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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS NAIARA GONDIM SILVA CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE PEIXES DE PEQUENO PORTE COMERCIALIZADOS NA FORMA SECA E SALGADA, NA REGIÃO DO RECÔNCAVO BAIANO Salvador - BA Março - 2014 NAIARA GONDIM SILVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FARMÁCIA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS

NAIARA GONDIM SILVA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA

DE PEIXES DE PEQUENO PORTE COMERCIALIZADOS NA

FORMA SECA E SALGADA, NA REGIÃO DO RECÔNCAVO

BAIANO

Salvador - BA

Março - 2014

NAIARA GONDIM SILVA

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA

DE PEIXES DE PEQUENO PORTE COMERCIALIZADOS NA

FORMA SECA E SALGADA, NA REGIÃO DO RECÔNCAVO

BAIANO

Orientadora: Profª Drª Maria Spínola Miranda

Salvador - BA

Março - 2014

Dissertação apresentada à Faculdade de

Farmácia da Universidade Federal da Bahia,

como parte das exigências do Programa de

Pós-Graduação em Ciências de Alimentos,

para obtenção do título de Mestre.

Sistema de Bibliotecas - UFBA

Silva, Naira Gondim. Caracterização físico-química e microbiológica de peixes de pequeno porte Comercializados na forma seca e salgada, na região do Recôncavo baiano / Naira Gondim Silva. -

2015. 69 f.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Spínola Miranda. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Farmácia, Salvador,

2014. 1. Pesca artesanal - Recôncavo (BA). 2. Gobionellius Oceanicus. 3. Compostos orgânicos. 4. Microbiologia. I. Miranda, Maria Spínola. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Farmácia. III. Título.

CDD - 639.2098142 CDU - 639.2(813.8)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por ter me proporcionado vida e saúde, bem como a

realização desta pesquisa.

Ao meu paciente marido Ronei, por ter me aturado todo esse tempo, e principalmente

me ajudado bastante me apoiando e me acompanhando em algumas coletas, onde pra

mim era trabalho, mas pra ele foi diversão e passeio e até comer uma bela feijoada na

feira (risos). Obrigada amor por tudo que representa pra mim.

Agradeço aos meus pais por todo o apoio, em especial à minha mãe que também me

acompanhou em uma coleta e que também para ela representou passeio e claro, verificar

por onde anda sua filha (risos). Agradeço todos os meus familiares em especial ao meu

primo Rafa que me ajudou e muito com essas benditas traduções (risos), obrigada Rafa,

ao meu irmão Tom que muito me ajudou nas correções e sugestões, te amo mano.

Ao meu colega Alberto que com seus contatos me ajudou na identificação das espécies.

Não menos especial agradeço e muito à minha pró e orientadora professora Mara, que

com sua pertinência acreditou desde o princípio neste trabalho. A todos os meus

colegas-amigos que me apoiaram e contribuíram direta ou indiretamente para a

conclusão deste trabalho.

Aos meus amigos, que mesmo de fora, acompanharam todo o meu percurso com a

paciência de me ouvir mais uma vez em falar dos meus peixinhos.

Um agradecimento especial à todos do laboratório de Análises Microbiológicas de

Alimentos da Faculdade de Farmácia, especialmente à professora Clícia, à todos do

laboratório de Bromatologia em especial à professora Rose, e também a todos do

Laboratório de Análises e Contaminantes de Alimentos, pois sem a ajuda, moral e

material, de todos vocês este trabalho não poderia ter sido realizado uma vez que não

possuiu financiamento.

Aos pescadores e marisqueiras da região do Recôncavo, que com grande paciência e

ajuda me forneceram dados valiosos para o trabalho.

Agradecimento muito especial à CAPES pelo apoio financeiro.

Enfim, a todos que contribuíram para o crescimento deste projeto, meus mais sinceros

agradecimentos.

ÍNDICE DE TABELAS

Capítulo 2

Tabela 1 Atividade de água, pH e Acidez das amostras de Sardinha, Miroró e pititinga,

peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.. .......................................... 44

Tabela 2 Composição centesimal de Sardinha, Miroró e pititinga, peixes pequenos

salgados e secos, comercializados no recôncavo... ......................................................... 45

Tabela 3 Perfil de ácidos graxos de Sardinha, Miroró e pititinga, peixes pequenos

salgados e secos, comercializados no recôncavo............................................................ 48

Capítulo 3

Tabela 1 Atividade de água (aw) e Ácido Tiobarbitúrico (TBA) das amostras de

Sardinha, Miroró e pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo

baiano... ........................................................................................................................... 64

Tabela 2 Perfil microbiológico (NMPa/g ou UFC

b/g ou Presença) das amostras de

Sardinha, Miroró e pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo

baiano.... .......................................................................................................................... 66

ÍNDICE DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1 Reação do teste de TBA entre o ácido 2-tiobarbitúrico e o malonaldeído,

formando o composto colorido, medido espectrofotometricamente a 532 nm. ............. 28

Capítulo 2

Figura 1 Reação do teste de TBA entre o ácido 2-tiobarbitúrico e o malonaldeído,

formando o composto colorido, medido espectrofotometricamente a 532 nm. ............. 60

RESUMO

A pesca realizada por pequenas comunidades e municípios, em todo o Brasil é de forma

bastante artesanal, com canoas ou pequenas embarcações movidas a motor, em geral, os

pescadores não utilizam uma única arte de pesca em todos os momentos, podendo

utilizar-se de diversos recursos ao longo da vida ou de acordo com a disponibilidade e

intenção de pesca. A pesca artesanal constitui a principal renda das populações da

região do Recôncavo Baiano e tendo em vista a falta de estudos que se tem desses tipos

de peixes pescados e comercializados nessas regiões, assim, este estudo tem por

objetivo analisar as características físico-química e microbiologicamente as espécies de

peixes de pequeno porte de maior comercialização na forma seca e salgada, na região do

Recôncavo Baiano. Foram realizados dois estudos exploratórios, com abordagem

quantitativa, nas cidades do Recôncavo Baiano de maior produção e consumo dos

peixes miroró (Gobionellius Oceanicus), sardinha (Opisthonema Oglinum) e pititinga

(Anchoa sp.) de pequeno porte secos e salgados comercializados em feiras livres. O

primeiro estudo aborda a identificação das espécies e composição centesimal, umidade,

proteína, cinzas, lipídios, carboidratos, composição de pH, atividade de água (Aw),

acidez titulável de ácidos graxos, identificação e quantificação de ácidos graxos. O

segundo estudo caracteriza a qualidade microbiológica quanto a coliformes totais

(NMP/g), estafilococos coagulase positiva (UFC/g) e presença de salmonella sp. e

parâmetros físico-químicos de água (aw), oxidação expressa em Ácido Tiobarbitúrico

(TBA) relacionados aos padrões vigentes. Os resultados obtidos demonstraram que os

peixes salgados secos são importantes fontes de proteína e teor de lipídios. No perfil de

ácidos graxos foram identificados 16 ácidos graxos, sendo o ácido C16:00 (ácido

palmítico) o que apresentou maior concentração nas três espécies analisadas. Quanto

aos teores de ácidos graxos totais (TS) o peixe sardinha foi o que apresentou maior

concentração 19,71%. Quanto o aw os peixes das espécies citadas apresentaram

resultados variando de 0,68 a 0,75, e TBA variou de 0.92 a 3,78. Quanto às análises

microbiológicas, todas as amostras alcançaram atendimento à legislação vigente. Os

resultados permitiram evidenciar a qualidade aceitável dos peixes de maior

comercialização em feiras na região do Recôncavo baiano, indicando níveis

microbiológicos aceitáveis, índices de grande importância devido ao alto consumo pela

população local. E revela ainda a importância destes peixes, ainda negligenciados, para

a população local, por se tratar de uma das principais formas de nutrição por parte da

população da região do Recôncavo Baiano.

Palavras-chave: Peixes. Comercialização em feiras. Pesca Artesanal. Qualidade

microbiológica. Composição centesimal.

ABSTRACT

The fishery done by small communities and cities in the whole Brazil is very artisanal,

using canoes or small vessels moved by motor. The fishermen generally don’t use one

unique fish art all the time, using also diverse resources over the life or according to the

availability and intention of fishery. The artisanal fishery is the most important income

of the “ribeirinhas” population. And, in view the lack of study about these types of

harvested and marketed fishes at these regions, this study has as its goal characterize

physic-chemistry and microbiologically the species of small fishes that are more

marketed in the dried and salty form, at Recôncavo Baiano region. Two exploratory

studies were done, using quantity approach, in the cities of Recôncavo Baiano which

more produce and consume “miroró” fishes (Gobionellius aceanicus), sardinha

(Opisthonema oglinum) e pititinga (anchoa sp.) that are small, dried, salty and marketed

at free markets. The first study approaches the species identification and centesimal

composition, humidity, protein, ashes, lipids, carbohydrates, ph composition, water

activity (Aw), titratable acidity and esterification of fatty acid, identification and

quantification of fatty acids. The second study characterizes the microbiological quality

according to the total coliform (NMP/g), “estafilococos coagulase positive” (UFC/g),

presence of salmonella sp. in 25g, physic-chemistry parameters, water activity analysis

(aw), oxidation content by Tiobarbitúrico Acid (TBA) related to the actual standards.

The results obtained demonstrated that the salty and dried fishes are important sources

of protein and lipids content. In the fatty acid profile were identified 16 fatty acids,

being the acid C16:00 (palmitic acid) the one which presented larger concentration

between the three species analyzed. Talking about the contents of total fatty acids (TS),

the sardinha fish was the one which presented larger concentration 19,71%. The

research reveals the importance of this fishes, yet neglected, to the local population, for

being one of the most important nutrition ways for the population from the region of

Recôncavo baiano.

Keywords: Fishes. Commercialization at markets. Artisanal Fishery. Microbiological

quality. Centesimal composition.

SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS.................................................................................................04

ÍNDICE DE FIGURAS.................................................................................................05

RESUMO ....................................................................................................................... 06

ABSTRACT .................................................................................................................. 08

INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................. 12

OBJETIVOS ................................................................................................................. 14

OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 14

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 14

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .......................................................................... 15

CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 16

1. PRODUÇÃO PESQUEIRA: DADOS GERAIS E PONTUAIS ......................... 16

1.1 PESCA ARTESANAL ........................................................................................ 17

2 PESCADO .......................................................................................................... 19

2.2 CONSERVAÇÃO DO PESCADO ..................................................................... 23

2.2.1 Conservação e segurança de pescado .................................................................. 23

2.2.2 Desidratação do pescado ........................................................................................ 23

2.2.3 Oxidação do pescado ........................................................................................... 25

2.3 MICROBIOLOGIA DO PESCADO ................................................................... 27

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 30

CAPÍTULO 2: AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS

ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus

oceanicu) E PITITINGA (anchoa sp.) SALGADOS E SECOS PRODUZIDOS NO

RECÔNCAVO BAIANO .............................................................................................. 37

EVALUATION AND CHARACTERIZATION PHYSICAL

CHEMISTRY OF FISH SPECIES SARDINHA (Opisthonema oglinum),

MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) AND PITITINGA (Anchoa sp.)

