universidade federal de pernambuco programa …livros01.livrosgratis.com.br/cp107303.pdf · 801 cdu...

142
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM LETRAS MESTRADO EM LINGÜÍSTICA INTERCULTURALISMO E ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: É NA TUA LÍNGUA QUE FALO, MAS É NA MINHA LÍNGUA QUE TE COMPREENDO Suzana Ferreira Paulino Recife 2009

Upload: dinhnhu

Post on 18-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADEFEDERALDEPERNAMBUCO

    PROGRAMADEPSGRADUAOEMLETRAS

    MESTRADOEMLINGSTICA

    INTERCULTURALISMOEENSINODELNGUAINGLESA:

    NATUALNGUAQUEFALO,MASNAMINHALNGUA

    QUETECOMPREENDO

    SuzanaFer reiraPaulino

    Recife

    2009

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • i

    UNIVERSIDADEFEDERALDEPERNAMBUCO

    INTERCULTURALISMOEENSINODELNGUA

    INGLESA:NATUALNGUAQUEFALO,MASNAMINHALNGUA

    QUETECOMPREENDO

    SuzanaFer reir aPaulino

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de PsGraduao em Letras da

    Universidade Federal de Pernambuco como um

    dosrequisitosparaaobtenodottulodeMestre

    emLingstica.

    Orientadora:Prof.Dr.NellyMedeirosdeCarvalho

    Coorientadora:Prof.Dr.AbundiaPadilha Pinto

    Recife

    2009

  • Paulino,SuzanaFerreiraInterculturalismo e ensino de lngua inglesa:

    natualnguaquefalo,masnaminhalnguaquetecompreendo / Suzana Ferreira Paulino. Recife:OAutor,2009.

    137folhas:il.,fig.,tab.

    Dissertao (mestrado) Universidade FederaldePernambuco.CAC.Letras,2009.

    Incluibibliografiaeanexos.

    1. Lingstica aplicada. 2. Cultura. 3. Lnguainglesa. 4. Comunicao intercultural. 5.Competnciacomunicativa.I.Ttulo.

    801 CDU(2.ed.) UFPE410 CDD(22.ed.) CAC200944

  • ii

  • iii

    Dedicoestetrabalhoatrsmulheresmuitoimportantesna

    minhavida:

    Minha me, Josefa Galdino Ferreira, por me fazer

    acreditar na capacidade de realizar meus sonhos, pelo

    estmuloeapoioparaconcretizlos.

    Minha filha, Maria Isabella, para que este trabalho de

    pesquisasejaumexemplodeperseveranaeincentivona

    buscaerealizaodosseusobjetivosedosseussonhos.

    Abundia Padilha Pinto, sua vida e histria so ddivas.

    Maisqueprofessora,educadorame.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    ADeus,pelaminhaexistncia,minhasadefsicaementalepelasoportunidadescom

    queelemepresenteou.Agradeopelasabedoriaeconscincianasminhasescolhasetomadas

    dedeciso,pessoaiseacadmicas.

    minha me, Josefa G. Ferreira, pelo amor, incentivo aos estudos e apoio

    incondicionais em todososmomentos daminha vida, sendomeu refgio emeu ninho nos

    momentosbonsenosnotobonsassim.Pelapacinciaerespeitosminhasnecessidadese

    pontosdevista,pelocuidado,amorecarinhodispensadosminhafilha,cuidandodelacom

    todadedicaoeamorde mevov.

    minhafilha,MariaIsabella,porexistiremminhavida.Pelocarinho,pelasalegriase

    peloconfortoqueseus sorrisos,abraose beijosmeproporcionaramquandoocansaoeo

    desesperotentavamseaproximar.

    Ao meu pai, Joo Carlos Paulino, aos meus irmos, Joo Carlos Paulino Filho,

    AndersonPaulinoeArturPaulinopeloapoioecuidadoamimeaminhafilhadispensados.

    A Jefferson de Alencar, pelo apoio, incentivo e dedicao nos momentos quemais

    precisei.Peloincentivoaomeuaprimoramentointelectualepelosuporteemocional,almde

    se dedicar inteiramente nossa filha nos momentos em que eu no pude estar presente

    fisicamente.

    OrqudeaGuimarespelapreciosacolaboraoeapoionosmomentosdifceis.

    Prof.Dr.NellyCarvalho,minhaorientadora,pessoaquesempreadmirei,desdea

    graduaonocursodeLetrasdaUFPE,peloconhecimentoconstrudoepelalevezaealegria

    com que conduz o processo de ensinoaprendizagem. Pelos conselhos nos momentos de

    dvidaepelacrenanaminhacapacidadededesenvolverumexcelentetrabalhoacadmico.

    Prof.Dr.AbundiaPadilha,minhameacadmica,pelasorientaes,peloapoioe

    exemplo de ser humano evoludo e profissional da educao. Um modelo de pessoa e

  • v

    educadora,competentena formaodeprofessoresepesquisadores,humanizandooensino,

    sempre considerando seus aspectos cognitivos, mas principalmente valorizando os seus

    fatoresemocionais.

    Ao Prof. Dr. Antnio Carlos Xavier, pelos ensinamentos, pela colaborao e pelo

    exemplodeprofissionalcompetente.

    Prof.Dr.WilmaPeregrinodeMoraispelaprestezaecontribuio.

    sProfs.Drs.GildaLinseIsaltinaGomes,pelaleituracrticaeprestezanasuplncia

    examinadoradesteestudo.

    Atodososprofessoresdagraduaopormeguiaremnosprimeirospassosdapesquisa

    cientfica,especialmenteaVeraMouraminhaorientadoradaespecializaoemLingstica

    Aplicadaaoensinodelnguainglesa,quemeincentivoumuito,foicompanheiraeamiga.Ela

    umgrandeexemploparamimeumadasresponsveispelaminhaescolhadededicarme

    carreiraacadmica.

    AosprofessoresdoProgramadepsgraduaoemLetrasdaUFPE,MarlosPessoa,

    Virgnia Leal, Stella Telles, Kazu Saito, Beth Marcuschi e Ermelinda Ferreira pelos

    ensinamentoseaprendizadosconstrudosaolongodocurso.

    Aos professores visitantes Konstanze Jungbluth, Caroline Miller e Dominique

    Maingueneau.

    Maria da Paz, minha primeira professora de Lngua Portuguesa, que me fez se

    apaixonarpelaeducaoegostardeestudarefalaroutras lnguas.AosprofessoresEnoque,

    Ktia,Creso,PauloNeyeMariaJosquemeajudaramaconstruiroconhecimentocombase

    noamorpelaeducaoecrenanasuperao.

    Terezinha Ferraz pelo apoio e exemplo, pessoal e profissional, na pessoa

    representantedoCISCentrodeIdiomasSENACe,atualmente,nagerncia incomparvel

    daFaculdadeSENAC.

  • vi

    Atodososmeuscolegasdemestrado,especialmenteaNoadiarisdaSilva,Ewerton

    viladosAnjosLuna,GiseldaVilaa,RobertaGodoyeAldenorapelaamizadeconstruda

    em bases de confiana, respeito e alegria, por direta e indiretamente me apoiarem,

    incentivaremeseremexemplosderesponsabilidadeecomprometimentoacadmicos.

    MariaJosGomes,AndersonRios,Amaury,Elisabeth,RogriaePauloRobertopor

    plantaremnomeucoraoasementedaresponsabilidadeedabuscapeloconhecimento.

    coordenaodoProgramadePsGraduaoemLetras,napessoadaProf.ngela

    PaivaDionsio.

    A JozaasSantos eDivaRgoBarros pelo suporte e empenhonas orientaes e na

    soluodequestesadministrativas,sendocompanheirosdurantetodooprocesso.

    Aos bolsistas do Programa de PsGraduao em Letras,Aline,Natana,Daladiana,

    PauloeCarla.

    CAPESpelaconcessodabolsadeestudos,oquepossibilitouaminhadedicao

    integralspesquisasacadmicas.

  • vii

    Jeteparledanstalangueetcestdansmonlangagequejetecomprends(EdouardGlissant)

  • viii

    RESUMO

    Oprocessodeensinoaprendizagemdalnguainglesaabrangeoconhecimentodasuacultura,

    permitindo que os educandos compreendam os valores, os comportamentos e as prticas

    sociaisquerepresentamopovodoidiomaestudado.Oensinodestalnguadeveserbaseado

    no dilogo entre as culturas e nos conhecimentos prvios dos alunos para promover o

    interculturalismo e desenvolver a competncia intercultural e a conscincia identitria,

    possibilitando observaes crticas e aprendizado. O objetivo geral deste trabalho foi

    investigarotratamentodadoaosaspectosculturais,visveiseinvisveis,noslivrosdidticos

    de lngua inglesa, das colees Connect (2006) e New ACE (2002). Nossa pesquisa est

    baseada nos pressupostos tericos do Interculturalismo sugeridos pelos seguintes autores:

    Dooly (2005), Kramsh (2001), Freire (1996) e Goodenough (1971) da Abordagem

    Comunicativa,Hymes(1972)edoSciointeracionismo,Vygotsky(2003,2000).Conclumos

    que as duas colees analisadas possuemelementos culturais visveis e alguns invisveis, o

    que indica um avano. Entretanto, suas abordagens so superficiais, pois no h um

    tratamentoadequadodostemas, tampouco, atividadesqueguiemosalunosconstruoda

    competnciainterculturaledaconscinciacrtica.

    PalavrasChave: Lingstica Aplicada. Cultura. Interculturalismo. Lngua Inglesa.

    Competncia.

  • ix

    ABSTRACT

    TheEnglishteachinglearningprocesscomprehendstheknowledgeoftheirculture,providing

    studentsthechancetounderstandthevalues,behaviorandsocialpracticesthatrepresentthe

    peopleofthislanguage.Theemphasisinteachingthisidiommustbeon thedialoguebetween

    cultures and students previous knowledge to develop cultural competence and identity

    awareness,allowingcriticalobservationsandlearning.Ourgeneralobjectiveistoinvestigate

    the treatmentgiven tovisibleand invisibleculturalaspects in the textbooksof theEnglish

    language collections Connect (2006) and New ACE (2002). Our research is based on the

    theoretical basesofthe Interculturalism, suggestedbyDooly (2005),Kramsh (2001),Freire

    (1996),Goodenough(1971)theCommunicativeApproach,byHymes(1972)andtheSocial

    Interactionism,byVygotsky(2003,2000).Weconcludedthat thetwoanalyzedpedagogical

    collections provided visible and some invisible cultural elements.However, the approaches

    are superficial, because there isnoadequatetreatment of thecontentsoractivities that take

    thestudentstotheconstructionoftheinterculturalcompetenceandcriticalawareness.

    KeyWords:AppliedLinguistics.Culture.Interculturalism.EnglishLanguage.Competence.

  • x

    LISTADESIGLASEABREVIATURAS

    C1:Connect1

    C2:Connect2

    C3:Connect3

    C4:Connect2

    CCm:competnciacomunicativa

    CC:competnciacultural

    Cf:conferir

    EF:ensinofundamental

    HCI:habilidadecomunicativaintercultural

    LDLI:Livrodidticodelnguainglesa

    LE:lnguaestrangeira

    LI:lnguainglesa

    NA1:NewAce1

    NA2:NewAce2

    NA3:NewAce3

    NA4:NewAce4

    PCNs:ParmetrosCurricularesNacionais

    PCNsLE:ParmetrosCurricularesNacionaisdelnguasestrangeiras

  • xi

    LISTADEFIGURAS

    Figura1 Representaodametforadoiceberg,deGoodenough...............................

    Figura2 ImagemilustrativadomitodacavernadePlato..........................................

    Figura3 Representaodalibertaodacavernaedatransformaoocorrida...........

    Figura4 Esquemadeelaboraodosignificadoedacargaculturalcompartilhada

    dosigno.............................................................................................................................

    Figura5 ZonadeDesenvolvimentoProximal...............................................................

    Figura6 LivrosquecompemacoleoNewACE(2002)..........................................

    Figura7 ImagensdoslivrosquecompemacoleoConnect(2006)..........................

