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Universidade Bandeirante de São Paulo UNIBAN MELINA SILVA DE LIMA UMA PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS PARA O ENSINO DE CÁLCULO EM CURSOS SUPERIORES São Paulo - 2012

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Universidade Bandeirante de São Paulo UNIBAN

MELINA SILVA DE LIMA

UMA PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEORIA DOS CAMPOS

CONCEITUAIS PARA O ENSINO DE CÁLCULO EM CURSOS

SUPERIORES

São Paulo - 2012

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Melina Silva de Lima

UMA PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEORIA DOS CAMPOS

CONCEITUAIS PARA O ENSINO DE CÁLCULO EM CURSOS

SUPERIORES

Dissertação apresentada pela aluna Melina Silva de Lima à Coordenação do Mestrado em Educação Matemática, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre sob orientação da Professora Tânia Maria Mendonça Campos.

São Paulo - 2012

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L699u Lima, Melina Silva de

Uma proposta de aplicação da teoria dos campos conceituais para o ensino de cálculo em cursos superiores. ./ Melina Silva de Lima. - São Paulo, 2012. 193 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado - Área de concentração: Ensino e

Aprendizagem de Matemática e suas Inovações) – Anhanguera Educacional /

Universidade Bandeirante de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em

Educação Matemática.

“Orientação: Professora Drª. Tânia Maria Mendonça Campos”

“Co-Orientação: Verônica Yumi Kataoka”

1. Campos conceituais. 2. Processos cognitivos. 3. Ensino de cálculo. I. Título.

CDD: 515

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Agradecimentos Meus sinceros agradecimentos: À CAPES, a qual sou extremamente grata pela concessão de bolsa de estudos de número 99/2011, do Observatório da Educação (de 6/2011 a 12/2011), no Programa de Pós-Graduação (stricto sensu) em Educação Matemática, coordenado pela Professora Doutora Tânia Maria Mendonça Campos; Ao Professor José Vicente Cardoso Santos pela colaboração e as incansáveis sugestões; Ao Professor Olival Freire Junior, pela oportunidade, total colaboração, fomento e confiança; À Prof.(a) Syane Rovella, pela correção e sugestões; À Professora Tânia Maria Mendonça Campos pela confiança, orientação e total apoio, sem os quais eu não poderia concluir este trabalho; À Professora Verônica Yumi Kataoka pela co-orientação, sugestões, incentivos em todas as ordens e enorme colaboração. Também agradeço aos meus alunos que, com as suas inquietações e dúvidas, colaboraram sobremaneira na confecção da pesquisa.

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Universidade Bandeirante de São Paulo UNIBAN

MELINA SILVA DE LIMA

UMA PROPOSTA DE APLICAÇÃO DA TEORIA DOS CAMPOS

CONCEITUAIS PARA O ENSINO DE CÁLCULO EM CURSOS

SUPERIORES

Banca Avaliadora

__________________________________________________ Prof. Dr. Olival Freire Junior

Licenciado e Bacharel em Física pela UFBA, Mestre em Ensino de Física e Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, Professor Associado III da Universidade Federal da Bahia e Pesquisador 1-C do CNPq na área de História da Ciência. Em fevereiro de 2011 assumiu a função de Coordenador da Secretaria do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia no Ministério da Ciência e Tecnologia.

__________________________________________________

Prof.(a) Dr.(a)Tânia Maria Mendonça Campos Licenciada e Bacharel em Matemática (PUC/SP), Doutora em Matemática (Universidade de Ciências de Languedoc - FR), Pós-doutora em Matemática (Universidade de Londres) e em Educação Matemática (Universidade de Oxford). Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (UNIBAN/Anhanguera)

__________________________________________________

Prof. (a) Dr.(a) Verônica Yumi Kataoka Graduada em Agronomia pela Universidade do Estado da Bahia (1991), Licenciatura Plena em Matemática (Esquema I - 2000) pela Universidade Federal do Ceará, Mestrado em Agronomia/Estatística e Experimentação Agropecuária pela Universidade Federal de Lavras (2005) e Doutorado em Estatística e Experimentação Agropecuária nesta mesma Universidade (2009).

Local: _______________, Data: _____/_______/__________

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RESUMO

O objetivo geral do trabalho é de apresentar uma proposta para o ensino de conceitos do Cálculo Diferencial dirigidos a cursos superiores não voltados à formação de matemáticos, tendo como principal referencial teórico a teoria dos campos conceituais, de Gerard Vergnaud. Enquanto que os objetivos específicos são: Analisar alguns fenômenos do processo de ensino e aprendizagem relacionados na interação professor/aluno e aluno/aluno quando os mesmos estão na zona de desenvolvimento proximal; Coletar dados utilizando uma pesquisa em grupos de estudo em salas de aula de cursos de graduação não voltados à formação de matemáticos; coletar dados utilizando uma pesquisa em grupos de estudo em salas de aula de cursos de graduação não voltados à formação de matemáticos; Propor uma nova prática pedagógica que seja adequada aos novos paradigmas educacionais vigentes para que o docente, por meio desta, possa consolidar este processo de forma coerente com as atuais demandas. Para consolidar estes objetivos utilizou-se uma metodologia híbrida, com a revisão de literatura, com caráter descritivo e experimental, utilizando uma pesquisa de campo. No que tange o tratamento dos dados, a taxonomia solo foi empregada na correção dos testes aplicados. A partir da mensuração in loco e da análise do mensurado, é sugerida uma lista de ações e procedimentos a serem adotados de forma preliminar pelo docente para que os discentes possam absorver de maneira mais eficaz e eficiente os conteúdos específicos da disciplina em questão. Por fim, a autora lista recomendações e procedimentos que podem ser adotados previamente às ações do docente em sala de aula através da proposta de fortalecimento do sistema educacional das faculdades, dos centros universitário e universidades, através da formação continuada, nas áreas de conhecimento específico, epistemologia e desenvolvimento humano, didática, tecnologias, legislação, planejamento, projetos e custos educacionais. Os resultados nos mostraram que a detecção de alguns invariantes, bem como sua utilização como objeto de aprendizagem, teve uma grande contribuição para a aprendizagem dos alunos. Nas onde houve a aplicação da proposta, notou-se, por meio da análise da categorização das respostas dos alunos, que houve um crescimento considerável das médias, mesmo entre aqueles alunos que apresentaram notas baixas em ambos os testes. A análise feita em termos de dimensões cognitivas também mostrou que, mesmo nos testes que foram classificados nas dimensões mais complexas, houve um crescimento importante no desempenho dos estudantes. Além disso, os resultados obtidos no referido estudo também garantiram a validade da proposta, de acordo com a avaliação positiva feita pelos professores envolvidos na experiência. Percebemos a importância de ampliarmos tal proposta, reelaborando-a e testando-a com os estudantes. Para tanto, o professor deve observar os alunos e avaliar todo o processo. É extremamente importante que o professor aceite a solução do aluno conduzindo-o à discussão para que justifique e avalie os resultados obtidos. Esse processo, leva à formalização de novos conceitos e novos conteúdos construídos. Palavras-Chave: Ensino de cálculo diferencial, teorias construtivistas, curso de

administração.

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ABSTRACT

The overall goal of this work is to present a proposal for teaching concepts of differential calculus targeted at higher education not geared to the training of mathematicians with the main theoretical theory of conceptual fields, Gerard Vergnaud. While the specific objectives are: to analyze some phenomena of teaching and learning related interaction in teacher / student and student / student when they are in the zone of proximal development; Collect data using a research study groups in classrooms undergraduate courses not focused on training of mathematicians; collect data using a research study groups in classrooms of undergraduate courses not focused on training of mathematicians; propose a new pedagogical practice that is suitable for new educational paradigms that the current faculty, through this, to consolidate this process in a manner consistent with current demands. To consolidate these objectives, we used a hybrid methodology with a literature review with a descriptive and experimental, using a field research. Regarding the handling of data, soil taxonomy was used to correct the tests. From the in situ measurement and analysis of measured, is a list of suggested actions and procedures to be adopted on a preliminary basis by the teacher so that students can absorb more effectively and efficiently the specific contents of the discipline in question. Finally, the author lists recommendations and procedures that can be adopted prior to the actions of the teacher in the classroom through the proposed strengthening of the educational system of colleges, universities and university centers, through continuing education, areas of expertise, epistemology and human development, teaching, technology, legislation, planning, projects and educational costs. The results showed that the detection of some invariants, as well as its use as a learning object, made a large contribution to student learning. In which there was the implementation of the proposal, it was noted, by analyzing the categorization of students' responses, there was considerable growth averages, even among those students who had low scores on both tests. The analysis in terms of cognitive dimensions also showed that even in tests that were classified into the more complex dimensions, there was significant growth in student performance. The results obtained in this study ensured validity of the proposal, according to the positive assessment by teachers involved in the experience. Also realize the importance of expanding such a proposal, reworking it and testing it with students. Therefore, the teacher should observe the students and evaluate the whole process. It is extremely important that the teacher accepted the outcome of the student leading the discussion to justify and evaluate the results. This process leads to the formalization of new concepts and new content built. Keywords: Teaching calculus, constructivist theories, course administration.

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Lista de Siglas

CC - Campo conceitual;

i.e. - Isto é;

IES - Instituição de ensino superior;

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394 de 20 de

dezembro de 1996;

SOLO - Structure of the Observed Learning Outcome;

STBI - Denominado de Structured Task-Based Interviews;

ZDP - Zona de desenvolvimento proximal;

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Lista de Fotos

FOTO 1 PRELEÇÃO (NA PRIMEIRA VISITA) COM O ENVOLVIMENTO DO PROFESSOR E DAS

TURMAS 1 E 2 ..................................................................................176

FOTO 2 APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO (PRIMEIRA VISITA)..............................................176

FOTO 3 APLICAÇÃO DO TESTE 1 E EXPLICAÇÃO DA SUA IMPORTÂNCIA ............................177

FOTO 4 TURMA 2 RESPONDENDO AS QUESTÕES DO TESTE 1 EM GRUPOS DE 3 (TRÊS) ALUNOS ...........................................................................................177

FOTO 5 APLICAÇÃO DO TESTE 1 NA TURMA 1...............................................................178

FOTO 6 TURMA 1 RESPONDENDO O TESTE 1 ................................................................178

FOTO 7 ALUNOS DA TURMA 2 AVALIANDO O DOCENTE ...................................................179

FOTO 8 ALUNOS DA TURMA 2 RESPONDENO AS QUESTÕES DO TESTE 2 .........................179

FOTO 9 ALUNOS DA TURMA 1 RESPONDENTO AS QUESTÕES DOS TESTES 2....................180

FOTO 10 ALUNOS DA TURMA 2 EM RESPOTA AO TESTE 2...............................................180

FOTO 11 MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO DOCENTE .........................................................181

FOTO 12 MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO DOCENTE .........................................................181

FOTO 13 MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO DOCENTE .........................................................182

FOTO 14 MOMENTO DE AVALIAÇÃO DO DOCENTE .........................................................182

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Lista de Gráficos

GRÁFICO 1 GRÁFICO DA FUNÇÃO EXEMPLO ..................................................................105

GRÁFICO 2 ANÁLISE GRÁFICA DO EXERCÍCIO DE LIMITES................................................109

GRÁFICO 3 ESQUEMA GRÁFICO APRESENTADO AOS ALUNOS DOS GRUPOS 1 E 4 .............116

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Lista de Ilustrações

ILUSTRAÇÃO 1 QUESTIONAMENTOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA ....................................26

ILUSTRAÇÃO 2 OBJETIVOS ............................................................................................30

ILUSTRAÇÃO 3 ESQUEMA DE ASSIMILAÇÃO.....................................................................42

ILUSTRAÇÃO 4 COMPARATIVO DAS TEORIAS...................................................................60

ILUSTRAÇÃO 5: CAMPO CONCEITUAL PARA O CÁLCULO DIFERENCIAL ................................62

ILUSTRAÇÃO 6 DESENHO DA PESQUISA .........................................................................94

ILUSTRAÇÃO 7 FUNCIONOGRAMA DA PESQUISA DE CAMPO..............................................95

ILUSTRAÇÃO 8 ENCONTROS COM OS ALUNOS .................................................................96

ILUSTRAÇÃO 9 ETAPAS DA EXECUÇÃO DA PESQUISA .....................................................101

ILUSTRAÇÃO 10 ALGORÍTIMO SUGERIDO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM CAMPO CONCEITUAL

FUNDAMENTADO NA TEORIA DE VERGNAUD .........................................148

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Lista de Quadros

QUADRO 1 FOCO DE ESTUDO DAS APRENDIZAGENS .......................................................32

QUADRO 2 RELAÇÃO DOS ESTÁGIOS E DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM (PIAGET) .........38

QUADRO 3 DISTRIBUIÇÃO DO UNIVERSO AMOSTRAL .......................................................93

QUADRO 4 DESCRIÇÃO DOS OBJETIVOS ESPERADAS NAS QUESTÕES..............................124

QUADRO 5 ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO DO TESTE 1....................................................127

QUADRO 6 ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO DO TESTE 2....................................................129

QUADRO 7 CATEGORIZAÇÃO DAS RESPOSTAS DOS TESTES 1 E 2 DE ACORDO COM A

TAXONOMIA SOLO...........................................................................132

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Lista de Tabelas

TABELA 1 FUNÇÃO EXEMPLO.......................................................................................104

TABELA 2 PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO PELA ESQUERDA DE X=1 ..................................108

TABELA 3 PROPOSTA DE APROXIMAÇÃO PELA DIREITA DE X=1 .......................................108

TABELA 4 CÁLCULOS DA APROXIMAÇÃO PELA ESQUERDA DE X=1...................................109

TABELA 5 CÁLCULOS DA APROXIMAÇÃO PELA DIREITA DE X=1........................................109

TABELA 6 COMPORTAMENTOS FUNCIONAIS SOLICITADOS PELA PESQUISADORA ...............111

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Sumário

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................18 1.1 Cenário Fenomenológico de Análise ................................................................18 1.2 Características, limitações e incompletudes da pesquisa.................................21

2 PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA ........................................................24 2.1 Cenário acadêmico...........................................................................................24 2.2 Questões Fundamentais do Trabalho...............................................................24 2.3 Os Novos Paradigmas do Conhecimento e o Trabalho - A Nova Sociedade ...26 2.4 As Novas IES x Novas Estratégias de Trabalho...............................................28 2.5 Objetivos...........................................................................................................29

2.5.1 Objetivo geral ..............................................................................................29 2.5 2 Objetivos específicos ..................................................................................30

3 REFERENCIAIS TEÓRICOS.................................................................................31 3.1 As Teorias Cognitivas e a Aprendizagem.........................................................31 3.2 As Teorias Piagetianas e os Seus Conceitos Fundamentais............................32

3.2.1 Principais conceitos da teoria piagetiana ....................................................33 3.2.1.1 Inteligência.............................................................................................33 3.2.1.2 Comportamento .....................................................................................33 3.2.1.3 Estrutura de maturação: assimilação e acomodação ............................33

3.2.2 Os períodos de desenvolvimento: construtivismo seqüencial .....................34 3.2.2.1 Período sensório-motor .........................................................................34 3.2.2.2 Período pré-operacional ........................................................................35

3.2.2.2.1 Período simbólico.............................................................................35 3.2.2.2.2 Período intuitivo................................................................................36

3.2.2.3 Período operatório concreto ..................................................................36 3.2.2.4 Período sensório-motor .........................................................................37 3.2.2.4 A divisão cronológica dos períodos .......................................................37

3.2.3 Processos de passagem de estágios..........................................................39 3.2.3.1 Características dos processos...............................................................39 3.2.3.2 A representação e os seus sentidos......................................................40 3.2.3.3 O lugar dos processos semióticos .........................................................40 3.2.3.4 Acomodação, assimilação e equilibração..............................................41 3.2.3.5 Esquema................................................................................................42

3.3 A Teoria de Vygotsky........................................................................................44 3.3.1 A “nova psicologia” e as postulações ..........................................................44

3.3.1.1 A primeira postulação ............................................................................45 3.3.1.2 A segunda postulação ...........................................................................45 3.3.1.3 A terceira postulação .............................................................................45

3.3.2 Mediação.....................................................................................................46 3.3.3 Contribuições da teoria de Vygotsky ...........................................................47 3.3.4 Atividade mediada.......................................................................................48 3.3.5 A ZDP e a teoria de Vygotsky .....................................................................49

3.4 A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud ..............................................49 3.4.1 Classes de situações ..................................................................................50 3.4.2 Ponto de ruptura..........................................................................................53

3.4.2.1 As competências do aprendiz................................................................53

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3.4.2.2 A teoria de Vergnaud e o Cálculo ..........................................................54 3.4.3 Campo conceitual e o conjunto de situações ..............................................55 3.4.4 Campo conceitual e a proposta para o cálculo............................................56

3.5 Os Ingredientes de um esquema e o papel do Professor .................................58 3.6 Um campo conceitual para o cálculo diferencial...............................................61

3.6.1 Campos conceituais para entendimento do cálculo diferencial ...................61 3.6.1 Análise das tarefas, a conduta e os campos conceituais híbridos ..............63 3.6.2 Conceitos ocultos ........................................................................................64

4 O ENSINO DO CÁLCULO E A PSICOLOGIA COGNITIVA..................................66 4.1 Percepções sobre as práticas tradicionais........................................................66

4.1.1 A triangulação clássica................................................................................67 4.1.2 A construção de um novo paradigma..........................................................68

4.2 Novos Esquemas e os Invariantes Operatórios................................................69 4.3 A utilização das teorias e a proposta do trabalho .............................................70 4.4 Uma proposta do uso de um campo conceitual para o cálculo.........................73

4.4.1 A Propositura Tradicional de Vergnaud (Prática Exemplificada) .................74 4.4.2 A proposta de ação .....................................................................................75 4.4.3 Uso do ferramental teórico associado .........................................................75 4.4.4 A prática pedagógica proposta....................................................................76

4.4.4.1 A ferramenta cultural..............................................................................81 4.4.4.2 A zona de desenvolvimento proximal ....................................................81 4.4.4.3 Formação de conceitos..........................................................................83

5 METODOLOGIA ....................................................................................................86 5.1 Considerações Metodológicas..........................................................................86

5.1.1 A escolha da população ..............................................................................86 5.1.2 Taxonomia SOLO........................................................................................87

5.2 Procedimentos Adotados na Pesquisa .............................................................89 5.3 A Quem se Aplicou (População/Amostra).........................................................92 5.4 Desenho da Pesquisa.......................................................................................93 5.5 Encontros Presenciais e Seus Objetivos ..........................................................95

5.5.1 Primeiro encontro formal .............................................................................96 5.5.1.1 A preleção..............................................................................................96

5.5.2 O segundo encontro formal.........................................................................97 5.5.3 O terceiro encontro formal...........................................................................97 5.5.4 O quarto encontro formal ............................................................................98 5.5.5 O quinto encontro formal.............................................................................98

5.5.6 O sexto encontro formal............................................................................98 5.5.7 O sétimo encontro formal..........................................................................99 5.5.8 O oitavo encontro formal...........................................................................99 5.5.9 Observações sobre a aplicação dos testes ..............................................99

5.6 Execução da Pesquisa e Coleta de Dados.....................................................100 5.7 Estratégias Metodológicas/Procedimentos Didáticos .....................................102

5.7.1 Procedimentos didático-metodológicos do Docente no ensino de funções103 5.7.1.1 Análise do grupo 1...............................................................................105 5.7.1.2 Análise do grupo 2...............................................................................105 5.7.1.3 Análise do grupo 3...............................................................................106 5.7.1.4 Análise do grupo 4...............................................................................106 5.7.1.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 3 e 4 106

5.7.2 Procedimentos didático-metodológicos do docente no ensino de limites..107

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5.7.2.1 Análise do grupo 1...............................................................................109 5.7.2.2 Análise do grupo 2...............................................................................110 5.7.2.3 Análise do grupo 3...............................................................................110 5.7.2.4 Análise do grupo 4...............................................................................110 5.7.2.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 1 e 4 111

5.7.3 Procedimentos didático-metodológicos do docente no ensino de derivadas112 5.7.3.1 Análise do grupo 1...............................................................................113 5.7.3.2 Análise do grupo 2...............................................................................114 5.7.3.3 Análise do grupo 3...............................................................................114 5.7.3.4 Análise do grupo 4...............................................................................114 5.7.3.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 1 e 4 116

5.8 Análises dos grupos após Teste 2..................................................................118 5.8.1 Análise do grupo 1 ....................................................................................118 5.8.2 Análise do grupo 2 ....................................................................................119 5.8.3 Análise do Grupo 3....................................................................................119 5.8.4 Análise do Grupo 4....................................................................................119

5.9 A Avaliação Docente.......................................................................................120 5.9.1 Entrevistas com os Discentes ...................................................................121 5.9.2 Execução da Coleta de Dados com as Listas de Exercícios.....................121 5.9.3 Proposta Básica dos Questionários de Aplicação.....................................123

5.9.3.1 Primeiro modelo de questionário .........................................................123 5.9.3.2 Segundo modelo de questionário ........................................................123

5.9.4 Descrição dos objetivos e estratégias esperadas nas questões ...............123 5.9.4.1 Descrição dos objetivos .......................................................................124 5.9.4.2 Descrição das estratégias....................................................................125

5.9.4.2.1 Teste 1 ...........................................................................................125 5.9.4.2.2 Teste 2 ...........................................................................................128

6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS....................................................130 6.1 Os instrumentos e suas elaborações..............................................................130

6.1.1 Exercícios prévios e os testes 1 e 2 ..........................................................130 6.1.2 Questionário ..............................................................................................131

6.2 Análise dos instrumentos e classificação da pesquisa ...................................131 6.3 Cruzamento de Variáveis................................................................................132 6.4 Análise das questões por grupo - A questão dos invariantes operatórios ......133

6.4.1 Funções ....................................................................................................133 6.4.1.1 Grupo 1................................................................................................133 6.4.1.2 Grupo 2................................................................................................133 6.4.1.3 Grupo 3................................................................................................134 6.4.1.4 Grupo 4................................................................................................134

6.4.2 Limites.......................................................................................................134 6.4.2.1 Grupo 1................................................................................................134 6.4.2.2 Grupo 2................................................................................................134 6.4.2.3 Grupo 3................................................................................................134 6.4.2.4 Grupo 4................................................................................................135

6.4.3 Derivadas ..................................................................................................135 6.4.3.1 Grupo 1................................................................................................135 6.4.3.2 Grupo 2................................................................................................135 6.4.3.3 Grupo 3................................................................................................135 6.4.3.4 Grupo 4................................................................................................135

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6.5 Cruzamento de variáveis ................................................................................136 6.6 Procedimentos Teóricos e Práticos ................................................................136 6.7 Considerações e Ponderações.......................................................................137 6.8 A estratégia de trabalho: a ida à ZDP.............................................................137

6.8.1 A ZDP........................................................................................................137 6.8.2 Aspéctos históricos como instrumento de retirada da ZDP.......................138 6.8.3 A saída da ZDP.........................................................................................139 6.8.4 A formação de conceitos e o enfoque da teoria construtivista ..................140

6.9 Algumas considerações, limitações e incompletudes sobre a proposta .........141 6.10 Condições mínimas para a aprendizagem significativa ................................142

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................144 7.1 Registro de Roteiro de Trabalho.....................................................................144 7.2 Indicações e Propostas: a criação de um campo conceitual ..........................146

REFERÊNCIAS.......................................................................................................149

APÊNDICES ...........................................................................................................153 APÊNDICE A - Teste 1 .........................................................................................153 APÊNDICE B - Teste 1 - Respostas comentadas ................................................155 APÊNDICE C - Teste 2.........................................................................................158 APÊNDICE D - Teste 2 - Respostas comentadas ................................................161 APÊNDICE F - Auto-avaliação do docente...........................................................168 APÊNDICE G - Entrevista com o docente ............................................................171 APÊNDICE H - Entrevista com os discentes ........................................................174 APÊNDICE I - Fotos digitais da coleta de dados ..................................................176 APÊNDICE J - Fotos digitais da avaliação docente e discente ............................181 APÊNDICE L - Exercícios aplicados previamente em sala de aula......................184 APÊNDICE M - Níveis de abrangência das questões (taxonomia SOLO)............185

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1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa contempla a análise de um estudo de aplicação, em sala de

aula, de estratégias e técnicas de facilitação1 na formação de conceitos e valores

para o desenvolvimento de métodos próprios do processo cognitivo do sujeito2 e de

como o mesmo consolida o aprendizado, em particular o do Cálculo Diferencial, em

cursos de graduação não voltados à formação de matemáticos.

1.1 Cenário Fenomenológico de Análise

A matemática faz parte dos currículos desde os primeiros anos de

escolaridade, como disciplina básica, pelo vasto campo de utilização nas diversas

ciências. Além disso, seu entendimento é necessário à sobrevivência em uma

sociedade complexa e industrializada.

A julgar pela importância dada à matemática, questiona-se como conviver

com a alta taxa de fracassos acadêmicos relativa ao desempenho nesta disciplina,

ou em disciplinas afins.

De fato, no caso do Cálculo, durante a minha carreira acadêmica, observei

que a maior parte dos estudantes não teve ou não assimilou, durante o universo

escolar, a base matemática em que se apóiam os conteúdos desta disciplina.

Verifiquei também que são comuns reclamações dos professores sobre a

incapacidade da maioria dos discentes de operar logicamente com os conteúdos

deste campo conceitual. Sabe-se que na construção dos conhecimentos

matemáticos, a apreensão de conceitos básicos é indispensável para o

encadeamento dos assuntos em uma sequência quase sempre lógica na estrutura

cognitiva, pois qualquer lacuna que exista pode representar um elemento que

dificulte o processo de ensino/aprendizagem, como se percebe no cotidiano da sala

de aula.

Enfim, a falta de elo entre os conteúdos abordados nos níveis de ensino,

principalmente entre o nível secundário e o universitário, tem trazido grandes

dificuldades na relação ensino-aprendizagem dos alunos que fazem as disciplinas

1 Estas estratégias e técnicas serão explicadas e respectivamente abordadas no transcorrer do próprio trabalho. 2 Denominamos de “sujeito” o aluno, discente e/ou aprendiz nos cursos de graduação.

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do Cálculo Diferencial, bem como em outros conteúdos de área matemática

constantes nos currículos acadêmicos de graduação.

Outro fator que se supõe interferir no rendimento dos alunos é a maneira

como o Professor apresenta os conteúdo. A forma tradicional, que ainda persiste,

trata o conteúdo como pronto e acabado. O aluno é treinado a utilizar fórmulas,

regras aceitando e reproduzindo passivamente o que o professor transmite, não

sendo estimulado a raciocinar, a refletir, questionar, o que impede que o processo

seja até mesmo mais democrático. Valoriza-se, com isso, o aprendizado de técnicas

desligado da compreensão da maneira de como esse tipo de conhecimento é

construído. Entretanto, esta apresentação calcada em uma sequência de cortes

epistemológicos do conhecimento facilita a absorção das técnicas, ao tempo em que

dificulta o entendimento do todo em detrimento da boa apresentação das partes

constitutivas ao tema. Em especial, quando se trata de conteúdos que envolvam

conceitos (que é o caso do Cálculo) este tipo de estratégia, por fracionar demais o

seu entendimento, não possibilita um aprendizado contínuo e eficaz BARBOSA &

NETO, 2010).

Com essa problemática apresentada, é que buscamos alicerçar o ensino do

Cálculo Diferencial na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, focando no

aprendizado dos conceitos desta disciplina de forma gradual. Os tópicos

considerados mais relevantes pela pesquisadora e os quais foram ensinados em

sala de aula, foram:

• Limites, análise de tendência de crescimento e decrescimento funcional;

• Infinitésimos, numeralidade do infitésimo, análise de crescimentos e

decrescimento funcional;

• Derivação, taxas de crescimento e decrescimento, pontos de máximo e

mínimo de funções; Diferenciação;

• Conectividade entre os conceitos de limites e derivadas;

• Multireferencialidade entre estes conceitos e as possíveis aplicabilidades

associadas à vida profissional do aluno.

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Escolhemos como quadro teórico a teoria dos Campos Conceituais3 pelo fato

de a mesma nos permite localizar e estudar continuidades e rupturas (MOREIRA,

2002) entre conhecimentos do ponto de vista de seu conteúdo conceitual, já que,

para Vergnaud, “não se analisa uma situação graças a um conceito único, mas

graças a um conjunto deles; e os mesmos aspectos do mesmo conceito não são

adequados para tratar diferentes situações ou para diferentes procedimentos de

tratamento” (VERGNAUD, 2001, p. 9).

Segundo Moreira (2002), “... na matemática há campos conceituais já

desenvolvidos, como o das estruturas aditivas e o das estruturas multiplicativas -

além dos que existem enquanto campo de conhecimento, com possibilidades de

uma estruturação dos seus respectivos campos conceituais” (MOREIRA, 2002),

como é o caso do Cálculo, da Álgebra, da Geometria e que estão por desenvolve-se

e que não podem ser ensinados, de imediato, nem como sistemas de conceitos nem

como conceitos isolados.

Assim, fez-se necessária, em nossa opinião, uma perspectiva

desenvolvimentista4 à aprendizagem desses campos conceituais de forma a torná-

los mais acessíveis ao novo perfil de discentes que surgiu como desdobramento

objetivo da instauração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394 de 20

de dezembro de 1996), em que, os novos currículos dos cursos de graduação

implementados pela mesma, têm algumas características singulares a citar: alto grau

de pragmatismo, pouca base nas teorias básicas da álgebra e do cálculo

propriamente dito, e, um alto teor de tecnicismo, herança do cenário polític desta

época.

Com este cenário que foi implementado pela LDB, passamos a ter uma

necessidade de reorganização ou até mesmo adaptação da forma de ensino do

3 Segundo Vergnaud (2001), o Campo conceitual é um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações,

conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros e, provavelmente, entrelaçados durante o processo de aquisição/aprendizagem.

4 Consideramos a perspectiva desenvolvimentista de Vygotysky. Para ele, construir conhecimentos implica em

uma ação partilhada, já que é por meio das relações entre sujeito e objeto que conhecimentos são estabelecidos na sala de aula. Redimensionados os valores das interações sociais (alunos x alunos e alunos/professor) no contexto escolar, essas passam a ser entendidas como condição necessária para a produção de conhecimentos por parte dos alunos, em particular aquelas que permitem o diálogo, a cooperação e a troca de informações mútuas, no confronto de pontos de vista divergentes e que implica na divisão de tarefas onde cada um tem a responsabilidade que, somadas, resultarão no alcance de um objetivo comum. O professor não somente permite que elas ocorram, como também promove-as no cotidiano das salas de aula. (REGO, 1995, p.110)

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Cálculo. Esta fenomenologia levou à elaboração deste trabalho em consonância ao

estudo concomitante da teoria cognitivista de Vergnaud.

1.2 Características, limitações e incompletudes da pesquisa

A proposta desta pesquisa, por meio do viés da organização do conhecimento

segundo Vergnaud (1990), aplica-se ao ensino do Cálculo de forma a consolidar o

conhecimento utilizando recursos que conduzam, de forma propositada, o aluno à

zona de desenvolvimento proximal (ZDP), descrita por Vigotsky (1984, p. 97). E

depois, utilizando outros recursos, retirá-lo da ZDP em questão, aproveitando o

conhecimento que foi construído durante toda a vida escolar desse aprendiz,

fazendo-o construir uma aprendizagem mais sólida com a criação e/ou consolidação

de conceitos novos de forma legítima e verdadeira frente aos discentes, extirpando,

assim, o estigma do aprendizado mecânico para as disciplinas de Cálculo Diferencial

para cursos superiores não voltados à formação de matemáticos.

Trata-se, portanto, de um trabalho interativo5 e iterativo6 com o uso de teorias

cognitivas piagetianas (teoria construtivista do desenvolvimento cognitivo humano) e

pós-piagetianas, com foco na teoria dos campos conceituais, sendo os resultados

mensurados pelas análises das respostas dos alunos aos questionários e

entrevistas.

1.3 Justificativa da Proposta do Trabalho e suas Implicações

Considera-se a temática abordada importante devido ao fato de que os cursos

superiores não voltados à formação de matemáticos vêm se expandindo no país de

forma rápida nos últimos anos sem a qualidade necessária para inserção dos seus

discentes no mercado de trabalho e preparo prévio destes, haja visto a falta de base

do nosso ensino fundamental e médio ao tempo em que a alta proliferação das

Faculdades/Universidades (públicas e privadas) no país tem permitido uma grande

oferta de vagas para a docência em todas as áreas. Isso faz com que pensemos em

fomentar pesquisas que tratem do ensino e da aprendizagem de disciplinas

5 Com ações entre os seus entes participantes. 6 Pois foi executado passo a passo de acordo com a metodologia proposta no trabalho.

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matemáticas, já que costumam ser aquelas em que os estudantes têm maior

dificuldade em aprender.

Em consonância a isto os docentes de formação matemática estão tendo a

necessidade crescente de adotarem e/ou modificarem as suas técnicas de atuação

em sala de aula e fora dela (e-mails, palestras, seminários, ambientes virtuais de

aprendizagem etc). Neste cenário, considera-se também que o ensino do Cálculo,

voltado para os cursos de formação universitária não voltada à formação de

matemáticos, tais como Administração, Economia, Sistemas de Informação,

Ciências Contábeis, Logística, torna-se um desafio à medida que os estudantes não

trazem uma bagagem teórica mínima necessária para compreender os tópicos

abordados nessa disciplina..

1.4 Estrutura da Pesquisa

Esta dissertação está construída da seguinte maneira:

No Capítulo 1 é feita uma breve apresentação ao tema, seus objetivos e

justificativas, bem como o foco de atuação da proposta.

No Capítulo 2 são apresentados, de forma mais detalhada, os problemas e

objetivos da pesquisa, bem como os diversos argumentos e provocações que

elegem o tema como sendo o principal para o trabalho de dissertação, ao tempo em

que evidenciamos as questões fundamentais e consideradas periféricas para o

mesmo. Considerando-se também o fato de que a Teoria de Vergnaud7 herdou de

Vigotsky8 e de Piaget9 (VERGNAUD, 2001) elementos fundamentais, foi feita uma

revisão geral destas abordagens teóricas.

O Capítulo 3 traz uma breve revisão das teorias de Piaget, Vigotsky e

Vergnaud, concentrando-se na teoria dos campos conceituais, a qual é utilizada

7 Gérard Vergnaud toma como premissa que o conhecimento está organizado em campos conceituais cujo

domínio, por parte do aprendiz, ocorre ao longo de um largo período de tempo, através de experiência, maturidade e aprendizagem. Para ele, a Teoria dos Campos Conceituais é um quadro teórico que torna possível a visualização da a relação entre os processos a curto prazo, de aprendizado em situação, e os processos a longo prazo, do desenvolvimento cognitivo (VERGNAUD, 2001, p. 75).

8 Lev Semenovich Vygotsky afirma que o sujeito necessita da presença de outros sujeitos para avançar no processo de aprendizagem, cuja preponderância se encontra nas funções da linguagem e do adulto na transmissão dos conhecimentos e do desenvolvimento cognitivo (VERGNAUD, 2001, p. 69).

9 Jean Piaget, psicólogo suíço, é o mais importante teórico da linha de pensamento construtivista. Criador da Teoria Psicogenética, esta sendo a mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência, que se contrapõe à concepção empirista. A idéia é que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo sob influência do meio, ao contrário: responde a estímulos externos, agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.

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para proposta do desenvolvimento da pesquisa. São apresentados, portanto, os

conceitos-chave da teoria dos Campos Conceituais e os elementos mais importantes

para fundamentação prático-pedagógica e metodológica da mesma.

O Capítulo 4 trata do conceito de esquema criado por Piaget, que é de

fundamental importância na teoria dos campos conceituais, e que tem outro legado

importante: a importância atribuída à interação social, à linguagem e a simbolização

no desenvolvimento de campos conceituais na aprendizagem, herança de Vygotsky.

Tratamos do estudo do processo de aprendizagem do Cálculo à luz das teorias

cognitivas de Vigotsky, Piaget e Vergnaud, considerando uma abordagem

construtivista dos conteúdos associados e utilizando como viés, em alguns

momentos, a abordagem histórica e fenomenológica.

No Capítulo 5 relatamos a metodologia, análise e interpretação dos resultados

experimentais coletados in loco. Também são apresentadas algumas sugestões à

propositura de ações e algumas medidas necessárias à consolidação do método.

Nele são respondidas, à luz do exposto, as principais questões iniciais do trabalho e

registradas a nossa colaboração a título de sugestões e de ações a serem

consolidadas em sala de aula.

Por fim, no Capítulo 6 são apresentadas algumas sugestões finais. Nos

apêndices são expostos os complementos de cada tópico relatado nos capítulos

supracitados, com considerações secundárias, porém relevantes de cada parte

deste trabalho.

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2 PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 Cenário acadêmico

Para o Professor, uma das tarefas mais difíceis é a de possibilitar

oportunidades aos alunos para que os mesmos desenvolvam seus esquemas na

ZDP (MOREIRA, 1996).

