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ESTUDO DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA REPRESA DE CHAPÉU D’ÚVAS E ANÁLISE DE SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA. 1) Luiz Carlos de Alcântara Júnior 2) Gerson Romero de Oliveira Filho *3) Luciana Felício Pereira Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CESJF *Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMG 1) ([email protected]) 2) ([email protected]) *3) ([email protected]) INTRODUÇÃO A questão ambiental representa uma importante temática que coloca em pauta a reflexão sobre como a sociedade se desenvolve economicamente em um mundo de recursos finitos e cada vez mais consumista. É evidente que a sociedade necessita se desenvolver, porém este desenvolvimento deve ser gerenciado para que os recursos naturais necessários a nossa sobrevivência não entrem num processo de escassez comprometendo assim, a existência humana no planeta. A bacia hidrográfica com sua estrutura física e biótica tem um papel muito importante na dinâmica ambiental de uma determinada região. Ao abordar a bacia como unidade espacial de análise verifica-se que os impactos nela gerados acaba determinando uma seqüência de outros que se interligam. Tais impactos são de inteira responsabilidade da sociedade que vêm transformando as paisagens e apropriando-se dos recursos naturais para atender suas necessidades. A Represa de Chapéu D’úvas (Ilustração 1) foi construída no município de Ewbank da Câmara, onde se encontra a barragem e o distrito Colônia de São Firmino. O espelho d’água da represa ultrapassa seus limites municipais abrangendo também Santos Dumont, local que se localiza o outro distrito remanejado Dores do Paraibuna (Ilustração 2). A represa pertence à sub-bacia do Rio Paraibuna, tributário da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul.

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ESTUDO DOS IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA REPRESA DE CHAPÉU D’ÚVAS E ANÁLISE DE SUA IMPORTÂNCIA PARA O

MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA.

1) Luiz Carlos de Alcântara Júnior 2) Gerson Romero de Oliveira Filho

*3) Luciana Felício Pereira Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – CESJF

*Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMG 1) ([email protected]) 2) ([email protected])

*3) ([email protected])

INTRODUÇÃO

A questão ambiental representa uma importante temática que coloca em pauta a reflexão

sobre como a sociedade se desenvolve economicamente em um mundo de recursos finitos e

cada vez mais consumista. É evidente que a sociedade necessita se desenvolver, porém este

desenvolvimento deve ser gerenciado para que os recursos naturais necessários a nossa

sobrevivência não entrem num processo de escassez comprometendo assim, a existência

humana no planeta.

A bacia hidrográfica com sua estrutura física e biótica tem um papel muito importante na

dinâmica ambiental de uma determinada região. Ao abordar a bacia como unidade espacial de

análise verifica-se que os impactos nela gerados acaba determinando uma seqüência de outros

que se interligam. Tais impactos são de inteira responsabilidade da sociedade que vêm

transformando as paisagens e apropriando-se dos recursos naturais para atender suas

necessidades.

A Represa de Chapéu D’úvas (Ilustração 1) foi construída no município de Ewbank da

Câmara, onde se encontra a barragem e o distrito Colônia de São Firmino. O espelho d’água

da represa ultrapassa seus limites municipais abrangendo também Santos Dumont, local que

se localiza o outro distrito remanejado Dores do Paraibuna (Ilustração 2). A represa pertence à

sub-bacia do Rio Paraibuna, tributário da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul.

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ILUSTRAÇÃO 1 – Barragem da Represa Chapéu D’Úvas. Fonte: CESAMA, 2007.

O lago da represa formou-se sobre os meandros do Rio Paraibuna. Esta formação é

considerada um pouco atípica porque não há a formação de lago com grande extensão lateral,

pois não passa de 700 metros num dos seus pontos mais largos. A característica se deve ao

fato da Represa de Chapéu D’Úvas, como toda sua região, estar inserida numa área com

relevo bastante acidentado. Segundo Ab’Saber (2003), este tipo de relevo é conhecido como

complexo da Serra da Mantiqueira que tem como característica geomorfológica os “Mares de

Morros”, aquela é formada por vertentes côncavas e convexas com presença de angulações

fortes. Nas tabelas 1 e 2 pode-se observar mais características da represa.