    Figura8 NewACE3:54..

    Figura9 NewACE2:30.......

    Figura10NewACE2:56......

    Figura11NewACE3:64..

    Figura12NewACE3:65..

    Figura13NewACE4:65..

    Figura14NewACE3:80..

    Figura15NewACE4:46...

    Figura16Connect1:17.. ..

    Figura17Connect2:6

    Figura18Connect4:78..

    Figura19Connect2:54...

    Figura20Connect2:66

    Figura21Connect3:5...

    Figura22Connect2:96..

    Figura23Connect1:40

    Figura24Connect1:92..

    Figura25Connect1:60

    Figura26Connect2:110...

    Figura27Connect4:68.

    Figura 28Imagem que simboliza a convivncia respeitosa entre membros de

    diferentesculturas.............................................................................................................

    30

    33

    35

    49

    64

    68

    68

    71

    73

    74

    76

    77

    80

    82

    84

    89

    90

    91

    93

    94

    95

    97

    98

    99

    102

    103

    105

    117

  • xii

    LISTADETABELAS

    Tabela1Explicaodomundovisveledomundoinvisvelnomitodacaverna.........

    Tabela2Demonstraodoparaleloestabelecidoentreosconceitosdemundovisvel

    e invisvel no mito da caverna e a situao do indivduo com e sem conscincia

    intercultural.......................................................................................................................

    Tabela3DescrioecomparaodascoleesNewACEeConnect...........................

    Tabela4DivisodacoleoNewACE(2002)..............................................................

    Tabela5DivisodacoleoConnect(2006).................................................................

    Tabela6ResultadoscomparativosdascoleesNewACEeConnect.........................

    34

    36

    69

    70

    86

    107

  • xiii

    ANEXOS

    1 TextosobrealdeiaIanomami Fonte:NewACE3:60..............................................

    2 TextosobreafamliaSchrmannsFonte:NewACE2:57......................................

    3 TextosobreacelebraodoDiadeAodeGraasFonte:NewACE2:100........

    4 Textosobreadestruiodecarros Fonte:NewACE4:76.......................................

    5 TextosobreomxicoFonte:NewACE3:116.........................................................

    6 Imagemdemeninasjogandofutebol Fonte:Connect2:9.........................................

    7 TextorelacionadoaHarryPotter Fonte:Connect4:80.............................................

    8 ImagemreferentealimentaoNorteAmericanaFonte:Connect2:93.................

    9ImagemdepessoasfamosaseatletasFonte:Connect1:18.....................................

    10ImagemdasprofissesFonte:Connect4:106.......................................................

    11Imagemdacomemoraodeaniversriodeumco Fonte:NewAce2:92...........

    12ImagemdasprofissesFonte:NewACE1:73

    126

    127

    128

    129

    130

    131

    132

    133

    134

    135136137

  • xiv

    SUMRIO

    INTRODUO...............................................................................................................

    CAPTULOI:ASPECTOSMETODOLGICOSDAPESQUISA..........................

    CAPTULOII:DACULTURAAOINTERCULTURALISMO..............................

    2.1CulturaeIntercultura..................................................................................................

    2.1.1.PercepoeConscinciaInterculturaiseoMitodaCavernadePlato.............

    2.1.2.ConstruesIdentitriasIndividualeColetivanasRelaesInterculturais.......

    2.1.2.1.EtnocentrismoxRelativismoCultural..........................................................

    2.2.LnguaeCultura........................................................................................................

    2.2.1.LxicoeCultura.................................................................................................

    2.2.2.CargaCulturaldasPalavras................................................................................

    2.3.CompetnciasComunicativaeCultural....................................................................

    2.3.1ConhecimentosInterculturaisxHabilidadesComunicativasInterculturais........

    CAPTULOIII:OSLIVROSDIDTICOSDELNGUAINGLESALUZDO

    INTERCULTURALISMO............................................................................................

    3.1.Memriasocialdeumpovo......................................................................................

    3.2.Traduocultural.......................................................................................................

    3.3.OsParmetrosCurricularesNacionaiseaculturanoensinodelnguainglesa........

    3.4.Olivrodidticodelnguainglesaeaabordagemintercultural.................................

    3.4.1.OProfessorInterculturalnaperspectivacomunicativointeracionista...................

    CAPTULOIV:ANLISEDOSDADOS...................................................................

    IMPLICAESPEDAGGICAS...............................................................................

    CONSIDERAESFINAIS.........................................................................................

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS..........................................................................

    ANEXOS.........................................................................................................................

    15

    20

    24

    24

    31

    38

    41

    44

    45

    47

    50

    52

    54

    5458

    606163

    66110

    114

    119125

  • 15

    Intr oduo

    Aglobalizaofoiumvetorparaatransformaodoconceitoidentitrio,pelofatode

    omercado, a informao e a culturamundiais tornaremse acessveis a muitas pessoas em

    todos os lugares do planeta atravs dos meios de comunicao modernos. Assim, muitos

    indivduos tm acesso a saberes e produtos de diversas culturas, possibilitando o

    conhecimentodeoutrosvaloresecostumes.

    Devido expanso dos meios de comunicao, globalizao e a todas as

    transformaes sociais, econmicasepolticasqueadvmdonovocontexto sciohistrico

    noqualomundotodoestinserido,sabercomunicarseemalgumalnguaestrangeira(LE)

    umahabilidadeessencialaohomemdomundocontemporneo.Contudo,almdeempenhar

    se para aprender a falar fluentemente outro idioma, o indivduo deve ocuparse de estudar

    sobreaculturadopovodalnguaqueestsendoaprendida,nocasodestapesquisa,alngua

    inglesa(LI).

    O exposto acima se deve ao fato de ser no mago de uma cultura que residem as

    marcasdiferenciais,asquaispermitemumainteraocoerenteecompreensivaentremembros

    dediferentescomunidades lingsticas nomundo.Estes itens:comportamentos,costumes e

    crenasrepresentamaessnciadeumpovoesuacomunicaoe,juntamentecomosfatores

    lingsticos,favorecemaaprendizagemdeumalngua,poisentendemosquelnguaecultura

    seinterrelacionam.

    Tais elementos culturais, at ento pouco estudados, devem ser considerados no

    processo de ensinoaprendizagem de lngua inglesa, especialmente no momento poltico e

    econmico em que vivemos, devido aos acordos internacionais realizados e s constantes

    inserestecnolgicasnavidadonossopovo.

    Pensando na invaso tecnolgica e nas implicaes da globalizao, em 2001 foi

    adotadaadeclaraouniversaldaUNESCOsobreadiversidadecultural,quetemasseguintes

    diretrizes:diversidadeculturalepluralismo,diversidadeculturalcomopatrimniocomumda

    humanidade, diversidade cultural e direitos humanos, diversidade cultural e criatividade,

    diversidadeculturalesolidariedadeinternacional(JOACHIM,2007).

  • 16

    O objetivo deste documento foi combater as ameaas oriundas desse processo

    globalizante:odesaparecimentodealgumaslnguas,aperdadaidentidadeculturaldospovos

    por incorporaes de elementos externos s suas tradies que pudessem ocorrer por

    imposiespolticasecomerciais,protegendoadiversidadecultural.

    Natentativadeevitartaisameaasforamrecomendadasnestadeclaraouniversal:1)

    a implantao de polticas culturais e educativas que pudessem integrar as diferentes

    identidades culturais 2) o incentivo da mdia solidariedade local e internacional, e

    descentralizao 3) estmulo criatividade 4) uma campanha a favor dos valores. Sendo

    valoresentendidocomo:a)aformaodeumaconscinciaecolgicaeodesenvolvimentode

    uma cidadania pluralista b) os valores espirituais e crenas c) as lnguas como vetores de

    valores culturais (op. cit.). Tais recomendaes podem ser desenvolvidas nos diversos

    ambientesdaatuaohumanacomoemcasa,nacomunidade,notrabalhoenaescola.

    Observando pelo prisma educativointercultural, refletindo sobre a situao da

    educao noBrasil, especificamente do ensino de lngua inglesa, da interferncia direta de

    elementosglobalizadosprovenientesdanovaordemmundialedeaspectosdeoutrasculturas

    emnossavidaenanossalngua,emergeanecessidadedainclusodeprticasinterculturais

    noprocessodeensinoaprendizagemdoreferidoidioma.

    Asprticasinterculturaistmopoderderetrataromododevidadeumdeterminado

    povo, classificlos e diferencilos de outros povos. Essas experincias supem o inter

    relacionamento da linguagem, cultura, sociedade e vivncia para a construo de

    conhecimento individual e coletivo. Portanto, numa abordagem consciente das mltiplas

    culturasquecompemomundoeporestarmosinseridosemumaculturaquepartedeum

    todo,devemos incentivaro respeitoscrenase costumesdopovoda lnguaaprendidaea

    permannciadosseusvaloresedasuaprprialngua.

    Por defendermos o dilogo entre lngua e cultura, essencial que conheamos o

    idioma de um povo para apreciarmos e interagirmos com as suas tradies, e viceversa,

    sabendo respeitlas e diferencilas das outras representaes existentes no mundo.

    Compreendemos a lngua como um construto sciohistoricamente situado. Portanto, ela

    passveldeincorporaes,transformaesemudanasemseusaspectosfonticofonolgico,

    semntico,gramatical,discursivoelexical.Todoselessoimportantesnoprocessodeensino

  • 17

    aprendizagem de uma LE e podem representar as identidades lingsticoculturais dos

    falantes.

    Tendoemvistaasatuaisrealidadeseducacionalesciohistricabrasileiras,frentes

    transformaesglobalizadas,estapesquisaapresentareflexessobreimportantesaspectosque

    esto em evidncia no contexto pedaggico, pesquisados na academia e que se apresentam

    nas salas de aula. Ela busca verificar a presena e o tratamento dispensados aos aspectos

    culturaisnoslivrosdidticosparaoensinoaprendizagemdalnguainglesa.

    Nossosobjetivos foramalcanadosatravsdaavaliaodosLDsLIquecompemocorpus deste trabalho. De acordo com Gomes de Matos e Carvalho (1984), avaliar umprocessoessencialmentehumano,poisenvolve fatores razoveiseemocionais.Estamosem

    constante processo avaliativo, decidindo que roupa mais adequada para determinada

    situao,avaliandoa real necessidadedeadquirirmosumdeterminadobemdeconsumoou

    quanto tempo precisamos para desenvolver uma atividade. Quando o fazemos, estamos

    empregando nosso senso crtico, nossa conscincia, alm de aspectos emotivos, como o

    desejoeaspreferncias.

    Paraqueoprocessodeavaliaosejaconsideradovlidoerelevante,oavaliadordeve

    serobjetivo,sistemtico,racionaleimparcial,abrangendoaspectospluraiseprecisos.Quando

    oavaliadorexternoaotemaemquesto,ouseja,noestdiretamenteenvolvidocomotema

    pesquisado, atuando na rea, por exemplo, sua avaliao tende a ser mais objetiva. Em

    contraponto,quandooavaliadorinterno,ouseja,estlidandodiretamentecomosaspectos

    referentesaotemaanalisado,oprocessoavaliativomenosimparcialqueoprimeiroporele

    serconhecedordedetalhessobreoqueestsendoinvestigado.

    Tomando por base tal afirmao, empreendemos uma avaliao cientfica de livros

    didticosdelnguainglesa,quantoaotratamentodoselementosculturaisvisveiseinvisveis

    nos referidos materiais didticos. Embora tenhamos conscincia de que todo ser interpreta

    baseado em seus conceitos e valores, convm ressaltar que em nossa pesquisa de carter

    acadmicoanalisaremoscom imparcialidadeo corpus,evitando interpretaese influnciasdeaspectosmeramenteemocionaisealeatrios.

  • 18

    Dessa forma, imprescindvel apresentarmos nossa compreenso de avaliao, uma

    vez que avaliaremos os LDs. Compreendemos avaliao como um processo contnuo,

    flexvel,adaptvelehumano.

