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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ECONOMIA GUILHERME SALDANHA PIASSA POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO DE RODOVIAS NO BRASIL E SEUS RESULTADOS ECONÔMICOS DIRETOS PARA OS USUÁRIOS Sorocaba 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

GUILHERME SALDANHA PIASSA

POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO DE RODOVIAS NO BRASIL E SEUS

RESULTADOS ECONÔMICOS DIRETOS PARA OS USUÁRIOS

Sorocaba

2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EM GESTÃO E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

GUILHERME SALDANHA PIASSA

POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO DE RODOVIAS NO BRASIL E SEUS

RESULTADOS ECONÔMICOS DIRETOS PARA OS USUÁRIOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Economia, para obtenção do

título de mestre em Economia.

Orientação: Prof. Dr. Rodrigo Vilela Rodrigues

Sorocaba

2016

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Piassa, Guilherme Saldanha

Políticas de privatização de rodovias no Brasil e seus resultadoseconômicos diretos para os usuários / Guilherme Saldanha Piassa. -- 2016. 152 f. : 30 cm.

Dissertação (mestrado)-Universidade Federal de São Carlos, campusSorocaba, Sorocaba Orientador: Rodrigo Vilela Rodrigues Banca examinadora: Antonio Carlos Diegues Junior, Vladimir FernandesMaciel Bibliografia

1. Infraestrutura rodoviária. 2. Contratos de concessão. 3. Tarifas depedágio. I. Orientador. II. Universidade Federal de São Carlos. III. Título.

Ficha catalográfica elaborada pelo Programa de Geração Automática da Secretaria Geral de Informática (SIn).

DADOS FORNECIDOS PELO(A) AUTOR(A)

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Olá! Quem escreve aqui é o Guilherme, autor desta dissertação.

Se você encontrou esta mensagem, eu gostaria de te dar dois recados:

1. Mande um e-mail para mim ([email protected]), avisando que encontrou a

mensagem. Acho que seria bem divertido para nós dois. :)

2. Tenho que admitir que o meu capítulo de Conclusão ficou uma bosta, e te peço

desculpas por isso. Sabe como é... foi tudo feito na correria. :(

É isso. Tchau!

Dedicado a Valdomiro Piassa

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AGRADECIMENTO

Aos meus pais, Ariovaldo Tadeu Piassa e Regina Laura Saldanha, por todo o suporte

emocional e material com o qual têm me presenteado, não apenas durante os anos de

mestrado, mas sim ao longo de toda a minha vida. É para com eles a minha dívida maior.

À Nathália Lima de Oliveira, pela experiência que estivemos construindo juntos

ao longo de quase seis anos de companheirismo, e principalmente pela enorme dedicação,

generosidade e paciência que colocou à minha disposição durante a realização deste trabalho,

o qual, caso contrário, possivelmente sequer viria a se concretizar. E também aos seus pais,

Geraldo e Anidia, por todas as formas de apoio que me garantiram nos últimos anos.

Ao professor e amigo Rodrigo Vilela Rodrigues, pelos diversos projetos que pudemos

desenvolver em parceria na universidade, por sua constante dedicação como orientador,

por sua contribuição direta à presente dissertação e, em especial, por sua enorme compreensão

e paciência diante das dificuldades que expressei ao longo da realização deste trabalho.

Aos professores Antonio Carlos Diegues Junior e Vladimir Fernandes Maciel, pelo

tempo que dedicaram a mim e ao meu trabalho e, em especial, pelos valiosos apontamentos

que me ofereceram na ocasião da defesa. Embora grande parte dessa sua contribuição não se

faça presente nesta versão final, certamente se fará presente no decorrer da minha trajetória.

A todo o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFSCar,

pelo seu papel em minha formação profissional e pessoal. Menciono aqui, em especial,

os professores Danilo Rolim Dias de Aguiar, Adelson Martins Figueiredo e Rosane Nunes

de Faria, os quais, quando responsáveis pela coordenadoria do programa, garantiram meu

ingresso no mestrado, minha permanência no mesmo e, portanto, garantiram a concretização

deste trabalho. E também à Manoela Anechini Simões Marins, responsável pela secretaria

do programa, por sua reiterada atenção e auxílio dedicados a mim.

Aos meus colegas Amanda, Ana Carolina, Beatriz, Caroline, Diego, Gabriela,

João Gabriel, Jonathan, José Augusto, Lívia, Maiara e Robson, por todas as experiências que

pudemos trocar e compartilhar nesses anos de mestrado. Menciono aqui, em especial, a amiga

Mariana Camarin Gazonato, pela parceria que estivemos sustentando ao longo de nossas

trajetórias acadêmicas, a qual remonta aos primeiros meses de graduação. E também aos

amigos Eduardo Chamiço, Vinicius Chamiço e Eline Emanoeli, pelo amadurecimento pessoal

e pelo prazer resultantes de nossas convivências ao longo dos últimos anos.

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À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério

da Educação, pelo apoio financeiro concedido a mim, e também à Universidade Federal de

São Carlos, que agora se reforça como minha alma mater.

À memória do meu avô Valdomiro Piassa, que dedicou grande parcela de sua vida a

percorrer as rodovias brasileiras. E se hoje eu posso, aqui, dissertar sobre tais rodovias,

é também em grande medida graças a esse seu esforço.

Muito obrigado.

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RESUMO

PIASSA, Guilherme Saldanha. Políticas de privatização de rodovias no Brasil e seus

resultados econômicos diretos para os usuários. 2016. 152 f. Dissertação (Mestrado em

Economia) – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Centro de Ciências em Gestão e

Tecnologia (CCGT), Sorocaba, 2016.

O objeto de estudo no presente trabalho corresponde às políticas de privatização de rodovias

no Brasil, as quais tiveram início em 1995. Mais especificamente, são analisados, aqui,

os programas de concessões promovidos pelo governo federal e pelo governo do estado de

São Paulo. Esses programas têm apresentado, ao longo dos anos, tarifas de pedágio em

patamares consideravelmente distintos. Tal distinção é observada não apenas na comparação

entre os programas, mas também na comparação entre diferentes etapas de um mesmo

programa. Em vista dessa heterogeneidade existente entre as tarifas de pedágio cobradas

por diferentes programas de concessões – e também entre as tarifas cobradas por diferentes

etapas de um mesmo programa –, propõe-se, aqui, uma investigação acerca da referida

heterogeneidade. Em uma análise complementar, é investigada, também, a heterogeneidade

existente entre os níveis de investimentos de cada etapa de concessões. Dessa maneira, são

analisados valores referentes ao dispêndio direto dos usuários motivado pelas concessões –

as tarifas de pedágio – e valores referentes à contrapartida direta das concessões aos usuários

– os investimentos. A hipótese inicial que aqui se propõe é de que essa heterogeneidade que

caracteriza as políticas de privatização de rodovias no Brasil – em especial no tocante aos seus

resultados econômicos diretos para os usuários – é determinada pelas diferenças de arranjo

contratual entre essas políticas. Essa hipótese se justifica pelo fato de que é o arranjo

contratual que cristaliza as possibilidades de atuação de uma concessionária. O principal

objetivo deste trabalho é, então, verificar a validez da hipótese inicial descrita anteriormente,

ou seja, verificar se as diferenças de arranjos contratuais entre as etapas de concessões são

determinantes para a heterogeneidade dos resultados econômicos diretos das mesmas para os

usuários. Para tanto, o trabalho é distribuído em quatro capítulos. O Capítulo 1 busca situar

historicamente as políticas de privatização de rodovias no Brasil. O Capítulo 2 busca discutir

os aspectos teóricos referentes às políticas de privatização, com ênfase aos aspectos teóricos

dos contratos de concessão – mais especificamente, são discutidos os seguintes aspectos

referentes aos contratos de concessão, os quais compõem o que é aqui referido como arranjo

contratual: (1) modelos de licitação, (2) alocação dos riscos, (3) mecanismos de reajuste e

revisão tarifários, (4) apropriação das receitas extraordinárias e remuneração variável

conforme desempenho. O Capítulo 3 busca examinar os arranjos contratuais referentes a três

etapas do Programa Federal e duas etapas do Programa de São Paulo. O Capítulo 4, por fim,

busca verificar a validez da hipótese inicial aqui proposta, através da análise, sob o prisma dos

arranjos contratuais, das trajetórias das tarifas de pedágio e dos investimentos privados.

Em conclusão, avalia-se, aqui, que essa hipótese apresenta uma validez parcial.

Palavras-chave: Infraestrutura pública. Privatizações. Contrato de concessão. Pedágios.

Rodoviarismo.

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ABSTRACT

The following work‟s main subject refers to Brazilian highway privatization policies, which

began in 1995. The analysis is focused, in particular, on the concession programs fostered by

federal government and by São Paulo state government. Over the years, these programs have

been exhibiting toll rates at quite different levels to each other. This heterogeneity of levels

takes place not only between programs, but among different stages of a same program as well.

In view of this heterogeneity, an investigation about such matter is here proposed. In addition,

an investigation is held about the private investments‟ heterogeneity, which also takes place

among concession stages. In other words, an analysis is held concerning the values associated

to user‟s direct expenditure due the concessions – the toll rates – and the values associated to

concession‟s direct counterpart to users –– the private investments. The initial hypothesis,

as here presented, is that the heterogeneity inherent to Brazilian highway privatization policies

– especially regarding its direct economic results for users – is determined by differences

among these policies of its contractual arrangements. Such hypothesis is sustained by the fact

that the contractual arrangement is what crystallizes the concessionaire‟s performance

possibilities. Thus, the following work‟s main goal is to verify the validity of the initial

hypothesis here presented, that is, verify if differences of contractual arrangements among

concession stages are determinants to its direct economic results for users. The work is

distributed therefore in four chapters. Chapter 1 is aimed to historically situate the Brazilian

highway privatization policies. Chapter 2 is aimed to discuss theoretical aspects concerning

privatization policies, in way to emphasize theoretical aspects concerning concession

contracts – in particular, this chapter discusses the following aspects in relation to concession

contracts, which set what is here referred as contractual arrangement: (1) bidding models,

(2) risks allocation, (3) toll rates readjustment and revision mechanisms, (4) non-toll revenues

appropriation and performance-based remuneration. Chapter 3 is aimed to analyze the

contractual arrangements regarding Federal Program‟s three stages and São Paulo‟s

Program‟s two stages. Chapter 4, at last, is aimed to verify the validity of the initial

hypothesis here presented, by analyzing the path of toll rates and private investments, under

the prism of the contractual arrangements. In conclusion, the initial hypothesis is here

assessed with a partial validity.

Keywords: Public infrastructure. Privatizations. Concession contract. Toll roads.

Transport policy.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa das rodovias federais pavimentadas do Brasil (1960) .................................. 31

Figura 2 - Evolução da tarifa básica de pedágio vs. tarifa reajustada

(concessionária NovaDutra) ..................................................................................................... 65

Figura 3 - Mapa simplificado do Sistema Castello Branco-Raposo Tavares

(concessionária ViaOeste) ........................................................................................................ 88

Figura 4 - Mapa simplificado do Corredor Raposo Tavares

(concessionária CART) ............................................................................................................ 95

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Extensão rodoviária pavimentada (1967-2008) - 1.000 km .................................. 39

Gráfico 2 - Investimento federal em transporte no Brasil (1980-2011)

- despesa liquidada / PIB (%) ................................................................................................... 40

Gráfico 3 - Fontes de financiamento para o investimento público em infraestrutura

rodoviária no Brasil (2002-2011) - R$ bilhões correntes ......................................................... 42

Gráfico 4 - Investimentos públicos e privados em transporte rodoviário no Brasil

(2002-2011) - R$ bilhões de 2014, com base na variação do IPCA ........................................ 43

Gráfico 5 - Tarifas de pedágio por etapa de concessões (1996-2014) - tarifa média

- R$ de 2014 / 100 km ............................................................................................................ 103

Gráfico 6 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 1ª Etapa do Programa Federal

(1996-2014) - tarifa média - R$ de 2014 / 100 km ................................................................. 107

Gráfico 7 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 2ª Etapa do Programa Federal

(2008-2014) - tarifa média - R$ de 2014 / 100 km ................................................................. 108

Gráfico 8 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 1ª Etapa do Programa de São Paulo

(1998-2014) - tarifa média - R$ de 2014 / 100 km ................................................................. 110

Gráfico 9 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 2ª Etapa do Programa de São Paulo

(2008-2014) - tarifa média - R$ de 2014 / 100 km ................................................................. 111

Gráfico 10 - Tarifas médias multiplicadas pelos volumes de tráfego, por etapa de concessões

(2002-2012) - R$ bilhões de 2014 .......................................................................................... 112

Gráfico 11 - Investimentos/km por etapa de concessões (1996-2014)

- R$ 1.000 de 2014 / km ......................................................................................................... 115

Gráfico 12 - Investimentos totais do Programa Federal (1996-2014)

- R$ milhões correntes ............................................................................................................ 116

Gráfico 13 - Investimentos totais do Programa de São Paulo (1998-2014)

- R$ milhões correntes ............................................................................................................ 117

Gráfico 14 - Relação investimentos por km / tarifas médias, por etapa de concessões

(1996-2014) - R$ 1.000 de 2014 ............................................................................................ 117

Gráfico 15 - Relação investimentos por km / tarifas médias multiplicadas pelos

volumes de tráfego (%), por etapa de concessões (2002-2012) ............................................. 119

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Gráfico 16 - Relação investimentos por km / tarifas médias, por agrupamento

da 1ª Etapa do Programa Federal (1996-2014) - R$ 1.000 de 2014 ....................................... 150

Gráfico 17 - Relação investimentos por km / tarifas médias, por agrupamento

da 2ª Etapa do Programa Federal (2009-2014) - R$ 1.000 de 2014 ....................................... 150

Gráfico 18 - Relação investimentos por km / tarifas médias, por agrupamento

da 1ª Etapa do Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ 1.000 de 2014 .............................. 151

Gráfico 19 - Relação investimentos por km / tarifas médias, por agrupamento

da 2ª Etapa do Programa de São Paulo (2008-2014) - R$ 1.000 de 2014 .............................. 151

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Programas de concessões de rodovias no Brasil (2013) ....................................... 42

Quadro 2 - Programa federal de concessões de rodovias (1ª Etapa) ....................................... 72

Quadro 3 - Taxas internas de retorno (TIR) iniciais - 1ª Etapa do Programa Federal ............ 75

Quadro 4 - Programa federal de concessões de rodovias (2ª Etapa - Fase I) .......................... 78

Quadro 5 - Programa federal de concessões de rodovias (2ª Etapa - Fase II) ......................... 82

Quadro 6 - Programa de concessões de rodovias do estado de São Paulo (1ª Etapa) ............. 89

Quadro 7 - Valores fixos de outorga por concessionária - 1ª Etapa do Programa

de São Paulo ............................................................................................................................. 90

Quadro 8 - Taxas internas de retorno (TIR) iniciais - 1ª Etapa do Programa de São Paulo ... 93

Quadro 9 - Programa de concessões de rodovias do estado de São Paulo (2ª Etapa) ............. 96

Quadro 10 - Valores fixos de outorga por concessionária - 2ª Etapa do Programa

de São Paulo ............................................................................................................................. 98

Quadro 11 - Desagregação das etapas de concessões com base nas diferenças de

volumes de tráfego.................................................................................................................. 106

Quadro 12 - Arranjos contratuais do Programa Federal ....................................................... 133

Quadro 13 - Arranjos contratuais do Programa de São Paulo .............................................. 134

Quadro 14 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 1ª Etapa do Programa Federal

(1996-2014) - R$ correntes..................................................................................................... 135

Quadro 15 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 2ª Etapa do Programa Federal

(2008-2014) - R$ correntes..................................................................................................... 136

Quadro 16 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 1ª Etapa do Programa de São Paulo

(1998-2014) - R$ correntes..................................................................................................... 137

Quadro 17 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 2ª Etapa do Programa de São Paulo

(2008-2014) - R$ correntes..................................................................................................... 140

Quadro 18 - Tarifas médias de pedágio por concessionária - Programa Federal

(1996-2014) - R$ correntes / 100 km ..................................................................................... 142

Quadro 19 - Tarifas médias de pedágio por concessionária - Programa de São Paulo

(1998-2014) - R$ correntes / 100 km ..................................................................................... 143

Quadro 20 - Investimentos privados por concessionária - Programa Federal

(1996-2014) - R$ 1.000 correntes........................................................................................... 144

Quadro 21 - Investimentos privados por concessionária - Programa de São Paulo

(1998-2014) - R$ 1.000 correntes........................................................................................... 145

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Quadro 22 - Volumes de tráfego por concessionária - Programa Federal

(2002-2012) - veículos equivalentes (VE).............................................................................. 146

Quadro 23 - Volumes de tráfego por concessionária - Programa de São Paulo

(2002-2012) - veículos equivalentes (VE).............................................................................. 147

Quadro 24 - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária - Programa Federal

(2014) - R$ 1.000 correntes .................................................................................................... 148

Quadro 25 - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária - Programa de São Paulo

(2014) - R$ 1.000 correntes .................................................................................................... 149

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LISTA DE ABREVIATURAS, ACRÔNIMOS E SIGLAS

5º BE Cmb Bld 5º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado

a.a. Ao ano

AB Atlantia Bertin Concessões S.A.

ABCR Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias

ALESP Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

Artesp Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de

Transporte do Estado de São Paulo;

Agência de Transporte do Estado de São Paulo

BCB Banco Central do Brasil

BIB Banco de Investimento Brasileiro

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNDIGITAL Biblioteca Nacional Digital

CART Concessionária Auto Raposo Tavares S.A.

CCR Companhia de Concessões Rodoviárias S.A.

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CIDE Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

CMN Conselho Monetário Nacional

CNT Confederação Nacional do Transporte

CPI Comissão parlamentar de inquérito

CRT Concessionária Rio-Teresópolis S.A.

DAER Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem

DASP Departamento Administrativo do Serviço Público

DER Departamento de Estradas de Rodagem

DERSA Desenvolvimento Rodoviário S.A.

DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

EAF Empresa de apoio à fiscalização

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EAG Empresa de apoio ao gerenciamento

ECB Empresa Construtora Brasil S.A.

ECEX Empresa de Construção e Exploração da Ponte Presidente Costa e Silva;

Empresa de Engenharia e Construção de Obras Especiais S.A.

e.g. Exempli gratia (por exemplo)

entronc. Entroncamento rodoviário

Eurobraz European Brazilian Bank

FGV Fundação Getúlio Vargas

FMI Fundo Monetário Internacional

FND Fundo Nacional de Desenvolvimento

FNM Fábrica Nacional de Motores

FRN Fundo Rodoviário Nacional

GEIPOT Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes;

Grupo de Estudos para Integração da Política de Transportes;

Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

GERCA Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura

GEROR Gerência de Regulação e Outorga da Exploração de Rodovias

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e

Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação;

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IFOCS Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas

IGP-DI Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna

IGP-M Índice Geral de Preços - Mercado

Invepar Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.

IOCS Inspetoria de Obras Contra as Secas

Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IRT Índice de reajustamento da tarifa

ITRP Imposto sobre Transporte Rodoviário de Passageiros

MVOP Ministério da Viação e Obras Públicas

n.d. Não disponível

OHL Obrascón Huarte Lain S.A.

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PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PAEG Programa de Ação Econômica do Governo

PED [Capítulo 1] Programa Estratégico de Desenvolvimento

PED [Capítulo 3] Programa Estadual de Desestatização

PER Programa de Exploração da Rodovia

Petrobras Petróleo Brasileiro S.A.

PIB Produto Interno Bruto

PIL Programa de Investimento em Logística

PIN Programa de Integração Nacional

PND Programa Nacional de Desestatização

PND, (I) I Plano Nacional de Desenvolvimento

PND, (II) II Plano Nacional de Desenvolvimento

PNV Plano Nacional de Viação

p.p. Pontos percentuais

PPP Parceria público-privada

PRODOESTE Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste

PROTERRA Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo à

Agroindústria do Norte e Nordeste

PROVALE Programa Especial para o Vale do São Francisco

SIC Serviço de Informação ao Cidadão

SUINF Superintendência de Exploração de Infraestrutura Rodoviária

SUMOC Superintendência da Moeda e do Crédito

TBP Tarifa básica de pedágio

TBPI Tarifa básica de pedágio a preços iniciais

TCU Tribunal de Contas da União

TIR Taxa interna de retorno

TJLP Taxa de Juros de Longo Prazo

TKU Toneladas transportadas por quilômetro útil

TORC Terraplenagem, Obras Rodoviárias e Construções LTDA

TRU Taxa Rodoviária Única

VE Veículos equivalentes

Vemag Veículos e Máquinas Agrícolas S.A.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18

1 POLÍTICA PÚBLICA DE EXPANSÃO RODOVIÁRIA NO BRASIL E SEU

FINANCIAMENTO ............................................................................................................... 20

1.1 INÍCIO E CONSOLIDAÇÃO DO RODOVIARISMO (1927-1974) ............................ 21

1.2 CRISE DE FINANCIAMENTO, DETERIORAÇÃO DO INVESTIMENTO E

PRIVATIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA (1974-1998) ................................................. 35

1.3 PRIVATIZAÇÃO CONJUGADA À POLÍTICA PÚBLICA (1998-2014) ................... 41

2 POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO E CONTRATOS DE CONCESSÃO .................... 45

2.1 POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO ............................................................................... 46

2.2 CONTRATOS DE CONCESSÃO ................................................................................. 55

2.2.1 Modelos de licitação .............................................................................................. 55

2.2.2 Alocação dos riscos ................................................................................................ 59

2.2.3 Mecanismos de reajuste e revisão tarifários ....................................................... 62

2.2.4 Apropriação das receitas extraordinárias e remuneração variável conforme

desempenho ..................................................................................................................... 65

3 ACERVO INSTITUCIONAL E ARRANJO CONTRATUAL DAS CONCESSÕES

RODOVIÁRIAS NO BRASIL .............................................................................................. 68

3.1 PROGRAMA FEDERAL DE CONCESSÕES .............................................................. 69

3.1.1 A 1ª Etapa do Programa Federal ......................................................................... 69

3.1.2 A 2ª Etapa do Programa Federal - Fase I............................................................ 76

3.1.3 A 2ª Etapa do Programa Federal - Fase II .......................................................... 81

3.2 PROGRAMA DE CONCESSÕES DO ESTADO DE SÃO PAULO ........................... 86

3.2.1 A 1ª Etapa do Programa de São Paulo ................................................................ 86

3.2.2 A 2ª Etapa do Programa de São Paulo ................................................................ 94

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4 RESULTADOS ECONÔMICOS DIRETOS DAS CONCESSÕES RODOVIÁRIAS

NO BRASIL PARA OS USUÁRIOS .................................................................................. 101

4.1 DISPÊNDIO DIRETO DOS USUÁRIOS: TARIFAS DE PEDÁGIO ........................ 101

4.2 CONTRAPARTIDA DIRETA AOS USUÁRIOS: INVESTIMENTOS PRIVADOS 114

CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 120

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 122

APÊNDICE A - Quadros-síntese dos arranjos contratuais por etapa de concessões .... 133

APÊNDICE B - Tarifas de pedágio por praça de cobrança ............................................. 135

APÊNDICE C - Tarifas médias de pedágio, investimentos privados e volumes de tráfego

por concessionária ................................................................................................................ 142

APÊNDICE D - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária ................................ 148

APÊNDICE E - Gráficos para a relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento das etapas de concessões ........................................................................ 150

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INTRODUÇÃO

O objeto de estudo no presente trabalho corresponde às políticas de privatização

de rodovias no Brasil, as quais tiveram início em 1995. Mais especificamente, são analisados,

aqui, os programas de concessões promovidos pelo governo federal e pelo governo do estado

de São Paulo. A escolha, em específico, desses programas decorre do destaque que ambos

possuem no contexto nacional. Nesse sentido, tem-se que em 2013 havia um total 15.959 km

de rodovias concedidas no país, dos quais 5.263 km compreendiam o Programa Federal

e 5.355 km compreendiam o Programa de São Paulo, de acordo com as informações

apresentadas por Sá, Santos e Brasileiro (2014).

Esses programas têm apresentado, ao longo dos anos, tarifas de pedágio em patamares

consideravelmente distintos. Tal distinção é observada não apenas na comparação entre os

programas, mas também na comparação entre diferentes etapas de um mesmo programa.

Nesse sentido, tem-se que Campos Neto, Paula e Souza (2011) calcularam as tarifas médias

associadas a cada programa de concessões do país em 2011. A tarifa média federal apresentou

um valor de R$ 5,11/100 km, ao passo que tarifa média paulista apresentou um valor

de R$ 12,76/100 km. Paralelamente, observa-se que as concessões federais de 1ª etapa

apresentaram uma tarifa média de R$ 9,86/100 km, ao passo que as concessões federais

de 2ª etapa apresentaram uma tarifa média de R$ 2,96/100 km. Além disso, para efeito de uma

maior contextualização dessas tarifas praticadas nacionalmente, tem-se que os mesmos

autores averiguaram uma tarifa média internacional de R$ 8,80/100 km.

Em vista dessa heterogeneidade existente entre as tarifas de pedágio cobradas por

diferentes programas de concessões – e também entre as tarifas cobradas por diferentes etapas

de um mesmo programa – propõe-se, aqui, uma investigação acerca dessa heterogeneidade.

Em uma análise complementar, propõe-se investigar, também, a heterogeneidade existente

entre os níveis de investimentos do setor privado associados a cada etapa de concessões.

Dessa maneira, são analisados valores referentes ao dispêndio direto dos usuários motivado

pelas concessões – as tarifas de pedágio – e valores referentes à contrapartida direta

das concessões aos usuários – os investimentos.

A hipótese inicial que aqui se propõe é de que essa heterogeneidade que caracteriza as

políticas de privatização de rodovias no Brasil – em especial no tocante aos seus resultados

econômicos diretos para os usuários – é determinada pelas diferenças de arranjo contratual

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entre essas políticas. Tal hipótese se justifica pelo fato de que é o arranjo contratual que

cristaliza as possibilidades de atuação de uma concessionária. Ademais, no contexto das

concessões como políticas de privatização, tem-se no arranjo contratual um importante

instrumento de política pública – ao menos em potencial.

Em relação à importância que os contratos aqui analisados apresentam em termos de

política pública, bem como em relação à importância de seus respectivos programas

de concessões, tem-se que a percepção da mesma é reforçada pelo fato de o modal rodoviário

atender a aproximadamente 61,1% do transporte de cargas total no país – medido em

toneladas transportadas por quilômetro útil (TKU) –, de acordo com os dados apresentados

pela Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2016).

O principal objetivo do presente trabalho é, então, verificar a validez da hipótese

inicial descrita anteriormente. Ou seja, pretende-se verificar se as diferenças de arranjos

contratuais entre as etapas de concessões são determinantes para a heterogeneidade dos

resultados econômicos diretos das mesmas para os usuários. A fim de atender a esse objetivo,

o trabalho é distribuído em quatro capítulos.

O Capítulo 1 busca situar historicamente as políticas de privatização de rodovias no

Brasil. O Capítulo 2 busca discutir os aspectos teóricos referentes às políticas de privatização,

com ênfase aos aspectos teóricos dos contratos de concessão – mais especificamente,

são discutidos os seguintes tópicos concernentes aos contratos de concessão, os quais

compõem o que é aqui referido como arranjo contratual: (1) modelos de licitação,

(2) alocação dos riscos, (3) mecanismos de reajuste e revisão tarifários, (4) apropriação das

receitas extraordinárias e remuneração variável conforme desempenho. O Capítulo 3 busca

examinar os arranjos contratuais referentes a três etapas do Programa Federal (1ª Etapa,

2ª Etapa - Fase I e 2ª Etapa - Fase II) e duas etapas do Programa de São Paulo (1ª Etapa e

2ª Etapa). O Capítulo 4, por fim, busca verificar a validez da hipótese inicial aqui proposta,

através da análise, sob o prisma dos arranjos contratuais, das trajetórias das tarifas de pedágio

e dos investimentos privados.

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1 POLÍTICA PÚBLICA DE EXPANSÃO RODOVIÁRIA NO BRASIL E SEU

FINANCIAMENTO

O principal objetivo deste Capítulo 1 é situar historicamente as políticas de

privatização de rodovias no Brasil. Propõe-se, mais especificamente, discutir a trajetória

histórica das políticas para o desenvolvimento da infraestrutura rodoviária no país – a qual

tem sido embasada, desde o seu estágio inicial, pelo chamado rodoviarismo – e, a partir disso,

discutir a inserção da privatização em meio a essa trajetória.

A estruturação do capítulo se remete à constatação básica de que as privatizações de

rodovias ocorreram, no Brasil, em reflexo à principal crise de financiamento experimentada

por esse setor. A crise em questão se manifestou de forma mais expressiva a partir da década

de 1980, e acarretaria, a partir da década de 1990, uma súbita queda no investimento público

em infraestrutura rodoviária. Assim, a privatização, nesse contexto das políticas rodoviárias,

viria a se apresentar como uma alternativa ao financiamento e investimento públicos –

ao menos para determinados trechos economicamente estratégicos.

Em função da constatação anterior, se estabelece, ao longo do capítulo, um enfoque

em duas variáveis: (1) a trajetória do investimento público em infraestrutura rodoviária e

(2) o financiamento que sustentou essa trajetória. É partir desse enfoque, portanto, que se

pretende conduzir a discussão sobre a trajetória das políticas rodoviárias como um todo e,

por extensão, analisar a inserção da privatização em meio a tal trajetória.

Na maior parte do capítulo é utilizada, como proxy da variável de investimento

público, a extensão da malha rodoviária pavimentada. A escolha dessa variável é justificada

por se tratar de uma série suficientemente contínua, que se estende desde as primeiras décadas

do rodoviarismo até anos mais recentes. Adicionalmente, tem-se que essa variável sintetiza o

que é um dos principais resultados do investimento público no setor – e não apenas em termos

da política federal, mas também em termos das políticas estaduais.

O capítulo é distribuído, então, em três seções. A Seção 1.1 é dedicada ao período das

políticas rodoviárias que precedeu sua crise de financiamento (1927-1974), o que compreende

os primeiros esforços no sentido de sistematizar o investimento público em infraestrutura

rodoviária, bem como sistematizar o seu financiamento – e também compreende, portanto,

a consolidação do projeto rodoviarista. A Seção 1.2, por sua vez, é dedicada ao período de

inflexão para as políticas rodoviárias (1974-1998), o qual culminaria na sua crise de

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financiamento, na deterioração de seu investimento e, dessa maneira, contribuiria para

a criação de uma conjuntura favorável às políticas de privatização. A Seção 1.3, por fim,

é dedicada às políticas rodoviárias mais recentes (1998-2014), nas quais se observa uma

relativa retomada do financiamento e investimento públicos, concomitantemente ao

aprofundamento das privatizações.

1.1 INÍCIO E CONSOLIDAÇÃO DO RODOVIARISMO (1927-1974)

A expansão da infraestrutura rodoviária brasileira esteve, desde o seu início,

intimamente associada à expansão da indústria automotiva no país, bem como de seu mercado

interno. Nas grandes cidades, a crescente adesão ao automóvel era observada já na década de

1910, com destaque para a cidade de São Paulo, cuja frota de automóveis em circulação

passou de 145 em 1909 para 2.165 em 1919 (PEREIRA, 2005, p. 283; RICCI, 2006, p. 15).

Em razão desse movimento, a capital paulista viria a se tornar, ao longo da década de 1920, o

palco do surgimento da indústria automotiva no Brasil. Em 1919 a Ford instalou a primeira

unidade de montagem da cidade (e do país), e em seguida, em 1921, inaugurou a primeira

linha de montagem em série. Mais adiante naquela década, em 1925, foi a vez da General

Motors se instalar na cidade, além de inaugurar uma segunda unidade em 1927 no município

de São Caetano do Sul (FORD, 2015; SÃO PAULO, 2015).

Até aquele momento, na década de 1920, as viagens interurbanas por via terrestre

eram essencialmente atendidas pelo modal ferroviário. Dessa forma, eram as ferrovias que

atraíam os principais esforços das políticas de transportes, conforme evidenciado pelos

relatórios do Ministério da Viação e Obras Públicas (MVOP) referentes àquele período

(BNDIGITAL, 2015a).1 No entanto, a expansão do mercado automotivo no país representou a

ignição para o chamado rodoviarismo brasileiro. A partir de então, as políticas estatais

promoveriam um crescente protagonismo do modal rodoviário frente aos demais, e

especialmente frente ao ferroviário, cujo desenvolvimento foi progressivamente refreado em

favor das rodovias, conforme detalhado por Paula (2010).

1 Por força do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, o Ministério da Viação e Obras Públicas (MVOP)

foi reorganizado na forma do Ministério dos Transportes e do Ministério da Comunicação (WAHRLICH, 1974,

p. 38). Na década de 1920, as atribuições do MVOP se estendiam também para atividades como o saneamento

básico e a gestão de recursos hídricos (KONDER, 1930).

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Para Accorsi (1996, p. 25), o rodoviarismo foi um processo que congregou:

[...] legisladores, administradores e funcionários públicos, engenheiros, técnicos,

empreiteiros, entidades empresariais diversas ligadas ao setor automobilístico que

começava a dar seus passos iniciais no país, setores da[s] forças armadas, etc..., cuja

manifestação se encontrava latente desde o início do século com a realização do

Primeiro Congresso Nacional de Estradas de Rodagem em 1916 [...].

O Congresso Nacional de Estradas de Rodagem, ao qual Accorsi se refere, ocorreu em

sete edições de 1916 a 1939. Esse evento era realizado por iniciativa do Automóvel Clube do

Brasil e contava, também, com o envolvimento direto de representantes do Estado, conforme

evidenciado pelos periódicos da época (BNDIGITAL, 2015b).2 Ocorriam, ainda, congressos

em nível regional, dentre os quais se destacava o Congresso Paulista de Estradas de Rodagem,

promovido pelo Automóvel Clube de São Paulo. As noções apresentadas por Barbosa (2013,

p. 95), Cavalcanti (1995, p. 28), Paula (2010, p. 148) e Pereira (2005, p. 271) corroboram com

Accorsi na análise de que esses congressos (e clubes) representavam ambientes de articulação

entre os agentes promotores do rodoviarismo, enumerados no excerto anterior.

No governo Washington Luís (1926-1930), tem-se o início da institucionalização do

rodoviarismo junto ao Estado e, portanto, o desenho das primeiras estratégias que buscariam

garantir o fluxo de financiamento público à expansão da infraestrutura rodoviária. De acordo

com Pereira (2005, p. 268), a figura pública de Washington Luís estava associada ao seu

papel no Automóvel Clube de São Paulo e, especialmente, ao seu esforço político em

benefício da construção rodoviária, ao longo de seus mandatos como prefeito da cidade de

São Paulo (1917-1919) e governador do estado de São Paulo (1920-1924). Em consonância

com essa sua trajetória pública pregressa, Washington Luís (1927, p. 57), quando presidente

da república, discursaria: “Governar é povoar; mas não se povoa sem se abrir estradas, e de

todas as espécies. Governar é, pois, fazer estradas. É essa a campanha que ora se começa”.3

Ou simplesmente “governar é abrir estradas”, na forma como se popularizou seu lema.

Em 1927 foi criado o Fundo Especial para a Construção e Conservação de Estradas de

Rodagem, cuja arrecadação era proveniente de uma cobrança adicional aos impostos sobre a

importação de gasolina, automóveis, componentes de automóveis e bicicletas.4 Nesse mesmo

ano, o MVOP designou uma Comissão de Estradas de Rodagem Federais que, graças ao

financiamento pelo Fundo Especial, foi responsável por algumas construções de grande

2 Os periódicos em questão são disponibilizados pela Hemeroteca Digital Brasileira, da Biblioteca Nacional.

A busca é realizada através de expressões-chave (e.g. “VII Congresso Nacional de Estradas de Rodagem”). 3 Mensagem apresentada ao Congresso Nacional na abertura da primeira sessão legislativa de 1927.

4 O Fundo Especial foi criado pelo Decreto nº 5.141, de 5 de janeiro de 1927.

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expressão, como o trecho fluminense da estrada Rio-São Paulo – em que o trecho paulista

havia sido concluído pelo próprio estado de São Paulo (KONDER, 1930, p. 285) – e a estrada

Rio-Petrópolis – que foi a primeira rodovia pavimentada com asfalto do país (SANDOVAL,

2013, p. 15).5 O MVOP também designou, à parte da Comissão principal, uma Comissão de

Estradas de Rodagem nos Estados do Paraná e Santa Catarina, composta pelos militares do

5º Batalhão de Engenharia (KONDER, 1930, p. 295).6 De acordo com informações do próprio

Batalhão, a entidade foi responsável pela construção de mais de 400 km de rodovias no

período de 1927 a 1941 (5º BE CMB BLD, 2015).7

Com a deposição de Washington Luís e o início da Era Vargas (1930-1945) observou-

se o arrefecimento do ímpeto rodoviarista nos moldes anteriores. Isso porque o período ficou

marcado pela polarização entre o programa político de Vargas – de perfil centralizador – e os

enclaves rodoviaristas na burocracia desse governo – que buscavam autonomia administrativa

e financeira para levar adiante seus propósitos particulares, conforme salientado por Accorsi

(1996, p. 29) e Campos (2012, p. 57). Sintomaticamente, a Comissão de Estradas de Rodagem

Federais do MVOP foi extinta em 1931 e o Fundo Especial foi incorporado ao Orçamento

Geral da República em 1932.8 Mais adiante, em 1934, foi lançado o primeiro Plano Nacional

de Viação (PNV), com o intuito de orientar as políticas de transportes no país.9 A aplicação

do PNV resultaria na reativação da Comissão de Estradas de Rodagem Federais, que se tornou

5 A antiga estrada Rio-São Paulo corresponde atualmente às rodovias BR-465, RJ-139 (trecho fluminense) e a

trechos das rodovias SP-062 e SP-066 (trecho paulista). A antiga estrada Rio-Petrópolis, por sua vez,

corresponde atualmente ao trecho da BR-040 conhecido como Rodovia Washington Luís, que faz parte da

extensão administrada pela concessionária Concer. De acordo com Konder (1930, p. 293), parte do traçado

inicial da antiga estrada Rio-Petrópolis havia sido construída pelo Automóvel Clube do Brasil, em anos

anteriores. 6 De acordo com Barbosa (2013, p. 94), a inclusão de Santa Catarina no planejamento rodoviário federal poderia

ser associada ao fato de que Victor Konder, ministro da Viação e Obras Públicas durante o governo Washington

Luís, era irmão de Adolpho Konder, governador do estado de Santa Catarina durante o mesmo período. Ainda

segundo Barbosa (2013, p. 92), a família Konder era parte importante da elite industrialista catarinense. 7 O 5º Batalhão de Engenharia, responsável pela Comissão de Estradas de Rodagem nos Estados do Paraná e

Santa Catarina, corresponde ao atual 5º Batalhão de Engenharia de Combate Blindado (5º BE Cmb Bld), que

apresenta essa nomeação desde 2004. De acordo com o 5º BE Cmb Bld (2015), a entidade foi responsável pela

construção de 200 km do trecho São João - Barracão, de 124 km do trecho Curitiba - Capela da Ribeira e de

108 km do trecho Curitiba - Joinville, que corresponderiam atualmente a trechos das rodovias BR-280, BR-476 e

BR-376, respectivamente. 8 A desvinculação do Fundo Especial ocorreu pelo Decreto n° 20.853, de 26 de dezembro de 1932. Apesar da

extinção da Comissão de Estradas de Rodagem Federais em 1931, a Comissão de Estradas de Rodagem nos

Estados do Paraná e Santa Catarina permaneceria continuadamente ativa até 1941. A manutenção dessa

comissão, composta pelo 5º Batalhão de Engenharia, se relaciona ao fato de que essa entidade havia prestado

apoio militar à chamada Revolução de 1930, que resultou na deposição de Washington Luís. 9 O Plano Geral de Viação Nacional foi criado pelo Decreto nº 24.497, de 29 de junho de 1934.

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um departamento autônomo em 1937 e foi renomeada como Departamento Nacional de

Estradas de Rodagem (DNER) (ACCORSI, 1996; CAMPOS, 2012).10

Um dos principais expoentes dessa polarização intrínseca à política de transportes da

Era Vargas foi, justamente, o DNER. Por um lado, com o início do Estado Novo (1937-1945),

as ações do DNER seriam orientadas em observância ao Departamento Administrativo do

Serviço Público (DASP), o principal instrumento da centralização administrativa promovida

pelo governo Vargas (WAHRLICH, 1974, p. 29).11

Por outro lado, se a criação do DNER não

resultou na autonomia almejada pelos agentes promotores do rodoviarismo, ao menos a

pressão exercida pelos mesmos foi suficiente para alçar o modal rodoviário a uma posição de

destaque na execução do PNV, conforme demonstrado por Schwartzman (1983, p. 435).12

Além disso, em 1940 foi criado o Fundo Rodoviário dos Estados e Municípios, cuja

arrecadação se daria a partir de um imposto único sobre a produção e o comércio de

combustíveis e lubrificantes, e que poderia conferir alguma sustentação financeira às ações do

DNER, mas que se mostrou de difícil operacionalização (CAVALCANTI, 1995, p. 32).13

Ainda assim, esse imposto único criado em 1940 viria a se tornar, adiante, peça-chave para o

financiamento do rodoviarismo.

O rodoviarismo reprimido da Era Vargas resultou em uma expansão modesta da malha

rodoviária, de modo que o país somasse 423 km de extensão pavimentada ao final desse

período (DNER, 2015). Pode-se destacar, nesse ínterim, as obras de pavimentação parcial dos

trechos Petrópolis - Juiz de Fora (referente à antiga estrada União e Indústria), por parte do

governo federal, e do trecho São Paulo - Jundiaí (pertencente à Via Anhanguera), por parte do

estado de São Paulo (SCHWARTZMAN, 1983, p. 437).14

No entanto, com o fim do Estado

Novo, as instituições rodoviaristas se veriam desimpedidas para readquirir sua autonomia.

Dessa forma, em 1950 – pouco antes de Vargas reassumir a presidência, portanto – a extensão

pavimentada já haveria sido mais do que duplicada, em um total de 968 km (DNER, 2015).