TABELA 1 - Características hidráulicas da construção: Volume máximo acumulado 126 milhões de metros cúbicos. Volume para amortecimento de cheias 11 milhões de metros cúbicos. Superfície do reservatório 11,5 Km² Descarga regularizada 5,5 m³/s Descarga vertedor de serviço 350 m³/s Descarga vertedor de emergência 2000 m³/s Fonte: BRASIL, 1974.

TABELA 2 - Dados atuais da barragem: Espelho d'água: 12 Km² Volume máximo: 146 milhões de metros cúbicos. Profundidade máxima: 41 metros Área de contribuição pluviométrica 309 Km²

Fonte: CESAMA, 2007.

ILUSTRAÇÃO 2 – Localização Fonte: AGUIAR, 2000. Adaptado por Luiz Carlos de A. Jr.

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O processo de construção da represa durou vários anos e junto com este desenvolvimento

provocou uma série de impactos sócio-ambientais que foi analisado neste trabalho. Estima-se

que desde os estudos iniciais até o fechamento das comportas da barragem passaram-se

aproximadamente 60 anos. O resultado foi à inundação de várias propriedades rurais e de duas

localidades (contabilizando aproximadamente 1.000 indivíduos remanejados), como também

a perda de milhares de hectares de biodiversidades. (COMPANHIA PASTORAL DA

TERRA, 1979).

A ilustração 3 demonstra a represa e seu entorno. Nesta ortofotocarta de 1986 a barragem não

estava totalmente construída, o lago foi inserido através de um programa de computador para

ilustrar como aquele se apresenta hoje. A leste da ilustração situa-se a cidade de Ewbank da

Câmara, os pontos beges ao sul e a noroeste da ilustração se trata dos antigos povoados que

foram inundados. A sudeste e a noroeste se encontram respectivamente os povoados

remanejados da Colônia de São Firmino e Dores do Paraibuna.

ILUSTRAÇÃO 3 – Ortofoto caracterizando o lago e as vertentes da represa. Fonte: COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 1986. Adaptado por Luiz Carlos de A. Júnior.

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Este trabalho tem o objetivo de resgatar a história da Represa de Chapéu D’úvas buscando

informações sobre o projeto, a sua construção e as modificações ocorridas na comunidade

local, especialmente na Colônia de São Firmino e Dores do Paraibuna. Além disso, o estudo

busca identificar os problemas atuais na área da represa como os focos de poluição, as

construções irregulares e desmatamentos nas Áreas de Preservação Permanente (matas de

topo, riparias e galerias). Com base nos dados coletados foi possível diagnosticar o nível de

preservação da represa e o grau de sustentabilidade do uso e ocupação de suas margens.

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MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho iniciou-se com pesquisa bibliográfica sobre o assunto nos relatórios técnicos,

jornais atuais e da época de construção da represa, no estudo de ortofotocartas

georreferenciadas, imagens de satélites e fotografias aéreas. Posteriormente foram realizadas

entrevistas semi-estruturadas por meio de um questionário e gravações em áudio.

A dificuldade desde a elaboração do projeto de pesquisa foi acesso aos registros históricos da

construção da Represa de Chapéu D’úvas. O resgate dessa história foi possível pela

perseverança de Frei Justino Burgers Nascimento, pároco por 12 anos de Dores do Paraibuna,

que acompanhou a construção e montou um acervo de recortes de jornais, com cerca de 100

matérias. A junção das matérias coletadas e as entrevistas possibilitaram a reconstrução dos

fatos.

As entrevistas semi-estruturadas foram feitas com dez famílias de cada uma das duas

comunidades remanejadas. O intuito dessas entrevistas foi relacionar situação atual e a

anterior ao enchimento do reservatório, para então dimensionar o impacto sócio-econômico

que a região da represa e seu entorno sofreram com a sua construção.

As imagens de ortofotocarta utilizadas do ano de 1986 tiveram grande importância para as

análises e serviram de base para confecção de mapas. As fotografias aéreas e fotografias

tiradas por ocasião da visita técnica auxiliaram no diagnóstico da situação atual da represa e

seu entorno.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES Desde 1946, segundo relatos da população, já se comentavam a construção de uma represa

nos arredores da Colônia de São Firmino, porém somente no final da década de 70 iniciou-se

a construção. Desde o início houve conflitos referentes ao uso e ocupação do solo originados

pela construção e enchimento da barragem. (BRASIL, 1974).