Para Vergnaud (1982), a organização do conhecimento está estruturada em

campos conceituais, e o domínio desse conhecimento se dá a longo prazo, por meio

de experiência(s) e maturidade(s) adquirida(s) e aprendizagem construída nesse

processo. Para que progressivamente os sujeitos da aprendizagem dominem um

campo conceitual, novos problemas e novas propriedades devem ser estudados ao

longo de vários anos. As dificuldades conceituais são superadas na medida em que

são encontradas e enfrentadas, mas isso não ocorre de uma só vez (MOREIRA,

1996). Vergnaud afirma que um campo conceitual é um conjunto heterogêneo e

informal, constituído de conceitos, estruturas, relações, conteúdos, bem como

operações de pensamentos, problemas e situações, interligados entre si e,

provavelmente, entrelaçados durante o processo de aquisição (VERGNAUD, 1994;

2001).

Considerando esta visão do problema de organização do processo cognitivo e

as teorias associadas vigentes podemos tecer as questões pétrias que balizam a

proposta desse trabalho.

2.2 Questões Fundamentais do Trabalho

O problema central resume-se no seguinte questionamento:

É pertinente o uso de uma proposta de ensino do Cálculo Diferencial, tendo

como principal referencial teórico a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud?

Ao tentar responder a esta questão foi necessária uma revisão bibliográfica

das chamadas teorias cognitivas para, com isto, sugerir com as ferramentas

pedagógicas das mesmas, um método híbrido para consolidar de forma significativa

o aprendizado do Cálculo Diferencial nos cursos já mencionados.

Outras questões fazem-se necessárias à completude do trabalho:

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• Como aplicar a Teoria dos Campos Conceituais no ensino do Cálculo

Diferencial, utilizando-se a apresentação e solução de problemas, para

encaminhar, de forma gradual, e depois retirar o aluno da zona de

desenvolvimento proximal?

• A aplicação de uma nova estratégia de ensino/aprendizagem pode retirar o

aprendiz da zona de desenvolvimento proximal?

Segundo Pretto (1996), instaura-se na sociedade (e/ou no sujeito) um “novo

logos”, uma mudança no modo de ser e compreender, que vem possibilitando o

surgimento de uma nova cultura e/ou novo processo cognitivo10. Isto, à princípio,

vale para qualquer processo cognitivo em qualquer área do conhecimento.

Esse “novo logos” propõe uma nova ordem, um novo paradigma de

construção, isto é, o deslocamento de uma abordagem hipotético-dedutivo, racional

e linear, para uma abordagem mais intuitiva, menos cartesiana e que elimina a

dicotomia razão-emoção, enfatizando a subjetividade do sujeito e possibilitando que

o mesmo possa fazer novas associações e daí, então, consolidar e/ou transformar

uma informação em um conhecimento, como afirma o próprio Pretto (1996):

Incorporar a imaginação, a afetividade, uma nova razão, não mais operativa e sim baseada na integridade e na globalidade, encontra inúmeras resistências (PRETTO, 1996, p. 107).

Nesse processo, o “novo logos”, além de propor uma nova ordem, também

fomenta a criação de novas estratégias de ensino/aprendizagem. Pois se assim não

for, o professor/facilitador estará de todo defasado nas estratégias, haja visto que o

sujeito (discente) estará construindo uma nova conexão com uma nova informação e

para tal pressupõe a necessidade também de novas estratégias para expor ao

mesmo a aplicabilidade do novo conhecimento.

Os questionamentos fundamentais à pesquisa podem ser observados na

Ilustração 1.

10 Restringindo-se, com isto, a sua zona de desenvolvimento proximal.

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Ilustração 1 Questionamentos fundamentais da pesquisa Fonte: Elaboração da própria autora.

2.3 Os Novos Paradigmas do Conhecimento e o Trabalho - A Nova Sociedade

No documento “Educação e Conhecimento: Eixo de Transformação

Produtiva com Eqüidade”11 é relatada que a centralidade da educação e da

produção do conhecimento, ainda que não expressa dessa maneira, por meio de

fomentos (financeiro, entre outros), nos traz a proposição de um novo paradigma de

conhecimento.

A importância da análise de tais documentos reflete-se no fato de que devido

à situação financeira e ao contexto internacional, o Brasil tem se submetido aos

ditames do capital internacional que chega aos nossos investimentos básicos de

educação, saúde, telecomunicações, energia etc, por meio desses organismos.

Sendo assim, as diretrizes destes organismos são fatores determinantes para que se

possa conhecer o destino, as tendências e mega-tendências dos investimentos

11 (CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe da UNESCO / OREALC - Oficina Regional de

Educação para a América Latina e Caribe da UNESCO, 1992) - Também chamado de “Educacion y conocimiento: eje de la transformacion productiva con equidad”, de 1992 tem como seu objetivo principal esboçar linhas de ação para políticas e instituições que pudessem favorecer as relações sistêmicas entre educação, conhecimento e desenvolvimento, na perspectiva da noção de complementaridade entre transformação produtiva e eqüidade. A estratégia proposta se articula em torno de objetivos (cidadania e competitividade), de critérios norteadores (eqüidade e desempenho) e delineamento de reforma institucional (integração nacional e descentralização).

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governamentais. No caso específico da educação podemos refletir sobre estes

órgãos financiadores considerando os chamados documentos básicos dos quais

inclusive somos signatários.

Ainda de acordo com os documentos descritos, para que os países se tornem

competitivos no mercado internacional, hoje em dia, é necessário que disponham de

talento(s) para “difundir o progresso técnico e incorporá-lo ao sistema produtivo de

bens e serviços”.

Como dispor de talento se ainda não se absorveu os novos paradigmas?

Acreditamos que estas novas demandas de métodos de ensino e aprendizado

são na verdade uma necessidade dos novos processos tecnológicos e da alta

densidade de absorção do conhecimento por parte da nossa atual sociedade. No

caso específico das disciplinas de base matemática com o foco em Cálculo

Diferencial, pode-se notar claramente a incompletude das aplicações tradicionais

dos métodos mecânicos de ensino e aprendizagem da matéria devido ao fato de as

novas tecnologias e demandas associadas à mesma estarem sempre impondo aos

profissionais, da área matemática ou não, um conhecimento cada vez mais denso e

conceitual e não apenas os processos mecânicos tradicionais.

A acumulação de conhecimentos técnico/tecnológico implica uma

complementação entre criação de conhecimento, inovação e difusão, o que

implicaria em novas modalidades de aprendizagem, que fogem ao escopo desta

pesquisa, não obstante, a centralidade do conhecimento (da informação, da

produção do conhecimento e de sua difusão) e a implícita mudança da concepção

de conhecimento parece ser uma idéia para a qual convergem todos os discursos,

todas as propostas, todos os chamados atores sociais, em especial as novas

matrizes curriculares dos cursos de graduação e os modelos pedagógicos

associados às consolidações das mesmas.

Afinal, quem poderia/poderá negar que o impacto da globalização associado à

revolução tecnológica impõe um novo padrão de conhecimento, um “novo logos”?

Trata-se de mudanças inerentes aos processos políticos e sociais que a história vem

registrando.

Os novos processos da relação conhecimento e trabalho são tão notórios,

devido à tecnologia agregada aos mesmos e as mudanças instauradas na relação

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trabalho e educação, que se podem descrever as características destes novos

paradigmas como sendo: menos discursivos; mais operativos; menos

particularizados e mais generalistas; mais interativo12 e iterativos13; mais

comunicativos; menos intelectivos; mais pragmáticos; menos setorizados; mais

globalizados; não apenas fortemente cognitivos, mas também valorativos,

atitudinais. (PRETTO, 1996)

Consideram-se estas características como sendo subliminares aos novos

processos operativos devido ao fato de as mesmas não estarem expostas de forma

direta nos novos processos, mas sim facilmente notadas pelos seus atores,

principalmente quando os mesmos ainda não conhecem as novas regras e os novos

processos associados. Entretanto, estas condições estão impondo um novo

comportamento pedagógico14, andragógico15 e profissional na relação docente/

discente (professor/aluno).

Esta proposta de trabalho está inserida, à medida que a necessidade da

implementação de um novo comportamento discente e/ou docente com novas

técnicas e/ou modelos operativos e/ou hermenêuticos se fazem necessários para

que haja uma resposta positiva do sistema de ensino da matemática (em particular

do Cálculo Diferencial) do nível superior ou correlatos.

2.4 As Novas IES x Novas Estratégias de Trabalho

Frente a tais mudanças na concepção do processo de ensino/aprendizagem,

as IES que desejam se adequar às novas condições na relação de

conhecimento/trabalho/formação e perfil profissional, implementadas no Brasil

através da LDB, não podem, acredita-se, ficar de fora destas transformações, ou

possibilidades de transformações, pois correm o risco de deixar de existir, ou até de

não poderem ser inicializadas, ou perderem a cada momento, a sua função precípua

de formação profissional e social, já que não atenderão à demanda da (nova)

sociedade que está se instaurando.

12 Interar significa trocar informações entre os seus entes constiuintes. 13 Iterar significa “fazer passo a passo...”. 14 No seu sentido primitivo, a arte de conduzir crianças (Antunes, 2001; p. 162). A pedagogia é a relação

adulto/criança e faz-se necessária quando o comportamento acadêmico do discente, mesmo com uma alta faixa etária, é análogo à de uma criança.

15 Trata-se da educação para adultos (Antunes, 2001; p. 81). A andragogia é a relação adulto/adulto (Brunner & Zeltner, 1994; p. 17) e trata-se do comportamento esperado no nível superior no paradigma anterior apesar de fenomenologicamente não ser condizente com a realidade que nos cerca.

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Esta nova sociedade a que nos referimos é a Sociedade da Informação,

onde, os processos tradicionais de transmissão de conhecimento e de cognição

estão se modificando, devido, principalmente, à alta densidade de informação por

unidade de tempo a que os seus indivíduos estão continuamente submetidos e que

faz com que os mesmos não tenham mais a dispor do tempo linear para consolidar

os seus possessos cognitivos, além do fato de estarem todas as ferramentas

tecnológicas a compor fileiras para permitir as mudanças na relação educação e

trabalho.

Se compararmos os currículos dos cursos de graduação nos últimos dez

anos, vemos que os mesmos passaram por diversas adequações. Do modelo de

“grade” para o de “diretrizes curriculares”, passando pelas ambientação aos novos

modelos de avaliação nacional, e com isso modificando estrategicamente as

avaliações in loco, tanto nas IES e no que se refere a elas em âmbito geral, quanto

de maneira mais pontual nas respectivas disciplinas dos cursos referidos.

Essas mudanças afetam toda a forma de organizar o ensino e numa

velocidade como nunca antes vista. Muda-se efetivamente e rapidamente a forma de

lidar com a avaliação, com o ensino e, consequentemente, com o aprendizado e a

forma de “detecção” e acopanhamento do mesmo. Há, com isso, uma modificação

na relação discente/docente, que entremeada na atual conjuntura social, se encontra

na atemporalidade destas relações, com tecnologia agregada aos mesmos (vide os

processos tecnológicos agregados às redes de transmissão de que a relação aluno-

professor seja cada vez mais densa, construtiva e interconectada.

Sendo assim, por que não utilizar-se destas possibilidades / ferramentas para

agregar-se nesta (nova) relação um viés positivo de estratégia cognitiva?

2.5 Objetivos

2.5.1 Objetivo geral

O objetivo geral do trabalho é apresentar uma proposta para o ensino de

conceitos do Cálculo Diferencial dirigidos a cursos superiores não voltados à

formação de matemáticos, tendo como principal referencial teórico a teoria dos

campos conceituais, de Gerard Vergnaud.

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2.5 2 Objetivos específicos

Consideramos os objetivos específicos ou secundários os seguintes pontos a

citar:

• Analisar alguns fenômenos relacionados ao processo de ensino e

aprendizagem relacionados na interação professor/aluno e aluno/aluno

quando os mesmos estão na zona de desenvolvimento proximal.

• Analisar e propor os caminhos e estratégias para os desenvolvimentos

cognitivo, instrumental e conceitual do Cálculo Diferencial em cursos

superiores não voltados à formação de matemáticos.

A interação entre estes objetivos pode ser verificada na ilustração 2.

Ilustração 2 Objetivos Fonte: Elaboração da própria autora.

Assim, no intuito de consolidar os objetivos e a questão da pesquisa será

feita, no capítulo seguinte, a revisão de literatura ao tema.

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3 REFERENCIAIS TEÓRICOS

No que diz respeito à fundamentação teórica do trabalho, as teorias de

Vergnaud, Vygotsky e Piaget foram de grande contribuição e embasaram o estudo

teórico e a aplicação da pesquisa. Apesar da tentativa de resumir estas teorias neste

capítulo, de forma alguma pretende-se esgotar quaisquer dos pressupostos teóricos

aqui tratados. Pretende-se, sim, resenhar as mesmas no que diz respeito à

propositura da pesquisa, ao tempo em que são colocadas na rota do estudo,

utilizando a grande contribuição desses autores para o entendimento da aquisição

de conceitos.

3.1 As Teorias Cognitivas e a Aprendizagem

Uma teoria é uma forma de sistematizar uma determinada área do

conhecimento, dessa forma, uma teoria de aprendizagem visa a interpretação

sistemática da aprendizagem/hermenêutica de um (uns) autor (es) a respeito do

tema aprendizagem (MOREIRA, 1999, p. 12).

Não é necessário que uma teoria que trate de aprendizagem seja uma teoria

de aprendizagem. Um exemplo é a teoria de Piaget, como veremos a seguir. Se já é

difícil tentar conceituar aprendizagem, torna-se ainda mais complexo a

conceitualização de um “tipo” de aprendizagem, como a cognitiva. De acordo com

Moreira (1999) a conceituação desse tipo de aprendizagem está associada

a:.”condicionamento; aquisição de conceitos; aquisição de informação (aumento do

conhecimento) e construção de novos significados, de novas estruturas cognitivas,

revisão de modelos mentais” (p. 13).

Como já dito, as definições acima se referem à aprendizagem cognitiva, que é

aquela que resulta no armazenamento organizado de informações e de

conhecimentos na memória do aprendiz. Tal complexo organizado é conhecido

como estrutura cognitiva. Ainda existem mais dois tipos de aprendizagem: a afetiva e

a psicomotora. Em lihas gerias, o foco dessas três tipos de aprendizagem pode ser

observado no quadro 1.

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Foco de Estudo das Aprendizagens Uma interfere na aquisição da outra, por isso não utilizamos o termo “definição”, mas

“foco”

Aprendizagem Cognitiva Aprendizagem Afetiva Aprendizagem Psicomotora

Focaliza a cognição, o ato de conhecer.

Trata das experiências, tais como dor, satisfação, descontentamento, alegria, ansiedade.

A exemplo das respostas musculares adquiridas por meio de treino e prática.

Quadro 1 Foco de Estudo das Aprendizagens Fonte: Elaboração da Própria autora.

3.2 As Teorias Piagetianas e os Seus Conceitos Fundamentais

Jean Piaget construiu uma teoria sólida e muito bem fundamentada. A teoria

de Piaget tenta nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos.

Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o

estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos (PIAGET, 2002).

Vale ressaltar que as teorias de Piaget têm comprovação em bases

científicas, já que ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da

inteligência, mas, experimentalmente, comprovou suas teses. Por esse motivo,

qualquer tentativa de simplificação ou resumo tende a deixar de abordar questões

fundamentais ou fazer exposição incompleta ou mesmo indevida (MOREIRA, 1999).

O que pretendemos com esta abordagem é apenas nos utilizar de um

“direcionamento” para a apresentação da teoria dos campos conceituais de Gerard

Vergnaud, apresentando os elementos herdados da teoria de Piaget, com uma

abordagem superficial. Embora sua teoria seja invariavelmente difundida como

Construtivismo, i.e., considerada por muitos como sendo “a” teoria construtivista,

isso não é verdade. Piaget construiu durante anos, “uma” das diversas teorias

construtivistas (MOREIRA, 1999) e a mais famosa, mas não a primeira, muito menos

única.

Embora muitos de seus importantes trabalhos datem da década de 20, foi nos

anos de 70 que sua teoria foi, digamos, “redescoberta”, iniciando uma verdadeira

ascensão do cognitivismo e declínio do behaviorismo, no que diz respeito à

influência no ensino/aprendizagem, bem como nas pesquisas desta área

(BRUNNER ; ZELTNER, 1994).

A partir do momento em que surgiu o interesse e até sua morte, Piaget

trabalhou incessantemente. Ele morreu aos oitenta e quatro anos, em 1980,

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33

deixando legado de setenta livros e mais de quatrocentos artigos, aproximadamente.

(BRUNNER; ZELTNER, 1994).

3.2.1 Principais conceitos da teoria piagetiana

Descreveremos os principais conceitos da teoria piagetiana e as suas

abrangências na nossa propositura de trabalho.

3.2.1.1 Inteligência

A inteligência, para Piaget, é o mecanismo de adaptação do organismo a uma

situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta

adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica (FURTH,

1997; p. 40). Desta forma, o indivíduo se desenvolve intelectualmente a partir de

exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que o cerca.

3.2.1.2 Comportamento

Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, tampouco

resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa

interação entre o meio e o indivíduo (PIAGET, 2002). Esta teoria epistemológica16 é

caracterizada como interacionista (MOREIRA, 1999). A inteligência do indivíduo,

como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade

desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa

for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias de Piaget fornecem

oportunidade de estudo e pesquisa em diversos campos, não se restringindo,

portanto, apenas à psicologia do desenvolvimento, mas também à sociologia,

antropologia, entre outras. Além disso, permite que os pedagogos tracem uma

metodologia baseada em suas descobertas.

3.2.1.3 Estrutura de maturação: assimilação e acomodação

A estrutura de maturação do sujeito sofre um processo genético e a gênese

depende de uma estrutura de maturação. Piaget mostra, assim, que o sujeito só

recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Isto é, se

puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações.

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Não existirá um novo conhecimento se o organismo não tiver em sua estrutura

cognitiva um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O que

implica os dois pólos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É

assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência

ou estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade

do sujeito. É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do

meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um

"equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação

complementar" (PIAGET, 1982). Piaget situa o problema epistemológico, o do

conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. Para ele, "essa

dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas,

genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese etc... e permite seguir fases

sucessivas da construção progressiva do conhecimento" (PIAGET, 1982).

3.2.2 Os períodos de desenvolvimento: construtivismo seqüencial

Piaget afirma que o desenvolvimento do sujeito inicia-se no período intra-

uterino e vai até os 15 ou 16 anos. Diz, ainda, que a embriologia humana evolui

também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A

construção da inteligência dá-se, portanto, em etapas sucessivas, com

complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de

“construtivismo sequencial” (PIAGET, 2001).

Em sua teoria Piaget, distingue quatro períodos que são chamados de

Períodos de Desenvolvimento Mental e que ele os designa por “períodos gerais de

desenvolvimento cognitivo” (BRUNNER; ZELTNER, 1994).

São eles:

3.2.2.1 Período sensório-motor

Este é o primeiro período descrito por Piaget, e vai do nascimento aos

dois anos, aproximadamente. Nele, a principal característica é ausência da

função semiótica17. A inteligência da criança trabalha por meio das percepções

(simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É

uma inteligência eminentemente prática. A linguagem da criança vai da ecolalia

16 epistemo = conhecimento; e logia = estudo.

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(repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água)

já que não representa mentalmente o objeto e as ações. A conduta social do

indivíduo é de isolamento e indiferenciação (o mundo é ele) (FURTH, 1997).

No que se refere ao período supracitado, segundo Piaget (2001, p. 21):

[...] uma figura percebida corresponde a “qualquer coisa” que continua a existir, mesmo quando não a percebemos mais... [a criança] reconhece certos quadros sensoriais familiares, mas o fato de reconhecê-los quando presentes não equivale, de forma nenhuma, a situá-los em qualquer parte quando estão fora do campo perceptivo... Só por volta do fim do primeiro ano é que os objetos são procurados depois que saem do campo da percepção, e é sob este critério que se pode reconhecer um começo de exteriorização do mundo material (PIAGET, 2001, p. 21).

3.2.2.2 Período pré-operacional

Este é o período, que dura dos 2 anos aos 7 anos, aproximadamente.

Algumas vezes é dividido em outros dois períodos:

3.2.2.2.1 Período simbólico

A função semiótica surge nesse período, o que permite o surgimento da

linguagem, da dramatização, do desenho, da imitação, entre outros. Nesse

período, o indivíduo (a criança) já pode criar imagens mentais na ausência do

objeto ou da ação. É a fase da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico.

Capacitado a formar imagens mentais, o aprendiz pode transformar o objeto

numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforos em carrinho, telefone, ou

outro objeto de seu interesse, por exemplo). É também o período em que o

indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na

garagem"). A comunicação utilizando a linguagem dá-se em um nível solitário,

embora em grupo, i.e., de um monólogo coletivo, onde todos falam ao mesmo

tempo sem que respondam as argumentações dos outros. Crianças

“conversando” nessa fase dizem frases que não têm relação com a frase que o

outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do

coletivo. Não há liderança e os pares são a todo o momento trocados (PIAGET,

2001, p. 26).

Existem outras características do pensamento simbólico que não estão

sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de

17 A semiótica é a ciência que estudo os signops. Quando nos referimos à uma função semiótica estamos

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Jean Piaget, como, por exemplo, o nominalismo (dar nomes às coisas das

quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo

(tudo é “meu”) etc.

3.2.2.2.2 Período intuitivo

Dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente. Aqui a criança sente

necessidade de obter explicação para os fenômenos. É conhecido como “idade

dos porquês”, pois a criança pergunta o tempo todo e já distingue a fantasia do

real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela.

Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é

capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto, incluir conjuntos

menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). No

que se refere à linguagem, embora não mantenha uma conversação longa, já é

capaz de adaptar sua resposta às palavras daquele que interage com ela

(PIAGET, 2001, p. 29-36).

Esse período marca a incapacidade que a criança tem de pensar em

termos de conceitos lógicos e é dominada pelas características perceptuais do

mundo que as envolve (ANTUNES, 2001).

Sobre o período Pré-operacional, Piaget (2001, p. 24) afirma, entre outras:

Com o aparecimento da linguagem, as condutas são profundamente modificadas... a criança torna-se, graças à linguagem, capaz de reconstituir suas ações passadas sob forma de narrativas, e de antecipar suas ações futuras pela representação verbal. Daí resulta três conseqüências essenciais para o desenvolvimento mental: uma possível troca entre os indivíduos, ou seja, o início da socialização da ação; uma interiorização da palavra, isto é, a aparição do pensamento propriamente dito, que tem como base a linguagem interior e os sistemas de signos, e, finalmente, uma interiorização da ação como tal, que, puramente perceptiva e motora que era até então, pode daí em diante se reconstituir no plano intuitivo das imagens e das “experiências mentais” (PIAGET, 2001, p. 40).

E ainda: “... interesses, autovalorizações, valores interindividuais

espontâneos e valores intuitivos parecem ser as principais cristalizações da

vida afetiva própria a este nível de desenvolvimento” (PIAGET, 2001, p. 40).

3.2.2.3 Período operatório concreto

considerando a capacidade do reconhecimento dos símbolos e dos signos associados.

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Essa fase perdura dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente. O aprendiz

consolida as conservações de número, peso, substância, volume. Torna-se

capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos,

tornando-o capaz de organizar o mundo de forma lógica ou operatória. Sua

idéia de organização social é a de bando, podendo participar de grupos

maiores, chefiando ou sendo chefiado. Já pode compreender regras, sendo fiel

a ela, e estabelecer compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma

linguagem socializada), sem que, no entanto, possam discutir diferentes pontos

de vista para que cheguem a uma conclusão comum.

3.2.2.4 Período sensório-motor

Dos 11 anos em diante. É o ápice do desenvolvimento da inteligência e

corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático.

O aprendiz torna-se, então, apto aos cálculos de probabilidade, libertando-se

do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É, finalmente, a

“abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é

possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em um nível de

discussão que leve-o a uma conclusão. (PIAGET, 2001). Sendo assim, a partir

desse ponto, o que o indivíduo aprende não está diretamente relacionado a um

período de características próprias, mas à sua conjuntura social, física,

econômica e emocional.

Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e

reciprocidade.

3.2.2.4 A divisão cronológica dos períodos

Os períodos aqui descritos podem ainda ser subdivididos, pelas idades, por

exemplo, como o fez Piaget. O quadro 2 mostra como ele os define e os enquadra

nos diversos estágios e idades do aprendiz.

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Período

Fase

Características

(como o aprendiz reage)

Relação com os demais períodos

Sensório-motor Nascimento até cerca de dois anos

• Não diferencia o seu eu do meio que o rodeia; • Ações não coordenadas; • Egocentrismo quase total, sendo o centro e tudo existe em função dele.

No fim desta fase, já iniciando a pré-operacional, a criança começa a descentralizar as ações em relação ao próprio corpo e os objetos passam a existir independente do eu

Pré-operacional Dois anos aos seis ou sete anos

• Seu pensamento começa a se organizar, não sendo ainda “reversível”18; • Sua atenção está voltada para os aspectos mais atraentes da realidade

e, por conseguinte, suas conclusões são também as mais atraentes, perceptualmente;

• Não tem compreensão de transitividade; • Não tem noção da conservação do todo19;

Ausência de reversibilidade

Simbólico • Declínio progressivo do egocentrismo de até então; • Pensamento mais organizado; • Visualização de perspectivas; Operacional-concreto Dos sete/oito anos até

onze/doze anos Intuitivo

• Adquire noções de reversibilidade por inversão e negação20 e também por reciprocidade21;

• Para antecipar o ausente, deve partir do concreto;

Adquire noção de reversibilidade O real não é percebido como um caso particular do possível O possível é subordinado ao real

Operacional-Abstrato (Formal)

Onze/doze anos até a vida adulta

• Capacidade de raciocinar com hipóteses verbais e não somente com objetos concretos;

• Pensamento proposicional; • Formula os resultados das operações concretas sob a forma de

proposições e continua a operar mentalmente com eles; • Capacidade de fazer raciocínios hipotético-dedutivos; • Capacidade de manipular construtos mentais e reconhecer relações

entre eles;

O real é percebido como um caso particular do possível Como raciocina sobre hipóteses, a realidade torna-se secundária em relação à possibilidade O real é subordinado ao possível Este período prolonga-se até a fase adulta, mas na adolescência o aprendiz ainda mantém um tipo de egocentrismo, onde o jovem considera a si mesmo como correto sempre, não aceitando a opinião dos demais

Quadro 2 Relação dos Estágios e do Processo de Aprendizagem (Piaget) Fonte: Elaboração da Própria autora.

18 I.e., seu pensamento não é capaz de percorrer um caminho cognitivo e, depois percorrê-lo mentalmente em sentido inverso, de forma a reencontrar o ponto de partida de

forma não modificada. Não estrutura solidamente as idéias. 19 Mudando-se a forma, muda-se também a quantidade, o peso, etc. 20 +X - X =0 21 Se X está à direita de Y é porque Y está à esquerda de X

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3.2.3 Processos de passagem de estágios

3.2.3.1 Características dos processos

Devemos salientar que, obviamente, a passagem de um estágio para outro

não acontece abruptamente. Da mesma forma que algumas características de fases

anteriores podem permanecer durante parte do estágio seguinte. Podem também

ser observadas diferenças nas idade em que as crianças atingem cada período, mas

a ordem dos períodos é invariável. O que não costuma ocorrer é a permanência de

características de uma fase posterior, i.e., embora não seja impossível o aprendiz

apresentar características da fase seguinte, isso é muito difícil de ocorrer

(MOREIRA, 1999, p. 98).

A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência

reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou

estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. A

compreensão deste processo é fundamental para que os facilitadores (Professores)

possam também compreender com quem estão trabalhando.

A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica

sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança. Piaget nos mostra

que cada fase de desenvolvimento apresenta características e possibilidades de

crescimento da maturação ou de aquisições (LIMA, 1984).

O conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam

oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.

O lema “o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”, do Método

Psicogenético, tem suas bases nestas teorias epistemológicas de Jean Piaget

(LIMA, 1984).

Sendo assim, acredita-se que a filiação das teorias da alfabetização (em

qualquer nível) ao campo da Psicologia é bastante evidente. A noção de

representação ocupa lugar importante no corpo teórico das diversas teorias nesse

campo, onde, sendo considerada como inerente a toda e qualquer atividade

psíquica, está intrinsecamente ligada à compreensão, também psicológica, da

aquisição de conhecimento, vejamos:

• o sujeito epistêmico está na origem da construção de suas representações

sobre as coisas do mundo. Portanto, o papel do outro (do docente), nesse

processo, é descartado ou relativizado;

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• as representações são fonte de verdade. Parte-se da possibilidade de sua

adequação à coisa representada;

• os processos cognitivos têm existência prévia e determinante das possíveis

interferências da linguagem na constituição de representações;

• a linguagem oral e escrita, como as outras coisas do mundo, podem ser

objetivadas e representadas.

3.2.3.2 A representação e os seus sentidos

Um dos elementos da teoria de Vergnaud, que faz parte do tripleto que

embasa seu trabalho (e que está detalhado logo mais), é a representação simbólica

(lingüística ou não). Em verdade, Vergnaud as nomina de conjunto de

representações simbólicas, como veremos em seguida.

Piaget também trata da questão das representações. Para ele, o termo

representação aparece com dois sentidos. No primeiro, pode ser compreendido

como pensamento ou esquema operatório, estando relacionado aos processos

cognitivos necessários à construção conceitual da escrita. No segundo, tem o

estatuto de imagem, aparecendo atribui-se à escrita o papel de figuração da

linguagem oral. Nas poucas páginas que Vygotsky escreveu sobre a alfabetização, a

presença do termo também é constante. Para ele há uma evolução na natureza da

escrita ao longo de sua aquisição: inicialmente seria representação da fala, mas, em

seguida, dela se libertaria para representar o mundo.

Nos trabalhos de Piaget, a noção de representação é objeto de muitas

referências. Em cada estágio do desenvolvimento intelectual, segundo afirma, esse

processo ganha em complexidade e abstração, sendo que a base para a sua

construção está nos esquemas de ação, ou esquemas em ato, aos quais Vergnaud

denomina de invariantes operatórios (ou operacionais). A lógica e a matemática da

ação, da ação que produz conhecimento, dependem da representação para a

interpretação de sua dinâmica (MOTA, 2002).

3.2.3.3 O lugar dos processos semióticos

O estatuto das representações na teoria de Piaget diz respeito a uma questão

que discutiu em quase todos os seus trabalhos: o lugar dos processos semióticos na

construção do conhecimento.

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Na teoria psicogenética, o processo de conhecimento ocorre na interação

entre o sujeito do conhecimento e o objeto. É justamente esta relação, esse sistema

de trocas, que é objeto de estudos do pesquisador quando pretende compreender a

gênese de um conhecimento. Assim, no caso da escrita, matemática ou não, o leitor

não cria, no sentido material, os textos. Eles têm suas propriedades a que ele tem

que se ajustar. Propriedades estruturais, que podem ser descritas no nível de seus

aspectos gráficos, fonético-fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Cada

nível tem seu funcionamento. Mas, nos discursos concretos em que se

presentificam, ocorrem relações e transformações gerais que os envolvem em um

funcionamento comum no plano do sistema da língua. Neste sentido, a nosso ver, o

texto pode ser considerado como uma estrutura no sentido piagetiano (MOTA,

2002).

A teoria psicogenética oferece recursos, a nosso ver, para que se pense a

linguagem - oral ou escrita - como um real, exterior ao discente, que se ofereceria à

sua ação como um sistema englobante das estruturas gráficas, fonético-fonológicas,

morfológicas, sintáticas e semânticas, e que poderia ser re-construído como

qualquer outro objeto cultural, socialmente compartilhável.

Embora os períodos de desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget, sejam

de grande importância e atualidade, outros conceitos por ele pontuados também se

tornaram pedras angulares nas suas teorias, além de terem sido termos utilizados

e/ou estudados por Vergnaud. São, por essa razão, também citados.

3.2.3.4 Acomodação, assimilação e equilibração

Conforme Piaget, acomodação, assimilação e equilibração representam

características do pensamento, ou melhor, fazem parte do processo de

desenvolvimento do pensamento e da inteligência. Ele afirma que pensar é um

prosseguimento do processo biológico da adaptação e representa um processo ativo

de aproximação do indivíduo aos problemas que pode encontrar no meio ambiente.

Esse processo de aproximação, também designado por ele de adaptação

(equilibração), é controlado pelos processos de assimilação e acomodação. É por

eles que são modificados os esquemas nos aprendizes.

A acomodação é o processo que ocorre quando o aprendiz se defronta com

um novo problema e tenta, através da modificação de seu comportamento, resolvê-

lo. Os esquemas existentes na estrutura cognitiva são, desta forma, modificados

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pela adaptação aos novos aspectos do problema emergente. Acomodação e

assimilação complemantam-se mutuamente e são elementos do processo de

abordagem ativa do ser humano a um problema, (BRUNNER; ZELTNER, 1994, p.

9), pois, enquanto que através da acomodação os esquemas são alterados, através

de assimilação eles sofrem uma estabilização.

A equilibração, por sua vez, para Piaget, é um processo fundamental no

desenvolvimento do pensamento e origina-se na necessidade que tem o indivíduo

de equilíbrio ou ausência de contradições. É, na verdade, o processo de estabelecer

o equilíbrio.

Uma proposta de esquema de assimilação pode ser observada na ilustração 3.

Mente não se modifica

Mente se modifica

Equilíbrio entre assimilação e acomodação

Ilustração 3 Esquema de Assimilação Fonte: Elaboração da Própria autora

No processo de assimilação o conhecimento que se tem da realidade não se

modifica. Muitas vezes os esquemas de ação do aprendiz não conseguem assimilar

determinada situação. Quando isso ocorre, a mente desiste ou se modifica. Nos

casos em que há modificação, ocorre o que Piaget denominou por “acomodação”. A

acomodação permite a construção de novos esquemas de assimilação. Através da

acomodação é que se dá o desenvolvimento cognitivo. A acomodação só existe,

portanto, se houver assimilação, já que a acomodação é a reestruturação da

assimilação. A adaptação é, por sua vez, o equilíbrio entre assimilação e

acomodação.

3.2.3.5 Esquema

Outro conceito bastante difundido e que ocupa grande parte da teoria do

desenvolvimento cognitivo de Piaget é o “esquema”, um modelo hipotético de como

a informação é armazenada no cérebro (MOREIRA, 1999)

ASSIMILAÇÃO

ACOMODAÇÃO

ADAPTAÇÃO

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A palavra “construtivismo” não foi cunhada por Piaget. O construtivismo é

uma corrente educacional que se apóia no princípio de que o conhecimento não é

ensinado, mas estimulado a partir de experiências que desenvolvem as diferentes

inteligências (BRUNNER; ZELTNER, 1994).

A proposta do construtivismo é que o aprendiz participe de seu próprio

aprendizado, mediante a experimentação, estímulo à dúvida, pesquisa em grupo,

dentre outros. Enfatiza a importância do erro, utilizando-o como um “trampolim” no

desenvolvimento da aprendizagem, condenando a rigidez do discurso do professor,

bem como a utilização de material didático estranho ao universo pessoal do aluno

(MOREIRA, 1999)

Essa teoria nos permite focalizar a interação sujeito-objeto como uma

estrutura bipolar, cujos componentes são indispensáveis. Sendo assim, para os

defensores dessa corrente, não há sujeito sem objeto e não há objeto sem sujeito.

O construtivismo em Piaget é a palavra que sinaliza seus ensinamentos

cognitivos, indicando que o indivíduo aprende de maneira significativa quando toma

parte de forma direta na “construção pessoal” do conhecimento que adquire. Como

não poderia deixar de ser, Piaget também destacava a importância do erro não

como um tropeço passível de advertência, mas antes para alavancar o processo de

aprendizagem.

Essa proposta de trabalho se utiliza das ideias de Piaget referentes ao erro,

como trampolim na rota da aprendizagem em matemática nos cursos superiores não

voltados à formação de matemáticos, tais como Administração, Ciências Contábeis,

Sistemas de Informação, Logística, os diversos cursos de graduação tecnológica,

entre outros. No que tange à correção dos testes aplicados aos alunos, escolhemos

um modelo de avaliação, a Taxonomia SOLO, para interpretações que considerem

os diversos níveis em que se encontram nossos aprendizes, descartando a correção

baseada no certo-errado, que desconsidera as possibilidades de compreensão do

sujeito nos seus possíveis estágios. Muitas vezes a resposta final está errada, mas

existe uma lógica no seu desenvolvimento, que é passível de uma interpretação

mais razoável e que pode, em nível de sala de aula, gerar um diálogo de

“negociação” mais coerente e justo, no que tange a notas dos alunos.

Apenas com a finalidade de se perceber o caráter científico das reflexões de

Piaget sobre instinto e inteligência e o caráter didático de seu estilo, é reproduzido a

seguir um trecho de “Epistemologia Genética”.

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“A questão consiste, pois, em compreender a passagem do instinto à inteligência ou, dito de outro modo, o processo de interrupção dos instintos. A esse respeito, o lamarckismo quis ver nos instintos uma inteligência que teria se estabilizado hereditariamente (por herança do adquirido), ao passo que outros autores, seguidos pela maior parte dos neodarwinistas, insistiram nas oposições ditas naturais entre o caráter rígido e cego, mas falível, do instinto e as propriedades de intencionalidade consciente, de flexibilidade, mas também de falibilidade da inteligência. Na realidade, tais argumentos basearam-se num modelo excessivamente esquematizado do instinto, cumprindo-nos distinguir com cuidado três planos hierarquizados em toda a conduta instintiva: 1) temos, em primeiro lugar, o que se poderia chamar as coordenações gerais que intervêm em cada uma delas (PIAGET, 2002, p. 64).