SALTED AND DRY PRODUCED IN RECÔNCAVO BAIANO .............. 37

RESUMO ....................................................................................................................... 19

ABSTRACT .................................................................................................................. 12

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 40

2. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 41

2.1 Obtenção das amostras ........................................................................................ 41

2.2 Análises Físico-químicas ..................................................................................... 42

2.2.1 Perfil de ácidos graxos ......................................................................................... 43

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 44

3.1 Análise Físico-química ........................................................................................ 44

3.1.1 Perfil dos ácidos graxos ....................................................................................... 48

4. CONCLUSÃO .................................................................................................... 51

5. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 52

CAPÍTULO 3: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA

DAS ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum),

MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) E PITITINGA(anchoa sp.) SALGADOS

E SECOS COMERCIALIZADOS NO RECÔNCAVO BAIANO ............. 56

MICROBIOLOGICAL QUALITY ASSESSMENT OF FISH SPECIES SARDINHA

(Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) AND PITITINGA (Anchoa

sp.) DRIED SALTED AND SOLD IN RECÔNCAVO BAIANO ................................ 56

RESUMO ....................................................................................................................... 57

ABSTRACT .................................................................................................................. 58

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 59

2. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 60

2.1 Obtenção das amostras ........................................................................................ 60

2.2 Análise microbiológica ........................................................................................ 61

2.3 Índice de oxidação e teor de atividade de água ................................................... 62

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 63

3.1 Resultados de atividade de água aw e oxidação .................................................. 63

3.2 Resultados microbiológicos ................................................................................. 65

4. CONCLUSÃO .................................................................................................... 66

5. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 67

12

INTRODUÇÃO GERAL

Atualmente, a sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida da população de baixa

renda tem sido uma preocupação de vários governos em todo o mundo. No Brasil, o

governo Federal tem criado órgãos e destinado verbas específicas para fomentar

programas que busquem a melhoria da qualidade de vida da população e promova o

desenvolvimento sustentável. Para tanto foi criado, em junho de 2009, o Ministério da

Pesca e Aqüicultura, que tem por finalidade a implantação de uma política nacional

pesqueira e aquícola, transformando esta atividade econômica em uma fonte sustentável

de trabalho, renda e riqueza.

Do total de 970 mil pescadores registrados no Brasil, 957 mil são pescadores artesanais.

Estes estão organizados atualmente em cerca de 760 associações, 137 sindicatos e 47

cooperativas (BRASIL, 2011).

A comercialização de pescado no país em geral compõe-se de espécies tratadas e

congeladas (peixes, camarões, ostras, entre outros) que são distribuídos por meio de

grandes frigoríficos para rede atacadistas de supermercados e lojas especializadas em

venda de produtos do mar. O consumo de pescado fresco e mesmo congelado em sua

maioria fica restrito às capitais e cidades maiores, enquanto que os pequenos municípios

a comercialização e o consumo são ainda bastante incipientes.

Na Bahia, a Bahia Pesca, e a EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento

Agropecuária, empresas ligadas ao Governo Estadual tem atuado em programas que

apoiam pescadores e comunidades ribeirinhas, quer seja na criação de peixes, através da

distribuição de alevinos ou no desenvolvimento de viveiros.

A pesca marítima tem assumido particular importância no cenário brasileiro devido ao

seu crescimento e aumento de consumo, haja vista a disponibilidade de recursos

hídricos e a crescente aceitação do produto oriundo da piscicultura no mercado

consumidor. Uma das grandes responsáveis pela geração de renda dos municípios

ribeirinhos é a pesca artesanal, que se dá por pescadores com baixo poder aquisitivo

destinado ao sustento familiar, onde na sua maioria se trata da única fonte de renda

familiar.

13

O Recôncavo Baiano é conhecido pela sua alta capacidade de pesca artesanal que é

responsável pelo abastecimento de pescado de grande parte da Bahia. Os municípios do

entorno desta região possuem alta produção de pescado, em especial as espécies de

peixes de pequeno porte, tornando-se meio importante de renda para a população.

Porém, pouco estudo foi feito para a caracterização físico-química e microbiológica

destes peixes comercializados na região do Recôncavo Baiano.

Por meio de estudo exploratório realizado na região do Recôncavo Baiano, verificou-se

que três espécies de peixes salgados e secos eram as mais comercializadas, as quais

selecionamos para esta pesquisa. Foram elas: miroró (Gobionellius Oceanicus),

sardinha (Opisthonema Oglinum) e pititinga (Anchoa sp.).

Apesar do consenso das pesquisas sobre o efeito benéfico da ingestão de peixes, dados

da composição dos peixes produzidos no país ainda são insuficientes. Por isso, é de

grande importância a caracterização físico-química e microbiológica e o conhecimento

da qualidade de peixes de pequeno porte que são comercializados nos portos, de forma

fresco, destinados na sua maioria a secagem e salga por famílias de pescadores, e que,

no geral, são consumidos pela população de baixa renda e, para os quais, não se

encontra dados da sua composição e substâncias bioativas. Pescados estes que são

provenientes da pesca artesanal, que se torna grande responsável pela renda das famílias

e crescimento dos comércios locais dos municípios situados na região do Recôncavo

Baiano.

14

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Caracterizar físico-química e microbiológica as espécies de peixes de pequeno

porte de maior comercialização na forma seca e salgada, na região do

Recôncavo baiano.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar as espécies de peixes pequenos que serão utilizados no presente

estudo na forma secos e salgados;

Determinar a umidade e atividade de água;

Determinar a composição centesimal;

Determinar pH e acidez titulável;

Determinar os lipídios totais e identificação e quantificação dos ácidos graxos;

Determinar o grau de oxidação das amostras de peixes;

Determinar a atividade microbiológica seguindo os critérios da RDC nº12 de

janeiro de 2001.

15

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

O presente estudo está estruturado em três capítulos, sendo o primeiro de revisão de

literatura com enfoque de assuntos relacionado à pesca, pesca artesanal, propriedades e

composição do pescado.

O segundo capítulo está estruturado em forma de artigo, no qual abordamos a

identificação e caracterização físico-química, identificação e quantificação de ácidos

graxos dos peixes de pequeno porte secos e salgados comercializados em feiras livres na

região do Recôncavo Baiano.

O terceiro capítulo está estruturado em forma de artigo, no qual caracterizamos a

qualidade microbiológica e parâmetros físico-químicos relacionados aos padrões

vigentes e à referências técnicas-científicas dos peixes de pequeno porte secos e

salgados comercializados em feiras livres na região do Recôncavo Baiano.

16

CAPÍTULO 1: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. PRODUÇÃO PESQUEIRA: DADOS GERAIS E PONTUAIS

A Pesca é uma das atividades produtivas mais antigas da Humanidade. No Brasil esteve

presente desde os tempos da Colônia e está entre as atividades econômicas mais antigas

e mais tradicionais do país. Os recursos pesqueiros marítimos, costeiros e continentais

constituem importante fonte de renda, geração de trabalho e alimento e têm contribuído

para a permanência do homem no seu local de origem (BRASIL, 2011; RODRIGUES,

2011).

Apesar de muitas características favorecerem o Brasil em relação à pesca marítima não

se pode comparar a produtividade brasileira a de outros países menores, em que a

produção não se restringe apenas à sua costa. Temos como principal exemplo o Peru, o

Chile e o Japão em que a pesca é realizada fora da costa, devido ao avanço tecnológico

dessa atividade nesses países, evidenciando que o Brasil muito tem a avançar nesse

contexto (RODRIGUES, 2011).

Analisando os fatos históricos da produção pesqueira no Brasil, houve um crescimento

pesqueiro entre 1950 a 1985, onde ocorreu seu maior índice de capturas, atingindo

986.684 t. Isto se deve ao programa de industrialização da pesca implantado pelo

governo de Juscelino Kubitschek no final da década de 50, a criação da SUDEPE-

Superintendência de Desenvolvimento da Pesca em 1962 e a promulgação do novo

código de pesca Decreto-Lei 221, de 28/02/67.

No período subsequente, entre 1986 e 1990, ocorreu um declínio da produção para

619.805t, devido ao início do processo sobrepesca de alguns estoques, como, da

sardinha-verdadeira, dos camarões e dos peixes demersais da região Sul. Para somar à

queda de produção, ocorreu neste período a desativação dos incentivos fiscais. Entre

1991 e 2010 houve um período de estabilidade produtiva. A partir de 2010 a produção

voltou a crescer chegando a uma produção de 785.366t, onde este período se

caracterizou pela recuperação da produção pesqueira nacional em relação à década

precedente (BAHIA PESCA, 2010).

17

Em 2011, a produção de pescado no Brasil foi de 1.431.974,4t, sendo 38,7% deste valor

para a pesca extrativa marinha, seguida da aquicultura continental com 38,0%, pesca

extrativa continental com 17,4% e aquicultura marinha com 6% (BRASIL, 2011).

Segundo Brasil (2011), a produção de pescado por Unidade da Federação, para o ano de

2011, demonstra que o Estado de maior pólo de produtos de pescado no Brasil é de

Santa Catarina, com 194.866,6t, seguido pelos estados do Pará com 153.332,3t,

Maranhão com 102.868,2 t e Bahia com 102.052,7 t.

Apresentando a mais extensa costa do Brasil, a costa baiana possui, em linha contínua,

1188 km. Segundo o IBGE (2004), a população residente nessa área é de 4.090.779

habitantes, equivalente a 31,3% da população do Estado. Neste litoral estão distribuídos

44 municípios e inseridas 350 comunidades pesqueiras, com destaque para a Baía de

Todos os Santos, com seus 1.100 Km2, e a Baía de Camamu, que juntas, apresentam um

grande número de estuários, originando um complexo de manguezais de enorme

potencial para o cultivo de organismos aquáticos, bem como para o sustento das

populações de pescadores e marisqueiras que vivem nessas comunidades (COSTA,

2012).

A atividade pesqueira em Salvador e no Recôncavo Baiano, região delimitada pela Baía

de Todos os Santos, sempre teve importância econômica devido à sua grande

quantidade comercializada, sendo o pescado importante fonte de alimento para grande

parcela da população, principalmente a de baixa renda (COSTA, 2012).

1.1 PESCA ARTESANAL

Assim como em todo Norte e Nordeste, a Bahia possui sua atividade pesqueira, em

grande maioria, realizada pela pesca artesanal, que é subdividida em duas modalidades:

pesca, que se dá a captura de peixes e crustáceos; mariscagem, que se dá por extração

manual, ou com utilização de armadilhas, de crustáceos e moluscos

(VASCONCELLOS, 2012).

A pesca realizada por pequenas comunidades e municípios em todo o Brasil é de forma

bastante artesanal, com canoas ou pequenas embarcações movidas a motor. Em geral, os

pescadores não utilizam uma única arte de pesca em todos os momentos, podendo

18

utilizar diversos recursos ao longo da vida ou de acordo com a disponibilidade e

intenção de pesca (BURDA, 2007).

Segundo a Bahia Pesca (2008), a pesca artesanal enquanto atividade comercial é aquela

realizada única e exclusivamente pelo trabalho manual do pescador. Segundo Lopes

(2004), a atividade pesqueira marítima é compreendida como as ações que envolvem a

captura, e a venda do pescado in natura. Ainda segundo Lopes (2004), a pesca

“artesanal” se diferencia da pesca “industrial” de acordo com o estado ou região e,

mesmo entre os agentes, não existindo um consenso a cerca das características que as

distingue.

A pesca marítima é encontrada em quase todo o litoral do mundo, e no Brasil não

poderia ser diferente, sendo extremamente importante, não só pelo aspecto econômico,

mas, também, por sua função social. Essa atividade está tradicionalmente ligada a

comunidades costeiras, as quais devido a sua baixa especialização e elevados níveis de

pobreza fazem dela a principal fonte de renda, portanto uma ocupação importante no

contexto socioeconômico. Dessa forma, por ser produto da interação de variáveis

ambientais, culturais e socioeconômicas, os arranjos produtivos que se desenvolvem na

pesca artesanal apresentam uma grande diversidade, sofrendo a influência não apenas

do meio físico onde estão situados, mas também do processo histórico de evolução da

atividade (LOPES, 2004; FRIZZO, 2005; RODRIGUES, 2011).

A potencialidade econômica do pescado marítimo artesanal no Brasil é significativa,

vale ressaltar a vocação natural do País ao desenvolvimento da atividade, devido as suas

características naturais. A sua extensa costa e as condições climáticas favorecem para a

grande variedade de espécies (LOPES, 2004; RODRIGUES, 2011).

O Recôncavo Baiano, denominação dada ao conjunto de municípios em torno da Baía

de Todos os Santos, é uma das regiões onde comunidades de pescadores artesanais

estão concentradas, isso se dá devido à grande área de manguezais com grande

capacidade de cultivos de organismos aquáticos (VASCONCELLOS, 2012).