De acordo com a Companhia Pastoral da Terra – CPT (1979) foram prejudicadas com o

enchimento da barragem 12 propriedades rurais, os distritos de Colônia de São Firmino com

257 habitantes e 47 casas e de Dores do Paraibuna com 700 moradores. Constatou-se também

que foram atingidas aproximadamente 1500 pessoas diretamente e cerca de 3000 pessoas

indiretamente. Este fato foi devido à inundação de estradas, escolas, igrejas, postos de saúde,

cartórios, postos de resfriamento de leite, rede elétrica e telefônica e perda das melhores terras

da região.

A represa de Chapéu D’úvas é gerida desde a sua finalização pela Companhia de Saneamento

Municipal (CESAMA), órgão ligado à Prefeitura Municipal de Juiz de Fora por meio de um

convênio com o Ministério do Interior. Mas de acordo com fragmentos do Jornal Tribuna de

Minas, 6 de outubro de 1981, Oswaldo Bueno Amorim Filho (diretor de Geografia do

Instituto de Ciências Aplicadas da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia de Minas

Gerais) através de um trabalho de mapeamento provou que a barragem se encontrava dentro

dos limites municipais de Ewbank da Câmara sob a administração de Pedro da Silva Cunha.

(PREFEITO..., 1981).

A partir disso, a prefeitura de Ewbank da Câmara tentou por intermédio do governador de

Minas Gerais na época, Francelino Pereira, que o governo federal interviesse no

direcionamento da parte tributária pela utilização da represa, que seria direcionada a Juiz de

Fora fosse repassada ao município de Ewbank da Câmara. A justificativa seria que a

inundação acarretaria vários impactos ao município. Os primeiros conflitos referentes à

construção da represa foram em razão dos impostos continuarem ser destinados a Juiz de

Fora. (PREFEITO..., 1981).

No ano de 1994, após o término da construção da barragem, iniciou o processo de

remanejamento da população. As negociações quase todas funcionaram por intermédio de

Frei Justino, segundo relatos foi ele quem se propôs a buscar todos os direitos das populações

que iriam ser atingidas pela barragem.

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Os primeiros conflitos do processo de remanejamento foram entre Frei Justino (que

representava a população) com os fazendeiros locais, em razão do pároco não aceitar a

mudança de Dores do Paraibuna para um local chamado Boa Vista, mais conhecido como

Coruja. Este local segundo Frei Justino era muito pobre de recursos naturais e os fazendeiros

queriam este remanejamento com o objetivo de ter mão-de-obra abundante e barata. Contudo,

a localidade foi construída no local desejado pela população, ficando a 2 km de distância de

Dores do Paraibuna inundada, na direção de Santos Dumont.

Com os responsáveis das obras Frei Justino teve problema primeiramente porque não havia na

época nenhum projeto de construção da nova Dores do Paraibuna, apenas seriam pago

indenizações à população prejudicada. Com isso, montou-se um movimento no intuito de

forçar esta construção, pois problemas sociais poderiam acontecer com a ida desta população

para cidade. Também houve várias reclamações da população a respeito dos materiais de má

qualidade utilizados na construção dos imóveis e ruas de Dores de Paraibuna e Colônia de São

Firmino.

As entrevistas semi-estruturadas realizadas trouxeram resultados atípicos quando se referem a

questões relacionadas à população de atingidos por barragens. De acordo com relatos, o

DNOS indenizou toda população cuja propriedade foi invadia pelas águas da Represa de

Chapéu D’úvas. Os moradores das localidades Colônia de São Firmino e Dores do Paraibuna

foram remanejados de local, porém todos receberam casas com padrões parecidos com as que

tinham no local inundado.

A infra-estrutura da Colônia de São Firmino era muito pobre (Ilustração 4), quase não tinha

água encanada, telefone, luz, rede de esgoto e a maioria das casas eram feitas de sapê e pau-a-

pic. Já o novo local recebeu toda infra-estrutura necessária para se ter o mínimo de qualidade

de vida.

ILUSTRAÇÃO 4 – Comparação da infra-estrutura da antiga e da nova Colônia de São Firmino. Fonte: Recorte: SÃO FIRMINO..., 1980. Fotografia: Arquivo pessoal – 28/10/2007.

