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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA CITOTOXICIDADE DE MEDICAÇÕES INTRACANAIS EM FIBROBLASTOS L929 Aracaju-SE Fev/2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

CITOTOXICIDADE DE MEDICAÇÕES INTRACANAIS

EM FIBROBLASTOS L929

Aracaju-SE

Fev/2014

ii

MICHELLE DE PAULA FARIAS

CITOTOXICIDADE DE MEDICAÇÕES INTRACANAIS

EM FIBROBLASTOS L929

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Odontologia, da Universidade

Federal de Sergipe, para obtenção do título de

Mestre em Odontologia.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Amália Gonzaga Ribeiro

Aracaju-Se

2014

iii

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos:

A Deus por toda proteção, força e inspiração concedidas.

A minha mãe, que sempre foi uma pessoa muito estudiosa e responsável, com certeza,

onde estiver, está orgulhosa por me ver conquistando mais essa etapa da minha vida.

Ao meu pai, por incentivar sempre o meu aperfeiçoamento e crescimento profissional.

Ao meus pequenos irmãos José e Joana pela alegria e total energia transmitidos durante

os 24 meses de realização desse curso. Em especial, a minha irmã Mônica, que mesmo morando

em outro estado, sempre me ajudou, ouvindo minhas angústias e alegrias. Amo muito vocês!

Ao meu noivo Benjamim, que sempre foi meu porto seguro, presente em todos os

momentos da minha vida (inclusive ficando comigo nos finais de semana até de madrugada no

laboratório e sem reclamar!). Quero realmente te agradecer, Amor, sem você essa caminhada

teria sido muito mais árdua. Te amo!

A minha orientadora, Profª. Dra. Maria Amália Gonzaga Ribeiro, pela paciência,

conhecimentos transmitidos e exemplo de humanidade para com os pacientes.

Ao Prof. Dr. Adriano Augusto Melo de Mendonça, pela tranquilidade, conhecimento,

atenção e disponibilidade transmitidos durante todo o curso.

Aos Prof. Dr. Wilton Mitsunari Takeshita e Dr. André Luis Faria e Silva pela ajuda

(aliás, mais que ajuda!) na realização da parte mais difícil da dissertação: a estatística.

Ao Prof. Dr. Roque Pacheco de Almeida, por ter aberto as portas do Laboratório de

Biologia Molecular do HU/UFS e permitido que essa pesquisa pudesse ser realizada.

A todos que fazem parte do Laboratório de Biologia Molecular do HU/UFS, em

especial, as doutorandas Luana e Fabrícia por todo empenho e paciência do mundo em me

explicar como tudo funcionava, me orientando desde a compra dos materiais até a leitura das

placas. Foram vários momentos e telefonemas para saber se as células estavam fungadas ou

não, não é verdade? Muito obrigada!

A graduanda Nayane e o mestrando Gustavo pela colaboração para a execução de toda

a metodologia, deixando suas vidas, profissional e pessoal, para auxiliar-me em horários

inconvenientes. Obrigada!

iv

A todas as turmas da disciplina de Endodontia e do Projeto de Extensão da UFS que me

deram a oportunidade de conhecer a vida acadêmica, agora de um novo ângulo, como

mestranda.

Aos meus amigos do curso de Mestrado pelo carinho, amizade e apoio recebidos. O

percurso foi longo e pedregoso, mas chegamos ao final, todos com o título de VENCEDORES.

Parabéns!!!!

Meu muito OBRIGADA!

v

RESUMO

As medicações intracanais são substâncias utilizadas no tratamento endodôntico que necessitam

apresentar biocompatibilidade com os tecidos perirradiculares, de modo a não causar danos

teciduais e nem interferir no processo de reparo. O estudo objetivou avaliar a citotoxicidade de

medicamentos de uso endodôntico, quando em contato com células fibroblásticas de murinos

L929, em diferentes períodos de observação. Para avaliar a citotoxicidade, foram utilizadas três

medicamentos e três veículos, divididos em sete grupos experimentais, a saber: hidróxido de

cálcio-paramonoclorofenol canforado-glicerina (HPG); iodofórmio-glicerina (IG); hidróxido

de cálcio-iodofórmio-água destilada (HCI); iodofórmio-água destilada (IA); hidróxido de

cálcio-água destilada (HC); Otosporin® (OT) e grupo controle - composto por células e meio

de cultura. Foram preparados os eluatos das medicações sendo estes colocados em contato com

as células (1 x 105 células/poço) por períodos de 24h, 48h, 72h, 5 e 7 dias. Após cada tempo

experimental, foi executado o ensaio colorimétrico, utilizando o reagente metiltetrazólio (MTT)

e a leitura das placas foi realizada no espectrofotômetro utilizando a densidade óptica de 570nm.

Os dados foram tabulados e submetidos a análise por meio da ANOVA-Tukey, com um nível

de significância de 5%. Em 24h, IG e OT (P<0,001) demonstraram maior citotoxicidade, fato

este também observado pelo grupo OT (P<0,001) quando analisado em 48h. Em 72h, pôde-se

observar que os grupos HC e OT foram mais citotóxicos quando comparados ao grupo controle.

Estes resultados também foram demonstrados nos grupos HPG, IA, HC e OT em 5 dias. Em 7

dias todas as medicações apresentaram citotoxicidade, porém o grupo OT mostrou-se mais

citotóxico (P<0,001). Com relação ao fator tempo experimental, foi observado em todos os

grupos diferença significativa entre 24h e 7 dias. Conclui-se que todas as medicações

apresentaram citotoxicidade em algum momento da pesquisa sendo o Otosporin® a medicação

intracanal mais citotóxica e, que o tempo influenciou na citotoxicidade de todas medicações

analisadas.

Descritores: Citotoxicidade; Endodontia; Hidróxido de cálcio; Iodofórmio; Fibroblastos.

vi

ABSTRACT

Intracanal dressings are substances used during endodontic treatment and requiring

biocompatible with periradicular tissues, not causing tissue damage or interfere in repair

process. This study aimed to assess the cytotoxicity of endodontic dressing when in contact

with L929 mouse fibroblast cells, after different periods. To assess the cytotoxicity of three

intracanal dressings and three vehicles were divided into seven groups, namely: calcium

hydroxide/camphorated paramonochlorophenol/ glycerin (CPG); iodoform/ glycerin (IG);

calcium hydroxide/iodoform/distilled water (CIW); iodoform/distilled water (IW); calcium

hydroxide/distilled water (CW); Otosporin® (OT); and control group. The eluates of the

medications were prepared and placed in contact with the cells (1 x 105 cells/well) during

periods of 24, 48, 72hours, 5 and 7 days. After each evaluation time, a colorimetric assay was

conducted using methyl tetrazolium reagent (MTT) and the reading of the plates was performed

in a spectrophotometer with optical density of 570 nm. Data were tabulated and subjected to

statistical analysis by ANOVA-Tukey test with a significance level of 5%. At 24hours, IG and

OT (P <0.001) showed greater cytotoxicity, as also observed by the OT group (P <0.001) when

analyzed in 48hours. In 72 hours, it could be observed that the CW and OT groups were more

cytotoxic compared to the control group. These data were also demonstrated in groups CPG,

IW, CW and OT in 5 days. Within 7 days all drugs showed cytotoxicity, but OT group showed

the most cytotoxic (P <0.001). With respect to experimental time factor was observed in all

groups significant differences between 24hours and 7 days. It is concluded that all medications

showed cytotoxicity at some point in the research being Otosporin ® the most cytotoxic and

that time influenced the cytotoxicity of all medications analyzed intracanal medication.

