovão, e encontra-se preservado,
em água estéril, no Laboratório de Química de Fungos do Campus da UFS “Prof.
Alberto Carvalho”, em Itabaiana – SE, sob registro P3P6F2. A pesquisa foi iniciada
com o fungo já isolado.
3.2.2. Cultivo do fungo em meio sólido
O isolado fúngico foi primeiramente repicado em placas de Petri contendo BDA e
incubado por sete dias em temperatura ambiente.
3.2.3. Cultivo do fungo em meio líquido
O isolado fúngico cultivado em BDA foi inoculado nos meios líquidos CBD (2000
mL), Czapek (2000 mL) e suco de mangaba (2000 mL), contidos em frascos tipo
Erlenmeyer de 500 ml com 250 ml de meio. A cultura foi mantida estática em
temperatura ambiente por 28 dias. Sendo que, no meio CBD, o fungo foi crescido
novamente com 4000 mL por 14 dias (CBD2).
3.2.4. Cultivo do fungo para obtenção da curva de crescimento em meio CBD
O meio CBD foi inoculado com um disco de 1,5 cm de diâmetro do meio BDA
contendo o micélio do fungo esporulado. Foram utilizados para este experimento 36
frascos de Erlenmeyer de 500 mL contendo 250 mL de meio, sendo retirados quatro
frascos a cada três dias, sendo realizado em quadruplicata. Em uma segunda etapa, o
fungo foi repicado para frascos Erlenmeyer de 1000 mL contendo 250 mL do meio
líquido CBD, sendo retirada a cada dia uma alíquota de 10 mL por um período de 15
dias, sendo todo o experimento conduzido com três repetições.
3.2.5. Determinação do peso seco do micélio
Para a determinação do peso seco do micélio, as amostras foram filtradas com papel
filtro, separando o micélio do caldo fermentado. O micélio foi seco em estufa ventilada
a 60 °C por 72h.
12
3.2.6. Obtenção dos extratos AcOEt de A. niger nos meios Czapek, CBD e
suco de mangaba
Após o período de fermentação líquida, o caldo foi separado do micélio por
filtração, extraído 3X com acetato de etila e seco em rota-evaporador, fornecendo os
respectivos extratos AcOEt com as massas de 177,3 mg de Czapek, 123,1 mg de CBD e
506,5 mg de suco de mangaba, sendo que no segundo crescimento em CBD (CBD2) foi
retirado com 14 dias, e a massa resultante foi de 1800 mg.
3.2.7. Fracionamento dos extratos AcOEt em Coluna Cromatográfica (CC)
Os extratos brutos de CBD, CZAPEK e SUCO DE MANGABA, foram fracionados
em coluna cromatográfica (coluna de 3,0 cm de diâmetro com 15 cm sílica C18) usando
um sistema de eluição gradiente H2O/MeOH conforme fluxogramas nas figuras 2 ,3 e 4.
Figura 2: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger cultivado no meio suco de mangaba
CC, C18
MeOH/H2O
Fr 1
(177,6 mg)
FrM 2
(23,5 mg)
FrM 3
(13,9 mg)
FrM 4
(8,7 mg)
FrM 5
(1,3 mg)
FrM 6
(7,8 mg)
FrM 7
(95,3 mg)
FrM 8
( 124,4 mg)
FrM 9
(5,9 mg)
EXTRATO AcOEt
MANGABA
(500 mg)
FrM 10
(9,0 mg)
(5/95) (15/85) (25/75) (35/65) (45/55) (55/45) (75/25) (85/15) (100/0)
FrM 1
(177,6 mg)
(65/35)
Pirofeno
Ácido
oxálico
14
Figura 3: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger cultivado no meio CBD
(100/0)
CC, C18
MeOH/H2O
FrP 1
(1,6 mg)
FrP 2
(1,7 mg)
FrP 3
6,4 mg)
FrP 4
10,9 mg)
FrP 5
(15,3 mg)
FrP 6
(16,3 mg)
FrP 7
(11,9 mg)
FrP 8
(4,9 mg)
FrP 9
(8,0 mg)
EXTRATO AcOEt
CBD
(100 mg)
(10/90) (20/80) (30/70) (50/50) (60/40) (70/30) (80/20) (90/10)
PIROFENO
15
Figura 4: Fluxograma do fracionamento do extrato AcOEt do fungo Aspergillus niger cultivado no meio CZAPEK
(100/0) (80/20)
CC, C18
MeOH/H2 O
FrC 1
(37,5 mg)
FrC 2
(13,0 mg)
FrC 3
(13,6 mg)
FrC 4
(16, mg)
FrC 5
(21,1 mg)
FrC 6
(17,5 mg)
FrC7
(30,4 mg)
FrC 8
(10,5 mg)
FrC 9
(17,3
mg)
EXTRATO AcOEt
CZAPECK
(200 mg)
(20/80) (30/70) (40/60) (50/50) (60/40)
(70/30) (90/10)
PIROFENO
3.2.8. Fracionamento do segundo extrato CBD (CBD2)
Uma parte do extrato foi fracionada utilizando CC com sílica gel de fase normal e a
outra utilizando fase reversa.
3.2.8.1. Fracionamento do extrato CBD2 utilizando sílica de fase reversa C18.
Uma parte do extrato foi fracionada utilizando CC de sílica de fase reversa C18 e
sistema de eluente H2O/MeOH conforme figura:
Figura 5: Fluxograma do fracionamento do extrato CBD2
A fração FrP2-1 obtida com 80/20 H2O/MeOH foi fracionada em CLAE semi-
preparativa utilizando coluna C-18 da Phenomenex (250 X 10 mm) sendo o sistema de
H2O/MeOH com gradiente linear de 5-50% de MeOH em 30 min, obtendo 3 mg da
substância 1 (ácido cítrico) na fração coletada entre os tR 2,5-3,0 min, identificou-se a
substância 2 (ácido tartárico) 2,5 mg coletada entre os tR 3,0-3,5 min.
A fração FrP2-2 obtida com 40/60 H2O/MeOH foi fracionada em CLAE semi-
preparativa utilizando coluna C-18 da Phenomenex (250 X 10 mm) sendo o sistema de
H2O/MeOH isocrático com 50% de MeOH em 30 min isolando a substância 3 p-acetil-
benzóico (2,8 mg).
CC, C18
H2 O/MeOH
FrP2-1
(64,9
mg)
FrP2- 2
(250 mg)
FrP2- 3
(100 mg)
EXTRATO AcOEt
CBD 2º cresc.