10

O DNER foi criado pela Lei nº 467, de 31 de julho de 1937. 11

O DASP foi criado pelo Decreto-lei nº 579, de 30 de julho de 1938. 12

O trabalho de Schwartzman (1983), em questão, consiste na organização de textos e informações provenientes

do arquivo pessoal de Gustavo Capanema, ministro da educação durante grande parte da Era Vargas (de 1934 a

1945). Conforme salienta o próprio Schwartzman (1983, p. 3), seu trabalho deriva de uma perspectiva

necessariamente unilateral, mas “[...] acima de tudo, de uma visão interna, „compreensiva‟, do regime Vargas; e

neste sentido, é um documento de importância inestimável”. 13

O Fundo Rodoviário dos Estados e Municípios, bem como o imposto único federal que o sustentava, foi criado

pelo Decreto-lei nº 2.615, de 21 de setembro de 1940. 14

A antiga estrada União e Indústria corresponde atualmente ao trecho da rodovia BR-040 administrado pela

concessionária Concer (que engloba também a antiga estrada Rio-Petrópolis). O trecho São Paulo-Jundiaí, por

sua vez, compõe atualmente a rodovia SP-330 (conhecida como Via Anhanguera, que intersecciona a extensão

da rodovia BR-050) e faz parte da extensão administrada pela concessionária AutoBAn.

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O ponto de inflexão ocorrido nesse intervalo se deu pela chamada Lei Joppert, criada

durante o governo interino de José Linhares (1945-1946) e à qual o próprio DNER se refere

como a “Lei Áurea do rodoviarismo brasileiro” (DNER, 2015).15

Vale observar que o texto da

lei (Decreto-lei n° 8.463, de 27 de dezembro de 1945) apresenta, em meio às suas

considerações iniciais, os seguintes enunciados:

O Presidente da República [...] Considerando que a estrada de rodagem, graças ao

grau de perfeição já atingido pelo automóvel, representa hoje elemento de

fundamental importância no sistema de viação interna de qualquer país; [...]

Considerando que os Congressos Nacionais de Estradas de Rodagem e o

1º Congresso Geral de Transportes recomendaram ao Governo que se conferisse

autonomia financeira e administrativa ao Departamento Nacional de Estradas de

Rodagem; Considerando que a autonomia financeira é condição indispensável da

autonomia administrativa, e consiste essencialmente em destinar determinadas

rendas ou cotas de rendas à aplicação exclusiva a determinado serviço; [...] Decreta:

A Lei Joppert demarcou, portanto, o início de uma ampla autonomia administrativa e

financeira às operações do DNER, então transformado em autarquia. Foi criado o Fundo

Rodoviário Nacional (FRN), que substituiu o Fundo Rodoviário dos Estados e Municípios e

se tornou o novo destino da arrecadação pelo imposto único sobre combustíveis e lubrificantes

(criado em 1940). Do montante destinado ao FRN, 40% seria reservado ao DNER e os

restantes 60% seriam repartidos entres os estados, em valores proporcionais à população

(12%), à superfície territorial (12%) e ao consumo de combustíveis e lubrificantes (36%). No

entanto, para que os estados pudessem ter acesso aos recursos do FRN, os mesmos deveriam

elaborar um Plano Rodoviário próprio e submetê-lo à aprovação do DNER – e, portanto,

submetê-lo às diretrizes do Plano Rodoviário Nacional –, além de prestar-lhe contas sobre a

utilização desses recursos em conformidade com o referido plano.

As condições exigidas aos estados, para que os mesmos pudessem obter acesso ao

FRN, agiriam como estímulo para que os governos estaduais buscassem criar seus próprios

Departamentos de Estradas de Rodagem (DER). Até aquele momento existiam poucos

departamentos desse caráter ao nível estadual, dentre os quais se destacavam o DER de São

Paulo (criado em 1934), o DER do Rio de Janeiro (criado em 1943) e o Departamento

Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul (DAER-RS, criado em 1937).16

Porém, de acordo Accorsi (1996, p. 33), em apenas 11 meses após a criação da Lei Joppert já

haveriam sido criados 17 novos DER estaduais. Dessa forma, além de dotar o DNER de

15

Maurício Joppert da Silva, que dá nome à referida lei, esteve à frente do Ministério da Viação e Obras

Públicas (MVOP) durante o governo de José Linhares. 16

O DER-SP foi criado pelo Decreto estadual n° 6.529, de 2 de julho de 1934; o DER-RJ foi criado pelo

Decreto-lei estadual n° 693, de 11 de fevereiro de 1943; e o DAER-RS foi criado pela Lei estadual nº 750, de 11

de agosto de 1937.

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(1) autonomia decisória para colocar em prática o Plano Rodoviário Nacional e de (2) um

fluxo permanente de arrecadação através do FRN, a Lei Joppert também conferiu a essa

autarquia (3) a capacidade de promover uma política de transportes integrada inter-

regionalmente, ao supervisionar e orientar as atividades dos DER estaduais.

No caso da região Nordeste, a execução da política federal de expansão rodoviária

esteve a cargo da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS, criada em 1909).17

A

participação da IFOCS na política federal de transportes se fazia presente desde o início da

década de 1920, e perpassaria tanto o governo Washington Luís quanto a Era Vargas,

conforme evidenciam Konder (1930, p. 367) e Schwartzman (1983, p. 441). Em 1945, na

esteira do programa político de Linhares e da criação da Lei Joppert, esse órgão seria

reorganizado na forma do atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS)

(CAMPOS, 2012, p. 51).18

De acordo com o próprio DNOCS, a partir da criação e

reorientação de departamentos federais com atribuições mais específicas – como o DNER –,

ocorreria uma progressiva dissociação desse órgão para com obras que não envolvessem

diretamente a gestão de recursos hídricos. Ainda assim, o DNOCS permaneceria sendo, até o

início da década de 1960, o órgão federal responsável pela maior parte das obras de

construção pesada na região Nordeste, inclusive obras de construção rodoviária.

Outro desdobramento fundamental da Lei Joppert e da autonomização do DNER foi,

de acordo com Camargos (1993, p. 68), a formação de um setor nacional de construção

pesada. Segundo a mesma autora, esse setor seria nacional tanto no sentido da origem de seu

capital quanto no sentido do mercado para suas atividades, já que, até aquele momento,

o mercado brasileiro para a construção pesada era atendido essencialmente por empresas

estrangeiras. Com sua nova força, o DNER se configurava como a grande empresa

construtora do Estado e, a partir da contratação do capital privado para a realização de tarefas

específicas, começava a abrir caminho para o surgimento daquelas que se tornariam as

grandes construtoras privadas do país. Tinha-se, por um lado, o suporte para a formação de

capital de pequenas empreiteiras regionalmente relevantes, gerado pela expansão das

atividades dos DER estaduais. Por outro lado, a proximidade entre as atividades do DNER e

dos DER estaduais possibilitou que essas empreiteiras de relevância regional se lançassem em

projetos de escala federal e, assim, expandissem sua atuação (CAMARGOS, 1993).

17

A IFOCS foi criada pelo Decreto nº 7.619, de 21 de outubro de 1909 – com a nomeação de Inspetoria de

Obras Contra as Secas (IOCS) –, e foi reorganizada pelo Decreto nº 13.687, de 9 de julho de 1919. 18

A reorganização da IFOCS na forma do DNOCS se deu pelo Decreto-lei nº 8.486 de 28 de dezembro de 1945.

Mais adiante, o DNOCS seria transformado em autarquia pela Lei nº 4.229, de 1º de junho de 1963.

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No entendimento de Accorsi (1996, p. 46), a proporção alcançada pela reestruturação

do rodoviarismo brasileiro, a partir da Lei Joppert, teria sido possibilitada justamente pelo

caráter de transição desse momento, que se dá imediatamente após a deposição de Vargas.

Nos termos de Souza (1983, p. 134), “[...] a queda do Estado Novo foi amortecida, e sua

estrutura geral aproveitada para a nova armação institucional”. Dessa forma, a autonomização

da burocracia rodoviarista teria se apoiado nesse aproveitamento das estruturas anteriores,

pelo qual o Poder Executivo permaneceria preponderante em relação ao Legislativo. De

acordo com Bastos (2010, p. 134), a relação entre o governo Dutra (1946-1951) e sua base de

apoio parlamentar – afeita à descentralização – se sustentava a partir de um “equilíbrio

instável de compromisso” ao qual “[...] escapava restaurar graus de centralização política e

financeira semelhantes ao Estado Novo”. Nesse sentido, observou-se ao longo do governo

interino de Linhares e do governo Dutra um movimento de esvaziamento do DASP. Assim,

mesmo com o retorno de Vargas à presidência (1951-1954), a expansão rodoviária liderada

pelo DNER pôde acelerar o ritmo observado no quinquênio anterior, de modo que a extensão

pavimentada já somasse 3.133 km em 1955, de acordo com os dados do Ipeadata (2015).

Durante o governo Kubitschek (1956-1961), a expansão rodoviária foi administrada

junto ao Plano de Metas. De acordo com Pereira e Lessa (2011, p. 30), a expansão da malha

pavimentada teve uma meta inicialmente estabelecida em 3.000 km, que seria posteriormente

reestabelecida em 5.000 km e que, ao final do programa, seria superada, de modo que mais de

6.000 km de rodovias fossem pavimentadas ao longo desse período, sob a gestão do governo

federal. Segundo os dados do Ipeadata (2015), o conjunto das obras promovidas pelo DNER e

pelos DER estaduais resultariam na extensão pavimentada total de 13.357 km em 1960, o que

representava um crescimento de 326% em relação ao total existente em 1955.

Além das metas que tratavam especificamente da infraestrutura rodoviária – como a

meta de pavimentação –, o Plano de Metas propunha dois outros eixos de atuação que

estavam diretamente associados a esse modal, e que deveriam funcionar como estímulos

adicionais à expansão do mesmo. O primeiro desses eixos era a consolidação da indústria

automotiva no país, que seria sustentada, majoritariamente, pela atração de capital estrangeiro,

através de estímulos cambiais, fiscais, creditícios e comerciais. Caberia ao capital nacional,

nesse contexto, a expansão da indústria de autopeças, com a finalidade de atender à demanda

dessas montadoras estrangeiras que aqui se instalariam.19

Esperava-se, por um lado, que

19

As montadoras estrangeiras que se instalaram no país durante a execução do Plano de Metas foram: General

Motors, Mercedes-Benz, International Harvester, Scania-Vabis e Ford (para a produção de caminhões), além de

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28

expansão do mercado automotivo brasileiro reforçasse a necessidade do investimento em

rodovias, e, por outro lado, que a melhoria da malha rodoviária reforçasse a atração de capital

estrangeiro, ao demonstrar que as rodovias do país estariam preparadas, em extensão e

qualidade, para a circulação dos automóveis a serem produzidos. Assim como na meta de

pavimentação, a meta da produção de veículos (170.000 unidades) seria superada ao final do

programa (199.180 unidades). Paralelamente, o segundo eixo que se associava à infraestrutura

rodoviária era a construção de Brasília, cuja conexão com os demais polos econômicos do

país dependeria fortemente da interiorização da malha (PEREIRA; LESSA, 2011).

Pouco antes de Kubitschek assumir a presidência, o FRN começaria a apresentar sinais

de desgaste. De 1948 a 1954, o montante arrecadado por esse fundo cresceu continuamente,

ao ritmo de 18,5% ao ano em valores correntes, para então, em 1955, sofrer uma queda de

mais de 10%. Parte dessa queda poderia ser explicada por uma absorção, via consumo, do

estoque acumulado de combustíveis e lubrificantes. Parte, ainda, poderia ser explicada pela

entrada da Petrobras nesse mercado, em 1954, que passaria a suprir uma parcela da demanda

interna – ainda que, nesse período, essa parcela fosse pequena.20

Nesse segundo caso, impera

o fato de que imposto único, que sustentava o FRN, cobrava valores maiores sobre o consumo

de importados em comparação ao consumo interno, de modo que a substituição entre ambos

contribuísse para a redução do abastecimento desse fundo (KUBITSCHEK, 1956, p. 426).21

No entanto, além dessa redução em termos de sua arrecadação nominal, o FRN também se

desgastava em termos reais, já que o imposto único não era do tipo ad valorem e, portanto,

começava a ser pressionado pela inflação (KUBITSCHEK, 1957, p. 200).22

Assim, ocorreria

uma reformulação do imposto único em 1956, de forma a transformá-lo em imposto ad

valorem e fazê-lo incidir, também, sobre combustíveis gasosos.23

De acordo com Camargos (1993, p. 83), o Plano de Metas implicou um considerável

aumento na mobilização de recursos financeiros pelo governo federal, principalmente em

função do endividamento público e da emissão primária de moeda. Complementarmente,

Simca, Toyota, Willys Overland e Volkswagen (para a produção dos demais tipos de veículos). Destaca-se,

ainda, a atuação de duas montadoras nacionais, a FNM (empresa estatal fundada durante a Era Vargas e

encerrada em 1985) e a Vemag (encerrada em 1967). Todas as empresas mencionadas se instalaram na Região

Metropolitana de São Paulo (HAFFNER, 2002, p. 148). 20

A Petrobras foi criada pela Lei n° 2.004, de 3 de outubro de 1953. 21

Os dados referentes à arrecadação do FRN, bem como a análise associada a esses dados, estão presentes na

mensagem apresentada ao Congresso Nacional na abertura da primeira sessão legislativa de 1956. 22

Essa avaliação está presente na mensagem apresentada ao Congresso Nacional na abertura da primeira sessão

legislativa de 1957. De 1949 a 1952, a inflação (medida pelo IGP-DI/FGV) apresentou uma taxa média de 12%

ao ano, ao passo que, de 1953 a 1956, apresentou uma taxa média de 19% ao ano (IPEADATA, 2015). 23

O imposto único foi reformulado pela Lei n° 2.975, de 27 de novembro de 1956.

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29

Paula (2000, p. 142) afirma que a execução de políticas pelo governo Kubitschek passava ao

largo do Poder Legislativo, de modo que o papel decisório do Congresso Nacional fosse

atrofiado frente aos órgãos do Executivo federal. O conjunto desses fatores, aliado ao

aprofundamento da autonomia do DNER, permitiu que essa autarquia se apropriasse de parte

dos novos recursos mobilizados pelo governo. Assim, além da reformulação do imposto único

e, por extensão, do FRN (em 1956), o DNER passava a contar, também, com recursos

advindos de dotações orçamentárias da União, que inclusive chegariam a superar o FRN na

composição da receita total dessa entidade (em 1961), conforme afirma Camargos (1993).

Ferraz Filho (1981, p. 66) relata que parte das receitas geradas pelos leilões de divisas

promovidos pela Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) também seriam

repassadas à política rodoviarista.24

Segundo esse autor, havia uma recomendação por parte

do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) para que fosse realizado esse

repasse, a fim de subsidiar a importação das máquinas necessárias à construção viária.25

A

partir dessa recomendação, deveriam ser reservados US$ 65 milhões para esse fim, no período

de 1957 a 1961. Essa quantia seria repartida da seguinte forma: US$ 7 milhões para o DNER,

US$ 18 milhões para os DER estaduais, US$ 7 milhões para as prefeituras municipais e US$

33 milhões para as construtoras privadas contratadas pelo DNER (FERRAZ FILHO, 1981).

O fato de os repasses da SUMOC serem majoritariamente destinados ao capital privado –

conforme o relato de Ferraz Filho – é consoante ao novo papel assumido pelo DNER durante

o Plano de Metas. De acordo com Accorsi (1996, p. 58), a autarquia se afastava

progressivamente da atividade direta de construção pesada, enquanto o capital privado

contratado – que, naquele momento, já contava com empresas de grande porte – passava a

assumir integralmente a execução das tarefas mais complexas.

Ao longo da década que sucedeu a Lei Joppert (1946 a 1955), o crescimento das

empreiteiras nacionais foi intensamente estimulado pela dinâmica das contratações executadas

pelo DNER e pelos DER estaduais. Em seguida, como observa Ferraz Filho (1981, p. 57), o

Plano de Metas resultou no aprofundamento dessa demanda pelo setor privado de construção

pesada, não apenas em função da política de transportes, mas também pelo estímulo estatal ao

setor de energia, ao desenvolvimento industrial e à própria construção de Brasília. No âmbito

24

O procedimento desses leilões de divisas era um resultado da Instrução 70 da SUMOC (de 1953), que instituiu

a utilização de taxas de câmbio múltiplas. A SUMOC desempenhava o papel de autoridade monetária do país

anteriormente à criação do Banco Central do Brasil (BCB), pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. 25

O BNDE foi criado pela Lei n° 1.628, de 20 de junho de 1952. A sua denominação atual (BNDES) tem início

a partir do Decreto-lei nº 1.940, de 25 de maio de 1982.

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do rodoviarismo, Camargos (1993, p. 86) afirma que as contratações se davam de forma cada

vez mais restritiva, de modo a favorecer um pequeno grupo de grandes empreiteiras. Nesse

mesmo sentido, Campos (2012, p. 67) afirma que, durante a execução do Plano de Metas, o

DNER lançaria mão de “[...] critérios não-licitatórios para a escolha das empreiteiras”, o que

refletiria na baixa concorrência pela assunção das obras.

Em relação ao expressivo crescimento de determinadas empreiteiras, estimulado pelas

contratações estatais, um dos exemplos mais elucidativos é a trajetória da empresa Andrade

Gutierrez, fundada em 1948. De acordo com Camargos (1993, p. 74), quando essa empreiteira

começou a ser contratada pelo DER-MG – durante o período em que Kubitschek foi

governador de Minas Gerais (1951-1955) –, ela ainda “[...] trabalhava no esquema de

carrocinhas de terra puxadas a burro, em serviços de terraplanagem”.26

Pouco depois, quando

essa empresa começaria a ser contratada diretamente pelo DNER – durante a presidência de

Kubitschek –, ela já passaria a participar de obras de grande expressão, como a construção (a

partir de 1957) do trecho São Paulo - Curitiba (ANDRADE GUTIERREZ, 2015).27

A Figura 1, a seguir, apresenta a distribuição geográfica dos 9.019 km de rodovias

federais pavimentadas existentes ao final de 1960 – em meio à extensão total pavimentada de

13.357 km para o mesmo ano –, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 1990, p. 465). Percebe-se, a partir dessa figura, a concentração dessa malha

no eixo Sudeste-Sul do país, especialmente através de trechos que irradiam a partir das

cidades de São Paulo (o principal reduto da indústria automotiva brasileira) e Rio de Janeiro

(a capital federal até o referido ano). Destaca-se, ainda, a pavimentação de grande parte da

extensão correspondente à atual rodovia BR-116, como no trecho que perpassa o norte de

Minas Gerais (que pertence à atual rodovia Rio-Bahia) e no trecho que conecta Rio de

Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Ademais, observa-se a pavimentação completa do

trecho de ligação entre a cidade do Rio de Janeiro e a nova capital Brasília.

26

Camargos (1993, p. 88) afirma que Kubitschek, ao assumir a presidência, teria levado para o DNER grande

parte da equipe responsável pela política rodoviária mineira, executada durante o seu mandato como governador. 27

O trecho São Paulo-Curitiba (concluído em 1961) compunha, naquela época, a rodovia BR-2. Atualmente

corresponde ao trecho da rodovia BR-116 conhecido como Régis Bittencourt, administrado pela concessionária

Autopista Régis Bittencourt.

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Figura 1 - Mapa das rodovias federais pavimentadas do Brasil (1960)

Fonte: Borges (2013, p. 5).

O período que se seguiu ao governo Kubitschek foi marcado por severas perturbações

políticas, como a renúncia de Jânio Quadros (em 1961) e o isolamento político da presidência

de João Goulart (1961-1964). A instabilidade do período também se apresentava em termos

econômicos, evidenciada pela aceleração da inflação e pelo baixo crescimento econômico.28

Essa crise político-econômica se tornaria ainda mais explícita pelo fracasso do Plano Trienal,

colocado em prática em 1963, a fim levar adiante uma política de estabilização. Dessa forma,

Cavalcanti (1995, p. 44) afirma que a atuação do DNER transcorreu de forma limitada nesse

período, apesar da execução de algumas obras de grande expressão, como a conclusão da

pavimentação da rodovia Rio-Bahia (em 1963) e a construção da Ponte da Amizade entre

Brasil e Paraguai (concluída em 1965). Conforme os dados do Ipeadata (2015), a extensão

pavimentada somava 18.730 km ao final de 1964.

No início do Regime Militar (1964-1985), as políticas setoriais – inclusive a política

de transportes – se adequariam a uma nova proposta geral de estabilização, sintetizada pelo

Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG, 1964-1966). O governo Castello Branco

(1964-1967), a partir do PAEG, buscaria a reaproximação entre o país e o Banco Mundial –

esforço esse em que o governo Goulart havia sido malsucedido. Segundo Accorsi (1996,

28

De 1961 a 1963, a inflação (medida pelo IGP-DI/FGV) apresentou uma taxa média de 54% ao ano

(IPEADATA, 2015). Em 1963, o crescimento econômico foi de 0,6% ao ano (BCB, 2015).

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p. 77), o afastamento do Brasil em relação ao Banco Mundial – e entidades correlatas, como o

Fundo Monetário Internacional (FMI) – remontava ao governo Kubitschek (a 1959), em

função da recusa do mesmo em refrear a execução do Plano de Metas e assumir uma política

de austeridade. No entanto, Cavalcanti (1995, p. 45) afirma que, a partir do PAEG, o Banco

Mundial passaria a exercer influência direta sobre as políticas setoriais do país, especialmente

através do incentivo à (1) descentralização administrativa do Estado e à (2) execução de obras

subordinada a estudos de viabilidade técnica e econômica.

A nova orientação da política de transportes seria sustentada, nas palavras de Accorsi

(1996, p. 80), por “[...] práticas autodenominadas modernizantes fortemente calcadas em

preceitos tecnocráticos”. Assim, essa orientação traria consigo um diagnóstico negativo em

relação às políticas praticadas em governos anteriores – notadamente o Plano de Metas –, nas

quais o investimento, embora volumoso, teria se dado de forma desordenada e carente de

planejamento técnico-econômico. A fim de reestruturar esse planejamento, lançou-se um

novo Plano Nacional de Viação (PNV) em 1964.29

Anteriormente, conforme evidencia

Schwartzman (1983, p. 436), o PNV (de 1934) havia priorizado as chamadas rodovias-tronco,

responsáveis pela conexão entre os principais centros econômicos do país. O novo PNV, por

sua vez, além de tratar do aprimoramento dessas rodovias-tronco, também conferiria destaque

às rodovias mais essenciais ao escoamento das exportações e às chamadas rodovias de

penetração – responsáveis pela interiorização da malha, através da construção de acessos aos

referidos troncos. Dessa forma, o novo PNV se mostraria, também, mais alinhado à proposta

geral de integração nacional que permearia todo o período do Regime Militar.

Em 1965 foi criado o Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes

(GEIPOT), vinculado ao MVOP e que deveria estabelecer as diretrizes do planejamento

estatal dos transportes, além de prestar apoio técnico às entidades responsáveis pela execução

desse planejamento – o DNER, por exemplo.30

Segundo Araújo (2013, p. 72), a criação do

GEIPOT resultou de um acordo estabelecido entre o governo brasileiro e o Banco

Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) – a fim de tornar o país mais

apto à captação de financiamento internacional – e foi inicialmente estruturado como um

órgão interministerial, presidido pelo ministro da Viação e Obras Públicas e cuja direção era

29

O novo PNV foi criado pela Lei nº 4.592, de 29 de dezembro de 1964. 30

O GEIPOT foi criado pelo Decreto nº 57.003, de 11 de outubro de 1965. O Decreto-lei nº 516, de 7 de abril de

1969, o transformou em Grupo de Estudos para Integração da Política de Transportes, ao passo que a Lei

nº 5.908, de 20 de agosto de 1973, o transformou em Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

(manteve-se a sigla GEIPOT, devido à ampla difusão da mesma até aquele momento). A entidade foi extinta pela

Medida Provisória nº 427, de 9 de maio de 2008 (GEIPOT, 2013).

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composta, também, pelo ministro da Fazenda, pelo ministro do Planejamento e Coordenação

Econômica, e pelo Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. De acordo com Cavalcanti

(1995, p. 45), essa configuração inicial do GEIPOT lhe dotaria de uma considerável

autonomia administrativa, especialmente no âmbito da contratação de pessoas e empresas

para a execução das atividades que lhe cabiam.

Ao final do governo Castello Branco, a nova orientação da política de transportes se

tornaria ainda mais evidente. Em primeiro lugar, foi instituído o Decreto-lei nº 185, de 23 de

fevereiro de 1967, que condicionava a contratação de obras públicas à existência prévia (1) de

recursos financeiros, (2) de um detalhado cronograma de execução física e financeira, e (3) de

um projeto de engenharia completo e aprovado pela autoridade competente. Dessa forma, os

projetos estatais estariam sujeitos a uma nova formalidade, sensivelmente mais rígida. Em

segundo lugar, foi instituído o Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, responsável por

uma ampla reforma administrativa na esfera federal, que apresentava entre seus princípios

fundamentais (enunciados no texto da lei) a descentralização e a delegação de competência

(WAHRLICH, 1974, p. 45; CAVALCANTI, 1995, p. 46). Ao descrever o princípio da

descentralização (artigo 10, parágrafo 1º), o Decreto-lei nº 200/67 instituiria o seguinte:

A descentralização será posta em prática em três planos principais: a) dentro dos

quadros da Administração Federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do

de execução; b) da Administração Federal para a das unidades federadas, quando

estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio; c) da Administração

Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões. [grifo nosso]

Operou-se, nesse momento, o desmembramento do MVOP e, portanto, a criação do

Ministério dos Transportes. Em seguida, ao longo dos governos Costa e Silva (1967-1969) e

Médici (1969-1974), o DNER lançaria mão da contratação em larga escala de estudos e

projetos de viabilidade para as suas obras, a partir do apoio técnico do GEIPOT e em

conformidade com os decretos-lei de 1967 mencionados anteriormente (CAVALCANTI,

1995, p. 52).31

Essa nova fase do DNER, e do setor público como um todo, resultaria em

amplo estímulo para um emergente setor nacional de empresas de consultoria, de maneira

análoga ao processo observado para o setor de construção pesada durante as décadas

anteriores – processo esse que, por sua vez, seria ainda mais aprofundado a partir da reforma

administrativa federal implantada em 1967 (CAMPOS, 2012, p. 123).

31

Os governos de Costa e Silva e de Médici foram responsáveis pelo chamado Milagre Econômico brasileiro,

ocorrido de 1968 a 1973, período em que o crescimento econômico se deu a uma taxa média de 11% ao ano

(BCB, 2015). Destacam-se, no contexto do Milagre Econômico, dois programas dentre aqueles que pautariam as

políticas setoriais do período: o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED, 1968-1970) e o I Plano

Nacional de Desenvolvimento (I PND, 1972-1974).

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A partir da década de 1960, a receita gerada pelo imposto único (sobre combustíveis e

lubrificantes) passaria a ser destinada não apenas ao FRN, mas também ao financiamento de

outras funções, como o transporte ferroviário, o aeroviário e a Petrobras. Essas outras funções

apresentariam participação crescente na distribuição do valor arrecadado, porém o FRN não

deixaria de ser o principal destino do imposto único, de modo que as demais funções somadas

absorvessem não mais do que 30% dessa receita – ao menos até 1974. Ainda assim, no

período que se seguiu à Reforma Administrativa de 1967, seriam criadas três novas fontes de

arrecadação tributária, com a finalidade de atender unicamente ao DNER: (1) o Imposto sobre

Transporte Rodoviário de Passageiros (ITRP, criado em 1967), incidente sobre o valor das

passagens de viagens interurbanas, (2) a Taxa Rodoviária Única (TRU, criada em 1968),

incidente sobre a propriedade de veículos automotores, e (3) a autorização da cobrança de

pedágio em rodovias federais com alta densidade de tráfego (a partir de 1969), colocada em

prática nos trechos Rio-São Paulo e Osório-Porto Alegre (CAVALCANTI, 1995, p. 61;

PEREIRA, 1974, p. 195).32

Paralelamente, o DNER contaria com recursos de dotações orçamentárias da União,

assim como no Plano de Metas. No entanto, além das dotações ordinárias, o DNER também

contaria com dotações provenientes de programas especiais do governo federal, notadamente

a partir da década de 1970. Esses programas atendiam à política de integração nacional do

Regime Militar e permitiam, ao DNER, a execução de obras à parte daquelas recomendadas

pelo GEIPOT. Os referidos programas eram: (1) o Programa de Integração Nacional (PIN,

criado em 1970), (2) o Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo à Agroindústria do

Norte e Nordeste (PROTERRA, criado em 1971), (3) o Programa de Desenvolvimento do

Centro-Oeste (PRODOESTE, criado em 1972), e (4) o Programa Especial para o Vale do São

Francisco (PROVALE, criado em 1972) (PEREIRA, 1974, p. 170).33

As novas fontes de arrecadação tributária (criadas ao final da década de 1960) em

conjunto às dotações orçamentárias da União (principalmente a partir da década de 1970)

implicariam em um reforço significativo ao financiamento do rodoviarismo. Entretanto, a

32

O ITRP foi criado pelo Decreto-lei nº 284, de 28 de fevereiro de 1967; o TRU foi criado pelo Decreto-lei

nº 397, de 30 de dezembro de 1968; e a cobrança de pedágio foi autorizada pelo Decreto-lei nº 791, de 27 de

agosto de 1969. A nova rodovia Rio-São Paulo corresponde ao trecho da rodovia BR-116 conhecido como

Presidente Dutra, atualmente administrado pela concessionária NovaDutra. O trecho Osório-Porto Alegre,

por sua vez, corresponde ao trecho da rodovia BR-290 conhecido como Osvaldo Aranha (ou Free Way),

atualmente administrado pela concessionária Concepa. 33

O PIN foi criado pelo Decreto-lei nº 1.106, de 16 de junho de 1970; o PROTERRA foi criado pelo Decreto-lei

nº 1.179, de 6 de julho de 1971; o PRODOESTE foi criado pelo Decreto nº 70.622, de 25 de maio de 1972;

e o PROVALE foi criado pelo Decreto-lei nº 1.207, de 7 de fevereiro de 1972.

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novidade mais expressiva na mobilização de recursos pelo DNER, à parte do FRN, seria

o seu endividamento interno e externo, especialmente esse último. Segundo Pereira (1974,

p. 200), as principais fontes de financiamento interno seriam: o Banco do Brasil, o BNDE,

o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura (GERCA, criado em 1961) e o Banco

de Investimento Brasileiro (BIB, o futuro Unibanco).34

Por sua vez, as principais fontes de

financiamento estrangeiro seriam: o Banco Mundial, o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), o European Brazilian Bank (Eurobraz), a Caterpillar (fabricante de

veículos pesados), o banco Singer & Friedlander e o Grupo Rothschild (PEREIRA, 1974).

De acordo com os dados do Ipeadata (2015), a extensão pavimentada total do país

aumentaria de 18.730 km em 1964 para 76.321 km em 1974. Nesse intervalo, observou-se

a exacerbação da sustentação financeira das operações do DNER, conforme exposto

anteriormente. Além disso, a criação do GEIPOT (em 1965) possibilitaria o aprimoramento

do planejamento das políticas transportes, ao passo que o setor privado – na forma das

grandes empreiteiras e das empresas de consultoria, principalmente – seria amplamente

absorvido e estimulado pela execução desse planejamento. Dessa forma, ao longo da primeira

metade do Regime Militar, o rodoviarismo brasileiro alcançaria o seu apogeu.

1.2 CRISE DE FINANCIAMENTO, DETERIORAÇÃO DO INVESTIMENTO E

PRIVATIZAÇÃO COMO ALTERNATIVA (1974-1998)

Os sucessivos choques nos preços do petróleo, ocorridos ao longo da década de 1970,

demarcaram um novo ponto de inflexão para a expansão da infraestrutura rodoviária no

Brasil. Conforme descrito na seção anterior, o imposto único sobre combustíveis e

lubrificantes (criado em 1940) havia representado, durante mais de três décadas, a principal

fonte de financiamento dessa expansão rodoviária, especialmente a partir da Lei Joppert e,

portanto, da criação do FRN em 1945. Dessa forma, o choque na oferta desses derivados de

petróleo – decorrente do súbito aumento nos preços internacionais de seu insumo mais básico

– poderia, por si só, ocasionar um considerável efeito negativo sobre a arrecadação do FRN e,

por extensão, sobre a estratégia de financiamento do rodoviarismo.

Adicionalmente a esse possível efeito negativo, tem-se que o governo Geisel (1974-

1979) colocaria em prática o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND, 1975-1979),

34

O GERCA foi criado pelo Decreto do Conselho de Ministros nº 79, de 26 de outubro de 1961.

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36

a fim de enfrentar tais efeitos do primeiro choque do petróleo (ocorrido em 1973) e manter o

Brasil na esteira do chamado Milagre Econômico (1968-1973), de modo a promover uma

política econômica anticíclica. A partir do II PND, seria observada uma progressiva

desvinculação de recursos em relação às políticas setoriais, de maneira a centralizar esses

recursos junto ao Tesouro Nacional, conforme aponta Cavalcanti (1995, p. 65). Assim, através

dessa desvinculação, o governo federal deveria contar com maior liberdade para o

direcionamento dos recursos mobilizados e, portanto, para a execução do II PND. O principal

expoente dessa nova orientação seria a criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento

(FND), ainda em 1974.35

Determinou-se, nesse momento, que 10% da arrecadação pelo

imposto único sobre combustíveis e lubrificantes – e também pelos impostos únicos sobre

energia elétrica e sobre minerais – fosse revertida para o FND em 1975. Essa parcela revertida

ao FND deveria aumentar em 10 pontos percentuais a cada ano, de modo que 50% da

arrecadação pelos impostos únicos fosse recolhida a esse fundo a partir de 1979.

A autonomização do DNER, que havia alcançado seu mais alto patamar durante o

Milagre Econômico, acabaria refreada por essa articulação do II PND. Em consequência

desse movimento, a extensão rodoviária pavimentada do país chegaria a ser reduzida de

76.321 km em 1974 para 74.853 km em 1979, de acordo com os dados do Ipeadata (2015).

O governo Figueiredo (1979-1985), frente aos efeitos do segundo choque do petróleo

(ocorrido em 1979), trataria de aprofundar o processo de desvinculação de recursos. Assim, o

FND seria reformulado ainda em 1979, de maneira a determinar que 100% da arrecadação

pelos impostos únicos fosse recolhida para esse fundo a partir de 1982, o que resultaria na

extinção do FRN.36

Também em 1982, o próprio FND seria extinto, e o produto de sua

arrecadação passaria a fazer parte dos recursos ordinários do Tesouro Nacional.37

Assim como o imposto único, as demais fontes de arrecadação tributária do DNER

também seriam totalmente desvinculadas ao longo da década de 1980. De acordo com

Lacerda (2005, p. 145), o ITRP (criado em 1967) e o próprio imposto único seriam

posteriormente consubstanciados no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS), ao passo que a TRU (criada em 1968) daria origem ao futuro Imposto sobre a

Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).38

Ambos os tributos seriam, portanto,

35

O FND foi criado pela Lei nº 6.151, de 4 de dezembro de 1974. 36

A reformulação do FND se deu pelo Decreto-lei nº 1.754, de 31 de dezembro de 1979. 37

A extinção do FND se deu pelo Decreto-lei nº 1.859, de 17 de fevereiro de 1981. 38

O ITRP havia sido alterado pelo Decreto-lei nº 1.438, de 26 de dezembro de 1975, e transformado em Imposto

sobre os Serviços de Transporte Rodoviário Intermunicipal e Interestadual de Passageiros e Cargas (ISTR).

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37

desassociados da esfera federal e transformados em competência dos estados. A consolidação

desses novos impostos se daria a partir da Constituição de 1988, que vedaria explicitamente

(pelo artigo 167, inciso IV) a vinculação das receitas de impostos a qualquer órgão, fundo ou

despesa, exceto para a educação.39

Em relação ao pedágio, Pessoa (1992, p. 7) afirma que o

mesmo permaneceria existente ao longo dessa década, mas ressalta que sua arrecadação mal

seria suficiente para cobrir as próprias despesas operacionais da cobrança.

A partir desse longo processo de desvinculação das receitas de impostos, o DNER

passaria a ser financiado, basicamente, pelas dotações orçamentárias da União e pelo

endividamento externo, embora esse último se mostrasse bem menos expressivo em

comparação ao endividamento observado no período do Milagre Econômico, conforme os

dados apresentados por Pereira (1974, p. 200) e Pessoa (1992, p. 8). Apesar dessa perda de

autonomia financeira do DNER, a extensão pavimentada total voltaria a crescer ao longo da

década de 1980, ao passar de 74.853 km em 1979 para 136.647 km em 1989, segundo os

dados do Ipeadata (2015). Esse crescimento, no entanto, seria majoritariamente explicado pela

expansão da malha estadual (a cargo dos DER estaduais) em comparação à expansão da

malha federal (a cargo do DNER, cuja sustentação financeira se deteriorava).

Como demonstram os dados do IBGE (1990, p. 465), a extensão pavimentada estadual

ultrapassaria a federal a partir de 1981. Nesse sentido, tem-se que a malha pavimentada

estadual cresceria em 116% no período de 1979 a 1986, ao passo que a malha pavimentada

federal cresceria apenas em 23% no mesmo intervalo. Essa reconfiguração da expansão

rodoviária se relaciona, de acordo com Campos (2012, p. 135), com o processo de abertura

política do Regime Militar ocorrido durante o governo Figueiredo, já que “a emergência de

prefeitos e governadores da oposição veio junto com a demanda por mais descentralização

dos recursos e dos investimentos”. Em meio a esse cenário, a política estatal de construção

rodoviária (como um todo) passaria a conferir maior atenção às rodovias de penetração, em

detrimento das rodovias-tronco, e maior atenção ao aprimoramento de rodovias preexistentes,

em detrimento da construção de novas rodovias (CAMPOS, 2012).

Conforme discutido anteriormente, o protagonismo da expansão rodoviária seria

deslocado, ao longo da década de 1980, em direção aos DER estaduais. Dessa forma,

O ICMS, em sua nomeação completa, é “Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e

prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação”. 39

Essa desvinculação descrita no artigo 167 da Constituição de 1988 se tornaria mais flexível posteriormente,

através da aprovação de emendas constitucionais.

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38

os efeitos da crise econômica que se desenhava desde o segundo choque do petróleo (ocorrido

em 1979) seriam atenuados para o rodoviarismo, de modo a permitir a preservação de algum

fôlego por parte desse projeto – ainda que a força do DNER tivesse esvaecido durante esse

período. Entretanto, na passagem para a década de 1990 tem-se o aprofundamento da crise

econômica.40

Nesse contexto de crise, a sustentação financeira do DNER e dos DER estaduais

seria ainda mais deteriorada, de mondo a lançar a extensão pavimentada a um período de

relativa estagnação. De acordo com os dados do Ipeadata (2015), a extensão pavimentada

passaria de 136.647 km em 1989 para 148.871 km em 1998. Além disso, essa perda da

capacidade de financiamento resultaria na progressiva redução dos investimentos em

manutenção e aprimoramento das rodovias preexistentes, o que refletiria na deterioração da

qualidade da malha pavimentada, conforme aponta Correia (2011, p. 92).

Destacam-se, nesse momento, duas tentativas de conferir alguma sobrevida ao fluxo

de financiamento da construção rodoviária. A primeira delas foi o Selo Pedágio (criado em

1988), durante o governo Sarney (1985-1990), que dava ao usuário o direito de trafegar pelas

rodovias federais sem a necessidade de parar nos postos de cobrança de pedágio (durante um

mês), mas que seria extinto (em 1990) em função de sua arrecadação inexpressiva. A segunda

tentativa se deu pela Taxa de Conservação Rodoviária (criada em 1990), durante o governo

Collor de Mello (1990-1992), que seria cobrada proporcionalmente ao rendimento médio de

cada veículo e à quantidade de combustível consumida pelo mesmo, mas que seria declarada

inconstitucional em 1993 (CORREIA, 2011, p. 118; GONZE, 2014, p. 15). 41

O Gráfico 1, a seguir, resume a trajetória da extensão rodoviária pavimentada no que

se refere, principalmente, ao período de análise da presente seção. Vale reiterar que essa

extensão da malha pavimentada é compreendida, aqui, como proxy da variável de

investimento público em infraestrutura rodoviária. Pretende-se contribuir, a partir de tal

gráfico, para evidenciar o caráter de inflexão manifestado pelo período em questão. Nesse

sentido, destacam-se quatro estágios em meio à trajetória apresentada: (1) a instabilidade da

expansão rodoviária nos anos imediatamente posteriores ao primeiro choque do petróleo

(ocorrido em 1973), inclusive com taxas de variação negativas para dois anos;

40

Já em 1981 a economia do país havia sofrido uma retração de 4,2% a.a., e voltaria a sofrer recessões também

em 1983 (-2,9 a.a.), 1988 (-0,1% a.a.), 1990 (-2,1% a.a.) e 1992 (-0,5% a.a.) (BCB, 2015). Adicionalmente, tem-

se que a inflação (medida pelo IGP-DI/FGV) havia apresentado uma taxa média de 128% a.a. durante o governo

Figueiredo (1979-1985), e seria ampliada para de 655% a.a. durante o governo Sarney (1985-1990) e para

1.697% a.a. durante o governo Collor de Mello (1990-1992) (IPEADATA, 2015). 41

O Selo Pedágio foi criado pela Lei nº 7.712, de 22 de dezembro de 1988, e foi extinto pela Lei nº 8.075, de 16

de agosto de 1990. A Taxa de Conservação Rodoviária foi criada pela Lei no 8.155, de 28 de dezembro de 1990.

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39

(2) a desaceleração da expansão rodoviária ao longo da década de 1980, quando o

protagonismo das políticas rodoviárias foi assumido pelos DER estaduais, em detrimento do

DNER; (3) a estagnação da extensão pavimentada ao longo da década de 1990, quando a crise

de financiamento desse setor atingiu seu ápice; e, por fim, (4) a gradual retomada da expansão

rodoviária, ainda que de forma inconstante, na passagem para a década de 2000.

Gráfico 1 - Extensão rodoviária pavimentada (1967-2008) - 1.000 km

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Ipeadata (2015).

