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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS DE LARANJEIRAS DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL PPGADR RODRIGO OZELAME DA SILVA FRUTAS NATIVAS, DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS E AGROECOLOGIA: POR UMA OUTRA RELAÇÃO COM A SOCIOBIODIVERSIDADE LARANJEIRAS DO SUL 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS DE LARANJEIRAS DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA E

DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL – PPGADR

RODRIGO OZELAME DA SILVA

FRUTAS NATIVAS, DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS E AGROECOLOGIA:

POR UMA OUTRA RELAÇÃO COM A SOCIOBIODIVERSIDADE

LARANJEIRAS DO SUL

2018

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RODRIGO OZELAME DA SILVA

FRUTAS NATIVAS, DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS E AGROECOLOGIA:

POR UMA OUTRA RELAÇÃO COM A SOCIOBIODIVERSIDADE

Dissertação de mestrado, apresentada para o Programa de Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Laranjeiras do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável.

Orientador: Dr. Julian Perez-Cassarino Co-Orientador: Dr. Walter Stenboock

LARANJEIRAS DO SUL

2018

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Aos meus filhos, Camila Ozelame da Silva

Jorge Gadelha da Silva

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AGRADECIMENTO

Agradeço aos movimentos sociais do campo, sobretudo ao MST e o MPA,

que por meio de décadas de lutas colheram diversos frutos, como a construção da

Universidade Federal da Fronteira Sul. Luta essa que não se finalizou com a

construção da Universidade, mas que continua viva no dia a dia desta organizações

para que a Universidade se pinte de povo.

Agradeço aos grupos de agricultores 8 de Junho, Jabuticabal, Palmeirinha,

Recanto da Natureza, Terra Livre e Terra de Todos por aceitarem o desafio de juntar

pesquisa e ação com as frutas nativas, mas sobretudo pela convivência dos últimos 3

anos.

Agradeço ao Coletivo CEAGRO por ter aberto as portas para o mundo

vermelho e permitir conciliar trabalho, sonhos e estudo.

Agradeço o companheiro Anderson Gibathe e a empresa ENGIE ENERGIA

pela parceria na multiplicação das frutas nativas.

Agradeço aos colegas e professos do Programa de Pós Graduação em

Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável Nilton Agner, Guilherme Mazer,

Maicon Reginatto, Rodrigo Austurian, Josimeire Leandrini, Paulo Mayer, Sergio

Martins, Betina Muelbert, Pedro Cristoffoli, Gilmar Franzener, Antonio Andiroli, Clerio

Plein pelo aprendizado.

Agradeço ao companheiros de outras jornadas que me ajudaram a ficar

mais confuso, Jose Edmilson de Souza Lima, Sandra Maciel-Lima, Andrey Piovezan,

Jose Carneiro, Alexandra Caldas, Fabiane Vezzani, Carlos Eduardo Seoane e aos

compadres Bernardo Brandão e Daniela Sant' Ana.

Agradeço a Lídia da Rocha Figueiró e o Alvir Long do Encontro de Sabores

da Cadeia Solidária das Frutas Nativas do Rio Grande do Sul pela coragem e

competência em iniciar o trabalho com as frutas nativas no sul do Brasil. Sem esse

trabalho estas palavras não existiriam.

Agradeço ao membros da banca de qualificação Sergio Roberto Martins e

Claudia Lima e da banca de defesa Claudia Schmitt e Maria Izabel Radomski pelos

comentários que me enriqueceram muito.

Agradeço aos agrofloresteiros da COOPERAFLORESTA, ao Centro Vianei

de Educação Popular e os Caboclos do Núcleo Planalto Serrano por terem

contribuindo em meu constante renascimento.

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Agradeço ao Professor Walter Steenbock pela orientação nesta pesquisa e

por ter abertos as portas para outros mundos outrora.

Agradeço ao Julian Perez-Cassarino pela paciência na orientação e

empatia na compreensão dos meus limites. Também pelo desafio de fazer uma

pesquisa técnica sobre frutas nativas. Ainda que os resultados e o caminho seguido

quiçá não seja tenha sido muito técnico, a provocação me permitiu chegar mais

próximo dessa dimensão.

Agradeço aos bons espíritos pelas oportunidades, cuidado e inspiração.

Por fim, mas não menos importante, agradeço a minha companheira

Renata Rocha Gadelha pelo apoio na caminhada.

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Milhões de outras vozes, igualmente representativas pela sua exemplaridade, poderiam ter sido escolhidas. As vozes não ouvidas constituem o inabarcável silêncio planetário de que emergem as vozes aqui ouvidas, um silêncio, que, ao ouvi-las, se torna ainda mais pesado.

Boaventura de Sousa Santos

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RESUMO

A biodiversidade do Brasil é considerada a maior do mundo. Essa grande biodiversidade é resultado de um processo milenar que envolve fatores ambientais e sociais. Porém, esse processo coevolutivo está sendo comprometido pelo avanço de um modelo de globalização hegemônico. No âmbito das frutas nativas, foco desta pesquisa, estes impactos são severos. As frutas nativas, e o processo de domesticação que deu origem a elas, são ao mesmo tempo invisíveis e eliminadas pelos que fomentam tal globalização. No entanto, este modelo não é a única forma de coexistir. Outros mundos não só são possíveis e necessários como existem. Estes outros mundos são por essência diversos, e se unem sob uma outra forma de globalização, a globalização contra-hegemônica. Nesse processo se inserem as frutas nativas que passam a serem valorizadas, cuidadas e promovidas. É dentro deste contexto que emerge esta pesquisa. Sua justificativa é centrada na urgência do resgate e promoção de um processo de domesticação de plantas, com ênfase nas frutas nativas, que contribua para a expansão da sociobiodiversidade. Seu objetivo principal é promover um processo de domesticação, com ênfase nas frutas nativas, através dos princípios da Agroecologia e que fomente a sociobiodiversidade. O método utilizado é a pesquisa-ação, sendo dividido em quatro fases: i) problematização das frutas nativas e indicação de espécies prioritárias; ii) caracterização socioambiental das espécies prioritárias; iii) caracterização socioambiental de boas árvores e; iv) multiplicação das boas árvores. O público foi constituído 117 pessoas de seis grupos de agricultores inseridos no Núcleo Luta Camponesa, vinculado na Rede Ecovida de Agroecologia. Este núcleo está situado nos Territórios da Cidadania, do Estado do Paraná, Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. Como resultado, destaca-se a identificação e caracterização, socioambiental de sete espécies de frutas nativas classificadas como prioritárias pelos agricultores para a promoção de um processo de domesticação, sendo elas: i) Guabiroba (Campomanesia xanthocarpa); ii) Pitanga (Eugenia uniflora) Uvaia (Eugenia pyriformis); iv) Cereja (Eugenia involucrata); v) Guabiju, (Myrcianthes pungens); vi) Araçá Vermelho (Psidium longipetiolatum) e; vii) Ingá Feijão (Inga marginata Willd). Além da caracterização das espécies, descreveu-se os aspectos sociais e ambientais desejável em boas matrizes. Através desse processo, foram identificadas e georreferenciadas 42 matrizes, sendo 15 de Guabiroba, 8 de Pitanga, 8 de Uvaia, 3 de Cereja, 4 de Araçá Vermelho, 1 de Guabiju e 3 de Ingá Feijão. Contudo, o principal resultado deste trabalho foi, em conjunto com os agricultores, resgatar e promover olhares para as frutas nativas, contribuindo desse modo para a emergência de um modo de domesticação de plantas que a aumente a sociobiodiversidade, por meio da Agroecologia e articulado com ações práticas que envolvam a comercialização, regularização sanitária e processamento visando valorizar as frutas nativas. Também é possível indicar que olhar, plantar, produzir, processar, comercializar e consumir as frutas nativas, é dar materialidade à construção de outros mundos, que supera a racionalidade do modelo hegemônico de agricultura e gera indicativos para a construção de uma nova mentalidade na relação dos agricultores com a sociobiodiversidade. Palavras chave: Fruta Nativa; Domesticação de Plantas, Agroecologia; Sociobiodiversidade; Pensamento Pós-Colonial.

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ABSTRACT

The biodiversity of Brazil is considered the largest in the world. This great biodiversity is the result of an ancient process that involves environmental and social factors. However, this coevolutionary process is being compromised by the advance of a model of hegemonic globalization. In the context of native fruits, the focus of this research, these impacts are severe. Native fruits, and the process of domestication that gave rise to them, are both invisible and eliminated by those who foster such globalization. However, this model is not the only way to coexist. Other worlds are not only possible and necessary as they exist. These other worlds are by their very nature diverse, and unite under another form of globalization, counter-hegemonic globalization. In this process are inserted the native fruits that are valued, taken care of and promoted. It is within this context that this research emerges. Its justification is centered in the urgency of the rescue and promotion of a process of domestication of plants, with emphasis on the native fruits, that contributes to the expansion of the sociobiodiversity. Its main objective is to promote a process of domestication, with emphasis on native fruits, through the principles of Agroecology and that fosters sociobiodiversity. The method used is action research, being divided into four phases: i) problematization of native fruits and indication of priority species; ii) socio-environmental characterization of priority species; iii) socio-environmental characterization of good trees; iv) multiplication of good trees. The public was constituted 117 people from six groups of farmers inserted in the Nucleus Luta Camponesa, linked to the Rede Ecovida Network of Agroecology. This nucleus is located in the Territories of the Citizenship, of the State of Paraná, Cantuquiriguaçu and Paraná Center. As a result, the identification and social-environmental characterization of seven native fruit species classified as priority by the farmers to promote a domestication process are highlighted: i) Guabiroba (Campomanesia xanthocarpa); ii) Pitanga (Eugenia uniflora) Uvaia (Eugenia pyriformis); iv) Cherry (Eugenia involucrata); v) Guabiju, (Myrcianthes pungens); vi) Araçá Vermelho (Psidium longipetiolatum) and; vii) Ingá Feijão (Inga marginata Willd). In addition to the characterization of the species, we described the social and environmental aspects desirable in good matrices. Through this process, 42 matrices were identified and georeferenced, 15 of Guabiroba, 8 of Pitanga, 8 of Uvaia, 3 of Cherry, 4 of Araçá Vermelho, 1 of Guabiju and 3 of Ingá Feijão. However, it is believed that the main result of this work was, together with the farmers, to rescue and promote glances for native fruits, thus contributing to the emergence of a way of domestication of plants that increases the socio-biodiversity. Another identified aspect concerns the multidimensionality of fruits, since topics such as domestication of plants, Agroecology and sociobiodiversity need to be articulated with practical actions that involve the commercialization, sanitation regularization and processing in order to value the native fruits. It is also possible to indicate that looking, planting, producing, processing, marketing and consuming native fruits is to give materiality to the construction of other worlds, which surpasses the rationality of the hegemonic model of agriculture and generates indicatives for the construction of a new mentality in relation of farmers with socio-biodiversity.

Keywords: Native Fruit; Plant Domestication, Agroecology; Sociobiodiversity; Postcolonial Thought.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1: Exemplos de painel explicativo sobre a domesticação das frutas

nativas........................................................................................................................29

Fotografia 2: Uso dos painéis numa oficina no grupo Terra Livre................................29

Fotografia 3: Representantes do grupo Terra de Todos durante o preenchimento da

matiz de priorização....................................................................................................30

Fotografia 4: Resultado da matriz de priorização das frutas nativas prioritárias .........30

Fotografia 5: Matriz de diagnóstico utilizado no aprofundamento de questões de

espécies de frutas nativas classificadas como prioritárias..........................................31

Figura 6: Preencimento hipotetico da matriz estrela para avaliar as caracteristicas

socioambientais de boas matrizes de Guabiroba .......................................................32

Figura 7: Resultado hipotetico do preenchimento da matriz estrela para

Guabiroba...................................................................................................................32

Mapa 8: Localização dos Territórios da Cidadania Paraná Centro e

Cantuquiriguaçu.........................................................................................................38

Mapa 9: Classificação da cobertura original dos municípios dos grupos que compõem

esta pesquisa estão inseridos ....................................................................................39

Figura 10: Representação esquemática do comportamento do sistema solo-plantas-

organismos ................................................................................................................79

Figura 11: Representação esquemática da interação entre sociobiodiversidade,

domesticação de plantas e Agroecologia ..................................................................80

Figura 12: Representação gráficas num mapa dos principais componentes da Cadeia

das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu......................................................................90

Fotografia 13: Preenchimento pelo autor da pesquisa de uma matriz de

diagnóstico.................................................................................................................93

Fotografia 14: Preenchimento de uma matriz de priorização pela agricultora do Grupo

Palmeirinha ................................................................................................................93

Gráfico 15: Representação gráfica da escolha das frutas nativas de acordo com

atribuição de valores para cada nível de prioridade ....................................................95

Figura 16: Centro de Origens das Plantas criado pelo russo Vavilov com destaque

para o satélite Brasileiro-paraguaio ..........................................................................106

Gráfico 17: Modelo do gráfico estrela construído para caracterização socioambiental

das frutas nativa........................................................................................................110

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Fotografia 18: Árvore de Guabiroba do grupo Palmeirinha................................. ......111

Fotografia 19: Frutos da Guabiroba..........................................................................111

Figura 20: Resultado da caracterização socioambiental da Guabiroba a partir do uso

da ferramenta matriz estrela.....................................................................................112

Gráfico 21: Resultado dos valores para a caracterização socioambiental da

Guabiroba, de acordo com a ferramenta matriz estrela ............................................112

Fotografia 22: Cata-fruta utilizado na coleta de Guabiroba no Grupo

Jabuticabal...............................................................................................................115

Figura 23: Fotografia de uma Pitangueira do grupo Terra de Todos...........................117

Figura 24: Fotografia de frutos distintos de Pitanga do grupo Terra de Todos. ........117

Gráfico 25: Resultado da caracterização socioambiental da Pitanga a partir da

ferramenta matriz estela...........................................................................................118

Gráfico 26: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização

socioambiental da Pitanga, de acordo a ferramenta matriz estrela. ..........................118

Fotografia 27: Comercialização de Pitanga em bandejas de aproximadamente 300

gramas na feiras agroecológica do Grupo 8 de Junho...............................................127

Fotografia 28: Uvaieira do agroecossistema do Grupo Palmeirina............................122

Fotografia 29. Frutos de Uvaia do grupo Jabuticabal................................................122

Gráfico 30: Resultado da caracterização socioambiental da Uvaia a partir do

preenchimento da matriz estrela..............................................................................123

Gráfico 31: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização

socioambiental da Pitanga, de acordo a ferramenta matriz estrela...........................123

Fotografia 32: Cerejeira do grupo Palmeirinha..........................................................127

Fotografia 33: Frutos da Cereja colhida no grupo Palmeirinha..................................127

Gráfico 34: Resultado da caracterização socioambiental da Cereja a partir do

preenchimento da matriz estrela...............................................................................128

Gráfico 35: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização

socioambiental da Cereja, de acordo a ferramenta matriz estrela.............................128

Fotografia 36: Árvores de Araçá-Vermelho no grupo Recanto da Natureza..............131

Fotografia 37: Frutos de colhidos no grupo Recanto da Natureza............................131

Gráfico 38: Resultado da caracterização socioambiental do Araçá Vermelho a partir

da ferramenta matriz estrela.....................................................................................132

Fotografia 39: Árvore de Guabiju..............................................................................135

Fotografia 40: Frutos do Guabiju. .............................................................................135

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Gráfico 41: Resultado da caracterização socioambiental do Guabiju a partir da

ferramenta matriz estrela..........................................................................................135

Fotografia 42: Arvore de Ingá Feijão no grupo Jabuticabal........................................138

Fotografia 43: Frutos do Ingá Feijão.........................................................................138

Gráfico 44: Resultado da caracterização socioambiental do Ingá Feijão a partir da

ferramenta matriz estrela..........................................................................................139

Gráfico 45: Modelo de gráfico estrela construído para a valorização das características

socioambientais de boas árvores (matrizes) das frutas nativas prioritárias...............143

Gráfico 46: Resultados da caracterização socioambiental de boas árvores de

Guabiroba a partir da ferramenta matriz estrela.......................................................144

Gráfico 47: Valores médio da caracterização socioambiental de boas árvores de

Guabiroba, de acordo a ferramenta matriz estrela....................................................144

Gráfico 48: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Pitanga

a partir da ferramenta matriz estrela..........................................................................147

Gráfico 49: Valores médios da caracterização socioambiental de Boas Árvores de

Pitanga, de acordo com a ferramenta matriz estrela. ...............................................147

Gráfico 50: Resultado da caracterização socioambiental de Boas Árvores de Uvaia de

acordo com a ferramenta matriz estrela....................................................................149

Gráfico 51: Valores médio da caracterização socioambiental de boas árvores de

Uvaia, de acordo com a ferramenta matriz estrela. ...................................................150

Gráfico 52: Resultado da caracterização socioambiental de Boas Árvores de Cereja

de acordo com a ferramenta matriz estrela...............................................................151

Gráfico 53: Valor médio das notas fornecida pelos grupos para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Cereja, de acordo a ferramenta matriz estrela...152

Gráfico 54: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Araçá

Vermelho a partir da ferramenta matriz estrela.........................................................153

Gráfico 55: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiju

a partir da ferramenta matriz estrela..........................................................................155

Gráfico 56: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Ingá

Feijão a partir da ferramenta matriz estrela...............................................................157

Fotografia 57: Uso da ficha confeccionada para mensurar o tamanho dos frutos......160

Fotografia 58: Uso da ficha de identificação de cores................................................160

Fotografia 59: Exemplo de uma placa confeccionada para a Família de Delci e Sabi

do Grupo 8 de Junho.................................................................................................171

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Fotografia 60: Entrega de parte das placas para os agricultores que fizeram parte da

pesquisa ao final da defesa da dissertação.............................................................171

Fotografia 61: Entrega de uma placa de Guardião das Frutas Nativas para o ex-

presidente Luís Inácio Lula da Silva..........................................................................171

Fotografia 62: Exemplo hipotético da tendência dos principais sistemas produtivos

identificados nas unidades familiares dos grupos.....................................................173

Fotografia 63: Agricultora do Grupo Palmeirinha, colocando sementes de Cerejas

coletadas da boa árvore identificada como Cereja da Vó Claudia em recipientes que

permitiram sua germinação......................................................................................175

Fotografia 64: Manejo de uma árvore de Araçá Vermelho num quintal agroflorestal do

grupo Jabuticabal.....................................................................................................182

Fotografia 65: Agricultores do grupo Palmeirinha manejam uma Guabiroba localizada

num potreiro do grupo...............................................................................................182

Fotografia 66: Imagens de um mutirão de implantação de árvores num sistema

produtivo de base ecologia com foco na produção de hortaliças...............................184

Figura 67: representação gráfica das dimensões que precisam ser analisadas para

valorização das frutas nativas...................................................................................200

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LISTA DE TABELAS

Quadro 1: Grupos que participaram da pesquisa, bem como os municípios,

Territórios da Cidadania e movimentos sociais que pertencem ...............................40

Quadro 2: Síntese do método dos procedimentos metodológicos contento as fases,

as ferramentas utilizadas e os resultados esperados .............................................44

Quadro 3: Ligação dos grupos com CNPJ, espações de processamento e espaços

de comercialização...................................................................................................84

Quadro 4: Exemplo hipotético de sistematização de uma matriz de diagnostico para

a fruta nativa Uaia.....................................................................................................93

Quadro 5: Frutas Nativas prioritárias para promover um processo de

domesticação...........................................................................................................94

Quadro 6: Estimativa da quantidade de indivíduos de Frutas Nativas classificadas

como prioritárias presente nos grupos .....................................................................96

Quadro 7: Quantidade de indivíduos das frutas nativas classificadas como prioritárias

que produzem frutos ................................................................................................97

Quadro 8: Origem (plantada ou ocorrência natural) dos indivíduos das frutas

prioritárias presente nos grupos................................................................................98

Quadro 9: Matriz lógica para geração de indicadores das características

socioambientais das frutas nativas ........................................................................109

Quadro 10: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental da Guabiroba.................................................................................113

Quadro 11: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental da Pitanga. ....................................................................................119

Quadro 12: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental da Uvaia.........................................................................................124

Quadro 13: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental da Cereja.......................................................................................129

Quadro 14: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental do Araçá Vermelho........................................................................133

Quadro 15: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental do Guabiju......................................................................................135

Quadro 16: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental do Ingá Feijão................................................................................140

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Quadro 17: Sistematização dos indicadores e das perguntas problematizadoras para

caracterização socioambiental de boas árvores de frutas nativas..........................143

Quadro 18: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Guabiroba.......................................................146

Quadro 19: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Pitanga............................................................148

Quadro 20: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Uvaia...............................................................151

Quadro 21: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Cereja.............................................................153

Quadro 22: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Araçá Vermelho..............................................154

Quadro 23: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Guabiju...........................................................156

Quadro 24: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização

socioambiental de boas árvores de Ingá Feijão......................................................157

Quadro 25: Síntese das características das boas árvores de Guabiroba indicada

pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação...............................161

Quadro 26: Síntese das características das boas árvores de Pitanga indicada pelos

grupos como possíveis espécimes para a multiplicação....................................... 163

Quadro 27: Síntese das características das boas árvores de Uvaia indicada pelos

grupos como possíveis espécimes para a multiplicação.........................................164

Quadro 28: Síntese das características das boas árvores de Cereja indicada pelos

grupos como possíveis espécimes para a multiplicação.........................................165

Quadro 29: Síntese das características das boas árvores do Ingá Feijão indicada

pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação...............................166

Quadro 30: Síntese das características das boas árvores de Araçá Vermelho

indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação................167

Quadro 31: Localização e coordenada geográfica das boas árvores de frutas nativas

indicadas pelos grupos.......................................................................................... 168

Quadro 32: Localização e coordenada geográfica das boas árvores de frutas nativas

indicadas pelos grupos.......................................................................................... 169

Quadro 33: Sistemas produtivos principais dos Grupos e o nível de prioridade de

cada sistema.......................................................................................................... 172

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Tabela 34: Resultado da distribuição das mudas confeccionadas das boas árvores

de frutas nativas da safra 2016- 2017.....................................................................177

Quadro 35: Plano de ação para multiplicação das boas árvores............................ 179

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LISTA DE SIGLAS

APAMPA Associação dos Agricultores do MPA

APL Arranjos Produtivos Locais

AquaNEA Núcleo de Estudos em Aquicultura com Enfoque Agroecológico

CDB Convenção Sobre Diversidade Biológica

CEAGRO Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em

Agroecologia

CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

COPERJUNHO Cooperativa Agroindustrial 8 de Junho

CUT Central Única dos Trabalhadores

ECO-92 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

EEI Espécie Exótica Invasora

IAP Instituto Ambiental do Paraná

FETRAF-SUL Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar na Região

Sul

IUCN International Union for the Conservations of Natures and Nature

Resources.

MAPA Ministério da Agricultura e Pecuária

MPA Movimento dos Pequenos Agricultores

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NEA –Ssan Núcleo de Estudos em Soberania e Segurança

Karu Porã Alimentar e Nutricional

NEA Núcleo de Estudos em Agroecologia

NECOOP Núcleo de Estudos em Cooperação

ONU Organização das Nações Unidas

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PLANAPO Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de

Agroecologia Extrativismo e Produção Orgânica

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

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PNPPS Plano Nacional das Cadeias dos Produtos da

Sociobiodiversidade

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

SPG Sistema Participativo de Garantia

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

UFFS Universidade Federal da Fronteira Sul

WWF World Wide Fund for Nature

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SUMÁRIO

1 CAPITULO I: UM POUCO DA HISTÓRIA... ......................................... 21 1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS ........................................................................ 21 1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................. 24 1.2.1 Pesquisa-ação: a mística do hífen ..................................................... 24 1.2.2 Ferramentas de pesquisa: a materialidade do método .................... 27 1.3 OS ATORES SOCIAIS E SEU CONTEXTO .......................................... 34 1.2.3 O Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia ....... 37 1.4 FASES DA PESQUISA .......................................................................... 41 2 CAPÍTULO II: AGROECOLOGIA E DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS,

POR UMA RELAÇÃO QUE PROMOVA A SOCIOBIODIVERSIDADE.46 2.1 A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO COLONIAL NA INVISIBILIDADE DAS

FRUTAS NATIVAS ................................................................................. 46 2.1.1 O Rural “desse lado da linha”: epistemicídios, revolução verde e

impérios alimentares ........................................................................... 51 2.2 A DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS, UMA HISTÓRIA BIOCULTURAL .. 61 2.3 AGRO, SOCIO E/OU BIO DIVERSIDADE? ........................................... 65 2.4 AGROECOLOGIA, DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS E

SOCIOBIODIVERSIDADE: FORÇAS DA VIDA ..................................... 72 2.5 A SOCIOBIODIVERSIDADE PRESENTE NOS GRUPOS: UM RECORTE

DA CADEIA DE FRUTAS NATIVAS DA CANTUQUIRIGUAÇU ............. 81 2.5.1 Frutas Nativas Prioritárias na Cadeia das Frutas Nativas da

Cantuquiriguaçu .................................................................................. 91 3 CAPITULO III: UM OLHAR SOCIOAMBIENTAL PARA AS FRUTAS

NATIVAS.............................................................................................. 101 3.1 UM CONCEITO PARA FRUTA NATIVA ............................................... 101 3.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DAS FRUTAS NATIVAS .... 108 3.2.1 Guabiroba ............................................................................................ 111 3.2.2 Pitanga ................................................................................................ 117 3.2.3 Uvaia ................................................................................................... 122 3.2.4 Cereja .................................................................................................. 127 3.2.5 Araçá Vermelho .................................................................................. 131 3.2.6 Guabiju ............................................................................................... 135 3.2.7 Ingá Feijão .......................................................................................... 138 4 CAPITULO IV: OS CAMINHOS PARA A MULTIPLICAÇÃO DAS BOAS

ÁRVORES ........................................................................................... 142 4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DAS BOAS ÁRVORES ...... 142 4.2 IDENTIFICAÇÃO DE MATRIZES ........................................................ 158 4.3 A MULTIPLICAÇÃO DAS FRUTAS NATIVAS ...................................... 172 4.3.1 Plano de ação local para a multiplicação ........................................ 178 4.4 AS PAISAGENS DA MULTIPLICAÇÃO DAS FRUTAS NATIVAS ........ 180 4.5 A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO PÓS COLONIAL NA VALORIZAÇÃO

DAS FRUTAS NATIVAS ....................................................................... 186 4.5.1 O Rural “do outro lado da linha”: ecologia de saberes, Agroecologia

e circuitos de proximidade ............................................................... 190 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 198 6 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 203 7 ANEXO I: DETALHAMENTO DO MÉTODO ........................................... 215

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CAPITULO I: UM POUCO DA HISTÓRIA...

Onde quer que haja mulheres e homens,

há sempre o que fazer, há sempre o que

ensinar, há sempre o que aprender

Paulo Freire (2004).

Neste capítulo serão abordados dois itens. No primeiro será apresentada a

introdução da pesquisa, que por uma analogia e homenagem a Paulo Freire 1

intitulamos de primeiras palavras. Na sequência, o item procedimentos metodológicos

exibi informações sobre o método, as ferramentas e as fases da pesquisa, bem como

seu local e público.

1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS

O Brasil é o país com a maior megadiversidade do mundo. Entende-se por

países megadiversos dezessete nações que unidas representam 80% da

biodiversidade do planeta (MITTERMEIER et al. 1998). Essa grande biodiversidade é

resultado de um processo milenar que envolve fatores como incidência de luz solar,

nível pluviométrico, formação dos solos, ciclagem de nutrientes, e a relação flora-

fauna. Em conjunto com esses fatores, é necessário somar o manejo de mulheres e

homens que no decorrer da história da espécie humana, sobretudo pela domesticação

de plantas, animais e paisagens, contribuíram para a promoção da diversidade

biológica e cultural do planeta (CLEMENT, 2001), em outros termos, a

sociobiodiversidade (MDA, 2017).

Porém, esse processo coevolutivo que promove a diversidade está sendo

comprometido, sobretudo pelo avanço de um modelo de globalização hegemônico,

tributária de um pensamento colonial, que visa implantar ao mundo um único modo

de produzir, comercializar, validar o conhecimento e se relacionar com a Natureza e

com o outro (SANTOS, 2010). Essa globalização hegemônica vêm causados diversos

impactos na sociobiodiversidade, como a homogeneização dos modos de produção,

espécies utilizadas e maneiras de comercializar (SANTOS, 2005). No âmbito das

1 Paulo Freire utiliza esta expressão na introdução de suas obras.

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frutas nativas2, foco desta pesquisa, estes impactos são severos. Isso por que elas,

bem como o processo de domesticação que contribui para sua formação, são

invisíveis aos olhos dos que fomentam a globalização hegemônica. Como resultado,

tanto o processo de domesticação quanto as árvores e as paisagens onde elas são

inseridas são eliminadas. Em seu lugar são implantadas grandes áreas de

monoculturas produzidas sobre as insígnias da revolução verde que pouco ou quase

nada contribuem para a sociobiodiversidade (GLIESSMAN,2001).

No entanto, a globalização hegemônica não é o único modo de existir (embora

seus defensores alardem que seja). Outros mundos não só são possíveis e

necessários, quanto existem. Estes outros mundos são por essência diversos e se

unem sob uma outra forma de globalização, a globalização conta-hegemônica

(SANTOS, 2010). Como é o caso da emergência da Agroecologia que através de um

olhar complexo para as dimensões ecológica -produtiva, sócio-econômica e sócio-

política almeja criar relações mais justas entre os seres humanos e a Natureza

(SEVILLA-GUZMÁN, 2002). Nesse contexto se inserem as frutas nativas, que tendem

a serem valorizadas, cuidadas e promovidas.

Neste contexto emerge esta pesquisa. Sua justificativa é centrada na

urgência do resgate e promoção de um processo de domesticação de plantas,

com ênfase nas frutas nativas, que contribua para a expansão da

sociobiodiversidade, já que acredita-se que outros mundos não só são possíveis e

necessários, como já existem e precisam ser promovidos.

Já as perguntas de pesquisa que se almeja responder são:

a) As frutas nativas fazem parte do cotidiano dos grupos pesquisados? Seu

potencial é bem utilizado pelas famílias? O que poderia influenciar a valorização

ou invisibilidade das frutas nativas?

b) Quais são as características socioambientais e as espécies prioritárias para

se fomentar um processo de domesticação de plantas?

c) Quais os caminhos para multiplicar as frutas nativas? Quais as características

socioambientais de boas matrizes? Há boas matrizes nos agroecossistemas das

famílias?

2 Nesta pesquisa o termo “frutas nativas” é sinônimo de espécies arbóreas frutíferas nativas do bioma mata atlântica. No item 3.1 se detalha essa escolha. .

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Para responder estas perguntas, elaborou-se o seguinte objetivo principal:

promover um processo de domesticação, com ênfase nas frutas nativas, através

dos princípios da Agroecologia e que fomente a sociobiodiversidade. Para

alancar este objetivo, foi proposto os seguintes objetivos específicos:

a) Problematizar a influência do pensamento colonial na inviabilidade das frutas

nativas;

b) Identificar quais frutas nativas são prioritárias para promover um processo de

domesticação de plantas e analisar a inserção destas espécies no cotidiano dos

agricultores;

c) Caracterizar os aspectos sociais e ambientais das espécies prioritárias a partir

dos saberes dos agricultores;

d) Caracterizar os aspectos sociais e ambientais de boas árvores das espécies

prioritárias a partir dos saberes dos agricultores;

e) Apontar tendências para a valorização das frutas nativas a partir das

premissas do pensamento pós-colonial.

O público desta pesquisa foi constituído por 33 famílias de seis grupos de

agricultores inseridos no Núcleo Luta Camponesa, vinculado na Rede Ecovida de

Agroecologia. Este núcleo está situado nos Territórios da Cidadania, do Estado do

Paraná, Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. O método proposto é a pesquisa-ação

(THIOLLENT, 2011) e é dividido em quatro fases: i) problematização das frutas nativas

e indicação de espécies prioritárias; ii) caracterização socioambiental das espécies

prioritárias; iii) caracterização socioambiental de boas árvores e; iv) multiplicação das

boas árvores.

A estrutura da dissertação, além deste capitulo introdutório é composta por

quatro capítulos. O capítulo II (Agroecologia e Domesticação de Plantas: por uma

relação que promova a sociobiodiversidade) problematiza a influência do pensamento

colonial na invisibilidade das frutas nativas domesticação de plantas,

sociobiodiversidade e Agroecologia, bem como analisa a interação entre elas. Além

disso, há a apresentação de alguns aspectos centrais da cadeia das frutas nativas

que os grupos destas pesquisa se inserem e quais são as espécies indicada por eles

como prioritárias. No capítulo III (Um Olhar Socioambiental para as Frutas Nativas) há

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uma conceituação para o termo fruta nativa, e a caracterização socioambiental das

espécies indicadas pelos grupos como prioritárias. No capítulo IV (Os caminhos para

a multiplicação das Boas Árvores) caracteriza-se o que boas matrizes de frutas nativas

precisam possuir e apresenta-se a localização georrefrenciada de boas árvores

apontadas pelos agricultores como matrizes. Também há uma descrição dos

principais caminhos para a multiplicação das frutas nativas e a indicação de

alternatividades para valorização das frutas nativas de acordo com as premissas do

pensamento pós-colonial. Por fim, o capítulo V (Considerações Finais) trata das

reflexões e conclusões que esta pesquisa gerou.

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este item irá expor informações sobre o método, as ferramentas e as fases da

pesquisa, bem como seu público e local. Embora não seja objeto destas palavras

discorrer sobre questões epistemológicas e metodológicas que uma pesquisa pode

trilhar, é necessário delimitar o que se entende por metodologia, método e ferramenta.

Thiollent (2011) classifica metodologia como disciplina cientifica que trata os

métodos, mecanismos de validação do conhecimento, e as técnicas de investigação.

Já o método está vinculado com a estratégia escolhida para a pesquisa, tanto em

relação às técnicas utilizadas quanto ao modo de definir perguntas, objetivos,

hipótese, diretrizes e a forma de coletar, sistematizar e analisar os dados. A Técnica

é o conjunto de atividades que são utilizadas em cada fase empírica da pesquisa. A

diferença entre método e técnica reside no caráter prático desta última. Note-se que,

por uma questão de comunicação, a palavra técnica será substituída por ferramenta

neste trabalho.

De acordo com essa classificação, o próximo item irá apresentar o método

deste trabalho, a pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011; DESROCHE 2006).

1.2.1 Pesquisa-ação: a mística do hífen

A pesquisa-ação pode ser definida como um método de pesquisa qualitativo

(THIOLLENT, 2011; DESROCHE 2006). Atualmente ela está sendo utilizada por

diversos sujeitos em distintos contextos, desde a gestão empresarial até em projetos

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de desenvolvimento participativo e de países de tradição socialista como a Bulgária

até no seio do neoliberalismo, como os Estados Unidos da América. (THIOLLENT,

2006). Neste contexto múltiplo:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada com estreita associação com uma ação ou como a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2011, p. 20)

Para Desroche (2006), numa pesquisa-ação, ao invés da separação entre

sujeito e objeto, há uma interação entre dois tipos de personagens: os autores da

pesquisa (AUT) com os atores sociais (AU). Os AUT são os responsáveis pela

pesquisa enquanto os AU estão vinculados à ação. Nessa interação, pode emergir um

ambiente de cooperação em que ora o autor se trone co-ator da ação, ora o ator se

torne co-autor da pesquisa. Ou seja, os atores deixam de ser apenas objetos de

observação, de explicações ou de interpretações. Eles se tornam sujeitos, partes

atuantes na pesquisa, enquanto os autores se encontram reciprocamente imbricados

na realidade, alterando e sendo alterado por ela. Desde modo, a pesquisa-ação pode

ser considerada como um método permeado de incerteza, mas que tende a construir

pesquisas mais complexas (THIOLLENT, 2006).

Nessa complexidade, não há um roteiro único para elaboração e execução de

uma intervenção que utilize-se do método da pesquisa-ação. Por outro lado, quatro

aspectos são centrais para caracterizar o tipo da investigação e aumentar suas

chances de sucesso: i) o perfil; ii); a trajetória; iii) a tipologia e; a iv) dialética

(DESRCOCHE, 2006).

Por perfil de uma pesquisa entende-se o número de autores e atores envolvidos

diretamente no processo, sendo que ele pode ser individual ou coletivo. A trajetória

diz respeito a maneira que ela se inicia, isto é, sair da ação para entrar na pesquisa

ou, a partir da pesquisa entrar na ação. No do caso da primeira, a pesquisa surge de

algo que está acontecendo ou por um problema apresentado pelos atores. Já na

segunda, é o autor que inicia uma proposta de pesquisa, contudo, busca-se que no

decorrer das atividades os atores façam parte dela (DESRCOCHE, 2006).

A tipologia na pesquisa-ação está relacionada com as condições e as

características da resposta-análise que se almeja alcançar. Ela pode ser classificada

de três maneiras: i) pesquisa de explicação ou pesquisa-sobre: é uma pesquisa sobre

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a ação, mas sem a ação; ii) pesquisa de aplicação ou pesquisa-para : neste perfil é o

autor que propõe as respostas ou consequências de uma ação ou pesquisa, mas

durante o processo a influência dos atores sociais pode modifica-la ou confirmá-la e;

iii) pesquisa de implicação ou pesquisa-por: nessa categoria, as respostas são obtidas

pela integração entre os autores da pesquisa com os atores sociais. Nela os autores

tornam-se co-atores de uma ação, ou/e os atores de uma ação tornam-se co-autores

de uma pesquisa. Essa categoria pode ser considerado o tipo de pesquisa-ação mais

promissor, como também o mais complicado, já que pode-se estar exposto a

domesticação da pesquisa pela ação ou pela manipulação da ação pela pesquisa.

A dialética está relacionada ao contexto em que é construído o diálogo entre os

personagens de uma pesquisa, ou seja, o(s) autor(es) da pesquisa e o(s) ator(es)

sociais da pesquisa. Nessa construção é levado em conta se os personagens

analisam a si próprio ou ao outro (autor analise autor ou vice-versa). Se o papel dos

personagens se mantém os mesmos desde o início do processo ou se há uma

hibridação entre eles, bem como se os personagens são plurais ou individuais. Em

outro termos, a dialética se refere sobre quem são os personagens da pesquisa e

como acontece a troca de informações entre eles durante a pesquisa e ação.

De fato, ao analisar os quatro aspectos citados por Desroche (2006) da

pesquisa-ação, pode-se confirmar a complexidade do método e os diversos contextos

que ela tem condições de se adaptar. Contudo, a chave para o sucesso (ou fracasso)

de e uma pesquisa-ação não reside na relação entre as características do contexto

de uma investigação (seu perfil, trajetória, tipologia ou dialítica). Ela reside no enigma

do hífen (DESROCHE, 2006. p.58) entre os termos pesquisa e ação. O hífen não liga

apenas um item ao outro, ele é um símbolo da busca pela hibridação da ação na

pesquisa e vice versa. Nessa hibridação

(...) dependendo das tendências ou dos humores, uns usam o hífen para separar, outros o usam para juntar esses papéis. Os melhores e mais obstinados se esforçam para separar e para juntar (DESROCHE, 2006, p. 58).

Bem, nessa lógica de misturar autores com atores, este trabalho usa como

método a pesquisa-ação para promover a religação de mulheres e homens com as

frutas nativas. Para dar materialidade a esta religação, o próximo item expõe as

ferramentas utilizadas durantes as atividades de campo desta pesquisa.

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1.2.2 Ferramentas de pesquisa: a materialidade do método

A apresentação das ferramentas utilizadas no método desta pesquisa replica a

forma que Frans Geilfuls (1997) comenta as ferramentas descritas em seu livro “80

Herramientas para el Desarrollo Participativo”. Isto é, cada ferramenta tem seu a)

objetivo, b) tempo necessário, c) material necessário e d) como fazer detalhado. Além

disso cabe destacar dois aspectos. O primeiro se refere a adaptações feitas das

ferramentas originais para a realidade desta pesquisa, pois buscou-se seguir a mesma

linha de raciocínio e os objetivos, mas foram realizadas adaptações de acordo com o

contexto em que emerge essa pesquisa. Com isso, o que originalmente em alguns

casos os autores consideram como método, a observação participante por exemplo,

adaptou-se como uma ferramenta do método deste trabalho. O segundo aspecto diz

respeito ao detalhamento de cada ferramenta (material, tempo e como fazer). As

respostas desses quesitos tem como referência as atividades realizadas nesta

pesquisa, podendo ser adaptadas a outras realidades, assim como elas forma

adaptadas a realidade deste trabalho.

- Observação Participante:

-Objetivo: Iniciar a aproximação entre os autores da pesquisa com os atores sociais,

em outros termos, entre quem inicialmente está facilitando o processo e quem está

sendo o público beneficiário da oficina. Essa fase exploratória contribuir para criar uma

relação de empatia entre os personagens da atividade, bem como diagnosticar

questões chaves para o aprofundamento das ações na comunidade (DEMO, 2008).

-Tempo Necessário: adaptável de acordo com o objetivo da pesquisa, condições de

logística de quem facilita e o prazo de finalização do processo. Contudo, sugere-se

pelo menos duas atividades com a comunidade para identificar os pontos chaves

-Material Necessário: caderno, caneta e máquina fotográfica.

-Como fazer: Através da participação em atividades coletivas da comunidade, visitas

individuais às famílias e/ou atores com notório conhecimento do tema que deseje-se

aprofundar, o pesquisador se apresenta a comunidade explicando suas intenções

enquanto o grupo apresenta a comunidade. Recomenda-se que nessa primeira

aproximação alguém que conheça o grupo e o facilitador esteja presente, visando

ajudar na aproximação entre ambos. Após a atividade de apresentação deve-se

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continuar a participação nas atividades coletivas e visitas afim de registrar os pontos

chaves para um eventual aprofundamento (DEMO, 2008). Uma sugestão de passo à

passo para essa ferramenta é: i) participação de uma atividade coletiva do grupo para

que o grupo e o pesquisador apresentem brevemente sua realidade e objetivos,

respectivamente; ii) participação do pesquisador em outras atividades coletivas do

grupo bem como em visitas individuas; iii) sistematização do registros identificados

(falas, impressões e fotografias por exemplo) visando aprofundar o tema de pesquisa

por meio de outras ferramentas, modificar ou suspender a pesquisa.

- Painéis Explicativos:

-Objetivo: Os painéis explicativos tem como objetivo contribuir na apresentação e

problematização de certo tema. O funcionamento é similar ao de se projetar uma

apresentação construída no computador, contudo os painéis permitem um interação

maior entre quem facilita a apresentação com o público beneficiário, pois além de

escutar, ver e falar durante a oficina, os painéis permitem “pegar” o conteúdo

problematizado.

-Tempo Necessário: adaptável de acordo com tamanho do conteúdo. Porém sugere-

se no mínimo 10 minutos para que que todos os participantes “peguem” os painéis.

-Material Necessário: papel cartão, cola, tesoura, fita adesiva, pincel atômico e

imagens impressas.

-Como fazer: Essa ferramenta consiste em colar fotografias, imagens, gráficos em

cartolinas ou faixas e apresentá-las aos participantes de uma reunião na medida em

que há a problematização sobre o tema pelo pesquisador (STEENBOCK et al, 2013).

Na fotografias 1 e 2 pode-se observar os painéis sendo utilizados.

Um possível passo à passo da ferramenta é: i) definir o tema a ser facilitado

durante a oficina; ii) preparar um roteiro do que será facilitado; iii) escolher imagens,

fotos ou confeccionar desenhos e colá-los, preferencialmente em papel cartaz,

visando construir uma sequência lógica do processo. Note-se que imagens onde

apareçam os sujeitos que estão fazendo parte da atividade, ou pessoas e situações

próximas à eles, fomenta a curiosidade sobre o painel; iv) realizar a oficina e

problematizar o assunto de cada painel confeccionado com os sujeitos envolvidos e;

v) passar os painéis para todos os envolvidos na oficina para que possam ver de perto

o produto.

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Fotografias 1 e 2: Na fotografia 1 exemplos de painel explicativo sobre a domesticação das frutas nativas, na fotografia 2 o uso dos painéis numa oficina no grupo Terra Livre.

- Matriz de Priorização:

-Objetivo: a matriz de priorização visa contribuir na tomada de decisão de um

determinado assunto sem se centra na dicotomia sim/não. Ao invés disso, o objetivo

é criar um ambiente de debate envolvendo as diversas possibilidades de uma questão

e a partir daí construir uma escala de prioridade (GEILFULS, 1997).

-Tempo Necessário: de 10 à 20 minutos por “rodada de votação”, caso o tema a ser

votado já esteja problematizado.

-Material Necessário: papel kraft, quadro branco ou cartolina, fita adesiva e pincel

atômico.

-Como fazer: as possíveis respostas de uma discussão são inseridas num local

(cartolina e quadro por exemplo) onde todos os participantes da oficina possam

visualizar. Em seguida é informado a quantidade de votos que cada participante tem

Fonte: Pesquisa de campo

1

2

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direito3 e solicitado que todos votem. Cabe ressaltar que facilitar para que o máximo

de participantes “votem ao mesmo tempo” ajuda a aumentar a integração entre os

votantes. Por fim é realizada a contagem de forma coletiva e perguntado se o grupo

referenda aquele resultado ou se deseja alterá-lo (GEILFULS, 1997). As fotográficas

3 e 4 mostram a elaboração e o resultado final de uma matriz de priorização para as

espécies prioritárias. Um passo a passo desta ferramenta é: i) identificar as possíveis

respostas de forma coletiva; ii) informar aos presentes o funcionamento da ferramenta

(número de votos por pessoa, diversas respostas); iii) colocar as respostas num local

visível (quadro ou cartolina por exemplo); iv) solicitar que todos votem; v) contar os

votos e discutir o resultado e; vi) manter o resultado ou refazer a votação.

- Matriz de diagnostico:

-Objetivo: Essa matriz tem como objetivo responder questões relacionadas ao

diagnóstico de um determinado tema. Nela é possível construir um olhar para certo

aspecto da realidade de forma coletiva. Deste modo, ao mesmo tempo que cada

3 No geral são mais de um voto por participante. A escolha da quantidade depende do número de respostas possíveis e de participantes. No caso dessa pesquisa utilizou-se 5 votos por representantes em virtude da quantidade de escolhas e de participantes das oficinas, sendo que tal escolha foi considerada positiva no pré-teste realizado.

Fotográficas 3 e 4: Na fotografia 3, representantes do grupo Terra de Todos durante o preenchimento da matiz de priorização. Na fotografia 4 o resultado da matriz de priorização das frutas nativas prioritárias.

Fonte: Pesquisa de campo.

3 4

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sujeito pode melhorar seu diagnóstico de certo tema, se constroem informações de

como o coletivo está se relacionando com este tema (GEILFULS, 1997).

-Tempo Necessário: de 10 à 30 minutos

-Material Necessário: papel kraft, quadro branco ou cartolina, fita adesiva e pincel

atômico.

-Como fazer: a partir da problematização de certo aspecto da realidade, identifica-se

questões chaves para o diagnostico deste aspectos. Embora não seja obrigatório, é

interessante pensar em perguntas que gerem respostas objetivas, mesmo que não

precisas, tais como: quantas árvores de Guabiroba existem no agroecossistema de

cada família? Em seguida, o resultado do diagnóstico, dentro do possível, é construído

em conjunto com os participantes e debatido sua implicação (GEILFULS, 1997). Um

passo à passo da ferramenta é: i) identificar questões chaves para o diagnóstico; ii)

formular as questões, se possível buscando dados objetivos, iii) inserir as questões

em locais visíveis (um quadro ou cartolina por exemplo); iv) realizar as perguntas de

forma individual para cada família na frente do coletivo e inserir a resposta na matriz

e; v) sistematizar os principais aspectos dos resultados em conjunto com os presentes.

Na fotografia 5 pode-se visualizar um exemplo da matriz de diagnostico.

Fotografia 5: Matriz de diagnóstico utilizado no aprofundamento de questões de espécies de frutas nativas classificadas como prioritárias.

