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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
INGRID MARIA NOVAIS BARROS DE CARVALHO COSTA
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Aracaju 2012
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INGRID MARIA NOVAIS BARROS DE CARVALHO COSTA
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do Grau de Mestre em Ciências da Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Umberto Pereira Co-orientadora: Profª Dra. Danielle Góes da Silva
Aracaju 2012
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INGRID MARIA NOVAIS BARROS DE CARVALHO COSTA
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde.
Aprovada em: _____/_____/_____
_____________________________________________________ Orientador: Profº. Dr. Carlos Umberto Pereira
_____________________________________________________ 1ª Examinadora: Profª. Dra. Rosana Cipolotti
____________________________________________________ 2ª Examinadora: Profª. Dra. Raquel Simões Mendes Netto
PARECER
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Dedico este trabalho:
A todas as crianças que participaram desse
estudo, sempre transmitindo seu
encantamento e sabedoria, independente da
condição clínica.
Às minhas filhas, Victória e Nathália, por
representarem a minha principal fonte de
inspiração e alegria. Pelo sorriso acolhedor
nos momentos mais difícies na execução
deste trabalho. Amo vocês!!
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo Dom da Vida, e por me dar forças e ser o meu guia diante das
adversidades para chegar até aqui.
Aos meus pais, Adair e Genésio, em especial minha mãe. Pelo exemplo de vida,
pelo amor e ensinamentos que me fizeram capaz de alcançar esta vitória.
Ao meu esposo Antônio Wilson, cuja paciência, apoio, dedicação e amor foram
imprescindíveis para esta conquista.
Aos meus irmãos e sobrinhos, em especial ao meu sobrinho Luigi, que tem me
ensinado como é bom viver e que vale a pena lutar por mais difícil que as coisas
possam parecer.
Ao meu orientador, Profº Dr. Carlos Umberto Pereira, pela confiança depositada em
mim para a realização deste trabalho.
À minha co-orientadora, Profª Dra. Danielle Góes da Silva, pela disponibilidade,
confiança, ensinamentos e, principalmente, amizade construída durante a execução
deste trabalho.
Às minhas companheiras de mestrado Cecília Passos, Daniela Teles e Juliana
Teixeira. Que saudade dos momentos compartilhados em sala de aula!
Às acadêmicas do curso de Nutrição, hoje colegas de profissão, Camilla Valeriano,
Carina Castelo Branco, Nayara Azevedo e Valdete Kaliane Calisto, pelo auxílio na
coleta de dados para a realização desta pesquisa. A Nayara Azevedo, pelo apoio na
construção do banco de dados.
A todos que fazem parte do Laboratório do Hospital Universitário (UFS) e a Mônica
Costa, representante do Laboratório Álvaro (PR), que viabilizaram a realização de
todas as coletas sanguíneas e leituras da parte bioquímica desta pesquisa.
Aos professores examinadores das bancas de qualificação e defesa, pela
disponibilidade e sugestões para melhoria deste trabalho.
A minha cunhada Aída Carla, pela disponibilidade na correção ortográfica desta
pesquisa, mesmo diante de nossa vida tão corrida.
Às amigas Márcia Cândido e Doriane Lacerdas, pelo apoio e sofrimento
compartilhado em busca de objetivos comuns.
Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização
deste trabalho.
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"É durante as fases de maior adversidade que
surgem as grandes oportunidades de se fazer o
bem a si mesmo e aos outros" (Dalai Lama).
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RESUMO
Perfil nutricional de crianças com hidrocefalia. Ingrid Maria Novais Barros de Carvalho Costa. Aracaju, 2012.
A hidrocefalia é uma patologia complexa que pode apresentar diversas manifestações clínicas com comprometimento no crescimento e desenvolvimento. Os riscos de complicações como processos infecciosos e comprometimento do sistema imunológico podem apresentar-se acentuados na presença de desequilíbrios nutricionais. Porém, são escassos os estudos avaliando o estado nutricional e desequilíbrios nutricionais em crianças com hidrocefalia. Objetivo: Descrever o perfil nutricional de crianças com hidrocefalia. Métodos: Trata-se de um
estudo transversal, desenvolvido no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário no Estado de Sergipe, no período de agosto de 2010 a maio de 2011. Foram coletados dados referentes às condições sócio-econômicas, de saúde, antropometria, exames laboratoriais e consumo alimentar. Resultados: Os
resultados demonstraram que das 35 crianças estudadas, 17,1% apresentaram baixo peso, 31,4% quadro de desnutrição com comprometimento do crescimento linear, 40,0% anemia e 37,2% níveis abaixo da referência para pré-albumina. O consumo de energia, lipídios, cálcio, ácido fólico, vitamina D e vitamina E revelou-se insuficiente. O padrão qualitativo do consumo dietético é monótono, apresentando-se acima das recomendações para os grupos dos laticínios e açúcares/doces. Foi encontrada uma diferença significativa para vacinas atrasadas (p=0,000), índice de massa corporal/Idade (IMC/I) (p=0,022), hemoglobina (p=0,031), hematócrito (p=0,011) e pré-albumina (p=0,024) na faixa etária de seis a 24 meses. Excesso de peso estava presente nas crianças de 25 a 76 meses. O consumo dietético apresentou diferença significativa entre as faixas etárias para valor energético (p=0,002), cálcio (p=0,005), ácido fólico (p=0,015), vitamina D (p=0,011), vitamina E (p=0,005), grupo dos cereais (p=0,002) e grupo das carnes e ovos (p=0,033), sendo detectado que o comprometimento dietético estava concentrado nas crianças de 25 a 76 meses. Havia inadequação de consumo do grupo das carnes e ovos também nas crianças de seis a 24 meses. Conclusões: A desnutrição com repercussão no
peso, nos níveis de pré-albumina e anemia estava presente nas crianças de seis a 24 meses. O consumo alimentar inadequado foi característica marcante nas crianças de 25 a 76 meses. Dessa forma, torna-se imprescindível o acompanhamento multidisciplinar contínuo nas crianças com hidrocefalia. Palavras-chave: consumo alimentar; crianças; estado nutricional; hidrocefalia.
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ABSTRACT
Nutritional profile of children with hydrocephalus. Ingrid Maria Novais Barros de Carvalho Costa. Aracaju, 2012.
Hydrocephalus is a complex disease that can present many clinical manifestations compromising the growth and development of the child. Complication risks as infectious processes and impairment of the immune system can be attenuated in presence of nutritional deficiencies. However, studies about nutritional state and nutritional deficiencies of children with hydrocephalus are rare. Objective: To describe the nutritional profile of children with hydrocephalus. Methods: This is a cross-sectional, was developed at Neurosurgery Ambulatory of the University Hospital in Sergipe from August 2010 to May 2011. The data collected refer to social-economic, health, anthropometry, lab exams and food consumption conditions. Results: the results showed that from the 35 children studied, 17,1% were low weight, 31,4% malnourished with impairment of linear growth, 40,0% anemia, 37,2% presented low levels of pre-albumin. The consumption of energy, lipids, calcium, folic acid, vitamin D and vitamin E showed insufficient. The qualitative profile of dietary consumption is monotonous showing a over recommendation value of dairy and sweets/sugars. There was a significant difference for delayed vaccines (p=0,000), BMI/age (p=0,022), hemoglobin (p=0,031), haematocrit (p=0,011) and pre-albumin (p=0,024) in age from six and 24 months. The diet consumption showed a significant difference among age groups for the energetic value (p=0,002), calcium (p=0.005), folate (p=0.015), vitamin D (p=0.011), vitamin E (p=0.005), cereal group (p=0.002) and group of meat and eggs (p=0.033), were detected that the diet impairment was concentrated in children 25-76 months. There was inadequate intake of the group of meat and eggs too in children six and 24 months. Conclusions: Malnutrition affecting the weight, the levels of pre-albumin and anemia was present in children six to 24 months. The inadequate food consumption was striking feature in children 25-76 months. Thus, it is essential to the continuous multidisciplinary follow-up children with hydrocephalus. Key-words: children; food consumption; hydrocephalus; nutritional state.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Classificação do estado nutricional..........................................................31
Quadro 2. Valores dos parâmetros laboratoriais para normalidade..........................32
Quadro 3. Equações para estimar os requerimentos energéticos por faixa etária e
gênero........................................................................................................................33
Quadro 4. Limites percentuais da Variação da Distribuição Aceitável de
Macronutrientes por faixa etária.................................................................................34
Quadro 5. Valores diários de Ingestão Média Estimada de minerais por faixa
etária...........................................................................................................................34
Quadro 6. Valores diários de Ingestão Média Estimada de vitaminas por faixa
etária...........................................................................................................................34
Quadro 7. Recomendações das porções dos grupos alimentares de acordo com os
guias alimentares por faixa etária...............................................................................35
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da
Organização Mundial de Saúde para o Índice de Peso para Idade...........................42
Figura 2. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da
Organização Mundial de Saúde para o Índice de Altura para Idade..........................42
Figura 3. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da
Organização Mundial de Saúde para o Índice de Massa Corporal para Idade..........43
Figura 4. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da
Organização Mundial de Saúde para o Índice de Perímetro Cefálico para Idade.....44
Figura 5. Adequação do consumo de energia, macro e micronutrientes na amostra
estudada.....................................................................................................................47
Figura 6. Adequação do consumo dos grupos alimentares na amostra
estudada.....................................................................................................................49
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Condições sócio-econômicas de crianças com hidrocefalia atendidas no
Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de
Sergipe, 2011.............................................................................................................38
Tabela 2. Condição gestacional e história de nascimento das crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.....................................................................39
Tabela 3. Frequência absoluta e relativa da história da hidrocefalia em crianças
atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade
Federal de Sergipe, 2011...........................................................................................40
Tabela 4. Frequência absoluta e relativa da história de saúde em crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.....................................................................41
Tabela 5. Frequência absoluta e relativa do estado nutricional em crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.....................................................................45
Tabela 6. Proporção de inadequações dos indicadores bioquímicos do estado
nutricional de crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do
Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011...............................46
Tabela 7. Frequência absoluta e relativa de inadequação no consumo de nutrientes
em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011...........................................48
11
Tabela 8. Avaliação da adequação do consumo dos grupos de alimentos, segundo
os guias alimentares, em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de
Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe,
2011............................................................................................................................50
Tabela 9. Frequência absoluta e relativa de diversas variáveis segundo a faixa etária
em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011...........................................52
Tabela 10. Frequência absoluta e relativa da adequação do consumo dietético
segundo a faixa etária em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de
Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe,
2011............................................................................................................................53
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A Altura
AI Adequate Intakes
AIG Adequada para Idade Gestacional
A/I Altura para Idade
AMDR Acceptable Macronutrient Distribution Ranges
ASPEN American Society for Parenteral and Enteral Nutrition
CAISM Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
DEP Desnutrição Energético-Protéica
DF Distrito Federal
DRI’s Dietary Reference Intakes
DTN Defeito do Tubo Neural
DVA Derivação Ventrículo-Atrial
DVP Derivação Ventrículo-Peritoneal
EAR Estimated Average Requirements
g Gramas
GIG Grande para Idade Gestacional
Hb Hemoglobina
HCT Hematócrito
HU Hospital Universitário
IMC/I Índice de Massa Corporal para Idade
LCR Líquido Cefalorraquidiano
MS Ministério da Saúde
NEE’s Necessidades Estimadas de Energia
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
P Peso
PAISM Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
PB Perímetro do Braço
PB/I Perímetro do Braço para Idade
PC Perímetro Cefálico
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PC/I Perímetro Cefálico para Idade
PCSE Prega Cutânea Subescapular
PCSE/I Prega Cutânea Subescapular para Idade
PCT Prega Cutânea do Tríceps
PCT/I Prega Cutânea Tricipital para Idade
PIG Pequena para idade gestacional
P/I Peso para Idade
PNDS Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
R24h Recordatório de 24 horas
RMN Ressonância Magnética Nuclear
SM Salário Mínimo
SNC Sistema Nervoso Central
SPSS Statistical Package for Social Science
UFS Universidade Federal de Sergipe
UNICAMP Universidade de Campinas
US Ultra-Sonografia
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................16
2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................18
2.1 Definição de Hidrocefalia..................................................................................18
2.2 Epidemiologia da Hidrocefalia..........................................................................18
2.3 Etiologia, Classificação e Manifestações Clínicas da Hidrocefalia...................19
2.4 Diagnóstico e Tratamento da Hidrocefalia.......................................................21
2.5 Consequências, Complicações e Prognóstico em Hidrocefalia.......................22
2.6 Desnutrição e Outras Carências Nutricionais em Crianças e na Hidrocefalia..24
3 OBJETIVOS..........................................................................................................28
3.1 Objetivo Geral...................................................................................................28
3.2 Objetivos Específicos.......................................................................................28
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS....................................................................................29
4.1 Delineamento da Pesquisa...............................................................................29
4.2 Amostra............................................................................................................29
4.3 Coleta de Dados...............................................................................................29
4.3.1 Questionário de Caracterização da Amostra...........................................30
4.3.2 Estado Nutricional...................................................................................30
4.3.2.1 Avaliação Antropométrica............................................................30
4.3.2.2 Parâmetros Bioquímicos.............................................................31
4.3.2.3 Investigação Dietética.................................................................32
4.4 Análise Estatística............................................................................................35
4.5 Aspectos Éticos................................................................................................36
5 RESULTADOS........................................................................................................37
5.1 Caracterização e Condições Sócio-Econômicas..............................................37
5.2 Condições Gestacionais e de Nascimento.......................................................38
5.3 História Clínica.................................................................................................39
5.4 Dados Antropométricos....................................................................................41
5.5 Dados Bioquímicos...........................................................................................45
5.6 Dados Dietéticos..............................................................................................46
5.7 Associações entre as Variáveis........................................................................51
6 DISCUSSÃO...........................................................................................................54
15
7 CONCLUSÕES.......................................................................................................65
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................66
ANEXOS E APÊNDICES...........................................................................................74
ANEXO A...................................................................................................................75
APÊNDICE A.............................................................................................................76
APÊNDICE B.............................................................................................................77
APÊNDICE C.............................................................................................................95
APÊNDICE D.............................................................................................................99
16
1 INTRODUÇÃO
A hidrocefalia é uma patologia complexa, caracterizada pelo alargamento
ventricular secundário ao desequilíbrio entre a formação e a absorção do líquido
cefalorraquidiano (LCR), resultando em dilatação ventricular progressiva
(CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003; LOPES; MACHADO; LACHAT; 2003). Constitui a
neuropatologia mais comum em neurocirurgia pediátrica, causando inúmeros danos
cerebrais, principalmente nas estruturas ao redor dos ventrículos (LOPES;
MACHADO; LACHAT, 2003).
A hidrocefalia é mais frequente em crianças e resulta de patologia congênita ou
processo patológico adquirido, incluindo desenvolvimento de anomalias, neoplasias
e condições traumáticas ou inflamatórias (JAIN et al., 2007). A hidrocefalia é dita
congênita quando diagnosticada durante o pré-natal, ao nascimento, ou logo após o
nascimento (CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003).
Do ponto de vista clínico e morfológico, a hidrocefalia pode estar isolada ou
associada a outros defeitos congênitos. As isoladas podem ser decorrentes ou estar
associadas a malformações do Sistema Nervoso Central (SNC), ou ainda a
infecções congênitas (toxoplasmose). Dentre as hidrocefalias associadas a outros
defeitos congênitos, encontram-se os casos clínicos com malformações múltiplas e
sem definição clínico-etiológica (polimalformados verdadeiros) e aqueles associados
a síndromes dismórficas (CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003).
A incidência mundial da hidrocefalia é de 0,3 a 1,0/1.000 nascimentos
(SCHRANDER-STUMPEL; FRYNS, 1998). No Brasil, um estudo realizado por
Cavalcanti e Salomão (2003) detectou uma incidência de hidrocefalia quase cinco
vezes maior - 3,16/1.000. A prevalência da hidrocefalia congênita no Brasil,
apresenta números que variam de 0,5 a 2,5/1000 nascidos vivos (VIEIRA;
CAVALCANTI; LOPES, 2004). Em Sergipe, o banco de dados do Datasus não
apresenta dados oficiais de prevalência, incidência, consultas e cirurgias de crianças
com hidrocefalia. A literatura referencia que quanto mais precoce o diagnóstico e o
tratamento, melhor o prognóstico das crianças com hidrocefalia (GRILLO; SILVA,
2003).
Desde a década de 50, um sistema de válvulas para drenagem do LCR tem sido
utilizado como tratamento cirúrgico para a hidrocefalia. Apesar da evolução
17
tecnológica das válvulas e técnicas cirúrgicas, o tratamento da hidrocefalia ainda
apresenta resultados insatisfatórios. A maior complicação desse tipo de tratamento
está relacionada às infecções e disfunções mecânicas das válvulas que podem
causar graves complicações (BRAGA et al., 2009) e influenciar a morbidade e
mortalidade dos pacientes (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005). As infecções e o
estado febril acarretam aumento do requerimento energético com consequente
aumento da glicólise e lipólise, alterando o metabolismo de carboidratos, lipídeos,
proteínas, níveis de micronutrientes e balanço eletrolítico (OLIVEIRA et al., 2005).
