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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
CENTRO DE ORTODONTIA E ORTOPEDIA FACIAL
PROF. JOSÉ ÉDIMO SOARES MARTINS
AVALIAÇÃO DO GRAU DE COMPLEXIDADE DE TRATAMENTOS ORTODÔNTICOS SEGUNDO O ÍNDICE DE DISCREPÂNCIA (DI)
ANTONIO FRANKLIN CORDEIRO NETO
C.D.
Salvador
2007
1
ANTONIO FRANKLIN CORDEIRO NETO
C.D.
AVALIAÇÃO DO GRAU DE COMPLEXIDADE DE TRATAMENTOS ORTODÔNTICOS SEGUNDO O ÍNDICE DE DISCREPÂNCIA (DI)
ORIENTADORA: PROFª DRª TELMA MARTINS DE ARAÚJO
CO-ORIENTADORES: PROF. DR. CARLOS JORGE VOGEL
PROFª DRª MARIA CRISTINA T. CANGUSSU
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Salvador
2007
2
C794 Cordeiro Neto, Antonio Franklin. Avaliação do grau de complexidade de tratamentos orto- dônticos segundo o índice de discrepância (DI) / Antonio Franklin Cordeiro Neto. – Salvador, 2007. ..75 f. Orientadora : Profa. Dra. Telma Martins de Araújo. Co-Orientador : Prof. Dr. Carlos Jorge Vogel. Co-Orientadora : Profa. Maria Cristina T. Cangussú. Dissertação (especialização) – Ortodontia e Ortopedia Fa- cial. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Odontolo- gia, 2007. 1. Ortodontia – Tratamento. 2. Maloclusão. I.Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Odontologia. II. Araújo, Tel- ma Martins de. III. Vogel, Carlos Jorge. IV. Cangussú, Maria Cristina T. V. Título. CDU 616.314-089.23
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Sérgio Antonio Cordeiro e Estela Márcia Santos Cordeiro, por
terem me dado a oportunidade de estudar, pelas orientações e exemplos para que
eu sempre trilhasse o caminho correto da vida, além de toda dedicação e amor.
Ao meu irmão Sérgio Franklin Cordeiro e sua esposa Isnália Cordeiro, pelos
conselhos, esforço e trabalho dedicado para que eu conseguisse concluir o curso.
Aos meus avós, Irene, José Nunes e Edite, por todo o carinho e orações.
Aos meus tios Augusto Teixeira (homenagem póstuma) e Marlene Franklin,
pelas palavras de incentivo e apoio.
A todos os meus familiares que de alguma forma contribuíram para minha
formação profissional.
A Sra. Renate Homolka e Sr.Hermano Gouveia pelo tempo dedicado para me
trazer de Jeep, do Recife a Salvador. Ao Dr. Cláudio Lacerda pelas sugestões e
exemplo profissional.
E, especialmente, à minha noiva Sofia Lacerda que ignorou a distância e
mesmo estando longe, esteve presente em todos os momentos. Pela compreensão,
incentivo, apoio e paciência, de todo esse tempo que me ausentei e, principalmente,
pelo seu amor que me deu forças para concluir mais uma etapa importante da minha
vida.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me abençoado durante toda minha trajetória dentro do curso e
ter me dado forças para conquistar mais um objetivo na minha vida.
À Profª Telma Martins de Araújo, pelo seu exemplo de amor e dedicação à
profissão, pelos ensinamentos, cobranças do dia a dia, pela compreensão em alguns
momentos e pela orientação na realização deste trabalho.
Ao Prof. Carlos Jorge Vogel, pelo auxílio e contribuição prestados.
À Profª Maria Cristina Teixeira Cangussu, por sua disponibilidade, por ficar
responsável pelas análises estatísticas deste trabalho e por suas orientações que
muito contribuíram para minha formação.
Aos Professores do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia
Facial da FO-UFBA: André; Fernando; Fernanda; Lucianna; Marcelo; Márcio; Marcos
Alan; Mirela; Rivail e Rogério, pelos valiosos conhecimentos transmitidos, pela
confiança e amizade.
Ao Prof. Fernando Habib, em especial, pelo apoio e incentivo, sempre
estendendo a mão nos momentos mais difíceis.
5
Aos meus colegas de turma: Arthur, Cristina, Marina, Priscila e Thiago, pela
amizade, convivência e ajuda, nos momentos em que mais precisei.
Aos Funcionários: Dona Lúcia, Dona Ginalva, André e Damião, pelos serviços
prestados com eficiência, mantendo a organização e limpeza do Centro de
Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins.
Aos pacientes, pela paciência e colaboração que permitiram colocar em
prática todos os conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso, minha eterna
gratidão!
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RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar o grau de complexidade de tratamentos
ortodônticos segundo o Índice de Discrepância (DI), a reprodutibilidade e o nível de
concordância interexaminadores deste índice, em pacientes submetidos ao
tratamento no Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares
Martins – FO-UFBA. Os resultados foram relacionados com variáveis como gênero,
etnia e idade. Inicialmente, um processo de calibração interexaminadores foi
realizado. Os três examinadores foram devidamente treinados e instruídos sobre os
critérios do indicador. Foram analisados 247 casos, sendo 147 (59,51%) do gênero
feminino e 100 (40,49%) do gênero masculino. A média de idade dos indivíduos foi
de 17,9 anos (DP=6,9), com mediana de 16 anos. Em relação à etnia, os pacientes
da amostra distribuíram-se da seguinte maneira: 2 (0,81%) amarelos, 55 (22,27%)
brancos, 66 (26,72%) negros e 124 (50,20%) pardos. O DI teve uma pontuação
média de 22,77 e uma mediana de 20 pontos. Do total, 78 (31,58%) pacientes foram
classificados com baixa complexidade, 95 (38,46%) com moderada complexidade e
74 (29,96%) com alta complexidade de tratamento ortodôntico. Pode-se afirmar que
a maioria dos casos avaliados (70%) apresentou um grau de complexidade de
7
moderada a alta. Em relação ao gênero, o feminino apresentou um maior grau de
complexidade de tratamento. Em contrapartida, não foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre a classificação de DI, quando às variáveis idade e
etnia foram pesquisadas. Além disso, por não haver diferença estatisticamente
significante entre os três examinadores quanto à classificação (Kappa=0,84) e
pontuação média, o índice apresentou uma excelente concordância
interexamonadores.
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ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the complexity degree of orthodontic treatments
according to the Discrepancy Index (DI), the reliability and the level of agreement
interexaminers of this index in patients submitted to treatment in the Centro de
Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins - FO-UFBA. The
results were related with variables such as gender, ethnicity and age. Initially, an
interexaminers calibration process was accomplished. The 3 examiners were duly
instructed and trainned on the criteria of the index. 247 cases were analyzed, being
147 (59,51%) of the feminine gender and 100 (40,49%) of the masculine gender. The
average age was 17,9 years (DP=6,9), with medium of 16 years. In relation to the
ethnicity, 2 (0,81%) were yellow, 55 (22,27%) white, 66 (26,72%) black and 124
(50,20%) brown. DI had an average punctuation of 22,77 and a medium of 20 points.
78 (31,58%) patients were classified with low complexity, 95 (38,46%) with moderate
complexity and 74 (29,96%) with high complexity of orthodontic treatment. It could be
affirmed that the feminine gender presented a higher degree of complexity than the
masculine. In relation to the other variables, age and ethnicity, there was no
statistically significant differences. The results of all 3 examiners revealed an
9
excellent reliability interexaminers of the method, with no statistically significant
differences for its classification and average punctuation.
10
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11
2 PROPOSIÇÃO 17
3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL 18
3.1 DESENHO DO ESTUDO 18
3.2 DESENHO AMOSTRAL 18
3.3 CALIBRAÇÃO 19
3.4 LEVANTAMENTO DE DADOS 19
3.5 ANÁLISE DOS DADOS 29
4 ARTIGOS CIENTÍFICOS 30
4.1 ARTIGO 1 30
4.2 ARTIGO 2 57
5 CONCLUSÃO 70
REFERÊNCIAS 71
ANEXO 75
11
1 INTRODUÇÃO
Segundo Araújo (1999) e Proffit (2002), toda vez que nos referimos aos
desvios da normalidade oclusal, utilizamos a denominação “maloclusões” ou
“anormalidades dentárias”.
Determinados casos mostram irregularidades apenas na posição dos dentes.
Outros podem apresentar dentes bem posicionados nos respectivos ossos de
suporte, porém, estes podem não apresentar um relacionamento adequado nos
sentidos vertical, transverso e ântero-posterior. Alguns autores utilizam o termo
displasia para identificar estas anomalias. Assim, as maloclusões podem ser por
displasias dentais, esqueléticas ou dentoesqueléticas (FERREIRA, 2002).
A enorme diversidade de aspectos das maloclusões incitou os ortodontistas a
reunir casos semelhantes em classes. Assim, surgiram várias classificações que
agrupam casos clínicos com aspectos similares, tais como a de Angle (1899); Lisher
(1911); Case (1921); Simon (1922) e Ackerman e Proffit (1969).