Fonte: o Autor

- Matriz Estrela

-Objetivo: Essa ferramenta é uma adaptação da ferramenta de “gráfico de radar”

(GEILFUS, 1997) e do diagrama MVS, Modos de Vida Sustentáveis, (STEENBOCK,

et al 2013) e visa analisar e monitorar, de forma participativa e visual o resultado de

aspectos de uma dada realidade. Para isso, ela se utiliza da construção de eixos de

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similaridade que serão valorados de forma coletiva. A sistematização deste processo,

além de criar um resultado visual que permite comparar as notas de cada eixo, pode

servir como estratégia de monitoramento da realidade na medida em que se repita o

processo no decorrer do tempo. Cabe destacar que a utilização desta ferramenta

levou em conta a estratégia que Steenbock et al (2013a) utilizaram para a geração e

uso de indicadores de sistemas agroflorestais na Associação de Agricultores

Agroflorestais de Barra do Turvo e Adrianópolis- COOPERAFLORESTA.

-Tempo Necessário: de 10 à 20 minutos.

-Material Necessário: papel kraft, quadro branco ou cartolina, fita adesiva e pincel

atômico.

-Como fazer: após a escolha do assunto, deve-se construir, em conjunto com o público

da atividade, indicadores que classificam o tema escolhido. Esses indicadores são

agrupados em eixos de similaridade. Cada eixo vira uma “ponta da estrela” e deve ser

votado qual nota melhor representa cada eixo. Cabe destacar que a elaboração de

perguntas que problematizem o significado de cada eixo contribui para a indicação

das notas. No final da atividade o resultado é discuto, podendo ser alterado ou

referendado pelo grupo. No decorrer do tempo o processo pode ser repetido, tanto no

que se refere as notas quanto aos eixos propostos, configurando-se assim numa

ferramenta de monitoramento da realidade. As figuras 6 e 7 expõem um exemplo

hipotético da matriz estrela elaborada para avaliar características socioambientais de

boas matrizes de Guabiroba. (STEENBOCK et al, 2013 a).

Figuras 6 e 7: Na figura 6,preencimento hipotetico da matriz estrela para avaliar as caracteristicas socioambientais de boas matrizes de Guabiroba. Na foto 7 o resultado hipotetico do preenchimento da matriz estrela para Guabiroba.

Fonte: o Autor adaptado de STEENBOCK et al, 2013 a.

6 7

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33

Uma sugestão de passo à passo para o planejamento e aplicação da

ferramenta matriz estrela é: i) construção coletiva de indicadores, ii) agrupamento dos

indicadores em eixos de similaridade onde cada eixo se configura numa “ponta da

estrela”; iii) articular uma oficina com os agricultores e preencher a valorização dos

eixos, de acordo com uma escala que pode ir de 0 à 10, com ajuda de perguntas que

problematizem cada eixo; iv) discussão e referendo ou não do resultado e; v) repetição

do processo caso exista interesse em monitorar o processo.

-Questionário de perguntas objetivas

-Objetivo: responder algumas perguntas objetivas acerca de temas já abortados

anteriormente.

-Tempo Necessário: adaptável de acordo com a quantidade de perguntas, mas

sugere-se algo em torno de 10 à 20 minutos.

-Material Necessário: caneta, prancheta e questionário impresso.

-Como fazer: após o uso de outras ferramentas que problematizem e gerem

encaminhamentos, monta-se um roteiro com perguntas diretas visando aprofundar

determinados aspectos das atividades anteriores. Cabe destacar que, embora as

respostas sejam objetivas, a forma de fazê-las não precisar ser. Usar elementos da

entrevista semi-estruturada, ou seja, transformar as perguntas objetivas em tema de

conversa facilita a interação entre quem pergunta e quem responde. Após a

finalização do roteiro deve-se sistematiza-lo e apresentar a resposta ao grupo,

vinculando sempre ao processo que gerou o roteiro (GEILFULS, 1997). Um passo a

passo desse processo é: i) identificar em oficinas coletivas situações que carecem ser

aprofundadas; ii) montar um questionário com perguntas objetivas; iii) aplicar o

questionário; iv) sistematização do resultado; v) apresentação do resultado vinculando

a conjuntura que gerou o questionário.

-Cadernos da Multiplicação das Frutas Nativas

-Objetivo: anotar informações referente a uma atividade de campo visando a

sistematização, monitoramento e avaliação de um determinado tema (GEILFULS,

1997), no caso desta pesquisa a multiplicação das frutas nativas.

-Tempo Necessário: adaptável de acordo com a quantidade de perguntas.

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-Material Necessário: caneta, roteiro de perguntas impresso e computador.

-Como fazer: após a definição de quais informações precisam devem ser analisadas,

elabora-se perguntas, de caráter objetivo, para servir de guia na sistematização e

posterior análise de um determinado assunto, que no caso desta pesquisa foi

relacionado a coleta de frutas/sementes, confecção e distribuição de mudas das frutas

nativas. Após anotar estas informações no papel, elas devem ser transcritas para o

computador e socializadas entre os sujeitos envolvidos. Cabe destacar que, embora

as respostas sejam objetivas, a forma de faze-las não precisar ser. Usar elementos

da entrevista semi-estruturada, ou seja, transformar as perguntas objetivas em tema

de conversa facilita a interação entre quem pergunta e quem responde. Um passo à

passo para essa ferramenta é: i) definição de quais informações precisam ser

analisadas; ii) confecção e impressão de um roteiro com perguntas sobre as

informações; iii) preenchimento do roteiro; iv) transcrição do roteiro para um

computador e; v) socialização dos resultados com os agentes envolvidos.

1.3 OS ATORES SOCIAIS E SEU CONTEXTO

Este item tem como objetivo descrever o público desta pesquisa, isto é, os

atores sociais e o autor desta pesquisa4 bem como o contexto onde estão inseridos.

Os atores sociais são agricultores inseridos em grupos agroecológicos vinculados ao

Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia. Mesmo não sendo o foco

desta palavras discorrer sobre a formação histórica deste espaço, é prudente apontar

algumas características centrais do uso e ocupação do solo no decorrer do tempo.

Para realizar tal caracterização, é necessário considerar os aspectos da região que o

Núcleo se insere, isto é, a mesorregião centro oeste do Estado do Paraná (STUMER,

2016). Tal espaço é constituído majoritariamente por formações florestais do

ecossistema floresta ombrófila mista (FOM) ou floresta de araucária, bem como

algumas manchas de campos, sobretudo na sua porção leste. A mesorregião também

possui um relevo levemente ondulado e uma rica hidrografia, sendo o rio Iguaçu o

mais importante (IPARDES, 2015). Em virtude do processo de litoralização brasileira,

a colonização do centro oeste paranaense foi tardia se comparada ao litoral. Mesmo

4 Cabe destacar que no decorrer deste trabalho, sobretudo no item 2.4 tais atores e as organizações que interferem em seu cotidiano serão pormenorizadas.

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com a presença de povos indígenas como os kaikang e algumas experiências de

colonização na região, é a partir do início do século XX que tal processo se intensifica,

especialmente entre os anos de 1920 e 1950. Esse movimento é tributário da “marcha

para o oeste” promovida pelo governo Getúlio Vargas que chega no centro oeste

paranaense de duas maneiras: i) migrantes europeus refugiados da primeiro e da

segunda guerra, bem como de colônias já instaladas no Rio Grande do Sul e Santa

Catarina e; ii) instalações de empresas do ramo madeireiro (FABRINI, 2002).

A instalação de empresas do ramo madeireiro se concentrou na lógica de

extração da madeira, particularmente da Araucária (Araucaria angustifólia) que tinha

como objetivo principal a comercialização no mercado Europeu, pois tal mercado

demandava matéria prima, como madeira, para reconstrução das cidades após a

segunda guerra mundial. Já a colonização dos migrantes europeus se fez via a

instalação de famílias de uma mesma nacionalidade próximas umas das outras, as

colônias. Nesse processo, eram abertas clareiras na floresta e plantado milho e feijão

que tinham como objetivo principal o auto consumo e a alimentação de animais,

principalmente os bovinos e suínos. A dificuldade de logística neste período contribuiu

para que os principais produtos comercializados fossem os bovinos e suínos, pois era

possível locomover tal produção até os centros urbanos (FABRINI, 2002).

Essa dinâmica de ocupação mantém seus traços principais até o início dos

anos de 1970. Nesta década, a retirada desenfreada da floresta de araucária contribui

para tornar escasso a presença de mateira prima nas áreas das empresas do ramo.

Já nas áreas dos agricultores familiares a quantidade de floresta ainda era

significativa, mas a fertilidade dos sistemas produtivos começava a diminuir (FABRINI,

2002). É importante pontuar que enquanto no Brasil há o avanço da agricultura

baseada nos cânones da revolução nessa época, na região há o acumulo de terras

por parte das empresas madeireiras que avança seu território em direção as áreas

dos agricultores familiares em busca de matéria prima (CEZIMBRA, 2013). Outra

característica desta década é o início da construção de sete usinas hidroelétricas na

região. Estas usinas contribuem para deslocar centenas de famílias situadas

originalmente nas áreas alagadas das usinas. A construção da usina hidroelétrica de

Itaipu na cidade de Foz do Iguaçu-PR, na época a maior do mundo também traz para

a região centro oeste famílias deslocada pelo lago da represa. Cabe destacar que boa

parte das famílias residentes nas áreas de alagamento das usinas possuíam

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problemas com os documentos das terras, o que dificultou a indenização das terras

pelo Governo Federal (JANATA, 2012). Dentro deste contexto pode-se afirmar que

(...) é possível perceber que, as disputas de poder desse território são marcadas pela disputa histórica do grande latifúndio com populações tradicionais e pequenos agricultores (com e sem terra) que tentam de alguma maneira se organizar para manter seus espaços na dinâmica territorial (STUMER, 2016, p. 42).

Com os bens naturais se tornando cada vez mais raros e com a concentração

de terras, a década de 1980 é marcada pelo fortalecimento da criação de gado de

forma extensiva em grandes propriedades de terra e o plantio de espécies exóticas

(pinus e eucalipto) para produção de madeira na área das empresas do ramo

(FABRINI, 2002). Outro aspecto deste momento histórico é o fortalecimento dos

movimentos sociais do campo, que culminam em acampamentos na região

organizados pelo Movimento dos Sem Terra do Centro-Oeste do Paraná

(MASTRECO), um dos embriões do MST. Dentro deste contexto, o MST é formado

em janeiro de 1984 e passa a organizar ocupações na região centro oeste de forma

mais sistemática. O conflito mais simbólico é o que envolve a empresa madeireira

Giacometi-Marodin (atualmente sob a figura de Araupel Celulose) com famílias

deslocadas de suas áreas pela própria empresa em questão, pelas barragens e

agricultores sem-terra (CEZIMBRA, 2013).

As lutas envolvendo o acesso ao território resulta na década de 1990 na

conquista de assentamentos de reforma agrária que somam, de acordo com o INCRA

(2010), 49 assentamentos e aproximadamente 4.500 famílias assentadas. Esse

processo de redistribuição fundiária ocorre em vários municípios, e as famílias

beneficiarias de maneira mais ou menos intensa são paulatinamente inseridas no

modelo de agricultura da revolução verde. Tal modelo agrícola passa a existir com

mais frequência na região e substitui a criação de gado de forma intensiva por

monoculturas de milho. Além disso, as monoculturas de pinus e eucaliptos também

aumentam sua área de plantio nesse período. Outro aspecto importante desse tempo

é o fortalecimento da cadeia produtiva do leite (STUMER, 2016).

Já a década de 2000 tem como principais características a consolidação da

revolução verde que avança sobre os assentamentos da reforma agrária e em

grandes proprietários de terra por meio do plantio da soja e milho, bem como a

manutenção das áreas de plantio de pinus e eucalipto. A cadeia produtiva do leite

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também se consolida e passa a ser cada vez mais influente na região, principalmente

para os agricultores familiares e assentados da reforma agrária (STUMER, 2016). Um

exemplo da influência do leite é que no final da primeira década do século XXI, o leite

está entres os três primeiros produtos na composição do Valor Bruto Produção

Agropecuária da maioria dos municípios da região (IPARDES, 2015). Nesta década

também se fortalece na região o Movimento dos Pequenos Agricultores, o MPA. Este

movimento do campo e o MST passam a internalizar em suas lutas a Agroecologia

como meio de produção e vida (CEZIMBRA, 2013; STUMER, 2016). Esse fator é

crucial para a emergência do Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de

Agroecologia, que é detalhado no próximo item.

1.2.3 O Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida de Agroecologia

O Núcleo Luta Camponesa de Agroecologia é fundando oficialmente em 2012

e tem como público 220 famílias assentadas, acampadas e agricultores familiares.

Desse total, 53 famílias e 6 agroindústrias são certificadas como agroecológica,

totalizando uma área de 550 hectares certificados (CARVALHO, 2017). Tal Núcleo

está inserido em dois Territórios da Cidadania do Estado do Paraná: a

Cantuquiriguaçu 5 e o Paraná Centro 6 . Estes Territórios são compostos por 37

municípios que o Governo Brasileiro classificou, no ano de 2008, como locais

prioritários para o aporte de políticas públicas voltadas ao fomento dos direitos sociais

básicos de sua população (BRASIL,2011). Em relação ao índice de desenvolvimento

humano (IDH), o índice dos dois Territórios é de 0,725, número inferior da região Sul

do Brasil (0,831) e da média nacional (0,754). Com uma população aproximada de

420 mil habitantes, a grande maioria residente na zona rural, estes Territórios

representam cerca de 4,5% da população do Estado do Paraná (IPARDES, 2014). No

mapa 8 é exposto a localização geográfica destes territórios.

5 A Cantuquiriguaçu é composta por 20 municípios: Marquinho, Ibema, Diamante do Sul, Foz do Jordão, Virmond, Catanduvas, Rio Bonito do Iguaçu, Campo Bonito, Espigão Alto do Iguaçu, Candói, Cantagalo, Goioxim, Guaraniaçu, Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras, Pinhão, Quedas do Iguaçu, Reserva do Iguaçu, Três Barras do Paraná, Porto Barreiro. 6 O Paraná Centro é formado por 17 municípios: Altamira do Paraná, Boa Ventura de São Roque, Campina do Simão. Cândido de Abreu, Iretama, Laranjal, Manoel Ribas, Mato Rico, Nova Cantu, Nova Tebas, Palmital, Pitanga, Rio Branco do Ivaí, Roncador, Rosário do Ivaí, Santa Maria do Oeste e Turvo.

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38

Mapa 8: Localização dos Territórios da Cidadania Paraná Centro e Cantuquiriguaçu.

Fonte: IPARDES 2014.

Outra característica do Núcleo Luta Camponesa é que ele está inserido no

bioma mata atlântica. A mata atlântica é bioma florestal que originalmente possuía

uma área de 110.182 Km² espalhada do Estado do Rio Grande do Norte ao Rio

Grande do Sul, ocupando cerca13% do território nacional. É um dos biomas mais

degradados no Brasil, restando apenas 10% de sua cobertura original localizado de

forma fragmentada (MMA, 2014). Cabe destacar que a Mata Atlântica tem sua

fitofisionomia heterógena, sendo constituída por um conjunto de formações florestais

e ecossistemas associados como as restingas, manguezais e campos de altitude.

Segundo a literatura, na área de abrangência do Núcleo Luta Camponesa a presença

majoritária é da floresta ombrófila mista (FOM). Em menor quantidade também ocorre

a floresta estacional semidecidual e os campos naturais (IBGE, 2012). Canosa (2016)

indica que o grupos do Núcleo Luta Camponesa estão na FOM ou no ecótono desta

vegetação com a floresta semidecidual.

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39

Em relação à classificação florestal dos municípios que os grupos que fazem

parte desta pesquisa estão inseridos, no mapa 9 se é indicado qual é a cobertura

florestal original deles. Ao observar o mapa 8, pode-se visualizar que os municípios

de Nova Laranjeiras (1), Laranjeiras do Sul (2) e Santa Maria do Oeste (4) estão

localizados na floresta ombrófila mista, enquanto os município de Palmital (5) e

Goioxim (3) além de estarem na FOM também estão inseridos na floresta

semidecidual e os campos, respectivamente. Porém, durante as visitas as unidades

familiares dos grupos, identificou que a fitofisionomia majoritária é o ecótono entre a

da floresta ombrófila mista com a Floresta Semidecidual, como descreveu Canosa

(2016).

Mapa 9: Classificação da cobertura original dos municípios dos grupos que compõem esta pesquisa estão inseridos.

Fonte: IPARDES 2014 adaptado pelo autor.

Dentro deste contexto maior, recortou-se os atores sociais que fizeram parte

desta pesquisa. Para isso utilizou-se os princípios da amostragem intencional. Este

processo consiste na indicação de “um pequeno número de pessoas que são

intencionalmente escolhidas em função da relevância que elas apresentam em

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relação a determinado assunto” (THIOLLENT, 2011 p.61). De acordo com esse

princípio, foram selecionados seis grupos vinculados ao Núcleo Luta Camponesa para

fazer parte da pesquisa. A escolha por esses grupos levou em consideração os

seguintes aspectos: i) relação entre tempo disponível do autor da pesquisa e a

quantidade de grupos; ii) histórico do grupo em relação as frutas nativas observado

pelo autor via observação participante e; iii) desejo do grupo em pesquisar tal tema.

Os grupos dos atores sociais que fizeram parte deste trabalho são compostos

por cerca de 1177 pessoas que formam 33 famílias. Eles estão inseridos em cinco

municípios dos Territórios da Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. Outra

característica destes grupos é sua forte relação com o Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra – MST- e o Movimento de Pequenos Agricultores – MPA-. O quadro

1, sintetiza estas informações.

Quadro 1: Grupos que participaram da pesquisa, bem como os municípios, Territórios da Cidadania e movimentos sociais que pertencem

N Nome do Grupo Município Território da Cidadania

Movimento Social do Campo

1 8 de Junho Laranjeiras do sul Cantuquiriguaçu MST

2 Jabuticabal Goioxim Cantuquiriguaçu MST

3 Palmeirinha Palmital Paraná Centro MPA

4 Recanto da Natureza Laranjeiras do Sul Cantuquiriguaçu MST

5 Terra de Todos Palmital e Santa Maria do Oeste

Paraná Centro MPA

6 Terra Livre Nova Laranjeiras Cantuquiriguaçu MST

Fonte: o Autor, a partir de trabalho de campo.

Após está breve caracterização dos atores sociais desta pesquisa, cabe

organizar uma pequena caracterização do autor desta pesquisa, pois é na articulação

entre estes dois personagens que o método escolhido para este trabalho, a pesquisa-

ação emerge (DESROCHE, 2006). O autor desta pesquisa, desde 2016, é

colaborador no Centro de Desenvolvimento e Capacitação em Agroecologia –

CEAGRO-, organização que presta assessoria em Agroecologia para famílias dos

Territórios da Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro (CEAGRO, 2018). Neste

período o foco das atividades foi na implantação e consolidação de grupos de

7 Levou-se em consideração para definição deste valor todas as pessoas que residem na unidade familiar, mesmo que nem todas tenham participado diretamente das atividades desta pesquisa.

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referência em sistemas agroflorestais, ou SAF’s. Bem como o fomento ao

processamento e comercialização da produção dos SAF’s, incluindo as frutas nativas.

Nesse processo o autor aproximou-se dos grupos do Núcleo Luta Camponesa e a

partir da entrada no Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

da UFFS, as atividades de pesquisa e de assessoria técnica se acumularam,

sobretudo nos seis grupos que fizeram parte desta pesquisa. Esse fato faz com que

ao mesmo tempo que os resultados desta pesquisa tendam a ser mais aprofundado,

a influência do autor nele também aumente.

1.4 FASES DA PESQUISA

O método desta pesquisa é compostos por quatro fases, complementares, que

serão descritas a seguir. Cabe destacar que optou-se por manter nesta seção as

linhas gerais do que foi realizado. No decorrer do texto, na medida em que os

resultados são expostos, será detalhado como foi realizado o procedimento para obter

as informações. Além disso, será apresentado o que foi realizado, bem como algumas

ações planejadas mas que não foram realizadas, atestando assim como verdadeira a

premissa que a pesquisa-ação é um método permeado por incertezas, como alerta

Desroche, (2006).

- Problematização das frutas nativas e indicação de espécies prioritárias

Para realização desta fase, o primeiro passo foi realizar, durante o trabalho

diário do autor desta pesquisa, como descrito anteriormente, observação participante

(DEMO, 1981) com grupos vinculados ao Núcleo Luta Camponesa da Rede Ecovida

de Agroecologia. Nessa etapa foram identificados os seis grupos que fizeram parte

desta pesquisa. Em seguida, realizou-se seis oficinas, uma em cada um dos seis

grupos de agricultores, que foram divididas em quatro etapas. Na primeira etapa foi

apresentado os objetivos e métodos da pesquisa, bem como perguntando se o grupo

gostaria de fazer parte da pesquisa. Na segunda, foi problematizado alguns elementos

da domesticação de plantas com ênfase nas frutas nativas, com o apoio da ferramenta

painéis explicativos (STEENBOCK et al, 2013). Na terceira, por meio da ferramenta

matriz de priorização, construiu-se uma escala com as quatro espécies prioritárias de

frutas nativas de cada grupo (GEILFUS, 1997). Por fim, através da ferramenta matriz

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de diagnostico, levantou-se algumas questões objetivas sobre as espécies prioritárias,

tais como quantidade, local e origem (GEILFUS, 1997). O anexo I apresenta a pauta

desta oficina e algumas fotografias.

- Caracterização socioambiental das espécies prioritárias

A segunda fase da pesquisa, teve como objetivo realizar atividades sobre a

caracterização socioambiental das espécies de frutas nativas que forma indicadas

como prioritárias. Para isso, facilitou-se seis oficinas (uma em cada grupo) para o

preenchimento de forma coletiva da ferramenta matriz estrela (STEENBOCK et al,

2013 a). Essas oficinas foram divididas em quatro etapas. Na primeira foi

problematizado a importância de se caracterizar, de forma participativa, as espécies

de frutas nativas por meio de painéis explicativos (GEILFUS, 1997). Na sequência foi

explicado o funcionamento e os objetivos da ferramenta matriz estrela desenvolvida

para caracterizar as frutas nativas (STEENBOCK et al, 2013 a). A terceira etapa

consistiu no preenchimento, de forma coletiva, de uma matriz estrela para cada fruta

nativa prioritária. Por fim, discutiu-se os resultados com os atores sociais visando

validá-los ou adequá-los. O anexo I apresenta a pauta destas oficinas e algumas

fotografias.

- Caracterização socioambiental de boas árvores

Após a caracterização socioambiental das espécies via matriz de priorização

estrela, deu-se início a terceira fase desta pesquisa. Por isso, realizou-se seis oficinas

(uma em cada grupo) visando caracterizar boas árvores, ou matrizes, para a

multiplicação das frutas nativas prioritárias. Estas oficinas, assim como as que

caracterizaram as espécies, seguiram a sequência de problematizar a importância de

identificar de forma coletiva boas árvores com ajuda de painéis explicativos

(GEILFUS, 1997), explicar o funcionamento e preencher uma matriz estrela para cada

espécie de fruta nativa apontada como prioritária e discutir o resultado (STEENBOCK

et al, 2013 a). O anexo I apresenta a pauta e algumas imagens destas oficinas.

Ao final deste processo perguntou-se aos atores sociais se há em seus

agroecossistemas, plantas que se aproximam da caracterização construída, visando

sua posterior multiplicação. As plantas indicadas como boas matrizes tiveram a

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unidade familiar que estão inseridas anotadas. Além disso, foi informado aos

agricultores que residem nestes locais que haveria visitas para caracterização destes

indivíduos. Para essa caracterização utilizou-se como ferramenta um questionário de

perguntas objetivas (GEILFUS, 1997) sobre as características da árvore e dos frutos.

Depois, cada boa árvore também teve sua coordenada geográfica anotada através do

uso de um equipamento de GPS portátil. No anexo I é apresentado tal questionário

na íntegra.

- Multiplicação das boas matrizes

A quarta fase teve como objetivo promover a multiplicação das boas árvores

via confecção de mudas. Essa fase foi dividida em duas etapas. A primeira foi centrada

num acordo envolvendo a empresa ENGIE Energia, o laboratório de sistemas

agroflorestais da UFFS o CEAGRO. Nele, o autor da pesquisa encaminha as

sementes e/ou os frutos das boas árvores até o responsável pelo viveiro da empresa.

O viveiro produz a muda e identifica sua origem enquanto o CEAGRO e o laboratório

Vivan de Sistemas Agroflorestais da UFFS articulam a entrega para as famílias. A

sistematização das informações do que foi coletado e o estado da confecção das

mudas foram registrados na ferramenta caderno de multiplicação das frutas nativas.

(GEILFUS, 1997). A outra etapa desta fase se refere ao uso da ferramenta observação

participante (DEMO, 1981) durante a conivência com os agricultores visando apontar

as principais estratégias de multiplicação das boas árvores.

Em conjunto com a confecção e distribuição das mudas e a sistematização das

estratégias de multiplicação, planejou-se realizar uma oficina em cada grupo visando

problematizar a forma de plantio, identificar quantas espécies e indivíduos cada família

deseja plantar bem como o local onde isso seria realizado. Entretanto, em virtude dos

problemas de tempo e locomoção apresentado pelo autor desta pesquisa, as oficinas

não foram realizadas8. Estes problemas também colaboraram para que a coleta de

sementes, principalmente na safra de 2017-2018 fossem prejudicadas. Dentro deste

contexto, o quadro 2 sintetiza o procedimento metodológico realizado desta pesquisa.

8 No dia 5 de dezembro de 2017, o autor desta pesquisa teve um problema de saúde que o impediu de se locomover, dificultando assim a realização das oficinas e coletas de sementes planejadas para os meses de dezembro e janeiro.

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Quadro 2: Síntese do método dos procedimentos metodológicos contento as fases, as ferramentas utilizadas e os resultados esperados

Fase Etapa Ferramenta Resultado Esperado

1) Problematização as frutas nativas e indicação de

espécies prioritárias

Identificação de grupos com

potencial e interesse

i) Observação Participante

a) Identificar os grupos para fazer parte da pesquisa

Realizar 6 oficinas sobre a

domesticação das frutas nativas nos

grupos

i) Painéis explicativos ii) Matriz de priorização iii) Matriz de diagnostico

a) Problematizar os conceitos de domesticação de plantas e

frutas nativas; b) escolher as frutas nativas prioritárias para promover a

domesticação; c) diagnosticar algumas

informações das espécies prioritárias.

2)

Caracterização socioambiental das espécies prioritárias

Realizar 6 Oficinas para caracterização socioambiental das

frutas nativas

i) Painéis explicativos

ii) Matriz Estrela

a) Problematizar a importância da caracterização participativa das espécies de

frutas nativas b) Construção e uso de

indicadores para caracterização das frutas

nativas;

3) Caracterização socioambiental de boas árvores

Realizar 6 oficinas

para caracterização socioambiental de

boas árvores

i) Painéis

explicativos ii) Matriz Estrela

a) Problematizar a importância da caracterização participativa de boas árvores

de frutas nativas b) Construção e uso de

indicadores para caracterização de boas

árvores c) indicação de boas árvores de frutas nativas visando sua

multiplicação

Localizar e caracterizar as

plantas indicadas como boas árvores

i) Questionário de perguntas

objetivas

a) localização georreferenciada das boas

árvores b) catalogo com as

informações das boas árvores,

4) Multiplicação

das “boas árvores”

Coleta das sementes de frutas nativas

i) cadernos das frutas

nativas

a) controle da coleta das sementes/ frutas das boas árvores entregues para o

viveiro da empresa ENGIE energia

c) controle da entrega das mudas confeccionadas para

os agricultores

Identificar as maneiras de

multiplicar as frutas nativas utilizada

pelos agricultores

i) observação participante

a) identificar as principais estratégias utilizadas pelos

agricultores para multiplicação das frutas nativas

Fonte: o Autor

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45

Apresentado brevemente os objetivos, procedimentos metodológicos e os

autores sociais e o contexto que eles estão inseridos, cabe iniciar as discussões entre

os temas abordados neste trabalho com as atividades de campo.

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46

CAPÍTULO II: AGROECOLOGIA E DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS, POR UMA

RELAÇÃO QUE PROMOVA A SOCIOBIODIVERSIDADE

A vida dilata-se constantemente em direção a novidade

Fritjof Capra (2002)

Neste capítulo é problematizado alguns aspectos que influenciam a

invisibilidade das frutas nativas, bem como são debatidos os temas domesticação de

plantas, sociobiodiversidade e Agroecologia. Para isso, foram elaborados cinco itens:

o primeiro problematiza como o pensamento colonial contribui para a invisibilidade das

frutas nativas; o segundo traz o conceito de domesticação de plantas e sua ligação

com a memória biocultural da espécie humana; o terceiro apresenta algumas

aproximações e tensões que envolvem os termos biodiversidade, agrobiodiversidade

e sociobiodiversidade; o quarto expõe alguns princípios da Agroecologia e como é sua

relação com os outros temas do capitulo; no quinto é exposto um recorte da

sociobiodiversidade presente nos grupos que fizeram parte desta pesquisa, com

ênfase na cadeia das frutas nativas e a indicação de quais são as frutas nativas

prioritárias para se promover a domesticação. É importante salientar que a

problematização destes temas não cessa nesse capitulo, pois em outros capítulos

eles são retomados.

2.1 A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO COLONIAL NA INVISIBILIDADE DAS FRUTAS NATIVAS

As questões socioambientais, como as que envolvem as frutas nativas, cada

vez mais são tratadas de forma multidimensional, isto é, não podem ser analisados

exclusivamente do ponto de vista biológico ou social, mas sim na junção destes

aspectos. Neste sentido, para problematizar certa invisibilidade das frutas nativas, um

aspecto que deseja-se abortar nestas palavras é a influência do pensamento colonial

no rural, sobretudo no que tangue a relação do ser humano com as frutas nativas.

Todavia, antes de discorrer sobre essa relação é interessante apresentar um recorte

do que entende-se por pensamento colonial.

Autores como Santos e Meneses (2010), Quijano (2010), Dussel (1993),

afirmam que vivemos num período marcado pelo pensamento colonial. Cabe destacar

que, embora não seja o ideal, agrupamos a leitura da colonialidade do poder de

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(QUINJANO 2005 e 2010) com as referências do coleção Reinventar a Emancipação

Social para Novos Manifestos (SANTOS, MENESES 2010; SANTOS 2002; 2009;

(SANTOS, MENESES, NUNES 2005) no termo pensamento colonial.

Este pensamento se inicia com a “descoberta da América” e desde seu início é

forjado por duas linhas abissais (SANTOS, 2010). Uma visível, que separa o novo do

velho mundo, a colônia da metrópole, e outra invisível, que sustenta a visível, que

separa a realidade social em dois universos distintos: o universo “desse lado da linha”

e o universo do “outro lado da linha”. Sendo que estar desse lado da linha significa:

(...) ser um europeu e não um selvagem do Novo Mundo, no século XVI, e, no século XIX, um europeu (incluindo os europeus deslocados da América do Norte), e não um asiático, parado na história, ou um africano que nem sequer faz parte dela (SANTOS, 2010, p. 54).

Já o universo do outro lado da linha é onde

Não há conhecimento real, existem crenças, opiniões, magia, idolatria, entendimento intuitivos ou subjetivos, que na melhor das hipóteses, podem tornar-se objetos ou matéria-prima para a inquirição cientifica (...). Compreende assim, uma vasta gama de experiências desperdiçadas, tornadas invisíveis, tal como seus autores, e sem uma localização territorial fixa (SANTOS, 2010, p. 34).

Estas linhas abissais se estendem para além do é legal ou ilegal, do verdadeiro

ou falso. Elas separam o invisível do visível, o estado de natureza do homem

civilizado, o subdesenvolvido do desenvolvido. Portanto, quem está do outro lado da

linha, seus saberes e fazeres, não estão certos ou errados, pois eles ‘não existem’,

do ponto de vista do pensamento hegemônico. Não existem por que são considerados

“parcialmente humanos”. Neste contexto, o pensamento colonial produz uma ausência

de humanidade, a sub-humanidade:

Assim a exclusão torna-se simultaneamente radical e inexistente, uma vez que seres sub-humanos não são considerados sequer candidatos à inclusão social. A humanidade moderna não se concebe sem uma sub-humanidade moderna (SANTOS, 2010, p.38,39).

Essa exclusão contribui para que homens brancos, quiçá classificados em seus

tempos como pessoas de bem, fossem livres para dominar, matar, escravizar a sub-

humanidade, bem como a Natureza com a qual eles se relacionam, na América, África,

Oceania e Ásia. Esse pensamento colonial, segundo Dussel (1993) é a base para o

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surgimento da concepção que a Europa é o centro do Mundo9, o eurocentrismo. Esse

paradigma colonizou o planeta com a ideia que o sistema capitalista e a Ciência

Moderna são os únicos caminho para toda a humanidade.

No decorrer dos séculos após a descoberta da América, vários elementos do

pensamento colonial se modificaram. A linha visível que separava colônias e

metrópoles deixa de existir e dá lugar à criação do Estado-nação onde outrora eram

as colônias, contudo, a linha invisível que separa a humanidade da sub-humanidade

continua sendo tão radical e excludente quanto era na época do Tratado de

Tordesilhas (SANTOS, MENESES, 2010). Quijano (2010), afirma que o fim da relação

de dominação entre colônia e metrópole não promoveu a liberdade dos que

estevavam no outro lado da linha, pelo contrário, a estrutura de poder se mantem a

mesma, e em virtude de sua ligação umbilical com os colonialismos, tal estrutura é

intitulada de colonialidade do poder, sendo que

A colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do poder capitalista. Sustenta-se na imposição de uma classificação racial/étnica da população do mundo como pedra angular do referido padrão de poder e opera em cada um dos planos, meios e dimensões materiais e subjetivos, da existência quotidiana e da escala societal (QUINJANO, 2010, p.84).

Note-se que o termo raça, que altera a classificação racial/étnica a favor dos

homens deste lado da linha, foi uma criação do período colonial. Seu objetivo é

distinguir as características físicas dos europeus e dos colonizados, como cor, altura,

tipo de cabelo, formato do rosto e afins. Esta separação criou termos como índios,

negros e mestiços, bem como assegurou que eles, por uma questão natural de

superioridades, fossem classificados como inferiores, logo, dominados (QUIJANO,

2010). A partir desta classificação de raça, a colonialidade do poder propagou-se nas

relações de exploração/dominação/conflito de diversos tecidos sociais, por meio da

manutenção do pensamento colonial, de separar dominantes de dominados. A

influência desta racionalidade na sociedade e na Natureza atualmente é global e

heterogênea. Global por que o eurocentrismo colonizou o mundo com sua ideia de

9 Dussel argumenta que a História Europeia é diversa, e que o mito que a Europa é o centro do Mundo se origina com as’ invasões coloniais nas ganha proeminência no em meados do século XVIII, sendo que anterior a este período seu papel foi secundário.

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totalidade histórico-social10 unilinear, unidirecional e unidimensional. Nela, o trajeto

trilhado pelos povos dominantes é mais do que o indicado, é o único a ser seguido

pelos dominados. Heterogêneo por que se insere em todos os aspectos da sociedade,

ao manter nas mãos dos homens civilizados o poder do a) trabalho e seus produtos;

b) acesso aos recursos naturais; c) reprodução da espécies; d) conhecimento e

subjetividades e; e) instrumentos de coerção (QUIJANO, 2010).

Outra mudança do pensamento colonial no passar dos anos diz respeito a

localização dos dominantes e dominados. Com a quase eliminação da linha visível

que separa colônias e metrópoles, a localização dos homens civilizados e selvagens

se alterou, ou seja, quem está deste lado da linha não necessariamente reside na

Europa, assim como quem mora do outro lado da linha, não estão somente nas áreas

das antigas colônias. Dentro deste contexto, Santos (2010) argumenta que as linhas

abissais do pensamento colonial atualmente separam o sul global do norte global. Os

termos norte e sul não são representações geográficas, mais sim representações

culturais em que o “sul global é concebido como a metáfora do sofrimento humano

sistêmico e injusto provocado pelo capitalismo global e pelo colonialismo” (SANTOS

2010. p. 53), isto é, são os que estão do outro lado da linha. Já, o norte global é a

institucionalização da verdade, do legal, dos homens civilizados, portanto, dos que

estão desse lado da linha (SANTOS, 2010). Exemplos da aplicação desta distinção

são os casos dos indígenas que residem hoje nos Estados Unidos. Embora eles

estejam geograficamente no norte, estão no sul global. Já a elite dos países latino-

americanos (como o Brasil), mesmo residindo no sul geográfico pertencem ao norte

global.

A partir do norte global, o pensamento colonial que sempre buscou ocupar

todos os espaços, consegue chegar próximo de seu objetivo no final do século XX.

Isso acontece graças aos avanços de suas bases tecnológicas (transporte,

comunicação, publicidade, produção). Como resultado o

colonialismos/modernidade/capitalismo se configuram como pensamento

hegemônico em escala global. Emerge assim a globalização hegemônica, que é um

sistema ideológico, material e técnico que visa impor ao mundo um único modo de

10 Totalidade histórica-social é articulação do conjunto de relações e estruturas sociais de uma civilização.

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existir, baseado nos cânones da ciência moderna e do sistema capitalista, tributários

do pensamento colonial (SANTOS, 2002; QUIJANO, 2005).

O avanço e manutenção desta globalização hegemônica, assim como a tríade

colonialismos/modernidade/capitalismo, tem como eixo central a disseminação de

monoculturas, que recebem o prefixo mono em virtude da dificuldade em dialogar com

outras formas de existência e de sua capacidade em gerar ausências (ou sub-

humanidades). Santos (2002) indica a existência de cinco:

i) monocultura dos critérios de produtividade capitalista: assenta-se na lógica da

produção onde apenas o crescimento econômico é o objetivo racional

inquestionável. Esse critério aplica-se tanto à Natureza quanto ao trabalho

humano, o que se espera da Natureza é máxima produção, enquanto o trabalho

humano visa a máxima geração de lucro em um ciclo de produção. Logo, outros

modos de produção e de relações com a Natureza e entre os seres humanos não

existem;

ii) monocultura do tempo linear: define que o sentido do tempo é unidirecional e

unilinear, ou seja, o caminho dos países pertencentes ao norte global, bem como

os conhecimentos, instituições e as formas de sociabilidade que neles dominam

são considerados a única opção. Com efeito, se considera “atrasado” tudo aquilo

que é assimétrico em relação a direção dos que estão deste lado da linha;

iii) monocultura da naturalização das diferenças: consiste em atribuir como

coerente a classificação social por categorias hierárquica de gênero, nível

econômico, origem étnica, religião ou posição ideológica. Nesta forma de pensar,

a relação de dominação é a consequência e não a causa, podendo até ser

avaliada como uma obrigação de quem é qualificado como superior. Deste modo,

quem é inferior, porque insuperavelmente inferior, não pode ser uma alternativa

credível a quem é superior. Um exemplo dessa mentalidade é a máxima: “o fardo

do homem branco da sua missão civilizatória” (SANTOS 2002, p. 247);

iv) monocultura da escala dominante: escolhe que apenas a escala global como

possível e considera como existente apenas entidades ou realidades que possam

ter influência em todo o planeta. Como resultado, experiências com escalas locais

são consideradas subalternas, por isso não são analisadas como existentes, logo

são eliminadas;

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v) a monocultura do saber e do saber do rigor: é o modo de produção de ausências

mais intenso. Consiste na transformação da epistemologia da Ciência Moderna

como detentora exclusiva da verdade. Isso acarretou no assassinato de diversas

formas dos seres humanos se relacionarem entre si e com a natureza, intitulados

de epistemicídios (SANTOS, 2010).

Estas monoculturas contribuem para que a ideia dos dominantes seja

hegemônica na globalização que o pensamento colonial articula. Como resultado,

tudo que é assimétrico a isso é subalterno por essência, logo inferior. Esse paradigma

altera diversos aspectos da realidade, sendo que no rural, foco desta pesquisa, ele

vem causando diversos impactos, sobretudo na valorização das frutas nativas. Neste

contexto, no próximo item aprofunda-se na relação entre pensamento colonial e a

invisibilidade das frutas nativas.

2.1.1 O Rural “desse lado da linha”: epistemicídios, revolução verde e impérios

alimentares

O pensamento colonial abarca aspectos sociais, ambientais, econômicos e

afins do rural. Contudo, três aspectos irão compor o fio condutor da influência deste

pensamento nesta pesquisa na invisibilidade das frutas nativas: i) os epistemicídios

de quem está do outro lado da linha (SANTOS,2010); ii) a implantação da revolução

verde como único modo de produção (GLIESSMAN, 2001) e o surgimento dos

impérios alimentares (PLOEG, 2008).

O primeiro aspecto do fio condutor deste item, se refere aos epistemicídios

ocorridos do outro lado da linha. O pensamento colonial, influenciado pela sua

monocultura do saber, ao eleger a epistemologia da Ciência Moderna como a única

forma possível de validar o conhecimento (SANTOS, 2010), assassinou11 diversas

maneiras do ser humano validar e construir o conhecimento, isto é, causou inúmeros

epistemicídios (SANTOS 2010; MENESES; NUNES, 2005). Como consequência, uma

vasta gama de saberes e fazeres das relações que mulheres e homens teciam entre

si e com a Natureza foram eliminados, antes mesmo de serem visualizados. Esta

11 Embora seja forte o termo, Santos (2010) utiliza a palavra assassinato para dar mais ênfase a eliminação das epistemologias.

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eliminação é a pedra fundamental do mundo rural da atualidade, pois desde do início

da colonização até os dias de atuais, ela deixa o planeta um lugar menos diverso. Em

outros termos, elimina a sociobiodiversidade.

Essa eliminação contribui para que os saberes adquiridos pelo Homo sapiens

no decorrer de 200 mil anos de história com a Natureza caminhe para extinção. Toledo

e Barrera-Bassols (2015) conceituam esse processo como a amnésia biocultural.

Identificada pela velocidade vertiginosa das mudanças técnicas, cognitivas, sociais e culturais que impulsionam uma racionalidade econômica baseada na acumulação, centralização e concentração de riquezas, a era moderna (consumista, industrial e tecnocrática) tornou-se uma época prisioneira do presente, dominada pela amnésia, pela incapacidade de se lembrar tanto dos processos históricos quanto daqueles de médio e longo prazo (TOLEDO e BARRERA-BASSOLS, 2015, p.28)

Deste modo, o pensamento colonial, inspirado por sua monocultura do saber,

tem dificuldade em enxergar o papel central que mulheres e homens12 tem na geração

da diversidade, contribuindo assim para o avanço da amnésia biocultural da espécie

humana. Nesse quadro, podemos colocar em perspectiva algumas situações

envolvendo as frutas nativas e os grupos desta pesquisa. Segundo relato dos

agricultores, algumas frutas nativas, principalmente a Guabiroba, são classificadas

como comida de porco. Se por um lado esta classificação pode ser explicada pela

interação entre animais e plantas principalmente nas áreas de faxinais, sendo assim

algo positivo, por outro ela é pejorativa. Isso por em vários momentos do trabalho de

campo foi possível registrar falas do tipo: “se criou disputando Guabiroba com os

porcos” ou “se criou comendo Guabiroba e agora quer escolher o que vai comer”

remetendo à ideia de que comer frutas nativas, ou melhor, ter árvores destas frutas

nas unidades familiares, é sinônimo de atraso. Por outro lado, para fazer parte do

progresso, isto é, ser um “homem civilizado” é necessário plantar, em forma de

monoculturas espécies do receituário da revolução verde. Soma-se a isso, o mito que

o futuro está na cidade, comprando alimentos, normalmente processados, dos

supermercados. A fala da agricultora 8 visa explicitar melhor estes argumentos.

12 O uso do termo mulheres e homens, humanidade ou espécie humana se refere a processos que vão além da racionalidade impetrada pela globalização hegemônica. Afinal, tal processo histórico, embora seja impactante, tem um período de tempo na história da humanidade curto quando comparado aos milhares anos de domesticação de plantas, por exemplo. Ou seja, o termo se refere aos atores sociais que compõem a globalização contra-hegemônica, como os sujeitos que se inserem na lógica da racionalidade camponesa proposta por Toledo (1992).

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Sabe que esta história de fruta nativa é uma coisa que eu tô gostando de pensar mais. Aqui a gente até tem bastante, mas queria que você visse na casa da minha vó, ela é meio bugre e tem um plantio na casa dela de Uvaia de vários tipos, eu vou trazer umas pra plantar esse ano. Mas sabe que as vezes, até entre os conhecidos, quando a gente diz que vai colher, processar ou que tá comercializado Guabiroba Uvaia, Araçá, escuta risada, bochichos e conversas com jeito de deboche. Para muita gente, fazer agricultura é expulsar todo mudo da terra, tirar toda a floresta, plantar uma coisa só, encher de veneno e vender para o atravessador. Mas o nosso projeto de sociedade, de vida, é o camponês. E nesse projeto as frutas nativas tem tudo a ver (Agricultora 8).

Portanto, há um misto de invisibilidade e desqualificação com as frutas nativas.

Se por um lado os usos, manejos e histórias que o ser humano, sobretudo os que

estão do outro lado da linha, tecem com as frutas nativas não são lembrados, já que

são considerados inexistentes, por outro, a relação de coexistência entre fruta nativa

e humanos é considerada atrasada, sendo necessário sua eliminação em prol do

caminho, único, de quem está deste lado da linha. O agricultor 3 reforça a inviabilidade

e desqualificação promovida pelos epistemicídios das relações dos seres humanos

com Natureza.

Desde de quando a gente era acampado, há 30 anos atrás mais ou menos, eu ocupei função de algum tipo de coordenação. E eu sempre fui contra tirar árvore, principalmente nas cabeceira de rio e fruta como Araucária, Guabiroba, Pitanga e Uvaia. Por que além de proteger as águas, elas dão comida pra gente, pra criação e para os animais. Arrumava as vezes até briga, mas não deixava tirar não. Quando conquistamos o lote, ficou mais fácil de controlar, por que se alguém fizer coisa errada, fica mais fácil de saber quem é(...). E essa conversa de proteger árvore e cabeceira de rio foi se espalhando. Vou te contar um causo, um dia a gente foi na agencia do Banco do Brasil. Lá o padre da paroquia do Assentamento me chamou pra conversa. Ele me disse: vocês precisam vir pra cidade. Eu converso com o Prefeito pra gente arrumar umas cestas básicas pra vocês. Por que essa coisa que vocês fazem lá de deixar mato pra todo lado não é agricultura. Olha, eu conheço a Europa, agricultura de verdade, tem que ser organizada, com máquina e bastante produção. Eu disse tá bom padre, virei as costas e fui embora... (Agricultor 3)

Ainda que a opinião do padre não seja da igreja católica, a fala de um

representante da igreja normalmente tem influência no meio rural, ainda mais para o

agricultor citado, um católico praticante. Além disso, o padre reflete a ideia dominante

que árvore “atrapalha” e precisa ser retirada. Entretanto, esta eliminação não se

restringe às árvores nativas, ela se reflete em toda a floresta. Por exemplo, no Estado

desta pesquisa, o Paraná, a área florestal no ano de 1890 ocupava 83,41% da área

total do Estado. Em 1990, esse número foi reduzido para 5,2%, ou seja, uma perca

de 78.21% da cobertura vegetal em aproximadamente 100 anos (GUBERT, 2010). Em

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conjunto com a paisagem florestal, são eliminadas espécies da fauna e da flora bem

como milhares de anos de coexistência entre mulheres homens, mamíferos, anfíbios,

aves, repteis, peixes e plantas, como as frutas nativas. Isto é, com a floresta

assassinou-se parte insubstituível da sociobiodiversidade, não só do das frutas

nativas, do Bioma Mata Atlântica ou do Estado do Paraná, mas sim da humanidade.

No contexto desta pesquisa, o agricultor 2 demostrar sua opinião sobre o assunto.

Nossa, quando lembro do nosso tempo de menino, como tinha essas frutas nativas. Ia pro colégio e no caminho escolia o que ia comer. Qual fruta, o tamanho e gosto. Tinha umas tão grande que a gente brincava de jogar um no outro. Agora pra achar um pé de fruta por ai dá trabalho, quase não tem e quanto tem nem sempre é do jeito que a gente quer (Agricultor 2).