(461 mg)
(80/20) (40/60
)
(0/100)
17
3.2.8.2. Fracionamento do extrato de CBD utilizando fase normal
Uma porção correspondente a 200mg do extrato bruto obtido no segundo
crescimento, ou seja, extrato (CBD2) de A. niger, foi submetido à coluna de fase
normal, inicialmente com o sistema eluente DCM/AcOEt na proporção 30/70 onde
foram coletados 18 frações (Frc 1 a Frc 18 ) de 10 mL cada. O segundo sistema de
solvente foi DCM/MeOH na proporção 90/10 gerando 6 frações ( Frc 19 a Frc 25); o
terceiro sistema de solvente foi DCM/MeOH 50/50, coletando cinco frações; e por
último, lavou-se a coluna com 100% DCM de acordo com a tabela 2.
Tabela 2: Frações obtidas no fracionamento do extrato CBD2
FRAÇÃO
CÓDIGO
SOLVENTE
PROPORÇÃO
MASSA
1-5 ASP-30/70-1 a 5 DCM/AcOEt 30/70 7,5 mg
2 ASP-30/70-6 DCM/AcOEt 30/70 5,3 mg
7-10 ASP-30/70-7 a 10 DCM/AcOEt 30/70 18 mg
14 ASP-30/70-11 a 14 DCM/AcOEt 30/70 12 mg
15 ASP-30/70-15 DCM/AcOEt 30/70 1,68 mg
16 ASP-30/70-16 DCM/AcOEt 30/70 4,2 mg
17 ASP-30/70-17 DCM/AcOEt 30/70 4,4 mg
18 ASP-30/70-18 DCM/AcOEt 30/70 4,8 mg
19 ASP-90/10-19 DCM/MeOH 90/10 0,9 mg
20 ASP-90/10-20 DCM/MeOH 90/10 1,3 mg
21 ASP-90/10-21 DCM/MeOH 90/10 12,8mg
22 ASP-90/10-22 DCM/MeOH 90/10 6,8 mg
23 ASP-90/10-23 DCM/MeOH 90/10 0,5 mg
24 ASP-90/10-24 DCM/MeOH 90/10 27,6 mg
25 ASP-50/50-25 DCM/MeOH 50/50 0,3 mg
26 ASP-50/50-26 DCM/MeOH 50/50 1,1 mg
27 ASP-50/50-27 DCM/MeOH 50/50 0,3 mg
28 ASP-50/50-28 DCM/MeOH 50/50 5,8 mg
29 ASP-50/50-29 DCM/MeOH 50/50 6,2 mg
18
3.2.9. Análise isocrática dos extratos AcOEt por Cromatografia Líquida de
Alta Eficiência (CLAE)
3.2.10. Obtenção do padrão pirofeno
A substância pirofeno, purificada no laboratório por cromatografia, foi
recristalizada apresentando ponto de fusão em 178°C sendo utilizada para preparar a
solução padrão em diferentes concentrações.
3.2.11. Obtenção da curva de calibração do padrão Pirofeno
Da substância pirofeno foi pesado 5 mg, os quais foram solubilizados com MeOH
e adicionados a um balão volumétrico de 5 mL, resultando em uma solução de 1
mg/mL. Esta solução foi utilizada para preparar cinco soluções para obtenção da curva
com concentrações variando entre 0,0625 e 1,0 mg/mL. Tais soluções foram filtradas e
acondicionadas em vails de 2 mL sendo injetado 20 μL no CLAE analítico, no modo
isocrático, utilizando como fase móvel H2O/MeOH 50/50 em 10 min, fluxo de 1
mL/min, obtendo os cromatogramas. A área do pico do padrão pirofeno foi utilizada
para construção da curva de calibração para quantificação da referida substância nos
extratos.
Os extratos foram injetados na concentração de 1 mg.mL-1
, preparados pesando-
se 5 mg do extrato e solubilizando-se em metanol, completando o volume do balão
volumétrico para 5 mL; os caldos fermentados foram somente filtrados para injeção e as
condições analíticas empregadas foram as mesmas utilizadas para construção da curva
padrão, sendo que para análise do caldo fermentado, diretamente, sem extração, o
volume injetado foi de 50 μL, mantendo-se as demais condições cromatográficas.
3.2.12. Reagentes e soluções utilizados na identificação dos ácidos cítrico,
tartárico e oxálico no caldo fermentado pelo fungo A. niger utilizando
Eletroforese Capilar de Zona
Solução de Hidróxido de Sódio 1 mol/L e 0,1 mol/L (F. Maia).
Solução de Ácido Clorídrico 1 mol/L (F. Maia).
19
Soluções padrão
Solução de Ácido Oxálico 1,0000 g /100mL, Ácido Tartárico 0,5000 g /100mL e de
Ácido Cítrico 0,5000 g /100mL.
Soluções-tampão:
Ácido Bórico 100,0 mmol/L + 0,5 mol/L CTAB (Brometo de cetil trimetil amônio) pH
10,00
O valor de pH da solução foi ajustado com hidróxido de sódio 1,0 mol/L em seguida
filtrado com papel quantitativo 12,50 ± 0,10 cm antes de ser utilizado.
3.2.13. Otimização das condições eletroforéticas para a separação dos Ácidos
orgânicos
A detecção foi feita por UV com comprimento de onda em 214 nm para
determinação dos ácidos orgânicos. Para a identificação do sinal dos ácidos orgânicos,
em função do tempo de migração, foi utilizada solução individual do respectivo
composto e, em seguida, foram analisadas as amostras. Para confirmação da identidade
dos picos foi adicionada à amostra uma solução do respectivo ácido e avaliado o
aumento da altura do sinal do pico da seguinte forma:
Ácido tartárico: 0,5 mL extrato + 1 mL da solução estoque ácido tartárico
0,5000g/100mL e diluídos em água destilada a um volume final 3 mL;
Ácido oxálico: 3,0 mL extrato + 1 mL da solução estoque ácido oxálico diluídos em
água destilada a um volume final 6 mL;
Ácido cítrico: 3,5 mL extrato + 1 mL da solução estoque ácido cítrico 0,5000g/100mL
e diluídos com água destilada a um volume final 6 mL.
3.2.14. Preparo da curva analítica para o ácido oxálico
Com todos os parâmetros otimizados para a separação do ácido orgânico, foi
então construída a curva analítica para quantificação do mesmo no caldo fermentado,
considerando a altura do pico versus a concentração da amostra.
Para determinação do ácido oxálico empregou-se curva analítica na concentração
0,01 a 0,03 g/100mL do ácido oxálico.