Ainda no sentido de evidenciar o caráter de inflexão do período aqui analisado para as

políticas rodoviárias, tem-se que o Gráfico 2, a seguir, resume a trajetória, a partir da década

de 1980, do investimento em infraestrutura de transporte por parte do governo federal, o qual

é constituído majoritariamente pelo investimento no modal rodoviário – conforme as

informações apresentadas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2012, p. 239).

São utilizados, nesse gráfico, os valores de despesas liquidadas – como uma medida

aproximada aos valores das despesas pagas de fato – em relação ao PIB.42

Assim, pode-se

destacar, em meio à trajetória apresentada, os seguintes estágios: (1) a súbita queda das

despesas federais em transportes que se dá na passagem para a década de 1990;

(2) a permanência da tendência de queda até os primeiros anos da década de 2000; e, por fim,

(3) uma sutil tendência de aumento a partir de meados dessa mesma década.

42

A liquidação é a penúltima etapa do processamento das despesas governamentais, e consiste na verificação do

bem ou serviço adquirido. O pagamento, por sua vez, é a etapa final e consiste no recebimento do valor pelo

ofertante desse bem ou serviço em questão.

-20%

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

0

50

100

150

200

250

1967

1968

1969

1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

1.0

00 k

m

Extensão rodoviária pavimentada (1.000 km) Taxa de variação da extensão rodoviária pavimentada (% a.a.)

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40

Gráfico 2 - Investimento federal em transporte no Brasil (1980-2011) - despesa liquidada / PIB (%)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de BCB (2015), Brasil (2015) e Senado Federal (2015).

Nota: (1) Linha de tendência polinomial de ordem 6 (R² = 0,844).

Durante o mesmo período aqui analisado, porém em âmbito global, observou-se a

disseminação mundial de políticas públicas de caráter neoliberal. Nos países centrais, esse

movimento se deu com maior notoriedade a partir da década de 1980, tendo como seus

principais expoentes o governo de Ronald Reagan (1981-1989), nos Estados Unidos, e o

governo da primeira ministra Margaret Thatcher (1979-1990), no Reino Unido. Na América

Latina, entretanto, esse mesmo movimento encontraria maior expressividade apenas ao longo

da década de 1990, a exemplo de governos como Alberto Fujimori (1990-2000), no Peru,

Carlos Andrés Pérez (1989-1993), na Venezuela, Carlos Menem (1989-1999), na Argentina,

e Carlos Salinas (1988-1994), no México (ANDERSON, 1995, p. 20). No caso brasileiro,

os principais expoentes nesse sentido seriam os governos Collor de Mello (1990-1992) e

Cardoso (1995-2002) (MODIANO, 2000, p. 324).

O processo mencionado no parágrafo anterior pode ser sintetizado no chamado

Consenso de Washington. Essa expressão é a atribuída a John Williamson, em função de seu

trabalho intitulado What Washington Means by Policy Reform, publicado em 1990, no qual é

descrito o conjunto de políticas econômicas indicadas aos países latino-americanos por parte

dos órgãos multilaterais sediados em Washington, como o FMI e o Banco Mundial. Esse

autor descreve, ao todo, dez proposições, dentre as quais: disciplina fiscal, livre-comércio

internacional, livre entrada de capitais estrangeiros, câmbio flutuante, desregulamentação de

mercados, e privatizações (WILLIAMSON, 2000, p. 252).

Em consonância com esse movimento político e econômico mais amplo, o governo

Collor de Mello instituiria, em 1990, o Programa Nacional de Desestatização (PND)

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

1,4%

1,6%

1,8%

2,0%

Investimento / PIB Linha de Tendência¹

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41

(Lei nº 8.031/90), a partir do qual passariam a ser sistematizadas as políticas de privatização

no país. Na esteira do PND, o governo Cardoso aprovaria, em 1995, a chamada Lei Geral das

Concessões (Lei nº 8.987/95), que representa o marco regulatório para as concessões de

serviços públicos no país. Esse novo arcabouço legal, coadunado a um cenário de crise de

financiamento e deterioração do investimento para as políticas rodoviárias, criaria uma

conjuntura favorável às privatizações de rodovias como fonte alternativa de recursos para esse

setor. Dessa maneira, teriam início as políticas de privatização de rodovias no Brasil.

1.3 PRIVATIZAÇÃO CONJUGADA À POLÍTICA PÚBLICA (1998-2014)

Conforme apresentado na seção anterior, foi observada, na passagem da década

de 1990 para a década de 2000, uma gradual retomada da expansão rodoviária, após anos de

estagnação. Essa retomada estaria associada a um princípio de recuperação do investimento

público no setor, após sua mais grave crise de financiamento. Nesse sentido, tem-se que uma

das principais razões para tal recuperação teria sido a instituição da chamada Contribuição de

Intervenção no Domínio Econômico (a CIDE-Combustíveis), em 2001.

A CIDE-Combustíveis (Lei nº 10.336/01) é incidente sobre a “a importação e a

comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico

combustível” – de modo a manifestar, portanto, semelhanças ao antigo imposto único sobre

combustíveis e lubrificantes –, e representou uma tentativa de retomar alguma vinculação de

recursos públicos à política de transportes, já que o produto de sua arrecadação deveria ter

uma das seguintes destinações (artigo 1º, parágrafo 1º): (1) “pagamento de subsídios a preços

ou transporte de álcool combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de

petróleo”; (2) “financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo

e do gás”; e (3) “financiamento de programas de infra-estrutura de transportes”.

Com base no Gráfico 3, a seguir, observa-se que a CIDE-Combustíveis representou,

até 2008, a principal fonte de financiamento para o investimento público em infraestrutura

rodoviária. A partir de 2008, no entanto, a principal fonte passaria a ser o fluxo de recursos

ordinários do Tesouro Nacional, em função da execução do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), criado em 2007 (CNT, 2012, p. 334).43

43

O PAC foi criado pela Lei nº 11.578, de 26 de novembro de 2007.

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42

Gráfico 3 - Fontes de financiamento para o investimento público em infraestrutura

rodoviária no Brasil (2002-2011) - R$ bilhões correntes

Fonte: CNT (2012, p. 334).

Concomitantemente à gradual recuperação do investimento público em infraestrutura

rodoviária, ao longo da década de 2000, tem sido observado o aprofundamento das políticas

de privatização. Nesse sentido, o Quadro 1, a seguir, resume os programas de concessões de

rodovias que se encontravam em execução no Brasil em 2013. Nota-se, a partir deste quadro,

uma considerável variedade em meio a esses programas, tanto em relação ao número de

concessões quanto em relação à extensão concedida associada a cada um.

Quadro 1 - Programas de concessões de rodovias no Brasil (2013)

Programa de

concessões

Número de

concessões

Extensão

concedida (km)

Federal 15 5.263

Estaduais 41 10.665

São Paulo 19 5.355

Paraná 6 2.495

Rio Grande do Sul 7 1.787

Minas Gerais 1 371

Bahia 2 339

Rio de Janeiro 2 197

Espírito Santo 1 68

Pernambuco 2 50

Mato Grosso do Sul 1 2¹

Municipais 2 30

Rio de Janeiro 2 30

Total 58 15.959

Fonte: Sá, Santos e Brasileiro (2014, p. 4).

Nota: (1) Trecho da rodovia BR-262 correspondente à ponte sobre o rio Paraguai que liga os municípios

de Corumbá e Miranda, administrado pela concessionária Porto Morrinho.

1,6 0,6 1,3

2,6

4,14,9 5,1

7,7

10,311,2

0,5 0,5 0,82,0

3,7

4,7 4,4

3,44,0

4,6

0

2

4

6

8

10

12

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

R$ b

ilh

ões

Todas as Fontes CIDE-Combustíveis

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43

O aprofundamento da participação do setor privado no seio das políticas rodoviárias

tem garantido, então, um relevante fluxo de investimentos para a infraestrutura em questão.

Esses investimentos privados teriam se concentrado, a princípio, em trechos economicamente

estratégicos – no sentido de seu potencial de arrecadação via pedágios, de seu longo histórico

prévio de desenvolvimento, e da urgência na recuperação de sua infraestrutura deteriorada –,

conforme mais bem detalhado no Capítulo 3, adiante. Entretanto, mais recentemente têm sido

observadas, também, concessões de trechos que poderiam ser considerados, inicialmente,

menos atraentes ao setor privado.

Tendo em vista o foco do presente trabalho sobre as concessões rodoviárias do

governo federal e do governo do estado de São Paulo, o Gráfico 4, a seguir, apresenta a

trajetória dos investimentos públicos referentes ao conjunto desses dois governos, em uma

comparação à trajetória dos investimentos privados referentes ao conjunto de seus respectivos

programas de concessões – para o mesmo período do Gráfico 3 anterior (2002-2011).

Para tanto, foram somados os valores de despesas pagas da União e do estado de São Paulo

com a subfunção transporte rodoviário, e foram somados, também, os valores de

investimento das concessões do Programa Federal e do Programa de São Paulo apresentados

pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR, 2016a).44

Gráfico 4 - Investimentos públicos e privados em transporte rodoviário no Brasil (2002-2011)

- R$ bilhões de 2014, com base na variação do IPCA

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de ABCR (2016a), São Paulo (2016a) e Senado Federal (2015).

Notas: (1) Soma dos investimentos do governo federal e do governo do estado de São Paulo.

(2) Soma dos investimentos das concessões do Programa Federal e do Programa de São Paulo.

44

O transporte rodoviário é a subfunção 782 na execução orçamentária, para ambos os governos. No caso do

estado de São Paulo, foram utilizados os valores referentes às chamadas despesas de capital, as quais

compreendem os chamados investimentos e inversões financeiras, conforme as definições de São Paulo (2016b).

0

2

4

6

8

10

12

14

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

R$ b

ilh

ões d

e 2

014

Investimento público¹ Investimento privado²

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44

Se a década de 1990 representou, para a América Latina, um período de disseminação

de políticas de caráter neoliberal, é possível afirmar, por outro lado, que a década de 2000

representaria, para essa mesma região, um período de disseminação de políticas de caráter

pós-neoliberal, conforme os termos propostos por Grugel e Riggirozzi (2012, p. 3),

Macdonald e Ruckert (2009, p. 6) e Tussie (2009, p. 80). Tais políticas seriam

pós-neoliberais, grosso modo, por se apresentarem em contraposição ao neoliberalismo

pregresso, ao mesmo tempo em que preservariam características do mesmo – ou, conforme

afirmam Macdonald e Ruckert (2009, p. 2), por representarem uma descontinuidade

em meio à continuidade. No caso brasileiro, os principais expoentes nesse sentido seriam os

governos Lula da Silva (2003-2010) e Rousseff (2010-2016).

No tocante às políticas rodoviárias, o próprio PAC pode ser tomado como um exemplo

do pós-neoliberalismo mencionado no parágrafo anterior. Se, por um lado, esse programa

denotou um esforço, por parte do governo federal, em retomar um maior grau de centralização

no planejamento da política pública – especialmente no que se refere ao investimento em

infraestrutura –, por outro lado, esse mesmo programa acabaria por promover uma política de

privatização de rodovias, que compreende a chamada 2ª Etapa do Programa Federal

(BRASIL, 2014). A influência do PAC sobre o investimento em infraestrutura rodoviária,

tanto em termos de investimentos públicos quanto em termos de investimentos privados,

pode ser exemplificada no Gráfico 4 anterior, especialmente em relação aos seus valores

apresentados para o período de 2008 a 2011. Outro exemplo nesse sentido foi, conforme

apresenta Correia (2011, p. 234), a aprovação e apoio público do governo Lula à chamada

Lei Geral das PPP (Lei nº 11.079/04), a qual representa o marco regulatório para as parcerias

público-privadas no país.

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45

2 POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO E CONTRATOS DE CONCESSÃO

O principal objetivo deste Capítulo 2 é identificar e discutir os aspectos teóricos

referentes às políticas de privatização de rodovias no Brasil. Para tanto, o capítulo é

distribuído em duas seções, as quais são resumidas a seguir.

A Seção 2.1 é dedicada, preponderantemente, às políticas de privatização em seu

sentido mais geral. Dessa forma, discute-se: (1) a origem e a abrangência do conceito de

privatização, (2) o delineamento do que caracteriza uma política de privatização, (3) os

objetivos mais comumente associados às políticas de privatização, (4) o suporte à privatização

na teoria econômica, e (5) os contra-argumentos à privatização na teoria econômica.

De maneira complementar, propõe-se discutir, ainda na Seção 2.1, a trajetória do

rodoviarismo brasileiro sob o prisma dos tópicos enumerados no parágrafo anterior. Ou seja,

busca-se situar a trajetória do rodoviarismo – conforme o que é apresentado no Capítulo 1 –

em meio aos aspectos teóricos referentes às políticas de privatização – conforme o que é

apresentado nessa Seção 2.1.

A Seção 2.2, por sua vez, é dedicada especificamente aos aspectos teóricos dos

contratos de concessão de serviços públicos. Isso porque é por meio desses contratos que se

consolidam as políticas de privatização de rodovias no Brasil. Nesse sentido, é a partir dos

aspectos teóricos pertinentes a essa seção que se propõe examinar, no Capítulo 3, os arranjos

contratuais associados aos programas de concessões rodoviárias federais e paulistas.

Mais especificamente, são discutidos os seguintes aspectos referentes aos contratos de

concessão: modelos de licitação (Subseção 2.2.1), alocação dos riscos (Subseção 2.2.2),

mecanismos de reajuste e revisão tarifários (Subseção 2.2.3), apropriação das receitas

extraordinárias e remuneração variável conforme desempenho (Subseção 2.2.4).

Os tópicos enumerados no parágrafo anterior são apresentados, principalmente, em seu

sentido mais geral, mas também são abordadas, eventualmente, particularidades da legislação

brasileira ou dos contratos de concessões rodoviárias. Ressalta-se, também, que os temas

pertinentes a cada subseção não são totalmente isolados entre si, e que, portanto, se observam

pontos de intersecção entre as discussões concernentes a cada um deles.

A escolha e divisão desses tópicos em específico, a fim analisar os arranjos contratuais

das concessões rodoviárias no Brasil, se deu com base nas noções e análises apresentadas por

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46

Anuatti Neto e Oliveira (2011), Barbo et al. (2010), Barella (2003), Cardoso et al. (2012),

Garcia (2011), Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013), Pires e Giambiagi (2000), Sá, Santos

e Brasileiro (2014) e Vasconcelos (2008).

2.1 POLÍTICAS DE PRIVATIZAÇÃO

A origem da utilização do termo privatização, em seu sentido atualmente debatido,

é frequentemente atribuída ao teorista da administração Peter Drucker. Em seu livro Uma Era

de Descontinuidade, Drucker (1969, p. 218) sugere a assunção pelo setor privado de

atividades que, naquele momento, eram executadas pelo setor público, e se refere a esse

processo pelo termo reprivatização. A adoção desse termo denota a avaliação, por parte do

referido autor, de que o Estado haveria acumulado determinadas funções que as instituições

privadas originais da sociedade – as famílias – não mais poderiam suportar, especialmente a

partir do século XIX. Essas mesmas funções, no entanto, agora seriam mais bem executadas

pelas instituições privadas modernas – empresas, por exemplo –, que trariam consigo o

acúmulo das revoluções produtivas observadas até meados do século XX (DRUCKER, 1969).

O crédito a Drucker pela descrição original do termo privatização é propalado, por

exemplo, por autores como Savas (2000, p. 15) e Greene (2002, p. 27). Entretanto, Bel (2006;

2009) demonstra que os termos privatização e reprivatização já eram utilizados em alguns

artigos jornalísticos e acadêmicos das décadas de 1930 e 1940. Esses artigos debatiam a

transferência da propriedade de ativos estatais à iniciativa privada, promovida de maneira

sistemática pelo governo nazista da Alemanha. Uma das principais análises apresentadas por

Bel, em relação a essa privatização nazista, é de que a mesma teria beneficiado a classe

industrialista que garantira suporte ao partido, de modo que seu objetivo seria – além dessa

retribuição ao capital industrial – promover a concentração da renda nacional, de forma a

estimular a poupança e desestimular o consumo, e, assim, adequar o país para uma economia

de guerra (BEL, 2006; 2009).45

É possível, diante dessas definições seminais, depreender algumas características que

permanecem presentes como pontos de convergência no debate sobre a privatização – isso

45

Essa avaliação exposta por Bel (2006, p. 189; 2009, p. 11) é baseada, principalmente, na análise realizada por

Maxine Sweezy, em seu livro The Structure of the Nazi Economy (1941).

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47

dentro do entendimento da mesma como uma política de fins econômicos.46

A principal

dessas características é a compreensão da privatização como uma transferência de atribuições

do setor público para o setor privado da economia. Essa transferência, no contexto da

privatização como política, é realizada de forma deliberada e por iniciativa do próprio Estado.

Starr (1988, p. 13) entende que a política de privatização – que constitui o conceito central da

presente seção – se dá unicamente pelo lado da oferta de bens e serviços e, nesse sentido, a

perda de demanda do setor público em benefício do privado não caracterizaria uma política de

privatização – embora possa resultar de uma –, mas sim uma privatização do consumo.

Adicionalmente a esse segundo caso, pode-se imaginar como exemplo um cenário em que há

uma insuficiência na oferta estatal de serviços como os de educação, saúde ou previdência.

Nesse cenário tomado como exemplo, o aumento da oferta privada desses serviços, caso

orientado primordialmente pelo excesso de demanda e não por uma decisão do Estado,

configuraria a privatização do consumo (STARR, 1988).

A divergência nesse debate, por sua vez, pode ser percebida a partir da delimitação de

quais são essas atribuições cuja transferência do setor público ao privado poderia ser

caracterizada como privatização. A mais nítida forma de privatização talvez seja a

transferência da atribuição da propriedade de bens, de tal modo que a venda de ativos estatais

à iniciativa privada se mostre um ponto pacífico em meio às definições do termo. Em alguns

discursos, a transferência da propriedade é considerada a única forma de privatização.47

Savas

(2000, p. 4), por outro lado, afirma que a concessão de serviços e a terceirização de atividades

estatais também se adequariam ao conceito, e Greene (1996, p. 632), em uma noção ainda

mais ampliada desse conceito, considera também a desregulamentação de mercados e a

redução de impostos como formas de privatização.

De acordo com Starr (1988, p. 16), a transferência de atribuições do setor público para

o setor privado tende a ocorrer através de quatro tipos básicos de procedimento. O primeiro

deles é (1) uma forma implícita de privatização, na qual o Estado deliberadamente estimula a

privatização do consumo – de maneira, portanto, que essa se apresente como um resultado

46

A ressalva feita aqui se dá pelo fato de que a privatização – bem como os conceitos de público e privado –

pode ser compreendida e debatida de diversas formas alternativas no âmbito de estudos jurídicos, sociológicos,

filosóficos, entre outros. 47

Desde o início do governo Rousseff no Brasil (2011-2016), observava-se um reiterado discurso por parte de

sua equipe ministerial que, a cada novo anúncio referente a programas de concessão de infraestrutura, buscava

promover a dissociação entre os conceitos de privatização e concessão, de forma a caracterizar o primeiro

unicamente pela transferência da propriedade. Dentre os exemplos estão as declarações do ministro-chefe da

Secretaria de Aviação Civil em 2011, Wagner Bittencourt (BRASIL, 2011), do ministro da Fazenda em 2012,

Guido Mantega (LIMA et al., 2012), e do ministro do Planejamento em 2015, Nelson Barbosa (MELO, 2015).

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induzido pela política de privatização –, através da imposição de restrições ao volume, à

disponibilidade ou à qualidade da provisão estatal de determinado bem ou serviço; ou ainda,

em um cenário mais drástico, através do desengajamento completo do Estado para com essa

determinada atividade. O segundo é (2) a privatização explícita, na qual o Estado promove a

venda, o arrendamento ou a concessão de seus empreendimentos, infraestruturas e

propriedades à iniciativa privada, de forma a se afastar do locus produtivo da exploração

desses ativos. O terceiro é (3) o financiamento ou a contratação da força produtiva do setor

privado, de modo que a mesma substitua a produção direta por parte do Estado. O quarto, e

último, é (4) a desregulamentação à entrada de empresas concorrentes em atividades

previamente tratadas como monopólios estatais (STARR, 1988).

Conforme discutido ao longo do Capítulo 1, a trajetória do rodoviarismo brasileiro

implicou a contratação em larga escala do capital privado, especialmente no que se refere às

atividades de construção pesada e de consultoria técnico-econômica. Esse movimento ocorreu

de forma mais sistemática a partir instituição da Lei Joppert (em 1945) e foi aprofundado a

partir da Reforma Administrativa de 1967. Pode-se afirmar que, nesse processo, o Estado

brasileiro lançou mão do terceiro tipo de transferência de atribuições à iniciativa privada,

dentre os quatro tipos enumerados no parágrafo anterior. Na década de 1990, a partir da

instituição do Programa Nacional de Desestatização (PND), a privatização explícita –

o segundo tipo de transferência de atribuições – também seria acrescentada a essa trajetória do

rodoviarismo, na forma dos programas de concessões de rodovias. Observa-se, assim, que a

privatização explícita das rodovias brasileiras pode ser compreendida como o mais recente

estágio de um longo processo de transferência de atribuições do setor público ao privado

nesse setor, que se aprofundava a cada novo desdobramento da Lei Joppert.

Em relação à transferência de atribuições pelo procedimento da privatização explícita,

Starr (1988, p. 17) considera que a transferência da propriedade – que é ponto pacífico em

meio às definições do termo, conforme discutido anteriormente – caracteriza uma

privatização total. Adicionalmente, esse autor propõe que há uma privatização parcial

quando ocorre a transferência de ao menos uma das seguintes atribuições: (1) gestão,

(2) mobilização de recursos financeiros e (3) prestação de contas junto à sociedade.

Entende-se, portanto, que a privatização pode diluir a influência estatal sobre a exploração de

determinados ativos sem, no entanto, eliminá-la por completo (STARR, 1988). Dessa forma,

os programas de concessões de rodovias no Brasil podem ser compreendidos como esse modo

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49

parcial de privatização, já que transferem, em maior ou menor medida, todas essas atribuições

elencadas por Starr, exceto, justamente, a de propriedade.

O principal argumento utilizado em defesa da política de privatização – seja essa

entendida em seu sentido mais estrito ou nos sentidos mais abrangentes – é a afirmação de

que o setor privado executa atividades de forma mais eficiente que o setor público. Esse

argumento já era utilizado por Drucker (1969, p. 217) ao propor a reprivatização. De acordo

com ele, o propósito do Estado é tomar as decisões fundamentais – problematizar as questões

sociais, apresentar as principais opções que se colocam a tais questões e, assim, direcionar as

energias políticas da sociedade –, o que definiria o próprio sentido de governar. Drucker

afirma, ainda, que existe uma incompatibilidade entre essa tomada de decisões – o governar –

e a execução final de tarefas (DRUCKER, 1969). É possível interpretar, nesse sentido, que a

prática da reprivatização representaria para o Estado o que, de forma análoga, o binômio da

descentralização da execução com a centralização das decisões representa para a

administração de empresas.

Pode-se traçar um paralelo entre a defesa da reprivatização, conforme discutido no

parágrafo anterior, e a orientação política que embasou a Reforma Administrativa de 1967 no

Brasil. Essa orientação, de acordo com o que é apresentado no Capítulo 1, trouxe consigo a

noção de que era necessário modernizar o planejamento e a execução das políticas setoriais –

dentre as quais a política de transportes –, ou seja, a noção de que as políticas públicas

deveriam ocorrer de forma mais eficiente. Nesse sentido, a solução proposta pelo Decreto-lei

nº 200/67, que instituiu a reforma administrativa, apresentava a descentralização e a

delegação de competência entre os seus princípios fundamentais. Além disso, uma das formas

de descentralização enunciadas pelo texto da lei se daria “[...] da Administração Federal para

a órbita privada, mediante contratos ou concessões”. Assim, o paralelo aqui traçado reforça a

percepção de que a atual privatização de rodovias constitui uma extensão lógica da trajetória

prévia do rodoviarismo, marcada pela gradual transferência de atribuições do setor público ao

privado e, também, pela noção da busca por uma maior eficiência das políticas públicas.

É possível exemplificar o quão enraizado na literatura está o argumento de que o setor

público é um executor menos eficiente que o setor privado ao notar-se que em A Riqueza das

Nações, publicado em 1776, Adam Smith (1996, p. 281) já afirmava:

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Em toda grande monarquia da Europa, a venda das terras da Coroa geraria uma

soma muito grande de dinheiro, a qual, se aplicada no pagamento das dívidas

públicas, livraria de hipoteca uma renda muito superior a qualquer renda que essas

terras jamais proporcionariam à Coroa [...] Quando as terras da Coroa se tornassem

propriedade privada, no prazo de alguns anos estariam melhoradas e bem

cultivadas. [grifo nosso]

Sheshinski e López-Calva (1998, p. 7) resumem o que seria o conjunto dos objetivos

mais explícitos das políticas de privatização. Nesse conjunto, os autores destacam como

objetivo fundamental, justamente, o de (1) aprimorar a eficiência alocativa e produtiva dos

recursos públicos; enquanto os demais objetivos seriam: (2) espessar o papel do setor privado

na economia – e, por extensão, atenuar a papel econômico do Estado –, (3) aliviar a saúde

financeira do setor público – objetivo esse que também é apontando no excerto de Smith –, e

(4) liberar recursos públicos para que possam ser realocados para outras obrigações

socialmente relevantes do Estado. Chong e Sánchez (2003, p. 1), em estudo para o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BID), também destacam quatro justificativas às políticas

de privatização, que se mostram análogas aos objetivos enumerados anteriormente.48

Ainda em relação aos principais objetivos das políticas de privatização, Estache e Rus

(2003, p. xvii), em estudo para o Banco Mundial, contestam a centralidade do objetivo de

melhoria da eficiência, abordada no parágrafo anterior. Esses autores sustentam que, ao

menos do ponto de vista do Estado, a busca por novas fontes de arrecadação – o terceiro

objetivo, dentre os quatro enumerados anteriormente – seria tão ou mais central do que a

busca por uma maior eficiência. De acordo com o que se discute no Capítulo 1, percebe-se

que o caso da infraestrutura rodoviária brasileira encontra uma correspondência no argumento

desses autores, já que as privatizações de rodovias sucederam um processo gradual de

deterioração da arrecadação financeira pelo DNER e pelos DER estaduais, que foram os

principais executores estatais do rodoviarismo no período anterior às privatizações.

Ao abordar os efeitos da política de privatização sobre seus quatro objetivos

enumerados, Sheshinski e López-Calva (1998, p. 18) afirmam que o efeito mais simples de

ser investigado isoladamente é aquele que se dá sobre o objetivo de melhoria da eficiência.

Isso se justifica pelo fato de que a melhoria da eficiência apresenta um caráter

primordialmente administrativo e microeconômico, ao passo que os demais objetivos – que

são mais familiares às relações macroeconômicas – podem ser mais facilmente influenciados

48

A única diferença entre os objetivos elencados por Chong e Sánchez (2003, p. 1) em comparação àqueles

elencados por Sheshinski e López-Calva (1998, p. 7) é o número 4. Ao invés do objetivo de “liberar recursos

públicos”, esses autores mencionam a atração de investimento privado para setores nos quais o Estado deixou de

investir em função da carência de recursos.

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por políticas que não se vinculam à privatização, mas que são simultâneas à mesma, ou ainda

por contingências inesperadas que sejam externas ao processo produtivo em si. Nesse

contexto, os efeitos isolados da privatização sobre esses outros objetivos seriam camuflados

(SHESHINSKI; LÓPEZ-CALVA, 1998). Além disso, levando-se em conta a trajetória

histórica das políticas de caráter neoliberal, tem-se que as políticas de privatização costumam

incidir simultaneamente sobre diversos setores produtivos, e costumam, também, ser

praticadas em conjunto a outras políticas liberalizantes – conforme ilustrado pelo PND

brasileiro –, o que acaba por reforçar essa dificuldade em isolar o efeito da privatização sobre

os seus objetivos mais distantes da administração de empresas ou da microeconomia.

Se a melhoria da eficiência traduz o argumento fundamental em favor da privatização,

pode-se afirmar, por outro lado, que a existência de monopólios naturais representa o contra-

argumento fundamental à mesma. Os monopólios naturais são descritos por Nicholson e

Snyder (2011, p. 501) como atividades produtivas capazes de sustentar custos marginais e

médios decrescentes para níveis relativamente altos de produção, o que permitiria a esses

empreendimentos uma flexibilidade de preços capaz de obstruir a entrada de potenciais

concorrentes em seu mercado. Adicionalmente, de acordo com os mesmos autores, a alta

escala de produção necessária para se atingir os níveis mais baixos desses custos acabaria por

constituir outra barreira à entrada de novos concorrentes.

As atividades produtivas mais comumente descritas como monopólios naturais

costumam ser, também, notabilizadas por sua importância socioeconômica, como é o caso da

exploração da infraestrutura rodoviária – que constitui o objeto central do presente trabalho.

Nesse sentido, a assunção de monopólios naturais pelo setor privado poderia resultar em

restrições de oferta socialmente inadequadas, via altos preços ou baixas quantidades de

produção.49

Por esse motivo, já na década de 1940 autores como Meade (1948, p. 65) e

Lewis (1949, p. 101) defendiam a estatização de atividades cuja oferta monopolista fosse a

mais eficiente. Meade adota o termo socialização para se referir a essa política e defende sua

aplicação, por exemplo, à infraestrutura ferroviária e à indústria siderúrgica. Lewis, por sua

vez, utiliza o termo nacionalização e defende essa política para atividades como exploração

mineral, serviços de telefonia e geração de eletricidade.

49

Conforme mencionado no início da presente seção, a privatização da Alemanha nazista – que talvez tenha sido

a primeira política sistemática nesses moldes – teria apresentado, justamente, objetivos como o de gerar

desigualdade de renda e reduzir a capacidade de consumo da população (BEL, 2006; 2009).

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De acordo com Porta e López-de-Silanes (1997, p. 2), a noção de que o setor público

deveria ser responsável pelos monopólios naturais – noção essa partilhada por Meade e

Lewis, conforme apresentado anteriormente – decorre do pressuposto de que o Estado, ao

definir a política de preços dessas atividades, levaria em conta o seu custo marginal social.

Nicholson e Snyder (2011, p. 691) descrevem o custo marginal social como a soma do custo

marginal da produção (ou custo marginal privado) com o custo marginal infligido a terceiros

(ou externalidades). Esse pressuposto ao qual se referem Porta e López-de-Silanes configura,

de acordo com os próprios autores, a chamada visão social da análise da privatização. Em

contraponto a essa visão social, os argumentos favoráveis à privatização se consubstanciam

na chamada visão gerencial, que, por sua vez, é expressa em duas frentes: (1) a perspectiva

administrativa e (2) a perspectiva política (PORTA; LÓPEZ-DE-SILANES, 1997).

A perspectiva administrativa (da visão gerencial) se remete ao problema do agente-

principal. De acordo com Nicholson e Snyder (2011, p. 642), as relações contratuais são

marcadas pela assimetria de informação, o que favorece um cenário em que as decisões do

responsável pela execução final da tarefa contratada (o agente) divirjam dos interesses do

responsável pela contratação (o principal). Essa divergência tenderia a afetar negativamente a

produtividade do trabalho prestado. Nesse sentido, Sheshinski e López-Calva (1998, p. 14)

afirmam que, pela perspectiva administrativa, o setor público (no papel de principal)

apresentaria menor capacidade de monitoramento e de geração de incentivos aos agentes, ao

passo que o setor privado se apresentaria mais apto para tal. A justificativa desse pressuposto

se dá pelo argumento de que o setor público não sofre as pressões inerentes ao mercado, o que

amplia a possibilidade de assimetria de informação nas relações contratuais e, portanto,

amplia a possibilidade de perda de produtividade no trabalho prestado.

Complementarmente, a perspectiva política (da visão gerencial) se remete à noção de

que o setor público, por estar sujeito a pressões de caráter essencialmente político, acabaria

por sofrer uma distorção em seus objetivos, bem como nas restrições que se impõem a esses

objetivos. De acordo com Sheshinski e López-Calva (1998, p. 12), a perspectiva política

pressupõe fatores como: (1) a suavidade da restrição orçamentária do setor público, já que o

mesmo pode lançar mão de aumentos tributários ou de endividamento para, dessa forma,

expandir seu orçamento a um custo diluído entre à população; (2) a hipótese da construção do

império, segundo a qual o desempenho das atividades estatais pode refletir, em primeiro

lugar, o interesse dos governantes para com sua própria carreira política, o que implicaria em

decisões que não atendam à eficiência de longo prazo dessas atividades; e (3) o risco de

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corrupção dos governantes, que permite que determinadas firmas privadas possam conseguir

vantagens desleais frente à concorrência de mercado.

Pela visão gerencial, uma política de privatização parcial – nos termos propostos por

Starr (1988, p. 17) – poderia atenuar o problema do agente-principal, referente à perspectiva

administrativa. Porém, essas políticas de privatização parcial – por exemplo, os programas de

concessões de rodovias no Brasil – implicam o exercício da regulação por parte do Estado,

como forma de impedir que o agente privado incorra no poder de monopólio. Ou seja, a

regulação denota a visão social da privatização e, portanto, leva em conta as externalidades

envolvidas nesse processo. Desenha-se, a partir da regulação, uma relação de longo prazo (o

prazo contratual) entre o agente privado e o Estado. Dessa forma, embora a privatização

parcial se mostre consoante à perspectiva administrativa, o mesmo não ocorre em relação à

perspectiva política, conforme apontam Sheshinski e López-Calva (1998, p. 14).

A disseminação mundial das políticas de privatização, a partir da década de 1980

principalmente, ocorreu em conjunto a outras políticas de caráter neoliberal, o que se

consubstanciou no chamado Consenso de Washington, conforme discutido na Seção 1.2.

De acordo com Matos (2008, p. 193) e Wylde (2012, p. 24), o pensamento neoliberal tem sua

origem remontada à Escola Austríaca de pensamento econômico, que teria sido a pioneira no

esforço de revalorização do liberalismo clássico. Essa escola de pensamento foi inaugurada

por Carl Menger na virada do século XIX para o século XX, mas seria retomada com maior

notoriedade após a Segunda Guerra Mundial, especialmente através dos trabalhos de Ludwig

von Mises e de Friedrich Hayek. Ainda conforme os mesmos autores, o livro O Caminho da

Servidão, de Hayek (publicado em 1944), consistiria na referência seminal para o pensamento

neoliberal, ao criticar frontalmente o intervencionismo estatal na concorrência de mercado.

Matos (2008, p. 200) e Wylde (2012, p. 24) afirmam que o planejamento econômico,

segundo o pensamento de Hayek, levaria a sociedade invariavelmente ao totalitarismo. A

verdadeira democracia estaria, portanto, no livre mercado, com o poder de decisão disperso na

sociedade ao invés de concentrado sob o auspício de alguns poucos formuladores de políticas.

Dessa forma, entende-se como danoso o Estado que interfere ativamente na economia, de

modo que seu papel deva se limitar (1) à arbitrariedade da lei, (2) à defesa da propriedade

privada e (3) à atuação econômica em atividades que não sejam atraentes para o mercado, mas

que são essenciais à sociedade. Outro pressuposto fundamental desse pensamento é de que os

indivíduos consomem em conformidade com a produtividade de seu trabalho. Nesse sentido,

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a redução dos bens públicos gratuitos – em benefício da oferta privada – acarretaria no

incentivo à execução mais eficiente de trabalho pelos indivíduos. Complementarmente, a

participação ativa do Estado na economia resultaria no desincentivo à oferta privada, mais

eficiente (MATOS, 2008; WYLDE, 2012). Nota-se, aqui, a influência (ainda que indireta)

desses enunciados da Escola Austríaca sobre, por exemplo, a visão gerencial das políticas de

privatização – nos termos de Porta e López-de-Silanes (1997, p. 2).

Friedrich List – autor contemporâneo ao liberalismo clássico, mas que se posicionava

contrário ao mesmo –, em seu livro Sistema Nacional de Economia Política (publicado em

1841), realiza proposições que confrontam os enunciados da Escola Austríaca e, por extensão,

do neoliberalismo. De acordo com List (1983, p. 183), a liberalização completa do mercado

só resultaria em bem-estar social caso todas as nações se encontrassem no mesmo patamar de

desenvolvimento econômico. Em caso contrário, faz-se necessário um Estado ativo e

interventor, que esteja apto a planejar holisticamente o bem-estar nacional, bem como apto a

sinalizar aos indivíduos a trajetória que permita alcançar esse bem-estar. Se não houver essa

intervenção doméstica, alguma nação estrangeira intervirá em benefício próprio, de forma a

ampliar a desigualdade econômica internacional. Dessa forma, o planejamento estatal deveria

ter como objetivo a indução do desenvolvimento econômico nacional que, para esse autor,

dependeria em grande medida da consolidação da produção industrial e da infraestrutura

básica – notadamente a infraestrutura de transporte (LIST, 1983).

Conforme apontam Buarque (1983, p. xxiii) e Fonseca (2000, p. 352), o pensamento

de List representa um dos principais pilares teóricos do chamado estruturalismo econômico,

especialmente em relação à noção de desenvolvimento econômico trabalhada nessa tradição.

O pensamento estruturalista foi inaugurado junto à Comissão Econômica para a América

Latina e o Caribe (CEPAL), e sua noção de desenvolvimento corresponde, essencialmente, ao

processo de superação do subdesenvolvimento e ao reposicionamento dos países diante da

dinâmica global centro-periferia. As proposições da CEPAL exerceram notória influência

sobre a trajetória da expansão industrial brasileira, a qual é marcada pelo processo de

industrialização por substituição de importações. Esse processo, por sua vez, se fez presente

através de programas políticos como o Plano de Metas (1956-1960) e o II Plano Nacional de

Desenvolvimento (1975-1979), os quais são abordados ao longo do Capítulo 1.

A partir do que se discute no Capítulo 1 e na presente seção, percebe-se como o

rodoviarismo tem sido capaz de se adequar, ao longo de sua trajetória, a programas

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governamentais de variadas orientações político-econômicas. Durante o processo de

industrialização por substituição de importações, comandado por um Estado ativo e

interventor – embora gradativamente menos centralizador –, o projeto rodoviarista obteve

forte representatividade tanto no seio da política pública, em função do protagonismo do

DNER e dos DER estaduais, quanto na transferência de atribuições do setor público ao

privado, em função da contratação em larga escala dos serviços de construção pesada e de

consultoria técnico-econômica – transferência essa que tomou corpo conforme os

desdobramentos da Lei Joppert (de 1945). Durante a execução do PND, orientada em

consonância com a cartilha do Consenso de Washington, a transferência de atribuições passa

a ocorrer, também, pelo procedimento da privatização explícita, de modo a proporcionar um

novo patamar de autonomia ao rodoviarismo. Recentemente, por fim, as privatizações de

rodovias têm se intensificado de forma frequente, mesmo no momento em que o Estado

buscou retomar certo grau de centralização na política pública, através do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC).

2.2 CONTRATOS DE CONCESSÃO

2.2.1 Modelos de licitação

A exploração econômica da infraestrutura rodoviária pode ser compreendida como um

monopólio natural, conforme levantado na Seção 2.1. Isso implica que uma política de

privatização aplicada a esse setor, por meio de contratos de concessão, dá origem a um

mercado monopolista. Nesse cenário, o Estado assume a função de predeterminar as

condições de tal mercado, bem como as condições para a atuação do monopolista, o que se dá

através do arranjo contratual. Assim, a empresa concessionária é colocada na posição de

ofertante monopolista, cuja mercadoria ofertada corresponde à utilização do trecho rodoviário

concedido, ao passo que o preço praticado corresponde à tarifa de pedágio cobrada por essa

utilização, conforme descreve Guimarães (2003, p. 8).

A definição da empresa que assumirá o papel de concessionária – e, por extensão, de

ofertante monopolista – deve ocorrer através de um processo licitatório, cujo critério de

disputa tende a refletir os objetivos mais fortemente associados à política de privatização

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executada.50

Nesse sentido, Guislain e Kerf (1995, p. 4) apontam que o processo licitatório

introduz um elemento de concorrência pelo mercado monopolista, o que possibilitaria ao

Estado mitigar o poder de monopólio criado pela privatização. Entende-se, dessa forma, que a

tarifa de pedágio praticada – ou seja, o preço no mercado monopolista – poderia reproduzir

parcialmente as condições de concorrência introduzidas pelo critério de disputa adotado.

Para Guimarães (2003, p. 5):

[...] o processo de licitação, ao induzir essa concorrência pelo mercado, suscita a

constituição de um mercado no qual se negocia o mercado do uso da rodovia – vale

dizer, cria um mercado do mercado do uso da rodovia, o qual será designado aqui,

de forma abreviada, como metamercado do uso da rodovia. [grifo do autor]

No metamercado ao qual Guimarães se refere, o Estado se coloca na posição de

ofertante, de modo que sua mercadoria ofertada corresponda ao próprio mercado monopolista

de utilização da rodovia, ao passo que o preço praticado corresponda ao lance vencedor do

processo licitatório. Assim, embora a tarifa de pedágio represente um preço monopolista, a

mesma pode ser balizada pelo lance vencedor da licitação, o qual teoricamente é definido em

condição de concorrência. Percebe-se, portanto, que a definição do modelo de licitação tende

a influenciar consideravelmente o nível do pedágio cobrado aos usuários da rodovia.

Pires e Giambiagi (2000, p. 12) enumeram quais seriam os quatro modelos de licitação

mais tradicionais, nos quais os critérios de disputa são: (1) menor tarifa de pedágio, (2) maior

valor de outorga pago ao poder concedente, (3) menor prazo de concessão e (4) combinação

entre alguns dos critérios anteriores. Por sua vez, Estache, Romero e Strong (2003, p. 278), ao

enumerarem quais seriam os modelos mais habituais para concessões de rodovias, também

mencionam os três primeiros critérios dentre os quatro listados por Pires e Giambiagi (2000),

e adicionam a essa relação o critério de (5) menor subsídio a ser propiciado pelo governo.

Em meio aos modelos menos comuns, Estache, Romero e Strong (2003) mencionam, por

exemplo, o critério de (6) maior investimento privado a ser realizado ao longo do prazo de

concessão.

