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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA) PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PRPG) CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS (CCH) MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG) DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA SOBRAL-CE 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA)

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PRPG) CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS (CCH)

MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG)

DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE

FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA

SOBRAL-CE 2015

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA) MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG)

DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE

FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA

SOBRAL-CE 2015

FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA

DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS

EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE

Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Área de Concentração: Organização, Produção e Gestão do Território no Semiárido. Linha de Pesquisa: Dinâmica territorial: campo e cidade

ORIENTADORA: Profa. Dra. Virgínia Célia Cavalcante de Holanda

SOBRAL-CE 2015

A meus pais, Luiz e Expedita, meus irmãos (Mateus e Natálio) e minha namorada (Kércia Mariano).

AGRADECIMENTOS Inicialmente, agradeço a Deus por conceder a escolha do caminho que

queremos seguir e por me fortalecer nos momentos difíceis.

São diversas as ocasiões no decorrer da vida que é muito importante

contar com o apoio daquelas pessoas que realmente querem ajudar. Na

construção deste estudo tive a sorte de ter várias dessas pessoas ao meu

redor. Então, só tenho a prestar os meus mais sinceros agradecimentos.

Aos meus pais, Expedita e Luiz, que sempre buscaram e buscam o

melhor para mim. Obrigado pelo amor, apoio e confiança que depositam neste

filho que só tem a honrar por isso.

À Kércia Mariano. Obrigado pelo amor, paciência e companheirismo

que me fez (e me faz) ter força para continuar nessa caminhada.

Aos meus irmãos, Lucas Mateus (Mateusinho) e José Natálio (Tatá),

pessoas que tenho enorme prazer de conviver.

À Professora Drª. Virgínia C. C. de Holanda que, além de ser uma

grande orientadora, é uma grande amiga. Obrigado pela paciência nas

constantes assistências.

Ao Professor e orientador no curso de graduação Sergiano Araújo, que

ao lado da Professora Virgínia, me incentivou a fazer mestrado.

À Professora Drª. Neide da Costa Santana pelo carinho prestado, pelas

contribuições na minha formação acadêmica desde a graduação e por atender

ao convite de participação na qualificação e na banca final de defesa deste

trabalho.

Aos demais professores do Curso de Geografia pelas contribuições

dentro e fora da sala de aula, em espacial aos Professores Fábio Souza e

Marta Maria Junior.

À Profª. Regina Mariano, pelo carinho e pela ajuda nos momentos em

que precisei.

Ao Professor Dr. Antônio Cardoso Façanha, pelas contribuições no

processo de qualificação e por atender ao convite para a banca final deste

trabalho.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), pela concessão da bolsa.

Aos funcionários do Centro de Ciências Humanas (CCH), em especial

a Dona Antonieta e ao Rodrigo.

Ao meu grande amigo e companheiro de curso Laerton Bernardino,

pela ajuda nos momentos difíceis e pelas brincadeiras durante o tempo que por

aqui esteve.

Ao meu outro grande amigo e também companheiro de curso Joffre

Filho, pelas palavras de força e pela hospedagem em Fortaleza.

À Rachel Facundo, colega de curso e uma amiga atenciosa e

prestativa.

Aos demais colegas do MAG, em especial, Maria Souza, Analine

Parente e Valdelúcio Fonseca, pessoas que convivi desde a graduação.

Aos bolsistas de iniciação científica, Eliane, Rafaela e Bruno, pelo

auxílio durante a pesquisa.

Aos colegas do MAG de forma geral e em especial ao Mariano

Carvalho e Marcélia Torres.

Ao amigo Manuel Guedes, por sempre está à disposição para a

elaboração cartográfica.

À Tatiane Portela Vinhal, por sempre arranjar um tempinho para

realizar a revisão ortográfica.

E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram na minha vida

acadêmica, mas que por falha da memória não foram citados.

Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele.

(Henry Ford)

RESUMO A pesquisa ora apresentada analisa o processo de descentralização das atividades comerciais e de serviços em cidades médias, tendo como objeto empírico de investigação a cidade de Sobral. Esse centro urbano está localizado no noroeste do Estado do Ceará e vem passando, nas duas últimas décadas, por um intenso processo de reestruturação de seu espaço com a descentralização das atividades terciárias para territórios além-centro, com busca seletiva pelas vias de saída da cidade. Na intenção de compreender os fatores que movem o processo de descentralização das atividades comerciais e de serviços em Sobral, optamos por trabalhar com as definições de: centro e centralidade; reestruturação urbana; descentralização; dentre outros. No que consiste a metodologia utilizada, realizamos: levantamento bibliográfico acerca das definições mencionadas; leituras de trabalhos que abordam a cidade de Sobral, no intuito de entendermos as transformações ocorridas no seu espaço urbano; organizamos um banco de dados e; trabalho de campo, com levantamento de dados em diversas instituições, observações diretas e registro fotográfico, realização de entrevistas com a gestão municipal e associações ligadas as atividades terciárias e aplicação de questionários junto aos proprietários de estabelecimentos comerciais e de prestadoras de serviços localizados nas vias de saída da cidade. Os resultados evidenciam que a descentralização das atividades comerciais e de serviço ainda está em curso na cidade de Sobral, com tendência a uma dinâmica cada vez mais intensa. Palavras-Chave: Descentralização, Cidades Médias, Sobral.

RESUMEN La investigación presentada aquí analiza el proceso de descentralización de las actividades comerciales y de servicios en las ciudades de tamaño medio, así, como objeto de estudio, elegimos la ciudad de Sobral. Ese centro urbano está ubicado en el noroeste del Estado de Ceará y ha experimentado en las últimas dos décadas, un proceso de reestructuración de su espacio con la descentralización de las actividades terciarias para territorios allá centro, con la búsqueda selectiva por las rutas de salida de la ciudad. Con la finalidad de comprender los factores que mueven el proceso descentralización de las actividades comerciales y de servicios en Sobral, decidimos por trabajar con las definiciones de: centro y centralidad; reestructuración urbana; descentralización; entre otros. Cuanto la metodología utilizada, ejecutamos: levantamiento bibliográfico cerca de las definiciones aludidas; lecturas de artículos que abordan la ciudad de Sobral, en el intento de entendernos los cambios ocurridos en su espacio urbano; organizamos una base de datos y; trabajo de campo, con levantamiento de datos en varias instituciones, observaciones directas y registros fotográficos, entrevistas con la administración y asociaciones de la ciudad vinculadas a las actividades terciarias y aplicación de cuestionarios a los propietarios de tiendas comerciales y de servicios ubicados en las rutas de salida de la ciudad. Los resultados demuestran que la descentralización de las actividades comerciales y de servicio todavía está en evidencia en la ciudad de Sobral, presentando una dinámica cada vez más intensa. Palabras-clave: Descentralización, Ciudades Medias, Sobral.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIS – Associação Comercial e Industrial de Sobral

BNB – Banco do Nordeste do Brasil

CDL – Câmara de Dirigentes Lojista

CIC – Centro Industrial do Ceará

CIDAO – Companhia Industrial de Algodão e Óleos S.A

CNAE – Classificação Nacional das Atividades Econômicas

COHAB – Conjunto Habitacional

COSMAC – Companhia Sobralense de Material de Construção

CRECI – Conselho Regional dos Corretores de Imóveis

CREDE – Centro Regional de Desenvolvimento da Educação

DER – Departamento de Estadual de Rodovias

DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito

EI – Empreendedor Itinerante

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FIEC – Federação Industrial do Estado do Ceará

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IDT – Instituto de Desenvolvimento do Trabalho

IFCE – Instituto Federal Ceará

ISS – Imposto Sobre Serviço

IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

JUCEC – Junta Comercial do Estado do Ceará

LASSA – Laticínios Sobral S.A

NEURB – Núcleo de Estudos Urbano e Regionais

PADL - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local

PDI – Plano de Desenvolvimento Industrial

PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PIB - Produto Interno Bruto

PLAMEG - Plano de Metas do Governo

PMS – Prefeitura Municipal de Sobral

PNCCPM – Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de Médio Porte

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PNDU – Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRODECON – Programa de Desenvolvimento Econômico

PSF – Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PUDINE – Projeto Universitário de Desenvolvimento Industrial do Nordeste

RMF – Região Metropolitana de Fortaleza

SADT – Unidade de Apoio Diagnose e Terapia

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SUDEC – Superintendência para o Desenvolvimento do Ceará

SEDUC – Secretaria da Educação do Estado do Ceará

SEFAZ – Secretaria da Fazenda do Estado

SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SUS – Serviço único de Sáude

TCM – Tribunal de Contas do Município

TJCE – Tribunal de Justiça do Ceará

UCLA – Universidade da Califórnia em Los Angeles

UECE – Universidade Estadual do Ceará

UFC – Universidade Federal do Ceará

UVA – Universidade Estadual Vale do Acaraú

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da Cidade de Sobral/CE 20

Figura 2 – Ágora de Atenas 29

Figura 3 – Planta do Fórum de Pompeia 31

Figura 4 – a) Bazaar Tailleurs; b) Atual bazaar na Turquia 33

Figura 5 – Modelo das Áreas Concêntrica de Ernest Burgess 40

Figura 6 – Modelo dos Setores de Hommer Hoyt 42

Figura 7 – Modelo dos Múltiplos Núcleos 43

Figura 8 – Esquema da organização comercial varejista 54

Figura 9 – Localização das Cidades Médias Cearenses 69

Figura 10 – Estradas Coloniais do Ceará 78

Figura 11 – Área do Curato de Acaraú 80

Figura 12 – Mercado Público no Início do Século XX 84

Figura 13 – Atual Mercado Público a Oeste do Antigo Mercado 85

Figura 14 – Hospital Regional Norte 98

Figura 15 – Avenidas Pesquisadas na Cidade de Sobral – CE 110

Figura 16 – Farmácias Pague Menos 113

Figura 17 – Filial da Extrafarma 113

Figura 18 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais

Representativos na Av. John Sanford 114

Figura 19 – Salão de Beleza Unhas e Cia 119

Figura 20 – Salão de Beleza Edineuza 119

Figura 21 – Autoescola Junior 120

Figura 22 – Autoescola Conquista 120

Figura 23 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais

Representativos na Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva 121

Figura 24 – Loja Mega Império 126

Figura 25 – JS Madeireira 126

Figura 26 – Loja Macavi 126

Figura 27 – Hot Sat Telecomunicações 126

Figura 28 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais

Representativos na Av. Sen. Fernandes Távora 127

Figura 29 – Concessionária da Fiat 131

Figura 30 – Oficina Mecânica HC Pneus 131

Figura 31 – Loja São Francisco 132

Figura 32 – Loja Alcântara 132

Figura 33 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais

Representativos na Av. Sen. José Ermírio de Moraes 133

Figura 34 – Concessionária Mitsubishi 137

Figura 35 – Gaúcho Automotivo 137

Figura 36 – North Shopping Sobral e as Torres Gran Hotel e Cameron

Tower 138

Figura 37 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais

Representativos na Av. Monsenhor José Aloísio Pinto 139

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – População Total do Município de Sobral/CE 94

Gráfico 2 – Receita e Despesa Municipal de Sobral/CE (R$ Milhões) 97

Gráfico 3 – Percentual de Indústrias por Ramo de Atividades 100

Gráfico 4 – Expansão do Comércio em Sobral/CE (%) 103

Gráfico 5 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos na Av.

John Sanford 115

Gráfico 6 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da

Av. John Sanford (%) 116

Gráfico 7 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Dr.

Arimathéa Monte e Silva 122

Gráfico 8 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da

Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva (%) 123

Gráfico 9 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.

Senador Fernandes Távora 128

Gráfico 10 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da

Av. Senador Fernandes Távora (%) 129

Gráfico 11 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.

Senador José Ermírio de Moraes 134

Gráfico 12 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da

Av. Senador José Ermírio de Moraes (%) 135

Gráfico 13 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.

Monsenhor Aloísio Pinto 140

Gráfico 14 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da

Av. Monsenhor Aloísio Pinto (%) 141

LISTA DE TABELAS Tabela 01 – População Total e Urbana do Brasil e Índice de

Urbanização 61

Tabela 02 – Distribuição Percentual da População Total e Urbana Por

Regiões (1940 - 1970) 62

Tabela 03 – Taxas Regionais de Urbanização (1940 a 1980) 63

Tabela 04 – Esboço da Rede Urbana no Final do Século XVIII 69

Tabela 05 – PIB das Cidades Médias cearenses por atividade

econômica em 2011 73

Tabela 06 – Registro das Atividades Comerciais e de Serviços nas

Cidades Médias Cearenses 73

Tabela 07 – Distribuição dos Empregos Formais nas Cidades Médias

Cearenses em 2013 74

Tabela 08 – População Total, População Urbana e Taxa de

Urbanização de Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte e Sobral (1980-2010) 75

Tabela 09 – Quantidade de Algodão Exportado do Ceará em 1811 83

Tabela 10 – Produto Interno Bruto das Cidades Médias Cearenses 95

Tabela 11 – Produto Interno Bruto (R$) de Sobral comparado com os

de Fortaleza, do Ceará e do Brasil 95

Tabela 12 – Evolução da Renda Per Capita (R$) de Sobral e Outros

Municípios 96

Tabela 13 – Alunos Matriculados no Ensino Básico de Educação em

Sobral/CE em 2013 99

Tabela 14 – Total de Empregos Formais em Sobral em 2013 101

Tabela 15 – Total de Empregos Formais na Indústria por Ramo de

Atividade 101

Tabela 16 – Distribuição do Comércio por Bairro em Sobral (2012) 104

Tabela 17 – Distribuição dos Serviços por Bairros em Sobral/CE 106

Tabela 18 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida John

Sanford, Sobral-CE 112

Tabela 19 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Dr.

Arimathéa Monte e Silva, Sobral-CE 118

Tabela 20 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador

Fernandes Távora, Sobral-CE 125

Tabela 21 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador

José Ermírio de Moraes, Sobral-CE 130

Tabela 22 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida

Monsenhor Aloísio Pinto, Sobral-CE 136

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 19 CAPÍTULO 1 – O COMÉRCIO E A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS CIDADES ....................................................................................................... 27 1.1 A Atividade Comercial e as Transformações na Organização Interna das Cidades ....................................................................................... 27 1.2 A Organização Interna das Cidades: Os modelos da Escola de Chicago .......................................................................................................... 38 1.2.1 A Teoria das Áreas Concêntricas: o modelo de Burgess ...................... 38 1.2.2 A Teoria dos Setores: o modelo de Hommer Hoyt ................................ 41 1.2.3 A Teoria dos Múltiplos Núcleos: o modelo de Harris e Ullman .............. 43 1.3 Centro e Centralidade na Estrutura Espacial Intraurbana ........................ 45 1.4 O Estudo da Descentralização na Geografia Urbana ............................... 49 CAPÍTULO 2 – AS CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS E SUAS TRANFORMAÇÕES: O CASO DE SOBRAL - CE ........................................ 58 2.1 A Urbanização Brasileira e a Emergência das Cidades Médias ............... 58 2.2 Considerações Sobre as Cidades Médias Cearenses no Contexto Nordestino ....................................................................................... 67 2.3 De Fazenda à Cidade: a importância da atividade comercial para a formação inicial de Sobral ........................................................................... 76 2.4 O poder público: ações e implicações para a (re)organização das atividades econômicas em Sobral .................................................................. 89 CAPITULO 3 – DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES TERCIÁRIAS DE COMÉRCIO E SERVIÇOS EM SOBRAL - CE ................. 94 3.1 O Processo de Descentralização das Atividades Comerciais e de Serviços em Sobral - CE ................................................................................ 94 3.2 Os Novos Territórios de Atividades Comerciais e de Serviços em Sobral - CE .................................................................................................... 107 3.2.1 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida John Sanford ............ 111 3.2.2 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Dr. Arimathéa Monte e Silva ................................................................................................. 117 3.2.3 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Sen. Fernandes Távora ......................................................................................... 124 3.2.4 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Senador José Ermírio de Moraes ......................................................................................... 130 3.2.5 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto .......................................................................................... 136

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 142 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 145 APÊNDICES ................................................................................................. 152

19

INTRODUÇÃO O processo de urbanização no Brasil ganhou impulso a partir da

década de 1950, principalmente com a intensificação do processo de

industrialização, incentivada pelo Presidente da República Juscelino

Kubitschek (1956-1961). Essa industrialização, cada vez mais acelerada,

demandava uma quantidade elevada de pessoas para trabalhar nas unidades

fabris, fator que fez com que as cidades passassem a concentrar grandes

contingentes populacionais. É válido enfatizar que em São Paulo e no Rio de

Janeiro foram instaladas as maiores indústrias, consequentemente, essas

capitais passaram a ser destino de milhares de migrantes.

O acelerado crescimento populacional da maioria das metrópoles

brasileiras não veio acompanhado de um planejamento que respondesse pela

melhor colocação da população nesses espaços, originando sérios problemas

sociais. Dessa forma, não era mais adequado que tais centros urbanos

continuassem recebendo um grande número de migrantes. O governo federal,

no início da década de 1970, no intuito de redirecionar esse processo instituiu

políticas de planejamento territorial. Dentre esses projetos observam-se

medidas para desenvolver as cidades médias (ROCHEFORT, 1998).

Esses centros urbanos, ao obterem importância mais significativa na

rede urbana brasileira, passaram a atrair mais intensamente investidores e, nas

duas últimas décadas, serviços mais especializados e comércios mais

modernos. Começaram, ainda, a atrair fluxos migratórios procedentes de

cidades do seu entorno e até mesmo de espaços mais distantes.

No presente, o cenário dessas cidades possui atributos semelhantes a

dos grandes centros urbanos, sendo significativo: a expansão do perímetro

territorial urbano, o adensamento populacional fora do núcleo central, o

surgimento de formas modernas de mobilidade urbana e a descentralização de

atividades terciárias (SPOSITO, 1991). A cidade de Sobral, situada no noroeste

cearense, a 235 km de Fortaleza, capital do estado, é um exemplo dessa

realidade urbana (Figura 1).

20

Figura 1 – Localização da Cidade Média de Sobral-CE

21

Nos últimos anos, em decorrência da expansão da cidade, de uma

forte especulação imobiliária e de outros fatores, a população que chega a

Sobral vem buscando alocar-se em espaços além-centro tradicional. Nesse

processo, esses habitantes possuem demandas por serviços nas proximidades

do local de moradia, resultando numa realocação das atividades terciárias.

Notadamente, a atividade terciária, em sua totalidade, tem aumentado

em diversas localidades distantes da área central. No entanto, é perceptível

que aqueles comércios e serviços mais modernos vêm se concentrando em

espaços seletivos, onde, para Duarte (1974, p. 55), o automóvel obtém suporte

fundamental, pois a capacidade de consumo estabelecida nesses locais

“implica numa convergência dos meios de comunicação”. Com isso, esses

espaços estão apresentando uma dinâmica diferenciada, se comparado a

outras áreas da cidade.

O nosso estudo tem como objetivo geral compreender o processo de

descentralização das atividades comerciais e de serviços em cidades médias, a

partir da análise dos eixos de saída da cidade de Sobral. Especificamente,

objetiva-se: a) realizar um debate sobre a importância da atividade comercial

no processo de formação e transformação das cidades; b) analisar a

importância da atividade comercial para a formação inicial de Sobral; c) discutir

as ações do poder público municipal no processo de dispersão das atividades

de comércios e de serviços em Sobral; d) identificar e caracterizar os novos

territórios de comércios e de serviços no espaço intraurbano de Sobral.

Para o desenvolvimento da nossa pesquisa, inicialmente, foi realizado

o levantamento bibliográfico de dados e informações gerais em livros,

monografias, dissertações, teses, revistas científicas, artigos, entre outros. É

importante mencionar que para a concretização dessa etapa foi importante o

suporte do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEURB), laboratório

ligado ao curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

Cabe mencionar, também, que os bancos de monografias de outros cursos

(Administração e Ciências Contábeis) da referida Universidade, bem como

bancos de dissertações e teses de outras instituições (UFC e UECE) foram

visitados. Esse momento foi importante para a delimitação dos temários e

cumprimento ou redefinição dos objetivos da pesquisa.

22

Posteriormente, foram realizadas leituras de trabalhos de autores que

pesquisam o espaço urbano, tendo como cerne de preocupação as cidades

médias, dentre eles, podemos destacar: Sposito (2007); Corrêa (2007);

Holanda e Amora (2011); Pontes e Amorim Filho (2000); Serra (2001).

Paralelo a isso, efetivamos discussões de temas necessários e

complementares para a compreensão do processo de descentralização nos

centros urbanos, tais como: centro e centralidade; centro-periferia;

descentralização; planejamento urbano; reestruturação urbana e; outros.

Dentre os diversos autores clássicos e contemporâneos que nos debruçamos

para a compreensão desses temas, podemos elencar: Santos (1959); Corrêa

(1989); Duarte (1974); Sposito (1991; 2013); Cordeiro (1978); Pintaudi (1992);

Whitacker (1997; 2003); Villaça (1998); Reis (2007) e; Souza (2009).

No que concerne aos procedimentos de caráter operacional,

realizamos coleta de dados nas seguintes instituições: Prefeitura Municipal de

Sobral; Junta Comercial do Estado do Ceará (JUCEC); Classificação Nacional

das Atividades Econômicas (CNAE); Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE); Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE); Câmara de Dirigentes Lojista (CDL); Associação Comercial e

Industrial de Sobral (ACIS) e; outros. Adiante, segue uma lista do material

adquirido nos referidos órgãos.

I. Prefeitura Municipal de Sobral: manual para investir em Sobral;

plano diretor, arquivo cartográfico e fotografias de diferentes épocas

da cidade;

II. JUCEC: planilha com o registro de estabelecimentos comerciais do

município de Sobral, apresentando informações como: nome da

empresa, ano de registro, localização (bairro e rua) e atividade

predominante;

III. CNAE: planilha com o registro das atividades comerciais e de

serviços do município de Sobral;

IV. IBGE: dados como: população total do município, população da

cidade, Produto Interno Bruto do município, renda média por bairros,

entre outros;

V. IPECE: aquisição do perfil básico municipal dos últimos dez anos;

23

VI. CDL: lista contendo o total de empresas associada à própria

instituição, com informações de localização, ano de registro e tipo de

atividade predominante;

VII. ACIS: aquisição do Plano de Desenvolvimento Industrial (PDI) de

Sobral; relatório com informações gerais do município, tais como:

infraestrutura, demografia, economia, caracterização dos serviços de

saúde, educação, entre outros.

De posse do material colhido nessas instituições, efetivamos a análise

das informações, sendo possível pensar um perfil das atividades terciárias em

Sobral, no que consistem à: quantidade, localização e dimensões dos

empreendimentos comerciais e de serviços formalizados na cidade nos últimos

vinte anos.

O trabalho de campo para a captura de dados primários foi dividido em

três momentos: 1) observações diretas e registro fotográfico; 2) realização de

entrevista e; 3) aplicação de questionários. As observações diretas e os

registros fotográficos, que objetivam um melhor conhecimento da dinâmica da

área de estudo, ocorreram em nosso cotidiano, como morador da cidade. Mas,

nos dias 17 e 18 de junho de 2014, datas de funcionamento normal do

comércio em Sobral, fizemos os registros fotográficos.

Já no que concerne a realização de entrevista (Apêndice 01), essa teve

como foco compreender as principais estratégias utilizadas pelo poder público

para incentivar o crescimento da atividade comercial e de serviços em Sobral.

Para tal objetivo, capturamos os depoimentos da gestão pública municipal e de

associações ligadas a esses setores, a exemplo da CDL e ACIS.

No período de maio a junho de 2014, aplicamos questionários

(Apêndice 02) junto aos proprietários ou gerentes de estabelecimentos

comerciais e de prestadoras de serviços situadas em cinco vias de saída da

cidade de Sobral, a saber: Avenidas John Sanford, Doutor Arimathéa Monte e

Silva (popularmente chamada de Avenida do Contorno), Senador Fernandes

Távora, Monsenhor Aloísio Pinto e Senador José Ermírio de Moraes.

A opção pela utilização de questionários se deve ao fato de que essas

avenidas vêm abrigando diversos equipamentos comerciais e de serviços, bem

como instituições públicas de expressão regional (Hospital Regional, Campus

do Junco ligado à Universidade Estadual Vale do Acaraú, Departamento

24

Estadual de Trânsito, Departamento de Polícia Forense, Instituto de Saúde dos

Servidores do Estado do Ceará, Escola de Formação em Saúde da Família,

entre outros).

No total aplicamos 140 questionários, sendo 57 na Avenida John

Sanford, 26 na Avenida Dr. Arimathéa Monte e Silva, 13 na Avenida Senador

Fernandes Távora, 35 na Avenida Senador José Ermírio de Morais e 9 na

Monsenhor Aloísio Pinto. Essa variação de quantidade de questionários

aplicados entre as avenidas se deve a estratégia utilizada, que será detalhada

a seguir.

Nas avenidas John Sanford, Doutor Arimatéia Monte e Silva e Senador

José Ermírio de Moraes, a aplicação teve início a partir da linha férrea, indo em

direção à saída da cidade e ocorreu de forma alternada, ou seja, quando

aplicado no primeiro estabelecimento não se aplicou no segundo, passando,

então, para o seguinte. Já na Avenida Senador Fernandes Távora, a aplicação

teve início a partir da Ponte Othon de Alencar, em direção à saída da cidade e,

na Monsenhor Aloísio Pinto, começou a partir da Ponte Doutor José Euclides

Ferreira Gomes Junior, indo também no sentido da saída da cidade. O restante

do procedimento para esses logradouros seguiu a mesma estratégia estipulada

para as anteriores.

Com a utilização dessa ferramenta obtivemos informações como:

atividades predominantes nas vias em estudo, perfil dos empreendedores que

buscam as áreas além-centro para seus investimentos, estratégias de mercado

(marketing) utilizadas pelos investidores na busca de novos consumidores,

perfil (poder aquisitivo) dos consumidores dos serviços oferecidos, entre outras.

Após isso, reunimos os dados e efetivamos a tabulação e, por conseguinte, a

construção de gráficos, tabelas e mapas, na intenção de uma melhor

interpretação das transformações ocorridas no espaço urbano de Sobral nos

últimos vinte anos.

Para alcançar os objetivos apresentados, a dissertação está

estruturada em três seções, além da introdução e das considerações finais. No

primeiro capítulo, discorremos sobre a relação entre a atividade comercial e a

cidade e, os efeitos deste processo no espaço urbano. Já que com o

surgimento dessa atividade, surgem espaços nas cidades voltados

especialmente para a realização da mesma. Esses locais exibiram, desde as

25

primeiras civilizações até os dias atuais, diversas formas e diferentes

denominações.

Posteriormente, em decorrência das transformações no espaço interno

das cidades, verifica-se, no transcorrer do século XX, o surgimento de diversas

teorias que buscam elucidar a organização interna das mesmas. Em nosso

estudo, destacamos, inicialmente, as teorias da Escola de Chicago que,

embora tenham sido postas de lado por não conseguir interpretar a realidade

urbana mais complexa, constituíram-se como uma das primeiras interpretações

com tal objetivo. Realizamos, ainda, uma discussão acerca de centro e

centralidade, no intuito de uma melhor diferenciação dos conceitos e também

por ser importante para a compreensão do processo de descentralização.

Por fim, efetivamos um resgate dos estudos da descentralização na

Geografia Urbana, no qual se verificou que até a década de 1970 esses

estudos apresentavam uma característica da estrutura comercial da cidade, em

que o Central Business District (CBD) sempre se posicionava como o centro

mais importante entre todos os centros da cidade. Após 1970, nota-se uma

nova forma de pensar a descentralização.