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Em Dores do Paraibuna algumas pessoas não ficaram completamente satisfeitas com o novo

imóvel. Estas relataram que na antiga localidade moravam em casas mais velhas, porém casas

de boa qualidade diferente das encontradas no novo local. Na ilustração 5 pode-se comparar a

infra-estrutura de Dores do Paraibuna.

ILUSTRAÇÃO 5 – Comparação da infra-estrutura da antiga e da nova Dores do Paraibuna. Fonte: Recorte: ESTE POVOADO..., 1979. Fotografia: Arquivo pessoal – 28/10/2007.

O cotidiano dos moradores de acordo com relatos mudou apenas na questão de trabalho,

principalmente na Colônia de São Firmino. Na época a maioria das pessoas trabalhava na

zona rural, com a mudança praticamente todos trabalham no município de Juiz de Fora. Em

Dores do Paraibuna, a maioria trabalha na zona rural da região.

Ao analisar a situação ambiental da Represa de Chapéu D’úvas verificou-se que praticamente

todas as encostas são cobertas por vegetações com estrato do tipo herbáceas, ou seja, o

domínio fitoecológico predominante na região que é Floresta Estacional foi substituído pelas

pastagens. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002). Apenas

alguns morros, como na ilustração 6, apresentam uma cobertura vegetal mais densa, com

matas de topos de morros servindo de proteção à encosta. Em relação aos córregos que

deságuam nas margens do lago, a maioria possui cobertura vegetal (matas ripárias)

importantes para a manutenção e proteção destes córregos e nascentes.

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ILUSTRAÇÃO 6 – Nível baixo da Represa de Chapéu D’úvas e cobertura vegetal. Fonte: Arquivo pessoal – 28/10/2007. Em relação ao potencial hídrico do lago, a Represa de Chapéu D’úvas apresentava seu nível

aproximadamente 4 metros abaixo da capacidade normal na época deste trabalho. Como as

encostas da represa não apresentam grandes áreas com cobertura vegetal densa, ocorre assim

maior dificuldade de recarga de água pelo solo. Conseqüentemente impossibilita a reposição

de água pelo lençol freático em quantidades satisfatórias nas épocas de estiagem. (CUNHA,

2007, p. 228 apud LIMA E ZAKIA, 2000)

Além do problema acima citado, a falta da cobertura vegetal aumenta o escoamento

superficial, o risco de formação de ravinas e voçorocas. A ilustração 7 mostra os processos

erosivos na represa como os Pipes Flows ou erosão em túneis. Estes são caminhos

subsuperficiais a serem percorridos pela água que interferem e contribuem para desencadear

ou acelerar os processos erosivos. (BACCARO, 1999, p. 216).

ILUSTRAÇÃO 7 – Pipes Flows encontrados na represa. Fonte: Arquivo pessoal – 28/10/2007.

Na ilustração 8 ocorre também erosão em Ravinas, que são sulcos produzidos nos solos

devido ao trabalho erosivo das águas no escoamento superficial. De acordo com Oliveira

(2004, p. 59), Ravina é um tipo de erosão definido como “incisões com menos de 50

centímetros de profundidade”.

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ILUSTRAÇÃO 8 – Erosão por Ravinamento na represa. Fonte: Arquivo pessoal – 15/11/2007. Voçorocas também são encontradas no entorno da represa, este processo erosivo é uma

continuidade da ravina (ilustração 9). Oliveira (2004, p. 59) define Voçoroca como um

processo erosivo de superfície que ultrapassa “largura e profundidade superiores a 50

centímetros”.

ILUSTRAÇÃO 9 – Erosão por Voçorocas na represa. Fonte: Arquivo pessoal – 15/11/2007.

Um dos processos erosivos mais ocorridos na Represa de Chapéu D’úvas são as Alcovas de

Regressão em Voçorocas definidas por Oliveira (2004) como:

Feições erosivas que podem ser observadas sob diferentes condições litológicas e climáticas, podendo ser esculpidas tanto pelo escoamento superficial na forma de filetes subverticais, quanto pela exfiltração do lençol freático, ou ainda pela combinação desses dois mecanismos. (OLIVEIRA, 2004, p. 70).

