UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA)
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO (PRPG) CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS (CCH)
MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG)
DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE
FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA
SOBRAL-CE 2015
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ (UVA) MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA (MAG)
DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE
FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA
SOBRAL-CE 2015
FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA
DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES COMERCIAIS E DE SERVIÇOS
EM CIDADES MÉDIAS: UMA ANÁLISE DE SOBRAL-CE
Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Área de Concentração: Organização, Produção e Gestão do Território no Semiárido. Linha de Pesquisa: Dinâmica territorial: campo e cidade
ORIENTADORA: Profa. Dra. Virgínia Célia Cavalcante de Holanda
SOBRAL-CE 2015
AGRADECIMENTOS Inicialmente, agradeço a Deus por conceder a escolha do caminho que
queremos seguir e por me fortalecer nos momentos difíceis.
São diversas as ocasiões no decorrer da vida que é muito importante
contar com o apoio daquelas pessoas que realmente querem ajudar. Na
construção deste estudo tive a sorte de ter várias dessas pessoas ao meu
redor. Então, só tenho a prestar os meus mais sinceros agradecimentos.
Aos meus pais, Expedita e Luiz, que sempre buscaram e buscam o
melhor para mim. Obrigado pelo amor, apoio e confiança que depositam neste
filho que só tem a honrar por isso.
À Kércia Mariano. Obrigado pelo amor, paciência e companheirismo
que me fez (e me faz) ter força para continuar nessa caminhada.
Aos meus irmãos, Lucas Mateus (Mateusinho) e José Natálio (Tatá),
pessoas que tenho enorme prazer de conviver.
À Professora Drª. Virgínia C. C. de Holanda que, além de ser uma
grande orientadora, é uma grande amiga. Obrigado pela paciência nas
constantes assistências.
Ao Professor e orientador no curso de graduação Sergiano Araújo, que
ao lado da Professora Virgínia, me incentivou a fazer mestrado.
À Professora Drª. Neide da Costa Santana pelo carinho prestado, pelas
contribuições na minha formação acadêmica desde a graduação e por atender
ao convite de participação na qualificação e na banca final de defesa deste
trabalho.
Aos demais professores do Curso de Geografia pelas contribuições
dentro e fora da sala de aula, em espacial aos Professores Fábio Souza e
Marta Maria Junior.
À Profª. Regina Mariano, pelo carinho e pela ajuda nos momentos em
que precisei.
Ao Professor Dr. Antônio Cardoso Façanha, pelas contribuições no
processo de qualificação e por atender ao convite para a banca final deste
trabalho.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pela concessão da bolsa.
Aos funcionários do Centro de Ciências Humanas (CCH), em especial
a Dona Antonieta e ao Rodrigo.
Ao meu grande amigo e companheiro de curso Laerton Bernardino,
pela ajuda nos momentos difíceis e pelas brincadeiras durante o tempo que por
aqui esteve.
Ao meu outro grande amigo e também companheiro de curso Joffre
Filho, pelas palavras de força e pela hospedagem em Fortaleza.
À Rachel Facundo, colega de curso e uma amiga atenciosa e
prestativa.
Aos demais colegas do MAG, em especial, Maria Souza, Analine
Parente e Valdelúcio Fonseca, pessoas que convivi desde a graduação.
Aos bolsistas de iniciação científica, Eliane, Rafaela e Bruno, pelo
auxílio durante a pesquisa.
Aos colegas do MAG de forma geral e em especial ao Mariano
Carvalho e Marcélia Torres.
Ao amigo Manuel Guedes, por sempre está à disposição para a
elaboração cartográfica.
À Tatiane Portela Vinhal, por sempre arranjar um tempinho para
realizar a revisão ortográfica.
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram na minha vida
acadêmica, mas que por falha da memória não foram citados.
Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele.
(Henry Ford)
RESUMO A pesquisa ora apresentada analisa o processo de descentralização das atividades comerciais e de serviços em cidades médias, tendo como objeto empírico de investigação a cidade de Sobral. Esse centro urbano está localizado no noroeste do Estado do Ceará e vem passando, nas duas últimas décadas, por um intenso processo de reestruturação de seu espaço com a descentralização das atividades terciárias para territórios além-centro, com busca seletiva pelas vias de saída da cidade. Na intenção de compreender os fatores que movem o processo de descentralização das atividades comerciais e de serviços em Sobral, optamos por trabalhar com as definições de: centro e centralidade; reestruturação urbana; descentralização; dentre outros. No que consiste a metodologia utilizada, realizamos: levantamento bibliográfico acerca das definições mencionadas; leituras de trabalhos que abordam a cidade de Sobral, no intuito de entendermos as transformações ocorridas no seu espaço urbano; organizamos um banco de dados e; trabalho de campo, com levantamento de dados em diversas instituições, observações diretas e registro fotográfico, realização de entrevistas com a gestão municipal e associações ligadas as atividades terciárias e aplicação de questionários junto aos proprietários de estabelecimentos comerciais e de prestadoras de serviços localizados nas vias de saída da cidade. Os resultados evidenciam que a descentralização das atividades comerciais e de serviço ainda está em curso na cidade de Sobral, com tendência a uma dinâmica cada vez mais intensa. Palavras-Chave: Descentralização, Cidades Médias, Sobral.
RESUMEN La investigación presentada aquí analiza el proceso de descentralización de las actividades comerciales y de servicios en las ciudades de tamaño medio, así, como objeto de estudio, elegimos la ciudad de Sobral. Ese centro urbano está ubicado en el noroeste del Estado de Ceará y ha experimentado en las últimas dos décadas, un proceso de reestructuración de su espacio con la descentralización de las actividades terciarias para territorios allá centro, con la búsqueda selectiva por las rutas de salida de la ciudad. Con la finalidad de comprender los factores que mueven el proceso descentralización de las actividades comerciales y de servicios en Sobral, decidimos por trabajar con las definiciones de: centro y centralidad; reestructuración urbana; descentralización; entre otros. Cuanto la metodología utilizada, ejecutamos: levantamiento bibliográfico cerca de las definiciones aludidas; lecturas de artículos que abordan la ciudad de Sobral, en el intento de entendernos los cambios ocurridos en su espacio urbano; organizamos una base de datos y; trabajo de campo, con levantamiento de datos en varias instituciones, observaciones directas y registros fotográficos, entrevistas con la administración y asociaciones de la ciudad vinculadas a las actividades terciarias y aplicación de cuestionarios a los propietarios de tiendas comerciales y de servicios ubicados en las rutas de salida de la ciudad. Los resultados demuestran que la descentralización de las actividades comerciales y de servicio todavía está en evidencia en la ciudad de Sobral, presentando una dinámica cada vez más intensa. Palabras-clave: Descentralización, Ciudades Medias, Sobral.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIS – Associação Comercial e Industrial de Sobral
BNB – Banco do Nordeste do Brasil
CDL – Câmara de Dirigentes Lojista
CIC – Centro Industrial do Ceará
CIDAO – Companhia Industrial de Algodão e Óleos S.A
CNAE – Classificação Nacional das Atividades Econômicas
COHAB – Conjunto Habitacional
COSMAC – Companhia Sobralense de Material de Construção
CRECI – Conselho Regional dos Corretores de Imóveis
CREDE – Centro Regional de Desenvolvimento da Educação
DER – Departamento de Estadual de Rodovias
DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito
EI – Empreendedor Itinerante
EJA – Educação de Jovens e Adultos
FIEC – Federação Industrial do Estado do Ceará
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IDT – Instituto de Desenvolvimento do Trabalho
IFCE – Instituto Federal Ceará
ISS – Imposto Sobre Serviço
IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
JUCEC – Junta Comercial do Estado do Ceará
LASSA – Laticínios Sobral S.A
NEURB – Núcleo de Estudos Urbano e Regionais
PADL - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local
PDI – Plano de Desenvolvimento Industrial
PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PIB - Produto Interno Bruto
PLAMEG - Plano de Metas do Governo
PMS – Prefeitura Municipal de Sobral
PNCCPM – Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de Médio Porte
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento
PNDU – Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PRODECON – Programa de Desenvolvimento Econômico
PSF – Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PUDINE – Projeto Universitário de Desenvolvimento Industrial do Nordeste
RMF – Região Metropolitana de Fortaleza
SADT – Unidade de Apoio Diagnose e Terapia
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SUDEC – Superintendência para o Desenvolvimento do Ceará
SEDUC – Secretaria da Educação do Estado do Ceará
SEFAZ – Secretaria da Fazenda do Estado
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SUS – Serviço único de Sáude
TCM – Tribunal de Contas do Município
TJCE – Tribunal de Justiça do Ceará
UCLA – Universidade da Califórnia em Los Angeles
UECE – Universidade Estadual do Ceará
UFC – Universidade Federal do Ceará
UVA – Universidade Estadual Vale do Acaraú
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização da Cidade de Sobral/CE 20
Figura 2 – Ágora de Atenas 29
Figura 3 – Planta do Fórum de Pompeia 31
Figura 4 – a) Bazaar Tailleurs; b) Atual bazaar na Turquia 33
Figura 5 – Modelo das Áreas Concêntrica de Ernest Burgess 40
Figura 6 – Modelo dos Setores de Hommer Hoyt 42
Figura 7 – Modelo dos Múltiplos Núcleos 43
Figura 8 – Esquema da organização comercial varejista 54
Figura 9 – Localização das Cidades Médias Cearenses 69
Figura 10 – Estradas Coloniais do Ceará 78
Figura 11 – Área do Curato de Acaraú 80
Figura 12 – Mercado Público no Início do Século XX 84
Figura 13 – Atual Mercado Público a Oeste do Antigo Mercado 85
Figura 14 – Hospital Regional Norte 98
Figura 15 – Avenidas Pesquisadas na Cidade de Sobral – CE 110
Figura 16 – Farmácias Pague Menos 113
Figura 17 – Filial da Extrafarma 113
Figura 18 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais
Representativos na Av. John Sanford 114
Figura 19 – Salão de Beleza Unhas e Cia 119
Figura 20 – Salão de Beleza Edineuza 119
Figura 21 – Autoescola Junior 120
Figura 22 – Autoescola Conquista 120
Figura 23 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais
Representativos na Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva 121
Figura 24 – Loja Mega Império 126
Figura 25 – JS Madeireira 126
Figura 26 – Loja Macavi 126
Figura 27 – Hot Sat Telecomunicações 126
Figura 28 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais
Representativos na Av. Sen. Fernandes Távora 127
Figura 29 – Concessionária da Fiat 131
Figura 30 – Oficina Mecânica HC Pneus 131
Figura 31 – Loja São Francisco 132
Figura 32 – Loja Alcântara 132
Figura 33 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais
Representativos na Av. Sen. José Ermírio de Moraes 133
Figura 34 – Concessionária Mitsubishi 137
Figura 35 – Gaúcho Automotivo 137
Figura 36 – North Shopping Sobral e as Torres Gran Hotel e Cameron
Tower 138
Figura 37 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais
Representativos na Av. Monsenhor José Aloísio Pinto 139
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – População Total do Município de Sobral/CE 94
Gráfico 2 – Receita e Despesa Municipal de Sobral/CE (R$ Milhões) 97
Gráfico 3 – Percentual de Indústrias por Ramo de Atividades 100
Gráfico 4 – Expansão do Comércio em Sobral/CE (%) 103
Gráfico 5 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos na Av.
John Sanford 115
Gráfico 6 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da
Av. John Sanford (%) 116
Gráfico 7 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Dr.
Arimathéa Monte e Silva 122
Gráfico 8 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da
Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva (%) 123
Gráfico 9 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.
Senador Fernandes Távora 128
Gráfico 10 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da
Av. Senador Fernandes Távora (%) 129
Gráfico 11 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.
Senador José Ermírio de Moraes 134
Gráfico 12 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da
Av. Senador José Ermírio de Moraes (%) 135
Gráfico 13 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av.
Monsenhor Aloísio Pinto 140
Gráfico 14 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da
Av. Monsenhor Aloísio Pinto (%) 141
LISTA DE TABELAS Tabela 01 – População Total e Urbana do Brasil e Índice de
Urbanização 61
Tabela 02 – Distribuição Percentual da População Total e Urbana Por
Regiões (1940 - 1970) 62
Tabela 03 – Taxas Regionais de Urbanização (1940 a 1980) 63
Tabela 04 – Esboço da Rede Urbana no Final do Século XVIII 69
Tabela 05 – PIB das Cidades Médias cearenses por atividade
econômica em 2011 73
Tabela 06 – Registro das Atividades Comerciais e de Serviços nas
Cidades Médias Cearenses 73
Tabela 07 – Distribuição dos Empregos Formais nas Cidades Médias
Cearenses em 2013 74
Tabela 08 – População Total, População Urbana e Taxa de
Urbanização de Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte e Sobral (1980-2010) 75
Tabela 09 – Quantidade de Algodão Exportado do Ceará em 1811 83
Tabela 10 – Produto Interno Bruto das Cidades Médias Cearenses 95
Tabela 11 – Produto Interno Bruto (R$) de Sobral comparado com os
de Fortaleza, do Ceará e do Brasil 95
Tabela 12 – Evolução da Renda Per Capita (R$) de Sobral e Outros
Municípios 96
Tabela 13 – Alunos Matriculados no Ensino Básico de Educação em
Sobral/CE em 2013 99
Tabela 14 – Total de Empregos Formais em Sobral em 2013 101
Tabela 15 – Total de Empregos Formais na Indústria por Ramo de
Atividade 101
Tabela 16 – Distribuição do Comércio por Bairro em Sobral (2012) 104
Tabela 17 – Distribuição dos Serviços por Bairros em Sobral/CE 106
Tabela 18 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida John
Sanford, Sobral-CE 112
Tabela 19 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Dr.
Arimathéa Monte e Silva, Sobral-CE 118
Tabela 20 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador
Fernandes Távora, Sobral-CE 125
Tabela 21 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador
José Ermírio de Moraes, Sobral-CE 130
Tabela 22 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida
Monsenhor Aloísio Pinto, Sobral-CE 136
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 19 CAPÍTULO 1 – O COMÉRCIO E A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS CIDADES ....................................................................................................... 27 1.1 A Atividade Comercial e as Transformações na Organização Interna das Cidades ....................................................................................... 27 1.2 A Organização Interna das Cidades: Os modelos da Escola de Chicago .......................................................................................................... 38 1.2.1 A Teoria das Áreas Concêntricas: o modelo de Burgess ...................... 38 1.2.2 A Teoria dos Setores: o modelo de Hommer Hoyt ................................ 41 1.2.3 A Teoria dos Múltiplos Núcleos: o modelo de Harris e Ullman .............. 43 1.3 Centro e Centralidade na Estrutura Espacial Intraurbana ........................ 45 1.4 O Estudo da Descentralização na Geografia Urbana ............................... 49 CAPÍTULO 2 – AS CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS E SUAS TRANFORMAÇÕES: O CASO DE SOBRAL - CE ........................................ 58 2.1 A Urbanização Brasileira e a Emergência das Cidades Médias ............... 58 2.2 Considerações Sobre as Cidades Médias Cearenses no Contexto Nordestino ....................................................................................... 67 2.3 De Fazenda à Cidade: a importância da atividade comercial para a formação inicial de Sobral ........................................................................... 76 2.4 O poder público: ações e implicações para a (re)organização das atividades econômicas em Sobral .................................................................. 89 CAPITULO 3 – DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES TERCIÁRIAS DE COMÉRCIO E SERVIÇOS EM SOBRAL - CE ................. 94 3.1 O Processo de Descentralização das Atividades Comerciais e de Serviços em Sobral - CE ................................................................................ 94 3.2 Os Novos Territórios de Atividades Comerciais e de Serviços em Sobral - CE .................................................................................................... 107 3.2.1 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida John Sanford ............ 111 3.2.2 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Dr. Arimathéa Monte e Silva ................................................................................................. 117 3.2.3 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Sen. Fernandes Távora ......................................................................................... 124 3.2.4 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Senador José Ermírio de Moraes ......................................................................................... 130 3.2.5 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto .......................................................................................... 136
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 142 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 145 APÊNDICES ................................................................................................. 152
19
INTRODUÇÃO O processo de urbanização no Brasil ganhou impulso a partir da
década de 1950, principalmente com a intensificação do processo de
industrialização, incentivada pelo Presidente da República Juscelino
Kubitschek (1956-1961). Essa industrialização, cada vez mais acelerada,
demandava uma quantidade elevada de pessoas para trabalhar nas unidades
fabris, fator que fez com que as cidades passassem a concentrar grandes
contingentes populacionais. É válido enfatizar que em São Paulo e no Rio de
Janeiro foram instaladas as maiores indústrias, consequentemente, essas
capitais passaram a ser destino de milhares de migrantes.
O acelerado crescimento populacional da maioria das metrópoles
brasileiras não veio acompanhado de um planejamento que respondesse pela
melhor colocação da população nesses espaços, originando sérios problemas
sociais. Dessa forma, não era mais adequado que tais centros urbanos
continuassem recebendo um grande número de migrantes. O governo federal,
no início da década de 1970, no intuito de redirecionar esse processo instituiu
políticas de planejamento territorial. Dentre esses projetos observam-se
medidas para desenvolver as cidades médias (ROCHEFORT, 1998).
Esses centros urbanos, ao obterem importância mais significativa na
rede urbana brasileira, passaram a atrair mais intensamente investidores e, nas
duas últimas décadas, serviços mais especializados e comércios mais
modernos. Começaram, ainda, a atrair fluxos migratórios procedentes de
cidades do seu entorno e até mesmo de espaços mais distantes.
No presente, o cenário dessas cidades possui atributos semelhantes a
dos grandes centros urbanos, sendo significativo: a expansão do perímetro
territorial urbano, o adensamento populacional fora do núcleo central, o
surgimento de formas modernas de mobilidade urbana e a descentralização de
atividades terciárias (SPOSITO, 1991). A cidade de Sobral, situada no noroeste
cearense, a 235 km de Fortaleza, capital do estado, é um exemplo dessa
realidade urbana (Figura 1).
21
Nos últimos anos, em decorrência da expansão da cidade, de uma
forte especulação imobiliária e de outros fatores, a população que chega a
Sobral vem buscando alocar-se em espaços além-centro tradicional. Nesse
processo, esses habitantes possuem demandas por serviços nas proximidades
do local de moradia, resultando numa realocação das atividades terciárias.
Notadamente, a atividade terciária, em sua totalidade, tem aumentado
em diversas localidades distantes da área central. No entanto, é perceptível
que aqueles comércios e serviços mais modernos vêm se concentrando em
espaços seletivos, onde, para Duarte (1974, p. 55), o automóvel obtém suporte
fundamental, pois a capacidade de consumo estabelecida nesses locais
“implica numa convergência dos meios de comunicação”. Com isso, esses
espaços estão apresentando uma dinâmica diferenciada, se comparado a
outras áreas da cidade.
O nosso estudo tem como objetivo geral compreender o processo de
descentralização das atividades comerciais e de serviços em cidades médias, a
partir da análise dos eixos de saída da cidade de Sobral. Especificamente,
objetiva-se: a) realizar um debate sobre a importância da atividade comercial
no processo de formação e transformação das cidades; b) analisar a
importância da atividade comercial para a formação inicial de Sobral; c) discutir
as ações do poder público municipal no processo de dispersão das atividades
de comércios e de serviços em Sobral; d) identificar e caracterizar os novos
territórios de comércios e de serviços no espaço intraurbano de Sobral.
Para o desenvolvimento da nossa pesquisa, inicialmente, foi realizado
o levantamento bibliográfico de dados e informações gerais em livros,
monografias, dissertações, teses, revistas científicas, artigos, entre outros. É
importante mencionar que para a concretização dessa etapa foi importante o
suporte do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEURB), laboratório
ligado ao curso de Geografia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
Cabe mencionar, também, que os bancos de monografias de outros cursos
(Administração e Ciências Contábeis) da referida Universidade, bem como
bancos de dissertações e teses de outras instituições (UFC e UECE) foram
visitados. Esse momento foi importante para a delimitação dos temários e
cumprimento ou redefinição dos objetivos da pesquisa.
22
Posteriormente, foram realizadas leituras de trabalhos de autores que
pesquisam o espaço urbano, tendo como cerne de preocupação as cidades
médias, dentre eles, podemos destacar: Sposito (2007); Corrêa (2007);
Holanda e Amora (2011); Pontes e Amorim Filho (2000); Serra (2001).
Paralelo a isso, efetivamos discussões de temas necessários e
complementares para a compreensão do processo de descentralização nos
centros urbanos, tais como: centro e centralidade; centro-periferia;
descentralização; planejamento urbano; reestruturação urbana e; outros.
Dentre os diversos autores clássicos e contemporâneos que nos debruçamos
para a compreensão desses temas, podemos elencar: Santos (1959); Corrêa
(1989); Duarte (1974); Sposito (1991; 2013); Cordeiro (1978); Pintaudi (1992);
Whitacker (1997; 2003); Villaça (1998); Reis (2007) e; Souza (2009).
No que concerne aos procedimentos de caráter operacional,
realizamos coleta de dados nas seguintes instituições: Prefeitura Municipal de
Sobral; Junta Comercial do Estado do Ceará (JUCEC); Classificação Nacional
das Atividades Econômicas (CNAE); Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
(IPECE); Câmara de Dirigentes Lojista (CDL); Associação Comercial e
Industrial de Sobral (ACIS) e; outros. Adiante, segue uma lista do material
adquirido nos referidos órgãos.
I. Prefeitura Municipal de Sobral: manual para investir em Sobral;
plano diretor, arquivo cartográfico e fotografias de diferentes épocas
da cidade;
II. JUCEC: planilha com o registro de estabelecimentos comerciais do
município de Sobral, apresentando informações como: nome da
empresa, ano de registro, localização (bairro e rua) e atividade
predominante;
III. CNAE: planilha com o registro das atividades comerciais e de
serviços do município de Sobral;
IV. IBGE: dados como: população total do município, população da
cidade, Produto Interno Bruto do município, renda média por bairros,
entre outros;
V. IPECE: aquisição do perfil básico municipal dos últimos dez anos;
23
VI. CDL: lista contendo o total de empresas associada à própria
instituição, com informações de localização, ano de registro e tipo de
atividade predominante;
VII. ACIS: aquisição do Plano de Desenvolvimento Industrial (PDI) de
Sobral; relatório com informações gerais do município, tais como:
infraestrutura, demografia, economia, caracterização dos serviços de
saúde, educação, entre outros.
De posse do material colhido nessas instituições, efetivamos a análise
das informações, sendo possível pensar um perfil das atividades terciárias em
Sobral, no que consistem à: quantidade, localização e dimensões dos
empreendimentos comerciais e de serviços formalizados na cidade nos últimos
vinte anos.
O trabalho de campo para a captura de dados primários foi dividido em
três momentos: 1) observações diretas e registro fotográfico; 2) realização de
entrevista e; 3) aplicação de questionários. As observações diretas e os
registros fotográficos, que objetivam um melhor conhecimento da dinâmica da
área de estudo, ocorreram em nosso cotidiano, como morador da cidade. Mas,
nos dias 17 e 18 de junho de 2014, datas de funcionamento normal do
comércio em Sobral, fizemos os registros fotográficos.
Já no que concerne a realização de entrevista (Apêndice 01), essa teve
como foco compreender as principais estratégias utilizadas pelo poder público
para incentivar o crescimento da atividade comercial e de serviços em Sobral.
Para tal objetivo, capturamos os depoimentos da gestão pública municipal e de
associações ligadas a esses setores, a exemplo da CDL e ACIS.
No período de maio a junho de 2014, aplicamos questionários
(Apêndice 02) junto aos proprietários ou gerentes de estabelecimentos
comerciais e de prestadoras de serviços situadas em cinco vias de saída da
cidade de Sobral, a saber: Avenidas John Sanford, Doutor Arimathéa Monte e
Silva (popularmente chamada de Avenida do Contorno), Senador Fernandes
Távora, Monsenhor Aloísio Pinto e Senador José Ermírio de Moraes.
A opção pela utilização de questionários se deve ao fato de que essas
avenidas vêm abrigando diversos equipamentos comerciais e de serviços, bem
como instituições públicas de expressão regional (Hospital Regional, Campus
do Junco ligado à Universidade Estadual Vale do Acaraú, Departamento
24
Estadual de Trânsito, Departamento de Polícia Forense, Instituto de Saúde dos
Servidores do Estado do Ceará, Escola de Formação em Saúde da Família,
entre outros).
No total aplicamos 140 questionários, sendo 57 na Avenida John
Sanford, 26 na Avenida Dr. Arimathéa Monte e Silva, 13 na Avenida Senador
Fernandes Távora, 35 na Avenida Senador José Ermírio de Morais e 9 na
Monsenhor Aloísio Pinto. Essa variação de quantidade de questionários
aplicados entre as avenidas se deve a estratégia utilizada, que será detalhada
a seguir.
Nas avenidas John Sanford, Doutor Arimatéia Monte e Silva e Senador
José Ermírio de Moraes, a aplicação teve início a partir da linha férrea, indo em
direção à saída da cidade e ocorreu de forma alternada, ou seja, quando
aplicado no primeiro estabelecimento não se aplicou no segundo, passando,
então, para o seguinte. Já na Avenida Senador Fernandes Távora, a aplicação
teve início a partir da Ponte Othon de Alencar, em direção à saída da cidade e,
na Monsenhor Aloísio Pinto, começou a partir da Ponte Doutor José Euclides
Ferreira Gomes Junior, indo também no sentido da saída da cidade. O restante
do procedimento para esses logradouros seguiu a mesma estratégia estipulada
para as anteriores.
Com a utilização dessa ferramenta obtivemos informações como:
atividades predominantes nas vias em estudo, perfil dos empreendedores que
buscam as áreas além-centro para seus investimentos, estratégias de mercado
(marketing) utilizadas pelos investidores na busca de novos consumidores,
perfil (poder aquisitivo) dos consumidores dos serviços oferecidos, entre outras.
Após isso, reunimos os dados e efetivamos a tabulação e, por conseguinte, a
construção de gráficos, tabelas e mapas, na intenção de uma melhor
interpretação das transformações ocorridas no espaço urbano de Sobral nos
últimos vinte anos.
Para alcançar os objetivos apresentados, a dissertação está
estruturada em três seções, além da introdução e das considerações finais. No
primeiro capítulo, discorremos sobre a relação entre a atividade comercial e a
cidade e, os efeitos deste processo no espaço urbano. Já que com o
surgimento dessa atividade, surgem espaços nas cidades voltados
especialmente para a realização da mesma. Esses locais exibiram, desde as
25
primeiras civilizações até os dias atuais, diversas formas e diferentes
denominações.
Posteriormente, em decorrência das transformações no espaço interno
das cidades, verifica-se, no transcorrer do século XX, o surgimento de diversas
teorias que buscam elucidar a organização interna das mesmas. Em nosso
estudo, destacamos, inicialmente, as teorias da Escola de Chicago que,
embora tenham sido postas de lado por não conseguir interpretar a realidade
urbana mais complexa, constituíram-se como uma das primeiras interpretações
com tal objetivo. Realizamos, ainda, uma discussão acerca de centro e
centralidade, no intuito de uma melhor diferenciação dos conceitos e também
por ser importante para a compreensão do processo de descentralização.
Por fim, efetivamos um resgate dos estudos da descentralização na
Geografia Urbana, no qual se verificou que até a década de 1970 esses
estudos apresentavam uma característica da estrutura comercial da cidade, em
que o Central Business District (CBD) sempre se posicionava como o centro
mais importante entre todos os centros da cidade. Após 1970, nota-se uma
nova forma de pensar a descentralização.
No segundo capítulo, enfatizamos, primeiramente, o processo de
urbanização no Brasil para entendermos como as cidades médias passaram a
assumir uma importância mais significativa na rede urbana brasileira, sem
perder de vista a importância da atividade comercial e dos serviços nesse
processo.
