universidade federal da bahia faculdade de … · especializadas em venda de produtos do mar. o...

72
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS NAIARA GONDIM SILVA CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DAS ESPÉCIES DE PEIXES DE PEQUENO PORTE SALGADOS E SECOS COMERCIALIZADOS NA REGIÃO DO RECÔNCAVO BAIANO Salvador - BA 2014

Upload: doandien

Post on 10-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FARMÁCIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

NAIARA GONDIM SILVA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DAS ESPÉCIES DE PEIXES DE PEQUENO PORTE

SALGADOS E SECOS COMERCIALIZADOS NA REGIÃO DO RECÔNCAVO BAIANO

Salvador - BA 2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

NAIARA GONDIM SILVA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DAS ESPÉCIES DE PEIXES DE PEQUENO PORTE

SALGADOS E SECOS COMERCIALIZADOS NA REGIÃO DO RECÔNCAVO BAIANO

Dissertação apresentada à Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal da Bahia,

como parte das exigências do Programa de

Pós-Graduação em Ciência de Alimentos, para

obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª Drª Maria Spínola Miranda

Salvador - BA 2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

Sistema de Bibliotecas - UFBA

Silva, Naira Gondim. Caracterização físico-química e microbiológica das espécies de peixes de pequeno

porte salgados e secos comercializados na região do Recôncavo baiano / Naira Gondim Silva. - 2014.

69 f. Orientadora: Profª. Drª. Maria Spínola Miranda. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador, 2014. 1. Pesca artesanal - Recôncavo (BA). 2. Gobionellius Oceanicus. 3. Compostos orgânicos. 4. Microbiologia. I. Miranda, Maria Spínola. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de

Farmácia. III. Título. CDD - 639.2098142 CDU - 639.2(813.8)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais
Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me proporcionado vida e saúde, bem como

a realização desta pesquisa.

Ao meu paciente marido Ronei, pelo suporte dado todo esse tempo, e

principalmente me ajudado bastante me apoiando e me acompanhando em algumas

coletas, onde pra mim era trabalho, mas pra ele foi diversão e passeio e até comer

uma bela feijoada na feira. Obrigada amor por tudo que representa pra mim.

Agradeço aos meus pais por todo o apoio, em especial à minha mãe que também

me acompanhou em uma coleta e que também para ela representou passeio e claro,

verificar por onde anda sua filha. Agradeço todos os meus familiares em especial ao

meu primo Rafa que me ajudou e muito com essas benditas traduções (risos),

obrigada Rafa, ao meu irmão Tom que muito me ajudou nas correções e sugestões,

te amo mano.

Ao meu colega Alberto que com seus contatos me ajudou na identificação das

espécies. Não menos especial agradeço e muito à minha pró e orientadora

professora Mara, que com sua pertinência acreditou desde o princípio neste

trabalho. A todos os meus colegas-amigos que me apoiaram e contribuíram direta

ou indiretamente para a conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos, que mesmo de fora, acompanharam todo o meu percurso com a

paciência de me ouvir mais uma vez em falar dos meus peixinhos.

Um agradecimento especial à todos do laboratório de Análises Microbiológicas de

Alimentos da Faculdade de Farmácia, especialmente à professora Clícia Leite, à

todos do laboratório de Bromatologia em especial à professora Rose, e também a

todos do Laboratório de Análises e Contaminantes de Alimentos, pois sem a ajuda,

moral e material, de todos vocês este trabalho não poderia ter sido realizado.

Aos pescadores e produtoras de peixes salgados e secos da região do Recôncavo,

baiano que com grande paciência e ajuda nos forneceram dados valiosos para o

trabalho.

Agradecimentos muito especial a CAPES pelo apoio financeiro.

Enfim, a todos que contribuíram para o crescimento deste projeto, meus mais

sinceros agradecimentos.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

ÍNDICE DE TABELAS

Capítulo 2

Tabela 1. Atividade de água, pH e Acidez das amostras de Sardinha,

Miroró e Pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do

recôncavo baiano ............................................................................. 44

Tabela 2. Composição centesimal de Sardinha, Miroró e Pititinga,

peixes pequenos salgados e secos, comercializados no

recôncavo ........................................................................................ 45

Tabela 3. Perfil de ácidos graxos de Sardinha, Miroró e Pititinga,

peixes pequenos salgados e secos, comercializados no

recôncavo ........................................................................................ 48

Capítulo 3

Tabela 1. Atividade de água (aw) e Ácido Tiobarbitúrico (TBA) das

amostras de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes salgados e

secos, procedentes do recôncavo baiano ........................................ 63

Tabela 2. Perfil microbiológico (NMPa/g ou UFCb/g ou Presença) das

amostras de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes salgados e

secos, procedentes do recôncavo baiano ........................................ 64

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

ÍNDICE DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1. Reação do teste de TBA entre o ácido 2-tiobarbitúrico e o

malonaldeído, formando o composto colorido, medido

espectrofotometricamente a 532 nm ................................................ 26

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

RESUMO

A pesca artesanal é realizada por várias comunidades em diversos municípios, em

todo o Brasil. Na Bahia esta atividade, em alguns municípios, constitui-se em geral

na principal renda das populações das regiões estuarinas do Recôncavo baiano. Os

peixes de pequeno porte capturados e comercializados nessas regiões, ainda são

pouco estudados, assim, este estudo teve por objetivo avaliar as características

físico-químicas e microbiológicas de três espécies de peixes de pequeno porte, de

maior comercialização na forma seca e salgada, na região do Recôncavo baiano. As

espécies selecionadas pela representatividade foram: miroró (Gobionellus

Oceanicus), sardinha (Opisthonema Oglinum) e pititinga (Anchoa sp.). Estes peixes

de pequeno porte salgados e secos são normalmente comercializados em feiras

livres no próprio município e em outros circunvizinhos. Na pesquisa foram feitas

análises da composição centesimal (umidade, proteína, cinzas, lipídios e

carboidratos), medidas de pH, atividade de água, acidez titulável, ácidos graxos e

níveis da oxidação lipídica expressa em Ácido Tiobarbitúrico (TBA).. Na avaliação da

qualidade microbiológica verificou-se que a contagem de coliformes totais (NMP/g),

estafilococos coagulase positiva (UFC/g) e presença de salmonella sp. Os

resultados obtidos são de suma importância e demonstram que os peixes: sardinha,

miroró e xangô salgados e secos são importantes fontes de proteínas com

percentuais respectivos de 27,00±2,46g; 45,19±2,57g e 38,61±1,66g. Em relação aos

teores de lipídios a sardinha apresenta maior percentual 7,84±0,03g e miróro o mais

baixo 3,64±0,18g. No perfil de ácidos graxos foram identificados 16 ácidos, sendo o

ácido C16:00 (ácido palmítico) o que apresentou maior concentração entre as três

espécies analisadas. Quanto à atividade de água todos os peixes das espécies

analisadas na forma salgados e secos apresentaram resultados variando de 0,68 a

0,75. Estes índices baixos de atividade de água refletiram satisfatoriamente nos

resultados das análises microbiológicas, onde todas as amostras apresentaram

resultados de acordo com a legislação vigente. Os dados encontrados permitem

evidenciar a qualidade dos peixes de pequeno porte salgados e secos de maior

comercialização em feiras livres na região do Recôncavo baiano, indicando índices

microbiológicos aceitáveis. No entanto a oxidação lipídica mostrou ser um problema

ainda a ser solucionado, especialmente devido a sua riqueza em proteínas e

elevado consumo pela população local. O estudo revela ainda a importância destes

peixes, ainda negligenciados, os quais devem receber mais atenção dos programas

de pesca a serem incrementados na região.

Palavras-chave: Peixes salgados. Opisthonema oglinum. Gobionellus oceanicus. Anchoa sp. TBA.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

ABSTRACT

Artisanal fishing is carried out by various communities in several counties throughout

Brazil. In Bahia this activity, in some municipalities, is in general the main income of

the populations of estuarine regions of the Bahia reconcavo. Small fish captured and

marketed in those regions, are still poorly studied, so this study was to evaluate the

physicochemical and microbiological characteristics of three species of small fish,

more marketing in the dry and salt form, in region of the Bahia reconcavo. The

species selected for representation were: miroró (Gobionellus oceanicus), sardines

(Opisthonema oglinum) and Pititinga (Anchoa sp.). These fishes salted and dried

small size are usually sold in street markets in that city and other surrounding. In the

survey were made analysis of the chemical composition (moisture, protein, ash, lipids

and carbohydrates), pH, water activity, acidity, fatty acids and levels of lipid oxidation

expressed in Thiobarbituric acid (TBA). In the evaluation of microbiological quality

was found that the total Coliforms count (MPN / g), coagulase-positive

Staphylococcus (CFU / g) and Salmonella sp. The results are highly relevant and

demonstrate that the fishes: sardines, miroró and Xango dry-salted are important

sources of protein with respective percentages of 27.00 ± 2.46 g; 45.19 ± 38.61 ±

2,57g and 1,66g. In relation to lipid content sardine has a higher percentage 7.84 ±

0.03g and the lowest 3.64 ± 0.18 g miróro. In the fatty acids profiles were identified

16 fatty acids, and the palmitic acid showed the highest concentration among the

three species analyzed. As for aw all fish species analyzed showed results ranging

from .68 to .75 and the levels and reflecting the results of microbiological analysis,

where all samples showed results in accordance with current legislation. The results

of this work provide evidence acceptable quality of dried salted small fish greater

marketing at trade shows in the region of the Bahia reconcavo, indicating acceptable

microbiological indices . However lipid oxidation proved to be a problem yet to be

solved, especially due to its richness in nutrients and high nutritional consumption by

local people. The study also shows the importance of these fishes, yet neglected,

which should receive more attention from fisheries programs for the region.

Keywords: Salted fish. Opisthonema oglinum,. Gobionellus oceanicus. Anchoa sp. TBARS

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................... 04

ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................ 05

RESUMO................................................................................................................ 06

ABSTRACT ............................................................................................................ 07

INTRODUÇÃO GERAL ......................................................................................... 11

OBJETIVOS ........................................................................................................... 13

OBJETIVO GERAL ................................................................................................ 13

OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................. 13

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ......................................................................... 14

CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 15

1. PRODUÇÃO PESQUEIRA: DADOS GERAIS E PONTUAIS ....................... 15

1.1 PESCA ARTESANAL ................................................................................... 16

2 PESCADO .................................................................................................... 18

2.1 PROPRIEDADES E COMPOSIÇÃO FISICO-QUÍMICA DO PESCADO ...... 18

2.2 CONSERVAÇÃO DO PESCADO ................................................................. 22

2.2.1 Conservação e segurança de pescado ..................................................... 22

2.2.2 Desidratação do pescado .......................................................................... 22

2.2.3 Oxidação do pescado ................................................................................. 24

2.3 MICROBIOLOGIA DO PESCADO ................................................................ 26

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 29

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

CAPÍTULO 2: AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA

DAS ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum),

MIRORÓ (Gobionellus oceanicus) E PITITINGA (Anchoa sp.)

SALGADOS E SECOS PRODUZIDOS NO RECÔNCAVO BAIANO ................ 35

EVALUATION AND CHARACTERIZATION PHYSICAL CHEMISTRY

OF FISH SPECIES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ

(Gobionellus oceanicus) AND PITITINGA (Anchoa sp.) SALTED AND

DRY PRODUCED INBAHIA RECONCAVO ...................................................... 35

RESUMO........................................................................................................... 36

ABSTRACT ....................................................................................................... 37

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 38

2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................... 39

2.1 OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS ............................................................. 40

2.2 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS ............................................................. 40

2.2.1 Perfil de ácidos graxos ....................................................................... 41

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 43

3.1 ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA .................................................................. 44

3.1.1 Perfil dos ácidos graxos ..................................................................... 46

4. CONCLUSÃO ....................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 50

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

CAPÍTULO 3: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DAS

ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ

(Gobionellus oceanicus) E PITITINGA (Anchoa sp.) SALGADOS E

SECOS COMERCIALIZADOS NO RECÔNCAVO BAIANO ............................. 54

MICROBIOLOGICAL QUALITY ASSESSMENT OF FISH SPECIES

SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus oceanicus)

AND PITITINGA (Anchoa sp.) DRIED SALTED AND SOLD IN BAHIA

RECONCAVO ................................................................................................... 54

RESUMO........................................................................................................... 55

ABSTRACT ....................................................................................................... 56

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 57

2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................... 59

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS ................................................ 59

2.2 ANÁLISES MICROBIOLÓGICA ............................................................ 59

2.3 ÍNDICE DE OXIDAÇÃO, ATIVIDADE DE ÁGUA E

SUBSTÂNCIAS REATIVAS AO ÁCIDO TRICLOROACÉTICO ............ 61

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 62

3.1 RESULTADOS DE ATIVIDADE DE ÁGUA AW E OXIDAÇÃO ............. 62

3.2 RESULTADOS MICROBIOLÓGICOS ................................................... 63

4. CONCLUSÃO ....................................................................................... 65

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 66

CONCLUSÃO GERAL ...................................................................................... 69

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

INTRODUÇÃO GERAL

Atualmente, a sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida da população

de baixa renda tem sido uma preocupação de vários governos em todo o mundo. No

Brasil, o governo Federal tem criado órgãos e destinado verbas específicas para

fomentar programas que busquem a melhoria da qualidade de vida da população e

promova o desenvolvimento sustentável. Para tanto foi criado, em junho de 2009, o

Ministério da Pesca e Aqüicultura, que tem por finalidade a implantação de uma

política nacional pesqueira e aquícola, transformando esta atividade econômica em

uma fonte sustentável de trabalho, renda e riqueza.

Do total de 970 mil pescadores registrados no Brasil, 957 mil são pescadores

artesanais. Estes estão organizados atualmente em cerca de 760 associações, 137

sindicatos e 47 cooperativas (BRASIL, 2011).

A comercialização de pescado no país em geral compõe-se de espécies

tratadas e congeladas (peixes, camarões, ostras, entre outros) que são distribuídos

por meio de grandes frigoríficos para rede atacadistas de supermercados e lojas

especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e

mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais e cidades maiores,

enquanto que os pequenos municípios a comercialização e o consumo são ainda

bastante incipientes.

Na Bahia, a Bahia Pesca, e a EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento

Agropecuária, empresas ligadas ao Governo Estadual tem atuado em programas

que apoiam pescadores e comunidades ribeirinhas, quer seja na criação de peixes,

através da distribuição de alevinos ou no desenvolvimento de viveiros.

A pesca marítima tem assumido particular importância no cenário brasileiro

devido ao seu crescimento e aumento de consumo, haja vista a disponibilidade de

recursos hídricos e a crescente aceitação do produto oriundo da piscicultura no

mercado consumidor. Uma das grandes responsáveis pela geração de renda dos

municípios ribeirinhos é a pesca artesanal, que se dá por pescadores com baixo

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

poder aquisitivo destinado ao sustento familiar, onde na sua maioria se trata da

única fonte de renda familiar.

