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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMAS AQUÁTICOS TROPICAIS DANIELI MARINHO NOBRE CARACTERIZAÇÃO DA GOVERNANÇA NA RESERVA EXTRATIVISTA DE CASSURUBÁ, BAHIA, BRASIL ILHÉUS BAHIA 2014 DóGaldino

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMAS AQUÁTICOS TROPICAIS

DANIELI MARINHO NOBRE

CARACTERIZAÇÃO DA GOVERNANÇA NA RESERVA EXTRATIVISTA DE

CASSURUBÁ, BAHIA, BRASIL

ILHÉUS – BAHIA

2014

DóGaldino

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DANIELI MARINHO NOBRE

CARACTERIZAÇÃO DA GOVERNANÇA NA RESERVA EXTRATIVISTA DE

CASSURUBÁ, BAHIA, BRASIL

Dissertação apresentada para obtenção do título de

Mestre em Sistemas Aquáticos Tropicais à

Universidade Estadual de Santa Cruz.

Área de Concentração: Ecologia

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Schiavetti

ILHÉUS – BAHIA

2014

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DANIELI MARINHO NOBRE

CARACTERIZAÇÃO DA GOVERNANÇA NA RESERVA EXTRATIVISTA DE

CASSURUBÁ, BAHIA, BRASIL

Ilhéus, 29/04/2014.

_______________________

Alexandre Schiavetti – Dr.

UESC (Orientador)

_______________________________

Maria Inez Pagani– Dra.

UNESP

_______________________________

Sofia Campiolo - Dra

UESC

____________________________

Leriane Cardozo -Ms

UESC

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N754 Nobre, Danieli Marinho. Caracterização da governança na Reserva Ex- trativista de Cassurubá, Bahia, Brasil / Danieli Ma- rinho Nobre. – Ilhéus, BA: UESC, 2014. 75 f.: il.; anexos. Orientador: Alexandre Schiavetti. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Inclui referências e apêndice.

1. Áreas protegidas - Caravelas (BA). 2. Gestão ambiental. 3. Recursos pesqueiros. 4. Reserva Ex- trativista de Cassurubá BA). I. Título. CDD 363.7098142

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DEDICATÓRIA

Dedico aos povos e comunidades do mar em

especial aos meus pais, Benedito e Maria.

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vi

AGRADECIMENTOS

À Deus pela vida.

Ao meu orientador Alexandre Schiavetti, pela compreensão e paciência, presteza,

aprendizado e oportunidade pela orientação.

Agradeço a meus pais e minha família pelo incentivo de sempre e amor incondicional. Ao

meu Felipe Caetano, pelo incentivo aos meus estudos, amor e companheirismo.

Ao amigo Ronaldo Lobão pelo incentivo e oportunidade e a Ana Cinti por proporcionar troca

de saberes e de aprendizagem.

Ao querido Danilo Lima pelo apoio e amizade de sempre e a Erika de Almeida por toda força

e oportunidades de aprendizagem.

As minhas amigas e parceiras Manuela Dultra e Marisa Fuduka pelo apoio e incentivo e todos

os meus colegas. Aos meus amigos Itamar dos Anjos, Marília Previero, Shirley Franco,

Daniela Alarcon pelo apoio, companhia e incentivo.

Aos meus primos queridos Rafael Marinho e Ricardo Marinho pela força.Aos amigos de

Cumuruxatiba que sempre torceram pelos meus estudos.

Aos amigos Renata Pereira e Matheus Freitas pela colaboração neste estudo.

Aos meus gatinhos de estimação Peixano, Lobinho, Amora, Feiurinha, Gigico e Besourinho.

Aos amigos e companheiros Lixinha e Joaquim pelas oportunidades e apoio.

Aos Conselheiros da RESEX de Cassurubá pela disponibilidade e atenção e a Resex de

Cassurubá e ICMBio pela permissão da realização do trabalho na Unidade de Conservação.

À Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Mestrado em Sistemas Aquáticos

Tropicais(SAT) pela aprendizagem e a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível

Superior (Capes) pelos meses de bolsa.

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“Na terra em que o mar não bate / Não bate o meu

coração / O mar onde o céu flutua / Onde morre o sol e a

lua / E acaba o caminho do chão / Nasci numa onda /No

azul do mar da Bahia” CaetanoVeloso.

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LISTA DE TABELAS

ARTIGO 2.

Tabela 1. Frequência das respostas dos grupos, referentes ao instrumento de gestão ..........44

Tabela 2. Frequência das respostas dos grupos, referentes ao plano de manejo.....................44

Tabela 3. Frequência das respostas dos grupos, referentes ao conceito de

governança................................................................................................................................45

Tabela 4. Frequência das respostas dos grupos, referente à participação na criação da

RESEX......................................................................................................................................45

Tabela 5. Frequência das respostas dos grupos, referentes ao repasse de

informação................................................................................................................................46

Tabela 6. Frequência das respostas dos grupos, referentes à frequência na realização de

reunião......................................................................................................................................47

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LISTA DE QUADROS

ARTIGO 1.

Quadro 1. Regras estabelecidas no Acordo de Pesca elaborado pelo CDREC no ano de

2012..........................................................................................................................................26

Quadro 2. Configuração do Conselho Deliberativo da RESEX Cassurubá quanto a sua

representação dos

conselheiros.....................................................................................................................................28

Quadro 3. Características dos principais tipos de conflitos dos Acordos de Pesca elaborados

na RESEX de Cassurubá no ano de 2012.................................................................................29

ARTIGO 2.

Quadro 1. Princípios propostos por Ostrom para caracterizar instituições robustas...............42

Quadro 2. Representação da presença dos princípios na RESEX de Cassurubá....................51

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LISTA DE FIGURAS

ARTIGO 1.

Figura 1. Localização da Reserva Extrativista de Cassurubá..................................................17

ARTIGO 2.

Figura 1.Localização da Reserva Extrativista de Cassurubá..................................................39

Figura 2. Representação do percentual de satisfação dos Conselheiros acerca dos aspectos de

Governança...............................................................................................................................49

Figura 3. Dendograma de similaridade entre os grupos do CD ..............................................50

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................11

REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................................13

REFERÊNCIA..........................................................................................................................18

ARTIGO1. Acordos de Pesca, Governança e Conselho Deliberativo de Reserva

Extrativista: Caso da Resex de Cassurubá, Caravelas, Bahia, Brasil...............................24

Resumo.....................................................................................................................................24

Introdução.................................................................................................................................25

Material e métodos...................................................................................................................27

Resultados e Discussão.............................................................................................................28

Conclusão.................................................................................................................................32

Referências...............................................................................................................................32

ARTIGO 2. Análise do sistema de Governança da Resex de Cassurubá, Caravelas,

Bahia, Brasil ...........................................................................................................................34

Introdução.................................................................................................................................35

Material e métodos...................................................................................................................38

Resultados.................................................................................................................................43

Discussão..................................................................................................................................55

Conclusão.................................................................................................................................61

Referências...............................................................................................................................63

APÊNDICE 1............................................................................................................................73

ANEXO I..................................................................................................................................69

ANEXO II.................................................................................................................................71

ANEXO III...............................................................................................................................72

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1. INTRODUÇÃO

Chuenpagdee (2011) afirma que oceanos e regiões costeiras estão entre os

ecossistemas que impõem os maiores desafios para o manejo devido à complexidade das

populações marinhas, à dinâmica dos sistemas socioecológicos e à escala das questões

jurisdicionais.

Uma Área Marinha Protegida (AMP) pode ser definida como “um espaço geográfico

claramente definido, reconhecido, dedicado e manejado, por meios legais ou outros meios

eficazes, para alcançar a conservação a longo prazo da natureza associando os atributos dos

ecossistemas com os valores culturais” (IUCN, 2008).