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Na ilustração 10, pela falta da cobertura do talude a área fica mais propícia a processos

erosivos de regressão.

ILUSTRAÇÃO 10 – Erosão por Alcovas de Regressão em voçorocas na represa. Fonte: Arquivo pessoal – 15/11/2007.

Outro processo erosivo preocupante na represa é o Caminho de Pisoteio encontrado em áreas

de pastagens (o que é característico da região). Os Caminhos de Pisoteio na verdade acabam

na maioria das vezes ocasionando outros tipos de erosão, principalmente as Ravinas e

Voçorocas. A locomoção do gado na mesma área forma trilhos (ilustração 11), composta por

solo compactado, o que impossibilita o crescimento de vegetação. O solo exposto ocasiona o

processo de erosão.

ILUSTRAÇÃO 11 – Caminho de Pisoteio na represa. Fonte: Arquivo pessoal – 15/11/2007.

Observa-se em relação à cobertura vegetal da Represa de Chapéu D’úvas a ocorrência de

vários pontos com desabamento de regolitos. Os locais de Desmoronamentos (ilustração 12),

geralmente são áreas mais íngremes, próximo aos taludes da represa e somada a áreas onde o

solo é arenoso. Geralmente este processo erosivo desencadeia o Assoreamento.

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ILUSTRAÇÃO 12 – Desmoronamento do regolito na encosta. Fonte: Arquivo pessoal – 28/10/2007.

As conseqüências de praticamente todos os processos erosivos ocorridos na proximidade da

represa acabam se afunilando em um impacto de maior proporção. Trata-se do Assoreamento

(ilustração 13), que é uma conseqüência dos processos erosivos mais preocupantes para o

mecanismo de funcionamento de uma represa, pois é ele quem determina a “vida” de uma

represa e pode também afetar a qualidade da água. (ARAÚJO, 2007, p.110)

ILUSTRAÇÃO 13 – Assoreamento da represa. Fonte: Arquivo pessoal – 28/10/2007. Os resultados deste trabalho serviram para discutir sobre a questão sócio-ambiental originada

em razão da construção da represa. Isto é, analisar a maneira como ela é utilizada

economicamente, o gerenciamento, se a mesma está sendo voltada para utilização dos

recursos de forma sustentável.

A avaliação da mudança de localidade por parte da população foi avaliada pela maioria como

boa, salvo alguns moradores que ainda preferiam estar no antigo local. Isto porque há uma

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ligação com a comunidade de origem, pois há estreita relação entre as histórias de vida e a

identidade do local.

A aceitação por grande parte da população de Dores do Paraibuna e principalmente da

Colônia de São Firmino seria pelo motivo do remanejamento ter oferecido condições infra-

estruturais melhores que a do antigo local. As novas localidades possuem água encanada

distribuída por gravidade, coletas de esgotos, calçamento, energia elétrica, sistema de

transporte, acesso a saúde, escolas com ensino fundamental e comércio. Na época esta

melhoria foi demasiadamente grande, pois atingir a este padrão de infra-estrutura poderia

levar vários anos.

A situação ambiental da Represa de Chapéu D’úvas encontra-se preocupante, pois há uma

série de processos erosivos evoluídos e que necessitam de um Plano de Controle Ambiental

com urgência. Praticamente todos os problemas ambientais são desencadeados pela falta de

cobertura vegetal de alguns pontos das encostas, principalmente os topos de morro.

Segundo análise de ortofotocarta do ano de 1986, as encostas próximas ao vertedouro da

represa não foram revegetados na época da construção e a própria vegetação não conseguiu se

desenvolver sozinha. Com isto, mesmo depois de mais de 20 anos a encosta se encontra com

seus topos sem cobertura vegetal, propiciando assim os impactos encontrados. Verificou-se

também, outros problemas ambientais articulados em uma cadeia de impactos que resultam o

assoreamento.

Há necessidade da gestão atual incentivar estudos acadêmicos no intuito de melhorar a

condição ambiental da represa, pois os impactos encontrados nela poderão em médio ou longo

prazo influenciar na economia da represa. O assoreamento em barragens é trabalhado como o

impacto susceptível mais preocupante.