O Recôncavo Baiano é conhecido pela sua alta capacidade de pesca

artesanal que é responsável pelo abastecimento de pescado de grande parte da

Bahia. Os municípios do entorno desta região possuem alta produção de pescado,

em especial as espécies de peixes de pequeno porte, tornando-se meio importante

de renda para a população. Porém, pouco estudo foi feito para a caracterização

físico-química e microbiológica destes peixes comercializados na região do

Recôncavo Baiano.

Por meio de estudo exploratório realizado na região do Recôncavo Baiano,

verificou-se que três espécies de peixes salgados e secos eram as mais

comercializadas, as quais foram selecionadas para esta pesquisa. Foram elas:

miroró (Gobionellus Oceanicus), sardinha (Opisthonema Oglinum) e pititinga

(Anchoa sp.).

Apesar do consenso das pesquisas sobre o efeito benéfico da ingestão de

peixes, dados da composição dos peixes produzidos no país ainda são insuficientes.

Por isso, é de grande importância a caracterização físico-química e microbiológica e

o conhecimento da qualidade de peixes de pequeno porte que são comercializados

nos portos, de forma fresco, destinados na sua maioria a secagem e salga por

famílias de pescadores, e que, no geral, são consumidos pela população de baixa

renda e, para os quais, não se encontra dados da sua composição e substâncias

bioativas. Pescados estes que são provenientes da pesca artesanal, que se torna

grande responsável pela renda das famílias e crescimento dos comércios locais dos

municípios situados na região do Recôncavo baiano.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

OBJETIVOS GERAL

Avaliar as características físico-químicas e microbiológicas das espécies de

peixes de pequeno porte de maior comercialização na forma seca e salgada,

na região do Recôncavo baiano.

ESPECÍFICOS

Identificar as espécies de peixes pequeno porte que utilizadas no presente

estudo;

Determinar a umidade e atividade de água;

Determinar a composição centesimal;

Determinar pH e acidez titulável;

Determinar os lipídios totais e ácidos graxos;

Determinar o grau de oxidação das amostras de peixes;

Determinar as características microbiológicas seguindo os critérios da RDC

nº12 de janeiro de 2001.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente estudo está estruturado em três capítulos, sendo o primeiro de

revisão de literatura com enfoque de assuntos relacionado à pesca, pesca artesanal,

propriedades e composição do pescado.

O segundo capítulo está estruturado em forma de artigo, no qual foram

abordadas a identificação e caracterização físico-química, identificação e

quantificação de ácidos graxos dos peixes de pequeno porte secos e salgados

comercializados em feiras livres na região do Recôncavo Baiano.

O terceiro capítulo está estruturado em forma de artigo, no qual

caracterizamos a qualidade microbiológica e parâmetros físico-químicos

relacionados aos padrões vigentes e referências técnicas-científicas dos peixes de

pequeno porte secos e salgados comercializados em feiras livres na região do

Recôncavo Baiano.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais
Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

15

CAPÍTULO 1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. PRODUÇÃO PESQUEIRA: DADOS GERAIS E PONTUAIS.

A Pesca é uma das atividades produtivas mais antigas da Humanidade. No

Brasil esteve presente desde os tempos da Colônia e está entre as atividades

econômicas mais antigas e mais tradicionais do país. Os recursos pesqueiros

marítimos, costeiros e continentais constituem importante fonte de renda, geração

de trabalho e alimento e têm contribuído para a permanência do homem no seu local

de origem (BRASIL, 2011; RODRIGUES, 2011).

Apesar de muitas características favorecerem o Brasil em relação à pesca

marítima não se pode comparar a produtividade brasileira a de outros países

menores, em que a produção não se restringe apenas à sua costa. Temos como

principal exemplo o Peru, o Chile e o Japão em que a pesca é realizada fora da

costa, devido ao avanço tecnológico dessa atividade nesses países, evidenciando

que o Brasil muito tem a avançar nesse contexto (RODRIGUES, 2011).

Analisando os fatos históricos da produção pesqueira no Brasil, houve um

crescimento pesqueiro entre 1950 a 1985, onde ocorreu seu maior índice de

capturas, atingindo 986.684 t. Isto se deve ao programa de industrialização da pesca

implantado pelo governo de Juscelino Kubitschek no final da década de 50, a

criação da SUDEPE- Superintendência de Desenvolvimento da Pesca em 1962 e a

promulgação do novo código de pesca Decreto-Lei 221, de 28/02/67.

No período subsequente, entre 1986 e 1990, ocorreu um declínio da

produção para 619.805t, devido ao início do processo sobrepesca de alguns

estoques, como, da sardinha-verdadeira, dos camarões e dos peixes demersais da

região Sul. Para somar à queda de produção, ocorreu neste período a desativação

dos incentivos fiscais. Entre 1991 e 2010 houve um período de estabilidade

produtiva. A partir de 2010 a produção voltou a crescer chegando a uma produção

de 785.366t, onde este período se caracterizou pela recuperação da produção

pesqueira nacional em relação à década precedente (BAHIA PESCA, 2010).

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

16

Em 2011, a produção de pescado no Brasil foi de 1.431.974,4t, sendo 38,7%

deste valor para a pesca extrativa marinha, seguida da aquicultura continental com

38,0%, pesca extrativa continental com 17,4% e aquicultura marinha com 6%

(BRASIL, 2011).

Segundo Brasil (2011), a produção de pescado por Unidade da Federação,

para o ano de 2011, demonstra que o Estado de maior pólo de produtos de pescado

no Brasil é de Santa Catarina, com 194.866,6t, seguido pelos estados do Pará com

153.332,3t, Maranhão com 102.868,2 t e Bahia com 102.052,7 t.

Apresentando a mais extensa costa do Brasil, a costa baiana possui, em

linha contínua, 1188 km. Segundo o IBGE (2004), a população residente nessa área

é de 4.090.779 habitantes, equivalente a 31,3% da população do Estado. Neste

litoral estão distribuídos 44 municípios e inseridas 350 comunidades pesqueiras,

com destaque para a Baía de Todos os Santos, com seus 1.100 Km2, e a Baía de

Camamu, que juntas, apresentam um grande número de estuários, originando um

complexo de manguezais de enorme potencial para o cultivo de organismos

aquáticos e também como para o sustento das populações de pescadores e

marisqueiras que vivem nessas comunidades (COSTA, 2012).

A atividade pesqueira em Salvador e no Recôncavo Baiano, região

delimitada pela Baía de Todos os Santos, sempre teve importância econômica

devido à sua grande quantidade comercializada, sendo o pescado importante fonte

de alimento para grande parcela da população, principalmente a de baixa renda

(COSTA, 2012).

1.1 PESCA ARTESANAL

Assim como em todo Norte e Nordeste, a Bahia possui sua atividade

pesqueira, em grande maioria, realizada pela pesca artesanal, que é subdividida em

duas modalidades: pesca, que se dá a captura de peixes e crustáceos; mariscagem,

que se dá por extração manual, ou com utilização de armadilhas, de crustáceos e

moluscos (VASCONCELLOS, 2012).

A pesca realizada por pequenas comunidades e municípios em todo o Brasil

é de forma bastante artesanal, com canoas ou pequenas embarcações movidas a

motor. Em geral, os pescadores não utilizam uma única arte de pesca em todos os

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

17

momentos, podendo utilizar diversos recursos ao longo da vida ou de acordo com a

disponibilidade e intenção de pesca (BURDA, 2007).

Segundo a Bahia Pesca (2008), a pesca artesanal enquanto atividade

comercial é aquela realizada única e exclusivamente pelo trabalho manual do

pescador. Segundo Lopes (2004), a atividade pesqueira marítima é compreendida

como as ações que envolvem a captura, e a venda do pescado in natura. Ainda

segundo Lopes (2004), a pesca “artesanal” se diferencia da pesca “industrial” de

acordo com o estado ou região e, mesmo entre os agentes, não existindo um

consenso a cerca das características que as distingue.

A pesca marítima é encontrada em quase todo o litoral do mundo, e no Brasil

não poderia ser diferente, sendo extremamente importante, não só pelo aspecto

econômico, mas, também, por sua função social. Essa atividade está

tradicionalmente ligada a comunidades costeiras, as quais devido a sua baixa

especialização e elevados níveis de pobreza fazem dela a principal fonte de renda,

portanto uma ocupação importante no contexto socioeconômico. Dessa forma, por

ser produto da interação de variáveis ambientais, culturais e socioeconômicas, os

arranjos produtivos que se desenvolvem na pesca artesanal apresentam uma

grande diversidade, sofrendo a influência não apenas do meio físico onde estão

situados, mas também do processo histórico de evolução da atividade (LOPES,

2004; FRIZZO, 2005; RODRIGUES, 2011).

A potencialidade econômica do pescado marítimo artesanal no Brasil é

significativa, vale ressaltar a vocação natural do País ao desenvolvimento da

atividade, devido as suas características naturais. A sua extensa costa e as

condições climáticas favorecem para a grande variedade de espécies (LOPES,

2004; RODRIGUES, 2011).

O Recôncavo Baiano, denominação dada ao conjunto de municípios em

torno da Baía de Todos os Santos, é uma das regiões onde comunidades de

pescadores artesanais estão concentradas, isso se dá devido à grande área de

manguezais com grande capacidade de cultivos de organismos aquáticos

(VASCONCELLOS, 2012).

Essa região possui uma grande importância para a preservação da cultura

local da pesca e da catação de mariscos, onde engloba grande quantidade de

trabalhadores da região que através da pesca artesanal e/ou catação de mariscos

extrai seu sustento familiar.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

18

Através do exercício diário dessas atividades os pescadores e marisqueiros

constroem um rico conhecimento local sobre a dinâmica do ecossistema estuarino e

seus componentes, como a qualidade ambiental dos rios, mangues e matas, bem

como dos impactos sofridos pela área (DI CIOMMO, 2007; FADIGAS, 2008).

2. PESCADO

Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de

Origem Animal (RIISPOA)(BRASIL, 1997) a denominação do termo pescado define-

se como: peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios, mamíferos, e

organismos aquáticos de água doce ou salgado sendo destinados ao consumo

humano.

2.1 PROPRIEDADES E COMPOSIÇÃO FISICO-QUÍMICA DO PESCADO

O pescado é uma excelente fonte de proteínas de origem animal, sendo em

alguns países a principal. O consumo do pescado vem aumentando mundialmente

devido ser uma alternativa à carne vermelha (FAO, 1997).

Segundo Menezes (2009), o consumo de carne de pescado é importante,

não apenas como alternativa alimentar de alto valor nutritivo, mas como alimento

funcional.

O pescado é uma fonte rica de proteínas e ácidos graxos poli-insaturados,

sendo encontrados em concentrações mais expressivas em peixes e animais

marinhos, possui na sua constituição todos os aminoácidos essenciais para a dieta

humana, apresenta alto teor de lisina e a digestibilidade de sua proteína é alta,

denotando-a um valor biológico superior ao de outras fontes animais como ovos,

leite e carne bovina (LANKHE, 2003; BASTOS, 2006; MENEZES, 2009; MANSKE,

2011). O conteúdo de vitaminas e sais minerais, ainda que presente em quantidades

menos expressivas desempenham grande importância nos processos bioquímicos

nos tecidos, auxiliam características sensoriais, valor nutritivo e salubridade dos

produtos de pesca (KOBLITZ, 2011).

A composição química do pescado tem como seu principal componente a

água que varia entre 64% a 90%, seguido de proteínas de 8% a 23%, gorduras

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

19

variando de 0,5% a 25%, resíduos minerais de 1% a 2%, e carboidratos menos de

1% (ANDRADE 2009). As diferenças entre o tipo e o teor dos componentes

nutricionais, são devidas as características genéticas, idade, peso, habitat, época do

ano, qualidade e quantidade de alimentos disponíveis (ALMEIDA, 2006; BASTOS,

2006; ANDRADE 2009; MENEZES, 2009; KOBLITZ, 2011).

A água é um fator individual que mais influi na alteração dos alimentos, este

conteúdo de água é expresso pelo valor obtido na determinação da água total

contida no alimento. O teor de água livre é expresso como atividade de água

(BOBBIO, 2001; ORDOÑEZ, 2005).

Em geral, o pescado contém 64% a 90% de umidade, com exceções da

água-viva e pepino-do-mar. O processo de secagem corresponde à redução de

umidade no pescado, onde não deve conter mais que 35% de água no pescado

salgado-seco (BRASIL, 1997; OLIVEIRA, 2008).

O estado de água na carne do pescado depende de diversas interações

entre o conteúdo hídrico e o soluto. Na carne do pescado somente uma parte do

meio aquoso pode ser considerado água livre, pois os demais estão implicados nas

interações próprias das soluções água-proteína-lipídio (KOBLITZ, 2011).

As mudanças no teor de água na carne influenciam nas propriedades

reológicas, no valor nutritivo e na qualidade sensorial da carne do pescado e

exercem grande impacto na vida comercial destes produtos (KOBLITZ, 2011).

Composto cada vez mais importante na nutrição humana, os lipídios são

fontes importantes de energia para o organismo. Sendo estes provenientes de

pescado, fonte importante de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI), especialmente

ômega-3 (BASTOS, 2006; MELO, 2012; SARTORI, 2012).

Os lipídios são biomoléculas orgânicas insolúveis em água que podem ser

extraídos de células e tecidos por solventes de baixa polaridade, como o clorofórmio

e éter. Sendo um dos mais importantes nutrientes, os lipídios possuem diversas

funções entre elas a função energética, que promove energia de kcal por grama

(kcal/grama), eles são um dos principais componentes da membrana celular. Dentre

outras funções dos lipídios, tem-se: processos fisiológicos participam da

manutenção da parede vascular e na resposta imune, absorção de vitaminas, atuam

como transportadores de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), proporcionam aos

alimentos sabor, odor e textura (MELO, 2012).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

20

Os lipídios contêm uma grande variedade de ácidos graxos, diferindo na

cadeia lateral, no grau de insaturações, na posição e configuração das duplas

ligações, na presença de grupos funcionais especiais e nos isômeros de posição e

geométricos. Tipicamente, os lipídios de peixes contêm ácidos graxos com cadeia

lateral que variam de 14 a 22 carbonos e com 0-6 metilenos interrompidos por

duplas ligações. Dentre esses ácidos, atenção especial tem sido dada aos ácidos

graxos poli-insaturados da família ômega-3, especialmente ao alfa linolênico (LNA,

18:3n3), eicosapentaenoico (EPA, 20:5n3) e docosaexaenoico (DHA, 22:6n3). Nos

últimos anos vem surgindo diversos estudos sobre os ácidos graxos, principalmente

os AGPI- ômega-3. Este interesse se deu devido a evidência do papel desses

compostos na prevenção de doenças cardiovasculares, redução ao risco de fatores

bioquímicos associados à artrite, psoríase e câncer e redução ao risco de Acidente

Vascular Cerebral (AVC), associados a um consumo frequente de pescados

(ALMEIDA, 2006; BASTOS, 2006; SOUZA, 2007; MELO, 2012; SARTORI, 2012;

TONIAL 2010).