Certos sinais e sintomas tendem a se agrupar em maloclusões típicas,
produzindo síndromes ou classes cuja identificação e rotulagem são úteis. O sistema
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de classificação é baseado em grupo de casos clínicos de aparência semelhante,
para facilitar a manipulação e a discussão, e não um sistema de diagnóstico, um
método para determinar prognóstico ou uma maneira de definir o tratamento
(MOYERS, 1991).
No final do século XIX, Dr. Edward Angle apresentou uma classificação das
relações sagitais entre os arcos dentários da mandíbula e da maxila. Esta
classificação é aceita internacionalmente até os dias de hoje, principalmente por se
tratar de uma maneira simples de agrupar maloclusões semelhantes, servindo
principalmente para permitir rápida comunicação entre ortodontistas, odontopediatras
e clínicos gerais. Ela tem por base fundamental, a hipótese preconizada por Angle,
de que os primeiros molares permanentes superiores são considerados “dentes
chaves” e ponto de referência no estudo das relações ântero-posteriores (VAN DER
LINDEN, 1986; ARAUJO, 1999).
Para classificar a maloclusão, é preciso que se tenha um conceito de oclusão
normal. Angle (1907), definiu oclusão normal como a relação adequada dos planos
inclinados oclusais dos dentes quando os maxilares estão fechados. Segundo
Ferreira (2002), as vantagens de se classificar as maloclusões são: proporcionar
maior rapidez na identificação do aspecto clínico, seja para comunicação entre
profissionais, seja para que o próprio ortodontista raciocine sobre os possíveis
fatores etiológicos do problema; possibilitar a comparação de casos clínicos com
aspectos semelhantes (agrupados em uma mesma classe) ou distintos (classes
diferentes).
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Entretanto, as classificações têm limitações, pois, apesar de apresentarem
semelhanças no aspecto, as maloclusões de mesma classe podem ser causadas por
agentes distintos (FERREIRA, 2002).
Considerações psicossociais e faciais, e não apenas a maneira como os
dentes se relacionam, têm um papel importante na definição da necessidade do
tratamento ortodôntico. Por isso, vários índices para registrar a severidade oclusal, a
necessidade e o sucesso do tratamento ortodôntico foram desenvolvidos e podem
ser encontrados na literatura: TPI, HMAR, DAI, IOTN, PAR, ICON, OI, entre outros
(BROOK e SHAW, 1989; CONS et al., 1989; RICHMOND et al., 1992; SAVASTANO
et al., 2003; SUMMERS, 1971;).
Destes, o Índice de Prioridade de Tratamento (TPI – Treatment Priority Index)
de Grainger se destaca, pois foi utilizado nas pesquisas populacionais nos Estados
Unidos entre 1965 e 1970. Nenhum dos índices anteriores foi amplamente aceito
para a seleção de pacientes em potencial. O TPI foi originalmente desenvolvido em
conexão com o Burlington Orthodontic Research Project da Universidade de Toronto
onde foi usado para estimar os efeitos do tratamento ortodôntico preventivo na
prevalência e severidade de maloclusões em crianças. Os escores variam de 0
(zero), indicando oclusão ideal, até 10 (dez) ou mais, que refletem maloclusão
extrema (ALBINO, 1978).
O HMAR (Handicapping Maloclusion Assessment Record) foi desenvolvido em
resposta à recomendação de uma conferência de saúde oral de 1966 da American
Dental Association. Este índice foi designado com o propósito de identificar qualquer
condição que pudesse interferir na saúde bucal ou no bem estar geral (ALBINO,
1978; SALTZMANN, 1968).
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Em 1986, Cons, Jenny e Kohout publicaram um trabalho descrevendo o
desenvolvimento do DAI (Dental Aesthetic Index). Este índice conecta,
matematicamente, os componentes clínicos e estéticos para produzir um escore
único, o qual combina aspectos físicos e estéticos da oclusão (CONS et al., 1989).
Brook e Shaw (1989) apresentaram o Índice de Prioridade de Tratamento
Ortodôntico, depois nomeado de Índice de Necessidade de Tratamento Ortodôntico
(IOTN). Ambos os índices descritos anteriormente possuem um componente clínico e
um componente estético.
O PAR (Peer Assessment Rating) foi desenvolvido para proporcionar um único
escore para todas as anomalias que podem ser encontradas numa maloclusão. O
escore mostra, por estimativa, o quanto há de desvio no alinhamento e na oclusão
em um caso. A diferença de escores entre o pré e o pós-tratamento dos casos reflete
o grau de melhora e posteriormente o sucesso do tratamento (CUNHA, 2002).
Contudo, até 1998, nenhum índice que aferisse satisfatoriamente
complexidade de tratamento havia sido desenvolvido.
O American Board of Orthodontics (ABO), entidade norte-americana fundada
em 1929 por sete ortodontistas em Estes Park, Colorado-USA, tem como objetivo
principal promover a excelência na prática da Ortodontia (CANGIALOSI, 2004) por
meio de um processo de certificação o qual constitui-se de três fases. Para ser
aprovado na primeira fase, basta o cirurgião-dentista ter concluído o curso de
especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial. Na segunda fase, o candidato é
submetido a uma prova escrita, a qual é pré-requisito para realização da terceira
fase, quando é feita a avaliação dos casos clínicos por ele apresentados. Ao longo
do tempo, este processo tem passado por várias modificações com a finalidade de
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aumentar sua eficiência e encorajar mais ortodontistas a alcançarem a diplomação
(RIOLO, 2005).
Uma dessas modificações começou a ser desenvolvida em 1998, no encontro
de oito diretores e seis consultores do American Board of Orthodontics, os quais
reuniram esforços para criar uma ferramenta capaz de medir o grau de complexidade
dos casos apresentados pelos candidatos. A esta ferramenta deu-se a denominação
de Discrepancy Index (DI), que teve seu nome traduzido para língua portuguesa
como Índice de Discrepância. Posteriormente, este índice foi melhorado através de
estudos pilotos e pesquisas realizadas de 1999 a 2003 (CANGIALOSI, 2004).
O DI é um método objetivo que descreve a complexidade do tratamento
ortodôntico baseado em observações e medidas obtidas de registros pré-tratamento
ortodôntico incluindo modelos, análise cefalométrica e radiografia panorâmica
(CANGIALOSI, 2004).
O quadro da Ortodontia brasileira passa, atualmente, por algumas mudanças.
O crescimento desordenado do número de cursos de especialização regulamentados
tanto pelo Ministério da Educação (MEC) como pelo Conselho Federal de
Odontologia (CFO), traz, entre outras conseqüências, uma falta no controle de
qualidade efetivo e uma perda de referência para aqueles profissionais interessados
numa Pós-Graduação de bom nível. No Brasil, a Ortodontia é pioneira na instalação
e certificação profissional promovida pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia
Facial (BBO), com o objetivo de estimular o aperfeiçoamento profissional, promover e
valorizar a obtenção do padrão de excelência clínica no país.
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A certificação trará grandes benefícios e vantagens onde, sem dúvida, os mais
favorecidos nesse processo, serão os programas de pós-graduação, os
ortodontistas, os pacientes e a reputação da Ortodontia. Diante disso, é de grande
valia, avaliar o grau de complexidade de tratamentos ortodônticos em uma instituição
de ensino, pois, esta medida, verificará o nível de preparação e capacidade dos
alunos dos cursos de especialização para exercerem a especialidade com
segurança.
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2 PROPOSIÇÃO
Diante do exposto, utilizando o DI nos casos em tratamento no Centro de
Ortodontia e Ortopedia Facial Prof José Édimo Soares Martins, FO-UFBA, o autor
pretendeu:
2.1 avaliar o grau de complexidade dos casos selecionados para tratamento;
2.2 avaliar a relação entre as variáveis gênero, etnia e idade com a complexidade do
tratamento ortodôntico;
2.3 avaliar o grau de concordância interexaminadores com diferentes níveis de
experiência clínica e formação profissional.
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3 ABORDAGEM EXPERIMENTAL
3.1 DESENHO DO ESTUDO
Desenvolveu-se um estudo transversal de caráter descritivo onde a população
foi selecionada a partir da avaliação da documentação ortodôntica inicial de todos os
pacientes em tratamento no Centro de Ortodontia e Ortopedia Prof° José Édimo
Soares Martins da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia (FO-
UFBA), no período de 2000 a 2006, por um examinador previamente calibrado
quanto ao uso do DI.
3.2 DESENHO AMOSTRAL
Foram analisados 342 pacientes dos quais, 95 foram excluídos, por
apresentarem dentição mista, documentação inadequada e tratamento ortodôntico
prévio, resultando num total de 247 casos analisados, sendo 147 (59,51%) do gênero
feminino e 100 (40,49%) do gênero masculino. A média de idade dos indivíduos foi
de 17,9 anos (DP=6,9), com mediana de 16 anos. Em relação à etnia, os pacientes
da amostra distribuíram-se da seguinte maneira: 2 (0,81%) amarelos, 55 (22,27%)
brancos, 66 (26,72%) negros e 124 (50,20%) pardos.
19
3.3 CALIBRAÇÃO
Inicialmente, um processo de calibração interexaminadores foi realizado, onde
três examinadores, com diferentes níveis de experiência clínica e formação
profissional, estudaram juntos por duas horas a teoria dos critérios de aplicação do
DI conforme orientações do American Board of Orthodontics (CANGIALOSI, 2004).
