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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Graduação de Saúde Coletiva Elizabete Silvana de Almeida Saúde mental e trabalho em instituições de privação de liberdade: uma revisão narrativa Cuiabá/MT 2014

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Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Saúde Coletiva

Graduação de Saúde Coletiva

Elizabete Silvana de Almeida

Saúde mental e trabalho em instituições de privação de

liberdade: uma revisão narrativa

Cuiabá/MT

2014

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Elizabete Silvana de Almeida

Saúde mental e trabalho em instituições de privação de

liberdade: uma revisão narrativa

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto de Saúde

Coletiva da Universidade Federal de

Mato Grosso, para obtenção em do

Título de Bacharel em Saúde Coletiva.

Orientadora:

Prof. Dra. Reni A. Barsaglini.

Cuiabá/MT

2014

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus por ter me concedido força, graça e sabedoria para chegar até

este momento.

A minha orientadora Profª Drª. Reni A. Barsaglini que me ajudou a esculpir cada etapa

deste trabalho pela paciência, dedicação e compreensão.

A todos os docentes que passaram pela graduação e nos incentivou a continuar

batalhando pelos nossos sonhos, também pelas lições aprendidas.

Aos meus familiares pelo apoio e compreensão recebida, especialmente, a minha mãe a

qual eu amo muito.

A todos meus colegas e amigos de graduação pela amizade e carinho dispensados a

minha pessoa, principalmente, a Weidilene Moraes, a Lúcia Stela e ao Gilmar Francisco

com os quais foram estabelecidos fortes laços de amizades e eu pude contar durante

toda graduação.

Por último, aos meus colegas e amigos de profissões pelo apoio recebido ao longo da

graduação.

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ALMEIDA, Elizabete Silvana de. Saúde mental e trabalho em instituições de

privação de liberdade : uma revisão narrativa. 57 p. Trabalho de Conclusão de

Curso (Graduação em Saúde Coletiva) - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade

Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2014.

RESUMO

As instituições de privação de liberdade são ambientes de trabalho permeados por

violências físicas e verbais. Os trabalhadores que desempenham suas atividades laborais

neste local, principalmente os agentes socioeducadores e agentes penitenciários são

profissionais que estão expostos diuturnamente às situações inusitadas, tais como

motins, rebeliões e ameaças à vida, a integridade física e mental. Assim estes

trabalhadores têm de estar sempre atentos, devem permanecer em vigília

constantemente, pois qualquer distração pode ser o momento propício ao surgimento de

situações adversas. Devido aos perigos, às pressões do ambiente, ao ritmo acelerado de

trabalho, entre outros fatores negativos, estes profissionais são submetidos a um

desgaste físico e mental considerável, com sofrimento mental intenso, o que acaba

atingindo a sua saúde. Este estudo trata de uma revisão narrativa, onde caracterizamos a

produção científica nacional sobre o trabalho em instituições de privação de liberdade e

a sua relação com a saúde mental. A busca das publicações foi realizada nas bases de

dados SCIELO, BVS e BDTD e selecionadas através da leitura do título do estudo ou

do resumo no caso de dúvidas. Os resultados foram organizados em quadros para

melhor visualização. As categorias de análise foram elaboradas a partir da leitura na

íntegra dos trabalhos selecionados. Foram encontradas 14 publicações e destas somente

quatro estudos sobre a relação saúde mental e trabalho referente ao grupo de agente

socioeducativo. Os estudos demonstraram que o agente socioeducativo e o agente

penitenciário, além da exposição a um ambiente inadequado de trabalho, estão expostos

aos riscos físicos e psíquicos. Também mostraram alguns agravos que tem atingido à

saúde mental destes trabalhadores, os quais podem ter relação com o ambiente de

trabalho que estão inseridos. Apesar do sofrimento gerado por este trabalho, a

estabilidade funcional, o salário da categoria, a escala em sistema de plantão e a

participação nas tomadas de decisões são considerados vivências de prazer.

Palavras chave: Saúde mental, instituições de privação de liberdade, trabalho,

socioeducativo, penitenciária.

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privação de liberdade : uma revisão narrativa. 57 p. Trabalho de Conclusão de

Curso (Graduação em Saúde Coletiva) - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade

Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2014.

ABSTRACT

Juvenile detention and correctional and rehabilitation institutions are work

environments permeated by verbal and physical violence. Workers who perform

their work activities in this location, especially counselor agents and prison

correctional officers are professionals who are incessantly exposed to unusual

situations, such as riots, rebellions and threats to life, physical and mental

integrity. So these workers must be vigilant, should stay constantly alert, because

any distraction can be conducive to the emergence of adverse situations. Due to the

dangers, environmental pressures, the rhythm of accelerated work, among other

negative factors, these professionals are subjected to considerable physical and

mental stress, with intense mental suffering, which ultimately affecting your

health.This study is a narrative review, which characterized the national scientific

production on the work of detention institutions and their relationship with mental

health. A search of publications was conducted in the databases of SCIELO, VHL

and BDTD data and selected by reading the title or the abstract of the study in

case of questions. The results were organized into frames for better viewing. The

categories of analysis were drawn from the full reading of selected works.14

publications were found and of these only four studies on the relationship and

mental health related to socio agent group work. Studies have shown that

counselors agents and the correctional officers, and exposure to inappropriate

work environment, are exposed to physical and psychological dangers. also showed

some worsening who have attained the mental health of these workers, which may

be related to the work environment to which they are inserted. Despite the

suffering caused by this work, functional stability, the salary category, the scale on

duty system and participation in decision making are considered experiences of

pleasure.

Keywords: Mental health, adverse situations of deprivation of liberty, Juvenile

detention, penitentiary institutions.

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS ................................................................................................................. 9

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................... 10

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................................. 15

JUSTICATIVA ........................................................................................................................... 21

OBJETIVOS ............................................................................................................................... 24

METODOLOGIA ....................................................................................................................... 25

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................... 28

Parte I - Caracterização das publicações científicas sobre saúde mental relacionada ao trabalho

em instituições de privação de liberdade ................................................................................. 28

Parte II - Saúde mental relacionada ao trabalho em instituições de privação de liberdade ......... 39

1. A escolha da profissão: vocação ou necessidade de sobrevivência? ....................................... 39

2. O ambiente de trabalho: aspectos físicos e relacionais ........................................................... 41

3. Impactos na vida e na saúde do trabalhador em instituições de privação de liberdade ........... 44

4. Estratégias de enfrentamento cotidiano ................................................................................... 47

5. Vivência de prazer pelo trabalho em instituições de privação de liberdade ............................ 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 53

APÊNDICES ............................................................................................................................... 57

A- Instrumento utilizado na sistematização dos dados .............................................................. 57

B- Referências das publicações selecionadas .............................................................................. 58

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LISTA DE QUADROS

Quadro1- Distribuição das publicações sobre saúde mental relacionada ao trabalho em

instituição de privação de liberdade, por bases de dados nacionais e de domínio público,

em 2014.........................................................................................................................27

Quadro 2- Quantidade e ano de publicação dos trabalhos incluídos nesta revisão, por

bases de dados nacionais e de domínio público, em 2014............................................29

Quadro3- Distribuição das publicações sobre saúde mental relacionada ao trabalho,

segundo a formação, o cargo e afiliação institucional dos autores, por bases de dados

nacionais e de domínio público, em 2014....................................................................30

Quadro4- Descrição dos estudos selecionados na busca em sites e bases de dados

nacionais e de domínio público, referente à relação saúde mental e trabalho em

instituições de privação de liberdade, em 2014............................................................32

Quadro5- Autores e os resultados principais dos estudos selecionados, por bases de

dados nacionais e de domínio público, em 2014...........................................................34

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LISTA DE SIGLAS

BDTD- Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BVS- Biblioteca Virtual de Saúde

DEGASE- Departamento Geral de Ações Socioeducativas

DPM- Desvios Psíquicos Menores

FEBEM- Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor

FUNDAÇÃO CASA- Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

ISC- Instituto de Saúde Coletiva

PNPD- Programa Nacional de Pós Doutorado

PROPEQ- Pró-Reitoria de Pesquisa

SCIELO- Scientific Eletronic Library on Line

UFMT- Universidade Federal de Mato grosso

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INTRODUÇÃO

Os Centros Socioeducativos, assim como os presídios e penitenciárias, devido as

suas características estruturais nos remete a instituição total concebida classicamente,

“como um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com

situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de

tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada” (GOFFMAN, 1961, p.11).

O fechamento à relação social com o mundo externo e da proibição da saída (ou

o seu controle rigoroso) incluem segmentos em situação de privação de liberdade, como

exemplos às unidades prisionais de regime fechado e os centros socioeducativos que se

constituem um local de residência temporária e também de trabalho.

Tais instituições caracterizam-se pelo confinamento tendo consequências na vida

e saúde de todos os envolvidos neste contexto, sejam os internos ou os profissionais.

Assim, neste estudo dirigimos o nosso olhar ao trabalho em instituições fechadas com

enfoque nas categoriais profissionais dos agentes socioeducadores e agentes

penitenciários, porque entendemos haver um importante desgaste mental nos

profissionais que trabalham no atendimento direto a população privada de liberdade.

A prisão é um ambiente de trabalho hostil e pauperizado onde os trabalhadores

estão submetidos a condições inadequadas de trabalho, além dos riscos a integridade

física e mental (LOURENÇO, 2010b). Dentre as categorias profissionais que

desenvolvem as suas atividades laborais em um ambiente de privação de liberdade,

estão o agente penitenciário e o agente socioeducador, os quais são submetidos a um

sofrimento psíquico intenso devido à natureza do trabalho desempenhado que requer

uma maior proximidade com a população atendida, por ter de estar em vigilância

constante e ainda ser um local de trabalho historicamente precário, entre outras

situações adversas (RUMIN, 2006; FRANCO, 2008; RUMIN, 2011).

Entende-se como população privada de liberdade as pessoas que mediante a

prática de um crime, encontram-se aguardando julgamento ou cumprindo pena privativa

de liberdade, no caso do adulto. No caso de adolescentes que em decorrência do

cometimento de um ato infracional de natureza grave, recebem medidas socioeducativas

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de privação de liberdade (BRASIL,1990). Ambos se encontram em uma instituição de

privação de liberdade custodiados pelo Estado.

O agente penitenciário e agente socioeducador são profissionais que prestam o

atendimento direto à população que está em situação de privação de liberdade, assim

eles desempenham tarefas semelhantes em seu cotidiano de trabalho, modificando

apenas a faixa etária da pessoa atendida, pois o primeiro trabalha com jovens e adultos e

o segundo grupo profissional trabalha com adolescentes, contemplando a faixa etária

dos 12 a 18 anos e, em casos excepcionais, atendem pessoas até os 21 anos (BRASIL,

1990).

O agente socioeducador tem a função de orientar e proteger o adolescente em

cumprimento de medida socioeducativa de privação de liberdade. Entre as atividades

executadas por este trabalhador estão: zelar pela segurança e proteção da integridade

física e mental do adolescente; acompanhar o adolescente em todas as atividades sejam

internas ou externas, dentre elas o acompanhamento em atividades pedagógicas de

rotina, nos atendimentos técnicos, nos atendimentos médicos, nas audiências, durante as

visitas dos familiares, banho de sol, e outras atividades em que este esteja envolvido

(GRECO, 2013).