Os ácidos graxos da serie ômega-3 mais importantes para a dieta humana

são provenientes principalmente de peixes são: eicosapentaenoico (EPA) e

docosaexaenoico (DHA), sendo que os peixes marinhos possuem elevados níveis

de EPA e DHA quando comparados aos peixes de água doce (SOUZA, 2007;

TONIAL 2010; SARTORI, 2012).

Melo (2012) afirma em suas pesquisas que os peixes de água doce possuem

teores de ácidos graxos poli-insaturados relativamente mais baixo que peixes

marinhos. Esta diferença é atribuída aos peixes de água doce porque estes se

alimentam de produtos de origem vegetal e os peixes marinhos se alimentam de

zooplâncton, ricos em ácidos graxos poli-insaturados. Peixes marinhos possuem

uma relação ômega-3/ ômega-6 maior que os peixes de água doce, devido a

presença mais forte da série ômega-3 na sua cadeia trófica. A composição, a

distribuição e a relação entre as séries n-3 e n-6 nos peixes são influenciadas

basicamente por três fatores: genéticos (espécie, etapa de desenvolvimento, entre

outros), ambientais (temperatura e salinidade) e, fundamentalmente nutricionais

(SOUZA, 2007; MELO 2012).

Tanto no armazenamento ou processamento do pescado os lipídios podem

sofrer transformações químicas como a rancidez oxidativa. Essa transformação

ocorre em lipídios que contém ácidos graxos insaturados. A oxidação se dá em três

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

21

fases: Na primeira fase ocorre a formação dos primeiros radicais livres, porém não

apresentam cheiro ou gosto, a segunda fase apresenta cheiro e sabor com aumento

rápido, e a terceira fase caracteriza-se pelo cheiro e sabor fortes, alteração da cor e

da viscosidade do lipídio, bem como da sua composição (BOBBIO, 2001).

Os músculos, óleos e resíduos de pescado são muito ricos em vitaminas. As

vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D e E) estão presentes em concentrações

particularmente altas nos óleos de fígado de algumas espécies (ORDOÑEZ, 2005;

KOBLITZ, 2011).

O retinol, também chamado de vitamina A, é um álcool diterpênico que se

acumula nos depósitos de gordura, estando presente no fígado de peixes e de

outros animais, na gordura do leite e na gema de ovo (LANKHE, 2003; KOBLITZ,

2011). A composição de lipídios dos tecidos dos peixes pode ser afetada pela sua

dieta e outros fatores ambientais (ALMEIDA, 2006). No entanto, a vitamina A é

encontrada em valores constantes independente da variação dos teores de gorduras

durante o ciclo de vida dos peixes (LANKHE, 2003).

As vitaminas A e E são componentes da fração lipídica insaponificáveis de

alimentos. Para a extração dessa fração é necessário a saponificação da amostra

diretamente. Em seguida, a extração da fração insaponificável. A determinação

dessas vitaminas, para se obter um resultado com maior precisão, é realizada por

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE/HPLC) (LÓPEZ-CERVANTES,

2005).

Os minerais são elementos químicos necessários para todas as formas de

vida. Alguns elementos inorgânicos, metálicos e não metálicos fazem parte da

composição do pescado. Sua concentração varia quantitativamente apenas em

função da qualidade da água ambiente e sua alimentação (ORDOÑEZ, 2005;

VIANA, 2008; KOBLITZ, 2011).

Em pescados, as determinações de minerais incluem macromoléculas como

sódio e cálcio e alguns microelementos como o ferro. O Na apresenta-se em

quantidades mais expressivas no sangue. Os componentes Fe e Cu desempenham

papel importante como componentes de pigmentos protéicos respiratórios

(ORDOÑEZ, 2005; KOBLITZ, 2011). Segundo Koblitz (2011), a carne de pescado,

em geral, contém mais Ca e Na do que a carne bovina.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

22

2.2 CONSERVAÇÃO DO PESCADO 2.2.1 Conservação e segurança do pescado

De modo geral, o pescado destinado ao consumo humano direto cerca de

54% é consumido fresco, 25,6% congelado, 11,0% na forma de conservas e semi-

conservas, e 9,4% como peixe seco, salgado e/ou defumado (FAO, 1997).

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição

e alto valor nutritivo, condições estas que favorecem um excelente meio de cultura

de microrganismos patogênicos. Devido à sua perecibilidade, a comercialização do

pescado em regiões distantes da costa geralmente é dada, principalmente, após

processo industrial de conservação, tais como: congelamento, secagem e salga

(MORAES, 2008; FREITAS, 2011).

Por ser um alimento com elevado teor proteico sofre vários tipos de

processos de deterioração, tais como a deterioração biológica, química e autolítica

(MORAES, 2008).

A perda da qualidade inicial do pescado fresco é originada pela deterioração

autolítica, enquanto que, a deterioração biológica ocorre pela ação de

microrganismos (bactérias). A deterioração química é originada por oxidação e

autoxidação, alterações que ocorrem na fração lipídica do peixe. O primeiro

processo leva à formação de hidroperóxidos que não conferem sabor, mas podem

levar ao aparecimento de coloração castanho ou amarelo nos tecidos dos peixes,

enquanto que o segundo é responsável pela origem da formação de aldeídos e

cetonas, as quais conferem um sabor e odor forte de ranço (FAO, 1997).

Dessa forma, a utilização de diversas formas de processamento e

conservação do pescado se faz necessário para agregar valor aos produtos e

favorecer o maior consumo de produtos à base de peixe (FREITAS, 2011).

2.2.2 Desidratação dos peixes

A salga do pescado é um dos métodos mais antigos empregado pelo homem

para conservação, por se tratar de um processo simples, fácil aplicação e baixo

custo. Seu processo de produção consiste em colocação do pescado em sal ou

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

23

salmoura, formação do sistema salmoura-sal-pescado e maturação do pescado com

alterações organolépticas (ORDOÑEZ, 2005; HUBINGER, 2009; FREITAS, 2011).

Segundo Brasil (2000), é denominado peixe salgado o pescado limpo,

eviscerado, com ou sem cabeça tratado pelo sal (cloreto de sódio), com nível de

saturação de 100%, com ou sem aditivos, não podendo conter mais de 50% de

umidade para as espécies consideradas gordas, tolerando-se 5% a mais de

umidade para as espécies consideradas magras. E o peixe salgado e seco,

elaborado com nível de saturação mínima de 95%, com ou sem aditivos,

devidamente seco, não podendo conter mais de 40% de umidade para as espécies

consideradas gordas. Segundo Brasil (1997), entende-se por "pescado-salgado-

seco" o produto obtido pela dessecação do pescado íntegro tratado previamente

pelo sal (cloreto de sódio) e não deve conter mais de 35% (trinta e cinco por cento)

de umidade, nem mais de 25% (vinte e cinco por cento) de resíduo mineral fixo total.

Segundo Oliveira (2008), a desidratação, secagem ou dessecação é a

extração deliberada e em condições controladas da água que os alimentos contêm.

A dessecação do peixe é utilizada desde a antiguidade como único método de

conservação, a qual se emprega nestes por ser relativamente simples, de baixo

custo e garantir a estabilidade do produto, inclusive a temperatura ambiente

(ORDOÑEZ, 2005; OLIVEIRA, 2008; HUBINGER, 2009; FREITAS, 2011).

A salga de produtos cárneos, ou a base de peixe pode alterar de maneira

positiva características organolépticas do produto, tais como o sabor, a textura e a

coloração (OLIVEIRA, 2008; HUBINGER, 2009). Muitas vezes trata-se de um

processo não controlado realizado em cooperativas, colônia de pescadores ou nas

próprias residências familiares. Métodos esses que, os produtores sem nenhum

conhecimento científico, adquiriram pela aprendizagem de pai para filho, garantindo

assim a vivência do conhecimento (ARAKAKI, 2011).

Métodos de conservação sofisticado, praticado em regiões economicamente

desenvolvidas são inadequados para regiões subdesenvolvidas economicamente

por tratar-se de métodos que exigem alto custo, consumo de energia e tecnologia

avançada. As modernas técnicas de secagem são mais eficientes e mais higiênicas,

porém também são mais complexas. Portanto, a maioria dos equipamentos é ainda

desenvolvida de forma empírica, e isso pode levar a vários problemas para unidades

de grande escala, tais como a quantidade de energia usada e a qualidade do

produto (HEILPORN, 2010).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

24

Em muitas regiões tropicais, seca-se grande quantidade de peixes pequenos,

na maioria exposta ao sol. Neste processo os peixes podem ser expostos à ação

solar em bandejas ou ser pendurados verticalmente. As vantagens da secagem,

além de ampliar o prazo de validade, incluem a redução no peso do alimento,

facilitando o seu transporte e armazenagem, a manutenção das suas propriedades

nutritivas e de valor agregado para alguns produtos. O peixe desseca ao evaporar-

se a água presente em sua camada superficial, e quando acrescentado sal ao peixe,

modifica-se as velocidades de dessecação. Os peixes gordos dessecam-se mais

lentamente que os magros, uma vez que a difusão da água diminui à medida que

aumenta o conteúdo de gordura (ORDOÑEZ, 2005; HUBINGER, 2009; HEILPORN,

2010).

Peixe seco pode ser preservado de três a seis meses, dependendo

das condições de armazenagem. Porém um dos grandes problemas da secagem

incontrolada é a infestação por insetos, tanto durante quanto após a secagem,

provocando grandes perdas (ORDOÑEZ, 2005; OLIVEIRA, 2008; HEILPORN,

2010).

2.1.2 Oxidação do pescado

A análise Físico-química é uma ferramenta importante para caracterizar o

valor nutricional dos alimentos a avaliação da oxidação lipídica e importante, pois

permite verificar a qualidade do pescado durante a estocagem por meio da

determinação de substâncias derivativas da deterioração destes componentes nos

alimentos. O controle da qualidade do pescado é de grande importância para o

desenvolvimento da indústria pesqueira e contribui para garantir o beneficiamento,

sem comprometimento da qualidade nutricional do produto, melhorando seu estado

higiênico-sanitário, estendendo sua vida de prateleira e contribuindo para a

segurança alimentar e das boas práticas de produção de pescado em geral

(EMBRAPA, 2009).

A oxidação de gorduras é um dos fatores responsáveis pela perda da

qualidade das carnes, levando ao desenvolvimento de sabor desagradável e de

substâncias tóxicas, descoloração de pigmentos e perdas nutricionais. (COTRIM,

2007; EMBRAPA, 2009).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

25

No peixe salgado, a oxidação de lipídios é favorecida tendo em vista que,

além de conterem muitos ácidos graxos poliinsaturados, a presença do sal acelera

esta reação. O processo de oxidação ocorre tanto durante a salga quanto no período

de estocagem (CASTRO, 2009).

A rancidez oxidativa é determinada fundamentalmente pelo conteúdo de

gordura e pelas propriedades enzimáticas da matéria-prima, concentração de sal,

temperatura, pH e entrada de oxigênio. Quando a luz e um agente sensibilizante,

como a clorofila, estão presentes, a ativação do oxigênio em oxigênio singlete pode

desempenhar um papel importante na indução da deterioração oxidativa. A presença

de microrganismos também é importante, pois possuem enzimas que podem exercer

efeito oxidante (COTRIM, 2007; CASTRO, 2009).

Os produtos, quando afetados pela rancidez oxidativa, sejam eles, matérias

primas, alimentos ou rações, não são prejudicados somente no seu componente

lipídico, mas também no seu componente protéico e vitamínico, principalmente no

que diz respeito às vitaminas hidrossolúveis como complexo B e C (CASTRO, 2009).

Muitos métodos químicos e físicos têm sido propostos para quantificar a

formação dos compostos resultantes da oxidação lipídica em carnes. Os produtos

mais frequentemente medidos são hidroperóxidos e dienos conjugados para a

oxidação primária, e substâncias voláteis (SRATB) para a secundária. Entre eles

existem vantagens e desvantagens, porém os mais simples e rápidos são baseados

na quantificação de pigmentos medidos espectrofotometricamente. Um método

prático e barato, e por isso mais usado na avaliação de oxidação de gorduras em

carnes, é o teste de TBA, proposto por TARLADGIS (1960), que se baseia na

quantificação de composto colorido resultante da reação entre produtos da oxidação

com o ácido 2-tiobarbitúrico (TBA) (COTRIM, 2007; EMBRAPA, 2009).

O ácido tiobarbitúrico (TBA) reage com os tecidos produzindo uma coloração

rosa, resultado da formação de um complexo entre os compostos oxidados de

gordura. A reação envolve o ácido 2-tiobarbitúrico com o malonaldeído (Figura 1),

produzindo um composto de cor vermelha, medido espectrofotometricamente a 532

nm de comprimento de onda. O teste de SRATB também possui correlação positiva

entre seus valores e o escore de rancificação avaliado pela análise sensorial, sendo

apropriado na determinação do estado de oxidação lipídica em alimentos (COTRIM,

2007; EMBRAPA, 2009; OSAWA, 2005).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

26

Figura 1: Reação do teste de TBA entre o ácido 2-tiobarbitúrico e o malonaldeído, formando o composto colorido, medido espectrofotometricamente a 532 nm.

Os resultados destas análises são normalmente expressos em unidades de

absorvência por unidade de peso da amostra ou em “valor TBA”, definido como o

peso em mg de MA por kg de amostra (SILVA, 1999).

2.3 MICROBIOLOGIA DO PESCADO

O Ministério da Saúde por meio da Resolução RDC nº 12, de 12 de janeiro

de 2001 determina, para peixes moluscos e crustáceos secos e ou salgados, um

padrão para coliformes a 45ºC/g de 102 UFC/g (unidade formadora de

colônia/grama), para Staphylococcus coagulase positiva de 5 x 102 UFC/g e para

Salmonella sp. ausência em 25g (BRASIL, 2001).

Os coliformes são bastonetes Gram-negativos, não esporulados, que

fermentam a lactose dentro de 48 horas. Eles são representados pelo gênero da

família Enterobacteriaceae: Citrobacter, Enterobacter, Escherichia e Klebsiella. Um

teste para coliformes termotolerantes é essencialmente um teste para E. coli tipo I.

Visto que a E. coli é melhor indicador de contaminação fecal. É desejável a

determinação de sua incidência em uma população de coliformes. O teste IMViC

(I=produção de indol, M=reação de vermelho de metila, V=reação de Voges-

Proskauer e C=utilização de citrato) é o método clássico utilizado para a

identificação de E. coli (HUSS, 1997; JAY, 2005; CASTRO,2009; FRANCO;

LANDGRAF, 2008).

O habitat primário da E. coli é o trato intestinal de animais de sangue quente.

A pesquisa de coliformes ou de E. coli nos alimentos fornece informações sobre

condições higiênicas do produto. Em alimentos processados, a presença de um

número elevado desses microrganismos indica processamento inadequado e/ou

recontaminação pós-processamento, sendo as causas mais frequentes aquelas

provenientes da matéria-prima, equipamento sujo ou manipulação sem cuidados de

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

27

higiene (CASTRO,2009; HUSS, 1997; JAY, 2005; FRANCO; LANDGRAF, 2008;

LUNDGREN, 2009; SANTOS et al, 2012).