    Desejamos contribuir com informaes relevantes sobre a abordagem cultural no

    ensino de lngua inglesa, visando a fornecer subsdios para a prtica pedaggica de

    professores,despertandoosparadesenvolveraconscinciainterculturaldosalunosnoensino

    deste idioma.Esta colaborao tambm em relao aos estudos sobreos livros didticos,

    especialmente os de Lngua Inglesa, relacionandoos temtica intercultural. Acreditamos

    que este trabalho pode incentivar os envolvidos no processo educativo a ampliar seus

    universos de conhecimentos e entendimentos, evitando a marginalizao no tratamento de

    costumesoutradiesestrangeirasnoprocessodeensinoaprendizagemdeingls.

    Para tanto, nossa pesquisa de carter intercultural emultidisciplinar ser realizada

    luzdaLingsticaAplicada,apoiadanospressupostostericosdoInterculturalismosugeridos

    pelosseguintesautores:Dooly(2005),Kramsh(2001),Freire(1996)eGoodenough(1971)

    da AbordagemComunicativa porHymes (1972) e do Sciointeracionismo comVygotsky

    (2000/2003).

    Para umamelhor compreenso do contedodeste trabalho, apresentamos uma viso

    geraldoscaptulosqueviroaseguir.

    O primeiro captulo aborda os procedimentos metodolgicos adotados para

    alcanarmos nossos objetivos. O segundo versa sobre cultura, percepo e conscincia

    (inter)culturais soboprismapedaggico, fazendoum intertextocomoMitodaCavernade

    Plato. Ele discorre, tambm, acerca da construo das identidades, do combate ao

    etnocentrismo e da expresso do relativismo nas relaes entre diferentes povos. Aborda,

    ainda,asconexesexistentesentreculturaelinguagemnoensinodelnguainglesa,almdas

    competnciascomunicativaecultural.Tambmfalaarespeitoda correlaoculturaensinode

    lnguainglesaeminterfacecomalexicologia,abrangendoacargaculturaldaspalavras.

    No terceiro captulo discorremos sobre as questes damemria social, da traduo

    cultural,darelaoentreosPCNsLEeolivrodidticodelnguainglesa,almdesalientaro

    papeldoprofessorintercultural.

  • 19

    Posteriormente,apresentamosocaptuloquatroquecompreendeaanlisedosdados,

    revelando a investigao do corpus e os resultados encontrados com o trabalho realizado.Finalmente, apontamos as implicaes pedaggicas para o ensinoaprendizagem da lngua

    inglesaeasconsideraesfinais.

  • 20

    CAPTULOI:ASPECTOSMETODOLGICOSDAPESQUISA

    Aprticadiriacomodocentedelnguainglesanosfezperceberafaltadeabordagem

    interculturaladequadanaspropostasdoslivrosdidticosdeinglsparaalunosbrasileiros.Em

    decorrnciadeste fato, sentimosa necessidadedecontribuircomaspesquisas sobreo livro

    didticode ingls,noquese refereao interculturalismo,pelacarnciadepesquisas sobreo

    tema. Nesta pesquisa, investigamos a presena e o tratamento dispensados aos aspectos

    culturais nos livros didticos de lngua inglesa luz do Interculturalismo. Este captulo

    apresentaopercursometodolgicoqueadotamos.

    Baseados nos pressupostos tericos adotados, a investigao buscou responder s

    seguintes perguntas: h ocorrncia de elementos culturais visveis? H ocorrncia de

    elementosculturais invisveis?Comoestesaspectosculturaisacimasotrabalhados?Quala

    relevnciadaabordageminterculturalparaaformaocidaddosalunos?

    Hiptese

    A hiptese aqui defendida que a abordagem cultural proposta pelos autores dos

    livros didticos de lngua inglesa, direcionados a alunos brasileiros superficial e

    simplesmente uma meno para atender a uma exigncia dos Parmetros Curriculares

    NacionaisdeLnguaEstrangeira (PCNsLE).Dessa forma, apsaanliseaqui apresentada,

    pretendemosconfirmartalsuposio.

    Objetivosdapesquisa

    Temoscomoobjetivogeralinvestigarnoslivrosdidticosdelnguainglesa(LDsLI),

    otratamentodadoaosaspectosculturaisvisveis,aquelesquesofacilmenteidentificveisem

    umacultura,comoculinriaevestimentas,eaosinvisveisquesocomportamentos,crenas

    e costumes perceptveis apenas no convvio com a comunidade (Goodenough, 1971).

    Apontamos como objetivos especficos diferenciar os conhecimentos de habilidades

    comunicativasinterculturais,verificarcomoaconscinciadaexistnciadeoutrosconstrutos

    favoreceaaprendizagemdelnguainglesaeaformaocrticadoser.

  • 21

    Metodologia

    Delimitaodocorpus

    Analisamos a presena e o tratamento dos aspectos culturais visveis e invisveis de

    Goodenough(1971)sotratadosnostextosdos8livrosdidticosdelnguainglesadasduas

    coleesquecompemocorpusdestapesquisa.Soelas:NewACE,2002eConnect,2006.

    Ambassodeeditorasinternacionais,mascomcontedovoltadoparaestudantesbrasileiros

    delnguainglesa.

    1. New Ace (2002) dos autores Eduardo Amos e Elisabeth Prescher, com a

    participao de Cleide Silva eMaria Lcia Puzzi. A coleo da editora Longman,

    contm4livros,cadaumcom16unidadesdivididasemquatroblocosbimestrais,com

    uma reviso para cada bloco e uma sesso extra, na qual so abordados temas

    transversais, intercalandoessesblocos.Cadablocosubdivididoem4unidadesque

    porsuavezabordam3sesses:vocabulary,grammarelanguagepatterns.

    2. Connect(2006)dosautoresJackC.Richards&CarlosBarbisan,comaparticipao

    deChuckSandy.AcoleodaeditoraCambridgeUniversityPressepossui4livros,

    constando8unidades.Cadaumacontendo5lies,comumaminirevisodepoisdas

    2primeiraslieseumarevisoapsaquintalio,8projetostemticos,umasesso

    de conferncia de aprendizagem, lista de verbos e lista de palavras. Cada lio se

    divide nas seguintes sesses: Word Power, language focus, listening e speaking.

    Existe uma sesso chamada connections que focaliza a leitura e a relaciona com aescritaecomasoutrashabilidades.

    As duas colees supracitadas foram selecionadas por figurarem entre as mais

    adotadaspelasescolas,deacordocomumalistadivulgadapelaSBSbookclub,em2007.

    Coletaeanlisedosdados

    Aps a delimitao do corpus, coletamos os dados nos textos verbais e noverbaispresentes nos livros didticos selecionados. De posse destes, procedemos s anlises

  • 22

    qualitativaecomparativadocorpus,associandoteoriaapresentadanafundamentaoquese

    refereaospressupostosdointerculturalismo,docomunicativismoedosciointeracionismo.

    A anlise foi realizada pautada na utilizao de critrios e tcnicas avaliativas

    baseadosemGomesdeMatoseCarvalho(1984).Realizamosumprocessoavaliativosituado,

    ouseja,considerandoseumcontextosciocultural,polticoeeducacional.Consideramosas

    funesdolivrodidtico,seupblicoalvo,semprejulgandoatravsdecritriosestabelecidos

    pelaabordagemtericasupracitada.

    Emnossapesquisa,osndicesdoslivrosdidticosquecompemnossocorpusforamconsiderados,paratentarmosentenderanoodeculturaexplcitaousubjacenteproposta

    pedaggica das colees. Entretanto, salientamos que no sero nossos nicos objetos de

    anlise,umavezqueentendemosqueousodondicecomonica fontedepesquisatornaa

    avaliaoincompletaeinsuficienteparaatenderaosnossosobjetivos.

    Portanto, nossa anlise contemplou os objetivosmencionados pelos autores (quando

    existentes) e o contedo verbal e noverbal de cada lio dos LDs. Entendemos que no

    basta verificar se um fenmeno ocorre, pois apenas este foco no contemplaria nossos

    objetivos,tampoucotrariacontribuiesrelevantessdiscussesacadmicas,umavezquea

    freqnciadeaparecimentonopressupeaqualidadedaabordagem.

    Escolhemos analisar livros didticos de lngua inglesa voltados para o ensino

    fundamentalsriesfinais,abrangendoosquatroanosdociclo(5,6,7e8),porqueoensino

    deumalnguaestrangeiraobrigatrioapartirda5srieeporestaetapasermaisfavorecida

    pela existncia e distribuio dos referidosmateriais deLI.Enquanto queno ensinomdio

    nohaobrigatoriedadedeentregadeLDspelogoverno,almdeserumaformaovoltada

    para o vestibular. Ao mesmo tempo, algumas escolas utilizam apostilas elaboradas pelos

    prpriosprofessorescomobjetivosespecficosdepreparaoparaaaprovaonesseprocesso

    seletivo,desconsiderandooselementosculturaisdalngua.

    Outro fator que nos levou a investigar os LDs destas quatro sries foi o fato de

    acreditarmos ser nos primeiros contatos com o idioma estudado, que os alunos devem ter

    acessodiscussoeaodesenvolvimentocrticoculturaissobreosaspectosqueenvolvemas

    relaesculturaiselingsticasentrepovosdediferenteslnguas.

  • 23

    Nossa investigaodosLDsserdescritiva,qualitativaecomparativa, tendosempre

    emmenteoqu,comoeparaquemavaliar.Decidimonosporumaabordagemqualitativo

    crtica,pois,segundoMason(1996),estetipodeabordagementendecomoomundosocial

    experienciado, interpretadoecompreendido.Talperspectivadeanliseestemconsonncia

    comosobjetivosdanossapesquisa.

    Idealizamos a temtica da pesquisa a partir da exigncia social, de uma demanda

    crescente na educao, especialmente de lnguas estrangeiras, a necessidade do ensino de

    cultura quando do ensino de lngua inglesa. Iniciamos os trabalhos com leituras de livros,

    teses, dissertaes e artigos cientficos, almde outras eventuais fontes como pesquisas na

    Internet.

    Indicamos nossa concepo de interculturalismo, diferenciando conhecimentos

    interculturais e habilidades comunicativas interculturais. Verificamos qual a relevncia da

    memrianoprocessodeconstruodesentidoseanalisamoscriticamenteosdadoscoletados

    napesquisaeapartirdosresultadosdestaanlise,conclumosnossotrabalho.Nodecorrerda

    anlisedosdados,relacionamosasabordagenstericasnossainvestigao.

    Neste trabalho, referimonos ao ensino de lngua inglesa, delimitando a noo de

    lngua inglesaao ingls norteamericanoparaatenderaumcritriometodolgico.Sabemos

    dasdiferentesexpressesdesta lnguaemdiversospasesem todoomundo, suasvariaes

    lingsticas e culturais. Entretanto, elegemos a variao americana por ser o representante

    mundialmente conhecido e ter elementos culturais mais disseminados internacionalmente

    atravsdamsica,cinema,edevidosrelaescomerciaisepolticas.

    Paramelhorcompreenderaabordagemculturalnoprocessodeensinoaprendizagem

    de lngua inglesa, analisamos os referidos livros didticos de lngua inglesa, observandoos

    dadosluzdointerculturalismo,daabordagem comunicativaedaLingsticaAplicada.

  • 24

    CAPTULOII:DACULTURAAOINTERCULTURALISMO

    2.1.CulturaeIntercultura1

    A globalizao provoca mudanas radicais nas perspectivas sociais, comerciais,

    polticas e histricas de uma sociedade. Estas, por sua vez, culminam em transformaes

    culturais em todo o planeta que se revelam nas experincias dirias dos membros da cada

    comunidade.Devidoaessastransformaes,aspessoasmudamsuasrelaescomomundoe

    coma lngua, e seus valores socioculturaiseatmorais so influenciadospelas imposies

    polticaseeconmicasdasgrandespotnciasinternacionais.

    Esse fenmeno chamado por Carvalho (1999) de violncia simblica, por essa

    cultura estrangeira ser imposta domais forte aomais fraco, assumindo um carter desleal.

