a substância do capital

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A Substância do Capital O trabalho abstracto como metafísica real social e o limite interno absoluto da valorização. Primeira parte: A ualidade hist!rico"social ne#ativa da abstracção $trabalho$. O Absoluto %Absolutheit& e a relatividade na 'ist!ria. Para a crítica da redução fenomenol!#ica da teoria social ((( O conceito filos!fico de substância e a metafísica real capitalista ((( O conceito ne#ativo de substância do trabalho abstracto na crítica da economia política de )ar* ((( O conceito positivo do trabalho abstracto na ontolo#ia do trabalho mar*ista ((( Para a crítica do conceito de trabalho em )oishe Postone ((( O trabalho abstracto e o valor como apriori social ((( O ue + abstracto e real no trabalho abstracto, ((( O tempo hist!rico c oncreto do capitalismo O Absoluto %Absolutheit& e a relatividade na 'ist!ria. Para a crítica da redução fenomenol!#ica da teoria social Vendo bem, quase sempre se pode constatar que existe algo como correspondências e correlações entre mudanças históricas completamente diferentes, em áreas do saber ou domínios da vida aparentemente bem afastados entre si. o sistema produtor de mercadorias da modernidade, e !á na sua constituiç"o primitiva, áreas como a filosofia, a medicina, a economia, a ciência da nature#a, a política, a linguagem, etc., embora n"o se desenvolvessem ao mesmo ritmo, desenvolveram$se ainda assim numa direcç"o comum, remetendo sempre ob!ectivamente umas para as outras. % motivo para esta por ve#es surpreendente concord&ncia ou correlaç"o terá de ser evidentemente procurado no desenvolvimento da respectiva formaç"o social, que constitui o laço comum intrínseco aos vários domínios existenciais, áreas do saber e conhecimentos. 'om isto tamb(m !á se di# que n"o pode haver um saber absoluto no modus existencial da temporalidade) todo o saber, mesmo o que parece puramente ob!ectivo, *rígido*, intemporal, ( histórico$socialmente condicionado e assim ( de certa maneira +nada aleatória relativo. -pare ntem ente este conh ecimento da relati vida de cons titui um prog resso do saber nos s(culos / e que, vindo da historiografia +desde o historicismo e passando pela economia política +doutrina do valor sub!ectiva ou relacionalista, a ciência da nature#a +física qu&ntica, a linguística +0aussure e a filosofia +o *pensamento pós$metafísico*, a *viragem linguística*, vai desembocar no generali#ado anti$essencialismo e relativismo pós$modernos . 1as tudo isso n"o passa de aparência. 2recisamente porque o saber e o conhecimento s"o sempre determinados por um contexto histórico$social, condicionados como est"o por formas sociais fetichistas que implicam dominaç"o e relações de coacç"o +outras at( 3 data n"o s"o conhecidas, tamb(m ficam sempre sob a (gide do pensamento apolog(tico. %nde o saber ( por si saber da dominaç"o, as coisas nem podem ser de outro modo. o sistema produtor de mercadorias da modernidade esta apolog(tica assume a forma da ideologia. 2or isso, n"o basta simplesmente encarar o saber e o conhecimento apenas na sua relatividade +como fa# em grande medida o pensamento pós$moderno4 antes, e para al(m disso, e sse condicionamento tem de ser su!eito a uma análise crítica da ideologia, sendo esta análise posta em relaç"o com o respectivo processo histórico$social real. 5m todo o caso ( o que se impõe quando a reflex"o pretende inserir$se no contexto de uma necessidade emancipatória e crítica da dominaç"o. 1as, se for tido em consideraç"o este plano da reflex"o crítica da ideologia, o conhecimento da relatividade tem de ser examinado quanto ao seu potencial ideológico e apolog(tico. % pensamento pós$moderno tenta p6r$se fora do alcance deste ponto de vista, colocando logo o modus da crítica da ideologia per se sob a suspeiç"o de *metafísica* e *essencialismo*. 7a#$se de conta que o  ponto de vista ou a bitola da crítica da ideologia s"o desde sempre absolutos, totalitários, ontológicos ou metafísicos. -ssim, no entanto, a observaç"o vira$se numa direcç"o ela mesma metafísica, sendo que paradoxalmente ( a relatividade nem mais nem menos que ( elevada ao estatuto de -bsoluto. % que assim fica de fora ( o conceito de crítica em sentido estrito, uma ve# que o plano de referência da relatividade n"o ( clarificado.  a realidade, por(m, a dita relatividade só pode referir$se ao facto de que o saber e o conhecimento est"o ligados a um determin ado lugar histórico, n"o apenas no sentido de uma respectividade imediata, mas no sentido de uma formaç"o social abrangente e determinada4 ou afirmativamente, de modo positivo +positivista, ou criticamente, de modo negativo. - crítica, portanto, está presa negativamente ao seu lugar histórico, pois fa# da formaç"o social pertencente a esse lugar e da relaç"o de dominaç"o correspon dente o ob!ecto da sua negaç"o +o que de resto remete para a possibilidade da transcendência, como movimento para fora da imanência. % que significa, no entanto, que a crítica apenas pode ser uma crítica determinada, a saber, uma crítica em referência a esse lugar histórico, encarado como formaç"o social histórica, contendo nesta medida um momento de negaç"o absoluta, mesmo que apenas relativamente a esse campo específico) nomeadamente a sua radicalidade contra a constituiç"o da forma social dominante, sem que  por isso deixe de s er bem relativa em referência a um co ntexto mais vasto , sendo capa# de reflectir isso m esmo. - negaç"o tem de ser absoluta relativamente ao seu conte8do, que n"o ( outra coisa sen"o a forma social, ela própria negativa e por isso a ser negada) a forma da reproduç"o e do su!eito destrutiva e fetichista, da qual nada pode restar a n"o ser a experiência traumática a ela associada, que permanece arma#enada na memória da humanidade. 9elativamente a esta forma do fetiche ob!ecto da crítica a negaç"o tem de ser absoluta, pois caso contrário n"o seria negaç"o.

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7/23/2019 A Substância Do Capital

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A Substância do Capital

O trabalho abstracto como metafísica real social e o limite interno absoluto da valorização.

Primeira parte: A ualidade hist!rico"social ne#ativa da abstracção $trabalho$.

O Absoluto %Absolutheit& e a relatividade na 'ist!ria. Para a crítica da redução fenomenol!#ica da teoria social ((( Oconceito filos!fico de substância e a metafísica real capitalista ((( O conceito ne#ativo de substância do trabalho abstracto

na crítica da economia política de )ar* ((( O conceito positivo do trabalho abstracto na ontolo#ia do trabalho mar*ista (((

Para a crítica do conceito de trabalho em )oishe Postone ((( O trabalho abstracto e o valor como apriori social ((( O ue +

abstracto e real no trabalho abstracto, ((( O tempo hist!rico concreto do capitalismo

O Absoluto %Absolutheit& e a relatividade na 'ist!ria. Para a crítica da redução fenomenol!#ica da teoria social

Vendo bem, quase sempre se pode constatar que existe algo como correspondências e correlações entre mudanças históricascompletamente diferentes, em áreas do saber ou domínios da vida aparentemente bem afastados entre si. o sistema produtor demercadorias da modernidade, e !á na sua constituiç"o primitiva, áreas como a filosofia, a medicina, a economia, a ciência danature#a, a política, a linguagem, etc., embora n"o se desenvolvessem ao mesmo ritmo, desenvolveram$se ainda assim numadirecç"o comum, remetendo sempre ob!ectivamente umas para as outras. % motivo para esta por ve#es surpreendente concord&ncia

ou correlaç"o terá de ser evidentemente procurado no desenvolvimento da respectiva formaç"o social, que constitui o laço comumintrínseco aos vários domínios existenciais, áreas do saber e conhecimentos. 'om isto tamb(m !á se di# que n"o pode haver umsaber absoluto no modus existencial da temporalidade) todo o saber, mesmo o que parece puramente ob!ectivo, *rígido*, intemporal,( histórico$socialmente condicionado e assim ( de certa maneira +nada aleatória relativo.

-parentemente este conhecimento da relatividade constitui um progresso do saber nos s(culos / e que, vindo dahistoriografia +desde o historicismo e passando pela economia política +doutrina do valor sub!ectiva ou relacionalista, a ciência danature#a +física qu&ntica, a linguística +0aussure e a filosofia +o *pensamento pós$metafísico*, a *viragem linguística*, vaidesembocar no generali#ado anti$essencialismo e relativismo pós$modernos.

1as tudo isso n"o passa de aparência. 2recisamente porque o saber e o conhecimento s"o sempre determinados por um contextohistórico$social, condicionados como est"o por formas sociais fetichistas que implicam dominaç"o e relações de coacç"o +outras at(3 data n"o s"o conhecidas, tamb(m ficam sempre sob a (gide do pensamento apolog(tico. %nde o saber ( por si saber dadominaç"o, as coisas nem podem ser de outro modo. o sistema produtor de mercadorias da modernidade esta apolog(tica assume a

forma da ideologia. 2or isso, n"o basta simplesmente encarar o saber e o conhecimento apenas na sua relatividade +como fa# emgrande medida o pensamento pós$moderno4 antes, e para al(m disso, esse condicionamento tem de ser su!eito a uma análise críticada ideologia, sendo esta análise posta em relaç"o com o respectivo processo histórico$social real. 5m todo o caso ( o que se impõequando a reflex"o pretende inserir$se no contexto de uma necessidade emancipatória e crítica da dominaç"o.

1as, se for tido em consideraç"o este plano da reflex"o crítica da ideologia, o conhecimento da relatividade tem de ser examinadoquanto ao seu potencial ideológico e apolog(tico. % pensamento pós$moderno tenta p6r$se fora do alcance deste ponto de vista,colocando logo o modus da crítica da ideologia per se sob a suspeiç"o de *metafísica* e *essencialismo*. 7a#$se de conta que o ponto de vista ou a bitola da crítica da ideologia s"o desde sempre absolutos, totalitários, ontológicos ou metafísicos. -ssim, noentanto, a observaç"o vira$se numa direcç"o ela mesma metafísica, sendo que paradoxalmente ( a relatividade nem mais nem menosque ( elevada ao estatuto de -bsoluto. % que assim fica de fora ( o conceito de crítica em sentido estrito, uma ve# que o plano dereferência da relatividade n"o ( clarificado.

 a realidade, por(m, a dita relatividade só pode referir$se ao facto de que o saber e o conhecimento est"o ligados a um determinadolugar histórico, n"o apenas no sentido de uma respectividade imediata, mas no sentido de uma formaç"o social abrangente edeterminada4 ou afirmativamente, de modo positivo +positivista, ou criticamente, de modo negativo. - crítica, portanto, está presanegativamente ao seu lugar histórico, pois fa# da formaç"o social pertencente a esse lugar e da relaç"o de dominaç"o correspondenteo ob!ecto da sua negaç"o +o que de resto remete para a possibilidade da transcendência, como movimento para fora da imanência.% que significa, no entanto, que a crítica apenas pode ser uma crítica determinada, a saber, uma crítica em referência a esse lugar histórico, encarado como formaç"o social histórica, contendo nesta medida um momento de negaç"o absoluta, mesmo que apenasrelativamente a esse campo específico) nomeadamente a sua radicalidade contra a constituiç"o da forma social dominante, sem que por isso deixe de ser bem relativa em referência a um contexto mais vasto, sendo capa# de reflectir isso mesmo.

- negaç"o tem de ser absoluta relativamente ao seu conte8do, que n"o ( outra coisa sen"o a forma social, ela própria negativa e por isso a ser negada) a forma da reproduç"o e do su!eito destrutiva e fetichista, da qual nada pode restar a n"o ser a experiênciatraumática a ela associada, que permanece arma#enada na memória da humanidade. 9elativamente a esta forma do fetiche ob!ectoda crítica a negaç"o tem de ser absoluta, pois caso contrário n"o seria negaç"o.

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% problema do pensamento pós$moderno e das correntes de pensamento que remontam ao s(culo /, a partir das quais o mesmose compõe e edifica, consiste precisamente no facto de n"o ter sido desenvolvido qualquer crit(rio para distinguir os planos dereferência da relatividade, no &mbito da história da humanidade como história de *culturas* ou formações sociais, por um lado e, por outro lado, como determinaç"o ou situaç"o absoluta num espaço histórico limitado, ele próprio negativo, de uma determinadaformaç"o. 2or outras palavras) n"o ( estabelecida uma diferença essencial entre constituições da forma social historicamentediversas, e assim sendo tamb(m n"o ( constituída qualquer concepç"o específica do moderno sistema produtor de mercadorias e dassuas categorias da forma de base. este sentido estrito, as teorias pós$modernas, tal como as suas predecessoras, no fundo n"o

reflectem precisamente o próprio condicionamento histórico$social, nem a correspondente relatividade. % trabalho +abstracto, ovalor, a mercadoria, o dinheiro, o mercado, a concorrência, o estado, a naç"o, a política, etc. bem podem passar por *constructosculturais*, tal como todas as outras manifestações sociais *quaisquer*, mas nem por isso se revelam menos ontológicos que naideologia burguesa vulgar, tal como ela foi herdada tamb(m pelo marxismo do movimento operário.

-ssim, o relativismo a este respeito irreflectido tamb(m relativi#a a diferença entre a relatividade de um determinado lugar histórico, por um lado, e a determinaç"o ou o -bsoluto no interior desse lugar, por outro4 n"o se interessa pela diferença entre oespaço histórico total da humanidade, no qual as variadas constituições historico$sociais e as respectivas formas do saber e doconhecimento se posicionam reciprocamente de um modo relativo, e o espaço interno de uma determinada formaç"o, no qual predomina um -bsoluto interno, ou pelo menos uma pretens"o real correspondente, nomeadamente a da constituiç"o da respectivaforma fetichista, que ( para ser rompida.

5sta imprecis"o tem consequências para o conceito de crítica, que com isso se torna ele próprio impreciso e indeterminado. -s

categorias de base da constituiç"o social desaparecem atrás do movimento interno desta. - crítica ( fenomenologicamente redu#ida,refere$se !á apenas a uma determinada acç"o ou omiss"o no seio das categorias esmaecidas. : verdade que estas, no pensamento pós$moderno, na maior parte dos casos !á n"o s"o imediatamente afirmadas como positivas4 mas tal deve$se apenas ao facto de nemsequer chegarem a ser elevadas a ob!ectos da reflex"o. %nde tudo ( tratado indistintamente como sendo um *constructo* deixa dehaver graus de rigide# e dimensões de profundidade diversos4 ( nivelada a diferença entre explicações aparentes de cari# ideológicoe a aparência real da forma do fetiche. - essência ou substancialidade categorial da formaç"o histórica da sociedade permanece por reflectir, portanto tamb(m por criticar.

-ssim surge uma invers"o paradoxal da relaç"o entre o processo social real e a ideologia4 melhor di#endo, essa relaç"o em certamedida ( escamoteada pura e simplesmente, e ( precisamente deste modo que o relativismo se converte a si mesmo numa miserávelideologia. - subst&ncia real negativa da relaç"o de fetiche ( subtraída 3 crítica radical, na medida em que a *substancialidade* seapresenta em princípio como apenas proveniente de uma pretens"o totalitária do pensamento ou da imaginaç"o. ;este modo aquest"o fica de pernas para o ar) a crítica radical ( acusada daquilo que deveria ser imputado 3 relaç"o social real. 5m ve# da relaç"oreal sub!acente ( a crítica da ideologia que aparece como *totalitária*.

5ste ( portanto o modo como o conhecimento da relatividade se converte em ideologia apolog(tica. o que di# respeito ao modernosistema produtor de mercadorias, o seu conceito de capital dissolve$se assim num sistema sem conceito de *relações de poder*relacionais4 nesta medida, n"o obstante toda a crítica do su!eito pós$moderna, reprodu#$se o regresso 3 ilus"o burguesa da vontade,se bem que redu#ida 3s mudanças internas de *constructos* sociais todos representados no mesmo plano. 5sta relacionalidade !áideológica ( em seguida *exo$diferenciada* e declinada nas diversas áreas da reproduç"o e da vida. ;este modo a crítica continua pendente na particularidade dos fenómenos +das relações de poder na medicina 3 prática de deportaç"o nos serviços de estrangeiros,dos *constructos* do racismo 3 retórica política dos constrangimentos ob!ectivos, sem !amais poder debruçar$se sobre o todo daconex"o da forma social, uma ve# que esta !á n"o dispõe de qualquer conceito substancial.

5sta dissoluç"o da *essência* histórico$social na relacionalidade fenomenológica de relações de poder e na respectiva construç"o oudesconstruç"o encobre assim, queira$se ou n"o, a substancialidade negativa ent"o !á n"o denominável das categorias reaiscapitalistas. 'om isso, por(m, perde$se precisamente o potencial crítico do conhecimento da relatividade. : que esta apenas poderiamanifestar$se socialmente num movimento de transformaç"o emancipatório se a real pretens"o de validade absoluta da formafetichista dominante fosse rompida precisamente no seu conte8do substancial.

<ue, por exemplo, diversas áreas da existência e de actividade têm cada uma por si a sua própria lógica, a sua própria pretens"o, oseu próprio sentido, etc., que n"o podem ser abarcadas pela pretens"o de validade absoluta de um 8nico princípio totalitário, apenaschegando a constituir um todo na relatividade do respectivo contexto relacional, todo esse que n"o pode ser redu#ido a uma forma8nica e 3 subst&ncia igualmente 8nica da mesma = ( este o conhecimento que importa começar a afirmar, contra o violentosubstancialismo real do moderno sistema produtor de mercadorias em geral.

: por tudo isto que nem sequer ( possível chegar a uma crítica radical sem o conceito de uma substancialidade negativa da relaç"ode valor ou de capital. 2or outro lado, a pretens"o de -bsoluto desta substancialidade negativa tamb(m entra em conflito com a própria constituiç"o física do mundo, manifestando$se sob a forma de um processo destrutivo aniquilador da vida4 sobretudo, por(m, esta pretens"o entra igualmente em conflito com a contraditoriedade interna da substancialidade capitalista enquanto tal, eassim se manifesta sob a forma de processo de crise end(mico desta formaç"o histórico$social. : por isso que sem o conceito de

substancialidade negativa tamb(m n"o ( possível desenvolver uma adequada teoria da crise. % escamoteamento ou a ignor&ncia dareal substancialidade social negativa equivale em grande medida ao escamoteamento ou ignor&ncia da crise, no seu conte8dosignificante de limite interno absoluto do moderno sistema produtor de mercadorias.

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% carácter ideológico e apolog(tico de um pensamento relativista que n"o enfrenta esta problemática consiste essencialmente emeste presumir a existência de relatividade e *abertura* em termos historico$sociais onde na realidade pontificam um -bsoluto e umacoes"o sist(mica dissimulados, postulando por isso uma emancipaç"o +sempre entendida apenas parcialmente de modo totalmenteindependente duma crítica da subst&ncia real negativa e das categorias da sua forma4 por exemplo por interm(dio do conceito !áapenas risível de *democrati#aç"o*. - substancialidade negativa da relaç"o de capital ( esmaecida, escamoteada, tornada invisível edissolvida numa pseudo$relatividade ideológica. : precisamente por isso que 3 reduç"o e encurtamento fenomenológicos da críticacorresponde uma igual reduç"o e encurtamento da teoria da crise. 5ste relativismo ideológico em ve# de emancipatório mais n"o (

que uma camuflagem adicional da sub!ectividade burguesa de todas as classes, que n"o quer admitir a sua obsolescência histórica.

 "o ( por acaso que o marxismo tradicional partilha amplamente a re!eiç"o da teoria da crise radical com o relativismo pós$moderno. : que, como foi demonstrado por 1oishe 2ostone, tamb(m ( inerente 3 teoria do marxismo do movimento operário emtodas as suas variantes um certo modo de reduç"o e encurtamento ideológicos e relativistas. % que nas teorias pós$modernas ( um programa explícito manifesta$se no marxismo como uma reduç"o implícita4 n"o há forma de distinguir entre um conceitoabrangente histórico e assente na lógica da formaç"o da relaç"o de valor e de capital e os estados de agregaç"o e desenvolvimentocorrespondentes 3 sua história interna, de modo que o nível de abstracç"o dos conceitos essenciais +que apenas no plano meta$histórico s"o relativos aos conceitos essenciais de outras formações ( fundamentalmente perdido) *>ornou$se historicamentemanifesta a total insuficiência das teorias do capitalismo moderno que confundem uma configuraç"o histórica específica docapitalismo +o livre mercado ou o estado disciplinar burocrático com a essência da formaç"o social... >odas estas críticas s"o...incompletas. 'omo vemos agora, o capitalismo n"o se encaixa em nenhuma destas configurações... ?ma teoria crítica adequada donosso tempo tem de ser fundamentada sobre uma concepç"o n"o reificada das relações que perfa#em a essência do capitalismo e dasdiferenças entre essa essência e as várias configurações históricas sucessivas do capitalismo.* +1oishe 2ostone4 @eit, -rbeit und

gesellschaftliche Aerrrschaft. 5ine neue /nterpretation der Britischen >heorie von 1arx C>empo, trabalho e dominaç"o social. ?manova interpretaç"o da teoria crítica de 1arxD, 7reiburg EFFG, prefácio da ediç"o alem", p. HE ss. esta medida, o conceito desubstancialidade do capital assente na lógica da formaç"o representa o plano decisivo, ao qual nem as teorias do marxismotradicional, nem as teorias pós$modernas conseguem aceder, devido ao seu respectivo relativismo falso, ideológico.

O conceito filos!fico de substância e a metafísica real capitalista

2ara podermos determinar o carácter ideológico do pensamento burguês supostamente pós$metafísico e em especial do seu desfecho pseudo$relativista, ( necessário colocar o conceito filosófico de subst&ncia em relaç"o com a constituiç"o capitalista damodernidade. 'om efeito, na história da filosofia n"o existe um significado geralmente reconhecido do conceito de subst&ncia. afilosofia antiga e medieval a subst&ncia ( o &mago essencial, por oposiç"o a meras qualidades +acidentes, ou o que perdura e semant(m, ou se!a, a identidade por oposiç"o a meros *estados* ou desenvolvimentos. 5m -ristóteles o conceito de subst&ncia aparecesignificando tanto a mat(ria, no sentido de um substrato das *coisas*, como tamb(m a forma, no sentido de o essencial dessas coisas

materiais.

 o entanto, os diversos significados ou planos de significado da maior parte dos conceitos filosóficos pr($modernos de subst&nciatêm em comum o facto de n"o postularem necessariamente uma generalidade ou -bsoluto substancial abstracto, pelo menos nomundo físico e social conhecido. 5xplicita ou implicitamente prevalece a suposiç"o de que existem subst&ncias qualitativamentediversas que podem estabelecer relações umas com as outras. -ssim sendo, a própria subst&ncia seria de certo modo algo derelativo. >anto pela forma como pelo conte8do, para as filosofias ou teologias antigas as estrelas, as pedras, as árvores, os c"es, oshumanos, etc. representam subst&ncias distintas. 5 o idêntico de uma determinada subst&ncia, por exemplo de um indivíduohumano, tamb(m pode ser representado como a totalidade das suas relações naturais, sociais, culturais, pessoais, etc. na unicidadeindividual da sua estrutura. 'omo inst&ncia absoluta, geral, *suprema*, figura apenas *;eus*4 mas esta subst&ncia permanecetranscendente ao mundo.

 o entanto, um momento do absoluto ou do geral e abstracto com referência ao mundo terreno !á se insinua nas teorias atomistas, econcretamente atrav(s do modus da reduç"o. 2ara ;emócrito, por exemplo, n"o *existe* nada sen"o o va#io e os corpos compostosde átomos, os mais pequenos componentes em grande medida qualitativamente iguais, distinguindo$se apenas pela forma edimens"o. >al antecipa a concepç"o de uma unidade absoluta e substancial do mundo como princípio imanente. "o ( por acaso queeste reducionismo físico ( sistematicamente retomado na ciência da nature#a moderna, celebrando aí o seu verdadeiro triunfo. %*universo$relógio* mec&nico de eIton consiste, como ele próprio escreve na sua *Jptica*, em *partículas maciças, firmes, rígidas,impenetráveis e móveis* +citado segundo) 0himon 1alin, ;r. Kertlmanns 0ocBen. Lie die <uantenphMsiB unser Leltbild verNndertC-s 2e8gas do ;r. Kertlmann. 'omo a física qu&ntica transforma a nossa imagem do mundoD, Oeip#ig EFFG, p. PF que, por interm(dio de *forças*, actuam exteriormente umas sobre as outras. esse ?niverso homog(neo ;eus !á ( apenas uma esp(cie derelo!oeiro4 no entanto, uma ve# dada a corda, o mundo$sistema mec&nico move$se por si, e o /luminismo, por fim, acaba por passar sem qualquer subst&ncia criadora transcendente *suprema e primeira*.

- unificaç"o física reducionista do mundo em componentes ou unidades mortas e iguais inseridas num contínuo de espaço$tempoabsoluto e unificado, apenas esboçada na antiguidade, (, por assim di#er, radicali#ada e generali#ada na modernidade, como umdogma. este caso o conceito atomista de subst&ncia estende$se, para al(m da nature#a física, a todas as áreas da existência, por 

exemplo no conceito de *mónadas sem !anela* de Oeibni#. - tal corresponde uma concepç"o da sociedade humana que !á n"o parteda comunidade, se!a qual for a sua definiç"o, mas pelo contrário parte da separaç"o dos seus membros, que apenas podem mediar$seuns com os outros a posteriori e de modo exterior$mec&nico. -qui !á se torna claro que o conhecimento da nature#a aparentemente

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 puro da modernidade, ou se!a, o *constructo* do universo$relógio de eIton, reflecte na realidade uma determinada relaç"o social,que inclui um paradigma de indivíduos atomísticos ou abstractos = sendo que esse paradigma cont(m na sua abstracç"oaparentemente homog(nea da *individualidade em geral* uma particularidade historicamente bem relativa, nomeadamente a dosu!eito masculino branco ocidental +1K%. ;ito isto, por(m, !á n"o estamos perante uma mera ideia de actores do conhecimento de*o* mundo, sem pressupostos, mas sim perante uma determinada constituiç"o histórico$social, a saber, a incipiente constituiç"ocapitalista do moderno sistema produtor de mercadorias.

 "o se trata porventura de suplantar CQberIindenD a metafísica, como se supõe cada ve# mais com o avanço dessa formaç"o social.>anto a ciência da nature#a moderna como tamb(m a filosofia e a teoria social apolog(ticas a ela ligadas têm bases evidentementemetafísicas. 5stas apenas puderam ser pouco a pouco escamoteadas e acabar por ser aparentemente deitadas borda fora porque n"orepresentam uma metafísica no sentido de uma reflex"o meramente filosófica ou teológica, mas sim uma relaç"o social real, ou se!a,uma metafísica real, de certa forma encarnada ou embutida no processo de reproduç"o social. R medida que esta metafísica real sefoi impondo historicamente e foi sendo interiori#ada, a sua forma de reflex"o filosófica p6de desvanecer$se, uma ve# que oaparentemente evidente, axiomático e quotidiano !á n"o tem de ser pensado 3 parte e !á n"o se apresenta como uma essência distinta.

;e certo modo, talve# se!a lícito di#er$se que todas as constituições sociais de fetiche, portanto tamb(m !á as pr($modernas,representam uma esp(cie de metafísica real, na medida em que a respectiva metafísica n"o se esgota nunca em meras ideias ourepresentações mentais, mas atrav(s dela ao mesmo tempo tamb(m s"o regulados a reproduç"o social real, as relações sociais e o*processo de metabolismo com a nature#a* +1arx. o entanto, a metafísica real social pr($moderna das relações sociais, dascondições de reproduç"o e das estruturas de poder ( de certo modo *determinada pelo al(m*, mediada atrav(s da pro!ecç"o de uma

subst&ncia absoluta simplesmente transcendente, de uma essência divina absoluta e exterior ao mundo, que ( representada personali#adamente de forma mitológica ou religiosa. 'omo representantes desta essência transcendente pro!ectada tamb(m asestruturas sociais reais de reproduç"o e de dominaç"o se apresentam de forma personali#ada4 nomeadamente como um sistema derelações pessoais de dependência e obrigaç"o.

% conceito de *dependência pessoal*, no entanto, na esmagadora maioria dos casos ( profundamente mal entendido +at( em 1arx,que n"o se debruçou a fundo sobre as condições pr($modernas quando por *pessoas*, neste sentido das constituições de fetichesociais pr($modernas, se entende *pessoas naturais*, ou mesmo su!eitos$do$interesse segundo o uso moderno da língua. -ssim parece que a estrutura *dependência pessoal* configuraria uma forma de dominaç"o directa e n"o mediada, por oposiç"o 3 moderna,indirecta e mediada. a verdade, as condições pr($modernas s"o igualmente mediadas4 apenas de outro modo, sendo que neste casoas próprias pessoas se tornam planos de pro!ecç"o e assim representações da transcendência fetichista. >ais pessoas transcendentaise relações de dependência pessoais est"o neste sentido estritamente separadas das pessoas naturais e das suas relações pessoais4 deresto, isto vai ao ponto de criar contradições bi#arras entre a personalidade transcendental e a personalidade natural, as quais nadaficam a dever aos absurdos da moderna sociali#aç"o do valor, como ( o caso no conceito de *os dois corpos do rei* +5rnst A.

SanturoIic#, ;ie #Iei STrper des STnigs C%s dois 'orpos do 9eiD, 1unique HUUF, primeira ediç"o HUW.

-ssim sendo, as pessoas aqui, no contexto da sua constituiç"o fetichista, n"o se apresentam a si próprias como portadorasautónomas de vontade e acç"o, mas como representações no seio do mundo da essência da subst&ncia transcendente pro!ectada.'omo a subst&ncia absoluta permanece transcendente, n"o assumindo uma forma terrena imediata +a n"o ser em representaçõessimbólicas, ela tamb(m n"o pode abarcar totalitariamente o mundo real. "o há nenhuma generalidade abstracta social, mas simuma sequência de m8ltiplos graus de representações pessoais e de situações relacionais a todos os níveis.

%utro ( o caso da metafísica real capitalista da modernidade. -qui a transcendência está de certo modo superada CaufgehobenD4 asubst&ncia fetichista pro!ectada ou a essência como -bsoluto tornou$se imediatamente terrena e social, sob a forma da *valori#aç"odo valor* +e, apenas neste sentido de uma imanência ao mundo, *directa* e !á n"o *determinada pelo al(m*, isto (, !á n"o derivadade um princípio exterior ao mundo. 5mbora o momento da transcendência continue a existir, na medida em que a figura essencialdo fetichismo, o *valor*, n"o constitui nenhuma essência directamente física ou social, mas sim uma abstracç"o n"o palpável, que paradoxalmente por assim di#er encarnou no *processo de metabolismo com a nature#a* e nas relações sociais. esta medida, arelaç"o social assim constituída representa uma abstracç"o real, e n"o uma pro!ecç"o de ideias meramente ideológica ou +em sentido pr($moderno religiosa, mitológica, etc., nem t"o$pouco uma mera abstracç"o nominal.

;e certo modo, a pro!ecç"o tornou$se imediatamente real, e com isso tamb(m palpavelmente terrena, mesmo que continue mediata,na medida em que apenas se manifesta em relações sociais e em coisas reais +mercadorias e dinheiro, enquanto a essência do*valor* como abstracç"o n"o pode ser imediata, nem portanto t"o$pouco palpável. % paradoxo da abstracç"o real consiste em que aabstracç"o, em si n"o físicaXmaterialXcorpórea, a coisa do pensamento, ou por outra, um produto da cabeça socialmente ob!ectivadocomo pro!ecç"o fetichista, se apresenta ainda assim como uma relaç"o social real e uma ob!ectividade física real, nomeadamente emob!ectos que em si n"o s"o abstractos, mas que s"o tornados ob!ectos realmente abstractos pelo mecanismo de pro!ecç"o social.

- *coisa do pensamento* e *produto da cabeça* n"o devem aqui ser mal entendidos como algo de *pensamento pro!ectado*, por exemplo no sentido de um *contrato social* +primordial na ideologia do /luminismo, como problema da vontade, ou comoideologia4 um mecanismo de pro!ecç"o fetichista ( pelo contrário algo sempre !á pressuposto 3 *pro!ecç"o*, que ainda tem de ser 

decifrado +cf. a este propósito, nesta ediç"o da 5/>Y, a análise crítica feita por 'hristian ATner ao conceito de ideologia de ad!a9adBoIit#, que confunde esses dois planos distintos.

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;e certo modo quase se poderia falar de uma regress"o, pois o mecanismo de pro!ecç"o moderno regride a uma esp(cie deanimismo secundário, onde !á n"o s"o as pessoas transcendentalmente representativas, mas as coisas inanimadas a apresentar$secomo animadas, como 1arx exp6s ironicamente no seu capítulo dedicado ao fetiche, no exemplo da mesa que como mercadoria (acometida por caprichos metafísicos. o entanto, neste caso !á n"o se trata de uma animaç"o individual das coisas, mas de umaanimaç"o reprodu#ida de modo idêntico na sempre igual forma do valor e do preço, em que se manifesta a sociabilidade negativa daalma da mercadoria, e a relaç"o social como coisificada. 5ste animismo secundário n"o anima tanto as coisas +a nature#a como por assim di#er coisifica a alma +a situaç"o relacional humana4 ( nesta medida a falsa imediate# da pro!ecç"o metafísica real sem mais

rodeios.

 a medida em que a transcendência da pro!ecç"o ( superada, como essa pro!ecç"o agora se apresenta imediatamente nas própriascoisas e relações terrenas, ela tamb(m !á n"o pode ser personali#ada, mas tem de se apresentar sob uma forma coisificada,*ob!ectivada*, regulando deste modo sob todos os aspectos o processo de reproduç"o social, a mediaç"o social. 1elhor di#endo) ela*(* essa mediaç"o, que por isso !á n"o necessita de uma inst&ncia transcendente exterior ao mundo, nem de mediadores pessoaiscomo representantes dessa inst&ncia absoluta4 afinal ela própria !á está estabelecida como absoluta. % valor, a pro!ecç"o do feticheque se apresenta como realmente ob!ectivo no dinheiro, constitui$se como -bsoluto terreno, social, atrav(s do movimento dereacoplamento do dinheiro a si mesmo como capital, como processo de valori#aç"o ou *su!eito automático* +1arx, ao qual (submetida toda a reproduç"o social e todo o entendimento do mundo. <ualquer coexistência colorida de situações relacionaisnaturais, culturais e sociais +relações acaba e ( substituída pela pretens"o de -bsoluto do princípio essencial abstracto 8nico *valor*e pela sua substancialidade negativa.