As bactérias do gênero Staplylococcus são cocos Gram-positivos,

pertencentes à família Micrococcaceae, quando vistos ao microscópio aparecem na

forma de cachos de uva. Staphylococcus aureus corresponde ao grupo de bactérias

anaeróbicas facultativas com maior crescimento sob co ndições aeróbias. São

bactérias mesófilas, com temperatura de crescimento na faixa de 7 a 47,8ºC, pH de

4 a 9,8, com ótimo entre 6 e 7. As bactérias desse gênero são tolerantes a

concentrações de 10% a 20% de NaCl e a nitratos, o que torna alimentos curados

veículos potenciais para as mesmas (HUSS, 1997; JAY, 2005; CÂMARA, 2002,

FRANCO; LANDGRAF, 2008;; SANTOS et al, 2012).

Staplylococcus aureus causa intoxicação provocada pela ingestão do

alimento que apresenta a toxina pré-formada, portanto, o agente causador da

doença não é a bactéria, mas várias toxinas produzidas pela mesma, conhecida

como enterotoxinas. Essa espécie é hospedeira de humanos e outros animais,

encontrados em grande número próximo a aberturas do corpo e superfícies da pele,

como, por exemplo, nas narinas, axilas e na área das virilhas. A contagem de

Staphylococcus coagulase positiva em alimentos tem como finalidade: relacionar

estes microrganismos à saúde pública para confirmar o seu envolvimento em surtos

de intoxicação alimentar, e para controlar a qualidade higiênico-sanitária nos

processos de produção e manipulação de alimentos. Neste último caso, serve como

indicador de contaminação pós-processo ou das condições de sanitização das

superfícies que entram em contato com os alimentos (JAY, 2005; FRANCO;

LANDGRAF, 2008; LUDGREN, et al, 2009; SANTOS et al, 2012).

O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e compreende

bastonetes Gram-negativos não produtores de esporos. São anaeróbios facultativos,

produzem gás a partir de glicose e são capazes de utilizar o citrato como única fonte

de carbono, são capazes de crescer em diversos meios de cultura, formando

colônias visíveis em 24 horas a 37ºC. O pH ótimo de crescimento é próximo da

neutralidade entre 6,6 e 8,2, a atividade de água é maior que 0,94. Esses

microrganismos, ao contrário dos estafilococos, não toleram grandes concentrações

de sais, tendo ação bactericida salmoura com concentração acima de 9% (HUSS,

1997; JAY, 2005; FRANCO, 2008; LANDGRAF, 2008; LUDGREN, et al, 2009).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

28

As salmonelas são amplamente encontradas em hábitat de animais, como

aves, répteis, homens e ocasionalmente insetos, sendo o trato intestinal o principal

reservatório. Porém, não é naturalmente encontrado no pescado, podendo ser

transferida a estes a partir de águas litorâneas poluídas com dejetos humanos e de

animais, ou por contaminação do pescado pós-captura (HUSS, 1997; JAY, 2005;

FRANCO, 2008; LANDGRAF, 2008; CASTRO, 2009).

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

29

REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. M., BUENO FRANCO, M. R. Influência da dieta alimentar na

composição de ácidos graxos em pescado: aspectos nutricionais e benefícios à

saúde humana. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 65(1):7-14, 2006.

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods of

analysis. 19th ed. Washington, USA: AOAC. 2012.

ANDRADE, G. Q., BISPO, E. S., DRUZIAN, J. I. Avaliação da qualidade nutricional

em espécies de pescado mais produzidas no Estado da Bahia. Ciências e

Tecnologia de Alimentos. Campinas, 29(4): 721-726, out.-dez. 2009.

ARAKAKI, Kelly Rocha. Os aspectos socioeconômicos do território Caiçara da

comunidade Enseada da Baleia, Parque Estadual da Ilha do Cardoso – SP, Brasil.

In: Revista Geográfica de América Central. Número Especial EGAL, Costa Rica,

2011.

BAHIA PESCA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura. Ministério da pesca e

aqüicultura. 2008.

BAHIA PESCA. Boletim estatístico da pesca e aquicultura. Ministério da pesca e

aqüicultura. 2012.

BASTOS, A. L., et al. Perfil de ácidos graxos da pele e músculos de Balistes

capriscus e Menticirrhus litoralis, pescados na região sul do Brasil. Rev. Inst. Adolfo

Lutz, 65(2):94-99, 2006.

BLIGH, E. G.; DYER, W. J. A rapid method of total lipid extraction and purification.

Canadian Journal of Biochemistry and Physiology, v. 37, p. 911-917, 1959.

BOBBIO, P. A, BOBBIO, F. O. Química do processamento de alimentos. 3ª Ed.

São Paulo: Varela, 2001.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Submete à Consulta

Pública o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Peixe Salgado e

Peixe Salgado Seco. Portaria nº 52 de 29 de Dezembro de 2000. Brasília, 2000.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

30

________. Ministério da Pesca e Aquicultura. 2010. Boletim Estatístico da Pesca e

Aquicultura - Brasil - 2010. Brasília. Disponível em: <www.mpa.gov.br>. Acesso em:

28 de outubro de 2014.

________. Ministério da Pesca e Aquicultura. 2011. Boletim Estatístico da Pesca e

Aquicultura - Brasil - 2010. Brasília. Disponível em: <www.mpa.gov.br>. Acesso em:

15 de janeiro de 2013.

______.Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa

Agropecuária. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

Regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal.

Aprovado pelo Decreto n. 30.691, 29 mar. 1952, alterado pelos Decretos n.1255, 25

jun. 1962, 1236, 02 set. 1994, 1812, 08 fev. 1996 e 2244, 04 jun. 1997. Diário Oficial,

Brasília, 05 jun. 1997. Seção 1, p.1155-1156.

______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria N°52, de 29

de Dezembro de 2000. Submete à Consulta Pública o Regulamento Técnico de

Identidade e Qualidade de Peixe Salgado e Peixe Salgado Seco. Esplanada dos

Ministérios, Bloco D, Anexo "A", sala 452, CEP: 70.043-900 - Brasília/DF.

______. Ministério da Pesca e Aquicultura. MPA. Disponível em:

<http://www.mpa.gov.br/#pesca-artesanal>. Acesso em 25 de fevereiro de 2014.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística. Contagem Populacional, 2004. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 08 de março de 2013.

______. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001.

Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial

da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 de janeiro de 2001. Seção 1, p.

45-53.

BURDA, C. L., POLETTE, M., SCHIAVETTI, A. Análise da Cadeia Causal para a

Criação de Unidade de Conservação: Reserva Extrativista Marinha de Itacaré (BA) –

Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada 7(1):57-67, 2007.

CÂMARA, S.A.V. Surtos de toxi-infecções alimentares no estado de Mato

Grosso do Sul, 1998 – 001. 2002. 79f. Monografia (Especialização em Gestão da

Saúde) – Escola de Saúde pública “Dr. Jorge David Nasser”, Campo Grande, 2002.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

31

CASTRO, G.L.M. Avaliação da qualidade sanitária do pescado salgado seco

comercializado nas feiras livres de Belém-PA. 2009. 56f. Monografia

(Especialização em Veterinária (TCC) de Higiene e Inspeção de Produtos de Origem

Animal – HIPOA) – Universidade Castelo Branco, Belém, 2009.

COSTA, C. S. Comunidades ribeirinhas da Baía do Iguape: cultura, identidade e

representação simbólica dos pescadores artesanais no contexto sócio-

econômico do recôncavo baiano. In: Jornadas de antropologia da UNICAMP:

2012, Campinas. Disponível em <http://www.scielo.br>. Acesso em: 06 de março de

2013.

DI CIOMMO, R. Pescadoras e Pescadores: a questão da eqüidade de gênero em

uma reserva extrativista marinha. Ambiente e Sociedade. v. 10. p. 151-163.

Campinas, 2007.

FADIGAS, A. B. M., GARCIA, L. G., HERNÁNDEZ, M. I. M. As contribuições das

marisqueiras para uma gestão sócio-ambiental em reservas extrativistas.

Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder. P 7. Florianópolis, 2008.

FAO, Corporate Document Repository. Garantia da qualidade dos produtos de

pesca. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Roma,

1997.

FRANCO, B.D.G. de M; LANDGRAF, M. Microbiologia dos Alimentos. São Paulo:

Atheneu, 2008. 182p.

FREITAS, J. M. A., et al. Salga seca e úmida de filés de pacu (Piaractus

mesopotamicus). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, n. 2, p. 613-620,

abr/jun. 2011.

FRIZZO, P. V.; ANDRADE, M. L. Caracterização dos pescadores artesanais do

município de São Lorenço do Sul/RS. 2005. 20f. Dissertação (Mestradro em

desenvolvimento rural) – Programa de Pós Graduação em Deenvolvimento Rural –

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFGRS), Rio Grande do Sul,

2005.

HARTMAN, L., LAGO, R.C. A . Rapid preparation of fatty acid methyl ester from

lipids. Londres : Lab. Pract., v. 22, p. 475-476, 1973.

HEILPORN, C., et al. Implementation of a rational drying process for fish

conservation. Springer Science. Food Sec. 2. P.71–80, 2010.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

32

HUBINGER, M. D., VIVANCO-PEZANTES, D., KUROZAWA, L. E., SOBRAL, P. J. A.

Isotermas de dessorção de filé de bonito (sarda sarda) desidratado osmoticamente e

defumado. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. V. 13, n.3, p.

305-311, 2009.

HUSS, H. H., Garantia da qualidade dos produtos da pesca. Organização das

Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO. Documento Técnico

Sobre as Pescas. Nº 334, pág. 176, Roma, 1997. Disponível em:

http://www.fao.org/docrep/003/t1768p/T1768P00.HTM#TOC. Acesso em 20 de

janeiro de 2014.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos

físico-químicos para análise de alimentos, 4ª Ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,

2008 p. 1020.

JAY, J.M. Microbiologia de Alimentos. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 172p.

KOBLITZ, M. G. Matérias-primas alimentícias: composição e controle de

qualidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

LANKHE, N. G., MAGAGNIN, G., FURLONG, E. B. Determinação de vitamina A em

pescado: adaptação de metodologia. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(3): 151-158, 2003.

LOPES, F. C. O conflito entre a exploração offshore de petróleo e a atividade

pesqueira artesanal. 2004. 57f. Dissertação (Mestrado em Economia) -

Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Instituto de Economia, Rio de Janeiro,

2004.

LÓPEZ-CERVANTES, J., SÁNCHES-MACHADO, D. I., RÍOS-VÁZQUES, N. J. High-

performance liquid chromatography method for the simultaneous quantification of

retinol, alfa-tocopherol, and cholesterol in shrimp waste hydrolysate. Journal of

Chromatography A, 1105, 135–139, 2005.

LUNDGREN, P.U.; SILVA, J.A.; MACIEL, J. F.; FERNANDES, T.M. Perfil da

qualidade higiênico-sanitária da carne bovina comercializada em feiras livres e

mercados públicos de João Pessoa/PB-Brasil. Alim. Nutr., Araraquara ISSN 0103-

4235 v.20, n.1, p. 113-119, jan./mar. 2009.

MANSKE, C. et al. Composição centesimal, microbiológica e sensorial do

jundiá (Rhamdia quelen) submetido ao processo de defumação. Semina:

Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, n. 1, p. 181-190, jan./mar. 2011.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

33

MATSUDA, A. H. Caracterização e Controle de Qualidade de própolis

proveniente de diversas regiões do Brasil. 2006. Dissertação (mestrado em

Ciências dos Alimentos) – Escola de Farmácia, Universidade de São Paulo. São

Paulo, 2006.

MELO, F.V.S.T. et al. Composição Centesimal e perfil de ácidos graxos em bijupirás

(rachycentron canadum) juvenis selvagens e cultivados. Centro Científico

Conhecer, Goiânia, v.8, n.15; p. 4 5 8.

MENEZES, M. E. S., et al., Valor nutritivo de marítima peixes da costa de Alagoas,

Brasil. Rev. Inst. Adolfo Lutz 68(1), 2009.

MORAES, I. V. M. Tecnologia do pescado. Serviço brasileiro de respostas

técnicas. Rio de Janeiro, REDETEC. 2008.

MURAD, C., T. Biologia Reprodutiva, Crescimento e Mortalidade da Guaivira

Oligoplites Saliens (Bloch, 1793) (CARANGIDAE) na Pesca de Emalhe. 2010.

41f. Dissertação (Pós-Graduação em Aquicultura e Pesca do Instituto de Pesca –

APTA – S.A.A.). Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Agência Paulista de

Tecnologia dos Agronegócios. Instituto de Pesca, São Paulo, 2010.

OLIVEIRA, F. R., et al. Efeito do beneficiamento sobre o valor nutricional do peixe

mandim (Arius spixii). Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 44, n. 4,

out./dez., 2008.

ORDOÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos: componentes dos alimentos. V.1.

Porto Alegre: Artmed, 2005.

ORDOÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos: alimentos de origem animal. V.2.

Porto Alegre: Artmed, 2005.

OSAWA, C. C.; FELÍCIO, P. E.; GONÇALVES, L.G. Teste de TBA aplicado a carnes

e derivados: métodos tradicionais, modificados e alternativos. Quim. Nova, Vol. 28,

No. 4, 655-663, 2005.

PROTEÍNAS do peixe: propriedades funcionais das proteínas do peixe. Food

Ingredients Brasil, nº 08, jun.-jul. 2009. Disponível em <www.revista-

fi.com/edicoes_materias_todas.php>. Acesso em: 06 março 2013.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

34

RODRIGUES, J. A; GIUDICE, D.S. A pesca marítima artesanal como principal

atividade socioeconômica: o caso de Conceição de Vera Cruz, BA. Cadernos do

Logepa, João Pessoa, v. 6, n. 2, p. 115, 139, jul./dez. 2011.

SAMPAIO, Cláudio Luis. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem

recebida por <[email protected]> em 1 de março de 2013.

SARTORI, A. G. O., AMANCIO, R. D. Pescado: importância nutricional e consumo

no Brasil. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 19(2): 83-93, 2012.

SOUZA, S.M.G. et al. Ácidos graxos Ômega-3 e Ômega-6 na nutrição de peixes –

fontes e relações. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.6, n.1, p. 63-71,

2007.

TONIAL, I. B. et al. Caracterização físico-química e perfil lipídico do salmão (Salmo

salar L.). Alim. Nutr., Araraquara, v.21, n.1, p. 93-98, jan./mar. 2010.

VASCONCELLOS, L. G. Pesca artesanal e petróleo no Recôncavo baiano: gestão

ambiental federal como mediadora de conflitos. In: Conflitos ambientais e territoriais:

pesca e petróleo no litoral brasileiro, 2012, Sergipe. I Seminário Nacional de

Geoecologia e Planejamento Territorial, Universidade Federal de Sergipe, 2012.

Disponível em: <http://arvore.org.br/seer/index.php/nature/article/viewArticle/292>.

Acesso em: 08 de março de 2013.