No cenário cearense, as cidades médias de Sobral, Crato e Iguatu
foram centros importantes na rede urbana desde o século XVIII e, Juazeiro do
Norte, a partir do início do século XX, fator que nos induziu a construir uma
breve periodização da evolução das cidades médias no Ceará. Em seguida,
tratamos especificamente da importância da atividade comercial para a
formação inicial de Sobral. Posteriormente, ressaltamos a atuação do poder
que, nas duas últimas décadas, vêm transformando significativamente o
espaço urbano sobralense.
No capítulo três, perscrutamos as atividades comerciais e de serviços
na cidade de Sobral, tentando identificar os fatores que vêm contribuindo para
a descentralização dessas atividades para o espaço além-centro, com
predomínio para as vias de saída da cidade. Após isso, averiguamos as
26
características das avenidas que mais vêm abrigando estes estabelecimentos,
na intenção de verificar como essas promovem a dinâmica intraurbana. E por
fim, realizamos uma análise comparativa, com o objetivo de encontrar
paridades e diferenças entre essas vias, no que consiste à função comercial.
27
CAPÍTULO 1 – O COMÉRCIO E A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS CIDADES 1.1 A Atividade Comercial e as Transformações na Organização Interna
das Cidades
Um dos fatores que antecedeu e direcionou o surgimento das cidades
foi a fixação do homem num determinado ponto do espaço. Contudo, um dos
principais fenômenos que deu origem a elas foi a divisão social do trabalho.
Mas, como se chegou a essa divisão da sociedade? De maneira sintetizada,
podemos afirmar que o homem, quando se fixou na terra, começou a produzir
os bens necessários para a sua sobrevivência, mais tarde, com o uso de
técnicas mais sofisticadas, passou a produzir mais do que o necessário para
sua manutenção, promovendo, dessa forma, um excedente da produção. Em
decorrência disso, alguns indivíduos deixaram de trabalhar na agricultura e
passaram a exercer outras funções, elemento que procedeu a divisão social do
trabalho, última etapa para o surgimento da cidade (SOUZA, 2009).
Em Sposito (1994, p. 17), encontramos uma argumentação que deixa
claro os principais aspectos que deram origem a cidade:
[...] ao contrário do que se poderia supor numa primeira análise, que pressupõe que a cidade surgiu em volta do mercado, é que sua origem não está explicada essencialmente pelo econômico, mas sim pelo social e pelo político. Ou seja, a cidade na sua origem não é por excelência o lugar de produção, mas o da dominação.
As informações elencadas até este ponto, mesmo de forma breve,
deixam claro que, na sua origem, a cidade não é uma consequência da
atividade comercial. No entanto, percebe-se que hoje essa atividade gera
alterações na dinâmica da cidade. Posto isto, para compreendermos as
relações atuais entre a cidade e a atividade comercial se torna importante
verificarmos como se iniciou esse processo, para isso é necessário um olhar
através da história.
Desse modo, podemos começar nossa discussão pelo surgimento do
comércio, que está ligado às pequenas trocas que eram realizadas entre os
28
indivíduos de uma aglomeração, de produtos oriundos do excedente agrícola.
Contudo, o desenvolvimento da atividade em questão é observado com maior
clareza com a formação dos grandes impérios na Antiguidade.
Um exemplo de como se principiou o crescimento do comércio é
descrito por Sposito (1994, p. 22), quando a autora relata o avanço do Império
Romano na conquista de território:
O poder político do Império Romano permitiu, não apenas que a urbanização deixasse de ser um processo "espontâneo", uma vez que muitas cidades foram fundadas nas áreas recém-conquistadas para permitir a hegemonia política romana sobre estas áreas, como também acabou por propiciar uma ampliação imensa da divisão interurbana do trabalho, pois os ofícios exercidos e a produção das maiores cidades do Império deixaram de suprir apenas os cidadãos (habitantes de uma cidade) e a população rural de seus arrabaldes, para suprirem também a população de outras áreas do Império e os povos bárbaros além fronteira, incentivando o papel comercial urbano.
Devido ao excedente produzido pelos indivíduos nas grandes cidades
do Império, a necessidade do encontro para a troca se tornou fundamental,
mas para que ela se realizasse houve, antes, um fluxo de pessoas que definiu
o melhor local. Nesse espaço, aportou o mercado.
A origem do mercado está, portanto, no ponto de encontro de fluxos de indivíduos que traziam seus excedentes de produção para a troca, normalmente localizados em pontos equidistantes dos diversos centros de produção ou em locais estratégicos do ponto de vista da navegação ou da existência de água (VARGAS, 2012, p. 74).
Nos estudos de Freire (2010) e Vargas (2012), averiguamos que o
mercado se tornou, além do espaço de encontro para a troca de mercadorias, o
local ideal para o compartilhamento de ideias, de experiência, de realização de
espetáculos e de discussões vinculadas à política.
Dentre as estruturas mais antigas que se desenvolveram e
possibilitaram a realização desses encontros, destaca-se as que foram
denominados de ágora, fórum e bazaar, as quais serão apresentadas no
decorrer do texto.
29
Fonte: FLETCHER, 1948.
Iniciaremos pela ágora, que era um local onde os gregos da
Antiguidade Clássica se encontravam para a troca de produtos, no entanto, é
importante relatar que a função inicial desse espaço era voltada,
exclusivamente, para as reuniões e assembleias públicas.
Quanto à forma, a ágora (Figura 2) era um espaço descoberto
circundado por diversos equipamentos públicos e privados, dentre eles,
podemos mencionar a stoa (espaço coberto cujo teto era sustentado por
grandes colunas ou pórticos) e pritaneu (templo com forma circular em que se
situava os gabinetes administrativos).
Figura 2 – Ágora de Atenas
Com desenvolvimento da atividade comercial, algumas cidades gregas
passaram a construir equipamentos no intuito de abrigar o mercado. Leal
(2011, p. 29) refere-se a isso da seguinte forma:
O desenvolvimento do comércio neste período levou à criação de edifícios exclusivamente dedicados a acolher o mercado em cidades como Corinto, Atenas ou Pérgamo. A tipologia mais comum do mercado grego, macella desenvolve-se principalmente no séc. II a.C. e possui planta rectangular constituída por uma praça rodeada por pórticos e lojas.
30
Já na Roma Antiga, o fórum, assim como a ágora grega, era o espaço
onde se manifestava as trocas de produtos, bem como as relações sociais.
Uma diferença entre as duas estruturas pode ser notada pelas funções iniciais
de cada uma, ou seja, enquanto a ágora grega foi originalmente criada para a
realização de reuniões e assembleias, o fórum romano surgiu com o objetivo
de centralizar no mesmo espaço várias funções, entre elas a comercial, política
e religiosa.
Souza (2009, p. 33) apresenta uma descrição semelhante no que diz
respeito à diferença entre os dois espaços, ora descritos:
A diferença está no caráter monumental [da] construção [do fórum], nas funções que aí se localizavam e por estarem junto dele os prédios do Senado, da Justiça, alguns Templos, entre outros. O fórum assumia, assim, as características de principal centro urbano.
No que se refere à forma, o fórum (Figura 3) era um espaço retangular
localizado no centro das cidades romanas, normalmente no cruzamento do
cardo (extensa rua com orientação norte – sul) com o decumano (rua com
orientação leste – oeste), sem cobertura e apresentava à sua volta vários
prédios de instituições públicas.
31
Fonte: SITTE,1992.
Figura 3 – Planta do Fórum de Pompeia
A atividade comercial romana, assim como ocorreu na Grécia,
apresentou um elevado crescimento, por causa disso ela deixou de ser
realizada no fórum e passou a ocorrer em edificações que foram erguidas com
o propósito de desempenhar somente o papel comercial. O macellum (local
fechado e, geralmente, com uma única entrada) é um exemplo desses
edifícios, que centralizando a comercialização de diferentes mercadorias,
concentrou a atividade comercial (LEAL, 2011).
No século V d.C, com a queda do Império Romano do Ocidente, a
Europa entrou em decadência, com isso as relações entre as cidades se
desarticularam resultando no desaparecimento de várias delas, principalmente
as menos expressivas (SPOSITO, 1994; SOUZA, 2009). Em decorrência
dessas transformações e, também, por causa do domínio árabe sobre o Mar
Mediterrâneo, principal rota marítima do comércio europeu, a atividade
mercantil, que até então apresentava um significativo crescimento, passou a
retroceder.
32
Henri Pirenne, em História Econômica e Social da Idade Média aponta o controle dos árabes sobre o Mediterrâneo como definitivo para a regressão das atividades econômicas das cidades que ainda tinham conseguido manter sua importância após a queda do Império Romano (SPOSITO, 1994, p. 26/27).
Posto isto, no início do período medieval (Alta Idade Média), as poucas
trocas comerciais, que ainda persistiam, aconteciam em incipientes mercados,
cujos produtos comercializados eram oriundos da produção agrícola, fator que
caracterizou a sociedade feudal. Em meados desse período (Baixa Idade
Média), com o surgimento de novas técnicas de produção, verificou-se um
princípio de retomada da atividade comercial, porém, de acordo com Leal
(2011, p. 33), é com:
[...] o restabelecimento das rotas comerciais no Mar Mediterrâneo, já durante o séc. XI, que a actividade comercial sofre uma renovação e o mercado assume um papel preponderante na estrutura da cidade sendo que, a praça do mercado, a par com a da igreja, passam a ocupar os principais espaços públicos da cidade.
O principal fenômeno que possibilitou a reativação das rotas comerciais
e, consequentemente, do renascimento do comércio, foram os movimentos
militares de influência cristã, mais conhecidos por Cruzadas. Eles tinham como
um dos principais objetivos reconquistar a Terra Prometida do domínio
muçulmano.
Antes de darmos continuidade a essa questão, é importante ressaltar
que nesse período, na região do Oriente Médio, desenvolveu-se uma estrutura
coberta voltada às práticas comerciais, que recebeu a denominação de bazaar
(Figura 4). Na realidade, essa edificação surgiu no sentido de proteger as
mercadorias e os mercadores das condições climáticas pouco favoráveis na
referida região, onde eram comuns as grandes tempestades de areias e o sol
intenso (RASTEIRO, 2008).
33
Fontes: a) RASTEIRO, 2008; b) www.cruisingexcursions.com/index.php
Figura 4 – a) Bazaar Tailleurs; b) Atual bazaar na Turquia
O bazaar, que se desenvolveu nas cidades islâmicas e, ainda hoje, faz
parte da estrutura interna de várias delas, caracterizava-se principalmente pela
centralização de diversas lojas ao longo de imensos corredores. Uma descrição
mais detalhada do interior desse espaço, exibida por Rasteiro (2008, p. 09),
mostra bem a aptidão comercial do mesmo:
[...] organização interior rigorosa, a separação dos espaços consoante o tipo de produtos e as categorias de artesãos. Cada pequena célula comercial é aberta e contígua ao espaço de circulação, sendo delimitada apenas por um muro de pequena altura acima do qual se situa um estrado onde são expostos os produtos.
A respeito dos produtos que eram negociados neste espaço comercial,
Souza (2009) assinala a grande diversidade de mercadorias, que ia desde a
venda de carnes e outros alimentos até a comercialização de joias e o câmbio
de dinheiros.
No que se refere a importância do bazaar para a configuração das
cidades, Rasteiro (2008) e Leal (2011) compartilham a ideia de que esse tipo
a b
34
de construção conectava várias instituições públicas e outros prédios
importantes, estabelecendo-se como uma área principal de circulação. Além
disso, o mesmo abarcava “grandes áreas urbanas” o que significava que para a
sua construção, normalmente, havia a necessidade de apoios governamentais
(LEAL, 2011, p 35).
Retomando a questão do restabelecimento da atividade comercial na
Europa, Leo Hubermam (1981, p.19) descreve como se deu a participação das
Cruzadas nesse processo:
As Cruzadas levaram novo ímpeto ao comércio. Dezenas de milhares e europeus atravessaram o continente por terra e mar para arrebatar a Terra Prometida aos muçulmanos. Necessitavam de provisões durante todo o caminho e os mercadores os acompanhavam a fim de fornecer-lhes o de que precisassem. Os cruzados que regressavam de suas jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas e roupas requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um mercado para esses produtos.
Após o renascimento comercial, verificam-se os seguintes aspectos:
aumento das aglomerações populacionais existentes; a reconstrução de
cidades que tinham desaparecido com a queda do Império Romano e com o
bloqueio das rotas comerciais e; surgimento de novas cidades em locais que
nunca tinham sido ocupados. Dessa forma, concordamos com Sposito (1994,
p. 32), quando menciona que “a urbanização do fim do período feudal foi
marcada pela proliferação do número de cidades”.
O ressurgimento do comércio tem a sua afirmação com o aparecimento
das feiras, que geralmente eram realizadas nos encontros de estradas, ou em
terrenos com topografia adequada, ou nas proximidades de rios e/ou do mar,
entre outros locais. É importante esclarecer que nas imediações desses
lugares, normalmente, havia alguma edificação, como, por exemplo, uma igreja
ou um burgo, que possibilitava ou dava segurança aos mercadores
(HUBERMAM, 1981).
Em relação às mercadorias ofertadas nesses locais, há de se ressaltar
a grande diversidade, que era possível graças, principalmente, ao contato com
o Oriente e a África, de onde vinham produtos como seda, porcelana, pimenta,
canela, cravo, entre outros. As feiras mais importantes desse período se
35
localizavam nas regiões do Champagne (na França), em Flanders (na Bélgica)
e, em Gênova e Veneza (na Itália).
Para termos uma ideia da dimensão do espaço comercial exposto,
Hubermam (1981, p. 24) realiza uma breve comparação entre este e o
pequeno mercado do início do período medieval, já destacado por nós no
decorrer deste tópico:
É importante observar a diferença entre os mercados locais [...] dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras do século XII ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando com os produtos locais, em sua maioria, agrícolas. As feiras ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul.
Esses espaços mercantis foram os instigadores principais para o
surgimento de diversas cidades e o crescimento de outras no final da Idade
Média. Tal fato pode ser notado na seguinte explanação:
[...] as cidades surgiam naqueles lugares em que os mercadores se reuniam para negociar, e estes encontros efetuavam-se sempre nos arrabaldes dos burgos e aldeias feudais. É em épocas posteriores, durante os séculos XII até o século XIV (auge do feudalismo e da efervescência do comércio), que muitas cidades cresceram e se desenvolveram independentes dos rigores feudais, assim como surgiram outras, resultado da intensificação das trocas (FREIRE, 2010, 21).
É válido mencionar que no apogeu desse período, marcado pelo
surgimento e crescimento das cidades, outra estrutura comercial também se
desenvolveu: a praça de mercado. Além de espaço de comércio, a praça ora
apresentada era o local das festas, das relações políticas e religiosas, como
outrora se viu nas cidades gregas e romanas.
A partir das argumentações elencadas, é perceptível a importância do
comércio para o crescimento das cidades no período medieval. Mas é
importante visualizar que à medida que essa atividade vai se intensificando, as
36
bases necessárias para que o modo de produção capitalista possa se instalar
vão sendo cunhadas.
O capitalismo aproxima-se a passos largos, mas ainda não chegou. Com a cidade medieval estamos no período preparatório que é o da acumulação primitiva, da acumulação de riquezas, de técnicas, de mão-de-obra, de mercados, de lugares e territórios, de comunicações, etc. (LEFEBVRE, 1972, p. 60).
O que de fato permitiu o desenvolvimento do modo de produção
capitalista? Bem, vários fatores colaboraram para tal fenômeno, dentre eles,
podemos destacar o fim dos princípios instituídos pela igreja, que não admitia a
aquisição de lucros, e o aumento das expedições comerciais. Mas, a condição
fundamental para o estabelecimento desse modo de produção foi a
constituição de uma nova camada social, a burguesia (VARGAS, 2012).
Essa classe foi importante na desestruturação do modo de produção feudal, pois com a comercialização dos excedentes agrícolas ela começa a acumular capital e se torna a classe dominante. Por conseguinte, tem-se na atividade comercial uma importante forma de acumulação de riquezas, inclusive ao transformar a terra em mercadoria, determinando o fim do feudalismo (SOUZA, 2009, p. 35).
O processo de urbanização, que se restabeleceu com o renascimento
do comércio, ganha uma nova roupagem com a emergência do capitalismo.
Uma vez que é a partir desse momento que diversas cidades adquiriram
autonomia, tornando-se, com isso, o destino das pessoas que se libertavam
das “amarras” dos feudos.
A partir do século XVIII, a atividade comercial assume uma condição
secundária com o advento da industrialização, e os efeitos decorrentes dessa
nova atividade na urbanização foram ainda mais acentuados, não se
resumindo apenas ao crescimento populacional das cidades, mas também
acarretando, segundo Sposito (1994), em mudanças estruturais, na
constituição de redes urbanas, na divisão territorial do trabalho (que se tornou
mais efetiva com o desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte),
além de outros aspectos.
37
No século XIX, a concentração da atividade industrial em algumas
cidades da Europa permitiu a produção em massa, com isso, o comércio sofreu
mudanças, ou seja, houve o aparecimento de novos locais de compra e venda,
bem como a renovação de outros mais antigos para atender as demandas de
novas necessidades. Nas últimas décadas do século XIX e início do século
seguinte, verifica, em escala mundial, a expansão de modernas empresas
monopolistas com a finalidade de capturar todas as vantagens possíveis, que
não se resumem a simples busca do lucro. A passagem do sistema de
produção fordista para a produção flexível, aliada ao progresso dos meios de
comunicação e transporte, marcará o ponto de partida das grandes empresas
em direção a uma produção em larga escala (FREIRE, 2010).
Com esse avanço do setor industrial, tornou-se indispensável manter o
mercado consumidor ativo, com isso, o comércio passa a compor novamente o
cerne da economia, pois, segundo Vargas (2012, p. 76), “a forma de comerciar
e a sofisticação de suas técnicas vão responder pela melhor colocação dos
produtos industriais”. É importante grifar que a utilização crescente de
estratégias de vendas, a exemplo do marketing, passa a construir no
imaginário das pessoas a ideia de que elas devem consumir não apenas o
necessário para a sua sobrevivência, mas, também, tudo aquilo que satisfaça
sua vontade.
Junto às modificações verificadas na forma de consumo, nota-se,
também, ainda no final do século XIX, uma alteração na localização da
atividade comercial, ou seja, a praça e outros locais públicos, onde se
realizavam a atividade mercantil, são colocados em xeque, no que diz respeito
à função comercial com o surgimento de diversos estabelecimentos
particulares, tais como: as galerias, os grandes magazines, as lojas de
departamento e as lojas de novidades (VARGAS, 1992; SOUZA, 2009).
Já no século XX, a exigência de novos estabelecimentos com função
comercial se tornou ainda maior, visto que, nesse período, já se encontrava
consolidada uma sociedade com alto desejo de consumo. Desse modo, as
transformações na estrutura das cidades foram ainda mais marcantes, pois
primeiramente, ocorreu a concentração da atividade em pauta na área central
e, poucos anos mais tarde (principalmente com o advento do automóvel),
38
passou a acontecer a descentralização de determinados segmentos do
comércio para outras localidades da cidade.
Uma discussão mais aprofundada sobre a descentralização será feita
no decorrer do texto. Antes disso, acreditamos ser importante uma explanação
sobre as teorias que buscaram um entendimento sobre a organização interna
das cidades e um debate no que concerne ao centro e à centralidade.
1.2 A Organização Interna das Cidades: Os modelos da Escola de Chicago
É sabido que a Escola de Chicago surgiu no início do século XX,
momento marcado pelo processo de expansão urbana e crescimento
populacional gestado pela industrialização, que se consolidava em diversas
metrópoles norte-americanas até então. Os fenômenos associados a esses
processos se estabeleceram como importantes elementos de investigação dos
pesquisadores da referida escola. Tais estudos foram basilares para a
elaboração de novas teorias.
Dentre as teorias organizadas pelos estudiosos da Escola Sociológica
de Chicago destacam-se as que buscavam explicar a estrutura interna das
cidades, sendo as principais, as seguintes: a Teoria das Áreas Concêntrica de
Ernest Burgees, a Teoria Setorial de Homer Hoyt e a Teoria dos Múltiplos
Núcleos de C. Harris e E. Ullman. Nas próximas seções realizaremos uma
breve explanação sobre cada uma dessas perspectivas teóricas.
1.2.1 A Teoria das Áreas Concêntricas: o modelo de Burgess
Na década de 1920, Ernest Burgess concluiu o artigo intitulado The
Growth of the City: An Introduction to a Research Project1, que foi publicado no
livro The City, organizado pelo próprio estudioso em parceria com mais dois
autores. Nesse texto, Burgess (1925) relata a importância dos estudos que
abordam a expansão da cidade levando em consideração o crescimento físico
da mesma. No entanto, ele alerta para a necessidade de se desenvolver
pesquisas que busquem uma interpretação da expansão como um processo. É
1 O Crescimento da Cidade: uma introdução ao projeto de pesquisa (tradução nossa).
39
com essa preocupação que o referido estudioso propõe o modelo das áreas
concêntricas.
A proposta de Burgess (1925) visa mostrar que o processo de
expansão da maioria das cidades pode ocorrer por meio da formação de vários
círculos ou zonas concêntricas ao redor de um núcleo central. É importante
mencionar que o presente modelo aborda algumas ideias do zoneamento das
atividades agrícolas, expostas pelo economista alemão Johann vonThünen no
século XIX (CARRASCO, 2003).
Posto isto, a estrutura interna de uma cidade, segundo o modelo de
Burgees, está organizada da seguinte forma: o núcleo central é o Central
Business District (CBD). A zona que rodeia o CBD corresponde a área de
transição, que é constituída basicamente de pequenas indústrias e de
atividades artesanais sem grande expressão. Sobre essa área, Carrasco
(2003, p. 120) esclarece que:
Es la llamada zona de transición o pericentro urbano que corresponde a una de las zonas más complejas de la ciudad tanto por su proximidad al C.B.D, como por la gran diversidad de usos de suelo, que junto con la existencia de áreas degradadas social y morfológicamente, delimitan un entorno fuertemente disgregado.
A terceira zona é definida como sendo o local de moradia dos
operários. A quarta zona diz respeito à área onde se localizam as residências
ou apartamentos da população de maior poder aquisitivo. E, por fim, fora dos
limites da cidade se encontra uma grande área suburbana, local de moradia
das pessoas que percorrem uma distância aproximada de sessenta minutos
para acessar o ponto de trabalho na cidade. A figura 5 exemplifica o modelo
em destaque.
40
Fonte: Adaptado de Burgess (1925).
Figura 5 – Modelo das Áreas Concêntricas de Ernest Burgess
A proposta de estudo da estrutura interna da cidade, elaborada por
Burgess, foi bastante criticada por alguns pesquisadores. Baseado em
Carvalho (2007), compreendemos que algumas das críticas à teoria se
apoiaram em interpretações que concluem que o estudioso tinha como uma
das suas intenções afirmar que o crescimento da cidade ocorria de forma
homogênea, tendo como ponto de partida o centro comercial.
Outras críticas ao modelo do autor se centram nos seguintes aspectos:
Ausencia de coherencia entre atributos de tipo familiar y el resto de atributos anunciados por Burgess; Inconsistencia teórico e instrumental en el concepto de “área natural”; Modelo excesivamente generalista, lo que le ha convertido en un modelo ideal. Burgess inicialmente lo hizo extensible a cualquier ciudad o pueblo. Posteriormente rectificó y lo circunscribió a la ciudades norteamericanas con vocación comercial-industrial (TIMMS, 1976 apud JAUME, 2002, p. 73).
Embora sendo alvo de diversas considerações, a teoria dos círculos
concêntricos teve sua importância, já que foi um dos primeiros estudos que
tentou entender a estrutura interna das cidades e, além disso, serviu de base
41
para outros trabalhos, como, por exemplo, a teoria dos setores de Hommer
Hoyt, que será tratado adiante.
1.2.2 A Teoria dos Setores: o modelo de Hommer Hoyt
No final da década de 1930, o economista norte-americano Hommer
Hoyt propôs a Teoria dos Setores. Na proposta desse pesquisador, nota-se
que a forma da estrutura da cidade está associada a fatores como as
mudanças internas das residências e aos eixos mais importantes de
transportes. Essa questão pode ser observada quando Hoyt (1939 apud
CARRASCO, 2003, p. 128/129) descreve as características de crescimento da
cidade:
a) As áreas residenciais tendem a se localizar próximo as linhas de transportes rápidos - seguindo os vetores de comunicação - se deslocando para outros centros residenciais existentes, para centros terciários, ou para os limites da cidade. b) [...] na medida em que a cidade cresce edifícios residenciais de alto nível também pode se estabelecer em áreas residenciais mais antigas, perto do centro tradicional e comercial da cidade.
No entendimento de Hoyt a cidade se estrutura por setores, onde cada
um apresenta uma característica específica. O primeiro setor diz respeito ao
centro da cidade e também ao centro de negócios varejista; o segundo setor
corresponde ao local das indústrias pequenas e de uma atividade comercial de
menor porte e; na terceira zona, encontram-se as residências e atividades
comerciais voltadas para as pessoas de menor poder aquisitivo. É válido
mencionar que essa zona se localiza nas proximidades das indústrias e,
consequentemente, é distante de onde residem as classes mais altas (Figura
6).
42
Figura 6 – Modelo dos Setores de Hommer Hoyt
Alguns pesquisadores, dentre eles Johnson (1974) e Rodrígues Juame
(2002), relatam que o modelo setorial de Hommer Hoyt não se apresenta como
uma oposição ao modelo dos círculos concêntricos de Ernest Burgess. Na
realidade, segundo Jaume (2002, p. 73):
La teoría de los sectores completa al modelo de Burgess pues propone un diagrama en el que los límites impuestos por los círculos concéntricos de Burgess se interrumpen y se amplían del centro a la periferia, adoptando formas irregulares.
Assim como a teoria dos círculos concêntricos de Burgess, o modelo
setorial de Hommer Hoyt foi alvo de intensas críticas, sendo as mais
expressivas as que serão relatadas a seguir: o modelo apresenta uma visão
simplificada da forma de como se estruturam as classes sociais no espaço
interno da cidade; é conferida uma importância demasiada às forças das
atividades econômicas sobre a forma de expansão urbana e; por fim, no caso
da teorização relacionada aos problemas habitacionais, o modelo deixa de lado
variáveis verificadas com nitidez na realidade.
Nos estudos de Souza (2009), encontramos que a principal
preocupação de Hoyt não era realizar uma análise da estrutura de uma cidade
Fonte: Adaptado de Carrasco (2003).
43
Fonte: Adaptado de Carrasco 2003.
em sua totalidade. Na realidade, destaca o referido autor, o objetivo maior de
Hoyt se centrava em entender os rumos para os quais as áreas residenciais se
expandiam. Nesse sentido, Hommer Hoyt teve como compreensão que as
zonas residenciais, em especial as das classes de maior poder aquisitivo,
cresciam, principalmente, acompanhando as vias mais importantes e, também,
em direção as áreas já consolidadas.
1.2.3 A Teoria dos Múltiplos Núcleos: o modelo de Harris e Ullman
Outro estudo que deve ser lembrado, e que apresentou uma
interpretação mais consistente da estrutura interna da cidade é a Teoria dos
Múltiplos Núcleos, elaborada pelos geógrafos Chauncy Harris e Edward
Ullman, em meados da década de 1940. Mesmo baseando-se nos estudos
anteriores, que consideram que o crescimento da cidade se dá a partir de uma
área central, esta teoria busca mostrar que a estrutura urbana se desenvolve
ao redor de vários núcleos (Figura 7).
