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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO EM ENFERMAGEM Ana Cristina de Oliveira Abraão Santesso Prática Educativa na Hemodinâmica: Repercussões da Atuação do Enfermeiro Juiz de Fora 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

MESTRADO EM ENFERMAGEM

Ana Cristina de Oliveira Abraão Santesso

Prática Educativa na Hemodinâmica: Repercussões da Atuação do Enfermeiro

Juiz de Fora

2015

Ana Cristina de Oliveira Abraão Santesso

Prática Educativa na Hemodinâmica: Repercussões da Atuação do Enfermeiro

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de

Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em

Enfermagem.

Orientadora: Profª. Drª Denise Barbosa de Castro Friedrich

Juiz de Fora

2015

Imprimir na parte inferior, no verso da folha de rosto a ficha disponível em:

http://www.ufjf.br/biblioteca/servicos/usando-a-ficha-catalografica/

Ana Cristina de Oliveira Abraão Santesso

Prática Educativa na Hemodinâmica: Repercussões da Atuação do Enfermeiro

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Enfermagem da Faculdade de

Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção de grau de Mestre em

Enfermagem.

Aprovada em 16 de julho de 2015

BANCA EXAMINADORA

--

_______________________________________

Profª. Drª Denise Barbosa de Castro Friedrich - Orientadora

Universidade Federal de Juiz de Fora

________________________________________

Profª. Drª Kênia Lara Silva

Universidade Federal de Minas Gerais

________________________________________

Profª. Drª Edna Aparecida Barbosa de Castro

Universidade Federal de Juiz de Fora

Dedico este trabalho aos pacientes que, há dez anos, perpassam pelos meus

caminhos e que inconscientemente fazem da minha história profissional e acadêmica um livro

de constantes buscas de conhecimento e aprendizado na vida e na saúde.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço ao meu mestre e mentor, Jesus Cristo, que, ao meu lado,

sempre caminha e me guia, conduzindo meus passos a favor do bem, iluminando minha

mente na busca da sabedoria.

Aos meus pais que me auxiliam na condução dos estudos e da vida, que corroboram

com meu amadurecimento e aperfeiçoamento, trazendo os conceitos de educação e família,

assim como minhas irmãs que dispensaram a mim todo carinho e afeto.

À minha família, meu esposo e minha filha, que, como um anjo enviado por Deus,

nasceu durante o curso de mestrado para provar que somos fortes e podemos mais.

À minha professora e orientadora que não abandonou minha ideia inicial de

desenvolvimento de um trabalho, que hoje se faz presente no formato desta dissertação. Com

sua presteza ajudou significantemente para que eu caminhasse bem e chegasse até aqui. Sou

muito grata por sua orientação e por confiar em mim, proporcionando-me tranquilidade nos

momentos de inquietação inerentes à pesquisa.

Aos professores e demais colaboradores do curso de Mestrado em Enfermagem.

Aos amigos com os quais compartilhei momentos de alegria e aflição, que acreditaram

e me fortaleceram a seguir esta escolha, etapa fundamental da minha vida.

“... para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como

grande lição que é impossível assumi- la sem risco”.

Paulo Freire

RESUMO

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, comparativo, baseado no

referencial da hermenêutica dialética, cujo objetivo foi analisar as repercussões imediatas da

ação educativa do enfermeiro, através da sala de espera na hemodinâmica, junto aos pacientes

e acompanhantes antes de um procedimento de intervenção cardiovascular. A educação é um

instrumento que contribui para a formação das pessoas e do mundo. A educação em saúde é

entendida como uma prática que trabalha junto ao indivíduo estratégias de mudança em seu

benefício, para seu próprio bem-estar, desenvolvendo um pensamento reflexivo e

posteriormente crítico sobre os próprios atos e cultura, possibilitando melhoras no estado de

saúde. O cateterismo cardíaco é um exame de diagnóstico por imagem, amplamente utilizado

na investigação das coronariopatias e valvulopatias cardíacas estudadas no setor de

hemodinâmica. A enfermagem que atua neste serviço tem grande importância no que tange às

orientações em saúde com vistas ao bem-estar dos pacientes acometidos por doenças

cardiovasculares e que são encaminhados para diagnóstico ou tratamento. Realizou-se

entrevista semiestruturada com cinco pacientes e cinco acompanhantes antes da e após a ação

educativa de enfermagem. Os dados encontrados foram submetidos à análise proposta por

Minayo composta pelas etapas de ordenação, classificação e análise final. Os resultados

possibilitaram a construção das seguintes categorias: desvendando o desconhecido; em busca

de um protagonista; orientações de enfermagem como forma de esclarecimento e alívio da

ansiedade. Através destas, identificamos a existência de lacunas nas informações sobre o

procedimento; ausência de um mediador do conhecimento técnico-científico que auxilie na

construção de saberes e troca de experiências; um cenário onde pacientes e acompanhantes se

sentem ansiosos e temerosos pela espera por algo que não conhecem, mas também

demonstraram a importância das orientações de enfermagem para melhora da ansiedade e

busca de outros saberes. A prática educativa implementada demonstrou ser de grande

relevância para atuação do enfermeiro no serviço de hemodinâmica, corroborando para

melhor compreensão do exame, maior qualidade de informação e controle do nível de

ansiedade.

Palavras-chave: Enfermagem; Educação em Saúde; Cateterismo Cardíaco.

ABSTRACT

It is a study of qualitative approach, descriptive, comparative, based on the dialectic

hermeneutics reference whose aim was to analyze the immediate repercussions of educational

action of the nurses, through the waiting room in hemodynamics, with patients and

companions before of an interventional cardiovascular procedure. Education is a tool that

contributes to the formation of people and of the world. Health education is understood as an

educational practice that works with the individual to critical and liberating vision of living

conditions, aiming to change strategies for their benefit, for your own well-being, developing

a critical reflective thinking and later on the own actions, culture, enabling improvements in

health status. Cardiac catheterization is a test of diagnostic imaging, high resolution, widely

used in the investigation of coronary artery disease and cardiac valve disorders studied in the

hemodynamic sector. The nursing acting in this service is of great importance when it comes

to health orientation with a view to the welfare of patients suffering from cardiovascular

disease and who are referred for diagnosis or treatment. Was held semi-structured interview

with five patients and five companions before and after the nursing education action. Data

were subjected to analysis proposed by Minayo comprised by ordination of data, data

classification and final analysis. The results allowed the construction of the following

categories: uncovering the unknown; looking for a protagonist; nursing's orientation as a way

to enlightenment and relief from anxiety. Through these, we identified the gaps in information

about the procedure; absence of a mediator of technical and scientific knowledge to assist in

the construction of knowledge and exchange of experiences; a scenario where patients and

companions feel anxious and fearful waiting for they do not know, but also the importance of

nursing guidelines for improvement in anxiety and search for other knowledge. The

implemented educational practice proved to be of great relevance for nursing work in the

hemodynamics service corroborating to better understanding the exam, better information and

relief of the level of anxiety.

Keywords: Nursing; Health Education; Cardiac Catheterization

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Síntese das entrevistas pré-orientações de enfermagem....................................43

Quadro 2 – Síntese das entrevistas pós-orientações de enfermagem....................................43

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DeCS Descritores em Ciências da Saúde

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

ESF Estratégia de Saúde da Família

OMS Organização Mundial de Saúde

PNH Programa Nacional de Humanização

SAE Sistematização da Assistência de Enfermagem

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO........................................................................................................... 13

1.1- ENFERMAGEM E HEMODINÂMICA................................................................ 16

1.2- PRÁTICA EDUCATIVA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO EM

SAÚDE PARA O CUIDADO DO ENFERMEIRO ............................................... 21

1.3- SALA DE ESPERA COMO CENÁRIO DE APRENDIZAGEM ......................... 28

1.4- O ENFERMEIRO COMO EDUCADOR EM SAÚDE ......................................... 31

2- OBJETIVOS ............................................................................................................... 36

2.1- GERAL ................................................................................................................... 36

2.2- ESPECÍFICO .......................................................................................................... 36

3- PERCURSO METODOLÓGICO............................................................................. 37

4- RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................ 46

4.1- DESVENDANDO O DESCONHECIDO .............................................................. 46

4.2- EM BUSCA DE UM PROTAGONISTA............................................................... 49

4.3- ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM COMO FORMA DE

ESCLARECIMENTO E ALÍVIO DA ANSIEDADE ........................................... 57

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 65

REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 68

APÊNDICES ............................................................................................................... 74

APÊNDICE A- TESTE PILOTO ........................................................................... 75

APÊNDICE B- TCLE............................................................................................. 76

APÊNDICE C- ROTEIRO DE ENTREVISTA ..................................................... 77

APÊNDICE D- QUADRO DAS FALAS............................................................... 78

13

1 INTRODUÇÃO

A enfermagem evoluiu consideravelmente no que tange à cardiologia intervencionista

e vem caminhando em uma linha que traça um percurso de desenvolvimento da assistência

pelo próprio crescimento da cardiologia e pela sofisticação e inovação tecnológica, que

exigem versatilidade e capacitação adequada dos profissionais em relação aos procedimentos

realizados nesta área.

Em meio ao crescimento das ações de enfermagem no ambiente da hemodinâmica,

também é possível perceber a necessidade que a maioria dos pacientes apresenta de

compreender sobre seu estado de saúde quando se depara com as doenças do coração.

Após iniciar minhas atividades como enfermeira de hemodinâmica, minha prática

diária e a necessidade de atender as demandas do serviço instigaram-me a conhecer e me

especializar nesta área para acompanhar as constantes mudanças. As atividades desenvolvidas

no serviço, por mim ainda desconhecido, levavam-me a compreender mais profundamente a

fisiologia cardiovascular e as ações inerentes ao profissional enfermeiro.

Passados cinco anos vivenciando essa experiência, em instituições privadas e públicas,

ficou perceptível que a maioria dos enfermeiros buscava um conhecimento especializado para

assistência ao paciente, gerenciamento da unidade e treinamento da equipe, do que não me

excluo. Contudo, com o passar do tempo e da convivência em meio a pacientes com uma

diversidade de características socioeconômicas e culturais, ficou ainda mais clara a vontade de

compartilhar conhecimentos com as pessoas que se encaminhavam para fazer exames,

conversando sobre todo o processo saúde-doença e os procedimentos realizados no setor.

Muitas foram as buscas por um conhecimento ampliado no âmbito da enfermagem em

hemodinâmica e me deparei com a escassez de literatura específica ao corpo de

conhecimentos da enfermagem, o que passou a ser mais um incentivo para construção de

novos saberes.

Tive a possibilidade de me aproximar da realidade dos pacientes, perceber seus

anseios e dúvidas, realizar orientações e intervenções para prevenção de agravos e utilizar a

educação em saúde como meio para fortalecer a relação profissional-paciente, tendo em vista

o pouco conhecimento que a maioria dos pacientes expressava.

Este foi o ponto de partida. A educação em saúde como elo para maior proximidade e

relacionamento com os pacientes encaminhados para exames de intervenção cardiovascular.

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Assim, durante a rotina de trabalho, a equipe técnica de enfermagem e eu fazíamos

orientações em todos os momentos em que o paciente permanecia no serviço de

hemodinâmica.

Para os pacientes e seus acompanhantes, a hemodinâmica era vista como um setor que,

inicialmente, assombrava e causava medo, ansiedade, pois se viam em um local onde seu

corpo seria “invadido”, o que caracteriza, mais uma vez, a necessidade de uma intervenção

com vistas ao esclarecimento e educação voltados para a saúde e alívio destes sentimentos.

Entre os procedimentos realizados, o cateterismo cardíaco era o mais prevalente.

Segundo Quilici et al (2014, p. 255), é um procedimento que se refere ao “ato de acessar o

coração através de cateteres intravasculares, para estudar a sua anatomia e fisiologia,

buscando diagnosticar patologias através da mensuração de pressões intracavitárias e de

oximetrias, e da injeção de contraste para a visualização das câmaras cardíacas, dos grandes

vasos e artérias coronárias pela injeção de contraste durante o procedimento ”.

Toda esta invasão ao órgão responsável pela vida, em alguns pacientes ou

acompanhantes, era geradora de conflitos internos. O sentimento de ameaça e o medo do

diagnóstico eram pertinentes, tendo em vista que as doenças do aparelho circulatório

representam uma das principais causas de morte no Brasil, sendo as doenças isquêmicas do

coração responsáveis por 31,4% destes óbitos. Dentre as doenças isquêmicas, o infarto agudo

do miocárdio corresponde a 25,2% desta proporção (BRASIL, 2013).

Dentro dessa realidade de adoecimento, principalmente de doenças vinculadas ao

sistema cardiovascular, pode surgir também o estresse no meio familiar, que desencadeia um

círculo de mútuas influências entre paciente, doença e família que irão determinar os

comportamentos deste paciente e de seus familiares. Comportamentos que, na minha

vivência, eram expressos pelos pacientes na sala da hemodinâmica, ou pelos próprios

acompanhantes durante a espera.

O medo, a insegurança, a cultura e a predominância de conhecimentos ditos populares,

que veiculam conceitos negativos, fazem com que seja necessária a intervenção de

profissionais através dos saberes técnicos e práticos.

Uma atuação de enfermagem coerente e baseada em um conhecimento técnico-

científico em desenvolvimento crescente, como é o caso da enfermagem na cardiologia

intervencionista, e que paralelamente atenda às necessidades do paciente, visando ao bem-

estar, requer um olhar crítico e uma tomada de decisão que previna riscos e promova a saúde,

a autonomia e a participação do paciente no seu próprio cuidado.

15

Esta visão de cuidado voltada para a promoção da saúde e participação da sociedade

precisa estar clara para todos os profissionais da saúde, de todas as áreas, assim como é

bastante enfatizada na atenção primária, para que possamos encontrar meios de facilitar o

cuidado para o indivíduo doente. Entretanto, a realidade que vivemos e a forte e intrínseca

mentalidade de que a atenção primária em saúde é, dentre todos os cenários em saúde, o

contexto privilegiado para desenvolver ações educativas para o cuidado vêm acarretando

inúmeras dificuldades. Estes serviços são caracterizados pela maior proximidade com a

população, com ênfase nas ações de proteção e promoção da saúde (SANTOS et al., 2012).

O hospital, por sua vez, é considerado o espaço de “cura” e medicalização, lembrando

a cultura prescritiva, centralizada na clínica. Sendo assim, é importante considerarmos a

história da saúde no Brasil e no mundo, a forma com que as pessoas eram cuidadas e a

hegemonia da assistência curativa.

Tais fatos despertam a reflexão sobre o ambiente hospitalar visto como cenário apenas

de ações de intervenção direta ao indivíduo adoecido e o conceito de saúde estabelecido pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) – “um completo estado de bem-estar físico, mental e

social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

Considerar o bem-estar como saúde impõe-se no compromisso dos profissionais em

evitar os fatores que desviam o ser humano do estado de bem viver, conforme definido pela

OMS. Questionar, com vistas à socialização, o respaldo do poder hegemônico da área de

medicina e compartilhar este poder/saber com outros grupos disciplinares equivale a:

incentivar a vigência institucional da interdisciplinaridade; assumir responsabilidades no

movimento sanitário; priorizar a expressão da subjetividade humana, enfim

desinstitucionalizar as organizações de saúde como lugar de doença (SANTOS et al., 2013).

Assim, a prática dos procedimentos na Cardiologia Intervencionista está marcada por

grandes avanços médicos e de enfermagem, mas o mesmo não vem acontecendo com o trato

das informações, do conhecimento e das percepções dos pacientes e acompanhantes acerca do

tema.

Considerando a imprescindível ação do enfermeiro nos cuidados com o paciente

submetido a procedimentos de intervenção cardiovascular e a escassa literatura acerca do

tema, fui tomada pela seguinte inquietação: quais seriam as repercussões imediatas de uma

ação educativa do enfermeiro, junto a pacientes e seus acompanhantes na hemodinâmica,

onde pouco se permanece com os pacientes?

16

Na intenção de ampliar o olhar sobre esse campo e sobre as possibilidades de atuação

do enfermeiro nesta área, o presente estudo teve como objeto de investigação as repercussões

imediatas da ação educativa do enfermeiro, através da sala de espera na hemodinâmica, junto

aos pacientes e acompanhantes antes de um procedimento de intervenção cardiovascular.

A apresentação da pesquisa perpassará pelo contexto histórico da hemodinâmica,

destacando como a enfermagem está inserida neste ambiente, assim como abordando a

educação em saúde, o enfermeiro como educador e a influência da educação no cenário

hospitalar e colocando a sala de espera como cenário de práticas educativas em saúde na

hemodinâmica. Descreveremos, a seguir, os objetivos traçados para orientação do trabalho,

formulados a partir do objeto de estudo.

Também será detalhado o percurso metodológico seguido para o alcance dos dados e

dos resultados da pesquisa a partir da análise das falas dos participantes compreendidas por

meio da hermenêutica dialética. E, por fim, as considerações finais provenientes dos

resultados obtidos, subsidiando reflexões acerca da prática educativa do enfermeiro no serviço

de hemodinâmica.

1.1 ENFERMAGEM E HEMODINÂMICA

O serviço de hemodinâmica requer cuidados e ações específicas destinadas ao melhor

atendimento ao paciente acometido pelas doenças cardiovasculares. Sendo assim, a

enfermagem como área da saúde caracterizada pela ciência do cuidar está inteiramente ligada

a este ambiente. O cuidado de enfermagem deve ser visto como algo que vai além do simples

ato de cuidar, configurando-se em uma atitude, que abrange mais que um momento de

atenção, de zelo e de desvelo, ela representa a preocupação, a ocupação, a responsabilidade e

o envolvimento afetivo com o outro. O cuidar somente surge quando a existência de alguém

tem importância para quem cuida (BERARDINELLI et al., 2013).

O cuidado como atitude ocorre, no mínimo, entre duas pessoas presentes na situação e

no ambiente de cuidado: uma que assume o papel de cuidador, e outra que assume o papel do

ser cuidado. Para tal, o enfermeiro lança mão de um saber que procura fundamentar a essência

do cuidado às pessoas humanas (OLIVEIRA; SILVA, 2010). Para uma relação de cuidar

plena, é necessário trabalhar o conhecimento sobre o outro em todas as esferas que o envolve,

incluindo suas necessidades e o modo como consegue lidar com elas e todas as suas

limitações.

17

Desta forma, partimos do pressuposto de que o cuidar não envolve apenas o contato

físico e a assistência direta ao outro. Envolve também aspectos que vão ou deveriam ir ao

encontro do conceito de saúde.

A saúde no sentido de bem-estar não significa somente ausência de doenças, mas

abrange outros aspectos que comprometem as dimensões corporais, física, mental, social e

espiritual do ser humano, contextualizados no mundo onde vive e se relaciona com outros

(SANTOS et al., 2013).

Diversos autores conceituam o cuidado. Contudo, uma das concepções que ampliam e

caracterizam este cuidado, adotada neste estudo, é a defendida por Santos (2013, p. 149):

Cuidar da vida... Tal é esta primeira arte, verdadeira criação que, desde o dar à luz até a morte, participa no mistério da vida que luta, da vida que se apaga, da vida que ressurge, da vida que se afunda. Vida da mãe que traz ao mundo, do recém-nascido que se afirma, da criança que se feriu, do acidentado que torna a dar os primeiros passos, do doente que sofre, do drogado que mergulha no delírio, da pessoa idosa que se interroga onde está. Cuidar... Esta arte que precede todas as outras, sem a qual seria impossível existir, está na origem de todos os conhecimentos e na matriz de todas as culturas. Embora inserida na textura da vida cotidiana, esta arte permanece ainda tão desconhecida e a variedade dos seus resultados insuspeita.