VIANA, Z. C. V. Avaliação da composição mineral e centesimal em peixes

consumidos no Estado da Bahia. 2008. 135f. Tese (Pós-Graduação em doutorado

em Química) – Escola de Química, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

35

CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS

ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ

(Gobionellus oceanicus) E PITITINGA (Anchoa sp.) SALGADOS E

SECOS PRODUZIDOS NO RECÔNCAVO BAIANO

EVALUATION AND PHYSICO CHEMICAL CHARACTERIZATION OF

SARDINE (Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus

oceanicus) And Pititinga (Anchoa sp.) FISH SPECIES SALTED AND

DRIED PRODUCED IN BAHIA RECONCAVO

Naiara GONDIM1, Maria P. Spínola MIRANDA2

1 Mestranda em Ciências de Alimentos, Faculdade de Farmácia – Universidade Federal da Bahia

2 Orientadora docente Departamento de Análises Bromatológicas da Faculdade de Farmácia - Universidade Federal da Bahia.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

36

RESUMO

No presente foram realizadas análises e estudo da composição físico-química de

peixes miroró (Gobionellus aceanicus), sardinha (Opisthonema oglinum) e pititinga

(Anchoa sp.) salgados e secos procedentes da região estuarina de Acupe, Saubara,

Cachoeira, São Féliz e Santo Amaro situadas no Recôncavo Baiano. Amostras de

tres espécie de peixes foram coletadas durante o outono (meses de abril a junho de

2013). Foram realizadas análises da composição centesimal umidade, proteína,

cinzas, lipídios, carboidratos, pH, atividade de água (Aw), acidez titulável e ácidos

graxos. A composição centesimal foi realizada conforme metodologia da AOAC e a

composição de ácidos graxos foi realizada por cromatografia gasosa com previa

esterificação das amostras de acordo com Ackerman. Os resultados obtidos

demonstram que os peixes salgados e secos são importantes fontes de proteína e

baixo teor de lipídios. No perfil de ácidos graxos foram identificados 16 ácidos

graxos, sendo o ácido C16:00 (ácido palmítico) o que apresentou maior

concentração nas três espécies analisadas (10,47% em sardinhas e 8,5% na

pititinga). Quanto aos teores de ácidos graxos totais (TS) a sardinha foi tambem a

que apresentou maior concentração 19,71%. A pesquisa revela a importância do

consumo destes peixes pela população da região do Recôncavo baiano por se tratar

de alimentos com alto elevado valor nutritivo, embora ainda sejam negligenciados,

inclusive pela falta de estudos..

Palavras-chave: Peixes salgados. Composição centesimal. Recôncavo baiano.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

37

ABSTRACT

This present study analyzed the composition physical chemistry of miroró fishes

(Gobionellus aceanicus), sardine (Opisthonema oglinum) and pititinga (Anchoa sp.)

salty and dried derived from the estuarine region of Acupe, Saubara, Cachoeira, São

Félix and Santo Amaro located at the Recôncavo Baiano. Three samples of each fish

species were collected during the fall (april to june, 2013). It were made analysis of

the centesimal composition humidity, protein, ashes, lipids, carbohydrate, ph, water

activity (Aw), titratable acidity and fatty acids. The centesimal composition was made

according to the AOAC methodology, and the fatty acids composition was made by

gas chromatography using previous esterification by Ackerman. The results obtained

demonstrated that the salty and dried fishes are important sources of protein and

content of lipids. In the fatty acids profile were identified 16 fatty acids, being the acid

C16:00 (palmitic acid) the one which presented larger concentration between the two

species analyzed (10,47% in sardines and 8,5% in pititinga). Regarding the yields of

total fatty acids (TS) sardines was also presented the highest concentration 19.71%.

The survey also reveals the importance of the consumption of these fish by the

people of the Bahian reconcavo region because it is food with high nutritional value

high, although they are still neglected, including a lack of studies ..

Keywords: Salted Fishes. Centesimal composition. Bahia reconcavo.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

38

1. INTRODUÇÃO

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição

e alto valor nutritivo. Condições estas que favorecem um excelente meio de cultura

para o desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Devido à sua

perecibilidade, a comercialização do pescado em regiões distantes da costa

geralmente é dada, principalmente, após processo industrial de conservação, tais

como: congelamento, secagem e salga (MORAES, 2008; FREITAS, 2011).

Dessa forma, a utilização das diversas formas de processamento e

conservação do pescado se faz necessário para agregar valor aos produtos e

favorecer o maior consumo de produtos à base de peixe (FREITAS, 2011).

A composição química do pescado tem como seu principal componente a

água que varia entre 64% a 90%, seguido de proteínas de 8% a 23%, gorduras de

0,5% a 25%, resíduo mineral de 1% a 2%, e carboidratos menos de 1% (ANDRADE

2009; PROTEÍNAS, 2013). As diferenças entre o tipo e o teor dos componentes

nutricionais e respectivas concentrações, são devidas a características genéticas,

idade, peso, habitat, época do ano, qualidade e quantidade de alimentos disponíveis

(ALMEIDA, 2006; BASTOS, 2006; ANDRADE 2009; MENEZES, 2009; KOBLITZ,

2011).

Em geral, o pescado íntegro contém 64% a 90% de umidade, com exceções

de água-viva e pepino-do-mar. O processo de secagem corresponde à redução de

umidade no pescado, onde não deve conter mais que 35% de água no pescado

salgado-seco (BRASIL, 1997; OLIVEIRA, 2008).

A água é um fator individual que mais influi na alteração dos alimentos, este

conteúdo de água é expresso pelo valor obtido na determinação da água total

contida no alimento. O teor de água livre é expresso como atividade de água

(BOBBIO, 2001; ORDOÑEZ, 2005).

Os minerais são elementos inorgânicos necessários para todas as formas de

vida. Sua concentração varia quantitativamente apenas em função da qualidade da

água ambiente e sua alimentação. Contudo, quando se trata de pescado salgado e

seco o parâmetro cinza será influenciado diretamente pela quantidade de cloreto de

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

39

sódio adicionada durante o processo tecnológico. (ORDOÑEZ, 2005; VIANA, 2008;

MÁRCICO, 2009; KOBLITZ, 2011).

Composto cada vez mais importante na nutrição humana, os lipídios são

fontes importantes de energia para o organismo. Quando estes são provenientes de

pescado, são de modo geral fonte importante de ácidos graxos poli-insaturados

(AGPI), especialmente de ômega-3 (BASTOS, 2006; SARTORI, 2012). Em geral,

peixes marinhos são caracterizados por apresentar uma relação n-3/n-6 alta,

variando entre 5 a mais que 10. Isto se deve ao alto conteúdo de PUFAs de cadeia

longa da série n-3 de algumas espécies de fitoplâncton marinho, contidos em sua

dieta (SOUZA et al, 2007).

Devido à escassez de informações na literatura a respeito desses peixes

marinhos de pequeno porte, o presente trabalho teve como objetivo determinar a

composição centesimal e propriedades físico-químicas das espécies de peixes

sardinha (Opisthonema Oglinum), pititinga (Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus

Oceanicus) salgados e secos comercializados no Recôncavo Baiano.

2. MATERIAL E MÉTODOS.

Considerando a influência da sazonalidade, as coletas foram realizadas

durante o período de outono, entre os meses de abril e maio de 2013. Obtivemos

seis coletas de três espécies diferentes de peixes pequenos: sardinha (Opisthonema

Oglinum), pititinga (Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus Oceanicus). Espécies das

mais consumidas na região do Recôncavo Baiano nas cidades de Acupe, Saubara,

Cachoeira, São Féliz e Santo Amaro, sendo capturados e processados em maior

escala nas cidades de Saubara e Acupe.

As coletas foram realizadas em intervalos de 15 dias entre uma coleta e

outra. Todos os experimentos foram realizados em triplicata. A fim de que os dados

obtidos refletissem a média da composição confiável que represente a população

explorada, no presente estudo não foi levado em consideração a idade e o sexo dos

peixes, mas apenas o peso e quantidade de indivíduos coletados.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

40

2.1 OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS

Devido a sazonalidade das espécies, não foi possível coletar todos os tipos

de peixes a serem estudados em cada coleta, sendo necessário haver 06 coletas

diferentes para se obter um total de 03 coletas por espécie. As amostras foram

coletadas em feiras livres de modo secos e salgados, da mesma forma de consumo

da população local, transportadas em sacos 3M estéreis e em caixa com isolante

térmico para preservar suas características para as análises microbiológica e físico-

química, armazenadas em freezer e analisadas no intervalo entre 02 (dois) a 15

(quinze) dias após a coleta.

As amostras foram adquiridas em feiras livres. A média por coleta foi de 200

unidades de sardinhas (peso médio de 15g), 147 unidades de pititinga (peso médio

de 2,03g) e 184 unidades de miroró (peso médio de 1,63g), todos nas mesmas

condições de comercialização para a população regional, salgados e secos, sem

presença das entranhas (vísceras) e encaminhas para o Laboratório de Pesquisa

em Análises de Alimentos, Aditivos e Contaminantes (LAPAAC).

2.2 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS

Para as análises físico-químicas foram acondicionados 300g de peixe em

sacos plásticos 3M estéreis, sendo que cada saco plástico 3M estéreis

acondicionaram 200g para análises microbiológicas e 100g para análises físico-

químicas. Devido aos peixes serem de porte pequeno, foi necessário vários

indivíduos para compor a gramatura necessária por coleta. Os peixes foram

coletados e analisados com cabeça e cauda, sendo a sardinha eviscerada.

Para cada espécie foi adquirido um total de 300g, em cada coleta, e

encaminhadas para o Laboratório de Pesquisa em Análises de Alimentos, Aditivos e

Contaminantes (LAPAAC).

Após a identificação visual e tática de cada espécie, as amostras foram

trituradas separadamente em processador de alimentos. As análises físico-químicas

foram realizadas para determinar teores de umidade, cinzas, lipídios, proteínas e

carboidratos por diferença, determinar o pH, acidez titulável e atividade de água (aw)

e identificar presenças de ácidos graxos.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

41

Para a determinação da atividade de água (Aw), alíquotas previamente

moídas e homogeneizadas em triplicatas foram introduzidas na célula do

equipamento e realizada a medição direta no aparelho Aqualab Lite®. O resultado foi

expresso em atividade de água relativa à temperatura no instante da medição.

A determinação de pH foi realizada por meio da medida em pHmetro digital,

de acordo com a metodologia n° 350/IV descrita no IAL (2008).

A análise de acidez titulável foi determinada com solução de hidróxido de

sódio (NaOH) 0,1M, usando como indicador fenolftaleína, segundo método nº 320/IV

do IAL (2008).

A umidade foi determinada pela perda de peso em estufa regulada a 105°C,

segundo AOAC (2012).

As cinzas foram obtidas por incineração de quantidade conhecida da

amostra, em mufla a 550°C, até obtenção de peso constante AOAC (2012).

As análises de proteínas foram realizadas pelo método de Kjeldahl, de

acordo com a metodologia (AOAC, 2000).

Os lipídios totais foram obtidos por meio da extração por Bligh Dyer

modificado para pescado, segundo método Bligh Dyer (1959).

Os carboidratos foram obtidos por diferença das análises de umidade,

cinzas, proteínas e lipídios.

2.1.1 Perfil de ácidos graxos

Para a determinação da composição de ácidos graxos da fração lipídica foi

realizada a esterificação dos ácidos graxos dos lipídios totais, segundo Joseph &

Ackman (1992).

Uma alíquota dos lipídios totais (entre 20 a 25mg) foi submetido à reação de

saponificação com NaOH 0,5M em metanol, seguida de metilação com catalisador

BF3 (12% em metanol). Todas as etapas do processo foram realizadas sob

atmosfera de nitrogênio gasoso.

A separação dos ésteres metílicos de ácidos graxos (EmAG) foi realizada em

cromatógrafo a gás (Varian 3800), equipado com detector de ionização de chama

(CG-DIC), e coluna capilar de sílica fundida ELITE-WAX (30mx0,32mmx0,25μm). As

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

42

injeções foram realizadas em duplicatas para cada amostra e o volume de injeção foi

de 1μL.

A identificação dos ácidos graxos foi realizada por comparação dos tempos

de retenção dos picos das amostras com o tempo de retenção dos EmAG de padrão

mix (189-19, Sigma, EUA).

A quantificação dos ácidos graxos foi realizada pelo método de normalização

através das áreas dos picos e os resultados de ácidos graxos foram expressos em

percentagem relativa de área (%).

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

43

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO. Análises Físico-químicas

As frequências médias de atividade de água Aw, pH e acidez titulável (%)

respectivamente para as espécies: Sardinha, Miroró e Pititinga encontram-se

expressos na Tabela 1.

Tabela 1. Atividade de água, pH e Acidez das amostras de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.

Amostra/composição Aw

(média±desvio padrão) pH

(média±desvio padrão) Acidez %

(média±desvio padrão)

Sardinha 0,756 ±0,026 6,470±0,124 10,951±2,425

Miroró 0,684±0,005 6,180±0,222 17,644±2,835

Pititinga 0,708±0,023 6,850±0,194 9,126±2,755

Verifica-se que os valores de pH para as três espécies foram semelhantes.

Ao compararmos com dados obtidos por outros pesquisadores observa-se que

estudos realizados no Rio Grande do Sul por Torres, et al (2012), os valores de pH

para a traíra variaram entre 6,39 e 6,42, e para o pintadinho a faixa foi entre 6,12 e

6, 22, valores portanto semelhantes ao peixe miroró. Porém vale ressaltar que os

valores de pH encontrados por Torres, et al (2012), foram realizados em peixes

considerados frescos estando portanto dentro dos parâmetros da legislação que,

segundo Brasil (1997), o pH deve se manter entre 6,0 e 6,5.

No que se refere à atividade de água (Aw) os valores médios encontrados

neste estudo variaram de 0,68 a 0,75 para as três espécies e são semelhantes aos

encontrados por Nunes (2013) de Aw média de 0,73. Lima e Santana (2011)

encontraram valores de atividade de água variando de 0,74 a 0,75 que, de acordo

com Jay (2005), é considerado um alimento de umidade intermediária e estável por

apresentar Aw entre 0,60 e 0,85. Todavia, a Aw não é considerada nas legislações

como parâmetro de qualidade para peixes salgados e secos. No entanto, devido a

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

44

importância deste parâmetro na estabilidade dos produtos é necessário que se

utilize o valor de Aw de 0,75 como limite máximo para peixes salgados e secos.

Em relação à composição centesimal (Tabela 2), no que se refere à umidade

verifica-se que a sardinha foi a espécie que apresentou os maiores valores, seguido

da pititinga. Os valores encontrados para sardinha e pititinga respectivamente

(42,070±2,695 e 37,280±5,976) encontram-se superiores aos valores preconizados

pela Legislação Brasil (1997), enquanto que o teor de umidade encontrado no peixe

miroró está dentro dos parâmetros estabelecidos nesta mesma legislação para

pescado salgado e seco, produto obtido pela dessecação do pescado íntegro tratado

previamente pelo sal (cloreto de sódio), que não deve conter mais de 35% (trinta e

cinco por cento) de umidade, nem mais de 25% (vinte e cinco por cento) de resíduo

mineral fixo total.