Na Seção 2.1 é discutido o conjunto de objetivos que costumam permear as políticas

de privatização, e discute-se, também, qual desses objetivos tenderia a ocupar uma posição

central em relação aos demais. Destaca-se, por exemplo, que Sheshinski e López-Calva

(1998, p. 7) consideram a melhoria da eficiência como o objetivo primordial da privatização,

50

No Brasil, a Constituição de 1988 (artigo 175) estabelece a obrigatoriedade de que as concessões de serviços

públicos ocorram “[...] sempre através de licitação [...]”.

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57

ao passo que Estache e Rus (2003, p. xvii) consideram o aumento da arrecadação pelo Estado

como um objetivo tão ou mais primordial do que a melhoria da eficiência.

Guimarães (2003, p. 6) afirma que o modelo de licitação adotado sinaliza o objetivo

que, para um determinado programa de concessões, seria tomado como central. Por exemplo,

para um dado cronograma de investimento e uma dada exigência de qualidade definidos pelo

contrato, tem-se que a opção pelo critério da menor tarifa sinalizaria um entendimento, por

parte do Estado, de que a empresa vencedora da licitação seria aquela capaz de cobrar o

menor preço ao usuário e, portanto, aquela que apresentaria maior eficiência. Denota-se, nesse

caso, uma realidade mais próxima àquela descrita por Sheshinski e López-Calva (1998).

A opção pelo critério do maior valor de outorga, por outro lado, sinalizaria a expectativa de

que a empresa vencedora seria não apenas a mais eficiente, mas também a que possibilitaria a

maior geração de receita ao Estado. Nesse segundo caso, denota-se uma realidade mais

próxima àquela descrita por Estache e Rus (2003).

As empresas postulantes à concessão, ao definirem um lance apto a vencer o processo

licitatório – seja esse lance a menor tarifa, o maior valor de outorga, ou qualquer outro –,

o fazem com base na projeção dos encargos e das receitas que o arranjo contratual possa lhes

oferecer. Essa projeção depende especialmente da demanda esperada no mercado

monopolista, ou seja, depende do tráfego de veículos previsto para o trecho concedido, ao

longo do prazo de concessão. Dessa maneira, ainda que se espere que o lance vencedor

decorra da empresa mais eficiente, tem-se que tal situação possa não corresponder à realidade,

em função da possibilidade de erros na previsão da demanda.

De acordo com o levantamento da literatura realizado por Lana (2014, p. 12), os

desvios da demanda prevista em relação à demanda realmente observada são frequentes nos

empreendimentos de transportes. No caso das previsões referentes a procedimentos de

concessão – os quais envolvem cobrança de pedágio –, os desvios em relação à demanda

observada apontam para a ocorrência do chamado viés de otimismo, em que há uma tendência

de superestimação do volume de tráfego. Paralelamente, esse viés parece não ocorrer nos

empreendimentos públicos que não envolvam cobrança de pedágio e, ao contrário, aponta-se

uma tendência de subestimação do volume de tráfego em meio aos mesmos. No entanto, Lana

(2014, p. 14) alerta para a grande variabilidade entre os casos avaliados, nos quais, apesar da

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58

tendência descrita anteriormente, “[...] encontram-se resultados que se afastam do padrão mais

observado, muitas vezes indicando tendências completamente distintas”.51

Bain (2009, p. 481), a partir da análise de 104 empreendimentos rodoviários que

envolviam cobrança de pedágio, elenca quais seriam as razões que tendem a favorecer os

erros de previsão do tráfego. Mais especificamente, Bain trata dos erros de superestimação,

resultantes do viés de otimismo, que colocam em risco a capacidade de arrecadação da

concessionária e, portanto, a sua capacidade de cumprir com os níveis de investimento e de

qualidade acordados contratualmente. Entre as razões elencadas estão: falta de experiência

com pedágios no país (e incerteza quanto à aceitação dos mesmos pela população), rigidez

institucional nas mudanças tarifárias, horizontes muito longos de previsão, oferta de trechos e

modais alternativos à extensão pedagiada, pouca disponibilidade de dados históricos (ou

pouca confiança nos mesmos), utilização de parâmetros importados de outros países, perfil

econômico desfavorável dos usuários e das regiões abrangidas (e.g. baixa renda), perfil da

carga transportada pelos usuários (e dimensão do desgaste que a mesma inflige ao trecho), e

vulnerabilidade do projeto às contingências futuras (BAIN, 2009).

Caso a capacidade da concessionária de cumprir com suas obrigações contratuais seja

comprometida – em decorrência de erros de previsão da demanda, por exemplo –, existe a

possibilidade de renegociação parcial do contrato, o que implicaria uma proteção adicional às

atividades dessa empresa. Essa renegociação é posterior ao arranjo contratual e, dessa forma,

não deveria ser levada em conta pelas empresas na ocasião do processo licitatório. Isso porque

uma proteção adicional à concessionária pode acabar por sobrepujar os elementos

concorrenciais que derivam do modelo de licitação e, portanto, que derivam da constituição

de um metamercado do uso da rodovia. Assim, é necessário atenção ao se estabelecerem as

situações de risco em que a concessionária deve ser protegida, ou seja, ao se efetuar a

alocação dos riscos no contrato, o que é o tema central da subseção a seguir (2.2.2).

51

Os trabalhos levantados por Lana (2014, p. 12) que tratam do transporte rodoviário são: Bain (2009), Bain e

Polakovic (2005), Flyvbjerg, Holm e Buhl (2005), Li e Hensher (2010), Muller (1996), Næss, Flyvbjerg e Buhl

(2006), Vassallo e Baeza (2007) e Welde e Odeck (2011).

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2.2.2 Alocação dos riscos

Na teoria econômica dos contratos, entende-se que os contratos de concessão de

serviços públicos sejam inerentemente incompletos, conforme apontam Guasch (2004, p. 19)

e Hart e Moore (1988, p. 755). Isso porque, dados a complexidade do objeto dessas

concessões e os seus longos prazos contratuais praticados, é impossível antecipar grande parte

das contingências que surgirão ao longo de seu período de vigência. Complementarmente,

podem existir circunstâncias cuja ocorrência até seja antecipável, mas cuja mensuração de

seus efeitos não o seja. Caso essas contingências ou circunstâncias não mensuráveis acabem

por onerar sobremaneira alguma das partes do contrato – o poder concedente ou a

concessionária –, existe a possibilidade de renegociação parcial do mesmo, conforme

mencionado na subseção anterior (2.2.1).

Essa renegociação se consolida através de termos aditivos ao arranjo contratual

inicialmente estabelecido. Todavia, embora certo grau de renegociação seja esperado e até

desejável – no sentido de melhor calibrar a relação contratual no decorrer de sua vigência –,

tem-se que a utilização desmesurada desse procedimento pode acabar por enfraquecer

a credibilidade do processo de concessão como um todo. Salienta-se, nesse sentido,

que a renegociação se dá unicamente entre as partes e, portanto, é alheia a pressões sociais

ou concorrenciais, como aquelas tratadas na subseção anterior, que se associam ao processo

licitatório e à constituição de um metamercado (GUASCH, 2004, p. 19; HART; MOORE,

1988, p. 756).

A incompletude do contrato pode ser evocada, então, para justificar alguns casos de

inexecução contratual por parte da concessionária e, dessa forma, motivar uma renegociação.

No entanto, existem situações de inexecução que podem estar expressamente previstas no

contrato, do modo a implicarem alguma forma de penalidade à empresa, como advertências,

multas e até mesmo a rescisão contratual. Existem, ainda, situações de inexecução cuja

possibilidade pode ser afastada, pois determinadas formas de ônus à concessionária – uma vez

que também estejam previstas no contrato – implicam o direito ao reequilíbrio econômico-

financeiro da concessão, sem a necessidade de uma renegociação.

O princípio do equilíbrio econômico-financeiro, aludido no parágrafo anterior, é outra

característica recorrente nos contratos de concessão de serviços públicos. De acordo com

Pietro (2014, p. 289):

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[...] o equilíbrio econômico-financeiro ou equação econômico-financeira é a relação

que se estabelece, no momento da celebração do contrato, entre o encargo assumido

pelo contratado e a contraprestação assegurada pela Administração [Pública].

Preferimos falar em contraprestação assegurada e não devida pela Administração,

porque nem sempre é ela que paga; em determinados contratos, é o usuário do

serviço público que paga a prestação devida, por meio da tarifa; é o que ocorre nos

contratos de concessão de serviço público. [grifo do autor]

Esse princípio sustenta, assim, que a concessionária tenha a variação de suas receitas

diretamente vinculada à variação de seus encargos, por meio de uma relação que busque o

equilíbrio entre ambas essas variações. Nesse sentido, tem-se na preservação do equilíbrio

econômico-financeiro um instrumento de proteção à concessionária. Porém, ao contrário da

proteção resultante do processo de renegociação, a proteção por meio do equilíbrio

econômico-financeiro é intrínseca ao arranjo contratual inicial e, portanto, deve ser levada em

conta desde a etapa do processo licitatório e de seu metamercado.

Além de uma proteção à concessionária, o equilíbrio econômico-financeiro também

acarreta, em teoria, uma proteção aos usuários do serviço público concedido. Isso porque esse

princípio denota o estabelecimento de uma remuneração à concessionária que se mostre

sustentável, o que se dá pela rentabilidade da concessão (do ponto de vista dessa empresa),

mas que também se dá pela cobrança de uma tarifa módica (do ponto de vista dos usuários).

Adicionalmente, tem-se que o equilíbrio econômico-financeiro garante certo grau de

flexibilidade ao contrato, o que favorece a continuidade da execução do mesmo e, dessa

forma, favorece a não interrupção do serviço público (VASCONCELOS, 2008, p. 217).

O processo de reequilíbrio econômico-financeiro da concessão é preponderantemente

pautado pela alocação dos riscos no contrato. Nesse sentido, são levados em consideração os

riscos assumidos especificamente por cada uma das partes, conforme estabelecido através do

arranjo contratual. Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 3) apontam a importância de

que essa alocação dos riscos objetive a minimização dos custos globais da concessão –

ou seja, a soma dos custos direcionados ao poder concedente e à concessionária.

A fim de que os custos globais da concessão possam ser minimizados, deve-se evitar a

assunção pela concessionária de riscos que poderiam ser mais bem administrados pelo setor

público. Dessa forma, afasta-se a possibilidade de inexecução contratual, de modo a evitar a

necessidade de renegociação do contrato e evitar, também, a necessidade de aplicação de

penalidade à empresa. Paralelamente, deve-se evitar a assunção pelo poder concedente de

riscos que poderiam ser mais bem administrados pelo setor privado. Isso porque os custos

incidentes sobre a concessionária, caso decorram de riscos não assumidos pela mesma,

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implicam o direito ao reequilíbrio econômico-financeiro. Nesse cenário mencionado, tem-se a

necessidade de aumento dos gastos públicos ou, ainda, a necessidade de aumento do ônus ao

usuário do serviço público – por meio do aumento tarifário.

De acordo com Sheshinski e López-Calva (1998, p. 58), a má alocação dos riscos é

uma das principais explicações para fracassos em concessões de serviços públicos. Nesse

sentido, além de pautar o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, a alocação dos riscos

pode ter sua importância sublinhada ainda na etapa do processo licitatório, pois a percepção

dos riscos pelas empresas postulantes à concessão tende a influenciar diretamente os lances

apresentados pelas mesmas e, por extensão, o lance vencedor do processo, conforme

observam Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 3). No caso das concessões de rodovias,

de acordo com o que se discute na subseção anterior (2.2.1), tem-se que esse lance vencedor

possa se referir, por exemplo, ao menor valor básico da tarifa de pedágio ou, então, ao maior

valor de outorga pago ao poder concedente. Ainda em relação às rodovias, destaca-se que

necessidade de preservação do equilíbrio econômico-financeiro é o que justifica o

procedimento da revisão tarifária, cujos mecanismos são discutidos na subseção a seguir

(2.2.3).

No Brasil, a alocação dos riscos nas concessões de serviços públicos – e, por

consequência, a preservação do equilíbrio econômico-financeiro – é tradicionalmente baseada

na chamada Teoria das Áleas, oriunda do direito francês, conforme descrevem Coutinho

(2008, p. 274) e Pietro (2014, p. 290). A partir dessa teoria, considera-se que os riscos de uma

concessão possam ser classificados, basicamente, em três grupos: (1) álea ordinária, (2) álea

extraordinária administrativa e (3) álea extraordinária econômica.

Na teoria mencionada, a álea ordinária se refere ao risco mercadológico que é

inerente a qualquer atividade econômica. As flutuações de mercado que venham a afetar a

concessionária são compreendidas, portanto, nessa álea. Ademais, entende-se que esse risco

deva ser assumido pela própria concessionária e, consequentemente, entende-se que seus

efeitos sobre os encargos ou receitas dessa empresa não devam suscitar o reequilíbrio

econômico-financeiro da concessão (PIETRO, 2014, p. 290).

A álea extraordinária administrativa, por sua vez, se refere ao risco que provém da

atuação do poder concedente, o que envolve: (1) a alteração unilateral do contrato, como

forma de atender ao interesse público, (2) o chamado fato do príncipe, caracterizado por uma

determinação estatal que não possua relação direta com o contrato, mas que venha a afetar

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indiretamente o mesmo, e (3) o chamado fato da Administração, caracterizado por uma ação

ou omissão do Estado que venha a afetar direta e especificamente o contrato. Pelo fato de o

próprio poder concedente ser o motivador dessa álea, entende-se que o mesmo deva assumir

tal risco. Dessa forma, os efeitos desse risco sobre os encargos ou receitas da concessionária

implicariam à mesma o direito ao reequilíbrio econômico-financeiro (PIETRO, 2014, p. 291).

A álea extraordinária econômica, por fim, se refere ao risco que é totalmente exógeno

ao contrato e é, portanto, alheio aos interesses de ambas as partes. Adicionalmente, esse risco

se caracteriza por ser imprevisível e inevitável, e também por onerar sobremaneira a

concessionária. Aplica-se, nesse caso, a chamada teoria da imprevisão, que denota a

necessidade de que seja restabelecido o equilíbrio econômico-financeiro. Em função de esse

risco não ser motivado por nenhuma das partes, tem-se a possibilidade de que ele seja

compartilhado entre ambas. É o poder concedente, no entanto, que usualmente acaba por

assumir essa álea (PIETRO, 2014, p. 295).

Embora seja a concepção mais tradicional, a Teoria das Áleas apresenta uma estrutura

consideravelmente rígida para a alocação dos riscos. Essa teoria básica pode não ser, portanto,

adequada para se atender às especificidades de cada concessão. Conforme apresentado por

Garcia (2011, p. 5) e Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 7), uma alternativa a essa

rigidez pode ser a adoção de uma matriz de riscos mais explícita, que enumere nominalmente

os riscos alocados a cada uma das partes, sem se ater à álea que os mesmos manifestem.

Complementarmente, pode-se buscar a identificação prévia de determinadas lacunas que o

contrato possa apresentar, e promover, a partir dessa identificação, uma alocação (entre as

partes) dos direitos de decisão sobre tais lacunas. No entanto, vale reforçar que, a despeito de

qualquer esforço de antecipação, os contratos de concessão de serviços públicos permanecem

inerentemente incompletos.

2.2.3 Mecanismos de reajuste e revisão tarifários

A Constituição de 1988, ao tratar das licitações e contratos da Administração Pública

brasileira (artigo 37, inciso XXI), estabelece a necessidade de que sejam “[...] mantidas as

condições efetivas da proposta [...]”. Costuma-se depreender, a partir desse enunciado, que o

pagamento assegurado ao contratado (e.g. tarifas de pedágio), no decorrer do prazo contratual,

deva refletir não o contexto econômico relativo a cada novo período do prazo, mas sim o

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contexto econômico inicial do acordo – ou seja, o contexto econômico constatado na ocasião

do processo licitatório.

Complementarmente, a Lei Geral das Concessões (Lei nº 8.987/95), ao enumerar as

cláusulas essenciais dos contratos de concessão de serviços públicos (artigo 23, inciso IV),

menciona as cláusulas relativas “ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos para o

reajuste e a revisão das tarifas”. Essa lei faz menção, portanto, a dois procedimentos distintos:

o reajuste tarifário e a revisão tarifária. É a partir de tais procedimentos que tem sido

instrumentalizada, nos programas de concessões de rodovias, a preservação das “condições

efetivas da proposta” – nos termos do parágrafo anterior.

O procedimento do reajuste tarifário busca, essencialmente, resguardar as receitas da

concessionária frente à variação dos preços de seus insumos. Conforme descreve Garcia

(2011, p. 6), essa variação dos preços pode ser compreendida, no contrato, pela inflação geral

ou pelos níveis de preços mais específicos aos custos do setor.

Comumente, o reajuste tarifário é promovido com periodicidade anual, e se consolida

pela aplicação de um índice de reajuste sobre o valor básico da tarifa – valor esse que se

remete ao lance vencedor do processo licitatório. Tal índice de reajuste compreende a

variação dos preços conforme o enfoque do contrato e, dessa forma, o mesmo pode ser

equacionado a partir de índices de inflação geral ou, então, por uma cesta de índices (e

parâmetros) mais específicos ao setor.

De acordo com o que apresentam Coutinho (2008, p. 272) e Matos (2013, p. 98), o

reajuste tarifário não promove, em teoria, uma alteração substancial na tarifa em si, mas sim

no preço que a exprime.52

Ou seja, espera-se que a alteração resultante desse reajuste se dê

unicamente em termos nominais, e não em termos reais. Paralelamente, Campos Neto e

Soares (2007, p. 12) atentam ao fato de que o próprio reajuste tarifário pode acabar por

repercutir sobre a inflação – ao menos no caso das concessões de rodovias. Isso porque esse

reajuste tende a influenciar os custos de frete das mercadorias, os quais, por seu turno, tendem

a onerar os preços livres da economia (CAMPOS NETO; SOARES, 2007). Além disso, tem-

se que os valores de pedágio são, também, levados em conta na composição de determinados

índices de inflação, dentre os quais o IPCA e o IGP-DI.53

52

Tanto Coutinho (2008, p. 272) quanto Matos (2013, p. 98) expõem essa avaliação com base na análise

realizada por Celso Bandeira de Mello, em seu livro Curso de Direito Administrativo (1993). 53

O pedágio é o subitem 5102015 no cálculo do IPCA e o subitem 620909 no cálculo do IGP-DI.

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O procedimento da revisão tarifária, por sua vez, busca resguardar as receitas da

concessionária frente à variação de seus encargos. No caso das concessões de rodovias

federais no Brasil, esses encargos são especificados no chamado Programa de Exploração da

Rodovia (PER), anexo ao contrato. Já no caso das concessões paulistas, tais encargos são

especificados no chamado Plano de Negócios, também anexo ao contrato.

É através do processo de revisão tarifária, portanto, que se restabelece o equilíbrio

econômico-financeiro da concessão, cujos aspectos teóricos são discutidos na subseção

anterior (2.2.2). A revisão tarifária pode ter periodicidade concomitante ao processo de

reajuste, mas pode, também, não apresentar uma periodicidade fixa. Nesse último caso,

a revisão ocorre unicamente em resposta aos eventos que suscitem o desequilíbrio econômico-

financeiro da concessão (GARCIA, 2011, p. 23).

O reequilíbrio econômico-financeiro da concessão, por meio da revisão tarifária, se dá

pela alteração do próprio valor básico da tarifa, o qual é primordialmente estabelecido a partir

do lance vencedor do processo licitatório. Dessa forma, ao contrário do que se espera do

reajuste, tem-se que a revisão promove uma alteração substancial na tarifa – ou seja, promove

uma alteração em termos reais. Nesse sentido, Coutinho (2008, p. 283) e Matos (2013, p. 102)

afirmam que a revisão tarifária resguarda as receitas da concessionária nos casos em que o

reajuste tarifário, por si só, não o faz.

Nas concessões de rodovias no Brasil, o equilíbrio econômico-financeiro é comumente

expresso pelo fluxo de caixa da atividade. Nesse sentido, caso ocorra o desequilíbrio, o valor

básico da tarifa é revisado, de modo que esse fluxo de caixa também seja revisado e, assim, a

concessionária reassuma a taxa interna de retorno (TIR) inicialmente estabelecida.

Esse procedimento, de acordo com o que descrevem Saintive e Chacur (2006, p. 8), denota

a chamada regulação por taxa de retorno.

A Figura 2, a seguir, permite a visualização da diferença entre os procedimentos de

reajuste tarifário e revisão tarifária.

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Figura 2 - Evolução da tarifa básica de pedágio vs. tarifa reajustada (concessionária NovaDutra)

Fonte: Retirado da Nota Técnica nº 106/2015/GEROR/SUINF (p. 13), em ANTT (2016a).

Essa figura – retirada de uma nota técnica de julho de 2015, da Agência Nacional de

Transportes Terrestres (ANTT, 2016a) –, resume os reajustes e revisões tarifários referentes à

concessionária NovaDutra, pertencente à 1ª Etapa do Programa Federal de concessões de

rodovias, e cuja cobrança de pedágio teve início em 1996. Nesse sentido, apresenta-se a

evolução do valor básico da tarifa – ou, nesse caso, a tarifa básica de pedágio (TBP) – e do

valor reajustado da tarifa – após arredondamento. A trajetória do valor básico da tarifa

(a TBP) caracteriza os sucessivos processos de revisão, motivados pelos desequilíbrios

econômico-financeiros que tenham se apresentado à concessionária, e que devem refletir

alterações em termos reais dessa tarifa. Por sua vez, a trajetória da tarifa arredondada se

remete aos sucessivos processos de reajuste, motivados pela variação dos níveis de preços dos

insumos da concessionária, e que, ao menos teoricamente, devem refletir alterações da TBP

unicamente em termos nominais.

2.2.4 Apropriação das receitas extraordinárias e remuneração variável conforme

desempenho

No Brasil, a Lei Geral das Concessões (Lei nº 8.987/95), ao tratar das fontes não-

tarifárias de receita da concessionária (artigo 11), estabelece a “[...] possibilidade de outras

fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos

associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas [...]”.

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Ainda em relação a tais fontes de receita (artigo 11, parágrafo único), é estabelecido que as

mesmas “[...] serão obrigatoriamente consideradas para a aferição do inicial equilíbrio

econômico-financeiro do contrato”. Dessa forma, tem-se que a legislação brasileira prevê que

as receitas não-tarifárias da concessionária, caso existam, sejam utilizadas em favor da

obtenção uma tarifa de pedágio módica – ou seja, em favor da modicidade tarifária. Tais

receitas são referidas no presente trabalho, doravante, como receitas extraordinárias, que é o

termo utilizado no contrato referente à 2ª Etapa - Fase II do Programa Federal.

Apesar de a legislação prever a utilização das receitas extraordinárias em favor da

modicidade tarifária, tem-se que não há incentivo à obtenção das mesmas para os casos em

que a concessionária não possa se apropriar de parcela delas – ou seja, para os casos em que

as receitas extraordinárias sejam integralmente levadas em conta no equilíbrio econômico-

financeiro da concessão. Nesse sentido, conforme afirma Barella (2003, p. 114), seria positivo

para os usuários das rodovias que essas receitas fossem “[...] destinadas em sua maior parte à

diminuição efetiva das tarifas, destinando, todavia, uma pequena parte delas para a

concessionária, como incentivo para o desenvolvimento contínuo de receitas acessórias [...]”.

Outro possível mecanismo para a promoção da modicidade tarifária é a vinculação do

pagamento da concessionária – expresso por suas tarifas de pedágio – ao seu desempenho.

Esse procedimento, de acordo com o que descrevem Saintive e Chacur (2006, p. 9), constitui

uma das principais características da chamada regulação pelo preço-teto. O modelo

regulatório em questão tem sido o mais comumente observado, desde meados da década de

1980, para as concessões de serviços públicos na América Latina (GUASCH, 2004, p. 15).

No entanto, conforme mencionado na subseção anterior (2.2.3), as concessões de rodovias no

Brasil têm apresentado o modelo de regulação por taxa de retorno. Assim, caso colocada em

prática nas concessões rodoviárias brasileiras, a remuneração variável conforme desempenho

implicaria um enclave da regulação pelo preço-teto em meio à regulação por taxa de retorno,

a qual é, de fato, adotada. Um dos principais exemplos, nesse sentido, é o chamado fator X.

Para Saintive e Chacur (2006, p. 16):

O objetivo do fator X é, grosso modo, o de se repassar antecipadamente hipotéticos

ganhos de eficiência da firma ou setor para os consumidores. Ou seja, o intuito

fundamental é fixar antecipadamente para as empresas uma meta de transferência

para os consumidores dos ganhos de produtividade.

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Dessa forma, é preestabelecido um percentual a ser descontado do valor básico da

tarifa, percentual esse referente ao ganho de produtividade que se espera da concessionária ao

longo do tempo. A concessionária é induzida, assim, a obter tais ganhos de produtividade.

No Brasil, esse mecanismo é aplicado, por exemplo, em concessões de serviços de

eletricidade, de serviços de telefonia e também na 3ª Etapa do Programa Federal de

concessões rodoviárias (SAINTIVE; CHACUR, 2006, p. 4; VASCONCELOS, 2008, p. 222).

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3 ACERVO INSTITUCIONAL E ARRANJO CONTRATUAL DAS CONCESSÕES

RODOVIÁRIAS NO BRASIL

O principal objetivo deste Capítulo 3 é identificar e examinar os arranjos contratuais

referentes às concessões rodoviárias federais e paulistas. Essa análise é realizada, aqui,

com base nos aspectos teóricos discutidos no decorrer do Capítulo 2 – mais especificamente

na Seção 2.2 –, os quais se remetem aos seguintes quesitos concernentes aos contratos de

concessão: (1) modelos de licitação, (2) alocação dos riscos, (3) mecanismos de reajuste

tarifário, (4) mecanismos de revisão tarifária, (5) apropriação das receitas extraordinárias,

e (6) remuneração variável conforme desempenho.

De forma complementar à análise dos arranjos contratuais, propõe-se identificar e

analisar o chamado acervo institucional de cada concessão. A utilização desse termo se

baseia, principalmente, nas noções apresentadas por Chong e Sánchez (2003) em relação ao

mesmo. Esses autores, ao versarem sobre o acervo institucional, se referem ao conjunto de

leis e instituições que, coadunadas a um determinado contexto político e econômico,

influenciariam o delineamento do arranjo contratual de uma política de privatização.

Nesse sentido, a identificação do acervo institucional associado a cada concessão é

realizada, ao longo do capítulo, através de uma síntese de aspectos econômicos, políticos,

históricos, jurídicos e institucionais, os quais são avaliados, aqui, como potencialmente

determinantes não apenas aos arranjos contratuais das concessões, mas também aos resultados

econômicos diretos das mesmas para os usuários. Essa síntese é efetuada, principalmente, sob

o prisma das discussões realizadas ao longo do Capítulo 1 e do Capítulo 2 (Seção 2.1).

Em resumo, propõe-se que essa identificação do acervo institucional associado a cada

concessão rodoviária dê suporte para: (1) a análise do arranjo contratual de cada etapa dos

programas de concessões aqui analisados e (2) a verificação da validez da hipótese inicial

proposta na introdução do presente trabalho, o que é realizado no Capítulo 4.

O capítulo é distribuído, então, em duas seções. A Seção 3.1 é dedicada às concessões

rodoviárias do Programa Federal, o qual é subdividido em uma 1ª Etapa (Subseção 3.1.1),

uma 2ª Etapa - Fase I (Subseção 3.1.2) e uma 2ª Etapa - Fase II (Subseção 3.1.3).

A Seção 3.2, por sua vez, é dedicada às concessões do Programa de São Paulo, o qual é

subdividido em uma 1ª Etapa (Subseção 3.2.1) e uma 2ª Etapa (Subseção 3.2.2).

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Não constituem objeto de análise, no presente trabalho, as etapas mais recentes de

ambos os programas mencionados, ou seja, a 3ª Etapa do Programa Federal – cuja cobrança

de pedágio teve início apenas em 2014 – e a concessão na modalidade de PPP do Programa de

São Paulo – a Nova Tamoios, cuja cobrança de pedágio teve início apenas em 2016.

Essa exclusão é justificada pelo fato de que seus resultados econômicos diretos para os

usuários, no sentido aqui trabalhado, perfazem séries de tempo demasiado incipientes, o que

inviabiliza a sua análise em conjunto às demais etapas nos moldes do Capítulo 4.

No Apêndice A podem ser verificados os quadros-síntese dos arranjos contratuais por

etapa de concessões, conforme a identificação dos mesmos no decorrer do presente capítulo.

3.1 PROGRAMA FEDERAL DE CONCESSÕES

3.1.1 A 1ª Etapa do Programa Federal

As políticas de privatização de rodovias no Brasil tiveram início através do Programa

Federal, notadamente a partir do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

A 1ª Etapa desse programa demarcou, portanto, a transição do rodoviarismo anterior à década

de 1990 – cujo financiamento ocorria quase que exclusivamente através de recursos públicos

– em direção ao rodoviarismo que se desenhou a partir da década de 1990 – no qual a

privatização se dá conjugadamente à política pública.

A partir do que se discute ao longo do Capítulo 1 e do Capítulo 2, destacam-se, aqui,

três fatores que teriam favorecido a articulação inicial do Programa Federal e que, por

extensão, compõem o acervo institucional associado a essa sua 1ª Etapa. Tais fatores são:

(1) a crise de financiamento e a subsequente deterioração do investimento no setor rodoviário,

(2) a disseminação mundial de políticas públicas embasadas pelo pensamento neoliberal, que

se consubstanciou no chamado Consenso de Washington, e (3) a privatização explícita como

uma extensão lógica do processo de transferência de atribuições do setor público para o setor

privado, observado na trajetória pregressa do rodoviarismo.

Em relação ao primeiro dos três fatores enumerados anteriormente, apresenta-se na

Seção 1.2 que a crise de financiamento do setor rodoviário teve seu início demarcado pelo

II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND, 1975-1979), que ocasionou a progressiva

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desvinculação dos recursos públicos para com as políticas setoriais. Nesse cenário, a expansão

rodoviária – até então majoritariamente sustentada por esses recursos vinculados, na forma do

Fundo Rodoviário Nacional (FRN, extinto em 1982) – desacelerou seu ritmo ao longo da

década de 1980. Em seguida, a partir da década de 1990, ocorreria a súbita queda no

investimento, a estagnação da expansão e a deterioração da malha rodoviária preexistente, o

que teria contribuído para uma conjuntura favorável à defesa da privatização como fonte

alternativa de recursos para o setor.

Já em relação ao segundo dos três fatores enumerados, apresenta-se também na

Seção 1.2 que a disseminação das políticas de caráter neoliberal ocorreu nos países centrais

notadamente a partir da década de 1980, ao passo que na América Latina esse processo se

daria especialmente a partir da década de 1990. O Consenso de Washington, que resume tal

processo, envolve diretamente a prática da privatização. Assim, é em consonância com esse

movimento político e econômico mais amplo que, em 1990, foi lançado o Programa Nacional

de Desestatização (PND), a partir do qual seriam instituídas diversas políticas de privatização

no país, inclusive as concessões rodoviárias federais.

O terceiro e último dentre os fatores enumerados se remete, com base no que se

discute na Seção 2.1, à contratação em larga escala do capital privado pelo Estado –

especialmente de serviços de construção pesada e de consultoria técnico-econômica – que se

desdobrou a partir da Lei Joppert (de 1945). Tal processo se aprofundou a partir da Reforma

Administrativa de 1967, a qual apresentava entre seus princípios basilares a descentralização

e a delegação de competência. Tem-se, então, a consolidação de um processo de transferência

de atribuições do setor público para o setor privado, que culminaria na privatização explícita –

nos termos propostos por Starr (1988, p. 16) – das rodovias brasileiras.

Outros dois aspectos são sintomáticos a esse caráter de transição manifestado pela

1ª Etapa do Programa Federal. Em primeiro lugar, dado o fato de que a Agência Nacional de

Transportes Terrestres (ANTT) só viria a ser instituída em 2001, tem-se que a contratação e

regulação nessa etapa ficariam a cargo do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

(DNER). Dessa forma, além ter liderado o rodoviarismo pregresso, o DNER também

inauguraria o rodoviarismo das privatizações. Em segundo lugar, conforme salientam

Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 5), tem-se que o arranjo contratual dessa etapa

preservou características das contratações de obras públicas, nos moldes do rodoviarismo

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pregresso. Nesse contexto, observa-se uma proteção mais acentuada à concessionária, em

comparação aos contratos de concessão em moldes mais típicos.

O primeiro trecho concedido nessa etapa foi a Ponte Presidente Costa e Silva, ou

Ponte Rio-Niterói (concessionária Ponte). Seu contrato foi assinado ainda em dezembro de

1994 – durante os últimos dias do governo Itamar Franco (1992-1994) – e, portanto, precede a

Lei Geral das Concessões de 1995 (Lei nº 8.987/95). Desse modo, a concessão da Ponte teve

por base apenas a Lei Geral das Licitações de 1993 (Lei nº 8.666/93) e legislação precedente à

Constituição de 1988. O prazo de 20 anos dessa concessão se estendeu de junho de 1995 a

junho de 2015, quando foi encerrado seu contrato com o Grupo CCR e teve início seu

contrato com o Grupo EcoRodovias (concessionária Ecoponte), como parte da 3ª Etapa -

Fase III do Programa Federal. A Ponte é, dessa forma, a primeira e única concessão encerrada

do Programa Federal até a atualidade.

De modo geral, pode-se afirmar que os trechos concedidos nessa etapa figuravam

entre os mais preparados para o pedagiamento, no sentido de possuírem grande potencial de

arrecadação, e de apresentarem um longo histórico de desenvolvimento de sua infraestrutura.

Eram, também, trechos de tráfego intenso e que, portanto, demandavam com certa urgência

investimentos para a recuperação da malha deteriorada (BARBO et al., 2010, p. 3; LANA,

2014, p. 84). As rodovias Presidente Dutra (concessionária NovaDutra) e Osvaldo Aranha ou

Free Way (concessionária Concepa), por exemplo, já haviam sido pedagiadas pelo próprio

DNER ao longo das décadas de 1970 e 1980, conforme mencionado na Seção 1.2. A Ponte

Rio-Niterói, por ter sido construída e operada em condições especiais nesse mesmo período,

também já havia sido pedagiada.54

Complementarmente, trechos como Rio de Janeiro - Juiz de Fora (concessionária

Concer) e Rio de Janeiro - Teresópolis - Além Paraíba (concessionária CRT) compreendem

vias cujo histórico de desenvolvimento remonta ao Brasil Império (1822-1889). O lote da

Concer engloba, por exemplo, a antiga União e Indústria, uma das primeiras estradas de

rodagem do país, e também a antiga Rio-Petrópolis, a primeira rodovia asfaltada do país –

conforme mencionado na Seção 1.1. O lote da CRT, por sua vez, também engloba trechos que

remontam aos antigos caminhos imperiais (CRT, 2016).

54

O DNER designou uma empresa de economia mista especificamente para a construção e operação da Ponte

Rio-Niterói, a Empresa de Construção e Exploração da Ponte Presidente Costa e Silva (criada a partir do Decreto

nº 68.110, de 26 de Janeiro de 1971), que posteriormente se tornaria Empresa de Engenharia e Construção de

Obras Especiais S.A. (ECEX) (CAMPOS, 2012, p. 326).

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A exceção, nesse contexto, é o Polo Rodoviário de Pelotas (concessionária Ecosul).

Tal concessão foi inicialmente realizada como parte do Programa do Rio Grande do Sul (em

1998), mas foi posteriormente sub-rogada ao Programa Federal (em 2000). Isso porque seu

convênio de delegação – o qual autorizava o estado do Rio Grande do Sul a conceder esse

polo de trechos federais – viria ser denunciado pelo estado em questão, o que se resolveu

através da sua sub-rogação (VASCONCELOS, 2008, p. 245). O Quadro 2, a seguir, resume as

concessões realizadas na 1ª Etapa do Programa Federal.

Quadro 2 - Programa federal de concessões de rodovias (1ª Etapa)

Concessionária Rodovias Segmento

Rodoviário

Extensão

(km)¹ Início da

Concessão

Início da

Cobrança

Prazo da

Concessão

Ponte

(CCR)

BR-

101/RJ

Rio de Janeiro -

Niterói 23 jun. 1995 ago. 1996 20 anos

NovaDutra

(CCR)

BR-

116/RJ/SP

Rio de Janeiro -

São Paulo 402 mar. 1996 ago. 1996 25 anos

Concer

(Triunfo)

BR-

040/MG/RJ

Juiz de Fora -

Rio de Janeiro 180 mar. 1996 ago. 1996 25 anos

CRT

(Invepar)

BR-

116/RJ

divisa MG/RJ -

Teresópolis 143 mar. 1996 set. 1996 25 anos

Concepa

(Triunfo)

BR-

290/RS

Osório -

Porto Alegre 121 jul. 1997 out. 1997 20 anos

Ecosul

(EcoRodovias)

BR-116/

293/392/RS

Polo Rodoviário

de Pelotas

623 /

457² nov. 1998 mar. 2001

15 anos /

28 anos³

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016b),

ANTT (2016a; 2016b), EconoInfo (2016) e Ecosul (2014).

Notas: (1) A extensão total concedida nessa etapa foi de 1.492 km (até 2014).

(2) A Ecosul contava inicialmente com 623 km de extensão concedida, mas em 2014 deixou de administrar

166 km referentes ao trecho Pelotas-Bagé (BR-293) e ao acesso aos Molhes da Barra em Rio Grande (BR-392).

(3) A Ecosul foi inicialmente contratada pelo Programa do Rio Grande do Sul (em 1998), mas passou a pertencer

ao Programa Federal (em 2000), o que implicou a ampliação do prazo de concessão (de 15 para 28 anos).

Em relação, novamente, ao caráter de transição manifestado por essa etapa, destaca-se

a continuidade do envolvimento das principais empreiteiras do país no seio das políticas

rodoviárias. Conforme discutido ao longo da Seção 1.1, tais empreiteiras tiveram seu

expressivo crescimento estimulado, em grande medida, pelas contratações do DNER no

rodoviarismo pregresso. Na 1ª Etapa do Programa Federal, observa-se a persistência de tais

empresas como agentes centrais do rodoviarismo. O Grupo CCR, por exemplo, é controlado

por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido, ao passo que o Grupo EcoRodovias

é controlado pela CR Almeida, e o Grupo Invepar é controlado pela OAS.

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A análise do arranjo contratual associado a essa 1ª Etapa é realizada, aqui, com base

principalmente no contrato da NovaDutra (ANTT, 2016a). Observa-se que no Apêndice A,

do presente trabalho, pode ser verificado um quadro-síntese dos arranjos contratuais

referentes ao Programa Federal, conforme identificados no decorrer da presente seção.

O modelo de licitação adotado apresentou o critério de concorrência pela menor tarifa.

Nesse caso, o DNER definiria um teto para o valor básico da tarifa, de modo que a empresa

vencedora fosse aquela que propusesse o maior deságio em relação a esse valor teto.

De acordo com o que se discute na Subseção 2.2.1, esse modelo denotaria um esforço para a

mitigação do aspecto de preço monopolista associado ao pedágio. Por outro lado, conforme

mencionado anteriormente, os contratos dessa etapa preservaram características das

contratações de obras públicas, de modo a proporcionar à concessionária um grau de proteção

que, no contexto das concessões de serviços públicos, é pouco usual. Tal caráter dessa etapa

se reflete na alocação dos riscos no contrato e, por extensão, se reflete nos mecanismos de

alteração da tarifa de pedágio, conforme apresentado a seguir.

A alocação dos riscos (cláusulas 19 e 20) acompanha, basicamente, a chamada Teoria

das Áleas. Nesse sentido, tem-se que a concessionária assume apenas a álea ordinária, que

corresponde aos riscos associados às flutuações de mercado, conforme apresentado na

Subseção 2.2.2. É, portanto, uma alocação rígida dos riscos, na qual não se observa uma

matriz de riscos mais explícita, que os distribua nomeadamente entre as partes. Além disso,

nota-se que a concessionária não assume, também, modificações substanciais nos preços

relativos de seus insumos e fatores de produção (cláusula 64, item g).

Ainda em relação aos riscos da concessão, Garcia (2011, p. 17) e Guerrero,

Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 5) apontam que o Programa de Exploração da Rodovia

(PER) dessa etapa – que é anexo ao contrato – determinava as obras pelo modelo da

empreitada por preço unitário. Ou seja, cada obra referente ao PER deveria cumprir um preço

específico, ao invés de ser estabelecido um valor global para as obras na rodovia. Isso implica

que a concessionária não assumiria o risco pela variação nas quantidades dos insumos

necessários para cada obra. Assim, para os casos em que a quantidade dos insumos

necessários divergisse da preestabelecida no PER, a concessionária teria direito ao

reequilíbrio econômico-financeiro do contrato.

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O reajuste tarifário (cláusula 53) é anual e obedece à Equação 1, a seguir:

𝑇𝐵𝑅 = 𝑉 𝛽1 𝐼𝑇𝑖−𝐼𝑇0

𝐼𝑇0+ 𝛽2

𝐼𝑃𝑖−𝐼𝑃0

𝐼𝑃0+ 𝛽3

𝐼𝑂𝐴𝐸 𝑖−𝐼𝑂𝐴𝐸0

𝐼𝑂𝐴𝐸0+ 𝛽4

𝐼𝐶𝑖−𝐼𝐶0

𝐼𝐶0 + 1 (1)

Em que TBR é o valor da tarifa básica de pedágio (TBP) reajustada; V é o valor da TBP

propriamente dita; IT0 e ITi são índices associados aos preços de terraplanagem (no mês da

data-base e no mês do reajuste, respectivamente); IP0 e IPi são índices associados aos preços

de pavimentação (no mês da data-base e no mês do reajuste); IOAE0 e IOAEi são índices

associados aos preços de obras de arte especiais (no mês da data-base e no mês do reajuste);

IC0 e ICi são índices associados aos preços de serviços de consultoria (no mês da data-base e

no mês do reajuste); e β1, β2, β3 e β4 são parâmetros cuja soma é 1. Todos os índices aqui

mencionados são calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O índice de reajuste adotado nessa etapa é equacionado, portanto, com base em uma

cesta de índices e parâmetros específicos aos custos da construção rodoviária, ao invés de ser

equacionado com base em índices que reflitam a inflação geral – o que se remete à discussão

levantada na Subseção 2.2.3. Esse mecanismo de reajuste, conjuntamente à alocação dos

riscos exposta anteriormente, resguarda a concessionária frente à variação dos níveis de

preços de seus insumos e fatores de produção. Há, dessa forma, um descompasso entre esse

reajuste tarifário e a inflação experimentada, em geral, pelos usuários das rodovias. Apesar de

o reajuste teoricamente alterar a TBP apenas em termos nominais, observa-se, aqui, a

possibilidade de que ocorra uma alteração da TBP em termos reais e, assim, seja ocasionada

uma transferência de ônus da concessionária para os usuários.

