avaliaÇÃo de impactos sÓcio-ambientais da indÚstria petroquÍmica o caso do comperj e a...

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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS SÓCIO- AMBIENTAIS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA: O CASO DO COMPERJ E A APA-GUAPIMIRIM/RJ Pando Angeloff Pandeff (UFF) [email protected] Mauricio Ferreira Guimaraes (UFF) [email protected] Andre Donha (UFF) [email protected] Janie Garcia da Silva (UFF) [email protected] Resumo O presente trabalho se propõe a analisar os potenciais impactos ambientais, econômicos e sociais, negativos ou positivos, da implantação do COMPERJ - Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro no município de Itaboraí, dando ênfase ao processoo produtivo. Discute o potencial impactante da atividade para as populações e ecossistemas sensíveis na área de influência direta, como a APA-Guapimirim/RJ, suas comunidades tradicionais e onde se desenvolve o Projeto Defeso. Partindo do entendimento das atividades da indústria do petróleo e dos processos de refino, analisa impactos e medidas previstas no EIA/RIMA. Este artigo, fruto da monografia de conclusão do curso de MBA-DAE em Gestão de Petróleo e Gás da UFF (Pandeff, Guimarães e Donha, 2008) em colaboração com a Dra. Janie Garcia da Silva (PGCA-UFF), foi desenvolvido com base em pesquisa descritiva e qualitativa, aliada a um estudo de caso. É fundamentado em ampla revisão da literatura, informações coletadas junto às partes envolvidas com o empreendimento e levantamentos de campo. Como resultado da investigação, considera a implementação do COMPERJ como estratégico o País e para o desenvolvimento regional. Sugere a atuação pró-ativa e integrada dos atores envolvidos para enfrentar às transformações inevitáveis no plano local e faz sugestões para formulação de políticas públicas e ações ao Executivo e Legislativo local. Abstract The current work proposes to analyze the potential environmental, economical and social impacts, negative or positive of the COMPERJ 31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS SÓCIO-

AMBIENTAIS DA INDÚSTRIA

PETROQUÍMICA: O CASO DO

COMPERJ E A APA-GUAPIMIRIM/RJ

Pando Angeloff Pandeff (UFF)

[email protected]

Mauricio Ferreira Guimaraes (UFF)

[email protected]

Andre Donha (UFF)

[email protected]

Janie Garcia da Silva (UFF)

[email protected]

Resumo

O presente trabalho se propõe a analisar os potenciais impactos

ambientais, econômicos e sociais, negativos ou positivos, da

implantação do COMPERJ - Complexo Petroquímico do Rio de

Janeiro no município de Itaboraí, dando ênfase ao processoo

produtivo. Discute o potencial impactante da atividade para as

populações e ecossistemas sensíveis na área de influência direta, como

a APA-Guapimirim/RJ, suas comunidades tradicionais e onde se

desenvolve o Projeto Defeso. Partindo do entendimento das atividades

da indústria do petróleo e dos processos de refino, analisa impactos e

medidas previstas no EIA/RIMA. Este artigo, fruto da monografia de

conclusão do curso de MBA-DAE em Gestão de Petróleo e Gás da

UFF (Pandeff, Guimarães e Donha, 2008) em colaboração com a Dra.

Janie Garcia da Silva (PGCA-UFF), foi desenvolvido com base em

pesquisa descritiva e qualitativa, aliada a um estudo de caso. É

fundamentado em ampla revisão da literatura, informações coletadas

junto às partes envolvidas com o empreendimento e levantamentos de

campo. Como resultado da investigação, considera a implementação

do COMPERJ como estratégico o País e para o desenvolvimento

regional. Sugere a atuação pró-ativa e integrada dos atores envolvidos

para enfrentar às transformações inevitáveis no plano local e faz

sugestões para formulação de políticas públicas e ações ao Executivo e

Legislativo local.

Abstract

The current work proposes to analyze the potential environmental,

economical and social impacts, negative or positive of the COMPERJ

31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

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implementation - Petrochemical Complex of Rio de Janeiro district of

Itaboraí, emphasizing the productive pprocess. It explains the

impacting potential of the activity for population and ecosystems

sensible in the direct influence area as the APA-Guapimirim/RJ, its

traditional communities in the Oil and Gas Industry and refining

products, analyses impacts and measures foreseen in EIA/RIMA. This

article, result of the conclusion monograph of the MBA-DAE course in

Oil and Gas Management form UFF (Pandeff, Guimarães and Donha,

2008) in collaboration with Dr. Janie Garcia da Silva (PGCA-UFF)

was developed based on descriptive and qualitative research allied to a

Case Report. It is based in broad revision of literature, information

collected with the parties involved with entrepreneur and field surveys.

As result of investigation, it considers COMPERJ implementation as

strategic for the country and for the regional development. It suggests

the pro-active and integrated performance of the people involved to

face the unavoidable transformations in the local plan and makes

suggestions to formulate public policy and actions to be taken by local

Executive and Legislative Power.