As amostras foram filtradas diretamente em papel filtro quantitativo para serem
analisadas.
20
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Trabalho anteriorrmente realizado no Laboratório de Química de Fungos por
Santos et al., (2008) mostrou que o fungo A. niger isolado de H. speciosa produzia a
substância pirofeno, quando cultivado no meio de cultivo CBD por 28 dias, como o
metabólito majoritário. Visando entender os fatores que influenciam na produção desta
substância foi proposto neste trabalho o estudo da influência do meio e do período de
fermentação na produção deste metabólito. Os meios escolhidos para o estudo foram
CBD, Czapek e o suco de mangaba, sendo que o meio suco de mangaba foi escolhido
pelo fato do fungo ter sido isolado desta planta.
Durante o decorrer do trabalho notou-se a presença de cristais incolores em alguns
frascos contendo o extrato AcOEt, sugerindo ser ácidos orgânicos; como o gênero
Aspergillus é um conhecido produtor de ácidos orgânicos em escala industrial, foi
proposto o estudo químico destes extratos visando conhecer os demais constituintes dos
mesmos.
4.1 Obtenção e análise dos extratos de A. niger por RMN
Para obtenção dos extratos, o fungo preservado em água estéril foi repicado para
meio sólido, conforme metodologia descrita no item 3.2.2. Em seguida foram inoculados
nos meios líquidos, conforme descrito em 3.2.3, e extraídos com AcOeEt, gerando três
extratos. A análise dos extratos por RMN de 1H (Figuras 6, 7 e 8) evidenciou o grupo
fenila da molécula pelos sinais em torno de δH 7,2 ppm integrando para 5H, característico
de aromático monosubstituído, e o sinal δH 1,8 (s, 3H) característico do grupo acetila da
amida, indicando a presença de pirofeno nestes extratos.
21
SpinWorks 2.5: Extrato Manga
PPM 7.6 7.2 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4
file: D:\Resultados _espectros\RMN\gehs_08.07.09\11\fid expt: <zg30>
transmitter freq.: 400.203401 MHz
time domain size: 65536 points
width: 4496.40 Hz = 11.235294 ppm = 0.068610 Hz/pt
number of scans: 16
freq. of 0 ppm: 400.201578 MHz
processed size: 32768 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 6: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido do cultivo
de A. niger em suco de mangaba
SpinWorks 2.5: Water Suppression
PPM 8.4 8.0 7.6 7.2 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4 -0.0
7
.8834
7
.2605
7
.2467
7
.2085
7
.1941
6
.0008
5
.9968
5
.5482
5
.5441
4
.8684
3
.8118
3
.3151
3
.3119
3
.3086
3
.3054
3
.3021
2
.5640
1
.9054
1
.2787
0
.9766
0
.9708
0
.9632
0
.9471
0
.9335
0
.9262
0
.9199
0
.9137
0
.0989
file: F:\extratoPDBoxalico_H.fid\fid block# 1 expt: "water"
transmitter freq.: 499.733546 MHz
time domain size: 32000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008531 ppm = 0.250000 Hz/pt
number of scans: 32
freq. of 0 ppm: 499.730987 MHz
processed size: 65536 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 7: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido do cultivo
de A. niger em CBD
22
SpinWorks 2.5: CZAPECK - Extrato
PPM 8.0 7.6 7.2 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4 -0.0
file: D:\Resultados _espectros\RMN\gehs_08.07.09\5\fid expt: <zg30>
transmitter freq.: 400.201693 MHz
time domain size: 65536 points
width: 6313.13 Hz = 15.774874 ppm = 0.096331 Hz/pt
number of scans: 16
freq. of 0 ppm: 400.200000 MHz
processed size: 32768 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 8: Espectro de RMN do extrato AcOEt em CDCl3/CD3OD obtido do cultivo
de A. niger no meio líquido Czapek.
4.2 Isolamento e Caracterização da substância pirofeno nos extratos do fungo A.
niger crescido nos meios CBD, Czapek e suco de mangaba.
A substância 1 (Figura 13) foi isolada dos meios de cultivo Czapek, CBD e suco
de mangaba, como cristais amarelos. O espectro de RMN de 1H mostrou sinais
característicos de um anel aromático mono-substituído com δH 7,03 (dl 6,0 Hz; 2H); δH
7,13 (m, 1H) e δH 7,17 (m, 2H), sinais indicativos de pirona em δH 5,33 (d, 1H; J= 2,5), e
em 5,70 (d, 1H; J= 2,5), um sinal em δH 1,89 (s, 3H) indicando a presença de uma metila
de amida e um sinal em δH 3,69 (s, 3H) característico de metoxila. O espectro de RMN
13C confirmou a presença de um anel aromático mono-substituído com δC 135 (1C);
128,5 (2C); 126,9 e 128,9 (2C), uma metoxila δC 52,4 e duas carbonilas, uma de um
acetato δC 169,8 e outra indicativa de pirona em δC 164,5. A partir da comparação com
dados disponíveis na literatura (VAROGLU , 2000) foi possível a identificação estrutural
da substância 1 como pirofeno.
23
Figura 9: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz do pirofeno ( CDCl3).
Figura 10: Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz do pirofeno ( CDCl3).
30 Jul 2010
Acquisition Time (sec) 4.0000 Comment Std proton Date Jun 30 2010 Frequency (MHz) 499.73
Nucleus 1H Number of Transients 2 Original Points Count 32000 Points Count 32768 Solvent DMSO Sweep Width (Hz) 8000.00
Temperature (grad C) 25.000
8.5 8.0 7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0
7.9
17.9
0 7.4
7
7.1
87.1
6
7.0
87.0
7
5.7
8
5.3
2
4.8
34.8
2
3.6
8
3.0
53.0
43.0
23.0
12.9
32.9
12.9
02.8
8
1.8
3
30 Jul 2010
Acquisition Time (sec) 1.3005 Comment Std proton Date Jun 30 2010
Frequency (MHz) 125.67 Nucleus 13C Number of Transients 5000 Original Points Count 39215 Points Count 65536
Solvent DMSO Sweep Width (Hz) 30154.54 Temperature (grad C) 25.000
230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 -20
170.6
7169.7
5
163.8
7162.4
7
136.3
6
128.6
6128.0
5
128.0
3
126.3
6
104.3
8
104.3
7
99.9
4
87.7
9
77.6
277.3
677.1
0
55.6
5 52.1
0
44.3
9
39.5
738.0
2
22.3
5
-5.9
2
-9.4
7
24
m/z100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380
%
0
100
PIROFENO 221 (4.166) 1: TOF MS ES+ 2.91e3310.0663
215.0078
288.1170
246.1033
236.9982 305.1548
311.1052
326.0863
Figura 11: Espectro de massas do pirofeno obtido por electrospray modo positivo
Figura 12: (Estrutura da substância 1 : pirofeno)
15
NH
O
CH3
O
O
O
CH3
7
89
10
11
12
13
6
14
12
3
164
5
15
NH
O
CH3
O
O
O
CH3
7
89
10
11
12
13
6
14
12
3
164
5
NH
O
CH3
O
O
O
CH3
7
89
10
11
12
13
6
14
12
3
16
NH
O
CH3
O
O
O
CH3
7
89
10
11
12
13
6
14
12
3
167
89
10
11
12
13
6
14
12
3
164
5
4
5
M+H
M+Na
25
Tabela 3. Deslocamento químico RMN de 1H (500 MHz, CDCl3) da substância 1 e
dos dados da substância na literatura.