A revisão tarifária (cláusula 64) não apresenta periodicidade fixa. O único mecanismo

descrito no contrato é a chamada revisão extraordinária, que ocorre apenas quando requerida

por alguma das partes, e que é motivada por eventuais desequilíbrios econômico-financeiros

da concessão. Esse mecanismo promove, portanto, uma alteração da TBP em termos reais e,

dessa forma, revisa o fluxo de caixa da concessão, de modo que concessionária reassuma a

taxa interna de retorno (TIR) inicialmente estabelecida. O Quadro 3, a seguir, apresenta as

TIR iniciais para cada concessionária dessa etapa, dispostas em ordem decrescente.

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Quadro 3 - Taxas internas de retorno (TIR) iniciais - 1ª Etapa do Programa Federal

Concessionária TIR

Concepa 23,99% a.a.

CRT 17,99% a.a.

NovaDutra 17,58% a.a.

Ecosul 17,55% a.a.

Ponte 16,62% a.a.

Concer 12,99% a.a.

Média 17,79% a.a.

Fonte: Ito (2015, p. 95).

Há, no entanto, um mecanismo que não é referido como revisão tarifária, mas que,

na prática, funcionaria como tal. Esse mecanismo (cláusula 77) se dá pela avaliação anual das

receitas extraordinárias – nos termos da Subseção 2.2.4 – auferidas pela concessionária. Nesse

cenário, verifica-se o impacto de tais receitas sobre o equilíbrio econômico-financeiro da

concessão, de modo que o valor da TBP seja revisto em favor da modicidade tarifária.

Por outro lado, Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 6) avaliam que o contrato

apresenta baixo incentivo à utilização, pela concessionária, das receitas extraordinárias como

instrumento para a modicidade tarifária – a partir do mecanismo descrito no parágrafo

anterior. Esse baixo incentivo decorreria das características de contratações de obras públicas

apresentadas por essa etapa. Tais características – manifestadas, por exemplo, pela alocação

dos riscos e pelo mecanismo de reajuste tarifário – já confeririam, por si só, uma proteção

relativamente elevada à concessionária, referente aos seus ganhos pelo pedágio. É em função

desse grau de proteção, portanto, que seria baixo o incentivo à obtenção de receitas

extraordinárias e, por extensão, à promoção da modicidade tarifária.

Não há, por fim, mecanismos que alterem a remuneração da concessionária em função

de seu desempenho. Tem-se apenas a aplicação de “[...] multas com o objetivo de controle de

prazos de execução de obras/serviços e de controle de parâmetros de engenharia rodoviária

(com destaque a condições do “pavimento”)” (cláusulas 219 a 224), conforme descrevem

Sá, Santos e Brasileiro (2014, p. 6).

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3.1.2 A 2ª Etapa do Programa Federal - Fase I

A 2ª Etapa do Programa Federal teve início em 2008, mais de 10 anos após o início da

1ª Etapa, durante o governo Lula da Silva (2003-2010). Sua Fase I se desenrolou, dessa

forma, a partir de um acervo institucional bastante distinto daquele associado ao início da

etapa anterior. Nesse sentido, se a 1ª Etapa manifestava um caráter de transição em meio ao

rodoviarismo, a 2ª Etapa, por seu turno, denotava o aprofundamento da privatização de

rodovias no seio da política pública – complementar ao aprofundamento proporcionado pela

consolidação da 1ª Etapa e pelos programas de concessões dos estados.

De acordo com o que é discutido na subseção anterior (3.1.1), a crise de financiamento

do setor rodoviário teria sido um dos principais motivadores das políticas de privatização, ao

menos em seus primeiros anos. Por outro lado, entre o início da 1ª Etapa e o início da 2ª Etapa

houve a instituição do tributo CIDE-Combustíveis, em 2001, como tentativa de retomar

alguma vinculação de recursos públicos à política de transportes. Tal medida contribuiu,

assim, para o relativo aumento do investimento público em rodovias ao longo da década de

2000, conforme apresentado na Seção 1.3. Esse aumento do investimento, por sua vez, teria

contribuído para o arrefecimento da urgência da privatização como fonte alternativa de

recursos para o setor, em comparação à urgência que corroborou a articulação da 1ª Etapa.

Discute-se anteriormente, também, a privatização de rodovias como consequência do

PND, que, por sua vez, se remete à cartilha do Consenso de Washington. A 2ª Etapa, por

outro lado, se deu como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em

2007. O PAC denotava um esforço, por parte do governo federal, em retomar uma maior

centralização no planejamento da política pública, especialmente em relação ao investimento

em infraestrutura. Tal processo se deu em consonância com a disseminação das políticas de

caráter pós-neoliberal observado na América Latina – nos termos propostos por

Grugel e Riggirozzi (2012, p. 3), Macdonald e Ruckert (2009, p. 6) e Tussie (2009, p. 80) –,

conforme também apresentado na Seção 1.3. Observa-se, dessa forma, um cenário de maior

intervencionismo por parte do governo federal, em comparação à postura liberalizante que

contextualizou o surgimento da 1ª Etapa.

A contratação e regulação nessa 2ª Etapa foram realizadas pela ANTT. Tal agência foi

instituída em 2001, conjuntamente à criação do Departamento Nacional de Infraetsrutura de

Transportes (DNIT), e conjuntamente à extinção do DNER. Esse último, vale reiterar, havia

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cumprido as funções de contratação e regulação nos primeiros anos da etapa anterior.

Conforme salientam Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 6), a participação da ANTT,

tendo em vista a sua finalidade específica de agência reguladora, contribuiu para que o arranjo

contratual dessa etapa assumisse características mais próprias às concessões de serviços

públicos, e não mais se detivesse aos moldes das contratações de obras públicas.

Segundo Barbo et al. (2010, p. 3) e Pires e Giambiagi (2000, p. 22), os estudos de

viabilidade para as concessões da 2ª Etapa tiveram início ainda ao final do governo Cardoso

(1995-2002), por parte do DNER. A demora para que essa etapa viesse, de fato, a ter início

é reflexo de um impasse quanto ao modelo de licitação e quanto ao arranjo contratual que

deveriam ser adotados. Esse impasse se apresentou a partir do início do governo Lula

(2003-2010), e se manifestou, ao longo dos anos, pelas divergências de posicionamento entre

representantes do Ministério dos Transportes, da ANTT e do Tribunal de Contas da União

(TCU). Tais divergências, de acordo com Correia (2011, p. 234), contrapunham esforços de

manutenção e esforços de renovação dos moldes adotados na etapa anterior. Entre os alvos

desse dissenso estariam a cobrança ou não de um valor de outorga (a exemplo do Programa de

São Paulo), a autonomia da ANTT e a necessidade de pedágios mais baratos.

Assim como na 1ª Etapa, os trechos concedidos na 2ª Etapa - Fase I se restringiram ao

eixo Sudeste-Sul do país. Não se trata de trechos com um histórico prévio de pedagiamento,

ou com um histórico de desenvolvimento tão remoto quanto aquele associado aos trechos da

etapa anterior. São, contudo, trechos de ampla relevância econômica e que, portanto,

demandavam um fluxo mais direcionado de investimentos, a fim de recuperar e aprimorar sua

malha. Em média, os lotes dessa etapa são, também, mais extensos do que os da etapa anterior

– a 1ª Etapa apresenta uma média próxima a 250 km (para 6 lotes), ao passo que a

2ª Etapa - Fase I apresenta uma média superior a 370 km (para 7 lotes).

De modo geral, os volumes de tráfego dos trechos dessa etapa são comparáveis

àqueles associados aos trechos da etapa anterior. No acumulado dos 4 primeiros anos de

operação, o tráfego mais intenso da 1ª Etapa – sem levar em consideração a Ponte, que é um

outlier nesse sentido – foi referente à NovaDutra, cuja relação de VE/km (veículos

equivalentes por quilômetro de extensão) foi de 0,568 milhão. Já na 2ª Etapa - Fase I, os

principais destaques, de acordo com o mesmo critério, foram as rodovias Régis Bittencourt

(1,306 milhão de VE/km), Fernão Dias (0,925 milhão VE/km) e Litoral Sul (0,679 milhão

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de VE/km) (LANA, 2014, p. 84). O Quadro 4, a seguir, resume as concessões realizadas na 2ª

Etapa - Fase I do Programa Federal.

Quadro 4 - Programa federal de concessões de rodovias (2ª Etapa - Fase I)

Concessionária Rodovias Segmento

Rodoviário

Extensão

(km)¹

Início da

Concessão

Início da

Cobrança

Prazo da

Concessão

Régis Bittencourt

(Arteris)

BR-

116/SP/PR

São Paulo -

Curitiba 402 fev. 2008 dez. 2008 25 anos

Fernão Dias

(Arteris)

BR-

381/MG/SP

Belo Horizonte -

São Paulo 562 fev. 2008 dez. 2008 25 anos

Litoral Sul

(Arteris)

BR-

116/376/PR

e BR-101/SC

Curitiba -

Florianópolis 382 fev. 2008 fev. 2009 25 anos

Fluminense

(Arteris)

BR-

101/RJ

divisa RJ/ES -

Ponte Rio-Niterói 320 fev. 2008 fev. 2009 25 anos

Transbrasiliana

(Triunfo)

BR-

153/SP

divisa MG/SP -

divisa SP/PR 322 fev. 2008 dez. 2008 25 anos

Planalto Sul

(Arteris)

BR-

116/PR/SC

Curitiba -

divisa SC/RS 413 fev. 2008 dez. 2008 25 anos

Rodovia do Aço

(Acciona)

BR-

393/RJ

divisa MG/RJ -

entronc. BR-116/RJ 200 mar. 2008 mar. 2009 25 anos

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016b),

ANTT (2016a; 2016b), Arteris (2015) e EconoInfo (2016).

Nota: (1) A extensão total concedida nessa etapa foi de 2.601 km.

O modelo de licitação adotado apresentou o critério de leilão pela menor tarifa, de

maneira análoga à etapa anterior. A despeito do impasse que precedeu o início dessa etapa,

e da subsequente desconfiança do mercado para com uma possível rigidez modelo adotado –

por parte, por exemplo, da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) –,

os deságios sobre os valores teto estabelecidos pela ANTT foram expressivos, o que resultaria

em baixas tarifas de pedágio (CORREIA, 2011, p. 239).

Em contraponto aos baixos pedágios, o início dessa etapa foi marcado, de modo geral,

pelos atrasos nas obras referentes ao Programa de Exploração da Rodovia (PER). Tais obras

constam nas etapas do PER denominadas de trabalhos iniciais e recuperação, que se referem

aos investimentos realizados ao longo dos 5 primeiros anos da concessão (ANTT, 2016c).

Dos 7 lotes licitados nessa etapa, 5 foram vencidos pelo grupo espanhol OHL. No entanto,

como consequência desses atrasos nas obras, a OHL Brasil seria incorporada pela também

espanhola Abertis – empresa líder mundial em concessões rodoviárias –, dando origem ao

Grupo Arteris, conforme relatam Bortolozi (2012), Amora (2013) e Maia (2015).

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Além das 5 concessionárias controladas pelo Grupo Arteris, tem-se que a Rodovia do

Aço também é controlada por um grupo espanhol, a Acciona. Nesse sentido, se na 1ª Etapa

observou-se a participação destacada das grandes empreiteiras nacionais nas concessões

rodoviárias, nessa 2ª Etapa - Fase I se observa, por outro lado, a participação destacada do

capital estrangeiro, em especial de origem espanhola.

De acordo com a discussão levantada na Subseção 2.2.1, a disputa pela menor tarifa

tencionaria selecionar a empresa mais apta a cumprir o PER com base na cobrança do menor

pedágio. Não existe a certeza, porém, de que a empresa vencedora seja capaz de cumprir com

sua proposta – o que poderia implicar a renegociação do contrato. Essa inexecução do

contrato pode estar associada ao chamado viés de otimismo, referente à previsão da demanda.

Lana (2014, p. 84) demonstra que, ao menos para o acumulado dos 4 primeiros anos de

operação, o viés de otimismo nessa 2ª Etapa - Fase I aparenta ter sido, em média, mais

acentuado do que na 1ª Etapa. Destacam-se, nesse sentido, as concessionárias Planalto Sul

(com desvio de -19,4% da demanda prevista em relação à demanda observada), Rodovia do

Aço (desvio de -14,2%) e Litoral Sul (desvio de -9,6%). A presença desse viés de otimismo

poderia ter contribuído, portanto, para os atrasos nas obras do PER.

Conforme mencionado anteriormente, o arranjo contratual dessa etapa se deu em meio

a um ambiente institucional renovado, em comparação àquele associado ao início da etapa

anterior. A novidade se refere, em especial, à atuação da ANTT e à consolidação das

contratações em caráter mais apropriado às concessões de serviços públicos – não mais

atreladas, portanto, aos moldes das contratações de obras públicas. Observa-se, no entanto,

que essa etapa teve início após um longo momento de impasse quanto ao modelo de licitação

e ao arranjo contratual a serem adotados. Tal impasse se referia, em especial, à manutenção

ou renovação dos moldes contratuais da etapa anterior. Em meio a esse cenário, tem-se na

2ª Etapa - Fase I um arranjo contratual que, embora apresente novidades notórias, se mostra

ainda bastante detido ao arranjo contratual associado à 1ª Etapa.

A análise do arranjo contratual associado a essa 2ª Etapa - Fase I é realizada, aqui,

com base principalmente no contrato da Fernão Dias (ANTT, 2016a). Vale reiterar que no

Apêndice A, do presente trabalho, pode ser verificado um quadro-síntese dos arranjos

contratuais referentes ao Programa Federal, conforme identificados no decorrer desta seção.

A alocação dos riscos (cláusulas 4.1 a 4.9) acompanha, basicamente, a chamada Teoria

das Áleas, de modo análogo à etapa anterior. Ainda é, portanto, uma alocação rígida, que

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dispensa uma matriz de riscos mais explícita. Observa-se, todavia, que a concessionária passa

a assumir alguns riscos a mais, em contraponto à etapa anterior. Primeiramente, tem-se que a

empresa assume o risco pela variação nos custos de seus insumos, mão de obra e

financiamentos (cláusula 4.5). Tem-se, ainda, que a empresa assume o risco pela variação nas

quantidades de insumos necessários para as obras do PER (cláusula 4.2), em decorrência do

fato de que as obras passam a ser determinadas pelo modelo da empreitada por preço global,

e não mais pelo modelo da empreitada por preço unitário adotado na 1ª Etapa.

O reajuste tarifário é anual (cláusulas 6.26 a 6.33) e o índice de reajuste adotado

(cláusula 6.31) obedece à Equação 2, a seguir:

𝐼𝑅𝑇 =𝐼𝑃𝐶𝐴𝑖

𝐼𝑃𝐶𝐴0 (2)

Em que IRT é índice de reajustamento da tarifa; e IPCA0 e IPCAi são valores do IPCA (no

mês anterior à data-base e no mês anterior à data do reajuste, respectivamente), calculados

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O valor reajustado da tarifa é obtido pela multiplicação da TBPI (tarifa básica de

pedágio a preços iniciais) pelo IRT (calculado pela Equação 2). O índice de reajuste adotado

nessa etapa é equacionado, portanto, com base na inflação geral, expressa pelo IPCA. No caso

da etapa anterior, observa-se o descompasso entre o reajuste tarifário e a inflação

experimentada, em geral, pelos usuários das rodovias. No caso da presente etapa, porém, esse

descompasso tende a ser mitigado. Dessa forma, o mecanismo de reajuste tende a estar mais

próximo de sua proposta teórica – ou seja, tende a alterar o valor básico da tarifa (a TBPI)

unicamente em termos nominais. Paralelamente, reduz-se a possibilidade de que o reajuste

gere uma transferência de ônus da concessionária para os usuários.

A revisão tarifária (cláusulas 6.34 a 6.42) é realizada através de três mecanismos

distintos. O primeiro deles é a revisão ordinária (cláusula 6.40), realizada anualmente em

conjunto ao reajuste tarifário, a fim de verificar o equilíbrio econômico-financeiro da

concessão. O segundo é a revisão extraordinária (cláusula 6.41), realizada em resposta aos

desequilíbrios causados por eventos específicos (referentes às áleas extraordinárias), quais

sejam: “[...] força maior, ocorrência superveniente, caso fortuito ou fato da Administração

[...]”. O terceiro e último é a revisão quinquenal (cláusula 6.42), realizada a cada 5 anos, a fim

de reavaliar o PER “[...] em relação a sua compatibilidade com as reais necessidades advindas

da dinâmica da Rodovia [...]”. Garcia (2011, p. 19) pondera, no entanto, que os avanços

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referentes à revisão tarifária foram mais teóricos do que práticos, em comparação aos

mecanismos apresentados na etapa anterior. Vale ressaltar, por outro lado, que foram

estabelecidas TIR consideravelmente menores nessa 2ª Etapa, de modo que todas as

concessionárias da presente fase apresentassem uma TIR de 8,95% a.a. – o que representa

aproximadamente metade da TIR média de 17,79% a.a. da 1ª Etapa (ANTT, 2016d).

As receitas extraordinárias (cláusulas 7.2 a 7.6) são levadas em conta na revisão do

fluxo de caixa da concessão – por ocasião da revisão ordinária anual –, de forma análoga à

etapa anterior. No entanto, na presente etapa a concessionária tem direito à apropriação de

15% das receitas extraordinárias e tem direito, também, à apropriação dos custos diretos

associados à geração dessas receitas (cláusula 7.5). Dessa forma, haveria um incentivo

relativamente maior, em comparação à etapa anterior, para que a concessionária obtenha

receitas extraordinárias e, por extensão, para que tais receitas sejam utilizadas em favor da

modicidade tarifária.

Não se observam mecanismos que alterem a remuneração da concessionária conforme

seu desempenho. Similarmente à etapa anterior, tem-se apenas a aplicação de multas com o

objetivo de controle dos prazos e dos parâmetros de desempenho (cláusulas 19.8 a 19.15),

conforme apontam Sá, Santos e Brasileiro (2014, p. 6). Uma novidade da presente etapa, no

entanto, é a diferenciação de obras e serviços obrigatórios e não obrigatórios do PER

(cláusulas 17.4 a 17.7). Os trabalhos obrigatórios apresentam prazos preestabelecidos e

devem cumprir os parâmetros de desempenho. Os trabalhos não obrigatórios, por sua vez,

apresentam prazos meramente indicativos, mas também são obrigados a cumprir os

parâmetros de desempenho. Em relação a esses últimos, vale observar que os mesmos não

implicam o direito ao reequilíbrio econômico-financeiro da concessão (cláusula 6.36).

3.1.3 A 2ª Etapa do Programa Federal - Fase II

A 2ª Etapa - Fase II do Programa Federal teve início em 2009, pouco mais de um ano

após o início da Fase I, ainda durante o governo Lula da Silva (2003-2010). Em função dessa

proximidade entre os inícios da Fase I e da Fase II, observam-se poucas diferenças

substanciais em relação ao acervo institucional que permeou o surgimento de ambas.

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Apenas um lote foi concedido nessa Fase II (concessionária ViaBahia), o primeiro do

Programa Federal localizado fora do eixo Sudeste-Sul do país, e também o de maior extensão

até aquele momento (681 km). De acordo com Correia (2011, p. 239), a concessão desse lote

foi inicialmente idealizada na modalidade de parceria público-privada (PPP), na esteira da Lei

Geral das PPP de 2004 (Lei nº 11.079/04). Contudo, conforme mencionado na subseção

anterior (3.1.2), o intervalo entre a 1ª Etapa e 2ª Etapa foi marcado por um longo impasse

entre diferentes representantes do governo federal, que se deu em torno dos moldes a serem

adotados para as novas concessões. Foi em meio a tal impasse, portanto, que se optou por

agregar a presente concessão à 2ª Etapa do Programa Federal. O Quadro 5, a seguir, resume

essa concessão realizada na 2ª Etapa - Fase II do Programa Federal.

Quadro 5 - Programa federal de concessões de rodovias (2ª Etapa - Fase II)

Concessionária Rodovias Segmento

Rodoviário

Extensão

(km)¹

Início da Concessão

(Início da Cobrança)

Prazo da

Concessão

ViaBahia

(Isolux Corsán)

BR-116/BA Feira de Santana -

divisa BA/MG 554

681 out. 2009

(dez. 2010) 25 anos

BR-324/BA Salvador -

Feira de Santana 113

BA-526 entronc. BR-324 -

entronc. BA-528 9

BA-528 entronc. BA-526 -

Base Naval de Aratu 4

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b; 2016e),

EconoInfo (2016) e Garcia (2011, p. 9).

Nota: (1) A extensão total concedida nessa etapa foi de 681 km.

A ViaBahia é controlada pelo grupo espanhol Isolux Corsán. Dessa forma, mantém-se

a participação destacada do capital estrangeiro em meio às concessões rodoviárias federais,

especialmente o capital de origem espanhola, conforme o que se observa na Fase I.

Embora o ambiente institucional associado aos inícios da Fase I e da Fase II fosse

basicamente o mesmo, observa-se que o arranjo contratual da Fase II apresenta modificações

mais profundas em relação ao arranjo contratual da 1ª Etapa, em contraponto às poucas

modificações apresentadas pela Fase I. Conforme afirmam Correia (2011, p. 241) e Guerrero,

Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 7), essas modificações associadas à presente fase se

relacionam com sua idealização inicial na modalidade de PPP. Dessa forma, os aspectos de

PPP herdados pela Fase II se fariam presentes, por exemplo, nos riscos assumidos pela

concessionária, no desempenho exigido à mesma e nos investimentos a serem realizados.

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Vale reiterar que no Apêndice A, do presente trabalho, pode ser verificado um quadro-

síntese dos arranjos contratuais referentes ao Programa Federal, conforme a identificação dos

mesmos no decorrer da presente seção.

O modelo de licitação adotado apresentou, mais uma vez, o critério de leilão pela

menor tarifa. A alocação dos riscos (cláusula 19), por sua vez, passa a ser expressa por uma

matriz de riscos explícita, que enumera nominalmente quais riscos são de responsabilidade da

concessionária (cláusula 19.1.2, itens i a xx) e quais riscos são de responsabilidade do poder

concedente (cláusula 19.1.3, itens i a vii). Afasta-se, portanto, da chamada Teoria das Áleas,

associada às etapas anteriores. Nesse sentido, conforme observa Garcia (2011, p. 15), tem-se

que alguns riscos tradicionalmente atribuídos a apenas uma das partes passam, agora, a ser

compartilhados. Por exemplo, há compartilhamento dos riscos de caso fortuito e força maior

(referentes às áleas extraordinárias), os quais eram atribuídos apenas ao poder concedente

nas etapas anteriores. Tais riscos (cláusula 19.1.2, item xiv) são atribuídos à concessionária

quando “[...] possam ser objeto de cobertura de seguros no Brasil [...]”.

O reajuste tarifário (cláusula 16.3) é realizado anualmente com base na variação do

IPCA, assim como na fase anterior.55

A revisão tarifária (cláusulas 16.4 a 16.6), por sua vez, é

realizada através de três mecanismos distintos, também de maneira análoga à fase anterior.

O primeiro deles é a revisão ordinária (cláusula 16.4), realizada anualmente, a fim de

incorporar parcela das receitas extraordinárias no valor da tarifa básica de pedágio (TBP).

O segundo é a revisão extraordinária (cláusula 16.6), realizada sem periodicidade fixa, a fim

de restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro da concessão. O terceiro e último é a

revisão quinquenal (cláusula 16.5), realizada a cada 5 anos, a fim de reavaliar a concessão

“[...] em relação a sua compatibilidade com as reais necessidades advindas do Sistema

Rodoviário e do cenário econômico [...]”. Observa-se, ainda, que foi estabelecida uma TIR de

8,00% a.a. para a ViaBahia, o que representa um valor bastante próximo, portanto,

à TIR de 8,95% a.a. associada às concessionárias da fase anterior (ITO, 2015, p. 95).

A revisão tarifária, por outro lado, não é o único mecanismo passível de ser utilizado

para o restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro, em contraposição ao que se

observa nas etapas anteriores. O contrato da ViaBahia prevê, por exemplo, o reequilíbrio

econômico-financeiro por meio de pagamentos diretos do governo federal à concessionária, e

55

O índice de reajustamento da tarifa (IRT) segue a mesma equação apresentada na Fase I: IRT = IPCAi/IPCA0.

A diferença é que IPCA0 se refere ao IPCA no mês de outubro de 2005 e IPCAi se refere ao IPCA do segundo

mês anterior à data do reajuste.

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também pela modificação de determinadas obrigações contratuais da mesma (cláusula 20.3).

Ressalta-se que, ao se desassociar parcialmente a TBP do reequilíbrio econômico-financeiro,

cria-se a possibilidade de que esse reequilíbrio resulte em uma transferência relativamente

menor de ônus, via pedágios, da concessionária para os usuários.

Outro mecanismo previsto no contrato para o reequilíbrio econômico-financeiro é o

chamado fluxo de caixa marginal (cláusula 20.5), que é construído em paralelo ao fluxo de

caixa descontado inicialmente estabelecido, o qual, por sua vez, é utilizado para o reequilíbrio

econômico-financeiro via TBP. Esse fluxo de caixa marginal deve ser construído por ocasião

de novos investimentos – que não constem no Programa de Exploração da Rodovia (PER)

inicialmente estabelecido. Nesse cenário, são levados em conta os fluxos de dispêndios

marginais resultantes desses novos investimentos, e também os fluxos de receitas marginais

necessárias ao restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro.

Ainda em relação ao fluxo de caixa marginal, tem-se que seus fluxos de dispêndios

marginais são estimados com base em “critérios de mercado” (cláusula 20.5.3). Por sua vez,

seus fluxos de receitas marginais são estimados com base em projeções do volume de tráfego

no lote, as quais devem ser periodicamente atualizadas (cláusula 20.5.4). Tem-se, ainda, que o

processo de reequilíbrio pelo fluxo de caixa marginal é realizado de forma que seja nulo o seu

valor presente líquido (VPL) (cláusula 20.5.1), e a taxa de desconto adotada, para tanto, leva

em conta a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a meta para a inflação definida pelo

Conselho Monetário Nacional (CMN) (cláusula 20.5.2). Em resumo, o reequilíbrio

econômico-financeiro, pela aplicação do fluxo de caixa marginal, se baseia em estimativas de

receitas e encargos atualizadas para o período de ocorrência dos novos investimentos – e não

em estimativas realizadas no início da concessão, conforme o habitual. Dessa forma, mitiga-se

o risco pelo descompasso entre as condições econômicas do momento do reequilíbrio e as

condições do momento da licitação, o que, conforme avaliam Barbo et al. (2010, p. 8) e

Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 8), contribui para a modicidade tarifária.

Conforme mencionado anteriormente, as receitas extraordinárias (cláusula 17) são

parcialmente incorporadas ao valor da TBP, via mecanismo de revisão ordinária, a fim de

contribuir para a modicidade tarifária (17.6). De maneira análoga à fase anterior,

a concessionária tem direito à apropriação de uma parcela (não especificada no contrato)

dessas receitas (cláusula 17.5). Essa apropriação poderia contribuir, dessa forma, para que a

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concessionária obtenha receitas extraordinárias e, por extensão, poderia contribuir para a

modicidade tarifária.

Similarmente à fase anterior, observa-se a diferenciação de obras e serviços de caráter

obrigatório e de caráter não obrigatório do PER (cláusulas 9.3 e 9.4). Adicionalmente, a

presente fase introduz a noção de obras condicionadas ao volume de trafego (cláusula 9.5).

Essas últimas se referem a obras de duplicação e de implantação de faixas adicionais, as quais

devem ser executadas pela concessionária, caso suas rodovias venham a atingir determinados

volumes de tráfego diário. Os trabalhos de caráter não obrigatório e as obras condicionadas ao

volume de tráfego estão sujeitos ao mecanismo de desconto de reequilíbrio (cláusula 20.6).

Trata-se de um mecanismo que altera a remuneração da concessionária em função de seu

desempenho, e é, portanto, outra noção introduzida a partir da presente fase.

Ainda em relação ao desconto de reequilíbrio, tem-se que a ANTT deve promover,

anualmente, a avaliação da concessionária em termos de seus atrasos, inexecuções e

descumprimento dos parâmetros de desempenho, referentes aos trabalhos de caráter não

obrigatório e às obras condicionadas ao volume de tráfego. A partir do desempenho da

concessionária identificado por essa avaliação, é estabelecido, a cada ano, um percentual

referente ao desconto de reequilíbrio. Esse percentual é deduzido da TBP, após todos os

procedimentos de revisão tarifária. Ou seja, tal percentual não promove uma nova revisão

propriamente dita na TBP, mas sim um desconto adicional em seu valor – que se renova a

cada ano –, sob a premissa de compensar, em favor dos usuários, o desequilíbrio econômico-

financeiro gerado pelo eventual mau desempenho da concessionária. Dessa forma, conforme

salientam Barbo et al. (2010, p. 8), espera-se que os usuários sejam beneficiados com uma

tarifa de pedágio mais condizente com o serviço oferecido.

De acordo com Sá, Santos e Brasileiro (2014, p. 6), o desconto de reequilíbrio pode

acarretar uma redução de até 15,19% na TBP. Guerrero, Anuatti Neto e Barbosa (2013, p. 8)

afirmam, por sua vez, que esse procedimento se trata de “[...] uma transposição para contratos

de concessão comum de mecanismo de desempenho utilizado em contratos PPP para definir

condicionantes para o pagamento integral da contraprestação”. O desconto de reequilíbrio

seria, nesse sentido, herança da idealização inicial desse contrato na modalidade de PPP.

À parte ao desconto de reequilíbrio, observa-se a aplicação de multas motivadas pelos

atrasos nas obras e serviços e pelo descumprimento dos parâmetros de desempenho, referentes

aos trabalhos de caráter obrigatório e às obras condicionadas ao volume de tráfego (cláusula

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18). Os trabalhos de caráter não obrigatório, por seu turno, também devem cumprir os

parâmetros de desempenho, mas não apresentam prazos preestabelecidos, de maneira

semelhante ao que se observa na fase anterior. Há, por fim, a chamada fiscalização final pela

ANTT, que deverá ser realizada em até um ano antes do término da concessão (cláusula 14.6).

Essa fiscalização enfatiza os parâmetros de desempenho, em especial os associados ao

pavimento. Nesse contexto, caso não sejam atendidas as condições exigidas, deve ocorrer a

aplicação de uma multa adicional (cláusula 18.3).

3.2 PROGRAMA DE CONCESSÕES DO ESTADO DE SÃO PAULO

3.2.1 A 1ª Etapa do Programa de São Paulo

As concessões rodoviárias do Programa de São Paulo tiveram início em 1998, durante

o governo estadual de Mário Covas (1995-2001). A partir do que se discute na Subseção

3.1.1, destacam-se, a seguir, três similaridades entre o acervo institucional associado ao início

dessa 1ª Etapa de concessões paulistas e aquele associado ao início da 1ª Etapa de concessões

federais. Tais semelhanças denotam o caráter de transição manifestado por essas etapas

iniciais de ambos os programas; transição essa que se deu entre o rodoviarismo pregresso à

década de 1990 e o rodoviarismo atrelado às privatizações.

A primeira das três semelhanças aludidas se refere ao fato de que a 1ª Etapa federal foi

articulada com base no Programa Nacional de Desestatização (PND), instituído em 1990, ao

passo que a 1ª Etapa paulista foi articulada com base no Programa Estadual de Desestatização

(PED), instituído em 1996.56

Tanto o PND quanto o PED paulista expõem entre seus

objetivos fundamentais: (1) o reposicionamento da atuação do Estado em favor da iniciativa

privada, (2) a redução da dívida pública, e (3) a concentração dos esforços da Administração

Pública nas atividades em que a presença do Estado seja indispensável. Tais desígnios são

condizentes, dessa forma, com o conjunto dos objetivos mais explícitos das políticas de

privatização, os quais são discutidos ao longo da Seção 2.1.

Já a segunda das três semelhanças aludidas se refere ao fato de que a contratação e

regulação na 1ª Etapa federal ficaram a cargo do DNER, pois a ANTT só viria a ser instituída

56

O PED foi criado pela Lei Estadual n° 9.361, de 05 de julho de 1996.

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em 2001 – ao passo que o Programa Federal teve início ainda em 1995. De modo análogo,

tem-se que a contratação e regulação na 1ª Etapa paulista ficaram a cargo do Departamento de

Estradas de Rodagem estadual (DER-SP), pois a Agência de Transporte do Estado de São

Paulo (Artesp) só viria a ser instituída em 2002.57

Conforme apresentado na Seção 1.1, o

DER-SP foi criado ainda em 1934, e suas obras se expandiram continuadamente durante o

rodoviarismo pregresso, em atuação coordenada com o DNER – assim como as obras dos

demais DER estaduais. Apresenta-se, inclusive, que os DER estaduais assumiriam o

protagonismo da expansão rodoviária ao longo da década de 1980. Dessa forma, além de sua

atuação destacada em meio ao rodoviarismo pregresso, tem-se que o DER-SP também

inauguraria o rodoviarismo das privatizações em seu estado.

A terceira e última dentre as semelhanças aludidas se refere ao fato de que, de modo

geral, os trechos concedidos na 1ª Etapa federal teriam sido aqueles mais preparados para

tanto, em função de seu longo histórico de desenvolvimento. No caso de alguns trechos já se

observava, inclusive, um histórico prévio de pedagiamento. De forma análoga, observa-se na

1ª Etapa paulista a presença de trechos cujo histórico de desenvolvimento remonta à década

de 1930 (SCHWARTZMAN, 1983, p. 437). Esses mesmos trechos também já apresentavam,

inclusive, um histórico prévio de pedagiamento, o qual remonta a 1947.58

Tal pedagiamento

nas rodovias paulistas, anteriormente às privatizações, foi promovido principalmente pela

Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA) (BARELLA, 2003, p. 16; SÁ, 2004, p. 130).59

A DERSA, empresa de economia mista criada em 1969, funcionaria de forma similar às

atuais concessionárias, mas tendo o DER-SP como seu principal controlador.

Em relação às rodovias paulistas mencionadas no parágrafo anterior, destacam-se os

lotes do tipo sistema rodoviário. Mais especificamente, destacam-se o Sistema Anhanguera-

Bandeirantes (concessionária AutoBAn), o Sistema Castello Branco-Raposo Tavares

(concessionária ViaOeste) e o Sistema Anchieta-Imigrantes (concessionária Ecovias).

Eram essas, portanto, as rodovias que se apresentavam mais preparadas para as concessões.

São essas, também, as rodovias de tráfego mais intenso dessa 1ª Etapa paulista. Nesse sentido,

em relação ao acumulado dos 4 primeiros anos de operação, tem-se que os volumes de tráfego

referentes a esses lotes foram de: (1) 0,594 milhão de VE/km (veículos equivalentes por

57

A Artesp foi criada pela Lei Complementar nº 914, de 14 de janeiro de 2002. 58

A Lei Estadual n. 43, de 31 de dezembro de 1947, autorizou a cobrança de pedágio na Via Anchieta, que

corresponde atualmente à rodovia SP-150 (administrada pela concessionária Ecovias). 59

A DERSA foi criada pelo Decreto-lei Estadual n. 5, de 06 de março de 1969.

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quilômetro de extensão) para a Ecovias, (2) 0,533 milhão de VE/km para a ViaOeste, e

(3) 0,520 milhão de VE/km em para a AutoBAn (LANA, 2014, p. 84).

Os lotes aqui referidos como sistemas rodoviários são, grosso modo, aqueles

constituídos por dois segmentos rodoviários principais, os quais conectam as mesmas cidades

(ou as mesmas microrregiões) e, portanto, cujos traçados são relativamente paralelos.

A Figura 3, a seguir, apresenta o mapa simplificado do Sistema Castello Branco-Raposo

Tavares, a fim de ilustrar essa noção de sistema rodoviário.

Figura 3 - Mapa simplificado do Sistema Castello Branco-Raposo Tavares (concessionária ViaOeste)

Fonte: ABCR (2016b).

No total, a extensão concedida nessa 1ª Etapa paulista foi de 3.576 km (para 12 lotes),

mais do que o dobro, portanto, dos 1.492 km concedidos na 1ª Etapa federal (para 6 lotes).

Essa amplitude inicial do Programa de São Paulo encontra ecos na relevância desse estado

para a trajetória histórica do rodoviarismo brasileiro, desde o seu início, o qual é demarcado

pelo surgimento da indústria automotiva no país, conforme discutido na Seção 1.1. De acordo

com Cardoso et al. (2012, p. 1299), os trechos concedidos nessa 1ª Etapa atenderiam em torno

de 170 municípios paulistas, os quais envolvem quase metade da população do estado.

O Quadro 6, a seguir, resume as concessões realizadas na 1ª Etapa do Programa de São Paulo.

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Quadro 6 - Programa de concessões de rodovias do estado de São Paulo (1ª Etapa)

Concessionária Rodovias Segmento

Rodoviário

Extensão

(km)¹

Início da

Concessão

(Início da

Cobrança)

Prazo Inicial

da Concessão

(Prazo Atual)

AutoBAn

(CCR)

SP-300,330,348

e SPI-102/330

Sistema Anhanguera-Bandeirantes

(São Paulo, Jundiaí, Campinas,

Cordeirópolis) 316

mai. 1998

(mai. 1998)

20 anos

(28 anos)

ViaOeste

(CCR)

SP-075,091,

270,280

Sistema Castello Branco-

Raposo Tavares (Osasco, Itu,

Sorocaba, Araçoiaba da Serra, Cotia) 170

mar. 1998

(dez. 1998)

20 anos

(24 anos)

Ecovias

(EcoRodovias)

SP-040,055,

059,150,160,248

Sistema Anchieta-Imigrantes

(São Paulo, Guarujá; Santos, São

Vicente, Praia Grande) 177

mai. 1998

(mai. 1998)

20 anos

(26 anos)

TEBE

(TORC e ECB) SP-323,326,351

Malha de ligação entre Catanduva e

Bebedouro, entre Taquaritinga e

Pirangi e entre Bebedouro e Barretos 156

mar. 1998

(ago. 1998)

20 anos

(27 anos)

Vianorte

(Arteris)

SP-322,325,

328,330

Malha de ligação entre Ribeirão

Preto e divisa SP/MG (Igarapava) e

entre Ribeirão Preto e Bebedouro 237

mar. 1998

(mar. 1998)

20 anos

(20 anos)

Intervias

(Arteris)

SP-147,191,

215,330,352 e

SPI-157/340,

165/330

Malha de ligação entre Itapira, Mogi

Mirim, Limeira, Piracicaba, Conchal,

Araras, Rio Claro, Casa Branca,

Porto Ferreira e São Carlos

376 fev. 2000

(set. 2000)

20 anos

(27 anos)

Centrovias

(Arteris) SP-225,310

Malha de ligação entre São Carlos,

Itirapina, Brotas, Jaú e Bauru 218

jun. 1998

(fev. 1999)

20 anos

(21 anos)

Triângulo do Sol

(AB) SP-310,326,333

Malha de ligação entre São Carlos,

Catanduva, Mirassol, Sertãozinho,

Borborema, Matão e Bebedouro 442

jun. 1998

(fev. 1999)

20 anos

(23 anos)

Autovias

(Arteris)

SP-255,318,

330,334,345

Malha de ligação entre Franca,

Batatais, Ribeirão Preto, Araraquara,

São Carlos e Sta. Rita do P. Quatro 317

set. 1998

(abr. 1999)

20 anos

(20 anos)

Renovias

(Encalso)

SP-215,340,

342,344,350

Malha de ligação entre Mococa, São

José do Rio Pardo, São João da

Boa Vista e Campinas 346

abr. 1998

(dez. 1998)

20 anos

(24 anos)

Colinas

(AB)

SP-075,127,

280,300 e

SPI-102/300

Malha de ligação entre Rio Claro,

Piracicaba, Tietê, Jundiaí, Itu e

Campinas 307

mar. 2000

(out. 2000)

20 anos

(28 anos)

SPVias

(CCR)

SP-127,255,

258,270,280

Malha de ligação entre Tatuí,

Itapetininga, Capão Bonito, divisa

SP/PR (Itapeva), Espírito Santo do

Turvo, Itararé e Araçoiaba da Serra

516 fev. 2000

(ago. 2000)

20 anos

(27 anos)

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016b),

Artesp (2016a; 2016b) e EconoInfo (2016).

Nota: (1) A extensão total concedida nessa etapa foi de 3.576 km.

Em contraposição às concessões do Programa Federal, observa-se, aqui, uma

diversidade relativamente maior no que se refere aos grupos controladores das

concessionárias. Tem-se, nesse sentido, a presença de grupos controlados pelas principais

empreiteiras nacionais (CCR e EcoRodovias), por empreiteiras nacionais de menor porte

(ECB, TORC e Encalso) e por grandes empreiteiras de origem estrangeira (Arteris e AB).

A análise do arranjo contratual associado a essa 1ª Etapa do Programa de São Paulo é

realizada, aqui, com base principalmente no contrato da AutoBAn (ARTESP, 2016a).

Ressalta-se que no Apêndice A, do presente trabalho, pode ser verificado um quadro-síntese

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dos arranjos contratuais referentes ao Programa de São Paulo, conforme a identificação dos

mesmos no decorrer da presente seção.

