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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ESTUDO DA OCORRÊNCIA DE METAIS TRAÇO EM SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DO RIO SÃO FRANCISCO À MONTANTE E À JUSANTE DA REPRESA DE TRÊS MARIAS, MINAS GERAIS, BRASIL MARCOS VINÍCIUS TELES GOMES SÃO CRISTÓVÃO - SE MAIO – 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA

ESTUDO DA OCORRÊNCIA DE METAIS TRAÇO EM

SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DO RIO SÃO FRANCISCO À

MONTANTE E À JUSANTE DA REPRESA DE TRÊS MARIAS,

MINAS GERAIS, BRASIL

MARCOS VINÍCIUS TELES GOMES

SÃO CRISTÓVÃO - SE

MAIO – 2009

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ESTUDO DA OCORRÊNCIA DE METAIS TRAÇO EM

SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DO RIO SÃO FRANCISCO À

MONTANTE E À JUSANTE DA REPRESA DE TRÊS MARIAS,

MINAS GERAIS, BRASIL

MARCOS VINÍCIUS TELES GOMES

Orientador: Prof. Dr. José do Patrocínio Hora Alves

SÃO CRISTÓVÃO - SE

MAIO – 2009

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de Sergipe como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Química

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

G633e

Gomes, Marcos Vinícius Teles Estudo da ocorrência de metais traço em sedimentos superficiais do Rio São Francisco à montante e à jusante da represa de Três Marias, Minas Geais, Brasil / Marcos Vinícius Teles Gomes. – São Cristóvão, 2009.

83 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal de Sergipe, 2009.

Orientador: Prof. Dr. José do Patrocínio Hora Alves 1. Metais pesados. 2. Sedimentos. 3. Rio São

Francisco. 4.Minas Gerais. I. Título.

CDU 546.3(815.1)

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À minha família,

pelo amor incondicional.

Dedico este trabalho

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AGRADECIMENTOS

Aos meus filhos Vinícius, Victor e Victória, e à minha esposa Cleã, pelo

amor incondicional demonstrado em todos os momentos, mesmo quando

estive ausente devido ao trabalho.

À minha mãe Terezinha (in memorian) por ter me ensinado a nunca

desistir.

À minha irmã amiga Zarebe por sempre acreditar em mim.

À minha segunda mãe Dora pelo incentivo e confiança.

Ao meu orientador Prof. Dr. José do Patrocínio Hora Alves pelo apoio

acadêmico, companheirismo e incentivo durante todo o desenvolvimento

desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Carlos Alexandre Borges Garcia pela parceria e

viabilização técnica na execução das análises.

À CODEVASF, pelo apoio financeiro e técnico para realização do

mestrado.

Pelo apoio financeiro à Estação Ecológica de Pirapitinga de Três

Marias, ligada ao Instituto de Biodiversidade Chico Mendes, na pessoa do

Sr. Albino Batista Gomes.

Ao meu chefe amigo Sato, pelo incentivo e apoio para realização deste

trabalho, sem os quais seria impossível realizá-lo.

Ao Dr. Edson Vieira Sampaio pelo apoio técnico na área de Limnologia.

Aos meus colegas de trabalho João Batista (1ªSR/GRA/UGP), Vitória

Maria (AA/GGP/UDP), Carmelita, Kleber, Cláudio, e todos os outros que

direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho e desta

importante etapa da minha vida.

Muito obrigado!!!

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RESUMO DO CURRÍCULUM VITAE

DADOS PESSOAIS

Nome: Marcos Vinícius Teles Gomes.

Filiação: Terezinha Teles Gomes.

Endereço residencial: Rua da Aurora, no 68, Residencial Enseada das

Águas, Bairro Aeroporto, Aracaju/SE, CEP 49.038-370

Nascimento: 03/02/1971 Naturalidade: Aracaju/SE

Email: [email protected]

FORMAÇÃO

Nível superior: Universidade Federal de Sergipe;

Curso: Engenharia Química Ano de conclusão: 1999

Projeto: Otimização do processo de defloculação de barbotina em indústria

cerâmica.

Nível superior: Universidade Federal de Sergipe;

Curso: Química Industrial Ano de conclusão: 2000

Projeto: Controle de Qualidade em indústria cerâmica.

Ensino médio: Escola Técnica Federal de Sergipe;

Curso: Técnico em Química; Ano de conclusão: 1988

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EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Período: 04/2005 Pesquisador da Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de

Três Marias/CODEVASF, na área de Limnologia.Projetos desenvolvidos:

� Projeto Lagoas Marginais, realizado com a parceria

IBAMA/CODEVASF, para estudo químico, físico e biológico das lagoas

marginais do alto São Francisco;

� Convênio CEMIG/CODEVASF para peixamento e estudo da

Represa de Tês Marias, nos ítens: Limnologia, Biologia Pesqueira e

Reprodutiva, Larvicultura de Siluriformes e peixamento.

Período: 04/2006 a 05/2006 Serviços técnicos especializados na Aquatic

Contaminants Laboratory Freshwater Institute Department Of Fisherie da

University Of Manitoba, Winnipeg, Canadá.

Projeto desenvolvido:

• Pesquisa com amostras de peixes do Rio São Francisco,

medindo níveis de contaminação de metais pesados e pesticidas em

peixes (ambos níveis absolutos e medidas fisiológicas de seu

impacto).

Período: 03/2003 Professor contratado do Governo do Estado de Sergipe

para ministrar as disciplinas: Química, Física e Matemática.

Período: 07/2005 Professor contratado do Instituto Educacional Barreiro

Grande, IEBG, Brasil, para ministrar as disciplinas: Operações Unitárias,

Processos Industriais e Físico-Química.

Período: 04/1989 a 04/2001 Técnico da Cerâmica Santa Márcia/Aracaju/SE

na área de controle de qualidade.

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ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO MESTRADO

Resumo em eventos nacionais

GOMES, M. V. T. ; ALVES, J. P. H. ; GARCIA, C. A. B. . CÁDMIO E ZINCO

EM SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DO RIO SÃO FRANCISCO À

MONTANTE E À JUSANTE DA REPRESA DE TRÊS MARIAS - MG. In: IV

ENCONTRO NACIONAL DE QUÍMICA AMBIENTAL, 2008, ARACAJU. CD

de resumos do IV Encontro Nacional de Química Ambiental, v. Único, 2008.

GOMES, M. V. T.; ALVES, J. P. H. ; GARCIA, C. A. B. . Cádmio, zinco e

cromo em peixes e sedimentos superficiais do rio São Francisco à motante e

à jusante da represa Três Marias - MG. In: 31a Reunião Anual da Sociedade

Brasileira de Química, 2008, Águas de Lindóia. 31a Reunião Anual da

Sociedade Brasileira de Química, 2008.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................i

LISTA DE TABELAS........................................................................................v

LISTA DE ABREVIATURAS...........................................................................vii

RESUMO....................................................................................................... ix

ABSTRACT......................................................................................................x

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................1

1.1. Rio São Francisco..............................................................................1

1.2. Limnologia..........................................................................................3

1.2.1. pH...............................................................................................4

1.2.2. Condutividade elétrica................................................................5

1.2.3. Oxigênio dissolvido.....................................................................6

1.2.4. Temperatura...............................................................................7

1.3. Impactos ambientais na área de estudo............................................8

1.4. Eutrofização da Água.......................................................................17

1.5. Influência da construção das barragens sobre a Piracema.............19

1.6. Os metais traço e os sedimentos.....................................................20

2. OBJETIVOS.............................................................................................. 26

2.1. Geral..................................................................................................26

2.2. Específicos........................................................................................26

3. MATERIAIS E MÉTODOS.........................................................................27

3.1. Equipamentos...................................................................................27

3.2. Reagentes e soluções.......................................................................27

3.3. Materiais............................................................................................28

3.4. Descrição da área de estudo............................................................28

3.5. Amostragem......................................................................................31

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3.6. Determinação da concentração de metais em sedimento................32

3.7. Determinação do teor de matéria orgânica e inorgânica..................35

3.8. Determinações de variáveis limnológicas.........................................35

3.9. Tratamento estatístico dos dados.....................................................36

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES..............................................................37

4.1. Variáveis limnológicas.......................................................................37

4.2. Metais nos sedimentos......................................................................44

4.2.1. Metais traço e Toxidade...........................................................44

4.2.2. Análise estatística dos dados...................................................56

5. CONCLUSÕES..........................................................................................63

6. PROPOSTAS FUTURAS..........................................................................64

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................65

ANEXO A.......................................................................................................82

ANEXO B.......................................................................................................83

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i

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Desmatamento provocado pela retirada da mata ciliar para

produção de carvão vegetal utilizado pela indústria siderúrgica. Fonte:

Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF.............2

Figura 2: Imagem aérea da Represa de Três Marias. Fonte: Estação de

Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF..............................10

Figura 3: Imagem aérea das instalações da CMM na margem direita do Rio

São Francisco................................................................................................12

Figura 4: Descarga de efluente da CMM no Rio São Francisco. Fonte:

Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007..............................................13

Figura 5: Imagem terrestre das instalações da CMM na margem direita do

Rio São Francisco. Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007....13

Figura 6: Foz do córrego Barreiro Grande, com descarga in natura do

esgoto doméstico da cidade de Três Marias diretamente nas águas do Rio

São Francisco. Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007..........14

Figura 7: Córrego Barreiro Grande, com formação de macrófitas aquáticas,

devido à eutrofização provocada pela descarga de esgoto doméstico. Fonte:

Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007..............................................15

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ii

Figura 8. Foz do córrego Barreiro Grande, com presença de peixes

(Curimatã) tentando respirar na lâmina d’água. Fonte: Marcos Vinícius Teles

Gomes, dezembro de 2006...........................................................................16

Figura 9. Mapa mostrando os sítios de coleta. Fonte: Estação de

Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF..............................31

Figura 10: Coleta de sedimento superficial. Fonte: Marcos Vinícius Teles

Gomes, dezembro de 2006...........................................................................32

Figura 11: Digestão das amostras em bombas de PTFE. Fonte: Marcos

Vinícius Teles Gomes, maio de 2007............................................................33

Figura 12: Filtração em papel filtro quantitativo, das amostras digeridas.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007....................................34

Figura 13: Medidas dos metais com espectrômetro de absorção atômica.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007....................................34

Figura 14: Utilização do Analisador Elementar para determinação do COT.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007....................................35

Figura 15: Utilização da sonda multiparâmetros Horiba U-10. Fonte: Marcos

Vinícius Teles Gomes, junho de 2007...........................................................36

Figura 16. Perfis de temperatura obtidos no sítio P1 (à montante da Represa

de Três Marias), em dezembro de 2006 durante o período de estratificação

(verão), e em junho de 2007 durante o período de isotermia (inverno)........39

Figura 17. Perfis de oxigênio dissolvido obtidos no sítio P1 (à montante da

Represa de Três Marias), em dezembro de 2006 durante o período de

estratificação (verão), e em junho de 2007 durante o período de isotermia

(inverno).........................................................................................................39

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iii

Figura 18. Águas do rio Abaeté (mais turvas) na margem esquerda do rio

São Francisco (dezembro de 2006). Fonte: Estação de Hidrobiologia e

Piscicultura de Três Marias/CODEVASF.......................................................43

Figura 19. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cd

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................48

Figura 20. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cu

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................49

Figura 21. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Li

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................49

Figura 22. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Zn

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................50

Figura 23. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Ca

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................51

Figura 24. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Ni

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................51

Figura 25. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cr

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................52

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iv

Figura 26. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Al

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................58

Figura 27. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Fe

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................58

Figura 28. Distribuição e variação sazonal das concentrações (%) de COT

nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de

Três Marias – MG..........................................................................................59

Figura 29. Dendrograma de similaridade quantitativa entre os locais à

montante e à jusante da Represa de Três Marias - MG, em relação às

concentrações dos metais e carbono orgânico nos sedimentos superficiais,

durante o período chuvoso (dezembro de 2006)...........................................61

Figura 30. Dendrograma de similaridade quantitativa entre os locais à

montante e à jusante da Represa de Três Marias - MG, em relação às

concentrações dos metais e carbono orgânico nos sedimentos superficiais,

durante o período seco (junho de 2007)........................................................62

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v

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Valores de pH, condutividade elétrica, concentração de oxigênio

dissolvido (OD) e temperatura da água, obtidos no sítio P1 (à montante da

Represa de Três Marias), durante os períodos chuvoso (dezembro de 2006)

e seco (junho de 2007)..................................................................................38

Tabela 2. Valores médios (n=5) de pH, condutividade elétrica, concentração

de oxigênio dissolvido e temperatura da água superficial (10 cm de

profundidade), determinados no sítio P2 (Rio São Francisco) em dezembro

de 2006 (período chuvoso) e junho de 2007 (período seco).........................42

Tabela 3. Valores médios (n =5) de pH, condutividade elétrica, concentração

de oxigênio dissolvido e temperatura da água superficial (10 cm de

profundidade), determinados no sítio P5 (Rio Abaeté) em dezembro de 2006

(período chuvoso) e junho de 2007 (período seco).......................................43

Tabela 4. Recuperação dos metais no material de referência certificado para

sedimento de lago, LKSD-1 (CCNRP/Canadá).............................................44

Tabela 5. Valores de PEL e TEL estabelecidos pelo “Canadian Council of

Ministers of the Environment” (CCME, 2001)................................................47

Tabela 6. Concentração média (n=3) dos metais e COT (n=1) nos

sedimentos superficiais coletados à montante e à jusante da Represa de

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vi

Três Marias - MG, durante os períodos chuvoso (dezembro de 2006) e seco

(junho de 2007)..............................................................................................55

Tabela 7: Matriz de correlação de PEARSON entre os parâmetros

analisados para avaliação do comportamento da distribuição dos metais

durante os períodos chuvoso e seco. N=7....................................................57

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vii

LISTA DE ABREVIATURAS

ACP - Análise de componentes principais

AET - Apparent Effect Level

AVS - Acid Volatile Sulfide

CE - Condutividade Elétrica

CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais

CETEC - Centro Tecnológico de Minas Gerais

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CCME - Canadian Council of Ministers of the Environment

CMM - Companhia Mineira de Metais

CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco

e do Parnaíba

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

COT - Carbono orgânico total

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DNAEE - Departamento Nacional de Águas e Esgotos

DEPRN - Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais

DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral

ERL - Effect Range-Low

ERM - Effect Range-Median

EPA - Environmental Protection Agency

FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente

GPS - Global Positioning Sistem

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEF - Instituto Estadual de Florestas

IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas

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viii

LEL - Lowest Effect Level

LRM - Linear Regression Model

MES - metais extraídos simultaneamente

OD - Oxigênio Dissolvido

PEC - Probable Effect Concentration

PEL - Probable Effect Level

pH - Potencial Hidrogeniônico

PTFE - Politetrafluoretileno

SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente/MG

SEL - Severe Effect Level

SVA - Sulfeto Volatilizado em Meio ácido

TEC – Threshold Effect Concentration

TEL - Threshold Effect Level

UHE – Usina Hidrelétrica

VGQS - Valores Guias de Qualidade de Sedimento

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ix

RESUMO

No presente trabalho foram determinadas as concentrações de Cd,

Zn, Cu, Ni, Cr, Li, Fe, Al, Ca e Carbono Orgânico Total (COT) em amostras

de sedimentos superficiais do Rio São Francisco, à montante e à jusante da

UHE - Represa de Três Marias-MG, durante os períodos chuvoso e seco,

com o objetivo de identificar possíveis impactos relacionados ao aporte

industrial e urbano. As medidas dos metais foram realizadas em um

espectrômetro de absorção atômica, e os resultados encontrados foram

comparados com os Valores-Guia de Qualidade de Sedimento (VGQS).

