schapochnik. como se escreve a história?

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Como se escreve a história?" Nelson Schapochnik "Um homem se propõe à tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto." Jorge Luís Borges, Epílogo. Reunidos em torno do Instituto Histórico, os homens de letras passaram a imprimir um ritmo de trabalho intenso visando satisfazer as prioridades estabelecidaas pelo estatuto: a coleta e organização das fontes documentais e o incentivo aos estudos de natureza histórica nas insti- tuições educacionais. No entanto, o exame da RIHGB deixa entrever que essas preo- cupações iniciais passaram a ser sobrepujadas pela publicação de trabalhos inéditos sobre a história, geografia e etnologia que corresponderam à definição e tematização dos problemas que doravante norteariam a pro- dução dos homens de letras. Desta maneira, começa-se a conformar uma perspectiva histórica que 'girava em torno de dois fatos fatais (o des- cobrimento e a independência), da tentativa de contribuir para a definição do território nacional através das pesquisas dobre os limites e ocupação do país e, finalmente, dos estudos sobre os diversos grupos indígenas.1 Conforme praxe da instituição, cabia ao Secretário do Instituto Histórico a exposição do relatório dos trabalhos empreendidos pelos sócios naquele ano. Além de mencionar os programas discutidos, as obras e correspondências recebidas, as menções e. prémios distribuídos, Januário da Cunha Barbosa reiterava o papel da instituição na construção de * Este artigo é uma adaptação de um dos capítulos da dissertação de mestrado Letras de fundação: Varnhagen e Alencar projetos de narrativa instituinte, na área de História Social da FFLCH-USP, orientado pelo Prof. Dr. Nicolau Sevcenko e apresentada em novembro de 1992. ** UNESP Franca. 1 Cf. POPPINO, R.E. "A Century of the Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro", in The Hispanic American Historical Review v.33 2 (1953), pp. 303-323. j Rev. Brás, de Hist. j S. Paulo [v. 13, 25/261 pp. 67-80 | set. 92/ago. 93 ] 67

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Resumo: No séc XIX, a partir do IHGB, letrados iniciaram coleta e organização das fontes documentais, que viabilizassem o projeto mas amplo da fundação de uma história nacional. O artigo discute como esses homens de letras, além do trabalho documental, dedicaram-se à produção historiográfica, ressentindo-se da ausência de um padrão explicativo, mas apontando pluralidade de formas que assumiria a escrita da história.

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  • Como se escreve a histria?"

    Nelson Schapochnik

    "Um homem se prope tarefa de esboar o mundo. Aolongo dos anos povoa um espao com imagens deprovncias, de reinos, de montanhas, de baas, de naves, deilhas, de peixes, de habitaes, de instrumentos de astros,de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobreque esse paciente labirinto de linhas traa a imagem deseu rosto."

    Jorge Lus Borges, Eplogo.

    Reunidos em torno do Instituto Histrico, os homens de letraspassaram a imprimir um ritmo de trabalho intenso visando satisfazer asprioridades estabelecidaas pelo estatuto: a coleta e organizao das fontesdocumentais e o incentivo aos estudos de natureza histrica nas insti-tuies educacionais.

    No entanto, o exame da RIHGB deixa entrever que essas preo-cupaes iniciais passaram a ser sobrepujadas pela publicao de trabalhosinditos sobre a histria, geografia e etnologia que corresponderam definio e tematizao dos problemas que doravante norteariam a pro-duo dos homens de letras. Desta maneira, comea-se a conformar umaperspectiva histrica que 'girava em torno de dois fatos fatais (o des-cobrimento e a independncia), da tentativa de contribuir para a definiodo territrio nacional atravs das pesquisas dobre os limites e ocupaodo pas e, finalmente, dos estudos sobre os diversos grupos indgenas.1

    Conforme praxe da instituio, cabia ao Secretrio do InstitutoHistrico a exposio do relatrio dos trabalhos empreendidos pelosscios naquele ano. Alm de mencionar os programas discutidos, as obrase correspondncias recebidas, as menes e. prmios distribudos, Janurioda Cunha Barbosa reiterava o papel da instituio na construo de

    * Este artigo uma adaptao de um dos captulos da dissertao de mestrado Letrasde fundao: Varnhagen e Alencar projetos de narrativa instituinte, na rea deHistria Social da FFLCH-USP, orientado pelo Prof. Dr. Nicolau Sevcenko eapresentada em novembro de 1992.** UNESP Franca.1 Cf. POPPINO, R.E. "A Century of the Revista do Instituto Histrico eGeogrfico Brasileiro", in The Hispanic American Historical Review v.33 n 2(1953), pp. 303-323.

    j Rev. Brs, de Hist. j S. Paulo [v. 13, n 25/261 pp. 67-80 | set. 92/ago. 93 ]