Atender um paciente que irá realizar o cateterismo cardíaco exige dos profissionais de

saúde conhecimentos, habilidades e atitudes, que envolvem todas as concepções do cuidado e

que podem repercutir: na qualidade das intervenções usuais durante e após o procedimento; na

orientação quanto ao preparo adequado do paciente para a realização do exame; na

cooperação do paciente durante o exame; na diminuição da ansiedade e insegurança e na

detecção imediata das intercorrências que podem surgir durante e após o procedimento.

Portanto, o elemento diferenciador nesse atendimento será a capacidade de dedicação do

profissional do laboratório de hemodinâmica no cuidado a esses pacientes e todo seu

conhecimento acerca deste ambiente e dos procedimentos lá realizados (MENUCI; VARGAS,

2011).

Para uma melhor compreensão e ambiência de onde acontece este cuidado tão

específico, torna-se importante a descrição de alguns conceitos e da história da hemodinâmica

e do cateterismo cardíaco.

Hemodinâmica é uma palavra originária do grego haima (sangue) e dynamis (força),

significando o estudo dos movimentos do sangue e dos fatores que neles intervêm

(FERREIRA, 2009).

18

Os estudos hemodinâmicos tiveram início em 1905, com Fritz Bleichroeder, que

introduziu um cateter em veias e artérias de cães e em suas próprias veias, sem controle

radiológico. Já, em 1929, Werner Forssmann, repetindo a experiência, introduziu o cateter por

dissecção venosa até o átrio direito, sob controle radioscópico, caracterizando assim o

primeiro cateterismo cardíaco (CAVALCANTI et al., 2008).

A técnica percutânea foi desenvolvida por Seldinger em 1953 e logo foi aplicada para

a realização da cateterização do coração direito e esquerdo (BAIM; GROSSMAN, 2006).

Ainda segundo o mesmo autor, muitas outras técnicas e dispositivos foram sendo

desenvolvidos durante alguns anos por vários estudiosos importantes na história da

cateterização cardíaca e sua aplicação, assim como o aprimoramento das mesmas para melhor

imagem radiográfica. Esses novos procedimentos fizeram da cardiologia intervencionista um

novo campo na medicina cardiovascular.

As unidades de hemodinâmica são recentes, tanto como um serviço de apoio para

diversas áreas da medicina, como também para a atuação do enfermeiro. Além disso, estão em

constante avanço científico e tecnológico, o que tem contribuído para a complexidade dos

processos de trabalho nesse setor (LINCH; GUIDO; FANTIN, 2010).

A permanente evolução das técnicas e materiais para a realização de procedimentos

invasivos em cardiologia, segundo a Diretriz para Realização de Exames Diagnósticos e

Terapêuticos em Hemodinâmica (SAAD, 2004), tem permitido realizá-los de maneira mais

simples e segura.

Hoje, a maioria dos pacientes agendados para um exame diagnóstico, como o

cateterismo cardíaco, realiza o procedimento com média de 30 a 50min de duração e

permanece sob observação por uma média de 4 horas, como é o caso do serviço de

hemodinâmica cenário deste estudo. Este fato, aliado a uma crescente demanda pela redução

de custos, tem levado, cada vez mais, a uma internação hospitalar convencional não frequente

para a realização de procedimentos diagnósticos em cardiologia intervencionista, além da

escolha técnica de acesso às coronárias, que possibilita um menor tempo de observação e

maior conforto ao paciente.

O cateterismo cardíaco é um exame de diagnóstico por imagem, de alta resolubilidade,

amplamente utilizado na investigação das coronariopatias e valvulopatias cardíacas estudadas

no setor de hemodinâmica. Segundo os descritores em ciências da saúde (DeCS), cateterismo

cardíaco é um procedimento em que se colocam cateteres cardíacos para realização de

procedimentos terapêuticos ou diagnósticos.

19

A angiografia coronária, ou cateterismo cardíaco, foi realizada pela primeira vez em

1958 por Mason Sones, tendo-se utilizado um cateter especialmente desenvolvido para este

fim. Desde então, essa técnica tem sido considerada padrão de referência para diagnóstico da

doença arterial coronária (RIBEIRO; MARTINEZ, 2008).

Atualmente, o cateterismo cardíaco é um procedimento hemodinâmico angiográfico

realizado para fins de diagnóstico e muitas vezes terapêutico. A decisão da realização do

cateterismo cardíaco é baseada no equilíbrio entre risco e benefício para o paciente (BAIM;

GROSSMAN, 2006).

A terapêutica para tratamento das doenças cardiovasculares avança significativamente

ao longo das décadas no intuito de conseguir diminuir os efeitos que elas causam na vida dos

indivíduos. Em 1986, iniciava-se a era da fibrinólise na cardiologia para o tratamento de

reperfusão do infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST*. Desde

então, o cardiologista que atende aos pacientes com exacerbação aguda da doença arterial

coronariana vem manuseando de modo aguçado esta terapêutica e acompanhando o seu uso,

assim como suas frequentes e relevantes complicações. Na década de 90, a terapia de

reperfusão mecânica do infarto com angioplastia primária e o implante de endopróteses

vasculares coronarianas passaram a fazer parte da rotina do cardiologista, dividindo com a

fibrinólise o espaço para o manejo da fase aguda do infarto (PEDERNEIRAS, 2006). É

através do cateterismo cardíaco que o hemodinamicista consegue articular o melhor

tratamento para a doença coronariana, e por isso a importância de tornar este tema acessível

para todos.

Nesse ambiente, os pacientes precisam de avaliações acertadas e rápidas, planos de

cuidado abrangentes, serviços bem coordenados, equipe multidisciplinar atuante, além de um

efetivo planejamento de admissão e alta, o que inclui as orientações pertinentes ao estado de

saúde atual.

O enfermeiro de hemodinâmica desenvolve, além das atividades assistenciais e

gerenciais, as de ensino e pesquisa. Atua em todos os âmbitos do cuidado direto com o

paciente, sendo responsável pela assistência integral, desde o agendamento, preparo do

ambiente e material até a realização do procedimento, no qual deve se manter atento a

possíveis intercorrências. Posteriormente às intervenções, fazem-se as orientações e o

encaminhamento dos pacientes para a recuperação. Faz parte de sua atuação o

São espaços que se situam entre duas ondas (S e T) do eletrocardiograma.

20

desenvolvimento das funções de liderança, gerenciamento de recursos humanos e materiais, o

que exige tomada de decisões rápidas e precisas (LINCH; GUIDO; FANTIN, 2010).

A enfermagem tem um papel relevante nas orientações à saúde no período em que o

paciente se mantém restrito ao leito. Esse período de repouso caracteriza-se por momentos em

que este está com o foco em si mesmo e ainda cheio de dúvidas, o que gera novamente

sentimentos de ansiedade e medo, que adicionados à limitação de movimentos necessários

após o procedimento, impõem dependência total de cuidados de enfermagem. Neste

momento, além de todo preparo e informações no período que antecedeu ao exame, a atuação

da equipe de enfermagem se torna ainda mais importante no que diz respeito às orientações

prestadas ao paciente, paralelamente à coleta de dados de sua história de saúde, quando da sua

entrada no laboratório de hemodinâmica, pois irá auxiliar no direcionamento dos cuidados

para com a saúde dos pacientes (LINCH; GUIDO; FANTIN, 2010).

A formação do enfermeiro possibilita-lhe desenvolver a percepção, a capacidade de

notar e identificar as necessidades físicas, mentais, sociais do paciente, sendo essa uma das

características do processo de cuidar entrelaçada ao cuidado humanizado como base da

profissão e do ser enfermeiro. Dentre as necessidades, faz-se a inclusão de proporcionar

informação capaz de realizar mudanças. Landal e Peloaes (2009) consideram a enfermagem

como uma profissão humanística, tendo como meta a compreensão do ser, visando diminuir a

angústia, que transcende ao cotidiano através do medo. Ainda segundo os autores, a

preparação psicológica é benéfica quando baseada nas necessidades individuais do paciente,

pois, quando ele é esclarecido em suas dúvidas, diminuem seus medos, evitando possíveis

complicações.

As orientações pré-procedimentos visam promover o encorajamento, tranquilidade e

esclarecimento, minimizando assim os medos e anseios acerca do que será realizado

(LANDAL; PELOAES, 2009). O enfermeiro deve fornecê-las com clareza e objetividade,

com ênfase na qualidade e não na quantidade de informações; de forma individual e única,

assim como cada ser é individual e único, detendo-se aos pontos de interesse do paciente.

Dentre as características do enfermeiro, podemos inferir que a capacidade de

promover vínculo e buscar a atenção entre as pessoas é expressa em determinadas atitudes e

atividades por ele realizadas, principalmente pelo seu objeto de trabalho – o cuidado. A

aproximação do profissional com o paciente e seus acompanhantes faz com que estes se

sintam acolhidos. O vínculo pressupõe a existência de uma fonte regular de atenção, cuja

21

utilização ao longo do tempo requer o estabelecimento de laços interpessoais que reflitam a

cooperação mútua entre usuários e profissionais de saúde (STARRFIELD, 2002).

Com base no exposto, dentro do serviço de hemodinâmica, o vínculo no propósito de

acolhimento e aproximação entre profissional-família-prevenção de agravos e promoção do

bem-estar pode ser estabelecido por meio das ações de educação em saúde.

1.2 PRÁTICA EDUCATIVA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA

O CUIDADO DO ENFERMEIRO

Quando se debate a Educação no campo da saúde, momentaneamente pode‐se pensar

que se problematizará Educação e Saúde como polos sem nenhuma comunicação. Entretanto,

estas duas áreas do conhecimento possuem interfaces, que fazem delas importantes

instrumentos de promoção da qualidade de vida.

O ser humano, ao nascer, inicia uma história singular, mas ao mesmo tempo passa a

pertencer à história da humanidade e a compor um conjunto de interações com outros homens,

construindo um sistema nunca acabado, chamado educação (FORTES, 2012).

A aprendizagem em saúde acontece o tempo todo, em todos os setores, seja no contato

direto com o paciente e sua família, e/ou com a equipe de saúde. Para que nós, profissionais

da saúde, possamos contribuir com trocas de experiências entre o saber técnico e o saber

prático com o paciente/família, e estes possam adotar novos hábitos de vida, assim como

experimentar novos conhecimentos, é importante adotarmos técnicas de aprendizagem para

que as mudanças em saúde sejam efetivas. Para isso, existem correntes que explicam como as

pessoas aprendem e como a educação é praticada.

A visão Freireana da educação, escolhida para seguimento deste estudo, é abarcada

pelo diálogo e pela liberdade, sendo o primeiro a condição essencial da tarefa do educador,

que jamais deve se impor ou influir, mas sim coordenar a conquista da linguagem. Já a visão

de liberdade é a matriz que atribui sentido à prática educativa, que somente alcança sua

efetividade na medida em que ocorre a participação livre e crítica dos educandos (FREIRE,

1967). Uma visão de ensino construído no diálogo, em que todos são reconhecidos em sua

singularidade, respeitados por sua maneira de pensar e expressar, fundamentados na

capacidade de o ser humano captar e compreender a realidade e transformá-la através da ação-

reflexão.

22

O olhar de quem “ensina” se entrelaça com as teorias historicamente construídas e

assim vão embasando a construção das práticas pedagógicas que constituem a educação. Esse

processo de construção é histórico e social, ao mesmo tempo que é constitutivo de

identidades.

A educação em saúde, segundo Zampieri (2010) é entendida como uma prática

educativa que trabalha junto ao indivíduo a visão crítica e libertadora das condições de vida,

almejando estratégias de mudança em seu benefício, para seu próprio bem-estar. Pode então

desenvolver um pensamento reflexivo e posteriormente crítico sobre nossos próprios atos,

nossa cultura, nossa maneira de existir, possibilitando melhoras no estado de saúde.

Na história, ela surgiu em 1909, nos Estados Unidos, como estratégia de prevenção de

doenças (ALVES; AERTS, 2011). Trata-se de um campo multifacetado, que abarca diversas

concepções, tanto das áreas da educação quanto da saúde. Constitui-se em uma ferramenta

que os profissionais de saúde, entre eles os enfermeiros, devem adotar com vistas ao

atendimento integral do indivíduo. Por meio da educação em saúde, podem-se gerar

oportunidades de reflexão sobre saúde, práticas de cuidados e mudanças de costumes

(MOURA; NOGUEIRA, 2013), além de se buscar uma interação entre educador e educando

com a finalidade não apenas de informar, mas também de trocar experiências e

conhecimentos que favoreçam a promoção de hábitos de vida saudável.

O ato de trocar experiências, educar e receber informações envolve no mínimo

comunicação. Nesta ótica de pensamento, pode-se dizer que informação e comunicação são

formas de educação. Segundo Rodrigues et al. (2010), a comunicação é o modo como as

pessoas se relacionam entre si e deve ser inferida como um processo que compreende e

compartilha as mensagens enviadas e recebidas, auxiliando, assim, a interação entre as

pessoas, estabelecendo uma permuta entre elas e seu meio, além de ser um processo essencial

nas relações humanas. Também se constitui em um meio de informação expressa de inúmeras

maneiras, como a forma verbal, não verbal e a paraverbal, sendo extremamente importante

nas relações de trabalho de enfermagem envolvendo pacientes, seus familiares e profissionais.

A dimensão educativa tem nos estimulado reflexões ao longo dos anos, acerca da

natureza de nosso trabalho, sobretudo a educação que orienta as práticas educativas em saúde.

A educação para saúde é uma estratégia que pode permear as práticas cotidianas dos

enfermeiros. Leva em consideração toda a realidade sociopolítico-cultural em que o paciente

está inserido, suas representações e formas populares de cuidado, dando a ele autonomia para

decidir o que é melhor, criando um vínculo afetivo. Neste contexto, se considerarmos a

23

educação em saúde uma estratégia para produzir mudanças e inovações no processo de

trabalho, podemos torná-lo qualificado e estruturado para atender à demanda em questão. No

entanto, a educação em saúde no contexto do sistema de saúde brasileiro nem sempre

caminhou desta forma, tampouco isolada ou descontextualizada. Ela foi baseada em fatos

históricos que sintetizaremos a seguir.

Historicamente, a saúde brasileira foi marcada por disputas entre modelos assistenciais

distintos, assim como concepções de saúde e doença e as práticas em saúde. O modelo

assistencial de saúde se baseava no assistencialismo individual, curativo, hospitalocêntrico,

que tornava a sociedade carente de um cuidado integral e, mesmo com estrutura tecnológica

sofisticada, não era capaz de ser efetivo na resolução dos problemas de saúde da população

(CARVALHO, 2009).

Após um processo de transição política, esforços se somaram para a formulação de

uma nova Constituição (Constituição Federal de 1988), que colocava a saúde como direito de

cidadania garantido a todos, culminando com a criação do novo modelo de sistema de saúde:

o Sistema Único de Saúde (SUS), que, entre suas diretrizes, objetiva a promoção da saúde e a

integralidade do cuidado ao ser humano.

Importante ressaltar que o período de criação do SUS, a partir da Constituição Federal

de 1988, coincide no contexto internacional, com o período do ideário neoliberal, com

pressões para o desenvolvimento de um Estado mínimo em diversos campos, inclusive na

saúde (MATTOS, 2009). Mas, diferentemente de outras políticas sociais, o SUS se alicerçou

em um longo e profundo processo de institucionalização legal com a participação não apenas

de figuras políticas, mas também da sociedade como um todo.

No SUS, a proposta de promoção da saúde considera os determinantes sociais, além

dos biológicos no processo saúde-doença, agregando novos modos de pensar e agir para se

obter saúde em uma perspectiva ampliada. As pessoas passaram a ser vistas dentro do seu

contexto político, cultural e social, com a autonomia preservada de forma a se sentirem

capazes de construir seus próprios projetos de vida saudável (PEDROSA, 2003).

A partir da implantação do SUS, o trabalho educativo foi ressignificado, pautando-se

em concepções teóricas críticas de forma a contribuir para a melhoria da qualidade de vida da

população. A educação em saúde passou a ser vista como uma importante estratégia de

transformação social, devendo estar vinculada às lutas sociais mais simples e ser assumida

pela equipe de saúde, reorientando as práticas de saúde e as relações que se estabelecem entre

o cotidiano e o saber da saúde (ALVES; AERTS, 2011).

24

No início dos anos 80, a educação em saúde era utilizada para eliminar ou diminuir a

ignorância da população sobre as causas biológicas das doenças, desconsiderando-se por

completo as culturas das populações ou dos grupos populacionais trabalhados. Alves e Aerts

(2011) elucidam que as ações educativas restringiam-se às questões de higiene e

conscientização sanitária, assumindo, predominantemente, um caráter individualista,

autoritário e assistencialista.

Vista como prática social, a partir da década de 80, a educação em saúde passou a ser

repensada como um processo capaz de desenvolver a reflexão e a consciência crítica das

pessoas sobre as causas de seus problemas de saúde, enfatizando o desencadeamento de um

processo baseado no diálogo entre os sujeitos, na educação humanizadora e no trabalho com a

totalidade das dimensões do sujeito. Relembrando que o corpo, a palavra, a consciência, os

hábitos e o trabalho são eixos temáticos fundamentais, pois são o lugar de encontro entre a

educação e a saúde e devem nortear qualquer capacitação dessas áreas do conhecimento

(ALVES; AERTS, 2011). Desta forma, passa-se a trabalhar com as pessoas e não mais para as

pessoas.

Partindo deste ponto, para que o indivíduo consiga estabelecer uma boa relação entre o

saber e o viver uma vida saudável, e o saber-conviver com o adoecimento, é necessário atingir

uma consciência transformadora da sua realidade. Moura e Nogueira (2013) afirmam que, por

meio da educação em saúde, é possível gerar oportunidades de reflexão sobre saúde, práticas

de cuidados e mudanças de costumes.

Conforme Miranda e Lima (2004) em uma reflexão acerca das contribuições de Paulo

Freire na saúde e na enfermagem, a educação em saúde foi evidenciada como uma estratégia

de promoção da saúde que perpassa por um processo de conscientização individual e coletiva

acerca dos direitos e deveres em saúde, que estimulem a realização de ações voltadas aos

princípios do SUS.

Os serviços de saúde precisam se organizar para atender aos princípios da atenção

universal, equânime e integral à saúde, e é neste universo que se inserem as ações de

educação em saúde.

Revendo o processo histórico do ponto de vista da educação vinculada à saúde, é

notório que essa associação se fez acerca das questões da saúde pública e baseada nos

preceitos do SUS, o que não impossibilita trazer esta forma de educar para outros cenários.

Pode-se fazer das ações de saúde da coletividade ações específicas que contribuirão no

25

processo de saúde-doença e, no caso deste estudo, para pacientes com doenças

cardiovasculares que se encontram no serviço de hemodinâmica.

No ambiente hospitalar, onde os cuidados do enfermeiro estão mais direcionados para

o aspecto curativo ou preventivo da doença, muitas vezes as ações de promoção da saúde

tornam-se limitadas ou pouco valorizadas (AGUIAR et al., 2012).