Δ 1H do pirofeno δ
13C do pirofeno
Isolado Literatura Isolado Literatura
1 164,5 164,4
2 5,33 sl 5,42 d (2,2) 88,4 88,5
3 170,9 170,5
4 5,7 sl 5,75 d (2,2) 101,1 101,2
5 161,4 161,3
6 4,9 t (8,0) 5,0 t (8,0) 52,4 52,4
7 3,0 d (8,0) 3,08 d (8,0) 38,7 38,9
8 135,8 135,8
9 7,04 m 7,15 m 128,9 129,1
10 7,04 m 7,30 m 128,5 129,7
11 7,13 m 7,22 m 126,9 127,2
12 7,18 m 7,30 m 128,5 129,1
13 7,04 m 7,06 m 128,9 127,2
14 169,8 169,6
15 1,87 s 1,96 s 22,9 23,2
16 3,65 s 3,75 s 55,9 56,0
4.2.1. Quantificação da substância pirofeno nos extratos do fungo A. niger
crescidos nos meios CBD, Czapek e suco de mangaba
Para a quantificação da substância pirofeno nos diferentes meios de cultura foi obtida
uma curva de calibração utilizando o método cromatográfico descrito no item 3.2.11
utilizando padrão externo nas concentrações: 0,0625, 0,125, 0,25, 0,5 , 1,0 mg/ mL e
injetando 20 μL, obtendo a seguinte equação para a reta Y = 0,000000251379 -
0,003574716871 ( com R2 = 0,999). O Limite de Quantificação (LQ) foi de 0, 002749
mg/mL e o Limite de Detecção (LD) foi de 0,0008248 mg/mL calculados.
26
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 8.0 8.5 9.0 9.5 min
-5.0
-2.5
0.0
2.5
5.0
7.5
10.0
12.5
15.0
17.5
20.0
22.5
25.0
27.5
30.0
32.5
35.0
37.5
40.0
42.5
45.0
mAU280nm4nm (1.00)
Figura 13: Cromatograma do padrão pirofeno.
CURVA DE CALIBRAÇÃO DO PIROFENO
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
0 1000000 2000000 3000000 4000000 5000000
ÁREA
CO
NC
EN
RA
ÇÃ
O
Série1
Figura 14: Curva de calibração obtida por CLAE-DAD para a substância
pirofeno.
Os três extratos obtidos foram analisados por CLAE e o resultado apresentado na
Tabela 4. Pode-se observar na Tabela 4 que o melhor meio para produção da substância
pirofeno é o suco de mangaba. Tal fato talvez esteja relacionado à interação do fungo na
natureza com a mangabeira (Hancornia speciosa).
H2O/MeOH 1/1
Fluxo de 1 mL/min
λ = 254 nm
27
Tabela 4: Quantificação do pirofeno nos diferentes extratos obtidos de A. niger.
Meios líquidos de cultivo Massa do extrato (g/L) Porcentagem de pirofeno
no extrato
CZAPEK 0,0886 11,5 %
CBD 0,0615 9,5 %
SUCO DE MANGABA 0,2532 23,5 %
4.2.2. Avaliação da produção de massa seca (biomassa) pelo fungo A. niger em
função do tempo de cultivo
Dados cinéticos são importantes no desenvolvimento de estudos para a otimização
das condições de cultivo, planejamento da produção, projeto de bio-reatores, entre
outros. Para obtenção dos parâmetros cinéticos para a produção de biomassa por A. niger
foi realizado um cultivo, conforme descrito em 3.2.4. Os resultados obtidos para
produção de biomassa deste fungo são coerentes com dados da literatura, mostrando que
ocorre um aumento na biomassa de micélio até o décimo quinto dia de cultivo e a partir
deste momento há uma diminuição da mesma até o término do crescimento, como pode
ser observado na curva de produção de biomassa em função do tempo na Figura 15.
0
100200
300400
500
600700
800
9001000
11001200
1300
14001500
1600
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
Figura 15: Gráfico da produção de biomassa pelo fungo A. niger crescido no meio
CBD num período de 27 dias
Biomassa em
mg/L
Tempo em dias
28
4.2.3. Avaliação da produção de extrato em meio BDA em função do tempo
A produção de extrato pelo fungo segue o padrão da produção de biomassa, sendo
que a massa de extrato atinge o valor máximo no 12° dia de cultivo, enquanto a massa de
micélio aumenta até o 15° dia de cultivo. Tal fato pode ser explicado pelo consumo de
algumas substâncias (como ácidos orgânicos) presentes no extrato, para produção de
biomassa e energia pelo fungo.
0
20
40
60
80
100
120
140
0 5 10 15 20 25 30
Tempo ( dias)
Co
ncen
tração
m
g/l
Série1
Figura 16: Produção de extrato pelo fungo A. niger crescido no meio CBD num
período de 27 dias com intervalo de 3 dias.
4.2.4. Avaliação da produção da substância pirofeno em CBD em função do
tempo.
A produção de pirofeno atingiu o ponto máximo com 12 dias de cultivo, assim
como a produção de biomassa, nos dias seguintes ocorre um decaimento até o final do
cultivo com 27 dias.
29
Produção do Pirofeno
0
2
4
6
8
10
12
14
3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0 27,0
Número de dias de crescimento
Co
ncen
tração
mg
/L
Figura 17: Gráfico da concentração do pirofeno no caldo fermentado obtido do
cultivo do fungo A. niger no meio CBD por um período de 27 dias, análise a cada 3
dias.