Entre as atividades desenvolvidas pelos agentes penitenciários estão: a condução

nas atividades internas e externas; revista de presos, celas e dos seus visitantes; zelar

pela segurança interna da unidade; e pela disciplina dos mesmos (FERNANDES, 2002).

Desta forma, percebemos que o acompanhamento das pessoas privadas de

liberdade durante o desenvolvimento das atividades internas e externas é uma das

atribuições principais destas duas categorias e que, devido à função exercida permanece

praticamente durante toda sua jornada de trabalho em contato direto com a população

carcerária, o que os tornam propensos às situações de violências, conforme destacado

por Greco (2013) e Fernandes (2002).

Outra atividade cotidiana comum a essas duas categorias é abrir e fechar as

trancas, que segundo Rumin (2006) é um momento problemático, onde o risco aumenta

por causa da circulação externa de centenas de detentos.

Segundo Moraes (2005), durante a jornada de trabalho o agente penitenciário é

exposto a um estresse permanente, sendo que esta profissão gera impacto na saúde

mental do trabalhador. Nesta perspectiva, a saúde mental do agente penitenciário tem

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despertado preocupação, por este estar inserido em um ambiente considerado

estressante, onde inúmeros casos de afastamento do trabalho têm sido ocasionados

devido o desgaste emocional ou a outros fatores associados (RUMIN, 2006).

Neste contexto, partimos do pressuposto de que as atividades laborais

desenvolvidas por estas duas categorias profissionais, podem contribuir para o

adoecimento físico e, especialmente, mental por ser um campo de trabalho marcado por

tensões, representando um risco à integridade física do trabalhador, exigindo um olhar

atento e constante sobre o seu cotidiano de trabalho, podendo gerar perturbações

psíquicas.

A atividade laboral desempenha um papel determinante na vida e na saúde,

principalmente, em relação à saúde mental. Portanto, se as exigências do meio,

principalmente as do trabalho, superam a adaptação e resiliência, que é capacidade do

indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações

adversas, este perde autonomia e aumentam as probabilidades de se instalarem doenças,

inclusive mentais (BRASIL, 2010).

Outros fatores que desencadeiam o processo de adoecimento psíquico no

trabalho são: o não reconhecimento do trabalho, jornadas longas, turnos alternados ou

noturnos, exigência de altos níveis de atenção e concentração para a realização das

tarefas; as intoxicações ocupacionais; os acidentes de trabalho e a falta de trabalho

(RAMMINGER, 2002).

Isso nos leva a acreditar que a organização do trabalho, as exigências e pressões

do meio em que estes trabalhadores estão submetidos são elementos que podem

funcionar como fatores desencadeadores de doenças mentais. Neste sentido, para

compreendermos a relação entre trabalho e saúde mental elaboramos a seguinte

problemática: qual é a produção científica nacional sobre saúde mental relacionada ao

trabalho de profissionais que atuam em instituições de privação de liberdade?

Assim, realizamos uma revisão narrativa por meio de fontes de dados de

domínio público, para conhecer o que os autores relatam sobre o assunto e entendermos

melhor as discussões sobre essa temática.

Na primeira parte do trabalho apresentamos a caracterização das publicações

científicas selecionadas sobre saúde mental relacionada ao trabalho em instituições de

privação de liberdade, a partir de bases nacionais e de domínio público em relação à

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quantidade de estudos incluídos e excluídos; ano de publicação; distribuição segundo a

formação, cargo e afiliação institucional dos autores; descrição dos estudos; e os

principais resultados.

Em seguida, a partir dos principais resultados dos estudos selecionados,

discutimos os aspectos mais significativos para compreensão da saúde mental

relacionada ao trabalho. Desta forma, primeiramente falamos sobre a escolha da

profissão que está associada à necessidade de sobrevivência e não à vocação; após

salientamos em relação aos aspectos físicos e relacionais do ambiente de trabalho,

ressaltando acerca das condições inadequadas de trabalho, assim como a exposição dos

trabalhadores a um ambiente marcado por tensões, conflitos e violências; depois,

apontamos os impactos na vida e na saúde do trabalhador em instituições de privação de

liberdade, pois além dos prejuízos à sua saúde, as implicações do exercício profissional

refletem na vida destes para além dos muros da unidade; em quarto lugar apresentamos

algumas estratégias adotadas por estes profissionais para a busca de prazer e,

simultaneamente fugir do sofrimento; e por último, discorremos sobre aspectos

positivos que de alguma forma estão relacionados às vivências de prazer nesta

profissão.

Este estudo se insere no subprojeto “Saúde penitenciária: experiência de

profissionais atuantes na atenção em unidades prisionais de Cuiabá/MT e na gestão das

ações no nível central" o qual, por sua vez, integra projeto mais amplo intitulado

“Fortalecimento da linha de pesquisa: Diversidade sociocultural, ambiente e trabalho”,

do Mestrado em Saúde Coletiva/ISC/UFMT, financiado pelo edital Programa Nacional

de Pós-doutorado da CAPES – PNPD/2011 Processo nº 23038.007708/2011 Concessão

Institucional, vigência 2012-2014, com Cadastro Propeq/UFMT – nº 173/CAP/2012;

desenvolvido junto a este Instituto, sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Reni A. Barsaglini.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Em nosso estudo a temática abordada é a relação entre saúde mental e trabalho

em instituições de privação de liberdade, assim, neste contexto, a princípio fomos

buscar a concepção deste local a partir, principalmente, das obras clássicas dos teóricos

Erwing Goffmam e Michel Focault.

Conforme Focault (1987), a prisão desde sua criação sempre foi um lugar de

detenção legal, encarregada de um suplemento corretivo. Deste modo, podemos

compreender que esta instituição é um aparelho do governo voltado para corrigir os

comportamentos desviantes que são aquelas condutas consideradas inadequadas,

segundo as regras de convivência social. Este autor caracteriza a prisão como “um

quartel pouco estrito, uma escola sem indulgência, uma oficina sombria (...)”

(FOUCAULT, 1987, p.208). Até hoje, ao referirmos a prisão na sociedade

contemporânea, o assunto causa certo tipo de repulsa, pois é um lugar destinado às

pessoas que cometeram um delito grave e são considerados perigosos para a

convivência com a sociedade mais ampla.

Goffmam (1961) em sua obra clássica: “Manicômios, prisões e conventos”,

também salienta sobre o assunto ao referir acerca das instituições totais que são aquelas

caracterizadas pela tendência ao fechamento apresentando em seu esquema físico entre

outros aspectos, paredes altas e arame farpado. Nesta perspectiva enuncia que existem

vários tipos de instituições totais, entre estas estão àquelas organizadas para proteção da

sociedade dos perigos intencionais, tais como as cadeias e penitenciárias. Podemos

inferir que os centros socioeducativos também se classificam neste grupo, pois estes são

locais de privação de liberdade, onde abrigam os adolescentes em conflito com a lei que

cometeram um ato infracional de natureza grave (BRASIL, 1990). Portanto

supostamente, estes adolescentes representam uma ameaça para a sociedade, mas sua

reclusão não se caracteriza como pena e sim medida socioeducativa, embutindo a

intenção pedagógica visando à reinserção social desses jovens (SINASE, 2006).

Enfim, pode-se dizer que os Centros Socioeducativos, assim como as prisões e

penitenciárias, como apontado por Moraes (2005) são espaços de segregação e

isolamento de pessoas que supostamente feriram os valores vigentes.

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No caso do adolescente, no acometimento de um ato infracional a medida

socioeducativa de privação de liberdade deverá ser utilizada como último recurso e

somente em casos excepcionais. Antes disso, existem outros recursos legais que podem

ser aplicados conforme a lei 8.069/1990, art. 112, sendo estas a advertência, a obrigação

de reparar o dano, a prestação de serviço à comunidade, a inserção em regime de semi-

liberdade, entre outras previstas no artigo 101, I a VI (BRASIl, 1990). Portanto, a

internação com privação de liberdade é a mais severa de todas.

Neste contexto, o Centro socioeducativo é o local destinado aos adolescentes em

conflito com a lei que cometeram um ato infracional de natureza grave e foram

sentenciados pelo poder judiciário através da aplicação de uma medida socioeducativa

de privação de liberdade. Após a internação, a realização de atividades externas pelos

adolescentes restritos de liberdade só poderão ocorrer a critério da equipe técnica ou

mediante mandado judicial (BRASIL, 1990). Nesta perspectiva pode-se dizer, que o

centro socioeducativo é uma Instituição caracterizada pelo fechamento, porque as

relações sociais do adolescente ali internado com a sociedade mais ampla são

restringidas.

Para salientar a respeito de saúde mental relacionada ao trabalho, é necessário

perpassarmos um pouco sobre o mundo do trabalho. Primeiramente em que consiste o

trabalho? Podemos dizer que este é uma atividade primordialmente humana. Além de

servir para satisfazer as necessidades básicas, ainda é fonte de identificação, de auto-

estima, de desenvolvimento das potencialidades humanas e de integração social.

(NAVARRO; PADILHA, 2007).

Segundo Navarro e Padilha (2007), o sistema capitalista trouxe várias

contradições e inúmeras delas relacionadas ao mundo do trabalho. Neste sentido,

ao mesmo tempo em que o trabalho é a fonte de humanização e é o fundador

do ser social, sob a lógica do capital se torna degradado, alienado,

estranhado. O trabalho perde a dimensão original e indispensável ao homem

de produzir coisas úteis (que visariam satisfazer as necessidades humanas)

para atender as necessidades do capital (NAVARRO; PADILHA 2007, p.15).

Estes autores afirmam que além da precarização das condições de trabalho, da

informalização do emprego e do recuo da ação sindical, houve o crescimento de

problemas de saúde, tanto físicos quanto psíquicos relacionados ao trabalho, em

diversas atividades laborais.

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Seligmann-Silva et al (2010), relatam que as influências das características do

mundo contemporâneo de trabalho sobre a saúde mental podem ser provenientes de

vários fatores e situações vivenciadas pelos trabalhadores. Muitas das vezes não são

levados em consideração os limites físicos e psíquicos do trabalhador, em função da

produção, para que está não seja prejudicada e as metas estabelecidas sejam cumpridas,

para a manutenção do capital.

Assim, além do trabalho ser um dos responsáveis pela formação da identidade

social, também é uns dos fatores que podem contribuir com o adoecimento físico e

mental. Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nos mostram

relações entre o trabalho e a saúde mental e estimam que os transtornos mentais

menores acometem aproximadamente 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos

mentais graves, cerca de 5 a 10% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Glina (2001) salienta que apesar da alta prevalência de distúrbios psíquicos

relacionados ao trabalho, o nexo causal frequentemente não é estabelecido pela

investigação clínica. Esta dificuldade de reconhecimento está associada entre outros

fatores as particularidades dos distúrbios psíquicos “regularmente mascarados por

sintomas físicos, bem como a complexidade inerente à tarefa de definir-se claramente

associação entre tais distúrbios e o trabalho desenvolvido pelo paciente” (GLINA, 2001,

p. 608).