As Áreas Marinhas Protegidas (AMP) constituem um importante instrumento de

governança da zona costeira e marinha no Brasil (MACEDO, 2013). Elas representam uma

abordagem preventiva e baseada nos ecossistemas paraa gestão dos oceanos (MANGEL

2000; JONES, 2006).

Estudos sugerem que o cenário ideal para o êxito de uma AMP seria a existência da

participação das comunidades no planejamento e gestão e a construção compartilhada das

decisões sobre os rumos de seus territórios, bem como das regras que afetam seu cotidiano

(BRASIL, 2000; (MARINHO; FURLAN, 2011)).

Assim, as Reservas Extrativistas (RESEX, categoria brasileira de Área Protegida de

uso sustentável) têm a possibilidade de gerir os recursos de uso comum sob o regime de

propriedade comunal ou comunitária, o que significa que o recurso é controlado por uma

comunidade definida de usuários, que podem excluir outros usuários e regulamentar a

utilização dos recursos (VIEIRA, 2005). As RESEX vêm sendo concebidas como inovações

institucionais para a gestão descentralizada, compartilhada e participativa dos recursos

naturais, denominados como recursos de uso comum (PINTO DA SILVA, 2002).

Gutierrez et al. (2011) afirmam que gestão de AMPs que utilizam estrutura

exclusivamente governamental têm se revelado muito difícil, se não impossível. Nesse

sentido o conceito de governança, que expõe que a participação e desempenho de

comunidades, associações da sociedade e empresas privadas exercem o papel cada vez mais

decisivo para a transformação das políticas públicas (FREY, 2000). Os atores locais assumem

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um papel chave e há grandes vantagens em trazê-los para o processo de governança

(BERKES, 2009).

Governança no presente estudo é entendida como a interação entre as estruturas, os

processos, as tradições e os sistemas de conhecimento que determina a forma com que o

poder e a responsabilidade são exercidos, as decisões são adotadas, e os cidadãos, expressam

sua opinião (GRAHAM et al., 2003)

Desse modo, os princípios que reafirmam o processo de governança são a participação

da sociedade no encaminhamento das decisões, a introdução de mecanismos públicos que

possibilitem a igualdade de acesso aos benefícios gerados e o compromisso com a

conservação dos recursos naturais e com a qualidade ambiental (MMA, 2010). Essas ações

culminariam numa gestão ambiental mais participativa, ampliando o sentido de governo local

para uma governança local (MMA, 2010).

O Sistema Nacional de Unidade de Conservação (Lei Federal 9.958/00 - SNUC)

através do decreto 5.758 regulamentou a inclusão da sociedade na gestão de Áreas Protegidas

como condição essencial para que estas alcancem seus objetivos (BRASIL, 2006). Para

alcançar os objetivos da governança em RESEX se faz necessária à criação e o funcionamento

de Conselhos Deliberativos (ou de Gestão) que são considerados ferramentas importantes no

processo de gestão participativa de uma Unidade de Conservação, pois favorecem as

negociações e o exercício da democracia (LOUREIRO; CUNHA, 2008).

Os Conselhos Deliberativos são considerados um espaço institucionalizado para as

tomadas de decisão pela sociedade e um mecanismo de participação, controle social e espaço

do exercício da cidadania (IRVING, 2006).

A biodiversidade tem uma forte relação com a diversidade de sociedades e culturas e

suas formas únicas de interação e interdependência com os elementos da biodiversidade

(IUCN; WWF-BRASIL; IPÊ, 2011). O Brasil participa da Convenção sobre Diversidade

Biológica (CDB), e possui metas para serem atingidas até 2020, sendo que para as áreas

protegidas, a nova meta é bastante desafiadora:

Meta 11. Até 2020, que pelo menos 17% das áreas terrestres e de águas continentais,

e pelo menos 10% das áreas costeiras e marinhas, especialmente áreas de particular

importância para a biodiversidade e para os serviços ecossistêmicos, sejam

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conservadas por meio de um sistema de áreas protegidas efetivamente e

equitativamente manejadas, com representatividade ecológica e conectividade,

integradas com a ampla paisagem terrestre e marinha (2011).