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  • instrumentos positivos (colees, arquivos e cdices), que viabilizassemo projeto mais amplo de fundao de uma histria nacional. O tom eufmoem relao aos resultados mais imediatos do trabalho de levantami-niodocumental e sistematizao das fontes era no entanto arrefecido pi-l.iconstatao de que, embora:

    "Muitas pennas, alis illustres, tem escripto memoiias.annaes e relatrios das cousas do Brasil... podemos d i / i - i .senhores, que ainda nos falta uma histria bem organisada,que apresente ao conhecimento dos nossos e dos estranhosum quadro fiel de pouco mais de trs sculos, em que seveja a marcha dos nossos sucessos relacionados entre sidesde a descoberta d'esta parte do novo mundo".2

    De qualquer maneira, seria importante lembrar que, mesmo oshomens de letras ressentindo-se da carncia de um modelo orgnico quefosse capaz de dar conta da "marcha dos nossos sucessos relacionadosentre si", j se assinalava a presena de uma pluralidade de formas queassumiria a escrita da histria. Sem nenhuma tradio interna a que se f i l i a ie tampouco sem uma definio clara de um padro explicativo que resultasse em uma "histria bem organizada", os membros do Instituto Hisiorico experimentaram modalidades distintas de interveno sob a forma derelatrios, anais e memrias.

    A nfase na necessidade de uma abordagem histrica totalizantc,capaz de fornecer uma coerncia para a "histria nacional", tambm seconstituiu na tnica do artigo de um dos colaboradores do perodoMinerva Brasiliense. Ainda que os relatos episdicos pudessem fornecerinformaes especficas e circunscritas a um determinado tempo e espao,eles no asseguravam a produo de um sentido para a histria, pois nocontavam com "a fora de um lao moral, o nexo da nacionalidade".Diante deste quadro, conclua o autor:

    "Uma histria geral e completa do Brasil resta a compor, cse at aqui nem nos era permitido a esperana de que tocedo fosse satisfeito este desideratum, hoje assim noacontece, depois da fundao do Intitulo Histrico, cujasimportantssimas pesquisas no nosso passado deixamesperar que esta ilustre corporao se d tarefa de

    2 BARBOSA, J. C. "Relatrio dos trabalhos do Instituto durante o quarto anosocial", in R1HGB. t. IV (1842), p. 5.

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    escrever a histria nacional, resultado final, para que devemconvergir todos os seus trabalhos".3

    Convm notar que a referncia ao Instituto Histrico como o"locus" privilegiado para a fundao de saberes sobre o Brasil no parecefortuita. Ao reordenar o passado em funo do presente, o debate sobrea histria do Brasil nascia com um imperativo poltico: a construo deuma "memria nacional". Todavia, um problema persistia: como se deveriaescrever a "histria geral e completa do Brasil"?

    Mesclando a compilao de textos impressos e de manuscritos sinferncias arriscadas, o gnero "sinopse histrica" passa a ser con-siderado uma alternativa momentnea para a ausncia de trabahos maisslidos. Assim se expressava Jos da Cunha Matos, autor das pocasbrasileiras ou Sumrio dos acontecimentos mais notveis do Imprio doBrasil (1839):

    "No Brasil existem impressos alguns escriptos de homenslaboriosos que nos apresentam a marcha sucessora da civi-lizao da Terra de Santa Cruz; eu tenho-me aproveitado dofruto dos trabalhos destes dignos vares, e por isso desejoajuntar em um s quadro, posto que imperfeito, aquilo queeles nos oferecem em diversas obras cuja aquisio emcertos casos impossvel, e em todos mui dispendiosa".4

    Expresso mais acabada da tentativa de reverter aquele quadro dedisperso documental e de oferecer aos leitores um panorama da "marchada civilizao", as "sinopses histricas" procuravam registrar, na conti-guidade temporal, a sucesso dos eventos como um processo finito ecompreensvel. A adoo desta forma de relato parecia satisfazer umadupla expectativa: por um lado, ela forjava uma ideia de processo histricolinear atravs da demarcao de motivos iniciais e conclusivos e, por outrolado, ela se oferecia como um relato dos fatos que aconteceram em mo-mentos pontuais, sem qualquer interveno do locutor. Sendo assim, asinopse histrica pode ser vista como a forma pura daquele tipo deenunciao lingustica denominado por Emile Benveniste de "histoire",que se caracterizaria pela anulao do narrador, dando a impresso dosacontecimentos falarem por si prprios.5

    3 T. "Obras de Histria e Geografia", in Minerva brasiliense v. l n 2 (1843), p.53.4 MATTOS, R. J. C. "pocas Brasileiras ou Simrio dos acontecimentos maisnotveis do Imprio do Brasil", in RIHGB n" 302 (1974), pp. 218-351.6 BENVENISTE, E. "As relaes de tempo no verbo francs", in Problemas delingustica geral. S. Paulo, Nacional, 1976, pp. 260-276.