Foram determinadas variáveis físicas e químicas do reservatório, onde se

identificou a estratificação térmica e química ocorrida na represa durante o

verão.

Durante os períodos chuvoso e seco, os sedimentos coletados nos

sítios localizados próximos à descarga de efluente de uma empresa

produtora de zinco, apresentaram valores de Cd e Zn muito superiores ao

PEL, associados frequentemente a efeitos adversos à biota aquática. O Cd

apresentou maiores concentrações durante o período chuvoso, nos sítios P2

(19,90 µg g-1) e P4 (10,68 µg g-1) com valores superiores ao PEL, inclusive

no período seco. O Zn apresentou maiores concentrações nos sítios P2

(10780 µg g-1), P4 (1706 µg g-1) e P6 (393,87 µg g-1) durante o período

chuvoso, e nos sítios P2 (7872 µg g-1), P3 (1076 µg g-1) e P4 (1076 µg g-1)

durante o período seco. As maiores concentrações foram encontradas

durante o período chuvoso, provavelmente devido à lixiviação pelas chuvas

das áreas contaminadas da barragem de contenção, carreando grande

quantidade de lama residuária para o Rio São Francisco.

Palavras-chave: metais pesados, Rio São Francisco, sedimento, peixe.

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x

ABSTRACT

In the present work were certain the concentrations of Cd, Zn, Cu, Ni,

Cr, Li, Fe, Al, Ca and Total Organic Carbon (COT) in samples of superficial

sediments of the São Francisco River, upstream and downstream of UHE -

Três Marias-MG dam, during rainy and dry periods, of the aim was identifying

possible impacts related to the industrial and urban contributions. The

determination of the metals was accomplished in a spectrometer of atomic

absorption, and the found results were compared with the Values Guide of

Quality of Sediment (VGQS). It was analyzed physical and chemical

variables of the reservoir, where had been identified different layers formation

with thermal and chemical differences in the water column during the

summer.

During the rainy and dry periods, the sediments collected in the near

points to the discharge of residues of a company that produces of zinc,

presented values of Cd and Zn very superior to PEL, frequently associated to

adverse effects to the aquatic life. The Cd present larger concentrations

during the rainy period, in the points P2 (19,90 µg g-1) and P4 (10,68 µg g-1)

with superior values to PEL, besides in the dry period. The Zn present larger

concentrations in the points P2 (10780 µg g-1), P4 (1706 µg g-1) and P6

(393,87 µg g-1) during the rainy period, and in the points P2 (7872 µg g-1), P3

(1076 µg g-1) and P4 (1076 µg g-1) during the dry period. The largest

concentrations were found during the rainy period, probably due to the rains

runoff of contaminated areas of the contention reservoir, carrying great

quantity of residues for the San Francisco River.

Keywords: heavy metals, São Francisco River, sediment, fish.

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Introdução – p. __________________________________________________________

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Rio São Francisco

Conhecido como Rio da Unidade Nacional, por ligar cinco estados, o

São Francisco percorre aproximadamente 2700 km entre as cabeceiras, na

Serra da Canastra, em Minas Gerais, e a foz, no oceano Atlântico, localizada

entre os estados de Sergipe e Alagoas. Segundo a Companhia de

Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF,

ele está dividido em quatro regiões: Alto (da cabeceira até Pirapora), Médio

(de Pirapora até Remanso – BA), Submédio (de Remanso até Paulo Afonso

– BA) e Baixo (de Paulo Afonso à foz no oceano Atlântico).

A bacia do rio São Francisco é a terceira bacia hidrográfica do Brasil e

a única totalmente brasileira, onde cerca de 83% encontra-se nos estados

de Minas Gerais e Bahia (CODEVASF, 2003a). Drenando uma área de

aproximadamente 640.000km2, sua calha está situada entre os terrenos

cristalinos a leste e os planaltos sedimentares a oeste, conferindo diferenças

quanto aos tipos de águas dos afluentes. Os afluentes da margem direita,

que nascem nos terrenos cristalinos, possuem águas mais clara, enquanto

os que nascem na margem esquerda, em terrenos sedimentares, são mais

barrentos. Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM

(1989), o rio São Francisco tem 36 tributários de porte significativo, dos

quais apenas 19 são perenes. Os principais contribuintes são os da margem

esquerda, rios Paracatu, Urucuia, Carinhanha, Corrente e Grande, que

fornecem cerca de 70% das águas em um percurso de apenas 700 km. Na

margem direita, os principais tributários são os rios Paraopeba, das Velhas,

Jequitaí e Verde Grande (DNPM/MME, 1989).

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Introdução – p. __________________________________________________________

2

Desde as nascentes e ao longo de seus rios, a bacia do São

Francisco vem sofrendo degradações com sérios impactos sobre as águas

e, consequentemente, sobre os peixes. A maioria das cidades ribeirinhas

não possui nenhum tratamento de esgotos domésticos e industriais,

lançando-os diretamente nos rios. Os despejos de garimpos, mineradoras e

indústrias aumentam a carga de metais traço acima do permitido. Na

cabeceira principal do rio São Francisco, o maior problema é o

desmatamento para produção de carvão vegetal utilizado pela indústria

siderúrgica, o que tem reduzido a mata ciliar (Figura 1). O uso intensivo de

fertilizantes e defensivos agrícolas também tem contribuído para a poluição

das águas. A irrigação e as barragens hidrelétricas são responsáveis pelo

desvio do leito dos rios, redução da vazão, alteração da intensidade e época

das enchentes, transformação de rios em lagos, etc., com impactos à

ictiofauna (Tundisi, 1988).

A construção de reservatórios com o propósito inicial de irrigação,

controle de inundação e suprimento de água foi substituído por grandes

empreendimentos visando à produção de energia elétrica, dentre outras

finalidades. A inundação de grandes áreas provocada pela construção de

reservatórios é um dos principais fatores modificadores dos ecossistemas

naturais (Tundisi et al., 1988), cujo maior impacto é, algumas vezes, o rápido

processo de eutrofização a que estão sujeitos, principalmente nos primeiros

anos de construção, devido à alta quantidade de matéria orgânica submersa,

levando muitas vezes a um estado de anoxia das camadas mais profundas

da coluna d’água.

Figura 1: Desmatamento provocado pela retirada da mata ciliar para

produção de carvão vegetal utilizado pela indústria siderúrgica. Fonte:

Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF.

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1.2. Limnologia

A palavra Limnologia é formada pelos radicais gregos Limné (lago) e

logia (ciência), etimologicamente, Limnologia é a ciência que estuda os

lagos. Atualmente a Limnologia é definida como o estudo ecológico de todas

as massas d’água continentais, independentemente de suas origens,

dimensões e concentrações salinas. Assim, além dos lagos, inúmeros

corpos d’água são objetos de estudo desta ciência, como açudes, lagoas,

represas, rios, riachos, nascentes, estuários, etc. Dentre os objetivos desta

ciência destacam-se: a conservação dos ecossistemas aquáticos

continentais, visando sua utilização racional; o fornecimento de água para

abastecimento (doméstico e industrial); pesquisas; geração de energia

elétrica; controle da qualidade da água utilizando indicadores biológicos,

físicos e químicos; recuperação de ecossistemas aquáticos degradados e

identificação de fontes poluidoras (Esteves,1985).

Poucas são as pesquisas limnológicas em regiões tropicais,

principalmente se forem consideradas as pesquisas sistemáticas de longa

duração. Igualmente são raras as informações básicas que possam fornecer

subsídios para identificação dos efeitos deletérios da poluição da água,

devido a problemas ligados ao crescimento demográfico, urbanização e

desenvolvimento da região (Watanabe et al., 1990).

O enriquecimento de um ambiente lacustre por nutrientes é um

processo natural que ocorre lentamente, porém as diversas atividades

humanas podem acelerar este processo reduzindo o tempo de vida útil da

lagoa (Esteves, 1988).

O lançamento de resíduos industriais pode ocasionar profundas

modificações nos corpos d’água, refletindo-se sobre a flora e fauna aquática,

podendo levar a um desequilíbrio no ecossistema, trazendo com isso

prejuízos econômicos e sociais a todos que se beneficiam desse recurso

natural.

Neste trabalho desenvolveu-se a aquisição de dados básicos,

principalmente, sobre alguns parâmetros físicos e químicos (pH,

condutividade elétrica, oxigênio dissolvido e temperatura) da água da

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Introdução – p. __________________________________________________________

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represa e do rio, visando colaborar com futuros programas que venham

utilizar, de forma racional, este recurso hídrico e permitir avaliar futuras

alterações na qualidade de suas águas, como também contribuir para

aprofundar o conhecimento limnológico do reservatório de Três Marias.

Procurou-se caracterizar a área em estudo, uma vez que a qualidade da

água de um recurso hídrico deve-se às características naturais conferidas,

principalmente, pela natureza do solo e o regime climático em que este

recurso está inserido e a influência das atividades antrópicas desenvolvidas

ao longo da bacia de drenagem.

1.2.1. pH

O termo pH (potencial hidrogeniônico) é usado para expressar a

intensidade da condição ácida ou básica de uma solução e é uma maneira

de expressar a concentração do íon hidrogênio (Sawyer et, al. 1994). As

medidas de pH são de extrema utilidade, pois fornecem inúmeras

informações a respeito da qualidade da água. Nas águas naturais as

variações destes parâmetros são ocasionados geralmente pelo consumo

e/ou produção de dióxido de carbono (CO2), realizados pelos organismos

fotossintetizadores e pelos fenômenos de respiração/fermentação de todos

os organismos presentes na massa de água, produzindo ácidos orgânicos

fracos (Branco, 1986).

O pH é altamente influenciado pela quantidade de matéria orgânica a

ser decomposta, sendo inversa a sua relação, pois quanto maior a

quantidade de matéria orgânica disponível, menor o pH, devido à formação

de ácidos húmicos. Rios que cortam áreas pantanosas também têm águas

com pH muito baixo, devido à presença de matéria orgânica em

decomposição, onde rios de mangue estão incluídos nesta categoria. As

águas conhecidas como pretas, como por exemplo, as do Rio Negro, no

Amazonas, possuem pH muito baixo, devido ao excesso de ácidos húmicos

em solução. O pH de um corpo d'água também pode variar, dependendo da

área que este corpo recebe as águas da chuva, dos esgotos e da água do

lençol freático. Segundo Maier (1987), os pHs dos rios brasileiros têm

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Introdução – p. __________________________________________________________

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tendência de neutro a ácido. Alguns rios da Amazônia brasileira possuem

pHs próximos de 3, valor muito baixo para suportar diversas formas de vida.

Às águas superficiais possuem um pH entre 4 e 9. Às vezes são

ligeiramente alcalinas devido à presença de carbonatos e bicarbonatos.

Naturalmente, nesses casos, o pH reflete o tipo de solo por onde a água

percorre. Em lagoas com grande população de algas, nos dias ensolarados,

o pH pode subir muito, chegando a 9 ou até mais. Isso porque as algas, ao

realizarem fotossíntese, retiram muito gás carbônico, que é a principal fonte

natural de acidez da água. Geralmente um pH muito ácido ou muito alcalino

está associado à presença de despejos industriais.

A respiração, a fotossíntese, adubação, calagem e poluição são os

principais fatores que causam mudança no pH. Valores reduzidos de pH

afetam a permeabilidade das membranas e nos peixes o principal

prejudicado é o tecido branquial, ocasionando a produção de muco,

resultando em estresse respiratório e distúrbio osmótico. Em valores de pH

elevados, a fração de amônia não ionizável da água pode elevar-se, sendo

tóxica para os peixes (Esteves, 1988).

1.2.2. Condutividade elétrica (CE)

A condutividade elétrica (CE) é uma medida da capacidade de

conduzir corrente elétrica da água e indiretamente avalia a quantidade de

íons e nutrientes presentes. Varia muito de local para local, devido a origem

(fonte) e caminho (tipo de solo, rochas, fontes de poluição) percorrido pela

água doce. A sua unidade de medida é µS cm-1 (microsíemens por

centímetro). Devido à facilidade e rapidez de determinação da condutividade

elétrica, este se tornou um parâmetro padrão para expressar a concentração

total de sais para classificação de solos e das águas destinadas à irrigação

(Bernardo, 1995). Quanto maior for a quantidade de íons dissolvidos, maior

será a condutividade elétrica da água.

O parâmetro condutividade elétrica não determina, especificamente,

quais os íons que estão presentes em determinada amostra de água, mas

pode contribuir para possíveis reconhecimentos de impactos ambientais que

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Introdução – p. __________________________________________________________

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ocorram na bacia de drenagem ocasionada por lançamentos de resíduos

industriais, mineração, esgotos, etc. A condutividade elétrica da água pode

variar de acordo com a temperatura e a concentração total de substâncias

ionizadas dissolvidas. Em águas cujos valores de pH se localizam nas faixas

extremas (pH > 9 ou pH< 5), os valores de condutividade são devidos

apenas às altas concentrações de poucos íons em solução, dentre os quais

os mais freqüentes são o H+ e o OH- (Esteves,1988).

Os valores de condutividade elétrica estão na maioria dos casos,

relacionados com o padrão de estratificação térmica da coluna d’água e com a

duração deste período. Estudos na lagoa Carioca (Barbosa, 1981) mostraram

que os valores de condutividade elétrica durante o período de desestratificação

apresentaram pequena variação vertical, comparativamente ao período de

estartificação térmica. Durante este período observou-se acentuado aumento

dos valores no hipolímnio com o valor mais elevado sendo aproximadamente 6

vezes maior em relação ao máximo encontrado no epilímnio.

Não existe na literatura, limites de tolerância para peixes quanto a

condutividade elétrica da água, embora exista o relato da influência negativa

na maturação gonadal quando peixes são mantidos em condutividade elétrica

baixa.

1.2.3. Oxigênio dissolvido (OD)

O oxigênio é indispensável à vida, aos animais e à maior parte dos

microorganismos que vivem na água. Ao contrário do ar, a água possui

menos oxigênio, porque o gás não é muito solúvel. Um rio considerado

limpo, sem influência antropogênica, apresenta normalmente, de 8 a 10 mg

L-1. Essa quantidade pode variar em função da temperatura e pressão. A

determinação do oxigênio dissolvido é de fundamental importância para

avaliar as condições naturais da água e detectar impactos ambientais como

eutrofização e poluição orgânica (Carmouze, 1994).

Do ponto de vista ecológico, o oxigênio dissolvido é um parâmetro

extremamente importante, pois é necessário para a respiração da maioria

dos organismos que habitam o meio aquático. Geralmente o oxigênio

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dissolvido se reduz ou desaparece, quando a água recebe grandes

quantidades de substâncias orgânicas biodegradáveis encontradas, por

exemplo, no esgoto doméstico ou em certos resíduos industriais. Na maioria

dos casos, a morte de peixes em rios poluídos se deve, principalmente, à

ausência de oxigênio e não à presença de substâncias tóxicas (Von

Sperling, 1996).

A concentração de oxigênio dissolvido é muitas vezes limitante em

ambientes de água doce. A quantidade de OD é afetada por três fatores

principais: temperatura, condutividade e altitude. Uma diminuição na

temperatura acarretará um aumento na solubilidade do oxigênio na água,

enquanto que uma elevação na salinidade (condutividade) ou da altitude

acarretará uma diminuição na solubilidade do oxigênio na água. O OD na água

é proveniente da difusão do ar e da fotossíntese de plantas aquáticas. Na água

o suprimento de OD é reduzido pela respiração dos animais e plantas e

decomposição da matéria orgânica (Esteves, 1988).