Keywords: Cytotoxicity; Endodontics; Calcium hydroxide; Iodoformium; Fibroblasts.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Manipulação da pasta de hidróxido de cálcio-água destilada. 33

Figura 2. Manipulação da pasta de iodofórmio-glicerina. 33

Figura 3. Preparação dos eluatos das medicações intracanais na placa de cultura de

24 poços. 34

Figura 4. Placa de cultura de 96 poços contendo células fibroblásticas L929, reagente

MTT e meio de cultura RPMI 1640 sem soro bovino fetal. 36

Figura 5. Remoção da solução de MTT e visualização da coloração azul no fundo dos

poços. 37

Figura 6. Aparelho agitador de microplacas com a placa de cultura de 96 poços com

isopropanol acidificado com HCL 0,04M/l. 37

Figura 7. Placa de cultura de 96 poços com cristais de formanzan dissolvidos. 38

Figura 8. Leitura da placa de cultura de 96 poços no espectrofotômetro. 38

Figura 9. Relação valores de absorbância x tempos experimentais. 41

viii

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1. Descrição dos grupos e das dosagens das medicações intracanais. 32

Tabela 1. Resultados de citotoxidade em média (DP) expressa em unidades

de absorbância. 40

ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

°C Graus centígrado

® Marca registrada

µg/mL Microgramas por mililitro

µL Microlitros

% Porcentagem

π Letra grega pi

BrdU 5-bromo-29-deoxyuridine

Ca2+ Cálcio

cm2 Centímetro quadrado

cm2/mL Centímetro quadrado por mililitro

CO2 Dióxido de carbono

DNA Ácido desoxirribonucleico

DMSO Dimetilsulfóxido

EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

g Grama

h Altura

hGF Células fibroblásticas gengivais humanas

HCT20 Solução de hidróxido de cálcio e lauril sulfato de sódio

HPG Hidróxido de cálcio-paramonoclorofenol canforado-glicerina

IGF Fator de crescimento semelhante à insulina

ISO International Organization of Standardization

LPS Lipopolissacarídeo

mg/mL Miligramas por mililitros

min Minuto

mL Mililitro

mm Milímetros

x

mM Milimolar

MMP Matrix metaloproteinase

MTA Agregado de trióxido mineral

MTAD Doxiciclina-ácido cítrico-detergente Tween 80

MTT 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio brometo

MTS 3-(4,5-dimetiltiazol-2-yl)-5-(3-carboximethoxifenil)-2-(4-sulfofenil)-

2H-tetrazolio

M/l Molar por litro

nm Nanômetro

OH- Hidroxila

P.A Pró-análise

PCR Polymerase chain reaction

pH Potencial hidrogêniônico

PMCC Paramonoclorofenol canforado

PDGF Fator de crescimento derivado de plaquetas

r Raio

Rpm Rotações por minuto

RPMI Meio de cultura (Roswell Park Memorial Institute)

SFB Soro fetal bovino

SCR Sistema de canais radiculares

TNF-α Fator alfa de necrose tumoral

THP-1 Células monócitos

UI/mL Unidade internacional por mililitro

U2OS Linhagem de células osteoblástica humanas

V Volume

WST 2-(2-methoxi-4-nitrofenil)-2H-tetrazolio

XTT Sódio 2,3-bis(2-metóxi-4-nitro-5-sulfofenil)-5-[(fenilamino)-

Carbonil]-2H-tetrazolio

xi

SUMÁRIO

1. Introdução 13

2. Revisão de Literatura 14

2.1 Biocompatibilidade 14

2.2 Medicação Intracanal 14

2.2.1 Hidróxido de cálcio P.A 15

2.2.2 Iodofórmio 16

2.2.3 Otosporin® 16

2.2.4 Veículos 17

2.3 Cultura de Células 18

2.4 Testes de Citotoxicidade 19

2.5 Pesquisas de Citotoxicidade de Medicações Intracanais 20

3. Proposição 26

3.1 Objetivo Geral 26

3.2 Objetivos Específicos 26

4. Metodologia 27

4.1 Delineamento Experimental 27

4.1.1 Tipo de Estudo 27

4.1.2 Variáveis 27

xii

4.1.3 Local da pesquisa 27

4.2 Materiais e Equipamento Utilizados 28

4.3 Procedimentos Laboratoriais 29

4.3.1 Descongelamento das Células 29

4.3.2 Cultivo das Células 30

4.3.3 Plaqueamento 31

4.3.4 Divisão dos Grupos Experimentais 31

4.3.5 Preparo dos Corpos de Prova e dos Eluatos 32

4.3.6 Contato das Células com os Eluatos 35

4.3.7 Teste de Citotoxicidade 35

4.4 Avaliação dos Dados e Análise Estatística 39

5. Resultados 40

6. Discussão 43

7. Conclusão 47

Referências 48

13

1 INTRODUÇÃO

O avanço técnico-científico dos instrumentos endodônticos, das técnicas de preparo, das

substâncias irrigantes, dos medicamentos intracanais e dos materiais obturadores, não

conseguiu erradicar os microrganismos presentes no sistema de canais radiculares (SCR), por

vezes, resistentes às substâncias químicas utilizadas durante o preparo químico-mecânico, ou,

devido a complexa morfologia dos condutos radiculares como istmos, foraminas, ramificações,

reentrâncias, canais laterais, acessórios e deltas apicais1,2,3. Essa morfologia pode dificultar a

limpeza correta dos túbulos dentinários possibilitando a permanência do biofilme bacteriano, e

do lipopolissacarídeo bacteriano (LPS), levando o tratamento endodôntico ao fracasso4,5.

Com o principal objetivo de combater os possíveis microrganismos que resistiram a

etapa de preparo do canal, torna-se imperioso a colocação da medicação intracanal no SCR1.

Para isso, essas medicações devem apresentar-se biocompatíveis com os tecidos

perirradiculares uma vez que permanecem em contato direto com o ligamento periodontal,

cemento e, por vezes, com o tecido ósseo, como nos casos de extravasamentos acidentais ou

intencionais.

Como forma de conhecer os possíveis efeitos tóxicos das medicações intracanais,

estudos em animais e testes de citotoxicidade com diversas células do periodonto têm sido

realizados pela comunidade científica6-10.

Apesar das pesquisas demonstrarem que algumas medicações intracanais apresentam

citotoxicidade aos tecidos, dados científicos relacionados a esse assunto ainda podem ser

considerados escassos na literatura3,11. Diante disso, este estudo teve por objetivo avaliar o

efeito citotóxico de medicações intracanais, sobre a viabilidade dos fibroblastos em diferentes

períodos observacionais.

14

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 BIOCOMPATIBILIDADE

A biocompatibilidade é a capacidade que um material possui em causar o mínimo de

reação alérgica, inflamatória e tóxica quando em contato com os tecidos, de modo a não

promover destruição tecidual e nem interferir no processo de cura12.

Dos medicamentos utilizados na prática endodôntica, têm-se exigido que possuam a

propriedade da biocompatibilidade, não sendo carcinogênico e nem genotóxico as células, pois

são colocados no interior dos canais radiculares, próximos aos tecidos periapicais e, por vezes,

em íntimo contato com eles, como nos casos de extravasamentos via forame apical, reabsorções

radiculares e perfurações radiculares13-16.

Os produtos da degradação desses materiais também podem entrar em contato, com as

células existentes nos tecidos perirradiculares, resultando em inflamação, com uma enorme

variedade de mediadores químicos inflamatórios, incluindo, a histamina, as cininas, e

neuropeptídios, que em altos níveis causam destruição tissular e retardam o processo

cicatricial10. Por isso, esses medicamentos devem possuir a capacidade de induzir o reparo na

região lesada sem interferir na osteogênese e cementogênese7,17.

2.2 MEDICAÇÕES INTRACANAIS

As medicações intracanais são substâncias inseridas nos condutos radiculares entre as

sessões do tratamento endodôntico e apresentam alguns objetivos tais como: eliminar os

microrganismos que sobreviveram ao preparo biomecânico, neutralizar endotoxinas, impedir a

entrada de microrganismos provenientes da saliva, diminuir a sintomatologia dolorosa e o

15

processo inflamatório perirradicular, solubilizar matéria orgânica, controlar a reabsorção

dentária inflamatória externa e estimular a reparação por tecido mineralizado13,18-25.

Na prática endodôntica, alguns medicamentos intracanais podem ser utilizados como o

hidróxido de cálcio P.A, o iodofórmio e o Otosporin®2,11,21.

2.2.1 HIDRÓXIDO DE CÁLCIO P.A

O hidróxido de cálcio se apresenta na forma de um pó branco, com partículas de

tamanho e formato que possibilitam a penetração direta nas aberturas dos túbulos dentinários26.

Essa substância apresenta uma série de indicações justificando o seu uso de forma abrangente

na prática endodôntica como em casos que necessitam de capeamento pulpar direto, em

pulpectomias, necropulpectomias sem e com lesão periapical, trauma dental rizogênese

incompleta, reabsorções radiculares e em revascularização13,24,27-30.

A principal característica do hidróxido de cálcio é possuir pH alcalino, com valor de

12,831, proporcionado pela alta disponibilidade dos íons hidroxila (OH-) após a dissociação do

hidróxido de cálcio em íons Ca2+ e OH-, quando em meio aquoso32. O pH alcalino é o

responsável pela propriedade antimicrobiana observada neste medicamento33,34 sendo que os

íons Ca2+ apresentam o papel de auxiliar na formação de tecido mineralizado14,35. Essa

substância ainda expressa a capacidade de dissolver tecido orgânico e de neutralizar a

endotoxina bacteriana21,22,25,36.