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  • Publicado em 1843, o Compndio da Histria do Brasil, de JosIgncio de Abreu e Lima tambm fruto desta experimentao inicial queprocurava aliar o limitado equipamento erudito ao projeto de fundao deuma histria nacional. Em linhas gerais, esta obra no difere da primeira:trata-se de uma compilao ordenada cronologicamente. Sua pecularidaderesidia na introduo de cortes ou periodizaes, pois "...tudo quantoexistia escrito acerca do Brasil era sem mtodo nem plano algum histrico.Era um monto de fatos atirados ao acaso, sem discriminao de pocasnem de perodos".^ Apesar de no explicitada, o tipo de explicao for-necida pelas "sinopses" repousava numa lgica em que de o antes expli-caria o depois. O arranjo dos "dados" considerados nicos, no compa-rveis ou at mesmo pouco homogneos entre si numa srie cronolgicafechada, passaria a conformar sua estratgia explicativa.

    O autor do Compndio tambm compartilha a noo de que aescrita da histria requeria a anulao do narrador de maneira a dar a ilusodos fatos falaram por si mesmos. Para ser fiel verdadeira imagem dopassado, ele preconizava um "estylo" ambguo que:

    "...no um defeito, como se poderia suppr, mas topouco filha da arte; pois que, como j disse muito poucoh da prpria redaco; extractando ou copiando, conserveimuito de propsito o estylo dos auctores, de que me servi,alterando poucas vezes uma ou outra palavra, uma ou outraphrase".7

    A periodizao empregada por Abreu e Lima, fortemente determi-nada por eventos poltico-administrativos, desdobrava-se em oito "po-cas", que cobririam o perodo de 1500 a 1842, a saber: "1) Descobrimento(as primeiras exploraes, estado fsico do pas); 2) Colonizao; 3)Transio para o domnio estrangeiro; 4) Volta ao domnio ptrio. Guerrados holandeses; 5) Estado da colnia, melhoramentos, administraointerna; 6) Estabelecimento da Corte no Brasil, administrao de el-rei; 7)Independncia, administrao do Primeiro Imprio; 8) Menoridade.Administrao da Regncia, a Maioridade". O estabelecimento dessas"pocas" se tornava possvel atravs da seleo e hierarquizao dealguns fatos, que seriam convertidos em centros explicadores de uma sub-srie em torno da qual todo um conjunto de acontecimentos passa a serreferido. Fixando as recordaes atravs da delimitao de uma origem e

    6 LIMA, J. I. A. "Carta do Sr. Jos Igncio de Abreu e Lima a Janurio da CunhaBarbosa lida na sesso de 14.09.1843", in R1HGB t. V (1843), p. 370.7 Idem. Compndio da historia do Brasil, 2 vols. R. Janeiro, Eduardo e HenriqueLaemmert , 1843, s/p.

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    de um fim, o gnero "sinopse histrica" se afastava das "crnicas" namedida em que os acontecimentos passariam a funcionar como elementosde um enredo. Integrados numa trama, os acontecimentos at entoprivados de sentido adquiriam significao pela sua posio na narrativa.8

    Incumbido pelo Instituto Histrico de elaborar um juzo sobre oCompndio, Varnhagen aponta para uma srie de imprecises, que voda incorreo gramatical ao no-estabelecimento preciso de datas, deacusao de plagirio de Beauchamp e Southey falta de um trabalho deinvestigao e crtica das fontes. Para Varnhagen, o "gnero" sinopsehistrica no era compatvel com o estado da pesquisa histrica no Brasilnem era a forma apropriada para o projeto de uma histria nacional etampouco estava altura de Abreu e Lima, pois "...um compndio , emqualquer sciencia ou arte, o livro mais difcil de escrever, e que maispertence aos abalisados grandes mestres."9 Descartada a obra enquantomodelo e desqualificado o autor, Varnhagen depositava suas esperanasno futuro:

    "Mas no nos illudamos... muito documento, muitapreciosidade de alto quilate para a histria do Brasil hamanuscripta, que ns conhecemos, que possumos e de quecontinuamos a fazer colleco, para, se Deus nos ajudar comvida, e nos der meio intellectuaes, emprehender-mos para onosso pais o melhor servio, que hoje imaginamos possvelde lhe fazer - o substituir-lhe na literatura, e portanto nasprprias ideas, um passado assente e seguro de recordaessolidas..."10

    A argumentao de Varnhagem sinaliza uma dupla carncia: aprecariedade do trabalho de coleta e armazenamento das fontes, por umlado, e a necessidade da definio de um padro de escrita da histriaque a afastasse do campo das belas-letras atravs da utilizao de umaparato crtico capaz de reconstruir o passado com base em "recordaesslidas".