Em águas naturais a concentração do OD está sempre modificando

de acordo com os processos físicos, químicos e biológicos. A variação do

oxigênio durante 24 horas está ligada aos processos de fotossíntese

(aumento de OD) e respiração/decomposição (diminuição de OD). Segundo

Boyd (1979) um tanque de piscicultura, por exemplo, com grande

florescimento planctônico apresenta amplas flutuações em 24 horas na

concentração de OD, com baixas concentrações durante o período da manhã.

1.2.4. Temperatura

A temperatura da água é um fator que influencia a grande maioria dos

processos físicos, químicos e biológicos na água, assim como outros

parâmetros como a solubilidade dos gases dissolvidos.

Os organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica

superior e inferior, temperaturas ótimas para crescimento, temperatura

preferencial em gradientes térmicos e limitações de temperatura para

migração, desova e incubação do ovo. As variações de temperatura fazem

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parte do regime climático normal e corpos de água naturais apresentam

variações sazonais e diurnas, bem como estratificação vertical.

Com aumento da temperatura aumenta a velocidade das reações

químicas e o metabolismo dos organismos aquáticos. Todas as atividades

fisiológicas dos peixes estão ligadas à temperatura da água. A temperatura

gera efeitos sobre os organismos aquáticos, assim como interage com todas

as demais propriedades da água. Algumas espécies de peixes tropicais e

exóticas toleram temperaturas mais altas (>25ºC). O frio diminui o

metabolismo e o crescimento dos peixes, com o calor aumenta o

metabolismo e o crescimento. Peixes como a truta arco-íris requer

temperaturas menores e são cultivadas no Brasil em regiões de maior

altitude; peixes como a carpa comum sobrevivem em águas com

temperatura variando de 0 a 40ºC. Segundo Ceccarelli et al. (2000), para a

maioria das espécies de peixes tropicais brasileiros a faixa térmica ideal está

entre 24 e 30ºC. De acordo com Borghetti et al. (1993) temperaturas acima

de 24ºC proporcionam uma melhor produção em viveiros onde os peixes são

capazes de utilizar diversas fontes de alimento, o mesmo não ocorrendo

acima de 30ºC. Variações de 3 a 4ºC num mesmo dia são prejudiciais aos

peixes, notadamente durante as fases de ovos, larvas e alevinos. Larvas de

surubim morrem quando transferidas de temperatura em torno de 23ºC para

temperatura de 27ºC. O aumento da temperatura na água está relacionado

com o aumento de toxidez de alguns compostos químicos. A temperatura

influencia na maturação gonadal e na extrusão de ovócitos durante

reprodução induzida.

1.3. Impactos ambientais na área de estudo

Em janeiro de 1961, foi concluída a construção da Barragem de Três

Marias (Figura 2) a partir do represamento do Rio São Francisco, o qual

desde 1969, tem sido cenário de repetidas mortandades de peixes, segundo

o Relatório do Sistema Estadual de Meio Ambiente/MG - SISEMA (2005).

Esse período coincide com o início de operação de uma indústria

mineradora de zinco (CMM – Companhia Mineira de Metais) que lançou

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seus rejeitos industriais in natura no rio até 1983, quando então entrou em

funcionamento uma barragem de contenção. No Rio São Francisco, próximo

à cidade de Três Marias, a poluição industrial tem sido o principal

responsável pela contaminação dos sedimentos superficiais, potencializada

por esgotos sanitários do município que são despejados sem nenhum

tratamento, e pelo uso indiscriminado de pesticidas e herbicidas.

A interrupção de um rio por uma barragem gera alterações drásticas

no ambiente aquático. A degradação da vegetação encoberta ocasiona

liberação de vários compostos como nutrientes e substâncias tóxicas, por

exemplo, gás sulfídrico e amônia, além de tornar empobrecida a água à

jusante do reservatório, devido à retenção de nutrientes na represa (Mérona,

2001). Além disso, a transformação de ambiente lótico em lêntico e a

destruição de lagoas marginais (berçários de alevinos) alteram o equilíbrio

da ictiofauna regional, possibilitando a introdução de espécies exóticas.

O monitoramento de reservatórios artificiais, da qualidade da água e

das bacias hidrográficas inseridas nas represas é de fundamental

importância para o desenvolvimento sustentado (Straskraba; Tundisi, 2000).

As propriedades físicas, químicas e biológicas de reservatórios, bem como a

previsibilidade dos mecanismos do seu funcionamento, devem ser baseadas

em informações técnicas e científicas (Tundisi; Straskraba, 1999).

Estudos limnológicos na bacia do alto rio São Francisco foram

iniciados na década de 80, pela CODEVASF, apoiada por pesquisadores da

Universidade Federal de São Carlos (Esteves et al., 1985; Bezerra, 1987;

Ishii, 1987; Moreno, 1987). Após 1996, através do Convênio

CEMIG/CODEVASF, esta região juntamente com o rio São Francisco, à

jusante da barragem, vem sendo estudada do ponto de vista limnológico.

Desde então vários aspectos funcionais da bacia do alto rio São Francisco

têm sido revelados, os quais foram descritos em relatórios trimestrais

durante o período 1996-2009, apresentados em reuniões científicas, na

forma de capítulos de livro e teses (López; Sampaio, 1997a, 1997b; Sampaio

et al., 1997; Sampaio; López, 2000; Sampaio, 2002; Sampaio; López, 2003;

López; Sampaio, 2003).

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O monitoramento da Represa de Três Marias mostrou que durante o

verão a coluna de água do reservatório encontrava-se estratificada, com

temperaturas e oxigênio dissolvidos abaixo da média normal, liberando à

jusante uma água em condições prejudiciais à maturação gonadal de

algumas espécies de peixes de piracema. Apesar de controvérsias, mesmo

na Europa, como uma das medidas para a conservação das espécies

nativas ameaçadas de extinção, a CODEVASF juntamente com a CEMIG,

faz uso do peixamento para reposição das espécies nativas (Ruhle, 1996;

Planelles; Reyna, 1996; Kouril et al., 1996).

Figura 2: Imagem aérea da Represa de Três Marias. Fonte: Estação de

Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF.

Um impacto frequentemente associado à construção de hidrelétricas é

o aumento nas emissões atmosféricas de metano, um importante gás de

efeito estufa. Este aumento é geralmente associado às condições anóxicas

que se desenvolvem nos reservatórios em conseqüência da decomposição

de vegetação alagada e da estratificação térmica (Fearnside, 2002; Rosa et

al., 1996; Galy-Laceaux et al., 1999).

Esteves (1988) ressalva que lagos tropicais, mesmo rasos, podem

apresentar acúmulos de CO2 no hipolímnio. Nesses lagos, curtos períodos

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de estratificação térmica já são suficientes para que ocorra acentuado

gradiente de concentração de CO2. Isso se deve às altas temperaturas que

ocorrem nesses ecossistemas e que favorecem a rápida decomposição da

matéria orgânica, sobretudo aquela acumulada sobre o sedimento. A

respiração representa a taxa de biodegradabilidade e a decomposição da

matéria orgânica pelos microorganismos (Stumm; Morgan, 1981).

A necessidade da presença da vegetação ciliar é, sem dúvida,

inquestionável, pelas suas funções com efeitos que não são apenas locais,

mas refletem na qualidade de vida de toda a população sob influência de

uma bacia hidrográfica (Davide et al., 2000).

Segundo Relatório da SISEMA (2005), elaborado pelos órgãos FEAM

(Fundação Estadual do Meio Ambiente), IGAM (Instituto Mineiro de Gestão

das Águas) e IEF (Instituto Estadual de Florestas), em 1973, o

Departamento Nacional de Águas e Esgotos - DNAEE apontou a CMM

(Figura 3) como responsável pela poluição do rio São Francisco e pelo

lançamento de grandes quantidades de material tóxico em suas águas

(Figuras 4 e 5). Em 1974, o DNAEE relatou que o pH na desembocadura do

ribeirão Consciência atingia o valor de 3,0, indicando a natureza ácida dos

efluentes da CMM e que o teor de zinco, cádmio e cobre de suas águas

alcançavam, respectivamente, os valores de 560,0; 0,17 e 7,2 mg L-1. Além

disso, a medida da condutividade elétrica foi de 4.600,0 µS cm-1. Em 1976, a

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, em seu relatório,

afirma que o ribeirão Consciência passou a ser o próprio despejo da CMM,

só não atingindo proporções drásticas por causa do grande volume de água

do rio São Francisco com sua consequente capacidade de diluição. Em

1978, o Conselho de Política Ambiental - COPAM (CETEC, 1980) afirma que

as lamas, depositadas nos terrenos da CMM, não só poluem os solos, mas

também o rio São Francisco, onde as fortes chuvas carream grandes

quantidades de lamas residuárias para o rio São Francisco provocando

mortandade de peixes. Segundo a Federação de Pescadores Profissionais -

FEPESCA, até a década de 60 não havia sido registrada a ocorrência de

mortandade de peixes decorrente de ação antropogênica, no entanto, de

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outubro de 2004 a setembro de 2005, morreram aproximadamente 25

toneladas de peixes.

Figura 3: Imagem aérea das instalações da CMM na margem direita do Rio

São Francisco. Fonte: Site do Google Earth, 2008.

Em 1999 a organização Greenpeace apontou em Três Marias, a

ocorrência de contaminação pelos elementos Zn, Cd, Cu e Pb, tendo como

causa as áreas de deposição de resíduos de metalurgia (Greenpeace,

2002). Outros estudos como, o de Mozeto (2005), também analisou as

concentrações de metais em amostras de sedimentos superficiais, e

verificaram principalmente que os valores das concentrações de Zinco e

Cádmio estavam bem acima dos Valores-Guia de Qualidade de Sedimento

(VGQS). Segundo Oliveira (2007), o zinco e o cádmio foram os metais que

violaram os valores do PEL, chegando a 15,9 vezes acima do limite, no caso

do zinco, e 6,5 vezes, no caso do cádmio, em pontos localizados no Rio São

Francisco, a partir da CMM.

CMM

Rio São Francisco

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Figura 4: Descarga de efluente da CMM no Rio São Francisco. Fonte:

Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007.

Figura 5: Imagem terrestre das instalações da CMM na margem direita do

Rio São Francisco. Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007.

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Introdução – p. __________________________________________________________

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Os impactos sobre os recursos hídricos da atividade de mineração

dependem da substância mineral que está sendo beneficiada. Segundo

Farias (2002), o beneficiamento do ouro tem como principal impacto a

contaminação das águas por mercúrio, já a extração de chumbo e prata gera

rejeitos ricos em arsênio. A atividade de mineração desses metais fez com

que as águas dos rios onde eram dispostos os resíduos se tornassem mais

ácidas que o normal. Mesmo resultado obtido por Ashton et al. (2001) em

Zambezi.

Em 2002, segundo o Relatório SISEMA (2005), Três Marias contava

com cerca de 24.024 habitantes, onde esse contingente populacional

respondia pela produção diária de 1297,3 kg de DBO/dia. Essa carga era

lançada no Córrego Barreiro Grande, tributário da margem direita do rio São

Francisco, onde a alta carga de matéria orgânica nele contido provocava a

eutrofização do córrego até a sua foz (Figura 6 e 7), propiciando um

ambiente adequado ao desenvolvimento de macrófitas aquáticas, e

reduzindo drasticamente o oxigênio dissolvido de suas águas.

Figura 6: Foz do córrego Barreiro Grande, com descarga in natura do

esgoto doméstico da cidade de Três Marias diretamente nas águas do Rio

São Francisco. Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007.

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Figura 7: Córrego Barreiro Grande, com formação de macrófitas aquáticas,

devido à eutrofização provocada pela descarga de esgoto doméstico. Fonte:

Marcos Vinícius Teles Gomes, junho de 2007.

Relatórios do Convênio CEMIG/CODEVASF (2006c) mostraram que a

quantidade de fósforo total nas águas do Córrego Barreiro Grande foi 22

vezes maior que as águas do Rio São Francisco no mesmo período, e que a

concentração de nitrogênio total foi 4 vezes maior. Este mesmo relatório

mostrou que enquanto a concentração de oxigênio dissolvido no rio era em

média de 6,15 mg L-1, a do córrego era de 1,80 mg L-1.

Durante a coleta realizada em dezembro de 2006 foi constatada a

presença de peixes (Curimatã) tentando respirar na lâmina d’água da foz do

Córrego Barreiro Grande (Figura 8), onde se verificou que o oxigênio

dissolvido era de 0,40 mg L-1 .

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Figura 8: Foz do córrego Barreiro Grande, com presença de peixes

(Curimatã) tentando respirar na lâmina d’água. Fonte: Marcos Vinícius Teles

Gomes, dezembro de 2006.

Nos reservatórios do rio Tietê, o impacto ambiental está associado à

sobrecarga de nutrientes que recebem a partir dos despejos domésticos e

industriais, bem como da água de escoamento de áreas agrícolas,

principalmente plantações de cana-de-açúcar (Tundisi; Matsumura, 1990), o

que se constitui em um agravante à degradação destes ecossistemas.

Além de altas concentrações de nutrientes (C, N e P), em tais

ambientes em todo mundo, é comum a presença de xenobióticos como

elementos traço metálicos e não metálicos (especialmente de Cd, Cr, Pb,

Be, As, Hg), de substâncias traço orgânicas voláteis e semi-voláteis (tais

como vários compostos organo-clorados e fenóxi-ácidos) de reconhecida

toxicidade, sendo que muitos destes têm propriedades carcinogênicas e

mutagênicas (Manahan, 1993).

As águas que compõe o esgoto doméstico compreendem as águas

utilizadas para higiene pessoal e lavagem de alimentos e utensílios, além da

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água usada em vasos sanitários. Os esgotos domésticos são constituídos,

primeiramente por matéria orgânica biodegradável, microorganismos

(bactérias, vírus, etc.), nutrientes (nitrogênio e fósforo), óleos e graxas,

detergentes e metais (Benetti; Bidone, 1995).

Um exemplo típico de poluição por esgoto doméstico é a deterioração

da qualidade das águas da represa Billings situada na região sul da grande

São Paulo, para a geração de energia. Para isso reverteu-se o rio Pinheiros,

jogando as águas do rio Tietê na represa Billings. Isso permitiu aumentar a

vazão regulável da represa. Entretanto, os rios Pinheiros e o Tietê

representam o esgoto de toda grande São Paulo. Essa poluição

praticamente acabou com toda atividade de recreação da represa

(Scaramucciin et al., 1995).

1.4. Eutrofização da água

A eutrofização pode ser caracterizada pelo aumento descontrolado da

produção primária no ecossistema causada principalmente pelo aporte de

nutrientes essenciais (nitrogênio e fósforo) e por matéria orgânica. Esse

aumento da produção biológica normalmente excede a capacidade do

ecossistema em metabolizá-lo. Em decorrência, surgem no ecossistema

uma série de fenômenos indesejáveis tais como:

� Desaparecimento do oxigênio dissolvido nas camadas mais

profundas do lago;

� Aumento das concentrações de nutrientes inorgânicos tais

como nitrogênio e fósforo, da condutividade elétrica e de diversas

substâncias e gases ligados ao aumento do metabolismo anaeróbico, como

por exemplo, o gás sulfídrico e o metano.