Dessa forma, esse quadro associado aos frequentes episódios de vômitos e
alterações de paladar nos pacientes com hidrocefalia pode auxiliar para o
desenvolvimento de um amplo número de pacientes com desnutrição (JAIN et al.,
2007).
É reconhecido na literatura o sinergismo entre desnutrição e infecção, ocorrendo
uma potencialização dos dois processos. A desnutrição compromete o sistema
imunológico, permitindo a instalação de outros processos infecciosos e, por outro
lado, as infecções reiteradas comprometem o estado nutricional, tornando-se um
círculo vicioso (OLIVEIRA et al., 2005).
As crianças com hidrocefalia necessitam passar por procedimentos cirúrgicos
para a implantação das válvulas que acabam tornando a sua rotina diferente das
crianças sem tal condição. Duarte (2007) refere que todo procedimento cirúrgico
também leva a uma resposta fisiológica de hipercatabolismo, em que o estado
nutricional adequado pode exercer influência para um melhor prognóstico e evolução
clínica do paciente. A desnutrição energético-protéica (DEP) intra-hospitalar continua
a ser um problema significativo em pacientes cirúrgicos (JAIN et al., 2007;
WAITZBERG; CAIAFFA; CORREIA, 2001). Jain et al. (2007), ao avaliarem pacientes
hospitalizados com hidrocefalia para a implantação de válvulas liquóricas,
verificaram uma melhor evolução clínica nos pacientes com adequado estado
nutricional.
Diante do que foi exposto, e considerando a escassez de estudos relacionando o
consumo alimentar e o estado nutricional no quadro clínico de crianças com
hidrocefalia, principalmente na literatura nacional, acredita-se que conhecer o perfil
nutricional de crianças com hidrocefalia irá contribuir com medidas preventivas
nesse grupo com grandes especificidades.
18
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Definição de Hidrocefalia
A hidrocefalia consiste em uma condição clínica marcada pelo excessivo
acúmulo de líquido cefalorraquidiano (LCR) nos ventrículos cerebrais e nos espaços
subaracnoideanos, resultando em dilatação ventricular progressiva e aumento da
pressão intracraniana (JACKSON, 1990; RIZVI; ANJUM, 2005; VENKATARAMANA;
MUKUNDAN, 2011). É mais frequente em crianças e resulta de patologia congênita
ou como consequência de processo patológico adquirido, tais como:
desenvolvimento de anomalias, neoplasias e condições traumáticas ou inflamatórias
(JAIN et al., 2007).
A hidrocefalia congênita é uma das condições mais comuns em neurocirurgia
pediátrica (VENKATARAMANA; MUKUNDAN, 2011), tratando-se da expressão
clínica de algum defeito primário, de caráter obstrutivo, na maioria das vezes, e de
etiologia heterogênea. Seu diagnóstico pode ser feito a partir do segundo trimestre
de gestação, através de avaliações do tamanho do átrio ventricular e de sua relação
com o plexo coróide (CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003; VIEIRA; CAVALCANTI;
LOPES, 2004).
2.2 Epidemiologia da Hidrocefalia
A hidrocefalia na infância, congênita ou adquirida, representa grande problema
médico e social (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005). A prevalência da hidrocefalia
ocorre em 0,82/1000 nascimentos vivos (VIEIRA; CAVALCANTI; LOPES, 2004). A
incidência geral de hidrocefalia pode ser tão alta como 2/1000 nascimentos. A
incidência de hidrocefalia, excluindo a associada com mielomeningocele, é estimada
ser 0,5 a 1/1000 nascimentos com a estenose dos ductos aquosos responsável por,
aproximadamente, um terço dos casos. A incidência de mielomeningocele varia
drasticamente de região para região. Nos Estados Unidos (EUA), a incidência é de
aproximadamente 1/1000 nascimentos. Dessas crianças, 80% irão desenvolver
hidrocefalia durante o primeiro ano de vida, como resultado de uma malformação do
19
Arnold – Chiari II da via subaracnóidea ou como um resultado associado de
estenose dos ductos aquosos (JACKSON, 1990).
A prevalência da hidrocefalia congênita ocorre em diferentes populações,
estando presente em números que variam de 0,5 a 2,5/1000 nascidos vivos. A
incidência no Brasil, por sua vez, foi relatada apresentando uma variação de 0,4 a
0,8/1000 nascimentos, entre nativivos e natimortos (VIEIRA; CAVALCANTI; LOPES,
2004). Esses números apresentaram crescimento considerável no trabalho
apresentado por Venkataramana e Mukundan (2011), onde a incidência da
hidrocefalia congênita na Índia variou de 0,9 a 2,9/1000 nascimentos.
Em estudo realizado por Cavalcanti e Salomão (2003), na Maternidade do Centro
de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), na UNICAMP, observou-se que a
incidência de defeitos congênitos foi de 5,7%; e a de hidrocefalia foi de 3,1/1.000
nascimentos. Dos 111 casos de hidrocefalia, 38 eram de hidrocefalia isolada, 23 de
hidrocefalia associada à infecção congênita, 16 associados a síndromes dismórficas
e 34 casos de polimalformados.
2.3 Etiologia, Classificação e Manifestações Clínicas da Hidrocefalia
O LCR é formado nos plexos coróides, epêndima e parênquima, porém a maior
parte é produzida pelos plexos coróides dos ventrículos laterais. O volume produzido
é de 0,35 a 0,40 ml/minutos, equivalente a 500 ml/dia, sendo o mesmo volume na
população adulta e infantil. O LCR realiza a circulação descrita a seguir: ventrículos
laterais – forâmen intraventricular de Monro – terceiro ventrículo – aqueduto de
Sylvius – quarto ventrículo – forâmen de Luschka e Magendie – espaço
subaracnóideo e medula espinhal (RIZVI; ANJUM, 2005).
A fisiopatologia da hidrocefalia está relacionada a três possibilidades:
- Desordem de produção do LCR, sendo a forma mais rara de hidrocefalia e
decorrente de papilomas ou carcinomas dos plexos coróides que podem secretar
LCR em excesso;
- Desordem na circulação do LCR com a hidrocefalia resultando dessa obstrução
que pode ocorrer nos ventrículos ou espaços aracnóides. Os tumores, hemorragias,
malformações congênitas e infecções podem causar obstrução em qualquer ponto
da circulação. Os processos obstrutivos são os mais frequentes.
20
- Desordens da absorção do LCR que acaba por acumular-se, uma vez que
apresenta produção dentro da normalidade. Condição como a síndrome da veia
cava superior pode interferir nessa absorção (RIZVI; ANJUM, 2005).
A hidrocefalia pode ser classificada em congênita ou adquirida (CAVALCANTI;
SALOMÃO, 2003; JUCÁ et al., 2002; VENKATARAMANA; MUKUNDAN, 2011;
VIEIRA; CAVALCANTI; LOPES, 2004). A hidrocefalia congênita pode ser causada
por questões ambientais ou ser de origem genética (SALOMÃO, 2000). As três
principais formas da hidrocefalia congênita são: a estenose de aqueduto de Sylvius
(43%), a hidrocefalia comunicante (38%) e a síndrome de Dandy-Walker. Em 37%
dos casos, a hidrocefalia está associada a outras malformações intracranianas
(hipoplasia do corpo caloso, encefaloceles e cistos aracnóides) (HORTÊNCIO et al.,
2001).
Em trabalho realizado por Jucá et al. (2002), as etiologias congênita e adquirida
apresentaram incidência semelhante, 46% para cada uma, com 8% de etiologias
indeterminadas. Dentro das causas congênitas, destacam-se as malformações
complexas com 53%, incluindo a mielomeningocele (associada à malformação de
Chiari II), com 36% dos casos, a malformação de Dandy-Walker e a esquizencefalia.
A estenose do aqueduto foi responsável por 12% dos casos de origem congênita,
havendo ainda 8% para cistos e 6% para hidranencefalia. Na hidrocefalia adquirida,
a maior porcentagem relacionou-se à prematuridade extrema, principalmente devido
à hemorragia intraventricular em encéfalos imaturos. Em seguida, apareceu a
meningite, com 24%, e os tumores intracranianos, com 16%. Houve ainda 7% de
incidência atribuída à ventriculite e 5% a infecções, como toxoplasmose, rubéola e
citomegalovirose.
A hidrocefalia também pode ser classificada em obstrutiva (não-comunicante) e
não-obstrutiva (comunicante). Na hidrocefalia comunicante, não há bloqueio no
sistema ventricular e a causa mais comum nesse grupo é a hidrocefalia pós–
infecção e pós-hemorrágica. Na hidrocefalia não-comunicante, ocorre obstrução do
LCR dos ventrículos para os espaços subaracnóideos. A causa mais comum dessa
categoria é o bloqueio do aqueduto de Sylvius (PEREIRA, 2005; RIZVI; ANJUM,
2005).
Dentre as anomalias congênitas do SNC, os defeitos do tubo neural (DTN) e as
hidrocefalias são as mais frequentes, mesmo que não estejam associadas. A
21
literatura refere que a causa mais comum dos DTN’s está associada à carência
alimentar de ácido fólico durante a gestação (GRILLO; SILVA, 2003).
Embora os sinais e sintomas de hidrocefalia possam ser bastante variados pelas
causas específicas da condição, existem manifestações clinicas comuns associadas
com aumento da pressão intracraniana. Se a acumulação do LCR ocorre
lentamente, a criança ou bebê poderão ser assintomáticos até a hidrocefalia estar
muito avançada. Dilatação significativa do ventrículo pode ocorrer antes de o
crescimento anormal da cabeça ser aparente. Fontanelas abauladas, veias
superficiais proeminentes, vômitos, irritabilidade podem ser observados antes de
mudanças dramáticas serem notadas no perímetro cefálico (JACKSON, 1990).
O quadro da hidrocefalia congênita pode ser composto por diversas
manifestações clínicas e de forma variável, podendo ser descrito desde um retardo
mental leve até hidrocefalia grave, resultando em morte perinatal
(VENKATARAMANA; MUKUNDAN, 2011). Podem ser visualizados também
polegares aduzidos, paraplegia espástica, baixa estatura, lordose lombar acentuada
e intensificação dos reflexos tendinosos profundos nos membros inferiores,
(CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003; VIEIRA; CAVALCANTI; LOPES, 2004).
Na criança mais velha, com estrutura craniana fundida, o desenvolvimento de
hidrocefalia pode resultar em sintomas não específicos de dor de cabeça, náusea,
vômitos e mudanças na personalidade, incluindo irritabilidade, letargia, menor
interesse nas atividades diárias normais e incontinência urinária e fecal. Essas
crianças, frequentemente, reclamam de problemas de visão com o aumento da
pressão intracraniana. Alternações no crescimento, desenvolvimento sexual e
desequilíbrio eletrolítico e de fluidos podem ocorrer se houver aumento da pressão
no hipotálamo (JACKSON, 1990).
2.4 Diagnóstico e Tratamento da Hidrocefalia
O diagnóstico de hidrocefalia inicia-se pela anamnese com investigação da
história familiar e de prematuridade, podendo ocorrer durante o pré-natal, após o
parto e em período pós-natal. Em relação aos exames complementares, pode ser
realizada a ultra-sonografia (US) gestacional pré-natal. Os recém-nascidos podem
ser submetidos a US transfontanela e à tomografia computadorizada de crânio e a
22
ressonância magnética nuclear (RMN). O exame do cariótipo, por cordocentese, ou
pós-natal, também pode ser realizado (MACHADO, 1990; SALOMÃO, 2000).
O tratamento clínico (acetazolamida, furosemida e isosorbide) dirigido à
diminuição da produção de LCR não tem sido muito eficiente, principalmente nos
casos de hidrocefalia congênita causada por estenose do aqueduto de Sylvius,
sendo necessário o tratamento cirúrgico para a instalação de derivações liquóricas e
drenagem do LCR (MACHADO, 1990).
A utilização de válvulas para drenagem liquórica representou grande avanço,
com acentuada diminuição da mortalidade e morbidade em crianças com
hidrocefalia. Atualmente, a derivação ventrículo-peritoneal (DVP) é empregada na
grande maioria dos casos de hidrocefalia infantil. Outra via de drenagem, como a
derivação ventrículo-atrial (DVA), é utilizada quando o peritônio não tem condições
de participar da drenagem liquórica (JUCÁ et al., 2002; KLIEMANN; ROSEMBERG,
2005).
Procedimentos de derivação liquórica representam um gasto para o serviço
nacional de saúde dos EUA em torno de 100 milhões de dólares por ano. O custo do
tratamento da hidrocefalia varia conforme os índices de complicações do sistema de
derivação, os quais influenciam a duração das hospitalizações, os custos das
cirurgias e uso de medicamentos (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005).
Em crianças com válvula ventrículo-atrial, a possibilidade de endocardite
bacteriana como uma complicação não deve ser desconsiderada. A incidência de
complicações cardíacas que ocorrem em crianças com válvulas atriais é razão
central de que o uso de válvula peritoneal é mais comum (JACKSON, 1990).
2.5 Consequências, Complicações e Prognóstico em Hidrocefalia
Existem relatos de que um atraso excessivo (>1 mês) na inserção da válvula
após o diagnóstico parece resultar em maiores chances de comprometimento
neurológico, com prejuízo na fala, linguagem e, possivelmente, na audição
(HEINSBERGEN et al., 2002).
As consequências das hidrocefalias congênitas não associadas aos DTN também
são variáveis e dependem diretamente da doença que as gerou e do momento de
sua instalação na fase intra-uterina. Seus portadores têm uma qualidade de vida
comprometida que está associada às suas complicações e incapacidades,
23
apresentando repercussões à família e custos elevados para a sociedade (GRILLO;
SILVA, 2003).
As infecções e as disfunções mecânicas das válvulas constituem as principais
complicações do procedimento cirúrgico em hidrocefalia. As complicações
mecânicas têm sido relatadas com frequência entre 30% e 60%, principalmente nos
primeiros dois anos pós-derivação. O índice de infecção da válvula varia entre 2% e
15%, com grande influência sobre a morbidade e qualidade de vida dos pacientes e
com risco de mortalidade entre 30% e 40% (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005;
MAUER et al., 2008).
Lima, Pereira e Silva (2007), avaliando o índice de infecção em pacientes
submetidos à DVP, detectaram a ocorrência de taxa de infecção cirúrgica de 27,6%
por procedimento e de 32% por pacientes. As manifestações clínicas mais comuns
foram: febre, convulsões, irritabilidade, alteração do nível de consciência, dor
abdominal, hiperemia no trajeto do catéter, dor no local da inserção do catéter e
secreção no sítio cirúrgico.
A literatura evidencia que complicações operatórias são mais comuns em
pediatria que em adultos (KULKARNI; DRAKE; LAMBERTI-PASCULLI, 2001). As
infecções bacterianas apresentam-se como a complicação mais devastadora no
primeiro grupo. Em um estudo avaliando fatores preditores de mortalidade em
pacientes pediátricos com implantação de DVP’s, detectou-se um efeito
estatisticamente significativo entre infecção de válvulas e sobrevivência dos
pacientes, estando a taxa de infecção em torno de 10,9% (TULI et al., 2004). Em
estudo realizado por Turgut et al. (2005), as infecções de válvulas foram
responsáveis por 8% das mortes em crianças com válvula para drenagem do LCR.
Mauer et al. (2008) detectaram em seu trabalho uma taxa de infecção de 6,8% em
pacientes submetidos a procedimento cirúrgico para implantação da DVP.
Jucá et al. (2002) observaram em seu trabalho que as principais complicações
foram as de natureza mecânica relacionadas à drenagem do LCR, ocorrendo em
36% dos casos durante o tempo de seguimento. As complicações infecciosas
(ventriculite) vieram a seguir, ocorrendo em 15% das vezes. A hidrocefalia constitui
morbidade de extrema importância para a neurocirurgia, devido, principalmente, a
três fatores: a grande gama de doenças à qual pode associar-se; a quantidade de
procedimentos cirúrgicos dentro do volume total da especialidade; e as sequelas às
quais o paciente está sujeito.
24
O prognóstico das crianças com hidrocefalia permanece com risco aumentado
para morbidade e mortalidade precoce, mesmo depois de anos de excelente
progresso e função da válvula (JACKSON, 1990).
Na hidrocefalia congênita, o prognóstico, geralmente, é grave quando o crânio
apresenta-se com grande volume na época do parto. Nos casos avançados, há
desproporção craniofacial, protrusão da região frontal, certo grau de exoftalmia,
couro cabeludo adelgaçado, com dilatação das veias superficiais do couro cabeludo
(MACHADO, 1990).
