universidade estadual de santa cruz programa … · pretendo levar para minha vida toda, isabel...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA RECICLAGEM EM ILHÉUS, BAHIA MAKELLY WICKERT MARTINHAGO ILHÉUS-BAHIA 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio

Ambiente PRODEMA Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS

URBANOS E OS ASPECTOS

SOCIOECONMICOS E AMBIENTAIS DA

RECICLAGEM EM ILHUS, BAHIA

MAKELLY WICKERT MARTINHAGO

ILHUS-BAHIA 2012

MAKELLY WICKERT MARTINHAGO

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS URBANOS E OS ASPECTOS

SOCIOECONMICOS E AMBIENTAIS DA RECICLAGEM EM ILHUS, BAHIA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, para a obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. rea de concentrao: Qualidade Ambiental, Tecnologia e Sade. Orientador: Prof. Dr. Andra da Silva Gomes Co-orientador: Prof. Dr. Emerson Antnio Rocha Melo de Lucena.

ILHUS-BAHIA 2012

M379 Martinhago, Makelly Wickert

A gesto de resduos slidos urbanos e os aspectos

socioeconmicos e ambientais da reciclagem em Ilhus,

Bahia / Makelly Wickert Martinhago. Ilhus, BA : UESC,

2012.

141 f.: il.; anexo.

Orientador: Andra da Silva Gomes.

Dissertao (Mestrado) Universidade Estadual de

Santa Cruz. Programa de Ps-Graduao em

Desenvolvimento regional e Meio ambiente.

Inclui bibliografia.

1. Gesto integrada de resduos slidos. 2.

Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.) Ilhus (BA). 3.

Lixo - Eliminao. 4. Coleta seletiva de lixo Ilhus (BA). 5.

Produtos reciclados. 6.Desenvolvimento sustentvel. I.

Ttulo.

CDD 363.728

MAKELLY WICKERT MARTINHAGO

ANLISE SOCIOECONMICA E AMBIENTAL DA GESTO DE RESDUOS

SLIDOS EM ILHUS, BAHIA, BRASIL

Ilhus-BA. 22 de maro de 2012

___________________________________________________

Profa. Dra. Andra da Silva Gomes UESC - Universidade Estadual De Santa Cruz.

Orientadora

___________________________________________________

Prof. Dr. Emerson Antnio Rocha Melo de Lucena UESC - Universidade Estadual De Santa Cruz.

Co - Orientador

________________________________________________ Prof. Dr. Jos Jailton Marques

UFS - Universidade Federal de Sergipe Examinador Externo

__________________________________________________

Profa. Dra. Mnica de Moura Pires UESC - Universidade Estadual De Santa Cruz

Examinador Interno

minha me pelo amor, carinho e apoio e, ao meu pai (in memoriam) pelo exemplo de vida. Fatores esses, fundamentais para a concretizao de mais uma etapa

importante de minha vida.

AGRADECIMENTOS

Agradeo aos meus pais que particularmente me trouxeram vida, e sempre me deram todas as condies materiais e emocionais que deram base para chegar at aqui.

Aos meus irmos, que atravs do relacionamento fraternal me proporcionaram sentimentos de altrusmo e conhecimento do relacionamento humano.

Aos meus queridos e amados amigos que fizeram de minha vida mais feliz e colorida. Carinho especial s amigas que fizeram parte de minha adolescncia, parte marcante do crescimento pessoal, Suelen Ferreira, Mrcia Paz, Aline C. Pinto e Andressa Suszek e s amigas e irms que tive o imenso prazer de conviver durante cinco maravilhosos anos de faculdade, Aline C. Gonzalez e Ana Carolina Sousa.

Agradecimento especial cidade de Ilhus, por ter to bem me acolhido e por ter proporcionado maravilhosos momentos de conhecimento, crescimento e evoluo pessoal e profissional. E ainda por me presentear com amigos que pretendo levar para minha vida toda, Isabel Gonalves, Juliana Mendona, Luciana R. Camilo e Melina Melito.

Aos amigos que graas ao mestrado tive a felicidade de conhecer e construir laos, Beliny Leo, Carina F. Gonalves, Daniela Mariano, Fabiana Faxina e Isabel Sollberg. Agradeo pelos momentos de distrao e apoio nos momentos de tenso e angstias.

UESC, ao PRODEMA por todo apoio cientfico, fsico e institucional, que juntamente com todos os professores e funcionrios me auxiliaram no desenvolvimento desse trabalho.

Ao apoio financeiro do Deutscher Akademischer Austausch Dienst (DAAD). Aos professores Andra Silva Gomes e Emerson Lucena pela orientao,

apoio e amizade. Minha imensa gratido Maria do Socorro, Maria Marta e Emanuela por todo

apoio e auxlio atravs de materiais e informaes fundamentais para a compreenso da realidade local.

Sou grata Dona Deizemeire, presidente da Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclveis Conscincia Limpa, por toda receptividade e apoio durante a coleta de dados.

Meus agradecimentos ao meu namorado, que nunca deixou faltar amor, carinho, ateno e compreenso. T-lo ao meu lado, fez toda e qualquer diferena na concretizao deste trabalho.

A todos meus sinceros agradecimentos!

A GESTO DE RESDUOS SLIDOS URBANOS E OS ASPECTOS

SOCIOECONMICOS E AMBIENTAIS DA RECICLAGEM EM ILHUS, BAHIA

RESUMO

A disponibilizao dos servios de resduos slidos urbanos uma questo

problemtica para as autoridades locais na grande maioria dos municpios, j que o

atendimento dos servios insuficiente e a disposio inadequada de resduos

uma prtica comum, resultando em uma variedade de impactos negativos em

dimenses ambientais, socioambientais, econmicas, legais e de sade pblica.

Problemas de ordem poltica e tcnica tornam a coleta convencional de resduos

cada vez mais problemtica, favorecendo o surgimento da tecnologia baseada na

coleta seletiva e reciclagem. De acordo coma Lei n 12.305/2010, foram

estabelecidas como prioridade a proibio do lanamento de resduos a cu aberto,

a implementao da coleta seletiva e a reciclagem, alm da incluso social dos

agentes envolvidos com essa atividade. Diante deste contexto apresentado, com o

presente trabalho, foi realizado um diagnstico da situao atual do manejo de

resduos slidos urbanos do Municpio de Ilhus e estimados os benefcios

socioeconmicos e ambientais da reciclagem. Para compreenso da situao atual

do manejo de resduos slidos urbanos, foram aplicados cinco questionrios

semiestruturados aos responsveis pelo sistema de limpeza urbana ligados

Prefeitura Municipal de Ilhus. Para estimar os benefcios agregados reciclagem

de materiais coletados pelos catadores identificados em Ilhus no ano de 2011,

primeiramente foram aplicados questionrios para levantar informaes sobre a

quantidade de materiais coletados pelos catadores do aterro e, atravs da frmula

de viabilidade econmica da reciclagem desenvolvida por Duston (1993, p.40-60) e

adaptada por Calderoni (2003), foram estimados os ganhos socioeconmicos e

ambientais da reciclagem. Os resultados finais mostraram que a reciclagem em

Ilhus atende menos de 20% da quantidade total de materiais disponveis

reciclagem e que o agente da cadeia produtiva que mais se beneficia com a

reciclagem dos materiais provenientes do municpio sob anlise, a indstria

recicladora.

Palavras-chave: Polticas pblicas, gesto e sustentabilidade.

MANAGEMENT OF MUNICIPAL SOLID WASTE AND ENVIRONMENTAL ASPECTS AND RECYCLING SOCIOECONOMIC IN ILHUS, BAHIA

ABSTRACT

The provision of solid waste services is an issue for local authorities in most

municipalities, as the care services is insufficient and improper disposal of waste is a common practice, resulting in a variety of negative impacts on environmental dimensions , environmental, economic, legal and public health. Policy issues and technical make conventional collection of waste increasingly problematic, favoring the emergence of technology based on selective collection and recycling. According coma Law 12.305/2010, were established as a priority the prohibition of dumping waste in the open, the implementation of selective collection and recycling, as well as social inclusion of those involved with this activity. Given this context presented, with the present work, we carried out a diagnosis of the current situation of solid waste management in the city of Ilhus and estimated the socioeconomic and environmental benefits of recycling. To understand the current situation of solid waste management, five questionnaires were administered semistructured those responsible for urban cleaning system connected to the City of Ilhus. To estimate the aggregate benefits of recycling materials collected by scavengers identified in Islanders in 2011, were first used questionnaires to gather information on the amount of materials collected by the scavengers of the landfill and using the formula of economic viability of recycling developed by Duston (1993, p.40-60) and adapted by Calderoni (2003), we estimated the socioeconomic and environmental gains from recycling. The final results showed that recycling in Ilhus meets less than 20% of the total amount of material available for recycling and the agent of the supply chain that benefits most from the recycling of materials from the municipality under review, is the recycling industry.

Keywords: Public policy, management and sustainability.