Em seguida, avaliaram um caso em conjunto, quando todas as dúvidas em relação a
esse método foram esclarecidas, principalmente nos itens em que houve maior
discordância. Depois de devidamente treinados quanto aos critérios do indicador,
cada examinador, isoladamente, aplicou o DI em 20 casos. Os resultados foram
comparados e testados, por meio da análise de variância (one-way ANOVA), com
nível de significância de 5%, e observou-se percentual de concordância geral
superior a 85% em todos os critérios após os re-exames. A partir daí, um único
examinador prosseguiu com a coleta dos dados. Dois meses depois, foi realizada
uma calibração intraexaminador, para dar continuidade ao levantamento de dados,
na qual foi obtido um percentual de concordância geral de aproximadamente 100%.
3.4 LEVANTAMENTO DE DADOS
Para realizar as medidas do DI foram utilizados modelos de estudo das
arcadas dentárias, telerradiografia de perfil e radiografia panorâmica dos pacientes
que se encontravam em dentição permanente, sem nunca terem se submetido a
tratamento ortodôntico prévio.
Os modelos foram obtidos a partir de moldagens que copiaram fielmente as
arcadas dentárias e a região do vestíbulo. Todos os modelos foram recortados em
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máxima intercuspidação habitual (MIH), seguindo orientação de recorte adotada pelo
Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da FO-UFBA.
Nesta pesquisa foi adotada, para a categorização dos diferentes grupos
étnicos, a classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), levando-se em consideração os traços predominantes descritos no Quadro
1. Esta informação foi obtida pelo pesquisador através da avaliação das fotografias
facias presentes na documentação ortodôntica de cada paciente.
Quadro 1 Grupos étnicos e características biológicas GRUPO ÉTNICO CÓDIGO CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS
Amarelo 1 Pele branco-amarela; olhos oblíquos, repuxados.Compreende-se nesta categoria a pessoa que se declarou da raça amarela.
Branco 2
Pele branca; cabelo liso ou ondulado fino (de louro a negro); nariz estreito e proeminente; lábios finos (ou de espessura mediana); gengiva cor rósea (com suas variações normais devidas a queratinização e vascularização). Compreende-se nesta categoria a pessoa que se declarou da raça branca.
Indígena 3 Considera-se, nesta categoria, a pessoa que se declarou indígena ou índia.
Negro 4
Pele castanho-escura ou negra; cabelo ondulado, encarapinhado ou em anel, geralmente escuro; nariz largo ou achatado; gengiva pigmentada pelo acúmulo de melanina. Compreende-se nesta categoria a pessoa que se declarou da raça negra.
Pardo 5
Pele de coloração entre branca e negra (“mulato”, “moreno”); traços evidenciando miscigenação; impossibilidade de incluir o indivíduo nas categorias “branco”, “negro” ou “amarelo”. Inclui-se nesta categoria a pessoa que se declarou mulata, cabocla, cafuza, mameluca ou mestiça de preto com pessoa de outra cor ou raça.
Sem Registro 9 Quando não foi possível determinar o grupo étnico e/ou quando a pessoa não se declarou pertencente a nenhum dos grupos anteriores.
Fonte: USP/FSP, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 1998. IBGE 2000
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Para identificar a complexidade de tratamento dos 247 casos analisados foi
utilizado o DI conforme orientações do American Board of Orthodontics publicadas
por Cangialosi et al., em 2004.
O DI avalia as seguintes condições: 1) sobressaliência; 2) sobremordida; 3)
mordida aberta anterior; 4) mordida aberta lateral; 5) apinhamento; 6) relação
oclusal; 7) mordida cruzada posterior lingual; 8) mordida cruzada posterior vestibular;
9) ângulos ANB, IMPA, SNGoGn e 10) “outros”. Aspectos adicionais foram avaliados
e incluídos numa categoria designada de “outros” (CANGIALOSI et al., 2004). Para
cada uma dessas condições foram atribuídos pontos, resultando numa pontuação
total utilizada para classificar o nível de complexidade do tratamento ortodôntico.
Para medir sobressaliência, sobremordida, mordida aberta anterior e mordida
aberta lateral dos modelos, foi usada uma régua de aço (Trident®) com extremidade
zerada. A avaliação da discrepância negativa dos modelos (apinhamento) foi
realizada com um paquímetro (Dentaurum®). Para obtenção dos dados
cefalométricos, traçados foram realizados com lapiseira (Pentel® 0,5mm) em papel
de acetato (3M®), onde os ângulos ANB, IMPA e SNGoGn foram aferidos com
transferidor (3M®).
Interpretando os achados de estudos pilotos e os resultados estatísticos do DI
publicados no trabalho de Cangialosi et al. (2004), decidiu-se, nesta pesquisa,
classificar o grau de complexidade dos casos em: a) baixa, para os casos que
apresentaram um total de até 16 pontos; b) moderada, para aqueles cuja pontuação
somou de 17 a 25 pontos e c) alta complexidade para os casos em que a pontuação
superou os 25 pontos.
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Para obtenção das medidas do DI, os modelos foram posicionados em oclusão,
exceto durante a avaliação do apinhamento a qual foi realizada por meio de uma
visão oclusal dos modelos superior e inferior (Fig. 1).
1) Sobressaliência
A sobressaliência foi medida pela distância entre a borda incisal lingual do
incisivo superior posicionado mais anteriormente e a borda incisal vestibular do
incisivo inferior mais anteriorizado. Para uma sobressaliência de 0mm (topo a topo),
1 ponto foi marcado; para sobressaliência de 1 a 3mm, nenhum ponto foi marcado;
para 3,1 a 5mm, 2 pontos foram marcados; para 5,1 a 7mm, 3 pontos foram
marcados; para 7,1 a 9mm, 4 pontos foram marcados e, finalmente, se maior que
9mm, 5 pontos foram registrados. Nos casos de sobressaliência negativa (mordida
cruzada anterior), foi marcado 1 ponto por milímetro de cada dente que estava
cruzado (Quadro 2 e Fig. 2).
Figura 1 Posição de avaliação dos modelos.
23
Quadro 2 pontuação da sobressaliência
2) Sobremordida
Para uma sobremordida, medida vertical do bordo incisal inferior até o superior,
de até 3mm, nenhum ponto foi marcado. Quando a sobremordida foi de 3,1 a 5mm, 2
pontos foram anotados; de 5,1 a 7mm, 3 pontos foram marcados. Por fim, 5 pontos
foram registrados nos casos onde os incisivos inferiores tocaram o tecido palatino -
100% de sobremordida - (Quadro 3 e Fig. 3).
Sobressaliência (mm) Pontuação
0 (topo a topo) 1
1 a 3 0
3,1 a 5 2
5,1 a 7 3
7,1 a 9 4
> 9 5
Figura 2 Sobressaliência.
24
Quadro 3 Pontuação da sobremordida.
Sobremordida (mm) Pontuação
0 a 3 0
3,1 a 5 2
5,1 a 7 3
100% 5
3) Mordida aberta anterior
Para avaliação da mordida aberta anterior, quando os incisivos superiores e
inferiores estavam em uma relação de topo (sobremordida = 0) 1 ponto foi anotado.
Para cada milímetro de mordida aberta anterior, de canino a canino, 2 pontos foram
marcados para cada dente superior envolvido (Fig. 4). Nenhum ponto foi assinalado
para os caninos superiores que estavam ectópicos para vestibular.
Figura 3 Sobremordida.
Figura 4 Mordida Aberta Anterior.
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4) Mordida aberta lateral
Na avaliação da mordida aberta lateral, para cada dente posterior superior (de
primeiro pré-molar a terceiro molar) numa relação de mordida aberta com o arco
mandibular, 2 pontos foram registrados por milímetro de mordida aberta por dente
(Fig. 5).
5) Apinhamento Em relação ao apinhamento, foi considerado o arco dental superior ou inferior
mais apinhado: de 1 a 3mm de apinhamento, 1 ponto foi marcado; de 3,1 a 5mm, 2
pontos foram anotados; de 5,1 a 7mm, 4 pontos foram assinalados e maior que 7
milímetros 7 pontos foram registrados (Quadro 4 e Fig. 6).
Quadro 4 Pontuação do apinhamento
Apinhamento (mm) Pontuação
1 a 3 1
3,1 a 5 2
5,1 a 7 4
> 7 7
Figura 5 Mordida Aberta Lateral.
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6) Oclusão
A relação oclusal foi avaliada usando a classificação de Angle (1899). Quando a
cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior ocluía com o sulco vestibular do
primeiro molar inferior, ou, em algum lugar à frente do sulco vestibular, porém menor
que a cúspide mesiovestibular, nenhum ponto foi registrado. Quando a relação
oclusal estava topo a topo ou tendia a Classe II ou Classe III, 2 pontos foram
marcados para cada lado. Para uma relação de Classe II ou Classe III total, 4 pontos
foram anotados para cada lado. Para uma relação molar além de uma Classe II ou
Classe III completa um ponto adicional foi assinalado para cada lado.
7) Mordida cruzada posterior lingual
No cálculo da mordida cruzada posterior lingual, para cada dente superior
cruzado, um ponto foi adicionado (Fig.7).