Essa região possui uma grande importância para a preservação da cultura local da pesca

e da catação de mariscos, onde engloba grande quantidade de trabalhadores da região

que através da pesca artesanal e/ou catação de mariscos extrai seu sustento familiar.

19

Através do exercício diário dessas atividades os pescadores e marisqueiros constroem

um rico conhecimento local sobre a dinâmica do ecossistema estuarino e seus

componentes, como a qualidade ambiental dos rios, mangues e matas, bem como dos

impactos sofridos pela área (DI CIOMMO, 2007; FADIGAS, 2008).

2 PESCADO

Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem

Animal (RIISPOA)(BRASIL, 1997) a denominação do termo pescado define-se como:

peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios, mamíferos, e organismos aquáticos de

água doce ou salgado sendo destinados ao consumo humano.

2.1 PROPRIEDADES E COMPOSIÇÃO FISICO-QUÍMICA DO PESCADO

O pescado é uma excelente fonte de proteínas de origem animal, sendo em alguns países

a principal. O consumo do pescado vem aumentando mundialmente devido ser uma

alternativa à carne vermelha (FAO, 1997).

Segundo Menezes (2009), o consumo de carne de pescado é importante, não apenas

como alternativa alimentar de alto valor nutritivo, mas como alimento funcional.

O pescado é uma fonte rica de proteína e ácidos graxos poliinsaturados, sendo

encontrados em concentrações mais expressivas em peixes e animais marinhos, possui

na sua constituição todos os aminoácidos essenciais para a dieta humana, apresenta alto

teor de lisina e a digestibilidade de sua proteína é alta, denotando-a um valor biológico

superior ao de outras fontes animais como ovos, leite e carne bovina (LANKHE, 2003;

BASTOS, 2006; MENEZES, 2009; MANSKE, 2011). O conteúdo de vitaminas e sais

minerais, ainda que presente em quantidades menos expressivas desempenha grande

importância nos processos bioquímicos nos tecidos, auxiliam características sensoriais,

valor nutritivo e salubridade dos produtos de pesca (KOBLITZ, 2011).

A composição química do pescado tem como seu principal componente a água que

varia entre 64% a 90%, seguido de proteínas de 8% a 23%, gorduras variando de 0,5% a

25%, resíduos minerais de 1% a 2%, e carboidratos menos de 1% (ANDRADE 2009).

As diferenças entre o tipo e o teor dos componentes nutricionais, são devidas as

características genéticas, idade, peso, habitat, época do ano, qualidade e quantidade de

20

alimentos disponíveis (ALMEIDA, 2006; BASTOS, 2006; ANDRADE 2009;

MENEZES, 2009; KOBLITZ, 2011).

A água é um fator individual que mais influi na alteração dos alimentos, este conteúdo

de água é expresso pelo valor obtido na determinação da água total contida no alimento.

O teor de água livre é expresso como atividade de água (BOBBIO, 2001; ORDOÑEZ,

2005).

Em geral, o pescado contém 64% a 90% de umidade, com exceções da água-viva e

pepino-do-mar. O processo de secagem corresponde à redução de umidade no pescado,

onde não deve conter mais que 35% de água no pescado salgado-seco (BRASIL, 1997;

OLIVEIRA, 2008).

O estado de água na carne do pescado depende de diversas interações entre o conteúdo

hídrico e o soluto. Na carne do pescado somente uma parte do meio aquoso pode ser

considerado água livre, pois os demais estão implicados nas interações próprias das

soluções água-proteína-lipídio (KOBLITZ, 2011).

As mudanças no teor de água na carne influenciam nas propriedades reológicas, no

valor nutritivo e na qualidade sensorial da carne do pescado e exercem grande impacto

na vida comercial destes produtos (KOBLITZ, 2011).

Composto cada vez mais importante na nutrição humana, os lipídios são fontes

importantes de energia para o organismo. Sendo estes provenientes de pescado, são

fonte importante em ácidos graxos poliinsaturados (AGPI), especialmente ômega-3

(BASTOS, 2006; MELO, 2012; SARTORI, 2012).

Os lipídios são biomoléculas orgânicas insolúveis em água que podem ser extraídos de

células e tecidos por solventes de baixa polaridade, como o clorofórmio e éter. Sendo

um dos mais importantes nutrientes, os lipídios possuem diversas funções entre elas a

função energética, que promove energia de kcal por grama (kcal/grama), eles são um

dos principais componentes da membrana celular. Dentre outras funções dos lipídios,

tem-se: processos fisiológicos, participam da manutenção da parede vascular e nas

respostas imunes, absorção de vitaminas, atuam como transportadores de vitaminas

lipossolúveis (A, D, E e K), proporcionam aos alimentos sabor, odor e textura (MELO,

2012).

21

Os lipídios contêm uma grande variedade de ácidos graxos, diferindo na cadeia lateral,

no grau de insaturações, na posição e configuração das duplas ligações, na presença de

grupos funcionais especiais e nos isômeros de posição e geométricos. Tipicamente, os

lipídios de peixes contêm ácidos graxos com cadeia lateral que variam de 14 a 22

carbonos e com 0-6 metilenos interrompidos por duplas ligações. Dentre esses ácidos,

atenção especial tem sido dada aos ácidos graxos poliinsaturados da família ômega-3,

especialmente ao alfalinolênico (LNA, 18:3n3), eicosapentaenóico (EPA, 20:5n3) e

docosahexanóico (DHA, 22:6n3). Nos últimos anos vem surgindo diversos estudos

sobre os ácidos graxos, principalmente os AGPI- ômega-3. Este interesse se deu devido

a evidência do papel desses compostos na prevenção de doenças cardiovasculares,

redução ao risco de fatores bioquímicos associados à artrite, psoríase e câncer e redução

ao risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), associados a um consumo frequente de

pescados (ALMEIDA, 2006; BASTOS, 2006; SOUZA, 2007; MELO, 2012;

SARTORI, 2012; TONIAL 2010).

Os ácidos graxos ômega-3 mais importantes para a dieta humana provenientes

principalmente de peixes são: eicosapentaenóico (EPA) e docosaexaenóico (DHA),

sendo que os peixes marinhos possuem elevados níveis de EPA e DHA quando

comparados aos peixes de água doce (SOUZA, 2007; TONIAL 2010; SARTORI,

2012).

Melo (2012) afirma em suas pesquisas que os peixes de água doce possuem teores de

ácidos graxos poliinsaturados relativamente mais baixo que peixes marinhos. Esta

diferença é atribuída aos peixes de água doce porque estes se alimentam de produtos de

origem vegetal e os peixes marinhos se alimentam de zooplâncton, ricos em ácidos

graxos poliinsaturados. Peixes marinhos possuem uma relação ômega-3/ ômega-6 maior

que os peixes de água doce, devido a uma presença mais forte da série ômega-3 na sua

cadeia trófica. A composição, a distribuição e a relação entre as séries n-3 e n-6 nos

peixes são influenciadas basicamente por três fatores: genéticos (espécie, etapa de

desenvolvimento, entre outros), ambientais (temperatura e salinidade) e,

fundamentalmente nutricionais (SOUZA, 2007; MELO, 2012).

Tanto no armazenamento ou processamento do pescado os lipídios podem sofrer

transformações químicas como a rancidez oxidativa. Essa transformação ocorre em

lipídios que contém ácidos graxos insaturados. A oxidação se dá em três fases: Na

22

primeira fase ocorre a formação dos primeiros radicais livres, porém não apresentam

cheiro ou gosto, a segunda fase apresenta cheiro e sabor com aumento rápido, e a

terceira fase caracteriza-se pelo cheiro e sabor fortes, alteração da cor e da viscosidade

do lipídio, bem como da sua composição (BOBBIO, 2001).

Os músculos, óleos e resíduos de pescado são muito ricos em vitaminas. As vitaminas

lipossolúveis (vitaminas A, D e E) estão presentes em concentrações particularmente

altas nos óleos de fígado de algumas espécies (ORDOÑEZ, 2005; KOBLITZ, 2011).

O retinol, também chamado de vitamina A, é um álcool diterpênico que se acumula nos

depósitos de gordura, estando presente no fígado de peixes e de outros animais, na

gordura do leite e na gema de ovo (LANKHE, 2003; KOBLITZ, 2011). A composição

de lipídios dos tecidos dos peixes pode ser afetada pela sua dieta e outros fatores

ambientais (ALMEIDA, 2006). No entanto, a vitamina A é encontrada em valores

constantes independente da variação dos teores de gorduras durante o ciclo de vida dos

peixes (LANKHE, 2003).

As vitaminas A e E são componentes da fração lipídica insaponificáveis de alimentos.

Para a extração dessa fração é necessário a saponificação da amostra diretamente. Em

seguida, a extração da fração insaponificável. A determinação dessas vitaminas, para se

obter um resultado com maior precisão, é realizada por Cromatografia Líquida de Alta

Eficiência (CLAE/HPLC) (LÓPEZ-CERVANTES, 2005).

Os minerais são elementos químicos necessários para todas as formas de vida. Alguns

elementos inorgânicos, metálicos e não metálicos fazem parte da composição do

pescado. Sua concentração varia quantitativamente apenas em função da qualidade da

água ambiente e sua alimentação (ORDOÑEZ, 2005; VIANA, 2008; KOBLITZ, 2011).

Em pescados, as determinações de minerais incluem macromoléculas como sódio e

cálcio e alguns microelementos como o ferro. O Na apresenta-se em quantidades mais

expressivas no sangue. Os componentes Fe e Cu desempenham papel importante como

componentes de pigmentos protéicos respiratórios (ORDOÑEZ, 2005; KOBLITZ,

2011). Segundo Koblitz (2011), a carne de pescado, em geral, contém mais Ca e Na do

que a carne bovina.

2.2 CONSERVAÇÃO DO PESCADO

23

2.2.1 Conservação e segurança do pescado

De modo geral, o pescado destinado ao consumo humano direto cerca de 54% é

consumido fresco, 25,6% congelado, 11,0% na forma de conservas e semi-conservas, e

9,4% como peixe seco, salgado e/ou defumado (FAO, 1997).

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição e alto valor

nutritivo, condições estas que favorecem um excelente meio de cultura de

microrganismos patogênicos. Devido à sua perecibilidade, a comercialização do

pescado em regiões distantes da costa geralmente é dada, principalmente, após processo

industrial de conservação, tais como: congelamento, secagem e salga (MORAES, 2008;

FREITAS, 2011).

Por ser um alimento com elevado teor proteico sofre vários tipos de processos de

deterioração, tais como a deterioração biológica, química e autolítica (MORAES, 2008).

A perda da qualidade inicial do pescado fresco é originada pela deterioração autolítica,

enquanto que, a deterioração biológica ocorre pela ação de microrganismos (bactérias).

A deterioração química é originada por oxidação e autoxidação, alterações que ocorrem

na fração lipídica do peixe. O primeiro processo leva à formação de hidroperóxidos que

não conferem sabor, mas podem levar ao aparecimento de coloração castanhas ou

amarelas nos tecidos dos peixes, enquanto que o segundo é responsável pela origem da

formação de aldeídos e cetonas, as quais conferem um sabor e odor forte de ranço

(FAO, 1997).

Dessa forma, a utilização de diversas formas de processamento e conservação do

pescado se faz necessário para agregar valor aos produtos e favorecer o maior consumo

de produtos à base de peixe (FREITAS, 2011).

2.2.2 Desidratação dos peixes

A salga do pescado é um dos métodos mais antigos empregado pelo homem para

conservação, por se tratar de um processo simples, fácil aplicação e baixo custo. Seu

processo de produção consiste em colocação do pescado em sal ou salmoura, formação

do sistema salmoura-sal-pescado e maturação do pescado com alterações organolépticas

(ORDOÑEZ, 2005; HUBINGER, 2009; FREITAS, 2011).