SUMRIO

RESUMO.....................................................................................................................vi ABSTRACT.................................................................................................................vii 1 INTRODUO........................................................................................................10 2 OBJETIVOS............................................................................................................12 2.1 Objetivo geral.......................................................................................................12 2.2 Objetivos especficos...........................................................................................12 3 REVISO DE LITERATURA...................................................................................13 3.1 A Sociedade moderna e a alterao dos sistemas naturais................................13 3.2 Movimentos ambientais.......................................................................................16 3.3 A economia e as leis da termodinmica..............................................................18 3.3.1 Resduos: as externalidades negativas do meio de produo.........................20 3.3.2 A Crise do lixo................................................................................................22 3.4 Resduos Slidos.................................................................................................24 3.4.1 Legislaes sobre Resduos Slidos................................................................27

3.4.2 Manejo de Resduos Slidos Urbanos..............................................................29

3.5 Reciclagem..........................................................................................................32

3.5.1 Aspectos econmicos da reciclagem................................................................35

3.5.2 Aspectos ambientais dareciclagem..................................................................35

3.5.3 Aspectos sociais da reciclagem........................................................................36

3.6 A reciclagem no Brasil.........................................................................................37

3.6.1 Reciclagem de papel........................................................................................37

3.6.2 Reciclagem de plstico.....................................................................................38

3.6.3 Reciclagem de alumnio....................................................................................41

3.6.4 Reciclagem de vidro.........................................................................................41

3.7 Cenrio dos Resduos Slidos Urbanos no Brasil...............................................43

3.8 Cenrio dos Resduos Slidos Urbanos em Ilhus, Bahia..................................47

3.8.1 Limpeza urbana em Ilhus................................................................................48

3.8.2 A reciclagem em Ilhus.....................................................................................50

4 METODOLOGIA.....................................................................................................51

4.1 Delimitao e caracterizao da rea de estudo.................................................51

4.2 Mtodos e Tcnicas.............................................................................................52

4.2.1 Descrio da Gesto de Resduos Slidos Urbanos de Ilhus........................53

4.2.2 Identificao dos agentes envolvidos na cadeia de reciclagem.......................54

4.2.3 Benefcios econmicos, ambientais e sociais da reciclagem...........................54

4.3 Procedimentos de coleta de dados......................................................................62

4.3.1 Entrevista..........................................................................................................62

4.3.2 Aplicao de questionrio.................................................................................63

4.3.3 Anlise documental...........................................................................................63

4.3.4 Pesquisa bibliogrfica.......................................................................................64

4.3.5 Tabulao dos dados quantitativos..................................................................64

5 RESULTADOS........................................................................................................65

5.1 Diagnstico do manejo de resduos slidos urbanos de Ilhus...........................65

5.1.1 Caracterizao do municpio............................................................................65

5.2 Manejo de Resduos Slidos Urbanos de Ilhus.................................................71

5.2.1 Breve histrico do sistema de limpeza urbana Breve histrico do sistema de limpeza urbana de Ilhus de Ilhus...........................................................................71

5.2.2 Sistema de limpeza urbana de Ilhus...............................................................72

5.3 Cadeia de reciclagem em Ilhus..........................................................................83

5.3.1 Catadores do Aterro Sanitrio de Ilhus e Uruuca.........................................84

5.3.2 Materiais reciclveis coletados pelos catadores de Ilhus...............................89

5.3.3 Depsitos de materiais reciclveis....................................................................94

5.3.4 Indstrias recicladoras......................................................................................96

5.4 Benefcios socioeconmicos e ambientais da reciclagem...................................97

5.4.1 Reciclagem de papel/papelo ..........................................................................97

5.4.2 Reciclagem de plstico.....................................................................................99

5.4.3 Reciclagem de alumnio..................................................................................100

5.4.4 Reciclagem de vidro.......................................................................................101

5.5 Anlise integrada dos benefcios ......................................................................103

5.5.1 Benefcios socioeconmicos...........................................................................103

5.5.2 Benefcios ambientais.....................................................................................107

5.6 Viabilidade econmica da reciclagem................................................................108

5.7 Cenrio proposto...............................................................................................110

6 CONCLUSO.......................................................................................................111

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................................113

ANEXO.....................................................................................................................120

10

1 INTRODUO

O modelo de desenvolvimento econmico vigente acompanhado por um

crescimento excessivo da gerao de resduos, que nem sempre est relacionado

ao crescimento populacional, mas vinculado ao padro de produo e consumo, ao

desperdcio por meio da populao e ao manejo inadequado dado aos resduos

slidos urbanos (CONDER, 2011).

A disponibilizao dos servios de manejo de resduos slidos urbanos uma

questo problemtica para as autoridades locais na grande maioria dos municpios

de pases em desenvolvimento, pois, o atendimento dos servios insuficiente e a

disposio final inadequada de resduos uma prtica comum nesses pases, o que

resulta numa variedade de impactos negativos, em dimenses ambientais,

econmicas, legais, e de sade pblica.

Problemas de ordem poltica e tcnica tornam a coleta convencional cada vez

mais problemtica, favorecendo o surgimento da tecnologia baseada na coleta

seletiva com o intuito de complementar a coleta convencional (LAYRARGUES,

2002).

Entende-se que a gerao de resduos no pode ser evitada, mas que os

resduos podem ser desviados dos aterros e lixes para serem reutilizados ou

recuperados como matrias-primas secundrias, e serem inseridos novamente ao

ciclo produtivo. Calderoni (2003) e Vilhena (2010) concordam que a minimizao e a

recuperao de materiais podem reduzir a explorao dos recursos naturais,

contribuir para o aumento da vida til dos aterros sanitrios e, consequentemente,

diminuir o ritmo da degradao ambiental.

Promulgada no dia 2 de agosto de 2010, a Poltica Nacional de Resduos

Slidos (PNRS) tem como princpio, a responsabilidade compartilhada entre

governo, empresas e populao, o que impulsiona o retorno dos produtos ao ciclo

produtivo aps o consumo e obriga o poder pblico a realizar planos para o

gerenciamento integrado do lixo (BRASIL, 2010). Entre as novidades, a lei consagra

o vis social da reciclagem, com participao formal dos catadores organizados em

cooperativas (CEMPRE, 2010).

Pela nova lei, promulgada em agosto de 2010, os governos municipais e

estaduais tm prazo de dois anos para elaborar seus planos de resduos slidos

11

contendo o diagnstico da situao do lixo e metas para a sua reduo e

reciclagem, e at quatro anos para desativarem os lixes. Devem ainda, identificar

os principais geradores de resduos, calcular os custos do sistema de limpeza, criar

indicadores para medir o desempenho do servio pblico nesse campo, buscar

solues consorciadas com outros municpios, priorizar tratamentos como

compostagem e reciclagem e, implementar sistemas de coleta seletiva com insero

social dos catadores (BRASIL, 2010).

Ilhus, assim como a maioria das municipalidades brasileiras, possui

problemas na gesto de resduos slidos. De acordo com as informaes sobre

gerao de resduos slidos urbanos no relatrio do Projeto de Recuperao do

Aterro Sanitrio de Ilhus desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento

Urbano do estado da Bahia (CONDER), a composio dos resduos slidos urbanos

de Ilhus possui um alto percentual de matria orgnica, em torno de 67% e 30% de

material reciclvel (CONDER, 2011a). O municpio, at o momento no

contemplado com sistema de coleta seletiva ou sistemas de tratamento de resduos

slidos, embora existam projetos para esse fim. Os resduos gerados no municpio

so destinados de forma inadequada no Aterro Sanitrio de Ilhus, que por falta de

manuteno adequada, tornou-se um lixo. A atividade de reciclagem existente no

municpio ocorre atravs da catao informal por intermdio de catadores de rua e

do lixo.

Com base nesses pressupostos, pretende-se analisar a Gesto de Resduos

Slidos Urbanos de Ilhus e o funcionamento da cadeia de comercializao dos

materiais reciclveis e, finalmente, estimar os valores agregados aos benefcios

socioeconmicos e ambientais da reciclagem no municpio de Ilhus, Bahia.

12

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Analisar a Gesto de Resduos Slidos Urbanos e estimar os benefcios

socioeconmicos e ambientais da reciclagem em Ilhus, Bahia.

2.2 Especficos

Analisar a Gesto de Resduos Slidos Urbanos;

Analisar a cadeia de reciclagem;

Estimar os benefcios econmicos, sociais e ambientais da reciclagem.

13

3 REVISO DE LITERATURA

3.1 A Sociedade moderna e a alterao dos sistemas naturais

No decorrer da evoluo humana, foram-se formando civilizaes, e, assim,

religies, filosofias, artes, cincias e tecnologias. Ao longo do tempo, o homem

aprendeu a adquirir, aplicar e transformar conhecimentos e, com isso,

gradativamente, passou a construir sistemas polticos, jurdicos, econmicos e

sociais. Aos poucos, o homem tornou-se modificador de paisagens na tentativa de

responder s suas aspiraes, alterando, gradativamente alterando o meio, gerando

desiquilbrio ambiental e trazendo consequncias para sua sobrevivncia (ALMEIDA,

1992).

O mesmo autor diz que durante o curso da evoluo humana, as

transformaes no homem e o surgimento das civilizaes, decorreram em um

pequeno espao de tempo, quando comparado com a formao geolgica do

planeta. Dos primeiros artefatos de pedra, passaram-se pela descoberta do fogo,

pelas invenes da roda e da escrita at chegar ao controle da energia nuclear e da

biotecnologia. Assim aconteceram grandes revolues - Revolues Neoltica,

Industrial e Tecnolgica.

As revolues humanas e os processos evolutivos da sociedade humana

foram possvel com o auxlio da descoberta da agricultura, que se deu no chamado

Crescente Frtil, ainda antes de Cristo (DIAMOND, 2007). Com o desenvolvimento

da agricultura, as populaes humanas atravs da prtica de plantio e

armazenamento de alimento, foram gradativamente aumentadas.

Atravs do aprimoramento desta tcnica, as civilizaes antigas deram incio

transformao do solo e da paisagem, atravs de prticas de derruba e queimada,

as quais eram essncias para obteno de um solo frtil (DIAMOND, 2007). Aos

poucos, em funo principalmente, do provimento de alimento e gua, inicia-se a

formao de aglomerados em centros, onde a populao cresce em localidades

geralmente prximas aos recursos hdricos, dando assim, a formao das cidades.

A partir das revolues, as transformaes na sociedade, nos valores

humanos e na natureza, ocorrem de forma muita rpida. Eis que surge a sociedade

14

do consumo, que teve incio no sculo XVIII, com a Revoluo Industrial. Nesse

perodo, as fbricas passam a se organizar em indstrias e estas se organizam em

grupos maiores de empresas nacionais e multinacionais. Tais empresas tm o poder

de criar necessidades aos indivduos, utilizando-se, sobretudo da propaganda

(MARTINS, 2004).

A crescente substituio de trabalhadores por novas tecnologias despertou

nos empresrios a necessidade de criar o consumidor insatisfeito, dando nova

importncia ao marketing. Assim, a moda passou a ser o lema da sociedade

consumista, impulsionando a troca por novos produtos, constantemente (RIFKIN,

1995). com a produo de novas necessidades que o sistema capitalista leva a

sociedade a consumir mais produtos. Estes, que, na maioria das vezes, apresentam

baixa qualidade, para durarem pouco e serem substitudos por novos, e assim se

mantm o ciclo econmico do sistema capitalista atravs da chamada,

obsolescncia programada.