2.6 Desnutrição e Outras Carências Nutricionais em Crianças e na Hidrocefalia
A desnutrição é uma doença de natureza clínico-social multifatorial cujas raízes
encontram-se na pobreza. A desnutrição grave acomete todos os órgãos da criança,
tornando-se crônica, e pode começar precocemente na vida intra-uterina ou na
infância. A desnutrição pode ser decorrente da interrupção precoce do aleitamento
materno exclusivo e introdução inadequada da alimentação complementar nos
primeiros dois anos de vida, com maior repercussão quando associada à privação
alimentar ao longo da vida e à ocorrência de repetidos episódios de doenças
infecciosas (diarréias e respiratórias). Outros fatores de risco na gênese da
desnutrição incluem problemas sócio-econômicos, precário conhecimento das mães
sobre os cuidados com a criança pequena (alimentação, higiene e saúde) e o fraco
vínculo mãe e filho (BRASIL, 2005).
O estado nutricional exerce influência decisiva nos riscos de morbimortalidade e
no crescimento e desenvolvimento infantil, o que torna importante uma avaliação
nutricional mediante procedimentos diagnósticos que possibilitem precisar a
magnitude, o comportamento e os determinantes dos agravos nutricionais, assim
como identificar os grupos de risco e as intervenções adequadas (ASSIS;
BARRETO, 2000; MARTINO et al, 2010).
A DEP refere-se a uma classe de distúrbios clínicos que resulta de várias
combinações e graus de deficiência de nutrientes, contribuindo de forma significativa
para uma maior morbimortalidade (BRASIL, 2010; FERREIRA; FRANÇA, 2002). A
DEP pode ocorrer devido a uma oferta alimentar insuficiente em energia, macro e
micronutrientes (a chamada desnutrição de causa primária), ou ainda ser resultado
da desnutrição secundária, caracterizada pelo inadequado aproveitamento funcional
25
e biológico dos nutrientes disponíveis ou da elevação do gasto energético, na
presença de doenças associadas (BRASIL, 2010; MONTE, 2000).
Nas últimas décadas, houve expressiva redução na prevalência da DEP em
crianças menores de cinco anos no mundo com aumento no sobrepeso e na
obesidade (MONTEIRO, et al., 2010; ONIS; FRONGILLO; BLOSSNER, 2000). No
Brasil, esse fenômeno também vem ocorrendo, sendo caracterizado o processo
chamado de transição nutricional (BATISTA-FILHO; RISSIN, 2003), que apresenta
mudanças no padrão dietético e de atividade que conduziram para um aumento de
peso, de sobrepeso e obesidade (BRASIL, 2010; MONTEIRO, et al., 2010).
Entretanto, ainda existem indicadores antropométricos compatíveis com DEP no
Brasil, sendo o déficit de altura para idade a forma mais comum de desnutrição no
país nas crianças até cinco anos (BRASIL, 2008; BRASIL, 2010).
A análise dos dados antropométricos na Pesquisa de Orçamentos Familiares de
2008/2009 – POF 2008/2009 (BRASIL, 2010) indica que a desnutrição de altura para
idade esteve presente em 6,0% das crianças nos primeiros cinco anos de vida,
representando ainda problema de grande relevância para a saúde pública no Brasil.
Verificou-se que no Nordeste, o percentual (5,9%) de inadequação segue a média
nacional.
Outros estudos têm evidenciado que a baixa estatura representa o desvio
nutricional mais prevalente em crianças pré-escolares em nível nacional. Esses
resultados foram encontrados no trabalho de Martino et al. (2010), apresentando
déficit nutricional em 20,5% das crianças e de 8,6% no trabalho de Barroso, Sichieri
e Salles-Costa (2008).
A avaliação do consumo alimentar pode ser utilizada como indicador indireto do
estado nutricional, podendo evidenciar situações de risco alimentar e nutricional. A
investigação dietética serve de subsídio para realizar intervenções nutricionais com
modificações nos hábitos alimentares e definição de estratégias para políticas
públicas de saúde (COLE, 2004; MARCHIONI; SLATER; FISBERG, 2004).
As carências nutricionais, em especial a DEP, a anemia ferropriva, a deficiência
de vitamina A, ácido fólico e zinco, representam os principais problemas de saúde
infantil, sendo prevalentes mundialmente, em especial em crianças de áreas de
baixa renda (LUTTER, 2008). O crescimento dessas condições tem sido
reconhecido como altamente dependente de energia, proteína e micronutrientes
(ASSIS; BARRETO, 2000; BRASIL, 2010).
26
A anemia pode ser definida como um estado em que a concentração de
hemoglobina (Hb) e/ou hematócrito (HCT) no sangue está anormalmente baixa
(WHO, 2001), em consequência da carência de um ou mais nutrientes, como folatos,
proteínas, vitamina A, vitamina B12, cobre e, principalmente, ferro (WHO, 2001;
KONSTANTYNER; OLIVEIRA; TADDEI, 2012), sendo importante a definição de
estratégias de promoção à saúde e educação nutricional para melhorar a saúde
infantil (KONSTANTYNER; OLIVEIRA; TADDEI, 2012; KOUNNAVONG et al., 2011).
A anemia por deficiência de ferro é, frequentemente, determinada pela ingestão
deficiente de alimentos ricos em ferro ou pela inadequada utilização orgânica (WHO,
2001). No Brasil, essa anemia pode atingir de 40 a 50% das crianças abaixo de
cinco anos (BATISTA-FILHO, 2004) e associa-se ao retardo no desenvolvimento
neuropsicomotor, comprometimento da imunidade celular e diminuição da
capacidade intelectual (FUDENBERG, 2009). No trabalho realizado por
Konstantyner, Oliveira e Taddei (2012), foi estimada uma prevalência de anemia
leve em 25,9% das crianças e de 9,9% com anemia moderada.
Em geral, crianças de seis meses a cinco anos de idade são consideradas como
grupo mais vulnerável à anemia por deficiência de ferro (DALLMAN; SIIMES;
STEKEL, 1980; WHO, 2001; KONSTANTYNER; OLIVEIRA; TADDEI, 2012). Por ser
a anemia um fator de risco associado com um aumento de morbidade e mortalidade
em crianças, o reconhecimento pontual da anemia, o tratamento e o
acompanhamento do individuo são cruciais para evitar complicações (WHO, 2001;
KONSTANTYNER; OLIVEIRA; TADDEI, 2012).
Em crianças com hidrocefalia, o estresse biológico decorrente da condição clínica
(vômitos, alteração no paladar, processos infecciosos crônicos), em associação ao
crescimento e desenvolvimento acelerado nessa fase da vida, pode desencadear
quadros de desnutrição com maiores implicações (FALCAO; TANNURI, 2002).
A literatura evidencia que pacientes com hidrocefalia e baixa estatura, se não
compatível com a estatura familiar, indicam retardo no crescimento, sendo
importante um diagnóstico precoce para a realização de tratamento em qualquer
uma dessas condições (JACKSON, 1990).
Ao considerar que pacientes com hidrocefalia são submetidos a procedimentos
cirúrgicos com maior frequência quando comparadas com crianças sem tal condição,
e que cirurgias aumentam o estado catabólico de pacientes com depleção
nutricional, torna-se importante o acompanhamento precoce para conhecer a
27
resposta metabólica desses pacientes e seus requerimentos nutricionais com a
finalidade de reduzir possíveis complicações (JAIN et al., 2007).
Apesar da redução expressiva da prevalência de DEP, os índices de letalidade
por desnutrição grave em tratamento hospitalar permanecem elevados (SARNIL et
al., 2005; SARNIL et al., 2009). Por meio de estudo na pediatria de dez hospitais
universitários ou de ensino de quatro regiões geográficas do país, foi possível
verificar que 56,7% das crianças foram diagnosticadas como desnutridas. A
avaliação nutricional mostrou que 16,3% e 30,0% das crianças à admissão, bem
como 15,4% e 34,4% na alta, foram classificadas como portadoras de desnutrição
moderada/grave e baixa estatura, respectivamente. As crianças desnutridas
apresentaram maior necessidade de terapia nutricional por sonda, reposição de
polivitamínicos, oligoelementos e ferro (SARNIL et al., 2009).
O estado nutricional exerce grande influência no curso de uma patologia, sendo
que os pacientes cirúrgicos e com estado nutricional adequado tendem a recuperar-
se mais rápido. A desnutrição em pacientes submetidos à cirurgia pode resultar em
reduzida atividade do sistema imunológico, em exagerada resposta ao estresse,
disfunção do sistema orgânico, dificuldade de cicatrização de feridas e recuperação
funcional demorada. Dessa forma, a relação entre o estado nutricional deficiente e
um mau prognóstico pós-operatório é bem reconhecida na literatura cirúrgica
(BRUUN et al., 1999; JAIN et al., 2007; VALENTE; CORSO, 1992).
Em estudo realizado por Jain et al. (2007), com o objetivo de determinar a
prevalência de desnutrição no pré-cirúrgico para implantação das válvulas liquóricas
e sua influência no resultado e permanência hospitalar em pacientes (infantil e
adulto) com hidrocefalia, detectou-se que 53,4% dos pacientes eram desnutridos. Os
pacientes desnutridos apresentaram uma incidência significativamente maior de
infecção da válvula (desnutridos = 28% e eutróficos = 7,4%), de taxa de mortalidade
(desnutridos = 28% e eutróficos = 4.4%) e de permanência hospitalar quando
comparados com pacientes eutróficos, sendo importante ressaltar que quanto maior
era o déficit nutricional, maiores foram os riscos de morbidade e mortalidade nesses
pacientes. Os resultados desse estudo claramente sugerem que a desnutrição
exerce influência adversa nos resultados clínicos de pacientes com hidrocefalia.
28
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Descrever o perfil nutricional de crianças com hidrocefalia em atendimento
ambulatorial.
3.2 Objetivos Específicos
1. Identificar as condições sócio-econômicas e de saúde de crianças com
hidrocefalia, considerados fatores determinantes de risco nutricional;
2. Avaliar o estado nutricional de crianças com hidrocefalia, por meio de medidas
antropométricas, indicadores laboratoriais e consumo dietético;
3. Analisar a frequência de inadequação no consumo de nutrientes em crianças com
hidrocefalia;
4. Avaliar o consumo dos grupos alimentares em crianças com hidrocefalia;
5. Avaliar as diferenças das variáveis sócio-econômicas, de saúde, do estado
nutricional e consumo alimentar entre as faixas etárias.
29
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1 Delineamento da Pesquisa
Trata-se de um estudo transversal desenvolvido no Ambulatório de Neurocirurgia
do Hospital Universitário (HU). O HU é uma instituição com característica de
hospital-escola, sendo considerada a única referência no momento de realização da
pesquisa para a assistência ambulatorial aos pacientes com hidrocefalia no estado
de Sergipe.
4.2 Amostra
A amostra foi constituída por 35 crianças de ambos os gêneros e faixa etária de
seis a 76 meses e com diagnóstico clínico de hidrocefalia. Foram avaliadas todas as
crianças em acompanhamento no ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário no período de agosto de 2010 a maio de 2011.
4.3 Coleta de Dados
O acompanhamento de crianças com hidrocefalia é realizado periodicamente no
ambulatório de Neurocirurgia do HU. No momento em que as crianças vinham para
as consultas foi informado aos pais/responsáveis sobre a finalidade de realização
desta pesquisa e solicitada a autorização para a participação das crianças. Em
seguida, os pais/responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice A).
A coleta de dados deu-se em três fases:
1ª fase – Aplicação do questionário para caracterização da amostra, aplicação do
primeiro inquérito alimentar (recordatório de 24 horas – R24h), realização das
medidas antropométricas (peso - P, altura - A, perímetro cefálico - PC, perímetro do
braço - PB, prega cutânea do tríceps – PCT e prega cutânea subescapular - PCSE)
e solicitação dos exames laboratoriais (albumina sérica, transferrina, pré-albumina e
hemograma completo);
30
2ª fase – Coleta de sangue por um técnico de laboratório do HU para a realização
dos exames laboratoriais na semana posterior à primeira fase;
3ª fase – Aplicação do segundo inquérito alimentar (R24h) e entrega do resultado
dos exames laboratoriais.
Os dados foram coletados pela pesquisadora, auxiliada por acadêmicas do curso
de Nutrição, previamente treinadas para a coleta. O treinamento, seguindo o Manual
de Capacitação para Coleta de Dados (Apêndice B), teve o objetivo de padronização
na abordagem e coleta de todos os parâmetros que foram estudados.
4.3.1 Questionário de Caracterização da Amostra
Os dados foram coletados através de questionário (Apêndice C) aplicado sob a
forma de entrevista semi-estruturada, com perguntas abertas e fechadas, sendo
investigados:
a) idade, gênero, procedência, peso ao nascer, comprimento ao nascer, idade
gestacional;
b) história de morbidades e internações anteriores (infecções respiratórias,
gastrintestinais, desnutrição, cardiopatias, pneumopatias e nefropatias); história
vacinal e amamentação;
c) história social familiar: renda familiar e per capita, escolaridade materna e paterna,
ocupação.
4.3.2 Estado Nutricional
4.3.2.1 Avaliação Antropométrica
Para a mensuração de todas as medidas antropométricas, utilizou-se a técnica
descrita no Manual de Capacitação para Coleta de Dados (Apêndice B), conforme
estabelecido por Brasil (2004).
Foram coletadas as medidas de P, A, PC, PB, PCT e PCSE em duas repetições,
sendo realizada a média.
Foi calculado o escore Z dos índices: peso para idade (P/I), altura para idade
(A/I), índice de massa corporal para idade (IMC/I), perímetro cefálico para idade
(PC/I), perímetro do braço para idade (PB/I), prega cutânea tricipital para idade
31
(PCT/I) e prega cutânea subescapular para idade (PCSE/I). Os cálculos dos índices
foram realizados com o auxílio do software Anthro – 2006, versão 2.02 (WHO, 2006)
para as crianças entre seis meses e 59 meses; e do software Anthro Plus – 2007
(WHO, 2007) para as crianças de 60 meses a 76 meses.
Para classificação dos índices antropométricos, foram utilizadas as referências
antropométricas para gênero e idade da Organização Mundial de Saúde – OMS
(WHO, 2006; WHO, 2007). As crianças com idade superior a 60 meses não tiveram
suas medidas de PB, PC, PCT e PCSE inseridas na base de cálculos em
decorrência da inexistência de valores de referência da OMS para esses
parâmetros.
No Quadro 1 podem ser visualizados os pontos de corte adotados para a
classificação do estado nutricional das crianças.
Quadro 1. Classificação do estado nutricional
PONTOS DE CORTE DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL
Escore Z < -2 Déficit nutricional
Escore Z ≥ -2 a < -1 Risco para déficit nutricional
Escore Z ≥ -1 a ≤ +1 Eutrófico
Escore Z > +1 a ≤ +2 Risco de excesso
Escore Z > +2 Excesso
Fonte: WHO (2006); WHO (2007)
4.3.2.2 Parâmetros Bioquímicos
Os indicadores do estado nutricional avaliados foram hemoglobina, albumina,
pré-albumina e transferrina. A coleta de sangue foi realizada por técnico no
laboratório do HU na semana posterior à avaliação antropométrica, com as crianças
em jejum de, no mínimo, seis horas, o qual coletava um volume de dez ml de cada
criança. Os parâmetros laboratoriais foram avaliados pelos métodos a seguir:
albumina sérica (método: Púrpura de Bomocresol modificado), transferrina (método:
Turbidimetria, aparelho: Dimension RXL e tecnologia: Siemens), pré-albumina
(método: Nefelometria, aparelho: Nefelômetro BN II e tecnologia: Siemens) e
hemograma completo (método: automatizado por impedância, estudo morfológico
quando necessário, aparelho: Pentra 80 e tecnologia: Horiba ABX). A leitura da
albumina sérica, da transferrina e do hemograma completo era realizada no
32
laboratório do próprio HU. A amostra sanguínea para a leitura da pré-albumina era
encaminhada para o Laboratório Álvaro – Centro de Análises e Pesquisas Clínicas,
no Município de Cascavel, Estado do Paraná. As amostras para pré-albumina eram
armazenadas e transportadas em temperatura de refrigeração, e os resultados eram
obtidos em até 48 horas após a coleta. Os pontos de corte utilizados foram descritos
no Quadro 2.
Quadro 2. Valores dos parâmetros laboratoriais para normalidade
Parâmetros 6 meses a 59 meses 60 meses a 76 meses
Hemoglobina (Hb)* > 11,0 g/dl > 11,50 g/dl
Hematócrito (HCT)* > 0,33 ou 33 % > 0,34 ou 34%.
Transferrina** 200,00 a 360,00 mg/dl 200,00 a 360,00 mg/dl
Albumina*** 3,4 a 5,20 g/dl 3,4 a 5,20 g/dl
Pré-albumina** 0,20 a 0,40 g/l 0,20 a 0,40 g/l
* WHO (2001)
** American Society for Parenteral and Enteral Nutrition – ASPEN (1998)
*** Blackburn, Bistriam e Maini (1977)
4.3.2.3 Investigação Dietética
Para avaliação dietética, foi utilizado o método do Recordatório 24 horas - R24h,
aplicado em dois dias não consecutivos e intervalo mínimo de 30 dias (Apêndice D)
(FISBERG; SLATER; MARTINI, 2005; VASCONCELOS, 2003). Esse método
consiste em definir e quantificar todos os alimentos e bebidas ingeridos no período
anterior à entrevista, podendo ser às 24 horas precedentes ou, mais comumente, o
dia anterior (GIBSON, 1990).