24

Segundo Brasil (2000), é denominado peixe salgado o pescado limpo, eviscerado, com

ou sem cabeça tratado pelo sal (cloreto de sódio), com nível de saturação de 100%, com

ou sem aditivos, não podendo conter mais de 50% de umidade para as espécies

consideradas gordas, tolerando-se 5% a mais de umidade para as espécies consideradas

magras. E o peixe salgado e seco, elaborado com nível de saturação mínima de 95%,

com ou sem aditivos, devidamente seco, não podendo conter mais de 40% de umidade

para as espécies consideradas gordas. Segundo Brasil (1997), entende-se por "pescado-

salgado-seco" o produto obtido pela dessecação do pescado íntegro tratado previamente

pelo sal (cloreto de sódio) e não deve conter mais de 35% (trinta e cinco por cento) de

umidade, nem mais de 25% (vinte e cinco por cento) de resíduo mineral fixo total.

Segundo Oliveira (2008), a desidratação, secagem ou dessecação é a extração

deliberada e em condições controladas da água que os alimentos contêm. A dessecação

do peixe é utilizada desde a antiguidade como único método de conservação, a qual se

emprega nestes por ser relativamente simples, de baixo custo e garantir a estabilidade do

produto, inclusive a temperatura ambiente (ORDOÑEZ, 2005; OLIVEIRA, 2008;

HUBINGER, 2009; FREITAS, 2011).

A salga de produtos cárneos, ou a base de peixe pode alterar de maneira positiva

características organolépticas do produto, tais como o sabor, a textura e a coloração

(OLIVEIRA, 2008; HUBINGER, 2009). Muitas vezes trata-se de um processo não

controlado realizado em cooperativas, colônia de pescadores ou nas próprias residências

familiares. Métodos esses que, os produtores sem nenhum conhecimento científico,

adquiriram pela aprendizagem de pai para filho, garantindo assim a vivência do

conhecimento (ARAKAKI, 2011).

Métodos de conservação sofisticado, praticado em regiões economicamente

desenvolvidas são inadequados para regiões subdesenvolvidas economicamente por

tratar-se de métodos que exigem alto custo, consumo de energia e tecnologia avançada.

As modernas técnicas de secagem são mais eficientes e mais higiênicas, porém também

são mais complexas. Portanto, a maioria dos equipamentos é ainda desenvolvida de

forma empírica, e isso pode levar a vários problemas para unidades de grande escala,

tais como a quantidade de energia usada e a qualidade do produto (HEILPORN, 2010).

25

Em muitas regiões tropicais, seca-se grande quantidade de peixes pequenos, na maioria

exposta ao sol. Neste processo os peixes podem ser expostos à ação solar em bandejas

ou ser pendurados verticalmente. As vantagens da secagem, além de ampliar o prazo de

validade, incluem a redução no peso do alimento, facilitando o seu transporte e

armazenagem, a manutenção das suas propriedades nutritivas e de valor agregado para

alguns produtos. O peixe desseca ao evaporar-se a água presente em sua camada

superficial, e quando acrescentado sal ao peixe, modifica-se as velocidades de

dessecação. Os peixes gordos dessecam-se mais lentamente que os magros, uma vez

que a difusão da água diminui à medida que aumenta o conteúdo de gordura

(ORDOÑEZ, 2005; HUBINGER, 2009; HEILPORN, 2010).

Peixe seco pode ser preservado de três a seis meses, dependendo

das condições de armazenagem. Porém um dos grandes problemas da secagem

incontrolada é a infestação por insetos, tanto durante quanto após a secagem,

provocando grandes perdas (ORDOÑEZ, 2005; OLIVEIRA, 2008; HEILPORN, 2010).

2.2.3 Oxidação do pescado

A análise química é uma ferramenta importante para caracterizar o valor nutricional dos

alimentos na alimentação animal e humana. Esta análise possibilita reconhecer e

identificar as propriedades gerais dos alimentos, determinando sua composição química,

permitindo ainda verificar a qualidade do pescado durante a estocagem por meio da

determinação de substâncias derivativas da deterioração dos componentes dos

alimentos. O levantamento da qualidade do pescado é de grande importância para o

desenvolvimento da indústria pesqueira, garantindo o beneficiamento, sem

comprometimento da qualidade nutricional do produto, melhorando seu estado

higiênico-sanitário, estendendo sua vida de prateleira e contribuindo para a segurança

alimentar e das boas práticas de produção de pescado em geral (EMBRAPA, 2009).

A oxidação de gorduras é um dos fatores responsáveis pela perda da qualidade das

carnes, levando ao desenvolvimento de sabor desagradável e de substâncias tóxicas,

descoloração de pigmentos e perdas nutricionais. (COTRIM, 2007; EMBRAPA, 2009).

No peixe salgado, a oxidação de lipídios é favorecida tendo em vista que, além de

conterem muitos ácidos graxos poliinsaturados, a presença do sal acelera esta reação. O

26

processo de oxidação ocorre tanto durante a salga quanto no período de estocagem

(CASTRO, 2009).

A rancidez oxidativa é determinada fundamentalmente pelo conteúdo de gordura e pelas

propriedades enzimáticas da matéria-prima, concentração de sal, temperatura, pH e

entrada de oxigênio. Quando a luz e um agente sensibilizante, como a clorofila, estão

presentes, a ativação do oxigênio em oxigênio singlete pode desempenhar um papel

importante na indução da deterioração oxidativa. A presença de microrganismos

também é importante, pois possuem enzimas que podem exercer efeito oxidante

(COTRIM, 2007; CASTRO, 2009).

Os produtos, quando afetados pela rancidez oxidativa, sejam eles, matérias primas,

alimentos ou rações, não são prejudicados somente no seu componente lipídico, mas

também no seu componente protéico e vitamínico, principalmente no que diz respeito às

vitaminas hidrossolúveis como complexo B e C (CASTRO, 2009).

Muitos métodos químicos e físicos têm sido propostos para quantificar a formação dos

compostos resultantes da oxidação lipídica em carnes. Os produtos mais frequentemente

medidos são hidroperóxidos e dienos conjugados para a oxidação primária, e

substâncias voláteis (SRATB) para a secundária. Entre eles existem vantagens e

desvantagens, porém os mais simples e rápidos são baseados na quantificação de

pigmentos medidos espectrofotometricamente. Um método prático e barato, e por isso

mais usado na avaliação de oxidação de gorduras em carnes, é o teste de TBA, proposto

por TARLADGIS (1960), que se baseia na quantificação de composto colorido

resultante da reação entre produtos da oxidação com o ácido 2-tiobarbitúrico (TBA)

(COTRIM, 2007; EMBRAPA, 2009).

O ácido tiobarbitúrico (TBA) reage com os tecidos produzindo uma coloração rosa,

resultado da formação de um complexo entre os compostos oxidados de gordura. A

reação envolve o ácido 2-tiobarbitúrico com o malonaldeído (Figura 1), produzindo um

composto de cor vermelha, medido espectrofotometricamente a 532 nm de

comprimento de onda. O teste de SRATB também possui correlação positiva entre seus

valores e o escore de rancificação avaliado pela análise sensorial, sendo apropriado na

determinação do estado de oxidação lipídica em alimentos (COTRIM, 2007;

EMBRAPA, 2009; OSAWA, 2005).

27

Figura 1: Reação do teste de TBA entre o ácido 2-tiobarbitúrico e o malonaldeído, formando o composto

colorido, medido espectrofotometricamente a 532 nm.

Os resultados destas análises são normalmente expressos em unidades de absorvência

por unidade de peso da amostra ou em “valor TBA”, definido como o peso em mg de

MA por kg de amostra (SILVA, 1999).

2.3 MICROBIOLOGIA DO PESCADO

O Ministério da Saúde por meio da Resolução RDC nº 12, de 12 de janeiro de 2001

determina, para peixes moluscos e crustáceos secos e ou salgados, um padrão para

coliformes a 45ºC/g de 102

UFC/g (unidade formadora de colônia/grama), para

Staphylococcus coagulase positiva de 5 x 102 UFC/g e para Salmonella sp. ausência em

25g (BRASIL, 2001).

Os coliformes são bastonetes Gram-negativos, não esporulados, que fermentam a

lactose dentro de 48 horas. Eles são representados pelo gênero da família

Enterobacteriaceae: Citrobacter, Enterobacter, Escherichia e Klebsiella. Um teste para

coliformes termotolerantes é essencialmente um teste para E. coli tipo I. Visto que a E.

coli é melhor indicador de contaminação fecal. É desejável a determinação de sua

incidência em uma população de coliformes. O teste IMViC (I=produção de indol,

M=reação de vermelho de metila, V=reação de Voges-Proskauer e C=utilização de

citrato) é o método clássico utilizado para a identificação de E. coli (HUSS, 1997; JAY,

2005; CASTRO,2009; FRANCO; LANDGRAF, 2008).

O habitat primário da E. coli é o trato intestinal de animais de sangue quente. A

pesquisa de coliformes ou de E. coli nos alimentos fornece informações sobre condições

higiênicas do produto. Em alimentos processados, a presença de um número elevado

desses microrganismos indica processamento inadequado e/ou recontaminação pós-

processamento, sendo as causas mais frequentes aquelas provenientes da matéria-prima,

equipamento sujo ou manipulação sem cuidados de higiene (CASTRO,2009; HUSS,

28

1997; JAY, 2005; FRANCO; LANDGRAF, 2008; LUNDGREN, 2009; SANTOS et al,

2012).

As bactérias do gênero Staplylococcus são cocos Gram-positivos, pertencentes à família

Micrococcaceae, quando vistos ao microscópio aparecem na forma de cachos de uva.

Staphylococcus aureus corresponde ao grupo de bactérias anaeróbicas facultativas com

maior crescimento sob condições aeróbias. São bactérias mesófilas, com temperatura de

crescimento na faixa de 7 a 47,8ºC, pH de 4 a 9,8, com ótimo entre 6 e 7. As bactérias

desse gênero são tolerantes a concentrações de 10% a 20% de NaCl e a nitratos, o que

torna alimentos curados veículos potenciais para as mesmas (HUSS, 1997; JAY, 2005;

CÂMARA, 2002, FRANCO; LANDGRAF, 2008;; SANTOS et al, 2012).

Staplylococcus aureus causa intoxicação provocada pela ingestão do alimento que

apresenta a toxina pré-formada, portanto, o agente causador da doença não é a bactéria,

mas várias toxinas produzidas pela mesma, conhecida como enterotoxinas. Essa espécie

é hospedeira de humanos e outros animais, encontrados em grande número próximo a

aberturas do corpo e superfícies da pele, como, por exemplo, nas narinas, axilas e na

área das virilhas. A contagem de Staphylococcus coagulase positiva em alimentos tem

como finalidade: relacionar estes microrganismos à saúde pública para confirmar o seu

envolvimento em surtos de intoxicação alimentar, e para controlar a qualidade

higiênico-sanitária nos processos de produção e manipulação de alimentos. Neste último

caso, serve como indicador de contaminação pós-processo ou das condições de

sanitização das superfícies que entram em contato com os alimentos (JAY, 2005;

FRANCO; LANDGRAF, 2008; LUDGREN, et al, 2009; SANTOS et al, 2012).

O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e compreende bastonetes

Gram-negativos não produtores de esporos. São anaeróbios facultativos, produzem gás

a partir de glicose e são capazes de utilizar o citrato como única fonte de carbono, são

capazes de crescer em diversos meios de cultura, formando colônias visíveis em 24

horas a 37ºC. O pH ótimo de crescimento é próximo da neutralidade entre 6,6 e 8,2, a

atividade de água é maior que 0,94. Esses microrganismos, ao contrário dos

estafilococos, não toleram grandes concentrações de sais, sendo bactericida salmora

com concentração acima de 9% (HUSS, 1997; JAY, 2005; FRANCO, 2008;

LANDGRAF, 2008; LUDGREN, et al, 2009).

29

As salmonelas são amplamente encontradas em hábitat de animais, como aves, répteis,

homens e ocasionalmente insetos, sendo o trato intestinal o principal reservatório.