Palavras-chaves: COMPERJ; EIA/RIMA; Impactos ambientais;

Unidades de Conservação

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1. INTRODUÇÃO

Quando se analisa o processo histórico de evolução da humanidade constata-se que o

Ser humano foi, e é até hoje, um dos principais agentes de alteração dos ciclos naturais. As

conquistas da humanidade ao longo dos séculos com a agricultura, domesticação de animais e

sua utilização nos processos produtivos e mais recentemente com a evolução científica e

tecnológica a partir do século XIX, principalmente a partir da revolução industrial,

introduziram perturbações significativas no equilíbrio natural do planeta, alterando

ecossistemas vitais à própria existência humana (DIAMOND, 2006).

Como resultados percebidos desta evolução, as mudanças ambientais observadas, em

geral, estavam relacionadas às atividades industriais, acentuadas nas últimas décadas,

possuindo ainda escopo global e estando profundamente ligadas ao comportamento humano e

sua relação com o meio ambiente, na utilização e exploração dos recursos naturais.

Sendo assim, os fatores humanos são forças propulsoras essenciais e exercem

influência direta nas mudanças mundiais (Agenda 21, 1995). Compreender melhor os

problemas relacionados aos processos de mudanças no âmbito global em curso1 requer

abordagens que considerem o planeta como um sistema interativo e destaquem as

interdependências fundamentais existentes entre os sistemas ambientais e os sistemas

humanos.

Hoje a civilização tal qual como conhecemos, vive em um contexto de expansão

demográfica, econômica e social e em constante crescimento, no qual o petróleo é uma das

principais fontes de energia utilizadas no mundo devido à sua adaptabilidade a diversos usos:

aquecimento, transporte, energia elétrica, insumos para indústria petroquímica, entre outros.

Observa-se então que o crescimento da população humana, principalmente em grandes

regiões metropolitanas e nos países menos desenvolvidos, é apontado como um dos fatores

que vem exercendo forte pressão sobre o meio ambiente e ameaçando os recursos naturais

disponíveis (Agenda 21, 1995, cap.5).

Com base nos dados do IEA de 2005, cerca de 81% das fontes de energia utilizadas

comercialmente são derivadas de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás natural.

Todavia, sabe-se que a população global tem crescido a taxas surpreendentes e, por

conseqüência, a demanda por energia também.

1 Assinatura de protocolos e acordos internacionais sobre proteção ao meio ambiente pelas nações signatárias

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Isto pode ser um problema, visto que, com exceção do carvão, caso se mantenha a taxa

de utilização desses combustíveis no patamar atual e caso novas reservas não fossem

encontradas, as atuais reservas poderiam não durar mais do que o tempo desta atual geração

(aproximadamente 100 anos), o que se caracteriza numa situação hipotética já que novas

tecnologias ampliam as possibilidades de encontrar e explorar novos campos, principalmente

os que se encontram no mar e a grandes profundidades, abaixo da camada chamada: pré-sal.

Para exemplificar essa expansão demográfica acentuada, segundo Bidone (2005), a

humanidade levou milhares de anos para alcançar o primeiro bilhão de indivíduos nos anos

1900 DC e apenas nos 100 anos seguintes a população mundial cresceu mais 5,5 bilhões de

indivíduos aproximadamente, ou seja, em apenas um século a população mundial cresceu

mais de cinco vezes, chegando em 2007 a aproximadamente 6,5 bilhões de indivíduos em

todo o Globo. Em contra-partida, o consumo energético cresceu cerca de 14 vezes neste

mesmo período. Em suma, segundo dados do ISE (Instituto Superior de la Energia) de

Madrid, o consumo de energia primaria per capta cresceu cerca de 4,5 vezes nos últimos 100

anos ao redor do mundo, o que pode significar que, dado o contexto que até o final dos anos

1980 a preocupação com os impactos sócio-ambientais, decorrentes deste vertiginoso

crescimento, era inversamente proporcional ao aumento de consumo de energia, hoje em dia a

população mundial se vê imersa em conseqüências como catástrofes derivadas de mudanças

climáticas e crises mundiais de fornecimento de alimentos, onde urge a necessidade por uma

mudança radical na forma que os empreendimentos devem ser planejados, aprovados e

realizados.

Sendo assim, fica clara a pressão crescente sobre recursos naturais e fontes de energia

de matriz não-renovável, o que coloca a sociedade moderna na rota de um colapso energético

em pouco tempo

Figura 1 – Gráfico de relação: demanda x fontes de energia x população.

Fonte: Material de aula do Prof. André Donha – Curso de Gestão em Petróleo e Gás / LATEC-UFF.

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No caso específico do petróleo, após as transformações promovidas inicialmente pela

Revolução Industrial, esse foi, depois do carvão, um dos primeiros recursos naturais utilizados

em larga escala pelo homem e foi empregado de diversas formas pela sua versatilidade. Sua

utilização mais intensa se inicia por volta de 1847, quando um comerciante de Pittsbourg

(Pensilvânia, EUA) começou a engarrafar e vender petróleo proveniente de vazamentos

naturais, para ser utilizado como lubrificante (CORRÊA, 2003).

