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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA
MOLECULAR
ESTUDO MORFOLÓGICO E ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO GENE FLOWERING
LOCUS T EM UM HÍBRIDO DE CITROS COM FLORESCIMENTO PRECOCE
LUCIANA SILVA ALMEIDA
ILHÉUS – BAHIA – BRASIL
Outubro de 2016
LUCIANA SILVA ALMEIDA
ESTUDO MORFOLÓGICO E ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO GENE FLOWERING
LOCUS T EM UM HÍBRIDO DE CITROS COM FLORESCIMENTO PRECOCE
Dissertação apresentada à Universidade Estadual de
Santa Cruz como parte das exigências para
obtenção do título de Mestre em Genética e
Biologia Molecular.
Área de concentração: Genética e
Biologia Molecular
ILHÉUS – BAHIA – BRASIL
Outubro de 2016
LUCIANA SILVA ALMEIDA
ESTUDO MORFOLÓGICO E ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO GENE FLOWERING
LOCUS T EM UM HÍBRIDO DE CITROS COM FLORESCIMENTO PRECOCE.
Dissertação apresentada à Universidade
Estadual de Santa Cruz como parte das
exigências para obtenção do título de
Mestre em Genética e Biologia
Molecular.
Área de concentração:
Genética e Biologia Molecular
APROVADA:
Profa. Dra. Fabienne Florence Lucienne Micheli Profa. Dra. Fatima Cerqueira Alvim
(UESC/CIRAD) (UESC)
Profa. Dra. Dayse Drielly Souza Santana Vieira Dr. Abelmon da Silva Gesteira
(UNINASSAU) (EMBRAPA/UESC - Orientador)
Aos meus pais, pelo amor e cuidado,
DEDICO.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por iluminar e guiar meus passos durante esta caminhada e me presentear com
pessoas maravilhosas.
À Universidade Estadual de Santa Cruz pela realização desse curso.
Ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular pela oportunidade de
realização desse trabalho e pelo compromisso com a formação dos discentes.
À EMBRAPA Mandioca e Fruticultura Tropical, ao Laboratório de Biologia Molecular e ao
Laboratório de Ecofisiologia, pelo espaço físico para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Ao meu orientador Dr. Abelmon da Silva Gesteira, pela orientação, pelo apoio durante o
desenvolvimento da pesquisa e acima de tudo pela confiança.
À Dr.ª Tahise Magalhães e o Dr. Alex-Alan Furtado, pela co-orientação.
Ao Dr. Walter Soares e Dr. Maurício Coelho, pela atenção e ensinamentos.
À todos os Professores e as secretárias do PPGGBM, pelo suporte.
Ao Sr. Santana e todo a equipe do campo, pela amizade e ajuda na realização da pesquisa.
Aos membros da banca examinadora Dra. Fabienne Florence Lucienne Micheli, Dra. Fatima
Cerqueira Alvim e Dra. Dayse Drielly Souza Santana Vieira por terem aceitado participar da
avaliação deste trabalho.
À Eliana, pela amizade sincera, apoio, ensinamento e parceria no desenvolvimento desse
trabalho. Muito obrigada por tudo!
À Diana e Paulinho, pela amizade, ajuda, incentivo, explicações e orientação na técnica de
PCR em tempo real.
Aos amigos do grupo de pesquisa de citros, Shirley, Eliana, Lucas, Diana, Dayse, Nayara,
Moni, Andressa, Maria, Lais e Edlan, pela ajuda durante todo o trabalho, pelo bom convívio
diário e acima de tudo pela amizade que levarei para o resto da vida.
Aos amigos do LBM pela amizade, companheirismo, auxílio na realização desse trabalho e,
claro, pelos momentos de descontração que me proporcionaram tornando cada vez melhor
minha rotina diária no laboratório.
Aos colegas do curso de mestrado, que fizeram parte desse momento.
Aos meus amigos especiais, Vera, Shiw, Ane, Elvis, Paula, Mila e Dali pela amizade e torcida
de sempre.
A toda minha família, pela cooperação e palavras de estimulo, em especial, tia Neusa e Tate.
A meus pais, Américo e Valdete, que me ensinaram o verdadeiro valor da vida e respeito ao
próximo, e pelo incentivo constante a novas conquistas. Ao meu irmão e amigo Adriano, por
seu amor especial e pela torcida sincera. E ao meu namorado Robson, por estar ao meu lado
sempre, me dando conselhos, força, coragem e incentivo, e tornando cada dia da minha vida
mais especial. AMO VOCÊS!
Enfim, a todos que passaram pela minha vida e que direta ou indiretamente contribuíram para
o meu crescimento pessoal e profissional. Os meus sinceros agradecimentos!
ÍNDICE
EXTRATO .............................................................................................................................................. I
ABSTRACT ......................................................................................................................................... III
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1
2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................... 3
2.1 Citros – Aspectos gerais .................................................................................................................. 3
2.2 Fases de desenvolvimento das plantas perenes - Período juvenil ................................................ 5
2.3 Melhoramento Genético e período juvenil .................................................................................... 6
2.4 Florescimento (em citros) ............................................................................................................... 7
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 11
4. CAPÍTULO I: Caracterização morfológica de um híbrido de citros com florescimento
precoce .................................................................................................................................................. 15
RESUMO ............................................................................................................................................. 16
ABSTRACT ......................................................................................................................................... 17
4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 18
4.2 MATERIAL E MÉTODO ............................................................................................................ 19
4.2.1 Coleta de dados ........................................................................................................................... 19
4.2.2 Árvore .......................................................................................................................................... 20
4.2.3 Folhas .......................................................................................................................................... 20
4.3.4 Flores ........................................................................................................................................... 20
4.2.5 Frutos e Sementes ....................................................................................................................... 20
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................. 21
4.3.1 Árvore .......................................................................................................................................... 21
4.3.2 Folhas .......................................................................................................................................... 22
4.3.3 Flores ........................................................................................................................................... 23
4.3.4 Frutos e Sementes ....................................................................................................................... 25
4.4 CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 28
4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 28
5. CAPÍTULO II: Estudo molecular do gene FLOWERING LOCUS T (FT) em planta de
origem híbrida de citros com florescimento precoce ....................................................................... 30
RESUMO ............................................................................................................................................. 31
ABSTRACT ......................................................................................................................................... 32
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 34
5.2 MATERIAL E MÉTODO ............................................................................................................ 35
5.2.1 Obtenção do material vegetal .................................................................................................... 35
5.2.2 Extração do DNA ....................................................................................................................... 35
5.2.3 Marcadores microssatélite para a confirmação dos clones nucelares ................................... 36
5.2.4 Desenho e otimização de primers para sequenciamento dos genes AP1, AP2, BAM, ELF4,
LFY, FLC, FT, SOC1 , TFL e WUS .................................................................................................... 37
5.2.5 Extração de RNA ........................................................................................................................ 38
5.2.6 Síntese de cDNA ......................................................................................................................... 39
5.2.7 Desenho e otimização dos primers para o estudo da expressão gênica .................................. 39
5.2.8 Eficiência dos primers e amplificação quantitativa de transcritos reversos (RT-qPCR) ..... 40
5.3 RESULTADO E DISCUSSÃO .................................................................................................... 41
5.3.1 Confirmação dos clones nucelares ............................................................................................ 41
5.3.2 Desenho e otimização dos primers para o sequenciamento ..................................................... 43
5.3.3 Desenho dos primers para o RT-qPCR ..................................................................................... 43
5.3.4 Análise de cDNAs e especificidade dos primers via PCR convencional ................................. 44
5.3.5 Otimização dos genes por RT-qPCR ........................................................................................ 44
5.3.6 Expressão gênica do gene FT .................................................................................................... 44
5.4 CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 49
5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 49
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 53
I
EXTRATO
ALMEIDA, Luciana Silva Almeida, M.S., Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus,
outubro de 2016. Estudo morfológico e análise da expressão do gene FLOWERING
LOCUS T em um híbrido de citros com florescimento precoce. Orientador: Prof. Dr.
Abelmon da Silva Gesteira. Co-orientadores: Prof. Dr. Alex-Alan Furtado de Almeida e Dra.
Tahise Magalhães de Oliveira
Os citros são considerados umas das principais fruteiras do mundo, sendo o setor citrícola
brasileiro um dos mais representativos. Os principais estados produtores no Brasil são São
Paulo e Bahia. As plantas de citros apresentam um período juvenil longo o que tem
dificultado o progresso do melhoramento genético dessas plantas. Nesse sentido, faz-se
necessário estudos com a finalidade de reduzir o longo período juvenil. Este trabalho tem
como objetivo caracterizar a planta de citros de origem híbrida [(LCR x CTYM – 005) x MCP
– 011] quanto à sua morfologia, e estudar a expressão do gene FLOWERING LOCUS T (FT)
relacionado à floração nesse híbrido no inverno e verão. Estudos morfológicos do híbrido
[(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] que apresenta período juvenil curto foram realizados,
utilizando o manual Descriptors for Citrus. Medições da altura e diâmetro da copa das
árvores, além de observações de folhas, frutos, flores e sementes e a contagem dos embriões
foram realizadas. Verificou-se que o híbrido apresenta aproximadamente 50% de
poliembrionia, bem como um florescimento precoce e frutificação contínua, características
que o tornam um candidato promissor para utilização no melhoramento genético de citros. Em
adição, estudos de expressão do gene FT foram realizados no híbrido [(LCR x CTYM – 005)
II
x MCP – 011], em seu período de floração. Observou-se que houve influência do período do
inverno na expressão do gene FT entre caule e folha. No caule, a diferença não foi
significativa entre inverno e verão. Os dados apresentados são os primeiros a abordar genes
relacionados à redução do período juvenil e indução floral no híbrido [(LCR x CTYM – 005)
x MCP – 011].
Palavras-chave: Redução do período juvenil, genes do florescimento e melhoramento genético
de citros.
III
ABSTRACT
ALMEIDA, Luciana Silva Almeida, M.S., Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus,
October 2016. Morphological study and analysis of the expression of FLOWERING
LOCUS T gene in a citrus hybrid with early flowering. Advisor: Prof. Dr. Abelmon da
Silva Gesteita. Committee Members: Prof. Dr. Alex-Alan Furtado de Almeida and Dr. Tahise
Magalhães de Oliveira
The citrus are considered one of the main fruit trees of the world, being the Brazilian citrus
sector one of the most representative. The main producing states in Brazil are São Paulo and
Bahia. Citrus plants have a long juvenile period which has hampered the progress of genetic
improvement of these plants. In this sense, studies are necessary in order to reduce the long
juvenile period. This work aims to characterize the citrus plant of hybrid origin [(LCR x
CTYM - 005) x MCP - 011] regarding its morphology, and to study the FLOWERING
LOCUS T (FT) gene expression related to flowering in this hybrid in winter and summer.
Morphological studies of the hybrid [(LCR x CTYM - 005) x MCP - 011] showing short
juvenile period were performed using the Descriptors for Citrus manual. Measurements of the
height and diameter of the crown of the trees, besides observations of leaves, fruits, flowers
and seeds and counting of the embryos were performed. The hybrid has been shown to have
approximately 50% polyembryony as well as early blossoming and continuous fruiting,
characteristics that make it a promising candidate for use in citrus breeding. In addition, FT
gene expression studies were performed on the hybrid [(LCR x CTYM - 005) x MCP - 011],
IV
during its flowering period. It was observed that there was influence of the winter period on
the expression of the FT gene between stem and leaf. In the stem, the difference was not
significant between winter and summer. The data presented are the first to address genes
related to juvenile period reduction and floral induction in the hybrid [(CCR x CTYM - 005) x
MCP - 011].
Keywords: Reduction of juvenile period, flowering genes and genetic improvement of citrus.
1
1. INTRODUÇÃO
As plantas de citros fazem parte da família Rutaceae, e o gênero Citrus destaca-se
como um dos mais importantes do ponto de vista comercial. As espécies do gênero Citrus são
alógamas, sexualmente compatíveis, altamente heterozigotas e a maioria é diploide, com 18
cromossomos nas células somáticas. As plantas de citros podem se reproduzir sexualmente,
assexuadamente e ainda por enxertia (CAMERON; FROST, 1968).
Os citros são nativos da Ásia oriental, no entanto, essas plantas se propagaram para
diversos países tropicais e subtropicais, como Brasil, sendo considerada a principal fruteira no
mundo. O setor citrícola brasileiro é um dos mais representativos do mundo, com cultivo em
ampla escala nos estados de São Paulo e Bahia. Nessas regiões, milhares de pessoas
trabalham com os citros, desde a sua produção ao beneficiamento e comercialização de seus
produtos, o que tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do país
(NEVES et al., 2010).