A promoção da saúde está inserida na perspectiva de um novo modelo de atenção à

saúde, não se limitando apenas ao campo biológico. Esse processo de mudança suscita a

necessidade de novos olhares, cultura e ações voltadas para as diversas áreas de atenção à

saúde, inclusive aquelas desenvolvidas no âmbito de instituições hospitalares, tendo como

objeto a saúde e não a doença (SILVA et al., 2011).

Dias (2005) representa as questões de promoção da saúde e os hospitais quando

descreve que as ações promotoras de saúde não são um imperativo apenas da ação básica,

também não se constituem como espaço antagônico à promoção da saúde, mas, ao contrário,

são parte do contexto. Também esclarece que estas ações não ocorrem anteriormente à

doença, nem antecedem a atenção primária, secundária ou terciária.

Seguindo este autor e consonante ao pensamento freireano, mais uma vez, torna-se

claro que a educação em saúde está presente em todos os espaços de atenção à saúde, sendo

viável e necessária também na atenção terciária. O cenário não é o determinante e depende

inicialmente do educador. Os profissionais da saúde e principalmente o enfermeiro, que tem a

educação como processo inerente à sua profissão, precisam olhar em direção aos problemas

dos pacientes, buscar o sentido e os caminhos destes e promover estratégias no intuito de

conseguir a transformação dos indivíduos para ampliar sua capacidade de compreensão dos

determinantes de uma vida saudável, iniciando, assim, os passos para uma educação em

saúde.

É importante considerar que, antes de se propor uma forma de educação em saúde para

o outro, faz-se necessário que os profissionais estejam conscientes do seu saber e de toda a

sua bagagem cultural. As rotinas que as pessoas elaboram no seu dia a dia e depois as

exteriorizam na forma de ações se constituem em um projeto cultural.

Na perspectiva da promoção da saúde, as práticas educativas assumem um novo

caráter, uma vez que seu eixo norteador é o fortalecimento da capacidade de escolha dos

sujeitos. No entanto, para que isso ocorra, as informações sobre saúde necessitam ser

trabalhadas de forma simples e contextualizadas, instrumentalizando as pessoas para fazerem

escolhas mais saudáveis de vida. Nesse sentido, Alves e Aerts (2011) conceituam a prática

26

educativa como o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências

culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo.

Considerando a realidade dos hospitais, podemos afirmar que é possível vivenciar

novas experiências nesses locais e sugerir várias estratégias que podem ser trabalhadas no

sentido de construção de um “novo hospital”. O hospital não é intrínseca nem inevitavelmente

um espaço só de práticas de cura e reabilitação. O “novo hospital” pode e deve ser um espaço

de promoção da saúde, de defesa da vida e da cidadania, com suas equipes colaborando

ativamente na formação de novas relações dentro do sistema de saúde. Dentre as estratégias

sugeridas no ambiente hospitalar, destaca-se a criação de espaços coletivos nas unidades de

trabalhos que garantam a discussão entre as figuras do ambiente hospitalar, com ênfase na

escuta dos usuários. Julga-se que as equipes assistenciais podem desempenhar papel

importante na vida do paciente e de sua família (SILVA et al., 2011).

Não podemos deixar de mencionar as considerações de Meyer et al. (2006) sobre as

relações entre educação em saúde e vulnerabilidade. Tais autores retomam o conceito de

vulnerabilidade para situar e explorar as interseções com o processo educativo. Esta

articulação aponta para a renovação das práticas de educação em saúde baseadas no

referencial de vulnerabilidade, já que ele delineia um novo horizonte de situação de riscos:

traz a saúde, como possibilidade de adoecimento, para o campo da vida real, para o mundo

dos sujeitos e sua singularidade.

Os projetos educativos em saúde seguem sendo majoritariamente inscritos na

perspectiva de transmissão de um conhecimento especializado, que “a gente detém e ensina”

para uma “população leiga”, cujo saber-viver é desvalorizado e/ou ignorado nesses processos

de transmissão. Assume-se que, para “aprender o que nós sabemos”, deve-se desaprender

grande parte do aprendido no cotidiano da vida (MEYER et al., 2006).

Isso se deve às práticas sanitárias que ganharam hegemonia ao longo do século XX e

fundaram-se na afirmação da objetividade, da neutralidade e da universalidade do saber

científico e nos modelos clássicos de explicação do processo saúde-doença, pressupostos que

sustentam a prescrição de comportamentos tecnicamente justificados como únicas escolhas

possíveis para o alcance do bem-estar de todos (MEYER et al., 2006).

Estudos como o de Meyer et al. (2006) têm-nos encaminhado, então, para a

necessidade de trabalhar com a noção de que educação envolve o conjunto dos processos

pelos quais indivíduos se transformam em sujeitos de uma cultura, reconhecendo que existem

muitas e diferentes instâncias e instituições sociais envolvidas com esses processos de educar.

27

A educação em saúde passa a ser entendida tanto como uma instância de construção e

veiculação de conhecimentos e práticas relacionados aos modos como cada cultura concebe o

viver de forma saudável e o processo saúde-doença, quanto como uma instância de produção

de sujeitos e identidades sociais; e o conceito de vulnerabilidade está estreitamente

relacionado ao esforço de superação das práticas preventivas apoiadas no conceito de risco

(MEYER et al., 2006).

As pessoas não são, em si, vulneráveis, mas podem estar vulneráveis a alguns agravos

e não a outros, sob determinadas condições, em diferentes momentos de suas vidas. As

diferentes situações de vulnerabilidade dos sujeitos (individuais e/ou coletivos) podem ser

particularizadas pelo reconhecimento de três componentes interligados – o individual, o social

e o programático ou institucional, que estão relacionados com acesso à informação,

comportamentos e compromisso com o bem-estar e com a vida (MEYER et al., 2006).

Os problemas de saúde possuem componentes amplos e inter-relacionados, que não

podem ser avaliados e tratados de forma isolada, sob pena de não se produzirem, de fato,

recursos para a proteção, e por isso torna-se importante investir em outras formas de pensar as

intervenções em saúde.

A educação em saúde pode atuar como um potencializador do cuidado do enfermeiro,

pois é capaz de gerar mudanças, o aprender mútuo e a construção de relações humanas

simétricas (SANTOS; PENNA, 2009).

Nos vários espaços de atuação da Enfermagem, a Educação em Saúde vem sendo cada

vez mais discutida, ao proporcionar o desenvolvimento de ações e reflexões de modo a

qualificar o cuidado e a assistência prestada. As ações educativas permitem discutir e

formular estratégias com os pacientes com vistas a buscar sua saúde nas diferentes mudanças

e adaptações que terão que enfrentar no decorrer de sua vida, tomando como ponto de partida

seus saberes e experiências vividas. Responsabilizar-se com as práticas educativas constitui

um desafio para os profissionais da saúde, uma vez que estas permitem estender

significativamente a abrangência das ações de saúde, contribuindo para a efetivação do SUS e

da promoção da saúde (CEOLIN et al., 2009).

Visto que o enfermeiro, juntamente com sua equipe, é um dos produtores de cuidados,

serviços e programas de saúde, bem como de ações de educação em saúde, é preciso que ele

seja um articulador e incentivador da sua equipe para um atendimento integral. Desta maneira,

tendo em vista a atenção integral à saúde dos indivíduos, o cuidado deve ser pensado de modo

a envolver ações educativas, proporcionando uma prática individualizada e humanizada,

28

centrada na totalidade do ser humano, a partir de suas necessidades, respeitando seu contexto

familiar, social, econômico, cultural e espiritual. Além disso, ao compreender as necessidades

das pessoas, é possível planejar ações de forma que as mesmas se sintam acolhidas, atendidas

e amparadas pelos profissionais nos serviços de saúde, tendo em vista a promoção da saúde e

a prevenção de complicações (CEOLIN et al., 2009).

Nesse sentido, as práticas educativas proporcionam o desenvolvimento de ações e

reflexões de modo a qualificar o cuidado e a assistência prestada, uma vez que permitem

discutir e formular estratégias com vistas a buscar a saúde nas diferentes mudanças e

adaptações no decorrer da vida, tomando como ponto de partida os saberes e experiências

vividas.

A relação entre enfermeiros e pacientes que atuam no campo da cardiologia

intervencionista com o objetivo de implementar práticas humanizadas e seguras envolve o

ensinar e o aprender em uma via de mão dupla, algumas vezes concretizando e abrindo

possibilidades para a construção compartilhada do conhecimento e até mesmo amenizando

sentimentos de medo e angústia, como no caso da espera por um exame ou pelo seu resultado

em uma sala de espera, que pode funcionar como um cenário potencializador de práticas

educativas.

1.3 SALA DE ESPERA COMO CENÁRIO DE APRENDIZAGEM

A educação em saúde, compreendida como caminho que busca articular dimensões

complementares com vistas à construção de respostas sociais significativas, torna-se possível

quando se entende que a educação não trata de definir comportamentos corretos para os

demais, mas de criar oportunidades de reflexão crítica e interação dialógica entre sujeitos

sociais (MEYER et al., 2006).

No que tange ao cuidado de enfermagem no âmbito da educação em saúde, a prática

educativa na sala de espera pode funcionar como uma grande ferramenta impulsionadora do

ensino-aprendizagem relativo à saúde, pois esta é considerada um território dinâmico, em que

ocorre mobilização de diferentes pessoas à espera de um atendimento de saúde e onde há

interações entre o saber oficial em saúde e o popular, a partir do qual as pessoas expressam

sua subjetividade, formas de ser e maneiras de se cuidarem (TEIXEIRA; VELOSO, 2006).

Considerando-se a especificidade da cardiologia intervencionista e a alta taxa de

mortalidade por doenças cardiovasculares, o conhecimento sobre as doenças coronarianas, sua

29

prevenção e tratamento por meio da educação constitui-se como aspecto relevante para a

saúde das pessoas.

O desafio está em buscar um momento e um espaço para educar dentro da unidade

hospitalar. Neste contexto, a sala de espera se mostra como um local propício para se

prosseguir com o processo de educação, em que podem ocorrer as trocas entre usuário de

saúde e profissional da saúde.

A sala de espera pode funcionar como “espaço potencial”. De acordo com Veríssimo e

Valle (2006), é caracterizada como uma forma produtiva de utilização do tempo nas

instituições, com a transformação do período de espera em momento de trabalho. Nesse

espaço, podem ser desenvolvidos processos educativos e de troca de experiências comuns

entre os pacientes, possibilitando a interação do conhecimento popular com os saberes dos

profissionais de saúde.

Trata-se de um espaço em que diversas pessoas transitam e, por meio de interações,

trocam sentimentos e experiências pela linguagem ou pelas expressões, tornando um espaço

ideal para a atuação de diversos profissionais da saúde, destacando o enfermeiro, por ter

subsídios técnicos e científicos para desenvolver a educação em saúde, minimizar os

sentimentos negativos e oferecer acolhimento por intermédio da escuta e do diálogo

(TEIXEIRA; VELOSO, 2006).

A sala de espera é um local que compõe o ambiente hospitalar e que os pacientes

aguardam por atendimento médico ou a visita aos familiares; um lugar dinâmico com a

mobilização de diferentes pessoas que trocam experiência através de um processo interativo

por meio da comunicação também caracteriza uma sala de espera, segundo Paixão e Castro

(2006). Não um espaço voltado para os profissionais de saúde, como um consultório ou uma

enfermaria, mas um espaço para o público. Um local em que os profissionais da área da saúde

passaram a ter a oportunidade de desenvolver atividades que ultrapassem as questões do

cuidado direto, por exemplo, que favoreçam e auxiliem na prevenção de doenças, na

promoção da saúde, e na troca ou aquisição de novos conhecimentos, novos saberes e uma

nova cultura.

Este setor pode transformar ou quebrar barreiras das emoções enfrentadas pelo ato de

esperar, como elucida Graziano (2004), que diz que, em situações de hospitalização,

tratamentos médicos e exames diagnósticos, o período de espera pode tornar-se angustiante,

podendo levar ao estresse e à ansiedade. Dentro dele, a aproximação dos saberes científico e

30

popular é capaz de provocar mudanças individuais suficientes para atuar no paciente, na

família e comunidade contribuindo para a transformação social (STIPP; CUNHA, 2007).

A sala de espera da hemodinâmica é um cenário onde encontramos pacientes e

familiares de características variadas, sejam elas com relação à cultura, ao nível de

escolaridade, ao tipo de moradia, ao emprego, ao salário, que se traduzem em diálogos

diferenciados que correspondem a mútuos saberes.

Difícil definirmos apenas no momento de espera o grau de contribuição que a junção

de saberes pode alcançar para transformar o pensamento em ações saudáveis. Ainda assim,

este cenário se torna relevante para construirmos esta reflexão em atitudes que contribuam

para o bem-estar social.

Levando em consideração a interação que pode ocorrer dentro de uma sala de espera,

Nogueira (2012) propõe que a atenção deve produzir-se de relações de escuta, diálogo,

respeito, nas quais paciente e família possam entender a significância do cuidado e sua

corresponsabilidade neste processo. Mais uma vez, torna-se importante a atuação do

enfermeiro nas relações de cuidado, que envolvem a todo momento o diálogo, a escuta, a

compreensão.

Para obtermos a efetividade das ações de educação em saúde por meio de trocas de

saberes, é preciso analisar a comunicação desenvolvida entre o profissional e o paciente, pois

esta não deve se constituir apenas em um instrumento do cuidar, mas sim, em um

denominador comum das ações de enfermagem (MOURA; NOGUEIRA, 2013).

A comunicação entre profissional e paciente precisa ser estabelecida de forma

consciente e eficaz. Ao desencadear uma conversa com o paciente, o profissional da saúde, no

caso o enfermeiro, deve certificar-se de que ele entenda o conteúdo que está sendo abordado e

discutido entre eles, pois, de acordo com Alves e Aerts (2011), caso isso não ocorra, a sua

saúde pode estar sendo colocada em risco em razão do não estabelecimento do processo

comunicativo. Assim, no processo de comunicação, é fundamental que ocorram a escuta, a

observação e a interação entre as pessoas, sendo imprescindível a disponibilidade interna do

enfermeiro, a partir de uma ação intencional, orientada por um interesse concreto. A partir da

troca de informações, crenças e valores, podem existir acordos que orientem comportamentos

e viabilizem a saúde e a vida.

Um estudo sobre prática educativa envolvendo o tema diabetes revelou que uma das

características dessa prática é a possibilidade de unir pessoas com histórias parecidas, que

compartilharão experiências, com a possibilidade de aprimorar o conhecimento, modificar as

31

atitudes e habilidades que favorecerão a mudança de comportamento para a melhora do

controle da doença e qualidade de vida (SANTOS; TORRES, 2012) através do ato de se

comunicar.

As atividades educativas em saúde orientam a construção de conhecimentos e o

desenvolvimento de práticas relativas à saúde, com vistas à prevenção de doenças e à

promoção de saúde, de forma a abranger a participação no contexto de sua vida cotidiana.

Têm a finalidade de potencializar o empoderamento dos indivíduos e estimular o

desenvolvimento da responsabilidade e da autonomia por sua saúde, tornando-os capazes de

tomarem suas próprias decisões, favorecendo mudanças nas suas condições de saúde

(FIGUEIREDO; RODRIGUES NETO; LEITE, 2012).

O estudo de Santos et al. (2012) apontou que a sala de espera como estratégia de

educação em saúde, oportunizou, na experiência relatada, a aproximação dos pacientes (no

caso, a mulher gestante) com o serviço, tornando-os protagonistas de seu processo saúde-

doença, ao mesmo tempo em que contribuiu para orientá-los em relação à sua

corresponsabilidade. Atividades em sala de espera viabilizaram, assim, a atuação do

enfermeiro como educador em saúde, efetivando o cuidar da enfermagem na saúde, por meio

da educação participativa, com usuários, familiares e profissionais trabalhando juntos para

proteção, promoção e recuperação da saúde.

Entendemos assim que, para que as pessoas possam fazer escolhas mais saudáveis de

vida, é necessário um processo de interação entre o conteúdo teórico e a experiência de vida

de cada um, além do estabelecimento da confiança e de vínculo entre paciente, serviço de

saúde e profissional.

É importante que se desenvolvam cenários e ações informativas que considerem a

realidade das pessoas. A interação de indivíduos, profissionais e cuidados em saúde faz parte

da dinâmica do trabalho do enfermeiro, e, desta forma, o enfermeiro se articula também como

educador.

1.4 O ENFERMEIRO COMO EDUCADOR EM SAÚDE

No contexto do cuidado em saúde, a educação é tópico de grande interesse para os

enfermeiros. Educar pacientes é considerado um importante componente do cuidado

disponibilizado pelos enfermeiros, visto que ensinar é um dos principais domínios de atuação

desse profissional (BASTABLE, 2010).

32

As tendências atuais do cuidado em saúde, também apontadas por Bastable (2010),

mostram a necessidade de os pacientes se prepararem para o autocuidado, demandando, mais

uma vez, o exercício da atividade educativa do enfermeiro em seu local de trabalho,

independentemente de sua área de atuação.

O papel de educador dos profissionais de enfermagem está vinculado ao crescimento e

desenvolvimento de sua profissão. Desde meados do século XIX, a responsabilidade pelo

ensino é reconhecida como importante papel do profissional enquanto cuidador.

O maior exemplo de educador na área da enfermagem está na figura de Florence

Nightingale, que desenvolveu a primeira escola de enfermagem e dedicou grande parte de sua

carreira a ensinar enfermeiros, médicos e agentes de saúde, além de auxiliar pacientes quanto

à necessidade de nutrição adequada, exercício e higiene pessoal para melhorar seu bem-estar

(BASTABLE, 2010).

Durante muito tempo, o ensino de pacientes tem sido reconhecido como função à parte

da enfermagem. Segundo Bastable (2010), a partir dessa tradição, a enfermagem expandiu tal

prática para incluir os amplos conceitos de saúde e enfermidade. Desde então, a função

educativa do enfermeiro vem sendo objeto de grandes padrões de cuidado e ensino-

aprendizagem por diferentes organizações em saúde.

A mesma autora também relata pontos importantes no que tange à função educativa do

enfermeiro: relembra que a Joint Commission ampliou suas expectativas, incluindo uma

abordagem multidisciplinar da educação dada ao paciente, e tornou imprescindível a

evidência de que os pacientes e seus familiares que participam do cuidado entendam o que

lhes foi ensinado. Aborda sobre numerosas recomendações específicas à profissão do

enfermeiro propostas pela Pew Health Professions Commission, e mais da metade tratava-se

da importância da educação do paciente e do papel do enfermeiro como educador e também

sobre o Institute for Healthcare Improvement, que anunciou em 2006 a campanha 5 Million

Lives, com o objetivo de reduzir 5 milhões de incidentes por ano causados por erro médico

nos hospitais dos Estados Unidos. Tal fato teve implicações para o ensino ao paciente e

família, bem como para os profissionais que podem melhorar o cuidado e salvar vidas,

incluindo o profissional enfermeiro e suas ações em saúde.

Para o desenvolvimento de uma educação em saúde efetiva, é imperativo que sejam

direcionados esforços educativos envolvendo uma mudança de paradigma: uma educação

voltada para a prevenção em lugar daquela voltada à doença, ou seja, estimular nos

33

indivíduos, usuários dos serviços de saúde a promoção e manutenção da saúde, reiterando os

conceitos de saúde já vistos neste referencial.

A ação individual mais importante dos enfermeiros como cuidadores é preparar os

pacientes para o autocuidado. Se os pacientes não conseguem manter ou melhorar seu estado

de saúde de modo independente quando não possuem auxílio, falhamos em ajudá-los

(BASTABLE, 2010). Desta forma, para que o enfermeiro consiga planejar e agir sob uma

educação para o cuidado em saúde, é imprescindível que se tenha um processo educativo bem

definido.