O hidróxido de cálcio quando em contato direto com os tecidos subcutâneos induz

reação inflamatória de intensidade moderada a severa sendo observada desnaturação proteica

das células, neutrofilia, área de necrose e calcificações distróficas. Com o passar do tempo o

hidróxido de cálcio induz proliferação angioblástica moderada, tecido fibroso com cápsula e

quantidade moderada de fibras colágenas37-39. Mesmo apresentando essas reações teciduais,

alguns estudos consideram o hidróxido de cálcio biocompatível e não genotóxico40-42 uma vez

que a reação tecidual não causa danos irreparáveis aos tecidos. A biocompatibilidade dessa

substância está relacionada com a sua pouca solubilidade, posto que a liberação e dissolução

dos seus componentes para o meio ocorrem lentamente31.

16

2.2.2 IODOFÓRMIO

O iodofórmio apresenta-se comercialmente na forma de cristais, com coloração amarelo

- brilhante, radiopaco e pouco solúvel em água43,44. É composto por alto teor de iodo que

proporciona a este medicamento grande poder antimicrobiano,45 sendo bastante utilizado em

tratamento endodôntico de dentes decíduos com necrose pulpar, obtendo altos índices de

sucesso46.

O iodofórmio apresenta biocompatibilidade com os tecidos promovendo menor duração

da reação inflamatória quando comparado as outras medicações intracanais, apresentando uma

pequena área de necrose restrita à região da ferida e circundada por infiltrado inflamatório de

intensidade discreta, com predomínio de macrófagos47. No entanto, Moskovitz et al.48 (2012)

observaram que o iodofórmio pode causar irritação nos tecidos ao redor do ápice radicular,

sendo capaz de causar reabsorção radicular externa.

Entretanto, o iodofórmio após o contato com células de osteossarcoma humano, não

promoveu destruição do DNA, apresentando-se como não genotóxico aos tecidos49.

2.2.3 OTOSPORIN®

O Otosporin® é uma associação do corticosteróide hidrocortisona, associada aos

antibióticos sulfato de polimixina B e sulfato de neomicina, destinado inicialmente as infecções

no ouvido, como por exemplo, a otite externa. Entretanto, passou a ser utilizado na Endodontia

pelas suas excelentes propriedades anti-inflamatória, imunossupressora e vasoconstritora,

modulando dessa forma, a intensidade da reação inflamatória provocada pelo ato cirúrgico da

pulpectomia e, consequentemente, eliminando a dor pós-operatória50. Apresenta-se,

comercialmente, em suspensão aquosa, com pH ácido (5,4)51, na cor branca, sendo de fácil

manipulação, inserção e remoção dos condutos radiculares52.

Os antibióticos que compõem o Otosporin® apresentam ação sobre microrganismos

gram-negativos, especialmente Pseudomonas aeruginosa e Escherichia coli, e alguns gram-

17

positivos como os estafilococos53. Entretanto, para neutralizar a endotoxina bacteriana, este

medicamento não demonstrou efetividade54.

Com relação à parte biológica, foi observado que o Otosporin®, como medicação

intracanal, induziu uma resposta inflamatória severa aos tecidos com intenso infiltrado

neutrofílico e abscessos, após 7 dias da realização da pulpectomia em dentes de cães e em

subcutâneo de ratos. Esse resultado deve-se a inativação desta medicação após 72h e a limitação

da atividade anti-inflamatória do Otosporin® à fase aguda da inflamação, sendo pequena a

influência em estágios mais avançados da resposta inflamatória39,55.

2.2.4 VEÍCULOS

Os veículos são substâncias adicionadas ao soluto para a formação do curativo de

demora, cujo o objetivo é facilitar o processo de manipulação e inserção da medicação

intracanal no canal radicular, bem como, também de permitir maior dissociação e difusão dos

seus componentes químicos para o meio53.

Os veículos podem ser: aquosos, tais como água destilada, soro fisiológico e solução

anestésica; viscosos como glicerina, propileno glicol e polietileno glicol; e os oleosos, como

óleo de oliva e cânfora. A escolha desses veículos vai depender do processo patológico pulpar

instalado e da disponibilidade de tempo do paciente, uma vez que ocorre variação na velocidade

de dissociação dos componentes químicos da medicação intracanal com quem os veículos se

associam. Os aquosos proporcionam maior liberação do princípio ativo da medicação

intracanal, enquanto que os viscosos e os oleosos apresentam liberação de íons moderada e

lenta, respectivamente32.

A cânfora passou a ser associada ao paramonoclorofenol com a finalidade de diminuir

seu poder irritante56 e, dessa maneira, poder ser utilizado como veículo ativo nas medicações

intracanais. Sua citotoxicidade também é reduzida quando associado ao hidróxido de cálcio na

pasta hidróxido de cálcio-paramonoclorofenol canforado-glicerina (HPG)57-59. Apesar de ser

um veículo viscoso, algumas pesquisas demonstraram que o paramonoclorofenol canforado

18

(PMCC) permitiu alta disponibilidade de íons da medicação intracanal associada a ele para o

meio32,60.

Essa substância apesar de apresentar propriedade antimicrobiana contra o E. faecalis e

Streptococcus mutans1,61 e de induzir irritação aos tecidos, não possui efeito genotóxico e nem

mutagênico às células teciduais49.

2.3 CULTURA DE CÉLULAS

O método de utilizar células em experimentos laboratoriais foi desenvolvido como

forma de estudar as células animais fora do organismo, em um ambiente controlado, utilizando

um meio de cultura com composição padrão, ambiente de incubação definido, condições de

trabalho estéreis, além de apresentar homogeneidade na amostra quando comparada ao uso de

animais em experimentos6.

A técnica de cultura celular, por ser um experimento in vitro, apresenta algumas

diferenças quando comparada com o modelo in vivo, como, por exemplo, a proliferação celular

que ocorre de forma tridimensional quando nos tecidos, enquanto que no laboratório apresenta

um meio que favorece o espalhamento e migração da célula. Apesar disso, o cultivo celular

tornou-se o principal modelo para substituição de animais em experimentos como forma de

protegê-los e diminuir sua aplicabilidade, sendo incentivado pelos comitês de ética de pesquisa

em animal62.

Dessa forma, a cultura celular também passou a ser utilizada em pesquisas na área da

Odontologia com a finalidade de analisar o processo de cura dos tecidos e os diferentes

mecanismos que causam a morte e/ou dano celular provocados por materiais odontológicos63.

Em uma cultura celular, as células podem ser primárias - quando são oriundas de um

fragmento de tecido e obtidas por desagregação mecânica ou enzimática sendo mantidas suas

características genotípicas e fenotípicas por um curto tempo de vida; contínuas ou permanentes–

são células mais estáveis que sobreviveram ao processo de repicagem apresentando alta

capacidade de proliferação e ainda guardam características do tecido de origem; e, células

19

transformadas – quando as características das células são modificadas deixando de ser

semelhante ao tecido original64.

Diversos tipos celulares tem sido utilizados para a análise de citotoxicidade como

fibroblastos de humanos e de murinos, macrófagos de humanos e de murinos, células-tronco,

odontoblastos, osteoblastos, leucócitos e monócitos9,11,65-70. Essas células são escolhidas a

depender das características biológicas dos materiais que serão testados e do objetivo do

estudo63.

Os fibroblastos são um típico modelo de células utilizados em ensaios de citotoxicidade

devido ao seu rápido e fácil crescimento9. São os maiores constituintes do tecido conjuntivo,

sendo o tipo de célula mais predominante no ligamento periodontal e os maiores produtores de

colágeno, elastina, glicosaminoglicanas e glicoproteínas - componentes da matriz extracelular7.

Dessa maneira, participam de forma intensa da reparação tecidual, migrando para a ferida após

serem ativados pelos fatores quimiotáxicos secretados pelos macrófagos como fator de

crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α).

Multiplicam-se, secretam citocinas (interleucinas e TNF-α) e fatores de crescimento semelhante

à insulina (IGF-I e IGF-II), produzem colágeno tipo III, proteoglicans, fibras elásticas e

colágeno tipo I12.

Para as pesquisas de citotoxicidade, podem ser utilizadas as células de humanos e de

murinos uma vez que apresentam comportamento similar e, por isso, são apropriadas para os

modelos in vitro de testes de viabilidade e proliferação de produtos endodônticos71.