Mas se a Natureza/cultura que estava no rural do outro lado da linha é assinada

pelo pensamento colonial, o que é inserido em seu lugar? A resposta mais prudente

é depende. No caso brasileiro, Celso Furtado (2007) descreve que a formação

econômica do Brasil está umbilicalmente relacionada com um modelo de agricultura

intensiva, expansionista, cíclica e baseada na produção de commodities para o

mercado externo. No decorrer do tempo madeira, cana-de-açúcar, algodão e café são

exemplos da produção vegetal que capitaneou cada ciclo. Porém, assim como o

pensamento colonial altera, com mais ênfase, o mundo a partir do avanço da

globalização hegemônica (SANTOS,2002), com o início da revolução verde o rural

passa a ter novos contornos.

A revolução verde é um modelo agrícola que tem como horizonte a grande

propriedade capitalizada e conta com apoio do poder de diversos governos

capitaneados Estados Unidos. Utiliza-se a premissa que é o ambiente que deve se

adaptar a planta e não o contrário. Para gerar as condições que respondam as

carências das plantas, são utilizados alto níveis de insumos exógenos às unidades

familiares como: a) adubos nitrogenados de alta solubilidade para incrementar o

crescimento das plantas; b) inseticidas que buscam eliminar os insetos presentes no

cultivo; c) herbicidas para matar plantas que surgem de forma espontânea na

monocultura; d) sementes geneticamente alteradas que resistem aos produtos citado

e; e) maquinário (tratores, e até mesmo aviões), sedentos consumidores de

combustíveis fosseis, utilizados durante o uso de tal pacote de insumos (GLIESSMAN

2001; ALTIERI, 2009).

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A nova realidade gerada pela revolução verde no rural tende a ser mais colonial

e subalterna, sobretudo para os que estão do outro lado da linha. O agricultor 9 relata

a experiência do seu grupo com a revolução verde.

Quando era acampamento aqui, a gente desistiu de esperar o Estado dividir o lote e fizemos por conta própria. No coletivo, plantamos milho e feijão com o uso de adubo, veneno e máquina. Não só pra comer, mas pra vender. Nessa época, qualquer mata a gente olhava e já pensava em tirar e plantar milho e feijão. Sem mentira, tinha semana que vinha dois ou três caminhões carregadas de veneno, adubo e sementes pra plantar. Mas pra plantar desse jeito, quase “viramos sócios da pecuária” e as contas começaram a chegar. No final, gente empatou dinheiro, e olha que não somamos os dias de serviços das famílias. Não tenho vergonha de contar isso, por que aprendi a importância da contradição. Hoje, quase todo grupo faz Agroecologia. Só no meu lote têm mais de mil árvores plantadas, fora as capoeirinha que estão crescendo. (Agricultor 9).

Se esse pacote agrícola coloniza, argumentam seus defensores, de forma

hegemônica o planeta com o suposto objetivo de acabar com a fome, principalmente

dos que estão do outro lado da linha, seus impactos socioambientais também se

espalham por todas as partes. Segundo a FAO (2006), a agricultura, baseada nos

princípios da revolução verde, é a atividade humana mais impactante no planeta. Ela

é a maior responsável pelo consumo de água, geração de gases do efeito estufa e

desmatamento. Junto com estes impactos, em conluio com a globalização

hegemônica e alicerçados no pensamento colonial, a revolução verde empurrou para

as grandes cidades boa parte dos sujeitos que residiam no rural. Como resultado, as

desigualdades de quem mora na cidade e no meio rural foram acirradas, sobretudo

no sul global. No Brasil este processo é emblemático. Em 60 anos (de 1950 até 2010)

a população brasileira rural diminuiu de 69% para 16% do total de brasileiros

(IBGE,2010). Cabe destacar que essa migração também altera os hábitos alimentares

da população que vai para a cidade, como menciona o relato do agricultor 5.

Lá pelo fim dos anos 70 não tinha como mais ficar no sitio com o pai. Tive que ir pra cidade, por falta de renda no sitio mas também pela propaganda que faziam da tal cidade grande. Fui parar em Porto Alegre. Trabalhei lá uns cinco anos, mas nunca me adaptei. Era tudo diferente. Muito barulho e bagunça. A alimentação também era diferente. Arroz, feijão e carne tinha igual, mas comer uma coisa diferente, comer uma dessas frutas que estamos falando, nem pensar. Como só empatava dinheiro e não aguentava mais aquela vida, fui parar no MST pra voltar pro sítio. Com muita luta conseguimos, agora até caipirinha de Guabiroba a gente toma aqui... (Agricultor 5).

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Outro aspecto do avanço da revolução verde é sua estreita ligação com o

Estado. Através do mito que a modernização conservadora 13 implantado pelo

Governo no final do século XX, seria a solução para o Brasil, a revolução verde passou

a ser considerada o único caminho possível para o progresso (DELGADO,2005). Essa

salvação se espalhou por meio de uma tríplice aliança entre Estado e empresas

transnacionais: i) pesquisa e desenvolvimento; ii) transferência de tecnologia e; iii)

credito subsidiado (CAPORAL e COSTABEBER, 2007). Nessa tríplice aliança, a forma

que o conhecimento é passado das organizações de pesquisa para os agricultores se

dá de forma bancária, como diria Paulo Freire (1996), aumentando assim os

epistemicídios no rural. Nesse processo, palavras como jeca tatu, bicho do mato e

afins são comumente utilizadas para classificar os sujeitos que compõem a

racionalidade camponesa (TOLEDO,1992). Um exemplo da transferência de

conhecimento é apresentada pelo agricultor 10.

Não que vierem muitos técnicos aqui, mas um outro sempre aparece, principalmente depois que a gente começou a participar de reunião com outros agricultores, aprendeu que tem que ir na prefeitura cobrar ajuda. Quando eles vêm, é quase igual médico. Diz que tem que fazer exame no solo e que precisa usar esse ou aquele produto. Quando mais você usa o produto, mais forte tem que ser a aplicação ou tem que começar a usar outro junto. Eu entrei numa dessa e plantei uns milhos com veneno por uns três anos há dez anos atrás. Até hoje pago as contas que sobraram. Mas se nessa época, eu tivesse a cabeça que tenho hoje, não entrava nisso não. Se tivesse prestado mais atenção nas frutas nativas, podia ter começado a comercializar elas faz muito tempo (Agricultor 10).

Na fala do agricultor 10, além de um relato da transferência de conhecimento

sobre o plantio de milho, destaca-se a dívida oriunda da atividade. Deste modo, cabe

a provocação que, embora exista credito subsidiado para compra do pacote da

revolução verde, nem sempre a dívida é fácil de ser paga.

Na conjuntura apresentada, é possível apontar os seguintes aspectos que a

revolução verde altera o rural, principalmente na invisibilidade das frutas nativas:

i) epistemicídios: a revolução verde é ao mesmo tempo tributária e promotora

dos epistemicídios dos que estão do outro lado da linha, deste modo ela

13 A modernização conservadora nasce no Brasil com a derrota do movimento por reforma agrária. Ela foi criada por um pacto entre os latifundiários e proprietários de industrias para formar um mercado consumidor nas cidades por meio da expulsão do campo de homens e mulheres para a cidade. Para isso apostou-se na implantação da revolução verde e na produção de commodities como caminho.

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potencializa a eliminação das relações de coexistência entre humanos e a

Natureza, incluindo as que ocorrem com as frutas nativas;

ii) eliminação dos agroecossistemas com árvores: sejam as florestas, os sistemas

agroflorestais (os faxinais, a roça de coivara, os quintais agroflorestais e afins) são

eliminados para a implantação das monoculturas da revolução verde. Essa

retirada se justificava pelo símbolo de atrasado atribuído ás árvores e os sistemas

em que elas estão inseridas, bem como argumentos técnicos como a intenção de

potencializar a produção de biomassa, afinal a “sombra das árvores” prejudicariam

a produtividade. Soma-se também a alegação dos tratores terem dificuldades em

se movimentarem pelo local. E nessa luta contra as árvores, as frutas nativas

também são cortadas;

iii) expulsão do ser humano do rural: a modernização conservadora fomentou que

a maioria da população brasileira em 60 anos deixasse de ser rural para ser

urbana. Esse movimento contribui para a maioria da população brasileira não

produzisse seu próprio alimentos, como resultado as frutas nativas são

substituídas de sua cultura alimentar. Com isso, a próxima geração terá

dificuldade em receber os saberes e fazeres vinculados a elas, aumentando assim

a amnésia biocultural da espécie humana;

iv) alimentação à base de commodities: com o argumento de acabar com a fome,

a revolução verde naturalizou a produção de commodities como via única,

apostando deste modo no uso de poucas espécies. Porém esse processo não se

concentrou apenas na produção de alimentos, mas também no processamento,

distribuição, comercialização e consumo de comida. Deste modo, as frutas

nativas, foram substituídas por produtos processados elaborados a partir das

commodities encontradas nas grandes redes de supermercados.

Estas redes varejo tem na comercialização de produtos oriundos da revolução

verde seu maior objetivo, fazem parte do terceiro aspecto promovido pelo pensamento

colonial no rural abordado neste item, o surgimento de impérios alimentares (PLOEG,

2008). Estes impérios são a forma que a globalização, que neste trabalho, entende-

se como hegemonia (SANTOS, 2002), está se manifestando nos domínios da

produção, distribuição, regulação e consumo de alimentos. O império se materializa

em oligopólios de empresas transnacionais (da produção ao consumo, passando pela

distribuição e regularização de alimentos) que atacam qualquer tipo de alternativa aos

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seus interesse, constituindo desta maneira uma rede invisível e com enorme poder de

coerção, como explica Ploeg;

Os impérios atuais controlam ligações. São redes coercivas que exercem controle sobre ligações, nós e pontos de passagem estratégicos, enquanto as estruturas alternativas são bloqueadas e eliminadas(...). Através da especificação das normas que definem transações e ligações os impérios atuais existem como redes monopolistas e, por conseguinte, controlam pessoas e recursos de forma indireta (PLOEG, 2008 p. 261).

Neste contexto, a agricultura baseada nos princípios da revolução verde se

forma e é formada por estes impérios. Do mesmo modo que o objetivo da colônia era

servir a metrópoles, o objetivo desta agricultura não é produzir alimentos, mas

alimentar o império (PLOEG, 2008). Esse processo contribuiu para que a

homogeneidade da produção e do consumo sejam grandezas proporcionais, isto é,

ao mesmo tempo que a revolução verde avança (com apoio do Estado e das

empresas transnacionais do ramo) as monoculturas do rural tendem a aumentar. Na

medida em que os impérios alimentarem se tornam globais (também com apoio do

Estado e das empresas transnacionais do ramo) a homogeneidade no consumo de

gêneros alimentícios se torna maior. Se forma assim um movimento cíclico e

expansionista de homogeneização da sociobiodiversidade, avanço da revolução

verde e dos impérios alimentares. Essa homogeneização é descrita na fala da

agricultora 8.

A gente tentou comercializar pão com uma rede de supermercados. Por ser orgânico o mercado se interessou e a gente foi conservar. Levamos umas amostrar de pão de mandioca, abobora e batata doce roxa. Pensamos que as cores bonitas dos pães e o sabor diferente iria atrair, mas acabou atrapalhando. O dono do mercado disse assim: tenho interesse no pão orgânico, mas mistura com outras coisas e com essa cor diferente não fica legal. Se vocês tiverem um pão branco parecido com esses que a gente vende aqui a gente pode voltar a conservar. Tentei explicar que o alimento era mais nutritivo, que era bonito, que a gente não produz trigo e troca quase a metade do trigo por produtos que a gente produz, mas não teve jeito... (Agricultora 8).

Esse movimento de homogeneização reflete diretamente no consumo e

comercialização das frutas nativas. Segundo FAO (2005), existem mais de e 300.000

espécies de plantas descritas, destas 30.000 têm relatos de uso agrícola. Porém essa

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diversidade está diminuindo, atualmente apenas 1214 plantas são responsáveis por

75% da alimentação vegetal do Planeta. Sendo que “apenas três – arroz, milho e trigo

– contribuem, com aproximadamente 60% das calorias proteínas obtidas das plantas

por seres humanos” (FAO, 2005 p. 5). Essa homogeneização contribuiu também para

que 75% da diversidade genética das plantas usadas na agricultura esteja em risco

de extinção, e nesse contextos se inserem com mais veemência as frutas nativas, pois

elas são invisíveis aos olhos dos impérios alimentares, com relata um consumidor de

suco de uma barraca organizada pela COPERJUNHO em parceria como CEAGRO

durante o III Inverno Gastronômico15 da cidade de Laranjeiras do Sul:

Sou técnico da EMATER faz 10 anos, nunca tomei um suco desses. E olha que participo de bastante eventos no Paraná todo. Normalmente quando tem suco natural é de laranja, morango, abacaxi. Essas frutas mais tradicionais. Agora de fruta nativa é novidade. E olha que ficou bom heim, pena que vai ser difícil encontrar. Nunca vi e acho que não vou ver tão cedo um suco de Guabiroba, Uvaia ou Araçá nos mercados que vou em Curitiba (consumidor 1)

Em conjunto com a homogeneização da produção e consumo, os impérios

alimentares também fomentam tensões com a valorização das frutas nativas em outro

tema, a regularização sanitária. Por meio de incidência política no sistema jurídico que

normatiza a produção, processamento, transporte e comercialização dos alimentos se

dificulta o acesso de agricultores com menor capital a adequação do que a legislação

exige. Nesse processo se inserem as frutas nativas possuem dificuldades no seu

armazenamento e transporte, sendo o processamento uma alternativa de

potencializar sua comercialização. Todavia, nem sempre é possível adequar espaços

que processam as frutas nativas.

Mesmo com os avanços recentes na legislação brasileira em diversos

mecanismos, como a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 49/13 (ANVISA,

2013)16, existe diversas tensões envolvendo o processamento das frutas nativas por

14 Em escala de grandeza: arroz, milho, trigo, soja, feijão, tomate, inhame, mandioca, beterraba,

cana de açúcar, batata inglesa e batata doce. 15 O evento é organizado pela EMATER do Paraná e tem como foco expor e comercializar produtos típicos de Laranjeiras do Sul e municípios vizinhos. 16 Essa RDC menciona a necessidade de um tratamento diferenciado para atividades de baixo risco para a saúde humana, bem como indica a necessidade de construir mecanismos, simplificados, a realidade de atores sociais que promovem a sociobiodiversidade

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agricultores familiares com as entidades de controle, a própria RDC 49 é um exemplo.

Tal resolução se concentra nos produtos de origem vegetal e mesmo que existam

experiências de regularização sanitária de produtos confeccionados a partir das frutas

nativas (os pedaços de frutas congelados17) e comercialização destes em PNAE’s

municipais, este procedimento não é consenso entre as partes são envolvidas. Existe

uma interpretação que os pedaços de frutas congelados devem ser classificados

como polpa de fruta MAPA, 2000). Polpa entraria na categoria de bebida, deste modo

é regulamentada pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária). Isso significa uma

série de limites para os agricultores conseguir a regularização necessária, e pode ser

compreendido como uma forma de expressão dos impérios alimentares nesta

realidade. Mesmo que não seja o foco desta pesquisa aprofundar em questões

jurídicas, a fala do agricultor 11 exemplifica a influência dos impérios alimentares nas

frutas nativa que pretende-se transmitir.

Deixa eu ver se tô entendendo direito, quer dizer que se nosso grupo de famílias assentadas, que trabalha com Agroecologia, faz mutirão, feira e que temos frutas nativas, por que a gente cuidou delas, resolve processar elas e comercializar na feira ou na merenda da escola, pra que nossas crianças tomem algo saudável, a lei vai pedir pra gente o mesmo que uma empresa bilionária do tipo a Coca-Cola que usa nossa água de graça, produz alimentos cheio de açúcar e leva o lucro pra fora? (Agricultor 11).

Do exposto, é possível sintetizar que o pensamento colonial no rural

assassina outras formas de se relacionar com a Natureza que não sejam as

baseadas no receituário da revolução verde e circulem sob a égide dos impérios

alimentares. Nesse cenário se inserem as frutas nativas, são ao mesmos tempo

eliminadas e invisíveis aos olhos dos que defendem o pensamento colonial. O

resultado desse processo é a eliminação da relação milenar de coexistência entre

mulheres e homens com a Natureza. Porém, o caminho proposto pelo pensamento

colonial nunca foi e quiçá nunca será o único possível a se trilhar pela humanidade.

Para entender melhor os caminhos trilhados e vislumbrar outros possíveis, no próximo

item é conceituado um aspecto central na relação entre seres humanos e as frutas

nativas, a domesticação de plantas.

17 Os pedaços de frutas congelados serão explicados no item 2.5.

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2.2 A DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS, UMA HISTÓRIA BIOCULTURAL

A história da humanidade está intimamente relacionada com a história da

domesticação de plantas, já que tal processo é intrinsecamente relacionado com o

surgimento da agricultura e com a consequente fixação de grupos humanos em certos

locais (MAZOYER e ROUDART, 2010). Clement (2001) define domesticação de

plantas da seguinte forma:

Um processo coevolucionário em que a seleção humana, inconsciente e consciente, nos fenótipos de populações de plantas promovidas, manejadas ou cultivadas resulta em mudanças nos genótipos das populações que as tornam mais úteis aos humanos e melhor adaptadas às intervenções humanas no ambiente. A ênfase na palavra populações é importante, pois a evolução, a co-evolução e a domesticação atuam ao nível de populações, antes de espécies, embora seja comum dizer que uma espécie é domesticada (CLEMENT, 2001, p. 426).

Ou seja, através do olhar para a Natureza, experimentação, avaliação e

socialização do ocorrido, o Homo sapiens alterou certas características de uma dada

população de plantas de acordo com suas necessidades. Embora crucial, o manejo

humano nos fenótipos não é o único motor da domesticação de uma população, como

argumenta Gepts (2004), ao indicar que a domesticação é resultado da interação, de

forma sinérgica, de três fatores: i) ambientais, como mudanças climáticas,

sazonalidade de chuvas e diversidade de nichos, ii) morfológicos das plantas, por

exemplo, a genética e iii) humanos, como conhecimento e tecnologia, crescimento

populacional e desenvolvimento cultural. Da junção destes três fatores, via de regra,

poucos genes são alterados e por isso Harlan (1992) dá a esse processo o nome de

síndrome da domesticação. O resultado desta síndrome é recrutado e multiplicado

pelo ser humano, que no geral se atenta à aspectos vinculados aos frutos como

tamanho e sabor (CARVALHO et al., 2014).

Uma característica central na domesticação de plantas é que ele não é um

processo homogêneo, pois se sua emergência ocorre de forma coevolutiva entre

elementos sociais e ambientais, cada espaço e tempo gera e gestiona seu caminho

de domesticação. Neste contexto coevolutivo Clement (2001, p. 437) argumenta que

o “grau de mudança fenotípica e genotípica na população sujeita a seleção e manejo

pode variar e é útil definir algumas categorias de populações ao longo do contínuo de

silvestre a domesticada.” Sendo estas categorias:

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a) silvestre: uma população naturalmente evoluída, ou seja, seus fenótipos e

genótipos não foram alterados pelo manejo humano;

b) incidentalmente co-evoluída: uma população que se adapta de maneira

involuntária aos agroecossistemas manejados pelos humanos, mas sem a

intencionalidade dos mesmos;

c) incipientemente domesticada: uma população que tem sido modificada pelo

manejo humano, mas que o fenótipo médio é similar ao encontrado nas

populações silvestre;

d) semi-domesticada: uma população modificada de forma significativa pela

intervenção humana (no mínimo sendo manejada), cujo fenótipo médio extrapola

a variação encontrada na população silvestre. Embora a variação genética

comparada com as populações silvestre seja menor, as plantas possuem

suficiente adaptação ecológica para sobreviver se a intervenção humana cessar;

e) domesticada: população modificada de forma intensa pela intervenção

humana, cujo fenótipo médio foi alterado a tal ponto que os indivíduos têm

dificuldades em sobreviver fora dos agroecossistemas intensamente manejado.

Um exemplo desta categoria são as cultivares modernas. As cultivares são

população criadas por humanos, usualmente em laboratórios com baixa variação

genética e alta uniformidade fenotípica, adaptadas exclusivamente às

monoculturas criadas sob os princípios da revolução verde.

Ainda que tal categorização, principalmente a categoria silvestre que

desconsidera a influência do ser humano no processo possa ser questionável, o que

busca-se destacar na categorização proposta destacar é que a domesticação é um

processo intimamente ligado com as características sociais e ambientais de cada

tempo e espaço. Além disso, a domesticação de plantas está intimamente relacionada

com as paisagens em que ela aconteça. Por exemplo, uma população de espécie

domesticada, em especial via engenharia genética e/ou transgenia, terá pouca

possibilidade de êxito num sistema agroflorestal conduzido por povos e comunidades

tradicionais, mas irá satisfazer a expectativa de um produtor de commodities se estiver

numa monocultura com alta entrada de insumos químicos externos. Diante desta

relação entre população e local de reprodução, a domesticação de plantas se liga a

outra domesticação, a da paisagem, que pode ser definida como:

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Um processo inconsciente e consciente em que a intervenção humana na paisagem resulta em mudanças na ecologia da paisagem e na demografia de suas populações de plantas e animais, resultando numa paisagem mais produtiva e ‘segura’ para humanos (CLEMENT, 2001, p. 424).

Cabe ressaltar que para alguns autores, por exemplo, Wiersum (1997), não

existem dois tipos de domesticação, mas sim co-domesticação de paisagens e

plantas. No entanto, nesta pesquisa escolheu-se seguir a posição de indicar a

existência de duas domesticações. Bem, como a domesticação de plantas, a da

paisagem é classificada de acordo com a intensidade do manejo humano, sendo que

Clement (2001) aponta as seguintes categorias:

a) pristina: uma paisagem na qual humanos não tem manipulado o ambiente

nem as populações de plantas ali existentes;

b) promovida: paisagem onde as populações de plantas úteis são favorecidas

por meio de podas e da diminuição na densidade de plantas, mas a paisagem

original pouco se altera;

c) manejada: paisagem em que a diversidade e abundancia de plantas úteis

são favorecidas através da poda e diminuição da densidade de plantas.

Também ocorre o transplante de mudas, uso de adubos e outras formas de

melhorar o agroecossistema. Nesta categoria a paisagem pode passar por

mudanças significativas em relação ao seu estado original;

d) cultivada: uma paisagem totalmente transformada pela eliminação do

ecossistema original de forma extensiva por meio do manejo humano (queima,

aração e gradeação do solo, por exemplo) visando favorecer o crescimento e

reprodução de plantas semeadas;

e) roça/capoeira: uma paisagem onde o manejo humano combina cultivo e

floresta da seguinte forma: a floresta é transformada numa área de cultivo que

produz bem durante alguns anos iniciais. Na medida em que a fertilidade

diminui, o manejo humano também diminui até que a floresta seja

restabelecida, podendo ou não ser cultivada no futuro;

f) monocultura: uma paisagem dominada por uma população mono-especifica.

Portanto, assim como a de plantas, a domesticação de paisagem é um

processo diverso onde cada contexto constrói e desconstrói arranjos espaciais. Além

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disso, não há uma direção única para seguir em ambas. Por exemplo, transformar

uma população silvestre em domesticada por si só não afere à mudança sinônimo de

caminho correto (ou progresso). Pelo contrário, se a domesticação é um processo que

emerge através da coevolução de mulheres e homens com a Natureza, cada espaço

e tempo, deve trilhar (e alterar) seu caminho conforme as dinâmicas socioambientais

de sua realidade, ou seja, não existe um único caminho. Neste contexto, pode-se dizer

que a domesticação é fruto de histórias das relações entre o ser humano e os bens

naturais, e toda história tem na memória um elemento chave (TOLEDO e BARRERA-

BASSOLS, 2015).

A memória da espécie humana é composta por elementos culturais, pois

somos essencialmente seres sociais, mas também por uma parte biologia que não foi

excluída pela primeira, e sim somada (TOLEDO e BARRERA-BASSOLS, 2015). Isso

permite ao ser humano manter vínculos societais em conjunto com vínculos com a

Natureza. Logo, o ser humano possui uma memória biocultural, que é subdividida em

três categorias: genética, linguística e cognitiva. A primeira diz respeito a quantidade

genes dos seres humanos, a segunda a quantia de línguas e a terceira aos saberes e

conhecimentos construídos no decorrer de 200 mil anos do Homo sapiens (TOLEDO

e BARRERA-BASSOLS, 2015).

Esse complexo biológico e cultural forma uma coleção ampla e complexa rede

de saberes que permitiu à espécie humana recordar experiências similares e

vislumbrar possíveis soluções para certos problemas, bem como potencializar

aspectos positivos de uma situação. Essa memória ajudou a espécie humana manter-

se viva, seguir aprendendo, testando e socializando os resultados, sobretudo através

da oralidade. De forma um pouco mais poética, Mia Couto coloca, neste sentido, que

(...) as culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente (COUTO, 2010).

“Essa dimensão cognitiva, tão antiga quanto a própria espécie, permitiu aos

seres humanos não só manter certa relação de coexistência com a natureza, mas

também refiná-la ou aperfeiçoá-la” (TOLEDO e BARRERA-BASSOLS, 2015., p. 33)

através de dois movimentos complementares e simultâneos: a criação de novas

espécies através da seleção de plantas em locais com grande diversidade de espécies

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e a criação de novas paisagens por meio de mudanças na topografia e do fluxo da

água, construção de terraços em áreas montanhosas e sistemas agroflorestais em

regiões intertropicais (TOLEDO e BARRERA-BASSOLS, 2015).

Ou seja, a domesticação de plantas e de paisagens, além de ser um processo

de coexistência, é centrada em histórias passadas de geração a geração pela

memória biocultural da espécie humana. Logo, a domesticação é algo intimamente

relacionado com a maneira com que homens e mulheres olham e interagem com a

Natureza. Para aprofundar nos caminhos desta relação, no próximo item se abordam

alguns olhares sobre o tema.

2.3 AGRO, SOCIO E/OU BIO DIVERSIDADE?

Olhar e se relacionar com a Natureza é um ato que se confunde com a própria

história da humanidade. Analisar essa relação é parte constituinte de diversas

cosmovisões, que no espaço e no tempo receberam vários nomes, Pachamama para

os Quéchuas e Aymaras, a Terra Sem Males dos Guaranis ou Gaia para os Gregos

(DUSSEL, 2000), são exemplos de experiências humanas que, guardadas as devidas

proporções, também olham para a maneira que mulheres e homens se relacionam

com a Natureza. No tempo e espaço que se desenvolve esta pesquisa, os conceitos

biodiversidade, agrobiodiversidade e sociobiodiversidade são os escolhidos para

analisar a relação entre humanos e a Natureza.

Se a relação de homens e mulheres com a Natureza é um ato histórico, o termo

biodiversidade, ou diversidade biológica 18 é recente. Sua origem é vinculada à

construção da noção de desenvolvimento sustentável, articulada pela Organização

das Nações Unidas (ONU), a partir da conferência de Estocolmo em 1972, culminando

com o relatório Brundtland em 1987 (PIERRI, 2002). Neste contexto, é lançando o

documento Estratégia Mundial para a Conservação19, do inglês World Conservation,

que define diversidade biológica como o número de espécies presentes em dado

espaço geográfico (IUCN, 1980). Nele, se estabelece como objetivo principal para a

preservação da biodiversidade: a) manutenção dos processos ecológicos essenciais;

18 Entendemos os termos biodiversidade e diversidade biológica como sinônimos neste trabalho. 19 Em 1980, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), apoiada financeiramente pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF) lançam tal documento.

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b) preservação da diversidade genética; e c) utilização sustentada das espécies e

ecossistemas (IUCN, 1980).

Cabe destacar que a construção deste conceito de biodiversidade, assim como

as discussões sobre desenvolvimento sustentável que o rodeia nas conferencias da

ONU, não é consenso democrático e participativo do que é melhor para todos. Pelo

contrário, ele representa a hegemonização de um certo pensamento apoiado pelos

países com maior poder nestas conferências, sendo esta formulação tributária da

corrente intitulada ecologismo conservacionista (PIERRI, 2002). Essa linha tem sua

origem na Europa do século XIX, no meio dos aristocratas simpatizantes da

manutenção de um suposto estado natural das coisas e admiradores da beleza cênica

de paisagens que estavam sendo ameaçadas pelo advento da industrialização. No

final do século XIX está racionalidade influência pessoas de classe média e alta nos

Estados Unidos que se preocupam com a perda de terra públicas e bosques para a

industrialização, e as motiva a pleitear transformar algumas paisagens em santuários

da vida animal e vegetal por meio da eliminação da interferência do homem no local.

Esse pensamento culmina na criação de parques de proteção, como Yellowstone em

1872 nos Estados Unidos, além de articular a criação de uma coordenação

internacional para a proteção da Natureza, a União Internacional para a Proteção da

Natureza que em 1948 foi formalizada como União Internacional para a Conservação

da Natureza, ou UICN, e desde então defende, de forma poderosa, os interesses do

ecologismo conservacionista (PIERRI, 2002).

Porém, a partir do Encontro de Estocolmo em 1972, esse pensamento

hegemônico passa a ser questionado pelos países com problemas sociais, já que os

argumentos dos ditos países ricos estavam centrados em questões puramente

ambientais.

Assim foi que, num primeiro momento, os países pobres relutavam em envolver-se com a questão, dizendo que os problemas ambientais que motivavam a reunião eram dos países ricos, causados por excesso de produção e consumo, e que se ali eram considerados problemas era por que já tinha se desenvolvido e desfrutados um bom nível de vida... como corolário passaram reivindicar que se reconhecesse a pobreza como problema ambiental, e ficou claro que desse reconhecimento dependia que a reunião fosse realizada ou que houvesse um clima amigável para a mesma (PEIRRI, 2002, p.32).

Essas discussões permitiram avanços, como a forma multidisciplinar de olhar

para a biodiversidade ao inserir elementos sociais, principalmente relacionados a

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distribuição das riqueza e erradicação da pobreza (PIERRI, 2002). Contudo, a lógica

preservacionista se mantém como hegemônica na conceituação do que é

biodiversidade. Neste contexto, durante a ECO-92, realizada na Cidade do Rio de

Janeiro, é elaborada e assinada por 182 nações a Convenção Sobre Diversidade

Biológica – CDB. Este acordo é ratificado pelo Governo Brasileiro através do decreto

legislativo n° 02, de 1994. Neste documento se define biodiversidade como:

A variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas (BRASIL, 1994, p. 3).

Portanto, biodiversidade pode ser caracterizada como o conjunto de toda vida

no planeta junto com os ecossistemas que dão suporte a ela, mas as questões sociais

não estão diretamente relacionadas neste conceito, ou seja, a relação de poder

continuou tendendo a favor dos ecologistas preservacionista e consequentemente a

valorização do mito da natureza intocada e a criação de unidades de preservação de

proteção integral (DIEGUES, 2001), ou como mencionado anteriormente, santuários

de proteção da vida animal e vegetal (PIERRI, 2002).

Mas as tensões envolvendo a construção e definição de acordos e conceitos

envolvendo o uso dos bens naturais prossegue. Com o acirramento dos impactos na

má distribuição dos bens naturais, os clamores por justiça ambiental e social ganham

corpo. Por exemplo, ao argumentar que todos os seres humanos são responsáveis

em potencial das catástrofes ambientais e por isso tecer restrições de forma global,

os preservacionistas colocam na mesma posição empresas petrolíferas ou

corporações agroquímicas com pescadores artesanais e comunidades rurais

tradicionais. Esse raciocínio simplista escamoteia tanto a intensidade como o objetivo

do impacto e esconde um aspecto primordial na relação com a Natureza, é na dita

miséria material dos subdesenvolvidos que se encontra uma riqueza imensa de

alternativas teóricas e práticas para manutenção da vida no planeta (ACSELRAD et

al., 2009).

No bojo deste debate sobre justiça ambiental e bens naturais, o espanhol Joan

Martínez Allier apresenta sua tese que indica a presença de três modos de se

relacionar com a Natureza, que ele intitula como ecologismos: i) o Culto da Vida

Silvestre; ii) o Evangelho da Ecoeficiência e iii) o Ecologismos dos pobres (ALIER,

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2007). O Culto da Vida Silvestre desconsidera o ser humano como parte da natureza

e usa como método para salvar o que resta da Natureza, a criação de unidades de

preservação, que tem a premissa de retirar mulheres e homens de seu interior. A outra

corrente, o Evangelho da Ecoeficiência, confia que a própria técnica que gera os

impactos socioambientais irá encontrar soluções para tais problemas. A maneira que

tal linha trabalha é continuar apostando que o avanço tecnológico irá resolver os males

causados pelo próprio avanço tecnológico, ou seja, o crescimento sustentável (ALIER,

2007). Contudo, tais linhas convivem em certa harmonia na atualidade,

entrecruzando-se e retroalimentando-se em alguns momentos, como o exemplo da

relação entre empresa petroquímica Shell com ONG preservacionista WWF, entidade

essa que é organizadora do documento que origina o conceito de biodiversidade.

Ás vezes, aqueles cujo interesse associa-se exclusivamente à esfera da preservação da vida selvagem exageram sobre a suposta facilidade com que se poderia desmaterializar a economia, terminando em se converterem em apóstolos oportunistas do evangélico da ecoeficiência (...). Nessa perspectiva o “culto ao silvestre” e o “credo da ecoeficiência” eventualmente dormem juntos. Assim vemos a associação entre a Shell e a WWF para o plantio de eucaliptos ao redor do mundo com base no argumento de que isso diminuirá a pressão sobre os bosques naturais e presumivelmente, promoverá também

o aumento da absorção de carbono (ALIER, 2007. p. 32 -33).

Já o Ecologismo dos Pobres é constituído pelas diversas formas de se

relacionar com a Natureza que atores sociais distintos construíram no decorrer da

história por todo o planeta, em comum, estes atores tem a ameaça de eliminação de

seus modos de se relacionarem com a Natureza, seja pelo Culto da Vida Silvestre ou

pelo Evangelho da Ecoeficiência (ALIER, 2007). Um conceito para o Ecologismos dos

Pobres é:

O movimento pela justiça ambiental, o ecologismo popular, o ecologismo dos pobres, nascidos de conflitos ambientais em nível local, regional, nacional e global causados pelo crescimento econômico e pela desigualdade social. Os exemplos são os conflitos pelo uso da água, pelo acesso as florestas, a respeito das cargas de contaminação e o comércio ecológico desigual. Em muitos contextos, os autores de tais conflitos não utilizam um discurso ambientalista. (ALIER, 2007. p.39).

Os clamores dos pobres por justiça, social e ambiental, somado ao exponencial

aumento dos impactos do modelo hegemônico de desenvolvimento, contribuiu para

que novos atores se juntassem aos questionamentos da preservação ambiental “sem

gente dentro” e temas como conservação através do uso, uso múltiplo florestal,

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saberes tradicionais, campesinato e manejo sustentável dos bens naturais se

disseminem pelo planeta, como caminho para atingir eficiência econômica, prudência

ecológica e justiça social (LIMA, 1997). E nesse contexto, a importância de mulheres

e homens na produção de alimento através do manejo sustentável da biodiversidade

conquista espaço nos encontros da ONU sobre biodiversidade (PIERRI, 2002;

STELLA et al., 2006), tanto que durante a 5º Conferencia sobre Biodiversidade

Biológica realizada na Capital do Quênia, a Cidade de Nairóbi, no ano de 2010, foi

institucionalizada a valorização da parte da biodiversidade que é utilizada na

agricultura, através do termo agrobiodiversidade ou biodiversidade agrícola (do inglês

Agricultural biodiversity). Neste encontro, ela foi definida de seguinte forma:

(…) um termo amplo que inclui todos os componentes da biodiversidade que têm relevância para a agricultura e alimentação, e todos os componentes da biodiversidade que constituem os agroecossistemas: as variedades e a variabilidade de animais, plantas e microrganismos, nos níveis genético, de espécies e ecossistemas, os quais são necessários para sustentar funções chaves dos agroecossistemas, suas estruturas e processos. (STELLA et al, 2006. p. 42).

Algumas características centrais da agrobiodiversidade são sua

interdependência com o manejo humano (através da domesticação de plantas e

paisagem) e o ambiente, bem como sua importância para a soberania e segurança

alimentar e nutricional da população humana (MACHADO et al, 2008). Neste cenário,

caracteriza-se a existência de quatro dimensões interdependentes que formam a

agrobiodiversidade: i) os recursos genéticos vegetais, animais, microbianos e fúngicos

em diversos estágios de domesticação; ii) os processos ecológicos essenciais como

ciclagem de nutrientes, construção e manutenção da fertilidade do solo, polinização,

regulagem do clima; iii) os fatores abióticos clima, incidência de luz solar, temperatura,

água, composição do solo e afins que que possuem relação direta com a

agrobiodiversidade; iv) aspectos socioeconômicos vinculados principalmente aos

conhecimentos sobre implantações e manejos dos agroecossistemas, fatores

culturais e econômicos assim como o turismo (e a beleza) das paisagens agrícolas

construídas (MACHADO et al, 2008).

No bojo deste debate, outro marco para a conservação com “gente dentro” é a

elaboração do Sistema Nacional de Unidades de Conservação ou SNUC (BRASIL,

2000). Este sistema estabelece critérios para criação e gestão das unidades de

conservação baseado em dois tipos de usos: proteção integral e uso sustentável. A

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primeira almeja a preservação da biodiversidade sem as alterações causadas pelo ser

humano, admitido apenas o uso indireto dos bens naturais. Este tipo de uso é centrado

na lógica de proteger a natureza sem “gente dentro”, que é simbolizado no próprio

termo “preservação”, que é definido como:

Conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais (BRASIL, 2000, p.2)

O segundo tipo de uso, que é uma conquista de quem luta por justiça ambiental,

tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, conciliando a presença

humana por meio do o uso sustentável dos bens naturais. Nele, a presença de

mulheres e homens ganha destaque através da determinação que conservação é:

O manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral (BRASIL, 2000, p.2).

Portanto, o SNUC institucionaliza que existem outras formas do ser humano se

relacionar, de forma sustentável, do que a impetrada pela racionalidade

preservacionista de separar gente e Natureza.

Enfim, nestas tensões que envolvem as relações entre mulheres e homens com

a Natureza, emerge outro conceito, a sociobiodiversidade. Ela se posiciona próximo

do termo agrobiodiversidade, na luta de aproximar elementos biológicos com sociais

para conversação da Natureza. A sociobiodiversidade ganha espaço na primeira

década do século XXI e é definida da seguinte forma.

Entende-se por sociobiodiversidade a relação entre bens e serviços gerados a partir de recursos naturais, voltados à formação de cadeias produtivas de interesse de povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares (MDA, 2017, p.1).

No Brasil, este conceito se institucionaliza através do Plano Nacional das

Cadeias dos Produtos da Sociobiodiversidade (PNPPS) que visa “desenvolver ações

integradas para a promoção e fortalecimento das cadeias de produtos da

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sociobiodiversidade, com agregação de valor e consolidação de mercados

sustentáveis” (MDA; MMA; MDS, 2009, p. 10).

O plano tem como objetivo i) à agregação de valor socioambiental; ii) à geração

de renda e; iii) à segurança alimentar de povos, e comunidades tradicionais e

agricultores familiares. Para isso, busca-se valorizar os produtos da

sociobiodiversidade, que são definidos como os bens e serviços da

sociobiodiversidade (produtos finais, matérias-primas ou benefícios oriundos dela)

(MDA; MMA; MDS, 2009). Estes produtos, preferencialmente, devem se inserir em

empreendimentos de um mesmo território e ramo, que mantêm algum modo de

aprendizagem, articulação e cooperação, entre si e com os demais atores locais. A

este processo, dá-se o nome de arranjos produtivos locais ou APL (MDA; MMA; MDS,

2009).

Este olhar para a sociobiodiversidade apresentado pelo PNPPS, embora

possua um forte viés na valorização dos produtos, geração de renda e fortalecimento

de cadeias produtivas locais, também assume a importância dos agricultores

familiares, povos e comunidades tradicionais ao priorizar processos de seus

interesses. Soma-se a construção do conceito apresentado, a argumentação de

Diegues (2014) que a Sociobiodiversidade almeja eliminar o miopismo20 acadêmico

que contribui para a separação entre o natural e o cultural. Esta distinção contribui

para que os olhares das ciências biológicas foquem somente na preservação dos

seres vivos e dos ecossistemas (a biodiversidade), do mesmo modo que as ciências

agrárias mirem mais a parte cultivável da natureza e o manejo humano utilizado nela

(a agrobiodiversidade), enquanto que as ciências sociais evidenciam a diversidade

cultural dos seres humanos, se relacionando pouco com as outras dimensões

possíveis. Desta forma, a sociobiodiversidade é maior do que a junção dos seres vivos

de um dado ecossistema, a quantidade de espécies utilizadas na alimentação humana

ou o número de cadeias produtivas para comercializar seus produtos. Ela, além destes

processos, engloba a maneira que o conhecimento é construído e transmitido de

geração em geração, símbolos, mitos e rituais, bem como os modos que mulheres e

homens se relacionam com a Natureza, os desenhos dos agroecossistemas, tipos de

insumos, espécies e sementes utilizados e afins (DIEGUES, e 2014). Ou seja, a

20 Diegues se refere a uma falta de perspicácia, de visão mais abrangente.

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sociobiodiversidade engloba a memória biocultural da espécie humana (TOLEDO e

BARRERA-BASSOLS, 2015).

Do exposto, cabe a ressalva que se o conceito de biodiversidade ainda é

recente em termos históricos, que dirá os de agrobiodiversidade ou

sociobiodiversidade, que, apesar de já socialmente apropriados por um

importante conjunto de atores e organizações sociais, ainda carecem de maior

profundidade teórica em sua construção conceitual. Mas o fato é que ambos tem

em sua essência conservar a vida no planeta “com gente dentro”. Neste

sentido, este trabalho se apoia na articulação e diálogo entre essas duas

denominações, uma vez que ambas, cada uma em suas peculiaridades,

respondem aos pressupostos e objetivos a que esta pesquisa se realiza.

Entretanto, visando reforçar a premissa que o ser humano faz parte da Natureza,

escolheu-se aqui dar mais ênfase o termo sociobiodiversidade.

Outra característica em comum de agrobiodiversidade e sociobiodiversidade é

sua busca por modos de agricultura que conciliam conservação ambiental e produção

de alimentos saudáveis com “gente dentro”, pressupostos estes próximos de outro

conceito trabalhado nesta pesquisa, a Agroecologia. Neste contexto, na próxima

seção será problematizado a relação entre Agroecologia, sociobiodiversidade e

domesticação de plantas.

2.4 AGROECOLOGIA, DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS E SOCIOBIODIVERSIDADE: FORÇAS DA VIDA

Para problematizar a relação entre Agroecologia, domesticação de plantas e

sociobiodiversidade, se faz necessário apontar alguns princípios da Agroecologia,

assim como foram descritos outros conceitos nas seções anteriores deste capitulo.

A Agroecologia tem no movimento ambientalista dos anos 1970 um dos

elementos de sua origem (PEREZ-CASARINO et al, 2015). Este movimento ganha

expressão quando a palavra ecologia passa a fazer parte do vocabulário de um

número maior de pessoas, mas é quando circula nos meios de comunicação uma foto

da paisagem do Planeta Terra visto do espaço, tirada pela nave Apollo 17, que mais

pessoas começam a enxergar a Terra como um todo e alguns questionamentos

aumentam. Por exemplo: É possível continuar pensando em crescimento infinito

dentro de um Planeta finito? A fragmentação da Ciência Moderna pode entender o

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Planeta de forma integral? As divisas entre países e nações são tão rígidas quanto se

pensava? (ODUM e BARRET, 2007).

Dentro deste contexto, as pesquisas desenvolvidas por Miguel Altieri (2009) e

Stephen Gliessman (2001), que incorporam a ecologia no manejo agropecuário

emergem, ambos têm como ponto de partida as práticas agrícolas de indígenas e

camponeses da América Latina, sujeitos que culturalmente tendem a olhar a Terra

como um todo. Com base na análise do conhecimento destes povos acerca do

ambiente que estão inseridos e de suas práticas agrícolas como a rotação de cultura,

sistemas de pousio, plantio diversificado, integração entre animais e plantas, sistemas

agroflorestais e domesticação de plantas, animais e paisagem, estes autores

formulam suas teorias que articulam ciclagem de nutrientes, controle biológico,

fertilidade do solo, nutrição de plantas, fluxos de energia, relação entre organismo e

ambiente entre outros, propondo as seguintes definições para a Agroecologia:

(...)é uma nova abordagem da agricultura e do desenvolvimento agrícola,

que construa sobre aspectos de conservação da agricultura tradicional local, enquanto, ao mesmo tempo, se exploram conhecimentos e métodos ecológicos modernos. Esta abordagem é configurada na ciência da agroecologia, que é definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN, 2005 p.53-54).

A Agroecologia fornece uma estrutura metodológica de trabalho para compreensão mais profunda tanto da natureza dos agroecossistemas como dos princípios segundo os quais ele funciona. Trata-se de uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compreensão e avaliação das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade como um todo. Ela utiliza os agroecossistemas como unidade de estudo, ultrapassando a visão unidimensional – genética, agronomia, edafologia- incluindo dimensões ecológicas, sociais e culturais (ALTIERI, 2009 p. 18).

Já seu objetivo é:

Trabalhar com e alimentar sistemas agrícolas complexos onde as interações ecológicas e sinergismos entre os componentes biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção de culturas (ALTIERI, 2009 p. 18).

A perspectiva apresentada por estes dois autores, embora possua uma visão

multidimensional, é centrada no conhecimento e na prática agrícola. Contudo, na

medida em que se difunde a Agroecologia, novos olhares se somam. As pesquisas

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de Sevilla Guzmán (2002), por exemplo, inserem com mais afinco a perspectiva

sociológica. Segundo o autor,

(...) a expressão perspectiva sociológica tem aqui uma dupla acepção, já que por um lado, baseio-me fundamentalmente nesta tradição teórica do pensamento cientifico e, por outro lado, o aporte fundamental da Agroecologia tem uma natureza social, uma vez que se apoia na ação social coletiva de determinados setores da sociedade civil vinculados ao manejo dos recursos naturais, razão pela qual é também, neste sentido, sociológica. (SEVILLA-GUZMÁN, 2002, p. 18).

Este sentido sociológico fomenta olhares para processos que envolvem

elementos da Agroecologia que acontecem tanto dentro quanto fora dos

agroecossistemas. Estes olhares são pensados e instrumentalizados a partir de uma

“tripla perspectiva: ecológica-produtiva, sócio-econômica e sócio-política” (SEVILLA-

GUZMÁN, 2002, p. 21). Esta tríplice perspectiva se assenta nas discussões acerca

do conceito de Campesinato, pois seria a práxis dos camponeses que fomentam as

bases produtivas, metodológicas e sociais para a emergência da Agroecologia. Isso

por que

(...) o campesinato é mais que uma categoria histórica ou um sujeito social, é uma forma de manejar os recursos naturais vinculada aos agroecossistemas locais e específicos de cada zona, utilizando um conhecimento sobre tal entorno condicionado pelo nível tecnológico de cada momento histórico e o grau de apropriação de dita tecnologia, gerando assim graus de “camponesidade” (SEVILLA-GUZMÁN, 2011. p. 76).

Para apontar a relação entre Campesinato e Agroecologia, Sevilla-Guzmán

(2011), usa como referência a existência de uma racionalidade camponesa presente

na população rural da russa indicada por Chayanov no início do século XX. Outra

referência utilizada por Guzmán é a indicação feita por Victor de Toledo (1992) acerca

de uma possível dimensão ambiental presente na racionalidade camponesa. Este

autor, através da análise das relações de camponeses em várias partes do Mundo

(África Central, Sudeste da Ásia, México e região amazônica) com a

sociobiodiversidade elabora sua tese de uma possível que têm dois elementos

centrais: i) existe uma certa racionalidade ecológica comum a todos os camponeses,

ii) essa racionalidade contribuiu para que sejam construídos e geridos

agroecossistemas sustentáveis. Isso se deve às seguintes características: a) nível

elevado de autossuficiência tanto alimentar quanto de produtos utilizados na unidade

familiar (por isso predomina a produção de bens de consumo); b) a energia de trabalho

utilizada no agroecossistema é em sua maioria oriunda da mão de obra dos membros

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das famílias e do ambiente ao redor, existindo pouco ou nenhum incremento

energético de fora; c) é feito escambo com o excesso da produção, seja por outros

produtos ou por dinheiro. Essa troca tem objetivo de manter a unidade familiar e não

o lucro financeiro; d) no geral, o tamanho médio das unidades familiares é baixo, em

função de razões tecnológicas e pelas características apresentadas acima, mas

sobretudo pela desigualdade na distribuição de terra que impera nos países

analisados; e) ainda que a agricultura seja a principal atividade, pode existir uma

combinação de práticas que incluem artesanato, pesca, caça, retirada de produtos

das florestas e trabalhos fora da unidade familiar (TOLEDO,1992).