Os principais meios, pelo quais os poluentes atingem um curso d’água

de maneira difusa é o escoamento superficial. O escoamento, ou deflúvio

superficial e as perdas de solo, mostraram estar bastante relacionado com a

quantidade de precipitação, ou seja, com a intensidade da chuva. Segundo

(Merten, 2002) os problemas de poluição causados pelo deflúvio superficial

estão associados, principalmente, ao transporte de fósforo solúvel para os

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corpos d’água, uma vez que a fração solúvel predomina sobre a particulada

nos solos submetidos à semeadura direta. Com isso, o risco de poluição é

maior, já que a forma solúvel é prontamente utilizada pelas algas, e outros

produtores, superando a capacidade de oxigenação e desencadeando o

processo de eutrofização.

De acordo com alguns autores os principais efeitos indesejáveis da

eutrofização são os problemas estéticos e recreacionais, as condições

anaeróbias no fundo do corpo de água, as eventuais condições anaeróbias

no corpo de água, as eventuais mortandades de peixes, dificuldades e

elevação nos custos de tratamento da água, os problemas com o

abastecimento de águas industriais, a toxicidade das algas, as diminuições

na navegação e capacidade de transporte, e desaparecimento gradual do

lago como um todo (Sperling et al., 2004).

O estado trófico de um lago se refere a sua carga de nutrientes e a

sua fertilidade. Com base nessas características eles podem se encontrar no

estado eutrófico (alta concentração de nutrientes), mesotrófico (nutrientes

em quantidades moderadas) e oligotrófico (baixa concentração de

nutrientes).

O aumento da produtividade do corpo de água causa uma elevação

da concentração de bactérias heterotróficas, que se alimentam da matéria

orgânica das algas e de outros microrganismos mortos, consumindo

oxigênio dissolvido no meio líquido. No fundo do corpo de água predominam

condições anaeróbias, devido à sedimentação da matéria orgânica, e à

reduzida penetração do oxigênio a estas profundidades, bem como à

ausência de fotossíntese. O fosfato encontra-se também na forma solúvel,

representando uma fonte interna de fósforo para as algas. Dependendo do

grau de crescimento bacteriano, podem ocorrer, em períodos de mistura

total da massa líquida (inversão térmica) ou de ausência de fotossíntese

(período noturno), mortandade de peixes e reintrodução dos compostos

reduzidos em toda a massa líquida, com grande deterioração da qualidade

da água. Eventuais mortandades de peixes podem ocorrer em função da

anaerobiose e da toxicidade por amônia (Esteves, 1988).

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Introdução – p. __________________________________________________________

19

Cianobactérias ou cianofíceas (algas azuis) são microorganismos

encontrados em praticamente, todos os ambientes terrestres, sendo

considerados organismos muito particulares, pois ao mesmo tempo em que

são plantas também possuem características de bactérias. As cianobactérias

representam um risco à saúde humana, quando em reservatórios de

abastecimento acontece o fenômeno chamado floração ou “bloom”, causado

pela multiplicação excessiva. Esse fenômeno ocorre pelo enriquecimento da

água com fósforo e nitrogênio, produzidos pela eutrofização. As florações de

cianobactérias formam geralmente uma imensa massa na superfície da água

causando desequilíbrio ecológico e problemas à saúde. Assim, pode ocorrer

mortandade de peixes e de outros animais e como algumas espécies de

cianobactérias produzem as cianotoxinas, estas florações podem

representar sérios riscos à saúde humana. As toxinas liberadas podem lesar

o fígado (hepatotoxinas), o sistema nervoso (neurotoxinas), ou apenas

provocar irritações na pele.

1.5. Influência da construção das barragens sobre a Piracema

Com a transformação de um ambiente lótico em lêntico, os

organismos aquáticos que precisam de águas com características lóticas,

com alta taxa de oxigênio dissolvido, mecanismos especializados de

alimentação, nutrientes típicos de águas correntes e outros fatores, migram

para os rios contribuintes do reservatório, em busca destes ambientes. No

reservatório, se desenvolverá espécies favorecidas pelos meios lênticos,

mas mesmo assim sofrerão os impactos provocados pela estratificação

térmica e oscilações no nível do reservatório. Segundo Castro (1975), no

Reservatório de Três Marias havia desaparecido algumas espécies nobres

de peixes, como a curimatã, a corvina, o dourado, o surubim, o pacamã e

outros, em contrapartida, multiplicaram-se as piranhas. Estudos mais

recentes de Biologia Pesqueira (CODEVASF, 2003a), onde se fez o

monitoramento dessas espécies à montante do reservatório, mostrou

resultados positivos decorrentes dos peixamentos para reposição dessas

espécies nativas, com o reaparecimento das espécies outrora em declínio.

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Introdução – p. __________________________________________________________

20

A piracema é um importante mecanismo de reprodução de algumas

espécies de peixes, que induz a um processo reofílico (de nadar contra a

correnteza), que queima a gordura dos peixes, ativando mecanismos

hormonais complexos e preparando-os para a reprodução. A piracema é

comandada pelos processos físicos e químicos relacionados com a elevação

do nível das águas, em épocas de fotoperíodo mais prolongado e com

temperaturas mais elevadas. Portanto, a oscilação do nível do reservatório,

provoca a piracema em períodos anormais. Segundo Paiva( 1982), as

barragens dificultam ou impedem as normais migrações dos peixes,

contribuindo para a redução ou extermínio das espécies de piracema, que

necessitam da dinâmica fluvial para a reprodução dando lugar, dessa

maneira, às espécies afeitas às águas paradas, que tem menor valor

comercial e possibilitando a proliferação de peixes daninhos como a piranha

e a pirambeba.

Para amenizar este impacto, o que se tem feito é a construção de

estruturas que auxiliam os peixes a vencerem o grande desnível

apresentado pelas barragens. Podemos citar algumas técnicas de

transposição de peixes, como as escadas, elevadores e dispositivos de

captura a jusante e soltura no reservatório. Outra técnica para diminuir este

impacto é a reprodução induzida em cativeiro das espécies afetadas, para

peixamento à montante dos reservatórios.

1.6. Os metais traço e os sedimentos

Segundo Esteves (1988), a maioria dos metais traço faz parte,

embora em pequeníssimas concentrações, tanto da constituição da crosta

terrestre como dos organismos. No entanto, com a industrialização do

mundo moderno, a concentração destes elementos tem aumentado de

maneira surpreendente, deixando de ser inofensivos ao homem, para se

tornar uma das mais graves e temidas formas de poluição ambiental que se

tem conhecimento.

Os metais traço são causadores de muitos efeitos negativos para

saúde humana, principalmente através da contaminação ambiental, onde a

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Introdução – p. __________________________________________________________

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remediação da poluição por metais se torna difícil devido à sua alta

persistência e sua baixa degradabilidade no ambiente (Yuan, 2004).

Vários estudos têm demonstrado que a forma lábil ou biodisponível

desses metais possui maior toxicidade, do que a forma complexada por

ligantes orgânicos, ou adsorvida no material particulado (Kennish, 1992). A

maior preocupação com os metais é a bioacumulação destes pela flora e

fauna aquática que acaba atingindo o homem, produzindo efeitos subletais e

letais, decorrentes de disfunções metabólicas.

As investigações toxicológicas indicam que metais traço tais como Pb,

Cd, Hg e Ag, em suas várias formas iônicas e/ou moleculares, não são

essenciais aos organismos vivos, nem mesmo nos níveis considerados

como extremamente baixos de concentração (Nurnberg, 1984). No entanto,

existem alguns metais, tais como Ni, Cu, Zn, Mn, dentre outros, que podem

apresentar propriedades nutritivas aos organismos vivos dentro de certos

limites, os quais ultrapassados, passam a exibir toxidez (Schwars, 1978).

Um outro agravante na questão dos metais traço está no fato de que

algumas dessas espécies químicas são cumulativas a certos organismos

vivos e, portanto, o problema deve ser considerado de natureza prioritária

nos assuntos ligados à saúde e à qualidade de vida do ser humano.

Os metais ocorrem naturalmente no meio ambiente através da

desagregação das rochas. No entanto, a introdução destes elementos

através das atividades antropogênicas pode alterar enormemente os ciclos

biogeoquímicos naturais dos mesmos em corpos hídricos (Salomons et al.,

1995). Com relação às fontes antropogênicas, vários estudos têm registrado

elevada concentração de metais nos sedimentos dos rios, causada por

fontes industriais (Ramamoorth; Rust, 1978; Rule et al., 1986). Além dessas,

os esgotos domésticos são importantes fontes de metais. O crescimento

industrial desordenado gera como conseqüência uma grande liberação de

compostos indesejáveis ao meio ambiente, causando danos à vida animal e

vegetal. Desta forma, apesar dos bens minerais contribuírem para o

desenvolvimento industrial, são também, fontes poluidoras quando lançados

em grande quantidade no meio ambiente.

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Introdução – p. __________________________________________________________

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A água é a principal via de transporte de metais traço, podendo

transportá-los como espécies dissolvidas ou como espécies associadas a

partículas sólidas (Forstner; Wittmann, 1981). Os locais de fixação final dos

metais traço são os solos e sedimentos, e assim, esses devem ser utilizados

em estudos ambientais. Dependendo das características físico-químicas e

biológicas do sedimento e do meio aquático circundante, esse

compartimento funciona tanto como reservatório quanto como fonte de

metais traço (Förstner; Wittmann 1981, Salomons et al.; 1995). Este

compartimento é considerado por vários autores (Laybauer 1995) um dos

melhores meios concentradores de metais e pode fornecer um registro

histórico da evolução do condicionamento ambiental, tanto natural quanto

antropogênicos, do ecossistema aquático como também o desenvolvimento

da influência das fontes poluidoras.

Os sedimentos são formados por camadas de partículas minerais e

orgânicas com granulometria muito fina que cobrem o fundo dos rios, lagos,

reservatórios, estuários e oceanos, onde a proporção dos minerais para a

matéria orgânica varia em função do local (Manahan, 1994; Baird, 2002).

Atualmente, já se reconhece que os sedimentos desempenham um papel

fundamental na biodisponibilidade de vários compostos químicos devido a

sua importância nos ecossitemas aquáticos. Este compartimento serve como

substrato para uma variedade de organismos que vivem no seu interior ou

na interface (sedimento/água) e, portanto, a proteção da qualidade dos

sedimentos já é vista como uma extensão necessária para a proteção da

qualidade aquática.

Considerando o sedimento como o compartimento que reflete todos

os processos que ocorrem em um ecossistema aquático, a sua composição

também deve dar indicação do seu estado trófico. Segundo Naumann

(1930), em lagos oligotróficos de regiões temperadas, o sedimento

caracteriza-se pelo baixo teor de matéria orgânica (que lhe confere cor clara)

e baixa concentração de nutrientes. Por outro lado, em lagos mesotróficos e,

especialmente em lagos eutróficos, o teor de matéria orgânica e a

concentração de nutrientes aumentam consideravelmente. Nos sedimentos

a concentração de metais traço pode variar de acordo com a razão de

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Introdução – p. __________________________________________________________

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deposição dos metais, razão de sedimentação das partículas, natureza e

tamanho das partículas e presença de matéria orgânica e espécies

complexantes.

Na fração argila (2 – 4 µm), os poluentes se agregam com maior

facilidade por existir uma maior área superficial e existirem diferentes grupos

argilominerais com capacidades de troca iônica distintas. Portanto, amostras

de sedimento podem ser um guia útil para a avaliação da história da

poluição de um corpo d’água. Amostragem e análise de sedimento de rios e

riachos tem provado ser uma ferramenta muito útil no estudo da poluição

(Brady, 1989).

Os sedimentos desempenham um papel importante no tocante ao

destino de xenobióticos em ambientes aquáticos, pois refletem a quantidade

corrente do sistema aquático e podem ser usados para detectar a presença

de contaminantes que não permanecem solúveis após seu lançamento em

águas superficiais (Mozeto, 2003). Os sedimentos são considerados de

grande importância na avaliação do nível de contaminação dos

ecossistemas aquáticos, devido não só a sua capacidade em acumular

metais traço, mas também por serem reconhecidos como transportadores e

possíveis fontes de contaminação, já que tal compartimento ambiental pode

liberar espécies contaminantes (Jesus et al., 2004). Tais espécies são

geralmente liberadas do leito do sedimento devido a alterações nas

condições ambientais e físico-químicas (pH, potencial redox e ação

microbiana, entre outras), podendo contaminar a água e outros sistemas

ambientais, afetando a qualidade da água, levando à bioacumulação e

transferência na cadeia trófica .

Os fenômenos de acúmulo e de redisposição de espécies nos

sedimentos os qualificam como de extrema importância em estudos de

impacto ambiental, pois registram em caráter mais permanente os efeitos de

contaminação (Mozeto, 2003). Assim sendo, a determinação de metais traço

em sedimentos permite detectar o grau de contaminação a que a água e os

organismos bentônicos estão sujeitos.

Os metais distribuem-se em diferentes frações do solo ou sedimento,

alterando seu comportamento e regulando a variação do risco ambiental,

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Introdução – p. __________________________________________________________

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onde sua periculosidade é governada pela forma como é encontrado. A

entrada na cadeia alimentar através de sua absorção pelas plantas só é

possível se estiverem dissolvidos ou na forma trocável, em solução, nas

frações do sedimento ou do solo. Metais precipitados, oclusos, complexados

ou residuais (presentes na estrutura mineral) oferecem menor risco

ambiental (Monteiro, 2006).

Podem ocorrer sob diferentes formas químicas na natureza, e

conseqüentemente podem aumentar ou reduzir suas características tóxicas

para com os diversos organismos e suas características biológicas, de

acordo com suas concentrações no ecossistema. Quando introduzidos no

meio hídrico, vários fatores podem influenciar a sua mobilidade e

conseqüentemente sua potenciabilidade tóxica, como por exemplo, o pH e o

potencial redox (Eh) do meio (Foster; Charlesworth, 1996). Outros fatores

como adsorção a sítios de troca catiônica, floculação, precipitação, co-

precipitação e complexação com moléculas orgânicas são também

importantes mecanismos que regulam a disponibilidade destes elementos

metálicos em ambientes aquáticos (Gibbs, 1977). Em condições de pH

ácido, de modo geral, prevalecem as formas solúveis, enquanto que, em pH

neutro ou básico, prevalecem as insolúveis que, do ponto de vista da

contaminação, são a forma mais interessante de se apresentarem.

Os metais traço podem também reagir com outros compostos como

carbonatos e sulfatos, formando novos compostos de baixa solubilidade que,

conseqüentemente, precipitarão. Dessa maneira, tem-se a redução da

disponibilidade dos metais traço para o ambiente, diminuindo o potencial de

poluição. Para incorporação à cadeia alimentar no sistema aquático, os

metais podem ser classificados de acordo com sua disponibilidade. Eles

podem estar disponíveis, potencialmente disponíveis ou então não

disponíveis. Estão disponíveis quando dissolvidos em águas superficiais e

intersticiais ou adsorvidos à fase sólida mineral ou orgânica, potencialmente

disponíveis quando estão complexados com a matéria orgânica na forma de

sulfetos, co-precipitados com óxidos de ferro e manganês na forma de

carbonatos ou hidróxidos e não disponíveis quando estão na forma de

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Introdução – p. __________________________________________________________

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silicatos ou então constituindo a estrutura cristalina de minerais primários e

secundários (Grambell, 1976 apud Malm, 1986).