Concernente a tal dificuldade, Sato e Bernardo (2005) verificaram que uns dos

problemas que persistem é a baixa notificação de problemas de saúde mental

relacionada ao trabalho na rede de saúde. Reforçando que isto não reflete

necessariamente a menor ocorrência deste agravo à saúde na população trabalhadora

mas, antes, a dificuldade de fazer o reconhecimento do nexo causal por parte das

empresas, profissionais de saúde e peritos do Instituto Nacional de Seguro Social.

Borsoi (2007) salienta que nem sempre o trabalho humano foi concebido como

integrante do conjunto de aspectos significativos da vida das pessoas, de modo a ser

considerado também um fator importante na constituição de sofrimento psíquico. Nas

explicações causais desse problema eram levados em conta principalmente fatores como

a herança genética, os aspectos orgânicos, a história familiar e afetiva dos indivíduos.

Conforme o autor, os vínculos entre trabalho e doença mental têm sido

confirmados em estudos e pesquisas relacionadas à temática. No entanto, ainda hoje, a

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maioria dos médicos não consideram a existência da relação entre o trabalho e a saúde

mental, pois ao atenderem seus pacientes, não se preocupam em saber qual o tipo de

atividade remunerada são desempenhadas pelos mesmos. Às vezes, nem sequer os

estudiosos e profissionais do campo da saúde mental se lembram de que os indivíduos

têm uma vida diária, que pode compreender um longo período dedicado a uma atividade

laboral obrigatória e necessária para garantir a própria sobrevivência e, ou a de suas

famílias (BORSOI, 2007).

Apesar da explicação para as ocorrências de doença exigir a análise de múltiplos

fatores, Sato e Bernardo (2005) dizem que muitas das vezes o indivíduo é culpabilizado

pelo seu adoecimento, devido o olhar reducionista da saúde mental ocupacional e das

ciências do comportamento os quais buscam a gênese do adoecimento mental dos

trabalhadores no cenário intra-individual, não aprofundando em outros aspectos que

podem estar relacionados ao processo de adoecer.

Nesta perspectiva Glina (2001) reforça a complexidade do reconhecimento da

relação entre adoecimento e trabalho, porque requer uma investigação minuciosa de

cada individuo envolvendo a sua historia de vida e do trabalho em relação ao ambiente,

organização e a percepção da influência da atividade laboral no adoecimento.

O trabalho é um dos responsáveis pela integração social devido o seu valor

econômico e cultural, sendo de fundamental importância na constituição da

subjetividade, no modo de vida e, portanto, na saúde física e mental das pessoas. A

contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental acontece por meio de

fatores, tais como: a exposição a determinado agente tóxico até a complexa articulação

de fatores relativos à organização do trabalho como a divisão e parcelamento das

tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica

organizacional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

Assim, os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho não

resultam de fatores isolados, mas de contextos de trabalho em interação com o corpo e

aparato psíquico dos trabalhadores. As ações implicadas no ato de trabalhar podem

atingir o corpo dos trabalhadores, produzindo disfunções e lesões biológicas, mas

também reações psíquicas às situações de trabalho patogênicas, além de poderem

desencadear processos psicopatológicos especificamente relacionados às condições de

trabalho desempenhado pelo trabalhador (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

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Nesta perspectiva Conciane (2013), destaca que a etiologia das doenças que

antes era atribuída apenas à esfera orgânica, se alterou. A organização do trabalho em

conjunto com os riscos físicos, químicos e biológicos, passou a ser considerada na

determinação do processo saúde-doença.

Ao salientar sobre como a organização do trabalho pode interferir na saúde do

trabalhador Dejours (1980) afirma que se um trabalho permite a diminuição de carga

psíquica, ele é fonte de equilíbrio, caso contrário de fadiga. A organização do trabalho

tem um papel fundamental na saúde, pois pode contribuir ou não para a descarga

psíquica, assim “um trabalho livremente organizado oferece, geralmente vias de

descargas adaptadas às necessidades do trabalhador” (DEJOURS, 1980, p. 25).

Refletindo sobre o que este teórico ressalta e fazendo um nexo com a

organização do trabalho em instituições totais (tais como presídios, penitenciárias e

socioeducativos), pode-se inferir que durante a jornada de trabalho os trabalhadores

destas instituições estão sempre propensos ao aumento da carga psíquica, e

consequentemente da fadiga, o que pode favorecer o processo de adoecimento,

especialmente mental.

Dejours (1980), nos leva a compreender a importância de considerar a

participação do trabalhador na organização do trabalho, ressaltando que

quando o rearranjo da organização do trabalho não é mais possível, quando a

relação do trabalhador com a organização do trabalho é bloqueada, o

sofrimento começa: a energia pulsional que não acha descarga no exercício

do trabalho se acumula no aparelho psíquico ocasionando um sentimento de

desprazer e tensão (DEJOURS , 1980, p. 29).

Assim argumenta que carga psíquica é originada na relação humana com a

organização do trabalho, desta forma, se é esta é autoritária, não oferecendo uma evasão

para a energia pulsional, conduz o aumenta da carga psíquica, o que pode desencadear

uma patologia.

Ao tratar das condições teórica para uma abordagem da relação trabalho-saúde

mental Dejours (1982) ressalta que esta não deve se reduzir as dimensões físicas,

química, biológicas, ou até mesmo psicosensoriais e cognitivas da atividade laboral ,

mas é preciso considerar a dimensão organizacional que diz respeito a divisão das

tarefas e as relações de produção. “Se por um lado as condições de trabalho têm por

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20

alvo principalmente o corpo, por outro lado a organização do trabalho atua sobre o

funcionamento psíquico” (DEJOURS, 1990, p.126).

Dessa forma, “a organização do trabalho pode apresentar-se como fator de

fragilização mental dos indivíduos, o que torna as organizações como parte responsável

pela Saúde Mental de seus integrantes” (VASCONCELOS; FARIA, 2008, p. 453).

Enfim, os estudos revisados apontam que o adoecimento do trabalhador pode

estar relacionado à interação de diversos fatores presentes no ambiente de trabalho que

diz respeito tantos aos riscos físicos, químicos e biológicos, além das condições

inadequadas de trabalho e a própria organização o ambiente de trabalho. Portanto, é

necessário o investimento público em melhores condições de trabalho e em capacitações

continuadas visando à melhoria da organização do trabalho buscando dessa forma

amenizar os agravos à saúde relacionados ao trabalho.

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21

JUSTICATIVA

O Centro Socioeducativo tem como proposta a ressocialização dos adolescentes

em conflito com a lei e a reinserção deste na sociedade, o que requer um trabalho de

caráter pedagógico. No entanto, esta instituição também deve trabalhar com a disciplina,

o controle e a vigilância dos internos. Provavelmente, a característica do trabalho

desenvolvido nos Centros Socioeducativos de caráter pedagógico e simultaneamente

repressor e a forma de como este trabalho é conduzido é um dos fatores geradores de

tensões entre internos e trabalhadores.

Neste sentido, pode-se dizer que a discussão e a prática do Sistema

Socioeducativo e Sistema Penitenciário se aproximam, devido à proposta de

ressocializar pesando a questão pedagógica, e, ao mesmo tempo, punir com a privação

de liberdade.

Devido à natureza do trabalho desenvolvido nestes tipos de instituições de

caráter pedagógico e punitivo, os trabalhadores enfrentam as contradições inerentes ao

trabalho realizado, o que refletem muitas das vezes em conflitos interpessoais e em

alguns casos até com a violência física.

Assim, o trabalho em instituições de privação de liberdade por si só já é um

desafio por causa das situações adversas como o cotidiano permeado pela violência,

ainda mais se tratando do atendimento direto a população privada de liberdade, no qual

devido à proximidade com os internos o trabalhador está sujeito a um risco maior.

Portanto, devido às condições e ao ambiente de trabalho, e, principalmente a

população atendida, estes profissionais têm de estar sempre atentos ao surgimento de

situações inusitadas como motins e rebeliões que colocam a sua integridade física em

perigo submetendo-os a um estresse emocional durante a sua permanência no trabalho.

Todavia, a preocupação não se encerra ao passar pelos portões desse ambiente de

trabalho, pois o trabalhador continua preocupado devido às ameaças de morte.

Assim sendo, a motivação para o estudo se deu principalmente pela vivência

profissional como agente socioeducadora, pois há quatro anos trabalhando no Centro

Socioeducativo de Cuiabá vivenciamos várias situações de motins e rebeliões realizadas

pelos adolescentes ali internados, sobretudo, no ano de dois mil e treze. Como

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consequência disso, houve até um movimento de paralização das atividades por parte

desta categoria de trabalhadores reivindicando melhores condições e segurança no

trabalho.

Além disso, esta pesquisa é importante porque até o momento há poucos

estudos sobre a situação vivenciada pelos agentes penitenciários, especialmente pelos

agentes socioeducadores no exercício da profissão como desencadeador de sofrimento

psíquico e, consequentemente, do comprometimento de sua saúde mental.

Vale ressaltar que a princípio o nosso foco era apenas o agente socioeducador,

no entanto, ao realizar uma busca exploratória nos deparamos com a produção escassa

acerca da saúde mental deste profissional, assim foi necessário incluir em nossa busca

estudos sobre os agentes penitenciários considerando que as funções desenvolvidas por

estas categorias profissionais são semelhantes, variando praticamente apenas a faixa

etária dos internos, sendo que o público atendido se trata respectivamente de

adolescentes, jovens e adultos.

A literatura aponta que estas categoriais profissionais estão inseridas em um

ambiente de trabalho permeado por adversidades, onde estão expostos à violência,

ameaças e o risco a integridade física psíquica, além das condições inadequadas de

trabalho, sendo que o adicional de insalubridade atesta a exposição diferenciada no

trabalho. A situação vivenciada por estes trabalhadores nos fez refletir sobre a

necessidade de um olhar mais aguçado concernente à saúde mental relacionada ao

trabalho, devido à centralidade da atividade laboral na vida das pessoas e a possível

contribuição no processo de adoecimento físico e mental.

Neste contexto, a contribuição deste estudo foi no sentido de conhecer a

produção científica sobre a relação entre a saúde mental e a atividade laboral

desenvolvida pelos agentes socioeducadores e agentes penitenciários. Visa assim, uma

perspectiva da Saúde Coletiva para a busca de melhores condições de trabalho, e

qualidade de vida, já que estas profissões como outras relacionadas à segurança pública

são funções que impõem um desgaste físico, e especialmente, um desgaste mental

acentuado.

Outra possível contribuição é dar visibilidade ao enfrentamento cotidiano destes

profissionais, porque a mídia desempenha um papel crucial para construção da imagem

negativa dos mesmos visto que não divulga o cotidiano, porém mostra somente o

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estigma do trabalho reforçando os preconceitos. Neste sentido, parece ocorrer uma

inversão decorrente de um processo de estigmatização intra e extramuros, como

verificado no estudo de Lourenço (2010 a) sobre agentes penitenciários em que os

trabalhadores passam a ser considerados pela sociedade iguais ou até piores que os

internos, assim a população privada de liberdade passa a ser vista como vítima e o

trabalhador como algoz.