Durante a investigação, para minimizar as fontes de erro (viés de memória,
tamanho de medidas caseiras e estimação das porções), foi associado ao método o
uso de um álbum composto de fotografias de alimentos, utensílios e medidas-padrão
como recurso para auxiliar o entrevistado a recordar a porção do alimento servido à
criança e aumentar a confiabilidade das informações fornecidas (ZABOTTO, 1996).
Após registro em medidas caseiras, os alimentos foram transformados em
porções em gramas ou mililitros para subsequente análise de energia, macro e
micronutrientes. Os cálculos para quantificar o consumo de energia, proteína,
carboidrato, lipídio, ferro, zinco, cálcio, ácido fólico, vitaminas A, C, D e E foram
realizados com o auxílio do software Dietwin Profissional, versão 3.0. (2002),
33
acrescido de informações que foram alimentadas no banco de dados do referido
programa, utilizando a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (UNICAMP,
2006) e a Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras
(PINHEIRO, 2009) e informações de rótulos de alimentos.
A variabilidade diária do consumo alimentar depende da variação real dos
alimentos consumidos pelos indivíduos devido à diversificação, heterogeneidade e
flutuações da alimentação diária. Os indivíduos, por sua vez, possuem
características intrínsecas diferentes que os impulsionam a selecionar alimentos
distintos (SLATER; MARCHIONI; FISBERG, 2004). Por isso, foi realizado o cálculo
estatístico conforme modelo de Willet (1998) sobre o consumo alimentar das
crianças desta pesquisa para correção das variabilidades intrapessoal, interpessoal
e energia.
Para avaliar se o consumo energético das crianças estava adequado, foram
calculadas as Necessidades Estimadas de Energia (NEE’s) de forma individual pelas
equações das Dietary Reference Intakes – DRI’s (IOM, 2006) descritas no Quadro 3.
Quadro 3. Equações para estimar os requerimentos energéticos por faixa etária e
gênero.
FAIXA
ETÁRIA
EQUAÇÃO
4 – 6 meses (89 x peso [kg] – 100) + 56
7 – 12 meses (89 x peso [kg] – 100) + 22
13 – 35 meses (89 x peso [kg] – 100) + 20
3 – 8 anos 88,5 – (61,9 x idade [anos]) + NAF x (26,7 x peso [kg] + 903 x altura [m]) + 20
Meninos
3 – 8 anos 135,3 – (30,8 x idade [anos]) + NAF x (10,0 x peso [kg] + 934 x altura [m]) + 20
Meninas
Nível de Atividade Física (NAF): Meninos 3 – 8 anos = 1,13; Meninas 3 – 8 anos = 1,16 Fonte: DRI’s (IOM, 2006)
Foram calculados os percentuais de adequação do consumo de macronutrientes,
de acordo com as faixas de valores da Acceptable Macronutrient Distribution Ranges
(Variação da Distribuição Aceitável de Macronutrientes) (AMDR) - DRI’s (IOM, 2006)
(Quadro 4).
34
Quadro 4. Limites percentuais da Variação da Distribuição Aceitável de
Macronutrientes por faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
AMDR%
Carboidratos Proteínas Lipídeos
6 – 11 meses - - -
1 – 3 anos 45 a 65 5 a 20 30 a 40
4 – 8 anos 45 a 65 10 a 30 25 a 35
Fonte: AMDR - DRI’s (IOM, 2006)
Como não existem valores percentuais da AMDR determinados para a faixa
etária de seis a 11 meses, essas crianças foram excluídas das análises e não
tiveram seus valores percentuais classificados para macronutrientes.
A avaliação da adequação dietética para micronutrientes foi realizada com base
nas Estimated Average Requirements (Ingestão Média Estimada - EAR) e Adequate
Intakes (Ingestão Adequada - AI) - DRI’s (IOM, 2006; IOM, 2011), sendo utilizados
os valores visualizados nos Quadros 5 e 6.
Quadro 5. Valores diários de Ingestão Média Estimada de minerais por faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
CÁLCIO (mg) FERRO (mg) ZINCO (mg)
6 – 11 meses 260* 6,9 2,5
1 – 3 anos 500 3,0 2,5
4 – 8 anos 800 4,1 4,0
* Ingestão Adequada (AI) Fonte: IOM (2006, 2011)
Quadro 6. Valores diários de Ingestão Média Estimada de vitaminas por faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
ÁCIDO FÓLICO
(µg)
VITAMINA C
(mg)
VITAMINA A
(µg)
VITAMINA D
(µg)
VITAMINA E
(mg)
6 – 11 meses 80* 50* 500* 10* 5*
1 – 3 anos 120 13 210 10 5
4 – 8 anos 160 22 275 10 6
* Ingestão Adequada (AI) Fonte: IOM (2006, 2011)
Para a avaliação do consumo de alimentos por grupos, estes foram distribuídos
em oito grupos alimentares de acordo com a pirâmide alimentar infantil, descrita a
seguir: 1 - cereais (arroz, farinha, batata e massas); 2 - leites e produtos lácteos; 3 -
35
leguminosas (feijões); 4 - carnes (bovina, suína, peixes e aves) e ovos; 5 – frutas; 6
– hortaliças; 7 - óleos e gorduras (margarina e manteiga); e 8 – açúcares e doces
(mel, açúcares, guloseimas e refrigerantes) (PHILIPPI; CRUZ; COLUCCI, 2003).
Realizou-se, então, o somatório do valor energético dos alimentos de cada grupo
para dimensionar as porções consumidas, utilizando as recomendações da
Sociedade Brasileira de Pediatria (2006), a qual estima a quantidade de uma porção
do grupo de alimento a partir do conteúdo de energia dos alimentos pertencentes a
cada grupo por faixa etária. As porções foram comparadas com as recomendações
de consumo da pirâmide alimentar para crianças de seis a 23 meses da
Organização Pan-Americana de Saúde/Ministério da Saúde – OPAS/MS (2002),
pirâmide alimentar para crianças de dois a três anos (PHILIPPI; CRUZ; COLUCCI,
2003) e pirâmide alimentar para pré-escolares (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
PEDIATRIA, 2006) (Quadro 7).
Quadro 7. Recomendações das porções dos grupos alimentares de acordo com os
guias alimentares por faixa etária.
Grupos alimentares < 2 anos* 2 a 3 anos** 4 a 6 anos***
Cereais 3 a 5 5 6
Leites e derivados 3 3 2
Leguminosas 1 1 1
Carnes e ovos 2 2 2
Frutas 3 a 4 3 4
Hortaliças 3 3 4
Óleos e gorduras 2 1 1
Açúcares e doces 1 1 2
*Recomendações da Organização Pan-Americana de Saúde/Ministério da Saúde, 2002 ** Recomendações de Philippi, Cruz e Colucci, 2003 *** Recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, 2006
4.4 Análise Estatística
Realizou-se a análise descritiva para caracterizar a população, sendo calculados
os valores médios, medianas e desvio-padrão para as variáveis contínuas. As
frequências das variáveis categóricas foram descritas pelos valores absolutos e
relativos.
36
Para análise dos dados, as crianças foram subdivididas em dois grupos de
acordo com a faixa etária: Grupo I – crianças de seis a 24 meses (Lactentes) e
Grupo II – crianças de 25 a 76 meses (Pré-escolares).
Com a finalidade de verificar se as variáveis contínuas apresentavam distribuição
normal, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk. Para a comparação das variáveis
contínuas entre os grupos, foi utilizado o teste U de Mann-Whitney ou Análise de
Variância (ANOVA), quando pertinente (CALLEGARI-JACQUES, 2004).
A associação entre os grupos e as variáveis categóricas foi verificada por meio
do Teste Exato de Fisher ou Teste Qui-Quadrado de Pearson.
As análises estatísticas foram realizadas através do software Statistical Package
for Social Science (SPSS), versão 17. Para todas as análises, adotou-se como nível
de significância estatístico o valor de p inferior a 0,05 ou 5%.
4.5 Aspectos Éticos
O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
envolvendo seres humanos da Universidade Federal de Sergipe – CEP/UFS para
apreciação, sendo aprovado em reunião realizada em 05/03/2010, sob o Nº CAAE –
0174.0.107.000-09 (Anexo A), atendendo à Resolução nº 196, de 10 de outubro de
1996, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde – Brasília – DF.
37
5 RESULTADOS
5.1 Caracterização e Condições Sócio-Econômicas
Este estudo foi constituído por uma amostra de 35 crianças, com média de idade
de 36,2 ± 18,2 meses (mínimo de seis meses e máximo de 76 meses), sendo 65,7%
do gênero masculino. Detectou-se que 91,5% são procedentes de diversos
municípios de Sergipe, sendo 28,6% residentes no município de Aracaju. Em
relação à faixa etária, 34,3% possuíam entre seis meses e 24 meses (Tabela 1).
Aproximadamente um terço das mães possuía de um a cinco anos de estudo
completo, enquanto 34,2% dos pais apresentavam escolaridade entre seis a nove
anos de estudo (Tabela 1). A média de tempo de estudo materno foi de 7,54 (±3,34)
anos e dos pais foi de 6,30 (±3,90) anos.
A mediana da renda per capita familiar foi inferior a meio salário mínimo (R$
204,00), estando, na maior parte das vezes (48,6%), compreendida entre R$ 136,26
e R$ 272,50 (48,6%), seguida de 31,4% de famílias que apresentaram renda per
capita igual ou inferior a um quarto (R$ 136,25) do salário mínimo vigente no período
da coleta de dados (R$ 545,00) (Tabela 1).
Ao avaliar se o pai exercia ocupação remunerada, observou-se que 85,3% dos
indivíduos apresentavam algum tipo de ocupação, enquanto que entre as mães
apenas 2,9% apresentavam alguma atividade remunerada. Foi detectado que 42,9%
das genitoras exerciam ocupação remunerada anterior ao nascimento da criança
com hidrocefalia.
38
Tabela 1. Condições sócio-econômicas de crianças com hidrocefalia atendidas no
Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de
Sergipe, 2011.
Variáveis n %
Faixa etária (meses)
6 – 24 12 34,3
25 – 76 23 65,7
Gênero
Masculino 23 65,7
Feminino 12 34,3
Escolaridade materna (anos de estudo)
Sem escolaridade 1 2,9
1 – 5 12 34,2
6 – 9 11 31,4
10 – 12 10 28,6
13 – 16 1 2,9
Escolaridade paterna(anos de estudo)
Sem escolaridade 3 8,6
1 – 5 10 28,6
6 – 9 12 34,2
10 – 12 3 8,6
13 – 16
Sem resposta
2
5
5,8
14,2
Renda per capita familiar (R$)
≤ 136,25 (até 1/4 SM*) 11 31,4
136,26 – 272,50 (até 1/2 SM*) 17 48,6
272,51 – 408,75 (até 3/4 SM*) 4 11,4
408,76 – 545,00 (até 1 SM*) 2 5,7
> 545,00 1 2,9
* SM – Salário mínimo
5.2 Condições Gestacionais e de Nascimento
Na avaliação da história de nascimento das crianças com hidrocefalia, detectou-
se que todas as genitoras realizaram acompanhamento pré-natal, porém apenas
31,4% delas receberam suplementação de ácido fólico (Tabela 2).
Ao nascimento, 2,9% das crianças eram pequenas para idade gestacional (PIG)
e 31,4% grandes para idade gestacional (GIG). A média de peso ao nascimento da
amostra foi de 2823,7g, sendo possível observar que 25,7% das crianças
apresentaram baixo peso ao nascimento (< 2500g) (Tabela 2).
39
A frequência de crianças amamentadas ao peito foi de 68,6% (Tabela 2),
apresentando uma mediana de 120 dias de amamentação exclusiva, enquanto a
mediana em aleitamento materno total foi de 150 dias.
Tabela 2. Condição gestacional e história de nascimento das crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis n %
Suplementação de ácido fólico na gestação
Sim 11 31,4
Não 24 68,6
Adequação de peso à idade gestacional ao
Nascer
PIG* 1 2,9
AIG** 21 60,0
GIG*** 11 31,4
Não informado 2 5,7
Peso ao nascer
≤ 1.000 g 2 5,7
1.001 a 2.499 g 7 20,0
≥ 2.500 g 24 68,6
Não informado 2 5,7
Amamentada ao peito
Sim 24 68,6
Não 11 31,4
* Pequena para idade gestacional
** Adequada para idade gestacional
*** Grande para idade gestacional
5.3 História Clínica
Na história clínica das crianças, observou-se que 57,1% da amostra receberam o
diagnóstico de hidrocefalia ao nascimento, seguido de 37,1% que tiveram o
diagnóstico de hidrocefalia ainda na gestação. O diagnóstico de hidrocefalia foi
realizado na maioria (48,6%) dos casos pelo médico obstetra, em 31,4% da amostra
o diagnóstico foi realizado pelo médico pediatra e 11,4% pelo neurocirurgião.
Neste estudo, também foi evidenciado que 88,6% das crianças foram submetidas
a procedimentos cirúrgicos para implantação da válvula liquórica (Tabela 3),
40
apresentando uma mediana de dois procedimentos e de uma hospitalização em
decorrência da hidrocefalia.
O nível de recuperação pós-cirurgia em 64,5% das crianças foi considerado
ótimo/bom. O estudo evidenciou ausência de sintomas da hidrocefalia em 54,3% da
amostra. Porém, das crianças (45,7%) que apresentavam algum sintoma da
hidrocefalia, a criança acamada mostrou-se com maior frequência (37,5%) seguida
da cefaléia, convulsão e macrocrania, com uma frequência de 31,2% em cada uma
delas.
A mediana de tempo decorrido entre o diagnóstico e a procura por assistência
especializada foi de 14 dias, enquanto que, na última hospitalização, as crianças
apresentaram uma mediana de 16 dias de permanência (Tabela 3).
Tabela 3. Frequência absoluta e relativa da história da hidrocefalia em crianças
atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade
Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis n %
Operação pela hidrocefalia
Sim 31 88,6
Não 4 11,4
Recuperação pós-cirurgia
Ótima/Boa 20 64,5
Regular 11 35,5
Sintomas/manifestações atuais da hidrocefalia
Acamada 6 37,5
Cefaléia 5 31,2
Convulsão 5 31,2
Macrocrania 5 31,2
Vômitos 3 18,7
Irritabilidade 2 12,5
Defeitos na válvula 1 6,2
Hipotonia 1 6,2
Ausência de sintomas/manifestações 19 54,3
Tempo (dias) entre o diagnóstico e assistência
(mediana (mínimo - máximo))
14 (0 – 210)
Duração (dias) da última hospitalização (mediana
(mínimo - máximo))
16 (1 – 120)
41
Ao estudar a história de outras patologias foi detectado que 48,6% das
crianças apresentaram outras intercorrências paralelas à hidrocefalia, sendo
possível verificar que os problemas respiratórios, intolerância / alergia alimentar
surgem em 17,6% destas (Tabela 4).
Tabela 4. Frequência absoluta e relativa da história de saúde em crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis n %
Presença de co-morbidade
Sim 17 48,6
Não 18 51,4
Tipo de morbidade
Respiratórias 3 17,6
Intolerância/alergia alimentar 3 17,6
Renais 2 11,7
Infecciosas 2 11,7
Paralisia infantil 2 11,7
Baixo peso 2 11,7
Cardíacas 1 5,8
Fenda palatina 1 5,8
Hérnia abdominal 1 5,8
Incontinência fecal/urinária 1 5,8
5.4 Dados Antropométricos
Na Figura 1 pode ser visualizada a curva de evolução de P/I da amostra
estudada em comparação com a curva de referência da OMS (WHO, 2006; WHO,
2007), sendo detectada uma curva posicionada mais à esquerda, com tendência de
valores de escore Z abaixo dos limites de normalidade.
Na Figura 2 também pode ser visualizada uma tendência para a esquerda da
curva de A/I da amostra estudada quando comparada com a curva de referência,
evidenciando o déficit de crescimento linear.
42
Figura 1. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da Organização Mundial da Saúde para o Índice de Peso para Idade.
Figura 2. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da Organização Mundial da Saúde para o Índice de Altura para Idade.
Padrão WHO (2006) (Nascimento a 60 meses) WHO (2007) (61 meses a 19 anos)
Crianças com hidrocefalia (n=35)
Padrão WHO (2006) (Nascimento a 60 meses) WHO (2007) (61 meses a 19 anos)
Crianças com hidrocefalia (n=35)
Escore-Z
Criança
s
Crianças
Escore-Z
43
Figura 3. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da Organização Mundial da Saúde para o Índice de Massa Corporal para Idade.
A curva da amostra estudada em comparação a curva de referência para o IMC/I
apresenta uma grande variação dos dados, refletindo um desequilíbrio nutricional
tanto para déficit quanto para sobrepeso (Figura 3).
Na Figura 4 é possível verificar que as crianças com idade inferior a 60 meses
apresentam-se com inadequações de escore Z com ampla variação dos dados para
o índice de PC/I, quando comparada com a curva de referência, sendo evidente a
presença de micro e macrocrania na amostra estudada. Esse dado é de relevância,
uma vez que a microcrania pode ser decorrente de processos de desnutrição de
longa data e a macrocrania é a principal manifestação clínica na hidrocefalia.