Os citros, assim como todas as plantas perenes, passam por diferentes fases de
desenvolvimento durante seus ciclos de vida: fase vegetativa juvenil, fase vegetativa adulta e
fase adulta reprodutiva. A passagem da fase juvenil para a fase adulta é marcada
principalmente pelo ganho da capacidade de formação das estruturas reprodutivas, ou seja,
quando acontece a floração. Essa transição envolve fatores exógenos e endógenos que
controlam uma rede genética complexa e depende da duração do período juvenil (SONG et
al., 2013; TAN; SWAIN, 2006; HA, 2014).
A fase juvenil possibilita o maior crescimento vegetativo da planta (THOMAS;
VINCE-PRUE, 1997), no entanto, em plantas perenes esse período é muito longo, o que tem
2
dificultado o progresso do melhoramento genético dessas plantas (TONG et al., 2009). Nos
citros, o período juvenil pode durar de dois à 12 anos em plantas provenientes de sementes
(ENDO et al., 2005; MATSOUKAS et al., 2012; MACHADO et al., 2005), o que dificulta os
cruzamentos e pode levar à descontinuidade nos programas de melhoramento estabelecidos
(FROST; SOOST, 1968).
Com o objetivo de encurtar o longo período juvenil comumente observado em citros, a
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura apresenta um extenso Programa de Melhoramento
Genético de Citros (PMG - Citros), onde uma das linhas de pesquisa é a seleção de híbridos
de citros com período juvenil curto. Essas plantas selecionadas com ciclo juvenil curto,
podem ser utilizadas em técnicas moleculares e fisiológicas nos programas de melhoramento
otimizando tempo, custos e manutenção de plantas.
Nesse contexto, o PMG - Citros da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura dispõe de um
híbrido oriundo de um cruzamento triplo, [(Limoeiro ‘Cravo” (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] que apresenta período juvenil
muito curto de aproximadamente um ano. Contudo, tornar esse híbrido como potencial objeto
de estudo exige ações de pesquisa intensas e de médio prazo. Nesse sentido, o presente estudo
teve como objetivos caracterizar a planta de citros de origem híbrida [(LCR x CTYM – 005) x
MCP – 011] quanto à sua morfologia, e estudar a expressão do gene FLOWERING LOCUS T
(FT) relacionado à floração nesse híbrido no inverno e verão.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Citros – Aspectos gerais
Os citros apresentam ampla diversidade de gêneros e espécies e de seus processos de
geração, o que torna sua taxonomia bastante complexa e controvertida. Os estudos
taxonômicos mais relevantes são os de Swingle (1967), que classifica o gênero Citrus em 16
espécies e um amplo número de híbridos, e os de Tanaka (1961) que considera 162 espécies.
A classsificação de Swingle é a mais aceita e difundida, no entanto, com o uso de marcadores
moleculares e do sequenciamento de genoma, os estudos estão mais avançados e a taxonomia
dos citros está sendo esclarecida. A análise da diversidade, estrutura genética e origem de
limas e limões, desenvolvida por Curk e colaboradores (2016) demonstrou alto grau de
polimorfismo para os dois grupos, com variedades diploides, triploides e tetraploides. Além
disso, a contribuição do genoma nuclear das quatro taxas básicas de Citrus (C. medica, C.
maxima, C. micrantha e C. reticulata) foi confirmada para os acessos de limas e limões.
As plantas de citros e gêneros relacionados pertencem à ordem Geraniales, subordem
Geranineae, família Rutaceae, e subfamília Aurantioideae. Dentro da subfamília
Aurantioideae, existem seis gêneros: Fortunella (Swingle), Eremocitrus, Poncirus, Clymenia
(Swingle), Microcitrus e Citrus. Dentre esses gêneros, os que exibem maior interesse
comercial são Fortunella, Poncirus e, principalmente, Citrus (AGUSTÍ et al., 2014). As
espécies do gênero Citrus são alógamas, sexualmente compatíveis e altamente heterozigotas.
A grande maioria dessas espécies é diploides, com número de cromossomos nas células
4
somáticas 2n = 18 (CAMERON; FROST, 1968), no entanto, algumas variações podem
ocorrer a exemplo de triploides e tetraploides (SPIEGEL-ROY; GOLDSCHMIDT, 2008). As
plantas de citros podem se reproduzir sexualmente, por fecundação cruzada e por
autopolinização, assexuadamente por apomixia nucelar e agronomicamente por meio de
enxertia (CAMERON; FROST, 1968).
Os citros são nativos da Ásia oriental, no entanto, essas plantas se propagaram para
diversos países tropicais e subtropicais, como Brasil, China, Índia, EUA, México e Espanha,
sendo considerada a principal fruteira no mundo. No Brasil, os citros foram introduzidos
durante a colonização portuguesa, por volta da metade do século XVI. As primeiras sementes
foram plantadas na Bahia, posteriormente propagadas nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro (SPIEGEL-ROY; GOLDSCHMIDT, 2008; LIMA, 2014). Atualmente, os maiores
estados produtores de laranja no Brasil são respectivamente, São Paulo, Bahia, Paraná, Minas
Gerais e Sergipe. Os estados do sudeste detêm a maior produção, com cerca de 80%,
enquanto Bahia e Sergipe, juntamente, representam em torno de 9% da produção nacional
(IBGE, 2013).
A citricultura é considerada um dos segmentos mais importantes do agronegócio
brasileiro, e tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do país desde
1962, quando começaram as primeiras exportações e o setor gerou US$ 60 bilhões (NEVES et
al., 2010). Desde então, a citricultura nacional evoluiu bastante, e a safra brasileira de laranja
2015/2016 tem previsão de atingir 410 milhões de caixas de 40,8kg cada, o que representa um
aumento de 10 milhões de caixas, relativa à safra anterior (2014/2015) (CANAL RURAL,
2016; REVISTA GLOBO RURAL, 2016).
O setor citrícola brasileiro é um dos mais representativos do mundo, se destacando
como o segundo maior produtor, ficando atrás apenas da China (FRANCK CURK, 2014). A
produção brasileira de laranja representa cerca de 30% da safra mundial da fruta (MAPA-
Citros, 2016), no entanto, 98% da laranja produzida no Brasil é comercializada para a
industrialização da fruta, principalmente para a produção do suco concentrado e congelado, e
é exportado para países como EUA, União Europeia, Japão e China (LOHBAUER, 2011).
Essa produção corresponde a cerca de 60% da produção mundial de suco (MAPA-Citros,
2016).
5
2.2 Fases de desenvolvimento das plantas perenes - Período juvenil
As plantas perenes passam por diferentes fases de desenvolvimento durante seu ciclo
de vida: fase vegetativa juvenil, fase vegetativa adulta e fase reprodutiva. As transições
começam da germinação para a fase vegetativa juvenil, na qual as plantas aumentam
rapidamente sua capacidade fotossintética, seu tamanho e massa, porém não são capazes de
responder aos estímulos ambientais para emissão de flores (HUIJSER; SCHMID, 2011; HA,
2014).
O período juvenil é seguido por uma fase vegetativa adulta, onde as plantas adquirem
competência reprodutiva em resposta a sinais indutores florais. A transição para a fase
reprodutiva é marcada pela floração, ou seja, o meristema vegetativo do caule é convertido
em um meristema floral (BÄURLE; DEAN, 2006; HUIJSER; SCHMID, 2011; HA, 2014).
Essa transição é raramente reversível e ideal para a polinização e desenvolvimento de
sementes, que é um fator importante no sucesso reprodutivo da planta (BOSS et al., 2004).
A transição da fase vegetativa juvenil para a fase vegetativa adulta é marcada por
alterações de algumas características da planta, tais como o tamanho e a morfologia da folha,
comprimento dos entrenós, filotaxia, distribuição de tricomas, tamanho de celulas e
capacidade de enraizamento; e pelo ganho da competência reprodutiva, que depende da
duração do período juvenil (YU et al., 2013). Essa fase juvenil varia entre as espécies. Em
plantas anuais, como Arabidopsis thaliana, esta fase leva algumas semanas ou meses.
Enquanto em espécies de plantas perenes essa fase pode durar vários anos, como pode ser
visto em citros, que dependendo da espécie, pode durar em média de dois à 12 anos (ENDO
et al., 2005; MATSOUKAS et al., 2012; MACHADO et al., 2005).
Do ponto de vista fisiológico, a fase juvenil possibilita o maior crescimento vegetativo
da planta e a produção de grande superfície foliar, e ainda evitam os baixos rendimentos de
sementes que ocorreriam se fossem florescer precocemente (THOMAS; VINCE-PRUE,
1997). No entanto, o longo período juvenil das plantas perenes tem ocasionado impacto no
progresso do melhoramento genético (TONG et al., 2009), visto que, o longo tempo para
obtenção de frutos torna o melhoramento dessas plantas laborioso e oneroso, o que tem levado
os pesquisadores a explorarem métodos moleculares e fisiológicos para reduzir o período
juvenil e acelerar o tempo para o florescimento (MATSOUKAS et al., 2012).
6
2.3 Melhoramento genético e período juvenil
Os estudos com melhoramento genético de citros na EMBRAPA Mandioca e
Fruticultura Tropical, localizada no Recôncavo Baiano, em Cruz das Almas - BA iniciaram a
partir dos anos 1980 com base nos acessos presentes no Banco Ativo de Germoplasma (BAG)
de Citros dessa Unidade, com o intuito de incentivar os trabalhos de hibridação visando a
criação de novas cultivares copa e porta-enxertos adaptados às condições regionais (PASSOS
et al., 2007). Atualmente o BAG apresenta aproximadamente 600 acessos, como laranjas,
tangerinas, limões, limas, cidras, pomelos, toranjas e híbridos, conservados sob condições de
campo e em telado (SOARES FILHO et al., 2013). Desde o estabelecimento desse banco, a
diversidade genética nele contida vem servindo como base para o desenvolvimento da
citricultura brasileira.
A caracterização de cultivares é uma etapa essencial no manejo de coleções de
germoplasma, e consiste no levantamento de informações necessárias à descrição,
identificação e diferenciação de acessos dentro de uma mesma espécie. A caracterização
morfológica consiste na adoção de descritores botânicos herdáveis, facilmente visíveis e
mensuráveis, que, a princípio, são expressos em todos os ambientes (IBPGR, 1999). Os
estudos de caracterização morfológica devem permitir a discriminação relativamente fácil
entre fenótipos e fornecer as primeiras estimativas de variabilidade dentro da coleção de
germoplasma. No caso dos citros, o manual de Descriptors for Citrus, elaborado pelo então
International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR, 1999) é o mais utilizado
atualmente e representa uma ferramenta de padronização internacional para todas as espécies
cítricas.
O melhoramento genético via cruzamentos controlados entre plantas compatíveis é
uma das principais formas de se obter e manipular a variabilidade. No entanto, nos citros, o
longo período juvenil de plantas provenientes de sementes dificulta os cruzamentos e podem
levar à descontinuidade nos programas estabelecidos (FROST; SOOST, 1968). Visto que, o
período de tempo desde a semeadura até o início da fase reprodutiva das plantas de citros
propagadas via sementes dura em média de dois a 12 anos (ENDO et al., 2005;
MATSOUKAS et al., 2012; MACHADO et al., 2005). Dessa forma, os citros levam um
tempo muito longo para a conclusão de um ciclo de recombinação e seleção, e
consequentemente há uma demora de muitos anos para o lançamento cultivares (CARLOS;
STUCHI; DONADIO, 1997). O longo período juvenil implica ainda na presença de plantas
7
com grande quantidade de espinhos, crescimento vigoroso, folhagem abundantes resultando
em plantas com porte excessivo, dificultando a avaliação das progênies híbridas (GROSSER;
GMITTER JÚNIOR, 1990). Durante esse período as plantas não produzem flores e nem
frutos, e dessa forma, é necessário um longo período para alcançar produções satisfatórias
(CAMERON; FROST, 1968).
Com o objetivo de encurtar o longo período pré-reprodutivo comumente observado em
citros, podem ser desenvolvidas algumas técnicas nos programas de melhoramento de citros
com a utilização de plantas que apresentem ciclo juvenil curto, por possibilitar a redução de
tempo, de trabalho e de custo de manutenção das plantas. Nesse sentido, a EMBRAPA
Mandioca e Fruticultura apresenta um extenso Programa de Melhoramento Genético de Citros
(PMG - Citros), onde uma das linhas de pesquisa é a seleção de híbridos de citros com
período juvenil curto. O PMG - Citros dispõe do híbrido [(Limoeiro ‘Cravo”(LCR) x
Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] que apresenta
período juvenil muito curto, de aproximadamente um ano.