Cinco anos mais tarde (1852), um químico canadense descobriu que o aquecimento e a

destilação do petróleo produziam um líquido que podia ser utilizado em lâmpadas, o

querosene. No entanto, somente em agosto de 1859 foi perfurado o primeiro poço de petróleo

em Tutisville, Pensilvânia (EUA). A partir daí o petróleo passou a ser utilizado em larga

escala, substituindo os combustíveis disponíveis, principalmente o carvão, na indústria, e os

óleos de rícino e de baleia, na iluminação.

Com a invenção dos motores a explosão, no final do século XIX, começou-se a

empregar frações até então desprezadas do petróleo, multiplicando rapidamente suas

aplicações, a partir da massificação do uso devido a popularização do automóvel a partir dos

anos 1920. No final desse mesmo século, pelo menos dez países já extraíam petróleo de seus

subsolos (PETROBRAS, 2005).

O petróleo é uma matéria–prima essencial à vida moderna, sendo o componente básico

de mais de 6.000 produtos. Dele se produz gasolina, combustível de aviação, gás de cozinha,

lubrificantes, borrachas, plásticos, tecidos sintéticos, tintas e até mesmo energia elétrica,

sendo responsável ainda por cerca de 37,4% da energia utilizada no Brasil, segundo relatório

do Ministério das Minas e Energia (BEN2, 2007).

Figura 2 – Oferta interna de energia – Brasil (2007) e Consumo de fontes primárias de energia no mundo

2 BEN – Balanço Energético Nacional / Ministério das Minas e Energia, Brasil.

OFERTA INTERNA DE ENERGIA - BRASIL 2007 (%)

HIDRÁULICA E

ELETRICIDADE

14,9%

PETRÓLEO e

DERIVADOS

37,4%

URÂNIO

1,4%

CARVÃO

MINERAL

6,0%

GÁS NATURAL

9,3%

BIOMASSA

30,9%

Biomassa:

lenha 12%

produtos da cana 15,7%

outras 3,2%

238,3 milhões tep

2005

Nuclear

6,3%

Hidráulica

2,2%

Fontes

Renová veis

10,0%

Petróleo

35,0%

Gás Natural

20 ,7%

Outras

0 ,5%

Ca rvão

Mine ra l

25,3%

11.435 106 tep

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Fonte: MME – Ministério das Minas e Energia / IEA – International Energy Agency (BEN 2007)

Cada vez mais a economia mundial se torna altamente dependente de combustíveis

fósseis (Carvão mineral, petróleo e gás), mais precisamente do petróleo, que correspondia em

2005 a cerca de 35% do consumo de fontes de energia primárias no mundo, e cujas

estimativas prevêem que ele ainda será o combustível dominante por muitos anos ainda, ou

até que uma nova fonte inovadora (viável e sem a força política sobre a macro economia do

Planeta) seja descoberta, segundo a IEA – International Energy Agency (World Energy

Outlook 2007). Conforme detalhado no gráfico mostrado na figura 2.

Nesse contexto, considerando a cadeia produtiva do petróleo (do poço ao posto), a

etapa de refino torna-se o coração dessa indústria, pois sem a separação em seus diversos

componentes, o petróleo em si, possui pouco ou nenhum valor prático e comercial, onde o

processo torna-se indispensável e não se resume apenas ao ponto de vista econômico e

estratégico, mas também ambiental.

Do ponto de vista ambiental, as refinarias são grandes geradoras de poluição e

contribuintes da degradação ambiental, consumindo grandes quantidades de água e de

energia, produzindo grandes quantidades de despejos líquidos, liberando diversos gases

nocivos para a atmosfera e produzindo resíduos sólidos de difícil tratamento e disposição.

Em decorrência de tais processos, a indústria de refino de petróleo pode ser

considerada em muitos casos, como um empreendimento de grande impacto negativo ao meio

ambiente, pois tem potencial para afetá-lo em todos os níveis: ar, água, solo e,

conseqüentemente, a todos os ecossistemas e seres vivos que habitam não somente as áreas

próximas aos empreendimentos, mas também em escala global.

Da etapa de exploração até a comercialização de seus derivados, vários tipos de

impactos ambientais podem ser identificados. Esses impactos vão desde as conseqüências dos

estudos sísmicos realizados na etapa de exploração, passando pela geração de resíduos

(sólidos e líquidos) e emissões atmosféricas durante o processo de refino, até as

conseqüências de eventuais vazamentos acidentais ocorridos em terra ou em mar no

transporte e destinação final dos produtos.

Com base nas variáveis apontadas, pode-se inferir que de todas as etapas que

compõem a cadeia produtiva do petróleo, a produção em terra e o refino são as que se

apresentam como mais problemáticas, com maior potencial para poluir solos e aqüíferos,

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comprometendo assim a produção de alimentos e suprimento de água potável de uma ou mais

zonas de entorno.

Mesmo assim, apesar de representar uma ameaça potencial para o meio ambiente, a

indústria do petróleo também desempenha um papel positivo perante a sociedade, sendo

fontes geradoras de empregos, de receita para União, Estados e Municípios, bem como de

divisas para a nação.

Este estudo faz uma abordagem pautada na dependência do petróleo e seus derivados,

principalmente nas conseqüências que dela emanam, nas questões de produção de

combustíveis e seus derivados e nos riscos envolvidos na utilização dessa matéria-prima,

analisando os processos de refino e impactos sócio-ambientais decorrentes desses processos.