Figura 7 – Modelo dos Múltiplos Núcleos
44
Para Harris e Ullman, quatro fatores estão associados ao surgimento
de diversos núcleos concentrados na cidade, a saber: a) algumas atividades
necessitam se localizar onde a acessibilidade é máxima, sendo a área principal
o lugar ideal; b) atividades semelhantes se juntam na tentativa de se
beneficiarem das economias de aglomeração; c) outras atividades, por
antagonismo, procuram se localizar em espaços distantes um do outro e; d)
todas as atividades estão expostas ao processo seletivo imposto pelo preço do
solo (BAILLY, 1978; CARRASCO, 2003).
Embora exista a multiplicação de núcleos no interior da cidade, é válido
ressaltar que, segundo a teoria, o Central Business District (CBD) permanecerá
sendo o centro mais importante do espaço intraurbano. Outra questão que
podemos ressaltar, diz respeito à relação que o modelo estabelece entre a
cidade, a quantidade e a diversidade de centros que ela contém. Carrasco
(2003, p. 131) expõe esse aspecto da seguinte forma:
Puntualizando que el número de núcleos y de funciones variaran para cada ciudad y para cada caso urbano concreto. Por lo general, cuanto mayor sea una ciudad, mayor será el número de núcleos y la cantidad de actividades contenidas en ellos.
Como já mencionado, a teoria de Harris e Ullman apresenta uma
proposta de crescimento da cidade que se distingue das teorias anteriores
(Teoria Concêntrica de Burgess e Modelo Setorial de HommerHoyt), porém
alguns aspectos comuns naquelas propostas se repetem no trabalho de Harris
e Ullman. Um exemplo é a ideia da cidade se constituir de um único centro
dominante e polarizador.
Após a década de 1940, capitaneadas pela difusão e popularização do
automóvel, as cidades passam a exibir crescimento espacial mais ampliado.
Em decorrência disso, novos centros surgem em espaços distantes da área
central da cidade, para atender as demandas de consumidores que residem
próximo a eles. Por não conseguir interpretar essa estrutura urbana mais
complexa, os modelos de estudo da Escola de Chicago são deixados de lado,
assim novos estudos surgem para elucidar a nova estrutura das cidades
(SOUZA, 2009).
45
A compreensão das transformações da estrutura interna das cidades
requer a priori uma discussão acerca de centro e centralidade, aspecto que
será tratado a seguir.
1.3 Centro e Centralidade na Estrutura Espacial Intraurbana
No intuito de apreendermos as transformações recentes no interior da
cidade se torna fundamental analisar, primeiramente, os processos espaciais
que deram origem a tais mudanças. Dessa forma, acreditamos que, para isso,
é necessário compreender o conceito de centro, concebendo-o como uma
forma espacial, decorrente do processo de centralização que permite a
concentração das atividades econômicas e da convergência dos fluxos. Outra
noção importante a ser assimilada é a de centralidade, interpretando-a como
um processo que tende a surgir em mais de um local no espaço interno da
cidade, a partir de outro fenômeno, a saber: a descentralização.
Para dissertarmos sobre esses dois temários – centro e centralidade –,
tivemos por base os estudos de autores que tiveram no cerne de suas
preocupações a cidade e a realidade urbana, dentre eles podemos destacar:
Henri Lefebvre (2008), Manoel Castells (2006), Flávio Villaça (1998), Roberto
Corrêa (1989), Arthur Whitacker (2003) e Maria Sposito (1991).
Numa análise inicial das reflexões concernente à cidade e à realidade
urbana, notamos que o centro pode ser concebido como uma característica
basilar da cidade, pois como assevera Henri Lefebvre (2008, p. 90), “não existe
cidade, nem realidade urbana, sem um centro”. Isso denota que o centro é
intrínseco à cidade.
Antes de aprofundarmos nessa discussão, é importante esclarecer que
em nosso estudo o conceito em construção é o de centro urbano na escala do
espaço intraurbano. É válido assinalar isso pelo fato dessa expressão
apresentar diferentes significados podendo, inclusive, incorrer em erros de
interpretação, caso não seja enfatizado a escala de operação. Villaça (1998, p.
30) deixa claro o problema associado ao termo em destaque quando relata
que:
46
[...] variam muito os conceitos e as realidades representadas pela expressão centro urbano; é preciso, pois, cautela na interpretação desse vocábulo e também na sua utilização. Ele pode designar ou os chamados centros tradicionais (impropriamente chamado de “histórico”), como o CBD dos americanos; pode designar uma área central mais ampla, como a que os urbanistas brasileiros chamam de “centro expandido”; pode até mesmo significar cidade central, especialmente no caso das cidades americanas, que frequentemente têm área territorial pequena, tanto em termos absolutos como relativos às extensões das respectivas áreas metropolitanas; finalmente, em análises regionais, pode significar áreas metropolitanas inteiras.
Já atentos a esse ponto, surge nesse momento uma questão no
sentido de nortear a construção do conceito: o que é o centro? É um ponto
preestabelecido numa carta? Bem, com referencial em Villaça (1998) e Castells
(2006), notamos que o centro não pode ser entendido apenas como um ponto
definido num mapa. Na realidade, devemos compreendê-lo como uma
localidade carregada de conteúdo social ou, em outras palavras, como “um
conjunto vivo de instituições sociais e de cruzamento de fluxos de uma cidade
real” (VILLAÇA, 1998, p. 238).
O centro é uma área no interior do tecido urbano, que se caracteriza
pela concentração de atividades de comercialização de produtos e de oferta de
serviços, de instituições dos setores públicos e privados, de lazer (praças,
parques, jardins, etc.), de sentimentos e de valores simbólicos é, ainda, o local
dos terminais de transportes de circulação intra e interurbano (CORRÊA, 1989;
SPOSITO, 2001).
Henri Lefebvre (2008, p. 44) também explanou em seus escritos o seu
pensamento a respeito do centro urbano. Para o estudioso, a área em
destaque “supõe e propõe a concentração de tudo o que existe no mundo, na
natureza, no cosmos: frutos da terra; produtos da indústria; obras humanas,
objetos e instrumentos, obras e situações, signos e símbolos”. O autor
completa o seu pensamento ao relatar que qualquer área no espaço
intraurbano pode se tornar central, desde que exista condição para tal
processo.
Levando em consideração as ideias desses estudiosos, podemos
inferir que o centro, como forma espacial que se distingue de outras áreas da
47
cidade pela concentração de fixos, tem uma conexão direta com o que se
movimenta no território, ou seja, os fluxos é que caracterizam a centralidade.
Um breve entendimento dessa relação é tratado por Sposito (1991, p. 06):
O centro da cidade [...] é [...] um ponto de convergência/divergência, é o nó do sistema de circulação, é o lugar para onde todos se dirigem para algumas atividades e, em contrapartida, é o ponto de onde todos se deslocam para a interação destas atividades aí localizadas com as outras que se realizam no interior da cidade ou fora dela. Assim, o centro pode ser qualificado como integrador e dispersor ao mesmo tempo.
Posto isto, pode-se perceber que o centro e a centralidade são
fenômenos diferentes entre si, não se confundem e, ao mesmo tempo, um não
pode ser analisado sem o outro, há, nesse caso, uma relação de
complementaridade, como assinalado por Whitacker (2003, p. 137):
Compreendemos o caráter processual da centralidade, em complementação ao centro, expressão territorial. Ou ainda, que a centralidade diz respeito aos ‘fluxos, à fluidez’ e o centro é a ‘perenidade’, ou seja, a centralidade é expressão da dinâmica de definição/redefinição das áreas centrais e do fluxo no interior da cidade.
Nos estudos de Lefebvre (2008), verificamos que a centralidade se
estabelece como condição essencial para definição do fenômeno urbano:
Descobrimos o essencial do fenômeno urbano na centralidade. Mas na centralidade considerada como o movimento dialético que a constitui e a destrói, que a cria ou a estilhaça. Não importa qual ponto possa se tornar central, esse é o sentido do espaço-tempo urbano. A centralidade não é indiferente ao que reúne, ao contrário, pois ela exige um conteúdo. E, no entanto, não importa qual seja o conteúdo (LEFEBVRE, 2008, p. 108).
A centralidade urbana pode ser tratada em dois níveis territoriais: a
intraurbana e a de rede urbana. No primeiro nível, há a possibilidade de se
analisar as distintas formas de expressão dessa centralidade, adotando como
ponto de referência o território da cidade ou da aglomeração urbana a partir de
seu centro ou centros. No nível da rede urbana, o estudo tem como referencial
48
a cidade ou aglomeração urbana principal em relação ao grupo de cidades de
uma rede2. Essa, por sua vez, podendo ser vista em diferentes escalas e
formas de articulação e configuração, de maneira que se possa compreender
os papéis da cidade central (SPOSITO, 1998).
A partir das argumentações elencadas, percebemos que o centro é
revelado “pelo o que se localiza no território, a centralidade é desvelada pelo
que se movimenta no território” (SPOSITO, 2001, p. 238). Embora pareça
simples notar a distinção entre os dois conceitos apresentados, muitos têm sido
os escritos em que a centralidade é tratada como sendo um lugar. Essa
confusão foi, inclusive, criticada por Maria Sposito em outro momento dos seus
estudos:
[...] volto à distinção e à relação que estabeleço entre centro(s) e centralidade(s). Seria quase desnecessário tratar deste assunto, mas tenho visto, frequentemente, na literatura brasileira, a centralidade ser abordada como um lugar, por meio de expressões como “nas novas centralidades”, “na centralidade do novo shopping center” etc. Assim, começo por este ponto – A CENTRALIDADE, PARA MIM, NÃO É UM LUGAR OU UMA ÁREA DA CIDADE, MAS, SIM, A CONDIÇÃO E EXPRESSÃO DE CENTRAL QUE UMA ÁREA PODE EXERCER E
REPRESENTAR. Segundo essa perspectiva, então, a centralidade não é, propriamente, concreta; não pode ser vista numa imagem de satélite; é difícil de ser representada cartograficamente, por meio de delimitação de um setor da cidade; não aparece desenhada no cadastro municipal ou no plano diretor das cidades; não se pode percorrê-la ou mesmo vê-la, embora possa ser sentida, percebida, representada socialmente, componha nossa memória urbana e seja parte de nosso imaginário social sobre a vida urbana (SPOSITO, 2013, p. 73, grifo da autora).
Outro aspecto que deve ser observado é que a centralidade é um
processo que pode se multiplicar no espaço interno da cidade. Tal fator
possibilita o surgimento de uma “nova forma de estruturação interna da cidade”
(REIS, 2007, p. 10), que se caracteriza por apresentar “multicentralidade” e
2É valido mencionar que na Geografia as discussões referentes às centralidades, normalmente,
tiveram por base a “Teoria dos Lugares Centrais”, escrito pelo geógrafo alemão Walter Christaller, em 1933 (traduzido para o inglês em 1966). Tal estudo foi formulado pelo referido autor para elucidar a distribuição dos diferentes lugares no espaço. De acordo com essa teoria, que se voltava mais à escala interurbana, aquele centro urbano que fornece uma diversidade de bens e serviços a uma área específica, seguramente, apresenta-se no topo da rede urbana a qual pertence (CONTEL, 2010). Esse estudo ainda hoje é indispensável para uma boa parcela do entendimento de centro e centralidade.
49
“policentralidade”. A referida organização urbana é um fenômeno que, na
atualidade, se revela não apenas nas metrópoles e nas cidades grandes, mas
também nas cidades médias. Diante disso, podemos mencionar duas
tendências ao qual estão propícios os espaços urbanos:
a) à centralidade, através dos distintos modos de produção, das diferentes relações de produção, tendência que vai, atualmente, até o “centro decisional”, encarnação do Estado, com todos os seus perigos; b) à policentralidade, à onicentralidade, à ruptura do centro, à disseminação, tendência que se orienta seja para a constituição de centros diferentes (ainda que análogos, eventualmente complementares), seja para a dispersão e para a segregação (LEFEBVRE, 2008, p. 110).
Essa nova organização urbana é o reflexo do adensamento
populacional e da expansão espacial, fenômenos esses que permitem a
reprodução da centralidade em outras localidades da cidade a partir do
processo denominado descentralização. Tal tema será tratado na próxima
seção.
1.4 O Estudo da Descentralização na Geografia Urbana
Na literatura geográfica, verificamos que a discussão sobre a
descentralização não é uma preocupação nova, no entanto é mais recente do
que as discussões acerca da centralização (CORRÊA, 1989). As primeiras
formulações teóricas referentes à temática em tela datam do início do século
XX, e estão relacionadas ao intenso crescimento e às transformações ocorridas
em diversas cidades dos Estados Unidos (CORRÊA, 2000; REIS, 2007;
SOUZA, 2009).
Numa análise da pesquisa realizada por Reis (2007), constatamos que
o autor divide as interpretações a respeito da descentralização em dois
períodos: o primeiro se inicia na década de 1920 e se estende até a primeira
metade da década de 1970 e, o segundo compreende a última metade da
década de 1970 até o presente.
50
No primeiro período, a descentralização se caracteriza principalmente
pelo surgimento de diversos núcleos secundários, mas, apesar disso, o Central
Business District (CBD) não perde a sua condição de centro mais importante
da cidade. Dentre as teorias mais significativas desse período, relacionadas a
esse assunto, podemos destacar as realizadas por Charles Colby, em 1933;
Malcolm Proudfoot, em1937; Eugene Kelley, em 1955 e Brian Berry, em 1968.
No sentido de verificarmos as contribuições desses autores, segue
adiante uma breve explanação das teorias de cada um deles. Posto isto,
podemos iniciar pelo geógrafo Charles Colby que, na década de 1930,
identificou duas forças atuantes na organização do espaço urbano, são elas: as
forças centrípetas e centrífugas.
As forças centrípetas são aquelas que agem no sentido de direcionar
as atividades para o centro da cidade, já as forças centrífugas operam no
sentido contrário, ou seja, afastam as atividades para áreas distantes do
centro.
Segundo Corrêa (1989), que realizou uma sistematização das ideias de
Charles Colby em alguns dos seus escritos, as forças centrífugas apresentam
uma dupla especificidade: de um lado possui fatores de repulsão da Área
Central e; de outro lado, apresenta fatores de atração das atividades em
localidades distante da Área Central. Diante disso, os fatores de repulsão são:
a) aumento constante do preço da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizadas na Área Central; b) congestionamentos e alto custo do sistema de transporte e comunicações, que dificulta e onera as interações entre as firmas; c) dificuldade de obtenção de espaços para a expansão, que afeta particularmente as indústrias em crescimento; d) restrições legais implicando a ausência de controle dos espaços, limitando, portanto, a ação das firmas; e) ausência ou perdas de amenidades (CORRÊA, 1989, p. 45/46).
Já os fatores de atração das atividades em localidades distante da
Área Central seriam os seguintes: terras disponíveis, com preços acessíveis;
sistema de infraestrutura já implantada; disponibilidade de transporte; boas
condições topográficas e de drenagem do sítio; entre outros (CORRÊA, 1989).
51
É inegável, de acordo com os estudos de Reis (2007), que Charles
Colby tinha como objeto principal de análise a Área Central da cidade,
averiguar as forças pertinentes ao processo de centralização, todavia é
interessante salientar que sua pesquisa produziu subsídios primários sobre a
natureza do processo de descentralização das atividades econômicas na
cidade.
Ainda na década de 1930, tem-se a pesquisa realizada por Malcolm
Proudfoot, que pode ser compreendida como uma das primeiras investigações
de expressiva contribuição aos estudos relacionados à descentralização.
Proudfoof (1937), em sua análise, procurou estabelecer uma classificação geral
sobre a estrutura comercial varejista da cidade. A proposta do autor estava
ancorada nos resultados de um intenso estudo sobre as cidades norte-
americanas de Nova Iorque, Washington, Chicago, Filadélfia, Atlanta,
Cleveland, Des Moines, Baltimore e Knoxville.
Nas proposições de Malcolm Proudfoof (1937), a estrutura comercial
varejista da cidade apresentaria cinco formas comerciais, conforme segue:
1) Central Business District (Distrito Central de Negócios): se refere à área
principal de qualquer cidade. É nesse local que ocorre a máxima
concentração de atividades econômicas;
2) Outlying Business Center (Centro Periférico de Negócios): corresponde
a uma cópia em menor tamanho do Central Business District (CBD). Nele
a quantidade e a diversidade das atividades econômicas é menor do que
no CBD. Outro aspecto interessante é que, enquanto, o CBD captura
pessoas da cidade toda e até mesmo de fora dela, o Outlying Business
Center atrai, normalmente, consumidores de localidades mais próximas a
ele;
3) Principal Business Thoroghfare (Eixos Principais de Negócios): trata-se
de vias que ao mesmo instante concentram atividades econômicas e
apresentam intenso fluxo. Essas vias, geralmente, conectam a área
central a outras localidades da cidade;
4) Neighborhood Business Street (Rua de Comércio de Bairro): são ruas
de atividades comerciais que, normalmente, atraem clientes do próprio
bairro que se deslocam a pé, não havendo, desse modo, a necessidade
do uso de meios de transportes;
52
5) Isolated Store Cluster (Grupo de Lojas Isoladas): são comércios de
menor expressão, voltados para atender as necessidade mais imediatas
dos consumidores e, são situados próximos às residências. Podemos
caracterizar esse grupo pelas padarias, frigoríficos, fruteiras, entre outros.
O modelo classificatório de Malcolm Proudfoot, conforme Reis (2007),
tornou-se uma das referências mais importante para diversas pesquisas que
buscavam compreender a distribuição espacial do comércio varejista em
diversas cidades do mundo. Outro aspecto relevante foi que:
[...] sua taxonomia serviu como base para a formulação de novas taxonomias que, em geral, procuraram adequá-la face às intensas transformações que a estrutura comercial das cidades foram submetidas nas décadas de 1940 e 1950 (REIS, 2007, p. 14).
Uma dessas novas taxonomias da estrutura comercial foi organizada
por Eugene Kelley, na década de 1950. A proposta desse autor se diferencia
da anterior, especialmente, por considerar o uso do automóvel, que foi um dos
principais responsáveis pelas transformações nas cidades dos Estados Unidos
da América nos anos pós Segunda Guerra Mundial. Segundo Kelley (1955), os
aspectos mais significativos, vinculados à modificação da estrutura interna das
cidades, são: o aumento do deslocamento da população suburbana; a maior
dependência das pessoas no que diz respeito à utilização do automóvel
individual para fazer compras; e acréscimo de autoestradas que condicionou os
consumidores a um deslocamento mais rápido na busca de produtos e
serviços.
Outro fator relevante no trabalho de Eugene Kelley foi a presença de
um componente a mais em sua classificação, quando comparado a taxonomia
de Malcolm Proudfoot. Kelley (1955) acrescentou em sua classificação um
grupo de atividade comercial representado pelo Shopping Centers Planejado.
Sobre os Shopping Centers é adequado mencionar que seu surgimento
se deu, como menciona Reis (2007, p. 15), em decorrência das:
[...] mudanças que se processaram no plano interno da atividade varejista no período pós-guerra, com a criação de novas formas comerciais e técnicas de comercialização, [além
53
de estar] estritamente relacionados com a popularização e difusão automóvel.
Posto isto, o modelo classificatório, referente à estrutura comercial
varejista, proposto por Eugene Kelley se divide nas seguintes categorias: 1)
Central Business District (Distrito Central de Negócios); 2) Main Business
Thoroughfares (Vias Principais de Negócios); 3) Secondary Commercial Sub-
Districts Unplanned (Sub-distritos Comerciais Secundários Não-Planejados);
4)Neighbohood Business Streets (Rua Comércio de Bairro); 5)Small Store
Clusters and Scattered Individual Stores (Pequenos Grupos de Lojas e Lojas
Individuais Dispersas) e; 6)Controlled Regional Shopping Centers (Centro de
Compras Regional Planejado).
As cinco primeiras categorias elencadas por Kelley (1955) não
demonstram grandes alterações em relação à proposta de Proudfoot (1933).
Dessa forma, não há necessidade de discorrermos sobre cada uma delas,
assim, podemos relatar imediatamente a sexta tipologia, ou seja, o Controlled
Regional Shopping Centers (Centro de Compras Regional Planejado) que
apresenta, dentre outras, as seguintes peculiares: normalmente, ele é edificado
em áreas distantes do núcleo central, devido, principalmente, essas localidades
oferecerem terrenos com custos mais acessíveis e permitirem um fácil
deslocamento e; é voltado para capturar consumidores em escala interurbana
e, não somente da cidade em que se encontra alocado.
Sobre as propostas de estudos desses dois autores, Souza (2009, p.
58) destaca que:
[...] são bastante parecidas, apresentando como maior diferença os Shopping Centers na estrutura de Kelley (1955). Essa nova estrutura representa bem as mudanças ocorridas na estrutura comercial varejista a partir do desenvolvimento do automóvel. É um centro de compras localizado fora da área central, em que o fácil deslocamento é fundamental para o seu sucesso, atendendo a cidade como um todo e, até mesmo, a região.
Outro autor que contribuiu de forma notável para os estudos sobre a
descentralização foi Brian Berry, na década de 1960. Berry (1968), baseado na
Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller (1933), demonstrou um novo
54
Fonte: Adaptado de BERRY (1968)
modelo para o entendimento da organização das atividades terciárias no
espaço intraurbano3. Considerando o esquema do autor (Figura 8), a
organização do comércio se estabelecia da seguinte forma: Centros Planejados
ou Espontâneos, em que se percebe uma hierarquia de centros; Eixos
Comerciais e Áreas Especializadas.
Figura 8 – Esquema da organização comercial varejista
No modelo de Berry (1968) é notório o intenso processo de
descentralização das atividades comerciais pelo qual passaram as cidades
após 1945, porém o esquema deixa claro que o CBD ainda era o centro mais
importante em relação aos outros centros da estrutura comercial da cidade. Ao
tratar desse assunto, Reis (2007, p. 16) destaca que:
Este modelo serve [...] como registro de uma fase da história da cidade moderna em que o processo de descentralização, embora transformasse profundamente a estrutura urbana, não colocava em xeque o papel dominante do CBD como o mais importante centro da metrópole, o único que aninha toda a
3Diversos estudiosos buscaram adaptar a Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller
(1933) para a escala intraurbana, porém é conferido a Hans Carol (1960), o pioneiro a realizar tal processo quando pesquisou a cidade de Zurique (REIS, 2007).
55
gama de funções de comércio e serviços mais especializados, sendo, os demais centros, núcleos dotados de uma estrutura funcional mais limitada e submetida ao CBD.
O esquema estruturado por Brian Berry é na realidade o resultado do
crescimento demográfico nas cidades, da descentralização das atividades
comerciais, da maior facilidade de mobilidade das pessoas para consumir,
além de diversos outros processos que transformaram densamente a estrutura
comercial das cidades (SOUZA, 2009; CARVALHO, 2007).
No Brasil, embora o processo de descentralização tenha se iniciado na
década de 1940, quando, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro,
Copacabana já se destacava como um subcentro, os estudos sobre tal
processo só vieram a ocorrer de fato após os anos de 1970, sendo uma das
contribuições mais expressiva a de Duarte (1974) que, assim como Brian Berry
e outros estudiosos estrangeiros, tiveram por base a Teoria dos Lugares
Centrais de Christaller para elucidar a distribuição das atividades comercias no
interior da cidade já mencionada.
Nesse primeiro período e, mais especificamente na fase compreendida
após Segunda Guerra Mundial até a década de 1970, verificou-se que os
estudos de Geografia Urbana sobre a temática da descentralização estavam
voltados principalmente para a busca de padrões de localização e da forma
espacial das atividades comerciais varejista no interior da cidade. Além disso,
esses estudos apresentavam uma característica da estrutura da cidade, como
foi visto, constituída de um núcleo principal, o CBD, que sempre se posicionava
como o centro comercial mais importante entre todos os centros da cidade.
A partir da segunda metade da década de 1970, com a influência do
materialismo histórico e da dialética marxista sobre os estudos da cidade4,
inicia-se uma nova forma de pensar a descentralização. Silva (2013, p.10)
complementa essa informação ao relatar que:
Vários estudos começam a questionar a idéia da existência de uma hierarquia de centros na organização interna da cidade, sempre com o CBD figurando como o centro mais importante
4 Essa influência se inicia a partir, principalmente, dos estudos de Manuel Castells, Henri
Lefebvre e David Harvey que, na teoria marxista, se destacam entre os maiores pensadores da cidade.
56
seja pelo fato de possuir maior diversidade funcional e volume de negócios seja por polarizar uma área mais extensa que outros centros. Esses estudos começam a mostrar o surgimento e a consolidação de novos centros, que não podem ser classificados como subcentros, pois acumulam muitas das atividades e funções que antes pertenciam exclusivamente ao CBD.
Nos anos de 1980, houve, na literatura da geografia urbana e
econômica estadunidense, um significativo destaque para as pesquisas
pertinentes à distribuição das atividades econômicas no interior da metrópole.
Nelas é perceptível que a ideia de Metrópole Monocêntrica, em que o CBD é o
centro mais importante num conjunto de centro, é suplantada pela de
Metrópole Policêntrica. No texto de Berry e Kim (1993, p. 01), podemos
interpretar a tendência a essa superação quando os autores mencionam que
“this urban form was at its zenith by World War II, but since has been eroded by
suburbanization, decentralization, and dispersion5”.
Sobre a Metrópole Policêntrica, Fuji e Hartshorn (1995 apud REIS,
2007, p. 28) definem como sendo:
[...] uma estrutura urbana que, além do CBD, é dotada de um (ou mais) núcleos(s) secundário(s) com funções e serviços típicos do CBD. Além disso, estes núcleo(s) secundário(s) equivalentes ao CBD caracterizam-se pela coesão de pelo menos duas ou mais funções especializadas, por exemplo, o comércio varejista e os escritórios de serviços.
Posto isto, as reflexões acerca da descentralização, nesse segundo
período, apontam para uma nova forma de organização interna da cidade, em
que surge um ou mais centros secundários com importância igual ao CBD,
característica basilar da cidade policêntrica.
Nos estudos de Reis (2007), notamos que esse processo foi
denominado de desdobramento, porém o autor alerta que tal expressão foi
aplicada, inicialmente, por Cordeiro (1978, p. 98) ao desenvolver uma pesquisa
minuciosa o sobre o centro de São Paulo. Para ela, esse processo “constitui
5 Esta forma urbana que teve seu ápice por volta da Segunda Guerra Mundial, desde então tem
sido corroída pela suburbanização, descentralização e dispersão (Tradução nossa).
57
um fenômeno de descentralização funcional”, como o que gerou, exemplifica a
autora, o centro expandido da Paulista.
Dessa maneira, o desdobramento é um tipo específico de
descentralização, ou seja, “uma forma de descentralização com
transbordamento”, que se diferencia do subcentro pela não contiguidade
(CORDEIRO, 1978, p. 98). A essa forma não contígua foi atribuído o nome de
centro expandido.
58
CAPÍTULO 2 – AS CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS E SUAS TRANFORMAÇÕES: O CASO DE SOBRAL - CE 2.1 A Urbanização Brasileira e a Emergência das Cidades Médias
No Brasil, as primeiras cidades surgiram ainda no período colonial6,
inicialmente no litoral em decorrência da expansão da produção e
comercialização do açúcar e, em seguida, no interior motivada pela exploração
de recursos minerais mais preciosos, naquele momento, o ouro e o diamante.
Esses localizados inicialmente na porção mais oeste do território.
No fim do período colonial, as cidades, entre as quais avultaram São Luís do Maranhão, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, somavam perto de 5,7% da população total do País, onde viviam, então, 2.850.000 habitantes (SANTOS, 1993, p. 20).
Entre o fim do período em destaque e a década de 1870 poucas
alterações foram sentidas nos índices de urbanização da sociedade brasileira.