Com os dados cinéticos obtidos na primeira quantificação foi proposto um novo
crescimento para melhor visualizar a produção de pirofeno por A. niger. Neste novo
experimento foi utilizada uma solução de esporos (para controlar a quantidade de inóculo
em cada frasco) inoculada em 4 Erlenmeyer de 1L, retirando diariamente uma alíquota de
aproximadamente 15 mL. As análises de pirofeno foram realizadas por CLAE, sendo
utilizado um método desenvolvido para diminuir as etapas do preparo de amostras e
viabilizar uma análise diária das quatro repetições. Tal metodologia consiste em injetar o
caldo fermentado após filtração no CLAE, eliminando as etapas de extração, secagem e
preparo de soluções para análise. O método utilizado foi semelhante ao descrito para o
extrato AcOEt, diferindo apenas no volume de injeção, que passou de 20 μL para 50 μL,
para aumentar a sensibilidade do método. A análise do gráfico mostra que este método
não permite quantificar a substância pirofeno nos seis primeiros dias, estando sua
concentração, neste tempo de cultivo, abaixo do limite de quantificação. Como foram
utilizados esporos neste crescimento o período para germinação e adaptação do fungo ao
meio de cultivo foi mais longo, caracterizando assim a fase Lag da produção de pirofeno.
A produção da substância aumenta gradativamente do 7º ao 15º dia caracterizando a fase
Log da produção de pirofeno.
O uso deste método diminuiu os gastos com meio de cultura, vidraria, solvente e
tempo. Também diminuiu os erros experimentais e possibilitou uma avaliação diária da
produção da substância pelo fungo.
30
PRODUÇÃO DE PIROFENO
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Tempo ( dias)
Co
ncen
tração
mg
/L
Figura 18: Concentração do pirofeno do fungo A. niger crescido no meio CBD num
período de 15 dias com intervalo de 1 dia
4.3 Caracterização dos ácidos oxálico, tartárico e cítrico nas frações e no caldo
fermentado
4.3.1. Caracterização do ácido oxálico
A fração 1, obtida no fracionamento do extrato AcOEt do fungo A. niger cultivado
no meio suco de mangaba, foi analisada por RMN de 1H e mostrou apenas um sinal em
δH 6,33 (s) sugerindo ser de hidrogênio ligado a heteroátomo. O espectro de RMN de 13
C
mostrou a presença de um sinal em δC 161,1 indicando a presença de uma carbonila,
sendo tal fração denominada como substância 2. Tal substância também foi identificada
na fração 30/70-16.
Figura 19: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz do ácido oxálico ( CDCl3/DMSO)
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 13.0 12.0 11.0 10.0 9.0 8.0 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 -1.0
6.
3368
file: G:\geraldo 1\mangaba5_h_CDCl3.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 499.734390 MHz
time domain size: 64000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008504 ppm = 0.125000 Hz/pt
number of scans: 32
freq. of 0 ppm: 499.731391 MHz
processed size: 65536 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
31
Figura 20: Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz, do ácido oxálico (CDCl3/DMSO-d6)
A análise do espectro de massas da substância 2 apresentou fragmentos
característicos do ácido oxálico como o pico em 91 [ M+H]+, 113 [ M + Na]
+.
m/z87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114
%
0
100
8020 NP1 284 (5.350) Cm (257:284) 1: TOF MS ES+ 77113.1367
99.1180
91.0566
86.1047
90.060889.0600
86.364888.2412
99.0556
99.0483
99.0409
98.9896
95.084191.5214
94.052198.027897.6087
107.0860
104.0760
104.0685
101.0681 102.0559
106.0475
105.7101
110.1118108.1027
111.0845
114.0675
Figura 21: Espectro de massas do ácido oxálico obtido por electrospray modo
positivo
A análise dos espectros e a comparação com os dados na literatura
(www.nmrshiftdb.org) mostram que a substância 2 é o ácido oxálico (figura 25). Como
este ácido possui valor comercial, resolveu-se identificá-lo e quantificá-lo no caldo
fermentado diretamente, uma vez que, se trata de uma substância polar e processos de
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 200.0 180.0 160.0 140.0 120.0 100.0 80.0 60.0 40.0 20.0 0.0
16
0.2
787
file: G:\geraldo 1\mangaba5_C_CDCl3.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 125.670722 MHz
time domain size: 78430 points
width: 30154.54 Hz = 239.948824 ppm = 0.384477 Hz/pt
number of scans: 232
freq. of 0 ppm: 125.657606 MHz
processed size: 131072 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
DMSOd6 CDCl3
32
extração baseados em partição líquido/líquido utilizando AcOEt para esta substância não
são eficientes, devido ao seu baixo coeficiente de partição AcOEt/H2O. Para tanto, foram
realizadas análises por Eletroforese Capilar, no Laboratório de Eletroforose Capilar da
UFS campus Prof Alberto Carvalho. O caldo fermentado foi filtrado e analisado por
eletroforese capilar de zona, conforme descrito em 3.12.13, e possibilitou a identificação
do ácido oxálico no caldo, pois o mesmo apresentou pico com o tempo de migração do
padrão e ao realizar a co-injeção houve aumento do pico, evidenciando a fortificação da
amostra com o padrão puro (Figura 22).
2 3 4 5 6
-4
0
4
8
Alt
ura
(m
V)
Tempo (min)
Amostra Pura
Ácido Oxálico (0,025 g/100mL)
Figura 22 : Eletroferograma do ácido oxálico, sendo: A - amostra analisada, B
padrão - na concentração de 0,025g/100mL. Tampão ácido bórico
100mmol/L+CTAB 0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s
O método desenvolvido foi eficiente para separação do ácido oxálico e apresentou
boa resolução para o pico deste ácido. Para otimização deste método de análise para o
uso em estudos cinéticos foi construída uma curva de calibração conforme figura 23.
Ácido Oxálico
B A
33
0,010 0,015 0,020 0,025 0,030
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
[1/11/2010 14:38 "/Graph3" (2455501)]
Linear Regression for Data1_B:
Y = A + B * X
Parameter Value Error
------------------------------------------------------------
A 0,3922 0,3138
B 191,24 14,79277
------------------------------------------------------------
R SD N P
------------------------------------------------------------
0,99114 0,23389 5 9,99095E-4
------------------------------------------------------------
Alt
ura
(mV
)
Concentração (g/100mL)
Figura 23. Curva analítica para o ácido oxálico. A x C. Solução 25,0 mmol/L
tampão borato pH 9,00, modo de injeção hidrodinâmica, 30s, λ=254 nm e ddp de
12kV
A curva analítica construída para os ácidos apresentou valor do coeficiente de
correlação R2 =0,9905, valor do limite de detecção estimado em 0,06 mg/L e limite de
quantificação de 0,22 mg/L, com desvio padrão < 2%; o tempo de análise foi inferior a
4 minutos. Sendo assim, o método proposto foi adequado para as medidas quantitativas
do referido ácido.