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OBJETIVOS

Geral:

- Caracterizar a produção científica nacional sobre o trabalho dos agentes

socioeducativos e agentes penitenciários nas instituições de privação de liberdade e a

sua relação com a saúde mental.

Específicos:

- Conhecer a produção científica em relação à quantidade, ano de publicação, área de

conhecimento, formação e instituição de vinculação dos autores, metodologia

empregada e principais resultados encontrados;

- Identificar fatores relacionados à organização do trabalho presentes nas publicações e

que podem contribuir para o desencadeamento de problemas mentais.

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25

METODOLOGIA

Este trabalho consiste de uma revisão narrativa de literatura que, segundo

Muñoz (2002), possui caráter descritivo-discursivo, caracterizada pelas possibilidades

de ampliar a apresentação e discussão de temas de interesse. Segundo Rother (2007)

este tipo de revisão nos oferece condições para descrever e discutir o desenvolvimento

ou o estado de arte de um determinado assunto, a partir da perspectiva teórica ou

conceitual. É realizada através da análise de livros, artigos de revista impressa e/ou

eletrônica e mediante a análise crítica pessoal do autor sobre um conjunto de buscas de

referências efetuadas de forma não sistemática.

A coleta dos dados ocorreu no mês de maio de 2014 a partir de três bases de

dados de reconhecida relevância na área de Saúde Coletiva e que passamos a nos referir

pelas suas siglas, quais sejam:

- Scientific Eletronic Library on Line (SCIELO),

- Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-BIREME),

- Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD).

Nas bases de dados SCIELO e na BDTD para ampliar a possibilidade de

encontrar estudos de interesses não utilizamos nenhum tipo de filtro. E na BVS, devido

o elevado número de publicações, estas foram filtradas pelos termos “região” e

“idioma”.

A busca da produção científica referente à relação saúde mental e trabalho em

instituições de privações de liberdade, inicialmente pretendia enfocar apenas nos centros

Socioeducativos porém, ao fazer uma busca exploratória, verificou-se a escassez de

publicações o que fez ampliar para as penitenciárias, haja vista a semelhança dos

trabalhos ali desenvolvidos. No caso, entende-se que a atuação do agente

socioeducativo e do agente prisional (ou penitenciário ou de segurança) se aproximam,

devido estas duas categoriais profissionais trabalharem no atendimento da população

privada de liberdade, variando praticamente a faixa etária da população atendida.

Apesar das similaridades entre o trabalho desenvolvido por estas duas categorias

profissionais, também há diferenças na atuação profissional devido à legislação que

regulamentam o funcionamento destas instituições, pois os Centros Socioeducativos são

regidos pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e pelo Sistema Nacional de

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Atendimento Socioeducativo (SINASE), enquanto o funcionamento das penitenciárias e

presídios se pautam na Lei de Execução Penal (LEP).

Quanto ao período do levantamento não o delimitamos para a busca visando

aumentar a possibilidade de encontrar estudo de interesse, ou seja, sua delimitação se

fez pela disponibilidade digital no banco de dados.

A pesquisa de literatura foi realizada empregando-se os termos socioeducativo,

prisões, penitenciária, penitenciário, presídio, FEBEM, FUNDAÇÃO CASA e

DEGASE.

Em cada banco de dados, diante dos resultados, procedia-se a leitura do título da

publicação ou diante de dúvidas sobre o conteúdo, procedia-se a leitura do seu resumo

para a decisão. Assim, a publicação era selecionada a partir dos seguintes critérios de

inclusão:

- enfoque no trabalho do agente socioeducativo ou do agente

prisional/penitenciário/segurança,

- disponível na íntegra e em português.

Quanto à exclusão adotamos os critérios a seguir:

- publicação em inglês;

- duplicidade pela base;

- enfoque em outras categoriais profissionais (assistente social, psicólogo,

enfermeiros e professores) ou na população atendida (adolescentes ou adultos em

situação de privação de liberdade) ou em atividades específicas não referentes ao

trabalho dos agentes socioeducativos ou penitenciário (assistência religiosa, análise de

programas).

Ao atingir a especificidade pretendida as publicações selecionadas foram

tratadas e apresentadas em dois momentos e de duas formas. Primeiramente realizamos

a caracterização dos trabalhos registrando em instrumento específico anexado no

apêndice deste trabalho, sendo as informações organizadas em quadros para

apresentação. Em seguida, as publicações foram organizadas em uma sequência lógica

conforme o encadeamento do assunto para facilitar a leitura, assim como a

sistematização das ideias. Os artigos foram lidos na íntegra, e as dissertações por serem

publicações extensas, optou-se pela leitura do resumo e de alguns capítulos específicos.

Seus conteúdos foram descritos e apresentados em temas em que destacam as

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características e as relações entre a atividade laboral exercida pelo agente socioeducador

e penitenciário e a saúde mental.

Por se tratar de publicações de livre acesso, o projeto dispensou submissão ao

Comitê de Ética.

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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Os resultados dessa pesquisa foram organizados em duas partes para a sua

apresentação. Na primeira apresentamos os dados objetivos e quantitativos das

publicações encontradas a partir da busca realizada e, na segunda, o conteúdo das

publicações selecionadas são apresentados por temas discutindo-os pautados pela

literatura pertinente, a saber, da saúde mental relacionada ao trabalho.

Parte I - Caracterização das publicações científicas sobre saúde mental

relacionada ao trabalho em instituições de privação de liberdade

As buscas foram realizadas nas bases de dados SCIELO, BVS e BDTD, onde

encontramos um total de 1.239 publicações. Dentre os catorze estudos selecionados,

nove eram artigos e cinco dissertações de mestrado. Agrupamos as referências

encontradas conforme bases de dados indexadas. E a maior quantidade de estudos

selecionados foram encontrados na base de dados SCIELO totalizando sete estudos.

A princípio elaboramos um quadro para facilitar a visualização da quantidade de

publicações selecionadas e excluídas por bases de dados.

Quadro 1. Distribuição das publicações sobre saúde mental relacionada ao trabalho em

instituição de privação de liberdade, a partir de bases de dados nacionais e de domínio

público, em 2014.

Categorias Total de publicações Percentual das

publicações

Publicações selecionadas 14 1, 2%

Publicações excluídas 1.225 98,8 %

Total 1.239 100%

Neste quadro nos chama a atenção o percentual de publicações excluídas e

incluídas, pois de um total de 1239 estudos somente 1, 2 % salientavam sobre a saúde

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das categorias profissionais de agente penitenciário e agente socioeducador mostrando

que esses trabalhadores não têm sido priorizados na produção acadêmica.

Esses achados confirmam o que Moraes (2005), Lourenço (2010b) e Greco

(2013) ressaltaram. Nesta perspectiva, o primeiro diz que poucos trabalhos sobre prisões

focam os agentes penitenciários e este grupo aparece nos estudos geralmente como

coadjuvante; o segundo salienta a escassez de produção acadêmica tanto no Brasil,

como em outros países; e a terceira aponta a escassez referente a investigação da relação

existente entre o trabalho e o adoecimento dos agentes socioeducadores.

Neste contexto, vale ressaltar que em nossa busca dentre a produção científica

encontrada existiam poucos estudos voltados para as categorias profissionais de agentes

penitenciários e socioeducadores. Na procura destacaram estudos acerca de assistentes

sociais e psicólogos que são profissionais que compõem a equipe técnica das

instituições de privação de liberdade, e especialmente a respeito da educação formal,

profissional e saúde da população carcerária. Esse resultado reforça o apontado por

Lourenço (2010b), de que apesar dos agentes penitenciários serem os principais

protagonistas do cárcere em relação às demais categorias profissionais, no sentido de ser

o trabalhador que se encontra em contato íntimo com o adolescente durante todo o

longo período do plantão, são simplesmente ignorados.

Isso nos leva a refletir sobre a necessidade de um despertar acadêmico para

produção científica voltada para a investigação da relação entre a atividade laboral

desenvolvida pelos agentes socioeducadores e agentes penitenciários e o adoecimento

destes trabalhadores, com objetivo de serem pensadas atividades de promoção e

prevenção para amenizar os agravos e doenças que mais acometem tais categorias, pois

de acordo com Moraes (2005), Rumin (2006), e Lourenço (2010b), estes estão inseridos

em um ambiente de trabalho hostil.

Portanto para melhor visualização, apresentamos um quadro que demonstra a

distribuição dos estudos que abordam a saúde mental relacionada ao trabalho em

instituições de privação de liberdade ao longo dos anos.

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Quadro 2. Quantidade e ano de publicação dos trabalhos incluídos nesta revisão, a partir

de bases de dados nacionais e de domínio público, em 2014.

Ano de publicação N° %

2002 01 7,1

2005 01 7,1

2006 01 7,1

2008 02 14,3

2009 01 7,1

2010 02 14,3

2012 02 14,3

2013 02 14,3

Total 14 100

Apesar da não delimitação de um período para a busca percebe-se que a

produção científica relativa à saúde mental e trabalho em instituição de privação de

liberdade, ainda se encontra muito aquém se comparada ao número de estudos

produzidos acerca das prisões e instituições socioeducativas, o que provavelmente

reflete a invisibilidade das categorias profissionais de agentes penitenciários e agentes

socioeducadores. Como afirma Lourenço (2010b), os reeducandos e/ou a prisão

continuam sendo o objeto principal das pesquisas realizadas nestes locais, pois o grupo

dos agentes penitenciários como enfoque dos estudos ainda não despertou a atenção dos

pesquisadores.

Neste contexto, este dado é preocupante, porque conforme destacado por Moraes

(2005), a compreensão do universo prisional será prejudicada se secundarizarmos ou

minimizarmos o papel dos profissionais que trabalham no atendimento direto à

população privada de liberdade. Franco (2008) destacou que a maioria dos estudos tem

como sujeitos da pesquisa o adolescente em conflito com a lei, e muito pouco

conhecimento tem sido produzido a respeito do agente penitenciário.

Assim abaixo apresentamos a formação e afiliação de origem do autor e co-

autores, tipo de produção, população estudada e campo de estudo das referências

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selecionadas, para termos uma dimensão de quem são os autores dos trabalhos e quais

região do Brasil que mais tem dado atenção a temática estudada.

Quadro 3. Distribuição das publicações sobre saúde mental relacionada ao trabalho,

segundo a formação, o cargo e afiliação institucional dos autores, a partir de bases de

dados nacionais e de domínio público, em 2014.

Autor (es) Formação Função Afiliação de origem

Moraes, 2007 Sociologia Docente Universidade Federal do Paraná.

Lourenço, 2010ª Sociologia Docente Universidade Federal da Bahia.

Sousa¹;

Mendonça²,

2009.

¹Psicologia

²idem.

¹Docente

²idem.

¹ Universidade Católica de Goiás;

² idem.

Tschiedel¹,

Monteiro², 2013.

¹Psicologia

²idem.

¹Psicóloga

²docente.

¹ Superintendência dos Serviços

Penitenciários;

² Universidade do Vale dos Sino.