O modelo de licitação adotado apresentou o critério de concorrência pelo maior valor

de outorga a ser pago ao poder concedente. Nesse caso, a empresa vencedora seria aquela que

propusesse a maior oferta do valor fixo a ser pago, em parcelas mensais, pelo direito à

exploração econômica do lote. Esse valor fixo deveria ser reajustado, então, pelos mesmos

critérios e nas mesmas datas que o valor básico da tarifa de pedágio – a qual é referida, nesse

programa, como base tarifária quilométrica. De acordo com o que se discute na Subseção

2.2.1, a opção pelo modelo do maior valor de outorga denota uma priorização, por parte do

Estado, da possibilidade de geração de receitas a partir da concessão. Nesse cenário, tem-se

que o metamercado criado pelo processo licitatório não tende a resultar na mitigação do

aspecto de preço monopolista associado ao pedágio, em contraposição ao que ocorre no

modelo de licitação pela menor tarifa, o qual foi adotado em todas as etapas do Programa

Federal. O Quadro 7, a seguir, apresenta os valores fixos de outorga referentes a cada

concessionária dessa etapa – tanto a preços correntes quanto a preços constantes de 2014,

esses últimos calculados com base na variação do IPCA.

Quadro 7 - Valores fixos de outorga por concessionária - 1ª Etapa do Programa de São Paulo

Concessionária Ano de referência Valor fixo de outorga

(R$ do ano de referência)¹

Valor fixo de outorga

(R$ de 2014)¹

AutoBAn¹ 1996 1.556.000.000,00 4.633.920.845,37

TEBE 1997 10.150.000,00 28.726.911,66

Vianorte 1997 251.000.000,00 710.389.638,11

Intervias 1997 43.674.461,15 123.609.102,20

Centrovias 1997 61.869.000,00 175.103.970,20

Triângulo do Sol 1997 123.000.000,00 348.119.225,05

Autovias 1997 43.396.911,00 122.823.569,32

Renovias 1998 151.937.790,16 423.019.171,89

ViaOeste¹ 1997 385.008.000,00 1.089.664.118,69

Colinas¹ 1997 51.764.472,03 146.505.755,19

SPVias² 1997 Não há valor fixo de outorga.

Ecovias¹ 1997 92.000.000,00 260.381.859,39

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016a).

Notas: (1) Para as concessionárias AutoBAn, ViaOeste, Colinas e Ecovias considerou-se a soma do valor fixo de

outorga (cláusula 47.1, item II, no contrato da AutoBAn) e do valor preestabelecido de indenização à DERSA

apresentado no edital (cláusula 12.3, item III, no edital da AutoBAn).

(2) A concessionária SPVias não apresenta um valor fixo de outorga. Nesse caso, o critério de concorrência se

deu pela oferta do maior “[...] valor presente dos desembolsos correspondentes à execução da obra física da

ampliação principal prioritária [...]” (cláusula 12.2 no edital da SPVias).

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Barella (2003, p. 61) afirma que a decisão do governo paulista pelo critério do maior

valor de outorga foi baseada em dois motivos principais:

[...] o primeiro, na situação muito ruim das finanças do governo Mario Covas à

época da decisão do modelo a ser adotado, e a segundo, no fato de que se para as

concessões paulistas tivesse sido adotado o modelo da menor tarifa, as rodovias com

maior tráfego, que coincidentemente são as rodovias que atravessam as partes mais

ricas do estado, teriam as menores tarifas, enquanto que as rodovias com menor

tráfego, que atendem regiões mais pobres, teriam tarifas mais elevadas.

Em relação à definição das tarifas de pedágio, Barella (2003, p. 62) afirma que:

As rodovias do tipo sistema, como por exemplo, o Sistema Anhanguera

Bandeirantes, tiveram como base tarifária o valor que já era cobrado pela Dersa

neste sistema. Para rodovias de pista dupla, foi estabelecido um valor de pedágio

que era uma redução percentual do primeiro. Por fim, para as rodovias de pista

simples, estabeleceu-se um valor percentual muito menor do que o primeiro. Pode-

se afirmar portanto, que o primeiro valor tinha um cálculo técnico por trás, feito pela

Dersa, enquanto que os valores para as rodovias classificadas nas outras duas

categorias não foram escolhidos com base em fatores técnicos;

A alocação dos riscos (cláusula 24) acompanha, basicamente, a chamada Teoria das

Áleas, de modo que a concessionária assuma apenas a álea ordinária. A concessionária

assume, inclusive, o risco pela variação nos custos de seus insumos e fatores de produção

(cláusula 24.3). Além disso, tem-se que as obras do Plano de Negócios – que é anexo ao

contrato – são determinadas pelo modelo da empreitada por preço global (cláusula 11.2,

item e, do edital), o que implica que a concessionária assume o risco pela variação nas

quantidades de insumos necessários para essas obras. Dessa forma, em comparação ao

Programa Federal, observa-se que a alocação dos riscos nessa 1ª Etapa paulista se aproxima

mais daquela associada à 2ª Etapa - Fase I federal, ao invés de se aproximar mais daquela

associada à 1ª Etapa federal.

O reajuste tarifário é anual (cláusula 27) e obedece à Equação 3 (cláusula 4.4.3, item I,

do Anexo 04 do edital), a seguir:

𝑇𝑖 =𝐼𝐺𝑃𝑀(𝑖−2)

𝐼𝐺𝑃𝑀(∅−2)𝑇0 (3)

Em que Ti é a base tarifária quilométrica reajustada; T0 é a base tarifária quilométrica inicial;

e IGP-M(Ø-2) e IGP-M(i-2) são valores do IGP-M (no segundo mês anterior à data-base e no

segundo mês anterior à data do reajuste, respectivamente), calculados pela FGV.

O índice de reajuste adotado nessa etapa é equacionado, portanto, com base na

inflação geral, expressa pelo IGP-M. Assim, de maneira similar ao que se observa na

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2ª Etapa do Programa Federal, espera-se que o reajuste tarifário acompanhe a inflação

experimentada, em geral, pelos usuários das rodovias.

Por outro lado, Saintive e Chacur (2006, p. 13) identificam três motivos pelos quais a

determinação do reajuste tarifário com base no IGP, em detrimento do IPCA, pode ser

problemática: (1) o IGP, devido à sua composição, estaria relativamente mais próximo a uma

variação dos níveis de preços específicos ao setor de construção, o que contribuiria para a

possibilidade de descompasso entre o reajuste tarifário e a inflação geral e, por consequência,

contribuiria para a possibilidade de transferência de ônus da concessionária para os usuários,

via reajuste – o que se remete à discussão levantada em relação à 1ª Etapa do Programa

Federal –; (2) as séries do IGP e do IPCA podem não ser convergentes no longo prazo; e

(3) o IGP apresenta uma volatilidade relativamente maior em relação à flutuação da taxa de

câmbio, o que contribuiria para uma menor previsibilidade do reajuste tarifário.

A revisão tarifária (cláusula 4.4.3, item II, do Anexo 04 do edital) não apresenta

periodicidade fixa. O único mecanismo descrito no contrato é a chamada revisão

extraordinária, que ocorre apenas quando requerida por alguma das partes, e que é motivada

por eventuais desequilíbrios econômico-financeiros da concessão. É idêntico, portanto,

ao mecanismo descrito na 1ª Etapa do Programa Federal. Além disso, observa-se que as TIR

estabelecidas nessa 1ª Etapa paulista apresentaram uma média de 19,42% a.a., o que

representa um valor similar à média de 17,79% a.a. observada na 1ª Etapa federal.

O Quadro 8, a seguir, apresenta as TIR iniciais para cada concessionária dessa etapa,

dispostas em ordem decrescente.

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Quadro 8 - Taxas internas de retorno (TIR) iniciais - 1ª Etapa do Programa de São Paulo

Concessionária TIR

Triângulo do Sol 21,37691% a.a.

Ecovias 20,59867% a.a.

TEBE 20,23383% a.a.

Intervias 19,98411% a.a.

SPVias 19,85037% a.a.

AutoBAn 19,77735% a.a.

Centrovias 19,62259% a.a.

Colinas 19,52183% a.a.

ViaOeste 19,32704% a.a.

Renovias 18,71526% a.a.

Autovias 17,33190% a.a.

Vianorte 16,65992% a.a.

Média 19,41665%

Fonte: Relatório final da CPI dos Pedágios de 2014 (ALESP, 2014, p. 12).

Ressalta-se, contudo, que a revisão tarifária não é o único mecanismo passível de ser

utilizado para o restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro, em contraposição ao

caso da 1ª Etapa do Programa Federal. Além da revisão extraordinária, há a possibilidade de

reequilíbrio econômico-financeiro pela alteração do prazo da concessão, e há, ainda, a

possibilidade de uma combinação entre a revisão tarifária e a alteração do prazo contratual

(cláusula 25.3). É por esse motivo que se observa no Quadro 6, anteriormente, uma variedade

de prazos contratuais.

Além do valor fixo de outorga a ser pago ao poder concedente, o qual é definido pelo

lance vencedor do processo licitatório, a concessionária também deve pagar, mensalmente,

um valor correspondente a 3% de sua receita bruta (cláusula 47.1, item I). A receita bruta em

questão inclui as receitas extraordinárias (cláusula 30). Paralelamente, não há especificação

no contrato em relação à apropriação dessas receitas extraordinárias, com exceção dos 3%

anteriormente mencionados, os quais são apropriados pelo poder concedente. Por outro lado, a

lei estadual que regulamenta as concessões de serviços públicos em São Paulo (Lei Estadual

nº 7.835, de 08 de maio de 1992), ao tratar das fontes acessórias de receita das concessões

(artigo 11, parágrafo único), estabelece que as mesmas “[...] deverão ser consideradas de

modo a assegurar a modicidade da tarifa”. A falta de especificação no contrato em relação a

esse tópico, no entanto, reflete no baixo incentivo à utilização das receitas extraordinárias em

favor da modicidade tarifária, conforme avalia Barella (2003, p. 114).

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Não se observam, por fim, mecanismos que alterem a remuneração da concessionária

conforme seu desempenho. De maneira análoga à 1ª Etapa federal e 2ª Etapa - Fase I federal,

tem-se apenas a aplicação de multas referentes aos atrasos nas obras e à demora no

cumprimento dos parâmetros de desempenho (cláusula 45.1).

3.2.2 A 2ª Etapa do Programa de São Paulo

A 2ª Etapa do Programa de São Paulo teve início em 2008, 10 anos após a 1ª Etapa,

durante o governo estadual de José Serra (2007-2010). Seu início ocorreu bastante próximo,

portanto, ao da 2ª Etapa do Programa Federal. Nesse âmbito das concessões federais,

conforme o que é apresentado na Subseção 3.1.2, observa-se que o intervalo entre os inícios

de suas primeiras etapas – o qual abrange mais de 10 anos – proporcionou notórias diferenças

no acervo institucional associado à articulação de cada uma delas. De forma análoga,

destacam-se, a seguir, dois aspectos de distinção referentes ao acervo institucional associado à

articulação dessa 2ª Etapa paulista, em comparação àquele associado à articulação da etapa

anterior desse mesmo programa.

O primeiro dos dois aspectos aludidos se refere ao fato de que, entre a 1ª Etapa e a

2ª Etapa das concessões paulistas, houve a instituição da Artesp, em 2002, que viria a

substituir o DER-SP nas funções de contratação e regulação referentes a esse programa.

O Programa de São Paulo também passava a contar, assim, com uma agência reguladora

propriamente dita. De acordo com Cardoso et al. (2012, p. 1300), a Artesp exerce suas

atribuições com o auxílio da chamada empresa de apoio ao gerenciamento (EAG) e das

chamadas empresas de apoio à fiscalização (EAF). A EAG corresponde a uma empresa

privada que deve prestar serviços de consultoria técnico-econômica à Artesp e, dessa maneira,

auxiliá-la em todas as etapas do processo de concessão. As EAF, por sua vez, correspondem

às empresas contratadas para fiscalizar as atividades das concessionárias, de modo que seja

contratado um agente fiscalizador para cada concessão (CARDOSO et al., 2012).

Já o segundo dentre os aspectos aludidos se refere à insatisfação popular para com os

altos valores de pedágio resultantes da 1ª Etapa. Ainda em novembro de 1999, pouco mais de

um ano após o início das cobranças pelo Programa de São Paulo, foi constituída uma

comissão parlamentar de inquérito (CPI), a chamada CPI dos Pedágios, com a finalidade de

investigar esses altos valores cobrados, e que se estendeu até junho de 2000. Essa CPI buscou

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investigar, também, a ocorrência de atrasos nas obras referentes ao Plano de Negócios das

concessões, conforme apresentado no relatório final da Assembleia Legislativa do Estado de

São Paulo (ALESP, 2000). Nesse sentido, conforme resume Lana (2014, p. 29), tem-se que a

CPI viria a detectar, de fato, atrasos no cumprimento do cronograma de investimentos iniciais

por parte de algumas concessionárias, os quais “[...] já teriam sido alvo de negociações e

readequação do cronograma original, estabelecendo novas intervenções prioritárias”.

Complementarmente, conforme resume Sá (2004, p. 156), tem-se que a CPI enfatizou a

necessidade de uma maior utilização das receitas extraordinárias em favor da modicidade

tarifária, e também a necessidade da criação de uma agência reguladora propriamente dita.

Observa-se, assim, que a CPI dos Pedágios influenciou a própria criação da Artesp.

Em termos de similaridades à etapa anterior, pode-se destacar a concessão de trechos

que já apresentavam um histórico prévio de pedagiamento. De acordo com Lacerda (2005,

p. 149), as rodovias Ayrton Senna, Carvalho Pinto (referentes à concessionária Ecopistas) e

Dom Pedro I (concessionária Rota das Bandeiras) já haviam sido pedagiadas pela DERSA, ao

passo que as rodovias Raposo Tavares (concessionária CART) e Marechal Rondon

(concessionárias ViaRondon e Rodovias do Tietê) já haviam sido pedagiadas pelo próprio

DER-SP. Tais rodovias foram concedidas em meio a lotes do tipo corredor rodoviário, os

quais correspondem, grosso modo, a um conjunto de segmentos rodoviários que compõem um

traçado relativamente contínuo. A Figura 4, a seguir, apresenta o mapa simplificado do

Corredor Raposo Tavares, a fim de ilustrar essa noção de corredor rodoviário.

Figura 4 - Mapa simplificado do Corredor Raposo Tavares (concessionária CART)

Fonte: ABCR (2016b).

Além dos corredores rodoviários mencionados anteriormente, foram concedidos

trechos do Rodoanel Mário Covas, que contorna a Região Metropolitana de São Paulo.

Primeiramente, em 2008, foi concedido o trecho Oeste desse anel viário (concessionária

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RodoAnel Oeste), com 32 km, e que foi a primeira concessão dessa 2ª Etapa. Posteriormente,

em 2011, foram concedidos o trecho Sul, com 57 km, e o trecho Leste, com 48 km

(concessionária SPMar). O trecho Leste, em especial, deveria ser totalmente construído pela

própria concessionária, de modo que sua inauguração ocorreria apenas em 2014 e sua

cobrança de pedágio teria início apenas em 2015 (ARTESP, 2016b).

No total, a extensão concedida nessa 2ª Etapa paulista foi de 1.760 km, que é inferior,

portanto, aos 3.576 km concedidos na 1ª Etapa. Por outro lado, as duas etapas se mostram

relativamente mais próximas em termos de sua extensão média por lote – a 1ª Etapa apresenta

uma média próxima a 300 km (para 12 lotes), ao passo que a 2ª Etapa apresenta uma média de

250 km (para 7 lotes). De acordo com a Artesp (2016c), os trechos concedidos na presente

etapa atenderiam em torno de 100 municípios, os quais, assim como na etapa anterior,

envolvem quase metade da população do estado. O Quadro 9, a seguir, resume as concessões

realizadas na 2ª Etapa do Programa de São Paulo.

Quadro 9 - Programa de concessões de rodovias do estado de São Paulo (2ª Etapa)

Concessionária Rodovias Segmento

Rodoviário

Extensão

(km)¹

Início da

Concessão

(Início da

Cobrança)

Prazo da

Concessão

Rota das Bandeiras

(Odebrecht)

SP-063,065,083,

332,360 e

SPA-067/360,

114/332,122/065

Corredor Dom Pedro I

(Jacareí, Itatiba, Jundiaí, Louveira,

Campinas, Valinhos, Mogi Guaçu) 277

abr. 2009

(out. 2009) 30 anos

CART

(Invepar) SP-225,270,327

Corredor Raposo Tavares

(Bauru, Sta. Cruz do Rio Pardo,

Ourinhos, Presidente Epitácio) 388

mar. 2009

(dez. 2009) 30 anos

ViaRondon

(BRVias) SP-300

Corredor Marechal Rondon Oeste

(Bauru, Castilho) 417

mai. 2009

(jan. 2010) 30 anos

Rodovias do Tietê

(AB e Ascendi) SP-101,113,

209,300,308

Corredor Marechal Rondon Leste

(Bauru, Botucatu, Itatinga, Tietê,

Salto, Piracicaba, Campinas) 406

abr. 2009

(nov. 2009) 30 anos

Ecopistas

(EcoRodovias)

SP-019,070,099

e SPI-179/060,

035/056

Corredor Ayrton Senna-Carvalho

Pinto (São Paulo, Guarulhos, São

José dos Campos, Taubaté) 135

jun. 2009

(fev. 2010) 30 anos

RodoAnel Oeste

(CCR) SP-021

Rodoanel Mário Covas Trecho Oeste

(São Paulo, Caieiras, Carapicuíba,

Osasco, Embu das Artes) 32

jun. 2008

(dez. 2008) 30 anos

SPMar

(Contern) SP-021

Rodoanel Mário Covas Trechos

Sul e Leste (Embu das Artes, São

Paulo, região do ABC, Mauá,

Ribeirão Pires, Arujá)

105 mar. 2011

(ago. 2011) 35 anos

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016b),

Artesp (2016a; 2016b), CCR RodoAnel (2015) e EconoInfo (2016).

Nota: (1) A extensão total concedida nessa etapa foi de 1.760 km.

Em contraposição à etapa anterior, na qual metade das concessionárias é controlada

por empreiteiras de origem estrangeira, observa-se, aqui, apenas uma concessionária

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majoritariamente controlada pelo capital estrangeiro, a Rodovias do Tietê. As demais são

controladas ou pelas principais empreiteiras nacionais (CCR, EcoRodovias, Invepar e

Odebrecht) ou por consórcios que envolvem empreiteiras de menor porte (BRVias e Contern).

Conforme mencionado anteriormente, entre os inícios das duas etapas de concessões

paulistas ocorreu a CPI dos Pedágios, que denotava um ambiente de contestação popular e

política para com as tarifas associadas à 1ª Etapa desse programa, e que também acabaria por

influenciar a criação da Artesp. Nesse mesmo intervalo, mas com relação ao âmbito federal,

observou-se, conforme discutido na Subseção 3.1.2, um longo período de impasse quanto ao

modelo de licitação e ao arranjo contratual a serem adotados na 2ª Etapa do Programa

Federal, impasse esse que se referia, notadamente, à manutenção ou renovação dos moldes

contratuais associados à 1ª Etapa desse mesmo programa. Haveria, nesse contexto, uma

possibilidade de que o impasse na política federal exercesse alguma influência sobre a política

paulista – conforme já se havia observado, em outros momentos, uma influência do federal

sobre o estadual na trajetória do rodoviarismo –, de maneira a corroborar uma renovação no

arranjo contratual da 2ª Etapa do Programa de São Paulo, especialmente tendo em vista os

potenciais desdobramentos da CPI dos Pedágios. Contudo, foram poucas as novidades

apresentadas pelo arranjo contratual dessa etapa.

A análise do arranjo contratual associado a essa 2ª Etapa do Programa de São Paulo é

realizada, aqui, com base principalmente no contrato da concessionária Rota das Bandeiras

(ARTESP, 2016a). Reitera-se que no Apêndice A, do presente trabalho, pode ser verificado

um quadro-síntese dos arranjos contratuais referentes ao Programa de São Paulo, conforme a

identificação dos mesmos no decorrer da presente seção.

O modelo de licitação adotado, em contraposição à etapa anterior, apresentou o

critério de concorrência pela menor tarifa. Assim, ao contrário do critério de concorrência

pelo maior valor de outorga, tem-se que o metamercado criado pelo processo licitatório, na

presente etapa, tenderia a resultar na mitigação do aspecto de preço monopolista associado ao

pedágio. Observa-se, no entanto, que ainda há um valor fixo de outorga a ser pago ao poder

concedente, o qual é preestabelecido no contrato (cláusula 43.1, item II) – ao contrário, por

exemplo, do que se observa no Programa Federal. Além disso, conforme o que se observa na

etapa anterior, tem-se que esse valor de outorga deva ser reajustado pelos mesmos critérios e

nas mesmas datas que o valor básico da tarifa. Nesse cenário, se há, por um lado, uma pressão

em favor de tarifas menores graças ao critério de disputa adotado, também há, por outro lado,

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a necessidade de que os lances desse processo levem em consideração o pagamento do valor

fixo de outorga, o que contribui para uma pressão contrária à primeira, ou seja, uma pressão

contrária a menores tarifas. O Quadro 10, a seguir, apresenta os valores fixos de outorga

referentes a cada concessionária dessa etapa – tanto a preços correntes quanto a preços

constantes de 2014, esses últimos calculados com base na variação do IPCA.

Quadro 10 - Valores fixos de outorga por concessionária - 2ª Etapa do Programa de São Paulo

Concessionária Ano de referência Valor fixo de outorga

(R$ do ano de referência)

Valor fixo de outorga

(R$ de 2014)

Rota das Bandeiras 2008 1.342.000.000,00 1.883.373.426,40

CART 2008 634.000.000,00 889.760.620,22

ViaRondon 2008 411.000.000,00 576.800.654,43

Rodovias do Tietê 2008 517.000.000,00 725.561.893,78

Ecopistas 2008 594.000.000,00 833.624.303,49

Rodoanel Oeste 2007 2.000.000.000,00 2.972.494.439,65

SPMar 2009 370.000.000,00 497.797.637,63

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016a).

A alocação dos riscos (cláusula 22) reitera aquela observada na etapa anterior. Ou seja,

acompanha-se, basicamente, a chamada Teoria das Áleas, de forma que a concessionária

assuma, inclusive, o risco pela variação nos custos de seus insumos e fatores de produção

(cláusula 22.3). Adicionalmente, tem-se que as obras do Plano de Negócios são, mais uma

vez, determinadas pelo modelo da empreitada por preço global (cláusula 11.2, item j,

do edital), de forma que a concessionária assuma o risco pela variação nas quantidades de

insumos necessários para cada obra. No contrato da SPMar (ARTESP, 2016a), em especial,

nota-se que também são alocados à concessionária os riscos referentes a: (1) defeitos ocultos

nos bens da concessão, (2) aumentos do custo de capital, (3) variação das taxas de câmbio, e

(4) responsabilização por danos ambientais (cláusula 22.3.1 do contrato da SPMar).

O reajuste tarifário é anual (cláusula 25) e obedece à Equação 4 (cláusula 4.4.3, item I,

do Anexo 04 do edital), a seguir:

𝑇𝑖 =𝐼𝑃𝐶𝐴(𝑖−2)

𝐼𝑃𝐶𝐴(∅−2)𝑇0 (4)

Em que Ti é a base tarifária quilométrica reajustada; T0 é a base tarifária quilométrica inicial;

e IPCA(Ø-2) e IPCA(i-2) são valores do IPCA (no segundo mês anterior à data-base e no

segundo mês anterior à data do reajuste, respectivamente), calculados pelo IBGE.

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Mais uma vez, o índice de reajuste adotado é equacionado com base na inflação geral.

Entretanto, essa inflação geral passa a ser expressa, nessa etapa, pelo IPCA, em detrimento do

IGP-M, o qual é adotado na etapa anterior. De acordo com a discussão levantada na subseção

anterior (3.2.1) – referente à opção entre o IPCA e algum IGP, na determinação do reajuste

tarifário –, espera-se que o reajuste na presente etapa, em comparação à etapa anterior, passe a

ser relativamente mais a consonante com inflação experimentada, em geral, pelos usuários das

rodovias. Nesse sentido, espera-se, ainda, que seja relativamente menor a possibilidade de que

o reajuste gere uma transferência de ônus da concessionária para os usuários.

A revisão tarifária (cláusula 4.4.3, item II, do Anexo 04 do edital) não apresenta

periodicidade fixa. Identicamente à etapa anterior, tem-se que o único mecanismo descrito no

contrato é a chamada revisão extraordinária, que ocorre apenas quando requerida por alguma

das partes, e que deve ser motivada por eventuais desequilíbrios econômico-financeiros da

concessão. Também em semelhança à etapa anterior, tem-se que a revisão tarifária não é o

único mecanismo passível de ser utilizado para o restabelecimento do equilíbrio econômico-

financeiro. Nesse sentido, apresenta-se na etapa anterior, além da revisão tarifária, a

possibilidade de reequilíbrio pela alteração do prazo da concessão. A presente etapa, por sua

vez, apresenta, além da revisão tarifária e da alteração do prazo contratual, a possibilidade de

reequilíbrio via: (1) revisão do cronograma de investimentos, (2) utilização do montante

referente ao valor fixo de outorga, (3) emprego de verbas do tesouro estadual, e

(4) combinação de uma ou mais das modalidade previstas (cláusula 23.2). Observa-se, ainda,

que as TIR estabelecidas na presente etapa foram menores em comparação à etapa anterior.60

Similarmente à etapa anterior, não há especificação no contrato em relação à

apropriação das receitas extraordinárias (cláusula 28). Excetua-se, nesse sentido, o valor

correspondente a 3% dessas receitas, o qual deve ser pago mensalmente pela concessionária

ao poder concedente (cláusula 43.1, item I) – o que também ocorre na etapa anterior. Persiste,

assim, o baixo incentivo à utilização das receitas extraordinárias em favor da modicidade

tarifária, a despeito do encaminhamento realizado pela CPI dos Pedágios de 1999 em relação

a essa questão, conforme mencionado anteriormente.

60

O relatório final da CPI dos Pedágios de 2014 não apresenta os valores das taxas internas de retorno (TIR)

associadas a essa 2ª Etapa do Programa de São Paulo. Entretanto, no Anexo II desse mesmo relatório – mais

especificamente no texto de justificativa do Requerimento n° 31 – encontra-se o seguinte enunciado:

“[o] resultado obtido nessa 2ª etapa foi favorável aos usuários, resultando em taxas internas de retorno menores

do que aquelas obtidas em 1998”.

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Por fim, também de modo similar à etapa anterior, não se observam mecanismos que

alterem a remuneração da concessionária conforme seu desempenho. Tem-se, nesse sentido,

apenas aplicação de multas referentes aos atrasos nas obras e ao não cumprimento dos

parâmetros de desempenho (cláusula 42.1).

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101

4 RESULTADOS ECONÔMICOS DIRETOS DAS CONCESSÕES RODOVIÁRIAS

NO BRASIL PARA OS USUÁRIOS

O principal objetivo deste Capítulo 4 é verificar a validez da hipótese inicial proposta

na introdução do presente trabalho. Ou seja, pretende-se verificar se a heterogeneidade que

caracteriza as privatizações de rodovias no Brasil, no tocante aos seus resultados econômicos

diretos para os usuários, é determinada pelas diferenças de arranjo contratual entre essas

políticas de privatização.

Para tanto, busca-se suporte na discussão dos arranjos contratuais pertinentes às

concessões rodoviárias do Programa Federal e do Programa de São Paulo, conforme a

identificação de tais arranjos realizada ao longo do Capítulo 3. A partir dessa discussão,

são analisados, comparativamente, os resultados econômicos diretos desses programas

para os usuários de suas rodovias. Os resultados econômicos em questão se referem, aqui,

especificamente (1) às tarifas de pedágio – tomadas como o dispêndio direto dos usuários

motivado pelas concessões – e (2) aos investimentos realizados pelas concessionárias –

tomados como a contrapartida direta das concessões aos usuários.

A análise das tarifas de pedágio e dos investimentos privados é efetuada a partir das

séries históricas de ambas essas variáveis, as quais são agregadas conforme as diferentes

etapas dos programas de concessões aqui investigados. O capítulo é distribuído, então,

em duas seções. A Seção 4.1 é dedicada à análise da heterogeneidade, em meio às etapas de

concessões, referente às tarifas de pedágio. A Seção 4.2, por seu turno, é dedicada à

heterogeneidade, em meio às etapas de concessões, referente aos investimentos privados.

4.1 DISPÊNDIO DIRETO DOS USUÁRIOS: TARIFAS DE PEDÁGIO

A análise referente às tarifas de pedágio tem início, aqui, pelo cálculo das chamadas

tarifas médias, conforme a metodologia apresentada por Campos Neto, Paula e Souza (2011,

p. 44). Para o caso de uma única concessionária, o cálculo de sua tarifa média pressupõe um

cenário em que seja possível percorrer toda a sua extensão concedida, em uma única viagem,

e sem sobreposição de trajeto. Efetua-se, então, o somatório das tarifas cobradas em todas as

praças de pedágio pertencentes a essa concessionária, o qual é dividido pelo total da extensão

concedida, conforme exposto na Equação 5, a seguir.

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102

𝑇𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑑á𝑔𝑖𝑜 100 𝑘𝑚 = 𝑡𝑎𝑟𝑖𝑓𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑏𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑎 ç𝑎

𝑒𝑥𝑡𝑒𝑛𝑠 ã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑑𝑖𝑑𝑎∗ 100 (5)

Dessa maneira, a tarifa média expressa a quantia paga pelo usuário, em média, para

que sejam percorridos 100 km dentre o total da extensão concedida. Nesse sentido, a mesma

equação é válida para o caso de um grupo de concessionárias. Vale observar, em relação a

essa equação, que: (1) as praças de cobrança unidirecional têm seus valores de tarifa divididos

por 2, a fim de que seja obtida a mesma tarifa média no percurso de um ponto A até B e no

percurso de um ponto B até A; (2) optou-se, aqui, por agregar a esse cálculo os valores

referentes às chamadas praças de bloqueio, cuja cobrança não ocorre em meio à extensão

concedida propriamente dita, mas sim em pontos de saída da mesma; e (3) para os casos em

que tenham sido cobrados, em uma determinada praça, dois ou mais valores de tarifa em um

mesmo ano, optou-se por agregar ao cálculo o maior desses valores, a fim de que a tarifa

média expresse a maior cobrança ao usuário possível para aquele ano.

Foram calculadas, então, as tarifas médias referentes a todas as concessionárias aqui

analisadas, para todos os seus anos de cobrança (até 2014). Da mesma forma, foram

calculados, também, os valores de tarifa média associados a cada etapa, e cada programa,

como um todo. Os valores de cobrança por praça foram retirados dos relatórios anuais de

rodovias federais concedidas e das notas técnicas de reajuste e revisão tarifários da ANTT

(2016a; 2016b), e também do histórico de tarifas no website da Artesp (2016d). Essas tarifas

discriminadas por praça de cobrança podem ser verificadas no Apêndice B, ao passo que as

tarifas médias calculadas para cada concessionária podem ser verificadas no Apêndice C.

O Gráfico 5, a seguir, apresenta as trajetórias completas das tarifas médias (1996-2014)

calculadas por etapa de concessões, a preços constantes de 2014 com base na variação do

IPCA. A fim de permitir uma melhor visualização dessas séries, foi excluída, desse gráfico,

a tarifa média de 2008 para a 2ª Etapa do Programa de São Paulo (R$ 34,21/100 km), a qual é

referente apenas à concessionária RodoAnel Oeste.

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Gráfico 5 - Tarifas de pedágio por etapa de concessões (1996-2014) - tarifa média - R$ de 2014 / 100 km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b) e Artesp (2016d).

Nota: Foi excluída do gráfico a tarifa média de 2008 para a 2ª Etapa do Programa de

São Paulo (R$ 34,21/100 km), referente apenas à concessionária RodoAnel Oeste.

Percebe-se, pelo gráfico anterior, a expressiva diferença de patamares entre as tarifas

médias da 2ª Etapa do Programa Federal (Fase I e Fase II) e as tarifas médias das demais

etapas analisadas. Em relação à 1ª Etapa do Programa Federal, essa diferença de patamares se

associa ao caráter de transição manifestado pela mesma. Nesse sentido, o fato de que as

concessões dessa etapa representaram uma novidade e, portanto, um fator de incerteza em

meio ao rodoviarismo, contribuiu para que as taxas internas de retorno pertinentes às suas

concessões refletissem esse caráter de incerteza (17,79% a.a., em média), de modo a permitir

tarifas básicas de pedágio relativamente elevadas. Também contribui para o cenário em

questão o fato de que, conforme avaliam Barbo et al. (2010, p. 7), essa 1ª Etapa federal

ocorreu “[...] em um momento econômico com instabilidade monetária e altos índices de

inflação no país [no qual] a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) era de 25%, e o risco-país,

de 900 pontos”, o que tornava custoso o financiamento tanto interno quanto externo desses

projetos.

Ainda em relação ao patamar da tarifa média da 1ª Etapa do Programa Federal, tem-se

que o mesmo não apenas se manteve relativamente elevado durante todo o período, como

ainda apresentou uma taxa de crescimento anual, em termos reais, de 2,20% a.a. de 2001 a

2014 – vale observar que a quebra da série, ocorrida entre 2000 e 2001, se dá especificamente

pela entrada da concessionária Ecosul nessa etapa. A manutenção desse patamar elevado, bem

como o crescimento real da tarifa média, pode ser associada ao arranjo contratual dessa etapa,

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00R

$ d

e 2

014

Federal (1a Etapa) Federal (2a Etapa - Fase I) Federal (2a Etapa - Fase II)

São Paulo (1a Etapa) São Paulo (2a Etapa)

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104

o qual se cristalizou em moldes de contratações de obras públicas – em detrimento dos moldes

de concessões de serviços públicos – e, dessa forma, proporcionou um grau de proteção

relativamente elevado às concessionárias, em comparação àquele das etapas federais

subsequentes. Essa proteção se refletiria, em especial: (1) na alocação dos riscos na qual nem

mesmo a álea ordinária é completamente assumida pela concessionária, (2) no reajuste

tarifário que resguarda a concessionária frente à variação de seus custos, (3) e no baixo

incentivo à utilização das receitas extraordinárias em favor da modicidade tarifária.

Já em relação ao patamar das tarifas médias do Programa de São Paulo, tem-se que

seus valores relativamente elevados se associam ao pagamento do valor fixo de outorga, o

qual ocorre em ambas as suas etapas. Chama a atenção, em especial, o caso da 1ª Etapa, cuja

licitação se dá, justamente, pela oferta do maior valor de outorga. Esse modelo de licitação,

conjuntamente ao reajuste tarifário com base no IGP-M e ao baixo incentivo à promoção da

modicidade tarifária, teria permitido a manutenção e elevação, em termos reais, do patamar de

sua tarifa média. Assim, de 1998 a 2008, a tarifa média dessa 1ª Etapa apresentou uma taxa de

crescimento anual de 6,04% a.a. Por outro lado, de 2008 a 2014, essa mesma tarifa média

apresentou uma taxa de decrescimento anual de -1,88% a.a. Esse decrescimento nos anos

mais recentes pode ser associado à alteração dos prazos contratuais dessa etapa, a qual foi

firmada em dezembro de 2006, e que representa uma forma de reequilíbrio econômico-

financeiro apartada da revisão tarifária, conforme previsto no contrato. Seria possibilitada, a

partir desse procedimento, uma transferência relativamente menor de ônus, via pedágios, das

concessionárias para os usuários, mas ao custo do prolongamento das concessões.

A 2ª Etapa do Programa de São Paulo, por sua vez, adotou o modelo de licitação pela

menor tarifa. Dessa forma, a despeito da persistência do pagamento do valor fixo de outorga

nessa etapa, tem-se que sua tarifa média se apresentou em um patamar relativamente menor,

em comparação ao patamar da 1ª Etapa referente ao meso intervalo. Adicionalmente, tem-se

que esse patamar da 2ª Etapa tem se mostrado relativamente constante em termos reais e,

inclusive, chega a apresentar uma taxa de decrescimento anual de -2,97% a.a. de 2008 a 2014.

O comportamento dessa tarifa média, em comparação àquele associado aos primeiros anos da

1ª Etapa, pode estar relacionado à adoção do reajuste tarifário com base no IPCA e às novas

possibilidades de reequilíbrio econômico-financeiro à parte da revisão tarifária – como a

revisão no cronograma inicial de investimentos e os pagamentos diretos do Estado às

concessionárias. Por outro lado, observa-se que os valores básicos das tarifas obtidos na

ocasião do processo licitatório, para essa 2ª Etapa paulista, se mostram consideravelmente

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superiores às tarifas obtidas na 2ª Etapa federal, o que seria reflexo, ainda, da manutenção do

pagamento do valor fixo de outorga ao poder concedente.

Como forma de aprofundar, aqui, a análise referente aos pedágios, propõe-se uma

desagregação para as séries de tarifas médias expostas anteriormente. Essa desagregação tem

como base o volume de tráfego associado a cada concessionária. Os valores inicialmente

utilizados, os quais são retirados do trabalho de Lana (2014, p. 84), expressam o tráfego de

veículos – medido em milhões de veículos equivalentes (VE) – para o acumulado dos

4 primeiros anos de operação de cada empresa.61

Realiza-se, então, a ponderação de tais

valores pela extensão total de cada concessão. A finalidade desse procedimento é verificar,

com base nas diferenças entre os volumes de tráfego em uma mesma etapa, se a participação

de uma única concessionária (ou de um único agrupamento de concessionárias) apresenta

influência suficiente para determinar, isoladamente, a trajetória da tarifa média da etapa como

um todo. Dessa forma, pretende-se isolar: (1) a análise da tarifa média de uma etapa sob o

prisma dos arranjos contratuais e (2) a análise da tarifa média de uma etapa pela influência de

uma só concessão (ou de um só agrupamento de concessões).

O Quadro 11, a seguir, resume a desagregação das etapas de concessões com base nas

diferenças de volumes de tráfego (medido pela relação VE/km). As especificidades de cada

desagregação são detalhadas no decorrer da presente seção.

61

A medida de veículos equivalentes (VE) leva em conta cada veículo (leve ou pesado) multiplicado pela sua

quantidade de eixos. Ou seja, um veículo leve equivale a um eixo de um veículo pesado.

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Quadro 11 - Desagregação das etapas de concessões com base nas diferenças de volumes de tráfego

Etapa / Programa Agrupamento Concessionária Tráfego

(milhões de VE)¹ Tráfego / extensão

(milhões de VE / km)¹

1ª Etapa

do Programa Federal

Concessão típica

NovaDutra 228,2 0,568

Concer 69,3 0,385

CRT 42,0 0,295

Concepa n.d. n.d.

Ponte Ponte n.d. n.d.

Ecosul Ecosul 40,7 0,065

2ª Etapa - Fase I

do Programa Federal

Maior tráfego

Régis Bittencourt 524,3 1,306

Fernão Dias 520,1 0,925

Litoral Sul 259,6 0,679

Menor tráfego

Fluminense 163,2 0,510

Rodovia do Aço 60,2 0,300

Transbrasiliana 95,6 0,297

Planalto Sul 102,3 0,248

2ª Etapa - Fase I

do Programa Federa ViaBahia ViaBahia n.d. n.d.

1ª Etapa

do Programa

de São Paulo

Maior tráfego

Ecovias 105,0 0,594

ViaOeste 90,5 0,533

AutoBAn 164,3 0,520

Menor tráfego

Colinas 75,0 0,244

Intervias 77,3 0,206

Vianorte 44,4 0,188

Renovias 54,4 0,157

Centrovias 29,7 0,136

SPVias 57,4 0,111

Autovias 32,5 0,103

Triângulo do Sol 41,4 0,094

TEBE 11,2 0,072

2ª Etapa

do Programa

de São Paulo

Concessão típica

Rota das Bandeiras 149,7 0,540

Rodovias do Tietê 81,0 0,200

CART 68,4 0,176

ViaRondon 66,2 0,159

Ecopistas Ecopistas 194,4 1,441

Rodoanel RodoAnel Oeste 314,8 9,838

SPMar n.d. n.d.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Lana (2014, p. 84) e informações de

ABCR (2016b), ANTT (2016a; 2016b) e Artesp (2016b).

Nota: (1) Tráfego acumulado nos 4 primeiros anos de operação da concessionária.

A 1ª Etapa do Programa Federal é desagregada a partir de seus outliers. O primeiro

deles é a Ponte, cujo trecho concedido pressupõe um volume de tráfego em níveis urbanos –

de forma similar ao Rodoanel na 2ª Etapa paulista. Nesse sentido, embora o Quadro 11 não

disponibilize o tráfego dessa concessão para seus 4 primeiros anos de operação, pode-se

observar, a partir de outro conjunto de dados disponibilizados por Lana (2014, p. 102), que

esse pressuposto de fato é válido. O segundo outlier é a Ecosul, cujo volume de tráfego é

notadamente inferior aos demais. Vale reiterar, nesse sentido, que essa concessão fazia parte

inicialmente do Programa do Rio Grande do Sul. As demais concessões são agrupadas, então,

sob o conjunto denominado concessão típica, pelo fato de esse ser o conjunto que agrupa

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todas as concessionárias com exceção, justamente, daquelas consideradas outliers. No caso da

Concepa, cujos dados também não estão presentes no Quadro 11, vale a mesma justificativa

pertinente à Ponte. O Gráfico 6, a seguir, apresenta as trajetórias das tarifas médias por

agrupamento da 1ª Etapa do Programa Federal, e também a trajetória da tarifa média dessa

etapa como um todo.

Gráfico 6 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 1ª Etapa do Programa Federal (1996-2014) -

tarifa média - R$ de 2014 / 100 km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b).

De acordo com informações do Banco Mundial, espera-se que a tarifa média das

chamadas obras-de-arte especiais de engenharia – como pontes e túneis – seja relativamente

alta, em função de seus investimentos diferenciados e ausência de rotas alternativas (WORLD

BANK, 2015). No entanto, no caso da 1ª Etapa do Programa Federal, observa-se que a tarifa

média da concessão típica se manteve consistentemente superior à tarifa média da Ponte.