2.4 TESTES DE CITOTOXICIDADE

Os testes de citotoxicidade apresentam algumas vantagens tais como simplicidade,

rapidez, economia e a capacidade de testar um grande número de materiais sob as mesmas

condições quando comparados com outros métodos6.

A análise da citotoxicidade pode ser observada através da viabilidade e proliferação das

células em métodos de ensaio, como o colorimétrico, que utilizam reagentes e corantes para

20

destacar as células facilitando sua contagem, sendo que alguns corantes penetram nas células

mortas e outros, reagem com as células vivas. Diversos reagentes e corantes tem sido citados

na literatura tais como 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio brometo (MTT), 3-(4,5-

dimetiltiazol-2-yl)-5-(3-carboximethoxifenil)-2-(4-sulfofenil)-2H-tetrazolio (MTS), 2-(2-

methoxi-4-nitrofenil)-2H-tetrazolio (WST), sódio 2,3-bis(2-metóxi-4-nitro-5-sulfofenil)-5-

[(fenilamino)-carbonil]-2H-tetrazolio sal interno (XTT), azul de Trypan, cristal violeta, laranja

de acrodinia e vermelho neutro8,11,17,65,72-75.

O ensaio colorimétrico com o reagente MTT vem sendo utilizado frequentemente para

avaliar a citotoxicidade inespecífica de diversos tipos de materiais odontológicos dentre eles

também os endodônticos, por ser um teste padronizado pela International Organization of

Standardization (ISO) 10993-576 (2009), simples, versátil, rápido, confiável, reproduzível e que

não utilizam radioisótopos8,9,77,78.

Mosmann79 (1983) descreveu, com detalhes, esse método que está baseado na

mensuração da atividade mitocondrial através da clivagem do anel do sal tetrazólio pela enzima

succinildesidrogenase existente nas células. Durante essa quebra ocorre a conversão da solução

amarela do MTT em cristais de formazan azuis escuro. Dessa forma, somente células vivas

realizam essa redução enquanto células mortas ou com algum tipo de dano, não conseguem

reagir com a solução.

2.5 PESQUISAS SOBRE CITOTOXICIDADE DE MEDICAÇÕES INTRACANAIS

A literatura é vasta quando se trata de pesquisas científicas sobre citotoxicidade de

materiais endodônticos entretanto, é escassa quando o assunto é citotoxicidade de medicações

intracanais. Nesse ínterim, estão os estudos citados abaixo como os de:

Chang et al.80 (1998) analisaram a citotoxicidade e genoticidade do fenol canforado e o

PMCC em cultura de células fibroblásticas pulpares humanas utilizando o ensaio de

fluorescência com o corante iodeto de propídio, para a análise da viabilidade celular e, o ensaio

de precipitação de DNA, para a análise genotóxica. Os autores utilizaram na pesquisa

concentrações que variaram de 0,01 a 10 mM e, após 24h, foi observado que os dois materiais

21

foram citotóxicos aos fibroblastos, sendo que o PMCC foi mais citotóxico que o fenol canforado

e que nenhum dos dois apresentaram genotoxicidade.

Guigand et al.81 (1999) avaliaram a compatibilidade de três materiais endodônticos:

hidróxido de cálcio, óxido de cálcio e cimento a base de óxido de zinco e eugenol quando em

contato com fibroblastos de murino NIH3T3, através de três técnicas complementares: método

colorimétrico MTT, microscopia eletrônica de varredura e citometria de fluxo. A leitura foi

realizada através do espectrofotômetro com densidade óptica de 570nm, nos períodos

experimentais de 24h, 72h e 7 dias. Os autores observaram que o cimento de óxido de zinco e

eugenol foi o mais citotóxico dos três e, que o óxido de cálcio e o hidróxido de cálcio obtiveram

comportamentos semelhantes. No período de 24h, o hidróxido de cálcio apresentou 97% de

células viáveis, em 72h esse valor diminuiu para 83% e em 7 dias observou-se proliferação

celular comparável ao grupo controle.

Al-Shaher et al.82 (2004) analisaram a toxicidade do hidróxido de cálcio e do própolis

em células da polpa e do ligamento periodontal após serem isoladas de terceiros molares

extraídos. Foram realizadas diluições de 0,2, 0,4, 0,8, 1,2, 2,4mg/ml dos materiais e colocados

em contato com as células por 20h. Após esse período, a análise foi realizada com o corante

cristal violeta utilizando espectrofotômetro num comprimento de onda de 550nm. Os autores

observaram que o hidróxido de cálcio, mesmo em concentrações pequenas como 0,4mg/ml

matou mais de 75% das células do ligamento periodontal e mais de 90% das células da polpa e

concluíram que o hidróxido de cálcio apresentou maior citotoxicidade do que o própolis.

Barnhart et al.83 (2005) mensuraram a citotoxicidade do hipoclorito de sódio, do iodeto

de potássio, dióxido de cloro, dicloridrato de betaistina (Betadine) e solução de hidróxido de

cálcio quando em contato com fibroblastos gengivais humanos por 15 minutos utilizando kit de

ensaio CyQuant. Os autores fizeram algumas diluições tais como 0,01%, 0,1%, 1%, 10% e

observaram que o dicloridrato de betaistina foi o mais citotóxico de todos os materiais testados

e a solução de hidróxido de cálcio foi a que apresentou o maior número de células vivas,

juntamente, com o iodeto de potássio.

Silva et al.84 (2008) avaliaram a citotoxicidade e a atividade da fosfatase alcalina da

pasta de hidróxido de cálcio (Calen) e da associação dessa pasta com a clorexidina a 0,4% na

concentração de 25µg/mL quando em contato com os osteoblastos durante 3, 7 e 10 dias. Para

análise da citotoxicidade foi utilizado o reagente MTT num comprimento de onda de 570nm.

22

Os autores concluíram que não houve diferença significativa entre as pastas testadas nem com

relação a viabilidade e nem na atividade da fosfatase alcalina. Em 7 dias houve um aumento na

viabilidade celular de todas as pastas que foi semelhante com 10 dias.

Barbosa et al.85 (2009) analisaram a citotoxicidade de uma solução saturada de

hidróxido de cálcio, lauril sulfato de sódio e a associação desses dois (HCT20) em quatro

concentrações (5%, 10%, 20% e 50%) sobre células fibroblásticas L929 utilizando o método

do cromo radioativo. Após os períodos experimentais de 4 e 24h, foi observado que todas as

soluções demonstraram algum nível de toxicidade sendo que, na concentração de 50%, a

solução de hidróxido de cálcio foi mais citotóxica, enquanto que nas demais seu comportamento

foi similar ao grupo controle.

Correa et al.67 (2009) avaliaram a citotoxicidade do AH Plus, Fill Canal e de uma pasta

a base de hidróxido de cálcio em monócitos THP-1. Foram realizadas várias diluições a partir

do extrato original (100%) em 10%, 1%, 0,1%, 0,01%, 0,001% e 0,0001% com o próprio meio

de cultura utilizado na metodologia, RPMI 1640. Após 24h em contato com as células, foi

realizado o teste de viabilidade celular utilizando o corante azul de Trypan 0,2% e, observou-

se que o extrato original e a diluição de 10% de todos os produtos testados, diminuíram

significativamente a viabilidade celular, e que diluições abaixo de 1% causaram mínima morte

celular quando comparadas com o controle. Entre os materiais testados, a pasta a base de

hidróxido de cálcio foi a que apresentou a menor citotoxicidade quando em contato com os

monócitos.

Sepet et al.86 (2009) avaliaram a viabilidade, citomorfologia e a proliferação dos

fibroblastos 3T3, quando em contato com as pastas de hidróxido de cálcio e agregado de

trióxido mineral (MTA) no períodos experimentais de 24h, 48h e 7 dias, utilizando o corante

azul de Trypan 0,4% para a análise da viabilidade e o 5-bromo-29-deoxyuridine (BrdU) para a

análise da proliferação celular através da imunohistoquímica. Foi observado que a morfologia

das células não foi alterada com o passar dos períodos de incubação com nenhum dos materiais

analisados e, que o número de células viáveis em contato com o hidróxido de cálcio foi

diminuindo de acordo com os tempos experimentais, porém sem redução significativa. Não

houve proliferação celular quando em contato com nenhum dos dois materiais, apresentando

apenas efeito citostático no período de 24h para o MTA e, 48h para o hidróxido de cálcio.