Fernandes¹;

Neto²;

Sena3;

Leal 4

;

Carneiro5;

Costa6, 2002.

¹ Medicina;

² idem; 3 Biologia;

4 Medicina;

5 Medicina;

6 Medicina.

¹ Docente

² idem; 3

Bióloga 4 Médico;

5 Médica;

6 Médica.

¹ Centro de Estudos da Saúde do

Trabalhador, Secretaria de Saúde

do Estado da Bahia;

² Departamento de Medicina

Preventiva, Faculdade de

Medicina, Universidade Federal

da Bahia; 3 Centro de Estudos da Saúde do

Trabalhador, Secretaria de Saúde

do Estado da Bahia; 4

Departamento de Medicina

Preventiva, Faculdade de

Medicina, Universidade Federal

da Bahia; 5

idem; 6

idem.

Greco¹;

Magnago²;

Lopes3;

Prochnow 4

;

Tavares5;

Viero6, 2012.

¹ Enfermagem;

² idem; 3

Matemática; 4 Enfermagem;

5 Enfermagem;

6 Enfermagem.

¹ Docente;

² idem; 3

idem; 4 Enfermeira;

5 Docente;

6 Enfermeira.

¹Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões;

² Universidade Federal de Santa

Maria; 3 Universidade Federal de Santa

Maria; 4 Hospital Universitário de Santa

Maria; 5

Centro Universitário Metodista

IPA; 6 Pronto Socorro Municipal da

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Prefeitura de Alegrete.

Greco¹;

Magnago²;

Beck3;

Urbanetto4;

Prochnow5, 2013.

¹ Enfermagem;

²idem; 3idem;

4idem;

5 idem.

¹Docente;

² idem; 3idem;

4idem;

5 Enfermeira.

¹Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões;

² Universidade Federal de Santa

Maria; 3 idem;

4 Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul; 5 Hospital Universitário de Santa

Maria.

Rumin, 2006 Psicologia Docente Faculdades Adamantinenses

Integradas

Rumin¹;

Barros²;

Cavalhero3,

2011.

¹Psicologia;

²idem 3 Psicologia.

¹Docente

²Psicóloga 3 Psicóloga.

¹ Faculdades Adamantinenses

Integradas;

² idem; 3 idem.

Nedel, 2008 Serviço Social Assistente Social Instituto Federal Sul-Rio-

Grandense

Greco, 2011 Enfermagem Enfermeira Universidade Federal de Santa

Maria

Taets, 2012. Antropologia Docente União das Instituições de Serviço,

Ensino e Pesquisa

Lourenço, 2010b Psicologia Psicólogo e

docente

Penitenciária José Parada Neto de

Guarulhos, Universidade de São

Paulo

Franco, 2008 Psicologia Docente Universidade Presbiteriana

Mackenzie

Ao observar este quadro percebemos que as produções acadêmicas que abordam

a saúde mental dos trabalhadores de instituições de privações de liberdade se

concentram, especialmente, na área de ciências médicas, pois do total de 14 estudos

71,4% foram produzidos por profissionais com formação na área da saúde, destes

somente 04 estudos são de autores formados na área de ciências humanas e sociais

correspondendo a um percentual de 28,6 % .

Ainda vale destacar que a maior parte dos estudos na área de saúde são da

autoria de pesquisadores formados em psicologia, seguida pelas produções

enfermagem. Franco (2008) em sua pesquisa sobre a FUNDAÇÃO CASA antiga

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FEBEM, também constatou que a maioria dos estudos por ele selecionado se

concentravam no campo da psicologia. Provavelmente, estas diferenças na quantidade

de estudos de interesse encontrados por áreas refletem as bases de dados utilizadas, as

quais foram específicas da área de saúde. Já a concentração dos estudos de interesse no

campo da psicologia, pode ter relação com o conhecimento técnico-acadêmico para

lidar com a saúde mental e por ter áreas de trabalho com pessoas em internamento.

Destes trabalhos somente 04 estudos salientam sobre a saúde do agente

socioeducativo, sendo que três referentes ao Centro Socioeducativo do Rio Grande do

Sul e elaborados pela mesma autora em anos sequenciais Greco (2011), Greco et al

(2012) e Greco et al (2013) que é mestre em enfermagem pela Universidade Federal de

Santa Maria, localizada no referido Estado.

A seguir apresentamos um quadro com nome dos autores, objetivos, população

estudada e local de estudo.

Quadro 4. Descrição dos estudos selecionados na busca em sites e bases de dados

nacionais e de domínio público, referente à relação saúde mental e trabalho dos agentes

socioeducativos e agentes penitenciários em instituições de privação de liberdade, em

2014.

Autor(es)

Objetivos

População e local do estudo

Fernandes et

al, 2002.

Investigar exploratoriamente possíveis

relações entre condições de trabalho e

saúde dos agentes penitenciários das oito

Unidades do Sistema Penitenciário da

Região Metropolitana de Salvador (RMS).

- Agentes prisionais

- Unidades penitenciárias da

Região Metropolitana de

Salvador/BA.

Moraes,

2005.

Explorar o processo de construção da

identidade de agentes penitenciários a

partir da dinâmica no interior das prisões e

também da relação destes com a sociedade

de forma mais ampla.

- Agentes penitenciários

- Unidades prisionais/Curitiba-

PR

Rumin,

2006.

Caracterizar as condições de trabalho e os

possíveis impactos sobre a saúde dos

trabalhadores ocupados nos serviços de

vigilância prisional e verificar o

desdobramento das dimensões

institucionais sobre o espaço e as relações

sociais fora do trabalho.

-Agentes penitenciários

- região oeste do Estado de São

Paulo.

Franco,

2008.

Estudar as representações sociais dessa

fundação entre seus trabalhadores, a partir

- Agentes socioeducativos

- Fundação Casa do Estado de

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da perspectiva da psicanalise. São Paulo.

Nedel, 2008. Analisar como os agentes penitenciários se

posicionam perante o discurso das

finalidades do sistema prisional e as

estratégias desenvolvidas face às ambíguas

dinâmicas de inclusão/exclusão presentes

nos ambientes prisionais.

- Agentes penitenciários

- Presídios do Rio Grande do

Sul.

Sousa;

Mendonça,

2009.

Analisar as relações entre as percepções de

justiça distributiva e as vivências de prazer

e sofrimento, mediadas pelas percepções

da justiça processual e interacional.

-trabalhadores de uma

organização pública do

segmento penitenciário

Lourenço,

2010a.

Compreender melhor o universo dos

agentes penitenciários.

- Agentes penitenciários

- Região Metropolitana de Belo

Horizonte/MG

Lourenço,

2010b.

Investigar o espaço de vida do agente

penitenciário no interior da prisão.

- Agentes penitenciários

- Penitenciárias do Estado de

São Paulo.

Greco, 2011. Investigar as dimensões psicossociais,

demandas psicológicas e controle do

trabalho e sua associação com a ocorrência

de Distúrbios Psíquicos Menores em

agentes socioeducadores.

- agentes socioecativos

- Centros Socioeducativo do

Rio Grande do Sul.

Rumin, et al,

2011.

Apresentar a experiência desenvolvida em

uma prática profissionalizante

supervisionada em Psicologia realizada em

uma unidade prisional de regime fechado

da região oeste do Estado de São Paulo.

-Agentes penitenciários

- região oeste do Estado de São

Paulo.

Greco et al,

2012.

Verificar a associação entre estresse

psicossocial e a ocorrência de Distúrbios

Psíquicos Menores em agentes

socioeducadores.

- agentes socioeducadores

- Centros Socioeducativo do

Rio Grande do Sul.

Taets, 2012. Compreender os impactos do trabalho no

cárcere na vida das agentes penitenciárias.

- Agentes penitenciárias

- Presídios do Estado de São

Paulo.

Greco et al,

2013.

Verificar a associação entre estresse no

trabalho, características

sociodemográficas, laborais, hábitos e

condições de saúde dos agentes

socioeducadores do Rio Grande do Sul.

- agentes socioeducadores

- Centros Socioeducativo do

Rio Grande do Sul.

Tschiedel;

Monteiro,

2013.

Identificar os aspectos da organização do

trabalho que produzem prazer e sofrimento

no trabalho das agentes de segurança

penitenciária e descrever as estratégias

defensivas utilizadas por estas

trabalhadoras no seu cotidiano laboral.

- agentes penitenciárias

- albergue feminino do Rio

Grande do Sul.

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Dentre os objetivos dos estudos selecionados e apresentados acima, se destacam

a investigação dos impactos do trabalho em instituição de privação de liberdade na vida

social e saúde das categorias profissionais de agentes penitenciários e agentes

socioeducadores.

Pode-se observar que a maioria dos estudos que abordam a relação entre

trabalho e saúde mental de agentes socioeducador e penitenciários tiveram como locais

de estudo as unidades de privação de liberdade das regiões Sul e Sudeste do território

brasileiro, especialmente os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Na região

Nordeste do País foi encontrado apenas 01 trabalho sobre a referida temática, apesar dos

problemas que tem ocorrido desde 2013 no sistema Penitenciário de São Luís do

Maranhão, especificamente no Presídio de Pedrinhas onde tem sido palco de conflitos e

violências, conforme informes dos telejornais.

Através da visualização do local de produção dos estudos, percebe-se a carência

deste tipo de pesquisa em instituições desta natureza nas regiões Centro-oeste e Norte

do País e a necessidade de incremento de pesquisas acadêmicas nas demais regiões

brasileiras, para conhecer as doenças e agravos que acometem tais categorias

profissionais com a finalidade de melhorar a qualidade de vida destes trabalhadores.

Por último apresentamos um quadro com os principais resultados expostos pelas

publicações selecionadas que serão mais detalhados na parte dos temas.

Quadro 5. Autores e os principais resultados dos estudos selecionados, por bases de

dados nacionais e de domínio público, em 2014.

Autor

Principais resultados

Moraes,

2005.

O agente penitenciário é submetido a um estresse contínuo no cotidiano

do fazer da profissão, pois o processo de familiarização com o ambiente

prisional exige deste trabalhador vigília constante. Este trabalho

também interfere na convivência familiar que às vezes se torna tensa,

pela incapacidade de gerenciar as emoções geradas pela alta carga do

trabalho. A profissão produz impacto na saúde mental do trabalhador e

este tem dificuldades de expressar seu próprio sofrimento psíquico.

Lourenço,

2010a.

O agente penitenciário em seu cotidiano da profissão trabalha com

medo, marcado pela violência. Torna-se vítima dentro e fora da prisão

e, é visto pela sociedade de forma estigmatizada. O trabalho nas prisões

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se caracteriza pela divisão de tarefas entre os que pensam e aqueles que

executam. Sendo assim, este profissional ainda não participa dos

espaços de tomada de decisão apesar de seu conhecimento da dinâmica

prisional.

Sousa;

Mendonça,

2009.

Constata-se que a alocação e distribuição de recursos podem influenciar

diretamente as vivências de prazer ou sofrimento no trabalho. O prazer

no trabalho aumenta quando os trabalhadores se sentem inseridos nos

processos de tomada de decisão no trabalho. A justiça organizacional é

percebida pelo trabalhador ao receber um salário compatível com seus

esforços, além de benefícios e recompensas. Apesar da existência da

justiça organizacional, se o chefe não interage bem com os seus

subordinados, estes podem vivenciar sofrimento no trabalho.