    De acordo com os preceitos expostos por J.M. Pereira da Silva naspginas de Nitheroy, os homens de letras deveriam renunciar a uma

    8 Cf. WHITE, H. "A potica da histria", in Metahistria. A imaginao histricas sculo XIX. S. Paulo, EDUSP, 1992, pp. 21-23; sobre a distino entre"crnica" e "narrativa", veja do mesmo autor: "The historical text as literaryartifact", in Tropics of discoursg.. Baltimore, The Johns Hopkins University Press,1978, pp. 81-100 (esp. pp. 91-93)9 VARNHAGEN, F. A. "Primeiro juzo", in RIGHB t. VI (1844). p. 66.10 Idem, ibidem, p. 75.

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  • compreenso da histria enquanto "uma simples exposio de factos semcritrio". Embora ainda considerasse a histria um gnero literrio,compartilhado pela filosofia, eloquncia e poesia, o autor vislumbrava duasalternativas que poderiam ser utilizadas na escrita da histria:

    "O nosso sculo considera a histria de duas maneiras, ouparticular ou universal. A primeira consiste em escrever,segundo os grandes modelos, os acontecimentos, com todaa verdade, e crtica, em marcar cada povo seu typnpeculiar, a marcha da civilizao, o estado da indstria, c- oavanamento e progresso das naoens. A esta escolapertencem Thierry, Lingard, Sismondi e Muller, historiadoresmodernos. A segunda maneira de considerar a historia, philosphica e ideal. Giambatista Vio no sculo passadoestabelece leis universais da humanidade, eleva-se darepresentao ideia, dos phenomenos essncia,attendendo ao principio da natureza idntica em todas asnaoens, forma uma historia abstraia, no pertencendo anenhuma; Herder e Hegel continuam no nosso sculo estatarefa, e consideram a humanidade, como sendo o que podiaser, e nada seno o que ela podia ser."1

    A distino, apontada por Pereira da Silva, entre a "histriaparticular" e a "histria universal" punha em cena o debate travado entredois padres historiogrficos, respectivamente a histria narrativa c ahistria-filosfica.

    No seu contexto iluminista de origem, a histria que se auto-denominava "filosfica" representava uma tentativa de fundar um discursosobre a histria com base em um raciocnio apriorstico fornecido pelaRazo. A histria-filosfica "...no era composta pelo acmulo de fatos,nem dependia apenas de um tipo de ordenao, nem dizia respeito a umamaior ou menor amplitude na abordagem de diferentes povos ccivilizaes, no consistia na comparao dos costumes dos povos, nobuscava apenas as causas das instituies que existiram; a filosofia dahistria buscava e afirmava um sentido para o devir".12

    11 SILVA, J. M. P. "Estudos sobre a litteratura", in Nitheroy t. I (1836), pp241-242.12 TERRA, R.R. "Algumas questes sobre a filosofia da histria em Kant", in I.Kant, Ideia de uma histria universal de um ponto de vista cosmopolita. S. Paulo,Brasiliense, 1986, p. 58. Ainda sobre a "weltgeschichte", veja ARANTES, P. E"Nota sobre a crtica da filosofia da histria", in Almanaque n" 3 (1977), pp.53-62; RAGIONIERI, E. La polemica su Ia weltgeschichte. Roma, Edizioni diStoria e Letteratura, 1951.

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    Por sua vez, a histria-narrativa se constitua em uma poderosarstialgia mimtica capaz de ressucitar a realidade do passado, de faz-lo.u essvel atravs da percepo direta das fontes. Seu "mtodo histrico"i onsistia numa disposio de ir aos arquivos e bibliotecas, despojado dequalquer preconceito, ler os documentos, selecion-los atravs da crticain te rna e externa e, em seguida, compor um relato sobre os acontecimentosatestados pelos documentos de modo a fazer da prpria narrativa a expli- aco "do que tinha acontecido" no passado. 13

    Aparentemente incompatveis entre si em virtude dos problemas de< > i < lem epistemolgica, estas duas modalidades de escrita da histria sea j u s t a v a m perfeitamente aos propsitos do Instituto Histrico de traar al i tograf ia da Nao. No entanto, conforme exps Manoel L. Salgado Guima-riles, "...como conciliar o ideal iluminista supranacional da repblica daslei i as com a necessidade de fundamentar historicamente um projeto nacio-n a l , construindo seus mitos e representaes, porm dando-lhes um esta-t u i o de objetividade e evidncia fundados na prpria histria?".14 A escritad.i h i s t r i a era naquele momento indissocivel da ao poltica, suafuncionalidade era concebida como propedutica ao poder em vias deilelmio. A histria no era apenas o registro fiel do passado, ela eraj i a i t e da construo do futuro. Portanto, o historiador, longe de ser umi i i t - i o erudito, era, na notvel definio de Friedrich Schlegel, "um profetavol tado para o passado".15