Segundo Martins (2004), a sociedade moderna, urbana e industrial, se

caracteriza por utilizar bens e servios em quantidade muito superior necessria

consumismo. A este respeito, Kupstas et al., (1997, p.99) apud (MARTINS, 2004)

afirmam: No a tecnologia que atende s necessidades e sim as necessidades

que so criadas para atender crescente produo e elaborao cada vez mais

diversificada dos bens de consumo.

Outra caracterstica da sociedade moderna o desenvolvimento urbano e

industrial de forma desordenada, sem planejamento e custa de crescentes nveis

de poluio e degradao ambiental. Segundo Leff (2001) apud Romansini (2005), a

cidade o lugar onde se aglomera a produo, congestiona-se o consumo,

amontoa-se a populao e onde se degrada energia.

Nos ltimos cinquenta anos, o Brasil se transformou de um pas agrrio em

um pas urbano, concentrando, no ano de 2010, segundo o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatstica (IBGE), cerca de 85% de sua populao em reas urbanas

(IBGE, 2010).

O crescimento das cidades brasileiras no foi acompanhado pela proviso de

infraestrutura e um planejamento de servios urbanos adequados e suficientes,

entre eles os servios pblicos de saneamento bsico, que incluem o abastecimento

de gua potvel; a coleta e tratamento de esgoto sanitrio; a estrutura para a

drenagem urbana e o sistema de gesto e manejo dos resduos slidos. A economia

15

do Brasil foi crescendo sem que houvesse, paralelamente, um atendimento aos

problemas acarretados pelo aumento acelerado da concentrao da populao nas

cidades (MMA/ICLEI-Brasil, 2012).

Alm de transformar o meio natural pela explorao dos recursos naturais, o

modelo de desenvolvimento vigente vem acompanhado por um crescimento

excessivo da gerao de resduos que est vinculado ao crescimento populacional,

ao padro de produo e de consumo, ao desperdcio por meio da populao, e ao

manejo inadequado de resduos.

Com a revoluo industrial a capacidade dos homens de modificar a natureza

deu um novo salto, que permanente e crescente. Essa interveno, ao mesmo

tempo, provocou danos ambientais e tambm ofereceu muitos meios e situaes

que remediavam as situaes negativas dos desequilbrios ecolgicos, de forma que

a humanidade foi adiando a adoo de tcnicas e procedimentos mais sustentveis

(ROMEIRO, 2010).

As alteraes nos sistemas ecolgicos, provenientes das atividades de uma

populao em crescimento prolongado e aos avanos tecnolgicos constantes, so

responsveis por vrias alteraes nos sistemas naturais como: devastao de

comunidades biolgicas, diminuio de inmeras espcies, perturbao de ciclos

biogeoqumicos, diminuio da diversidade gentica, alterao climtica, ameaas

s diversidades biolgicas, alm dos problemas relacionados desigualdade social

dos pases (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).

Pode-se comprovar que os sistemas naturais da Terra esto em desequilbrio

apenas acompanhando as notcias dirias sobre colapso de pesqueiros,

encolhimento de florestas, eroso de solos, deteriorao de pradarias, expanso de

desertos, aumento constante dos nveis de dixido de carbono, poluio de lenis

freticos, aumento da temperatura, tempestades mais destrutivas, derretimento de

geleiras, elevao do nvel do mar, morte de recifes de corais e desaparecimento de

espcies (BROWN, 2003).

A Terra, se trata de um planeta fantstico, com muitos recursos oferecer

para a humanidade, contudo, que est sendo dizimado em funo da permanncia

de modelo de desenvolvimento cartesiano, cientfico, e que prioriza a racionalidade

econmica (ROMANSINI, 2005).

O mesmo afirma que, paradoxalmente, a sociedade moderna rica e ao

mesmo tempo pobre, desenvolvida e subdesenvolvida, outrora cheia de recursos

16

naturais, agora est merc de uma crise de esgotamento dos recursos naturais -

gua, carvo, petrleo, ar limpo etc - o que poder inviabilizar a produo

desenfreada dos mais diversos produtos comercializados hoje, e, portanto, podendo

levar a uma crise no prprio sistema capitalista que sobrevive graas ao giro de

produtos e de capital.

3.2 Movimentos ambientais

A ecosfera humana (complexo ecossistmico humano) passou a exibir sinais

evidentes de estar no limite crtico de sua resilincia ecossistmica, sobretudo, a

partir da Revoluo Industrial. A conscincia coletiva desse fenmeno, ainda,

muito recente, sinais de preocupao com a esfera ambiental, que teve incio aps o

trmino da Segunda Guerra Mundial, quando sinais de poluio do ar e dos rios,

passaram a ser evidentes aos olhos da nova sociedade. O grito de alerta, sobre as

questes ambientais da nova sociedade foi dado atravs da publicao do livro de

Rachel L. Carson, The Silent Spring, h 50 anos, em 1962 (ALMEIDA, 1992).

No decorrer do processo de constituio do sistema econmico, formou-se

uma aparente emancipao da esfera econmica em relao sociedade,

acompanhada da ascenso de uma nova classe social, a burguesia. Entretanto, as

sociedades e a economia esto entrelaadas no mundo real e apresentam vrias

falhas no funcionamento do mercado, uma delas a incapacidade de dar respostas

concretas aos conflitos da natureza. As consequncias desse sistema econmico e

de suas falhas so o agravamento da degradao dos ecossistemas, impulsionado

pela industrializao e pelas disputas pelo acesso e uso dos recursos naturais e dos

espaos territoriais (VINHA, 2010).

Alguns instrumentos de carter ambientalista foram criados para promover

mudanas nas diversas esferas de atuao da sociedade tais como educao

ambiental, legislao e licenciamento, avaliao de impacto, reas de conservao e

preservao, gesto e certificaes ambientais, rgos pblicos ligados temtica,

movimentos da sociedade civil, fundos de financiamento para projetos ambientais e

sociais e afins (MELLO, 2006).

Grandes movimentos de carter ambientalista, tambm levaram as

sociedades a repensar o modelo de desenvolvimento. Segundo Almeida (1992),

surgiram novos campos de estudo, como Ecologia Humana, Economia Ecolgica,

17

Educao Ambiental e Direito Ambiental, tecnologias menos poluentes, novas ideias

e conceitos. Um destes novos conceitos o desenvolvimento sustentvel, que tm

sido objeto de mega-conferncias internacionais, como as de 1972, em Estocolmo, e

em 1992, no Rio de Janeiro.

O termo que aparentemente trouxe a salvao para a problemtica do meio

ambiente e do crescimento econmico, e foi apresentado em 1987 pela Comisso

Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento das Naes Unidas (CMMAD), ao ser

publicado o Relatrio Brundtland, o qual apresentou as noes de desenvolvimento

sustentvel, sendo assim representado, ... aquele desenvolvimento que atende s

necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as geraes

futuras atenderem s suas prprias (CMMAD, 1988, p. 46).

Mais que um conceito, o termo transmite o desejo de mudana de paradigma

para um estilo de desenvolvimento que no se mostre excludente socialmente e

danoso ao meio ambiente. Visualizando na prtica, percebe-se que o termo implica

mudana de comportamento pessoal e social, alm de transformaes nos

processos de produo e de consumo. Para tanto, se faz necessrio o desenvolver

um processo de discusso e comprometimento de toda a sociedade. Essas

observaes deixam evidente que o modelo de desenvolvimento sugerido, ainda

hoje, um processo a ser implementado (MELLO, 2006).

Para que ocorra a sustentabilidade planetria, preciso desenvolver uma

gama de esforos que envolvem todas as esferas da sociedade moderna. Precisa-

se de conhecimento cientfico e tecnolgico para reduzir a explorao dos recursos

naturais, de sistemas de saneamentos bsicos funcionando adequadamente para

que se controlem os nveis de poluio e contaminao nos centros urbanos,

estimular o consumo consciente, buscar tecnologias e sistemas de informao e

educao para retornar os resduos ao ciclo produtivo. Alm de desenvolver

mecanismos de gerao de energias renovveis e limpas e controle da poluio de

forma mais eficaz. Todos esses fatores precisam estar articulados com o poder

pblico, e este, precisa estar fiscalizando e envolvendo a sociedade como um todo,

no modo sustentvel de viver.

Pode-se assim dizer que preciso construir um novo paradigma para que os

sistemas econmicos, polticos e produtivos estejam em acordo com as limitaes

do meio natural, e estejam articulados e interligados entre si, para que o

metabolismo da sociedade consiga entrar em equilbrio e, a sim, ser mantido e

18

podendo deixar para as populaes futuras um ambiente saudvel e possvel de ser

habitado com qualidade de vida (BROWN, 2003; MAY, 2010; MELLO, 2006).

Dentro da ecologia, pode-se dizer que todo ecossistema apresenta algum

grau de resilincia ou sustentabilidade, ou seja, possuem capacidade de enfrentar

perturbaes externas sem que isso afete suas funes. J dentro da viso

econmica, a preocupao com a sustentabilidade surge da preocupao em

manter o crescimento em longo prazo, sendo que, na funo da produo, junto com

o capital, esto inseridos os recursos naturais (BARCELLOS; CARVALHO, 2010).

O conceito de sustentabilidade tem carecido de uma fundamentao que

esteja de acordo com a importncia da sustentao dos ciclos biogeoqumicos, pois

so formadores dos diversos ecossistemas e so fundamentais aos processos de

produo e reproduo da cultura humana dentro da biosfera e dos processos

industriais (MELLO, 2006).

3.3 A economia e as leis da termodinmica

As atividades econmicas globais tm apresentado um crescimento de

aproximadamente 4%. Paralelamente, a populao mundial, que era de 2,5 bilhes

em 1950, atingiu 6 bilhes na virada do milnio e o consumo per capita de energia

supera esse crescimento, levando, assim, a uma rota de coliso entre sistema

econmico e ambiente natural, o que gera ainda mais conflitos polticos e sociais

(BROWN, 2000).