3.3 A Teoria de Vygotsky

Vygotsky trabalhou principalmente a idéia da “emergência de novas formas na

psyché humana sob orientação social” (OLIVEIRA, 1999). Deixou sua obra

incompleta, já que morreu aos 38 anos, vítima da tuberculose. Esta é uma das

diferenças importantes entre as obras de Piaget e Vygotsky, pois, enquanto o

primeiro, em sua vida quase cinqüenta anos mais longa, construiu uma teoria muito

bem articulada, nos deixando informações precisas sobre seus trabalhos, o segundo

não chegou a construir um sistema explicativo completo, do qual pudéssemos

construir uma “teoria vygotskiana” bem estruturada.22

Segundo Oliveira (1999), as idéias de Vygotsky multiplicaram-se e

desenvolveram-se nas obras de seus discípulos e colaboradores. Os mais

conhecidos são Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikolaievich Leontiev. Os três

(Vygotsky, Luria e Leontiev) faziam parte de um grupo de jovens intelectuais da

Rússia pós-Revolução.

3.3.1 A “nova psicologia” e as postulações

Tomados pelo clima de idealismo da época, eles buscavam a criação de uma

“nova psicologia”, que fosse uma síntese das duas fortes tendências da psicologia

do início século XX: a psicologia como ciência natural e a psicologia como ciência

mental. Enquanto a primeira (experimental) deixava de abordar as funções

psicológicas mais complexas do ser humano, a mentalista não chegava a produzir

com clareza as descrições desses processos complexos em termos que fossem

aceitáveis à ciência. Na tentativa de estabelecer uma psicologia mais completa, que

22 Ver introdução escrita por Jerome Bruner em “VYGOTISKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo:

Martins Fontes, 1993”.

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superasse essa crise, que Vygotsky e seus colaboradores buscaram uma síntese

entre as duas psicologias mais aceitas e difundidas na época (REGO, 1995, p. 28).

O conceito de síntese para eles deve ser aqui explicado, para que não corra o

risco de parecer algo simplista, sem criação. Para Vygotsky, a síntese entre dois

elementos não é a simples justaposição ou soma de tais elementos, mais antes, a

emergência do novo, de algo que antes não existisse. Por isso, a nova abordagem

busca a síntese que integre corpo e mente no homem, que o veja como ser biológico

e social, homem enquanto corpo e mente, participante de um processo histórico.

3.3.1.1 A primeira postulação

Diante do supra citado, temos os pilares dessa nova abordagem à psicologia:

A primeira postulação descrita por Vygotsky, é a de que “o cérebro, enquanto órgão

material, é a base biológica do funcionamento psicológico, e o homem, como

espécie biológica, possui uma existência material que determina limites e

possibilidades para seu desenvolvimento. Isso não quer dizer, no entanto, que o

cérebro seja algo imutável, é, ao contrário, um sistema aberto, de grande

plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da

história da espécie e do desenvolvimento individual (o cérebro pode servir a novas

funções, criadas na história do homem, sem que hajam necessárias transformações

no órgão físico)”. (OLIVEIRA, 1997).

3.3.1.2 A segunda postulação

A segunda postulação diz que “o homem transforma-se de biológico em

sócio-histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da

natureza humana” (VYGOTSKY, 1993, p. 44). Não se pode pensar o

desenvolvimento psicológico como um processo descontextualizado, i.e., o

funcionamento psicológico está baseado fortemente nos modos culturalmente

construídos de ordenar o real.

3.3.1.3 A terceira postulação

O terceiro pressuposto de Vygotsky nos remete a um conceito bastante

difundido em sua teoria: o conceito de “mediação”. Segundo ele, “a relação do

homem com o mundo é uma relação mediada”, ou seja, não é uma relação direta

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(OLIVEIRA, 1997, p. 27). Utilizam-se os sistemas simbólicos como elementos

intermediários entre o sujeito e o mundo.

Ao contrário de Piaget, que tem na equilibração a pedra angular do

desenvolvimento cognitivo, Vygotsky supõe que tal desenvolvimento cognitivo não

ocorre independente do contexto social, histórico e cultural a que está inserido o

aprendiz (VYGOTSKY, 1993, p. 44).

3.3.2 Mediação

Um dos conceitos mais significativos no pensamento de Vygotsky (1993) é o

de mediação, que pode ser definido como sendo a ação que o indivíduo, por meio

de instrumentos, modifica a natureza e, ao fazê-lo, acaba por modificar a si mesmo.

Ele acreditava, portanto, que o aprendiz, ao fazer uso do signo-linguagem, algébrico,

mapa, esquema etc., modifica suas próprias funções psíquicas superiores.

Vygotsky (1993) dedicou-se especialmente ao estudo do que denominamos

por funções psicológicas superiores, ou seja, processos mais sofisticados,

complexos, que envolvem o controle consciente do comportamento.

Vygotsky considera o papel da instrução um fator positivo, no qual a criança

aprende conceitos socialmente adquiridos de experiências passadas e passarão a

trabalhar com essas situações de forma consciente. Se uma transformação social

pode alterar o funcionamento cognitivo e pode reduzir o preconceito e conflitos

sociais, então esses processos psicológicos são de natureza social. Devem ser

analisados e trabalhados através de fatores sociais.

A redução de reações biológicas é uma condição prévia para o aparecimento

de fenômenos psicológicos.

Um conceito só é caracterizado quando as características resumidas são

sintetizadas de forma que a resultante se torne um instrumento de pensamento. O

sujeito progride na formação de conceitos após dominar o abstrato e combinar com

pensamentos mais complexos e avançados. Na continuação da educação os

conceitos tornam-se concretos, aplicam-se as habilidades aprendidas, por

instruções, e as adquiridas em experiências da convivência social.

Vygotsky (1984) introduziu a uma ideia diferente da criança, afirmando que

mecanismos naturais que governam esses pequenos indivíduos. No entanto, antes

dos dois anos de idade, a criança participa das relações sociais. Mecanismos

biológicos operam durante curto espaço de tempo, mas são substituídos

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rapidamente por meio de influências sociais. Quando acaba a infância o indivíduo

passa a participar de relações sociais. Relações sociais formam o contexto

desenvolvente de crianças e constituem a natureza das mesmas. Vygotsky

considerou a criança como um indivíduo social, enquanto que Piaget a considerou

como anti-social. Para Vygotsky as relações sociais constituem a psicologia da

criança desde o começo. Para Piaget, tais relações sociais são secundárias à

natureza biológica da criança.

Vygotsky afirma que os fenômenos psicológicos são sociais e que dependem

de uma experiência social de tratamento, além de absorverem os artefatos culturais.

Segundo ele, a experiência social inclui a maneira na qual as pessoas estimulam e

dirigem a atenção das outras pessoas, comportamento padrão, (encorajar,

desencorajar), controlar movimentos, e organizar as relações de espaço entre

sujeitos. Em artefatos culturais encontram-se sinais, símbolos, condições

lingüísticas, industrialização de objetos e instrumentos. Tratamento social e produtos

socialmente produzidos geram e caracterizam fenômenos psicológicos.

3.3.3 Contribuições da teoria de Vygotsky

A principal contribuição da teoria de Vygotsky foi referente a exploração da

mente com relação à interação social no desenvolvimento cognitivo, "as conexões

entre o social e o indivíduo para o desenvolvimento cultural". Para ele as funções

cognitivas se originam das relações sociais, e que, reciprocamente, a quantidade e

qualidade de interações sociais afetam diretamente o desenvolvimento cognitivo.

Para Vygotsky, o esquema do pensamento, o raciocínio em si, pode ser entendido

como uma interiorização do diálogo social (VYGOTSKY, 1984).

O objetivo de Vygotsky foi a elaboração de uma psicologia de caráter

dialético, coerente com o paradigma marxista, e que partisse da unidade dos

processos psíquicos e fisiológicos, sem, entretanto, identificar uns com os outros. Os

processos psíquicos em seu entender, longe de estarem dissociados da natureza,

fazem parte dela e surgiram a partir de um longo processo de evolução, envolvendo

a ocorrência de um salto qualitativo no aperfeiçoamento dos processos cerebrais

(VYGOTSKY, 1999)

Assim, “a psicologia dialética não confunde os processos psíquicos com os

fisiológicos e vice-versa, mas os integra em um processo mais amplo, de natureza

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psicofisiológica, que Vygotsky denominou de psicológico” (VYGOTSKY, 1999, p.

416).

Dessa forma, o estudo dos processos psicológicos (essencialmente humanos)

nos leva a uma investigação que tem como intuito compreender como os processos

naturais entrelaçam-se aos culturais, saindo, para tanto, do organismo em busca das

fontes suficientemente humanas da atividade psicológica, ou seja, a sociedade e a

cultura contextualizadas historicamente. E é exatamente em função destas

peculiaridades que a teoria vygotskiana tem caráter histórico-cultural ou

sociocultural, porque envolve e contextualiza a supremacia do componente

sociocultural sobre o biológico-natural (fisiológico), já que as fontes do

desenvolvimento psicológico não se encontram no indivíduo, mas principalmente no

sistema de comunicação e de relações sociais que ele estabelece com outras

pessoas. Isto nos indica que este desenvolvimento é determinado pela evolução

cultural da sociedade ao longo da história humana, integrando dialeticamente à

história do indivíduo e à história da humanidade.

3.3.4 Atividade mediada

Desta forma, no sistema vygotskiano, a noção de funções psicológicas

superiores está intimamente ligada à de atividade mediada, considerada por ele

como aquela que é específica do ser-numano, por envolver a possibilidade de

mediação através de instrumentos dados culturalmente e é vista mais como conjunto

de ações culturalmente significativas do que em termos de reações biológicas.

Apesar de a teoria vygotskiana trabalhar, em termos de mediação, com os

instrumentos materiais (ferramentas), são os instrumentos psicológicos (signos e

símbolos), os que mais enfatizam na busca de uma explicação semiótica do

comportamento humano.

Neste sentido, para Vygotsky, os signos representam um vínculo

intermediário, artificialmente construído no intercâmbio cultural entre a realidade e a

atividade do indivíduo frente àquela. Dessa forma, eles não só alteram a maneira de

o indivíduo conceber a realidade, mas também a natureza da atividade que executa.

A integração entre estes dois tipos de atividades é que irá proporcionar ao ser

humano ajustar-se ao já existente e criar novas situações envolvendo a criação

artística, científica e técnica. Logo, na perspectiva de Vygotsky, todo ser humano

pode criar em maior ou menor grau, sendo tal criação acompanhamento normal e

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permanente de desenvolvimento. A esta atividade criadora Vygotsky denomina de

imaginação, entendendo-a como a base de toda a produção cultural da humanidade

(OLIVEIRA, 1999).

No intuito de uma melhor compreensão da constituição desta atividade

criadora Vygotsky coloca-a na dinâmica interdependência de dois mecanismos

básicos. O primeiro consistindo na possibilidade de extrair traços isolados de um

conjunto complexo de impressões, envolve a dissociação. O segundo,

compreendendo a união de traços isolados em um novo conjunto, implica

associação. Ambos os mecanismos estão em permanente integração, sendo esta

que permite a produção de conhecimentos.

3.3.5 A ZDP e a teoria de Vygotsky

A concepção supra apresentada só poderá ser entendida na íntegra se

levarmos em conta a noção de zona de desenvolvimento proximal23, elaborada por

Vygotsky. Esta compreende a integração da dimensão atual e o potencial do

desenvolvimento humano, implicando que a marcha do mesmo envolva não só as

possibilidades presentes já conquistadas, mas fundamentalmente aquelas que estão

em andamento e que, pela mediação contextualizada nas relações interpessoais

venham a se concretizar (OLIVEIRA, 1997).

A compreensão do dinamismo da zona de desenvolvimento proximal centra-

se na idéia vygotskiana de incorporar (apropriação) a produção cultural por meio da

mediação de instrumentos, principalmente semióticos, em um processo de

interiorização que vai do social ao individual.

3.4 A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud

Gerard Vergnaud, em sua Teoria dos Campos Conceituais, nos traz

contribuições no contexto da reflexão sobre aprendizagem e desenvolvimento, com

conexões evidentes com as ideias de Piaget e Vygotsky, que são acrescentadas

com contribuição específica e original, o que este autor denomina “Teoria da

Referência”. O que a Teoria da Referência propõe é a conexão necessária dos

23 A zona de desenvolvimento proximal é um conceito que esclarece como as diferentes formas de compreenção

da experiência de mundo interferem na relação entre duas ou mais pessoas. Dois adultos, por exemplo, caem na zona de desenvolvimento proximal quando se percebem incapazes de reconhecer os sentidos que cada um atribui a um objeto qualquer, seja uma palavra, seja um objeto da realidade concreta.

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conceitos a um domínio epistemológico específico, no caso da proposta do nosso

trabalho, o matemático (TORRES, apud VERGNAUD, 2010).

Apesar de suas notáveis diferenças, Piaget e Vygotsky têm em comum a

abordagem do desenvolvimento conceitual. As principais contribuições advindas da

teoria de Piaget são os conceitos de esquema e invariantes operatórios. Estes

organizariam a atividade, a representação e percepção e, também, o

desenvolvimento das competências e concepções acerca de um objeto no curso da

experiência. O conceito de esquema se presta, portanto, à análise da estrutura da

atividade (TORRES, apud VERGNAUD, 2010).

Apesar das semelhanças com a Teoria de Vygotsky, considerado o “teórico

da atividade” (OLIVEIRA, 1997), Vergnaud afirma que “em Vygotsky, não se

encontra o equivalente aos conceitos de esquema e invariante operatório com a

precisão com que foram estabelecidos por Piaget” (Vergnaud, 2001). De Vygotsky, a

teoria toma emprestado o conceito de mediação, em dois sentidos, por intermédio

dos sistemas simbólicos, dentro dos quais está incluída a linguagem, e a mediação

do professor, derivada do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal

(Vergnaud, 1990), ambas também utilizadas no processo de desenvolvimento desse

trabalho.

A Teoria dos Campos Conceituais tenta explicar o desenvolvimento dos

processos de conceitualização, partindo do princípio que a maior parte dos nossos

conhecimentos são formados por competências (informações e habilidades) que

estão disponíveis sob a forma de esquemas (Vergnaud, 1990).

3.4.1 Classes de situações

Para Verganud (1990), existem dois tipos de situações (ou problemas) que,

quando assumem algum significado para o aprendiz, podem gerar dois tipos de

processos diferentes para a sua resolução:

• primeira classe de situações: o sujeito já possui em seu repertório de

competências, os procedimentos adequados ao tratamento da situação.

Trata-se mais de uma relação de filiação aos conhecimento pré-existentes.

• segunda classe de situações: o sujeito não dispõe de todas as

competências requeridas para o tratamento da situação. Há uma ruptura do

conhecimento e um momento de descoberta e, em alguns casos, de invenção

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do novo. Para a resolução da nova situação ou problema (considerada como

nova pelo aprendiz) são necessárias reflexão e exploração, que podem

conduzir ao sucesso ou ao fracasso.

No caso 1, os esquemas já disponíveis, isto é, “a organização invariante do

comportamento para uma classe de situações dada” (VERGANUD, 1990; p. 136)

seriam aplicados quase que automaticamente. Já no caso 2, o que ocorre é a

utilização sucessiva de vários esquemas cuja aplicação pareça pertinente à situação

encontrada, por analogia ou semelhança; que seriam acomodados, descombinados

e recombinados (VERGNAUD, 1990). Em muitos domínios, a emergência de novos

conceitos e a mudança de seu status cognitivo consiste na explicitação dos

conceitos subjacentes à ação (eficaz), ou seja, fundamenta-se na mudança de ponto

de vista sobre os objetos, sobre as propriedades, as relações entre os objetos

(VERGNAUD, 1990). Se as competências-em-ação são uma resposta aos desafios

colocados pelas situações (problemas) que enfrentamos, quanto maior for a

variedade de situações encontradas e/ou propostas, maiores serão as chances de

desenvolvimento de conceitos mais gerais e cada vez mais complexos, constituindo-

se em sistemas conceituais. O conceito, assim concebido na sua relação com os

demais conceitos, amplifica os limites de sua validade e a generalização dos

teoremas implícitos na ação a várias outras situações possíveis. Por outro lado,

situações novas, impossíveis de serem resolvidas com o repertório de esquemas já

existente, conduzem à criação de novos modelos ou maneiras de interpretar a

experiência. O desenvolvimento ou amplificação das competências já existentes

envolvem a construção de novos objetos, a proposição de novas relações e a

construção de novas categorias (TORRES, apud VERGNAUD, 2010).

A mudança conceitual seria decorrente, portanto, da explicitação das

competências, de seus invariantes operatórios, por intermédio de sua expressão,

discussão e integração em sistemas explicativos coerentes. Esta explicitação se dá

através da linguagem, seja ela oral, pictórica, gráfica ou corporal. Entretanto, os

saberes práticos, mesmo quando explicitados, muitas vezes não revelam todos os

conceitos e sistemas conceituais envolvidos, são, como sugere Vergnaud (1990),

apenas a “ponta visível do iceberg” da conceitualização.

As dificuldades relativas à explicitação das competências-em-ação são de

diversas ordens. Caberia ao pesquisador e/ou ao professor a análise da atividade e

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de sua estrutura, incluindo uma grande diversidade de esquemas. Os teoremas-em-

ação se tornariam, assim, explícitos, a partir da perspectiva de um “outro”, das

inferências de um observador externo. Por outro lado, esta análise implica em

considerar que significado ou significados, os esquemas e as situações adquirem

para os sujeitos. O(s) significado(s) do que os sujeitos fazem e dizem, refletem não

apenas seus pensamentos, mas, também, suas intenções e valores (TORRES,

2010).

Vergnaud sugere não haver, necessariamente, uma hierarquia de

competências. Compreendemos, assim, que em diversas situações que dão sentido

a um determinado conceito (um dos elementos essenciais do tripleto que embasa

sua teoria), um conceito de ordem mais simples ou concreto poderia ser aplicado de

modo mais eficaz na solução de determinado problema do que um conceito mais

complexo e abstrato, dependendo do tipo de situação encontrada. Consideramos,

portanto, que é mais importante ter um repertório de soluções que uma única forma

de resolver problemas, por mais refinada que seja. Isto requer da parte do indivíduo,

não somente a posse de um conjunto de competências, mas a capacidade de utilizá-

las adequadamente.

As competências, no entanto, não podem se reduzir aos invariantes

operatórios. Elas dependem da aprendizagem, ou seja, são adquiridas e

transmitidas, e do desenvolvimento, porque permitem a ampliação das capacidades

de ação e compreensão, isto é, “... entre estes dois processos as relações são

dialéticas: as representações precedem e permitem a formação dos conceitos, mas,

por outro lado, os conceitos, uma vez formados, permitem uma generalização e uma

estabilização das representações” (PASTRÉ, 1994, p. 39). Além disso, é importante

se ter em conta que, ao longo do processo de conceitualização, um mesmo conceito

pode manifestar diferentes propriedades, como resultado de conquistas conceituais

que se devem tanto à aprendizagem quanto ao desenvolvimento.

Uma reflexão que se faz necessária refere-se a questão de estabelecer até

que ponto um maior nível de compreensão se traduz imediatamente em ações

coerentes. Consideramos que esta evolução não seja simultânea ou linear. O

processo de conceitualização nos parece muito mais marcado por avanços e recuos,

e a abstração e generalização não parecem se conduzir de maneira uniforme para

qualquer classe de situações consideradas similares, ou mesmo dentro de uma

mesma classe de situações (MOREIRA, 1996).

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Os esquemas apóiam-se sobre uma conceitualização cujo grau de

explicitação é variável, entretanto, contêm uma parte de automatismo e outra de

controle (VERGNAUD, 1990). Encontramos paralelo nesta teoria, entre os conceitos

espontâneos de Vygotsky e os teoremas-em-ação, que são competências implícitas;

e os conceitos científicos do mesmo autor, que são os conhecimentos explícitos.

Estes conhecimentos contidos os esquemas são designados invariantes

operacionais.

3.4.2 Ponto de ruptura

Aqui, encontra-se um ponto de ruptura com a teoria de Vygotsky, pois, para

Vergnaud (1990), os teoremas-em-ação e os conceitos-em-ação se constróem em

estreita interação e há sempre uma certa conceitualização envolvida na ação. Não

se trata, portanto, de dois caminhos distintos que se intercruzam em um dado

momento. Vergnaud (1990), diferentemente de Vygotsky, considera que mesmo os

teoremas-em-ação podem formar sistemas conceituais, ainda que os mesmos sejam

implícitos. Não há teoremas sem conceitos ou conceitos sem teoremas

(VERGNAUD, 1997). Além disso, Vergnaud (2000) considera que todos os

conhecimentos são locais, ou seja, não só os conceitos cotidianos, mas também os

científicos se desenvolvem sempre sob condições restritivas.

Na Teoria dos Campos Conceituais a linguagem assume as importantes

funções de comunicação, de representação, e de auxílio ao pensamento e de

organização da ação. É justamente quando as ações ainda não foram

automatizadas e, assim, interiorizadas, que a linguagem como acompanhamento da

ação favorece o cumprimento da tarefa e a resolução do problema. Ela parece

facilitar a descoberta das relações pertinentes, a organização temporal da ação e o

seu controle. Mais que isso, a linguagem também permite que os conceitos que são

instrumentos do pensamento, sejam transformados em conceitos objeto do

pensamento (VERGNAUD, 1990). Isto se dá por meio do uso repetido dos conceitos

instrumento, da familiaridade com os mesmos e da consciência de seu papel no

raciocínio. Em suma, “a substancialização e a simbolização desempenham um

importante papel na transformação dos conceitos ferramenta em conceitos objeto”

(VERGNAUD, 1997, p. 27).

3.4.2.1 As competências do aprendiz

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Para Vergnaud, a competência do aprendiz pode, portanto, ser definida a

partir dos seguintes critérios:

• o que ele é capaz de fazer face a uma classe ou conjunto de classes de

situações;

• sua capacidade de obter desempenhos melhores, a partir da utilização de

procedimentos mais eficazes, mais rápidos e mais econômicos.

• se ele possui um leque de opções no que se refere a procedimentos ou

métodos alternativos que lhe permitem uma adaptação mais refinada frente

às diversas situações que enfrenta, em função da avaliação das diferentes

variáveis das situações (TORRES, apud VERGNAUD).

Resumindo, a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud supõe que o

centro do desenvolvimento cognitivo é a conceitualização. Sendo assim, ao

consolidar de forma eficaz os conceitos estamos consolidando também de forma

eficaz o conhecimento referente ao mesmo. Esta teoria é uma teoria psicológica do

processo de conceitualização do real que permite localizar e estudar continuidades

e/ou rupturas entre conhecimentos do ponto de vista de seu conteúdo conceitual

(GRECA; MOREIRA, 2003).

3.4.2.2 A teoria de Vergnaud e o Cálculo

Baseando-nos no exposto acima, é possível citar o caso específico do

trabalho com o Cálculo Diferencial, que particularmente interessa a construção

desse trabalho, principalmente em cursos de graduação não voltados à formação de

matemáticos (tais como: Administração e suas habilitações/ênfases, Contabilidade,

Economia, Sistemas de Informação etc), onde o conjunto formal de problemas

elucidados com estes conceitos necessitam de legitimidade para serem efetivamente

consolidados.

A Teoria dos Campos Conceituais, que é uma teoria “cognitivista

neopiagetiana” e que tem uma forte contribuição dos trabalhos de Vygotsky24, além

de pretender oferecer um referencial mais frutífero do que o piagetiano ao estudo do

desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem de competências complexas,

24 Lev Semenovich Vygotsky afirma que o sujeito necessita da presença de outros sujeitos para avançar no

processo de aprendizagem.

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particularmente aquelas implicadas nas ciências e na técnica, levando em conta os

próprios conteúdos do conhecimento e a análise conceitual de seu domínio (Moreira,

1996), pode vir a ser utilizada como modelo e/ou estratégia de trabalho no ensino da

matemática, em particular da administração dos conteúdos supracitados, devido à

grande possibilidade do seu uso em sala de aula de forma interativa diretamente

com os sujeitos (discentes - alunos).

A contrução dos invariantes operatórios associados ao Cálculo, dependem,

como em todo campo conceitual, do conjunto de situações estabelecidas e

incorporadas às aulas, mas que dão sentido aos conceitos estudados (tais como

funções, as derivadas e os limites). E enquanto as representações sejam “aliadas”

neste processo, quando se trata de matemática, a própria notação é, por vezes,

também a vilã dos processos cognitivos. A linguagem matemática depende de uma

hermenêutica textual, mas também pictórica e de “neologismos simbólicos” que

costumam causar impactos nos alunos.

Ao mudar o enfoque na explicação, o professor deverá ter percebido quais

pontos de rupturas entre o processo de aprendizagem e os de “inércia cognitiva”

estão envolvidos no processo. A solução na mudança do enfoque pode ser dada

pela utilização de um software, ao contar a história que permeia os conceitos

estudados etc, mas, muitas vezes, uma nova maneira de explicar o mesmo assunto

pode solucionar a aquestão da “inércia”. Tratamos com mais detalhe posteriomente.

Isto se justifica pelo fato de que, para Vergnaud, um conceito torna-se significativo

para o aprendiz, por meio de uma variedade de situações e os diversos aspectos

desse mesmo conceito que estão envolvidos nas diferentes situações. Além disso,

como veremos adiante, uma situação não pode ser analisada sob a ótica de um só

conceito, vários deles tornam-se necessários.

3.4.3 Campo conceitual e o conjunto de situações

Vergnaud atribui grande importância aos conceitos, no entanto, considera-os

como uma segunda entrada de um campo conceitual, sendo a primeira formada

pelas situações ou experiências anteriores e a compreensão das mesmas nas

chamadas situações que podem ou não levar-se aos conceitos (VERGNAUD, 1993)

Outra concepção de campo conceitual atribuída por Verganud, citado por

Moreira (1996) é a de um conjunto de situações:

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• Campo conceitual é um conjunto de problemas e situações cujo tratamento

necessita conceitos, procedimentos e representações de tipos distintos,

porém estreitamente interconectados;

• Campo conceitual é um conjunto de situações cuja abordagem requer o

domínio de vários conceitos de naturezas diferentes.

• Campo conceitual pode ser considerado em primeiro lugar como um conjunto

de situações (MOREIRA, 1996).

Vergnaud esclarece que o significado de situação em sua teoria está limitado

ao sentido que esse conceito tem habitualmente em psicologia, ou seja, os

processos cognitivos e respostas do sujeito são função das situações com as quais

se defronta.

Para ele, são as situações que dão sentido aos conceitos, mas o sentido não

está nas situações em si e sim no isomorfismo estabelecido entre as situações e os

próprios conceitos.

Um conceito torna-se significativo para o sujeito por meio de uma variedade

de situações e diferentes aspectos de um mesmo conceito estão envolvidos em

distintas situações. Ao mesmo tempo, uma situação não pode ser analisada sob a

ótica de um só conceito, vários deles são necessários.

E esta é a razão pela qual se deve estudar campos conceituais, não situações

isoladas ou conceitos isolados.

Assim como o sentido dos conceitos não está nas situações em si, ele

também não está nas palavras ou outras representações simbólicas. No entanto,

diz-se que uma palavra, um símbolo matemático, um enunciado tem ou não tem

sentido para um indivíduo, ou que tem vários sentidos.

Diz-se também que uma situação tem ou não tem sentido. Acredita-se que

cabe ao facilitador (docente), quando detectar e/ou provocar o aparecimento da

zona de desenvolvimento proximal, estabeler as situações corretas e os sentidos

corretos para que sejam solidificados os conceitos corretamente.

3.4.4 Campo conceitual e a proposta para o cálculo

Para estabeler uma relação mais estreita entre o que foi posto e o que

devemos fazer, precisamos responder ao questionamento: afinal, o que é, então, o

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sentido para Vergnaud? Sentido é uma relação do sujeito (discente) com as

situações e com os significantes. Mais precisamente, são os esquemas25 evocados

no sujeito por uma situação ou por um significante que constituem o sentido dessa

situação ou desse significante para esse sujeito. Por exemplo, o sentido de

diferenciação para um determinado sujeito (discente) é o conjunto de esquemas que

ele pode utilizar para lidar com situações com as quais se depara e que implicam a

ideia de diferenciação. É também o conjunto de esquemas que ele pode usar para

operar com símbolos numéricos, algébricos, gráficos e lingüísticos que representam

a diferenciação. Mas o professor deve estar atento aos invariantes específicos da

teoria em si.

Acredita-se também que se isto for posto mecanicamente, o sujeito (discente)

não irá estabelecer esquemas corretos durante a sua vida profissional e desta forma,

absorvendo o conhecimento de maneira mecânica, estará fadado a não utilizá-lo

quando vier a se deparar com outras situações que exigiriam o mesmo

raciocínio/comportamento, passando, assim, a limitar-se com relação a todos os

conhecimentos/informações associados à este esquema. Por exemplo, em um curso

de Engenharia, o aluno deverá estabelecer conexões pertinentes entre conteúdos

que abranjam o conceito de diferenciação em diversos momentos de sua vida

acadêmica. Ele estudará os conceitos iniciais e sua definição em Cálculo I (ou outra

disciplina com ementa correspondente), mas usará em disciplinas mais avançadas

de Cálculo, ao estudar as derivas parciais, as derivadas direcionais (gradiente,

divergente e rotacional), em Mecânica e muitas outras. Se ele não construiu um

esquema coerente com o que se espera de uma construção consolidada dos

domínios desse campo conceitual, poderá estar fadado a permenecer com as

rupturas conceituais pelo resto de sua vida.

Contudo, uma dada situação ou um simbolismo particular não evocam no

indivíduo todos os esquemas disponíveis. É necessário novas técnicas para

implantar tal situação. O sentido de uma situação particular de diferenciação, como

exemplificado anteriormente, não é, portanto, o sentido de diferenciação (a coisa em

si), da mesma forma que não o é um símbolo particular (y’, dy/dx, ou Dy etc)

quando este está desprovido de significado para este sujeito (discente).

25 Vergnaud define esquema como sendo uma organização invariante da conduta para uma determinada classe

de situações. Não é o comportamento que é invariante, mas sim a organização do comportamento. Portanto, um esquema é um universal eficiente para todo um espectro de situações e pode gerar diferentes seqüências

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Por esta razão, cabe ao docente o papel de direcionar e acompanhar o

desenvolvimento estrutural da construção do conceito pelo aluno. Ao verificar que os

invariantes operatórios, por meio de situações e representações que dêem sentido

ao conceito, portanto, dêem sentido à construção cognitiva do I.O., foram contruídos

eficazmente, ele pode continuar direcionando o aluno no mesmo caminho e, em

caso contrário, direcioná-lo para que o mesmo supere esta ruptura ou saia da ZDP

para aquisição de um novo esquema que condiz coerentemente com o esperado.

Se o aluno construiu um campo conceitual particular referente aos limites, as

derivadas e as funções, de forma que seus invariantes permeiem os sentidos exatos

(aproximação, taxa de variação e correspondência, respectivamente), então a

estrutura de direcionamento das aulas pode permanecer. Caso contrário, o professor

deve intervir para linearizar as rupturas existentes na formação dos conceitos.

3.5 Os Ingredientes de um esquema e o papel do Professor

Para solidificar este conceito, estão descritos abaixo os ingredientes de um

esquema.

São eles:

• objetivos e antecipações (proatividade associada);

• regras de ação do tipo "se... então" que permitem gerar a seqüência de ações

do sujeito; são regras de busca e controle da informação;

• invariantes operatórios ("teoremas-em-ato26" e "conceitos-em-ato") que

dirigem o reconhecimento, de parte do sujeito, dos elementos pertinentes à

situação e a categoria da informação sobre tal situação;

• possibilidades de inferência (ou raciocínios inferências) que permitem

"calcular" as regras e antecipações a partir das informações e invariantes

operatórios de que dispõe o sujeito (discente).

Destes ingredientes, os invariantes operatórios, cujas categorias principais

são “teoremas-em-ato” e “conceitos-em-ato”, constituem a base conceitual implícita,

de ações, procedimentos de coleta e controle de informações, dependendo das características de cada situação em particular.

26 O ato contém os objetos da intencionalidade. O ato da consciência coloca o indivíduo diante do objeto em busca de sua identidade ou identificação. Assim um “teorema-em-ato” é uma proposição considerada como verdadeira sobre o real; um “conceito-em-ato” é uma categoria de pensamento considerada como pertinente. Por outro lado, “conceitos-em-ato “teoremas-em-ato” podem, progressivamente, tornarem-se verdadeiros conceitos e teoremas científicos.

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ou explícita, que permite obter a informação pertinente e, a partir dela e dos

objetivos a alcançar, inferir as regras de ação mais pertinentes.

Embora a teoria de Vergnaud não seja uma teoria didática, ela seguramente

tem implicações didáticas fortes. A principal delas é o papel

mediador/facilitador/apresentador/fomentador etc do docente. Sua parte consiste

principalmente em ajudar os alunos a desenvolver seus repertórios de esquemas.

Neste trabalho pretende-se criar/estabeler um roteiro de ajuda condizente

com a eficiência e eficácia do ensino do Cálculo Diferencial, incluindo um roteiro em

forma de fluxograma que tenta recriar os passos na construção de um campo

conceitual, ou, pelo menos, de detecção sobre o processo de esquematização do

mesmo.

Acreditamos que desenvolvendo seus esquemas, os sujeitos

(discentes/estudantes) tornam-se mais hábeis para enfrentar situações cada vez

mais complexas (geralmente tarefas e problemas).

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Ilustração 4 Comparativo das Teorias Fonte: Elaboração da própria autora

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3.6 Um campo conceitual para o cálculo diferencial

Com o exposto, baseando-se nas obras citadas sobre a Teoria dos Campos

Conceituais e considerando-se que no cotidiano, os estudantes conseguem resolver

situações utilizando estratégias na maioria das vezes diferentes das exigidas pelos

professores na escola, chegando, quase sempre na resposta esperada. Verifica-se

que estas situações, geralmente são envolvidas por diferentes conceitos. No caso do

cálculo diferencial percebe-se que nem sempre os problemas são absorvidos, ou

resolvidos, de forma independente pelos estudantes, pois, neste caso, nem sempre

existe o conjunto de situações cujo domínio seja entendido por completo por estes

estudantes.

3.6.1 Campos conceituais para entendimento do cálculo diferencial

Considerando-se que um campo conceitual é o conjunto de situações, cuja

compreensão necessita do domínio de vários conceitos de naturezas diferentes,

bem como de seus invariantes e por um conjunto de representações simbólicas

destes, verifica-se que o desenvolvimento de um campo conceitual requer que o

pesquisador verifique que um conceito como sendo formado por uma terna de três

conjuntos (S, I, R), onde S é um conjunto de situações que tornam o conceito

significativo; I é um conjunto de invariantes (objeto, propriedades e relações) que

podem ser reconhecidas e usadas pelo sujeito para analisar e dominar essas

situações e R é um conjunto de representações simbólicas que pode ser usado para

pontuar e representar as situações e os procedimentos para lidar com eles.

Por exemplo, no campo conceitual das estruturas para entendimento do

cálculo diferencial, incluindo situações que podem ser analisadas como problemas

de proporções simples e múltiplas ou até de taxas de variações de uma determinada

grandeza sobre outra, é, muitas vezes, necessário uma multiplicação, uma divisão

ou uma combinação dessas operações de forma coerente com a variação da taxa

em questão, e, nem sempre o aluno tem o real entendimento deste processo. Isto

pode ser elucidado de acordo com a ilustração 5:

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Ilustração 5: Campo conceitual para o cálculo diferencial Fonte: Elaboração da própria autora

Nos conceitos abordados na teoria dos campos conceituais identifica-se,

segundo Vergnaud apud Moreira (1996), o que chama-se de tripleto de três

conjuntos, C = (S, I, R) onde: S é um conjunto de situações que dão sentido ao

conceito; I é um conjunto de invariantes (objetos, propriedades e relações) sobre os

quais repousa a operacionalidade do conceito, ou o conjunto de invariantes

operatórios associados ao conceito, ou o conjunto de invariantes que podem ser

reconhecidos e usados pelos sujeitos para analisar e dominar as situações do

primeiro conjunto e R é um conjunto de representações simbólicas (linguagem

natural, gráficos e diagramas, sentenças formais etc) que podem ser usadas para

indicar e representar esses invariantes e, consequentemente, representar as

situações e os procedimentos para lidar com elas.

No caso do cálculo diferencial, o conjunto S, que é o conjunto de situações

que dão sentido aos conceitos, não são, necessariamente, não tem todas as

situações vivenciadas pelos alunos dos cursos superiores em estudo, e nesta

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proposta em análise, sugere-se que os docentes encaminhem estas situações aos

alunos através de experimentos/exercícios que proporcionem vivenciá-las.

Neste cenário, explicita-se o uso de um conjunto de invariantes, I, que no

caso do Cálculo, pode ser elucidado como um conjunto de propriedades e relações

expostas em sala de aula pelo docente de forma expositiva aos discentes no sentido

de propiciar, nos mesmos, as informações associadas aos objetos às propiedades e

relações inerentes ao estudo desta disciplina, conforme elucidado no experimento

que fornece lastro às hipóteses deste trabalho.

Neste cenário também explicita-se o uso de representações, R, que

conduzam a estes conceitos, como veremos a seguir, com o experimento proposto

ao final do trabalho, onde situações, com representações diferenciadas, conduzem o

discente a situações que demandam do conhecimento dos conceitos do cálculo

diferencial e com algumas representações sobre os mesmos.