O Brasil, entretanto, possui apenas 3,14% de AMPs em sua área costeira e marinha

(MMA, 2010). Isso implica em maiores esforços para o alcance das metas.

A recente implementação das estruturas de governança e modos de gestão da Reserva

Extrativista de Cassurubá, Bahia, fortalece a atuação das comunidades ribeirinhas e

pescadores artesanais nos processos decisórios sobre o seu território e suas vidas,

considerando como objetivos a proteção de suas culturas e a garantia do uso sustentável dos

recursos naturais.

Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo geral caracterizar a estrutura de

governança da Reserva Extrativista de Cassurubá, descrevendo suas principais características,

identificando regras formais e informais em uso na RESEX, no que tange o uso dos recursos

naturais e o grau de satisfação dos representantes do Conselho Deliberativo acerca da

governança da RESEX.

Esta dissertação foi organizada em forma de publicação, e resultou em dois artigos:

“Acordos de Pesca, Governança e Conselho Deliberativo de Reserva Extrativista: Caso da

Resex de Cassurubá, Caravelas, Bahia, Brasil”. Este artigo foi publicado no Boletim do

Instituto de Pesca em dezembro de 2013. Foi elaborado seguindo as normas de publicação

disponíveis em: http://www.pesca.sp.gov.br/siteOficialBoletim.php.

E o artigo intitulado “Análise dos sistemas de governança da Reserva Extrativista de

Cassurubá, Caravelas, Bahia, Brasil”, ainda a ser submetido em revista.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O histórico de criação de Unidades de Conservação no Brasil é antigo, porém sua

multiplicação no território intensificou-se a partir da década de 1990 sob um novo contexto

histórico em que se estabeleceu uma política ambiental especifica no país (GUERRA;

COELHO, 2009).

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As Unidades de Conservação (UC) de Uso Sustentável foram propostas quando os

atores dos grandes projetos de pesquisa globais sobre o clima, os oceanos e a biodiversidade

passaram a entender a impossibilidade de implantar políticas públicas de proteção da natureza

e de prevenção dos impactos das mudanças globais sem a participação humana (GUERRA;

COELHO, 2009).

As UC de Uso Sustentável asseguram o uso dos recursos naturais e ainda propiciam às

comunidades envolvidas o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis em seu

interior ou entorno. Dentro dessa categoria está as Reservas Extrativistas, definidas como

áreas naturais com o objetivo principal de proteger os meios, a vida e a cultura de populações

tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, ao mesmo tempo, assegurar o uso

sustentável dos recursos naturais existentes (BRASIL, 2000).

As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público (BRASIL, 2000)

sendo sua gestão, segundo o SNUC, realizada com a participação da sociedade civil. Portanto,

esses sistemas preveem a formação de conselhos gestores, com membros de diferentes esferas

governamentais, além de representantes da sociedade civil (BENSUSAN, 2006).

A utilização do conceito de governança alcançou ampla aceitação nos anos 80 em

grande parte pela utilização do conceito de governo (HIRST, 2000; (PIERRE; PETERS,

2000)). Porém, não se baseou somente no Governo, sendo amplamente definida como o

processo pelo quais atores estatais e não estatais determinam os meios e objetivos políticos

(BRÄNNSTRÖM, 2009). Pierre (2000) sugere que o Governo permanece na nova era da

governança, mas a sua forma e função variam em vários aspectos importantes, tais como

função hierárquica ou somente consultiva.