Faz se necessrio buscar um entendimento da relao entre a atividade

humana e o processo econmico, de forma a expressar a ligao entre o homem e o

sistema biofsico do meio ambiente, para que se possa elaborar princpios para o

desenvolvimento sustentvel. Para isso, fundamental a compreenso de que a

economia, em sua viso tradicional, revela-se incapaz de representar os elos entre

as atividades econmicas e o sistema ecolgico (CAVALCANTI, 2009).

A economia precisa ser re-planejada de forma que estabilize a relao entre

ela e o ecossistema, permitindo que o progresso econmico continue e, redefinida

conforme os conceitos ecolgicos bsicos, como: produo sustentvel, capacidade

de suporte, ciclos de nutrientes, ciclo hidrolgico e o sistema climtico (BROWN,

2003), sendo fundamental a elaborao e definio de polticas ambientais que

forneam as ferramentas para que esse novo modelo de desenvolvimento funcione.

19

Diante desse conflito que linhas de pensamentos comeam a elaborar

estratgicas de sustentabilidade para se inserirem no sistema econmico, como a

economia ambiental (neoclssica) e a economia ecolgica (ROMEIRO, 2010).

A economia passa entrar na problemtica ambiental a partir da necessidade

de controlar o mau uso dos bens ambientais, especialmente a respeito dos

problemas de poluio que estavam acontecendo nas grandes cidades dos pases

desenvolvidos na dcada dos anos 70. Os economistas ambientais iniciaram a

formulao de propostas baseados nas polticas de controle e posteriormente, em

desenvolvimento tecnolgico. O intuito do controle ambiental, parte do

reconhecimento de que o mercado no pode controlar os problemas ambientais pois

no tem sido possvel internalizao dos custos ambientais. Ento a soluo do

problema passa por corrigir esta distoro (LOYOLA, 1997).

O mesmo ainda diz, que os economistas ecolgicos, por outro lado, negam a

posio dos economistas ambientais, dizendo que se trata de uma viso parcial,

onde no possvel ver as diferentes inter-relaes que se estabelecem na

sociedade como um todo. Estes defendem que os atuais padres de

desenvolvimento tm como lgica uma grande utilizao de energia, assim, alertam

sobre a gerao de novas demandas intensivas em consumo energtico dos novos

produtos. Estes padres de desenvolvimento podem levar irremediavelmente ao

esgotamento dos recursos, por isso, recomendam mudar os atuais padres de

desenvolvimento para um novo estilo de vida, onde se utilize menos recursos e que

se degrade menos o meio ambiente. Ento possvel dizer que a economia

ecolgica procura como soluo para o problema ambiental, a restruturao dos

atuais padres de consumo, por padres que considerem o resguardo do consumo

dos bens ambientais e naturais em funo da escassez absoluta, situao que

possvel pela existncia da segunda lei da termodinmica.

O sistema econmico, que um transformador de recursos naturais em bens

e servios, representado com um balano material, o qual requer que o que entrou

no sistema de produo, corresponda exatamente ao que saiu da transformao

econmica. Dentro da viso da Primeira Lei da Termodinmica, sabe se que no se

pode fazer alguma coisa do nada, da mesma forma que, o lixo, gerado no processo

produtivo no pode, simplesmente, desaparecer, de forma que, na realidade, parte

integrante do processo (CAVALCANTI, 2009; MAY, 2010).

20

Nicholas Georgescu-Roegen e seus seguidores Herman Daly e Joshua

Farley, foram os pensadores que incluram as perspectivas da termodinmica na

economia, acentuado com enfoque crtico em relao ao crescimento econmico

sem limitaes. Para esses, o sistema econmico est sujeito s leis de

conservao de matria e energia e degradao da qualidade da energia ou lei da

entropia (CAVALCANTI, 2009).

A origem das leis termodinmicas se deu nos primrdios da Revoluo

Industrial, quando cientistas estudaram a possibilidade de utilizar a energia calorfica

perdida como resultado da operao de uma mquina, na prpria, fazendo-a

funcionar novamente, o que resultaria em uma mquina que funcionasse

indefinidamente com a mesma energia, a chamada mquina de moto perptuo

(MAY, 2010). Em 1865, o fsico alemo Rudolf Clausius (1822-1888) reconheceu a

existncia de dois princpios relacionados na questo da transformao da energia,

e os nomeou de Primeira Lei da Termodinmica e Segunda Lei da termodinmica

(CAVALCANTI, 2009).

Para Rudolf Clausius, de acordo com a Primeira Lei da Termodinmica, a

matria e energia no podem ser criadas ou destrudas, apenas transformadas. J o

segundo princpio, tambm chamado de Lei de Entropia, afirma que a energia se

move na direo de maior homogeneidade. Isso se d, por exemplo, na realizao

de trabalho, onde ocorre a transformao de energia em calor, ou seja, energia

trmica, que perdida no espao. Essa energia fica indisponvel para realizao de

trabalho, pois, a energia fica num estado de equilbrio termodinmico. Dessa forma,

ocorre um aumento contnuo da desordem do universo, pois a energia transformada

no deixa de existir, ela se dissipa pelo espao em forma de energia indisponvel, o

que se pode chamar de passagem de energia de forma livre, ou de baixa entropia,

em energia presa, de alta entropia.

3.3.1 Resduos: as externalidades negativas do meio de produo

Em qualquer processo de transformao natural ou artificial de matria,

geram-se resduos, que podem ser ciclados rapidamente ou no, pelos ciclos

biogeoqumicos do planeta. Os resduos gerados durante as atividades produtivas

da sociedade, nem sempre so assimilados pela natureza, pois o meio natural

21

possui uma capacidade de ciclagem (capacidade de resilincia) limitada,

consequentemente, uma grande parte dos resduos descartados, no absorvida e

se acumulam sob forma de poluio, o que gera o aumento de energia no til, e,

dependendo da magnitude, pode comprometer a atividade dos servios

ecossistmicos e elevar o nvel de entropia do sistema. Um exemplo disso o

aquecimento global (ENRIQUZ, 2010).

Cavalcanti (2009), afirma que o modelo de produo atual utiliza-se de

matria e energia de baixa entropia e devolvem ao ecossistema o lixo, que matria

e energia de alta entropia. Dentro dessa tica, se permite observar que tudo vira

lixo, pois, qualquer bem ou servio, por mais durvel que seja, possui uma vida til,

a qual ter em seu fim, a degradao de seus componentes, tornando matria-

energia degrada. Nesse sentido, pode-se dizer que a matria sujeita a tendncia

natural de desordem, o que demonstra que no possvel existir 100% de

reciclagem.

Para agravar o problema dos resduos, Mello (2006) diz que as sociedades

antrpicas utilizam basicamente, de processos de mediao para os problemas

ambientais. Exemplo disso so as formaes dos lixes e aterros controlados -

alternativas temporrias na falta de uma soluo adequada para os resduos slidos.

Evidencia-se ento, a necessidade de melhorar a eficincia da utilizao dos

recursos naturais, reduzir drasticamente a poluio, manter o consumo de recursos

naturais dentro dos limites de capacidade de suporte do planeta, alm de respeitar a

ciclagem dos resduos. Dessa forma, pode-se definir que, necessrio induzir

limites ao sistema de produo de acordo com as limitaes do prprio planeta em

disponibilizar os recursos naturais e de reciclar os poluentes e resduos liberados

atravs de toda atividade econmica (ROMEIRO, 2010).

Como os recursos naturais usados no processo industrial geralmente so

finitos, e a maioria, no renovveis, de extrema importncia utilizao racional

desses recursos. Outro passo importante para que o sistema de produo se

adque aos princpios do desenvolvimento sustentvel, a adoo de uma poltica

ambiental, que levem o responsvel pelo meio produtivo assumir posturas e

procedimentos menos impactantes ao meio ambiente (CNEPA; LUSTOSA;

YOUNG, 2010).

Os impactos ambientais, econmicos e sociais provenientes da destinao

incorreta de resduos, so inmeros. Estes, geralmente apresentam caractersticas

22

fsicas e qumicas que permitem um tratamento como reciclagem, compostagem,

incinerao e outros. Sendo assim, no intuito de corrigir as falhas do mercado, de

extrema urgncia que, no modelo econmico atual, as polticas pblicas considerem

as propriedades fsico-quimcas dos resduos formados na cadeia produtiva, a fim de

desenvolver mecanismos para que recebam tratamentos e destinaes finais

adequados, evitando-se assim os impactos desta externalidade negativa.

3.3.2 A Crise do lixo

A quantidade de resduos slidos tem aumentado cada vez mais, tornando-se

um transtorno do ponto de vista sanitrio, econmico, social e ambiental. A

crescente concentrao da populao que vive e desenvolve atividades nos centros

urbanos, juntamente com a mudana cultural de consumo e a falta de um

gerenciamento integrado das atividades urbanas, so causas que, juntas,

contribuem com a poluio ambiental e com a deteriorao da qualidade de vida.

A crise dos resduos slidos inicia-se nos aglomerados urbanos, locais onde

as pessoas distanciam de seus elos com a natureza, principalmente porque os

alimentos e todos os outros bens de consumo so facilmente encontrados,

consumidos e seus rejeitos descartados (MELLO, 2006).

Conforme Andrade (2006), o lixo, est presente na histria do homem desde

os primrdios da humanidade, quando os seres humanos eram nmades e viviam

da caa e de plantas, o lixo produzido era deixado para trs quando estes decidiam

mudar de local, em busca de mais alimentos. Como a quantidade era pequena e o

resduo era basicamente orgnico, ocorria a decomposio natural no meio

ambiente, sem causar alteraes ambientais negativas.

Posteriormente, o homem passou a se organizar em comunidades,

sociedades e foi aumentando, assim, a concentrao de pessoas e de resduos, e

dessa forma, surgiram-se os primeiros depsitos de lixo (ANDRADE, 2006).

Pesquisas indicam que no ano 500 a. C., a cidade de Atenas criou o primeiro lixo

municipal, onde, exigia-se que os detritos fossem jogados a aproximadamente dois

quilmetros das muralhas que cercavam a cidade (CEMPRE, 2007).