    O ritmo vagaroso das comisses encarregadas do levantamentodm umcn ta l , a precariedade do estado de conservao das fontes e odesaparecimento de muitos originais pareciam refrear a efetivao dojno je io de se escrever a "histria ptria". Diante de tal quadro, afirmavaum scio do Intitulo Histrico, "...por ora no convm, nem possvelescrever de um s jacto a histria geral do imprio do Brasil, que seja( h ) ' i i a d 'elle e faa honra aos membros d'este Instilulo, que de lal larefaIni i iverem de ser encarregados".16 Esles obstculos momentaneamenteiiiijiossveis de ser resolvidos, impunham um redimensionamento da tarefaa inh i i da aos homens de letras. O risco de insistirem nesta perspectivapoderia conduzi-los aos mesmos equvocos comelidos pela "especulao

    5 Cf. WHITE, H. "Michelet: o realismo histrico como estria romanesca", inMi-iiihistria. pp. 147-173; veja tambm FURET, F. "Da histria-narrativa In .loiia-problemas", in A oficina da histria. Lisboa, Gradiva, 1985, pp.81-98.1 ( iUlMARES, M. L. S. "Nao e civilizao nos trpicos", in Estudos

    lintuiii-iis n l (1988), pp. 7-8.Apud, LOBO, Luza. Terorias poticas do Romantismo. P. Alegre, Mercado

    A l . n i o , 1987, p. 54."' MATTOS, R. J. C. "Dissertao a cerca do systema de escrever a historia antiga

  • estrangeira", portadora de "invectivas, insultos, calumnias, improprios,e de falsidades em desabono do povo do Brasil".

    Limitado pelas cirscustncias j referidas, o projeto de se escrever"uma histria philosophica do povo do Brasil" deveria dar lugar a umaalternativa mais plausvel. A dissertao de Raimundo Jos da CunhaMattos prescrevia a indagao: "... em primeiro lugar (d)a histria parti-cular ou das provncias, para com bons materiaes escrevermos a historiageral do imprio brasileiro".17 A soluo apontada pelo scio do InstitutoHistrico recorria a um procedimento integrativo onde as histriasparticulares eram concebidas como peas de um edifcio em construo.A perspectiva unitria da "histria geral" seria discernvel atravs da tota-lizao indutiva.

    Sob o mesmo espao textual, figuram ecos de uma concepo"antiga"da histria ("historia magistra vitae") "o fim principal dahistria poltica e civil, encaminhar os homens prtica das virtudes eao aborrecimento dos vcios para que d'ahi resulte o bem estar dassociedades" , capaz de fornecer uma coleo de exemplos de condutatica, moral e poltica, que poderiam ser empregados instrutivamenteenquanto pedagogia do cidado, juntamente a uma definio "moderna",que procurava expurgar toda insinuao fictcia de seu discurso como ooposto da verdade e, portanto, como um impedimento compreenso darealidade "a historia a sciencia de narrar ou descrever osacontecimentos presentes e os passados". Ainda sobre este ltimoaspecto, lembra o autor a importncia do aparato crtico que "... deve(ria)presidir ao exame d'estes monumentos; observar o talho da letra, a cor eo estado das tintas, confrontar as eras ou as cousas com pessoas, enfimdesempenhar os deveres de um bom palegrapho e bom chronologo."1

    O autor da Dissertao tambm faz uma proposta de periodizaodas "trs pocas da nossa histria", a saber:

    "... na primeira trata-se dos aborgenes ou autctones; em asegunda compreendam-se as eras do descobrimento pelosportugueses, e da administrao colonial; e a terceiraabrajam-se todos os acontecimentos nacionais desde o diaem que o povo brasileiro se constituiu soberano e in-dependente, e abraou um sistema de governo imperial,hereditrio constitucional e representativo"19.

    17 Idem, ibidem, p. 135.18 Idem, ibidem, pp. 137-138.19 Idem, ibidem, p. 129.

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    O autor associa a primeira poca s "tradies hericas" dosindgenas, a segunda poca ou "antiga" administrao colonial, e aterceira poca ou "moderna" ao perodo "em que o povo brasileiro seconstituiu soberano e independente". Este recurso a expresso danecessidade de romper com os vnculos do passado, indicando o inimigovencido, e, ao mesmo tempo, afirmao de um novo tempo que comea eque ser definido por aquilo que superou. Atravs do emprego da narra-tiva, o conjunto das trs pocas formava uma articulao coerente, apon-tando para uma "inteno transformadora vitoriosa"20: a legitimao do"sistema imperial, hereeditrio, constitucional e representativo"(sic).