Contudo, é a partir da referida década que se conhece a primeira aceleração
desse fenômeno. Em 1872, a população urbana era 5,9% da população total
brasileira, em 1900, saltou para 9,4% e, em 1920, passou para 10,7%, o que
corresponde a um percentual de crescimento de 4,8% em pouco menos de
cinquenta anos (SANTOS, 1993).
Esse impulso do processo de urbanização se deve não apenas ao
modo de produção agrícola e a estrutura fundiária que, naquele momento, já
atuavam no sentido de gerar fluxo migratório na direção campo-cidade, mas
também em razão da ocorrência de alguns fatos, dentre eles podemos citar: a
libertação dos escravos, a Proclamação da República e a emergência de uma
indústria7 que se desenvolvia no encalço das atividades vinculadas à cultura
cafeeira.
6É o período em que o território brasileiro era colônia do Império Português. Esta fase começa
em 1930, assinalado pela expedição de Martin Afonso de Sousa que tinha, dentre outros objetivos, a missão de iniciar o povoamento do Brasil, e termina em 1822, quando o príncipe Dom Pedro I declarou a independência do país. 7 De acordo com Prado Junior (1981), o primeiro impulso industrial brasileiro aconteceu na
década de 1880. A quantidade de estabelecimentos industriais passou de um pouco mais de
59
Na concepção de Villaça (1998), uma das características marcantes do
fenômeno ora apresentado, que começou a se manifestar no Brasil a partir dos
últimos anos do século XIX, foi o acelerado crescimento das camadas
populares.
Calcula-se que existiam no estado de São Paulo 50 mil operários em 1901, dos quais os brasileiros constituem menos que 10%. Pelo recenseamento do Rio de Janeiro de 1906, numa população de 811.443 habitantes, 118.770 são operários: a maioria é de estrangeiros principalmente portugueses e espanhóis (VILLAÇA, 1998, p. 227).
É também interessante observar que nesse período diversas cidades
brasileiras, dentre elas: Belém, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Rio de
Janeiro, passam a experimentar, ainda que de forma incipiente, algumas
reformas urbanas. De acordo com Maricato (2001, p. 17):
Realizavam-se obras de saneamento básico para eliminação das epidemias, ao mesmo tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram implantadas as bases legais para um mercado imobiliário de corte capitalista. A população excluída desse processo era expulsa para os morros e franjas da cidade.
Mesmo com essas modificações, a economia do país se manteve
apoiada nas atividades agrário-exportadoras (especialmente na produção, na
comercialização e na exportação do café). No entanto, a partir dos anos de
1930, o Estado passa a investir densamente nas cidades, concedendo-as uma
melhor infraestrutura para o desenvolvimento industrial, tendo em vista a
produção de bens para o mercado interno.
Verifica-se, deste modo, dois acontecimentos de certa maneira
imbricados: o surgimento da burguesia industrial/comercial e o crescimento e
fortalecimento do mercado de bens e serviços. Ambos eventos tiveram
participação ativa “no processo de urbanização e na formação do sistema
200 em 1881 para mais de 600 em 1889. Do capital investido nesse setor na época (400.000 contos), as maiores aplicações foram nas indústrias dos ramos têxteis (60% do total), alimentícios (15% do total) e de produtos químicos e similares (10% do total).
60
urbano na medida em que favoreceram o crescimento das cidades e o seu
inter-relacionamento” (ANDRADE; LODDER, 1979, p. 18).
Nos estudos de Maricato (2001), percebemos que a industrialização
representou um elemento de progresso para a urbanização da sociedade
brasileira, como pode ser constatado na argumentação a seguir:
[...] a industrialização que se afirma a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra Mundial constituiu um caminho de avanço relativo de iniciativas endógenas e de fortalecimento do mercado interno, com grande desenvolvimento das forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e modernização da sociedade (MARICATO, 2001, p. 18).
As intensas transformações que ocorreram na sociedade e na
economia brasileira, após1930, somente se firmaram com o rápido crescimento
da economia urbano-industrial e com a ampliação e modernização da
infraestrutura de transporte e comunicação, iniciados na década de 1950,
sobretudo, no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com a execução
do Plano de Metas8 de 1956.
É importante lembrar que a referida década é marcada pela inserção
do processo de industrialização em nova etapa. A partir de então, o Brasil
passa a produzir bens modernos, a exemplo dos eletroeletrônicos e do
automóvel. O consumo em massa desses bens transformará expressivamente
o modo de vida das pessoas e o cenário das cidades.
Em se tratando da população brasileira, especialmente a urbana, é
válido mencionar que após o fim da Segunda Guerra Mundial ela cresceu
significativamente. A taxa de urbanização que, em 1940, era de 31,2%
alcançou em 1950, 36,1%, o que corresponde a um incremento de menos de
5% em dez anos. A partir dos anos cinquenta, inicia-se um intenso movimento
migratório na direção campo-cidade9, contribuindo fortemente para a
8 Foi um plano econômico desenvolvido durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-
1961). Este tinha como objetivo principal acelerar o desenvolvimento econômico do país por meio de investimentos em áreas prioritárias, especialmente, indústria e infraestrutura (rodovias, hidrelétricas e aeroportos). 9 Diversos fatores estão associados a esse deslocamento da população brasileira, dentre eles,
podemos ressaltar: a mecanização do campo, a concentração fundiária e a oferta de empregos na cidade decorrente da industrialização. De acordo com Brito e Pinho (2012, p. 07), no ápice do ciclo migratório, ocorrido entre 1960 e o final dos anos de 1980, “saíram do campo para as
61
Fonte: OLIVEN, 2010; SANTOS, 1993 e IBGE, 2000 e 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
aceleração do processo de urbanização. Entretanto, “o adensamento
populacional gerado pelo fluxo migratório vai acontecer, de forma mais intensa,
na região Sudeste, mais precisamente na cidade de São Paulo” (LIMA, 2011, p.
40).
Posto isso, em 1980, a população urbana atingiu 65,1%, um acréscimo
de 29% em apenas trinta anos. Dessa forma, concordamos com Santos (1993,
p. 29), quando relata que “entre 1940 e 1980, dá-se uma verdadeira inversão
quanto ao lugar de residência da população brasileira”. Nas décadas seguintes
esses índices continuaram crescendo, assim, temos, em 2010, uma população
urbana de 84,3% (Tabela 1).
Tabela 1 – População Total e Urbana do Brasil e Índice de Urbanização
Período Pop. Total Pop. Urbana Índice de Urbanização
1940 41.236.315 12.880.182 31,2%
1950 51.944.397 18.782.891 36,1%
1960 70.967.185 31.990.938 45,1%
1970 93.204.379 50.600.000 56,0%
1980 117.357.910 76.400.000 65,1%
1991 150.400.000 115.700.000 77,1%
2000 169.544.443 137.697.439 81,2%
2010 190.742.694 160.879.708 84,3%
Esse acelerado processo de urbanização, constatado no Brasil após
1950, é explicado por Santos (1993, p. 31) da seguinte maneira:
O forte movimento de urbanização que se verifica a partir do fim da segunda guerra mundial é contemporâneo de um forte crescimento demográfico, resultado de uma natalidade elevada e de mortalidade em descenso, cujas causas essenciais são os progressos sanitários, a melhoria relativa nos padrões de vida e a própria urbanização.
Em análise aos dados concernentes ao fenômeno em estudo, no
período de 1940 a 1970, Andrade e Lodder (1979) observaram que a
aceleração do mesmo se deu de maneira uniforme em todas as regiões do
cidades quase 43 milhões de pessoas, considerando, inclusive os ‘efeitos indiretos da migração’, ou seja, os filhos tidos pelos migrantes rurais nas cidades”.
62
Fonte: Adaptado de ANDRADE; LODDER, 1979. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Brasil. Contudo, a averiguação da distribuição percentual da população, total e
urbana, por regiões apontou que, no ano de 1970, 55,5% da população urbana
do país estava localizada no Sudeste, 22,6% no Nordeste, 14,1% no Sul, 4,7%
no Centro-Oeste e 3,1% no Norte (Tabela 2).
Tabela 2 – Distribuição Percentual da População Total e Urbana Por Regiões (1940 - 1970)
Regiões
População Total População Urbana
1940 1950 1960 1970 1940 1950 1960 1970
Norte 3,6 3,6 3,7 3,9 3,1 3,1 3,1 3,1
Nordeste 35,0 34,6 31,6 30,3 26,2 25,2 24,0 22,6
Sudeste 44,5 43,4 43,8 42,7 56,2 57,1 55,6 55,5
Sul 13,9 15,1 16,7 17,6 12,4 12,3 14,0 14,1
Centro-Oeste 3,0 3,3 4,2 5,5 2,1 2,3 3,3 4,7
Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Quando se compara o grau de urbanização de cada região com a do
país (Tabela 3), nota-se que o Sudeste, região com maior dinamismo
econômico, era a única com participação percentual superior a nacional
(56,0%) 10, registrando, em 1970, mais de 72% de sua população como urbana.
Outro dado interessante foi o apresentado pelo Centro-Oeste que, em apenas
vinte anos (de 1950 a 1970), deixou de ser a região menos urbanizada para
assumir o segundo lugar nesse aspecto.
Para Andrade e Lodder (1979, p. 26), o rápido crescimento da taxa de
urbanização da região Centro-Oeste pode ser explicado, dentre outros, pela
ocorrência dos seguintes fatores:
[...] a partir de 1955 teve início a aceleração da ocupação da região com a transferência da Capital Federal para Brasília, ao mesmo tempo que fronteiras agrícolas se expandiam de São Paulo e do Sul em direção à Amazônia, passando por Mato Grosso e Goiás.
Já o Nordeste exibiu uma taxa de crescimento da urbanização menor
que o país como um todo. Por conta disso, essa se apresentou como a região
10
Hoje, a população urbana representa 84,3% da população total brasileira, o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul ultrapassam esse índice com 92,9%, 88,8% e 84,9% de urbanos respectivamente.
63
Fonte: Adaptado de ANDRADE; LODDER, 1974; IBGE, 1980, 1991, 2000, 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
menos urbanizada (41,8%) do país em 1970. No mesmo momento, o Norte e o
Sul mostravam percentuais de urbanos iguais a 45,2% e 44,6%,
respectivamente.
Tabela 3 – Taxas Regionais de Urbanização (1940 a 1980)
Regiões 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Norte 27,7 31,5 37,8 45,2 50,3 59,0 69,8 73,5
Nordeste 23,4 26,4 34,2 41,8 50,4 60,6 69,4 73,1
Sudeste 39,4 47,5 57,4 72,8 82,8 88,0 90,5 92,9
Sul 27,7 29,5 37,6 44,6 62,4 74,1 80,9 84,9
Centro-Oeste 21,2 24,4 35,0 48,2 70,8 81,2 86,7 88,8
Como se nota, há uma expressiva diferença entre os percentuais de
urbanização das regiões. Assim, é necessário elucidar que isso está associado
ao modo desigual como elas foram afetadas pela divisão inter-regional do
trabalho. Além disso, é preciso considerar que a situação anterior de cada
região tem efeito sobre os processos mais novos, como pode ser verificado no
exemplo dado por Santos (1994, p. 69/70):
[...] o Nordeste, onde, uma estrutura fundiária hostil desde cedo a uma maior distribuição de renda, a um maior consumo e a uma maior terciarização, [...] impedia uma urbanização mais expressiva. Por isso, a introdução de inovações materiais e sociais iria encontrar grande resistência de um passado cristalizado na sociedade e no espaço, atrasando o processo de desenvolvimento e de urbanização. Já o Sudeste, mais novo que o Nordeste e mais velho que o Centro-Oeste, consegue, a partir do primeiro momento da mecanização do território, uma adaptação progressiva e eficiente aos interesses do capital dominante. Cada vez que há uma modernidade, esta é encapada pela região.
Nos estudos de Andrade e Lodder (1979), percebemos que, em 1970,
o processo de urbanização brasileiro exibiu como um de seus principais
atributos, a elevada concentração populacional nos grandes centros urbanos.
Tinha-se, naquele momento, uma estrutura urbana constituída de duas
metrópoles nacionais (São Paulo e Rio de Janeiro), seguidas de poucas
metrópoles regionais (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Porto Alegre e Belo
64
Horizonte), que exerciam a função de centros polarizadores dentro das suas
áreas de influência, além de algumas cidades intermediárias e uma ampla rede
de pequenas cidades, que apenas realizavam a ligação entre o urbano e o rural
(ANDRADE; LODDER, 1979; AMORIM FILHO; SERRA, 2001).
Segundo Amorim Filho e Serra (2001, p. 10), com a descrição
sobredita seria possível identificar,
[...] o sistema urbano nacional como tendo um formato “primaz”, o qual, como a própria denominação deixa transparecer, tem como característica marcante a hegemonia de poucos centros de alcance nacional complementado por uma vasta rede de pequenas cidades.
Embora constituindo uma das características da urbanização, a
excessiva concentração de pessoas nas grandes cidades, principalmente nas
metrópoles, é necessário revelar que centros urbanos dos mais diversos
tamanhos, em especial as cidades médias, conheceram incremento de suas
populações, como pode ser conferido na seguinte argumentação de
Steinberger e Bruna (2001, p. 37):
Em1970, 28,2% da população viviam em [cidades] de até 20 mil habitantes, mas em 1980 esta proporção se modificou passando a demonstrar uma tendência de concentração da população em centros de médio porte. [...] várias capitais estaduais tornaram-se metrópoles regionais, comandadas por cidades médias cujos núcleos atingiram entre 500 mil e 1 milhão de habitantes. Ao mesmo tempo, outras cidades médias, com núcleos entre 50 mil e 500 mil habitantes, transformaram-se em centros microrregionais [...]. Desse modo, as cidades médias passaram a desempenhar novos papéis na rede urbana, crescendo em ritmo mais acelerado que as metrópoles.
De acordo com Souza (2009, p. 73), o crescimento populacional das
cidades aludidas se deve, dentre outros fatores, “a políticas de ordenamento
territorial que visavam ‘desafogar’ as metrópoles, que eram áreas de forte
atração para movimentos migratórios devido à centralização de poder político-
econômico”. Assim sendo, as cidades médias emergem como uma forma de
refrear o fluxo migratório em direção às metrópoles.
65
Em meados da década de 1970, a ação do Governo Federal, na
intenção de estruturar o sistema urbano brasileiro, é intensificada com a
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND), de 1975-1979. Entre as estratégias da PNDU, com
tal finalidade, havia o Programa Nacional de Apoio às Capitais e Cidades de
Porte Médio (PNCCPM).
Esse Programa visava desenvolver algumas cidades médias11, no
intuito de torná-las mais atrativas a atividades e pessoas, cooperando tanto
para o incremento econômico das regiões nas quais as mesmas estavam
inseridas, como, também, para suavizar o fluxo migratório rumo às metrópoles
(HOLANDA; MARIA JUNIOR, 2010).
Na concepção de Souza (2009), em análise aos estudos de Amorim
Filho e Serra (2001), era necessário investir no desenvolvimento das cidades
médias, porque tais centros representavam uma alternativa para melhor
equilibrar o sistema urbano nacional.
Na tentativa de alcançar este equilíbrio, Steinberger e Bruna (2001, p.
44) menciona que foram sugeridas pelo PNDU as seguintes estratégias
regionais:
[...] a desconcentração intra-regional na região Sudeste, a ordenação do sistema urbano da região Sul, a dinamização da base econômica das metrópoles regionais do Nordeste e a promoção da urbanização das áreas de ocupação recente das regiões Norte e Centro-Oeste.
Em todas essas estratégias as cidades médias apareciam como
fundamentais, como pode ser observado no detalhamento adiante. No Sudeste
do país a prioridade era incentivar a descentralização de atividades de São
Paulo e do Rio de Janeiro para cidades periféricas de porte médio. Além disso,
sugeriu-se uma desconcentração intrarregional com participação dos centros
urbanos superiores a 50 mil habitantes; no Nordeste, o foco principal era a
11
Na fase inicial do PNCCPM, somente 37 das 95 cidades médias do Brasil, na época, foram selecionadas para serem beneficiadas pelo Programa, sendo oito na região Sul, onze no Sudeste, quatro no Centro-Oeste, treze no Nordeste e uma no Norte. É importante registrar que, no Ceará, entraram apenas as cidades de Crato e Juazeiro do Norte. No ano de 1978, esse número foi revisado e a quantidade de cidades médias brasileiras aumentou para 112. A partir desse momento, a cidade de Sobral foi inserida ao PNCCPM (HOLANDA; MARTA JUNIOR, 2010).
66
melhoria de infraestrutura das capitais e dos polos secundários regionais, bem
como a dinamização de centros urbanos regionais que desempenhassem o
papel de polarizador regional; no Sul, a preocupação maior era com as cidades
que exibiam uma população acima de cinquenta mil habitantes e; no Centro-
Oeste e Norte a prioridade era alavancar a dinamização das capitais e de
cidades situadas em locais estratégicos (STEINBERGE; BRUNA, 2001).
Como se observa, nos anos de 1970, as cidades médias estavam
presentes entre as prioridades das políticas públicas urbanas. No entanto, na
década de 1980, verifica-se um declínio de interesse por esses centros
urbanos. Nesse período, somente uma política pública voltada às cidades
médias foi formulada no Brasil, a saber: o Programa de Cidades de Porte
Médio, integrante do III Plano Nacional de Desenvolvimento (STEINBERGE;
BRUNA, 2001; SOUZA, 2009).
Esse enfraquecimento do interesse pelas cidades médias se deve,
principalmente, a dois fatores: o abrandamento de recursos para o
planejamento urbano e regional e o redirecionado do foco das políticas
urbanas, que passaram a dar maior importância aos problemas sociais no
âmbito do espaço intraurbano, em especial, nos das metrópoles. No entanto,
na década de 1990, estimuladas pelas transformações espaciais ocorridas no
Brasil, as cidades médias voltam ao cerne das preocupações de planejadores e
de pesquisadores acadêmicos (AMORIM FILHO; RIGOTTI; CAMPOS, 2007).
Em suma, podemos mencionar que a partir dos anos de 1970 as
cidades médias passaram a apresentar importância mais significativa na rede
urbana brasileira, atraindo investidores e atividades que, outrora, dirigia-se
exclusivamente para as metrópoles. Além disso, começaram a atrair, mais
intensamente, fluxos migratórios procedentes de cidades do seu entorno e de
espaços mais distantes.
67
2.2 Considerações Sobre as Cidades Médias Cearenses no Contexto
Nordestino
É sabido que a ocupação da maioria dos estados do Nordeste
brasileiro ocorreu do litoral para o interior, impulsionada pela atividade
açucareira. Entretanto, exceção cabe ao Ceará (e também ao Piauí), que teve
a ocupação do seu território do interior para o litoral em virtude da expansão da
pecuária extensiva12, que, como destaca Holanda (2010, p. 76), “já não
dispunha de áreas nas capitanias da Bahia e de Pernambuco, uma vez que a
atividade açucareira em plena expansão substituiria a atividade pecuária”.
De acordo com Jucá (1995), apesar da pecuária se constituir, no
contexto econômico do período colonial, uma atividade complementar à cultura
da cana-de-açúcar, ela representou uma etapa importante no processo de
ocupação do Nordeste, a saber: o início do avanço da ocupação para o interior
da região.
Porém, é importante mencionar que a distribuição dessa atividade pelo
território do Ceará se deu de forma dispersa. Na realidade, as fazendas de
criação de gado, espalhadas pelo interior da Capitania, apresentavam-se
quase que totalmente independentes entre si. Tal fato se deve à
autossuficiência da produção e à distância elevada entre as mesmas. Tem-se
como consequência disso o adiamento da formação dos núcleos urbanos com
função econômica (HOLANDA, 2010).
Complementando essa argumentação, é válido mencionar que, as
primeiras vilas formadas no Ceará não apresentavam as principais
características para a constituição de cidades. É bem verdade que,
inicialmente, essas aglomerações foram criadas por exigência da Coroa
Portuguesa muito mais como uma medida de posse do território do que pelos
rendimentos econômicos da pecuária que, a propósito, eram baixos (JUCÁ
NETO, 2009; HOLANDA; AMORA, 2011).
No entanto, já no século XVIII, com o aumento dos fluxos das boiadas,
a atividade comercial, alicerçada no desenvolvimento da pecuária, conseguiu
12
Vale registrar que a ocupação do território cearense pelos europeus começou no século XVII, sendo, então, considerada tardia, quando comparado com a conquista do litoral açucareiro, ocorrida já no inicio do século XVI. (PINHEIRO, 2000; QUITILIANO; LIMA, 2008).
68
alcançar as rotas comerciais estabelecidas entre o litoral açucareiro, a Europa
e a África. Conforme Jucá Neto (2009, p. 88):
Esta conexão só foi possível porque distâncias foram vencidas, caminhos foram abertos pelos vaqueiros e vilas fundadas em pontos estratégicos dos fluxos que se estabeleciam. Estes caminhos interligaram diversos núcleos pelo sertão adentro e levaram os produtos da pecuária ao litoral, para depois seguir em forma de couro e similares para a Metrópole, via portos de Pernambuco e Paraíba.
Dessa forma, a pecuária, primeira atividade econômica desenvolvida
no Ceará, tornou-se, com a comercialização de seus derivados (carne salgada
ou charque, couro e similares), mais rentável. Por conta disso, ela passou a ser
essencial para a configuração da Capitania do Ceará, pois foi elevada a
condição de vila os núcleos que se desenvolveram em decorrência da criação
de gado. No geral, tornaram-se vilas os núcleos sedes de fazendas, os
situados nos encontros dos caminhos das boiadas e nas proximidades das
fozes dos rios mais importantes ou em suas margens. Jucá Neto (2009, p. 89)
lembra que:
O fato, porém, de aquelas vilas não estarem diretamente associadas à atividade comercial não significa que possam ser excluídas do exercício de compreensão do espaço da civilização do couro na Capitania do Ceará, pois desempenhavam outras funções indispensáveis para trama das relações.
Posto isso, no final do século XVIII, verifica-se na configuração do
território cearense as seguintes vilas: Aquiraz, Aracati, Caucaia, Fortaleza, Icó,
Viçosa do Ceará, Crato, Baturité, Granja, Sobral, Guaraciaba do Norte e
Quixeramobim. Segundo Holanda (2010), um estudo desenvolvido pela
Superintendência do Desenvolvimento do Ceará (SUDEC) sobre a rede urbana
cearense revela as funções básicas desempenhadas por esses centros no
século em destaque (Tabela 4).
69
Fonte: Adaptado de Holanda, 2010.
Tabela 4 – Esboço da Rede Urbana no Final do Século XVIII
Vila ou Povoado Nível Função
Aracati 1º Comercial/administrativa/serviços
Icó 1º Comercial/administrativa/serviços
Sobral 1º Comercial/administrativa/serviços
Crato 1º Agrícola/administrativa/industrial
Camocim 2º Comercial/industrial
Acaraú 2º Comercial/industrial
Quixeramobim 2º Comercial/serviços básico
Fortaleza 3º Administrativa
Aquiraz 3º Administrativa
Granja 3º Industrial
Percebe-se, considerando o estudo supracitado, que das quatro
cidades médias que atualmente compõem a rede urbana cearense (Figura 9),
duas delas já eram centros de expressivo destaque desde o século XVIII.
Figura 9 – Localização das cidades médias cearense
70
Nesse período, Sobral, desempenhando as funções comercial,
administrativa e de serviços, e Crato, exercendo as funções agrícola,
administrativa e industrial, eram centros de primeiro nível, superando, inclusive,
naquele momento, Fortaleza, atual capital do estado.
Fortaleza, juntamente com Aquiraz e Granja, fazem parte das cidades de 3º nível, apresentando, as duas primeiras, destaques quanto às funções administrativas, pois tinham naquele momento pouco intercâmbio comercial com os demais núcleos (HOLANDA, 2010, p. 78).
No que diz respeito às outras duas cidades médias, Iguatu e Juazeiro
do Norte, é válido mencionar que a primeira, desmembrada de Icó em 1851,
quando ainda se titulava Telha13, conhece um significativo crescimento em
razão do cultivo de cereais (a exemplo do arroz) e, principalmente, do algodão.
Já a segunda, elevada a categoria de cidade em 1911, passa a se destacar no
cenário cearense a partir das últimas décadas do século XIX, quando ainda era
distrito de Crato, em função da presença do líder político-religioso Padre
Cícero.
No trabalho de Holanda (2010), constata-se que, embora não seja
diretamente anunciada, a evolução das cidades médias cearenses é tratada
em três momentos. Num primeiro momento, o meio natural é intensamente
transformado e a cidade se destaca como local de comercialização dos
produtos oriundos do campo. Nesse momento, a localização geográfica se
constitui aspecto basilar para o desenvolvimento da cidade, como ocorreu, por
exemplo, com Sobral que,
[...] por situa-se no contato entre três zonas geoambientais, serra, sertão e litoral, funcionando como passagem natural obrigatória para quem penetrasse o oeste do Ceará, consolidando-se como polo regional importante para a economia do Estado. Estava próximo aos portos de Camocim e Acaraú para onde eram levados aqueles produtos coletados por Sobral, como o couro, sola e algodão, para exportação [...] (HOLANDA, 2010, p. 80).
13
Após duas décadas de sua criação, a vila de Telha se tornou um expressivo centro administrativo da região centro-sul cearense. Em 1874, ela foi elevada à categoria de cidade, permanecendo com o mesmo nome até 1883, quando foi substituído por Iguatu. A designação adotada é uma alusão a maior lagoa da cidade (LIMA; AMORA, 2010).
71
No segundo período, houve a integração do território nacional por meio
de investimentos em infraestrutura (rodovias, aeroportos e hidrelétricas), que
deu base ao surgimento de um mercado interno. A Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, criada em 1959 como um dos
mecanismos do Governo Federal para que o país “como um todo entre na
segunda divisão territorial do trabalho”, desempenhou, no Nordeste, um papel
importante na busca de firmar uma política de industrialização na região
(HOLANDA, 2010, p. 83).
No plano estadual, as políticas públicas de planejamento visavam o
desenvolvimento do Ceará mediante a industrialização. Dentre as ações com
essa finalidade, podemos destacar o primeiro Plano de Metas Governamentais
– PLAMEG realizado pelo governo Virgílio Távora (1963-1967), e mais dois
projetos: o Asimov14, instalado na cidade de Crato em 1962 e; o Programa
Universitário de Desenvolvimento do Nordeste – PUDINE15, implantado em
Sobral em 1966.
De acordo com Amora e Costa (2007, p. 364), apesar das diversas
ações voltadas à industrialização do nordeste brasileiro, “as cidades médias
não tiveram a sua dinâmica atrelada ao setor secundário”. Na realidade, o que
ocorre nesse período é o fortalecimento desses centros urbanos, bem como a
ampliação de suas áreas de influência, em virtude do crescimento e da
diversificação das atividades terciárias.
No último período, ocorre o esgotamento do modelo de
desenvolvimento assentado na substituição de exportações, o fim da reserva
de mercado, a abertura econômica e a política neoliberal, ocasionando
modificações na configuração do território brasileiro, nas relações que o país
estabelece com outras nações, no seu sistema regimental, entre outros. Nesse
período, ao contrário do anterior, as ações do governo federal voltadas para o
14
Esse projeto foi idealizado e coordenado pelo Professor Morris Asimov do setor de engenharia da Universidade da Califórnia – UCLA. “A ideia era promover a integração entre universitários da Califórnia e o conhecimento dos problemas ligado à industrialização das regiões menos desenvolvidas do mundo”. O projeto Asimov foi implantado no Crato através de convênio entre a Universidade Federal do Ceará (UFC), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e UCLA (HOLANDA, 2010, p. 85). 15
O grupo brasileiro que trabalhou com o professor Morris passou a coordenar o projeto Asimov. Esse, então, passa a ser designado de Programa Universitário de Desenvolvimento do Nordeste (PUDINE), em 1966.