8) Mordida cruzada posterior vestibular
Já nos casos de mordida cruzada posterior vestibular, para cada dente superior
envolvido, de primeiro pré-molar a terceiro molar, 2 pontos foram registrados (Fig. 7).
Figura 6 Apinhamento.
27
Casos que apresentavam desvios, no sentido transverso, semelhantes ao retratado
na figura 7C também foram considerados.
9) Cefalometria
Na cefalometria foram avaliados três ângulos: ANB, IMPA e SNGoGn. Quando
o ângulo ANB era maior que 5,5° ou menor que -1,5°, 4 pontos foram marcados.
Para cada grau acima de 5,5° ou abaixo de -1,5°, 1 ponto foi adicionado. Quando o
ângulo SNGoGn era entre 27° e 37°, nenhum ponto foi anotado. Para valores maior
que 37°, marcavam-se 2 pontos por cada grau acima desse valor. Medidas menores
que 27°, 1 ponto foi adicionado por cada grau abaixo de 27°. Quando o IMPA era
maior que 98°, 1 ponto foi marcado por cada grau acima desse valor (Fig. 8).
10) Outros
A categoria “outros” foi criada devido à impossibilidade de incluir, em um
índice, todas as entidades clínicas que podem contribuir para a complexidade de
tratamento assim como, permitir a marcação de pontos para outros desvios que
normalmente ocorrem. Para cada uma das condições citadas a seguir, 2 pontos
foram adicionados: ausência de dentes (exceto terceiros molares); dentes
Figura 7 A) Mordida cruzada posterior lingual; B) e C) mordida cruzada posterior vestibular.
AA B C
28
supranumerários; impacções dentárias (exceto terceiros molares); erupção ectópica;
transposição; anomalias de tamanho e forma de dentes; desvio de linha média maior
que 3 mm; assimetrias esqueletais; curva de Wilson acentuada; fenda palatina
(Fig.9).
Esses pontos foram anotados em uma ficha (Anexo) padronizada, onde além
dos pontos e da classificação do caso, foram registrados o nome, a idade, o gênero e
a etnia do paciente.
Figura 8 Medidas Cefalométricas.
ANB
IMPA
SNGoGn
ANB
IMPA
SNGoGn
29
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram armazenados em planilha eletrônica Microsoft Excel® 2003 e
em seguida exportados para o formato DBF (Data Base Format), para leitura e
análise pelo programa SPSS 10.0 for Windows e EPI-INFO 6.04.
Os casos pesquisados foram apresentados através de medidas de
freqüências absolutas e relativas segundo o grau de complexidade do DI, bem como
foram testados os níveis do DI de acordo com o gênero, idade e etnia. Para análise
estatística foram utilizados: o teste do Qui-quadrado para as variáveis categoriais, o t
de Student e ANOVA para as contínuas e o Índice Kappa foi aplicado para testar a
concordância e reprodutibilidade, todos com um nível de significância de 5%.
A
Figura 9 A) ausência congênita, B) anomalia de forma, C) erupção ectópica.
B C
30
4 ARTIGOS CIENTÍFICOS
4.1 ARTIGO 1
Utilização do Índice de Discrepância (DI) para avaliação do grau de complexidade de
tratamentos ortodônticos
Antonio Franklin Cordeiro Neto¹
Telma Martins de Araújo²
Carlos Jorge Vogel³
Maria Cristina Teixeira Cangussu4
¹ Cirurgião-Dentista aluno do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia
Facial da Faculdade de Odontologia da UFBA.
² Professora Titular de Ortodontia da UFBA; Doutora e Mestre em Ortodontia pela
UFRJ; Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial
da UFBA e Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
³ Master of Science pela University of Illinois, Chicago, USA; Doutor pela USP e
Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
31
4 Doutora em Saúde Pública FSP/USP e Professora Adjunta do Departamento de
Odontologia Social da UFBA.
Correspondência: Antonio Franklin Cordeiro Neto, Centro de Ortodontia e Ortopedia
Facial Professor José Édimo Soares Martins, Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal da Bahia, Avenida Araújo Pinho, 62, Canela, CEP: 40110-060,
Salvador/BA – Brasil. Telefone: (71) 3336-6973. Fax: (71) 3336-6973. E-mail:
32
Utilização do Índice de Discrepância (DI) para avaliação do grau de
complexidade de tratamentos ortodônticos
Resumo
Objetivo: O objetivo desse estudo foi avaliar o grau de complexidade de tratamentos
ortodônticos segundo o Índice de Discrepância (DI), em pacientes submetidos ao
tratamento no Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares
Martins – FO-UFBA, e relacionar os resultados com variáveis como gênero, etnia e
idade. Metodologia: Foram analisados 247 casos, sendo 147 (59,51%) do gênero
feminino e 100 (40,49%) do gênero masculino. A média de idade dos indivíduos foi
de 17,9 anos (DP=6,9), com mediana de 16 anos. Em relação à etnia, os pacientes
da amostra distribuíram-se da seguinte maneira: 2 (0,81%) amarelos, 55 (22,27%)
brancos, 66 (26,72%) negros e 124 (50,20%) pardos. Resultados: O DI teve uma
pontuação média de 22,77 e uma mediana de 20 pontos. Onde 78 (31,58%)
pacientes foram classificados com baixa complexidade, 95 (38,46%) com moderada
complexidade e 74 (29,96%) com alta complexidade de tratamento ortodôntico.
Conclusão: Pode-se afirmar que a maioria dos casos avaliados (70%) apresentou
um grau de complexidade de moderada a alta. Em relação ao gênero, o feminino
apresentou um maior grau de complexidade de tratamento. Em contrapartida, não foi
encontrada diferença estatisticamente significante entre a classificação de DI,
quando às variáveis idade e etnia foram pesquisadas.
Palavras-chave: Índice, Complexidade, Maloclusão.
33
INTRODUÇÃO
A enorme diversidade de aspectos das maloclusões incitou os ortodontistas a
reunir casos semelhantes em classes. Assim, surgiram várias classificações que
agrupam casos clínicos com aspectos similares, tais como a de Angle (1899); Lisher
(1911); Case (1921); Simon (1922) e Ackerman e Proffit (1969).
No final do século XIX, Dr. Edward Angle apresentou uma classificação das
relações sagitais entre os arcos dentários da mandíbula e da maxila. Esta
classificação é aceita internacionalmente até os dias de hoje, principalmente por se
tratar de uma maneira simples de agrupar maloclusões semelhantes, servindo
principalmente para permitir rápida comunicação entre ortodontistas, odontopediatras
e clínicos gerais. Ela tem por base fundamental, a hipótese preconizada por Angle,
de que os primeiros molares permanentes superiores são considerados “dentes
chaves” e ponto de referência no estudo das relações ântero-posteriores 4,25.
Entretanto, as classificações têm limitações, pois, apesar de apresentarem
semelhanças no aspecto, as maloclusões de mesma classe podem ser causadas por
agentes distintos11.
Considerações psicossociais e faciais, e não apenas a maneira como os
dentes se relacionam, têm um papel importante na definição da necessidade do
tratamento ortodôntico. Por isso, vários índices para registrar a severidade oclusal, a
necessidade e o sucesso do tratamento ortodôntico foram desenvolvidos e podem
ser encontrados na literatura: IOTN, PAR, DAI, ICON, OI, TPI, HMAR, entre
outros2,5,9,16,19,20,23. Porém, até 1998, nenhum índice que aferisse satisfatoriamente
complexidade de tratamento havia sido desenvolvido.
34
O American Board of Orthodontics, entidade norte-americana fundada por sete
ortodontistas, em 1929, tem como objetivo principal promover a excelência na prática
da Ortodontia7, por meio de um processo de certificação que é constituído de três
fases. Para ser aprovado na primeira fase, basta o cirurgião-dentista ter concluído o
curso de especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial. Na segunda fase, o
candidato é submetido a uma prova escrita, a qual é pré-requisito para realização da
terceira fase onde é feita a avaliação dos casos clínicos por ele apresentados. Este
processo tem passado por várias modificações ao longo do tempo, com a finalidade
de aumentar sua eficiência e encorajar mais ortodontistas a alcançarem a
diplomação17.
Uma dessas modificações começou a ser desenvolvida em 1998, no encontro
de oito diretores e seis consultores do American Board of Orthodontics, os quais
reuniram esforços para criar uma ferramenta capaz de medir o grau de complexidade
dos casos apresentados pelos candidatos. A esta ferramenta deu-se a denominação
de Discrepancy Index (DI) que teve seu nome traduzido para língua portuguesa
como Índice de Discrepância. Posteriormente, este índice foi melhorado através de
estudos pilotos e pesquisas realizadas de 1999 a 20036.
O DI é um método objetivo criado para descrever a complexidade do
tratamento ortodôntico baseado em observações e medidas obtidas de registros pré-
tratamento ortodôntico incluindo modelos, análise cefalométrica e radiografia
panorâmica6.
O quadro da Ortodontia brasileira passa, atualmente, por algumas mudanças.