Plantas de citros que apresentem período juvenil curto tornam um excelente material
para desenvolver técnicas do melhoramento, como a hibridação sexual e somática. Além
disso, plantas com essa característica facilitam os estudos de genômica funcional relacionado
ao florescimento e a frutificação (TAN et al., 2009; TONG et al., 2009; PINHEIRO et al.,
2014). Outra maneira interessante de utilizar e estudar plantas de citros com curto período
juvenil é empregá-la como porta-enxerto na combinação copa/porta-enxerto. O porta-enxerto
pode imprimir nas copas enxertadas mudanças fisiológicas e moleculares que proporcionem
um menor período vegetativo.
2.4 Florescimento em citros
A floração é um acontecimento crucial no ciclo de vida da planta, pois garante o
desenvolvimento e evolução da espécie. Esse evento é marcado pela conversão do meristema
caulinar vegetativo em estruturas reprodutivas, através da verificação dos sinais ambientais e
endógenos que controlam uma rede genética complexa e apresenta as vias de floração
(HUIJSER; SCHMID, 2011).
A partir de estudos moleculares com mutantes de Arabidopsis thaliana, muitos genes
envolvidos nas múltiplas rotas que controlam o florescimento foram identificados e
caracterizados, e com isso, o desenvolvimento floral passou a ser abordado como um evento
8
que abrange várias etapas, incluindo a indução floral, diferenciação e antese, além dos tipos e
distribuição das flores e a produção e qualidade dos frutos (ZIK; IRISH, 2003; SIMPSON;
DEAN, 2002; WELLMER; RIECHMANN, 2010; AMASINO, 2010). Essas etapas são
resultantes de interações complexas entre genoma, níveis hormonais, promotores e inibidores,
os quais dependendo da idade e fase de desenvolvimento da planta são afetados pelas
condições ambientais (WELLMER; RIECHMANN, 2010).
A temperatura é um dos fatores ambientais que tem grande influência na floração de
citros, pois afeta a duração e a taxa de desenvolvimento floral (MOSS, 1969; SOUTHWICK;
DAVENPORT, 1986; VALIENTE; ALBRIGO, 2004). No entanto, a faixa ideal e o efeito da
temperatura sobre a floração variam entre as espécies (HA; JOHNSTON, 2013). A exposição
prolongada à baixas temperaturas, evento chamado de vernalização, também desempenha um
papel importante na indução da floração em citros (GARCIA-LUIS et al., 1992;
SOUTHWICK; DAVENPORT, 1986). O déficit hídrico também tem sido citado como
responsável pelo aumento do número de ramos produtores de flores em citros
(SOUTHWICK; DAVENPORT, 1986).
Em Arabidopsis, a regulação floral integra estímulos ambientais e endógenos e
envolve quatro rotas metabólicas: rota do fotoperíodo, rota autônoma, rota de vernalização e
rota das giberelinas, onde são propostas regulações positivas e negativas (YU et al., 2013;
HUIJSER; SCHMID, 2011; HA, 2014; MATSOUKAS et al., 2012; BOSS et al., 2004).
Todas as rotas convergem para um ponto de integração, onde acontece a expressão de um
conjunto de genes, chamados integradores florais. Estes agem sobre a expressão dos genes de
identidade do meristema floral, os quais desencadeiam e controlam a morfogênese floral,
através da regulação da expressão dos genes de identidade de órgãos florais (SONG et al.,
2013; WELLMER; RIECHMANN, 2010; OMAOILEIDIGH et al., 2014).
Dentre os genes conhecidos como integradores da floração, podemos citar
SUPPRESSOR OF OVEREXPRESSION OF CONSTANS 1 (SOC1 ) e FLOWERING LOCUS
T (FT). Em A. thaliana, SOC1 é um importante integrador floral nas múltiplas rotas. Os genes
SOC1, AP3 e WUSCHEL (WUS) foram isolaram e caracterizaram em citros, e superexpressão
de SOC1 de citros resultou no florescimento precoce em A. thaliana. Enquanto, o aumento da
expressão de CsWUS em A. thaliana garantiu um papel importante na integridade da
identidade e da estrutura dos meristemas florais. Essas observações indicam que os genes
SOC1 e WUS apresentam em citros funções equivalentes às observadas em A. thaliana (TAN;
SWAIN, 2007).
9
FT é um importante indutor da floração, e têm sido investigado para reduzir a
juvenilidade em algumas culturas, como em A. thaliana (NAKATSUKA et al., 2009) e
árvores de álamo (HSU et al., 2006). Em citros, observou-se o aumento na expressão de um
gene ortólogo de FT, em plantas adultas de tangerina “Satsuma” no período de indução floral,
quando exportas ao tratamento com baixa temperatura (15ºC). Entretanto, condições de baixa
temperatura não alteraram a expressão desse gene em plantas juvenis. (NISHIKAWA, et al.,
2007, 2009). A expressão constitutiva de FT de citros pode reduzir o período juvenil,
induzindo floração e frutificação, além de causar alterações nas características morfológicas
em P. trifoliata, evidenciando o papel do gene FT como importante regulador da indução
floral em citros. (ENDO et al., 2005).
Em A. thaliana, dois genes foram mostrados como reguladores positivos cruciais de
desenvolvimento do meristema floral: LEAFY (LFY) e APETALA1 (AP1). Ambos, AP1 e LFY
promovem a expressão de outros genes de identidade do meristema floral, enquanto
concomitantemente reprimem a expressão de reguladores negativos da floração, como
TERMINAL FLOWER1 (TFL1) (KAUFMANN et al., 2010).
A superexpressão de FLY e AP1 promove floração precoce em espécies perenes,
incluindo citros. Peña e colaboradores (2001) transformaram plantas juvenis de citranges (C.
sinensis x P. trifoliata) com os genes LFY e AP1 de A. thaliana, e observaram uma redução
em dois anos no período juvenil dessas plantas. Em 2004, Pillitteri e colaboradores isolaram e
caracterizaram os genes LFY e AP1 de citros e demonstraram que plantas transgênicas de A.
thaliana expressando constitutivamente os genes LFY ou AP1 de citros apresentaram
florescimento bastante precoce, semelhante ao descrito para superexpressão desses genes em
A. thaliana (PILLITTERI et al., 2004b).
Dentre os genes que provocam prolongamento da fase vegetativa em citros, retardando
o tempo de florescimento, destaca-se o gene TERMINAL FLOWER1 (TFL1). Plantas
transgênicas de A. thaliana expressando o gene CsTFL1, isolado de laranja doce “Washington
navel”, apresentaram um fenótipo de florescimento tardio semelhante à superexpressão de
TFL1 em A. thaliana (PILLITTERI et al., 2004a). Conforme estudos em A. thaliana e
algumas culturas perenes, como citros, a característica de período juvenil longo está associada
a altos níveis do gene TFL, (HA, 2014).
SHORT VEGETATIVE PHASE (SVP) é outro importante gene que retarda a transição
da fase juvenil para a fase adulta pela repressão da função dos genes do florescimento. Em
citros, SVP foi isolado de um mutante de florescimento precoce de P. trifoliata e observou-se
10
que SVP foi expresso em tecidos dormentes e meristemas vegetativos antes da transição floral
e sua expressão foi reprimida em botões florais, durante a transição floral. Além disso, foi
constatado que a expressão de SVP em citros foi maior nos primórdios florais (células
diferenciadas) do que nos meristemas (células indiferenciadas). Dessa forma, o padrão de
expressão de SVP em citros, durante a determinação do meristema apical, sugere que este
gene não interrompe a iniciação floral, no entanto, influencia o desenvolvimento vegetativo e
a identidade do meristema floral, regulando o tempo de floração (LI et al., 2010).
11
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15
CAPÍTULO I: Caracterização morfológica de um híbrido de citros com
florescimento precoce
16
RESUMO
Os citros são um dos principais cultivos frutífero do Brasil. Essa cultura representa um
importante segmento econômico no país. No entanto, as plantas de citros apresentam um longo período
juvenil, fator que limita a eficiência dos programas de melhoramento de citros. Nesse contexto, a
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas –BA selecionou o híbrido (LCR x CTYM - 005)
x MCP - 011 que apresenta período juvenil muito curto, em comparação com os demais. Este trabalho
tem como objetivo estudar esta planta de origem híbrida por meio da caracterização morfológica. Para
tal, foi utilizado o manual Descriptors for Citrus. Foram caracterizados três exemplares da planta em
estudo. Medições da altura e do diâmetro da copa das árvores foram realizadas, bem como a
caracterização morfológica de folhas, frutos, flores e sementes e a contagem dos embriões. O híbrido
(LCR x CTYM - 005) x MCP – 011 é uma planta de altura média de 250 cm aos 4 anos, com
aproximadamente 200 cm de diâmetro da copa. Suas folhas apresentam coloração verde escura. O
limbo único e contínuo apresenta forma lanciolada e margem dentada, sem a presença de pelos em
ambas as faces. As flores hermafroditas e os botões florais são de cor branca e perfumadas. As anteras
são amarelas e o seu comprimento é mais curto em relação ao estigma. Em relação à floração, foram
observadas algumas mudas florescendo a partir do segundo mês de cultivo e plantas adultas podendo
florescer, com o aparecimento simultâneo e contínuo de flores e frutos durante todo o ano. O fruto
apresenta formato esferóide. Quando maduro, apresenta coloração verde amarelado e superfície suave.
São bastante atrativos, principalmente por apresentarem uma fragrância perfumada e serem produzidos
em grande quantidade durante todo o ano. Já as sementes, apresentam forma esferóide, com superfície
suave e muita mucilagem. Com base nas observações e contagem dos embriões, as sementes
apresentam de um a cinco embriões e 50% de poliembrionia. Os resultados obtidos indicam que a
planta em estudo apresenta características diferenciadas, principalmente relacionadas com
florescimento precoce e frutificação contínua, o que a caracteriza como um candidato promissor para
utilização no melhoramento genético de citros.
Palvras-chave: Período juvenil, floração e descritores de citros.
17
ABSTRACT
Citrus is one of the main fruit crops in Brazil. This culture represents an important economic segment
in the country. However, citrus plants have a long juvenile period, a factor that limits the efficiency of
citrus breeding programs. In this context, EMBRAPA Cassava and Fruticulture, Cruz das Almas - BA
selected the hybrid (LCR x CTYM - 005) x MCP - 011, which presents a very short juvenile period in
comparison with the others. This work aims to study this plant of hybrid origin through the
morphological characterization. For this, the manual Descriptors for Citrus was used. Three specimens
of the plant under study were characterized. Measurements of tree crown height and diameter were
performed, as well as the morphological characterization of leaves, fruits, flowers and seeds and the
counting of the embryos. The hybrid (LCR x CTYM - 005) x MCP - 011 is a medium height plant of
250 cm at 4 years, with approximately 200 cm of crown diameter. Its leaves are dark green in color.
The single and continuous limbus presents lanciolate form and dentate margin, without the presence of
hairs in both faces. The hermaphrodite flowers and floral buds are white and perfumed. The anthers are
yellow and their length is shorter in relation to the stigma. In relation to the flowering, some seedlings
were observed to bloom from the second month of cultivation and adult plants could flourish, with the
simultaneous and continuous appearance of flowers and fruits throughout the year. The fruit has a
spheroid shape. When ripe, it has a yellowish-green coloration and a soft surface. They are quite
attractive, mainly because they present a perfumed fragrance and to be produced in large quantity
throughout the year. The seeds are spheroid in shape, with a smooth surface and a lot of mucilage.
Based on observations and counts of the embryos, the seeds have one to five embryos and 50% of
polyembryony. The results indicate that the plant under study presents differentiated characteristics,
mainly related to early flowering and continuous fruiting, which characterizes it as a promising
candidate for use in the genetic improvement of citrus.
Keywords: juvenile period, flowering and citrus descriptors.
18
4.1 INTRODUÇÃO
A citricultura é o principal cultivo frutífero do Brasil, com 800 mil ha de área plantada. Os
citros foram introduzidos no Brasil logo no início da colonização, e encontrou no país melhores
condições para vegetar e produzir do que nas próprias regiões de origem, expandindo-se por todos os
estados brasileiros. No Brasil, a produção de citros representa importante segmento econômico,
estando entre as culturas frutíferas de maior destaque, não só por seu expressivo valor de produção,
como por sua importância na geração de empregos diretos e indiretos (NEVES et al., 2010).
