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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE VARIAÇÃO DE CURTO E LONGO PRAZO NA ECOLOGIA DE CALLICEBUS COIMBRAI KOBAYASHI E LANGGUTH 1999: IMPLICAÇÕES PARA A CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES NA PAISAGEM FRAGMENTADA DA MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE Autora: Isadora Pereira Fontes Orientador: Stephen Francis Ferrari, Ph.D Março - 2011 São Cristóvão – Sergipe Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENT E

VARIAÇÃO DE CURTO E LONGO PRAZO NA ECOLOGIA DE CALLICEBUS

COIMBRAI KOBAYASHI E LANGGUTH 1999: IMPLICAÇÕES PARA A

CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES NA PAISAGEM FRAGMENTADA D A

MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE

Autora: Isadora Pereira Fontes Orientador: Stephen Francis Ferrari, Ph.D

Março - 2011

São Cristóvão – Sergipe Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENT E

VARIAÇÃO DE CURTO E LONGO PRAZO NA ECOLOGIA DE CALLICEBUS

COIMBRAI KOBAYASHI E LANGGUTH 1999: IMPLICAÇÕES PARA A

CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES NA PAISAGEM FRAGMENTADA D A

MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe,

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre

em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Autora: Isadora Pereira Fontes Orientador: Stephen Francis Ferrari, Ph.D

Março - 2011 São Cristóvão – Sergipe

Brasil

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTR AL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

F683v

Fontes, Isadora Pereira Variação de curto e longo prazo na ecologia de Callicebus coimbrai Kobayashi e Langguth 1999: implicações para a conservação de populações na paisagem fragmentada da Mata Atlântica de Sergipe / Isadora Pereira Fontes. – São Cristóvão, 2011.

80 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Núcleo de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Programa Regional de Desenvolvimento e Meio Ambiente, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2011.

Orientador: Prof. Dr. Stephen Francis Ferrari.

1. Callicebus coimbrai. 2. Ecologia animal. 3. Guigós – Habitat – Sergipe. I. Título.

CDU 599.822:591.5(813.7)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DESENVOLVIMENTO REGIONAL PROGRAMA REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENT E

VARIAÇÃO DE CURTO E LONGO PRAZO NA ECOLOGIA DE CALLICEBUS

COIMBRAI KOBAYASHI E LANGGUTH 1999: IMPLICAÇÕES PARA A

CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES NA PAISAGEM FRAGMENTADA D A

MATA ATLÂNTICA DE SERGIPE

Dissertação de Mestrado defendida por Isadora Pereira Fontes e aprovada em 30 de março de 2011 pela banca examinadora constituída pelos doutores:

_______________________________________________ Dr. Stephen Francis Ferrari – Orientador

Universidade Federal de Sergipe

________________________________________________ Dra. Adriana Bocchiglieri

Universidade Federal de Sergipe

________________________________________________ Dra. Andressa Sales Coelho

Universidade Federal de Sergipe

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Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

________________________________________________ Dr. Stephen Francis Ferrari – Orientador

Universidade Federal de Sergipe

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É concedida ao Núcleo responsável pelo Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe permissão para disponibilizar, reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias.

________________________________________________ Isadora Pereira Fontes – Autora

Universidade Federal de Sergipe

________________________________________________ Dr. Stephen Francis Ferrari – Orientador

Universidade Federal de Sergipe

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A meus pais

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Dr. Stephen Francis Ferrari, ou simplesmente Steve, pela oportunidade de

conhecer mais sobre o universo dos primatas, pela excelente orientação, apoio e paciência

nas correções dos textos, muito obrigada!!! A Dra. Adriana Bocchiglieri e a Dra. Andressa

Coelho por aceitarem o convite para participar da banca de examinação. Ao grupo de

guigós, Rainha, Rabo Curto, Cara Preta, Menininho e Pingo que permitiram que eu fizesse

parte de seu dia-a-dia. Ao José Elias, mais conhecido como Bóia, e toda sua família

(Cristina e filhos, Sr. João, Tiago, Batista, José e Maria) por me receber em sua casa e me

tratar tão bem que hoje considero vocês como bons grandes amigos que ganhei, obrigada

por ter feito dos meus dias em campo menos cansativos! Ao Sr. Ary Ferreira da Silva,

proprietário da Fazenda Trapsa, que permitiu o desenvolvimento do estudo no local e que

continua até os dias de hoje nos ajudando no que for possível, obrigada! Ao Adriano,

Diego, Liliane e Uréia que foram meus auxiliares em campo, obrigada pela ajuda

necessária! Ao Herbário ASE pela identificação do material botânico. Ao professor Dantas

pela identificação entomológica. A Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD)

pela concessão da bolsa de mestrado e à Fundação Boticário de Proteção à Natureza,

(PICN 200920060), pelo apoio financeiro. Ao Bruno, obrigada pelos carteados, conversas

e pelo bom e velho chopp madrugada afora, sempre momentos maravilhosos que me

animavam! Dani, obrigada pelas inúmeras receitas para melhorar meus hematomas de

picadas de insetos. A Thia que mesmo de longe sempre se fez presente, até digitando

planilhas, isso que é amizade! Família Hounston, vocês me deram energias quando eu mais

necessitava, obrigada por todo o respeito e carinho que existe entre nós! Débora, Dig,

Cíntia, Dielle e Thiago obrigado pelas grandes gargalhadas. Minhas amigas-irmãs, Mônica,

Marcela e Denise, que maravilhosos foram todos nossos momentos até hoje, vocês são

meu refúgio! A Fra, pelas ligações e torpedos enquanto estava em campo e até por ter ido a

campo comigo para dar forças! Aos colegas de turma do PRODEMA e do Laboratório de

Ecologia da Conservação pelas discussões entusiasmadas e recheadas de informações. João

Pedro e Renata obrigada pela ajuda ao me “apresentar” a Trapsa e pela ajuda na parte dos

tratamentos dos dados. Não posso deixar de agradecer a dinda Arlete por todas nossas

conversas e risadas de sempre, seja por telefone quando estava em campo ou pessoalmente.

Um agradecimento mais que especial ao meu tio e padrinho Rami (in memoriam) por todo

amor, incentivo, apoio, momentos inesquecíveis de lazer e teimosia (de ambas as partes,

hein?!), por ter me ensinado a lutar sempre e a viver intensamente todos os milésimos de

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segundos! A tia Lalai pelas aventuras na jogatina do buraco e pelas conversas sempre

animadas quando não estava em campo. A vovó Eta (in memoriam) por ter me mostrado a

virtude da sabedoria e da simplicidade. A painho e mainha, Môa e Sônia, pelo confiança e

amor incondicional que recebo todos os dias, não foi diferente durante o mestrado, amo

vocês!!! Enfim, a todos meus familiares e amigos que torciam para que eu não fosse

devorada pelos insetos, voltasse inteira do campo e que completasse mais essa etapa de

minha vida, MUITO OBRIGADA!!!

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RESUMO

O conhecimento sobre o comportamento natural de uma espécie ameaçada de extinção é

pré-requisito para se trabalhar com a conservação dessas espécies. Dessa maneira, este

estudo descreveu o padrão comportamental e a dieta de um grupo de guigós ameaçados de

extinção (Callicebus coimbrai) visando uma maior compreensão sobre essa espécie no

Estado de Sergipe e, subsidiar futuras estratégias de conservação e manejo de suas

populações remanescentes assim como os ecossistemas que habita. O estudo foi realizado

na Fazenda Trapsa localizada no município de Itaporanga D’Ajuda. Um grupo de

Callicebus coimbrai foi monitorado de janeiro a novembro de 2010 usando varredura

instantânea (1 minuto de scan a intervalos de 5 minutos) e amostragem de “todas as

ocorrências”. O grupo era composto por um casal de adultos mais um macho adulto e um

macho juvenil. O segundo macho adulto desapareceu entre abril e maio enquanto que um

infante nasceu em dezembro. O grupo passou 33,5% do tempo descansando, 29,6% em

alimentação, 25,1% em deslocamento, 6,8% em interações sociais e 3,1 forrageando (1,9%

outros). O período de atividade diária foi significantemente maior durante a estação seca

quando o tempo que os guigós passaram descansando também foi significantemente maior.

O grupo se alimentou principalmente de frutos (57,3%) e folhas (26,9%), seguidos de

sementes (7,8%) e flores (6.7%), com a ingestão de alguns insetos (1,1%). Foi utilizado

um total de 49 plantas durante a alimentação, das quais 22 foram identificadas e as demais

estão em processo de identificação. Dentre as espécies identificadas, as mais consumidas

pertencem às famílias Sapotaceae, Elaeocarpaceae, Myrtaceae. O consumo de fruto e

semente foi maior na estação chuvosa. Folhas, flores e insetos na estação seca. O grupo

utilizou uma área total de 13,5 hectares com 12,50 hectares utilizados na estação seca e

apenas 10,75 hectares na estação chuvosa, com uma preferência significante para a

Floresta Madura. No geral, o grupo estudado apresentou padrões típicos para o gênero

Callicebus e também apresentou tolerância a fragmentação de hábitats. Os resultados

encontrados pretenderam aumentar as informações sobre a ecologia comportamental do C.

coimbrai com uma visão sazonal e entre anos visando o desenvolvimento de estratégias de

manejo efetivas para Callicebus coimbrai e contribuir com planos futuros de conservação

dos fragmentos de Mata Atlântica.

Palavras-chave: Callicebus coimbrai, orçamento de atividades, dieta, sazonalidade,

fragmentação de hábitats.

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ABSTRACT

Short- and long-term variation in the ecology of Calicebus coimbrai Kobayashi &

Langguth 1999: implications for the conservation of populations in the fragmented

landscape of the Atlantic Forest of Sergipe

This study focused on the behavior patterns and diet of a free-ranging group of

endangered titis (Callicebus coimbrai) with the aim of better understanding the ecology of

the species in Sergipe and contributing to the development of effective strategies for the

conservation of remnant populations and the ecosystems they inhabit. The study took place

on the Fazenda Trapsa in the municipality of Itaporanga D’Ajuda, where the behavior of a

group of C. coimbrai was monitored using scan samples (1-minute scan at 5-minute

intervals) and “all-events” sampling between January and November, 2010. The group was

composed of an adult pair, an additional adult male, and a juvenile. The second adult male

disappeared in April/May, while an infant was born in December. The overall activity

budget of the study group was 33.5% rest, 29.6% feeding, 25.1% locomotion, 6.8% social

interaction, and 3.1% foraging (1.9% others). The daily activity period was significantly

longer during the dry season, when the time spent at rest was also significantly greater. The

group fed primarily on fruit (57.3%) and leaves (26.9%), followed by seeds (7.8%) and

flowers (6.7%), with some insects (1.1%). A total of 49 plant species were exploited, with

the Sapotaceae, Elaeocarpaceae, and Myrtaceae being the most important families in terms

of the number of feeding records. The consumption of fruit and seeds was significantly

greater in the rainy season, while that of flowers, leaves, and insects was greater in the dry

season, although no clear pattern was observed in relation to the availability of fruit or

leaves. The study group used a home range of 13.5 ha, and a slightly larger area in the dry

season (12.5 ha) in comparison with the rainy season (10.8 ha), with a significant

preference for mature forest. Overall, the behavior and ecology of the study group was

typical of the genus, which suggests a high degree of tolerance for the effects of habitat

fragmentation. The results of the study provide a number of insights into the ecology of the

species, in particular the seasonal and longitudinal variation in many parameters, which

will provide an important baseline for the conservation of the species and the ecosystems it

inhabits.

Key words: Callicebus coimbrai, activity budget, seasonality, habitat fragmentation.

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS xiv

LISTA DE TABELAS xvi

LISTA DE QUADROS xvii

1. INTRODUÇÃO 1

1.1. Fragmentação da mata atlântica 1

1.2. Vida social e dieta de primatas 5

1.3. O gênero Callicebus Thomas, 1903 7

1.4. Callicebus coimbrai, Kobayashy & Langguth, 1999 10

2. OBJETIVOS 13

2.1. Objetivo geral 13

2.2. Objetivos específicos 13

3. MÉTODOS 14

3.1. Área de estudo 14

3.2. Variação Sazonal 16

3.2.1. Clima 16

3.2.2. Fenologia vegetal 17

3.3. Estudo comportamental 18

3.3.1. Grupo de estudo 18

3.3.2. Padrão de atividades 19

3.3.3. Uso do espaço 20

3.4. Análise de dados 20

3.4.1. Fenologia Vegetal 21

3.4.2. Dados comportamentais 21

3.4.3. Dieta 21

3.4.4. Uso do espaço 22

4. RESULTADOS 23

4.1. Fenologia vegetal 23

4.2. Padrão geral de atividades comportamentais 24

4.2.1. Variação sazonal das atividades comportamentais 29

4.3. Relações interespecíficas 31

4.4. Dieta 32

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xiii

4.4.1. Composição da dieta 32

4.4.2. Variação sazonal na utilização de recursos alimentares 36

4.5. Uso do espaço 38

4.5.1. Área de vida 38

4.5.2. Sítios de dormida 40

4.5.3. Uso do espaço vertical 41

4.5.4. Preferência de hábitat 42

5. DISCUSSÃO 45

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 56

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xiv

LISTA DE FIGURAS Página

Figura 1 Ecossistemas que constituem o Bioma Mata Atlântica, conforme Lei Federal 11.428 (Brasil, 2006); Decreto 6.660 (Brasil, 2008).

2

Figura 2 Distribuição dos principais agrupamentos de fragmentos de Mata Atlântica sergipanos, de acordo com Santos (2009).

5

Figura 3 Distribuição geográfica do gênero Callicebus, grupo personatus em cinza escuro e o grupo da Amazônia em cinza claro (fonte: Ferrari et al., no prelo).

9

Figura 4 Distribuição geográfica das espécies de Callicebus do grupo personatus (modificado de Printes, 2007). Destaque para a área de distribuição do Callicebus coimbrai nos estados da Bahia e Sergipe.

10

Figura 5 Callicebus coimbrai: a) Ilustração de Stephen D. Nash (van Roosmalen et al., 2002); b) Macho adulto consumindo folha na Fazenda Trapsa (Foto: I. Fontes); c) Fêmea adulta em cativeiro (Foto: L. Jerusalinsky).

12

Figura 6 Foto aérea da Fazenda Trapsa destacando os fragmentos florestais. Destaque para o fragmento Camboinha (adaptada de Chagas, 2009).

15

Figura 7 Sistema quadriculado de trilha com 50 x 50m no fragmento Camboinha. (Souza-Alves, 2010)

16

Figura 8 Precipitação mensal no município de Itaporanga D’Ajuda, Sergipe (SEMARH, 2011). Média histórica se refere ao período de 1958 a 2008.

16

Figura 9 Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa: a) Cara Preta; b) Menininho; c) Rabo Curto; d) Rainha (Fotos: I. Fontes)

18

Figura 10 Número de espécies e indivíduos frutificando mensalmente nas parcelas de monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, SE.