O processo educativo é um curso de ação sistemático, sequencial, lógico, planejado e

com base científica que consiste de duas operações interdependentes: o ensino e a

aprendizagem. O processo educativo é comparado ao processo de enfermagem. Ambos

fornecem uma base racional para a prática de enfermagem e consistem dos elementos básicos

de análise, planejamento, implementação e avaliação. Entretanto o processo de enfermagem

está centrado no planejamento e implementação do cuidado baseado na análise e diagnóstico

das necessidades físicas e psicossociais do paciente, enquanto foca o planejamento e

implementação do ensino baseado na análise e priorização das necessidades de aprendizagem

do paciente. Os resultados do processo de enfermagem são alcançados quando as

necessidades físicas e psicossociais do cliente são atendidas. Já os resultados do processo

educativo, por sua vez, são alcançados quando ocorrem mudanças no conhecimento, atitudes

e habilidades do indivíduo (BASTABLE, 2010).

Por ser uma parte ímpar do campo do enfermeiro, o processo de ensinar está articulado

à sua formação. No entanto, apesar de grandes avanços nas Diretrizes Curriculares Nacionais

(DCN) para os cursos da área da saúde, observa-se ainda a necessidade de melhor adequação

dos conceitos de promoção da saúde e integralidade do cuidado, para efetivação da educação

em saúde; educação esta voltada para a visão crítica e reflexiva do cuidado em saúde

proveniente de demandas da realidade individual e/ou coletiva da população.

A concepção de promoção da saúde não está devidamente incorporada aos projetos

pedagógicos dos cursos da área de saúde, nem às práticas educativas. As instituições

formadoras têm perpetuado modelos essencialmente conservadores, consoantes com a ciência

positivista, limitando-se a abordar a enfermidade, a cura e a atenção individual (SILVA et al.,

2009).

Tomar os referenciais de promoção da saúde na ressignificação do ensino de enfermagem implica em transformação das práticas de ensino superando o

34

modelo biologicista e a natureza setorial que caracteriza a formação e a atuação dos profissionais de saúde. É preciso, também, que o processo ensino-aprendizagem em enfermagem favoreça as práticas educacionais e de atenção à saúde que potencializem o empoderamento dos sujeitos para atuarem na efetivação das mudanças sociais (SILVA et al., 2009, p. 87).

O ensino é a partilha de informações e experiências para que sejam alcançados os

resultados pretendidos pelo aprendiz nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor, de acordo

com um plano educativo. Seguindo o pressuposto do autor acima citado, ensinar implica

atividades formais, estruturadas, organizadas e preparadas, mas que também podem ser

desempenhadas informalmente e sem planejamento durante conversas ou encontros casuais.

Formais ou não, as atividades de ensino são atos deliberados e conscientes que visam a

produzir a aprendizagem.

Conforme a descrição de Bastable (2010), a aprendizagem é definida como mudança

de comportamento (conhecimento, habilidades e ou atitudes) que pode ser observada ou

medida e que ocorre a qualquer momento ou em qualquer lugar como resultado de exposição

a um estímulo ambiental. É ação pela qual o conhecimento, as habilidades e as atitudes são

consciente ou inconscientemente adquiridos de modo que o comportamento é alterado de

alguma maneira.

A educação e a participação de quem aprende precisam andar lado a lado. Bastable

(2010) esclarece que o enfermeiro deve agir como facilitador, criando um ambiente voltado à

aprendizagem, que motive e possibilite o indivíduo a querer aprender. O educador mudou da

posição tradicional de fornecedor de informações para a de facilitador de um processo que

culmina na aprendizagem. Neste novo paradigma, o educador torna-se um guia, assistindo o

aprendiz em seu esforço de determinar os objetivos e as metas do aprendizado, no qual ambos

são parceiros ativos nas tomadas de decisões por meio do processo de aprendizagem.

Respeitando a importância das contribuições de Bastable (2010, p. 36 ), ressaltamos a

posição defendida por ele de que, “como os receptores de cuidado sempre respeitaram e

confiaram nos enfermeiros para serem seus conselheiros, estes se encontram em uma posição

ideal para esclarecer informações”. Assegurando a consistência da informação, esse

profissional pode apoiar os indivíduos em seus esforços para alcançar a meta de uma saúde

ideal.

Os enfermeiros são, então, segundo a concepção adotada por essa autora, considerados

agentes de informação. São educadores capazes de gerar diferenças significativas com os

35

pacientes e familiares que enfrentam uma situação de adoecimento, mesmo diante do

paradigma biomédico dominante nas políticas de saúde e de assistência, que se mostra

insuficiente para atender às necessidades e demandas sociais de saúde da população.

A promoção da saúde configura-se como estratégia de mudança nos modelos tecno-

assistenciais, sinalizando a construção de outras possibilidades e a configuração de novos

saberes que ampliem as alternativas de qualidade de saúde e vida da população, de

intervenção junto aos sujeitos e da compreensão do processo saúde-doença como produção

social. Representa uma estratégia nos âmbitos político, assistencial, educacional e gerencial

com um arcabouço conceitual e metodológico que contribui para a transformação da lógica

das ações de saúde (SILVA et al., 2009).

Levando em consideração a importância do ensino-aprendizagem e das condições de

saúde-doença da população, é preciso propiciar um movimento que direcione à

ressignificação do conhecimento, da aquisição de habilidades e atitudes que tornem os

indivíduos mais capazes para a vida e seu próprio bem-estar.

O ensino está tornando-se cada vez mais importante e visível à medida que os

enfermeiros respondem às tendências sociais, econômicas e políticas impactantes no cuidado

em saúde. Ao mesmo tempo, vemos a crescente incidência e prevalência das doenças

cardiovasculares, doenças estas causadoras do comprometimento da saúde de milhares de

pessoas que se veem diante da necessidade da realização de exames capazes de diagnosticá-

las e que, nesta pesquisa, são o nosso alvo, de acordo com os objetivos a seguir.

36

2 OBJETIVOS

2.1- GERAL

Analisar as repercussões imediatas da ação educativa do enfermeiro, através da sala de

espera na hemodinâmica, junto aos pacientes e acompanhantes antes de um procedimento de

intervenção cardiovascular.

2.2- ESPECÍFICOS

1- Descrever as percepções dos pacientes e acompanhantes sobre a ação educativa do

enfermeiro na sala de espera da hemodinâmica;

2- Identificar os efeitos da ação educativa sobre sentimentos, emoções e

conhecimentos dos participantes;

Para o alcance dos objetivos propostos, esta investigação foi conduzida conforme o

caminho metodológico apresentado a seguir.

37

3 PERCURSO METODOLÓGICO

Pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo descritiva, comparativa, baseada no

referencial teórico-metodológico da hermenêutica dialética, considerando que ele permite

compreender os fenômenos em sua totalidade, nos quais os objetos, os atores e os próprios

fenômenos interagem entre si (FREITAS, 2002).

Quando abordamos as pesquisas qualitativas, tornamo-nos livres para pensar sobre o

tema a ser investigado, resgatando os significados atribuídos pelos sujeitos ao objeto

estudado.

A presente investigação coloca uma questão filosófica, o compreender. E não o coloca unicamente às assim chamadas ciências do espírito; e sobremodo não o coloca somente à ciência e a suas formas de experiência – essa investigação coloca a questão hermenêutica ao todo da experiência humana de mundo e da práxis da vida (GADAMER, 1999, p. 16).

Como pressuposto inicial, acredita-se que as orientações educativas de enfermagem

antes da realização de procedimentos de intervenção cardiovascular são fatores intervenientes

no conhecimento de pacientes e acompanhantes, assim como no alívio de sintomas de

ansiedade no pós-operatório imediato.

A pesquisa transcorreu em uma Instituição Hospitalar da Zona da Mata Mineira com

Serviço de Hemodinâmica, que atende aos usuários do SUS e a conveniados. Possui duas

salas de procedimento e sete leitos de repouso, além de dispor de mais de 500 leitos e diversas

especialidades.

A escolha deste local de investigação ocorreu por tratar-se de uma instituição de

referência no atendimento de emergências cardiológicas e por sua história no cenário de saúde

da região. Também por considerar que, pelo fato de ser referência, atende pacientes de várias

origens, conveniados ou não, provenientes de diversas cidades, com culturas e saberes

diferenciados.

Para iniciação da pesquisa, foi entregue um ofício de comunicação ao Departamento

de Enfermagem e à Direção Clínica da Instituição solicitando autorização para contato com os

participantes da pesquisa dentro do serviço de hemodinâmica. Após este primeiro contato,

entregamos pessoalmente um resumo do trabalho e o parecer de aprovação do Comitê de

Ética em Pesquisa (CEP).

38

Foram atendidos todos os aspectos éticos e legais da pesquisa envolvendo seres

humanos em consonância com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde - CNS 466/2012

e suas complementares, o atendimento dos princípios de justiça, equidade, beneficência e não

maleficência, bem como o cadastro na Plataforma Brasil e submissão ao Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP), obtendo-se parecer sob o número 563.920.

Por se tratar de entrevista, o risco de participação foi considerado mínimo, ou seja,

semelhante às situações quotidianas da vida, havendo a preocupação e atenção no sentido de

minimizar tais riscos ao máximo com técnicas de anonimato, técnicas comunicacionais, de

interação interpessoal e de respeito humano.

A amostra foi composta por nove pacientes e nove acompanhantes de pacientes,

entrevistados no período de julho a setembro de 2014, sendo que os oito primeiros (quatro

pacientes e quatro acompanhantes) fizeram parte do projeto piloto (APÊNDICE A).

O teste piloto revelou algumas respostas que inicialmente não seriam consideradas

ideais para atingirmos os objetivos, tendo em vista que se observou determinada confusão na

compreensão das perguntas. Ainda assim, existiram questões interessantes e adequadas. Para

adaptar o instrumento de pesquisa à coleta de dados pretendida, realizamos algumas poucas

mudanças – acrescentamos questões como: a primeira vez ou não de realização ou

acompanhamento do exame e esclarecimentos sobre o sentimento daquele momento na pré-

entrevista.

Os participantes foram entrevistados após serem informados sobre a pesquisa e

manifestarem o assentimento pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido

(APÊNDICE B). O número de participantes foi estabelecido durante a coleta de dados pelo

critério de saturação, ou seja, a continuidade da coleta foi suspensa quando as informações

obtidas pouco acrescentariam ao material já coletado e não interfeririam significativamente na

análise dos dados pela repetição dos conteúdos das falas (DENZIN; LINCOLN, 1994). Os

integrantes do teste piloto não foram inseridos na análise e resultados.

Como critérios de inclusão para o paciente, o exame proposto deveria ser o

cateterismo cardíaco em caráter eletivo e ambulatorial; pessoas de ambos os gêneros e

maiores que 18 anos, sendo que nenhum participante seria excluído e apenas não

participariam do estudo aqueles que não se dispusessem a assinar o termo de consentimento.

Para os acompanhantes, os mesmos deveriam acompanhar pacientes com os critérios acima

citados.

39

As informações foram coletadas durante a rotina do serviço, individualmente, na sala

de espera da hemodinâmica, por meio de entrevista semiestruturada (APÊNDICE C), gravada

em áudio, em dois momentos: pré-orientações e pós-orientações de enfermagem.

A entrevista semiestruturada permite que o informante discorra livre e

espontaneamente sobre o tema proposto. É uma maneira de enriquecer o estudo, uma vez que

os fenômenos são descritos, explicados e compreendidos em sua totalidade (MINAYO, 2010).

Na entrevista semiestruturada, o objetivo principal é esclarecer as percepções que os

entrevistados possuem sobre o tema estudado. O investigador deve atuar de forma consciente,

permitindo a expressão livre do informante sobre determinado tema, mas, quando este se

desviar do assunto original, cabe ao pesquisador retomá-lo (TRIVIÑOS, 1987).

O conteúdo do instrumento de coleta versa sobre a compreensão do procedimento

proposto, informações e orientações preexistentes e adquiridas e sentimentos do momento

vivido.

O primeiro momento da coleta aconteceu através da aproximação da pesquisadora com

os participantes na sala de espera, proporcionando as explicações sobre a pesquisa, e, após a

compreensão do estudo, demos sequência as entrevistas individuais. Importante ressaltar que

não obtivemos nenhuma recusa de participação no estudo proposto por parte dos pacientes e

acompanhantes.

A fase de entrevista foi dividida em duas partes: 1ª etapa – caracterizada pela

entrevista inicial, individualizada, em uma antessala. Posteriormente, os participantes foram

reunidos e encaminhados à sala de espera propriamente dita para então serem abordados pela

enfermeira do serviço, a ouvirem as orientações de enfermagem e depois conversarem sobre

elas; 2ª etapa – caracterizou-se pela entrevista final, também individualizada, no pós imediato

a realização do exame.

Além das perguntas previamente elaboradas, sempre que necessário, acrescentávamos

perguntas para esclarecer as informações já fornecidas, para tentar explorar melhor

determinado assunto ou ainda para redirecionar o entrevistado ao foco do estudo.

Finalizada a primeira entrevista, a enfermeira responsável pelo serviço reunia os

participantes, junto aos demais pacientes e acompanhantes, e iniciava as orientações de

enfermagem verbalmente, concomitantemente à transmissão do recurso audiovisual, ou seja,

apresentação de um vídeo como pano de fundo para suas orientações. Tais orientações foram:

conceito de cateterismo cardíaco com o passo a passo do procedimento e cuidados pós-

40

procedimento, transmissão de vídeo com as imagens do ambiente (Laboratório de

Hemodinâmica da Instituição), dos profissionais e do procedimento.

Após a exposição do conteúdo com as informações sobre o exame, os pacientes eram

perguntados sobre o tema e assim, iniciado um diálogo entre eles e a enfermeira.

Sequencialmente eram encaminhados pela enfermeira para a realização do procedimento,

mantendo os acompanhantes na sala de espera.

O período de espera, quando o paciente realizava o procedimento, foi o único

momento que interrompíamos as entrevistas. Ao fim dos procedimentos, a pesquisadora

entrevistava novamente os participantes durante o período de repouso, onde paciente e

acompanhante permaneciam juntos em leitos individualizados, finalizando assim a coleta de

dados.

As entrevistas pré e pós-procedimento tiveram uma média de três minutos para cada

participante, totalizando 1h de entrevistas gravadas em áudio, que ficaram sob a

responsabilidade da pesquisadora e permanecerão arquivadas durante o período de cinco anos

e depois serão apagadas. Optou-se pela gravação, porque ela permite acessar todo o material

fornecido verbalmente pelo participante.

O processo diário das entrevistas se deu em uma média de 4h/dia, pois eram

necessários os seguintes passos: aguardar que todos chegassem no horário marcado pelo

serviço (7h); realizar a primeira entrevista individualizada; reunir todos novamente para as

orientações da enfermeira; aguardar a chamada para a realização do procedimento e seu

término. Após a entrada do paciente, o mesmo era recebido pela equipe de enfermagem que

realizava todos os cuidados iniciais junto à sistematização da assistência de enfermagem

(SAE) e visita pré-anestésica. Diante da chegada do médico responsável pela realização do

exame, o paciente era encaminhado à sala de procedimento. A média de tempo dos

procedimentos foi de 30 minutos. Posteriormente aos cuidados de enfermagem no pós-

imediato, que tinha uma média de duração de 1h, abordávamos os participantes novamente

para finalização das entrevistas.

A transcrição das falas aconteceu após o término das entrevistas e foi realizada na

íntegra, corrigindo erros da língua portuguesa, mas com o cuidado de não modificar as

características básicas do texto e de seu significado expresso.

A técnica de análise utilizada para este material qualitativo foi a Hermenêutica

Dialética proposta por Habermas no seu diálogo com Gadamer (1987) como uma alternativa

de caminho do pensamento.

41

A hermenêutica fundamenta-se na compreensão. É considerada por Gadamer como um

movimento abrangente e universal do pensamento humano. Compreender implica a

possibilidade de interpretar, de estabelecer relações e extrair conclusões em todas as direções.

A compreensão só alcança sua verdadeira possibilidade quando as opiniões prévias com as

quais se inicia uma relação não são arbitrárias. Existe uma familiaridade e estranheza,

buscando esclarecer as condições sob as quais surge a fala (MINAYO, 2013).

Segundo Alencar et al. (2012), a abordagem hermenêutica trabalha as diferenças e as

semelhanças apresentadas pelos autores e investigador, buscando a compreensão dos fatos,

relatos e observações e posteriormente apoiando essa reflexão sobre o contexto histórico;

julga e toma decisão sobre o que escuta, observa e compartilha e produz um relato dos fatos,

contemplando os diferentes atores.

Minayo (2013) destaca que, ao entendermos a realidade que se expressa num texto,

numa fala, também entendemos o outro, mas que a compreensão não é um procedimento

fechado, pois nada que se interpreta pode ser entendido de uma vez só e de uma vez por todas.

A contribuição da dialética para este estudo se dá pelo melhor entendimento dos fatos,

partindo do ponto de vista de que nada é eterno, fixo e absoluto. Tudo se modifica e se

movimenta. Cada coisa é um processo. As coisas, as relações e as ideias transformam-se pelo

autodinamismo e nunca mais serão as mesmas. Cada coisa traz em si sua contradição, sendo

levada a transformar-se em seu contrário (MINAYO, 2013).

A dialética estabelece uma atitude crítica. “A mesma razão que compreende, esclarece

e reúne também contesta e dissocia” (HABERMAS, 1987, p. 20). É a ciência e a arte do

diálogo, da pergunta e da controvérsia. Busca os núcleos contraditórios nos fatos e na

linguagem para realizar uma crítica sobre eles (ALENCAR; NASCIMENTO; ALENCAR,

2012).

Ao articularmos a hermenêutica e a dialética, encontramos um importante caminho

para fundamentar pesquisas qualitativas, na medida em que, ao se valorizarem as

complementaridades e divergências entre ambas, articulamos a ideia do condicionamento

histórico da linguagem, das relações e das práticas. No que tange à prática estruturada pela

tradição, pela linguagem, pelo poder e pelo trabalho, ambas reúnem o poder para

“aproximação da verdade” investigada; ambas partem do princípio de que não há observador

imparcial, nem há ponto de vista fora da realidade. A hermenêutica e a dialética superam a

simples tarefa de serem ferramentas do pensamento; ambas questionam o tecnicismo para

compreensão e crítica dos processos sociais e referem-se à práxis e desvendam os

42

condicionantes da produção intelectual marcada pelo poder e pelos interesses (MINAYO,

2013).

A partir dos dados colhidos e acumulados, o investigador se volta para os fundamentos das teorias que fizeram parte da elaboração dos conceitos iniciais [...] e parte para a operacionalização da análise por meio de três fases (MINAYO, 2013, p. 355).

Desta forma, a análise seguiu a orientação de Minayo (2013), que propõe a

compreensão dos dados através dos seguintes passos, apoiados pela hermenêutica dialética:

Ordenação dos dados: inicialmente os depoimentos dos pacientes foram separados dos

acompanhantes e, a seguir, ambos foram transcritos na íntegra, com algumas correções

de português sem prejuízo ao significado expresso. Foi realizada uma releitura de

todas as falas e iniciada a organização dos relatos em ordem, de forma a proporcionar

um mapa horizontal das descobertas de campo.