Tal método foi utilizado para quantificar o ácido oxálico no caldo fermentado,
permitindo avaliar a produção deste ácido em função do tempo de cultivo, quando o
fungo A. niger foi cultivado em meio CBD (com inoculação somente de esporos) por
um período de 15 dias.
Produção de ácido em função do tempo de cultivo
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0 2 4 6 8 10 12 14 16
dias de cultivo
Co
ncen
tração
(g
/L)
Série1
Figura 24: Curva de produção do ácido oxálico pelo fungo A. niger crescido no
meio CBD num período de 15 dias, com avaliação a cada 3 dias.
34
Podemos observar na curva de produção do ácido oxálico em função do tempo que o
máximo de produção é atingido com doze dias de cultivo, sendo este o período
adequado para se obter a maior produção deste ácido, quando se cultiva A. niger nestas
condições.
Figura 25. Estrutura da substância 2 (ácido oxálico)
4.3.2. Caracterização do ácido cítrico (substância 3)
A fração FrP2-1 obtida no fracionamento da fração 80/20 H2O/MeOH por CLAE,
apresentou aspecto cristalino e foi submetida à analise por RMN de 1H, verificando-se
que a mesma apresenta uma substância majoritária em sua composição. O espectro de
RMN de 1H (figura 26), apresentou dois sinais em δH 2, 77 (d, J=15,5 Hz) e 2,88 (d, JH
geminal =15,5 Hz). O espectro de HMBC (Figura 27), mostrou correlações do sinal em
δH 2,77 (d, J=15,5 Hz) com δc 176,0; 173,0; 73,0 e 44, sugeriu se tratar do ácido cítrico
2, pois tal ácido é produzido por várias espécies de A. niger. O espectro de massas
(Figura 28) obtido por electrospray modo positivo, apresentou os íons 193 [M+H]+ e 215
[M+ Na]+ e os fragmentos 175 [M+H-H2O]
+ e 149 [ M+H-CO2]
+ característicos do
ácido cítrico, estes dados estão coerentes com os dados espectroscópicos presentes na
literatura (www.nmrshiftdb.org).
O
OH
OH
O
35
SpinWorks 2.5: Water Suppression
PPM 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2
6
.7569
6
.7556
4
.5690
4
.5364
2
.9250
2
.8936
2
.8107
2
.7790
2
.7734
2
.5649
1
.2852
file: C:\Documents and Settings\Pimenta\Desktop\mestrado\disertação doc\RMN\amPico1_30_01_H_.fid\fid block# 1 expt: "water"
transmitter freq.: 499.733546 MHz
time domain size: 32000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008531 ppm = 0.250000 Hz/pt
number of scans: 32
freq. of 0 ppm: 499.730987 MHz
processed size: 65536 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 26: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz do ácido cítrico ( Mistura MeOH +
DMSO-d6)
CD3OD H20 do CD3OD
36
Figura 27: Mapa de contorno HMBC do ácido cítrico
SpinWorks 2.5: Watergate TOCSY
PPM (F1) 170 160 150 140 130 120 110 100 90.0 80.0 70.0 60.0 50.0 40.0 PPM (F2)
4.8
4.6
4.4
4.2
4.0
3.8
3.6
3.4
3.2
3.0
2.8
2.6
2.4
2.2
2.0
file: G:\geraldo 1\pico1_25_05_2010hmbc.fid\fid expt: "gHMBC"
transmitter freq.: 499.733985 MHz
time domain size: 4096 by 256 points
width: 5996.55 Hz = 11.999488 ppm = 1.464002 Hz/pt
number of scans: 16
F2: freq. of 0 ppm: 499.730987 MHz
processed size: 4096 complex points
window function: NONE
shift: 0.0 degrees
F1: freq. of 0 ppm: 125.657427 MHz
processed size: 2048 complex points
window function: NONE
shift: 0.0 degrees
37
m/z130 135 140 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 195 200 205 210 215 220 225
%
0
100
N2SP2 P3 36 (0.685) Cm (33:45) 1: TOF MS ES+ 310149.0294
147.0702129.0598
133.0970143.1068
143.0363
215.0218
167.0412
163.0413
155.0859
159.1410
175.1377
175.0402
190.0925
177.0544185.1064
205.0948193.0402
201.0465211.0850
219.0551
223.0762
Figura 28: Espectro de Massas do ácido cítrico obtido por eletrospray no modo
positivo
O
OO
OH
OH
OH OH
Figura 29: Estrutura do ácido cítrico (substância 3)
O ácido cítrico foi identificado em uma fração obtida do extrato AcOEt, o fato
deste ácido ser uma substância polar e o solvente usado na extração ser o AcOEt que
possui média polaridade, sugeriu que apenas uma pequena quantidade do ácido cítrico foi
extraída e que a maior parte do ácido tenha ficado na fração aquosa. Para análise do ácido
diretamente no caldo fermentado, sem etapas de extração, foi desenvolvido um método
de análise por eletroforese capilar. O método foi capaz de identificar o pico referente ao
ácido cítrico (Figura 30) pelo tempo de migração e co-injeção do padrão puro, mas
precisa ser melhorado para a realização da etapa de quantificação.
38
2 4 6
-2
0
2
4
6
8
10
12A
ltu
ra (
mV
)
Tempo (min)
Amostra Pura
Ácido Cítrico (0,05 g/100mL)
Figura 30: Eletroferograma do ácido citrico, sendo: A – amostra analisada, B
padrão - na concentração de 0,05g/100mL. Tampão ácido bórico
100mmol/L+CTAB 0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s.
O ácido cítrico possui grande interesse comercial e a identificação de novas cepas
com capacidade de produzi-lo podem ser úteis para o melhoramento genético, desde que
preservadas.