O estudo tomou como referência para seu desenvolvimento o Município de Itaboraí,

situado a cerca de 50 Km da capital do estado do Rio de Janeiro, tendo aproximadamente 424

Km2 e uma população estimada em 215.792 habitantes para o ano de 2007 segundo o IBGE –

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, densidade demográfica de 503 habitantes por

Km2

– 14ª maior do estado, taxa de urbanização de 94,5% e taxa média de crescimento de

3,34% contra 1,30% do estado (estimativas do IBGE para 2005).

Por muitos anos, principalmente entre meados do século XVIII até final do século

XIX, o município foi um dos mais importantes do Estado, concentrando e escoando a

produção de açúcar e outros gêneros agrícolas destinados principalmente à exportação.

Passando por ciclos econômicos importantes, como: cana-de-açúcar, café, produção de

laranja e o advento da indústria do barro (olarias), hoje o município não dispõe de uma

atividade econômica significativa, tendo sua economia se transformado num aglomerado de

pequenos negócios ligados ao comércio varejista (alimentação e construção civil) sendo ainda

utilizado por grande parte da população como cidade-dormitório devido à proximidade com a

capital, onde as oportunidades de emprego são maiores.

Na questão ambiental, a antiga vocação agrícola do município é evidenciada quando se

analisa o IQM-Verde II (Índice de Qualidade Municipal com base nos parâmetros ambientais)

da Fundação CIDE – Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro, o que ratifica o

contexto histórico de agricultura extensiva, afetando a capacidade de suporte dos ambientes

impactados, aumentando assim o risco de extinção de espécimes da flora e da fauna, cujo

processo pode ser observado especialmente nos bosques de mangue remanescentes na APA-

Guapimirim/RJ – Área de Proteção Ambiental de Guapimirim/RJ.

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Do ponto de vista econômico, com base nos dados disponibilizados pela Fundação

CIDE para o ano de 2003, a renda per capita anual do Município é de apenas R$ 3.294,00

contra R$ 14.718,00 do estado e R$ 13.135,00 da região metropolitana onde está inserido, ou

seja, representa 22,38% da renda per capita do estado.

No que se refere ao IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 2000,

também disponibilizado pela Fundação CIDE, o Município aparece no ranking estadual na

modesta 67ª posição em um universo de 92 municípios. Já em relação ao ranking nacional,

Itaboraí aparece na 2.243ª posição contra os cerca de 5.537 municípios do país.

É nesse contexto municipal que surge um empreendimento considerado em termos

monetários e em infra-estrutura como um dos maiores investimentos, brasileiro, feito pela

indústria de petróleo, O COMPERJ – Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, considerado

o maior empreendimento individual da história da Petrobras em uma única planta, resultado

de um investimento estimado em R$ 15 bilhões e que utilizará tecnologia nacional

desenvolvida pelo CENPES - Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo

Miguez de Mello da própria Petrobras.

Tendo como principal objetivo processar inicialmente 150 mil barris diários de

petróleo pesado proveniente da Bacia de Campos (Campo de Marlim), o COMPERJ está

previsto para entrar em operação em 2012, devendo gerar para o país uma economia de

divisas superior a R$ 2 bilhões/ano, em decorrência da redução da importação de fontes de

matéria-prima petroquímica e da redução da exportação de petróleo pesado e estará localizado

nos distritos de Porto das Caixas e Sambaetiba, no município de Itaboraí, nos limites com os

municípios de Cachoeiras de Macacú e Guapimirim, sendo construído em um terreno com

uma área total de 45 Km2, com a planta industrial ocupando 26% da área total.

O estudo está focado na análise dos potenciais impactos ambientais, sociais e

econômicos que poderão advir, bem como nas medidas preventivas e mitigadoras em

conseqüência da emissão de poluentes pelo processo de refino e processamento de matérias-

primas sobre a população em geral e em particular sobre a APA–Guapimirim, com população

ribeirinha fixa que vive e sobrevive de atividades extrativistas nos manguezais da região e

onde se desenvolve o Projeto Defeso, voltado à proteção, preservação e recuperação dos

bosques de mangue da APA e desenvolve ações de educação ambiental e formação de

multiplicadores locais.

APA-Guapimirim possui os bosques de mangue mais bem preservados da baia de

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Guanabara e por diversas vezes já foi impactada por acidentes, cabendo destaque para dois

últimos: 27/04/2005 com uma composição da FCA – Ferrovia Centro-Atlantica deixando

vazar cerca de 150 mil litros de óleo diesel e o último em 30/10/2007, onde uma carga

orgânica originada da área onde será instalado o COMPERJ foi carreada para o Rio Caceribú,

chegando a vazar 1m3/seg., durante cinco dias, reduzindo significativamente os níveis de

oxigênio na água, causando mortandade de peixes e afetando a avi-fauna da região.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Consiste em analisar os potenciais impactos ambientais e sócio-ambientais, negativos

ou positivos, decorrentes da implantação do COMPERJ no município de Itaboraí, dando

ênfase ao potencial poluidor da unidade e nos problemas sócio-econômicos e ambientais

decorrentes desse empreendimento, discutindo ainda as principais medidas mitigadoras em

uso pela indústria que enfatizam a preservação do meio ambiente, propondo ou norteando

ações a serem desenvolvidas no âmbito da implantação de políticas públicas locais.