Classificação dos dados: elaborada por meio da leitura horizontal e exaustiva dos

textos, anotando-se as primeiras impressões e iniciando a busca de coerência das

informações com objetivo de construção das categorias empíricas e analíticas.

Buscaram-se as ideias centrais e posteriormente a inter-relação e conexão entre elas.

Um segundo momento se deu com a leitura transversal de cada subconjunto

decorrente do recorte das falas das entrevistas, colocando as partes semelhantes juntas

e buscando perceber as conexões entre elas. Dessa forma, foram encontrados os

seguintes núcleos de sentido:

Entrevista Pré-Orientações (1ª etapa):

O cateterismo cardíaco é desconhecido;

Não há profissional responsável por orientações;

Muitas emoções vivenciadas;

Todos querem informação.

Entrevista Pós-Orientações (2ª etapa):

Esclarecimento das dúvidas preexistentes;

43

Não reconhecimento de um único profissional responsável pelas

orientações;

Alívio da ansiedade.

Após a identificação dos núcleos de sentido e das falas correspondentes a cada um,

desenvolveram-se os quadros a seguir, baseados em Alencar et al. (2012), que poderão ser

contemplados na íntegra no Apêndice D e serão discutidos nas próximas páginas.

Quadro 1 – Síntese das entrevistas pré-orientações de enfermagem (1ª Etapa)

Núcleos de

Sentido

E1 AE1 E2 AE2... E18 AE18 Síntese

Horizontal

Entrevistados

Síntese

Horizontal

Acompanhantes

O cateterismo

cardíaco é

desconhecido

Não há

profissional

responsável

por

orientações

Muitas

emoções

vivenciadas

Todos querem

informação

Síntese

Vertical

Síntese Geral Horizontal e

Vertical

FONTE: ALENCAR; NASCIMENTO; ALENCAR 2012.

Quadro 2 – Síntese das entrevistas pós-orientações de enfermagem (2ª Etapa)

Núcleos de

Sentido

E1 AE1 E2 AE2... E18 AE18 Síntese

Horizontal

Entrevistados

Síntese

Horizontal

Acompanhantes

Esclarecimento

das dúvidas

preexistentes

Não

reconhecimento

de um único

profissional

responsável por

orientações

44

Alívio da

ansiedade

Síntese Vertical

Síntese Geral Horizontal e

Vertical

FONTE: ALENCAR; NASCIMENTO; ALENCAR 2012.

Em suma, foi construída após as leituras, uma síntese vertical e uma síntese horizontal

de cada unidade de análise e posteriormente foi descrita uma síntese geral vertical e uma

síntese geral horizontal. A síntese geral horizontal possibilitou confrontar os pontos de

convergência, divergência, complementaridade e diferenças em cada uma das falas dos

entrevistados, e a síntese geral vertical permitiu o mesmo, porém com todas as respostas dos

entrevistados, ambas com o objetivo de se encontrar uma estrutura de relevância da união

dessas unidades de análise.

A partir dessa leitura, foram consolidadas as seguintes categorias de estudo:

1- Desvendando o desconhecido;

2- Em busca de um protagonista;

3- Orientações de enfermagem como forma de esclarecimento e alívio da ansiedade.

Análise Final: foi constituída de um relatório que inclui a compreensão e a

interpretação crítica e reflexiva em seu formato final.

A análise das entrevistas se deu buscando manter a coerência entre os pressupostos

teóricos e metodológicos, fazendo-se uma triangulação dos mesmos com as falas dos

participantes e a interpretação da autora.

No intuito de manter o anonimato dos participantes e melhor compreensão da análise

durante a discussão dos resultados, os pacientes foram identificados pela letra “E” e os

acompanhantes como “AE”, seguidas da numeração de ordem das entrevistas.

Os resultados encontrados serão descritos da seguinte forma: primeiramente uma

síntese horizontal, correspondente às falas de todos os participantes separados em “E” e “AE”,

referentes ao mesmo núcleo de sentido. Em seguida, uma síntese vertical, que caracteriza

todas as falas de todos os núcleos de sentido, e, por fim, a síntese geral horizontal e a síntese

geral vertical debatida com a análise da autora e demais referenciais utilizados que

embasaram a construção das categorias de análise. Tal sequência será utilizada primeiramente

45

para a entrevista inicial (pré-orientações) e posteriormente para a entrevista final (pós-

orientações).

46

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 DESVENDANDO O DESCONHECIDO

Esta categoria surgiu considerando-se ausência de informações relatadas. Tanto os

pacientes quanto os acompanhantes desconheciam ou pouco sabiam sobre o procedimento que

seria realizado. Cada qual à sua maneira tentava explicar o procedimento ou até mesmo

mostrar-me que já possuía alguma informação. Outros apenas diziam: “[...] não sei como

funciona”.

“[...] eu ouvi falar que leva um pique na virilha [...]” (E2)

“Entendi que é um exame pra analisar como está a veia [...]” (AE2)

Foram perceptíveis as pausas para reflexões e busca da memória, com alguns sorrisos

e olhares nervosos que indicavam o desconhecimento ou dificuldades com o tema a ser

tratado.

A visão da doença e/ou do procedimento é diferente para cada pessoa, pois os

indivíduos têm diferentes formas de sofrer ou reagir a doenças (BERLINGUER, 1988), e,

ainda neste caso, ao contato com materiais e medicamentos e pessoas ditas estranhas.

Mas a doença não deve ser encarada como sendo a pior situação da vida, como disse

Rubem Alves em sua crônica Sobre o Tempo e a Eterna Idade: “[...] outras doenças vêm para

ficar. E é inútil reclamar. Se vêm para ficar, é preciso fazer com elas o que a gente faria caso

alguém se mudasse definitivamente para nossa casa: arrumar as coisas da melhor maneira

possível para que a convivência não seja dolorosa” (ALVES, 2011, p.81).

Talvez não seja possível seguir este pensamento ao se falar da doença cardiovascular,

pois o adoecimento cardíaco e as relações interpessoais, principalmente no convívio familiar,

podem trazer comportamentos singulares.

As doenças cardiovasculares têm crescido consideravelmente na população, assim

como as formas de diagnosticá-las. O robusto crescimento dos meios diagnósticos não é

evidente no que tange às informações manifestadas pelos participantes, tampouco sobre as

doenças e o que as cerca.

Pensar em cateterismo cardíaco, como enfermeiro de hemodinâmica, remete

inicialmente a um procedimento minimamente invasivo, que possibilita ao paciente maior

conforto e segurança para diagnosticar uma possível cardiopatia. O estudo mostrou que tanto

47

pacientes quanto seus acompanhantes não souberam informar o que iriam realizar, ou mesmo

não se recordavam sobre como seria o procedimento. Não sabiam dizer, mas já ouviram falar.

“Bem, eu acho que é um exame de [...] para saber onde está obstruído [...]” (AE3) “Eu já fiz, mas não foi aqui. Agora eu não me lembro mais [...]” (E1)

Importante ressaltar que, no serviço cenário da pesquisa, as orientações para a

realização do exame proposto são de cunho técnico, em seguimento a um protocolo

estabelecido, como, por exemplo, estar em jejum de 12h, depilar a virilha, trazer xerox de

documentações e exames e vir acompanhado. As primeiras orientações sobre o procedimento

são fornecidas diante da atuação da enfermagem nos cuidados iniciais, quando têm início

explicações sobre o exame propriamente dito, riscos inerentes, assinatura do termo de

consentimento cirúrgico e anestésico, tempo do exame, cuidados pré, trans e pós realização do

mesmo.

Contudo, sabe-se que, rotineiramente, diante de um acontecimento novo, ou

desconhecido, seja na compra de um produto ou de uma intervenção em saúde,

principalmente as que são de caráter invasivo, como é o caso do cateterismo cardíaco, os

indivíduos necessitam estar atualizados, orientados quanto esta nova aquisição/intervenção,

seja por informações verbais ou escritas. Tal fato demonstra certa fragilidade do serviço

pesquisado, posto que as informações inerentes ao cateterismo cardíaco se mantiveram

ocultas nas falas dos entrevistados. Podemos até mesmo estender esta fragilidade para toda a

rede de atenção à saúde, dado que estes pacientes e acompanhantes também são

acompanhados por outros serviços.

Os pacientes acometidos por doenças cardiovasculares são captados pela atenção

primária à saúde e geralmente iniciam o tratamento pelas consultas médicas periódicas e,

posteriormente, por meio do resultado de exames, como teste ergométrico, ecocardiograma e

cateterismo cardíaco. Nesta fase, é de competência do profissional informar ao paciente sobre

seu estado atual de saúde. Sendo assim, pressupõe-se que aqueles que irão submeter-se ao

cateterismo cardíaco já tenham recebido, em algum momento, orientações sobre a intervenção

a ser realizada. No entanto, podemos perceber através das falas dos entrevistados que tal fato

poucas vezes acontece.

“Meu cardiologista solicitou um exame [...] e o resultado desse exame que vim fazer este [...]” (E3).

48

Há relatos na literatura de que o conhecimento acerca do cateterismo cardíaco é

deficiente, mas que a compreensão do mesmo auxilia no processo de adesão ao tratamento.

É fundamental a conscientização dos profissionais no sentido de informar os pacientes, instruindo-os sobre os benefícios alcançados com a compreensão tanto dos procedimentos como dos aspectos relacionados à adesão ao tratamento após a alta hospitalar [...] “a maioria dos pacientes tem conhecimento insatisfatório sobre o exame” (CAVALCANTI et al., 2008, p. 207).

Foi possível observar que os entrevistados se dirigiram ao local do procedimento sem

conhecimento do que iriam realizar. Indagados sobre como obtiveram informações antes de

chegarem ao serviço de hemodinâmica, relataram que o profissional médico com quem fazem

acompanhamento informou quanto à necessidade da realização do cateterismo cardíaco, mas

que não foi transmitida a informação sobre como acontece o procedimento.

Aqueles que detinham certo conhecimento informaram que não se preocuparam em

obter mais informações acerca do assunto por acharem suficiente o conhecimento prévio.

“Eu tenho uma noção mais ou menos: se não fizer, vai infartar! [...]” (E4)

Os pacientes que estavam realizando o exame pela segunda vez ou mais se sentiam

mais seguros ao falar sobre o procedimento. Podemos inferir que a experiência prévia de

realização do exame contribui para um melhor conhecimento sobre o procedimento e até

mesmo sobre os cuidados necessários antes e após, mesmo expondo o paciente a maior

ansiedade frente a possibilidades de desfechos inesperados.

“[...] eu já fiz pelo pulso... mas, dessa vez, pediram para depilar a virilha; porque deve ser feito pela virilha, né?” (E1) “Eu já acompanhei ele uma vez... sei que faz uma esteira, um negócio que vai correndo [...]” (AE1)

Entretanto, mesmo não sendo um procedimento desconhecido por alguns dos

entrevistados, as respostas demonstraram uma falsa compreensão sobre o exame e nos

permitem considerar que possivelmente os profissionais não estão promovendo comunicação

suficiente, capaz de alcançar a compreensão do outro.

49

A comunicação é um instrumento básico do cuidado em enfermagem. Ela está presente em todas as ações realizadas com o paciente, seja para orientar, informar, apoiar, confortar ou atender suas necessidades básicas. Como instrumento, a comunicação é uma das ferramentas que o enfermeiro utiliza para desenvolver e aperfeiçoar o saber-fazer profissional (PONTES; LEITÃO; RAMOS, 2008, p. 313).

Explorando esse processo comunicacional, seria possível afirmar que o falso

conhecimento interfere no aumento de riscos inerentes ao procedimento. A dúvida quanto ao

exame, seu preparo, jejum, cuidados pré e pós e até mesmo sobre o tempo de espera pode

desestabilizar este paciente e quem o acompanha. Tais dúvidas são passíveis de

esclarecimento por meio da educação para a saúde.

Abordamos aqui as orientações de enfermagem aliadas ao saber popular como forma

de educação em saúde. A ausência de informações claras dificulta o paciente a tomar a

decisão de realizar o procedimento proposto, principalmente no que diz respeito a exames

invasivos, como é o caso do cateterismo cardíaco, levando em consideração que o cenário de

desinformação aumenta a chance de ter uma percepção errônea da situação, podendo piorar a

evolução clínica do paciente (LENZEN; GAMEL, 2002).

As possibilidades de intercorrências e/ou complicações durante e após o procedimento,

como sangramento, pseudoaneurisma, o mal prognóstico, falta de acompanhante, na primeira

vez em que o paciente é submetido ao procedimento, e a falta de informação e/ou orientação,

além do tempo de espera, são as principais causas de ansiedade pré-cateterismo cardíaco

(BUZATTO; ZANEI, 2010).

Neste estudo, pode-se perceber que os participantes se apresentavam dispostos e, de

acordo com suas concepções, sentiam-se preparados para se submeterem ao procedimento, e,

no caso dos acompanhantes, estar em companhia deles, proporcionando o apoio físico e

emocional.

Apesar da contribuição que as orientações de enfermagem proporcionaram aos

participantes, construímos a categoria a seguir baseada na falta de clareza nas falas quanto ao

reconhecimento de um profissional destinado a estas orientações.

4.2 EM BUSCA DE UM PROTAGONISTA

Quando abordados a respeito das orientações promovidas através de algum

profissional, a fala dos entrevistados demonstrou, em vários momentos, que não há um

mediador do conhecimento sobre como ocorrem os procedimentos na hemodinâmica. A

50

ausência de respostas claras quanto ao profissional que orientou sobre o exame, permite

interpretar que, até o momento, os pacientes e seus acompanhantes que se direcionam para

realizar o cateterismo cardíaco adquirem informações por intermédio de vizinhos, parentes ou

da internet. O enfermeiro não foi mencionado em nenhuma das respostas como profissional

que fornece orientações do exame até a chegada para o mesmo.

“Não, a orientação foi somente do que tinha que fazer antes de chegar até aqui... depilar a virilha, essas coisas [...]” (AE1)

“A minha afilhada... ela tem um cuidado danado comigo [...]” (E5)

Isso reflete uma realidade que propicia uma crítica e reflexão da prática da educação

em saúde e possivelmente uma contradição entre o modo como está preconizada teoricamente

a realização da educação em saúde e como a rede de serviços a está implementando na

prática. Existem estudos descrevendo a importância das orientações de enfermagem, neste

caso, quanto ao preparo de pacientes para exames, assim como a realização do cateterismo

cardíaco.

Podemos demonstrar o quão importante são as orientações de enfermagem no período pré-procedimento, visando a um cuidado humanizado e à integralidade da assistência. As orientações de forma clara e individualizada, prestadas através de profissional capacitado, fazem-se necessárias e para tal diminuem o estresse e a ansiedade em relação ao procedimento (LANDAL; PELOAES, 2009, p. 27).

Vivemos uma época em que as políticas de saúde estão constantemente passando por

mudanças adaptativas ao contexto social, em busca de um atendimento integral aos fatores

determinantes da saúde, que permita aos usuários o acesso, em todos os aspectos e todos os

níveis de assistência, contemplando as diretrizes do SUS. Neste contexto, ainda se observam,

em parte, as dificuldades da população em perceber tais mudanças, pois esta parcela ainda

está fortemente ligada ao cunho curativista das ações em saúde, ficando assim a educação em

saúde, por exemplo, e os seus atores, pouco perceptíveis.

Segundo as considerações de Silva et al. (2009), as mudanças nas práticas assistenciais

direcionadas à construção da promoção da saúde são ainda incipientes e têm pequena

visibilidade no cenário das práticas em saúde, justificando-se, assim, a não percepção desta

prática como estratégia para a transformação do ensino e do controle social, assim como a

visibilidade dos profissionais presentes nesse processo.

51

É notória a necessidade da melhoria organizativa do sistema como um todo,

ampliando o acesso, facilitando a utilização dos serviços de saúde e da desburocratização das

ações. É preciso haver mudanças conceituais no foco da atenção prestada, deslocando-o da

doença para um modelo de cuidado centrado nas efetivas necessidades de saúde do usuário,

contemplando suas relações e espaços de vida, bem como a sua qualidade. Desta forma, o

papel da atenção hospitalar na rede de serviços de saúde, bem como os profissionais que neles

desempenham suas atividades, pode ser alinhado ao cumprimento de suas ações, às

necessidades de saúde da população, tornando as instituições parte ativa de todo o processo.

No caso da educação na área de saúde, atuar considerando a realidade, objetivando a sua transformação pelos sujeitos que a constroem, implica vivenciar a realidade na rede progressiva de cuidados, constituída pelos serviços de atenção básica, de atenção secundária, de atenção terciária e de atenção quaternária, sempre na perspectiva da integralidade dos sujeitos e da atenção (SILVA e SENA, 2006, p. 489).

Fazer o outro ser visto é torná-lo pertencente ao objeto que se almeja enxergar. O

profissional que se entrega às atividades em saúde propostas e busca em si a aceitação das

diferenças, propiciando ao outro a compreensão destas desigualdades, aliada ao cuidado e ao

bem-estar, faz-se presente aos olhos do outro.

Inclusão, na perspectiva democrática, significa acolher e incluir as diferenças, a diversidade. Diversidade da manifestação da pluralidade do humano na vida social. Incluir o que não sou eu, que em mim produz estranhamento e que provoca tanto o contentamento e a alegria, como mal-estar (BRASIL, 2011, p. 33).

Um questionamento importante pode ser contemplado neste momento: como

queremos ser lembrados ou representados como profissionais da saúde? Quais ações estamos

realizando que façam justiça ao âmbito da promoção da saúde, da prevenção de doenças e

agravos?

Estamos possivelmente nos esquecendo de promover o cuidado centrado no paciente,

naquele indivíduo portador de direitos, que merece ser acolhido e mantido numa relação de

sujeitos e não de máquinas, tecnologias e resolubilidade, e por isso, possivelmente, não

estamos sendo percebidos como responsáveis por ações educativas.

Questionados quanto à forma que gostariam de saber sobre o procedimento, obtivemos

respostas variadas dos participantes. Demonstravam determinada insegurança e a necessidade

de que as orientações fossem sobre a realidade do processo em que ocorre o exame, que

52

demonstrassem o que realmente aconteceria e que não se escondesse nada em meias palavras

dos profissionais.

“[...] sempre ser a verdade [...] a gente quer escutar que é simples, que não dói... um profissional que fale a real é melhor”. (AE6)

Neste questionamento, podemos incitar a importância da postura dos profissionais de

saúde quanto à abordagem sobre o procedimento de cateterismo cardíaco para com os

pacientes e seus familiares e como, verdadeiramente, estes sujeitos gostariam de obter este

conhecimento.

Poderíamos então levar em consideração a forma de acolhimento. Estamos realmente

acolhendo as necessidades dos indivíduos que chegam até nós, no cenário hospitalar, por reais

e importantes necessidades de saúde e seu próprio bem-estar? De que maneira estamos

compreendendo e ressignificando esta necessidade? Estaríamos corresponsabilizando-nos pela

mudança de comportamento dos indivíduos por meio de nossas ações?

Como destacam Cavalcante et al. (2009), a partir do momento em que o profissional

constrói seu objeto de ação, isso se torna central para sua produção de cuidados de saúde.

Esses autores defendem que uma das competências necessárias aos profissionais de saúde é a

de estarem atentos para a “negociação” das necessidades. A negociação é entendida como um

diálogo ou “saldo” da rede de conversações entre os referenciais técnicos e experiências

vividas que definem ou distinguem as necessidades de saúde.