Tschiedel;

Monteiro,

2013.

Os resultados apontaram como aspectos que contribuem para o prazer

no trabalho das agentes penitenciárias: gostar do que faz, ter sido

aprovadas no concurso público, ter estabilidade, cumprir com as

obrigações da profissão, o salário que sobressai as outras profissões e a

escala de trabalho em plantões. E dentre os fatores que contribuem para

o sofrimento no trabalho estão às revistas íntimas diárias sejam nas

internas ou familiares, devido o constrangimento e humilhação da

pessoa revistada e ainda as condições precárias de trabalho por causa da

falta de recursos materiais, infraestrutura e trabalhadores.

Fernandes et

al, 2002.

De uma amostra de 311 agentes penitenciários foi encontrada uma

prevalência de 30,7% de Desvios Psicológicos Menores, 7,4% de

estresse passageiro, 7,4% de estresse intermediário e 15,1% estresse

persistente. Queixas de doenças foram feitas por 91,6% dos agentes

penitenciários, sendo que 53,1% apresentaram até 5 queixas e 38,5%,

mais de 5. Houve suspeita em 15,6% de alcoolismo.

Greco et al,

2013.

381 agentes socioeducadores participaram do estudo e destes 19,2%

foram classificados em situação de alta exigência no trabalho.

Mostraram-se associados ao estresse no trabalho: necessidade de

acompanhamento psicológico, falta de tempo para lazer, turno diurno de

trabalho, insatisfação com o local de trabalho, necessidade de

afastamento do trabalho por problemas de saúde e escala de trabalho

insuficiente.

Greco et al,

2012.

A amostra foi composta por 381 agentes socioeducadores e encontrada

uma prevalência de Desvio Psicológico Menor (DPM) de 50, 1%. A

maior parte destes trabalhadores estão expostos as situações de altas

demandas psicológicas que estão relacionadas as exigências

psicológicas enfrentadas por esses profissionais no desempenho da

profissão tais como pressão pelo tempo, estado de alerta constante,

entre outras, podendo gerar adoecimento psíquico.

Rumin, 2006. Constatou a exposição dos trabalhadores pelo menos a três tipos de

situações ansiogênicas, sendo a primeira o risco iminente de violência

inerente ao cotidiano da profissão, inclusive podendo se estender para

além do local de trabalho atingindo seus familiares; a segunda refere-se

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à percepção pelo trabalhador da degradação de sua saúde; e a terceira

está relacionada à escolha dessa profissão. Depois de reconhecer os

agravos à saúde, foi criado um espaço de escuta para acolhimento do

sofrimento psíquico dos trabalhadores.

Rumin et al,

2011.

A atenção em saúde mental permitiu à compreensão de vivências

ansiogênicas, a elaboração dos aspectos psicodinâmicos mobilizados

pelas exigências institucionais e ainda propiciou a mobilização

subjetiva para o enfrentamento das práticas disciplinares institucionais.

Nedel, 2008. Um dos aspectos apontados na pesquisa é o nível de estresse sofrido

pela categoria profissional, fator também vinculado a prisionalização.

Ainda está relacionado com a baixa remuneração percebida pelos

Agentes Penitenciários levando-os a busca de outro emprego para

complementar a renda familiar, provocando estresse, tensionando a

relação com os colegas e presos, interferindo de modo direto nas

relações intra-carcerárias.

Greco, 2011. De um total de 381 agentes socioeducadores foram identificados que

19,2% estão no quadrante de alta exigência. Foi encontrada uma

prevalência global de suspeição para Distúrbios Psíquicos Menores de

50,1%. Realizados ajustes de potenciais confundidores, a chance de

distúrbios psíquicos foi maior no quadrante de trabalho ativo e

quadrante de alta exigência, respectivamente.

Taets, 2012. A instituição prisional é compreendida a partir do ponto de vista das

agentes penitenciárias como lugar de embates, em que o pensamento

institucional molda as experiências individuais, e simultaneamente é

modificado por elas.

Franco, 2008. Os resultados revelaram que os trabalhadores da FUNDAÇÃO CASA

vivem intenso sofrimento psíquico. A instituição não oferece segurança

a seus membros. Trata-se de um ambiente de trabalho hostil onde todos

estão entregue a própria sorte, aplica-se a lei do mais forte, ou seja, é

um local permeado pela violência.

Lourenço,

2010b.

A prisão é um ambiente de trabalho precário e pauperizado, além de ser

um lugar perigoso e insalubre. Os agentes penitenciários apesar de

exercer a sua profissão em condições inadequadas de trabalho,

conseguem poucos avanços no sentido de transformar essa realidade.

As péssimas condições de trabalho precariza a própria existência dos

agentes penitenciários.

Franco (2008) e Lourenço (2010b) caracterizam as instituições de privação de

liberdade como um ambiente de trabalho hostil, perigoso, insalubre e pauperizado. Estes

ambientes deveriam proporcionar a segurança de todos envolvidos no processo de

trabalho e também dos internos. Contudo, são apresentados nos resultados: (1) a falta de

condição estrutural para realização do trabalho seja por falta de materiais ou mesmo de

funcionários; (2) As situações adversas enfrentadas pelos trabalhadores em seu

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cotidiano na convivência com os internos como violências, ameaça à integridade física,

tentativas de fugas e motins.

Conforme Greco (2011) estes trabalhadores são submetidos a um alto nível de

exigência. Fernandes et al (2002), Moraes (2005) e Greco et al (2013) salientam sobre o

estresse encontrado nos agentes penitenciários e agentes socioeducadores. Nesta

perspectiva, os estudos selecionados apontam o exercício profissional em ambientes de

privação de liberdade como um dos aspectos que podem prejudicar a saúde mental

destes trabalhadores (RUMIN, 2006; MORAES, 2005; FERNANDES et al, 2002;

GRECO, 2011; GRECO, 2012), pois como destacado por Moraes (2005) para a

sobrevivência no Sistema Prisional os agentes penitenciários tem de estar em alerta

constante.

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Parte II - Saúde mental relacionada ao trabalho em instituições de privação

de liberdade

A partir dos principais resultados encontrados nas publicações selecionadas,

apresentamos e discutimos aqueles considerados mais significativos para compreensão

da saúde mental relacionada ao trabalho, os quais foram organizados nos seguintes

subitens: a escolha da profissão: vocação ou necessidade de sobrevivência?; o ambiente

de trabalho: aspectos físicos e relacionais; impactos na vida e na saúde do trabalhador

em instituições de privação de liberdade; estratégias de enfrentamento cotidiano; e as

vivências de prazer pelo trabalho em instituições de privação de liberdade.

1. A escolha da profissão: vocação ou necessidade de sobrevivência?

A princípio é importante refletirmos sobre os fatores relacionados à escolha e a

permanência no exercício da profissão.

Segundo Rumin (2006), a falta de oportunidade de emprego e renda em outros

setores da economia no Oeste Paulista devido à reestruturação produtiva do setor

bancário, a desestruturação das atividades agrícolas e a ineficiente estrutura industrial

para ofertar postos de trabalho para a população desta região foram fatores

determinantes na busca das prefeituras locais para a construção das unidades de

detenção como alternativa de emprego e renda. Assim, este autor afirma que o exercício

da profissão de agente penitenciário não é motivado pela vocação pessoal, mas devido à

falta de oportunidade de empregos em outras áreas da economia e a necessidade de ter

uma renda mensal para manter a sobrevivência própria e familiar, o que pode esvaziar o

sentido da profissão e gerar sofrimento no trabalho.

Além disso, a procura por estas profissões podem estar relacionadas às

vantagens inerentes ao emprego público tais como: a estabilidade funcional e a presença

de plano de carreira que possibilita a ascensão salarial, conforme assinalado Lourenço

(2010b). A estabilidade proporcionada pelo concurso público ainda foi constatada como

motivo da escolha da profissão no estudo de Nedel (2008), onde a escala de trabalho

aparece como outro fator atraente por ser organizada em regime de plantão

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possibilitando a oportunidade de fazer outra atividade para complementar o rendimento

mensal.

A questão salarial como motivo para a escolha da profissão, também foi

verificado por Taets (2012) em seu estudo nas unidades prisionais do Estado de São

Paulo, onde ao serem entrevistadas as agentes penitenciárias foram unânimes em

responder que a procura por essa profissão foi devido ao salário considerado bom, pois

a pessoa no início da carreira já recebe um subsídio de R$1.800 reais além de benefícios

e a escolaridade exigida pela profissão é somente o ensino básico completo. Em outros

setores para o trabalhador que ainda não cursou o ensino superior, a perspectiva salarial

geralmente é de um salário mínimo. Além disso, este trabalho é procurado pelos jovens

como fonte de renda para custear seu ensino superior e, após sua formação, migram para

outras áreas de trabalho.

Esta autora também cita o depoimento de uma psicóloga do sistema prisional

que afirma não haver vocação para a profissão de agente prisional por causa da

invisibilidade do trabalho desenvolvido por este profissional e que as pessoas são

atraídas pela possibilidade financeira (TAETS, 2012).

Neste contexto, Nedel (2008) ressalta que, desde o princípio, a função de agente

prisional esteve vinculada à segurança e à exclusão, associadas à vigilância, a violência

e a tortura quando necessária para a promoção da ordem e disciplina nas prisões, assim

são raras as pessoas que exercem a profissão por vocação. Destaca que somente um

agente afirmou ter realizado o concurso por vocação. E segundo ele, o interesse pela

profissão foi motivado pelo contato com o ambiente prisional desde a infância quando

seu pai era diretor de uma penitenciária.

Em sua pesquisa Moraes (2005), ressalta que o exercício profissional ocasiona

sofrimento ao agente penitenciário, atingindo também a família deste, principalmente

em momentos de crise no interior das unidades prisionais. Os apontamentos deste autor,

bem como dos estudos anteriormente abordados nos levam a inferir que a procura pela

profissão de agente prisional está relacionada principalmente à sobrevivência, as

perspectivas salariais e as vantagens inerentes ao emprego público e não movidos pela

vocação profissional.

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2. O ambiente de trabalho: aspectos físicos e relacionais

Lourenço (2010b), ao salientar sobre prisões ressalta que são edificações

caracterizadas por muros altos e que são vigiadas pelos agentes de segurança com armas

de fogo, diuturnamente. Além das cercas de arames farpados dispostas entre as

muralhas e as grades de ferro.

Este autor destaca que o ambiente prisional é impróprio tanto para os internos

como para os trabalhadores pois são espaços precários, ínfimos, escuros e úmidos, onde

tem de aprender a conviver com a violência, o isolamento, a distância social, a barbárie,

a opressão e a morte.

No estudo de Taets (2012), a prisão é caracterizada como ambiente traiçoeiro

devido às situações adversas e a instabilidade, porque ao mesmo tempo em que este

ambiente está calmo, pode de repente começar uma rebelião. Assim, as condições que

em outros ambientes são superadas tais como falta de água e de alimentação adequada,

em um presídio pode ser motivo para desestabilizá-lo, levando ao desencadeamento de

motins e/ou rebeliões.