Os parâmetros de umidade apresentaram algumas faixas fora dos padrões

especificados pela legislação, isso pode ter ocorrido devido ao tempo e estação

chuvosa não permitindo a completa secagem dos peixes, uma vez que o

procedimento é realizado ao ar livre submetido ao sol.

Tabela 2. Composição centesimal de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes pequenos salgados e secos, comercializados no recôncavo.

Amostra/composição

Umidade (g/100g)

(média±desvio padrão)

Teor de Cinzas (g/100g)

(média±desvio padrão)

Lipídios (g/100g)

(média±desvio padrão)

Proteína (g/100g)

(média±desvio padrão)

Carboidratos por diferença

(g/100g) (média±desvio

padrão)

Sardinha 42,070±2,695 18,148±0,795 7,843±0,030 27,00±2,4665 1,602±1,29

Miroró 32,990±2,931 18,167±0,140 3,643±0,187 45,192±2,576 0,02±1,50

Pititinga 37,280±5,976 18,002±0,456 6,021±0,019 38,610±1,661 0,089±2,71

Porém, se comparado aos padrões do Ministério da Agricultura (BRASIL,

2000), verifica-se que o miroró encontra-se na faixa média que preconiza valores

máximos para peixes salgados secos, sendo peixe gordo - máximo de 40% e peixe

magro - máximo de 45%. Enquanto isso, o peixe sardinha encontra-se com valores

médios fora da faixa de teor de umidade. Já para o peixe pititinga encontra-se com

valores médios na faixa, porém algumas amostras apresentaram índices fora da

faixa de valores, de acordo com o desvio padrão apresentado.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

45

Entretanto, vale ressaltar que o período da coleta das amostras (outono) na

região do Recôncavo Baiano é bastante chuvoso, o que pode ter influenciado

significativamente nos resultados, uma vez que estas espécies são secas ao sol e a

sardinha possui maior massa muscular do que o miroró.

Por outro lado, os resultados das análises de Arapaima Gigas apresentados

na tese de doutorado realizada por Nunes (2013), revela valores médios de umidade

bem mais elevados do que os encontrados neste estudo 46,99 ± 3,71g/100g.

Castro (2009), ao avaliar os peixes secos e salgados comercializados em

feiras livres do município de Belém, encontrou teor de umidade nas amostras

oscilando entre e 33,94% e 56,51%

Lourenço et al (2001), ao estudarem pescada-branca salgada e seca em

secador solar, observaram teores médios de 35,9% de umidade após 15 horas de

secagem no músculo de pescada branca salgada e seca em secador solar. Hilbig et

al (2008), ao estudarem tilápias submetidas à salga e secagem, constataram teor

médio de 52,01% de umidade em músculos de tilápias salgadas após 7 dias de

secagem. Ferreira et al (2002) afirmam que produtos secos que não atingiram os

níveis recomendados de umidade, ficando parcialmente secos, devem ser

conservados à baixa temperaturas para evitar a deterioração.

Ao analisar amostras de bacalhau e peixes salgados em supermercados e

empresas importadoras do Estado de São Paulo, Lima e Santana (2011)

encontraram teores médios de umidade variando entre 49,4 e 52,3%, em que

apenas uma amostra de bacalhau do Atlântico, uma de bacalhau do Pacífico, uma

de Saithe e uma de Zarbo estavam dentro dos limites sugeridos pela proposta

brasileira, de no máximo 45% e discutem ainda que esses valores se aproximaram

do limite superior de alimentos de umidade intermediária, ou seja, de 15 a 50%

(JAY, 2005) e acima do valor máximo de 45% estabelecido pela proposta brasileira

(BRASIL, 2000). Por outro lado, a Legislação portuguesa considera as diferentes

formas de processamento para estabelecer limites inferiores e superiores para os

teores de umidade, demonstrando uma melhor adequação desta metodologia, uma

vez que esses peixes foram provindos desta região.

Os teores de cinzas variaram na proporção dos níveis de sal adicionados às

amostras. As cinzas são, na verdade, uma maneira indireta de avaliar a absorção do

sal, porque o cloreto não se decompõe em temperaturas até 550 °C (SANT’ANA,

2003).

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

46

Todos os peixes analisados apresentaram teores de cinzas de acordo com o

estabelecido por Brasil (1997) que rege valor máximo de 25% para pescado salgado

e seco, e os valores encontrados para os peixes sardinha, miroró e pititinga variaram

entre 17,5 a 18,9%.

Em relação ao teor de proteína encontrado nas amostras avaliadas os

valores foram bastante elevados, sendo 30,34, 45,192 e 38,61 g/100g, para os

peixes sardinha, miroró e pititinga respectivamente, podendo enquadrar estes

produtos como fonte proteica importante. Esses valores encontrados foram bem

superiores aos valores encontrados por Tonial et al (2010) ao estudarem o teor

proteico em salmão encontraram 17,89% para o salmão in natura e 22,71% para o

salmão grelhado. Com relação ao teor proteico da sardinha, os valores encontrados

foram mais elevados que os valores reportados por Viana (2008) e por Bruschi

(2001), valores de 20 e 18%.

Os valores de carboidratos obtidos por diferenças variaram entre as espécies

de 0 a 2,8%, estando, alguns valores, em conformidade com os autores Almeida

(2006), Bastos (2006), Andrade (2009), Menezes (2009) e Koblitz (2011), afirmam

que os peixes possuem menos de 1% de carboidratos.

Quanto ao teor de lipídios, de acordo com os resultados obtidos, o peixe

miroró pode ser considerado uma espécie magra, uma vez que apresenta percentual

médio de lipídios de 3,64g ±0,187, enquanto as espécies sardinha e pititinga

apresentaram teores de 7,84g/100g e 6,02g/100g respectivamente, e enquadram-se

como espécies gordas, de acordo com Penfield e Campbell (1990), que classificam

os peixes, quanto ao teor de gordura em, magros (abaixo de 5% de gordura) ou

gordos (acima de 5% de gordura).

Estas espécies de peixes habitam águas tropicais. No local onde as

amostras foram capturadas, corresponde a região estuarina, portanto ricas em

alimentos marinhos, em especial plâncton, que pode diretamente influenciar a

composição destas espécies.

3.1.1 Perfil de ácidos graxos

No perfil de ácidos graxos foram identificados 16 ácidos graxos (Tabela 3),

sendo o ácido C16:00 (ácido palmítico) o que apresentou maior concentração nas

três espécies analisadas. Quanto aos teores de ácidos graxos totais (TS) o peixe

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

47

sardinha foi o que apresentou maior concentração 19,71%, seguido do pititinga

18,25% e miroró 8,49%. Em relação aos ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) o

miroró foi o que apresentou maior concentração 4,90%, seguida da pititinga 4,78% e

por sardinha 4,21%. Os ácidos graxos de menores concentrações apresentadas

foram os poli-insaturados (PUFA), de concentrações de 1,24, 1,51 e 1,52% dos

peixes sardinha, pititinga e miroró, respectivamente.

Tabela 3. Perfil de ácidos graxos de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes pequenos salgados e secos, comercializados no recôncavo.

Ácidos graxos / peixes

Sardinha (% média)

Miroró (% média)

Pititinga (%média)

C14:0 1,46 0,35 1,58

C15:0 0,55 2,17 0,44

C16:0 10,47 3,04 8,5

C16:1 1,57 0,68 2,05

C17:0 0,76 0,98 -

C17:1 - 1,66 -

C18:0 3,89 0,63 2,81

C18:1 2,64 1,17 2,73

C18:2 0,94 0,73 0,86

C18:3 0,34 - 0,65

C20:0 - 0,66 -

C20:1 - 0,61 -

C22:0 0,88 - 1,52

C22:6 - 0,79 -

C24:0 1,70 0,66 3,40

C24:1 - 1,78 -

Total TS 19,71 8,49 18,25

Uma forma de conhecer as exigências lipídicas dos peixes é fazer uma

avaliação da relação ótima entre as séries de seus ácidos graxos em animais

saudáveis em seu habitat natural. Segundo Souza, et al (2007), peixes marinhos são

caracterizados por apresentar uma relação n-3/n-6 (MUFA/PUFA) alta, variando

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

48

entre 5 a mais que 10. Geralmente, ácidos graxos n-3 dominam sobre ácidos graxos

n-6, numa proporção de 5-20 em alimentos marinhos.

Porém, a relação encontrada nos peixes estudados salgados e secos foi de

3,4 para a sardinha, 3,2 para o miroró e 3,1 para a pititinga. Esses valores inferiores,

comparados à literatura, podem ter sido devido à degradação dos ésteres metílicos

no processo de salga e secagem dos peixes. Entretanto, esses valores foram

relativamente altos levando em consideração o baixo teor lipídico encontrado nestes

peixes.

Pode-se dizer que a alta concentração desses ácidos saturados, e relação n-

3/n-6, nos peixes analisados, deve-se à alimentação, que é baseada no consumo de

micro invertebrados aquáticos e fitoplanctos, alimentos ricos em ômega-3 como o

ácido eicosapentaenóico (EPA, 20:5n-3) e docosahexaenóico (DHA 22:6n-3)

(SOUZA, et al, 2007; TONIAL, et al, 2010).

Segundo Souza, et al (2007), outro índice utilizado para avaliar o valor

nutricional de óleos e gorduras é a razão entre ácidos graxos poli-

insaturados/saturados (PUFA/TS), cujos valores inferiores a 0,45 têm sido

considerados como indesejáveis à dieta por sua potencialidade na indução do

aumento de colesterol sanguíneo .No estudo devido às modificações ocorridas

devido aos processos de salga e secagem esta relação não é adequada.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

49

4. CONCLUSÃO

Diante dos resultados expostos, este estudo mostra que, apesar dos peixes

serem comercializados em feiras livres, eviscerados salgados e secos

artesanalmente e estocados em temperatura ambiente, a qualidade físico-química

no que diz respeito ao e pH e cinzas destes peixes permanece dentro dos padrões

estabelecidos pela legislação vigente.

Os resultados obtidos demonstram que os peixes secos salgados são fontes

importantes de proteínas e de lipídios. A relação MUFA/ PUFA Omega -6/Omega- 3

para a sardinha, miroró e pititinga foi de uma relação aproximada de 4:1. Estes

valores são preconizados para o equilíbrio destes ácidos para o organismo.

A pesquisa revela também a importância destes peixes, ainda

negligenciados, para a população local, por se tratar de uma das principais formas

de alimentação por parte da população da região do Recôncavo baiano. Embora não

tenham sido encontrados trabalhos similares com estes peixes de pequeno porte,

por tratar-se de um estudo pioneiro com estas espécies os resultados obtidos são

relevantes. Pois além de agregar valor aos produtos avaliados, estimulam a

continuidade de pesquisas ensejando a melhoria da qualidade destes.

Nesta linha outros estudos já estão sendo conduzidas para avaliar de forma

plena estas espécies de peixes que habitam águas tropicais e hábitos alimentares

da região onde as amostras foram capturadas, estas espécies tem o potencial de ser

fonte de importância nutricional para as populações estuarinas.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

50

REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. M., BUENO FRANCO, M. R. Influência da dieta alimentar na

composição de ácidos graxos em pescado: aspectos nutricionais e benefícios à

saúde humana. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 65 (1):7-14, 2006.

ALMEIDA, N. M., BUENO FRANCO, M. R. Influência da dieta alimentar na

composição de ácidos graxos em pescado: aspectos nutricionais e benefícios à

saúde humana. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 65(1):7-14, 2006.

ANDRADE, G. Q., BISPO, E. S., DRUZIAN, J. I. Avaliação da qualidade nutricional

em espécies de pescado mais produzidas no Estado da Bahia. Ciência e

Tecnologia de Alimentos, Campinas, 29(4): 721-726, out.-dez. 2009.

ANDRADE, G. Q., BISPO, E. S., DRUZIAN, J. I. Avaliação da qualidade nutricional

em espécies de pescado mais produzidas no Estado da Bahia. Ciências e

Tecnologia de Alimentos, Campinas, 29(4): 721-726, out.-dez. 2009.

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. . Official methods of

analysis. 19th ed. Washington, USA: AOAC. 2012.

BASTOS, A. L., et al. Perfil de ácidos graxos da pele e músculos de Balistes

capriscus e Menticirrhus litoralis, pescados na região sul do Brasil. Rev. Inst. Adolfo

Lutz, 65(2):94-99, 2006.

BLIGH,E.G. and DYER,W.J.A rapid method for total lipid extraction and purification.

Can.J.Biochem.Physiol. 37:911-917. 1959.

BOBBIO, P. A, BOBBIO, F. O. Química do processamento de alimentos. 3ª Ed.

São Paulo: Varela, 2001.

BRASIL. Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa

Agropecuária. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal.

Regulamento da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal.

Aprovado pelo Decreto n. 30.691, 29 mar. 1952, alterado pelos Decretos n.1255, 25

jun. 1962, 1236, 02 set. 1994, 1812, 08 fev. 1996 e 2244, 04 jun. 1997. Diário Oficial,

Brasília, 05 jun. 1997. Seção 1, p.1155-1156.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

51

______. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria N°52, de 29

de Dezembro de 2000. Submete à Consulta Pública o Regulamento Técnico de

Identidade e Qualidade de Peixe Salgado e Peixe Salgado Seco. Esplanada dos

Ministérios, Bloco D, Anexo "A", sala 452, CEP: 70.043-900 - Brasília/DF.

BRUSCHI, F.L.F. Rendimento, composição química e perfil de ácidos graxos de

pescados e seus resíduos: uma comparação. 2001. 65f. Trabalho de conclusão

(Graduação em oceanografia) – Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar,

Universidade do Vale de Itajaí, Itajaí, Santa Catarina.

FAO, Corporate Document Repository. Garantia da qualidade dos produtos de

pesca. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Roma,

1997.

FERREIRA, M.W. & et al. Pescados Processados: maior vida de prateleira e maior

valor agregado. Boletim de Extensão Rural. Universidade Federal de Lavras, 2002.

FREITAS, J. M. A., et al. Salga seca e úmida de filés de pacu (Piaractus

mesopotamicus). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, n. 2, p. 613-620,

abr/jun. 2011.

HILBIG, J. & et AL. Avaliação físico-química e microbiológica de tilápias

submetidas à salga e secagem. XVI Encontro de Química da Região Sul.

Universidade Regional de Blumenal. Blumenal-SC, 2008.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos

físico-químicos para análise de alimentos, 4ª Ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz,

2008 p. 1020.

JAY, J. M. Microbiologia de Alimentos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 711 p.

JOSEPH, J. D.; ACKMAN, R. G. Capillary column gas chromatographic method for

analysis of encapsulated fish oils and fish oil ethyl esters: collaborative study.

Journal of AOAC International, v.75, p. 488-506, 1992.

KOBLITZ, M. G. Matérias-primas alimentícias: composição e controle de

qualidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

KOBLITZ, M. G. Matérias-primas alimentícias: composição e controle de

qualidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

52

LANKHE, N. G., MAGAGNIN, G., FURLONG, E. B. Determinação de vitamina A em

pescado: adaptação de metodologia. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 62(3): 151-158, 2003.