No segundo capítulo, enfatizamos, primeiramente, o processo de

urbanização no Brasil para entendermos como as cidades médias passaram a

assumir uma importância mais significativa na rede urbana brasileira, sem

perder de vista a importância da atividade comercial e dos serviços nesse

processo.

No cenário cearense, as cidades médias de Sobral, Crato e Iguatu

foram centros importantes na rede urbana desde o século XVIII e, Juazeiro do

Norte, a partir do início do século XX, fator que nos induziu a construir uma

breve periodização da evolução das cidades médias no Ceará. Em seguida,

tratamos especificamente da importância da atividade comercial para a

formação inicial de Sobral. Posteriormente, ressaltamos a atuação do poder

que, nas duas últimas décadas, vêm transformando significativamente o

espaço urbano sobralense.

No capítulo três, perscrutamos as atividades comerciais e de serviços

na cidade de Sobral, tentando identificar os fatores que vêm contribuindo para

a descentralização dessas atividades para o espaço além-centro, com

predomínio para as vias de saída da cidade. Após isso, averiguamos as

26

características das avenidas que mais vêm abrigando estes estabelecimentos,

na intenção de verificar como essas promovem a dinâmica intraurbana. E por

fim, realizamos uma análise comparativa, com o objetivo de encontrar

paridades e diferenças entre essas vias, no que consiste à função comercial.

27

CAPÍTULO 1 – O COMÉRCIO E A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS CIDADES 1.1 A Atividade Comercial e as Transformações na Organização Interna

das Cidades

Um dos fatores que antecedeu e direcionou o surgimento das cidades

foi a fixação do homem num determinado ponto do espaço. Contudo, um dos

principais fenômenos que deu origem a elas foi a divisão social do trabalho.

Mas, como se chegou a essa divisão da sociedade? De maneira sintetizada,

podemos afirmar que o homem, quando se fixou na terra, começou a produzir

os bens necessários para a sua sobrevivência, mais tarde, com o uso de

técnicas mais sofisticadas, passou a produzir mais do que o necessário para

sua manutenção, promovendo, dessa forma, um excedente da produção. Em

decorrência disso, alguns indivíduos deixaram de trabalhar na agricultura e

passaram a exercer outras funções, elemento que procedeu a divisão social do

trabalho, última etapa para o surgimento da cidade (SOUZA, 2009).

Em Sposito (1994, p. 17), encontramos uma argumentação que deixa

claro os principais aspectos que deram origem a cidade:

[...] ao contrário do que se poderia supor numa primeira análise, que pressupõe que a cidade surgiu em volta do mercado, é que sua origem não está explicada essencialmente pelo econômico, mas sim pelo social e pelo político. Ou seja, a cidade na sua origem não é por excelência o lugar de produção, mas o da dominação.

As informações elencadas até este ponto, mesmo de forma breve,

deixam claro que, na sua origem, a cidade não é uma consequência da

atividade comercial. No entanto, percebe-se que hoje essa atividade gera

alterações na dinâmica da cidade. Posto isto, para compreendermos as

relações atuais entre a cidade e a atividade comercial se torna importante

verificarmos como se iniciou esse processo, para isso é necessário um olhar

através da história.

Desse modo, podemos começar nossa discussão pelo surgimento do

comércio, que está ligado às pequenas trocas que eram realizadas entre os

28

indivíduos de uma aglomeração, de produtos oriundos do excedente agrícola.

Contudo, o desenvolvimento da atividade em questão é observado com maior

clareza com a formação dos grandes impérios na Antiguidade.

Um exemplo de como se principiou o crescimento do comércio é

descrito por Sposito (1994, p. 22), quando a autora relata o avanço do Império

Romano na conquista de território:

O poder político do Império Romano permitiu, não apenas que a urbanização deixasse de ser um processo "espontâneo", uma vez que muitas cidades foram fundadas nas áreas recém-conquistadas para permitir a hegemonia política romana sobre estas áreas, como também acabou por propiciar uma ampliação imensa da divisão interurbana do trabalho, pois os ofícios exercidos e a produção das maiores cidades do Império deixaram de suprir apenas os cidadãos (habitantes de uma cidade) e a população rural de seus arrabaldes, para suprirem também a população de outras áreas do Império e os povos bárbaros além fronteira, incentivando o papel comercial urbano.

Devido ao excedente produzido pelos indivíduos nas grandes cidades

do Império, a necessidade do encontro para a troca se tornou fundamental,

mas para que ela se realizasse houve, antes, um fluxo de pessoas que definiu

o melhor local. Nesse espaço, aportou o mercado.

A origem do mercado está, portanto, no ponto de encontro de fluxos de indivíduos que traziam seus excedentes de produção para a troca, normalmente localizados em pontos equidistantes dos diversos centros de produção ou em locais estratégicos do ponto de vista da navegação ou da existência de água (VARGAS, 2012, p. 74).

Nos estudos de Freire (2010) e Vargas (2012), averiguamos que o

mercado se tornou, além do espaço de encontro para a troca de mercadorias, o

local ideal para o compartilhamento de ideias, de experiência, de realização de

espetáculos e de discussões vinculadas à política.

Dentre as estruturas mais antigas que se desenvolveram e

possibilitaram a realização desses encontros, destaca-se as que foram

denominados de ágora, fórum e bazaar, as quais serão apresentadas no

decorrer do texto.

29

Fonte: FLETCHER, 1948.

Iniciaremos pela ágora, que era um local onde os gregos da

Antiguidade Clássica se encontravam para a troca de produtos, no entanto, é

importante relatar que a função inicial desse espaço era voltada,

exclusivamente, para as reuniões e assembleias públicas.

Quanto à forma, a ágora (Figura 2) era um espaço descoberto

circundado por diversos equipamentos públicos e privados, dentre eles,

podemos mencionar a stoa (espaço coberto cujo teto era sustentado por

grandes colunas ou pórticos) e pritaneu (templo com forma circular em que se

situava os gabinetes administrativos).

Figura 2 – Ágora de Atenas

Com desenvolvimento da atividade comercial, algumas cidades gregas

passaram a construir equipamentos no intuito de abrigar o mercado. Leal

(2011, p. 29) refere-se a isso da seguinte forma:

O desenvolvimento do comércio neste período levou à criação de edifícios exclusivamente dedicados a acolher o mercado em cidades como Corinto, Atenas ou Pérgamo. A tipologia mais comum do mercado grego, macella desenvolve-se principalmente no séc. II a.C. e possui planta rectangular constituída por uma praça rodeada por pórticos e lojas.

30

Já na Roma Antiga, o fórum, assim como a ágora grega, era o espaço

onde se manifestava as trocas de produtos, bem como as relações sociais.

Uma diferença entre as duas estruturas pode ser notada pelas funções iniciais

de cada uma, ou seja, enquanto a ágora grega foi originalmente criada para a

realização de reuniões e assembleias, o fórum romano surgiu com o objetivo

de centralizar no mesmo espaço várias funções, entre elas a comercial, política

e religiosa.

Souza (2009, p. 33) apresenta uma descrição semelhante no que diz

respeito à diferença entre os dois espaços, ora descritos:

A diferença está no caráter monumental [da] construção [do fórum], nas funções que aí se localizavam e por estarem junto dele os prédios do Senado, da Justiça, alguns Templos, entre outros. O fórum assumia, assim, as características de principal centro urbano.

No que se refere à forma, o fórum (Figura 3) era um espaço retangular

localizado no centro das cidades romanas, normalmente no cruzamento do

cardo (extensa rua com orientação norte – sul) com o decumano (rua com

orientação leste – oeste), sem cobertura e apresentava à sua volta vários

prédios de instituições públicas.

31

Fonte: SITTE,1992.

Figura 3 – Planta do Fórum de Pompeia

A atividade comercial romana, assim como ocorreu na Grécia,

apresentou um elevado crescimento, por causa disso ela deixou de ser

realizada no fórum e passou a ocorrer em edificações que foram erguidas com

o propósito de desempenhar somente o papel comercial. O macellum (local

fechado e, geralmente, com uma única entrada) é um exemplo desses

edifícios, que centralizando a comercialização de diferentes mercadorias,

concentrou a atividade comercial (LEAL, 2011).

No século V d.C, com a queda do Império Romano do Ocidente, a

Europa entrou em decadência, com isso as relações entre as cidades se

desarticularam resultando no desaparecimento de várias delas, principalmente

as menos expressivas (SPOSITO, 1994; SOUZA, 2009). Em decorrência

dessas transformações e, também, por causa do domínio árabe sobre o Mar

Mediterrâneo, principal rota marítima do comércio europeu, a atividade

mercantil, que até então apresentava um significativo crescimento, passou a

retroceder.

32

Henri Pirenne, em História Econômica e Social da Idade Média aponta o controle dos árabes sobre o Mediterrâneo como definitivo para a regressão das atividades econômicas das cidades que ainda tinham conseguido manter sua importância após a queda do Império Romano (SPOSITO, 1994, p. 26/27).

Posto isto, no início do período medieval (Alta Idade Média), as poucas

trocas comerciais, que ainda persistiam, aconteciam em incipientes mercados,

cujos produtos comercializados eram oriundos da produção agrícola, fator que

caracterizou a sociedade feudal. Em meados desse período (Baixa Idade

Média), com o surgimento de novas técnicas de produção, verificou-se um

princípio de retomada da atividade comercial, porém, de acordo com Leal

(2011, p. 33), é com:

[...] o restabelecimento das rotas comerciais no Mar Mediterrâneo, já durante o séc. XI, que a actividade comercial sofre uma renovação e o mercado assume um papel preponderante na estrutura da cidade sendo que, a praça do mercado, a par com a da igreja, passam a ocupar os principais espaços públicos da cidade.

O principal fenômeno que possibilitou a reativação das rotas comerciais

e, consequentemente, do renascimento do comércio, foram os movimentos

militares de influência cristã, mais conhecidos por Cruzadas. Eles tinham como

um dos principais objetivos reconquistar a Terra Prometida do domínio

muçulmano.

Antes de darmos continuidade a essa questão, é importante ressaltar

que nesse período, na região do Oriente Médio, desenvolveu-se uma estrutura

coberta voltada às práticas comerciais, que recebeu a denominação de bazaar

(Figura 4). Na realidade, essa edificação surgiu no sentido de proteger as

mercadorias e os mercadores das condições climáticas pouco favoráveis na

referida região, onde eram comuns as grandes tempestades de areias e o sol

intenso (RASTEIRO, 2008).

33

Fontes: a) RASTEIRO, 2008; b) www.cruisingexcursions.com/index.php

Figura 4 – a) Bazaar Tailleurs; b) Atual bazaar na Turquia

O bazaar, que se desenvolveu nas cidades islâmicas e, ainda hoje, faz

parte da estrutura interna de várias delas, caracterizava-se principalmente pela

centralização de diversas lojas ao longo de imensos corredores. Uma descrição

mais detalhada do interior desse espaço, exibida por Rasteiro (2008, p. 09),

mostra bem a aptidão comercial do mesmo:

[...] organização interior rigorosa, a separação dos espaços consoante o tipo de produtos e as categorias de artesãos. Cada pequena célula comercial é aberta e contígua ao espaço de circulação, sendo delimitada apenas por um muro de pequena altura acima do qual se situa um estrado onde são expostos os produtos.

A respeito dos produtos que eram negociados neste espaço comercial,

Souza (2009) assinala a grande diversidade de mercadorias, que ia desde a

venda de carnes e outros alimentos até a comercialização de joias e o câmbio

de dinheiros.

No que se refere a importância do bazaar para a configuração das

cidades, Rasteiro (2008) e Leal (2011) compartilham a ideia de que esse tipo

a b

34

de construção conectava várias instituições públicas e outros prédios

importantes, estabelecendo-se como uma área principal de circulação. Além

disso, o mesmo abarcava “grandes áreas urbanas” o que significava que para a

sua construção, normalmente, havia a necessidade de apoios governamentais

(LEAL, 2011, p 35).

Retomando a questão do restabelecimento da atividade comercial na

Europa, Leo Hubermam (1981, p.19) descreve como se deu a participação das

Cruzadas nesse processo:

As Cruzadas levaram novo ímpeto ao comércio. Dezenas de milhares e europeus atravessaram o continente por terra e mar para arrebatar a Terra Prometida aos muçulmanos. Necessitavam de provisões durante todo o caminho e os mercadores os acompanhavam a fim de fornecer-lhes o de que precisassem. Os cruzados que regressavam de suas jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas e roupas requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um mercado para esses produtos.

Após o renascimento comercial, verificam-se os seguintes aspectos:

aumento das aglomerações populacionais existentes; a reconstrução de

cidades que tinham desaparecido com a queda do Império Romano e com o

bloqueio das rotas comerciais e; surgimento de novas cidades em locais que

nunca tinham sido ocupados. Dessa forma, concordamos com Sposito (1994,

p. 32), quando menciona que “a urbanização do fim do período feudal foi

marcada pela proliferação do número de cidades”.

O ressurgimento do comércio tem a sua afirmação com o aparecimento

das feiras, que geralmente eram realizadas nos encontros de estradas, ou em

terrenos com topografia adequada, ou nas proximidades de rios e/ou do mar,

entre outros locais. É importante esclarecer que nas imediações desses

lugares, normalmente, havia alguma edificação, como, por exemplo, uma igreja

ou um burgo, que possibilitava ou dava segurança aos mercadores

(HUBERMAM, 1981).

Em relação às mercadorias ofertadas nesses locais, há de se ressaltar

a grande diversidade, que era possível graças, principalmente, ao contato com

o Oriente e a África, de onde vinham produtos como seda, porcelana, pimenta,

canela, cravo, entre outros. As feiras mais importantes desse período se

35

localizavam nas regiões do Champagne (na França), em Flanders (na Bélgica)

e, em Gênova e Veneza (na Itália).

Para termos uma ideia da dimensão do espaço comercial exposto,

Hubermam (1981, p. 24) realiza uma breve comparação entre este e o

pequeno mercado do início do período medieval, já destacado por nós no

decorrer deste tópico:

É importante observar a diferença entre os mercados locais [...] dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras do século XII ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria, agrícolas. As feiras ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul.

Esses espaços mercantis foram os instigadores principais para o

surgimento de diversas cidades e o crescimento de outras no final da Idade

Média. Tal fato pode ser notado na seguinte explanação:

[...] as cidades surgiam naqueles lugares em que os mercadores se reuniam para negociar, e estes encontros efetuavam-se sempre nos arrabaldes dos burgos e aldeias feudais. É em épocas posteriores, durante os séculos XII até o século XIV (auge do feudalismo e da efervescência do comércio), que muitas cidades cresceram e se desenvolveram independentes dos rigores feudais, assim como surgiram outras, resultado da intensificação das trocas (FREIRE, 2010, 21).

É válido mencionar que no apogeu desse período, marcado pelo

surgimento e crescimento das cidades, outra estrutura comercial também se

desenvolveu: a praça de mercado. Além de espaço de comércio, a praça ora

apresentada era o local das festas, das relações políticas e religiosas, como

outrora se viu nas cidades gregas e romanas.

A partir das argumentações elencadas, é perceptível a importância do

comércio para o crescimento das cidades no período medieval. Mas é

importante visualizar que à medida que essa atividade vai se intensificando, as

36

bases necessárias para que o modo de produção capitalista possa se instalar

vão sendo cunhadas.

O capitalismo aproxima-se a passos largos, mas ainda não chegou. Com a cidade medieval estamos no período preparatório que é o da acumulação primitiva, da acumulação de riquezas, de técnicas, de mão-de-obra, de mercados, de lugares e territórios, de comunicações, etc. (LEFEBVRE, 1972, p. 60).

O que de fato permitiu o desenvolvimento do modo de produção

capitalista? Bem, vários fatores colaboraram para tal fenômeno, dentre eles,

podemos destacar o fim dos princípios instituídos pela igreja, que não admitia a

aquisição de lucros, e o aumento das expedições comerciais. Mas, a condição

fundamental para o estabelecimento desse modo de produção foi a

constituição de uma nova camada social, a burguesia (VARGAS, 2012).

Essa classe foi importante na desestruturação do modo de produção feudal, pois com a comercialização dos excedentes agrícolas ela começa a acumular capital e se torna a classe dominante. Por conseguinte, tem-se na atividade comercial uma importante forma de acumulação de riquezas, inclusive ao transformar a terra em mercadoria, determinando o fim do feudalismo (SOUZA, 2009, p. 35).

O processo de urbanização, que se restabeleceu com o renascimento

do comércio, ganha uma nova roupagem com a emergência do capitalismo.

Uma vez que é a partir desse momento que diversas cidades adquiriram

autonomia, tornando-se, com isso, o destino das pessoas que se libertavam

das “amarras” dos feudos.

A partir do século XVIII, a atividade comercial assume uma condição

secundária com o advento da industrialização, e os efeitos decorrentes dessa

nova atividade na urbanização foram ainda mais acentuados, não se

resumindo apenas ao crescimento populacional das cidades, mas também

acarretando, segundo Sposito (1994), em mudanças estruturais, na

constituição de redes urbanas, na divisão territorial do trabalho (que se tornou

mais efetiva com o desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte),

além de outros aspectos.

37

No século XIX, a concentração da atividade industrial em algumas

cidades da Europa permitiu a produção em massa, com isso, o comércio sofreu

mudanças, ou seja, houve o aparecimento de novos locais de compra e venda,

bem como a renovação de outros mais antigos para atender as demandas de

novas necessidades. Nas últimas décadas do século XIX e início do século

seguinte, verifica, em escala mundial, a expansão de modernas empresas

monopolistas com a finalidade de capturar todas as vantagens possíveis, que

não se resumem a simples busca do lucro. A passagem do sistema de

produção fordista para a produção flexível, aliada ao progresso dos meios de

comunicação e transporte, marcará o ponto de partida das grandes empresas

em direção a uma produção em larga escala (FREIRE, 2010).

Com esse avanço do setor industrial, tornou-se indispensável manter o

mercado consumidor ativo, com isso, o comércio passa a compor novamente o

cerne da economia, pois, segundo Vargas (2012, p. 76), “a forma de comerciar

e a sofisticação de suas técnicas vão responder pela melhor colocação dos

produtos industriais”. É importante grifar que a utilização crescente de

estratégias de vendas, a exemplo do marketing, passa a construir no

imaginário das pessoas a ideia de que elas devem consumir não apenas o

necessário para a sua sobrevivência, mas, também, tudo aquilo que satisfaça

sua vontade.

Junto às modificações verificadas na forma de consumo, nota-se,

também, ainda no final do século XIX, uma alteração na localização da

atividade comercial, ou seja, a praça e outros locais públicos, onde se

realizavam a atividade mercantil, são colocados em xeque, no que diz respeito

à função comercial com o surgimento de diversos estabelecimentos

particulares, tais como: as galerias, os grandes magazines, as lojas de

departamento e as lojas de novidades (VARGAS, 1992; SOUZA, 2009).

Já no século XX, a exigência de novos estabelecimentos com função

comercial se tornou ainda maior, visto que, nesse período, já se encontrava

consolidada uma sociedade com alto desejo de consumo. Desse modo, as

transformações na estrutura das cidades foram ainda mais marcantes, pois

primeiramente, ocorreu a concentração da atividade em pauta na área central

e, poucos anos mais tarde (principalmente com o advento do automóvel),

38

passou a acontecer a descentralização de determinados segmentos do

comércio para outras localidades da cidade.

Uma discussão mais aprofundada sobre a descentralização será feita

no decorrer do texto. Antes disso, acreditamos ser importante uma explanação

sobre as teorias que buscaram um entendimento sobre a organização interna

das cidades e um debate no que concerne ao centro e à centralidade.

1.2 A Organização Interna das Cidades: Os modelos da Escola de Chicago

É sabido que a Escola de Chicago surgiu no início do século XX,

momento marcado pelo processo de expansão urbana e crescimento

populacional gestado pela industrialização, que se consolidava em diversas

metrópoles norte-americanas até então. Os fenômenos associados a esses

processos se estabeleceram como importantes elementos de investigação dos

pesquisadores da referida escola. Tais estudos foram basilares para a

elaboração de novas teorias.

Dentre as teorias organizadas pelos estudiosos da Escola Sociológica

de Chicago destacam-se as que buscavam explicar a estrutura interna das

cidades, sendo as principais, as seguintes: a Teoria das Áreas Concêntrica de

Ernest Burgees, a Teoria Setorial de Homer Hoyt e a Teoria dos Múltiplos

Núcleos de C. Harris e E. Ullman. Nas próximas seções realizaremos uma

breve explanação sobre cada uma dessas perspectivas teóricas.

1.2.1 A Teoria das Áreas Concêntricas: o modelo de Burgess

Na década de 1920, Ernest Burgess concluiu o artigo intitulado The

Growth of the City: An Introduction to a Research Project1, que foi publicado no

livro The City, organizado pelo próprio estudioso em parceria com mais dois

autores. Nesse texto, Burgess (1925) relata a importância dos estudos que

abordam a expansão da cidade levando em consideração o crescimento físico

da mesma. No entanto, ele alerta para a necessidade de se desenvolver

pesquisas que busquem uma interpretação da expansão como um processo. É

1 O Crescimento da Cidade: uma introdução ao projeto de pesquisa (tradução nossa).

39

com essa preocupação que o referido estudioso propõe o modelo das áreas

concêntricas.

A proposta de Burgess (1925) visa mostrar que o processo de

expansão da maioria das cidades pode ocorrer por meio da formação de vários

círculos ou zonas concêntricas ao redor de um núcleo central. É importante

mencionar que o presente modelo aborda algumas ideias do zoneamento das

atividades agrícolas, expostas pelo economista alemão Johann vonThünen no

século XIX (CARRASCO, 2003).

Posto isto, a estrutura interna de uma cidade, segundo o modelo de

Burgees, está organizada da seguinte forma: o núcleo central é o Central

Business District (CBD). A zona que rodeia o CBD corresponde a área de

transição, que é constituída basicamente de pequenas indústrias e de

atividades artesanais sem grande expressão. Sobre essa área, Carrasco

(2003, p. 120) esclarece que:

Es la llamada zona de transición o pericentro urbano que corresponde a una de las zonas más complejas de la ciudad tanto por su proximidad al C.B.D, como por la gran diversidad de usos de suelo, que junto con la existencia de áreas degradadas social y morfológicamente, delimitan un entorno fuertemente disgregado.

A terceira zona é definida como sendo o local de moradia dos

operários. A quarta zona diz respeito à área onde se localizam as residências

ou apartamentos da população de maior poder aquisitivo. E, por fim, fora dos

limites da cidade se encontra uma grande área suburbana, local de moradia

das pessoas que percorrem uma distância aproximada de sessenta minutos

para acessar o ponto de trabalho na cidade. A figura 5 exemplifica o modelo

em destaque.

40

Fonte: Adaptado de Burgess (1925).

Figura 5 – Modelo das Áreas Concêntricas de Ernest Burgess

A proposta de estudo da estrutura interna da cidade, elaborada por

Burgess, foi bastante criticada por alguns pesquisadores. Baseado em

Carvalho (2007), compreendemos que algumas das críticas à teoria se

apoiaram em interpretações que concluem que o estudioso tinha como uma

das suas intenções afirmar que o crescimento da cidade ocorria de forma

homogênea, tendo como ponto de partida o centro comercial.

Outras críticas ao modelo do autor se centram nos seguintes aspectos:

Ausencia de coherencia entre atributos de tipo familiar y el resto de atributos anunciados por Burgess; Inconsistencia teórico e instrumental en el concepto de “área natural”; Modelo excesivamente generalista, lo que le ha convertido en un modelo ideal. Burgess inicialmente lo hizo extensible a cualquier ciudad o pueblo. Posteriormente rectificó y lo circunscribió a la ciudades norteamericanas con vocación comercial-industrial (TIMMS, 1976 apud JAUME, 2002, p. 73).

Embora sendo alvo de diversas considerações, a teoria dos círculos

concêntricos teve sua importância, já que foi um dos primeiros estudos que

tentou entender a estrutura interna das cidades e, além disso, serviu de base

41

para outros trabalhos, como, por exemplo, a teoria dos setores de Hommer

Hoyt, que será tratado adiante.

1.2.2 A Teoria dos Setores: o modelo de Hommer Hoyt

No final da década de 1930, o economista norte-americano Hommer

Hoyt propôs a Teoria dos Setores. Na proposta desse pesquisador, nota-se

que a forma da estrutura da cidade está associada a fatores como as

mudanças internas das residências e aos eixos mais importantes de

transportes. Essa questão pode ser observada quando Hoyt (1939 apud

CARRASCO, 2003, p. 128/129) descreve as características de crescimento da

cidade:

a) As áreas residenciais tendem a se localizar próximo as linhas de transportes rápidos - seguindo os vetores de comunicação - se deslocando para outros centros residenciais existentes, para centros terciários, ou para os limites da cidade. b) [...] na medida em que a cidade cresce edifícios residenciais de alto nível também pode se estabelecer em áreas residenciais mais antigas, perto do centro tradicional e comercial da cidade.

No entendimento de Hoyt a cidade se estrutura por setores, onde cada

um apresenta uma característica específica. O primeiro setor diz respeito ao

centro da cidade e também ao centro de negócios varejista; o segundo setor

corresponde ao local das indústrias pequenas e de uma atividade comercial de

menor porte e; na terceira zona, encontram-se as residências e atividades

comerciais voltadas para as pessoas de menor poder aquisitivo. É válido

mencionar que essa zona se localiza nas proximidades das indústrias e,

consequentemente, é distante de onde residem as classes mais altas (Figura

6).

42

Figura 6 – Modelo dos Setores de Hommer Hoyt

Alguns pesquisadores, dentre eles Johnson (1974) e Rodrígues Juame

(2002), relatam que o modelo setorial de Hommer Hoyt não se apresenta como

uma oposição ao modelo dos círculos concêntricos de Ernest Burgess. Na

realidade, segundo Jaume (2002, p. 73):

La teoría de los sectores completa al modelo de Burgess pues propone un diagrama en el que los límites impuestos por los círculos concéntricos de Burgess se interrumpen y se amplían del centro a la periferia, adoptando formas irregulares.

Assim como a teoria dos círculos concêntricos de Burgess, o modelo

setorial de Hommer Hoyt foi alvo de intensas críticas, sendo as mais

expressivas as que serão relatadas a seguir: o modelo apresenta uma visão

simplificada da forma de como se estruturam as classes sociais no espaço

interno da cidade; é conferida uma importância demasiada às forças das

atividades econômicas sobre a forma de expansão urbana e; por fim, no caso

da teorização relacionada aos problemas habitacionais, o modelo deixa de lado

variáveis verificadas com nitidez na realidade.

Nos estudos de Souza (2009), encontramos que a principal

preocupação de Hoyt não era realizar uma análise da estrutura de uma cidade

Fonte: Adaptado de Carrasco (2003).

43

Fonte: Adaptado de Carrasco 2003.

em sua totalidade. Na realidade, destaca o referido autor, o objetivo maior de

Hoyt se centrava em entender os rumos para os quais as áreas residenciais se

expandiam. Nesse sentido, Hommer Hoyt teve como compreensão que as

zonas residenciais, em especial as das classes de maior poder aquisitivo,

cresciam, principalmente, acompanhando as vias mais importantes e, também,

em direção as áreas já consolidadas.

1.2.3 A Teoria dos Múltiplos Núcleos: o modelo de Harris e Ullman

Outro estudo que deve ser lembrado, e que apresentou uma

interpretação mais consistente da estrutura interna da cidade é a Teoria dos

Múltiplos Núcleos, elaborada pelos geógrafos Chauncy Harris e Edward

Ullman, em meados da década de 1940. Mesmo baseando-se nos estudos

anteriores, que consideram que o crescimento da cidade se dá a partir de uma

área central, esta teoria busca mostrar que a estrutura urbana se desenvolve

ao redor de vários núcleos (Figura 7).