3.6.1 Análise das tarefas, a conduta e os campos conceituais híbridos

De acordo com a Teoria dos Campos Conceituais, é a análise das tarefas

matemáticas e o estudo da conduta do aluno, quando confrontado com essas

tarefas, que nos permitem analisar a sua competência. No caso do Cálculo

Diferencial, a conduta do aluno pode ser analisada segundo três aspectos, a citar:

• análise de acerto e erro, que pelo viés da taxonomia SOLO, considera

competente não somente aquele que acerta, pois o acerto é subjetivo, como

é, também, o entendimento e a forma de explressá-lo;

• análise do tipo de estratégia utilizada, podendo alguém ser mais competente

que outro não somente porque acertou a questão, mas porque sua resolução

foi mais rápida ou mais refinada;

• análise da capacidade de escolher o melhor método para resolver um

problema dentro de uma situação particular.

Vergnaud (1982) destaca a existência de dois grandes campos conceituais os

quais o conhecimento matemático encontra-se organizado: o das estruturas aditivas

e o das estruturas multiplicativas. Segundo ele, as estruturas aditivas são/formam o

conjunto de situações que implicam em uma ou diversas adições e/ou subtrações e

o conjunto dos conceitos e teoremas que permitem analisar tais situações como

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tarefas matemáticas, enquanto que o campo conceitual das estruturas multiplicativas

abrange os conceitos de multiplicação e divisão, além do conjunto de conceitos e

teoremas que permitem estudar essas situações, tais como: função, quociente e

produto de dimensões, proporção, relação, combinação linear, fração, número

racional, múltiplo, divisor, entre outros.

No caso do Cálculo Diferencial (CD) verifica-se o uso dos dois tipos de

estruturas, ou seja, trata-se de um campo conceitual híbrido que envolve as

estruturas aditivas e multiplicativas de forma concomitante, além de outras

intrínsecas ao próprio campo conceitual do CD. Isso significa que os campos

conceituais não são separados uns dos outros, corroborando o que já afirma

Vergnaud. Eles contêm interseções, rupturas e linearidades entre si, entre seus

conceitos e nas suas organizações e dimensões, embora, cada um, com suas

respectivas situações que dêem a eles sentido, suas representações e seus

invariantes, alguns específicos e outros compartilhados.

As estruturas aditivas têm sua formação já na infância. No que tange as

estruturas multiplicativas (mesmo sendo de natureza mais complexa), a divisão está

presente desde cedo em inúmeras atividades do cotidiano infantil, tais como dividir

objetos com os colegas, a divisão entre quantidades (sejam elas discretas ou

contínuas) em partes iguais, bem como o fato de colocar uma mesma quantidade de

objetos em recipientes diferentes. De meneira geral, mesmo antes de entrar na

escola, os pequenos demonstram um conhecimento (mesmo que informal) sobre

vários conceitos matemáticos, que, no futuro, dará origem ao conceito de fração e

operações análogas à mesma (VERGNAUD, 1993).

Segundo Vergnaud (1982), a divisão envolve regras operatórias complexas,

tais como a multiplicação, a subtração, utilização de sucessivas divisões, a procura

por um quociente envolvendo resto, podendo ter como resultado um número

fracionário, requerendo que se estabeleçam diversas relações, tais quais: considerar

o todo, o número de partes, o tamanho dessas partes (que deve ser o mesmo); a

relação direta entre o total de elementos e o tamanho das partes; a relação inversa

entre o tamanho das partes e o número de partes, entre outros.

3.6.2 Conceitos ocultos

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Deve-se considerar também que no caso do Cálculo, muitos conceitos

distintos estão ocultos, e precisam, no momento da resolução, ser identificados para

um melhor entendimento, em especial, o conceito de taxa de variação de uma

grandeza em função de outra e o comportamento desta taxa de forma numérica e

gráfica.

Assim, de uma forma geral, este trabalho também é uma proposta de campo

conceitual para o ensino do Cálculo Diferencial nos cursos superiores não voltados à

formação de matemáticos.

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4 O ENSINO DO CÁLCULO E A PSICOLOGIA COGNITIVA

No capítulo anterior foi apresentada a fundamentação teórica do trabalho.

Este capítulo apresenta uma análise das atuais práticas docentes no universo de

atuação da pesquisa, e tenta estabelecer, dentro das mesmas, elementos de

contribuição para a criação de novos esquemas, sob a visão da pesquisadora.

4.1 Percepções sobre as práticas tradicionais

A experiência no magistério do 3º Grau e o convívio com alunos e professores

propiciam referenciais significativos para uma análise reflexiva de como os docentes

vêm atuando em sua prática pedagógica em sala de aula, em particular no que

concerne às disciplinas de matemática em cursos superiores não voltados à

formação de matemáticos.

A primeira impressão que se tem ao percorrer os corredores das

faculdades/universidades, salvaguardando as exceções, é de que o paradigma

tradicional de ensino nunca abandonou a sala de aula. Observa-se o professor

expondo o conteúdo e os alunos em silêncio copiando as receitas e os modelos

propostos, sem nenhum tipo de questionamento e/ou construção associados. Em

alguns casos, com alguma habilidade, os alunos conseguem fazer questionamentos

sobre os conteúdos, mas nem sempre encontram respostas que estabeleçam um

resultado significativo para sua formação, ou até mesmo que permitam a construção

encadeada de conhecimento sobre aquilo que de fato perguntaram.

Em disciplinas de caráter matemático, percebe-se o medo incorporado em

alunos e alguns professores. Os alunos, pela reprovação em si e tudo o que ela

carrega, inclusive os estigmas. Os professores, por sua vez, temem uma

interpelação de suas ações por parte de órgãos/setores ou pessoas cuja atribuição

lhes permita esta atitude.

Cada vez mais temos currículos com mais conteúdos em menor tempo, isto é,

as disciplinas têm suas cargas horárias reduzidas, mas o programa ampliado, o que

incorre em perda de qualidade no ensino e, portanto, na aprendizagem.

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Embora, dentro deste cenário, haja perda na qualidade do ensino e da

aprendizagem, também são crescentes as investigações sobre temas como a

psicologia cognitiva, o processo de cognição, teorias de aprendizagem e suas

aplicações, entre outros. Em Educação Matemática o cenário não é diferente.

Cresce o número de IES com especializações, mestrados e doutorados na área e

linhas de pesquisa voltadas para temas sobre a aprendizagem e as diversas formas

de ensinar e aprender.

No que se refere à psicologia cognitiva e a educação matemática, as ideias

de Piaget e Vygotsky são amplamente respeitadas até hoje. Segundo Fávero (1993),

referindo-se às relações entre ensino de matemática e a psicologia cognitiva:

“De um modo geral, podemos dizer que o que tem caracterizado esta relação, nos últimos 20 anos, é o esforço comum na análise experimental e teórica dos problemas relativos à relação entre o conteúdo específico da Matemática e a cognição humana. Resultado disto é o fato de hoje nos referirmos a uma "Psicologia do desenvolvimento do pensamento matemático " ou a uma "Psicologia da Matemática "”.

O termo construtivismo é, ainda hoje, amplamente utilizado, mesmo por

aqueles que não são construtivistas. Isso decorre da influência que as ideias de

Piaget exercem até hoje:

“As investigações centradas na relação entre o conteúdo especificoda Matemática e a cognição humana têm sido fortemente influenciadas pelos trabalhos de Piaget e, portanto, têm se desenvolvido a partir de concepções consensuais sobre o tipo de conhecimento que está envolvido no desenvolvimento do conceito de número. (...) A concepção predominante, portanto, das pesquisas de base piagetianaé a existência de uma progressão inevitável em direção à compreensão dos conceitos aritméticos e matemáticos (...), assumido, portanto, que a Matemática é um produto natural” (FÁVERO, 1993).

4.1.1 A triangulação clássica

As impressões da pesquisadora têm base no que costumamos chamar por

triangulação copie, decore e repita. Esta tem sido marca predominante no meio

acadêmico. Ao serem desafiados por novas metodologias, os alunos reagem, pois

tornam-se inseguros, e o enfrentamento da inovação demanda postura diferenciada

das que sistematicamente vêm acompanhando seu papel dentro do espaço

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universitário. As reações caracterizam-se por uma mistura de desestabilização da

proposta sedimentada e uma falta de motivação para experimentar o novo.

Se o ambiente acadêmico vem aceitando pacificamente as aulas repetitivas

que têm como objetivo a memorização de dados, definições, acontecimentos,

conceitos, enfim, conteúdos ministrados como acabados e absolutos, torna-se um

grande desafio para o docente articular novas propostas de metodologia de trabalho

dentro da sala de aula.

Convém, neste momento, clarificar que uma aula expositiva dialogada não

precisa caracterizar um ato pedagógico tradicional e restrito à memorização. Pode,

ao contrário, ser utilizada para contemplar os momentos iniciais, as amarras do

desenvolvimento do conhecimento e pode, se bem conduzida, produzir

coletivamente (alunos/discentes e professor/docentes) à construção ou reconstrução

do conhecimento. Portanto, o professor que está utilizando a aula expositiva pode

não estar assentando seu trabalho num monólogo restrito ao seu conteúdo, suas

deduções, suas leituras, e não estar encarando os alunos como meros expectadores

passivos do processo educativo.

Sendo assim, sabe-se também que os novos paradigmas educacionais (como

é natural que aconteça) se apresentam de tempos em tempos, renovam-se,

interpenetram-se, negam-se e se entrelaçam, mas, nenhum profissional consegue

se despir de um paradigma e passar para um novo sem carregar consigo o seu

referencial de vida profissional, e em alguns casos, o estigma do paradigma anterior.

Por isso, o paradigma vai se construindo e se adapta às circunstâncias que se

apresentam na realidade que este professor está vivendo.

Os professores que incorporaram a abordagem tecnicista assentada na

racionalidade científica tinham um referencial crítico para optarem por esta

metodologia de trabalho. O docente sabia o que fazer e como fazer, mas não sabia

por que estava fazendo e para quem estava fazendo. Uma análise crítica e criteriosa

precisa acompanhar o docente quando for optar por uma modalidade nova de

trabalho educativo.

4.1.2 A construção de um novo paradigma

Os paradigmas pedagógicos se constroem paralelamente ao crescimento e

desenvolvimento da sociedade. Num processo dialético, ao mesmo tempo em que

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são influenciados pela sociedade, esses paradigmas exercem influência direta sobre

ela. Ao analisar os pressupostos das abordagens que já caracterizaram em

determinada época a prática educativa, encontram-se fatores que afetam

diretamente estas concepções, sejam eles sociais, econômicos ou políticos.

Observa-se que os paradigmas são construídos num contexto muito maior que o

sistema educacional, mas estão ligados diretamente ao tipo de profissional desejado

na sociedade naquele momento histórico.

Cabe, neste momento, indagar sobre os motivos pelos quais um grande

número de professores não se preocupa em articular novas propostas de trabalho

acadêmico. Uns responderiam prontamente que a inovação está condicionada à

motivação e que a “paralisação de/do paradigma” está diretamente relacionada à

desvalorização do professor no meio social e, especialmente, no que tange à baixa

remuneração salarial. Outros responderiam que o professor tem medo de

desestruturar sua metodologia e perder o comando em sala de aula. Alguns se

lançariam a buscar a inovação, se tivessem um suporte pedagógico para discutirem

os enfrentamentos que ocorrem no processo. Se tivessem espaços para discutir com

seus pares os êxitos e as dificuldades que fossem se apresentando no decorrer do

processo, e que encontrassem soluções coletivas assentadas em teorias que

sedimentassem uma ação consciente, crítica e competente em sua atuação.

Essas inferências são inesgotáveis, a fenomenologia que podemos citar

também é, entretanto os professores são criativos para responderem a um novo

enfrentamento metodológico, mas o fato concreto que vem ocorrendo é que o

docente não pode mais optar por um ensino que vise à memorização, repetição e

cópia. Enfim, algo precisa mudar não só devido à demanda da nova sociedade que

se instaura como também devido à incompletude do método tradicional

4.2 Novos Esquemas e os Invariantes Operatórios

É sabido que novos esquemas não podem ser desenvolvidos sem novos

invariantes operatórios (conceitos-em-ato e teoremas-em-ato) adequados.

Paralelamente a isto, sabemos que a linguagem e os símbolos são importantes, sem

dúvida, como indicam os estudos em semiologia e semiótica. Entretanto, os

facilitadores/docentes/professores usam palavras, sentenças, pictogramas, para

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explicar, formular questões, permitindo aos alunos a construção de novos

esquemas.

No entanto, sua função mediadora mais importante é a de prover situações

frutíferas (chamamos de situações frutíferas aquelas que são concomitantemente:

eficazes, eficientes, sinergéticas, multireferencializadas e proativas e que, por tais

razões, produzem resultados) (MOREIRA, 1996). Assim, em que pese o fato de que

as situações referidas na teoria dos campos conceituais não sejam situações

didáticas, a principal ação mediadora do professor é a de prover situações frutíferas

para aumentar o repertório de esquemas dos alunos, isto é, para ajudar em seu

desenvolvimento cognitivo.

O próprio conceito de campo conceitual como conjunto informal e

heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas, conteúdos e

operações de conteúdo - rejeitando visões reducionistas que concentram-se apenas

em operações lógicas gerais, ou em operações puramente lingüísticas, ou na

reprodução social, ou na emergência de estruturas inatas, ou no modelo de

processamento de informação (MOREIRA, 1996) - sinaliza para a necessidade de o

professor ver a aprendizagem do aluno desde a perspectiva da complexidade, da

diversidade, da evolução, muitas vezes lenta, do repertório de esquemas do

aprendiz.

Essa perspectiva implica novas abordagens ao ensino, ao currículo e à

avaliação. Na verdade, como já afirmamos anteriormente, trata-se de uma mudança

efetivamente paradigmática.

4.3 A utilização das teorias e a proposta do trabalho

Isto posto, as Teorias (Piaget, Vigotsky e de Vergnaud), a fenomenologia

citada, as necessidades dos paradigmas antigos e dos novos, as práticas

pedagógicas tradicionais, as incompletudes dos discentes e dos docentes e tendo

considerado as premissas básicas destas teorias supracitadas, verificamos que,

para o professor, a tarefa mais difícil é a de prover oportunidades aos alunos para

que os mesmos desenvolvam seus esquemas e/ou conexões para as suas

respectivas construções na chamada ZDP.

Isto ocorre, particularmente, pelo fato dos mesmos terem, nestes cursos

superiores não voltados à formação de matemáticos, uma forte resistência/bloqueio

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ao trato com a mesma, e também pelo fato de que, quase sempre, os sujeitos

(discentes) não conseguem, principalmente ainda de quando do início dos seus

cursos (devido a pouca maturidade acadêmica27), perceber/aceitar a necessidade do

uso da matemática nas suas respectivas profissões futuras. Se eles não percebem a

importância e as possíveis aplicações dos estudos matemáticos nas suas

respectivas áreas de atuação, cabe ao professor, como um facilitador e orientador,

se dispor a consolidar estratégias e práticas pedagógicas que promovam, nos seus

aprendizes, a cognição dos respectivos conteúdos. Tais estratégias devem estar

baseadas em modelos de ações e comportamentos do sujeito e do facilitador. Pode-

se, inclusive, utilizar-se de uma metodologia de trabalho híbrida28. Optamos por esta

abordagem ao tomar como pano de fundo teórico a teoria de Vergnaud, que por si

só já se utiliza de ferramentais estruturais herdados de Piaget e Vygotsky.

Vigotsky aponta a existência dos níveis de desenvolvimento potencial e real,

além da zona de desenvolvimento proximal, e que devem ser considerados na

prática pedagógica, quiçá utilizado como ferramenta/situação de providencialidade

do processo cognitivo, pois é factível de potencializar-se desde que a ação do

discente e do docente conspire em consonância para tal.

Quando alguém (sujeito - discente) não consegue realizar sozinho

determinada tarefa (ou compreendê-la por completo), mas o faz com a ajuda de

outros parceiros (outro discente e/ou o próprio professor), mais experientes ou não,

está nos revelando o seu nível de desenvolvimento proximal, que já contém

aspectos e partes mais ou menos desenvolvidas de instituições, noções e/ou

conceitos, mas não os tem por completo, e por tal razão, necessita de outro(s)

sujeito(s) (discentes) e/ou facilitador (docente).

Para tornar-se efetivamente factível, o conhecimento do processo que os

aprendizes realizam mentalmente para consolidar a sua aprendizagem, torna-se

fundamental. Acreditarmos que sem conhecer este processo, o professor estará

cada vez mais distante do aprendiz e das suas necessidades de cognição, limitando-

se, visto que com o desempenho correto dos mesmos, o docente nem sempre

27 Não se deve confundir a maturidade acadêmica com a maturidade para com a vida. A primeira não está

relacionada com a faixa etária equanto que a segundo além de ser diretamente proporcional à faixa etária do sujeito (discente) possibilita um aceite muito maior da primeira.

28 Estamos considerando uma metodologia híbrida aquela que é composta de uma miscelânea de estratégias e modelos que quando combinados utilizam as vantagens e/ou diferenciais mais significativos de cada modelo

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poderá correlacionar o sucesso aparente do seu trabalho com uma operação mental

bem realizada pelo aluno, ou realizada com o conceito verdadeiro ou de forma

legítima. Assim, o professor nunca saberá qual dos caminhos foi de fato percorrido e

nem mesmo saberá sobre a legitimidade do(s) mesmo(s).

Na matemática, um exemplo seria o uso de “regras” ou “macetes”, que são,

principalmente nos cursos superiores não voltados à formação de matemáticos,

elementos que levam o discente (sujeito) a proceder corretamente, sem, entretanto,

realizar uma operação mental verdadeira e/ou legítima29.

Desta forma, o acerto pode significar, apenas, uma resposta mecânica e

automática, desconectada da “coisa em si” ou do “conceito real” do objeto

transmitido. No caso específico, os conceitos de diferenciação e integração, por

exemplo, quando consolidados apenas de forma mecânica, não levam o sujeito a

utilizar por completo todas as vantagens interpretativas (numérica, gráfica e

conceitual) destes conceitos, o que implica, de imediato, em limitações nas

multireferencialidades de conteúdos de disciplinas e/ou conteúdos específicos que

necessitassem dos mesmos como pré-requisitos.

Sendo assim, sem a implantação da legitimidade destes conceitos, torna-se

impraticável a multireferencialidade dos conteúdos de disciplinas que os tem como

pré-requisitos para a formação de novos conceitos associados e, desta forma, não

se consolida uma operação cognitiva sólida e verdadeira, tornando o processo

incompleto em toda a base matemática de formação profissional do sujeito.

Daí a importância do professor/facilitador conhecer o processo que os alunos

utilizam para chegar às respostas, ou seja, conhecer o processo pelo qual o sujeito

aprende, e com isto propiciar ao mesmo o aprender a aprender.

Do mesmo modo, conhecendo e/ou investigando esse processo, e intervindo,

provocando, estimulando ou apoiando quando o sujeito demonstra dificuldade num

determinado ponto, torna-se possível trabalhar funções que ainda não estão de todo

pedagógico adotado e que seja ao mesmo tempo eficaz e eficiente no processo de facilitação do docente no trabalho com o conteúdo a ser absorvido pelo discente.

29 Um exemplo imediato é o uso de tabelas para consolidar-se as operações de derivação e/ou integração sem o completo conhecimento demonstrativo das mesmas. Consideramos que um aoperação é legítima quando, inserida na noção de campo conceitual proposta por Vergnaud, utiliza-se dos invariantes operatórios essenciais do campo conceitual em questão, seja a partir de situações que dêem sentido ao conceito, seja pelas representações que estas trazem, ou, mais geralmente, por meio da utilização de ambos, formando o tripleto (S,I,R) de maneira mais bem consolidada.

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consolidadas e/ou despertadas no próprio sujeito, consolidando-se assim, a

facilitação do seu processo de cognição, mesmo sem dominá-lo por completo.

4.4 Uma proposta do uso de um campo conceitual para o cálculo

A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud é descrita como um possível

referencial para o ensino de matemática e para a pesquisa na área de ensino da

mesma.

Sabemos que o objetivo dessa teoria é o de fornecer um referencial que

permita compreender as continuidades e rupturas entre conhecimentos, nos

aprendizes, entendendo-se como conhecimentos tanto o saber fazer como o saber

expresso.

Em outras palavras, a teoria dos campos conceituais de Vergnaud visa a

construção de princípios que permitem uma articulação entre competências e

concepções constituídas em situação, e os problemas práticos e teóricos em que

essas competências e concepções se constituem..." (FRANCHI, 1999).

Segundo Moreira, em 1982, Vergnaud se referia a campo conceitual como:

[...] um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros e provavelmente entrelaçados no processo de aquisição. Por exemplo, os conceitos de multiplicação, divisão, fração, razão, proporção, função linear, número racional, similaridade, espaço vetorial e análise dimensional pertencem todos a um grande campo conceitual que é o das estruturas multiplicativas (MOREIRA, 1996, pg 7).

Vergnaud considera que um conceito é um tripé de três conjuntos:

S: conjunto de situações que dão sentido ao conceito (o referente); I: conjunto de invariantes operatórios associados ao conceito (o

significado); R: conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que

permitem representar simbolicamente o conceito, suas propriedades, as situações as quais ele se aplica e os procedimentos que dele se nutrem (o significante).

Dessas definições decorrem três argumentos principais que levaram

Vergnaud ao conceito de campo conceitual:

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• um conceito não se forma dentro de um único tipo de situação e sim de um

conjunto delas. Para formar um conceito é necessário o isomorfismo e a

indução, além de hermenêuticas de forma e/ou conteúdo entre situações;

• uma situação não se analisa com um único conceito e sim com um conjunto

híbrido de conceitos;

• a construção e apropriação de todas as propriedades de um conceito ou de

todos os aspectos de uma situação é um processo de muito fôlego que se

desenrola ao longo dos anos, às vezes uma dezena de anos, com analogias e

mal-entendidos entre situações, entre concepções, entre procedimentos,

entre significantes. Até que o conceito é por fim estabelecido (MOREIRA,

1996).

4.4.1 A Propositura Tradicional de Vergnaud (Prática Exemplificada)

Quando, por exemplo, um docente explicita o conceito de diferencial

(signicado: I) ao aprendiz, o faz ao menos com a tradicional dedução utilizando o

conceito prévio de limites (significante: R) e também explicitando um exemplo de

aplicabilidade prática (referente: S).

Espera-se, assim, que o discente possa ser capaz de exercer um isomorfismo

entre as diversas situações (reais ou não) apresentadas e, com isto, a indução para

a consolidação do novo conceito. Em geral, uma quantidade excedente de exemplos

para a análise isomorfa permite um melhor entendimento, pois explora, com uma

maior faixa, a interpretação do(s) próprio(s) discente(s), i.e., as possíveis

interpretações conceituais do objeto de estudo. De forma mais clara: com mais

exemplos consegue-se atingir uma faixa maior de discentes no processo de

aprendizagem, pois a “repetição diferenciada” permite uma chance maior de

construção de esquemas por parte do aluno. Ele tem mais chances de construir um

conceito de maneira coerente, à medida que tem acesso a uma variabilidade de

situações e representações. Os significados podem ser construídos à medida que

existe uma relação direta e repetitiva dos significantes e referentes.

O aprendiz tem mais possibilidades de criar um campo conceitual bem

estruturado sobre derivada (taxa de variação) – significado -, quando tem a

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oportunidade de investigar situações que lhe dêem sentido – referente –

consubstanciados pelas representações – significante.

4.4.2 A proposta de ação

De uma forma geral os docentes exercem este procedimento quando têm um

tempo maior para dedicar-se ao processo e quando isto não ocorre utilizam as

práticas criticadas anteriormente, ou seja, optam pelos processos mecânicos.

A proposta inicial desse trabalho sugere que os docentes utilizem este

processo em demasia e com no mínimo a abordagem da historicidade dos

conteúdos para, com isto, minimamente informar aos discentes as origens históricas

do que os mesmos estão por absorver e também aumentar o grau de intimidade

entre os conteúdos e o próprios discentes, fazendo com que os mesmos possam

desmistificar não só as teorias estudadas como também as suas possíveis

aplicabilidades práticas, podendo absorver e construir mais rapidamente os novos

conceitos apresentados.

Foram, para tanto, utlizados estes conceitos e procedimentos, com o

propósito de estabeler pontos de contato entre o que o sujeito (discente) aprende e

como ele aprende para estabelecer a nossa proposta de estratégia de

comportamento/ação do facilitador (docente), objetivando retirar o aluno da zona de

desenvolvimento proximal.

4.4.3 Uso do ferramental teórico associado

Por meio de experiências ou práticas de aprendizagem compartilhadas (com

diversos sujeitos - discentes), está se propondo uma atuação interativa e iterativa

quando o aprendiz estiver na zona de desenvolvimento proximal, de modo que as

funções que ainda não estejam consolidadas venham a florecer e/ou amadurecer

com mais eficácia e eficiência de acordo com o fomento propiciado para tal. Em

especial, o que denominamos de matriz de fomento30 será gerida pelo docente e

poderá, inicialmente, ser construída com as bases históricas do objeto de estudo

(ensino) em questão, com a repetição da explicação por meio de um novo viés, com

a utilização de um software matemático ou até mesmo com a utilização de listas de

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exercícios contruídas com esse intuito. Não obstante, o próprio docente deverá estar

apto a propor, de acordo com os subsunçores detectados previamente dos

discentes, outras matrizes de fomento para os respectivos discentes.

Assim, essa propositura estará disponível ao docente sempre que o mesmo

puder utilizar qualquer um dos elementos supra relacionados, para possibilitar a

criação de organizadores prévios nos discentes, de forma que os mesmos possam

construir novos conceitos utilizando o isomorfismo e a indução associada ao mesmo.

Por outro lado, deve-se verificar o quanto a aprendizagem interativa permite

que o desenvolvimento cognitivo do sujeito (discente) avance ou até mesmo se

consolide, haja visto que a potencialidade instaurada no sujeito e a incompletude do

mesmo, por estar na sua zona de desenvolvimento proximal, de completar por si só

o ciclo de cognição é um fator limitante quando o mesmo está só, mas torna-se um

fator fundamental quando o mesmo pode vir a ser auxiliado pelos seus pares e/ou

por um outro facilitador.

4.4.4 A prática pedagógica proposta

A análise da prática pedagógica foi feita a partir de três dimensões: análise

das aulas da disciplina, análise do material didático e os instrumentos de avaliação

usados pelo Professor e elaborados nesta pesquisa.

Foram utlizados como instrumento de coleta de dados, observações que

foram gravadas e registradas a partir de um guia de observação (Lista de Exercício e

Questionários de Pesquisa, conforme os apêndices), elaborados a partir das

categorias definidas por Vergnaud para descrever o processo de conceitualização

do conhecimento, a saber:

• as situações utilizadas para dar sentido ao conceito;

• as representações simbólicas ou verbais utilizadas na proposição ou

resolução das situações;

• os invariantes operatórios.

30 Estamos denominando “matriz de fomento” o conjunto de estratégias e seus conteúdos que o docente deverá

dispor para, por meio de novas explicações, isomorfismos e indução associada, possibilitar ao aluno construir novos organizadores e, com isto, auxilar o mesmo na sua saída da ZDP.

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Nas análises das listas de exercícios, além do papel tradicional da análise de

erros no sentido de identificar e classificar os erros cometidos pelos alunos e propor

estratégias para eliminá-los, apontamos outras possibilidades: usar os erros como

instrumentos para explorar o funcionamento da mente (Piaget, Vergnaud); aproveitá-

los como elementos fundamentais para o desenvolvimento de uma disciplina;

avançar, partindo dos próprios erros etc.

Desta forma, com relação ao conceito do estudo do próprio erro tem-se as

seguintes considerações a tecer:

• Se o foco de interesse é o conteúdo técnico-matemático do erro e queremos

eliminá-lo, procuramos diagnosticar suas causas, pois ele representa uma

falha no processo;

• Se pretendemos explorá-lo, o erro será considerado um estágio necessário no

processo de aprendizagem, pois pode levar a novas descobertas

matemáticas e/ou à consolidação de novos conceitos.

• Se focalizamos a natureza da Matemática em si, no caso do estudo do

cálculo, a eliminação do erro está ligada ao entendimento da incompreensão

do aluno sobre o conceito apresentado e à retomada do assunto sob novos

enfoques;

• Se pretendemos explorar o erro, esse pode nos levar à reflexão sobre os

limites e características da própria Matemática.

• Se estamos interessados no processo de aprendizagem da Matemática, o

erro pode ser visto como instrumento de identificação dos problemas do

currículo e da metodologia, e, ao resolvê-los, os erros serão eliminados;

• Se, no entanto, queremos explorar o erro, esse pode constituir-se em

instrumento para a compreensão dos processos cognitivos dos alunos.

Enfim, a depender da estratégia a ser adotada, o processo de

ensino/aprendizagem poderá ser consolidado de uma forma mais objetiva ou vir a

ser construído pelo próprio discente com o auxílio/orientação do docente

responsável. Vale ressaltar que estas considerações acerca do erro não descartam

as possíveis abordagens históricas na construção da nossa matriz de fomento. Na

verdade, com esta análise do erro, acrescenta-se mais esta possibilidade mínima

para a construção dos organizadores prévios.

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Para nós, uma análise de erros e acertos pautada nos elementos constituintes

acima, não pode estar relacionada com uma prática de considerar o “tudo ou nada”.

Não podemos utilizar uma prática de correção que apenas leve em consideração a

resposta final do aluno. Deve haver expansão de possibilidades de correção na

prática avaliativa. Para tanto, foi que escolhemos a taxonomia SOLO como proposta

de elemento de avaliação. A mesma será descrita em momento posterior e mais

oportuno.

Nesta escolha, nos possibilitamos uma análise dos entraves epistemológicos

do processo de construção desses campos conceituais, procurando verificar se os

mesmos fornecem parâmetros para compreendermos e interpretarmos as

dificuldades cognitivas que apresentam nossos alunos no aprendizado. Ao analisar

subjetivamente as respostas dos nossos aprendizes, numa prática que costuma ser

um tanto quanto objetiva e que, por isso mesmo, perde na qualidade de analisar os

pontos de ruptura e linearidade propostas por Vergnaud, invertemos o processo

cartesiano de correção, ampliando as visões sobre onde se encontra o aluno no

processo de aprendizagem.

Embora nem sempre seja viável estabelecer, na prática, em que nível o

aprendiz se encontra (se no nível potencial, real ou na ZDP), subliminarmente é isso

que fazemos ao categorizar os momentos de aprendizagem nas estratégias de

resolução dos alunos.

A Psicologia Cognitiva tem como principal objetivo a realização de pesquisas

que visem compreender a aquisição de conhecimento, bem como o processo de

formação de conceitos na estrutura cognitiva do aprendiz.

O eixo principal de nosso trabalho é dado pela teoria de Gerard Vergnaud, no

entanto, ele próprio herda de Piaget e Vygotsky alguns conceitos que norteiam seus

trabalhos.

Descrevemos o que de mais importante para nossa aplicação foi utilizado

referente a cada uma das teorias supra-citadas. Utilizamos especialmente duas

ideias de Piaget: a primeira baseia-se no fato de que o aprendiz constrói o

conhecimento a partir de sua ação sobre o objeto. Com isto, ocorrem sucessivas

aproximações entre as partes, e quanto mais interações, maior será expansão do

conhecimento, que assume dois aspectos: o figurativo e o operativo. No primeiro o

indivíduo descreve o objeto por meio do uso da percepção e da memória e no

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segundo, o aprendiz já é capaz de utilizar-se do pensamento lógico, agindo

diretamente sobre o objeto.

A segunda ideia é da equilibração, que como já foi descrito, é um dos eixos

norteadores da teoria de Piaget, que é processo composto pela assimilação e a

acomodação, sendo a assimilação um processo externo, em que o sujeito incorpora

uma nova estrutura à já existente e, a acomodação, um processo interno, em que

muda-se as estruturas já existentes, no sentido de acrescentar novas características

ao objeto. Tais processos complementam-se, buscando a adaptação intelectual no

aprendiz.

Esse estudo buscou não somente a verificação da aplicação das teorias

psicológicas propostas, bem como nos preocupamos em apresentar uma sequência

de construção de campos conceituais (em forma de fluxograma) para ser utilizada

como um possível elemento norteador em outras disciplinas de área matemática.

Nos baseamos nesse mesmo conjunto de possibilidades para esboçar um campo

conceitual para o Cálculo Diferencial.

Consideramos que, embora Vergnaud tenha criado, mostrado e explicado tão

bem os campos conceituais das estruturas aditivas e multiplicativas, os demais

campos conceituais existem. Cabe estabelecer, utilizando-se dos elementos

associados na teoria dos campos conceituais, para cada área e sub-área

matemática, os invariantes operatórios e um conjunto de situações que dêem

sentido a eles, por meio das representações possíveis que eles trazem intrínsecos

em si.

Se os campos conceituais existem e ou se são criados não nos cabe discutir,

já que, para nós, eles já existem. Uma justificativa é que, sendo um campo

conceitual um conjunto de estruturas relacionadas entre si e, sendo que tais

estruturas não fazem parte de um só campo conceitual (os vetores, por exemplo,

são estruturas matemáticas estudadas na geometria, na geometria analítica, na

álgebra e no cálculo, por exemplo), eles também podem fazer parte dos campos

conceituais de estruturas aditivas e multiplicativas, mas permeiam, obviamente,

diversos conceitos a eles associados nestas áreas/sub-áreas. Nem estamos

considerando aqui o entrelaçamento existente entre estes conteúdos, assim como

não pretendemos hierarquizá-los. Apenas tentamos responder a possíveis

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questionamentos sobre nossa escolha e nosso entendimento sobre os campos

concetuais.

O diagnóstico referente aos invariantes operatórios serve de base para a

construção do campo conceitual, enquanto que a prática pedagógica estabelece a a

detecção sobre o nível em que se encontra o aluno para retirá-lo da ZDP quando

assim for, a partir da estruturação cognitiva do aprendiz e promovida pelas práticas

estabelecidas pelo professor. Portanto, consideramos que a construção didática

depende do nível de interação e do tipo de relação docente/discente.

Não pretendemos construir uma didática, mas fornecer subsídios para que os

professores (tanto o das turmas onde foi aplicada a pesquisa quanto os demais),

possam introduzir os assuntos como fator essencial para entendimento de conceitos

referentes às suas áreas, considerando também todos os aspectos já citados e que

são essenciais à metodologia proposta para, na resolução de problemas, tirar o

alunos da zona de desenvolvimento proximal, fazendo-o incorporar asserções de

valor ao conteúdo da disciplina.

De acordo com o programa de estudo, verifica-se que o Cálculo é

apresentado como uma necessidade de estudo. Isto faz com que o aprendiz

incorpore uma necessidade de buscar uma “adaptação” intelectual, através de várias

etapas de assimilação e acomodação. No decorrer da disciplina foram propostos

diversos exercícios e inúmeras atividades com a finalidade de garantir que os

aprendizes estabelecessem contato com os novos conceitos, internalizando-os e

expandindo-os.

Assim como Piaget, Vygotsky considerava que a aquisição de conhecimento

depende das fases de desenvolvimento mental, concordando também com a

necessidade de ação do aprendiz para a construção do conhecimento. No entanto,

enquanto o construtivismo vygotskyano pode ser considerado como sócio-

construtivismo, já que considera essencial a cooperação dos pares na construção de

conceitos, Piaget não leva em consideração o fator social, limitando o ensino no

processo de desenvolvimento e na aquisição de conceitos à maturação, que para

ele é o fator essencial neste processo (MOREIRA, 1999). Para Vygotsky, o

conhecimento sofre influências da herança cultural do aprendiz no contexto social do

qual o mesmo é participante, visto que a aprendizagem constitui-se um fator

impulsionador do desenvolvimento (VYGOTSKY, 1999).

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De Vygotsky aproveitamos essencialmente três conceitos: Ferramenta

cultural; Zona de desenvolvimento proximal e Teoria sobre formação de conceitos;

4.4.4.1 A ferramenta cultural

A ferramenta cultural como mediadora da situação pode ser justificada pela

presença de elementos, tais como calculadoras, computador, livros de história da

matemática (específicos dos assuntos tratados), entre outros. Tudo isso visando

promover o interesse, a participação a auxiliar no processo de conceitualização. Tais

elementos não são, obviamente, objetos da natureza, tendo sido criados pelo

homem a partir das necessidades impostas pelo desenvolvimento comercial,

cultural, enfim, pelo desenvolvimento da civilização. Enquadram-se, pois, na

conceitualização proposta por Vygotsky para o termo ferramenta.

4.4.4.2 A zona de desenvolvimento proximal

A zona de desenvolvimento proximal também é outro ponto fundamental para

nós, pois, como já definido, é a diferença entre o nível de desenvolvimento real31 e o

nível de desenvolvimento potencial32, i.e., a diferença entre (ou distância) entre

aquilo que o aprendiz já incorporou à estrutura cognitiva e, portanto, já sabe, e

aquilo que é capaz de aprender com a ajuda de pares. Isso foi utilizado naturalmente

na sala de aula, nas resoluções de exercícios e atividades desempenhadas, bem

como a própria atuação do professor foi fundamental para o processo de

conceitualização dos aprendizes.

No que se refere a sua teoria sobre formação de conceitos, Vygotsky

pressupõe que um conceito é mais do que a simples soma de conexões associativas

formadas pela memória, não entra na qualidade de “hábitos mentais”, portanto, não

pode ser ensinado ou aprendido por “treinamento”.