O reconhecimento desta racionalidade ecológica dos camponeses tanto pela

dimensão técnica-ecológica (ALTIERI, 2009; GLIESSMAN,2001) quanto pelas

dimensões socioeconômicas, políticas e culturais (SEVILLA-GUZMÁN, 2002) permite

olhar para outra perspectiva da Agroecologia: a maneira que o conhecimento é

construído.

Uma característica central desta construção é o diálogo envolvendo diversas

Ciências como a Econômica, Sociais, Agrária, Geográfica, Biológica, Ecológica e afins

com a práxis dos agricultores. A este processo dá-se o nome de diálogo de saberes,

conforme indica Leff (2002)

A agroecologia convoca a um diálogo de saberes e intercâmbios de experiências; a uma hibridação de ciências e técnicas, para potencializar as capacidades dos agricultores; a uma interdisciplinaridade, para articular os conhecimentos ecológicos e antropológicos, econômicos e tecnológicos que confluem na dinâmica dos agroecossistemas. Estas ciências se amalgamam no caldeirão no qual se fundem saberes muitos distintos para a construção de um novo paradigma produtivo (LEFF, 2002, p. 42).

Este caldeirão de saberes contribuiu para o avanço das Ciências que permitem

o diálogo com outros atores, como as ciências do campo da complexidade (MORIN,

2007), já que novas teses e conceitos são reconhecidas enquanto outras são

refutadas. Este processo ajuda na hibridação de saberes, ou seja, que novas

disciplinas cientificas emerjam, alterando em maior ou menor grau as disciplinas que

a originaram. Este caldeirão também auxilia para que práticas e conceitos dos

agricultores sejam modificados, atualizados ou reforçados (LEFF, 2002). É devido a

este contexto intricado, apresentado até o momento, que a Agroecologia segue

ganhando corpo junto a famílias agricultores e no meio acadêmico. Isso contribui para

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que, na atualidade, somem-se cada vez mais olhares que a conceituam como uma

Ciência, como indicam Caporal e Costabeber.

Agroecologia tem sido reafirmada como uma ciência ou disciplina científica, ou seja, um campo de conhecimento de caráter multidisciplinar que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias que nos permitem estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas. (CAPORAL e COSTABEBER 2002. p. 14).

A Agroecologia se situa dentro do paradigma da complexidade21 que parte da

premissa de que para analisar as relações que envolvem homens e mulheres entre si

e destes com o ambiente, é necessário unir os conhecimentos das diferentes

disciplinas cientificas com os saberes de sujeito que estão além da academia

(CAPORAL e COSTABEBER 2002). De acordo com a perspectiva do que presume-

se ser a Agroecologia apresentada, cabe iniciara relação dela com os outros conceitos

discutidos até aqui.

Conforme apontado, a domesticação de plantas é i) um processo; ii) uma

coevolução entre mulheres e homens com a natureza; iii) influenciado por fatores

ambientais, genéticos e pelo manejo humano que forma um iv) continuum de níveis

de modificações em plantas (e na paisagem) (CLEMENT, 2001). Ou seja, a

domesticação de plantas não é algo uniforme, cada tempo e espaço faz emergir um

conjunto de plantas com dadas características. Por exemplo, uma domesticação de

plantas baseada nos princípios da revolução verde, que visa a produção de

commodities em forma de monocultura, com uso intensivo de insumos agroquímicos

e oriundos de fora da unidade familiar fomenta a criação de populações de plantas

altamente selecionadas, com reduzida variabilidade fenotípica e genética, a cultivar

moderna. Como resultado, uma mesma cultivar é utilizada em todos os contextos

causando uma brutal homogeneização de saberes, práticas, paisagens e plantas, em

outros termos, eliminando a sociobiodiversidade. (GLIESSMAN, 2011 e CLEMENT,

2011). Por outro lado, existem experiências de domesticação de plantas que

promovem a sociobiodiversidade, como o melhoramento genético participativo da

goiaba serrana (Acca sellowiana) no estado do Rio Grande do Sul que através de

diálogos envolvendo agricultores e entidades de pesquisa e assistência técnica

21 Caporal e Costabeber (2002) se valem da teoria construída por Morin onde o termo complexus significa o que é tecido junto.

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valorizou o conhecimento dos agricultores e uso da espécie, além de gerar

populações de plantas com características mais próximas do anseio dos agricultores

(VOLPATO, DANAZZOLLO, NODARI, 2011). Também cabe lembrar dos casos

históricos como as milhares variedades de arroz produzidas por comunidades na

China há pelo menos dois séculos com respeito aos saberes locais e mantendo bons

níveis de produtividade sem o uso de agroquímicos. Ou as milhares variedades de

batatas domesticadas pelos indígenas da América do Sul que além de servirem de

fonte de soberania alimentar, são cultivadas em agroecossistemas sustentáveis, como

indicam Toledo e Barrera-Bassols (2015. p.35 e 36) ao mencionarem que “de batata

se reconhecem localmente cerca de 12 mil variedades, já de arroz são cerca de 10

mil”.

Em suma, as diferentes domesticações de plantas (e paisagens) podem

contribuir para aumentar ou diminuir a quantidade de organismos vivos e os serviços

ecológicos essências de um ecossistema. Bem como a diversidade (fenotípica,

genotípica e de espécies) de seres utilizados na agricultura, o uso e a maneira que o

conhecimento sobre o manejo das plantas é construído. Ou seja, as domesticações

de plantas podem promover ou eliminar sociobiodiversidade de acordo com cada

tempo e espaço. Neste contexto de possibilidade de incremento ou perda de

sociobiodiversidade, de acordo com o tipo de domesticação de plantas, cabe discutir

a inserção da Agroecologia no processo.

Um primeiro ponto da analise desta relação é a valorização do manejo de

agroecossistemas dos povos tradicionais no início da emergência da Agroecologia.

Quando olhou-se para estes sistemas, além dos desenhos e técnicas, se observou as

maneiras que estes sujeitos realizavam a seleção de plantas mais indicadas para cada

realidade, assim como a forma de conversar e construir os melhores fenótipos no

decorrer do tempo. Esse processo contribuiu para a manutenção de um banco de

plantas e saberes “vivos”, preparados para diversos contextos socioambientais

(ALTIERI, 2009; GLIESSMAN, 2001). O recrutamento destas espécies com maior

potencial de se adequar a cada local e as alterações socioambientais que eles

passam, contribuiu para a construção de agroecossistemas sustentáveis, outra

premissa da Agroecologia.

Também é importante pontuar o diálogo de saberes como caminho para a

construção do conhecimento agroecológico. Através dele, as inestimáveis alternativas

historicamente construídas pela racionalidade camponesa (TOLEDO, 1992) somam-

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se comas informações trazidas por técnicos, pesquisadores e agricultores de outros

locais. Nesse caldeirão os saberes se dilatam, como consequência, as possibilidades

e técnicas e os usos dos bens da sociobiodiversidade também aumentam, como a

valorização de espécies nativas e crioulas (LEFF, 2002). Este diálogo de saberes é

incorporado no âmbito da Ciência da Complexidade e passa a tecer, junto com a

academia, conhecimentos multidisciplinares que analisam as complexas relações

entre domesticação de plantas, sociobiodiversidade e Agroecologia (CAPORAL e

COSTABEBER, 2002).

Do exposto, pode-se apontar que a Agroecologia, ao analisar e valorizar o

modo de domesticação de plantas dos povos e comunidades tradicionais, e sua busca

por agroecossistemas sustentáveis através da construção do conhecimento via

diálogo de saberes, fornece as bases teóricas e práticas para que seja tecido um

modo de domesticar plantas que promove a sociobiodiversidade, e todos os

processos socioambientais derivados dela.

Essa relação que sugerimos, pode também ser demostrada se compararmos a

domesticação de plantas com estruturas dissipativas, assim como fizeram Vezzani e

Mielniczuk (2011) com a formação dos solos Steenbock e Vezzani (2013) com os

sistemas agroflorestais com apoio das teorias de Prigogine (1996; 2002) e Prigogine

& Stengers (1992; 1997). Os sistemas agroflorestais e os solos foram classificados

como sistemas vivos que são fechados na sua organização e abertos no fluxo de

energia. Já sua estrutura tem a configuração de uma rede de relações não lineares

entre os seus componentes internos e com o meio. Estas estruturas se auto-

organizam de acordo com o fluxo de matéria e energia que invariavelmente se dissipa

(entropia) e geram a desordem e novas propriedades emergem, culminado em outra

ordem. A maneira que o sistema se auto-organiza após a perturbação responde a

quantidade de fluxo e de matéria que entram. Caso o volume e a constância sejam

elevados, cria-se uma propriedade emergente com níveis de complexidade maiores

que o estado anterior, mas se o volume for menor, o sistema se autorregula em níveis

menos complexos (VEZZANI E MIELNICZUK 2011). Essa leitura das estruturas

dissipativas contribuiu para que Steenbock e Vezzani (2013) elaborassem a figura 10

que demostra como a formação dos solos se auto-organiza.

Ao observar a figura 10, é visível que quanto maior a complexidade e o fluxo

de energia o sistema solo-planta-orgânico se desenvolve, enquanto há decomposição

quando a entrada diminuiu. Cabe salientar que cada letra é uma propriedade

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emergente, ou seja, o equilíbrio momentâneo da estrutura até nova dissipação de

energia. Embora apresentando de maneira superficial as estruturas dissipadas, o

olhar que buscamos transmitir é que i) os sistemas vivos trocam energia e matéria

com ambiente através de uma rede mutualista com outros sistemas; iii) nesta troca o

sistema se modifica e se auto-organiza, iv) se a entrada de energia e matéria se

modifica acima do estado inicial, a ordem do sistema se dá em níveis maiores de

complexidade, enquanto o contrário reduz a complexidade.

Figura 10: Representação esquemática do comportamento do sistema solo-plantas-organismos

Fonte Steenbock e Vezzani, 2013.

Neste cenário, é proposto uma analogia entre domesticação de plantas,

Agroecologia e sociobiodiversidade. Se entendermos a domesticação de plantas

como um processo que envolve aspectos sociais e ambientas, em cada tempo e

espaço tende-se a construir e reconstruir sua forma de domesticação de plantas.

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Nesse processo de (re)construção, quanto maior forem a quantidade de aspectos

inseridos, e as interações entre eles, maior será o volume de energia presente no

sistema, bem como a complexidade do tipo de domesticação de plantas realizada. Em

outros termos, quanto mais sociobiodiversidade estiver presente no processo, mais

energia e por consequência mais maneiras de domesticação complexas emergem.

Quando se soma neste processo o uso dos princípios da Agroecologia, a intensidade

do fluxo de energia do sistema, ou sociobiodiversidade, aumenta. Portanto, uma

domesticação de plantas complexa é retroalimentada pela prática dos princípios da

Agroecologia. Nesse processo mutualístico a sociobiodiversidade é promovida. Caso

o nível de complexidade da domesticação e o uso dos princípios da Agroecologia

diminuam, a sociobiodiversidade diminui. A figura 11 expõe uma representação

gráfica do descrito.

Figura 11: Representação esquemática da interação entre sociobiodiversidade, domesticação de plantas e Agroecologia

Fonte: O autor em conjunto com os orientadores da pesquisa a partir das atividades de campo.

Na figura 11, há uma estimativa dos possíveis caminhos das interações entre

i) domesticação de plantas, ii) Agroecologia e iii) sociobiodiversidade, sendo em A

existe a evolução de propriedades emergentes positivas para a geração de

sociobiodiversidade e, em B, propriedades emergentes da simplificação da

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domesticação e desvalorização de conhecimentos e práticas agroecológicas,

reduzindo a sociobiodiversidade. Este tem sido, infelizmente, o caminho da agricultura

praticada pela agricultura hegemônica, no sentido da homogeneização de processos

de domesticação, paisagens e culturas. Por outro lado, a Agroecologia, a

domesticação de plantas e paisagens e a sociobiodiversidade são forças de um

mesmo sistema, e quando se trabalha estas 3 forças de forma sinérgica, gera-

se um movimento cíclico que leva a mais vida no sistema maior, o Planeta Terra.

Sobrevoado estes conceitos e aproximações, no próximo item pretende-se

aproximar esta dimensão mais teórica da ação desta pesquisa.

2.5 A SOCIOBIODIVERSIDADE PRESENTE NOS GRUPOS: UM RECORTE DA

CADEIA DE FRUTAS NATIVAS DA CANTUQUIRIGUAÇU

Se nas seções anteriores deste capitulo apresentou-se o conceito de

domesticação de plantas, sociobiodiversidade, Agroecologia e como eles interagem

entre si, nesta busca-se apresentar um recorte da sociobiodiversidade presente nos

grupos desta pesquisa. Para isso, primeiro momento serão expostos alguns

componentes da cadeia produtiva das frutas nativas e na sequência algumas

características das frutas nativas classificadas como prioritárias pelos grupos

envolvidos nesta pesquisa

O termo cadeia produtiva nesta seção é uma analogia a dois aspectos. O

primeiro diz respeito ao conceito de arranjo produtivo local como um conjunto de

processos econômicos, sociais e ambientais inseridos num espaço geográfico que

apresentam vínculos com os saberes, produção, beneficiamento e comercialização

de determinados bem da sociobiodiversidade (MDA; MMA; MDS, 2009), como

descrito no item 2.3. O segundo se refere a Cadeia Solidária das Frutas Nativas do

Rio Grande do Sul, pois tal cadeia além de ter foco no mesmo tema desta pesquisa,

tem influência na região como descreve-se posteriormente. Neste contexto, mesmo

que não estejam consolidados todos os processos que envolvem o público desta

pesquisa com as frutas nativas, podemos indicar que existe, mesmo que incipiente, a

presença de uma cadeia das frutas nativas na área de abrangência deste estudo, que

até ser debatido alguma alternativa, será intitulada de Cadeia das Frutas Nativas da

Cantuquiriguaçu. Assim sendo, esta seção se propõe a apresentar um recorte desta

cadeia. Para isso, o principal procedimento foi o uso da ferramenta observação

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participante (DEMO, 2008) realizada durante as atividades que envolveram os atores

sociais e o autor desta pesquisa.

O primeiro e principal elemento desta cadeia são os seis grupos que os atores

desta pesquisa constituem: i) 8 de Junho; ii) Jabuticabal; iii) Palmeirinha, iv) Recanto

da Natureza; v) Terra de Todos e; vi) Terra Livre. Entende-se por grupo a junção de

famílias de um determinado local e seus espaços de processamento e

comercialização. Os grupos podem ser institucionalizados em forma de associação e

cooperativas ou serem informais. No caso dos seis grupos que fizeram parte desta

pesquisa, seis tem vínculo com algum cadastro nacional de pessoa jurídica (CNPJ).

O Recanto da Natureza é vinculado a Associação Terra Livre, enquanto o 8 de Junho

é ligado a Cooperativa Agroindustrial 8 de Junho – COPERJUNHO- e o Jabuticabal

faz parte da Associação Treze de Maio, comum a eles é o fato dos grupos serem

formados por famílias certificadas como orgânicas enquanto as associações e

cooperativas buscam atender todas as famílias dos assentamentos que estão

inseridas. Também existe a Associação dos Agricultores do MPA – APAMPA- que é

a junção dos grupos Palmeirinha e Terra de Todos.

Uma importante característica dos grupos é que todos realizam mutirões. Esta

atividade histórica consiste na troca de dias de serviço entre famílias, usualmente de

uma mesma comunidade, para realizar atividades num dado local. Tal atividade vem

sendo resgatada e promovida pelos grupos com apoio do CEAGRO, mas com

algumas mudanças, sobretudo no que tangue a sazonalidade e número de famílias

envolvidas na troca. Em relação a sazonalidade, busca-se que os mutirões aconteçam

de forma semanal, já ao número de família, sugere-se quatro ou cinco como

quantidade ideal. Esse processo está gerando os seguinte resultados: a) aumento da

área manejada pelas famílias; b) criação de um ambiente de ensino e aprendizagem

que estimula o diálogo de saberes entre os agricultores técnicos e pesquisadores e;

c) troca de sementes e material propagativo entre as famílias que fazem o mutirão

(CEAGRO,2018).

Outro aspecto desta diz respeito aos espaços de processamento da produção.

O Recanto da Natureza, 8 de Junho, Jabuticabal, Palmeirinha e Terra de Todos tem

acesso à uma agroindústria. Além disso, a cadeia em questão têm duas cozinhas

comunitárias regularizadas na vigilância sanitária que são administradas por famílias

do grupo Palmeirinha e uma não regularizada no Grupo Terra Livre, ou seja todos os

grupos desta pesquisa tem acesso a algum tipo de espaço de processamento. Cabe

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ressaltar que, entre outros equipamentos, cada grupo conta com uma despolpadeira

de fruta com capacidade de processamento de 100 quilos por hora e uma seladora

para líquidos para usar nos locais de processamento citados.

Juntamente com o descrito, cabe destaque para a maneira que se dá a

comercialização, uma vez que ela é feita em três feiras, nos municípios de Laranjeiras

do Sul (realizada pelos Grupos Recanto da Natureza e 8 de Junho), Palmital (feita

pelos Grupos Palmeirinha e Terra de Todos) e Nova Laranjeiras (Grupo Terra Livre).

Estes grupos e mais o grupo Jabuticabal também acessaram em algum momento o

programa nacional de alimentação escolar –PNAE- e o programa de aquisição de

alimentos (PAA) modalidade doação simultânea. Outra forma de comercialização é a

realização de eventos articulados pela COPERJUNHO, como coquetéis e cafés

coloniais realizados mensalmente na sede da cooperativa e pelo Grupo Terra de

Todos, sobretudo comércio de sucos e caipirinha nos encontros organizados pelo

MPA. O quadro 3 sintetiza as informações pertinentes aos grupos.

Quadro 3: Ligação dos grupos com CNPJ, espações de processamento e espaços de comercialização

N Nome do

Grupo Vínculos com

CNPJ Espaço de

Processamento Espaços de Comercialização

1 8 de Junho Cooperativa

COPERJUNHO 01 Agroindústria

Feira na Cidade de Laranjeiras do Sul, PNAE, PAA e eventos

com público urbano

2 Jabuticabal Ass. Treze de

Maio 01 Agroindústria PNAE, PAA

3 Palmeirinha Ass. APAMPA 01 Agroindústria e 1 cozinha comunitária

Feira na Cidade de Palmital, PNAE e PAA

4 Recanto da Natureza

Ass. Terra Livre 01 Agroindústria Feira na Cidade de Laranjeiras

do Sul, PNAE e PAA

5 Terra de Todos Ass. APAMPA 01 Agroindústria* Feira na Cidade de Palmital, PNAE, PAA e eventos com

público urbano

6 Terra Livre - 01 cozinha comunitária

Feira na Cidade de Nova Laranjeiras, PNAE e PAA

* Os grupos Terra de Todos e Palmeirinha estão administram a mesma agroindústria.

Fonte: o Autor, a partir de trabalho de campo.

Do exposto, pode-se indicar que os grupos são de suma importância para a

Cadeia das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu por que é a partir desta instância que

diversos processos se originam, sendo que estes são os pontos chaves:

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a) Cuidado com as frutas nativas: as famílias que compõem os grupos

contribuem para a cadeia das frutas nativas através do cuidado com as árvores

de frutas nativas. Esse cuidado é demonstrado no plantio, poda, roçada ao redor

e colheita, bem como consumo, elaboração de novos produtos e socialização

das experiências que em maior ou menor grau, está presente em todas as

unidades familiares;

b) Processamento: o cuidado com as frutas nativas contribui para que existam

frutos que são processados nas cozinhas comunitárias ou agroindústrias dos

grupos, facilitando assim o aumento de produtos derivados das espécies nativas,

sobretudo os pedaços de frutas congelados. Este produto é obtido por meio da

fricção da frutas em peneiras e retirada manual das sementes ou via

despolpadeira. O produto deste processo é colocado em embalagens de

plástico, selado e congelado podendo ser utilizado na confecção de sucos,

picolés, sorvetes, caipirinhas, doces, geleias e afins;

c) Comercialização: embora inicial, observou-se à campo trocas comerciais

envolvendo as frutas nativas basicamente de duas formas, in natura ou

processadas. O primeiro caso acontece nas feiras dos grupos, já o segundo se

dá via venda direta para restaurantes e consumidores de pedaços de fruta

congelada e em eventos na forma de suco. No âmbito da comercialização dos

produtos processados, um destaque é a relação com o Encontro de Sabores, um

empreendimento localizado na Cidade de Passo Fundo-RS, que processa e

comercializa frutas nativas, além de ser um dos fundadores da Cadeia Solidária

das Frutas Nativas do Rio Grande do Sul. Esta cadeia é a junção de

aproximadamente 180 empreendimentos de produção, processamento e

comercialização de frutas nativas e crioulas que funcionam de acordo com os

princípios da Economia Solidária e da Agroecologia, no ano de 2017 a cadeia

movimentou cerca de dez toneladas de produtos in natura e processados

(CETAP, 2015).

Os grupos apresentados dialogam com outras organizações no Território que

estão localizado, uma das principais é o Centro de Desenvolvimento Sustentável e

Capacitação em Agroecologia – CEAGRO –, embora inicie suas atividades em

meados de 1991, é formalmente fundado no ano de 1997. Sua origem acontece dentro

Assentamento Jarau, na Cidade de Cantagalo-PR, fato este que indica sua estreita

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ligação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. No início seu

foco era promover a educação informal sobre desenvolvimento rural sustentável com

as famílias no Território da Cidadania Cantuquiriguaçu, entretanto, com o passar do

tempo CEAGRO passa a articular cursos formais de nível médio e técnico em

agroecologia com jovens dos três Estados da região Sul, no espaço que hoje é

chamado de unidade demonstrativa do Cavaco. No ano de 2002, até os dias atuais,

as atividades de formação passam a ser realizadas na unidade Vila Velha, em Rio

Bonito do Iguaçu e com enfoque nos cursos de graduação e pós graduação através

de parcerias com Instituto Federal do Paraná – IFPR, Universidade de Mondragon –

País Basco, Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ e da Universidade Federal da

Fronteira Sul – UFFS (CEAGRO, 2018).

Em conjunto com as atividades de formação, principalmente a partir de 2010,

através da parceria com Grupo Cooperativo de Mondragon – Espanha, Fundação

Mundukide e Governo do País Basco, o CEAGRO começa a prestar assessoria

técnica, sobretudo as famílias acampadas e assentadas e agricultores familiares

vinculados ao Movimento dos Pequenos Agricultores- MPA dos Territórios da

Cidadania Cantuquiriguaçu e Paraná Centro. Foram mais de 30 projetos e convênios

executados com o objetivo de promover a Agroecologia e o Desenvolvimento Rural

Sustentável nos Grupos de Agroecologia do Núcleo Luta Camponesa, Coletivos de

Mulheres e Juventude. Atualmente, as atividades do CEAGRO estão organizadas em

4 eixos estratégicos e transversais: Agroecologia, Cooperação e Gestão, Gênero e

Juventude (CEAGRO, 2018), já suas ações contribuem principalmente para os

seguintes elementos na Cadeia das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu:

a) Assistência Técnica: o CEAGRO presta assessoria aos grupos nos temas

produção com enfoque na Agroecologia, gestão de empreendimentos,

elaboração de novos produtos, regularização sanitária e da conformidade

orgânica, aspectos centrais na valorização das frutas nativas;

b) Valorização dos SAF’s: o CEAGRO disponibilizou diversos equipamentos e

insumos para o plantio, manejo e processamento da produção dos sistemas

agroflorestais das famílias que ele atende, incluindo as frutas nativas. Cabe

ressaltar que todos os grupos que fazem parte desta pesquisa foram

beneficiados por este aporte, que é constituído por mudas, ferramentas e

insumos para o plantio e manejo. No entanto é a distribuição de equipamentos

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para o processamento a contribuição que mais altera a Cadeia das Frutas

Nativas da Cantuquiriguaçu. Essa distribuição foi articulada pelo Projeto

REDES ECOFORTE 2014/005, vinculado ao Programa de Fortalecimento e

Ampliação das Redes de Agroecologia Extrativismo e Produção Orgânica –

PLANAPO – que forneceu uma despolpadeira de frutas e uma seladora para

líquidos para cada grupo desta pesquisa (exceto o Grupo Jabuticabal, que já

possuía uma despolpadeira). Esse processo permitiu que as famílias

vislumbrassem aumentar padrão, volume e sazonalidade de produtos

processados das frutas nativas;

c) Fortalecimento do Núcleo Luta Camponesa: além de ser um dos principais

articuladores para a formação do Núcleo Luta Camponesa, o CEAGRO

historicamente contribui na manutenção e desenvolvimento do Núcleo. Esse

processo tem interface com as frutas nativas através da manutenção do

Sistema Participativo –SPG- de conformidade orgânica e na disseminação das

experiências de valorização das frutas nativas com outros agricultores;

d) Articulação de projetos e convênios: o CEAGRO elaborou e executou mais

de 30 projetos em parceria com entidades nacionais e internacionais, públicas

e privadas que, entre outras ações, contribuíram para a valorização das frutas

nativas através da manutenção da assessoria técnica, apoio ao Núcleo Luta

Camponesa e a valorização dos SAF’s e as frutas nativas inseridas neles.

Além do CEAGRO, a Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS- é um elo

importante na valorização de formas mais sustentáveis de se relacionar com a

sociobiodiversidade e por isso cabe explicar sua influência nessas palavras. A UFFS

foi criada oficialmente em 15 de setembro de 2009 resultado da articulação dos

movimentos sociais como a Via campesina, a FETRAF-SUL e a CUT com o Poder

Público. Esse processo tinha como expectativa desenvolver a Mesorregião da Grande

Fronteira Mercosul, historicamente desassistida de políticas públicas, através da

construção de uma Universidade Federal que levasse em conta as características

socioambientais da região. Neste contexto são criados cinco campi em locais

estratégicos: Erechim e Cerro Largo (Rio Grande do Sul), Chapecó (Santa Catarina e

sede da instituição) e Realeza e Laranjeiras do Sul (Paraná), sendo este último com

estreita ligação com os atores desta pesquisa. (UFFS,2018).

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O Campus Laranjeiras do Sul foi construído numa área cedida pelas

famílias do Assentamento 8 de Junho, atualmente são 1.041 alunos e 198

colaboradores, atualmente são oferecidos seis curso de graduação: i) Agronomia –

linha de formação em Agroecologia, ii) Ciências Econômicas; iii) Engenharia de

Alimentos; iv) Engenharia de Aquicultura v) Interdisciplinar em Educação no Campo -

Licenciatura e Interdisciplinar em Educação do Campo vi) Ciências Humanas e

Sociais - Licenciatura. Também são disponibilizados quatro Pós-Graduações: i)

especialização em Educação do Campo e ii) Realidade Brasileira, ambas Lato-Sensu,

bem como mestrados Stricto-Sensu em iii) Agroecologia e Desenvolvimento Rural

Sustentável e em iv) Ciência e Tecnologia de Alimentos (UFFS, 2018).

Outra caracterizas deste campus é a presença de dois auditórios que somados

recebem cerca de 400 pessoas, um restaurante universitário que pode fornecer até 2

mil refeições por dia e aproximadamente 40 laboratórios capazes de atender

atividades nas áreas de processamento de alimentos, sistemas agroflorestais,

sementes, botânica, piscicultura entre outros. Também existem quatro núcleo de

estudos que se vinculam a Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: i)

Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA); iii) Núcleo de Estudos em Cooperação

(NECOOP); Núcleo de Estudos em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Karu Pora (NEA –Ssan Karu Porã) e; iv) Núcleo de Estudos em Aquicultura com

Enfoque Agroecológico (AquaNEA).

O Campus Laranjeiras do Sul da UFFS se inseri na Cadeia das Frutas Nativas

da Cantuquiriguaçu principalmente nas seguintes ações:

a) Oficinas e seminários sobre frutas nativas: nos auditórios e laboratórios de

sistemas agroflorestais e processamentos de alimentos são realizadas oficinas

e seminários que abordam temas como comercialização, usos, elaborações de

novos produtos e boas práticas no processamento das frutas nativas. Destaque

para o seminário Valorização das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu que contou

com a presença de representantes da Cadeia Solidária das Frutas Nativas do

Rio Grande do Sul onde, além de ser explicado o funcionamento da cadeia, foi

demonstrado como processar frutas nativas e crioulas;

b) Pesquisas: principalmente os cursos de Agronomia, Ciências Econômicas e o

Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável vêm

desenvolvendo pesquisas de conclusão de curso ligadas a vários aspectos das

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frutas nativas. Destaque para Siqueira (2016), que avaliou a germinação de

sementes de Mirtáceas na região da Cantuquiriguaçu-PR; Schreiner (2016), que

identificou os usos e a importância das frutas nativas para famílias agricultoras

da Cantuquiriguaçu e Canosa (2016), que embora não tenha trabalhado

especificamente com o tema, ao criar um método participativo para construção

de sistemas agroflorestais apontou algumas características e problematizou a

importância da implantação das frutas nativas nestes sistemas;

c) Articulação de projetos e convênios: A UFFS, sobretudo através dos seus

Núcleo de Estudo NEA, NECCOP e NEA –Ssan Karu Porã coordena e executa

projetos e convênios que disponibilizam recursos para bolsas de estudo,

equipamentos e assessoria para promoção da cadeia solidária das frutas

nativas;

d) Incidência Política: através de diálogos com membros do Poder Público,

membros de conselhos que discutem a alimentação e o desenvolvimento

sustentável, órgãos de assistência técnica e entidades representativas de

agricultores familiares colaboradores da UFFS, expõe as carências e potencial

das frutas nativas.

Outro aspecto da Cadeia das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu é sua relação

com o Núcleo Luta Camponesa que é vinculado à Rede Ecovida de Agroecologia. A

Rede Ecovida foi oficialmente formada em 1998, com o objetivo principal de promover

a Agroecologia Seu funcionamento é descentralizado e horizontal, enquanto sua

organização é centrada na articulação entre famílias, grupos informais, associações,

cooperativas (tanto de produtores quanto de consumidores), organizações não

governamentais (ONG’s), órgãos de assistência técnica e de pesquisa, inseridos num

dado espaço geográfico que é intitulado como Núcleo Regional. A junção dos Núcleos

Regionais forma a Rede Ecovida, que é composta por 4.500 famílias, mais de 200

feiras ecológicas e 27 Núcleos, inseridos em 352 municípios dos Estados do Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outros aspectos desta da Rede são a articulação

de um SPG de avaliação da conformidade orgânica das unidades familiares e

agroindústrias, bem como um circuito de comercialização entre os Núcleos, intitulado

Circuito Sul de Circulação de Alimentos da Rede Ecovida (que, atualmente, conta

com a participação de entidades dos três estados do Sul e de São Paulo (REDE

ECOVIDA, 2018).

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É dentro deste contexto que, durante VIII Encontro Ampliado da Rede Ecovida,

realizado na Cidade de Florianópolis-SC em 2012, foi criado o Núcleo Regional Luta

Camponesa, por intermédio da articulação entre o CEAGRO, grupos de agricultores

ligados ao MST e ao MPA e a UFFS Campus Laranjeiras do Sul. O Núcleo se articula

com a Cadeia das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu, principalmente, nestes

aspectos:

a) Certificação de conformidade orgânica: através de um sistema participativo

de garantia, tanto as unidades familiares como os espaços de processamento

que produzam frutas nativas podem solicitar o selo de conformidade orgânica

e comercializar sua produção como tal;

b) Troca de Saberes: através das reuniões envolvendo os grupos do Núcleo

Luta Camponesa os agricultores trocam saberes e, nesse contexto, se insere a

valorização das frutas nativas. Além da troca endógena, nos espaços de

articulação com outros Núcleos da Rede Ecovida também ocorre diálogos de

saberes. Um exemplo desse diálogo com outros núcleos aconteceu entre os

agricultores do Núcleo Luta Camponesa com os agricultores do Núcleo

Mauricio Burmester do Amaral situado na região da grande Curitiba e de Ponta

Grossa. Nesse processo, os agricultores da Associação de Agricultores

Familiares das Colônias Iapó, Santa Clara e Vizinhanças, da Cidade de Castro-

PR, socializaram com os membros do Núcleo Luta Camponesa sua experiência

de processamento e comercialização dos pedaços de frutas congeladas no

PNAE. Como resultado, os agricultores de diversos grupos iniciaram o debate

com as Prefeituras dos municípios que estão inseridos;

c) Aproximações com outras organizações: através do Núcleo Luta Camponesa

é possível conhecer e se aproximar de organizações simpatizantes tanto do

Núcleo Luta Camponesa como das demais instâncias da Rede Ecovida, um

exemplo é a aproximação com o Encontro de Sabores da Cadeia de Frutas

Nativas do Estado do Rio Grande do Sul;

d) Incidência Política: Ao se inserir na Rede Ecovida via Núcleo Luta

Camponesa, as demandas e os potenciais das frutas nativas alcançam

diversas esferas do poder público, contribuindo assim para que se legislação

discutida e projetos sejam direcionados.

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Cabe destacar também no arranjo exposto a presença de dois viveiros que

produzem mudas de espécies arbóreas frutíferas, o do Instituto Ambiental do Paraná

– IAP – com sede nas cidade de Guarapuava e da empresa ENGIE Energia, instalado

em Quedas do Iguaçu-PR, sendo que o segundo tem uma relação mais próxima com

os grupos desta pesquisa. Ambos têm como foco a recuperação florestal e produzem

diversas espécies nativas, por isso a escolha dos indivíduos produtores de semente

se dá mais por critérios de logística e disponibilidade. Estes viveiros influenciam a

cadeia das frutas nativas através da confecção e distribuição de mudas de vinte

espécies arbóreas frutíferas.

Mesmo que já abordados anteriormente, é importante realçar a influência de

organizações que funcionam para além da área de abrangência da cadeia produtiva,

como o MST e o MPA. Ambos os movimentos sociais do campo vem incorporando a

Agroecologia como uma das alternativas para a construção de um modelo de

sociedade mais igualitária. Esse processo, mesmo que passível de contradições,

inclui a valorização das frutas nativas e gera como resultado principal alargar o número

de agricultores interessados na valorização das frutas nativas.

As informações descrita neste item estão sintetizadas na figura 12. Ao observar

tal figura, percebe-se a existência dos seis grupos, 4 agroindústrias, 2 cozinhas

comunitárias, 4 feiras agroecológicas e do viveiro da empresa ENGIE.

Figura 12: Representação gráficas num mapa dos principais componentes da Cadeia

das Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu.

Fonte: O autor adaptado do programa Google Earth 2018

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Do exposto, pode-se sintetizar que, embora incipiente, existe uma Cadeia de

Frutas Nativas da Cantuquiriguaçu. Ela tem os grupos de agricultores como elemento

chave, já que são eles os responsáveis pelo cuidado, processamento e

comercialização das frutas nativas. A cadeia também conta uma organização de

assessoria, o CEAGRO, uma Universidade Federal, a UFFS, bem como um Núcleo

Regional da Rede Ecovida de Agroecologia, o Luta Camponesa e dois viveiros

produtores de espécies arbóreas frutíferas (do IAP e da ENGIE Energia). Estes

elementos da cadeia são responsáveis pela assessoria em temas como manejo,

gestão e processamento, bem como na distribuição de equipamentos e insumos via

captação de recursos públicos e privados. Além disso, é por eles que se dá o diálogo

de saberes de experiências sobre as frutas nativas, certificação de conformidade

orgânica, produção de mudas e incidência política para a promoção das frutas nativas.

A cadeia em questão também se vincula ao MST e ao MPA na luta por condições

mais igualitárias na sociedade e por que não, na luta pela valorização das frutas

nativas.

Em conjunto com este recorte da Cadeia das Frutas Nativas da

Cantuquiriguaçu, construiu-se uma escala das espécies de frutas nativas classificada

pelos grupos como prioritárias. Essa classificação e alguns aspectos destas espécies

são abordadas no próximo item.

2.5.1 Frutas Nativas Prioritárias na Cadeia das Frutas Nativas da

Cantuquiriguaçu

As informações deste item são provenientes das oficinas sobre domesticação

das frutas nativas realizadas durante a primeira fase do método desta pesquisa

(problematização das frutas nativas e indicação de espécies prioritárias), como

descrito no capítulo Procedimento Metodológico. Neste contexto num primeiro

momento será detalhado os procedimentos metodológicos destas oficinas e depois

socializado os resultados.

Foram realizadas seis oficinas sobre domesticação das frutas nativas, uma em

cada grupos. Nelas, num primeiro momento, por meio do o uso dos painéis

explicativos (STEENBOCK et al, 2013 a), problematizou-se o que é domesticação de

plantas e frutas nativas. Em seguida, identificou-se quais são as frutas nativas

prioritárias para iniciar um processo de domesticação através da utilização da

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ferramenta matriz de priorização (GEILFULS, 1997). Cabe destacar que a observação

participante (DEMO, 2008) realizada anterior as oficinas contribui para gerar empatia

entre os atores sociais e autor de pesquisa, bem como mapear espécies com potencial

de fazerem parte da pesquisa, facilitando deste modo a utilização da matriz de

priorização.

Para o preenchimento da matriz de priorização das frutas nativas prioritárias,

solicitou-se aos presentes nas oficinas indicar nomes de espécies com potencial para

se promover a domesticação. Tais nomes foram colocadas num local onde todos

pudessem ver, na sequencia cada agricultor recebeu cinco votos para distribuir entre

aquelas que na sua visão eram as principais. A fotografia 13 expõe a aplicação desta

matriz. Note-se que foi sugerido quatro espécies por grupo como quantidade ideal de

frutas nativas. Tal escolha teve como critério evitar a monocultura dos

agroecossistemas ao mesmo tempo que permitir o aprofundamento das espécies

escolhidas. No final do preenchimento da matriz, seu resultado foi debatido e

confirmado por todos os grupos

Após a indicação de quais frutas nativas são prioritárias, utilizou-se a

ferramenta matriz de diagnostico (GEILFUS, 1997) para coletar algumas informações

chaves destas espécies. Nesse processo foi confeccionado um roteiro com perguntas

objetivas, usualmente em papel kraft, onde a resposta de cada família foi anotada na

matriz durante a oficina. Após o preenchimento da matriz, as informações foram

debatidas entre os membros da oficina. As perguntas utilizadas na matriz e uma

simulação de preenchimento estão no quadro 4, enquanto na figura 14 se apresenta

imagem deste do processo.

Outra característica das oficinas citadas foi a realização de um pré-teste no

grupo Palmeirinha. A escolha por este grupos se deu em virtude de sua experiência

na valorização das frutas nativas e crioulas. Por exemplo, na safra de 2016 se

produziu 800 quilos de pedaços de fruta congelada e sorvete de Guabiroba, Mixirica,

Laranja Crioula e Limão Galego. Como o pré-teste foi considerado satisfatório,

manteve-se ele como resultado desta pesquisa. Porém, os agricultores sugeriram os

seguintes pontos. a) evitar levantar muitas espécies de frutas nativas para a o uso na

matriz, pois, além de tornar a atividade morosa, a maioria já tem uma ideia do que

deseja promover; b) sugeriu-se socializar o resultado da oficina de um grupos nos

demais. Com isso, além de um resultado visando subsidiar a atividade do outro grupo,

aumenta-se o conhecimento sobre os demais grupos. Estas sugestões foram

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incorporadas no método desta pesquisa, sendo que a socialização dos resultados

realizou-se em todas as etapas deste trabalho.

Quadro 4: Exemplo hipotético de sistematização de uma matriz de diagnostico para a fruta nativa uvaia

Fonte: Pesquisa de campo

Fotografias 13 e 14: Na fotografia 13 o preenchimento pelo autor da pesquisa de uma matriz de diagnóstico, na fotografia 14 o preenchimento de uma matriz de priorização pela agricultora do Grupo Palmeirinha.

Fonte: Pesquisa de campo

A partir do uso da matriz de priorização, identificou-se alguns resultados sobre

as frutas nativas. Por exemplo, através do uso da matriz de priorização, identificou-se

Uvaia

Família Quantas Plantas?

Quantas estão

produzindo

Quantas você

plantou? Qual a

origem das mudas?

Faz algum manejo?

Onde elas estão?

Faz algum uso?

Iolanda e Dirço

? ? ? ? ? ?

Marilda e Sebastião

? ? ? ? ? ?

Cláudia ? ? ? ? ? ?

Clenice ? ? ? ? ? ?

Total ? ? ?

12 13

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sete frutas nativas prioritárias, sendo elas: i) Guabiroba (Campomanesia

xanthocarpa); ii) Pitanga (Eugenia uniflora) Uvaia (Eugenia pyriformis); iv) Cereja

(Eugenia involucrata); v) Guabiju, (Myrcianthes pungens); vi) Araçá Vermelho (Psidium

longipetiolatum) e; vii) Ingá Feijão (Inga marginata Willd). Outro produto da confecção

desta matriz foi geração de uma escala de importância, por grupo, das espécies

prioritárias. O quadro 5 expõem o resultado.

Quadro 5: Frutas Nativas prioritárias para promover um processo de domesticação.

Nível de Prioridade

Grupo

8 de junho Jabuticabal Palmeirinha Terra Livre Recanto da

Natureza Terra de Todos

1 Guabiroba Guabiroba Guabiroba Guabiroba Guabiroba Guabiroba

2 Cereja Pitanga Cereja Guabiju Uvaia Pitanga

3 Pitanga Ingá Feijão Uvaia Uvaia Pitanga Uvaia

4 Uvaia Uvaia Pitanga Pitanga Araçá

Vermelho Cereja

Fonte: Pesquisa de campo

É possível observar no quadro 5 que três espécies, embora em níveis de

prioridade distintas, foram indicadas por todos os grupos: Guabiroba, Pitanga e a

Uvaia. A Cereja foi escolhida por três grupos enquanto o Araçá Vermelho, Guabiju e

Ingá Feijão foram escolhidos por um grupo. Outro aspecto da escolha das espécies

prioritárias é que todos os grupos apontaram a Guabiroba como primeira opção. Um

outro olhar para a escolha das espécies prioritárias, pode ser feito se elencarmos uma

pontuação para cada nível de prioridade. Nesse processo, cada vez que a espécie for

indicada como prioridade número um, ela recebe 100 pontos. Número dois 75 pontos,

na terceira posição 50 pontos e 25 pontos na quarta posição. A partir dessa

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classificação, se somarmos quantas vezes cada espécies aparece e qual o nível ela

se encontra teremos a representação gráfica exposta no gráfico 15.

Mesmo que a intenção de escolher quatro espécies em detrimento de uma vise

a promoção da diversidade e não a monocultura, o gráfico 15 reforça a importância

da Guabiroba como espécie prioritária, assim como valoriza a Pitanga, a Uvaia e a

Cereja. Já o Guabiju, Araçá Vermelho e Ingá Feijão aparecem com valores menores,

contudo não devem ser menosprezadas. Note-se que estas escolhas são resultado

de um conjunto de características ambientais e sociais de cada espécie que serão

abordados no capítulo 3. Entretanto, fatores como histórico das espécies com as

famílias, produtividade, facilidade de processamento, comercialização e presença de

indivíduos nos agroecossistemas são atributos que direcionam tal priorização,

sobretudo para a Guabiroba.

Gráfico 15: Representação gráfica da escolha das frutas nativas de acordo com

atribuição de valores para cada nível de prioridade.

Fonte: Pesquisa de campo

Outro conjunto de resultados construído nas oficinas sobre domesticação das

frutas nativas, são as informação da matriz de diagnostico. Através da sistematização

da pergunta referente à quantidade de árvores de frutas nativas presente em cada

unidade, gerou-se uma estimativa da quantidade de indivíduos destas espécies,

totalizando 1835 indivíduos. No quadro 6 há o detalhamento deste resultado.

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Quadro 6: Estimativa da quantidade de indivíduos de Frutas Nativas classificadas como prioritárias presente nos grupos.

Mesmo que seja uma estimativa, podemos observar que a Guabiroba é a

espécie com mais indivíduos e que o grupo Jabuticabal é o local de maior abundância.

A Pitanga com 627 indivíduos vem na sequência, tendo no Grupo Terra Livre o

ambiente com mais árvores. A Uvaia tem no total206 indivíduos, destes 130 indivíduos

estão no Recanto da Natureza. Note-se que estas três espécies representam 1637

(89%) do total de árvores de frutas nativas prioritárias identificadas. Embora esse

resultado possa se justificar pelo fato das três espécies serem indicadas por todos os

grupos, e por isso possuir um universo maior de análise, é visível uma tendência de

abundância delas nos grupos da região. Por exemplo, mesmo a Cereja sendo indicada

por três grupos, o número de indivíduos foi menor, 69. As demais espécies também

estão com valores menores. O Araçá Vermelho tem 79 árvores, seguidos do Guabiju

com 45 e do Ingá Feijão com 5. Este número inferior de indivíduos pode estar

relacionado com a amostra reduzida de grupos que escolheram tais espécie como

prioritária (cada espécie foi escolhida por um grupo) Mesmo assim, cabe apontar que,

de acordo com a convivência do autor da pesquisa nos grupos analisados, há uma

tendência do Araçá Vermelho, Ingá feijão e Guabiju, o último sobretudo, serem raros.

Outro ponto do diagnóstico das frutas nativas prioritárias é a quantidade de

indivíduos que em algum momento produziram frutos No quadro 7 se apresenta o

resultado.

Fruta Nativa

Grupo

Total de Árvores

8 de Junho

Jabuticabal Palmeirinha Terra Livre

Recanto da

Natureza

Terra de

Todos

Guabiroba 804 106 300 42 115 167 74

Pitanga 627 69 80 14 240 74 150

Uvaia 206 21 4 7 36 130 8

Araçá Vermelho

79 47 0 0 0 32 0

Cereja 69 46 0 6 0 6 11

Guabiju 45 0 0 0 45 0 0

Ingá Feijão 5 0 5 0 0 0 0

Total 1835 289 389 69 436 409 243

Fonte: Pesquisa de campo.

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Quadro 7: Quantidade de indivíduos das frutas nativas classificadas como prioritárias que produzem frutos.

Fonte: Pesquisa de campo.

No total, são 474 árvores que produzem frutos, ou 25% do total. Pode-se indicar

como motivos principais para esse resultado a presença de indivíduos que estão em

fragmentos florestais com alta densidade, indivíduos que não estão em idade

reprodutiva, bem como problemas no manejo (poda, adubação e afins). Além disso,

destaca-se a presença de 194 Guabirobeiras e 150 Pitangueiras produzindo em todos

os grupos em quantidade considerável. Já a Uvaia, embora possua representantes

que frutificam em todos os locais, tem no Recanto da Natureza uma abundância acima

dos demais, interessante pontuar também que 100% dos Ingazeiros produzem frutos.

Outro resultado da matriz de diagnostico diz respeito a origem das 1835 frutas

nativas, isto é, se elas são plantadas ou “vieram sozinhas”. Vir sozinha quer dizer que

não foi o ser humano que plantou, neste trabalho elas são identificadas como plantas

de ocorrência natural. No quadro 8, está sistematizado que 79% (1451) árvores são

nativas e 21% (384) são plantadas. Ao observa-se o quadro 8, percebe-se que a

Pitanga é a espécie com mais indivíduos plantados, 141 árvores, após vêm Guabiroba

(93), Araçá Vermelho (79 árvores) e Cereja (67). A Uvaia tem apenas quatro

indivíduos plantados, enquanto Guabiju e Ingá Feijão não possuem nenhum. Em

relação a origem das espécies plantadas, a maioria é proveniente de mudas que são

produzidas nos viveiros da ENGIE Energia (168 indivíduos) e do IAP da Cidade de

Guarapuava (137 indivíduos), enquanto 29 mudas vieram de outros viveiros da região.