O gênero Citrus pertence à família Rutaceae, apresenta alta diversidade de espécies e é
considerado o gênero mais importante economicamente (CAMERON; FROST, 1968). Em geral, as
espécies do gênero Citrus são alógamas, sexualmente compatíveis, altamente heterozigotas e diploides,
com número de cromossomos nas células somáticas 2n = 18 (CAMERON; FROST, 1968). Essas
plantas podem se reproduzir sexualmente, podendo, também, haver reprodução assexual e por meio de
enxertia (CAMERON; FROST, 1968).
As plantas de citros apresentam um longo período juvenil que varia de dois a 12 e varia em
função da espécie de citros, das condições ambientais e do sistema de cultivo adotado (MACHADO et
al., 2005). Longos períodos juvenis retardam o melhoramento genético dos citros, pois não há
produção de frutos e, quando estes são produzidos, apresentam, nas safras iniciais, características
distintas das plantas com completo amadurecimento fisiológico (SPIEGEL-ROY; GOLDSCHMIDT,
2008).
Reduzir o período juvenil é uma das principais estratégias para aumentar a eficiência dos
programas de melhoramento de citros, devido ao longo tempo de geração da espécie. Nesse sentido, o
Programa de Melhoramento Genético dos Citros da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, Cruz das
Almas –BA selecionou o híbrido [(Limoeiro ‘Cravo”(LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x
Microcitrus papuana (MCP) – 011] que apresenta período juvenil muito curto, de aproximadamente
um ano. Esse híbrido pode ser utilizado com o objetivo de acelerar o melhoramento de citros, no
entanto, é de grande importância o desenvolvimento de estudos relativos à caracterização morfológica.
A caracterização morfológica dos acessos conservados no BAG é uma etapa essencial para
identificar o potencial existente na coleção, e consiste na adoção de descritores botânicos herdáveis,
facilmente visíveis e mensuráveis, que, a princípio, são expressos em todos os ambientes (IBPGR,
1999). No caso dos citros, o manual Descriptors for Citrus elaborado pelo então International Board
19
for Plant Genetic Resources (IBPGR, 1999) é o mais utilizado atualmente e representa uma ferramenta
de padronização internacional para todas as espécies cítricas.
Desta forma, este trabalho teve como objetivo estudar o híbrido (LCR x CTYM - 005) x MCP –
011 localizado no Banco de Germoplasma (BAG) de Citros da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura
por meio da caracterização morfológica, com a finalidade de gerar subsídios para ações de
melhoramento genético voltado para a redução do período juvenil em citros.
4.2 MATERIAL E MÉTODO
Este estudo foi desenvolvido no BAG de Citros, localizado na EMBRAPA Mandioca e
Fruticultura, a 12º 40' 19" de latitude sul e 39º 06' 22" de longitude oeste, localizado no município de
Cruz das Almas, Recôncavo da Bahia, Brasil.
O clima do município de Cruz das Almas, segundo classificação de Köppen, é uma transição
entre as zonas Am e Aw (clima de monção e clima tropical de inverno seco, respectivamente), com
precipitação pluviométrica com média anual de 1143 mm, temperatura média de 24,28 ºC e umidade
relativa de 60,47% (SOUZA et al., 2009). O solo da área experimental é um Latossolo Amarelo
distrófico típico, A moderado, textura franco-argiloarenosa, caulinítico, hipoférrico, fase transição
floresta tropical subperenifólia/subcaducifólia com declive de 0 a 3% (SOUZA; SOUZA, 2001).
A planta de origem híbrida [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] selecionada pelo Programa
de Melhoramento Genético dos Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura – PMG Citros foi avaliada
morfologicamente por meio de descritores morfológicos adaptados a partir da lista Descriptors for
Citrus (IPGRI, 1999).
4.2.1 Coleta de dados
Foram observadas três árvores da planta [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011], todas com
aproximadamente quatro anos de cultivo, localizadas no BAG de Citros da EMBRAPA Mandioca e
Fruticultura. Essas plantas são clones nucelares comprovadas por meio de marcadores microssatélites
da planta matriz, que apresenta 6 anos de cultivo. Foram coletadas 30 folhas maduras, 10 frutos
maduros e 10 flores totalmente abertas por árvore. Esse material foi coletado na parte externa da
planta, ao redor de toda a copa, a uma altura de 1 a 2 m do solo, e avaliado de acordo com o manual
Descriptors for Citrus (IBPGR, 1999).
20
4.2.2 Árvore
Foram tomadas as medidas de altura das árvores e de diâmetro das copas (no sentido longitudinal à
linha de plantio), utilizando-se um banner com régua graduada. Também foram avaliados o formato
das copas e a presença de espinhos.
4.2.3 Folhas
As folhas coletadas foram aquelas de tamanho mediano, que visualmente compunham cerca de
80% das folhas da planta. As medições de comprimento, largura e espessura da lâmina foliar foram
feitas com o auxílio de um paquímetro digital. Outras variáveis também foram avaliadas: tipo da folha
(simples ou composta), formato da lâmina foliar, tipo de pecíolo (menor ou maior que a lâmina foliar,
ou ausente), tipo de margem, coloração da folha. A coloração das folhas foi avaliada visualmente e
definida segundo o manual Descriptors for Citrus (IBPGR, 1999). A presença ou a ausência de
fragrância também foi anotada.
4.3.4 Flores
As medidas de diâmetro do cálice, comprimento de pedicelo, comprimento e largura de pétalas
foram feitas com o auxílio de um paquímetro digital. Além disso, avaliou-se o comprimento das
anteras em relação ao estigma, o número de pétalas, a coloração das pétalas e das anteras, o tipo de
flor, e o arranjo das flores na planta (se florescem isoladamente ou em inflorescências). A coloração
das pétalas foi definida segundo Descriptors for Citrus (IBPGR, 1999). A presença ou a ausência de
fragrância também foram observadas.
4.2.5 Frutos e sementes
Os frutos foram coletados quando apresentaram, visualmente, coloração verde amarelado, pois
permanecem nessa coloração mesmo quando maduros. As medidas de altura e diâmetro dos frutos
foram feitas com o auxílio de um paquímetro, considerando-se a região equatorial do fruto para a
definição do diâmetro. Uma balança foi utilizada para a medição da massa dos frutos. Outras variáveis
ainda foram avaliadas, a saber: forma do fruto, formato da base, formato do ápice, textura da casca,
localização dos frutos na copa, a presença ou a ausência de fragrância na base do IBPGR.
21
Foi realizada a abertura transversal do fruto com um bisturi, fez-se a extração individual de
todas as sementes, contadas e classificadas em cheias ou murchas. Foram observadas também as
seguintes características: forma, superfície e cor das sementes. Algumas características da polpa, como
textura e cor também foram anotadas.
A determinação do número médio de embriões por semente foi efetuada através do exame de
100 sementes cheias. Pelo método direto, com o auxílio de pinça e bisturi e sob lupa, a casca e o
tegmento das sementes foram retirados e procedeu-se a separação e a contagem dos embriões.
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.3.1 Árvore
O híbrido (LCR x CTYM - 005) x MCP – 011 é uma planta de altura média de 250 cm aos 4
anos, com aproximadamente 200 cm de diâmetro de copa (Figura 1). Seu parental feminino (LCR X
CTYM- 005) apresenta em média 280 cm de altura. Já o parental masculino, M. papuana, segundo
Santos (2015) apresenta porte baixo, com aproximadamente 140 cm de altura. A copa é
consideravelmente densa e apresenta forma elipsoide, com presença de espinhos vigorosos, semelhante
ao parental masculino.
Segundo Santos (2015), o híbrido (LCR x CTYM - 005) x MCP – 011 foi caracterizado como
resistente ao vírus-da-tristeza-dos-citros, uma vez que o teste de ELISA foi negativo e as plantas não
apresentaram caneluras. A resistência ao vírus-da-tristeza-dos-citros é uma das importantes
características observadas pelos programas de melhoramento genético para seleção de potenciais porta-
enxertos (SCHAFER et al., 2001).
22
Figura 1 - Planta de origem híbrida [(Limoeiro ‘Cravo’
(LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus
papuana (MCP) – 011] localizada no BAG de Citros da
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas-
BA, com aproximadamente quatro anos.
4.3.2 Folhas
Esse híbrido apresenta ciclo de vida vegetativa perene. Suas folhas (Figura 2) apresentam
coloração verde escura sem diversidade de cores. A forma da lâmina da folha é lanciolada e margem
dentada, com ápice agudo e base aguda e atenuada. Além disso, a folha é desprovida de pelos em
ambas as faces, a divisão da folha é simples, apresentado o limbo único e contínuo, não dividido em
lâminas menores, como as de seu parental masculino. O parental feminino LCR x CTYM - 005
apresenta a maioria das folhas simples, e algumas trifolioladas, todas de coloração verde escuro sem
diversidade de cores.
As médias do comprimento, da largura da lâmina e da espessura da folha do híbrido [(LCR x
CTYM – 005) x MCP – 011] são mostradas na Tabela 1.
23
Figura 2 – Folha da planta de origem híbrida [(Limoeiro ‘Cravo’
(LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus
papuana (MCP) – 011] localizada no BAG de Citros da
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas-BA.
Tabela 1 – Medidas da folha do híbrido [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] em milímetros
Medidas Média em milímetros (mm)*
Comprimento da folha 31,5 ± 2,63
Largura da lâmina da folha 12,7 ± 1,70
Espessura da folha 0,31 ± 0,02
*Média ± desvio-padrão.
4.3.3 Flores
As flores e os botões florais do híbrido (Figura 3) em estudo são de cor branca e perfumadas,
assim como as de seus parentais. As anteras são amarelas e o seu comprimento é mais curto em relação
ao estigma. A média do número de pétalas por flor é de cinco. E a média do número de estames foi de
25. A flor é hermafrodita e ovário súbero. As médias do comprimento do pedicelo, do diâmetro do
cálice, do comprimento e largura da pétala são mostradas na Tabela 2.
Figura 3 – Botões florais em três diferentes estágios de
desenvolvimento e flor da planta de origem híbrida [(Limoeiro
‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus
papuana (MCP) – 011] localizada no BAG de Citros da
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas-BA.
24
Tabela 2 – Medidas das partes da flor do híbrido [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] em milímetros
Medidas Média em milímetros (mm)*
Comprimento do pedicelo 1,3 ± 0,41
Diâmetro do cálice 5 ± 0,33
Comprimento da pétala 11 ± 0,73
Largura da pétala 4,4 ± 0,49
*Média ± desvio-padrão.
O híbrido em estudo apresenta período juvenil muito curto de aproximadamente um ano. Tem-
se observado plântulas desse genótipo florescendo a partir do segundo mês de cultivo (Figura 4) e
plantas adultas podendo florescer em várias épocas num mesmo ano, independentemente de estímulos
ambientais, sempre em novos ramos desenvolvidos. Além disso, esse híbrido apresenta ao mesmo
tempo flores e frutos durante todo o ano (Figura 5).
Figura 4 – Plantas de origem híbrida [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) –
005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] proveniente de sementes em diferentes estágios de
desenvolvimento, com florescimento precoce. A= Planta em tubete com substrato de sementeira
com aproximadamente dois meses de cultivo. B= Planta em saco de 2 kg com substrato de
pinhos com aproximadamente quatro meses de cultivo. C= Planta em tubete com substrato de
sementeira com aproximadamente quatro meses de cultivo. D= Planta em saco de 2 kg com
substrato de pinhos com aproximadamente quatro meses de cultivo. E= Planta em vaso de 30 kg
com substrato de pinhos e casca de coco com aproximadamente seis meses de cultivo.
A B C D E
25
Figura 5 - Planta de origem híbrida [(Limoeiro
‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) –
005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011]
localizada no BAG da EMBRAPA Mandioca e
Fruticultura em Cruz das Almas-BA, com flor e
fruto ao mesmo tempo
Essas características não são compartilhadas com seus parentais e são encontradas em poucas
variedades de citros, como é o caso do cultivar “x11”, um mutante espontâneo de laranjeira 'Tobias'
que é cultivado no Banco de Germoplasma do 'Centro de Citricultura Sylvio Moreira' Citrus,
Cordeirópolis, São Paulo, Brasil. Mudas de 'x11' apresentam floração precoce de aproximadamente
dois anos e floresce várias vezes em todas as estações, sem a necessidade de estímulos ambientais,
com exceção de poda, que estimula a produção de novos brotos (PINHEIRO et al., 2014).