O presídio se caracteriza por situações adversas e também pelas condições

inadequadas de trabalho, dentre elas Tschiedel et al (2013) aponta a falta de materiais de

trabalho, os números insuficientes de funcionários, as viaturas inadequadas e ainda a

falta de cursos de capacitação.

Ao salientar a respeito da precarização das condições de trabalho, Lourenço

(2010b) menciona as más condições dos mobiliários e equipamentos de trabalho; a

iluminação insuficiente; a falta reparos na parte hidráulica e a necessidade de reforma

nos diversos departamentos da unidade prisional devido à má conservação, o que gera

improvisações generalizadas.

Além das questões relativas à infraestrutura inadequada apontadas nos estudos

dos autores referenciados, Fernandes et al (2002) cita a necessidade de formação para o

trabalho, pois salienta que somente 44% destes trabalhadores foram capacitados para

desempenhar a função. Greco (2011) nos alerta que este fator acaba por dificultar a

atuação dos agentes penitenciários, por ser um ambiente de trabalho complexo

permeado por riscos, como ameaças, violência física e psicológica. E ao comparar a

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ocorrência de situações adversas enfrentadas por estes trabalhadores em seu fazer da

profissão, Lourenço (2010a) afirma ser mais presentes as ameaças e o assédio moral.

Ainda, ao salientar sobre condições de trabalho Taets (2012) relata uma melhora

na estrutura física dos presídios de São Paulo em relação aos recursos materiais, pois

atualmente a maioria dos presídios tem equipamentos modernos como raios x e detector

de metal. Mas, por outro lado, aponta o número insuficiente de trabalhadores que acaba

sobrecarregando os profissionais dessa categoria porque passam a ser responsáveis por

um número maior de internos, do que o ideal para cada agente penitenciário.

Enfim, neste contexto, percebe-se que além dos trabalhadores de instituições de

liberdade trabalhar em ambiente, onde estão expostos a riscos diuturnamente, conforme

assinalado por Greco (2013), ainda convivem com falta de recursos materiais, e de

efetivos para o desempenho do seu trabalho, o que pode tornar a situação mais grave

devido às improvisações.

As publicações selecionadas também apontam para aspectos relacionais do

trabalho dos profissionais em instituições de privação de liberdade e que pode afetar a

saúde mental dos trabalhadores.

Ao analisar as condições de trabalho dos agentes penitenciários Tschiedel et al

(2013) identificou riscos de violência, precariedade nas condições de trabalho, riscos

biológicos, entre outros problemas. Ao estudar o grupo de agentes socioeducadores do

Estado do Rio Grande do Sul, Greco (2011) também salienta sobre a exposição destes

trabalhadores a um ambiente que oferece risco a sua integridade física, moral e psíquica.

Essa semelhança relativa à exposição a um ambiente adverso, provavelmente se

justifique devido a natureza do trabalho, pois estes dois grupos de profissionais

trabalham no atendimento direto aos internos, permanecendo mais próximos à

população privada de liberdade diuturnamente.

Lourenço (2010a) ressalta acerca da exposição destes profissionais a rebeliões,

onde tendem a intensificar a violência, pois neste momento a uma inversão de papéis,

assim os detentos passam a ser a própria lei ao julgar a conduta profissional dos agentes

penitenciários. Geralmente nestas ocasiões são espancados, torturados, perfurados por

armas artesanais, além de sofrer inúmeras humilhações. Franco (2008) durante a

observação do cotidiano do trabalho da Fundação Casa do Estado de São Paulo relata

ter vivenciado momento de muita tensão quando uma rebelião estava em curso,

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afirmando que as relações neste momento são marcadas pela violência e exaltação dos

ânimos, principalmente por parte dos internos.

Ainda a respeito das exposições no ambiente de trabalho, Rumin (2006) em seu

estudo com agentes penitenciários do Oeste Paulista verificou três tipos de situações

ansiogênicas, sendo a primeira o risco eminente de violência inerente ao fazer da

profissão, podendo atingir inclusive seus familiares; a segunda a possibilidade de

degradação da saúde, por causa as cargas biológicas e psíquicas; e a terceira é a escolha

da profissão que é realizada devido a necessidade de sobrevivência.

Além disso, Fernandes et al (2002) ressalta a exposição à angústia que

corresponde a ansiedade e ao medo de tomar decisão em situações ameaçadoras. Com

base no mencionado pela autora, podemos dizer que esta angústia provavelmente é

gerada devido à responsabilidade em agir neste momento, pois qualquer falha pode

comprometer o equilíbrio do ambiente de trabalho colocando em risco a integridade

física dos internos e trabalhadores da unidade prisional. Franco (2008) demonstra a

temeridade, a incerteza e a inconstâncias presentes no cotidiano do Centro

Socioeducativo, assim como, a complexidade do trabalho desenvolvido pelos agentes

socioeducadores, através das seguintes expressões: viver ao fio da navalha, não saber

onde pisar.

Moraes (2005) ressalta sobre o processo de familiarização ao ambiente prisional,

que para o agente penitenciário significa estar em alerta constante, ou seja, durante o seu

período de plantão este trabalhador tem de estar em vigília permanente, prestando

atenção em tudo, pois o local tem uma dinâmica própria e quando foge aquela rotina

pode ser sinal de que a algo errado. Assim este trabalho requer do profissional um

aguçamento sensorial necessário à vigilância, o qual os deixa mais vulneráveis ao

desgaste psíquico.

Neste sentido, com base no referido acima pode-se afirmar que, além do

desgaste físico devido o longo período de plantão, este profissional ainda é submetido a

um desgaste mental considerável, porque neste ambiente trabalho a distração pode ser

uma brecha para ocorrências de situações adversas, podendo até atingir a integridade

física e/ou mental dos vários atores presentes no universo prisional.

Perante as adversidades inerentes as unidades de privação de liberdade, a relação

interpessoal tende a mais ríspida. A respeito do relacionamento no interior do Centro

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Socioeducativo, Franco (2008) afirma que a interação com o adolescente é retratada

como algo perigoso, assim o agente sempre procura manter distanciamento, tratando-os

com certa rigidez. Portanto, esta relação é marcada pelos confrontos que muitas das

vezes perduram e se estendem para além dos muros.

Enfim, diante do exposto acima vimos que estes profissionais estão inseridos em

um ambiente de trabalho marcado por tensões, conflitos e violências. Deste modo, quais

são os impactos na vida e na saúde destes profissionais? É o que apresentamos a seguir.

3. Impactos na vida e na saúde do trabalhador em instituições de privação

de liberdade

De acordo com Lourenço (2010a) as implicações do exercício profissional em

instituições de privação de liberdade se estendem para além dos muros destas unidades,

dentre elas estão às restrições de lazer que se limitam aos lugares mais reservados. No

seu tempo livre os agentes penitenciários preferem estar com a família, namoradas,

amigos, assim como, assistir televisão e dormir. Além disso, são apontados o

preconceito e o estigma advindos do exercício desta profissão porque as notícias

divulgadas pelos veículos de comunicação são aquelas que fogem a normalidade do

trabalho do agente penitenciário, o que reforça a imagem negativa que a maioria das

pessoas tem sobre o trabalho em instituição de privação de liberdade.

Nesta perspectiva, o trabalho no Sistema Penitenciário sempre foi visto de forma

depreciativa. Depreende-se que possivelmente, o estigma e o preconceito podem estar

associados à imagem pejorativa construída histórica e socialmente a respeito deste tipo

de trabalhador e é reforçada pela mídia que geralmente retrata as anormalidades que

ocorrem no cotidiano das prisões, conforme pontuado por Lourenço (2010a). Portanto,

Moraes (2005) salienta que na sociedade os agentes penitenciários são vistos como

semelhantes às pessoas restritas de liberdade e dependendo da situação até piores que

estas.

Franco (2008) também fala sobre os impactos na vida social do agente

socioeducativo que muitas vezes tem dificuldades para interagir socialmente, pois não

consegue desvencilhar do trabalho em seu cotidiano extra muros, passando a viver uma

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vida mais solitária. Ainda expressa que o cotidiano perigoso da profissão afeta o

relacionamento familiar, além dos vínculos de amizades dos agentes socioeducadores.

Sobre o impacto familiar Moraes (2005) relata ainda que, às vezes, o exercício

profissional pode interferir na convivência familiar. Em sua pesquisa inúmeros agentes

penitenciários referiram o trabalho nas prisões como um fator que está relacionado ao

desequilíbrio familiar, sendo apontado como um dos responsáveis principais pela

separação do casal e/ou dissolução familiar.

Enfim pode-se depreender que, geralmente os trabalhadores de instituições de

privações de liberdade estão tão imersos em seu cotidiano da profissão que se sentem

incapazes de distanciarem dos problemas refletindo negativamente em diversos aspectos

de sua vida. Desta forma, há também os reflexos negativos para sua saúde física e

psíquica. Nesta perspectiva o que os estudos selecionados salientam sobre essa questão?

E quais os principais agravos à saúde que acometem estas categorias profissionais?

Além de outras morbidades relatadas pelos trabalhos selecionados destacamos os

reflexos negativos para a saúde mental do trabalhador de instituições fechadas,

especialmente na saúde daqueles que trabalham no atendimento direto a população

privada de liberdade. Cabe tal observação, porque a relação entre saúde mental e

trabalho nestes tipos de ambientes laborais é o eixo norteador do nosso estudo.

Assim, a respeito desta questão Fernandes et al (2002) estudou as possíveis

relações entre condições de trabalho e saúde, com 311 agentes penitenciários das

Unidades do Sistema Prisional da Região Metropolitana de Salvador e encontrou uma

prevalência dos agravos à saúde significativa, pois 91.6% apresentaram mais de uma

queixa, e somente 8,4 % não apresentaram nenhuma queixa relativa á saúde.

Ainda com relação à saúde mental no estudo desta autora foi encontrada uma

prevalência de Desvios Psíquicos Menores-DPM de 30,7% e dentre os fatores

associados às maiores prevalência de DPM estão: as condições materiais para o

trabalho, as dificuldades para a realização das atividades, a longa jornada de trabalho, o

tempo no sistema e outros aspectos relacionados à organização do trabalho. Greco

(2011) estudou o grupo de agentes socioeducadores do Rio Grande do Sul onde de uma

amostra de 381 trabalhadores encontrou uma prevalência global de suspeição de DPM

de 50, 1%.

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Rumin (2011) argumenta acerca das características presentes nos ambientes de

privação de liberdade como as relações hierárquicas, divisão em turnos, contato diário

com a violência entre outros aspectos que acabam por agravar o sofrimento psíquico.

Conforme Tschiedel et al (2013), a vivência de sofrimento no trabalho está relacionada

a fatores como organização, condições e relações de trabalho. Em sua pesquisa Franco

(2008) também constatou um sofrimento psíquico intenso entre os agentes

socioeducadores que atribuiu principalmente ao esvaziamento da profissão, o qual acaba

se traduzindo em atuação violenta, ao uso abusivo de álcool, a somatização e ao

suicídio.