Possivelmente, por meio da ressignificação, o enfermeiro, como profissional de saúde,

integrante da equipe de saúde, poderia se fazer presente como protagonista do processo de

educação com pacientes que irão se submeter ao exame de cateterismo cardíaco na

hemodinâmica.

As instituições hospitalares, a partir da implantação da Política Nacional de

Humanização (PNH), estão aprimorando o modelo de assistência voltado para o

paciente/usuário e cultivando melhor os espaços coletivos de problematização, acolhimento,

escuta, entre outros. Lentamente, a população vem percebendo que, nestes espaços, é possível

participar ativamente do seu processo saúde-doença. Desta forma, é possível

quebrar a dureza do hospital, garantir o respeito dos usuários, resgatar o vínculo e a responsabilização dos profissionais e pacientes, propiciar respeito e dignidade no exercício das várias profissões que se concretizam no espaço chamado Hospital (OLIVEIRA, 1997, p. 346).

53

Por isso, é importante considerarmos que ainda há que se caminhar no reconhecimento

dos usuários como sujeitos e humanizar as relações através do acolhimento, humanização,

vínculo para que os indivíduos também saibam conviver com as relações de saúde e

reconhecer a importância dos profissionais em sua vida.

Neste estudo, o protagonista do processo de educação em saúde não foi revelado, ou

seja, a figura de um profissional como responsável pelas ações de educação não ficou

aparente nas falas dos participantes.

Na busca pela compreensão de falas que demonstrassem um profissional de linha de

frente para as orientações em saúde, não surgiram demonstrações claras de que o enfermeiro

fosse o profissional destinado a realizá-las no que se refere ao exame de cateterismo. Ainda

que determinadas falas o tenham indicado para esta posição, não houve uma caracterização

específica, envolvendo o enfermeiro como integrante da equipe de saúde.

“Acho que deve ser por um profissional de saúde”. (E1)

“Enfermeiro chefe ou médico mesmo.” (E2)

“[...] Podia ser o enfermeiro mais qualificado, né?”. (E5)

Tal resultado diverge da maioria dos estudos sobre educação em saúde, em que este

profissional é apontado como o elemento principal para o processo de educação em saúde.

Bastable (2010, p.) salienta: “[...] como os receptores de cuidado sempre respeitaram e

confiaram nos enfermeiros para serem seus conselheiros, estes se encontram em uma posição

ideal para esclarecer informações”.

Neste ponto, podemos inferir sobre a importância do vínculo criado pelo enfermeiro

com o paciente e família, notavelmente expresso nas relações de trabalho em saúde pública,

especificamente na Estratégia de Saúde da Família (ESF). O trabalho do enfermeiro nas

unidades de saúde engloba desde a gestação à velhice, ou seja, uma longitudinalidade de

cuidados, uma relação terapêutica estreita e duradoura entre usuários e profissionais de saúde,

abordando o vínculo como humanização.

A promoção de vínculo e longitudinalidade é uma responsabilidade de toda a equipe de saúde, o que inclui os trabalhadores de enfermagem e, em especial, o enfermeiro. Na ESF este atua: no levantamento e monitoramento das condições locais de saúde, no atendimento assistencial individual ou grupal, em ações educativas e comunicativas visando a ampliar a autonomia dos sujeitos, no gerenciamento do trabalho da equipe de enfermagem e, por vezes, também no gerenciamento da unidade local (BARATIERI; MANDU; MARCON, 2012, p 13).

54

Segundo Oliveira (1997), a implantação de propostas pautadas na humanização,

responsabilização, vínculo e demais formas que não sejam as puramente curativistas apresenta

resistências, mas não é impossível. Dentro do modelo assistencial centrado no paciente, pode‐

se quebrar a lógica dominante de verticalidade das ações, incentivando profissionais e

usuários, para o envolvimento no processo de prevenção, promoção, recuperação e cura, que

por si só abrange o processo de educação.

As observações de Guedes e Castro (2009) a respeito do hospital como cenário de

outras oportunidades são esclarecedoras quanto ao fato de que o hospital não pode mais ser

visto como último recurso a ser utilizado e o paciente passivo diante da equipe de saúde, mas

sim aproveitar todas as oportunidades para exercer a integralidade da assistência à saúde:

É preciso incorporar um olhar horizontal profissional/paciente, aproveitando o período de hospitalização para criar novas relações dos usuários com o sistema de saúde, reprogramar suas vidas, adquirir novos hábitos de autocuidado e autonomia, construindo o ambiente hospitalar como um espaço de promoção da saúde, de defesa da vida e da cidadania (GUEDES e CASTRO, 2009, p. 11).

Tanto na assistência como na gerência dos cuidados de saúde, o enfermeiro tem como

competência propiciar uma boa e duradoura relação com os usuários, ao longo do tempo e em

seus diferentes ciclos da vida, além de fundamentar o seu cuidado na inter-relação

profissional com a pessoa que dele necessita, principalmente com ações de humanização.

A atuação de enfermeiros nessa direção requer, dentre outros aspectos, percepções ou

posicionamentos político-éticos e modos de pensar, valorar e sentir coerentes, uma vez que

estes são partes da prática profissional. Dimensionar apropriadamente o que é o vínculo e

como este pode concorrer para a longitudinalidade do cuidado é uma importante condição

para a produção de ambos na prática (BARATIERI; MANDU; MARCON, 2012).

No serviço de hemodinâmica, o vínculo e o sentido da longitudinalidade não podem

ser bem elaborados, pois os pacientes permanecem por pouco tempo durante um exame de

cateterismo cardíaco. Todavia, a maioria destes pacientes realiza um ou mais exames, o que

torna, assim, um vínculo importante no sentido de aproximação, acolhimento e confiança do

paciente para com o profissional.

Como demonstra um estudo realizado em Belo Horizonte (STORINO; SOUZA;

SILVA, 2013) sobre as necessidades de saúde de homens na atenção básica, os profissionais

de saúde, em um trabalho com intencionalidade, têm o potencial de modificar sua prática no

55

sentido de produzir uma assistência que reconheça integralmente as necessidades de saúde

dos indivíduos, neste caso, o grupo específico é composto de homens. Sobretudo, esta forma

de relação e reconhecimento mútuo dos sujeitos, aqui aplicados a quaisquer sujeitos,

proporcionada pelo vínculo, qualifica as necessidades de saúde dos indivíduos e o trabalho

dos enfermeiros, que compõem a linha de frente no reconhecimento desses sujeitos. Assim, o

enfermeiro é capaz de atuar significativamente, através da educação em saúde, nas

necessidades de saúde e também no conhecimento em saúde dos pacientes e seus

acompanhantes.

Ainda quanto a esta ausência da identificação do enfermeiro como responsável pelas

ações educativas, pode-se incitar novamente a questão do tempo de contato entre este

profissional e o paciente. Trata-se de um ambiente em que o paciente permanece por pouco

tempo no setor e não retorna ou o faz com pouca frequência, tendo em vista que a

hemodinâmica é um local de diagnóstico e tratamento hospitalar. O acompanhamento da

doença e destes pacientes pós-exame de cateterismo é realizado por profissionais das equipes

de atenção primária e de serviços ambulatoriais especializados em cardiologia, o que

novamente converge às propostas da ESF e da atuação do enfermeiro como pertencente a esta

equipe de saúde.

Estudos recentes demonstraram como o papel do enfermeiro nas práticas educativas é

relevante para a mudança do estilo de vida dos indivíduos, como o caso de enfermeiras que

auxiliaram os maridos das mães com crianças hospitalizadas a cessarem o hábito de fumar

(CHAN; WONG; LAM, 2013).

É notória nos serviços de saúde, seja cuidado primário, secundário ou terciário, a

presença da educação nas práticas assistenciais. Em qualquer ambiente, o enfermeiro é o

agente potencial de mudança que desenvolve ações educativas, abrindo grandes possibilidades

de discussão entre senso comum e ciência (PROGIANTI; COSTA, 2012).

O enfermeiro necessita mostrar-se como educador, evidenciando esta ferramenta como

método potencializador do seu cuidado, colocando a prática da educação em saúde como

parte integrante de sua profissão, despertar no paciente o autocuidado e mudanças no seu

estilo de vida.

É importante discutir neste momento sobre a visão que os próprios enfermeiros podem

ter de suas atitudes vinculadas à educação em saúde no âmbito do hospital, pois a maioria

destes profissionais está mais direcionada à prática educativa com a equipe de enfermagem e

não com os pacientes. Poderiam eles apresentar dificuldades de vocalização discursiva, já que

56

tiveram pouco espaço para tal, diferentemente do enfermeiro formado para atividades na área

da saúde pública, como se percebe nas rotinas diárias das ESFs desempenhadas pela maioria

dos enfermeiros. Ou seria a falta de olhar e perceber os pacientes que estão sendo atendidos e

quais dificuldades estão sendo evocadas por eles?

Há que se considerar também e planejar estratégias que visam manter um diálogo entre

profissional e paciente, que possuem mundos tão diferentes, além de entendermos nossa

trajetória acadêmica, a maneira como foi construída e assim agirmos em prol de melhores

condições de auxílio à formação das pessoas. Tais reflexões abordam aspectos sobre o

processo de ensino-aprendizagem e a vulnerabilidade em saúde.

A aprendizagem é um processo ativo que acontece à medida que os indivíduos

interagem com seu ambiente e incorporam novas informações e experiências, relacionando-as

com o que já sabem ou aprenderam. Também se caracteriza como um sistema dinâmico e

permanente pelo qual os indivíduos adquirem novos conhecimentos ou habilidades e

modificam seus pensamentos, atitudes e ações (BASTABLE, 2010). Foi o que pudemos

observar por meio das falas da entrevista final: o reconhecimento de algo novo sendo

acrescentado no pensamento e passível de transformação por meio de novas atitudes, apesar

de estarem abarcadas pela ansiedade, insegurança e pelo tempo limitado.

Essa prática educativa proporcionada pela aprendizagem faz com que pacientes e

acompanhantes criem meios de melhorar ou se adaptar às diferentes demandas e

circunstâncias da vida, sendo crucial para o cuidado em saúde.

Como os profissionais da saúde estão promovendo a educação para a saúde com

eficácia? De que forma o processo educativo está sendo aplicado para mudar o

comportamento de aprendizes? Que ferramentas podem ser usadas? Que atributos do aprendiz

afetam positiva ou negativamente o aprender?

Para os enfermeiros cumprirem o papel de educadores, seu público pode ser composto

por pacientes, familiares, estudantes e membros da equipe. Apesar de todos os enfermeiros

serem capazes de exercer a função de disseminadores de informação, é necessário adquirir as

habilidades de facilitadores do processo de aprendizagem e assim responderem efetivamente

com ações aos questionamentos acima mencionados.

Agora, estaríamos mesmos dispostos a nos despir do saber considerado absoluto

(científico) para então construir novos saberes baseados na vivência do outro e, desta forma,

construir a verdadeira educação libertadora? Minayo (2013), fundamentando sua metodologia

de pesquisas, é capaz de explicar que nunca chegaremos a uma verdade absoluta sobre o que o

57

outro quer expressar, pois somente compreenderemos o significado do conteúdo da fala

quando nos fizermos presentes na interpretação e nas razões daquele que disse, do contrário, a

mensagem estará sempre aberta.

Na busca de orientações e na espera do acontecimento, pacientes e acompanhantes se

veem diante de um cenário de emoções, nem tanto diversificadas, mas presentes, como

evidenciado em vários estudos e conforme descreve a categoria a seguir.

4.3 ORIENTAÇÕES DE ENFERMAGEM COMO FORMA DE ESCLARECIMENTO E

ALÍVIO DA ANSIEDADE

Ao analisarmos o quadro das falas posteriores à ação educativa de enfermagem e após

o término do exame, chegamos a uma síntese geral horizontal que nos faz entender que

poderíamos estar entrevistando outros pacientes, diferentes daqueles que responderam aos

questionamentos iniciais, pois as respostas quanto à compreensão do exame, das orientações

realizadas e dos sentimentos vividos foram claras, objetivas e contrárias àquelas ditas

previamente.

Esta categoria de análise foi facilmente identificada, pois o esclarecimento das dúvidas

apresentadas no período pré-orientações se deu de forma unânime.

“Certo! Consegui. Agora eu sei falar!” (AE5).

Compartilhar conhecimento é algo bem complexo do ponto de vista do processo

ensino-aprendizagem. Contudo, se pensarmos e analisarmos a troca de mais orientação e

informação, podemos inferir que os participantes internalizaram, de certa forma, um

determinado conteúdo capaz de fazê-los entender o procedimento e até mesmo criar os seus

próprios conceitos. Da mesma forma, possibilitou o esclarecimento das dúvidas apresentadas,

os anseios e perturbações previamente sinalizados.

A ausência de conhecimento dos participantes do estudo a respeito do cateterismo

cardíaco, de contato com essa área da cardiologia e de pessoas capacitadas a orientá-los gera

vários comportamentos, como exemplo a tentativa de demonstrar que já sabem ou que não

tem medo. A efetiva participação do paciente e seus acompanhantes durante as etapas da

entrevista favorece um sentimento de pertença, isto é, os pacientes e acompanhantes se

tornam corresponsáveis, na medida em que há um maior contato entre os mesmos e o

58

enfermeiro que elucida o assunto através de falas e imagens do procedimento. Isso possibilita

uma sensação de bem-estar e deixa-os à vontade para explanarem sobre o assunto.

Assim, a educação em saúde realizada pelo enfermeiro como intervenção responsável

por mudanças, principalmente no que diz respeito aos sentimentos presentes antes do

procedimento, proporciona aquisição de novos conhecimentos, esclarecimento das dúvidas

pertinentes ao assunto e um estreitamento das relações entre profissional de saúde e paciente.

A prática educativa em sala de espera visa ao autoconhecimento e propicia que o

enfermeiro e o usuário do serviço de saúde troquem experiências e habilidades através do

processo de aprendizagem. Tornar o paciente e sua família membros da equipe

multidisciplinar, ressaltando a importância da relação enfermeiro/paciente, é parte essencial

do tratamento (MILANI; GERMANI, 2012).

Na prática educativa realizada, a fala da enfermeira aliada ao recurso visual (vídeo)

foi um método de abordagem satisfatório para que as dúvidas fossem sanadas, até mesmo

porque dificuldades na leitura e escrita para a compreensão dos pacientes são fatores

significativos para a aprendizagem (BASTABLE, 2010).

Em outro estudo, o ensino de enfermagem para pacientes, aliado aos meios de

multimídia, mostrou redução na ansiedade e depressão associadas com hospital

(DEMIRÇELIK et al., 2013).

Sabe-se que a comunicação é um elemento essencial nas relações humanas, bem como

quando se trata de um coração doente. A compreensão é algo transformador; revela

pensamentos e atitudes individualizadas, e o processo de comunicação eficaz demonstra ações

positivas, o que pode ser evidenciado pelas falas a seguir:

“Eu acho que é importante porque a gente já chega sabendo”. (E2)

“Acho importante, porque a gente vem pra cá meio apavorado, tá certo? [...]

então é bom, antes, ter alguma coisa pra gente”. (E5)

A importância da relação entre o paciente, equipe de enfermagem e família, no

processo de cuidar inclui a maneira como é abordado o assunto sobre o procedimento a ser

realizado, a clareza e a abertura que é dada ao paciente e aos seus familiares para que possam

conversar sobre o seus sentimentos e dúvidas. A pessoa precisa de ajuda da enfermagem na

identificação e esclarecimento de seus problemas para que possa enfrentá-los de forma

realista, participar ativamente da experiência e, se possível, encontrar soluções de reabilitação

para eles (FASSARELLA et al., 2013).

59

É importante ressaltar que a comunicação também está diretamente ligada à segurança

do paciente e à melhora de sintomas de ansiedade, pois contribui para que a equipe esteja

preparada para promover um cuidado eficaz, vínculo paciente-profissional e promoção da

saúde, no nosso contexto, através da educação em saúde.

Quando a equipe trabalha de forma efetiva, tendo uma boa comunicação, evitam-se

falhas e contribui-se para maior segurança, além de melhorar a qualidade do atendimento,

fazendo com que a assistência prestada não resulte em danos ao paciente. Um paciente bem

assistido, que compreende tudo que irá ocorrer durante a sua hospitalização, mostra-se menos

ansioso e aceita sua condição de forma realista, tornando-se mais seguro (FASSARELLA et

al., 2013).

Faz-se necessária aqui uma reflexão sobre os aspectos de vulnerabilidade, os quais

implicam a condição do entendimento e adoecimento, assim como considerarmos o tempo

desta aprendizagem e o momento em que ela aconteceu.

Vulnerabilidade a algum agravo está relacionada aos comportamentos que criam

oportunidades para que as pessoas venham a contrair doenças. Estes comportamentos

associados à maior vulnerabilidade não são entendidos como uma decorrência imediata da

ação voluntária das pessoas, mas estão relacionados tanto com condições objetivas do

ambiente quanto com as condições culturais e sociais em que os comportamentos ocorrem,

bem como com o grau de consciência que essas pessoas têm sobre tais comportamentos e ao

efetivo poder que podem exercer para transformá-los (MEYER et al., 2006).

As situações de vulnerabilidade dos sujeitos (individuais e/ou coletivos) podem ser

particularizadas pelo reconhecimento de três componentes interligados – o individual, o social

e o programático. O componente social envolve o acesso às informações, as possibilidades de

processá-las e o poder de incorporá-las a mudanças práticas na vida cotidiana. Estas

condições estão diretamente associadas ao acesso a recursos materiais, a instituições sociais

como escola e serviços de saúde, ao poder de influenciar decisões políticas, à possibilidade de

enfrentar barreiras culturais e de estar livre de coerções violentas de todas as ordens, entre

outras, que precisam então ser incorporadas às análises de vulnerabilidade e aos projetos

educativos aos quais elas dão sustentação. O componente institucional ou programático da

vulnerabilidade conecta os componentes individual e social. Envolve o grau e a qualidade de

compromisso, recursos, gerência e monitoramento de programas nacionais, regionais ou

locais de prevenção e cuidado, os quais são importantes para identificar necessidades,

canalizar os recursos sociais existentes e otimizar seu uso. O componente programático nos

60

orienta a situar as dimensões educativas para além do caráter normativo e centrado no objeto,

levando-nos a articular as intervenções em saúde e as ações programáticas e, principalmente,

a repensar o cuidado em saúde enquanto encontro de sujeitos (MEYER et al., 2006).

No ambiente da hemodinâmica, é comum os pacientes estarem vulneráveis, como no

caso do componente social explicitado anteriormente: o acesso à informação. Um dos

entrevistados relatou que a prática educativa pode, mesmo que em pouco tempo, ser positiva:

“[...] entendi sim. Porque acalma bem; põe a gente ‘a par’ do que vai acontecer. (E1)

As considerações de Meyer et al. (2006) ressaltam um grande imperativo: a

transformação do sujeito diante do adoecimento – aprender a reconstruir relações

intersubjetivas na educação em saúde.

a intencionalidade de construir estratégias educativas que permitam investir em possibilidades de transformação das condições de vida nas quais crenças, hábitos e comportamentos ganham sentido demanda apreender, compreender e dialogar com a multiplicidade de aspectos que modulam as crenças, os hábitos e os comportamentos dos indivíduos e grupos com os quais interagimos (MEYER et al., 2006, p. 1.340).

A participação dos entrevistados em todo o processo de orientações foi o ponto crucial

para o alcance dos objetivos traçados. Fazê-los interagir e buscar reflexões sobre o exame,

sobre o quanto desconhecem ou não do assunto, assim como os cuidados pré e pós-

procedimento e alívio dos sintomas gerados pela espera, foi determinado pelas orientações de

enfermagem, apesar das limitações.