Figura 7 – Modelo dos Múltiplos Núcleos

44

Para Harris e Ullman, quatro fatores estão associados ao surgimento

de diversos núcleos concentrados na cidade, a saber: a) algumas atividades

necessitam se localizar onde a acessibilidade é máxima, sendo a área principal

o lugar ideal; b) atividades semelhantes se juntam na tentativa de se

beneficiarem das economias de aglomeração; c) outras atividades, por

antagonismo, procuram se localizar em espaços distantes um do outro e; d)

todas as atividades estão expostas ao processo seletivo imposto pelo preço do

solo (BAILLY, 1978; CARRASCO, 2003).

Embora exista a multiplicação de núcleos no interior da cidade, é válido

ressaltar que, segundo a teoria, o Central Business District (CBD) permanecerá

sendo o centro mais importante do espaço intraurbano. Outra questão que

podemos ressaltar, diz respeito à relação que o modelo estabelece entre a

cidade, a quantidade e a diversidade de centros que ela contém. Carrasco

(2003, p. 131) expõe esse aspecto da seguinte forma:

Puntualizando que el número de núcleos y de funciones variaran para cada ciudad y para cada caso urbano concreto. Por lo general, cuanto mayor sea una ciudad, mayor será el número de núcleos y la cantidad de actividades contenidas en ellos.

Como já mencionado, a teoria de Harris e Ullman apresenta uma

proposta de crescimento da cidade que se distingue das teorias anteriores

(Teoria Concêntrica de Burgess e Modelo Setorial de HommerHoyt), porém

alguns aspectos comuns naquelas propostas se repetem no trabalho de Harris

e Ullman. Um exemplo é a ideia da cidade se constituir de um único centro

dominante e polarizador.

Após a década de 1940, capitaneadas pela difusão e popularização do

automóvel, as cidades passam a exibir crescimento espacial mais ampliado.

Em decorrência disso, novos centros surgem em espaços distantes da área

central da cidade, para atender as demandas de consumidores que residem

próximo a eles. Por não conseguir interpretar essa estrutura urbana mais

complexa, os modelos de estudo da Escola de Chicago são deixados de lado,

assim novos estudos surgem para elucidar a nova estrutura das cidades

(SOUZA, 2009).

45

A compreensão das transformações da estrutura interna das cidades

requer a priori uma discussão acerca de centro e centralidade, aspecto que

será tratado a seguir.

1.3 Centro e Centralidade na Estrutura Espacial Intraurbana

No intuito de apreendermos as transformações recentes no interior da

cidade se torna fundamental analisar, primeiramente, os processos espaciais

que deram origem a tais mudanças. Dessa forma, acreditamos que, para isso,

é necessário compreender o conceito de centro, concebendo-o como uma

forma espacial, decorrente do processo de centralização que permite a

concentração das atividades econômicas e da convergência dos fluxos. Outra

noção importante a ser assimilada é a de centralidade, interpretando-a como

um processo que tende a surgir em mais de um local no espaço interno da

cidade, a partir de outro fenômeno, a saber: a descentralização.

Para dissertarmos sobre esses dois temários – centro e centralidade –,

tivemos por base os estudos de autores que tiveram no cerne de suas

preocupações a cidade e a realidade urbana, dentre eles podemos destacar:

Henri Lefebvre (2008), Manoel Castells (2006), Flávio Villaça (1998), Roberto

Corrêa (1989), Arthur Whitacker (2003) e Maria Sposito (1991).

Numa análise inicial das reflexões concernente à cidade e à realidade

urbana, notamos que o centro pode ser concebido como uma característica

basilar da cidade, pois como assevera Henri Lefebvre (2008, p. 90), “não existe

cidade, nem realidade urbana, sem um centro”. Isso denota que o centro é

intrínseco à cidade.

Antes de aprofundarmos nessa discussão, é importante esclarecer que

em nosso estudo o conceito em construção é o de centro urbano na escala do

espaço intraurbano. É válido assinalar isso pelo fato dessa expressão

apresentar diferentes significados podendo, inclusive, incorrer em erros de

interpretação, caso não seja enfatizado a escala de operação. Villaça (1998, p.

30) deixa claro o problema associado ao termo em destaque quando relata

que:

46

[...] variam muito os conceitos e as realidades representadas pela expressão centro urbano; é preciso, pois, cautela na interpretação desse vocábulo e também na sua utilização. Ele pode designar ou os chamados centros tradicionais (impropriamente chamado de “histórico”), como o CBD dos americanos; pode designar uma área central mais ampla, como a que os urbanistas brasileiros chamam de “centro expandido”; pode até mesmo significar cidade central, especialmente no caso das cidades americanas, que frequentemente têm área territorial pequena, tanto em termos absolutos como relativos às extensões das respectivas áreas metropolitanas; finalmente, em análises regionais, pode significar áreas metropolitanas inteiras.

Já atentos a esse ponto, surge nesse momento uma questão no

sentido de nortear a construção do conceito: o que é o centro? É um ponto

preestabelecido numa carta? Bem, com referencial em Villaça (1998) e Castells

(2006), notamos que o centro não pode ser entendido apenas como um ponto

definido num mapa. Na realidade, devemos compreendê-lo como uma

localidade carregada de conteúdo social ou, em outras palavras, como “um

conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamento de fluxos de uma cidade

real” (VILLAÇA, 1998, p. 238).

O centro é uma área no interior do tecido urbano, que se caracteriza

pela concentração de atividades de comercialização de produtos e de oferta de

serviços, de instituições dos setores públicos e privados, de lazer (praças,

parques, jardins, etc.), de sentimentos e de valores simbólicos é, ainda, o local

dos terminais de transportes de circulação intra e interurbano (CORRÊA, 1989;

SPOSITO, 2001).

Henri Lefebvre (2008, p. 44) também explanou em seus escritos o seu

pensamento a respeito do centro urbano. Para o estudioso, a área em

destaque “supõe e propõe a concentração de tudo o que existe no mundo, na

natureza, no cosmos: frutos da terra; produtos da indústria; obras humanas,

objetos e instrumentos, obras e situações, signos e símbolos”. O autor

completa o seu pensamento ao relatar que qualquer área no espaço

intraurbano pode se tornar central, desde que exista condição para tal

processo.

Levando em consideração as ideias desses estudiosos, podemos

inferir que o centro, como forma espacial que se distingue de outras áreas da

47

cidade pela concentração de fixos, tem uma conexão direta com o que se

movimenta no território, ou seja, os fluxos é que caracterizam a centralidade.

Um breve entendimento dessa relação é tratado por Sposito (1991, p. 06):

O centro da cidade [...] é [...] um ponto de convergência/divergência, é o nó do sistema de circulação, é o lugar para onde todos se dirigem para algumas atividades e, em contrapartida, é o ponto de onde todos se deslocam para a interação destas atividades aí localizadas com as outras que se realizam no interior da cidade ou fora dela. Assim, o centro pode ser qualificado como integrador e dispersor ao mesmo tempo.

Posto isto, pode-se perceber que o centro e a centralidade são

fenômenos diferentes entre si, não se confundem e, ao mesmo tempo, um não

pode ser analisado sem o outro, há, nesse caso, uma relação de

complementaridade, como assinalado por Whitacker (2003, p. 137):

Compreendemos o caráter processual da centralidade, em complementação ao centro, expressão territorial. Ou ainda, que a centralidade diz respeito aos ‘fluxos, à fluidez’ e o centro é a ‘perenidade’, ou seja, a centralidade é expressão da dinâmica de definição/redefinição das áreas centrais e do fluxo no interior da cidade.

Nos estudos de Lefebvre (2008), verificamos que a centralidade se

estabelece como condição essencial para definição do fenômeno urbano:

Descobrimos o essencial do fenômeno urbano na centralidade. Mas na centralidade considerada como o movimento dialético que a constitui e a destrói, que a cria ou a estilhaça. Não importa qual ponto possa se tornar central, esse é o sentido do espaço-tempo urbano. A centralidade não é indiferente ao que reúne, ao contrário, pois ela exige um conteúdo. E, no entanto, não importa qual seja o conteúdo (LEFEBVRE, 2008, p. 108).

A centralidade urbana pode ser tratada em dois níveis territoriais: a

intraurbana e a de rede urbana. No primeiro nível, há a possibilidade de se

analisar as distintas formas de expressão dessa centralidade, adotando como

ponto de referência o território da cidade ou da aglomeração urbana a partir de

seu centro ou centros. No nível da rede urbana, o estudo tem como referencial

48

a cidade ou aglomeração urbana principal em relação ao grupo de cidades de

uma rede2. Essa, por sua vez, podendo ser vista em diferentes escalas e

formas de articulação e configuração, de maneira que se possa compreender

os papéis da cidade central (SPOSITO, 1998).

A partir das argumentações elencadas, percebemos que o centro é

revelado “pelo o que se localiza no território, a centralidade é desvelada pelo

que se movimenta no território” (SPOSITO, 2001, p. 238). Embora pareça

simples notar a distinção entre os dois conceitos apresentados, muitos têm sido

os escritos em que a centralidade é tratada como sendo um lugar. Essa

confusão foi, inclusive, criticada por Maria Sposito em outro momento dos seus

estudos:

[...] volto à distinção e à relação que estabeleço entre centro(s) e centralidade(s). Seria quase desnecessário tratar deste assunto, mas tenho visto, frequentemente, na literatura brasileira, a centralidade ser abordada como um lugar, por meio de expressões como “nas novas centralidades”, “na centralidade do novo shopping center” etc. Assim, começo por este ponto – A CENTRALIDADE, PARA MIM, NÃO É UM LUGAR OU UMA ÁREA DA CIDADE, MAS, SIM, A CONDIÇÃO E EXPRESSÃO DE CENTRAL QUE UMA ÁREA PODE EXERCER E

REPRESENTAR. Segundo essa perspectiva, então, a centralidade não é, propriamente, concreta; não pode ser vista numa imagem de satélite; é difícil de ser representada cartograficamente, por meio de delimitação de um setor da cidade; não aparece desenhada no cadastro municipal ou no plano diretor das cidades; não se pode percorrê-la ou mesmo vê-la, embora possa ser sentida, percebida, representada socialmente, componha nossa memória urbana e seja parte de nosso imaginário social sobre a vida urbana (SPOSITO, 2013, p. 73, grifo da autora).

Outro aspecto que deve ser observado é que a centralidade é um

processo que pode se multiplicar no espaço interno da cidade. Tal fator

possibilita o surgimento de uma “nova forma de estruturação interna da cidade”

(REIS, 2007, p. 10), que se caracteriza por apresentar “multicentralidade” e

2É valido mencionar que na Geografia as discussões referentes às centralidades, normalmente,

tiveram por base a “Teoria dos Lugares Centrais”, escrito pelo geógrafo alemão Walter Christaller, em 1933 (traduzido para o inglês em 1966). Tal estudo foi formulado pelo referido autor para elucidar a distribuição dos diferentes lugares no espaço. De acordo com essa teoria, que se voltava mais à escala interurbana, aquele centro urbano que fornece uma diversidade de bens e serviços a uma área específica, seguramente, apresenta-se no topo da rede urbana a qual pertence (CONTEL, 2010). Esse estudo ainda hoje é indispensável para uma boa parcela do entendimento de centro e centralidade.

49

“policentralidade”. A referida organização urbana é um fenômeno que, na

atualidade, se revela não apenas nas metrópoles e nas cidades grandes, mas

também nas cidades médias. Diante disso, podemos mencionar duas

tendências ao qual estão propícios os espaços urbanos:

a) à centralidade, através dos distintos modos de produção, das diferentes relações de produção, tendência que vai, atualmente, até o “centro decisional”, encarnação do Estado, com todos os seus perigos; b) à policentralidade, à onicentralidade, à ruptura do centro, à disseminação, tendência que se orienta seja para a constituição de centros diferentes (ainda que análogos, eventualmente complementares), seja para a dispersão e para a segregação (LEFEBVRE, 2008, p. 110).

Essa nova organização urbana é o reflexo do adensamento

populacional e da expansão espacial, fenômenos esses que permitem a

reprodução da centralidade em outras localidades da cidade a partir do

processo denominado descentralização. Tal tema será tratado na próxima

seção.

1.4 O Estudo da Descentralização na Geografia Urbana

Na literatura geográfica, verificamos que a discussão sobre a

descentralização não é uma preocupação nova, no entanto é mais recente do

que as discussões acerca da centralização (CORRÊA, 1989). As primeiras

formulações teóricas referentes à temática em tela datam do início do século

XX, e estão relacionadas ao intenso crescimento e às transformações ocorridas

em diversas cidades dos Estados Unidos (CORRÊA, 2000; REIS, 2007;

SOUZA, 2009).

Numa análise da pesquisa realizada por Reis (2007), constatamos que

o autor divide as interpretações a respeito da descentralização em dois

períodos: o primeiro se inicia na década de 1920 e se estende até a primeira

metade da década de 1970 e, o segundo compreende a última metade da

década de 1970 até o presente.

50

No primeiro período, a descentralização se caracteriza principalmente

pelo surgimento de diversos núcleos secundários, mas, apesar disso, o Central

Business District (CBD) não perde a sua condição de centro mais importante

da cidade. Dentre as teorias mais significativas desse período, relacionadas a

esse assunto, podemos destacar as realizadas por Charles Colby, em 1933;

Malcolm Proudfoot, em1937; Eugene Kelley, em 1955 e Brian Berry, em 1968.

No sentido de verificarmos as contribuições desses autores, segue

adiante uma breve explanação das teorias de cada um deles. Posto isto,

podemos iniciar pelo geógrafo Charles Colby que, na década de 1930,

identificou duas forças atuantes na organização do espaço urbano, são elas: as

forças centrípetas e centrífugas.

As forças centrípetas são aquelas que agem no sentido de direcionar

as atividades para o centro da cidade, já as forças centrífugas operam no

sentido contrário, ou seja, afastam as atividades para áreas distantes do

centro.

Segundo Corrêa (1989), que realizou uma sistematização das ideias de

Charles Colby em alguns dos seus escritos, as forças centrífugas apresentam

uma dupla especificidade: de um lado possui fatores de repulsão da Área

Central e; de outro lado, apresenta fatores de atração das atividades em

localidades distante da Área Central. Diante disso, os fatores de repulsão são:

a) aumento constante do preço da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizadas na Área Central; b) congestionamentos e alto custo do sistema de transporte e comunicações, que dificulta e onera as interações entre as firmas; c) dificuldade de obtenção de espaços para a expansão, que afeta particularmente as indústrias em crescimento; d) restrições legais implicando a ausência de controle dos espaços, limitando, portanto, a ação das firmas; e) ausência ou perdas de amenidades (CORRÊA, 1989, p. 45/46).

Já os fatores de atração das atividades em localidades distante da

Área Central seriam os seguintes: terras disponíveis, com preços acessíveis;

sistema de infraestrutura já implantada; disponibilidade de transporte; boas

condições topográficas e de drenagem do sítio; entre outros (CORRÊA, 1989).

51

É inegável, de acordo com os estudos de Reis (2007), que Charles

Colby tinha como objeto principal de análise a Área Central da cidade,

averiguar as forças pertinentes ao processo de centralização, todavia é

interessante salientar que sua pesquisa produziu subsídios primários sobre a

natureza do processo de descentralização das atividades econômicas na

cidade.

Ainda na década de 1930, tem-se a pesquisa realizada por Malcolm

Proudfoot, que pode ser compreendida como uma das primeiras investigações

de expressiva contribuição aos estudos relacionados à descentralização.

Proudfoof (1937), em sua análise, procurou estabelecer uma classificação geral

sobre a estrutura comercial varejista da cidade. A proposta do autor estava

ancorada nos resultados de um intenso estudo sobre as cidades norte-

americanas de Nova Iorque, Washington, Chicago, Filadélfia, Atlanta,

Cleveland, Des Moines, Baltimore e Knoxville.

Nas proposições de Malcolm Proudfoof (1937), a estrutura comercial

varejista da cidade apresentaria cinco formas comerciais, conforme segue:

1) Central Business District (Distrito Central de Negócios): se refere à área

principal de qualquer cidade. É nesse local que ocorre a máxima

concentração de atividades econômicas;

2) Outlying Business Center (Centro Periférico de Negócios): corresponde

a uma cópia em menor tamanho do Central Business District (CBD). Nele

a quantidade e a diversidade das atividades econômicas é menor do que

no CBD. Outro aspecto interessante é que, enquanto, o CBD captura

pessoas da cidade toda e até mesmo de fora dela, o Outlying Business

Center atrai, normalmente, consumidores de localidades mais próximas a

ele;

3) Principal Business Thoroghfare (Eixos Principais de Negócios): trata-se

de vias que ao mesmo instante concentram atividades econômicas e

apresentam intenso fluxo. Essas vias, geralmente, conectam a área

central a outras localidades da cidade;

4) Neighborhood Business Street (Rua de Comércio de Bairro): são ruas

de atividades comerciais que, normalmente, atraem clientes do próprio

bairro que se deslocam a pé, não havendo, desse modo, a necessidade

do uso de meios de transportes;

52

5) Isolated Store Cluster (Grupo de Lojas Isoladas): são comércios de

menor expressão, voltados para atender as necessidade mais imediatas

dos consumidores e, são situados próximos às residências. Podemos

caracterizar esse grupo pelas padarias, frigoríficos, fruteiras, entre outros.

O modelo classificatório de Malcolm Proudfoot, conforme Reis (2007),

tornou-se uma das referências mais importante para diversas pesquisas que

buscavam compreender a distribuição espacial do comércio varejista em

diversas cidades do mundo. Outro aspecto relevante foi que:

[...] sua taxonomia serviu como base para a formulação de novas taxonomias que, em geral, procuraram adequá-la face às intensas transformações que a estrutura comercial das cidades foram submetidas nas décadas de 1940 e 1950 (REIS, 2007, p. 14).

Uma dessas novas taxonomias da estrutura comercial foi organizada

por Eugene Kelley, na década de 1950. A proposta desse autor se diferencia

da anterior, especialmente, por considerar o uso do automóvel, que foi um dos

principais responsáveis pelas transformações nas cidades dos Estados Unidos

da América nos anos pós Segunda Guerra Mundial. Segundo Kelley (1955), os

aspectos mais significativos, vinculados à modificação da estrutura interna das

cidades, são: o aumento do deslocamento da população suburbana; a maior

dependência das pessoas no que diz respeito à utilização do automóvel

individual para fazer compras; e acréscimo de autoestradas que condicionou os

consumidores a um deslocamento mais rápido na busca de produtos e

serviços.

Outro fator relevante no trabalho de Eugene Kelley foi a presença de

um componente a mais em sua classificação, quando comparado a taxonomia

de Malcolm Proudfoot. Kelley (1955) acrescentou em sua classificação um

grupo de atividade comercial representado pelo Shopping Centers Planejado.

Sobre os Shopping Centers é adequado mencionar que seu surgimento

se deu, como menciona Reis (2007, p. 15), em decorrência das:

[...] mudanças que se processaram no plano interno da atividade varejista no período pós-guerra, com a criação de novas formas comerciais e técnicas de comercialização, [além

53

de estar] estritamente relacionados com a popularização e difusão automóvel.

Posto isto, o modelo classificatório, referente à estrutura comercial

varejista, proposto por Eugene Kelley se divide nas seguintes categorias: 1)

Central Business District (Distrito Central de Negócios); 2) Main Business

Thoroughfares (Vias Principais de Negócios); 3) Secondary Commercial Sub-

Districts Unplanned (Sub-distritos Comerciais Secundários Não-Planejados);

4)Neighbohood Business Streets (Rua Comércio de Bairro); 5)Small Store

Clusters and Scattered Individual Stores (Pequenos Grupos de Lojas e Lojas

Individuais Dispersas) e; 6)Controlled Regional Shopping Centers (Centro de

Compras Regional Planejado).

As cinco primeiras categorias elencadas por Kelley (1955) não

demonstram grandes alterações em relação à proposta de Proudfoot (1933).

Dessa forma, não há necessidade de discorrermos sobre cada uma delas,

assim, podemos relatar imediatamente a sexta tipologia, ou seja, o Controlled

Regional Shopping Centers (Centro de Compras Regional Planejado) que

apresenta, dentre outras, as seguintes peculiares: normalmente, ele é edificado

em áreas distantes do núcleo central, devido, principalmente, essas localidades

oferecerem terrenos com custos mais acessíveis e permitirem um fácil

deslocamento e; é voltado para capturar consumidores em escala interurbana

e, não somente da cidade em que se encontra alocado.

Sobre as propostas de estudos desses dois autores, Souza (2009, p.

58) destaca que:

[...] são bastante parecidas, apresentando como maior diferença os Shopping Centers na estrutura de Kelley (1955). Essa nova estrutura representa bem as mudanças ocorridas na estrutura comercial varejista a partir do desenvolvimento do automóvel. É um centro de compras localizado fora da área central, em que o fácil deslocamento é fundamental para o seu sucesso, atendendo a cidade como um todo e, até mesmo, a região.

Outro autor que contribuiu de forma notável para os estudos sobre a

descentralização foi Brian Berry, na década de 1960. Berry (1968), baseado na

Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller (1933), demonstrou um novo

54

Fonte: Adaptado de BERRY (1968)

modelo para o entendimento da organização das atividades terciárias no

espaço intraurbano3. Considerando o esquema do autor (Figura 8), a

organização do comércio se estabelecia da seguinte forma: Centros Planejados

ou Espontâneos, em que se percebe uma hierarquia de centros; Eixos

Comerciais e Áreas Especializadas.

Figura 8 – Esquema da organização comercial varejista

No modelo de Berry (1968) é notório o intenso processo de

descentralização das atividades comerciais pelo qual passaram as cidades

após 1945, porém o esquema deixa claro que o CBD ainda era o centro mais

importante em relação aos outros centros da estrutura comercial da cidade. Ao

tratar desse assunto, Reis (2007, p. 16) destaca que:

Este modelo serve [...] como registro de uma fase da história da cidade moderna em que o processo de descentralização, embora transformasse profundamente a estrutura urbana, não colocava em xeque o papel dominante do CBD como o mais importante centro da metrópole, o único que aninha toda a

3Diversos estudiosos buscaram adaptar a Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller

(1933) para a escala intraurbana, porém é conferido a Hans Carol (1960), o pioneiro a realizar tal processo quando pesquisou a cidade de Zurique (REIS, 2007).

55

gama de funções de comércio e serviços mais especializados, sendo, os demais centros, núcleos dotados de uma estrutura funcional mais limitada e submetida ao CBD.

O esquema estruturado por Brian Berry é na realidade o resultado do

crescimento demográfico nas cidades, da descentralização das atividades

comerciais, da maior facilidade de mobilidade das pessoas para consumir,

além de diversos outros processos que transformaram densamente a estrutura

comercial das cidades (SOUZA, 2009; CARVALHO, 2007).

No Brasil, embora o processo de descentralização tenha se iniciado na

década de 1940, quando, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro,

Copacabana já se destacava como um subcentro, os estudos sobre tal

processo só vieram a ocorrer de fato após os anos de 1970, sendo uma das

contribuições mais expressiva a de Duarte (1974) que, assim como Brian Berry

e outros estudiosos estrangeiros, tiveram por base a Teoria dos Lugares

Centrais de Christaller para elucidar a distribuição das atividades comercias no

interior da cidade já mencionada.

Nesse primeiro período e, mais especificamente na fase compreendida

após Segunda Guerra Mundial até a década de 1970, verificou-se que os

estudos de Geografia Urbana sobre a temática da descentralização estavam

voltados principalmente para a busca de padrões de localização e da forma

espacial das atividades comerciais varejista no interior da cidade. Além disso,

esses estudos apresentavam uma característica da estrutura da cidade, como

foi visto, constituída de um núcleo principal, o CBD, que sempre se posicionava

como o centro comercial mais importante entre todos os centros da cidade.

A partir da segunda metade da década de 1970, com a influência do

materialismo histórico e da dialética marxista sobre os estudos da cidade4,

inicia-se uma nova forma de pensar a descentralização. Silva (2013, p.10)

complementa essa informação ao relatar que:

Vários estudos começam a questionar a idéia da existência de uma hierarquia de centros na organização interna da cidade, sempre com o CBD figurando como o centro mais importante

4 Essa influência se inicia a partir, principalmente, dos estudos de Manuel Castells, Henri

Lefebvre e David Harvey que, na teoria marxista, se destacam entre os maiores pensadores da cidade.

56

seja pelo fato de possuir maior diversidade funcional e volume de negócios seja por polarizar uma área mais extensa que outros centros. Esses estudos começam a mostrar o surgimento e a consolidação de novos centros, que não podem ser classificados como subcentros, pois acumulam muitas das atividades e funções que antes pertenciam exclusivamente ao CBD.

Nos anos de 1980, houve, na literatura da geografia urbana e

econômica estadunidense, um significativo destaque para as pesquisas

pertinentes à distribuição das atividades econômicas no interior da metrópole.

Nelas é perceptível que a ideia de Metrópole Monocêntrica, em que o CBD é o

centro mais importante num conjunto de centro, é suplantada pela de

Metrópole Policêntrica. No texto de Berry e Kim (1993, p. 01), podemos

interpretar a tendência a essa superação quando os autores mencionam que

“this urban form was at its zenith by World War II, but since has been eroded by

suburbanization, decentralization, and dispersion5”.

Sobre a Metrópole Policêntrica, Fuji e Hartshorn (1995 apud REIS,

2007, p. 28) definem como sendo:

[...] uma estrutura urbana que, além do CBD, é dotada de um (ou mais) núcleos(s) secundário(s) com funções e serviços típicos do CBD. Além disso, estes núcleo(s) secundário(s) equivalentes ao CBD caracterizam-se pela coesão de pelo menos duas ou mais funções especializadas, por exemplo, o comércio varejista e os escritórios de serviços.

Posto isto, as reflexões acerca da descentralização, nesse segundo

período, apontam para uma nova forma de organização interna da cidade, em

que surge um ou mais centros secundários com importância igual ao CBD,

característica basilar da cidade policêntrica.

Nos estudos de Reis (2007), notamos que esse processo foi

denominado de desdobramento, porém o autor alerta que tal expressão foi

aplicada, inicialmente, por Cordeiro (1978, p. 98) ao desenvolver uma pesquisa

minuciosa o sobre o centro de São Paulo. Para ela, esse processo “constitui

5 Esta forma urbana que teve seu ápice por volta da Segunda Guerra Mundial, desde então tem

sido corroída pela suburbanização, descentralização e dispersão (Tradução nossa).

57

um fenômeno de descentralização funcional”, como o que gerou, exemplifica a

autora, o centro expandido da Paulista.

Dessa maneira, o desdobramento é um tipo específico de

descentralização, ou seja, “uma forma de descentralização com

transbordamento”, que se diferencia do subcentro pela não contiguidade

(CORDEIRO, 1978, p. 98). A essa forma não contígua foi atribuído o nome de

centro expandido.

58

CAPÍTULO 2 – AS CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS E SUAS TRANFORMAÇÕES: O CASO DE SOBRAL - CE 2.1 A Urbanização Brasileira e a Emergência das Cidades Médias

No Brasil, as primeiras cidades surgiram ainda no período colonial6,

inicialmente no litoral em decorrência da expansão da produção e

comercialização do açúcar e, em seguida, no interior motivada pela exploração

de recursos minerais mais preciosos, naquele momento, o ouro e o diamante.

Esses localizados inicialmente na porção mais oeste do território.