O crescimento desordenado do número de cursos de especialização regulamentados
tanto pelo Ministério da Educação (MEC) como pelo Conselho Federal de
35
Odontologia (CFO), traz, entre outras conseqüências, uma falta no controle de
qualidade efetivo e uma perda de referência para aqueles profissionais interessados
numa Pós-Graduação de bom nível. No Brasil, a Ortodontia é pioneira na instalação
e certificação profissional promovida pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia
Facial (BBO), com o objetivo de estimular o aperfeiçoamento profissional, promover e
valorizar a obtenção do padrão de excelência clínica no país.
A certificação trará grandes benefícios e vantagens onde, sem dúvida, os mais
favorecidos nesse processo, serão os programas de pós-graduação, os
ortodontistas, os pacientes e a reputação da Ortodontia. Diante disso, é de grande
valia, avaliar o grau de complexidade de tratamentos ortodônticos em uma instituição
de ensino, pois, esta medida, verificará o nível de preparação e capacidade dos
alunos dos cursos de especialização para exercerem a especialidade com
segurança.
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi, utilizando o DI, avaliar o grau de
complexidade de tratamentos ortodônticos dos pacientes do Centro de Ortodontia e
Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins, da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal da Bahia (FO-UFBA), bem como relacionar os resultados com
variáveis como gênero, etnia e idade.
MATERIAL E MÉTODO
Desenvolveu-se um estudo transversal de caráter descritivo onde a população
foi selecionada a partir da avaliação da documentação ortodôntica inicial de todos os
pacientes em tratamento no Centro de Ortodontia e Ortopedia Prof° José Édimo
Soares Martins (FO-UFBA), no período de 2000 a 2006.
36
Neste período, foram selecionados 342 pacientes dos quais, 95 foram
excluídos, por apresentarem dentição mista, documentação inadequada e tratamento
ortodôntico prévio, resultando num total de 247 casos analisados, sendo 147
(59,51%) do gênero feminino e 100 (40,49%) do gênero masculino. A média de idade
dos indivíduos foi de 17,9 anos (DP=6,9), com mediana de 16 anos. Em relação à
etnia, os pacientes da amostra distribuíram-se da seguinte maneira: 2 (0,81%)
amarelos, 55 (22,27%) brancos, 66 (26,72%) negros e 124 (50,20%) pardos.
Inicialmente, um processo de calibração foi realizado, onde três
examinadores, com diferentes níveis de experiência clínica e formação profissional,
estudaram juntos por duas horas a teoria dos critérios de aplicação do DI conforme
orientações do American Board of Orthodontics6. Em seguida, avaliaram um caso em
conjunto, quando todas as dúvidas em relação a esse método foram esclarecidas,
principalmente nos itens em que houve maior discordância. Os resultados foram
comparados e testados, por meio da análise de variância (one-way ANOVA), com
nível de significância de 5%, e observou-se percentual de concordância geral
superior a 85% em todos os critérios após os re-exames. A partir daí, um único
examinador prosseguiu com a coleta dos dados. Dois meses depois, foi realizada
uma calibração intraexaminador, para dar continuidade ao levantamento de dados,
na qual foi obtido um percentual de concordância geral de aproximadamente 100%.
Para realizar as medidas do DI foram utilizados modelos de estudo das
arcadas dentárias, telerradiografia de perfil e radiografia panorâmica dos pacientes
que se encontravam em dentição permanente, sem nunca terem se submetido a
tratamento ortodôntico prévio.
37
Os modelos foram obtidos a partir de moldagens que copiaram fielmente as
arcadas dentárias e a região do vestíbulo. Todos os modelos foram recortados em
Máxima Intercuspidação Habitual (MIH), seguindo orientação de recorte adotada pelo
Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da FO-UFBA.
Nesse estudo, a categorização dos diferentes grupos étnicos foi realizada com
base na classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Fonte:
USP/FSP, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, 1998. IBGE 2000). A
identificação da etnia foi obtida pelo pesquisador através da avaliação das fotografias
presentes na documentação ortodôntica de cada paciente.
Para identificar a complexidade de tratamento dos 247 casos selecionados, foi
utilizado o DI conforme orientações do American Board of Orthodontics publicadas
por Cangialosi et al., em 2004.
O DI avalia as seguintes condições: sobressaliência, sobremordida, mordida
aberta anterior, mordida aberta lateral, apinhamento, relação oclusal, mordida
cruzada posterior lingual, mordida cruzada posterior vestibular, ângulos ANB, IMPA e
SNGoGn. Aspectos adicionais foram avaliados e incluídos numa categoria designada
de “outros”6. Para cada uma dessas condições foram atribuídos pontos, resultando
numa pontuação total utilizada para classificar o nível de complexidade do
tratamento ortodôntico.
Para medir sobressaliência, sobremordida, mordida aberta anterior e mordida
aberta lateral dos modelos, foi usada uma régua de aço (Trident®) com extremidade
zerada. A avaliação da discrepância negativa dos modelos (apinhamento) foi
realizada com um paquímetro (Dentaurum®). Para obtenção dos dados
cefalométricos, traçados foram realizados com lapiseira (Pentel® 0,5mm) em papel
38
de acetato (3M®), onde os ângulos ANB, IMPA e SNGoGn foram aferidos com
transferidor (3M®).
Interpretando os achados de estudos pilotos e os resultados estatísticos do DI
publicados no trabalho de Cangialosi et al.6, decidiu-se, nesta pesquisa, classificar o
grau de complexidade dos casos em: a) baixa, para os casos que apresentaram um
total de até 16 pontos; b) moderada, para aqueles cuja pontuação somou de 17 a 25
pontos e c) alta complexidade para os casos em que a pontuação superou os 25
pontos.
Para obtenção das medidas do DI, os modelos foram posicionados em
oclusão, exceto durante a avaliação do apinhamento que foi realizada por meio de
uma visão oclusal dos modelos superior e inferior (Fig. 1).
A sobressaliência foi medida pela distância entre a borda incisal lingual do
incisivo superior posicionado mais anteriormente e a borda incisal vestibular do
FIGURA 1 - Posição de avaliação dos modelos.
39
incisivo inferior mais anteriorizado. Para uma sobressaliência de 0mm (topo a topo),
1 ponto foi marcado; para sobressaliência de 1 a 3mm, nenhum ponto foi marcado;
para 3,1 a 5mm, 2 pontos foram marcados; para 5,1 a 7mm, 3 pontos foram
marcados; para 7,1 a 9mm, 4 pontos foram marcados e, finalmente, se maior que
9mm, 5 pontos foram registrados. Nos casos de sobressaliência negativa (mordida
cruzada anterior), foi marcado 1 ponto por milímetro de cada dente que estava
cruzado (Fig. 2).
Para uma sobremordida, medida vertical do bordo incisal inferior até o superior,
de até 3mm, nenhum ponto foi marcado. Quando a sobremordida foi de 3,1 a 5mm, 2
pontos foram anotados; de 5,1 a 7mm, 3 pontos eram marcados. Por fim, 5 pontos
foram registrados nos casos onde os incisivos inferiores tocaram o tecido palatino -
100% de sobremordida- (Fig. 3).
FIGURA 2 - Sobressaliência.
40
Para avaliação da mordida aberta anterior, quando os incisivos superiores e
inferiores estavam em uma relação de topo (sobremordida = 0) 1 ponto foi anotado.
Para cada milímetro de mordida aberta anterior, de canino a canino, 2 pontos foram
marcados para cada dente superior envolvido (Fig. 4). Nenhum ponto foi assinalado
para os caninos superiores que estavam ectópicos para vestibular.
Na avaliação da mordida aberta lateral, para cada dente posterior superior (de
primeiro pré-molar a terceiro molar) numa relação de mordida aberta com o arco
mandibular, 2 pontos foram registrados por milímetro de mordida aberta por dente
(Fig. 5).
FIGURA 3 - Sobremordida.
FIGURA 4 - Mordida aberta anterior.
41
Em relação ao apinhamento foi considerado o arco dental superior ou inferior
mais apinhado: de 1 a 3mm de apinhamento, 1 ponto foi marcado; de 3,1 a 5mm, 2
pontos foram anotados; de 5,1 a 7mm, 4 pontos foram assinalados e maior que 7
milímetros 7 pontos foram registrados (Fig. 6).
A relação oclusal foi avaliada usando a classificação de Angle. Quando a
cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior ocluía com o sulco vestibular do
primeiro molar inferior, ou, em algum lugar à frente do sulco vestibular, porém menor
que a cúspide mesiovestibular, nenhum ponto foi registrado. Quando a relação
oclusal estava topo a topo ou tendia a Classe II ou Classe III, 2 pontos foram
FIGURA 5 - Mordida aberta lateral.
FIGURA 6 - Apinhamento.
42
marcados para cada lado. Para uma relação de Classe II ou Classe III total, 4 pontos
foram anotados para cada lado. Para uma relação maior ou além de uma Classe II
ou Classe III um ponto adicional foi assinalado para cada lado.
No cálculo da mordida cruzada posterior lingual, para cada dente superior
cruzado, um ponto foi adicionado. Já nos casos de mordida cruzada posterior
vestibular, para cada dente superior envolvido, de primeiro pré-molar a terceiro
molar, 2 pontos foram registrados (Fig. 7). Casos que apresentavam desvios, no
sentido transverso, semelhantes ao retratado na figura 7C também foram
considerados.