72
crescimento econômico são reduzidas, ao passo que a participação dos
estados vai aos poucos sendo ampliada, com a inserção de grupos
pertencentes às elites locais em diferentes cargos da política nacional
(HOLANDA, 2010; AMORA; COSTA, 2007).
Na região Nordeste, a partir dos anos de 1980, os centros urbanos
passam a experimentar uma economia alicerçada na interiorização da
indústria, na agroindústria e no turismo. No caso do Ceará, esse modelo de
crescimento econômico se fortalece a partir de 1987, quando o governo
estadual é assumido por um grupo de políticos vinculados ao Centro Industrial
do Ceará (CIC) e a Federação Industrial do Estado do Ceará (FIEC), liderado
por Tasso Ribeiro Jereissati.
É a partir dessa administração, cujo lema era “governo das mudanças",
em que se predominou o discurso modernizante do referido governo, tendo
inicio um intenso movimento de atração de investimentos para o Ceará,
sobretudo aqueles ligados ao setor industrial. Segundo Amora e Costa (2007,
p. 368),
Os municípios cearenses atuaram para atrair empresas, disponibilizando terrenos em distritos industriais, com infraestrutura e serviços. As cidades médias apresentam mais vantagens nessa guerra fiscal, pois além de incentivos, disponibilizavam meios técnicos mais modernos e eficientes, fundamentais para o funcionamento de fábricas que têm o centro de comando em outros estados e um mercado consumidor nos mais diferentes países.
Posto isto, nesse período, verifica-se, dentre outros fatores: a
consolidação do polo têxtil e de confecções na Região Metropolitana de
Fortaleza (RMF); a chegada da Grendene, empresa com sede no Rio Grande
do Sul e maior empregadora privada do Ceará, com fábricas de calçados na
RMF e nas cidades médias de Crato e Sobral. Nesta última, a Grendene
emprega atualmente cerca de 20 mil pessoas; e a instalação de indústrias
calçadista, de ourivesaria e de cerâmica no Cariri. Nessa região, a cidade
média de Juazeiro do Norte se destaca ao apresentar a maior concentração de
micro e pequenas empresas calçadistas do Ceará.
73
Fonte: HOLANDA; AMORA, 2011 e IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Atualmente, a atividade secundária se mostra importante na
composição do Produto Interno Bruto (PIB) das cidades médias cearenses
(Tabela 5). Porém, a economia desses centros urbanos se caracteriza por ser
essencialmente terciária e “cada vez mais se fortalece, já que a indústria gera
empregos diretos e indiretos, ampliando a massa de consumidores de bens e
serviços” (AMORA; COSTA, 2007, p. 369).
Tabela 5 – PIB das Cidades Médias cearenses por atividade econômica em 2011
Atividade Crato Iguatu Juazeiro do
Norte Sobral
Agropecuária 2,79% 5,01% 0,36% 1,56%
Indústria 19,77% 14,26% 16,88% 30,27%
Serviços 77,44% 80,73% 82,76% 68,14%
PIB Total Absoluto 1.022.157 878.953 2.249.645 2.436.463
Assim, verifica-se no cenário dessas cidades um intenso crescimento
das atividades comerciais e de serviços (Tabela 6), com destaque maior para
Juazeiro do Norte e Sobral que demonstraram o maior volume de
estabelecimentos desse setor. Além disso, representações regionais de
instituições estaduais e federais (Coordenadoria Geral de Desenvolvimento da
Educação – CREDE; Secretaria da Fazenda – SEFAZ; Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE; entre outros) passaram a se alocar nesses
centros urbanos, reforçando o papel desempenhado por eles nas suas
respectivas regiões de influência.
Tabela 6 – Registro das Atividades Comerciais e de Serviços nas Cidades Médias Cearenses
Cidade/Ano 1995 2000 2005 2009 2013
Crato 620 878 1.092 1.310 1.982
Iguatu 365 676 926 1.088 2.071
Juazeiro do Norte 1.146 1.894 2.620 3.318 5.534
Sobral 849 1.369 1.617 1.950 3.548
No que concerne à distribuição dos empregos nas cidades em estudo
(Tabela 7), observa-se que, na maioria delas, a indústria de transformação,
74
Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
bem como o comércio e a prestação de serviços são as atividades que
apresentam os maiores números de empregos formais. Exceção cabe à cidade
média de Crato, que tem um percentual de contratados no setor público
(31,51%) superior ao da indústria de transformação (25,26%), porém inferior ao
da atividade comercial e serviços (39,85%). Juazeiro do Norte exibe o maior
número de pessoas ocupadas no comércio e na prestação de serviços, se
comparado às outras cidades médias cearenses, com 58,72% do emprego
formal. Em Iguatu, essa atividade também é responsável pela maioria do
pessoal ocupado, com 48,73%. Já em Sobral, é a indústria de transformação
que exibe o maior percentual de ocupações formais, com 46,51% contra
43,78% do comércio e serviços. Como se observa, o setor terciário é
predominante no conjunto das atividades urbanas nas cidades anunciadas,
com exceção de Sobral, onde a indústria de transformação é preponderante,
visto que a cidade abriga a indústria Grendene, maior empregadora privada do
Ceará.
Tabela 7 – Distribuição dos Empregos Formais nas Cidades Médias Cearenses em 2013
Atividade/Cidade Crato Iguatu Juazeiro do Norte
Sobral Ceará
Administração Pública
6.806 2.773 6.848 2.905 395.278
Comércio
3.841 4.512 13.208 9.042 259.949
Serviços
4.767 2.418 13.666 13.057 454.959
Indústria de Transformação
5.457 3.870 10.345 23.485 263.819
Demais Ocupações
731 647 1.694 2.000 121.918
Total
21.602 14.220 45.761 50.489 1.495.923
Quanto à dinâmica demográfica, vale destacar o elevado crescimento
populacional total e urbano apresentado por esses municípios a partir da
segunda metade dos anos de 1980 (Tabela 8). Crato exibiu o maior
crescimento da taxa de urbanização, passando de 54,58%, em 1980, para
83,10%, em 2010, um acréscimo de 28,52% em três décadas. Juazeiro do
75
Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Norte tem a maior população do interior cearense com 249.939 habitantes,
seguido por Sobral com 188.233 pessoas. O percentual de urbanização desses
dois municípios são, respectivamente, 96,07% e 88,35%. Já Iguatu teve perda
de população no período de 1980 a 1991. Entretanto, nas décadas posteriores
mostra expressivo aumento da taxa de urbanização, passando de 70,64%, em
1991, para 77,33%, em 2010, e sua população total volta a ganhar incremento.
Tabela 8 – População Total, População Urbana e Taxa de Urbanização de Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte e Sobral (1980-2010)
Ano/Município Crato Iguatu Juazeiro do
Norte Sobral Ceará
1980
Pop. Total 82.949 80.677 135.616 118.026 5.380.432
P. Urbana 45.273 58.272 126.027 82.417 2.877.555
T.U (%) 54,58 72,23 92,93 69.83 53,48
1991
Pop. Total 90.519 75.649 173.566 127.489 6.362.620
P. Urbana 70.280 53.123 164.922 103.868 4.158.059
T.U (%) 77,64 70,22 95,02 81,47 65,36
2000
Pop. Total 104.646 85.615 212.133 155.276 7.418.476
P. Urbana 83.917 62.366 202.227 134.508 5.304.554
T.U (%) 80,19 72,84 95,33 86,63 71,50
2010
P. Total 121.428 96.495 249.939 188.233 8.452.381
P. Urbana 100.916 74.627 240.128 166.310 6.346.557
T.U (%) 83,10 77,33 96,07 88,35 75,09
É importante, ainda, salientar que quando se compara os dados
populacionais desses municípios com o total da população cearense, nota-se
que as taxas de urbanização dos mesmos são superiores a do estado do
Ceará. Segundo Holanda e Amora (2011), as modificações ocorridas na
urbanização cearense nas últimas décadas estão atreladas as novas dinâmicas
experimentadas por suas cidades médias resultantes, principalmente, dos
investimentos exógenos. Essas aplicações atribuem um novo papel a esses
centros urbanos, que passam a estabelecer relações com os espaços mais
distantes ao passo que fortalece suas ligações com os espaços mais próximos.
76
2.3 De Fazenda à Cidade: a importância da atividade comercial para a
formação inicial de Sobral
A hipótese mais disseminada sobre a colonização do Ceará é a de que
ela tenha se iniciado em decorrência das invasões holandesas16, sucedidas no
final da primeira metade do século XVII. No intuito de escapar dos conflitos,
diversos imigrantes provenientes da Bahia, Pernambuco, Rio Grande Norte e
Paraíba se refugiaram no interior cearense, inicialmente, no vale do Jaguaribe,
onde instalaram várias fazendas de criação de gado e, posteriormente, em
outros pontos da Capitania.
Os primeiros colonizadores a chegarem a região da bacia do Acaraú
datam da segunda metade do século XVII, sendo em sua maioria oriundos de
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa constatação foi realizada
por Linhares (1922), a partir da análise de um antigo documento de doação de
terras por sesmarias.
Confirma-o uma antiga data concedida a 8 de novembro de 1682 pelo Capitão-mór Bento de Macêdo Farias, ao Capitão Bento da Silva, Jorge Coelho de Souza e a outros, moradores todos nas capitanias de Pernambuco, Parahyba e Rio Grande do Norte, em 50 leguas de terra pela costa abaixo a contar do Rio Pará (?) ao Rio Mundahú, nelas compreendida entre outras a bacia do Acaraú (LINHARES, 1922, p. 255).
Duas localidades se destacam como as primeiras habitadas na região
de Sobral, são elas: a povoação do Riacho dos Guimarães, atualmente
Groaíras, onde, em 1712, já estava alocada uma pequena Capela (Nossa
Senhora do Rosário) e; a povoação de São José, hoje Patriarca (Distrito de
16
Foram expedições militares holandesas contra o Nordeste brasileiro. O objetivo maior era restabelecer o comércio açucareiro entre Brasil e Holanda, perdido com a instauração da União Ibérica (domínio da Espanha sobre Portugal no período de 1580 a 1640). Os holandeses conseguiram invadir o Brasil em dois momentos: a primeira campanha invasora ocorreu em 1624, quando se apossaram de Salvador, sendo expulsos no ano seguinte; já a segunda empreitada aconteceu em 1930, desta vez contra Olinda, o que permitiu o controle de grande parte do Nordeste até 1654.
77
Sobral), onde, em 1718, foi construída uma Capela em homenagem à Nossa
Senhora da Conceição17.
Já o povoamento da área onde atualmente se assenta a cidade de
Sobral teve início com o surgimento da Fazenda Caiçara – instalada no centro
da Ribeira do Acaraú, no entroncamento das estradas que tinham como
destino o Piauí e o Maranhão de um lado, e o Aracati e a rota das boiadas do
outro (Figura 10).
17
É importante registrar que em 1697, em expedição de reconhecimento da Ribeira do Acaraú, o Capitão Felix da Cunha Linhares implantou a primeira fazenda à margem direita do rio. A partir dessa fazenda surgiu o povoamento de São José (Patriarca).
79
A propriedade era pertencente ao Capitão Antônio Rodrigues
Magalhães e sua esposa Quitéria Marques de Jesus, como pode ser
constatado na argumentação a seguir:
Em 14 de outubro de 1702, o português Antônio da Costa Peixoto, vereador de Aquiraz, conseguiu uma sesmaria na ribeira do Acaraú, local onde hoje está localizada a cidade de Sobral, estendendo-se da margem esquerda do Rio Acaraú ao sopé da Serra da Meruoca. Parte dessa sesmaria foi herdada por sua filha Apolônia, casada com Antônio Marques Leitão. Mais tarde, sua filha, Quitéria Marques de Jesus, casada com Antonio Rodrigues Magalhães, herdou a propriedade de seus pais (GIRÃO E SOARES, 1997, p. 19).
No intuito de exemplificar o padrão deste criatório, torna-se apropriado
destacarmos uma breve descrição realizada por Lira (1971, p. 19) de fazendas
encontradas em diversos pontos do Ceará em 1780.
[...] possuía casas sólidas, espaçosas, de alpendres hospitaleiros, currais de mourões, por cima dos quais se podia passear, bolandeira para o preparo de farinha, teares modestos para o fabrico de redes ou pano grosseiro, açudes, engenhocas para preparar rapadura, capela e até capelões, cavalos de estimação, negros africanos [...] como elemento de magnificência e fausto.
Em julho de 1742, foi construída em terras doadas pelo Capitão
Antonio Rodrigues Magalhães, a pedido do Padre Lino Gomes Correia, a
Matriz sede do Curato de Acaraú. A partir dessa iniciativa nascia o povoado da
Caiçara. De acordo com Rocha (2003, p. 39), a preferência pela Fazenda
Caiçara como sede do Curato estaria relacionada à sua localização em “um
ponto estratégico [...] donde se podia ter o controle religioso desde a Ibiapaba
até às margens do rio Mandaú” (Figura 11).
80
Fonte: ROCHA, 2003.
Figura 11 – Área do Curato de Acaraú
Em análise aos trabalhos de diversos pesquisadores locais, dentre eles
Linhares (1922), Frota (1974) e Paiva (2009), percebemos que a geografia
local se constituiu aspecto importante para a formação de Sobral.
Graças à sua posição, à amenidade do clima suavizado, durante os ardores do estio, pelos ventos aliseos, à aproximação das serras de Meruoca e Rosario, prolongamento d’aquella, serras ubérrimas em produtos agrícolas, e ainda é cordilheira de Ibyapaba, que não fica longe, intermediando-lhe apenas uns 60 kilometros (...), a povoação expande-se rapidamente, cresce, avoluma-se, desenvolve-se, torna-se centro de grande commercio, attrahindo ao seio as populações adventícias de procedências varias [...], que aqui encontravam meios certos e seguros de se enriquecerem dedicando-se à criação de gados mais fácil, productiva e remuneradora na Ribeira do Acaracú do que em qualquer outra parte (LINHARES, 1922, p. 261).
Tendo como principal atividade a pecuária, o arraial da Caiçara logo se
tornou um expressivo centro populacional, a ponto de em 1768 contar com 75
81
casas ocupadas, número superior ao estabelecido pela Ordem Régia de 22 de
julho de 1766, que determinava a existência de, no mínimo, cinquenta
habitações para um povoado ser elevado à condição de vila.
Posto isso, no dia 5 de julho de 1773 o 10° Ouvidor-Mor do Ceará,
João da Costa Carneiro e Sá, elevou o antigo arraial de Caiçara à Vila,
denominando-a de “Vila Distinta e Real de Sobral”. Em Rocha (2003, p. 46),
verifica-se uma explicação para a origem do nome ora apresentado:
[É um] nome tipicamente lusitano. “Distinta”, por ser colonizada por brancos – portugueses ou seus descendentes – sem origem indígena, como ocorria nas missões. E Real, “porque criada por ordem direta do Rei e com a senha de sua proteção e simpatia”. E porque Sobral? Segundo Pe. Sadoc de Araújo, em homenagem ao compadre do capitão fundador da Fazenda Caiçara, José Rodrigues Leitão, que morrera naquele ano de 1773 e fora enterrado na Matriz da Caiçara. Por ser natural de Sobral da Lagoa, Concelho de Óbidos, Portugal, foi-lhe feita esta oportuna homenagem [...].
A localização, nas proximidades dos rios Acaraú, Coreaú e Acaratiaçu,
facilitou para a Vila de Sobral a sua ascensão como núcleo hegemônico na
região norte do território cearense. Na extensão das diversas estradas que
seguiam as margens desses rios aportavam currais e núcleos de moradores
que escoavam sua produção para a referida Vila e, ao mesmo tempo,
buscavam produtos em seu comércio.
Os produtos oriundos do desenvolvimento da pecuária eram exportados através do porto do Acaraú para os principais portos da Colônia, possibilitando, em troca, a entrada de objetos de luxo como pratarias, porcelanas, cristais, móveis de jacarandá e materiais de construção – elementos indicativos de prosperidade econômica e símbolos do poder ascendente de determinados grupos locais. Essas e outras mercadorias seguiam do porto para Sobral e, depois, ganhavam fazendas e povoados próximos (BARBOSA, 2000, p 09).
A dedicação à criação de gado assinalou Sobral como uma das áreas
pastoris mais importantes do cenário cearense. É necessário ressaltar que, no
período chamado ciclo do gado, o momento de maior prosperidade ocorreu
82
com a comercialização da carne de charque18. Para Soares (2000), esse
produto fez de Sobral o segundo maior polo produtor do estado, chegando a
apresentar, na segunda metade do século XVIII, mais de cem criatórios, sendo
superado apenas pela Vila de Aracati.
Rocha (2003, p. 38), ao tratar desse assunto, relata que:
O charque passou a ser competitivo com a carne bovina da Paraíba, que estava mais próxima dos centros consumidores, e enriqueceu os fazendeiros do interior e os donos das oficinas de salga nos portos da Capitania do Ceará. O desempenho dos binários Icó – Aracati e Sobral – Acaraú foram os de maior destaque.
No entanto, em decorrência das secas prolongadas no final do século
XVIII, parcela considerável do rebanho cearense foi destruída, resultando na
desarticulação do comércio de charque. Além disso, deve ser destacado que
outros fatores também contribuíram para tal processo, como a concorrência da
carne seca da região sul do Brasil e o cultivo do algodão, que era mais rentável
do que produzir charque.
Desse modo, o ouro branco, como era designado o algodão, passa a
despontar como o principal produto da economia cearense, sendo, inclusive,
responsável por ingressar o estado no cenário exportador brasileiro19 (Tabela
9). Todavia, é importante frisar que isso “não implicou o fim da atividade
pecuária, mas sim uma sobreposição de atividades, o binômio gado-algodão”
(ALMEIDA, 2009, p. 57).
18
Dois momentos marcam a comercialização do gado cearense com os centros consumidores da Zona da Mata. Inicialmente, os rebanhos eram enviados a pé para serem vendidos, principalmente, nas feiras de Olinda, Recife, Igaraçú e Goiana, o que não era tão lucrativo para os fazendeiros, pois em decorrência das longas viagens os animais emagreciam e, consequentemente, perdiam valor de venda. Num segundo momento, no intuito de diminuir os prejuízos, os fazendeiros cearenses passaram a abater o gado e salgar sua carne para mantê-la conservada. Dessa forma, a carne já convertida em charque poderia ser enviada aos consumidores sem a preocupação com perda de peso (QUINTILIANO & LIMA, 2008; ROCHA, 2003). 19
As primeiras exportações de algodão cearense diretamente para a indústria inglesa datam de 1809, porém o maior impulso se deu no período de 1864 a 1875, em decorrência da Guerra de Secessão (1860-1865) ocorrida nos Estados Unidos, principal fornecedor de matéria-prima para a Inglaterra (BRÍGIDO, 1910; VIANA, 1990; ROCHA, 2003; ALMEIDA, 2009).
83
Fonte: BRÍGIDO, 1910.
Tabela 9 – Quantidade de Algodão Exportado do Ceará em 1811
Porto
Para Pernambuco
Para Londres
Para Liverpool
Total
De
Fortaleza
575 sacas
(2.128 Arrobas)
1.971 sacas
(8.108 Arrobas)
245 Sacas
(1.118 Arrobas)
2.791 sacas
(11.354 Arrobas)
De
Aracati
2.079 Sacas
(9.249 Arrobas)
_
_
2.079 Sacas
(9.249 Arrobas)
De
Acaraú
1.474 Sacas
(5.581 Arrobas)
_
_
1.474 Sacas
(5.581 Arrobas)
De
Camocim
78 Sacas
(278 Arrobas)
_
_
78 Sacas
(278 Arrobas)
Total
4.206 Sacas
(17.236 Arrobas)
1.971 sacas
(8.108 Arrobas)
245 Sacas
(1.118 Arrobas)
6.422
(26.462 Arrobas)
Com o acúmulo de funções, alguns núcleos populacionais evoluíram
para cidades. Dentre elas, destaca-se a vila de Sobral, elevada a tal categoria
em 1841, recebendo do, até então, Presidente da Província, Senador José
Martiniano de Alencar, o nome de “Fidelíssima Cidade Januária do Acaraú”.
Denominação essa que não agradou a população devido à ausência do nome
“Sobral”. Com isso, em 1842, após apelo popular, esse espaço urbano recebeu
a desejada designação.
O elevado crescimento econômico apresentado por Sobral no século
XIX, proporcionado principalmente pelo binômio gado-algodão e, também, pela
comercialização de produtos provenientes da carnaúba, contribuiu para a sua
consolidação como importante nó na rede urbana cearense. Essa questão
pode ser verificada a partir da argumentação de Monié (2001, p. 28):
[...] o desenvolvimento da produção e do comércio de algodão e de produtos derivados da palmeira de tipo Carnaúba, confirmou a relevância econômica de Sobral em escala regional. Charque, couro, algodão, óleos vegetais e artefatos de palha se afirmam então como principais elos de inserção da economia sobralense com o exterior.
A respeito da configuração do espaço urbano sobralense no início do
período em pauta, é importante ressaltar a existência de dois núcleos
84
Fonte: ROCHA, 2003
principais: o da Matriz, nas imediações da Catedral, e do Rosário, nas
proximidades da Igreja do Rosário dos Pretinhos. Num primeiro momento,
esses núcleos não se estabeleciam efetivamente integrados, fato que veio
mudar com a construção do mercado público (Figura 12), entre 1818-1821.
Figura 12 – Mercado Público no Início do Séc. XX
O mercado foi erigido onde, no presente, situa a Praça Coronel José
Saboia. Esse edifício se tornou a principal concentração comercial da cidade,
direcionando para si um expressivo número de pessoas até o ano de 1930,
quando ocorreu a demolição do prédio. Em 1940, foi inaugurado um novo
mercado (Figura 13), localizado a aproximadamente 500 metros a oeste da
antiga estrutura.
85
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2013)
Figura 13 – Atual Mercado Público localizado a oeste do antigo mercado
Rocha (2003, p. 107), ao tratar da importância da locação do mercado
para a estrutura urbana de Sobral na época, argumenta que:
A maior característica da primeira metade dos oitocentos foi, sem dúvida, [...] a implantação do Mercado, integrando os dois núcleos originais da cidade (Matriz e Rosário) através das Ruas Velha e Nova do Rosário e reforçando a ligação entre elas, o Becco do Cotovelo, ou Travessa do Xerez.
Percebe-se, assim, que a atividade comercial naquele momento já se
estabelecia como uma indutora do processo de transformação do espaço
urbano sobralense. É bem verdade que esta atividade, aspecto preponderante
até os dias atuais na cidade, caracterizou a economia de Sobral no decorrer do
século XIX, e o ativo contato com importantes mercados, em especial os de
Pernambuco e Maranhão, fortaleceram esse atributo.
Na segunda metade dos anos oitocentos – num período em que
Fortaleza começa a se destacar no cenário cearense, obtendo rápido
crescimento em decorrência de suas relações diretas com o mercado
estrangeiro – verifica-se o declínio de algumas cidades do Ceará. Uma das
86
exceções foi Sobral, que deu continuidade a sua fase de crescimento até 1877,
ano de uma das secas mais devastadoras da história do estado.
Algumas das principais consequências causadas por esse fenômeno
climático podem ser visualizadas no seguinte argumento de Paiva (2009, p.
52):
No último quartel do século XIX as epidemias e a grande seca, trouxeram grandes impactos para a cidade. O rebanho cearense foi arrebatado quase por completo, causando grande desestabilidade a economia sobralense. Elevado número de mortos e a expressiva emigração do campo para as cidades figuram entre os impactos de maior relevância.
Embora com perda de população, a cidade foi sustentada pela classe
elitizada, que era vista com bons olhos pela Corte. Rocha (2003, p. 115)
enfatiza essa questão ao descrever que: “[...] as boas relações da classe
dominante cearense e sobralense com a Corte sustentaram a cidade no ano da
seca que dizimou todo o rebanho cearense”. Por ocasião desses vínculos,
Sobral obteve recursos que foram fundamentais para aquisição de gêneros
alimentícios e medicamentos, além de possibilitar a criação de frentes de
trabalho20. Dessa forma, os percentuais de emigração e de mortalidade foram
reduzidos.
O final do século XIX e início do século XX foram de mudanças
significativas no espaço urbano sobralense. Primeiro em decorrência da
atividade industrial, pois com a instalação das primeiras grandes fábricas na
cidade, a exemplo da Fábrica de Tecidos Sobral e da Companhia Industrial de
Algodão e Óleos S.A (CIDAO)21, houve a criação das primeiras vilas22 voltadas
20
As frentes de trabalho foram responsáveis pela construção de diversos equipamentos emergenciais na cidade, a exemplo da Cadeia Pública (1879) e, também, por terem dado andamento as obras do Teatro São João (1875) e do Hipódromo. Estes dois últimos demonstram a força econômica e política de determinados grupos locais (PAIVA, 2009). 21
A Ernesto & Ribeiro, também conhecida por Fábrica de Tecidos Sobral, foi fundada em 1895 pelos empresários Ernesto Deocleciano de Albuquerque e Cândido José Ribeiro. Atualmente, esse espaço abriga parte do Campus Sobral ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC). Já a Companhia Industrial de Algodão e Óleos (CIDAO) foi fundada em 1921 por Trajano Saboya Viriato de Medeiros. Hoje, funciona nesse local o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e, também, o Campus Sobral do Instituto Federal do Ceará (IFCE). 22
De acordo com Rocha (2003), a Fábrica de Tecidos Sobral construiu, na década inicial do Século XX, a primeira vila operária de Sobral, composta por dezenas de casas com água canalizada.
87
à moradia dos operários, o que resultou na expansão do perímetro territorial
urbano. Nesse contexto, o comércio continuou sendo a atividade de maior
destaque na economia de Sobral.
E segundo, devido à criação e à atuação da diocese, liderada
inicialmente por Dom José Tupinambá da Frota. Esse membro do clero foi
responsável por grandes obras na cidade, tais como: a Santa Casa de Sobral,
o Ginásio Diocesano (atual colégio Farias Brito), o Palácio Episcopal (atual
colégio Santana), o Seminário Menor da Betânia (atual campus central da
Universidade Estadual Vale do Acaraú), entre outros. Esse momento pode ser
verificado nos estudos de Freire e Holanda (2011, p. 48), quando narram que:
[...] a cidade de Sobral passava por mudanças expressivas na vida política, econômica, cultural e religiosa, com a construção de grandes obras de infraestrutura. Nesse período, a figura de Dom José Tupinambá da Frota foi relevante.
É válido ressaltar que as grandes construções da Diocese, idealizadas
pelo bispo, foram distribuídas estrategicamente no espaço urbano, aspecto que
deu certo direcionamento à expansão da cidade. Em conjunto a esse
crescimento, tem-se a reafirmação da atividade terciária para além da
população local.
Os primeiros quarenta anos da segunda metade do século XX não
foram pródigos para Sobral, pois os gestores não se preocuparam com o
crescimento econômico da cidade, proporcionado, principalmente, pela
atividade comercial e pela indústria, com isso não houve investimentos em
infraestrutura urbana. Na realidade, o que se verificou foi que, naquele
momento, o lucro passou a suplantar todos os valores socioculturais que
orientavam as intervenções urbanísticas (ROCHA, 2003; SILVEIRA, 2013).
Na última década do século em destaque, iniciou-se uma nova fase de
“investimento” em Sobral. Com a já consolidada Fábrica de Cimento do Grupo
Votorantim, que aportou em Sobral por meio dos incentivos da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)23 em 1964 e,
23
Outras fábricas surgiram em Sobral por meio dos subsídios da SUDENE, algumas delas com efetiva participação de grupos locais, a saber: a Laticínios Sobralense S/A – LASSA (laticínio), a Companhia Sobralense de Materiais de Construção – COSMAC (materiais de construção), a Fábrica Coelho (massas) e a Guaraná Delrio (refrigerantes).