Nesse sentido, reforça-se a noção de que as tarifas dessa etapa traduzem um grau de proteção

às concessionárias que é pouco usual às concessões de serviços públicos – o qual se manifesta

em seu arranjo contratual. Além disso, conforme mencionado anteriormente, a quebra na série

principal se dá pela entrada da Ecosul nessa etapa, já que suas tarifas médias são as mais

baixas (média anual de R$ 6,37/100 km) e sua extensão a maior (623 km até 2014). Dessa

forma, enquanto a etapa apresenta uma tarifa média anual de R$ 11,48/100 km, a concessão

típica dessa etapa apresenta uma tarifa média anual de R$ 14,04/100 km.

A 2ª Etapa - Fase I do Programa Federal é desagregada em dois agrupamentos, um

deles é referente ao maior tráfego – que compreende as concessões Régis Bittencourt, Fernão

Dias e Litoral Sul – e o outro é referente ao menor tráfego – que compreende as demais

0,00

2,00

4,00

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R$ d

e 2

014

Concessão típica Ponte Ecosul Federal (1a Etapa)

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concessões. O Gráfico 7, a seguir, apresenta as trajetórias das tarifas médias por agrupamento

da 2ª Etapa - Fase I do Programa Federal, e também as trajetórias das tarifas médias da

Fase I e da Fase II como um todo.

Gráfico 7 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 2ª Etapa do Programa Federal (2008-2014) -

tarifa média - R$ de 2014 / 100 km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b).

De acordo com Estache, Romero e Strong (2003, p. 279), o modelo de licitação pela

menor tarifa tende a resultar em pedágios relativamente mais altos para trechos cujos

volumes de tráfego sejam relativamente mais baixos, e vice-versa. As tarifas médias

referentes à 2ª Etapa - Fase I do Programa Federal se mostram, portanto, consonantes com

essa proposição teórica. Nesse sentido, tem-se que o agrupamento de maior tráfego apresenta

uma tarifa média anual de R$ 2,49/100 km, ao passo que o agrupamento de menor tráfego

apresenta uma tarifa média anual de R$ 5,05/100 km. Observa-se, ainda, que o sutil

crescimento, em termos reais, da tarifa média da Fase I aparenta estar mais associado ao

agrupamento de menor tráfego, o qual apresenta uma oscilação maior em sua tarifa média

(desvio padrão anual de R$ 0,23/100 km), em comparação ao agrupamento de maior tráfego

(desvio padrão anual de R$ 0,09/100 km).

Em relação ao crescimento, em termos reais, da tarifa média da 2ª Etapa - Fase I do

Programa Federal, mencionado no parágrafo anterior, tem-se que o mesmo pode estar

associado aos atrasos observados nos primeiros anos dessa fase, no que se refere às obras

iniciais do Programa de Exploração da Rodovia (PER). Esses atrasos implicariam a

necessidade de revisão do cronograma inicial de investimentos do PER, o que seria

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

R$ d

e 2

014

Maior tráfego Menor tráfego Federal (2a Etapa - Fase I) ViaBahia

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determinante para o equilíbrio econômico-financeiro das concessões. Nesse contexto, tem-se

que a reavaliação do PER pode ter influenciado o processo de revisão tarifária nessa fase, ao

ponto de resultar na sutil elevação, em termos reais, de sua tarifa média.

Já em relação à ViaBahia (2ª Etapa - Fase II do Programa Federal), observa-se na

trajetória de sua tarifa média um crescimento, em termos reais, de 2010 para 2011, seguido

por uma tendência de decrescimento de 2011 em diante. O crescimento inicial é explicado

pela abertura de uma nova praça de pedágio em 2011 (a PP01). A tendência de decrescimento

a partir de 2011, por seu turno, faz jus ao arranjo contratual dessa fase, em especial no tocante

aos seguintes fatores: (1) as possibilidades de reequilíbrio econômico-financeiro apartadas da

revisão tarifária, como os pagamentos diretos do Estado à concessionária e o fluxo de caixa

marginal para novos investimentos, (2) a existência de incentivo à utilização das receitas

extraordinárias em favor da modicidade tarifária, (3) a existência de um mecanismo para a

redução da remuneração da concessionária conforme seu desempenho, o desconto de

reequilíbrio, e (4) a possibilidade de um maior compartilhamento de riscos entre a

concessionária e o poder concedente, com base em uma matriz de riscos explícita.

A 1ª Etapa do Programa de São Paulo, de maneira análoga à 2ª Etapa - Fase I do

Programa Federal, é desagregada em dois agrupamentos, de modo que um seja referente ao

maior tráfego – o qual compreende as concessões Ecovias, ViaOeste e AutoBAn, ou seja,

compreende os chamados sistemas rodoviários – e o outro seja referente ao menor tráfego –

que compreende as demais concessões. O Gráfico 8, a seguir, apresenta as trajetórias das

tarifas médias por agrupamento da 1ª Etapa do Programa de São Paulo, e também a trajetória

da tarifa média dessa etapa como um todo.

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110

Gráfico 8 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 1ª Etapa do Programa de São Paulo (1998-2014) -

tarifa média - R$ de 2014 / 100 km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d).

Ao contrário da etapa analisada anteriormente, a 1ª Etapa do Programa de São Paulo

não apresentou um modelo de licitação pela menor tarifa. Assim, não se aplica, em seu caso,

a noção de que os maiores pedágios tendem a estar atrelados aos menores volumes de tráfego.

O que se observa, aqui, é justamente o contrário, de modo que o agrupamento de maior

tráfego apresenta uma tarifa média anual de R$ 17,37/100 km, ao passo que o agrupamento de

menor tráfego apresenta uma tarifa média anual de R$ 13,65/100 km. Adicionalmente,

observa-se que a tarifa média do agrupamento de maior tráfego se manteve consistentemente

superior à tarifa média da etapa como um todo, ao passo que a tarifa média do agrupamento

de menor tráfego se manteve consistentemente inferior à mesma. A justificativa desse

comportamento das séries, conforme Barella (2003, p. 62), é o fato de que os pedágios dos

sistemas rodoviários tiveram como base os valores cobrados pela DERSA nesses mesmos

sistemas, anteriormente às concessões, ao passo que os pedágios dos demais trechos foram

determinados a partir de uma redução percentual daqueles valores.

A 2ª Etapa do Programa de São Paulo, de maneira análoga à 1ª Etapa do Programa

Federal, é desagregada a partir de seus outliers. O primeiro deles é o Rodoanel – que

compreende as concessionárias RodoAnel Oeste e SPMar –, cujo trechos concedidos

pressupõem volumes de tráfego em níveis urbanos, o que pode ser observado pelo valor

referente à RodoAnel Oeste. O segundo outlier é a Ecopistas, cujo volume de tráfego é

notadamente superior aos demais – com exceção, justamente, do Rodoanel. As demais

concessões são agrupadas, então, sob o conjunto denominado concessão típica, ou seja,

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

22,00R

$ d

e 2

014

Maior tráfego Menor tráfego São Paulo (1a Etapa)

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111

o conjunto de todas as concessões exceto aquelas consideradas outliers. O Gráfico 9, a seguir,

apresenta as trajetórias das tarifas médias por agrupamento da 2ª Etapa do Programa de São

Paulo, e também a trajetória da tarifa média dessa etapa como um todo.

Gráfico 9 - Tarifas de pedágio por agrupamento da 2ª Etapa do Programa de São Paulo (2008-2014) -

tarifa média - R$ de 2014 / 100 km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d).

Ao contrário da 1ª Etapa do Programa de São Paulo, a 2ª Etapa desse mesmo programa

passaria a adotar um modelo de licitação pela menor tarifa. Nesse caso, cabe a noção de que

seus maiores pedágios tendem a estar atrelados aos menores volumes de tráfego. Apresenta-se

como exceção, nesse sentido, o Rodoanel, em função das características que o aproximam do

conceito de obra-de-arte especial, ao menos para alguns de seus trechos. Tem-se, assim, uma

tarifa média anual de R$ 21,94/100 km para esse agrupamento, considerando-se apenas o

intervalo de 2011 a 2014, após o início da cobrança de pedágio pela SPMar. Por outro lado, a

Ecopistas apresenta, de fato, os menores pedágios dessa etapa, com uma tarifa média anual de

R$ 8,02/100 km. Observa-se, por fim, que a tarifa média da concessão típica se manteve

consistentemente próxima à tarifa média da etapa como um todo, ao menos para o intervalo

que abrange todas as concessões da etapa.

Em complemento à análise das trajetórias dos pedágios, realizada ao longo da presente

seção, propõe-se, aqui, a elaboração de uma variável que possa ser compreendida como proxy

da receita de pedágio anual de cada concessionária, a fim de que se possa analisar a trajetória

dessa variável em relação às diferentes etapas de concessões. Para tanto, realiza-se a

multiplicação das séries de tarifas médias de pedágio, apresentadas anteriormente, pelas suas

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

R$ d

e 2

014

Concessão típica Rodoanel Ecopistas São Paulo (2a Etapa)

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112

respectivas séries de volumes de tráfego. Os referidos valores de volume de tráfego, retirados

do trabalho de Lana (2014, p. 102), são medidos em VE e compreendem o intervalo de

2002 a 2012. Todos esses valores podem ser verificados no Apêndice C do presente trabalho.

Ressalta-se, contudo, que o trabalho de Lana não disponibiliza os volumes de tráfego da

concessionária SPMar, da 2ª Etapa do Programa de São Paulo. A SPMar é, portanto,

desconsiderada no cálculo em questão.

Dessa forma, o Gráfico 10, a seguir, apresenta as trajetórias da variável calculada,

separadas por etapa de concessões. Pretende-se, assim, expressar as trajetórias relativas das

receitas de pedágio por etapa. Adicionalmente, podem ser verificados no Apêndice D, para

efeito de comparação, os valores observados das receitas de pedágio das concessionárias para

o ano de 2014 – bem como seus valores para receita total líquida, lucro líquido, lucro bruto,

capital social e patrimônio líquido.

Gráfico 10 - Tarifas médias multiplicadas pelos volumes de tráfego,

por etapa de concessões (2002-2012) - R$ bilhões de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Lana (2014, p. 102) e

informações de ANTT (2016a; 2016b) e Artesp (2016d).

Nota: (1) A série apresentada para a 2ª Etapa do Programa de São Paulo

desconsidera a participação da concessionária SPMar.

Observa-se, pelo gráfico anterior, que o comportamento relativo das receitas de

pedágio das concessionárias seria similar ao comportamento de suas tarifas médias –

ao menos para o intervalo de 2002 a 2012 –, o que se remete ao Gráfico 5 apresentado no

início da presente seção. Ou seja, assim como em relação às tarifas médias, o gráfico anterior

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

R$ b

ilh

ões d

e 2

014

1

Federal (1a Etapa) Federal (2a Etapa - Fase I) Federal (2a Etapa - Fase II)

São Paulo (1a Etapa) São Paulo (2a Etapa)

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manifesta uma preponderância relativa das receitas de pedágio da 1ª Etapa do Programa

Federal e da 1ª Etapa do Programa de São Paulo. Isso porque os valores calculados da

2ª Etapa do Programa de São Paulo, apesar de superiores aos da 1ª Etapa federal, são

majoritariamente definidos apenas pela concessionária RodoAnel Oeste, a qual corresponde

em média a 59,50% dos valores totais da proxy da receita de pedágio para sua etapa, e a qual

concilia tarifas médias bastante elevadas (média anual de R$ 33,96 / 100 km) com volumes de

tráfego também bastante elevados (média anual de 78,7 milhões de VE).

Em relação à 1ª Etapa do Programa de São Paulo, observa-se que, apesar de a mesma

ter apresentado um decrescimento real de sua tarifa média em anos recentes (-1,88% a.a.

de 2008 a 2014), tem-se que a proxy calculada de sua receita de pedágio se mostra

continuamente crescente para o intervalo de 2002 a 2012, de modo a apresentar uma taxa de

crescimento anual de 9,66% a.a.. Ou seja, embora a tarifa média dessa 1ª Etapa paulista tenha

sido reduzida em anos recentes – após a ampliação de seus prazos contratuais em dezembro

de 2006 –, o mesmo cenário parece não se verificar para a sua capacidade de arrecadação

através de tal tarifa média.

Já em relação à 1ª Etapa do Programa Federal, tem-se que a proxy calculada de sua

receita de pedágio cresceu, para o intervalo de 2002 a 2012, a uma taxa média de 7,57% a.a..

Esse crescimento se mostra ainda mais expressivo para anos mais recentes de tal intervalo,

de modo que a taxa de crescimento anual de 2009 a 2012, por exemplo, tenha sido de

11,28% a.a.. Desse modo, embora a tarifa média dessa 1ª Etapa federal tenha se mantido em

um patamar relativamente estável em anos recentes – notadamente de 2009 a 2014 –, tem-se

que o mesmo cenário parece não se verificar para sua capacidade de arrecadação tarifária,

cujo crescimento teria sido relativamente mais expressivo em anos recentes – notadamente de

2009 a 2012 –, em um comportamento similar ao que se observa para a 1ª Etapa paulista.

A 2ª Etapa - Fase I do Programa Federal, por sua vez, apresenta uma ampliação da

proxy calculada de sua receita de pedágio, de 2009 a 2012, a uma taxa de crescimento anual

de 22,64% a.a. – o que, similarmente aos exemplos anteriores, se observa a despeito da

relativa estabilidade no patamar de sua tarifa média. Portanto, seu crescimento teria sido

superior, para o período em questão, àquele associado à 1ª Etapa (11,28% a.a.). Vale ressaltar,

por outro lado, que há uma expressiva diferença de patamar entre os valores calculados para a

1ª Etapa e os calculados para a 2ª Etapa - Fase I, diferença essa que se manteve em média de

R$ 2,447 bilhões a preços constantes de 2014.

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114

4.2 CONTRAPARTIDA DIRETA AOS USUÁRIOS: INVESTIMENTOS PRIVADOS

Os níveis de investimentos referentes a todas as concessionárias aqui analisadas, para

todos os seus anos de operação (até 2014), foram obtidos junto às respectivas agências

reguladoras (ANTT e Artesp), por intermédio de seus respectivos serviços de informação ao

cidadão (SIC), os quais obedecem à Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011). Essas

séries foram, então, ponderadas pela extensão total de cada concessão, de modo a serem

obtidos valores de investimentos/km para cada concessionária, e para cada ano de operação.

Nesse sentido, para o caso de um grupo de concessionárias, somou-se o valor total de

investimentos por ano desse grupo e, em seguida, dividiu-se esse valor pelo somatório das

extensões totais concedidas. Os valores de investimentos obtidos junto à ANTT e à Artesp

(via SIC), para cada concessionária, podem ser verificados no Apêndice C.

De acordo com Pinheiro (2014, p. 8), presidente-executivo da Associação Brasileira de

Concessionárias de Rodovias (ABCR) desde 2014, o comportamento comumente esperado

para esses investimentos é que os mesmos atinjam seu ápice durante os primeiros anos de

operação, para, então, se estabilizarem em um determinado patamar até o fim do prazo

contratual. No caso das concessões federais, por exemplo, esse pico inicial de investimentos

corresponderia às etapas do Programa de Exploração da Rodovia (PER) denominadas de

trabalhos iniciais e recuperação, referentes aos investimentos a serem realizados ao longo

dos 5 primeiros anos de operação (ANTT, 2016c).

O Gráfico 11, a seguir, apresenta as trajetórias completas dos investimentos/km por

etapa de concessões, a preços constantes de 2014 com base na variação do IPCA. A fim de

permitir uma melhor visualização dessas séries, foram excluídos, desse gráfico, os valores de

investimentos da 1ª Etapa do Programa Federal para os anos de 1996 (R$ 3.352,25 mil/km) e

1997 (R$ 2.417,85 mil/km) e também o valor de investimento da 2ª Etapa do Programa de

São Paulo para o ano de 2008 (R$ 4.111,81 mil/km), o qual é referente apenas à

concessionária RodoAnel Oeste.

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Gráfico 11 - Investimentos/km por etapa de concessões (1996-2014) - R$ 1.000 de 2014 / km

Fonte: Elaboração própria a partir de informações obtidas junto à ANTT e à Artesp

pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

Nota: Foram excluídos do gráfico os valores de investimentos da 1ª Etapa do Programa Federal para os anos de

1996 (R$ 3.352,25 mil/km) e 1997 (R$ 2.417,85 mil/km) e também o valor de investimento da

2ª Etapa do Programa de São Paulo para o ano de 2008 (R$ 4.111,81 mil/km).

Percebe-se, pelo gráfico anterior, que apenas os investimentos/km referentes à

1ª Etapa do Programa Federal e à 1ª Etapa do Programa de São Paulo cumprem o

comportamento comumente esperado – de acordo com Pinheiro (2014, p. 8). Ou seja, os

investimentos/km de tais etapas apresentam seus mais altos valores durante os primeiros anos

operação e, então, encontram uma relativa estabilização em um determinado patamar. No caso

da 2ª Etapa do Programa Federal (Fase I e Fase I), a não observação do comportamento

esperado se associa aos atrasos ocorridos nos primeiros anos de suas concessões, referentes às

obras iniciais do PER – em especial no que concerne à Fase I. Já no caso da 2ª Etapa do

Programa de São Paulo, destacam-se os altos valores de investimentos/km a partir de 2012, os

quais se associam à construção do trecho Leste do Rodoanel pela concessionária SPMar.

Constata-se, ainda, que os investimentos/km nos 4 primeiros anos de operação da

1ª Etapa do Programa Federal (1996-1999) correspondem aos mais altos valores dentre todos

aqui calculados. Vale, no entanto, se fazer uma ressalva nesse aspecto. Isso porque, de acordo

com as informações obtidas junto à ANTT (via SIC), a contabilização dos investimentos

dessa 1ª Etapa diferiria, de forma não especificada pela agência, daquela referente à 2ª Etapa

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

2.000

2.200R

$ 1

.000 d

e 2

014

Federal (1a Etapa) Federal (2a Etapa - Fase I) Federal (2a Etapa - Fase II)

São Paulo (1a Etapa) São Paulo (2a Etapa)

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116

do mesmo programa. Mais detalhadamente, foi obtida a seguinte resposta por parte da ANTT,

no tocante a essa diferença:62

[...] informamos que os investimentos correspondem, na maior parte dos contratos,

a obra de melhorias e ampliações de capacidade, recuperação e manutenção

da rodovia e investimentos em sistemas operacionais (equipamentos, veículos,

sistemas, etc). Excetuam-se desta configuração os contratos da CRR Ponte,

NovaDutra, CONCER, CRT e CONCEPA.

Adicionalmente, tem-se que a soma dos valores de investimentos das concessionárias

do Programa Federal obtidos junto à ANTT (via SIC), caso comparada à série de

investimentos totais do mesmo programa disponibilizada no website da ABCR, acaba por

revelar maiores discrepâncias justamente para seus 3 primeiros anos de operação apresentados

(1996-1998).63

Reforça-se, portanto, a ressalva registrada em relação à análise dos maiores

valores de investimentos/km calculados para a 1ª Etapa do Programa Federal. O Gráfico 12,

a seguir, ilustra a referida comparação.

Gráfico 12 - Investimentos totais do Programa Federal (1996-2014) - R$ milhões correntes

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016a) e

informações obtidas junto à ANTT pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

O Programa de São Paulo, por sua vez, em uma comparação análoga à realizada

anteriormente – ou seja, em uma comparação entre a soma dos valores de investimentos desse

programa obtidos junto à Artesp (via SIC) e a série de investimentos totais disponibilizada

pela ABCR –, revela discrepâncias relativamente menores para a totalidade do intervalo

apresentado. O Gráfico 13, a seguir, ilustra a referida comparação.

62

Número de protocolo da solicitação de informação à ANTT: 50650002733201597. 63

A discrepância observada no ano 2008, especificamente, pode ser explicada pelo fato de que os dados obtidos

junto à ANTT (via SIC) apresentam os investimentos da 2ª Etapa do Programa Federal somente a partir do ano

2009, ao passo que os dados disponibilizados pela ABCR levariam em conta os investimentos dessa 2ª Etapa

realizados ainda em 2008, ou seja, realizados no ano em que suas concessões tiveram início.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

R$ m

ilh

ões

Dados da ABCR Dados da ANTT

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Gráfico 13 - Investimentos totais do Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ milhões correntes

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ABCR (2016a) e

informações obtidas junto à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

A fim de ancorar a análise da trajetória dos investimentos/km de cada etapa na análise

das tarifas médias de pedágio – apresentada na seção anterior –, realiza-se, aqui, a ponderação

dos valores dessas séries em relação às suas respectivas tarifas médias. Obtêm-se, dessa

forma, o nível de investimento/km de uma concessionária para cada R$ 1,00/100 km de tarifa

média cobrado pela mesma. Ou seja, obtêm-se uma relação entre a contrapartida direta aos

usuários e o dispêndio direto dos mesmos. O Gráfico 14, a seguir, apresenta as trajetórias

dessas novas séries calculadas, por etapa de concessões.

Gráfico 14 - Relação investimentos por km / tarifas médias,

por etapa de concessões (1996-2014) - R$ 1.000 de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b), Artesp (2016d) e

informações obtidas junto à ANTT e à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500R

$ m

ilh

ões

Dados da ABCR Dados da Artesp

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

R$ 1

.000 d

e 2

014

Federal (1a Etapa) Federal (2a Etapa - Fase I) Federal (2a Etapa - Fase II)

São Paulo (1a Etapa) São Paulo (2a Etapa)

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118

Observa-se que, para a relação contrapartida/dispêndio direta, as etapas com os

menores patamares de tarifa média prevalecem em termos da contrapartida líquida ao usuário,

ao menos para os anos mais recentes – ou seja, prevalecem a Fase I e a Fase II da 2ª Etapa do

Programa Federal. Destoam, nesse sentido: (1) a contrapartida líquida referente aos primeiros

anos de operação da 1ª Etapa do Programa Federal, pois, a despeito de seu alto e crescente

patamar de tarifa média, tem-se que seus níveis de investimentos/km, naqueles primeiros

anos, acabaram por sustentar uma relação contrapartida/dispêndio notadamente elevada –

vale reiterar, no entanto, a ressalva registrada anteriormente em relação a tais valores de

investimentos/km –; e (2) a contrapartida líquida referente aos anos mais recentes da 2ª Etapa

do Programa de São Paulo, pois, embora seu patamar de tarifa média também seja

relativamente elevado, tem-se que os investimentos associados à construção do trecho Leste

do Rodoanel acabaram por sustentar, similarmente à 1ª Etapa federal, uma relação

contrapartida/dispêndio consideravelmente elevada.

Complementarmente à ponderação anterior, realiza-se, para as séries calculadas de

investimentos/km, a mesma desagregação proposta para as séries de tarifas médias na

Seção 4.1 – sintetizada no Quadro 11 –, a qual tem como base o volume de tráfego associado

a cada concessionária. Nesse sentido, tem-se que os agrupamentos relacionados aos maiores

tráfegos apresentaram, para todas as etapas, valores de investimentos/km consistentemente

maiores em comparação aos agrupamentos relacionados aos menores tráfegos. Essa relação

corresponde ao esperado, já que os lotes de maior tráfego tendem a requerer maiores

investimentos de manutenção e recuperação da via. Os gráficos referentes a essas séries de

investimento/km, apresentadas por agrupamento, podem ser verificados no Apêndice E.

Por fim, efetua-se a ponderação das séries de investimentos/km – apresentadas na

presente seção – por suas respectivas séries proxy das receitas de pedágio – propostas na

seção anterior. Busca-se, dessa forma, a elaboração de uma nova proxy, que desta vez seja

correspondente à proporção entre os gastos de investimentos/km das concessionárias e suas

respectivas receitas de pedágio. O Gráfico 15, a seguir, apresenta as trajetórias dessa nova

variável calculada, separadas por etapa de concessões.

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Gráfico 15 - Relação investimentos por km / tarifas médias multiplicadas pelos volumes de tráfego (%),

por etapa de concessões (2002-2012)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados de Lana (2014, p. 102), informações de ANTT (2016a; 2016b),

Artesp (2016d) e informações obtidas junto à ANTT e à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

Nota: (1) A série apresentada para a 2ª Etapa do Programa de São Paulo

desconsidera a participação da concessionária SPMar.

Percebe-se, então, que as trajetórias relativas dos investimentos/km, em termos de sua

proporção para as receitas de pedágio, manifestam um comportamento similar às trajetórias

dos investimentos/km ponderados pelas respectivas tarifas médias – ao menos para o intervalo

de 2002 a 2012 –, o que se remete ao Gráfico 14 apresentado anteriormente. A principal

exceção aqui, nesse sentido, é a preponderância relativa dos valores referentes aos dois anos

de observação da 2ª Etapa - Fase II do Programa Federal. Isso denota que, ao menos para tais

anos, a concessionária ViaBahia tem efetuado relativamente mais investimentos em proporção

às suas receitas de pedágio – se comparado aos investimentos realizados nas demais etapas

em proporção, também, às respectivas arrecadações tarifárias das mesmas.

0,00%

0,01%

0,02%

0,03%

0,04%

0,05%

0,06%

0,07%

0,08%

Federal (1a Etapa) Federal (2a Etapa - Fase I) Federal (2a Etapa - Fase II)

São Paulo (1a Etapa) São Paulo (2a Etapa)

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120

CONCLUSÃO

O presente trabalho enuncia, em sua hipótese inicial, que a heterogeneidade que

caracteriza as políticas de privatização de rodovias no Brasil, em especial no que concerne aos

seus resultados econômicos diretos para os usuários, seria determinada pelas diferenças de

arranjo contratual entre tais políticas. Em conclusão, avalia-se, aqui, que essa hipótese

apresenta uma validez parcial.

Em relação à heterogeneidade das tarifas de pedágio – aqui compreendidas como o

dispêndio direto dos usuários –, observa-se que as diferenças de arranjo contratual contribuem

consideravelmente para a sua compreensão. Nesse sentido, destaca-se o seguinte:

(1) os modelos de licitação de cada etapa se mostram determinantes ao patamar de sua tarifa,

com ressalva para o caso da 1ª Etapa do Programa Federal, cujo patamar inicial da tarifa pôde

ser mais bem explicado pelas idiossincrasias do acervo institucional associado ao início dessa

etapa; (2) a alocação dos riscos contribui para a compreensão do grau de proteção que o

contrato proporciona à concessionária e, portanto, contribui para a compreensão da

manutenção – ou não – do patamar inicial da tarifa de uma etapa ao longo dos prazos de

concessão, especialmente quando essa manutenção ocorre a despeito das transformações na

conjuntura econômica, como é, também, o caso da 1ª Etapa do Programa Federal;

(3) os mecanismos de reajuste tarifário são determinantes à oscilação, em termos reais, da

tarifa de uma etapa, em contraposição, portanto, ao predicado teórico desse mecanismo;

(4) a existência de mecanismos de reequilíbrio econômico-financeiro apartados da revisão

tarifária ajuda a compreensão, por exemplo, do intervalo de decrescimento real das tarifas da

1ª Etapa do Programa de São Paulo e da 2ª Etapa – Fase II do Programa Federal, sendo que,

em relação a esse último, contribuem também a existência do mecanismo de desconto de

reequilíbrio e, ainda, a possibilidade de um maior compartilhamento de riscos entre a

concessionária e o poder concedente.

Em relação à heterogeneidade dos investimentos – aqui compreendidos como a

contrapartida direta aos usuários –, por outro lado, pouco pode ser associado às diferenças de

arranjo contratual. Um exemplo de possível influência do arranjo contratual sobre os níveis de

investimento é o fato de que, no caso da 2ª Etapa do Programa Federal (Fase I e Fase II),

pressupõem-se obras de caráter não obrigatório, o que, coadunado à existência de incentivo

para a obtenção de receitas extraordinárias, poderia acarretar em incentivos marginais ao

investimento. No entanto, os principais determinantes da heterogeneidade dos investimentos,

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121

conforme aqui identificados, seriam: (1) as características de engenharia e de volume de

tráfego de cada lote; e (2) o cumprimento do cronograma de investimentos inicialmente

estabelecido, o qual, por sua vez, se associa à existência, ou não, do chamado viés de

otimismo no processo licitatório.

Ressalta-se, por fim, que são examinados, ao longo do presente trabalho, apenas os

arranjos contratuais iniciais de cada etapa de concessões. Não são levados em conta, portanto,

os termos aditivos a cada arranjo contratual inicial, os quais podem influenciar a relação

inicialmente estabelecida das concessionárias com suas agências reguladoras e, portanto,

denotam o próprio processo de regulação. Em uma análise complementar à realizada aqui,

pode-se propor, então, o exame aprofundado de tais termos aditivos.

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133

APÊNDICE A - Quadros-síntese dos arranjos contratuais por etapa de concessões

Quadro 12 - Arranjos contratuais do Programa Federal

Arranjo Contratual 1ª Etapa 2ª Etapa - Fase I 2ª Etapa - Fase II

Modelo de licitação •Concorrência pela

menor tarifa.

•Leilão pela

menor tarifa.

•Leilão pela

menor tarifa.

Alocação dos riscos

•Teoria das Áleas.

•Concessionária não assume

o risco pela variação:

1) nos custos de seus

insumos e fatores de

produção;

2) nas quantidades de

insumos necessários

para as obras do PER

(empreitada por

preço unitário).

•Teoria das Áleas.

•Concessionária assume

o risco pela variação:

1) nos custos de seus

insumos e fatores de

produção;

2) nas quantidades de

insumos necessários

para as obras do PER

(empreitada por

preço global).

•Matriz de riscos explícita.

•Maior compartilhamento de

riscos referentes às áleas

extraordinárias (e.g. caso

fortuito e força maior).

Reajuste tarifário

•Índice de reajuste

baseado em uma cesta

de índices e parâmetros

específicos aos custos

de construção rodoviária.

•Índice de reajuste

baseado no IPCA.

•Índice de reajuste

baseado no IPCA.

Revisão tarifária

•Revisão extraordinária

(visando reequilíbrio

econômico-financeiro).

•“Revisão” anual

(receitas extraordinárias

em favor da modicidade

tarifária).

•Revisão ordinária

(visando reequilíbrio

econômico-financeiro,

inclusive referente às

receitas extraordinárias).

• Revisão extraordinária

(motivada por riscos

específicos referentes

às áleas extraordinárias).

•Revisão quinquenal

(reavaliação do PER).

•Revisão ordinária

(receitas extraordinárias

em favor da modicidade

tarifária).

•Revisão extraordinária

(visando reequilíbrio

econômico-financeiro).

•Revisão quinquenal

(reavaliação da concessão).

•Outras formas de

reequilíbrio: pagamentos

do Estado à concessionária;

modificação do contrato.

•Fluxo de caixa marginal

para novos investimentos.

Apropriação das

receitas extraordinárias

•Não há apropriação.

•Baixo incentivo à utilização

das receitas em favor da

modicidade tarifária.

•Concessionária se apropria

de 15% das receitas e dos

custos para obtenção das

mesmas.

•Incentivo à utilização das

receitas em favor da

modicidade tarifária.

•Concessionária se apropria

de parcela (não especificada)

das receitas.

•Incentivo à utilização das

receitas em favor da

modicidade tarifária.

Remuneração variável

conforme desempenho

•Não há remuneração

variável.

•Multas por atrasos nas obras

e por descumprimento de

parâmetros de desempenho.

•Não há remuneração

variável.

•Obras obrigatórias e

não obrigatórias no PER.

•Multas por atrasos nas obras

e por descumprimento de

parâmetros de desempenho.

•Desconto de reequilíbrio

para obras de caráter

obrigatório e obras

condicionadas ao

volume de tráfego

•Multas por atrasos nas obras

e por descumprimento de

parâmetros de desempenho.

•Fiscalização final.

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a).

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134

Quadro 13 - Arranjos contratuais do Programa de São Paulo

Arranjo Contratual 1ª Etapa 2ª Etapa

Modelo de licitação •Concorrência pelo maior

valor fixo de outorga.

•Concorrência pela

menor tarifa.

•Valor fixo de outorga

preestabelecido.

Alocação dos riscos •Teoria das Áleas. •Teoria das Áleas.

Reajuste tarifário •Índice de reajuste

baseado no IGP-M.

•Índice de reajuste

baseado no IPCA.

Revisão tarifária

•Revisão extraordinária

(visando reequilíbrio

econômico-financeiro).

•Outra forma de reequilíbrio:

alteração do prazo contratual.

•Revisão extraordinária

(visando reequilíbrio

econômico-financeiro).

•Outras formas de reequilíbrio:

alteração do prazo contratual;

revisão do cronograma de

investimentos; pagamentos

do Estado à concessionária.

Apropriação das receitas

extraordinárias

•Poder concedente se apropria

de 3% das receitas.

•Não há menção à modicidade tarifária.

•Poder concedente se apropria

de 3% das receitas.

•Não há menção à modicidade tarifária.

Remuneração variável conforme

desempenho

•Não há remuneração variável.

•Multas por atrasos nas obras

e por descumprimento de parâmetros de

desempenho.

•Não há remuneração variável.

•Multas por atrasos nas obras

e por descumprimento de parâmetros de

desempenho.

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016a).

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APÊNDICE B - Tarifas de pedágio por praça de cobrança

Quadro 14 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 1ª Etapa do Programa Federal (1996-2014) - R$ correntes¹

Concessionária Praça 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Ponte

(23 km) Ponte Rio-Niterói 1,20 1,30 1,40 1,30 1,50 2,00 2,20 2,70 2,90 3,20 3,40 3,50 3,80 4,00 4,30 4,60 4,90 4,90 5,20

NovaDutra

(402 km)

Arujá (Parateí Norte)²

2,86 3,15 3,50 3,60 4,20

1,10 1,20 1,40 1,55 1,75 1,80 1,90 2,10 2,15 2,30 2,30 2,50 2,50 2,70

Guararema (Parateí Sul)² 1,10 1,20 1,40 1,55 1,75 1,80 1,90 2,10 2,15 2,30 2,30 2,50 2,50 2,70

Jacareí² 2,00 2,20 2,50 2,80 3,10 3,30 3,40 3,70 3,90 4,10 4,20 4,40 4,50 4,80

Moreira César 2,86 3,15 3,50 3,60 4,20 4,50 4,90 5,80 6,40 7,10 7,50 7,80 8,50 8,80 9,20 9,60 10,10 10,10 10,90

Itatiaia 2,86 3,15 3,50 3,60 4,20 4,50 4,90 5,80 6,40 7,10 7,50 7,80 8,50 8,80 9,20 9,60 10,10 10,10 10,90

Viúva Graça 2,86 3,15 3,50 3,60 4,20 4,50 4,90 5,80 6,40 7,10 7,50 7,80 8,50 8,80 9,20 9,60 10,10 10,10 10,90

Viuvinha (bloqueio) - - 3,50 3,60 4,20 - - - - - - - - - 9,20 9,60 10,10 10,10 10,90

Concer

(180 km)

Xerém 2,38 2,60 3,00 3,10 3,70 4,10 4,70 5,80 6,00 6,40 6,40 6,70 7,20 7,50 7,70 8,00 8,00 8,00 9,00

Areal 2,38 2,60 3,00 3,10 3,70 4,10 4,70 5,80 6,00 6,40 6,40 6,70 7,20 7,50 7,70 8,00 8,00 8,00 9,00

Simão Pereira 2,38 2,60 3,00 3,10 3,70 4,10 4,70 5,80 6,00 6,40 6,40 6,70 7,20 7,50 7,70 8,00 8,00 8,00 9,00

CRT

(143 km)

Três Córregos 2,77 3,00 3,10 3,40 4,00 4,30 4,30 5,10 5,40 6,00 6,50 6,80 7,70 9,00 - - - - -

Praça Central (Bongaba) 2,77 3,00 3,10 3,40 4,00 4,30 4,30 5,10 5,40 6,00 6,50 6,80 7,70 9,00 9,70 11,20 12,20 12,20 12,20

Santo Aleixo³ 1,93 2,10 2,10 2,40 2,80 3,00 3,00 3,60 3,80 4,20 4,60 4,80 5,40 6,30 6,80 7,80 8,50 8,50 8,50

Santa Guilhermina³ 1,93 2,10 2,10 2,40 2,80 3,00 3,00 3,60 3,80 4,20 4,60 4,80 5,40 6,30 6,80 7,80 8,50 8,50 8,50

Concepa

(121 km)

Santo Antônio - 1,00 1,13 1,25 1,50 1,70 1,85 2,20 2,40 2,75 2,85 3,00 3,25 3,50 3,75 4,00 4,25 4,65 5,15

Gravataí - 1,00 1,10 1,20 1,50 1,70 1,90 2,20 2,40 2,80 2,90 3,00 3,30 3,50 3,70 4,00 4,30 4,70 5,10

Eldorado do Sul - 1,00 1,13 1,25 1,50 1,70 1,85 2,20 2,40 2,75 2,85 3,00 3,25 3,50 3,75 4,00 4,25 4,65 5,15

Ecosul (623 km até 2013)

(457 km a partir

de 2014)

Cristal - - - - - 2,20 2,60 3,10 3,80 4,50 5,30 5,90 6,20 6,80 7,20 7,80 8,40 9,00 7,00

Retiro - - - - - 2,20 2,60 3,10 3,80 4,50 5,30 5,90 6,20 6,80 7,20 7,80 8,40 9,00 7,00

Pavão - - - - - 2,20 2,60 3,10 3,80 4,50 5,30 5,90 6,20 6,80 7,20 7,80 8,40 9,00 7,00

Capão Seco - - - - - 2,20 2,60 3,10 3,80 4,50 5,30 5,90 6,20 6,80 7,20 7,80 8,40 9,00 7,00

Glória - - - - - 2,20 2,60 3,10 3,80 4,50 5,30 5,90 6,20 6,80 7,20 7,80 8,40 9,00 7,00

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b).

Notas: (1) As células destacadas denotam praças de cobrança unidirecional, cujos valores de tarifa já se apresentam aqui divididos por 2. Os valores destacados, por sua vez,

denotam praças em que tenham sido cobrados mais de um valor de tarifa para o mesmo ano, de modo que o valor aqui apresentado seja sempre o maior para aquele ano.

(2) Os valores de 2001 para as praças Parateí Norte, Parateí Sul e Jacareí (concessionária NovaDutra) foram retirados do processo TC 014.824/2000-8, do TCU.

(3) Os valores de 1996 para as praças Santo Aleixo e Santa Guilhermina (concessionária CRT) foram retirados do processo TC 006.931/2002-0, do TCU.

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136

Quadro 15 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 2ª Etapa do Programa Federal (2008-2014) - R$ correntes¹

Fase I

Concessionária Praça 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Régis Bittencourt

(402 km)

São Lourenço da Serra 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Miracatú 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Juquiá 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Cajati 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Barra do Turvo 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Campina Grande do Sul 1,50 1,50 1,70 1,80 1,80 1,80 2,00

Fernão Dias

(562 km)

Mairiporã 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Vargem 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Cambuí 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

São Gonçalo do Sapucai 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Carmo da Cachoeira 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Santo Antonio do Amparo 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Carmópolis de Minas 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Itatiaiuçu 1,10 1,10 1,30 1,40 1,40 1,50 1,60

Litoral Sul

(382 km)

São Jose dos Pinhais - 1,10 1,20 1,40 1,50 1,70 1,80

Garuva - 1,10 1,20 1,40 1,50 1,70 1,80

Araquari - 1,10 1,20 1,40 1,50 1,70 1,80

Porto Belo - 1,10 1,20 1,40 1,50 1,70 1,80

Palhoça - 1,10 1,20 1,40 1,50 1,70 1,80

Fluminense

(320 km)

P01 - 2,50 2,60 2,80 3,10 3,30 3,40

P02 - 2,50 2,60 2,80 3,10 3,30 3,40

P03 - 2,50 2,60 2,80 3,10 3,30 3,40

P04 - 2,50 2,60 2,80 3,10 3,30 3,40

P05 - 1,25 1,30 1,40 1,55 1,65 1,70

Transbrasiliana

(322 km)

Onda Verde 2,60 2,80 3,00 3,20 3,30 3,50 3,70

José Bonifácio 2,60 2,80 3,00 3,20 3,30 3,50 3,70

Lins 2,60 2,80 3,00 3,20 3,30 3,50 3,70

Marília 2,60 2,80 3,00 3,20 3,30 3,50 3,70

Planalto Sul

(413 km)

Correia Pinto 2,70 2,90 3,10 3,30 3,60 3,80 4,10

Santa Cecília 2,70 2,90 3,10 3,30 3,60 3,80 4,10

Rio Negro 2,70 2,90 3,10 3,30 3,60 3,80 4,10

Monte Castelo 2,70 2,90 3,10 3,30 3,60 3,80 4,10

Fazenda Rio Grande 2,70 2,90 3,10 3,30 3,60 3,80 4,10

Rodovia do Aço

(200 km)

Sapucaia - 3,20 3,40 4,10 4,50 4,60 4,50

Paraíba do Sul - 3,20 3,40 4,10 4,50 4,60 4,50

Barra do Pirai - 3,20 3,40 4,10 4,50 4,60 4,50

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137

Fase II

Concessionária Praça 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

ViaBahia

(681 km)

PP01 - - - 1,70 1,80 1,70 1,90

PP02 - - 1,60 1,70 1,80 1,70 1,90

PP03 - - 2,80 3,00 3,10 3,10 3,40

PP04 - - 2,80 3,00 3,10 3,10 3,40

PP05 - - 2,80 3,00 3,10 3,10 3,40

PP06 - - 2,80 3,00 3,10 3,10 3,40

PP07 - - 2,80 3,00 3,10 3,10 3,40

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b).

Nota: (1) As células destacadas denotam praças de cobrança unidirecional, cujos valores de tarifa já se apresentam aqui divididos por 2.