Crianças com hidrocefalia (n=35)
Padrão WHO (2006) (Nascimento a 60 meses) WHO (2007) (61 meses a 19 anos)
Escore-Z
Criança
s
44
Figura 4. Comparação da curva da amostra estudada com a curva de referência da Organização Mundial da Saúde para o Índice do Perímetro Cefálico para Idade.
As frequências absoluta e relativa da classificação do estado nutricional com
relação a todos os parâmetros podem ser visualizadas na Tabela 5.
Com relação ao índice P/I, os resultados evidenciaram que, das crianças
estudadas, 14,3% apresentavam o quadro de baixo peso (Tabela 5). A baixa
estatura estava presente em 31,4% das crianças, reforçando que existe um
comprometimento do crescimento e desenvolvimento linear, em aproximadamente,
um terço dessas crianças (Tabela 5). Em relação ao IMC/I, os resultados mostram
que 17,1% das crianças estudadas apresentavam peso abaixo da normalidade e
5,7% estavam com excesso de peso (Tabela 5).
O índice de PB/I evidenciou frequência de crianças abaixo do escore Z < -2 de
18,7%. Ao considerar a PCT/I e PCSE/I, observou-se que 12,5% e 15,6%,
respectivamente, apresentaram depleção nutricional para tais índices (Tabela 5).
O índice de PC/I evidenciou inadequação em quase metade da amostra
estudada, na qual 15,6% das crianças apresentavam perímetro abaixo da referência
e um percentual elevado (31,3%) estava acima dos limites de normalidade (Tabela
5).
Padrão WHO (2006) Crianças com hidrocefalia (n=32)
Escore-Z
Crianças
45
Tabela 5. Frequência absoluta e relativa do estado nutricional em crianças com
hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis N %
Peso para idade
Baixo peso 5 14,3
Risco para baixo peso 9 25,7
Eutrofia 19 54,3
Risco para elevado peso 2 5,7
Estatura para idade
Baixa estatura 11 31,4
Adequada estatura 24 68,6
IMC para idade
Baixo peso 6 17,1
Risco para baixo peso 7 20,0
Eutrofia 13 37,1
Risco para elevado peso 7 20,0
Elevado peso 2 5,7
Perímetro do braço
Déficit nutricional 6 18,7
Risco nutricional 3 9,4
Eutrofia 18 56,3
Sobrepeso 5 15,6
Prega cutânea tricipital
Depleção 4 12,5
Risco de depleção 3 9,4
Eutrofia 25 78,1
Prega cutânea subescapular
Depleção 5 15,6
Risco de depleção 2 6,3
Eutrofia 25 78,1
Perímetro cefálico
Abaixo da referência 5 15,6
Normalidade 17 53,1
Acima da referência 10 31,3
5.5 Dados Bioquímicos
Para a avaliação do estado nutricional das crianças com hidrocefalia, também
foram utilizados os indicadores bioquímicos Hb, HCT, transferrina, albumina e pré-
albumina.
46
A avaliação sérica de Hb e HCT evidenciou a presença de anemia na amostra
estudada. Foi observado que 40,0% e 22,9% do grupo apresentavam valores abaixo
da referência para os parâmetros Hb e HCT, respectivamente. Os resultados
evidenciaram que 8,6% das crianças apresentaram valor sérico acima da
normalidade para transferrina. Com relação à albumina, apenas uma (2,9%) criança
apresentou valor sérico abaixo da normalidade, em contraposição à pré-albumina
que se encontrava abaixo da referência em 37,2% (Tabela 6).
Tabela 6. Proporção de inadequações dos indicadores bioquímicos do estado
nutricional de crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia
do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Indicadores
Bioquímicos
n %
Hemoglobina (Hb)
Abaixo da referência 14 40,0
Adequado 21 60,0
Hematócrito (HCT)
Abaixo da referência 8 22,9
Adequado 27 77,1
Transferrina
Adequado 32 91,4
Acima da referência 3 8,6
Albumina
Abaixo da referência 1 2,9
Adequado 34 97,1
Pré-Albumina
Abaixo da referência 13 37,2
Adequado 22 62,8
5.6 Dados Dietéticos
Na amostra estudada, a avaliação dos dados dietéticos evidenciou consumo
insuficiente, principalmente de energia, lipídios, cálcio, ácido fólico, vitamina D e
vitamina E (Figura 5).
47
Figura 5. Adequação do consumo de energia, macro e micronutrientes na amostra estudada.
O consumo energético estava insuficiente em 34,3% da amostra estudada, de
acordo com suas necessidades nutricionais (Tabela 7).
Dentre os macronutrientes, os lipídios evidenciaram um percentual de consumo
abaixo da referência de 48,6%. Ao avaliar os minerais, observou-se que o cálcio foi
o que apresentou o maior percentual (31,4%) de consumo insuficiente. O consumo
abaixo das referências nas vitaminas estava presente em valores elevados para o
ácido fólico (25,7%), vitamina D (57,1%) e vitamina E (51,4%) (Tabela 7).
Diante dos resultados apresentados na Tabela 7, verifica-se uma inadequação no
consumo alimentar de nutrientes de uma forma geral, com comprometimento no
consumo de calorias, macro e micronutrientes.
48
Tabela 7. Frequência absoluta e relativa de inadequação no consumo de nutrientes
em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Nutrientes n %
Energia (calorias)
Abaixo das necessidades 12 34,3
Carboidratos *
Acima da referência 1 2,9
Proteínas *
Acima da referência 2 5,7
Lípídios *
Abaixo da referência 17 48,6
Acima da referência 1 2,9
Cálcio
Abaixo da referência 11 31,4
Ferro
Abaixo da referência 4 11,4
Zinco
Abaixo da referência 5 14,3
Ácido fólico
Abaixo da referência 9 25,7
Vitamina A
Abaixo da referência 6 17,1
Vitamina D
Abaixo da referência 20 57,1
Vitamina E
Abaixo da referência 18 51,4
Vitamina C
Abaixo da referência 4 11,4
* AMDR (Avaliação do consumo de macronutrientes para a faixa etária de 1 a 6 anos). Observações: A frequência de consumo abaixo das necessidades para carboidratos e proteínas foi 0, de tal forma que seus valores não foram expressos na tabela. A frequência de consumo acima das necessidades para energia, cálcio, ferro, zinco, ácido fólico e vitaminas A, D, E e C foi 0, não sendo apresentados seus valores na tabela.
Ao avaliar o consumo alimentar por grupos alimentares, foi possível detectar um
consumo elevado dos grupos dos leites e derivados, bem como de açúcares e doces
(Figura 6). O consumo acima das recomendações para os leites e derivados esteve
presente em 65,7% das crianças estudadas, embora o consumo abaixo das
recomendações também fosse característico na amostra. O consumo elevado de
açúcares e doces foi encontrado em 60,0% da amostra (Tabela 8).
49
O consumo abaixo das recomendações dos demais grupos alimentares
apresentava-se em maior proporção (Figura 6). Os grupos com maior frequência de
consumo abaixo das recomendações foram os grupos das frutas, hortaliças, carnes
e ovos, os quais apresentaram percentuais consideráveis de 94,2%, 88,5% e 80,0%,
respectivamente. Os grupos das leguminosas e óleos/gorduras atingiram
percentuais de consumo abaixo das referências de 71,4% cada um, enquanto o
consumo abaixo das recomendações no grupo dos cereais foi de 57,2% (Tabela 8).
Figura 6. Adequação do consumo dos grupos alimentares na amostra estudada.
50
Tabela 8. Avaliação da adequação do consumo dos grupos de alimentos, segundo
os guias alimentares, em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de
Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Grupos alimentares n %
Cereais
Abaixo das recomendações 20 57,2
Adequado 4 11,4
Acima das recomendações 11 31,4
Laticínios
Abaixo das recomendações 12 34,3
Adequado 0 0,0
Acima das recomendações 23 65,7
Leguminosas
Abaixo das recomendações 25 71,4
Adequado 1 2,9
Acima das recomendações 9 25,7
Carnes e ovos
Abaixo das recomendações 28 80,0
Adequado 0 0
Acima das recomendações 7 20,0
Frutas
Abaixo das recomendações 33 94,2
Adequado 1 2,9
Acima das recomendações 1 2,9
Hortaliças
Abaixo das recomendações 31 88,5
Adequado 1 2,9
Acima das recomendações 3 8,6
Óleos e gorduras
Abaixo das recomendações 25 71,4
Adequado 0 0,0
Acima das recomendações 10 28,6
Açúcares e doces
Abaixo das recomendações 14 40,0
Adequado 0 0,0
Acima das recomendações 21 60,0
51
5.7 Associações entre as Variáveis
Na Tabela 9 foram podem ser visualizadas as variáveis que apresentaram
diferenças estatisticamente significativas entre as faixas etárias de seis a 24 meses
e de 25 a 76 meses.
A ocorrência de vacinas atrasadas apresentou uma diferença significativa
(p=0,000), uma vez que todas as crianças com vacinas atrasadas estavam inseridas
na faixa etária de seis a 24 meses (Tabela 9).
Com relação aos índices antropométricos, os dados evidenciaram uma diferença
significativa entre a faixa etária e o IMC/I (p=0,022), sendo observado que 66,7%
das crianças do Grupo I apresentavam baixo peso ou risco de desenvolvê-lo, não
existindo peso elevado nesse grupo, enquanto 39,1% das crianças de 25 e 76
meses apresentavam peso elevado ou risco para essa condição (Tabela 9).
Ao analisar os parâmetros bioquímicos, detectou-se diferença significativa
(p=0,031) nos valores de Hb, sendo verificada a presença de anemia em 66,7% das
crianças entre seis e 24 meses e em 26,1% das crianças de 25 a 76 meses. O HCT
mostrou-se significativamente baixo (p=0,011) em metade das crianças do Grupo I e
em 8,7% das crianças do Grupo II. Ao analisar-se a pré-albumina, também foi
encontrada diferença significativa (p=0,024) para a faixa etária, verificando-se, mais
uma vez, uma maior inadequação (66,7%) nas crianças de menor idade, porém
21,7% das crianças do Grupo II apresentaram desnutrição por esse marcador
(Tabela 9).
52
Tabela 9. Frequência absoluta e relativa de diversas variáveis segundo a faixa etária
em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis
Faixa etária (meses)
p 6 a 24 25 a 76
n % n %
Vacinas atrasadas
Sim
Não
7
5
58,3
41,7
0
23
0
100,0
0,000*
IMC/idade
Baixo peso ou risco
Eutrofia
Peso elevado ou risco
8
4
0
66,7
33,3
0
5
9
9
21,8
39,1
39,1
0,022**
Hemoglobina
Adequado
Inadequado
4
8
33,3
66,7
17
6
73,9
26,1
0,031*
Hematócrito
Adequado
Inadequado
6
6
50,0
50,0
21
2
91,3
8,7
0,011*
Pré-Albumina
Adequado
Inadequado
4
8
33,3
66,7
18
5
78,3
21,7
0,024*
* Teste Exato de Fisher ** Qui-quadrado de Pearson
Verificou-se diferença significativa entre as faixas etárias para o consumo de
energia (p=0,002), cálcio (p=0,005), ácido fólico (p=0,015), vitamina D (p=0,011) e
vitamina E (p=0,005), sendo o comprometimento maior de consumo alimentar nas
crianças do Grupo II. A proporção de consumo inadequado de vitaminas D e E no
Grupo II foi de 73,9% e 69,6%, respectivamente. Os valores de inadequação de
vitamina D (25,0%) e vitamina E (16,7%) no Grupo I foram menores do que nas
crianças de 25 a 76 meses (Tabela 10).
Quando se avaliou o consumo dietético por meio de grupos alimentares, foi
encontrada diferença significativa do consumo dos cereais (p=0,002) e das carnes e
ovos (p=0,033) entre as faixas etárias. Os dados apresentados na Tabela 10
mostram que 78,3% das crianças de 25 a 76 meses apresentavam consumo
insuficiente de cereais e que a inadequação de consumo do grupo das carnes/ovos
estava presente em 91,3% delas. O percentual de consumo abaixo das
recomendações para o grupo das carnes e ovos no Grupo I também mostrou-se
elevado, atingindo 58,3% das crianças.
53
Tabela 10. Frequência absoluta e relativa da adequação do consumo dietético
segundo a faixa etária em crianças com hidrocefalia atendidas no Ambulatório de
Neurocirurgia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, 2011.
Variáveis
Faixa etária (meses)
p 6 a 24 25 a 76
n % n %
Energia (calorias)
Abaixo da recomendação
Adequado
0
12
0
100,0
12
11
52,2
47,8
0,002*
Cálcio
Abaixo da recomendação
Adequado
0
12
0
100,0
11
12
47,8
52,2
0,005*
Ácido Fólico
Abaixo da recomendação 0 0 9 39,1 0,015*
Adequado 12 100,0 14 60,9
Vitamina D
Abaixo da recomendação
Adequado
3
9
25,0
75,0
17
6
73,9
26,1
0,011*
Vitamina E
Abaixo da recomendação
Adequado
2
10
16,7
83,3
16
7
69,6
30,4
0,005*
Grupo dos cereais
Abaixo da recomendação
Adequado
Acima da recomendação
2
3
7
16,7
25,0
58,3
18
1
4
78,3
4,3
17,4
0,002**
Grupo das carnes e ovos
Abaixo da recomendação
Acima da recomendação
7
5
58,3
41,7
21
2
91,3
8,7
0,033*
* Teste Exato de Fisher ** Qui-quadrado de Pearson
54
6 DISCUSSÃO
Nesta pesquisa foram investigadas as condições sócio-econômicas, de saúde,
estado nutricional e consumo alimentar em crianças com hidrocefalia. São escassos
os dados de literatura relacionando hidrocefalia e nutrição, principalmente os
relacionados a consumo alimentar.
Participaram desta pesquisa 35 crianças com a média de idade de 36,2 meses,
sendo a maior proporção entre a faixa etária de 25 a 76 meses. A distribuição das
crianças por gênero evidenciou que a amostra foi constituída, em sua maioria, pelo
gênero masculino, dados esses semelhantes ao trabalho realizado por Jucá et al
(2002). No entanto, outras publicações apresentaram maior proporção de crianças
do gênero feminino (LUDUEÑA; PRADA, 2003; ZAMBELLI, 2006).
Nesta pesquisa foi possível verificar um baixo nível de escolaridade materna e
paterna, evidenciando que as crianças estão inseridas em famílias com baixo nível
sócio-econômico. Oliveira, Pereira e Freitas (2010) encontraram que a maioria
(42,6%) das mães havia cursado entre quatro e oito anos de estudo; e no trabalho
realizado por Grippo (2007) foi verificado que 54,7% dos cuidadores de crianças
com hidrocefalia haviam cursado apenas o ensino fundamental.
Com relação à renda familiar, detectou-se que parte das crianças estavam
inseridas em famílias com renda per capita igual ou inferior a um quarto do salário
mínimo. Foi possível observar que os pais exerciam ocupação remunerada em
proporção elevada (85,3%) em contraposição às mães, uma vez que 97,1% não
exerciam nenhuma atividade profissional. Vale destacar que 42,9% das genitoras
apresentavam ocupação remunerada antes do nascimento da criança com
hidrocefalia, deixando sua atividade para serem cuidadoras, o que, provavelmente,
desencadeou um comprometimento maior do orçamento familiar. Essa situação
também foi verificada em outro estudo, onde 50,0% das cuidadoras (mães/avó)
possuíam atividade remunerada antes do nascimento da criança, reduzindo essa
proporção para 16,7% posteriormente (OLIVEIRA; PEREIRA; FREITAS, 2010). A
literatura aponta que a dificuldade financeira é um agravante existente nas famílias
que apresentam pacientes crônicos, havendo uma relação entre as condições sócio-
econômicas da população brasileira e a dificuldade no cuidado a esses pacientes
(LUDUEÑA; PRADA, 2003). Segundo Iervolino (2005), a Lei Nº 8742/93 estabelece
55
que famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo são
consideradas hipoinsuficientes.
Todas as mães das crianças com hidrocefalia realizaram pré-natal, porém não
receberam suplementação de ácido fólico, ação preconizada pelo Ministério da
Saúde por meio do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher – PAISM,
para prevenção de defeitos do fechamento do tubo neural (DTN) (BRASIL, 2000). A
literatura evidencia que a deficiência do ácido fólico é o principal fator de risco para
DTN na atualidade, podendo vir acompanhado de hidrocefalia (REYNOLDS, 2009;
SANTOS; PEREIRA, 2007). De tal forma, que os resultados dessa pesquisa
evidenciam a deficiência nas ações previstas do pré-natal existindo a necessidade
de definição de estratégias para melhorar a qualidade dos serviços de saúde
prestados.