Os agricultores, através de sementes coletadas de árvores apontadas como

interessantes, fizeram 45 mudas.

Fruta Nativa

Árvores Produzindo

Grupos

8 de Junho

Jabuticabal Palmeirinha Terra Livre

Recanto da Natureza

Terra de Todos

Guabiroba 194 23 70 35 22 26 18

Pitanga 150 11 20 8 53 9 49

Uvaia 82 10 1 5 7 54 5

Araçá Vermelho

24 14 0 0 0 10 0

Cereja 9 0 0 4 0 0 5

Guabiju 10 0 0 0 10 0 0

Ingá Feijão 5 0 5 0 0 0

Total 474 58 96 52 92 99 77

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Quadro 8: Origem (plantada ou ocorrência natural) dos indivíduos das frutas prioritárias presente nos grupos

Fonte: Pesquisa de campo.

Fruta Nativa

Quantidade Total

Grupo

8 de Junho Jabuticabal Palmeirinha Terra Livre Recanto da

Natureza Terra de Todos

Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada Ocorrên-cia

Natural

Plantada

Guabiroba 711 93 75 31 300 0 42 0 85 30 155 12 54 20

Pitanga 486 141 15 54 80 0 8 6 199 41 39 35 145 5

Uvaia 202 4 21 0 4 0 6 1 36 0 127 3 8 0

Araçá Vermelho

0 79 0 47 0 0 0 0 0 0 0 32 0 0

Cereja 2 67 0 46 0 0 2 4 0 0 0 6 0 11

Guabiju 45 0 0 0 0 0 0 0 45 0 0 0 0 0

Ingá Feijão

5 0 0 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Total 1451 384 111 178 389 0 58 11 365 71 321 88 207 36

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Dentro do contexto apresentado, pode-se levantar algumas questões. Embora

a bibliografia (LORENZI, 2002) indique que a área de abrangência dos grupos seja

local de ocorrência natural do Araçá Vermelho e da Cereja, o fato das citadas serem

plantadas faz com elas não sejam nativas? E se no futuro as árvores atuais gerarem

novos indivíduos sem a interferência direta do ser humano, eles serão considerados

nativas ou exóticas? Assim como é prudente indagar a dinâmica de plantio, é

relevante fazer o contrário e perguntar: as 1451 árvores cuja origem é a ocorrência

natural descritas no quadro 8 não tiveram relação com o manejo humano? A fala do

agricultor 1 problematiza este dado.

Não fui eu que plantei esse pé de Guabiroba, mas a gente roçou vários anos ao redor, escolheu fazer a casa e o paiol de uma maneira que deixasse ela ali. Não fui eu que plantei ela, mas eu tive cuidado com ela, a gente escolheu que ela ia continuar aqui e está cuidando disso há mais de 20 anos. (Agricultor 1, Grupo Palmeirinha).

Ou seja, mesmo que não plantados, os indivíduos de ocorrência natural

recebem cuidados, seja na paisagem que permite que eles continuem existindo, ou

na árvore em si por meio de podas, adubações e afins. Isso pode caracterizar tais

populações como incipientemente domesticada ou semi-domesticada, de acordo com

a classificação proposta por Clement (2001). Num outro contexto, Steenbock et al

(2013 b) avaliou nos sistemas agroflorestais manejados por associados da

COOPERAFLORESTA 22 que embora praticamente não haja plantio de indivíduos

nativos durante a implantação das agroflorestas, a partir de anos após a implantação

boa parte das espécies da mesma área eram nativas, ou seja, criou as condições

socioambientais para o surgimento destas espécies e, por meio da poda e capina

seletiva, escolheu-se que elas se perpetuassem, sendo que a este processo deu-se o

nome de recrutamento de indivíduos provenientes da sucessão florestal. Mesmo que

o manejo nas frutas nativas mapeadas nesta pesquisa seja diferente do contexto da

COOPERAFLORESTA, é possível inferir que parte significativa das 1451 árvores

nativas presentes no grupo podem ser consideradas recrutadas da sucessão florestal.

Para avançar nas discussões sobre de origem e manejo das frutas nativas, é

necessário aprofundar na conceituação do que é fruta nativa. Também é prudente

22 A associação de Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo-SP e Adrianópolis-PR – COOPERAFLORESTA com mais de 20 anos de história é uma referência no Brasil de Sistemas Agroflorestais

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caracterizar alguns aspectos sociais e ambientais das espécies indicadas como

prioritárias. O próximo capítulo trata destes temas.

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CAPITULO III: UM OLHAR SOCIOAMBIENTAL PARA AS FRUTAS NATIVAS

Tem um pé de Guabiroba lá em casa que quando a gente começou a falar de boas árvores, eu queria que ela fosse uma. Ela

tem um sabor bom e produz bastante, mas não é só por isso. Quando meu filho mais velho nasceu, a gente morava quase

embaixo do pé. Na época de fruta, ele ficava na porta e pedia: “Dá uma da boa, dá uma da boa”.

Essas coisas marcam tanto a gente que pra mim aquela árvore é como um membro da família...

Agricultora do Grupo Palmeirinha

Neste capitulo será apresentado um conceito para fruta nativa e como, embora

num primeiro momento pareça simples, o termo é multidimensional e complexo, sendo

necessário tecer olhares que mesclem elementos biológicos e sociais para

compreende-lo. Em seguida é construída a caracterização socioambiental das sete

espécies de frutas nativas apontadas como prioritárias pelos grupos de agricultores.

3.1 UM CONCEITO PARA FRUTA NATIVA

Conforme apontando anteriormente, nesta pesquisa o termo fruta nativa se

refere às espécies frutíferas arbóreas nativas, no caso em estudo, do Bioma

Mata Atlântica. Num primeiro olhar para o termo, podemos definir fruta como “o

produto procedente da frutificação de uma planta, destinado ao consumo in natura”

(BRASIL, 1978, p. 7). Já espécie nativa é aquele indivíduo, ou população, que está

inserido no mesmo bioma em que a espécie foi formada (SCBD/BGCI, 2006).

Enquanto bioma é

(...) um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e que podem ser identificados em nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria (IBGE,2012. p. 32).

Isto é, fruta nativa é uma espécie arbórea que tem seu fruto utilizado na

alimentação humana e que está no bioma em que ocorreu sua especiação. Entretanto,

escolheu-se usar o termo fruta nativa neste trabalho pelos seguintes aspectos. O

primeiro diz respeito a comunicação entre atores sociais com o autor da pesquisa.

Freire (2015) defende que num processo de ensino e aprendizagem sobre um dado

tema, como as reflexões informações, dados e técnicas, devem ter como ponto de

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partida o contexto que se está inserido. Nesse processo também está a linguagem

utilizada na comunicação entre os atores envolvidos. Isto por que

(...) uma coisa é 4 x 4 na tabuada que deve ser memorizada; outra coisa é 4 x 4 traduzidos na experiência concreta: fazer quatro tijolos quatro vezes. Em lugar da memorização mecânica de 4 x 4, impõe-se descobrir sua relação com um quefazer humano (FREIRE, 2017, p.34)

Esse caminho apontado, contribui para ir além da lógica de transferência de

tecnologia para os agricultores e fomenta que o conhecimento seja construído entre

os sujeitos envolvidos. Neste cenário, se insere o termo frutas nativas que usualmente

é dito pelos atores sociais desta pesquisa como uma espécie de símbolo que

representa não só a fruta, mas a árvore que a produz. Por exemplo, durante a

convivência com os agricultores, foi mencionado termos como: iogurte, picolé, suco e

doce de fruta nativa. Mas também plantio, poda e adubação das frutas nativas. Esse

termo também é utilizado pela Cadeia Solidária das Frutas Nativas, que como

descreve o item 2.5, tem influência no tema na área de abrangência desta pesquisa.

Outro motivo da escolha pelo termo é questionar a especialização que

fragmenta o olhar para as frutas nativas. Assim como o termo sociobiodiversidade

almeja reduzir a miopia entre os mundos sociais e biológicos (DIEGUES,2014), o

termo fruta nativa é um símbolo para necessidade de aproximação entre as

perspectivas das ciências agrarias, ambientais e sociais com os saberes dos

agricultores.

Enfim, ainda que não seja objetivo destas palavras formular uma tese sobre o

conceito de frutas nativas, é prudente levantar algumas questões. Em primeiro lugar,

é necessário questionar a separação entre o biológico e o social. Ora, se o ser humano

faz parte da Natureza, é natural que ao mesmo tempo que ele se beneficia com a

especiação, via seleção natural de uma espécie, ele também contribui para o

surgimento e/ou aceleração de novas através da domesticação de plantas. Deste

modo, as populações de plantas fazem parte dos “mundos” social e biológico. Como

consequência, todas as espécie e indivíduos de plantas com algum grau de

domesticação, consciente ou inconsciente, sobretudo as frutas nativas, são

influenciadas pelas mãos de mulheres e homens.

Neste contexto, Steenbock (2009) cita que para Zeder (2006) a domesticação

não pode ser definida como um fenômeno meramente biológico ou social, mas como

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uma forma de mutualismo gerada pela capacidade humana de transformação do

ambiente, a partir do aprendizado e da transmissão cultural. Já para Zohary (2004),

existem dois tipos de seleção que agem sobre plantas em processo de domesticação:

uma seleção consciente e intencional aplicada pelos agricultores para a otimização

da produção dos órgãos de interesse e outra seleção inconsciente, proveniente do

fato de que as plantas em questão foram retiradas dos seus habitats originais e

colocadas em um novo ambiente artificial ou manejado. Dessa forma, a variação

ecológica deste processo reflete em mudanças drásticas nas pressões de seleção.

Assim sendo, é possível classificar a influência humana no processo de

domesticação de duas formas: indireta e direta. A primeira diz respeito às ações que

modificam a paisagem dos agroecossitemas. Essas alterações, se estiverem no

caminho de promoção da sociobiodiversidade, podem permitir que sementes que

estão no solo, deslocadas pela fauna e flora tenham melhores condições para

germinar e perpetuar. Soma-se a esse tipo de influência, alterações no fluxo gênico,

sobretudo pelo plantio de indivíduos de outros agroecossistemas. A segunda é

baseada na ação direta de mulheres e homens com um dado individuo, ou população

de plantas, principalmente através da colheita e disseminação de sementes, plantio

de mudas ou sementes, bem como o manejo.

Neste contexto, pode-se retomar as questões apresentadas no item 2.5.1, se

os 1451 indivíduos, indicados no quadro 7, como nativas não tiveram influência do

manejo humano. Bem como se os Araçás Vermelhos e a maioria das Cerejas, por

terem sido plantadas podem ser consideradas frutas nativas. Em relação aos

indivíduos que não foram plantados, seja pela manutenção de agroecossistemas que

permita a presença das espécies arbóreas, manejo, troca de saberes sobre os

possíveis usos, bem como a imigração de espécimes que trocam fluxo gênico com as

árvores que estão num dado local, pode-se indicar que as frutas nativas que não foram

plantadas, tiveram influência humana, mesmo que de forma indireta. Isto é, em maior

ou menor grau, as 1451 frutas nativas identificadas como nativas nesta pesquisa tem

algum tipo de interferência do ser humano.

Já em relação aos que foram plantados, não é a ação direta do ser humano de

plantar mudas/sementes de uma espécie que tem sua origem no mesmo bioma que

desconfigura a espécie como nativa. Até por que, normalmente um bioma é um

espaço geográfico extenso, formado por ecossistemas menores e diversos. Deste

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modo, é comum uma espécie se adaptar mais a um dado contexto do que a outro.

Fazendo um paralelo com os hotspot de biodiversidade23 , é possível que existam

locais dentro de um dado bioma com maior diversidade de uma certa fruta nativa,

assim como ambientes sem a existência dela. Todavia, o ser humano através do

plantio de sementes e mudas, pode promover a disseminação de uma dada espécies

para regiões que outrora existia pouca ou nenhuma espécimes. Ou seja, os Araçás-

Vermelhos e as Cerejas não deixam de serem classificados como uma espécie nativa

por terem a maioria de seus indivíduos plantados. Nesta conjuntura, a perspectiva do

russo Nikolai Vavilov e seu conceito de centro de origem das plantas cultivadas carece

ser olhada.

Durante meados do século XX, Vavilov coordenou numerosas expedições do

Instituto Soviético de Botânica Aplicada e Cultivos Novos visando identificar recursos

genéticos vegetais nos cinco continentes para o uso na agricultura soviética. Clement

(2015) cita que John G. Hawkes (1998) comparou Vavilov a Charles Darwin, com a

distinção de que Vavilov concentrou sua atenção na origem e na distribuição das

plantas cultivadas pelo Planeta. Nestas expedições, Vavilov, e sua equipe,

identificaram regiões do Mundo que contavam com populações de plantas cultivadas

com alta diversidade genética e fenotípica, estes locais estão entre os Trópicos de

Capricórnio e de Câncer e são isolados geograficamente (por cordilheiras, desertos,

planícies, rios, oceanos e afins). Vavilov os intitulou como centro de origem das

espécies cultivadas, ou seja, o espaço geográfico onde as plantas foram

domesticadas (VAVILOV, 1951).

Os centros de origem das espécies cultivadas, em virtude da alta variedade

genética e de espécies, também são reconhecidos, na maioria dos casos, como

centros de diversidade das plantas cultivadas24. Entretanto, uma espécie pode ter sua

origem em um dado centro, mas possuir em outro seu centro de diversidade genética

e fenotípica (VAVILOV, 1951). Vejamos o exemplo da Castanha-do-Para (Bertholetia

excelsa). A espécie foi identificada como sendo originária do centro Brasileiro-

23 Hotspost de biodiversidade ou ecológicos são espaços que concentram uma quantidade de organismos vivos muito superior ao seu entorno, sendo estes espaços prioritários para conservação. 24 Cabe ressaltar que, segundo Clement (2015), em virtude de problemas na tradução do russo para o inglês do livro “A origem, variação, imunidade e melhoramento de plantas cultivadas” de Vavilov no ano de 1935, os termos Centro de Origem e Centro de Diversidade foram considerados como distintos, mas são sinônimos.

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Paraguaio, que está localizado na parte Oeste do Estado do Paraná, Sul do Mato

Grosso do Sul e Leste do Paraguai (VAVILOV, 1951), local que dificilmente é

encontrada nos dias de hoje. Contudo, conforme aponta Ribeiro (2011), atualmente o

centro de diversidade genética da espécie está na região sudoeste do Estado da

Amazônia, muito graças ao manejo dos povos indígenas. Ou seja, mesmo que a

Castanha tenha se originado no Centro de Origem Brasileiro-Paraguaio, ela deixou de

fazer parte da fitofisionomia da região. Por outro lado, ela está sendo manejada em

outro Bioma, a princípio de uma maneira que promove a sociobiodiversidade, de tal

forma que atualmente a Castanha-do-Pará é considerada nativa da Floresta

Amazônica.

Dentro desse contexto, Vavilov (1951) apresenta sua proposta de oito centros

de origem e três centros secundários, ou satélites, que são locais vinculados aos

centros primários e contam com um número menor de diversidade de plantas

cultivadas, sendo eles: i) China; ii) Índia e ii a) Indo-malaio; iii) Ásia Central; iv) Oriente

Próximo; v) Mediterrâneo; vi) África Oriental; vii) Mesoamérica; viii) América do Sul,

viii a) Chile e viii b) Brasileiro-paraguaio (VALIVOL, 1951). Na figura 16 é exibido a

distribuição geográficas destes centros.

Dos Centros de Origem apresentados, destaca-se o satélite Brasileiro-

Paraguaio vinculado ao Centro América do Sul, pois ele está na área de abrangência

desta pesquisa. Ainda que não seja consenso, este local é o centro de origem do

Abacaxi (Ananas comosus), Amendoim (Arachi shypogea), Mandioca (Manihot

esculenta), Erva-Mate (Ilex paraguariensis), Cacau (Theobroma cacao), Jabuticaba

(Myrciaria jaboticaba Berg) e a Castanha do Pará (Bertholetia excelsa). Este centro

também é o local de origem de duas frutas nativas indicadas pelos agricultores desta

pesquisa como espécies prioritárias (item 2.5.1). A Pitanga (Eugenia uniflora) e a

Uvaia (Eugenia uvalha) (VAVILOV, 1951).

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Figura 16: Centro de Origens das Plantas criado pelo russo Vavilov com destaque para o satélite Brasileiro-paraguaio

Fonte: Vavilov 1951, adaptado pelo autor .

A partir da identificação de Vavilov dos centros de origens, é interessante

levantar a seguinte questão: uma fruta que está sendo manejada por séculos num

centro de origem, mas que deve sua especiação em outro bioma, pode ser considera

nativa? A tendência destas palavras é acreditar que sim, como apresentado no caso

da Castanha do Pará. Outro exemplo da relação entre manejo humano e espécies

arbóreas nativas é a pesquisa elaborada por Lauterjung (2015) sobre a influência da

ação humana na expansão da Araucária (Araucaria angustifólia). Neste trabalho, o

autor avaliou a velocidade de expansão da espécie após o último período glacial, que

restringiu as populações da espécie aos vales próximos à regiões montanhosas

encontradas no Leste da região Sul do Brasil. Nesta análise, foram utilizados dois

cenários para o cálculo da velocidade de expansão, um sem o auxílio humano e outro

com o auxílio humano. Nas vinte populações que o autor pesquisou, os resultados

encontrados apontam que os grupos humanos influenciaram fortemente na dispersão

e expansão da Araucária. Sendo que em nenhuma das população existiria da maneira

atual sem esta intervenção.

Mas se a “troca de bioma” for possível, qual seria a quantidade de tempo para

uma planta originária de outro bioma passar a ser considerada nativa? A questão

temporal é o único elemento? Essa perguntas geram dois novos olhares para as frutas

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nativas. O primeiro diz respeito a questão temporal. Como descrito no item 2.1, se

cada tempo e espaço gera um modo de domesticação de plantas, cada contexto irá

priorizar dadas espécies em detrimentos de outras, e no passar dos séculos, se o

manejo humano promover a sociobiodiversidade, as espécies prioritárias estarão

adaptadas de tal forma ao ambiente que poderão ser identificadas pelas gerações

futuras como nativa.

O segundo olhar diz respeito ao contexto globalizado da sociedade atual,

embora este assunto seja discuto no próximo capítulo desta pesquisa, cabe ressaltar

que no tempo e espaço que o pensamento hegemônico atua, a inserção de uma

espécie de um bioma em outro dificilmente irá ocasionar uma simbiose com as plantas

nativas do local, como outrora aconteceu. Ou seja, os limites para conceituar uma

fruta nativa são tão complexos quanto frágeis, sobretudo, quando partimos do

princípio que mulheres e homens fazem parte da Natureza, alteram e são alterados

por ela. Bem, alguns exemplos podem enriquecer esse debate.

A Laranjeira (Citrus sinensis), uma espécie exótica, cujo centro de origem está

na Índia (VAVILO, 1951), através de um processo de domesticação que, a princípio,

promoveu a sociobiodiversidade, foi inserida em outros biomas de tal modo que no

decorrer dos anos se confundiu com as espécies nativas. Esse tipo de experiência, foi

relatada por agricultores durante as oficinas de identificação de frutas nativas

prioritárias. Nesse processo, foi questionado se a Laranja poderia ser indicada, já que

a maioria dos indivíduos “vieram sozinhos”. Por outro lado, as espécies exóticas

invasoras25 (EEI), como o Pinus (Pinus elliotti) e o Eucalipto (Eucalyptus), apresentam

sérios impactos a sociobiodiversidade quando são cultivadas nos desertos verdes26,

carecendo deste modo de um conjunto de medidas para mitigar sua expansão

(CDB/MMA, 2002). Porém, mesmo as EEI’s não atingem de forma igual todos os

contextos. Existem experiências com Eucaliptos em sistemas agroflorestais com foco

em produção de culturas anuais nos Assentamentos Mario Lago e Terra livre,

Municípios de Ribeirão Preto e Lapa-PR respectivamente, onde tais espécies estão

25 EEI são organismo, que ameaçam os ecossistemas, habitats ou espécies nativas por suas vantagens competitivas e favorecidas pela ausência de inimigos naturais Eles contam com uma grande plasticidade que permite invadir ecossistemas, sejam eles naturais ou antropizados. Tais espécies são responsáveis pela segunda causa de extinção de espécies no Planeta (MMA,2006). 26 Os desertos verdes são grandes áreas de monoculturas, normalmente, de Pinus e Eucalipto, usualmente administrada por grandes empresas que e que funciona sob a égide da revolução verde.

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se integrando aos agroecossistemas de uma forma distinta a dos desertos verdes

(CORRÊA et al, 2016).

Ainda que as ideias de domesticação de plantas, incremento a especiação e

adaptação destas espécies a outros biomas/agroecossistemas careçam de maior

aprofundamento, neste trabalho cabe destacar o seguinte. No caso da Laranja

manejada pelos grupos que fazem parte desta pesquisa, por exemplo, os aspecto

temporais e ecológicos tendem a fazer chamar de nativa uma espécie que não tem

seu centro de origem necessariamente onde está sendo manejada, pois a mesma

está integrada ao ecossistema e, muitas vezes, aos agroecossistemas. Já no das

monoculturas de Pinus e Eucaliptos dos desertos verdes, fica fácil perceber a

contaminação biológica desse tipo de manejo nos biomas/agroecossistemas que elas

são inseridas. Sendo que a questão temporal pouco influencia na adaptação destas

espécies ao “novo bioma”.

No apresentado neste item, ainda que forma provisória, pode-se indicar para o

termo fruta nativa o seguinte conceito. Fruta nativa é uma espécie arbórea frutífera

que tem parte de seu sistema reprodutivo, normalmente o fruto, utilizado na

alimentação humana (BRASIL, 1978) e que está inserida, com ou sem

intervenção humana direta, no Bioma que ocorreu sua especiação (SCBD/BGCI,

2006) ou no centro de origem que foi cultivada (VAVILOV, 1951), através de um

processo de domesticação que tende a promover a sociobiodiversidade.

A partir da construção deste conceito, no próximo item será aprofundada a

caracterização socioambiental das frutas nativas indicadas como prioritárias nesta

pesquisa.

3.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DAS FRUTAS NATIVAS

Guabiroba, Pitanga, Uvaia, Cereja, Guabiju, Araçá Vermelho e Ingá Feijão, são

as frutas nativas apontadas pelos agricultores como prioritárias para promover um

processo de domesticação. Visando caracterizar os aspectos sociais e ambientais

destas espécies 27 , durante a fase caracterização socioambiental das espécies

27 Cabe destacar que a proposta inicial era identificar boas árvores, ou matrizes, das frutas nativas.

Porém, notou-se que perguntas como “o que uma boa árvore de Uvaia (por exemplo) precisa possuir”

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prioritárias, foram construídas ferramenta matriz estrela (STEENBOCK et al, 2013 a)

para cada espécie. Para isso, elaborou-se indicadores e perguntas orientadoras com

o objetivo de mensurar uma nota de 028 à 10 para cada indicador, conforme descrito

na etapa II do método desta pesquisa.

A primeira ação para aplicar a matriz estrela consistiu na construção dos

indicadores. Através da observação participante e dialogo com atores dos grupos

identificou-se informações e/ou dúvidas relevantes sobres as espécies que foram

agrupadas em eixos de similaridade. Cada eixo se transformou num indicador e com

a intenção de facilitar sua valoração, as dúvidas que os constituíram se transformaram

em assuntos para problematizar os aspectos positivos e desafios das frutas nativas

durante as oficinas com os grupos, por isso elas são chamadas de “perguntas

problematizadoras”. No quadro é exposto a primeira sínteses deste processo.

Quadro 9: Matriz lógica para geração de indicadores das características socioambientais das frutas nativas.

FRUTA NATIVA

INDICADOR PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam da fruta? Ela tem algum

significado especial?

Produção No geral, as árvores produzem bastante frutas? Todo ano a

produção é parecida?

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

Comercialização É fácil comercializar a fruta in natura ou processada?

Armazenamento / Transporte É fácil armazenar e transportar sem processar a fruta?

Quantidade de Árvores Existe bastante árvores em seus lotes? Estão em locais

fácil de pegar?

Fonte: o Autor a partir da pesquisa de campo.

causaram muitas dúvidas e respostas como “sabe isso é uma coisa que eu nunca tinha prestado

atenção”. Deste modo, escolheu-se “olhar” num primeiro momento para as espécie e a partir do

potencial e limites de cada uma identificar boas árvores. 28 Visando dar fluidez ao texto, neste item as notas dos gráficos na sequencia serão redigidas no formato de números.

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Cada eixo de similaridade se transformou numa “ponta” do gráfico estrela,

sendo atribuído pelos agricultores notas de 0 à 10, sendo que 0 é considero muito

ruim e 10 excelente. Essa organização da ferramenta matriz estrela foi aplicada junto

ao Grupo Palmeirinha num primeiro momento visando debater a ferramenta com os

agricultores. A maior modificação sugerida pelos atores sociais foi retirar o indicador

“quantidade de árvores”, pois, tal informação já teria sido debatida na oficina anterior.

Também foi reforçada a importância de que a informação construída num grupo fosse

socializada com os demais visando subsidiar o debate e socializar os resultados.

Ao observar o gráfico 17, pode-se visualizar o resultado final da organização

dos indicadores da ferramenta matriz estrela.

Gráfico 17: Modelo do gráfico estrela construído para caracterização socioambiental das frutas nativas

Fonte: o Autor a partir das atividades de campo adaptado de Steenbock

Esse procedimento metodológico gerou a caracterização das frutas nativas

indicadas a seguir.

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3.2.1 Guabiroba

A Guabiroba tem na língua Tupi a origem de seu nome, traduzindo de forma

literal para o português significa “ao comer amargo” (wa, “ao comer” + bi, “amargo”)

(NAVARRO, 2013). Floresce entre setembro e novembro, os frutos ficam maduros nos

meses de novembro e dezembro, já a altura da Guabirobeira varia de dez à vinte

metros. Planta da família myrtaceae, com ocorrência no Bioma Mata Atlântica ela é

abundante na floresta ombrófila mista e estacional semidecidual, mas é pouco comum

na floresta ombrófila densa. O Fruto de cor alaranjado é consumido in natura ou

processado na forma de doces, geleias e sucos. (LORENZI, 2008 a). Segundo a

EMBRAPA (2015a) o fruto da espécie se destaca pelo seu elevado teor de vitamina

C, com 826,26 mg para cada100 gramas da fruta, a Guabiroba contém mais vitamina

C que a Acerola, espécie conhecida por ter grande quantidade da substância A

Guabiroba se destaca também por ser fonte de zinco, magnésio e cálcio. As

fotografias 18 e 19 mostram a árvore e os frutos da espécie.

Fotografias 18 e 19: Na fotografia 18 uma árvore de Guabiroba do grupo Palmeirinha. Na fotografia 19 frutos da Guabiroba.

Fonte: Pesquisa de campo.

Como indicado no item 2.5.1, a Guabiroba é a fruta nativa com maior ocorrência

e frequência nos agroecossistemas das famílias, além de ser indicada por todos os

18 19

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grupos como prioritária. Dentro deste contexto, construiu-se a caracterização

socioambiental da espécie nos seis grupos deste trabalho a partir da ferramenta matriz

estrela. Os gráficos 20 e 21 apresentam os valores atribuídos para a espécie.

Gráfico 20: Resultado da caracterização socioambiental da Guabiroba a partir do uso da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo Gráfico 21: Resultado dos valores para a caracterização socioambiental da Guabiroba, de acordo com a ferramenta matriz estrela

Fonte: Pesquisas de Campo

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Pelos valores apontados na figura 20, percebe-se certa homogeneidade nos

indicadores gostamos, produção e processamento, pois todos os grupos classificaram

a espécie entre as notas 8 e 10. O indicador Armazenamento/Transporte também tem

números similares, nota 4 para 5 grupos e 2 para o grupo Palmeirinha, enquanto no

quesito comercialização a diferença de valores é maior, variando de 9 à 2. Já o gráfico

estrela da figura 21 expõem que para a Guabiroba os indicadores gostamos, produção

e processamento tem a melhor média e valor (8,33). A comercialização com 6,50 vem

na sequência e por último armazenamento/transporte com 3,67. Soma-se na

intepretação dos gráficos as informações das perguntas problematizadoras No quadro

10 é exibido a sistematização das perguntas.

Quadro 10: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental da Guabiroba.

GUABIROBA

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam

da fruta? Ela tem algum significado especial?

- A árvore tem aspectos simbólicos para algumas

famílias - Muito utilizada no

consumo há gerações

- para parte da sociedade a espécie tem

conotação pejorativa

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

-Produz elevada quantidade de frutos

- Produz volumes parecidos todos os anos

- Chuva, vento ou seca, principalmente na época de floração prejudicam a

produção

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

-Principal processamento é fazer pedaços de fruta

congelada) -Fácil de processar

(manual ou via despolpadeira)

- Processa cerca de 10 kg por hora manual e 80 por

máquina

- Dificuldade em embalar em pacotes menores

-A despolpadeira deixa o sabor do produtos

“amargo”, pois “quebra” as sementes

Comercialização É fácil comercializar a fruta in natura ou processada?

- Boa expectativa de comercialização caso

regularizado - É possível vender in

natura em locais próximos, como feiras e

entregas diretas

- Falta divulgação - Falta de canais fixos - Encontrar mercados

além das cidades que os grupos estão inseridos

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar

a fruta?

- em local próximo do grupo e em embalagens

pequena é possível

- Frágil para transportar in natura

-Pouca durabilidade da fruta in natura

- Distâncias maiores precisa de transporte

refrigerado Fonte: Pesquisa de Campo

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No indicador gostamos, destaca-se o vínculo da espécie com histórias

familiares, como filhos que se “criaram” embaixo de um pé de Guabiroba, a expressão

“fui criado comendo Guabiroba” também é recorrente, como no relato sistematizado

do agricultor 2.

Quando a gente era novo, na época de Guabiroba, a gente não saia de baixo do pé. E tinha muita Guabiroba, de vários tipos. Uma mais doce, outra maior, uma que dava no cedo e outra que dava no tarde. Piazada você sabe como é né, ficava o dia todo comendo Guabiroba, por isso o pessoal fala que a gente se “criou comendo Guabiroba” e hoje quase não tem mais, por isso é importante esse trabalho com as frutas nativas, ele tem tudo a ver com a linha que a gente busca seguir aqui no Recanto, de voltar a esse jeito mais xucro, mais camponês de vida... (Agricultor 2).

Portanto, a Guabiroba faz parte da fruta cultura alimentar, já que comer a fruta

é uma tradição presente no cotidiano da maioria das famílias, costume esse que é

passado e recebido há pelo menos três gerações. No entanto, as relações com a

Guabiroba, principalmente nos últimos 30 anos, são tratadas como demérito, por

exemplo, há o ditado que as pessoas do interior “se criaram disputando Guabiroba

com os porcos” e que na cidade as condições de vida estão melhores, como compra

comida de verdade, normalmente coisas processadas. Essa relação será melhor

discutida no próximo capitulo, por ora cabe argumentar que o desafio deste indicador

diz respeito ao modo pejorativo que a espécie é tratada por setores da sociedade e a

falta de reconhecimento do papel dos agricultores em seu processo de domesticação.

A produção, seja pelo volume de frutas, ou pela manutenção de valores

similares nos anos, se destaca positivamente na Guabiroba, contudo fatores como

incidência de luz solar, seca ou excesso de chuva, principalmente no período da

florada, alteram a quantidade de frutas. Outro aspecto deste indicador diz respeito a

frutificação da espécie. Via de regra, a maturação da Guabirobeira é gradual e ocorre

de “cima para baixo”. Estima-se entre três ou quadro semanas o tempo em que há

frutas na árvore, no entanto, na primeira e na última semana a quantidade é bem

menor. A colheita normalmente é feita pela obtenção de frutas que caem da árvore.

Para isso, quando o objetivo é autoconsumo, os frutos são coletados do solo e quando

se deseja comercializar é colocado ao redor da árvore sombrite ou lona plástica (os

cata-frutas). Estes equipamentos ficam pendurados numa altura média de um metro,

ou dispostos diretamente no solo. Em alguns casos os agricultores agitam os galhos

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para acelerar a obtenção dos frutos. Na fotografia 22 é exibido um exemplo de cata-

frutas.

Fotografia 22: Cata-fruta utilizado na coleta de Guabiroba no Grupo Jabuticabal.

Fonte: Pesquisa de campo.

Em relação ao processamento, a principal técnica usada na Guabiroba é a

confecção de pedaços da fruta congelado. Existem basicamente duas técnicas, uma

mais artesanal por meio de peneiras e outra via despolpadeira. A primeira processa

cerca de dez quilos por hora enquanto a segunda até 80 quilos, mas pode deixar o

sabor do produto mais amargo, pois a maioria das despolpadeiras, que os grupos

possuem, “quebram a semente”, todavia, essa condição pode ser revertida com

adequações na máquina, que a princípio não demandam valores elevados de

recursos, como recomendado pelo técnico Alvir Long do empreendimento Encontro

de Sabores numa oficina realizada na UFFS-Laranjeiras do Sul. A partir dos pedaços

de frutas congelados são feitos sucos, sorvetes, geladinhos e picolés. Também é

confeccionado geleias, mas em virtude do amargo causado pela despolpadeira se

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prioriza o uso de Guabirobas processadas de forma artesanal enquanto não se

resolvem os problemas das máquinas.

No indicador comercialização, os grupos assinalaram uma boa expectativa de

venda, principalmente nos produtos processados, com destaque para os pedaços de

frutas congeladas. No ano de 2017 por exemplo, foram comercializados cerca de 650

quilos, bem como sucos, caipirinhas e geladinhos em eventos que os agricultores

participaram. Já as frutas in natura são comercializadas sobretudo em feiras e

entregas diretas a consumidores das cidades em que os grupos estão inseridos. Os

desafios da comercialização são a falta de divulgação dos produtos e de canais mais

fixos de venda, principalmente além dos municípios em que os grupos estão inseridos.

O indicador Armazenamento/Transporte apresenta aspetos centrais na

caracterização da Guabiroba. Mesmo sendo possível armazenar e transportar a fruta,

o tempo de validade é curto (cerca de dois dia). No entanto, armazenar a frutas em

temperaturas entre 6 °C à 10 °C (parte inferior de geladeiras por exemplo), contribui

para que o tempo de validade da fruta chegue a cinco dias. Em relação ao transporte

das frutas in natura, ele ocorre em embalagens de plástico com capacidade de

aproximadamente 300 gramas, para locais próximos da unidade familiar. Acima disso

não há relato de experiências, mas acredita-se que é necessário o uso de transportes

refrigerados.

Do exposto é possível resumir que a Guabiroba é uma espécie que os

agricultores gostam, mas seu consumo, para alguns consumidores é tratado de modo

pejorativo. A espécie produz uma boa quantidade de frutas por safra, e os valores

tende a manter essa característica no decorrer dos anos. Em relação ao

processamento, ele é feito de forma artesanal ou via despolpadeira. O principal

produto são os pedaços de frutas congelados que servem para confecção de sucos,

picolés e caipirinhas. Há comercialização da fruta in natura em feiras e de pedaços de

frutas congelado, mas faltam canais mais seguros de comercialização. O

armazenamento e transporte é um gargalo para a espécie, mesmo que

armazenamento em ambientes refrigerado e o acondicionamento em embalagens

pequenas (300 gramas) permita a comercialização em feiras. Em virtude da sua

fragilidade da fruta, o processamento é uma estratégia importante para a

comercialização.

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3.2.2 Pitanga

A Pitanga tem seu nome originário do termo Tupi Guarani ybápytanga, que

significa "fruto avermelhado" (ybá, "fruto" + pytang, "avermelhado") (NAVARRO,

2013). O tamanho da árvore vária de seis à dozes metros, ocorre de forma abundante

na Mata Atlântica em praticamente todas as formações florestas. Floresce entre

agosto e novembro e os frutos ficam maduros entre outubro janeiro, as frutas podem

ser consumidos in natura ou processado na forma de doces, geleias e sucos

(LORENZI, 2008b). Do ponto de vista nutricional, a Pitanga é um fruto com baixo teor

energético e rico em potássio, zinco, cálcio, manganês e fibra alimentares, mas o

destaque é para a presença de cobre, elemento essencial para o funcionamento do

sistema imunológico (EMBRAPA, 2015b). As fotografias 23 e 24 são exibidos uma

árvore e os frutos da Pitanga.

Fotografias 23 e 24: Na fotografia 23 uma Pitangueira do grupo Terra de Todos. Na fotografia 24 frutos distintos de Pitanga do grupo Terra de Todos.

Fonte: Pesquisa de campo

A Pitanga foi mencionada por todos os grupos que fazem parte desta pesquisa

como uma fruta nativa prioritária, e por isso se realizou a caracterização

23

24

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socioambiental da espécie. Nos gráficos 25 e 26 são apresentados os valores

segundo a ferramenta matriz estrela.

Gráfico 25: Resultado da caracterização socioambiental da Pitanga a partir da ferramenta matriz estela.

Fonte: Pesquisa de campo.

Gráfico 26: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização socioambiental da Pitanga, de acordo a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de campo.

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No gráfico 25 é exposto que a variação no indicador gostamos vai de 6 à 10, e

que três grupos assinalam notas entre 8 à 10. A diferença no quesito produção

também oscila entre 6 e 10, porém quatro grupos apontaram nota 6. A variação no

indicador processamento é de 4 à 8 com propensão a ficar entre 4 à 6. O

armazenamento e transporte se altera de 2 à 6, todavia a nota 2 mais repetida. A

comercialização, além de ter a flutuação de 4 à 10 tem no valor 2 a nota que mais

aparece. Já o gráfico estrela 26, construído a partir da média dos valores, aponta que

o indicador gostamos possuiu a melhor avaliação, ficando com a nota 9. Em seguida

estão os quesitos processamento e comercialização (7), processamento 5,50 e por

último o armazenamento e transporte com 3,67. Soma-se aos gráficos, as respostas

das perguntas problematizadoras descritas no quadro 11.

Quadro 11: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental da Pitanga.

PITANGA

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore?

Gostam da fruta? Ela tem algum significado especial?

-Faz parte da cultura alimentar das famílias

Sabor agradável

-

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

-Quantidade de quilos -por safra é bom. -

Constância no volume nas safras também

-Vento e chuva forte na florada modificam a

produção -Falta de poda dificulta a quantidade de frutos e

tamanhos

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

-De forma artesanal, embora não

apresente bom rendimento, é

possível

-As máquinas de processamento dos grupos

não são adaptadas para despolpar pitangas

Comercialização É fácil comercializar a fruta in natura ou processada?

-Boa aceitação do público

-Canais fixos de comercialização

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar

a fruta?

-É possível desde que por curto espaço de

tempo -Continua a

maturação após a colheita

-Frágil para o transporte

Fonte: Pesquisa de Campo.

Em relação ao indicador gostamos, os atores desta pesquisa assinalam que

sabor, cor e formado da fruta são características positivas da fruta que é consumida

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por todas as famílias dos grupos, ou seja, ela faz parte da cultura alimentar das

famílias. A árvore também é plantada e recrutada da seleção natural dos arredores

das casas, bem como é conhecida e requisitada pelos consumidores.

Com relação a produção, os agricultores consideram que ela produz bem por

safra e os níveis de produção se mantem estável durante os anos. No entanto, fatores

como vento e chuva em excesso durante a florada diminuem a quantidade de frutas.

A produtividade também se altera pela realização ou não de poda. Como a espécie

tende a ter uma “copa densa”, caso não seja retirado parte dos galhos internos, o

volume de produção e o tamanho dos frutos diminuem. Em relação a frutificação,

identificou-se que o período de colheita é de duas ou três semanas aproximadamente.

Um aspecto interessante deste processo é a dificuldade da fruta “se soltar” da

pitangueira, mesmo depois de madura. Por isso técnicas como balançar os galhos

das árvores tem resultados inferiores quando comparado a outras frutas nativas

caracterizadas nesta pesquisa.

O processamento da Pitanga é feito de forma artesanal, através da retirada das

sementes por meio de fricção da fruta em peneiras, o produto que resulta é

transformado em pedaços de fruta congelado que posteriormente será utilizado em

sucos, doces e geleias. Outra característica deste indicador é a dificuldade de

processar a espécie nas despolpadeiras que os grupos possuem. Isso por que ao

separar a parte comestível da fruta (o pericarpo) da semente, esta última pode se

quebrar, deixando o sabor do produto intragável. A princípio pequenas alterações no

equipamento que os grupos possuem não resolvem problema, sendo necessário a

aquisição de outra despolpadeira. Como consequência o volume de processamento é

baixo. Adequar os requisitos da vigilância sanitária é outro desafio deste indicador.

Embora exista, de forma incipiente comercio de sucos, doces e geleias, a

principal estratégia da comercialização é a venda da fruta in natura. Isso é realizado

em bandejas de aproximadamente 300 gramas nas feiras agroecológicas (assim

como a Guabiroba) dos municípios de Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras e Palmital,

como demonstra a fotografia 27. Outro ponto deste indicador é uma tendência maior

na demanda do que produção dos produtos processados, principalmente dos pedaços

de fruta congelado.

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Fotografia 27: Comercialização de Pitanga em bandejas de aproximadamente 300 gramas na feiras agroecológica do Grupo 8 de Junho, da Cidade de Laranjeiras do Sul-PR.

Fonte: Pesquisa de campo

O armazenamento e transporte da Pitanga in natura é considerado um desafio.

O fruto é frágil para ser transportado e seu prazo de validade é de em torno de três

dias. Para diminuir estes impactos, os agricultores armazenam a Pitanga em espaços

refrigerado, como é feito com a Guabiroba. Soma-se a este processo colher a fruta no

momento em que ela se encontra na cor alaranjada. Como resultado destas duas

estratégias, a validade no armazenamento e transporte pode alcançar sete dias.

Dentro deste contexto, pode-se sintetizar a Pitanga como uma espécie que os

grupos gostam, principalmente pelo sabor, cor e formato de seus frutos. Os

consumidores também conhecem, gostam e solicitam comprar a espécie. Em relação

a produção, o volume de quilos e a constância no decorrer dos anos é boa, mas

fatores como chuva e vento forte durante a florada prejudicam a quantidade de frutas,

por isso podar galhos centrais aumenta tamanho e quantidade de frutas. O

processamento é feito de forma artesanal, uma vez que as despolpadeiras que os

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agricultores possuem deixam o sabor dos produtos intragável. Os principais itens

processados são os pedaços de frutas congeladas, doces e geleias, geralmente

utilizado no consumo das famílias. Pelos relatos dos agricultores e observações de

campo, há uma tendência de demanda de consumo maior que a oferta, tanto os

processados quanto a fruta in natura, que é feito em feiras e entrega direta aos

consumidores, contudo seu armazenamento e transporte dificulta a comercialização

da fruta in natura, pois além de frágil o período de validade é curto.

3.2.3 Uvaia

A Uvaia tem a origem de seu nome na palavra Tupi Guarani wa’ya, que significa

“ao comer ácido” (wa, “ao comer” + ya, “ácido”) (NAVARRO, 2013). O tamanho da

árvore vária de cinco à 15 metros e tem ocorrência no Bioma Mata Atlântica de São

Paulo ao Rio Grande do Sul, principalmente na floresta ombrófila mista. Seus frutos

são amarelos e carnosos e floresce à setembro a dezembro, ficando maduros de

outubro à janeiro. Eles podem ser consumidos in natura ou processado na forma de

doces, geleias e sucos. (LORENZI, 2015b). As fotografias 28 e 29 apresentam a

árvore e o fruto da espécie.

Fotografias 28 e 29: Na fotografia 28, uma Uvaieira do agroecossistema, do grupo Palmeirina. Na fotografia 29 frutos de Uvaia do Grupo Jabuticabal.

Fonte: Pesquisa de campo

28 29

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A Uvaia foi identificada por todos os grupos desta pesquisa como uma espécie

prioritária. Nos gráficos 30 e 31 há a sistematização socioambiental da espécie

segundo a ferramenta matriz estrela.

Gráfico 30: Resultado da caracterização socioambiental da Uvaia a partir do preenchimento da matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo.

Gráfico 31: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização socioambiental da Pitanga, de acordo a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de campo

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124

Segundo o gráfico 30, indicador gostamos variou de 4 à 8, porém o valor 6 é o

mais recorrente. O quesito produção oscilou entre 2 e 10, sendo as notas 4 e 6 as

mais apontadas. No processamento a oscilação dos valores foi menor, ficando entre

6 à 8 sendo o primeiro mais citado. No quesito comercialização, além de uma grande

diferença das notas, de 8 à 2, a repetição também é diversa, pois apenas dois grupos

forneceram o mesmo valor, o número 2. No que tangue ao armazenamento e

transporte, a Uvaia apresenta a menor avaliação, entre 0 e 4. Já ao analisar a média

dos valores no gráfico estrela 31, pode-se assinalar que o melhor indicador é o

processamento, nota 6,77, em seguida gostamos com 6,33, produção e

comercialização (5,17). Por último o quesito armazenamento e transporte com 2,00.

Outro olhar aos valores atribuídos pelos agricultores para Uvaia é a

sistematização das perguntas problematizadoras da espécie agrupadas no quadro 12.

Quadro 12: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental da Uvaia.

UVAIA

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam

da fruta? Ela tem algum significado especial?

-Faz parte da cultura alimentar da maioria

das famílias

-A maioria das árvores produzem frutas muito

ácidas

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

- Volume de quilos bom -01 grupo considerou constância como bom

- Constância no volume da produção é ruim

- Maturação da fruta é repentina e curto

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

- Fácil de fazer de forma artesanal e

industrial - Possível processar

bastante

- A retirada da semente de forma manual

- Pouca experiência em processamento

Comercialização É fácil comercializar a fruta in

natura ou processada?

Boa demanda de produtos processados

-Dificuldade na regularização - Não há relado de comercialização in natura -

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar a

fruta?

Não há relatos de armazenamento e

transporte da fruta in natura

- Validade da fruta é baixo

-Frágil para armazenar e transportar

Fonte: Pesquisa de campo

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125

Em relação ao quesito gostamos, embora a Uvaia faça parte da cultura

alimentar da maioria das famílias e tenha sido inserida em todos os grupos como

espécie prioritária, a acidez acentuada no sabor da maioria das árvores faz com que

existam relatos de famílias que não consomem a fruta com frequência. Porém isso

não é consenso em todos os grupos, e há relato de árvores com frutos de acidez

amena.

Sobre o indicador produção, os grupos assinalaram que a espécie tem um

bom volume de produção. No entanto a constância no decorrer dos anos é um desafio,

mesmo que tal informação não seja consenso, esse gargalo é sintetizado na frase “a

árvore fica branca de tanta flor mais não segura a carga” (Agricultor 3). Portanto,

mesmo que o volume da produção seja considerado bom, na maioria das safras há

dificuldades disto se repetir. Embora os agricultores relatem que fatores como seca,

vento e chuva durante a floração, falta de poda e adubação potencializem as

dificuldades de frutificação, a relação entre pouca produção e fatores citados não é

harmônica. Outra característica deste indicador é a rapidez com que os frutos ficam

maduros. Via da regra, as frutas ficam maduras de forma simultânea em toda a árvore,

em seguida caem da Uvaieira num período que varia de um à três dias, como relata a

fala o agricultor 3.

O complicado da Uvaia é o jeito que ela fica madura. As vezes ela fica branca de flor e não segura a carga, mas mesmo quando segura carga ela é muita ligeira, em um ou dois dias ela cai tudo, se não estiver indo ver todo dia como ela tá cai tudo e a gente nem vê. Vamos ver esse ano com os cata-fruta se a gente pega mais coisa (Agricultor 3).

Por essa característica é necessário preparar mecanismos de colheita como

cata-frutas, sombrite ou lonas dispostas no solo antes do início da frutificação,

principalmente se há interesse de trocas comerciais envolvendo tal fruta nativa.

No quesito processamento, o produto mais recorrente são os pedaços de

frutas congelados. Ele servem de matéria prima para sucos, picolés e sorvetes,

extraídos de forma manual ou via despolpadeiras, como a Guabiroba. A Uvaia tem

como ponto positivo poder ser processada nas despolpadeiras que os grupos dispõe.