Ele divide o processo da formação de conceitos em três fases: a primeira é a

agregação vaga e desordenada de objetos isolados, desconectados, que se

embaralham formando uma imagem instável na mente do sujeito que aprende. A

segunda, e mais importante, é a fase em que o aprendiz já estabelece relações

entre os objetos, o que torna o pensamento coerente e objetivo, mas ainda não é o

31 O desenvolvimento real é aquele que já foi considerado pelo indivíduo, resolve situações de forma autônoma.

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pensamento abstrato ou lógico. Esta segunda fase é denominada “pensamento por

complexos”. A terceira e última fase é a denominada “fase dos conceitos potenciais”

e já permite a capacidade de abstração mesmo que primitiva, servindo como

precursora na construção do conceito propriamente dito (OLIVEIRA, 1997).

Segundo Vygostky, um conceito só aparece quando os traços abstraídos são

sintetizados novamente, e a síntese abstrata daí resultante torna-se o principal

instrumento do pensamento (VYGOTSKY, 1997).

Com a experiência adquirida em sala de aula, temos que concordar com

Vygotsky quando o mesmo afirma que existe uma discrepância entre a capacidade

de formar conceitos e a capacidade de definí-los. De fato, isto só ocorre quando o

aprendiz faz as asserções de valor. Isso evidencia o fato de que a aplicação de

conceitos precede a análise dos próprios conceitos em diversas situações, como por

exemplo, na resolução de problemas de Cálculo. Tomamos o cuidado de verificar se

tal situação ocorre com os aprendizes que fizeram parte de nosso estudo. Isso pôde

ser feito na prática de correção por meio de categorizações utilizadas na taxonomia

SOLO e resultou na proposta de estabelicimento de um paralelo entre os níveis de

desenvolvimento cognitivos dos aprendizes (Vygotsky) e o nível de categorização

(taxonomia SOLO).

Outro ponto forte na análise da aquisição de conceitos refere-se à aplicação

do conceito estudado em uma dada situação, tendo que ser interpretado em outra

situação que tem configuração diferente da original. A isso ele denominou

“capacidade de transferência”.

De posse disso, pode-se considerar que os alunos terão adquirido os

conceitos expostos na disciplina referida, se:

• relacionam os conceitos de limite ao de derivada;

• definem as etapas de construção de forma coerente, seja na forma escrita

ou falada;

• efetuam transferências em situações fora do contexto;

• efetuam transferências em situações novas (concretas ou abstratas).

32 O desenvolvimento potencial é determinado pela habilidades que o indivíduo já construiu, porém encontra-se

em processo.

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Para verificar se os alunos assimilaram os conteúdos, foram aplicados

questionários com questões que ao nosso entender serviram para que

investigássemos se tais conteúdos foram compreendidos pelos aprendizes.

A avaliação, no entanto, embora não possa ser descrita inteiramente, também

se utilizou do processo de construção e de crescimento dos alunos em sala de aula.

Obviamente que os testes aplicados são os elementos fundamentais de análise da

pesquisa, mas não podemos, em hipótese alguma, descartar todo o processo

interativo associado ao trabalho executado pelo professor e mesmo pela

pesquisadora que, em alguns momentos, deu aula para as turmas em que se

aplicou a pesquisa.

4.4.4.3 Formação de conceitos

Vygotsky classifica ainda os conceitos em espontâneos ou não espontâneos.

O conceito é espontâneo quando não há consciência do processo por parte do

aprendiz e é não espontâneo (científico) quando desde o início e de forma

consciente são utilizados outros conceitos mediadores na relação do indivíduo com o

objeto. O conceito que procuramos desenvolver nos aprendizes em sala de aula é o

científico. Em uma disciplina, qualquer que seja ela, sempre procuramos, enquanto

professores, trabalhar com definições de forma que um determinado conhecimento

adquirido possa servir para “x” situações. O grande entrave da nossa perspectiva é

exatamente o fato de que nossos alunos demonstram saber teoricamente o assunto,

não conseguindo, no entanto, explorá-lo de forma prática. Isso ocorre muito em

Cálculo e nos faz crer que devemos explorar a relação entre os dois conceitos

(VYGOTSKY, 1993).

O conhecimento espontâneo parte do particular para o geral, enquanto que o

científico percorre o caminho contrário. Isto decorre do fato de que cada um tem uma

origem, i.e., o espontâneo nasce da experiência, por exemplo, uma criança que

aprende a andar de bicicleta está preocupada em pedalar corretamente e manter-se

na bicicleta, mas não se preocupa com o entendimento de noções físicas de

equilíbrio, por exemplo.

Considera-se que, apesar de percorrerem caminhos diferentes, os dois tipos

de conceito apresentados por Vygotsky relacionam-se fortemente, no sentido da

necessidade existente no aprendiz, de alcançar um determinado nível de um

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conceito espontâneo para ter a capacidade de aprender um conceito correlato.

Dessa forma é que, quando um conceito espontâneo dirigi-se de forma ascendente,

ele está fomentando o desenvolvimento de um conceito científico. Na proposta do

nosso trabalho, elaboramos questões que envolvessem situações-problema que

possibilitassem ao aluno o estabelecimento da relação entre os dois tipos de

conceito apresentados.

Vergnaud, que teve influência de Piaget e Vygotsky, dirigiu seus estudos para

a educação matemática. Ele defende a ideia de se trabalhar as situações-problema

para que o conhecimento matemático torne-se significativo. A resolução de

problemas tem uma forte relação com a interação sujeito-objeto, além de explorar

em sala de aula (ambiente onde se desenvolve o conhecimento científico) situações

espontâneas, as quais poderiam ser entendidas no cotidiano. Esta foi a construção

da sequência didática que propusemos e que foi aplicada pelo professor durante o

semestre.

Como já dito anteriormente, a construção de um conceito não é algo rápido,

muito ao contrário. E, segundo o próprio Vergnaud, é um processo lento que exige a

exploração contínua dos conteúdos em questão, através de situações que explorem

diferentes domínios do conceito a ser aprendido.

A teoria dos campos conceituais explora a elaboração pragmática dos

conhecimentos, pregando a ideia de que não se pode prender o estudo da

matemática aos simbolismos ou situações, devendo se considerar o sentido desses

aspectos. Para Vergnaud, um conceito não assume sua significação em uma única

classe de situações. Por mais simples que seja o conceito, ele necessita de um

conjunto de situações que, juntas, farão com que o aprendiz as assimile.

Com isso, basicamente, um campo conceitual representa um conjunto de

situações cujo domínio requer uma variedade de conceitos, procedimentos e o

domínio da representação simbólica envolvida. No ensino dos conteúdos da

disciplina em questão, foram trabalhados vários conceitos, além de se trabalhar

primeiramente a noção intuitiva dos conceitos, a questão histórica, entre outros.

Embora Piaget tenha explorado a ideia de invariantes, Vergnaud foi quem

percebeu a importância da percepção dos mesmos na formação de conceitos. É

nesse sentido que se estabelece a noção de esquemas, que ele denominou de

teorema em ação, evoluindo para a competência até que finalmente chegue ao

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conceito. Para construir o conhecimento operacional, primeiro o indivíduo deve

captar o conjunto de invariantes (o que caracteriza cada conjunto).

Os obstáculos didáticos são os que nascem da escolha de determinadas

estratégias de ensino. Quando isso ocorre, geram-se conhecimentos incompletos ou

mesmo errados o que culminará em um entrave na formação futura de um conceito.

Já os obstáculos epistemológicos, “são os que desempenharam um importante

papel na história de determinado conhecimento e cuja rejeição precisou ser

integrada explicitamente no saber transmitido” (Almouloud, 1994). Podemos

identificar estes últimos nas dificuldades encontradas por matemáticos para superá-

los na história.

Os obstáculos, sejam de que tipo for, existem e são encontrados no dia a dia

da sala de aula, cabendo aos professores identificá-los e tomarem as atitudes mais

coerentes para saná-los.

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5 METODOLOGIA

Neste capítulo é apresentado o tipo de pesquisa e a forma como foi

conduzido o estudo, bem como a análise e a interpretação dos dados coletados.

Faz-se a descrição do desenho metodológico e das questões que deram origem ao

trabalho e o plano da pesquisa no qual a metodologia foi baseada, ao tempo em que

são apresentados os resultados experimentais coletados.

Nossa pesquisa é qualitativa, o que permite observações e interpretações de

comportamentos relacionados com a aprendizagem matemática utilizando-se a

taxonomia SOLO na análise e correção das questões.

Nesta pesquisa utilizamos questionários e testes33 (Teste 1 e Teste 2), com a

finalidade de investigar hipóteses, por meio da análise qualitativa dos dados obtidos.

Por intermédio da análise do comportamento verbal ou não-verbal, fez-se inferências

sobre o pensamento matemático e sobre a aprendizagem. Das inferências, pôde-se

compreender melhor os diversos aspectos de conceitos envolvidos no campo

conceitual do cálculo diferencial.

5.1 Considerações Metodológicas

5.1.1 A escolha da população

A escolha da população deveu-se ao fato de serem alunos do curso de SI

(Sistemas de Informação) de uma IES. O curso é de formação não-matemática, mas

os discentes tinham, além da disciplina Cálculo I, outras disciplinas de conteúdo

matemático, tais como Matemática I (que equivale a uma disciplina introdutória de

Álgebra Linear), além de Cálculo Diferencial e Integral II, Lógica Matemática e

Matemática Discreta. Consideramos que neste cenário é possível fomentar no

aprendiz uma vontade de apreender o conteúdo, visto que o mesmo sabia que

existiriam outras chances de verificação e aplicabilidade dos mesmos.

33 Denominado de Structured Task-Based Interviews - STBI (GOLDIN, 1999).

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A escolha das variáveis, das tarefas e do tempo para concluir as tarefas é

feita cuidadosamente com o objetivo de concluir com êxito a observação de

determinados comportamentos matemáticos (comportamento apropriado para uma

exploração e resolução de problemas em matemática).

5.1.2 Taxonomia SOLO

Segundo Biggs e Collis apud Amantes e Borges (2005), admite-se que

existem estágios no desenvolvimento cognitivo. Tais estágios não podem ser

definidos em termos de mudanças estruturais na lógica operatória. Isso quer dizer

que quando há uma mudança de estágio, também muda-se a forma de representar

o conhecimento aprendido, mas não a estrutura da totalidade de tarefas com as

quais se lida em cada estágio.

Segundo Amantes e Borges (2005):

Os estágios de Biggs e Collis obedecem à regras de desenvolvimento, surgindo em idades mais ou menos definidas. Ao surgir um novo estágio, o sujeito ainda é capaz e efetivamente funciona no modo como funcionava no estágio anterior. O que caracteriza um estágio não é a complexidade estrutural, mas o nível de abstração do modo como os conteúdos da experiência são representados. Para esses autores, o surgimento de um estágio não impede o funcionar dos outros. Vários estágios podem coexistir e serem utilizados simultaneamente em diferentes conteúdos (AMANTES; BORGES, 2005, pg 4).

Os estágios a que se referem Biggs e Collis não podem ser definidos em

termos de desenvolvimento ou estruturas de pensamento do aprendiz segundo as

definições piagetianas desses termos, pois, um adulto, cujas estruturas formais

supostamente já foram formadas pode apresentar um pensamento no sensório

motor para determinada área do conhecimento.

Ainda segundo Amantes e Borges (2005):

(...) um adulto ou adolescente que esteja submetido à uma aprendizagem no modo sensório motor tem sua atuação diferente da de uma criança, pois além de seus cérebros e sistema nervoso serem mais desenvolvidos, eles já elaboraram modos mais complexos de pensamento ao longo da vida. Por isso, os atos do indivíduo mais maduro são apoiados em níveis de modos de ordem mais elevada, mesmo quando se referem a modos de baixa ordem de aprendizagem; são, portanto, distintos dos atos de um iniciante e

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se remetem a mais de um modo de pensamento (AMANTES; BORGES, 2005).

Estes modos de representar a aprendizagem, segundo estes autores,

ocorrem em uma sequência estrutural hierárquica de subestágios ou níveis, onde

essa aprendizagem é expressa; se referem tanto à qualidade quanto à quantidade

de informações processadas.

Esse sistema hierárquico é denominado Taxonomia SOLO (Structure of the

Observed Learning Outcome), e pode ser usado para avaliar a qualidade de

aprendizagem ou para objetivos curriculares (BIGGS e COLLIS, 1982). Quanto aos

níveis de resposta, Biggs e Collis (1991) definiram cinco estágios:

• Pré-estrutural (P): forma de pensar em que as respostas explicitadas são inadequadas. O indivíduo opera em modo aquém do que o solicitado em uma questão a ele colocada, sendo distraído ou confundido por aspectos irrelevantes pertencentes a um estágio ou modo prévio.

• Uni-estrutural (U): o foco é correto, mas o aprendiz obtém poucas informações dos dados e as respostas podem ficar inconsistentes.

• Multi-estrutural (M): o aprendiz se vale de características mais relevantes e corretas, mas elas não se integram totalmente; algumas inconsistências podem aparecer em suas respostas.

• Relacional (R): as informações são acessadas, os dados são avaliados e as relações são estabelecidas. O todo se torna uma estrutura coerente; não há inconsistências.

•Abstrato estendido (A): O aprendiz agora generaliza a estrutura para um novo quadro com características mais abstratas, representando um novo e elevado modo de operação. Normalmente esse nível torna-se o nível uni-estrutural do modo seguinte da hierarquia de categorias de funcionamento.

Esses níveis de complexidade em relação às respostas se estabelecem em

cada estágio, formando ciclos de aprendizagem crescente, que podem se constituir

em um ou mais ciclos dentro de um mesmo modo. Desta forma os testes foram

avaliados e puderam ser mensurados.

O número de ciclos depende da natureza do conhecimento apreendido: se for

muito complexo (demanda muitos conteúdos, muitas relações e um grau maior de

abstração) certamente haverá mais de um ciclo de aprendizagem.

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Assim, foram aplicados testes, onde não se definem os resultados como

modelo de resposta correta ou incorreta, pois tentou-se observar, gravar e interpretar

modelos de comportamento, incluindo as manifestações dos alunos, tais como: a

fala, a escrita, o desenho (gráficos etc) e as ações.

Por intermédio dessa análise pudemos fazer inferências, usando o que se

pôde observar para ser inferido do que não se pode inferir. Este tipo de pesquisa

justifica seu uso em Educação Matemática, pois freqüentemente pesquisadores

interagem com o sujeito. Em relação às estruturas matemáticas, permite que

pesquisadores desenhem tarefas que facilitarão interações particulares entre

estruturas internas do sujeito e as estruturas matemáticas (CUNHA, 2002).

Por fim, existiu o interesse em estudar o Cálculo Diferencial, mobilizados no

ensino dentro de diferentes contextos e seus sistemas de representações, bem

como a aplicabilidade do sistema, mais especificamente, em nosso caso de registro

verbal para o registro sob a forma da escrita nas listas e/ou questionários.

A metodologia e procedimentos utilizados estão associados a um modelo de

comportamento pedagógico que foi construído a partir da aplicação da Teoria dos

Campos Conceituais e de uma mensuração do processo de ensino/aprendizagem

durante a sua aplicação em sala de aula. Nesta linha, este trabalho utilizou um

levantamento das pesquisas empíricas coletadas em sala de aula como base na

observação em questionários e Testes (Teste 1 e Teste 2) utilizados pelo docente

(Professor) e pelos discentes (alunos) (Vide os Apêndices A, B, C e D, onde são

apresentados os Testes 1 e 2 aplicados, bem como uma proposta de solução

comentada dos mesmos).

5.2 Procedimentos Adotados na Pesquisa

A competência de um indivíduo pode ser definida, segundo Vergnaud, a partir

de três critérios:

(a) o que ele é capaz de fazer face a uma classe ou conjunto de classes de situações;

(b) se ele dispõe de um procedimento ou método mais

rápido, mais econômico, mais eficaz, que lhe permita ter um desempenho superior;

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(c) se ele possui um repertório de procedimentos ou métodos alternativos que lhe permitam adaptar-se de uma maneira mais refinada às diversas situações que enfrenta, em função da avaliação das diferentes variáveis das situações.

Com isso, buscamos identificar e interpretar se o aluno utiliza e de que forma

os campos conceituais que fazem parte de sua estrutura cognitiva para a resolução

de problemas, uma vez que, este não conseguiu estabelecer uma relação entre as

questões aplicadas e a teoria e sua aplicabilidade na solução dos problemas.

Após a resolução de alguns exercícios, em escala gradual de interpretação e

dificuldade (sondada com um grupo de alunos nas mesmas condições de

aprendizagem e recursos em turma escolhida de forma aleatória), os discentes

(alunos) esbarraram em questões com as quais não conseguiam prosseguir.

O docente (professor), detectando que estes alunos encontravam-se na zona de

desenvolvimento proximal, reexplicou o assunto antes abordado, com interpretações

que forçassem o aprendiz a relacionar os elementos de um determinado campo

conceitual, utilizando-se, por exemplo: histórias; estórias; correlações da vida prática

que abordassem o respectivo assunto em voga e sugestões advindas e provocadas

pelos próprios discente e extraídas das experiências cotidianas de cada um deles;

Por fim, ao término da explanação e da resolução de problemas similares aos

apresentados, os alunos respondiam aos testes (alguns grupos não tiveram essa

fase de reexplicação dos assuntos e/ou observação - ver desenho da pesquisa na

ilustração 7).

Como mencionado anteriormente, em muitos domínios, a iminente aquisição

de novos conceitos e a mudança de seu status cognitivo consistem na explicitação

dos conceitos subjacentes à ação, isto é, baseia-se na mudança de ponto de vista

sobre os objetos, suas propriedades, bem como as relações entre os objetos

(VERGNAUD, 1990). Se as competências-em-ação forem uma resposta aos

desafios colocados pelas situações (problemas) que enfrentamos, quanto maior for a

variedade de situações encontradas e/ou propostas, maiores serão as chances de

desenvolvimento de conceitos mais gerais e cada vez mais complexos, constituindo-

se em sistemas conceituais. O conceito, assim concebido na sua relação com os

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demais conceitos, amplifica os limites de sua validade e a generalização dos

teoremas implícitos na ação a várias outras situações possíveis. Por outro lado,

situações novas, impossíveis de serem resolvidas com o repertório de esquemas já

existente, conduzem à criação de novos modelos ou maneiras de interpretar a

experiência. O desenvolvimento ou amplificação das competências já existentes

envolvem a construção de novos objetos, a proposição de novas relações e a

construção de novas categorias (TORRES, apud VERGNAUD, 1992).

Sendo assim, o primeiro passo para um ensino de qualidade na proposta da

pesquisa aqui inserida é detectar os invariatens operatórios (teoremas-em-ato). Feito

isso, o professor, por meio da interação com o grupo e as avaliações aplicadas,

pode verificar se os invariantes operatórios construídos pelos aprendizes

correspondem aos da teoria. Para tanto, após a explicação de um determinado

assunto e em seguida à feitura de exercícios, o docente pode avaliar o nível de

apreensão do conceito estudado.

Quando ocorre o aprendizado, há o processo de acomodação. Um novo

esquema foi construído pelo aluno, por meio de uma nova abordagem na retórica do

professor, o uso de um software, de calculadora, a história do Cálculo contada sob

um aperspectiva interessante, ou qualquer outro meio de tentar fazer com que o

estudante assimile o conteúdo.

Se houve ou não a construção coerente do novo esquema, o professor

poderá detectar por meio de testes como os que foram aplicados por nós para os

alunos. A análise e correção utilizando a taxonomia SOLO podem contribuir para

uma tentativa de relacionar níveis de compreensão de escopos pontuais referentes à

disciplina de Cálculo.

Ao passar exercícios para os alunos, é bem provável que alguns estudantes

cheguem a um ponto de não avançar na resolução. Nesse momento, quando o

aprendiz se defronta com um novo problema e tenta, através da modificação de seu

comportamento, resolvê-lo,os esquemas existentes na estrutura cognitiva são

modificados pela adaptação aos novos aspectos do problema emergente. Sendo

assim, neste processo de acomodação e assimilação referentes ao conteúdo de

funções, limites e derivadas, os conceitos complemantam-se mutuamente até que os

invariantes sejam compreendidos e incorporados à estrutura cognitiva, pois,

enquanto que através da acomodação os esquemas são alterados, através de

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assimilação eles sofrem uma estabilização. Ao sofrer estabilização, os mesmos

podem ser novamente relacionados aos demais conceitos, formando o campo

conceitual do aprendiz.

Quando os esquemas de ação do aprendiz não conseguem assimilar

determinada situação, a mente desiste ou se modifica. Nos casos em que há

modificação, ocorre a “acomodação”. Essa modificação ocorrerá a partir da

intervenção do professor ao explicar um assunto novamente ou utilizar qualquer uma

das estratégias anteriormente listadas, ou mesmo um conjunto delas.

Ao verificar que o aluno não consegue avançar sozinho, percebeu-se que o

mesmo encontrava-se na ZDP, utilizou-se a estratégia escolhida, verificou-se por

meio de novo exercício e, assim, viu-se que o aluno saiu (ou não) da ZDP, passando

ao nível de desenvolvimento real, segundo Vygotsky. Há, assim, a acomodação,

permitindo a construção de novos esquemas de assimilação. Através da

acomodação é que se deu o desenvolvimento cognitivo no campo conceitual do

Cálculo Diferencial. A acomodação só existiu porque houve assimilação, já que a

acomodação é a reestruturação da assimilação. Houve, também, uma adaptação, já

que a mesma é o equilíbrio entre assimilação e acomodação.

5.3 A Quem se Aplicou (População/Amostra)

Os sujeitos do estudo foram 97 alunos - jovens e adultos, 59 do sexo

masculino e 38 do sexo feminino, na faixa etária de 18 a 52 anos, em sua maioria

trabalhadores, todos de uma Universidade particular da cidade de Salvador, no

estado da Bahia, conforme o quadro a seguir:

Sexo Turma

Número de

Discentes Masculino Feminino

Faixa

Etária Observações

Turma 01 (Curso de SI)

45 29 16 18 - 44 Foi dividida em dois grupos (Grupo 1 e 2).

Turma 02 (Curso de SI)

52 27 24 19 - 52 Foi dividida em dois grupos (Grupo 3 e 4).

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Sexo Turma

Número de

Discentes Masculino Feminino

Faixa

Etária Observações

Totais:

97 56 41

Distribuição Gaussiana de Idades

por Tuma e por grupo

Totalizamos 4 grupos em duas turmas.

Quadro 3 Distribuição do Universo Amostral Fonte: Elaboração da Própria autora

Embora o curso tivesse, naquele momento, 4 (quatro) turmas, a pesquisa não

trabalhou com a população. Optamos por trabalhar com metade das turmas

existentes. Além disso, houve a necessidade de observar alguns alunos antes do

teste 1, antes do teste 2, após o teste 1 ou após o teste 2, como consta na ilustração

7.

Apesar de termos 97 alunos nas duas turmas, foram considerados 96, pois

uma aluna não participou de todas as etapas principais, não tendo sido considerada

para efeitos de análise.

As listas de exercício (que não eram os testes formais) foram propostas a

uma parte do grupo para que estes colocassem as questões em uma ordem gradual

de dificuldade para que o encaminhamento à zona de desenvolvimento proximal

fosse feito de forma lenta e gradual. Isso ocorreu nos grupos onde foram feitas

observações.

O docente (professor) também ajudou na aplicabilidade da lista, visto que as

questões foram elaboradas juntamente com o mesmo para que não houvesse um

descompasso com os conteúdos e as formas de abordagens do mesmo em sala de

aula. Em vista do cartesianismo dos ementários e das exigências dos cumprimentos

dos mesmos por parte das Instituições de Ensino Superior, deve-se considerar que

cada docente tem a sua heurística de aplicabilidade dos conteúdos e, desta forma,

para que não houvesse descontinuidade entre o abordado e o mensurado,

considerou-se providencial a participação do professor na confecção dos

questionários e listas de exercícios, bem como nos comentários quando da correção

das mesmas.

5.4 Desenho da Pesquisa

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O trabalho de campo envolveu a assessoria ao professor que ministra a

disciplina nas duas turmas em que foi aplicado o trabalho, painéis para entrevistas

em grupo e a elaboração de atividades (listas de exercícios) a serem desenvolvidas

em sala de aula. As atividades foram registradas com fotografias e através de

anotações. Todos os registros produzidos pelos alunos foram objetos de análise e

interpretação.

A pesquisa foi aplicada em duas turmas do curso de Sistemas de Informação.

Foram formados, através de sorteio, quatro grupos de alunos, perfazendo um total

de 96 (noventa e seis) membros participantes, estando assim distribuídos:

Ilustração 6 Desenho da Pesquisa

_________________________ Turma 1

• Grupo 1: 21 alunos • Grupo 2: 24 alunos

_________________________

Turma 2 • Grupo 3: 27 alunos • Grupo 4: 24 alunos

_________________________ Total: ____ 96 alunos

Nos quatro grupos foram aplicados questionários de avaliação do docente,

entrevista em grupo (painel) e a aplicação das listas de exercício, bem como os

Testes 1 e 2. O grupo 4 teve como opção de trabalho em grupo, proposto pelo

professor, a aplicação de uma peça (de teatro) como proposta avaliativa. Eles

fizeram basenado-se no livro “Newton e sua maçã”, proposto pela pesquisadora.

Estes outros momentos (a seguir descritos) foram chamados de encontros formais

e serão estão assim tratados para diferenciar de outros momentos, não menos

importantes, mas que para fins metodológicos ficam assim descritos.

A ordem dos encontros formais foi a seguinte:

1) Palestra apresentando e fundamentando o trabalho (foram feitas fotos digitais - Vide Apêndices I e J ;

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2) Questionário de avaliação do docente;

3) Observação dos grupos 3 e 4 (Turma 2);

4) Aplicação do Teste 1

5) Apresentação da peça pelo grupo 4

6) Observação dos grupos 1 e 4

7) Aplicação do Teste 2

8) Painel

O desenho do trabalho da pesquisa pode ser observada na ilustração 7.

Turmas

G1 (Turma 1) -------------------X ---------------- O1 ---------------- AT

G2 (Turma 1) -------------------X------------------- ---- -------------- AT

R

G3 (Turma 2) - O2 ----------- X ---------------- ---- ----------------- AT

G4 (Turma 2) - O3 -------------X----------------- O4 ----------------- AT

Ilustração 7 Funcionograma da Pesquisa de Campo Fonte: Elaboração da Própria autora.

Nesse desenho da pesquisa: G1 significa Grupo 1 (Turma 1); G2

designa Grupo 2 (Turma 1); G3 designa Grupo 3 (Turma 2); G4 é nomeação de

Grupo 4 (Turma 2); Oi; i=1, 2, 3, 4 designa as observações realizadas nos grupos; X a

aplicação de Teste 1 e AT a aplicação do Teste 2;

As observações referem-se a aplicações de exercícios muito análogos aos

testes (designados como Teste 1 e Teste 2) aplicados em sala. Os testes

encontram-se no Apêndice L.

5.5 Encontros Presenciais e Seus Objetivos

Neste item descreve-se os momentos de contato (formal) entre a

pesquisadora e os discentes. Note-se que denomina-se de “contato formal” o

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encontro específico para aplicação dos testes, questionários e entrevistas

específicos à pesquisa em questão.

Estes encontros podem ser melhor delineados na ilutração 8:

Ilustração 8 Encontros com os alunos Fonte: Elaboração da Própria autora.

Os demais encontros, explicação dos assuntos, revisão e metodologia

empregada em sala de aula e outros encontros não foram considerados “formais”,

por esta razão não constam do conteúdo metodológico.

5.5.1 Primeiro encontro formal

Inicialmente, no primeiro encontro formal, a pesquisadora esteve nas duas

turmas de alunos, ministrando uma palestra apresentando e fundamentando o

trabalho e iniciando o processo de sondagem, entrevistas (breves) e informais.

5.5.1.1 A preleção

Neste primeiro momento foi feita uma preleção do trabalho onde explicamos

que o mesmo seria:

1) Um trabalho de pesquisa para a melhoria do ensino do Cálculo

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2) Um trabalho de interesse da instituição e do próprio docente.

3) Um trabalho que necessitava da colaboração de todos,

justificado pelo próprio conteúdo e pela importância da pesquisa,

afirmada pelos próprios alunos, que consideraram importante a

tentativa de um estudo sobre a aplicação de estratégias focadas

na melhoria do ensino-apredizagem do Cálculo Diferencial.

Para que houvesse uma confiabilidade, a pesquisadora foi apresentada ao

grupo como palestrante e docente auxiliar, que trabalharia em consonância às aulas

do Professor, ministrando, inclusive, algumas aulas (quando considerávamos ser o

melhor para o bom andamento do trabalho).

Foi proferida uma palestra sobre a história do Cálculo, com fins da preleção

anteriormente descrita, que recebeu elogios dos alunos.

5.5.2 O segundo encontro formal

Em um segundo encontro formal, a pesquisadora aplicou o questinário de

avaliação do docente, bem como os questionários de auto-avaliação dispostos nos

apêndices. Aproveitou o ensejo para tirar algumas dúvidas dos alunos, explicando

os objetivos da pesquisa (novamente), afirmando não se tratar de uma “aplicação de

prova e/ou teste” de caráter formal da Instituição. Para isso explicamos que não

seria aferida uma nota, e, mesmo tratando-se de uma participação voluntária; obteve

o consentimento coletivo dos alunos para a realização do estudo. Nesse momento o

professor informou ter atribuído nota qualitativa para fomentar a participação dos

alunos em todos os testes. Para tanto, só receberia a nota quem participasse de

todos os estágios da pesquisa. Tal atitude contribuiu para que quase 100% dos

alunos envolvidos estivessem em todas as etapas, facilitando a prática metodológica

e a aferição dos dados.

5.5.3 O terceiro encontro formal

No terceiro encontro formal, enquanto o professor deu aula, houve a

observação dos grupos 3 e 4, tanto pela pesquisadora quanto pelo próprio professor.

Após os encontros foram estabelecidas as ações futuras e as estratégias foram

discutidas entre ambos, após as aulas.

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5.5.4 O quarto encontro formal

No quarto encontro formal foi aplicado o teste 1 em grupos de três alunos

(uma equipe ficou com quatro discentes em vista da quantidade de alunos

presentes, mas a participante excedente não compareceu aos demais encontros,

tendo, por isso, sido desconsiderada para efeitos de avaliação), envolvendo

questões com o conteúdo de funções.

A aplicação das questões durou em média uma hora e quarenta minutos

(duas horas-aula, pois na instituição em questão 1 h/a equivale a 50 minutos).

Solicitou-se aos alunos que não usassem borracha e que nos casos em que fosse

utilizada caneta, que os erros fossem riscados, mas não apagados. No entanto,

pudemos observar que alguns grupos passaram a limpo o trabalho, entregando-o já

dessa forma.

5.5.5 O quinto encontro formal

No quinto encontro formal foi feita a apresentação da peça adaptada do livro

“Isaac Newton e sua maçã”, onde os alunos do grupo 4, de forma lúdica e muito

engraçada, contaram, a partir da leitura e interpretação do livro, bem como

pesquisas associadas, apresentaram uma adaptação do livro. Entre os

personagens, eles incluíram Leibnitz (o livro não o citou), mostrando uma relação

entre os mesmos e, apenas com o intuito de descontrair os colegas e professores,

inseriram falas do matemático como se o mesmo tivesse inveja de Newton por ele

ter ficado mais famoso.

O que nos chamou atenção foi que, embora eles tenham reclamado no início

do trabalho, no dia da apresentação mostraram-se bastante gratificados e

demonstraram asserções de valor ao conteúdo da disciplina.

5.5.6 O sexto encontro formal

Neste encontro foram observados os grupos 1 e 4, após explicações em aulas

anteriores dos assuntos do teste 2 (limites e derivadas). Neste encontro foram

passados exercícios para os alunos, com intervenção. As intervenções foram feitas

apenas nestes grupos citados, assim como novas explicações sobre o mesmo

assunto, também.

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5.5.7 O sétimo encontro formal

No sétimo encontro formal foi aplicado o teste 2 em grupos de três alunos,

envolvendo elementos com o conteúdo de limites e derivadas.

A aplicação das questões durou duas horas e trinta minutos (três horas-aula).

Aqui novamente foi solicitado aos aprendizes que não usassem borracha e que nos

casos em que fosse utilizada caneta, que os erros fossem riscados, mas não

apagados. Novamente pudemos observar que alguns grupos passaram a limpo o

trabalho, entregando-o já dessa forma.

5.5.8 O oitavo encontro formal

No painel, a pesquisadora apontou contradições entre as respostas dadas

pelos alunos ou propôs contra-sugestões. Procurou, também, conduzir os

aprendizes à explicitação e, indiretamente, à reflexão sobre as justificativas

apresentadas. Este momento funcionou mais como um “bate-papo” informal do que

uma entrevista propriamente dita.

5.5.9 Observações sobre a aplicação dos testes

Quanto aos testes 1 e 2, interessou-nos menos a quantidade de acertos dos

sujeitos e mais os processos de pensamento que levaram a uma determinada

resposta, fosse ela considerada certa ou errada. Ou seja, a resposta dada foi

tomada como um dos indícios para a compreensão do processo que a gerou, uma

vez que se partiu do pressuposto segundo o qual, o erro pode revelar um processo

mais sofisticado de raciocínio que uma resposta correta. Além disso, e como já

mencionado, o uso da categorização das respostas nos permitiu estabelecer um

paralelo entre o nível de aprendizagem (nível potencial, real ou ZDP) e a categoria

propriamente dita, pelo viés da taxonomia SOLO.

Nas justificativas dadas pelo sujeito e nas verbalizações formuladas enquanto

este resolve o problema, buscamos, também, compreender as relações que ele

estabelece entre os elementos do problema, bem como conduzi-lo a refletir sobre o

problema e a forma adotada para sua resolução.

Entretanto, ainda que buscássemos basear-nos em pistas verbais, gráficas e

gestuais, fornecidas pelos alunos, na tentativa de acompanhar e reconstruir seu

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raciocínio, não deixamos de considerar que os mesmos, possivelmente, tivessem

dificuldade em explicitar escrita ou verbalmente, com maior ou menor grau de

clareza, a estratégia de resolução, mesmo que fossem capazes de resolver o

problema corretamente. Os teoremas-em-ação foram onsiderados, então, como

objeto de análise e inferência por parte da pesquisadora.

5.6 Execução da Pesquisa e Coleta de Dados

A execução da pesquisa ocorreu em todos os encontros com discentes e a

mesma foi direcionada a observações qualitativas e quantitativas. As observações

qualitativas foram bastante subjetivas e ocorreram literalmente em todos os

encontros e com a interação com o docente antes, durante e depois da interação

com os discentes. A pesquisa quantitativa ocorreu apenas com a avaliação dos

Teste 1 e Teste 2 onde, após a aplicação dos mesmos, utiliza-se a taxonomia SOLO

para as suas análises.

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As etapas de execução da pesquisa podem ser observadas na ilustração 9:

Ilustração 9 Etapas da execução da pesquisa

Fonte: Elaboração da Própria autora.

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5.7 Estratégias Metodológicas/Procedimentos Didáticos

Os chamados “encontros formais”, como já descrito anteriormente, foram os

momentos em que os elementos avaliativos, tais como testes observações e

questionários foram aplicados e/ou efetivados. No entanto, para detectar se o

aprendiz encontrava-se na ZDP e, principalmente, para retirá-lo dela e conduzi-lo à

aprendizagem real (nível de desenvolvimento real) fez-se necessário utilizar práticas

pedagógicas e procedimentos didáticos.

Foi mencionado (pg 51) que, para Vergnaud, existem dois tipos de situações

que, se tiverem algum significado para o aprendiz, podem gerar dois tipos de

processos diferentes para a sua resolução, que ele denomina de primeira e segunda

classe de situações. Na primeira, o sujeito já possui em seu repertório de

competências, os procedimentos adequados ao tratamento da situação. Trata-se

mais de uma relação de filiação aos conhecimento pré-existentes, enquanto que na

segunda, o sujeito não dispõe de todas as competências requeridas para o

tratamento da situação. Há uma ruptura do conhecimento e um momento de

descoberta e, em alguns casos, de invenção do novo. Para a resolução da nova

situação (problema) (considerada como nova pelo aprendiz) são necessárias

reflexão e exploração, que podem conduzir ao sucesso ou ao fracasso.

Na segunda classe de situações, quando o aluno encontra-se na ZDP, cabe

ao professor criar situações, utilizando-se de novas estratégias para sua abordagem,

que induzam o aluno, por meio de representações, a uma reorganização de sua

estrutura cognitiva ao formar os novos esquemas a partir daí. Se houve sucesso ou

não, o professor poderá supor por meio de algum tipo de avaliação. No nosso caso,

além dos exercícios em sala de aula, que também contribuíram para a detecção do

sucesso (ou não) da proposta, os testes foram fundamentais, visto que eles foram

aplicados especificamente com o intuito de avaliar todo o processo proposto aos

grupos em que foram utilizadas novas abordagens explicativas.

Os invariantes operatórios tiveram um papel muito importante nesta fase da

pesquisa. Para isso, em primeiro lugar foram detectados, para cada tópico abordado,

os invariantes operatórios da teoria. Depois, nas intervenções do professor, foram

detectados e analisados os invariantes dos aprendizes (por grupo), mas foi na

correção dos testes, pelo viés da taxonomia SOLO que pudemos observar se os

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invariantes operatórios (teoremas em ato) construídos pelos alunos condiziam com

os da teoria abordada na prática da sala de aula.