Foi encontrado percentual considerável de crianças com peso elevado para idade
gestacional (31,4%), porém não foi encontrada na literatura uma relação entre esse
quadro e a hidrocefalia, sendo esta mais comum em crianças prematuras após
hemorragia intraventricular (JUCÁ et al, 2002). No trabalho citado, em uma amostra
de 150 crianças com hidrocefalia, os resultados foram similares ao desta pesquisa,
evidenciando que 38,0% apresentaram peso elevado ao nascer e 35% foram
consideradas de baixo peso (JUCÁ et al, 2002)..
A amamentação ao peito foi realizada em 68,6% das crianças com hidrocefalia.
Esses resultados também sugerem que existe a necessidade de uma melhor
estratégia de adesão das gestantes ao aleitamento materno, tanto de campanhas
educativas quanto de acompanhamento e apoio na fase inicial, principalmente, em
grupos específicos. Esses valores são inferiores aos achados na Pesquisa Nacional
de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança (PNDS) - 2006 (BRASIL, 2008), a
qual refere que 96,4% das crianças foram amamentadas em algum momento.
O diagnóstico de hidrocefalia nesta pesquisa foi realizado em maior parte pelo
médico obstetra, principalmente no momento do nascimento (57,1%). A literatura
evidencia que quanto mais precoce o diagnóstico, menores são as possibilidades de
complicações e melhores os prognósticos (BRAGA et al., 2009). Verificou-se
também que, após o diagnóstico de hidrocefalia, a mediana de tempo até a procura
de atendimento especializado foi de 14 dias e que 88,6% realizaram procedimentos
cirúrgicos para a implantação de drenagens liquóricas. Os resultados também
evidenciaram uma mediana de dois procedimentos cirúrgicos nessas crianças, com
56
uma permanência de 16 dias no último período de hospitalização, situações que
levam ao estado fisiológico de hipercatabolismo com maior necessidade de
demandas nutricionais.
No trabalho realizado por Jain et al. (2007), foi encontrada uma associação entre
ocorrência de infecções, permanência hospitalar e mortalidade com o estado
nutricional. A incidência de infecções, o período de internamento e a mortalidade
foram maiores nos pacientes desnutridos.
Mesmo após procedimento cirúrgico, uma proporção considerável de crianças
nesta pesquisa apresentava manifestações clínicas relacionadas à hidrocefalia, tais
como: dificuldades de locomoção, cefaléia, convulsão, macrocrania, vômitos,
irritabilidade, intercorrências com as drenagens liquóricas e hipotonia. Esses
achados podem associar-se a dificuldade no ato de alimentar-se em decorrência do
quadro clínico presente, com possíveis repercussões no estado nutricional e no
sistema imunológico destas crianças.
A ocorrência de diferença significativa entre vacinas atrasadas por faixa etária
evidencia que as crianças de menor idade apresentam uma predisposição a
desenvolver outros processos patológicos com consequente estado hipercatabólico.
A literatura refere a maior possibilidade de processos infecciosos em derivações
liquóricas nas crianças abaixo de dois anos (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005).
A avaliação antropométrica das crianças deste estudo foi realizada tomando-se
como referência as curvas da OMS (WHO, 2006; WHO, 2007) que foram
construídas a partir de um estudo multicêntrico, com crianças consideradas
saudáveis e submetidas a regimes ótimos de amamentação (até quatro meses de
vida) e alimentação (WHO, 2006).
Os índices antropométricos de P/I, IMC/I e PB/I refletem as reservas nutricionais
do grupo estudado. Foram verificados por meio desses índices, percentuais de
desnutrição de 14,3%, 17,1% e 18,7%, respectivamente. No relatório final da PNDS-
2006 (BRASIL, 2008), a frequência de déficits de P/I estimada no conjunto das
crianças brasileiras com idade inferior a cinco anos foi de 1,7%. Portanto, nota-se
que a proporção de crianças com déficit para esse índice nesta pesquisa foi superior
à frequência encontrada em nível nacional.
Ao analisar o PB/I, os resultados encontrados confirmam os achados de outros
parâmetros nesta pesquisa, evidenciando que existem crianças com
comprometimento do estado nutricional. O PB representa uma medida alternativa na
57
avaliação do estado nutricional em crianças de até cinco anos, refletindo possíveis
déficits energético e protéico (DUARTE, 2007).
Nas crianças com hidrocefalia, o IMC/I apresentou uma curva com uma
característica de grande variação dos dados quando comparada com a curva de
referência. Esses dados refletem a presença de crianças tanto com déficit ponderal
(17,1%) quanto com excesso de peso (5,7%), porém o déficit ponderal mostrou-se
como maior desequilíbrio nutricional. Verificou-se diferença significativa de IMC/I
para faixa etária, sendo o baixo peso mais frequente nas crianças de seis a 24
meses (66,7%), enquanto 39,1% das crianças do Grupo II apresentavam excesso de
peso. Foi possível observar que o baixo peso (21,8%) ou risco para essa condição
também estiveram presentes nas crianças de 25 a 76 meses. Dessa forma, observa-
se que os dois desequilíbrios nutricionais estão presentes nas crianças do Grupo II.
O IMC é o único indicador nutricional que conjuga quatro parâmetros (peso,
estatura, idade e gênero), sendo por esse motivo aconselhado por vários autores
(BURROWS; DIAZ; MUZZO, 2004; COLE, 2002). O IMC/I expressa o equilíbrio entre
a massa corporal da criança e seu crescimento linear, refletindo, sobretudo, a
adequação do balanço de energia (BRASIL, 2008).
A curva de A/I evidenciou a presença marcante de desnutrição crônica (31,4%)
na amostra estudada. O PNDS-2006 (BRASIL, 2008) estimou a prevalência de
déficit de A/I em crianças brasileiras menores de cinco anos de idade em 6,8%. A
POF 2008/2009 (BRASIL, 2010) encontrou prevalência de 6,0% de déficit de A/I
para a mesma faixa etária. Portanto, verifica-se que o déficit estatural nas crianças
desta pesquisa supera em quase cinco vezes o previsto na população infantil
brasileira. A literatura aponta que o retardo no crescimento é uma das manifestações
clínicas que pode estar presente na hidrocefalia (JACKSON, 1990), podendo ocorrer
um efeito acumulativo na presença de consumo alimentar insuficiente e havendo a
necessidade de acompanhamento contínuo, uma vez que existe tratamento para tal
condição. O índice A/I expressa o crescimento linear da criança e sintetiza a história
de seu estado nutricional, do nascimento até o momento atual, refletindo a oferta de
energia, de macronutrientes, vitaminas e minerais (BRASIL, 2008). Outro ponto a
considerar é que as crianças com déficit de estatura apresentam maior risco em
desenvolver sobrepeso no futuro, pois tendem a utilizar a energia consumida para o
acúmulo de gordura e com menor crescimento ósseo (SAWAYA, 1998).
58
Os índices da PCT/I e PCSE/I nas crianças com hidrocefalia refletiram também a
presença de depleção dos compartimentos de tecido adiposo. Holden e MacDonald
(2000) referiram que valores baixos para a PCT refletem a perda de gordura
associada à desnutrição crônica, situação encontrada em grande proporção na
amostra estudada.
Além de avaliar o estado nutricional, o PC é um índice utilizado para avaliar o
tamanho e o crescimento cerebral, podendo apresentar alterações de expansão em
decorrência do quadro de hidrocefalia. O índice da PC/I nesta pesquisa, evidenciou
que existe déficit de crescimento cefálico em 15,6% das crianças, podendo ser
decorrente do quadro de desnutrição. Entretanto, a manifestação clínica de
macrocrania esteve presente em proporções superiores (31,3%) ao déficit de
crescimento.
No trabalho realizado por Jain et al. (2007), com 124 pacientes hospitalizados
com hidrocefalia e que seriam submetidos à implantação de válvula liquórica,
detectou-se uma elevada proporção (53,4%) de pacientes com déficit nutricional pré-
operatório por, pelo menos, um dos parâmetros avaliados. Os resultados
evidenciaram que os pacientes com desnutrição apresentaram maior
comprometimento em sua evolução clínica quando comparados com os pacientes
com estado nutricional adequado, verificando a repercussão que o estado nutricional
pode exercer sobre o quadro clínico desses pacientes.
A DEP na infância é multifatorial, envolvendo determinantes biológicos e sociais,
podendo ocorrer devido ao consumo alimentar insuficiente ou ser resultado da
desnutrição secundária, caracterizada pelo inadequado aproveitamento funcional e
biológico dos nutrientes disponíveis ou da elevação do gasto energético, na
presença de doenças associadas. Independente da causa, a DEP cursa com
alterações fisiológicas que colocam a criança em risco elevado de complicações e
de morte (BRASIL, 2010), o que pode agravar consideravelmente o quadro clínico
das crianças dessa pesquisa.
Nas últimas décadas, houve expressiva redução na prevalência de DEP em
crianças menores de cinco anos no mundo (ONIS; FRONGILLO; BLOSSNER,
2000). No Brasil, esse fenômeno também vem ocorrendo, sendo caracterizado o
processo chamado de transição nutricional (BATISTA-FILHO; RISSIN, 2003;
MONTEIRO et al, 2010). Entretanto, verificam-se ainda indicadores antropométricos
compatíveis com DEP, sendo o déficit de A/I a forma mais comum de desnutrição no
59
país (BRASIL, 2008), e também a de maior frequência nas crianças com hidrocefalia
desta pesquisa.
A OMS (WHO, 1995) estabelece que déficit nutricional inferior a 2,3% em
qualquer um dos índices antropométricos é considerado normal em uma população.
Porém, se forem encontrados valores superiores a 2,3%, tem-se um indicativo de
condições de saúde e nutrição inadequada no referido grupo. Dessa forma, pode ser
constatado que as crianças estudadas apresentaram condições básicas de vida
inadequadas, uma vez que foi detectado um déficit antropométrico superior a tal
percentual para todos os índices avaliados.
Nesta pesquisa, observou-se que a anemia representa um problema na amostra
estudada, pois está presente nas duas faixas etárias. A literatura evidencia que a
proporção de anemia em crianças menores de cinco anos encontra-se próximo a
50% (BRASIL, 2006), sendo compatíveis aos resultados encontrados nesta pesquisa
e evidenciando que a anemia não é caracteristicamente superior na hidrocefalia.
Torna-se importante ressaltar que não existem trabalhos na literatura avaliando a
presença de anemia em crianças com hidrocefalia. Dessa forma, os resultados aqui
encontrados podem ser considerados de grande relevância, principalmente ao
considerar o comprometimento do sistema imunológico acompanhado da anemia e a
condição particular das crianças com hidrocefalia.
Os valores acima da referência para transferrina em 8,6% dos pacientes
merecem atenção devido à presença de anemia no grupo estudado, pois a literatura
relata que níveis de transferrina elevados podem estar associados a tentativa de
otimização do transporte de ferro pós-absorção intestinal (WHO, 2001).
A albumina e a pré-albumina são marcadores utilizados para verificar a presença
de desnutrição em indivíduos e grupos populacionais, sendo caracterizadas por
apresentarem vida média diferente. A albumina apresenta vida média de 18 a 20
dias e a pré-albumina de cerca de dois dias. Dessa forma, a pré-albumina mostra-se
mais sensível a possíveis processos de desnutrição (WAITZBERG, 2002).
A pré-albumina apresentou valores percentuais elevados de inadequação nesta
pesquisa, com maior comprometimento nas crianças do Grupo I (66,7%). Entretanto,
os valores inadequados para esse marcador estiveram presentes em 21,7% das
crianças de 25 a 76 meses, de tal forma que os dados encontrados nesta pesquisa
são indicativos da possibilidade de ingestão inadequada de proteínas, da dificuldade
de manter níveis adequados de consumo e/ou síntese protéica nas crianças com
60
hidrocefalia. Na literatura, há relatos de estudos onde a pré-albumina mostrou-se
mais eficiente como marcador do estado nutricional (NAVA; MARFILEÑO; ARZOLA,
2006) do que a albumina ou transferrina, refletindo a ingestão protéica recente, em
decorrência de sua vida média curta.
As necessidades calóricas foram estimadas pelas equações das DRI’s (2006),
levando-se em consideração faixa etária, gênero e nível de atividade para pessoas
saudáveis. Deve-se ressaltar que, além de não existirem na literatura
recomendações específicas para pacientes com hidrocefalia, não existem evidências
da necessidade de requerimentos e/ou condutas especiais para tais pacientes
(JACKSON, 1990).
A frequência de indivíduos com consumo energético inadequado foi elevada.
Apesar de não existir evidências de requerimentos específicos para pacientes com
hidrocefalia (JACKSON, 1990), o déficit calórico no Grupo II pode desencadear uma
predisposição deste grupo a complicações, como processos infecciosos, com maior
repercussão que na população saudável, em decorrência da patologia que essas
crianças apresentam.
Os achados desta pesquisa são sugestivos de que, apesar de as mães ofertarem
maior quantidade de calorias para as crianças do Grupo I, verifica-se que estas
estão mais debilitadas do ponto de vista de déficit ponderal, anemia e proteínas
séricas. Conforme expresso na literatura, o quadro de comprometimento nutricional
pode ser decorrente também do inadequado aproveitamento funcional e biológico
dos nutrientes disponíveis ou da elevação do gasto energético, na presença de
doenças associadas (BRASIL, 2006). Portanto, nas crianças do Grupo I, pode estar
havendo inadequada utilização de nutrientes em decorrência das próprias condições
sócio-econômicas, bem como questões fisiológicas com comprometimento do
sistema imunológico e exposição mais recente a procedimentos cirúrgicos e
hospitalizações para implantação das válvulas liquóricas, acarretando maior
mobilização dos estoques decorrentes de processos de hipercatabolismo. Deve-se
ressaltar também a maior possibilidade de complicações de válvulas liquóricas até
os dois anos pós-derivação (KLIEMANN; ROSEMBERG, 2005), período em que se
encontram as crianças do Grupo I.
A manutenção do peso corporal está diretamente relacionada com a ingestão dos
carboidratos e lipídios da dieta (EGASHIRA; MIZIARA; LEONI, 2008). Não foi
detectado consumo abaixo dos limites da AMDR para carboidratos na amostra
61
estudada. No entanto, notou-se que a maior oferta de carboidratos é proveniente do
grupo dos açúcares/doces e em menor proporção do grupo dos cereais. O consumo
acima das recomendações do grupo dos açúcares/doces esteve presente em 60,0%
da amostra, enquanto que, para o grupo dos cereais, foi verificado consumo abaixo
das recomendações em 57,2%, sendo que o maior percentual de inadequação
estava presente nas crianças do Grupo II. O grupo dos cereais corresponde aos
principais fornecedores de carboidratos, com grande importância para manter o
processo anabólico e não comprometer o consumo de proteínas e sua utilização
(AMARAL et al., 1996; BRASIL, 2006). As crianças que apresentam patologias como
a hidrocefalia, por diversas vezes, são expostas a situações de estresse catabólico
que, associado ao consumo energético inadequado, ocasiona maior risco de
desenvolver desnutrição e processos infecciosos.
Com relação aos lipídios, foi possível detectar um percentual de inadequação
elevado, onde quase metade (48,6%) das crianças apresentou consumo inferior às
recomendações. Ao avaliar o consumo de alimentos do grupo dos óleos e gorduras,
foi evidenciado que 71,4% apresentavam consumo abaixo das recomendações.
Essa inadequação pode ter grandes repercussões na amostra estudada, uma vez
que os lipídios apresentam alta densidade energética e são fontes importantes de
ácidos graxos essenciais, sendo necessários para o crescimento e desenvolvimento
adequados (SANTOS; AQUINO, 2008).
Os lipídios também são veículos de vitaminas lipossolúveis e antioxidantes que
exercem papel fundamental na resposta imunológica e inflamatória do indivíduo
(CERQUEIRA; MEDEIROS; AUGUSTO, 2007). Dessa forma, ao considerar que as
principais fontes energéticas para o organismo humano são provenientes dos
carboidratos seguidos dos lipídios, e que o consumo destes encontra-se
comprometido na amostra estudada, torna-se importante lembrar que as proteínas
apresentam uma relação estreita com a ingestão energética, em que o consumo
insuficiente de calorias pode acarretar um desvio na sua utilização, deixando de
realizar seu papel estrutural para suprir o déficit energético (INSTITUTE OF
MEDICINE, FOOD AND NUTRITION BOARD, 2006).
Ao avaliar o consumo das proteínas, não foi encontrado consumo abaixo da
AMDR na amostra estudada, porém foi visto a possibilidade de mal utilização desse
nutriente. Quando avaliado o consumo das proteínas por grupos alimentares, o
grupo das carnes e ovos apresentou um percentual elevado de crianças com
62
consumo insuficiente para as duas faixas etárias (80,0%). Foi possível verificar um
percentual (91,3%) maior de consumo insuficiente nas crianças de 25 a 76 meses.
Porém, 58,3% das crianças da faixa etária de seis a 24 meses apresentaram o
consumo insuficiente do grupo das carnes.