Contudo, é necessário retirar as sementes de forma manual antes do uso no

equipamento. Embora esse aspecto diminua a quantidade de fruta processada por

hora, é uma tarefa indicada como exequível pelos grupos, haja visto que cada fruta

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126

tem em média duas sementes que são extraídas ao se apertar a fruta. Esse processo

faz com que o sabor dos pedaços de frutas congelados sofra pouca alteração se

comparado com a fruta in natura. Já o maior desafio deste indicador é a pouca

experiência dos grupos em processar tal fruta, já que apenas o Grupo Recanto da

Natureza indicou processa-la.

A comercialização da Uvaia acontece nas feiras agroecológicas na forma de

frutas in natura. Também existem trocas comerciais que envolvem os pedaços de fruta

congelado através de entregas diretas à consumidores e feiras, sobretudo na cidade

de Laranjeiras do Sul. Do mesmo modo que a Pitanga, é possível indicar certa

tendência superior de demanda do que de oferta, principalmente para os pedaços de

frutas congelados.

O indicador armazenamento e transporte é apontado como o maior gargalo da

espécie. Alguns grupos relatam não ser viável armazenar e transportar a fruta in

natura, pois à fragilidade da casca é grande e o tempo de durabilidade da fruta após

colhida é baixo, cerca de um dia. Esse processo fica mais acentuado quando a

colheita é feita a partir de frutas caídas no solo, já que normalmente elas “se

desmancham”. Entretanto, quando a colheita é feita com ajuda de cata-frutas ou

apanhada direta do pé de forma manual, a qualidade da fruta e seu prazo de validade

aumentam para dois dias. Existem experiências na comercialização da fruta em

bandejas de plásticos e refrigerada, como realizado na Guabiroba, o que permite a

fruta durar até três dias.

Sintetizando, os agricultores gostam da Uvaia, mas a acidez acentuada de

algumas árvores diminui tal apreço. A produção tem problemas sérios na manutenção

de bons volumes de quilos no decorrer das safras, além das frutas “bicharem muito”.

O processamento pode ser feito de forma manual ou via despolpadeira, mas há pouca

experiência dos grupos nesse quesito sendo os pedaços de frutas congeladas o maior

produto deste processo. Existe experiência, incipiente, na comercialização da fruta in

natura nas feiras e dos pedaços de frutas congelados, mas a falta de constância na

produção dificulta as relações comerciais. O armazenamento e transporte é um

desafio, sendo considerado por alguns grupos impraticável o que direciona a produção

para o processamento.

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127

3.2.4 Cereja

Cereja tem ocorrência no bioma Mata Atlântica com registro nos do Estado de

Minas Gerais ao do Rio Grande do Sul. A árvore tem entre seis à dez metros de altura,

no Paraná ocorre nas florestas floresta ombrófila mista e seminidecidual. Floresce

entre setembro e novembro e frutifica entre outubro e dezembro. Seu fruto é carnoso

e doce, podendo ser consumidos in natura ou processado na forma de doces, geleias

e sucos (LORENZI, 2008b). Seu nome tupi é barapiroca, que significa “fruta da árvore

que se descasca”, a fruta é rica em vitamina A, cálcio e fósforo (CETAP,2015). A

Cerejeira e o fruto podem ser observados nas fotografias 32 e 33.

Fotografias 32 e 33: Na fotografia 32 uma Cerejeira no grupo Palmeirinha. Na fotografia 33 frutos da Cereja colhida no grupo Palmeirinha.

Fonte: Pesquisa de campo.

A Cereja foi apontada pelos grupos 8 de Junho, Jabuticabal e Terra de Todos

como sendo uma fruta nativa prioritária para promoção da domesticação. Em conjunto

com estes grupos elaborou-se os gráficos 34 e 35.

32

33

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128

Gráfico 34: Resultado da caracterização socioambiental da Cereja a partir do preenchimento da matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de campo. Gráfico 35: Valores médios das notas fornecida pelos grupos para a caracterização socioambiental da Cereja, de acordo a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo.

No gráfico 34 são sintetizados os valores descritos por cada grupo para a

Cereja, este agrupamento mostra que há certa homogeneidade nos quesitos

processamento e comercialização, o primeiro flutuando entre 8 e 10 e o segundo entre

8 e 6. Na produção a variação é maior, pois a espécie ao mesmo tempo que recebeu

valor máximo também é classificada com nota 4. No indicador gostamos e

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129

armazenamento/transporte, embora nenhum grupo tenha fornecido o mesmo valor,

eles são mais elevados para o primeiro e menor para o último. O gráfico estrela 35

expõe que os indicadores gostamos, produção e comercialização possuem os

mesmos valores (7,0), enquanto processamento é o quesito melhor pontuado (8,00)

e o armazenamento e transporte o pior com 4,00. As respostas para as perguntas

problematizadoras no quadro 13 permitem entender melhor os valores atribuídos para

a Cereja.

Quadro 13: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental da Cereja.

CEREJA

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam

da fruta? Ela tem algum significado especial?

-Faz parte da cultura alimentar da maioria

das famílias - Historias envolvendo

os membros dos grupos - Sabor, cor e formato da fruta são atraentes

-Espécie é pouco conhecida

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

- Volume de quilos e constância boa

- Constância no volume da produção é ruim

- Maturação da fruta é repentina e curta

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

- Fácil de fazer de forma artesanal

- A retirada da semente de forma manual

- Pouca experiência no processamento

Comercialização É fácil comercializar a fruta in

natura ou processada?

- Boas perspectivas da aceitação do consumidor

-Dificuldade na regularização

- Não há relado de comercialização

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar a

fruta?

- Possível armazenamento e

transporte para comercio no mercado

local

-Frágil para armazenar e transportar

Fonte: Pesquisa de Campo.

Em relação ao indicador gostamos, sabor, cor e formato da fruta da cerejeira

são aspecto que os grupos consideram interessante. A espécie faz parte da cultura

alimentar dos agricultores, assim como contar com histórias que vinculam seu plantio

e consumo com membros dos Grupo. O maior desafio é a divulgação da espécie, já

que sobretudo entre os consumidores, ela é pouco conhecida.

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130

O volume e constância de frutas produzidas não é consenso entre os grupos.

Alguns agricultores relatam que a quantidade e regularidade da produção é ótima,

outros que é ruim. A frase “carrega de flor mas não segura carga” dita para a Uvaia

também foi mencionada. Em princípio. A princípio fatores como incidência de luz solar

e manejo contribuem para baixa produção de alguns indivíduos, já a dificuldade na

frutificação pode ter relação com chuva e vento forte durante a florada. Outro aspecto

é a rapidez com que a fruta fica pronta para o consumo e se solta da árvore. Como a

Uvaia, esse processo dura de um à três dias e os frutos se soltam de forma

simultânea. A expressão “quando vi já tinha caído tudo” também é mencionada para

esta fruta nativa. Desde modo, se faz necessário preparar mecanismos para a colheita

antes das frutas “começarem a cair”. Destaca-se nesse indicador o fato da Cereja ser

a fruta nativa que primeiro fica madura, entre outubro e novembro normalmente. Ou

seja, ela é quem indica que a safra das frutas nativas irá começar, e por isso pode ser

mais suscetível a falta de planejamento na colheita.

O processamento é feito de forma artesanal. Para isso é retirada a semente e

utilizado o restante da fruta sobretudo na confecção de doces e geleias utilizado na

soberania alimentar das famílias. Não foram identificados casos de processamento

via despolpadeira da espécie, todavia os grupos argumentaram ser possível desde

que seja retirada as sementes com as mãos.

Não foram acompanhadas experiências de comercialização desta fruta nativa,

mas em havendo disponibilidade de frutos e planejamento da colheita, podem ser

viáveis trocas comerciais em feiras e entregas diretas a julgar pela aceitação dos

agricultores do sabor e formato da fruta. Ou seja, há um possível mercado consumidor

a ser trabalhado pelos grupos.

O armazenamento e transporte da fruta in natura é apontado como um gargalo

da Cereja. Isso se deve a fragilidade da fruta e seu tempo de duração, estimado em

dias. Embora se tenha acompanhado casos de armazenamento e transporte,

presume-se que técnicas de refrigeração e armazenamento em embalagens de

aproximadamente 300 gramas, assim como é feito com Uvaia, Guabiroba e Pitanga,

melhore os aspectos deste indicador.

Resumindo, a Cereja é uma fruta nativa apreciada pelo seu sabor e formato,

mas é pouco conhecida, carecendo assim de mais divulgação, principalmente junto

ao público urbano. A produção de frutos é um desafio, pois há grande oscilação no

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131

volume (tendendo para ser baixa). Relatos de que a árvore carrega de flor e não

segura carga, como mencionado para a Uvaia, se repetem na Cereja. Um destaque

da Cereja é que ela é a “primeira fruta nativa a ficar madura”. Além disso, suas frutas

ficam maduras e caírem do pé rapidamente, por isso tal espécie dependem de

planejamento prévio para sua colheita. O processamento é artesanal, mas estipula-se

ser possível processar nas despolpadeira, contudo a baixa produção de frutos não

estimula isso. Não há relatos de comercialização, mas em virtude do gosto adocicado

da fruta acredita-se que isso seja possível. O armazenamento e transporte é um

gargalo, em virtude da fragilidade da fruta. Embora tenha se registrado casos, técnicas

como armazenamento em embalagens menores e em locais refrigerados deve mitigar

este gargalo.

3.2.5 Araçá Vermelho

O Araçá Vermelho (do Tupi “frutas que tem olhos” (NAVARO,2013), ocorre nas

florestas ombrófila mista e densa do no Bioma Mata Atlântica, principalmente nos

estados do Paraná e Santa Cantarina. Árvore com dez à vinte metros de altura,

floresce de novembro à dezembro e frutifica de janeiro a março. (LORENZI, 2008b). A

espécie é considerada uma boa fonte de nutrientes, já que possui cálcio, magnésio,

potássio além de um alto teor de fibras (EMBRAPA, 2015c). Nas fotografias 36 e 37 é

possível ver uma árvore e os frutos da espécie.

Fotografias 36 e 37: Na fotografia 36, árvores de Araçá-Vermelho no grupo Recanto da Natureza. Na fotografia 36 frutos de colhidos no grupo Recanto da Natureza.

Fonte: Pesquisa de campo

36

37

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O Araçá Vermelho foi considerado fruta nativa prioritária pelo Grupo Recanto

da Natureza, que por sua vez indicou o coletivo de jovens do local como responsáveis

para realiza a caracterização socioambiental da espécie. Em conjunto com eles

construiu-se o gráfico 38.

Gráfico 38: Resultado da caracterização socioambiental do Araçá Vermelho a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo

A descrição do Araçá no gráfico estrela 38 que a produção é o indicador com

melhor valor (10), em seguida vem os quesitos gostamos, processamento e

armazenamento/transporte, todos com nota 8 e por última a comercialização com 4,

à interpretação destes valores soma-se as perguntas problematizadoras

sistematizadas no quadro 14.

No quesito gostamos, os agricultores relatam apreciar o sabor e o cheiro da

fruta, bem como plantarem a espécie que é considerada rústica. O desafio deste

indicador é a pouca presença da espécie na região, o que diminuiu o conhecimento

de seus usos e estratégias de multiplicação.

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133

Quadro 14: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental do Araçá Vermelho.

Araçá Vermelho

INDICADOR PERGUNTAS

PROBRLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam

da fruta? Ela tem algum significado especial?

-Os agricultores relatam gostar do cheiro e sabor

- é comum plantar a espécie

-Não é muito comum na região

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

- Volume de quilos e constância boa

- Fruta “bicha bastante”

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

- Fácil de fazer de forma artesanal ou via

despolpadeira

- Pouca experiência no processamento

Comercialização É fácil comercializar a fruta in

natura ou processada?

- boas perspectivas da aceitação do consumidor

-Dificuldade na regularização - Não há relado de comercialização

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar a

fruta?

- é viável armazenamento e

transporte em certas circunstâncias

- Fragilidade quando é necessário transporte

por mais de 1 dia

Fonte: Pesquisa de campo

O Araçá Vermelho tem bons relatos no que se refere a sua produção. O volume

de quilos da fruta produzidos por árvore e sua constância durante os anos são

consideradas excelente. Um desafio da produção pode ser expresso no termo “o

araçá bicha muito”, conforme observa-se na fala à seguir:

O problema do Araçá é que ele bicha muito, seja as frutas verdes ou as maduras, aparece umas manchas pretas com uns furinhos no meio e a fruta cai antes de ficar pronta. Eu não sou técnico, mas olhando no ao redor eu vejo os pêssegos com esse mesmo problema e dizem que é a tal mosca da fruta29 que dá esse problema, então acho que com o Araçá deve ser a mesma coisa (Agricultor 4).

Outro aspecto da produção é a quantidade de tempo que as frutas “caem da

árvore”, cerca de três à quatro semanas, sendo que a primeira e última a quantidade

é menor. Além disso, a fruta não se solta com facilidade da árvore, por isso técnicas

29 As moscas das frutas pertencem à família Tephritidae. Essa Família está entre as pragas de maior expressão econômica na fruticultura mundial por atacarem órgãos de reprodução das plantas, frutas com polpas e flores.

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134

de balançar os galhos de forma manual ou com ajuda de varas, usualmente de bambu,

com ou sem gancho na ponta acelera que o fruto se solte.

Não há relato de processamento do Araçá Vermelho, seja de forma artesanal

ou via despolpadeira. Todavia, existe possibilidade de processamento nos

equipamento que os grupos possuem, tendo em vista que a fruta tem aspectos

similares ao da Guabiroba. Empreendimentos da Cadeia Solidária das Frutas Nativas

do Rio Grande do Sul possuem experiência na confecção de sucos, picolés e pedaços

de fruta congelado de Araçá, o que pode ser interessante para aprimoramento do

processo nos grupos. Em relação a comercialização, não se identificou casos de

trocas comerciais da fruta in natura ou processada pelo grupo.

Diferente da maioria das frutas nativas prioritária desta pesquisa, o Araçá

Vermelho conta com boas condições de armazenamento e transporte. A fruta conta

com uma rigidez permite que a colheita e o armazenamento sejam realizados sem

grandes danos, além de possuir em torno de sete dias de validade. Caso seja utilizada

utilizado técnicas de refrigeração e armazenamento, como feito nas outras frutas

nativas, esse prazo pode chegar a dez dias. Essa característica permite transportar a

fruta em veículos sem refrigeração em percursos maiores sem prejudica-la.

Resumindo, os agricultores gostam do sabor e do cheiro da fruta que tem um

volume de produção excelente, porém, em algumas árvores as frutas “bicham muito”

ficando com aspectos similares aos problemas causados pela mosca da fruta. O

armazenamento e transporte da fruta in natura, diferente da maioria das espécies

elencadas nesta pesquisa, não é o principal gargalo, pois a textura da fruta pode

permitir o acondicionamento em embalagens de até dez quilos. Já seu prazo de

validade pode chegar até sete dia. Esse aspecto facilita o transporte da fruta para

distância de aproximadamente 24 horas. Não há relatos de processamento, em

virtude de sua semelhança com a Guabiroba estima-se ser possível. Não se

identificou casos de comercialização do Araçá Vermelho, mas em virtude de sua boa

produção e viabilidade no armazenamento e transporte, vislumbram-se boas

expectativas de comércios em feiras e entregas diretas. Além disso, tal característica

pode ajudar na comercialização do Araçá-Vermelho nos PNAE’s. Principalmente nas

cidades da área de abrangência da pesquisa, ação essa que permitiria assegurar

canais mais seguros de comercialização.

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135

3.2.6 Guabiju

O Guabiju é uma planta família das Myrtaceae com ocorrência no Bioma Mata

Atlântica, sobretudo na floresta ombrófila mista e densa do Paraná, Rio Grande do Sul

e Santa Catarina. A árvore tem altura de quinze à vinte metros. Floresce entre outubro

e dezembro e frutifica de dezembro à fevereiro. Sua fruta tem sabor adocicado de

coloração roxa e é bastante apreciada na alimentação humana, sendo consumida in

natura na forma de doces e geleias (LORENZI, 2008a). Nas fotografias 39 e 40

encontra-se imagens da árvore e dos frutos.

Fotografias 39 e 40: Na fotografia 39 uma árvore de Guabiju. Na fotografia 40 frutos do Guabiju.

Fonte: Projeto Flora Digital, 2018.

O Guabiju foi apontado pelo Grupo Terra Livre como uma fruta nativa prioritária

para promoção de sua domesticação. No gráfico 41 é exposto os valores para os

indicadores da caracterização socioambiental da espécie.

Os resultados descritos no gráfico estrela 41 demostram que o indicador

gostamos com nota 8 é o quesito com maior nota, em seguida está processamento

com 6 e armazenamento/transporte com 4. O quesito pior avaliado é a

comercialização que recebeu nota 2.

39

40

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136

Gráfico 41: Resultado da caracterização socioambiental do Guabiju a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo.

Soma-se a estes valores o quadro 15, com a síntese das perguntas

problematizadoras da espécie.

Quadro 15: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental do Guabiju.

GUABIJU

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam da fruta? Ela tem algum significado

especial?

- Sabor da fruta é apreciado

-Rara na região

Produção No geral, as árvores produzem

bastante frutas? Todo ano a produção é parecida?

- Produz Frutas sadias - Não produz na maioria dos anos

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil

processar bastante?

- Expectativa de ser possível de forma artesanal ou via despolpadeira

- Sem experiência no processamento

Comercialização É fácil comercializar a fruta in

natura ou processada?

- boas perspectivas da aceitação do consumidor

- Não há relado de comercialização

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar a fruta?

- é possível armazenamento e

transporte em certas circunstâncias

- Fragilidade no armazenamento

Fonte: Pesquisa de Campo

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137

O Guabiju é uma espécie que os agricultores relatam gostar principalmente

pelo sabor adocicado da fruta. Por outro lado, embora exista interesse e experiência

em seu plantio, ela é uma espécie rara na área de abrangência desta pesquisa. O

Guabiju também apresenta dificuldades na produção, como aponta a fala do agricultor

5.

Quem conhece, já comeu a fruta, não tem como não gostar. Aqui no grupo mesmo, não é uma fruta que todo mundo tem, mas todos do grupos estão interessados em ter mais, por que gosto dela é muito bom. O problema é que ela não produz muito, os pés lá de casa produzem muito de vez em quando. Nos últimos 10 anos, lembro de ter achado fruta em dois ou três anos e não foi de todas árvores, foi de uma ou outra (Agricultor 5).

Como motivos indicado pelos agricultores para a dificuldade na produção,

pode-se mencionar o fato da maioria das árvores estarem “muito sombreada” (pouca

incidência de luz solar) e a ausência de podas nas copas que são caracterizadas como

“fechadas” (densa), assim como a Pitanga. O aspecto positivo da produção é que a

fruta “bicha pouco”.

Não existe informações sobre experiências no processamento do Guabiju,

mas em virtude de sua semelhança com Guabiroba, espécie em que o grupo tem

experiência, acredita-se ser possível processar a fruta em forma manual e via

despolpadeira. A falta de práticas neste indicador é influenciada pelos limites da

produção, que também contribuiu para a não existência de comercialização do

Guabiju, no entanto a fruta aparenta ter um mercado consumidor interessante,

sobretudo por seu sabor adocicado. Em relação ao armazenamento e transporte,

mesmo sem tentativas de se realizar, é provável que seja viável nas condições

descrita da Guabiroba. Apesar disso, tal indicador foi classificado como um desafio,

seja pela fragilidade da fruta ou pelo curto prazo de validade.

Resumindo, o Guabiju é uma fruta nativa que os agricultores gostam sobretudo

por seu sabor adocicado. Porém, ela é rara. A espécie tem sérios limites na produção,

estima-se que em dez anos foi visualizada frutificação em dois ou três. Embora raro,

quando existem frutos eles apresentam uma boa qualidade, ou seja, “bicham pouco”.

A escassez de frutos contribui com a falta de experiências no processamento, todavia

é provável que fruta possa ser utilizada na despolpadeira do grupo. A comercialização

também não existe, mas o sabor adocicado é um indicio que a fruta pode ser atrativa

para os consumidores. O armazenamento e transporte nunca foram tentados, mas tal

aspecto tende a ser um desafio para, seja por sua fragilidade ou pelo prazo de

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138

validade da fruta. Porém, o uso de embalagens adequadas e o resfriamento pode,

como feito na Guabiroba, melhora tal aspecto.

3.2.7 Ingá Feijão

O ingá, ou Ingá Feijão é uma planta da família Fabaceae-Minosoideae com

ocorrência no Bioma Mata Atlântica dispersa nas floretas semidecidual e nas florestas

ombrófila mista e densa. A árvore tem de quatro a doze metros de altura Em virtude

de sua grande dispersão geográfica, a floração e a frutificação também são dispersas,

de outubro à fevereiro para floração e fevereiro a maio para frutificação. Seu fruto é

pequeno e doce, sua cor quando maduro é amarelado, a fruta também é protegida

por uma vagem que contem de seis à dozes frutos (LORENZI, 2008b). Nas fotografias

42 e 43 observa-se a árvore de Ingá Feijão e seus frutos.

Fotografias 42 e 43: Na fotografia 42 uma árvore de Ingá Feijão no grupo Jabuticabal. Na fotografia 43 frutos do Ingá Feijão.

Fontes: Fotografia 42: Pesquisa de campo. Fotografia 43: Projeto Flora Digital 2018.

Como Ingá Feijão foi selecionada como uma espécie prioritária pelo grupo

Jabuticabal, elaborou-se a caracterização socioambiental da espécie a partir dos

princípios da ferramenta matriz estela, no gráfico 44 há o resultado deste processo.

42

43

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139

Gráfico 44: Resultado da caracterização socioambiental do Ingá Feijão a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de campo Segundo os valores presentes gráfico estrela 44, o Ingá Feijão tem no quesito

gostamos o indicador melhor avaliado, já que ele recebeu a nota máxima. Em seguida,

com 8, o processamento é o segundo melhor pontuado, na sequência, mas com uma

pontuação bem menor está a produção com 3. Por último estão comercialização e

processamento com 2. A sistematização das perguntas problematizadoras descritas

no quadro 16 subsidiam os valores atribuídos para o Ingá Feijão.

No quadro em questão, é possível ressaltar no indicador gostamos que a

espécie é apreciada pelo sabor adocicado e refrescante de sua fruta. Esse aspecto

contribui para valorização das árvores presente no grupo e motiva sua multiplicação.

No entanto, a abundância de indivíduos é baixa e se notou certa dificuldade em

sistematizar informações sobre o Ingá Feijão.

O volume de frutas produzidas por ano é baixo, mas no decorrer das safras

este valor tende a se manter. A frutificação ocorre de forma gradual, variando de duas

à três semanas. A colheita é feita apanhando as frutas do chão ou diretamente da

árvore. Não existe relato de processamento nem expectativa que a despolpadeira

presente no local possa beneficiar a fruta. No entanto, há probabilidade de ser feito,

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de forma artesanal, doces e compotas. A comercialização do Ingá Feijão é uma prática

que o grupo relata não fazer, além de ser indicada como um desafio sobretudo pela

falta de um mercado consumidor próximo. Por outro lado, o grupo Recanto da

Natureza comercializa na feira agroecológica de Laranjeiras do Sul uma espécie

similar, o Ingá de Metro (Inga edulis), e relata boa aceitação dos consumidores.

Quadro 16: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental do Ingá Feijão.

INGÁ FEIJÃO

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

PONTOS POSITIVOS

DESAFIOS

Gostamos Gostam da árvore? Gostam

da fruta? Ela tem algum significado especial?

- Sabor da fruta é apreciado

- dificuldade em sistematizar informações.

Produção

No geral, as árvores produzem bastante frutas?

Todo ano a produção é parecida?

- Constância boa - Pouca Produção

Processamento É fácil processar a fruta? É fácil processar bastante?

- - Expectativa que

possa ser confeccionado doces e

compotas

- Sem experiência no processamento - Expectativa de dificuldade no

processamento

Comercialização É fácil comercializar a fruta in natura ou processada?

- boas perspectivas da aceitação do consumidor

- Não há relado de comercialização

Armazenamento / Transporte

É fácil armazenar e transportar sem processar a

fruta?

- é possível armazenamento e

transporte em certas circunstâncias

- Sem experiência de armazenamento e

transporte

Fonte: Pesquisa de Campo

O quesito armazenamento e transporte tem características favoráveis. Isso por

que a espessura da vagem protege a parte comestível de tal forma que provavelmente

seja possível o armazenamento em caixas com capacidade de vinte quilos. Além

disso, tais caixas poderiam ser transportadas em distâncias de até dois dias. Seu

prazo de validade pode chegar a 10 dias, mas se mantida em ambiente refrigerado, a

fruta pode durar até dez dias.

De acordo com as informações apresentadas, pode-se sintetizar que o Ingá

Feijão é uma espécie que os agricultores gostam, sobretudo pelo sabor adocicado da

fruta. A produção é considerada baixa, porém se mantém no decorrer dos anos. Esse

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aspecto, somado ao formato da fruta contribuiu para a falta de processamento,

embora se vislumbre a confecção de doces, geleias e compotas. Com poucas frutas

e sem produtos processados, o grupo Jabuticabal não comercializa o Ingá Feijão. Já

o armazenamento e transporte da fruta in natura é um bom atrativo se comparado

com a maioria das espécies prioritárias elencadas nesta pesquisa. Esse aspecto

permite que o Ingá Feijão possa ser transportado in natura para outros locais o que

pode permitir seu comercio em feiras, entregas diretas e programas de aquisição de

alimentos, sobretudo os PNAE’s municipais.

Bem, realizada a caracterização socioambiental das espécies prioritárias a

partir dos saberes e fazeres dos atores sociais desta pesquisa, acredita-se que os

pontos positivos e desafios de cada espécie ficaram mais visíveis tanto para os

agricultores quanto o autor desta pesquisa. De posse deste acumulo de experiências,

articulou-se outro objetivo deste trabalho, a caracterização socioambiental de boas

árvores das frutas nativas prioritárias. No próximo capitulo descreve-se os resultados

deste objetivo.

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CAPITULO IV: OS CAMINHOS PARA A MULTIPLICAÇÃO DAS BOAS ÁRVORES

A chave para o futuro dos alimentos, também reside na sua história.

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura –FAO- (2018)

Neste capítulo será abortado considerações acerca dos modos de multiplicação

das frutas nativas, bem como apresentado algumas reflexões sobre a valorização das

frutas nativas. Para isso, foram elaborados quatro itens. No primeiro é indicado quais

características sociais e ambientais que uma boa árvore de furta nativa precisa possuir

para ser considerada uma matriz. No segundo, baseado nas caracterizações

construídas com os agricultores, descreve-se as matrizes identificadas em conjunto

com eles. No terceiro, é exposto as principais estratégicas para o plantio das frutas

nativas identificados nesta pesquisa, enquanto o quarto discute as paisagens que as

frutas nativas se encontram atualmente nas unidades familiares e se propõem alguns

caminhos à seguir. Por fim, no quinto item é tratado de como um pensamento pós

colonial pode contribuir na valorização das frutas nativas e consequente promoção da

multiplicação destas espécies.

4.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DAS BOAS ÁRVORES

Este item é resultado da etapa realizar seis oficinas para caracterização

socioambiental de boas árvores, da terceira fase desta pesquisa, a caracterização

socioambiental das boas. Da mesma forma que ocorreu com as espécies descrito no

item 3.2, através da ferramenta matriz estrela, construiu-se seis indicadores para

caracterizar boa matrizes. Estes quesitos foram construídos por meio de diálogos com

os agricultores durante as atividades de campo através da ferramenta observação

participante, sendo eles: i) sabor; ii) produz bem; iii) cheiro; iv) cor; v) produz frutas

iguais e; vi) tamanho. Este processo gerou o gráfico 45. Para enriquecer os debates

durante o uso desta ferramenta, elaborou-se um conjunto de perguntas

problematizadoras para cada indicador. O quadro 17 expõem tais perguntas. Assim

como na caracterização das espécies, realizou-se um pré-teste com o grupo

Palmeirina, que dessa vez não solicitou mudança. Cabe ressaltar que, assim como

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ocorrido com as espécies, a discussão e resultado de um grupo foi apresentado aos

demais grupos.

Gráfico 45: Modelo de gráfico estrela construído para a valorização das características socioambientais de boas árvores (matrizes) das frutas nativas prioritárias.

Fonte: o Autor adaptado de Steenbock et al (2013a)

Quadro 17: Sistematização dos indicadores e das perguntas problematizadoras para caracterização socioambiental de boas árvores de frutas nativas.

BOA ÁRVORE DE FRUTA NATIVA

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta?

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa quantidade de fruta?

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor?

Cor Qual a melhor cor para a fruta?

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais?

Tamanho Qual é um bom tamanho?

Fonte: o Autor a partir de pesquisa de campo

Tal procedimento foi realizado para cada fruta nativa indicada como prioritária

para cada grupo (item 2.5.1). Neste contexto, na sequencia serão expostos os

resultados da caracterização socioambiental de boas árvores para sete frutas nativas.

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-Guabiroba

A Guabiroba foi por todos os grupos que fizeram parte desta pesquisa como

uma fruta nativa prioritária para se resgatar e promover um processo de domesticação

de plantas. Deste modo, elaborou-se uma matriz estrela para em cada grupo acerca

das características socioambientais dada espécie. No gráfico 46 é apontado indicam

valores atribuídos para cada indicador.

Gráfico 46: Resultados da caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiroba a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo

Os valores atribuídos pelos agricultores sistematizados no gráfico 46, apontam

que o quesito sabor conta com os melhores valores, flutuando entre 8 e 10. O

indicador produz bem também recebeu boa avaliação, embora o grupo Palmeirinha

tenha fornecido nota 6, os demais atribuíram valores entre 8 à 10 para a guabiroba.

Os demais indicadores apresentam valores menores. As notas do cheiro, cor e

produção de frutas iguais flutuaram entre 4 e 8. O indicador tamanho da fruta é o

indicador mais heterogêneo da Guabiroba, oscilando entre 4 e 10. Já no gráfico estrela

47, é exposto os valores médios para cada indicador da espécie. O resultado da

sistematização dessa ferramenta indica que o indicador sabor com 9,40, recebeu a

melhor nota. Logo após produz bem foi valorado com 8,50. Com valores menores

estão os quesitos cor (6,50), cheiro (6,33), tamanho da fruta (5,83). Por último produz

frutas iguais (5,50).

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Gráfico 47: Valores médio da caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiroba, de acordo a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

Cabe ressaltar que as notas maiores para os quesitos sabor e produz bem são

influenciados pela facilidade no processamento da fruta e de certa expectativa na

comercialização dos pedaços de frutas congeladas, bem como pela dificuldade no

armazenamento e transporte da fruta. Esse aspecto contribui para que tamanho da

fruta e se a matriz produz frutas iguais sejam menos interessantes. Cor e cheiro,

embora sejam relevantes para o processamento, tem importância menor se

comparado com sabor e produção.

Outro olhar para a caracterização de uma boa Guabiroba é a sistematização

das perguntas problematizadoras apresentadas no quadro 18. De acordo com o

quadro em questão, uma boa Guabiroba é aquela que gera frutos de sabor adocicado

e que não “sejam ardidos” ao comer. Ela também precisa produzir bem todos os anos,

ou seja, “carregar de flor e segurar a carga” e é desejável que os frutos sejam

saudáveis, (“bichem pouco”), enquanto o cheiro da fruta precisa ser intenso, “sentido

de longe”. A cor ideal seria um alaranjado forte. Busca-se também que o tamanho da

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fruta seja em torno de 3 à 5 centímetros e que a maioria dos frutos tenham as mesmas

características.

Quadro 18: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiroba.

BOA ÁRVORE DE GUABIROBA

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Ser adocicado

- Não ser muito “ardido”

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa

quantidade de fruta?

- Produzir bem todo ano e não bichar

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Intenso, que é possível sentir de

longe

Cor Qual a melhor cor para a fruta? - Laranja “Forte”

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - A maioria das frutas precisam ser

são iguais

Tamanho Qual é um bom tamanho? - De 3 à 5 de centímetro de

diâmetro

Fonte: Pesquisa de campo.

-Pitanga

Todos os grupos escolheram a Pitanga como uma fruta nativa prioritária. Assim

sendo, foram preenchidas seis matrizes estrela da espécie. No gráfico 48 são

expostos tais valores. Ao observar o gráfico em questão, percebe-se que os valores

do indicador sabor da Pitanga flutuam entre 8 a 10 sendo que que a fruta recebeu de

3 grupos a nota máxima. O quesito produz bem varia entre 8 à 10, sendo que o

primeiro o valor é mais recorrente, cheiro e cor receberam notas entre 4 e 8, sendo

que o primeiro obteve mais notas 6 e o segundo 8. Já a questão de produzir frutas

iguais variou de 4 à 10 e o tamanho da fruto teve nota máxima 10 e mínima 8. Já no

gráfico estrela 49 é apresentado valores médios para boas árvores de Pitanga.

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Gráfico 48: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Pitanga a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de campo.

Gráfico 49: Valores médios da caracterização socioambiental de Boas Árvores de Pitanga, de acordo com a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

No gráfico 49, percebe-se que a Pitanga tem nos indicadores sabor e tamanho

da fruta as melhores médias (9,33). Em seguida, com valor similar, está o quesito

produz bem (9,00). A produção de frutas iguais vem na sequência com 7,17

acompanhados da cor (6,83) e do cheiro (5,83). Nota-se que a melhor avaliação para

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os indicadores sabor, produz bem e tamanho da fruta, sobretudo este último, está

relacionado com as experiências de comercialização da fruta in natura e das

dificuldades de processá-la indicado no 3.2.2. Para melhorar a compreensão dos

valores apontados pelos grupos, no 19 é sintetizada a as perguntas problematizadoras

das boas árvores de Pitanga.

Quadro 19: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Pitanga.

BOA ÁRVORE DE PITANGA

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Ser adocicado e intenso

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa

quantidade de fruta?

- Produzir boa quantidade de frutas

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Intenso, que é possível sentir

de longe

Cor Qual a melhor cor para a fruta?

- Vermelho “vivo”

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - É importante ter frutas

parecidas

Tamanho Qual é um bom tamanho?

- É importante ter frutos grandes, de 2 à 3 centímetros

de diâmetro pelo menos

Fonte: Pesquisa de campo

De acordo comas informações do quadro 19, as atividades de campo da

pesquisa, pode-se indicar que buscam-se Pitangueiras com sabor adocicado, porém,

como a maioria das frutas é doce, o ideal é que o gosto seja intenso ou forte. Em

virtude da fruta, via de regra, ser saudável procura-se no indicador produz bem que a

quantidade de fruta seja elevado. Espera-se também que o cheiro seja intenso, no

que se refere a cor, embora exista um gradiente de cor amplo para as frutas que vai

do vermelho ao preto, frutas de cor vermelho “vivo” são mais apreciadas. Também é

interessante que as árvores produção frutas de forma homogenia e que seu tamanho

seja “grande”, o que para Pitanga gira em torno de dois à três centímetros de diâmetro.

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- Uvaia

Foram preenchidas seis matrizes estrelas para caracterização socioambiental

de boas árvores de Uvaia, pois tal espécie foi apontada por todos os grupo como uma

fruta nativa prioritária. Esse processo foi sistematizado nos gráfico 50 e 51.

Gráfico 50: Resultado da caracterização socioambiental de Boas Árvores de Uvaia de acordo com a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisa de Campo

No gráfico 50 é possível observar que o quesito sabor recebeu notas que vão

de 8 à 10, já produz bem vai de 7 à 10 sendo o valor 8 o mais recorrente. O indicador

cheiro varia tem no valor 8 o número mais recorrente e alto e no 6 o mais baixo. Cor

varia de 5 à 8 e tem no número 6 o valor que mais se repete. As médias destas valores

exibidas no gráfico estrela 51, assinala que o atributo com maior avaliação dos

agricultores é o sabor com 9,00. Na sequência estão produz bem (8,50), tamanho da

fruta (8,33). Mais distantes aparece cheiro (7,17), cor (6,50) e produz frutas iguais

(5,17). Soma-se as notas atribuídas aos indicadores a sistematização das perguntas

problematizadoras da Uvaia, expressas no 20.

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Gráfico 51: Valores médio da caracterização socioambiental de boas árvores de Uvaia, de acordo com a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

Fonte: Pesquisas de Campo

Quadro 20: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Uvaia

BOA ÁRVORE DE UVAIA

INDICADOR PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Não ser muito ácida

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa

quantidade de fruta?

- Produzir bom volume e sem bichar

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Cheiro intenso

Cor Qual a melhor cor para a fruta? - Amarelo “vivo”

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - A maioria das frutas tem o mesmo tamanho e sabor

Tamanho Qual é um bom tamanho? - Fruta grande, de

aproximadamente 3 centímetros de diâmetro.

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Se observamos o quadro 20, é possível visualizar que o objetivo do indicador

sabor é identificar frutas que não sejam muito ácidas, já que este aspecto é comum a

na maioria dos frutos analisados nesta pesquisa. É interessante que o cheiro da fruta

seja intenso, podendo ser “sentido de longe”. A cor ideal seria um amarelo que chame

a atenção ao ser visualizado, portanto um “amarelo vivo”. É relevante que a uvaieira

produza frutos iguais, sobretudo nos aspecto tamanho e sabor. Também é desejável

que o tamanho da fruta seja “grande”, que para a Uvaia seria acima de 3 centímetros

de diâmetro.

-Cereja

Para os grupos Terra de Todos, Palmeirinha e 8 de Junho a Cereja é prioridade

para se promover um processo de domesticação. Para caracterizar boas árvores

desta espécie, elaborou por meio da ferramenta os gráficos 52.

Gráfico 52: Resultado da caracterização socioambiental de Boas Árvores de Cereja de acordo com a ferramenta matriz estrela

Fonte: Pesquisa de Campo

No gráfico 52 é apresentado que o indicador sabor recebeu notas duas notas

9 e uma 10, enquanto produz bem foi avaliado entre com 8 e 7. Os quesitos cor e

cheiro foram pontuados entre 8 e 6. Produz frutas iguais obteve notas 4, 7 e 9 e

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tamanho da fruta ficou com 10, 9 e 8. Já no gráfico estrela 53, é indicada a média para

dos valores num gráfico estrela.

Gráfico 53: Valor médio das notas fornecida pelos grupos para a caracterização socioambiental de boas árvores de Cereja, de acordo a ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

Ao observar o gráfico 53, percebe-se que os indicadores sabor e tamanho da

fruta receberam foram as mais elevadas (9,00). Na sequência estão os quesitos

produz bem com 8,00, cor e cheiro (7,00) e por último se produz frutas iguais (6,00).

Além da valorização dos indicadores da Cereja, no quadro 21 é exposto a

sistematização das as perguntas probelmatizadoras da está fruta nativa.

Em relação ao quesito sabor, cabe ressaltar que a maioria dos relato dos

agricultores assinala que no geral a fruta é doce, contudo sua intensidade é fraca,

desde modo busca-se indivíduos com frutas de gosto adocicado e intenso. Já o cheiro

deve ser intenso, a frase “sentir o cheiro de longe” se enquadra para a Cereja. Em

relação a cor da fruta, embora exista um gradiente de cores extenso que vai do

vermelho ao preto passando pelo roxo, pode-se assinalar que a ideal seria um roxo

próximo do vermelho escuro. No que se refere a árvore produzir frutas iguais, foi

mencionado o interesse em indivíduos que produzam frutos de forma homogenia, e

grande, algo em torno de 3 centímetros de diâmetro.

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Quadro 21: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Cereja.

BOA ÁRVORE DE CEREJA

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Adocicado e intenso

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa

quantidade de fruta? - Produzir bastante quantidade

de frutas todos os anos

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Intenso

Cor Qual a melhor cor para a fruta? - Roxo, próximo do vermelho

escuro

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - é interessante produzir igual,

principalmente tamanho

Tamanho Qual é um bom tamanho? - Grande, aproximadamente 3

centímetros de diâmetro Fonte: Pesquisa de campo

-Araçá Vermelho

O Araçá Vermelho, para o grupo Recanto da Natureza é uma fruta nativa

prioritária. Para identificar boas árvores desta espécie, construir-se sua caracterização

socioambiental, sintetizada no gráfico 54.

Gráfico 54: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Araçá Vermelho a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

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De acordo com este gráfico, com nota 10 o indicador produz bem é o quesito

melhor avaliado, em seguida com 8 estão cheiro, tamanho da fruta e sabor. Mais

distante ficam cor (5) e produz frutas iguais (3). No quadro 22 há a síntese das

perguntas problematizadoras sobre os motivos que influenciaram nessa valoração.

Em relação ao sabor do Araçá Vermelho, mesmo que no geral a fruta tenha um

gosto levemente ácido, os grupos indicaram ser interessante identificar árvores com

frutos adocicado, provavelmente se referindo a uma acidez “fraca”. No que se refere

ao quesito produz bem, espera-se que a quantidade de frutas seja alta, sobretudo que

a qualidade dos frutos seja boa, já que a espécie “bicha muito”, como descrito no item

3.2.5. Segundo relatos dos agricultores, o cheiro do Araçá Vermelho é naturalmente

forte, mesmo assim identificar matrizes com aroma intenso é relevante. Em relação a

cor, a melhor é um vermelho vivo. Como o araçazeiro em geral produz frutas iguais,

tanto em relação ao formato quanto a qualidade dos frutos, ´esse quesito não é

prioritário. Em relação ao indicador tamanho da fruta, quanto maior melhor, o que no

caso do Araçá Vermelho é algo acima de três centímetros de diâmetro.

Fonte: Pesquisa de campo

Quadro 22: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Araçá Vermelho.

BOA ÁRVORE DE ARAÇÁ VERMELHO

INDICADOR PERGUNTAS

PROBLEMATIZADORAS

CARACTERÍSTICA DA BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Doce (acidez amena)

Produz bem Como deve ser a produção de frutos? - Produzir frutos sadios e em

boa quantidade

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Cheiro Forte

Cor Qual a melhor cor para a fruta?

- Vermelho Vivo

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - Produzir frutas sadias é o

principal critério

Tamanho Qual é um bom tamanho? - Grande, acima de 3

centímetros de diâmetro

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-Guabiju

O Guabiju, para o grupo Terra Livre, é uma fruta nativa prioritária e para

contribuir na identificação de boas árvores, assim como entender melhor a espécie,

caracterizou-se aspectos ambientais e sociais de possíveis matrizes, que gerou

estrela 55.

Gráfico 55: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiju a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

Das informações descritas neste gráfico, observa-se que o indicador mais

importante do Guabiju é o tamanho da fruta, pois ele recebeu a nota máxima (10). Na

sequência, com 8 estão produz bem e produz frutas iguais. Por fim, aparecem sabor,

cheiro e cor com 6. No quadro 23, o resumo das perguntas problematizadoras

apresentado aponta argumentos do por que dos valores apontados acima.

Em relação ao indicador sabor, no geral a maioria das árvores tem frutos com

sabor doce, entretanto é prudente procurar indivíduos que se enquadrem nesse

aspecto. No que se refere ao quesito produz bem, em razão da dificuldade em

encontrar matrizes que frutifiquem todos os anos, o ideal é selecionar árvores que

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tenham frutas todas as safras, se a quantidade de quilos for boa é um “melhor ainda”.

Embora o Guabiju seja uma fruta com pouco aroma, é pertinente encontrar aquelas

com cheiro intenso. Existem frutas na cor preta e roxa, sendo que a última é

considerada a ideal. Além disso, busca-se que a produção de frutas seja homogênea,

especialmente no que se refere as dimensões do fruto. Já em relação ao tamanho,

deseja-se a produção de frutos grandes, mas não conseguiu-se mensurar o valor

mínimo.

Quadro 23: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Guabiju.

BOA ÁRVORE DE GUABIJU

INDICADOR PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Doce

Produz bem Como deve ser a produção de frutos? - Produzir frutas em todos os

anos

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor?

- Cheiro Forte

Cor Qual a melhor cor para a fruta? - Roxa

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - Importante, principalmente no

tamanho

Tamanho Qual é um bom tamanho? - Quanto maior melhor

Fonte: Pesquisa de Campo

-Ingá Feijão

O Ingá Feijão é uma fruta nativa prioritária para promover um processo de

domesticação no grupo Jabuticabal. Na busca por boas árvores desta espécie, foi

preenchida uma matriz estrela desta fruta nativa. No gráfico 56, há os valores

atribuídos desta espécie. Ao observar o gráfico em questão, nota-se que os

indicadores sabor e tamanho da fruta, receberam a nota máxima (10). Na sequência

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vem o indicador sabor que com a nota 8,00. Já cheiro e cor tiveram pontuação 6,00.

Em último lugar, com valor 4, está o quesito produz frutas iguais.

Gráfico 56: Resultado da caracterização socioambiental de boas árvores de Ingá Feijão a partir da ferramenta matriz estrela.

Fonte: Pesquisas de Campo

A organização das respostas das perguntas problematizadoras da Cereja,

sintetizada no quadro 24, contribui para ampliar a discussão sobre os valores da matriz

estrela desta fruta nativa.

Quadro 24: Sistematização das perguntas problematizadoras para a caracterização socioambiental de boas árvores de Ingá Feijão.

BOA ÁRVORE DE INGÁ FEIJÃO

INDICADOR

PERGUNTAS PROBLEMATIZADORAS

CARACTERÍSTICA DA

BOA ÁRVORE

Sabor Qual o melhor sabor para a fruta? - Doce

Produz bem A árvore produz todo ano uma boa

quantidade de fruta? - produz bastante frutas todos

os anos

Cheiro Que tipo de cheiro é o melhor? - Cheiro Forte

Cor Qual a melhor cor para a fruta? - A parte de dentro ser branca

Produz Frutas Iguais A árvore produz frutas iguais? - é interessante, principalmente

o sabor

Tamanho Qual é um bom tamanho? - Grande, acima de1

centímetros de diâmetro Fonte: Pesquisa de Campo.

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158

De acordo com as informações contidas no quadro 24, cabe destacar que no

indicador sabor, o ideal é encontrar árvores que produzam frutos doces, assim como

frutificam todos os anos uma boa quantidade de frutos. Busca-se também que o cheiro

da furta seja forte, “podendo ser sentido de longe”. A melhor cor para a parte

comestível do Ingá Feijão é o branco. Já em relação ao quesito produz frutas iguais,

o mais importante é que o sabor se homogêneo do que o formato. O tamanho ideal

desejável da fruta é superior a um centímetro de diâmetro.

Dentro do contexto apresentado, pode-se indicar que ao se construir de forma

participativa a caracterização socioambiental das boas árvores, cria-se as condições

teóricas e práticas para responder, que tipo de árvores são atraentes para servirem

de matrizes. Sabendo desta informação, é possível identificar nos agroecossistemas

das famílias dos grupos se há plantas com potencial de serem classificadas como

boas árvores e multiplicá-las. O próximo item desta dissertação abordará o tema e os

resultados deste processo.

4.2 IDENTIFICAÇÃO DE MATRIZES

Para localizar boas árvores das sete espécies de frutas nativas elencadas como

prioritárias nesta pesquisa, ao final das oficinas caracterização socioambiental de

boas árvores. perguntou-se aos agricultores se havia, no conjunto de unidades

familiares de cada grupo, árvores que se enquadrassem nas características

socioambientais construídas anteriormente. Esse processo resultou na identificação

de 42 boas árvores, sendo quatorze de Guabiroba, sete de Pitanga, oito de Uvaia, três

de Cereja, quatro de Araçá Vermelho, uma de Guabiju e três de Ingá Feijão. Antes de

apresentar a identificação destas matrizes, cabe explicar como esse processo foi

realizado.

Conforme descrito nos procedimentos metodológicos, após a indicação das 42

boas árvores, realizaram-se visitas individuas com a intenção de georreferenciar cada

matriz (por meio de um aparelho GPS de mão) e caracterizá-las. Neste contexto,

através da ferramenta questionário de perguntas objetivas, elaborou-se um roteiro

com perguntas relacionadas aos indicadores de uma boa árvore. Para caracterizar o

quesito produz bem, foi solicitado aos agricultores fornecerem uma estimativa da

produção de frutos anual. Em relação aos indicadores cheiro e sabor solicitou-se aos

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agricultores apontarem uma nota de 0 à 10 para as intensidades do cheiro e do

aspecto adocicado do sabor da fruta de todas as espécies, exceto a Uvaia que teve

seu sabor avaliado de acordo com o nível de acidez do fruto, também se questionou

sobre a idade da árvore e sua altura30, bem como sua origem (ocorrência natural ou

plantada).