Outras culturas apresentam cultivares com características semelhantes, o Longan, 'sijimi'
proveniente da China e do Vietnã, que tem uma fase juvenil mais curto em comparação com outras
cultivares e apresenta florescimento contínuo. Esta cultivar produz flores e frutos durante todo o ano,
tanto em condições tropicais e subtropicais, com nenhuma exigência de controle ambiental (JIA et al.,
2014).
4.3.4 Frutos e sementes
O fruto (Figura 6) apresenta formato esferóide, com a forma do ápice convexo e da base
truncar, que lembra os de seu parental feminino. Já o parental masculino (M. papuana) apresenta
minifrutos alongados e com textura rugosa (SANTOS, 2015). Quando maduro, o fruto do híbrido
apresenta coloração verde amarelado e superfície suave. São bastante atrativos, principalmente por
apresentarem uma fragrância perfumada e serem produzidos em grande quantidade durante todo o ano.
26
Essas características podem ser exploradas para a produção de óleos essenciais, bem como para
interesse ornamental.
Figura 5 – Fruto da planta de origem híbrida
[(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana
(MCP) – 011] localizada no BAG de Citros da
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura em Cruz das
Almas-BA.
Em relação ao potencial ornamental, Santos (2015) observou que a existência de espinhos
associada ao adensamento da copa torna essa planta potencial para o uso como cerca-viva. As
características de flores bonitas e perfumadas, frutos bastante atrativos e principalmente por serem
produzidos em grande quantidade durante todo o ano, conferem a essa planta atributos que a
qualificam para uso em vaso e em paisagismo. O florescimento precoce é outra característica de
extrema importância, pois a produção de flores e frutos torna uma planta ornamental mais atrativa.
O uso dos citros [Citrus (L.) e gêneros afins] em paisagismo é antigo, porém restrito no Brasil e
se resume à indicação de poucos profissionais. Nos Estados Unidos, Japão e Itália, entre outros países
europeus, a utilização dos citros em projetos paisagísticos é comum e vem ganhando cada vez mais
popularidade, por serem plantas atrativas do ponto de vista ornamental e alimentício (MAZZINI,
2010).
A média do peso do fruto do híbrido (LCR x CTYM - 005) x MCP – 011 é 15,39 g e o seu
parental feminino apresenta fruto com média de peso de 65,5 g. As médias do diâmetro e do
comprimento do fruto do híbrido em estudo e de seus parentais são mostradas na Tabela 3.
27
Tabela 3 – Medidas do fruto do híbrido [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus
papuana (MCP) – 011] e de seus parentais em milímetros
Medidas Média em milímetros (mm)*
HÍDRIDO PARENTAL FEMININO PARENTAL MASCULINO
Diâmetro do fruto 28,9 ± 2,71 38 ± 0,10 19 ± 0,08
Comprimento do fruto 32 ± 3,62 41± 0,25 54,5 ± 0,38
*Média ± desvio-padrão.
A polpa do fruto é firme e seca, apresenta coloração verde claro uniforme e fragrância
perfumada. Os frutos apresentam em média 10 sementes viáveis. As sementes apresentam forma
esferóide e tamanho médio de 6,74 mm. A superfície é suave, com muita mucilagem. A cor da
semente é branco amarelado e o cotilédone é branco.
Com base nas observações e contagem dos embriões, as sementes apresentam de um a cinco
embriões e 50% de poliembrionia. Esse resultado corrobora com as observações visuais no plantio e
análise molecular realizada por meio de marcadores microssatélite (SSRs), onde de 300 indivíduos
analisados, 132 foram caracterizados como indivíduos nucelares e 168 como indivíduos zigóticos.
Dessa forma, pode-se afirmar que esse híbrido apresenta aproximadamente 50% de poliembrionia
nessas condições de cultivo, visto que, a poliembrionia pode se alterada em função das condições de
cultivo, principalmente pela temperatura (PASSOS et al., 2006).
A presença de vários embriões na mesma semente pode dificultar a sobrevivência dos embriões
zigóticos, devido à competição entre embrião sexual e nucelares por nutrientes, contribuindo assim
para manter a uniformidades das plantas e permitindo a obtenção de plantas semelhantes à planta-
matriz (RAMOS et al., 2006).
De acordo com Passos et al. (2006), quanto mais elevada a taxa de poliembrionia nas sementes,
maiores são as chances de o porta-enxerto, quando propagado, resultar em plântulas de origem nucelar,
semelhantes à cultivar-mãe, garantindo assim a mesma constituição genética e favorecendo a
homogeneidade dos pomares. Plantas que possuem grande potencial como plantas doadoras de
sementes para porta-enxertos, são aquelas que tem boa produção de sementes/fruto, grande número de
embriões por semente e alta taxa de poliembrionia, sendo recomendados para a diversificação dos
pomares de citros caso sejam considerados bons porta-enxertos.
28
4.4 CONCLUSÕES
A avaliação das características morfológicas indica que o híbrido [(LCR x CTYM – 005) x
MCP – 011] apresenta características diferenciadas, principalmente relacionadas à floração. Algumas
mudas floresceram a partir do segundo mês de cultivo, e plantas adultas apresentam flores e frutos de
forma simultânea durante todo o ano. Com base nas observações e contagem dos embriões, foi
possível observar que o híbrido apresenta 50% de poliembrionia.
Dessa forma, o híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] caracteriza-se como um
candidato promissor para utilização no melhoramento genético de citros, como objeto de estudo para o
desenvolvimento de vários trabalhos relacionados à redução período juvenil, florescimento e
escalonamento de produção.
4.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BATCHELOR, L.D.; WEBBER, H.J. (Ed.). The citrus industry. Berkeley: University of California,
1968. p.325-370.
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2009. p. 777-780.
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JIA, T. et al. Identification of Regulatory Genes Implicated in Continuous Flowering of Longan
(Dimocarpus longan L.). Plos one, 2014.
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Botany, Karachi, 2009. p. 3207-3212.
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D. de et al. (Ed.). Citros. Campinas: IAC: FUNDAG, 2005. p. 221-277.
MAZZINI, R. B.; PIO, R. M. Caracterização morfológica de seis variedades cítricas com potencial
ornamental. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, 2010. p. 463-470.
NEVES, M.F. et al. (Org.). O Retrato da Citricultura Brasileira. Ribeirão Preto: CitrusBR, 2010.
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29
PASSOS, O. S. et al. Caracterização de híbridos de Poncirus trifoliata e de outros porta-enxertos de
citros no Estado da Bahia. Revista Brasileira de Fruticultura, 2006. p.410-413.
PINHEIRO, T. T. et al. Early-flowering sweet orange mutant ‘x11’ as a model for functional genomic
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RAMOS, J.D. et al. Poliembrionia e caracterização de frutos de citrumelo ‘Swingle’ e de Poncirus
trifoliata. Ciência e Agrotecnologia, 2006. p. 88-91.
REHMAN, S-U. et al. Inhibitory effect of Citrus peel essential oils on the microbial growth of bread.
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SPIEGEL-ROY, P.; GOLDSCHMIDT, E.E. Biology of citrus. 2.ed. Cambridge: University, 2008.
230p.
30
CAPÍTULO II: Estudo molecular do gene FLOWERING LOCUS T (FT) em planta de origem
híbrida de citros com florescimento precoce
31
RESUMO
As plantas de citros são amplamente cultivadas no Brasil e economicamente importante no
mercado nacional e internacional. Assim, como todas as plantas perenes, os citros apresentam um
longo período juvenil. Durante esse período, a planta é incapaz de iniciar a floração. Portanto, o
encurtamento da fase juvenil e a regulação do tempo de floração em citros são importantes para
acelerar os esforços do melhoramento genéticos dessas plantas. Este trabalho tem como objetivo
estudar a expressão do gene FLOWERING LOCUS T (FT) relacionado à floração no híbrido [(LCR x
CTYM – 005) x MCP – 011], selecionado pela EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas
– Bahia, que apresenta período juvenil curto. Clones nucelares do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x
MCP – 011] foram selecionados por meio de marcadores moleculares. Os resultados demonstram que
o híbrido apresenta aproximadamente 50% de poliembrionia. Dentre as 170 plantas selecionadas
visualmente, 13 apresentaram florescimento precoce, a partir do segundo mês de cultivo. Destas, seis
foram comprovados como clones nucelares da planta matriz. Após essa análise, 18 plantas foram
selecionadas para estudo de expressão gênica de genes relacionados à floração em citros. Por meio de
análises de sequências, foram selecionados os seguintes genes candidatos: BAM, FT, TFL e WUS. A
metodologia utilizada para alcançar o objetivo foi primeiramente realizar a semeadura das plantas do
híbrido. Após a emergência e crescimento inicial, os clones nucelares mais vigorosos foram
selecionados visualmente e por meio de Marcadores Microssatélite. Foram selecionadas 18 plantas
para o estudo da expressão gênica. Logo, ocorreu a seleção dos genes candidatos para o estudo, que
foram AP1, AP2, BAM, ELF4, LFY, FLC, FT, SOC1 , TFL e WUS. A partir de analises de sequências
de citros disponíveis em bancos de dados foi realizado o desenho de primers. Posteriormente foi
realizada a amplificação por meio da técnica de PCR e o sequenciamento dos genes BAM, FT, TFL e
WUS. A partir das sequências obtidas foram desenhados os primers para o qPCR. Os resultados
sugerem que o híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] apresenta aproximadamente 50% de
poliembrionia. Dentre as 170 plantas selecionadas visualmente, 13 apresentaram florescimento
precoce, a partir do segundo mês de cultivo. Destas, seis foram comprovados como clones nucelares da
planta matriz. A análise da expressão gênica demonstrou que houve influência do período do inverno
na expressão do gene FT entre as duas partes analisadas da planta, caule e folha. É possível ainda
inferir por meio da análise que houve diferença significativa na expressão de FT entre os dois períodos
avaliados para folha. Em relação à expressão do gene FT no caule, foi possível observar que não houve
diferença significativa nos dois períodos avaliados. A expressão de FT na gema no verão foi
significativa, demonstrando uma menor expressão quando comparada com folha e o caule. A partir
32
desse trabalho, surge possibilidade de novas pesquisas em relação ao estudo da via gênica de floração
em citros e o desenvolvimento de técnicas para reduzir o período juvenil com a utilização dessa planta.
Palavras-chave: Expressão gênica, PCR em tempo real e floração.
33
ABSTRACT
Citrus plants are widely cultivated in Brazil and economically important in the national and
international markets. Thus, like all perennial plants, citrus have a long juvenile period. During this
period, the plant is unable to start flowering. Therefore, shortening the juvenile phase and regulating
flowering time in citrus are important to accelerate the breeding efforts of these plants. The objective
of this work was to study the expression of the FLOWERING LOCUS T (FT) gene related to
flowering in the hybrid [(LCR x CTYM - 005) x MCP - 011], selected by EMBRAPA Cassava and
Fruticulture, Cruz das Almas - Bahia, Short juvenile period. Clones of the hybrid [(LCR x CTYM -
005) x MCP - 011] were selected by means of molecular markers. The results demonstrate that the
hybrid shows approximately 50% polyembryony. Among the 170 plants selected visually, 13 showed
early flowering, from the second month of cultivation. Of these, six were proven as nucellar clones of
the parent plant. After this analysis, 18 plants were selected to study the gene expression of genes
related to flowering in citrus. By means of sequence analyzes, the following candidate genes were
selected: BAM, FT, TFL and WUS. The methodology used to reach the objective was to first sow the
plants of the hybrid. After emergence and initial growth, the most vigorous nucellar clones were
selected visually and by means of SSR. Eighteen plants were selected for the study of gene expression.
Therefore, the selection of the candidate genes for the study were AP1, AP2, BAM, ELF4, LFY, FLC,
FT, SOC1, TFL and WUS. From the analyzes of citrus sequences available in databases, the design of
primers was carried out. Afterwards, the amplification was performed by means of the PCR technique
and the sequencing of BAM, FT, TFL and WUS genes. From the sequences obtained the primers were
designed for qPCR. The results suggest that the hybrid [(LCR x CTYM - 005) x MCP - 011] shows
approximately 50% polyembryony. Among the 170 plants selected visually, 13 showed early
flowering, from the second month of cultivation. Of these, six were proven as nucellar clones of the
parent plant. Analysis of the gene expression showed that there was influence of the winter period on
the expression of the FT gene between the analyzed parts of the plant, stem and leaf. It is possible to
infer from the analysis that there was a significant difference in FT expression between the two periods
evaluated for leaf. Regarding the expression of the FT gene in the stem, it was possible to observe that
there was no significant difference in the two evaluated periods. FT expression in the yolk in summer
was significant, demonstrating a lower expression when compared to leaf and stem. From this work,
there is a possibility of new research in relation to the study of the gene flow pathway in citrus and the
development of techniques to reduce the juvenile period with the use of this plant.