Porém, não é naturalmente encontrado no pescado, podendo ser transferida a estes a

partir de águas litorâneas poluídas com dejetos humanos e de animais, ou por

contaminação do pescado pós-captura (HUSS, 1997; JAY, 2005; FRANCO, 2008;

LANDGRAF, 2008; CASTRO,2009).

30

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37

CAPÍTULO 2: AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-

QUÍMICA DAS ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema

oglinum), MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) E PITITINGA (anchoa sp.)

SALGADOS E SECOS PRODUZIDOS NO RECÔNCAVO BAIANO

EVALUATION AND CHARACTERIZATION PHYSICAL

CHEMISTRY OF FISH SPECIES SARDINHA (Opisthonema oglinum),

MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) AND PITITINGA (Anchoa sp.)

SALTED AND DRY PRODUCED IN RECÔNCAVO BAIANO

Naiara GONDIM

1, Maria P. Spínola MIRANDA

2

1 Mestranda em Ciências de Alimentos, Faculdade de Farmácia – Universidade Federal

da Bahia 2 Orientadora docente Dep Análises Bromatológicas da Faculdade de Farmácia -

Universidade Federal da Bahia.

38

RESUMO

O presente estudo analisou a composição físico-química de peixes miroró (Gobionellius

aceanicus), sardinha (Opisthonema oglinum) e pititinga (Anchoa sp.) salgados e secos

procedentes da região estuarina de Acupe, Saubara, Cachoeira, São Féliz e Santo Amaro

situadas no Recôncavo Baiano. Três amostras de cada espécie de peixe foram coletadas

durante o outono (meses de abril a junho de 2013). Foram realizadas análises da

composição centesimal umidade, proteína, cinzas, lipídios, carboidratos, pH, atividade

de água (Aw), acidez titulável e ácidos graxos. A composição centesimal foi realizada

conforme metodologia da AOAC e a composição de ácidos graxos foi realizada por

cromatografia gasosa com previa esterificação. Os resultados obtidos demonstraram que

os peixes salgados e secos são importantes fontes de proteína e teor de lipídios. No

perfil de ácidos graxos foram identificados 16 ácidos graxos, sendo o ácido C16:00

(ácido palmítico) o que apresentou maior concentração nas três espécies analisadas

(10,47% em sardinhas, 3,04% em miroró, e 8,5% em pititinga). Quanto aos teores de

ácidos graxos totais (TS) a sardinha foi o que apresentou maior concentração 19,71%. A

pesquisa revela a importância do consumo destes peixes pela população da região do

Recôncavo Baiano por se tratar de alimentos com alto teor nutritivo, ainda

negligenciado em estudos.

Palavras-chave: Peixes. Comercialização em feiras. Composição centesimal.

Recôncavo baiano.

39

ABSTRACT

This present study analyzed the composition physical chemistry of miroró fishes

(Gobionellius aceanicus), sardine (Opisthonema oglinum) and pititinga (Anchoa sp.)

salty and dried derived from the estuarine region of Acupe, Saubara, Cachoeira, São

Félix and Santo Amaro located at the Recôncavo Baiano. Three samples of each fish

species were collected during the fall (april to june, 2013). It were made analysis of the

centesimal composition humidity, protein, ashes, lipids, carbohydrate, ph, water activity

(Aw), titratable acidity and fatty acids. The centesimal composition was made according

to the AOAC methodology, and the fatty acids composition was made by gas

chromatrography using previous esterification. The results obtained demonstrated that

the salty and dried fishes are important sources of protein and content of lipids. In the

fatty acids profile were identified 16 fatty acids, being the acid C16:00 (palmitic acid)

the one which presented larger concentration between the three species analyzed

(10,47% in sardinhas, 3,04% in miroró, e 8,5% in pititinga). Talking about the contents

of total fatty acids (TS), the sardine fish was the one which presented larger

concentration 19,71%. The research reveals the importance of this fishes consumption

from the region of Recôncavo Baiano, for being one of the most important nutrition, yet

neglected in research.

Keywords: Fishes. Commercialization at markets. Centesimal composition. Recôncavo

baiano.

40

1. INTRODUÇÃO

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição e alto valor

nutritivo. Condições estas que favorecem um excelente meio de cultura para o

desenvolvimento de microrganismos patogênicos. Devido à sua perecibilidade, a

comercialização do pescado em regiões distantes da costa geralmente é dada,

principalmente, após processo industrial de conservação, tais como: congelamento,

secagem e salga (MORAES, 2008; FREITAS, 2011).

Dessa forma, a utilização das diversas formas de processamento e conservação do

pescado se faz necessário para agregar valor aos produtos e favorecer o maior consumo

de produtos à base de peixe (FREITAS, 2011).

A composição química do pescado tem como seu principal componente a água que

varia entre 64% a 90%, seguido de proteínas de 8% a 23%, gorduras de 0,5% a 25%,

resíduo mineral de 1% a 2%, e carboidratos menos de 1% (ANDRADE 2009;

PROTEÍNAS..., 2013). As diferenças entre o tipo e o teor dos componentes nutricionais

e respectivas concentrações, são devidas a características genéticas, idade, peso, habitat,

época do ano, qualidade e quantidade de alimentos disponíveis (ALMEIDA, 2006;

BASTOS, 2006; ANDRADE 2009; MENEZES, 2009; KOBLITZ, 2011).

Em geral, o pescado íntegro contém 64% a 90% de umidade, com exceções de água-

viva e pepino-do-mar. O processo de secagem corresponde à redução de umidade no

pescado, onde não deve conter mais que 35% de água no pescado salgado-seco

(BRASIL, 1997; OLIVEIRA, 2008).

A água é um fator individual que mais influi na alteração dos alimentos, este conteúdo

de água é expresso pelo valor obtido na determinação da água total contida no alimento.

O teor de água livre é expresso como atividade de água (BOBBIO, 2001; ORDOÑEZ,

2005).

Os minerais são elementos inorgânicos necessários para todas as formas de vida. Sua

concentração varia quantitativamente apenas em função da qualidade da água ambiente

e sua alimentação. Contudo, quando se trata de pescado salgado e seco o parâmetro

cinza será influenciado diretamente pela quantidade de cloreto de sódio adicionada

41

durante o processo tecnológico. (ORDOÑEZ, 2005; VIANA, 2008; MÁRCICO, 2009;

KOBLITZ, 2011).

Composto cada vez mais importante na nutrição humana, os lipídios são fontes

importantes de energia para o organismo. Quando estes são provenientes de pescado,

são de modo geral fonte importante de ácidos graxos poli-insaturados (AGPI),

especialmente de ômega-3 (BASTOS, 2006; SARTORI, 2012). Em geral, peixes

marinhos são caracterizados por apresentar uma relação n-3/n-6 alta, variando entre 5 a

mais que 10. Isto se deve ao alto conteúdo de PUFAs de cadeia longa da série n-3 de

algumas espécies de fitoplâncton marinho, contidos em sua dieta (SOUZA et al, 2007).

Devido à escassez de informações na literatura a respeito desses peixes marinhos de

pequeno porte, o presente trabalho teve como objetivo determinar a composição

centesimal e propriedades físico-químicas das espécies de peixes sardinha

(Opisthonema Oglinum), pititinga (Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus Oceanicus)

salgados e secos comercializados no Recôncavo Baiano.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Considerando a influência da sazonalidade, as coletas foram realizadas durante o

período de outono, entre os meses de abril e maio de 2013. Obtivemos seis coletas de

três espécies diferentes de peixes pequenos: sardinha (Opisthonema Oglinum), pititinga

(Anchoa sp.) e miroró (Gobionellus Oceanicus). Espécies das mais consumidas na

região do Recôncavo Baiano nas cidades de Acupe, Saubara, Cachoeira, São Féliz e

Santo Amaro, sendo capturados e processados em maior escala nas cidades de Saubara e

Acupe.

As coletas foram realizadas em intervalos de 15 dias entre uma coleta e outra. Todos os

experimentos foram realizados em triplicata. A fim de que os dados obtidos refletissem

a média da composição confiável que represente a população explorada, no presente

estudo não foi levado em consideração a idade e o sexo dos peixes, mas apenas o peso e

quantidade de indivíduos coletados.

2.1 Obtenção das amostras

Devido a sazonalidade das espécies, não foi possível coletar todos os tipos de peixes a

serem estudados em cada coleta, sendo necessário haver 06 coletas diferentes para se

42

obter um total de 03 coletas por espécie. As amostras foram coletadas em feiras livres

de modo secos e salgados, da mesma forma de consumo da população local,

transportadas em sacos 3M estéreis e em caixa com isolante térmico para preservar suas

características para as análises microbiológica e físico-química, armazenadas em freezer

e analisadas no intervalo entre 02 (dois) a 15 (quinze) dias após a coleta.

As amostras foram adquiridas em feiras livres, em média por coleta de 20 unidades de

sardinha (peso médio de 15g), 147 unidades de pititinga (peso médio de 2,03g) e 184

unidades de miroró (peso médio de 1,63g), nas mesmas condições de comercialização

para a população, salgados e secos, sem presença das entranhas (vísceras) e encaminhas

para o Laboratório de Pesquisa em Análises de Alimentos, Aditivos e Contaminantes

(LAPAAC).

2.2 Análises Físico-químicas

Para as análises físico-químicas foram acondicionados 300g de peixe em sacos plásticos

3M estéreis, sendo que cada saco plástico 3M estéreis acondicionaram 200g para

análises microbiológicas e 100g para análises físico-químicas. Devido aos peixes serem

de porte pequeno, foram necessários vários indivíduos para compor a gramatura

necessária por coleta. Os peixes foram coletados e analisados com cabeça e cauda,

sendo a sardinha eviscerada.

Para cada espécie foi adquirido um total de 300g, em cada coleta, e encaminhadas para

o Laboratório de Pesquisa em Análises de Alimentos, Aditivos e Contaminantes

(LAPAAC).

Após a identificação visual e tática de cada espécie, as amostras foram trituradas

separadamente em processador de alimentos. As análises físico-químicas foram

realizadas para determinar teores de umidade, cinzas, lipídios, proteínas e carboidratos

por diferença, determinar o pH, acidez titulável e atividade de água (aw) e identificar

presenças de ácidos graxos.

Para a determinação da atividade de água (Aw), alíquotas medida em triplicatas foram

introduzidas na célula do equipamento e realizada a medição direta no aparelho Aqualab

Lite®. O resultado foi expresso em atividade de água relativa à temperatura no instante

da medição.

43

A determinação de pH foi realizada por meio da medida em pHmetro digital, de acordo

com a metodologia n° 350/IV descrita no IAL (2008).

A análise de acidez titulável foi determinada com solução de hidróxido de sódio

(NaOH) 0,1M, usando como indicador fenolftaleína, segundo método nº 320/IV do IAL

(2008).

A umidade foi determinada pela perda de peso em estufa regulada a 105°C, segundo

AOAC (2012).

As cinzas foram obtidas por incineração de quantidade conhecida da amostra, em mufla

a 550°C, até obtenção de peso constante AOAC (2012).

As análises de proteínas foram realizadas pelo método de Kjeldahl, de acordo com a

metodologia (AOAC, 2000).

Os lipídios totais foram obtidos por meio da extração por Bligh Dyer modificado para

pescado, segundo método Bligh Dyer (1959).

Os carboidratos foram obtidos por diferença das análises de umidade, cinzas, proteínas e

lipídios.

2.2.1 Perfil de ácidos graxos

Para a determinação da composição de ácidos graxos da fração lipídica foi realizada a

esterificação dos ácidos graxos dos lipídios totais, segundo Joseph & Ackman (1992).

Uma alíquota dos lipídios totais (entre 20 a 25mg) foi submetido à reação de

saponificação com NaOH 0,5M em metanol, seguida de metilação com catalisador BF3

(12% em metanol). Todas as etapas do processo foram realizadas sob atmosfera de

nitrogênio gasoso.