    Inicialmente, essas mudanas atingem o diaadia dos grupos sociais, seus hbitos e

    comportamentos e sero refletidas tambm na lngua, posto que esta e a cultura se inter

    relacionam.

    Arelaolnguaculturadeveserabordadapedagogicamentenosambientesdeensino

    econsideradaem todososcontextoseducativos esociais.Aescola, instituio responsvel

    pela preparao e incluso dos indivduos na sociedade, atravs do ensino formal, tem a

    responsabilidade de promover o ensino (inter)cultural, mas tem negligenciado esta prtica,

    perpetuando a tradio conteudista de ensino e no despertando os alunos para o

    desenvolvimento de conscincia e atitudes que reconhecem a existncia de outros saberes

    diferentesdaquelesquesopreconizadosnasuacomunidade.

    A escola, a poltica e a cincia pregam, em seus discursos, que oBrasil um pas

    pluricultural. Entretanto, percebese que esta atribuio limitada simples referncia aos

    povos que influenciaram na formao do povobrasileiro e suas contribuies na culinria,

    religio,msicaenolxico(JOACHIM,2007).Acultura,pois,vistacomoalgodissociado

    docotidianosocialeisoladoemdeterminadascomunidades.

    1Oempregodaspalavras cultura,interculturalismo,interculturale cargaculturalserfreqenteeserepetiraolongodetodaapesquisaporseremtermosquetrazememsiumsentidoespecficoepornohaveroutraspalavrasqueexpressemexatamenteosentidoevocadonousodecadaumadelasnestetexto.

  • 25

    Observandoocontextoemqueaculturaestsendoabordadasocialmente,visamosa

    apoiar o processo de ensinoaprendizagem de lngua inglesa luz do interculturalismo,

    trazendo tona, nesta pesquisa, esta temtica polmica que o tratamento dos aspectos

    interculturaisnoslivrosdidticosdeingls.

    Mas,oque exatamentecultura?Emprimeiro lugar, essencialesclarecermosque

    nohumconsensosobreadefiniodestetermo,apenasconceitos,geralmenteconflitantes,

    namaioriadasvezesdivergentes,quesomaisadequadosadeterminadoscontextos,criados

    para atender s necessidades de reas especficas. A seguir, explicitaremos a etimologia e

    diversos significadosdestevocbulo,algumasconsideraes sobreeleeafirmaremos nosso

    posicionamentoassumidocomoembasamentotericoparaestapesquisa.

    Historicamente, a raiz latina da palavra cultura Colere, significando cultivar e

    habitar, adorar e proteger. Originalmente, cultura significa lavoura ou cultivo agrcola

    (EAGLETON,2000).Dessanoomaisprimriaeorgnica,ligadanatureza,culturapassou

    adesignarasprticasdiriaseosconhecimentossobreasartes,omundoeahistria.

    Burke(2005)fazumadivisodahistriaculturalemclssica,histriasocialdaartee

    histria da cultura popular.A primeira fase referese anlise das obras de arte que eram

    entendidascomorepresentantesabsolutasdacultura.Asegundavaculturacomoreflexoda

    sociedade, relacionandoaatransformaes sociaisepolticas.A terceira faseocupouseda

    culturapopular.Oautoresuasobrassorefernciasinternacionaisnosestudosculturaiscom

    contribuiesnombitosocial,cultural,histricoepoltico.Sualeituraindispensvelparaa

    compreensodacultura.

    AdefinioclssicadeculturaatribudaaTylor(1871,InBRITANNICA,1998),

    paraquemaculturaincluitodasascapacidades,habilidadesehbitosadquiridospelohomem

    emsuavivnciacomomembrodeumasociedade.

    SegundooDicionriodeLingstica(1973:163),Culturaoconjuntocomplexodas

    representaes,dosjuzosideolgicosedossentimentosquesetransmitemnointeriordeuma

    comunidade.Tal definio abrange as artes, o conhecimento demundo, o relacionamento

    entreoshomens,areligio,osjulgamentosdeumpovosobreoutro,opreconceitoetodosos

    itensquerepresentamomundoexterior.

  • 26

    De acordo com Kramsch (2001), antes da Segunda Guerra Mundial, cultura

    significavaconhecimentosobreliteratura,instituiessociaiseeventoshistricosadquiridos

    pelatraduodetextosescritos.AautoraafirmaqueotrabalhodeRobertLadoLinguistics

    Across Cultures, em 1957, foi a primeira tentativa de interligar lngua e cultura de uma

    formaeducacionalmenterelevante.

    DuranteosculoXX,vriosconceitosdeculturaforamcriadospelasdisciplinasdas

    cincias sociais, todos visando a atender s necessidades de cada rea, adequando cada

    conceito aos elementos pertinentes ao seu campo de atuao. Entretanto, no existe uma

    definiocategricaeabsoluta,mas aquelasqueatendem,aomenosmomentaneamente,s

    demandascientficasesciohistricasdassociedades.

    Para a sociologia, cultura o conjunto de normas e valores compartilhados pelos

    membros de um grupo social (SEIDL, 1998), considerandose as tradies, crenas,

    instituies. Por outro lado, a psicosociologia entende a cultura como a programao

    coletivadamentequedistingueosmembrosdeumgrupooudeumacategoriadepessoas2

    (traduonossa),(HOFSTEDE,1991apud ALVAREZ,1997).

    Duranti(1997)listaalgunsconceitosdeculturasobdiversasperspectivas:comoalgo

    distintodanaturezadeacordocomumavisocognitivasobaticasemiticacomosistema

    de mediao a partir das idias psestruturalistas como sistema de participao. Cada

    perspectivadessasatendeaumadeterminadareadoconhecimento.

    De acordo com Brown (1987), cultura constituise num estilo de vida que engloba

    tudo o que pensamos, o que sentimos, o contexto no qual existimos e nos referimos aos

    outros. umconjunto de elementos queune as pessoas, queo autor chamade cola.Ele

    afirma ainda que os diferentes construtos mentais em vrios grupos sociais so os

    responsveispelasdiversasformasdecultura.Portanto,cadaconstrutoexistentedeterminao

    pontodevistacomoqualosintegrantesdeumasociedadevoanalisar,avaliareinterpretaro

    mundo.

    2laprogramacincolectivadelamentequedistinguealosmiembrosdeungrupoodeunacategoradepersonas

  • 27

    Murdock(1961,apudBROWN,1987)enumeraseteuniversaisdospadresculturais

    decomportamento:

    1)Originamsenamentehumana

    2)Facilitaminteraesambientaisehumanas

    3)Satisfazemnecessidadeshumanasbsicas

    4)Socumulativaseseajustamamudanasemcondiesinternaseexternas

    5)Tendemaformarumaestruturaconsistente

    6)Soaprendidasepartilhadasportodososmembrosdeumasociedade

    7)Sotransmitidasparaasnovasgeraes.

    Estesuniversaisestofortementerelacionadoscondiohumanadeinteraocomo

    homemeomeio,decompartilhamentodesaberesedeconstruodelegado.Quandooautor

    falaemuniversais,referesescaractersticaspartilhadasemtodasassociedades,entretanto

    existemoutrosaspectosquesoespecficosediferenciadosparacadacomunidade cultural.

    Eles so reconhecidos pelos seus membros, tais como: expresses idiomticas, hbitos

    cotidianos,valoresecrenas.

    Ainda na linha das cincias sociais Banks &McGee (1989, In UNIVERSITY OFMINESSOTA,1997),discorremoseguintesobrecultura:

    [...]Aessnciadeumaculturanoseusartefatos,ferramentas,ououtroselementosculturaistangveis,mascomoosmembrosdogrupointerpretam,usameospercebem.Soosvalores,smbolos,interpretaeseperspectivasque distinguem uma pessoa de outra em sociedadesmodernizadas[...].3(traduonossa)

    Osreferidosautoresalegamqueascinciassociaisreconhecemaessnciadacultura

    como o uso, a percepo e a interpretao dos elementos culturais e no simplesmente a

    existnciaematerialidadedeartefatoseferramentas.Soasprticasinvisveisrealizadascom

    esses elementos que constituemo ncleo cultural e atravs dessas aes comuns que os

    membrosdecadacomunidadeseidentificamesereconhecem.

    3 [] The essence of a culture is not its artifacts, tools, or other tangible cultural elements but how themembers of the group interpret, use, and perceive them. It is the values, symbols, interpretations, andperspectivesthatdistinguishonepeoplefromanotherinmodernizedsocieties[].

  • 28

    Essainterpretaopragmticadotermoabrangeosreferenciaisculturaisdeumgrupo

    quesoperceptveise/ouadquiridosapenasnoconvviocomumdadogrupo.Anfasedada

    noprocesso,nasaesenonosprodutosmateriaisqueseoriginamdessasprticas.

    UmavisopoticadeculturaaassumidaporT.S.Eliot(1948apudEAGLETON,

    2000),quandoeledizqueaculturapodeserdescritacomoaquiloquefazavidavalerapena

    servivida,todasasformasdevidadeumpovo,donasceraomorrer,damanhatanoitee

    at enquanto dorme. Nessa viso, cultura entendida como algo mais inconsciente, nem

    sempreperceptvel.

    A conceituao supracitada compreende cultura como um processo integral de

    relacionamentos, vivncias naturais e construtos convencionados pelo grupo que so

    transmitidosnodiaadiadasociedade.Dessaforma,paraqueasuaconstruoocorrano

    acionadomecanismoespecficoalgum,masoaprendizadoocorreinconscientemente.

    Para Chau (2003:251), cultura um conjunto de prticas sociais pelas quais os

    homensserelacionamentresiecomanatureza,agindosobreelaemodificandoa,fundando

    dessaformaumaorganizaosocialquepassadegeraoagerao.Essadefinioabrange

    a relao direta do homem com a natureza e sua interveno sobre ela, pressupondo uma

    construoeentregadeum legado.Eladizrespeitosprticascoletivasquepertencemaos

    diversosgruposscioculturaisequeosrepresentamenquantogrupocultural.

    Por sua vez, Finkielkraut (1983) faz uma diviso interessante de cultura: erudita e

    popular.Aprimeiradizrespeitosmanifestaesartsticasclssicascomoliteratura,teatroe

    obrasdearte.Jaculturapopularcompreendeomododevidacotidianodeumacomunidade.

    Entendemos que as duas classificaes se complementam, constituindose num contnuo

    conceitual.

    Paraestudosinterculturais,culturaumconjuntodecaractersticasdecomportamento

    e interaes partilhadas, construtos cognitivos, e compreenso afetiva que so aprendidas

    atravs de um processo de socializao. Essas caractersticas partilhadas identificam os

    membrosdeumgrupoculturalaomesmotempoemqueosdiferenciamdeoutrogrupo.Em

    linhas gerais a cultura envolve afeto, emoo, interao, memria, famlia e origem.

    (UNIVERSITYOFMINESSOTA,1997).

  • 29

    Emcontrapartida,Brooks(1964)divideculturaemdoistipos:culturaxCultura,uma

    com c minsculo, referindose s prticas do cotidiano de um povo outra com C

    maisculo que se relaciona s obras de arte. Essa classificao assume, claramente, uma

    posturapreconceituosaeexcludenteaoapresentarmenorvaloraosmodosdevidaecostumes

    simplesdodiaadiadeumasociedade,atribuindolhesumcminsculo.Enquantoques

    obras de arte em todas as suas expresses: artes plsticas, msica clssica e literatura

    atribudoumCmaisculo,conferindolhesuperioridadeestatus.

    No podemos compactuar com tal classificao, pois sabemos que culturalmente

    convencionousequealgoescritocom letramaisculapossuimaiorvalore/oucredibilidade

    do que alguma coisa escrita com letraminscula.No concordamos, pois acreditamos que

    todaequalquerexpressoscioculturaldeumgrupotem sua importncia.Nossaproposta

    noatribuirmaioroumenorvaloraosdiversasmanifestaesculturais,maspromovero

    reconhecimentoeorespeitoentre todaselas.

    Adotando uma perspectiva cognitivista, Goodenough (1971) define cultura como o

    conhecimento,aorganizaodascoisas,daspessoas,seuscomportamentosesuasemoes.