2.2 Objetivos Específicos

Identificar os principais impactos potenciais no âmbito social, econômico e ambiental.

Analisar quais medidas mitigadoras serão implantadas.

Verificar ações específicas dentro do plano de emergência que contemplam a área da

APA-Guapimirim, em especial no município de Itaboraí – RJ e entorno, levando em

conta a importância ecológica da área.

Contribuir como guia de referência para o melhor entendimento das interações que

poderão ocorrer entre o poder público, sociedade civil e o empreendimento.

Propor alternativas de ação e de controle que contribuam com o Poder Executivo e

Legislativo municipal na formulação de políticas públicas mais adequadas, levando-se

em conta as transformações significativas estruturais, culturais e ambientais que irão

ocorrer no município e região.

3. METODOLOGIA

O presente trabalho, baseado na monografia de conclusão de curso do MBA-DAE em

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Gestão de Petróleo e Gás (Pandeff, Guimarães e Donha, 2008) em colaboração com a Dra.

Janie Garcia (PGCA-UFF), foi desenvolvido com base nos resultados obtidos e através de

pesquisas complementares.

Para o embasamento do estudo lançou-se mão de revisão da literatura de caráter

técnico-científico extraídos de extensa revisão da literatura, informações coletadas junto a

órgãos oficiais, organizações não-governamentais e diversos outros atores envolvidos no

processo, consultas a diversos sites relacionados ao tema na internet (ANP, MMA, MME,

IBAMA, entre outros) e intervenções in loco.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho é a pesquisa descritiva e

explicativa, aliada a um estudo de caso, analisando-se ainda empreendimentos similares

implantados e o EIA/RIMA do COMPERJ.

São ainda utilizados como base referencial, dados ambientais, sócio-ambientais,

econômicos, indicadores oficiais para o setor de petróleo e legislação ambiental em vigor.

Analisará ainda como eventuais acidentes poderão impactar a APA-Guapimirim e que

medidas de prevenção e mitigação poderão ser implantadas em ação conjunta com equipes

que já atuam na região dos manguezais através do “Projeto Defeso”, desde outubro/2001.

A escolha do município de Itaboraí e da APA-Guapimirim para a realização da

pesquisa é decorrente de experiência pessoal acumulada atuando no Município e ao longo de

sete anos na coordenação do Projeto Defeso – Foco na proteção, preservação e recuperação

dos manguezais da APA, com amplo conhecimento das peculiaridades da região.

Essa orientação foi dada de forma a subsidiar proposições aos atores envolvidos como

subsídio à formulação de políticas públicas.

3.1 Questões da pesquisa

Analisar os potenciais impactos ambientais e sócio-ambientais positivos e negativos

decorrentes da implantação do COMPERJ, as ações preventivas e mitigadoras propostas pelo

empreendedor e a efetividade das políticas públicas municipais, conjunta ou isoladamente,

identificando processos críticos e buscando propor alternativas que possam nortear ações do

executivo e legislativo municipal, garantindo o bem-estar da população e de áreas

ambientalmente sensíveis.

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Com base nas informações obtidas através da análise do RIMA – Relatório de

Impactos ao Meio Ambiente, divulgado em setembro/2007 e no EIA, o estudo toma como

referência as informações nele contidas para caracterizar o empreendimento e contextualizar

aspectos no âmbito da proposta desse trabalho.

A localização em Itaboraí levou em consideração a disponibilidade e as facilidades da

região. O COMPERJ vai ainda viabilizar e utilizar o Arco Metropolitano, que fará a ligação

entre Itaboraí ao Porto de Itaguaí – um antigo e importante projeto do estado do Rio de

Janeiro.

É prevista a criação de mais de 212 mil empregos diretos, indiretos e por “efeito-

renda”, a nível regional e nacional, e para capacitar a mão-de-obra em vários níveis de

escolaridade, a Petrobras, em parceria com prefeituras, esta promovendo a qualificação

profissional. Os efeitos repercutirão na região e em todo o estado.

Além das empresas que estarão diretamente envolvidas na construção do

empreendimento, estudos da Fundação Getúlio Vargas indicam que nada menos que 720

empresas poderão se instalar na região até 2015, na indústria de transformação, para produzir

plásticos a partir dos produtos do COMPERJ. O resultado será um efeito de encadeamento

econômico que beneficiará intensa e diretamente os municípios vizinhos, indiretamente todo o

estado e, também, a economia nacional como um todo.

Para que o petróleo possa em um único local transformar-se nos produtos citados,

serão instaladas muitas “fábricas” dentro do próprio COMPERJ, cada uma delas destinadas a

cumprir seu papel no trajeto que o petróleo passará até se transformar em petroquímicos de

alto valor.