    No intuito de concretizar a crescente expectativa por um modelopara a abordagem da "histria ptria", o Instituto Histrico estabeleceuum prmio de 100.000 ris para o trabalho que oferecesse um "plano parase escrever a histria 'antiga' e 'moderna' do Brasil, organizada de talmodo que nele se compreendessem as partes poltica, civil, eclesitica elucraria". Dois trabalhos foram apresentados comisso de julgamentoda associao, o de J. Wallestein, intitulado Memria sobre o plano dese escrever a histria antiga e moderna do Brasil, e o de C. F. P. VonMartius, intitulado Como se escreve a histria do Brasil.

    O ensaio de Wallestein propunha um modelo de escrever a histriasemelhante ao empregado por Tito Lvio, isto , "pelo sistema de dcadas,narrando-se os factos acontecidos dentro de perodos certos". O autorrecomendava uma parte introdutria ao plano, onde deveria constar umadescrio das naes indgenas que habitavam o Brasil na ocasio dodescobrimento. Uma vez concluda esta introduo:

    "... principia a historia com o descobrimento do Brazil em1500 por Pedro Alvares Cabral at 1510, poca do naufrgiode Diogo Alvares Corra, o Caramur ... Assim por diantepode a historia do Brazil, chegar at independncia ecoroao do Sr. D. Pedro Primeiro".21

    Operando a partir de dois plos "temas fulcrais"22 o"descobrimento" e a "independncia" , temos um duplo movimento de

    10 A expresso (que aparece) de BRESCIANI, M. S. M. "As voltas de umparafuso", in Cincia e Cultura 30 (8) : 914.

    1 WALLESTEIN, J. "Memria sobre o melhor plano de se escrever a historiaantiga e moderna do Brazil (datada 30.09.1843)", in RIHGB t. XLV (1882), pp.159-160.f2 A expresso de VIZENTINI, C. A. "Escola e livro didtico de histria", inMarcos A. Silva (org.) Repensando a histria. R. Janeiro, Marco Zero, 1984, p.77. Ainda sobre as injunes entre fato histrico e temporalidades, veja tambm domesmo autor "A instaurao da temporalidade e a (re)fundao na histria: 1930r 1937", in Tempo Brasileiro n 87 (1986), pp. 104-121.

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  • insero do Brasil no curso da histria universal: como parte e comoreiterao desta mesma histria. O procedimento adotado era definidocomo a ordenao dos "fatos histricos" numa sucesso temporal quedesenvolveria a totalidade do perodo. Neste caso, o "descobrimento"marcaria o incio da nossa histria, o que pressupunha a existncia doobjeto Brasil antes mesmo do processo de conquista e colonizao doterritrio pelos europeus.23 A "independncia", por sua vez, constitua-se em um outro plo ordenador, frente ao qual o princpio de seleo eexplicao dos acontecimentos ganha plena significao. O que o autordeixa entrever atravs da delimitao de uma "origem" (a descoberta) ede um "fim" (a independncia) a afirmao de um sentido da histriaque revela o processo de florao gradativa do "logos" nacional. Temosa uma abordagem onde o espao politicamente demarcado no sculo XIX,como Estado independente tomado como um dado que, projetado nopassado, torna-se o referencial para a prpria pesquisa histrica.24

    Em considerao aos preceitos da objetividade e da neutralidade,J. Wallestein considerava temerria qualquer incurso na histria maisrecente porque ela no estaria suficientemente distante para ser avaliada- "archivem-se os documentos, e o tempo vir". O plano do autor preco-

    nizava uma histria fundamentalmente poltica, relegando "s partes civil ,ecleziastica e literria ... no fim de cada dcada em artigo separado, quesirva como de observaes ao texto".25

    O parecer atribudo a este trabalho exprime um profundo desen-canto com o modelo vislumbrado.

    "... o autor d'esta memria no comprehendeu bem opensamento de nosso programa, porquanto as vistas desteInstituto no se poderiam contentar com a simples distri-buio das matrias, e isto por um mthodo puramente fict-cio ou artificial que poder ser cmmodo para o historiador,mas de modo algum apto a produzir uma historia no gnerophilosophico, como se deve exigir actualmente."26

    23 Cf. SANTOS, A. C. M. "Memria, histria, nao: propondo questes", inTempo Brasileiro n 87 (1986), p. 9.24 Cf. HOBSBAWM, E. J. "A nao como novidade: da revoluo ao liberalismo",in Naes e nacionalismo R. Janeiro, Paz e Terra, 1990, pp. 27-61. Veja tambmANDERSON, B. "Antigos imprios, novas naes", in Nao e conscincianacional. S. Paulo, tica, 1989, pp. 57-76.25 WALLENSTEIN, J. op. cit. p. 160.26 ALEMO, F. F. et alli. "Parecer da comisso sobre o 'Plano de se escrevera histria do Brasil', lida na 168 sesso do Instituto Histrico aos 10.07.1847,in RIHGB t. IX (1847), p. 279.