Quanto à mobilidade, Pb, Cr e Cu são menos móveis e acumulam-se

na superfície do solo. O Zn, Mg, Ni e Cd são mais móveis apresentando

maior risco de contaminação (Monteiro, 2006). A mobilidade dos metais está

relacionada ao raio iônico hidratado (espessura da camada de hidratação do

íon) e à densidade de carga do cátion. Os cátions com maior densidade de

carga são mais fortemente retidos nas cargas negativas do solo. A diferença

na retenção de cátions com carga semelhante se deve à diferença existente

entre os raios iônicos hidratados.

Um aspecto bastante relevante que tem de ser observado ao lidar

com contaminação por metais pesados é o fato de esses elementos

ocorrerem naturalmente em alguns ambientes, de forma que o grau de

contaminação é um grau relativo, determinado pela taxa de crescimento da

sua concentração em relação aos valores já existentes na área – valores de

referência (background).

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Objetivos – p. __________________________________________________________

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2. OBJETIVOS

2.1. Geral

� Determinar as concentrações dos metais traço em sedimentos

superficiais do Rio São Francisco na região da Represa de Três Marias –

MG a fim de avaliar possíveis impactos urbanos e industriais.

2.2. Específicos

� Determinar as concentrações de Cd, Zn, Cu, Ni, Cr, Li, Fe, Al,

Ca e Carbono Orgânico Total (COT) nas amostras de sedimentos

superficiais do Rio São Francisco;

� Comparar as variações das concentrações entre os períodos

seco e chuvoso;

� Identificar os impactos antropogênicos em relação aos metais

traço e suas possíveis origens;

� Avaliar a possibilidade de ocorrência de toxidade em relação

aos metais traço utilizando os Valores Guia de Qualidade de Sedimentos.

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Equipamentos

� Aparelho GPS Marca GARMIN, modelo E- Trex;

� Draga tipo Van Veen;

� Estufa com circulação forçada de ar, marca Marconi, modelo MA 035;

� Balança analítica digital marca Mettler, modelo Toledo AB 204-5;

� Forno Mufla, marca Lavoisier, modelo 402 O;

� Bloco digestor (com controle de temperatura) com frascos de

politetrafluoretileno (PTFE), marca Techal, modelo TE007 A;

� Ultra purificador de água, marca Milipore, modelo Milli-Qplus;

� Espectrômetro de Absorção Atômica (EAA) marca Shimadzu, modelo

AA-6800, equipado com atomizador por chama e forno de grafite e corretor

de background BGC-D2;

� Analisador Elementar de NCHS-O, marca Thermo Finnigan, modelo

Flash EA 1112;

� Aparelho verificador da qualidade da água (sonda Horiba modelo U-10);

� Lâmpadas de cátodo oco de Cd, Zn, Cu, Ni, Cr, Li, Ca, Fe e Al.

3.2. Reagentes e soluções

Todos os reagentes usados foram de grau analítico e as soluções

preparadas com água ultra-pura.

� Ácido clorídrico concentrado, HCl 37%, marca Merck;

� Ácido nítrico concentrado, HNO3 65%, marca Merck;

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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� Solução de HNO3 (1:1), diluindo 500 mL do ácido concentrado em

água ultra-pura e o volume completado a 1L;

� Solução HCl (1:5), diluindo 200 mL do ácido concentrado em água

ultra-pura e volume completado a 1L;

� Solução multielemento padrão estoque de 1000 mg L-1 , marca Spec

Sol de código MICPGG-125. As soluções diluídas usadas na preparação da

curva analítica foram preparadas no momento da análise a partir da solução

estoque, nas concentrações de 0,1; 0,2; 0,4; 0,5; 1,0 e 2,0 mg L-1;

� Material certificado de lago LKSD-1/ (CCNRP/Canadá).

3.3. Materiais

� Balões volumétricos 50, 1000 mL;

� Funil de vidro;

� Cápsulas, cadinhos, almofariz e pistilo de porcelana;

� Pesa-filtros 25 mL;

� Pipetas plásticas 10 mL;

� Provetas plásticas 50 mL;

� Micropipetas automáticas 50, 100, 250 e 1000 µL;

� Bandejas plásticas;

� Frascos de polietileno 100 mL;

� Papel de filtro quantitativo.

3.4. Descrição da área de estudo

O município de Três Marias engloba uma área de aproximadamente

2.680 km2, com uma população estimada de 25.000 habitantes. A região

possui clima tropical chuvoso, quente e úmido, com inverno seco e verão

chuvoso (Menezes et al., 1978). Segundo Bezerra (1987), o período chuvoso

vai de outubro a abril, sendo o trimestre junho-agosto praticamente seco. O

relevo da região é caracterizado como plano e com algumas áreas

dissecadas resultantes de processos morfoclimáticos associados ao

condicionamento geológico. Assim, a área está inserida na Depressão São

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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Franciscana (Euclydes; Ferreira, 2001). A vegetação nativa da região é

constituída predominantemente pelo cerrado, constituindo-se principalmente

de gramíneas, arbustos e árvores de médio porte. São comuns na região as

ocorrências de veredas. Atualmente nas regiões mais planas, o cerrado vem

sendo substituído por pastagens e áreas de cultivo mecanizado, ou mesmo

devastadas para a prática de silvicultura.

A área de estudo foi escolhida levando-se em conta o impacto

ambiental provocado pelas descargas constantes de rejeitos industriais e

sanitários, além dos efeitos deletérios ao ecossistema decorrentes do

represamento do Rio São Francisco. A área de estudo selecionada está

situada no Alto São Francisco, entre a montante da Represa de Três Marias

e um ponto localizado após a foz do Rio Abaeté, trecho este, que possui

aproximadamente 60 km de extensão, caracterizada pela existência da usina

hidrelétrica de Três Marias pertencente à Companhia Energética de Minas

Gerais (UHTM-CEMIG), além da Companhia Mineira de Metais (CMM), e da

descarga de esgotos domésticos in natura do município.

Os sete sítios de coleta estão localizados: um à montante da Represa

de Três Marias (P1-sítio de referência), e seis à jusante (P2 a P7), estando o

P2 próximo à descarga de efluente da mineradora, e o P5 na foz do Rio

Abaeté. Os sítios foram escolhidos estrategicamente para mostrar possíveis

impactos sofridos na área estudada. Desta forma o P1 é o sítio considerado

livre da interferência da mineradora e da descarga de esgoto doméstico da

cidade. O P2 é o sítio mais próximo à descarga de efluente da mineradora, e

localizado na foz do córrego Consciência, local impactado de acordo com

alguns órgãos ambientais, devido ao transbordo da antiga barragem de

contenção de rejeitos. O sítio P3 está localizado entre os córregos

Consciência e da Tolda, também chamado Córrego Espírito Santo. O P4

localiza-se após a jusante do córrego da Tolda, local distante da descarga

de efluente, porém também impactado devido à proximidade com as

barragens de contenção. O P5 serve como controle, pois está localizado no

Rio Abaeté, que é afluente do Rio São Francisco. Os sítios P6 e P7 estão

localizados no Rio São Francisco, mas como estão após a foz do Rio

Abaeté, sofre deste, interferências devido à mistura de suas águas.

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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Os sítios de coleta (Figura 9) foram marcados com o auxílio de um

GPS (Global Positioning System) e tem as seguintes coordenadas

geográficas:

� P1 : 18º 12’ 2,1” S e 45º 15’ 30,2” W – Montante do Reservatório de

Três Marias – próximo às turbinas;

� P2 : 18º 10' 40,6" S, 45º 14' 15,7" W – Rio São Francisco – margem

direita da foz do córrego Consciência;

� P3 : 18º 8’ 12,5” S, 45º 14’ 24,4” W – Rio São Francisco – margem

direita, logo após a Cachoeira Grande;

� P4 : 18º 7’ 40,9” S, 45º 11’ 25,9” W – Rio São Francisco – margem

direita, próximo ao córrego da Tolda;

� P5 : 18º 2’ 10,1” S, 45º 11’ 24,8” W – Rio Abaeté – meio, próximo a

foz com o Rio São Francisco;

� P6 : 17º 59’ 30,2” S, 45º 11’ 42,3” W – Rio São Francisco – margem

direita da Ilha das Barreiras;

� P7 : 17º 57’ 15,9” S, 45º 9’ 47,4” W – Rio São Francisco – margem

direita da Ilha do Noberto.

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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Figura 9. Mapa mostrando os sítios de coleta. Fonte: Estação de

Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias/CODEVASF

3.5. Amostragem

As coletas ocorreram nos meses de dezembro de 2006 e junho de

2007, durante o período chuvoso e seco respectivamente, em sete sítios de

amostragem. Amostras compostas de 5 cm de sedimento superficial foram

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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coletadas em triplicata, utilizando uma mini-draga de van Veen (Figura 10),

acondicionadas em sacos plásticos previamente descontaminados, e

armazenados em freezer (-180C) até processamento. Os procedimentos de

coleta, estocagem, preservação e transporte das amostras dos sedimentos,

foram realizados conforme as recomendações do Manual Técnico

desenvolvido pela EPA (US EPA, 2001).

Figura 10. Coleta de sedimento superficial. Fonte: Marcos Vinícius Teles

Gomes, dezembro de 2006.

3.6. Determinação da concentração de metais em sedimento

Após remover restos de plantas e fragmentos de rochas utilizando

pinças plásticas, as amostras de sedimento foram secas em estufa com

circulação de ar a 50°C por aproximadamente 72 horas (até massa

constante). Após a secagem, o sedimento foi desagregado suavemente,

usando almofariz e pistilo de porcelana para melhor homogeneização da

amostra. O método utilizado foi o US EPA 200.8, onde foram pesadas em

triplicata aproximadamente 1 g de cada amostra e colocadas em bombas de

PTFE. Em seguida foram adicionados 4 mL de solução de ácido nítrico (1:1)

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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e 10 mL de solução de ácido clorídrico (1:5). As bombas foram aquecidas a

950C durante 30 minutos (Figura 11), e depois as soluções foram resfriadas

e filtradas em papel filtro quantitativo (Figura 12), completando o volume a

50 mL com água ultra-pura. Os extratos foram transferidos e mantidos em

frascos de polietileno previamente descontaminados, para posterior

determinação dos metais (US EPA, 1999c). Para controle de qualidade das

análises foi analisado o material de referência certificado para sedimento de

lago (LKSD-1), juntamente com o branco, onde se verificou a isenção de

contaminações aleatórias durante a análise. As medidas dos metais Cd, Zn,

Cu, Ni, Cr, Li, Ca, Fe e Al foram realizadas em um espectrômetro de

absorção atômica, modelo Shimadzu AA-6800 (Figura 13) equipado com

corretor de background BGC-D2. Todos os ajustes instrumentais seguiram

as recomendações do manual do fabricante.

Toda vidraria e recipientes, para armazenamento de soluções,

utilizados durante os experimentos foram lavados com água destilada,

solução de ácido nítrico 30% (v/v) e enxaguados exaustivamente com água

ultra-pura.

Figura 11: Digestão das amostras em bombas de PTFE. Fonte: Marcos

Vinícius Teles Gomes, maio de 2007.

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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Figura 12: Filtração em papel filtro quantitativo, das amostras digeridas.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007.

Figura 13: Medidas dos metais com espectrômetro de absorção atômica.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007.

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

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3.7. Determinação do teor de matéria orgânica e inorgânica

A medida do teor de Carbono Total (CT) nas amostras foi realizada

num Analisador Elementar de NCHS-O, marca Flash, modelo EA 1112

(Figura 14), com combustão a 900oC. O carbono orgânico total (COT) foi

calculado pela diferença entre o carbono medido antes e depois da

calcinação das amostras a 550o C por 1 hora.

Alíquotas de aproximadamente 0,5 g das amostras foram calcinadas

em mufla a 550ºC por 1 hora, em cadinhos de porcelana previamente

tarados. O teor de COT foi obtido pela diferença de massa após a

calcinação, considerando a média entre três determinações.

Figura 14: Utilização do Analisador Elementar para determinação do COT.

Fonte: Marcos Vinícius Teles Gomes, maio de 2007.

3.8. Determinações de variáveis limnológicas

Durante a coleta dos sedimentos, foram realizadas medições in-situ

de parâmetros físicos e químicos de água a uma profundidade de

aproximadamente 10 cm da superfície (Figura 15), para avaliação

limnológica à montante da Represa de Três Marias (P1) e à jusante, no Rio

São Francisco (P2) e na foz do Rio Abaeté (P5). Em cada amostra de água

foram determinados os parâmetros temperatura, pH, condutividade elétrica e

oxigênio dissolvido. As determinações foram realizadas com aparelho

verificador de qualidade da água, de marca Horiba, modelo U-10. O aparelho

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Materiais e Métodos – p. __________________________________________________________

36

foi calibrado toda vez que houve necessidade de deslocamento aos sítios de

coleta.

Figura 15: Utilização da sonda multiparâmetros Horiba U-10. Fonte: Marcos

Vinícius Teles Gomes, junho de 2007.

3.9. Tratamento estatístico dos dados

A análise estatística dos dados foi realizada por Análise Multivariada

de Componentes Principais e matriz com Coeficiente de Correlação de

Pearson, utilizando o programa BioEstat 3.0 for Windows.

Para a elaboração da análise de similaridade, entre os locais de

estudo foi utilizado o programa NTSYS-PC (v. 1.5). Com isso, as amostras

semelhantes são agrupadas entre si, produzindo uma figura (dendograma)

que facilita a visualização de padrões de agrupamentos e formação de

grupos entre as amostras apresentadas. A distância entre os pontos

determinou a semelhança entre os mesmos, de modo que quanto mais

próximo se apresentarem, mais similares serão as características das

amostras. O método aproximou os pares de pontos entre si e os substituiu

por um novo ponto situado na distância média entre os dois pontos. O

procedimento foi repetido até que todos os pontos estivessem agrupados em

um único ponto (Metz; Monard, 2005).

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Resultados e Discussões – p. 37 __________________________________________________________

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Variáveis limnológicas

Na Tabela 1 são apresentados os resultados limnológicos da coluna

de água no sítio P1, localizado à montante do reservatório, em dezembro de

2006 (período chuvoso) e junho de 2007 (período seco). Durante o período

chuvoso o pH variou entre 6,0 e 6,8; a condutividade de 49 a 52 µS cm-1 ; o

oxigênio dissolvido de 2,1 a 7,6 mg L-1, e a temperatura de 21,0 a 27,2 ºC.

Durante o período seco (estiagem) o pH variou entre 5,7 e 7,2; a

condutividade de 46 a 49 µS cm-1 ; o oxigênio dissolvido de 4,2 a 6,0 mg L-1,

e a temperatura de 24,2 a 24,7 ºC.

As Figuras 16 e 17 mostram os perfis de temperatura e oxigênio

dissolvido, obtidos no sítio P1, em dezembro de 2006 (verão) durante o

período de estratificação, e em junho de 2007 (inverno) durante o período de

isotermia. Durante o inverno a coluna d’água estava sob período de

desestratificação , com pequenas variações de temperatura e concentração

de oxigênio dissolvido em toda coluna d’água do reservatório, enquanto que

durante o início do verão, a coluna estava estratificada, apresentando

grandes variações destes mesmos parâmetros, com acentuada redução da

concentração de oxigênio dissolvido e da temperatura. Este período coincide

com o início do período de piracema, que é quando algumas espécies de

peixes sobem o rio para desovar. Devido à baixa qualidade da água que sai

da represa para o rio, algumas espécies de peixes procuram as águas do

Rio Abaeté (P5) que possuem maiores O.D. e temperaturas, como mostra a

Tabela 3. Monitoramentos em Biologia pesqueira realizados pela

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Resultados e Discussões – p. 38 __________________________________________________________

CODEVASF (1999d), mostraram que grande parte das espécies capturadas

entre a foz do Abaeté e a jusante da represa, não se encontravam em

estado de maturação gonadal suficiente para a reprodução, provavelmente

devido à baixa temperatura e à reduzida concentração de oxigênio

dissolvido.