/deológica ou *filosoficamente*, como forma de reflex"o no seguimento ou no sentido de uma apolog(tica de escolta eflanqueadora, o pensamento deste mecanismo de pro!ecç"o da abstracç"o real recorre a determinados conte8dos significantes doconceito de subst&ncia religioso e filosófico pr($moderno, que no entanto se apresentam numa configuraç"o completamente nova,correspondente 3 metafísica real capitalista. o lugar da divindade transcendente e absoluta ( posto o princípio essencial imanente eabsoluto do *valor* ou do processo de valori#aç"o. 'omo se trata da pro!ecç"o de um processo de abstracç"o socialmenteob!ectivado, este princípio essencial, no entanto, embora se apresente imediatamente nas coisas e nas relações, sendo portantoimanente, n"o pode ainda assim ter uma existência material e social por si. 5nquanto tal continua a ser n"o palpável, *intangível* ou*n"o empírico*, n"o obstante a sua indubitável imanência. esta medida, a reflex"o positiva, apolog(tica da metafísica realcapitalista pode recorrer ao fil"o *idealista* da metafísica religiosa e filosófica primordial, particularmente de origem platónica. -idealidade transcendente das formas essenciais de 2lat"o e seus seguidores apresenta$se agora como a idealidade imanente do princípio essencial na modernidade, particularmente no idealismo alem"o.

 o entanto há aqui novamente uma diferença importante no conceito dessa idealidade. 5m 2lat"o e nos seus seguidores trata$se daidealidade transcendente das formas essenciais no plural4 das formas ideais das diversas coisas, que na mat(ria terrena se apresentam

apenas como *sombras*. 0ob este aspecto, o idealismo formal de 2lat"o permanece t"o pluralista e, assim sendo, relativista como oconceito tradicional de subst&ncia, do qual ( parte integrante. *-cima* da idealidade do mundo plural das formas, no entanto, eleva$se ainda a esfera do *pura e simplesmente bom*, grau mais elevado e origem de todo o 0er, um todo$uno, que no entanto está t"oafastado na sua transcendência, que !á n"o se apresenta como tal na imanência.

- idealidade da forma imanente da modernidade, pelo contrário, !á n"o conhece qualquer pluralismo de formas, nem por conseguinte qualquer relatividade correspondente4 a forma do valor ou o *su!eito automático* n"o tolera nenhum outro deus !unto desi. % -bsoluto transcendente do todo$uno ideal desceu 3 terra como o -bsoluto imanente do princípio essencial *valor*. >al comoem 2lat"o, as coisas terrenas empíricas n"o possuem uma existência independente, sendo antes a mera *express"o* da idealidade daforma4 mas desde logo, em primeiro lugar, uma idealidade da forma !á n"o transcendente, mas sim imanente, que se manifesta nasociali#aç"o do valor e, em segundo lugar, uma idealidade da forma !á n"o plural, mas monística, absoluta, totalitária. 0e!a como a*forma pura e simples* Bantiana ou como o *espírito do mundo* hegeliano, como *vontade absoluta*, etc., trata$se sempre de um princípio da imanência da forma total em 8ltima inst&ncia determinante, do qual todas as coisas e relações apenas devem ser *formasde aparência C5rscheinungsformenD*. % mundo n"o se compõe da relacionalidade de diversas entidades, mas sim, monisticamente,

do todo$uno terreno da valori#aç"o do valor.

2ode$se reconhecer 3 primeira vista que o universo$relógio físico de eIton, com os seus componentes atomísticos unitários e o seucontínuo unitário e absoluto de espaço e tempo, corresponde com bastante precis"o a esse idealismo da forma absoluto e totalitário.- aparente contradiç"o entre o *idealismo* da forma e o *materialismo* do mundo físico desaparece, mal ambos os constructosse!am decifrados quanto ao seu fundo histórico$social. 2rovavelmente o mesmo !á se aplica 3s antigas formas incipientes dacontradiç"o entre o idealismo da forma platónico e o materialismo da substancia atomístico, na medida em que a filosofia ocidentalda antiguidade !á representa uma reflex"o ainda inacabada, no contexto da relaç"o n"o amadurecida entre a forma da mercadoria e aforma do pensamento.

 a modernidade completou$se a complementaridade entre estes dois constructos, que do ponto de vista histórico$socialcorrespondem 3 constituiç"o da formaç"o social *baseada no valor* +1arx do capitalismo. % idealismo formal da filosofia moderna+que nas teorias positivistas apenas manifesta o seu vulgar estado de decadência pode ser decifrado como o princípio essencial do

valor, da forma social de fetiche paradoxalmente seculari#ada4 o materialismo substancial da física mecanicista, como o mundonatural moldado e de certo modo *executado* por esse ditado da forma. : um mundo feito de elementos e *forças* mec&nicasiguais, que na sua condiç"o física e biológica se pretende ver degradado em mera *forma de aparência* da abstracç"o real social. %

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ambiente cultural e o mundo da vida hodiernos da sociedade capitalista cada ve# mais unificada 3 escala planetária aproximam$sefantasmaticamente do constructo neItoniano de um ?niverso mec&nico uniforme4 para a biosfera planetária, tal como para a culturahumana no sentido mais lato, por(m, tal significa a aniquilaç"o sucessiva.

% conceito filosófico clássico de subst&ncia apenas na metafísica real capitalista da modernidade se diferencia claramente em forma+forma ideal imanente=transcendente ou *transcendental*, forma do valor e conte8do +mundo moldado de modo mecanicista,fisicamente redu#ido. o entanto, nesta relaç"o entre a forma e o conte8do da subst&ncia real metafísica ainda falta o agente socialde toda a organi#aç"o da metafísica real, o momento mediador do movimento. - relaç"o entre a forma do valor e a subst&ncianatural mecanicisticamente redu#ida n"o pode ser estática, mas apenas um processo din&mico, em que a nature#a em si n"oredu#ida, apenas ( realmente redu#ida 3 abstracç"o do valor pela mediaç"o social, por uma força social no *processo demetabolismo com a nature#a* especificamente capitalista.

5sta força ( ela própria uma subst&ncia material, n"o por(m natural, mas social. - subst&ncia natural da abstracç"o real moderna,como abstracç"o da forma do princípio essencial *valor*, ( a mat(ria abstracta física e mecanicisticamente redu#ida4 a subst&nciasocial deste princípio da forma da metafísica real ( = o *trabalho abstracto* +1arx. % *trabalho*, como forma de actividade e aomesmo tempo como subst&ncia do capital, constitui a força social$material e o processo, atrav(s do qual somente pode afirmar$se nomundo terreno o princípio da forma da metafísica real, com a sua pretens"o de -bsoluto negativa e destrutiva. % movimentomediador do trabalho abstracto ( a automediaç"o da subst&ncia e, assim sendo, um fim$em$si e uma auto$agregaç"o na forma dovalor +manifestando$se na forma do dinheiro e como permanente *alienaç"o C5ntNusserungD* na mat(ria natural e nas relaçõessociais, enquanto sua moldagem at( 3 respectiva destruiç"o, a fim de as transformar na simples imagem da abstracç"o real que se

 processa consigo mesma.

Zá aqui se torna claro que o marxismo tradicional permaneceu completamente ref(m da metafísica real da modernidade. % seu*materialismo*, com a eterna celebraç"o da respectiva corrente na história da filosofia ocidental, mais n"o representa que a reflex"oafirmativa de um lado da relaç"o de valor ou de capital, nomeadamente o materialismo substancial da reduç"o física, em que omundo natural !á se apresenta moldado pela abstracç"o real capitalista. : o materialismo de aniquilaç"o de uma forma dereproduç"o fetichista que vai dilacerando e triturando a biosfera terrestre. 'onsequentemente, no pensamento marxista, aomaterialismo substancial físico positivo de uma nature#a destrutivamente moldada corresponde o materialismo substancial social positivo do *trabalho* que ( o agente dessa moldagem. 5ste *materialismo* da ontologia do trabalho marxista e da concomitante f(mecanicista na ciência da nature#a está muito longe de suplantar o idealismo formal da tradiç"o filosófica aparentemente contrária43 semelhança do que acontece no pensamento burguês e como seu prolongamento modificado, comporta$se de um modo meramentecomplementar relativamente a ele.

 esta medida, Aegel n"o foi recolocado com os p(s no ch"o e de cabeça para cima, mas os p(s continuam sempre sob o comando da

cabeça, do princípio essencial capitalista da forma ideal. ;ecifradas socialmente, as relações de fetiche como *metafísicas reais* s"osempre ao mesmo tempo *idealismos reais*, levados ao auge pelo idealismo real capitalista pela primeira ve# imanente do *su!eitoautomático* na forma da valori#aç"o do valor, do reacoplamento cibern(tico da abstracç"o real valor a si mesma. /ronicamente,assim sendo, o materialismo real do trabalho e da ciência da nature#a capitalista n"o ( outra coisa sen"o a forma de aparência práticado idealismo real da forma do valor, e n"o o contrário. - abstracç"o real do valor representa uma agregaç"o ou uma forma deexistência da prática de abstracç"o real do trabalho e vice$versa4 precisamente por isso o trabalho abstracto constitui o modo como o princípio essencial social n"o material deita a m"o ao mundo material como um fantasma.

;este modo, o *idealismo ob!ectivo* de Aegel sob determinado aspecto at( anda mais próximo da coisa do que o *materialismoob!ectivo* do pensamento marxista4 mas Aegel pensa o idealismo real capitalista apologeticamente, como movimento deautomediaç"o positiva da essência da abstracç"o real, assim lhe escapando por princípio a sua qualidade negativa, destrutiva eaniquiladora da vida. % materialismo marxista, pelo contrário, compra a passagem 3 crítica +em grande medida redu#ida, n"o indoal(m da imanência de modo que, por seu lado, lhe escapa o carácter da abstracç"o real social. 'omo abstracç"o, o valorXtrabalhoabstracto mant(m$se de certo modo um coisa do pensamento, e daí uma idealidade +negativa. "o se trata, por(m, de umaidealidade sub!ectiva, apenas reflexiva, de uma idealidade constituída por meras abstracções nominais +linguísticas e mentais, masde uma idealidade ob!ectivada por processos históricos, *materiali#ada* por uma prática compulsiva.

- fim de se chegar a uma crítica plena da substancialidade negativa da relaç"o de fetiche capitalista, n"o ( o idealismo ob!ectivo deAegel que tem de ser posto de cabeça para cima e p(s no ch"o, mas sim a cabeça da abstracç"o real que tem de ser guilhotinada.-penas essa seria a prática libertadora e transcendente, que deixaria de moldar compulsivamente o mundo social e natural, masdestruiria sim o próprio princípio essencial dessa prática destrutiva.

O conceito ne#ativo de substância do trabalho abstracto na crítica da economia política de )ar*

: um facto antigo e há muito constatado que o marxismo do movimento operário continuadamente abafou ou relativi#ou, redu#iu ediluiu o conceito de crítica na crítica da economia política de 1arx at( chegar a uma *economia política* inteiramente positiva, noterreno acriticamente pressuposto da forma de fetiche moderna. : por isso que nas sebentas do mundo perdido do *socialismo real*sempre se falou com a maior seriedade de uma *economia política do capitalismo* e de uma *economia política do socialismo*, emve# de se compreender e desenvolver o socialismo como a crítica prática da economia política enquanto tal. 2or conseguinte, no

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entendimento do marxismo tamb(m o conceito de 1arx de subst&ncia do trabalho abstracto acabou inevitavelmente por seapresentar como inteiramente positivo, como mera definiç"o de um facto ontológico ob!ectivo, *determinado por leis naturais* e n"o para transcender.

5ste raciocínio no entanto n"o corresponde de modo nenhum 3 forma como 1arx apresenta o conceito de trabalho abstracto, logo na página quatro do primeiro volume de *% 'apital*) *%ra, se abstrairmos do valor de uso das mercadorias, resta$lhes uma 8nicaqualidade, a de serem produtos do trabalho. 5nt"o, por(m, !á o próprio produto do trabalho está metamorfoseado sem darmos por isso. 'om efeito, se abstrairmos do seu valor de uso, abstraímos tamb(m de todos os elementos materiais e formais que lheconferem esse valor. Zá n"o (, por exemplo, mesa, casa, fio, ou qualquer outro ob!ecto 8til. >odas as suas qualidades sensíveis lheescaparam. >amb(m !á n"o ( o produto do trabalho do marceneiro, do pedreiro, de qualquer trabalho produtivo determinado.Zuntamente com o carácter 8til dos produtos do trabalho, desaparece o carácter 8til dos trabalhos neles representados e as diversasformas concretas que distinguem as diferentes esp(cies de trabalho. -penas resta, portanto, o carácter comum desses trabalhos4todos eles s"o redu#idos ao mesmo trabalho humano, trabalho humano abstracto. 'onsideremos agora o resíduo dos produtos dotrabalho. ;eles nada restou sen"o a mesma ob!ectividade fantasmática, uma mera massa de trabalho humano indistinto, isto (, dodispêndio de trabalho humano sem olhar 3 forma do seu dispêndio. 5stes ob!ectos !á apenas manifestam que na sua produç"o foidespendida força de trabalho humano, que neles está acumulado trabalho humano. 5nquanto cristais dessa subst&ncia social que lhes( comum, s"o considerados valores = valores de mercadoria.* +Sarl 1arx, ;as Sapital, vol. /, 15L EG, Kerlim HU[, p. E.

 "o se pode deixar de observar que aqui o conceito de trabalho abstracto n"o configura uma árida definiç"o positivista, mas sim ocomeço da crítica conceptual de uma realidade francamente negativa. % *abstrair do valor de uso*, de modo que *todas as +...

qualidades sensíveis lhe escaparam* a fim de se alcançar uma *ob!ectividade fantasmática*, *uma mera massa do dispêndio detrabalho humano* !á significa uma tendência francamente destrutiva do mundo sensível e social. 2ois trata$se aqui do lado prático,activo de uma abstracç"o real social, e n"o de uma abstracç"o meramente linguística, que exprima coisas existentes no pensamento,sem com isso imediatamente atingir na prática o mundo físico e social. - abstracç"o *trabalho* representa aqui antes de mais umareferência imediata da acç"o, nomeadamente como um apriori da reproduç"o social com consequências imprevisíveis.

1arx aproxima$se aqui de uma crítica que ele próprio ainda n"o leva at( ao fim. 5le desenvolve +contrariamente 3 maioria dosmarxistas uma crítica radical da abstracç"o real contida no conceito de trabalho moderno4 mas em simult&neo mant(m$se ref(m daontologia do trabalho protestante e iluminista, tal como a tinha inscrita nos seus estandartes o movimento operário, surgido nomesmo contexto histórico da sua teoria. 1arx viu$se assim constrangido a tentar separar o princípio supostamente ontológico do*trabalho*, a abstracç"o assim expressa, da abstracç"o real especificamente capitalista4 pro!ecto esse que acabou em grande medida por perder$se nos seus seguidores, os quais se contentaram em encaixar o conceito de trabalho por inteiro na ontologi#aç"otranshistórica = com poucas excepções, que assim se destacam como especialmente reflexivas, embora nunca tivessem chegadoal(m da reproduç"o da aporia de 1arx, com o conceito de trabalho como abstracç"o real capitalista e ao mesmo tempo como

 princípio ontológico.

1arx formula a sua aporia abertamente nos *\rundrisse*, logo na introduç"o, onde se trata da definiç"o do conceito) *% trabalho parece ser uma categoria perfeitamente simples. >amb(m a concepç"o do mesmo desta forma geral = como trabalho em geral = (antiquíssima. -inda assim, concebido nesta simplicidade em termos económicos, o ]trabalho^ ( uma categoria t"o moderna como ascondições que produ#em esta simples abstracç"o... 7oi um progresso enorme quando -dam 0mith deitou fora cada uma dasdefinições da actividade produtora de rique#a = trabalho puro e simples, nem de manufactura, nem comercial, nem agrícola, mastanto um como outro. 'om a generalidade abstracta da actividade criadora de rique#a vem de par a generalidade do ob!ecto, do produto determinado como rique#a em geral ou, uma ve# mais, do trabalho em geral, mas como trabalho passado, ob!ectivado... -indiferença face a um determinado tipo de trabalho pressupõe uma totalidade de tipos de trabalho reais muito desenvolvida, dosquais !á nenhum se sobrepõe aos outros. ;este modo, as abstracções mais gerais apenas surgem nas condições mais ricas dedesenvolvimento concreto, onde uma coisa se apresenta como comum a muitas, comum a todas. essa altura deixa de poder ser  pensada apenas sob uma forma específica. 2or outro lado, esta abstracç"o do trabalho em geral n"o ( apenas o resultado intelectualde uma totalidade concreta de trabalhos. - indiferença face a um trabalho determinado corresponde a uma forma de sociedade onde

os indivíduos passam com facilidade de um trabalho para outro, e onde o trabalho determinado ( para eles casual, sendo por issoindiferente. % trabalho aqui tornou$se, n"o só enquanto categoria mas na realidade, um puro e simples meio para a criaç"o derique#a, tendo deixado de estar estreitamente associado com os indivíduos como determinaç"o da particularidade. >al estado decoisas encontra$se mais desenvolvido na forma de existência mais moderna das sociedades burguesas = os 5stados ?nidos. 2ois (apenas aqui que a abstracç"o da categoria ]trabalho^, ]trabalho puro e simples^, trabalho  sans phrase, o ponto de partida daeconomia moderna, se torna uma realidade prática. -ssim sendo, a abstracç"o mais simples, a que coloca a economia moderna navanguarda, e que exprime uma relaç"o válida para uma forma de sociedade antiquíssima e para todas as formas de sociedade,apenas se apresenta praticamente como verdadeira nesta abstracç"o como categoria da sociedade mais moderna... 5ste exemplo dotrabalho demonstra de modo contundente como mesmo as categorias mais abstractas, apesar da sua validade = devida precisamente3 sua abstracç"o = se aplicar a todas as (pocas, ainda assim, na forma determinada que essa abstracç"o assume, s"o elas própriasigualmente o produto de condições históricas, possuindo a sua validade plena t"o$só para e no interior dessas condições* +Sarl1arx, \rundrisse der SritiB der politischen _Bonomie C5sboços da 'rítica da 5conomia 2olíticaD, manuscrito n"o revisto, H`W = H``, Kerlim HUWP, p. EP s..

5sta reflex"o sobre o conceito de trabalho como categoria social ( apor(tica sob vários aspectos. -ssim, tanto a abstracç"o como oseu conte8do social aparece, por um lado, como positiva, como *progresso*, como uma geral *actividade criadora de rique#a*, como

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desenvolvimento de uma diversidade4 e, por outro lado, como negativa, como *indiferença* relativamente ao conte8do. ;o mesmomodo, o *trabalho* aparece, por um lado, como uma abstracç"o *racional*, como mera designaç"o gen(rica de um *ricodesenvolvimento concreto* de actividades4 por outro lado, 1arx n"o tarda a corrigir$se, chamando a atenç"o para que essaabstracç"o n"o ( *apenas o resultado mental de uma actividade concreta*, mas a correspondência a uma *forma de sociedade* emque essa abstracç"o se torna real e assim definidora da acç"o. 0obretudo, por(m, 1arx por um lado mant(m$se fiel 3 concepç"o deque a abstracç"o *trabalho* ( uma ideia *antiquíssima* e *válida para todas as (pocas*4 por outro lado, por(m, esclarece emsimult&neo que se trata de *uma categoria t"o moderna* como *as condições que produ#em essa simples abstracç"o*, de modo que

essa categoria acaba por ser o *produto de determinadas condições históricas*, nomeadamente das modernas, possuindo *validade plena apenas para e no interior dessas condições*.

5sta argumentaç"o apor(tica apenas pode ser resolvida se a categoria *trabalho* for definida como abstracç"o real e assim comohistórica, moderna, capitalista e, por isso mesmo, a ontologia do trabalho for de todo abandonada. 0e 1arx designa esta abstracç"o+provavelmente no sentido de uma mera abstracç"o nominal despreocupadamente como *antiquíssima*, esta designaç"oobviamente n"o se baseia em nenhuma investigaç"o histórica. ;e facto, em muitas sociedades da história, entre outras tamb(m naschamadas culturas superiores como o 5gipto antigo, nem sequer existia uma categoria de actividade geral e abstracta. 1esmo nassociedades onde parece existir um tal conceito gen(rico nominal +mesmo aí n"o há nenhuma abstracç"o real, trata$se de áreas deactividade muito limitadas, e nunca de uma generalidade social de *actividade em geral*. 0e aqui na interpretaç"o moderna se falasempre de *trabalho*, tal ( enganador, um anacronismo e no fundo um erro de traduç"o +o que de resto se aplica tamb(m a outrascategorias especificamente modernas e associadas 3 relaç"o de fetiche da valori#aç"o do valor, tais como a política, o estado, etc..

 a medida em que a abstracç"o *trabalho* foi adoptada como conceito pela sociedade moderna a partir da área linguística indo$europeia, ela teve de ser su!eita a uma redefiniç"o completa4 ( que nessas línguas o *trabalho* designa sempre a actividadeespecífica dos escravos, dependentes, menores, etc4 n"o se trata, portanto, de um conceito gen(rico mental para diversas áreas deactividade, mas sim de uma abstracç"o social +e nessa medida tamb(m de uma abstracç"o real, neste sentido especificamente pr($moderno, por(m, precisamente por isso n"o de uma generalidade social, n"o de uma categoria de síntese social como namodernidade.

- aporia de 1arx tamb(m se mant(m igual a si mesma na análise de *% 'apital*, quando 1arx apresenta as definições de *trabalhoabstracto* e *trabalho concreto*. 5m rigor, a designaç"o *trabalho abstracto* representa um pleonasmo lógico +como por exemplo*cavalo$branco branco*, uma ve# que o atributo !á está contido no próprio conceito4 ( que, de facto, o *trabalho* !á ( umaabstracç"o. /nversamente, o conceito *trabalho concreto* representa uma contradictio in adjecto +como por exemplo *cavalo$branco preto*, !á que o atributo está em contradiç"o com o conceito4 como abstracç"o +mesmo conceptualmente, apenas nascendo noterreno de uma abstracç"o real social o *trabalho* n"o pode ser per se *concreto* no sentido de uma determinada actividade.

2oder$se$ia di#er que estas definições de 1arx reflectem o paradoxo real da relaç"o do capital e da sua sociali#aç"o do valor, !á quenas mesmas o que ( em si concreto, a diversidade do mundo, ( de facto +*realmente* redu#ido a uma abstracç"o, e assim a relaç"oentre o geral e o particular ( posta de pernas para o ar. % geral !á n"o ( uma manifestaç"o do particular, mas pelo contrário o particular !á apenas ( uma manifestaç"o da generalidade totalitária4 o concreto, assim sendo, tamb(m !á n"o representa a diversidadeestruturada do particular, mas n"o *(* sen"o a *express"o* da generalidade realmente abstracta, da *subst&ncia* universal.

0em d8vida 1arx n"o tem plena consciência do que verdadeiramente aqui está a reflectir, visto que quer ater$se a um momentoontológico e transhistórico da abstracç"o *trabalho*. -ssim tenta fundamentar isto no conceito de valor de uso) *'omo criador devalores de uso, como trabalho 8til, o trabalho (... uma condiç"o existencial do Aomem, independente de todas as formas desociedade, uma necessidade natural eterna para mediar o metabolismo entre o Aomem e a nature#a, ou se!a, a vida humana* +;asSapital, vol. /, 15L EG, ibidem, p. W. % conceito de *utilidade para determinadas necessidades*, no entanto, n"o ( nenhumacategoria de síntese social, e por isso n"o pode ser simplesmente equiparado ao do *valor de uso*, como 1arx fa# sempre. -categoria valor de uso apenas se refere a uma utilidade abstracta +mais uma definiç"o realmente paradoxal e nessa medida ela própria ( parte integrante da abstracç"o real moderna4 n"o ( um conceito do ponto de vista das necessidades, mas sim um conceitode representaç"o da mediaç"o da forma do valor +o valor de uso de uma mercadoria como forma equivalente apenas exprime o valor de troca da outra mercadoria.

% valor de uso como designaç"o apenas fa# sentido na mediaç"o com o valor de troca, como a polaridade da relaç"o de valor, e por isso está longe de ser *uma condiç"o existencial do Aomem, independente de todas as formas de sociedade*. a medida em que o*trabalho* estabelece o *valor de uso*, n"o se trata de uma definiç"o ontológico$transhistórica para lá da abstracç"o do valor, masnada mais que o modo específico como a abstracç"o real se apodera dos ob!ectos, que em si nada têm de abstractos. % que 1arxdesigna paradoxalmente como *trabalho concreto* n"o constitui por isso uma *necessidade natural eterna*4 pelo contrário, n"o (outra coisa sen"o o modo material específico de o *trabalho abstracto* se apropriar da *mat(ria* natural ou social. ?ma ve# que istoeste!a clarificado, talve# possamos continuar a usar os conceitos de 1arx, consagrados como est"o, no entanto com umacompreens"o alterada.

Aá que antecipar neste ponto uma argumentaç"o que só mais tarde será desenvolvida com mais pormenor. ;i# respeito ao carácter 

material da subst&ncia do trabalho abstracto, que como se sabe foi formulada por 1arx como *dispêndio de nervo, m8sculo ec(rebro*, independentemente do modo concreto desse dispêndio, se!a sob a forma de trabalho de marceneiro ou de tecel"o, etc. %srepresentantes de uma determinada linha do debate neomarxista +ho!e frequentemente de colorido pós$moderno orgulham$se de

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falar aqui pe!orativamente de um falso *substancialismo* ou de um *naturalismo* fisiológico no próprio 1arx e nos marxistastradicionais, sendo que !ustamente por via desta *naturali#aç"o* o trabalho abstracto ( transformado numa realidade transhistórica eontológica, !á que os seres humanos sempre têm de despender *nervo, m8sculo e c(rebro*. -liás, tamb(m 1oishe 2ostone adere aesta opini"o, infeli#mente +ibidem, p. EEP ss..

%ra ( certo que o marxismo tradicional ontologi#a o trabalho abstracto, como pretendemos demonstrar com mais pormenor no próximo capítulo. -pesar disso a crítica do *substancialismo* que acabamos de esboçar parte de pressupostos totalmente errados.-liás, para ela trata$se menos da clarificaç"o do conceito de subst&ncia e de trabalho que da re!eiç"o de uma teoria de crisesubstancial, que argumenta com a diminuiç"o histórica da subst&ncia do trabalho como subst&ncia do valor do capital+dessubstanciali#aç"o. este sentido o trabalho abstracto ( encarado como uma relaç"o quantitativa, como conceito de subst&nciaem sentido quantitativo. : que, para que algo possa ser aumentado ou diminuído, esse algo tem de ser substancialmente real emsentido material e de conte8dos4 uma mera forma como subst&ncia n"o pode representar uma relaç"o quantitativa. 2or isso a críticado carácter de subst&ncia material do trabalho abstracto serve para re!eitar a teoria de crise substancial, e assim para escamotear aexistência de um limite interno absoluto do processo de valori#aç"o4 a crise ( ent"o redu#ida 3 superfície do mercado, como *erro deregulaç"o* do mecanismo de mercado que poderia ser regulado com meios políticos, ou ent"o desaparece por completo do debateteórico fundamental.

'omo esta argumentaç"o contra o *substancialismo* se inscreve antes de mais no &mbito da teoria da quantidade e da crise dotrabalho abstracto, ela apenas ( tratada exaustivamente na segunda parte do presente estudo. -qui há que deixar uma referência preliminar no sentido do conceito qualitativo negativo do trabalho abstracto que aqui tem um papel. %s anti$substancialistas

neomarxistas aparentemente reflectidos at( regridem para a retaguarda do marxismo tradicional, uma ve# que lhes escapa algo deabsolutamente essencial. : que 1arx n"o fala do dispêndio fisiológico de nervo, m8sculo e c(rebro num sentido imediatamentenaturalista ou transhistórico. 2ois o dispêndio fisiológico de energia humana, em termos puramente *naturais*, n"o pode ser separado da forma concreta desse dispêndio. 2or(m, ( precisamente isso o que acontece socialmente na abstracç"o do trabalho. 5este abstrair da forma concreta do dispêndio n"o ( racional nem transhistórico. 0e, por exemplo, diss(ssemos a um egípcio antigoque estivesse a pescar que n"o estava simplesmente a apanhar peixe, mas que estava a despender *nervo, m8sculo e c(rebro* emsentido abstracto, ele teria todos os motivos para duvidar da nossa sa8de mental. >al afirmaç"o apenas fa# *sentido* no contexto daabstracç"o real moderna.

-inda assim, a subst&ncia abstracta do trabalho n"o deixa de comportar algum conte8do material ou *físico* +pois um dispêndio denervo, m8sculo e c(rebro sem conte8do simplesmente n"o ( possível, mesmo que n"o se trate de uma subst&ncia natural imediata,mas de uma subst&ncia social enquanto abstracç"o. >rata$se de um dos lados da materiali#aç"o da idealidade da forma fetichista +ooutro seria a própria mat(ria natural moldada de modo reducionista, na medida em que sob o ditado desta idealidade da formanegativa, numa determinada referência social, se abstrai, n"o só conceptual, mas tamb(m praticamente, da forma concreta do

dispêndio +que naturalmente n"o deixa de acontecer, estabelecendo como essencial apenas esse mesmo dispêndio enquanto tal,independentemente da sua determinaç"o concreta.

 a abstracç"o como abstracç"o real permanece ent"o como resíduo um conte8do bem material, nomeadamente o dispêndio de*energia humana em geral*. 2ara o *su!eito automático* do processo de valori#aç"o n"o ( nada importante se s"o produ#idas calçasou granadas de m"o4 só ( essencial que no acto ocorram processos de combust"o físicos humanos +dispêndio de energia que possamser representados como um quantum de valor4 um procedimento em si absolutamente absurdo. o entanto, esses processos decombust"o acontecem realmente4 o que ( absurdo ( apenas o facto de serem tratados e *representados* independentemente da suaforma concreta, e por conseguinte do seu ob!ectivo material e de conte8do, o que acontece porque o ob!ectivo social ( precisamenteessa *representaç"o* fetichista. - reduç"o ao processo de combust"o físico ( uma abstracç"o social, mas lá por isso n"o ( uma meracoisa do pensamento +como por exemplo um conceito gen(rico nominal, mas refere$se a um momento bem real, e ( tamb(m por isso uma abstracç"o real.

- *representaç"o* ( um processo essencial daquilo que 1arx designou por fetichismo da forma da mercadoria. "o ( só que oquantum de energia humana despendida n"o pode ser separado da forma concreta desse mesmo dispêndio4 logo que os produtos seencontram produ#idos, ele tamb(m pertence ao passado e !á n"o ( tangível, e por isso evidentemente n"o está *contido* nos produtos em sentido natural ou físico. - *representaç"o* como processo físico nesta medida ocorre apenas nas cabeças dos su!eitossociais assim constituídos, nomeadamente como percepç"o e *tratamento* práticos fetichi#ados da sua própria sociabilidade. -indaassim, tal *representaç"o* refere$se a algo que de facto n"o ocorre apenas nas cabeças dos su!eitos, como forma de percepç"o e deacç"o, mas que ( uma realidade física, a saber, processos de combust"o passados ocorridos em corpos humanos, dispêndio deunidades energ(ticas.

'omo o quantum de energia gasta no processo do seu dispêndio n"o pode ser realmente separado da forma ou determinaç"oconcreta desse mesmo dispêndio, e como, tratando$se de um dispêndio definitivamente passado, n"o pode literalmente estar *contido* nos ob!ectos, a forma social de representaç"o ( de facto neste aspecto irreal em duplo sentido. 1esmo assim, essequantum de energia teve de ser despendido realmente no passado, pelo que, por outro lado, representa uma subst&ncia física real +se bem que *representada* de modo paradoxal. - forma da representaç"o desta subst&ncia real, por(m, nada tem em si de físico, sendo

antes uma abstracç"o real, um modo de percepç"o e de acç"o socialmente constituído, em que as subst&ncias naturais e os bens produ#idos s"o realmente tratados como se fossem ob!ectos físicos de pura representaç"o de processos de combust"o passados emcorpos humanos.