Em relação a cor, para equacionar seu caráter subjetivo31 imprimiu-se fichas

baseadas na tabela de cores do sistema RAL32 que foram levadas nas visitas aos

agricultores visando responder a seguinte pergunta: qual cor presente na ficha é mais

próxima da cor da fruta? Também foi anotado o tamanho médio das frutas através da

elaboração de fichas com dez círculos de diâmetro que variam de 1 à 15, 50

centímetro. Estes círculos foram levados aso agricultores e solicitado a eles indicar

qual é mais semelhante com o tamanho médio das frutas. Nas fotográficas 57 e 58,

são expostas as fichas sendo utilizadas na pesquisa. Note-se que as fichas de cores

e de tamanho, bem como o roteiro de perguntas realizadas aos agricultores estão

descritos no Anexo I.

Cabe destacar que algumas informações sobre a caracterização das boas

árvores foram respondidas como “não sei” e transcritas desta forma para a

sistematização. Outra característica deste processo foi sugerida por um agricultor do

grupo 8 de Junho durante a oficina de caracterização de boas árvores. Segundo ele,

objetivando valorizar a importância das mulheres na domesticação de plantas, cada

boa árvore deveria receber um nome, de preferência, de uma mulher da unidade

familiar. Essa sugestão foi incorporada no método desta pesquisa e discutida com os

demais grupos, sendo que todos apoiaram a ideia.

30 Optou-se por busca uma estimativa para a altura da árvore em virtude doe quesito teve como principal objetivo problematizar junto aos agricultores o volume de produção indicado por cada matriz, logo acredita-se não se fez necessário o uso de equipamentos que fornecessem esta informação de maneira mais precisa. Por outro lado, espera-se que novas pesquisas aconteçam com estas matrizes e que essa informação possa ser qualificada. 31 Por exemplo, uma fruta de Pitanga considerada de cor vermelho vivo para um agricultor pode ser considerada vermelho fraco para outro 32 Uma comissão alemã criou em 1927 as normas técnicas para identificar 40 tons de cores visando padronizar o uso de cores na indústria. Cada cor recebeu um número e a sigla RAL que é a abreviatura de Reichsausschuß für Lieferbedingungen und Gütesicherung. Note-se que a escolha por tal sistema se baseou apenas em sua disponibilidade na internet.

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Fotografias 57 e 58: Na fotografia 57 o uso da ficha confeccionada para mensurar o tamanho dos frutos. Na fotografia 58 uso da ficha de identificação de cores.

Fonte: Pesquisa de campo

Após apresentado o caminho para encontrar, identificar e “dar nomes” as 42

boas árvores, a seguir serão exibidos os resultados deste processo para as setes

frutas nativas prioritárias deste trabalho.

- Guabiroba

A Guabiroba é a fruta nativa com maior número de boas árvores

identificadas, foram 14 matrizes localizadas em todos os grupos da pesquisa.

Conforme exposto no quadro 25, a idade das árvores varia de 10 à 50 anos, sendo

que a maioria delas (6 indivíduos) tem 30 ou mais anos de vida. Em relação à altura,

ela oscila de 4 à 18 metros, sendo do que a maioria (9 indivíduos) tem mais de metros

tem mais de metros. Dentro dos limites apresentados anteriormente, pode-se indicar

que a produção de frutas foi de 20 à 300 quilos, além disso a maioria dos

apontamentos indica que a Guabirobeira produz em torno de 100 à 300 quilos por

indivíduo/safra, esses valores geram uma média de 170 kg por boa árvore.

57 58

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Quadro 25: Síntese das características das boas árvores de Guabiroba indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação.

Grupo Família Nome Idade (Anos)

Altura (M)

Estimativa de Produção (KG)

Cor (RAL)

Tamanho do fruto

(cm) Sabor (doce) Cheiro (Forte)

8 de Junho Marlene e Celso Guabiroba Marlene 10 15 500 1017 2,5 8 9

8 de Junho Maria e Lula Guabiroba Maria da Luz 10 5 25 2000 2,5 7 4

8 de Junho Darci e Marli Guabiroba Darci 30 10 300 1007 2,5 7 8

8 de Junho Darci e Marli Guabiroba Marli 30 10 300 1007 2,5 7 8

Jabuticabal Cleci e Oclides Guabiroba Douglas 10 10 60 2009 2,5 10 8

Jabuticabal Cleci e Oclides Guabiroba da Estrada 13 12 100 1023 4 8 6

Palmeirinha Iolanda e Dirço Guabiroba Iolanda 40 18 300 1003 2,5 8 9

Palmeirinha Claudia Guabiroba do Vento 40 15 200 1004 2,5 9 8

Recanto Centro

comunitário Guabiroba do Centro 40 20 200 1023 2,5 6 6

Recanto Zé Freitas Guabiroba do Recanto 15 4 75 1021 2,5 5 8

Terra de Todos Doralice e Orlando Guabiroba Orlandinho 50 15 100 1000 4 8 6

Terra livre Lúcia e Reinaldo Guabiroba dos Índios 30 10 200 1006 2 10 8

Terra livre Elias Guabiroba do Fogo 10 6 20 2012 2,5 8 8

Terra livre Lúcia e Reinaldo Guabiroba Graúda 30 10 200 1018 2,5 8 6 Fonte: Pesquisa de Campo

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Outra característica apontado no quadro 25 diz respeito às 12 tonalidades

de cores dos frutos identificadas. Estas tonaldiades podem ser agrupadas da

seguinte forma: 04 matrizes tem frutos de cor laranja (RAL 1006, 1007 e 1017),

sendo esta a classificação com mais indivíduos; 03 matrizes são laranja vivo

(RAL 2000,2009 e 2012); 03 são laranja fraco (RAL 1021 e 1023); 03 são laranja

próximo do amarelo (RAL 1003, 1004 e 1018) e; 01 é verde claro (RAL 1000). O

tamanho das frutas vai de 2 à 4 centímetros de diâmetro, porém o tamanho 2,5

é o que mais se repete 11 vezes. Já o quesito doçura da fruta recebeu valores

de 5 à 10 enquanto a intensidade do cheiro ficou pontuado de 4 à 9.

Nesta classificação, destaca-se a Guabiroba do Orlandinho que

provavelmente não se trata da Campomanesia xanthocarpa e sim da

Campomanesia neriiflora, também conhecida como Guabiroba branca. Chegou-

se a essa conclusão em virtude da cor do fruto e da época da frutificação que

segundo o agricultor é de setembro à outubro. Outro aspectos das boas árvores

de Guabiroba é que todas foram classificadas pelos agricultores como de

ocorrência natura, ou como expresso por eles, “nativa”.

-Pitanga A Pitanga teve 11 boas árvores selecionadas com idade entre 2 à 30 anos,

sendo que a maioria está com 6 a 8 anos, conforme descrito no quadro 26. A

altura oscila de 2,5 à 20 metros, porém, a maior parte está entre 2,5 a 4 metros,

as matrizes produzem de 2 a 100 quilos, enquanto a média é de 22,50 Kg.

Todavia, duas famílias não souberam mensurar o volume de produção. Em

relação a cor, foram apontadas 9 tonalidades de cores que podem ser agrupadas

da seguinte maneira: 4 são vermelho escuro (RAL 2001, 3013, 3011 e 3016); 4

são de vermelho vivo (RAL 3017,3022 e 3070), sendo que estas duas categorias

contam com o maior representantes; 1 é vermelho fraco RAL 3014) e; 1 é preta

(RAL 5011). O tamanho das frutas mínimo da fruta é 1 centímetro, o máximo é

de 3 cm e o mais comum é 2 cm. O sabor e cheiro, o primeiro receberam notas

que variam entre 6 à 10 e o segundo entre 4 e 10. Outro aspecto das matrizes

de Pitanga diz respeito a sua origem, já que das 10 matrizes, 7 foram plantadas

pelos agricultores.

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Quadro 26: Síntese das características das boas árvores de Pitanga indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação

Grupo Família Nome Idade (anos) Altura (M)

Produção (KG)

Cor (ral)

Tamanho (cm)

Sabor (doce)

Cheiro (intensidade) Histórico

8 de Junho Maria e Lurdes

Pitanga Lurdes 6 3 8 3022 1,8 7 7 Plantada

8 de Junho Maria e Lula Pitanga

Edenilson 8 2,5 10 2001 2 8 7 Plantada

8 de Junho Maria e Lula Pitanga

Lula 8 2,5 10 3014 2,5 6 6 Plantada

Jabuticabal Cleci e Oclides

Pitanga Cleci 2 2,5 2 3016 2 10 8 Nativa

Palmeirinha Marilda e Sebastião

Pitanga a Marilda 20 15 40 3011 3 7 6 Nativa

Terra de Todos

Eliane Leandro

Pitanga Eliane 10 3 4 3017 1 6 5 Plantada

Terra de Todos Maria e Tercio

Pitanga Tercio 8 4 Não sei 5051 1,8 10 4 Plantada

Terra de Todos Maria e Tercio

Pitanga Maria José 10 4 Não sei 3070 3 8 6 Plantada

Terra livre Elias Pitanga Graúda 6 4 6 3022 2 8 8 Plantada

Terra livre Lúcia e

Reinaldo Pitanga do Reinaldo 30 20 100 3013 2,5 10 10 Nativa

Fonte: pesquisa de Campo

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-Uvaia

A Uvaia teve 8 boas árvores apontadas pelos atores desta pesquisa, como detalhado no quadro 27.

Quadro 27: Síntese das características das boas árvores de Uvaia indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação

Grupo Família Nome Idade (anos) Altura (M)

Produção (KG) Cor (ral) Tamanho

Sabor (Acidez)

Cheiro (intensidade Histórico

8 de Junho Cleci e Sadi Uvaia da

Cleci 10 6 30 1016 3 6 8 Plantada

Jabuticabal Cleci e Oclides

Uvaia do Palito 10 8 10 1016 3 6 8 Nativa

Palmeirinha Iolanda e

Dirço Uvaia do

Dirço 10 12 80 1021 2 Não sei Não sei Nativa

Recanto Eloi Uvaia do Recanto 10 5 8 1016 3 6 8 Nativa

Recanto Keno (João) Uvaia do Recanto 10 4,5 8 Não sei Não sei 7 9 Plantada

Terra de Todos Eliane e Leandro

Uvaia do Leandro 15 1 1 1018 3 5 4 Nativa

Terra livre Elias Uvaia do

Elias 10 3 8 2000 3 6 2 Nativa

Terra livre Elias Uvaia do

Moro 10 4 10 1016 3,4 3 4 Nativa Fonte: Pesquisa de campo

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Observa-se que no quadro 27 que 8 boas árvores têm 10 anos de idade

e 1 estão com 15 anos, enquanto a altura vai de 3 à 12 metros, sendo que a

maioria tem de 3 à 4,5 metros. A produção de frutas conta com média de 19 kg

e uma moda de 10 kg, oscilando de 01 à 80 quilos. No que se refere a cor, as

matrizes 3 tonalidades, sendo que 04 podem ser classificadas como amarelo

vivo (RAL 1016 e 1021), 01 como amarelo escuro (RAL 1018) e 01 tem cor

amarelo com tonalidade laranjada (RAL 2000). Em relação ao tamanho, 05

matrizes tem frutas com 3 cm, 1 com 3,4 cm e 1 com 1 cm, enquanto a acidez

foi valorada de 3 à 7, sendo que a nota 06 a mais repetida, já a intensidade do

cheiro oscila de 9 à 4, porém a maioria das avaliação é igual ou inferior a 4.

Sobre a origem das boas árvores, 7 delas são nativas e 2 plantadas.

- Cereja Foram apontadas três Cerejas como boas árvores, suas características

estão sintetizadas no quadro 28.

Quadro 28: Síntese das características das boas árvores de Cereja indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação

Grupo Família Nome Idade (anos)

Altura (M)

Produção (KG)

Cor (ral)

Tama-nho

Sabor (doce)

Cheiro

8 de Junho

Marlene e Celso

Cereja do

Celso 5 6 10 602

2 3 7 8

Palmeiri-nha Claudia

Cereja da Vó

Cláudia 30 12 80 700

3 2,5 7 8

Terra de Todos Vaz

Cereja da

Rosana 20 5 3 400

7 5,2 6 2 Fonte: Pesquisa de campo

No que se refere à idade, as árvores têm 5, 20 e 30 anos, enquanto a

altura oscila de 5 a 12 metros. No que se refere à estimativa da produção de

frutas, a variação é grande, 3 kg é o valor mínimo e 80 kg o máximo, já a outra

espécie foi avaliada com 10 kg. Há duas tonalidades de cores, uma mais próxima

do preto (RAL 6022 e RAL 7003) e outra do roxo (RAL 4007), já os tamanho dos

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frutos são 2,5, 3 e 5,2 centímetros, no que se refere a sabor e cheiro, o primeiro

quesito ficou entre 6 e 7 enquanto o segundo teve nota mínima 2 e a máxima de

8. Sobre a origem das matrizes, todas foram plantadas.

- Ingá Feijão Os atores desta pesquisa indicaram três matrizes de Ingá Feijão, porém

não foi possível responder os quesitos produção, sabor e cheiro, já que os

agricultores alegaram não lembram destas características, como exposto no

quadro 29.

Quadro 29: Síntese das características das boas árvores do Ingá Feijão indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação

Grupo Família Nome Idade (anos)

Altura (M)

Produção (KG)

Cor (ral)

Tama-nho

Sabor (doce)

Cheiro

Jabuti-cabal Cleci e

Oclides

Ingá Formi-gueiro

10 6 Não sei 1018

1 Não sei Não sei

Jabuti-cabal

Cleci e Oclides

Ingá do chato

13 8 Não sei 1018

1 Não sei Não sei

Jabuti-cabal

Cleci e Oclides

Ingá do Tiago

8 6 Não sei 1018

1 Não sei Não sei

Fonte: Pesquisa de Campo

Em relação a idade, ela varia de 8 à 13 anos enquanto a altura é de 6 ou

8 metros, já o tamanho médio da fruta é de 1 centímetro, cabe destacar que

usou-se como referência para este critério a parte comestível da fruta e não a

vagem. No que se refere aos frutos, a cor de todas as matrizes é o RAL 1018

(algo próximo do verde claro).

-Araçá Vermelho

O Araçá Vermelho têm três boas árvores assinaladas pelos agricultores,

todas foram plantadas há 4 anos por intermédio de mudas confeccionadas no

viveiro da empresa ENGIE e estão na mesma unidade familiar, já sua altura é de

3 metros. A estimativa de produção de cada indivíduo é de 15 quilos por safra,

os frutos são da cor RAL 3003 (vermelho escuro) e seu tamanho é de

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aproximadamente 3 centímetros, enquanto o adocicado da fruta foi avaliado em

6 e a intensidade do cheiro em 8. Como está descrito no quadro 30.

Quadro 30: Síntese das características das boas árvores de Araçá Vermelho indicada pelos grupos como possíveis espécimes para a multiplicação

Grupo Família Nome Idade (anos)

Altu-ra

(M)

Produ-ção (KG)

Cor (RAL)

Tama-nho

Sabor (doce)

Cheiro

Recanto Ângela e Vilson

Araçá do Recanto I

4 3 15 3003 3 6 8

Recanto

Ângela e Vilson

Araçá do Recanto

II 4 3 15 3003 3 6 8

Recanto

Ângela e Vilson

Araçá do Recanto

III 4 3 15 3003 3 6 8

Fonte: Pesquisa de campo -Guabiju

Conforme descrito no item 3.2.6, Guabiju tem problemas de frutificação, o

que dificultou a identificação de matrizes. Dentro deste contexto, foi apontada

uma boa árvore de Guabiju, que é nativa, têm cerca de 30 anos de idade e 3

metros de altura, além disso, a cor da fruta é o RAL 6005 (algo próximo de verde

escuro) com tamanho aproximado de 2,5 centímetros. A doçura do sabor e a

intensidade do cheiro foram classificadas como nota 5. Cabe ressaltar que os

agricultores não souberam mensurar, mesmo que de forma aproximada, o

volume de produção da árvore.

Em conjunto com a descrição das matrizes, com a intenção de melhorar

a identificação localização das boas árvores foram identificadas as coordenadas

geográficas das 42 boas matrizes. Também foi apontado a unidade familiar e o

local, ou paisagem, em que cada matriz está inserida. Esse processo está

sintetizado nos quadros 31 e 32 que são expostos na sequência.

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Quadro 31: Localização e coordenada geográfica das boas árvores de frutas nativas indicadas pelos grupos

Espécie Grupo Família Nome Local Coordenada Geográfica

Espécie Grupo Família Nome Local Coordenada Geográfica

Araçá vermelho

Recanto da Natureza

Ângela e Vilson

Araçá Recanto I

Quintal 25°16'14.40"S 52°20'20.08"O

Guabiroba

Jabuticabal Cleci e Oclides

Guabiroba da Curva

Quintal/Estrada

25° 2'1.14"S 51°59'48.71"O

Araçá vermelho

Recanto da Natureza

Ângela e Vilson

Araçá Recanto II

Quintal 25°16'14.40"S 52°20'20.08"O

Guabiroba

Jabuticabal Cleci e Oclides

Guabiroba Douglas

Potreiro 25° 1'59.08"S 51°59'51.22"O

Araçá vermelho

Recanto da Natureza

Ângela e Vilson

Araçá Recanto

SI Quintal

25°16'14.40"S 52°20'20.08"O

Guabiroba

Palmeirinha

Claudia Guabiroba

Vento Quintal

24°53'33.23"S 52°19'34.33"O

Cereja 8 de Junho Marlene e

Celso Cereja Celso

Quintal 25°27'49.27"S 52°26'33.58"O

Guabiroba

Palmeirinha

Iolanda e Dirço

Guabiroba Iolanda

Quintal 24°54'24.78"S 52°20'35.71"O

Cereja Palmeirinha Claudia Cereja Vó Cláudia

Quintal 24°53'31.68"S 52°19'32.32"O

Guabiroba

Recanto da Natureza

Centro Comunitári

o

Guabiroba Centro

Mata 25°15'45.27"S 52°20'53.30"O

Cereja Terra de Todos

Rosana e Antônio

Cereja Rosana

Quintal 24°54'38.72"S 52° 9'5.76"O

Guabiroba

Recanto da Natureza

Zé Freitas Guabiroba Recanto

Potreiro 25°15'58.65"S 52°20'50.81"O

Guabiju Terra Livre Cleusa e Joly Guabiju

Joly Quintal

25°15'29.32"S 52°36'37.97"O

Guabiroba

Terra de Todos

Doralice e Orlando

Guabiroba Orlandinho

Erval 24°55'44.14"S 52° 1'37.63"O

Guabiroba 8 de Junho Maria e Lula Guabiroba Maria da Luz

Quintal 25°27'3.53"S 52°27'5.57"O

Guabiroba

Terra Livre Elias Guabiroba

Fogo Potreiro

(invernada) 25°16'11.26"S 52°35'45.29"O

Guabiroba 8 de Junho Marlene e

Celso Guabiroba Marlene

Quintal

25°27'49.71"S 52°26'33.51"O

Guabiroba

Terra Livre Lúcia e

Reinaldo Guabiroba dos Índios

Mata 25°16'26.59"S 52°35'27.02"O

Guabiroba 8 de Junho Marli e Darci Guabiroba Marli

Mata 25°26'38.89"S 52°28'54.76"O

Guabiroba

Terra Livre Lúcia e

Reinaldo Guabiroba

Graúda Mata

25°16'26.32"S 52°35'19.79"O

Guabiroba 8 de Junho Marli e Darci Guabiroba Darci

Mata 25°26'38.32"S 52°28'55.55"O

Inga Jabuticabal Cleci e Oclides

Ingá Feijão do

Formigueiro

Potreiro 25° 1'58.43"S 51°59'52.11"O

Fonte: Pesquisa de campo

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Quadro 32: Localização e coordenada geográfica das boas árvores de frutas nativas indicadas pelos grupos

Espécie Grupo Família Nome Local Coordenada Geográfica

Espécie Grupo Família Nome Local Coordenada Geográfica

Ingá Feijão

Jabuticabal Cleci e Oclides

Inga Feijão do

chato

Potreiro 25° 1'58.77"S 51°59'53.43"O

Pitanga Terra Livre Lucia e Reinaldo

Pitanga Reinaldo

Mata 25°16'17.36"S 52°35'31.75"O

Ingá Feijão

Jabuticabal Cleci e Oclides

Inga Feijão Tiago

PRV 25° 2'5.48"S

51°59'50.64"O

Pitanga Palmeirinha Marilda e Sebastião

Pitanga Marilda

Quintal (casa nova)

24°53'39.45"S 52°19'34.69"O

Pitanga Terra de Todos Maria e Tercio Pitanga Tercio

Quintal 24°55'25.14"S 52° 0'31.19"O

Uvaia Terra Livre Elias Uvaia do Moro

Potreiro (invernada) 25°16'11.98"S

52°35'45.92"O Pitanga Terra de Todos Eliane e

Leandro Pitanga Eliane

Quintal 24°57'49.07"S 52° 2'3.09"O

Uvaia Terra de Todos

Eliane e Leandro

Uvaia Leandro

Potreiro 24°57'52.95"S 52° 2'6.63"O

Pitanga 8 de Junho Maria e Lula Pitanga Lula

Quintal 25°27'3.53"S 52°27'5.57"O

Uvaia 8 de Junho Delci e Sadi

Uvaia Cleci

Quintal 25°26'28.65"S 52°26'48.03"O

Pitanga Terra de Todos Maria e Tercio Pitanga Maria José

Quintal 24°55'26.17"S 52° 0'30.18"O

Uvaia Jabuticabal Cleci e Oclides

Uvaia Palito

PRV 25° 2'9.56"S 51°59'49.34"O

Pitanga 8 de Junho Juca e Maria de Lurdes

Pitanga Lurdes

Quintal 25°26'6.02"S 52°26'59.32"O

Uvaia Terra Livre Elias Uvaia Elias

Potreiro 25°16'17.99"S 52°36'1.57"O

Pitanga 8 de Junho Maria e Lula Pitanga Edenilson

Quintal 25°27'47.51"S 52°26'27.97"O

Uvaia Uvaia Keno (João)

Uvaia do Recanto

II

Quintal 25°15'49.19"S 52°20'15.06"O

Pitanga Terra Livre Elias Pitanga Grande

Potreiro (invernada)

25°16'18.64"S 52°36'7.65"O

Uvaia Palmeirinha Iolanda e Dirço

Uvaia do Dirço

Potreiro 24°54'24.37"S 52°20'34.36"O

Pitanga Jabuticabal Cleci e Oclides

Pitanga Cleci

Potreiro/ Estrada

25° 1'58.92"S 51°59'49.54"O

Uvaia Recanto da Natureza

Uvaia do Recanto

Potreiro 25°16'2.65"S 52°20'21.39"O

Fonte: Pesquisa de campo

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170

A partir da caracterização e identificação das 42 matrizes apresentadas, foi

construído uma espécie de “catalogo das frutas nativas” contento grupo, unidade

familiar, coordenada geográfica cor, tamanho, sabor e cheiro de cada boa árvore. Este

catálogo, além dessas informações um tanto quanto técnicas, possui uma dimensão

social importante, a atribuição dos nomes das agricultoras e agricultores para as

matrizes. Esse aspecto contribui na valorização das matrizes, já que a boa árvore

passa a ter novas histórias, por exemplo, ser resultado de uma “pesquisa da

universidade”, ser um símbolo de novos olhares para as frutas nativas. Mas

principalmente, o reconhecimento do papel daquele sujeito que forneceu o nome para

a boa árvore como um agente promotor da sociobiodiversidade, ou como disse o

agricultor do grupo Terra de Todos, um guardião das frutas nativas.

Tal reconhecimento também foi sintetizado em forma de “placas” que foram

entregues a todos as famílias dos grupos que fizeram parte da pesquisa. Estas placas

foram financiadas pelo Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais e tiveram a arte

desenvolvida por Jaine Amorin que é uma Guardiã das Frutas Nativas do Grupo 8 de

Junho, estudante de ciências econômica da UFFS e assessora de comunicação do

CEAGRO. Cabe destacar que foi sugerido as famílias que receberam as placas fixar

tal material em algum local próximo à sede de sua unidade familiar e que, dentro do

possível, deixá-las visíveis aos visitantes destes locais.

Além dos grupos, o Laboratório VIVAN de Sistemas Agroflorestais da UFFS e

o CEAGRO receberam uma placa em reconhecimento ao trabalho que tais

organizações desenvolve com as frutas nativas na área de abrangência dessa

pesquisa. O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que visitou o Laboratório Vivan da

UFFS durante a caravana Lula pelo Sul do Brasil no dia anterior a defesa desta

dissertação também recebeu uma placa de Guardião das Frutas Nativas em

homenagem as políticas públicas desenvolvidas em seus governos, que dentro de

suas contradições e críticas, fomentaram não só as frutas nativas, mas também a

Agroecologia como “nunca antes na história desse país se viu”.

Na fotografia 59 e 60 apresenta-se um exemplos da arte da placa dos

Guardiões das Frutas Nativas, bem com a entrega das mesmas durante a defesa

desta dissertação. Já na fotografia 61, é exposto a entrega de uma placa ao ex-

presidente Lula.

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Fotografias 59,60 e 61: Na fotografia 59 exemplo de uma placa confeccionada para a Família de Delci e Sabi do Grupo 8 de Junho. Na fotografia 60 entrega de parte das placas para os agricultores que fizeram parte da pesquisa ao final da defesa da dissertação. Na fotografia 61, entrega de uma placa de Guardião das Frutas Nativas para o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Fonte: fotografia 59 Jaine Amorim; fotografia 59 Maicon Reginato e; fotografia 61 Ricardo Stuckert

Em suma, atribuição dos nomes e distribuição das placas também tem efeito

em quem planta, pois junto com a história da árvore está se plantado a história da

pessoa, do grupo, da família que deu origem ao nome. Com isso aumenta-se o motivo

para o cuidado com a planta e cria-se um ambiente onde novas histórias possam

emergir. Isso por que os guardiões das frutas nativas se dispuseram a contribuir

na conservação e multiplicação das histórias que mulheres e homens

construíram com as frutas nativas por meio da domesticação de plantas e da

Agroecologia.

59 60

61

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4.3 A MULTIPLICAÇÃO DAS FRUTAS NATIVAS

Se nas seções anteriores deste capitulo foi conceituado, caracterizado e

identificado boas matrizes das frutas nativas, nessa será discutido os resultados da

quarta fase dos procedimentos metodológicos desta pesquisa, a multiplicação das

boas árvores. Para isso serão abordados como são os sistemas produtivos das

famílias que fazem parte desta pesquisa e as formas de multiplicação que os

agricultores usam no plantio das frutas. Em seguida será exposto um plano de ação

para elaboração e distribuição de mudas das frutas nativas. Por fim, há uma descrição

das possíveis paisagens para inserir os indivíduos de frutas nativas.

Ainda que não seja objeto desta pesquisa analisar os sistemas produtivos dos

grupos, cabe pontuar algumas características centrais destes sistemas. A primeira diz

respeito a pluralidade de atividades das famílias. Isso por que em nenhuma unidade

familiar identificou-se casos onde há apenas um tipo de produção. De modo geral

pode-se identificar que existem três sistemas produtivos principais presente nas

unidades familiares de forma simultânea, a produção de leite, a produção de grãos e

produção de hortaliças e frutas. Contudo, o nível de importância, sobretudo econômico

destes sistemas varia de grupo para grupo. No quadro 33 é exposto tal nível.

Quadro 33: Sistemas produtivos principais dos Grupos e o nível de prioridade de cada sistema

Grupo

Sistema Produtivo

Produção de Leite Produção de

hortaliças e frutas

Produção de Grãos

8 de Junho 2º 1º 3º

Jabuticabal 1º 2º 3º

Palmeirinha 1º 2º 3 º

Recanto da Natureza 2º 1º 3º

Terra de Todos 1º 2º 3º

Terra Livre 1º 2º 3º

Fonte: Pesquisa de Campo

Observa-se no quadro em questão que em todos os grupos a produção de grão

ocupa a terceira produção, já a produção frutas e verduras vem em segundo planto

enquanto a produção de leite está em primeiros. Tal resultado pode ser influenciado

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pela presença de laticínios na região que possuem um sistema de logística que

“busca” a produção na sede da unidade familiar. Com isso os agricultores focam na

produção enquanto as empresas do ramo trabalham no beneficiamento e

comercialização.

Outra característica dos sistemas produtivos diz respeito a paisagem que eles

estão inseridos. Embora esse processo seja diverso, por hora cabe indicar a seguinte

tendência. O leite normalmente se insere em potreiros e pastagens perenes plantadas

nas unidades familiares e ocupa cerca de 60% da área das unidades familiares. As

frutas e hortaliças são plantadas nos sistemas agroflorestais, sobretudos os quintais

agroflorestais num espaço aproximado de 10% da unidade familiar. Os grãos (milho e

feijão) são cultivados no verão em roças que ocupam 30% do espaço que se

transformam em pastagens para o gado durante o inverno. Note-se que o tamanho

médio dos lotes é de 15 hectares.

Mesmo que tais informações sobre os sistemas produtivos sejam mais uma

provocação do que uma caracterização, na figura 62 é apresentado um exemplo

hipotético da tendência identificada dos sistemas produtivos das unidades familiares

presentes dos grupos.

Figura 62: Exemplo hipotético da tendência dos principais sistemas produtivos identificados nas unidades familiares dos grupos

Fonte: O autor a partir das pesquisa de campo

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Após contextualizado os principais sistemas produtivos, cabe discutira alguns

aspectos do processo de multiplicação que buscou-se promover neste trabalho.

Basicamente, o que se está estimulando é o resgate da intencionalidade na

domesticação, fomentando nesse aspecto a sociobiodiversidade. Para isso, um

importante passo foi estimular “olhares” dos agricultores para as características das

espécies e identificar onde há boas matrizes, bem promover o plantio, via sementes

ou mudas, destas boas árvores. Contudo esse passo não é sinônimo de garantia na

perpetuação dos fenótipos escolhidos, pelo contrário. Fatores que envolvem aos

mecanismos de polinização, a herdabilidade e as condições ambientais contribuem

para que nem sempre uma característica selecionada num individuo seja transmitida

para a geração seguinte (LOUISE,2009). Ou seja, ao coletar sementes de uma “boa

árvore” com fruto doce e grande de Guabiroba (como a Guabiroba Douglas descrita

no quadro 25) e planta-la, a árvore resultante desse processo não necessariamente

terá frutos doces e grandes. Por outro lado, historicamente, o ser humano por meio

de uma espécie de dança com a Natureza que envolve a observação dos melhores

indivíduos, plantio, observação dos resultados e escolhas dos melhores indivíduos

vem colaborando para a diversificação cultural e biológica do planeta (TOLEDO e

BARRERA-BASSOLS 2015). Portanto, mesmo que não haja garantia na

herdabilidade dos fenótipos, multiplicar as boas árvores é, no mínimo, dar um passo

em direção ao retorno/manutenção do ser humano à dança que promove

historicamente vem promovendo a sociobiodiversidade no planeta.

Dentro deste contexto, durante a convivência com os atores sociais destas

pesquisa, identificou-se duas estratégias principais para a multiplicação das frutas

nativas. A primeira estratégias consiste em valorizar o que “já existe” nas unidades

familiares. Isto é, plantar indivíduos oriundos de matrizes presentes nos

agroecossistemas das famílias dos grupos, bem como da comunidade que estão

inseridas. Esse processo ocorre por meio da colheita e plantio de sementes, tanto de

indivíduos presentes na unidade familiar quanto na troca de sementes entre as

famílias dos grupos, como descreve a agricultora 6 na fala a seguir e é exposto na

fotografia 63.

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Ganhei uma muda de Cereja quando trabalhava na escola como professora. Eu plantei e depois que começou a dar frutos fiz umas mudas e dei para minhas filhas plantar. Esse ano vou fazer isso dinovo, mas além das minhas filhas tem mais gente interessada no grupo que quer. Depois que a gente falou que essa é uma boa Cereja, já veio agricultor aqui em casa esses dias e levou umas sementes, ele disse que lá na casa deles não tem e que vai plantar (Agricultora 6).

Fotografia 63: Agricultora do Grupo Palmeirinha, colocando sementes de Cerejas coletadas da boa árvore identificada como Cereja da Vó Claudia em recipientes que permitiram sua germinação.

Fonte: Pesquisa de campo

Embora a arte de coletar e plantar sementes de frutas nativas seja um artificio

há muito presente nas famílias agricultoras, na fala da agricultora 6, percebe-se que

quando se identificou a Cereja como uma espécie prioritária e a Cerejeira Vó Claudia

como uma boa árvore, outros agricultores do grupo se motivaram a plantar esta

espécie em seus agroecossistemas. Isto é, através das oficinas de identificação das

frutas nativas prioritárias, caracterização das espécies e das boas árvores que gerou

a identificação das matrizes, construiu-se um ambiente de ensino e aprendizagem

onde os agricultores puderam fomentar novos olhares para as frutas nativas e troca-

los entre si, como onde elas estão, quais árvores tem as características que desejo, o

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que fazer com cada espécie e afins. Como resultado, a estratégia de plantar frutas

nativas via sementes se fortaleceu.

A segunda estratégia consiste em plantar mudas confeccionadas nos viveiros

da região. Como descrito no item 2.5, a maioria das frutas nativas plantadas são

oriundas dos viveiros do IAP de Guarapuava e da empresa ENGIE. Estas mudas

normalmente são distribuídas em eventos que os agricultores participam, bem como

fornecidas e trazidas por técnicos das entidades de assessoria. Visando promover

esta estratégia, articulou-se uma parceria entre o laboratório de sistemas

agroflorestais da UFFS, o CEAGRO e a empresa ENGIE. Essa parceria tem como

objetivo principal multiplicar as boas árvores identificadas nesta pesquisa. Ela consiste

nas seguintes ações: a) coletar sementes das boas árvores indicadas pelos grupos;

b) confeccionar as mudas no viveiro da ENGIE e c) distribuição das mudas para os

grupos que fizeram parte desta pesquisa, mas também ao público atendido do

CEAGRO e do viveiro da ENGIE.

Essa parceria iniciou-se na safra de 2016-2017 das frutas nativas. Nesse ano

foram coletadas frutas de onze Guabirobeiras, quatro Pitangueiras, duas Cerejeiras,

três Araçazeiros e duas Uvaieiras. Após a colheita, as frutas foram pressionadas em

peneiras, lavadas com água corrente e secadas na sombra por 24 horas. Após isso,

foram guardadas em embalagens de papel, identificadas e armazenadas na parte

inferior de geladeiras. Em seguida, elas foram levadas até o viveiro da ENGIE em

Quedas do Iguaçu-PR ou na sede da empresa no município de Rio Bonito do Iguaçu-

PR. Esse transporte aconteceu seis vezes e o tempo de armazenamento das

sementes nas geladeiras variou de 24 horas à 120 horas. Estima-se que foram

levadas cerca de 5 mil sementes nesse primeiro ano da parceria. Note-se que do total

de sementes encaminhadas ao viveiro, germinaram e se transformaram em mudas

aproximadamente 100 Cerejas, 40 Pitangas e 1000 Araçás Vermelhos. Isto é, a

maioria das sementes não se transformou em mudas. Acredita-se que esse

rendimento abaixo do esperado foi ocasionado pelos seguintes motivos: i) falta de

comunicação previa entre do autor da pesquisa com os responsáveis do viveiro acerca

da quantidade de sementes e período de entrega. Com resultado, não foi possível

preparar os procedimentos para plantio das sementes; ii) como as sementes das

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frutas nativas entregues são recalcitrantes 33 , a taxa de germinação foi pequena,

provavelmente em virtude de problemas no armazenamento e demora no plantio; iii)

as sementes de Guabiroba e Uvaia, além de serem levadas em grande quantidade

sem aviso prévio, chegaram perto dos feriados de natal e ano novo, com isso seu

plantio demorou mais tempo para ocorrer.

Neste contexto, foram distribuídas para os grupos desta pesquisa cerca de 880

mudas, a maioria de Araçá Vermelho. Isso por que tal espécie teve o maior êxito na

produção de mudas, provavelmente por ter dito um tempo menor entre a colheita da

fruta e o plantio das sementes. Além disso, optou-se pelo envio da fruta inteira para

o viveiro, ao invés de retirar e secar a semente. A tabela 34 descreve como foi a

distribuição das mudas confeccionadas na safra 2016-2017

Tabela 34: Resultado da distribuição das mudas confeccionadas das boas árvores de frutas nativas da safra 2016- 2017

Grupos

Espécie 8 de

Junho Terra Livre Terra de Todos Palmeirinha

Recanto da

Natureza Araçá Vermelho 100 150 150 100 300

Cereja 5 10 15 30 5

Pitanga 0 5 10 0 0 Total 105 165 175 130 305

Fonte: Pesquisa de campo

Em relação a distribuição das mudas, embora tenha se buscado priorizar a

entrega de acordo com o apontamento das espécies prioritárias, obedeceu mais

questões de logística (proximidade geográfica dos grupos e visitas aos grupos pelo

autor enquanto técnico do CEAGRO) do que outro aspecto. Por isso, a falta de

planejamento da entrega das mudas pode ser considerado outro ponto falho da safra

2016 e 2017. Contudo aprendizados como este e os demais citados neste item,

contribuíram para construir um plano de trabalho da safra 2017-2018 para o

fortalecimento da estratégia de multiplicar via plantio de mudas.

33 Sementes recalcitrantes são aquelas que não podem ser desidratadas abaixo de um determinado grau de umidade, sem que ocorram danos fisiológicos, como a não germinação. Desde modo, quanto maior for o tempo de permanecia da semente após sua retirada da fruta, menor é sua taxa de germinação se não armazenada de forma especifica.

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4.3.1 Plano de ação local para a multiplicação

Dos aprendizados que a primeira tentativa gerou, teceu-se um novo plano de

trabalho para a safra 2017-2018, as principais mudança são: a) aumentar espaços de

diálogo entre as partes envolvidas, visando potencializar a preparação do viveiro e a

obtenção de sementes junto aos grupos; b) inserir pesquisas capitaneadas pelo

laboratório de SAF da UFFS; c) planejar, antes da coleta de sementes, a demanda de

mudas dos grupos, da ENGIE e do CEAGRO; d) priorizar a entrega do fruto inteiro

para o viveiro e; e) coletar e entregar r quantidades menores de frutos para o viveiro.

Neste contexto, no meses de outubro e novembro foram coletadas cerca de

dois kg de frutas Cerejas das matrizes da vó Claudia, do Celso e da Rosana, quatro

kg de Guabiroba oriundas das Guabirobeiras Iolanda, Recanto da Natureza, Maria da

Luz e Marlene, além de três kg de Pitanga das boas árvores Marilda, Edenilson e

Lurdes. As frutas foram levadas a sede da emprega ENGIE na cidade de Rio Bonito e

comunicado com antecedência o responsável pelo viveiro a respeito do planejamento

de coleta. Esse processo contribuiu para que a germinação das sementes tivesse

bons resultados. Segundo o responsável pelo viveiro, boa partes das sementes

germinou e ficará disponível para distribuição a partir de novembro de 2018. Contudo,

a sequência do planejamento desta etapa34, foi rompida no dia 5 de dezembro de 2018

em virtude do afastamento médico do autor desta pesquisa.

Mesmo que a safra 2017-2018 das frutas nativas não tenha chegado ao final

até a defesa desta pesquisa, ela permitiu novos acúmulos para construção de um

plano de trabalho envolvendo a multiplicação das frutas nativas via mudas. Nesse

plano estão envolvidos os grupos de agricultores, o CEAGRO, o laboratório de SAF

da UFFS e a empresa ENGIE. Este plano é sintetizado no quadro 35.

Como descrito no 34, o plano de ação é dividido em cinco etapas que vão desde

o planejamento, coletada das frutas, confecção e distribuição das mudas, Cabe

destacar que essa proposta precisa ser discutida e referendada entre as entidades

descritas para saber se há possibilidade de execução, bem como e quais adequações

são necessárias. Mas espera-se que ele possa contribuir na estratégia de

34 Identificar quantos indivíduos os grupos desejam plantar e a paisagens, além de coletar sementes.

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multiplicação das frutas nativas via plantio de mudas doadas pelos viveiros da região.

Quadro 35: Plano de ação para multiplicação das boas árvores. ETAPAS ATIVIDADES POR QUE? QUEM?

1. Etapa do Planejamento

1.1 Organizar a Demanda/ Capacidade do Viveiro

Identificar quantidade de espécies indivíduos necessários para

realização das pesquisas ENGIE

1.2 Organizar os pedidos de mudas dos Guardiões

Identificar junto aos Guardiões quantidade de indivíduos e

espécies desejados

CEAGRO, Guardiões

1.3 Organizar as demandas de pesquisa

Identificar quantidade de espécies indivíduos necessários para

realização das pesquisas

Laboratório de SAF

1.4 Realizar Reunião de Planejamento

Definir responsáveis pelas atividades. Estimativas de

produção de mudas e pesquisas prioritárias

CEAGRO, ENGE e

Laboratório de SAF

1.5 Realizar Reunião de Monitoramento

Socializar os resultados da confecção de mudas e das

pesquisas. Definir a continuidade do processo

CEAGRO, ENGE e

Laboratório de SAF

1.6 Realizar Reunião de Avaliação

Avaliar o processo e monitorar o novo, caso aconteça

Guardiões, CEAGRO, ENGE e

Laboratório de SAF

2. Etapa da Coleta

2.1 Informar as demandas para os guardiões

Comunicar aos guardiões quantidade, método e data da

coleta de sementes

CEAGRO, Guardiões

2.2 Realizar a Coleta de Sementes (frutas) junto aos

Guardiões

Coletar as sementes para futura multiplicação

CEAGRO, Guardiões

3. Etapa da Confecção de

Mudas

3.1 Prepara o viveiro da ENGE

Organizar materiais, mão de obra e local para plantio das sementes

ENGE

3.2 Entregar as Sementes (frutas) para a ENGE- RBI

Levar as frutas até a sede da ENGE em RBI

CEAGRO, Guardiões

3.3 Entregar as frutas (sementes) ao viveiro da

ENGE-Quedas

Levar as Frutas até o viveiro da ENGE em Quedas do Iguaçu

ENGE

3.4 Confeccionar das Mudas Transformar as sementes (frutas) e mudas prontas para o plantio

ENGE

4. Etapa da Pesquisa

4.1 Preparar o Laboratório de SAF

Organizar, pessoas, materiais e local

Laboratório de SAF

4.2 Entrega as Sementes (frutas) para o laboratório de

SAF

Levar as frutas até o laboratório de SAF

CEAGRO, Guardiões

4.3 Realizar Pesquisas Realizar pesquisas Laboratório

de SAF 5. Etapa

Distribuição de Mudas

5.2 Distribuição das Mudas aos guardiões

Levar as mudas até os guardiões CEAGRO, ENGE e

Guardiões Fonte: Pesquisa de Campo

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Enfim, por meio do plano apresentado e da identificação de boas árvores,

esparre-se estimular os caminhos para o plantio das frutas nativas, tanto aproveitando

o que já existe nos agroecossistemas quando pelo plantio de mudas dos viveiros da

região. A partir deste estimulo, cabe debater os locais onde as frutas nativas podem

ser plantadas, ou seja, as paisagens da multiplicação.

4.4 AS PAISAGENS DA MULTIPLICAÇÃO DAS FRUTAS NATIVAS

Este trabalho almejava concluir sua quarta fase, a multiplicação das boas

árvores, com identificação da quantidade de espécies e indivíduos cada família

desejava, assim como problematizar os possíveis locais para o plantio das frutas

nativas e indicar a paisagem onde elas poderiam ser inseridas. Porém, em virtude das

dificuldades na germinação já descritas neste e os problema de saúde do autor da

pesquisa, não foi possível realizar tal processo. Contudo, durante a convivência com

os agricultores, foi possível identificar quais paisagens as frutas nativas estão

presentes, assim como os possíveis locais que elas podem ser multiplicadas.

Em virtude da floresta ser a fitofisionomia original do local onde os grupos estão

inseridos, assim como o local de origem das frutas nativas, acredita-se que as

paisagens mais indicadas para o plantio destas especes sejam aquelas que possuem

o elemento arbóreo. Por essa razão, pode-se indicar que local para multiplicar as

frutas nativas são os Sistemas Agroflorestais (SAF). A legislação brasileira define

SAF’s como:

Sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes são manejadas em associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, culturas agrícolas, e forrageiras, em uma mesma unidade de manejo, de acordo com arranjo espacial e temporal, com diversidade de espécies nativas e interações entre estes componentes (BRASIL,2009, p.2).

De acordo com este conceito, pode-se dizer que os SAF’s englobam vários

tipos de arranjos com a sociobiodiversidade de cada tempo e espaço. O pesquisador

e extensionista Jorge Luiz Vivan (1998) articulou uma proposta de organização dos

SAF’s, ele argumenta que o conhecimento humano que os constrói se compara a uma

árvore. Os troncos e as raízes maiores são os princípios, as folhas, ramos e raízes

finas são as formas que os sistemas são implantados e manejados. Estas partes

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menores se renovam de tempos em tempos, influenciadas pelo ambiente externo,

mas os princípios seguem os mesmos. Já os frutos carregam em si toda a informação

genética, os princípios e as adaptações de cada tempo, caso não sejam “consumidos”

caem e apodrecem ao lado da árvore. Se consumidos, espalham a informação para

outros contextos, criando novos ramos e promovendo a evolução e adaptação dos

SAF’s no tempo e espaço.

De acordo com esta perspectiva, durante a convivência com os atores sociais

desta pesquisa, identificou-se que as frutas nativas estão inseridas principalmente em

três ramos: os quintais agroflorestais, os potreiros e a agroflorestação dos sistema de

produção de base ecológica. Os quintais agroflorestais são áreas ao redor das

moradias das famílias, via de regra manejada pelas mulheres. São sistema complexos

que apresentam alta diversidade de espécies de planta de ciclo curto, médio e longo

integradas com a criação de pequenos animais (principalmente porcos e galinhas).

Este ramo é responsável por boa parte da alimentação das famílias agricultoras no

mundo. Outra característica dos quintais, é que o fato deles serem um banco de

sementes e material propagativo “vivo”. Isso por que neles estão presentes uma

grande variedade de plantas de uso medicinal, fonte de energia térmica (lenha),

ornamentação, rituais e afins. Deste modo, os quintais são responsáveis pela

soberania e segurança alimentar da maioria da população mundial que reside nas

áreas rurais (FAO,2005). Na fotografia 64 se exibe um quintal agroflorestal do grupo

Jabuticabal.

Sugere-se como estratégia para aumentar o número de indivíduos de frutas

nativas, o plantio em forma de sementes e mudas em espaços com densidade menor

de árvores. Soma-se a isso, a possibilidade de podar ou retirar árvores que estão nos

quintais, e plantar as frutas nativas nestes espaços. Também é possível potencializar

o crescimento de plantas provenientes da regeneração por meio do aumento da

incidência de luz solar, podas e adubações.

Já os potreiros são paisagens que mesclam o elemento arbóreo com

gramíneas (capim) e animais, moralmente vacas. Essa interação permite que nas

épocas de frutificação das árvores, os seres humanos e os animais se alimentem dos

frutos. Assim como os quintais, os potreiros tem uma função histórica de conservação

da sociobiodiversidade. Suas dimensões variam, em alguns contextos sua extensão

é grande, em outros, como identificado nesta pesquisa, são áreas menores,

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moralmente ao redor das casas e conjugadas com os quintais agroflorestais (CETAP,

2015). A fotografia 65 apresenta um potreiro de um dos grupos desta pesquisa.

Fotografia 64: Manejo de uma árvore de Araçá Vermelho num quintal agroflorestal do grupo Jabuticabal.

Fonte: Pesquisa de Campo

Fotografia 65: Agricultores do grupo Palmeirinha manejam uma Guabiroba localizada num potreiro do grupo.