23

Yasuda et al.3 (2010) investigaram o efeito da pasta de hidróxido de cálcio, do peróxido

de hidrogênio 3%, do hipoclorito de sódio a 5,25%, do etileno de amino tetra acético (EDTA)

a 17%, da clorexidina a 0,12% e da associação entre doxiciclina-ácido cítrico-Tween 80

(BioPure MTAD) na viabilidade, na atividade da fosfatase alcalina e na expressão do gene da

sialoproteína óssea, utilizando células osteobláticas MC3T3-E1 e do ligamento periodontal.

Após 24h de exposição das células às várias concentrações (500-10.000µg/mL) dos materiais

analisados, foi realizado o ensaio com MTT, apresentando baixa porcentagem de células

viáveis, quando em contato com a pasta de hidróxido de cálcio em praticamente, todas as

concentrações analisadas. No que se refere a atividade da fosfatase alcalina e a expressão do

gene da sialoproteína óssea, não foi observado diminuição significativa na atividade, indicando

que pasta de hidróxido de cálcio não interfere na diferenciação e nem no processo de

mineralização das células.

Miura et al.87 (2010) analisaram a toxicidade do hidróxido de cálcio, PMCC,

Otosporin®, formocresol em células-tronco. Foram utilizadas diluições 1:9, 1:27 e 1:81 das

medicações e deixadas em contato por 2 horas com as células. Após esse período, a viabilidade

celular foi analisada utilizando o ensaio colorimétrico MTT e foi observado que o PMCC e o

formocresol apresentaram alta toxicidade próximo a 100% em todas as diluições, o Otosporin®

apresentou baixa citotoxicidade nas maiores diluições e alta citotoxicidade na menor diluição,

enquanto o hidróxido de cálcio demonstrou ser o menos citotóxico em todas as diluições.

Ruparel et al.70 (2012) avaliaram a sobrevivência de células-tronco humana da papila

apical quando em contato com a pasta antibiótica tripla (metronidazol, ciprofloxacino e

minociclina), pasta antibiótica dupla (metronidazol e ciprofloxacino), pasta antibiótica tripla

modificada (metronidazol, ciprofloxacino, cefaclor), amoxicilina com ácido clavulânico

(Augmentin) e pasta de hidróxido de cálcio (Ultracal- Ultradent, South Jordan, UT), nas

concentrações de 100mg/mL até 0,001mg/mL por 3 dias. Para isso, os autores utilizaram o

ensaio com o corante azul de Trypan e concluíram que a pasta de hidróxido de cálcio, em todas

as concentrações, promoveu sobrevivência celular, enquanto que nas demais pastas, isso só

ocorreu nas maiores diluições, a partir da concentração 1mg/mL.

Silva et al.74 (2012) investigaram a citotoxicidade e a atividade gelatinolítica das

enzimas matriz metaloproteínase 2 (MMP-2) e 9 (MMP-9) produzidas pelos fibroblastos 3T3

após a estimulação com cimento de aluminato de cálcio (EndoBinder- Binderware, São Carlos,

24

SP, Brasil), MTA, hidróxido de cálcio P.A por 24h. Para a citotoxicidade, foi utilizado o ensaio

MTT, sendo lido em espectrofotômetro com a densidade óptica de 570nm, e para a mensuração

da atividade gelatinolítica, foi realizado o ensaio de zimografia. Os autores concluíram que o

hidróxido de cálcio P.A. apresentou menor viabilidade celular e maior expressão da atividade

gelatinolítica da MMP-2 quando comparado aos demais materiais testados. Nenhum deles

induziram a atividade gelatinolítica da MMP-9.

O estudo de Petel et al.11 (2013) avaliou a viabilidade dos macrófagos RAW 264,7 e

das células epiteliais RKO quando em contato, direto e indireto, com um material indicado para

tratamento de pulpectomia de dentes decíduos a base de hidróxido de cálcio-iodofórmio-

silicone (Endoflas F.S- Sanlor&Cia, Colombia). Foram produzidos extratos dessa medicação

em várias concentrações (1/1, 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/32, 1/64, 1/128, 1/256, 1/512 e 1/1024) e

colocados em contato com as células por 24h. A viabilidade celular foi testada com o método

colorimétrico XTT e foi observado que em altas concentrações o material reduziu a viabilidade

celular dos macrófagos em 80%, enquanto que para as células epiteliais essa redução foi de

60% possuindo, dessa forma, efeito citotóxico. Em baixas concentrações, o efeito foi

proliferativo.

Yadlapati et al.78 (2013) analisaram a citotoxicidade da pasta antibiótica tripla

(metonidazol, ciprofloxacino, minociclina), da pasta antibiótica dupla (metronidazol e

ciprofloxacino), minociclina e hidróxido de cálcio em pó quando em contato com fibroblastos

do ligamento periodontal humano. Outro objetivo do estudo foi avaliar a habilidade desses

medicamentos em induzir citocinas como interleucina-1α, interleucina-1β, interleucina-6,

interleucina-8, interleucina-10, interleucina-16 e TNF-α dos fibroblastos. Para tal finalidade foi

realizado o ensaio de citotoxicidade multiparamétrico que consiste na análise de três

parâmetros: a respiração mitocondrical com o reagente XTT, a integridade da membrana com

o corante vermelho neutro e a densidade de células através da coloração do DNA com o corante

violeta de cristal. Para a análise das citocinas foi realizado o polymerase chain reaction (PCR).

Após 24h e 48h em contato com os materiais, os autores observaram que o hidróxido de cálcio

apresentou viabilidade maior que 70%, enquanto a pasta antibiótica tripla foi a que possuiu

menor valores de viabilidade celular. Com relação a indução da expressão de interleucinas,

somente na pasta antibiótica tripla foi observado maiores níveis da interleucina-6.

25

Neiva et al.88 (2013) analisaram a toxicidade da polimixina B em células renais com

dosagens de 75mM e 375mM e tempos de contato de 24h, 48h, 72h. A viabilidade celular foi

determinada pela exclusão dos corantes fluorescentes laranja de acrodinia e brometo de etídio

sendo observado em 24h apenas 57% de células viáveis com a dosagem de 75mM e que com

375mM essa viabilidade foi de apenas 41%. Com 72h de contato com a polimixina B, 56% das

células permaneciam viáveis na dosagem mais baixa e 40% na maior dosagem. Esses resultados

sugerem que a polimixina B é dose e tempo dependente.

26

3 PROPOSIÇÃO

3.1 Objetivo Geral

Analisar o grau de citotoxicidade de medicações intracanais sobre as células

fibroblásticas de murino L929.

3.2 Objetivos Específicos

Avaliar e comparar a viabilidade celular de medicações intracanais a base de

hidróxido de cálcio, iodofórmio, Otosporin® e suas associações, nos períodos

experimentais de observação.

Avaliar o tempo em relação a viabilidade celular de cada medicação intracanal.

27

4 METODOLOGIA

4.1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

4.1.1 TIPO DE ESTUDO

Essa pesquisa foi desenvolvida sob o modelo de um estudo analítico, experimental, não

randomizado e quantitativo.

4.1.2 VARIÁVEIS

Esse estudo apresenta duas variáveis independentes: medicação intracanal e tempo

experimental. A variável dependente é o valor da absorbância, medida em unidades de

absorbância.

4.1.3 LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Biologia Molecular do Setor de Patologia do

Hospital Universitário Professor João Cardoso Nascimento Junior, da Universidade Federal de

Sergipe (UFS).

28

4.2 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

Linhagem de células permanentes fibroblásticas de murino L929 - banco de

células do Laboratório de Biologia Molecular do Setor de Patologia do Hospital

Universitário Professor João Cardoso Nascimento Junior, da Universidade

Federal de Sergipe (UFS).