4.3.3. Caracterização do ácido tartárico (substância 4)
A terceira fração coletada no fracionamento da fração FrP2-1 do CBD2 por CLAE
apresentou aspecto cristalino e foi submetida à análise por RMN de 1H verificando que a
mesma apresenta uma substância majoritária em sua composição. O espectro de RMN de
1H da substância 4 ( Figura 31) apresentou apenas um sinal δH 4,72 (s), como várias
espécies de A. niger são produtoras de ácidos orgânicos, a comparação destes dados com
valores de ácidos produzidos pelo gênero Aspergillus sugeriu que este ácido seja o ácido
tartárico. A estudo do caldo fermentado por eletroforese capilar (Figura 32) confirmou
que este fungo produz o ácido tartárico, através da análise do pico referente ao ácido bem
como pelo tempo de migração e co-injeção do padrão puro.
A B
Àcido Cítrico
39
Figura 31 : Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do ácido tartárico ( CDCl3)
2 4
-6
-4
-2
0
2
Alt
ura
(m
V)
Tempo (min)
Amostra
Ácido Tartárico (0,025 g/100mL)
Figura 32: Eletroferograma do ácido tartárico, sendo: A – amostra analisada, B
padrão - na concentração de 0,025g/100mL. Tampão ácido bórico
100mmol/L+CTAB 0,5mol/L pH 10,0, 8kV, 36µA , 15s
O
O
OH
OH
OH
OH
Figura 33: Estrutura da substância 4 (ácido tartárico)
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 8.0 7.6 7.2 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4 -0.0
7
.1978
4
.7161
4
.7147
4
.7095
4
.7033
1
.5621
file: G:\geraldo 1\an80_20_3.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 499.732016 MHz
time domain size: 64000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008580 ppm = 0.125000 Hz/pt
number of scans: 64
freq. of 0 ppm: 499.729050 MHz
processed size: 262144 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
A
B
B
A
Ácido Tartárico
40
O trabalho desenvolvido permitiu identificar que o fungo A. niger produz os
ácidos orgânicos, o oxálico, o tartárico e o cítrico, bem como quantificar o ácido
oxálico. Vários trabalhos (MENDES et al. 2003; NAHAS 2008) têm relatado a
importância destes ácidos na solubilização de fosfatos no solo, estando este fungo
associado à mangabeira, uma planta característica de solos pobres. A descoberta de um
simbionte capaz de produzir ácidos orgânicos responsáveis pela solubilização de
fosfatos abre uma nova possibilidade para o manejo desta cultura.
4.4 Caracterização das substâncias p-acetil-benzóico e ácido hexilitacônico
4.4.1 Determinação estrutural do ácido p-acetil-benzóico (substância 5)
O espectro de RMN de 1H do extrato bruto do CBD da substância 5 ( Figura 34 )
apresentou sinais em δH 7,62 (d, J=9,0 Hz, 2H) e 8,1 (d, J=9,0 Hz, 2H), caracterizando
um anel aromático dissubstituído em para, e um sinal de metila em δH 2,1 (s, 3H),
indicando ser um derivado do ácido benzóico. A amostra foi analisada por Massas e
apresentou picos para o íon molecular em m/z 181 [M+H]+ e 203 [M+Na]
+ e os
fragmentos m/z 163 [ M+H-H2O]+, 166 [ M+H-CH3]
+ e 172 [ M+Na-CH3O]
+
confirmando a estrutura da substância 5 como ácido p-acetil-benzóico. Este é, até o
momento, o primeiro relato desta substância em fungo endofítico, mas a literatura mostra
que a substância p-hidroxi-benzóico foi isolada de vários fungos (TAN et al., 2001),
corroborando com os nossos resultados.
41
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 8.4 8.0 7.6 7.2 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4
8
.1613
8
.1430
7
.6382
7
.6200
7
.1977
3
.6912
2
.1835
1
.8992
1
.5002
1
.4760
1
.4742
1
.4716
1
.1907
file: C:\Documents and Settings\Pimenta\Desktop\mestrado\disertação doc\RMN\an25_10_09pico11.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 499.732016 MHz
time domain size: 64000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008580 ppm = 0.125000 Hz/pt
number of scans: 32
freq. of 0 ppm: 499.729050 MHz
processed size: 262144 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 34: Espectro de RMN de 1H a 500 MHz , do p-acetilbenzóico ( CDCl3)
m/z156 158 160 162 164 166 168 170 172 174 176 178 180 182 184 186 188 190 192 194 196 198 200 202 204
%
0
100
2510 PICO 11 29 (0.554) Cm (26:37) 1: TOF MS ES+ 372203.0525
181.0679
172.5531
166.0854163.5404162.1158159.0434
167.0365
173.0859180.1024
183.1015
202.1556199.1025
187.0868 189.1336 196.1035
204.0513
Figura 35: Espectro de massas do p-acetilbenzóico obtido eletrospray modo
positivo
42
O
OH
O
O
CH3
Figura 36: Estrutura da substância 5 (ácido p-acetil-benzóico)
4.4.2 Determinação estrutural do ácido hexilitacônico (substância 6)
O espectro de RMN de 1H da fração 30/70-6 do extrato de acetato de CBD
AcOEt/DCM mostrou dois singletos com δH 5,79 (1H) e 6,4 (1H), dois tripletos com δH
3,49 (1H) e 0,83 (3H) e quatro multipletos entre δH 1,0 - 1,8 sugerindo se tratar de vários
sinais de metilenos em uma cadeia carbônica, característicos de ácidos graxos. O
espectro de RMN de 13
C (tabela 5; figura 39) apresentou sinais característicos de uma
grupo metileno terminal em δc 129,8 e 137,4 e sinais de um cadeia alifática entre δc 14,1
- 31,8 bem como um sinal em δc 168 característico de carbonila do ácido carboxílico.
O espectro de Massas obtido por electrospray modo positivo mostrou os picos do
íon molecular 215 [M + H]+ e 237 [M + Na]
+ e dos fragmentos 197 [M + Na – H2O]
+,
281 [M-2H+3Na]+, 259 [M-H+2Na]+. A comparação destes resultados com dados da
literatura (HASEGAWA, et al., 2007; TSUKAMOTO., et al., 2006; KLENKE et al.,
2008), confirmou que a substância 6 é o ácido hexilitacônico (Tabela 5 e Figuras 38 a
41).