88
especialmente, com a instalação da indústria Calçadista Grendene, em 1994,
mediante incentivos fiscais em meio a outro contexto político e econômico
vivenciado pelo estado do Ceará.
Na virada do século XX, verifica-se um impulso na expansão e
modernização das atividades terciárias. Soma-se a isso, o surgimento de uma
nova elite empreendedora local que fez reviver no sobralense a autoestima
perdida desde a morte de Dom José Tupinambá da Frota.
A importância da presença dessa nova classe local é mencionada por
Assis e Rodrigues (2008a, p. 349), ao relatarem que:
[...] o crescimento da cidade média de Sobral se deve à presença de uma elite empreendedora que tenta construir no imaginário coletivo nacional a ideia da “modernização política” iniciada na cidade nas duas gestões do ex-prefeito Cid Ferreira Gomes (...), hoje, governador do Ceará, irmão do ex-ministro, deputado federal e presidenciável Ciro Gomes.
Em meados da década de 1990 e nos primeiros anos do século XXI,
essa elite, com alianças e cargos políticos nas mais diversas escalas,
desenvolve uma gestão com a construção de equipamentos de grande
impacto, como a urbanização da margem esquerda do rio Acaraú, a reforma do
terminal rodoviário, duplicação de avenidas, entre outros (como fez outrora
Dom José Tupinambá da Frota) e, além disso, atrai investimentos expressivos
para Sobral, principalmente no que se refere ao setor industrial e nas
atividades comerciais e de serviços. Tais fatores reafirmam Sobral como
importante polo regional no noroeste cearense que influencia um extenso
território.
89
2.4 O poder público: ações e implicações para (re)organização das
atividades econômicas em Sobral
Diversos aspectos estão na base do processo de mudança política,
econômica e cultural, iniciado em Sobral a partir de meados da década de
1990, dentre eles, podemos destacar: a crise institucional de 1995, provocada
pelo afastamento do então prefeito Aldenor Façanha Junior por motivo de
corrupção24; o Conselho Comunitário, criado por intelectuais, empresários e
várias notabilidades sobralenses (entre eles membros da Igreja Católica e da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA), com o objetivo de protestar
contra a instabilidade político-administrativa e, principalmente, contra a
decadência social e econômica que Sobral vivenciava e; a divulgação do
Manifesto ao Povo de Sobral, documento que alertava os poderes constituídos
e a sociedade civil, de forma geral, sobre os fatores que conduziram Sobral a
um dos momentos mais críticos da administração pública municipal.
Em análise a esse documento, Monié (2001) ressalta que ele
denunciava, dentre outros fatores:
[...] a prática generalizada do empreguismo e a força das redes clientelistas; a falta de investimentos em serviços e equipamentos públicos; a ausência de projeto para a cidade; o improviso permanente da administração municipal; a desmobilização da juventude e o repúdio crescente pela classe política; a indiferença dos poderes constituídos do estado do Ceará perante esta situação (MANIFESTO AO POVO DE SOBRAL apud MONIÉ, 2001, p. 37).
Esse manifesto deu suporte à formulação de um discurso de
modernidade colocado em prática a partir de 1997, quando um grupo de jovens
políticos25, liderado por Cid Ferreira Gomes, assume o governo municipal. O
modelo de gestão, mais participativo e descentralizado, adotado por essa nova
24
No relatório do TJCE (2005), consta que: [...] Aldenor Façanha Júnior, no período em que esteve à frente da Prefeitura Municipal de Sobral, durante o ano de 1995, realizou despesas sem promover o indispensável processo licitatório, deixou de prestar contas e omitiu-se no dever de controlar os gatos realizados às expensas do erário público municipal. Já [...] Francisco Ricardo Barreto Dias, que também exerceu o cargo no exercício financeiro de 1995, cometeu as mesmas irregularidades acima descritas, além de não efetivar o controle das doações efetuadas pelo Município de Sobral. 25
Esse grupo era formado essencialmente por empresários, professores, membros da Igreja Católica, militantes, dentre outros.
90
administração viria substituir as práticas político-administrativa, verticalizadas e
hierarquizadas da “velha classe” econômica e política do interior cearense.
Durante os oitos anos (1997-2004) que Cid Gomes permaneceu à
frente da prefeitura municipal de Sobral, foram desenvolvidas diversas ações
que cooperaram para mudanças expressivas no território, com destaque para:
a elaboração do II Plano Direto de Desenvolvimento Urbano – PDDU26, em
2000, com a finalidade de normatizar o uso da cidade; a reforma da máquina
administrativa, com a implantação de uma gestão pública mais conectada com
o empreendedorismo e; a reforma fiscal, com a instalação de um sistema de
arrecadação mais racional, possibilitando aumentar a contribuição recolhida
pelo município (HOLANDA, 2007).
Essa gestão centralizou força, também, em políticas públicas
destinadas, especialmente, ao desenvolvimento da educação e da saúde. Tais
serviços são apontados pelo representante da gestão municipal de Sobral,
como fundamentais para atração de investimentos para o município na
atualidade:
[...] sem sombra de dúvida, hoje, Sobral é referência na educação, no seu empreendedorismo de ser, nas suas peculiaridades, no desenvolvimento econômico e estamos caminhando para o desenvolvimento social. Temos outro quesito que é fundamental, qualidade de vida. Quando você atrai essas empresas, os primeiros quesitos são exatamente isso que lhe digo, são: os índices socioeconômicos, índice de educação, índice de saúde e a questão da segurança (Represente da Gestão Municipal de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014).
Além dessas ações, houve, ainda, programas e projetos que
objetivaram o propalado desenvolvimento local, sendo os mais expressivos:
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (PADL), Programa Trabalho
Pleno e Programa de Desenvolvimento Econômico de Sobral (PRODECON),
os quais serão brevemente detalhados.
26
É importante ressaltar que o I Plano Diretor de Sobral foi elaborado no ano 1967, por iniciativa do Governo do Estado. De acordo com Rocha (2003, p. 220), o prefeito daquela época, “Jerônimo Prado, teve a oportunidade de nortear sua administração levando em conta diretrizes básicas para cada setor (...). O Plano Diretor de 67 seguiu a linha do planejamento setorial e, sem o acompanhamento e as atualizações necessárias, caiu no abandono [...]”.
91
O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (PADL) foi implantado
em Sobral em 1997, por meio de um convênio entre a Prefeitura Municipal de
Sobral, o Banco do Nordeste, a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e
o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e visava à
capacitação e qualificação, principalmente, de membros de associações e
cooperativas de produção. As ações de capacitação do PADL tinham como
propósito: a auto-organização das comunidades urbanas e rurais; o
fortalecimento das organizações; o incentivo a geração de empreendimentos
associativos e/ou individuais; entre outros (MONIÉ, 2001; LOURENÇO, 2003).
De acordo com Holanda (2007), apesar do programa ter apresentado
êxito no que se refere à busca de parcerias com instituições públicas e
privadas, “não teve a mobilização necessária para o sucesso pleno do mesmo.
São vistos como causas: a dispersão dos sujeitos envolvidos, a cultura de
resultados a curto prazo, a pouca consciência da própria comunidade”
(HOLANDA, 2007, p. 126).
Da mesma maneira que o PADL, o Programa Trabalho Pleno também
surgiu em 1997. Idealizado apenas como um projeto, ele passou por
reformulações e, atualmente, apresenta-se como um articulador de vários
projetos que têm como objetivo principal gerar emprego e renda. O Trabalho
Pleno tem suas ações centralizadas no apoio a micros e pequenos negócios
formais e informais por meio de três etapas: cursos de capacitação, acesso ao
crédito produtivo e comercialização. Nessas etapas, ele funciona em parceria
com diversas instituições públicas e privadas, dentre elas: o SEBRAE, a UVA,
o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) e a Caixa Econômica
Federal.
Entre os projetos que no presente compõem o Programa Trabalho
Pleno, estão:
1) o Projeto Circuito de Feiras Nos Bairros e Distritos, que tem como
foco viabilizar a comercialização dos produtos e serviços
oferecidos por micro e pequenos empreendedores, profissionais
autônomos e artesãos formais e informais dos bairros e distritos
de Sobral. E, em parceria com as instituições locais, lideranças
92
comunitárias e o terceiro setor, capacitar, permitir o acesso ao
crédito e incentivar o processo de formalização;
Sobre a importância desse projeto para os bairros de Sobral, o
representante da gestão pública municipal de Sobral argumenta que:
[...] o circuito de feiras atua nos mais de vinte bairros de Sobral, incentivando a comercialização e a produção dos produtos para que se possa divulgar e disseminar o que cada bairro tem de melhor. Então, existe esse interesse porque cada vez mais a gente tem que vivenciar e tem que tratar os bairros, mais a cidade, com as suas peculiaridades (Representante da Gestão Pública de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014).
2) o Projeto Confecção, criado para atender os confeccionistas
autônomos formais e informais do município de Sobral, tem como
objetivo promover a organização tecnológica e gerencial dos
empreendimentos inseridos ao projeto, visando à geração de
emprego e renda e, dessa forma, o desenvolvimento
socioeconômico;
3) o Projeto Beleza Rende, consiste em ações de capacitação
profissional voltada a indivíduos que atuam no serviço de beleza
(cabelereiros, manicures, depiladoras, etc.) do município, bem
como para a formação de novos profissionais que buscam uma
oportunidade nesse ramo, no intuito de promover a
competitividade do setor, com o intuito de gerar emprego e renda
e;
4) o Projeto EI (Empreendedor Itinerante) que, destinado ao
comércio ambulante (vendedores de sorvetes, pipocas,
espetinhos, hot dog, etc.), tem como objetivo tornar os
vendedores profissionalizados e padronizados (carrinhos e
quiosques adequados, fardamentos, acessórios de segurança e
higiene, capacitação, etc.), com o objetivo de incrementar suas
vendas e sua renda.
93
Já o Programa de Desenvolvimento Econômico (PRODECON)27, criado
pela Lei Municipal n° 313, de 26 de Junho de 2001, tem como principal
finalidade atrair empreendimentos que explorem as potencialidades do
município, como: mão de obra e matéria-prima. O PRODECON possibilita o
acesso do investidor a diversos incentivos municipais, tais como: terrenos,
infraestrutura do entorno, planejamento do negócio e ISS incidente sobre os
serviços de projeto, entre outros.
Esse programa aparece no depoimento do representante da gestão
pública como o principal mecanismo de atração de investimentos de grande
porte para o município de Sobral:
[...] o PRODECON, que é um programa de desenvolvimento econômico, criado na época do então prefeito Cid Gomes e agora governador, possibilitou, sobretudo, uma ampliação no nosso parque industrial [...]. Hoje nós temos a dádiva de ter uma das maiores fábricas de calçados do mundo, que é a Grendene, com aproximadamente vinte mil trabalhadores. Então, pra grandes investimentos nós temos o PRODECON que é um incentivo as empresas que são pioneiras em tecnologias não poluentes para vir se instalar no município (Representante da Gestão Pública de Sobral. Entrevista cedida em Outubro de 2014)
Além dos benefícios supracitados, esse programa concede incentivos à
implantação, à ampliação, à relocalização, à diversificação e à modernização
de empreendimentos, sejam eles industriais, comerciais, turísticos ou de
infraestrutura.
O PRODECON e o Trabalho Pleno são, na atualidade, os principais
mecanismos municipais de estímulo à atividade econômica e, de acordo com
Holanda (2007), “respondem em parte pelas modificações nos circuitos da
economia urbana, com repercussão em empreendimentos tidos como mais
dinâmicos e competitivos”, exibindo uma sensível queda no índice de
desemprego e incremento nas taxas de imigração.
27
É importante ressaltar que o PRODECON surgiu da parceria entre o governo municipal e estadual.
94
Fonte: IBGE Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
CAPITULO 3 – DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES TERCIÁRIAS DE COMÉRCIO E SERVIÇOS EM SOBRAL-CE 3.1 O Processo de Descentralização das Atividades Comerciais e de
Serviços em Sobral/CE
Procuramos na pesquisa realizar um levantamento de dados que
possibilite revelar um pouco da Sobral do presente, para, assim, podermos
trilhar um percurso em direção à compreensão da força e da expansão da
atividade comercial e de serviço na cidade em destaque.
Posto isso, podemos ressaltar de imediato o quadro demográfico do
município nas últimas décadas. Com base nos dados adquiridos junto ao
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Sobral
passou de 127.489 habitantes, em 1991, para 155.276, em 2000, e para
188.233, em 2010, correspondendo a uma taxa de crescimento de 47,7%
(Gráfico 1).
Gráfico 1 - População Total do Município de Sobral/CE
Os dados indicam, ainda, que dos 188.233 habitantes de Sobral, 86,6%
residem em espaços urbanos. De acordo com as informações contidas no
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
200.000
1991 2000 2010
127.489
155.276
188.233
95
Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Plano de Desenvolvimento Industrial (PDI), esse fator pode ser atribuído à
atividade industrial que requer uma grande quantidade de mão de obra.
Sobre a economia sobralense, é importante salientar que – baseada na
produção industrial, no comércio e na prestação de serviços – ela se desponta
como uma das maiores do estado do Ceará, sendo a maior do interior
cearense (Tabela 10), polarizando um vasto território. Esse fenômeno teve
impulso na década 1990, tendo como um dos condicionadores a presença de
uma elite política mais conectada com o empreendedorismo, que se destacou
pela utilização de um discurso modernizador, entre as suas premissas estava a
busca por investimentos exógenos, sem perder de vista o fortalecimento dos
investidores locais28.
Tabela 10 – Produto Interno Bruto das Cidades Médias Cearenses
Municípios PIB (R$ mil)
Sobral 1.964.743
Juazeiro do Norte 1.595.504
Crato 726.944
Iguatu 602.302
Num comparativo do PIB de Sobral com a da capital do estado
cearense, notamos que Fortaleza apresenta um PIB dezesseis vezes superior
ao de Sobral. Todavia, é importante enfatizar que Fortaleza é detentora de
mais de 40% do PIB total do estado.
Tabela 11 – Produto Interno Bruto (R$) de Sobral comparado com os de Fortaleza, do Ceará e do Brasil
Municípios, Estado e País PIB (R$ mil)
Sobral 1.964.743
Fortaleza 31.789.186
Ceará 74.949.000
Brasil 3.674.000.000
28
São trabalhos que refletiram sobre essas premissas com viés diferentes: MONIÉ, Frédéric. Reestruturação Produtiva, desconcentração industrial e desenvolvimento local: Modernização, taylorização do território e políticas públicas inovadoras no município de Sobral, Ceará. 2001. Relatório de pesquisa. Mimiografado; b) LOURENÇO, M. S. M. Trabalho Pleno: construção do desenvolvimento local. Sobral: Edições UVA, 2003.
96
Fonte: IBGE, 2010 Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014)
No que se refere à renda per capita, Sobral exibiu nos últimos vinte
anos uma das maiores médias de crescimento do estado do Ceará. Conforme
os números evidenciados pelo Atlas de Desenvolvimento Humano (2013), o
rendimento per capita de Sobral, no ano de 2010, foi de R$ 448,89, valor
significativo quando confrontado com o de outros municípios do noroeste
cearense, como, por exemplo, Coreaú e Santa Quitéria. Contudo, bem distante
da cifra apresentada por São Caetano do Sul, município do estado de São
Paulo e, que tem a maior renda por individuo (Tabela 12).
Tabela 12 – Evolução da Renda Per Capita (R$) de Sobral e Outros Municípios
Município 1991 2000 2010 Crescimento no
Período (%)
Sobral/CE 198,63 299,41 448,89 125,99
Coreaú/CE 114,08 126,82 210,65 84,65
Sta. Quitéria/CE 87,41 160,84 238,84 173,24
S. Caetano do Sul/SP 1.107,53 1.639,93 2.043,74 84,53
Em relação às finanças, é válido enfatizar a receita municipal,
entendida como sendo o conjunto de recursos financeiros que entram nos
cofres públicos oriundos de diversas fontes. Ao analisarmos os dados
pertinentes a essa questão, constatamos que a receita total do município nos
últimos anos apresentou um acréscimo significativo, sendo de R$ 97,6 milhões,
em 2001, alcançando R$ 374,5 milhões, em 2011. No que tange aos gastos
municipais, houve um aumento representativo, passando de 91,7 milhões, em
2001, para 365,1 milhões, em 2011. O gráfico 2 mostra essa evolução da
receita e das despesas do município.
97
Fonte: Tribunal de Contas do Município (TCM) / IPECE (Perfil Básico Municipal). Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Gráfico 2 – Receita e Despesa Municipal de Sobral/CE (R$ Milhões)
Buscamos, também, realizar uma caracterização dos serviços ligados à
saúde e à educação da cidade em estudo, visto que esses atendem centenas
de pessoas oriundas do noroeste cearense e até mesmo de outros estados, o
que denota uma dinâmica diferenciada em seu espaço intraurbano, quando
comparado às cidades do seu entorno.
O serviço de saúde, atualmente, é composto por sete hospitais de
médio e grande porte, quais sejam: Santa Casa de Misericórdia, Hospital do
Coração, Hospital Dr. Estevam, Hospital Mista Dr. Tomaz Correa Aragão,
Hospital Unimed (privado), Policlínica Bernardo Félix da Silva e o Hospital
Regional Norte, considerado o maior hospital do interior do Nordeste (Figura
14). Além desses equipamentos, podemos contabilizar ainda 33 Centros de
Saúde/Unidade Básica; 14 Unidades de Apoio Diagnose e Terapia (SADT
Isolado) quatro farmácias públicas, entre outras instituições que somados,
totalizam 185 estabelecimentos de saúde. O sistema de saúde de Sobral foi um
dos primeiros a adotar o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e
o Programa Saúde da Família (PSF).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
2001 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2011
Receita Municipal Total Despesa Municipal Total
98
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Figura 14 – Hospital Regional Norte A Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Regional Norte se
constituem, hoje, como as principais referências para toda a zona norte do
Ceará. Juntos a duas unidades hospitalares somam 759 leitos para uso do
SUS e atendimento em diferentes especialidades. O Hospital Regional Norte,
inaugurado recentemente, tem capacidade para realizar 1.300 internações por
mês, segundo informações da Secretária da Saúde do Estado. A força desse
serviço repercute no consumo, ajudando a dinamizar a atividade comercial,
conforme argumenta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojista (CDL) de
Sobral, Deocleciano da Frota:
[Com o hospital regional] vai aumentar o fluxo de pessoas circulando em Sobral, vindas de todos os municípios da região. [...] com maior fluxo de pessoas, teremos maior movimento nos transportes das cidades que vão levar mais gente para almoçar nos restaurantes, comprar sapatos e eletrodomésticos nas lojas, gerando mais renda29.
No âmbito educacional, os dados capturados junto à Secretaria da
Educação do Estado do Ceará (SEDUC) revelam que Sobral conta com 102
29
Entrevista concedida à Assessoria de Comunicação da Secretária da Saúde do Estado do Ceará. Disponível em: <http://www.saude.ce.gov.br/index.php/noticias/45707-governador-inaugura-dia-18-o-maior-hospital-no-interior-do-ceara>. Acesso em 14 de Abr. de 2014.
99
Fonte: SEDUC, 2013 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
estabelecimentos de educação básica (público e privado), equipados com
bibliotecas e/ou salas de informáticas. A quantidade total de alunos
matriculados nessa escala de ensino no município é de 62.101 (Tabela 13). O
ensino infantil abrange 15,34% do total de alunos registrados, o fundamental
possui 50,35%, o ensino médio conta com 20,15%, a educação profissional
perfaz 2,15%, a educação especial compreende 0,04% e a educação de jovens
e adultos (EJA) 11,97%.
Tabela 13 – Alunos Matriculados no Ensino Básico de Educação em Sobral/CE em 2013
Modalidade Quantidade %
Ensino Infantil 9.525 15,34
Ensino Fundamental 31.270 50,35
Ensino Médio 12.510 20,15
Educação Profissional 1.337 2,15
Educação Especial 27 0,04
Educação de Jovens e Adultos 7.432 11,97
Total de Alunos 62.101 100
No que se refere ao ensino superior, a cidade é contemplada com três
instituições de ensino público – Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA),
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e um
campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) – que oferecem diversos
cursos de graduação e pós-graduação. Na esfera particular é crescente o
número de faculdades e institutos de ensino presencial e à distância.
Com base no PDI de Sobral, notamos que do total de alunos
matriculados no ensino superior em Sobral, 50,1% estão registrados na rede
estadual, 7,2% na federal e 42,7% na rede particular. É importante comentar
que na cidade há estudantes provenientes de diversos municípios do noroeste
cearense e também de outras localidades do Brasil, tal movimentação ajuda na
expansão do comércio.
A atividade industrial também tem auxiliado na transformação da
paisagem urbana de Sobral e na reorganização do comércio e do serviço, visto
que a partir da década de 1990, o número de empregos gerados pela indústria
100
Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2013. Elaboração: PEREIRA, 2014
cresceu consideravelmente. Nesse período, o principal destaque foi a
implantação da indústria calçadista gaúcha Grendene, em 1993.
Na análise da quantidade de empresas industriais em Sobral no ano de
2012, notamos que das 483 indústrias, 82,81% pertenciam ao ramo de
transformação, acompanhadas pela indústria da construção civil, com 13,66%.
Já as indústrias dos ramos de extrativa mineral e utilidade pública contabilizam
3,53% (Gráfico 3). No estado do Ceará, o total de indústrias no mesmo ano era
de 30.324.
Gráfico 3 - Percentual de Indústrias por Ramo de Atividades
No que concerne ao número de empregados, o setor industrial
apresentou em 2013 um efetivo de 25.451 funcionários, o que corresponde a
50,41% da quantidade total de empregos formais em Sobral, essa
predominância do emprego industrial contraria a realidade das cidades médias
cearenses de Crato e Juazeiro do Norte, onde se apresenta o predomínio do
emprego formal na atividade de comércio e de serviço (Tabela 14).
82,81%
13,66%
2,91% 0,62%
Ind. Transformação
Ind. Construção Civil
Ind. Ext. Mineral
Ind. Util. Pública
101
Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, 2014
Fonte: IPECE (Perfil Básico Municipal), 2014. Elaboração: PEREIRA, 2014
Tabela 14 – Total de Empregos Formais em Sobral em 2013
Setor Núm. de Empregados %
Industrial 25.451 50,41
Comercial 9.042 17,91
Serviços 13.057 25,86
Adm. Pública 2.905 5,75
Agropecuária 34 0,07
Total 50.489 100
Na análise por ramo de atividade, notamos que a indústria de
transformação abarcou 92,28% do total de empregos formais. Esse percentual
se deve em grande parte à participação da empresa calçadista Grendene, que
se consolidou como a maior empregadora privada do Ceará. Em relação ao
percentual de ocupações nos outros ramos, a indústria da construção civil
contou com 5,34%, as indústrias de extrativo mineral e a de utilidade pública
quantificaram 2,38%. A tabela 15 mostra o total de empregos na indústria por
ramo de atividade nos últimos anos em Sobral.
Tabela 15 – Total de Empregos Formais na Indústria por Ramo de Atividade
Ano Total Ind.
Transformação Ind. Const.
Civil Ind. Util. Pública
Ind. Ext. Mineral
2007 20.669 19.958 263 345 103
2008 18.148 16.748 953 335 112
2010 23.995 21.992 1.515 328 160
2011 21.610 19.712 1.398 330 170
2012 23.725 21.603 1.618 323 181
2013 25.451 23.485 1.360 364 242
Os setores de saúde, educação e a atividade industrial foram
destacados em nosso estudo pelo fato de ajudarem a estimular a expansão
das atividades comerciais e de serviços na cidade de Sobral, constatação que
aparece nos depoimentos do Presidente da CDL de Sobral e do Vice-
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Sobral (ACIS). Além
desses três fatores, os entrevistados destacaram, ainda, a administração de
Cid Ferreira Gomes, considerada por eles como sinônimo de
empreendedorismo, pelos programas e parcerias criados em suas duas
102
gestões como prefeito de Sobral (1996-2000 e 2001-2004). Vejamos alguns
trechos dos depoimentos:
[...] Sobral foi favorecida por já ser um polo regional de talvez aí umas dez cidades mais próximas menores, mas de uma forma mais ampla quarenta cidades, ela pega toda a região da Ibiapaba, região do Camocim, Santa Quitéria... Embora exista uma divisão, existem cidades melhores, mas Sobral termina centralizando, principalmente, por via das instituições de ensino superior e pela saúde, que nós temos a Santa Casa como referência da região. Agora com esse Hospital Regional, com o tempo eu acho que também vai ter esse efeito. Então, Sobral, por ter essas duas coisas que atraem muito, termina se favorecendo ainda mais, eu acho que ela cresceu bem mais por causa disso. Além disso, a Grendene chegou aqui em 1996 [1993], ela hoje tem mais de 20 mil, 22 mil funcionários. Então, tanto as pessoas vêm todo dia, como algumas se mudam pra cá, e isso terminou inchando um pouco a cidade... É um desenvolvimento, assim, no entender de nós [...], do comércio, que se dividido esse desenvolvimento industrial seria melhor para todo mundo, mas Sobral recebeu a maior indústria e centralizou muita coisa, né? Porque as outras são muito pequenas. Além disso, nós tivemos a sorte de ter um bom administrador municipal, que conseguiu organizar a cidade de forma que ela facilite a implantação [...] de novas empresas com benefícios, embora os benefícios ainda não sejam tão bons quanto o comércio queria (Representante da Associação Comercial e Industrial de Sobral – ACIS. Entrevista cedida em Março de 2014). [...] um dos elementos que aumentou muito o movimento de Sobral foi a administração Cid Gomes e a inauguração da Grendene. O prefeito Cid Gomes abriu uma época de desenvolvimento em Sobral. Ele inaugurou grandes obras, desenvolveu o comércio, talvez ele tenha sido o prefeito que mais esteve ao lado da CDL... A Grendene tem, vamos pegar no pico, 23 mil funcionários, [que] circulam na cidade, compram na cidade e desenvolvem a cidade, mesmo que os 23 mil não sejam residentes em Sobral, mas é um fator muito importante para o desenvolvimento (Representante da Câmara de Dirigentes Lojistas de Sobral. Entrevista cedida em Março de 2014).
Após essas falas, passamos para a análise das atividades de
comércios e serviços de Sobral. Numa averiguação dos dados encaminhados
pela Junta Comercial do Estado do Ceará (JUCEC), referentes ao registro de
estabelecimentos comerciais em sua totalidade na cidade de Sobral, notamos
103
Fonte: HOLANDA, 2007/JUCEC, 2012.
Elaborado: PEREIRA, F. I. F. (2014).
que o bairro Centro ainda responde pela maior parcela desses
empreendimentos, ou seja, 64,0%, como exposto no gráfico 4.
Gráfico 4 – Expansão do Comércio em Sobral/CE (%)
Contudo, é válido ressaltar que a alocação de comércios em
localidades além-centro tem aumentado significativamente nos últimos dezoito
anos (Gráfico 04), com destaque para os seguintes bairros: Alto do Cristo,
Campo dos Velhos, Junco, Padre Ibiapina e Sinhá Saboia. Hoje, esses cinco
bairros apresentam 18,8% do total de pontos comerciais, quantidade superior à
exibida pelos demais trinta e um bairros da cidade, que unidos contam com
17,2% dos estabelecimentos. A tabela 16 mostra a distribuição de
estabelecimentos comerciais na cidade de Sobral segundo dados da JUCEC
(2012).