LIMA, E.J.V.M; SANTANA, L.S. Determinação de atividade de água, umidade e sal

em peixes salgados e secos importados. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 14,

n. 2, p. 125-129, abr./jun. 2011.

LOURENÇO, L.F.H.; FERNANDES, G.M.L.; CINTRA, I.H.A. Características físicas,

químicas e microbiológicas da pescada-branca Plagioscion squamosissimus

(Heckel) salgada e seca em secador solar. Boletim Técnico Científico

CEPNOR/IBAMA. Belém. V.1, n.1, pág. 135-144, 2001.

MANSKE, C. et al. Composição centesimal, microbiológica e sensorial do jundiá

(Rhamdia quelen) submetido ao processo de defumação. Semina: Ciências

Agrárias, Londrina, v. 32, n. 1, p. 181-190, jan./mar. 2011.

MÁRCICO, E. T., et al. Parâmetros físico-químicos de qualidade de peixe salgado e

seco (bacalhau) comercializado em mercados varejistas. Rev Inst Adolfo Lutz,

68(3):406-10,2009.

MENEZES, M. E. S., et al., Valor nutritivo de marítima peixes da costa de Alagoas,

Brasil. Rev. Inst. Adolfo Lutz 68(1), 2009.

MORAES, I. V. M. Tecnologia do pescado. Serviço brasileiro de respostas

técnicas. Rio de Janeiro, REDETEC. 2008.

Nunes ES. Avaliação físico-quimica e microbiológica de pirarucu Arapaima gigas

salgado seco. Comercializado em Belém-Pará. Disponível em <http://www.uff.br/

higiene_veterinaria/teses/emiliaconceicao.pdf. Acesso em 28/06/2013.

OLIVEIRA, F. R., et al. Efeito do beneficiamento sobre o valor nutricional do peixe

mandim (Arius spixii). Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 44, n. 4,

out./dez., 2008.

ORDOÑEZ, J. A. Tecnologia de alimentos: componentes dos alimentos. V.1.

Porto Alegre: Artmed, 2005.

PENFIELD, M.P.; CAMPBELL, A.M. Experimental Food Science. 3. ed. San Diego:

Academic Press, 1990.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

53

PROTEÍNAS do peixe: propriedades funcionais das proteínas do peixe. Food

Ingredients Brasil, nº 08, jun.-jul. 2009. Disponível em < www.revista-

fi.com/edicoes_materias_todas.php>. Acesso em: 06 março 2013.

SARTORI, A. G. O., AMANCIO, R. D. Pescado: importância nutricional e consumo

no Brasil. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 19(2): 83-93, 2012.

SOUZA, S.M.G. et al. Ácidos graxos Ômega-3 e Ômega-6 na nutrição de peixes –

fontes e relações. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.6, n.1, p. 63-71,

2007.

TONIAL, I. B. et al. Caracterização físico-química e perfil lipídico do salmão (Salmo

salar L.). Alim. Nutr., Araraquara, v.21, n.1, p. 93-98, jan./mar. 2010.

TORRES, L.M. et al. Composição em ácidos graxos de traíra (Hoplias malabaricus)

e pintadinho (sem classificação) provenientes da Região Sul do Rio Grande do Sul e

Índia Morta no Uruguai. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 33, n. 3, p. 1047-

1058, maio/jun. 2012

VIANA, Z. C. V. Avaliação da composição mineral e centesimal em peixes

consumidos no Estado da Bahia. 2008. 135f. Tese (Pós-Graduação em doutorado

em Química) – Escola de Química, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.

VIANA, Z. C. V. Avaliação da composição mineral e centesimal em peixes

consumidos no Estado da Bahia. 2008. 135f. Tese (Pós-Graduação em doutorado

em Química) – Escola de Química, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

54

CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DAS ESPÉCIES

DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ

(Gobionellus oceanicu) E PITITINGA (Anchoa sp.) SALGADOS E

SECOS COMERCIALIZADOS NO RECÔNCAVO BAIANO

MICROBIOLOGICAL QUALITY ASSESSMENT OF FISH SPECIES

SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus

oceanicu) AND PITITINGA (Anchoa sp.) DRIED SALTED AND SOLD

IN BAHIA RECONCAVO.

Naiara GONDIM1, Maria P. Spínola MIRANDA2, Clícia Capibaribe LEITE3

1 Mestranda em Ciências de Alimentos, Faculdade de Farmácia – Universidade Federal da Bahia

2 Orientadora docente Dep Análises Bromatológicas da Faculdade de Farmácia - Universidade Federal da Bahia.

3 Docente colaboradora do Dep Análises Microbiológicas de Alimentos da Faculdade de Farmácia - Universidade Federal da Bahia.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

55

RESUMO

O pescado constitui excelente fonte alimentar devido ao seu alto valor nutritivo. Por

conta da sua perecibilidade, vários processos de conservação são indicados.

Condições inadequadas de manuseio e conservação podem acarretar em grande

risco à saúde. Devido à importância da comercialização desses peixes marinhos

secos e salgados por pescadores artesanais e consumidos pela população da

região, o presente trabalho teve como objetivo a avaliação da qualidade

microbiológica e fatores determinantes da qualidade das espécies de peixes

sardinha (Opisthonema oglinum), pititinga (Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus

oceanicus) salgados e desidratados comercializados no Recôncavo Baiano. Foram

coletadas seis lotes de amostras de três espécies diferentes de peixes pequenos

mais consumidos na região no outono de 2013: sardinha, pititinga e miroró. Estas

espécies foram submetidas às análises de atividade de água (aw), teor de oxidação

por Ácido Tiobarbitúrico (TBA) e atividade microbiológicas quanto a coliformes totais

(NMP/g), estafilococos coagulase positiva (UFC/g) e presença de salmonella sp. em

25g. Quanto ao teor de aw os peixes das espécies citadas apresentaram resultados

variando de 0,68 a 0,75,o teor de TBA variou de 0.92 a 3,78. Quanto às análises

microbiológicas, todas as amostras alcançaram atendimento à legislação vigente. Os

resultados permitiram evidenciar a qualidade aceitável dos peixes de maior

comercialização em feiras na região do Recôncavo baiano, indicando níveis

microbiológicos aceitáveis. Índices de grande importância devido ao alto consumo

pela população local.

Palavras-chave: Peixes. Microbiologia de alimentos. Comercialização em feiras. Recôncavo Baiano.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

56

ABSTRACT

The fish is an excellent food source due to its high nutritional value. Due to the

perishability, lots of conservation processes are indicated. Inadequate conditions of

handling and conservation can cause large risk to the health. Due to the importance

in commercializing (by artisanal fishermen) these salty, dried marine fishes and

consumed by the population from the region, this present work had as its goal the

avaliation of microbiological quality and determinant factores from the species of

fishes sardine (Opisthonema oglinum), pititinga (Anchoa sp.) and miroró

Ggobionellus oceanicus) that are salty, dehydrated and marketed at theBahia

reconcavo. It was taken six samples from three different species of small fishes in

October, 2013: sardine, pititinga and miroró, species more consumed at the Bahia

reconcavo. These species were submitted to the analysis of water activity (aw),

oxidation content by tiobarbitúric Acid (TBA) and microbiological activity according to

the total Coliforms (NMP/g), staphylococcus coagulase positive (UFC/g) and

presence of salmonella sp. em 25g. Talking about content of aw, the fishes from the

specified species obtained results varying from 0,68 to 0,75, its content of TBA varied

from 0,92 to 3,78. Talking about microbiological analysis, all the samples were

complied with the actual legislation. The results allowed to evidence the acceptable

quality of the fishes that are more marketed at markets from Bahia reconcavo region,

indicating acceptable microbiological levels, very important indexes due to the high

consume by local population.

Keywords: Fishes. Microbiology. Bahia recôncavo. TBA.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

57

1. INTRODUÇÃO

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição

e alto valor nutritivo, condições estas que favorecem o desenvolvimento de

microrganismos patogênicos. Devido à sua perecibilidade, a comercialização do

pescado em regiões distantes da costa geralmente é dada, principalmente, após

processo de conservação, tais como: congelamento, secagem e salga (MORAES,

2008; FREITAS, 2011).

Deste modo, as diversas formas de processamento e conservação do

pescado se faz necessário para agregar valor aos produtos e favorecer o maior

consumo de produtos à base de peixe (FREITAS, 2011).

Os microrganismos encontrados no pescado provêm do próprio animal ou

podem contaminá-lo durante os processos de manipulação. Sendo as condições

higiênicas nos locais de processo de evisceração e salga, tempo de exposição à

temperatura ambiente, condições de estocagem e distribuição nos locais de

comercialização, fatores determinantes de sua qualidade microbiológica

(LUNDGREN, 2009).

Deve-se considerar ainda que nas feiras livres os alimentos de origem

animal, e seus produtos derivados, ficam expostos sob condições insalubres,

sujeitos à ações diretas dos microrganismos patogênicos ou não, provenientes da

contaminação do ambiente e poluição ambiental, como também de insetos, quando

não estão adequadamente acondicionados ou embalados. Em alimentos

processados, a presença de um número elevado desses microrganismos indica

processamento inadequado e/ou recontaminação pós-processamento, sendo as

causas mais frequentes aquelas provenientes da matéria-prima, equipamento sujo

ou manipulação sem cuidados de higiene (CASTRO,2009; JAY, 2005; FRANCO;

LANDGRAF, 2008; LUNDGREN, 2009; SANTOS et al, 2012).

A análise química é uma ferramenta importante para caracterizar o valor

nutricional dos produtos na alimentação animal e humana. O conhecimento sobre a

qualidade do pescado é de grande importância para o desenvolvimento da indústria

pesqueira,, garantindo o beneficiamento, sem comprometimento da qualidade

nutricional do produto, melhorando seu estado higiênico sanitário, estendendo sua

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

58

vida de prateleira e contribuindo para a segurança alimentar e das boas práticas de

produção de pescado em geral (EMBRAPA, 2009).

No pescado salgado, a oxidação de lipídios é favorecida tendo em vista que,

além de conterem muitos ácidos graxos poli-insaturados, a presença do sal acelera

esta reação. O processo de oxidação ocorre tanto durante a salga como no período

de estocagem (CASTRO, 2009).

Muitos métodos químicos e físicos têm sido propostos para quantificar a

formação dos compostos resultantes da oxidação lipídica em carnes. Um método

prático e barato, e por isso mais usado na avaliação de oxidação de gorduras em

carnes é o teste de TBA, proposto por Tarladgis (1960), que se baseia na

quantificação de composto colorido resultante da reação entre produtos da oxidação

com o ácido 2-tiobarbitúrico (TBA) (COTRIM, 2007; EMBRAPA, 2009).

O Recôncavo Baiano, denominação dada ao conjunto de municípios em

torno da Baía de Todos os Santos, é uma das regiões onde comunidades de

pescadores artesanais estão concentradas. Isso ocorre devido à grande área de

manguezais com grande capacidade de cultivos de organismos aquáticos

(VASCONCELLOS, 2012).

Essa região possui uma grande importância para a preservação da cultura

local da pesca e da catação de mariscos, onde engloba grande quantidade de

trabalhadores da região que através da pesca artesanal e/ou catação de mariscos

extrai seu sustento familiar.

Devido à importância da comercialização desses peixes marinhos secos e

salgados por pescadores artesanais e consumidos pela população da região, o

presente trabalho teve como objetivo a avaliação da qualidade microbiológica e

fatores determinantes das espécies de peixes sardinha (Opisthonema Oglinum),

pititinga (Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus Oceanicus) salgados e desidratados

comercializados no Recôncavo Baiano.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

59

2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 CARACTERIZAÇÕES DAS AMOSTRAS

Considerando a influência da sazonalidade, foram realizadas durante o

período de outono, entre os meses de março e maio de 2013, seis coletas de três

espécies diferentes de peixes pequenos: sardinha, pititinga e miroró, espécies das

mais consumidas na região do Recôncavo Baiano nas cidades de Acupe, Saubara,

Cachoeira, São féliz e Santo Amaro, sendo capturados e processados em maior

escala nas cidades de Saubara e Acupe. As coletas foram realizadas em intervalos

de 15 dias entre uma coleta e outra.

Todos os experimentos foram realizados em triplicata. A fim de que os dados

obtidos refletissem a uma média da composição confiável que represente a

população explorada no presente estudo não foi levado em consideração a idade ou

o sexo dos peixes, mas apenas o peso e quantidade de indivíduos coletados.

As amostras foram coletadas em feiras livres nas cidades de Saubara e

Acupe de modo secos, salgados e eviscerados, da mesma forma de consumo da

população local. Não foi mantido em refrigeração devido à sua comercialização ser

em temperatura ambiente.

2.1 ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS

Para as análises microbiológicas foram acondicionados 200g de peixe em

sacos plásticos estéreis de marca 3M específicos para coletas microbiológicas.

Devido aos peixes serem de portes muito pequenos, foram necessários vários

indivíduos para compor a gramatura necessária por coleta. Os peixes foram

coletados e analisados com cabeça e cauda, porém eviscerados.

As análises microbiológicas foram realizadas para investigar estafilococos

coagulase positiva, coliformes totais e presença de Salmonela.

Foram selecionadas um total de 200g de cada uma das espécies, em cada

coleta, e encaminhadas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da

faculdade de Farmácia. Para a contagem de estafilococos coagulase positiva e

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

60

coliforme totais, pesou-se assepticamente 25g de peixe em sacos plásticos estéril e

adicionou-se a 225ml de solução salina peptonada a 0,1% (diluição 10-1).

Homogeneizou-se o material por aproximadamente 60 segundos, em “stomacher”

(ITR- Instrumentos para Laboratório TR Ltda.), e a partir desta diluição, prepararam-

se as diluições 10-2 e 10-3, conforme procedimentos estabelecidos pela APHA (2001)

Para a quantificação de estafilococos coagulase positivo utilizou-se o método

de contagem “Spread-plate” em Ágar Baird Parker (BP) com telurito de potássio a

3,5%, em triplicata, depositando-se 0,1 ml de cada diluição (10-1,10-2,10-3) sobre a

superfície do ágar e, com auxílio da alça de Drigalsky, espalhou-se o inoculo por

toda a superfície do meio até a completa absorção. As placas foram incubadas, em

estufa, a 37°C, por 24 - 48 horas (APHA, 2001). Colônias suspeitas foram

submetidas a prova de coagulase pelo uso do teste rápido Staphclin Latex

(Laborclin) (DOWNES; ITO, 2001).

Para a determinação de Coliformes totais utilizou-se a técnica de tubos

múltiplos pelo número mais provável (NMP). Fez-se a diluição 10-1,

homogeneizando-se 25g de peixe com 225mL de água peptonada a 1% e as

diluições seriadas (10-2, 10-3), inoculou-se 1 ml de cada diluição, em triplicata. O

meio utilizado foi Caldo Lauril Sulfato Triptose (LST) e incubou-se a 35°C durante 24

e 48 horas. Dos tubos presuntivamente positivos, com turvação e produção de gás

nos tubos de Durham, fez-se a confirmação com Caldo Verde Brilhante Bile 2% nas

mesmas condições de tempo e temperatura (APHA, 2001).