O mesmo autor, diz que durante a Idade Mdia, o acmulo de pessoas nos

centros urbanos foi aumentando e, consequentemente, tambm o volume dos

resduos, que continham, alm de restos de comida, grandes quantidades de

23

excrementos animal e humano. Este perodo da histria foi marcado pelo surgimento

de srias doenas e epidemias e, at o sculo XIX, em mdia, cerca de um quarto

do total de mortes nas cidades europeias derivaram de doenas relacionadas

gerao e ao acmulo de lixo.

Conforme a populao foi aumentando e o desenvolvimento das sociedades

se acentuando, uma nova ordem mundial foi instaurada: a sociedade industrial e

consumista, que teve como marco, a Revoluo Industrial. Inicia-se, ento, o grande

processo de alterao na relao do homem com o meio ambiente, atravs de

mudanas nos meios de produo e de consumo e, assim, a problemtica em torno

da gerao e descarte de resduos slidos teve um grande impulso (GRIPPI, 2006).

A revoluo urbana pela qual quase o mundo todo tem passado

caracterizada pelo crescimento das cidades, geralmente sem mecanismos

regulatrios e de controle, o que trouxe consigo consequncias ambientais e sociais

profundas. Isso porque, a cidade passa a ser vista como uma unidade de produo

complexa, com grande variedade de bens e servios, o que acabam por atrair os

seres humanos (GOUVEIA, 1999).

O mesmo ainda diz que a busca dos espaos urbanos tem como

consequncia a deteriorao da qualidade de vida do homem, em funo de

problemas como, insuficincia dos servios bsicos de saneamento, coleta e

destinao adequada do lixo, condies precrias de moradia, tradicionalmente

relacionados com a pobreza e o subdesenvolvimento, somando-se poluio

qumica e fsica dos recursos hdricos, atmosfrico e do solo.

O fato propulsor da concentrao popular nos centros urbanos foi, sem

dvida, a expanso das atividades industriais dos centros urbanos, e dessa forma,

os trabalhadores de reas rurais acabaram sendo atrados por verem nas cidades, a

possibilidade de obteno de um ganho maior, j que a facilidade de emprego e, de

recursos nas reas de sade e educao mais bem distribuda do que no campo.

Entretanto, nem todos encontraram oportunidade nas indstrias e nos comrcio dos

centros urbanos e, em alguns casos, sem ter o que fazer, acaba por acharem no lixo

a ltima forma de ganho de recursos financeiros para sobreviver (MAGERA, 2008).

Os produtos do metabolismo do consumo das sociedades capitalistas

industriais so convenientemente escondidos das suas populaes - normalmente

so destinados em aterros e lixes localizados em reas distantes das cidades -

exceo daqueles miserveis que vivem das sobras, e quem veem o lixo uma forma

24

de obteno de comida, retratado no filme Ilha das Flores, ou uma forma de ganho

de recursos financeiros, como os catadores de resduos nos lixes (MELLO, 2006).

A gerao dos resduos slidos tem aumentado em escala exponencial,

fazendo com que ecologistas, governos e instituies alardeiam aos quatros cantos

que chegaremos, num futuro prximo, a uma situao de calamidade pblica, tanto

pela alta e crescente gerao dos resduos, cujas consequncias j so sentidas

nos aterros e na falta deles, quanto na escassez de recursos naturais para a

gerao destes produtos (MAGERA, 2007).

Portanto, sabe-se que a disponibilizao dos servios de Resduos Slidos

Urbanos (RSU) uma questo problemtica para as autoridades locais na grande

maioria dos municpios de pases em desenvolvimento, pois o atendimento dos

servios insuficiente e a disposio inadequada de resduos uma prtica comum,

resultando em uma variedade de impactos negativos em dimenses ambientais,

socioambientais, econmicos, legais e de sade pblica (SAVI, 2005).

3.4 Resduos Slidos

Resduo o material resultante das atividades realizadas pela sociedade

humana que so descartados e considerados como imprestveis e indesejveis.

So gerados no processo de extrao e aproveitamento de matria-prima, durante o

processo de confeco de produtos (primrios ou secundrios), durante o e ps-

consumo dos produtos.

Para Leal (2004) apud (ROMANSINI, 2005), no entanto, os termos lixo e

resduos no se confundem, pois, os resduos so aqueles oriundos das atividades

humanas sendo possvel sua reciclagem agregando a estes, valores econmicos,

sociais e ambientais, enquanto o lixo so as sobras que so jogadas fora, aos quais

no possuem mais utilidade e nem se atribu valor algum. Ainda, a Poltica Nacional

de Resduos Slidos, se se refere a este material que no tem mais utilidade, o

termo de rejeito e no resduo, e dessa forma, os resduos devem ser

reaproveitados e reciclados e apenas os rejeitos devem ter disposio final.

25

A classificao de resduo slido conforme a NBR 10004 da Associao

Brasileira de Normas Tcnica (ABNT):

Resduos Slidos: resduos nos estados slido e semi-slido, que resultam

de atividades de origem industrial, domstica, hospitalar, comercial,

agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os lodos

provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em

equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como

determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu

lanamento na rede pblica de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para

isso solues tcnica e economicamente inviveis em face melhor

tecnologia disponvel (ABNT, 2004, p. 3).

Quando descartados no meio ambiente, cada tipo de resduo implica em um

tipo de agresso ou impacto, por isto, se faz necessrio organiz-los com base em

um conjunto de critrios, a fim de sistematizar o mecanismo de tratamento e

descarte final adequados. Deste modo, os resduos slidos podem ser classificados

das seguintes formas: natureza fsica, composio qumica e riscos potenciais ao

meio ambiente (DALMEIDA; VILHENA, 2000). Estas classificaes esto descritas

nos quadros 1 e 2.

Outra forma importante de classificar os resduos de acordo com sua

origem, ou seja, domiciliar, construo civil, servios de sade, entre outros. No

quadro 3 esto dispostos os tipos de resduos conforme estabelecidos na PNRS

(BRASIL, 2010).

Quadro 1 Classificao dos resduos slidos conforme a composio fsica e

qumica

Classificao Resduos

Composio

Fsica

Resduos Secos - Os resduos secos so os materiais reciclveis como, por

exemplo: metais, papis, plsticos, vidros etc;

Resduos midos - So os resduos orgnicos e rejeitos, por exemplo: resto de

comida, cascas de alimentos, resduos de banheiro etc;

Composio

Qumica

Resduo Orgnico - So os resduos de origem animal ou vegetal, que apresentam caractersticas que permitem fcil degradao, pode-se incluir: restos de alimentos, frutas, verduras, legumes, flores, plantas, folhas, sementes, restos de carnes e ossos, papis, madeiras etc; Resduo Inorgnico - Inclui nessa classificao todo material que no possui origem biolgica e que devidos suas caractersticas fsicas e qumicas, no so facilmente degradados, por exemplo: plsticos, metais, vidros etc.

Fonte: VILHENA (2010).

26

Quadro 2 Classificao dos resduos slidos de acordo aos riscos potenciais ao

meio ambiente

Classificao Resduos

Classe I Resduos Perigosos - So aqueles que apresentam risco sade pblica e ao meio

ambiente apresentando uma ou mais das seguintes caractersticas: periculosidade,

inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. (ex.:

baterias, pilhas, leo usado, resduo de tintas e pigmentos, resduo de servios de

sade, resduo inflamvel, etc.).

Classe II A Resduos No-Inertes - Podem ter propriedades tais como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em gua. (ex.: restos de alimentos, resduo de varrio no perigoso, sucata de metais ferrosos, borrachas, espumas, materiais cermicos, etc.).

Classe II B Resduos Inertes: Quaisquer resduos que, quando amostrados de uma forma

representativa e submetidos a um contato dinmico e esttico com gua destilada

ou deionizada, temperatura ambiente, no apresentarem nenhum de seus

constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de potabilidade

de gua.

Fonte: ABNT(2004).

Quadro 3 Classificao dos resduos slidos conforme sua origem

ORIGEM RESDUOS

a) Resduos domiciliares Resduos originrios de atividades domsticas em residncias

urbanas.

b) Resduos de limpeza

urbana

Originrios da varrio, limpeza de logradouros e vias pblicas e

outros servios de limpeza urbana.

c) Resduos slidos urbanos Os mesmos englobados nas alneas a e b.

d) Resduos de

estabelecimentos comerciais

e prestadores de servios

Os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alneas

b, e, g, h e j.

e) Resduos dos servios

pblicos de saneamento

bsico:

Os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alnea c.

f) Resduos industriais Os gerados nos processos produtivos e instalaes industriais.

g) Resduos de servios de

sade

Os gerados nos servios de sade, conforme definido em

regulamento ou em normas estabelecidas pelos rgos do Sisnama

e do SNVS*.

h) Resduos da construo

civil

Os gerados nas construes, reformas, reparos e demolies de

obras de construo civil, includos os resultantes da preparao e

escavao de terrenos para obras civis.

i) Resduos

agrossilvopastoris

Os gerados nas atividades agropecurias e silviculturas, includos os

relacionados a insumos utilizados nessas atividades.

j) Resduos de servios de

transportes

Os originrios de portos, aeroportos, terminais alfandegrios,

rodovirios e ferrovirios e passagens de fronteira.

k) Resduos de minerao Os gerados na atividade de pesquisa, extrao ou beneficiamento de

minrios.

Fonte: Poltica Nacional de Resduos Slidos, Lei n 12.305, (BRASIL, 2010). * SISNAMA e SNVS: Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS).

27

3.4.1 Legislao dos Resduos Slidos

Atualmente, o Brasil conta com um arcabouo legal que estabelece diretrizes

para a gesto dos resduos slidos, por meio da Poltica Nacional de Resduos

Slidos (Lei n 12.305/2010), e em relao prestao dos servios pblicos de

limpeza urbana e manejo de resduos slidos atravs da Lei Federal de Saneamento

Bsico (Lei n 11.445/2007). O pas ainda conta, com a Lei de Consrcios Pblicos

(Lei n 11.107/2005) que permite estabilizar relaes de cooperao federativa para

a prestao desses servios. Metas e diretrizes sobre resduos slidos tambm

esto presentes no Plano Nacional sobre Mudana do Clima (PNMC) que foi

recentemente finalizado (MMA/ICLEI-Brasil, 2012).