23

Figura 11 Percentagem de cobertura de folhas novas registrada mensalmente nas parcelas de monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, SE.

24

Figura 12 Orçamento de atividades do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe, baseado nos registros de amostragem de varredura.

27

Figura 13 Variação na frequência de vocalizações de Callicebus 27

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xv

coimbrai no decorrer do dia na Fazenda Trapsa, SE.

Figura 14 Interações sociais observadas no grupo estudado: (a) Menininho brincando com Rabo Curto; (b) Rabo Curto catando Menininho.

29

Figura 15 Variação mensal no orçamento de atividades do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, SE, baseada nas proporções de registros de varredura.

29

Figura 16 Proporção de itens da dieta de guigós na Fazenda Trapsa, SE, baseada nos registros de varredura.

33

Figura 17 Variação das espécies utilizadas como recurso pelo grupo estudado de Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

35

Figura 18 Variação mensal dos itens alimentar consumidos pelo grupo de guigós estudado na Fazenda Trapsa, Sergipe. *Folha jovem e madura.

37

Figura 19 Mapa do fragmento Camboinha com a área de vida do grupo de Callicebus coimbrai estudado, Trapsa -SE.

39

Figura 20 Mapa do fragmento Camboinha com a área de vida do grupo de Callicebus coimbrai estudado, Trapsa -SE.

39

Figura 21 Área de vida ocupada pelos guigós na estação seca e chuvosa no fragmento Camboinha da Fazenda Trapsa, SE.

40

Figura 22 Localização das árvores de dormida na área de vida do grupo estudado de Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

41

Figura 23 Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

42

Figura 24 Indivíduo, Rabo Curto, ingerindo alimento no chão do fragmento, Trapsa, SE.

42

Figura 25 Comparação do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de estudo (percentagem dos registros de varredura) e a disponibilidade (esperado) dos hábitats dentro da área de vida do grupo de estudo. FM = floresta madura; FS = floresta secundária, FA = floresta antrópica.

43

Figura 26 Variação entre as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e chuvosa (abril-julho) do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de estudo (percentagem dos registros de varredura). FM = floresta madura; FS = floresta secundária, FA = floresta antrópica.

44

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xvi

LISTA DE TABELAS Página

Tabela 1 Categorias de hábitats utilizadas para classificar a vegetação nos quadrante do fragmento amostrado (Souza-Alves 2010).

15

Tabela 2 Categorias e descrição dos comportamentos amostrados para o grupo de estudo (adaptada de Souza-Alves, 2010).

20

Tabela 3 Dias de monitoramento, varreduras e registros mensais do grupo de estudo de Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe

25

Tabela 4 Período de atividade (início e término) do grupo de Callicebus coimbrai durante os meses de estudo na Fazenda Trapsa, Sergipe.

26

Tabela 5 Escores de z binomial para a comparação sazonal da proporção de tempo gasto pelos membros do grupo de estudo em cada categoria comportamental entre as estações chuvosa (abril, maio, junho e julho) e seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

30

Tabela 6 Tempo total gasto por mês em atividade pelos membros do grupo de estudo.

30

Tabela 7 Escores de z binomial para a comparação da duração total de cada comportamento entre as estações chuvosa (abril, maio, junho e julho) e seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

31

Tabela 8 Espécies de plantas consumidas pelo grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, SE.

34

Tabela 9 Contribuição das 10 espécies mais consumidas pelo grupo de Callicebus coimbrai na estação seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

35

Tabela 10 Contribuição das 10 espécies mais consumidas pelo grupo de Callicebus coimbrai na estação chuvosa (abril-julho).

36

Tabela 11 Escores de z binomial para a comparação da proporção de itens consumidos na estação chuvosa (abril-julho) e seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) pelo grupo de guigós estudado.

38

Tabela 12 Utilização dos sítios de dormida pelos guigós na Fazenda Trapsa, SE.

41

Tabela 13 Orçamento de atividades registrado para espécies do gênero Callicebus (valores arredondados).

48

Tabela 14 Composição mensal da dieta do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda Trapsa, SE, em 2009 (Souza-Alves, 2010).

49

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xvii

LISTA DE QUADROS Página

Quadro 1 Comparação da composição da dieta registrada em outros estudos de Callicebus com o presente estudo (valores arredondados).

50

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Fragmentação da Mata Atlântica

A Mata Atlântica é um complexo bioma composto por uma grande diversidade de

ecossistemas. A classificação que se utiliza aqui é a mesma considerada pela legislação

brasileira (Brasil, 2006; Brasil, 2008). De acordo com esta classificação, esse bioma é

constituído por diversos ecossistemas associados a formações florestais nativas vegetais,

como floresta ombrófila densa, mista (mata de araucárias) e aberta, floresta estacional

semidecidual e decidual, bem como os manguezais, as vegetações de restingas, campos de

altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste (Figura 1).

A Mata Atlântica que se estendia originalmente por todo o litoral brasileiro oriental,

hoje está reduzida a poucos fragmentos, na sua maioria descontínuos, que ocupam menos

de 7% da sua cobertura original (Arruda & Nogueira de Sá, 2004). Destes, menos de 2%

estão protegidos em unidades de conservação oficiais. Mesmo nesse cenário, a Mata

Atlântica apresenta uma rica e complexa biodiversidade, com grande número de

endemismos, sendo considerada como um dos hotspots de biodiversidade mundial (Myers,

1988 ; Mittermeier et al., 1999).

Myers et al. (2000) classificaram a Mata Atlântica como um dos cinco mais

importantes hotspots mundial. Atualmente, hotspots são áreas prioritárias para a

conservação, porque representam regiões com alto grau de biodiversidade em relação ao

tamanho de sua área. São consideradas hotspots as regiões que perderam mais de 70% de

sua vegetação original e possuem 0,5% ou 1500 de espécies vegetais endêmicas do total

mundial (Myers et al., 2000).

De acordo com o Ministério de Meio Ambiente, a Mata Atlântica abriga cerca de

250 espécies de mamíferos (das quais, 55 endêmicas), 1023 de aves (188 endêmicas), 340

de anfíbios (90 endêmicas), 197 de répteis (60 endêmicas) e 350 de peixes (133

endêmicas), além disso, a Mata Atlântica detém mais da metade (383) das espécies

brasileiras ameaçadas de extinção, que atualmente são 633 (Fundação SOS Mata Atlântica

& INPE, 2009).

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2

Figura 1. Ecossistemas que constituem o Bioma Mata Atlântica, conforme Lei Federal

11.428 (Brasil, 2006); Decreto 6.660 (Brasil, 2008).

A fragmentação das florestas tropicais representa uma grande ameaça para a

biodiversidade do planeta (Tabarelli & Gascon, 2005), já que as relações ecológicas

animal-planta são alteradas e estas influenciam a auto-sustentação do ecossistema. As

espécies frugívoras sofrem especialmente e os primatas representam a maior biomassa

desses animais (Terborgh,1986). Os estudos de conservação têm como um dos propósitos

solucionarem os problemas da perda de biodiversidade e fragmentação de hábitats (Rocha,

2000).

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3

Os pesquisadores valendo-se dos conceitos de metapopulações (Hanski & Gilpin,

1997) e da Teoria de Biogeografia de Ilhas (Mac Arthur & Wilson, 1967), procuram

conectar as paisagens para as populações que se encontram isoladas, permitindo a

migração entre os fragmentos florestais. Uma alternativa para preservação e recuperação

desses fragmentos é a utilização de corredores ecológicos, proporcionando um fluxo

genético entre as populações isoladas, evitando as extinções locais de espécies (Kierulff &

Rylands, 2003).

Preservar a Mata Atlântica também significa conservar as bacias hidrográficas e as

reservas de água doce, tornando-se fundamental para a garantia da sobrevivência das

populações (Fundação SOS Mata Atlântica, 2010). Dessa maneira, pensar em alternativas

que conduzam ao manejo sustentável da Mata Atlântica faz-se necessário, visando o

aproveitamento dos seus recursos ecológicos e econômicos.

A Mata Atlântica nordestina continua surpreendendo pela diversidade de sua flora e

fauna, inclusive de primatas. Entre os avanços mais importantes dos últimos anos,

destacam-se a descoberta de uma espécie, Callicebus coimbrai (Kobayashi & Langguth,

1999) e a “redescoberta” de outra, Cebus flavius (Oliveira & Langguth, 2006). A maioria

das espécies nordestinas está ameaçada ou até criticamente ameaçada de extinção e apesar

desse cenário faltam muitas informações básicas, até mesmo sobre a distribuição

geográfica das espécies, as quais são necessárias para o desenvolvimento de estratégias de

conservação efetivas.

Em Sergipe, a Mata Atlântica encontra-se reduzida a 8% de sua cobertura original

distribuindo-se numa estreita faixa litorânea (Santos, 2009). A sua devastação,

fragmentação e, consequentemente, a perda da biodiversidade demonstram a necessidade

de estudos visando medidas para a sua conservação. Segundo Santos (2009), a Mata

Atlântica sergipana encontra-se distribuída em cinco agrupamentos principais (Figura 2),

nos quais seus fragmentos tipicamente variam entre 17 e 70 hectares. Apesar de se

encontrarem bastante degradados, possuem características “satisfatórias de formato e

conectividade” (Santos, 2009, p. 54) tornando-os áreas prioritárias para preservação.

A espécie de primata de destaque no Estado de Sergipe é Callicebus coimbrai

Kobayashi & Langguth 1999, conhecida como guigó de Coimbra-Filho ou guigó de

Sergipe. Os dados atuais indicam que sua distribuição geográfica delimita-se ao norte pelo

rio São Francisco, ao sul pelo rio Paraguaçu, pelo Oceano Atlântico a leste, e o limite

ocidental parece coincidir com a transição da Mata Atlântica para a Caatinga, onde é

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encontrada outra espécie de guigó, o Callicebus barbarabrownae (Printes, 2005).

(Jerusalinsky et al., 2006).

Callicebus coimbrai foi classificada em 2008 pela IUCN como ameaçada de

extinção (Veiga et al., 2008a), devido à sua distribuição geográfica restrita em consonância

com a degradação e fragmentação do seu hábitat. As evidências disponíveis (Sousa, 2000,

2003; Printes, 2005; Jerusalinsky et al., 2006; Sousa et al., 2008; Beltrão-Mendes, 2010;

Santos Júnior, 2010) indicam que grupos de Callicebus spp. são encontrados em pelo

menos 83 localidades entre os estados de Sergipe e Bahia, alguns sobrevivendo em

fragmentos de menos de 10 hectares. Dessa maneira nota-se que as informações sobre a

distribuição de C. coimbrai estão aumentando à medida que novos estudos são realizados,

e vem sugerindo que essa espécie é relativamente tolerante às perturbações de hábitat.

Entretanto, a degradação de seu hábitat e a fragmentação de suas populações ainda é uma

grande ameaça à preservação da espécie.

Ainda de acordo com Jerusalinsky et al. (2006) e Ferrari et al. (no prelo), o

comportamento do C. coimbrai de emigrar do seu grupo natal quando atinge a maturidade

sexual associado à sua distribuição em fragmentos isolados pode, em longo prazo,

comprometer a sobrevivência da espécie. Para sabermos se os grupos de C. coimbrai nos

fragmentos pequenos sobreviverão ao longo de gerações, ainda faltam estudos de longo

prazo sobre sua ecologia e comportamento que ajudarão no planejamento de abordagens de

conservação e manejo da espécie frente a sua atual situação.

O Estado de Sergipe é o menor do Brasil e apresenta uma fauna de primatas

relativamente rica e complexa, pois não só a espécie Callicebus coimbrai é encontrada

aqui, mas também Cebus xanthosternos (Kierulff et al., 2008) e Callicebus

barbarabrownae, ambas criticamente ameaçadas (Veiga et al., 2008b), além do sagui-

comum, Callithrix jacchus e, possivelmente, Callithrix penicillata.

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Figura 2. Distribuição dos principais agrupamentos de fragmentos de Mata Atlântica

sergipanos, de acordo com Santos (2009).

1.2. Organização social e dieta de primatas

Os primatas são seres sociais, essa característica apresenta benefícios e custos.

Segundo Alcock (1984), as vantagens são: melhoria na defesa de recursos limitados

(alimento e espaço) contra outros grupos de intrusos coespecíficos, melhoria na eficiência

para obter alimentos, maior proteção contra predação pela melhoria na detecção ou

repulsão de inimigos e melhoria no cuidado das crias por meio da alimentação comunal ou

proteção. As desvantagens são: aumento do risco de proliferação por doenças contagiosas

ou parasitárias, aumento do risco de exploração do cuidado parental de coespecíficos,

aumento do risco de coespecíficos assassinar um filhote e aumento da competição dentro

do grupo por alimentos, parceiros sexuais, locais para nidificação, material para nidificação

ou outros recursos limitados.

Kappeler & van Schaik (2002) classificaram o sistema social de primatas em

relação a três vertentes principais: organização social (refere-se ao tamanho, composição

sexo-etária e coesão espaço-temporal do grupo social), sistema de acasalamento e estrutura

social (padrão de interações sociais entre os indivíduos do grupo). Diferentes espécies de

primatas apresentam peculiaridades que demonstram a grande adaptabilidade que possuem

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aos mais diversos ambientes e situações, respondendo aos desafios da evolução com

múltiplos sistemas de acasalamento, mecanismos de controle populacional e hábitos

sociais complexos (Guimarães, 2007). Nessa gama de variações, encontram-se desde

espécies de hábitos noturnos, com ciclos ovarianos do tipo estral que utilizam sistemas de

acasalamento do tipo disperso, como os lêmures (Lemur catta), até antropóides com

hábitos diurnos, ciclo ovariano do tipo menstrual e sistemas poligâmicos de acasalamento,

como os gorilas (Gorilla gorilla). Entre esses dois extremos encontram-se espécies que

vivem em sistemas monogâmicos estáveis, com ciclos ovarianos do tipo estral, porém

acasalando em qualquer fase do ciclo (Hearn, 1977; Dixon, 1993).

A socioecologia analisa essa diversidade de sistemas sociais no contexto ecológico

enfrentado por cada espécie. A variação nos três elementos do sistema social pode ocorrer

tanto entre espécies distintas quanto entre diferentes populações da mesma espécie e

também entre grupos de uma mesma população, refletindo variações locais nas

características e condições do ambiente. Por exemplo, Mitchell et al. (1994) identificaram

variações na qualidade e distribuição de recursos alimentares como os principais fatores na

diferenciação no sistema social entre as espécies de macacos “mão-de-ouro”, Saimiri

oerstedi e Saimiri sciureus.

O alimento é um dos recursos essenciais para os animais e as atividades de procura

e obtenção dos itens que irão compor a dieta são determinantes na distribuição do seu

padrão comportamental. Os padrões fenológicos da vegetação podem influenciar a

abundância, distribuição e diversidade locais de animais frugívoros, além de suas

características ecológicas e comportamentais. Em época de escassez de recursos de maior

qualidade, os primatas incluem itens de menor qualidade em sua dieta, mais abundantes e

disponíveis ao longo do ano, como folhas ou exudatos (Castellanos & Chanin 1996; Doran

1997).