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% trabalho abstracto ( por isso um determinado estado de agregaç"o da idealidade da forma moderna fetichista, que no entanto n"odeixa de fa#er referência a um quantum energ(tico de força de trabalho realmente despendida, ou se!a, a um conte8do materialquantificável +n"o em relaç"o 3 mercadoria individual, mas 3 m(dia social das mercadorias. 5ste conte8do, no entanto, comoabstracç"o ( *fantasmático*, n"o só enquanto resultado da ob!ectividade do valor, mas !á no próprio processo do dispêndio, ou se!a,em termos práticos, como definiç"o de uma massa de dispêndio de nervo, m8sculo e c(rebro separada da sua forma material.2roceder$se a determinadas transformações de materiais naturais com base na determinaç"o essencial apriorística de que aqui s"odespendidos quanta de energia humana abstracta sem olhar 3 forma concreta do seu dispêndio $ tal determinaç"o ( substancial num

sentido material, que n"o ( um sentido natural, mas sim social, e que n"o ( transhistórico, mas sim historicamente específico naconstituiç"o do fetiche moderno.

O conceito positivo do trabalho abstracto na ontolo#ia do trabalho mar*ista

1arx aproximou$se de uma crítica do conceito de trabalho como conceito de subst&ncia do capital, mas n"o p6de levar esta críticaat( ao fim, porque ainda estava com um p( no terreno da ontologia do trabalho moderna. ?ma ve# que o marxismo +tradicional oudo movimento operário se fixou totalmente no momento ontológico da apresentaç"o de 1arx, querendo criticar o capitalismo do ponto de vista transhistórico do *trabalho*, necessariamente o conceito de trabalho abstracto teve de permanecer na sombra, com oque por(m tamb(m a subst&ncia do capital ficou por conceptuali#ar. 2odemos encontrar uma temati#aç"o deste conceito que vá paraal(m de uma mera definiç"o positivista apenas em pouquíssimos teóricos, como por exemplo nos anos vinte em /saaB /l!itsch 9ubin,que nos seus *0tudien #ur marxschen Lerttheorie C5studos sobre a teoria do valor de 1arxD*, publicados em HUEP, logo teve deconstatar) *7ace ao grande relevo dado por 1arx 3 teoria do trabalho abstracto, há que perguntar por que motivo a literatura

marxista t"o pouco se interessou por ela* +/saaB /l!itsch 9ubin, 0tudien #ur marxschen Lerttheorie C5studos sobre a teoria do valor de 1arxD, 7rancoforte do 1eno HUWG, primeira publicaç"o HUEP, p. UH.

% próprio 9ubin, por(m, de modo nenhum vai al(m da aporia de 1arx perante o conceito de trabalho. 5le positiva o trabalhoabstracto duplamente, a saber, por um lado como um progresso histórico na g(nese de uma generalidade social) *0omente com basena produç"o de mercadorias, caracteri#ada por um notório desenvolvimento da troca, pela reorientaç"o massiva de indivíduos deuma actividade para outra e pela indiferença dos indivíduos face 3 forma concreta do trabalho, ( possível desenvolver o carácter homog(neo de todas as actividades de trabalho como formas de trabalho humano em geral... "o seria de modo nenhum exageradodi#er que talve# o próprio conceito de Aomem em geral e de trabalho humano em geral se tenha destacado com base na produç"o demercadorias. 5ra precisamente isso que 1arx tinha em mente, ao realçar que o carácter humano geral do trabalho se exprime notrabalho abstracto* +9ubin, ibidem, p. UU s.. 9ubin destaca aqui o papel da abstracç"o real +que nele ainda n"o aparece como tal emum *desenvolvimento* positivamente conotado, embora de passagem +tal como 1arx refira igualmente a *indiferença dosindivíduos face 3 forma concreta do trabalho*4 no entanto, n"o o fa# com a mesma orientaç"o radicalmente crítica de 1arx.

2or outro lado, ele estabelece sempre uma diferenciaç"o, para de algum modo colmatar a aporia de 1arx) o trabalho abstracto da produç"o de mercadorias, que em 9ubin ainda aparece sem mais como capitalista, deverá desaparecer com o capitalismo, devendoainda assim restar dele um momento, que no entanto ( dotado de outro carácter) *5mbora o trabalho abstracto se!a umacaracterística específica da produç"o de mercadorias, um trabalho socialmente equiparado encontra$se, por exemplo, numacomunidade socialista... >odo o trabalho abstracto ( trabalho social e socialmente equiparado, mas nem todo o trabalho socialmenteequiparado deve ser considerado trabalho abstracto* +9ubin, ibidem, p. HFH.

9ubin postula, portanto, uma continuidade transhistórica do trabalho como abstracç"o no hori#onte iluminista do progresso, em queo trabalho abstracto capitalista será apenas um caso especial da abstracç"o do trabalho, no sentido de um trabalho geral e abstractoenquanto *socialmente equiparado*. a realidade, por(m, tudo isto n"o passa de uma paráfrase do trabalho abstracto no sistema produtor de mercadorias, como aliás transparece com muita clare#a da definiç"o do *trabalho socialista*) */maginemos umacomunidade socialista qualquer, entre cu!os participantes existe uma divis"o do trabalho. ?m determinado órg"o social equipara ostrabalhos dos diversos indivíduos uns com os outros, visto que sem tal equiparaç"o n"o se pode reali#ar um plano social mais oumenos abrangente. 5m tal comunidade, por(m, o processo de equiparaç"o do trabalho ( secundário, complementando o processo dasociali#aç"o e da distribuiç"o do trabalho. % trabalho ( antes de mais trabalho sociali#ado e distribuído. este quadro tamb(m podemos incluir = como uma característica derivada e adicional = a qualidade do trabalho como socialmente equiparado. -característica fundamental do trabalho consiste em ser social e distribuído4 a sua qualidade de socialmente equiparado ( acessória*+9ubin, ibidem, p. H s..

5m sua opini"o, a 8nica característica que distingue o trabalho *equiparado* socialista do trabalho abstracto capitalista ( o carácter supostamente apenas *secundário* e *acessório* da abstracç"o, o que no entanto ( imediatamente desmentido pelo facto de, segundo9ubin, sem essa equiparaç"o n"o ser possível qualquer *plano social*. ?m plano, no entanto, define$se por ser elaboradoantecipadamente, sen"o n"o o seria, e assim, segundo a lógica do próprio 9ubin, tamb(m o *processo de equiparaç"o* n"o pode ser meramente secundário e acessório, constituindo antes o pressuposto de tudo. 2ara mais o que alegadamente antecede o processo deequiparaç"o, supostamente apenas acessório, ( uma ve# mais o *trabalho*, ou se!a, a abstracç"o +real. % que aqui pelos vistos ( t"odifícil de pensar ( o problema de uma suplantaç"o da própria abstracç"o real destrutiva, ou se!a, a intuiç"o de que *equiparaç"o*significa desde sempre a su!eiç"o das várias áreas da reproduç"o e da vida, com lógicas próprias, lógicas temporais e perfis de

exigência t"o diversos, a uma lógica de subsunç"o unitária4 no entanto, ( precisamente nisso que consiste a lógica unitária etotalitária da subst&ncia do trabalho abstracto.

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 em sequer interessa que um plano, no sentido de uma distribuiç"o dos recursos pelas diversas áreas, pudesse precisamente evitar  basear$se nesta equiparaç"o, devida apenas 3 abstracç"o do valor e n"o a qualquer exigência ob!ectiva. /sso revela$se de modoespecialmente crasso quando 9ubin n"o se coíbe de falar, em relaç"o ao socialismo, de uma *massa homog(nea de trabalho social*+ibidem, p. HH[. 0e o facto de ser o mesmo indivíduo quem, digamos, instala um cabo el(ctrico, planta uma árvore, escreve umacarta ou toma conta de crianças n"o significa, de modo nenhum, que o mesmo trate estas suas *alienações* t"o diversas como*massa homog(nea* de dispêndio substancial de energia inserido na mesma lógica temporal de um contínuo abstracto, muito menostoda uma sociedade tem de se comportar desse modo mal ve!a a forma da mercadoria pelas costas.

<ue uma sociedade se organi#ou como o colectivo auto$consciente duma associaç"o livre de indivíduos significa precisamente queela !á n"o está su!eita a um princípio fetichista de *equiparaç"o*, e de resto tamb(m nunca pode padecer de *escasse# de tempo*, que( uma característica específica do fim$em$si da valori#aç"o do valor. "o haver tempo disponível em quantidades infinitas n"osignifica de modo nenhum que *escasseie* por princípio, e que para *optimi#ar a carga de trabalho* tenha de ocorrer um processo deequiparaç"o entre massas *homog(neas* de dispêndio de energia humana. 5sta concepç"o em si completamente doida só p6desurgir sob o ditado do trabalho abstracto no &mbito da sociali#aç"o do valor.

% próprio 9ubin deixa claro que se trata de outra coisa, que n"o da necessidade material e ob!ectiva ou social da utili#aç"o derecursos, ao tentar descrever as modalidades da ominosa equiparaç"o) *0upomos que os órg"os da comunidade socialista equiparamos diversos trabalhos dos diversos indivíduos uns com os outros. -ssim, por exemplo, um dia de trabalho simples ( estabelecidocomo uma unidade, um dia de trabalho qualificado, como três unidades4 um dia de trabalho do operário qualificado - ( equiparado adois dias de trabalho do operário n"o qualificado K, etc. 'om base nestes princípios gerais +Y, as instituições sociais de

contabili#aç"o +Y sabem que o operário - despendeu vinte, e o operário K, de# unidades de trabalho +Y no processo social de produç"o* +ibidem, p. HH[.

% problema n"o consiste, portanto, na realidade em uma distribuiç"o planificada dos recursos por áreas da reproduç"o e da vidaqualitativamente diversas, mas na contabili#aç"o das prestações de trabalho aquando da distribuiç"o dos bens, serviços, etc. : o problema de cálculo de uma *prestaç"o de trabalho COeistungD* abstracta, que mesmo após uma suposta suplantaç"o do trabalhoabstracto especificamente capitalista ainda deverá obrigar a semelhante *homogenei#aç"o*. 'om isso, no entanto, ( perpetuado ummomento precisamente do trabalho abstracto sob a lógica da valori#aç"o capitalista, tal como de resto ocorre de um modosemelhante tamb(m em 2roudhon e em todas as utopias da contabili#aç"o do *trabalho*.

1esmo no próprio 1arx ainda se encontra um elemento desta n"o$lógica, quando ele fala das famigeradas *duas fases* dosocialismoXcomunismo, onde desde logo o princípio da prestaç"o abstracta de trabalho, e com ele um momento da lógica davalori#aç"o, deve manter$se em vigor) *;e cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo a sua prestaç"o de trabalho*4apenas no longínquo comunismo, quando de resto 1arx significativamente supõe que o *trabalho* se tenha tornado a *primeira

necessidade vital*, será ent"o válido) *;e cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades*. oentanto n"o há qualquer necessidade que o !ustifique. 0e nem sequer o desenvolvimento das forças produtivas no s(culo /, sob adeterminaç"o da forma capitalista, pareceu suficiente a 1arx para poder atirar borda fora o princípio burguês da prestaç"o detrabalho, tal se deve antes de mais 3 sua fidelidade a elementos da ideologia protestante do trabalho e da prestaç"o de trabalho. 5isto sem olhar ao facto de este conceito abstracto de prestaç"o de trabalho ser especificamente moderno, ou se!a, precisamente, n"oestá ligado 3 situaç"o pr($moderna de um desenvolvimento relativamente modesto das forças produtivas, mas paradoxalmentenasceu apenas !unto com o cego desenvolvimento capitalista das forças produtivas como desenvolvimento de forças destrutivas.

- aporia no conceito de trabalho de 1arx foi portanto resolvida pelo marxismo de uma forma unilateral na ontologia positiva dotrabalho4 e foi precisamente por isso que o conceito crítico de trabalho abstracto teve de permanecer mal esclarecido e ser  banali#ado numa definiç"o positivista. 9ubin, com o desdobramento deste conceito na definiç"o de uma categoria puramentecapitalista +que nele ainda ( idêntica 3 produç"o social de mercadorias em geral, por um lado, e na definiç"o de uma *equiparaç"osocial* geral e abstracta, válida para todas as sociedades, por outro, prenunciou uma linha de argumentaç"o para os teóricosreflectidos que se prolonga at( ao presente. % que no entanto muito menos resolveu a aporia, elevando$a apenas a um patamar dereflex"o mais elevado = para o estalinismo, por(m, isso !á era reflex"o a mais4 em HUGH 9ubin, como tantos intelectuais incómodos,foi condenado ao internamento num campo de detenç"o e desde essa altura ( considerado desaparecido.

% destino de 9ubin remete para o facto de que o *socialismo*, no seguimento da revoluç"o de %utubro russa, se viu compelido areprimir qualquer reflex"o teórica que se aproximasse da aporia de 1arx, porque n"o precisava aqui de qualquer diferenciaç"o. :que definições teóricas como a de 9ubin, que ainda se debatiam com o problema de delimitar o conceito de trabalho abstracto, por 1arx claramente ligado 3 relaç"o de capital, de uma *equiparaç"o dos trabalhos* !á n"o pensada sob a (gide da forma do valor numasociedade pós$capitalista, tinham de parecer perigosas e subversivas, na medida em que nesse *socialismo* na prática se exibiaabertamente o carácter da síntese social baseada no trabalho abstracto, no valor, na mercadoria e na forma do dinheiro.

>al remete para o carácter de toda a (poca que, com a devida dist&ncia temporal, pode ser decifrada como uma história de*moderni#aç"o recuperadora Cnachholender 1odernieserungD*. %s movimentos históricos na periferia do capitalismo n"o puderamromper o invólucro das formas de fetiche modernas, mas pelo contrário ainda tinham apenas por fim a implementaç"o social das

categorias reais do moderno sistema produtor de mercadorias. /sto tamb(m se aplica, se bem que de outro modo, ao movimentooperário ocidental, o qual se esforçou principalmente por reivindicar o seu *reconhecimento* como su!eito !urídico e de cidadania, precisamente naquelas formas sociais cu!o pressuposto lógico era o trabalho abstracto, sobre o fundamento deste sistema que !á

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tomara forma nos países industriais europeus. 5ste contexto histórico permite explicar porque se perdeu o conte8do crítico doconceito de trabalho de 1arx e porque tanto o movimento operário ocidental como o socialismo de estado do Oeste, assim como os posteriores movimentos de libertaç"o nacional do 0ul, estavam ideologicamente presos por completo 3 ontologia do trabalho burguesa.

 a teoria marxista tradicional, e n"o só nesta, os factos ainda conotados por 1arx de uma forma claramente negativa, emborarepresentados de um modo apor(tico, foram assim totalmente esmaecidos, na medida em que o conceito de trabalho abstracto, oun"o era de modo nenhum entendido como uma abstracç"o real negativa, mas sim como uma mera abstracç"o conceptual$definidoraou, quando era entendido como uma abstracç"o real +em todo o caso apenas na corrente mais reflectida do marxismo ocidental, n"oo era como tal a priori, mas apenas como abstracç"o real a posteriori, a saber, referida pura e simplesmente aos produtos do trabalhoenquanto mercadorias no mercado4 e com isso, ao modo como o trabalho real, aparentemente sempre concreto e *8til*, só ( percepcionado numa forma abstracta a posteriori, nas mercadorias acabadas como ob!ectos do mercado4 de certo modo como umaqualidade do produto socialmente constituída. ;e modo positivo na ideologia do socialismo de estado do Oeste e de modo negativona corrente do marxismo ocidental) em ambos os casos, no entanto, a definiç"o do trabalho abstracto limitava$se por igual a umaabstracç"o que apenas seria efectuada no processo de troca no mercado. 5 por aí se ficou a literatura marxista.

2or outras palavras) o marxismo apenas realça a sua *fundamentaç"o na produç"o* no sentido positivo de uma ontológica *honra dotrabalho*, enquanto a sua crítica do capitalismo na realidade apenas dispõe de uma *fundamentaç"o na circulaç"o*, permanecendo por isso mesmo redu#ida. : que, entender o processo da abstracç"o real como algo operado apenas a posteriori no produto dotrabalho enquanto mercadoria no mercado n"o significa outra coisa sen"o circunscrever a crítica da abstracç"o real, e com ela do

sistema produtor de mercadorias, se ( que ( exercida de algum modo, 3 esfera da circulaç"o. % problema da negatividade capitalista( assim restringido apenas 3 esfera da circulaç"o e ao modo de distribuiç"o a ela ligado, sendo percebida apenas nessa perspectivaencurtada, como 1oishe 2ostone foi o primeiro a constatar) *0egundo esta interpretaç"o, ( o modo de distribuiç"o que está nocentro da crítica de 1arx. >al afirmaç"o parece paradoxal, !á que o marxismo ( geralmente considerado uma teoria da produç"o.%bservemos pois com brevidade o papel desempenhado pela produç"o na interpretaç"o tradicional. 0e as forças produtivas +quesegundo 1arx entram em contradiç"o com as relações de produç"o capitalistas s"o identificadas com o modo de produç"oindustrial, tal implica serem entendidas como um processo puramente t(cnico, isto (, independente do capitalismo. % capitalismo (tratado como um con!unto de factores externos que actuam sobre o processo de produç"o) por exemplo, a propriedade privada eoutras condições, que fa#em parte da economia de mercado, mas s"o exteriores 3 valori#aç"o do capital. 5m conex"o com isto, adominaç"o social no capitalismo ( essencialmente entendida como dominaç"o de classe, que permanece igualmente exterior ao processo de produç"o* +1oishe 2ostone4 @eit, -rbeit und gesellschaftliche Aerrrschaft, ibidem, p. GF.

% ponto central deste encurtamento ( precisamente a reduç"o do trabalho abstracto 3 esfera da circulaç"o, uma ve# que só assim adistribuiç"o mediada pela circulaç"o pode tornar$se o ob!ecto central da crítica, enquanto, como demonstra 2ostone, a produç"o

apenas ( central na medida em que constitui o ponto de vista +em ve# de o ob!ecto da crítica +2ostone, ibidem, p. GH. ;aí resulta,como perspectiva igualmente encurtada de uma suposta suplantaç"o CQberIindungD do capitalismo, ou o paradigma de uma *troca !usta*, ou o de uma *produç"o de mercadorias planificada* pelo estado +ou uma combinaç"o de ambos, enquanto a produç"o comotal, na sua forma da mercadoria, ( de modo implícito ou explícito ontologicamente positivada.

5nquanto o marxismo tradicional entende mal a sua crítica como referente 3 *produç"o*, na realidade ele n"o se refere 3 produç"ono sentido de uma actividade da forma social e da abstracç"o real, mas unicamente 3 dominaç"o mal entendida sub!ectiva esociologicamente *sobre* a produç"o, enquanto determinaç"o !urídica da propriedade4 ou se!a, no sentido de uma determinadaterminologia de 1arx, apenas 3 *superstrutura !urídica* da produç"o, que como tal permanece por reflectir no que di# respeito 3 suaforma de actividade e 3 sua subst&ncia social4 assim sendo, tamb(m apenas 3s condições de circulaç"o, sendo que só nestas os proprietários de mercadorias se enfrentam como mónadas !urídicas abstractamente livres e *guardi"es das suas mercadorias* +1arx.

0e ( que aqui se vislumbra um momento de crítica da forma do fetiche, este circunscreve$se, portanto, 3 esfera da circulaç"o. -forma de fetiche do valor, que abrange todo o processo da reproduç"o social +incluindo tanto o *trabalho*Xproduç"o, como a forma !urídica, a forma do estado, a forma da política, ( assim redu#ida 3 forma da mercadoria no sentido da mera ob!ectividade dacirculaç"o. 2aradoxalmente ( por isso que o *trabalho abstracto* nem sequer figura como momento determinante da produç"o +esta pelo contrário ( concretistamente redu#ida e precisamente assim ontologi#ada, nem como ligado 3 produç"o, mas, completamenteao contrário, como simples momento da circulaç"o, como processo de abstracç"o ex post, circunscrito ao processo da troca nomercado. -ssim, para este modo de entender, o *duplo carácter do trabalho representado nas mercadorias* diagnosticado por 1arx+;as Sapital, vol. /, 15L EG, ibidem, p. [ divide$se por duas esferas diferentes, em ve# de determinar o carácter de toda areproduç"o) na produç"o n"o se encontra sen"o o trabalho *concreto* ou *8til*, enquanto o produto em forma de mercadoria apenasna circulaç"o surge como representaç"o do trabalho abstracto.

- este respeito ( prototípica a teoria de -lfred 0ohn$9ethel, a primeira que introdu#iu o conceito de abstracç"o real no debatemarxista. o entanto para ele a abstracç"o socialmente ob!ectivada apenas ( real como uma *abstracç"o da troca* +-lfred 0ohn$9ethel, Larenform und ;enBform C7orma da mercadoria e forma do pensamentoD, 7rancoforte do 1eno HUW`, p. HEF. -penas nomercado ( que o trabalho abstracto se apresenta como a subst&ncia comum das mercadorias que as torna compatíveis) *- abstracç"o

que tem lugar na troca decorre da própria relaç"o de troca. 5la n"o decorre da nature#a material das mercadorias, nem da suanature#a de valores de uso, nem da sua nature#a de produtos do trabalho* +0ohn$9ethel, ibidem, HHP.

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% mal$entendido do materialismo vulgar, que consiste em determinar a abstracç"o do valor e com ela a lógica do trabalho abstracto,como a qualidade material quasi$natural da produç"o, aqui ( utili#ado como pretexto para escamotear qualquer relaç"o da abstracç"odo valor com o processo do trabalho *concreto*, tamb(m no sentido de uma definiç"o social em ve# de natural, su!eitando$a aomesmo veredicto, com o que a produç"o ( retirada 3 socapa do &mbito da abstracç"o real. % trabalho, no entanto, n"o ( ele próprionada de natural, e ( precisamente na sua qualidade de produtos do trabalho que as coisas !á s"o mercadorias ou produtos daabstracç"o real, e n"o apenas por força do acto da troca no mercado. -ssim sendo, embora a 9ethel assista o m(rito de, com oconceito de abstracç"o real, ter desenvolvido a consciência teórica da problemática, o que constituiu um marco, ele mant(m$se

inteiramente ref(m da ontologia do trabalho e assim com o conceito de abstracç"o real limitado 3 circulaç"o, o que tanto mais ovincula 3 cis"o do conceito de trabalho em uma abstracç"o má, puramente circulatória a posteriori, por um lado, e uma concreç"o*boa*, produtiva e supostamente ontológica, por outro. -firma, portanto, *duas formas de síntese social = uma produ#ida pela trocae outra pelo trabalho...* +2ostone, ibidem, p. EW.

% mainstream do marxismo do movimento operário nem sequer chegou t"o longe, e assim na sua reduç"o ao menos manteve$seconsequente, na medida em que o problema da abstracç"o real f icou esquecido de todo e a produç"o e a circulaç"o foram afirmadaslado a lado como formas, enquanto a crítica apenas se referia 3 apropriaç"o de classe +com a concepç"o sociologicamente redu#idada mais$valia e 3 *anarquia* da circulaç"o, no sentido do *poder de disposiç"o* !urídico. 'omo suplantaç"o do capitalismoapresentava$se, assim, por um lado a planificaç"o puramente exterior do todo do processo de reproduç"o na forma da mercadoria, !á preparada no seio do próprio capitalismo atrav(s da concentraç"o do capital, do controlo pelo capital financeiro e da regulaç"oestatal, e, por outro lado, a ocupaç"o política dos postos de decis"o dessa mesma planificaç"o pela representaç"o política de classedo proletariado. >al como o conceito crítico de abstracç"o real, tamb(m o de fetichismo nem sequer tinha cabimento nesteentendimento encurtado.

;e um modo quase comovente pela sua candura, um conceito toscamente positivista e totalmente irreflectido do trabalho abstractofoi$se afirmando na literatura a metro da economia política acad(mica do *socialismo real*, ficando muito aqu(m da consciência da problemática de um 9ubin4 assim, por exemplo, e para escolher um exemplo ao acaso, num calhamaço como *2olitische _Bonomiedes 0o#ialismus und ihre -nIendung in der ;;9 C5conomia 2olítica do 0ocialismo e a sua aplicaç"o na 9;-D* +HU[U, redigido por um colectivo de autores orientado por \nter 1ittag) *% trabalho produtor de mercadorias de produtores socialistas (, por umlado, o dispêndio de trabalho planificado na sua forma 8til, concreta ou criadora de valor de uso. 2or outro lado, ele ocorre, devido3s condições de con!unto do modo de produç"o socialista, ao mesmo tempo de uma forma generali#ada, abstraída das suasespecificidades concretas, como trabalho abstracto, criador de valor, isto (, sob a forma do valor. % trabalho produtor demercadorias tem portanto um duplo carácter, sendo ao mesmo tempo trabalho concreto e abstracto. % trabalho concreto despendidode uma forma planificada nas empresas para a produç"o de mercadorias tem sempre de se reali#ar como trabalho abstracto, criador de valor, para cumprir a funç"o de trabalho social... % duplo carácter do trabalho produtor de mercadorias no socialismo distingue$sede uma forma fundamental do existente no capitalismo. 5nquanto o trabalho criador de valor na produç"o de mercadorias capitalista

medeia a relaç"o de exploraç"o, sendo um elo no sistema de apropriaç"o capitalista, o trabalho criador de valor no socialismoexprime o processo planificado de apropriaç"o social dos produtores socialistas libertados da exploraç"o... - sociedade socialistaestabelece, portanto, o trabalho despendido pelas unidades de produç"o em regime de divis"o de trabalho como relaç"o m8tua dedispêndios de trabalho socialmente iguais. 9edu# assim cada parte da totalidade do trabalho ao trabalho socialmente necessário ouao valor. % trabalho concreto ( redu#ido a trabalho abstracto, socialmente determinado, ao ser reali#ado o produto do trabalhoconcreto, o valor de uso...* +colectivo de autores, 2olitische _Bonomie des 0o#ialismus und ihre -nIendung in der ;;9 C5conomia2olítica do 0ocialismo e a sua aplicaç"o na 9;-D, Kerlim HU[U, p. EWG ss..

-qui passa$se grandiosamente ao lado de toda a problemática tanto do conceito de trabalho abstracto como da crítica de 1arx, umave# que se trata de uma representaç"o ideológica !á vinculada 3 apolog(tica de um processo histórico irreflectido. % processo daabstractificaç"o, analisado por 1arx de modo claramente negativo, apresenta$se como um meio apenas 8til para *medir* de modooptimi#ado em sentido puramente tecnocrático o dispêndio social de recursos e, assim sendo, como uma simples *a!uda ob!ectiva*na *reali#aç"o do valor de uso*. 5ste pensamento ideológico nem sequer se incomoda com o facto de primeiro ter de *reali#ar*socialmente a utilidade +apenas abstracta no próprio conceito de valor de uso com recurso a um processo específico. o fundo,

recorre$se a nada menos que o mecanismo da *m"o invisível* de -dam 0mith, invocado com esta argumentaç"o, com a 8nicadiferença que paradoxalmente essa m"o invisível, que como processo de abstracç"o dos processos de mercado deve coordenar a*alocaç"o de recursos*, ( postulada como a m"o visível da planificaç"o do socialismo de estado +e precisamente por isso teve decondu#ir ao seu fracasso.

- instrumentali#aç"o absolutamente acrítica, positivista e tecnocrática do conceito de 1arx de trabalho abstracto que aqui semanifesta, uma legitimaç"o transparente de uma prática pr($existente !á ob!ectivada e irreflectida no que di# respeito 3 suaconstituiç"o histórica, recebeu na literatura ocidental proveniente do marxismo tradicional, mais exigente em termos teóricos, umafundamentaç"o ontológica secundante. \eorg OuBács conseguiu mesmo a proe#a de formular uma *%ntologie des\esellschaftlichen 0eins C%ntologia do 0er socialD* +HUWG fundada no *trabalho*, onde ao conceito de trabalho ( atribuída ahabitual qualidade transhistórica, no sentido de uma *definiç"o teleológica* da acç"o referente 3 nature#a e 3 sociedade.

%ra, ( um facto que se pode afirmar +explícitamente desde -ristóteles que a humanidade se destacou do reino natural e animal comuma relaç"o de definições teleológicas +definições de ob!ectivos e de meios, tal como decorre, por exemplo, da conhecida sentençade 1arx sobre a diferença entre o pior construtor e a melhor abelha, segundo a qual todo o processo, no caso do primeiro, tem de passar primeiro pela consciência. OuBács formula$o ontologicamente de tal modo *que um esboço mental chega 3 reali#aç"o

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material, que o estabelecimento de ob!ectivos em pensamento altera a realidade material, insere na realidade algo de material, queface 3 nature#a representa algo de qualitativa e materialmente novo... "o existe qualquer desenvolvimento imanente das suasqualidades, das leis e forças que nelas se encontram activas, que permita ]dedu#ir^ uma casa do mero ser$em$si da pedra ou damadeira. 2ara tal fa# falta o poder do pensamento e da vontade humanos...* +\eorg OuBács, %ntologie des \esellschaftlichen 0einsC%ntologia do 0er socialD, vol. parcial, ;ie -rbeit C% >rabalhoD, euIied e ;armstadt HUWG, p. EH. o entanto n"o ( de modonenhum forçoso, nem de modo nenhum !ustificado por OuBács, mas axiomaticamente pressuposto, que a relaç"o de definiç"oteleológica enquanto prática ( idêntica 3 abstracç"o *trabalho*. -ssim foi ontologi#ada a forma de praxis histórica específica da

modernidade.

: por isso tamb(m que OuBács estende o conceito de subst&ncia como subst&ncia do trabalho, definida claramente por 1arx como ado capital, a uma categoria ontológico$transhistórica, que apenas teria de ser *dinami#ada*) *%s mais recentes conhecimentos sobreo 0er destruíram a concepç"o estática, imutável, de subst&ncia4 no entanto, daí n"o decorre de modo nenhum a necessidade da suanegaç"o no interior da ontologia, mas sim o reconhecimento do seu carácter essencialmente din&mico. - subst&ncia ( aquilo que, naeterna mudança das coisas, mudando$se a si mesma, se preserva na sua continuidade... % 0er do 0er social preserva$se comosubst&ncia no processo de reproduç"o...* +\eorg OuBács, %ntologie des \esellschaftlichen 0eins, ibidem, p. HHG s.. : precisamenteesta subst&ncia que ( definida como *trabalho*) *% trabalho pode ser... considerado um fenómeno primordial, como modelo do 0er social* +ibidem, p. U.

- especificidade da abstracç"o *trabalho* como abstracç"o real ( esmaecida na ontologi#aç"o, !á apenas figurando como uma*abstracç"o racional no sentido de 1arx* +ibidem, p. H[F. -qui OuBács nem sequer deixa de fora a ideia 5ngels sobre a

*humani#aç"o do macaco pelo trabalho*, de ve# em quando involuntariamente cómica4 o trabalho como *fenómeno primordial* vemontologicamente logo a seguir 3s *formas existenciais precedentes do inorg&nico e do org&nico* +ibidem, p. GE, constitui alinguagem, etc., de modo que ao *tornar$se Aomem* corresponde, al(m de *andar erecto*, tamb(m a *aptid"o para o trabalho*+\eorg OuBács, %ntologie des \esellschaftlichen 0eins C%ntologia do 0er socialD, vol. parcial, ;ie ontologischen \rundprin#ipienvon 1arx C%s princípios ontológicos fundamentais de 1arxD, euIied e ;armstadt HUWE, p. HFH. - reali#aç"o desta aptid"o para otrabalho será a seu ver o ponto de partida *para a formaç"o das suas capacidades, entre as quais nunca deve ser esquecido o domíniosobre si mesmo +Y* +ibidem, p. UE. /sto soa muito mais a protestante do que a *fenómeno primordial*, e uma pessoa mesmo semquerer lembra$se da história, divulgada com toda a candura burguesa por OocBe e Sant, segundo a qual os orangotangos apenasteimariam em n"o falar por n"o quererem trabalhar.

: inevitável que OuBács +ao contrário, por exemplo, de 9ubin tenha de ontologi#ar !unto com o trabalho tamb(m o valor4 no fim decontas, uma coisa tem a outra por consequência. -ssim sendo, a categoria do valor ( estendida e desfocada como a categoria dotrabalho, na medida em que a definiç"o do conceito de valor, tal como acontece em -dam 0mith e outros teóricos do /luminismo dos(culo V///, se confunde tanto com *crit(rios de valor* (tico$morais como com o conceito de *utilidade*. -ssim, a abstracç"o

social do valor aparece integrada num processo ontológico da subst&ncia do trabalho, que sempre se conserva na mudança e (igualmente *fenómeno primordial*) *0obretudo, no valor como categoria social n"o tarda a apresentar$se o fundamento elementar do 0er social, o trabalho. - sua ligaç"o 3s funções sociais do valor revela ao mesmo tempo os princípios fundamentais estruturantesdo 0er social, que provêm do 0er natural do Aomem e simultaneamente do seu metabolismo com a nature#a...* +ibidem, p. P['omo tal, seria essencial que se definisse de um modo transhistórico *a unidade final do valor como factor real do 0er social, sem pre!uí#o das suas mudanças estruturais qualitativas altamente significantes no decurso do desenvolvimento da sociedade...* +\eorgOuBács, %ntologie des \esellschaftlichen 0eins C%ntologia do 0er socialD, vol. parcial, ;ie -rbeit C% >rabalhoD, ibidem, p. UW.