Câmara de fluxo laminar (ClassII Biohazard Cabenet Model 36208,

Labconcorporation, Kansas City, Missouri, EUA)

Criotubos (Global Trade Technology, São Paulo, Brasil)

Tubo tipo Falcon de 15mL e 50mL (Guangzhou Jet Bio-Filtration Products Co.,

Ltda., Guangdong, China)

Dimetilsulfóxido (DMSO) (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, USA)

Centrífuga (Hermll Labortechnik GmbH –Siemensstrasse 25D-78564,

Wehingen, Germany)

Frasco de cultivo de 25cm2, 75cm2 e 150cm2 (Greiner Bio-one, Americana, São

Paulo, Brasil)

RPMI 1640 com L-glutamina (Gibco, Life Technologies Co., Carlsbad, Calif.,

USA)

Soro bovino fetal (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, USA)

Estufa (Estufa CO2 Incubator, Sanyo Scientific electric Co. Ltda., MCO-17AC,

Japão)

Microscópio de fase invertido (Nikon eclipse TS100-F Listed, Japan)

Tripsina a 0,25% (Cultilab Ltda, Campinas, SP, Brasil)

Ácido etilenodiaminotetraacético a 0,05% (Gibco, Life Technologies Co.,

Carlsbad, Calif., USA)

Câmara de Newbauer espelhada 0,0025mm2 (Precicolor HGB, Germany)

Placa de 96 poços com fundo chato e placa de 24 poços (Prolab, São Paulo-SP,

Brasil)

Hidróxido de cálcio (Biodinâmica Química e Farmacêutica LTDA, PR, Brasil)

Iodofórmio (K-dent, Quimidrol, SC, Brasil)

29

Otosporin® (Farmoquímica S/A, RJ, Brasil)

Água destilada (Eurofarma Laboratórios LTDA, SP, Brasil)

Paramonoclofenol canforado (Biodinâmica Química e Farmacêutica LTDA, PR,

Brasil)

Glicerina (Farmácia Única, Aracaju, SE, Brasil)

Placa de vidro

Espátula 24F (SSWhite duflex, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)

Peagâmetro digital (Ion pHB500, Ionlab, Curitiba, PR, Brasil)

Pipetas digitais (Thermo Fisher Scientific, Massachusetts, EUA)

Metiltetrazólio (Sigma, St. Louis, MO, EUA)

Isopropanol acidificado com HCL a 0,04M/l

Agitador de Microplacas (Agitador magnético Agimax- Kasvi, Curitiba, Paraná)

Espectrofotômetro de microplacas (Microplate Spectrophotometer- EpochTM,

Biotek Instruments, Inc., Winooski, Vermont, USA)

4.3 PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS

Toda a metodologia da pesquisa foi realizada de acordo com as normas da International

Organization of Standardization (ISO) 10993-5: 200976, organização que padroniza os testes de

citotoxicidade.

4.3.1 DESCONGELAMENTO DAS CÉLULAS

Os procedimentos realizados nessa pesquisa que necessitavam de ambiente estéril foram

executados dentro da câmara de fluxo laminar. Para o descongelamento das células

fibroblásticas, os criotubos foram colocados em banho-maria a 37ºC por 1 minuto com 5mL de

solução salina estéril com a finalidade de diluir o DMSO, substância utilizada para congelar as

células que em temperatura ambiente é tóxica para elas. Todo esse conteúdo foi vertido para

um tubo estéril tipo Falcon de 15mL e centrifugado a uma temperatura de 4ºC, em 1750 rpm

30

por 10 minuto com o objetivo de separar as células do líquido sobrenadante. Essas foram

aspiradas e ressuspendidas em 2mL de meio de cultura completo - RPMI 1640 com L-glutamina

suplementado com 10% de soro bovino fetal (SBF) e 1% de penicilina (10000UI/mL). Em

seguida, todo o conteúdo do tubo Falcon foi transferido para o frasco de cultivo de células de

25cm2 (50mL) e, com o objetivo de completá-lo, foi adicionado mais 3mL de meio de cultura

completo. As células foram levadas a incubadora em atmosfera úmida a 37°C, com 5% CO2 e

95% de ar, de acordo com Cornélio et al.66 (2011).

4.3.2 CULTIVO DAS CÉLULAS

Os fibroblastos foram cultivados e mantidos em estufa de CO2, e a cada dois dias o meio

de cultura foi renovado para que as células não morressem por falta de nutrientes. O

monitoramento diário do crescimento das células foi realizado utilizando-se microscópio de

fase invertido onde se observou a morfologia e o comportamento dos fibroblastos (aderência e

proliferação). Após a confirmação no microscópio de 80% de confluência (porcentagem de

células que proliferaram na base do frasco de cultura), foi iniciado o subcultivo das células

através de passagens consecutivas de frascos de cultura. Em cada passagem as células aderidas

foram desprendidas da garrafa de cultura por meio de digestão enzimática utilizando 5mL de

tripsina a 0,25% e ácido etilenodiaminotetraacético a 0,05% sendo que, todo o conjunto foi

levado a incubadora a 37°C por 5 minutos89.

Em microscópio invertido de fase, observou-se o desprendimento das células e, então,

inativou-se a tripsina com a adição de 5mL de RPMI 1640 acrescido com 10% de SBF. As

células em suspensão foram transferidas para tubos de ensaio e centrifugadas a 1250rpm, numa

temperatura de 5ºC por 10 minutos. O sobrenadante foi aspirado e os precipitados de células

(pellets) resultantes da centrifugação foram ressuspendidos em 2mL de meio de cultura

completo e depositados em novo frasco de cultura com maior área para que as células pudessem

se multiplicar. Dessa forma, foram realizadas três passagens no total até que se atingisse o

número de células suficientes para o plaqueamento.

31

4.3.3 PLAQUEAMENTO

Nesta fase do experimento, as células foram tripsinizadas e contadas na câmara de

Newbauer para a determinação do número de células existentes no frasco, a fim de proceder-se

a diluição necessária para o plaqueamento em placas de cultura de 96 poços com fundo chato.

A diluição das células foi realizada com RPMI 1640 completo de forma que 100µl dessa

suspensão celular preparada fossem semeadas nos poços contendo 1x105 células/poço. Em

seguida, as placas de 96 poços foram acondicionadas em atmosfera úmida a 37°C com 5% CO2

por 24h para que os fibroblastos pudessem aderir no fundo dos poços89-91.

4.3.4 DIVISÃO DOS GRUPOS EXPERIMENTAIS

As medicações intracanais utilizadas para a análise de citotoxicidade nesta pesquisa

foram hidróxido de cálcio, iodofórmio e Otosporin® e os veículos selecionados para o preparo

das associações foram a água destilada, a glicerina e o paramonoclorofenol canforado, por

serem as medicações intracanais e associações mais utilizadas na clínica endodôntica. Para

facilitar a análise, foram divididas em grupos, como descrito no quadro 1.

32

Quadro 1. Descrição dos grupos e das dosagens das medicações intracanais.

Grupos Componentes Dosagem

HPG Hidróxido de cálcio P.A.

Paramonoclorofenol canforado

Glicerina

1g

100µL

1.2mL

IG Iodofórmio

Glicerina

1.5g

600µL

HC Hidróxido de cálcio P.A.

Água destilada

1g

1.1mL

HCI Hidróxido de cálcio P.A.

Iodofórmio

Água destilada

1.5g

1.5g

1.75mL

IA Iodofórmio

Água destilada

1.5g

600µL

OT Otosporin® 40µL

Controle Meio de cultura

Fibroblastos 100µL

4.3.5 PREPARO DOS CORPOS DE PROVA E DOS ELUATOS

Nessa pesquisa, para a sensibilização das células fibroblásticas, foi selecionado o teste

de contato indireto, no qual eluatos das medicações intracanais testadas foram produzidos a

partir da difusão dos componentes de cada medicação intracanal para o meio de cultura e

colocados em contato com as células fibroblásticas. Não foi realizada nenhuma diluição a partir

dos eluatos originais com a finalidade de simular a rotina da prática clínica endodôntica, em

que diluições não são realizadas74,86.

Para tanto, as medicações em pó foram manipuladas dentro da câmara de fluxo laminar,

sobre placa de vidro estéril com o auxílio da espátula 24F, de acordo com a dosagem acima

descrita, até que fosse obtida a consistência de uma pasta (Figura 1 e 2). Em seguida, os corpos

de prova foram confeccionados, de modo que a forma e o volume fossem padronizados para

todos os grupos. Para isso, as pastas, foram inseridas em tubos de polietileno estéreis com o

diâmetro de 5mm por 2mm de profundidade, enquanto que, o Otosporin® foi armazenado em

tubos de 2mL do tipo eppendorfs estéreis92 .

33

Figura 1. Manipulação da pasta de hidróxido de cálcio-água destilada.

Figura 2. Manipulação da pasta de iodofórmio-glicerina.

34

Todas as medicações foram acondicionadas em uma atmosfera úmida a 37°C com 5%

CO2 durante 24h para que os corpos de provas iniciassem a presa e, facilitassem o processo de

remoção dos tubos de polietileno93. Após esse período, as medicações, ainda dentro dos tubos

de polietileno e dos eppendorfs, foram esterilizadas por meio de radiação ultravioleta por 1h

para evitar qualquer tipo de contaminação68. Para a remoção das medicações do interior dos

tubos de polietileno, foi realizada pressão no êmbolo existente no interior dos próprios tubos.

Somente no caso do Otosporin®, utilizou-se 40µL da substância como corpo de prova, sendo

que essa medida foi obtida a partir do volume do tubo de polietileno, V= πr2h.