A teoria do forrageamento ótimo tenta explicar o comportamento alimentar e seu

significado adaptativo (Pyke et al., 1977). De acordo com essa teoria, os animais irão

otimizar a eficiência energética equilibrando os custos e benefícios da alimentação de

acordo com as características da espécie (Stephens & Krebs 1986). Seguindo essa teoria,

os indivíduos devem optar por alimentos de maior qualidade, que oferecem um maior

retorno energético, e a inclusão de determinado alimento na dieta não dependerá da sua

abundância, mas sim da abundância de itens alimentares mais rentáveis e de maior

qualidade (Pyke et al., 1977).

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Comunidades de primatas neotropicais são compostas principalmente de frugívoros

(Kappeler & Heymann, 1996) e a variação sazonal na disponibilidade de alimentos

influência o orçamento de atividades dos primatas, podendo determinar o tempo gasto em

forrageamento, alimentação e atividades sociais mais do que o tamanho corporal ou a dieta

(Passamani, 1998).

O tamanho da área de vida pode ser entendido com base na distribuição e

abundância dos recursos alimentares, ciclos sazonais, sítios de dormir, disponibilidade de

parceiros sexuais e a presença ou ausência de competidores e/ou predadores (Struhsaker,

1974; Dawson, 1979). Em épocas de escassez de alimento, o tamanho da área utilizada e a

distância percorrida durante o dia podem aumentar para suprir às necessidades nutricionais,

ou ser reduzidos, restringindo a diversidade da dieta e diminuindo a qualidade do alimento,

mas ao mesmo tempo, reduzindo os gastos energéticos do indivíduo (Zhang,1995).

A temperatura também pode influenciar no orçamento de atividade de primatas. Em

algumas espécies foi registrado que na estação mais fria do ano os indivíduos passavam

mais tempo se alimentando com a finalidade de suprir o aumento do gasto de energia com

termorregulação (Fa,1986). A defesa do território e as decisões que envolvem a direção,

velocidade do deslocamento e distâncias percorridas também estão relacionadas ao ganho

energético. Grupos de primatas frequentemente defendem uma área na qual tem acesso

prioritário aos recursos ali presentes (Maher & Lott, 2000; Powell, 2000).

1.3. O gênero Callicebus Thomas, 1903

A ordem Primates divide-se nas subordens Strepsirrhini (galagos, lêmures e társios)

e Haplorrhini (símios). Esta última é composta pelas infraordens Catarrhini (símios do

Velho Mundo) e Platyrrhini (símios do Novo Mundo). Scheider et al. (2001) divide a

infraordem Platyrrhini em quatro famílias: Atelidae, Pitheciidae, Cebidae e Callitrichidae.

O gênero Callicebus é visto como o membro basal de Pitheciidae (Campbell et al., 2007).

Callicebus engloba um grupo de espécies complexo, que se distribui principalmente

nas florestas da Amazônia, onde são conhecidos como macacos zogue-zogues, e da Mata

Atlântica brasileira, sendo chamados de sauás ou guigós (Figura 3). Hershkovitz (1990)

reconheceu 13 espécies agrupadas em quatro grupos de espécies, mas revisões e

descobertas subsequentes elevaram esses números para 29 e cinco, respectivamente

(Kobayashi & Langguth, 1999; van Roosmalen et al., 2002, Wallace et al., 2006). Na

última revisão para o gênero, Defler et al. (2010), acrescentaram a trigésima espécie,

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Callicebus caquetensis, descoberta na Colômbia. Atualmente, o gênero Callicebus, antes

considerado moderadamente diverso, passou a ser o segundo mais diverso dentre os

primatas neotropicais, após o gênero Saguinus.

Os grupos das espécies Callicebus donacophilus, C. torquatus, C. moloch e C.

cupreus se distribuem nas florestas tropicais das bacias Amazônica e do Orinoco, no Chaco

e nas florestas secas do Paraguai e Bolívia, enquanto o grupo Callicebus personatus é

encontrado na Mata Atlântica brasileira (Figura 3). O grupo C. personatus compreende

cinco espécies, que são endêmicas da Mata Atlântica e áreas vizinhas da Caatinga e

Cerrado, na Região Sudeste, Bahia e Sergipe: Callicebus personatus, Callicebus

nigrifrons, Callicebus melanochir, C. barbarabrownae e C. coimbrai (Figura 4). Destas

cinco espécies, C. barbarabrownae está classificado, atualmente, como CR (criticamente

ameaçado de extinção) pela IUCN (Veiga et al., 2008b), enquanto C. coimbrai está na

categoria ameaçado (Veiga et al., 2008a).

Os guigós são primatas de pequeno a médio porte, medindo entre 287-390 mm de

comprimento (cabeça-corpo), a cauda pode chegar 125% desse comprimento (Kinzey,

1981, 1997; Kinzey & Becker, 1983; Rowe, 1996), e pesam entre 1 a 2 Kg. Possuem cauda

não-preênsil e sua forma de locomoção é, essencialmente, quadrúpede, podendo saltar e

escalar. Não há dismorfismo sexual. Algumas espécies apresentam a coloração da pelagem

homogênea (cinza, castanha, marrom avermelhado, preto) e outras apresentam padrões

contrastantes (branco, amarelo ou vermelho) em algumas partes do corpo, como testa,

colar, mãos e cauda (Kinzey 1981; van Roosmalen et al. 2002).

Os guigós formam pequenos grupos, geralmente variando entre 2 a 6 indivíduos

que são compostos pelo casal monogâmico e sua prole imatura. Possuem hábitos

arborícolas e diurnos. São encontrados em diversos tipos de hábitats como florestas

tropicais primárias e secundárias, florestas decíduas, semidecíduas e perenifólias, entre

outras, sendo relativamente tolerante à fragmentação de hábitats (Ferrari et al. 2000;

Heiduck, 2002). Geralmente se utilizam dos estratos inferiores da floresta para sua

atividade diária, deixando os estratos mais altos, acima de 25m, para dormir. Esta

estratégia pode oferecer vantagens ao grupo ao proporcionar uma maior proteção contra

predadores (Bicca-Marques & Heymann, no prelo). São considerados territorialistas,

utilizando de vocalizações para sinalizar sua localização e manter o espaçamento entre os

grupos vizinhos e demarcar os limites de seus territórios (Kinzey 1981; Kinzey &

Robinson 1983; Price & Piedade 2001).

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Os guigós são frugívoros complementando sua dieta com folhas e insetos (Müller

& Pissinatti, 1995). Algumas espécies do gênero gastam em torno de três quartos do seu

tempo de alimentação comendo frutos de vários tipos, entretanto, os tipos de frutos

consumidos diferem entre as espécies assim como a porção não-frugívora da dieta (Kinzey,

1981). Geralmente, esse gênero distribui seu tempo entre as categorias comportamentais de

descanso, alimentação e locomoção, com ênfase na primeira, que supera os 50% do

orçamento total com exceção do C. brunneus, com menos de 40% para essa categoria

(Bicca-Marques & Heymann, no prelo).

Figura 3. Distribuição geográfica do gênero Callicebus, grupo personatus em cinza escuro

e o grupo da Amazônia em cinza claro (fonte: Ferrari et al., no prelo).

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Figura 4. Distribuição geográfica das espécies de Callicebus do grupo personatus

(modificado de Printes, 2007). Destaque para a área de distribuição do Callicebus coimbrai

nos estados da Bahia e Sergipe.

1.4. Callicebus coimbrai, Kobayashy & Langguth, 1999

Callicebus coimbrai difere dos outros guigós por apresentar pelagem bege, patas e

face negra e uma cauda alaranjada (Kobayashi & Langguth 1999; Figura 5).

Originalmente, C. coimbrai era conhecida somente do extremo oriental do Estado de

Sergipe (Kobayashi & Langguth, 1999), mas após uma série de levantamentos,

principalmente de Printes (2005), sabe-se que sua distribuição se estende para o sul ao

longo do litoral da Bahia. O registro mais meridional da espécie até o presente momento

foi em Lamarão do Passé, Bahia (12º29”51’S; 38º22”35’W) e o limite sul de sua

distribuição passou a ser o recôncavo baiano e não o Rio Itapicuru. Segundo Printes (2005,

p. 154), “a especiação das duas formas de Callicebus provavelmente se deu por

preferências de hábitat e não por vicariância, ficando C. barbarabrownae na caatinga e

Callicebus coimbrai no litoral”.

Como a classificação original da espécie como CR (criticamente ameaçada) foi

baseada na sua distribuição geográfica restrita (IUCN, 2003), estes avanços foram

fundamentais para a reclassificação pela IUCN na categoria EN, ameaçada de extinção

(Veiga et al., 2008a). Apesar de ser um sinal positivo, esta mudança de categoria surgiu em

função do acúmulo de conhecimento científico sobre a espécie e não de melhorias em

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relação ao seu status de conservação. Ao contrário, a fragmentação e degradação dos

ambientes florestais ao longo de sua restrita distribuição geográfica, que começaram no

início da colonização européia no século XVI (Coimbra-Filho & Câmara, 1996;

Jerusalinsky et al., 2006), continuam sendo uma ameaça.

Apesar dos avanços em relação à sua distribuição geográfica, as características

ecológicas da espécie são pouco conhecidas. A maior parte dos dados foi coletada na

Fazenda Trapsa, em Itaporanga D’Ajuda, no sul de Sergipe, onde os trabalhos incluem um

levantamento demográfico (Chagas, 2009; Chagas & Ferrari, 2010) e um estudo de

ecologia comportamental (Souza-Alves, 2010; Souza-Alves & Ferrari, 2010). Outro sítio

de destaque é o Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco em Capela, onde Rocha (2011)

completou recentemente um levantamento populacional da espécie. Apesar de

informativos, estes estudos têm traçado apenas um esboço preliminar das características

ecológicas da espécie, lembrando principalmente o potencial para variação entre grupos,

populações e períodos diferentes. Assim, existe a necessidade de desenvolver estudos

detalhados em longo prazo para o desenvolvimento de estratégias eficazes de conservação

e manejo para a espécie, e eventualmente, para as demais espécies do gênero.

No presente estudo foi dada continuidade ao monitoramento do grupo de C.

coimbrai estudado por Souza-Alves (2010), visando consolidar o banco de dados para

compreender melhor os padrões pontuais, sazonais e entre anos na ecologia da espécie que

possam determinar sua capacidade de lidar com a fragmentação de hábitat. Desta maneira,

visamos contribuir não somente para o conhecimento da ecologia da espécie, como

também subsidiar o desenvolvimento de estratégias de conservação e manejo.

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Figura 5. Callicebus coimbrai: a) Ilustração de Stephen D. Nash (van Roosmalen et al.,

2002); b) Macho adulto consumindo folha na Fazenda Trapsa (Foto: I. Fontes); c) Fêmea

adulta em cativeiro (Foto: L. Jerusalinsky).

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

O presente estudo objetivou expandir nosso conhecimento sobre a ecologia de

Callicebus coimbrai, uma espécie de primata ameaçada de extinção endêmica do Nordeste

brasileiro, visando subsidiar a conservação e o manejo de suas populações remanescentes,

e os ecossistemas que habita.

2.2. Objetivos específicos

• Descrever as características da ecologia de um grupo de C. coimbrai e analisar possíveis

influências de variações sazonais na disponibilidade de recursos sobre seus padrões

comportamentais;

• Registrar a composição da dieta do grupo e analisar a variação sazonal em função de

flutuações na disponibilidade de recursos alimentares;

• Verificar padrões entre anos na ecologia do grupo;

• Identificar fatores determinantes e possíveis espécies-chave que possibilitam a

tolerância à fragmentação de hábitat pelo C. coimbrai.

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3. MÉTODOS

3.1. Área de estudo

Os fragmentos da mata nativa da Fazenda Trapsa (11º12’S, 37º14’W) são

localizados no município de Itaporanga D’Ajuda, ao sul do Estado de Sergipe, a

aproximadamente 50 km de Aracaju. A área da fazenda é de 3.800 ha, dos quais

aproximadamente 12% são constituídos por fragmentos de Mata Atlântica (Chagas, 2009;

Figura 6). A vegetação local tem características da restinga arbórea, que tem a composição

de Mata Atlântica com porte reduzido e solos extremamente arenosos, relacionado à

proximidade do mar (Scarano, 2002).

A fazenda apresenta oito fragmentos de mata nativa que diferem em tamanho,

forma, grau de conservação e conectividade (Souza-Alves, 2010). Nos locais de vegetação

densa, o estrato arbóreo raramente ultrapassa 20 m. A exploração de madeira já foi intensa

no local. Hoje a mata encontra-se em regeneração, embora a extração de madeira continue

esporadicamente. No local também se encontra caçadores, apesar da proibição pelo dono

da fazenda e pela vigilância do funcionário responsável.

Os fragmentos da área estão separados por uma barragem, estradas e pastos

abandonados e apresentam um bom estado de preservação em geral. A área abriga uma

diversidade de espécies que incluem desde primatas a felídeos, ungulados e grandes

roedores, por exemplo: Cebus xanthosternos (macaco-prego), Puma concolor (suçuarana),

Mazama americana (veado mateiro) e Agouti paca, a paca (Chagas et al., 2010).

O fragmento Camboinha (Figura 6), local que se encontra o grupo de guigós

monitorado durante o presente trabalho, é de difícil acesso principalmente durante o

período de chuvas. Ele é um dos menores fragmentos da Trapsa, possuindo cerca de 15

hectares.

A formação vegetal do fragmento Camboinha foi caracterizada por Souza-Alves

(2010), que identificou três tipos de hábitats: Floresta Madura, Floresta Secundária e

Floresta Antropizada (Tabela 1). Os hábitats antropizado e secundário são predominantes

na área que se encontra em processo de regeneração devido a uma queimada que ocorreu

em 2009. O fragmento Camboinha possui sub-bosque denso e seu dossel raramente

ultrapassa 20 m, com cipós abundantes e raras palmeiras.

No fragmento já existia um sistema quadriculado de trilhas com quadrantes de 50 x

50m que cobria os três tipos de hábitats da área (Figura 7). O sistema de trilhas foi

utilizado para acompanhar o grupo de guigós, facilitando os registros comportamentais.

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Figura 6. Foto aérea da Fazenda Trapsa destacando os fragmentos florestais. Destaque

para o fragmento Camboinha (adaptada de Chagas, 2009).

Tabela 1. Categorias de hábitats utilizadas para classificar a vegetação nos quadrantes do

fragmento amostrado (Souza-Alves 2010).

Categoria Descrição Floresta Madura

Dossel contínuo com 12-15 m de altura, presença de poucas clareiras, sub-bosque esparso, baixa densidade de cipós e poucas espécies

Floresta Secundária

Dossel relativamente contínuo com altura variando de 8-10 m, sob-bosque bem desenvolvido e uma densidade média de cipós e espécies pioneiras.