>amb(m o *valor económico* em sentido mais restrito recebe uma bênç"o ontológica, como lei do valor do trabalho) *- lei maisgeral, a lei do valor, foi demonstrada por 1arx por exemplo no capítulo introdutório da sua obra principal. o entanto ( imanente ao próprio trabalho, uma ve# que está ligada, atrav(s do tempo de trabalho, ao próprio trabalho como desabrochar das capacidadeshumanas, estando mesmo assim !á implicitamente contida onde o Aomem ainda apenas fa# trabalho 8til, onde os seus produtos n"ose convertem em mercadorias, e mantendo$se implicitamente ainda em vigor depois de terminada a compra e venda das mercadorias+\eorg OuBács, %ntologie des \esellschaftlichen 0eins C%ntologia do 0er 0ocialD, vol. parcial, ;ie ontologischen \rundprin#ipien

von 1arx C%s princípios ontológicos fundamentais de 1arxD, ibidem, p. HFW. OuBács demonstra aqui com uma particular clare#acomo a transformaç"o histórica no entendimento do marxismo do movimento operário se refere em exclusivo 3 circulaç"o e 3distribuiç"o. *- compra e venda* pode ainda n"o se ter efectuado ou estar prestes a passar 3 história, mas o *trabalho* abstracto e ovalor s"o para a eternidade. a opini"o de OuBács, com o socialismo *termina a estrutura da troca de mercadorias, a eficácia da leido valor para o indivíduo como consumidor. o entanto vai de si que, na própria produç"o e no quadro do crescimento das forças produtivas, o tempo de trabalho socialmente necessário e com ele a lei do valor como regulador da produç"o têm de se manter emvigor inalterados* +ibidem, p. H`U. - ontologi#aç"o da lei do valor simplesmente como *economia de tempo*, no entanto,simplesmente esquece +!á acontecendo o mesmo, por ve#es, no próprio 1arx que tamb(m a qualidade do tempo como tal (historicamente diversa, e que ele apenas ( destrutivamente *economi#ado* em sentido moderno no espaço funcional capitalista.

% *socialismo* neste sentido redu#ido, limitado 3 regulaç"o modificada das relações !urídicas e de distribuiç"o, n"o transcendendo aontologia capitalista, tamb(m tem ent"o de confirmar involuntariamente a qualidade social explicitamente idêntica) *% que ocapitalismo tem de especial ( que produ# espontaneamente uma produç"o social no sentido próprio da palavra4 o socialismotransforma essa espontaneidade em uma regulaç"o consciente* +OuBács, ibidem, p. H`E. - diferença qualitativa, que em sentidoestrito n"o o (, limita$se 3 suposta transiç"o da *espontaneidade* da regulaç"o +*anarquia do mercado* para a *regulaç"oconsciente*, enquanto o *quê* desta espontaneidade ou regulaç"o, o conte8do social basilar, a *produç"o social*, ( ontologicamente

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elevado 3 *continuidade do desenvolvimento humano*, como *substancialidade real do processo na sua continuidade* +ibidem, p.H`F. 2recisamente aquilo que deveria ser abolido sem dó nem piedade, para se romper com a falsa ontologia capitalista, assim (declarado *conditio humana*4 como em geral, a ideia de uma * conditio humana*, de uma *autenticidade* antropológica que possaser aferida e instituída nos seus direitos, ( um sinal de todo o pensamento afirmativo por princípio.

'om o trabalho abstracto a ser deste modo ontologi#ado em condiç"o humana e sendo representada como intransponível aconcomitante constituiç"o de uma *segunda nature#a*, OuBács tamb(m se enquadra na metafísica da história e na ideologia do progresso do /luminismo, onde o desenvolvimento da abstracç"o do valor se mant(m de pedra e cal como uma continuidade meta$histórica, da craveira de uma *necessidade* hegeliana) *>amb(m o trabalho socialmente necessário +logo ipso facto abstracto ( umarealidade, um momento da ontologia do 0er social* +ibidem, p. P`. OuBács, ao mesmo tempo, está bem ciente de que esta históriacomo ontologia *dinami#ada* ( uma história de vítimas) *o s(culo /, milhões de artes"os independentes viveram a entrada emvigor desta abstracç"o do trabalho socialmente necessário como a sua própria ruína, com isso sofreram na prática as consequênciasconcretas, sem fa#erem a mínima ideia de que enfrentavam uma abstracç"o tradu#ida em factos pelo processo social4 esta abstracç"otem a mesma dure#a ontológica da facticidade de por exemplo um automóvel que nos passa por cima* +ibidem, p. P` s.. 2or(m,este conhecimento n"o leva o ontólogo do trabalho 3 crítica radical e 3 ruptura com a falsa ontologia, mas apenas ao*reconhecimento da necessidade*. - seu ver, essa *dure#a da facticidade* abarca em si o *progresso ontológico..., sendo que sedestaca claramente que a essência do desenvolvimento ontológico se encontra no progresso económico +que acaba por di#er respeitoao destino do g(nero humano e as contradições s"o as suas formas de aparência ontologicamente necessárias e ob!ectivas* +ibidem, p. [. %ra sacrificai$vos ao *progresso ontológico* da economia do trabalho e do valor, com os seus pequenos riscos e efeitoscolaterais.

1oishe 2ostone n"o se debruçou sobre a ontológica obra principal e tardia de OuBács4 mas aquilo que ele di# sobre o que acaba por ser a inconsistência das suas obras anteriores, que antes de mais argumentavam na crítica do conhecimento a partir das formas do pensamento, tamb(m se aplica 3 *%ntologia do 0er social*) *- identificaç"o do proletariado +ou da esp(cie com o su!eito históricoacaba por manter$se na mesma representaç"o historicamente n"o diferenciada do ]trabalho^ que o ]marxismo ricardiano^. % trabalho( definido como a fonte transhistórica da rique#a social e ( considerado a subst&ncia do su!eito histórico, isto (, aquilo que constituia sociedade* +2ostone, ibidem, p. HG`. -ssim OuBács se enquadra nesse *marxismo ocidental* +2errM -nderson que, embora aqui eali tenha arranhado o verni# do paradigma do marxismo do movimento operário, de modo nenhum o suplantou decisivamente. - prática histórica do *socialismo real*, que passava por uma moderni#aç"o recuperadora ainda por inteiro nos hori#ontes da ontologiacapitalista da modernidade, era deste modo mais apoiada filosoficamente do que criticamente decifrada.

<uanto a OuBács, sempre se pode ainda adu#ir como atenuante ter escrito num tempo em que esta prática histórica da moderni#aç"orecuperadora +mal entendida como transcendente todavia n"o se tinha esgotado, e ainda parecia encaminhada para o seu auge,numa segunda vaga de movimentos de libertaç"o nacional e regimes progressistas do 0ul global, segundo o *modelo* russo$

sovi(tico. - inacreditável in(rcia de padrões interpretativos ideológicos para al(m da sua fundamentaç"o na história real, por(m,evidencia$se no facto de que as teori#ações legitimadoras de uma ontologi#aç"o do trabalho abstracto prosseguem mesmo após aderrocada do socialismo real e da moderni#aç"o recuperadora, tal como as unhas dos p(s dos cadáveres ainda continuam a crescer  por algum tempo embora o corpo no seu todo !á este!a morto. ;o mesmo modo, a continuada elaboraç"o da ontologia do trabalho por uma obsoleta e desmorali#ada esquerda ocidental de proveniência tradicional tamb(m !á n"o se desenrola na cabeçacerebralmente morta de uma Aistória defunta, mas apenas nas extremidades de modelos de fim de linha. - notícia do fim do seumundo ainda n"o chegou 3s unhas dos p(s ideológicas.

5sta literatura histórica *das unhas dos p(s* de um marxismo do trabalho !á morto e enterrado, como formaç"o associada a umadeterminada (poca que ainda continuará a assombrar o mundo durante bastante tempo, n"o raramente se apresenta com pretensõesteóricas elevadas4 afinal pode valer$se, contra a nova elaboraç"o da teoria crítica do valor e da respectiva crítica da ontologia dotrabalho ainda em desenvolvimento embrionário, de toda a rique#a teórica da antiga exegese do 1arx da ontologia do trabalho = com o 8nico sen"o que essa rique#a de outrora entretanto assumiu o aspecto de um *belo cadáver*. 5ste g(nero de ontologia dotrabalho marxista muito documentada, mas !á n"o mediada histórico$socialmente, ( provavelmente um fenómeno mundial.

 a -lemanha enquadra$se neste lote a obra do int(rprete marxista de Aegel, ;ieter Lolf, com o qual a elaboraç"o da teoria críticado valor por assim di#er !á teve várias colisões desde o fim dos anos oitenta. "o ( por acaso que o livro de Lolf publicado emHU`, fundamentado na ontologia do trabalho, *Lare und \eld C1ercadoria e ;inheiroD* foi reeditado sob o título *;er dialeBtischeLiderspruch im Sapital. 5in Keitrag #ur marxschen Lerttheorie C- 'ontradiç"o ;ial(ctica no 'apital. ?ma achega 3 teoria do valor de 1arxD* +EFFE. 5sta reediç"o insere$se no contexto de uma talve# derradeira tentativa do marxismo acad(mico chegado 3 idadeda reforma, de só mais uma ve# iniciar uma esp(cie de contra$ofensiva contra a nova crítica do capitalismo feita pela crítica dovalor.

Zá fala por si a forma como Lolf pretende enquadrar a crítica da economia política de 1arx na história das teorias) *1arx com a suateoria n"o assume uma posiç"o independente da história das teorias, a partir do qual invalida as teorias dos seus antecessores. 'omomostra um olhar 3 g(nese do socialismo científico, trata$se antes de um movimento histórico$social em que 1arx, confrontando$secom as teorias anteriores e a situaç"o economico$social mais adiantada, abre caminho atrav(s destas teorias em direcç"o ao trabalho

social como o fundamento que tanto lhes ( comum como inconsciente* +;ieter, Lolf, ;er dialeBtische Liderspruch im Sapital. C-'ontradiç"o ;ial(ctica no 'apitalD, Aamburgo EFFE, p. HU.

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1arx ( inserido num movimento de fundo da história das teorias que se mant(m no interior dos limites da ontologia capitalista. 5ste( um exemplo típico de um conceito errado de *imanência*, na maior parte dos casos implícito nas pretensões de uma suposta*crítica imanente*. % movimento centrífugo da imanência para a transcendência devolvido 3 origem4 a transcendência desaparece,ou ent"o uma posiç"o que no essencial continua imanente fa#$se passar por transcendente. % que !á se manifestara relativamente 3filosofia iluminista no seu todo no seio do marxismo do movimento operário repete$se com relaç"o 3 teoria económica em sentidomais restrito) a teoria de 1arx figura como a mera continuaç"o da construç"o de um edifício, de uma esp(cie de pante"o da históriada reflex"o moderna, em cu!a construç"o tamb(m participaram os seus *antecessores*, nele tendo encontrado o seu lugar. - crítica

de 1arx n"o se apresenta assim sob a perspectiva da ruptura com toda a teoria que o antecedeu, ruptura que operou de uma formaincipiente no quadro da confrontaç"o imanente +e que ho!e teria de ser completada, mas sob a perspectiva da continuidade em quealegadamente se insere com a teoria precedente. 0ob esta perspectiva, 1arx n"o *rompe*, mas *continua a desenvolver*. 5 o*trabalho social* ( axiomaticamente declarado o conceito essencial desta falsa continuidade, *o fundamento tanto comum comoinconsciente*, n"o só da moderna história da continuidade, como duma sociabilidade transhistórica em geral.

- partir da premissa ideológica desta falsa história da continuidade desdobra$se agora a argumentaç"o legitimadora da ontologia dotrabalho. este caso, Lolf ( mais exigente que a superficiali#ada literatura tecnocrática e positivista do defunto universo científicodo *socialismo real*, na medida em que tenta como outrora 9ubin +de resto sem sequer o mencionar proceder a uma exo$diferenciaç"o histórica do conceito da abstracç"o *trabalho* ou do *trabalho abstracto*, a fim de o salvar como transhistórico. 5ledistingue três níveis de abstracç"o. - abstracç"o do trabalho na forma da mercadoria, como de costume dedu#ida na circulaç"o damera *abstracç"o da troca*, ( em primeiro lugar distinguida da abstracç"o meramente conceptual +nominal do *trabalho*, tida como*racional*) *2ara tornar isto claro, observemos uma quantidade de cadeiras diferentes umas das outras) podemos reter em mente aqualidade de serem cadeiras, como a qualidade geral que ( comum a todas. -qui ( levado em linha de conta o facto real de a toda a

cadeira, se!a ela de co#inha, de sala ou de !ardim, etc., assistir a qualidade de ser simplesmente uma cadeira, independentemente dasua forma concreta virada para um determinado tipo de utili#aç"o. 'ada cadeira em particular, tal como qualquer trabalho em particular, pode, por um lado, ser contemplada sob o aspecto da particularidade em termos de conte8do e, por outro, sob o aspectode uma qualidade geral que abstrai dessa particularidade* +;ieter Lolf, ibidem, p. s.

Aá algo de insólito em equiparar a abstracç"o do trabalho com a da cadeira. 1as ( precisamente isso que chama a atenç"o para ocontra$senso. : que no caso das cadeiras a qualidade comum a que se refere a abstracç"o e que a torna *racional* ( por de maisóbvia. 1as n"o ( esse o caso do trabalho. -s qualidades totalmente díspares das áreas da reproduç"o e da vida humanas, ou das possibilidades humanas de uma *alienaç"o* de actividade, n"o podem ser reunidas no mesmo plano, como no caso das cadeiras, sobum conceito gen(rico qualitativo comum *racional*4 antes pelo contrário, esta generali#aç"o em si ( tudo menos racional.

Lolf tamb(m n"o salva o assunto redu#indo$o 3 transformaç"o das mat(rias naturais) *... tratar$se$á apenas de ver no trabalho 8tilconcreto um processo de transformaç"o da nature#a, que se materiali#a em um pedaço de mat(ria a que foi dada uma determinada

forma* +ibidem, p. P. - qualidade comum dos diversos *trabalhos 8teis concretos*, no entanto, está aqui definida de um modomuito gen(rico, n"o tomando em conta o metabolismo dos homens consigo mesmos, a sua actividade na relaç"o social que n"o se*materiali#a em um pedaço de mat(ria a que foi dada uma determinada forma* +ou se!a, aquilo que no capitalismo figura por exemplo sob a designaç"o de *prestaç"o de serviços pessoais*. 1as se incluirmos as áreas de actividade socialmente interactivas,nada resta da abstracç"o *trabalho* sen"o o facto de se tratar de um modo de alienaç"o humana em geral. o entanto, esta qualidade( t"o gen(rica que !á nem representa um enunciado que faça qualquer sentido. 0obretudo, a este nível exagerado de abstracç"o, !ánem pode ser delimitada de modos de alienaç"o humana como o !ogo, o sonho, a contemplaç"o, a sexualidade, o passeio, o pra#er,etc. 2recisamente por isso, o conceito abstracto de trabalho afinal n"o nasceu como conceito gen(rico *racional* deste tipo, mas primordialmente como uma abstracç"o social negativa +aquilo que ( feito por um escravo, independentemente do conte8doespecífico.

1as, precisamente porque n"o foi possível estabelecer nenhuma generalidade social do conceito de trabalho deste modo deabstracç"o social +a n"o ser no sentido meramente metafórico da negatividade, do sofrimento, esta, como conceito abstracto de*trabalho*, pertence unicamente ao moderno sistema produtor de mercadorias. - *qualidade geral* das alienações de energia

humana de serem designadas por *trabalho* n"o se deve a nenhuma *abstracç"o racional*, mas apenas fa# sentido se essa*generalidade* consistir na potencialidade de dar valor4 apenas atrav(s desta comunidade social +negativa, as diversas actividades podem ser subsumidas sob o conceito de trabalho, como os diversos tipos de cadeira sob o conceito de cadeira. 2ortanto, aabstracç"o nominal ( apenas uma consequência da abstracç"o real e de modo nenhum ( em si *racional*.

 ada melhor ( a situaç"o do segundo nível de abstracç"o do conceito de trabalho, que Lolf vai buscar para ontologi#ar o trabalhoabstracto. 5ste !á n"o conteria apenas um suposto conceito gen(rico *racional*, segundo o exemplo da cadeira , mas representariaum conceito da prática social. Lolf recorre neste caso 3 linha de argumentaç"o ontologi#ante do próprio 1arx, que afinal tamb(mserve de tábua de salvaç"o a OuBács e a toda a ontologia do trabalho marxista. -qui !á n"o se trata do mero conceito gen(rico, do*trabalho humano abstracto como qualidade geral dos trabalhos 8teis concretos* +Lolf, ibidem, p. P, mas da relaç"o social práticadas diversas áreas de actividade e *alienações* individuais e particulares umas com as outras.

 este sentido da regulaç"o social e do *reconhecimento* m8tuo, ( agora introdu#ido um segundo conceito de *trabalho humano

abstracto* em sentido social) *5xiste, no contexto social em que os seres humanos despendem os seus trabalhos 8teis concretos, um processo em que os mesmos, abstraindo do seu carácter concreto e 8til, tamb(m se!am referidos uns aos outros como humanos, isto(, gerais e abstractos 5sse processo existe. 5le consiste na !á referida distribuiç"o do trabalho social em determinadas proporções,

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tal como ( comum a todas as formações sociais. 0e, a partir desta distribuiç"o, for possível determinar por que os trabalhos 8teisconcretos tamb(m podem ser referidos uns aos outros como abstractos e humanos, nesse caso trata$se de uma situaç"o a$histórica,comum a todas as comunidades* +ibidem, p. P`.

5sta, no entanto, ( uma interrogaç"o que como tal nem sequer existe nas sociedades pr($modernas. Lolf confunde aqui duas coisascompletamente diferentes. - 8nica coisa que vai de si ( que qualquer sociedade implica uma relaç"o com a nature#a e relaçõessociais, que os seres humanos têm de assegurar a sua reproduç"o atrav(s de interacções para comerem, beberem, se vestirem,habitarem, lidarem uns com os outros, brincarem, formarem uma imagem do mundo, etc. ;aí, no entanto, n"o decorre nenhumaabstracç"o de um *dispêndio de energia humana* no sentido de uma regulaç"o de con!unto. 2or exemplo, o facto de se saber que ( preciso semear para colher n"o implica um *sistema de contabili#aç"o* geral social do dispêndio de energia, que seria implícitonuma generalidade abstracta correspondente. 0e e na medida em que semelhante regulaç"o contabilística ocorre em sociedadesagrárias, refere$se invariavelmente apenas 3 abstracç"o social de uma determinada actividade, nomeadamente 3 dos socialmentedependentes, e de modo nenhum a uma *generalidade social*4 e, em determinadas sociedades, n"o ou n"o em primeira linha 3reproduç"o da vida, mas a fins transcendentes +por exemplo na construç"o das pir&mides no 5gipto antigo.

- quest"o tamb(m poderia ser formulada da seguinte maneira) todas as sociedades pr($modernas partem implicitamente do princípio de que, de qualquer modo, há sempre tempo de sobra 3 disposiç"o, que se *tem tempo*, e de modo nenhum ( precisocolocá$lo adicionalmente numa *relaç"o de escasse#* das diversas actividades ou alienações humanas em geral. 0emelhante ideiater$se$ia afigurado pura e simplesmente absurda. -qui se revela claramente um determinado aspecto das diversas qualidadeshistóricas do tempo. 1arx chamou repetidamente a atenç"o para o absurdo do facto de que ( precisamente a aplicaç"o de meios

*economi#adores de tempo* no capitalismo moderno que está ligada a uma eterna falta de tempo e simultaneamente 3 transformaç"odo tempo de vida em *tempo de trabalho*. - ra#"o ( que a economia apenas t(cnica do tempo +que, mesmo no plano t(cnico, muitasve#es se teria afigurado ridícula e grotesca 3 consciência pr($capitalista ( definida por uma relaç"o social que se baseia no*descomedimento C1asslosigBeitD* +1arx do capital, nomeadamente na incorporaç"o desmedida do dispêndio de energia humanaem unidades de tempo abstractas.

-ssim, quando Lolf afirma a *relaç"o +social m8tua dos trabalhos 8teis concretos como humanos abstractos* +ibidem, p. PU, deresto entroncando directamente em 9ubin e no seu conceito de *equiparaç"o social* +como !á se disse, sem referência 3 origem, namedida em que ela está *incluída na distribuiç"o proporcional da totalidade do trabalho 3 disposiç"o duma comunidade* +ibidem,Lolf está a cometer um anacronismo. % sistema de tributos, exacções, etc. vigente nas antigas sociedades agrárias como express"oda dominaç"o social em determinadas constituições de fetiche n"o se baseava exactamente numa *contabili#aç"o* assim t"oabsoluta e totalitária. 5lementos de semelhantes práticas apenas se encontram em trabalhos forçados periódicos, por exemplo naconstruç"o das pir&mides, da muralha de 'hina, etc. esses casos, por(m, invariavelmente se tratou de ocorrências de express"olimitada, que de modo nenhum abrangiam a totalidade da reproduç"o social.

- simples a ideia de fa#er o levantamento da *totalidade do trabalho 3 disposiç"o duma comunidade* !á cont(m em si sem o saber odescomedimento capitalista e o totalitarismo da forma do valor, tal como historicamente foi pela primeira ve# ideali#ado pelo protestantismo. % facto de as sociedades que apostaram na moderni#aç"o recuperadora, com a sua lógica da planificaç"o estatal,terem sempre procedido precisamente a esse *levantamento C5rfassungD*, tendo com esse acto primeiramente definido a*populaç"o* como *força de trabalho colectiva* abstracta, n"o foi mais que a repetiç"o da história da constituiç"o capitalista da*soberania*, a qual tinha seguido o mesmo percurso com outro revestimento ideológico.

5mbora Lolf, contrariamente aos ideólogos do socialismo de estado, se demarque com facilidade da transformaç"o do *valor emuma categoria a$historicamente válida* +ibidem, p. PW, vê$se obrigado, em completa sintonia com os trechos de ontologia dotrabalho de 1arx ou com a ontologia do trabalho de OuBács, a tentar salvar a definiç"o do valor como transhistórica numdeterminado sentido, recorrendo ao conceito de *distribuiç"o proporcional dos diversos trabalhos*) *0e o valor das mercadorias n"o( uma categoria de validade a$histórica, e se nem sequer existiu em todas as formações sociais, tal n"o exclui que tamb(m se tratasempre de algo que ( comum a todas as formações sociais... 5ste ]algo^ (... a distribuiç"o da totalidade do tempo de trabalho queestá 3 disposiç"o de uma sociedade pelos vários trabalhos 8teis concretos. 5sta distribuiç"o ( sempre efectuada num contextohistoricamente determinado, que ao mesmo tempo decide sobre o reconhecimento social dos vários trabalhos, ou se!a, sobre a suaforma historicamente específica* +ibidem, p. PW.

2ara Lolf, portanto, o *trabalho* ( historicamente diferente apenas no sentido de diferentes *formas de reconhecimento*, sendo quea forma moderna, capitalista, está determinada precisamente pelo mercado, isto (, pela troca dos produtos do trabalho comomercadorias. % conceito de uma *forma de reconhecimento* !á encerra em si a possibilidade do n"o reconhecimento, que (igualmente ontologi#ado. ?ma relaç"o de reconhecimento e n"o reconhecimento, a ser regulada 3 parte por inst&ncias de mediaç"osocial, ( no entanto um elemento basilar das relações de dominaç"o e por conseguinte de fetiche.

Lolf ontologi#a a relaç"o de reproduç"o e de submiss"o fundamental do trabalho abstracto, mas quer separar dela a correspondenterelaç"o de mediaç"o do mercado, para declarar apenas esta 8ltima a característica específica do modo de produç"o capitalista)*-ssim, embora numa comunidade n"o capitalista os trabalhos 8teis concretos tamb(m se!am mutuamente relacionados como

abstractos e humanos no &mbito da distribuiç"o proporcional da totalidade do trabalho, o seu carácter social geral n"o consiste por(m em trabalho humano abstracto, mas, de um modo que se explica pela nature#a do contexto social, em trabalho 8til concreto.>al como nas comunidades n"o capitalistas, tamb(m numa comunidade capitalista os trabalhos 8teis concretos s"o mutuamente

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relacionados, na distribuiç"o proporcional da totalidade do trabalho, como abstractos e humanos... -qui, por(m, trata$se de um papelsocial extraordinário que ( desempenhado pelo trabalho humano abstracto em apenas uma 8nica situaç"o social* +Lolf, ibidem, p.PU.

% que aqui vemos n"o ( mais que rabulística conceptual. 0e, numa comunidade n"o capitalista, o carácter socialmente geral dostrabalhos !á consiste no trabalho 8til concreto, !á n"o sobra lugar para o conceito de trabalho humano abstracto, e nesse caso oconceito de trabalho como tal, que em si !á representa uma abstracç"o, n"o pode ser aplicado em sentido moderno ou, nos casosonde existe de algum modo um conceito abstracto para *actividade em geral*, este refere$se a tudo menos 3 generalidade social+actividade dos escravos, etc.. % facto de em todas as formas de alienaç"o na sociedade se tratar de alienações humanas ou mesmosociais n"o necessita de uma conceptualidade extra, uma ve# que !á de si ( evidente. 0e, portanto, Lolf opera com dois estatutosdiferentes do *trabalho humano abstracto*, sendo que o que se supõe ontológico e transhistórico deve desempenhar apenas nocapitalismo um *papel extraordinário*, enquanto o autor n"o consegue indicar nenhum *papel* com algum sentido para situaçõesn"o capitalistas, tal apenas comprova que ele tenta a todo o custo introdu#ir de contrabando a especificamente moderna abstracç"otrabalho na história e no futuro.

-s suas subdivisões do trabalho abstracto em pretensos dados ontológicos, por um lado, e factos especificamente capitalistas, por outro, tal como os esforços similares de OuBács, n"o passam de bi#antinices. <uem se pode permitir este tipo de rabulística comomero malabarismo conceptual s"o os marxistas do trabalho ocidentais, porque n"o respondem por um processo de reproduç"o socialreal com base no trabalho abstracto e na forma do valor, enquanto os pensadores do socialismo real, no sistema de referência da*produç"o planificada de mercadorias* e sob a press"o das contradições intrínsecas 3s mesma, tiveram de afirmar bastante brutal e

abertamente a categoria do trabalho abstracto nua e crua.

%s ideólogos do socialismo real n"o foram mais est8pidos, mas de certa maneira, com o seu modo de pensar afirmativo, maisinteligentes do que marxistas ocidentais como Lolf, ao retirarem da ontologi#aç"o do trabalho abstracto a consequência de umaigual ontologi#aç"o da forma do valor e da mediaç"o do mercado +*planificada*. : que ambas estas coisas tamb(m andam narealidade associadas4 o mercado n"o ( outra coisa sen"o a *esfera de reali#aç"o* do processo abrangente de valori#aç"o, e como talimprescindível. <uando Lolf declara apenas a mediaç"o do mercado no *papel* especificamente capitalista de *trabalho humanoabstracto*, ontologi#ando ao inv(s a situaç"o basilar da abstracç"o trabalho, lança uma lu# meridiana sobre o que ele entende por uma sociedade pós$capitalista, supostamente emancipada.

?m sistema de trabalho abstracto sem a correspondente mediaç"o do mercado apenas poderia ser uma ditadura extremamenterepressiva do processo de reconhecimentoXn"o reconhecimento, contabili#aç"o e distribuiç"o, levantamento e administraç"o de pessoas, 3 moda de 5staline ou quiçá de 2ol 2ot4 ou se!a, precisamente o que os marxistas tradicionais andaram repetidamente avaticinar como alegada consequência da crítica do valor para a denunciarem e repudiarem. o entanto, só ( emancipatória a

suplantaç"o do sistema do trabalho abstracto por inteiro, incluindo a mediaç"o do mercado4 n"o, por(m, da mediaç"o cega domercado so#inha +que nem poderia ser uma suplantaç"o verdadeira, mas apenas uma ingerência exterior, estatal, que se mant(mvinculada 3 forma categorial do valor e, com isso, do mercado.

2ortanto, ( precisamente a teoria supostamente mais reflectida, ocidental, de uma crítica do trabalho abstracto e do fetichismo, cu!aintervenç"o no entanto fica absolutamente limitada 3 esfera da circulaç"o, que tem de ser alvo da acusaç"o de implicaç"o numsistema estilo 2ol 2ot4 e n"o a crítica do valor, que como crítica radical do trabalho se destaca exactamente da anterior ao p6r adescoberto a relaç"o de reproduç"o sub!acente no seu todo e desde a rai#. 0ó quando se acabar de ve# com o conceito de *trabalhohumano abstracto*, que n"o assombra apenas Lolf, se ganhará uma perspectiva emancipatória que aponte um caminho para lá domodo de produç"o capitalista, e em especial para al(m do paradigma da *moderni#aç"o recuperadora*, que carrega sobre osc(rebros de esquerda como um pesadelo.

Para a crítica do conceito de trabalho em )oishe Postone

: sem d8vida m(rito de 1oishe 2ostone ter sido ele o primeiro a romper com a ontologia do trabalho burguesa, o conceitotranshistórico de trabalho e a positivaç"o do trabalho abstracto pelo marxismo tradicional, e a ter dado início 3 sua suplantaç"o4 e talaconteceu, em parte, muito antes da crítica do trabalho, tal como ela foi sendo desenvolvida desde os finais dos anos oitenta pelos princípios da crítica do valor em língua alem". - elaboraç"o teórica de 2ostone, de argumentaç"o semelhante, remonta aos anossetenta, foi ob!ecto de uma elaboraç"o ulterior nos anos oitenta, e desde o início dos anos noventa foi apresentada sob uma formamais avançada +na traduç"o alem" da obra principal at( 3 data apenas em EFFG. a -lemanha, a crítica do valor e do trabalhosurgiu em grande parte independente de qualquer recepç"o de 2ostone4 o que constitui um indicador de que o ulterior desenvolvimento e superaç"o da teoria de 1arx sobre a crítica radical do trabalho de certo modo pairou no ar, como resposta aodebate burguês sem conceitos categoriais em torno da *crise da sociedade do trabalho*, que !á tinha sido teoricamente inaugurado nofim dos anos cinquenta por Aannah -rendt, e tinha ganho uma actualidade e explosividade inesperadas com o desenrolar da crisemundial da terceira revoluç"o industrial +crescente desemprego estrutural de massas.

0egundo 2ostone, *o trabalho tem de ser entendido como historicamente específico e n"o como transhistórico. - concepç"o de 1arxde que o trabalho constitui o mundo social e ( a fonte de toda a rique#a n"o se refere por isso na sua crítica tardia 3 sociedade emgeral, mas unicamente 3 sociedade capitalista ou moderna* +1oishe 2ostone, @eit, -rbeit und gesellschaftliche Aerrrschaft C>empo,

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trabalho e dominaç"o socialD, 7riburgo EFFG, p. EG. 0ob este aspecto, 2ostone rompe decididamente com o positivismo do trabalhode todos os marxismos existentes at( 3 data, distinguindo *entre dois processos de análise crítica fundamentalmente distintos...) umacrítica do capitalismo do ponto de vista do trabalho, por um lado, e, por outro, uma crítica do trabalho no capitalismo. % primeiro,que se baseia num entendimento transhistórico do trabalho, pressupõe que entre as determinações que caracteri#am a vida social docapitalismo +por exemplo o mercado e a propriedade privada e a esfera social constituída pelo trabalho existe uma tens"o estrutural.% trabalho constitui aqui o fundamento da crítica do capitalismo, representando o ponto de vista a partir do qual a crítica (desenvolvida. 2ara o segundo processo de análise, por(m, o trabalho no capitalismo ( historicamente específico, constituindo as

estruturas essenciais desta sociedade. 2or isso, desta perspectiva ( o trabalho que se torna o ob!ecto da crítica da sociedadecapitalista* +2ostone, ibidem, p. E.

% trabalho como o ponto de vista da crítica ou o trabalho como o ob!ecto da crítica, ( isto que resume a oposiç"o, tal como !á foiinsinuado mais acima. >rata$se aqui precisamente do trabalho como categoria ou como determinaç"o da essência, e n"o de umacrítica do trabalho apenas acidental, mas categorialmente afirmativa, como ( o caso do operaismo +por exemplo dirigida ao carácter de dependência exterior do trabalho assalariado, 3s condições de trabalho deficientes, etc.. :, pois, a partir desta nova e negativadeterminaç"o da essência do trabalho que 2ostone consegue p6r a descoberto a reduç"o 3 circulaç"o e 3 distribuiç"o da críticamarxista do trabalho pr($existente e desenvolver as críticas +!á citadas das teorias correspondentes de OuBács, 0ohn$9ethel, etc.5ste feito de 2ostone tem de ser tido em consideraç"o tanto mais elevada, quanto considerarmos que 2ostone foi durante mais deuma d(cada condenado a uma existência na solid"o total4 as publicações em que ele deu um desenvolvimento ulterior ao seu princípio permaneceram em grande medida sem resson&ncia, e mesmo em diversas colect&neas n"o passavam de corpos estranhossem qualquer mediaç"o, aos quais a comunidade acad(mica +com destaque para os representantes alem"es da teoria crítica emgrande medida negou um debate adequado, uma ve# que iam para al(m do padr"o do entendimento habitual. >anto mais ( admirável

a persistência com que 2ostone prosseguiu o seu caminho teórico e continuou a desenvolver o seu princípio.