Na cefalometria foram avaliados três ângulos: ANB, IMPA e SNGoGn. Quando
o ângulo ANB era maior que 5,5° ou menor que -1,5°, 4 pontos foram marcados.
Para cada grau, acima de 5,5° ou abaixo de -1,5.°, 1 ponto foi adicionado. Quando o
ângulo SNGoGn era entre 27° e 37°, nenhum ponto foi anotado. Para valores
maiores que 37°, marcaram-se 2 pontos por cada grau acima desse valor. Medidas
menores que 27°, 1 ponto foi adicionado por cada grau abaixo de 27°. Quando o
IMPA era maior que 98°, 1 ponto foi marcado por cada grau acima desse valor (Fig.
8).
FIGURA 7 – A) mordida cruzada posterior lingual, B) e C) mordida cruzada posterior vestibular.
A B C
43
ANB
IMPA
SNGoGn
ANB
IMPA
SNGoGn
A categoria “outros” foi criada devido à impossibilidade de incluir, em um
índice, todas as entidades clínicas que podem contribuir para a complexidade de
tratamento assim como, permitir a marcação de pontos para outros desvios que
normalmente ocorrem. Para cada uma das condições citadas a seguir, 2 pontos
foram adicionados: ausência de dentes (exceto terceiros molares); dentes
supranumerários; impacções dentárias (exceto terceiros molares); erupção ectópica;
transposição; anomalias de tamanho e forma de dentes; desvio de linha média maior
que 3 mm; assimetrias esqueletais; curva de Wilson acentuada; fenda palatina (Fig.
9).
FIGURA 8 - Medidas Cefalométricas.
44
Os dados foram armazenados em planilha eletrônica Microsoft Excel® 2003 e
em seguida exportados para o formato DBF (Data Base Format) para leitura e
análise pelo programa SPSS 10.0 for Windows e EPI-INFO 6.04.
Esses pontos foram anotados em uma ficha (Fig. 10) padronizada, onde além
dos pontos e da classificação do caso, foram registrados o nome, a idade, o gênero e
a etnia do paciente.
Os casos pesquisados foram apresentados através de medidas de
freqüências absolutas e relativas segundo o grau de complexidade do DI, bem como
foram testados os níveis do DI de acordo com o sexo, idade e etnia, utilizando o teste
do Qui-quadrado para as variáveis categoriais e o t de Student para as contínuas,
com um nível de significância de 5 %.
FIGURA 9 – A) ausência congênita, B) anomalia de forma, C) erupção ectópica.
A
B C
45
FIGURA 10 – Ficha para registro da pontuação do DI.
46
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O DI teve uma pontuação média de 22,77 e uma mediana de 20 pontos. Do
total 78 (31,58%) pacientes foram classificados em baixa, 95 (38,46%) em moderada
e 74 (29,96%) em alta complexidade de tratamento ortodôntico. Degushi et al.10,
aplicaram o DI nas clínicas de Pós-graduação em Ortodontia da Universidade de
Okayama, Japão e da Universidade de Indiana, Estados Unidos, e encontraram uma
pontuação média para o DI igual a 19,1 e 17,1 pontos, respectivamente. Estes
resultados coincidem com os encontrados no presente estudo.
Nos Estados Unidos, vários programas de especialização em Ortodontia foram
convidados a participar de um estudo piloto, onde seria avaliada a complexidade dos
casos tratados nessas instituições, utilizando o DI. A pontuação média encontrada
pelos residentes destes programas foi de 17,2 pontos18, menor que a encontrada no
corrente estudo que foi de 22,77. Os autores chegaram à conclusão que os casos
tratados por esses residentes norte-americanos eram complexos e, por isso, os
habilitam a participar da terceira fase do processo de certificação do American Board
of Orthodontics. Baseado nesta afirmação, pôde-se inferir que os alunos do Curso de
Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial da FO-UFBA estariam, após serem
aprovados na primeira e segunda fases, teoricamente preparados para se
submeterem à terceira fase do processo de certificação do American Board of
Orthodontics ou do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
Analisando-se os componentes do DI separadamente, o item que menos
contribuiu para elevar o total de pontos foi a mordida aberta lateral e o que mais
colaborou foi a cefalometria, somando em média 6,56 pontos (Tab. 1). A etnia branca
apresentou uma menor média (Tab. 2) se comparada às demais etnias, sendo essa
47
diferença estatisticamente significante (p=0,026). Isto pode ter ocorrido devido às
referências padrões, das análises de Steiner e Tweed, terem sido obtidas de
indivíduos leucodermas22,24.
*p=0,026
Condição Clínica Média de Pontos DP
Sobressaliência
Sobremordida
Mordida aberta anterior
Mordida aberta lateral
Apinhamento
3,06
1,98
2,74
0,19
2,91
5,01
2,14
8,06
1,18
2,66
Oclusão
Mordida cruzada posterior lingual
Mordida cruzada posterior vestibular
Cefalometria
Outros
2,52
0,74
0,61
6,56
1,40
3,16
1,40
1,46
6,78
1,67
Etnia N Média DP
Branca*
Parda
Negra
55
124
66
4,36
7,13
7,23
5,66
7,17
6,63
Tabela 1 - Pontuação média do DI segundo cada condição clínica.
Tabela 2 - Pontuação média da cefalometria segundo a etnia.
48
No estudo de Deguchi et al.10, foi constatado que a inclinação do plano
mandibular dos indivíduos amarelos somou mais pontos, no DI, do que os brancos.
Estes achados concordam com os trabalhos de Ishii, Degushi, Hunt12 e Ishizuka13
que, através das suas observações, perceberam que os asiáticos tendem a ter uma
maior inclinação do plano mandibular quando comparados aos brancos. Neste
trabalho, a inclinação média do plano mandibular, representada pelo ângulo
SNGoGN, não apresentou diferença estatisticamente significante (p=0,408) entre as
três etnias, mas foi encontrada uma tendência a uma maior abertura do plano
mandibular nos indivíduos pardos. Assim, tanto este estudo quanto o realizado por
Degushi et al.10 sugerem que os valores cefalométricos para o DI sejam medidos
separadamente segundo o grupo étnico ou que um sistema de pesos seja adotado
para as diferentes etnias.
A Tabela 3 mostra os problemas indicados na categoria “outros”. Desses
problemas, os que tiveram maior ocorrência foram: erupção ectópica com 49
indicações, ausência dentária (sendo ela congênita ou não) com 48, seguidas de
dente impactado (incluindo dente anquilosado) e anomalia de forma com 25 e 19
indicações, respectivamente. A ausência dentária esteve entre os dois problemas
mais freqüentes na população de estudo, cuja principal causa registrada foi perda de
elementos dentários e não anodontia. Isso pode ser um reflexo da condição sócio-
econômica dos pacientes que procuram tratamento na FO-UFBA. Estes, em sua
maioria, são indivíduos carentes e com um nível de instrução em relação à saúde
bucal, relativamente baixo.
49
A média de idade dos indivíduos classificados em baixa complexidade foi de
16,9 anos, em moderada complexidade de 18,9 anos e em alta complexidade de
17,7 anos. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre o grau de
complexidade e a idade dos pacientes.
Pôde-se aferir que o gênero feminino possuiu um maior grau de complexidade
se comparado ao masculino (p<0.05) (Tab. 4); com um maior número de indivíduos
do gênero feminino classificados em moderada e alta complexidade e os indivíduos
do gênero masculino apresentando uma maior proporção na classificação de baixa
complexidade (Gráf. 1). No presente estudo, a maioria dos pacientes foi do gênero
feminino, aproximadamente 60%. Isso gera a hipótese de que as mulheres procuram
Problema Nº de indicações
Erupção ectópica
Ausência dentária
Dente impactado
Anomalia de forma
Linha média desvia > 3 mm
Assimetria esquelética
Doença periodontal severa
Dente supranumerário
Paciente fissurado
Transposição
49
48
25
19
17
3
3
2
1
1
Tabela 3 - Distribuição numérica dos problemas indicados na categoria “outros”.
50
mais por tratamento ortodôntico do que os homens, principalmente por razões
estéticas.
*p=0,000
Não houve diferença estatisticamente significante entre a classificação do DI e
a etnia (p=0,41). No entanto, constatou-se que a maior parte dos pacientes
analisados (50%) era de etnia parda, possivelmente, devido à grande miscigenação
encontrada na região metropolitana de Salvador.
Gênero Média de pontos do DI DP
Feminino* 25,60 17,7
Masculino 18,61 11,7
Tabela 4 - Média de pontos do DI segundo o gênero.
31
6254
47
33
20
010203040506070
feminino masculino
Classificação x Gênero
baixa moderada alta
GRÁFICO 1 - Distribuição numérica dos indivíduos segundo a classificação do DI e o gênero.
51
Por se tratar de um índice novo, o DI vem sendo aprimorado com o passar dos
anos pelo próprio American Board of Orthodontics, com o intuito de torná-lo cada vez
mais objetivo e fácil de ser usado, conduzindo ao refinamento do seu formato e
aplicação. Para Owens et al.15 uma intenção adicional desse índice é ajudar os
ortodontistas a avaliar o grau de complexidade de seus casos, funcionando como um
mecanismo de auto-avaliação da terapia ortodôntica. Por conta disso, mais estudos
sobre esse assunto devem ser realizados, com a finalidade de aperfeiçoá-lo cada
vez mais.