A separação dos ésteres metílicos de ácidos graxos (EmAG) foi realizada em

cromatógrafo a gás (Varian 3800), equipado com detector de ionização de chama (CG-

DIC), e coluna capilar de sílica fundida ELITE-WAX (30mx0,32mmx0,25μm). As

injeções foram realizadas em duplicatas para cada amostra e o volume de injeção foi de

1μL.

44

A identificação dos ácidos graxos foi realizada por comparação dos tempos de retenção

dos picos das amostras com o tempo de retenção dos EmAG de padrão mix (189-19,

Sigma, EUA).

A quantificação dos ácidos graxos foi realizada pelo método de normalização através

das áreas dos picos e os resultados de ácidos graxos foram expressos em percentagem

relativa de área (%).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análises Físico-químicas

As frequências médias de atividade de água Aw, pH e acidez titulável (%)

respectivamente para as espécies: Sardinha, Miroró e Pititinga encontram-se expressos

na Tabela 1.

Tabela 1. Atividade de água, pH e acidez das amostras de sardinha, miroró e pititinga, peixes salgados e

secos, procedentes do recôncavo baiano.

Amostra/composição

Aw (média±desvio padrão)

pH (média±desvio padrão)

Acidez % (média±desvio

padrão)

Sardinha 0,756 ±0,026 6,470±0,124 10,951±2,425

Miroró 0,684±0,005 6,180±0,222 17,644±2,835

Pititinga 0,708±0,023 6,850±0,194 9,126±2,755

Verifica-se que os valores de pH para as três espécies foram semelhantes. Ao

compararmos com dados obtidos por outros pesquisadores observa-se que estudos

realizados no Rio Grande do Sul por Torres, et al (2012), os valores de pH para a traíra

variaram entre 6,39 e 6,42, e para o pintadinho a faixa foi entre 6,12 e 6, 22, valores

portanto semelhantes ao peixe miroró. Porém vale ressaltar que os valores de pH

encontrados por Torres, et al (2012), foram realizados em peixes considerados frescos

estando portanto dentro dos parâmetros da legislação que, segundo Brasil (1997), o pH

deve se manter entre 6,0 e 6,5.

No que se refere à atividade de água (Aw) os valores médios encontrados neste estudo

variaram de 0,68 a 0,75 para as três espécies e são semelhantes aos encontrados por

45

Nunes (2013) de Aw média de 0,73. Lima e Santana (2011) encontraram valores de

atividade de água variando de 0,74 a 0,75 que, de acordo com Jay (2005), é considerado

um alimento de umidade intermediária e estável por apresentar Aw entre 0,60 e 0,85.

Todavia, a Aw não é considerada nas legislações como parâmetro de qualidade para

peixes salgados e secos. No entanto, devido a importância deste parâmetro na

estabilidade dos produtos é necessário que se utilize o valor de Aw de 0,75 como limite

máximo para peixes salgados e secos.

Em relação à composição centesimal (Tabela 2), no que se refere à umidade verifica-se

que a sardinha foi a espécie que apresentou os maiores valores, seguido da pititinga. Os

valores encontrados para sardinha e pititinga respectivamente (42,070±2,695 e

37,280±5,976) encontram-se superiores aos valores preconizados pela Legislação Brasil

(1997), enquanto que o teor de umidade encontrado no peixe miroró está dentro dos

parâmetros estabelecidos nesta mesma legislação para pescado salgado e seco, produto

obtido pela dessecação do pescado íntegro tratado previamente pelo sal (cloreto de

sódio), que não deve conter mais de 35% (trinta e cinco por cento) de umidade, nem

mais de 25% (vinte e cinco por cento) de resíduo mineral fixo total.

Os parâmetros de umidade apresentaram algumas faixas fora dos padrões especificados

pela legislação, isso pode ter ocorrido devido ao tempo e estação chuvosa não

permitindo a completa secagem dos peixes, uma vez que o procedimento é realizado ao

ar livre submetido ao sol.

46

Tabela 2. Composição centesimal de Sardinha, Miroró e pititinga, peixes pequenos salgados e secos,

comercializados no recôncavo.

Amostra/composição

Umidade (g/100g)

(média±desvio padrão)

Teor de Cinzas

(g/100g) (média±desvi

o padrão)

Lipídios (g/100g)

(média±desvio padrão)

Proteína (g/100g)

(média±desvio padrão)

Carboidratos por diferença

(g/100g) (média±desvi

o padrão)

Sardinha 42,070±2,695 18,148±0,795 7,843±0,030 27,00±2,4665 1,602±1,29

Miroró 32,990±2,931 18,167±0,140 3,643±0,187 45,192±2,576 0,02±1,50

Pititinga 37,280±5,976 18,002±0,456 6,021±0,019 38,610±1,661

0,089±2,71

Porém, se comparado aos padrões do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2000),

verifica-se que o miroró encontra-se na faixa média que preconiza valores máximos

para peixes salgados secos, sendo peixe gordo - máximo de 40% e peixe magro -

máximo de 45%. Enquanto isso, o peixe sardinha encontra-se com valores médios fora

da faixa de teor de umidade. Já para o peixe pititinga encontra-se com valores médios na

faixa, porém algumas amostras apresentaram índices fora da faixa de valores, de acordo

com o desvio padrão apresentado.

Entretanto, vale ressaltar que o período de coleta das amostras (outono) na região do

Recôncavo Baiano é bastante chuvoso, o que pode ter influenciado significativamente

nos resultados, uma vez que estas espécies são secas ao sol e a sardinha possui maior

massa músculo do que o miroró.

Por outro lado, os resultados das análises de Arapaima Gigas apresentados na tese de

doutorado realizada por Nunes (2013), revela valores médios de umidade bem mais

elevados do que os encontrados neste estudo 46,99 ± 3,71g/100g.

Castro (2009), ao avaliar os peixes secos e salgados comercializados em feiras livres do

município de Belém, encontrou teor de umidade nas amostras oscilando entre e 33,94%

e 56,51%

Lourenço et al (2001), ao estudarem pescada-branca salgada e seca em secador solar,

observaram teores médios de 35,9% de umidade após 15 horas de secagem no músculo

de pescada branca salgada e seca em secador solar. Hilbig et al (2008), ao estudarem

tilápias submetidas à salga e secagem, constataram teor médio de 52,01% de umidade

47

em músculos de tilápias salgadas após 7 dias de secagem. Ferreira et al (2002) afirmam

que produtos secos que não atingiram os níveis recomendados de umidade, ficando

parcialmente secos, devem ser conservados à baixa temperaturas para evitar a

deterioração.

Ao analisar amostras de bacalhau e peixes salgados em supermercados e empresas

importadoras do Estado de São Paulo, Lima e Santana (2011) encontraram teores

médios de umidade variando entre 49,4 e 52,3%, em que apenas uma amostra de

bacalhau do Atlântico, uma de bacalhau do Pacífico, uma de Saithe e uma de Zarbo

estavam dentro dos limites sugeridos pela proposta brasileira, de no máximo 45% e

discutem ainda que esses valores se aproximaram do limite superior de alimentos de

umidade intermediária, ou seja, de 15 a 50% (JAY, 2005) e acima do valor máximo de

45% estabelecido pela proposta brasileira (BRASIL, 2000). Por outro lado, a Legislação

portuguesa considera as diferentes formas de processamento para estabelecer limites

inferiores e superiores para os teores de umidade, demonstrando uma melhor adequação

desta metodologia, uma vez que esses peixes foram provindos desta região.

Os teores de cinzas variaram na proporção dos níveis de sal adicionados às amostras. As

cinzas são, na verdade, uma maneira indireta de avaliar a absorção do sal, porque o

cloreto não se decompõe em temperaturas até 550 °C (SANT’ANA, 2003).

Todos os peixes analisados apresentaram teores de cinzas de acordo com o estabelecido

por Brasil (1997) que rege valor máximo de 25% para pescado salgado e seco, e os

valores encontrados para os peixes sardinha, miroró e pititinga variaram entre 17,5 a

18,9%.

Em relação ao teor de proteína encontrado nas amostras avaliadas os valores foram

bastante elevados, sendo 30,34, 45,192 e 38,61 g/100g, para os peixes sardinha, miroró

e pititinga respectivamente, podendo enquadrar estes produtos como fonte proteica

importante. Esses valores encontrados foram bem superiores aos valores encontrados

por Tonial et al (2010) ao estudarem o teor proteico em salmão encontraram 17,89%

para o salmão in natura e 22,71% para o salmão grelhado. Com relação ao teor proteico

da sardinha, os valores encontrados foram mais elevados que os valores reportados por

Viana (2008) e por Bruschi (2001), valores de 20 e 18%.

48

Os valores de carboidratos obtidos por diferenças variaram entre as espécies de 0 a

2,8%, estando, alguns valores, em conformidade com os autores Almeida (2006),

Bastos (2006), Andrade (2009), Menezes (2009) e Koblitz (2011), afirmam que os

peixes possuem menos de 1% de carboidatos.

Quanto ao teor de lipídios, de acordo com os resultados obtidos, o peixe miroró pode ser

considerado uma espécie magra, uma vez que apresenta percentual médio de lipídios de

3,64g ±0,187, enquanto as espécies sardinha e pititinga apresentaram teores de

7,84g/100g e 6,02g/100g respectivamente, e enquadram-se como espécies gordas, de

acordo com Penfield e Campbell (1990), que classificam os peixes quanto ao teor de

gordura em magros (abaixo de 5% de gordura) ou gordos (acima de 5% de gordura).

Estas espécies de peixes habitam águas tropicais. No local onde as amostras foram

capturadas, corresponde a região estuarina, portanto ricas em alimentos marinhos, em

especial plâncton, que pode diretamente influenciar a composição destas espécies.

3.1.1 Perfil de ácidos graxos

No perfil de ácidos graxos foram identificados 16 ácidos graxos (Tabela 3), sendo o

ácido C16:00 (ácido palmítico) o que apresentou maior concentração nas três espécies

analisadas. Quanto aos teores de ácidos graxos totais (TS) o peixe sardinha foi o que

apresentou maior concentração 19,71%, seguido do pititinga 18,25% e miroró 8,49%.

Em relação aos ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) o miroró foi o que apresentou

maior concentração 4,90%, seguida da pititinga 4,78% e por sardinha 4,21%. Os ácidos

graxos de menores concentrações apresentadas foram os poli-insaturados (PUFA), de

concentrações de 1,24, 1,51 e 1,52% dos peixes sardinha, pititinga e miroró,

respectivamente.

Tabela -3 Perfil de ácidos graxos de Sardinha, Miroró e pititinga, peixes pequenos salgados e secos,

comercializados no recôncavo.

ácidos graxos / peixes sardinha (% média) miroró (% média) pititinga (%média)

C14:0 1,46 0,35 1,58

C15:0 0,55 2,17 0,44

49

C16:0 10,47 3,04 8,5

C16:1 1,57 0,68 2,05

C17:0 0,76 0,98 -

C17:1 - 1,66 -

C18:0 3,89 0,63 2,81

C18:1 2,64 1,17 2,73

C18:2 0,94 0,73 0,86

C18:3 0,34 - 0,65

C20:0 - 0,66 -

C20:1 - 0,61 -

C22:0 0,88 - 1,52

C22:6 - 0,79 -

C24:0 1,70 0,66 3,40

C24:1 - 1,78 -

TS: total de ácidos graxos saturados; MUFA: ácidos graxos monoinsaturados; PUFA: ácidos graxos poli-insaturados.

Total TS 19,71 8,49 18,25

MUFA 4,21 4,90 4,78

PUFA 1,24 1,52 1,51

50

Uma forma de conhecer as exigências lipídicas dos peixes é fazer uma avaliação da

relação ótima entre as séries de seus ácidos graxos em animais saudáveis em seu habitat

natural. Segundo Souza, et al (2007), peixes marinhos são caracterizados por apresentar

uma relação n-3/n-6 (MUFA/PUFA) alta, variando entre 5 a mais que 10. Geralmente,

ácidos graxos n-3 dominam sobre ácidos graxos n-6, numa proporção de 5-20 em

alimentos marinhos.