Keywords: gene expression, real-time PCR and flowering.
34
5.1 INTRODUÇÃO
As plantas perenes passam por diferentes fases de desenvolvimento: a fase juvenil, a fase adulta
vegetativa e a fase adulta reprodutiva. O período juvenil é definido como o momento que antecede a
capacidade de formação das estruturas reprodutivas. Nesse período, a planta é incapaz de iniciar a
floração independentemente de receber estímulos que induzem a flor em plantas maduras (HA, 2014).
A duração do período juvenil em plantas perenes é longo, como pode ser vista em citros, que pode
durar em média de dois a 12 anos (ENDO et al., 2005; MATSOUKAS et al., 2012; MACHADO et al.,
2005).
As plantas de citros são amplamente cultivadas no Brasil e economicamente importante no
mercado nacional e internacional. Portanto, o encurtamento da fase juvenil e a regulação do tempo de
floração em citros são importantes para acelerar os esforços do melhoramento genéticos dessas plantas.
Nesse sentido, a Embrapa Mandioca e Fruticultura selecionou o híbrido [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x
Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] que apresenta período
juvenil muito curto de aproximadamente um ano, que pode ser utilizado em pesquisas relacionadas ao
florescimento e redução de período juvenil em citros.
Muitos estudos têm demonstrado que o processo de floração em plantas é controlado não só
pela regulação de múltiplos genes, por fatores endógenos, mas também por vários sinais ambientais
(TAN; SWAIN, 2006). Ambos os fatores controlam uma rede genética complexa, que integra esses
sinais diferentes e converge para ativar a expressão de um conjunto de genes que desencadeiam e
controlam a morfogênese floral (SONG et al., 2013; TAN; SWAIN, 2006).
Estudos moleculares com Arabidopsis têm identificado e caracterizado muitos genes
envolvidos na rede que controla o florescimento, e os fatores que interferem essa rede genética
(SIMPSON; DEAN, 2002; ZIK; IRISH, 2003; WELLMER; RIECHMANN, 2010; AMASINO, 2010).
Em citros, ortólogos para os genes relacionados à floração têm sido isolados e caracterizados com
sucesso, incluindo o LEAFY (LFY) e APETALA1 (AP1) (PILLITTERI et al., 2004b), FLOWERING
LOCUS T (FT) (NISHIKAWA, et al., 2007, 2009, ENDO, et al., 2005), FLOWERING LOCUS C
(FLC), BARELY ANY MERITED (BAM); (ZHANG et al., 2009a,b); TERMINAL FLOWER1 (TFL1)
(PILLITTERI; LOVATT; WALLING, 2004), SHORT VEGETATIVE PHASE (SVP) (LI et al., 2010);
SUPRESSOR OF OVEREXPRESSION OF CO1 (SOC1 ) e WUSCHEL (WUS) (TAN; SWAIN, 2007).
Nos últimos anos, o gene FLOWERING LOCUS T (FT) tem sido o mais estudado e eficaz na
promoção da floração precoce em plantas (MOURADOV et al., 2002; KOMED, 2004;
35
LEMMETYINEN et al., 2004). Estudos indicam que o gene FT pode reduzir a juvenilidade em
algumas culturas, como a Arabidopsis, álamo, citros, arroz e tomate (NAKATSUKA et al., 2009; HSU
et al., 2006; KOJIMA et al., 2002; ENDO et al., 2005; LIFSCHITZ et al., 2006; BOHLENINUS et al.,
2006).
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é estudar a expressão do gene FT relacionado a
redução do período juvenil no híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011], que apresenta período
juvenil curto.
5.2 MATERIAL E MÉTODO
5.2.1 Obtenção do material vegetal
O estudo foi realizado em condições de casa de vegetação na EMBRAPA Mandioca e
Fruticultura em Cruz das Almas - Bahia. O híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] selecionado
pelo Programa de Melhoramento Genético dos Citros da EMBRAPA foi utilizado para realização dos
experimentos.
A semeadura das plantas do híbrido foi efetuada em tubetes plásticos de 75 ml, contendo
substrato a base de casca de pinos decomposta, a uma profundidade de 1,5 cm. Os tubetes foram
suspensos em bancada de tela metálica com 1,2 m de altura. Uma semente foi usada por tubete. Após a
emergência e crescimento inicial, cerca de 60 dias após a semeadura, os clones nucelares mais
vigorosos foram selecionados visualmente, realizando o descarte das demais plantas.
Com cerca de 20 cm da altura, ou seja, com aproximadamente quatro meses de cultivo, as
plantas do híbrido foram transplantados para sacos plásticos (1,5 kg), dispostos sobre tijolos a 10 cm
do solo. O substrato utilizado foi casca de pinos decomposta. A adubação foi realizada pela aplicação
do fertilizante Osmocote® e ureia, em cobertura logo após a transplantação. A irrigação foi realizada
manual de três a cinco vezes na semana, conforme monitoramento das condições meteorológicas e de
umidade do substrato.
5.2.2 Extração do DNA
O DNA genômico foi extraído de folhas dos indivíduos de origem híbrida [(LCR x CTYM –
005) x MCP – 011] de acordo com a metodologia descrita por Murray e Thompson (1980).
36
O DNA obtido foi dissolvido em tampão TE (10mM Tris HCl, pH 8,0; 1 mM EDTA), e
conservado a -20°C. A quantificação do DNA foi realizada por meio do uso do DNA ʎ em três
diferentes concentrações de 100, 200 e 300 ng/μL. As amostras de DNAs foram submetidas a
eletroforese em gel de agarose 1% corado com brometo de etídio 1 μg/mL em tampão TAE, a 100V
durante 25 minutos.
5.2.3 Marcadores microssatélite para a confirmação dos clones nucelares
As amostras de DNAs foram diluídas para a concentração de 5 ng/ µL. Marcadores
microssatélites foram amplificados a partir dos seguintes pares de primers: miCrCIR01E02,
Ci06A05b, CMS14, TAA4S, CMS26 (FROELICHER et al., 2008; CRISTOFANI-YALY et al., 2011;
YONG et al., 2006) (Tabela 1). As reações de amplificação foram preparadas para volume final de 25
µL contendo 5,0 ng/µL de DNA, 1,0 U de Taq DNA polimerase, tampão 10X (500 mMKCl, 100 mM
Tris-HCl, pH 8 Invitrogen), MgCl2 1,0 mM, dNTP (0,2 mM) e 0,2 µM de cada primer. As reações de
amplificação aconteceram em termocicladores “Veriti® Thermal Cycler” de acordo com a seguinte
programação 35 ciclos de 94°C por 30s, 52°C por 30s e 72°C por 45s. A temperatura de anelamento
foi de 65°C, decrescendo até 0,3°C a cada ciclo seguido por três ciclos de anelamento a 56°C. Os
produtos da PCR foram visualizados em gel de agarose 3% corado com brometo de etidio (0,5 ng/ml).
O registro fotográfico foi realizado em fotodocumentador.
Tabela 1 – Primers microssatélites utilizados para identificar plantas nucelares e zigóticas
PRIMERS SEQUÊNCIAS
CrCIR01E02 F: TGAATGGTACGGGAAATGC
R: CAGGGTCGGTGGAGAGGAT
Ci06A05b F: TCTCTGGTTGGTTTTTGTGA
R: ATGATGAAAAGCAAGGGG
CMS14 F: GGCTTCTCTTCTACTAGAACGG
R: ACGCCACGTAAGCAATAACC
TAA45 F: GCACCTTTTATACCTGACTCGG
R: TTCAGCATTTGAGTTGGTTACG
CMS26 F: TGATGTCTTGATCCACACTTCC
R: ACTCAAAGCTCCGCTACAGTG
37
5.2.4 Desenho e otimização de primers para sequenciamento dos genes AP1, AP2, BAM, ELF4,
LFY, FLC, FT, SOC1 , TFL e WUS
A partir das análises das sequências de Citrus sinensis e Citrus clementina disponíveis em
bancos de dados disponíveis na internet (National Center for Biotechnology Information - NCBI e
Phytozome v.9.1), foi realizado o desenho dos primers para o sequenciamento dos fragmentos dos
genes APETALA1 (AP1), APETALA2 (AP2), BARELY ANY MERISTEM (BAM), EARLY
FLOWERING 4 (ELF4), LEAFY (LFY), FLOWERING LOCUS C (FLC), FLOWERING LOCUS T
(FT), SUPPRESSOR OF CONSTANS1 (SOC1 1), FLOWER TERMINAL (TFL) e WUSCHEL (WUS).
Posteriormente, foi realizado o alinhamento das sequências referentes a cada gene por meio do
programa ClustalW2. As ORFs das sequências dos genes foram obtidas com o uso do programa ORF
Finder (Open Reading Frame Finder), e as sequências iniciadoras forward e reverse dos primers foram
desenhados em regiões anteriores e posteriores as ORFs, respectivamente. O conteúdo de GC e a
temperatura de melting das sequencias iniciadoras foram analisados no programa Integrated DNA
Technologies.
Os primers (Tabela 2) foram otimizados por meio da PCR convencional. Foi utilizado o DNA
genômico dos indivíduos do híbrido ([(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011]). As condições de
termociclagem foram: 94°C por 2 min, seguido de 15 ciclos de 94°C por 2 min, 65°C por 30 s, 72°C
por 1 min, 35 ciclos de 94°C por 30 s, 48°C por 30 s, 72°C por 1 min e uma extensão final de 72°C por
10 min. As reações foram preparadas em um volume total de 25 μL contendo 5,0 ng/µL de DNA, 1,0
U de Taq DNA polimerase, tampão 10X (500 mMKCl, 100 mM Tris-HCl, pH 8 Invitrogen), MgCl2
5,0 mM, dNTP (0,2 mM) e 0,5 µM de cada primer. Posteriormente, os produtos da PCR dos genes
BAM, FT, TFL e WUS foram submetidos ao sequenciamento pelo método de Sanger, 1977.
38
Tabela 2. Sequências dos primers forward e reverse dos genes APETALA1 (AP1), APETALA2 (AP2), BARELY ANY MERITED
(BAM), EARLY FLOWERING 4 (ELF4), LEAFY (LFY), FLOWERING LOCUS C (FLC), FLOWERING LOCUS T (FT),
SUPRESSOR OF OVEREXPRESSION OF CO1 (SOC1), TERMINAL FLOWER (TFL), WUSCHEL (WUS).
Gene
Sequência forward
Sequência reverse
AP1 5’CAATGGGAAGAGGTAGGGTTC 3’ 5’CATCCAGCAAAGCATCCAAG 3’
AP2 5’ATGGAAGAAGATGCATCAAGC 3’ 5’TCAATTAATCTGTACACCA3’
BAM
BAM SQ3 - 5’AGCGGCAGGCACTTTACG 3’ BAM SQ3 -5’AGTGGGTGATGCCCATCTCG 3’
BAM SQ2 -5' GAGGCCTGACACAAGATTAACC 3' BAM SQ2 5´CCATCGATTGCTGCCATCTCC -3'
BAM SQ1 - 5’ CAGAGAGAGAGGCCTGCTATG 3’ BAM SQ1 5’ CAGCTTCTCTCATCTCCCG 3’
ELF4 V2 F - 5’ CGACATGTATGGGTCTGAG 3´ V2 - 5’ ATGGTCTTGGTTACATGGC 3’
V3 F - 5’ TAAGAAAGCATGTGCCG 3’ V3 5’ CACTTCACCACATAGCTACC 3’
LFY 5’ ATGGACCCGGAAGCT TTC 3´ 5’ CAGTATGGCTTCAAAATGACG 3’
FLC 5´ CAGCACCAGAACCTGCG 3´ 5´ CTTCCTACAATGCCGACAG 3´
FT 5´ GGCTGCTTCAGTTGATCC 3´ 5´ CGAGACAGTACACTTGCGG 3´
SOC1 5´GTCTGAATTAAGATGGTGAGAGGC 3´ 5´ GCT TGCGCAAGTGTAATTTG 3´
TFL 5’ATGTTAGAACCTCTCGCTGTTGG3’ 5’CAGCGTCTTCTGGCAGCAG3’
WUS 5´TGGAACCTCAACAACAGC 3´ 5´TGG TAACAGGTCCATATC C 3´
5.2.5 Extração de RNA
O RNA total foi extraído de amostras de folhas, gemas e caules, de dois grupos de plantas: (i)
nucelares confirmadas pelo microssatélite apresentando floração precoce e (ii) com nove meses de
cultivo e que não floresceram. As amostras foram coletadas em dois tempos: inverno (14/agosto/2015)
e verão (02/fevereiro/2016), imediatamente congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas em
ultrafreezer -80 ºC.