No fim do período colonial, as cidades, entre as quais avultaram São Luís do Maranhão, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, somavam perto de 5,7% da população total do País, onde viviam, então, 2.850.000 habitantes (SANTOS, 1993, p. 20).

Entre o fim do período em destaque e a década de 1870 poucas

alterações foram sentidas nos índices de urbanização da sociedade brasileira.

Contudo, é a partir da referida década que se conhece a primeira aceleração

desse fenômeno. Em 1872, a população urbana era 5,9% da população total

brasileira, em 1900, saltou para 9,4% e, em 1920, passou para 10,7%, o que

corresponde a um percentual de crescimento de 4,8% em pouco menos de

cinquenta anos (SANTOS, 1993).

Esse impulso do processo de urbanização se deve não apenas ao

modo de produção agrícola e a estrutura fundiária que, naquele momento, já

atuavam no sentido de gerar fluxo migratório na direção campo-cidade, mas

também em razão da ocorrência de alguns fatos, dentre eles podemos citar: a

libertação dos escravos, a Proclamação da República e a emergência de uma

indústria7 que se desenvolvia no encalço das atividades vinculadas à cultura

cafeeira.

6É o período em que o território brasileiro era colônia do Império Português. Esta fase começa

em 1930, assinalado pela expedição de Martin Afonso de Sousa que tinha, dentre outros objetivos, a missão de iniciar o povoamento do Brasil, e termina em 1822, quando o príncipe Dom Pedro I declarou a independência do país. 7 De acordo com Prado Junior (1981), o primeiro impulso industrial brasileiro aconteceu na

década de 1880. A quantidade de estabelecimentos industriais passou de um pouco mais de

59

Na concepção de Villaça (1998), uma das características marcantes do

fenômeno ora apresentado, que começou a se manifestar no Brasil a partir dos

últimos anos do século XIX, foi o acelerado crescimento das camadas

populares.

Calcula-se que existiam no estado de São Paulo 50 mil operários em 1901, dos quais os brasileiros constituem menos que 10%. Pelo recenseamento do Rio de Janeiro de 1906, numa população de 811.443 habitantes, 118.770 são operários: a maioria é de estrangeiros principalmente portugueses e espanhóis (VILLAÇA, 1998, p. 227).

É também interessante observar que nesse período diversas cidades

brasileiras, dentre elas: Belém, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Rio de

Janeiro, passam a experimentar, ainda que de forma incipiente, algumas

reformas urbanas. De acordo com Maricato (2001, p. 17):

Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram implantadas as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era expulsa para os morros e franjas da cidade.

Mesmo com essas modificações, a economia do país se manteve

apoiada nas atividades agrário-exportadoras (especialmente na produção, na

comercialização e na exportação do café). No entanto, a partir dos anos de

1930, o Estado passa a investir densamente nas cidades, concedendo-as uma

melhor infraestrutura para o desenvolvimento industrial, tendo em vista a

produção de bens para o mercado interno.

Verifica-se, deste modo, dois acontecimentos de certa maneira

imbricados: o surgimento da burguesia industrial/comercial e o crescimento e

fortalecimento do mercado de bens e serviços. Ambos eventos tiveram

participação ativa “no processo de urbanização e na formação do sistema

200 em 1881 para mais de 600 em 1889. Do capital investido nesse setor na época (400.000 contos), as maiores aplicações foram nas indústrias dos ramos têxteis (60% do total), alimentícios (15% do total) e de produtos químicos e similares (10% do total).

60

urbano na medida em que favoreceram o crescimento das cidades e o seu

inter-relacionamento” (ANDRADE; LODDER, 1979, p. 18).

Nos estudos de Maricato (2001), percebemos que a industrialização

representou um elemento de progresso para a urbanização da sociedade

brasileira, como pode ser constatado na argumentação a seguir:

[...] a industrialização que se afirma a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra Mundial constituiu um caminho de avanço relativo de iniciativas endógenas e de fortalecimento do mercado interno, com grande desenvolvimento das forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e modernização da sociedade (MARICATO, 2001, p. 18).

As intensas transformações que ocorreram na sociedade e na

economia brasileira, após1930, somente se firmaram com o rápido crescimento

da economia urbano-industrial e com a ampliação e modernização da

infraestrutura de transporte e comunicação, iniciados na década de 1950,

sobretudo, no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a execução

do Plano de Metas8 de 1956.

É importante lembrar que a referida década é marcada pela inserção

do processo de industrialização em nova etapa. A partir de então, o Brasil

passa a produzir bens modernos, a exemplo dos eletroeletrônicos e do

automóvel. O consumo em massa desses bens transformará expressivamente

o modo de vida das pessoas e o cenário das cidades.

Em se tratando da população brasileira, especialmente a urbana, é

válido mencionar que após o fim da Segunda Guerra Mundial ela cresceu

significativamente. A taxa de urbanização que, em 1940, era de 31,2%

alcançou em 1950, 36,1%, o que corresponde a um incremento de menos de

5% em dez anos. A partir dos anos cinquenta, inicia-se um intenso movimento

migratório na direção campo-cidade9, contribuindo fortemente para a

8 Foi um plano econômico desenvolvido durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-

1961). Este tinha como objetivo principal acelerar o desenvolvimento econômico do país por meio de investimentos em áreas prioritárias, especialmente, indústria e infraestrutura (rodovias, hidrelétricas e aeroportos). 9 Diversos fatores estão associados a esse deslocamento da população brasileira, dentre eles,

podemos ressaltar: a mecanização do campo, a concentração fundiária e a oferta de empregos na cidade decorrente da industrialização. De acordo com Brito e Pinho (2012, p. 07), no ápice do ciclo migratório, ocorrido entre 1960 e o final dos anos de 1980, “saíram do campo para as

61

Fonte: OLIVEN, 2010; SANTOS, 1993 e IBGE, 2000 e 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

aceleração do processo de urbanização. Entretanto, “o adensamento

populacional gerado pelo fluxo migratório vai acontecer, de forma mais intensa,

na região Sudeste, mais precisamente na cidade de São Paulo” (LIMA, 2011, p.

40).

Posto isso, em 1980, a população urbana atingiu 65,1%, um acréscimo

de 29% em apenas trinta anos. Dessa forma, concordamos com Santos (1993,

p. 29), quando relata que “entre 1940 e 1980, dá-se uma verdadeira inversão

quanto ao lugar de residência da população brasileira”. Nas décadas seguintes

esses índices continuaram crescendo, assim, temos, em 2010, uma população

urbana de 84,3% (Tabela 1).

Tabela 1 – População Total e Urbana do Brasil e Índice de Urbanização

Período Pop. Total Pop. Urbana Índice de Urbanização

1940 41.236.315 12.880.182 31,2%

1950 51.944.397 18.782.891 36,1%

1960 70.967.185 31.990.938 45,1%

1970 93.204.379 50.600.000 56,0%

1980 117.357.910 76.400.000 65,1%

1991 150.400.000 115.700.000 77,1%

2000 169.544.443 137.697.439 81,2%

2010 190.742.694 160.879.708 84,3%

Esse acelerado processo de urbanização, constatado no Brasil após

1950, é explicado por Santos (1993, p. 31) da seguinte maneira:

O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da segunda guerra mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são os progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria urbanização.

Em análise aos dados concernentes ao fenômeno em estudo, no

período de 1940 a 1970, Andrade e Lodder (1979) observaram que a

aceleração do mesmo se deu de maneira uniforme em todas as regiões do

cidades quase 43 milhões de pessoas, considerando, inclusive os ‘efeitos indiretos da migração’, ou seja, os filhos tidos pelos migrantes rurais nas cidades”.

62

Fonte: Adaptado de ANDRADE; LODDER, 1979. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Brasil. Contudo, a averiguação da distribuição percentual da população, total e

urbana, por regiões apontou que, no ano de 1970, 55,5% da população urbana

do país estava localizada no Sudeste, 22,6% no Nordeste, 14,1% no Sul, 4,7%

no Centro-Oeste e 3,1% no Norte (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição Percentual da População Total e Urbana Por Regiões (1940 - 1970)

Regiões

População Total População Urbana

1940 1950 1960 1970 1940 1950 1960 1970

Norte 3,6 3,6 3,7 3,9 3,1 3,1 3,1 3,1

Nordeste 35,0 34,6 31,6 30,3 26,2 25,2 24,0 22,6

Sudeste 44,5 43,4 43,8 42,7 56,2 57,1 55,6 55,5

Sul 13,9 15,1 16,7 17,6 12,4 12,3 14,0 14,1

Centro-Oeste 3,0 3,3 4,2 5,5 2,1 2,3 3,3 4,7

Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Quando se compara o grau de urbanização de cada região com a do

país (Tabela 3), nota-se que o Sudeste, região com maior dinamismo

econômico, era a única com participação percentual superior a nacional

(56,0%) 10, registrando, em 1970, mais de 72% de sua população como urbana.

Outro dado interessante foi o apresentado pelo Centro-Oeste que, em apenas

vinte anos (de 1950 a 1970), deixou de ser a região menos urbanizada para

assumir o segundo lugar nesse aspecto.

Para Andrade e Lodder (1979, p. 26), o rápido crescimento da taxa de

urbanização da região Centro-Oeste pode ser explicado, dentre outros, pela

ocorrência dos seguintes fatores:

[...] a partir de 1955 teve início a aceleração da ocupação da região com a transferência da Capital Federal para Brasília, ao mesmo tempo que fronteiras agrícolas se expandiam de São Paulo e do Sul em direção à Amazônia, passando por Mato Grosso e Goiás.

Já o Nordeste exibiu uma taxa de crescimento da urbanização menor

que o país como um todo. Por conta disso, essa se apresentou como a região

10

Hoje, a população urbana representa 84,3% da população total brasileira, o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul ultrapassam esse índice com 92,9%, 88,8% e 84,9% de urbanos respectivamente.

63

Fonte: Adaptado de ANDRADE; LODDER, 1974; IBGE, 1980, 1991, 2000, 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

menos urbanizada (41,8%) do país em 1970. No mesmo momento, o Norte e o

Sul mostravam percentuais de urbanos iguais a 45,2% e 44,6%,

respectivamente.

Tabela 3 – Taxas Regionais de Urbanização (1940 a 1980)

Regiões 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Norte 27,7 31,5 37,8 45,2 50,3 59,0 69,8 73,5

Nordeste 23,4 26,4 34,2 41,8 50,4 60,6 69,4 73,1

Sudeste 39,4 47,5 57,4 72,8 82,8 88,0 90,5 92,9

Sul 27,7 29,5 37,6 44,6 62,4 74,1 80,9 84,9

Centro-Oeste 21,2 24,4 35,0 48,2 70,8 81,2 86,7 88,8

Como se nota, há uma expressiva diferença entre os percentuais de

urbanização das regiões. Assim, é necessário elucidar que isso está associado

ao modo desigual como elas foram afetadas pela divisão inter-regional do

trabalho. Além disso, é preciso considerar que a situação anterior de cada

região tem efeito sobre os processos mais novos, como pode ser verificado no

exemplo dado por Santos (1994, p. 69/70):

[...] o Nordeste, onde, uma estrutura fundiária hostil desde cedo a uma maior distribuição de renda, a um maior consumo e a uma maior terciarização, [...] impedia uma urbanização mais expressiva. Por isso, a introdução de inovações materiais e sociais iria encontrar grande resistência de um passado cristalizado na sociedade e no espaço, atrasando o processo de desenvolvimento e de urbanização. Já o Sudeste, mais novo que o Nordeste e mais velho que o Centro-Oeste, consegue, a partir do primeiro momento da mecanização do território, uma adaptação progressiva e eficiente aos interesses do capital dominante. Cada vez que há uma modernidade, esta é encapada pela região.

Nos estudos de Andrade e Lodder (1979), percebemos que, em 1970,

o processo de urbanização brasileiro exibiu como um de seus principais

atributos, a elevada concentração populacional nos grandes centros urbanos.

Tinha-se, naquele momento, uma estrutura urbana constituída de duas

metrópoles nacionais (São Paulo e Rio de Janeiro), seguidas de poucas

metrópoles regionais (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Porto Alegre e Belo

64

Horizonte), que exerciam a função de centros polarizadores dentro das suas

áreas de influência, além de algumas cidades intermediárias e uma ampla rede

de pequenas cidades, que apenas realizavam a ligação entre o urbano e o rural

(ANDRADE; LODDER, 1979; AMORIM FILHO; SERRA, 2001).

Segundo Amorim Filho e Serra (2001, p. 10), com a descrição

sobredita seria possível identificar,

[...] o sistema urbano nacional como tendo um formato “primaz”, o qual, como a própria denominação deixa transparecer, tem como característica marcante a hegemonia de poucos centros de alcance nacional complementado por uma vasta rede de pequenas cidades.

Embora constituindo uma das características da urbanização, a

excessiva concentração de pessoas nas grandes cidades, principalmente nas

metrópoles, é necessário revelar que centros urbanos dos mais diversos

tamanhos, em especial as cidades médias, conheceram incremento de suas

populações, como pode ser conferido na seguinte argumentação de

Steinberger e Bruna (2001, p. 37):

Em1970, 28,2% da população viviam em [cidades] de até 20 mil habitantes, mas em 1980 esta proporção se modificou passando a demonstrar uma tendência de concentração da população em centros de médio porte. [...] várias capitais estaduais tornaram-se metrópoles regionais, comandadas por cidades médias cujos núcleos atingiram entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. Ao mesmo tempo, outras cidades médias, com núcleos entre 50 mil e 500 mil habitantes, transformaram-se em centros microrregionais [...]. Desse modo, as cidades médias passaram a desempenhar novos papéis na rede urbana, crescendo em ritmo mais acelerado que as metrópoles.

De acordo com Souza (2009, p. 73), o crescimento populacional das

cidades aludidas se deve, dentre outros fatores, “a políticas de ordenamento

territorial que visavam ‘desafogar’ as metrópoles, que eram áreas de forte

atração para movimentos migratórios devido à centralização de poder político-

econômico”. Assim sendo, as cidades médias emergem como uma forma de

refrear o fluxo migratório em direção às metrópoles.

65

Em meados da década de 1970, a ação do Governo Federal, na

intenção de estruturar o sistema urbano brasileiro, é intensificada com a

Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), do II Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND), de 1975-1979. Entre as estratégias da PNDU, com

tal finalidade, havia o Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de

Porte Médio (PNCCPM).

Esse Programa visava desenvolver algumas cidades médias11, no

intuito de torná-las mais atrativas a atividades e pessoas, cooperando tanto

para o incremento econômico das regiões nas quais as mesmas estavam

inseridas, como, também, para suavizar o fluxo migratório rumo às metrópoles

(HOLANDA; MARIA JUNIOR, 2010).

Na concepção de Souza (2009), em análise aos estudos de Amorim

Filho e Serra (2001), era necessário investir no desenvolvimento das cidades

médias, porque tais centros representavam uma alternativa para melhor

equilibrar o sistema urbano nacional.

Na tentativa de alcançar este equilíbrio, Steinberger e Bruna (2001, p.

44) menciona que foram sugeridas pelo PNDU as seguintes estratégias

regionais:

[...] a desconcentração intra-regional na região Sudeste, a ordenação do sistema urbano da região Sul, a dinamização da base econômica das metrópoles regionais do Nordeste e a promoção da urbanização das áreas de ocupação recente das regiões Norte e Centro-Oeste.

Em todas essas estratégias as cidades médias apareciam como

fundamentais, como pode ser observado no detalhamento adiante. No Sudeste

do país a prioridade era incentivar a descentralização de atividades de São

Paulo e do Rio de Janeiro para cidades periféricas de porte médio. Além disso,

sugeriu-se uma desconcentração intrarregional com participação dos centros

urbanos superiores a 50 mil habitantes; no Nordeste, o foco principal era a

11

Na fase inicial do PNCCPM, somente 37 das 95 cidades médias do Brasil, na época, foram selecionadas para serem beneficiadas pelo Programa, sendo oito na região Sul, onze no Sudeste, quatro no Centro-Oeste, treze no Nordeste e uma no Norte. É importante registrar que, no Ceará, entraram apenas as cidades de Crato e Juazeiro do Norte. No ano de 1978, esse número foi revisado e a quantidade de cidades médias brasileiras aumentou para 112. A partir desse momento, a cidade de Sobral foi inserida ao PNCCPM (HOLANDA; MARTA JUNIOR, 2010).

66

melhoria de infraestrutura das capitais e dos polos secundários regionais, bem

como a dinamização de centros urbanos regionais que desempenhassem o

papel de polarizador regional; no Sul, a preocupação maior era com as cidades

que exibiam uma população acima de cinquenta mil habitantes e; no Centro-

Oeste e Norte a prioridade era alavancar a dinamização das capitais e de

cidades situadas em locais estratégicos (STEINBERGE; BRUNA, 2001).

Como se observa, nos anos de 1970, as cidades médias estavam

presentes entre as prioridades das políticas públicas urbanas. No entanto, na

década de 1980, verifica-se um declínio de interesse por esses centros

urbanos. Nesse período, somente uma política pública voltada às cidades

médias foi formulada no Brasil, a saber: o Programa de Cidades de Porte

Médio, integrante do III Plano Nacional de Desenvolvimento (STEINBERGE;

BRUNA, 2001; SOUZA, 2009).

Esse enfraquecimento do interesse pelas cidades médias se deve,

principalmente, a dois fatores: o abrandamento de recursos para o

planejamento urbano e regional e o redirecionado do foco das políticas

urbanas, que passaram a dar maior importância aos problemas sociais no

âmbito do espaço intraurbano, em especial, nos das metrópoles. No entanto,

na década de 1990, estimuladas pelas transformações espaciais ocorridas no

Brasil, as cidades médias voltam ao cerne das preocupações de planejadores e

de pesquisadores acadêmicos (AMORIM FILHO; RIGOTTI; CAMPOS, 2007).

Em suma, podemos mencionar que a partir dos anos de 1970 as

cidades médias passaram a apresentar importância mais significativa na rede

urbana brasileira, atraindo investidores e atividades que, outrora, dirigia-se

exclusivamente para as metrópoles. Além disso, começaram a atrair, mais

intensamente, fluxos migratórios procedentes de cidades do seu entorno e de

espaços mais distantes.

67

2.2 Considerações Sobre as Cidades Médias Cearenses no Contexto

Nordestino

É sabido que a ocupação da maioria dos estados do Nordeste

brasileiro ocorreu do litoral para o interior, impulsionada pela atividade

açucareira. Entretanto, exceção cabe ao Ceará (e também ao Piauí), que teve

a ocupação do seu território do interior para o litoral em virtude da expansão da

pecuária extensiva12, que, como destaca Holanda (2010, p. 76), “já não

dispunha de áreas nas capitanias da Bahia e de Pernambuco, uma vez que a

atividade açucareira em plena expansão substituiria a atividade pecuária”.

De acordo com Jucá (1995), apesar da pecuária se constituir, no

contexto econômico do período colonial, uma atividade complementar à cultura

da cana-de-açúcar, ela representou uma etapa importante no processo de

ocupação do Nordeste, a saber: o início do avanço da ocupação para o interior

da região.

Porém, é importante mencionar que a distribuição dessa atividade pelo

território do Ceará se deu de forma dispersa. Na realidade, as fazendas de

criação de gado, espalhadas pelo interior da Capitania, apresentavam-se

quase que totalmente independentes entre si. Tal fato se deve à

autossuficiência da produção e à distância elevada entre as mesmas. Tem-se

como consequência disso o adiamento da formação dos núcleos urbanos com

função econômica (HOLANDA, 2010).

Complementando essa argumentação, é válido mencionar que, as

primeiras vilas formadas no Ceará não apresentavam as principais

características para a constituição de cidades. É bem verdade que,

inicialmente, essas aglomerações foram criadas por exigência da Coroa

Portuguesa muito mais como uma medida de posse do território do que pelos

rendimentos econômicos da pecuária que, a propósito, eram baixos (JUCÁ

NETO, 2009; HOLANDA; AMORA, 2011).

No entanto, já no século XVIII, com o aumento dos fluxos das boiadas,

a atividade comercial, alicerçada no desenvolvimento da pecuária, conseguiu

12

Vale registrar que a ocupação do território cearense pelos europeus começou no século XVII, sendo, então, considerada tardia, quando comparado com a conquista do litoral açucareiro, ocorrida já no inicio do século XVI. (PINHEIRO, 2000; QUITILIANO; LIMA, 2008).

68

alcançar as rotas comerciais estabelecidas entre o litoral açucareiro, a Europa

e a África. Conforme Jucá Neto (2009, p. 88):

Esta conexão só foi possível porque distâncias foram vencidas, caminhos foram abertos pelos vaqueiros e vilas fundadas em pontos estratégicos dos fluxos que se estabeleciam. Estes caminhos interligaram diversos núcleos pelo sertão adentro e levaram os produtos da pecuária ao litoral, para depois seguir em forma de couro e similares para a Metrópole, via portos de Pernambuco e Paraíba.

Dessa forma, a pecuária, primeira atividade econômica desenvolvida

no Ceará, tornou-se, com a comercialização de seus derivados (carne salgada

ou charque, couro e similares), mais rentável. Por conta disso, ela passou a ser

essencial para a configuração da Capitania do Ceará, pois foi elevada a

condição de vila os núcleos que se desenvolveram em decorrência da criação

de gado. No geral, tornaram-se vilas os núcleos sedes de fazendas, os

situados nos encontros dos caminhos das boiadas e nas proximidades das

fozes dos rios mais importantes ou em suas margens. Jucá Neto (2009, p. 89)

lembra que:

O fato, porém, de aquelas vilas não estarem diretamente associadas à atividade comercial não significa que possam ser excluídas do exercício de compreensão do espaço da civilização do couro na Capitania do Ceará, pois desempenhavam outras funções indispensáveis para trama das relações.

Posto isso, no final do século XVIII, verifica-se na configuração do

território cearense as seguintes vilas: Aquiraz, Aracati, Caucaia, Fortaleza, Icó,

Viçosa do Ceará, Crato, Baturité, Granja, Sobral, Guaraciaba do Norte e

Quixeramobim. Segundo Holanda (2010), um estudo desenvolvido pela

Superintendência do Desenvolvimento do Ceará (SUDEC) sobre a rede urbana

cearense revela as funções básicas desempenhadas por esses centros no

século em destaque (Tabela 4).

69

Fonte: Adaptado de Holanda, 2010.

Tabela 4 – Esboço da Rede Urbana no Final do Século XVIII

Vila ou Povoado Nível Função

Aracati 1º Comercial/administrativa/serviços

Icó 1º Comercial/administrativa/serviços

Sobral 1º Comercial/administrativa/serviços

Crato 1º Agrícola/administrativa/industrial

Camocim 2º Comercial/industrial

Acaraú 2º Comercial/industrial

Quixeramobim 2º Comercial/serviços básico

Fortaleza 3º Administrativa

Aquiraz 3º Administrativa

Granja 3º Industrial

Percebe-se, considerando o estudo supracitado, que das quatro

cidades médias que atualmente compõem a rede urbana cearense (Figura 9),

duas delas já eram centros de expressivo destaque desde o século XVIII.

Figura 9 – Localização das cidades médias cearense

70

Nesse período, Sobral, desempenhando as funções comercial,

administrativa e de serviços, e Crato, exercendo as funções agrícola,

administrativa e industrial, eram centros de primeiro nível, superando, inclusive,

naquele momento, Fortaleza, atual capital do estado.

Fortaleza, juntamente com Aquiraz e Granja, fazem parte das cidades de 3º nível, apresentando, as duas primeiras, destaques quanto às funções administrativas, pois tinham naquele momento pouco intercâmbio comercial com os demais núcleos (HOLANDA, 2010, p. 78).

No que diz respeito às outras duas cidades médias, Iguatu e Juazeiro

do Norte, é válido mencionar que a primeira, desmembrada de Icó em 1851,

quando ainda se titulava Telha13, conhece um significativo crescimento em

razão do cultivo de cereais (a exemplo do arroz) e, principalmente, do algodão.

Já a segunda, elevada a categoria de cidade em 1911, passa a se destacar no

cenário cearense a partir das últimas décadas do século XIX, quando ainda era

distrito de Crato, em função da presença do líder político-religioso Padre

Cícero.

No trabalho de Holanda (2010), constata-se que, embora não seja

diretamente anunciada, a evolução das cidades médias cearenses é tratada

em três momentos. Num primeiro momento, o meio natural é intensamente

transformado e a cidade se destaca como local de comercialização dos

produtos oriundos do campo. Nesse momento, a localização geográfica se

constitui aspecto basilar para o desenvolvimento da cidade, como ocorreu, por

exemplo, com Sobral que,

[...] por situa-se no contato entre três zonas geoambientais, serra, sertão e litoral, funcionando como passagem natural obrigatória para quem penetrasse o oeste do Ceará, consolidando-se como polo regional importante para a economia do Estado. Estava próximo aos portos de Camocim e Acaraú para onde eram levados aqueles produtos coletados por Sobral, como o couro, sola e algodão, para exportação [...] (HOLANDA, 2010, p. 80).

13

Após duas décadas de sua criação, a vila de Telha se tornou um expressivo centro administrativo da região centro-sul cearense. Em 1874, ela foi elevada à categoria de cidade, permanecendo com o mesmo nome até 1883, quando foi substituído por Iguatu. A designação adotada é uma alusão a maior lagoa da cidade (LIMA; AMORA, 2010).

71

No segundo período, houve a integração do território nacional por meio

de investimentos em infraestrutura (rodovias, aeroportos e hidrelétricas), que

deu base ao surgimento de um mercado interno. A Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, criada em 1959 como um dos

mecanismos do Governo Federal para que o país “como um todo entre na

segunda divisão territorial do trabalho”, desempenhou, no Nordeste, um papel

importante na busca de firmar uma política de industrialização na região

(HOLANDA, 2010, p. 83).

No plano estadual, as políticas públicas de planejamento visavam o

desenvolvimento do Ceará mediante a industrialização. Dentre as ações com

essa finalidade, podemos destacar o primeiro Plano de Metas Governamentais

– PLAMEG realizado pelo governo Virgílio Távora (1963-1967), e mais dois

projetos: o Asimov14, instalado na cidade de Crato em 1962 e; o Programa

Universitário de Desenvolvimento do Nordeste – PUDINE15, implantado em

Sobral em 1966.

De acordo com Amora e Costa (2007, p. 364), apesar das diversas

ações voltadas à industrialização do nordeste brasileiro, “as cidades médias

não tiveram a sua dinâmica atrelada ao setor secundário”. Na realidade, o que

ocorre nesse período é o fortalecimento desses centros urbanos, bem como a

ampliação de suas áreas de influência, em virtude do crescimento e da

diversificação das atividades terciárias.

No último período, ocorre o esgotamento do modelo de

desenvolvimento assentado na substituição de exportações, o fim da reserva

de mercado, a abertura econômica e a política neoliberal, ocasionando

modificações na configuração do território brasileiro, nas relações que o país

estabelece com outras nações, no seu sistema regimental, entre outros. Nesse

período, ao contrário do anterior, as ações do governo federal voltadas para o

14

Esse projeto foi idealizado e coordenado pelo Professor Morris Asimov do setor de engenharia da Universidade da Califórnia – UCLA. “A ideia era promover a integração entre universitários da Califórnia e o conhecimento dos problemas ligado à industrialização das regiões menos desenvolvidas do mundo”. O projeto Asimov foi implantado no Crato através de convênio entre a Universidade Federal do Ceará (UFC), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e UCLA (HOLANDA, 2010, p. 85). 15

O grupo brasileiro que trabalhou com o professor Morris passou a coordenar o projeto Asimov. Esse, então, passa a ser designado de Programa Universitário de Desenvolvimento do Nordeste (PUDINE), em 1966.