Porém, a relação encontrada nos peixes estudados salgados e secos foi de 3,4 para a

sardinha, 3,2 para o miroró e 3,1 para a pititinga. Esses valores inferiores, comparados à

literatura, podem ter sido devido à degradação dos ésteres metílicos no processo de

salga e secagem dos peixes. Entretanto, esses valores foram relativamente altos levando

em consideração o baixo teor lipídico encontrado nestes peixes.

Pode-se dizer que a alta concentração desses ácidos saturados, e relação n-3/n-6, nos

peixes analisados, deve-se à alimentação, que é baseada no consumo de

macroinvertebrados aquáticos e fitoplanctos, alimentos ricos em ômega-3 como o ácido

eicosapentaenóico (EPA, 20:5n-3) e docosahexaenóico (DHA 22:6n-3) (SOUZA, et al,

2007; TONIAL, et al, 2010).

Segundo Souza, et al (2007), outro índice utilizado para avaliar o valor nutricional de

óleos e gorduras é a razão entre ácidos graxos poli-insaturados/saturados (PUFA/TS),

cujos valores inferiores a 0,45 têm sido considerados como indesejáveis à dieta por sua

potencialidade na indução do aumento de colesterol sanguíneo. Neste estudo, os valores

encontrados foram de 0,066, 0,18 e 0,08 para amostras de sardinha, miroró e pititinga

respectivamente, mostrando que, embora não possuam uma boa relação entre esses

ácidos graxos, apresentam ótimos valores nutricionais, conforme discutidos acima.

51

4. CONCLUSÃO

Diante dos resultados expostos, este estudo mostra que, apesar dos peixes serem

comercializados em feiras livres, eviscerados salgado e seco artesanalmente e estocados

em temperaturas ambientes, a qualidade físico-química de composição de cinzas e pH

destes peixes permanece dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente.

Os resultados obtidos demonstram que os peixes secos salgados são importantes fontes

de proteína e teor de lipídios. A relação MUFA/ PUFA Omega -6/Omega- 3 para a

sardinha, miroró e pititinga foi de uma relação aproximada de 4:1. Estes valores são

preconizados para o equilíbrio destes ácidos para o organismo.

A pesquisa revela a importância destes peixes, ainda negligenciados, para a população

local, por se tratar de uma das principais formas de alimentação por parte da população

da região do Recôncavo Baiano. Por tratar-se de um estudo pioneiro com estas espécies,

os resultados obtidos são promissores. Estes agregam valor às espécies na continuidade

da pesquisa. Outras análises já estão sendo conduzidas para avaliar de forma plena estas

espécies de peixes que habitam águas tropicais e. pela localidade e hábitos alimentares

da região onde as amostras foram capturadas, estas espécies tem o potencial de ser uma

fonte de grande importância nutricional para as populações ribeirinhas.

52

5. REFERÊNCIAS

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56

CAPÍTULO 3: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA

DAS ESPÉCIES DE PEIXES SARDINHA (Opisthonema oglinum),

MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) E PITITINGA(anchoa sp.) SALGADOS

E SECOS COMERCIALIZADOS NO RECÔNCAVO BAIANO

MICROBIOLOGICAL QUALITY ASSESSMENT OF FISH SPECIES SARDINHA (Opisthonema oglinum), MIRORÓ (Gobionellus oceanicu) AND PITITINGA (Anchoa sp.) DRIED SALTED AND SOLD IN RECÔNCAVO BAIANO

Naiara GONDIM

1, Maria P. Spínola MIRANDA

2, Clícia Capibaribe LEITE

3

1 Mestranda em Ciências de Alimentos, Faculdade de Farmácia – Universidade Federal

da Bahia 2 Orientadora docente Dep Análises Bromatológicas da Faculdade de Farmácia -

Universidade Federal da Bahia. 3 Docente colaboradora do Dep Análises Microbiológicas de Alimentos da Faculdade de

Farmácia - Universidade Federal da Bahia.

57

RESUMO

O pescado constitui excelente fonte alimentar devido ao seu alto valor nutritivo. Por

conta da sua perecibilidade, vários processos de conservação são indicados. Condições

inadequadas de manuseio e conservação podem acarretar em grande risco à saúde.

Devido à importância da comercialização desses peixes marinhos secos e salgados por

pescadores artesanais e consumidos pela população da região, o presente trabalho teve

como objetivo a avaliação da qualidade microbiológica e fatores determinantes da

qualidade das espécies de peixes sardinha (opisthonema oglinum), pititinga (anchoa sp.)

e miroró (gobionellus oceanicus) salgados e desidratados comercializados no

Recôncavo Baiano. Foram coletadas seis amostras de três espécies diferentes de peixes

pequenos mais consumidas na região no outono de 2013: sardinha, pititinga e miroró.

Estas espécies foram submetidas às análises de atividade de água (aw), teor de oxidação

por Ácido Tiobarbitúrico (TBA) e atividade microbiológicas quanto a coliformes totais

(NMP/g), estafilococos coagulase positiva (UFC/g) e presença de salmonella sp. em

25g. Quanto ao teor de aw os peixes das espécies citadas apresentaram resultados

variando de 0,68 a 0,75,o teor de TBA variou de 0.92 a 3,78. Quanto às análises

microbiológicas, todas as amostras alcançaram atendimento à legislação vigente. Os

resultados permitiram evidenciar a qualidade aceitável dos peixes de maior

comercialização em feiras na região do Recôncavo Baiano, indicando níveis

microbiológicos aceitáveis. Índices de grande importância devido ao alto consumo pela

população local.

Palavras-chave: Peixes. Microbiologia de alimentos. Comercialização em feiras.

Recôncavo Baiano.

58

ABSTRACT

The fish is an excellent food source due to its high nutritional value. Due to the

perishability, lots of conservation processes are indicated. Inadequate conditions of

handling and conservation can cause large risk to the health. Due to the importance in

commercializing (by artisanal fishermen) these salty, dried marine fishes and consumed

by the population from the region, this present work had as its goal the avaliation of

microbiological quality and determinant factores from the species of fishes sardine

(opisthonema oglinum), pititinga (anchoa sp.) and miroró (gobionellus oceanicus) that

are salty, dehydrated and marketed at the Recôncavo Baiano. It was taken six samples

from three different species of small fishes in October, 2013: sardinha, pititinga e

miroró, species more consumed at the Recôncavo Baiano. These species were submitted

to the analysis of water activity (aw), oxidation content by Tiobarbitúrico Acid (TBA)

and microbiological activity according to the total coliforms (NMP/g), estafilococos

coagulase positiva (UFC/g) and presence of salmonella sp. em 25g. Talking about

content of aw, the fishes from the specified species obtained results varying from 0,68

to 0,75, its content of TBA varied from 0,92 to 3,78. Talking about microbiological

analysis, all the samples were complied with the actual legislation. The results allowed

to evidence the acceptable quality of the fishes that are more marketed at markets from

Recôncavo Baino region, indicating acceptable microbiological levels, very important

indexes due to the high consume by local population.

Keywords: Fishes. Microbiology of Foods. Commercialization at markets. Recôncavo

Baiano.

59

1. INTRODUÇÃO

O pescado é um alimento altamente perecível em função da sua constituição e alto valor

nutritivo, condições estas que favorecem o desenvolvimento de microrganismos

patogênicos. Devido à sua perecibilidade, a comercialização do pescado em regiões

distantes da costa geralmente é dada, principalmente, após processo de conservação, tais

como: congelamento, secagem e salga (MORAES, 2008; FREITAS, 2011).

Deste modo, as diversas formas de processamento e conservação do pescado se faz

necessário para agregar valor aos produtos e favorecer o maior consumo de produtos à

base de peixe (FREITAS, 2011).

Os microrganismos encontrados no pescado provêm do próprio animal ou podem

contaminá-lo durante os processos de manipulação. Sendo as condições higiênicas nos

locais de processo de evisceração e salga, tempo de exposição à temperatura ambiente,

condições de estocagem e distribuição nos locais de comercialização, fatores

determinantes de sua qualidade microbiológica (LUNDGREN, 2009).

Deve-se considerar ainda que nas feiras livres os alimentos de origem animal, e seus

produtos derivados, ficam expostos sob condições insalubres, sujeitos à ações diretas

dos microrganismos patogênicos ou não, provenientes da contaminação do ambiente e

poluição ambiental, como também de insetos, quando não estão adequadamente

acondicionados ou embalados. Em alimentos processados, a presença de um número

elevado desses microrganismos indica processamento inadequado e/ou recontaminação

pós-processamento, sendo as causas mais frequentes aquelas provenientes da matéria-

prima, equipamento sujo ou manipulação sem cuidados de higiene (CASTRO,2009;

JAY, 2005; FRANCO; LANDGRAF, 2008; LUNDGREN, 2009; SANTOS et al, 2012).

A análise química é uma ferramenta importante para caracterizar o valor nutricional dos

produtos na alimentação animal e humana. O levantamento da qualidade do pescado é

de grande importância para o desenvolvimento da indústria pesqueira, garantindo o

beneficiamento, sem comprometimento da qualidade nutricional do produto,

melhorando seu estado higiênico sanitário, estendendo sua vida de prateleira e

60

contribuindo para a segurança alimentar e das boas práticas de produção de pescado em

geral (EMBRAPA, 2009).

No pescado salgado, a oxidação de lipídios é favorecida tendo em vista que, além de

conterem muitos ácidos graxos poliinsaturados, a presença do sal acelera esta reação. O

processo de oxidação ocorre tanto durante a salga como no período de estocagem

(CASTRO, 2009).

Muitos métodos químicos e físicos têm sido propostos para quantificar a formação dos

compostos resultantes da oxidação lipídica em carnes. Um método prático e barato, e

por isso mais usado na avaliação de oxidação de gorduras em carnes é o teste de TBA,

proposto por Tarladgis (1960), que se baseia na quantificação de composto colorido

resultante da reação entre produtos da oxidação com o ácido 2-tiobarbitúrico (TBA)

(COTRIM, 2007; EMBRAPA, 2009).

O Recôncavo Baiano, denominação dada ao conjunto de municípios em torno da Baía

de Todos os Santos, é uma das regiões onde comunidades de pescadores artesanais

estão concentradas. Isso ocorre devido à grande área de manguezais com grande

capacidade de cultivos de organismos aquáticos (VASCONCELLOS, 2012).

Essa região possui uma grande importância para a preservação da cultura local da pesca

e da catação de mariscos, onde engloba grande quantidade de trabalhadores da região

que através da pesca artesanal e/ou catação de mariscos extrai seu sustento familiar.

Devido à importância da comercialização desses peixes marinhos secos e salgados por

pescadores artesanais e consumidos pela população da região, o presente trabalho teve

como objetivo a avaliação da qualidade microbiológica e fatores determinantes das

espécies de peixes sardinha (Opisthonema Oglinum), pititinga (Anchoa sp.) e miroró

(Gobionellus Oceanicus) salgados e desidratados comercializados no Recôncavo

Baiano.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterizações das amostras

Considerando a influência da sazonalidade, foram realizadas durante o período de

outono, entre os meses de março e maio de 2013, seis coletas de três espécies diferentes

61

de peixes pequenos: sardinha, pititinga e miroró, espécies das mais consumidas na

região do Recôncavo Baiano nas cidades de Acupe, Saubara, Cachoeira, São féliz e

Santo Amaro, sendo capturados e processados em maior escala nas cidades de Saubara e

Acupe. As coletas foram realizadas em intervalos de 15 dias entre uma coleta e outra.

Todos os experimentos foram realizados em triplicata. A fim de que os dados obtidos

refletissem a uma média da composição confiável que represente a população explorada

no presente estudo não foi levado em consideração a idade ou o sexo dos peixes, mas

apenas o peso e quantidade de indivíduos coletados.