Promulgada no dia 2 de agosto de 2010, a nova lei tem como princpio a

responsabilidade compartilhada, o retorno dos produtos ao ciclo produtivo ps-

consumo, a incluso social dos catadores no sistema de limpeza urbano e a

elaborao dos planos para o gerenciamento integrado do lixo (BRASIL, 2010).

A partir da publicao da recente lei, os governos municipais e estaduais tm

prazo de dois anos para elaborar um plano de resduos slidos, com diagnstico da

situao do lixo e metas para reduo e reciclagem. A elaborao do plano

municipal de gesto integrada de resduos slidos, nos termos previstos no Art. 18,

a condio para que o Distrito Federal e os municpios tenham acesso a recursos da

Unio, para serem investidos em empreendimentos e servios relacionados

limpeza urbana e ao manejo de resduos slidos, ou para serem beneficiados por

incentivos ou financiamentos de entidades federais de crdito ou fomento para tal

finalidade (BRASIL, 2010).

At 2014, os municpios sero obrigados a desativarem os lixes e buscarem

solues consorciadas com outros municpios para promoverem a destinao final

adequada dos resduos slidos urbanos, alm de identificarem os principais

geradores de resduos, calcularem os custos do sistema de limpeza e

desenvolverem indicadores para medir o desempenho do servio pblico nesse

campo (CEMPRE, 2010).

A lei tambm passa a exigir que os aterros estejam atuando conforme as

normas ambientais para receber os rejeitos. Nessas areas fica proibida a catao,

a criao de animais e a instalao de moradias. As prefeituras devero implantar

28

sistema de coleta seletiva de materiais reciclveis nos domiclios, alm de sistemas

de compostagem para resduos orgnicos midos, a fim de reduzir a quantidade

levada para os aterros (BRASIL, 2010).

Aps a publicao da Lei Federal n 12.305, de agosto de 2010, foi publicado

no dia 23 de dezembro, o Decreto Federal 7.404/10 que a regulamenta por meio da

instituio de normas, cuja finalidade viabilizar a aplicabilidade dos instrumentos

da referida lei. O mesmo tambm estabeleceu o Comit Interministerial da Poltica

Nacional de Resduos Slidos e o Comit Orientador com a finalidade de implantar

os Sistemas de Logstica Reversa (SLR). Ambos, possuem o propsito de apoiar a

estruturao e implementao da lei, mediante a articulao dos rgos e entidades

governamentais (TREVIZAN, 2010).

A eficcia da PNRS recai sobre todos os integrantes da cadeia produtiva dos

resduos slidos. Dessa forma, a lei determina que os consumidores, tambm so

responsveis pelo retorno aos resduos na cadeia produtiva, desde que estabelecido

um sistema de coleta seletiva ou de sistema de logstica reversa em seus

municpios. Sendo responsveis tambm, pelo acondicionamento adequado a fim de

disponibilizar os resduos reutilizveis e reciclveis para a coleta seletiva ou

devoluo pelo SLR (BRASIL, 2010a).

O decreto esclarece que as diretrizes aplicadas gesto e gerenciamento dos

resduos slidos, conforme o Art. 35 do decreto referido deve seguir uma ordem de

prioridade no gerao, reduo, reutilizao, reciclagem, tratamento dos resduos

slidos e disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos. A insero dos

resduos a cadeia produtiva atravs da reciclagem uma alternativa paliativa, sendo

necessrio antes, trabalhar a conscientizao quanto ao consumo responsvel e o

reaproveitamento dos materiais j consumidos (BRASIL, 2010 a).

Os sistemas de coleta seletiva urbana devero ser implantados pelo titular do

servio pblico de limpeza urbana e de manejo de resduos slidos. Vale ressaltar

que, para que coleta seletiva seja operada, fundamental que ocorra a segregao

prvia dos resduos slidos de acordo com a constituio ou composio no prprio

local de gerao. O decreto abrange ainda a possibilidade de participao dos

catadores de materiais reciclveis e reutilizveis nos procedimentos de coleta

(BRASIL, 2010 a).

Estas e outras considerveis determinaes do decreto Federal 7.404/10

conferem aplicabilidade lei Federal 12.305/10, e direcionam a implementao dos

29

procedimentos e providncias aos estados e municpios brasileiros, a fim de garantir

o maior equilbrio ao meio ambiente, diminuindo o impacto sofrido em decorrncia do

volume crescente de resduos slidos gerados (TREVIZAN, 2010).

Ainda em consulta pblica pela internet, est disponvel a verso preliminar

do Plano Nacional de Resduos Slidos, conforme previsto na Lei 12.305/2010, a

qual servir como base, e dar os devidos direcionamentos para que os estados e

todos os municpios desenvolvam seus planos de gerenciamento de resduos

slidos.

Todo este aparato legal, sendo empregado de forma correta, dever permitir o

resgate da capacidade de planejamento, e de gestes mais eficientes dos servios

pblicos de saneamento bsico, o que fundamental para a promoo de um

ambiente mais saudvel e com menos riscos populao (MM/ICLEI-Brasil, 2012).

3.4.2 Manejo de Resduos Slidos Urbanos

A disponibilizao dos servios de resduos slidos urbanos uma questo

problemtica e de difcil soluo para as autoridades locais na grande maioria dos

pases em desenvolvimento. O dficit no atendimento dos servios e a disposio

inadequada dos resduos slidos urbanos so praticas comuns do sistema de

limpeza urbana, impactos ambientais e problemas relacionados sade pblica, so

fatores ligados problemtica do lixo e, muito comuns nas cidades brasileiras

(BARTONE, 2001).

Nos pases em desenvolvimento, as questes mais graves a serem

solucionadas so basicamente duas: a primeira o dficit observado na oferta do

servio de coleta de lixo, o que abrange a populao de maneira discriminada, e a

segunda, a forma inadequada que vem sendo dado quanto disposio e

tratamento do lixo urbano, tanto pela populao, carente de informaes, como

pelas administraes municipais, que no apresentam uma estratgia de

gerenciamento que atenda de forma adequada os requisitos de ordem sanitria,

econmica e social (PEARCE; TURNER, 1994).

No Brasil, os servios de limpeza absorvem entre 7% e 15% dos recursos de

um oramento municipal, dos quais cerca de 50% so destinados coleta e ao

transporte de lixo. Os gastos que o pas teve com a coleta de resduos urbano em

30

2009 foi mais de 6 milhes de reais, com os demais custos de servios de limpeza

urbana atingiu-se um valor acima de 11 milhes de reais (ABRELPE, 2009). Em

contrapartida a esses valores, segundo a pesquisa de Calderoni (2003) o Brasil

deixa de ganhar mais de 8 bilhes por ano, pela no reciclagem dos resduos

slidos reciclveis.

Porm, sabe-se que Gesto dos Resduos Slidos Urbanos (GRSU) um

assunto polmico, complexo e frequentemente discutido. No passado, a gesto dos

resduos era limitada a coleta e sua disposio de forma inadequada e desordenada.

Posteriormente, essa questo foi associada conscientizao sobre conservao

dos recursos, poluio do meio ambiente e sade pblica (ABRELPE, 2010).

A qualidade do servio no sistema de limpeza urbana comumente afetada

por problemas encontrados na administrao pblica, como: limitaes financeiras,

tarifas desatualizadas, arrecadaes insuficientes, inexistncia de linhas de crdito,

descontinuidade poltica e administrativa, deficincia na capacitao tcnicas dos

gestores e operadores do sistema de limpeza e ausncia de controle ambiental

(IBAM, 2001).

Existem inmeros modelos de manejo de resduos urbanos, entre eles, o

Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos (GIRSU) que a forma

mais adequada de operar os servios de limpeza urbana, sendo definido da seguinte

forma:

Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos , em sntese, o

envolvimento de diferentes rgos da administrao pblica e da sociedade

civil com o propsito de realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a

disposio final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da populao e

promovendo o asseio da cidade, levando em considerao as

caractersticas das fontes de produo, o volume e os tipos de resduos

para a eles ser dado tratamento diferenciado e disposio final tcnica e

ambientalmente corretas , as caractersticas sociais, culturais e

econmicas dos cidados e as peculiaridades demogrficas, climticas e

urbansticas locais (IBAM, 2001, p. 43).

No gerenciamento integrado aos programas de limpeza urbana so

desenvolvidos atendendo mxima reduo da produo de lixo, o mximo

reaproveitamento e reciclagem de materiais, e ainda a disposio dos resduos de

forma mais sanitria e ambientalmente corretos, abrangendo toda a populao e a

universalidade dos servios. Essas atitudes contribuem de forma significativa para a

reduo dos custos do sistema e para a qualidade ambiental (IBAM, 2001).

31

O PGIRS constitui-se em um documento que visa administrao pblica do

sistema de limpeza urbana e coleta de resduos por meio de um conjunto integrado

de aes normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que levam em

considerao os aspectos referentes sua gerao, segregao, acondicionamento,

coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposio final, de forma a

atender os requisitos ambientais e de sade pblica (IBAM, 2007).

Outro aspecto importante, tambm estabelecido no Decreto 7.404/2010,

precisa ser considerado na limpeza urbana, que a gerao e coleta de resduos

especiais. Por possurem componentes poluentes - lmpadas, pneus, pilhas e

baterias e eletroeletrnicos - precisam retornar ao fabricante atravs do sistema de

logstica reversa para receberem tratamentos especficos. Outros resduos tambm

considerados especiais segundo a PNRS so os resultantes da construo civil e

provenientes dos servios de sade e precisam ser submetidos a tratamentos e

disposio final adequada.

Assim, a elaborao de um PGIRS, deve-se considerar as estimativas de

variaes qualitativas e quantitativas dos resduos produzidos. Para isso, so

necessrios que sejam realizados levantamentos e anlises dos diversos tipos de

resduos, a fim de elaborar um plano que envolva o melhor mtodo de coleta,

transporte, processamento, recuperao, tratamento e disposio final a cada tipo

de material gerado no municpio (IBAM, 2007).