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    Ao contrrio da "memria" apresentada por J. Wallestein, a disser-i.n, . iD de Von Martius no apelava para uma narrativa dos acontecimentos,ii . io sugeria periodizao alguma e tampouco reiterava a proposta de fazerum.i histria geral a partir das histrias particulares. No concebendo ahis tr ia como uma galeria de grandes personagens ou de exemplos dev i r t udes individuais, o ensaio de Von Martius lanava bases para umainterpretao orgnica da histria do Brasil vazada em uma perspectiva"fi losfica ou pragmtica". Esta proposta sobre a forma de se escrever ahistria parecia reverter as experimentaes iniciais dos scios do InstitutoHistrico, pois:

    "As obras at o presente publicadas sobre as provncias,em separado, so de preo inestimvel. Elas abundam emfatos importantes, esclarecem at com minuciosidade muitosacontecimentos; contudo, no satisfazem ainda s exignciasda verdadeira historiografia, porque se ressentem de mais decerto esprito de crnicas. Um grande nmero de fatos ecircunstncias insignificantes, que com monotonia serepetem, e a relao minuciosa at excesso de aconteci-mentos que desvaneceram sem deixarem vestgios histricos,tudo isso, recebido em uma obra histrica, h de prejudicaro interesse da narrao e confundir o juzo claro do leitorsobre o essencial da relao. O que avultar repetir-se o quecada provncia, ou relacionar fatos de nenhuma importnciahistrica, que se referem administrao de cidades, munic-pios ou bispados, etc; ou uma escrupulosa acumulao decitaes e autos que nada provam, e cuja autenticidadehistrica por vezes duvidosa?"27

    O plano delineado por Von Martius se afastava da tentativa decompor uma viso orgnica da histria do Brasil atravs da justaposiodas histrias provinciais. Do seu ponto de vista, a histria do Brasildeveria ser apreendida sob uma perspectiva capaz de produzir umaidentidade que seria assegurada pelo exame do "movimento histricocaracterstico e particular", donde confluiriam as trs raas formadoras danacionalidade brasileira. Para ele, a histria brasileira se desenvolvia"segundo uma lei particular das foras diagonais", em que os portu-

    " MARTIUS, C. F. P. von "Como se escreve a historia do Brasil", in O estadotio direito entre os autctones do Brasil B. Horizonte/S. Paulo, Itatiaia/EDUSP,1982, p. 104. (Originalmente publicado na RIHGB t. VII, 1845, pp. 381-403).

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  • gueses se apresentaram "como o mais poderoso e essencial motor"28 sobo qual interagiram indgenas e negros. Esta investigao deveria seranimada por aquilo que o autor denominou de "filantropia transcendente",expresso da inelutvel necessidade de superao de qualquer preconcchofrente histria.

    Na dissertao de Von Martius cada uma das trs raas consi-derada de maneira particular, indicando-se os rumos da pesquisa no senti-do de fixar sua participao no desenrolar da histria, enquanto "desen-volvimento fsico, moral e civil da totalidade da populao". Ao longo dotexto, Von Martius indicaria aspectos e procedimentos que posteriormenteiro reverberar na produo de muitos scios do Instituto Histrico.

    Inicialmente, o autor sugeria uma investigao sobre a "naturezaprimitiva" dos autctones para, em seguida, perscrutar "qual a parte quetoca aos boais filhos da terra no desenvolvimento das relaes sociaisdos portugueses emigrados."29 Elegendo como documento mais signifi-cativo para o esclarecimento destas questes o estudo das lnguas ind-genas, Von Martius recomendava ao Instituto Histrico a elaborao dedicionrios e observaes gramaticais sobre estas lnguas, com especialateno aos "... vocbulos que referem a objetos naturais, determinaeslegais (de direito), ou vestgios de relaes sociais".30

    O papel preponderante atribudo ao elemento portugus reiterado,ao longo do ensaio, em virtude de seu imperativo civili/acional. Neste sen-tido, o autor sublinhava a organizao do sistema de milcias, pois estas"...fortaleciam e conservavam o esprito de empresas aventureiras, viagensde descobrimento, e extenso do domnio portugus", bem como "...favo-reciam o desenvolvimento de instituies municipais livres"31 e a atuaodas ordens religiosas, especialmente pelo fato de que "...muitas vezes elaseram os nicos motores de civilizao e instruo para um povo inquietoe turbulento. Outras vezes ns vemos elas protegerem os oprimidos contraos mais fortes".32 Para Von Martius, o historiador pragmtico no poderiase limitar elaborao de uma crnica dos acontecimentos polticos, massobretudo "...deve transportar-nos casa do colono e cidado brasileiro;ele deve mostrar-nos como viviam nos diversos sculos, tanto nas cidadescomo nos estabelecimentos rurais, como se formavam as relaes docidado para com seus vizinhos, seus criados e escravos; e finalmentecom os fregueses, nas transaes comercias. Ele deve juntar-nos o estadoda igreja, escola, levar-nos para o campo, s fazendas, roas, plantaes c