1996 2006 2012
85,8%
72,7%
64,0%
14,2%
27,3%
36,0%
Centro Demais Bairros
104
Fonte: JUCEC, 2012 Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Tabela 16 - Distribuição do Comércio por Bairro em Sobral (2012)
Bairros Número de Estabelecimentos
Centro 943
Alto da Brasília 16
Alto do Cristo 47
Cachoeiro -
Campo dos velhos 50
Cid. Gerardo Cristino de Menezes 12
Cid. José Euclides F. Gomes Junior 28
Cid. Pedro Mendes Carneiro 13
COHAB I 6
COHAB II 37
Coração de Jesus 7
Derby Clube 9
Distrito Industrial 8
Dom Expedito 15
Dom José 10
Domingos Olímpio 3
Doutor Juvêncio de Andrade 3
Edmundo Monte Coelho -
Expectativa 33
Jardim -
Jatobá -
Jerônimo de Medeiros Prado 3
Juazeiro -
Junco 97
Mucambinho -
Nações -
Nossa Senhora de Fátima -
Novo Recanto -
Padre Ibiapina 37
Padre Palhano 8
Parque Silvana 8
Pedrinhas 18
Renato Parente -
Sinhá Saboia 46
Sumaré 10
Várzea Grande 1
Vila União 5
Total 1.473
Quando analisamos somente as informações concernentes às
atividades comerciais de maior porte, a exemplo de supermercados,
concessionárias de veículos e farmácias, observamos que, assim como o
comércio em sua totalidade, há uma tendência desses estabelecimentos na
busca pelas localidades além-centro. Nesse aspecto, o Centro apresentou
105
66,9% dos referidos empreendimentos. Já os bairros Junco, Campo dos Velhos
e Sinhá Saboia, que foram os que mais se sobressaíram na amostragem,
possuindo 15,1% dos estabelecimentos. Os outros 18,0% dos
empreendimentos comerciais se distribuem entre os demais trinta e três
bairros.
Como pode ser notado, os bairros Alto do Cristo e Padre Ibiapina
mostraram um significativo destaque, quando verificamos o registro de
pequenos comércios, provavelmente justificados pela intensificação da política
fiscal implementada pela gestão municipal, que desde 1996 visa registrar todas
as atividades comerciais, independente do seu porte. Podemos inferir, ainda,
que nesses bairros há um predomínio de comércios de consumo cotidiano30.
No que se refere às atividades de serviços, notamos, a partir dos dados
capturados junto a Classificação Nacional de Atividades Econômicas –
CNAE/IBGE (2010), que eles também estão mais concentrados no Centro
(61,0%), mas, assim como se verificou em relação ao comércio, há também
uma dispersão em direção a outros bairros da cidade, com destaque para o
Junco (7,1%), Campo dos Velhos (5,3%) e Sinhá Saboia (3,2%).
30
Comércio cotidiano é aquele de consumo básico diário e que, normalmente, apresenta-se disperso pelo território, como exemplo, podemos citar: padarias, frigoríficos e mercearias (DUARTE, 1974; CONTEL, 2010).
106
Fonte: CNAE/IBGE, 2010.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Tabela 17 – Distribuição dos Serviços por Bairros em Sobral/CE
Bairros Número de Estabelecimentos
Centro 695
Alto da Brasília 13
Alto do Cristo 34
Cachoeiro -
Campo dos Velhos 61
Cid. Gerardo Cristino de Menezes 1
Cid. Jose Euclides F. Gomes 9
Cid. Pedro Mendes Carneiro 11
COHAB I 7
COHAB II 8
Coração de Jesus 9
Derby Clube 15
Distrito Industrial 15
Dom Expedito 17
Dom José 22
Domingos Olímpio 20
Doutor Juvêncio de Andrade 1
Edmundo Monte Coelho -
Expectativa 19
Jardim -
Jatobá 4
Jerônimo de Medeiros Prado 8
Juazeiro -
Junco 82
Mucambinho -
Nações -
Nossa Senhora de Fátima -
Novo Recanto -
Padre Ibiapina 17
Padre Palhano 5
Parque Silvana 9
Pedrinhas 15
Renato Parente -
Sinhá Saboia 37
Sumaré 7
Várzea Grande -
Vila União 2
Total de Serviços 1.143
Vale frisar que esses espaços vêm sendo alvo não somente das ações
da iniciativa privada, mas da aliança desta com o poder público local e/ou
estadual31. A atuação deste último se mostra perceptível nesses lugares por
31
Com a vinda desses novos atores privados, geralmente, o governo local, ao invés de elaborar projetos que busquem a melhoria da sociedade como um todo, acaba por investir
107
meio da instalação de infraestrutura (como distribuição da rede elétrica e
hidráulica, alargamento de ruas e avenidas, entre outros) e, também, mediante
a instalação de grandes equipamentos (a exemplo de hospitais, escolas, etc.).
Tais aspectos vêm incorporando nesses espaços uma dinâmica
diferenciada, se comparada a outros bairros da cidade.
3.2 Os Novos Territórios de Atividades Comerciais e de Serviços em
Sobral/CE
Com base no tópico anterior, percebemos que os bairros além-centro
que vêm abrigando a maior quantidade de comércios e serviços não são
aqueles onde se encontra a população de maior poder aquisitivo ou os
demograficamente mais densos. Mas sim, aqueles territórios constituídos por
importantes vias de saída da cidade, como é o caso do Junco, Campo dos
Velhos e Sinhá Saboia.
No Bairro do Junco, localizado ao oeste da cidade, tendo seus limites
territoriais com os bairros Parque Silvana e Cidade Pedro Mendes Carneiro ao
norte, Domingos Olímpio e Vila União ao Sul, Cidade Dr. José Euclides ao
oeste e Campo dos Velhos ao leste, as atividades comerciais e de serviços
estão mais concentradas na Avenida John Sanford. Esse endereço funciona
como via principal e encontra rodovias para a saída da cidade em direção aos
municípios de Meruoca, Alcântaras e Coreaú.
No Campo dos Velhos (antigo Loteamento Parque Alvorada), situado
no noroeste da cidade, tendo seus limites com os bairros Parque Silvana e
Expectativa ao norte, Alto do Cristo ao sul, Junco ao oeste e Centro e Coração
de Jesus ao leste, as atividades comerciais e de serviços se distribuem por
diversos logradouros do bairro, porém, há uma maior aglomeração na Avenida
Doutor José Arimathéa Monte e Silva (popularmente chamada de Avenida do
Contorno). Esta também funciona como corredor principal de saída da cidade
em direção aos municípios de Meruoca, Alcântaras e Coreaú.
parte dos recursos humanos e financeiros da cidade em infraestruturas necessárias para a implantação desses novos equipamentos mais “modernos” (CONTEL, 2010, p. 31).
108
Já no Bairro Sinhá Saboia, localizado no sudeste da cidade, tendo seus
limites territoriais com os bairros Várzea Grande ao norte, Conjunto
Habitacional I (COHAB I) ao sul, Conjunto Habitacional II (COHAB II) ao leste e
Cidade Gerardo Cristino de Menezes a oeste, as atividades em estudo se
concentram, sobretudo, na Avenida Senador Fernandes Távora, logradouro
que se conecta tanto à BR 222, permitindo a saída da cidade em direção a
região metropolitana de Fortaleza, bem como à rodovia estadual, que
possibilita o acesso ao município de Groaíras.
As avenidas John Sanford, Dr. José Arimathéa Monte e Silva e
Senador Fernandes Távora se constituem importantes corredores de saída da
cidade de Sobral e, também, permitem o acesso aos principais bairros da
mesma. O intenso fluxo de pessoas que transita por elas diariamente atrai para
si atividades comerciais e de serviços expressivos. Tais características se
assemelham as de um eixo comercial, elucidado por Duarte (1974, p. 86) como
sendo:
[...] ruas ou avenidas que, por constituírem importantes vias de acesso aos principais bairros, a circulação nelas concentrada provoca intenso movimento diário de pessoas que se desloca de um ponto a outro da cidade, atraindo para si lojas comerciais importantes.
Por conta dessas propriedades, selecionamos essas vias para análise.
Além delas, consideramos também as avenidas Senador José Ermírio de
Moraes, localizada no limite dos bairros Dom José, Padre Ibiapina e Alto do
Cristo e, Monsenhor Aloísio Pinto, situada no Dom Expedito. A inclusão dessas
duas avenidas se deve ao fato de ambas apresentarem características
similares a dos três endereços citados anteriormente, constatação verificada
pelas modificações ocorridas na paisagem desses lugares.
Na análise dessas avenidas, procuramos identificar: as atividades
predominantes; a situação das empresas (situação do local de funcionamento,
quantidade de funcionários e tempo de atividade); o perfil dos proprietários
(faixa etária, sexo, nível de escolaridade, origem e ramos de atuação); as
estratégias de mercado utilizadas para atrair novos consumidores e; o perfil
(poder aquisitivo e origem) dos consumidores dos produtos e/ou serviços
oferecidos.
109
Na figura 15, ressalta-se a localização geográfica das cinco avenidas
de destaque na cidade de Sobral.
110
Figura 15 – Localização das Avenidas Pesquisadas na Cidade de Sobral-CE
LOCALIZAÇÃO DAS AVENIDAS PESQUISAS NA
CIDADE DE SOBRAL-CE
111
3.2.1 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida John Sanford
Oficializada pela Lei Municipal 133/66, a Avenida John Sanford tem
uma extensão de aproximadamente 1.800 metros e percorre todo o Bairro do
Junco, no sentido leste/oeste. Embora o seu maior trecho (cerca de 1.200
metros) esteja situado nessa localidade, é importante frisar que a mesma se
inicia no Bairro Campo dos Velhos, mais precisamente no cruzamento da Rua
Tabelião Idelfonso de Holanda Cavalcante com a Rua Viriato de Medeiros e
termina nas ruas Menino Jesus de Praga e Jucá Parente, no limite do Junco
com o Bairro Cidade Pedro Mendes Carneiro.
É interessante salientar que na extensão da John Sanford, assim
como em ruas próximas a ela, estão situadas diversas instituições públicas que
fizeram dela destino de toda a cidade e também da região noroeste do Ceará,
a saber: Hospital Regional Norte; Centro de Saúde da Família; Centro de
Ciências Humanas da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA); nova sede
do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN); o Estádio Plácido Aderaldo
Castelo (popularmente conhecido como Estádio do Junco ou Juncão); Núcleo
de Perícia Forense da Região de Sobral; três escolas de ensino fundamental;
uma escola de ensino médio e uma escola de ensino profissional em tempo
integral.
A pesquisa direta realizada na via em pauta apontou que entre os
estabelecimentos comerciais e de serviços consultados, destacam-se os
seguintes tipos de atividade: os alimentícios e bebidas, com os mercadinhos e
supermercados; o automotivo, com as lojas e oficinas de automóveis e
motocicletas; o gastronômico, com os restaurantes e lanchonetes; o de
materiais para a construção, com lojas de materiais de construção em geral e;
as de saúde e estética, com as farmácias e clínicas médicas (Tabela 18).
112
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Tabela 18 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida John Sanford, Sobral-CE
Tipo de Atividade (%)
Alimentícios e Bebidas 22,8
Armarinhos e Papelarias 1,8
Assistência Técnica 7,0
Automotivo 21,1
Comunicação Visual 5,3
Cursos 1,7
Gastronômico 8,8
Lazer 1,7
Material de Construção 8,8
Moveis e Eletrodomésticos 1,7
Profissionais Liberais 1,7
Saúde e Estética 8,8
Outras Atividades 8,8
Total 100,0
Um aspecto interessante do comércio alimentício e de bebidas na John
Sanford é a presença de um supermercado de rede proveniente de Fortaleza, o
Pinheiro Supermercado. Essa empresa, com características de um centro
comercial, tem agregado à sua loja principal diversos equipamentos
importantes, tais como: agência dos correios, caixas eletrônicos, cinema,
parque infantil, restaurante e lanchonete. De acordo com Maria Junior (2004, p.
90), a instalação desse equipamento, “num espaço da cidade pouco valorizado,
revitalizou a incipiente função comercial do bairro, que se destinava às classes
populares”, adicionando valor aos espaços vazios e ajudando a dinamizar os
fluxos.
Outro fator que se deve ressaltar na avenida em estudo é a presença
de estabelecimentos pertencentes a redes de farmácias que até recentemente
só era possível encontrar no centro tradicional de Sobral, a exemplo das
Farmácias Pague Menos e da Extrafarma (Figuras 16 e 17, respectivamente).
A presença dessas filiais demonstra a importância que essa avenida vem
assumindo no espaço urbano sobralense nos últimos anos.
113
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Figura 16– Farmácias Pague Menos Figura 17 – Filial da Extrafarma
A figura 18 apresenta a distribuição das atividades comerciais e de
serviços mais representativos pela Avenida John Sanford.
115
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Em relação à situação das empresas pesquisadas na via em pauta, a
maioria (59,6%) realiza suas atividades em imóveis alugados. No que diz
respeito à quantidade de funcionários, 75,4% apresentam um quadro formado
por até três trabalhadores. Isso se justifica pela quantidade de microempresas
alocadas na via nos últimos anos. Quanto ao tempo de funcionamento das
mesmas, 73,3% têm entre um e 10 anos de atividade e, apenas, 24,5% estão
ativas há mais tempo (Gráfico 5). Assim, podemos inferir que a Avenida John
Sanford passou a abrigar estabelecimentos comerciais e de serviços com
maior intensidade nos últimos dez anos.
Gráfico 5 - Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. John Sanford
Essa conclusão é reforçada por Assis e Rodrigues (2008), quando
relatam que “entre 2002 e 2007, houve um acréscimo no total de imóveis de
519 para 719 (38%) no Junco” (bairro onde se localiza o maior trecho da
Avenida John Sanford), sendo que “os imóveis comerciais cresceram mais que
os residenciais, no mesmo período, ficando o Junco com uma variação de
47%” (ASSIS; RODRIGUES, 2008b, p. 82).
No que se refere ao perfil dos empreendedores que buscam as vias de
saída da cidade para seus investimentos, em especial a Avenida John Sanford,
verificamos que 31,6% têm idade que varia de 18 a 35 anos, outros 31,6% têm
entre 36 e 45 anos e 31,5% possuem mais de 45 anos. Quanto ao gênero,
De 1 a 5 anos De 6 a 10anos
De 11 a 20anos
Mais de 20anos
Nãoresponderam
21,10%
52,60%
10,50% 14,00%
1,80%
116
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
75,4% são do sexo masculino. Em se tratando da escolaridade (Gráfico 6), a
maioria (47,4%) tem o ensino médio completo, seguido pelos que têm ensino
fundamental (22,8%) e superior (7,0%). A taxa dos empreendedores que não
concluíram o ensino fundamental é de 12,3% e o de analfabetos representa
3,5%. Quanto à origem, 77,2% dos empresários são do próprio município,
14,0% são de outros municípios do estado (principalmente Meruoca,
Alcântaras e Fortaleza) e 8,8% de outras regiões do país. Quando
questionados sobre quais outros ramos de atividades eles atuam, 89,5%
responderam que não têm outro meio de sustento.
Gráfico 6 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. John Sanford (%)
No que concerne às estratégias de mercado utilizadas pelas empresas
para atrair novos consumidores, a pesquisa revelou que 61,4% não adotam
nenhuma técnica, 14,1% realizam promoções, 5,3% distribuem brindes e
19,2% utilizam outros mecanismos. Sobre esse assunto, Assis e Rodrigues
(2008) ressaltam que na cidade de Sobral, os Supermercados Pinheiro e Lagoa
(este último localizado na Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva) vêm
constantemente ampliando as estratégias de marketing e modernizando suas
logísticas no intuito aumentar a clientela.
3,50%
22,80%
12,30%
47,40%
7% 7%
117
Eles, frequentemente vinculam campanhas focadas nas promoções de preços, através de distribuição de encartes na cidade (...), nos quais procuram chamar a atenção da população através de slogans atrativos como: “se você quer preços baixos a super rede é o lugar”, “campeã em economia, aqui você é quem ganha”, “aqui tem tudo, venha aproveitar” (ASSIS; RODRIGUES, 2008b, p. 79).
A respeito do perfil do consumidor, constatou-se que a maioria das
pessoas (88,2%) que se dirigem à Avenida John Sanford, na busca de
produtos e/ou serviços tem um poder aquisitivo de até dois salários mínimos.
Isso se justifica, provavelmente, pela proximidade da via com bairros onde se
concentra uma população mais carente, a exemplo da Cidade Doutor José
Euclides (conhecido popularmente por Terrenos Novos), Vila União e Alto do
Cristo.
Tal argumentação encontra sustentação quando se analisa a origem de
moradia dos consumidores dos produtos e/ou serviços oferecidos na referida
via. Nesse item, por ter sido uma questão aberta, obteve-se como respostas
mais frequentes, o próprio bairro (Bairro Junco); do Junco, Terrenos Novos e
COHAB III; da própria cidade (Sobral); da cidade e da Serra (Meruoca); de
Sobral e cidades próximas e; de Sobral e região norte do Ceará.
Os aspectos enfatizados evidenciam que a Avenida John Sanford atrai
para si investidores dos mais diversos ramos e com diferentes volumes de
capital. Isso se deve, como já anunciado, ao fato dela ser uma via que
apresenta um intenso fluxo de pessoas e um dos mais importantes corredores
de saída da cidade, bem como de acesso aos principais bairros da mesma.
3.2.2 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Dr. Arimathéa Monte
e Silva
Sancionada pela Lei Municipal 025/81, a Avenida Doutor José
Arimathéa Monte e Silva (conhecida popularmente como Avenida do Contorno)
tem cerca de 1.400 metros de extensão. Apesar do seu maior trecho
(aproximadamente 850 metros) cruzar todo o Bairro Campo dos Velhos (no
sentido leste/oeste), ela se inicia no Bairro Centro, no entroncamento da Rua
Coronel Joaquim Lopes com a Rua Jornalista Deolindo Barreto, e termina no
118
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Junco, no cruzamento da Rua Antônio Araújo Vasconcelos com a Avenida
Cleto Ferreira da Ponte.
Assim como observado em relação a John Sanford, na Avenida Doutor
Arimathéa Monte e Silva, bem como em suas proximidades, há também órgãos
públicos que atendem a cidade e a região noroeste do estado, tais como:
Centro de Convenções de Sobral (Inácio Gomes Parente), a Secretaria da
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Sobral, a
Sede Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (CRECI), o Centro de
Controle de Zoonoses, uma agência da Caixa Econômica Federal, uma escola
municipal de ensino fundamental, o maior parque público da cidade com
espaço de lazer, entre outros.
Quanto à pesquisa direta efetivada na via em estudo, constatamos que
há o predomínio das seguintes atividades: saúde e estética, com os salões de
belezas e academias; materiais para a construção, com as lojas de material
para a construção civil; alimentícios e bebidas, com mercadinhos e
supermercados; assistência técnica, com os serviços de assistência técnica em
informática e refrigeração; cursos, com os centros de formação de condutores
(autoescolas) e; imobiliárias, com os escritórios de corretores de imóveis
(Tabela 19).
Tabela 19 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Dr. Arimathéa
Monte e Silva, Sobral-CE
Tipo de Atividade (%)
Alimentícios e Bebidas 7,7
Armarinhos e Papelarias 3,8
Assistência Técnica 7,7
Material de Construção 15,4
Vestuário 3,8
Cursos 7,7
Saúde e Estética 19,3
Gastronômico 7,7
Serviços e Produtos Agropecuários 3,8
Imobiliária 7,7
Outras Atividades 15,4
Total 100,0
119
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Da mesma forma que se averiguou na John Sanford, na Avenida
Doutor Arimathéa Monte e Silva há também um supermercado de rede vindo
de Fortaleza, o Super Lagoa, que se destaca pela estrutura e diversificação de
produtos e serviços oferecidos (anexo a este equipamento encontra-se
restaurante, lanchonete, academia, agência de viagens e caixas eletrônicos).
Sobre a presença desses estabelecimentos nas duas vias em análise, Holanda
(2007, p. 154) ressalta que:
Eles têm se apresentado como um dos ramos que mais vem modificando a paisagem urbana de Sobral, posto que criam uma estrutura de centro comercial denominados de open mall. “Acompanham” e dinamizam o espraiamento da cidade, no seu sentido norte e oeste em direção à Serra da Meruoca.
Mas, um aspecto que chama a atenção na Doutor Arimathéa Monte e
Silva e que a diferencia da John Sanford é a presença dos salões de beleza
(Figuras 19 e 20). Atualmente, encontram-se nela, em números absolutos, sete
desses salões (Fik Bella, Salão Jô, Unhas e Cia, Salão Aurea, Edineuza
Cabeleiro, Beleza das Unhas e Primavera). Não se observa na cidade de
Sobral outra localidade que tal situação se reproduza.
Fig. 19 - Salão de Beleza Unhas e Cia Fig. 20 – Salão de Beleza Edineuza Os serviços de cursos, outra atividade de destaque, caracterizam-se
pela predominância das escolas de formação de condutores (autoescola)
(Figura 21 e 22). No presente, a via abriga seis autoescolas (Shallon,
120
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Conquista, Sobral, Junior, Citran e Filho), porém é válido enfatizar que essa
concentração se deve a proximidade com o antigo Departamento Estadual de
Trânsito (DETRAN), desativado em 2014.
Figura 21 – Autoescola Junior Figura 22 – Autoescola Conquista
Na figura 23, verifica-se a distribuição das atividades comerciais e de
serviços mais representativas pela Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva.
121
Figura 23 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva
122
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014).
No que se refere à situação do local de funcionamento das empresas
na Doutor Arimathéa Monte e Silva, averiguamos que a maioria (84,6%) realiza
suas atividades em imóveis alugados, assim como ocorre na Avenida John
Sanford. Em relação à quantidade de funcionários, 61,5% dos
estabelecimentos apresentam um quadro formado por cinco trabalhadores, os
que têm acima desse número representam 38,5%. Já sobre o tempo de
funcionamento dos empreendimentos, o estudo apontou que 80,8% têm entre
um e dez anos de atividade e, somente, 19,2% superam uma década de
funcionamento (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva
Ao tratar do perfil dos empreendedores que buscam essa via de saída
da cidade para seus investimentos, apuramos que 34,6% têm idade que varia
de 18 a 25 anos, 30,8% possuem entre 26 e 35 anos e outros 34,6% têm mais
de 35 anos. No que se refere ao gênero, 57,7% são do sexo masculino. Em
relação ao nível escolaridade (Gráfico 8), há o predomínio (69,2%) dos que têm
o ensino médio completo, seguindo pelos que têm o ensino superior (15,4%). A
taxa dos que possuem o ensino fundamental completo e dos que iniciaram
esse nível de educação somam 15,4%. Diferentemente do verificado na John
Sanford, na Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva não houve registro de
proprietários analfabetos. No que concerne à origem, 73,1% dos comerciantes
De 1 a 5anos
De 6 a 10anos
De 11 a 15anos
De 16 a 20anos
Mais de 20anos
30,80%
50,00%
11,60%
3,80% 3,80%
123
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
são do próprio município, 15,4% são de outros municípios do estado (como
Fortaleza, Meruoca e Santana do Acaraú), 7,7% de outros estados do Nordeste
e 3,8% de outras regiões do País. Sobre quais outros ramos de atividades eles
atuam, apurou-se que 80,8% não têm outras fontes de renda.
Gráfico 8 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Dr. Arimathéa Monte e Silva (%)
Sobre as estratégias de mercado utilizadas pelas empresas para atrair
a clientela, o estudo mostrou que 53,8% não elaboram esquemas para seduzir
novos consumidores, 15,4% realizam promoções, 11,5% distribuem brindes,
3,9% apostam tanto nas promoções quanto na distribuição de brindes e 15,4%
adotam outras estratégias.
Com relação ao perfil dos consumidores, a pesquisa apontou que
53,3% da clientela têm um poder aquisitivo de até dois salários mínimos, 20,0%
ganham até três salários e 26,7% têm um rendimento mensal superior a esse
valor. Quanto às localizações de origem dos consumidores, a investigação
mostrou como dados mais repetitivos, as seguintes respostas: de Sobral;
Sobral e outros municípios circunvizinhos; Sobral e região norte do estado; do
Bairro Campo dos Velhos e; do Bairro Campo dos Velhos e outros mais
próximos.
A Avenida Doutor Arimathéa Monte e Silva, ou simplesmente “Avenida
do Contorno”, é uma das principais vias de circulação de veículos e,
Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto
EnsinoFundamental
Completo
EnsinoMédio
Completo
EnsinoSuperiorCompleto
0,00% 7,70% 7,70%
69,20%
15,40%
124
consequentemente, de pessoas da cidade de Sobral. Ela tem uma atividade
comercial expressiva não, somente, ao longo do dia, mas também durante a
noite, pois os salões de beleza, as autoescolas, o supermercado, restaurantes,
lanchonetes e outros estabelecimentos permanecem em funcionamento até por
volta das 22 horas. Além disso, há de se destacar na via a presença do Parque
da Cidade32, umas das principais áreas de lazer de Sobral.
3.2.3 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Senador Fernandes
Távora
Já a Avenida Senador Fernandes Távora, oficializada pela Lei
Municipal 033/73, tem aproximadamente 2.700 metros de comprimento, sendo
a maior entre as vias pesquisadas. Ela cruza todo o Bairro Sinhá Saboia na
direção oeste para leste, tendo seu ponto inicial na Ponte Othon de Alencar
(chamada popularmente de ponte velha), localizada sobre o rio Acaraú, e ponto
final no triângulo de acesso à BR 222 e à rodovia estadual, com destino ao
distrito de Salgado dos Machados e ao município de Groaíras.
Entre as instituições públicas alocadas ao longo dessa via e em suas
imediações, destacam-se: o Departamento Estadual de Rodovias (DER), a
Polícia Rodoviária Federal (4ª Delegacia), duas unidades hospitalares (Posto
de Saúde da Família do Sinhá Saboia e Unidade Mista Doutor Thomaz Corrêa
Aragão), duas escolas de ensino fundamental ligadas ao município e uma
escola de ensino fundamental e médio pertencente ao Estado.
Com o levantamento de dados primários realizados nesse logradouro,
observou-se a preponderância das seguintes atividades: materiais para
construção, com as lojas de materiais para a construção em geral e
madeireiras; alimentícios e bebidas, com os mercadinhos e bares e; assistência
técnica, com os serviços de assistência técnica em refrigeração (Tabela 20).
32
Inaugurado em 2004 e com uma área de aproximadamente 70 mil metros quadros, o Parque da Cidade interliga bairros importantes de Sobral, como: Campo dos Velhos, Coração de Jesus e Expectativa. O complexo conta com diversos equipamentos. Dentre eles, podemos destacar: quiosques, pista de jogging (ou cooper), campo polivalente para esportes, quadras de vôlei de praia e pista de esportes radicais.
125
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Tabela 20 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador Fernandes Távora, Sobral-CE
Tipo de Atividade (%)
Alimentícios e Bebidas 23,1
Automotivo 7,7
Assistência Técnica 15,3
Móveis e Eletrodomésticos 7,7
Telecomunicações 7,7
Material de Construção 23,1
Gastronômico 7,7
Distribuidoras (Alimentos e/ou Bebidas) 7,7
Total 100,0
Diferentemente do registrado nas duas avenidas analisadas
anteriormente, a Senador Fernandes Távora ainda não abriga um
estabelecimento comercial de Alimentos e Bebidas nos moldes do Pinheiro
Supermercado e do Super Lagoa33. No entanto, essa atividade se caracteriza
pela presença de diversos mercadinhos que, embora ofereçam como
mercadoria principal produtos do gênero alimentício, vendem um pouco de
quase tudo: materiais de limpeza, de higiene pessoal, calçados, utensílios
domésticos, materiais escolares, dentre outros.
Mas o que chama atenção nessa avenida é a quantidade de
estabelecimentos comerciais e de serviços que se destacam na paisagem pelo
tamanho da área construída. O comércio de Material de Construção (atividade
de que predominante na via ao lado do comércio de alimentos e bebidas), por
exemplo, apresenta-se com lojas de materiais para construção e madeireiras
que compreendem até 900 metros quadrados (Figuras 24 e 25).