O isolamento de Salmonella spp., bem como sua confirmação e

caracterização bioquímica e sorológica foram realizados segundo metodologia

preconizada pela APHA, 2002, utilizando-se um enriquecimento primário em Água

Peptonada Tamponada (APT), seguido de um enriquecimento seletivo em Caldo

Tetrationato (TT) e Caldo Rappaport-Vassiliadis (RV). Após, foram inoculados em

Agar Hektoen-enteric (HE) e Xylose Lisina Desoxicolato (XLD), a fim de se obter

colônias isoladas típicas de Salmonella spp.. Essas colônias foram, então,

submetidas a uma triagem bioquímica, feita em uma seqüência de três tubos de

ensaio, contendo, respectivamente, Ágar Tríplice Ferro (TSI), Ágar Lisina Ferro (LIA)

e Agar Uréia (UA). Os cultivos celulares com características bioquímicas típicas de

Salmonella spp. foram testados sorologicamente, utilizando-se soro polivalente

somático e soro polivalente anti-Salmonella flagelar.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

61

2.3 ÍNDICE DE OXIDAÇÃO, ATIVIDADE DE ÁGUA E SUBSTÂNCIAS REATIVAS AO ÁCIDO TRICLOROACÉTICO

Para as análises de oxidação e atividade de água foram acondicionados

100g de cada peixe em cada coleta, em sacos plásticos estéreis. Os peixes foram

coletados com cabeça e cauda, porém eviscerados.

As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Pesquisa em

Análises de Alimentos, Aditivos e Contaminantes (LAPAAC), identificados e

processados em processador e armazenados em freezer a -18ºC em frascos

hermeticamente fechados e sem incidência de luz.

A análise de oxidação foi realizada para analisar os compostos oxidados de

gordura, principalmente o malonaldeído.

Para a determinação do índice de oxidação foi utilizado a metodologia da

EMBRAPA (2009) para Oxidação Lipídica, devido a avaliação das substâncias

reativas ao ácido tiobarbitúrico (SRATB), utilizando o Ácido Tricloroacético (TCA) e o

Ácido Tiobarbitúrico (TBA) para leitura das amostras em espectrofotômetro com

comprimento de onda a 532nm.

A curva padrão foi previamente determinada utilizando solução de

Tetraetoxipropano (TEP).

Os resultados destas análises são normalmente expressos em unidades de

absorvência por unidade de peso da amostra ou em “valor TBA”, definido como o

peso, em mg, de MA por kg de amostra (SILVA, 1999).

Para determinação de atividade de água (aw), alíquotas de peixes

previamente trituradas foram introduzidas na célula do equipamento e realizadas a

medição direta no aparelho Aqualab Lite. O resultado foi expresso em atividade de

água relativa à temperatura.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

62

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO. 3.1 RESULTADOS DE ATIVIDADE DE ÁGUA AW E OXIDAÇÃO

As frequências médias, representado na Tabela 1, do teor de atividade de

água (aw) e Ácido Tiobarbitúrico (TBA) para as espécies: sardinha, miroró e pititinga

foram respectivamente, 0,756, 0,684 e 0,708 para atividade de água para sardinha,

miroró e pititinga, e para teor de oxidação dado em ácido Tiobarbitúrico (TBA), 3,79,

1,78 e 0,92 respectivamente.

Tabela 1. Atividade de água (aw) e Ácido Tiobarbitúrico (TBA) das amostras de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.

Amostra/composição Aw

(média±desvio padrão) Ácido Tiobarbitúrico

TBA

Sardinha 0,756 ±0,026 3,78±0,028

Miroró 0,684±0,005 1,78±0,077

Pititinga 0,708±0,023 0,92±0,009

Ao analisar amostras de bacalhau e peixes salgados em supermercados e

empresas importadoras do Estado de São Paulo, Lima e Santana (2011)

encontraram valores semelhantes de aw variando de 0,742 a 0,750. Mársico (2009)

também analisou amostras de bacalhau coletadas na cidade do Rio de Janeiro e

encontrou valores de aw variando de 0,70 a 0,84.

Neste estudo, os valores de atividade de água variaram de 0,684 a 0,756

(Tabela 1), que, de acordo com Jay (2005), é considerado um alimento estável por

apresentar aw entre 0,60 e 0,85. Todavia, a aw não é considerada nas diferentes

legislações como parâmetro de qualidade de peixes salgados e secos; assim,

sugere-se que se utilize o valor de aw de 0,75 como limite máximo para peixes

salgados e secos.

Falhas no processo de salga, temperatura e clima durante a exposição ou

até mesmo no armazenamento dos peixes nas feiras livres, podem interferir no

aumento da Aa. O efeito osmótico decorrente da salga é representado pela

penetração do sal e saída da água livre existente na carne do pescado.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

63

Segundo Sales (1988), o índice de ácido tiobarbitúrico, ideal para uma boa

conservação do pescado armazenado à temperatura ambiente, se situa na faixa de

1-2.

Os valores de TBA encontrados para a espécie sardinha variaram de 3,75 a

3,80, indicando um avançado índice de oxidação do produto. Estes altos índices de

oxidação podem ter sido influenciados pela aw presente na sardinha que se

encontrou em 0,756 e segundo Jay (2005) sugere que se utilize o valor de aw de

0,75 como limite máximo para peixes salgados e secos.

Valores de TBA do peixe pititinga encontrados variaram de 0,91 a 0,93,

semelhantes aos encontrado por Sales (1988) de 0,84, em peixes secos e salgados

estocados durante 20 dias. Os valores de TBA em miroró variaram de 1,70 a 1,85,

semelhantes aos peixes estocados por 40 dias. Estes valores podem indicar o

tempo de preparo até a sua comercialização, sendo, estes peixes, mantidos em

estocagem.

3.2 RESULTADOS MICROBIOLÓGICOS

Os resultados das análises microbiológicas encontram-se representados na

Tabela 2. Para as espécies sardinha, miroró e pititinga resultados encontrados para

coliformes a 45ºC de 3,0, 3,33 e 3,00 NMP/g, respectivamente.

Tabela 2. Perfil microbiológico (NMPa/g ou UFCb/g ou Presença) das amostras de Sardinha, Miroró e Pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.

Espécies / Indicador

Padrão RDC 12

Sardinha

(média±desvio padrão)

Miroró

(média±desvio padrão)

Pititinga

(média±desvio padrão)

Coliformes a 45ºC 102 NMP/g 3,00±0,00 3,33±0,577 3,00±0,00

Estafilicocos coagulse positiva

5,0 x 102

UFC/g 1,33x10

2±0,577 1,00x10

2±0,00 1,00x10

2±0,00

Presença

Salmonella sp. Ausência Ausência Ausência Ausência

a Número Mais Provável

b Unidade Formadora de Colônia

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

64

Para resultados de estafilococos coagulase positiva, encontraram-se

1,33x102, 1,0x102 e 1,0x102 para as amostras de sardinha, miroró e pititinga,

respectivamente. Não foram encontradas indicações de presença de Salmonella sp.

em quaisquer amostras.

Todos os resultados encontrados das análises microbiológicas encontrarem-

se dentro dos limites estabelecidos pela Resolução RDC nº 12, de 12 de janeiro de

2001 que determina para peixes, moluscos e crustáceos secos e/ou salgados um

padrão para coliformes a 45ºC/g de 102 UFC/g (unidade formadora de

colônia/grama), para Staphylococcus coagulase positiva de 5 x 102 UFC/g e para

Salmonella sp. ausência em 25g.

Castro (2009), ao avaliar os peixes secos e salgados comercializados em

feiras livres do município de Belém, encontrou boas condições em relação aos

parâmetros microbiológicos, pois todas as amostras estavam de acordo com a

legislação vigente.

Segundo Oetterer (2008), apud Castro (2009), a maioria dos microrganismos

importantes em termos de saúde pública não é tolerante ao sal, sendo facilmente

controlável. Porém Sales (1988), ao estudar Tilápia do Nilo seca e salgada, verificou

que resultados para coliformes a 45ºC termotolerantes ultrapassaram a quantidade

máxima permitida, sugerindo que um tratamento mais adequado seja aplicado, pois

a presença desses microrganismos é normalmente interpretada como um indicativo

de contaminação recente.

Hilbig et al (2008), ao estudarem tilápias submetidas à salga e secagem,

observaram ausência de Salmonella sp. e Sthaphylococcus coagulase positiva em

amostras de tilápias submetidas à salga e secagem. Resultado semelhante ao

encontrado por Lourenço, et al (2001).

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

65

3. CONCLUSÃO

Diante dos resultados expostos, este estudo mostra que apesar dos peixes

serem comercializados em feiras livres, estocados em temperaturas ambientes e

expostos aos riscos contaminantes, a qualidade microbiológica destes peixes

permanece dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente, não sendo

vetor de contaminantes e não subtendo a população aos riscos biológicos.

Em relação aos teores de oxidação, os resultados mostram teores similares

aos estudos com peixes secos e salgados submetidos à estocagem, podendo

indicar que estes produtos estão sendo estocados antes da sua comercialização.

De acordo com os resultados obtidos podemos considerar que as amostras

de pescado seco estão aptas ao consumo, pois encontram-se dentro dos padrões

estabelecidos pela legislação vigente. O processo de salga quando bem empregado

promove uma melhor conservação do produto, o que foi observado em todas as

amostras estudadas.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

66

REFERÊNCIAS APHA. Compendium of Methods for Microbiological Examination of Foods. 4th

Edition. American Public Health Association. Washinghton D.C.; 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001.

Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial

da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, janeiro de 2001. Seção 1, p. 45-

53.

CASTRO, G.L.M. Avaliação da qualidade sanitária do pescado salgado seco

comercializado nas feiras livres de Belém-PA. 2009. 56f. Monografia

(Especialização em Veterinária (TCC) de Higiene e Inspeção de Produtos de Origem

Animal – HIPOA) – Universidade Castelo Branco, Belém, 2009.

COTRIM, W. S.; TORRES, R. A.; GOMIDE, L. A.M.; LIMA, M.A.F. Avaliação da

estabilidade das substâncias reativas ao TBA (TBARS) presentes no destilado do

teste TBA em função do tempo. Ciência de Alimentos. XVI SIMPÓSIO DE

INICIAÇÃO CIENTÍFICA, Universidade Federal de Viçosa – 2007, Viçosa – MG.

DOWNES, F.P.; ITO, K. (Ed) Compendium of methodos for the Microbiological

Examination of Foods. Washington: American Public Health Association, 2001, 676

p.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Métodos para Análise

de Pescado. ISSN 0104-866x, 189. Maio de 2009.

FREITAS, J. M. A., et al. Salga seca e úmida de filés de pacu (Piaractus

mesopotamicus). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, n. 2, p. 613-620,

abr/jun. 2011.

HILBIG, J. & et AL. Avaliação físico-química e microbiológica de tilápias

submetidas à salga e secagem. XVI Encontro de Química da Região Sul.

Universidade Regional de Blumenal. Blumenal-SC, 2008.

JAY, J. M. Microbiologia de Alimentos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. 711p.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

67

LIMA, E.J.V.M; SANTANA, L.S. Determinação de atividade de água, umidade e sal

em peixes salgados e secos importados. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 14,

n. 2, p. 125-129, abr./jun. 2011.

LOURENÇO, L.F.H.; FERNANDES, G.M.L.; CINTRA, I.H.A. Características físicas,

químicas e microbiológicas da pescada-branca Plagioscion squamosissimus

(Heckel) salgada e seca em secador solar. Boletim Técnico Científico

CEPNOR/IBAMA. Belém. V.1, n.1, pág. 135-144, 2001.

LUNDGREN, P.U.; SILVA, J.A.; MACIEL, J. F.; FERNANDES, T.M. Perfil da

qualidade higiênico-sanitária da carne bovina comercializada em feiras livres e

mercados públicos de João Pessoa/PB-Brasil. Alim. Nutr., Araraquara ISSN 0103-

4235 v.20, n.1, p. 113-119, jan./mar. 2009.

MÁRSICO, E.T., et al. Parâmetros físico-químicos de qualidade de peixe salgado e

seco (bacalhau) comercializado em mercados varejistas. Rev Inst Adolfo Lutz,

68(3):406-10,2009.

MORAES, I. V. M. Tecnologia do pescado. Serviço brasileiro de respostas

técnicas. Rio de Janeiro, REDETEC. 2008.

OSAWA, C. C.; FELÍCIO, P. E.; GONÇALVES, L.G. Teste de TBA aplicado a carnes

e derivados: métodos tradicionais, modificados e alternativos. Quim. Nova, Vol. 28,

No. 4, 655-663, 2005.

SALES, R.O. Estudo da Penetração do Sal no Processo de Salga e Secagem da

Tilápia do Nilo (Sarotherodon niloticus), no açude Pereira de Miranda. Pentecostes-

Ceará-Brasil. Revista Ciência Agronômica. Salvador: Universidade Federal do

Ceará, 1988.

SILVA, F.A.M.; BORGES, M.F.M.; FERREIRA, M.A. Métodos para avaliação do grau

de oxidação lipídica e da capacidade antioxidante. QUÍMICA NOVA, 22(1) (1999).

TARLADGIS, B. G.; WATTS, B. M.; YOUNATHAN, M. T.; A destillation method for

the quantitative determination of malonaldehyde in rancid foods. The Journal of the

American Oil Chemists’ Society. v. 37, p. 44-48, 1960.

VASCONCELLOS, L. G. Pesca artesanal e petróleo no Recôncavo baiano: gestão

ambiental federal como mediadora de conflitos. In: Conflitos ambientais e territoriais:

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

68

pesca e petróleo no litoral brasileiro, 2012,

Sergipe..<http://arvore.org.br/seer/index.php/nature/article/viewArticle/292>. Acesso

em: 08 de março de 2013.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE … · especializadas em venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua maioria fica restrito às capitais

69

CONCLUSÃO GERAL

Os resultados obtidos neste estudo demonstram a importância das espécies

de peixes de pequeno porte Opisthonema oglinum (sardinha), Gobionellus

oceanicus (miroró) e Anchoa (pititinga) salgados e secos comercializados por

pequenas comunidades em vários municípios do recôncavo baiano. Não foram

encontrados na literatura trabalhos científicos sobre as espécies relacionadas,

relativos a todos os parâmetros avaliados. Em relação à composição centesimal o

Gobionellus oceanicus apresentou o maior valor de proteína. Em relação à oxidação

lipídica todos apresentaram níveis de substancias reativas ao ácido tiobarbitúrico

(SRATB) elevado. Em contra posição todas as amostras avaliadas apresentaram

qualidade microbiológica satisfatórias, demonstrando que a salga e o processo de

secagem são eficientes para garantir esta segurança. Conclui-se, portanto que,

estudos posteriores devem ser envidados para solucionar o problema da oxidação

nestas matrizes e assim assegurar para a população a melhoria destes produtos

regionais.