>alve# se!a devido a este isolamento discursivo ao longo de tanto tempo que 2ostone ainda n"o pensou consequentemente at( ao fima crítica do trabalho, isto (, da abstracç"o *trabalho*. 0e, como na citaç"o acima, fala de *trabalho no capitalismo*, esta express"otamb(m implica um *trabalho* fora do capitalismo4 o problema da abstracç"o, relativamente a um conceito de *actividade em geral*como alienaç"o humana, e da abstracç"o real, como inconsciente execuç"o da sua actividade, n"o ( assim suficientemente aclarado,mantendo$se a crítica incompleta.

 a análise de 2ostone encontramos este dilema a par e passo. 5le quer delimitar o *trabalho no capitalismo* de um conceito de*trabalho* aparentemente nada problemático, pressuposto como evidente e n"o mais temati#ado, postulando que apenas nocapitalismo *as categorias basilares da vida social... s"o categorias do trabalho. /sto ( tudo menos indiscutível, n"o podendo ser fundamentado com uma remiss"o geral para a evidente relev&ncia do trabalho na vida social do Aomem* +2ostone, ibidem, p. F.2ostone aceita, portanto, sem qualquer exame adicional, a remiss"o para uma *relev&ncia do trabalho* supostamente *evidente* para

a vida social em geral, mas n"o quer dar$se por satisfeito com este estado de coisas, realçando o papel específico do trabalho como princípio de síntese social unicamente existente no capitalismo. em sequer começa a colocar a si mesmo a quest"o de se umconceito geral e abstracto de trabalho ainda fa# sentido fora desta constituiç"o moderna e se existiu historicamente.

 esta medida tamb(m se encontra ainda em 2ostone um conceito duplo da abstracç"o trabalho, sendo que o aparentemente n"o problemático permanece como dantes uma categoria transhistórica. -ssim 2ostone afirma *que a forma do trabalho e a estrutura realdas relações sociais s"o diferentes em formações sociais diversas* +ibidem, p. . % capitalismo n"o se distingue, portanto, deoutras formações pelo facto de só ele ter produ#ido a *forma trabalho* +a qual tem correspondência na *forma su!eito*, igualmenteapenas válida para a constituiç"o moderna, mas unicamente pela *forma do trabalho*. 2ortanto, ( suposto tratar$se novamente deuma mera diferença de forma, respeitante a um estado de coisas que apesar de tudo ( uma ve# mais transhistórico, e com issoontológico, tal e qual como na argumentaç"o apor(tica de 1arx. - especificidade do capitalismo consistiria, portanto, segundo2ostone, na funç"o de síntese social do trabalho, sendo que como tal seria entendido apenas o *dispêndio de trabalho humanoimediato* +ibidem, p. [F no processo de produç"o) *5sta qualidade social = historicamente 8nica = distingue o trabalho nocapitalismo do trabalho em outras sociedades* +ibidem, p. ̀ `.

>al estabelece evidentemente uma certa confus"o quanto 3 validade transhistórica ou especificamente histórica +apenas pertencente3 modernidade do conceito de trabalho abstracto. 2ostone intui isso mesmo, ao formular ocasionalmente o conceito de trabalhoontológico e transhistórico aparentemente n"o problemático, que ainda assombra o seu discurso, de um modo que apesar de tudosem querer o problemati#a) *5m todas as sociedades existem diversas expressões daquilo que nós habitualmente designamos por trabalho* +ibidem, p. EGG. 5sta formulaç"o !á implica que *nós* +os homens modernos sociali#ados na categoria do trabalho*habitualmente* tamb(m *designamos por trabalho* noutras sociedades algo que na realidade n"o corresponde a essa abstracç"o./sso torna$se ainda mais nítido quando 2ostone fala de *actividades com a forma do trabalho* +ibidem, p. EGG em sociedades n"ocapitalistas. 5sta estranha express"o torna evidente o escr8pulo implícito de 2ostone relativamente 3 categoria do trabalho, que elede certo modo ainda vai arrastando secundariamente atrás de si como transhistórica, escr8pulo que n"o se torna contudo explícito.

 este contexto, 2ostone volta a referir$se uma ve# mais 3 relaç"o entre abstracç"o e abstracç"o real relativamente ao conceito detrabalho, reportando$se ao duplo carácter do trabalho formulado em 1arx como concreto e abstracto) *5sta definiç"o de partida do

duplo carácter do trabalho no capitalismo n"o deveria ser desligada do seu contexto, por exemplo pressupondo que as diversasformas de trabalho concreto s"o todas elas apenas formas de trabalho em geral. 0emelhante constataç"o n"o tem qualquer valor analítico, uma ve# que pode ser feita para as actividades na forma de trabalho de todas as sociedades, ou se!a, tamb(m relativamente

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3quelas onde a produç"o de mercadorias ( de uma import&ncia meramente marginal. -final todas as formas de trabalho têm emcomum precisamente isso, o serem trabalho... % que torna o trabalho geral no capitalismo n"o ( a banalidade de que ele constitui odenominador comum de todos os diversos tipos específicos de trabalho. - funç"o social do trabalho ( que o torna geral. 'omoactividade mediada socialmente, o trabalho abstrai da especificidade do seu produto, e assim da especificidade da sua própria formaconcreta. a análise de 1arx a categoria do trabalho abstracto dá express"o a este processo de abstracç"o social. 5la n"o se baseiaem um processo de abstracç"o meramente conceptual* +ibidem, p. EG.

5mbora 2ostone aqui realce a índole específica da generalidade do trabalho no capitalismo, a 8nica que dá sentido a semelhanteconceito de generalidade, ele admite apesar de tudo a abstracç"o puramente conceptual *trabalho*, no sentido de um conceitogen(rico aparentemente singelo +o primeiro nível da abstractificaç"o afirmativa em Lolf, ver acima, como racional em si mesma,entendendo esta no entanto +ainda assim, ao contrário de Lolf como *sem valor analítico* e como *banalidade*, para lhe opor acom ela incompatível abstracç"o capitalista do trabalho como síntese social. 2ostone n"o vê, contudo, que o mero conceito gen(ricode *trabalho* ( *destituído de valor analítico* precisamente porque tamb(m representa outra coisa que n"o uma *banalidade*.-penas pode surgir como tal em condições capitalistas, porque a abstracç"o na mera acepç"o conceptual n"o ( mais que um reflexomental da abstracç"o real, apenas pertencente 3 modernidade, e tamb(m como tal n"o tem qualquer paralelo histórico.

- 8ltima falta de clare#a quanto ao conceito de trabalho abstracto fa#$se sentir em 2ostone no que di# relativamente 3s afirmaçõesde 1arx sobre uma *economia de tempo* pretensamente transhistórica, que conteria em si um momento da determinaç"o do valor  para lá do capitalismo, e que foram invocadas com ênfase por 9ubin, OuBács, Lolf, etc. >amb(m 2ostone agarra este argumento,mas confere$lhe um peso claramente diferente e menos afirmativo) *% enunciado de 1arx, segundo o qual reflexões sobre o tempo

de trabalho continuariam a ter import&ncia numa sociedade pós$capitalista, n"o... significa que a forma da rique#a teria uma formatemporal, em ve# de material... ;e facto, uma economia de tempo conservaria alguma import&ncia, mas provavelmente passaria ater um carácter descritivo... por conseguinte, a relaç"o entre reflexões sobre o dispêndio de tempo e reflexões sobre a produç"o derique#a poderia ser essencialmente muito diferente daquela onde o valor ( a forma social de rique#a... - concepç"o de 1arx de uma possível economia de tempo pós$capitalista e a sua análise do capitalismo como uma forma temporal da rique#a n"o s"o por issoidênticas, devendo ser distinguidas* +ibidem, p. WF ss..

%ra, o que se passa ( que o próprio 1arx teima precisamente em n"o estabelecer esta diferença, designando antes a manutenç"o deuma *economia de tempo* expressamente como a manutenç"o de um momento da forma do valor, que para mais teria um carácter ontológico$transhistórico. 2or outras palavras) 1arx ainda n"o vê a diferença acima !á esboçada entre conceitos e formas históricosde tempo4 para ele aplica$se simplesmente o tempo contínuo abstracto de eIton, Sant e da economia empresarial moderna. -diferença que 2ostone estabelece com muita ra#"o no fundo proíbe que se continue a di#er que a *economia de tempo* manteria asua *import&ncia*. 2ostone lá sabe porque fala de *uma* em ve# de *a* economia de tempo, mas uma esp(cie de definiç"o de tempoqualitativamente diferente tamb(m !á n"o seria abstractamente *económica*, como se a *poupança de tempo* pudesse ser um valor 

em si, independentemente do conte8do. % entendimento de 2ostone entra em conflito com a sua +pouco convicta defesa da letra doconceito, tanto relativamente ao conceito de tempo abstracto como ao conceito de trabalho abstracto.

5ste dilema repete$se na apreciaç"o da chamada *necessidade*, no sentido do *trabalho necessário*. 1arx, como ( sabido, introdu#esta definiç"o de um modo duplo, por um lado como o trabalho socialmente necessário em m(dia referido ao dispêndio de energiahumana no capitalismo, com base em um determinado padr"o de produtividade +ou se!a, puramente imanente ao capitalismo, e por outro lado como a necessidade transhistórica de trabalho em geral, como *reino da necessidade*, do qual teria de permanecer umresíduo mesmo após o fim do capitalismo, e para al(m do qual poderia ent"o erguer$se o *reino da liberdade*.

2ostone n"o critica esta 8ltima definiç"o, embora com base na sua própria argumentaç"o no fundo devesse fa#ê$lo, mas duplica oconceito de *necessidade* do *trabalho* 3 semelhança do da economia de tempo, postulando que *tamb(m na observaç"o da relaç"odo trabalho para com a necessidade social há que distinguir entre a necessidade social transhistórica e a necessidade socialhistoricamente determinada. ?m exemplo para o primeiro g(nero de necessidade (, para 1arx, que alguma forma de trabalhoconcreto, se!a determinada pelo que for, ( necessária para mediar o metabolismo entre o Aomem e a nature#a, e por conseguinte amanutenç"o de uma vida social humana. 0emelhante actividade (, segundo 1arx, uma condiç"o necessária da existência humanaem todas as formas de sociedade... 'omo consequência do seu duplo carácter, o trabalho na forma da mercadoria para 1arx estáligado a duas formas diferentes de necessidade, das quais uma ( transhistórica e a outra específica do capitalismo* +ibidem, p. WEs.

0ob o conceito de *necessidade* relativamente ao valor de uso +cu!a vinculaç"o lógica 3 sociali#aç"o do valor tamb(m n"o (temati#ada por 2ostone regressa pela porta do cavalo um conceito de trabalho explicitamente ontológico, para se introdu#ir 3socapa na argumentaç"o de resto absolutamente incompatível com ele. /sso talve# se deva tamb(m 3 tentativa de 2ostone deapresentar a crítica do trabalho e do valor como nova interpretaç"o de um 1arx coerente, por assim di#er sem contradições e*inteiro*, atitude que apenas pode condu#ir a inconsistências. : muito mais adequado destrinçar em 1arx uma contradiç"o entre aontologia do trabalho, por um lado, e a crítica do trabalho e do valor, por outro, o que corresponde 3 sua situaç"o histórica.

- recaída na ontologia do trabalho torna$se perfeitamente clara logo que 2ostone chega a falar nas perspectivas de uma sociedade

 pós$capitalista. 5sta implica, para ele, *tamb(m a possibilidade de um outro processo de produç"o = um processo que se baseienuma nova e emancipatória estrutura do trabalho social* +ibidem, p. W. -qui tratar$se$ia de um *trabalho n"o alienado, livre derelações de dominaç"o sociais imediatas e abstractas* +ibidem, p. [W. ;este modo, 2ostone a este respeito recai no !arg"o do velho

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movimento operário, ainda que com uma express"o paradoxal) *- emancipaç"o do trabalho requer a emancipaç"o face ao trabalho+alienado* +ibidem, p. [[. 0ignificativamente, o ad!ectivo que deveria resolver o paradoxo encontra$se entre parênteses, n"ocontribuindo nada para a clarificaç"o. 0e o omitirmos, resta o paradoxo em forma pura, que re8ne apenas exteriormente dois paradigmas opostos) a emancipaç"o do trabalho n"o pode ser equivalente 3 emancipaç"o face ao trabalho. -quilo de que oshumanos têm de se emancipar !á está contido na abstracç"o *trabalho* como tal, como conceito essencial de uma sociali#aç"onegativa. -qui n"o se trata, portanto, de um paradoxo real reprodu#ido em conceitos, mas de uma contradiç"o conceptual no próprio2ostone +3 semelhança do que aconteceu no caso da aporia de 1arx a respeito do conceito de trabalho.

5sta contradiç"o na argumentaç"o de 2ostone tamb(m se prolonga no que di# respeito 3 totalidade da sociabilidade capitalista. 2or um lado, ele enfati#a que ( o trabalho abstracto que institui esta totalidade, devendo por isso aquele ser *abolido* em con!unto comesta. -o mesmo tempo, por(m, prolonga certos momentos desta totalidade para al(m do capitalismo, no mau sentido hegeliano deuma *superaç"o C-ufhebungD* afirmativa +onde se mant(m precisamente a essência4 tal ( especialmente evidente quanto 3 esfera política, que ele pelos vistos n"o entende como historicamente específica, mas uma ve# mais ontológica. 5m ve# de formular acrítica do trabalho, com coerência lógica, tamb(m como crítica da democracia, 2ostone quer deste modo proceder a *uma críticademocrática renovada do capitalismo* +ibidem, p. PF e propaga uma *democracia pós$capitalista* +ibidem, p. W`4 uma contradiç"oem si, perfeitamente na linha do conceito afirmativo de democracia no marxismo tradicional, que aí corresponde precisamente3quela limitaç"o do conceito de capital 3 circulaç"o e 3 distribuiç"o, que 2ostone por outro lado critica com tanto acerto.

5stas críticas n"o devem nem podem no entanto redu#ir o m(rito de 2ostone, por ter sido o primeiro a abrir a porta para asuplantaç"o da moderna ontologia do trabalho, que tamb(m no marxismo tradicional ainda passava por indiscutível. "o ( possível

exagerar o valor deste feito que abriu novos caminhos. -pesar dos momentos de ontologi#aç"o que ainda vai arrastando consigo, adiferença decisiva face ao marxismo do movimento operário consiste em que 2ostone nega qualquer carácter transhistórico aotrabalho no capitalismo, mesmo ao trabalho concreto no processo de produç"o material. 5le deixa claro sem margem para d8vidas*que o trabalho que constitui o valor n"o deveria ser identificado com o trabalho em sentido transhistórico. 2elo contrário, elerepresenta uma forma historicamente específica que com o fim do capitalismo ( abolida e n"o reali#ada* +ibidem, p. [H.

% conceito de trabalho ontológico e transhistórico que ainda resta em 2ostone !á n"o ( mais que o produto duma v" perplexidade, oespectro dum entendimento em princípio !á ultrapassado4 e, diga$se de passagem, tamb(m ( inconsistente, porque se o *trabalho*existisse realmente em sentido transhistórico, ele tamb(m teria de existir no capitalismo, que afinal n"o existe fora da história. %uuma ontologia do trabalho existe, ou n"o existe4 mas n"o ( possível que exista antes e depois do capitalismo, sem existir nocapitalismo. >al seria especificidade histórica a mais. 0e o *trabalho no capitalismo* representa uma condiç"o puramente histórica enegativa, n"o pode existir *outro* trabalho transhistórico, mas essa abstracç"o fa# parte, como relaç"o geral social, apenas damodernidade produtora de mercadorias e da história da respectiva constituiç"o. >amb(m a abstracç"o puramente conceptual do*trabalho*, como conceito de generalidade social, está ligada a esta relaç"o4 o conceito enquanto conceito ( um produto da

abstracç"o real acontecida e n"o deve ser entendido separado dela como transhistórico.

O trabalho abstracto e o valor como apriori social

% que começa a manifestar$se no debate crítico do valor sobre a abstracç"o trabalho e ( tamb(m temati#ado por 2ostone ( o problema do real apriori na constituiç"o social. %u melhor di#endo) o trabalho abstracto ( um conceito da produç"o ou apenas dacirculaç"o, o ponto de partida ou apenas um ponto de passagem >emos de retomar aqui com mais pormenor este problema !áesboçado acima, da reduç"o 3 circulaç"o do conceito de trabalho abstracto no marxismo tradicional, a fim de analisar as suasimplicações. o fundo ( estranho que este problema n"o tenha ocorrido ao marxismo do movimento operário clássico, o que podeser atribuído no essencial 3 sua funç"o de ideologia da moderni#aç"o. % trabalho abstracto converte$se assim por um lado numadefiniç"o positivista e irreflectida +no socialismo real, positivada para *uso dom(stico* como em \nter 1ittag e 'ia.. 2or outrolado, ( tratado implicitamente como conceito da circulaç"o, o que, como foi assinalado, se torna explícito nos teóricos ocidentaisreflectidos como 0ohn$9ethel, no conceito de trabalho abstracto como *abstracç"o da troca*, apenas para al(m da esfera da produç"o. % mesmo acontece evidentemente tamb(m em ;ieter Lolf) *-penas na troca os vários trabalhos s"o relacionados unscom os outros como trabalho humano abstracto de modo que esse se torne trabalho na forma historicamente específica* +;ieter Lolf, ;er dialeBtische Liderspruch im Sapital. C- 'ontradiç"o ;ial(ctica no 'apitalD, ibidem, p. WU.

>al corresponde evidentemente por completo 3 subdivis"o do processo de reproduç"o capitalista em uma esfera ontológica$transhistórica do trabalho concreto, do processo de produç"o material, por um lado, e em uma esfera especificamente capitalista datroca, ou do mercado, da regulaç"o *anárquica* do mercado, por outro, onde se pretende *libertar* a ontologi#ada esfera da produç"o da esfera da circulaç"o especificamente capitalista +*libertaç"o do trabalho*. 2aradoxalmente, *o trabalho* como*trabalho sob a sua forma historicamente específica*, *converte$se* assim n"o no próprio trabalho, e por isso, tamb(m n"o emdispêndio efectivo de força de trabalho no processo de produç"o real, mas apenas no seu al(m social, como processo de troca ouacto de mercado fora do trabalho, quando !á nem sequer se trata de trabalho activo, mas apenas do seu reflexo fetichista nos produtos como mercadorias.

2ostone quebrou este padr"o ao retirar o trabalho abstracto explicitamente da sua mera determinaç"o na circulaç"o e assim

desontologi#ou a reproduç"o capitalista como um todo. 'omo se pode compreender sem dificuldade, semelhante princípio n"o poderia nascer apenas do contexto de um esforço de análise crítica da história da teoria marxista, mas teve igualmente como campode referência o contexto do debate socio$ecológico dos anos oitenta. essa altura a destruiç"o dos pressupostos naturais da vida pela

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*externali#aç"o dos custos* da economia empresarial estava no primeiro plano do debate e estavam em voga palavras de ordemcomo *>rabalhar de outro modo, viver de outro modo*. 5sse debate ainda permanecia totalmente irreflectido com respeito 3determinaç"o da forma social pelo trabalho abstracto e pela lógica do valor4 2ostone foi o primeiro a querer fa#er valer nestadiscuss"o um desenvolvimento ulterior da teoria de 1arx transformado pela crítica do trabalho e do valor. 5sta formulaç"o do problema ( ho!e mais actual e premente do que nunca.

0e o marxismo tradicional sempre derivou de um modo redu#ido a dimens"o social do processo real de produç"o capitalista, ocarácter de su!eiç"o social da esfera funcional da economia empresarial, da determinaç"o !urídica da propriedade apenas entendidade um modo superficial e conforme 3 vontade sub!ectiva +os meios de produç"o n"o *pertencem* aos produtores, e n"o da essênciada própria lógica de produç"o concreto$abstracta como processo de valori#aç"o, o que corresponde 3 sua positivaç"o eontologi#aç"o da esfera da produç"o pretensamente apenas *concreta*, ele teve, por conseguinte, ou de escamotear por completo ocarácter ecologicamente destrutivo do processo de produç"o capitalista +como aconteceu com alguns ideólogos do socialismo realna apologia da economia empresarial *socialista* igualmente destrutiva para os pressupostos naturais da vida, ou de redu#ir este problema precisamente da mesma maneira 3 quest"o !urídica da propriedade na acepç"o tradicional.

- ideia no fundo óbvia de tirar proveito do conceito de 1arx de trabalho abstracto, no sentido de uma crítica socio$ecológica do processo de produç"o capitalista mesmo no que di# respeito 3 sua *lógica de produç"o* material, ficou assim bloqueada. %marxismo, com a sua fixaç"o tradicional na circulaç"o +anarquia do mercado, na distribuiç"o +luta pela distribuiç"o na forma dodinheiro, e com isso na dimens"o politico$!urídica entendida de modo superficial +relações de propriedade, intervenções do estadoteve, por isso, de passar ao lado da problemática socio$ecológica, que tinha ganho actualidade no seio da sociedade, enquanto o

movimento socio$ecológico, por seu lado, permaneceu sem conceitos e concretista, ou se!a, incapa# de uma crítica da *subst&ncia docapital*4 o que apenas p6de agravar$se em ve# de ser suplantado pelo facto de os marxistas terem falhado o tema.

% ponto decisivo consiste em saber se a abstracç"o trabalho ou abstracç"o real pode ser pensada consequentemente como lógica da produç"o, ou se permanece redu#ida 3 circulaç"o. - isso equivale a quest"o da prioridade do trabalho abstracto. 0erá que eleconstitui o apriori da reproduç"o capitalista como totalidade, sendo assim a sua validade estabelecida !á no próprio processo de produç"o *concreto*, o será que se trata apenas de uma *abstracç"o da troca* secundária % marxismo tradicional na maior parte doscasos admitiu implicitamente que este 8ltimo era o caso, uma ve# que apenas era capa# de pensar a forma capitalista da produç"oindustrial de modo muito superficial e a lógica da abstracç"o como força destrutiva totalitária ainda n"o estava historicamenteamadurecida4 e onde a formulaç"o foi explicitada, como em 0ohn$9ethel, n"o passou de uma posiç"o definidora sem referênciadiscursiva.

% trabalho abstracto como apriori social ou apenas como *abstracç"o da troca* e, com isso, produto secundário da circulaç"o, sendoque esta alternativa ( idêntica 3quela que inquire se o valor das mercadorias ( *produ#ido* no processo da sua produç"o, ou se

*surge* apenas na esfera da circulaç"o. : que o trabalho abstracto como subst&ncia do capital afinal n"o ( outra coisa sen"o a*subst&ncia formadora do valor*, ou se!a, aquilo que constitui o valor. R primeira vista, o problema parece desconcertante. 2orque (evidente que o valor ( produ#ido pelo trabalho, ou n"o será assim "o ( este o credo solene do marxismo do movimento operário,o seu *ponto de vista do trabalho*, a sua glorificaç"o do proletariado *criador de valor* - ironia da quest"o ( que o marxismotradicional se vira de certo modo de pernas para o ar no seu próprio *ponto de vista*, uma ve# que, embora afirme a *classe criadorade valor* como sendo a produtiva, redu# ao mesmo tempo a abstracç"o do valor 3 esfera da circulaç"o.

2or um lado pretende$se que a produç"o se!a determinada apenas pelo *trabalho concreto*, e com isso pela produç"o de *valores deuso*, enquanto o processo de abstracç"o supostamente apenas ( efectuado secundáriamente na esfera da circulaç"o4 por outro lado,fala$se de um modo absolutamente positivo da *produç"o* do valor pelo *trabalho*. 2or um lado temos, portanto, o orgulho dos produtores no sentido de uma criaç"o de valor de uso supostamente superior ao reles valor de troca e a que apenas exteriormente seteria sobreposto a lógica do valor capitalista +no sentido da definiç"o !urídica da propriedade entendida de um modo redu#ido4 por outro lado, ( o mesmo orgulho dos produtores no sentido da própria *criaç"o de valor*, onde ( logo a generalidade abstractacapitalista que figura como a *dignidade* do trabalho. : significativo que o marxismo nem tenha dado por esta sua própriacontradiç"o flagrante. -o movimentar$se em tal contradiç"o, assim se pode di#er, este pensamento reflecte a totalidade ou unidadenegativa do trabalho abstracto e concreto, mas de um modo completamente inconsciente e sem uma concepç"o crítica dessatotalidade.

5ntretanto o problema amadureceu de tal modo, tanto em termos ob!ectivos, no desenvolvimento histórico das forças destrutivas docapitalismo, como em termos discursivos, pela formulaç"o do princípio da crítica do valor, que !á tem de ser formuladoexplicitamente mesmo pela auto$apolog(tica do marxismo tradicional. -ssim, por exemplo, o politólogo de Kerlim 1ichaelAeinrich, que preconi#a uma esp(cie de mistura de teoria do valor feita de posições meio marxistas tradicionais e meio pós$modernas, intitula o capítulo dedicado 3 *fantasmática ob!ectividade* da forma da mercadoria, na sua rec(m$publicada introduç"o 3crítica da economia política, expressamente com a quest"o) *>eoria da produç"o ou teoria da circulaç"o do valor* +1ichaelAeinrich, SritiB der politischen _Bonomie. 5ine 5infhrung C'rítica da 5conomia 2olítica. ?ma /ntroduç"oD, 5stugarda EFFP, p.H. 5 evidentemente decide$se pela teoria da circulaç"o) *-ssim sendo, ( apenas a troca que reali#a a abstracç"o que está na basedo trabalho abstracto... -s mercadorias n"o possuem ob!ectividade do valor como uma ob!ectivaç"o de trabalho concreto, mas como

uma ob!ectivaç"o de trabalho abstracto. 1as se, como acabamos de esboçar, o trabalho abstracto ( uma relaç"o de validade socialapenas existente na troca +trabalho despendido a título privativo ( considerado como trabalho abstracto, criador de valor, ent"otamb(m a ob!ectividade do valor das mercadorias só existe na troca* +Aeinrich, ibidem, p. P`, H.

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2ara Aeinrich, portanto, em absoluta sintonia com o marxismo tradicional, o trabalho abstracto n"o ( uma relaç"o de produç"o, masapenas uma relaç"o secundária de circulaç"o, ou *relaç"o de validade* neste sentido, que implica que a actividade produtiva real e propriamente dita no capitalismo ( *apenas concreta*, e que a *relaç"o de produç"o* enquanto capitalista ( unicamente determinada pela quest"o da propriedade !urídica estabelecida de uma forma puramente exterior. 2erante a situaç"o avançada do problema,Aeinrich nem sequer derruba a barra, mas salta a uma dist&ncia segura abaixo dela. a sua delimitaç"o do princípio da crítica dovalor, ele orgulha$se de representar o 1arx pretensamente *autêntico* e *inteiro*, contrariamente 3 historici#aç"o de um *duplo1arx* pela crítica do valor4 mas precisamente neste ponto ( o próprio 1arx autêntico quem desmente Aeinrich.

2ara uma argumentaç"o como a de Aeinrich, o valor ou a ob!ectividade do valor ( idêntico ao valor de troca, isto (, relacionamentom8tuo das mercadorias na relaç"o entre *forma do valor relativa* e *forma equivalente*, sendo que esta 8ltima *representa* o valor de troca da primeira na sua forma natural, at( 3 constituiç"o do dinheiro como a *forma equivalente geral* +a *mercadoria 3 parte*que assume essa forma de representaç"o para todas as outras mercadorias. 1as se o valor, a ob!ectividade do valor ou a *formavalor* ( idêntico ao valor de troca, nesse caso o valor realmente ( apenas constituído na circulaç"o, como *forma do valor* nosentido da relaç"o m8tua de mercadorias. este caso o valor n"o *(* outra coisa sen"o essa relaç"o, e uma mercadoria 8nica n"o pode existir como tal so#inha = os produtos no fim do processo de produç"o, por exemplo no arma#(m da fábrica, ainda n"o seriammercadorias no sentido da forma do valor, mas primeiro meros bens de uso, que apenas pela venda no mercado podem afinalassumir a forma do valor e com ela a forma da mercadoria. Aeinrich di$lo de modo bem explícito) *- ob!ectividade do valor nemsequer ( uma qualidade que uma coisa possa possuir isoladamente, por si só. - subst&ncia do valor que está na base destaob!ectividade n"o chega 3s mercadorias a título individual, mas apenas em comum e na troca* +Aeinrich, ibidem, p. H.

%ra, esta n"o ( nem por sombras a argumentaç"o de 1arx. Zá n"o o ( dum ponto de vista puramente lógico ou *metódico*, visto quenesse caso a determinaç"o da essência *valor* seria idêntica 3 forma de aparência *valor de troca*, ou se!a, a essência e a aparênciaseriam imediatamente coincidentes +o que (, de resto, típico do pensamento pós$moderno, que precisamente por isso passasistematicamente a milhas da problemática da constituiç"o socio$histórica. 1arx, pelo contrário, estabelece a diferença entre aessência e a aparência, na qual ele vê fundamentada, antes de mais, a necessidade da reflex"o teórica) *... toda a ciência seriasup(rflua se a forma de aparência e a essência das coisas fossem imediatamente coincidentes* +Sarl 1arx, ;as Sapital C% 'apitalD,vol. ///, Kerlim HU[, 15L E, `E. 2or isso, 1arx volta sempre a fa#er referência 3 diferença decisiva *entre todas as formas deaparência e o seu pano de fundo oculto. -s primeiras reprodu#em$se de modo imediatamente espont&neo, como formas do pensamento usuais, o outro tem de ser primeiro descoberto pela ciência* +% 'apital, vol. /, 15L EG, p. [P.

'omo ( perfeitamente óbvio, Aeinrich, ao fa#er coincidir imediatamente a essência e a aparência, o valor ou ob!ectividade do valor e o valor de troca, satisfa#$se com o que se *reprodu# espontaneamente*, com as *formas do pensamento usuais*. 7ica colado 3forma de aparência e perde de vista o seu *pano de fundo oculto*, e assim neste ponto de certo modo se revela publicamente comoum economista vulgar marxista. 1arx, pelo contrário, reflecte de modo perfeitamente claro, no que di# respeito ao trabalho

abstracto e ao valor, a diferença em relaç"o 3 forma de aparência do valor de troca. 2artindo primeiro deste 8ltimo, ele demonstra precisamente a impossibilidade de explicar a forma de aparência por si mesma) *% valor de troca parece, por isso, algo de fortuito e puramente relativo, um valor de troca interior, imanente 3 mercadoria... ou se!a, uma contradictio in adjecto* +15L EG, p. H.

 a equiparaç"o das diversas mercadorias existentes no mercado, por(m, está implícita a sua subst&ncia comum, isto (, algo decomum que se!a inerente a ambas e assim a cada uma por si, e que !á tem de existir antes de serem colocadas em relaç"o umas comas outras) *<ual ( o significado desta equaç"o <ue algo de comum e da mesma dimens"o existe em duas coisas diferentes... -ssim,ambas s"o iguais a uma terceira, que em si e por si n"o ( nem uma nem outra. 'ada uma das duas, na medida em que possua valor de troca, terá de poder ser redu#ida a essa terceira* +15L EG, p. H. 2or isso, as mercadorias como ob!ectividades do valor *s"o*, !á antes da troca, *gelatinas* do *dispêndio de força de trabalho humano sem olhar 3 forma do seu dispêndio. 5ssas coisas !á apenasrepresentam que na sua produç"o foi despendida força de trabalho humano, acumulado trabalho humano. 'omo cristais destasubst&ncia social que lhes ( comum, s"o valores = valores de mercadoria* +ibidem, E. 0"o$no, portanto, !á como valores, n"o t"o$só como valores de troca, mas !á como ob!ectos e resultados da produç"o, n"o apenas da circulaç"o. 2or isso, o valor e o valor detroca n"o s"o imediatamente idênticos4 o valor ( a determinaç"o da essência, o valor de troca, a sua forma de aparência) *%

elemento comum que se apresenta na relaç"o de troca ou no valor de troca da mercadoria ( portanto o seu valor. - continuaç"o doinqu(rito trar$nos$á de volta ao valor de troca, como express"o ou forma de aparência necessária do valor, o qual no entanto primeiro tem de ser examinado independentemente desta forma* +ibidem, G.

2recisamente isso, a saber, examinar primeiro a *forma valor* independentemente da sua *forma de aparência valor de troca*, ( t"oimpossível a 1ichael Aeinrich como a todo o marxismo tradicional e a toda a economia vulgar burguesa. >odos eles consideram ovalor apenas como valor de troca, apenas como um fenómeno que ocorre na relaç"o m8tua de mercadorias diversas. 1arx, pelocontrário, di# expressamente que semelhante consideraç"o ( redu#ida e verdadeiramente errada) *0e, no intróito do presentecapítulo, se disse da maneira usual) a mercadoria ( valor de uso e valor de troca, tal foi, rigorosamente falando, errado. - mercadoria( valor de uso ou ob!ecto de uso e ]valor^. 5la apresenta$se como o duplicado que ela (, mal o seu valor possua uma forma deaparência própria diferente da forma natural, a forma de valor de troca, e ela nunca possui esta forma quando observadaisoladamente, mas sempre apenas na relaç"o de valor ou de troca com uma segunda mercadoria diferente. 1as, uma ve# que sesaiba isso, o referido modo de falar n"o tra# nenhum pre!uí#o, mas serve de atalho* +15L EG, p. W.

- mercadoria em si, tamb(m !á a título individual, *(*, portanto, ob!ectividade de uso e ob!ectividade de valor4 esta 8ltima, por(m,apenas *aparece* +*se apresenta* na relaç"o de troca. 1as, para que algo possa aparecer ou apresentar$se, tem de existir em si. 2or 

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isso, 1arx ainda remata reforçando) *- contradiç"o interna envolvida na mercadoria, entre valor de uso e valor, ( portantorepresentada por uma contradiç"o externa, isto (, pela relaç"o entre duas mercadorias* +15L EG, p. W. 'ada mercadoriaindividual !á cont(m em si a contradiç"o interna entre o valor de uso e o valor, mas esta apenas pode ser *representada* pelacontradiç"o externa da relaç"o entre a forma do valor relativa e a forma equivalente, na relaç"o de troca. 5m Aeinrich, pelocontrário, a contradiç"o interna nem sequer existe, subsistindo apenas a externa4 ele confunde a *representaç"o* da coisa com a própria coisa, a essência com a forma de aparência. -ssim sendo, n"o sabe ou n"o quer saber o que 1arx pressupõe deconhecimentos para que o *modo de falar* do valor de troca *n"o +traga nenhum pre!uí#o*4 e ( por isso que em Aeinrich n"o deixa

de tra#er pre!uí#o, nomeadamente o da banali#aç"o da análise conceptual de 1arx.