O lixo domstico basicamente formado por trs tipos de resduos: resduos

de fcil biodegradao - resduos orgnicos ou midos (restos de comidas, folhas

secas e podas); resduos de difcil degradao, ou chamados de resduos secos ou

inorgnicos (embalagens de papel, plstico, vidros alumnios e outros), e rejeitos

materiais que devido suas caractersticas fsico-qumicas no podem ser

reaproveitados ou reciclados, portanto, devem ser incinerados ou encaminhados aos

aterros (resduos sanitrios, panos, entre outros) (VILHENA, 2010).

Os tratamentos adequados aos resduos slidos midos so: o emprego da

compostagem - processo de que transforma resduos em composto; e a digesto

anaerbia - processo de transformao de resduos em energia trmica e/ou eltrica

(ENERGAIA, 2005 apud CERVEIRA, 2008). J aos resduos inorgnicos secos, a

melhor tcnica de tratamento seria o emprego da reciclagem.

32

3.5 Reciclagem

A reciclagem o processo que reintroduz os materiais j utilizados e

descartados ou aqueles que sobraram dos processos produtivos, novamente na

cadeia produtiva, substituindo o uso da matria prima-primria virgem por materiais

reciclveis (matria-prima secundria) (VILHENA, 2010).

Historicamente, o primeiro estmulo reciclagem foi durante a Segunda

Guerra Mundial. Nessa poca, os governos dos pases envolvidos com a guerra,

passaram a divulgar campanhas governamentais que incentivaram a doao pelos

cidados de tudo o que pudesse ser reutilizado para o esforo da guerra. Nos

Estados Unidos, era oferecida uma pequena quantia de dinheiro em troca do lixo da

populao (CEMPRE, 2007).

O mesmo ressalta que os debates e movimentos discutidos sobre o descarte

desordenados de bens de consumo, pelo movimento ambientalista nos anos 70,

baseava-se, apenas, na busca pela conciliao entre a cadeia de produo e o

consumo de recursos naturais e exaurveis por uma populao em crescimento.

Posteriormente a discusso sobre a necessidade de desenvolver um sistema de

produo mais eficiente, revendo os efeitos da poluio, da escassez dos recursos e

do aumento da gerao de resduos, assim, nos anos 90, a reciclagem, passou a ser

uma iniciativa-chave para proteger o meio ambiente, ao se fazer a retroalimentao

do sistema produtivo com o retorno dos produtos descartveis ps-consumo.

A estrutura e o funcionamento do mercado de reciclagem no Brasil

normalmente esto baseados em trs componentes (ou agentes): os catadores, que

esto na base da cadeia de reciclagem recolhendo e separando os resduos; os

sucateiros, que, informal ou formalmente, compram os produtos reciclados pelos

catadores ou cooperativas e os revendem s indstrias; as indstrias recicladoras,

essas que processaram os materiais para utilizar e como matria-prima secundria,

ou ainda, podem vender esses materiais aps processamento para outras indstrias

transformarem esses materiais em novos produtos (CALDERONI, 2003).

Durante o processamento do material reciclvel, alm de se economizar

energia, recursos hdricos e evitar a extrao de recursos naturais, pode-se diminuir

a poluio do ar e da gua (CALDERONI, 2003). Sendo, entre as alternativas de

tratamento ou reduo dos resduos slidos urbanos, a alternativa que desperta

33

maior interesse na populao, principalmente por seu forte apelo ambiental (IBAM,

2001).

Bianchini (1996) diz que a reciclagem uma parte importante da soluo da

problemtica do lixo do Brasil e demais pases do planeta. E para que esse

procedimento ocorra e se mantenha, necessrio que a sociedade, a iniciativa

privada e os governos, desempenhem suas aes simultaneamente para que os

programas de reciclagem sejam vitoriosos.

O uso da palavra reciclagem foi agregado na chamada Pedagogia dos 3R's

juntamente com outros dois termos reduzir e reutilizar. Segundo o Tratado sobre

Consumo e Estilo de Vida, o discurso ecolgico alternativo advoga uma sequncia

lgica, onde a reduo do consumo deve ser priorizada sobre a reutilizao dos

produtos consumidos, e a reutilizao dos materiais deve ser priorizada sobre a

reciclagem dos resduos reciclveis (LAYRARGES, 1992). Segundo Siqueira e

Moraes (2009), tarefa, tanto do Poder Pblico como da sociedade organizada, o

desenvolvimento de debates que levem reviso de hbitos de consumo.

Os principais materiais reciclveis encontrados no lixo so: plsticos, papis,

metais e vidros. Os benefcios ambientais da reciclagem destes materiais so:

economia de matrias-primas no-renovveis, reduo de energia nos processos

produtivos e o aumento da vida til dos aterros sanitrios (CALDERONI, 2003;

IBAM, 2001;VILHENA, 2010). Essa forma de tratamento, atravs da implantao de

programas de reciclagem, pode-se estimular o desenvolvimento da conscincia a

respeito do consumo e quanto aos princpios de cidadania por parte da populao

(IBAM, 2001).

A reciclagem, segundo a lgica da Poltica dos 3R, deve ser a ltima

alternativa usada para os resduos gerados, priorizando um menor consumo e um

maior aproveitamento dos resduos gerados. Legaspe (1996) apud Romansini

(2005) diz, nesse sentido, que a reciclagem pode ser entendida como uma forma de

alimentar o capitalismo, pois, passa a sensao de que pode ser consumido tudo

aquilo que possui caractersticas de reciclabilidade. Layrarges (1992) comenta que,

ao atribuir a reciclagem como soluo para a descartabilidade, permite que o

consumismo - que um grande causador de um grande risco ambiental para a

sociedade moderna - mantenha seu padro desenfreado.

O catador de materiais reciclveis um ator social muito bem situado e fruto

da dinmica da sociedade moderna, e de extrema relevncia, alis, como a maioria

34

dos trabalhadores que desenvolvem funes simples e pouco valorizadas, mas de

extrema importncia para o funcionamento da sociedade (ROMANSINI, 2005).

Foram graas catao informal ou organizada, que no ano de 2010, o Brasil

reciclou 96% das latas de alumnio, 47% de vidro, 44% de papel, 19% de plstico,

resduos estes que so jogados diariamente nas ruas ou depositados em aterros

sanitrios ou lixes (CEMPRE, 2012).

Ainda muito antes do processo de coleta seletiva ser defendida pelos

ambientalistas, a separao dos materiais reciclveis, j acontecia pelos catadores

de materiais reciclveis de rua e dos lixes. A prtica dessa atividade est

relacionada ao tratamento inadequado que os servios pblicos de limpeza tm

dado questo dos resduos slidos, normalmente, caracterizado pelo atendimento

incompleto de coleta a todos os domiclios e pelo descarte em unidades de

destinao finais inadequadas (GONALVES; OLIVEIRA; ABREU, 2002).

O catador, geralmente desenvolve suas atividades sob condies

inadequadas, com alto grau de periculosidade e insalubridade, exposto riscos

muitas vezes irreversveis sade, com a ausncia total de garantias trabalhistas,

ainda assim, o que menos se favorece economicamente na cadeia de reciclagem,

pois quem controla o valor de compra, o sucateiro (MAGERA, 2003).

Contudo, ainda, sofrem preconceitos, alm de receberem pouco

reconhecimento do papel que representam na economia e no meio ambiente,

mesmo possuindo sua profisso reconhecida e que sejam resguardados por um

comit especfico (MEDEIROS; MACDO, 2006).

So inmeras as presses que os catadores enfrentam ao desenvolver uma

atividade, mesmo que em funo da obteno de ganhos econmicos, que de

extrema importncia para o equilbrio ambiental do planeta.

visto que a reciclagem um assunto alvo de discusses, e est longe de

ser uma atividade estruturada e organizada no pas, de forma a distribuir os

benefcios entre todos os agentes do elo de reciclagem. Entretanto, ainda assim,

possvel considerar a reciclagem como uma alternativa ambientalmente e

economicamente vivel para a sociedade moderna.

35

3.5.1 Aspectos econmicos da reciclagem

Atravs da coleta, comercializao e processamento industrial de materiais

reciclveis, possvel alimentar uma cadeia produtiva com gerao de novas

oportunidades de trabalho, atravs do catador autnomo, cooperativas, depsitos de

materiais reciclveis e at mesmo, na prpria indstria.

Os catadores tm nessa atividade o meio de ganho de recursos financeiros,

ao receber dinheiro pela venda dos materiais coletados. Quando organizados em

cooperativas, ainda podem ter acesso a financiamentos, podem aumentar o estoque

do material coletado e ainda podem receber se forem contratados pelas prefeituras

para prestarem servios de coleta seletiva nos municpios.

As indstrias que compram os materiais reciclveis economizam com o valor

pago pela matria-prima secundria, assim reduzem o consumo de energia, gua e

com o controle com da poluio de gua e atmosfrica da indstria.

A administrao pblica local tambm pode ganhar com a reciclagem. Pois,

possvel reduzir os gastos com a coleta tradicional e com a manuteno das

unidades finais de descarte (aterro sanitrio) ao evitar a coleta de materiais

encaminhados reciclagem. Pois, geralmente quando uma empresa contratada

para realizar coleta no municpio, o pagamento se d, atravs do valor pela

tonelada. Sendo assim, quanto mais resduos so coletados separadamente

(atravs de cooperativas) menos o municpio gasta com a coleta convencional.

Em caso de coleta seletiva complementando convencional, Calderoni (2003)

comenta esse sistema, geralmente ficam mais dispendiosos, entretanto, possui

benefcios ambientais e sociais para sociedade como um todo.

3.5.2 Aspectos ambientais da reciclagem

A reciclagem proporciona a reduo do uso dos recursos naturais e gera 74%

menos poluio atmosfrica, reduo de 35% da poluio de gua e uma economia

de 64% da energia. Conforme o material reciclvel, a economia pode variar de 30-

40% da matria-prima usada durante a fabricao de um novo produto (MAGERA,

2005).

Para produo de uma tonelada de alumnio, por exemplo, necessrio 5

toneladas de bauxita, e durante a reciclagem do alumnio, economiza-se 90% da

36

matria-prima. Ainda com a reciclagem do alumnio, possvel economizar 16,9 mil

kWh por tonelada de alumnio reciclado alm de reduzir 97% da poluio da gua e

95% do ar (POWELSON 1992, apud CALDERONI, 2003).