    O referido autor faz uma diviso entre cultura visvel e cultura invisvel, sendo a primeira

    formadaportodososaspectosquesofacilmenteperceptveiscomopertencentesaumgrupo,

    porexemplo,acomida,alngua,asartes,areligioeavestimenta.

    Quantoculturainvisvel,estatemavercomoscomportamentos,ascrenasetodos

    oshbitosadquiridos inconscientementeequesocaractersticosdogrupoqueaspratica e

    nosopercebidospor indivduosquenopertencemaessegrupo.Oautoresclareceasua

    classificao,utilizandoametforadoiceberg,sendoaculturavisvelapontadoicebergeacultura invisvel sua base. O que invisvel (a base) fica submerso nas guas do mar e

    constituiaessnciaesolidificaodoconceito,sendoestesaspectosmuitosignificativospara

    serem observados, visto que eles so os alicerces para a existncia dos outros. A seguir,

    ilustraremostalcomparao.

  • 30

    Figura1 RepresentaodametforadoicebergdeGoodenough(1971). (formataodaautora)

    Nafiguraacima,apirmidesimbolizaoicebergaoqualGoodenough(1971)sereferiunaexplicitaodoseuconceitodecultura.Oazulmaisescurorepresentaomar,ooutrotom

    deazulsobrepostoaeste,representaabasedoicebergqueficasubmersanasguaseaparte

    brancasimbolizaapontadoicebergqueficavisvelacimadasguas.Notesequeapontadoicebergamenorpartedeleeelaqueficaexposta,enquantoqueasuabase,amaiorparte,ficainvisvelsob asguasdomar.

    Os elementos que esto no topo da figura so aqueles quepodemos identificar sem

    dificuldades emumadadacultura,poisestoexplcitosnascomunidades (lngua,culinria,

  • 31

    msica,dana),porissosofacilmenteperceptveis.Osqueestosubmersossoaquelesque

    no conseguimos identificar de imediato, portanto, precisamos conviver com aquele grupo

    para podermos perceber esses elementos (pensamentometafrico, compreenso demundo,

    valores,comportamentos).

    Entendemos cultura como o conjunto de elementos explcitos e/ou implcitos nos

    grupos sociais que revelam seu modo de vida, seus valores e que atravs dele podemos

    diferenciar os vrios grupos culturais existentes. Nossa idia de cultura assumida nesta

    pesquisaestemconsonnciacomopensamentodeGoodenough (1971).

    Aclassificaodeculturaemvisvele invisvel,doreferidoautor,permitenos fazer

    umaanalogiacomaidiadePlatosobreosmundosvisveleinvisvel,quesemanifestano

    Mito da Caverna, criado pelo filsofo em seu livro A Repblica (380370 a.C.). Esta

    metfora um construto capaz de fazernos compreender a condio dos homens ao longo

    dos tempos, representando filosfica e criticamente a situao destes enquanto seres

    ignorantes. Percebemos a adequao deste texto com o referente cultural destacado nesta

    pesquisa,pelo seucarterdidticoesuamensagemreflexivasobreopapeldaeducaona

    formaocidaddosalunos,comoveremosaseguir.

    2.1.1.PercepoeConscincia(Inter)CulturaiseoMitodaCavernadePlato

    O pensamento filosfico possui estreita relao com o processo educativo por

    promoverodilogoedesenvolverconscinciacrticasobreosconhecimentos.Asperguntas

    que representam os pilares do pensar filosfico questionam a condio humana, sua

    existncia,seupapelesuaaoperanteasociedade.Elasgeramreflexessobreosdilemas

    dahumanidadeeasuarelaocomomeioqueacerca.Quemsoueu? Ondeestou? Paraonde

    vou? Qualaminhamissonomundo?

    As reflexes (respostas) geradas por elas possuem um elo com a existncia e as

    prticas culturais humanas.Elas referemseorigem, identidade,aoespaonoqualo ser

    estinserido(localouglobal),aoreconhecimentodestelugar,sintervenesdoindivduono

    meio com vistas a atender s suas necessidades. Relacionamse ainda s mudanas,

    evoluohumanaeaopapeldo indivduoenquantomembrodeumcoletivoparacontribuir

    comaexistnciahumananomundo.

  • 32

    Estesaspectos supracitadosesto intrinsecamente relacionadossquestesculturais.

    Pelarelaoquepodeserestabelecidaentreafilosofiaeaeducao,utilizamosumametfora

    filosfica, O mito da caverna, para fazermos uma analogia ao tema cultural no

    desenvolvimentodestetrabalho.

    Omundo se apresenta de diferentes formas para as diversas culturas existentes.Tal

    afirmao sugere que amaneira como cadagrupovomundo representa a percepo que

    seusmembrostmdarealidadenaqualvivem.Eessaformadeveromundomotivadapelo

    conjuntodefatoresculturaiscompartilhadospelosmembrosdosdiversosgrupos.Portanto,a

    viso de mundo do indivduo determinada a partir do ponto de vista convencionado

    coletivamentepelogrupo,mesmoqueestaaquisiosejainconsciente.

    Esseprocessoenriquecidoquandoreconhecemosnooutroumsercultural,dotadode

    saberes peculiares ao seu grupo de origem e/ou convvio. A percepo e a conscincia

    interculturais so atitudes construdas e desenvolvidas em sociedade. Ter conscincia

    intercultural significa reconhecerqueexistemoutras representaesda realidade nomundo,

    que tudo quenos parece certo emelhor podenoo ser paraoutros povos.Tal conscincia

    evita a universalizao dos conceitos culturais, reconhecendo e respeitando as identidades

    distintasdassuas,convivendoemharmonia,evitandoassim,a(in)tolernciacultural.

    Porconseguinte,asinteraeshumanasentresi,entreascomunidadesculturaisecom

    a natureza criam o ambiente ideal para a troca de saberes, construo de conhecimento e

    identidade coletiva que levam ao desenvolvimento de atitudes crticoperceptivas. esse

    espao sciocultural democrtico o locus ideal para diminuir ou eliminar o preconceito eevitaraperpetuaodeprticasuniversalistaseetnocntricas,estimulandooentendimentoeo

    respeito a construtos distintos dos seus. Para orientar tal situao, o interculturalismo deve

    estar presente em todo processo comunicativo que envolve povos de diferentes lnguas e

    costumes,inclusivenasaladeauladeLI.

    A escola a instituioquedeveabordar formalmenteestasquestesedesenvolver

    nosalunosconscinciaerelativismoculturais,respeitosprticasalheiasevalorizaodos

    seusreferenciaishistricosesociais.

  • 33

    Para auxiliarnos a explicitar as nossas idias sobre percepo e conscincia

    interculturais,easuaimportnciaparaodesenvolvimentocrticoeaconstruodecidadania

    dosindivduos,fizemosumaanalogiadestesconceitoscomOmitodacaverna4descritopor

    Platoem 380370a.C.

    Figura2 Imagemdoshomensaprisionadosnacaverna,representando oMitodaCavernadePlato.CaptadaemAcessoem:15Set.2008

    Haviahomenspresosemumacavernadesdeainfncia,defrenteparaumaparedena

    qual eram refletidas as sombras de pessoas e objetos que passavam do lado de fora. As

    imagens projetadas, mesmo sendo indefinidas, eram entendidas como reais, pois eram os

    nicosreferenciaisqueelespossuamdomundoexterior.Essesindivduoscompreendiamas

    coisas apenas pelo que lhes era visvel no muro. Da mesma forma a pessoa sem

    conhecimento intercultural,porqueelase baseiaemseusconhecimentosprviosenosabe

    perceberaexistnciadeoutrosconstrutos,tampoucodistinguirasdiferenasexistentesentre

    as vrias culturas no mundo e a sua, posto que acredita ser o seu referencial o nico e

    verdadeiro.

    A referida metfora aborda a limitao do homem enquanto ser ignorante, sem

    conhecimentoesabedoriaporestar confinadoemuma caverna,desdecriana,acorrentado,

    sem ver a entrada desta. Nela, Plato traz a reflexo sobre o ser sem educao e as

    implicaesdestacondioparasuaatuaonomundo.

    4 In PLATO.2006. ARepublica.ColeoPaidia. SoPaulo:MartinsEditora.

    http://www_educ_fc_ul_pt-docentes-opombo-seminario-platao-images-caverna5_gif_arquivos/caverna2.htm

  • 34

    Compreendemos que o pensar filosfico um espao de reflexo crtica do

    conhecimento e se relaciona com a ao educativa. Cumprenos salientar que em A

    Repblicadefendidaaidiadequeatravsdaeducaooindivduodesenvolvehabilidades

    para favorecer o coletivo. a instruo que o leva ao mundo visvel, ou seja, ao

    conhecimento,inteligncia,aobempensarparaaintervenocidadnomundo.

    Portanto, esta alegoria adequada nossa analogia, pois entendemos quequandoo

    indivduoest,de tal forma, ligadosprprias tradiesculturais (sua caverna)apontode

    desconhecer,noentenderoudesrespeitaraculturaalheia,comoseestivesseaprisionado.

    Elecompreendeomundoapenasdeacordocomosreferenciaisquepossuiparaoshomens

    da caverna, as sombras na parede, e para os estudantes, seus valores, comportamentos e

    crenas.

    Assim,ohomemdeixadeveromundocomoelerealmentelforaeoalunodeixa

    deperceberasoutrasmanifestaesculturaisexistentesnoplaneta.Eleseapianoqueve

    desconsideraoutraspossibilidadesporqueestassoinvisveisparaeles.Platocompreendeos

    doisuniversos, osquaischamademundovisvelemundoinvisvel,daseguintemaneira:

    Mundovisvel Mundoinvisvel

    Suageografiaoespaosombrioda

    caverna

    Suageografiaouniversoforadacaverna

    Caracterizasepelaescurido CaracterizasepelaclaridadedoSol,

    permitindooalcancedacinciaedo

    conhecimento

    Ohomemseencontraencadeado,presona

    caverna

    Homemlibertodacaverna,investigandotudo

    aoseuredor,conhecendoasformasperfeitas

    Homemdominadopelassensaesepelos

    sentidosmaisprimrios

    Homemorientadopelaintelignciaepelarazo

    Emsituaodedesconhecimentoe

    ignorncia

    Em condiesdecultivarasabedoriaeabusca

    pelaverdadeepelajunodobemcomobelo

    Condiodohomemcomum Condiodofilsofo

    Tabela 1 Caractersticas do mundo visvel e do mundo invisvel, segundo Plato. Captado em:www.culturabrasil.pro.br/mitodacaverna.htm(adaptada)

  • 35

    Para o pensador, o mundo visvel o que vive os seres sem educao e o mundo

    invisvel aquele em que esto os que so educados, tm conhecimento e inteligncia,

    categorianaqualseencontramosfilsofos,pessoascom altograudeeducaoecriticidade.

    A analogia entre a alegoria Platnica e a importncia dos elementos culturais no

    ensino de LI, articula o referencial filosfico com o cultural e coerente porque os dois

    pontosobjetivamaformaoeodesenvolvimentocidados.Estapercepoestemperfeita

    relaocomosideaisinterculturaisdestapesquisa.

    Destemodo,comonomitodePlato,o indivduosemconhecimentosehabilidades

    interculturaisentendeomundodeacordocomaslimitaesimpostaspelasuasituao,como

    quesepodever(grifonosso).Soconsideradosapenasosseusvalores,crenasepontosde

    vista compartilhados com sua comunidade cultural,mesmoque a percepo domundono

    correspondaaoutrasrealidades.

    necessrio,pois,livrarsedascorrentesedaescuridoquecegaeimpedeaevoluo

    culturalhumana,oqueocorrerquandoohomemtiveracessoecompreenderoutrasformas

    deperceberomundoeagirdiantedele.

    Figura3 Representaodalibertaodoshomensdacavernano mitoplatnicoeatransformaoocorrida.Captadaem

    Acessoem:15Set.2008.