72

crescimento econômico são reduzidas, ao passo que a participação dos

estados vai aos poucos sendo ampliada, com a inserção de grupos

pertencentes às elites locais em diferentes cargos da política nacional

(HOLANDA, 2010; AMORA; COSTA, 2007).

Na região Nordeste, a partir dos anos de 1980, os centros urbanos

passam a experimentar uma economia alicerçada na interiorização da

indústria, na agroindústria e no turismo. No caso do Ceará, esse modelo de

crescimento econômico se fortalece a partir de 1987, quando o governo

estadual é assumido por um grupo de políticos vinculados ao Centro Industrial

do Ceará (CIC) e a Federação Industrial do Estado do Ceará (FIEC), liderado

por Tasso Ribeiro Jereissati.

É a partir dessa administração, cujo lema era “governo das mudanças",

em que se predominou o discurso modernizante do referido governo, tendo

inicio um intenso movimento de atração de investimentos para o Ceará,

sobretudo aqueles ligados ao setor industrial. Segundo Amora e Costa (2007,

p. 368),

Os municípios cearenses atuaram para atrair empresas, disponibilizando terrenos em distritos industriais, com infraestrutura e serviços. As cidades médias apresentam mais vantagens nessa guerra fiscal, pois além de incentivos, disponibilizavam meios técnicos mais modernos e eficientes, fundamentais para o funcionamento de fábricas que têm o centro de comando em outros estados e um mercado consumidor nos mais diferentes países.

Posto isto, nesse período, verifica-se, dentre outros fatores: a

consolidação do polo têxtil e de confecções na Região Metropolitana de

Fortaleza (RMF); a chegada da Grendene, empresa com sede no Rio Grande

do Sul e maior empregadora privada do Ceará, com fábricas de calçados na

RMF e nas cidades médias de Crato e Sobral. Nesta última, a Grendene

emprega atualmente cerca de 20 mil pessoas; e a instalação de indústrias

calçadista, de ourivesaria e de cerâmica no Cariri. Nessa região, a cidade

média de Juazeiro do Norte se destaca ao apresentar a maior concentração de

micro e pequenas empresas calçadistas do Ceará.

73

Fonte: HOLANDA; AMORA, 2011 e IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Atualmente, a atividade secundária se mostra importante na

composição do Produto Interno Bruto (PIB) das cidades médias cearenses

(Tabela 5). Porém, a economia desses centros urbanos se caracteriza por ser

essencialmente terciária e “cada vez mais se fortalece, já que a indústria gera

empregos diretos e indiretos, ampliando a massa de consumidores de bens e

serviços” (AMORA; COSTA, 2007, p. 369).

Tabela 5 – PIB das Cidades Médias cearenses por atividade econômica em 2011

Atividade Crato Iguatu Juazeiro do

Norte Sobral

Agropecuária 2,79% 5,01% 0,36% 1,56%

Indústria 19,77% 14,26% 16,88% 30,27%

Serviços 77,44% 80,73% 82,76% 68,14%

PIB Total Absoluto 1.022.157 878.953 2.249.645 2.436.463

Assim, verifica-se no cenário dessas cidades um intenso crescimento

das atividades comerciais e de serviços (Tabela 6), com destaque maior para

Juazeiro do Norte e Sobral que demonstraram o maior volume de

estabelecimentos desse setor. Além disso, representações regionais de

instituições estaduais e federais (Coordenadoria Geral de Desenvolvimento da

Educação – CREDE; Secretaria da Fazenda – SEFAZ; Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística – IBGE; entre outros) passaram a se alocar nesses

centros urbanos, reforçando o papel desempenhado por eles nas suas

respectivas regiões de influência.

Tabela 6 – Registro das Atividades Comerciais e de Serviços nas Cidades Médias Cearenses

Cidade/Ano 1995 2000 2005 2009 2013

Crato 620 878 1.092 1.310 1.982

Iguatu 365 676 926 1.088 2.071

Juazeiro do Norte 1.146 1.894 2.620 3.318 5.534

Sobral 849 1.369 1.617 1.950 3.548

No que concerne à distribuição dos empregos nas cidades em estudo

(Tabela 7), observa-se que, na maioria delas, a indústria de transformação,

74

Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

bem como o comércio e a prestação de serviços são as atividades que

apresentam os maiores números de empregos formais. Exceção cabe à cidade

média de Crato, que tem um percentual de contratados no setor público

(31,51%) superior ao da indústria de transformação (25,26%), porém inferior ao

da atividade comercial e serviços (39,85%). Juazeiro do Norte exibe o maior

número de pessoas ocupadas no comércio e na prestação de serviços, se

comparado às outras cidades médias cearenses, com 58,72% do emprego

formal. Em Iguatu, essa atividade também é responsável pela maioria do

pessoal ocupado, com 48,73%. Já em Sobral, é a indústria de transformação

que exibe o maior percentual de ocupações formais, com 46,51% contra

43,78% do comércio e serviços. Como se observa, o setor terciário é

predominante no conjunto das atividades urbanas nas cidades anunciadas,

com exceção de Sobral, onde a indústria de transformação é preponderante,

visto que a cidade abriga a indústria Grendene, maior empregadora privada do

Ceará.

Tabela 7 – Distribuição dos Empregos Formais nas Cidades Médias Cearenses em 2013

Atividade/Cidade Crato Iguatu Juazeiro do Norte

Sobral Ceará

Administração Pública

6.806 2.773 6.848 2.905 395.278

Comércio

3.841 4.512 13.208 9.042 259.949

Serviços

4.767 2.418 13.666 13.057 454.959

Indústria de Transformação

5.457 3.870 10.345 23.485 263.819

Demais Ocupações

731 647 1.694 2.000 121.918

Total

21.602 14.220 45.761 50.489 1.495.923

Quanto à dinâmica demográfica, vale destacar o elevado crescimento

populacional total e urbano apresentado por esses municípios a partir da

segunda metade dos anos de 1980 (Tabela 8). Crato exibiu o maior

crescimento da taxa de urbanização, passando de 54,58%, em 1980, para

83,10%, em 2010, um acréscimo de 28,52% em três décadas. Juazeiro do

75

Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Norte tem a maior população do interior cearense com 249.939 habitantes,

seguido por Sobral com 188.233 pessoas. O percentual de urbanização desses

dois municípios são, respectivamente, 96,07% e 88,35%. Já Iguatu teve perda

de população no período de 1980 a 1991. Entretanto, nas décadas posteriores

mostra expressivo aumento da taxa de urbanização, passando de 70,64%, em

1991, para 77,33%, em 2010, e sua população total volta a ganhar incremento.

Tabela 8 – População Total, População Urbana e Taxa de Urbanização de Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte e Sobral (1980-2010)

Ano/Município Crato Iguatu Juazeiro do

Norte Sobral Ceará

1980

Pop. Total 82.949 80.677 135.616 118.026 5.380.432

P. Urbana 45.273 58.272 126.027 82.417 2.877.555

T.U (%) 54,58 72,23 92,93 69.83 53,48

1991

Pop. Total 90.519 75.649 173.566 127.489 6.362.620

P. Urbana 70.280 53.123 164.922 103.868 4.158.059

T.U (%) 77,64 70,22 95,02 81,47 65,36

2000

Pop. Total 104.646 85.615 212.133 155.276 7.418.476

P. Urbana 83.917 62.366 202.227 134.508 5.304.554

T.U (%) 80,19 72,84 95,33 86,63 71,50

2010

P. Total 121.428 96.495 249.939 188.233 8.452.381

P. Urbana 100.916 74.627 240.128 166.310 6.346.557

T.U (%) 83,10 77,33 96,07 88,35 75,09

É importante, ainda, salientar que quando se compara os dados

populacionais desses municípios com o total da população cearense, nota-se

que as taxas de urbanização dos mesmos são superiores a do estado do

Ceará. Segundo Holanda e Amora (2011), as modificações ocorridas na

urbanização cearense nas últimas décadas estão atreladas as novas dinâmicas

experimentadas por suas cidades médias resultantes, principalmente, dos

investimentos exógenos. Essas aplicações atribuem um novo papel a esses

centros urbanos, que passam a estabelecer relações com os espaços mais

distantes ao passo que fortalece suas ligações com os espaços mais próximos.

76

2.3 De Fazenda à Cidade: a importância da atividade comercial para a

formação inicial de Sobral

A hipótese mais disseminada sobre a colonização do Ceará é a de que

ela tenha se iniciado em decorrência das invasões holandesas16, sucedidas no

final da primeira metade do século XVII. No intuito de escapar dos conflitos,

diversos imigrantes provenientes da Bahia, Pernambuco, Rio Grande Norte e

Paraíba se refugiaram no interior cearense, inicialmente, no vale do Jaguaribe,

onde instalaram várias fazendas de criação de gado e, posteriormente, em

outros pontos da Capitania.

Os primeiros colonizadores a chegarem a região da bacia do Acaraú

datam da segunda metade do século XVII, sendo em sua maioria oriundos de

Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa constatação foi realizada

por Linhares (1922), a partir da análise de um antigo documento de doação de

terras por sesmarias.

Confirma-o uma antiga data concedida a 8 de novembro de 1682 pelo Capitão-mór Bento de Macêdo Farias, ao Capitão Bento da Silva, Jorge Coelho de Souza e a outros, moradores todos nas capitanias de Pernambuco, Parahyba e Rio Grande do Norte, em 50 leguas de terra pela costa abaixo a contar do Rio Pará (?) ao Rio Mundahú, nelas compreendida entre outras a bacia do Acaraú (LINHARES, 1922, p. 255).

Duas localidades se destacam como as primeiras habitadas na região

de Sobral, são elas: a povoação do Riacho dos Guimarães, atualmente

Groaíras, onde, em 1712, já estava alocada uma pequena Capela (Nossa

Senhora do Rosário) e; a povoação de São José, hoje Patriarca (Distrito de

16

Foram expedições militares holandesas contra o Nordeste brasileiro. O objetivo maior era restabelecer o comércio açucareiro entre Brasil e Holanda, perdido com a instauração da União Ibérica (domínio da Espanha sobre Portugal no período de 1580 a 1640). Os holandeses conseguiram invadir o Brasil em dois momentos: a primeira campanha invasora ocorreu em 1624, quando se apossaram de Salvador, sendo expulsos no ano seguinte; já a segunda empreitada aconteceu em 1930, desta vez contra Olinda, o que permitiu o controle de grande parte do Nordeste até 1654.

77

Sobral), onde, em 1718, foi construída uma Capela em homenagem à Nossa

Senhora da Conceição17.

Já o povoamento da área onde atualmente se assenta a cidade de

Sobral teve início com o surgimento da Fazenda Caiçara – instalada no centro

da Ribeira do Acaraú, no entroncamento das estradas que tinham como

destino o Piauí e o Maranhão de um lado, e o Aracati e a rota das boiadas do

outro (Figura 10).

17

É importante registrar que em 1697, em expedição de reconhecimento da Ribeira do Acaraú, o Capitão Felix da Cunha Linhares implantou a primeira fazenda à margem direita do rio. A partir dessa fazenda surgiu o povoamento de São José (Patriarca).

78

Fonte: JUCÁ NETO, 2009.

Figura 10 – Estradas Coloniais do Ceará

79

A propriedade era pertencente ao Capitão Antônio Rodrigues

Magalhães e sua esposa Quitéria Marques de Jesus, como pode ser

constatado na argumentação a seguir:

Em 14 de outubro de 1702, o português Antônio da Costa Peixoto, vereador de Aquiraz, conseguiu uma sesmaria na ribeira do Acaraú, local onde hoje está localizada a cidade de Sobral, estendendo-se da margem esquerda do Rio Acaraú ao sopé da Serra da Meruoca. Parte dessa sesmaria foi herdada por sua filha Apolônia, casada com Antônio Marques Leitão. Mais tarde, sua filha, Quitéria Marques de Jesus, casada com Antonio Rodrigues Magalhães, herdou a propriedade de seus pais (GIRÃO E SOARES, 1997, p. 19).

No intuito de exemplificar o padrão deste criatório, torna-se apropriado

destacarmos uma breve descrição realizada por Lira (1971, p. 19) de fazendas

encontradas em diversos pontos do Ceará em 1780.

[...] possuía casas sólidas, espaçosas, de alpendres hospitaleiros, currais de mourões, por cima dos quais se podia passear, bolandeira para o preparo de farinha, teares modestos para o fabrico de redes ou pano grosseiro, açudes, engenhocas para preparar rapadura, capela e até capelões, cavalos de estimação, negros africanos [...] como elemento de magnificência e fausto.

Em julho de 1742, foi construída em terras doadas pelo Capitão

Antonio Rodrigues Magalhães, a pedido do Padre Lino Gomes Correia, a

Matriz sede do Curato de Acaraú. A partir dessa iniciativa nascia o povoado da

Caiçara. De acordo com Rocha (2003, p. 39), a preferência pela Fazenda

Caiçara como sede do Curato estaria relacionada à sua localização em “um

ponto estratégico [...] donde se podia ter o controle religioso desde a Ibiapaba

até às margens do rio Mandaú” (Figura 11).

80

Fonte: ROCHA, 2003.

Figura 11 – Área do Curato de Acaraú

Em análise aos trabalhos de diversos pesquisadores locais, dentre eles

Linhares (1922), Frota (1974) e Paiva (2009), percebemos que a geografia

local se constituiu aspecto importante para a formação de Sobral.

Graças à sua posição, à amenidade do clima suavizado, durante os ardores do estio, pelos ventos aliseos, à aproximação das serras de Meruoca e Rosario, prolongamento d’aquella, serras ubérrimas em produtos agrícolas, e ainda é cordilheira de Ibyapaba, que não fica longe, intermediando-lhe apenas uns 60 kilometros (...), a povoação expande-se rapidamente, cresce, avoluma-se, desenvolve-se, torna-se centro de grande commercio, attrahindo ao seio as populações adventícias de procedências varias [...], que aqui encontravam meios certos e seguros de se enriquecerem dedicando-se à criação de gados mais fácil, productiva e remuneradora na Ribeira do Acaracú do que em qualquer outra parte (LINHARES, 1922, p. 261).

Tendo como principal atividade a pecuária, o arraial da Caiçara logo se

tornou um expressivo centro populacional, a ponto de em 1768 contar com 75

81

casas ocupadas, número superior ao estabelecido pela Ordem Régia de 22 de

julho de 1766, que determinava a existência de, no mínimo, cinquenta

habitações para um povoado ser elevado à condição de vila.

Posto isso, no dia 5 de julho de 1773 o 10° Ouvidor-Mor do Ceará,

João da Costa Carneiro e Sá, elevou o antigo arraial de Caiçara à Vila,

denominando-a de “Vila Distinta e Real de Sobral”. Em Rocha (2003, p. 46),

verifica-se uma explicação para a origem do nome ora apresentado:

[É um] nome tipicamente lusitano. “Distinta”, por ser colonizada por brancos – portugueses ou seus descendentes – sem origem indígena, como ocorria nas missões. E Real, “porque criada por ordem direta do Rei e com a senha de sua proteção e simpatia”. E porque Sobral? Segundo Pe. Sadoc de Araújo, em homenagem ao compadre do capitão fundador da Fazenda Caiçara, José Rodrigues Leitão, que morrera naquele ano de 1773 e fora enterrado na Matriz da Caiçara. Por ser natural de Sobral da Lagoa, Concelho de Óbidos, Portugal, foi-lhe feita esta oportuna homenagem [...].

A localização, nas proximidades dos rios Acaraú, Coreaú e Acaratiaçu,

facilitou para a Vila de Sobral a sua ascensão como núcleo hegemônico na

região norte do território cearense. Na extensão das diversas estradas que

seguiam as margens desses rios aportavam currais e núcleos de moradores

que escoavam sua produção para a referida Vila e, ao mesmo tempo,

buscavam produtos em seu comércio.

Os produtos oriundos do desenvolvimento da pecuária eram exportados através do porto do Acaraú para os principais portos da Colônia, possibilitando, em troca, a entrada de objetos de luxo como pratarias, porcelanas, cristais, móveis de jacarandá e materiais de construção – elementos indicativos de prosperidade econômica e símbolos do poder ascendente de determinados grupos locais. Essas e outras mercadorias seguiam do porto para Sobral e, depois, ganhavam fazendas e povoados próximos (BARBOSA, 2000, p 09).

A dedicação à criação de gado assinalou Sobral como uma das áreas

pastoris mais importantes do cenário cearense. É necessário ressaltar que, no

período chamado ciclo do gado, o momento de maior prosperidade ocorreu

82

com a comercialização da carne de charque18. Para Soares (2000), esse

produto fez de Sobral o segundo maior polo produtor do estado, chegando a

apresentar, na segunda metade do século XVIII, mais de cem criatórios, sendo

superado apenas pela Vila de Aracati.

Rocha (2003, p. 38), ao tratar desse assunto, relata que:

O charque passou a ser competitivo com a carne bovina da Paraíba, que estava mais próxima dos centros consumidores, e enriqueceu os fazendeiros do interior e os donos das oficinas de salga nos portos da Capitania do Ceará. O desempenho dos binários Icó – Aracati e Sobral – Acaraú foram os de maior destaque.

No entanto, em decorrência das secas prolongadas no final do século

XVIII, parcela considerável do rebanho cearense foi destruída, resultando na

desarticulação do comércio de charque. Além disso, deve ser destacado que

outros fatores também contribuíram para tal processo, como a concorrência da

carne seca da região sul do Brasil e o cultivo do algodão, que era mais rentável

do que produzir charque.

Desse modo, o ouro branco, como era designado o algodão, passa a

despontar como o principal produto da economia cearense, sendo, inclusive,

responsável por ingressar o estado no cenário exportador brasileiro19 (Tabela

9). Todavia, é importante frisar que isso “não implicou o fim da atividade

pecuária, mas sim uma sobreposição de atividades, o binômio gado-algodão”

(ALMEIDA, 2009, p. 57).

18

Dois momentos marcam a comercialização do gado cearense com os centros consumidores da Zona da Mata. Inicialmente, os rebanhos eram enviados a pé para serem vendidos, principalmente, nas feiras de Olinda, Recife, Igaraçú e Goiana, o que não era tão lucrativo para os fazendeiros, pois em decorrência das longas viagens os animais emagreciam e, consequentemente, perdiam valor de venda. Num segundo momento, no intuito de diminuir os prejuízos, os fazendeiros cearenses passaram a abater o gado e salgar sua carne para mantê-la conservada. Dessa forma, a carne já convertida em charque poderia ser enviada aos consumidores sem a preocupação com perda de peso (QUINTILIANO & LIMA, 2008; ROCHA, 2003). 19

As primeiras exportações de algodão cearense diretamente para a indústria inglesa datam de 1809, porém o maior impulso se deu no período de 1864 a 1875, em decorrência da Guerra de Secessão (1860-1865) ocorrida nos Estados Unidos, principal fornecedor de matéria-prima para a Inglaterra (BRÍGIDO, 1910; VIANA, 1990; ROCHA, 2003; ALMEIDA, 2009).

83

Fonte: BRÍGIDO, 1910.

Tabela 9 – Quantidade de Algodão Exportado do Ceará em 1811

Porto

Para Pernambuco

Para Londres

Para Liverpool

Total

De

Fortaleza

575 sacas

(2.128 Arrobas)

1.971 sacas

(8.108 Arrobas)

245 Sacas

(1.118 Arrobas)

2.791 sacas

(11.354 Arrobas)

De

Aracati

2.079 Sacas

(9.249 Arrobas)

_

_

2.079 Sacas

(9.249 Arrobas)

De

Acaraú

1.474 Sacas

(5.581 Arrobas)

_

_

1.474 Sacas

(5.581 Arrobas)

De

Camocim

78 Sacas

(278 Arrobas)

_

_

78 Sacas

(278 Arrobas)

Total

4.206 Sacas

(17.236 Arrobas)

1.971 sacas

(8.108 Arrobas)

245 Sacas

(1.118 Arrobas)

6.422

(26.462 Arrobas)

Com o acúmulo de funções, alguns núcleos populacionais evoluíram

para cidades. Dentre elas, destaca-se a vila de Sobral, elevada a tal categoria

em 1841, recebendo do, até então, Presidente da Província, Senador José

Martiniano de Alencar, o nome de “Fidelíssima Cidade Januária do Acaraú”.

Denominação essa que não agradou a população devido à ausência do nome

“Sobral”. Com isso, em 1842, após apelo popular, esse espaço urbano recebeu

a desejada designação.

O elevado crescimento econômico apresentado por Sobral no século

XIX, proporcionado principalmente pelo binômio gado-algodão e, também, pela

comercialização de produtos provenientes da carnaúba, contribuiu para a sua

consolidação como importante nó na rede urbana cearense. Essa questão

pode ser verificada a partir da argumentação de Monié (2001, p. 28):

[...] o desenvolvimento da produção e do comércio de algodão e de produtos derivados da palmeira de tipo Carnaúba, confirmou a relevância econômica de Sobral em escala regional. Charque, couro, algodão, óleos vegetais e artefatos de palha se afirmam então como principais elos de inserção da economia sobralense com o exterior.

A respeito da configuração do espaço urbano sobralense no início do

período em pauta, é importante ressaltar a existência de dois núcleos

84

Fonte: ROCHA, 2003

principais: o da Matriz, nas imediações da Catedral, e do Rosário, nas

proximidades da Igreja do Rosário dos Pretinhos. Num primeiro momento,

esses núcleos não se estabeleciam efetivamente integrados, fato que veio

mudar com a construção do mercado público (Figura 12), entre 1818-1821.

Figura 12 – Mercado Público no Início do Séc. XX

O mercado foi erigido onde, no presente, situa a Praça Coronel José

Saboia. Esse edifício se tornou a principal concentração comercial da cidade,

direcionando para si um expressivo número de pessoas até o ano de 1930,

quando ocorreu a demolição do prédio. Em 1940, foi inaugurado um novo

mercado (Figura 13), localizado a aproximadamente 500 metros a oeste da

antiga estrutura.

85

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2013)

Figura 13 – Atual Mercado Público localizado a oeste do antigo mercado

Rocha (2003, p. 107), ao tratar da importância da locação do mercado

para a estrutura urbana de Sobral na época, argumenta que:

A maior característica da primeira metade dos oitocentos foi, sem dúvida, [...] a implantação do Mercado, integrando os dois núcleos originais da cidade (Matriz e Rosário) através das Ruas Velha e Nova do Rosário e reforçando a ligação entre elas, o Becco do Cotovelo, ou Travessa do Xerez.

Percebe-se, assim, que a atividade comercial naquele momento já se

estabelecia como uma indutora do processo de transformação do espaço

urbano sobralense. É bem verdade que esta atividade, aspecto preponderante

até os dias atuais na cidade, caracterizou a economia de Sobral no decorrer do

século XIX, e o ativo contato com importantes mercados, em especial os de

Pernambuco e Maranhão, fortaleceram esse atributo.

Na segunda metade dos anos oitocentos – num período em que

Fortaleza começa a se destacar no cenário cearense, obtendo rápido

crescimento em decorrência de suas relações diretas com o mercado

estrangeiro – verifica-se o declínio de algumas cidades do Ceará. Uma das

86

exceções foi Sobral, que deu continuidade a sua fase de crescimento até 1877,

ano de uma das secas mais devastadoras da história do estado.

Algumas das principais consequências causadas por esse fenômeno

climático podem ser visualizadas no seguinte argumento de Paiva (2009, p.

52):

No último quartel do século XIX as epidemias e a grande seca, trouxeram grandes impactos para a cidade. O rebanho cearense foi arrebatado quase por completo, causando grande desestabilidade a economia sobralense. Elevado número de mortos e a expressiva emigração do campo para as cidades figuram entre os impactos de maior relevância.

Embora com perda de população, a cidade foi sustentada pela classe

elitizada, que era vista com bons olhos pela Corte. Rocha (2003, p. 115)

enfatiza essa questão ao descrever que: “[...] as boas relações da classe

dominante cearense e sobralense com a Corte sustentaram a cidade no ano da

seca que dizimou todo o rebanho cearense”. Por ocasião desses vínculos,

Sobral obteve recursos que foram fundamentais para aquisição de gêneros

alimentícios e medicamentos, além de possibilitar a criação de frentes de

trabalho20. Dessa forma, os percentuais de emigração e de mortalidade foram

reduzidos.

O final do século XIX e início do século XX foram de mudanças

significativas no espaço urbano sobralense. Primeiro em decorrência da

atividade industrial, pois com a instalação das primeiras grandes fábricas na

cidade, a exemplo da Fábrica de Tecidos Sobral e da Companhia Industrial de

Algodão e Óleos S.A (CIDAO)21, houve a criação das primeiras vilas22 voltadas

20

As frentes de trabalho foram responsáveis pela construção de diversos equipamentos emergenciais na cidade, a exemplo da Cadeia Pública (1879) e, também, por terem dado andamento as obras do Teatro São João (1875) e do Hipódromo. Estes dois últimos demonstram a força econômica e política de determinados grupos locais (PAIVA, 2009). 21

A Ernesto & Ribeiro, também conhecida por Fábrica de Tecidos Sobral, foi fundada em 1895 pelos empresários Ernesto Deocleciano de Albuquerque e Cândido José Ribeiro. Atualmente, esse espaço abriga parte do Campus Sobral ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC). Já a Companhia Industrial de Algodão e Óleos (CIDAO) foi fundada em 1921 por Trajano Saboya Viriato de Medeiros. Hoje, funciona nesse local o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e, também, o Campus Sobral do Instituto Federal do Ceará (IFCE). 22

De acordo com Rocha (2003), a Fábrica de Tecidos Sobral construiu, na década inicial do Século XX, a primeira vila operária de Sobral, composta por dezenas de casas com água canalizada.

87

à moradia dos operários, o que resultou na expansão do perímetro territorial

urbano. Nesse contexto, o comércio continuou sendo a atividade de maior

destaque na economia de Sobral.

E segundo, devido à criação e à atuação da diocese, liderada

inicialmente por Dom José Tupinambá da Frota. Esse membro do clero foi

responsável por grandes obras na cidade, tais como: a Santa Casa de Sobral,

o Ginásio Diocesano (atual colégio Farias Brito), o Palácio Episcopal (atual

colégio Santana), o Seminário Menor da Betânia (atual campus central da

Universidade Estadual Vale do Acaraú), entre outros. Esse momento pode ser

verificado nos estudos de Freire e Holanda (2011, p. 48), quando narram que:

[...] a cidade de Sobral passava por mudanças expressivas na vida política, econômica, cultural e religiosa, com a construção de grandes obras de infraestrutura. Nesse período, a figura de Dom José Tupinambá da Frota foi relevante.

É válido ressaltar que as grandes construções da Diocese, idealizadas

pelo bispo, foram distribuídas estrategicamente no espaço urbano, aspecto que

deu certo direcionamento à expansão da cidade. Em conjunto a esse

crescimento, tem-se a reafirmação da atividade terciária para além da

população local.

Os primeiros quarenta anos da segunda metade do século XX não

foram pródigos para Sobral, pois os gestores não se preocuparam com o

crescimento econômico da cidade, proporcionado, principalmente, pela

atividade comercial e pela indústria, com isso não houve investimentos em

infraestrutura urbana. Na realidade, o que se verificou foi que, naquele

momento, o lucro passou a suplantar todos os valores socioculturais que

orientavam as intervenções urbanísticas (ROCHA, 2003; SILVEIRA, 2013).