    28 Idem , ibidem, p. 88.29 Idem, ibidem, p. 91.30 Idem, ibidem, p. 92.31 Idem, ibidem, p. 95.32 Idem, ibidem, p. 98.

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    engenhos. Aqui deve apresentar quais os meios, segundo que sistema,com que conhecimentos manejavam a economia rstica, lavoura e comrciocolonial".

    O estudo do elemento negro deveria ser encaminhado em duasdirees: por um lado, buscaria compreender "a condio dos negrosimportados, seus costumes, suas opinies civis, seus conhecimentosnaturais, preconceitos e supersties, os defeitos e virtudes prprios sua raa em geral" e, por outro lado, as consequncias da adoo dotrfico de escravos sobre o Brasil, Portugal e a frica. A postura de VonMartius a cerca deste ltimo aspecto iria repercutir no modelo de produoda histria nacional: "...no h dvida que o Brasil teria tido um desen-volvimento muito diferente, sem a introduo dos escravos negros. Separa melhor ou para pior, este problema se resolver para o historiador,depois de ter tido ocasio de ponderar todas as influncias, que tiveramos escravos africanos no desenvolvimento civil, moral e poltico da pre-sente populao".34

    Com vistas a criar no leitor um interesse pela matria, Von Martiusainda recomendava alguns preceitos estilsticos, a saber: a descrio das"pinturas encantadoras da natureza", o uso de um "estilo popular", aconciso da obra em "um s forte volume" e a refutao das "citaesestreis". De acordo com o autor, a histria do Brasil, "como qualquerhistria que esse nome merece", deveria ser escrita com base no modelopico.

    Contudo, no final da dissertao que o autor deixava evidente asrelaes profundas entre o saber e o poder. O discurso histrico era vistocomo o instrumento mais adequado para produzir a visibilidade da Naoem construo, capaz de forjar deliberadamente uma unidade interpretativado passado e de, simultaneamente, converter-se em um discurso de coe-so e de legitimao. Da a recomendao:

    "A Histria uma mestra, no somente do futuro, comotambm do presente. Ela pode difundir entre os contem-porneos sentimentos e pensamentos do mais nobre patrio-tismo. Uma obra histrica sobre o Brasil deve, segundo aminha opinio, ter igualmente tendncia de despertar e rea-nimar em seus leitores brasileiros o amor da ptria, coragem,constncia, indstria, fidelidade, prudncia, em uma palavra,todas as virtudes cvicas... Nunca esquea, pois, o histo-riador do Brasil, que para prestar um verdadeiro servio

    13 Idem, ibidem, p. 99.34 Idem, ibidem, p. 103.

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  • sua ptria dever escrever como autor Monrquico-Cons-titucional, como unitrio no mais puro sentido da palavra".35

    A obra de von Martius no s foi premiada mas acolhida comouma empresa vivificadora para os membros do Instituto Histrico. Oparecer da comisso encarregada de avaliar os trabalhos revelava, comntida clareza, a satisfao frente ao modelo oferecido por Von Martius. Ovalor das "consideraes filosficas" sobrepujava as preocupaes paracom "a diviso das pocas ... o encadeamento dos factos". E mais: "...sealguma cousa se podia dizer contra elle, que uma histria escriptasegundo ah se prescreve talvez seja inexequvel na actualidade, o quevem a dizer que elle bom demais... ah est o modelo para quando acousa for realizvel".36

    RESUMONo sculo XIX, a partir do

    Instituto Histrico, letrados iniciaramcoleta e organizao das fontes docu-mentais, que viabilizassem o projetomais amplo da fundao de uma his-tria nacional. O artigo discute comoesses homens de letras, alm do tra-balho documental, dedicaram-se produo historiogrfica, ressentindo-se da ausncia de um padro expli-cativo, mas apontando pluralidade deformas que assumiria a escrita dahistria.

    ABSTRACTThe article discusses how, in

    the 19th century, brazilian's intelectuaisof Instituto Histrico e GeogrficoBrasileiro, develloped the effort ofcollecting and organizing histrica!sources and began the nationalhistoriography that pointed at differentways of historical writing in Brazil.

    35 Idem, ibidem, pp. 106-107.36 ALEMO, F. F. et alli. op. cit., p. 287.