Tabela 1. Valores de pH, condutividade elétrica, concentração de oxigênio

dissolvido (OD) e temperatura da água, obtidos no sítio P1 (à montante da

Represa de Três Marias), durante os períodos chuvoso (dezembro de 2006)

e seco (junho de 2007).

Profundidade Condutividade O.D. Temperatura

(m)

pH

(µS cm-1) (mg L-1) (ºC)

Dezembro de 2006

0,1 6,5 52 7,6 27,2

5,0 6,6 52 7,4 27,2

10,0 6,8 52 5,7 26,7

15,0 6,3 50 4,7 25,0

20,0 6,1 49 3,9 23,1

25,0 6,1 49 3,3 21,9

30,0 6,0 49 3,2 21,6

40,0 6.1 54 2,1 21,0

Junho de 2007

0,1 5,7 47 5,8 24,4

5,0 5,7 47 5,7 24,5

10,0 5,8 47 6,0 24,6

15,0 5,9 47 6,0 24,6

20,0 6,3 46 5,6 24,6

25,0 7,2 46 5.4 24,7

30,0 7,1 46 5,2 24,7

40,0 6,3 48 4,6 24,5

50,0 6,2 49 4,2 24,2

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Resultados e Discussões – p. 39 __________________________________________________________

Figura 16. Perfis de temperatura obtidos no sítio P1 (à montante da Represa

de Três Marias), em dezembro de 2006 durante o período de estratificação

(verão), e em junho de 2007 durante o período de isotermia (inverno).

Figura 17. Perfis de oxigênio dissolvido obtidos no sítio P1 (à montante da

Represa de Três Marias), em dezembro de 2006 durante o período de

estratificação (verão), e em junho de 2007 durante o período de isotermia

(inverno).

A estratificação térmica pode ser observada em reservatórios, onde,

com suas grandes profundidades, formam-se camadas de água com

Perfil de OD em junho de 2007

0 1 2 3 4 5 6 7 8

50m

40m

30m

25m

20m

15m

10m

5m

superfície

Pro

fun

did

ad

e (

m)

Oxigênio dissolvido (mg L-1)

Perfil de OD em dezembro de 2006

0 1 2 3 4 5 6 7 8

40m

30m

25m

20m

15m

10m

5m

superfície

Pro

fun

did

ad

e (

m)

Oxigênio dissolvido (mg L-1)

Perfil de Temperatura em junho de 2007

20 21 22 23 24 25 26 27 28

50m

40m

30m

25m

20m

15m

10m

5m

superfície

Pro

fun

did

ad

e (

m)

Temperatura (ºC)

Perfil de Temperatura

em dezembro de 2006

20 21 22 23 24 25 26 27 28

40m

30m

25m

20m

15m

10m

5m

superfície

Pro

fun

did

ad

e (

m)

Temperatura (ºC)

Verão Inverno

Verão Inverno

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Resultados e Discussões – p. 40 __________________________________________________________

diferentes temperaturas e também camadas com diferentes concentrações

de oxigênio.

Ramirez; Díaz (1995) realizaram estudos visando descrever o

comportamento diário da temperatura da água e a resistência térmica

relativa às épocas do ano: chuvosa e seca, na Laguna do Parque Norte,

Colômbia. Observaram mudanças diurnas na condutividade, pH, OD e

alcalinidade. As variações de pH, alcalinidade e condutividade não foram

significativas entre a superfície e o fundo devido à instabilidade da coluna

d’água que não permitia a formação de uma estratificação química definida.

A estratificação térmica mostrou um ciclo definido de 24 h, tanto no verão

quanto no inverno, devido principalmente à baixa profundidade da coluna de

água.

Melack; Fisher (1990) observaram, ao estudar um lago de várzea

tropical (Lago Calado – Amazonas, Brasil), que a estratificação térmica e de

oxigênio dissolvido só ocorre quando a profundidade excede 5m. Também

foi observado que quando o lago está termicamente estratificado, as

concentrações de nutrientes são baixas na zona eufótica e mais elevadas no

hipolímnio anóxido.

Bozelli et al. (1990) estudou as lagoas Imboacica e Iodada, situadas

no Estado do Rio de Janeiro. Verificaram que a disponibilidade de nutrientes

depende dos fatores externos e internos. Os primeiros são os ventos,

precipitação e radiação incidente e como exemplo de fatores internos temos

turbulência, estratificação e desestratificação da coluna d’água e taxa de

decomposição. A distribuição dos nutrientes em lagos é controlada

principalmente pela estratificação térmica da coluna d’água que gera

diferentes densidades. Nos lagos tropicais, como a temperatura é alta,

temos uma taxa alta de decomposição dos detritos orgânicos, tornando-os

disponíveis ao meio. Assim, a baixa concentração de nutrientes pode ser

compensada pela reciclagem dos nutrientes liberados.

Em ecossistemas aquáticos de pequena profundidade, os ventos são

a principal fonte de energia externa responsável pela desestratificação da

massa d’água, podendo interferir no processo de deposição de nutrientes

para os sedimentos, bem como promover a ressuspensão do material

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Resultados e Discussões – p. 41 __________________________________________________________

depositado no fundo, aumentando o aporte dos nutrientes na coluna d’água

e diminuindo a penetração da luz pelo aumento da turbidez. O padrão dos

ventos, assim como a pluviosidade são os fatores climáticos mais influentes

no comportamento dos corpos d’água na zona tropical (Ramirez, 2000).

Para minimizar o efeito da redução de oxigênio dissolvido, deve-se

estudar a altura, na coluna de água do reservatório, onde será feita a

tomada d’água para a geração de energia elétrica, evitando uma depleção

ainda maior do oxigênio. Também se pode construir pequenas quedas

d'água artificiais para a oxigenação da água. A anoxia no hipolímnio é uma

das consequências importantes da estratificação hidráulica (Tundisi, 1988).

A tomada d’água da Represa de Três Marias é realizada no hipolímnio a

uma profundidade tal, que durante a estratificação térmica que ocorre

durante o verão, a água possui baixa concentração de oxigênio dissolvido

além também de baixas temperaturas.

Na Tabela 2 são apresentados os resultados limnológicos das águas

superficiais (10 cm de profundidade) do sítio P2 (Rio São Francisco) próximo

à descarga de efluente da mineradora, em dezembro de 2006 (período

chuvoso) e junho de 2007 (período seco). Durante o período chuvoso o pH

variou entre 5,9 e 6,3; a condutividade de 50 a 100 µS cm-1 ; o oxigênio

dissolvido de 3,4 a 4,2 mg L-1, e a temperatura de 22,2 a 22,8 ºC. Durante o

período seco (estiagem) o pH variou entre 6,7 e 7,2; a condutividade de 45 a

142 µS cm-1 ; o oxigênio dissolvido de 6,4 a 7,3 mg L-1, e a temperatura de

26,7 a 27,3 ºC.

A Tabela 2 revela que houve um aumento considerável da

condutividade elétrica na margem direita do sítio P2, mostrando alteração na

quantidade total de íons, possivelmente devido à descarga de efluente da

mineradora que ocorre na mesma margem, evidenciando as interferências

antropogênicas na área estudada. Outros estudos na mesma região também

encontraram valores de condutividade elétrica mais altos na margem direita

do rio São Francisco, sob a influência da CMM (Oliveira, 2007).

A Tabela 2 também mostra que no sítio P2, a condutividade na

margem direita é maior no período seco comparado ao período chuvoso.

Isso mostra que possivelmente durante o período chuvoso, onde a vazão do

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Resultados e Discussões – p. 42 __________________________________________________________

rio São Francisco é maior, ocorreu uma maior diluição dos íons presentes no

efluente da mineradora.

Tabela 2. Valores médios (n=5) de pH, condutividade elétrica, concentração

de oxigênio dissolvido e temperatura da água superficial (10 cm de

profundidade), determinados no sítio P2 (Rio São Francisco) em dezembro

de 2006 (período chuvoso) e junho de 2007 (período seco).

Período Local pH Condutividade O.D. Temperatura

(m) (µS cm-1) (mg L-1) (ºC) Dezembro MD 6,1 ± 0,2 89 ± 11 3,9 ± 0,3 22,5 ± 0,1

de Meio 6,0 ± 0,1 51 ± 0,3 3,6 ± 0,2 22,3 ± 0,1 2006 ME 6,1 ± 0,1 51 ± 1 3,8 ± 0,2 22,6 ± 0,2 Junho MD 7,0 ± 0,2 117 ± 25 6,9 ± 0,5 26,9 ± 0,2

de Meio 6,9 ± 0,1 46 ± 0,3 6,8 ± 0,1 26,8 ± 0,1 2007 ME 6,9 ± 0,2 46 ± 1 7,1 ± 0,2 27,0 ± 0,3

ME - margem esquerda; Meio - região central; MD - margem direita.

Na Tabela 3 são apresentados os resultados limnológicos das águas

(10 cm de profundidade) do sítio P5 (Rio Abaeté, próximo à foz com o Rio

São Francisco), em dezembro de 2006 (período chuvoso) e junho de 2007

(período seco). Durante o período chuvoso o pH variou entre 6,0 e 6,6; a

condutividade de 66 a 68 µS cm-1 ; o oxigênio dissolvido de 7,9 a 8,8 mg L-1,

e a temperatura de 28,2 a 29,1 ºC. Durante o período seco (estiagem) o pH

variou entre 6,4 e 7,2; a condutividade de 63 a 65 µS cm-1 ; o oxigênio

dissolvido de 4,8 a 5,9 mg L-1, e a temperatura de 23,0 a 23,4 ºC.

A Tabela 3 mostra que as águas do rio Abaeté apresentaram pouca

variação de pH e condutividade elétrica, quando comparados os períodos

chuvoso e seco. O mesmo não aconteceu para a temperatura e oxigênio

dissolvido, que foram maiores no período chuvoso, onde no mesmo período,

as águas do Rio São Francisco estavam com menores temperaturas e

oxigênio dissolvido, como mostra a Tabela 2.

A Figura 18 mostra o encontro entre as águas dos rios São Francisco

e Abaeté, onde se percebe a diferença na coloração, provocada pela grande

quantidade de material em suspensão. Através da avaliação dos dados das

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Resultados e Discussões – p. 43 __________________________________________________________

tabelas 2 e 3, percebemos que as diferenças se estendem também aos

parâmetros limnológicos.

Tabela 3. Valores médios (n =5) de pH, condutividade elétrica, concentração

de oxigênio dissolvido e temperatura da água superficial (10 cm de

profundidade), determinados no sítio P5 (Rio Abaeté) em dezembro de 2006

(período chuvoso) e junho de 2007 (período seco).

Período Local pH Condutividade O.D. Temperatura

(m) (µS cm-1) (mg L-1) (ºC) Dezembro MD 6,5 ± 0,1 67 ± 1 8,2 ± 0,3 28,4 ± 0,1

de Meio 6,2 ± 0,2 67 ± 0,3 8,6 ± 0,1 28,3 ± 0,1 2006 ME 6,3 ± 0,3 67 ± 0,3 8,4 ± 0,4 28,7 ± 0,4 Junho MD 6,5 ± 0,1 64 ± 1 5,1 ± 0,3 23,2 ± 0,1

de Meio 6,5 ± 0,1 64 ± 0,3 5,7 ± 0,2 23,2 ± 0,2 2007 ME 6,9 ± 0,3 64 ± 1 5,5 ± 0,3 23,3 ± 0,1

ME - margem esquerda; Meio - região central; MD - margem direita.

Figura 18. Águas do rio Abaeté (mais turvas) na margem esquerda do rio

São Francisco (dezembro de 2006). Fonte: Estação de Hidrobiologia e

Piscicultura de Três Marias/CODEVASF.

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Resultados e Discussões – p. 44 __________________________________________________________

4.2. Metais nos sedimentos

Para certificação do método analítico adotado para realização das

extrações de metais em sedimentos, utilizou-se material de referência

certificado para sedimento de lago, LKSD-1 (CCNRP/Canadá). Os

resultados de recuperação obtidos para os sedimentos são mostrados na

Tabela 4, e como pode ser observada, a boa concordância entre os

resultados garante a eficiência do método e a adequada exatidão dos

resultados.

Tabela 4: Recuperação dos metais no material de referência certificado para

sedimento de lago, LKSD-1 (CCNRP/Canadá).

Metais Valor Certificado Valor obtido Recuperação (µg/g) (µg/g) (%)

Cd 1,20 1,24 ± 0,05 103,3 Cu 44,0 46,8 ± 3,2 106,4

Fe (%) 1,80 1,75 ± 0,06 97,2 Ni 12,0 11,3 ± 0,8 94,2 Zn 335 324 ± 8 96,7 Li *nc 1,31 ± 0,05 - Ca *nc 47326 ± 286 -

Al *nc 31698 ± 123 -

Cr *nc 11,20 ± 0,42 - *nc – valor não certificado para extração parcial do LKSD-1.

4.2.1. Metais traço e Toxidade

No Brasil, a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental -

CETESB e diversos trabalhos de mestrado e doutorado vêm adotando o

critério canadense e seus valores numéricos como padrões de referência de

contaminação para sedimentos. O grau de contaminação química do

sedimento, com vistas à proteção da vida aquática, foi classificado segundo

os valores estabelecidos pelo “Canadian Council of Ministers of the

Environment” (CCME, 2001) para arsênio, metais pesados e compostos

orgânicos. Os mesmos critérios foram adotados pela Resolução CONAMA

344/04 que estabelecem diretrizes e procedimentos mínimos para a

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Resultados e Discussões – p. 45 __________________________________________________________

avaliação do material dragado. A avaliação da qualidade dos sedimentos

muitas vezes é feita através da comparação dos resultados obtidos com

diferentes VGQS (Valores Guias de Qualidade de Sedimento), disponíveis

na literatura (Smith et al., 1996; Long et al., 1990).

Para avaliação da qualidade de sedimentos adotaram-se, então, os

VGQS internacionais que são valores numéricos de concentração de

contaminantes individuais estatisticamente definidos com base em

associações de valores de concentração desses contaminantes nos

sedimentos, a resultados de testes de toxicidade ou bioensaios (toxicidade

aguda e crônica) realizados com um grande número de diferentes

organismos-teste. Esses VGQS têm sido utilizados por várias agências

federais, estaduais e províncias na América do Norte para água doce e

ecossistemas costeiros e marinhos. Silvério, (2003) apresenta uma revisão

dos vários VGQS encontrados na literatura e suas diferentes abordagens:

• Equilíbrio de partição (AVS);

• Concentrações em níveis basais SEL (Severe Effect Level) e LEL

(Lowest Effect Level);

• Intervalo de efeito baixo ERL (Effect Range-Low) e intervalo de efeito

médio ERM (Effect Range-Median);

• Nível limiar de efeitos TEL (Threshold Effect Level) e nível provável

de efeito PEL (Probable Effect Level);

• Limiar de efeitos aparentes AET (Apparent Effect Level);

• Concentração de efeito limiar TEC (Threshold Effect Concentration) e

concentração de efeito provável PEC (Probable Effect Concentration);

• Modelo de regressão logística LRM (Linear Regression Model).