Quanto à terminologia adotada, muitos profissionais podem questionar: por
que Índice de Discrepância e não “de dificuldade” ou “complexidade”? Complexidade
e dificuldade têm o mesmo significado, e são termos subjetivos. Algumas condições
podem ser consideradas difíceis por alguns ortodontistas e podem ser ponderadas
como relativamente fáceis de tratar por outros. Isto pode ser devido às diferenças
nos métodos de tratamento, na técnica utilizada ou até mesmo da formação
profissional de cada um. Entretanto, a maioria dos ortodontistas concorda que,
quanto maior o número de condições clínicas a serem tratadas, maior a
complexidade do caso. Por essa razão, o termo discrepância foi utilizado, no lugar de
dificuldade6.
Segundo Cangialosi et al.6, os desvios da normalidade que este índice pontua
foram escolhidos porque representam a maioria das condições clínicas tratadas
pelos ortodontistas.
Durante a realização das medidas, algumas dificuldades surgiram,
principalmente, no que diz respeito à sobressaliência negativa, que era pontuada
juntamente com a sobressaliência positiva. Por isso, fica a sugestão de se criar uma
52
categoria adicional denominada mordida cruzada anterior, de forma que este aspecto
seja avaliado separadamente. Nestes casos, seria pontuado, cada dente superior
cruzado, de canino a canino, semelhante à medida da mordida cruzada posterior
lingual e vestibular, consideradas no DI.
É importante registrar que neste estudo as medidas foram realizadas de
maneira rápida e simples, levando-se um tempo médio de 4 a 5 minutos na avaliação
de cada caso, o que está de acordo com Cangialosi et al.6. Esta constatação
demonstra que o DI é um índice passível de ser usado por ortodontistas em sua
prática clínica.
CONCLUSÃO
Por meio deste estudo, pôde-se concluir que:
- a maioria dos casos avaliados (70%) apresentou um grau de complexidade de
moderada a alta;
- o grau de complexidade de tratamentos ortodônticos foi mais alto no gênero
feminino em comparação com o masculino (p<0,05);
- não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre a classificação do
DI, idade e etnia.
53
Discrepancy Index: Evaluation of orthodontic treatment complexity
Abstract
Aim: The aim of this study was to evaluate the complexity degree of the orthodontic
treatments, according to the Discrepancy Index (DI), of the patients in treatment in the
Centro de Ortodontia e Ortopedia Facial Prof. José Édimo Soares Martins - FO-
UFBA, and to relate its resulted with variables as gender, ethnicity and age. Method:
247 cases were analyzed, being 147 (59,51%) of the feminine gender and 100
(40,49%) of the masculine gender. The average of the individuals' age was of 17,9
years (DP=6,9), with medium of 16 years. In relation to the ethnicity, 2 (0,81%) were
yellow, 55 (22,27%) white, 66 (26,72%) black and 124 (50,20%) brown. Results: DI
had an average punctuation of 22,77 points and a medium of 20 points. 78 (31,58%)
patients were classified with low complexity, 95 (38,46%) with moderate complexity
and 74 (29,96%) with high complexity of orthodontic treatment. Conclusion: It could
be affirmed that the feminine gender presented a higher degree of treatment
complexity than the masculine. In relation to age and the ethnicity, there was no
statistically significant differences.
Key words: Index, Complexity, Malocclusion.
54
REFERÊNCIAS
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approach to classification and diagnosis. Am J Orthod, v. 56, n. 5, p. 443-54,
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São Paulo: Quintessence, 1986.
57
4.2 ARTIGO 2
Avaliação da concordância interexaminador do Índice de Discrepância (DI)
Antonio Franklin Cordeiro Neto¹
Telma Martins de Araújo²
Carlos Jorge Vogel³
Maria Cristina Teixeira Cangussu4
¹ Cirugião-Dentista aluno do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia
Facial da Faculdade de Odontologia da UFBA.
² Professora Titular de Ortodontia da UFBA; Doutora e Mestre em Ortodontia pela
UFRJ; Coordenadora do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial
da UFBA e Diplomada pelo Board Brasileiro de Ortodontia.
³ Master of Science pela University of Illinois, Chicago, USA; Doutor pela USP e
Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
4 Doutora em Saúde Pública FSP/USP e Professora Adjunta do Departamento de
Odontologia Social da UFBA.
Correspondência: Antonio Franklin Cordeiro Neto, Centro de Ortodontia e Ortopedia
Facial Professor José Édimo Soares Martins, Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal da Bahia, Avenida Araújo Pinho, 62, Canela, CEP.: 40110-060,
Salvador/BA – Brasil. Telefone: (71) 3336-6973. Fax: (71) 3336-6973. E-mail:
58
Avaliação da concordância interexaminador do Índice de Discrepância
(DI)
Objetivo: o objetivo desse estudo foi avaliar a concordância interexaminadores do
Índice de Discrepância (DI). Método: três profissionais participaram deste trabalho,
possuindo diferentes níveis de experiência clínica e formação profissional. O
examinador 1 é Doutor e Mestre em Ortodontia; Diretora do Board Brasileiro de
Ortodontia e 26 anos de experiência clínica. O examinador 2 é Mestre em Ortodontia
com 8 anos de experiência clínica. O examinador 3 é aluno do Curso de
Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial. Os três examinadores avaliaram
20 casos de forma independente e os resultados foram comparados utilizando a
ANOVA e o teste Kappa. Resultados: não houve diferença estatisticamente
significante entre os três examinadores quanto à classificação (p=0,53) e pontuação
média (p=0,97). Conclusões: o DI apresentou uma excelente concordância
(Kappa=0,84), mesmo quando aplicado por ortodontistas com diferentes níveis de
experiência clínica e formação profissional.
59
Evaluation of the interexaminers reliability of Discrepancy Index
Purpose: the aim of this study was to evaluate the reliability and the level of
agreement interexaminers of the Discrepancy Index (DI). Method: the 3 professionals
that participated in this work have different levels of clinical experience and
professional education. Examiner 1 has a pHD in Orthodontics with 26 years of
clinical experience and is a diplomate of Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia
Facial. Examiner 2 has a Master’s degree in Orthodontics and 10 years of clinical
experience. Examiner 3 is a student in the Course of Specialization in Orthodontics
and Dentofacial Orthopedics. All 3 examiners evaluated 20 cases in an independent
way and the results were compared and tested. Results: there was no statistically
significant differences between the 3 examiners for classification (p=0,97) and
medium punctuation (p=0,53), Conclusions: it could be affirmed that the DI
presented an excellent reliability (Kappa=0,84), even when applied by orthodontist
with different levels of clinical experience and professional education.
60
INTRODUÇÃO
A medida do grau de concordância, presente em múltiplas avaliações do
mesmo fenômeno, é de vital importância nos estudos científicos. Muitas publicações
na área de saúde, envolvendo o estudo das variações entre observadores, têm
surgido nas últimas décadas13.
Os índices ortodônticos e epidemiológicos foram criados com o objetivo de
padronizar a avaliação dos cuidados ortodônticos9. Estes têm sido muito difundidos e
um número considerável de clínicos os utilizam na prática diária. É importante
salientar que os profissionais que usam os índices devem ser treinados e calibrados
para que os estudos tenham confiabilidade e possam ser comparados2.
Vários índices para registrar a severidade oclusal, a necessidade e o sucesso
do tratamento ortodôntico foram desenvolvidos e podem ser encontrados na
literatura: IOTN, PAR, DAI, ICON, OI, entre outros1,5,8,12,14. Contudo, até 1998,
nenhum índice que aferisse satisfatoriamente a complexidade de tratamento havia
sido desenvolvido.
O American Board of Orthodontics (ABO), entidade norte-americana fundada
por sete ortodontistas em 1929, tem como objetivo principal promover a excelência
na prática da Ortodontia4 por meio de um processo de certificação o qual constitui-se
de três fases. Para ser aprovado na primeira fase, basta o cirurgião-dentista ter
concluído o curso de especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial. Na segunda
fase, o candidato é submetido a uma prova escrita, a qual é pré-requisito para
realização da terceira fase, quando é feita a avaliação dos casos clínicos por ele
apresentados. Ao longo do tempo, este processo tem passado por várias
61
modificações com a finalidade de aumentar sua eficiência e encorajar mais
ortodontistas a alcançarem a diplomação10.
Uma dessas modificações começou a ser desenvolvida em 1998, no encontro
de oito diretores e seis consultores do American Board of Orthodontics, os quais
reuniram esforços para criar uma ferramenta capaz de medir o grau de complexidade
dos casos apresentados pelos candidatos. A esta ferramenta deu-se a denominação
de Discrepancy Index (DI), que teve seu nome traduzido para língua portuguesa
como Índice de Discrepância. Posteriormente, este índice foi melhorado através de
estudos pilotos e pesquisas realizadas de 1999 a 20033.
O DI é um método objetivo que descreve a complexidade do tratamento
ortodôntico baseado em observações e medidas obtidas de registros pré-tratamento
ortodôntico incluindo modelos, análise cefalométrica e radiografia panorâmica3.