% valor ( a ob!ectividade social da mercadoria, tamb(m da mercadoria individual, da mercadoria antes e independentemente darelaç"o de troca secundária, na qual, sob condições capitalistas, o fenómeno do valor de troca na forma equivalente geral do dinheiro( idêntico 3 reali#aç"o da mais$valia, isto (, ao regresso do capital 3 sua forma de dinheiro quantitativamente acrescida. % valor e amais$valia, por(m, !á s"o determinações da essência da mercadoria como ob!ectividade do valor antes desta *reali#aç"o* +na medidaem que a mercadoria está desde sempre determinada como a forma específica da rique#a das sociedades capitalistas, realidade queem nada se altera quando essa reali#aç"o n"o ocorre = o carácter de valor da mercadoria, nesse caso, manifesta$se em que se!aescusadamente tratada como lixo em ve# de consumida, o que só ( possível precisamente pelo facto de a sua essência socialconsistir a priori na ob!ectividade do valor, e n"o na ob!ectividade da necessidade.

- mercadoria individual ( ob!ectividade do valor, n"o no sentido quantitativo contabili#ável isoladamente, que = como se pretendedemonstrar adiante = apenas ( determinado na m(dia social, mas em sentido qualitativo, como coisa social individual, como coisa

de valor. 5sta n"o ( uma determinaç"o !urídica, política ou de outra dominaç"o externa +a relaç"o !urídica, interpretadaerroneamente como relaç"o de vontades apenas sub!ectivas, no entendimento do marxismo tradicional, só pode aparecer redu#idamente como exterior, mas a determinaç"o da essência interna da própria mercadoria, quer chegue 3 troca ou n"o.2recisamente por isso a ob!ectividade da mercadoria ( o fantasmático, o oculto, o que n"o ( imediatamente visível no corpo damercadoria, como 1arx deixa claro logo no início da sua análise da forma do valor) *- ob!ectividade do valor das mercadoriasdistingue$se de 1rs. <uicBlM pelo facto de n"o se saber onde apanhá$la. 5xactamente ao contrário da sensivelmente grosseiraob!ectividade dos corpos das mercadorias, nem um átomo de mat(ria natural integra a ob!ectividade do seu valor. 2or isso, podemosolhar para uma mercadoria individual do &ngulo que quisermos, que ela continua a n"o ser apreensível como coisa de valor. 1as senos recordarmos de que as mercadorias só possuem ob!ectividade de valor na medida em que s"o express"o da mesma unidadesocial +o trabalho humano, de que a ob!ectividade do seu valor ( puramente social, tamb(m vai de si que ele apenas possa aparecer na relaç"o social de mercadoria para mercadoria* +15L EG, p. [E.

- mercadoria individual ( qualitativamente na sua essência uma coisa de valor, mas como tal *n"o ( palpável* em termos sensíveis.-o redu#ir o problema da ob!ectividade do valor, 3 laia da economia vulgar, 3 *palpabilidade* aparente na *relaç"o social de uma

mercadoria para com outra*, Aeinrich anda 3 volta do carácter fantasmático da ob!ectividade da mercadoria, refugiando$se na plausibilidade aparente da esfera da circulaç"o. : um facto que ele pressente que tal abre uma brecha na sua argumentaç"o,nomeadamente no que se refere 3 produç"o, e neste aspecto ele tenta fugir ao assunto como um paralítico, depois de fa#er uma brevereferência a que segundo 1arx o carácter de valor das coisas *!á ( relevante na sua produç"o*. Aeinrich interpreta este facto daseguinte maneira) *% facto de o valor ]ser relevante^, de o valor futuro ser aquilatado pelos produtores, no entanto, ( diferente dedi#er que o valor !á existe* +Aeinrich, ibidem, G s.. 'om isso, por(m, o valor, a ob!ectividade do valor, ( estabelecido como algocompletamente exterior 3 produç"o, como o pensamento meramente sub!ectivo de algo de *futuro* que se supõe apenas ocorrer naesfera da circulaç"o.

% 1arx *autêntico*, por sua ve#, di# precisamente o contrário. 5le divide a sua análise do processo de produç"o em doissubcapítulos, nomeadamente o processo de produç"o como processo de trabalho +15L EG, p. HUE e como processo de valori#aç"o+15L EG, p. EFF. a transiç"o para este 8ltimo, di#) *'om efeito, como aqui se trata da produç"o de mercadorias, at( agoraevidentemente apenas observámos um lado do processo. >al como a própria mercadoria ( a unidade entre valor de uso e valor, o seu processo de produç"o deve ser a unidade entre os processos de trabalho e de constituiç"o de valor* +15L EG, p. EFH. Oonge de

situar a ob!ectividade do valor apenas para lá do processo de produç"o, na sua forma de aparência da esfera da circulaç"o, 1arxentende o próprio processo de produç"o como um processo de constituiç"o de valor. % que ainda ( ob!ecto de uma referênciaexplícita em outro trecho) *>odo este percurso, a transformaç"o do seu +do capitalista, 9.S. dinheiro em capital, ocorre e n"o ocorrena esfera da circulaç"o. -trav(s da mediaç"o da circulaç"o, uma ve# que depende da compra da força de trabalho no mercado dasmercadorias. "o na circulaç"o, uma ve# que esta ( um mero prel8dio do processo de valori#aç"o, que se desenrola na esfera da produç"o* +15L EG, p. EFU. a circulaç"o, a constituiç"o de valor apenas se processa na medida em que a circulaç"o cumpre um papel *mediador*, atrav(s da compra da mercadoria força de trabalho no mercado de trabalho. - relaç"o entre produç"o e circulaç"oafinal ( cru#ada4 a qualquer produç"o precedem actos de circulaç"o e a qualquer circulaç"o precedem actos de produç"o. -constituiç"o do valor como tal, por(m, claramente n"o se processa na circulaç"o, mas na esfera da produç"o. % processo de produç"o ( um processo de constituiç"o de valor, e no caso do capitalismo at( o ( de um modo essencial. <ue a sua *validade*quantitativa apenas se reali#e na m(dia de todo o processo social de produç"o e circulaç"o +reali#aç"o n"o altera em nada essefacto.

'om esta definiç"o da mercadoria individual !á como ob!ectividade do valor e do processo de produç"o como processo deconstituiç"o do valor tamb(m n"o estamos perante uma chamada *teoria do valor pr($monetária* +um conceito for!ado por Aans$\eorg KacBhaus no debate do conte8do conceptual da análise da forma do valor de 1arx, ou se!a, a presunç"o de uma relaç"o de

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valor anterior 3 relaç"o do dinheiro e independente desta em sentido histórico. 'omo ( sabido, 1arx começa explicitamente com oconceito de mercadoria como a forma de rique#a nas sociedades capitalistas modernas = as suas deduções s"o essencialmentelógicas e n"o históricas. 2or isso o dinheiro sempre !á está pressuposto, n"o só como equivalente geral, mas como forma do capital,como fim$em$si processante e como forma de reali#aç"o da mais$valia. >rata$se de explicar isto, !á pressuposto, em passosdedutivos lógicos4 n"o de dedu#ir a g(nese histórica do dinheiro de uma relaç"o de valor pr($monetária.

>al ( precisamente o pressuposto do capital, ou se!a, da forma do dinheiro reacoplada a si mesma como processo de valori#aç"o, quefa# do processo de produç"o !á um processo de constituiç"o de valor, e do produto individual como mercadoria !á ob!ectividade dovalor4 fora da forma de reproduç"o capitalista e portanto da forma do dinheiro !á plenamente desenvolvida tal n"o aconteceria demodo nenhum. - mercadoria individual !á ( a priori ob!ectividade do valor, só porque a produç"o ( desde logo um processo devalori#aç"o, visando unicamente a reali#aç"o da mais$valia incorporada. >al como o Aomem sociali#ado no capitalismo !á ( semprea priori um su!eito do dinheiro, independentemente de em dado momento estar de facto a puxar pela carteira ou por um cheque, amercadoria produ#ida de modo capitalista !á ( sempre ob!ectividade do valor, independentemente de em um dado momento estar defacto a ser vendida no mercado.

Aeinrich n"o pode portanto invocar 1arx de modo nenhum. 2or(m, o que está aqui em causa n"o ( a letra de uma ortodoxia, mas precisamente a coisa em si. 5 aqui há que dar ra#"o a 1arx, em detrimento de Aeinrich) o valor ( produ#ido, ( uma relaç"o de produç"o e n"o uma mera *relaç"o de validade* na circulaç"o +ainda veremos na segunda parte deste estudo que este aspectodesempenha um papel decisivo na determinaç"o do trabalho abstracto como relaç"o quantitativa, e por isso na teoria da crise.

1as, se o valor ( regularmente produ#ido, ent"o a mercadoria !á antes do seu ingresso no mercado, isto (, na circulaç"o, ( uma*ob!ectividade do valor*, ou se!a, uma *ob!ectividade fantasmática*, enquanto n"o *palpável* como tal na sua forma sensível. oentanto, para podermos compreender o valor em geral, temos de o determinar precisamente sob esta forma fantasmática, que n"o (imediatamente palpável, e n"o apenas na forma de aparência do valor de troca.

5u !á tinha temati#ado este problema num ensaio de HU`W +9obert Sur#, -bstraBte -rbeit und 0o#ialismus C>rabalho abstracto esocialismoD, in) 1arxistische SritiB P, como *%s dois níveis do conceito de forma do valor* +ibidem, p. [E, tendo descrito o valor de troca, que aparece na relaç"o entre duas mercadorias, ou se!a, na relaç"o entre a forma do valor relativa e a forma equivalente,como *forma de uma forma*) a forma social em si ( a forma do valor no sentido da ob!ectividade do valor da mercadoria individual,cu!o valor foi *produ#ido* na esfera da produç"o. 5sta forma essencial, que n"o ( *palpável* na mercadoria individual, a *formavalor*, *aparece* na forma secundária do valor de troca, e nessa medida como +aparente *forma da forma* +da forma essencial*valor*. %u se!a, de acordo exactamente com a apresentaç"o da quest"o em 1arx, ainda que o problema n"o se!a explícito em1arx, no sentido da confrontaç"o com os neomarxistas com um toque pós$moderno como Aeinrich4 talve# por 1arx n"o ter sidocapa# de imaginar algo como um economista vulgar marxista.

%ra esta definiç"o da *forma de uma forma* parece ho!e totalmente incompreensível tamb(m a um marxista tradicional anticríticodo valor como -lexander \allas) *... ]forma de uma forma^... 5stes disparates pelos vistos n"o s"o um produto do desma#elo, massintoma de um problema de peculiaridade crítica* +-lexander \allas, 1arx als 1onist Versuch einer LertBritiB C1arx comomonista 5nsaio de uma crítica da crítica do valorD, trabalho de mestrado, Kerlim EFFG, p. EG. >al falta de conceitos, que ainda por cima se arvora em anticrítica, remete para o facto de que, tanto para os marxistas tradicionais como para os neomarxistas +emespecial para os tais com enriquecimentos pós$modernos, muito ao contrário de 1arx, n"o existe diferença entre forma da essênciae forma da aparência, entre valor e valor de troca4 eles permanecem agarrados 3 superfície do conceito circulatório de valor de troca,uma ve# que n"o querem entender o conceito de trabalho abstracto como apriori do processo de reproduç"o, mas apenas como uma*abstracç"o da troca* secundária.

% trabalho abstracto ( precisamente um  prius CantesD, n"o apenas no sentido de, como momento do próprio processo de produç"o nosentido de um processo real de constituiç"o de valor, ser anterior 3 abstracç"o da troca que aparece na circulaç"o, ou se!a, n"o

apenas como prioridade de uma determinada esfera particular, da produç"o, face a uma outra esfera particular, da circulaç"o. 2elocontrário, a determinaç"o como apriori social do trabalho abstracto ( uma determinaç"o da totalidade +totalidade designa aqui areproduç"o determinada pela forma capitalista como um todo em sentido mais restrito, que no entanto n"o ( idêntico 3 reproduç"ototal real, a qual tamb(m inclui sempre outros momentos dissociados CabgespalteneD. /sto significa que o trabalho abstracto seestende a todo o processo de reproduç"o capitalista, como força motri# da abstracç"o do valor. % que *aparece* no valor de troca daesfera da circulaç"o ( a pr($processsada ob!ectividade do valor das mercadorias, em que se manifesta o trabalho abstracto, quedefine o próprio processo de produç"o. >rabalho abstracto e ob!ectividade do valor n"o s"o mais que diversos estados de agregaç"oda 8nica e mesma abstracç"o real, em que se movem o processo de reproduç"o determinado pela forma capitalista e a respectivahistória4 dos quais o valor de troca ( a forma de aparência quotidiana, aparentemente sem história.

O ue + abstracto e real no trabalho abstracto,

5videntemente os marxistas tradicionais, na discuss"o com a crítica do valor, perceberam entretanto que aqui há coisa, e entenderamque com a sua conceptualidade facilmente lhes poderia ser provada uma limitaç"o da crítica do capitalismo 3 esfera da circulaç"o,quando sempre pensaram ter uma concepç"o clara do capitalismo como *relaç"o de produç"o*. a sua afliç"o tentaram uma ve#mais esconder$se atrás do *1arx marxista do movimento operário*, ou se!a, o 1arx ontológico do trabalho, embaraçado numa

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aporia. \allas, por exemplo, tenta evitar a crítica da ontologia do trabalho procedendo a uma paráfrase. 0egundo esta, embora existaa dimens"o transhistórica, *antropológica* do trabalho, isso de modo nenhum positiva ontologicamente o processo de produç"ocapitalista, diferentemente da esfera da circulaç"o. >al suposiç"o revela$se *in!ustificada face 3 existência de um 1arx em *%'apital* que pensa em con!unto dimensões transhistóricas e historicamente específicas no conceito de trabalho. 5sse 1arx distingueentre a ]forma social^ e o ]conte8do^ ]material^, isto (, antropológico +% 'apital, vol. /, p. F de fenómenos da convivência humana.-ssim ele observa que ]o trabalho... ( uma condiç"o existencial do Aomem, independente de todas as formas de sociedade^ +%'apital, vol. /, p. W para logo colocar em destaque a sua especificidade no capitalismo) ]% operário trabalha sob o controlo do

capitalista, ao qual o seu trabalho pertence^ +HUU. 'om isso, 1arx demonstra o entrosamento funcional entre realidades naturais erelações devidas a contextos históricos) a produç"o no capitalismo tamb(m tem uma funç"o antropológica...* +\allas, ibidem, p. H.0egundo \allas, a crítica do valor aqui mistura alhos com bugalhos, supondo que a posiç"o tradicional, por atribuir um estatutoantropológico ao trabalho, tem *um entendimento dualista do ob!ecto. >al, no entanto, n"o ( compatível com o conceito de trabalhodo 1arx supracitado. - forma capitalista e o conte8do antropológico do trabalho, segundo ele, n"o existem independentemente umdo outro. esse caso, por(m, está excluído que o trabalho e o capital se!am percebidos como princípios estruturais sociaismutuamente contraditórios* +\allas, ibidem, p. H[. -ssim seria incorrecta a opini"o dos críticos do valor, *segundo a qual com osataques a um entendimento dualista do ob!ecto foram atingidas todas as formas de crítica da economia política cu!o conceito detrabalho n"o corresponda ao preconi#ado pela crítica do valor* +ibidem, p. H[4 com isso teriam construído *um ]espantalho^chamado ]marxismo tradicional^...* +ibidem, p. HW.

0egundo \allas, portanto, podemos ter um conceito de trabalho ontológico e transhistórico ou *antropológico*, e ainda assimentender com 1arx o *trabalho no capitalismo* como historicamente específico4 os elementos *antropológico* e historicamenteespecífico teriam simplesmente de ser *pensados em con!unto* no cru#amento. 5 isso ent"o n"o seria de modo nenhum um

*entendimento dualista do ob!ecto*, no sentido de uma ontologia da produç"o ou do trabalho concreto, por um lado, e de umaespecificidade histórica da circulaç"o ou do trabalho abstracto, por outro.

%ra acontece que, em primeiro lugar, !á ficou demonstrado que n"o só um marxismo do movimento operário de uma proveniênciaespecialmente grosseira, por exemplo social$democrata ou leninista, releva de semelhante entendimento *dualista*, mas tamb(m precisamente o exigente marxismo ocidental e at( marxistas acad(micos de ho!e como Aeinrich, com a sua explícita teoria dacirculaç"o do trabalho abstracto e do valor. 5m segundo lugar, tamb(m a argumentaç"o do próprio \allas, com a qual ele tenta !ustificar um entendimento n"o dualista da ontologia do trabalho e da especificidade histórica, em grande medida representa a provado contrário. : que, se \allas di# que 1arx distingue entre a *forma social* e o *conte8do* *material*, isto (, antropológico de*fenómenos da convivência humana*, afinal estamos precisamente perante esse dualismo, porque se o conte8do material da produç"o e da reproduç"o ( *antropológico*, o momento historicamente específico da *forma social* !á apenas pode referir$se aomodo de distribuiç"o e 3 esfera da circulaç"o.

- 8nica coisa que \allas indica de facto com referência a 1arx, como característica historicamente específica da própria produç"o,( a referência ao facto de o operário *trabalhar sob o controlo do capitalista*, ao qual *o seu trabalho pertence*. 1as precisamentecom isso ele n"o aponta qualquer lógica interna da própria produç"o material, mas apenas uma relaç"o de dominaç"o regida pelavontade sub!ectiva e de apropriaç"o !urídica, entendidas de modo meramente exterior. %u se!a, tudo como dantes4 o supostocru#amento n"o dualista de momentos *antropológicos* com outros especificamente históricos no próprio processo de produç"odissolve$se no ar, e o que resta ( !ustamente esse entendimento *dualista* de uma dominaç"o da classe capitalista, mediada apenasexterior e sub!ectivamente, neste sentido redu#ido !urídico e circulatório, sobre a *eterna* e positivada produç"o material, de*conte8do material*. >rata$se, portanto, de publicidade enganosa quando, com um entendimento assim redu#ido, se fa# de conta queeste implica uma crítica do trabalho no sentido de uma relaç"o historicamente específica.

 este sentido, de resto, tamb(m ( típico o operaismo, que desligou por completo as características especificamente capitalistas dotrabalho da determinaç"o da forma abstracta e da fetichi#aç"o e as ligou de modo extremamente redu#ido 3 pura e simples relaç"ode vontade de uma pretens"o de controlo meramente exterior da *classe dos capitalistas*4 e esta atitude vai at( 3 desistência total dacrítica da economia política, em benefício de uma relaç"o de dominaç"o pretensamente !á apenas *política* sobre a produç"o +o que

( especialmente evidente em -ntonio egri.

-gora põe$se evidentemente a quest"o, de que modo o trabalho abstracto se manifesta ent"o na prática como apriori social no processo de produç"o. o processo de troca ( a abstracç"o do carácter sensível e material das mercadorias, o seu tratamento práticocomo coisas de valor na compra e na venda, como abstracç"o n"o meramente conceptual, mas como acç"o social prática, o que perfa# a abstracç"o real. %ra, como ( que se apresenta esta abstracç"o real no próprio processo de produç"o -final aqui n"o pareceexistir outra coisa sen"o o trabalho concreto, a transformaç"o programada de subst&ncias naturais4 no entanto, e como !á sedemonstrou, o conceito ( paradoxal e uma contradiç"o em si mesmo.

1arx fala, neste contexto material e sensível, da *forma* do trabalho como trabalho de marceneiro ou de tecel"o. 1as esta formareferida 3 mat(ria ( outra que n"o a forma social. % trabalho concreto como *forma*, por exemplo, do trabalho de um marceneiro,refere$se ao fabrico de, por exemplo, móveis de madeira. 1as a forma social do trabalho (, neste contexto, forma abstracta, isto (, otrabalho despendido na forma concreta e referida 3 mat(ria como trabalho de marceneiro ( válido socialmente apenas como uma

determinada massa de trabalho abstracto, de energia humana em geral +de *nervo, m8sculo e c(rebro*. 5sta *validade*, por(m, n"ose encontra apenas na circulaç"o, sendo tamb(m decisiva como determinaç"o abrangente para o próprio processo de produç"o4 enem se trata de uma mera *validade* no sentido de uma percepç"o formal +como na circulaç"o, mas de uma marcaç"o prática.

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% fantasmático da ob!ectividade do valor !á se encontra no processo da sua produç"o, como a fantasmagoria do próprio processo de produç"o. >al como na mercadoria acabada a sua ob!ectividade de valor ainda n"o ( *palpável* de modo imediato e sensível, porquen"o passa de uma determinaç"o da forma social abstracta, tamb(m no processo de produç"o como tal a sua funç"o de processo deconstituiç"o de valor n"o ( *palpável* de modo imediato e sensível, pelo menos n"o 3 primeira vista, nem para um indivíduosociali#ado no interior desta forma social. *Aá* aparentemente apenas o trabalho concreto, a transformaç"o determinada em termosmateriais e sensíveis da mat(ria. 1as esta n"o ( o que parece ser, sendo apenas express"o ou forma de aparência de algo diferente.>rata$se aqui essencialmente n"o do fabrico de móveis com a finalidade da habitaç"o, mas sim da constituiç"o de valor com a

finalidade da valori#aç"o.

 esta medida, aqui no processo de produç"o, o trabalho n"o *( valido* como aquilo que parece ser, nomeadamente um processoconcreto de fabrico de móveis, mas como um dispêndio de força de trabalho abstracto puro e simples, um processo de dispêndio denervo, m8sculo e c(rebro +a optimi#ar económico$empresarialmente. 5ste ( um ponto de vista bem prático, que afecta todo o modode organi#aç"o da produç"o e acaba por dominá$la. : tamb(m por isso que os crit(rios operacionais e o regulamento económicoempresarial s"o abstractos e universais, completamente independentes do conte8do concreto da produç"o. 5m nome dadeterminaç"o da forma social abstracta +valor tamb(m se abstrai na prática da forma concreta do processo de produç"o, no sentidodo conte8do material +conte8do da produç"o de móveis *trabalho* sob a forma da marcenaria, etc.. - coisa concreta, amarcenaria, na prática vale como *trabalho*, uma mera express"o do dispêndio de energia humana puro e simples. 5 esta abstracç"oreal tinge tanto a transformaç"o da mat(ria em termos concretos como o seu resultado, e de modo destrutivo.

'omo !á ficou demonstrado, no capital a relaç"o entre o abstracto e o concreto está posta de pernas para o ar4 o concreto, o mundo

real sensível, variado, !á apenas passa por uma forma de aparência do abstracto, nomeadamente da determinaç"o da essênciatotalitária e 8nica do valor. 0e!a lá o que for, ( sempre valor = ou está destinado a vir a sê$lo. % olhar do su!eito da valori#aç"o sobreo Aomem e a nature#a apenas os vê como ob!ectos da valori#aç"o, e ( isto que determina a acç"o prática. % trabalho concreto e otrabalho abstracto s"o precisamente o mesmo trabalho, reunidos na abstracç"o *trabalho* como abstracç"o real) *>odo o trabalho (, por um lado, dispêndio de força de trabalho humano no sentido fisiológico, e nesta qualidade de trabalho humano igual ou trabalhohumano abstracto constitui o valor da mercadoria. >odo o trabalho (, por outro lado, dispêndio de força de trabalho humano naforma específica da finalidade definida, e nesta qualidade de trabalho 8til concreto produ# valores de uso* +15L EG, p. [H. oentanto, em primeiro lugar *todo o trabalho* aqui apenas se refere ao trabalho moderno, que decorre nos moldes do capitalismo, en"o *todo o trabalho* em sentido transhistórico +como claramente decorre do contexto em 1arx. 5, em segundo lugar, o *por umlado = por outro lado* n"o ( de modo nenhum equilibrado. % lado concreto n"o só n"o pode ser separado do abstracto, como at( lheestá subordinado. 2or outras palavras) o valor de uso ( apenas uma forma de representaç"o ou forma de aparência do valor, otrabalho concreto ( apenas uma forma de representaç"o ou forma de aparência do trabalho abstracto. % que ( abrangente ( aabstracç"o *trabalho* como abstracç"o real +e, para uma ve# mais o sublinhar, só no contexto de tal relaç"o real ( que a abstracç"onominal conceptual *trabalho* fa# de algum modo sentido, como conceito de uma generalidade social.

% trabalho concreto, pela sua essência social no fundo *(* trabalho abstracto, embora este n"o se!a imediatamente *palpável*enquanto tal, assim como a forma sensível da mercadoria ( autenticamente a ob!ectividade do valor, embora igualmente n"o deimediato *palpável* enquanto tal. 5ste conceito de *n"o palpabilidade*, no entanto, n"o designa mais que a aparência comoaparência4 afinal trata$se ainda assim e atrav(s da sua mediaç"o de *registar*, atrav(s do esforço de análise, por decifraç"o, o queestá oculto no fundo das coisas. o entanto, isto ( válido n"o só no sentido de uma reconstruç"o teórica, mas ao mesmo tempo comodenominaç"o de um facto realmente vivenciado, reali#ado em termos práticos, cu!o carácter contudo n"o se manifesta de imediato.- crítica como consequência da análise n"o ( outra coisa sen"o a determinaç"o consciente do há muito vivenciado na realidade esabido em termos práticos, que agora atrav(s da reflex"o ( mergulhado numa lu# reveladora, em que se tornam visíveis as suasmediações.

%ra em que consistem as mediações práticas, nas quais o trabalho concreto pode ser decifrado como mera forma de aparência dotrabalho abstracto /sto di# respeito desde logo ao espaço em que decorre o processo de produç"o. >al como na produç"oaparentemente estamos perante processos de transformaç"o da mat(ria perfeitamente inocentes, assim no caso desse espaço, por 

exemplo um pavilh"o de fábrica, nos confrontamos aparentemente com um edifício funcional perfeitamente inocente. 1as o espaçode produç"o n"o ( apenas material no sentido deste edifício funcional, mas ( um espaço social, cu!o carácter ( t"o$pouco *palpável*em termos imediatos como o da ob!ectividade do valor.

% espaço social da produç"o capitalista ( o espaço funcional da economia empresarial, um lugar social específico, que n"o sedetermina essencialmente pela sua forma material, mas pela sua funç"o social, como espaço da valori#aç"o do valor +daí ( quedecorre a sua forma material, e n"o ao contrário. - determinaç"o funcional deste espaço *abstrai* de todas as outras reali#ações davida e necessidades exteriores 3 determinaç"o económica de ser um local destinado 3 reali#aç"o do processo de constituiç"o dovalor4 e nesta medida esse espaço constitui uma parte integrante da abstracç"o real. >rata$se de um espaço totalmente*desvinculado* CherNusgelostD de todo o processo da vida, mais ou menos no sentido em que Sarl 2olanMi falou, com um termo bemescolhido, de uma *economia desvinculada* +mesmo que o tenha feito em parte com outra conotaç"o, e n"o referindo$se ao problema do trabalho abstracto.

5sta *desvinculaç"o* foi tamb(m um processo histórico, estreitamente ligado 3 revoluç"o militar dos primórdios da modernidade, 3inovaç"o das armas de fogo e 3 daí decorrente *desvinculaç"o* da máquina militar face 3 sociedade +ex(rcitos permanentes,absolutismo, estado burocrático unificado, etc., que por seu lado trouxe consigo a insaciável fome de dinheiro dos primeiros

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regimes despóticos militares apoiados nas armas de fogo, a monetari#aç"o das taxas feudais, e por fim, após passar por vários grausinterm(dios +manufacturas estatais, ind8strias agrárias baseadas em m"o$de$obra escrava, etc., a transformaç"o da populaç"o emuma massa homog(nea de material de valori#aç"o do trabalho abstracto +essa *totalidade da força de trabalho nacional* que tamb(mfoi ontologi#ada e positivada pelos marxistas no contexto da moderni#aç"o recuperadora. - história de disciplinaç"o inerente a tudoisto atrav(s de casas de trabalho, casas de correcç"o e manicómios, ou atrav(s de *campos*, descritos por exemplo por 1arx nocapítulo dedicado 3 *acumulaç"o primitiva* ou nos escritos de 7oucault e -gamben, enquadra$se na constituiç"o do desvinculadoespaço funcional da economia empresarial.

% que nas palavras de 1arx di# respeito ao dinheiro tamb(m se aplica 3 constituiç"o deste espaço desvinculado) *% movimentomediador desaparece no seu próprio resultado e n"o deixa rasto* +15L EG, p. HFW. % Aomem moderno encontra o espaço regido pela economia empresarial como uma forma acabada, cu!o carácter desvinculado sente, mas !á n"o sabe denominar. : o espaço emque, como di# o !ovem 1arx, *n"o está consigo, mas fora de si*4 e n"o ( no sentido exterior e !urídico do conceito de propriedade,mas pela funcionalidade específica deste espaço para o processo de constituiç"o de valor. - separaç"o da produç"o de todas asoutras áreas da vida +por exemplo a residência, a vida con!ugal, o acompanhamento dos filhos, o !ogo, a cultura, etc. n"o ( de modonenhum per se devida ao facto de se tratar de uma produç"o n"o destinada ao consumo próprio, mas para outros, ou se!a, de produç"o social. - dissoluç"o do contexto de vida em que a produç"o estava incluída n"o se deve 3 passagem 3 produç"o socialcomo tal, mas 3 passagem 3 valori#aç"o do valor. 0omente a usurpaç"o do espaço social pela abstracç"o real do valor e do trabalhoabstracto criou o espaço funcional da economia empresarial desvinculado, como um espaço social fantasmático, para lá de toda equalquer sociabilidade.

-o ter$se constituído como espaço funcional abstracto, desvinculado, o trabalho abstracto tamb(m apresenta uma conotaç"o sexual.- dissociaç"o C-bspaltungD de todas as outras áreas da vida e momentos de relacionamento +afecto pessoal, sentimentos, etc. da produç"o como processo de constituiç"o de valor e de valori#aç"o conota como *femininos* tanto os momentos dissociados como anature#a entregue 3 moldagem C@urichtungD da economia empresarial, o que condu#iu a atribuições e *competências*correspondentes das mulheres +exposto exaustivamente em 9osIitha 0chol#, ;as \eschlecht des Sapitalismus C% 0exo do'apitalismoD, Kad Aonnef EFFF4 cf. a este respeito tamb(m a observaç"o correspondente de 'hristian ATner na pol(mica com ad!a9aBoIit# nesta ediç"o da 5/>Y. R abstracç"o real do trabalho abstracto no processo de produç"o encontra$se portanto ligada adissociaç"o do feminino, de um modo essencial e n"o apenas acidental. >al corresponde igualmente 3 rai# histórica do trabalhoabstracto, nomeadamente ao cru#amento da *economia desvinculada* com a *desvinculada* máquina militar apoiada nas armas defogo, no processo de constituiç"o primordial da modernidade.

% trabalho abstracto ( per se definido como estruturalmente masculino, mesmo que desde o início tenha existido uma inegável participaç"o das mulheres no processo de produç"o. % facto de as mulheres receberem sistematicamente salários piores, chegarem a posições de chefia apenas em casos extremamente raros, terem de dar muito mais *rendimento* que os homens para serem

reconhecidas, etc., todos estes factos, que em m(dia ainda ho!e se verificam, n"o podem ser remetidos para o plano dasmanifestações históricas e empíricas, nem porventura declarados como meros resquícios de relações pr($modernas, ou como o seuregresso meramente sub!ectivo e regressivo, mas s"o express"o da relaç"o de dissociaç"o, como marca essencial do próprio trabalhoabstracto e do seu espaço funcional da economia empresarial.

- opini"o contrária, que erroneamente interpreta a relaç"o entre a dissociaç"o e a assimetria sexual na modernidade como meromomento histórico e empírico com tendência a desaparecer, está no fundo associada 3 interpretaç"o errónea da abstracç"o real comomera *abstracç"o da troca*, que no caso contudo e para variar se apresenta de repente como uma relaç"o positiva e progressiva. :que, com efeito, na circulaç"o observada por si só n"o existe a dissociaç"o como momento da abstracç"o real4 aqui só conta asolvabilidade, sem olhar a sexo, idade, cor da pele, etc. - circulaç"o ( por isso, e como ( sabido, o eldorado da ideologia burguesado progresso e da liberdade, embora esta implique a concorrência e a desumani#aç"o dos n"o solventes. 1as mesmo a concorrênciade extermínio e a desumani#aç"o dos perdedores s"o executadas de acordo com a especificidade da esfera da circulaç"o sob a formado universalismo abstracto) sem ruído, sem olhar 3 pessoa e com um *reconhecimento* educado, no sentido da igualdade de direitosentre proprietários de mercadorias. -s pessoas incapa#es de concorrer ou de pagar nem sequer existem para a lógica da circulaç"o. :

tamb(m aqui que se enquadra o aparente desaparecimento da determinaç"o sexual.