As várias metodologias para se estabelecer um critério de qualidade

de sedimentos, podem ser mecanísticas e teóricas, ou baseadas em

observações empíricas:

� VGQS mecanísticos - são baseados no equilíbrio de partição

(derivado pela USEPA e visam proteger organismos bentônicos) e são em

número de dois: (a) o VGQS dos sulfetos volatilizáveis por acidificação

(SVA) (ou da fase sólida), que é baseado na concentração de metais

simultaneamente extraídos (MES) (definidos, apenas, para cinco metais: Cd,

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Resultados e Discussões – p. 46 __________________________________________________________

Cu, Ni, Pb e Zn) e o SVA; e (b) o VGQS das águas intersticiais (também

chamado de critério de unidades tóxicas das águas intersticiais).

� VGQS empíricos - são valores numéricos embasados em amplos

bancos de dados de concentração individuais de contaminantes inorgânicos

e orgânicos, a partir dos quais, são estabelecidas relações de causa

(concentração de contaminantes) e efeito (resposta biológica de organismos

bentônicos). Para ambientes de água doce o principal VGQS é TEL/PEL

(‘threshold effects level/probable effects level’).

Em geral os estudos estatísticos definem dois valores de referência

que dividem a faixa de concentração dos contaminantes em três partes:

nenhum ou pouco efeito adverso, provável ou pequeno efeito adverso e

significativo ou severo efeito adverso sobre espécies sensíveis de

organismos bentônicos.

Devido à falta de informações a respeito do uso dos vários VGQS

publicados, torna-se difícil a seleção mais apropriada para uma aplicação

específica. Além disso, os VGQS numéricos podem variar muito para a

mesma substância, dependendo do banco de dados e abordagens utilizadas

na sua derivação. Outros fatores que dificultam também na escolha do

VGQS são as incertezas em relação a biodisponibilidade dos contaminantes

nos sedimentos, os efeitos das misturas de poluentes, e a relevância

ecológica dos valores guias de orientação (MacDonald et al., 2000). Assim

os VGQS devem ser usados como ferramentas de auxílio na interpretação

das concentrações de contaminantes nos sedimentos, pois não são

definitivos nem apropriados se aplicados sozinhos para fins de

regulamentação, pois dentre outras coisas, não há definição de VGQS para

todas as substâncias, o uso de diferentes VGQS pode gerar resultados

diversos.

Os valores Guias Canadenses TEL e PEL foram calculados a partir de

tratamento estatístico de dados pré-existentes. Para a definição de TEL e

PEL foram levados em consideração, além de dois valores de efeito, os

valores de não-efeito. O valor mais baixo se refere ao nível de efeito limiar

(do inglês: “threshold effect level” ou o TEL), que representa a concentração

abaixo da qual os efeitos biológicos adversos ocorrem raramente, e um valor

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Resultados e Discussões – p. 47 __________________________________________________________

superior, nível de efeitos prováveis (do inglês: “probable effect level”), que

define um nível acima do qual os efeitos adversos ocorrem frequentemente.

No cálculo de TEL e PEL, três intervalos de concentrações são definidos: (1)

intervalo de efeito mínimo, dentro do qual efeitos adversos raramente

ocorrem (abaixo de TEL); (2) intervalo de possível efeito, dentro do qual

efeitos adversos ocorrem ocasionalmente (entre TEL e PEL) e (3) intervalo

de provável efeito, dentro do qual efeitos biológicos adversos ocorrem

freqüentemente (acima de PEL). A Tabela 5 mostra os valores de PEL e TEL

estabelecidos pelo “Canadian Council of Ministers of the Environment”.

Tabela 5 – Valores de PEL e TEL estabelecidos pelo “Canadian Council of

Ministers of the Environment” (CCME, 2001).

Metais e Metalóides Unidade TELa PELb Arsênio µg g-1 5,9 17 Cádmio µg g-1 0,6 3,5 Chumbo µg g-1 35 91,3 Cobre µg g-1 35,7 197 Cromo µg g-1 37,3 90

Mercúrio µg g-1 0,17 0,486 Níquel µg g-1 18 35,9 Zinco µg g-1 123 315

a: TEL “Threshold Effect Level” - concentrações abaixo deste valor são

raramente associadas a efeitos biológicos adversos.

b: PEL “Probable Effect Level” - concentrações acima deste valor são

freqüentemente associadas a efeitos biológicos adversos.

Da Figura 19 a 28, são apresentados os perfis de distribuição dos

sítios de amostragem, com as concentrações médias dos metais analisados

e do carbono orgânico total (COT) nos sedimentos superficiais coletados em

sete sítios, à montante e à jusante da Represa de Três Marias - MG, durante

os períodos chuvoso (dezembro de 2006) e seco (junho de 2007).

A Figura 19 mostra que as maiores concentrações de Cd ocorreram

nos sedimentos dos sítios P2 (19,90 µg g-1) e P4 (10,68 µg g-1), no período

chuvoso. Comparando os dois períodos observa-se nos sítios P2, P4 e P6

concentrações mais elevadas no período chuvoso e nos demais sítios

concentrações maiores no período seco. As concentrações ultrapassaram o

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Resultados e Discussões – p. 48 __________________________________________________________

valor do PEL nos sítios P2, P4 e P3 (período seco), apresentaram valores

intermediários entre o TEL e PEL em P6 (período chuvoso) e em P7

(período seco) e valores inferiores ao TEL nos demais sitos. Portanto, os

resultados evidenciam que em relação ao Cd, os sedimentos da região

diretamente influenciada pelo aporte industrial (P2 a P4) podem apresentar

com freqüência, efeitos adversos à biota aquática.

Variação Sazonal de Cádmio

0.00

2.00

4.00

6.00

8.00

10.00

12.00

14.00

16.00

18.00

20.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 19. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cd nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

O Cu apresentou uma distribuição (Figura 20) com as concentrações

mais elevadas nos sítios P2 (93,87 µg g-1), P3 (16,29 µg g-1) e P4 (16,11 µg

g-1), tendo os valores maiores ocorrido no período chuvoso. Nos demais

sítios as concentrações foram superiores no período seco em P1 e P7. Em

geral as concentrações de Cu ficaram abaixo do TEL , somente no sitio P2 e

no período seco, a concentração foi superior ao TEL mas inferior ao PEL.

Desse modo é pouco provável ocorrer efeito biológico adverso em relação

ao Cu.

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Resultados e Discussões – p. 49 __________________________________________________________

Variação Sazonal de Cobre

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

90.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nc

entr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 20. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cu nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

A Figura 21 mostra que o Li apresentou um perfil de distribuição

diferente dos anteriormente citados, pois sua concentração aumenta no

período seco a medida que se distancia do P2, com maior concentração

durante o período chuvoso no P3 (1,05 µg g-1), e no período seco no P7

(2,76 µg g-1).

Variação Sazonal de Lítio

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

2.50

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 21. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Li nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

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Resultados e Discussões – p. 50 __________________________________________________________

O Zn (Figura 22) apresentou uma distribuição semelhante ao Cd, com

as mais elevadas concentrações tendo ocorrido nos sítios P2 (10780 µg g-1)

e P4 (1706 µg g-1) no período chuvoso. Nos sítios P2, P4 e P6 as

concentrações foram maiores no período chuvoso e nos demais sítios foram

mais elevadas no período seco. Os resultados evidenciam que os

sedimentos dos sítios P2, P3 (período seco), P4 e P6 (período chuvoso)

podem apresentar com frequência toxicidade em relação ao Zn, pois as

concentrações foram muito superiores ao PEL. Nos demais sítios as

concentrações foram inferiores ao TEL.

Variação Sazonal de Zinco

0.00

200.00

400.00

600.00

800.00

1000.00

1200.00

1400.00

1600.00

1800.00

2000.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 22. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Zn nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

A Figura 23 mostra que dentre os sete sítios, o Ca apresentou

maiores concentrações no sítio P2 durante os períodos chuvoso (486,90 µg

g-1) e seco (221,38 µg g-1).

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Resultados e Discussões – p. 51 __________________________________________________________

Variação Sazonal de Cálcio

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 23. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Ca nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

O Ni ( Figura 24) apresentou um perfil de distribuição no período seco,

com concentrações crescentes de P1 a P7 e no período chuvoso mostrou

concentrações maiores em P3 e P4. As maiores concentrações foram

registradas em P6 e P7 no período seco e as menores em P1.

Variação Sazonal de Níquel

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 24. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Ni nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

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Resultados e Discussões – p. 52 __________________________________________________________

O Cr (Figura 25) mostrou um perfil semelhante ao Ni, diferenciando

pela concentração bem mais elevada no sitio P3 no período chuvoso em

relação ao período seco. As menores concentrações ocorreram no sitio P2

tanto no período seco quanto no chuvoso.

Em todas as amostras de sedimento as concentrações de Ni e Cr

foram muito inferiores ao TEL e por isso, raramente esses metais deverão

estar associados a efeitos biológicos adversos.

Variação Sazonal de Cromo

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nce

ntr

açã

o e

m µ

g g

-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 25. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Cr nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

Os dados da Tabela 6 mostram que o sítio P2 apresentou as maiores

concentrações de Cd e Zn, com valores mais elevados no período chuvoso

(Cd 19,90 µg g-1, e Zn 10780 µg g-1), provavelmente devido à lavagem pelas

chuvas das áreas contaminadas da barragem de contenção, carreando

grande quantidade de lama residuária para o Rio São Francisco. Também

durante o período chuvoso, ocorreram as maiores concentrações de Cd

(10,68 µg g-1) e Zn (1706 µg g-1) no sitio P4. Esses dois sítios correspondem

à foz dos córregos da Consciência e da Tolda, localizados nas proximidades

de uma das barragens de contenção de rejeito da mineradora.

Estudos realizados por Lundhamer (1991) mostraram que as

concentrações de cádmio e zinco em sedimentos do Córrego Consciência

foram de 132 µg g-1 e 16.455 µg g-1, respectivamente. Nas mesmas

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Resultados e Discussões – p. 53 __________________________________________________________

proximidades, segundo Oliveira (2007), também foram encontrados valores

elevados para Cd (23 µg g-1) e Zn (5000 µg g-1).

No Relatório SISEMA (2005) estão registradas concentrações de

cádmio e zinco para sedimentos do Córrego Consciência, de 19,70 µg g-1 e

17750 µg g-1, respectivamente. Observou-se nesse mesmo estudo, que não

foram encontrados valores significativos para metais pesados no sedimento

da represa de Três Marias e nem em sedimentos do rio São Francisco, a

montante do córrego Barreiro Grande. Entretanto, em seis pontos do rio São

Francisco, desde a jusante do córrego Barreiro Grande até o rio Abaeté

foram encontrados elevados teores de zinco e cádmio nos sedimentos. Os

valores de zinco e cádmio no ponto amostrado a jusante do Espírito Santo,

embora abaixo do PEL, mostrou-se expressivo como valor de alerta. O maior

valor obtido para o zinco e cádmio foi encontrado, respectivamente, no rio

São Francisco, logo a jusante do córrego Consciência e a montante da

Cachoeira Grande.

O zinco é um elemento de grande importância na saúde humana, pois

possibilita diversas funções bioquímicas, sendo componente de inúmeras

enzimas e nutriente essencial ao metabolismo celular. Entretanto, existem

relatos sobre a toxicidade do zinco na literatura, provocada pela ingestão em

altas concentrações de seus sais solúveis, que incluem sintomas de

náuseas e vômitos, além de induzir à deficiência do cobre e à diminuição da

função imune. Possui efeitos adversos na relação do colesterol LDL/HDL

(Formire, 1990; Mafra, Cozzolino, 2004), e o excesso deste metal

bioacumulado pode causar mudanças adversas na morfologia e fisiologia

dos peixes. Quando em concentrações demasiadamente altas pode resultar

no enfraquecimento geral e alterações histológicas amplas em muitos

órgãos.

A exposição ao cádmio causa sintomas parecidos aos de

envenenamento por alimentos. A acumulação deste metal no homem resulta

na doença Itai- Itai, que produz problemas de metabolismo do cálcio,

acompanhado de descalcificação, reumatismo, nevralgias e problemas

cardiovasculares (Train, 1979). Altas concentrações acumuladas nos

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Resultados e Discussões – p. 54 __________________________________________________________

organismos destroem o tecido testicular e as hemácias sanguíneas e podem

levar a efeitos mutagênicos (Manaham, 1994).

A concentração de Cu no período chuvoso foi maior que no período

seco, com um valor (93,87) superior ao TEL(35,70), mostrando que este

metal já se encontra em condições de exercer possível efeito adverso à biota

aquática (organismos bentônicos e peixes). Concentrações elevadas de

cobre representam uma ameaça para a biota aquática, pois tem uma grande

capacidade de bioacumular em determinados tecidos vivos, magnificando

suas concentrações ao longo da cadeia trófica e atingindo o homem. Além

disso, pode desestruturar algumas proteínas enzimáticas essenciais ao ser

vivo. De modo geral, a toxicidade do cobre aumenta com a sua solubilidade,

a adsorção do cobre é influenciada pelas variações de temperatura,

salinidade, pH e dureza da água que modificam a permeabilidade dos

tecidos agindo sobre a velocidade do metabolismo e, da sua excreção

(Coelho, 1990).

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Resultados e Discussões – p. 55 _______________________________________________________________________________________________

Talela 6: Concentração média (n=3) dos metais e COT (n=1) nos sedimentos superficiais coletados à montante e à jusante da

Represa de Três Marias - MG, durante os períodos chuvoso (dezembro de 2006) e seco (junho de 2007).