    Afiguraacimademonstraatransiodoespaogeogrficodacavernaparaomundo

    exterior,odeslumbramentodoshomensaoentraremcontatocomarealidadeeamudanade

    http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/platao/caverna2.htm

  • 36

    perspectivadiantedascoisascomoelasrealmenteso.Elaevidenciaapassagemdomundo

    visvelparaomundoinvisvel.

    Parailustraroparalelotraadonestapesquisa,apresentamosnossacompreensodessa

    relaonoquadroabaixo:

    Semconscinciaintercultural

    (mundovisvel)

    Comconscinciaintercultural

    (mundoinvisvel)Seumundolimitaseaoespaoemquevive

    (comunidadecultural,cidade,pas)

    Seumundo o universo completo, do qual

    eleesuaculturasopartesconstituintes

    Escurido,limitao Clareza,visualizaodonovo

    Homem universalista, etnocntrico, preso

    ssuascrenas,valores

    Homem relativista, livre para (re)conhecer,

    pesquisarerespeitaroutrasculturas

    Predominncia dos sentidos primrios, das

    sensaes

    Predominnciadarazoedainteligncia

    Ignorncia Conhecimento,sabedoria

    Condio do homem comum, sem

    conscinciaintercultural

    Condio do homem com conscincia

    interculturalTabela 2 Oparalelo estabelecido entre osmundos visvel e invisvel doMito daCaverna e a condio doshomenssemecomconscinciaintercultural(formataodaautora).

    A classificao Goodenoughiana (1971) de cultura em visvel e novisvel tem a

    mesma nomenclatura da diviso Platnica do mundo, mas a associao pode ser mais

    profunda.Quandooindivduopassaa(re)conheceraculturadeoutrospovos,vislumbrara

    realidadeexterior,especialmenteastradies,ascrenaseoscomportamentosdessesgrupos,

    elepassaa entendercomoosoutrospovosvivemeaenxergaromundode formarelativa.

    Ento,eletranscendeomundovisveletemacessoaomundoinvisvel,podendoverascoisas

    com formaesentidoreais.

    Goodenough sugere que quando a parte submersa do iceberg emerge possvel

    perceber e admirar outros elementos que at ento estavamocultos e que vm tonapara

    esclareceretornarpossveloentendimentoglobaldeumacomunidadecultural,suascrenas,

    valores e pontos de vista. Esse emergir corresponde s situaes de convivncia e conflito

    entreindivduosdediferentesconstrutosculturais,nasquaisoconhecimentointerculturalo

    mediadorerelativizadordasrelaes.

  • 37

    Ospontosdevistaapartirdosquaisosrepresentantesdeumacomunidadeinterpretam

    osfatos,revelamosvalores,crenasearefernciaculturaldoreferidopovo.Taisvisesso

    construdas na experincia de vida de cada indivduo, atuando como membro de uma

    coletividade,quesecaracterizapeloseurepertriodeconhecimentosprvios.

    Essesconhecimentos,tambmchamadosdeconhecimentosdemundo,constituemse

    numconjuntoderelaesevivnciasentreumindivduo,suacomunidadeeomundoqueo

    cerca.Tudovividoeconstrudoestarmazenadonasmemriasindividualecoletiva,epode

    serconsultadoeresgatadoaqualquermomentoparaservirdepistaparaqueumamensagem

    seja interpretada e compreendida numa dada situao (MATLIN, 2004). No contexto de

    ensinoaprendizagem de ingls, os conhecimentos culturais vo exercer papel basilar no

    desempenhodoaluno.

    Trifonovitch(1964)afirmaquecadavezmaissereconhecea importnciadacultura

    noprocessodeensinoaprendizagemdelnguainglesa,masqueaindanosesabeoquefazer,

    e como fazer, na abordagemdessa relao.Acrescentamos que essa problemtica visvel

    porque a questo da incluso cultural no ensino de lnguas estrangeiras um assunto

    relativamentenovonasdiscusseslingsticas.Almdisso,grandepartedosprofessoresque

    vo lidar diretamente com o tema, no est conscientizada e/ou sensibilizada sobre a

    importncia de o assunto ser trabalhado em sala de aula, nem est preparada para fazlo

    numaperspectivaquevalorizaaculturadalnguaalvo.

    Oreferidoestudiosoapontaquatrofatoresqueinterferemnapercepocultural,sendo

    oprimeiroafaltadeumadefinioexatadecultura,aqualeleconceituacomoumconjunto

    decomunicaesverbaisenoverbaisquepossibilitaaexistnciadasociedadehumana.

    O segundo fator a natureza afetiva da aprendizagem cultural. S tomamos

    conscinciadosnossospadresculturaisquandointeragimoscomalgumdeoutraculturae

    percebemosquenossoconjuntoderefernciadomundoedarealidadenoomesmonemo

    verdadeiro para todas as culturas. Para o autor, devido ao aspecto cognitivo necessrio no

    ensino cultural, em sala de aula, tornase difcil aprender cultura, haja vista este processo

    dependerdeaspectosafetivos.

  • 38

    Oterceiropontoqueatrapalhaapercepoculturaloetnocentrismo.Aqui,concebe

    se etnocentrismo como sendo o pensamento de que sua cultura a melhor e que sua

    interpretaodomundodarealidadeomaisadequadoeverdadeiro.Devidonossapostura

    enquanto seres etnocntricos, achamos que como percebemos o mundo e o que ocorre ao

    nossoredoramaneiracertadevlo.Encontramosaquiumgrandeentravenacompreenso

    evivncianasrelaesinterculturais.

    Em quarto lugar so mencionados o preconceito e o prjulgamento, quando

    estereotipamosegeneralizamosoutrosgruposculturais.Ocontatocomoutrasculturas,suas

    crenasevalorespermitequeconstruamososentimentodetolerncia,cuidadoerespeitopara

    com o outro povo, compreendendo sua viso de mundo e aceitandoa mesmo que ela se

    oponhasuaformadeentenderascoisas.

    Se cada ser compreende o mundo demodo diferente, a partir de suas experincias

    prvias,coerenteconcordarqueonossoolharsobrearealidadesocialmentedesenvolvido.

    Issosignificaquenaconvivnciacomosoutrosmembrosdonossogrupo,quedirecionamos

    o olhar e entendemos o mundo baseados nos referenciais e padres que internalizamos

    conscienteouinconscientementenestarelao.Eassim,porconseguinte,construmosnossa

    identidade.Aseguirversaremossobreaconstruoidentitriaeacultura.

    2.1.2.Construesidentitriasindividualecoletivanasrelaesinterculturais

    tornouse um costume ensinar lnguas estrangeiras nas escolas desegundograucomo se os alunos fossemvirar turistasnopas estrangeiro.Elestmalinguanecessriaparasobrevivncianessassituaeserecebemalgumas informaes teis, mas superficiais sobre o pas em questo.Contudo,istonoafetaavisodasuaprpriaidentidadeeadosoutroselesso implicitamente convidados para permanecerem firmemente apoiadosemseusprpriosvaloresecultura.5(BYRAM,1992)(traduonossa)

    Freire (1996) afirmaque papel da prtica educativocrtica possibilitar relaes de

    assunodasuaidentidadeentreosinteractantesdoprocesso.Tambmconfigurasuafuno

    5 ithasbecome thecustom to teach foreign languages insecondaryschoolsas ifpupilswere to becometouristsandholidaymakersintheforeigncountry.Theyhavethelanguageneededforsurvivalinsuchsituationsandaregivensomeusefulbutrathersuperficialinformationaboutthecountryinquestion.Thishoweverhasno effect on their view of their own identity and that of others they are implicitly invited to remain firmlyanchoredintheirownvaluesandculture.

  • 39

    conscientizar os alunos deque eles so seres criadores, transformadores e fomentadores de

    cultura,reconhecendosuaexistnciaeseulugarnoespao.Sobreotema,oreferidoautordiz

    queoaprendizdeve:

    Assumirse como ser social e histrico como ser pensante, comunicante,transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porquecapaz de amar.Assumirse como sujeito portador de identidade, uma vezque capaz de reconhecerse como objeto, como ser cultural, entretantosemaexclusodosoutros(1996:41).

    Hall (2003) afirma que as identidades so fragmentadas, mltiplas, antagnicas e as

    divide em trs concepes distintas. A primeira o sujeito do Iluminismo, aquele que

    totalmente centrado e individualista.A segunda o sujeito sociolgico, que se constitui na

    relaointerativacomoutraspessoasdasociedade.Eaterceiraosujeitopsmoderno,que

    no permanente, pois assume diferentes identidades em diversos momentos. O referido

    autor avalia se existe uma crise de identidade, seu significado e os caminhos que ela est

    seguindo.

    Carvalho (2005:25) afirma que com a globalizao criouse uma rea comum de

    referncia, onde as identidades especficas vo perdendo os contornos e que assim,

    enfraquecemse os vnculos com a comunidade mais prxima, junto com as noes de

    regionalismoenacionalismo.

    Aidiapessimistaexpressanacitaoacimarecebecrticasecombatidanocontexto

    contemporneo por uma nova prtica, surgida com as ameaas da globalizao, chamada

    glocalizao.Elarepresentaapermannciaeaconvivnciadosvaloreslocaiscomosglobais,nummovimento de resistncia, luta e afirmao do seu poder e sua importncia enquanto

    produtoresdeculturaepartedeumtodo.

    Glocalizao6 ajunodeglobalizaoelocalizao.Pordefinio,otermoglocal

    refereseaoindivduo,diviso,unidade,organizao,comunidadeegrupoquedesejaeest

    aptoapensarglobalmenteeagirlocalmente.

    6 Glocalisation (or glocalization) is a portmanteau of globalization and localization. By definition, the termglocalreferstotheindividual,group,division,unit,organization,andcommunitywhichiswillingandisabletothinkgloballyandactlocally.(en.wikipedia.org/glacalisation)

  • 40

    Canclini (1997) noaceitaa idiadeummundoglobalizadoqueuniformiza todasas

    manifestaes.Pelocontrrio,defendeovalordaculturalocalcomseuspadresespecficos,

    pertinentesacadagrupo. Oautordefendeoconvviodolocal(deondesefala)edoglobal

    (para e/ou sobreo que se fala) emummesmo espao,o prestgio que a cultura local deve

    assumir no contexto globalizado, impondose, mostrandose para o mundo e criando um

    fenmenoglocal.

    Adotarumaposturaresistente,nocedersimposiesglobalizadas,masconvivercom

    elas, expressando sempre as tradies do lugar, constri outras experincias coletivas de

    valorizao e preservao dasmanifestaes e dos costumes locais.Umexemplo disso o

    fenmeno carnavalesco pernambucano. A resistncia do frevo e sua permanncia como

    tradio e manifestao do nosso estado frente a um processo intenso de introduo de

    elementosexternosnossacultura,aexemplodoaxbaiano.Comoexpressoglocal,afora

    do frevo se faz presente a cada demonstrao, resiste s vrias tentativas de incorporaes

    estrangeiras,masastradiesprevalecem,reafirmandoasuaidentidadeeasuamarcaqueo

    diferenciadequalqueroutraexibiocultural.

    Tratase de uma prtica coletiva de resistncia que refora os valores locais de uma

    sociedade e que possvel devido ao sentimento de identidade fortalecido dos cidados

    pernambucanos. Outros fatores so a conscincia do valor desta manifestao cultural, o

    poderderesistncia,anoaceitaodasinflunciasexternas,masaimposiodoseuespao

    nomundo.

    Quando os alunos de uma lngua estrangeira tm conscincia intercultural eles

    reconhecemasua identidade,adopovodalnguaqueestsendoaprendidaerespeitamna,

    masnoasupervalorizamemdetrimentodasuaprpria.

    A conscincia de identidade sciocultural o fenmeno pelo qual as pessoas se

    afirmamperanteasociedadeesecompreendemcomosujeitospertencentesaumdeterminado

    grupoconstrutordehistriaedecultura,almdereconhecererespeitara identidadescio

    cultural do outro. Ela determina a imagem que temos de ns mesmos diante de outros

    referenciaisculturais.