1as evidentemente a esfera da circulaç"o e do direito nem sequer pode ser observada por si só, e nesta medida a liberdade abstractaque aqui vigora ( mera aparência em sentido duplo) primeiro, tem por base as determinações repressivas da actividade reprodutivano metabolismo da sociedade com a nature#a e consigo mesma4 e, segundo, com isso ela ( tamb(m no sentido circulatório apenas*liberdade* no sentido de %rIell, nomeadamente como relaç"o auto$repressiva, como auto$su!eiç"o formal 3 lógica do trabalhoabstracto. Vista em conex"o com o trabalho abstracto da esfera da produç"o, com as respectivas determinações em mat(ria de sexo esu!eiç"o, e do ponto de vista da totalidade do processo, a esfera da circulaç"o, com a sua *abstracç"o da troca*, ( ela própria algocompletamente diferente do que parece quando observada em si de modo superficial e isolado, nomeadamente ( em termosob!ectivos a esfera da reali#aç"o da mais$valia e, em termos sub!ectivos, a esfera de execuç"o da relaç"o de coacç"o no plano formaldas condições de relacionamento burguesas.

 este aspecto surge outra contradiç"o gritante do marxismo tradicional) por um lado, ele redu# a relaç"o historicamente específica

do capital 3 regulaç"o pela esfera da circulaç"o +mediaç"o do mercado, o trabalho abstracto a uma mera *abstracç"o da troca*, arelaç"o de dominaç"o a uma relaç"o de distribuiç"o das mercadorias e a *relaç"o de produç"o* ao conceito !urídico exterior de propriedade. Aaveria portanto que abolir a esfera da circulaç"o ou a *abstracç"o da troca* como forma de mediaç"o especificamente

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capitalista. 2or outro lado invoca, nomeadamente evocando a *herança do /luminismo*, o idealismo da esfera da circulaç"o, do qualnasce o postulado da igualdade, que de algum modo +talve# pela *democrati#aç"o* deverá ser estendido 3 produç"o. 5sta aporiaencontra$se, de resto, de um modo especialmente vincado em -dorno, que neste ponto permanece inteiramente preso ao modo de pensar do marxismo tradicional.

% que aqui escapa fundamentalmente ( o nexo interior da abstracç"o real, como relaç"o de mediaç"o do trabalho abstracto no processo de produç"o, e a sua reali#aç"o ou *representaç"o* como forma do valor ou *abstracç"o da troca* no processo decirculaç"o, incluindo as determinações !urídicas concomitantes de uma *individualidade abstracta* aparentemente assexuada. ?macoisa condiciona a outra. -ssim sendo, nem a circulaç"o pode ser abolida sem se abolir o trabalho abstracto como lógica da produç"o, nem inversamente a igualdade ideal formal dos su!eitos abstractos pode ser estendida da circulaç"o para a produç"o e areproduç"o, porque aqui o mesmo processo de abstracç"o real se apresenta necessariamente de outro modo, nomeadamente comocomando sobre a força de trabalho com conotaç"o sexual4 e o mesmo se aplica, debotando da esfera funcional da economiaempresarial *desvinculada*, a todas as instituições sociais do con!unto da estrutura da sociali#aç"o do valor, at( ao interior domundo da vida quotidiana.

>udo se passa de modo perfeitamente semelhante ao caso do soldado como pessoa civil +o que corresponde ainda 3 rai# histórica da*economia desvinculada*) nesta 8ltima figura ele ( um su!eito do direito e da circulaç"o, livre como todos os outros4 na primeira, por(m, ( ob!ecto do comando, peça de uma máquina, su!eito assassino e, se tiver de ser, carne para canh"o. 5 o carácter estruturalmente masculino de toda a organi#aç"o aqui apenas está mais vincado, com as mulheres ainda mais difíceis de encontrar que no processo de produç"o, sem falar das posições de comando +da sua parte, apenas funcionais, etc. % exemplo, que remete para

a história da constituiç"o, demonstra ao mesmo tempo o pouco sentido que faria querer reivindicar, por exemplo tamb(m sob oaspecto sexual, a igualdade abstracta da esfera da circulaç"o para as outras esferas n"o suplantadas da reproduç"o capitalista+porventura at( para as forças armadas. 0emelhante intenç"o nada pode ter em si de emancipatório4 antes tem de se tratar dasuplantaç"o da totalidade da relaç"o composta por trabalho abstracto, dissociaç"o sexual e circulaç"o.

% carácter fantasmático do espaço desvinculado da economia empresarial, como uma esfera funcional realmente abstracta situada para lá do contexto de vida restante, muitas ve#es foi sentido e lamentado4 e repetidamente foram empreendidas tentativas, tanto nahistória dos sindicatos como tamb(m no movimento social$ecológico mais recente, de renovar o contexto de vida perdido, atrav(sda propagaç"o de uma unidade de *vida e trabalho* ou +no sentido mais restrito de *habitaç"o e produç"o*, etc. 1as tais ideias permaneceram sem conceitos, com respeito ao contexto da forma sub!acente do trabalho abstracto e do valor. - integraç"o nomundo da vida devia ocorrer com base nas categorias n"o questionadas da sociali#aç"o do valor incluindo a circulaç"o4 um esforço3 partida condenado ao fracasso.

% mesmo se aplica tamb(m 3s tentativas empreendidas *a partir de cima*, atrav(s de iniciativas de política empresarial ou da

 burocracia estatal, no sentido de, por motivos ideológicos ou disciplinares, introdu#ir 3 socapa ou acoplar outros momentos domundo da vida no desvinculado espaço funcional da economia empresarial. ;a história das grandes empresas ( conhecida ainstitucionali#aç"o de *comunidades de empresa*, com as quais se tentava, com bairros sociais, !ardins infantis de empresa, clubesde tempos livres internos, etc., vincular em termos de mundo da vida e identitários um corpo privilegiado de operários dos quadrosda empresa ao respectivo nome e contribuir para a sua motivaç"o. 0e deixarmos de parte o carácter funcionalista deste tipo demedidas, no sentido de uma orientaç"o tanto mais intensa para o processo de produç"o realmente abstracto e correspondenteextors"o de rendimento, elas sempre se revelaram como marginais e transitórias4 semelhantes instituições sempre sofreram umadecadência dramática em tempos de crise e ho!e, no &mbito da racionali#aç"o de recursos e da globali#aç"o, s"o levadas aodesaparecimento mesmo em termos estruturais +um caso exemplar a este respeito ( o conglomerado 0iemens na 97-.

% mesmo se aplica 3s comunidades de empresa do *socialismo real*, que proliferaram sob o manto protector da burocracia deestado, e nas quais a integraç"o de momentos do mundo da vida foi essencialmente mais forte e mais profundamente enrai#ada4 e talaconteceu mesmo com ganhos de qualidade de vida e autodeterminaç"o em comparaç"o com o %cidente, se bem que ensombrados por desaforos burocráticos. 1as foram precisamente estes momentos emancipatórios, de brecha no espaço funcional abstracto daeconomia empresarial, que tiveram de entrar em conflito com a base real do trabalho abstracto, acabando por condu#ir ao fracassoindu#ido pela manutenç"o da valori#aç"o do valor. o fim de contas estes momentos integradores n"o estavam concebidosconscientemente como contra$mediaç"o para a suplantaç"o do trabalho abstracto, mas pelo contrário subordinados 3 sua afirmaç"o4tratou$se, portanto, de meras formas de nicho sob as condições de um sistema dado 3 moderni#aç"o recuperadora, onde a regulaç"odos processos de mercado pela burocracia estatal +que acabaria por n"o ser viável em parte abria involuntariamente o espaçofuncional da economia empresarial e em parte conferia$lhe a carga ideológica de um território do mundo da vida. ;o fracasso foramretiradas consequências, n"o no sentido de porventura chamar 3 responsabilidade o trabalho abstracto e encontrar uma perspectivaconducente 3 sua suplantaç"o, mas pelo contrário no sentido de se compatibili#ar o espaço funcional da economia empresarial com asua definiç"o lógica tamb(m em termos práticos e de o *depurar* de todos os momentos do mundo da vida nesse sentidodisfuncionais.

5nquanto o trabalho abstracto constituir o apriori da mediaç"o e da reproduç"o sociais, por si só estabelecerá, sempre de novo e comcada ve# maior veemência, o espaço funcional da economia empresarial como um espaço *desvinculado*, separado de todos os

outros momentos da vida, realmente abstracto. : no fundo este o problema a que se refere 1arx no fim do capítulo quarto do primeiro volume de *% 'apital*, quando define a relaç"o entre a esfera da circulaç"o e a esfera da produç"o do capital, em relaç"o 3mercadoria *força de trabalho*) *- esfera da circulaç"o ou da troca de mercadorias, entre cu!as bali#as se processa a compra e venda

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da força de trabalho, foi de facto um autêntico :den dos direitos humanos inatos. % que aqui vigora ( só liberdade, igualdade, propriedade e Kentham. OiberdadeY : que o comprador e o vendedor de uma mercadoria, por exemplo da força de trabalho, s"omovidos unicamente pela sua livre vontade. 'ontratam como pessoas livres, iguais perante a lei. % contrato ( o resultado final emque as suas vontades se dotam de uma express"o !urídica comum. /gualdadeY : que ambos se referem um ao outro apenas como proprietários de mercadorias, trocando equivalente por equivalente. 2ropriedadeY : que cada um dispõe apenas do que ( seu.KenthamY : que cada um dos dois está apenas preocupado consigo mesmo. % 8nico poderio que os re8ne e fa# entrar em umarelaç"o ( o da sua propriedade, do seu privil(gio, dos seus interesses particulares. 5 precisamente porque assim cada um apenas se

move por si e ningu(m pelo outro, todos !untos contribuem, em funç"o de uma harmonia das coisas pr($estabelecida ou sob osauspícios de uma providência sumamente previdente, apenas para a obra da sua vantagem m8tua, da utilidade comum, do interessegeral* +15L EG, p. H`U s..

% mesmo se diga da esfera da circulaç"o, com seu idealismo do su!eito do direito igual e livre. a continuaç"o da totalidade do processo de reproduç"o, por(m, há que despedir$se da circulaç"o. 2or isso, 1arx prossegue) *a despedida desta esfera da simplescirculaç"o ou da troca de mercadorias, de onde o livre mercador retira opiniões, conceitos e crit(rios vulgares para o seu !uí#o sobrea sociedade do capital e do trabalho assalariado, as fisionomias das nossas dramatis personae !á parecem transformar$se sob algunsaspectos. % antigo proprietário de dinheiro avança como capitalista, o proprietário de força de trabalho segue$o como seu operário4um a sorrir misteriosamente e repleto de #elo empresarial, o outro tímido, relutante, como algu(m que levou para o mercado a sua própria pele e que agora n"o pode esperar outra coisa sen"o = a fábrica de curtumes.* +15L EG, p. HUF s..

-pós o que se disse at( aqui, ( possível que tenha ficado claro como o marxismo tradicional tem de ler esta exposiç"o, a saber, n"o

 precisamente como a relaç"o entre o trabalho abstracto como *abstracç"o da troca*, por um lado, e a lógica realmente abstracta da produç"o, por outro, mas apenas como uma relaç"o exterior e !urídica entre o capitalista +proprietário dos meios de produç"o e ooperário assalariado +proprietário da força de trabalho, que nem sequer atinge o conceito de trabalho abstracto como abstracç"oreal. 5sta leitura das palavras de 1arx bem poderá ter alguma plausibilidade, mas ainda assim ele circunscreveu aqui a relaç"o !urídica 3 esfera da circulaç"o. % que agora se segue sob a forma da *fábrica de curtumes*, n"o ( exactamente a mera exploraç"osub!ectiva de uma pessoa portadora de uma vontade !urídica pela outra, a ser entendida como exterior e do foro da distribuiç"o, massim o ingresso na esfera funcional realmente abstracta, *desvinculada*, do fantasmático espaço da economia empresarial. ;e certomodo o mesmo se aplica tamb(m ao próprio capitalista ou aos funcionários do comando da valori#aç"o +gerência, etc..

?ma ve# que o entendimento tradicional do *carácter explorador* do modo de produç"o capitalista permanece limitado 3 grosseiradefiniç"o da apropriaç"o de su!eitos de vontade !urídicos, escapa$lhe sistematicamente o carácter do espaço funcional da economiaempresarial. -ssim sendo, por(m, tamb(m tem de lhe escapar a divis"o do moderno sistema produtor de mercadorias em esferas dereproduç"o e funcionais separadas. : que esta divis"o apenas ( estabelecida pelo facto de se ter constituído o desvinculado espaçofuncional da economia empresarial da valori#aç"o do valor, que como tal implica o carácter separado de todas as outras áreas da

vida em esferas especiali#adas, mas que ao mesmo tempo se converte no centro que domina todas essas outras *esferas*,conferindo$lhes a aparência de *derivadas*. 2or outro lado, tudo o que n"o tiver cabimento na lógica do espaço funcional centraldesvinculado e das suas *derivações* +sobretudo determinadas actividades da reproduç"o ( deixado por conta da relaç"o dedissociaç"o sexual e assim socialmente conotado com o *feminino*.

5sta conex"o tamb(m se apresenta como desenvolvimento histórico) *- dissociaç"o do valor... n"o ( uma estrutura rígida, como aencontramos por exemplo em alguns modelos estruturais sociológicos, mas sim um processo. 2or isso n"o pode ser entendida comoestática e invariavelmente igual a si mesma* +9osIitha 0chol#, ;as \eschlecht des Sapitalismus C% 0exo do 'apitalismoD, p. HH`.5ste processo parece culminar na crise da terceira revoluç"o industrial. 2or um lado, na pen8ria da crise de acumulaç"o e financeira,a lógica do espaço funcional da economia empresarial, em tempos desvinculado, vai$se impondo a todas as esferas dele derivadas dareproduç"o social) a política, a cultura, a sa8de, a educaç"o, etc. perdem a sua própria lógica e s"o tratadas segundo os crit(rios defuncionalidade próprios da economia empresarial, ou se!a, s"o submetidos directamente 3 lógica do trabalho abstracto, o que at( 3data apenas acontecia indirectamente e em formas derivadas.

2or outro lado, esta expans"o da lógica funcional da economia empresarial para al(m do seu espaço próprio e específico n"o podesuster a crise, e muito menos pode substituir as actividades reprodutivas dissociadas como *femininas*) *5m ve# disso ocorre umasselva!amento do patriarcado produtor de mercadorias, em que este se solta das suas amarras institucionais* +9osIitha 0chol#,ibidem, p. HGG. - dissoluç"o da família tradicional e o desmantelamento das estruturas do estado social n"o deixam a dissociaç"ode conotaç"o sexual sem ob!ecto, mas antes a agravam. a mesma medida em que o espaço realmente abstracto, desvinculado, do processo de valori#aç"o quer totali#ar$se e nisso está necessariamente condenado ao fracasso, os momentos dissociados conotadoscom o *feminino* est"o su!eitos a uma press"o cada ve# mais insuportável. % facto de, em resultado, a reproduç"o social sedesmoronar por completo ( precisamente a prova prática de que a lógica funcional do espaço da economia empresarial ( totalmenteinimiga da vida e misantrópica, ou se!a, que esse espaço ( tudo menos um local neutro, inocente, transhistórico$ontológico de produç"o *concreta* e material de bens *8teis*, apenas desviados para um destino imundo por um poder de disposiç"o !urídicoexterior de su!eitos exploradores.

-o espaço funcional da economia empresarial *desvinculado*, realmente abstractificado +separado das necessidades da vida e do

mundo da vida, corresponde um tempo igualmente *desvinculado* e abstractificado, por assim di#er o tempo funcional específicodo trabalho abstracto. >rata$se aqui de uma forma de tempo ou definiç"o de tempo historicamente específica, que apenas ocorre nomoderno sistema produtor de mercadorias. 5sta forma de tempo ou definiç"o de tempo ( o tempo contínuo C7liess#eitD astronómico

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abstracto do ?niverso mec&nico de eIton, em analogia com os idênticos componentes atómicos fisicamente reducionistas desse?niverso.

5m termos sociais, ( a forma de tempo do descomedimento, isto (, um tempo ilimitado, indefinido, a nada ligado +a dimens"oastronómica serve apenas de medida exterior e arbitrária4 um tempo contínuo infinito, que apenas serve a pretens"o desmedida do*su!eito automático*, de uma incorporaç"o infinita de energia humana abstracta, despendida na medida de unidades de tempoigualmente abstractas +segundos, minutos, horas de *trabalho* desvinculadas de qualquer conte8do, ou se!a, a transformaç"o detodo o tempo de vida em tempo de trabalho. esta medida, o tempo astronómico contínuo ( a medida paradoxal dodescomedimento, um tempo insaciável, !á n"o ligado a qualquer necessidade +sempre finita, condicionada4 a medida do tempo deum fim$em$si irracional, que !á n"o afere um movimento limitado no tempo para um determinado fim ou processo, mas quefunciona como uma correia de tempo infinitamente reacoplada a si mesma, como forma de tempo do infinito movimento devalori#aç"o do valor reacoplado a si mesmo. % *trabalho concreto* do processo de produç"o capitalista n"o ocorre apenas no espaçofuncional da economia empresarial *desvinculado*4 tamb(m decorre em termos reais segundo a medida desmedida do tempocontínuo abstracto *desvinculado*, e n"o segundo a medida de uma transformaç"o da mat(ria temporalmente definida +e por essência limitada.

1oishe 2ostone interessou$se menos pelo carácter específico do espaço *desvinculado* e mais pelo carácter específico da forma detempo capitalista e tamb(m neste &mbito alcançou conhecimentos pioneiros. -o longo da história da moderni#aç"o o l8gubrecarácter do *tempo abstracto* foi repetidamente temati#ado explicita e implicitamente, mas nunca foi referido ao trabalho abstractoe 3s formas de mediaç"o categoriais da sociali#aç"o do valor. 2ostone, apoiando$se em historiadores sociais como >hompson,

\ur!evich, eedham, etc., foi o primeiro a distinguir o *tempo concreto*, que foi determinante em termos de qualidade do temponas sociedades pr($modernas +e que tem de ser de outro modo essencial para uma sociedade pós$capitalista, do *tempo abstracto*da moderna produç"o de mercadorias) *'omo ]concretos^ designarei os diversos tipos de tempo que dependem de acontecimentos)estes referem$se a ciclos naturais e periodicidades da vida humana, assim como a tarefas ou processos específicos +por exemplo, otempo que se demora a co#inhar arro# ou a di#er um padre$nosso e s"o entendidos atrav(s dos mesmos... -ntes do advento edesenvolvimento da sociedade capitalista moderna na 5uropa ocidental foram várias as formas de tempo concreto a marcar asconcepções de tempo prevalecentes. % tempo n"o era uma categoria autónoma, independente de acontecimentos, e por isso era dadoa definições qualitativas, como bom ou mau, como sagrado ou profano... % tempo concreto ( uma categoria mais ampla que o tempocíclico, uma ve# que existem concepções do tempo lineares que na sua essência s"o concretas... % tempo concreto ( menoscaracteri#ado pela sua direcç"o que pela circunst&ncia de ser uma variável dependente* +2ostone, ibidem, p. GF` s..

- concepç"o usual do tempo pr($moderno como meramente cíclico +ligado a estações, ritmos da vida, etc., aparentemente limitado3 forma de reproduç"o agrária e 3s respectivas formas de fetiche, em grande medida apenas dá um contributo 3 crítica damodernidade produtora de mercadorias num sentido reaccionário4 pelo contrário, a concepç"o mais ampla do tempo concreto de

2ostone ( completamente diferente, como *concepç"o do tempo orientado por tarefas* +ibidem, p. GEU, dependente deacontecimentos, n"o separado daquilo que s"o os processos finitos no tempo +se!a ele cíclico ou linear. - este opõe$se a outraqualidade do tempo, negativa, da modernidade, isto (, do espaço funcional da economia empresarial desvinculado) *..., o ]tempoabstracto^, por(m, que entendo como um tempo uniforme, contínuo, homog(neo, ]va#io^, ( independente de acontecimentos. -concepç"o do tempo abstracto, que se foi impondo progressivamente na 5uropa ocidental entre os s(culos /V e V//, encontrou asua express"o mais pungente na formulaç"o de eIton do ]tempo absoluto, verdadeiro e matemático +que corre de um modo perfeitamente uniforme sem qualquer relaç"o com algo de exterior^ +/saac eIton. % tempo abstracto ( uma variável independente.5le constitui um enquadramento independente, em que ocorrem movimentos, acontecimentos e acções. 5ste tempo pode ser subdividido em unidades iguais, constantes e n"o qualitativas* +2ostone, ibidem, p. GFU s..

% *enquadramento independente* deste tempo, de que 2ostone aqui fala, no entanto tamb(m pode ser entendido como um *espaçoindependente*, ou precisamente o espaço funcional da economia empresarial *desvinculado*. % tempo contínuo, astronómico eabstracto do processo de valori#aç"o constitui esse espaço fantasmático, tal como inversamente ( constituído por este como tempofantasmático. 2ostone chama a atenç"o para *que esta forma de alienaç"o temporal significa uma transformaç"o do carácter do

 próprio tempo. "o só o tempo de trabalho socialmente necessário ( constituído como norma temporal ]ob!ectiva^, que exerce umacoacç"o exterior sobre os produtores, mas mesmo o próprio tempo ( constituído como tempo absoluto e abstracto. % quantum detempo que determina a dimens"o do valor de uma mercadoria individual ( uma variável dependente. % próprio tempo, por(m,tornou$se independente da actividade = se!a esta determinada individualmente, socialmente ou pela nature#a. >ornou$se umavariável independente, medida em unidades constantes, contínuas, comparáveis e permutáveis, estabelecidas por convenç"o +horas,minutos, segundos, que serve de referência absoluta do movimento e do trabalho enquanto dispêndio. %s acontecimentos e asacções em geral, assim como o trabalho e a produç"o em especial, ocorrem agora no seio do tempo e s"o determinados por ele = umtempo que se tornou abstracto, absoluto e homog(neo* +ibidem, p. GEW.

 o entanto, o tempo começou por se tornar abstracto, independente e absoluto apenas num espaço social determinado, que ( precisamente o espaço funcional da economia empresarial desvinculado, em que o que está em causa !á n"o ( o tempo *de algo*,mas o tempo simplesmente, no sentido do *trabalho* simplesmente, ou da combust"o de energia humana simplesmente. % espaçodesvinculado e o tempo que no seu seio se tornou absoluto constituem em con!unto um espaço$tempo C9aum#eitD especificamentesocial, um contínuo de espaço$tempo para lá de todas as necessidades humanas e de todo o mundo da vida social. o processo dahistória da imposiç"o do capitalismo esta determinaç"o espaço$temporal tinge as esferas derivadas, e por fim mesmo o própriomundo da vida quotidiana4 ( a intervenç"o espaço$temporal usurpatória do *deus estranho* +1arx, do *su!eito automático* +1arx,

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 portanto daquela pretens"o totalitária de valori#aç"o, que proveio da fome de dinheiro da economia das armas de fogo e darevoluç"o militar dos primórdios da modernidade, e que evoluiu para máquina social.

- origem e o centro, no entanto, ( e continua a ser o espaço$tempo específico do processo de valori#aç"o da economia empresarial,do trabalho abstracto, que apenas ao preço da autodestruiç"o completa da sociedade poderia ser estendido a todo o processo da vida4o processo de crise contempor&neo da terceira revoluç"o industrial aproxima$se desse estado de dissoluç"o de uma forma cada ve#mais nítida.

?ma ve# evidenciado o carácter do espaço$tempo social abstracto da economia empresarial, torna$se claro qu"o grosseira ( aconcepç"o de que toda esta relaç"o pode ser redu#ida ao poder de disposiç"o !urídico de meros su!eitos da vontade da exploraç"o.2ortanto, o que se passa n"o ( que a *propriedade privada dos meios de produç"o* constitui o sistema do trabalho abstracto e aconstituiç"o espaço$temporal do mesmo, mas exactamente ao contrário ( o modo de produç"o do trabalho abstracto, o fim$em$si do*su!eito automático*, que constitui a forma !urídica da propriedade privada dos meios de produç"o +tal como o movimento de auto$mediaç"o do trabalho abstractoXvalor atrav(s da esfera da circulaç"o. 2ortanto, a mera colocaç"o da +!urídica *quest"o da propriedade* ( tudo menos radical, mas sim põe o carro 3 frente dos bois) tal n"o afecta nem o carácter espaço$temporal do processode reproduç"o social, nem a forma de su!eito dos seus portadores. <uando, por exemplo, su!eitos do trabalho abstracto, ou se!a,su!eitos do espaço$tempo da economia empresarial +e assim da concorrência na mediaç"o atrav(s da esfera da circulaç"o *votamdemocraticamente* sobre questões da reproduç"o, deste modo eles apenas podem reprodu#ir, exprimir e viver as contradições doseu modo de existência social, mas n"o emancipar$se das leis funcionais desse espaço$tempo abstracto, ou se!a, da relaç"o de feticheque este continua a ter por base.

- intervenç"o emancipatória tem de começar mais fundo, para romper e destruir o espaço$tempo do próprio trabalho abstracto,enquanto a aboliç"o da propriedade privada dos meios de produç"o seria apenas uma consequência lógica desta revoluç"o, mas n"oa revoluç"o propriamente dita. - opini"o contrária do marxismo tradicional apenas pode condu#ir sempre a que a forma !urídica da propriedade privada, que de modo nenhum está ligada a indivíduos ou famílias, se reprodu#a sob qualquer forma institucional+burocracia estatal, ditadura partidária, inst&ncias de democracia empresarial, instituições cooperativas, etc.. - propriedade privadados meios de produç"o +e igualmente da força de trabalho como mercadoria n"o ( um *poder de disposiç"o* sub!ectivo ou mesmoarbitrário no sentido de um mero *enriquecimento*, mas apenas a forma !urídica do sistema do trabalho abstracto e do seu espaço$tempo abstracto específico. 1elhor di#endo) ( a forma !urídica necessária dos su!eitos funcionais deste espaço$tempo, e n"o ofundamento social de toda a organi#aç"o.

 o espaço$tempo abstracto da economia empresarial ocorre, de um modo paradoxal, um processo de abstracç"o triplo, real e prático. 5mbora se!am eles próprios que *trabalham*, os su!eitos funcionais têm de começar por abstrair de si mesmos, de certomodo têm de se apagar a si mesmos como seres humanos, para obedecer aos imperativos do trabalho abstracto. /sso n"o decorre

apenas do carácter no fundo ob!ectivo de por exemplo a produç"o +social ser para outros em ve# de para consumo próprio, mas dacoisa fundamentalmente *estranha* que ( o fim$em$si capitalista, a valori#aç"o do valor. "o se trata de produ#ir ob!ectos de uso para si próprio ou para outros, mas trata$se essencialmente de produ#ir valor e mais$valia, ou se!a, de queimar no interior do espaçofuncional do espaço$tempo da economia empresarial o máximo da própria energia humana abstracta, de se transformar enquanto ser humano numa máquina de combust"o social.

2or isso, os su!eitos do trabalho abstracto como funcionários do *su!eito automático* +incluindo os de gerência n"o têm influênciasobre o conte8do concreto da produç"o +que ( ditado pelo fim$em$si da valori#aç"o, cu!o sentido ou falta de sentido n"o ( da suacompetência, nem eles podem organi#ar a evoluç"o do processo de produç"o ou o seu ambiente consoante os seus dese!os enecessidades. % espaço$tempo abstracto da economia empresarial n"o permite que uma pessoa se ponha *3 vontade* na actividade4n"o se trata do seu próprio tempo de vida nem do seu próprio espaço vital em que uma pessoa se instale, mas de um espaço$tempoestranho = *estranho* n"o no sentido da propriedade privada estranha, de outro su!eito de vontade +do capitalista, mas *estranho* nosentido da lógica funcional do trabalho abstracto como tal. % tempo contínuo abstracto deve ser interrompido o menos possível, precisamente porque o que está em causa ( o dispêndio máximo de energia humana por unidade do tempo, e n"o os ob!ectosnecessários, nem as necessidades das produtoras e dos produtores4 os regulamentos que regem os intervalos, por exemplo, n"oobedecem ao crit(rio das próprias produtoras e produtores e tendem para a minimi#aç"o +at( 3 quest"o de se ainda ( lícito ir fa#er xixi.

;o mesmo modo os meios de produç"o, ferramentas, etc. n"o devem ser utili#ados paralelamente pelas produtoras e produtores parafins pessoais, mas um regulamento rígido mant(m$nos reservados para o fim da valori#aç"o. >amb(m aqui a remiss"o para a propriedade privada !urídica está longe de constituir uma explicaç"o satisfatória, uma ve# que a falta de poder de disposiç"o das produtoras e produtores tamb(m neste aspecto n"o decorre de uma relaç"o de vontades exterior entre pessoas, mas da lógica internado próprio espaço$tempo da economia empresarial. %nde esta lógica ( infringida, por exemplo pelo carácter lacunar e pelo*laxismo* do regime de economia empresarial nas burocracias socialistas de estado, tal ( invariavelmente punido pela perda defuncionalidade sist(mica. 5nquanto a própria lógica do trabalho abstracto e do seu espaço$tempo específico n"o for conscientementeabolida, a afirmaç"o das produtoras e produtores no &mbito do próprio processo de produç"o como seres com necessidades apenas pode condu#ir a defeitos e quebras funcionais.

5m segundo lugar, os su!eitos funcionais do trabalho abstracto tamb(m têm de abstrair uns dos outros na prática, embora ao mesmotempo tenham de cooperar uns com os outros no processo de produç"o concreto. o entanto, como 1arx o descreveu muitas ve#es,

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esta cooperaç"o n"o lhes pertence, n"o ( pessoal, e mais uma ve# n"o obedece meramente ao comando exterior do proprietário privadoXcapitalista como su!eito de vontade, mas ( estruturada pelo espaço$tempo abstracto do próprio processo de valori#aç"o. %que as produtoras e produtores n"o podem como indivíduos, n"o o podem t"o$pouco na sua cooperaç"o, nomeadamente determinar o conte8do e a evoluç"o do processo de produç"o. 1esmo ao cooperarem, eles permanecem unidades mutuamente isoladas dedispêndio de energia humana abstracta, uma ve# que, embora a cooperaç"o obedeça de facto 3s necessidades de transformaç"oconcreta e material de mat(rias naturais, esta transformaç"o ( apenas a *express"o* de algo diferente, nomeadamente do processo devalori#aç"o. 5 o processo de produç"o capitalista ( na essência precisamente um processo de valori#aç"o, ao qual o *trabalho

concreto* permanece subordinado. % lado cooperativo no plano do trabalho concreto n"o ( portanto essencial4 o que ( essencial ( olado n"o cooperativo de um dispêndio quase autista de energia humana abstracta no plano do trabalho abstracto.

 este sentido, as produtoras e produtores s"o determinados como concorrentes monádicos mesmo no próprio processo de produç"o,e n"o apenas na circulaç"o no mercado de trabalho como vendedores concorrentes da mercadoria força de trabalho. % espaço$tempoabstracto da economia empresarial redu# o momento cooperativo estritamente ao carácter instrumental dos processos t(cnicos,enquanto qualquer cooperaç"o social se apresenta como sistemicamente disfuncional e *perigosa*. - lógica fundamental do trabalhoabstracto tende para a eliminaç"o de qualquer momento de cooperaç"o n"o funcional4 mesmo os mini$intervalos informais para caf(e conversa se apresentam cada ve# mais como *incómodos* e s"o erradicados. 5ste facto tamb(m ( o calcanhar de -quiles dasmáximas t"o invocadas do *trabalho de equipa* e da *competência social*, que na sua reduç"o funcionalista apenas podem redu#ir$se a si mesmos ad absurdum. : o próprio espaço$tempo da economia empresarial, em que as produtoras e produtores permanecemseparados uns dos outros como por paredes de vidro, que paralisa qualquer comunicaç"o hori#ontal, e que automaticamente voltasempre a reprodu#ir estruturas de comando verticais. >amb(m aqui a remiss"o para a *autoridade* pessoal de proprietários privados !urídicos está longe de constituir uma explicaç"o satisfatória e passa fundamentalmente ao lado do carácter do problema.

% mesmo se aplica 3 estrutura arquitectónica dos edifícios funcionais do trabalho abstracto, 3s divisões espaciais e 3 suaorgani#aç"o. - abstracç"o dos indivíduos que *trabalham* e da sua cooperaç"o aqui ainda se torna mais palpável. % funcionalismodesestetici#ado e ofensivo 3 vista e 3 sensibilidade espacial dos edifícios funcionais, das #onas industriais e comerciais +que !á hámuito tamb(m marcou o mundo da vida e as construções habitacionais e culturais decorre t"o$pouco de uma necessidade ob!ectivado *trabalho concreto* como todos os outros momentos do espaço$tempo da economia empresarial, resultando antes unicamente docarácter do processo de produç"o como processo de valori#aç"o. <ue as produtoras e produtores têm de abstrair de si mesmos comoseres humanos, que o espaço funcional da economia empresarial n"o ( o seu próprio espaço vital e o tempo funcional da economiaempresarial n"o ( o seu próprio tempo de vida, tudo isto tamb(m se reflecte no ambiente da sua actividade, que t"o$pouco obedece 3sua autodeterminaç"o como o sentido, o ob!ectivo e a evoluç"o da própria produç"o.

5m terceiro lugar, por fim, as produtoras e produtores, sob a (gide do espaço$tempo da economia empresarial, de certo modotamb(m têm de abstrair dos ob!ectos concretos, materiais da sua actividade, embora se!am estes que s"o moldados em sentido

t(cnico pelo trabalho concreto. o entanto, no próprio processo de produç"o a sua actividade concreta afigura$se 3s produtoras e produtores apenas como uma combust"o abstracta e indiferente da sua energia. 2or conseguinte, a *mat(ria* a trabalhar tanto como asua transformaç"o concreta permanece$lhes essencialmente indiferente e estranha, !á n"o se podem identificar com ela no espaço$tempo da economia empresarial, como o artes"o pr($moderno ainda se podia identificar com o seu ob!ecto. -s identificações com aactividade !á apenas dependem de pontos de vista secundários, na maior parte dos casos socialmente concorrentes, desligados doob!ecto4 por exemplo da posiç"o na hierarquia *militar de empresa*, do comando sobre outros, ou do êxito de vendas, do orgulho dorendimento abstracto em unidades de tempoXquantidades de peças, da qualificaç"o em BnoI$hoI puramente funcionalista, estranha3 mat(ria, e do respectivo reconhecimento, da *aura* do nome da empresa, etc. -penas em áreas rec6nditas como por exemplo aarte, que n"o s"o profundamente dominadas pelo espaço$tempo da economia empresarial, ainda se encontram, apesar da mediaç"odo dinheiro e da abstracç"o real no mínimo circulatória daí decorrente, elementos de identificaç"o com a mat(ria e a suatransformaç"o qualitativa4 mas mesmo sobre esta área está a debotar cada ve# mais a indiferença do trabalho abstracto no processode comerciali#aç"o.