Floresta Antropizada

Dossel descontínuo com alturas entre 5-10 m, sub-bosque muito denso, com alta densidade de cipós e espécies pioneiras.

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Figura 7. Sistema quadriculado de trilha com 50 x 50m no fragmento Camboinha.

(Retirado de Souza-Alves, 2010)

3.2. Variação Sazonal

3.2.1. Clima

Nos trópicos, a precipitação constitui o principal fator determinante da distribuição

espaço-temporal de recursos na maioria dos ecossistemas terrestres. Com base nos dados

históricos de 50 anos para a cidade de Itaporanga D’Ajuda (SEMARH, 2011), a

precipitação mensal média da área varia de 44,0 mm a 262,2 mm (Figura 8).

Sergipe apresenta duas estações bem definidas, uma mais úmida, de abril a final de

agosto, e a outra seca, de outubro a final de fevereiro. Março e setembro aparecem como

meses de transição, ou seja, nesses meses verificam-se uma precipitação intermediária.

Verificando o gráfico da precipitação de 2010 (Figura 8), é possível notar que o ano

de 2010 foi caracterizado por muitas chuvas ao longo de todo o ano, com picos de mais

400 mm e 500 mm nos meses da estação chuvosa enquanto que no final do ano (estação

seca) foi marcado por uma estiagem acentuada.

Como o presente estudo foi composto por 11 meses (janeiro a novembro de 2010),

para analisar os dados entre as estações, os meses janeiro, fevereiro, outubro e novembro

foram considerados representativos da estação seca, e o período de abril a agosto da

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estação chuvosa. Março e setembro foram excluídos por suas características intermediárias,

e agosto, para equilibrar o número de meses em cada

Figura 8. Precipitação mensal no município de Itaporanga D’

2011), Média histórica refere

3.2.2. Fenologia vegetal

Foi utilizado o mesmo método de Souza

comparações sistemáticas e confiáveis entre os diferentes períodos de estudo

2010). A técnica consistiu em sortear

grupo. Essas foram percorridas uma vez por mês, considerando 5 m

totalizou 82.500 m². Registrou

foi medida com uma fita métrica

Foi coletada uma amostra de ramo fértil de cada planta em frutificação para

identificação taxonômica, que foi realizada no ASE, Herbário do

Biologia da Universidade Federal de Sergipe. Dentre toda a folhagem das copas das

árvores, dos arbustos e cipós da área de vida foi estimada a p

nas trilhas sorteadas, seguindo Souza

estação chuvosa. Março e setembro foram excluídos por suas características intermediárias,

e agosto, para equilibrar o número de meses em cada amostra.

Precipitação mensal no município de Itaporanga D’Ajuda, Sergipe (SEMARH,

refere-se ao período de 1958 a 2008.

Foi utilizado o mesmo método de Souza-Alves (2010) para permitir a

comparações sistemáticas e confiáveis entre os diferentes períodos de estudo

. A técnica consistiu em sortear três trilhas de 250 m cada, dentro da área de vida do

grupo. Essas foram percorridas uma vez por mês, considerando 5 m para cada lado o que

totalizou 82.500 m². Registrou-se toda árvore em frutificação, sua altura do peito (DAP)

com uma fita métrica e sua altura estimada.

Foi coletada uma amostra de ramo fértil de cada planta em frutificação para

taxonômica, que foi realizada no ASE, Herbário do

Biologia da Universidade Federal de Sergipe. Dentre toda a folhagem das copas das

árvores, dos arbustos e cipós da área de vida foi estimada a percentagem de folhas jovens

seguindo Souza- Alves (2010).

17

estação chuvosa. Março e setembro foram excluídos por suas características intermediárias,

juda, Sergipe (SEMARH,

Alves (2010) para permitir a realização de

comparações sistemáticas e confiáveis entre os diferentes períodos de estudo (2009 e

três trilhas de 250 m cada, dentro da área de vida do

para cada lado o que

se toda árvore em frutificação, sua altura do peito (DAP)

Foi coletada uma amostra de ramo fértil de cada planta em frutificação para

taxonômica, que foi realizada no ASE, Herbário do Departamento de

Biologia da Universidade Federal de Sergipe. Dentre toda a folhagem das copas das

rcentagem de folhas jovens

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3.3. Estudo comportamental

3.3.1. Grupo de estudo

Souza-Alves (2010) monitorou o comportamento dos membros de um grupo de C.

coimbrai residente no fragmento Camboinha que foi também o objeto do presente trabalho.

No início do monitoramento para o presente estudo, em janeiro de 2010, o grupo era

constituído por quatro membros: um casal de adultos, um macho subordinado e um juvenil

(o indivíduo aparentava ter entre 2 a 3 anos de idade e ainda não havia atingido a

maturidade sexual), denominados de Rainha, Rabo Curto, Cara Preta e Menininho,

respectivamente. Os membros dos grupos eram reconhecidos através de diferenças de

coloração da pelagem, tamanho corporal e outras características, como o tamanho da cauda

(Figura 9).

Entre abril e maio, Cara Preta saiu do grupo passando esse a ser constituído por três

membros: Rainha, Rabo Curto e Menininho. O grupo permaneceu com três membros até o

final do monitoramento, em novembro de 2010. Um infante nasceu em dezembro de 2010

(obs. pess.).

Figura 9. Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa: a) Cara Preta; b) Menininho; c) Rabo Curto; d) Rainha (Fotos: I. Fontes)

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3.3.2. Padrão de atividades comportamentais As observações para coleta dos dados foram realizadas em sessões mensais de 4 ou

5 dias completos de janeiro a novembro de 2010. O período de coleta dos dados se iniciava

no momento em que os indivíduos saíam do sítio de dormida e terminava quando os

membros do grupo se recolhiam ao sítio de dormida, no final da tarde. A coleta de dados

comportamentais quantitativos foi realizada através da amostragem de varredura

instantânea (Altmann, 1974; Setz, 1991). Neste estudo, foi utilizado o mesmo esquema de

amostragem usado por Kinzey & Becker (1983), Heiduck (2002) e Souza-Alves (2010), no

qual uma amostra de um minuto de duração é coletada em intervalos de cinco minutos ao

longo de todo o período de atividade dos sujeitos. Foi utilizado tal método por ter se

mostrado eficiente em estudos anteriores de Callicebus e por ser o mesmo utilizado por

Souza-Alves (2010), permitindo comparações mais sistemáticas e confiáveis entre os

períodos de estudo, dando ênfase a um estudo em longo prazo.

Em cada varredura, foi registrada a data, o horário e a posição do grupo dentro do

sistema de trilhas, e para cada sujeito avistado durante a varredura: (a) sua identificação

(ou classe sexo-etária); (b) seu comportamento (Tabela 2) no momento da observação; (c)

o substrato ocupado e (d) sua altura estimada em relação ao chão. Para os registros foram

utilizados caderno de campo, relógio com cronômetro, binóculos e máquina fotográfica

digital. As categorias comportamentais foram anotadas por código (seguindo Tabela 2).

Dados complementares também foram anotados quando: a) havia catação, interação

agonística ou lúdicas, sempre que possível, registrava-se qual indivíduo era o iniciador e

receptor da ação; b) quando o indivíduo se alimentava, o item ingerido também era

registrado (fruto, flor, semente, folha ou inseto).

Em combinação ao método de varredura instantânea, foi utilizado o método de

amostragem de “todas as ocorrências” (Altmann, 1974) para algumas categorias

especialmente importantes, como predação de insetos, roubo de alimento e eventuais

quedas.

No caso de eventos de alimentação, o item foi identificado até o menor nível

taxonômico praticável e, na medida do possível, amostras foram coletadas para

identificação. Quando ocorreu a ingestão de presas, tentou-se identificá-las até pelo menos

o nível de ordem. Quando ocorreu a ingestão de partes de plantas, as fontes foram

marcadas com fita colorida no momento da observação e posteriormente coletada uma

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exsicata para identificação taxonômica, junto ao ASE, herbário da Universidade Federal de

Sergipe.

Tabela 2. Categorias e descrição dos comportamentos amostrados para o grupo de estudo

(adaptada de Souza-Alves, 2010).

3.3.3. Uso do espaço

A utilização da área de vida foi verificada a partir dos registros de varredura

instantânea onde o mínimo de uma visita ao quadrante entrava no cálculo. Com a

classificação de cada quadrante em um tipo de hábitat, foi possível estimar o uso relativo

dos diferentes tipos de hábitats durante a varredura instantânea (veja Kinzey & Becker,

1983; Heiduck, 2002; Souza-Alves, 2010). O uso do espaço vertical também foi analisado

a partir dos registros de varredura, usando classes de altura de 3 m (Chagas, 2009; Souza-

Alves, 2010). Foram registrados os sítios de dormida que o grupo utilizou durante o

período de estudo.

3.4. Análise de dados

Os dados foram transcritos para planilhas do programa Microsoft Excel 2007 para

organização e análise preliminar, e as análises estatísticas realizadas no programa BioEstat

5.0. Inicialmente, os dados foram organizados e analisados mensalmente, e depois por

estação climática (estações seca e chuvosa, como definidas anteriormente) e para o período

de estudo como um todo.

Categoria (Código) Descrição das atividades

Deslocamento (DESL) Sujei to se locomovendo, sem estar a procura ou ingerido alimentos;

Forrageamento (FOR) Sujei to procurando por itens alimentares;

Alimentação (ALI) Sujei to ingerindo sementes, frutos, folhas, flores ou invertebrados;

Interação social (IS) Sujei to interagindo com outro membro de seu grupo podendo ser catação, interação agressiva, brincadeira, interação sexual e vocalização;

Repouso (REP) Sujei to sentado ou deitado sem qualquer atividade adicional podendo ou não estar com a cauda entrelaçada a outro parceiro;

Outro (OUT) Sujei to desenvolvendo qualquer outra atividade não prevista acima, como interação interespecífica, evacuação, queda, autocatação, etc.

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3.4.1. Fenologia Vegetal

Possíveis diferenças sazonais no número de espécies e indivíduos frutificando nas

parcelas de fenologia em cada mês foram avaliadas usando o teste não-paramétrico de

Mann-Whitney (U). O mesmo teste foi usado para analisar a variação sazonal na cobertura

de folhas novas.

3.4.2. Dados das atividades comportamentais

A duração média do período de atividade (entre o início e término de atividade no

dia) foi comparada entre estações, usando o teste t de Student. Esses valores médios foram

usados também para estimar o tempo gasto em cada período, baseado nas proporções de

registros de varredura.

O parâmetro comportamental básico foi o orçamento de atividades, onde a

frequência relativa dos registros de cada categoria comportamental foi calculada. Neste

caso, a percentagem de categoria i é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o número de

registros de varredura da categoria i durante o período sob análise, e N = o número total de

registros de varredura durante o mesmo período. Os registros de cada comportamento

foram organizados mensalmente e possíveis diferenças entre as estações foram analisadas

estatísticamente usando o escore z binomial, com α = 0,01, para evitar respostas “falso-

positivas” (Martin & Bateson, 1993).

Para uma análise mais refinada do tempo gasto em cada atividade, as percentagens

foram convertidas em minutos, onde a duração total da categoria i é fornecido por Hi = Pi

× P.A./100, onde Pi = percentagem da categoria i, e P.A.= média mensal do período de

alerta diurno. Analisou-se possíveis diferenças entre estações com o escore z binomial,

com α = 0,01.

3.4.3. Dieta

A composição da dieta foi estimada da mesma forma que o orçamento

comportamental, onde a porcentagem de item i é fornecido por pi = ni/N × 100, onde ni = o

número de registros de varredura do item i durante o período sob análise, e N = o número

total de registros de alimentação durante o mesmo período (veja Cullen Jr. & Valadares-

Pádua, 1997). O escore z binomial foi usado também para comparar o nível de consumo de

diferentes itens entre estações. Foi utilizado o coeficiente de Pearson para correlacionar o

consumo mensal de folhas com sua disponibilidade mensal na área de uso dos indivíduos,

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como também para correlacionar o consumo mensal de frutos e sementes com o número de

árvores frutificando a cada mês.

3.4.4. Uso do espaço

A área de vida foi estimada pela taxa de visitação a cada quadrante nos quais os

indivíduos foram monitorados em cada varredura. Primeiro, a área de vida foi definida

mensalmente, depois sazonalmente e por fim, a área total.

O uso do espaço vertical foi quantificado a partir das categorias de uso de estrato.

Para verificar possíveis diferenças na utilização do estrato vertical na área de vida dos

grupos entre as estações seca e chuvosa foi utilizado a análise de variância não-paramétrico

de Kruskal-Wallis.

A preferência ou não por determinados hábitats foi avaliada através da comparação

da frequência de visitação a quadrados de diferentes tipos de hábitats com a frequência

esperada de visitação, baseada na distribuição de hábitats dentro da área de vida do grupo

de estudo. Os valores observados e esperados para o período de estudo e as duas estações

foram comparados estatisticamente usando o teste G.

Foi calculada a frenquência de utilização dos sítios de dormida a cada mês e por

estação. O teste G foi utilizado para comparar o uso dos sítios de dormida entre as

estações.

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4. RESULTADOS

4.1. Fenologia vegetal

Durante o ano ocorreu uma variação na quantidade de espécies e indivíduos

frutificando na área de vida dos guigós, de acordo com a amostragem fenológica (Figura

10). No entanto, a análise estatística demonstra que

entre as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e chuvosa (abril

nem no número de espécies (U de Mann

número de indivíduos (U = 5,50, Z = 0,289, p = 0,773) frutificando.

A disponibilidade de f

(Figura 11), mas não foi registrada uma diferença estatística entre estações (U = 12,50, Z =

0,577, p = 0.564).

Figura 10. Número de espécies e indivíduos frutificando mensalmente nas parcelas de

monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de

Trapsa, SE.

Durante o ano ocorreu uma variação na quantidade de espécies e indivíduos

frutificando na área de vida dos guigós, de acordo com a amostragem fenológica (Figura

No entanto, a análise estatística demonstra que não ocorreu diferença significativa

as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e chuvosa (abril

nem no número de espécies (U de Mann-Whitney = 7,50, Z = 0,144, p = 0,885) nem no

número de indivíduos (U = 5,50, Z = 0,289, p = 0,773) frutificando.

A disponibilidade de folhas jovens na área de vida oscilou no decorrer dos meses

não foi registrada uma diferença estatística entre estações (U = 12,50, Z =

Número de espécies e indivíduos frutificando mensalmente nas parcelas de

monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de C. coimbrai

23

Durante o ano ocorreu uma variação na quantidade de espécies e indivíduos

frutificando na área de vida dos guigós, de acordo com a amostragem fenológica (Figura

diferença significativa

as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e chuvosa (abril-julho),

Whitney = 7,50, Z = 0,144, p = 0,885) nem no

olhas jovens na área de vida oscilou no decorrer dos meses

não foi registrada uma diferença estatística entre estações (U = 12,50, Z =

Número de espécies e indivíduos frutificando mensalmente nas parcelas de

C. coimbrai na Fazenda

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Figura 11. Percentagem de cobertura de folhas novas registrada

de monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de

Fazenda Trapsa, SE.