A extração do RNA total das amostras foi realizado a partir de 75 mg de material vegetal,
macerado com nitrogênio líquido, usando o RNAqueous® Kit (Applied Biosystems, Ambion) seguindo
as recomendações do fabricante. A qualidade do RNA foi verificada em eletroforese com gel de
agarose 1% (p/v) em tampão TAE 1x (Tris Base 0,04 M, ácido acético glacial 1M, EDTA 50 mM) a 3
Vcm-1.
O RNA total foi tratado com DNAse, TURBO DNA-freeTM DNase Tratment- Ambion®,
utilizando 15 μl do RNA total de cada amostra. Para verificar a pureza e quantificação do RNA, 3 μl
de RNA tratado de cada amostra foram aplicados em gel de agarose a 0,8% (p/v), em tampão TAE
corado com brometo de etídio e a quantificação conduzida no espectrofotômetro Nanodrop ND-2000
(Thermo Scientific, Waltham, MA, EUA).
39
5.2.6 Síntese de cDNA
A síntese de cDNA foi realizada com 9 μl (20 ng/μl) do RNA tratado, utilizando-se o kit (High
Capacity RNA-to-cDNA (Applied biosystems), seguindo as especificações do fabricante. Os cDNAs
foram quantificados em espectrofotômetro Nanodrop ND-2000 (Thermo Scientific, Waltham, MA,
EUA) e armazenados em -80 ºC.
5.2.7 Desenho e otimização dos primers para o estudo da expressão gênica
As sequências obtidas dos genes BAM, FT, TFL e WUS do sequenciamento de Sanger, foram
utilizadas para desenhar primers específicos (Tabela 3) que foram utilizados na avaliação por qPCR do
perfil de expressão do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011]. Programas como ClustalW2,
ORF Finder e Integrated DNA Technologies foram utilizados na analise das sequências e construção
dos primers, respectivamente. Os parâmetros analisados foram: tamanho do primers, temperatura de
melting e porcentagem de bases GC.
Tabela 3. Primers forward e reverse específicos que foram utilizados na avaliação por qPCR.
Genes Sequência (5'-3')
TFL Forward: 5’-CTAATGCCGATTCAACCCAATG-3’
Reverse: 5’-ATCAGGTGTCACGGATACAAG-3’
FT Forward: 5’-ACCCATGAGAATTATCCCACC-3’
Reverse: 5’-CAGAGAATCCACGGAGTGTTC-3’
BAMSQ3 Forward: 5’-CCGCAATGGACCCTAAATG-3’
Reverse: 5’-CCCCTGCGTTTATCCTATGG-3’
BAMSQ2 Forward: 5’-AGAAAACTCGAGACTGGAACG-3’
Reverse: 5’-TCTTCATCCTTGCATTCACCG-3’
WUS Forward: 5’-AATCGTAAGCTAGTGGCGG-3’
Reverse: 5’-GAATTTGTTCGGCAGTTGGG-3’
GAPC2* Forward: 5’-TCTTGCCTGCTTTGAATGGA-3’
Reverse: 5’-TGTGAGGTCAACCACTGCGACAT-3’
25S* Forward: 5’-ACATTGTCAGGTGGGGAGTT-3’
Reverse: 5’-CCTTTTGTTCCACACGAGATT-3’
*Genes de referência
Para validação dos cDNAs e otimização dos primers foi realizado uma PCR convencional para
todas as amostras de cDNA, confeccionou-se um mix para reação final de 20 μl, contendo 7,2 μl de
H2O Mili-Q autoclavada; 2 μl de tampão 10x; 0,2 μl de Taq DNA Polimerase 5 U/μl; 2 μl de cada
primer (forward e reverse) (2 μM); 1,6 de MgCl2 (25 mM); 2 μl de dNTPs (2,5 mM) e 1 μl de cDNA
40
(10 ng/μl). As condições de termociclagem foram: 94°C por 5 minutos, seguido de 35 ciclos de
desnaturação a 94°C por 30 s, 58ºC por 30 s, 72ºC por 45 s e uma extensão final de 72°C por 5 min.
Para controle negativo, 1 μl de água ultrapura autoclavada ao invés do cDNA. Em relação ao
controle positivo, foi utilizado 1 μl de DNA (10 ng/μl) oriundo do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x
MCP – 011]. O produto das amplificações foram verificados em gel de agarose 1% em tampão TAE
1x corado com brometo de etídio.
5.2.8 Eficiência dos primers e amplificação quantitativa de transcritos reversos (RT-qPCR)
As análises de RT-qPCR foram realizadas no equipamento ABI 7500 Fast Real-Time PCR
System (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA). A amplificação do gene alvo foi realizada a
partir do cDNA total, utilizando a metodologia SYBR Green, o qual tem a capacidade de intercalar
fitas duplas de DNA, emitindo fluorescência durante a ligação. Como genes de referência, foram
utilizados, o gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase C2 (GAPC2) (MAFRA et al., 2012) e o 25 S
(PODIVIM et al, 2012).
A eficiência de amplificação dos primers foi verificada por meio da obtenção da curva padrão
com diluições seriadas na proporção 1/5. Cada diluição para o ponto da curva padrão foi realizado em
triplicata. Os primers que apresentaram eficiência entre 80 e 100% e apenas um produto de
amplificação, foi selecionado para os ensaios com os cDNAs.
As reações de amplificação foram realizadas no volume final de 10 mL, contendo 6,0 μL do
Power SYBR® Green Master Mix; 0,6 μL de cada primer (10 μM); 2,0 μL de amostra do cDNA
estoque (100 ng/μL) e 0,8 μL de H2O livre de nucleases. Reações como controle negativo foram
realizadas utilizando H2O livre de nucleases como amostra. As amplificações foram conduzidas em
incubações de 95 ºC por 2 min, seguidas de 40 ciclos de 94 ºC por 45 s, 60 ºC por 45 s e 72 ºC por 1
min, com detecção do sinal da fluorescência ao final de cada etapa de extensão. Por fim a curva de
dissociação foi realizada para todas as amostras.
A quantificação relativa foi utilizada para determinar a expressão dos genes alvo, por meio do
método 2-ΔΔCT (LIVAK; SCHMITTGEN, 2001).
A análise estatística da expressão dos genes em diferentes tempos foi realizada por meio da
comparação das médias usando o teste de Tukey no SISVAR. Em todos os casos a significância foi
avaliada a P< 0.05.
41
5.3 RESULTADO E DISCUSSÃO
5.3.1 Confirmação dos clones nucelares
Foram obtidas 300 plantas por meio da semeadura, que foram avaliadas em relação a sua
origem nucelar. Em Citrus observa-se a apomixia facultativa, quando em uma mesma semente podem
ser encontrados vários embriões, com coexistência de zigóticos e nucelares. As linhagens nucelares
são importantes por serem geneticamente idênticas à planta matriz; de modo contrário, as plantas de
origem zigótica não podem ser utilizadas nos experimentos, pois não são clones da planta que a
originou (CAMERON; FROST, 1968).
Dessa forma, a fim de selecionar as plantas nucelares, foi realizada a seleção visual,
observando características morfológicas como: quantidade de espinhos, tamanho uniforme, forma e
disposição das folhas. Dentre as 300 plantas avaliadas, foram selecionadas 170 plantas como clones
nucelares vigorosos. A seleção visual baseada em características morfológicas é realizada inicialmente
com o objetivo de otimizar a seleção de nucelares, e dessa forma, reduzir custo e tempo em relação ao
uso exclusivo de marcadores moleculares (OLIVEIRA et al., 2002).
Após a análise fenotípica, foi realizada a análise do genótipo para confirmar os clones
nucelares usando marcadores microssatélites, e dessa forma garantir maior confiabilidade nos
resultados. A análise dos primers utilizados, através das observações das bandas nos géis de agarose,
identificou 38 indivíduos zigóticos. Os primers utilizados miCrCIR01E02, Ci06A05b (Figura 1),
CMS14, TAA4S, CMS26 indicaram respectivamente, 5, 20, 25, 16 e 8 indivíduos zigóticos. Vale
salientar que alguns indivíduos foram identificados em todos os primers, já outros em apenas um
primer.
De modo geral, após a seleção visual e molecular, das 300 plantas germinadas, 56% dos
indivíduos foram considerados zigóticos e 44% foram considerados nucelares. A partir dessas
observações e da contagem direta do número de embriões nas sementes da planta em estudo, podemos
afirmar que o híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] apresenta aproximadamente 50% de
poliembrionia, como acontece em limoeiro Cravo (PASSOS et al., 2006).
Dentro da parcela de 170 plantas que foram selecionadas visualmente, 13 plantas apresentaram
florescimento precoce, a partir do segundo mês de cultivo. Essas foram separadas e também
caracterizadas como nucelares ou zigóticas, utilizando os mesmos primers de SSRs citados
anteriormente. Foram identificadas 6 plantas como nucelares e 7 como zigóticas (Figura 2). Levando
em consideração que alguns indivíduos que apresentaram florescimento precoce são de origem
42
zigótica, podemos indicar que a planta matriz do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011]
também passa essa característica aos seus descendentes.
Figura 1 – Perfil de amplificação de indivíduos [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011]. Os produtos da PCR foram amplificados
com o Primer SSR – Ci06A05b e revelados com gel de agarose 3%. As setas amarelas indicam as
bandas amplificadas do DNA da planta matriz do híbrido [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011], e as setas vermelhas indicam os
indivíduos que apresentam perfil de amplificação diferente quando comparados com o da planta matriz.,
ou seja, os indivíduos zigóticos para esse primer específico.
Figura 2 – Perfil de amplificação de indivíduos [(Limoeiro
‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) – 005) x
Microcitrus papuana (MCP) – 011], que apresentaram
florescimento precoce. Os produtos da PCR foram
amplificados com o Primer SSR – Ci06A05b e revelados com
gel de agarose 3%. A seta amarela indica as bandas
amplificadas do DNA da planta matriz do híbrido e as setas
vermelhas indicam os indivíduos que apresentam perfil de
amplificação diferente quando comparados com o da planta
matriz, ou seja, os indivíduos zigóticos para esse primer
específico.
43
5.3.2 Desenho e otimização dos primers para o sequenciamento
Para o estudo da expressão gênica, ocorreu a seleção dos genes candidatos para o estudo, que
foram AP1, AP2, BAM, WUS, TFL, ELF4, FT, SOC1 e TFL. Os genes selecionados são relacionados
com floração em citros, dentre eles estão genes de identidade do meristema floral, genes repressores e
genes integradores florais (SONG et al., 2013; WELLMER; RIECHMANN, 2010; OMAOILEIDIGH
et al., 2014).
A partir das análises das sequências de Citrus sinensis e Citrus clementina disponíveis em bancos
de dados, foi realizado o desenho dos primers para o sequenciamento dos fragmentos dos genes.
Posteriormente foi realizada a amplificação dos genes por meio da técnica de PCR convencional com o
DNA do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011], e apenas cinco genes foram amplificados: FT,
TFL, WUS, BAMSQ2 e BAMSQ3 (Figura 3).
Figura 3 - Eletroforese de gel de agarose
1% corado com brometo de etídio.
Produtos da amplificação por PCR
convencional com DNA do hibrido
[(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro
‘Yuma’(CTYM) – 005) x Microcitrus
papuana (MCP) – 011].
5.3.3 Desenho dos primers para o RT-qPCR
Com as sequências obtidas por meio do sequenciamento, foi realizado o alinhamento dessas com
as sequências utilizadas para desenhar os primers. Foi possível observar que as duas sequências são
muito diferentes, apresentando pouca identidade, principalmente nas regiões que foram utilizadas para
44
desenhar os primers. Esse resultado é uma possível explicação em relação aos demais genes que não
foram amplificados.
Com as sequências do híbrido [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] obtidas por meio do
sequenciamento, foi realizado o desenho dos primers para o qPCR para os genes FT, TFL, WUS,
BAMSQ2 e BAMSQ3. Os genes utilizados como endógenos foram GAPC2 e 25S.