O COMPERJ está estruturado em diversas “fábricas” e outras instalações são

agregadas em blocos maiores chamadas Unidades, sendo estas: UPB (Unidade de

Petroquímicos Básicos) - UPA (Unidades Petroquímicas Associadas) - UTIL (Unidade de

Utilidades) - AUX (Unidade Auxiliares de Processos) - Apoio (Unidades de Apoio,

Transportes e Transferência).

Além das resinas plásticas, o COMPERJ vai produzir PTA, etilenoglicol, benzeno,

estireno e butadieno, que serão vendidos para outras indústrias químicas. Esses produtos

darão origens a pneus, fibras sintéticas, embalagens de alimentos, de remédios, de cosméticos,

entre outros.

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Em geral, estes produtos sairão do COMPERJ na forma líquida, através de dutos e

caminhões especiais. O COMPERJ também terá produtos típicos de uma refinaria, embora em

quantidade reduzida, como: Óleo diesel de alta qualidade – para combustíveis; Nafta – para

fabricação de solventes especiais, combustíveis e petroquímicos; Coque – para usinas

siderúrgicas e Enxofre – para indústrias químicas.

O COMPERJ produzirá 1,3 milhões de toneladas/ano de eteno e 880 mil toneladas/ano

de propeno. Esses gases devem ser consumidos dentro do próprio COMPERJ, transformando-

se em polietileno, etilenoglicol, estireno e polipropileno.

4.3.2 Discussão sobre potenciais impactos

Impactos Sócio-Econômicos

Estudos realizados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e pela

Fundação Getúlio Vargas (FGV) conduziram à avaliação dos impactos econômicos do

COMPERJ em diferentes escalas territoriais.

Importante para um projeto como o COMPERJ é a possibilidade de avaliação dos

impactos sobre o crescimento urbano da sua área de influência, de modo a preparar a infra-

estrutura e os serviços básicos essenciais.

O estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que os investimentos do COMPERJ,

tanto em máquinas e equipamentos, como em projeto e construção, irão resultar em

incremento de atividades econômicas no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro.

Verifica-se que, na etapa de construção, 40% do valor orçado para compra de

máquinas e equipamentos deverão vir de fornecedores externos. Dos 60%, restantes, apenas

12% ficarão no Estado do Rio de Janeiro.

Para estimar os impactos em relação ao número de empregos para cada ano em cada

região, a Fundação Getúlio Vargas considerou as taxas de desemprego atuais, sem admitir que

os empregos na região do COMPERJ venham a ser ocupados por pessoas de fora.

A Fundação Getúlio Vargas concluiu que somente mantendo as taxas de desemprego

de 6%, ou mais, haveria pressão demográfica associada à construção e operação do

COMPERJ na sua região de influência.

O maior desafio do COMPERJ seria a redução do número de empregos, que ocorrerá a

partir de 2012 (após a conclusão das obras, e início da operação do complexo).

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O COMPERJ encontra-se dentro da Zona de Uso Exclusivamente Industrial (ZEI) de

Itaboraí, criada pela Prefeitura através da Lei Complementar nº. 54, de 27 de setembro de

2006. O impacto direto sobre o uso e a ocupação do solo em Itaboraí é positivo e contribuirá

para a consolidação da vocação industrial da região.

Considerando-se que as taxas de desemprego tenderiam a permanecer elevadas na

região, mesmo com a construção do COMPERJ, haveria pressão demográfica significativa

sobre a área de influência direta do Complexo. Conseqüentemente, maior impacto sobre os

padrões desejáveis de uso/ocupação do solo.

Uma das grandes preocupações, com base nos dados anteriormente citados, é a do

processo de marginalização da população local. Assim como ocorrido em outros casos

notadamente conhecidos (caso da região de Macaé e parte de Campos – região norte do

Estado do Rio de Janeiro). Devido ao intenso crescimento da população de profissionais de

fora da região, devido a necessidade de formação e conhecimento específicos, a população

local se vê marginalizada. Outra conseqüência é o aumento do custo de vida local, que

cresceu sensivelmente, criando também um processo natural de “favelização” da população

local ou favorecendo o aparecimento regiões de periferia, já que o custo de moradia pode

aumentar muitas vezes.

Impactos Ambientais

O conhecimento dos impactos ambientais do COMPERJ foi traçado a partir da

Resolução 001/86 do CONAMA. Os impactos sobre o ambiente biológico produzidos pela

construção e operação de empreendimentos têm magnitude e importância estreitamente

relacionadas com a qualidade ambiental da região a ser impactada e sua importância

ecológica.

A previsão dos impactos ambientais identifica as possíveis modificações provocadas

pelo empreendimento: nas fases de planejamento, construção, operação e desativação.

Estes impactos sobre o ambiente físico, decorrentes da presença de pessoas e da

operação de veículos e equipamentos de sondagem no sítio, estão associados à fase de projeto

de engenharia de empreendimentos em locais intocados ou de reconhecida importância

ecológica. A abertura de estradas e picadas para acesso, bem como a operação de veículos e

equipamentos pode também trazer efeitos negativos de poluição do solo, do ar e das águas.

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Quanto a Limpeza do terreno e destocamento – alteração da paisagem natural com

supressão do atual ambiente agro-florestal (interferência com APPs e FMPs), este impacto é

inevitável e segundo o relatório, será atenuado/compensado pela implantação do projeto

Corredor Ecológico do COMPERJ.