Greco et al (2013) ressalta que foi encontrado afastamentos por causa de

problemas de saúde mental e também salienta a respeito da dificuldade do

estabelecimento do nexo causal entre o trabalho no Centro Socioeducativo e o referido

agravo à saúde, junto ao Instituto Nacional do Seguro Social. Em seu estudo esta autora

verificou que a maioria dos afastamentos por problemas de saúde, ocorria no grupo dos

agentes socioeducadores que se encontravam expostos a altos níveis de demanda

psicológica, devido as características do trabalho desta categoria profissional como:

pressão pelo tempo, alto nível de concentração, constante estado de alerta e papéis

conflitantes.

De um universo amostral de 381 agentes socioeducadores, esta autora aponta um

percentual 19, 2% classificados no quadrante de alta demanda. Em seu estudo verificou

também uma tendência para o alcoolismo entre os trabalhadores situados no referido

quadrante. Além disso, a maioria dos trabalhadores que necessitaram de

acompanhamento psicológico no último ano, estavam nos quadrantes de trabalho de

altos níveis de demanda psicológica caracterizado pelo trabalho ativo e alta exigência.

Em sua pesquisa Moraes (2005) constatou elevado grau de estresse e seus

reflexos físicos e psíquicos entre os agentes penitenciários do Paraná. Fernandes et al

(2002) também refere ao estresse como um agravo à saúde presente entre os agentes

penitenciários de Salvador, classificando em estresse: momentâneo, intermediário e

persistente. Segundo este autor o estresse persistente foi associado estatisticamente a

não realização de treinamento para a função, a carga horária de trabalho excessiva (mais

de 48 horas semanais) e exposição a um ambiente psicologicamente insatisfatório.

Greco et al (2012) em seu estudo com agentes socioeducadores também apontou a

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profissão como uma fonte de estresse em potencial, relacionando as características do

trabalho devido às exigências diárias como alta concentração, ritmo intenso de trabalho,

imprevisibilidade, tensão e estado de vigília permanente.

Diante de inúmeras implicações negativas no exercício destas profissões, quais

são as estratégias adotadas como válvula de escape?

4. Estratégias de enfrentamento cotidiano

Neste contexto Franco (2008) afirma que diante dos riscos à integridade física e

mental e do intenso sofrimento psíquico, e consequente percepção da degradação da

saúde pelos agentes penitenciários estes procuram estratégias defensivas para afastar o

sofrimento e ir em busca do prazer no trabalho.

Segundo Franco (2008) entre as estratégias de enfrentamento referidas pelos

agentes penitenciários está o uso de drogas lícitas, como a bebida alcoólica para relaxar

e desestressar. O uso de bebida alcoólica também é referido por Greco et al (2013)

como estratégia de defesa.

Conforme Taets (2012) é comum entre as agentes penitenciárias o pedido de

licença médica mesmo dispondo de assistência médica, o que pode traduzir como uma

estratégia para se manter afastada do sofrimento gerado pelo trabalho. O desvio de

função, também é apontado por Fernandes et al (2002) como um mecanismo de defesa

para escapar do trabalho perigoso e consequente desgaste físico e mental.

Enfim, pode-se inferir através dos estudos selecionados que o agente

penitenciário e o agente socioeducador não ficam inertes as situações adversas

encontradas no exercício laboral, mas procuram maneiras de amenizar o sofrimento por

via formal como licença médica e desvio de função, ou informal por meio da utilização

de drogas lícitas, podendo trazer mais danos à sua saúde. Assim, é fundamental que as

unidades de privação de liberdade estabeleçam estratégias institucionais para amenizar

os danos causados à saúde física e mental destes trabalhadores.

Até o momento foram abordados somente os aspectos negativos do trabalho em

instituições de privação de liberdade, os quais acabam por ocasionar problemas à saúde

do trabalhador. Vale ressaltar os aspectos considerados positivos e que podem de

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alguma forma compensar o sofrimento, podendo trazer também vivências de prazer.

Mas, o que pode ser fonte de prazer em um ambiente laboral permeado por tantos

fatores que podem contribuir para o sofrimento no trabalho?

5. Vivência de prazer pelo trabalho em instituições de privação de liberdade

Neste estudo buscamos também as vivências de prazer pelo trabalho em

instituições de privação de liberdade, pois apesar das contradições inerentes ao exercício

laboral deste profissional tais como: as situações de violências presentes neste ambiente,

também existem os aspectos positivos que de alguma forma estão relacionados às

vivências de prazer nesta profissão, o que pode amenizar o sofrimento proveniente da

mesma.

Dentre os aspectos positivos, foi ressaltado por Lourenço (2010b) o salário por

ser maior em relação ao emprego anterior deste trabalhador, a estabilidade funcional, a

possibilidade de ascensão devido o plano de carreira, o trabalho em escala de plantão

possibilitando a oportunidade de exercer outra atividade remunerada.

Nesta perspectiva, Tschiedel et al (2013) ressalta alguns aspectos que podem

contribuir para o prazer no trabalho dentre eles: a satisfação com o trabalho, aprovação

no concurso público, a estabilidade funcional, cumprir com as obrigações da profissão,

ter um salário além de gratificações que agregam ao vencimento mensal, e ainda a

flexibilidade da escala de plantão, pois o agente trabalha 24 horas seguidos de três dias

de descanso, assim neste período existe a possibilidade de ter outro emprego ou utilizar

este tempo para outra finalidade.

Sousa e Mendonça (2009) também apontam vivências que podem contribuir

para o prazer no trabalho, tais como: a percepção de justiça por estes trabalhadores em

relação a distribuição de recursos, recompensas e benefícios; o sentimento de integração

ao grupo; exposição de suas ideias e a participação nos processos de tomada de decisão.

Neste sentido, pode-se afirmar que a valorização do profissional é um dos fatores que

pode proporcionar prazer, mesmo quando este trabalhador se encontra inserido em um

ambiente laboral permeado por inúmeras situações adversas.

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Mas, será que estes elementos que sustentam estes profissionais no cotidiano do

trabalho são suficientes para compensar esses trabalhadores diante do intenso

sofrimento psíquico a que são submetidos nas instituições de privação de liberdade?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos nos estudos selecionados que os agentes socioeducadores e agentes

penitenciários estão expostos a um ambiente laboral permeado por inúmeras situações

adversas como exposição à violência, risco a sua integridade física e psíquica, além das

condições inadequadas de trabalho, os quais acabam gerando agravos à saúde deste

trabalhador.

Dentre as principais morbidades citadas pelos estudos estão os desvios psíquicos

menores, onde foi encontrada uma prevalência de 30,7% entre os agentes penitenciários

e uma prevalência global de suspeição de DPM de 50, 1% entre os agentes

socioeducadores (FERNANDES et al, 2002; GRECO, 2011). Sendo que às maiores

prevalência de DPM foram associados às condições de trabalho inadequadas, as

dificuldades em realizar as atividades, a longa jornada de trabalho, ao tempo no sistema

e outros aspectos relativos à organização do trabalho. Além disso, a profissão de agente

socioeducador é uma fonte de estresse em potencial, porque exige alta concentração,

ritmo intenso de trabalho, imprevisibilidade, tensão e estado de vigília permanente,

conforme Greco et al (2012).

No levantamento das publicações percebemos o reduzido número de estudo

sobre a saúde dessas categoriais profissionais, principalmente relativa à saúde mental do

agente socioeducador, pois a maioria das produções acadêmicas ainda estão focadas

especialmente na população privada de liberdade, demonstrado a questão da

invisibilidade destes trabalhadores. Portanto, urge a necessidade de se voltar o olhar aos

trabalhadores destas instituições, sobretudo, no que diz respeito à saúde mental

relacionada ao trabalho.

Ainda vale ressaltar que as poucas produções acadêmicas sobre os agentes

penitenciários e agentes socioeducadores inseridos em instituições de privações de

liberdade, se concentraram principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Desta

forma, suscita a necessidade de realização de estudos em outras regiões brasileiras com

o objetivo de conhecer a realidade do trabalho no interior deste tipo de instituição, as

condições de trabalho e os riscos aos quais estes profissionais estão expostos, assim

como a relação do trabalho com o adoecimento destas categorias para se pensar

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intervenções que visem à promoção, a prevenção e a melhora da qualidade de vida e

saúde destes trabalhadores.

Também é necessário a realização de estudos em que os próprios profissionais

tenham voz para relatar sobre seu cotidiano de trabalho e sobre os indicadores de

sofrimento mental como licenças de trabalho, desvios de função, absenteísmo, etc.

Destacamos também a importância da realização de estudos acadêmicos que

proporcione uma escuta qualificada para investigar os aspectos relacionados ao trabalho

destas categoriais que mais geram insatisfações, tendendo a aumentar a carga psíquica,

e, consequentemente, desencadear reações patogênicas em diferentes situações da

realidade local do sistema prisional.

Nas publicações encontradas foi possível verificar o quanto o trabalho em

ambiente de privação de liberdade é penoso e quão imenso é o sofrimento dos

profissionais inseridos neste ambiente de trabalho. E também percebemos que as

condições inadequadas de trabalho como a falta de reforma na estrutura física, a pouca

iluminação do local, a falta de condições materiais para desempenhar o trabalho, a falta

de manutenção nas viaturas são fatores que podem contribuir para maior desgaste e

consequentemente prejudicar a saúde mental do trabalhador.

Cabe ressaltar a necessidade de se investir em serviços de atenção à saúde

mental, visando principalmente atividades de promoção e prevenção à saúde nos locais

de trabalho, assim como o proposto por Rumin (2006) com a criação de um espaço de

escuta onde os profissionais possam falar sobre suas angústias, medos e insatisfação.

Além disso, a ginástica laboral que poderia ser organizada e ministrada pelos

próprios educadores físicos da instituição de privação de liberdade seria também uma

das alternativas para contribuir com a melhoria da saúde dos trabalhadores. Nas

unidades de privação de liberdade, geralmente a rotina de trabalho esta organizada

sistema de escala de plantão, assim a padronização dos procedimentos para diminuir a

distância entre o trabalho prescrito e o real seria uma maneira de amenizar o desgaste

mental provenientes dos conflitos nas relações interpessoais. Tal padronização poderia

ser estabelecida através de encontros semanal, quinzenal ou mensal dos representantes

das diversas equipes para discutir o modo de operacionalizar a rotina da unidade.

Enfim, acreditamos que a criação de um fórum permanente para a discussão das

dificuldades e dos principais entraves encontrados no fazer da profissão. Este deveria

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ocorrer mensalmente e ser em conjunto com os gestores e membros do sindicato para o

planejamento de ações de promoção e prevenção da saúde dos agentes.

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APÊNDICES

A- Instrumento utilizado na sistematização dos dados

01 Produção nº

02 Fonte da publicação

03 Título

04 Autor e co-autores

05 Afiliação de origem do autor e co-

autores

06 Ano da publicação

07 Tipo de produção

09 Objetivos

10 População estudada

11 Assunto, tema do

artigo/produção/documento

12 Metodologia

13 Resultados encontrados e conclusão

14 Data da pesquisa/acesso

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B- Referências das publicações selecionadas

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