O consumo do grupo dos leites e derivados mostrou-se acima das
recomendações na maior parte (65,7%) das crianças. O consumo em excesso
desses alimentos pode representar substituições inadequadas de refeições com
grande prejuízo no consumo de outros componentes alimentares (JÚNIOR;
OSÓRIO, 2005), refletindo, dessa forma, a monotonia na dieta dessas crianças com
hidrocefalia, bem como prejuízos nutricionais consideráveis. Apesar de fornecer
cálcio e proteínas de alto valor biológico com funções importantes no organismo,
existem evidências de que dietas acima das recomendações de leites e derivados
podem inibir a absorção de ferro pelo organismo e auxiliar para o desenvolvimento
de quadros de anemia (OLIVEIRA; OSÓRIO, 2005). Essa situação pode ser
encontrada nas crianças do Grupo I, uma vez que foi detectada uma maior
frequência de anemia nesse grupo.
Ao avaliar o consumo dos minerais, foi encontrado percentual elevado de
consumo abaixo das referências para o cálcio, com 47,8% das crianças de 25 a 76
meses apresentando consumo inadequado para esse mineral. Deve-se ressaltar que
o cálcio é um mineral essencial para o crescimento ósseo, de tal forma que este
pode apresentar uma relação com o déficit de crescimento encontrado em 31,4%
das crianças da pesquisa.
O consumo do grupo das leguminosas também esteve abaixo das
recomendações em 71,4% da amostra estudada. Essa inadequação acarreta
prejuízos nutricionais por serem as leguminosas grandes fornecedoras de fibras,
minerais, energia e proteínas que, quando combinadas com os cereais, conseguem
fornecer proteínas completas. Além disso, podem ser fontes alimentares mais
comuns e acessíveis para essas crianças que apresentam uma tendência a déficits
protéicos e energéticos decorrentes do tratamento, estado clínico e patológico.
A ingestão abaixo das recomendações de alimentos dos grupos das frutas e
hortaliças foi evidente nas crianças estudadas, refletindo o consumo insuficiente de
vitaminas e minerais também encontrados nesta pesquisa. Deve-se ressaltar que as
vitaminas e minerais são nutrientes fundamentais em diversas reações metabólicas,
enzimáticas e funcionam como antioxidantes, exercendo grande papel no sistema
63
imunológico (BRASIL, 2006). Foram encontrados valores elevados de consumo
insuficiente para o ácido fólico (25,7%), vitamina D (57,1%) e vitamina E (51,4%).
O ácido fólico participa de processos biológicos fundamentais, como na formação
e maturação das hemácias e formação do grupo heme (GODBOLE; DESHMUKH;
YAJNIK, 2009).
Ao avaliar a vitamina D, foi possível verificar consumo insuficientemente maior
nas crianças de 25 a 76 meses. Ao considerar que a principal função da vitamina D
está relacionada à absorção do cálcio e fosfato em nível intestinal, e que age nos
ossos aumentando à mobilização desses minerais (PHILIPPI; CRUZ; COLUCCI,
2003), a inadequação dessa vitamina pode acarretar maiores prejuízos nessa faixa
etária, que também apresenta consumo abaixo das recomendações para cálcio e
déficit de crescimento linear.
A deficiência da vitamina E foi encontrada em proporções elevadas nas crianças
com hidrocefalia, atingindo mais da metade do grupo avaliado. Detectou-se
inadequação de vitamina E em 69,6% das crianças do Grupo II, enquanto que o
consumo insuficiente no Grupo I apresentava uma frequência de 16,7%.
O consumo insuficiente de vitamina C nas crianças com hidrocefalia esteve
presente em 11,4% destas. Deve-se ressaltar que as vitaminas desempenham
importante papel na imunocompetência, e suas deficiências podem comprometer o
sistema imunológico e facilitar a instalação dos processos infecciosos que
comprometem ainda mais o estado nutricional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
As vitaminas lipossolúveis necessitam de oferta adequada do grupo dos
óleos/gorduras para sua absorção (CERQUEIRA; MEDEIROS; AUGUSTO, 2007).
Ao considerar que o consumo das vitaminas lipossolúveis e do grupo dos
óleos/gorduras encontra-se insuficiente na amostra estudada, esse fato pode
acarretar prejuízos com grandes repercussões no desenvolvimento adequado
dessas crianças.
Verifica-se que nas crianças com hidrocefalia existe um consumo inadequado de
diversos nutrientes, principalmente nas crianças de 25 a 76 meses. O consumo
acima das recomendações dos grupos lácteos e açúcares, e reduzido para os
demais grupos alimentares, evidencia a monotonia do consumo dietético na amostra
estudada. Os desequilíbrios dietéticos podem desencadear um comprometimento do
estado nutricional, interferindo no quadro clínico dessas crianças que apresentam
um grau de vulnerabilidade.
64
Dessa forma, torna-se imprescindível a orientação e o acompanhamento dessas
crianças por uma equipe multidisciplinar, bem como o estabelecimento de um
protocolo que permita identificar precocemente o risco de desnutrição e estabelecer
a oportunidade de intervenção por uma equipe terapêutica (nutricionista e
fonoaudiólogo) na implementação de estratégias de prevenção e/ou recuperação do
estado nutricional e funcional dessas crianças.
65
7 CONCLUSÕES
▪ A amostra estudada foi constituída, em sua maioria, por crianças do gênero
masculino, com idade entre 25 e 76 meses. Essas crianças estavam inseridas em
famílias com baixo nível sócio-econômico, sendo confirmado pela baixa escolaridade
materna e paterna, além da renda per capita familiar.
▪ A baixa estatura, o baixo peso e o comprometimento das reservas adiposas foram
diagnósticos nutricionais presentes nessas crianças. A anemia e o comprometimento
nos níveis de pré-albumina também estiveram presentes nas crianças com
hidrocefalia.
▪ O consumo de nutrientes nas crianças com hidrocefalia esteve insuficiente em
energia, lipídios e todos os micronutrientes. O consumo inadequado mostrou-se
elevado para cálcio, ácido fólico, vitamina D e vitamina E.
▪ O consumo dietético apresentou-se elevado para os grupos alimentares dos
laticínios e açúcares/doces e reduzido para os demais grupos, verificando a
presença de monotonia dietética nas crianças com hidrocefalia.
▪ Existe diferença significativa de antropometria (IMC/I) e marcadores bioquímicos
(Hb, HCT, pré-albumina) principalmente com a faixa etária de seis a 24 meses. O
excesso de peso esteve presente nas crianças do Grupo II.
▪ O consumo insuficiente de energia, cálcio, ácido fólico, vitamina D, vitamina E,
grupo dos cereais e grupo das carnes foi estatisticamente significativo nas crianças
de 25 a 76 meses. O consumo insuficiente do grupo das carnes também esteve
elevado nas crianças de seis a 24 meses.
66
8 REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
AMARAL, M. F. M.; MORELLI, V.; PANTONI, R. W; ROSSETI-FERREIRA, U. C. Alimentação de bebês e crianças pequenas em contextos coletivos: mediadores, interações e programas em educação infantil. Rev Bras Cresc Desenv Hum. v. 6,
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74
ANEXO
E
APÊNDICES
75
ANEXO A. DECLARAÇÃO DE APROVAÇÃO DA PESQUISA PELO COMITÊ DE
ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE – CEP/UFS
76
APÊNDICE A. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Vimos, através deste, informar que estamos realizando um estudo para conhecer o perfil
nutricional da criança com hidrocefalia atendida no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital
Universitário e solicitamos o consentimento do (a) Senhor
_______________________________________________________ para participação de
___________________________________________(criança) na pesquisa. A pesquisa
apresenta três (03) fases de coleta de dados:
1ª fase – Aplicação do questionário, aplicação do primeiro inquérito alimentar (recordatório de 24
horas), realização dos exames clínico-nutricionais (Peso, Altura, Circunferência Cefálica,
Circunferência do Braço, Prega Cutânea do Tríceps e Prega Cutânea Subescapular) e
solicitação dos exames laboratoriais (Albumina sérica, Transferrina, Pré-albumina e Hemograma
Completo);
2ª fase – Coleta de sangue por um técnico de laboratório do Hospital Universitário para
realização dos exames laboratoriais;
3ª fase – Aplicação do segundo inquérito alimentar (recordatório de 24 horas) e entrega do
resultado dos exames laboratoriais.
O senhor (a) deverá estar ciente de que tem direito a esclarecimentos a qualquer momento
que se fizerem necessários, de que tem plena liberdade de recusar sua participação nesta
pesquisa. Será assegurado a todas as crianças avaliadas o direito à interrupção de sua
participação no estudo a qualquer momento, se os responsáveis assim desejarem. Informamos
também que este estudo não prejudicará os cuidados prestados ao paciente, de forma que não
haverá, portanto, risco de natureza psíquica ou física para os participantes.
Este trabalho não possui fins lucrativos e todas as informações serão confidenciais e
mantidas em sigilo, de modo que os nomes do (a) senhor (a) ou de seu (sua) filho (a) não
aparecerão em nenhum relatório ou artigo, conforme assegura a Resolução n° 196, de 10 de
outubro de 1996/CONEP.
Desde já, agradecemos a sua colaboração voluntária.
Aracaju, _____de _____________ de 20___
________________________________________________
Assinatura do responsável legal da criança
________________________________________________
Pesquisadores:
Ingrid Mª Novais B. de C. Costa – nutricionista e mestranda - Fone: 3223-4037 / 9977-0986
Profº Dr. Carlos Umberto Pereira – neurologista - Fone: 3213-0518
77
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
APÊNDICE B
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Manual de Capacitação para Coleta de Dados
Aracaju / 2012
78
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Orientação para Realização e Preenchimento do
Questionário
79
MANUAL DO ENTREVISTADOR – QUESTIONÁRIO
Este Manual tem como objetivo orientar os estagiários, alunos do curso de
Nutrição, quanto aos procedimentos para a padronização no preenchimento do
questionário do Projeto de Pesquisa “Perfil Nutricional das Crianças Portadoras de
Hidrocefalia Congênita”.
Ao final do questionário, revisar se todas as perguntas foram realizadas. Caso
negativo, preencher as questões que faltam. Caso positivo, agradeça a colaboração
do responsável e o encaminhe para a realização das medidas antropométricas.
Segue, abaixo, como deverão ser preenchidos todos os espaços do questionário:
Data: Escrever a numeração dia, mês e ano de preenchimento do questionário.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA
1. Nome: Escrever o nome completo da criança que está sendo avaliada. Porém,
este dado é opcional na pesquisa.
2. Data de Nascimento: Escrever a numeração dia, mês e ano de nascimento da
criança.
3. Idade: Registrar a idade em anos.
4. Sexo: Registrar o sexo da criança.
5. Procedência: Escrever o Município / Estado de moradia da criança.
6. Cor: Leia as alternativas intercalando as opções com “ou”. Marcar a cor referida
no questionário, deixar o responsável pela criança responder livremente, ou seja,
não induzir.
NASCIMENTO E DIAGNÓSTICO DA HIDROCEFALIA
1. O diagnóstico da hidrocefalia foi dado: Leia as alternativas intercalando as
opções com “ou”. Marcar a resposta referida no questionário.
2. Tempo decorrido entre o diagnóstico e a busca de atendimento
especializado: Preencher o tempo em semanas. Caso não saiba informar, marcar a
alternativa no questionário.
80
3. Quem percebeu o diagnóstico da doença? Leia as alternativas intercalando as
opções com “ou”. Marcar a resposta referida no questionário.
4. Qual foi o peso da criança ao nascimento? Registrar o peso em gramas.
Priorizar o peso registrado no Cartão da criança, caso o responsável saiba informar.
5. Qual foi a idade gestacional ao nascimento? Preencher o tempo em semanas.
Caso não saiba informar, marcar a alternativa no questionário.
6. Qual foi a adequação do peso à idade gestacional ao nascimento? Marcar a
alternativa, conforme o peso e a idade gestacional ao nascimento.
HISTÓRICO DE DOENÇAS ANTERIORES E ATUAL
1. A criança foi operada em decorrência da hidrocefalia? Leia as alternativas
intercalando as opções com “ou”. Marcar a resposta referida no questionário. Se a
criança já foi operada, informar quantas vezes.
2. Qual o nível de recuperação pós-cirurgia? Leia as alternativas intercalando as
opções com “ou”. Marcar a resposta referida no questionário.
3. A criança ainda apresenta algum sintoma da hidrocefalia? Marcar a resposta
no questionário. Se a resposta for sim, marcar quais os sintomas apresentados pela
criança atualmente. Poderá ser marcada mais de uma alternativa para informar os
sintomas.
4. Quantas vezes a criança foi hospitalizada por causa da hidrocefalia? Leia as
alternativas intercalando as opções com “ou”. Marcar a resposta referida no
questionário.
Se a criança não foi hospitalizada por causa da hidrocefalia, abrir uma nova
alternativa com a referida informação e passar para a questão 6.
5. Quantos dias a criança ficou internada na última hospitalização? Informar o
número de dias de hospitalização.
6. A criança apresentou alguma doença, além da hidrocefalia? Marcar a
resposta referida no questionário. Se a resposta for sim, marcar quais as doenças
que a criança apresentou. Poderá ser marcada mais de uma alternativa para
informar as doenças.
7. A criança apresentou alguma doença nos últimos dias? Marcar a resposta
referida no questionário. Se a resposta for sim, marcar quais as doenças que a
criança apresentou nos últimos dias. Poderá ser informada mais de uma doença.
81
8. Quem é o cuidador da criança? Anotar quem é a pessoa responsável em
realizar as necessidades diárias da criança (refeições, banho, remédios, etc.).
9. A criança está com alguma vacina atrasada? Marcar a resposta referida no
questionário.
10. A criança foi (é) amamentada ao peito alguma vez? Marcar a resposta
referida no questionário. Se a resposta for sim, informar quanto tempo em dias de
amamentação. Caso a criança não tenha sido amamentada, passe para a questão
12.
11. Até quando a criança recebeu somente leite do peito? Caso a criança tenha
sido amamentada ou esteja amamentando, informar quanto tempo em dias à criança
recebeu leite do peito sem água e/ou chá.
12. A mãe da criança fez pré-natal? Marcar a resposta referida no questionário.
Se a resposta for sim, informar quantas consultas fez com o médico antes do parto.
13. A mãe tomou suplemento de ácido fólico? Marcar a resposta referida no
questionário.
14. A mãe tomou algum outro suplemento vitamínico ou mineral? Marcar a
resposta referida no questionário.
HISTÓRIA SÓCIO-ECONÔMICA FAMILIAR
1. Escolaridade materna: Registrar o número de anos completos de estudos
considerando a última série cursada com aprovação.
2. Escolaridade paterna: Registrar o número de anos completos de estudos
considerando a última série cursada com aprovação.
3. Situação conjugal: Marcar a resposta referida no questionário.
4. O pai exerce ocupação remunerada? Marcar a resposta referida no
questionário.
5. A mãe exerce ocupação remunerada? Marcar a resposta referida no
questionário. Se a resposta for negativa, perguntar se a mãe exercia ocupação
remunerada antes da doença da criança. Se a resposta for afirmativa, perguntar por
que não exerce mais e marcar a resposta no questionário.
6. Recebe ajuda financeira de alguém? Marcar a resposta referida no questionário.
Se a resposta for afirmativa, registrar quem ajuda.
82
7. Qual a renda mensal bruta da família? Registrar o valor total em reais de todas
as pessoas que trabalham e que residem na casa da criança.
8. Qual o número de dependentes da renda? Registrar o número de pessoas que
residem na casa da criança.
9. Tem casa própria? Marcar a resposta referida no questionário.
10. Qual a forma de abastecimento de água para a residência? Marcar a
resposta referida no questionário.
11. A água de beber recebe algum tratamento? Marcar a resposta referida no
questionário. Se a resposta for afirmativa, informar qual é a forma de tratamento.
12. Na casa tem banheiro? Marcar a resposta referida no questionário. Se a
resposta for afirmativa, informar se o banheiro é localizado fora de casa. Informar
também como é o esgotamento sanitário. Se o esgotamento sanitário for através de
fossa, verificar se é fossa séptica ou rudimentar. Entende-se por fossa séptica a
cavidade subterrânea com revestimento, já a fossa rudimentar é aquela que
apresenta apenas a cavidade sem revestimento.
13. Qual o destino que é dado ao lixo da casa da criança? Marcar a resposta
referida no questionário.
83
PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Orientação para Realização e Preenchimento do
Recordatório de 24 Horas
84
MANUAL DO ENTREVISTADOR – RECORDATÓRIO DE 24 HORAS
O método recordatório de 24 horas é uma ferramenta utilizada através de
entrevista pessoal no qual o indivíduo informa detalhadamente todos os alimentos
que foram consumidos no dia anterior à entrevista, com quantidades, horários e
locais de realização das refeições.
O sucesso deste método está na dependência da capacidade de memória e
cooperação do entrevistado, bem como da habilidade do entrevistador em
estabelecer um bom diálogo com o entrevistado.
O seguimento da metodologia em questão proporcionará respostas precisas e
não tendenciosas.
1º Passo: Perguntar para o responsável da criança, seguindo a frase:
“A Sra. (Sr.) pode me informar, por favor, tudo o que a criança comeu ou bebeu
ontem, o dia todo, começando pelo primeiro alimento ou bebida consumida”?