Para cada grupo, foram confeccionados três corpos de prova, posicionados no fundo da

placa de cultura de 24 poços. Em seguida, 2mL de meio de cultura RPMI 1640 com L-glutamina

e sem soro bovino fetal e antibiótico foram inseridos nos poços e, todo o conjunto foi

armazenado em atmosfera úmida a 37°C com 5% CO2 por 24h, para que os produtos ativos das

medicações intracanais pudessem se difundir pelo meio de cultura produzindo os eluatos de

cada medicação intracanal8,17 (Figura 3). De cada medicação foi produzido 3 eluatos, inclusive

do grupo controle.

Figura 3. Preparação dos eluatos das medicações intracanais na placa de cultura de 24 poços.

Fonte: UFS,

Controle

HPG IG HC HCI IA OT

35

4.3.6 CONTATO DAS CÉLULAS COM OS ELUATOS

Na placa de cultura de 96 poços onde estavam os fibroblastos aderidos, foi removido

cuidadosamente com pipeta o meio de cultura presente e, 100µL do eluato de cada medicação

testada foi adicionado, em cada poço. Dessa forma, cada eluato preenchia 4 poços da placa de

96 poços onde estavam os fibroblastos, totalizando 12 poços por grupo, incluindo o grupo

controle, que era composto por células e meio de cultura RPMI 1640 sem soro bovino fetal10.

Toda pesquisa foi realizada em quadruplicata de cada eluato em três experimentos

independentes. Em seguida, as placas de cultura foram novamente encubadas em uma atmosfera

úmida a 37°C com 5% CO2 pelos períodos experimentais de 24h, 48h, 72h, 5 e 7dias79,83,86.

4.3.7 TESTE DE CITOTOXICIDADE

A viabilidade das células foi determinada através do método colorimétrico utilizando o

reagente MTT [3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio brometo] com a concentração de

5mg/mL em solução salina de tampão fosfato estéril em todos os períodos experimentais. Deve-

se ressaltar que, o reagente é fotossensível, assim após a sua preparação, os tubos eppendorfs

de 2mL contendo esta solução foram envolvidos em papel alumínio e a câmara de fluxo laminar

permaneceu com a luz apagada durante todo o procedimento de colocação da solução nos

poços.

Em cada período experimental, os eluatos foram cuidadosamente removidos dos poços

e, em cada poço, foram dispensados 20µL da solução reagente de MTT e 180 µL de RPMI 1640

com L-glutamina sem soro bovino fetal e antibiótico (Figura 4). As placas de cultura foram

envolvidas em papel alumínio e encubadas em atmosfera úmida a 37°C com 5% CO2 por 4h10

para que o MTT pudesse ser metabolizado. Após esse período, a solução de MTT foi aspirada

cuidadosamente e desprezada, facilitando a visualização da mudança de coloração no fundo de

cada poço (Figura 5). Essa reação ocorreu porque o sal metiltetrazólio da solução de MTT foi

reduzido pelas enzimas desidrogenases dos fibroblastos, formando cristais de formanzan, que

36

possuem coloração azul escuro. Esses cristais foram dissolvidos adicionando 100µL da solução

de isopropanol acidificado com HCL a 0,04M/l em cada poço e agitando-se a placa de cultura

por 30 min77,94 (Figura 6). A coloração da solução variou do roxo claro até o roxo escuro, de

acordo com a quantidade de cristais de formanzan presentes em cada poço e, consequentemente,

de células viáveis (Figura 7). Quanto mais intensa a cor da solução, menos citotóxica a

substância apresenta-se. Por fim, a leitura das placas de cultura foi realizada no

espectrofotômetro no comprimento de onda de 570nm8,9,75 (Figura 8) e os valores de

absorbância de cada medicação obtidos foram proporcionais a intensidade da coloração de cada

poço.

Figura 4. Placa de cultura de 96 poços contendo células fibroblásticas L929, reagente MTT e

meio de cultura RPMI 1640 sem soro bovino fetal.

OT

IG

Controle

HPG

IA

HC

HCI

37

Figura 5. Remoção da solução de MTT e visualização da coloração azul no fundo dos poços.

.

Figura 6. Aparelho agitador de microplacas com a placa de cultura de 96 poços com isopropanol

acidificado com HCL 0,04M/l.

38

Figura 7. Placa de cultura de 96 poços com cristais de formanzan dissolvidos.

Figura 8. Leitura da placa de cultura de 96 poços no espectrofotômetro.

OT

IG

Controle

HPG

IA

HC

HCI

39

4.4 AVALIAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA

A avaliação da citotoxicidade foi realizada somando os valores de absorbância obtidos

na leitura do espectrofotômetro, calculando a média e o desvio padrão de cada medicação

intracanal testada em cada tempo experimental.

Os dados apresentaram normalidade (P = 0,097) e foram submetidos à Análise de

Variância (ANOVA) de dois fatores, ou seja, “medicação intracanal” e “tempo de avaliação”.

Diante da diferença entre os grupos, os dados foram submetidos ao pós teste de Tukey com nível

de significância de 5%, com o intuito de saber em que grupo estava a diferença. O programa

utilizado para análise estatística foi o Sigmastat 3.5.

40

5 RESULTADOS

A Análise de Variância mostrou efeito significativo de tratamento para os fatores

“medicação intracanal” (P < 0,001) e “tempo de avaliação” (P < 0,001), e para a interação entre

fatores (P < 0,001). As comparações múltiplas foram realizadas com o teste de Tukey (α = 0,05)

e os resultados estão descritos na tabela 1.

Tabela 1. Resultados de citotoxicidade em média (DP) expressa em unidades de absorbância.

Grupos Tempo de Avaliação

24 horas 48 horas 72 horas 5 dias 7 dias

HPG 0,91 (0,08) Ab 1,06 (0,08) Aa 0,93 (0,11) ABb 0,56 (0,10) Bc 0,47 (0,21) Bc

IG 0,81 (0,08) Bb 1,08 (0,14) Aa 0,91 (0,10) Ab 0,67 (0,12)

ABc

0,49 (0,16) Bd

HCI 0,87 (0,07) Ab 1,18 (0,16) Aa 0,82 (0,12) Ab 0,67 (0,14)

ABc

0,51 (0,10) Bd

IA 0,89 (0,07)

ABb

1,07 (0,10) Aa 0,93 (0,10) Ab 0,63 (0,06) Bc 0,44 (0,11) Bd

HC 0,98 (0,11) Ab 1,11 (0,11) Aa 0,79 (0,13) Bc 0,69 (0,09) Bd 0,47 (0,07) Be

OT 0,80 (0,03) Ba 0,85 (0,06) Ba 0,50 (0,16) Cb 0,25 (0,04) Cc 0,22 (0,03) Cc

Controle 1,00 (0,06) Ab 1,19 (0,14) Aa 0,95 (0,11) Ab 0,77 (0,21) Ac 0,65 (0,11) Ac

Letras distintas (maiúscula na vertical, minúscula na horizontal) indicam diferença estatística

significativa (α = 0,05).

Com os resultados obtidos, pode-se observar que em 24h os grupos HPG, HCI, HC

foram semelhantes ao grupo controle, sendo os grupos IG e OT semelhantes entre si e diferentes

do grupo controle, apresentando os menores valores de absorbância neste período. Em 48h,

somente o grupo OT foi diferente do grupo controle apresentando os menores valores de

absorbância. No período de 72h, os grupos IG, HCI e IA foram iguais ao grupo controle sendo

41

os demais grupos diferentes entre si e o grupo controle. Nos tempos experimentais de 5 e 7 dias

todos os grupos apresentaram valores de absorbância diferentes do grupo controle sendo que o

grupo OT foi o que obteve menores valores de absorbância nesses períodos.

Na comparação dos tempos experimentais de cada medicação, pôde-se observar na

figura 9 que para todos os grupos, 48h foi período menos citotóxico. O grupo HPG obteve

comportamento semelhante ao grupo controle com relação a variação da absorbância pelo

tempo e os grupos IG, HCI e IA foram iguais entre si na comparação da influência do tempo.

Para o grupo HC, todos os tempos experimentais foram diferentes entre si, diferenciando do

grupo OT que os valores da absorbância em 24h e 48h foram semelhantes, em 72h foi diferente

dos dois tempos anteriores e em 5 e 7 dias foram os mais citotóxicos, com valores de

absorbância semelhantes entre si.

Figura 9. Relação valores de absorbância x tempos experimentais.

42

Foi observado que houve redução dos valores de absorbância em relação aos tempos

experimentais para todos os grupos, porém no grupo OT obteve-se menores valores de

absorbância durante toda a pesquisa.