Análise dos impactos locais e sobre a Apa-Guapimirim

Tomando como base a caracterização da área do empreendimento e do município, bem

como as características que envolvem o projeto de implantação do COMPERJ e sua

proximidade com uma importante Unidade de Conservação Federal – A APA-Guapimirim,

bem como a revisão do RIMA e alguns aspectos do EIA, pode-se inferir a ocorrência de

diversos impactos.

De forma complementar a este estudo, uma revisão na síntese da matriz de risco do

empreendimento também foi realizada, o que ratifica a inferência sobre os potenciais

impactos.

Assim, para melhor compreensão, os potenciais impactos percebidos foram divididos

em: Impactos Ambientais – Impactos sociais e econômicos, sendo estes detalhados a

seguir:

Impactos Ambientais

Com relação aos potenciais impactos ambientais percebidos, estes ocorrerão durante as

três fases do projeto, ou seja, desde a fase de sondagens até que as unidades entrem em

operação e posteriormente durante a operação rotineira.

Impactos negativos percebidos

Risco de contaminação de águas subterrâneas e do solo;

Rebaixamento do lençol freático e assoreamento dos rios que integram a bacia

hidrográfica da região, em especial os rios Macacú, Caceribú e baia de Guanabara;

Rompimento de bolsões contendo carga orgânica que poderá ser carreado para os rios

Caceribú e Macacú, como ocorrido no dia 30/09/2007 causando contaminação das

águas – impactando a UC diretamente e a baia de Guanabara;

Sobrecarga da bacia aérea pela emissão de gases e particulados levando a ocorrência

de inúmeros problemas de saúde, dependendo dos níveis de saturação;

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Diminuição da qualidade do ar;

Explosão e nuvens com gases tóxicos colocando em risco a população do entorno;

Rompimento de linha que poderá causar danos irreversíveis aos rios e principalmente

aos manguezais da APA-Guapimirim como já foi evidenciado em outros momentos;

Alterações físico-químicas e biológicas dos meios terrestres e aquático.

Impactos positivos percebidos

Projeto de recuperação de mata ciliar;

Reflorestamento de áreas na área de amortecimento do empreendimento;

Adesão ao projeto do corredor ecológico da serra do mar – Integrante do mosaico de

unidades de conservação da mata atlântica central fluminense – RJ;

Investimentos em projetos de proteção dos manguezais;

Investimentos em projetos de educação ambiental.

Analisando o contexto, é certo que impactos irão ocorrer, apesar de todas as previsões

e planos para reduzir ou mitigar esses impactos, fica a grande preocupação quando a saúde

das populações do entorno da unidade, bem com os manguezais da APA-Guapimirim.

Destaque para a importância de se estreitar contatos entre os diversos atores envolvidos

para que possa haver um planejamento mais alinhado com a realidade e para que na

eventualidade de ocorrerem eventos indesejáveis, todos os envolvidos possam estar aptos e

prontos a atuar.

Impactos Sociais e econômicos

Com relação aos potenciais impactos sociais percebidos, estes ocorrerão durante todas

as fases do projeto.

Importante destacar que já na primeira fase do empreendimento haverá um aumento da

ordem de 10% sobre a atual população do município, ou seja, perto de 22.000 mil pessoas que

estarão concentradas entre os distritos e Porto das Caixas e Sambaetiba, com população

estimada para 2006 em 16.000 pessoas, o que representa aproximadamente 138% de

crescimento na taxa populacional nessa área.

Se considerarmos que hoje o município já não consegue atender às demandas locais de

serviços públicos básicos, pode-se esperar que inúmeros problemas venham a ocorrer.

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Impactos negativos percebidos

Aumento acentuado do contingente populacional;

Falta de capacidade de atendimento de demandas por serviços essenciais pelo

município;

Incapacidade de suporte da malha viária municipal;

Incremento do uso e ocupação do solo de forma irregular (Favelização);

Aumento no número de ocorrências policiais com casos percebidos envolvendo:

agressões, estupros, tentativas de homicídio e homicídios, prostituição, entre outros;

Especulação imobiliária;

Perda de qualidade de vida em função de danos à paisagem e ao meio;

Geração de empregos não atenderá aos munícipes por falta de qualificação;

Incremento de atividades marginais / economia informal;

Aumento da concentração de renda.

Impactos positivos percebidos

Aumento da arrecadação tributária municipal;

Incremento de atividades temporárias de comercio e serviços;

Efeitos diretos e indiretos sobre a economia local através do incremento de diversas

atividades formais e informais;

Oportunidades de negócios em diversos segmentos;

Ao se analisar o contexto social e econômico, percebe-se que os problemas serão

maiores do que as supostas compensações dos impactos positivos.

As diversas atividades econômicas serão beneficiadas inicialmente pelo incremento

populacional, mas poderão sofrer uma redução crítica em pouco tempo, levando inúmeros

negócios à falência.

A capacidade de suporte e atendimento das demandas que ocorrerão será insuficiente,

podendo levar ao colapso local face ao não atendimento dessas demandas, em especial

serviços públicos essenciais.