Transcreva tudo o que for dito, sem se preocupar ainda com quantidades. Não
diga nada e não interrompa a pessoa entrevistada.
2º Passo: “A Sra. (Sr.) pode me informar o horário (mais ou menos) e o lugar de
realização das refeições?
Anote os horários e o lugar informado e com quem estava sendo realizada cada
refeição.
3º Passo: Retorne à descrição dos alimentos e pergunte sobre as quantidades em
medidas caseiras de cada alimento ou preparação que tenham sido consumidos.
“Quanto a criança comeu deste alimento”?
a) No caso de alimentos como frutas, pães, biscoitos e ovos, perguntar quantas
unidades foram consumidas. Exemplo: 1 fatia de pão de forma, 1 pão francês,
1 banana prata, 1 maçã, 1 biscoito recheado, etc.
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b) Se for possível, registre a marca comercial e a variedade dos alimentos
(banana prata, maçã).
c) No caso específico de alimentos compostos, como por exemplo: café com
leite, vitaminas, mingaus, sopas. Pergunte os ingredientes da preparação, as
quantidades e medidas utilizadas na composição.
Exemplo: Mamadeiras
Leite integral em pó 02 colheres de sopa cheias
Açúcar 01 colher de sobremesa rasa
Mucilon de milho 01 colher de sopa cheia
d) Para alimentos como carnes (bovina, frango, peixe, porco, fígado), utilizar
unidades como: fatia (pequena, média, grande), pedaço (pequeno, médio,
grande), posta (pequena, média, grande).
e) Registre se a preparação da carne foi cozida, assada, grelhada, frita,
milanesa, etc.
f) No caso de verduras e legumes, perguntar os ingredientes da salada.
Exemplo: Salada de alface com tomate, pepino e cebola.
Alface 05 folhas
Tomate 04 rodelas
Pepino 03 fatias
Cebola 02 rodelas
Vinagre 01 fio
Azeite 01 fio
86
No caso de legumes (cenoura, chuchu, vagem, abóbora, abobrinha, milho, etc.)
registrar em colheres de sopa ou de servir e perguntar o tipo de preparação: cozidos
ou refogados.
g) Em preparações habituais como arroz, feijão e macarrão, utilizar as medidas
caseiras de referência (colher de sopa, colher de servir, concha, pegador de
macarrão).
h) Não fazer perguntas tendenciosas. Exemplo: Você tomou café da manhã?
Você come pouco?
Estando o entrevistador dentro do domicílio, em caso de dúvidas em relação às
medidas caseiras, poderá solicitar à apresentação do utensílio.
A equipe deverá ter, pelo menos, 03 horas de treinamento com profissional
nutricionista. O treinamento deverá incluir apresentação de kit básico de medidas
caseiras e álbum fotográfico para auxiliar na padronização da informação coletada.
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PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Orientação para Realização da Antropometria
88
MANUAL DO ANTROPOMETRISTA
Realizar antropometria consiste em realizar contato físico com as crianças e isso
pode desencadear um quadro de insegurança e estresse nas mesmas. Por isso,
existe a necessidade de paciência, concentração e cordialidade. Para realizar a
antropometria, é importante conversar e explicar às crianças e pais/responsáveis
como será ser realizado o procedimento. Muitas crianças tendem a chorar, se a
criança estiver muito agitada, solicite ao responsável que coloque a criança no colo
e espere um momento para que a criança acalme-se. Você deverá ser firme, mas
gentil com as crianças.
Para Realização da Pesagem
Para a mensuração do peso das crianças com até dois anos, será utilizada uma
balança pediátrica com capacidade para 15 kg e precisão de 5 g, marca Filizola. As
crianças maiores de dois anos de idade serão pesadas em balança com capacidade
de 150 kg e precisão de 50 g, marca Kratos.
Crianças com idade inferior a 02 anos
1º Passo – Calibrar e, em seguida, travar a balança.
2º Passo – Forrar a balança com papel.
3º Passo – Despir a criança com auxílio da mãe / responsável.
4º Passo – Colocar a criança no centro do prato, sentada ou deitada, de modo que o
peso fique distribuído uniformemente.
5º Passo – Destravar a balança e deslocar os pesos até que a agulha coincida com
o fiel, indicando haver atingido o peso da criança.
6º Passo – Manter a criança parada o máximo possível. Orientar a mãe /
responsável para manter-se próximo sem tocar na criança e no equipamento.
7º Passo – Após verificar que a agulha coincide com o fiel, a balança deverá ser
travada.
8º Passo – Retirar a criança e realizar a leitura em seguida.
9º Passo – Anotar o peso no formulário.
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Crianças com idade superior a 02 anos
1º Passo – Calibrar e, em seguida, travar a balança.
2º Passo – Despir a criança com auxílio da mãe / responsável.
3º Passo – Colocar a criança no centro da plataforma da balança travada, em
posição firme e com os braços estendidos ao longo do corpo.
4º Passo – Destravar a balança e deslocar os pesos até que a agulha coincida com
o fiel, indicando haver atingido o peso da criança.
5º Passo – Verificar a leitura do peso com cautela e atenção, à frente da balança e
com a cabeça da criança à esquerda do examinador, a fim de observar o indicador
da balança sem desvio.
6º Passo – Após verificar que a agulha coincide com o fiel, a balança deverá ser
travada.
7º Passo – Retirar a criança e realizar a leitura em seguida.
8º Passo – Anotar o peso no formulário.
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Para Realização do Comprimento
As crianças menores de 02 anos serão medidas com o auxílio de um
infantômetro com extensão de 1,20 m. Nas crianças maiores de dois anos, a altura
será obtida com o auxílio de um estadiômetro com extensão de 2,20 m, divisões em
centímetros e subdivisões em milímetros, fixado em uma parede plana e sem
rodapés.
Crianças com idade inferior a 02 anos
1º Passo – Colocar a criança deitada sobre uma superfície reta.
2º Passo – Deitar a criança no centro do infantômetro, descalça e com a cabeça
livre de adereços.
3º Passo – Manter com o auxílio da mãe / responsável a cabeça da criança apoiada,
firmemente, contra o esquadro ou prancha fixa do equipamento, com o pescoço reto
e o queixo afastado do peito e os ombros totalmente em contato com a superfície de
apoio do infantômetro e os braços estendidos ao longo do corpo.
91
4º Passo – As nádegas e os calcanhares deverão estar em pleno contato com a
superfície que apóia o infantômetro.
5º Passo – Pressionar, cuidadosamente, os joelhos da criança para baixo, com uma
das mãos, de modo que eles fiquem estendidos e retos. Juntar os pés, fazendo um
ângulo reto em relação às pernas. Levar o esquadro médio do instrumento até às
plantas dos pés, com cuidado para que não se mexam.
6º Passo – Realizar a leitura do comprimento.
7º Passo – Anotar o resultado no formulário e retirar a criança.
Crianças com idade superior a 02 anos
1º Passo – Posicionar a criança, com a cabeça livre de adereços, no centro da base
do estadiômetro. Mantê-la de pé, ereta, com os braços estendidos ao longo do
corpo, com a cabeça erguida olhando para um ponto fixo na altura dos olhos (linha
do horizonte).
2º Passo – Encostar os calcanhares, ombros e nádegas na parede onde o
estadiômetro esteja fixado.
3º Passo – Os ossos internos dos calcanhares devem tocar-se, bem como a parte
interna dos joelhos. Unir os pés, fazendo um ângulo reto com as pernas e
favorecendo o equilíbrio do indivíduo em posição bem ereta.
4º Passo – Abaixar o esquadro móvel do equipamento, fixando-o contra a cabeça
com pressão para comprimir o cabelo. Solicitar que a criança saia da base do
estadiômetro.
92
5º Passo – Realizar a leitura da estatura sem soltar a parte móvel do equipamento.
6º Passo – Anotar o resultado no formulário e retirar a criança.
Para Realização da Circunferência braquial
1º Passo – Posicionar a criança com os braços relaxados ao lado do corpo.
2º Passo – Marcar e medir o ponto médio entre o acrômio e o olécrano.
3º Passo – Realizar a leitura com o auxílio de uma fita métrica inelástica.
4º Passo – Anotar o resultado no formulário da criança.
Para Realização da Circunferência Cefálica
1º Passo – Posicionar a criança em pé, relaxadamente, com o lado esquerdo de
frente para o examinador.
2º Passo – A fita métrica inelástica é colocada logo acima das bordas supra-
orbitárias e sobre a proeminência máxima do occipital, ao redor da cabeça e no
mesmo nível.
3º Passo – A marca zero da fita deverá ficar acima da leitura.
4º Passo – Realizar a leitura e anotar o resultado no formulário da criança.
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Para Realização das Dobras Cutâneas Tricipital e Subescapular
As dobras cutâneas tricipital e subescapular serão realizadas por meio da
utilização de um adipômetro (Sigma). As medidas deverão ser realizadas no braço
não dominante com as crianças de pé, em posição relaxada. Na impossibilidade
para ficar de pé, as medidas serão realizadas em posição deitada.
Dobra Cutânea Tricipital
1º Passo – Posicionar a criança de costas para o examinador, com o braço relaxado
ao lado do corpo.
2º Passo – Marcar e medir o ponto médio entre o acrômio e o olécrano.
3º Passo – Com os dedos polegar e indicador da mão direita, o examinador deve
subelevar o tecido subcutâneo acima do músculo tríceps, de maneira que não
contemple o músculo.
4º Passo – Realizar a medição da dobra no braço não dominante relaxado e caído
lateralmente.
5º Passo – Segurar a dobra cutânea e realizar a leitura com o auxílio do adipômetro,
no milímetro mais próximo.
6º Passo – Realizar a leitura e anotar o resultado no formulário da criança.
Dobra Cutânea Subescapular
1º Passo – Posicionar a criança de costas para o examinador, com os ombros
relaxados.
2º Passo – Com os dedos polegar e indicador da mão direita, a dobra subescapular
é medida diretamente abaixo do ângulo inferior da escápula.
3º Passo – Segurar a dobra cutânea e realizar a leitura com o auxílio do adipômetro,
no milímetro mais próximo.
4º Passo – Realizar a leitura e anotar o resultado no formulário da criança.
Observação: A localização do ponto médio pode ser facilitada se o braço do
indivíduo for flexionado para trás.
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Observação: Para aumentar a precisão das medidas e a confiabilidade dos dados,
recomenda-se que sejam realizadas duas medidas, calculando-se posteriormente a
média dos valores obtidos.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância alimentar e nutricional – Sisvan:
orientações básicas para a coleta, processamento, análise de dados e informações
em serviços de saúde. Publicação da CGPAN do Ministério da Saúde e OPAS, com
a parceria da Fiocruz e do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
FISBERG, R. M.; SLATER, B.; MARTINI, L. A. Métodos de Inquéritos Alimentares.
In: FISBERG, R. M.; SLATER, B.; MARCHIONI, D. M. L.; MARTINI, L. A. Inquéritos
Alimentares: métodos e bases científicas. 1.ed. São Paulo: Manole, p.2-7, 2005..
GIBSON, R.S. Food consumption of individuals. In: Principles of nutritional
assessment. Oxford University Press, p.37-54, 1990.
SLATER, B.; MARCHIONI, D. L.; FISBERG, R. M. Estimando a prevalência da
ingestão inadequada de nutrientes. Rev. De Saúde Pública. São Paulo: v. 38, n. 4, p.
599-605, 2004.
VASCONCELOS, A. G. V. Avaliação nutricional de coletividades. Santa Catarina:
Editora da UFSC. 146 p. 1993.
VASCONCELOS, S. M. L. Manual de Avaliação nutricional de enfermos nas
diversas etapas da vida. Alagoas: Edufal. 149 p. 2003.
ZABOTTO, C. B. et al. Registro Fotográfico para Inquéritos Dietéticos: utensílios e
Porções. Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição – Ministério da Saúde -
Secretaria de Programas Especiais. Goiânia: UFG, 1996. 74 p.
95
APÊNDICE C. QUESTIONÁRIO
DATA: ___/___/___
I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA
1. Nome: ______________________________________________ (opcional)
2. Data de Nascimento: ____/____/____ 3.Idade: _____ 4. Sexo ________
5. Procedência: __________________________________
6. Cor: Branca Negra Mulata Amarela Parda
II - NASCIMENTO E DIAGNÓSTICO DA DEFICIÊNCIA
1. O diagnóstico da hidrocefalia foi dado: Ainda na gravidez Ao nascer
2. Tempo decorrido entre o diagnóstico e a busca de atendimento especializado:
________ semanas. Não sabe
3. Quem percebeu o diagnóstico? Médico obstetra Médico pediatra Médico
neurocirurgião Enfermeiro Outros__________
4. Qual foi o peso da criança ao nascimento? ________ gramas. Não sabe
5. Qual foi a idade gestacional ao nascimento? _______ semanas. Não sabe
6. Qual foi a adequação do peso à idade gestacional ao nascimento? PIG AIG
GIG
III – HISTÓRICO DE DOENÇAS ANTERIORES E ATUAL
1. A criança foi operada em decorrência da hidrocefalia?
Sim Não Não sabe
Se sim, quantas vezes? ________ vezes.
2. Qual o nível de recuperação pós-cirurgia?
Ótimo Bom Regular Péssimo
96
3. A criança ainda apresenta algum sintoma da hidrocefalia (marcar mais de 1, se
necessário)? Sim Não
Se sim, qual? Vômito Dor de cabeça Defeitos na válvula Infecção
Convulsão Cabeça continua grande É acamada Outros __________ Não
sabe
4. Quantas vezes a criança foi hospitalizada por causa da hidrocefalia?
1 vez 2 vezes 3 ou mais vezes
5. Quantos dias a criança ficou internada na última hospitalização? ______ dias.
6. A criança apresentou alguma doença, além da hidrocefalia?
Sim Não Não sabe informar
Se sim, qual? Respiratório Coração Alergia Rim Baixo peso
Diarréia Outros __________ Não sabe
7. A criança apresentou doença nos últimos dias (diarréia, febre, tosse, coriza, etc.)?
Sim Não
Se sim, qual? __________________________
8. Quem é o cuidador da criança? _____________________________
9. A criança está com alguma vacina atrasada?
Sim Não Não sabe
10. A criança foi (é) amamentada ao peito alguma vez?
Sim Não Não sabe
Se sim, quanto tempo? ________ dias
11. Até quando a criança recebeu somente leite do peito? _________ dias
12. A mãe da criança fez pré-natal? Sim Não Não sabe
Se sim, quantas consultas fez com o médico antes do parto? _____ consultas
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13. A mãe tomou suplemento de ácido fólico? Sim Não Não sabe
14. A mãe tomou algum outro suplemento vitamínico ou mineral? Sim Não
Não sabe
IV- HISTÓRIA SÓCIO-ECONÔMICA FAMILIAR
1. Escolaridade Materna:
Anos completos de estudo: __________ anos
2. Escolaridade Paterna:
Anos completos de estudo: __________ anos
3. Situação conjugal
Solteiro Casado União Estável Viúvo Separado Divorciado
4. O pai exerce ocupação remunerada? Sim Não
5. A mãe exerce ocupação remunerada? Sim Não
Se não, exercia ocupação remunerada antes da doença da criança?
Sim Não
Se sim, por que não exerce mais?
Deixou para ser cuidador Está desempregado É aposentado
Recebe auxílio doença Outros _____
6. Recebe ajuda financeira de alguém?
Sim Não Não sabe
Se sim, quem ajuda? ___________
7. Qual a renda mensal bruta da família? _____________ reais.
8. Qual o número de dependentes da renda? _________ pessoas.
9. Tem casa própria? Sim Não
10. Qual a forma de abastecimento de água para a residência?
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Rede pública Poço Nascente Chafariz Outra forma: ____________
11. A água de beber recebe algum tratamento? Sim Não
Se sim, qual? Mineral Filtrada Fervida Coada Outra forma:_______
12. Na casa tem banheiro? Sim Não
Se sim, como é o esgoto sanitário? Ligado à rede pública Ligado à fossa
séptica Ligado à fossa rudimentar Outra forma:_______________
13. Qual o destino que é dado ao lixo da casa da criança?
Coletado pelo carro da prefeitura Terreno baldio próximo de casa
Queimado Outra forma: ____________
V. MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS:
1. Peso: __________________________________________________
2. Altura: _________________________________________________
3. Circunferência Cefálica: ___________________________________
4. Circunferência do Braço: __________________________________
5. Prega Cutânea do Tríceps: _________________________________
6. Prega Cutânea Subescapular: ______________________________
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APÊNDICE D. RECORDATÓRIO DE 24 HORAS Nome: ____________________________________________________________________ Nome do Entrevistador: ______________________________________________________ Data da Entrevista: ____/____/____ Dia da Semana: ___________________ Anotar a refeição, o local e horário onde foi realizada, os alimentos e/ou preparações (ingredientes) consumidos no dia anterior. Anotar as marcas comerciais, medidas caseiras, os utensílios (tipo de colher, copo, prato, etc.).
Refeição: Local e Horário Alimentos e/ou Preparações Quantidades / Medidas Caseiras
Observações:_______________________________________________________________
___________________________________________________________________________