4.2. Padrão geral de atividades comportamentais

Durante os onze meses (janeiro a novembro de 2010) de estudo, os animais foram

monitorados por 53 dias completos, totalizando 537h05min de observação e 14863

registros comportamentais em 6567 varreduras (Tabela 3). Do total de horas de

observação, 220 horas foram obtidas na estação seca, 218h50min foram obtidos na estação

chuvosa e 98h15min nos meses de transição. Apenas 64 varreduras do total ficaram sem

registros (animais não observados), ou seja, cerca de 0,97% das varreduras não tiveram

registros.

O período de atividade

variou bastante ao longo dos meses de estudo e teve uma média geral de 10h:12m (Tabela

4). A variação do período de alerta entre as estações seca e chuvosa demonstrou ser

significativa quando aplicamos o teste

Percentagem de cobertura de folhas novas registrada mensalmente nas parcelas

de monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de

atividades comportamentais

Durante os onze meses (janeiro a novembro de 2010) de estudo, os animais foram

monitorados por 53 dias completos, totalizando 537h05min de observação e 14863

registros comportamentais em 6567 varreduras (Tabela 3). Do total de horas de

s foram obtidas na estação seca, 218h50min foram obtidos na estação

chuvosa e 98h15min nos meses de transição. Apenas 64 varreduras do total ficaram sem

registros (animais não observados), ou seja, cerca de 0,97% das varreduras não tiveram

atividade, tempo em que os animais se encontraram em atividade,

variou bastante ao longo dos meses de estudo e teve uma média geral de 10h:12m (Tabela

4). A variação do período de alerta entre as estações seca e chuvosa demonstrou ser

a quando aplicamos o teste t de Student (t = 2,6751, p = 0,0367, g.l. = 6).

24

mensalmente nas parcelas

de monitoramento localizadas na área de vida do grupo de estudo de C. coimbrai na

Durante os onze meses (janeiro a novembro de 2010) de estudo, os animais foram

monitorados por 53 dias completos, totalizando 537h05min de observação e 14863

registros comportamentais em 6567 varreduras (Tabela 3). Do total de horas de

s foram obtidas na estação seca, 218h50min foram obtidos na estação

chuvosa e 98h15min nos meses de transição. Apenas 64 varreduras do total ficaram sem

registros (animais não observados), ou seja, cerca de 0,97% das varreduras não tiveram

, tempo em que os animais se encontraram em atividade,

variou bastante ao longo dos meses de estudo e teve uma média geral de 10h:12m (Tabela

4). A variação do período de alerta entre as estações seca e chuvosa demonstrou ser

= 2,6751, p = 0,0367, g.l. = 6).

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Tabela 3. Dias de monitoramento, varreduras e registros mensais do grupo de estudo de

Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe

Tipicamente, ao acordar, os membros do grupo se deslocavam para as árvores, que

estavam frutificando, próximas ao sítio de dormida. Ficavam se alimentando de 30 minutos

a 2 horas, e em seguida se deslocavam até encontrarem um local para descansar. Esta

movimentação era caracterizada por rotas regulares – o local de descanso era determinado

geralmente pela rota escolhida para se alimentar. Este descanso durava até

aproximadamente meio-dia, quando eles voltavam a se locomover e se alimentar. A

locomoção no turno da tarde era mais rápida e não envolvia rotas pré-estabelecidas. Ao se

aproximar do horário de dormida, o grupo realizava suas atividades mais silenciosamente.

Quando não havia árvores frutificando próximas ao sítio de dormida, o grupo se

alimentava principalmente de folhas, à medida que se deslocava, sem parar em um

determinado local para a alimentação por muito tempo.

Mês

Dias de

monitoramento Varreduras Registros Registros por varredura

Janeiro 5 662 1408 2.1

Fevereiro 5 702 1758 2.5

Março 5 634 1521 2.4

Abril 5 620 1698 2.7

Maio 5 629 1494 2.4

Junho 4 457 1111 2.4

Julho 5 529 1027 1.9

Agosto 4 441 896 2.0

Setembro 5 563 1175 2.1

Outubro 5 645 1289 2.0

Novembro 5 685 1486 2.2

Total 53 6567 14863 2.3

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Tabela 4. Período de atividade (início e término) do grupo de Callicebus coimbrai durante

os meses de estudo na Fazenda Trapsa, Sergipe.

No orçamento geral (Figura 12), o repouso aparece como a principal categoria

(33,5%), ocupando mais de um terço do período de atividade dos animais, seguida por

alimentação e deslocamento. Interações sociais, principalmente catações e vocalizações,

constituíram a quarta maior categoria, mas com uma percentagem reduzida. O forrageio foi

uma atividade pouco frequente (3,1%).

A vocalização padrão do gênero, o dueto, teve um pico no início da manhã e

ocorreu de forma irregular ao longo do dia (Figura 13). Diversas vezes, Cara Preta também

participava dessa vocalização, junto ao casal reprodutivo. Menininho participava desta

vocalização ocasionalmente, ou seja, todo o grupo fazia a vocalização de “dueto”

característica do gênero.

Percebeu-se que todo o grupo costumava vocalizar quando passavam muito tempo

separados. Essa vocalização era diferente do dueto habitual para o gênero, se assemelhando

a um “piado” (Souza- Alves, 2010). Esta vocalização também foi utilizada pelo indivíduo

que se encontrava à frente do grupo, aparentemente para que os outros membros do grupo

o seguissem. Quando o casal se reencontrava, realizava a vocalização característica do

Mês

Hora máxima e mínima de: Duração média±DP do

período de atividade Início Término

Janeiro 5:15–5:20 15:35–16:35 10:55±00:27

Fevereiro 5:10–5:40 16:50–17:10 11:37±00:10

Março 5:10–5:40 14:30–17:05 10:29±01:19

Abril 5:20–5:50 15:00–16:15 10:17±00:29

Maio 5:15–5:40 15:15–16:15 10:24±00:26

Junho 5:40–6:30 14:00–16:00 09:09±00:46

Julho 6:15–8:40 15:30–16:50 08:47±00:58

Agosto 6:05–6:55 15:15–16:25 09:06±00:29

Setembro 6:05–8:05 15:35–16:25 09:18±00:50

Outubro 4:55–5:45 15:10–16:20 10:40±00:31

Novembro 4:50–5:10 15:55–16:35 11:20±00:22

Geral 4:50–8:40 14:00–17:10 10:12±00:34

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gênero, o dueto. Também realizavam o dueto, em resposta às vocalizações de grupos

vizinhos.

Figura 12. Orçamento de

Trapsa, Sergipe, baseado nos registros de amostragem de varredura.

Figura 13. Variação na frequ

dia na Fazenda Trapsa, SE.

Também realizavam o dueto, em resposta às vocalizações de grupos

de atividades do grupo de estudo de C. coimbrai

Trapsa, Sergipe, baseado nos registros de amostragem de varredura.

. Variação na frequência de vocalizações de Callicebus coimbrai

dia na Fazenda Trapsa, SE.

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Também realizavam o dueto, em resposta às vocalizações de grupos

C. coimbrai na Fazenda

Callicebus coimbrai no decorrer do

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As demais interações sociais costumavam ocorrer quando o grupo estava em

período de repouso. O entrelaçamento de cauda ocorria em dois momentos distintos – em

períodos de repouso e quando os animais interrompiam suas atividades por estar chovendo

muito.

Percebemos que entre os membros do grupo, o infante era quem mais procurava os

adultos, tanto para realizar a catação como para o comportamento lúdico (Figura 14).

Costumavam realizar estes comportamentos quando o grupo parava para descansar.

Também foi registrado que o infante tentava tirar alimentos dos adultos quando passava

muito tempo sem encontrar algo para comer. Nos primeiros meses do monitoramento, o

infante acabava conseguindo tirar o alimento do adulto, mas já nos últimos meses de

monitoramento, os adultos não mais cediam seus alimentos para o infante. As únicas

interações agonísticas observadas no grupo durante o período de estudo foram justamente

quando o infante tentava tirar o alimento de um dos adultos e este não cedia, havendo

puxão no pêlo por parte do adulto no infante.

A catação ocorria ao longo de todo o dia, mas era mais intensa nos períodos de

descanso do grupo. Durante períodos chuvosos, era comum o grupo permanecer mais

tempo parado e com a cauda entrelaçada. Foi observado, durante o mês de maio, que o

macho se aproximava da fêmea para cheirar sua genitália.

Figura 14: Interações sociais observadas no grupo estudado: (a) Menininho brincando

com Rabo Curto; (b) Rabo Curto catando Menininho.

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4.2.1. Variação sazonal das atividades

As categorias que mais variaram ao longo do período de estudo foram o repouso e a

alimentação (Figura 15). Comparando as proporções das diferentes categorias registradas

nas duas estações principais, foram encontradas diferenças significativas,

interação social (Tabela 5). Entretanto, é importante levar em consideração a diferença

significativa encontrada entre estações na duração do período de atividade (Tabela 4).

Quando o orçamento é recalculado baseado na estimativa de tempo gasto em cada

categoria (Tabela 6), podemos verificar uma mudança no padrão sazonal (Tabela 7). Neste

caso, somente o repouso e o forrageio variaram significativamente entre estações.

Figura 15. Variação mensal no orçamento de atividades do grupo de estudo de

coimbrai na Fazenda Trapsa, SE, baseada nas proporções de registros de varredura.

4.2.1. Variação sazonal das atividades comportamentais

As categorias que mais variaram ao longo do período de estudo foram o repouso e a

alimentação (Figura 15). Comparando as proporções das diferentes categorias registradas

nas duas estações principais, foram encontradas diferenças significativas,

nteração social (Tabela 5). Entretanto, é importante levar em consideração a diferença

significativa encontrada entre estações na duração do período de atividade (Tabela 4).

Quando o orçamento é recalculado baseado na estimativa de tempo gasto em cada

goria (Tabela 6), podemos verificar uma mudança no padrão sazonal (Tabela 7). Neste

caso, somente o repouso e o forrageio variaram significativamente entre estações.

Variação mensal no orçamento de atividades do grupo de estudo de

na Fazenda Trapsa, SE, baseada nas proporções de registros de varredura.

29

As categorias que mais variaram ao longo do período de estudo foram o repouso e a

alimentação (Figura 15). Comparando as proporções das diferentes categorias registradas

nas duas estações principais, foram encontradas diferenças significativas, exceto na

nteração social (Tabela 5). Entretanto, é importante levar em consideração a diferença

significativa encontrada entre estações na duração do período de atividade (Tabela 4).

Quando o orçamento é recalculado baseado na estimativa de tempo gasto em cada

goria (Tabela 6), podemos verificar uma mudança no padrão sazonal (Tabela 7). Neste

caso, somente o repouso e o forrageio variaram significativamente entre estações.

Variação mensal no orçamento de atividades do grupo de estudo de C.

na Fazenda Trapsa, SE, baseada nas proporções de registros de varredura.

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Tabela 5. Escores de z binomial para a comparação sazonal da proporção de tempo gasto

pelos membros do grupo de estudo em cada categoria comportamental entre as estações

chuvosa (abril, maio, junho e julho) e seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

Tabela 6. Tempo total gasto por mês em atividade pelos membros do grupo de estudo.

Número (%) de registros coletados na estação: Categoria Chuvosa Seca z (p) Alimentação 1761 (33,7) 1593 (27,3) 7, 322 (0, 0001)

Deslocamento 1344 (25,7) 1338 (22,9) 3, 427 (0, 0006)

Repouso 1512 (29,0) 2359 (40,4) -12, 641 (0, 0001)

Forrageio 196 (3,8) 140 (2,4) 4, 138 (0, 0001)

Interação social 409 (7,8) 403 (6,9) 1, 858 (0, 0632)

Duração total de atividade (h:m)

Categoria Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

Deslocamento 2:35 3:14 3:07 2:51 3:17 2:35 2:33 2:45 3:12 2:52 2:20

Forrageio 0:44 0:28 0:30 0:23 0:40 0:29 0:52 0:43 0:31 0:13 0:17

Alimentação 3:12 3:37 3:06 3:39 4:11 3:16 2:21 2:48 3:07 3:04 3:38

Interação social 0:57 1:22 1:10 1:16 1:15 1:08 1:14 0:51 0.37 1:22 1:15

Repouso 4:32 4:42 3:32 3:06 2:39 3:30 2:45 3:00 3:33 4:12 4:48

Outros 0:14 0:14 0:24 0:22 0:22 0:11 0:21 0:19 0:17 0:16 0:23

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Tabela 7. Escores de z binomial para a comparação da duração total de cada

comportamento entre as estações chuvosa (abril, maio, junho e julho) e seca (janeiro,

fevereiro, outubro e novembro).

4.3. Relações interespecíficas

Foram registrados dois momentos de sobreposição da área de vida do grupo

estudado por grupos de guigós vizinhos, um em julho e o outro em agosto. Nas duas

ocasiões, os membros do grupo de estudo estavam forrageando quando escutaram as

vocalizações do outro grupo. No primeiro momento, o casal começou a vocalizar e partiu

em direção às vocalizações, deixando o infante para trás e chegando a uma distância de

20m do outro casal de guigós. Rabo Curto e Rainha vocalizaram novamente e o outro

grupo se locomoveu em direção oposta ao casal. O infante não demorou muito a aparecer e

eles continuaram forrageando na mesma área. No segundo momento, o casal residente

vocalizou duas vezes antes de partir em direção ao outro grupo, que se retraiu antes que o

contato visual fosse estabelecido. Esses dois eventos ocorreram na mesma área do

fragmento e, vale ressaltar, que a presença do pesquisador pode ter feito com que o grupo

invasor se assustasse e saísse da área de vida dos guigós estudados.

As espécies que mais se encontravam com os guigós do grupo de estudo eram

outros primatas, o macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) e o sagui-

comum (Callithrix jacchus). Saguis foram vistos dentro da área de vida dos guigós em

todos os meses do estudo, enquanto os macacos-pregos foram vistos em quase todos os

meses, exceto janeiro, março e setembro.

Foi registrada a presença de saguis no mesmo quadrante e até na mesma árvore em

que os guigós se encontravam. A chegada dos saguis não alterou de forma clara o

comportamento dos guigós. Os saguis se mostravam curiosos quanto à presença do

pesquisador, mas logo em seguida, também continuavam a exercer seus comportamentos

Duração total (em minutos) estimada para a estação:

Categoria Chuvosa Seca z (p) Alimentação 807 811 2,109 (0,0348)

Deslocamento 676 661 2,418 (0,0118)

Repouso 720 1094 -6,456 (0,0001)

Forrageio 144 102 3,543 (0.0003)

Interação social 293 296 1,208 (0,2262)

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32

habituais. No mês de novembro, os saguis estavam se alimentando do mesmo fruto

(morfotipo 3, tabela 8) que os guigós.