Durante o processo de produo de papel a partir do uso de papel reciclvel

so economizados 3,51 MW/h de energia eltrica por tonelada, diminui-se o

consumo de 29,202 metros cbicos de gua por tonelada e reduz-se a poluio da

gua em 35% e do ar em 74%. No que se refere economia em matria-prima, para

cada tonelada de papel reciclado evita-se o corte de 20 a 30 rvores adultas

(ABIRP, 2012).

Com a reciclagem do plstico, em mdia, economiza-se 5,3 mil kWh/t., reduz-

se a poluio do ar em 80% e da gua em 40% (MAGERA, 2005). No que se refere

matria-prima, diz que possvel reduzir a metade do consumo do petrleo, a

partir do uso de material reciclvel (CALDERONI, 2003). A reciclagem desse

material tem um forte apelo no que refere diminuio do volume de resduos nos

aterros e lixes, dessa forma, consequentemente reduz o custo da coleta e

manuteno das unidades de destinao final, e ainda, pode gerar melhorias no

processo de decomposio da matria orgnica nos aterros.

A economia com a matria prima para a produo de um novo vidro,

utilizando-se cacos de vidro reciclvel, est estimada em torno de 65%. A economia

obtida em energia de 0,64 mil KWh/t, j a poluio da gua reduzida em 50% e

do ar em 20% (MAGERA, 2005). As matrias-primas economizadas nesse processo

so: barrilha, feldspato, areia e calcrio (CALDERONI, 2003).

3.5.3 Aspectos sociais da reciclagem

De acordo com o Ministrio de Trabalho, os catadores so reconhecidos

como categoria profissional, oficializada na CBO Classificao Brasileira de

Ocupaes, no ano de 2002, sendo registrados pelo nmero 5192-05, onde sua

ocupao descrita como catador de material reciclvel (BRASIL, 2011 a).

Os aspectos sociais positivos da reciclagem existem quando h oportunidade

de incluir os catadores em forma organizada atravs da consolidao em

cooperativas ou associaes, forma a qual estabelece os direitos trabalhistas e

segurana ao catador. Essa forma de prestao de servio pode estar incluso no

37

prprio sistema de limpeza urbana, atravs de uma contratao formal por meio da

prefeitura pelos servios de coleta seletiva atravs de cooperativa ou associao.

Outros profissionais podem ser contratados por empresas que comercializam

materiais reciclveis e por indstrias recicladoras. Magera (2005), informa que

durante a reciclagem do alumnio, gera-se 5 vezes mais empregos do que gerados

na extrao da matria-prima virgem.

Os aspectos so positivos, quando o catador inserido de forma digna no

sistema de limpeza urbana atravs de cooperativas ou associaes. Por outro lado,

quando trabalham de maneira informal e sob condies precrias em contato com

resduos coletados diretamente nos lixes ou lixeiras espalhadas pelas ruas da

cidade, revelam a crise social em que as cidades brasileiras enfrentam. A existncia

de catadores espalhados pelas ruas e dentro dos lixes reflete a situao de

necessidade, de pobreza, de falta de oportunidade no mercado de trabalho, a

ausncia de estudo, ou seja, o prprio retrato da excluso social em que estas

pessoas sobrevivem.

3.6 A reciclagem no Brasil

3.6.1 Reciclagem de papel

O ndice de reciclagem de papel no Brasil no sofreu tanta evoluo entre os

anos de 1986 a 1995, permanecendo entre uma faixa de 30,1% a 32,8%. Mais

recentemente, em 2009 a taxa de recuperao atingiu o ndice de 46% (BRACELPA,

2012).

Atualmente, a matria-prima mais utilizada pela indstria papeleira e de

celulose, obtida pelo beneficiamento da madeira. Podendo tambm, ser utilizadas

as aparas de papel geradas durante o processo industrial ou recuperadas aps o

consumo desses produtos (VILHENA, 2010). O Brasil um dos maiores produtores

de celulose no mundo, em 2010, ocupou o quarto lugar do ranking de maiores

produtores mundiais de celulose e papel (BRACELPA, 2012).

As fibras celulsicas originadas de rvores podem ser provenientes de matas

virgens ou de florestas reflorestadas. No Brasil, as principais espcies de rvores

utilizadas (98% do volume produzido) para a produo de celulose provm de

florestas plantadas de pinus e de eucalipto (BRACELPA, 2012).

38

O consumo aparente de papel no pas em 2010, foi de aproximadamente 9

milhes de toneladas e, o consumo de aparas e papis usados correspondeu a

43,5% (4.028,600 toneladas). Esta taxa de recuperao de aparas no Brasil

relativamente pequena, ocupando o 11 lugar de quinze pases, quando comparado

a outras partes do mundo, como, Coria do Sul 91,6%, na Alemanha 84,8%,

Estados Unidos de 63,6% (BRACELPA, 2011).

O fator negativo da reciclagem est no fato de que com o uso de fibras

secundrias, tem-se uma maior liberao de dixido de carbono quando comparada

a fabricao de papel por meio de fibras primrias (DALMEIDA; VILHENA, 2000).

Outro fator desfavorvel da reciclagem, que as fibras no podem ser infinitamente

recicladas, podendo passar por esse processo entre 7 a 10 vezes, pois, as

caractersticas de resistncia das celuloses so gradativamente perdidas

(BUGAJER, 1976).

3.6.2 Reciclagem de plstico

Os plsticos, que tem seu nome originrio do grego plastikos que significa -

capaz de ser moldado - so materiais sintticos ou derivados de substncia naturais,

geralmente orgnicas, obtidas, atualmente, em sua maioria, a partir dos derivados

de petrleo. Tecnicamente os plsticos so substncias formadas por grandes

cadeias de macromolculas que contm em sua estrutura, principalmente, carbono e

hidrognio1.

A matria prima o petrleo, onde 4% de sua produo mundial so

destinado para a fabricao de plsticos (PLASTIVIDA, 2012)2.

O consumo de plstico no mundo, tem aumentado desde os primrdios da

introduo deste produto no mercado, em 1960 eram consumidas 6 milhes de

toneladas, esse nmero passou para 27 milhes de toneladas nos anos 1970, em

1990 estava em 93 milhes (CALDERONI, 2003). Em 2010, de acordo com anurio

do setor de plstico, foram consumidas no pas aproximadamente 5,9 mil toneladas

(ABIPLAST, 2010)3.

1 Informao encontrada em: www.institutodeembalagens.com.br. Acesso em 05.01.2012.

2 http://www.plastivida.org.br. Acesso em: 05.01.2012.

3 http//www.abiplast.org.br. Acesso em: 05.01.2012.

http://pt.wikipedia.org/wiki/2010http://www.institutodeembalagens.com.br/http://www.plastivida.org.br/http://click.infospace.com/ClickHandler.ashx?du=http%3a%2f%2fabiplast.org.br%2f&ru=http%3a%2f%2fabiplast.org.br%2f&ld=20121013&ap=1&app=1&c=funv11.1&s=funv11&coi=239137&cop=main-title&euip=201.8.36.6&npp=1&p=0&pp=0&pvaid=337703e2883e4c53a66b19d277e79f57&ep=1&mid=9&hash=1361A90499F756DB9E11355BB73FE542

39

No Brasil, o maior mercado o da reciclagem primria ou pr-consumo, que

consiste na regenerao de um nico tipo de resina separadamente. Este tipo de

reciclagem absorve 5% do plstico consumido no Brasil e geralmente est

associada ao reaproveitamento do material gerado na prpria indstria geradora.

Um mercado crescente o da chamada reciclagem secundria, ou ps-consumo: o

processamento de polmeros, misturados ou no, entre os mais variados existentes

no mercado. Os materiais inseridos nessa forma de reciclagem provm da catao

informal e da coleta seletiva. J a reciclagem terciria, ainda no existente no Brasil,

a converso de resduos plsticos atravs da aplicao de processos qumicos

(pirlise, converso cataltica) para recuperar as resinas que compem o lixo

plstico, fazendo-as voltar ao estgio qumico inicial ou outras substancias como

leos e gases combustveis (CEMPRE, 2011; VILHENA, 2010).

Segundo a pesquisa Ciclosoft, aproximadamente 19% dos plsticos

consumidos, foram reciclados no Brasil em 2010, representando aproximadamente

953 mil toneladas por ano. Em 2010 o Brasil ficou na nona posio mundial na

reciclagem dos plsticos, atrs da Alemanha (34%), Sucia (33,2%), Blgica

(29,2%), Itlia (23%), pases que incineram a maior parte do plstico coletado

seletivamente (CEMPRE, 2011)4.

Em DAlmeida e Vilhena (2000) os plsticos esto divididos em duas

categorias, de acordo com as suas caractersticas de fuso:

Termoplsticos - so materiais que podem ser reprocessados vrias vezes

pelo mesmo processo;

Termorrgidos so polmeros de cadeia ramificada, que no podem no

podem ser usados em uma nova moldagem, pois, para os quais, a

polimerizao consequncia de uma reao qumica irreversvel.

Os termoplsticos representam 80% dos plsticos consumidos no pas,

enquanto os termorrgidos, 20 %. As resinas termoplsticas para produo da

categoria mais consumida no pas so seis, representando 90% do consumo

brasileiro, que so: Polietileno de Baixa Densidade (PEBD), Polietileno de Alta

Densidade (PEAD), Polipropileno (PP), Poliestireno (OS), Policloreto de Vinila (PVC)

e Polietilenotereftalato (PET) (MAGERA, 2005).

4 http://www.cempre.org.br. Acesso em: 07.01.2012.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fus%C3%A3o_(f%C3%ADsica)http://pt.wikipedia.org/wiki/Termopl%C3%A1sticohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Termorr%C3%ADgidohttp://www.cempre.org.br/

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O consumo de plstico no mundo, tem aumentado desde os primrdios da

introduo deste produto no mercado, em 1960 eram consumidas 6 milhes de

toneladas, esse nmero passou para 27 milhes de toneladas nos anos 1970, em

1990 estava em 93 milhes (CALDERONI, 2003). Em 2010, de acordo com anurio

do setor de plstico, foram consumidas no pas aproximadamente 5,9 mil toneladas