Fonte: Pesquisa de campo.

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Para multiplicar as frutas nativas nos potreiros, é necessário se atentar a

influência dos animais nesse processo. Segundo relatos dos agricultores, até o tronco

da árvore possuir o mesmo diâmetro que uma garrafa de cerveja de 600 ml, o animal

pode quebrar a árvore ao se coçar nela. Deste modo, além de se analisar o modo de

plantio, é necessário avaliar técnicas para evitar que as vacas danifiquem as frutas

nativas. Algumas alternativas são rodear a árvore com fios elétricos ou com grimpa de

pinheiro. Por outro lado, o agricultor 7 comenta sobre o assunto.

Olha, uma coisa é um espaço que não tem árvore nenhuma você plantar árvore. Já viu um animal se coçando? Dá gosto de ver o prazer que o bicho sente. Se a gente tira todas as árvores, qualquer pau que o bicho vê ele vai querer se coçar. Agora, num potreiro que tem um monte de árvore, maior e mais grossa pra coçar, o bicho vai escolher elas e deixar as mais novinhas crescerem. Mas o que tem que tomar cuidado quando elas tão bem pequeninhas, por que o bicho pode pisar em cima e quebrar (Agricultor 7).

Outra possibilidade de multiplicação das frutas nativas nos sistemas

agroflorestais é o ramo que pontuamos como agroflorestação dos agroecossistemas

de base ecológica. Este ramo gera diversos arranjos possíveis, mas sua característica

central é a inserção do elemento arbóreo nos sistemas produtivos já existentes nas

unidades familiares, incluindo as frutas nativas. Este movimento de “agroflorestação”

vem ganhando destaque junto aos grupos de agricultores vinculados a Rede Ecovida

de Agroecologia, como comenta Alvir Long, coordenador do CETAP durante uma

oficina sobre a sistematização do Projeto Ecoforte facilitada pela Articulação Nacional

de Agroecologia35.

A gente tem que começar a trazer os princípios dos sistemas agroflorestais para dentro dos locais onde as famílias já trabalham. Aquela lógica de criar uma unidade de referência dentro dos agroecossistemas que não dialoga com o que está acontecendo não é a melhor opção. O que estamos buscando é colocar árvores e estimular técnicas de poda para uso da biomassa junto com aumento de espécies frutíferas, de preferência nativa e crioulas, nas hortas, produção de grãos, pomares, quintas e demais espaços que as famílias ecológicas já manejam (LONG, 2017).

35 O autor desta pesquisa participou da oficina citada onde dialogou com o senhor Alvir a respeito dos sistemas agroflorestais e das frutas nativas. A atividade aconteceu nos dias 22 e 23 de agosto de 2017 na cidade de Campinas-SP.

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Estas árvores podem ser inseridas em linhas ou distribuídas de forma dispersa

nos sistemas produtivos já existentes. Em alguns arranjos, é inserido espécies que

contam com elevada capacidade de crescimento e, preferencialmente, com boa

capacidade de rebrota em alta densidade. Estes indivíduos são podados

sazonalmente e sua biomassa promove a fertilidade do sistema, como acontece no

cultivo em aleias (KANG, 1992). Porém, tal estratégia as frutas nativas não são os

indivíduos podados, mas podem se beneficiar da matéria orgânica gerada pela poda.

Outra opção que as frutas nativas podem ser inseridas neste ramo, é seu plantio de

forma pouco adensada na plantação de grãos, nas hortas, nos pomares, enfim, em

qualquer paisagem produtiva dos agroecossistemas das famílias. Cabe ressaltar que,

na medida que tais árvores de desenvolvem, é possível manejar sua copa e altura de

tal forma que convivam em sinergia com outras espécies implantadas anteriormente.

Na fotografia 66 há um exemplo desse tipo de paisagem.

Fotografia 66: Imagens de um mutirão de implantação de árvores num sistema produtivo de base ecologia com foco na produção de hortaliças.

Fonte: Pesquisa de campo.

Na fotografia 58, observa-se a inserção de novas árvores36 por meio de um

mutirão. Também está destacado, por meio do círculo, uma linha de árvores de

36 Nesse dia foram plantadas mudas de laranja.

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pêssego e laranja. Também é possível reparar a presença de bananeiras que servem

como fonte de matéria orgânica para o sistema. Neste exemplo, as frutas nativas

poderiam substituir as laranjas e os pêssegos.

A partir da descrição analítica dos caminhos que os grupos usam para plantar

as frutas nativas, assim como as paisagens principais que elas estão inseridas

discutidas até aqui, é possível fazer uma estrapolação do processo para outros

contextos. Longe de ser uma receita, pode-se sistematizar a seguinte reflexão para

um possível caminho de multiplicar as frutas nativas, sendo:

i) resgatar olhares para as frutas nativas: através da construção de ambientes

de ensino e aprendizagem que englobem agricultores, técnicos, pesquisadores,

consumidores e afins, deve-se problematizar a invisibilidade e desqualificação

com as frutas nativas. Bem como resgatar e promover os saberes e fazeres

vinculados as espécies, contribuindo deste modo para a valorização das frutas

nativas;

ii) partir do que já existe: após a valorização das frutas nativas, é interessante

partir do que “já existe” no local. Realizar estimativas de quantidades de

indivíduos e quais são as espécies prioritárias é relevante. Neste diagnostico

também é importante caracterizar e identificar indivíduos classificados como

boas matrizes. Estas árvores selecionadas devem ser plantadas e monitorado

se as características das frutas são o esperado. Caso sim, são esses indivíduos

que devem ser considerados matrizes;

iii) trocar sementes e mudas: em conjunto com a valorização do que já existe

e a caracterização do tipo de árvore ideal, deve-se buscar trocar as informações

do que é ideal e de sementes e mudas de árvores classificadas como boas

matrizes de outros contextos. É relevante que os resultados dessa troca sejam

acompanhados, e caso foram interessantes, os indivíduos trocados podem ser

indicados como matrizes. Buscar que o planejamento seja elaborado de forma

coletiva e articulado de com diversas entidades, como descrito no plano de ação

do quadro 34, pode potencializar esse processo;

iv) plantar em paisagens que os agricultores manejam: em relação ao

plantio, é essencial fazer isso em paisagens que contem com frutas nativas e

que faça parte do dia da dia dos agricultores. Acredita-se que, em virtude da

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grande distribuição dos quintais agroflorestais e dos potreiros pelo mundo, estas

duas paisagens são a porta de entrada para a multiplicação das frutas nativas.

Após essa etapa, é relevante pensar em agroflorestar os demais espaços

produtivos das unidades familiares, sobretudo nos locais que tem como

fitofisionomia original a floresta.

Note-se que esta proposta de multiplicação para ter êxito, carece de ações em

outras dimensões, como articular canais de comercialização, preferencialmente que

aproximem agricultores de consumidores como as feiras. Estruturar espaços de

processamento, como as cozinhas comunitárias, e regulariza-las na vigilância

sanitária afim de gerar novos produtos e aumentar os canais de comercialização.

Realizar pesquisas e fortalecer a assessoria técnica que vise, em conjunto com os

agricultores, resolver as demandas e os problemas que emergem.

Para discutir essa multidimensionalidade, é prudente retomar a

problematização da invisibilidade das frutas nativas exposta no item 2.1, porém com

foco nas possíveis alternatividades para a valorização das frutas nativas a partir da

emergência de um pensamento pós-colonial, como é descrito no próximo item.

4.5 A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO PÓS COLONIAL NA VALORIZAÇÃO DAS FRUTAS NATIVAS

Este item irá debater a emergência de caminhos que vão além do pensamento

colonial, sobretudo no que tangue a valorização das frutas nativas. A junção dessas

emergências serão agrupadas neste trabalho sobre o termo pensamento pós-colonial.

Este pensamento tem sua origem nos sujeitos que estão do outro lado da linha

(SANTOS, 2010). Mas o que o que há do outro lado da linha? Do outro há uma riqueza

socioambiental tamanha para se questionar se houve descoberta ou invasão, para se

indagar quem eram os civilizados e os selvagens, duvidar do mito eurocêntrico de

poder (DUSSEl,1993). Certo é que do outro lado da linha há diversidade. Nele estão

os quéchuas, aymaras, caingangues, guaranis, ianomâmis, mapuches, nauatles,

zapotecas e, literalmente, centenas de outras etnias que resistem da Terra do Fogo

ao Alasca, agrupados pelos colonizadores nos termos índios, indígenas ou povos

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originais (DUSSEL, 1993). Estão mulheres, seringueiros, camponeses, assentados

de reforma agrária que lutam com suas vidas por justiça (sócio)ambiental (SANTOS,

2003). Estão as centenas de etnias africana como os bantos, nagôs, jejes e zulus. Os

aborígenes e os polinésios da Oceânica, bem como boa parte dos bilhões de Asiáticos

(DUSSEL, 1993). Ou seja, está uma vasta quantidade de histórias, relações, saberes,

fazeres, modos de reconhecer o conhecimento e formas de coexistir com a Natureza,

pois como lembram Toledo e Barreto (1992), para o Homo sapiens estar no planeta à

200 mil anos foi necessário diversificar, as plantas, as paisagens, os olhares, os

fazeres e saberes, afinal a “vida dilata-se constantemente em direção a novidade”

(CAPRA, 2002, p. 31).

Dentro deste heterogeneidade, alguns aspectos unem os sujeitos que estão do

outro lado da linha. Em primeiro lugar, pode-se destacar a própria diversidade e o

desejo de não homogeneizar o outro, em segundo, o fato de serem colonizados, de

estarem juntos na subumanidade criada pelo pensamento colonial (SANTOS, 2002).

Este reconhecimento da existência do poder do colonialismo na atualidade, bem como

a influência que ele proporciona no dia à dia deste sujeitos, é um importante passo

para ir além do pensamento colonial e (re)criar outros mundos (QUIJANO, 2010).

Neste contexto, para que seja possível manter a diversidade, gerar aproximações e

intervenções no real de forma concreta, o pensamento pós-colonial busca colocar em

xeque cada uma das monoculturas que constroem o pensamento colonial, e substituí-

las por ecologias, que se baseiam no

(...) reconhecimento da pluralidade de conhecimentos heterogêneos e em interações sustentáveis e dinâmicas entre eles sem comprometer sua autonomia, ou seja, ela se baseia que a ideia de conhecimento é interconhecimento” (SANTOS, 2010, p.53).

O termo ecologia também é uma analogia da interdependência e complexidade

dos aspectos ambientais, sociais, culturais, psicológicos, geológicos e afins que tecem

a realidade. Embora conectadas, Santos (2002) aponta a existência de cinco

ecologias:

i) Ecologia das temporalidades: pretende ampliar a lógica de que o tempo linear

é o único. Para isso busca-se o diálogo com outras concepções de tempo, como

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o tempo circular, a doutrina do eterno retorno e tantas outras compreensões que

não se enquadram nem pela imagem de linha nem círculo;

ii) Ecologia dos reconhecimentos: Ambiciona a desconstrução tanto da diferença

entre mulheres e homens como a hierarquia que implícita ou explícita tenta

controlar cada pessoa em sua classe ou raça. Visa aproximar as igualdades e

diferenças em prol da construção de diferenças iguais, isto é, que que o

reconhecimento da diferente do outro não o torne nem superior ou inferior;

iii) Ecologia das trans-escalas: visa alargar a lógica da escala global hegemônica

por meio do reconhecimento e resgate de outras formas de relação entre o

local/global. Para tanto é necessário uma imaginação cartográfica que valorize

mapas cognitivos que operam simultaneamente em escala global e local

diferentes da promulgada pela globalização hegemônica;

iv) Ecologia de produtividade: quer articular novos horizontes à monocultura dos

critérios de produtividade capitalista. Para isso busca a recuperação e

valorização de sistemas alternativos de produção como as organizações

econômicas populares, das cooperativas operarias, das empresas autogeridas,

da economia solidaria e assim por diante. O caminho indicado é colocar em

dúvida o paradigma do desenvolvimento e do crescimento econômico infinito do

capitalismo global como o único existente, assim como valorizar outras relações;

v) Ecologia de Saberes: deseja articular diálogos entre os diferentes saberes dos

sujeitos que compõem o outro lada da linha, de tal forma que ao mesmo tempo

que se respeita o processo cognitivo do outro, alarguem-se os saberes de todos.

Aumentando assim as possibilidades de intervenção no real. Essa ecologia é

reposta para a monocultura do saber e do saber do rigor que como mencionado,

é a forma mais intensa de produzir ausência.

A partir da necessidade de busca por equilíbrios dinâmicos por meio destas

ecologias, reconhecer a influência do pensamento colonial e valorizar a diversidade,

alguns sujeitos do outro lado da linha iniciam um movimento de união. Essa união se

dá por meio da constituição de redes, primeiro de nível loca e depois em escala global.

Essas redes tem como objetivo principal resistirem ao pensamento colonial, que

avança sob a insígnia de globalização hegemônica. De dizer que outros mundos não

só são necessários, quanto já existem. A este processo dá-se o nome de globalização

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contra-hegemônica. Esta globalização busca encontrar novos caminhos para a

emancipação social, a partir de redes geridas e gestionadas no sul global (SANTOS,

2010).

Para promover a globalização contra-hegemônica, assim como atenuar os

impactos causado pelas monoculturas e epistemicídios, criam-se duas sociologias:

das ausências e das emergências (SANTOS, 2002). A sociologia das ausências tem

como objetivo reverter o desperdício de experiências e conhecimentos da

humanidade. Sua estratégia é libertar as experiências e seus atores das relações de

dominação e inviabilidade, tomando-as presentes. Ser presente significa ser visível,

isto é, que o conhecimento e a prática dos sujeitos do sul global sejam considerados

alternativas às experiências hegemônicas. Portanto, uma a sociologia das ausências

aumenta a quantidade de experiências, relações, cosmovisões, epistemologias a fim

de dilatar os arcabouços de relações possíveis do nosso planeta, deixando-o mais

diversos (SANTOS, 2002).

Já a sociologia das emergências almeja diminuir o vazio causado pela escolha

do caminho eurocêntrico como o único possível. Deseja questionar a premissa que o

tempo é linear e que a história se dá na direção única do subdesenvolvimento para o

desenvolvimento. Esse processo acontece pela substituição do futuro pronto –

europeu – por um futuro incerto e plural, repleto de direções e possibilidades que

emergem nas experiências práticas articuladas a partir do outro lado da linha. Como

resultado, novos horizontes passam a serem visualizados, questionados, aceitos ou

refutados. (SANTOS,2002).

Com base nesta riqueza de possibilidade, o pensamento pós-colonial vai

tecendo suas alternativas, agrupadas numa tentativa de globalização contra-

hegemônica. Embora incipiente, tal modelo de integração já apresenta algumas

características centrais: a) não há distinção entre teoria e prática, pois o conhecimento

é construído para e na prática social; b) há pouco registros e sistematizações, pois o

foco dos atores é se expressarem através do que fazem acontecer no mundo; c) não

se concentram em ideias abstratas de verdadeiro, bom ou justo, procuram a conquista

de uma vida melhor por meio de experiências concretas de suas lutas diárias; d) suas

ações e conhecimentos não se deixam definir exclusivamente por proposições

lógicas, já que privilegiam o uso de exemplos, provérbios, histórias, e mitos narrados

como parte de sua realidade; e) não se consideram tradicionais, modernos, religiosos,

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especialistas ou não especializados. Socorrem-se de tudo quando algo lhe é útil,

entretanto é bem claro contra o que vivem; f) não são donos da verdade, mas sentem-

se ligados a verdades práticas de situações concretas que direcionam o que deve ser

realizado; g) os conhecimentos metódicos, fazem uso de vários critérios de análise.

Deste modo enxergam ligações que a ciência moderna não atinge e; h) os argumentos

de seus conhecimentos se justificam pela demonstração prática e falas na linguagem

da comunidade (SANTOS, 2009).

Bem, a partir da apresentação deste conceitos que constituem o pensamento

pós-colonial, o próximo item irá apontar algumas relações entre o pensamento pós-

colonial e o universo rural, sobretudo no que se refere as frutas nativas.

4.5.1 O Rural “do outro lado da linha”: ecologia de saberes, Agroecologia e

circuitos de proximidade

O pensamento pós-colonial afeta aspectos sociais, ambientais, econômicos e

afins do rural. Contudo, serão abordados três aspectos neste trabalho: i) a construção

do conhecimento via ecologia de saberes; ii) a emergência da Agroecologia e; iii) a

possibilidade de relações comerciais solidárias através dos circuitos de proximidade.

O pensamento pós-colonial, através da busca do equilíbrio dinâmico articulado

via ecologia de saberes, sociologia das ausências e das emergências, substitui a

lógica de epistemicídios dos sujeitos que estão do outro lado da linha pelo resgate e

valorização de seus conhecimentos (SANTOS, 2002). Como resultado, o processo

histórico que cada comunidade construiu no decorrer do tempo com a Natureza passa

a ser valorizado como caminho possível. A partir deste reconhecimento, somam-se as

experiências de agricultores de outros contextos socioambientais, bem como

pesquisadores, técnicos, alunos, consumidores e afins, unidos pelas redes que

formam a globalização contra-hegemônica.

Nesse caldeirão no qual se fundem e se amalgamam os saberes (LEFF, 2002),

a lógica que o conhecimento é criado/desenvolvido nos espaços de pesquisa e

transferido para os agricultores é questionada (CAPORAL e COSTABEBER, 2002).

Em seu lugar, emerge a busca pela criação de ambientes onde todos possam

perguntar/responder e ensinar/aprender, já que parte-se da premissa que “ensinar não

é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua

construção” (FREIRE, 1996, p. 21). Nesse ambiente de construção de conhecimento,

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a quantidade de manejos possíveis nos agroecossistemas, técnicas agrícolas e uso

de plantas se alargam, ou seja, a memória biocultural da espécie humana fica mais

diversa (TOLEDO e BARRERA- BASSOLS 2015).

No âmbito das frutas nativas, o reconhecimento da diversidade de maneiras de

coexistir com a Natureza e a troca destas experiências entre os sujeitos que compõem

a globalização contra hegemônica, facilita desmitificar o modo pejorativo que parte da

sociedade trata as frutas nativas, bem como valorizar um processo de domesticação

destas espécies que fomente a sociobiodiversidade. Para isso, um importante passo

é resgatar e promover olhares para as frutas nativas, como sintetiza na fala a seguir.

Depois que eu vi o processamento das frutas nativas, os produtos que dá pra fazer e a comercialização, comecei a prestar mais a atenção nas frutas nativas. Estava falando em casa esses dias da quantidade de coisa que a gente tem que nunca deu bola. Tem ano que o chão fica amarelo de Guabiroba e nunca imaginei que podia usar a fruta em tanta coisa, a renda que isso pode dar. Agora estou dando mais atenção e comecei a fazer poda não só das outras frutíferas, já fiz nas pitanguás e araçás que estão meio pequenos. Também quero abri em volta daquelas que estão muito abafadas (Agricultor 12).

Quando o agricultor 12 relata ter dito acesso a outras experiências sobre as

frutas nativas, tanto pelo contato com agricultores quanto de técnicos e

pesquisadores, os saberes, fazeres e a motivação do agricultor sobre elas

aumentaram. Isto é, quando se presta mais atenção nas frutas nativas, está se

contribuindo para que seja resgatado e promovido o processo de domesticação destas

espécies. Sendo esse um importante passo do processo.

Outro aspecto do pensamento pós-colonial que altera o rural é a emergência

da Agroecologia. A partir das discussões do Item 2.3, situamos ela como parte do

pensamento pós-colonial em virtude dos seguintes aspectos: i) valorização do saber

do dos sujeitos do outro lado da linha, como os indígenas da América Latina,

sobretudo de sua capacidade de gerir e gestionar seus agroecossistemas (ALTIERI,

2009; GLIESSMAN, 2001); ii) sua abordagem complexa que busca analisar aspectos

socais, ambientais, e econômicos da realidade, confeccionando deste modo leituras

e intervenções interdependentes e dinâmicas do real (SEVILLA-GUZMÁN, 2002).

Esta complexidade afasta a Agroecologia das monoculturas do pensamento colonial

e aproxima das ecologias do pensamento pós-colonial (SANTOS, 2002); iii)

valorização da diversidade de saberes e o diálogo entre eles (LEFF, 2002) em

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detrimento dos epistêmicos fomentado pela transferência de conhecimento da

revolução verde; iv) pretensão de construir e gerenciar agroecossistemas

sustentáveis, fortalecendo os processos ecológicos essências por meio de interações

com o manejo humano(ALTIERI, 2009; GLIESSMAN, 2001). Logo, o ser humano

passa a contribuir para a conservação da Natureza, bem como dos bens naturais que

ela proporciona, ao invés de trata-la apenas como fonte, inesgotável, de recurso,

como é feito no pensamento colonial (SANTOS e MENESES, 2005).

Neste contexto, se faz necessário pautar alguns argumentos para aproximar a

Agroecologia, pensamento pós-colonial e valorização das frutas nativas. Para Feiben

e Borsato (2011), a dimensão técnico-produtiva da Agroecologia tem seu ápice na

geração de sistemas complexos de produção, que imitam o funcionamento do

ecossistema original. Como a fisionomia original de boa parte dos ecossistemas do

outro lado da linha é florestal, o caminho para a sustentabilidade passa pela

incorporação do elemento arbóreo nos espaços produtivos. Nesta incorporação,

inserir indivíduos que historicamente estão adaptados ao local, como as populações

de frutas nativas, pode potencializar a sustentabilidade dos agroecossistemas. A fala

do agricultor 13 problematiza a relação entre frutas nativas e equilíbrio dos

agroecossistemas.

Se a gente reparar bem, tudo isso aqui era mato. E não faz muito tempo isso não. No tempo do meu pai tudo isso era capoeirão. Em 40 anos vamos dizer, a gente tirou toda a floresta e entrou com os venenos. Hoje em dia, é difícil plantar alguma coisa sem dar algum problema. É formiga, grilo, doença nas plantas e por ai vai. Mas quando a gente olha pra floresta tem doença? Deve ter alguma coisa, mas a quantidade de coisa boa é maior. Por isso que esse trabalho com as agroflorestas é importante. Pra gente voltar a ter equilibro na produção. E por que não colocar as frutas nativas também? Elas estão ai faz um tempão, já estão acostumada com o clima. A gente sabe agora onde tem boas árvores, qual planta cada família tem e o que quer aumentar (Agricultor 13).

Outro aspecto que relacionam as frutas nativas com a Agroecologia é o diálogo

de saberes. Ele permite que seja construído, de forma participativa, quais são as

características socioambientais que os agricultores desejam encontrar nas árvores de

frutas nativas, como realizado na caracterização de boas matrizes desta pesquisa.

Esse processo gerou seis indicadores que se vinculam a aspectos produtivos (produz

bem; produz frutas iguais e tamanho da fruta) mas também a cor, cheiro e sabor. Cabe

ressaltar que na lógica de transferência de conhecimento da revolução verde, há uma

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tendência em não levar em conta a opinião dos agricultores e focar em aspectos

vinculados a produtividade e adaptação ao pacote de insumos industriais

(GLIESSMAN, 2001). Este ambiente de diálogo de saberes possibilita que visões

como da agricultora do grupo Palmeirinha sejam sistematizadas.

Não tenho dúvida que a coisa mais importante para escolher uma boa árvore de Guabiroba é o sabor e o cheiro da fruta. O que vale ter uma fruta grande mas sem gosto de nada? Tem que ter aquele cheiro que a gente sente de longe e ser gostosa. Senão vira igual aquelas comidas de mercado que não tem gosto de nada, só tamanho. Como os frangos e porcos que parece que tem ar dentro, ou os milhos que não tem nem cheio de milho. Não sei para os outros, mas pra mim comida de verdade tem que ter cheiro e gosto de comida de verdade (Agricultora 14).

De fato, quando se somam olharem, via ecologia de saberes (SANTOS, 2002)

ou dialogo de saberes (LEFF,2002) a multidimensionalidade do rural (e das frutas

nativas) fica mais evidente, como apontado na escolha de indicadores para boa

árvores e na fala da agricultora 14. Deste modo, criam-se ambientes de ensino-

aprendizagem que tendem a intervir nos agroecossistemas, e nas frutas nativas de,

forma mais complexa. Aumentando assim a possibilidade de geração de mais vida,

isto é, promovendo a sociobiodiversidade.

A fala do agricultor 15 também aproxima a valorização das frutas nativas com

a Agroecologia a partir da promoção do potencial endógeno das comunidades.

Aprendi com um dos primeiros técnicos que passou por aqui que na Agroecologia a gente tem que partir do que a gente já tem, já sabe produzir e plantar. Daí a gente vai trocando experiências e melhorando o que já fazia e plantando coisas novas. Acho que isso tem tudo a ver com as frutas nativas. Elas já estão ai, de um jeito ou de outro a gente sabe plantar, colher e o que dá pra fazer com cada uma. Por que a gente tem que plantar só muda de árvore que vem de fora, que nem sabemos se vai se dar bem na região ou não? Eu defendo que pode plantar coisa de fora, mas também tem que valorizar o que tem nos nossos lotes e a gente já sabe trabalhar, como as frutas nativas.

Intrincado com a Agroecologia, o pensamento pós-colonial interfere no rural

através do questionamento que os impérios alimentares são o único caminho para os

agricultores se relacionarem com os consumidores. Para isso se questiona o mito que

não há alternativas ao capitalismo, através da análise de caminhos de produção não

capitalista, onde busca-se produzir para viver e não para acumular (SANTOS, 2005).

Essa busca por relações mais econômicas mais igualitárias, vem despertando

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discussões em diversos atores do rural. Um exemplo desse processo são “circuitos

de proximidade” (PEREZ-CASSARINO 2012). Estes circuitos orientam novas relações

entre os sujeitos que compõem os sistemas agroalimentares.

Trata-se de construir espaços e relações de mercado que priorizem a proximidade espacial, mas que articulados a essa proximidade possibilitem a informação interpessoal, gerem e fortaleçam sociabilidades, bem como as relações de solidariedade e reciprocidade entre os atores envolvidos (PEREZ-CASSARINO e DAMASCENO, 2013).

A partir dessa relação de proximidade entre quem produz, beneficia,

comercializa e consome, os circuitos de proximidade fomenta a construção social dos

valores dos produtos, aumento assim a possibilidade que mais sujeitos tenham

acesso a alimentação de base ecológica. Também cria-se um ambiente e diálogo entre

consumidores e produtores. Com isso, os agricultores socializam suas dificuldade em

produzir certos alimentos, problemas em se manter certo tipo de padrão e quais

alimentos possuem em seus agroecossistemas. Já os consumidores podem

apresentar suas demandas, apontar problemas e qualidade dos produtos. Note-se

que essa troca de informação vai além de uma relação entre sim e não, nela são

explicados os porquês da resposta, fomentando assim a transparência das entre os

elos do sistema agroalimentar (PEREZ-CASSARINO e DAMASCENO, 2013). Esse

processo contribui para que sejam tecidas relações onde todos ganham. Os

agricultores, consumidores e a Natureza. Ou seja, os circuitos de proximidade

promovem relações comerciais que vão além da logica mercantilista dos impérios

alimentares. Contribuindo deste modo para a construção e disseminação do

pensamento pós-colonial na comercialização e consumo de alimentos.

Enfim, nesta busca de ir além dos impérios alimentares, resgatar e promover

processos mais solidários, tanto ambiental quanto econômico e social, o pensamento

pós-colonial altera o rural, sobretudo no que se refere com a valorização das frutas

nativas em diferentes aspectos. Nestas palavras menciona-se três: i) espaços para

comercializar as frutas nativas; ii) valorização das frutas nativas por meio da

aproximação entre agricultores e consumidores e; iii) lutar por políticas públicas

emancipatórias.

Em relação a oportunidade dos agricultores terem espaços para comercializar

as frutas nativas, in natura ou processada, cabe destaque para a comercialização das

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frutas in natura em embalagens de plástico nas feiras articuladas pelos grupos desta

pesquisa (descrita item 3.2). A fala da agricultora 16, que realiza feira agroecológica

da cidade de Laranjeiras do Sul-PR explica as vantagens dessa ação.

Esse ano a gente vendeu perto 500 reais entre Pitanga, Guabiroba e Cereja em bandejinhas na feira. Parece que não é muito mais ajuda. É um dinheiro bem dizer limpo, que a gente não gasto quase nada pra ganhar. E se caso não vender nada, como é pouco e perto a gente traz de volta e come, dá pros bichos. Perder não perde nada. Outra coisa é que é difícil a pessoa ir na feira e levar uma coisa só e ir embora, as vezes a pessoa vê uma embalagem de Pitanga na barraca e para. Nisso ela já olha as outras coisas e acaba levando mais (Agricultora 16).

O segundo aspecto que relaciona o rural com o pensamento pós-abissal, diz

respeito a valorização das frutas nativas por meio da aproximação entre agricultores

e consumidores nos circuito próximos de comercialização. Isso por que, nestes

espaços, como as feiras e entregas diretas por exemplo, é possível que os agricultores

divulguem a importância das frutas nativas para os consumidores, permitindo que em

alguns caso seja experimentada a espécies pela primeira vez. A fala da consumidora

2 na barraca articulada pela COPERJUNHO e o CEAGRO traz um exemplo da

valorização das frutas nativas nos circuitos de proximidade.

Eu nunca tinha tomado suco de Guabiroba. Achei que ficou muito bom. A quantidade que tem dessas frutas por ai e a gente nem valoriza. As vezes estamos comprando sucos, refrigerante no mercado e não nós damos conta do que a Natureza fornece pra gente. Muito obrigado! Ganhei o dia hoje, depois vou trazer meu pai, ele vai adorar e meus filhos que nunca devem ter nem comido a fruta vão experimentar hoje pela primeira vez! (Consumidora 2).

Se os circuitos curtos possibilitam que os consumidores valorizem as frutas

nativas, o movimento contrário também existe. Durante visita a feira organizada pelo

grupo Terra Livre no município de Nova Laranjeira, acompanhou-se a experiência do

grupo no comercio de pedaços de fruta congelada de Guabiroba. Nessa feira, uma

consumidora conversou com o grupo de como a Guabiroba tinha “gosto de infância”

pra ela. No diálogo, a consumidora perguntou quais outras frutas nativas os

agricultores possuíam em suas unidades familiares. Como resultado desta interação,

ficou acordado a comercialização de pedaços de frutas congeladas de Uvaia e Araçá

Vermelho para a próxima safra.

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A fala da agricultora 17 também exemplifica o papel dos circuitos próximos de

comercialização com a valorização das frutas nativas.

Esse ano eu fiz pela primeira vez doce de Guabiroba por que aumentou a procura por fruta nativa. E sabe que ficou bom? Levei para feira e um consumidor levou para outro. Depois veio uma que que disse ter experimentado o doce numa oficina de fruta nativa. Ela gosto tanto que encomendou 10 potinhos para levar de presente para os parentes no final de ano (agricultora 17).

Cabe destacar que essa aproximação não se dá apenas em aspectos

vinculados a produção e comercialização Nela os agricultores e consumidores se

aproximam como sujeitos na busca por novas relações entre si e com a Natureza.

Essa relação próxima, contribui para outro aspecto da articulação entre pensamento

pós-colonial e o rural. O acesso solidário às frutas nativas. Em outros termos, que os

consumidores consigam além de ter a oportunidade de adquirir as frutas nativas, que

o valor seja acessível a maioria da população. A fala do agricultor 9 exemplifica esse

raciocínio.

Nossa luta não é pra produzir orgânico e vender pra quem dinheiro para pagar. Em primeiro lugar a gente luta pela reforma agrária. Para que todo mundo possa produzir seu próprio alimento, saudável e protegendo a Natureza. Mas enquanto esse dia não chega, nosso coletivo decidiu que vamos vender os produtos com preço que aquelas pessoas que mais precisam possam pagar. Por isso que a gente começou a fazer feira toda semana bem no meio de um bairro pobre de Laranjeiras do Sul (Agricultor 9).

Ainda que a fala do agricultor 9 não deixe explicito que a solidariedade na

comercialização diz respeito as frutas nativas, de forma implícita pode-se dizer que

sim, pois o grupo citado comercializa tal produto em suas feiras, e o diálogo de onde

se extraiu a fala tratava do tema das frutas nativas.

Outro aspecto da articulação entre as diferentes etapas do sistema

agroalimentar do outro lado da linha, isto é, dos membros da globalização conta-

hegemônica, é sua luta por políticas públicas emancipatórias, também para o rural.

Assim como os impérios alimentares interferirem nas políticas públicas, os que

defendem sistemas alternativos buscam que parte de suas demandas atendidas pelo

Estado. Porém, esse processo não se dá pela coerção centrada no poder financeiro,

mas pela pressão popular em prol de políticas públicas que promovam justiça

ambiental.

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No âmbito das frutas nativas, pode-se citar o exemplo que envolveu o PNAE

do Município de Laranjeiras do Sul. A articulação realizada com o Núcleo Mauricio

Burmester do Amaral da Rede de Agroecologia Ecovida, descrita no item 2.5, ajudou

para que, a experiência de comercialização dos pedaços de frutas congeladas

realizada na chamada pública do PNAE do município de Castro-PR, fosse replicada

na Cidade de Laranjeiras do Sul-PR. Para isso, os grupos Recanto da Natureza e 8

de Junho, com auxílio do CEAGRO e da UFFS, dialogaram com as gestoras do PNAE

do ano de 2018 os benefícios das frutas nativas e a experiência do município de

Castro. Essa articulação contribuiu para que no ano de 2018, 1.000 quilos de produtos

da fruta congelada, com ênfase nas frutas nativas, fosse inserida na chamada pública

do PNAE da Cidade de Laranjeiras do Sul. Como Laranjeiras do Sul é considerada

uma referência na região, acredita-se que nos próximos anos outros municípios

repliquem o processo.

Para finalizar este capitulo, após sobrevoado alguns aspectos do pensamento

colonial e pós-colonial, bem como a maneira que eles influenciam o rural, pode-se

resumir que o pensamento colonial, por meio de suas monoculturas e epistemicídios

tende a diminuir a diversidade de modos do ser humano se relacionar com a Natureza.

Essa menor diversidade, se retroalimentam com a revolução verde e os impérios

alimentares, faces importantes da globalização hegemônica. Essa simbiose elimina

saberes, plantas, manejos, maneiras de comercializar e afins que não se acoplem ao

pensamento colonial. Com isso, a humanidade tende a gerar processos que elimine a

sociobiodiversidade, incluindo as frutas nativas.

Por outro lado, o pensamento pós-colonial quando gera o conhecimento em

forma de ecologia, contribui para a promoção da diversidade de saberes e fazeres que

envolvem as relações de homens e mulheres entre si com a Natureza. Esse caldeirão

de possibilidades fomenta a criação de produção e comercialização mais

sustentáveis, como a emergência da Agroecologia e os circuitos de proximidade. Parte

deste conjunto de alternativa se unem na globalização conta-hegemônica, visando

resistir ao avanço do pensamento colonial e dizer que outros mundos são possíveis.

Nesse contexto a sociobiodiversidade, sobretudo as frutas nativas, passam a serem

valorizadas, tanto por agricultores quanto por consumidores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viemos falar de coisas impossíveis, porque sobre o possível já se falou muito

María de Jesús Patricio Martínez “Marichuy”

As frutas nativas são parte da história da humanidade. No decorrer dos

milhares de anos da nossa espécie, o manejo de mulheres e homens na seleção e

multiplicação das melhores características (fenótipos) destas espécies, foi tamanha

que é impossível separar o ser humano das frutas nativas. Neste contexto, o termo

“fruta nativa” quiçá tenha pouca relevância na história da humanidade, afinal,

sobretudo pela domesticação de plantas, espalhou-se pelo planeta diversas espécies

que em muitos casos passaram a coexistir de forma simbiótica em seu “novo” espaço

e tempo.

Porém, atualmente ganha força uma relação com a sociobiodiversidade que

não possui a mesma relação histórica. Esse paradigma hegemônico elimina árvores,

paisagens, saberes e fazeres vinculados as frutas nativas. Desde modo, usar o termo

“fruta nativa”, no tempo e espaço que elaborou-se estas palavras, ganha novos

contornos e se torna tão urgente quanto necessário. Esse termo passa a ser um

símbolo na busca por caminhos em que as relações entre mulheres e homens com a

Natureza promovam a sociobiodiversidade. Nesse novo paradigma, é necessário ir

além da lógica que fraciona o conhecimento ao redor das frutas nativas entre os

mundos sociais e biológicos. Que nem ao menos considera passível de estarem

certos ou errados os saberes e fazeres dos diversos atores que habitam

historicamente o rural. Ou seja, para promover a valorização das frutas nativas é

prudente tecer olhares multidimensionais sobre elas.

Um primeiro aspecto desta multidimensionalidade diz respeito a domesticação

de plantas. Como indicado nessa pesquisa, tal processo em si não promove ou elimina

a diversidade. É na articulação com elementos sociais e ambientais de cada contexto

que emergem modelos de domesticação de plantas que podem aumentar ou diminuir

a sociobiodiversidade. No âmbito das frutas nativas, em virtude da amnesia biocultural

causada pela modernidade, tais espécies tiveram seu processo de domesticação

esquecido. Desde modo, um importante passo para reversão desse quadro é resgatar

olhares sobre elas. A partir desse resgate, pode-se retornar à trajetória milenar de

domesticação das frutas nativas, e quando esse processo é feito em conjunto com a

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utilização dos princípios da Agroecologia, emergem formas de domesticação e plantas

que promovem a sociobiodiversidade.

Todavia, ainda que ter populações de plantas melhor adaptadas a cada

contexto seja interessante, tal fato não resolve todos os problemas da valorização das

frutas nativas. O aspecto comercialização é central nesse processo, pois, ele pode

aumentar ou diminuir a motivação dos agricultores em manejar tais espécies. Do

observado nesta pesquisa, é possível dizer que os circuitos de proximidade parecem

ser um bom caminho para a comercialização. As feiras, entregas diretas, participação

em eventos e os programas institucionais como o PAA e o PNAE, por serem espaços

que os agricultores possuem maior autonomia, além de possibilitarem o diálogo entre

quem produz e consome, se configuram em locais de divulgação das frutas nativas.

Com isso, os consumidores que perderam, ou nunca tiveram, o hábito alimentar

destas espécies, passam a ter oportunidade de consumir as frutas nativas.

Entretanto, mesmo que os circuitos de proximidade tenham papel central na

comercialização, em virtude da fragilidade no transporte e armazenamento das frutas

nativas, tal caminho apresenta limites para as frutas in natura. Por isso, é preciso

articular ações que envolvem o processamento destas espécies. Neste contexto, é

preciso debater a regularização sanitária. Afinal como, argumentam os atores sociais

desta pesquisa, um grupo de agricultores familiares agroecologista não pode cumprir

as mesmas normas que uma empresa transnacional para o processamento de sua

produção. Portanto, se faz necessário implantar mecanismos de controles

diferenciado para o processamento das frutas nativas, de acordo com o contextos

socioambiental dos atores envolvidos. Outro aspecto do tema processamento são os

maquinários. Existe pouca disponibilidade de equipamentos, sobretudo

despolpadeiras, adaptadas as frutas nativas e a realidade dos agricultores familiares.

Ou seja, é fundamental pesquisas para o desenvolvimento de equipamentos que

levem em conta tal contexto.

Outra dimensão a ser considerada na valorização das frutas nativas são as

políticas públicas. Temas como credito especifico, regularização sanitária, pesquisa,

bem como a promoção de assistência técnica baseada no diálogo de saberes,

precisam entrar na pauta do poder público. No âmbito das políticas públicas, um papel

singular são dos programas de aquisição de alimentos, sobretudo os PNAE’s

gestionados pelos municípios. Em razão dos exemplos práticos já existentes, essa

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política pública pode impulsionar o nascimento/fortalecimento de uma cadeia de frutas

nativas, principalmente ao garantir a aquisição de parte da produção dos produtos

processados.

Em síntese, por meio do caminho trilhado para alancar o objetivo principal desta

pesquisa, promover um processo de domesticação, com ênfase nas frutas nativas,

através dos princípios da Agroecologia e que fomente a sociobiodiversidade, chega-

se conclusão que o elemento central desse processo é a valorização das frutas

nativas. Para essa valorização acontecer é preciso “tecer junto” uma trama de temas,

por exemplo: comercialização, domesticação de plantas, sociobiodiversidade,

políticas públicas, processamento, Agroecologia entre outros. Na figura 67 há uma

representação gráfica dessa conclusão.

Figura 67: representação gráfica das dimensões que precisam ser analisadas para valorização das frutas nativas.

Fonte: O autor a partir das atividades de campo

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Essa valorização das frutas nativas via a articulação dos tema da figura 62,

contribui para dar materialidade a construção de outros mundos, ou seja, para

promover outras relações com a sociobiodiversidade. Para isso, também que os

atores desses novos mundos se unam, via globalização contra-hegemônica. Um

exemplo desse processo, seria um hipotético dialogo numa feira agroecologia entre

um agricultor e uma consumidora que faz parte de uma organização feminista. O

agricultor explicaria a consumidora os impactos da revolução verde, impérios

alimentares e dos epistemicídios na sociobiodiversidade, principalmente nas frutas

nativas. Já a consumidora argumentaria a influência do patriarcado na sociedade,

como a violência contra as mulheres, a Natureza e os próprios homens. No final desse

diálogo, a consumidora internalizaria a valorização das frutas nativas em sua luta

contra o patriarcado e o agricultor levaria para seu dia a dia a necessidade de eliminar

com o patriarcado.

Dentro deste contexto, pode-se apontar que plantar, manejar, processar e

comer frutas nativas é também um ato político. É dar materialidade a construção

de outros mundos, quiçá mais sustentáveis na perspectiva ambiental, igualitário

do ponto de vista econômico e plural no que tangue as relações sociais.

Enfim, o caminho para a valorização das frutas nativas e a contribuição desse

processo na emergência de outras relações com a sociobiodiversidade, é mais amplo

do que esta pesquisa. Nesta conjuntura, pode-se finalizar este trabalho com algumas

conclusões e demandas sobre o tema:

i) é necessário a criação de bancos ativos de germoplasmas, a partir das

matrizes identificadas, visando fortalecer a multiplicação das frutas nativas.

Contudo, é prudente que a construção desses bancos aconteça de forma

participativa e englobe os agricultores, organizações de pesquisa, assistência

técnica, consumidores e afins.

iii) Para diminuir os incertezas causadas pela herdabilidade e a polinização, é

prudente aprofundar a pesquisa e a ação em técnicas de propagação vegetativa

(via estacas, alporque ou, modernamente, via clones produzidos a partir de

técnicas de micropropagação) como caminho complementar para a multiplicação

das frutas nativas;

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iii) é interessante analisar a viabilidade de programas de melhoramento genético,

participativo, nas sete espécies de frutas nativas indicadas como prioritárias

nessa pesquisa, nos moldes do melhoramento realizado na Goiaba Serrana;

iv) se faz necessário que políticas públicas promovam as frutas nativas em

diferentes aspectos, como a regularização sanitária, assistências técnica,

credito, compras governamentais e pesquisas;

v) é preciso elaborar e implementar mecanismo de controle sanitário que sejam

exequível no contexto socioambiental de famílias de agricultores ecologistas e

assentados da reforma agrária;

vi) é necessário melhorar as estruturas para o processamento das frutas nativas,

tanto por meio da elaboração de novos produtos, quanto pela construção de

espaços de processamento e pela distribuição de maquinários que se adaptam

ao contexto socioambiental das frutas nativas;

vii) é preciso fortalecer os canais de comercialização das frutas nativas,

sobretudos os circuitos de proximidades, pois nestes espaços é possível

resgatar o habito de consumir frutas nativas e da importância da

sociobiodiversidade.

Para avançar na resolução destas demandas apresentadas e a consequente

valorização das frutas nativas, é preciso, além de um olhar multidimensional, “juntar”

os diversos atores do rural, as entidade de pesquisas, assistência técnica e

consumidores. Essa trama de relações colabora para a construção de um pensamento

pós-colonial, que supera a racionalidade do modelo hegemônico de agricultura e gera

indicativos para a construção de “outras relações com a sociobiodiversidade”.

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215

6 ANEXO I: DETALHAMENTO DO MÉTODO

- DETALHAMENTO DO MÉTODO DA FASE I

Fase: Problematização e diagnostico sobre frutas nativas

Atividade: Oficina sobre problematização

Tempo Estimado: 65 minutos

Pauta

Atividade Tempo Ferramenta Materiais Breve Descrição

Expectativas e

apresentação dos

presentes

05

minutos

Roda de

Apresentação

--- Os presentes dizem seu nome

e suas expectativas para a

atividade

Problematizar alguns

pontos da

domesticação de

plantas, com ênfase

nas frutas nativas

10

minutos

Painéis

explicativos

Papel

cartaz e

fotos

Indicado o que é a

domesticação de plantas,

alguns números e a situação

das frutas nativas

Apresentação da

pesquisa

05

Minutos

Painéis

explicativos

Papel

cartaz e

fotos

Apresentado os objetivos da

pesquisa, o método e os

resultados

Elencar informações

socioambientais a

respeito das frutas

nativas

20

minutos

Matriz de

Identificação

Fita

adesiva,

Cartolina e

pinceis

atômicos

De forma coletiva, cada família

irá responder algumas

perguntas chaves referente

domesticação das frutas

nativas em sua unidade familiar

Construir indicadores

das características

socioambientais de

cada espécies e

elencar as espécies

prioritárias

20

minutos

Matriz Estrela Fita

adesiva,

Cartolina e

pinceis

atômicos

Elencado quais características

as espécies indicadas pelo

grupo possuem. Em seguida

será escolhida quais espécies

são prioritárias através de

elementos da votação

sociocrática

Tempo Total 65

minutos

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216

- DETALHAMENTO DO MÉTODO DA FASE II

Fase: Construir informações sobre a identificação de “boas árvores”

Atividade: Oficinas sobre a construção do conceito de “boas árvores”

Objetivo Principal: Construir o conceito de “boas árvores” de forma participativa e

indicar possíveis matrizes das frutas nativas

Tempo Estimado: 55 minutos

Atividade Tempo

Estimado

Ferramenta Materiais Breve Descrição

Expectativas e

apresentação dos

presentes

05 minutos Roda de

Apresentação

--- Os presentes dizem seu nome e

suas expectativas para a atividade

Problematizar a

importância da

escolha de “boas

árvores” e dos

resultados da oficina

anterior

10 minutos Painel

Explicativo

Papel cartaz e

tarjetas de

cartolina

Através dos painéis explicativos será

elencados alguns elementos chaves

da identificação de matrizes de

árvores frutíferas

Construir indicadores

de boas árvores e

elencar quais são os

prioritários

20 minutos Matriz Estrela Tarjetas de

cartolina,

pincéis

atômicos e

cartolina

Os presentes irão escrever em

tarjetas de cartolina qual indicador

uma “boa árvore” precisa possuir.

Em seguida, as tarjetas serão

agrupas em eixos de similaridade na

matriz de avaliação estrela onde

será dado uma nota para cada eixo

Indicar indivíduos

potenciais para

servirem de “boas

árvores”

10 minutos Toro de Palpite Tarjetas de

cartolina,

pincéis

atômicos

Apontar se há nos agroecossistemas

indivíduos para multiplicar

Elencar quais

informações são

prioritárias a respeito

das “boas matrizes”

10 minutos Toro de Palpite Tarjetas de

cartolina,

pincéis

atômicos

Os presentes irão escrever em

tarjetas de cartolina qual

informações eles consideram

importantes. Em seguida, as tarjetas

serão agrupas em eixos de

similaridade e indicado quais ações

são prioritárias

Tempo Total 55 minutos

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217

-DETALHAMENTO DO MÉTODO DA FASE III

Fase: caracterização socioambiental das boas árvores

Ferramenta Roteiro de Perguntas Objetivas

Quando Perguntas Objetivos

Família Espécie Nome da Fruta

Nativa

Local

Altura Idade Estimativa

Produção

Cor do Fruto

(RAL)

Tamanho do

Fruto

Sabor

Doce

(0 à 10)

Cheiro

Intensidade

(0 à 10)

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218

Ferramenta: Ficha utilizada para mensurar o tamanho dos frutos

- Ferramenta: Tabela de cores RAL utilizada para indicar as cores dos frutos