5.3.4 Análise de cDNAs e especificidade dos primers via PCR convencional
A partir dos cDNAs obtidos, todos os 7 genes foram testados para viabilidade para o estudo de
RT-qPCR via PCR convencional. O resultado mostrou que dois genes alvos (FT e WUS) apresentaram
especificidade. Com relação aos primers selecionados para genes candidatos a genes de referência,
ambos apresentaram especificidade.
5.3.5 Otimização dos genes por RT-qPCR
O primer desenhado para o gene WUS, apesar de ter sido otimizado em PCR convencional, não
apresentou eficiência em qPCR, o que impossibilitou o estudo da expressão para esse gene. No
entanto, o gene FT apresentou apenas um produto de amplificação podendo ser estudado.
A partir da obtenção da curva padrão gerada para o iniciador, foi possível calcular a eficiência de
amplificação (E). A curva padrão gerada para cada um dos genes é representada pelo o valor Ct
correspondente versus o log da quantidade de cDNA utilizada na reação. A partir do slope desta curva,
foi possível calcular a eficiência de amplificação (E) dos primers, que variou entre 87.7 a 99.1%.
5.3.6 Expressão gênica do gene FT
A planta de origem híbrida [(LCR x CTYM – 005) x MCP – 011] disponível no BAG de Citros
da unidade da EMBRAPA Mandioca e Fruticultura em Cruz das Almas-BA apresenta uma
característica singular e diferenciada em relação aos demais genótipos de citros existentes, visto que,
essa planta apresenta um florescimento precoce, o que indica que seu período juvenil é muito curto.
Atualmente, a planta matriz apresenta aproximadamente seis anos de cultivo, e foi observado
florescimento a partir de um ano da inserção no campo com produção de flores e frutos
concomitantemente e de forma interrupta em todas as estações do ano.
Ao longo do desenvolvimento da pesquisa foi possível observar que 13 indivíduos de um total
de 170 demonstraram um florescimento precoce a partir de dois meses de vida, como pode ser A
B
C
45
observado na figura 4. Destas, seis foram comprovadas como de origem nucelar. Ainda foi observado
que a floração de alguns desses indivíduos aconteceu novamente ao longo de meses posteriores. Esses
indivíduos que apresentaram o florescimento precoce foram os utilizados como calibradores na técnica
de qPCR para avaliar a expressão gênica de FT nos demais indivíduos do híbrido [(LCR x CTYM –
005) x MCP – 011].
Figura 4 – Plantas de origem híbrida [(Limoeiro ‘Cravo’ (LCR) x Citrangeiro ‘Yuma’(CTYM) –
005) x Microcitrus papuana (MCP) – 011] proveniente de sementes em diferentes estágios de
desenvolvimento, com florescimento precoce. A= Planta em tubete com substrato de sementeira
com aproximadamente dois meses de cultivo. B= Planta em saco de 2 kg com substrato de pinhos
com aproximadamente quatro meses de cultivo. C= Planta em tubete com substrato de sementeira
com aproximadamente quatro meses de cultivo. D= Planta em saco de 2 kg com substrato de
pinhos com aproximadamente quatro meses de cultivo. E= Planta em vaso de 30 kg com substrato
de pinhos e casca de coco com aproximadamente seis meses de cultivo.
A análise da expressão gênica demonstrou que houve influência do período inverno na
expressão do gene FT entre as duas partes analisadas da planta, caule e folha, como pode ser observado
no gráfico 1. De modo contrário, o período de verão não influenciou na expressão de FT na folha e no
caule, ou seja, no verão a expressão de FT na folha e no caule não diferenciou significativamente.
A B C D E
46
Gráfico 1 - Análise da expressão do gene FT em folhas e caule do híbrido [(LCR x CTYM –
005) x MCP – 011] no inverno e verão. Os perfis de expressão foram determinados por
qPCR. Os níveis de expressão foram normalizados ao valor correspondente da expressão do
gene GAPC2. Os dados representam a média ± EP (erro padrão) de três réplicas
experimentais. Médias com letras minúsculas representam a comparação da expressão do
gene FT nas partes da planta, folha e caule, nos diferentes períodos de amostragem, inverno e
verão. Médias com letras maiúsculas representam a influencia dos períodos, inverno e verão,
na expressão do gene FT nas partes da planta, folha e caule.
É possível ainda inferir por meio da análise do gráfico 1 que houve diferença significativa na
expressão de FT entre os dois períodos avaliados para folha. No período do inverno a expressão de FT
foi significativamente maior, quando comparado com o verão, mesmo a planta apresentando no
inverno idade de cultivo menor, nove meses. A temperatura média na casa de vegetação no mês de
coleta de inverno foi de 22ºC, e no dia da coleta (14/08/2015) a temperatura apresentada foi a menor
do mês, como pode ser constatado no gráfico 2.
10
15
20
25
30
35
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
C
Dia do mês
Temperatura - Ago/2015
Temp. Min.
Temp. Média
Temp. Máx.
Gráfico 2 – Temperaturas mínimas, médias e máximas do mês de agosto de 2015.
47
A exposição prolongada a baixas temperaturas é um dos estímulos ambientais mais importantes
para a indução floral em citros. O trabalho clássico de Moss (1969) comprovou que laranjeiras
‘Washington Navel’ submetidas a baixas temperaturas, aumentaram significativamente o número de
flores, quando comparadas com plantas cultivadas em condições de temperaturas mais elevadas.
Nishikawa e colaboradores (2007) relataram que temperatura de 15ºC são eficazes para a indução
floral em Satsuma mandarina, levando ao aumento da expressão do gene FT. Em Poncirus trifoliata,
foi possível observar, o desenvolvimento do botão de flor durante o inverno, quando o nível do gene
FT estava alto (NISHIKAWA et al., 2009).
Apesar da maioria dos trabalhos relacionados com a influência de temperatura na floração de
citros indicarem que as temperaturas capazes de induzir flor são abaixo de 20ºC, podemos inferir que
as temperaturas médias observadas no inverno influenciaram a expressão de FT na planta avaliada,
visto que o padrão de temperatura depende das condições climáticas da região onde as plantas são
cultivadas (DAVIES; ALBRIGO, 1994) e varia de acordo com a espécie (HA; JOHNSTON, 2013).
Em mutantes de Arabidopsis, baixa temperatura induz o processo de indução floral por redução
do nível de gene FLC, que controla a expressão de FT (BASTOW et al., 2004; MICHAELS;
AMASINO, 2001). Além disso, as proteínas provenientes do gene FT são acumuladas em árvores de
citros submetidas a condições de baixa temperatura que auxiliam no processo de indução floral, como
observado em Satsuma e Poncirus trifoliata, que a indução floral foi desencadeada por baixas
temperaturas durante o inverno (NISHIKAWA et al., 2007, 2009).
Em relação à expressão do gene FT no caule, foi possível observar que não houve diferença
significativa nos dois períodos avaliados (Gráfico 1). O gene FT também foi expresso em caule e
folhas em plantas de arroz (AKI et al., 2008), bem como nos tecidos de caule e folhas de Satsuma,
sendo que em folha a expressão de FT foi maior (NISHIKAWA et al., 2007).
O efeito estimulante das baixas temperaturas no florescimento é percebido tanto pelas folhas
como pelo caule (HALL et al., 1977), no entanto a maior expressão do gene FT em folha quando
comparadas com caule de citros no inverno, pode ser explicado por meio da capacidade da folha
responder primeiramente aos estímulos ambientais, como a temperatura.
48
15
20
25
30
35
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
C
Dia do mês
Temperatura - Fev/2016
Temp. Min.
Temp. Média
Temp. Máx.
Gráfico 3 – Temperaturas mínimas, médias e máximas do mês de fevereiro de 2016.
No período de verão, além de analisar caule e folha foi também inferido a expressão de FT em
gemas. Nesse período a temperatura média na casa de vegetação no mês de coleta de inverno foi de
28ºC, como pode ser constatado no gráfico 3.
A expressão de FT na gema no verão foi significativa, demonstrando uma menor expressão
quando comparada com folha e o caule, como pode ser observado no gráfico 4. Em diversas plantas
transformadas foi possível observar a expressão de FT nas gemas apicais em plantas adultas, como em
citros (KOBAYASHI et al., 1999) e maça (KOTODA et al., 2010). No entanto, esses trabalhos
afirmam que a maior expressão de FT é encontrada em folhas e caule, o que reforça o resultado
demonstrado.
Gráfico 4 - Análise da expressão do gene FT em folhas, caule e gema do híbrido [(LCR x CTYM –
005) x MCP – 011] no verão. Os perfis de expressão foram determinados por qPCR. Os níveis de
expressão foram normalizados ao valor correspondente da expressão do gene GAPC2. Os dados
representam a média ± EP (erro padrão) de três réplicas experimentais. Médias com letras
minúsculas representam a comparação da expressão do gene FT nas partes da planta, folha, caule e
gema no verão.
49
As plantas utilizadas no estudo da expressão de FT floresceram alguns meses depois do período
do verão, o que sugere dizer que o período juvenil foi quebrado e que o gene FT induziu a floração
nessas plantas. Esse resultado corrobora com estudo desenvolvido por Endo e colaboradores (2005),
onde foi observado que a expressão constitutiva de FT em P. trifoliata foi capaz de reduzir
significativamente o tempo de florescimento das plantas transgênicas, evidenciando o papel do gene
FT como importante regulador da indução floral em citros.
Experiências de enxertia com mutantes de Arabidopsis provaram que a proteína FT poderia ser
transportada a longas distâncias e promover a floração (XU et al., 2012). Corbesier e colaboradores
(2007) relataram também que a proteína FT se move das folhas para o meristema apical onde a
diferenciação floral ocorre. Nesse sentido, Nocker e Gardiner (2014) surgerem que uma linha
transgênica estável que expressa constitutivamente FT poderia ser utilizado como porta-enxerto para
conduzir a floração em um enxerto transplantado. No entanto, a planta estudada no presente trabalho
apresenta tais características de forma natural, o que é muito mais importante para o melhoramento
genético de citros.
5.4 CONCLUSÕES
A expressão do gene FT encontrada nas partes da planta de origem híbrida [(LCR x CTYM –
005) x MCP – 011] confirma que esse genótipo tem um período juvenil precoce. As plantas utilizadas
no estudo da expressão de FT floresceram alguns meses depois do período do verão, o que implica
dizer que o período juvenil foi quebrado e que o gene FT induziu a floração em citros.
A partir desse trabalho, surge possibilidade de novas pesquisas em relação ao estudo da via
gênica de floração em citros e o desenvolvimento de técnicas para reduzir o período juvenil com a
utilização do híbrido em estudo, o que promoverá avanços em estudos de melhoramento genético de
citros.
5.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKI, T.; SHIGYO, M.; NAKANO, R. Nanoscale proteomics revealed the presence of regulatory
proteins including three FT-Like proteins in phloem and xylem saps from rice. Plant Cell Physiol.,
2008. p. 767–790.
AMASINO, R. Seasonal and developmental timing of flowering. The Plant J, 2010. p. 1001–1013.
50
BASTOW, R.J.S.; MYLNE, C.; LISTER, Z. Vernalization requires epigenetic silencing of FLC by
histone methylation. Nature, 2004. p.164–167.
BOHLENINUS, H. et al. CO/FT regulatory module controls timing of flowering and seasonal growth
cessation in trees. Science, 2006. p. 1040–1043.
BOLIANI, A.C. Efeitos do estiolamento basal, da juvenilidade e do uso de um regulador vegetal no
enraizamento de estacas de raízes e de ramos herbáceos de algumas espécies frutíferas. 1986. 121 p.
Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, 1986.
CAMERON, J.W.; FROST, H.B. Genetics, breeding and nucellarembryony. In: REUTHER, W.;
BATCHELOR, L.D.; WEBBER, H.J. (Ed.). The citrus industry. Berkeley: University of California,
1968. p.325-370.
CORBESIER, L. et al. FT protein movement contributes to long-distance signaling in floral induction
of Arabidopsis. Science, 2007. p.1030–1033.
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in Citrus species. Plant Mol Biol, 2011. p. 418–23.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises morfológicas e moleculares indicam que o híbrido em estudo apresenta
características diferenciadas, principalmente relacionadas com florescimento precoce. Nesse sentido,
essa planta pode ser usada no melhoramento genético de citros, como objeto de estudo de trabalhos
relacionados à redução do período juvenil, florescimento precoce e escalonamento de produção. Além
de proporcionar o desenvolvimento de novas pesquisas em relação ao estudo da via gênica de floração
em citros.