Ao encontrar os macacos-pregos, por outro lado, os guigós apresentavam um

comportamento anti-predador característico. Iniciavam um deslocamento rápido na direção

oposta, como se estivessem fugindo, e quando ficavam distantes, realizavam poucos

movimentos até perceberem que os macacos-pregos tinham saído da sua área de vida.

Muitas vezes os guigós evitavam voltar ao quadrante onde tinham avistado os macacos-

pregos até o final do dia.

Em um desses encontros, o grupo de guigós estava se movimentando normalmente

quando escutou os pregos se deslocando em sua direção. O casal de adultos correu em uma

direção e permaneceu em repouso, a 6 m do chão, até perceber que o grupo de pregos tinha

passado, mas o infante se deslocou para a direção contrária do casal e acabou se deparando

com um macaco-prego. O infante ao ver o macaco prego, a 3 m de distância, parou. O

macaco-prego olhou para o infante e continuou sua rota, então o infante se deslocou até o

casal de adulto onde permaneceram até os pregos saírem do quadrante, retornando as suas

atividades habituais.

Também foi observado um encontro com um tapiti (Sylvilagus brasiliensis). Era

por volta das 15h e o grupo estava exercendo suas atividades mais silenciosamente, mas

quando avistou o coelho todos os indivíduos do grupo passaram a segui-lo e a vocalizar

(piado), olhando em sua direção, ficaram a uma altura estimada de 2m e passaram 15

minutos seguindo o coelho e vocalizando em sua direção, depois retornaram às suas

atividades normais.

4.4. Dieta

4.4.1. Composição da dieta

Foram registrados 4.393 itens ingeridos, dos quais não foi possível identificar

apenas quatro (0,09%) por que o local em que os animais se encontravam era muito alto e a

vegetação dificultou a visão do observador. O item mais ingerido foi o fruto, que obteve

mais da metade (57,32%) dos registros ao longo do período de estudo (Figura 16). Folhas

aparecem como o segundo item mais ingerido, sendo o consumo deste item quase

inteiramente de folhas jovens. Flores e sementes ocuparam cerca de 7,0% dos registros

cada, ficando o consumo de insetos com apenas 1,14% (Figura 16).

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33

Os membros do grupo de estudo exploraram recursos de um total de 49 espécies de

plantas, destas 22 foram identificadas taxonomicamente até o momento (Tabela 8), as

demais espécies estão em processo de identificação. Dentre as espécies, a mais registrada

foi o morfotipo 4 com quase um quarto (24,9%) dos registros (Figura 17), seguida por

morfotipo 21, Manilkara sp. e Elaeocarpaceae sp., todas com percentagens por volta de

5,0%. Na comparação por estação (Tabelas 9 e 10), o morfotipo 4 continua sendo o mais

consumido em ambas as estações, no entanto na estação seca, foi um recurso mais

importante, devido à relativa importância de folhas nesta estação.

Depois do morfotipo 4, aparecem os morfotipos 21 e 3 como as espécies mais

consumidas pelos guigós na estação seca enquanto que as espécies Elaeocarpaceae sp. e

Manilkara sp foram mais registradas na estação chuvosa. Morfotipos 4 e 10 e Guapira

noxia e Manilkara sp. foram consumidas tanto na estação seca quanto na chuvosa (Tabelas

9 e 10)

Em relação aos insetos, duas ordens foram registradas, Lepidoptera e Hemiptera,

representadas por larvas da mariposa Pseudosphinx sp. (Sphingidae) e pela cigarra

Diceroprocta sp. Os guigós sempre capturavam com facilidade as larvas de mariposa em

árvores de Hymathantus sp., já que essas lagartas se alimentam exclusivamente das folhas

desta espécie. Já em relação às cigarras, os macacos avistavam um indivíduo parado em

um tronco e caminhavam silenciosamente até ele na tentativa de capturá-lo. Os registros de

varredura podem ter subestimado a contribuição de insetos à dieta do grupo, já que foram

registrados 10 eventos de ingestão de inseto na amostragem “todas as ocorrências”.

Figura 16. Proporção de itens da dieta de guigós na Fazenda Trapsa, SE, baseada nos

registros de varredura.

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34

Tabela 8. Espécies de plantas consumidas pelo grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda

Trapsa, SE.

*Fo= folha; Fr= fruto; Fl=flor; Se=semente.

Família Nome científico Nome comum Hábito Item* Anacardiaceae Tapirira guianensis Pau-pombo Arbóreo Fr Annonaceae Xylopia frutescens Pindaíba Arbóreo Fr/Fo Elaeocarpaceae Elaeocarpaceae sp. Cumbe Arbóreo Se Fabaceae Bauhinia acuruana Miroró Arbóreo Fr/Fl Inga sp. Ingá Arbóreo Fr Poecilanthe

parviflora Coração de negro

Arbóreo Fr/Fo/Fl

Lecythidaceae Eschweilera ovata Biriba Arbóreo Fl/ Fo/Fr Myrtaceae Myrcia sp. Murici Arbóreo Fr/Fl Myrtaceae sp.1 Murta 1 Arbóreo Fl/Se/Fr/Fo Myrtaceae sp.2 Murta 2 Arbóreo Fr Myrtaceae sp.3 Araçazinho Arboreo Fr Nyctaginaceae Guapira noxia João-mole Arbóreo Fr/Fo/Fl Passifloracea Tetrastylis ovalis Maracujá Cipó Fr Rubiaceae Guettarda cf.

platyphylla Angerca Arbóreo Fr

Psychotria hoffmannseggiana

Erva de rato Arbustivo Fr/Fo

Sapotaceae Manilkara sp. Massaranduba Arbóreo Fr Micropholis compta Pau coceira Arbóreo Fr/Fo Micropholis sp. Violão Arbóreo Fr Urticaceae Cecropia sp. Umbaúba Arbóreo Fr Smilacaceae Smilax sp. Cipó japeacanga Cipó Fo Dilleniaceae Davilla kunthii Cipó caboclo Cipó Sem/ Fo Euphorbiaceae Dalechampia

coriacea Cipó urtiga Cipó Fo/ Se

Morfotipo 1 Combatá Arbóreo Fl/Fo/Se Morfotipo 2 Jitaí Arbóreo Fr/Fl/se Morfotipo 3 Louro Arbóreo Fl/Se/Fr/Fo Morfotipo 4 Cipó Cipó Fo Morfotipo 5 Peroba Arbóreo Fo/fr Morfotipo 6 Brasa apagada Arbóreo Fr Morfotipo 7 Araticuntaia Arbóreo Fo/Fr/ Fl Morfotipo 8 Pau para tudo Arbóreo Fo/Fl Morfotipo 9 Amesca Arbóreo Fl/ Fr Morfotipo 10 Mussuntaiba Arbóreo Fr Morfotipo 11 Bacalhau Arbóreo Fo Morfotipo 12 Quiri de leite Arbóreo Fr Morfotipo 13 Oiti Arbóreo Fr Morfotipo 14 Amora Arbóreo Fr/Fl Morfotipo 15 Gobiraba Arbóreo Fr Morfotipo 16 Tuturubá Arbóreo Fr Morfotipo 17 Batinga branca Arbóreo Fo/ Fr Morfotipo 18 Catuaba Arbóreo Fr Morfotipo 19 Embira branco Arbóreo Fo Morfotipo 20 Carnedanta Arbóreo Fo Morfotipo 21 Maria farinha Arbóreo Fr Morfotipo 22 Grão de galo Arbóreo Fr Morfotipo 23 Birro Arbóreo Fo/ Fl

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Figura 17. Variação das espécie

Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Tabela 9. Contribuição das 10 espécies mais consumidas

coimbrai na estação seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

% dos registros

de alimentaçãoEspécie

Morfotipo 4

Morfotipo 21

Morfotipo 3

Guapira noxia

Manilkara sp.

Tetrastylis ovalis

Morfotipo 17

Morfotipo 8

Dalechampia coriacea Myrcia sp.

Variação das espécies utilizadas como recurso pelo grupo estudado de

na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Contribuição das 10 espécies mais consumidas pelo grupo de

na estação seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro).

% dos registros

de alimentação

Contribuição de itens (% dos registros desta

espécie):

Fruto Folha Semente

26,3 - 100,0 -

16,4 100,0 - -

8,4 68,2 0,8 19,4

6,1 64,5 35,5 -

6,1 100,0 - -

5,9 100,0 - -

4,8 97,3 2,7 -

3,7 - 98,2 -

3,5 - 52,8 47,2

2,7 100,0 - -

35

s utilizadas como recurso pelo grupo estudado de

grupo de Callicebus

Contribuição de itens (% dos registros desta

Semente Flor

-

-

19,4 11,6

-

-

-

-

1,8

47,2 -

-

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36

Tabela 10. Contribuição das 10 espécies mais consumidas pelo grupo de Callicebus

coimbrai na estação chuvosa (abril-julho).

4.4.2. Variação sazonal na utilização de recursos alimentares

À exceção de julho e setembro, os frutos foram o recurso mais consumido durante

os meses do período de estudo (Figura 18). Nesses meses as folhas foram o item mais

consumido, e setembro se destacou como o mês de menor consumo de fruto, com uma

contribuição de flores também.

Folhas foi o segundo item mais importante na dieta do grupo com exceção dos

meses de maio e junho, quando foi superado por sementes de Elaeocarpaceae sp. Em geral,

folhas são consideradas um recurso alternativo para fruto na dieta dos platirríneos, e de

fato, no presente estudo, o padrão de consumo de folhas é praticamente o inverso daquele

de fruto (Figura 18), com exceção de setembro. Esta conclusão é apoiada pelo fato que o

consumo mensal de folhas (Figura 18) não foi influenciada (r de Pearson = -0, 289, n = 11,

p = 0,388) pela disponibilidade deste recurso (Figura 11). Ou seja, apesar do pico na

disponibilidade de folhas novas em novembro, por exemplo, este foi um dos meses de

menor consumo de folhas.

A amostragem fenológica não forneceu uma base confiável para a avaliação

sistemática da possível influência da disponibilidade de fruto sobre o consumo deste item.

% dos

registros de

alimentação

Contribuição de itens (% dos registros desta

espécie):

Espécie Fruto Folha Semente Flor

Morfotipo 4 14,2 - 100,0 - -

Elaeocarpaceae sp. 12,1 - - 100,0 -

Manilkara sp. 8,6 - 100,0 - -

Tapirira guianensis 7,4 100,0 - - -

Morfotipo 2 6,4 100,0 - - -

Micropholis sp. 4,9 100,0 - - -

Myrtaceae sp.2 4,8 100,0 - - -

Morfotipo 8 4,7 - 100,0 - -

Guapira noxia 4,2 86,8 10,3 - 2,9

Morfotipo 15 3,9 100,0 - - -

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Foi registrada uma correlação positiva, mas fraca (

número de árvores frutificando cada mês (Figura 10) e o consumo de frutos e sementes

(Figura 18).

Comparando as estações (Tabela 1

diferença sazonal foi significativa, considerando

significativamente maior na estação chuvosa, mas esta diferença pode ser considerada

marginal, em termos estatísticos (p = 0,009). Já os demais itens apresentaram diferenças

bastante significativas (p < 0,0001) entre estações, com sementes sendo

na estação chuvosa, e folhas, flores e insetos na estação seca.

Na estação chuvosa, nenhum espécime de

número de Diceroprocta sp. decaiu rapidamente de abril para maio até não

observado nenhuma espécime

mostrou bastante difícil.

Figura 18. Variação mensal dos itens alimentar consumidos

estudado na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Foi registrada uma correlação positiva, mas fraca (r = 0,319, n = 11, p = 0,339) entre o

ro de árvores frutificando cada mês (Figura 10) e o consumo de frutos e sementes

Comparando as estações (Tabela 11), o consumo de fruto foi equilibrado, embora a

diferença sazonal foi significativa, considerando α = 0,01. Ou seja, o consumo de

significativamente maior na estação chuvosa, mas esta diferença pode ser considerada

marginal, em termos estatísticos (p = 0,009). Já os demais itens apresentaram diferenças

bastante significativas (p < 0,0001) entre estações, com sementes sendo

na estação chuvosa, e folhas, flores e insetos na estação seca.

Na estação chuvosa, nenhum espécime de Pseudosphinx sp.

sp. decaiu rapidamente de abril para maio até não

espécime na área de vida dos guigós, além que

mensal dos itens alimentar consumidos pelo grupo de guigós

estudado na Fazenda Trapsa, Sergipe. *Folha jovem e madura.

37

= 0,319, n = 11, p = 0,339) entre o

ro de árvores frutificando cada mês (Figura 10) e o consumo de frutos e sementes

), o consumo de fruto foi equilibrado, embora a

= 0,01. Ou seja, o consumo de fruto foi

significativamente maior na estação chuvosa, mas esta diferença pode ser considerada

marginal, em termos estatísticos (p = 0,009). Já os demais itens apresentaram diferenças

bastante significativas (p < 0,0001) entre estações, com sementes sendo mais consumidas

foi observado e o

sp. decaiu rapidamente de abril para maio até não ter sido mais

que sua captura que se

pelo grupo de guigós

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38

Tabela 11. Escores de z binomial para a comparação da proporção de itens consumidos na

estação chuvosa (abril-julho) e seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) pelo grupo de

guigós estudado.

4.5. Uso do espaço

4.5.1. Área de vida

Somando-se os onze meses de monitoramento o grupo utilizou uma área total de

13,5 hectares (Figuras 19 e 20). O grupo ocupou a área de vida de forma distinta entre as

estações seca e chuvosa (Figura 21), na estação seca o grupo utilizou mais a parte ao centro

do fragmento e sua área nessa estação correspondeu a 12,50 hectares. Na estação chuvosa

o grupo utilizou-se mais da região ocidental do sistema quadriculado de trilhas, chegando a

ocupar 10,75 hectares.

Na estação seca ocorreu o aumento no consumo de folhas pelo grupo de guigós

estudado e os indivíduos ocuparam durante essa estação mais os hábitats da floresta

antrópica, onde esse recurso foi mais facilmente encontrado. Na estação chuvosa os

macacos se alimentaram mais de frutos, e a maior oferta desse item foi observada nos

hábitats de florestas madura, principalmente, e secundária, que foram os quadrantes mais

ocupados por eles nessa estação.

Item

Número (%) de registros coletados na estação:

z (p) Chuvosa Seca Fruto 1124 (63,8) 947 (59,4) 2,6063 (0,0092)

Semente 263 (14,9) 51 (3,2) 11,6489 (0,0001)

Flor 17 (1,0) 113 (7,1) -9,1819 (0,0001)

Inseto 3 (0,2) 35 (2,2) -5,5382 (0,0001)

Folha 354 (20,1) 447 (28,1) -5,3980 (0,0001)

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39

Figura 19. Mapa do fragmento Camboinha com a área de vida do grupo de Callicebus coimbrai estudado, Trapsa -SE.

Figura 20. Distribuição dos hábitats no sistema quadriculado de trilhas no fragmento

Camboinha da Fazenda Trapsa, SE.

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40

Figura 21. Área de vida ocupada pelos guigós na estação seca e chuvosa no fragmento

Camboinha da Fazenda Trapsa, SE.