Na última década do século em destaque, iniciou-se uma nova fase de

“investimento” em Sobral. Com a já consolidada Fábrica de Cimento do Grupo

Votorantim, que aportou em Sobral por meio dos incentivos da

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)23 em 1964 e,

23

Outras fábricas surgiram em Sobral por meio dos subsídios da SUDENE, algumas delas com efetiva participação de grupos locais, a saber: a Laticínios Sobralense S/A – LASSA (laticínio), a Companhia Sobralense de Materiais de Construção – COSMAC (materiais de construção), a Fábrica Coelho (massas) e a Guaraná Delrio (refrigerantes).

88

especialmente, com a instalação da indústria Calçadista Grendene, em 1994,

mediante incentivos fiscais em meio a outro contexto político e econômico

vivenciado pelo estado do Ceará.

Na virada do século XX, verifica-se um impulso na expansão e

modernização das atividades terciárias. Soma-se a isso, o surgimento de uma

nova elite empreendedora local que fez reviver no sobralense a autoestima

perdida desde a morte de Dom José Tupinambá da Frota.

A importância da presença dessa nova classe local é mencionada por

Assis e Rodrigues (2008a, p. 349), ao relatarem que:

[...] o crescimento da cidade média de Sobral se deve à presença de uma elite empreendedora que tenta construir no imaginário coletivo nacional a ideia da “modernização política” iniciada na cidade nas duas gestões do ex-prefeito Cid Ferreira Gomes (...), hoje, governador do Ceará, irmão do ex-ministro, deputado federal e presidenciável Ciro Gomes.

Em meados da década de 1990 e nos primeiros anos do século XXI,

essa elite, com alianças e cargos políticos nas mais diversas escalas,

desenvolve uma gestão com a construção de equipamentos de grande

impacto, como a urbanização da margem esquerda do rio Acaraú, a reforma do

terminal rodoviário, duplicação de avenidas, entre outros (como fez outrora

Dom José Tupinambá da Frota) e, além disso, atrai investimentos expressivos

para Sobral, principalmente no que se refere ao setor industrial e nas

atividades comerciais e de serviços. Tais fatores reafirmam Sobral como

importante polo regional no noroeste cearense que influencia um extenso

território.

89

2.4 O poder público: ações e implicações para (re)organização das

atividades econômicas em Sobral

Diversos aspectos estão na base do processo de mudança política,

econômica e cultural, iniciado em Sobral a partir de meados da década de

1990, dentre eles, podemos destacar: a crise institucional de 1995, provocada

pelo afastamento do então prefeito Aldenor Façanha Junior por motivo de

corrupção24; o Conselho Comunitário, criado por intelectuais, empresários e

várias notabilidades sobralenses (entre eles membros da Igreja Católica e da

Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA), com o objetivo de protestar

contra a instabilidade político-administrativa e, principalmente, contra a

decadência social e econômica que Sobral vivenciava e; a divulgação do

Manifesto ao Povo de Sobral, documento que alertava os poderes constituídos

e a sociedade civil, de forma geral, sobre os fatores que conduziram Sobral a

um dos momentos mais críticos da administração pública municipal.

Em análise a esse documento, Monié (2001) ressalta que ele

denunciava, dentre outros fatores:

[...] a prática generalizada do empreguismo e a força das redes clientelistas; a falta de investimentos em serviços e equipamentos públicos; a ausência de projeto para a cidade; o improviso permanente da administração municipal; a desmobilização da juventude e o repúdio crescente pela classe política; a indiferença dos poderes constituídos do estado do Ceará perante esta situação (MANIFESTO AO POVO DE SOBRAL apud MONIÉ, 2001, p. 37).

Esse manifesto deu suporte à formulação de um discurso de

modernidade colocado em prática a partir de 1997, quando um grupo de jovens

políticos25, liderado por Cid Ferreira Gomes, assume o governo municipal. O

modelo de gestão, mais participativo e descentralizado, adotado por essa nova

24

No relatório do TJCE (2005), consta que: [...] Aldenor Façanha Júnior, no período em que esteve à frente da Prefeitura Municipal de Sobral, durante o ano de 1995, realizou despesas sem promover o indispensável processo licitatório, deixou de prestar contas e omitiu-se no dever de controlar os gatos realizados às expensas do erário público municipal. Já [...] Francisco Ricardo Barreto Dias, que também exerceu o cargo no exercício financeiro de 1995, cometeu as mesmas irregularidades acima descritas, além de não efetivar o controle das doações efetuadas pelo Município de Sobral. 25

Esse grupo era formado essencialmente por empresários, professores, membros da Igreja Católica, militantes, dentre outros.

90

administração viria substituir as práticas político-administrativa, verticalizadas e

hierarquizadas da “velha classe” econômica e política do interior cearense.

Durante os oitos anos (1997-2004) que Cid Gomes permaneceu à

frente da prefeitura municipal de Sobral, foram desenvolvidas diversas ações

que cooperaram para mudanças expressivas no território, com destaque para:

a elaboração do II Plano Direto de Desenvolvimento Urbano – PDDU26, em

2000, com a finalidade de normatizar o uso da cidade; a reforma da máquina

administrativa, com a implantação de uma gestão pública mais conectada com

o empreendedorismo e; a reforma fiscal, com a instalação de um sistema de

arrecadação mais racional, possibilitando aumentar a contribuição recolhida

pelo município (HOLANDA, 2007).

Essa gestão centralizou força, também, em políticas públicas

destinadas, especialmente, ao desenvolvimento da educação e da saúde. Tais

serviços são apontados pelo representante da gestão municipal de Sobral,

como fundamentais para atração de investimentos para o município na

atualidade:

[...] sem sombra de dúvida, hoje, Sobral é referência na educação, no seu empreendedorismo de ser, nas suas peculiaridades, no desenvolvimento econômico e estamos caminhando para o desenvolvimento social. Temos outro quesito que é fundamental, qualidade de vida. Quando você atrai essas empresas, os primeiros quesitos são exatamente isso que lhe digo, são: os índices socioeconômicos, índice de educação, índice de saúde e a questão da segurança (Represente da Gestão Municipal de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014).

Além dessas ações, houve, ainda, programas e projetos que

objetivaram o propalado desenvolvimento local, sendo os mais expressivos:

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (PADL), Programa Trabalho

Pleno e Programa de Desenvolvimento Econômico de Sobral (PRODECON),

os quais serão brevemente detalhados.

26

É importante ressaltar que o I Plano Diretor de Sobral foi elaborado no ano 1967, por iniciativa do Governo do Estado. De acordo com Rocha (2003, p. 220), o prefeito daquela época, “Jerônimo Prado, teve a oportunidade de nortear sua administração levando em conta diretrizes básicas para cada setor (...). O Plano Diretor de 67 seguiu a linha do planejamento setorial e, sem o acompanhamento e as atualizações necessárias, caiu no abandono [...]”.

91

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (PADL) foi implantado

em Sobral em 1997, por meio de um convênio entre a Prefeitura Municipal de

Sobral, o Banco do Nordeste, a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e

o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e visava à

capacitação e qualificação, principalmente, de membros de associações e

cooperativas de produção. As ações de capacitação do PADL tinham como

propósito: a auto-organização das comunidades urbanas e rurais; o

fortalecimento das organizações; o incentivo a geração de empreendimentos

associativos e/ou individuais; entre outros (MONIÉ, 2001; LOURENÇO, 2003).

De acordo com Holanda (2007), apesar do programa ter apresentado

êxito no que se refere à busca de parcerias com instituições públicas e

privadas, “não teve a mobilização necessária para o sucesso pleno do mesmo.

São vistos como causas: a dispersão dos sujeitos envolvidos, a cultura de

resultados a curto prazo, a pouca consciência da própria comunidade”

(HOLANDA, 2007, p. 126).

Da mesma maneira que o PADL, o Programa Trabalho Pleno também

surgiu em 1997. Idealizado apenas como um projeto, ele passou por

reformulações e, atualmente, apresenta-se como um articulador de vários

projetos que têm como objetivo principal gerar emprego e renda. O Trabalho

Pleno tem suas ações centralizadas no apoio a micros e pequenos negócios

formais e informais por meio de três etapas: cursos de capacitação, acesso ao

crédito produtivo e comercialização. Nessas etapas, ele funciona em parceria

com diversas instituições públicas e privadas, dentre elas: o SEBRAE, a UVA,

o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e a Caixa Econômica

Federal.

Entre os projetos que no presente compõem o Programa Trabalho

Pleno, estão:

1) o Projeto Circuito de Feiras Nos Bairros e Distritos, que tem como

foco viabilizar a comercialização dos produtos e serviços

oferecidos por micro e pequenos empreendedores, profissionais

autônomos e artesãos formais e informais dos bairros e distritos

de Sobral. E, em parceria com as instituições locais, lideranças

92

comunitárias e o terceiro setor, capacitar, permitir o acesso ao

crédito e incentivar o processo de formalização;

Sobre a importância desse projeto para os bairros de Sobral, o

representante da gestão pública municipal de Sobral argumenta que:

[...] o circuito de feiras atua nos mais de vinte bairros de Sobral, incentivando a comercialização e a produção dos produtos para que se possa divulgar e disseminar o que cada bairro tem de melhor. Então, existe esse interesse porque cada vez mais a gente tem que vivenciar e tem que tratar os bairros, mais a cidade, com as suas peculiaridades (Representante da Gestão Pública de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014).

2) o Projeto Confecção, criado para atender os confeccionistas

autônomos formais e informais do município de Sobral, tem como

objetivo promover a organização tecnológica e gerencial dos

empreendimentos inseridos ao projeto, visando à geração de

emprego e renda e, dessa forma, o desenvolvimento

socioeconômico;

3) o Projeto Beleza Rende, consiste em ações de capacitação

profissional voltada a indivíduos que atuam no serviço de beleza

(cabelereiros, manicures, depiladoras, etc.) do município, bem

como para a formação de novos profissionais que buscam uma

oportunidade nesse ramo, no intuito de promover a

competitividade do setor, com o intuito de gerar emprego e renda

e;

4) o Projeto EI (Empreendedor Itinerante) que, destinado ao

comércio ambulante (vendedores de sorvetes, pipocas,

espetinhos, hot dog, etc.), tem como objetivo tornar os

vendedores profissionalizados e padronizados (carrinhos e

quiosques adequados, fardamentos, acessórios de segurança e

higiene, capacitação, etc.), com o objetivo de incrementar suas

vendas e sua renda.

93

Já o Programa de Desenvolvimento Econômico (PRODECON)27, criado

pela Lei Municipal n° 313, de 26 de Junho de 2001, tem como principal

finalidade atrair empreendimentos que explorem as potencialidades do

município, como: mão de obra e matéria-prima. O PRODECON possibilita o

acesso do investidor a diversos incentivos municipais, tais como: terrenos,

infraestrutura do entorno, planejamento do negócio e ISS incidente sobre os

serviços de projeto, entre outros.

Esse programa aparece no depoimento do representante da gestão

pública como o principal mecanismo de atração de investimentos de grande

porte para o município de Sobral:

[...] o PRODECON, que é um programa de desenvolvimento econômico, criado na época do então prefeito Cid Gomes e agora governador, possibilitou, sobretudo, uma ampliação no nosso parque industrial [...]. Hoje nós temos a dádiva de ter uma das maiores fábricas de calçados do mundo, que é a Grendene, com aproximadamente vinte mil trabalhadores. Então, pra grandes investimentos nós temos o PRODECON que é um incentivo as empresas que são pioneiras em tecnologias não poluentes para vir se instalar no município (Representante da Gestão Pública de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014)

Além dos benefícios supracitados, esse programa concede incentivos à

implantação, à ampliação, à relocalização, à diversificação e à modernização

de empreendimentos, sejam eles industriais, comerciais, turísticos ou de

infraestrutura.

O PRODECON e o Trabalho Pleno são, na atualidade, os principais

mecanismos municipais de estímulo à atividade econômica e, de acordo com

Holanda (2007), “respondem em parte pelas modificações nos circuitos da

economia urbana, com repercussão em empreendimentos tidos como mais

dinâmicos e competitivos”, exibindo uma sensível queda no índice de

desemprego e incremento nas taxas de imigração.

27

É importante ressaltar que o PRODECON surgiu da parceria entre o governo municipal e estadual.

94

Fonte: IBGE Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

CAPITULO 3 – DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES TERCIÁRIAS DE COMÉRCIO E SERVIÇOS EM SOBRAL-CE 3.1 O Processo de Descentralização das Atividades Comerciais e de

Serviços em Sobral/CE

Procuramos na pesquisa realizar um levantamento de dados que

possibilite revelar um pouco da Sobral do presente, para, assim, podermos

trilhar um percurso em direção à compreensão da força e da expansão da

atividade comercial e de serviço na cidade em destaque.

Posto isso, podemos ressaltar de imediato o quadro demográfico do

município nas últimas décadas. Com base nos dados adquiridos junto ao

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Sobral

passou de 127.489 habitantes, em 1991, para 155.276, em 2000, e para

188.233, em 2010, correspondendo a uma taxa de crescimento de 47,7%

(Gráfico 1).

Gráfico 1 - População Total do Município de Sobral/CE

Os dados indicam, ainda, que dos 188.233 habitantes de Sobral, 86,6%

residem em espaços urbanos. De acordo com as informações contidas no

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

160.000

180.000

200.000

1991 2000 2010

127.489

155.276

188.233

95

Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Plano de Desenvolvimento Industrial (PDI), esse fator pode ser atribuído à

atividade industrial que requer uma grande quantidade de mão de obra.

Sobre a economia sobralense, é importante salientar que – baseada na

produção industrial, no comércio e na prestação de serviços – ela se desponta

como uma das maiores do estado do Ceará, sendo a maior do interior

cearense (Tabela 10), polarizando um vasto território. Esse fenômeno teve

impulso na década 1990, tendo como um dos condicionadores a presença de

uma elite política mais conectada com o empreendedorismo, que se destacou

pela utilização de um discurso modernizador, entre as suas premissas estava a

busca por investimentos exógenos, sem perder de vista o fortalecimento dos

investidores locais28.

Tabela 10 – Produto Interno Bruto das Cidades Médias Cearenses

Municípios PIB (R$ mil)

Sobral 1.964.743

Juazeiro do Norte 1.595.504

Crato 726.944

Iguatu 602.302

Num comparativo do PIB de Sobral com a da capital do estado

cearense, notamos que Fortaleza apresenta um PIB dezesseis vezes superior

ao de Sobral. Todavia, é importante enfatizar que Fortaleza é detentora de

mais de 40% do PIB total do estado.

Tabela 11 – Produto Interno Bruto (R$) de Sobral comparado com os de Fortaleza, do Ceará e do Brasil

Municípios, Estado e País PIB (R$ mil)

Sobral 1.964.743

Fortaleza 31.789.186

Ceará 74.949.000

Brasil 3.674.000.000

28

São trabalhos que refletiram sobre essas premissas com viés diferentes: MONIÉ, Frédéric. Reestruturação Produtiva, desconcentração industrial e desenvolvimento local: Modernização, taylorização do território e políticas públicas inovadoras no município de Sobral, Ceará. 2001. Relatório de pesquisa. Mimiografado; b) LOURENÇO, M. S. M. Trabalho Pleno: construção do desenvolvimento local. Sobral: Edições UVA, 2003.

96

Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014)

No que se refere à renda per capita, Sobral exibiu nos últimos vinte

anos uma das maiores médias de crescimento do estado do Ceará. Conforme

os números evidenciados pelo Atlas de Desenvolvimento Humano (2013), o

rendimento per capita de Sobral, no ano de 2010, foi de R$ 448,89, valor

significativo quando confrontado com o de outros municípios do noroeste

cearense, como, por exemplo, Coreaú e Santa Quitéria. Contudo, bem distante

da cifra apresentada por São Caetano do Sul, município do estado de São

Paulo e, que tem a maior renda por individuo (Tabela 12).

Tabela 12 – Evolução da Renda Per Capita (R$) de Sobral e Outros Municípios

Município 1991 2000 2010 Crescimento no

Período (%)

Sobral/CE 198,63 299,41 448,89 125,99

Coreaú/CE 114,08 126,82 210,65 84,65

Sta. Quitéria/CE 87,41 160,84 238,84 173,24

S. Caetano do Sul/SP 1.107,53 1.639,93 2.043,74 84,53

Em relação às finanças, é válido enfatizar a receita municipal,

entendida como sendo o conjunto de recursos financeiros que entram nos

cofres públicos oriundos de diversas fontes. Ao analisarmos os dados

pertinentes a essa questão, constatamos que a receita total do município nos

últimos anos apresentou um acréscimo significativo, sendo de R$ 97,6 milhões,

em 2001, alcançando R$ 374,5 milhões, em 2011. No que tange aos gastos

municipais, houve um aumento representativo, passando de 91,7 milhões, em

2001, para 365,1 milhões, em 2011. O gráfico 2 mostra essa evolução da

receita e das despesas do município.

97

Fonte: Tribunal de Contas do Município (TCM) / IPECE (Perfil Básico Municipal). Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Gráfico 2 – Receita e Despesa Municipal de Sobral/CE (R$ Milhões)

Buscamos, também, realizar uma caracterização dos serviços ligados à

saúde e à educação da cidade em estudo, visto que esses atendem centenas

de pessoas oriundas do noroeste cearense e até mesmo de outros estados, o

que denota uma dinâmica diferenciada em seu espaço intraurbano, quando

comparado às cidades do seu entorno.

O serviço de saúde, atualmente, é composto por sete hospitais de

médio e grande porte, quais sejam: Santa Casa de Misericórdia, Hospital do

Coração, Hospital Dr. Estevam, Hospital Mista Dr. Tomaz Correa Aragão,

Hospital Unimed (privado), Policlínica Bernardo Félix da Silva e o Hospital

Regional Norte, considerado o maior hospital do interior do Nordeste (Figura

14). Além desses equipamentos, podemos contabilizar ainda 33 Centros de

Saúde/Unidade Básica; 14 Unidades de Apoio Diagnose e Terapia (SADT

Isolado) quatro farmácias públicas, entre outras instituições que somados,

totalizam 185 estabelecimentos de saúde. O sistema de saúde de Sobral foi um

dos primeiros a adotar o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e

o Programa Saúde da Família (PSF).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

2001 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2011

Receita Municipal Total Despesa Municipal Total

98

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Figura 14 – Hospital Regional Norte A Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Regional Norte se

constituem, hoje, como as principais referências para toda a zona norte do

Ceará. Juntos a duas unidades hospitalares somam 759 leitos para uso do

SUS e atendimento em diferentes especialidades. O Hospital Regional Norte,

inaugurado recentemente, tem capacidade para realizar 1.300 internações por

mês, segundo informações da Secretária da Saúde do Estado. A força desse

serviço repercute no consumo, ajudando a dinamizar a atividade comercial,

conforme argumenta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojista (CDL) de

Sobral, Deocleciano da Frota:

[Com o hospital regional] vai aumentar o fluxo de pessoas circulando em Sobral, vindas de todos os municípios da região. [...] com maior fluxo de pessoas, teremos maior movimento nos transportes das cidades que vão levar mais gente para almoçar nos restaurantes, comprar sapatos e eletrodomésticos nas lojas, gerando mais renda29.

No âmbito educacional, os dados capturados junto à Secretaria da

Educação do Estado do Ceará (SEDUC) revelam que Sobral conta com 102

29

Entrevista concedida à Assessoria de Comunicação da Secretária da Saúde do Estado do Ceará. Disponível em: <http://www.saude.ce.gov.br/index.php/noticias/45707-governador-inaugura-dia-18-o-maior-hospital-no-interior-do-ceara>. Acesso em 14 de Abr. de 2014.

99

Fonte: SEDUC, 2013 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

estabelecimentos de educação básica (público e privado), equipados com

bibliotecas e/ou salas de informáticas. A quantidade total de alunos

matriculados nessa escala de ensino no município é de 62.101 (Tabela 13). O

ensino infantil abrange 15,34% do total de alunos registrados, o fundamental

possui 50,35%, o ensino médio conta com 20,15%, a educação profissional

perfaz 2,15%, a educação especial compreende 0,04% e a educação de jovens

e adultos (EJA) 11,97%.

Tabela 13 – Alunos Matriculados no Ensino Básico de Educação em Sobral/CE em 2013

Modalidade Quantidade %

Ensino Infantil 9.525 15,34

Ensino Fundamental 31.270 50,35

Ensino Médio 12.510 20,15

Educação Profissional 1.337 2,15

Educação Especial 27 0,04

Educação de Jovens e Adultos 7.432 11,97

Total de Alunos 62.101 100

No que se refere ao ensino superior, a cidade é contemplada com três

instituições de ensino público – Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA),

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e um

campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) – que oferecem diversos

cursos de graduação e pós-graduação. Na esfera particular é crescente o

número de faculdades e institutos de ensino presencial e à distância.

Com base no PDI de Sobral, notamos que do total de alunos

matriculados no ensino superior em Sobral, 50,1% estão registrados na rede

estadual, 7,2% na federal e 42,7% na rede particular. É importante comentar

que na cidade há estudantes provenientes de diversos municípios do noroeste

cearense e também de outras localidades do Brasil, tal movimentação ajuda na

expansão do comércio.

A atividade industrial também tem auxiliado na transformação da

paisagem urbana de Sobral e na reorganização do comércio e do serviço, visto

que a partir da década de 1990, o número de empregos gerados pela indústria

100

Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2013. Elaboração: PEREIRA, 2014

cresceu consideravelmente. Nesse período, o principal destaque foi a

implantação da indústria calçadista gaúcha Grendene, em 1993.

Na análise da quantidade de empresas industriais em Sobral no ano de

2012, notamos que das 483 indústrias, 82,81% pertenciam ao ramo de

transformação, acompanhadas pela indústria da construção civil, com 13,66%.

Já as indústrias dos ramos de extrativa mineral e utilidade pública contabilizam

3,53% (Gráfico 3). No estado do Ceará, o total de indústrias no mesmo ano era

de 30.324.

Gráfico 3 - Percentual de Indústrias por Ramo de Atividades

No que concerne ao número de empregados, o setor industrial

apresentou em 2013 um efetivo de 25.451 funcionários, o que corresponde a

50,41% da quantidade total de empregos formais em Sobral, essa

predominância do emprego industrial contraria a realidade das cidades médias

cearenses de Crato e Juazeiro do Norte, onde se apresenta o predomínio do

emprego formal na atividade de comércio e de serviço (Tabela 14).

82,81%

13,66%

2,91% 0,62%

Ind. Transformação

Ind. Construção Civil

Ind. Ext. Mineral

Ind. Util. Pública

101

Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, 2014

Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, 2014

Tabela 14 – Total de Empregos Formais em Sobral em 2013

Setor Núm. de Empregados %

Industrial 25.451 50,41

Comercial 9.042 17,91

Serviços 13.057 25,86

Adm. Pública 2.905 5,75

Agropecuária 34 0,07

Total 50.489 100

Na análise por ramo de atividade, notamos que a indústria de

transformação abarcou 92,28% do total de empregos formais. Esse percentual

se deve em grande parte à participação da empresa calçadista Grendene, que

se consolidou como a maior empregadora privada do Ceará. Em relação ao

percentual de ocupações nos outros ramos, a indústria da construção civil

contou com 5,34%, as indústrias de extrativo mineral e a de utilidade pública

quantificaram 2,38%. A tabela 15 mostra o total de empregos na indústria por

ramo de atividade nos últimos anos em Sobral.

Tabela 15 – Total de Empregos Formais na Indústria por Ramo de Atividade

Ano Total Ind.

Transformação Ind. Const.

Civil Ind. Util. Pública

Ind. Ext. Mineral

2007 20.669 19.958 263 345 103

2008 18.148 16.748 953 335 112

2010 23.995 21.992 1.515 328 160

2011 21.610 19.712 1.398 330 170

2012 23.725 21.603 1.618 323 181

2013 25.451 23.485 1.360 364 242

Os setores de saúde, educação e a atividade industrial foram

destacados em nosso estudo pelo fato de ajudarem a estimular a expansão

das atividades comerciais e de serviços na cidade de Sobral, constatação que

aparece nos depoimentos do Presidente da CDL de Sobral e do Vice-

Presidente da Associação Comercial e Industrial de Sobral (ACIS). Além

desses três fatores, os entrevistados destacaram, ainda, a administração de

Cid Ferreira Gomes, considerada por eles como sinônimo de

empreendedorismo, pelos programas e parcerias criados em suas duas

102

gestões como prefeito de Sobral (1996-2000 e 2001-2004). Vejamos alguns

trechos dos depoimentos:

[...] Sobral foi favorecida por já ser um polo regional de talvez aí umas dez cidades mais próximas menores, mas de uma forma mais ampla quarenta cidades, ela pega toda a região da Ibiapaba, região do Camocim, Santa Quitéria... Embora exista uma divisão, existem cidades melhores, mas Sobral termina centralizando, principalmente, por via das instituições de ensino superior e pela saúde, que nós temos a Santa Casa como referência da região. Agora com esse Hospital Regional, com o tempo eu acho que também vai ter esse efeito. Então, Sobral, por ter essas duas coisas que atraem muito, termina se favorecendo ainda mais, eu acho que ela cresceu bem mais por causa disso. Além disso, a Grendene chegou aqui em 1996 [1993], ela hoje tem mais de 20 mil, 22 mil funcionários. Então, tanto as pessoas vêm todo dia, como algumas se mudam pra cá, e isso terminou inchando um pouco a cidade... É um desenvolvimento, assim, no entender de nós [...], do comércio, que se dividido esse desenvolvimento industrial seria melhor para todo mundo, mas Sobral recebeu a maior indústria e centralizou muita coisa, né? Porque as outras são muito pequenas. Além disso, nós tivemos a sorte de ter um bom administrador municipal, que conseguiu organizar a cidade de forma que ela facilite a implantação [...] de novas empresas com benefícios, embora os benefícios ainda não sejam tão bons quanto o comércio queria (Representante da Associação Comercial e Industrial de Sobral – ACIS. Entrevista cedida em Março de 2014). [...] um dos elementos que aumentou muito o movimento de Sobral foi a administração Cid Gomes e a inauguração da Grendene. O prefeito Cid Gomes abriu uma época de desenvolvimento em Sobral. Ele inaugurou grandes obras, desenvolveu o comércio, talvez ele tenha sido o prefeito que mais esteve ao lado da CDL... A Grendene tem, vamos pegar no pico, 23 mil funcionários, [que] circulam na cidade, compram na cidade e desenvolvem a cidade, mesmo que os 23 mil não sejam residentes em Sobral, mas é um fator muito importante para o desenvolvimento (Representante da Câmara de Dirigentes Lojistas de Sobral. Entrevista cedida em Março de 2014).

Após essas falas, passamos para a análise das atividades de

comércios e serviços de Sobral. Numa averiguação dos dados encaminhados

pela Junta Comercial do Estado do Ceará (JUCEC), referentes ao registro de

estabelecimentos comerciais em sua totalidade na cidade de Sobral, notamos

103

Fonte: HOLANDA, 2007/JUCEC, 2012.

Elaborado: PEREIRA, F. I. F. (2014).

que o bairro Centro ainda responde pela maior parcela desses

empreendimentos, ou seja, 64,0%, como exposto no gráfico 4.

Gráfico 4 – Expansão do Comércio em Sobral/CE (%)

Contudo, é válido ressaltar que a alocação de comércios em

localidades além-centro tem aumentado significativamente nos últimos dezoito

anos (Gráfico 04), com destaque para os seguintes bairros: Alto do Cristo,

Campo dos Velhos, Junco, Padre Ibiapina e Sinhá Saboia. Hoje, esses cinco

bairros apresentam 18,8% do total de pontos comerciais, quantidade superior à

exibida pelos demais trinta e um bairros da cidade, que unidos contam com

17,2% dos estabelecimentos. A tabela 16 mostra a distribuição de

estabelecimentos comerciais na cidade de Sobral segundo dados da JUCEC

(2012).