Existe a necessidade de recursos e contingente técnico capacitado para planejar o

desenvolvimento local no longo prazo para evitar problemas similares ocorridos em outros

municípios. As questões sociais poderão não ser resolvidas, acarretando problemas quase

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insolúveis para as administrações futuras, tornando a região, uma bomba-relógio.

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O presente estudo é parte de um conjunto de pesquisas desenvolvidas e em

desenvolvimento, realizadas pelos autores no município de Itaboraí e região, devendo ser

portanto necessariamente complementado com estudos posteriores e mais aprofundados sobre

questões específicas aqui levantadas.

O estudo evidenciou que a indústria do petróleo e os processos de refino se constituem

hoje em uma das atividades humanas de maior potencial poluidor ou com potencial para

causar inúmeros impactos ambientais, econômicos e sociais, uma vez que suas operações

podem afetar o meio físico em todas as suas esferas: ar, água e solo.

Enfatizou que em decorrência do modo de organização e complexidade da sociedade

moderna, pelo menos nas próximas décadas permanecerá a dependência dessa indústria e das

refinarias para garantir nosso modo de vida.

Destacou que as atividades econômicas que envolvem a indústria do petróleo geram

muitos benefícios, bem como outros tantos prejuízos que provêm da emissão de poluentes

diversos e da degradação ambiental, social e econômica, sendo esses empreendimentos ainda

hoje vistos como um grande problema ambiental, em âmbito local, regional e mundial.

Sobre a instalação do COMPERJ no município de Itaboraí/RJ o estudo sugere que esse

processo será acompanhado por um expressivo aumento da população, gerando aumento da

pressão nas demandas por infra-estrutura básica e serviços públicos essenciais entre outros.

Ao analisar o quadro atual de atendimento dessas demandas, destaca que esse

atendimento já é deficitário, mesmo com os instrumentos legais norteadores das políticas

públicas locais, podendo assim inferir que inúmeros problemas irão ocorrer, impactando

diretamente os serviços de saúde, educação, segurança pública, entre outros.

Ao abordar a questão da geração de empregos evidencia que a relação entre oferta e

demanda para preencher as vagas disponíveis durante a fase de construção e operação não

será equilibrada, uma vez que existe uma exigência cada vez maior por mão-de-obra

qualificada, não disponível em número suficiente na região.

Sobre as questões ambientais locais o estudo destaca a relevância desse contexto, uma

vez que estas não podem e nem devem ser negligenciadas, ressaltando que ecossistemas

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importantes e sensíveis estão ameaçados tanto pelo projeto em sua fase de construção e

mesmo depois, com a entrada em operação do complexo.

Ainda sobre as questões ambientais, faz referência ao caso específico da APA-

Guapimirim, onde o simples rompimento de uma linha poderá causar danos irreversíveis aos

manguezais da região, colocando em risco os recursos pesqueiros a subsistência de inúmeras

famílias e populações tradicionais que dali retiram seu sustento, sem considerar ainda a

emissão de gases e particulados nocivos na atmosfera, que poderão se concentrar e não serem

dispersados em decorrência da inadequada circulação das correntes de ar, causando inúmeros

problemas de saúde.

Ao analisar casos de outros municípios que receberam empreendimentos da indústria

do petróleo e estando na área de influência direta destes, percebeu-se que por maiores que

sejam as preocupações nos estudos em relação às questões ambientais e sociais, o que ocorre

na prática são resultados que se mostraram muitas vezes catastróficos, uma vez que não se

consegue controlar efetivamente as variáveis ambientais, eventos naturais e pressões

demográficas sobre o uso e ocupação do solo.

Com bases nas conclusões aqui elencadas, o estudo faz recomendações como

contribuição para a formulação de políticas públicas mais adequadas para a gestão dos

processos de transformação iniciados com a implantação do COMPERJ no município.

O estudo destaca ainda a importância do apoio a projetos sócio-ambientais em

andamento, que também se caracteriza como uma alternativa bastante adequada, considerando

os resultados alcançados e a ampliação de suas ações, uma vez que as organizações

envolvidas já possuem a experiência e o conhecimento necessários para atuarem no plano

local, a exemplo do Projeto Defeso em operação desde 10/2001 nos manguezais da APA-

Guapimirim.

Faz destaque no que diz respeito a atuação preventiva, em todos os processos e nas

esferas da tomada de decisão, sendo sempre mais barata do que a atuação em remediação de

eventos indesejáveis.

Sugere ainda que os efeitos adversos do COMPERJ sobre a dinâmica ambiental, social

e econômica da região, deverão serão tratados através da implantação de políticas públicas de

ordenamento territorial, uso e ocupação do solo, saúde, educação e infra-estrutura, entre

inúmeras outras, de responsabilidade do poder público local e regional.

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O estudo deixa como alerta a ponderação de que seria ingenuidade pensar que com

experiências adquiridas em casos similares anteriores, os inúmeros problemas e

principalmente os impactos futuros poderão ser reduzidos ou eliminados em curtos espaços de

tempo, destacando que as experiências adquiridas são apenas referenciais dos problemas que

podem ocorrer e um aprendizado do que pode ser evitado.

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