43

6 DISCUSSÃO

Os medicamentos intracanais necessitam apresentar biocompatibilidade, pois entram em

contato direto com os tecidos periapicais durante o tratamento endodôntico e, por isso, podem

induzir a morte celular, caso, sejam citotóxicos. Nesse estudo, objetivou-se analisar o efeito

tóxico dos medicamentos intracanais frente aos fibroblastos, principalmente, das pastas

endodônticas a base de iodofórmio, devido à carência de pesquisas sobre citotoxicidade que

envolvem esses materiais.

Quando se prepara o delineamento experimental de estudos de citotoxicidade, o tipo de

célula é um fator importante a ser considerado. Alguns estudos têm utilizado células primárias

que são obtidas a partir do próprio tecido e apresentam tempo de vida curto, enquanto em outros,

células permanentes são utilizadas por apresentarem maior estabilidade, facilidade de

manipulação e cultivo, e altas taxas de proliferação sem que haja alteração no fenótipo

celular3,70. Além disso, as células podem ser adquiridas a partir de humanos ou de murinos,

não havendo diferenças nas respostas obtidas entre elas71. Neste estudo, foi utilizado uma

linhagem de células permanentes de murinos (fibroblastos L929) adquiridas a partir de um

banco de células.

Dentre os tipos celulares existentes, os fibroblastos são as células mais frequentemente

empregadas em experimentos realizados com produtos odontológicos75, principalmente quando

o medicamento a ser testado entrará em contato com o tecido conjuntivo. No presente estudo,

os fibroblastos foram escolhidos, por apresentarem-se em maior número nos tecidos periapicais

e no ligamento periodontal, locais em que as medicações intracanais, ou os produtos

provenientes da sua degradação, exercem seus efeitos10. Essas células, ainda, apresentam a

característica de serem as maiores produtoras de fibras colágenas dos tecidos e, por isso,

participam ativamente do processo de reparação tecidual74.

Nos ensaios de toxicidade utilizando células, as substâncias podem ser colocadas em

contato direto ou indireto com a cultura celular, para sensibilizá-la7. Neste último caso, utiliza-

se os eluatos preparados a partir das medicações analisadas, baseando-se no fato que, quando

colocadas no interior dos condutos radiculares durante a prática clínica, os componentes das

44

medicações são liberados e diluídos nos fluidos tissulares, da mesma forma que ocorre com as

substâncias que se difundem para o meio de cultura durante a preparação dos eluatos em

pesquisas in vitro63. Uma limitação desse estudo está na dificuldade em mensurar a quantidade

de componentes liberados para o meio. Dessa forma, para uma maior semelhança com a clínica,

esse estudo foi realizado de forma indireta, após as medicações intracanais permanecerem em

contato com o meio de cultura, liberando seus componentes e produzindo os eluatos dos

medicamentos analisados.

Na literatura, os estudos com medicamentos intracanais utilizando células apresentam

diversos protocolos para a sua execução, sendo os tempos experimentais um dos parâmetros

que mais apresentam variação. Assim, determinou-se os tempos experimentais de 24h, 48h,

72h, 5 e 7 dias, baseado no uso desses medicamentos na prática clínica e em pesquisas

anteriormente realizadas na literatura que apresentavam o mesmo objetivo81,86.

Alguns tipos de ensaios de citotoxicidade tem sido utilizados no meio científico para

avaliar o potencial tóxico dos materiais endodônticos6,11,65,68. No presente estudo, a viabilidade

celular dos fibroblastos foi determinada pelo ensaio colorimétrico com o reagente MTT. Esse

ensaio, além de ser o mais utilizado em pesquisas com esse objetivo, foi escolhido para essa

pesquisa por ser indicado pela ISO 10993-576 (2009) e por apresentar simplicidade de execução,

rapidez, precisão e possibilidade de ser reproduzido74. Contudo, Yadlapati et al.78(2013)

afirmaram que, a interpretação desse tipo de ensaio deve ser cautelosa, visto que, a avaliação

acontece apenas por um único parâmetro celular, diferentemente do ensaio multiparamétrico

que analisa o metabolismo mitocondrial, a permeabilidade da membrana celular e, a densidade

e presença do DNA, ao mesmo tempo.

Neste estudo, todas as medicações analisadas, em algum momento da pesquisa,

apresentaram menores valores de absorbância que o controle e, consequentemente, menor

viabilidade celular quando comparadas ao grupo controle demonstrando citotoxicidade sobre

os fibroblastos L929. Apesar disso, algumas dessas medicações analisadas, como as

associações hidróxido de cálcio-água destilada e iodofórmio-água destilada mostraram, através

de cortes histológicos, que quando implantadas em tecido subcutâneo de ratos, induziam a

reação inflamatória leve na região seguida de reparação tecidual39,47.

A pasta de hidróxido de cálcio nas primeiras 48h não mostrou-se citotóxica, porém, a

partir de 72h apresentou-se mais citotóxica que o grupo controle. Alguns estudos

corroboram81,86 com esse achado que pode estar relacionado a pouca solubilidade e

45

difusibilidade do hidróxido de cálcio para o meio e, ao aumento do seu pH com o passar dos

dias31,81 em ensaios laboratoriais. Alto pH promove desnaturação enzimática e destruição da

membrana celular, levando a célula à morte74. Entretanto, alguns autores discordaram desses

achados demonstrando que o hidróxido de cálcio apresentou alta citotoxicidade em 24h e

proliferação celular em 7 dias de contato com as células 3,67,70,81,85. Essa discrepância pode estar

relacionada a diversidade de etapas dos protocolos existentes entre as pesquisas.

O PMCC livre de associação com outras substâncias tem demonstrado ser extremamente

citotóxico56,87. Entretanto, trabalhos experimentais em modelo animal demonstraram que

quando o PMCC é associado ao hidróxido de cálcio e a glicerina na pasta HPG, essa toxicidade

é reduzida a níveis compatíveis com os tecidos,40,41,59 não apresentando nem genotoxicidade e

nem mutagenicidade58. Altos valores de absorbância da pasta HPG também foi observada no

presente estudo e pode ser creditada a pequena concentração de PMCC liberado para os tecidos,

visto que, quando associado ao hidróxido de cálcio, o PMCC produz um sal pouco solúvel, o

paramonoclorofenolato de cálcio, que libera lentamente o paramonoclorofenol e os íons Ca2+ e

OH- para o meio, não apresentando toxicidade ao tecidos57. Além disso, essa pasta ainda

apresenta em sua composição a glicerina que é um veículo viscoso, que permite lenta

dissociação e difusão dos íons para o meio32.

A medicação iodofórmio-glicerina, no período de 24h, foi uma das medicações mais

citotóxicas quando comparadas ao controle. Resultados semelhantes foram encontrados por

Petel et al.11 (2013), no qual uma substância à base de iodofórmio e outros compostos,

apresentou baixa viabilidade celular de macrófagos e células epiteliais.

Neste estudo observou-se que o tempo influenciou na viabilidade celular, demonstrando

que todas as medicações intracanais apresentaram-se mais citotóxicas aos fibroblastos com o

passar dos tempos experimentais. Deve ser ressaltado que o Otosporin® demonstrou ser a

medicação intracanal mais citotóxica durante toda a pesquisa. Essa toxicidade foi observada

por Miura et al.87 (2010) na maior concentração utilizada por esses autores em sua pesquisa.

Uma justificativa para isso pode estar no antibiótico polimixina B, presente no Otosporin®, que

atua diretamente na membrana citoplasmática comprometendo as propriedades osmótica e os

mecanismos de transporte da membrana celular, levando a morte da célula. Sua ação não

apresenta seletividade e por isso, a polimixina B age também em células de humanos, uma vez

que a composição da membrana plasmática desta é semelhante as das bactérias88.

46

Dessa maneira, mais testes in vitro e in vivo necessitam ser realizados para definir se as

diferentes associações de medicamentos intracanais são biocompatíveis com os tecidos

perirradicular de forma que possam continuar sendo utilizados na terapia endodôntica.

47

7 CONCLUSÃO

Diante da metodologia utilizada, conclui-se que todas as medicações intracanais

apresentaram comportamento similar ao grupo controle na maior parte da pesquisa, porém com

5 e 7 dias apresentaram-se mais citotóxica que o grupo controle. O Otosporin® demonstrou ser

a medicação intracanal mais citotóxica em todos os tempos experimentais. Pôde-se observar

também que o tempo influenciou no aumento da citotoxicidade de todas as medicações

intracanais analisadas.

48

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