4.5.2. Sítios de dormida

Durante todo o período de estudo o grupo utilizou somente quatro sítios de dormida

(sleep tree, ST) (Figura 22), todos formados por árvores da mesma espécie, Licania

littoralis, que apresentavam altura estimada entre 18 m e 20 m. Sítios 1, 2 e 3 foram os

principais sítios usados no período do presente estudo, sendo que o primeiro registro de

ST4 aconteceu no mês de setembro e só foi registrado novamente em novembro.

A frequência de utilização das árvores de dormida variou a cada mês totalizando

26, 18, 17 e 4 noites nas árvores ST1, ST2, ST3 e ST4, respectivamente. Os guigós

retornaram para o mesmo sítio de dormida usado na noite anterior em 19 ocasiões

diferentes, das 65 noites registradas. Destes 19 casos, 14 (73,7%) envolviam ST1 que foi

também o sítio mais utilizado no geral. Os outros cinco eventos (26,3%) envolveram ST3.

O sítio ST1 foi o mais utilizado com 40% dos registros, os sítios ST2 e ST3 contribuíram

com 27,7% e 26,2% dos registros de dormida, respectivamente, enquanto ST4 foi usado

em apenas quatro (6,2%) ocasiões. A frequência de utilização dos diferentes sítios variou

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41

entre estações (Tabela 12), mas as diferenças não foram significativas (G = 5,256, p =

0,154, g.l. = 3).

Figura 22. Localização das árvores de dormida na área de vida do grupo estudado de

Callicebus coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Tabela 12. Utilização dos sítios de dormida pelos guigós na Fazenda Trapsa, SE.

4.5.3. Uso do espaço vertical

Os animais passaram a maior do tempo (88,4%) nos estratos médios da floresta

(Figura 23). Este mesmo padrão geral foi registrado nas duas estações (teste de Kruskal-

Wallis: K= 0,025; p= 0,872; g.l.= 1). Indivíduos foram registrados no chão (Figura 24) em

Árvore

Frequência (%) de uso do sítio na estação:

Seca Chuvosa

ST1 10 (41,6) 8 (34,8)

ST2 4 (16,7) 7 (30,4)

ST3 7 (29,2) 8 (34,8)

ST4 3 (12,5) 0 (0,0)

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42 ocasiões para se alimentar, se locomover ou forragear. Esse comportamento só não foi

registrado nos meses de janeiro, março e maio.

Figura 23. Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de

coimbrai na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Figura 24. Indivíduo, Rabo Curto

4.5.4. Preferência de hábitat

Apesar de passar a maior parte de seu tempo nos hábitats mais perturbados (Figura

25), os guigós apresentaram uma preferência significativa pela floresta madura enquanto

42 ocasiões para se alimentar, se locomover ou forragear. Esse comportamento só não foi

registrado nos meses de janeiro, março e maio.

. Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de

na Fazenda Trapsa, Sergipe.

Rabo Curto, ingerindo alimento no chão do fragmento, Trapsa, SE.

.4. Preferência de hábitat

Apesar de passar a maior parte de seu tempo nos hábitats mais perturbados (Figura

25), os guigós apresentaram uma preferência significativa pela floresta madura enquanto

42

42 ocasiões para se alimentar, se locomover ou forragear. Esse comportamento só não foi

. Uso do estrato vertical pelos membros do grupo estudado de Callicebus

do alimento no chão do fragmento, Trapsa, SE.

Apesar de passar a maior parte de seu tempo nos hábitats mais perturbados (Figura

25), os guigós apresentaram uma preferência significativa pela floresta madura enquanto

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usavam a floresta antrópica muito menos do que esperado (G = 676,492, p < 0,0001, g.l.

2).

A mesma preferência pela floresta madura foi observada nas duas estações (Figura

26), embora neste caso foram registrados padrões distintos entre estações com uso muito

maior da floresta antrópica na estação seca e da floresta secundária na chuvosa

diferença significativa entre estações (G = 304,285, p < 0,0001, g.l. = 2). Tanto na estação

seca (G = 222,151, p < 0,0001, g.l. = 2) como na chuvosa (G = 628,139, p < 0,0001, g.l. =

2) os uso de hábitats foi significativamente diferente de sua d

os hábitats perturbados (FS e FA) foram usados menos do que esperado na estação seca, na

chuvosa a floresta secundária foi usada mais do que esperado.

Figura 25. Comparação do uso (observado) dos diferentes tipos de hábita

estudo (percentagem dos registros de varredura) e a disponibilidade (esperado) dos hábitats

dentro da área de vida do grupo de estudo. FM = floresta madura; FS = floresta secundária,

FA = floresta antrópica.

usavam a floresta antrópica muito menos do que esperado (G = 676,492, p < 0,0001, g.l.

A mesma preferência pela floresta madura foi observada nas duas estações (Figura

26), embora neste caso foram registrados padrões distintos entre estações com uso muito

maior da floresta antrópica na estação seca e da floresta secundária na chuvosa

diferença significativa entre estações (G = 304,285, p < 0,0001, g.l. = 2). Tanto na estação

seca (G = 222,151, p < 0,0001, g.l. = 2) como na chuvosa (G = 628,139, p < 0,0001, g.l. =

2) os uso de hábitats foi significativamente diferente de sua disponibilidade. Mas, enquanto

os hábitats perturbados (FS e FA) foram usados menos do que esperado na estação seca, na

chuvosa a floresta secundária foi usada mais do que esperado.

Comparação do uso (observado) dos diferentes tipos de hábita

estudo (percentagem dos registros de varredura) e a disponibilidade (esperado) dos hábitats

dentro da área de vida do grupo de estudo. FM = floresta madura; FS = floresta secundária,

43

usavam a floresta antrópica muito menos do que esperado (G = 676,492, p < 0,0001, g.l. =

A mesma preferência pela floresta madura foi observada nas duas estações (Figura

26), embora neste caso foram registrados padrões distintos entre estações com uso muito

maior da floresta antrópica na estação seca e da floresta secundária na chuvosa, com uma

diferença significativa entre estações (G = 304,285, p < 0,0001, g.l. = 2). Tanto na estação

seca (G = 222,151, p < 0,0001, g.l. = 2) como na chuvosa (G = 628,139, p < 0,0001, g.l. =

isponibilidade. Mas, enquanto

os hábitats perturbados (FS e FA) foram usados menos do que esperado na estação seca, na

Comparação do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de

estudo (percentagem dos registros de varredura) e a disponibilidade (esperado) dos hábitats

dentro da área de vida do grupo de estudo. FM = floresta madura; FS = floresta secundária,

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Figura 26. Variação entre

chuvosa (abril-julho) do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de

estudo (percentagem dos registros de varredura). FM = floresta madura; FS = floresta

secundária, FA = floresta antrópica.

Variação entre as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e

julho) do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de

estudo (percentagem dos registros de varredura). FM = floresta madura; FS = floresta

ta antrópica.

44

as estações seca (janeiro, fevereiro, outubro e novembro) e

julho) do uso (observado) dos diferentes tipos de hábitats pelo grupo de

estudo (percentagem dos registros de varredura). FM = floresta madura; FS = floresta

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45

5. DISCUSSÃO

O grupo de estudo foi habituado no primeiro semestre de 2009 (Souza-Alves &

Ferrari, 2010). Durante o período do presente estudo apenas 0,09% das varreduras

realizadas não resultaram na coleta de registros comportamentais. Esse valor está dentro do

esperado, principalmente comparando com Souza-Alves (2010) onde 1,9% de varreduras

com este mesmo grupo de guigós ficaram sem registros e 15-22% das varreduras no estudo

de Callicebus melanochir de Heiduck (2002). Ou seja, o presente estudo foi eficiente em

termos da coleta de dados o que torna os resultados os mais confiáveis até o presente

momento.

É interessante notar que o desaparecimento do macho adulto não-reprodutivo (Cara

Preta) entre abril e maio coincidiu com o provável início do período de estro da fêmea

reprodutiva, considerando que um filhote nasceu no início de dezembro e a gestação dura

aproximadamente seis meses nesse gênero (Bordignon et al., 2008). Essa conclusão é

reforçada pelo comportamento do macho reprodutor em maio quando foi observado, 4

vezes, cheirando a genitália da fêmea, sendo esse o único período em que esse

comportamento foi observado. Cara Preta tinha apresentado um comportamento marginal

desde o início do monitoramento do grupo em julho de 2009 (Souza-Alves, 2009),

aparecendo frequentemente afastado do grupo e ocasionalmente dormindo separado (dois

dias de 2010). A sequência de eventos registrada no presente estudo indica que o estro da

fêmea foi um gatilho para mudanças no comportamento do macho reprodutor,

principalmente em relação a sua tolerância do macho subordinado, que era, muito

provavelmente, seu filho maduro. Infelizmente, a cópula não foi observada, provavelmente

ocorrendo durante períodos em que o grupo não foi monitorado.

O valor da média do período de atividade (Tabela 4) registrado foi menor do que o

esperado de aproximadamente 12h (o período diurno), mas bastante próximo do valor de

10h:01min encontrado por Souza-Alves (2010). A variação na duração do período de

atividade (Tabela 4) ao longo do período de estudo foi um aspecto importante no

comportamento do grupo. Embora o período tivesse uma duração significativamente maior

na estação seca, quando os dias eram mais longos, o período de atividade foi

invariavelmente menor que o período de luz solar. Isto indica uma estratégia

comportamental sistemática baseada na alteração do período de atividade. Entretanto, o

período de atividade mais longo adotado na estação seca não coincidiu com mudanças no

padrão comportamental do grupo (Tabela 7). Basicamente, os membros do grupo

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descansavam mais durante o dia na estação seca não havendo evidências de que investiam

em estratégias alternativas para a busca de alimentos nesse período.

Isto indica que, apesar da diferença sazonal na duração do período de atividade, os

membros do grupo dedicavam mais ou menos a mesma quantidade de tempo às atividades

de alimentação e deslocamento nas duas estações (Tabela 7). A grande diferença foi no

padrão de repouso, que foi significativamente maior na estação seca. O forrageio foi

significativamente maior na estação chuvosa, mas este comportamento foi sempre

infrequente, e não parece ter um papel importante na estratégia comportamental dos

animais.

Como a duração do período de atividade diurno foi, invariavelmente, menor que o

período de luz natural, esta análise indica que seja pouco provável que a variação neste

período entre estações integrou alguma estratégia sistemática de forrageio. Parece mais

provável que o grupo simplesmente adequou a duração de suas atividades àquela do

período de luz, seguindo critérios específicos para o início e final das atividades (p.ex., o

nível da luz solar no céu), e assim, dedicando mais tempo ao repouso no meio do dia.

Apesar da influência de variações sazonais sobre a ecologia comportamental da

maioria dos primatas, estudos para o gênero Callicebus ainda são limitados em seu

potencial para investigar esse fenômeno e em sua maioria focalizaram basicamente a dieta

(Carrillo-Bilbao et al. 2005; Herrera & Heymann 2004; Neri 1997; Caselli 2008). Somente

Souza-Alves (2010) realizou um estudo mais sistemático sobre a influência da variação

sazonal sobre o padrão comportamental de C. coimbrai e registrou que essa espécie

mantém o padrão comportamental típico para o gênero.

Ao comparar o orçamento de atividades de alguns grupos de Callicebus estudados,

verifica-se que há variação na forma como as espécies distribuem seu tempo entre as

diferentes atividades, essa variação pode estar associada a fatores ambientais envolvidos,

ao tamanho corporal da espécie e a forma como os recursos são utilizados e estão

distribuídos no ambiente (Ferrari, 1988; Muller, 1996).

Comparando os dados desse estudo com outros para o gênero Callicebus (Tabela

13), o repouso e a alimentação são as categorias mais registradas seguida do deslocamento.

Em geral os guigós são caracterizados por uma alta taxa de descanso (Kinzey, 1977b;

Kinzey et al.,1977; Kinzey & Becker, 1983; Souza et al., 1996; Souza-Alves, 2010). A

alimentação ocupa um alto registro nos estudos, inclusive no presente estudo, isso parece

ser uma característica dos pitecídeos, em geral, e parece reflexo de fatores metodológicos.

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Ou seja, algum fator (maior visibilidade desse comportamento, por exemplo) favorece o

registro desse comportamento em relação aos demais tipos comportamentais.

Ao analisar a Tabela 13, nota-se que não ocorre grandes diferenças entre o presente

estudo e os demais, que reafirma o encontrado por Souza-Alves (2010) ao indicar que C.

coimbrai se encontra entre os valores medianos para o gênero, ou seja, dentro do padrão.

O forrageio teve poucos registros (Tabela 13), provavelmente por causa da baixa

contribuição de presas animais à dieta do grupo e o padrão sazonal no consumo de insetos

parece ter sido influenciado diretamente pelo ciclo reprodutivo das duas espécies predadas.

Comparando os dados entre anos com Souza-Alves (2010, Tabela 13), percebemos

que as proporções em cada categoria seguiram um padrão com o repouso,

alimentação/forrageio e deslocamento sendo as categorias mais registradas, ou seja, esse

grupo de guigós vem aplicando seu tempo da mesma maneira o que aparentemente indica

uma adaptação as condições bióticas e abióticas do fragmento em que se encontram. As

diferenças encontradas podem ter ocorrido, principalmente, pela diferença na duração de

cada estudo.

As interações sociais do grupo se concentravam nos momentos de descanso onde

ocorria a catação e algumas brincadeiras, principalmente, por parte do juvenil. Quando

ocorria a catação, a fêmea era a mais catada do grupo, no entanto, ela raramente catava

outro membro e quando o fazia demorava poucos instantes e parava para descansar. As

vocalizações eram pouco frequentes e teve uma maior incidência pela manhã (Figura 13), o

que foi visto em outros estudos (Kinzey & Becker, 1983; Souza-Alves 2010), ou ocorriam

em resposta a vocalizações de grupos vizinhos a qualquer momento do dia.

O grupo de C. coimbrai estudado mostrou-se incomodado com a presença de Cebus

xanthosternos na sua área de vida enquanto que a presença do Callithrix jacchus não

alterava de maneira visível seu comportamento. Esse fato foi o oposto do estudo de Neri

(1997) ao estudar um grupo de C. nigrifrons, inclusive foram registrados quatro sauás em

integração com oito indivíduos de Cebus apella.

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Tabela 13. Orçamento de atividades registrado para espécies do gênero Callicebus

(valores arredondados).

Analisando a fenologia vegetal (Figura 10) verifica-se uma clara tendência para

uma maior abundância de espécies e indivíduos frutificando no primeiro semestre do ano,

principalmente entre janeiro e abril, enquanto a atividade fenológica no segundo semestre

foi inexpressiva. Apesar de não coincidir com as estações climáticas, percebe-se (Figura

18) que foi no primeiro semestre que os membros do grupo mais consumiram frutos e

sementes.