A Represa de Chapéu D’úvas não vem sendo utilizada com finalidade econômica, a mesma

funciona apenas como reguladora da vazão do Rio Paraibuna e como fonte de evaporação

para contribuição pluviométrica da região. Com isto, desperdiça-se todo seu potencial hídrico

que poderia ser melhor aproveitado em outras atividades.

Com o crescimento e desenvolvimento do município de Juiz de Fora, os mananciais mais

próximos da malha urbana não estão suprindo a demanda de água das ETAs (Estação de

Tratamento de Água) que hoje abastecem Juiz de Fora, principalmente na estação seca do

ano. (PREZERES, 2007).

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A Represa de Chapéu D'Uvas possibilita a regularização de uma vazão de efluente de 6.000

litros por segundo. Para o abastecimento urbano de Juiz de Fora são necessários 2.000 litros

de água por segundo para serem tratados e distribuídos, e esta quantidade é superior ao que é

fornecido atualmente pelos quatro mananciais responsáveis pelo abastecimento da cidade. Um

dos maiores potenciais da represa, o hídrico, deverá ser melhor aproveitado num projeto em

andamento que tem o intuito de fornecer água para o município de Juiz de Fora, porém não

tem uma data certa para o início das obras. (JUIZ DE FORA, 2007).

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CONCLUSÃO

Um dos desafios deste trabalho foi encontrar informações da história da Represa de Chapéu

D’úvas. O processo histórico para trabalho foi de suma importância para entender a relação

dos impactos que a construção da represa causou na população remanejada, como também

fazer um estudo comparativo destas relações com a atualidade.

Até o término deste trabalho não havia estudos referentes à questão sócio-ambiental na

Represa de Chapéu D’úvas, esta esteve esquecida durante os 30 anos do início da sua

construção e quase 20 anos após o enchimento do reservatório. Sem o incentivo a

pesquisadores para estudarem a fauna, a flora, mecanismo hidráulico da represa, a

geomorfologia local, a hidrografia e outros temas, dificilmente a represa manterá a

preservação dos seus recursos hídricos e a biodiversidade.

É necessário enfatizar que a Represa de Chapéu D’Úvas tem capacidade de receber alterações

em seu conjunto arquitetônico possibilitando num futuro próximo ser aproveitada geração de

energia elétrica para a região.

O presente trabalho não tem a pretensão de esgotar o tema, pois é de grande complexidade e

extremamente importante para o município de Juiz de Fora. Desde modo, espera-se contribuir

para futuros trabalhos em relação a dinâmica ambiental da bacia do Rio Paraibuna, bem como

a de seus mananciais, em especial a Represa de Chapéu D’úvas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Ortofotocarta. Belo Horizonte: CEMIG, 1986. COMPANHIA PASTORAL DA TERRA. Barragem Chapéu D’úvas. Santos Dumont: CPT, 1979. CUNHA, Sandra Batista; GUERRA, José Antônio Teixeira. A questão Ambiental: diferentes abordagens. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 219-238. ESTE POVOADO vai sair do mapa mineiro. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 11 de nov. 1979. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. 200p. JUIZ DE FORA. Companhia de Saneamento Municipal - CESAMA. Rio Paraibuna. Juiz de Fora. Disponível em: < http://www.cesama.pjf.mg.gov.br/meio%20ambiente/paraibuna/ barragem.php >. Acesso em: 6 out. 2007. LIMA, W. P. & ZAKIA, M. J. B. (2000). Hidrologia de Matas Ciliares. In: RODRIGUES, R. R. R. & LEITÃO FILHO, H. F (Orgs.): Matas Ciliares: Conservação e Recuperação. p. 33-44. OLIVEIRA, Marcelo Accioly Teixeira de. Processos erosivos e preservação de áreas de risco de erosão por voçorocas. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; SILVA, Antônio Soares da; BOTELHO, Rosângela Garrido Machado (Orgs). Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 57-99. PREFEITO mostra que barragem não é de Juiz de Fora. Jornal Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 6 de out. 1981.

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PREZERES, Oscar. Com mananciais no limite, Cesama admite racionamento. Jornal Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 17 de out. 2007. Folha Geral, Caderno 1, p. 4. SÃO FIRMINO pede socorro enquanto as águas não vêm. Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 4 de abr. 1980. Caderno 11.