Por se tratar de um índice novo, o DI vem sendo aprimorado com o passar dos
anos, para tornar-se cada vez mais objetivo e de fácil utilização.
Com a finalidade de contribuir para o estudo deste tema e auxiliar na
aplicabilidade do DI de forma extensiva, permitindo a comparação de estudos
realizados em diversos locais e por diferentes indivíduos, o objetivo deste trabalho foi
avaliar o DI quanto à sua reprodutibilidade e o nível de concordância
interexaminadores, os quais possuem diferentes níveis de experiência clínica e
formação profissional.
MATERIAL E MÉTODO
Foram escolhidos aleatoriamente 20 pacientes do Centro de Ortodontia e
Ortopedia Facial Profº José Édimo Soares Martins, da FO-UFBA. A documentação
62
inicial de cada caso foi avaliada por três profissionais com diferentes níveis de
experiência clínica e formação profissional.
Para realizar as medidas do DI foram utilizados modelos de estudo das
arcadas dentárias, telerradiografia de perfil e radiografia panorâmica dos pacientes
que se encontravam em dentição permanente, sem tratamento ortodôntico prévio.
O examinador 1 é Doutor e Mestre em Ortodontia; Diplomado pelo Board
Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial com 26 anos de experiência clínica. O
examinador 2 é Mestre em Ortodontia e possui 8 anos de experiência clínica. O
examinador 3 é aluno do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial.
Inicialmente, um processo de calibração interexaminadores foi realizado, onde
os três participantes estudaram juntos por 2 horas a teoria dos critérios de aplicação
do DI conforme orientações do ABO3. Em seguida, avaliaram um caso em conjunto,
quando todas as dúvidas em relação a esse método foram esclarecidas,
principalmente nos itens em que houve maior discordância. Depois de devidamente
treinados quanto aos critérios do indicador, cada examinador, isoladamente, aplicou
o DI em 20 casos.
Os dados foram armazenados em planilha eletrônica Microsoft Excel® 2003 e
em seguida exportados para o formato DBF (Data Base Format), para leitura e
análise pelo programa SPSS 10.0 for Windows e EPI-INFO 6.04.
Utilizou-se o coeficiente Kappa para análise da concordância
interexaminadores. Seus valores foram interpretados da seguinte forma: de 0 a 0,20
– fraca; de 0,21 a 0,40 – regular; de 0,41 a 0,60 – aceitável; de 0,61 a 0,80 – boa e
de 0,81 a 0,99 – excelente. Também, foi utilizada a análise de variância (one-way
63
ANOVA) para comparação de dados numéricos e o teste do Qui-quadrado para
comparação de dados nominais.
RESULTADOS
Os três examinadores concordaram entre si com relação à classificação e
pontuação média do DI conforme exposto na Tabela I e Gráfico 1, não havendo
diferença estatisticamente significante entre eles. A Tabela II mostra uma análise
descritiva das categorias do DI segundo cada examinador, dentre as condições
clínicas analisadas, a que apresentou um maior grau de concordância entre os três
examinadores foi a sobressaliência (p= 1,00) e a que houve menos concordância foi
a mordida aberta lateral (p=0,55).
Examinador
1a,b 2a,c 3b,c Classificação
n % n % n %
Baixa 8 40 7 35 6 30
Moderada 1 5 4 20 5 25
Alta 11 55 9 45 9 45
TOTAL 20 100 20 100 20 100
p=0,531 a - Kappa=0,81 b - Kappa=0,69 c - Kappa=0,86
Tabela I. Avaliação da concordância interexaminadores segundo a classificação do DI.
64
Gráfico 1. Concordância Interexaminadores.
65
Categoria Examinador Média DP p valor Sobressaliência
1 2 3
2,65 2,65 2,65
1,78 1,56 2,70
1,00
Sobremordida
1 2 3
1,65 1,85 1,85
2,13 2,06 2,06
0,94
M. Aberta Anterior
1 2 3
3,20 3,80 3,65
8,14 9,67 9,13
0,97
M Aberta Lateral
1 2 3
0,00 0,20 0,10
0,00 0,89 0,45
0,55
Apinhamento
1 2 3
2,55 1,95 2,30
2,70 2,50 2,43
0,75
Oclusão
1 2 3
2,70 2,80 2,40
3,20 3,14 3,08
0,91
M. Cruz. Post. Lingual
1 2 3
0,55 0,70 0,65
1,23 1,49 1,46
0,94
M.Cruz Post. Vestibular
1 2 3
0,40 0,40 0,50
0,82 0,82 0,89
0,91
Cefalometria
1 2 3
7,50 7,35 7,40
6,68 6,51 7,42
0,99
Outros
1 2 3
1,20 1,50 1,40
1,51 1,57 1,60
0,82
Tabela II. Análise descritiva das categorias do DI.
66
DISCUSSÃO
A forma mais comum de se medir a confiabilidade de uma medida é verificar
sua reprodutibilidade, ou seja, tomar diferentes medições repetidas e avaliar o grau
de concordância entre elas, medida por meio do coeficiente Kappa6. De acordo com
os dados da Tabela I, o coeficiente Kappa foi igual a 0,84, indicando uma excelente
concordância do DI entre os 3 examinadores. O cruzamento dos dados revelou que o
menor valor encontrado para o Kappa foi 0,69 entre os examinadores 1 e 3 (b),
indicando uma boa concordância entre eles. Os valores do Kappa entre os
examinadores 1-2 (a); e 2-3 (c), foram respectivamente 0,81 e 0,86, mostrando uma
excelente concordância entre os mesmos.
O examinador mais experiente teve uma tendência a classificar os casos
como alta ou baixa complexidade, enquanto que os outros dois examinadores
classificaram os casos de uma forma mais homogênea, contudo não houve diferença
na significância estatística (Tab. I).
Segundo Brown e Richmond2, o treinamento de profissionais, com relação ao
uso correto dos índices ortodônticos mais comumente adotados, requer uma
calibração e o nível de concordância entre o aprendiz e um profissional habilitado,
quanto à utilização de um índice, é avaliado como uma medida de reprodutibilidade e
sucesso nos programas de treinamentos. Em nosso trabalho, devido à diferença de
experiência clínica e formação profissional existente entre os três examinadores, era
de se esperar, que os resultados dos casos analisados por meio do DI fossem
discordantes. Pensando nisto, foi realizado, previamente, pelos três profissionais, um
treinamento quanto à aplicação correta do índice em estudo. Tal treinamento teve
uma importância fundamental nos resultados obtidos neste trabalho. Contudo,
67
Roberts; Richmond; e Orth11 afirmam que o treinamento cuidadoso e a calibração
não garantem que os resultados sejam comparáveis devido às diferenças em
experiência, habilidades pessoais relativas à rigorosidade ou aptidão individual.
A metodologia adotada neste trabalho é semelhante à usada por Brown e
Richmond2. Estes autores utilizaram 30 modelos e compararam as medidas do
aprendiz às medidas padrão, com relação ao uso do ICON e do PAR.
Durante a calibração, o item que demonstrou o maior número de erros foi a
categoria “outros”. Isto decorreu do fato de existirem várias condições clínicas que
poderiam ser indicadas, tais como: ausência de dentes (exceto terceiros molares);
dentes supranumerários; impacções dentárias (exceto terceiros molares); erupção
ectópica; transposição; anomalias de tamanho e forma de dentes; desvio de linha
média maior que 3 mm; assimetrias esqueletais; curva de Wilson acentuada; fenda
palatina. Por conta disso, e para que nenhuma dessas condições deixasse de ser
considerada, uma ênfase maior foi dada à essa categoria durante o treinamento
prévio.
O DI é um método objetivo criado para descrever a complexidade do
tratamento ortodôntico, baseado em observações e medidas obtidas de registros pré-
tratamento ortodôntico. Este método tem como uma de suas finalidades ajudar o
ortodontista a fazer uma avaliação dos seus casos7, sendo passível de ser aplicado
por qualquer profissional, com uma boa formação ortodôntica, desde que
devidamente treinado.
68
CONCLUSÃO
Com relação à classificação e pontuação média do DI, os três examinadores
apresentaram uma excelente concordância entre si. Este resultado demonstrou,
portanto, que tal método pode ser reproduzível, mesmo quando aplicado por
ortodontistas com diferentes níveis de experiência clínica e formação profissional,
desde que devidamente treinados.
REFERÊNCIAS
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70
5 CONCLUSÃO
Por meio deste estudo, pôde-se concluir que:
1. a maioria dos casos avaliados (70%) apresentou um grau de complexidade de
moderada a alta.
2. o grau de complexidade de tratamentos ortodônticos foi mais alto no gênero
feminino se comparado ao masculino (p<0,05). Não foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre a classificação do DI, quando as variáveis
idade e etnia foram pesquisadas.
3. quanto à classificação e pontuação média do DI, os três examinadores
apresentaram uma excelente concordância entre si. Este resultado
demonstrou, portanto, que tal método pode ser reproduzível, mesmo quando
aplicado por ortodontistas com diferentes níveis de experiência clínica e
formação profissional, desde que devidamente treinados.
71
REFERÊNCIAS
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