Período Sítios de coleta Cd (µg g-1) Cu (µg g-1) Li (µg g-1) Zn (µg g-1) Ca (µg g-1) Cr (µg g-1) Fe (µg g-1) Ni (µg g-1) Al (µg g-1) COT (%)

C P1 0,020 ± 0,003 0,28 ± 0,03 0,69 ± 0,08 8,59 ± 1,25 5,51 ± 0,45 8,62 ± 0,71 2821 ± 120 0,25 ± 0,02 6660 ± 528 *< 0,01

H P2 19,90 ± 0,38 93,87 ± 7,26 0,08 ± 0,01 10780 ± 940 486,9 ± 36,4 6,32 ± 0,45 7610 ± 531 1,45 ± 0,11 22629 ± 4560 0,22

U P3 0,08 ± 0,01 16,29 ± 0,95 1,05 ± 0,15 78,64 ± 5,05 38,01 ± 4,63 23,70 ± 4,01 24594 ± 1894 3,99 ± 0,31 91390 ± 8540 0,97

V P4 10,68 ± 0,21 16,11 ± 1,08 0,29 ± 0,04 1706 ± 121 2,54 ± 0,18 14,58 ± 2,54 14816 ± 960 4,41 ± 0,81 49097 ± 7850 1,50

O P5 0,020 ± 0,003 1,82 ± 0,20 0,30 ± 0,04 6,09 ± 0,56 22,51 ± 3,08 11,77 ± 0,94 4905 ± 356 3,03 ± 0,25 14652 ± 2742 0,16

S P6 1,32 ± 0,08 2,94 ± 0,15 0,38 ± 0,02 393,87 ± 56 11,83 ± 0,82 14,27 ± 1,21 4671 ± 248 0,97 ± 0,11 15017 ± 2634 0,24

O P7 0,16 ± 0,01 0,71 ± 0,05 0,29 ± 0,05 36,19 ± 2,58 12,64 ± 0,95 11,88 ± 0,98 5260 ± 785 3,26 ± 0,28 17087 ± 1256 *< 0,01

P1 0,30 ± 0,02 4,43 ± 0,28 0,40 ± 0,03 44,37 ± 3,82 4,42 ± 0,70 7,55 ± 0,82 9805 ± 865 0,40 ± 0,03 37000 ± 5890 0,24

P2 6,91 ± 0,19 34,30 ± 3,65 0,17 ± 0,02 7872 ± 652 221,38 ± 45,24 7,52 ± 0,98 5008 ± 396 1,74 ± 0,12 16151 ± 2580 0,09

S P3 3,94 ± 0,26 8,17 ± 0,45 0,31 ± 0,05 1076 ± 85 21,56 ± 3,01 9,52 ± 0,78 6434 ± 456 2,12 ± 0,18 16019 ± 1574 0,47

E P4 3,60 ± 0,18 12,59 ± 2,01 0,79 ± 0,09 1076 ± 124 24,99 ± 1,96 11,26 ± 2,02 6980 ± 785 2,50 ± 0,36 23257 ± 4692 1,13

C P5 0,31 ± 0,02 1,41 ± 0,08 1,20 ± 0,18 9,94 ± 0,86 17,40 ± 3,12 8,99 ± 0,74 4656 ± 341 2,87 ± 0,31 15081 ± 1187 0,06

O P6 0,52 ± 0,05 1,86 ± 0,12 1,98 ± 0,32 17,74 ± 2,88 24,65 ± 2,01 14,45 ± 0,85 7113 ± 458 6,08 ± 0,81 17622 ± 2025 *< 0,01

P7 0,86 ± 0,05 3,75 ± 0,27 2,76 ± 0,45 88,95 ± 5,92 5,97 ± 0,65 23,10 ± 4,58 9874 ± 726 7,29 ± 0,71 11819 ± 951 0,06

TEL ( µg g-1 ) 0,60 35,70 ** 123,00 ** 37,30 ** 18,00 ** **

PEL ( µg g-1 ) 3,53 197,00 ** 315,00 ** 90,00 ** 35,90 ** **

TEL “Threshold Effect Level” - concentrações abaixo deste valor são raramente associadas a efeitos biológicos adversos; PEL “Probable Effect Level” - concentrações acima deste valor são freqüentemente associadas a efeitos biológicos adversos; * valores que estão abaixo do limite de quantificação do método; ** Não disponível.

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Resultados e Discussões – p. 56 __________________________________________________________

4.2.2. Análise estatística dos dados

A análise estatística dos dados foi realizada utilizando a matriz de

correlação de Pearson e a analise de similaridade entre os sítios de

amostragem.

A análise de correlação foi utilizada para identificar os fatores

potenciais que controlam a distribuição e mobilidade dos metais nos

sedimentos. Como carreadores foram usados o alumínio, ferro, lítio,

carbono orgânico e cálcio. O alumínio, ferro e lítio são os principais

carreadores geoquímicos de metais para os sedimentos, pois suas

concentrações não são significativamente afetadas pelos aportes

antropogênicos (Aloupi; Angelidis, 2001; Shumilin et al., 2001). O carbono

orgânico e o cálcio foram introduzidos pelas suas relações com os aportes

antropogênicos que ocorrem na região – o carbono associado aos despejos

de esgoto e o cálcio aos efluentes industriais. A matriz de correlação de

Pearson é mostrada na Tabela 7.

Alumínio, ferro e carbono orgânico mostraram uma distribuição

semelhante com concentrações maiores nos sítios P3 e P4 (Figuras 26, 27 e

28). Foi observada uma forte correlação entre o alumínio, ferro e carbono

orgânico somente no período chuvoso, evidenciando a contribuição de um

aporte orgânico diferenciado nesse período.

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Resultados e Discussões – p. 57 _______________________________________________________________________________________________

Tabela 7. Matriz de correlação de PEARSON entre os parâmetros analisados para avaliação do comportamento da distribuição dos metais durante os períodos chuvoso e seco. N=7. Período Variáveis Cd Cu Li Zn Ca Cr Fe Ni Al Corg

Cd 1 --- --- --- --- --- --- --- --- ---

C Cu 0,9145 1 --- --- --- --- --- --- --- ---

H Li -0,4025 -0,2569 1 --- --- --- --- --- --- ---

U Zn 0,9341 0,9862 -0,3834 1 --- --- --- --- --- ---

V Ca 0,8525 0,9805 -0,3142 0,9814 1 --- --- --- --- ---

O Cr -0,1739 -0,1394 0,7874 -0,2606 -0,2417 1 --- --- --- ---

S Fe 0,1428 0,1763 0,6673 0,0296 0,0254 0,8380 1 --- --- ---

O Ni 0,0936 -0,0093 0,3189 -0,0943 -0,1326 0,7314 0,7490 1 --- ---

Al 0,0871 0,1374 0,6855 -0,0135 -0,0092 0,8387 0,9971 0,7291 1 ---

Corg 0,2932 0,0860 0,3220 0,0054 -0,1076 0,6138 0,8055 0,7271 0,7803 1

Período Variáveis Cd Cu Li Zn Ca Cr Fe Ni Al Corg Cd 1 --- --- --- --- --- --- --- --- ---

Cu 0,9337 1 --- --- --- --- --- --- --- ---

Li -0,3818 -0,3574 1 --- --- --- --- --- --- ---

S Zn 0,8806 0,9755 -0,3712 1 --- --- --- --- --- ---

E Ca 0,8291 0,9496 -0,3030 0,9896 1 --- --- --- --- ---

C Cr -0,0595 -0,0919 0,9079 -0,1645 -0,1357 1 --- --- --- ---

O Fe -0,0149 -0,0086 0,5445 -0,1358 -0,1322 0,7553 1 --- --- ---

Ni -0,1660 -0,1891 0,9598 -0,2016 -0,1374 0,9229 0,5083 1 --- ---

Al 0,0665 0,1234 -0,0532 -0,0091 -0,0095 0,1410 0,7253 -0,1182 1 ---

Corg 0,3658 0,1800 -0,2135 -0,0223 -0,1067 0,0280 0,2110 -0,1742 0,3782 1 P<0,050, Conteúdos: Correlação= coeficiente de correlação linear (PEARSON) e p-Value= probabilidade de significância.

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Resultados e Discussões – p. 58 __________________________________________________________

O Al (Figura 26) mostrou um perfil de distribuição semelhante ao Fe

(Figura 27), onde as maiores concentrações ocorreram durante o período

chuvoso nos sítios P3 e P4, e as menores em P1. No período seco as

maiores concentrações para o Fe ocorreram em P1, e para o Al, em P1 e

P2.

O COT (Figura 28) apresentou um perfil de distribuição semelhante

tanto no período seco como no chuvoso, onde as maiores concentrações

ocorreram nos sítios P3 e P4.

Variação Sazonal de Alumínio

0.00

15000.00

30000.00

45000.00

60000.00

75000.00

90000.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nc

entr

açã

o e

m µ

g g

-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 26. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Al nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

Variação Sazonal de Ferro

0.00

5000.00

10000.00

15000.00

20000.00

25000.00

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nc

entr

ação

em

µg

g-1

Período Chuvoso Período Seco

Figura 27. Distribuição e variação sazonal das concentrações (µg g-1) de Fe nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

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Resultados e Discussões – p. 59 __________________________________________________________

Variação Sazonal de COT

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

1.00

1.20

1.40

1.60

P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Sítios de coleta

Co

nc

entr

ação

em

%

Período Chuvoso Período Seco

Figura 28. Distribuição e variação sazonal das concentrações (%) de COT nos sedimentos superficiais do Rio São Francisco na região da barragem de Três Marias – MG.

De acordo com a análise estatística dos resultados, o zinco, cádmio,

cobre e cálcio, tiveram entre si, correlações altas e positivas nos dois

períodos de amostragem, e levando-se em conta que tais metais mostraram

as maiores concentrações no sítio P2, pode-se então considerá-lo como

fonte pontual destes metais. Isso evidencia o impacto antropogênico devido

ao aporte da mineradora como a principal fonte desses metais, onde o CaO

utilizado no tratamento dos efluentes, é possivelmente o carreador principal

do zinco, cádmio e cobre para o sedimento do Rio São Francisco à jusante

da Represa de Três Marias.

Os metais traço não apresentaram uma correlação com carbono

orgânico, indicando uma fraca associação ou não associação desses

elementos com a matéria orgânica do sedimento. Isso confirma a

observação de que em sedimentos não marinhos, o carbono orgânico não é

um carreador tão forte como são as argilas e os óxidos metálicos (Liaghati et

al., 2003). Durante o período chuvoso o níquel e cromo apresentaram fortes

correlações positivas com o carbono orgânico, o que não ocorreu durante o

período seco, evidenciando que uma fração significativa desses metais no

sedimento, durante o período chuvoso, deve ser originaria de áreas

adjacentes lixiviadas pelas chuvas, sendo a matéria orgânica o seu principal

carreador.

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Resultados e Discussões – p. 60 __________________________________________________________

Observou-se uma forte correlação do níquel e cromo com o alumínio,

ferro e lítio, indicando que os carreadores inorgânicos foram os fatores

predominantes no controle da distribuição desses metais nos sedimentos. A

forte correlação entre o ferro e o alumínio e entre o ferro e os dois metais

demonstram ser os óxidos hidratados de ferro, os principais carreadores de

níquel e cromo para os sedimentos.

Com o objetivo de classificar as amostras dos sedimentos de acordo

com a similaridade da composição química, foi aplicada a analise de

agrupamento hierárquico utilizando como variáveis as concentrações dos

metais, carbono orgânico e os sítios de amostragem. Para sua construção

não houve necessidade de pré-tratamento dos dados. Utilizou-se como

medida de similaridade o quadrado da distância euclidiana e, para

delimitação dos grupos foi utilizado o método da distância média entre

grupos após transformação em um padrão de similaridade que varia de zero

a um.

Os resultados da análise para o período chuvoso e seco estão

expressos na forma de dendograma nas Figuras 29 e 30. Observa-se que no

período chuvoso as amostras foram separadas em dois grupos: grupo 1

formado pelo sedimento do sítio P2 e o grupo 2 composto pelos sedimentos

dos sítios P1, P3, P4, P5, P6 e P7. Já no período seco observa-se a

classificação das amostras em três grupos principais: grupo 1 formado pelo

sedimento do sítio P2; grupo 2 formado pelo sedimento do sitio P7 e o grupo

3 composto pelos sedimentos dos sítios P1, P3, P4, P5 e P6. Em todos os

dois casos, os sedimentos do sitio P2 são separados dos demais pela

elevada concentração de metais (maior distancia de ligação), confirmando a

região de P2 como a mais impactada. No período seco, diferentemente do

que ocorreu no período chuvoso, o sitio P7 foi separado do grupo formado

pelos sítios P1, P3, P4, P5 e P6, por apresentar sedimentos com

concentrações mais elevadas de lítio, cromo e níquel. A matriz de Pearson

(Tabela 7) mostra no período seco, uma correlação muito forte do níquel e

cromo com o lítio, sugerindo que esses metais estão associados aos

mesmos componentes mineralógicos que o lítio, tais como as micas

primárias e os minerais de argilas secundárias, desse modo é provável que

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Resultados e Discussões – p. 61 __________________________________________________________

o sedimento do sitio P7 seja diferenciado dos demais pela sua própria

mineralogia natural, que no período chuvoso é mascarada pelo material

lixiviado pela chuva.

Figura 29. Dendrograma de similaridade quantitativa entre os locais à

montante e à jusante da Represa de Três Marias - MG, em relação às

concentrações dos metais e carbono orgânico nos sedimentos superficiais,

durante o período chuvoso (dezembro de 2006).

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Resultados e Discussões – p. 62 __________________________________________________________

Figura 30. Dendrograma de similaridade quantitativa entre os locais à

montante e à jusante da Represa de Três Marias - MG, em relação às

concentrações dos metais e carbono orgânico nos sedimentos superficiais,

durante o período seco (junho de 2007).

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Conclusões – p. 63 __________________________________________________________

5. CONCLUSÕES

A análise dos perfis verticais de temperatura e oxigênio dissolvido na

água, durante os períodos chuvoso (verão) e seco (inverno) para o sítio P1

(montante do reservatório) mostraram uma estratificação térmica bem definida

ao longo da coluna de água, com baixas temperaturas e reduzidas

concentrações de oxigênio dissolvido, no hipolímnio durante o verão.

Os resultados dos parâmetros físicos e químicos da água do Rio São

Francisco mostraram que próximo à descarga do efluente da mineradora a

condutividade elétrica aumentou sensivelmente, sugerindo uma alta

concentração de íons, evidenciando o impacto antropogênico da região.

Nos sedimentos da área de estudo, zinco e cádmio foram os metais que

mais violaram os valores do PEL em pontos localizados no Rio São Francisco,

próximo ao Córrego Consciência. As maiores concentrações foram

encontradas no período chuvoso, onde os valores superiores ao PEL podem

frequentemente estar associados a efeitos adversos à biota aquática.

A análise de correlação mostrou que a distribuição do zinco, cádmio e

cobre nos sedimentos foram controladas principalmente pelos aportes

antropogênicos, enquanto os carreadores inorgânicos, principalmente os

óxidos hidratados de ferro, devem controlar a distribuição do níquel e cromo.

Os dendogramas dos períodos chuvoso e seco mostraram que o sítio

P2 se distanciou dos demais e não se agrupou com nenhum outro,

confirmando os sedimentos da região P2 com os mais impactados pelas

elevadas concentrações de cádmio, zinco e cobre.

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Propostas futuras – p. 64 __________________________________________________________

6. PROPOSTAS FUTURAS

Realizar a caracterização ecotoxicológica, em complementação à

caracterização química e física, com a finalidade de avaliar os impactos

potenciais à vida aquática no local. Testes de ecotoxicidade são ensaios

laboratoriais, realizados sob condições experimentais específicas e

controlados, utilizados para estimar a toxicidade de substâncias, efluentes

industriais e amostras ambientais tais como sedimentos ou águas. Nesses

ensaios, organismos-testes são expostos a diferentes concentrações de

amostra e os efeitos tóxicos produzidos sobre eles são observados e

quantificados. Os testes de toxicidade não permitem obter uma resposta

absoluta sobre o risco que uma determinada amostra apresenta para a

população humana, uma vez que é muito difícil extrapolar para os seres

humanos os resultados de toxicidade obtidos para os organismos em

laboratório e até mesmo correlacionar os resultados de toxicidade entre

organismos de diferentes espécies e ecossistemas. Os testes de

ecotoxicidade aplicam-se, principalmente, na avaliação do grau de

contaminação crônica e sistemática de cursos d'água por substâncias

tóxicas de alto grau de impacto ambiental. No ensaio de toxicidade crônica o

organismo aquático normalmente utilizado é o microcrustáceo Ceriodaphnia

dubia (NBR13373). No teste de toxicidade aguda o organismo teste poderá

ser o microcrustáceo Daphnia similis (NBR12713).

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Referências Bibliográficas – p. 65 __________________________________________________________

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ANEXO A – p. 82 __________________________________________________________

Ficha do material de referência certificado para sedimento de lago, LKSD-1 (CCNRP/Canadá).

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ANEXO B – p. 83 __________________________________________________________

Foto de peixe (Surubim) encontrado morto no Rio São Francisco, durante a coleta de junho de 2007.