“Ele ficar sabendo da doença dele é um meio de entender mais! Você já entra sabendo o que vai acontecer, já sabe como vai ser em casa, entendeu?” (E4)

A prática educativa deve ser abordada como inerente aos cuidados de enfermagem, no

contexto hospitalar, principalmente com a utilização de pedagogias ativas (RIGON; NEVES,

2011).

Um cuidado integral, de fato, acolhedor das demandas e propiciador de autonomia dos

sujeitos envolvidos na ação deve ser o propósito dos serviços de saúde, com vistas à melhoria

da qualidade de vida.

61

Comumente, pensa‐se a atenção básica como território de oportunidades de ações mais

abrangentes como visitas domiciliares, grupos educativos, práticas educativas em salas de

espera, campanhas de todas as ordens, deixando aos serviços especializados e de média e alta

complexidade a alcunha de espaços para tratamento e cura de doenças, sem muita aptidão

para o exercício da fala e da escuta, para a relação mais próxima entre profissional e usuário

(GUEDES; CASTRO, 2009).

É importante considerar o perfil dos participantes de grupos de educação em saúde,

pois muitos ainda estão acostumados com uma educação prescritiva, centrada no profissional

de saúde. A participação nas atividades educativas favorece a aprendizagem significativa e

resulta em mudanças dos hábitos de vida (FIGUEIREDO; RODRIGUES NETO; LEITE,

2012).

Neste estudo, não houve a preocupação em descrever o perfil dos entrevistados, mas

pode-se apontar que os pacientes eram pessoas de idade entre 55 e 75 anos, e os

acompanhantes na sua maioria eram jovens. Tanto pacientes como acompanhantes

demonstraram baixa escolaridade, centralizavam suas dúvidas no diagnóstico final ou no que

estaria por vir e esperavam que os profissionais os acalmassem, o que pode representar uma

ação prescritiva.

No que diz respeito às contribuições das orientações de enfermagem no alívio da

ansiedade, é importante considerarmos alguns aspectos como: o tempo de espera pelo

cateterismo cardíaco pode ser a causa de grande estresse e angústia. Essas sensações estão

diretamente relacionadas com a questão invasiva do procedimento, assim como a incerteza do

resultado.

O sentimento presente no momento de espera por algo ou por alguém também emergiu

das falas das entrevistas, nas quais ficaram expressos fielmente: a apreensão, o nervosismo e a

preocupação.

Este instante representa a realidade de serviços de hemodinâmica, inclusive fora do

país, onde pacientes que esperam pela realização do cateterismo cardíaco mostram-se

ansiosos e preocupados e experimentam um estresse emocional considerável

(HAJBAGHERY; MORADI; MOHSENI, 2014).

Os seres humanos são movidos por sentimentos e emoções, passando por momentos

de angústia, insegurança, satisfação, felicidade, entre outros. Alguns desses sentimentos

podem ser demonstrados por palavras desacertadas, batimentos cardíacos descompassados,

62

elevação da pressão arterial e podem se manifestar em diversos cenários, entre eles a sala de

espera.

A ansiedade pode afetar biologicamente os pacientes, como a ativação do sistema

nervoso simpático. A pressão arterial, a frequência cardíaca e respiratória, assim como a

demanda miocárdica de oxigênio, podem aumentar, interferindo até mesmo no aumento do

risco de isquemia e arritmia durante o procedimento (HAJBAGHERY; MORADI;

MOHSENI, 2014).

Eventualmente, para a maioria das pessoas, o desconhecido pode se tornar

perturbador. Como mencionado anteriormente, os participantes se encaminhavam para

realização do exame sem conhecimento do ato pelo qual iriam passar ou mostravam-se

amedrontados como consequência de informações de vizinhos, amigos e até mesmo pelo

acesso à internet com experiências insatisfatórias.

“Ah... a gente fica apreensiva, né! Ele falou que está tranquilo? Porque ele foi dormir tarde, ficou assim: dormia, acordava...” (AE3) “Nervoso, porque tudo quando fala que é de coração, a gente fica nervoso.” (AE4)

As diversas formas de educação para a saúde, como a prática educativa, são capazes

de reduzir as escalas de incidência de ansiedade e depressão em pacientes com diagnóstico de

infarto do miocárdio, e também são úteis para a reabilitação total. Isso significa que vale a

pena aplicar amplamente a educação em saúde no trabalho clínico (SHUI et al., 2014).

“Muito tranquilo”. (E4)

“Muito melhor, agora estou mais relaxado, mais tranquilo...” (E5)

O sentimento de ansiedade pelos pacientes e acompanhantes tem diversas causas. Em

estudo anterior, a ansiedade no período pré-cateterismo cardíaco se relacionou a

preocupações, como intercorrências e/ou complicações durante ou após o procedimento e com

a possibilidade de mau prognóstico (HAJBAGHERY et al., 2014).

Na prática diária, verifica-se que, devido a esse estado de estresse e ansiedade, o

paciente pode não compreender com clareza as informações oferecidas. Nesse contexto de

espera e ansiedade, os acompanhantes também estão intimamente envolvidos e compartilham

com o paciente seus sentimentos e incertezas, tornando o manejo dessa situação ainda mais

complexo para a equipe de enfermagem, visto que esses momentos são presenciados de perto.

63

Os pacientes também receberam orientações que não foram bem compreendidas por eles. Isto costuma acontecer por déficit na comunicação paciente-profissional, pela fragilidade emocional do paciente ou pela transmissão das informações em uma linguagem técnica, inacessível ao paciente (MENUCI; VARGAS, 2011, p. 200).

Os participantes expressaram sentimento de alívio da ansiedade após as orientações de

enfermagem, como demonstram as falas abaixo. Pode-se deduzir que a prática educativa

utilizada colaborou para que tanto pacientes quanto seus acompanhantes se sentissem mais

tranquilos e pudessem compreender de forma mais clara o processo do cateterismo, o tempo

de espera pelo exame e pelo resultado.

“Tranquilo, outra coisa também é o tratamento dos enfermeiros, de vocês [...]” (E1)

“Fiquei mais tranquilo”. (AE2)

Os níveis de ansiedade são reduzidos quando é proporcionado um local que ofereça

informações durante o período pré-cateterismo cardíaco, além da atuação do enfermeiro, ao

oferecer precocemente as informações a respeito do exame a ser realizado (CHAN;

CHEUNG, 2003).

Fica claro também que as orientações realizadas pelo enfermeiro foram capazes de

causar mais uma mudança, além da troca de saberes e vivências: a redução da ansiedade em

todos os participantes foi considerável. Isso indica que o enfermeiro deve ser ainda mais

estimulado a promover estratégias que auxiliem o bem-estar dos indivíduos, tais como a

prática educativa realizada, aliada ao conhecimento técnico, ao recurso audiovisual e às

experiências entre ambos.

Ao dialogar com pacientes e acompanhantes, o enfermeiro dispõe de diferentes

estratégias para envolvê-los sobre as informações acerca do procedimento. O profissional

pode utilizar folhetos, pôsteres ou mesmo vídeos educativos com objetivo de clarificar e

tornar compreensíveis as orientações. Quanto maior a qualidade e conteúdo nas informações

oferecidas menor é a ansiedade. Essa condição se verifica quando o enfermeiro consegue ser

claro e suprir as dúvidas, associando a informação técnica com uma sensório-perceptiva

(BUZATTO; ZANEI, 2010).

Pode-se perceber a redução da ansiedade também quando o enfermeiro aborda o

conteúdo técnico de maneira adaptada ao nível de entendimento do ouvinte, transmitindo as

64

informações por intermédio de diferentes estratégias ilustrativas que fazem o cliente

compreender concretamente do que se trata e quais as etapas do procedimento. Verifica-se,

assim, maior eficácia quando duas ou mais estratégias educativas são utilizadas (CHAN;

CHEUNG, 2003).

Com vistas a manter a melhora no nível de ansiedade de pacientes e acompanhantes,

os enfermeiros responsáveis pelos cuidados de pacientes que realizarão cateterismo cardíaco

devem conhecer as causas, bem como as estratégias para reduzir o nível de ansiedade de seus

pacientes, proporcionando uma assistência humanizada, objetivando um bom preparo do

paciente, a fim de gerar uma recuperação mais breve, com minimização dos traumas da

hospitalização e do procedimento.

Para que o cuidado contribua com o bem-estar dos pacientes e seja realmente efetivo,

faz-se necessária a apresentação do enfermeiro como responsável por estas ações, sendo o

protagonista do processo de auxílio e aprimoramento do conhecimento dos pacientes acerca

do cateterismo cardíaco.

Desta forma, os resultados encontrados na síntese vertical das falas demonstraram o

cateterismo como um procedimento desconhecido; o paciente desinformado no que tange às

informações sobre a intervenção cardiovascular a que iria se submeter. Apesar do aumento

constante das doenças cardiovasculares em nosso meio, as informações ainda se mostram

pouco difundidas na população, e a prática educativa não evidencia um mediador principal no

âmbito hospitalar. Percebemos as orientações de enfermagem como um meio de

esclarecimento imediato das dúvidas apresentadas no período inicial, contribuindo na melhora

de sentimentos de ansiedade, mesmo circunstanciada em um ambiente desconhecido e as

diferentes particularidades sociais e familiares.

65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos que o processo de educar relaciona‐se ao ato ou efeito de educar e educar‐

se, numa relação dialética entre ensinar e aprender. A Saúde nos remete aos determinantes da

vida social, em meio aos aspectos socioeconômicos e políticos em prol da qualidade de vida.

Educação em Saúde é uma estratégia que norteia as ações no sentido de promover um cuidado

integral, em que o usuário seja sujeito de seu processo saúde‐doença e cuidado.

Apesar de as grandes marcas da educação em saúde se alicerçarem no papel da

educação sanitária, no curativismo e no modelo assistencial centrado no biologicismo, em

meados dos anos 80, o enfoque da educação se voltou para a mudança de comportamento.

As referências de Paulo Freire evocando a relevância da reflexão crítica e do

desenvolvimento da atitude reflexiva para a melhoria das condições de saúde baseados na

educação libertadora e transformadora apontam uma educação em saúde que se volte para os

sujeitos, envolvendo-os em todos os aspectos do cuidado no processo saúde-doença.

O conceito de educação em saúde liga‐se diretamente ao de promoção da saúde, pois

abarca processos que visam não só a qualidade de vida dos indivíduos acometidos por algum

risco social, mas, também, o bem‐estar da população como um todo, reforçando o conceito

ampliado de saúde que busca, entre outras coisas, preconizar aspectos comunitários,

ambientais e sociais.

E assim como se traduzem as novas concepções de educação, todo espaço e

oportunidade são essenciais para se fazer a educação. Pensando no cuidado em saúde, e

dentro deste aspecto, o cuidado aos pacientes submetidos a procedimentos de intervenção

cardiovascular, o estudo nos permitiu refletir sobre o hospital como um importante espaço na

construção do cuidado em saúde, já que nele circulam todos os tipos de pessoas, detentoras de

diferentes necessidades e em diferentes momentos da vida, as quais já chegam ao serviço bem

fragilizadas.

Desta forma, acredita-se que o espaço hospitalar seja um local de realização de

acolhimento, escuta, responsabilização e vínculo, constituindo, também, um lugar estratégico

para a realização do cuidado em saúde em seu sentido amplo.

É importante que os profissionais de saúde vejam os pacientes como cidadãos, como

sujeitos em seu processo de recuperação e cura, abordando‐os de uma maneira integral que

valorize sua subjetividade, percebendo‐os como pessoas que possuem medos, sentimentos,

que julgam, possuem atitudes e potencialidades. E por que não fazê-los sentirem-se especiais,

66

como nos aproximando, sentando ao lado e dizendo: “só tenho 30 segundos, mas me conte

como está hoje!”

A educação em saúde visa aumentar o interesse, a vontade e o querer dos sujeitos para

a mudança. O que se espera como resultado positivo destas ações é que elas possam causar

nos indivíduos uma disposição para as transformações – conscientes e necessárias – como

fruto de uma abordagem crítica, reflexiva e que vá ao encontro das reais necessidades e

expectativas individuais e coletivas.

O grande desafio para uma atividade educativa em saúde é propiciar que todos os

atores envolvidos saiam deste processo de uma forma positiva e diferente de quando

ingressaram, amadurecendo o saber acumulado, desconstruindo ideias preconcebidas e

construindo possibilidades para vivência da cidadania.

A enfermagem neste contexto, apesar de dificuldades, é promotora de mudanças e de

novas possibilidades para os pacientes e seus familiares, assim como a visão inovadora de

educação em saúde, é também o exercício das ações do enfermeiro voltadas para a educação.

Por todo um processo histórico no modelo de educação, e por vivenciarmos até os dias

atuais as mudanças, tornamo-nos envolvidos e direcionados para aplicar tais conceitos em

nossa vida diária. Contudo, as novas visões educacionais nos permitem pensar e agir de forma

diferenciada, traçando caminhos melhores planejados para sermos promotores do pensar

crítico e reflexivo.

Ainda assim, as orientações de enfermagem na sala de espera são capazes de iniciar

um processo de transformação do pensar e agir em saúde. Mesmo nos momentos de

fragilidade, somos estimuladores do bem-estar, do afeto, do compartilhamento de

experiências e socialização dos saberes técnicos, práticos e populares por meio da educação

participativa.

A sala de espera em hemodinâmica, apesar da atenção voltada para o exame de

cateterismo cardíaco também revelou um ambiente de possibilidades de iniciar reflexões

sobre como uma parcela da população está despreparada para enfrentar as doenças

cardiovasculares tão crescentes no mundo. Enfrentarmos no sentido de determos

conhecimento capaz de provocar mudanças significativas, sejam elas imediatas ou não, e

assim propagarmos e compartilharmos este conhecimento.

Os indivíduos que se sentem cuidados refletem sobre suas ações e as consequências

em que elas podem ser traduzidas, com isso se tornam ativos na busca de valores importantes

para a saúde e o compromisso individual e coletivo.

67

Nesse aspecto, o enfermeiro necessita assumir seu papel como educador em saúde não

apenas no planejamento formal, mas também utilizando conscientemente seu conhecimento

em participação ativa das pessoas, assim como acompanhar os resultados desta prática tão

importante.

Um dos pontos fortes da pesquisa qualitativa é que nela se experimenta a realidade tal

qual é vivida pelos sujeitos. Dialeticamente, essa percepção da realidade dos sujeitos foi

limitante para este estudo, tendo em vista que, das respostas às perguntas dirigidas,

observaram-se possibilidades de novas abordagens que retratem como os participantes

chegaram ao serviço, que tipo de fragilidade, objetivamente, apresentavam sobre o

procedimento e como esses pacientes eram acompanhados na rede de serviços em saúde. Da

mesma forma, proporcionar a eles a escolha de qual a melhor forma de se dialogar sobre todas

as situações que envolvem o cateterismo cardíaco.

Diante da relevância desta prática educativa para atuação do enfermeiro no serviço de

hemodinâmica, há que se pensar nas possibilidades de desenvolvimento desta dentro das

demais unidades hospitalares, fortalecendo, assim, a educação em saúde que se inicia na

atenção primária e corroborando para que os indivíduos se sintam participantes ativos do

processo de cuidado em saúde. Pode-se também enfocar a dimensão gerencial do cuidado do

enfermeiro, assim como sua formação, tomando por orientação as percepções dos

participantes quanto à necessidade da presença de um mediador da educação em saúde nesse

ambiente.

Com isso, propõe-se a aplicação de protocolos para o serviço de hemodinâmica e

demais unidades hospitalares, bem como a construção de um material contendo informações

fidedignas e linguagem simples, de modo que favoreça o processo de educação em saúde e

autonomia dos indivíduos.

O princípio da integralidade do SUS diz respeito tanto à atenção integral em todos os

níveis do sistema quanto também à integralidade de saberes, práticas, vivências e espaços de

cuidado. Então, torna-se importante o desenvolvimento de ações de educação em saúde numa

perspectiva dialógica, emancipadora, participativa e criativa. Da mesma forma, é relevante a

criação ou disponibilização de um cenário propício à realização de práticas educativas que

contribuam para amenizar ou controlar o nível de ansiedade, melhorar a qualidade das

informações e a continuidade do conhecimento técnico, e de si mesmo, tornando possível que

os indivíduos construam a sua própria trajetória de saúde e que o enfermeiro ressignifique a

sua.

68

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74

APÊNDICE A – Teste Piloto

Pré – Orientações:

1-Como é realizado o cateterismo cardíaco?

2- Você obteve informações sobre o procedimento antes de chegar aqui?

Como?

3-Algum profissional passou orientações sobre o exame? Qual profissional

e quais orientações?

4-Você gostaria de saber mais sobre o procedimento que será realizado?

Pós – Orientações:

1-Você conseguiu esclarecer suas dúvidas com as orientações dadas? Por

quê?

2-Você acha que as orientações foram importantes? Por quê?

3-Você acha que as orientações que recebeu lhe trouxeram alguma

colaboração? Explique.

4-Qual é seu sentimento neste momento?

75

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - PRÓ-REITORIA DE PESQUISA

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP/UFJF 36036-900 JUIZ DE FORA - MG – BRASIL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

NOME DO SERVIÇO DA PESQUISADORA: FACULDADE DE ENFERMAGEM DA UFJF. PESQUISADORA

RESPONSÁVEL: Denise Barbosa de Castro Friedrich - ENDEREÇO: RUA IVON JOSÉ CURI, 368 PORTAL DA TORRE –

JF-MG CEP: 36037467 FONE: (32)3236-2474 E-MAIL:[email protected]

O(A) Sr(a) está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “SALA DE ESPERA NA

HEMODINÂMICA: O ENFERMEIRO PROMOVENDO MUDANÇAS NO COMPORTAMENTO E

CONHECIMENTO DE PACIENTES E ACOMPANHANTES”. Nesta pesquisa, pretendemos analisar o

impacto da ação educativa de enfermagem, através da sala de espera, jun to aos pacientes e acompanhantes antes

de um procedimento de intervenção cardiovascular na hemodinâmica.

O motivo que nos levou a estudar esse assunto é refletir sobre o papel educativo do enfermeiro junto ao

paciente e seus acompanhantes em um ambiente, como o laboratório de hemodinâmica, que permanece pouco

com os pacientes.

A participação do(a) Sr(a) consistirá em dar uma entrevista que gravaremos para que possamos

conhecer sua opinião sobre cateterismo cardíaco, que tipo de orientação já tem sobre o ex ame, etc. O material

obtido se destina a trabalho de natureza exclusivamente científica. Esta pesquisa se classifica em tendo riscos

mínimos, uma vez que a forma de abordagem e de tratamento das informações será criteriosa e de forma a

proteger os participantes. Caso seja identificado e comprovado dano proveniente desta investigação está previsto

indenização do participante.

Para participar desta pesquisa:

sua participação será voluntária, não terá nenhum custo e nem receberá qualquer vantagem financeira;

será esclarecido(a) sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar;

estará livre para participar ou recusar-se a participar, sendo que a retirada de seu consentimento ou sua

interrupção em participar poderá ocorrer no momento em que quiser. A recusa em part icipar não acarretará

qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido(a) pelas pesquisadoras;

terá sua identidade tratada com padrões profissionais de anonimato. O(a) Sr(a) não será identificado(a) em

nenhuma publicação que possa resultar des ta pesquisa. Seu nome ou o material que indique sua participação não

será liberado sem a sua permissão prévia;

terá assegurado o direito a ressarcimento ou indenização caso haja e sejam comprovados quaisquer danos

eventualmente produzidos pela pesquisa, sendo que esta pesquisa apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco

existente em atividades rotineiras como conversar, tomar banho, ler, etc.

terá à sua disposição os resultados da pesquisa quando finalizada.

Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados durante 5 (cinco) anos e , após esse

tempo, serão destruídos. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia

será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida ao(a) Sr(a).

Eu,___________________________________________________________________ ___________

portador(a) do documento de Identidade ____________________, fui informado(a) dos objetivos da presente

pesquisa de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar

novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em

participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a

oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Juiz de Fora, ____ de ______________ de 2014.

Assinatura da participante

Assinatura da pesquisadora responsável

Em caso de dúvidas, com respeito aos aspectos éticos desta pesquisa, você

poderá consultar:

CEP - COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA/UFJF - CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA

UFJF

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA CEP: 36036-900 FONE: (32) 2102- 3788 /

E-MAIL: [email protected]

Assinatura da pesquisadora testemunha

76

APÊNDICE C – Roteiro de Entrevista

Pré – Orientações:

1-Como você acha que é realizado o cateterismo cardíaco?

2- Você obteve informações sobre o procedimento antes de chegar aqui?

Como?

3-Algum profissional passou orientações sobre o exame? Qual profissional

e quais orientações?

4-Como você se sente neste momento?

5- Como você gostaria de aprender mais sobre o procedimento que será

realizado?

Pós – Orientações:

1-Você conseguiu esclarecer suas dúvidas com as orientações que foram

dadas? Por quê?

2-Na sua opinião, como as informações sobre o procedimento que foi

realizado deveriam ser transmitidas a você?

3-Você acha que as orientações que recebeu lhe trouxeram alguma

colaboração? Explique.

4-Como você se sente neste momento?

77

APÊNDICE D – Quadro das Falas

Pré Orientações de Enfermagem

Núcleos de

sentido

E1 AE1 E2(1ª vez) AE2(1ª vez) E3 AE3 E4 AE4 E5(1ª vez) AE5( 1ª vez) Síntese

Horizontal Entrev(Pac)

Síntese

Horizontal Acomp

O cateterismo cardíaco é

desconhecido

Eu já fi z

um cateter,

mas não foi aqui. Agora eu não me

lembro mais. Deve ser

porque foi pedido da

Drª acho que era

pra cateterismo mesmo.

Na ocasião que eu fiz, fi zeram até pelo pulso,

mas dessa vez

pediram que eu depilasse a

vi ri lha, porque deve ser fei to pela

vi ri lha né?

Eu já

acompanhei ele em

outro exame. Eu não me lembro

mais, já faz 4 anos, mas eu tenho

uma... Eu sei que faz

uma esteira, um

negócio...vai correndo, sei que dá

um contraste se não me engano aqui

pelo braço...

Ah...não...eu

ouvi fa lar que leva um

pique na vi ri lha. Minha filha olhou na

internet lá.

Eu entendi

que é um exame pra

analisar como está a veia , o grau que tá

entupido. O que eu ouvi fa lar é que,

minha irmã que entrou

na internet viu que é

um tubo pequeno, faz um

corte na vi ri lha, va i passando um tubo

bem fininho e,

dependendo do grau, até

consegue desobstruir.

Eu já fi z...ah

tenho uma leve lembrança...eu

deitei lá e estava um pouco nervoso e ele fa lou “fica

tranquilo” e aí ele fa lou com a enfermeira e ela

veio e colocou um remédio debaixo

da l íngua e depois fez e conversou

com a minha filha que meu caso era ci rurgia.

Bem, acho que

é um exame de... pra saber

onde está obstruído e pode fazer pela vi ri lha ou pelo

braço, né!

Eu vim fazer o

cateterismo que é o

desentupimento do coração. Essa é a segunda vez. O

cateterismo você deita na cama, o

médico dá uma anestesia, a

gente vê tudo o que

acontece, não sente nada, enfia aquele

negócio que va i no coração, demora 1h mais ou

menos, depois ti ra você pra

repousar...por a í!

Não Não s ei como

funciona... É a primeira vez

Ass im não...

eu tenho uma noção;

acho que a pessoa está com as veias

entupidas né, igual o caso dele, aí

vem aqui pra poder

ver como está...como

é fei to o exame mesmo eu

não sei.

Eu já fi z, mas

não me lembro mais; ouví falar

que leva um pique na vi ri lha; a enfermeira

coloca remédio debaixo da

l íngua; é o desentupiment

o do coração; não sei como

funciona, é a primeira vez.

acompanhei , mas não

me lembro mais; entendo que é um

exame pra analisar como está

a veia; acho que é pra

saber onde está

entupido; Não sei; Tenho uma

noção, mas como é fei to o exame

mesmo eu não sei.

Não há

profiss ional responsável por

orientações

Não Não, a

orientação foi somente do que

tinha que fazer antes

de chegar

Não A minha

i rmã que entrou na internet e

me passou essas

informaçõe

Meu cardiologista

sol icitou um exame... E o resultado desse

exame que eu vim fazer este

cateterismo...

Não, porque eu

já sabia mais ou menos , né

Eu tenho uma

noção mais ou menos, se não fi zer, va i

infartar mesmo e tem

que fazer. Eu

Não.

Agora se ele foi orientado,

a í eu já não sei.

A minha afilhada.

A sogra dela fez há poucos dias . Ela me passou

orientação, como que é... graças a

Deus , eles têm

Tive. Pela

minha filha, porque teve mais ou

menos 20 dias ela

trouxe a

Não, meu

cardiologista sol icitou um exame e o

resultado dele e por i sso eu

vim fazer; eu

Não, a

orientação foi somente do que

tinha que fazer antes;

a minha

78

aqui; raspar

a vi ri lha,

essas coisas...sobr

e o cateterismo não

s , mas

nenhum

profissional passou

não...

vou fazer de

novo porque

estou sentindo as mesmas

coisas...

um cuidado

"danado"

comigo!

sogra dela

aqui.

tenho uma

noção se não

fi zer, va i infartar; a

minha afilhada passou a orientação.

i rmã que

entrou na

internet; não, eu já

sabia mais ou menos; minha filha passou.

Não, a Doutora fa lou que aqui seria

o ideal... aí eu fa lei “então

vamos arrumar”.

Ainda aconteceu o pior porque eu

pago um dinheiro bom pro convênio e estou há

34 dias pra chegar

aqui.

Não, o que ia fazer aqui, não...

Não, só pediram pra fazer o exame, mais

nada

Não Não fa lou deta lhes por menores não... e fa lou que hoje o

cateterismo é mais simples de fazer.

Não Meu médico Não Eu to fazendo acompanhamento há um 1 e pouco; eu fui no

cl ínico geral e ele me passou um remédio...aí eu

fui no pneumologista e

ele falou pra procurar um cardiologista; ... o cardiologista

pediu pra fazer esteira, eco, essas coisas; a í na esteira acusou...aí pediu

pra fazer o cateterismo.

Fi lha Não, a Drª fa lou que aqui seria o ideal; não, só

pediram pra fazer o exame; não falou

deta lhes; meu médico; eu fui

no cl ínico, no pneumo, o cardiologista pediu o

cateterismo.

Não; Eu passei amor. Minha filha

Muitas emoções vivenciadas

Expectativa

né...porque eu não sou um homem

calmo, mas eu tento

me

controlar.

Expectativa né...

A gente fica meio

"cabreiro" né, nunca fez!

Acho que é de amor,

né, porque a lém de ser pa i e... eu passei por

ci rurgias também,

mas é estar

perto né, passar

amor e sentir que a

gente ama ele, confiar em Deus

também

Nesse momento eu estou

tranquilo...eu não gosto de ficar parado e gosto de estar sempre

movimentando...eu mexo com

mecânica, com

horta...estou tranquilo, graças

a Deus!

Ah a gente fica apreensiva né!

Ele falou que está tranquilo? Porque ele foi dormir tarde,

ficou assim, dormia,

acordava...21:00

h ele já tá indo dormir!

Eu estava nervoso antes

de chegar; como eu já cheguei, eu estou me

aca lmando. É ans iedade de

ver a coisa

concluída, mas eu já estou me

aca lmando.

Nervoso, porque

tudo quando fa la que é de

coração né, a

gente

fica ...

Eu tô bem, porque eu já fiz

muita ci rurgia, eu tive má ci rculação e fiz uma ponte de

safena na perna e tive que ti rar 2

dedos pra não

perder a perna...então

umas 19 ci rurgias eu já fi z (risos)

A gente fica preocupado

né, por igual no caso a gente chegou aqui

então praticament

e eu sou

responsável por ele,

né...autorizar a gente

não sabe o que pode acontecer,

né!

Expectativa, tento me

controlar; Meio cabreiro; tranquilo, graças a Deus;

estava nervoso antes de

chegar; eu tô

bem, já fiz muita ci rurgia.

Expectativa, confiar em

Deus; Apreensiva (ele falou que tá

tranquilo? Mas ele foi

dormir

tarde; Nervoso,

porque, quando fala

que é coração, a gente fica

preocupad

79

o, não sabe

o que pode

acontecer.

Todos querem informação

Antes do

exame. Por um profissiona

l , né!

Antes de

fazer o exame. Que a lguém aqui

da "coisa" orientasse,

assim, antes de fazer...fazer assim, va i

acontecer i sso ou aquilo...vai fazer pelo braço. Ah

pelo médico que va i

fazer ou pelo enfermeiro

capacitado pra i sso.

Alguém

expl icar o procedimento todo, ficar

"inteirado" né, pra ficar

sabendo o que va i acontecer. Gente chega

aqui e não sabe de nada.

Sempre ser

a verdade né...a gente quer

escutar que é s imples,

que não dói , mas não é sempre

desse jeito né...acho que um profissional te falando a

"rea l" mesmo eu

acho que é até melhor né; você

fica mais, né!

Sobre a realidade

do que va i ser fei to, porque a gente tem

que...não pode ficar escondendo

não...geralmente eu pergunto sempre o médico, a gente sempre

conversa, é muito atencioso.

Eu gosto de

saber tudo, mas tem pessoas que ficam

apavoradas, mas não é o

meu caso; eu gosto de saber como é feito... Pra mim tanto

faz receber pelo profissional ou pela internet...com tanto que tire as

dúvidas, né!

Primeiro pelo

meu médico, porque a lém dele ser meu

médico ele é meu primo,

então se torna mais fácil, eu chegar e ele fa la tudo a

verdade comigo e ele fa la você faz i sso, aquilo...

Acredito

que através de vídeo

mesmo, ou pessoa

né...o problema que a internet a

gente vê e não entende né...podia ser por

um profission

al mesmo.

Na boa

né...(ri sos) receber uma coisa em casa

que é mais fácil né!

Da melhor

forma possível...o certo

quando a pessoa vem

né, informa, não é isso? Da melhor forma

possível!

Antes do

exame por um profissional; Alguém

expl icar o procedimento

todo; Sobre a rea lidade do que va i ser fei to; Primeiro

pelo meu médico porque ele é meu primo; Receber

a lguma coisa em casa que é

mais fácil.

Antes de

fazer o exame, a lguém

daqui orientasse;

A gente quer escutar que é s imples,

que não dói ; Um profissional te falando a rea l ; Pra

mim tanto faz receber

pelo profissional ou pela

internet; vídeo ou pessoa porque a

internet a gente vê e

não entende; o certo

quando a

pessoa vem e informa.

80

Síntese Vertical Eu já fi z

um cateter

mas não foi aqui,

agora eu não me lembro mais; Não, a Drª fa lou que aqui

seria o ideal;

Expectativ

a né; Antes do exame

por um profissional .

Eu já

acompanhei

ele em outro

exame mas nõa me lembro mais; Não, a orientação foi somente

do que tinha que

fazer; Não,

o que ia fazer aqui

não; expectativa, né; Antes de fazer o

exame que a lguém

daqui

orientasse.

Eu ouví fa lar

que leva um

pique na vi ri lha; Não,

só pediram pra fazer o exame, mais nada; a gente fica meio

cabreiro, né...;

Alguém

expl icar o procediment

o todo pra ficar inteirado.

É um

exame pra

analisar como está a

veia ; a minha irmã que entrou na internet; Estar perto, passar

amor e ele sentí que a

gente ama

ele; Sempre ser a

verdade...a gente quer escutar que é s imples.

Tenho uma leve

lembrança; Meu

cardiologista sol icitou um

exame e desse era pra fazer o cateterismo; Não fa lou detalhes por menores não; nesse momento

eu tô tranquilo, não gosto de ficar

parado não;

Sobre a realidade do que va i ser

fei to.

Acho que é um

exame pra saber

onde está obstruído, faz

pelo braço ou vi ri lha; Não porque eu já sabia mais ou menos; Não; A gente fica

apreensiva né; Eu gosto de

saber tudo.

É o

desuntupiment

o do coração; Eu tenho uma

noçõa mais ou menos, se não fi zer va i infartar; Meu médico; Eu estava nervoso

antes de chegar;

Primeiro pelo

meu médico porque a l´me

de ser meu médico ele é meu primo.

Não, e se

ele foi

orientado eu não

sei; Não; Nervoso; Acredito que através de vídeo ou

pessoa.

Não sei como

funciona; A

minha afilhada; To fazendo

acompanhamento, eu fui no cl inico ele me mandou ori pneumologista depois pro

cardiologista que pediu esse

exame; Receber

uma coisa em casa é mais fácil.

Eu tenho

uma noção,

acho que a pessoa está

com as veias entupidas; Tive pela minha filha; A gente fica

preocupado; O certo

quando a

pessoa vem e informa.

81

APÊNDICE D – QUADRO DAS FALAS Pós Orientações de Enfermagem

Núcleos de sentido E1 AE1 E2(1ª vez) AE2(1ª vez) E3 AE3 E4 AE4 E5(1ª vez) AE5( 1ª vez) Síntese Horizontal Entrev.(pact)

Síntese Horizontal Acomp.

Esclarecimento das

dúvidas pré-

exis tentes

Consegui, entendi sim. Porque acalma

bem; põe a gente " a par" do que va i

acontecer. Você entrar no

hospital sem saber o que va i acontecer,

né...a í já sabe mais ou menos

como é.

Consegui. É muito importante.

Consegui. Eu acho que é importante

porque a gente já chega

sabendo

Consegui. É importante, com certeza.

Esclareci. (fa lou o que é o

cateterismo)

Dá...mas agora eu quero saber

o que deu!

Deu pra esclarecer tudo!

Quanto mais orientação melhor né!

Consegui. Consegui. Foram muito importantes...

Certo! Consegui. Agora eu sei

fa lar

Consegui, entendi sim, aca lma bem;

É importante; Deu pra

esclarecer tudo.

Conseguí é muito importante;

Agora eu quero saber o que deu;

Agora eu sei fa lar.

Não há reconhecimento

de um único profiss ional

responsável por

orientações

Acho que dever

ser por um profissional de saúde.

Médico,

enfermeiro ; a inda mais pra quem está aqui

fora ficar mais tranquilo;

quem está lá dentro

também, porque a tranquilidade na saúde é muito bom.

Enfermeiro

chefe ou médico mesmo.

Pelo

profissional que fez a ci rurgia nele.

Médico

né...acho que s im

Eu acho que

tem que ser esclarecido aqui né...todos

que estão aqui estão a par, tanto a

enfermagem quanto o

médico né.

Não

comentou

Não

comentou

A minha

afi lhada já tinha me expl icado. Podia ser o

enfermeiro mais qualificado

né, ou mesmo o

médico.

Pela enfermeira Profissional

da saúde; médico ou enfermeiro chefe; minha

afi lhada já tinha expl icado,

mas podia ser o

enfermeiro mais qualificado

Médico ou

enfermeiro responsável; pelo profissional

que fez a ci rurgia; todos que

estão aqui; pela

enfermeira

Sempre traz né; eu estou mais

ou menos treinado no hospital, mas eu observei

muita coisa aqui...melhorou

muito.

É importante s im.

Foi vá lido, pelo o que

recebi foi vá l ido.

Com certeza é importante

s im.

Acho muito importante

né...sem dúvida

Acho, porque tranquiliza

né!

Muita , porque ele

está sabendo da doença dele e é um meio dele

entender mais! Você já

entra

sabendo o que va i

Traz, a gente fica mais

tranquila.

Trouxe s im. Acho importante,

porque a gente vem pra cá meio apavorado, tá

certo?...então é bom antes, ter

a lguma coisa

pra gente, e também depois

Sempre traz; foi vá lido;

acho muito importante; é um meio de entender

mais, já entra sabendo o

que va i

acontecer.

É importante s im;

tranquiliza; é importante porque a gente vem

pra cá meio apavorado

82

acontecer, já sabe como

va i ser em

casa.

que o médico veio também é

muito bom.

Al ívio da ansiedade

Tranquilo, outra coisa também é o tratamento dos enfermeiros, de

vocês , do médico; isso eu

observo

bastante, porque eu já

estive aqui há muito tempo atrás.

Es tou mais tranquila.

Mais tranquilo.

Fiquei mais tranquilo.

Tudo bem

Mais tranquila! Um pouco né...fa lta a outra parte,

o resultado!

Muito tranquilo!

Mais ca lma, porque eu estava nervosa.

Muito bem, muito melhor, agora to mais relaxado,

mais tranquilo.

Tranquilo, nossa...sabendo agora né...porque eu estava

preocupado, a gente trabalha

junto. Mas

graças a Deus agora o médico

expl icou que através de remédio volta tudo ao normal.

Mais tranquilo; mais calma

Tranquilo; tudo bem; muito melhor, mais relaxado

Síntese Vertica l

Consegui, entendi sim, aca lma bem; põe a gente a "par' do que vai

acontecer. A orientação

sempre traz colaboração e deve ser

"passada" por um profissional de saúde. " Tranquilo".

Consegui esclarecer as dúvidas; a orientação deve ser

transmitida pelo médico

ou enfermeiro; È muito

importante. "Tranquila".

Consegui esclarecer as dúvidas. É importante porque já

chega sabendo e

deve ser transmitida pelo médico

ou enfermeiro. "Tranquilo".

Consegui esclarecer as dúvidas. É importante e deve ser

transmitida por quem fez

a ci rurgia. "Tranquilo".

Consegui esclarecer as dúvidas; É muito importante e

deve ser transmitida

pelo médico. " Tudo bem"

Deu pra esclarecer e já quero saber o resultado;

Pode ser transmitida

pelo médico ou enfermagem.

Acha importante porque tranquiliza.

"Mais tranquila"

Consegui esclarecer as dúvidas. " Quanto mais informação

melhor". Muito

importante pois é um meio de

entender mais sobre o assunto. Não comentou

sobre o profissional

que deveria transmitir as orientações.

"Muito

tranquilo".

Consegui esclarecer as dúvidas; É importante por promover

tranquilidade; não

comentou sobre o profissional

que deveria orientar. " Mais ca lma".

Consegui esclarecer as dúvidas, minha afi lhada já

tinha expl icado

pelo o que viu na internet. As

orientações deveriam ser passadas por enfermeiro

qualificado. Sente-se

"muito bem", "mais relaxado".

Consegui esclarecer as dúvidas; É importante porque antes a

gente fica meio apavorado; As

informações deveriam ser transmitidas

pelo enfermeiro. "Tranquilo".