A dieta do grupo foi constituída de frutos, folhas, sementes, flores e insetos. O

grande consumo do morfotipo 4 (Figura 17) e a diferença desse consumo com as demais

espécies parece ser relacionada ao fato de que esta espécie foi consumida ao longo de todo

o período de estudo, enquanto o consumo da maioria das demais espécies se limitou a um

determinado mês em que havia sua disponibilidade na área de vida do grupo.

Monitorando o mesmo grupo no segundo semestre de 2009, Souza-Alves (2010)

registrou um padrão semelhante da dieta em setembro (Figura 18), embora com

contribuições menores de folhas e flores.

Espécie Percentagem de tempo gasta em: Fonte

Repouso Alimentação/ Forrageio

Deslocamento Social Área de vida (ha)

Duração (meses)

C. oenanthe 31 35 22 10 2 8 DeLuycker (2007)

C. ornatus 48 20 20 11 14 6 Polanco-Ochoa (1993)

C. brunneus 59 13 18 10 3 10 Lawrence (2007)

C. lugens 54 18 23 5 22 12 Palacios & Rodriguez (1995) cited in Defler (2004), Palacios et al. (1997)

C. melanochir 40 27 32 1 24 11 Müller (1995, 1996), Müller & Pissinatti (1995)

C. nigrifrons 35 26 33 6 12 Souza et al. (1996)

29 49 25 6 48 5 Neri (1997)

C. coimbrai 49 29 18 9 11,7 6 Souza-Alves (2010)

C. coimbrai 34 33 25 7 13,5 11 Presente estudo

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O estudo de Souza-Alves (2010), que monitorou o mesmo grupo de C. coimbrai,

oferece a possibilidade de verificar variações entre anos na composição da dieta (Tabela

14). Apesar de algumas semelhanças, como no caso de setembro, existem também

discrepâncias consideráveis, que parecem refletir variações na disponibilidade de

diferentes recursos. Os efeitos de variações na disponibilidade de recursos poderiam ter

sido exacerbados, ainda, por efeitos de amostragem, considerando, por exemplo, diferenças

nos dias amostrados, e até o número de registros coletados. Em setembro de 2009, por

exemplo, foram coletados apenas 75 registros de alimentação (Souza-Alves, 2010),

enquanto no presente estudo, o total foi de 342.

Nos meses secos, as duas espécies mais registradas por Souza-Alves (2010) foram

os morfotipos 4 (31,5%) e 21 (24,1%) e nos meses chuvosos a Elaeocarpaceae sp (30,0%)

e Myrtaceae sp.1 (24,1%). O presente estudo também encontrou as mesmas espécies

predominantes na estação seca e a Elaeocarpaceae sp. como a segunda mais registrada para

a estação chuvosa, seguida da Manilkara sp. (Tabelas 9 e 10).

Tabela 14. Composição mensal da dieta do grupo de estudo de C. coimbrai na Fazenda

Trapsa, SE, em 2009 (Souza-Alves, 2010).

Ao comparar o resultado do presente estudo com demais trabalhos para Callicebus

(Quadro 1), percebe-se que a dieta do grupo foi típica do gênero, com o fruto sendo o

recurso mais importante na dieta. Assim como na maioria das espécies de Callicebus, a

folha aparece como um recurso complementar da dieta. Em geral, a ingestão de flores e

invertebrados é pequena em Callicebus. Exceções ocorrem em C. nigrifrons (Neri 1997),

no caso de flores, e em C. oenanthe (De Luycker, 2007), no caso de presas (Quadro 1).

Esses casos podem ser explicados pela concentração da coleta de dados durante períodos

Percentagem dos registros de varredura coletada no mês:

Item Julho Agosto Setembro Outubro Novembro

Fruto 90,7 40,9 36,0 62,4 43,2

Folha 6,3 35,1 42,7 36,9 15,7

Flor - 23,4 21,3 0,7 1,7

Semente - - - - 30,1

Inseto 2,9 0,6 - - 9,3

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com grande disponibilidade desses recursos, por exemplo, o que foi observado por Neri

(1997) no seu estudo com C. nigrifrons.

A composição da dieta no presente estudo variou sazonalmente com um maior

consumo de folha, flor, e insetos e um menor consumo de sementes na estação seca. A

frutificação foi alta durante o primeiro semestre e o fruto foi o recurso mais consumido

tanto na estação seca quanto na chuvosa, mas houve um aumento significativo no consumo

de folhas na estação seca (z = -5,3980, p= 0,0001). Desta maneira, pode-se dizer que o

grupo deu preferência a itens de maior valor energético complementando sua dieta com

folhas e outros itens na medida em que os frutos diminuíam na área. O principal fato que

observamos como evidência é que as folhas não foram consumidas na medida de sua

disponibilidade. Esse comportamento é previsto pela teoria do forrageamento ótimo e

parece ser típico do gênero (Müller, 1996; Caselli, 2008; Souza-Alves, 2010). Ou seja, a

variação sazonal na distribuição de recurso não pareceu influenciar o padrão da dieta da

espécie já que a disponibilidade de folhas não aumentou seu consumo e a frutificação teve

uma fraca correlação com seu consumo.

Flores, sementes e insetos eram itens proeminentes em alguns períodos, mas os

animais nunca foram observados bebendo água, sendo provável a obtenção deste recurso

através dos alimentos.

Quadro 1. Comparação da composição da dieta registrada em outros estudos de

Callicebus com o presente estudo (valores arredondados).

1Inclui a ingestão de frutos inteiros ou partes do fruto (% de ingestão de sementes é

informado entre parênteses, quando calculada no estudo); 2 inclui a ingestão de folhas ou

partes de folhas em geral; 3 média de cinco grupos calculada a partir do Quadro 2.12 do

Lawrence (2007)

Espécie

Percentagem na dieta do item: Fonte Frutos1 Folhas2 Flore

s Presas

Duração (meses)

C. oenanthe 36 [1] 8 3 49 8 DeLu ycker (2007) C. ornatus 81 [?] 8 2 9 6 Polanco (1992) cited in

Defler (2004) C. brunneus 70 [?]3 143 <13 83 10 Lawrence (2007) C. lugens 86 [27] 6 4 3 6 Palacios et al. (1997) C. melanochir 85 [26] 14 <1 <1 12 Heiduck (1997) C. nigrifrons 46 [?] 33 11 10 12 Souza et al. (1996) 64 [?] 5 24 3 5 Neri (1997) C. coimbrai 63 [8] 19 2 5 6 Souza-Alves, 2010 C. coimbrai 66 [8] 26 7 1 11 Presente estudo

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Segundo Oates (1987), a variação espaço-temporal no padrão alimentar dos

primatas pode influenciar no seu comportamento. Na estação seca, os sujeitos passaram a

passar mais tempo em repouso, provavelmente na tentativa de minimizar o gasto de

energético e ocuparam uma área de uso maior, aparentemente, na tentativa de localizar

novas fontes de alimento. Ao analisar a tabela 13 verifica-se que não há nenhum padrão de

área de vida para o gênero Callicebus do qual se possa fazer uma análise mais elaborada.

Müller (1995) encontrou 24 hectares para C. melanochir no sul da Bahia enquanto Neri

(1997) registrou o dobro dessa área (48 hectares) para um grupo de C. nigrifrons em Minas

Gerais. Jerusalinsky et al. (2006) registraram grupos de C. coimbrai em fragmentos

menores que 10 hectares, o que parece indicar que essa espécie tolera a fragmentação de

hábitats.

A área de vida registrada no presente estudo foi de um tamanho mediano para o

gênero Callicebus (Tabela 13). Entre os fatores determinantes desse parâmetro, o tamanho

do fragmento em que o grupo reside parecer ser um dos principais, junto à presença de

outros grupos residentes e o comportamento territorial desses primatas. Por outro lado, a

área parece oferecer condições adequadas para a sobrevivência do grupo, pelo menos em

médio prazo, considerando as características típicas de seu padrão de atividade e dieta,

além de sua capacidade reprodutiva. A diferença em relação ao valor registrado por Souza-

Alves (2010) parece ter sido resultado da maior duração do presente estudo, o que sugere

não somente uma estimativa mais confiável, como também indica que o grupo ocupa uma

área maior do que aquela estimada até agora. Vale ressaltar que Souza-Alves (2010)

registrou a utilização de dois quadrantes que não foram registrados no presente estudo.

Assim sendo, somando-se esses dois quadrantes a área de vida do grupo estimada no

presente estudo, a área de vida aumenta para 14 hectares.

Neri (1997) registrou a utilização de 33 sítios de dormida para um grupo de C.

nigrifrons. O uso de apenas quatro sítios de dormida durante o período de estudo contraria

o padrão geral esperado para um primata neotropical desse porte (Souza-Alves et al.,

2011), e foi mais intrigante ainda pela seleção de árvores de uma única espécie (Licania

littoralis), apesar da disponibilidade de um número grande de sítios em potencial dentro da

área de vida do grupo. Visto a relação observada entre o grupo de estudo e a população

local de Cebus xanthosternos conclui-se que o padrão de seleção e uso de sítios de dormida

neste grupo foi determinado principalmente pela ameaça de predação por essa espécie

(Souza-Alves et al., 2011).

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Um fato importante deste trabalho é a ocorrência desses animais no chão da floresta

para desenvolver suas atividades, fato incomum para o gênero. Quando estavam no chão

para se alimentarem, foi registrada apenas a ingestão de folhas e flores que se encontravam

em abundância em arbustos e cipós bem próximos ao chão do fragmento.

Os registros dos animais passarem a maior parte do seu tempo nos estratos

medianos da floresta também foram obtidos por Müller (1996), Neri (1997) e Souza-Alves

(2010). Raramente os animais foram registrados em alturas superiores a 15m e isso quando

acontecia o grupo subia nas árvores mais altas para se aquecer com a luz solar depois de

um período chuvoso. Essa preferência pelos estratos médios da floresta parece atribuída a

utilização dos recursos alimentares, já que eram onde eram mais encontrados. Cunha et al.

(2006) faz uma relação entre o tamanho corporal, a locomoção dos primatas e à altura dos

estratos utilizados, corroborando com os resultados encontrados no presente trabalho.

Durante o período de estudo foi registrada uma variação na área ocupada pelo

grupo, aparentemente associada a distribuição e qualidade de recursos. O grupo utilizou a

floreta madura preferencialmente e explorou mais as áreas de floresta antropizada na

estação seca. Este hábitat possui um sub-bosque denso com muitos cipós, fonte das folhas

jovens, que foi o recurso secundário para C. coimbrai frente a escassez de frutos. Souza-

Alves (2010) encontrou a mesma preferência pela floresta madura no seu estudo como

também a utilização da floresta secundária foi mais ou menos proporcional ao esperado. As

mudanças sazonais na utilização da área de vida parecem ser ligadas àquelas registradas na

dieta (Tabela 11) embora a abordagem seguida no presente estudo não permite a

identificação de fatores determinantes específicos com confiança.

A principal causa de ameaça ao Callicebus coimbrai é a contínua destruição e

fragmentação de seus hábitats. Essa situação requer medidas que incluem a implantação de

reservas protegidas e a aplicação de estratégias de manejo metapopulacional, como a

translocação ou a reintrodução. Com os resultados encontrados no presente estudo algumas

questões importantes que devem ser analisadas antes do manejo e dos planos de

conservação da espécie começaram a ser elucidadas como a ecologia e o comportamento

de C. coimbrai.

Os resultados indicam que C. coimbrai desempenha um importante papel na

dispersão de sementes no ecossistema local, podendo, dessa maneira, contribuir para a

regeneração de hábitats. Também se tem informações da necessidade de alimentos e quais

alimentos fazem parte de sua dieta, assim como o seu hábitat preferido. O conhecimento da

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Elaeocarpaceae sp., morfotipos 4 e 21 como espécies-chaves é importante para entender a

tolerância dessa espécie em fragmentos pequenos. Corredores ecológicos podem ser

planejados, a partir das espécies identificadas na área de vida do grupo, para ligar os

diversos fragmentos locais, abrindo espaço para o fluxo gênico da espécie como também

contribui para a regeneração dos hábitats perturbados.

Registraram-se dados sobre a variação comportamental sazonal e entre anos e a

influência da variação na disponibilidade de recursos sobre o padrão comportamental.

Estes dados são fundamentais para o planejamento de reservas e medidas efetivas de

proteção, tais como a relocação ou reintrodução desses animais.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Fazenda Trapsa é um sítio importante para a conservação dos ecossistemas

locais, pois apesar de ser uma área bastante fragmentada detém uma biodiversidade

considerável de mamíferos (Chagas et al., 2010), onde se encontram dois primatas que

estão ameaçado e criticamente ameaçado de extinção, Callicebus coimbrai e Cebus

xanthosternos, respectivamente. No entanto a região encontra-se fragmentada e isolada de

outros fragmentos ao sul do Estado. As espécies presentes na área de estudo sofrem

constantes ameaças, já que é comum a presença de pessoas que caçam esses animais ou

extraem a vegetação da mata, ou seja, a região é uma boa candidata a criação de uma

unidade de conservação, facilitando os estudos na região além de proteger as espécies e seu

hábitat.

No geral, o grupo de estudo parece estar bem adaptado ao pequeno fragmento e à

área de vida que habita, tendo a aparente disponibilidade de fruto ao longo do ano como

um fator positivo para sua tolerância a fragmentação de hábitat. Em geral, os padrões de

comportamento e ecologia registrados neste estudo são típicos do gênero. Entretanto, um

monitoramento mais duradouro e abrangente – incluindo novos grupos e populações – será

necessário para a caracterização mais confiável da ecologia da espécie e do potencial para

a sua conservação em longo prazo. Dessa maneira, o presente estudo pretendeu aumentar a

base de dados sobre a ecologia comportamental do C. coimbrai com uma visão sazonal e

entre anos visando contribuir com planos futuros de conservação e manejo da espécie

assim como tentar mostrar medidas para regenerar e conservar os fragmentos de Mata

Atlântica.

Um dos resultados deste monitoramento foi a identificação dos tipos de recursos e

espécies de plantas mais importantes na dieta da espécie. O que pode contribuir de forma

decisiva para o desenvolvimento de estratégias de conservação, como a implantação de

corredores ecológicos ligando os fragmentos de florestas e a re-introdução ou translocação

de C. coimbrai em áreas aptas a recebê-las.

Como no presente trabalho foram identificadas algumas espécies vegetais, pode-se

pensar no manejo da paisagem, que aumenta a disponibilidade e conectividade desse

hábitat. É necessário também pensar em projetos que focalizem alternativas à caça e ao

corte de madeira pela população local, minimizando os impactos sobre as populações de

mamíferos e a estrutura da comunidade.

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Apesar do número de estudos realizados com Callicebus ter aumentado nos últimos

anos, ainda será necessário um monitoramento mais amplo para a compreensão mais

sistemática e confiável de padrões ecológicos e principalmente o potencial para a

conservação de espécies, especialmente C. coimbrai, frente ao cenário atual de

fragmentação de hábitat. Portanto, sugerimos a continuação do monitoramento do grupo de

estudo, que já está em andamento (J.P. Souza-Alves, com. pess.), como também de outros

grupos.

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