Para cada assunto abordado foram feitos exercícios que pretendiam colaborar

com o aprendizado dos alunos, já que os mesmos tratavam de conhecimentos que

deveriam ter sido adquiridos nas explanações em sala de aula.

Algumas estratégias metodológicas e procedimentos didáticos serão descritos

a seguir. Embora saibamos que nenhum deles esgota as possibilidades de fomento

à aprendizagem, estes foram utilizados por terem sido pensados e repensados pela

pesquisadora e o professor da disciplina. Além disso, a preocupação com a

aplicação da teoria proposta foi o fator que mais corroborou as estratégias infra-

citadas.

Depois de reuniões entre a pesquisadora e o docente, os exercícios foram

planejados conjuntamente. A autora teve o cuidado de explicar o trabalho, suas

hipóteses, os conceitos principais da teoria de Vergnaud e todas as informações

consideradas relevantes para o trabalho do docente em sala de aula.

Optamos por descrever algumas aulas mais relevantes. Por motivos óbvios

não descrevemos todas as aulas de Cálculo Diferencial ministradas no semestre. As

que estão descritas servem para exemplificar a metodologia empregada na

pesquisa, bem como responder a alguns objetivos específicos.

Apenas mencionar as palavras “limite” e derivada, por exemplo, para alunos

do ensino superior, especialmente os que fazem cursos não voltados à

aprendizagem matemática mais direta, faz com que os alunos se apavorem. Os altos

índices de reprovação corroboram a noção de dificuldade na apreensão dos

conceitos presentes nos alunos. Isso por si só já é um fator relevante de

impedimento da aprendizagem significativa dos tópicos abordados na disciplina.

Pensando nisso e buscando na teoria dos campos conceituais elementos que

pudessem servir de objeto identificador de dificuldades nos aprendizes, é que

construiu-se um esquema designando os invariantes operatórios, bem como os

elementos do tripleto (S,I,R) já mencionado, para cada área do Cálculo Diferencial e,

posteriormente, para cada questão aplicada nos testes.

5.7.1 Procedimentos didático-metodológicos do Docente no ensino de funções

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Apesar do conceito de funções ser apresentado aos alunos formalmente no

nível médio, ou seja, apesar deles já terem, teoricamente, o conhecimento prévio

deste conteúdo, em geral, os alunos dos cursos de formação superior não voltados à

aprendizagem matemática têm grande dificuldade no trabalho com os conceitos

associados a funções.

O conceito clássico reporta-se a: “Dados os conjuntos X, Y, uma função f: X -

> Y é uma regra que diz como associar a cada elemento x pertencente a X um

elemento y = f(x) pertencente a Y. O conjunto X chama-se o domínio e Y o

contradomínio da função f. Para cada x pertencente a X, o elemento f(x) pertencente

a Y chama-se a imagem de x pela função f, ou o valor assumido pela função f no

ponto x pertencente a X”.

Com isto a apresentação do conceito inicial de funções foi a tradicional

“apresentação intuitiva” juntamente com a definição da notação associada à mesma,

ou seja, para tanto utilizou-se uma tabela com a representação funcional e com a

descrição dos valores da função nos pontos sugeridos. Após o calculo do valor da

função em cada ponto sugerido estabeceu-se a descrição de como representar

graficamente cada ponto com o uso dos eixos cartesianos e com a pontuação dos

mesmos em cada eixo correspondente.

Estudaremos o comportamento de uma função { }f : R 1 R− → definida por:

1)( 2 += xxf

Assim utilizou-se a seguinte função e tabela cartesiana:

Tabela 1 Função exemplo X F(x) -2 5 -1 2 0 1 1 2 1 5

Fonte: Elaboração da própria autora

Com a seguinte representação gráfica:

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−4 −3 −2 −1 1 2 3 4

−4

−3

−2

−1

1

2

3

4

x

y

Gráfico 1 Gráfico da função exemplo Fonte: Elaboração da própria autora

A partir dessa exploração, percebemos que muitos alunos, embora,

teoricamente, devesse trazer os conceitos de relação e função bem estruturados e

arrumados em suas estruturas cognitivas, tinham dificuldade em compreender o

conceito a partir da abordagem inicial feita pelo professor.

5.7.1.1 Análise do grupo 1

Exercícios foram aplicados em sala de aula, mas não foram feitas

observações para fins da pesquisa. A interação professor-aluno deu-se de forma

natural, como de costume no cotidiano das aulas do docente.

5.7.1.2 Análise do grupo 2

Exercícios foram aplicados em sala de aula, mas não foram feitas

observações para fins da pesquisa. A interação professor-aluno se deu de forma

natural, como de costume no cotidiano das aulas do docente.

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106

5.7.1.3 Análise do grupo 3

Houve observação. O professor interagiu com a turma, de modo a reexplicar o

assunto para, soemente depois aplicar o teste 1. Exercícios foram aplicados em sala

de aula, onde observamos as atuações dos discentes, a forma como participavam,

as perguntas que faziam, a interação entre os mesmos e outras variáveis.

A partir daí o docente diagnosticou lacunas no processo de aprendizagem de

conteúdos, resolveu problemas que servissem de referência para os testes que

seriam aplicados e verificou a atuação do grupo na resolução das questões.

Por meio da resolução dos exercícios, ele detectou alguns invariantes

operatórios presentes na estrutura cognitiva dos aprendizes e verificou que nem

sempre os mesmos estavam condizentes com os da teoria demandada na questão.

5.7.1.4 Análise do grupo 4

Exercícios foram aplicados em sala de aula, onde observamos as atuações

dos discentes, a forma como participavam, as perguntas que faziam, a interação

entre os mesmos e outras variáveis.

A partir daí o docente diagnosticou lacunas no processo de aprendizagem de

funções, resolveu problemas que servissem de referência para os testes que seriam

aplicados e verificou a atuaçãos do grupo na resolução das questões.

Por meio da resolução dos exercícios, ele detectou alguns invariantes

operatórios presentes na estrutura cognitiva dos aprendizes e verificou que estavam

mais próximos dos invariantes da teoria, embora não em 100% dos casos.

Os mesmos procedimentos adotados no Grupo 3 foram aplicados no Grupo 4.

5.7.1.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 3 e 4

Nos grupos 3 e 4 os alunos foram solicitados a escolher e utilizar dois (ou

mais) livros que o professor disponibilizou na sala. Todos tinham o conteúdo de

funções. Ele então designou aos aprendizes a tarefa de pesquisar o conceito de

relação e o de função, trazendo algum exemplo de aplicação, sem especificar os

tipos de função.

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107

Após a primeira aula para a pesquisa, o professor recolheu o material

bibliográfico e cobrou a tarefa dos alunos. Cada um entregou por escrito aquilo que

eles haviam entendido ser o conceito de relação e o de função. Em seguida ele

pediu que cada grupo sinalizasse cada diagrama ou tabela especificado (a) (como

nos modelos abaixo) com R (somente relação), F (somente função), F/R função e

relação ao mesmo tempo.

Os alunos tiveram um período de quinze minutos para responder a atividade.

Após isso, o professor visitou cada grupo para verificar se as respostas estavam

corretas e discutiu todas as respostas. Como toda função é uma relação, nos

exemplos não há “F”, apenas “R” ou “F/R”. Não existe “apenas função”, excluindo a

possibilidade de que seja também uma relação.

Para as tabelas, foi discutido o fato de que, embora em ambos os exemplos

tenhamos uma relação, apenas a primeira determina uma função, visto que ela é

uma relação associada a uma lei de formação.

x 2 3 4 5

y 4 5 6 7

Diagramas e tabelas: Atividade realizada em sala Fonte: Elaboração da própria autora

5.7.2 Procedimentos didático-metodológicos do docente no ensino de limites

x 0,234 - 10 11 6,333...

y 87 0,4 5

6− 7

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108

A introdução ao conceito inicial de limite foi feita pela tradicional

“apresentação intuitiva”, muito utilizada na prática de ensino deste conceito em

cursos não diretamente relacionados à matemática pura, tais como Sistemas de

Informação, Adminstração, Radiologia, entre outros. A aula descrita a seguir foi

ministrada a todos os grupos.

Pediu-se que os alunos estudassem o comportamento da função

{ }: R 1 Rf − → , definida por ( )2 1

1

xf x

x

−=

−, nas proximidades do ponto (1,0).

O docente explicou que a análise do comportamento desta função nas

vizinhanças do ponto x=1 (que não pertence ao domínio de f) permite constatar que

( )f x se aproxima de forma rápida do valor L=2, quando os valores de x se

aproximam de x=1, seja à esquerda (x<1) ou à direita (x>1) de 1. Depois disso o

professor explicou que para x diferente de 1, ( )f x pode ser simplificada e reescrita

de maneira mais simples:

( ) 1f x x= + , pois ( )( ) ( )2 1 11

11 1

x xxf x x

x x

+ −−= = = +

− −.

Dito isto, foi pedido que os mesmos completassem as duas tabelas:

Tabela 2 Proposta de aproximação pela esquerda de x=1

Pela esquerda de x =1

X 0 0,5 0,8 0,9 0,99 0,999 1

f(x)

Fonte: Elaboração da própria autora.

De forma análoga:

Tabela 3 Proposta de aproximação pela direita de x=1

Pela direita de x =1

X 2 1,5 1,2 1,1 1,01 1,001 1

f(x)

Fonte: Elaboração da própria autora.

Após algum tempo o docente foi preenchendo as tabelas com a colaboração

dos discentes, obtendo os seguintes resultados:

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109

Tabela 4 Cálculos da aproximação pela esquerda de x=1

Pela esquerda de x =1

X 0 0,5 0,8 0,9 0,99 0,999 1

f(x) 1 1,5 1,8 1,9 1,99 1,999 2

Fonte: Elaboração da própria autora.

De forma análoga:

Tabela 5 Cálculos da aproximação pela direita de x=1

Pela direita de x =1

x 2 1,5 1,2 1,1 1,01 1,001 1

f(x) 3 2,5 2,2 2,1 2,01 2,001 2

Fonte: Elaboração da própria autora.

O Professor Clevenson continuou: “neste caso, dizemos L=2 é o limite da

função f quando x se aproxima de 1, o que denotaremos por”: ( )1

lim 2x

f x→

=

Este resultado pode ser visto através da análise gráfica de f, cujo esboço

verifica-se no gráfico a seguir:

Gráfico 2 Análise gráfica do exercício de limites Fonte: Elaboração da própria autora.

5.7.2.1 Análise do grupo 1

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110

Exercícios foram aplicados em sala de aula, onde observamos as atuações

dos discentes, a forma como participavam, as perguntas que faziam, a interação

entre os mesmos e outras variáveis.

A partir daí o docente diagnosticou lacunas no processo de aprendizagem de

conteúdos, resolveu problemas que servissem de referência para os testes que

seriam aplicados e verificou a atuação do grupo na resolução das questões.

Por meio da resolução dos exercícios, ele detectou alguns invariantes

operatórios presentes na estrutura cognitiva dos aprendizes e verificou que nem

sempre os mesmos estavam condizentes com os da teoria demandada na questão.

5.7.2.2 Análise do grupo 2

Exercícios foram aplicados em sala de aula, mas não foram feitas

observações para fins da pesquisa. A interação professor-aluno se deu de forma

natural, como de costume no cotidiano das aulas do docente.

5.7.2.3 Análise do grupo 3

Exercícios foram aplicados em sala de aula, mas não foram feitas

observações para fins da pesquisa. A interação professor-aluno deu-se de forma

natural, como de costume no cotidiano das aulas do docente.

5.7.2.4 Análise do grupo 4

Exercícios foram aplicados em sala de aula, onde observamos as atuações

dos discentes, a forma como participavam, as perguntas que faziam, a interação

entre os mesmos e outras variáveis.

A partir daí o docente diagnosticou lacunas no processo de aprendizagem de

conteúdos, resolveu problemas que servissem de referência para os testes que

seriam aplicados e verificou a atuaçãos do grupo na resolução das questões.

Por meio da resolução dos exercícios, ele detectou alguns invariantes

operatórios presentes na estrutura cognitiva dos aprendizes e verificou que estavam

mais próximos dos invariantes da teoria, embora não em 100% dos casos.

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111

A partir da observação dos grupos, o professor verificou que ainda restavam

dificuldades de compreensão no conceito de limites. Especialmente após um

exercício simples do tipo:

“determine 2

2

4lim

2x

x

x→

−”,

onde os discentes não colocavam o “2

limx→

”.

Por essa razão, ele, o Professor, trabalhou o conceito de limites com uma

abordagem que fomentasse o conceito de “aproximação” e atrelasse este invariante

operatório à estrutura cognitiva dos aprendizes.

Mesmo nos grupos 3 e 4 onde a atuação e participação dos alunos foi mais

efetiva, alguns faziam o mesmo e outros, que escreviam as expressões de forma

correta, o faziam porque consideravam “obrigatório”, sem entender o conceito de

“limite” e em muitos casos a sua notação.

Foi então que, aproveitando um invariante operatório de limite (aproximação),

o docente utilizou outra estratégia de ensino, mas apenas para os grupos 1 e 4,

como veremos a seguir.

Primeiro ele passou uma lista de exercícios que serviria de base para os

testes que seriam aplicados. Nesse momento nem todos os conteúdos presentes

nos testes podiam ser explicitados, já que esta foi uma aula inicial do conceito de

limite (e que serve como exemplo da prática pedagógica implementada).

5.7.2.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 1 e 4

A partir da abordagem aos grupos e depois de verificar que o invarante

operacional (aproximação) não estava bem construído na estrutura cognitiva de

alguns indivíduos, o conceito de limite foi abordado a partir da análise de gráficos de

funções já trabalhadas em sala de aula. Pediu-se (aqui houve a participação da

pesquisadora) aos alunos que eles desenhassem os gráficos das seguintes funções:

f1(x) = x; f2(x) = x2; f3(x) = 2-x e f4(x) = 1/x. Depois foi solicitado que os mesmos

completassem a tabela:

Tabela 6 Comportamentos funcionais solicitados pela pesquisadora X→+∞ x→-∞ f1(x) →

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112

f2(x) → f3(x) → f4(x) →

Fonte: Elaboração da própria autora.

Neste ponto foi dito que eles deveriam “perceber” nos gráficos as “tendências”

de crescimento e decrescimento das funções, a partir da “tendência” de x para mais

ou menos infinito.

Junto com os alunos foi-se preenchendo cada célula da tabela.

A função f3(x) = 2-x gerou uma discussão e impasse nas respostas. A

pesquisadora intercedeu e repetiu a proposta da atividade. Foi então que eles

compreenderam que quando x tende a mais infinito, f(x) tende a zero.

Nesse momento o professor perguntou à turma: “quando “algo tende a”, esse

algo é “igual a””? Os aprendizes balançaram a cabeça sinalindo resposta negativa, e

então o professor complementou: “em matemática, quando algo “tende a”, nós

chamamos de “limite”. Então, de forma bem resumida, podemos escrever que

( ) 02 =−

+∞→

x

xLim . Apesar do “=”, essa é forma matemática de dizer que quando x tende a

mais infinito, a função tende a zero. Notem: Não é IGUAl a zero, mas “tende a”, até

porque, vocês sabem muito bem, que numa função exponencial, a curva nunca toca

o eixo dos x”.

Os alunos concordaram e alguns emitiram um “ahhhhhhhhhhhhhhhh”.

5.7.3 Procedimentos didático-metodológicos do docente no ensino de derivadas

O conceito de derivada está intimamente relacionado à taxa de variação,

sendo seu teorema em ato assim definido neste trabalho. É bastante comum,

portanto, a abordagem deste conceito por este viés, visto que, boa parte dos

professores, costumam repetir a abordagem a que foram condiconados em seu

aprendizado. Essa é uma opinião pautada nas observações e diálogos cotidianos de

experiência docente nestes 17 anos em que leciono.

O Professor, ao apresentar o conceito de derivação, utilizou o mesmo

caminho por ele percorrido. Uma vez que o mesmo aprendeu Cálculo Diferencial

dessa forma, “por que meus alunos também não irão aprender?”, foi a indagação do

mesmo à pesquisadora. Tendo cursado a graduação com ele, posso reiterar o que

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113

ele disse. No entanto, outras estratégias não foram utilizadas de pronto, apenas e

especificamente nos grupos onde houve intervenção (grupos 1 e 4) após exercícios

realizados em sala de aula.

O docente iniciou a aula introdutória de derivadas fazendo a relação com a

taxa de variação instantânea de uma função, afirmando que esta é uma relação

presente no cotidiano das pessoas. Endossou exemplificando que a determinação

da taxa de crescimento de uma determinada população, a taxa de crescimento

econômico do país ou mesmo a taxa de redução da mortalidade infantil ou a

variação de temperaturas, velocidade de corpos ou objetos em movimento,

ilustravam algumas das inúmeras aplicações da derivada.

Continuou seu discurso afirmando que diversos exemplos poderiam ser dados

que apresentassem uma determinada função variando, sendo que a medida desta

variação se fazia necessária em um momento específico.

Após esta introdução, ele escreveu a definição matemática da derivada de

uma função em um ponto:

Seja ( )f x uma função definida num intervalo aberto I ( 0x ∈ I). A derivada da

função f é dada por: ( )( ) ( )0 0

00

limx

f x x f xf x

x∆ →

+ ∆ −′ =

∆, desde que o limite exista.

x∆ representa uma pequena variação em x, próximo de 0x , isto é, se tomarmos

0x x x= + ∆ , sendo 0x x x∆ = − , então teremos ( )( ) ( )

0

0 00

0

limx x

f x x f xf x

x x→

+ −′ =

−. Outras

formas de representar a derivada são 0( )df

xdx

, 0x x

df

dx =

, entre outras.

5.7.3.1 Análise do grupo 1

O professor resolveu exercícios em sala de aula e observou, junto com a

pesquisadora, a atuação dos discentes. A participação, os questionamentos, a

interação com o professor e com os colegas, mas, especialmente, os erros

cometidos.

A partir da detecção de lacunas no processo de aprendizagem de conteúdos,

o professor resolveu exercícios que pudessem ser utilizados como base para os

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testes que seriam aplicados (Teste 2) e verificou a atuação do grupo na resolução

das questões.

Por meio da resolução dos exercícios e interação com a turma, o docente,

detectando que alguns invariantes operatórios presentes na estrutura cognitiva dos

aprendizes nem sempre estavam condizentes com os da teoria demandada na

questão. A partir de então estratégias foram montadas (teoricamente) para que essa

situação fosse amenizada.

Aqui as estratégias descritas para o grupo 1 também foram aplicadas.

5.7.3.2 Análise do grupo 2

Alguns exercícios foram resolvidos em sala sem compromisso específico com

a aplicação dos testes. A interação entre o docente e os alunos foi como de costume

no cotidiano das aulas do docente.

5.7.3.3 Análise do grupo 3

Exercícios foram resolvidos, embora não tivessem sido feitas observações

para fins da pesquisa. A interação professor-aluno se deu de forma natural, como de

costume no cotidiano das aulas do docente.

5.7.3.4 Análise do grupo 4

Alguns exercícios foram selecionados e resolvidos em sala. Observou-se a

atuação dos alunos, bem como a participação, dúvidas relacionadas e a interação

entre os mesmos e com o professor, além de outras variáveis.

O docente diagnosticou lacunas no processo de aprendizagem dos

conteúdos, resolvendo, a partir de então, problemas que servissem como base para

os testes que seriam aplicados e verificou a atuação do grupo na resolução das

questões, tirou dúvidas e fomentou a participação dos aprendizes na resolução.

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115

Por meio da resolução dos exercícios, ele detectou alguns invariantes

operatórios presentes na estrutura cognitiva dos aprendizes e verificou que nem

sempre eles correspodiam com os esperados.

A partir da observação dos grupos, o professor verificou que ainda restavam

dificuldades de compreensão no conceito de derivadas. Especialmente após um

exercício simples do tipo:

“calcule a derivada de cada função a seguir:”,

Muitos discentes não colocavam a ‘ na função derivada, tal como “ ( )f x′ ”.

Com essas observações o Professor trabalhou o conceito de derivadas com

uma abordagem que fomentasse o conceito de “taxa de variação” e atrelasse este

invariante operatório à estrutura cognitiva dos aprendizes. Com a resolução de

exercícios que envolvessem derivadas como aplicação a problemas de taxa de

variação, ele pôde encaminhá-los à ZDP e retirá-los em seguida.

Mesmo nos grupos 1 e 4 onde a atuação e participação dos alunos foi mais

efetiva, alguns faziam o mesmo e outros, que escreviam as expressões de forma

correta, o faziam porque consideravam “obrigatório”, sem entender o conceito de

“derivada” e em muitos casos a sua notação. A derivada “pela definição” gerou

desconforto depois que eles descobriram as técnicas para os cálculos de derivadas.

Foi então que, aproveitando um invariante operatório de derivada (taxa de

variação), o docente utilizou outra estratégia de ensino, mas apenas para os grupos

1 e 4, como descreveremos a seguir.

Primeiro ele passou uma lista de exercícios que serviria de base para os

testes que seriam aplicados. Nesse momento nem todos os conteúdos presentes

nos testes podiam ser explicitados, já que esta foi uma aula inicial do conceito de

derivada (e que serve como exemplo da prática pedagógica implementada).

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5.7.3.5 Estratégias utilizadas após observações realizadas nos grupos 1 e 4

Por meio de exercícios que abordassem a teoria, percebeu-se que os alunos

não compreenderam bem o conteúdo relativo à definição de derivada. A partir da

abordagem aos grupos e, depois de verificar que o invarante operacional (taxa de

variação) não estava bem construído na estrutura cognitiva de alguns indivíduos, o

conceito de derivação foi abordado a partir da interpretação física do conceito.

Antes disso, foi passado aos alunos uma lista de exercícios onde foram

abordados os limites, as funções e derivadas. Alguns exercícios foram resolvidos em

sala de aula, o que fez com que ele (o docente) trabalhasse o conteúdo em todos os

grupos sem exceção.

Nos grupo 1 e 4, onde houve uma intervenção do professor, foi desenhado no

quadro o seguinte esquema gráfico:

Gráfico 3 Esquema gráfico apresentado aos alunos dos grupos 1 e 4 Fonte: Elaboração da própria autora.

Narrativa das palavras do docente:

“Pessoal, esse é o gráfico da posição versus tempo do meu carrinho. Lindo

ele, não? Se eu quiser saber a velocidade média dele, o que eu faço?”. Nesse

momento um aluno gritou: “olha no velocímetro”. A turma riu, e ele retomou: “Ok,

mas eu quero que vocês relembrem os conceitos da Física aqui. Porque o

velocímetro não existe “do nada”. Ele foi criado a partir de conceitos do Cálculo.

Qual é a fórmula que está por trás desse conceito?”. Os alunos interagiram, tanto em

um grupo como no outro, respondendo que s

vt

∆=

∆ (em verdade trata-se da

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velocidade média). O facilitador então continuou: “Certo, muito bem! O que é s∆ e

t∆ ? É a variação do espaço e do tempo, que vocês aprenderam em Física no

ensino médio. No nosso gráfico, a variação do tempo é t t t+ ∆ − , que é o tempo final

menos o tempo inicial. A variação da posição, qual é?”.

Neste ponto um aluno respondeu: “posição final menos inicial”. Ele exclamou

que estava correto, mas insistiu: “No nosso gráfico, do meu super potente carrinho,

qual é a posição final e qual é a inicial?”. Os alunos permaneceram calados. Ele

sinalizou, apontando para o quadro: “A posição final é ( )s t t+ ∆ e a inicial é ( )s t .

Reparem bem, aqui (se referindo a ( )s t t+ ∆ ) não é um produto (evidenciando um

desejo de aproximação com a notação funcional). Isso é a forma utilizada para

descrever a função posição em relação ao tempo. Da mesma forma que a gente

representa por ( )f x uma função qualquer de variável x, ok?”. Os alunos

responderam que sim com a cabeça, sinalizando que haviam entendido o que ele

queria dizer. Então ele contininuou com a explicação, escrevendo e narrando: “Se

( ) ( ) ( ) ( )s t t s t s t t s tsv

t t t t t

+ ∆ − + ∆ −∆= = =

∆ + ∆ − ∆, qual é a velocidade instantânea do meu

carrinho?”. Um aluno pediu para ele repetir. Ele mudou a estratégia: “Se minha

mulher, que gosta de me bater quando eu chego atrasado (os aluno riram), ligar

para mim quando eu estiver dirigindo meu super carro, e perguntar qual é a minha

velocidade naquele ponto exato em que estou passando, o que eu vou dizer? Eu

tenho que falar a verdade, porque ela é muito ciumenta e sabe muita física e

matemática (os alunos riram muito)”. Um dos aprendizes afirmou que bastava ele

olhar para o velocímetro e dizer a velocidade. O professor retrucou que o tal carro

não tem velocímetro e que para saber a velocidade instantânea, seria necessário

“abstrair” um pouco. Ele continuou: “Vejam bem, vocês concordam comigo que para

eu saber a velocidade instantânea, eu vou ter que, geometricamente, fazer essa

distância (referindo-se a distância entre t e t∆ ) se aproximar muito, mas muito

mesmo, até tender a zero? Porque vejam, eu tenho que saber a velocidade no ponto

e o ponto não tem dimensão, certo? Então essa distância é tão pequena que é

chamada de infinitesimal. Ela tende a zero. Assim, minha velocidade será:

( ) ( ) ( ) ( )0 0

lim limt t

s t t s t s t t s tv

t t t t∆ → ∆ →

+ ∆ − + ∆ −= =

+ ∆ − ∆. Ou seja, o que fizemos para calcular a

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velocidade, foi calcular a derivada da posição, porque, pela definição, a derivada tem

essa fórmula. Mas em matemática, a gente não costuma escrever a definição

utilizando a posição e o tempo. Matemático gosta muito de um ( )f x , não é

verdade?”. Os aluno riram e concordaram. “A derivada, portanto, nada mais é do que

( )( ) ( )

0limx

f x x f xf x

x∆ →

+ ∆ −′ =

∆. Esse ( )f x′ é uma forma de representação ou, o que

costumamos chamar de notação para a derivada. Existem outras: , x

dfD

dxe muito

mais. Ok? Notem que velocidade, nada mais é do taxa de variação da posição em

função do tempo. A derivada não é só utilizada para calcular velocidades. Ela é

usada toda vez que temos um problema de cálculo que envolva a taxa de variação,

em qualquer área existente”. Os alunos balançaram a cabeça sinalizando e alguns

disseram que sim, haviam entendido.

Em seguida foram aplicados exercícios para fixação do conteúdo, em ordem

crescente de dificuldade.

5.8 Análises dos grupos após Teste 2

Após realização do Teste 2, obtivemos os resultados especificados abaixo. As

correções foram feitas utilizando a taxonomia SOLO, como já mencionado

anteriormente.

5.8.1 Análise do grupo 1

Os alunos deste grupo tiveram maior desempenho analisando-se as questões

pelo uso da taxonomia SOLO. Eles tiveram a intervenção do docente e também

leram o livro “Newton e sua maçã”, que trata de maneira bastante lúdica e simples

sobre a história de Newton, contada de uma maneira divertida, mas nem por isso

infantil. Os discentes elogiaram o livro e comentaram bastante durante as aulas. O

professor sempre se referia a ele, além de contar histórias e estórias que

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119

retratassem a história do desenvolvimento do Cálculo Diferencial como incentivo e

fomento ao interesse dos alunos pela disciplina.

5.8.2 Análise do grupo 2

O desempenho dos alunos do grupo 2 não foram os mesmo do G1 ou do G4.

Nestes não houve a fixação do invariante operatório ou o uso de elementos extras

que o fixassem. O livro passado para os alunos conduzia-os a fixar em suas

estruturas cognitivas o conceito de taxa de variação associada à derivada. Os

exercícios realizados após a nova abordagem nos grupos 1 e 4 não foram feitos

pelos alunos do grupo 2. Essas diferenças, muito provavelmente, foram decisivas

para que o resultado não fosse positivo na mesma medida.

5.8.3 Análise do Grupo 3

Assim como no grupo 2, os alunos do G3 não tiveram uma nova abordagem,

nem a chance de discutir durante a aula as questões relativas à história da

disciplina, em vista de não terem lido o livro. Além disso, pode-se verificar, por meio

da correção, que os invariantes operatórios aqui adquiridos não correspondem na

sua totalidade ao esperado e existente na teoria.

5.8.4 Análise do Grupo 4

Neste grupo, assim como no G1, os alunos tiveram um melhor desempenho

no teste 2. Obviamente que uma interação maior, o incentivo à participação, a leitura

de textos auxiliares e a própria dinâmica de uma nova abordagem do assunto

colaboraram sobremaneira, fazendo-os fixar o invariante operatório “taxa de

variação”, o que corresponde ao da teoria. Pela análise das questões pelo uso da

T.S., pudemos observar que os mesmos otiveram uma compreensão maior do

campo conceitual referente à diferenciação de funções. Eles também leram o livro

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“Newton e sua maçã”, tendo mostrado que a construção do teorema em ato deu-se

de forma satisfatória.

Além da leitura do livro, os mesmos também apresentaram a peça como uma

adaptação do livro. Este grupo teve um contato maior com a pesquisadora, mesmo

em momentos extra-classe, onde puderam tirar dúvidas sobre a apresentação e a

mesma pôde, informalmente, contar a história do Cálculo e algumas curiosidades

sobre a matemática. Este contato maior fomentou nos alunos a curiosidade. Tanto

que foram buscar referências sobre Leibniz e, por meio de pesquisas realizadas por

eles mesmos, constataram que o cálculo de Newton e de Leibniz diferia em alguns

aspectos.

Foram momentos oportunos e gratificantes, tanto para os alunos, quanto para

o professor e a pesquisadora. Os alunos resolveram incluir na peça o personagem

de Leibniz para dar um tom cômico à história. Após a apresentação, houve o

momento de confraternização e os mesmos responderam perguntas dos colegas.

5.9 A Avaliação Docente

A avaliação do docente ocorreu de forma participativa com o mesmo e

descritiva através da aplicabilidade de um questionário (Apêndice F), e com o

acompanhamento associado. No preenchimento deste questionário o docente foi

orientado a ser o mais fidedigno possível e a submeter-se às sugestões da

pesquisadora durante as visitas e a interação com os discentes de forma a promover

no mesmo o aceite do método proposto e a facilitar a mensuração que o impacto do

mesmo passaria a ter nos discentes, de forma individual e também com coletiva.

O docente então avaliou, junto com a pesquisadora, os questionários

aplicados e é orientado pela mesma a utilizar algumas estratégias de

comportamento a partir do momento de aplicação do primeiro questionário. Estas

estratégias e/ou comportamentos em sala de aula foram então pautados de acordo

com as propostas descritas no capítulo anterior.

A avaliação do professor foi aplicada com o intuito de verificar se a relação

professor/aluno era saudável ao ponto de não prejudicar a proposta da pesquisa. Os

resultados não foram divulgados pelo fato de o professor ser muito querido pela

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121

turma, tendo sido quase unânime a admiração dos discentes pelo docente. Portanto,

a relação com o professor não só não atrapalhou a pesquisa, como colaborou para a

participação de todos (exceto um membro) e empenho dos mesmos.

5.9.1 Entrevistas com os Discentes

O painel ocorreu por grupo. O grupo 4 era o mais “animado”. Eles

colaboraram sobremaneira na execução de todas as tarefas, inclusive fomentando a

participação dos demais grupos. Isso foi relatado e o professor, bem como a

pesquisadora, agradeceram e os incentivaram a continuar.

Os alunos compreenderam a importância do trabalho, mostraram, por meio de

um “bate-papo informal” algumas asserções de valor em se tratando do conteúdo

abordado.

5.9.2 Execução da Coleta de Dados com as Listas de Exercícios

Para o desenvolvimento e compreensão das questões suscitadas no trabalho,

eleboramos e aplicamos os Testes 1 e 2 sob forma de lista de exercício com

questões em nível crescente de dificuldade, a fim de colocar o aluno na zona de

desenvolvimento proximal.

As listas tiveram os seguintes assuntos abordados:

- Funções (questões com resolução quase mecânica, em que o aluno

precisava apenas fazer contas, questões para construção de gráficos e reconhecimento de alguma teoria, problemas de interpretação, em que o aluno tinha que fazer uso da teoria e associá-la à prática.)

- Limites (questões de aplicação de cálculos, bastante objetivas e mecânicas, questões que necessitavam reconhecimento da teoria, como limites no infinito, resolução de limites, limites laterais etc e problemas de interpretação, em que o aluno tinha que fazer uso da teoria e associá-la à prática.)

- Derivadas (questões de resolução direta, com aplicação de fórmulas, que não necessariamente os alunos poderiam aprender, mas sim “decorar”, questões de resolução um pouco mais elaborada, em que o aluno teria que recorrer a conceitos explicitados na teoria e por fim, questões de aplicabilidade no

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122

muno real, usando a derivada como conceito de taxa de variação aplicável aos diversos problemas propostos).

Com base nisto foi elaborado um Teste 1 envolvendo funções e um Teste 2

envolvendo conceitos de limites e derivadas.

Encontrou-se uma variedade de estratégias adotadas na resolução de

problemas, mescladas, tanto de conhecimentos matemáticos adquiridos na vida

cotidiana, quanto de fragmentos de conhecimentos escolares, resultantes de

passagens anteriores pela escola.

Os cursos atuais superiores não voltados à formação de matemáticos,

tradicionalmente, valorizam aspectos mecanizáveis ou de fácil memorização em

detrimento das aplicações de problemas relacionados à teoria, com isso,

frequentemente nega aos alunos a expressão de um conhecimento que possuem,

mas têm dificuldade de representar em tipos de questões como essas, de

representatividade dos diversos campos conceituais. Por essa razão, inclusive, é

que o Teste 1 e o Teste 2 não mesclaram os diversos conteúdos em uma mesma

questão, ao contrário, separamos por delimitações conceituais apresentadas

comumente em sala.

Os testes, no entanto, foram aplicados somente ao final da apresentação dos

assuntos abordados referentes aos conteúdos do ementário da diciplina. Nem todas

as aulas estão aqui descritas, como pôde-se verificar. Estão aqui apenas aquelas

referentes à inserção dos invariantes operatórios na teoria, além de terem sido

utilizadas para retirar o aluno da ZDP.

Ao explanar os conceitos nas primeiras vezes, por meio de exercícios em sala

de aula e da própria interação com os alunos, o professor pôde detectar onde havia

maior dificuldade na absorção dos conteúdos e na apreensão dos I.O. por parte dos

aprendizes. A partir daí, e após aplicação de novas estratégias ou mesmo de uma

explicação enviesada pelos I.O., o docente conseguiu, pelo que podemos verificar

ns testes, retirar o aluno da ZDP. A partir daí, o aluno encontra-se no nível de

desenvolvimento real, onde a apreensão do conteúdo tornou-se significativa. Cabe

lembrar que nos casos de disciplinas que sejam “pré-requisitos” para outras, o aluno

encontra-se, neste ponto, apto a cursar as próximas disciplinas do currículo que

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123

tenham relação direta ou indireta com esta a que foi aplicada a proposta aqui

estabelecida.

5.9.3 Proposta Básica dos Questionários de Aplicação

Utilizamos dois tipos de questionário de aplicação.

5.9.3.1 Primeiro modelo de questionário

O primeiro é um questionário de pesquisa que teve como meta encaminhar os

discentes, em grupos de trabalho, para a zona de desenvolvimento proximal do

respectivo conteúdo abordado. Este instrumento foi elaborado sob o formato de uma

lista de exercícios e/ou trabalho de aplicação em sala de aula que denominamos de

Teste 1 nos modelos relatados no Apêndice A e B deste trabalho.

5.9.3.2 Segundo modelo de questionário

O segundo modelo de questionário, o Teste 2 (Apêndices C e D), versa sobre a

avaliação da aplicação do primeiro após a aplicação das técnicas sugeridas para a

retirada dos discentes da zona de desenvolvimento proximal para a qual os mesmos

foram encaminhados e denominares de teste. Estes questionários tveram como

objetivo principal a mensuração da eficácia e da eficiência do método proposto de

forma a fornecer um feedback sobre a aplicação.

5.9.4 Descrição dos objetivos e estratégias esperadas nas questões

Neste item descrevem-se os objetivos e estratégias adotadas em cada questão

em ambos os testes.

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124

5.9.4.1 Descrição dos objetivos

Os objetivos ou sub-conceitos implícitos em cada questão são divididos em 3 grupos que refletem os assuntos listados

(funções, limites e derivadas) conforme o quadro a seguir:

Descrição dos objetivos esperadas nas questões

Teste 1 (Funções e Limites)

Teste 2 (Limites e Derivadas)

Observações

Conceitos Sub-conceitos Questão

1

Questão

2

Questão

3

Questão

4

Questão

5

Questão

6

Questão

7

Questão

1

Questão

2

Questão

3

Questão

4

Questão

5 Relações ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Conceitos ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Notação ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Propriedades ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Tipologia ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Análise algébrica ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Análise gráfica ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Funções

Contextualização à realidade ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Conceitos ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Notação ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Propriedades ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Análise algébrica ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Análise gráfica ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■

Limites

Contextualização à realidade ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ Conceitos ■ ■ ■ ■ ■ ■

Notação ■ ■ ■ ■ ■ ■ Propriedades ■ ■ ■ ■ ■ ■

Análise algébrica ■ ■ ■ ■ ■ ■ Análise gráfica ■ ■ ■ ■ ■ ■

Derivadas

Contextualização à realidade ■ ■ ■ ■ ■ ■ Quadro 4 Descrição dos objetivos esperadas nas questões

Fonte: Elaboração da Própria autora.