33
Porém, é importante mencionar que está sendo instalado nessa avenida o Atacadão, loja pertencente ao grupo francês Carrefour, com inauguração prevista ainda para o primeiro semestre de 2015. Especializada no conceito atacarejo (vendas no atacado e no varejo), o foco da empresa será o abastecimento regional. Esse empreendimento irá de encontro com outro gigante do setor, o Assaí Atacadista, de propriedade do grupo Pão de Açúcar, inaugurado em dezembro de 2014, à margem da BR 222, no Bairro Cidade Gerardo Cristino de Menezes.
126
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Figura 24 – Loja Mega Império Figura 25 – JS Madeireira
Outro traço importante, averiguado na referida via, é a presença de
rede de loja de eletrodomésticos (Figura 26) e de telecomunicação (Figura 27),
com outros estabelecimentos espalhados pelo centro tradicional da cidade.
Isso comprova que os investidores buscam instalar seus empreendimentos em
localidades onde há uma concentração de atividades comerciais e de serviços
e que apresentam um intenso fluxo de pessoas (SOUZA, 2009).
Figura 26 - Loja Macavi Figura 27 – Hot Sat Telecomunicações
A figura 28 mostra a distribuição das atividades comerciais e de
serviços mais representativas pela Avenida Senador Fernandes Távora.
127
Figura 28 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Sen. Fernandes Távora
128
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
Em relação ao local de funcionamento das empresas situadas na
Senador Fernandes Távora, verifica-se que, assim como na John Sanford e na
Doutor Arimathéa Monte e Silva, a maioria (61,5%) realiza suas atividades em
imóveis alugados. Tal fato demonstra que nesse logradouro, mesmo ele se
situando num bairro “com forte expansão de casas populares, junto a conjuntos
habitacionais mais antigos” (HOLANDA, 2007, p. 145), os edifícios comerciais
têm um preço elevado. Em relação ao quadro de pessoal, 53,9% das empresas
têm acima de três funcionários. No que concerne ao tempo de atividade, 53,8%
têm entre um e dez anos de funcionamento, 30,8%, entre onze e vinte anos e
15,4% estão ativas a mais de duas décadas (Gráfico 9).
Gráfico 9 - Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Senador Fernandes Távora
Em análise ao perfil dos donos desses comércios, constatou-se que
15,4% têm entre 18 e 25 anos de idade, 30,8% têm entre 26 e 45 anos e 53,8%
possuem entre 46 e 65 anos. Em relação ao gênero, 69,2% são do sexo
masculino. Quanto ao nível de escolaridade, a maioria tem o ensino médio
completo, seguido pelos que tem ensino superior. Já o percentual de
proprietários analfabetos (7,7%) é o segundo maior entre as vias pesquisadas,
superado apenas pelos da Avenida Senador José Ermírio de Moraes, como
será visto adiante. A taxa dos que apenas iniciaram o ensino fundamental
também é de 7,7% (Gráfico 10). Em relação à origem, 46,1% dos empresários
De 1 a 10 anos De 11 a 20 anos Mais de 20 anos
53,80%
30,80%
15,40%
129
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
são de Sobral, 38,5% são de outros municípios do estado, principalmente de
Groaíras, Santana do Acaraú e Fortaleza e, 15,4% de outros estados. Quando
questionados sobre quais outros ramos eles atuam, 76,9% declararam não
atuar em outras atividades.
Gráfico 10 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Senador Fernandes Távora (%)
No que diz respeito às estratégias de mercado utilizadas pelas
empresas para atrair novos clientes, verificou-se que a 61,5% não
desenvolvem nenhum mecanismo de atração de consumidores, já 30,8%
fazem promoções e 7,7% apostam na distribuição de brindes. Em análise ao
perfil dos consumidores, notou-se que 66,7% têm uma renda mensal de até
dois salários mínimos e 33,3% ganham até quatro. No que concerne à origem
de moradia desses consumidores, averiguou-se como respostas mais
recorrentes as seguintes: do próprio bairro (Sinhá Saboia), Sobral e região
norte do Ceará.
Como pode ser notado, a Senador Fernandes Távora se apresenta
como um importante corredor comercial da cidade, com um número
significativo de estabelecimentos voltados à atividade comercial e a de serviço.
No entanto, é válido frisar que ao longo da via há ainda muitos espaços vazios
que podem vir a ser ocupados e, com isso, dinamizar mais esse setor da
economia nessa localidade.
Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto
Ensino Médiocompleto
Graduação
7,70% 7,70%
69,20%
15,40%
130
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
3.2.4 A Atividade Comercial e de Serviço na Av. Sen. Ermírio de Moraes
Localizada no limite dos bairros Dom José, Padre Ibiapina e Alto do
Cristo, a Avenida Senador José Ermírio de Moraes, antiga Fernando Hélio, foi
oficializada em 1986, pela Lei Municipal 09/86. Ela tem uma extensão de
aproximadamente 2.400 metros, com início no cruzamento da Rua Tabelião
Idelfonso de Holanda Cavalcante com a Avenida Dom José e, termina na
rotatória que permite o acesso à BR 222, no sudoeste da cidade.
Distintamente das demais avenidas pesquisas, na Senador José
Ermírio de Moraes e adjacências existem somente estabelecimentos públicos
que atendem parte da cidade, a saber: o Centro de Saúde da Família do Bairro
Padre Ibiapina e três escolas municipais de ensino fundamental (Antenor
Naspolini, Maria J. S. F. Gomes e José Ermírio de Moraes). Mas, é válido
ressaltar que essa via abriga a Fábrica de Cimento Poty, pertencente ao grupo
Votorantim. Além disso, ela é um dos principais caminhos para se chegar à
Santa Casa de Misericórdia de Sobral, o segundo maior hospital do noroeste
do Ceará.
O levantamento de dados primários nessa avenida revelou como
atividades comerciais e de serviços predominantes as elencadas a seguir:
automotivo, com as concessionárias de carros e motocicletas, revendedora de
carros usados e oficinas mecânicas; alimentícios e bebidas, com os
mercadinhos e bares e; material de construção, com as lojas de materiais de
construção, serrarias e madeireiras (Tabela 21).
Tabela 21 – Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Senador José Ermírio de Moraes, Sobral-CE
Tipo de Atividade (%)
Alimentícios e Bebidas 22,8
Automotivo 40,0
Assistência Técnica 2,9
Material de Construção 14,2
Vestuário 2,9
Saúde e Estética 2,9
Distribuidoras 5,7
Gastronômico 2,9
Outras Atividades 5,7
Total 100,0
131
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
A atividade automotiva da avenida, ramo de maior expressão,
caracteriza-se pela presença de revendedoras de carros usados, como a São
Francisco Veículos, VK automóveis e São Cristóvão Veículos; pelas
concessionárias da Toyota e da Fiat (Figura 29) e; pelas oficinas mecânicas
especializadas, a exemplo da Oficina Cícero, Assis Diesel e HC Pneus (Figura
30). Na Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto, essa atividade também se
destaca, mas com outras propriedades, como será exibido posteriormente.
Figura 29 – Concessionária da Fiat Figura 30 – Oficina Mec. HC Pneus
O comércio de alimentos e bebidas, outra atividade predominante,
chama a atenção pela presença dos mercadinhos e dos bares, assim como
acontece na Senador Fernandes Távora.
Destaca-se ainda o comércio de material de construção, ramo que
como já visto se sobressai em todos os logradouros examinados. Contudo, há
uma peculiaridade interessante dessa atividade na Senador Ermírio de Moraes
que a distingue das demais avenidas, é a existência de lojas de portas e
janelas trabalhadas (Figuras 31 e 32). Sobre o crescimento desse comércio na
cidade de Sobral, Holanda (2007, p. 158) relata que:
Multiplicam-se pelo espaço urbano [...] os estabelecimentos de material de construção em geral, com destaque para: ferragens, metalurgia, madeira e artefatos, comércio de concreto usinado e pré-misturado, que são entregues nas obras de construção, com emprego de tecnologia, todas elas acompanhando o ritmo rápido das construções.
132
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Figura 31 - Loja São Francisco Figura 32 – Loja Alcântara
A figura 33 exibe a distribuição das atividades comerciais e de serviços
mais representativas pela Avenida Senador José Ermírio de Moraes.
133
Figura 33 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Sen. José Ermírio de Moraes
134
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
Já no que concerne à situação do local de funcionamento das
empresas nesse logradouro, verificou-se que 60,0% efetivam suas atividades
em imóveis alugados, assim como ocorre nas vias já analisadas. Em relação à
quantidade de funcionários, 74,3% dos estabelecimentos têm um quadro
constituído por até quatro trabalhadores e os que têm acima dessa quantidade
representam 25,7%. No que se refere ao tempo de funcionamento dos
empreendimentos, 60,0% têm entre um e dez anos de atividade, 31,4%, entre
onze e vinte anos que estão ativas e 8,6% superam duas década de
funcionamento (Gráfico 11).
Gráfico 11 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos Av. Senador José Ermírio de Moraes
Ao considerar o perfil dos empreendedores que buscam a Senador
José Ermírio de Moraes para seus investimentos, observamos que 25,7% têm
idade que varia de 18 a 35 anos, 42,9% têm entre 36 e 35 anos e outros 31,4%
têm mais de 45 anos. Em se tratando do gênero, 65,7% são do sexo
masculino. Em relação ao nível escolaridade dos comerciantes, a maioria
(45,7%) tem o ensino médio completo, 11,4% têm o ensino superior e outros
11,4% têm o ensino fundamental completo. A taxa dos que apenas iniciaram
este nível da educação representa 22,9% e o percentual de analfabetos é o
maior entre as vias pesquisadas (Gráfico 12). No que concerne à origem,
71,4% dos proprietários são do próprio município, 17,1% são de outros
De 1 a 5anos
De 6 a 10anos
De 11 a 15anos
De 16 a 20anos
Mais de 20anos
48,60%
11,40%
17,10% 14,30%
8,60%
135
Fonte: Pesquisa Direta, 2014.
Elaboração: PEREIRA, F. I. F (2014).
municípios do estado (como Coreaú, Cariré e Camocim), 8,6% de outros
estados do Nordeste e 2,9% de outras regiões do país. Quando indagados
sobre quais outros ramos de atividades eles atuam, apurou-se que 88,6% não
realizam outras tarefas.
Gráfico 12 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av. Senador José Ermírio de Moraes (%)
No que se refere às estratégias de mercado utilizadas pelas empresas
para atrair novos consumidores, constatamos que a 68,6% não realizam
nenhum tática para seduzir novos compradores, 11,4% optam pelas
promoções, outros 11,4% arriscam na distribuição de brindes e 8,6%
desenvolvem outros esquemas. Com relação ao perfil dos consumidores,
66,7% têm uma renda mensal de até dois salários mínimos, 20,0% ganham até
quatro e 13,3% possuem um poder aquisitivo superior a esse valor. Sobre a
origem de moradia dos consumidores, a pesquisa apontou as respostas a
seguir como as mais frequentes: Bairro Dom José; bairros próximos; Sobral e
cidades circunvizinhas e; de toda a cidade.
A Avenida Senador Ermírio de Moraes apresenta, assim como as
demais avenidas, uma atividade comercial e de serviço significativa. Esse setor
poderá crescer ainda mais com a torre Doutor Evangelista Business Center, o
primeiro Business Center da cidade, que está sendo instalado na via. O
Analfabeto EnsinoFundamentalIncompleto
EnsinoFundamental
Completo
EnsinoMédio
EnsinoSuperior
8,60%
22,90%
11,40%
45,70%
11,40%
136
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
complexo será constituído por 200 salas destinadas as atividades comerciais
ou sede de empresas e, ainda, contará com áreas de alimentação e eventos.
3.2.5 A Atividade Comercial e de Serviço na Avenida Monsenhor José
Aloísio Pinto
Já a Avenida Monsenhor José Aloísio Pinto, sancionada em 1999 pela
Lei Municipal 220/1999, tem aproximadamente 1.900 metros de extensão e
corta todo o bairro Dom Expedito, no sentido oeste para o leste. Ela começa
na Ponte Doutor José Euclides Ferreira Gomes Junior (conhecida
popularmente como ponte nova), localizada sobre o rio Acaraú, e termina na
rotatória que permite o acesso à BR 222, no sudeste da cidade.
Da mesma maneira, como observado na maioria das vias analisadas,
na Monsenhor Aloísio Pinto e adjacências se situam algumas instituições
públicas que atendem a cidade e parte da região noroeste do Ceará, a saber: a
Policlínica Regional de Sobral (Bernardo Felix da Silva), o Fórum da Comarca
de Sobral (Doutor José Saboya de Albuquerque), o Centro de Saúde da
Família (CSF) e o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do
Bairro Dom Expedito, uma escola municipal de tempo integral (Maria Dorilene
Arruda Aragão) e uma escola estadual de ensino médio.
A pesquisa direta realizada nessa avenida apontou como atividades
comerciais e de serviços dominantes, as realçadas a seguir: a automotiva, com
as concessionárias e revendedoras de carros usados e; a de comunicação
visual, com as gráficas e serigrafias (Tabela 22).
Tabela 22 - Atividades Comerciais e de Serviços na Avenida Monsenhor Aloísio Pinto, Sobral-CE
Tipo de Atividade (%)
Comunicação Visual 22,2
Material de Construção 11,1
Automotivo 55,6
Outras Atividades 11,1
Total 100,0
137
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014). Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Uma particularidade interessante da atividade automotiva na
Monsenhor Aloísio Pinto que a distingue da Senador José Ermírio de Moraes é
a concentração de concessionárias de importantes montadoras de veículos
(Figura 34) e de lojas de revenda de carros usados (Figura 35). Na atualidade,
estão instaladas na avenida, nove desses estabelecimentos, sendo quatro
concessionárias (Mitsubishi, Hyunday, Volkswagen e Ford) e cinco
revendedoras (Sovel Automóveis, Universal Multimarcas e Linhares
Automóveis, Gaúcho Automóveis e Aragão Autos). É válido ressaltar que não
se visualiza na cidade de Sobral outro local com essa mesma característica.
Figura 34 – Concessionária Mitsubishi Figura 35 – Gaúcho Automotivo Os serviços de comunicação visual da avenida, outra atividade em
expansão, caracteriza-se pela presença de gráficas e serigrafias que saíram do
centro tradicional da cidade em virtude da impossibilidade da ampliação de
suas instalações, a exemplo da Sobral Gráfica, Criart’s Soluções Gráficas e
Faisk Brindes.
Além disso, é importante destacar, na Monsenhor Aloísio Pinto, a
presença do North Shopping Sobral (Figura 36), o primeiro shopping center da
cidade, inaugurado em 2013. Esse empreendimento, com mais de 48.000m² de
área construída, abriga, no seu interior, mais de cem estabelecimentos, entre
lojas âncoras, megalojas e lojas satélites. Além da área comercial, o complexo
conta com duas torres com dez andares cada, sendo uma empresarial
(Cameron Tower) e outra voltada ao serviço hoteleiro (Gran Hotel).
138
Fonte: PEREIRA, F. I. F. (2014).
Fig. 36 - North Shopping Sobral e as torres Gran Hotel e Cameron Tower
A instalação desse equipamento num bairro da cidade com baixo preço
do solo urbano ajudou a valorizar os imóveis e os espaços vazios existentes,
como ocorreu outrora nos bairros do Junco e Campo dos Velhos, com a
implantação do Pinheiro Supermercado e do Super Lagoa, respectivamente.
A figura 37 apresenta a distribuição das atividades comerciais e de
serviços mais representativas pela Avenida Monsenhor Aloísio Pinto.
139
Figura 37 – Estabelecimentos Comerciais e de Serviços Mais Representativos na Av. Monsenhor José Aloísio Pinto
140
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
Ao cotejar a situação do local de funcionamento das empresas na
avenida em questão, constatamos que, ao contrário do observado na outras
avenidas pesquisadas, a maioria (77,8%) realiza suas atividades em imóveis
próprios. Sobre o total de funcionários, 22,2% dos estabelecimentos
apresentam um quadro formado por até três trabalhadores e 77,8% têm acima
desse número. No que se refere ao tempo de funcionamento dos
empreendimentos, a investigação apontou que 66,7% têm entre um e cinco
anos de atividade e 33,3% estão entre 6 e 10 anos ativas (Gráfico 13).
Gráfico 13 – Tempo de Funcionamento dos Estabelecimentos na Av. Monsenhor Aloísio Pinto
A respeito do perfil dos proprietários das empresas alocadas nessa via,
certificou-se que 22,2% têm entre 26 e 35 anos de idade, 55,6% têm entre 36 e
45 anos e 22,2% possuem mais de 45 anos. Quanto ao gênero, 66,7% são do
sexo masculino. Em relação à escolaridade dos empresários, notamos que,
diferentemente do registrado nos outros logradouros ponderados, a maioria
tem o ensino superior completo (55,6%), seguido pelos que têm o ensino médio
(33,3%) e ensino fundamental (11,1%) (Gráfico 14). Na Monsenhor Aloísio
Pinto não houve registro de proprietários analfabetos, assim como se notou na
Doutor Arimathéa Monte e Silva. Quanto à origem desses empreendedores,
44,5% são do próprio município, 11,0% de Fortaleza e 44,5% de outros
estados (como Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul). Sobre quais
De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos
66,70%
33,30%
141
Fonte: Pesquisa Direta, 2014
Elaboração: PEREIRA, F. I. F. (2014)
outros ramos de atividades eles atuam, apurou-se que 77,8% não exercem
outros ramos.
Gráfico 14 – Escolaridade dos Proprietários dos Estabelecimentos da Av.
Monsenhor Aloísio Pinto (%)
No quesito estratégias de mercados, averiguamos que 55,5% das
empresas apostam em algumas táticas para atrair novos consumidores. Desse
percentual, 11,1% fazem promoções, 22,2% arriscam na distribuição de
brindes e 22,2% realizam promoções, distribuição de brindes e sorteios. Em se
tratando do perfil dos consumidores, notou-se que 20,0% têm uma renda de
até dois salários mínimos, 40,0% ganham de três a cinco salários e outros
40,0% têm um poder aquisitivo superior a esse valor. No que se refere à
origem de moradia desses consumidores, a pesquisa revelou como resposta
mais recorrente a seguinte: de Sobral e região norte.
Apontada como “o mais novo corredor comercial, o da Avenida
Monsenhor Aloísio Pinto” (AGUIAR JUNIOR, 2005, p. 84), ele ainda tem muito
que crescer, pois existem muitos espaços vazios que podem passar a ser
ocupados e, dessa forma, ajudar a dinamizar a atividade comercial e de
serviços na via. O ramo automotivo pode desfrutar da aptidão que já é notável
nessa avenida para a referida atividade e vir a firmar uma localidade
especializada.
Analfabeto EnsinoFundamental
Ensino Médio Graduação
0,00%
11,10%
33,30%
55,60%
142
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Geografia Urbana, os estudos atinentes à estrutura interna das
cidades de escalas menores que as grandes metrópoles foram por vários anos
relegados a um segundo plano. Por conta disso, compreender o processo de
descentralização em cidades médias, no presente, se constitui uma empreitada
difícil, porém provocante. O passo inicial para a efetivação dessa tarefa é
entender como esse fenômeno aconteceu nas metrópoles, pois, como bem
lembra Souza (2009), foi nesses centros urbanos que ele se iniciou. Paralelo a
isso, é necessário buscar a compreensão destes complexos centros urbanos
denominados cidades médias.
Quando se analisa a descentralização das atividades comerciais numa
cidade, torna-se necessário perceber que existe uma relação histórica entre
esses dois fenômenos, pois como se sabe diversas cidades tiveram suas
origens ligadas a referida atividade. Em seguida, com o crescimento da cidade,
a localização do comércio no espaço urbano se torna de fundamental
importância para a certeza de sua realização plena. No presente, as atividades
terciárias de comércios e de serviços têm como tendência buscar outras
localidades na cidade para atender um número crescente de consumidores
cada vez mais distantes da área central.
A cidade média de Sobral/CE tem nas atividades de comércio e de
serviços um dos seus principais destaques, o que a torna cada vez mais um
centro polarizador que influência um vasto território no noroeste cearense. A
cidade apresenta tal dinamismo ao receber, cotidianamente, fluxos de pessoas
que buscam satisfazer suas necessidades de consumo. Ela atrai, também, um
número crescente de investidores de diferentes setores e com diferentes
volumes de capital.
Esses investidores, em particular os de comércios e serviços, como,
por exemplo, os de lojas de informática, supermercados, restaurantes, clínicas
médicas, butiques, rede de farmácias, concessionárias de veículos, entre
outros, têm buscado locais fora do centro principal para se instalar, com
preferência pelas vias de saída da cidade, em especial, as avenidas John
Sanford, Doutor José Arimathéa Monte e Silva, Senador Fernandes Távora,
Senador José Ermírio de Moraes e Monsenhor José Aloísio Pinto.
143
Assim, a descentralização em Sobral apresenta uma relação
importante com as vias de saída da cidade. Notamos que as áreas mais
dinâmicas fora do centro tradicional são, justamente, essas localidades, onde o
fluxo de transportes e, consequentemente, de pessoas é mais intenso.
Na análise das avenidas foi possível perceber como característica
comum entre elas a presença de estabelecimentos públicos que atendem
milhares de pessoas da cidade e também da região noroeste do estado do
Ceará, o que de certa forma garante o fluxo de pessoas.
Outro aspecto importante notado nessas avenidas é quantidade de
estabelecimentos comerciais que estão disponíveis para locação e, além disso,
algumas residências estão passando ou já passaram por modificações em
suas fachadas para dar lugar a novos pontos comerciais. Em algumas vias,
como, por exemplo, na John Sanford, na Senador Fernandes Távora e na
Monsenhor Aloísio Pinto, há ainda a presença de lotes vazios com placas de
aluguel e/ou de venda. Esses aspectos mostram que a atividade comercial e de
serviço nessas áreas podem se expandir ainda mais e, dessa forma,
diversificar os serviços oferecidos.
Além disso, as vias de saída da cidade são assinaladas pela constante
presença de lojas de materiais de construção. Essa atividade normalmente
ocupa amplos espaços e, por conta disso, encontra nas áreas em questão o
local ideal para se instalar, pela disponibilidade de terreno para o
desenvolvimento da atividade com a presença de um intenso fluxo de pessoas
não somente da cidade, mas de grande parte do noroeste do estado.
Embora os aspectos supracitados sejam comuns entre as vias
pesquisadas, isso não significa que elas sejam iguais. Cada avenida apresenta
algumas atividades que diferencia umas das outras. Na Avenida John Sanford,
destacam-se as redes de farmácia aliada as clínicas médicas; na Doutor
Arimáthea Montes e Silva, tem-se os salões de beleza e as autoescolas; na
Senador Fernandes Távora, os mercadinhos e as lojas de materiais de
construção em geral tem esse papel; na Senador José Ermírio de Moraes, se
sobressai as oficinas mecânicas ao lado das lojas de materiais de construção
e; na Monsenhor José Aloísio Pinto o principal destaque são as
concessionárias e os serviços comunicação visual.
144
Portanto, a busca crescente dos novos investidores, em particular os
de comércios e serviços, por localidades distantes do centro principal, a
exemplo das vias de saída da cidade vem redirecionando os fluxos que, há
alguns anos, dirigiam-se ao centro tradicional da cidade.
Esse dinamismo pelo qual as atividades econômicas tem passado em
Sobral, que levam a ampliação do comércio e do serviço para áreas que vão
além do centro consolidado, se justifica pela força do emprego formal
apresentado na cidade, pelas politicas públicas de atração de investimentos,
pelos programas sociais que ajudam na composição da renda, etc.
Esta pesquisa não conclui as reflexões sobre a descentralização das
atividades comerciais e de serviços em cidades médias. Na realidade, ela
apenas dá suporte para uma possibilidade de debate na intenção de que outros
estudos sobre a temática em tela venham a ser efetivados.
145
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APÊNDICE 01 – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTÃO PÚBLICA
1. Quais as principais políticas e programas de atração de investidores para a
cidade de Sobral?
2. Como você analisa o crescimento das atividades comercial e de serviços
nos últimos anos em Sobral?
3. Porque investir em Sobral?
4. Existem ações da prefeitura para incentivar a dispersão das atividades
econômicas para o espaço além-centro?
5. Em sua opinião, os atores locais (proprietários) de comércios e serviços
têm procurado outras áreas para colocar suas atividades ou há um
predomínio de uso desses novos espaços pelos investidores que aportam em
Sobral?
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APÊNDICE 02 - QUESTIONÁRIO
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA MESTRADO ACADÊMICO EM GEOGRAFIA-MAG PROFª. ORIENTADORA: VIRGÍNIA CÉLIA CAVALCANTE DE HOLANDA MESTRANDO: FRANCISCO IELOS FAUSTINO PEREIRA
LEVANTAMENTO DE DADOS JUNTO AOS PROPRIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS DA ÁREA DE ESTUDO Data da Entrevista______/______/_________ Endereço: (Rua/Avenida) ______________________________________________ n°________ Sexo _____________________________________________ Faixa etária: _______________________________________ Escolaridade: ______________________________________
1. Tipo de Estabelecimento_____________________________________________ 2. Qual a origem do proprietário do estabelecimento? ( ) Do Próprio Munícipio ( ) De Outro Município do Estado ( ) De Outro Estado ( ) Não Resp. ( ) De Outra Região ( ) De Outro País 3. Quanto ao local de funcionamento do estabelecimento, ele é: ( ) Próprio ( ) Alugado ( ) Cedido ( ) Não Resp. 4. Há quanto tempo este empreendimento realiza suas atividades nesse endereço? ( ) Menos de 1 ano ( ) De 11 a 15 anos ( ) Não Resp. ( ) De 1 a 5 anos ( ) De 16 a 20 anos ( ) De 6 a 10 anos ( ) Mais de 20 anos 5. Por que você optou por instalar seu empreendimento nessa avenida? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________
6. Existem filiais em outra área da cidade? ( ) Sim ( ) Não 7. (Em caso positivo na questão anterior) Quantas filiais? ( ) Uma ( ) Duas ( ) Três ( ) Mais de Três 8. (Ainda em caso de positivo na questão 5) Em qual(is) localidade(s)? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. Qual o tipo predominante de produto ou serviço oferecido? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________
10. O proprietário atua em outro(s) ramo(s)? ( ) Sim ( ) Não 11. (Em caso positivo na questão anterior) Qual?___________________________
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12. É possível identificar o perfil do consumidor (poder aquisitivo) dos produtos ou serviços oferecidos?
( ) Sim ( ) Não
13. (Em caso positivo na questão anterior) Qual?
( ) Até 2 Salários Mínimos ( ) Até 5 Salários Mínimos ( ) Até 3 Salários Mínimos ( ) Mais de 5 Salários Mínimos
( ) Até 4 Salários Mínimos
14. É possível identificar a origem (local de moradia) dos consumidores dos produtos ou serviços oferecidos? ( ) Sim ( ) Não
15. (Em caso positivo na questão anterior) De onde são?___________________________ _________________________________________________________________________
16. Qual o número de funcionários desse estabelecimento?
( ) Um ( ) Dois ( ) Três ( ) Quatro ( ) Cinco ( ) Acima de Cinco
17. Qual a qualificação mínima (ou nível de escolaridade) que uma pessoa deve ter para ser contratado pela empresa? ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Graduação ( ) Pós-Graduação 18. Quais as estratégias de mercado (marketing) utilizadas pela empresa para atrair novos consumidores? ( ) Promoções ( ) Sorteios ( ) Distribuição de Brindes ( ) Outros
19. Você realiza propaganda de seu estabelecimento? ( ) Sim ( ) Não 20. (Em caso positivo na questão anterior) De que forma? ( ) Rádio ( ) Televisão ( ) Internet ( ) outdoor ( ) Outros Meios