- *abstracç"o real produtiva* nos ob!ectos do trabalho aparentemente apenas concreto de modo nenhum se deve apenas 3

considerável indiferença sub!ectiva das produtoras e produtores em termos individuais face 3 mat(ria da sua actividade, que noespaço$tempo da economia empresarial se lhes apresenta essencialmente como um processo abstracto de combust"o da sua energia.: muito mais o próprio processo de produç"o, na sua lógica intrínseca como trabalho realmente abstracto, que estabelece estaindiferença como apriori. 2ortanto ( a ob!ectividade social que impõe o carácter de su!eitos indiferentes ao conte8do, como portadores de processos abstractos de combust"o de energia humana, e n"o o contrário +e muito menos qualquer *avide# de lucro*dos proprietários.

5sta ob!ectividade social da indiferença face 3 mat(ria e ao conte8do decorre do carácter essencial do processo de produç"o como processo de valori#aç"o. %corre aqui uma invers"o peculiar na relaç"o entre a abstracç"o do valor e o chamado valor de uso4 melhor di#endo, o famigerado valor de uso revela$se, tal como !á se insinuou, como uma mera determinaç"o da forma da própriaob!ectividade do valor e da sua reali#aç"o como valor de troca.

- invers"o, em que o valor de uso se apresenta imediatamente como funç"o de constituiç"o do valor e do valor de troca, ( desde

logo determinada pelo carácter específico da mercadoria força de trabalho. : apenas o carácter de mercadoria da força de trabalhoque torna de todo possível a generali#aç"o da produç"o de mercadorias em forma de reproduç"o social pelo capitalismo. o casodesta mercadoria t"o constitutiva como específica, por(m, as determinações da forma da mercadoria ficam, por assim di#er, de

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 pernas para o ar. o caso de todas as outras mercadorias o chamado valor de uso consiste, pelo menos 3 primeira vista, na suautilidade material. "o ( o que se passa com a mercadoria força de trabalho. % seu valor de uso para o processo de produç"ocapitalista n"o está precisamente na sua capacidade de produ#ir determinados bens destinados a satisfa#er necessidades materiais ouimateriais. -ntes pelo contrário) *- fim de extrair valor do consumo de uma mercadoria, o nosso proprietário de dinheiro teria de ter a sorte de descobrir, no interior da esfera da circulaç"o, no mercado, uma mercadoria cu!o valor de uso possuísse ele próprio aqualidade peculiar de ser fonte de valor, cu!o consumo real portanto seria ele próprio ob!ectivaç"o de trabalho e daí criaç"o de valor.5 o proprietário de dinheiro encontra no mercado uma tal mercadoria específica = a capacidade de trabalho ou a força de trabalho...*

+15L EG, p. H`H. 2ortanto, o que ( decisivo ( *o valor de uso específico desta mercadoria, que consiste em ser fonte de valor, e demais valor do que ela própria possui* +15L EG, p. EF`.

 a produç"o e no seu resultado n"o se trata do valor de uso +material aparente dos produtos, mas deste valor de uso socialespecífico da mercadoria força de trabalho, que consiste unicamente na imposiç"o do valor e da mais$valia. % valor de uso damercadoria força de trabalho, por(m, pura e simplesmente constitui o conceito de valor de uso no contexto da forma de produç"o demercadorias generali#ada de modo capitalista. ;ito isso, o próprio 1arx desmente a sua definiç"o ontológica e antropológica deuma *produç"o de valor de uso* transhistórica, na qual tamb(m a abstracç"o *trabalho* se deve perpetuar. >al como o valor de usoda mercadoria força de trabalho consiste socialmente em produ#ir valor que ultrapassa os custos da própria reproduç"o, tamb(m ovalor de uso social dos produtos consiste em *representar* essa mais$valia como fim$em$si processante e de seguida *reali#á$la* navenda. -mbos os aspectos s"o indissociáveis. 2ortanto o valor de uso social dissocia$se neste sentido da utilidade concreta, materialou imaterial.

% facto de esta utilidade, no sentido concreto palpável de uma ob!ectividade da necessidade, constituir tamb(m para a produç"ocapitalista por assim di#er um mal necessário e uma esp(cie de condiç"o residual n"o lhe confere ainda assim um carácter em sitranshistórico$ontológico, nem mesmo nesta dissociaç"o de valor de uso social. 2elo contrário, a determinaç"o qualitativa abstracta,destrutiva e negativa do valor de uso como fim$em$si social da valori#aç"o do valor afecta tamb(m a ob!ectividade da necessidadedissociada e a sua própria produç"o.

>al di# respeito antes de mais ao *quê* da produç"o, ao conte8do ob!ectivo. 'omo ( sabido, por motivos que se prendem com asrelações de concorrência e o constrangimento da rentabilidade, tanto aos proprietários do capital, como 3 gerência e mesmo aosoperários assalariados tem de ser indiferente o que produ#em ao certo, se!am maç"s ou componentes para bombas nucleares4 o queinteressa ( que se produ#a e reali#e o valor de uso social negativo da rique#a abstracta, da mais$valia como fim$em$si. "o existequalquer inst&ncia social que pudesse determinar o conte8do ob!ectivo da produç"o conscientemente e segundo crit(rios desensibilidade 3s necessidades. - remiss"o para o pretenso *poder dos consumidores* n"o passa de ideologia pura. a realidade, oapriori do trabalho abstracto e do valor determina tamb(m as estruturas das necessidades sociais e submete$as 3 coacç"o da suaespecífica lógica de valor$de$uso abstracto de produç"o de mais$valia.

0ob o ditado desta produç"o e reali#aç"o de rique#a abstracta, todos os dias s"o descontinuadas produções destinadas mesmo anecessidades elementares por falta de rentabilidade e solvabilidade, enquanto a produç"o de produtos destrutivos para necessidadesdestrutivas +n"o apenas atrav(s da ind8stria de armamentos at( ainda ( reforçada. 1as n"o ( só neste sentido que a abstracç"o doconte8do das necessidades se afirma massivamente no próprio processo de produç"o. >amb(m os conte8dos da produç"o em siaparentemente n"o destrutivos s"o destrutivamente moldados no sentido do trabalho abstracto. 0e s"o criados tomates sem olhar aosabor e em funç"o de normas de acondicionamento para redes de distribuiç"o 3 escala continental, ou maç"s s"o tratadas comradioactividade para prolongar a sua duraç"o, ou se de um modo geral alimentos s"o desnaturados exclusivamente no interesse doob!ectivo da valori#aç"o, e toda a rique#a historicamente acumulada de uma multiplicidade de plantas e animais 8teis se perde afavor de uma *pobre#a de variedades* redu#ida em nome da simplificaç"o económico$empresarial, se na construç"o de casas sob oditado da reduç"o de custos imposto pela economia empresarial s"o utili#ados materiais pre!udiciais para a sa8de, ou surge umadivis"o disfuncional do espaço e desaforos est(ticos) ( o conte8do material que se orienta pela determinaç"o da valori#aç"o, e n"o ocontrário4 e, com o crescente desenvolvimento capitalista, numa medida historicamente crescente.

% *su!eito automático* da valori#aç"o do valor cria por assim di#er 3 sua imagem um material humano para o trabalho abstractotamb(m no sentido de uma moldagem das necessidades. - lógica da produç"o e a lógica do consumo cru#am$se sob o ditado doapriori social do trabalho abstracto. 5nquanto por um lado necessidades elementares +at( mesmo aquelas que de certo modo poderiam ser definidas como transhistóricas, como por exemplo a necessidade de água potável limpa, espaço habitacional suficiente,etc. s"o brutalmente menospre#ados, a mesma abstracç"o real desperta, at( ao quotidiano, necessidades destrutivas, puramentecompensatórias, agressivas ou simplesmente absurdas e infantis. % sistema do trabalho abstracto inverte assim a relaç"o entre asnecessidades e a produç"o) !á n"o s"o as necessidades a gerarem a produç"o como fim, mas o fim$em$si de uma produç"odesvinculada gera cada ve# mais necessidades negativas como seu simples meio. -t( nos países capitalistas mais ricos cada ve#mais gente se vê condenada a passar fome, enquanto ao mesmo tempo se pretende criar a *necessidade* !á difícil de conceber de aocaminhar ver um filme num mostrador do tamanho de um selo postal.

% apriori social do trabalho abstracto como lógica da própria produç"o implica, portanto, o menospre#o de necessidadeselementares, a produç"o de bens puramente destrutivos e a reduç"o qualitativa de todos os bens +falta de diversidade, *refugo

industrial*, produç"o de usar e deitar fora, normali#aç"o est(tica e desestetici#aç"o, etc., por fim a moldagem geral dasnecessidades em funç"o dos imperativos do processo de valori#aç"o, at( 3 reduç"o ou mesmo destruiç"o da capacidade de fruiç"o. -moldagem da produç"o em funç"o da lógica do trabalho abstracto, no entanto, n"o di# respeito apenas ao *quê*, 3 determinaç"o dos

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 bens em termos de conte8do, cu!o carácter material ( subordinado e adequado 3 fantasmática ob!ectividade do valor, mas tamb(m ao*como* do próprio processo de trabalho, 3 forma de intervenç"o da actividade transformadora sobre a mat(ria natural ou sobre umsemelhante humano +serviços.

% espaço$tempo abstracto da economia empresarial requer uma adequaç"o do *trabalho concreto* ao espaço abstracto e ao tempoabstracto de uma produç"o contínua infinita, no sentido de uma optimi#aç"o da lógica da valori#aç"o) *>empo ( dinheiro*. >alsignifica que no processo do trabalho concreto, como processo contínuo do espaço$tempo da economia empresarial, tem de ser negado e eliminado tudo o que de algum modo obstrua este fluxo contínuo de uma combust"o optimi#ada de energia humana eocasione perdas de fricç"o. o entanto, o processo do fluxo contínuo corre melhor com ob!ectos de mat(ria física morta +o que (simboli#ado por exemplo na *clássica* linha de montagem da ind8stria automóvel. -ssim sendo, o espaço$tempo da economiaempresarial implica um reducionismo específico, que corresponde a um fenómeno muito similar nas ciências da nature#a modernas.

2ode$se falar de um reducionismo físico das ciências da nature#a modernas, que alme!a uma explicaç"o monística do mundo a partir dos componentes atómicos elementares do ?niverso mecanicista de eIton. >al significa necessariamente um duplo passo dereduç"o. um primeiro passo, o mundo social, cultural e histórico do Aomem tem de ser redu#ido a mecanismos funcionais biológicos4 um topos da ideologia burguesa desde o s(culo V///. % arco deste reducionismo biológico estende$se desde a pseudo$naturalidade das condições de produç"o e relacionamento capitalistas na economia política a partir de -dam 0mith +ampliada namais recente pseudo$cientificidade e *matemati#aç"o* da economia política, passando pela biologi#aç"o do social +darIinismosocial, at( 3 suposta programaç"o e determinaç"o gen(tica da *nature#a humana*. um segundo passo, o mundo biológico tem deser depois redu#ido a mecanismos funcionais químicos e físicos, a mat(ria viva tem de ser redu#ida a mat(ria morta. %

descomedimento da procura de uma *fórmula do mundo* total, da qual pudesse ser monisticamente *derivado* tudo o que existe,ainda ho!e se baseia sobre este modo de pensar reducionista, e com ele na imagem mecanicista do mundo, embora a física qu&ntica pareça de facto contradi#ê$la.

% reducionismo físico das ciências da nature#a modernas na teoria apresenta$se no entanto no espaço$tempo da economiaempresarial como prática universal abstracta, como tratamento real do mundo dos ob!ectos em funç"o de semelhante reducionismo.: só este modo de proceder que permite de todo uma lógica de intervenç"o universal e abstracta, independente do ob!ecto do processo de trabalho, como processo de valori#aç"o. - negaç"o da lógica própria e do tempo próprio de áreas ob!ectivas e de vidaqualitativamente diversas pode apenas ocorrer pela via da reduç"o física. 0eres humanos s"o tratados como animais e plantas,enquanto animais e plantas s"o tratados como pedras e metais. -ssim se opera na prática da economia empresarial uma reduç"oabrangente da mat(ria social e da mat(ria viva em geral a uma ob!ectividade física morta. - fantasmática ob!ectividade do valor damercadoria apresenta$se no processo da sua produç"o como a reduç"o física da sua materialidade. % processo de produç"o como processo de valori#aç"o ( no essencial o processo de matar dos seus ob!ectos.

-s consequências extremas desta lógica da reduç"o !á há muito se tornaram visíveis, por exemplo nas agro$ind8strias monísticas,nos horrendos transportes de animais para abate 3 escala continental, assim como nas práticas do com(rcio de apoio social ecuidados pessoais, por exemplo quando pessoas idosas e doentes s"o tratadas segundo o padr"o das instalações de lavagemautomática de automóveis, ou o *trabalho afectivo* com moribundos está su!eito 3 gest"o de tempo da racionali#aç"o económico$empresarial. 5m semelhantes práticas de fábricas agrárias, hospitais e gulagues de *cuidados pessoais* que em todo o mundo se v"otornando cada ve# mais notórias, e cu!o esc&ndalo entretanto !á ( só cansaço, surge no entanto apenas a ponta do icebergue de umalógica de reduç"o física, que domina profundamente todo o espaço$tempo da economia empresarial at( aos poros do processo dereproduç"o social.

- este reducionismo pertence tamb(m a destruiç"o secundária da biosfera planetária pelos *excrementos +físicos da produç"o*+1arx e a em tudo similar destruiç"o secundária das condições de relacionamento social pelos *excrementos da produç"o* por assim di#er psíquicos. - indiferença face ao conte8do qualitativo imediato do *trabalho* implica uma igual indiferença face ao*ambiente* do processo de valori#aç"o, tanto em termos biológicos como em termos sociais. % espaço$tempo  da economiaempresarial *desvinculado* conhece e admite apenas a sua própria lógica interna4 ( insensível a tudo o que no exterior do seu campode acç"o está su!eito a outra qualidade de espaço ou de tempo. : por isso que fracassam n"o só todos os protocolos do clima eoutros esforços de um ecologismo impotente, para por assim di#er reintrodu#ir os seus *custos externali#ados* nas contas daeconomia empresarial segundo as regras da sua própria lógica, sem romper essa lógica enquanto tal. /gualmente impotentes permanecem tamb(m todos os apelos 3 compaix"o, 3 responsabilidade social, 3 *sociedade civil*, etc., que pretendem reivindicar um comportamento n"o reducionista em relaç"o 3s condições sociais, sem p6r em causa fundamentalmente o espaço$tempo daeconomia empresarial como centro do reducionismo.

>al como gente totalmente asselva!ada em guerras de extermínio !á n"o ( capa# de se integrar numa vida *civil*, t"o$pouco osindivíduos condicionados no espaço$tempo da economia empresarial a modos de comportamento reducionistas podem comportar$seno exterior dele de um modo *socio$ecológico*4 isto sem mencionar que esse *exterior* está a ser deglutido e aspirado pelo espaço$tempo da economia empresarial a uma velocidade crescente = sem que este consiga realmente totali#ar$se e incorporar os momentosdissociados4 pelo contrário, estes *ficam ao abandono*. Zá ( apenas absurdo, quando as inst&ncias oficiais do capitalismo de criseglobal invocam, por um lado, a *moral* socio$ecológica e ao mesmo tempo propagam, por outro lado, a extens"o do espaço$tempo

da economia empresarial e da sua lógica reducionista a todas as áreas da vida. 0ermões domingueiros situamdescomprometidamente a racionalidade como respeito pelas lógicas próprias da biosfera e do relacionamento social na esfera daresponsabilidade pessoal dos indivíduos isolados e por assim di#er no seu *comportamento de tempos livres*, enquanto ao mesmo

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tempo a racionalidade social negativa do espaço$tempo abstracto da economia empresarial determina o processo real de reproduç"osocial em toda a sua amplitude e profundidade, o que at( ainda reforça a intervenç"o reducionista a ela associada.

% resultado ( fácil de adivinhar e consiste na transformaç"o do mundo terreno da biosfera e da cultura social humana num desertofísico. - literatura popular da ficç"o científica !á há muito antecipou este resultado no topos do mundo de rob6s, em que uma*inteligência* mec&nica e auto$reprodutiva de máquinas mortas governa um mundo química e fisicamente redu#ido. >alve# o amor 3reduç"o física teórica e prática tamb(m explique por que a anti$cultura capitalista está t"o fascinada pelo planeta 1arte, que o tornao alvo predilecto de expedições espaciais com máquinas de combust"o e veículos roboti#ados. 1arte ( precisamente o deserto físicoem que o trabalho abstracto e o seu espaço$tempo ainda têm de converter a >erra. % facto de andar com rob6s a vasculhar essedeserto em busca da mais pequena vida bacteriana simboli#a involuntariamente a desesperada lógica auto destrutiva de umahumanidade dominada pelo apriori social do trabalho abstracto.

O tempo hist!rico concreto do capitalismo

- destruiç"o real do mundo pelo trabalho abstracto como processo de produç"o ( evidente. <uando o marxismo tradicional comoideologia imanente da moderni#aç"o pretende restringir os conceitos de trabalho abstracto e abstracç"o real 3 esfera da circulaç"o,com isso demonstra n"o apenas a sua contaminaç"o pela (tica protestante, pelo produtivismo capitalista e por uma falsa ontologiado trabalho transhistórica, mas ainda a sua completa limitaç"o ao espaço interior do moderno sistema produtor de mercadorias e aoseu espaço$tempo abstracto. 'laro que assim tamb(m lhe escapa o conceito de historicidade capitalista. 2ois de facto o capitalismo(, por um lado, o regresso do sempre igual, o tempo abstracto sem história do contínuo economico$empresarial desvinculado4 por 

outro lado, por(m, ( um processo histórico concreto cego, uma história irreversível de constituiç"o, imposiç"o e crise, que semanifesta em estádios de desenvolvimento qualitativamente diferentes.

;aí que 1oishe 2ostone distingue consequentemente duas esp(cies de certa maneira opostas de definiç"o de tempo no processo dereproduç"o capitalista4 o que segundo 2ostone significa *que a dial(ctica do desenvolvimento capitalista (, num plano lógico, umadial(ctica de duas formas de tempo constituídas na sociedade capitalista e portanto n"o pode ser compreendida adequadamente nosentido da substituiç"o de todas as formas de tempo concreto pelo tempo abstracto* +2ostone, ob. cit., GEU. ?ma ( a substituiç"o do primitivo tempo concreto do dia a dia, como tempo sempre condicionado, limitado *por algo* ou *para algo*, como express"o detempo orientado por tarefas, pelo espaço$tempo desvinculado, abstracto, da economia empresarial. 1as atrav(s desta transformaç"o( criado simultaneamente, num diferente segundo plano do tempo, um novo tipo histórico concreto de tempo, uma cega din&micahistórica de *desenvolvimento* e crise.

-l(m do espaço$tempo abstracto, homog(neo e sem história da economia empresarial e deste derivado, o capitalismo comosociali#aç"o do valor estabelece contudo tamb(m um tempo histórico concreto completamente diferente. 2ostone dedu# em termoscompletamente elementares a relaç"o destas duas formas de tempo das duas dimensões da mercadoria, como materialidade e comoob!ectividade do valor) *- interacç"o entre as duas dimensões da forma da mercadoria tamb(m pode ser analisada quanto ao tempo,do ponto de vista da oposiç"o entre o tempo abstracto e uma forma de tempo concreto própria do capitalismo* +%b. cit., PGU.>amb(m se pode di#er assim) o tempo sem história, abstracto, da sociali#aç"o do valor ( a lógica temporal do processo devalori#aç"o4 o tempo histórico concreto da sociali#aç"o do valor, pelo contrário, ( a lógica temporal da materialidade mobili#ada por este processo de valori#aç"o, tanto no sentido da mat(ria natural transformada, como tamb(m no sentido do desenvolvimento sociala isso ligado.

% problema que aqui aparece ( outra ve# a *dimens"o de valor de uso* +2ostone do trabalho abstracto, agora observado sob o pontode vista da forma do tempo. - determinaç"o do valor de uso da mercadoria força de trabalho como produç"o de mais$valiaestabelece uma determinaç"o social do valor de uso das mercadorias como simples materiali#aç"o do valorXmais$valia e darespectiva reali#aç"o, enquanto a concretude material e com ela tamb(m a qualidade material ( dissociada e permanece secundária,um simples apêndice +indiferente da valori#aç"o do valor. 'ontudo o capitalismo n"o consegue livrar$se desta materialidade

concreta, e o valor de uso social da produç"o de mais$valia e da sua reali#aç"o, perante crescentes níveis de produtividade forçados pela concorrência universal, tem que *encarnar* sempre de novo em sempre novas formas concretas e ultra$desenvolvidas detransformaç"o da nature#a e da sociabilidade.

: precisamente nesta tens"o entre a indiferença quanto aos conte8dos e a abstracç"o do *trabalho* e do valor, por um lado, e o*desenvolvimento* de conte8dos materiais promovido pelo próprio processo de valori#aç"o, por outro, que se funda a dial(ctica dasduas formas de tempo. % espaço$tempo abstracto da economia empresarial n"o conhece qualquer *desenvolvimento*. -qui umahora ( sempre uma hora de tempo independente, sem conte8do, sem qualidade, homog(neo. 5ste tempo corresponde 3 dimens"o devalor da reproduç"o, ao tempo abstracto e com ele 3 ob!ectividade de valor da mat(ria, portanto ao valor de uso do fetiche social de produç"o e reali#aç"o de mais$valia. % conte8do materialmente indiferente com ele transportado por(m transforma$se, (determinado sempre de novo, e na realidade n"o em simples mudança aleatória, mas com crescentes cientifici#aç"o e produtividade,num processo histórico concreto. esta referência ao conte8do, indiferente ao fim$em$si da valori#aç"o do valor, mas que se validana prática, uma hora n"o ( sempre a mesma hora, mas sim ( progressivamente preenchida de novo, transforma$se em tempo de algodiferente, em tempo de *desenvolvimento*.

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2ostone assinala no plano lógico a oposiç"o e o cru#amento destas duas formas de tempo) *- constante temporal abstracta ( aomesmo tempo constante e n"o constante. Vista como tempo abstracto, a hora de trabalho social permanece constante como medidade todo o valor produ#ido. 'oncretamente expressa, contudo, varia em correspondência com a variaç"o da produtividade. oentanto, uma ve# que a unidade de tempo abstracto continua a ser a medida do valor, ela n"o se exprime, na sua nova determinaç"oconcreta, na unidade de tempo enquanto tal <ue o quadro temporal abstracto permanece constante, mas ( determinadosubstancialmente como novo, ( um paradoxo 5ste paradoxo n"o pode ser solucionado na base do tempo abstracto neItoniano.2elo contrário, ele remete para um outro tipo de tempo de nível superior. 5ste movimento resultante da nova determinaç"o

substancial do tempo abstracto n"o pode ser expresso em conceitos de tempo abstracto4 reclama outro quadro de referência. 2ode$seimaginá$lo como uma esp(cie de tempo concreto-ssim, este movimento do tempo ( uma funç"o da dimens"o valor de uso dotrabalho e da sua interacç"o com o enquadramento do valor e pode ser entendido como uma esp(cie de tempo concreto* +%b. cit.,PGU sgs.

- dimens"o valor de uso significa aqui a materialidade concreta dissociada, que de resto n"o tem que ser *8til* num sentidoenfático, mas que tamb(m e sobretudo inclui o desenvolvimento das forças produtivas como forças destrutivas. 2or um lado, portanto, estamos perante um *quadro de tempo homog(neo, abstracto, que ( imutável e serve de medida do movimento* +2ostone,ob. cit., PPE. 2or outro lado, ( promovido precisamente por este espaço$tempo da economia empresarial, no plano material concretodo desenvolvimento de forças produtivasXforças destrutivas, o tempo histórico concreto de um processo social de desenvolvimentodin&mico e irreversível) */sto inclui contínuas mudanças na nature#a do trabalho, da produç"o e da tecnologia, tal como aacumulaç"o das formas de saber conexas. Visto na generalidade, o movimento histórico da totalidade social tem como consequênciatransformações massivas, contínuas, do modo de vida social da maioria da populaç"o = nos padrões sociais de trabalho e de vida, naestrutura e distribuiç"o das classes, na nature#a do estado e da política, nas formas de família, no aperfeiçoamento do sistema

cultural e educativo, nas formas de circulaç"o e de comunicaç"o, etc. % tempo histórico no capitalismo pode portanto ser visto comouma forma de tempo concreto, que ( socialmente constituído e dá express"o a uma continuada transformaç"o da vida social emgeral, tal como das formas de consciência, do valor e da necessidade, pelo trabalho e pela produç"o. -o contrário do *fluxo* dotempo abstracto, este movimento n"o ( uniforme, mas varia e at( pode acelerar$se* +2ostone, %b. cit., PPG.

% tempo abstracto, homog(neo e autonomi#ado, como medida da combust"o pretensamente infinita de energia humana, correspondee colide com o tempo histórico concreto do desenvolvimento cegamente dinami#ado e igualmente independente, mas de outramaneira, em cu!o decurso n"o só a face do mundo ( historicamente transformada, mas tamb(m as categorias reais da sociali#aç"o dovalor mudam qualitativamente a sua forma. : o desenvolvimento, n"o só desde a diligência postal, passando pelo caminho de ferro,at( 3 *automobili#aç"o* da sociedade, mas tamb(m desde a estrutura familiar estável da produç"o, passando pela concentraç"o dos*ex(rcitos do trabalho*, at( 3 individuali#aç"o abstracta, simultaneamente com o desenvolvimento das relações de dissociaç"osexual que lhe est"o ligadas4 ( o processo que vai da subsunç"o formal das estruturas de produç"o pr($encontradas at( 3 subsunç"oreal do processo de produç"o e de vida sob o capital, com base nos fundamentos próprios deste4 a história da ciência moderna em

cru#amento com a din&mica capitalista, da relaç"o entre a acumulaç"o empresarial e a crescente necessidade de condições deenquadramento do con!unto da sociedade +infra$estruturas, etc.

%bservando as duas formas de tempo do ponto de vista da consciência dos su!eitos, dos indivíduos e instituições, poderíamos definir o espaço$tempo abstracto da economia empresarial como a forma de tempo sub!ectivamente estabelecida e o tempo históricoconcreto do desenvolvimento capitalista como a forma de tempo que ob!ectivamente se manifesta. 2ois a acç"o social própria dossu!eitos reali#a$se sempre apenas no quadro do tempo abstracto, homog(neo, da economia empresarial desvinculada e sob press"odos seus imperativos ou +por exemplo do lado do estado e da política em relaç"o com este quadro de tempo pressuposto4 essetempo ( independente, mas fixa o quadro imediato de acç"o dos su!eitos. % tempo histórico concreto pelo contrário ( a resultantecega, a din&mica ob!ectivada de uma história do *su!eito automático* e ela própria apenas indirectamente feita pelos seres humanos,contudo por maioria de ra#"o sem o seu controlo social. : uma relaç"o paradoxal de tempo) o tempo sub!ectivo, consciente, ( va#ioe abstracto, tempo de combust"o de energia humana indiferente a qualquer conte8do4 o tempo histórico concreto do realdesenvolvimento de conte8do material, pelo contrário, ( tempo ob!ectivo, inconsciente e portanto fatalidade histórica.

;aí que a emancipaç"o social, em consequência, só pode consistir em conseguir o controlo social sobre o tempo histórico concreto,de modo que o espaço$tempo desvinculado da economia empresarial se!a conscientemente destruído, suprimido e com issosuplantada a lógica da valori#aç"o do valor. 0ó a inclus"o da reproduç"o no mundo da vida, a dissoluç"o do trabalho abstracto ecom ele da dissociaç"o sexual pode p6r fim tamb(m 3 dissociaç"o e 3 cada ve# maior indiferença aos conte8dos materiais do processo de produç"o. 0eria o fim da separaç"o entre vida e produç"o, conte8do e forma, produç"o e circulaç"o, economia e política. -ssim sendo, o processo capitalista de destruiç"o do mundo só será detido quando se conseguir uma integraç"o social, emque pela primeira ve# na história os membros da sociedade organi#em conscientemente o emprego dos seus recursos comuns +por exemplo numa organi#aç"o de conselhos escalonada e abrangente e deste modo tamb(m pela primeira ve# definam o seu própriotempo histórico concreto = o desenvolvimento social deixa assim de ser um cego processo de fatalidade.

% marxismo tradicional nem sequer ( capa# de pensar nesta tarefa, muito menos lutar por uma via para a sua resoluç"o. 0e, no passado, para os teóricos do marxismo do movimento operário o tempo histórico concreto do capitalismo surgia, se bem que n"ocomo conceito, mas ao menos indirectamente na discuss"o mais ou menos positivista dos *estádios de desenvolvimento* docapitalismo, ho!e os representantes remanescentes deste pensamento baniram por completo da sua reflex"o o problema do tempohistórico concreto e, com ele, o da historicidade do capitalismo. % que quer di#er que a história interna do capitalismo, a história doseu desenvolvimento e crise, esbarra ho!e nos seus limites. ;aí que tamb(m !á n"o ( possível estabelecer o tempo histórico concreto

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como resultante do espaço$tempo abstracto da economia empresarial de modo categorialmente imanente, no sentido de umainterpretaç"o *crítica* do próximo surto de desenvolvimento. % tempo histórico concreto agora só pode ser ainda pensadocriticamente no sentido de uma crítica categorial do espaço$tempo desvinculado do próprio trabalho abstracto.

% que sobra do marxismo tradicional, completamente incapa# de semelhante feito, refugia$se por isso, no que di# respeito aoconceito de capital, na concepç"o de um *eterno retorno do mesmo*4 converte$se numa esp(cie de *marxismo budista*. 5stacaracteri#aç"o ainda nem sequer ( polemicamente exagerada. -ssim se di#, para citar apenas um exemplo significativo, num tratadode resto particularmente pretensioso sobre o assunto, que contudo n"o consegue encobrir as orelhas de burro do velho pensamentomarxista tornado obsoleto) *1anifesta$se como ( difícil encontrar qualquer coisa de substancialmente novo, mesmo original, narealidade capitalista, que esse 1arx n"o tivesse há muito antecipado/sto n"o pretende ser uma homenagem a 1arx) trata$se nemmais nem menos do que a constataç"o de que no essencial o capital representa o eterno retorno do mesmo* +/nitiative0o#ialistisches 7orum C/niciativa 7órum 0ocialistaD, ;er >heoretiBer ist der Lert C% teórico ( o valorD, 7riburgo EFFF, pág. WU.5xplícita ou implicitamente esta re!eiç"o do pensamento de um desenvolvimento histórico na relaç"o de valor constata$se ho!equase sem excepç"o entre os náufragos sobreviventes de uma (poca chegada ao fim de crítica categorial imanente do capitalismo.

2or outras palavras) este pensamento agora limita$se por completo ao quadro temporal do tempo contínuo abstracto e homog(neo daeconomia empresarial. este quadro temporal ocorrem diversos acontecimentos, mas n"o há desenvolvimento nem história.'orresponde$lhe a reduç"o estrutural do conceito de capital ao plano do capital isolado e 3 sua pretensa eterna capacidade dereproduç"o +*há sempre um vencedor, se!a lá quem for*. - dimens"o social total da sociali#aç"o do valor desaparece do campo devis"o, !untamente com o tempo histórico concreto. -ssim se funde o marxismo tradicional no seu próprio estádio final com a

 perspectiva económica e histórica burguesa +fim da história, ponto de vista *micro$económico*. -o !á n"o conseguir pensar maisnenhum novo estádio de desenvolvimento do capitalismo *de esquerda*, porque !á n"o há mais nenhum, ele deixa de pensar de todoo tempo histórico concreto. 'om isso, o marxismo tradicional comprova apenas a sua imanência categorial na sociali#aç"o do valor,que ele descreveu esforçadamente como ontologi#aç"o do trabalho abstracto. ;aí que ele esbarra inevitavelmente num limitehistórico, !untamente com o seu ob!ecto.

/sto !á remete para o problema da crise categorial. % tempo histórico concreto do capitalismo, tal como ele ( libertado como processo cego pelos resultados do espaço$tempo abstracto da economia empresarial no plano social material concreto, constitui defacto uma história n"o só de desenvolvimento, mas tamb(m de crise. - irreversibilidade deste processo desemboca num *estádio dedesenvolvimento* que !á n"o o (, mas em que se manifesta um limite histórico absoluto. 'rítica categorial e crise categorialcondicionam$se reciprocamente. 2ara se poder fundamentar este nexo no plano do tempo histórico concreto, ( necessária umaanálise do trabalho abstracto do ponto de vista das suas relações quantitativas. - histórica dessubstanciali#aç"o do valor oudesvalori#aç"o do valor apresenta$se como problema de quantidade do trabalho abstracto, o que constitui o cerne da teoria da crisede 1arx. 5sta relaç"o quantitativa do trabalho abstracto, no sentido de um limite interno do espaço$tempo económico$empresarial

desvinculado, será debatida na segunda parte do presente estudo.