1996 2006 2012

85,8%

72,7%

64,0%

14,2%

27,3%

36,0%

Centro Demais Bairros

104

Fonte: JUCEC, 2012 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Tabela 16 - Distribuição do Comércio por Bairro em Sobral (2012)

Bairros Número de Estabelecimentos

Centro 943

Alto da Brasília 16

Alto do Cristo 47

Cachoeiro -

Campo dos velhos 50

Cid. Gerardo Cristino de Menezes 12

Cid. José Euclides F. Gomes Junior 28

Cid. Pedro Mendes Carneiro 13

COHAB I 6

COHAB II 37

Coração de Jesus 7

Derby Clube 9

Distrito Industrial 8

Dom Expedito 15

Dom José 10

Domingos Olímpio 3

Doutor Juvêncio de Andrade 3

Edmundo Monte Coelho -

Expectativa 33

Jardim -

Jatobá -

Jerônimo de Medeiros Prado 3

Juazeiro -

Junco 97

Mucambinho -

Nações -

Nossa Senhora de Fátima -

Novo Recanto -

Padre Ibiapina 37

Padre Palhano 8

Parque Silvana 8

Pedrinhas 18

Renato Parente -

Sinhá Saboia 46

Sumaré 10

Várzea Grande 1

Vila União 5

Total 1.473

Quando analisamos somente as informações concernentes às

atividades comerciais de maior porte, a exemplo de supermercados,

concessionárias de veículos e farmácias, observamos que, assim como o

comércio em sua totalidade, há uma tendência desses estabelecimentos na

busca pelas localidades além-centro. Nesse aspecto, o Centro apresentou

105

66,9% dos referidos empreendimentos. Já os bairros Junco, Campo dos Velhos

e Sinhá Saboia, que foram os que mais se sobressaíram na amostragem,

possuindo 15,1% dos estabelecimentos. Os outros 18,0% dos

empreendimentos comerciais se distribuem entre os demais trinta e três

bairros.

Como pode ser notado, os bairros Alto do Cristo e Padre Ibiapina

mostraram um significativo destaque, quando verificamos o registro de

pequenos comércios, provavelmente justificados pela intensificação da política

fiscal implementada pela gestão municipal, que desde 1996 visa registrar todas

as atividades comerciais, independente do seu porte. Podemos inferir, ainda,

que nesses bairros há um predomínio de comércios de consumo cotidiano30.

No que se refere às atividades de serviços, notamos, a partir dos dados

capturados junto a Classificação Nacional de Atividades Econômicas –

CNAE/IBGE (2010), que eles também estão mais concentrados no Centro

(61,0%), mas, assim como se verificou em relação ao comércio, há também

uma dispersão em direção a outros bairros da cidade, com destaque para o

Junco (7,1%), Campo dos Velhos (5,3%) e Sinhá Saboia (3,2%).

30

Comércio cotidiano é aquele de consumo básico diário e que, normalmente, apresenta-se disperso pelo território, como exemplo, podemos citar: padarias, frigoríficos e mercearias (DUARTE, 1974; CONTEL, 2010).

106

Fonte: CNAE/IBGE, 2010.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Tabela 17 – Distribuição dos Serviços por Bairros em Sobral/CE

Bairros Número de Estabelecimentos

Centro 695

Alto da Brasília 13

Alto do Cristo 34

Cachoeiro -

Campo dos Velhos 61

Cid. Gerardo Cristino de Menezes 1

Cid. Jose Euclides F. Gomes 9

Cid. Pedro Mendes Carneiro 11

COHAB I 7

COHAB II 8

Coração de Jesus 9

Derby Clube 15

Distrito Industrial 15

Dom Expedito 17

Dom José 22

Domingos Olímpio 20

Doutor Juvêncio de Andrade 1

Edmundo Monte Coelho -

Expectativa 19

Jardim -

Jatobá 4

Jerônimo de Medeiros Prado 8

Juazeiro -

Junco 82

Mucambinho -

Nações -

Nossa Senhora de Fátima -

Novo Recanto -

Padre Ibiapina 17

Padre Palhano 5

Parque Silvana 9

Pedrinhas 15

Renato Parente -

Sinhá Saboia 37

Sumaré 7

Várzea Grande -

Vila União 2

Total de Serviços 1.143

Vale frisar que esses espaços vêm sendo alvo não somente das ações

da iniciativa privada, mas da aliança desta com o poder público local e/ou

estadual31. A atuação deste último se mostra perceptível nesses lugares por

31

Com a vinda desses novos atores privados, geralmente, o governo local, ao invés de elaborar projetos que busquem a melhoria da sociedade como um todo, acaba por investir

107

meio da instalação de infraestrutura (como distribuição da rede elétrica e

hidráulica, alargamento de ruas e avenidas, entre outros) e, também, mediante

a instalação de grandes equipamentos (a exemplo de hospitais, escolas, etc.).

Tais aspectos vêm incorporando nesses espaços uma dinâmica

diferenciada, se comparada a outros bairros da cidade.

3.2 Os Novos Territórios de Atividades Comerciais e de Serviços em

Sobral/CE

Com base no tópico anterior, percebemos que os bairros além-centro

que vêm abrigando a maior quantidade de comércios e serviços não são

aqueles onde se encontra a população de maior poder aquisitivo ou os

demograficamente mais densos. Mas sim, aqueles territórios constituídos por

importantes vias de saída da cidade, como é o caso do Junco, Campo dos

Velhos e Sinhá Saboia.

No Bairro do Junco, localizado ao oeste da cidade, tendo seus limites

territoriais com os bairros Parque Silvana e Cidade Pedro Mendes Carneiro ao

norte, Domingos Olímpio e Vila União ao Sul, Cidade Dr. José Euclides ao

oeste e Campo dos Velhos ao leste, as atividades comerciais e de serviços

estão mais concentradas na Avenida John Sanford. Esse endereço funciona

como via principal e encontra rodovias para a saída da cidade em direção aos

municípios de Meruoca, Alcântaras e Coreaú.

No Campo dos Velhos (antigo Loteamento Parque Alvorada), situado

no noroeste da cidade, tendo seus limites com os bairros Parque Silvana e

Expectativa ao norte, Alto do Cristo ao sul, Junco ao oeste e Centro e Coração

de Jesus ao leste, as atividades comerciais e de serviços se distribuem por

diversos logradouros do bairro, porém, há uma maior aglomeração na Avenida

Doutor José Arimathéa Monte e Silva (popularmente chamada de Avenida do

Contorno). Esta também funciona como corredor principal de saída da cidade

em direção aos municípios de Meruoca, Alcântaras e Coreaú.

parte dos recursos humanos e financeiros da cidade em infraestruturas necessárias para a implantação desses novos equipamentos mais “modernos” (CONTEL, 2010, p. 31).

108

Já no Bairro Sinhá Saboia, localizado no sudeste da cidade, tendo seus

limites territoriais com os bairros Várzea Grande ao norte, Conjunto

Habitacional I (COHAB I) ao sul, Conjunto Habitacional II (COHAB II) ao leste e

Cidade Gerardo Cristino de Menezes a oeste, as atividades em estudo se

concentram, sobretudo, na Avenida Senador Fernandes Távora, logradouro

que se conecta tanto à BR 222, permitindo a saída da cidade em direção a

região metropolitana de Fortaleza, bem como à rodovia estadual, que

possibilita o acesso ao município de Groaíras.

As avenidas John Sanford, Dr. José Arimathéa Monte e Silva e

Senador Fernandes Távora se constituem importantes corredores de saída da

cidade de Sobral e, também, permitem o acesso aos principais bairros da

mesma. O intenso fluxo de pessoas que transita por elas diariamente atrai para

si atividades comerciais e de serviços expressivos. Tais características se

assemelham as de um eixo comercial, elucidado por Duarte (1974, p. 86) como

sendo:

[...] ruas ou avenidas que, por constituírem importantes vias de acesso aos principais bairros, a circulação nelas concentrada provoca intenso movimento diário de pessoas que se desloca de um ponto a outro da cidade, atraindo para si lojas comerciais importantes.

Por conta dessas propriedades, selecionamos essas vias para análise.

Além delas, consideramos também as avenidas Senador José Ermírio de

Moraes, localizada no limite dos bairros Dom José, Padre Ibiapina e Alto do

Cristo e, Monsenhor Aloísio Pinto, situada no Dom Expedito. A inclusão dessas

duas avenidas se deve ao fato de ambas apresentarem características

similares a dos três endereços citados anteriormente, constatação verificada

pelas modificações ocorridas na paisagem desses lugares.

Na análise dessas avenidas, procuramos identificar: as atividades

predominantes; a situação das empresas (situação do local de funcionamento,

quantidade de funcionários e tempo de atividade); o perfil dos proprietários

(faixa etária, sexo, nível de escolaridade, origem e ramos de atuação); as

estratégias de mercado utilizadas para atrair novos consumidores e; o perfil

(poder aquisitivo e origem) dos consumidores dos produtos e/ou serviços

oferecidos.

109

Na figura 15, ressalta-se a localização geográfica das cinco avenidas

de destaque na cidade de Sobral.

110

Figura 15 – Localização das Avenidas Pesquisadas na Cidade de Sobral-CE

LOCALIZAÇÃO DAS AVENIDAS PESQUISAS NA

CIDADE DE SOBRAL-CE

111

3.2.1 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida John Sanford

Oficializada pela Lei Municipal 133/66, a Avenida John Sanford tem

uma extensão de aproximadamente 1.800 metros e percorre todo o Bairro do

Junco, no sentido leste/oeste. Embora o seu maior trecho (cerca de 1.200

metros) esteja situado nessa localidade, é importante frisar que a mesma se

inicia no Bairro Campo dos Velhos, mais precisamente no cruzamento da Rua

Tabelião Idelfonso de Holanda Cavalcante com a Rua Viriato de Medeiros e

termina nas ruas Menino Jesus de Praga e Jucá Parente, no limite do Junco

com o Bairro Cidade Pedro Mendes Carneiro.

É interessante salientar que na extensão da John Sanford, assim

como em ruas próximas a ela, estão situadas diversas instituições públicas que

fizeram dela destino de toda a cidade e também da região noroeste do Ceará,

a saber: Hospital Regional Norte; Centro de Saúde da Família; Centro de

Ciências Humanas da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); nova sede

do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN); o Estádio Plácido Aderaldo

Castelo (popularmente conhecido como Estádio do Junco ou Juncão); Núcleo

de Perícia Forense da Região de Sobral; três escolas de ensino fundamental;

uma escola de ensino médio e uma escola de ensino profissional em tempo

integral.

A pesquisa direta realizada na via em pauta apontou que entre os

estabelecimentos comerciais e de serviços consultados, destacam-se os

seguintes tipos de atividade: os alimentícios e bebidas, com os mercadinhos e

supermercados; o automotivo, com as lojas e oficinas de automóveis e

motocicletas; o gastronômico, com os restaurantes e lanchonetes; o de

materiais para a construção, com lojas de materiais de construção em geral e;

as de saúde e estética, com as farmácias e clínicas médicas (Tabela 18).

112

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Tabela 18 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida John Sanford, Sobral-CE

Tipo de Atividade (%)

Alimentícios e Bebidas 22,8

Armarinhos e Papelarias 1,8

Assistência Técnica 7,0

Automotivo 21,1

Comunicação Visual 5,3

Cursos 1,7

Gastronômico 8,8

Lazer 1,7

Material de Construção 8,8

Moveis e Eletrodomésticos 1,7

Profissionais Liberais 1,7

Saúde e Estética 8,8

Outras Atividades 8,8

Total 100,0

Um aspecto interessante do comércio alimentício e de bebidas na John

Sanford é a presença de um supermercado de rede proveniente de Fortaleza, o

Pinheiro Supermercado. Essa empresa, com características de um centro

comercial, tem agregado à sua loja principal diversos equipamentos

importantes, tais como: agência dos correios, caixas eletrônicos, cinema,

parque infantil, restaurante e lanchonete. De acordo com Maria Junior (2004, p.

90), a instalação desse equipamento, “num espaço da cidade pouco valorizado,

revitalizou a incipiente função comercial do bairro, que se destinava às classes

populares”, adicionando valor aos espaços vazios e ajudando a dinamizar os

fluxos.

Outro fator que se deve ressaltar na avenida em estudo é a presença

de estabelecimentos pertencentes a redes de farmácias que até recentemente

só era possível encontrar no centro tradicional de Sobral, a exemplo das

Farmácias Pague Menos e da Extrafarma (Figuras 16 e 17, respectivamente).

A presença dessas filiais demonstra a importância que essa avenida vem

assumindo no espaço urbano sobralense nos últimos anos.

113

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Figura 16– Farmácias Pague Menos Figura 17 – Filial da Extrafarma

A figura 18 apresenta a distribuição das atividades comerciais e de

serviços mais representativos pela Avenida John Sanford.

114

Figura 18 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. John Sanford

115

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Em relação à situação das empresas pesquisadas na via em pauta, a

maioria (59,6%) realiza suas atividades em imóveis alugados. No que diz

respeito à quantidade de funcionários, 75,4% apresentam um quadro formado

por até três trabalhadores. Isso se justifica pela quantidade de microempresas

alocadas na via nos últimos anos. Quanto ao tempo de funcionamento das

mesmas, 73,3% têm entre um e 10 anos de atividade e, apenas, 24,5% estão

ativas há mais tempo (Gráfico 5). Assim, podemos inferir que a Avenida John

Sanford passou a abrigar estabelecimentos comerciais e de serviços com

maior intensidade nos últimos dez anos.

Gráfico 5 - Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. John Sanford

Essa conclusão é reforçada por Assis e Rodrigues (2008), quando

relatam que “entre 2002 e 2007, houve um acréscimo no total de imóveis de

519 para 719 (38%) no Junco” (bairro onde se localiza o maior trecho da

Avenida John Sanford), sendo que “os imóveis comerciais cresceram mais que

os residenciais, no mesmo período, ficando o Junco com uma variação de

47%” (ASSIS; RODRIGUES, 2008b, p. 82).

No que se refere ao perfil dos empreendedores que buscam as vias de

saída da cidade para seus investimentos, em especial a Avenida John Sanford,

verificamos que 31,6% têm idade que varia de 18 a 35 anos, outros 31,6% têm

entre 36 e 45 anos e 31,5% possuem mais de 45 anos. Quanto ao gênero,

De 1 a 5 anos De 6 a 10anos

De 11 a 20anos

Mais de 20anos

Nãoresponderam

21,10%

52,60%

10,50% 14,00%

1,80%

116

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

75,4% são do sexo masculino. Em se tratando da escolaridade (Gráfico 6), a

maioria (47,4%) tem o ensino médio completo, seguido pelos que têm ensino

fundamental (22,8%) e superior (7,0%). A taxa dos empreendedores que não

concluíram o ensino fundamental é de 12,3% e o de analfabetos representa

3,5%. Quanto à origem, 77,2% dos empresários são do próprio município,

14,0% são de outros municípios do estado (principalmente Meruoca,

Alcântaras e Fortaleza) e 8,8% de outras regiões do país. Quando

questionados sobre quais outros ramos de atividades eles atuam, 89,5%

responderam que não têm outro meio de sustento.

Gráfico 6 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. John Sanford (%)

No que concerne às estratégias de mercado utilizadas pelas empresas

para atrair novos consumidores, a pesquisa revelou que 61,4% não adotam

nenhuma técnica, 14,1% realizam promoções, 5,3% distribuem brindes e

19,2% utilizam outros mecanismos. Sobre esse assunto, Assis e Rodrigues

(2008) ressaltam que na cidade de Sobral, os Supermercados Pinheiro e Lagoa

(este último localizado na Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva) vêm

constantemente ampliando as estratégias de marketing e modernizando suas

logísticas no intuito aumentar a clientela.

3,50%

22,80%

12,30%

47,40%

7% 7%

117

Eles, frequentemente vinculam campanhas focadas nas promoções de preços, através de distribuição de encartes na cidade (...), nos quais procuram chamar a atenção da população através de slogans atrativos como: “se você quer preços baixos a super rede é o lugar”, “campeã em economia, aqui você é quem ganha”, “aqui tem tudo, venha aproveitar” (ASSIS; RODRIGUES, 2008b, p. 79).

A respeito do perfil do consumidor, constatou-se que a maioria das

pessoas (88,2%) que se dirigem à Avenida John Sanford, na busca de

produtos e/ou serviços tem um poder aquisitivo de até dois salários mínimos.

Isso se justifica, provavelmente, pela proximidade da via com bairros onde se

concentra uma população mais carente, a exemplo da Cidade Doutor José

Euclides (conhecido popularmente por Terrenos Novos), Vila União e Alto do

Cristo.

Tal argumentação encontra sustentação quando se analisa a origem de

moradia dos consumidores dos produtos e/ou serviços oferecidos na referida

via. Nesse item, por ter sido uma questão aberta, obteve-se como respostas

mais frequentes, o próprio bairro (Bairro Junco); do Junco, Terrenos Novos e

COHAB III; da própria cidade (Sobral); da cidade e da Serra (Meruoca); de

Sobral e cidades próximas e; de Sobral e região norte do Ceará.

Os aspectos enfatizados evidenciam que a Avenida John Sanford atrai

para si investidores dos mais diversos ramos e com diferentes volumes de

capital. Isso se deve, como já anunciado, ao fato dela ser uma via que

apresenta um intenso fluxo de pessoas e um dos mais importantes corredores

de saída da cidade, bem como de acesso aos principais bairros da mesma.

3.2.2 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Dr. Arimathéa Monte

e Silva

Sancionada pela Lei Municipal 025/81, a Avenida Doutor José

Arimathéa Monte e Silva (conhecida popularmente como Avenida do Contorno)

tem cerca de 1.400 metros de extensão. Apesar do seu maior trecho

(aproximadamente 850 metros) cruzar todo o Bairro Campo dos Velhos (no

sentido leste/oeste), ela se inicia no Bairro Centro, no entroncamento da Rua

Coronel Joaquim Lopes com a Rua Jornalista Deolindo Barreto, e termina no

118

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Junco, no cruzamento da Rua Antônio Araújo Vasconcelos com a Avenida

Cleto Ferreira da Ponte.

Assim como observado em relação a John Sanford, na Avenida Doutor

Arimathéa Monte e Silva, bem como em suas proximidades, há também órgãos

públicos que atendem a cidade e a região noroeste do estado, tais como:

Centro de Convenções de Sobral (Inácio Gomes Parente), a Secretaria da

Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Sobral, a

Sede Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (CRECI), o Centro de

Controle de Zoonoses, uma agência da Caixa Econômica Federal, uma escola

municipal de ensino fundamental, o maior parque público da cidade com

espaço de lazer, entre outros.

Quanto à pesquisa direta efetivada na via em estudo, constatamos que

há o predomínio das seguintes atividades: saúde e estética, com os salões de

belezas e academias; materiais para a construção, com as lojas de material

para a construção civil; alimentícios e bebidas, com mercadinhos e

supermercados; assistência técnica, com os serviços de assistência técnica em

informática e refrigeração; cursos, com os centros de formação de condutores

(autoescolas) e; imobiliárias, com os escritórios de corretores de imóveis

(Tabela 19).

Tabela 19 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Dr. Arimathéa

Monte e Silva, Sobral-CE

Tipo de Atividade (%)

Alimentícios e Bebidas 7,7

Armarinhos e Papelarias 3,8

Assistência Técnica 7,7

Material de Construção 15,4

Vestuário 3,8

Cursos 7,7

Saúde e Estética 19,3

Gastronômico 7,7

Serviços e Produtos Agropecuários 3,8

Imobiliária 7,7

Outras Atividades 15,4

Total 100,0

119

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Da mesma forma que se averiguou na John Sanford, na Avenida

Doutor Arimathéa Monte e Silva há também um supermercado de rede vindo

de Fortaleza, o Super Lagoa, que se destaca pela estrutura e diversificação de

produtos e serviços oferecidos (anexo a este equipamento encontra-se

restaurante, lanchonete, academia, agência de viagens e caixas eletrônicos).

Sobre a presença desses estabelecimentos nas duas vias em análise, Holanda

(2007, p. 154) ressalta que:

Eles têm se apresentado como um dos ramos que mais vem modificando a paisagem urbana de Sobral, posto que criam uma estrutura de centro comercial denominados de open mall. “Acompanham” e dinamizam o espraiamento da cidade, no seu sentido norte e oeste em direção à Serra da Meruoca.

Mas, um aspecto que chama a atenção na Doutor Arimathéa Monte e

Silva e que a diferencia da John Sanford é a presença dos salões de beleza

(Figuras 19 e 20). Atualmente, encontram-se nela, em números absolutos, sete

desses salões (Fik Bella, Salão Jô, Unhas e Cia, Salão Aurea, Edineuza

Cabeleiro, Beleza das Unhas e Primavera). Não se observa na cidade de

Sobral outra localidade que tal situação se reproduza.

Fig. 19 - Salão de Beleza Unhas e Cia Fig. 20 – Salão de Beleza Edineuza Os serviços de cursos, outra atividade de destaque, caracterizam-se

pela predominância das escolas de formação de condutores (autoescola)

(Figura 21 e 22). No presente, a via abriga seis autoescolas (Shallon,

120

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Conquista, Sobral, Junior, Citran e Filho), porém é válido enfatizar que essa

concentração se deve a proximidade com o antigo Departamento Estadual de

Trânsito (DETRAN), desativado em 2014.

Figura 21 – Autoescola Junior Figura 22 – Autoescola Conquista

Na figura 23, verifica-se a distribuição das atividades comerciais e de

serviços mais representativas pela Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva.

121

Figura 23 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva

122

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).

No que se refere à situação do local de funcionamento das empresas

na Doutor Arimathéa Monte e Silva, averiguamos que a maioria (84,6%) realiza

suas atividades em imóveis alugados, assim como ocorre na Avenida John

Sanford. Em relação à quantidade de funcionários, 61,5% dos

estabelecimentos apresentam um quadro formado por cinco trabalhadores, os

que têm acima desse número representam 38,5%. Já sobre o tempo de

funcionamento dos empreendimentos, o estudo apontou que 80,8% têm entre

um e dez anos de atividade e, somente, 19,2% superam uma década de

funcionamento (Gráfico 7).

Gráfico 7 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva

Ao tratar do perfil dos empreendedores que buscam essa via de saída

da cidade para seus investimentos, apuramos que 34,6% têm idade que varia

de 18 a 25 anos, 30,8% possuem entre 26 e 35 anos e outros 34,6% têm mais

de 35 anos. No que se refere ao gênero, 57,7% são do sexo masculino. Em

relação ao nível escolaridade (Gráfico 8), há o predomínio (69,2%) dos que têm

o ensino médio completo, seguindo pelos que têm o ensino superior (15,4%). A

taxa dos que possuem o ensino fundamental completo e dos que iniciaram

esse nível de educação somam 15,4%. Diferentemente do verificado na John

Sanford, na Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva não houve registro de

proprietários analfabetos. No que concerne à origem, 73,1% dos comerciantes

De 1 a 5anos

De 6 a 10anos

De 11 a 15anos

De 16 a 20anos

Mais de 20anos

30,80%

50,00%

11,60%

3,80% 3,80%

123

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

são do próprio município, 15,4% são de outros municípios do estado (como

Fortaleza, Meruoca e Santana do Acaraú), 7,7% de outros estados do Nordeste

e 3,8% de outras regiões do País. Sobre quais outros ramos de atividades eles

atuam, apurou-se que 80,8% não têm outras fontes de renda.

Gráfico 8 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva (%)

Sobre as estratégias de mercado utilizadas pelas empresas para atrair

a clientela, o estudo mostrou que 53,8% não elaboram esquemas para seduzir

novos consumidores, 15,4% realizam promoções, 11,5% distribuem brindes,

3,9% apostam tanto nas promoções quanto na distribuição de brindes e 15,4%

adotam outras estratégias.

Com relação ao perfil dos consumidores, a pesquisa apontou que

53,3% da clientela têm um poder aquisitivo de até dois salários mínimos, 20,0%

ganham até três salários e 26,7% têm um rendimento mensal superior a esse

valor. Quanto às localizações de origem dos consumidores, a investigação

mostrou como dados mais repetitivos, as seguintes respostas: de Sobral;

Sobral e outros municípios circunvizinhos; Sobral e região norte do estado; do

Bairro Campo dos Velhos e; do Bairro Campo dos Velhos e outros mais

próximos.

A Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva, ou simplesmente “Avenida

do Contorno”, é uma das principais vias de circulação de veículos e,

Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto

EnsinoFundamental

Completo

EnsinoMédio

Completo

EnsinoSuperiorCompleto

0,00% 7,70% 7,70%

69,20%

15,40%

124

consequentemente, de pessoas da cidade de Sobral. Ela tem uma atividade

comercial expressiva não, somente, ao longo do dia, mas também durante a

noite, pois os salões de beleza, as autoescolas, o supermercado, restaurantes,

lanchonetes e outros estabelecimentos permanecem em funcionamento até por

volta das 22 horas. Além disso, há de se destacar na via a presença do Parque

da Cidade32, umas das principais áreas de lazer de Sobral.

3.2.3 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Senador Fernandes

Távora

Já a Avenida Senador Fernandes Távora, oficializada pela Lei

Municipal 033/73, tem aproximadamente 2.700 metros de comprimento, sendo

a maior entre as vias pesquisadas. Ela cruza todo o Bairro Sinhá Saboia na

direção oeste para leste, tendo seu ponto inicial na Ponte Othon de Alencar

(chamada popularmente de ponte velha), localizada sobre o rio Acaraú, e ponto

final no triângulo de acesso à BR 222 e à rodovia estadual, com destino ao

distrito de Salgado dos Machados e ao município de Groaíras.

Entre as instituições públicas alocadas ao longo dessa via e em suas

imediações, destacam-se: o Departamento Estadual de Rodovias (DER), a

Polícia Rodoviária Federal (4ª Delegacia), duas unidades hospitalares (Posto

de Saúde da Família do Sinhá Saboia e Unidade Mista Doutor Thomaz Corrêa

Aragão), duas escolas de ensino fundamental ligadas ao município e uma

escola de ensino fundamental e médio pertencente ao Estado.

Com o levantamento de dados primários realizados nesse logradouro,

observou-se a preponderância das seguintes atividades: materiais para

construção, com as lojas de materiais para a construção em geral e

madeireiras; alimentícios e bebidas, com os mercadinhos e bares e; assistência

técnica, com os serviços de assistência técnica em refrigeração (Tabela 20).

32

Inaugurado em 2004 e com uma área de aproximadamente 70 mil metros quadros, o Parque da Cidade interliga bairros importantes de Sobral, como: Campo dos Velhos, Coração de Jesus e Expectativa. O complexo conta com diversos equipamentos. Dentre eles, podemos destacar: quiosques, pista de jogging (ou cooper), campo polivalente para esportes, quadras de vôlei de praia e pista de esportes radicais.

125

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Tabela 20 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador Fernandes Távora, Sobral-CE

Tipo de Atividade (%)

Alimentícios e Bebidas 23,1

Automotivo 7,7

Assistência Técnica 15,3

Móveis e Eletrodomésticos 7,7

Telecomunicações 7,7

Material de Construção 23,1

Gastronômico 7,7

Distribuidoras (Alimentos e/ou Bebidas) 7,7

Total 100,0

Diferentemente do registrado nas duas avenidas analisadas

anteriormente, a Senador Fernandes Távora ainda não abriga um

estabelecimento comercial de Alimentos e Bebidas nos moldes do Pinheiro

Supermercado e do Super Lagoa33. No entanto, essa atividade se caracteriza

pela presença de diversos mercadinhos que, embora ofereçam como

mercadoria principal produtos do gênero alimentício, vendem um pouco de

quase tudo: materiais de limpeza, de higiene pessoal, calçados, utensílios

domésticos, materiais escolares, dentre outros.