  • 41

    MoitaLopes(1996:55),empesquisacomprofessoresdeinglsdeescolaspblicasdo

    Rio de Janeiro, descobriu que existe preconceito com relao s coisas que se referem ao

    Brasil. Dos 102 professores pesquisados, a maioria relaciona palavras positivas aos

    estrangeirosepalavrasnegativasaosbrasileiros.Dentreosparticipantesdapesquisa,45%dos

    entrevistadosdisseramqueosbrasileirossomaleducadose0%dissequeospovosdelngua

    inglesaosoouainda,para4%destesobrasileirotrabalhadorepara56%osestrangeiroso

    so.

    Tomando como referncia esses dados, percebemos como os professores brasileiros

    pesquisados se subestimam ediscriminam seupovo, sua lngua e sua cultura fazendouma

    representaonegativadesiedosseuscompatriotas.Dessaforma,podemosafirmarqueesses

    professores de ingls trabalham com o referido idioma a partir de uma concepo

    estereotipadadoseuvaloreda suacomunidade, colocandoseem situaode inferioridade

    individual e coletivamente. Esse fenmeno parece ocorrer devido ao deslumbramento de

    alguns professores, com a referida lngua, com o sonho do primeiro mundo o sonho

    americano (grifo nosso), com as mensagens que o bombardeiam constantemente para

    convenclodasuperioridadedestacultura,ousimplesmentepornoteremaconscincia

    interculturaldesenvolvidaparavalorizaremsuaidentidadeindividualecoletiva.

    A identidade coletiva constituise de elementos que caracterizam um determinado

    grupoequeservemparadiferencilodeoutros.Oconjuntodeinformaesreferentesauma

    comunidade so construtos e prticas sociais, culturais e lingsticas. Estes aspectos

    compartilhados so: os hbitos cotidianos, a lngua, todas as prticas que identificam os

    membrosdocomunidadenoqualelessereconhecemesentemsepertencidos.

    A valorizao dessa identidade coletiva deve ser incentivada, ressaltando que

    imprescindvel o estmulo ao desenvolvimento da conscincia relativista de conceitos e

    prticas,paraquesecombataoetnocentrismo.

    2.1.2.1. EtnocentrismoXRelativismoCultural

    A prtica e a fidelidade cega s suas tradies umaprticaanticulturalenegaadiversidade.

    (DEBERNARDapudJOACHIM,2007)

  • 42

    A citao acima confirma que as prticas etnocntricas rejeitam a aceitao do

    pluralismo,desconsideramadiversidadeculturaleestimulama intolernciaentrediferentes

    grupos culturais. Assumir uma postura no relativista, no mbito cultural, no condiz com

    uma prtica respeitosa s identidades que constituem os diversos povos e corresponde

    negaodeumaconscinciacrticaereflexiva,sendocontrriaaumaconcepodemocrtica

    decultura.

    Etnocentrismo a tendncia a interpretar ou avaliar outras culturas a partir da sua

    prpria cultura.Relativismo cultural, poroutro lado, uma abordagemcomparativa que se

    originadeumacompreensoeapreciaodeculturasdiferentesda sua (InBRITANNICA,1998), (Traduo nossa). importante que tomemos conscincia da existncia de outras

    culturas e relativizemos nossos padres para no sermos disseminadores de preconceito

    cultural.

    Como afirma Carneiro (1992), a nossa cultura apenas uma parte da realidade

    universal e no a realidade universal. A referida citao nos remete diretamente ao

    pensamento de Pascal (apud MORIN, 2003) sobre a questo do mtodo e da reforma do

    pensamento,noqualoautorexpressasuaidiasobreaconsideraodotodoedaspartesda

    seguintemaneira:Como todas as coisas so causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes,mediatas e imediatas, e todas so sustentadas por um elo natural eimperceptvel, que liga as mais distantes e as mais diferentes, consideroimpossvelconheceraspartessemconhecerotodo,tantoquantoconhecerotodosemconhecer,particularmente,aspartes.

    Esseprincpioseaplicanossaanalogiaculturalporassociarmosotodoeaspartes

    questodauniversalizaoedarelativizaoculturais.Ainda,porentenderqueopensamento

    intercultural deve reconhecer multidimensionalmente os fenmenos, valorizando a

    singularidadedecadaum,percebendoadiferena,relacionandoeunindoaoinvsdeisolare

    separar.Acreditamosqueassimquedevemosentenderasmanifestaesidentitrias.

    Cadasociedadepossuicrenas,atitudesevaloresprpriosesoelesquedeterminam

    o ponto devista dos indivduos que a constitui.As decises, pensamentos e aes deuma

    comunidadeedeseusrespectivosmembrosdependem doqueconsiderammaisaceitvelpara

    ogrupo.

  • 43

    A aceitao do relativismo intercultural implica na percepo de que sociedades

    diferentes apiamse em valores distintos. Madison (1982) afirma que, enquanto no nos

    conscientizarmosquenossaculturanoanatural,amaisbonitaeanica,nopoderemos

    apreciaradiversidadecultural,logonodesenvolveremosumaconcepointercultural.

    Ocontatointerculturaldesconstri etransformaosnossospadresculturaisadquiridos

    emsociedade,poiscombasenelesqueimaginamosoqueocorreremdiversassituaese

    como deveremos agir nos mais diferentes contextos situacionais. Os nossos esquemas

    internalizados sodeterminantesparaagerao emanutenoda sensaodeconfianaao

    lidarcomosmaisdiferenteseventos.

    Matlin(2004)conceituaesquemacomosendooconhecimentogeneralizadosobreuma

    situaoouevento.Paraaautora,asteoriasdestetemapropemqueaspessoascodificamna

    memriainformaesgenricassobreumasituao,usandoasparaentenderelembrarnovos

    exemplos convencionados a que se referem. Somos orientados pelo esquema para o

    reconhecimento e a compreenso de novos exemplos, formando expectativas sobre o que

    deveria ocorrer, sendo muito importante no nosso processamento cognitivo da leitura de

    mundo.

    Entretanto, nossos esquemas podemnos conduzir a erros por termos emmente um

    determinado conjunto de eventos e de situaes que convencionamos serem universais, e

    numadadasituaonossasexpectativaspodemserfrustradas,poisessesreferenciaispodem

    variardeculturaparacultura.Quandoelesnocorrespondemssituaescomasquaisnos

    deparamos,ocorreochoquecultural.

    Por suavez, o script um tipo de esquema.Ele uma seqncia linear de eventos

    relacionados a uma atividade conhecida (idem). Por exemplo, o script de jantar em umrestauranteentrarnorecinto,dirigirsemesa,sentarsenacadeira,pedirocardpio,tomar

    algumabebida,usargarfoefacaparaalimentarse,pagaraconta,levantarseeirembora.

    Porm,esse scriptnouniversal,pois se forumrestaurante japons,poisantesdeentrarnorecintooindivduotiraossapatos,sentanocho,comecompalitinhos,tomasopa

    diretamentenatigela(nousacolher).Ouainda,seforumrestaurantecoreano,apessoapega

    acomidacomamoelevaboca.

  • 44

    Deacordocomoexposto,ficaclaroquescriptseesquemasnosouniversais,mas

    relativos e que ambos so importantes no processo de compreenso cultural. Dessa forma,

    evidenciaseaimportnciadavalorizaoscioculturaledarealidadenaqualosindivduos

    estoinseridosparaacompreensodasdiversasformasdeseentenderummesmofenmeno

    emdiferentesculturas.

    Deixardeseruniversalistaeassumirumapostura relativista noprocessodeensino

    aprendizagem intercultural transforma nosso olhar para percebermos e respeitarmos a

    coernciapertinentesprticasdosdiversosgrupossociaisexistentes.Dessaforma,deixamos

    de ser seres etnocntricos e passamos a ser multicntricos. Neste processo, a lngua se

    apresentacomoelementoessencialderefernciaculturaldoindivduo.

    2.2.LnguaeCultura

    Alnguaeaculturamaternassoaprendidasnodiaadiadacomunidadedeorigemou

    naqualapessoacresce.assimquecadaumaprendeasereconhecercomoserindividuale

    elementopertencenteaumacomunidadecoletivamenteestabelecida.Acultura,apartirdessa

    viso,componentebasilardasconcepesevisesdarealidadequecadaserconstri,das

    vriassociedadesexistentes.

    Todas as comunidades tendem a preservar suas lnguas e a manter as tradies,

    costumesecrenasqueascaracterizam, simbolizamediferenciamdeoutrosgrupos.Dessa

    forma, a presena de um idioma estrangeiro no convvio dirio de um povo pode ser

    entendidacomoameaacontinuaodaexistnciadesualnguaecultura.

    Oidiomainglsalvoconstantedeacusaessobreatransformaoeoextermniode

    outras lnguas. Entretanto, devemos lembrar que o espanhol e a prpria lngua portuguesa

    tambmforam,eaindaso,responsveispelodesaparecimentodediversaslnguasindgenas,

    comoapontaCristal(2000)emseusestudossobreoreferidotema.

    Para nos auxiliar no entendimento do processo de ensinoaprendizagem de lngua

    inglesa, explicitaremos nossa compreenso de lngua. Segundo Marcuschi (2000), a

    sociolingsticasurgenosanos60comvertentesvariacionistasouculturalistasparaoensino,

    como discurso deque a variao lingstica era uma contraparte da variao social, como

  • 45

    postulavamWeinreich,Labov,DellHymes, entre outros.Apartir da, a lnguapassa a ser

    compreendida como um processo sciohistoricamente situado, partindo do seu uso e da

    formadeapresentaotextual.Aheterogeneidadeesua relaocomasociedade tornamse

    reconhecidas, e o interculturalismo tambmpassa a ser considerado no processo de ensino

    aprendizagem.

    Oensinointerculturalrespaldadopelaabordagemsciointeracionista.ParaVygotsky

    (2003), a linguagem social e o conhecimento se constri atravs de interaes, da

    colaboraoedocompartilhamento.

    Aabordagemsciointeracionista implicaqueatravsda linguagemeda interao

    comoutrosmais capacitados que as crianas ampliam seus conhecimentos.A linguagem

    entendida,aqui,comosendoumprocessocognitivo,histricoescioculturalmentemarcado.

    Essaperspectivaembasaoprocessodeensinoaprendizagemapoiadopelointerculturalismo,

    por envolver vrios processamentos cognitivos, incluindo as relaes entre produo e

    compreensodelinguagemeconhecimentosculturaisnacomunicao.Aseguirversaremos

    sobrearelaolxicocultural.

    2.2.1.LxicoeCultura

    Umasociedadetemsuaculturarefletidaatravsdesualnguaeestalheservedemeio

    de expresso e a liga ao mundo exterior. O acervo lexical de uma lngua reflete as

    experinciasdopovoqueafala,oseuuniversosemnticoseestruturaemtornodoindivduo

    edasociedadeedocontatoentreambosqueseoriginaolxico(Carvalho,1999).

    As palavras tm um lugar importante na cultura, e aprender palavras uma ao

    essencial econtnuaaoestudaroutra lngua.Carvalho (idem)dizqueapalavra bsica na

    comunicaoesuafunonomear,qualificaredistinguirasdiferenas.importanteparaa

    nossainvestigaocientficadefinirmospalavra.OminidicionrioAurlio(2000)adefine

    como: fonema ou grupo de fonemas com uma significao termo, vocbulo. Sua

    representaogrfica.Manifestaoverbalouescrita.Faculdadedeexpressaridiaspormeio

    desonsarticuladosfala.Mododefalar.

  • 46

    O lxicooobjetodeestudoda lexicologia.Suaorigemvemdogrego lexiconque

    tem, em sentido lato, o significado de vocabulrio. Ele constitudo pelos morfemas, que

    constituem suas unidades bsicas, podendo sermorfemas lexicais e gramaticais. Esses so

    considerados classes fechadas, pois no sofrem renovaes (o artigo, o pronome relativo e

    alguns advrbios). Aqueles constituem as classes abertas por serem passveis de

    incorporaesemudanas(overbo,oadjetivo,osubstantivoeoadvrbionominal).