Quadro 16 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 1ª Etapa do Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ correntes¹

Concessionária Praça 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

AutoBAn

(316 km)

Perus Norte/Sul 2,20 2,40 2,70 3,10 3,30 4,10 4,70 5,10 5,10 5,30 5,90 6,10 6,35 7,00 7,30 7,30 7,70

Valinhos Norte/Sul 2,20 2,40 2,70 3,00 3,30 4,10 4,60 5,10 5,00 5,30 5,90 6,10 6,35 6,90 7,20 7,20 7,60

Nova Odessa Norte/Sul 2,00 2,10 2,40 2,70 2,90 3,60 4,10 4,50 4,50 4,70 5,20 5,40 5,60 6,20 6,40 6,40 6,80

Limeira A Norte/Sul 2,20 1,60 1,80 2,00 2,20 2,70 3,10 3,40 3,40 3,50 3,90 4,10 4,25 4,70 4,90 4,90 5,10

Caieiras / Campo Limpo 2,20 2,40 2,70 3,10 3,30 4,10 4,70 5,10 5,10 5,30 5,90 6,10 6,35 7,00 7,30 7,30 7,70

Itupeva Norte/Sul 2,20 2,40 2,70 3,00 3,30 4,10 4,60 5,10 5,00 5,30 5,90 6,10 6,35 6,90 7,20 7,20 7,60

Sumaré Norte/Sul - - - 2,70 2,90 3,60 4,10 4,50 4,50 4,70 5,20 5,40 5,60 6,20 6,40 6,40 6,80

Limeira B Norte/Sul - - - 2,00 2,20 2,70 3,10 3,40 3,40 3,50 3,90 4,10 4,25 4,70 4,90 4,90 5,10

TEBE

(156 km)

Monte Alto 1,40 1,50 1,80 2,00 2,00 2,50 2,90 3,20 3,20 3,30 3,70 3,80 3,95 4,40 4,60 4,60 4,80

Colina 2,10 2,30 2,60 2,90 3,20 3,90 4,50 4,90 4,90 5,10 5,70 5,90 6,15 6,70 7,00 7,00 7,30

Pirangi 2,10 2,30 2,60 2,90 2,90 3,70 4,20 4,60 4,60 4,80 5,40 5,70 5,90 6,60 7,10 7,10 7,50

Vianorte

(237 km)

Sertãozinho 1,20 1,30 2,00 2,20 2,40 3,00 3,40 3,70 3,70 3,90 4,30 4,50 4,65 5,10 5,30 5,30 5,60

Pitangueiras 1,50 1,60 1,90 2,10 2,10 2,60 3,00 3,30 3,30 5,10 5,70 5,90 6,15 6,70 7,00 7,00 7,40

Sales Oliveira 4,40 2,90 3,30 3,70 4,00 4,90 5,60 6,10 6,10 6,40 7,10 7,40 7,70 8,40 8,80 8,80 9,30

Ituverava 4,40 3,50 4,00 4,50 4,90 6,00 6,90 7,50 7,50 7,80 8,70 9,00 9,35 10,30 10,70 10,70 11,30

Intervias

(376 km)

Mogi-Mirim - - 1,70 1,90 1,90 3,00 3,40 3,70 4,20 4,40 4,90 5,00 5,20 5,80 6,00 6,00 6,30

Limeira (Eng. Coelho) - - 1,80 1,90 1,90 2,40 2,80 3,00 3,00 3,20 3,60 3,70 3,85 4,30 4,50 4,50 4,70

Iracemápolis - - - 1,90 2,10 2,60 3,00 3,20 3,20 3,40 3,80 3,90 4,05 4,50 4,60 4,60 4,90

Araras - - 1,90 2,10 2,10 2,60 3,00 3,30 3,30 3,40 3,80 4,00 4,15 4,60 4,80 4,80 5,00

Rio Claro - - 1,00 1,10 1,10 1,40 1,60 1,80 1,70 1,80 2,10 2,10 2,15 2,40 2,60 2,60 2,70

Sta. Cruz das Palmeiras - - - 2,00 2,00 2,50 2,90 3,20 3,20 3,30 3,80 3,90 4,05 4,50 4,70 4,70 4,90

Descalvado - - - 2,10 2,10 2,60 3,00 3,30 3,30 3,40 3,80 4,00 4,15 4,60 4,80 4,80 5,00

Leme - - 2,30 2,50 2,80 3,40 3,90 4,30 4,20 4,40 4,90 5,10 5,30 5,80 6,10 6,10 6,40

Pirassununga - - 2,30 2,50 2,80 3,40 3,90 4,30 4,20 4,40 4,90 5,10 5,30 5,80 6,10 6,10 6,40

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138

continuação

Concessionária Praça 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Centrovias

(218 km)

Brotas - 2,80 3,20 3,60 3,60 4,60 5,20 5,60 5,60 5,80 9,60 9,80 10,20 5,60 5,90 5,90 6,30

Dois Córregos - 3,20 3,60 4,00 4,00 5,00 5,80 6,40 6,20 6,60 11,00 11,40 11,85 6,50 6,70 6,70 7,20

Jaú - 2,00 2,40 3,60 4,00 5,00 5,60 6,10 6,10 6,30 7,10 7,30 7,60 8,40 8,70 8,70 9,30

Rio Claro - 2,30 2,60 2,90 3,10 3,90 4,40 4,80 4,80 5,00 5,60 5,80 6,03 6,60 6,90 6,90 7,40

Itirapina - 2,80 3,20 3,40 3,80 4,60 5,40 5,80 5,80 6,00 6,80 7,00 3,60 4,00 4,20 4,20 4,40

Triângulo do Sol

(442 km)

Araraquara - 4,20 4,80 5,40 5,80 7,20 8,20 9,00 9,00 9,30 10,40 10,80 11,25 12,40 12,90 12,90 13,60

Agulha - 2,80 3,20 3,60 3,90 4,80 5,50 6,00 6,00 6,30 7,00 7,20 7,50 8,30 8,60 8,60 9,10

Catiguá - 4,00 4,60 5,10 5,50 6,80 7,80 8,50 8,50 8,80 9,90 10,20 10,60 11,70 12,20 12,20 12,90

Dobrada - 1,60 1,80 2,00 2,00 2,50 2,90 3,90 3,90 4,30 4,80 5,00 5,20 5,70 6,00 6,00 6,30

Taiúva - 1,40 1,60 1,80 1,80 2,30 2,60 3,50 3,50 4,50 5,00 5,10 5,30 5,90 6,10 6,10 6,50

Jaboticabal - 2,60 3,00 3,30 3,30 4,10 4,80 6,70 6,70 7,00 7,80 8,80 9,15 10,00 10,40 10,40 11,00

Itápolis - 1,90 2,20 2,40 2,40 3,10 3,50 3,90 3,90 4,00 4,50 4,70 4,90 5,40 5,60 5,60 6,00

Autovias

(317 km)

Guatapará - 3,10 3,60 4,00 4,00 5,10 5,80 8,00 8,00 8,30 9,30 9,60 10,00 11,00 11,50 11,50 12,10

Sta. Rita do Passa Quatro - - - - - - - - - 4,20 4,70 4,90 5,10 5,60 5,80 5,80 6,10

São Simão - 3,80 4,40 4,80 5,30 6,50 7,40 8,10 8,10 4,20 4,70 4,90 5,10 5,60 5,80 5,80 6,10

Batatais - 1,80 2,00 2,30 3,40 4,20 4,70 5,20 5,20 5,40 6,00 6,20 6,45 7,10 7,40 7,40 7,80

Restinga - 1,80 2,00 2,30 2,30 2,80 3,30 5,20 5,20 5,40 6,00 6,20 6,45 7,10 7,40 7,40 7,80

Renovias

(346 km)

Vargem Grande do Sul - 0,70 0,80 0,90 0,90 - - - - - - - - - - - -

Jaguariúna 2,80 3,10 3,50 3,90 4,20 5,20 5,90 6,50 6,50 6,90 7,60 7,90 8,20 9,10 9,50 9,50 10,10

Estiva Gerbi - 3,40 3,80 4,80 5,20 6,40 7,20 3,90 3,90 4,10 4,60 4,70 4,90 5,40 5,70 5,70 6,00

Casa Branca - 2,40 2,80 3,00 3,00 3,80 6,60 3,60 3,60 3,70 4,10 4,20 4,35 4,80 5,00 5,00 5,40

Mococa - 2,20 2,60 2,80 2,80 3,40 4,00 2,20 3,30 3,50 3,90 4,00 4,15 4,60 4,80 4,80 5,10

Espírito Sto. do Pinhal - - - - - - - 4,90 4,90 5,10 5,70 5,90 6,15 6,70 7,00 7,00 7,50

Águas da Prata - 2,00 2,20 2,40 2,40 3,00 3,40 1,90 1,90 2,00 2,20 2,40 2,50 2,70 2,90 2,90 3,50

Aguaí - 2,40 2,60 3,00 3,20 4,00 4,60 2,50 2,50 2,60 2,90 3,00 3,10 3,60 3,60 3,60 3,80

São João da Boa Vista - 0,70 0,70 0,80 0,80 1,00 1,20 1,30 1,30 1,30 1,50 1,60 1,65 1,75 1,90 1,90 2,00

Itobi - 1,20 1,30 1,50 1,50 1,90 2,20 2,40 2,40 2,50 2,80 2,90 3,00 3,30 3,50 3,50 3,70

ViaOeste

(170 km)

Sorocaba 0,80 0,80 1,00 1,10 1,20 1,40 1,60 1,80 1,80 1,80 2,10 2,10 2,18 2,40 2,50 2,50 2,70

São Roque - - 1,10 1,20 1,20 1,50 1,70 1,90 1,90 2,40 2,70 3,00 3,13 3,40 3,60 3,60 3,80

Alumínio - 1,00 1,10 1,30 1,30 1,60 1,90 2,00 2,00 2,10 2,40 2,80 2,90 3,20 3,30 3,30 3,50

Araçoiaba - 1,40 1,60 1,80 2,60 3,20 3,60 4,00 2,00 2,10 2,30 2,50 2,60 2,90 3,00 3,00 3,20

Osasco - - - 1,75 1,75 2,15 2,45 2,70 2,70 2,80 3,15 3,25 1,45 1,60 1,65 1,65 1,75

Barueri - - - 1,75 1,75 2,15 2,45 2,70 2,70 2,80 3,15 3,25 1,45 1,60 1,65 1,65 1,75

Itapevi 2,00 2,20 2,50 2,80 3,00 3,80 4,30 4,70 4,60 4,80 5,40 5,60 2,90 3,20 3,30 3,30 3,50

Itu 1,40 1,50 1,70 1,90 2,00 2,50 2,90 3,10 3,10 3,30 3,60 3,80 3,95 4,25 4,50 4,50 4,80

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139

continuação

Concessionária Praça 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Colinas

(307 km)

Indaiatuba - - 3,50 3,90 4,20 5,20 6,00 6,50 6,50 7,60 8,50 8,80 9,15 10,10 10,50 10,50 11,10

Indaiatuba (bloqueio) - - - - - - - - 6,50 7,60 8,50 8,80 9,15 10,10 10,50 10,50 11,10

Rio Claro (Iracemápolis) - - 1,80 2,00 2,20 2,70 3,00 3,30 3,30 3,50 3,90 4,00 4,15 4,60 4,80 4,80 5,00

Rio das Pedras - - 2,60 2,90 2,90 3,60 4,20 4,60 5,40 5,60 6,20 6,40 6,65 7,40 7,70 7,70 8,10

Boituva (bloqueio) - - - - - - - - 5,20 5,40 6,00 6,30 6,55 7,20 7,50 7,50 7,90

Boituva - - 2,80 3,10 3,40 4,20 4,80 5,20 5,20 5,40 6,00 6,30 6,55 7,20 7,50 7,50 7,90

Itupeva - - 1,50 1,70 1,70 2,10 2,40 2,60 4,00 4,10 4,60 4,80 5,00 5,50 5,70 5,70 6,00

Porto Feliz (Itu) - - - 2,20 2,20 2,80 3,20 3,50 3,80 4,00 4,40 4,60 4,75 5,20 5,90 5,90 6,30

SPVias

(516 km)

Morro Alto (Norte e Sul) - - - 2,50 2,50 4,70 5,40 5,90 5,90 6,10 6,80 7,10 7,40 8,10 8,40 8,40 8,90

Gramadão - - 2,00 2,20 2,20 2,80 4,80 5,30 5,20 5,50 6,10 6,30 6,55 7,20 7,50 7,50 7,90

Avaré - - 2,00 2,20 2,20 2,80 3,20 3,50 3,50 3,70 4,10 4,30 4,45 4,90 5,20 5,20 5,40

Buri - - - - - 4,40 5,00 5,50 5,40 5,70 6,30 6,60 6,85 7,50 7,80 8,10 8,50

Itararé - - - - - - 3,10 3,40 3,40 3,60 4,00 4,10 4,25 4,70 4,90 5,00 5,30

Alambari - - - 3,80 3,80 4,80 5,40 6,00 6,00 6,20 7,00 7,20 7,50 8,40 8,80 8,80 9,20

Quadra - - 3,90 4,30 4,70 5,80 6,60 7,20 7,20 7,50 8,30 8,60 8,95 9,90 10,30 10,30 10,80

Itatinga - - 3,90 4,30 4,70 5,80 6,60 7,20 7,20 7,50 8,30 8,60 8,95 9,90 10,30 10,30 10,80

Iaras - - 2,60 2,90 3,20 3,90 4,50 4,90 4,80 5,10 5,60 5,80 6,00 6,70 7,00 7,00 7,30

Ecovias

(177 km)

Santos 4,40 4,80 5,40 6,00 6,60 5,60 6,40 6,80 6,80 7,20 8,00 8,20 8,50 9,40 9,80 9,80 10,40

São Vicente 4,40 4,80 5,40 6,00 6,60 3,20 3,80 4,00 4,00 4,20 4,60 4,80 5,00 5,60 5,80 5,80 6,00

Riacho Grande 4,40 4,80 5,40 6,00 9,60 11,80 13,40 14,80 14,60 15,40 17,00 17,80 18,50 20,10 21,20 21,20 22,00

Diadema (bloqueio) 0,40 0,40 0,60 0,60 0,60 0,80 1,00 1,00 1,00 1,00 1,20 1,20 1,25 1,40 1,60 1,60 1,60

Eldorado (bloqueio) 0,80 1,00 1,20 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,00 2,20 2,40 2,40 2,50 2,80 3,00 3,00 3,00

Batistini (bloqueio) 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,60 3,00 3,40 3,40 3,40 3,80 4,00 4,15 4,60 4,80 4,80 5,00

Piratininga 4,40 4,80 5,40 6,00 9,60 11,80 13,40 14,80 14,60 15,40 17,00 17,80 18,50 20,10 21,20 21,20 22,00

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d).

Nota: (1) As células destacadas denotam praças de cobrança unidirecional, cujos valores de tarifa já se apresentam aqui divididos por 2. Os valores destacados, por sua vez,

denotam praças em que tenham sido cobrados mais de um valor de tarifa para o mesmo ano, de modo que o valor aqui apresentado seja sempre o maior para aquele ano.

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140

Quadro 17 - Tarifas de pedágio por praça de cobrança - 2ª Etapa do Programa de São Paulo (2008-2014) - R$ correntes¹

Concessionária Praça 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Rota das

Bandeiras

(277 km)

Louveira - 1,20 1,25 1,30 1,40 1,40 1,50

Igaratá - 5,80 6,10 6,50 6,80 6,80 7,20

Atibaia - 4,60 4,80 5,20 5,40 5,40 5,70

Itatiba - 5,60 5,85 6,30 6,60 6,60 7,00

Paulínia A - 5,20 5,45 5,90 6,20 6,20 6,50

Paulínia B - 3,65 3,83 4,10 4,30 4,30 4,50

Engenheiro Coelho - 3,50 3,65 3,90 4,10 4,10 4,40

Jundiaí - - 1,85 2,00 2,10 2,10 2,20

CART

(388 km)

Piratininga - 3,00 3,15 3,40 3,50 3,50 4,00

Sta. Cruz do Rio Pardo - 3,40 3,55 3,80 4,00 4,00 4,30

Palmital - 5,00 5,25 5,60 5,80 5,80 6,20

Assis - 4,90 5,15 5,50 5,70 5,70 6,40

Rancharia - 3,00 3,15 3,40 3,50 3,50 5,20

Regente Feijó - 3,80 4,00 4,30 4,50 4,50 5,20

Presidente Bernardes - 4,40 4,60 4,90 5,20 5,20 5,80

Caiuá - 3,20 3,35 3,50 3,70 3,70 3,90

Ourinhos - 4,10 4,30 4,60 4,80 5,10 5,20

ViaRondon

(417 km)

Avaí - - 3,55 3,90 4,10 4,10 4,30

Pirajuí - - 3,35 3,60 3,80 3,80 4,00

Promissão - - 4,10 4,30 4,60 4,60 4,80

Glicério - - 4,50 4,80 5,10 5,10 5,40

Rubiácea - - 3,85 4,10 4,30 4,30 4,60

Lavínia - - 3,05 3,30 3,40 3,40 3,60

Guaraçaí - - 2,95 3,20 3,30 3,30 3,50

Castilho - - 2,20 2,30 2,50 2,50 2,60

Rodovias do

Tietê

(406 km)

Monte Mor - 4,00 4,20 4,50 4,70 4,70 5,00

Rafard - 3,10 3,25 3,50 3,70 3,70 3,90

Conchas - 4,20 4,40 4,70 5,00 5,00 5,20

Anhembi - 4,80 5,05 5,40 5,60 5,60 5,90

Botucatu - 3,30 3,45 3,70 3,90 3,90 4,10

Areiópolis - 3,70 3,85 4,20 4,40 4,40 4,60

Agudos - 3,60 3,75 4,10 4,30 4,30 4,50

Salto - 2,10 2,20 2,40 2,50 2,50 2,70

Rio das Pedras - 3,20 3,35 3,60 3,80 3,80 4,00

Ecopistas

(135)

Itaquaquecetuba - - 2,40 2,60 2,70 2,70 2,90

Guararema - - 2,30 2,40 2,60 2,60 2,70

São José dos Campos - - 2,30 2,40 2,50 2,50 2,70

Caçapava - - 1,75 1,90 2,00 2,00 2,10

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141

continuação

Concessionária Praça 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

RodoAnel Oeste

(32 km)

Raimundo Pereira Magalhães 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Bandeirantes (I) Ramo F 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Bandeirantes (E) Ramo A 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Anhanguera (I) Ramo F 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Anhanguera (I) Ramo E 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Anhanguera (E) Ramo A 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Castelo Branco (I) Ramo E 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Castelo Branco (E) Ramo A 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Padroeira (I) Ramo F 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Padroeira (E) Ramo A 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Raposo Tavares (I) Ramo F 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Raposo Tavares (E) Ramo A 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

Osasco E (Régis Bittencourt) 1,20 1,30 1,35 1,40 1,50 1,50 1,60

SPMar

(57 km do

Trecho Sul)

Trecho Sul / Trecho Oeste (I) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Trecho Sul / Imigrantes (E) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Trecho Sul / Imigrantes (E) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Trecho Sul / Imigrantes (I) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Trecho Sul / Anchieta (I) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Trecho Sul Intersecção Trecho Leste (E) - - - - - - 2,70

Trechu Sul / Papa João XXIII (Mauá) - - - 2,50 2,60 2,60 2,70

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d).

Nota: (1) As células destacadas denotam praças de cobrança unidirecional, cujos valores de tarifa já se apresentam aqui divididos por 2. Os valores destacados, por sua vez,

denotam praças em que tenham sido cobrados mais de um valor de tarifa para o mesmo ano, de modo que o valor aqui apresentado seja sempre o maior para aquele ano.

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142

APÊNDICE C - Tarifas médias de pedágio, investimentos privados e volumes de tráfego por concessionária

Quadro 18 - Tarifas médias de pedágio por concessionária - Programa Federal (1996-2014) - R$ correntes / 100 km

Concessionária 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

1ª Etapa do

Programa Federal 3,82 3,94 4,71 4,98 5,87 4,13 4,54 5,42 5,97 6,69 7,21 7,65 8,30 8,99 9,46 10,14 10,74 11,03 12,29

Ponte 2,59 2,80 3,02 2,80 3,23 4,31 4,74 5,82 6,25 6,90 7,33 7,54 8,19 8,62 9,27 9,91 10,56 10,56 11,21

NovaDutra 2,85 3,13 4,35 4,48 5,22 4,40 4,80 5,65 6,24 6,94 7,31 7,61 8,31 8,61 11,32 11,74 12,39 12,41 13,38

Concer 3,97 4,34 5,00 5,17 6,17 6,84 7,84 9,67 10,01 10,67 10,67 11,17 12,01 12,51 12,84 13,34 13,34 13,34 15,01

CRT 6,60 7,16 7,30 8,14 9,54 10,25 10,25 12,21 12,91 14,32 15,58 16,28 18,39 21,47 16,35 18,81 20,49 20,49 20,49

Concepa - 2,48 2,77 3,06 3,72 4,21 4,63 5,45 5,95 6,86 7,11 7,44 8,10 8,68 9,26 9,92 10,58 11,57 12,73

Ecosul - - - - - 1,76 2,08 2,48 3,05 3,61 4,25 4,73 4,97 5,45 5,77 6,25 6,73 7,21 7,65

2ª Etapa - Fase I do

Programa Federal - - - - - - - - - - - - 2,46 2,69 2,92 3,20 3,39 3,57 3,76

Régis Bittencourt - - - - - - - - - - - - 2,24 2,24 2,54 2,69 2,69 2,69 2,99

Fernão Dias - - - - - - - - - - - - 1,57 1,57 1,85 1,99 1,99 2,13 2,28

Litoral Sul - - - - - - - - - - - - - 1,44 1,57 1,83 1,96 2,22 2,35

Fluminense - - - - - - - - - - - - - 3,51 3,66 3,94 4,36 4,64 4,78

Transbrasiliana - - - - - - - - - - - - 3,23 3,48 3,73 3,98 4,10 4,35 4,60

Planalto Sul - - - - - - - - - - - - 3,27 3,51 3,76 4,00 4,36 4,60 4,97

Rodovia do Aço - - - - - - - - - - - - - 4,79 5,09 6,14 6,74 6,89 6,74

2ª Etapa - Fase II do

Programa Federal - - - - - - - - - - - - - - 2,29 2,70 2,81 2,78 3,06

ViaBahia - - - - - - - - - - - - - - 2,29 2,70 2,81 2,78 3,06

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b).

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143

Quadro 19 - Tarifas médias de pedágio por concessionária - Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ correntes / 100 km

Concessionária 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

1ª Etapa

do Programa

de São Paulo

3,37 4,50 4,50 5,68 6,12 7,64 8,93 9,69 10,04 10,61 12,02 12,50 12,70 13,65 14,26 14,27 15,06

AutoBAn 4,11 4,21 4,75 6,84 7,41 9,18 10,45 11,46 11,40 11,90 13,23 13,74 14,28 15,70 16,33 16,33 17,22

TEBE 3,59 3,91 4,49 5,00 5,19 6,48 7,44 8,14 8,14 8,46 9,49 9,87 10,26 11,35 11,99 11,99 12,57

Vianorte 4,86 3,93 4,73 5,28 5,66 6,97 7,99 8,71 8,71 9,81 10,91 11,33 11,77 12,89 13,44 13,44 14,20

Intervias - - 2,93 4,79 5,00 6,36 7,32 8,01 8,07 8,44 9,48 9,80 10,17 11,26 11,76 11,76 12,32

Centrovias - 6,00 6,88 8,02 8,48 10,59 12,10 13,16 13,06 13,61 18,38 18,93 18,00 14,26 14,85 14,85 15,86

Triângulo do Sol - 4,18 4,79 5,34 5,59 6,97 7,98 9,38 9,38 10,00 11,17 11,71 12,19 13,43 13,98 13,98 14,79

Autovias - 3,32 3,79 4,23 4,74 5,88 6,70 8,37 8,37 8,69 9,70 10,05 10,46 11,50 11,97 11,97 12,61

Renovias 0,81 5,24 5,87 6,68 6,94 8,30 10,15 8,45 8,77 9,17 10,21 10,59 10,99 12,14 12,70 12,70 13,63

ViaOeste 2,48 4,07 5,31 8,02 8,72 10,79 12,32 13,50 12,26 13,03 14,62 15,50 12,11 13,29 13,85 13,85 14,74

Colinas - - 3,97 5,14 5,41 6,71 7,68 8,37 12,99 14,07 15,66 16,28 16,92 18,66 19,57 19,57 20,64

SPVias - - 2,79 4,30 4,52 6,79 8,65 9,48 9,42 9,87 10,96 11,36 11,81 13,05 13,61 13,69 14,37

Ecovias 5,71 6,28 7,12 7,86 10,35 10,57 12,10 13,23 13,12 13,79 15,26 15,89 16,51 18,09 19,05 19,05 19,79

2ª Etapa

do Programa

de São Paulo

- - - - - - - - - - - - 8,93 9,68 10,16 10,18 10,99

Rota das Bandeiras - - - - - - - - - - - 10,66 11,83 12,70 13,32 13,32 14,07

CART - - - - - - - - - - - 8,96 9,40 10,05 10,48 10,56 11,90

ViaRondon - - - - - - - - - - - - 6,61 7,08 7,46 7,46 7,87

Rodovias do Tietê - - - - - - - - - - - 7,88 8,25 8,89 9,33 9,33 9,83

Ecopistas - - - - - - - - - - - - 6,49 6,89 7,27 7,27 7,71

Rodoanel Oeste - - - - - - - - - - 24,38 26,41 27,42 28,44 30,47 30,47 32,50

SPMar - - - - - - - - - - - - - 15,66 16,28 16,28 19,73

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d).

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144

Quadro 20 - Investimentos privados por concessionária - Programa Federal (1996-2014) - R$ 1.000 correntes

Concessionária 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

1ª Etapa do

Programa

Federal

681.122 742.038 1.125.680 700.694 501.970 462.698 250.103 130.316 187.077 260.277 306.796 267.304 222.746 141.556 309.668 378.188 234.799 334.466 444.009

Ponte 38.310 29.786 19.824 16.333 50.126 22.599 10.662 13.326 10.928 29.038 18.994 34.439 9.787 11.514 27.447 11.942 6.756 26.773 35.327

NovaDutra 511.024 494.308 714.059 410.232 167.123 180.722 98.707 62.550 69.735 63.657 108.614 112.275 131.157 52.992 199.235 225.968 91.762 79.459 138.173

Concer 131.789 74.150 233.881 187.748 137.508 77.104 52.138 2.176 46.100 94.245 93.040 45.659 14.184 3.357 21.572 39.085 16.079 126.558 198.496

CRT - 57.910 23.614 28.021 55.712 48.695 32.901 20.562 22.688 31.990 29.225 15.365 32.079 12.138 19.694 47.289 51.863 33.680 23.999

Concepa - 85.884 112.854 58.361 64.201 83.828 42.564 19.523 23.982 23.099 43.659 43.632 26.593 30.422 21.731 19.399 41.803 27.931 12.626

Ecosul - - 21.448 - 27.301 49.750 13.130 12.179 13.644 18.248 13.264 15.935 8.946 31.134 19.989 34.505 26.536 40.065 35.388

2ª Etapa - Fase I

do Programa

Federal

- - - - - - - - - - - - - 1.063.817 663.756 656.627 981.972 1.134.102 1.523.801

Régis Bittencourt - - - - - - - - - - - - - 219.159 183.060 185.800 307.386 290.953 394.501

Fernão Dias - - - - - - - - - - - - - 219.247 132.440 142.840 206.726 188.617 180.168

Litoral Sul - - - - - - - - - - - - - 142.954 136.127 122.008 180.371 263.918 528.485

Fluminense - - - - - - - - - - - - - 91.889 87.408 72.433 106.113 133.664 225.118

Transbrasiliana - - - - - - - - - - - - - 166.303 18.612 28.102 25.096 88.297 47.810

Planalto Sul - - - - - - - - - - - - - 139.505 75.946 76.570 107.513 120.858 81.130

Rodovia do Aço - - - - - - - - - - - - - 84.761 30.162 28.875 48.767 47.795 66.590

2ª Etapa - Fase II

do Programa

Federal

- - - - - - - - - - - - - - 137.594 113.881 135.482 446.751 534.239

ViaBahia - - - - - - - - - - - - - - 137.594 113.881 135.482 446.751 534.239

Fonte: Elaboração própria a partir de informações obtidas junto à ANTT pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

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145

Quadro 21 - Investimentos privados por concessionária - Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ 1.000 correntes

Concessionária 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

1ª Etapa

do Programa

de São Paulo

203.061 492.951 1.299.397 1.210.276 955.534 671.381 699.417 938.304 1.007.058 990.783 1.145.246 1.061.419 1.151.061 877.179 957.884 1.210.733 1.327.543

AutoBAn 57.451 136.095 356.245 314.141 107.797 67.311 67.297 106.504 127.088 235.216 281.814 266.224 445.166 230.735 252.242 393.417 256.970

TEBE 11.306 5.533 6.147 8.284 13.014 894 8.510 6.247 18.887 15.992 21.351 15.197 26.786 13.435 16.609 17.262 27.887

Vianorte 13.796 15.238 60.648 42.587 32.409 44.928 45.924 77.805 71.548 58.208 54.332 31.569 44.987 45.465 67.269 35.985 47.263

Intervias - - 50.205 82.465 76.122 66.685 48.755 123.925 57.075 39.866 53.123 42.473 62.290 53.533 28.648 33.500 62.597

Centrovias 11.935 22.532 75.779 70.655 20.242 25.234 42.297 59.339 103.385 97.048 54.364 34.878 60.636 41.312 49.146 33.490 60.745

Triângulo do Sol 12.371 42.296 69.863 49.101 56.704 45.008 42.277 46.909 61.797 113.028 100.942 58.863 54.298 32.903 49.090 44.693 44.416

Autovias 1.538 25.640 69.585 77.041 71.453 82.930 85.792 55.836 38.584 53.472 38.459 37.512 31.444 35.107 58.331 62.714 86.347

Renovias 15.088 47.743 62.644 59.770 31.523 31.908 40.278 47.073 69.783 68.337 54.479 86.498 48.936 57.214 94.951 48.992 26.917

ViaOeste 56.622 106.006 205.147 114.831 32.196 77.499 81.973 88.339 163.661 90.645 59.004 231.477 141.100 102.509 56.603 42.486 61.299

Colinas - - 39.063 42.196 70.647 70.844 103.895 211.791 152.937 56.337 98.440 40.110 72.546 114.179 99.609 64.896 94.884

SPVias - - 52.815 60.816 73.408 100.326 95.877 54.340 52.577 59.190 136.904 108.291 65.008 27.986 93.127 143.393 225.464

Ecovias 22.954 91.868 251.256 288.389 370.019 57.814 36.542 60.196 89.736 103.444 192.034 108.327 97.864 122.801 92.259 289.905 332.754

2ª Etapa

do Programa

de São Paulo

- - - - - - - - - - 93.756 590.448 859.952 902.160 1.377.463 3.021.235 1.795.328

Rota das Bandeiras - - - - - - - - - - - 117.446 343.328 181.518 150.603 391.737 348.068

CART - - - - - - - - - - - 272.179 254.193 269.799 210.714 309.874 457.754

ViaRondon - - - - - - - - - - - 49.143 44.991 105.189 72.881 106.404 68.120

Rodovias do Tietê - - - - - - - - - - - 59.679 42.090 85.540 115.699 145.218 134.766

Ecopistas - - - - - - - - - - - 32.524 100.646 85.829 120.859 182.789 139.623

Rodoanel Oeste - - - - - - - - - - 93.756 59.477 74.704 62.576 45.420 32.961 29.244

SPMar - - - - - - - - - - - - - 111.709 661.287 1.852.252 617.753

Fonte: Elaboração própria a partir de informações obtidas junto à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

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146

Quadro 22 - Volumes de tráfego por concessionária - Programa Federal (2002-2012) - veículos equivalentes (VE)

Concessionária 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

1ª Etapa do

Programa

Federal

195.833.540 194.330.249 207.294.645 174.400.498 176.843.981 219.119.263 237.390.589 238.862.017 275.978.931 301.488.834 308.883.419

Ponte 26.798.302 26.402.322 26.662.690 26.641.816 26.340.931 27.011.506 28.094.945 28.379.521 28.838.251 29.803.607 30.411.995

NovaDutra 107.603.597 106.185.493 115.283.816 82.893.784 84.177.558 119.849.451 131.910.880 131.224.052 162.371.897 177.537.947 178.922.255

Concer 19.028.199 18.398.996 18.864.888 19.535.695 19.264.663 21.421.349 22.454.239 24.540.227 25.256.383 29.450.407 31.242.699

CRT 11.438.209 11.613.084 12.596.512 12.544.620 12.836.726 13.120.646 14.712.311 13.923.382 13.969.226 14.850.610 15.710.812

Concepa 20.746.748 20.730.958 21.879.549 21.697.864 22.726.661 24.308.968 26.433.198 26.744.090 29.926.201 32.426.988 35.024.050

Ecosul 10.218.485 10.999.396 12.007.190 11.086.719 11.497.442 13.407.343 13.785.016 14.050.745 15.616.973 17.419.275 17.571.608

2ª Etapa - Fase I

do Programa

Federal

- - - - - - - 283.477.532 369.472.230 525.519.303 546.740.735

Régis Bittencourt - - - - - - - 98.368.954 136.157.072 143.735.722 146.005.958

Fernão Dias - - - - - - - 84.908.578 121.721.190 152.774.246 160.647.610

Litoral Sul - - - - - - - 18.861.806 3.542.740 114.733.164 122.462.642

Fluminense - - - - - - - 26.938.444 42.032.156 46.025.778 48.167.271

Transbrasiliana - - - - - - - 21.433.767 22.865.098 24.587.572 26.739.615

Planalto Sul - - - - - - - 22.188.447 25.946.951 27.122.409 27.055.450

Rodovia do Aço - - - - - - - 10.777.536 17.207.023 16.540.412 15.662.189

2ª Etapa - Fase II

do Programa

Federal

- - - - - - - - - 87.555.138 110.829.319

ViaBahia - - - - - - - - - 87.555.138,00 110.829.319,00

Fonte: Elaboração própria a partir de dados retirados de Lana (2014, p. 102).

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147

Quadro 23 - Volumes de tráfego por concessionária - Programa de São Paulo (2002-2012) - veículos equivalentes (VE)

Concessionária 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

1ª Etapa

do Programa

de São Paulo

262.180.640 256.631.118 285.397.034 323.510.977 333.873.973 361.237.110 386.605.240 396.670.350 487.440.553 524.765.413 544.064.298

AutoBAn 60.793.125 60.681.561 81.351.355 108.388.862 110.629.154 118.969.000 127.636.369 129.568.869 143.453.374 150.628.028 156.000.899

TEBE 3.372.646 3.304.311 3.442.694 3.697.133 3.673.718 3.898.117 4.276.142 4.309.126 4.597.057 4.834.697 5.068.845

Vianorte 13.767.874 13.981.070 14.252.196 14.598.792 15.265.369 16.022.749 17.322.840 17.256.592 18.677.112 19.609.636 20.438.029

Intervias 23.824.580 22.991.081 23.949.354 24.525.023 24.557.369 26.332.921 27.871.865 28.245.484 30.709.034 31.731.257 32.904.639

Centrovias 9.628.048 9.492.960 10.138.428 10.420.082 10.541.173 11.385.577 12.157.488 12.394.049 15.695.390 25.324.062 26.614.840

Triângulo do Sol 13.169.423 12.652.653 13.256.804 13.661.049 14.015.544 15.375.415 16.576.105 16.695.149 18.040.974 19.078.629 20.339.852

Autovias 11.163.039 10.810.529 11.070.085 11.332.147 11.656.007 16.241.418 20.371.856 20.584.850 22.585.571 23.137.409 23.982.955

Renovias 16.942.230 15.977.552 17.850.643 23.274.649 24.350.147 25.768.755 27.285.268 27.620.257 29.616.161 30.875.046 32.001.998

ViaOeste 40.363.061 38.818.662 39.821.115 41.653.568 45.528.694 48.566.947 52.241.723 53.863.349 110.891.419 121.131.131 123.512.364

Colinas 22.877.961 21.852.768 21.586.538 22.344.619 23.568.480 25.517.233 25.545.930 29.173.668 32.280.393 34.017.486 35.744.572

SPVias 17.460.905 17.237.297 19.456.154 19.766.010 19.524.740 21.099.882 22.536.234 23.204.339 24.913.714 25.788.806 27.269.143

Ecovias 28.817.748 28.830.674 29.221.668 29.849.043 30.563.578 32.059.096 32.783.420 33.754.618 35.980.354 38.609.226 40.186.162

2ª Etapa

do Programa

de São Paulo

- - - - - - - 105.567.384 238.975.077 260.645.360 269.314.958

Rota das Bandeiras - - - - - - - 11.048.801 42.079.945 47.050.372 49.526.197

CART - - - - - - - 2.938.252 20.746.153 21.745.199 23.009.127

ViaRondon - - - - - - - 3.272.016 19.500.529 21.102.488 22.312.244

Rodovias do Tietê - - - - - - - 4.168.031 25.040.993 25.599.775 26.223.037

Ecopistas - - - - - - - 12.798.841 54.151.533 62.901.450 64.524.390

Rodoanel Oeste - - - - - - - 71.341.443 77.455.924 82.246.076 83.719.963

SPMar - - - - - - - n.d. n.d. n.d. n.d.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados retirados de Lana (2014, p. 102).

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148

APÊNDICE D - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária

Quadro 24 - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária - Programa Federal (2014) - R$ 1.000 correntes

Concessionária Receita de

Pedágio

Receita

Líquida

Lucro

Líquido

Lucro

Bruto

Capital

Social

Patrimônio

Líquido

1ª Etapa do

Programa

Federal

2.205.378 2.889.904 437.588 1.039.934 697.035 1.105.318

Ponte 154.431 150.520 23.856 58.860 36.953 47.587

NovaDutra 1.150.439 1.287.233 213.344 489.032 377.694 442.781

Concer 249.588 641.411 40.071 134.053 96.163 314.425

CRT 201.519 213.250 49.197 118.438 72.470 156.347

Concepa 267.479 388.551 55.493 126.409 96.000 117.240

Ecosul 181.922 208.939 55.627 113.142 17.755 26.938

2ª Etapa - Fase I

do Programa

Federal

1.187.108 2.924.630 -22.089 398.509 1.759.610 1.980.290

Régis Bittencourt 267.148 681.165 17.953 103.601 358.785 519.178

Fernão Dias 247.025 486.973 -15.472 69.071 338.001 315.293

Litoral Sul 217.684 621.570 -216 83.949 303.996 341.759

Fluminense 165.004 483.753 11.221 65.840 224.289 285.494

Transbrasiliana 96.640 180.937 -15.070 22.798 124.621 125.559

Planalto Sul 115.028 302.810 -8.150 30.481 247.818 228.386

Rodovia do Aço 78.579 167.422 -12.355 22.769 162.100 164.621

2ª Etapa - Fase II

do Programa

Federal

232.367 666.126 31.985 119.893 369.781 398.591

ViaBahia 232.367 666.126 31.985 119.893 369.781 398.591

Fonte: Elaboração própria a partir de informações das demonstrações financeiras das concessionárias referentes aos exercícios findos em 2014.

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149

Quadro 25 - Receitas, lucros e patrimônios por concessionária - Programa de São Paulo (2014) - R$ 1.000 correntes

Concessionária Receita de

Pedágio

Receita

Líquida

Lucro

Líquido

Lucro

Bruto

Capital

Social

Patrimônio

Líquido

1ª Etapa

do Programa

de São Paulo

7.099.432 7.596.038 2.234.278 4.365.545 1.712.106 3.214.322

AutoBAn 1.941.117 2.027.356 669.376 1.304.612 246.750 586.785

TEBE 70.784 91.372 17.768 38.107 25.002 52.281

Vianorte 320.695 319.473 96.075 176.787 107.543 170.760

Intervias 385.596 401.525 142.876 259.461 108.152 198.975

Centrovias 370.838 347.702 120.223 215.472 75.819 147.612

Triângulo do Sol 457.114 422.696 168.140 270.382 71.000 211.305

Autovias 342.833 373.161 99.861 181.298 117.655 190.949

Renovias 369.149 346.958 121.003 220.252 75.000 194.851

ViaOeste 927.911 930.196 285.047 580.628 139.763 231.090

Colinas 493.201 492.558 174.187 303.568 226.145 388.299

SPVias 559.066 714.927 88.845 287.791 205.225 461.719

Ecovias 861.128 1.128.114 250.877 527.187 314.052 379.696

2ª Etapa

do Programa

de São Paulo

1.856.300 3.496.254 -322.180 900.461 4.330.874 3.188.144

Rota das Bandeiras 558.142 853.100 42.097 379.067 556.799 798.201

CART 263.483 658.140 -80.206 80.509 745.000 461.181

ViaRondon 191.644 240.468 4.489 81.170 225.811 249.433

Rodovias do Tietê 203.452 338.577 -45.022 97.914 248.578 143.198

Ecopistas 244.457 358.402 7.376 120.623 309.725 376.229

Rodoanel Oeste 220.289 222.715 -156.389 60.256 835.700 -95.223

SPMar 174.833 824.852 -94.525 80.922 1.409.261 1.255.125

Fonte: Elaboração própria a partir de informações das demonstrações financeiras das concessionárias referentes aos exercícios findos em 2014.

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150

APÊNDICE E - Gráficos para a relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento das etapas de concessões

Gráfico 16 - Relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento da 1ª Etapa do Programa Federal (1996-2014) - R$ 1.000 de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b) e

informações obtidas junto à ANTT pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

Gráfico 17 - Relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento da 2ª Etapa do Programa Federal (2009-2014) - R$ 1.000 de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de ANTT (2016a; 2016b) e

informações obtidas junto à ANTT pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

04080

120160200240280320360400440480520560600640680

R$ 1

.000 d

e 2

014

Concessão típica Ponte Ecosul Federal (1a Etapa)

0

40

80

120

160

200

240

280

320

360

R$ 1

.000 d

e 2

014

Maior tráfego Menor tráfego Federal (2a Etapa - Fase I) ViaBahia

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Gráfico 18 - Relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento da 1ª Etapa do Programa de São Paulo (1998-2014) - R$ 1.000 de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d) e

informações obtidas junto à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

Gráfico 19 - Relação investimentos por km / tarifas médias,

por agrupamento da 2ª Etapa do Programa de São Paulo (2008-2014) - R$ 1.000 de 2014

Fonte: Elaboração própria a partir de informações de Artesp (2016d) e

informações obtidas junto à Artesp pelo Serviço de Informação ao Cidadão.

0

40

80

120

160

200

240

R$ 1

.000 d

e 2

014

Maior tráfego Menor tráfego São Paulo (1a Etapa)

080

160240320400480560640720800880960

104011201200

R$ 1

.0000 d

e 2

014

Concessão típica Rodoanel Ecopistas São Paulo (2a Etapa)