Mas o que chama atenção nessa avenida é a quantidade de

estabelecimentos comerciais e de serviços que se destacam na paisagem pelo

tamanho da área construída. O comércio de Material de Construção (atividade

de que predominante na via ao lado do comércio de alimentos e bebidas), por

exemplo, apresenta-se com lojas de materiais para construção e madeireiras

que compreendem até 900 metros quadrados (Figuras 24 e 25).

33

Porém, é importante mencionar que está sendo instalado nessa avenida o Atacadão, loja pertencente ao grupo francês Carrefour, com inauguração prevista ainda para o primeiro semestre de 2015. Especializada no conceito atacarejo (vendas no atacado e no varejo), o foco da empresa será o abastecimento regional. Esse empreendimento irá de encontro com outro gigante do setor, o Assaí Atacadista, de propriedade do grupo Pão de Açúcar, inaugurado em dezembro de 2014, à margem da BR 222, no Bairro Cidade Gerardo Cristino de Menezes.

126

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Figura 24 – Loja Mega Império Figura 25 – JS Madeireira

Outro traço importante, averiguado na referida via, é a presença de

rede de loja de eletrodomésticos (Figura 26) e de telecomunicação (Figura 27),

com outros estabelecimentos espalhados pelo centro tradicional da cidade.

Isso comprova que os investidores buscam instalar seus empreendimentos em

localidades onde há uma concentração de atividades comerciais e de serviços

e que apresentam um intenso fluxo de pessoas (SOUZA, 2009).

Figura 26 - Loja Macavi Figura 27 – Hot Sat Telecomunicações

A figura 28 mostra a distribuição das atividades comerciais e de

serviços mais representativas pela Avenida Senador Fernandes Távora.

127

Figura 28 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Sen. Fernandes Távora

128

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

Em relação ao local de funcionamento das empresas situadas na

Senador Fernandes Távora, verifica-se que, assim como na John Sanford e na

Doutor Arimathéa Monte e Silva, a maioria (61,5%) realiza suas atividades em

imóveis alugados. Tal fato demonstra que nesse logradouro, mesmo ele se

situando num bairro “com forte expansão de casas populares, junto a conjuntos

habitacionais mais antigos” (HOLANDA, 2007, p. 145), os edifícios comerciais

têm um preço elevado. Em relação ao quadro de pessoal, 53,9% das empresas

têm acima de três funcionários. No que concerne ao tempo de atividade, 53,8%

têm entre um e dez anos de funcionamento, 30,8%, entre onze e vinte anos e

15,4% estão ativas a mais de duas décadas (Gráfico 9).

Gráfico 9 - Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Senador Fernandes Távora

Em análise ao perfil dos donos desses comércios, constatou-se que

15,4% têm entre 18 e 25 anos de idade, 30,8% têm entre 26 e 45 anos e 53,8%

possuem entre 46 e 65 anos. Em relação ao gênero, 69,2% são do sexo

masculino. Quanto ao nível de escolaridade, a maioria tem o ensino médio

completo, seguido pelos que tem ensino superior. Já o percentual de

proprietários analfabetos (7,7%) é o segundo maior entre as vias pesquisadas,

superado apenas pelos da Avenida Senador José Ermírio de Moraes, como

será visto adiante. A taxa dos que apenas iniciaram o ensino fundamental

também é de 7,7% (Gráfico 10). Em relação à origem, 46,1% dos empresários

De 1 a 10 anos De 11 a 20 anos Mais de 20 anos

53,80%

30,80%

15,40%

129

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

são de Sobral, 38,5% são de outros municípios do estado, principalmente de

Groaíras, Santana do Acaraú e Fortaleza e, 15,4% de outros estados. Quando

questionados sobre quais outros ramos eles atuam, 76,9% declararam não

atuar em outras atividades.

Gráfico 10 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Senador Fernandes Távora (%)

No que diz respeito às estratégias de mercado utilizadas pelas

empresas para atrair novos clientes, verificou-se que a 61,5% não

desenvolvem nenhum mecanismo de atração de consumidores, já 30,8%

fazem promoções e 7,7% apostam na distribuição de brindes. Em análise ao

perfil dos consumidores, notou-se que 66,7% têm uma renda mensal de até

dois salários mínimos e 33,3% ganham até quatro. No que concerne à origem

de moradia desses consumidores, averiguou-se como respostas mais

recorrentes as seguintes: do próprio bairro (Sinhá Saboia), Sobral e região

norte do Ceará.

Como pode ser notado, a Senador Fernandes Távora se apresenta

como um importante corredor comercial da cidade, com um número

significativo de estabelecimentos voltados à atividade comercial e a de serviço.

No entanto, é válido frisar que ao longo da via há ainda muitos espaços vazios

que podem vir a ser ocupados e, com isso, dinamizar mais esse setor da

economia nessa localidade.

Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto

Ensino Médiocompleto

Graduação

7,70% 7,70%

69,20%

15,40%

130

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

3.2.4 A Atividade Comercial e de Serviço na Av. Sen. Ermírio de Moraes

Localizada no limite dos bairros Dom José, Padre Ibiapina e Alto do

Cristo, a Avenida Senador José Ermírio de Moraes, antiga Fernando Hélio, foi

oficializada em 1986, pela Lei Municipal 09/86. Ela tem uma extensão de

aproximadamente 2.400 metros, com início no cruzamento da Rua Tabelião

Idelfonso de Holanda Cavalcante com a Avenida Dom José e, termina na

rotatória que permite o acesso à BR 222, no sudoeste da cidade.

Distintamente das demais avenidas pesquisas, na Senador José

Ermírio de Moraes e adjacências existem somente estabelecimentos públicos

que atendem parte da cidade, a saber: o Centro de Saúde da Família do Bairro

Padre Ibiapina e três escolas municipais de ensino fundamental (Antenor

Naspolini, Maria J. S. F. Gomes e José Ermírio de Moraes). Mas, é válido

ressaltar que essa via abriga a Fábrica de Cimento Poty, pertencente ao grupo

Votorantim. Além disso, ela é um dos principais caminhos para se chegar à

Santa Casa de Misericórdia de Sobral, o segundo maior hospital do noroeste

do Ceará.

O levantamento de dados primários nessa avenida revelou como

atividades comerciais e de serviços predominantes as elencadas a seguir:

automotivo, com as concessionárias de carros e motocicletas, revendedora de

carros usados e oficinas mecânicas; alimentícios e bebidas, com os

mercadinhos e bares e; material de construção, com as lojas de materiais de

construção, serrarias e madeireiras (Tabela 21).

Tabela 21 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador José Ermírio de Moraes, Sobral-CE

Tipo de Atividade (%)

Alimentícios e Bebidas 22,8

Automotivo 40,0

Assistência Técnica 2,9

Material de Construção 14,2

Vestuário 2,9

Saúde e Estética 2,9

Distribuidoras 5,7

Gastronômico 2,9

Outras Atividades 5,7

Total 100,0

131

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

A atividade automotiva da avenida, ramo de maior expressão,

caracteriza-se pela presença de revendedoras de carros usados, como a São

Francisco Veículos, VK automóveis e São Cristóvão Veículos; pelas

concessionárias da Toyota e da Fiat (Figura 29) e; pelas oficinas mecânicas

especializadas, a exemplo da Oficina Cícero, Assis Diesel e HC Pneus (Figura

30). Na Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto, essa atividade também se

destaca, mas com outras propriedades, como será exibido posteriormente.

Figura 29 – Concessionária da Fiat Figura 30 – Oficina Mec. HC Pneus

O comércio de alimentos e bebidas, outra atividade predominante,

chama a atenção pela presença dos mercadinhos e dos bares, assim como

acontece na Senador Fernandes Távora.

Destaca-se ainda o comércio de material de construção, ramo que

como já visto se sobressai em todos os logradouros examinados. Contudo, há

uma peculiaridade interessante dessa atividade na Senador Ermírio de Moraes

que a distingue das demais avenidas, é a existência de lojas de portas e

janelas trabalhadas (Figuras 31 e 32). Sobre o crescimento desse comércio na

cidade de Sobral, Holanda (2007, p. 158) relata que:

Multiplicam-se pelo espaço urbano [...] os estabelecimentos de material de construção em geral, com destaque para: ferragens, metalurgia, madeira e artefatos, comércio de concreto usinado e pré-misturado, que são entregues nas obras de construção, com emprego de tecnologia, todas elas acompanhando o ritmo rápido das construções.

132

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Figura 31 - Loja São Francisco Figura 32 – Loja Alcântara

A figura 33 exibe a distribuição das atividades comerciais e de serviços

mais representativas pela Avenida Senador José Ermírio de Moraes.

133

Figura 33 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Sen. José Ermírio de Moraes

134

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

Já no que concerne à situação do local de funcionamento das

empresas nesse logradouro, verificou-se que 60,0% efetivam suas atividades

em imóveis alugados, assim como ocorre nas vias já analisadas. Em relação à

quantidade de funcionários, 74,3% dos estabelecimentos têm um quadro

constituído por até quatro trabalhadores e os que têm acima dessa quantidade

representam 25,7%. No que se refere ao tempo de funcionamento dos

empreendimentos, 60,0% têm entre um e dez anos de atividade, 31,4%, entre

onze e vinte anos que estão ativas e 8,6% superam duas década de

funcionamento (Gráfico 11).

Gráfico 11 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Senador José Ermírio de Moraes

Ao considerar o perfil dos empreendedores que buscam a Senador

José Ermírio de Moraes para seus investimentos, observamos que 25,7% têm

idade que varia de 18 a 35 anos, 42,9% têm entre 36 e 35 anos e outros 31,4%

têm mais de 45 anos. Em se tratando do gênero, 65,7% são do sexo

masculino. Em relação ao nível escolaridade dos comerciantes, a maioria

(45,7%) tem o ensino médio completo, 11,4% têm o ensino superior e outros

11,4% têm o ensino fundamental completo. A taxa dos que apenas iniciaram

este nível da educação representa 22,9% e o percentual de analfabetos é o

maior entre as vias pesquisadas (Gráfico 12). No que concerne à origem,

71,4% dos proprietários são do próprio município, 17,1% são de outros

De 1 a 5anos

De 6 a 10anos

De 11 a 15anos

De 16 a 20anos

Mais de 20anos

48,60%

11,40%

17,10% 14,30%

8,60%

135

Fonte: Pesquisa Direta, 2014.

Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).

municípios do estado (como Coreaú, Cariré e Camocim), 8,6% de outros

estados do Nordeste e 2,9% de outras regiões do país. Quando indagados

sobre quais outros ramos de atividades eles atuam, apurou-se que 88,6% não

realizam outras tarefas.

Gráfico 12 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Senador José Ermírio de Moraes (%)

No que se refere às estratégias de mercado utilizadas pelas empresas

para atrair novos consumidores, constatamos que a 68,6% não realizam

nenhum tática para seduzir novos compradores, 11,4% optam pelas

promoções, outros 11,4% arriscam na distribuição de brindes e 8,6%

desenvolvem outros esquemas. Com relação ao perfil dos consumidores,

66,7% têm uma renda mensal de até dois salários mínimos, 20,0% ganham até

quatro e 13,3% possuem um poder aquisitivo superior a esse valor. Sobre a

origem de moradia dos consumidores, a pesquisa apontou as respostas a

seguir como as mais frequentes: Bairro Dom José; bairros próximos; Sobral e

cidades circunvizinhas e; de toda a cidade.

A Avenida Senador Ermírio de Moraes apresenta, assim como as

demais avenidas, uma atividade comercial e de serviço significativa. Esse setor

poderá crescer ainda mais com a torre Doutor Evangelista Business Center, o

primeiro Business Center da cidade, que está sendo instalado na via. O

Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto

EnsinoFundamental

Completo

EnsinoMédio

EnsinoSuperior

8,60%

22,90%

11,40%

45,70%

11,40%

136

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

complexo será constituído por 200 salas destinadas as atividades comerciais

ou sede de empresas e, ainda, contará com áreas de alimentação e eventos.

3.2.5 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Monsenhor José

Aloísio Pinto

Já a Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto, sancionada em 1999 pela

Lei Municipal 220/1999, tem aproximadamente 1.900 metros de extensão e

corta todo o bairro Dom Expedito, no sentido oeste para o leste. Ela começa

na Ponte Doutor José Euclides Ferreira Gomes Junior (conhecida

popularmente como ponte nova), localizada sobre o rio Acaraú, e termina na

rotatória que permite o acesso à BR 222, no sudeste da cidade.

Da mesma maneira, como observado na maioria das vias analisadas,

na Monsenhor Aloísio Pinto e adjacências se situam algumas instituições

públicas que atendem a cidade e parte da região noroeste do Ceará, a saber: a

Policlínica Regional de Sobral (Bernardo Felix da Silva), o Fórum da Comarca

de Sobral (Doutor José Saboya de Albuquerque), o Centro de Saúde da

Família (CSF) e o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do

Bairro Dom Expedito, uma escola municipal de tempo integral (Maria Dorilene

Arruda Aragão) e uma escola estadual de ensino médio.

A pesquisa direta realizada nessa avenida apontou como atividades

comerciais e de serviços dominantes, as realçadas a seguir: a automotiva, com

as concessionárias e revendedoras de carros usados e; a de comunicação

visual, com as gráficas e serigrafias (Tabela 22).

Tabela 22 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Monsenhor Aloísio Pinto, Sobral-CE

Tipo de Atividade (%)

Comunicação Visual 22,2

Material de Construção 11,1

Automotivo 55,6

Outras Atividades 11,1

Total 100,0

137

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Uma particularidade interessante da atividade automotiva na

Monsenhor Aloísio Pinto que a distingue da Senador José Ermírio de Moraes é

a concentração de concessionárias de importantes montadoras de veículos

(Figura 34) e de lojas de revenda de carros usados (Figura 35). Na atualidade,

estão instaladas na avenida, nove desses estabelecimentos, sendo quatro

concessionárias (Mitsubishi, Hyunday, Volkswagen e Ford) e cinco

revendedoras (Sovel Automóveis, Universal Multimarcas e Linhares

Automóveis, Gaúcho Automóveis e Aragão Autos). É válido ressaltar que não

se visualiza na cidade de Sobral outro local com essa mesma característica.

Figura 34 – Concessionária Mitsubishi Figura 35 – Gaúcho Automotivo Os serviços de comunicação visual da avenida, outra atividade em

expansão, caracteriza-se pela presença de gráficas e serigrafias que saíram do

centro tradicional da cidade em virtude da impossibilidade da ampliação de

suas instalações, a exemplo da Sobral Gráfica, Criart’s Soluções Gráficas e

Faisk Brindes.

Além disso, é importante destacar, na Monsenhor Aloísio Pinto, a

presença do North Shopping Sobral (Figura 36), o primeiro shopping center da

cidade, inaugurado em 2013. Esse empreendimento, com mais de 48.000m² de

área construída, abriga, no seu interior, mais de cem estabelecimentos, entre

lojas âncoras, megalojas e lojas satélites. Além da área comercial, o complexo

conta com duas torres com dez andares cada, sendo uma empresarial

(Cameron Tower) e outra voltada ao serviço hoteleiro (Gran Hotel).

138

Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).

Fig. 36 - North Shopping Sobral e as torres Gran Hotel e Cameron Tower

A instalação desse equipamento num bairro da cidade com baixo preço

do solo urbano ajudou a valorizar os imóveis e os espaços vazios existentes,

como ocorreu outrora nos bairros do Junco e Campo dos Velhos, com a

implantação do Pinheiro Supermercado e do Super Lagoa, respectivamente.

A figura 37 apresenta a distribuição das atividades comerciais e de

serviços mais representativas pela Avenida Monsenhor Aloísio Pinto.

139

Figura 37 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Monsenhor José Aloísio Pinto

140

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

Ao cotejar a situação do local de funcionamento das empresas na

avenida em questão, constatamos que, ao contrário do observado na outras

avenidas pesquisadas, a maioria (77,8%) realiza suas atividades em imóveis

próprios. Sobre o total de funcionários, 22,2% dos estabelecimentos

apresentam um quadro formado por até três trabalhadores e 77,8% têm acima

desse número. No que se refere ao tempo de funcionamento dos

empreendimentos, a investigação apontou que 66,7% têm entre um e cinco

anos de atividade e 33,3% estão entre 6 e 10 anos ativas (Gráfico 13).

Gráfico 13 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos na Av. Monsenhor Aloísio Pinto

A respeito do perfil dos proprietários das empresas alocadas nessa via,

certificou-se que 22,2% têm entre 26 e 35 anos de idade, 55,6% têm entre 36 e

45 anos e 22,2% possuem mais de 45 anos. Quanto ao gênero, 66,7% são do

sexo masculino. Em relação à escolaridade dos empresários, notamos que,

diferentemente do registrado nos outros logradouros ponderados, a maioria

tem o ensino superior completo (55,6%), seguido pelos que têm o ensino médio

(33,3%) e ensino fundamental (11,1%) (Gráfico 14). Na Monsenhor Aloísio

Pinto não houve registro de proprietários analfabetos, assim como se notou na

Doutor Arimathéa Monte e Silva. Quanto à origem desses empreendedores,

44,5% são do próprio município, 11,0% de Fortaleza e 44,5% de outros

estados (como Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul). Sobre quais

De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos

66,70%

33,30%

141

Fonte: Pesquisa Direta, 2014

Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)

outros ramos de atividades eles atuam, apurou-se que 77,8% não exercem

outros ramos.

Gráfico 14 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av.

Monsenhor Aloísio Pinto (%)

No quesito estratégias de mercados, averiguamos que 55,5% das

empresas apostam em algumas táticas para atrair novos consumidores. Desse

percentual, 11,1% fazem promoções, 22,2% arriscam na distribuição de

brindes e 22,2% realizam promoções, distribuição de brindes e sorteios. Em se

tratando do perfil dos consumidores, notou-se que 20,0% têm uma renda de

até dois salários mínimos, 40,0% ganham de três a cinco salários e outros

40,0% têm um poder aquisitivo superior a esse valor. No que se refere à

origem de moradia desses consumidores, a pesquisa revelou como resposta

mais recorrente a seguinte: de Sobral e região norte.

Apontada como “o mais novo corredor comercial, o da Avenida

Monsenhor Aloísio Pinto” (AGUIAR JUNIOR, 2005, p. 84), ele ainda tem muito

que crescer, pois existem muitos espaços vazios que podem passar a ser

ocupados e, dessa forma, ajudar a dinamizar a atividade comercial e de

serviços na via. O ramo automotivo pode desfrutar da aptidão que já é notável

nessa avenida para a referida atividade e vir a firmar uma localidade

especializada.

Analfabeto EnsinoFundamental

Ensino Médio Graduação

0,00%

11,10%

33,30%

55,60%

142

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Geografia Urbana, os estudos atinentes à estrutura interna das

cidades de escalas menores que as grandes metrópoles foram por vários anos

relegados a um segundo plano. Por conta disso, compreender o processo de

descentralização em cidades médias, no presente, se constitui uma empreitada

difícil, porém provocante. O passo inicial para a efetivação dessa tarefa é

entender como esse fenômeno aconteceu nas metrópoles, pois, como bem

lembra Souza (2009), foi nesses centros urbanos que ele se iniciou. Paralelo a

isso, é necessário buscar a compreensão destes complexos centros urbanos

denominados cidades médias.

Quando se analisa a descentralização das atividades comerciais numa

cidade, torna-se necessário perceber que existe uma relação histórica entre

esses dois fenômenos, pois como se sabe diversas cidades tiveram suas

origens ligadas a referida atividade. Em seguida, com o crescimento da cidade,

a localização do comércio no espaço urbano se torna de fundamental

importância para a certeza de sua realização plena. No presente, as atividades

terciárias de comércios e de serviços têm como tendência buscar outras

localidades na cidade para atender um número crescente de consumidores

cada vez mais distantes da área central.

A cidade média de Sobral/CE tem nas atividades de comércio e de

serviços um dos seus principais destaques, o que a torna cada vez mais um

centro polarizador que influência um vasto território no noroeste cearense. A

cidade apresenta tal dinamismo ao receber, cotidianamente, fluxos de pessoas

que buscam satisfazer suas necessidades de consumo. Ela atrai, também, um

número crescente de investidores de diferentes setores e com diferentes

volumes de capital.

Esses investidores, em particular os de comércios e serviços, como,

por exemplo, os de lojas de informática, supermercados, restaurantes, clínicas

médicas, butiques, rede de farmácias, concessionárias de veículos, entre

outros, têm buscado locais fora do centro principal para se instalar, com

preferência pelas vias de saída da cidade, em especial, as avenidas John

Sanford, Doutor José Arimathéa Monte e Silva, Senador Fernandes Távora,

Senador José Ermírio de Moraes e Monsenhor José Aloísio Pinto.

143

Assim, a descentralização em Sobral apresenta uma relação

importante com as vias de saída da cidade. Notamos que as áreas mais

dinâmicas fora do centro tradicional são, justamente, essas localidades, onde o

fluxo de transportes e, consequentemente, de pessoas é mais intenso.

Na análise das avenidas foi possível perceber como característica

comum entre elas a presença de estabelecimentos públicos que atendem

milhares de pessoas da cidade e também da região noroeste do estado do

Ceará, o que de certa forma garante o fluxo de pessoas.

Outro aspecto importante notado nessas avenidas é quantidade de

estabelecimentos comerciais que estão disponíveis para locação e, além disso,

algumas residências estão passando ou já passaram por modificações em

suas fachadas para dar lugar a novos pontos comerciais. Em algumas vias,

como, por exemplo, na John Sanford, na Senador Fernandes Távora e na

Monsenhor Aloísio Pinto, há ainda a presença de lotes vazios com placas de

aluguel e/ou de venda. Esses aspectos mostram que a atividade comercial e de

serviço nessas áreas podem se expandir ainda mais e, dessa forma,

diversificar os serviços oferecidos.

Além disso, as vias de saída da cidade são assinaladas pela constante

presença de lojas de materiais de construção. Essa atividade normalmente

ocupa amplos espaços e, por conta disso, encontra nas áreas em questão o

local ideal para se instalar, pela disponibilidade de terreno para o

desenvolvimento da atividade com a presença de um intenso fluxo de pessoas

não somente da cidade, mas de grande parte do noroeste do estado.

Embora os aspectos supracitados sejam comuns entre as vias

pesquisadas, isso não significa que elas sejam iguais. Cada avenida apresenta

algumas atividades que diferencia umas das outras. Na Avenida John Sanford,

destacam-se as redes de farmácia aliada as clínicas médicas; na Doutor

Arimáthea Montes e Silva, tem-se os salões de beleza e as autoescolas; na

Senador Fernandes Távora, os mercadinhos e as lojas de materiais de

construção em geral tem esse papel; na Senador José Ermírio de Moraes, se

sobressai as oficinas mecânicas ao lado das lojas de materiais de construção

e; na Monsenhor José Aloísio Pinto o principal destaque são as

concessionárias e os serviços comunicação visual.

144

Portanto, a busca crescente dos novos investidores, em particular os

de comércios e serviços, por localidades distantes do centro principal, a

exemplo das vias de saída da cidade vem redirecionando os fluxos que, há

alguns anos, dirigiam-se ao centro tradicional da cidade.

Esse dinamismo pelo qual as atividades econômicas tem passado em

Sobral, que levam a ampliação do comércio e do serviço para áreas que vão

além do centro consolidado, se justifica pela força do emprego formal

apresentado na cidade, pelas politicas públicas de atração de investimentos,

pelos programas sociais que ajudam na composição da renda, etc.

Esta pesquisa não conclui as reflexões sobre a descentralização das

atividades comerciais e de serviços em cidades médias. Na realidade, ela

apenas dá suporte para uma possibilidade de debate na intenção de que outros

estudos sobre a temática em tela venham a ser efetivados.

145

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APÊNDICE 01 – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTÃO PÚBLICA

1. Quais as principais políticas e programas de atração de investidores para a

cidade de Sobral?

2. Como você analisa o crescimento das atividades comercial e de serviços

nos últimos anos em Sobral?

3. Porque investir em Sobral?

4. Existem ações da prefeitura para incentivar a dispersão das atividades

econômicas para o espaço além-centro?

5. Em sua opinião, os atores locais (proprietários) de comércios e serviços

têm procurado outras áreas para colocar suas atividades ou há um

predomínio de uso desses novos espaços pelos investidores que aportam em

Sobral?

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APÊNDICE 02 - QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA-MAG PROFª. ORIENTADORA: VIRGÍNIA CÉLIA CAVALCANTE DE HOLANDA MESTRANDO: FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA

LEVANTAMENTO DE DADOS JUNTO AOS PROPRIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS DA ÁREA DE ESTUDO Data da Entrevista______/______/_________ Endereço: (Rua/Avenida) ______________________________________________ n°________ Sexo _____________________________________________ Faixa etária: _______________________________________ Escolaridade: ______________________________________

1. Tipo de Estabelecimento_____________________________________________ 2. Qual a origem do proprietário do estabelecimento? ( ) Do Próprio Munícipio ( ) De Outro Município do Estado ( ) De Outro Estado ( ) Não Resp. ( ) De Outra Região ( ) De Outro País 3. Quanto ao local de funcionamento do estabelecimento, ele é: ( ) Próprio ( ) Alugado ( ) Cedido ( ) Não Resp. 4. Há quanto tempo este empreendimento realiza suas atividades nesse endereço? ( ) Menos de 1 ano ( ) De 11 a 15 anos ( ) Não Resp. ( ) De 1 a 5 anos ( ) De 16 a 20 anos ( ) De 6 a 10 anos ( ) Mais de 20 anos 5. Por que você optou por instalar seu empreendimento nessa avenida? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Existem filiais em outra área da cidade? ( ) Sim ( ) Não 7. (Em caso positivo na questão anterior) Quantas filiais? ( ) Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Mais de Três 8. (Ainda em caso de positivo na questão 5) Em qual(is) localidade(s)? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. Qual o tipo predominante de produto ou serviço oferecido? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. O proprietário atua em outro(s) ramo(s)? ( ) Sim ( ) Não 11. (Em caso positivo na questão anterior) Qual?___________________________

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12. É possível identificar o perfil do consumidor (poder aquisitivo) dos produtos ou serviços oferecidos?

( ) Sim ( ) Não

13. (Em caso positivo na questão anterior) Qual?

( ) Até 2 Salários Mínimos ( ) Até 5 Salários Mínimos ( ) Até 3 Salários Mínimos ( ) Mais de 5 Salários Mínimos

( ) Até 4 Salários Mínimos

14. É possível identificar a origem (local de moradia) dos consumidores dos produtos ou serviços oferecidos? ( ) Sim ( ) Não

15. (Em caso positivo na questão anterior) De onde são?___________________________ _________________________________________________________________________

16. Qual o número de funcionários desse estabelecimento?

( ) Um ( ) Dois ( ) Três ( ) Quatro ( ) Cinco ( ) Acima de Cinco

17. Qual a qualificação mínima (ou nível de escolaridade) que uma pessoa deve ter para ser contratado pela empresa? ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Graduação ( ) Pós-Graduação 18. Quais as estratégias de mercado (marketing) utilizadas pela empresa para atrair novos consumidores? ( ) Promoções ( ) Sorteios ( ) Distribuição de Brindes ( ) Outros

19. Você realiza propaganda de seu estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não 20. (Em caso positivo na questão anterior) De que forma? ( ) Rádio ( ) Televisão ( ) Internet ( ) outdoor ( ) Outros Meios