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125

Na análise das soluções propostas deve-se considerar estes conteúdos esperados para a classificação e pontuação das

mesmas na taxonomia SOLO.

5.9.4.2 Descrição das estratégias

As estratégias adotadas consubstanciam o que explicita o item 5.2, ou seja, a preleção a descrição dos elementos históricos

associados ao tema e as devidas correlações com problemas da vida real, nos seus aspectos pessoais e profissionais,

provocando-se sugestões de solução dos respectivos problemas elencados.

5.9.4.2.1 Teste 1

Neste cenário delineou-se a tabela a seguir:

S I R Teste 1

(Conjunto de situações que dão sentido ao conceito) (Conjunto de conhecimentos presentes na estrutura cognitiva que são mobilizados para a solução)

(Conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que permitem representar

simbolicamente o conceito)

Conceitos

Questão 1

Associações entre grandezas e suas possíveis indexações. Comparação entre o encadeamento sequenciado das grandezas representativas aos gráficos em questão.

Conceito de funções e relações. Gráficos, Isomorfismos com a realidade, Notação Matemática

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos.

Questão 2

Comparação entre o encadeamento sequenciado das grandezas representativas ao gráfico em questão bem como o comportamento temporal, ou seja, a tendência do mesmo.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética. Gráficos, Pictogramas

Conceitos; Análise algébrica e funcional; Notação; Propriedades.

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S I R Teste 1

(Conjunto de situações que dão sentido ao conceito) (Conjunto de conhecimentos presentes na estrutura cognitiva que são mobilizados para a solução)

(Conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que permitem representar

simbolicamente o conceito)

Conceitos

Questão 3 Análise de tendências de crescimento e decrescimento de funções bem como a sedimentação dos conceitos e singularidade.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos bem como a análise comparativa do crescimento e decrescimento funcional.

Desenhos, Gráficos, Isomorfismos com a realidade,

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Questão 4

Análise de tendências de crescimento e decrescimento de funções e operações matemáticas com as mesmas bem como a sedimentação dos conceitos e singularidade.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos bem como a análise comparativa do crescimento e decrescimento funcional.

Desenhos, Gráficos, Pictogramas, Fotos, Isomorfismos com a realidade

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Questão 5

Associação direta entre uma realidade física objetiva e a sua representação em função da dinâmica descrita no sistema bem como associação entre o comportamento matemático de conceitos e propriedades físicas da matéria.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos, como a análise comparativa do crescimento e decrescimento funcional bem como associação direta entre o modelo e a realidade.

Desenhos, Gráficos, Pictogramas, Isomorfismos com a realidade,

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

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S I R Teste 1

(Conjunto de situações que dão sentido ao conceito) (Conjunto de conhecimentos presentes na estrutura cognitiva que são mobilizados para a solução)

(Conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que permitem representar

simbolicamente o conceito)

Conceitos

Questão 6 Associação direta o conceito e aplicação do mesmo a funções bem como análise e domínio de propriedades de funções.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos, como a análise comparativa do crescimento e decrescimento funcional bem como associação direta entre o modelo e a realidade.

Pictogramas

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Questão 7

Associação direta entre conceitos físicos e associação dos mesmos aos seus respectivos comportamentos funcionais bem como a análise de tendências funcionais e interpretação das mesmas ao comportamento fenomenológico associado.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos, como a análise comparativa do crescimento e decrescimento funcional bem como associação direta entre o modelo e a realidade.

Desenhos, Gráficos, Pictogramas, Fotos, Isomorfismos com a realidade

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Quadro 5 Estratégias de aplicação do Teste 1 Fonte: Elaboração da Própria autora.

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5.9.4.2.2 Teste 2

Neste cenário delineou-se a tabela a seguir:

S I R Teste 1

(Conjunto de situações que dão sentido ao conceito) (Conjunto de conhecimentos presentes na estrutura cognitiva que são mobilizados para a solução)

(Conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que permitem representar

simbolicamente o conceito)

Observações

Questão 1

Associações entre grandezas e suas possíveis indexações. Comparação entre o encadeamento sequenciado das grandezas representativas ao gráfico em questão.

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos.

Gráficos, Isomorfismos com a realidade, Notação Matemática

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos.

Questão 2 Associação entre a representação cartesiana gráfica e a expressão matemática equivalente.

Conceitos; Análise algébrica e funcional; Notação; Propriedades. Gráficos, Pictogramas, Isomorfismos

Conceito de funções e relações; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades.

Questão 3

Associação direta entre uma realidade física objetiva e a representação da mesma de forma geométrica e algébrica concatenando-se diversos conceitos e formas geométricas associadas bem como a representação dos conceitos de área e volume e a dinâmica do fluxo do líquido no seu interior.

Conceitos; Análise algébrica e funcional; Notação; Propriedades.

Desenhos, Gráficos, Isomorfismos com a realidade,

Conceito de funções e relações; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades.

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S I R Teste 1

(Conjunto de situações que dão sentido ao conceito) (Conjunto de conhecimentos presentes na estrutura cognitiva que são mobilizados para a solução)

(Conjunto de representações linguísticas e não linguísticas que permitem representar

simbolicamente o conceito)

Observações

Questão 4

Concatenação de eventuais situações e conhecimentos específicos de fenomenologia física e associação matemática da mesma. Neste caso tem-se a demanda dos conceitos de termodinâmica, leituras e associações gráficas e comportamento temporal do sistema. Verificação do nexo causal entre as gradeias associadas e as funções matemáticas que as descrevem.

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Desenhos, Gráficos, Pictogramas, Fotos, Isomorfismos com a realidade

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos.

Questão 5

Concatenação de conceitos físicos, visão especial e cálculo de áreas e volumes bem como associação direta entre sobreposição de áreas e volumes com custos financeiros associados.

Conceitos físicos e químicos da matéria; Análise algébrica e funcional; Contextualização à realidade (nexo causal e fenomenológico); Notação; Propriedades; Relações.

Desenhos, Gráficos, Pictogramas, Fotos, Isomorfismos com a realidade

Conceito de funções e relações; Análise algébrica e aritmética; Notação; Propriedades das funções; Gráficos e propriedades dos gráficos.

Quadro 6 Estratégias de aplicação do Teste 2 Fonte: Elaboração da Própria autora.

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6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

6.1 Os instrumentos e suas elaborações

Os instrumentos utilizados na pesquisa foram os testes, 1 e 2, o questionário

de avaliação docente, os questionários de entrevistas com os discentes e a

documentação fotográfica das etapas bem como os exercícios aplicados

previamente em sala de aula.

6.1.1 Exercícios prévios e os testes 1 e 2

Tantos os exercícios prévios aplicados em sala de aula como os testes 1 e 2,

foram lastreados nos conteúdos tradicionais da disciplina de cálculo e são baseados

em escolha feita pela pesquisadora e a devidamente avaliados e aprovados pelos

Docentes responsáveis pela disciplina, a citar: Prof. Clevenson Athanásio Santos

Mineiro, Prof. Gilson Amorim Carvalho e Prof. José Vicente Cardoso Santos.

As questões utilizadas foram copiadas e/ou adaptadas dos seguintes livros

texto da disciplina:

• STEWART, James. Cálculo vol. I. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.

• SWOKOWISKI, Earl Willian. Cálculo com Geometria Analítica. 2.ed. São Paulo: Makron Books, 1994.

Além destas considerações é importante o registro de que todas as questões

abordadas encontram-se no nível esperado e demonstrado pelos alunos da mesma.

A partir da observação dos grupos, o Professor verificou que ainda restavam

dificuldades de compreensão no conceito de limites. Especialmente após um

exercício simples do tipo “determine 2

2

4lim

2x

x

x→

−”, onde os discentes não colocavam o

“2

limx→

”. Este, aliás, é um erro muito comum nos estudantes de Cálculo. No entanto,

neste grupo isso ocorreu bem menos que nos grupos 1 e 2 onde eles não tiveram

uma nova explicação do assunto, e onde houve uma menor interação entre o

professor e os discentes.

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6.1.2 Questionário

O questionário foi elaborado pela pesquisadora em consonância às

demandas opinativas dos discentes em formação na disciplina bem como com os

eventuais registros que poderiam provocar o eventual descarte do aluno ou do grupo

do aluno em questão.

6.2 Análise dos instrumentos e classificação da pesquisa

Considerando-se os instrumentos descritos anteriormente, a revisão de

literatura sobre o tema e as pesquisas complementares em artigos, material

eletrônico e documentos complementares, pode-se afirmar que se trata de uma

pesquisa de natureza exploratória34, descritiva35 ou causal, conforme Churchill

(1999).

Em geral, uma pesquisa exploratória e descritiva busca determinar a freqüência

com que algo ocorre ou a relação entre duas variáveis, sendo tipicamente guiado

por uma hipótese inicial. A natureza causal, por sua vez, objetiva o teste de uma

teoria e suas relações de causa e efeito.

34 No caso de uma pesquisa exploratória, trata-se de aprofundar conceitos preliminares buscando a geração de

idéias ou insights. Seu objetivo básico é desenvolver hipóteses e proposições que irão redundar em pesquisas complementares e/ou consolidar uma premissa básica da mesma..

35 Uma pesquisa descritiva tem como objetivo mapear a distribuição de um fenômeno na população estudada.

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132

6.3 Cruzamento de Variáveis

O resultado da análise das questões encontra-se na tabela a seguir:

Taxonomia SOLO Escala de Níveis

Níveis e Sub-Níveis Nível 1

Complexidade Pré-Estrutural

Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni - Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade Abstrata

Descrição das

Características de

cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma irrelevante / concluindo de

forma totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas logicamente / várias

informações relevantes mas não relacionadas entre si / conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias

informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com

abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Nível da Questão

Nível da Questão Nível

Máximo da Questão

5 5 5 5 4 5

A pontuação máxima da questão deve normalizar-se ao nível da mesma 5 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 2 3 3 5 5 5 5 5

A pontuação máxima da questão deve normalizar-se ao nível da mesma

Equipes Teste 1 / Questões

Teste 2 / Questões

1 1 3 4 5 10 Equipe no a b

2 3 4 5 Observações

a b 2

a b c a b c a b c 6 7 8 9

a b c D

Observações

01 4 2 5 4 - - 5 - 3 4 4 4 3 3 4 4 4 4 2 - 3 1,5 - - - - 02 2 2 4 - - - 5 4 4 5 5 5 - - - - - - - - 2 - - - - - 03 3 3 5 - - - 5 - 3,5 5 5 5 3 3 3 4,5 4,5 4,5 - - 3 2,5 - - - 04 4 4 5 4 2 1 5 - 4 4 4 4 4 4 4,5 5 5 5 1,5 2 3 4 3 4 - - 05 4 4 5 5 4 - 4 4 3 5 5 5 3 3 4 4,5 4,5 4,5 2 2 2 4 4 4 5 3 06 2 1 2 - - - 2,5 1 2 2 2 2 3 3 2,5 2 2 2 1,5 3,5 - - - - - -

Gru

po 1

07 2 2 5 - - - 4 - 4 4 4 5 3 3 4,5 3,5 3,5 3,5 2 - 3 4 - - - - 08 1 1 - 1 1 1 2 - 1 1 1 1 - - - 1 1 1 2 - - - - - - - 09 1 1 - 3 1 1 2 - 1 1,5 1,5 1,5 4 4 5 3 3 3 2 3 - - - - - - 10 4 4 - - - - 1 1 1 - - - - - - - - - 2 - - - - - - - 11 2 1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 12 3 2 - - - - 2 - 1 - - - - - - - - - 2 - - - - - - - 13 2 2 1,5 - - - - - 2,5 - - - - - - - - - - - - 4 - - - - 14 3 1 - - 1 - 1 1 1 - - - - - - - - - 1 - - - - - - -

Gru

po 2

15 3 1 1 - - - 3 1 2 1 1 1 - - - - - - 1,5 - - - - - - - 16 4 3 5 5 - - 5 4 2 5 5 5 - - - - - - - - 2 - - - - - 17 4 2 3,5 3 1 - 5 1 3 5 5 5 - - - - - - - - 3 - - - - - 18 4 4 5 5 4 4 - - 4 2 2 2 - - - - - - - 4 2 - - - - - 19 1 1 1 1 - - 1 1 1 1 1 1 1 1 1 - - - 2 - - - - - - - 20 2 2 4,5 1 - 4 - - 3,5 4 4 4 2 2 4 1 2 1 2 4 - - - - - - 21 3 3 4,5 5 - - 2 - - - - - - - - - - - - - 2 1,5 - - - - 22 4 4 5 4 4 5 5 - 3,5 4 4 5 4 4 5 - - - - - 3 - - - - - 23 4 2 4 5 - - 2 - - - - - - - - - - - - - 2 1,5 - - - -

Gru

po 3

24 2 1 4 1 1 1 - - 3,5 - - - - - - - - - - - 3 1,5 - - - - 25 3 2 2 1,5 1 1,5 4 - 4 5 5 5 5 5 5 5 5 5 2 5 3 4 5 - 5 5 26 4 4 5 4 3,5 1 5 4 5 4 4 5 4 4 5 5 5 5 2 5 2,5 3 5 5 5 5 27 3 3 5 5 2 - 5 3 - 5 5 4 4 4 5 5 5 5 2 5 3 4 5 5 5 5 28 3 3 5 5 3,5 3 3 2 1,5 4 4 5 5 5 5 5 5 5 2 3,5 2,5 4 - - 1 1,5 29 3 4 5 5 2,5 4 4 4 3 5 5 5 3 3 3 3,5 3,5 3,5 2 3,5 3 4 5 2 3 5 30 4 4 5 5 - - 5 5 4 4 4 3 4 4 5 5 5 5 2 5 3 4 5 5 5 5 31 4 3 5 4,5 4 5 3,5 - 3,5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 2 5 3 4 5 - 4 4

Gru

po 4

32 3 3 4 5 3,5 - 3 2 3 5 5 5 4 4 5 4 5 5 2 2,5 2 3,5 5 3 4 - Adptação a partir de: Biggs, J. B. & Collis, K. F. (1982). Evaluating the quality of learming - The SOLO Taxonomy (structured of the observed learning outcome). S. Francisco: Plenum Press.

Quadro 7 Categorização das respostas dos testes 1 e 2 de acordo com a Taxonomia SOLO Fonte: Elaboração da própria autora.

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133

6.4 Análise das questões por grupo - A questão dos invariantes operatórios

Para Vergnaud, a mudança conceitual seria decorrente da explicitação das

competências, de seus invariantes operatórios, por intermédio de sua expressão,

discussão e integração em sistemas explicativos coerentes.

Embora já tenhamos refletido e explicitado os caminhos didáticos percorridos

para uma tentativa vergnaudiana de explicação dos elementos básicos constituintes

do Cálculo Diferencial, queremos deixar claro que todo o processo de

conceitualização, de construções dentro do um campo conceitual (seja do CD ou de

outros, dentro ou fora da matemática), e especialmente na formação deste,

dependem do tripleto (S,I,R), mas tem como alicerce principal os conceitos em ato

(os invariantes) e a forma com que se trabalha sua localização. Sim, localização,

porque, por meio deles, é que os aprendizes constroem seus conceitos e o professor

pode analisar as rupturas e linearidades supostas de existir nas estruturas cognitivas

de seus alunos.

Com base neste viés e na avaliação por meio da taxonomia SOLO, fazemos

alguns comentários específicos referentes a cada grupo. Escolhemos fazer tais

comentários por tópico estudado.

6.4.1 Funções

6.4.1.1 Grupo 1

Na análise dos dados sobre funções verifica-se que os alunos têm

dificuldades na interpretação e na notação das funções, em especial as funções

mais complexas e as notações que envolvem exponenciação.

6.4.1.2 Grupo 2

Verifica-se um número grande de respostas em branco e demandas de

entendimento de conceitos e notação funcional. Mesmo com estas considerações

percebe-se as falhas no entendimento das questões para os alunos que

consolidaram as questões.

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134

6.4.1.3 Grupo 3

Verifica-se um melhor resultado do que nos dois grupos anteriores, não

obstante, ainda residem os problemas de conceitos, comportamentos e notações

das funções em análise. Também verifica-se uma falta de conceito na geração das

funções, ou seja, o aluno não apercebe-se de que a geração de números para

geração de pontos nos eixos cartesianos para a geração do gráfico da respectiva

função pode ser aleatório.

6.4.1.4 Grupo 4

Verifica-se uma sensível melhora na avaliação deste grupo porém com os

mesmos problemas já registrados no grupo 3.

6.4.2 Limites

6.4.2.1 Grupo 1

No que se refere ao conceito de limite, os alunos aqui obtiveram um resultado

melhor do que os alunos dos grupos 1 e 2 (em que não houve interação específica

do docente para levar o aluno à ZDP e retirá-la dela). O teorema em ato construído

na estrutura cognitiva dos alunos estava mais próximo do da teoria de limites.

6.4.2.2 Grupo 2

Além de muitas respostas em branco, percebeu-se que os alunos não

apreenderam muito bem o conceito de limites. A aprendizagem foi mais mecânica do

que significativa, em vista da análise dos erros, tanto de grafia quanto conceituais,

verificamos que a ausência de interação e uma nova abordagem por parte do

professor, deixou uma lacuna na construção do invariante operacional nos mesmos.

6.4.2.3 Grupo 3

Neste grupo os alunos não construíram bem o conceito de limites. Embora

tenham se saído um pouco melhor que os alunos do grupo 2, muitas lacunas foram

observadas.

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135

6.4.2.4 Grupo 4

A partir da observação dos grupos, o professor verificou que ainda restavam

dificuldades de compreensão no conceito de limites. Especialmente após um

exercício simples do tipo “determine 2

2

4lim

2x

x

x→

−”, onde os discentes não colocavam o

“2

limx→

”. Este, aliás, é um erro muito comum nos estudantes de Cálculo. No entanto,

neste grupo isso ocorreu bem menos que nos grupos 2 e 3 onde eles não tiveram

uma nova explicação do assunto, e onde houve uma menor interação entre o

professor e os discentes.

6.4.3 Derivadas

6.4.3.1 Grupo 1

Verificou-se também muitas questões em branco e as respondidas não

tiveram os conteúdos completamente compreendidos, mas os resultados foram

melhores do que os alunos dos grupos 2 e 3, não obstante, ainda teria-se que atuar

nos conteúdos e notação para um melhor aproveitamento deste grupo.

6.4.3.2 Grupo 2

Muitas respostas não foram respondidas demonstrando desconhecimento do

conteúdo e de contextualização das questões associadas aos mesmos.

6.4.3.3 Grupo 3

Verifica-se um número razoável de respostas em branco e dificulade

resgistrada nas questões com o trabalho e entendimento dos conceitos e notações

das derivadas. Percebe-se também que muitos dos exercícios têm uma solução

mais mecanizada e sem a propriedade demanda pelos assuntos abordados em cada

questão.

6.4.3.4 Grupo 4

Neste grupo verifica-se um melhor aproveitamento dos conceitos associados

ao cálculo diferencial e suas aplicações no sentido de que um número maior de

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136

questões foram resolvidas, incompletas ou não, e com uma notação e aplicações

com maior objetividade.

6.5 Cruzamento de variáveis

Na análise dos dados os resultados de algumas variáveis foram cruzadas,

objetivando um aprofundamento no diagnóstico das situações e a possibilidade de

correlação entre variáveis associadas.

A pesquisa de natureza causal, por sua vez, vai além da descrição de

fenômenos ou do estabelecimento de relações entre conceitos, exigindo uma

estruturação anterior maior que as outras naturezas de pesquisa.

Mais especificamente sobre o instrumento de coleta (questionário), entende-se

que este instrumento deva ser elaborado por uma devida fase exploratória, seguido

de uma validação de conteúdo e de sua respectiva análise de confiabilidade.

A análise dos dados consistiu da categorização das estratégias utilizadas na

resolução dos problemas. A categorização teve por base os protocolos obtidos na

entrevista clínica e as representações teóricas e gráficas dos procedimentos

adotados (competências, representações, algoritmos e conceitos envolvidos) na

resolução das situações-problema utilizando-se a taxonomia SOLO para análise do

conteúdo coletado.

As categorias criadas foram validadas mediante o confronto com estudos

versando sobre o assunto; com a própria interpretação dos sujeitos da pesquisa; e,

através da apresentação dos dados a grupos de pesquisadores não diretamente

envolvidos na pesquisa, visando a ampliação das análises iniciais. Outras formas de

verificação e validação foram, também, a investigação de dados que não se

ajustavam aos padrões encontrados; e, a comparação entre o que foi dito e o que foi

observado.

6.6 Procedimentos Teóricos e Práticos

Nossa análise do desenvolvimento consecutivo deste modelo e do uso de

instrumentos associados divide-se em duas formas básicas.

Numa primeira instância, após a construção do modelo comportamental

pedagógico em sala de aula, os sujeitos (discentes) desenvolvem competências

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para manipular os instrumentos (que podem ser lógicos e/ou físicos) que serão

sugeridos pelo discente em consonância com o ementário da disciplina.

No primeiro caso, tem-se o chamado processo de instrumentalização.

No segundo, tem-se a consolidação do processo de instrumentação como

conseqüência ao desenvolvimento instrumental, ou seja, em função do possível

isomorfismo do uso do mesmo e/ou da criação de um “novo logos”.

6.7 Considerações e Ponderações

Consideramos que nesta etapa os sujeitos podem evoluir conceitualmente e

de forma mensurável e para tal iremos construir instrumentos de avaliação que

possam detectar tais desenvolvimentos (prioritariamente se os desenvolvimentos

foram mecânicos ou se de fato estão a agregar valores aos mesmos).

Temos o objetivo a priori de analisar os desenvolvimentos conceituais

consecutivos à aprendizagem no uso de instrumentos particulares a partir do

conceito definido por Vergnaud, entretanto, como já afirmamos, estes podem vir a se

modificar de acordo com o desenrolar fenomenológico.

6.8 A estratégia de trabalho: a ida à ZDP

6.8.1 A ZDP

A metodologia adotada, da preleção, dos exercícios, e os testes 1 e 2,

remetem o aluno, e o seu grupo, ao uso continuado dos conceitos de cada uma das

questões até o ponto em que, o aluno e o respectivo grupo, não mais desenvolvem a

respectiva resposta. Isto ocorre devido ao grau crescente de dificuldade dos

conceitos explorados nas questões.

Este procedimento remete o aluno, e o seu grupo, à zona de desenvolvimento

proximal, e, neste momento, pode ocorrer, a depender do aluno e do grupo,

demandas sobre informações sobre os conceitos e conteúdos da questão em

análise.

Como já foi dito, embora a teoria vygotskiana trabalhe, em termos de

mediação, com os instrumentos materiais (ferramentas), são os instrumentos

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psicológicos (signos e símbolos), os que mais são enfatizados na busca de uma

explicação semiótica do comportamento e da aprendizagem humana.

Como, para Vygotsky, os signos representam um vínculo intermediário,

artificialmente construído no intercâmbio cultural entre a realidade e a atividade do

indivíduo frente àquela, eles não só alteram a maneira de uma pessoa conceber a

realidade, mas também a natureza da atividade que executa.

A integração entre estes dois tipos de atividades é que irá proporcionar ao ser

humano ajustar-se ao já existente e criar novas situações envolvendo a criação

artística, científica e técnica (OLIVEIRA, 1999).

Ao fazer uma nova abordagem centrada nos pontos falíveis (onde se

percebeu a maior parte das dúvidas existentes no grupo de alunos), o professor

fomenta uma alteração da estrutura cognitiva do aprendiz, forçando-o a criar novas

situações. Ao criar novas situações, novos esquemas são formados e o ponto “de

parada”, isto é, o momento em que o aluno entra na ZDP, ou já não existe, ou é ele

que fará o aluno sair dela, entrando no nível de desenvolvimento real, onde

apreendeu o conceito e, a partir dele, constrói novos conceitos, formando seu campo

conceitual de estruturas específicas relativas, neste caso, ao Cálculo Diferencial.

6.8.2 Aspéctos históricos como instrumento de retirada da ZDP

O estudo histórico do surgimento de um determinado conceito fornece a ideia

das dificuldades encontradas pelos que ajudaram na construção do mesmo,

destacando o contexto da época. Isso se faz muito interessante no ensino de

matemática, não somente por ser mais um elemento de fomento ao aprendizado,

mas por consolidar alguns conhecimentos de forma prazerosa. A História da

Matemática é um campo de investigação científica que reflete a preocupação com a

socialização do conhecimento matemático. A busca do conhecimento-processo pode

revelar dados que, intencionalmente, tenham sido omitidos no conhecimento-

produto.

Trabalhar a abordagem histórica e epistemológica faz com que o sujeito deixe

de pensar que os conceitos matemáticos surgem “do nada”, como muitos dos alunos

pensam, ou fazem com que percebam os objetivos e finalidades do conhecimento, o

que lhes permite responder a pergunta que sempre fazem: “prara que serve isso?”.

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Geralmente o que motivou o surgimento e a construção de um conceito

matemático não representa mais os objetivos dos seus estudos atuais, no entanto,

se nossos aprendizes têm esta noção de desenvolvimento histórico, eles percebem

que um conceito passa por diversas evoluções e ampliações ao longo do tempo.

Isso é muito aplicado ao Cálculo Diferencial ou mesmo às funções. Essa construção

histórica e epistemológica faz com que os aprendizes criem com mais facilidade

seus esquemas na zona de desenvolvimento proximal.

Tal construção também tem importante significado no estudo das funções,

limites, derivadas e integrais, por considerar que, como Vergnaud, “campos

conceituais não são independentes e uns podem ser importantes para a

compreensão de outros”, mas, ainda assim, Vergnaud acha útil falar em distintos

campos conceituais se eles podem ser descritos de maneira consistente. Segundo

Moreira (2002), para Vergnaud “é impossível estudar as coisas separadamente,

mas, por isso mesmo, é preciso fazer recortes e é nesse sentido que os campos

conceituais são unidades de estudo frutíferas para dar sentido aos problemas de

aquisição e às observações feitas em relação à conceitualização”.

6.8.3 A saída da ZDP

Assim, e com todo o exposto, propõe-se minimamente que o docente, ao

detectar a ocorrência do que elucida os itens 6.7.1 e 6.7.2, proceda a descrição

histórica da problemática inicial que motivou os pesquisadores iniciais daquele

respectivo conceito ou conteúdo, e, desta forma, apresente com uma nova ênfase

para o aluno, ou grupo, os itens questionados sob uma nova ótica.

No caso específico da seguinte estrutura e abordagem da historicidade do

Cálculo Diferencial, recomenda-se que, o docente deverá passar a expor a

problemática da definição da velocidade instantânea, proposta por Newton ao tempo

em que deverá também consolidar a sua dedução, com posterior definição dos

novos conceitos de velocidade e aceleração, tal como o próprio Newton o fez, e a

partir daí repetir algumas demonstrações factíveis de serem feitas na íntegra em

sala de aula e citar/calcular os seus respectivos exemplos numéricos e

interpretativos.

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Recomenda-se a referência recursiva ao problema inicial de Newton como

padrão para a “retirada” de dúvidas e/ou correção de eventuais problemas em sala

de aula, quiçá fora dela. A repetição do problema fundamental unida à referência

histórica que a legitima é um dos pontos de enfoque da nossa proposta e é a

premissa fundamental para a construção do novo conceito então apresentado.

6.8.4 A formação de conceitos e o enfoque da teoria construtivista

Estuda-se a formação dos conceitos sob o enfoque da teoria construtivista,

segundo a qual o conhecimento é construído pelo sujeito com base em sua

interação com seu meio físico e social. Dentro desta proposta destacamos as teorias

de Piaget, Vygotsky e Vergnaud. Tanto para Piaget quanto para Vygostky, o

discente constrói sua própria versão da realidade pelas suas experiências.

Ambos consideram a importância da ação do sujeito na aprendizagem que se

dá a partir da ação do indivíduo com o meio e da internalização desta ação. A

diferença básica entre eles está no fato que Vygotsky dá ênfase ao meio

sociocultural como um fator determinante no processo da aprendizagem e Piaget

enfatiza o desenvolvimento biológico do indivíduo como fator determinante nesse

processo.

A organização estrutural faz parte do desenvolvimento da noção de objeto

que o sujeito constrói por meio de reflexos, esquemas, combinações mentais, e

outros. No processo da adaptação, Piaget considera a assimilação e a acomodação

como conceitos distintos e complementares.

Nessa proposta, a diferença entre os níveis real e o potencial (que é a zona

de desenvolvimento proximal), na qual as funções psicológicas ainda estão para

serem completadas pode ser acelerada, quiçá consolidada, via os procedimentos

sugeridos.

Ainda no estudo da formação de conceitos, é de interesse para esse estudo

destacar as idéias de Vergnaud, cujo foco está na relação entre psicologia cognitiva

e Epistemologia da matemática. Conforme um dos pressupostos básicos da teoria

dos campos conceituais, o conhecimento constitui-se e desenvolve-se no tempo em

interação adaptativa do indivíduo com suas experiências e é fruto de três fatores:

maturação, experiência e aprendizagem.

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141

O ponto de partida de sua teoria é a premissa de que todo o conhecimento

emerge da resolução de problemas (teórico ou prático).

Uma situação-problema, por sua vez, por mais simples que seja, sempre

envolve mais que um conceito. Em contrapartida, para adquirirmos um conceito,

precisamos interagir com ele inúmeras vezes, o que é possível dentro de situações

aprazíveis.

Desta forma, não faz sentido para Vergnaud falar na formação de um

conceito, mas sim, na formação de um “Campo Conceitual”, que é definido um como

um conjunto de situações cuja apropriação requer o domínio de vários conceitos de

naturezas diferentes.

6.9 Algumas considerações, limitações e incompletudes sobre a proposta

Esta proposta de trabalho implica em algumas limitações a citar, devido à

necessidade de estabelecimento dos graus de testabilidade36:

• O docente deverá ter tempo para consolidar os comentários de suporte histórico e para aplicar a análise dos erros nos discentes.

• A análise será limitante à formação básica dos discentes.

• Quando houver aplicabilidade específica aos conteúdos

explicitados, o processo poderá ser imediato. Caso contrário este fator será limitante à aplicação do modelo.

Estabelece-se, com isto, um fator limitante da aplicabilidade do método

proposto. Este fator estará sempre em de acordo com o grau de comprometimento

do docente e com a proposta do mesmo em mensurar a formação básica dos

discentes, ou seja, à medida que exista um canal de informação eficiente e eficaz

entre o docente e os discente para que o mesmo possa controlar e gestar o uso das

práticas propostas o método será considerado eficaz.

36 O que chamamos de graus de testabilidade refere-se a quantas vezes é possível aplicar a pesquisa, obtendo os mesmos resultados e/ou resultados análogos (parafraseando Popper).

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142

Fica a sugestão de ações que possibilitem a diminuição deste fator limitante o

uso de instrumentos de comunicação e estratégias associadas aos mesmos, tais

como:

• O uso da Internet como forma de virtualizar o docente e o discente estendendo a sala de aula na atemporalidade inerente a estas novas formas de comunicação.

• O uso de estratégias didáticas para aumentar o grau de

pragmatismo de alguns conteúdos (em particular do cálculo diferencial e integral).

6.10 Condições mínimas para a aprendizagem significativa

Uma das condições, portanto, para a ocorrência da aprendizagem significativa

é a disponibilidade, na estrutura cognitiva, de conceitos ou proposições relevantes

(idéias-âncora, subsunçores) que possibilitem essa interação. As outras duas são

que a nova informação seja potencialmente significativa, isto é, relacionável à

estrutura cognitiva, e que haja uma predisposição para aprender de parte de quem

aprende. Construiremos um viés para provocar esta predisposição através de

estratégias que chamem a atenção do sujeito (aluno).

Desta forma a metodologia envolve uma observação longitudinal (no tempo)

de várias seções de resolução de problemas com problemas restritos com relação

ao número de conceitos envolvidos (no nosso caso o Cálculo Diferencial).

Essa metodologia prevê uma nova série de observações num momento mais

avançado da pesquisa no qual os alunos já estejam mais familiarizados com os

novos modelos isomorfos propostos e praticados pelo facilitador (professor).

Para analisar a forma como os instrumentos/ferramentas promovem o

desenvolvimento cognitivo do(s) sujeito(s) e sua(s) contribuição(ões) à

aprendizagem de conceitos, partimos do princípio que a cognição humana adapta-se

às situações segundo um processo dialético no qual os sujeitos acomodam-se para

assimilar as novas ferramentas e assimila suas funcionalidades permitindo aos

sujeitos acomodar-se às novas situações propostas e/ou impostas pelo método

adotado de ensino do conteúdo em questão.

Assim:

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143

• O elemento teórico central de nossa análise é o meio através do qual o sujeito age.

• Os artefatos, que são os instrumentos com os quais o sujeito,

o aluno, interage com o meio, podem ser materiais ou não (podem ser lógicos e/ou físicos, tais como os softwares e/ou hardware37, respectivamente).

Acreditamos, como já evidenciado, que o uso da Teoria dos Campos

Conceituais e as construções teóricas advindas da mesma possibilite o processo de

criação de um “novo logos”, ou seja de uma nova maneira de pensar e/ou aprender

a matemática.

Por tais razões acredita-se também que deve-se dar toda atenção aos

aspectos conceituais dos esquemas e à análise conceitual das situações para as

quais os estudantes desenvolvem seus próprios esquemas, nas IES ou que os

mesmos administrem instrumentos para utilizar estes processos fora da academia

de forma autodidática.

Desta maneira propõe-se uma análise das atividades estratégicas e táticas a

partir de um ponto de vista construtivista que permita descrever o processo de

desenvolvimento conceitual consecutivo ao uso de novas estratégias (e/ou

tecnologias) para o ensino da matemática, em particular no ensino do Cálculo

Diferencial (noções de limites, derivadas e integrais) utilizando instrumentos de

modelos teóricos isomorfos à realidade objetiva do que se deseja apresentar e desta

forma reduzindo a zona de desenvolvimento proximal do(s) sujeito(s) e possibilitando

a implantação de processos autodidáticos.

O elemento teórico central de nossa análise é o meio através do qual o sujeito

(aluno) age.

Os artefatos, que são os instrumentos com os quais o sujeito, o aluno,

interage com o meio, podem ser materiais ou não (podem ser lógicos e/ou físicos,

tais como os softwares e/ou hardware38, respectivamente).

37 Os hardwares são todos os equipamentos físicos utilizados pelas ciências da computação para o

processamento de dados. 38 Os hardwares são todos os equipamentos físicos utilizados pelas ciências da computação para o

processamento de dados.

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144

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Investigar maneiras de suplantar problemas, buscar soluções, incentivar

novas propostas é obrigação dos que educam e direito do cidadão. Nossos alunos, e

a Educação no Braisl de uma maneira geral, merecem e demandam mais qualidade.

7.1 Registro de Roteiro de Trabalho

Para consolidar a nossa pesquisa analisou-se oTeste 1 e o Teste 2, aplicados

aos alunos, bem como um questionário de avaliação aplicado ao docente para

avaliação dos trabalhos do mesmo. Para cada pergunta de ambos os testes foram

feitas análises baseando-se na taxonomia SOLO, conforme o quadro 8, onde pode-

se observar os grupos e os resultados da correção das respostas, bem como sobre

as expectativas da pesquisadora sobre as respostas dos mesmos e com isto

procura-se responder às indagações sobre expectativas que a educação oferece

aos participantes do processo educacional.

A informação mais conclusiva foi que alunos e professores estão andando em

caminhos, na maioria das vezes, opostos. A tecnologia avançada e a globalização

do conhecimento já fazem parte das aspirações dos alunos, enquanto o professor

prefere seguir um plano bem conhecido e compreendido, ao invés de abraçar novas

conquistas, novos métodos, e, conflitantes paradigmas.

Aparentemente, pensa-se então que o professor não evoluiu, não estuda, não

aceita as mudanças e a modernidade. Mas, o que se constatou, até mesmo pelo

pensamento crítico demonstrado pelos alunos, é que o professor está mudando, sim.

Estão acompanhando, também, todas as evoluções técnicas e de pensamento, mas,

existe ainda em sua formação o grande medo da perda do poder, e do domínio de

classe. Para tanto, ele mantém-se fiel às tradições. Com isso, a educação de toda

uma comunidade balança entre um novo paradigma, revolucionário, crítico, mas

ainda temido, e a segurança do antigo, que vem dando resultados positivos.

Em síntese, por depoimentos e respostas aos questionários, os alunos

apresentam, neste momento, um amadurecimento maior em relação ao papel da

faculdade na sociedade em que vivem, em relação às expectativas futuras, e

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145

principalmente, por aceitarem primeiro as mudanças, consideradas inevitáveis e

segundo a importância dos conteúdos das disciplinas, em especial as de cálculo,

nos seus cursos, mesmo quando os mesmos não são da área das ditas ciências

exatas.

Verificamos que, em se tratando especificamente da nossa pesquisa, no que

corresponde à análise dos procedimentos aplicados, a compreesão, primeiramente

por parte do docente sobre os invariantes operacionais relativos ao conteúdo

ministrado na disciplina, torna-se fundamental para que o mesmo crie e/ou aplique

estratégias didáticas de fomento do entendimento, por parte do discente, dos

mesmo invariantes operatórios referentes ao conteúdo.