Figura 37: Estrutura do ácido hexilitacônico (substância 6)
O
CH2
O
OH
OH
CH3
6’
4’
5’
3’ 2’
1’
4 3
2 1
1’’
43
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 6.8 6.4 6.0 5.6 5.2 4.8 4.4 4.0 3.6 3.2 2.8 2.4 2.0 1.6 1.2 0.8 0.4 -0.0
7
.1979
6
.7312
6
.4634
5
.7929
3
.7650
3
.5310
3
.4960
3
.3993
3
.3943
3
.3937
3
.3790
2
.7415
2
.4460
2
.4307
2
.4150
1
.8633
1
.8493
1
.6714
1
.5527
1
.5507
1
.5365
1
.5216
1
.5213
1
.5192
1
.5186
1
.3022
1
.2965
1
.2960
1
.2955
1
.2939
1
.2919
1
.2913
1
.2908
1
.2896
1
.2868
1
.2787
1
.2781
1
.2771
1
.2700
1
.2693
1
.2687
1
.2647
1
.2560
1
.2480
1
.2422
1
.2352
1
.2348
1
.2314
1
.2288
1
.2261
1
.2255
1
.2198
1
.2180
1
.2153
1
.2055
1
.2041
1
.2006
1
.2000
1
.1994
1
.1907
1
.1813
1
.1802
0
.8355
0
.8280
0
.8270
0
.8218
0
.8147
0
.8045
0
.8007
0
.0059
file: C:\Documents and Settings\Administrador\Desktop\Espectros LNLS\Geraldo\30706.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 499.732016 MHz
time domain size: 64000 points
width: 8000.00 Hz = 16.008580 ppm = 0.125000 Hz/pt
number of scans: 32
freq. of 0 ppm: 499.729050 MHz
processed size: 262144 complex points
LB: 0.500 GB: 0.0000
Figura 38 : Espectro de RMN de 1H das frações 3070-6
SpinWorks 2.5: Std proton
PPM 170.0 160.0 150.0 140.0 130.0 120.0 110.0 100.0 90.0 80.0 70.0 60.0 50.0 40.0 30.0 20.0 10.0
file: C:\Documents and Settings\Administrador\Desktop\Espectro\30_70\30706_C.fid\fid block# 1 expt: "s2pul"
transmitter freq.: 125.670125 MHz
time domain size: 78430 points
width: 30154.54 Hz = 239.949964 ppm = 0.384477 Hz/pt
number of scans: 9712
freq. of 0 ppm: 125.657009 MHz
processed size: 131072 complex points
LB: 0.000 GB: 0.0000
Figura 39 : Espectro de RMN de 13
C a 125 MHz , do hexilitacônico ( CDCl3)
44
Tabela 5. Deslocamentos químico RMN de 1H da substância 6 e dados da
substância da literatura do ácido hexilitacônico
1H do Hexilitacônico
13C do Hexilitacônico
Isolado
Literatura
Literatura
(KLENKE et al.,
2008)
Isolado
1 171,7 168,0
2 137,2 137,4
3 3,49 (1H, t) 3,44 (1H,t) 46,6 47,1
4 179,7
1’ 1,66 (1H, m)
1,70 (1H, m)
1,67 (1H, m)
1,83 (1H, m)
30,3 30,2
2’ 1,2 -1,3 (2H, m) 1,30 - 1,32 (2H, m)
27,3 27,5
3’ 1,2 -1,3 (2H, m) 1,30 - 1,32 (2H, m) 28,9 31,5
4’ 1,2 -1,3 (2H, m) 1,30 - 1,32 (2H, m) 31,5 31,8
5’ 1,2 -1,3 (2H, m) 1,30 - 1,32 (2H, m) 22,5 22,8
6’ 0,83 (3H, t) 0,89 (3H, t) 14,0 14,1
1’’ 5,79 (1H, s)
6,4 (1H, s)
5,74 s
6,32 s
129,8 129,8
m/z195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 245 250 255 260 265 270 275 280
%
0
100
AN 30706 280 (5.276) Cm (279:296) 1: TOF MS ES+ 6.14e3237.1003
197.1179
207.0645
198.1228
230.0779
215.1266
213.0617
223.0950221.0852
229.1009
232.1561
281.0929
276.1418
241.1057
259.0617253.0829
251.1288
249.1823
242.1080
273.0766
267.1963
265.1643
Figura 40 : Espectro de Massas do ácido hexilitacônico obtido por electrospray
modo positivo
45
m/z110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270
%
0
100
AN 30706 MSMS 237 20 (0.383) Sb (2,60.00 ); Cm (14:30) 1: TOF MSMS 237.00ES+ 1.25e3237.1117
197.1179
123.1148
169.1252151.1157
219.0682
215.1266
238.1113
Figura 41: Espectro de Massa/Massa do íon 237 do ácido hexilitacônico
O ácido hexilitacônico isolado do extrato possui relatos de atividade
anticancerígena (TSUKAMOTO et al., 2006), sendo este fungo uma fonte em potencial
para produção desta substância em escala comercial. Outra atividade relatada para esta
substância é a fito-hormonal, (Isogai et al., 1984) onde o ácido foi isolado do fungo
Aspergillus niger e verificou-se que ela acelera o desenvolvimento de raízes em alface
(Lactuca sativa), tal descoberta deu origem a uma patente (SUZUKI et al., 1984).
Fungos endofíticos vivem em constante interação com as plantas e a descoberta
de uma substância com propriedades fito-hormonais produzidas por A. niger, um
endófito de H. speciosa, vem contribuir com o conhecimento desta interação ecológica.
46
5. CONCLUSÃO
O trabalho desenvolvido permitiu identificar que o isolado de A. niger produz
três ácidos orgânicos que podem estar envolvidos na solubilização de fosfato no solo
para a mangabeira durante o período de decomposição das folhas, sendo eles o oxálico,
o tartárico e o cítrico.
O uso de eletroforese capilar permitiu identificar os ácidos oxálico, cítrico e
tartárico no caldo fermentado, bem como quantificar o ácido oxálico. O pico de
produção deste ácido pelo fungo é o 12º dia de cultivo.
A substância pirofeno foi isolada nos três meios de cultura utilizados, CBD, suco
de mangaba e CZAPEK, sendo o melhor meio para sua produção o suco de mangaba.
O período ideal para o cultivo do A. niger em meio líquido CBD é de 15 dias
para produção de biomassa e 12 dias para produção do extrato AcOEt e da substância
pirofeno, quando inoculados com discos de cultura.
O método analítico desenvolvido para quantificar pirofeno se mostrou eficiente,
pois possibilitou identificar e quantificar a substância com intervalo de corrida de
apenas 10 minutos, além de permitir a análise tanto do extrato como do meio
fermentado.
A capacidade deste endófito de produzir ácidos orgânicos oxálico, cítrico e
tartárico, abre uma nova perspectiva para estudos da interação A. niger/mangabeira,
podendo resultar em uma nova tecnologia de manejo da cultura que possui grande
importância comercial para o estado de Sergipe.
47
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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