As amostras foram coletadas em feiras livres nas cidades de Saubara e Acupe de modo

secos, salgados e eviscerados, da mesma forma de consumo da população local. Não foi

mantido em refrigeração devido à sua comercialização ser em temperatura ambiente.

2.1 Análises microbiológicas

Para as análises microbiológicas foram acondicionados 200g de peixe em sacos

plásticos estéreis de marca 3M específicos para coletas microbiológicas. Devido aos

peixes serem de portes muito pequenos, foram necessários vários indivíduos para

compor a gramatura necessária por coleta. Os peixes foram coletados e analisados com

cabeça e cauda, porém eviscerados.

As análises microbiológicas foram realizadas para investigar estafilococcos coagulase

positiva, coliformes totais e presença de Salmonella.

Foram selecionadas um total de 200g de cada uma das espécies, em cada coleta, e

encaminhadas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos da faculdade de

Farmácia. Para a contagem de estafilococoos coagulase positiva e coliforme totais,

pesou-se assépticamente 25g de peixe em sacos plásticos estéril e adicionou-se a 225ml

de solução salina peptonada a 0,1% (diluição 10-1

). Homogeneizou-se o material por

aproximadamente 60 segundos, em “stomacher” (ITR- Instrumentos para Laboratório

TR Ltda.), e a partir desta diluição, prepararam-se as diluições 10-2

e 10-3

, conforme

procedimentos estabelecidos pela APHA (2001)

Para a quantificação de estafilococcus coagulase positivo utilizou-se o método de

contagem “Spread-plate” em Ágar Baird Parker (BP) com telurito de potássio a 3,5%,

62

em triplicata, depositando-se 0,1 ml de cada diluição (10-1,10-2,10-3) sobre a superfície

do ágar e, com auxílio da alça de Drigalsky, espalhou-se o inoculo por toda a superfície

do meio até a completa absorção. As placas foram incubadas, em estufa, a 37°C, por 24

- 48 horas (APHA, 2001). Colônias suspeitas foram submetidas a prova de coagulase

pelo uso do teste rápido Staphclin Latex (Laborclin) (DOWNES; ITO, 2001).

Para a determinação de Coliformes totais utilizou-se a técnica de tubos múltiplos pelo

número mais provável (NMP). Fez-se a diluição 10-1

, homogeneizando-se 25g de peixe

com 225ml de água peptonada a 1% e as diluições seriadas (10-2

, 10-3

), inoculou-se 1 ml

de cada diluição, em triplicata. O meio utilizado foi Caldo Lauril Sulfato Triptose (LST)

e incubou-se a 35°C durante 24 e 48 horas. Dos tubos presuntivamente positivos, com

turvação e produção de gás nos tubos de Durham, fez-se a confirmação com Caldo

Verde Brilhante Bile 2% nas mesmas condições de tempo e temperatura (APHA, 2001).

O isolamento de Salmonella spp., bem como sua confirmação e caracterização

bioquímica e sorológica foram realizados segundo metodologia preconizada pela

APHA, 2002, utilizando-se um enriquecimento primário em Água Peptonada

Tamponada (APT), seguido de um enriquecimento seletivo em Caldo Tetrationato (TT)

e Caldo Rappaport-Vassiliadis (RV). Após, foram inoculados em Agar Hektoen-enteric

(HE) e Xylose Lisina Desoxicolato (XLD), a fim de se obter colônias isoladas típicas de

Salmonella spp.. Essas colônias foram, então, submetidas a uma triagem bioquímica,

feita em uma seqüência de três tubos de ensaio, contendo, respectivamente, Ágar

Tríplice Ferro (TSI), Ágar Lisina Ferro (LIA) e Agar Uréia (UA). Os cultivos celulares

com características bioquímicas típicas de Salmonella spp. foram testados

sorologicamente, utilizando-se soro polivalente somático e soro polivalente anti-

Salmonella flagelar.

2.3 Índice de oxidação, atividade de água e substâncias reativas ao Ácido Tricloroacético

Para as análises de oxidação e atividade de água foram acondicionados 100g de cada

peixe em cada coleta, em sacos plásticos estéreis. Os peixes foram coletados com

cabeça e cauda, porém eviscerados.

As amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Pesquisa em Análises de

Alimentos, Aditivos e Contaminantes (LAPAAC), identificados e processados em

63

processador e armazenados em freezer a -18ºC em frascos hermeticamente fechados e

sem incidência de luz.

A análise de oxidação foi realizada para analisar os compostos oxidados de gordura,

principalmente o malonaldeído.

Para a determinação do índice de oxidação foi utilizado a metodologia da EMBRAPA

(2009) para Oxidação Lipídica, devido a avaliação das substâncias reativas ao ácido

tiobarbitúrico (SRATB), utilizando o Ácido Tricloroacético (TCA) e o Ácido

Tiobarbitúrico (TBA) para leitura das amostras em espectrofotômetro com comprimento

de onda a 532nm.

A curva padrão foi previamente determinada utilizando solução de Tetraetoxipropano

(TEP).

Os resultados destas análises são normalmente expressos em unidades de absorvência

por unidade de peso da amostra ou em “valor TBA”, definido como o peso, em mg, de

MA por kg de amostra (SILVA, 1999).

Para determinação de atividade de água (aw), as alíquotas de peixes foram introduzidas

na célula do equipamento e realizadas a medição direta no aparelho Aqualab Lite. O

resultado foi expresso em atividade de água relativa à temperatura no instante da

medição.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Resultados de atividade de água aw e oxidação

As freqüências médias, representado na Tabela 1, do teor de atividade de água (aw) e

Ácido Tiobarbitúrico (TBA) para as espécies sardinha, miroró e pititinga foram

respectivamente, 0,756, 0,684 e 0,708 para aw e para as espécies sardinha, miroró e

pititinga, respectivamente, para teor de oxidação dado em ácido Tiobarbitúrico (TBA),

3,79, 1,78 e 0,92.

64

Tabela 1: Atividade de água (aw) e Ácido Tiobarbitúrico (TBA) das amostras de Sardinha, Miroró e

pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.

Amostra/composição Aw (média±desvio padrão) Ácido Tiobarbitúrico

TBA

Sardinha 0,756 ±0,026 3,78±0,028

Miroró 0,684±0,005 1,78±0,077

Pititinga 0,708±0,023 0,92±0,009

Ao analisar amostras de bacalhau e peixes salgados em supermercados e empresas

importadoras do Estado de São Paulo, Lima e Santana (2011) encontraram valores

semelhantes de aw variando de 0,742 a 0,750. Mársico (2009) também analisou

amostras de bacalhau coletadas na cidade do Rio de Janeiro e encontrou valores de aw

variando de 0,70 a 0,84.

Neste estudo, os valores de atividade de água variaram de 0,684 a 0,756 (Tabela 1), que,

de acordo com Jay (2005), é considerado um alimento estável por apresentar aw entre

0,60 e 0,85. Todavia, a aw não é considerada nas diferentes legislações como parâmetro

de qualidade de peixes salgados e secos; assim, sugere-se que se utilize o valor de aw de

0,75 como limite máximo para peixes salgados e secos.

Falhas no processo de salga, temperatura e clima durante a exposição ou até mesmo no

armazenamento dos peixes nas feiras livres, podem interferir no aumento da Aa. O

efeito osmótico decorrente da salga é representado pela penetração do sal e saída da

água livre existente na carne do pescado.

Segundo Sales (1988), o índice de ácido tiobarbitúrico, ideal para uma boa conservação

do pescado armazenado à temperatura ambiente, se situa na faixa de 1-2.

Os valores de TBA encontrados para a espécie sardinha variaram de 3,75 a 3,80,

indicando um avançado índice de oxidação do produto. Estes altos índices de oxidação

podem ter sido influenciados pela aw presente na sardinha que se encontrou em 0,756 e

segundo Jay (2005) sugere que se utilize o valor de aw de 0,75 como limite máximo

para peixes salgados e secos.

Valores de TBA do peixe pititinga encontrados variaram de 0,91 a 0,93, semelhantes

aos encontrado por Sales (1988) de 0,84, em peixes secos e salgados estocados durante

65

20 dias. Os valores de TBA em miroró variaram de 1,70 a 1,85, semelhantes aos peixes

estocados por 40 dias. Estes valores podem indicar o tempo de preparo até a sua

comercialização, sendo, estes peixes, mantidos em estocagem.

3.2 Resultados microbiológicos

Os resultados das análises microbiológicas encontram-se representados na Tabela 2.

Para as espécies sardinha, miroró e pititinga encontrou-se resultados para coliformes a

45ºC de 3,0, 3,33 e 3,00 NMP/g, respectivamente. Para resultados de estafilococos

coagulase positiva, encontraram-se 1,33x102, 1,0x10

2 e 1,0x10

2 para as amostras de

sardinha, miroró e pititinga, respectivamente. Não foram encontradas indicações de

presença de Salmonella sp. em quaisquer amostras.

Tabela 2: Perfil microbiológico (NMPa/g ou UFC

b/g ou Presença) das amostras de Sardinha, Miroró e

pititinga, peixes salgados e secos, procedentes do recôncavo baiano.

Espécies / Indicador

Padrão RDC 12

Sardinha (média±desvio

padrão)

Miroró (média±desvio

padrão)

Pititinga (média±desvio

padrão)

Coliformes a 45ºC 102 NMP/g 3,00±0,00 3,33±0,577 3,00±0,00

Estafilicocos coagulse positiva 5,0 x 102 UFC/g

1,33x102±0,577 1,00x102±0,00 1,00x102±0,00

Presença

Salmonella sp. Ausência Ausência Ausência Ausência

a Número Mais Provável

b Unidade Formadora de Colônia

Todos os resultados encontrados das análises microbiológicas encontrarem-se dentro

dos limites estabelecidos pela Resolução RDC nº 12, de 12 de janeiro de 2001 que

determina para peixes, moluscos e crustáceos secos e/ou salgados um padrão para

coliformes a 45ºC/g de 102 UFC/g (unidade formadora de colônia/grama), para

Staphylococcus coagulase positiva de 5 x 102 UFC/g e para Salmonella sp. ausência em

25g.

Castro (2009), ao avaliar os peixes secos e salgados comercializados em feiras livres do

município de Belém, encontrou boas condições em relação aos parâmetros

microbiológicos, pois todas as amostras estavam de acordo com a legislação vigente.

66

Segundo Oetterer (2008), apud Castro (2009), a maioria dos microrganismos

importantes em termos de saúde pública não é tolerante ao sal, sendo facilmente

controlável. Porém Sales (1988), ao estudar Tilápia do Nilo seca e salgada, verificou

que resultados para coliformes a 45ºC termotolerantes ultrapassaram a quantidade

máxima permitida, sugerindo que um tratamento mais adequado seja aplicado, pois a

presença desses microrganismos é normalmente interpretada como um indicativo de

contaminação recente.

Hilbig et al (2008), ao estudarem tilápias submetidas à salga e secagem, observaram

ausência de Salmonella sp. e Estafilococus coagulase positiva em amostras de tilápias

submetidas à salga e secagem. Resultado semelhante ao encontrado por Lourenço, et al

(2001).

4. CONCLUSÃO

Diante dos resultados expostos, este estudo mostra que apesar dos peixes serem

comercializados em feiras livres, estocados em temperaturas ambientes e expostos aos

riscos contaminantes, a qualidade microbiológica destes peixes permanece dentro dos

padrões estabelecidos pela legislação vigente, não sendo vetor de contaminantes e não

subtendo a população aos riscos biológicos.

Em relação aos teores de oxidação, os resultados mostram teores similares aos estudos

com peixes secos e salgados submetidos à estocagem, podendo indicar que estes

produtos estão sendo estocados antes da sua comercialização.

De acordo com os resultados obtidos podemos considerar que as amostras de pescado

seco estão aptas ao consumo, pois estão dentro dos padrões estabelecidos pela

legislação vigente. O processo de salga quando bem empregado promove uma melhor

conservação ao produto, o que foi observado em todas as amostras estudadas.

67

5. REFERÊNCIAS

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08 de março de 2013.