    Em termos de significao, os lxicos de lnguas diferentes no se relacionam

    diretamente de uma lngua a outra. Uma mesma realidade extralingstica pode ser

    compreendidadeformadiferenteporduaslnguasdamesmafamlia,poishainterferncia

    deoutrosfatores,ossociaiseosculturais,porexemplo.

    Olxicodeumalnguaestemconstanteprocessodeevoluo,atravsdacriaode

    novostermos,damudanadeformaecontedosemntico.Essasmudanasetransformaes

    no lxico de uma lngua ocorrem ao longo do tempo, no processo natural do seu uso nas

    interaeshumanas,noocorreminstantaneamentecomasmudanassociaiseculturais.

    Segundo Weinreich (1970), mudana cultural normalmente envolve no apenas a

    adio de um novo elemento ou elementos cultura, mas tambm a eliminao de certos

    elementosprexistenteseamodificaoereorganizaodeoutros.

    Nesse processo intercultural as lnguas ganham e perdem elementos, outras vezes

    sofrem mudanas e se reorganizam com base no contato com a outra lngua. Vogt (apudWEINREICH, 1970) afirma que todo enriquecimento ou empobrecimento de um sistema

    envolve necessariamente a reorganizao de todas as oposies distintivas de um sistema.

    Ambosentendemqueexisteumaespciedeacomodaonaturaldas lnguasdecorrentedos

    contatoscomoutraslnguaspararedefinir,reorganizaroselementosdossistemaslingsticos

    emquesto.

    Weinreich (1970:33) trabalhacomanoodecontatoe interferncia lingsticosna

    relaoentrelnguas.Oreferidoautordizqueasformasqueumvocabulriopodeinterferir

    emoutrossovrias.Exemplo:dadasaslnguasAeBosmorfemaspodemsertransferidos

    deA para B, ou osmorfemas de B podem ser usados em novas funes designativas nos

  • 47

    moldesdosmorfemasdeAnoqualelessoidentificados.Nocasodepalavrascompostasos

    doisprocessospodemsecombinar.

    Comoditoanteriormente,asmudanaslingsticassonaturais,apartirdasinteraes

    interculturais, sendo em decorrncia do uso e da evoluo da lngua, seja no seu prprio

    territrioounoscontatoscom comunidadesestrangeiras.

    Quandohaincorporaodetermosestrangeirosemoutralnguaecultura,estesvm

    carregados devalores, simbolismos e ideologias que interferemdiretamente na lngua e na

    cultura que recebeu tais palavras. Sobre o exposto, Biderman (2001) diz que o ingls o

    verdugoquedesfiguracadavezmaisalnguaportuguesa.

    Apostura assumidapela referida autora parece desconsiderar que a lngua viva e

    que, sendo entendida como um processo sciohistrico, est em constante transformao,

    ganhando e perdendo elementos em seus contatos com outras lnguas e culturas. Saber

    reconhecerestemovimentoauxilianapercepointercultural.

    Carvalho (1999) lembraqueabase lexicaldoportugusformadapelo latimvulgar

    queprevaleceusobreolatimclssiconaPennsulaIbrica.Contriburamparaaformaodo

    lxicoportuguselementosprromanos,ibricos,celtasebascos,epsromanos,germnicos

    e rabes. Tambm ocorreram contribuies do Ingls e das lnguas asiticas, africanas e

    americanas.Juntamentecomascontribuieslingsticasvieramascontribuiesculturais.

    Uma reflexo importante, que pode nos ajudar a entender como se d essa

    incorporaoconsistenoconhecimentodacargaculturaldaspalavrasedetodaamensagem

    implcitaeopoderqueelacarregadentrodesi.Comoveremosadiante.

    2.2.2.CargaCulturaldasPalavras

    Todalnguacarregadadeculturaenoseuusoquesoexpressosesseselementos

    implcitoscompartilhadospelosgruposculturais.Existe,pois,ainterfernciadosreferenciais

    dasuaprpriacomunidadenoquecomunicadonomomentodainterao,mesmoqueesta

    se d em uma lngua estrangeira. Um falante nativo tem internalizado conhecimentos

    especficosinerentessualnguaesprticasdoseupovo.Essesvalorescompartilhadosso

  • 48

    expressosnaturale inconscientementenasua falaapartirdaescolhadaspalavras,da forma

    queinterpretaosfatos,ecompreendeasmensagens.

    Sendoapalavraportadoradamemriasocial,elatrazconsigotodaacargaculturalde

    uma comunidade. Este componente denominado, por Galisson (1987) carga cultural

    partilhada,epermiteidentificarofalanteenquantoindivduocoletivo.

    nas palavras que este peso se revela mais fortemente, apesar de tambm estar

    presente nosaspectos fonolgicos,morfolgicosesintticos.Oseu valor semnticomais

    determinantequeodosoutroselementoslingsticos.Entretanto,estacarganouniforme,

    segundoGalisson(op.cit.).

    So exemplos de palavras que tm cargas culturais diferentes: sogra e frango. Em

    francs,sogranotemamesmaconotaoquetemnoBrasil.Paraosfrancesesasograa

    bellemre (bela me traduo ao pdaletra), enquanto que noBrasil, a sogra vista

    comomegera,cobra,pessoaindesejvel,diferentementedaacepofrancesaqueavcomo

    umseradorvel,queridoeamado.Seriaumafaltaderespeitoparaos francesesreferirse

    sogradamesmaformaqueestconvencionadanasociedadebrasileira.Apalavrafrangotem

    omesmoreferenteeminglseemportugus,pormnoBrasil,almdenomearumaaveum

    termopejorativoparareferirseaumhomossexual.Aspalavrascitadaspossuemdenotaes

    iguaisecargasculturaisdiferentes.

    O fenmenochamadoporGallisson(1987)decargaculturaldaspalavrasconsiste

    emumprocessodeincorporaodemarcasreferenciaisdeoutrascomunidadesdiferentesda

    suaquandoumalnguaestinseridaemoutracomunidadeeseulxicosofretransformaes

    nasuaformaoriginal.

    Aspalavraspossuemum significado iniciale quandosousadasemuma sociedade

    diferente da sua de origem, na interao com outros fenmenos, com os saberes extra

    lingsticos dos falantes, ela recebe influncias desse movimento e novos sentidos so

    agregadosqueleinicial.Astransformaessofridaspodemrevelarsenaortografia,nossons,

    mas a carga cultural se instala nos sentidos das palavras. O autor supracitado utiliza um

    esquemaparademonstraraelaboraodosignificadoedacargaculturalpartilhadadosigno.

  • 49

    Figura4 Esquemaqueexplicaoprocessodeaquisiodacargaculturaldaspalavras(Gallisson,1987:136)

    As marcas que as palavras de uma lngua carregam arraigadas na sua essncia se

    refletemnafala,nocomportamentoenopensardosfalantes.Poroutrolado,oconhecimento

    destas cargas culturais determina a compreenso damensagem pelo ouvinte.Dessa forma,

    ressaltamos que,mesmo falando a lngua estrangeira, o falante pode estar pensandona sua

    lnguamaterna(TAGNIN,2005).Osubttulodestetrabalho:natualnguaquefalo,masnaminhalnguaquetecompreendo7vainaesteiradopensamentodareferidaautora.

    Mesmoquandoofalanteseexpressanalnguaestrangeira,suafalaeseuentendimento

    dasmensagensestoimpregnadosdereferncias,valoresetradiesdasualnguamaterna.A

    culturapossui intensa relaocomo lxicodeuma lnguaeessa ligao evidenciadaem

    todasassituaescomunicativasnasquaisosinteractantespertenam adiferentessociedades.

    7 Osubttulo desta obra cientfica uma traduo livre dacitao dedouardGlissant: Je te parle dans talangueetcestdansmonlangagequejetecomprends.

  • 50

    As vrias formas de comunicao exigem diferentes nveis de competncia

    comunicativa, colaborao e conhecimentos culturais sobre a lngua estudada. A seguir

    versaremossobreascompetnciascomunicativoculturais.

    2.3.Competnciascomunicativaecultural

    Como dito anteriormente, a linguagem entendida como um processo scio

    historicamente situado, sendo uma ferramenta de transmisso cultural, utilizada para a

    comunicao humana. Portanto, uma prtica social na qual os falantes so socialmente

    constitudos(VYGOTSKY,2000).

    O autor supracitado, em sua teoria sociointeracionista, elege professores como

    mediadoresdoensinoaprendizagemealunoscomoautoresdoseuconhecimento.Portanto,

    concebeoprocessoeducativocomodeterminadoculturalesocialmente,construdoatravsda

    interao.

    Tal conceito est em perfeita sintonia com os princpios de Paulo Freire (2004),

    segundoosquaisoalunoresponsvelpelasuaaprendizagem,ereconheceomesmocomo

    ser integralquepossui fatores intelectuais eemocionais devendo agirconjuntamenteparaa

    formaointegraldoaluno.

    Os referidos pressupostos possuem uma estreita relao com o conceito de

    competncia comunicativa proposto por Hymes (1972), que compreende tambm a

    competncia lingstica, a sociolingstica ou pragmtica. O autor incorporou a dimenso

    socialaoconceitodecompetncia, introduzindoapalavracomunicativoparaespecificaro

    seudirecionamentonousodalngua.

    Segundo a noo deste estudioso sobre competncia comunicativa, atravs do

    desempenho do falante, usando a lngua de forma coerente, sabendo o que falar, a quem,

    quandoedequeformaqueoindivduodemonstrasuacapacidade. Elaenvolve,pois,noes

    sobre aspectos lingsticos, scioculturais, contextuais e conhecimentos de mundo para o

    desenvolvimentodacompetnciaintercultural.

  • 51

    Opesquisadorsupracitadopostulaqueoensinodelnguainglesadevedesenvolverum

    tipo de competncia que vai alm do conhecimento lingstico, das noes estruturais do

    idioma e suas caractersticas, mas diz respeito capacidade de o aluno comunicarse com

    povosdeoutrassociedadesedediferentesrefernciasdemundo.

    SobrecompetnciainterculturalByrametal(2002,p.10)dizemserahabilidadedeassegurarumentendimentocompartilhadoporpessoasdeidentidadessociaisdiferentesesuas

    habilidades de interagir com pessoas enquanto seres humanos complexos com mltiplas

    identidadesesuasindividualidadesprprias.8

    Baseados em Zarate (1986), entendemos por competncia cultural um conjunto de

    habilidades desenvolvidas em um indivduo ou um grupo a partir das suas relaes com o

    mundo que os possibilita compreender uma mensagem atravs da seleo adequada de

    informaespertinentesinterpretaodasituaoouevento.

    De acordo comMottaRoth (2000), competncias interculturais so habilidades em

    sustentar comunicao com o Outro que parte de sistemas de referncia diferentes dos

    nossos. atravs dessa competncia que decidiremos se aceitamos ou rejeitamos as

    influnciasqueprovenhamdessesreferenciaisexternos.

    A competncia cultural adquirida naturalmente nas relaes sociais do indivduo

    dentrodoseugrupoenassuasinteraescomomundo.Nesseprocesso,ohomemnotemo

    poder de selecionar o que de cultural ele quer aprender, ele simplesmente absorve

    inconscientemente os comportamentos, valores, crenas e conceitos que esto arraigados

    naquela comunidade da qual ele faz parte. Devido a essa forma de aquisio, o indivduo

    tendeauniversalizarsuapercepocultural,deacordocomsuarealidade,oquemuitasvezes

    causadesentendimentosemalentendidos.

    A falta de conhecimento intercultural sobre o povoque emite amensagem inicial

    responsvel pelas incompreenses, choques culturais e malentendidos que constantemente

    ocorrem nas interaes entre povos de diferentes culturas. Essas diferenas culturais so

    8abilitytoensureasharedunderstandingbypeopleofdifferentsocialidentities,andtheirabilitytointeractwithpeopleascomplexhumanbeingswithmultipleidentitiesandtheirownindividuality.

  • 52

    chamadasporZarate (1986)defronteiracultural,oespaoquedelimitaa (in)compreenso

    dasaesecomportamentoshumanosemdiferentessociedadesculturais.

    A d