Quando isso ocorre, nota-se, por meio dos elementos avaliativos aqui

aplicados e descritos, uma aprendizagem significativa por parte dos aprendizes,

fazendo-os assimilar os assuntos estudados, incorporando-os às suas estruturas

cognitivas.

A compreensão dos teoremas-em-ato torna-se então fundamental para que a

aprendizagem significativa no que tange a Teoria dos Campos Conceituais.

Consideramos que um estudo apurado dos invariantes operatórios das disciplinas

matemáticas deva ser realizado, com o intuito de corroborar a tese aqui proposta e

aplicada. A compreensão dos I.O. por parte dos discentes, torna-os capazes de criar

mecanismos pessoais de incorporação dos conteúdos a eles relacionados,

alicerçados nestes, mas em consonância com a teoria como um todo. Isso é

fundamental para que os conteúdos não se “percam” em uma aprendizagem

puramente mecânica e sem as devidas correlações com o campo conceitual a qual

faz parte.

A matemática como corpo de estudo de abrangência inquestionável, é, em si

mesma, um campo conceitual vasto que contém em suas diversas áreas (álgebra,

geometria, aritmética, lógica, entre outras) campos conceituais contidos neste

conjunto maior. Cada um deles contém também seus respectivos campos

conceituais ainda inexplorados do ponto de vista da teoria dos campos conceituais,

podendo neles, serem detectados e corporificados seus I.O., bem como os demais

elementos do tripleto (R,I,S) com vistas na proposta didática de implementar a teoria

nas diversas áreas da matemática.

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146

7.2 Indicações e Propostas: a criação de um campo conceitual

Esta pesquisa deixa, ainda, como indicação para novos estudos, a

verificação, por meio dos I.O., da inclusão do estudo da história dos mesmos no

transcorrer da disciplina; mudança nos procedimentos de sala de aula no que tange

a apresentação dos conteúdos de cada tópico e de cada disciplina; adoção de ações

integradas em sala de aula que sinergizem o interesse dos discentes nos conteúdos

básicos das disciplinas.

Sugerimos como proposta de fortalecimento do sistema educacional das

faculdades centros universitário e universidades, a formação continuada, para todos

os profissionais da educação, nas áreas de conhecimento específico, epistemologia

e desenvolvimento humano, didática, tecnologias, legislação, planejamento, projetos

e custos educacionais, de sorte que todos os “novos docentes” passem a ter uma

visão holística dos conteúdos das suas respectivas disciplinas.

Reorganização das matrizes curriculares dos cursos superiores não voltados

à formação de matemáticos que envolvem as disciplinas de cálculo de forma a que

os mesmos possam contemplar no conteúdo específico de cada disciplina a

abordagem histórica da mesma, quiçá a adoção de uma disciplina especial que

venha a tratar das respectivas abordagens históricas em consonância com o método

da análise crítica dos conteúdos e bagagens históricas das mesmas.

Proporcionar encontros periódicos e multireferencializados, entre os docentes

da mesma disciplina e do curso como um todo garantindo assim unidade para o

sistema adotado e a diversidade que privilegia as diferenças.

Embora Vergnaud tenha construído o campo conceitual das estruturas

aditivas e multiplicativas sem mencionar os demais, estes existem e, tomando-se

como exemplo a construção do campo conceitual por ele construído, é possível a

construção dos demais, desde que sejam observadas as estruturas alicerçadas na

detecção dos teoremas-em-ato, herdado, com maestria, de Piaget; a sua

incorporação nos conteúdos específicos das disciplinas, embasados pelos suas

representações e o conjunto de situações que dão sentido aos seus respectivos

conceitos.

A primeira etapa na construção de um campo conceitual é a determinação

dos invariantes operatórios (I.O.) associados aos conceitos a serem estudados.

Após isto, deve-se verificar quais são as situações que dão sentido a estes

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invariantes operatórios, o que Vergnaud chama mais amplamente de Conjunto das

Situações que dão sentido ao conceito.

No entanto, antes de determinar o conjunto de situações que dão sentido aos

conceitos gerais, deve-se, no caso de querer se criar um campo conceitual nos

moldes da teoria dos campos conceituais, determinar conjuntos de situações que

dêem sentido aos I.O. As representações estão atreladas horizontalmente, isto é,

num mesmo nível, e dependem das situações. Elas coexistem com estas últimas.

Sugerimos o fluxograma (bastante simplificado) a seguir como um meio de

representar etapas fundamentais na construção de um campo conceitual

fundamentado na teoria de Vergnaud:

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Ilustração 10 Algorítimo sugerido para a construção de um campo conceitual fundamentado na teoria de Vergnaud

Fonte: Elaboração da própria autora.

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149

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153

APÊNDICES

APÊNDICE A - Teste 1

Faculdade: __________________________________________________________ Curso: ______________________________________________________________ Disciplina: __________________________________________________________ Professor/Facilitador: _________________________________________________ Data de Aplicação: ____/____/______

Aluno(a)s: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

Teste 1 (Funções)

1) Esboce o gráfico de:

a) 2

2

1xy = b) 34 xy =

2) Determine a equação linear da reta que passa por A(1, 7) e B(-3, 2). 3) Deve-se construir um tanque de aço, para armazenagem de gás propano, na forma de

cilindro circular reto de 3m de altura, com um hemisfério em cada extremidade. O raio r deve ser ainda determinado. Expresse o volume V do tanque como função de r .

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154

4) Ao abrir uma torneira de água quente, a temperatura T da água depende do tempo decorrido desde a abertura. Esboce um gráfico de T como uma função do tempo t decorrido desde a abertura.

5) Uma caixa aberta em cima tem um volume de 10m3. O comprimento da base é o dobro

da largura. O material da base custa $10 por metro quadrado, ao passo que o material das laterais custa $ 6 por metro quadrado. Expresse o custo total do material em função do tamanho da base.

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155

APÊNDICE B - Teste 1 - Respostas comentadas

Faculdade: __________________________________________________________ Curso: ______________________________________________________________ Disciplina: __________________________________________________________ Professor/Facilitador: _________________________________________________ Data de Aplicação: ____/____/______

Aluno(a)s: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

Teste 1 (Funções)

1) a) Pelo teste de simetria, o gráfico de 2

2

1xy = é simétrico em relação ao eixo-y. damos

a seguir alguns pontos do gráfico: x 0 1 2 3 4 y 0 1/2 2 9/2 8

Fig. 1

A marcação de pontos, o traçado de uma curva suave pelos pontos e a utilização da simetria nos permitem fazer o esboço da Figura 1 . O gráfico é uma parábola com vértice (0, 0) e eixo ao longo do eixo-y.

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156

b) Pelo teste de simetria, o gráfico de 34 xy = é simétrico em relação à origem. Alguns

pontos do gráfico são (0, 0),

4

1,1 , (2, 2). Marcando os pontos e usando a simetria obtemos

o gráfico da Fig 2.

Fig. 2

2) O coeficiente angular m da reta é ( ) 4

5

31

27=

−−

−=m .

Podemos usar as coordenadas de A ou de B para ( )11, yx na forma “ponto-coef.angular”. Usando A(1, 7) temos:

( )14

57 −=− xy , que é equivale a 55284 −=− xy , ou 2345 −=− yx

3) A figura 3 ilustra o tanque. O volume da parte cilíndrica é dado por ( ) 22 33 rr ππ = . Os dois

hemisférios das extremidades, considerados e conjunto têm como volume 3

3

4rπ . O volume

é então ( )

3

94

3

943

3

4 22323 +

=+

=+=rrrr

rrVπππ

ππ . Esta fórmula exprime V como função

de r .

Fig. 3

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157

4) A temperatura da água no começo está próxima da temperatura ambiente, pois ela estava nos canos. Quando começa a sair a água quente da caixa-d’água, T aumenta rapidamente, e na próxima fase fica constante até a caixa se esvaziar. A partir daí T decresce até a temperatura em que a água é fornecida. Isso nos possibilita esboçar o gráfico de T como uma função de t na Fig. 4. Fig. 4 5) Fazemos um diagrama como o da Figura 5, com uma notação onde w e w2 são, respectivamente, o comprimento e a largura da base, e h é a altura. A área da base é ( ) 222 www = , assim, o custo, em dólares, é de ( )2210 w . Quanto aos lados, dois têm área wh e os outros dois, wh2 . Portanto o custo total dos lados é

( ) ( )[ ]whwh 2226 +⋅ e o custo total é

( ) ( ) ( )[ ] whwwhwhwC 36202226210 22 −=++= . Para expressar C como uma função somente de w , precisamos eliminar h , o que é feito

usando-se o fato de o volume ser 10 m3. Assim ( ) 102 =hww , o que fornece 22

5

2

10

wwh == .

Substituindo essa expressão na fórmula de C , temos:

w

ww

wwC180

205

3620 2

2

2 +=

+= .

Logo, a equação w

wwC180

20)( 2 += 0>w expressa C como uma função de w .

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APÊNDICE C - Teste 2

Faculdade: ___________________________________________________________ Curso: _______________________________________________________________ Disciplina: ___________________________________________________________ Professor/Facilitador: _________________________________________________ Data de Aplicação: ____/____/______

Aluno(a)s: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

Teste 2 (Limites e Derivadas)

1) Seja ( )3

9

−=

x

xxf

a) Ache ( )xfx 9lim

b) Esboce o gráfico de f e ilustre graficamente o limite do item a

2) Mostre que xx

1lim

0→ não existe.

3) Se ( )x

xxf = , esboce o gráfico de f e ache, se possível:

a) ( )xfx

−→0lim b) ( )xf

x+→0

lim c) ( )xfx 0lim

4) Um gás (tal como vapor d’água ou oxigênio) é mantido a temperatura constante no pistão da fig. 1. À medida que o gás é comprimido, o volume V decresce até que atinja uma certa pressão crítica. Além dessa pressão, o gás assume forma líquida. Use o gráfico da Fig. 1 para achar e interpretar:

a) VP

−→100lim b) V

P+→100

lim c) VP 100lim→

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159

Figura 1

5) A próxima figura é um gráfico das forças- g experimentadas por um astronauta durante a decolagem de uma nave espacial com dois lançamentos de foguete (Uma força de 2g’s é duas vezes a força da gravidade, 3g’s de três vezes a força da gravidade etc.) Se ( )tF denota a força- g aos t minutos de vôo, determine e interprete

a) ( )tFt

+→0lim b) ( )tF

t−→ 5,3

lim e ( )tFt

+→ 5,3lim c) ( )tF

t−→5

lim e ( )tFt

+→5lim

Figura 2

6) Determine ( )635lim 23

2−+

−→xx

x

7) Seja a velocidade da luz (aproximadamente 3, 0 x 108 m/s, ou 300.000 km/s). Pela teoria

de Einstein (teoria da relatividade), a fórmula de contração de Lorentz 2

2

0 1c

vLL −=

especifica a relação entre (1) o comprimento L de um objeto que se move a uma velocidade v com respeito a um observador e (2) seu comprimento 0L em repouso (ver

figura 6). A fórmula implica que o comprimento de um objeto medido pelo observador é menor quando o objeto está em movimento do que quando está em repouso. Determine e interprete L

cv−→

lim , e explique porque é necessário um limite lateral esquerdo.

Figura 3

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8) Se ( )( )3 21 2 8 5y x x x= + + − , determine a derivada da função y.

9) Se ( ) 2 3 2f x x x= + + , calcule, pela definição, a derivada de determine ( )f x .

10) A posição de uma partícula é dada pela equação ( ) 3 26 9s f t t t t= = − + , onde t é

medido em segundos e s em metros.

a) Encontre a velocidade no instante t . b) Qual é a velocidade depois de 2 s ? Depois de 4 s ? c) Quando a partícula está em repouso? d) Quando a partícula está se movendo para a frente (isto é, no sentido positivo)?

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161

APÊNDICE D - Teste 2 - Respostas comentadas

Faculdade: __________________________________________________________ Curso: ______________________________________________________________ Disciplina: __________________________________________________________ Professor/Facilitador: _________________________________________________ Data de Aplicação: ____/____/______

Aluno(a)s: _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

Teste 2 (Limites e Derivadas)

1) a) Note que o número 9 não está no domínio de f . Para achar o limite, modificaremos a

forma de ( )xf racionalizando o denominador como se segue:

( )( )( )

9

39lim

3

3

3

9lim

3

9limlim

9999 −

+−=

+

+⋅

−=

−=

→→→→ x

xx

x

x

x

x

x

xxf

xxxx

ao investigarmos o limite quando 9→x , supomos que 9≠x . Logo 09 ≠−x , e então

podemos dividir numerador e denominador por 9−x , i.e., podemos cancelar o fator 9−x , o

que dá

( ) ( ) 6393limlim09

=+=+=→→

xxfxx

b) Se racionalizarmos o denominador de ( )xf como em a), veremos que o gráfico

de f é o mesmo que o gráfico da equação 3+= xy , exceto para o ponto ( )6 ,9 , conforme

ilustrado na figura 1. Conforme x aproxima-se de 9, o ponto ( )( )xfx, no gráfico de

f aproxima-se do ponto ( )6 ,9 . Note que ( )xf nunca atinge efetivamente o valor 6; todavia,

( )xf pode tornar-se tão próximo de 6 quanto desejarmos, bastando tomar

x suficientemente próximo de 9.

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162

Figura 1

2) A figura 2 esboça o gráfico de ( )x

xf1

= . Observe que podemos fazer ( )xf tão grande

quanto quisermos, bastando escolher x suficientemente próximo de 0 (mas ≠ 0). Por

exemplo, se quisermos ( ) 000.000.1−=xf , escolheremos 000001,0−=x . Para ( ) 910=xf ,

escolheremos 910−=x . Como ( )xf não tende para um número específico L quando se

aproxima de 0, o limite não existe.

Figura 2

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163

3) A função f não é definida em 0=x . Se 0>x , então xx = e se ( ) 1==x

xxf . Logo,

para 0>x o gráfico coincide com a reta horizontal 1=y . Se 0<x , então xx −= e

( ) 1−=−=x

xxf . Isto nos dá a figura 3. Referindo-nos ao gráfico, vemos que

a) ( ) 1lim0

−=−→

xfx

b) ( ) 1lim0

=+→

xfx

c) Como os limites laterais à direita e à esquerda são diferentes, decorre que ( )xfx 0lim

→ não

existe.

Figura 3

4) a) Vemos pela fig. 4 que, quando a pressão P em (torrs) é baixa, a substância é um gás e

o volume V (litros) é grande ( A definição de torr, unidade de pressão, pode ser encontrada

em textos de física) Se P se aproxima de 100 por valores inferiores a 100, V decresce e se

aproxima de 0, 8; isto é, 8,0lim100

=−→

VP

.

O limite 0, 8 representa o volume no qual a substância começa a se transformar de gás em

líquido.

b) Se 100>P , a substância é um líquido. Se P se aproxima de 100 por valores

superiores a 100, o volume V aumenta muito lentamente (pois os líquidos são quase

incompressíveis), e 3,0lim100

=+→

VP

.

O limite 0, 3 representa o volume no qual a substância começa a se transformar de

líquido em gás.

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d) 100

lim→P

não existe, pois os limites laterais à direita e à esquerda em a) e b) são diferentes

(Em 100=P , as formas gasosa e líquida coexistem em equilíbrio, e a substância não

pode ser classificada seja como gás ou como líquido.)

5) a) 2g’s, a força-g na decolagem. b) Limite à esquerda de 8-a força-g imediatamente antes

do lançamento do segundo foguete; limite à direita de 1-a força-g imediatamente após o

lançamento do segundo foguete. c) Limite à esquerda de 3-a força-g imediatamente antes

de os motores serem cortados; limite `direita de 0-a força g imediatamente após os motores

serem cortados.

6) Podemos proceder como segue (dê as razões):

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( )

( ) ( ) 3464325

6lim3lim5

6lim3lim5lim635lim

3

2

2

3

2

2

2

2

3

2

23

2

−=−+−=

=−+=

=−+=−+

−→−→

−→−→−→−→

xx

xxxx

xx

xxxx

7) com o auxílio de teoremas de limites laterais, temos: , Assim, se a velocidade de um

objeto pudesse aproximar-se da vellocidade da luz, seu comprimento, medido por um

observador em repouso, tenderia para zero. Este resultado é por vezes utilizado para

justificar a teoria de que a velocidade da luz é a última (ou absoluta) velocidade no universo;

ou seja, nenhum objeto pode adquirir uma velocidade que se iguale ou supere a da luz, c.

Faz-se necessário considerar o limite lateral esquerdo porque, se cv > , então 2

2

1c

v− não

é um número real.

Figura 4

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165

8) [2] pg 142 - Se ( )( )3 21 2 8 5y x x x= + + − , determine a derivada da função y.

Solução: Utilizando a regra do produto, temos:

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( )

3 2 3 2

3 2 2

4 3 4 3 2

4 3 2

1 . 2 8 5 1 . 2 8 5

= 1 . 4 8 3 . 2 8 5

= 4 8 4 8 6 24 15

=10 32 15 4 8

y x x x x x x

x x x x x

x x x x x x

x x x x

′ ′′ = + + − + + + − =

+ + + + − =

+ + + + + − =

+ − + +

9) [2] pg 142 - Se ( ) ( )1

23 3 2f x x x x= − + , determine:

a) ( )f x′

b) a coordenada-x dos pontos em que a tangente de f é horizontal ou vertical. Solução: a)

( ) ( ) ( )

( ) ( )

( ) ( )

1 12 23 3

1 223 3

2 2

2 2

3 3

3 2 3 2

1 = 2 3 3 2

3

3 2 3 3 2 7 12 2 =

3 3

x xf x x D x x x x D x

x x x x x

x x x x x x

x x

′ = − + + − + =

− + − + =

− + − + − +=

b) A tangente ao gráfico de f é horizontal se seu coeficiente angular for zero. Fazendo

( ) 0f x′ = e aplicando a fórmula quadrática, obtemos:

12 144 56 12 886 22

2 2x

± − ±= = = ±

Vemos que o denominador 2

33x de ( )f x′ é zero em 0x = . Como f é contínua em 0 e

( )0

limx

f x→

′ = ∞ , segue-se que o gráfico de f tem uma tangente vertical em 0x = , isto é, no

ponto (0,0) (a origem). 10) A posição de uma partícula é dada pela equação ( ) 3 26 9s f t t t t= = − + , onde t é

medido em segundos e s em metros.

e) Encontre a velocidade no instante t .

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166

f) Qual é a velocidade depois de 2 s ? Depois de 4 s ?

g) Quando a partícula está em repouso?

h) Quando a partícula está se movendo para a frente (isto é, no sentido positivo)?

Solução:

a) A função velocidade é a derivada da função posição.

( )

( )

3 2

2

6 9

3 12 9

s f t t t t

dsv t t t

dt

= = − +

= = − +

b) A velocidade depois de 2 s é a velocidade instantânea quando 2t = , isto é:

( ) ( ) ( )2

2

2 3 2 12 2 9 3 /t

dsv m s

dt =

= = − + = −

A velocidade depois de 4 s é ( ) ( ) ( )2

4 3 4 12 4 9 9 /v m s= − + =

c) A partícula está em repouso quando ( ) 0v t = , isto é:

( ) ( )( )2 23 12 9 3 4 3 3 1 3 0t t t t t t− + = − + = − − = e isso acontece quando 1t =

ou 3t = . Assim, a partícula está em repouso depois de 1s e depois de 3s. d) A partícula move-se no sentido positivo quando ( ) 0v t < , isto é:

( ) ( )( )2 23 12 9 3 4 3 3 1 3 0t t t t t t− + = − + = − − > .

Essa desigualdade é verdadeira quando ambos os fatores forem positivos ( )3t > ou

quando ambos os fatores forem negativos ( )1t < . Assim, a partícula move-se no sentido

positivo no intervalo de tempo 1 e 3t t< > . Move-se para trás (no sentido negativo) quando 1 3t< < .

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APÊNDICE E - Questionário de avaliação do docente e disciplina

Curso: _______________ Professor: ____________________________ Semestre: ________ Carga Horária: ________ Turma: __________________ Disciplina: ___________________________

Grau de Importância Grau de Satisfação Dos Alunos da Turma

Pequeno Médio Grande Precisa melhorar Satisfaz Ótimo Não

observei

Interesse pela Disciplina Participação nas Aulas Cumprimento das Atividades Propostas

Desempenho Acadêmico Aprendizagem Autonomia Intelectual Relacionamento Entre os Alunos Relacionamento com o Professor Assiduidade Pontualidade Participação em Atividades Extra-Classe e/ou Exemplos Práticos do Conteúdo

Motivação Visualização Prática dos Conteúdos Teóricos

Grau de Abstração Matemática Interesse na Aplicabilidade do Conteúdo

Pragmatismo Dedicação Extra-classe Dedicação Intra-classe Autodidatismo Visualização Matemática do Contidiano

Cartezianismo Matemático Grau de Abstração Multireferencialidade aos Conteúdos

Realização das Leituras Recomendadas

Outros... Observações: _____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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APÊNDICE F - Auto-avaliação do docente

Curso: ___________ Professor: _______________________ Semestre: ________ Carga Horária: ________ Turma: ________________ Disciplina: _______________________

Auto-Avaliação do Docente

01 - Os objetivos programados foram e/ou estão sendo atingidos?

Sim: ( ) Por quê? ___________________________________________________________________

Não: ( )

Em Parte: ( )

02 - A duração total do Curso, em relação aos objetivos, foi suficiente?

Sim: ( ) Por quê? ________________________________________________________________

Não: ( ) ______________________________________________________________________

Em Parte: ( ) ___________________________________________________________________________

03 - Na sua opinião, você mudou a sua forma de ministrar aulas para consolidar as metas deste conteúdo/disciplina?

Sim: ( ) Quais? __________________________________________________________________

Não: ( )

Em Parte: ( )

04 - As avaliações do aproveitamento dos cursistas foram adequadas para avaliar a aprendizagem?

Sim: ( ) Por quê?_______________________________________________________________

Não: ( )

Em Parte: ( )

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169

Quais as sugestões para cursos futuros?

05 - O material didático fornecido foi suficiente?

Sim: ( ) Por quê? __________________________________________________________

Não: ( )

Em Parte:( )

06 - Sentiu dificuldades de ministrar as aulas?

Sim: ( )

Não: ( )

Em Parte: ( )

07 - Em relação aos assuntos que foram tratados, o Curso:

( ) ofereceu subsídios de grande valor; ( ) acrescentou alguma coisa ao que os alunos já sabiam; ( ) deixou os alunos praticamente no mesmo estado em que se encontrava antes de fazê-lo; ( ) outro (descreva)

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

08 - Acredita que, ingressando/retornando ao trabalho, os alunos:

( ) puderam aplicar, integralmente, os conhecimentos obtidos no Curso; ( ) puderam aplicar concretamente apenas alguns conhecimentos; ( ) não foi possível aplicar nenhum conhecimento; ( ) outro (descreva):

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

Devido a: ( ) abordagem muito teórica do conteúdo; ( ) dificuldades em acompanhar o curso por falta de embasamento nos assuntos abordados por parte dos discentes; ( ) reação contra a(s) dinâmica(s) pedagógica(s) adotada(s) no Curso, em virtude de características pessoais próprias; ( ) desinteresse, em virtude de achar que os assuntos tratados não tinham ligação direta com a sua área de atividades; ( ) outro motivo (informe a seguir):

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170

09 - Em relação às ideias e tópicos abordados, você acha que:

( ) foram apresentados com bastante clareza; ( ) esclarecidos, mas difíceis para compreensão;

( ) apenas citados, não esclarecidos; ( ) foram abordados sem aplicabilidade.

10 - Críticas e sugestões:

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

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APÊNDICE G - Entrevista com o docente

Curso: __________________ Professor: ____________________ Semestre: ________ Carga Horária: ________ Turma: _________________________ Disciplina: ___________________

Entrevista com o Docente

1) Você sempre se adequa à turma (considerando suas características específicas), adequando também sua forma de expor o conetúdo ou é constante ao fazê-lo?

Resposta:

2) Você acha que nesta turma existem alunos autodidatas?

Resposta:

3) Você trabalha aplicações para cada conteúdo da sua disciplina? Ensina isto aos alunos?

Resposta:

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172

4) Após explicar ou re-explicar os conteúdos de forma mais pragmática e tendo os alunos na zona de desenvolvimento proximal, verifica-se um aprendizado significativo ou mecânico? Explique.

Resposta:

5) É possível a unanimidade de entendimento de alguns conteúdos quando todos de um grupo estão na zona de desenvolvimento proximal com apenas um único exemplo?

Resposta:

6) Quais as diferenças percebidas no apreveitamento e aprendizado entre os discentes que já tem organizadores prévios dos que não os tem? Explique as suas dificuldades em administrar esta situação.

Resposta:

7) Técnicas de atuação e resolução de problemas em grupo e em sala de aula são eficazes na consolidação dos conteúdos da sua disciplina? Quando? Em geral, de que forma?

Resposta:

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173

8) É possível, de forma eficaz, o uso da história e de estórias no ensino do cálculo diferencial? De que forma?

Resposta:

9) Encaminhar o discente à zona de desenvolvimento proximal e fazê-lo sair da mesma já era uma tarefa frequente na sua prática de sala de aula? Se sim, desde quando?

Resposta:

10) Após a saída do discente da zona de desenvolvimento proximal verifica-se no mesmo a capacidade de auto-gestão cognitiva?

Resposta:

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174

APÊNDICE H - Entrevista com os discentes

1) Você tem afinidade com o raciocínio matemático? A que atribui isto? Resposta:

2) Acha que o professor/facilitador é o único responsável pelo processo de aprendizado do aluno? Explique?

Resposta:

3) Como você acredita que ocorre o seu processo de aprendizagem de um novo assunto? Qual é a forma mais prazerosa para você?

Resposta:

4) Como você explica o fato de que alguns conteúdos serem mais facilmente entendidos quando explicados pelos seus colegas?

Resposta:

5) Você tem um método/receita para estudar matemática? Qual? Resposta:

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6) Por quais razões você acha que é mais fácil o entendimento de conteúdos quando uma abordagem pragmática é feita ao mesmo? Explique ou exemplifique.

Resposta:

7) O seu professor, ao trocar o exemplo de uma explicação, facilita para você o entendimento da mesma? Explique.

Resposta:

8) Como você se sente ao saber um assunto (de forma mecânica) e de repente deparar-se com uma incompletude ao tentar resolver um problema com o mesmo e não consequir consolidar a resolução?

Resposta:

9) Se o trabalho não fosse em sala de aula e em grupo você conseguiria consolida-lo? Explique.

Resposta:

10) Como você acha possível aumentar a eficiência e a eficácia nas explicações sobre estes conteúdos? Elabore uma sugestão para tal.

Resposta:

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176

APÊNDICE I - Fotos digitais da coleta de dados

Fez-se neste Apêndice uma descrição comentada do novo perfil do discente

na educação brasileira em função da nova LDB evidenciando apenas os tópicos da

nova legislação que implicariam em uma mudança do perfil do discente e docente.

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 1 Preleção (na primeira visita) com o envolvimento do Professor e das Turmas 1 e 2

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 2 Aplicação do questionário (primeira visita)

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Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 3 Aplicação do Teste 1 e explicação da sua importância

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 4 Turma 2 respondendo as questões do Teste 1 em grupos de 3 (três) alunos

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178

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 5 Aplicação do Teste 1 na Turma 1

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 6 Turma 1 respondendo o Teste 1

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179

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 7 Alunos da Turma 2 avaliando o docente

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 8 Alunos da Turma 2 respondeno as questões do Teste 2

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Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 9 Alunos da Turma 1 respondento as questões dos Testes 2

Fonte: Elaboração da Própria autora Foto 10 Alunos da turma 2 em respota ao Teste 2

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APÊNDICE J - Fotos digitais da avaliação docente e discente

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 11 Momento de avaliação do Docente

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 12 Momento de avaliação do Docente

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182

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 13 Momento de avaliação do Docente

Fonte: Elaboração da Própria autora

Foto 14 Momento de avaliação do Docente

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APÊNDICE L - Exercícios aplicados previamente em sala de aula

Estácio FIB - Salvador Curso: Sistemas de Informação Disciplina: Matemática I Professor/Facilitador: Clevenson Data de Aplicação: ____/____/______

Aluno(a)s:

Exercícios de Sala de Aula

1) Esboce o gráfico de 32y x= 2) Determine o volume de um tanque cilíndrico com 3m de altura e com um raio r .Expresse o volume V do tanque como função de r . 3) Determine a equação linear da reta que passa por A (3, 7) e B (4, 9). 4) Uma caixa, toda fechada, tem um volume de 10m3. O comprimento da base é o triplo da largura. O material da base custa $5 por metro quadrado, ao passo que o material das laterais custa $2 por metro quadrado. Assim, expresse o custo total do material para a construção da caixa fechada.

5) Seja ( )2

4

−=

x

xxf , com base nisto determine ( )xf

x 4lim

6) Determine ( )222lim 23

3+−

−→xx

x

7) Seja a velocidade da luz (aproximadamente 3, 0 x 108 m/s, ou 300.000 km/s). Pela teoria

de Einstein (teoria da relatividade), a fórmula de equivalência de massas é de

2

2

0

1c

v

mm

=

especifica a relação entre a massa em repouso e a massa do mesmo corpo em uma

deteminda velocidade. A fórmula implica que a massa do objeto medida pelo observador é

maio quando o objeto está em movimento do que quando está em repouso. Determine e

interprete mcv

−→lim , e explique porque é necessário um limite lateral esquerdo.

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APÊNDICE M - Níveis de abrangência das questões (taxonomia SOLO)

Níveis de abrangência para o Teste 1:

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das Questões

Escala de Níveis

Níveis e Sub-Níveis Nível 1

Complexidade Pré-Estrutural

Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 1

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

1 a

Espera-se resposta com relação direta e lógica com a função em questão e completa, do início ao fim, na transcrição gráfica da função apresentada. Espera-se também a abstração com extrapolação por indução de todo o universo gráfico da função.

X X X X X

1 b

Espera-se resposta com relação direta e lógica com a função em questão e completa, do início ao fim, na transcrição gráfica da função apresentada. Espera-se também a abstração com extrapolação por indução de todo o universo gráfico da função.

X X X X X

2

Espera-se resposta com diversos percursos metodológicos onde, em todos, espera-se a exposição da relação direta e lógica com o conjunto de pontos apresentados com a abstração do significado dos mesmos para a determinação da função em questão.

X X X X X

3

Deseja-se uma visão completa do cenário descrito verbalmente e elucidado na figura apensa. Assim necessita-se de uma relação lógica entre as partes constitutivas da questão bem como respostas interrelacionadas com várias formações possíveis de relação entre as mesmas.Espera-se o domínio dos conceitos de espaço, volume e formulas geratrizes entre área e volume. Em uma resposta completa espera-se não só apenas a apresentação da função desejada como também comentários à mesma.

X X X X X

4 Deseja-se uma visão gráfica entre a realidade descrita e o eventual comportamento funcional da grandeza em análise.

X X X X

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186

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

5

Espera-se uma visão/correlação entre o cenário físico descrito e a relação matemática associada ao mesmo, ou seja, uma visão completa da fenomenologia associada com a relação matemática equivalente com descrição das relação matemática entre as partes e composição funcional entre as mesmas com o objetivo de construção da função custo desejada.

X X X X X

Adptação a partir de: Biggs, J. B. & Collis, K. F. (1982). Evaluating the quality of learming - The SOLO Taxonomy (structured of the observed learning outcome). S. Francisco: Plenum Press.

Níveis de abrangência para o Teste 2:

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 2

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

1 b

Espera-se resposta com relação direta e lógica com a função em questão e completa, do início ao fim, na transcrição gráfica da função apresentada. Espera-se também a abstração com extrapolação por indução de todo o universo gráfico da função.

X X X X X

2

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva associada à função em destaque. Espera-se o uso da notação de forma lógica e integrada ao uso na academia.

X X X X

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187

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 2

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

3 a

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva associada à função em destaque. Espera-se o uso da notação de forma lógica e integrada ao uso na academia. Espera-se também a associação numérica com o domínio gráfico associado.

X X X X X

3 b

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva associada à função em destaque. Espera-se o uso da notação de forma lógica e integrada ao uso na academia. Espera-se também a associação numérica com o domínio gráfico associado.

X X X X X

3 c

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva associada à função em destaque. Espera-se o uso da notação de forma lógica e integrada ao uso na academia. Espera-se também a associação numérica com o domínio gráfico associado.

X X X X X

4 a

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se o uso da notação de forma lógica e integrada e a associação numérica com o domínio gráfico associado bem como com o comportamento físico da grandeza que a mesma representa além da associação dos limites da mesma grandeza e o estado funcional e da forma (líquida, sólida e gassosa) da mesma.

X X X X X

4 b

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se o uso da notação de forma lógica e integrada e a associação numérica com o domínio gráfico associado bem como com o comportamento físico da grandeza que a mesma representa além da associação dos limites da mesma grandeza e o estado funcional e da forma (líquida, sólida e gassosa) da mesma.

X X X X X

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188

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 2

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

4 c

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se o uso da notação de forma lógica e integrada e a associação numérica com o domínio gráfico associado bem como com o comportamento físico da grandeza que a mesma representa além da associação dos limites da mesma grandeza e o estado funcional e da forma (líquida, sólida e gassosa) da mesma.

X X X X X

5 a

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se a interpretação física do cenário descrito com o modelo matemático associado bem como as limitações do mesmo.

X X X X X

5 b

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se a interpretação física do cenário descrito com o modelo matemático associado bem como as limitações do mesmo.

X X X X X

5 c

Deseja-se resposta relacionada logicamente de forma dedutiva e associada ao cenário físico descrito bem como à função em destaque e também descrita fisicamente. Deseja-se a interpretação física do cenário descrito com o modelo matemático associado bem como as limitações do mesmo.

X X X X X

6

Deseja-se resposta relacionada, mecanicamente ou dedutivamente, associada à função em evidência bem como o uso da notação adotada para tal.

X X

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189

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 2

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

7

Espera-se o entendimento e domínio dos conceitos associados à teoria em análise bem como os conceitos e notação da base matemática associada ao questionado.

X X X

8

Espera-se resposta com domínio da notação, das propriedades associadas bem como desenvolvimento das propriedades funcionais demandadas pela função em análise.

X X X

9

Espera-se resposta com domínio da notação, das propriedades associadas bem como desenvolvimento das propriedades funcionais demandadas pela função em análise, além dos conceitos edo rito mínimo para a demonstração da derivada em questão, considerando-se logicamente as etapas da mesma bem como as operações matemáticas básicas que consubstanciam o resultado final.

X X X X X

10 a

Espera-se resposta com domínio da notação ou das regras de derivação imediata, com domínio das variáveis envolvidas, seus significados e limitações, e com entendimento direto da relação entre os conceitos de posição, velocidade e aceleração associadas à grandeza independente, o tempo. Espera-se também comentários ás respostas apresentadas.

X X X X X

10 b

Espera-se resposta com domínio da notação ou das regras de derivação imediata, com domínio das variáveis envolvidas, seus significados e limitações, e com entendimento direto da relação entre os conceitos de posição, velocidade e aceleração associadas à grandeza independente, o tempo. Espera-se também comentários ás respostas apresentadas.

X X X X X

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190

Taxonomia SOLO - Descrição dos Níveis de Abrangência das

Questões

Escala de Níveis Níveis e Sub-

Níveis Nível 1 Complexidade Pré-

Estrutural Nível 1,5

Nível 2 Complexidade Uni-Estrutural

Nível 2,5

Nível 3 Complexidade Multi-Estrutural

Nível 3,5

Nível 4 Complexidade

Relacional Nível 4,5

Nível 5 Complexidade

Abstrata

Descrição das Características de Cada Nível

Respostas sem relação lógica / não responde e repete a

informação / responde de forma ireelevante / concluindo de forma

totalmente inconsistente

Respostas estão relacionadas logicamente / Com apenas uma informação correta / Concluindo rapidamente e sem consistência

Respostas relacionadas

logicamente / várias informações

relevantes mas não relacionadas entre si /

conclui-se rapidamente e

inconsistentemente

Respostas relacionadas logicamente / Várias informações relevantes / Integradas num conceito ou argumento / Concluindo sem

pressa e de forma consistente

Respostas relacionadas logicamente com a questão e

com outras questões hipotéticas / Várias informações relevantes / Com abstração de um princípio generalizável / Concluindo sem

pressa e de forma aberta

Teste 2

Nível

Taxonômico Questão Enunciado Conteúdos e Complexidades Exigidas

1 2 3 4 5

10 c

Espera-se resposta com domínio da notação ou das regras de derivação imediata, com domínio das variáveis envolvidas, seus significados e limitações, e com entendimento direto da relação entre os conceitos de posição, velocidade e aceleração associadas à grandeza independente, o tempo. Espera-se também comentários ás respostas apresentadas.

X X X X X

10 d

Espera-se resposta com domínio da notação ou das regras de derivação imediata, com domínio das variáveis envolvidas, seus significados e limitações, e com entendimento direto da relação entre os conceitos de posição, velocidade e aceleração associadas à grandeza independente, o tempo. Espera-se também comentários ás respostas apresentadas.

X X X X X

Adptação a partir de: Biggs, J. B. & Collis, K. F. (1982). Evaluating the quality of learming - The SOLO Taxonomy (structured of the observed learning outcome). S. Francisco: Plenum Press.