Dentre seus vários conceitos e aplicações o conceito é amplamente utilizado, a

governança pode ser definida como:

“a totalidade das diversas maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições,

públicas e privadas administram seus problemas comuns”. É um processo contínuo

pelo qual é possível acomodar interesses conflitantes ou diferentes e realizar ações

cooperativas. Governança diz respeito não só a instituições e regimes formais

autorizados a impor obediência, mas também a acordos informais que atendam aos

interesses das pessoas e instituições (COMISSÃO SOBRE GOVERNANÇA, 1996).

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Dentro do conceito de governança se destaca a governança ambiental que descreve a

maneira que as decisões formais e informais são tomadas em relação ao uso da natureza

(BRIDGE; PERREAULT, 2009). Este conceito pode ser ainda complementado como sendo:

a organização social de tomada de decisões com respeito ao meio ambiente e a

produção de ordem social através da administração da natureza (BRIDGE;

PERREAULT, 2009).

Os autores definem seis problemáticas da governança (BRIDGE; PERREAULT, 2009):

1. Que a governança é geralmente vista como escala livre e

reduzida à medida cartesiana, pois é reduzida a limites políticos e

imaginários, é preciso ir além dessas unidades políticas.

2. Que a governança deve ser examinada para determinar "quem

decide o que é produzido, como e quando ela é produzida, quanto é

produzido e a que preço".

3. A terceira e quarta problemática da governança envolvem

noções de descentralização, a ação coletiva e a participação em que as

formas híbridas de governança emergem entre os vários atores políticos.

Estudiosos argumentam que a descentralização1 não é só no governo, mas é

uma mudança em torno dos poderes.

4. Que a governança ambiental é entendida principalmente como

a regulação social da acumulação capitalista. Esta abordagem destaca o

papel dos atores estatais e não estatais envolvidos na governança. O estado

serve para mitigar relações contraditórias sócio ecológicas que surgem a

partir da mercantilização da natureza.

5. A sexta problemática é a mudança epistemológica do governo

para a governança, sendo o argumento de que a autonomia e a forma de

governomentalidade são reguladas, pois envolve levar as pessoas a fazer as

coisas de forma particular através da racionalidade ambiental.

Lemos e Agrawal (2006) definem a governança ambiental como "o conjunto de

processos de regulação, mecanismos e organizações através das quais os atores políticos

1Descentralização na teoria pretende devolver o poder de tomada de decisão para o governo local e/ ou usuários

de recursos ao invés de colocar restrições de cima para baixo ou centralizada na utilização dos recursos.

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influenciam ações ambientais e resultados" (p. 298). Assim, a governança ambiental como

um fenômeno surgiu a partir do crescente papel da globalização e descentralização na gestão

das relações homem-ambiente. Especificamente, os autores identificam as formas em que

Estado, mercado e sociedade interagem uns com os outros para criar formas híbridas de

governança ambiental. Estas formas de governança ambiental levaram à mobilização de

incentivos e a reconfiguração das identidades individuais em relação ao meio ambiente.

Sistemas de governança ambiental são importantes objetos de estudo porque podem

mediar ou regular as interações entre sistemas humanos e biofísicos (KOTCHEN; YOUNG,

2007); (MCKEAN; OSTROM, 2001), AGRAWAL (2002) BERKES et al., (1998b).

Dentre tantas definições de governança, não há nenhuma universalmente aceita, sendo

que não há sequer um consenso sobre qual conjunto de fenômenos podem ser devidamente

agrupados sob o titulo de “governança” (KERSBERGEN; WAARDEN, 2004). Entretanto, na

sua essência o termo governança se difere do termo governo, sendo que a abordagem de

governo é entendida como “a sociedade é dirigida pelo governo central” enquanto coma

governança “a sociedade auto direciona-se, em vez de depender da orientação do governo”

(PETERS, 2000).

A gestão dos recursos naturais em AMP tem sido estabelecida através da relação entre

o manejo participativo e a temática da governança (BORRINI-FEYERABEND, 1997). Essa

aliança refere-se ao comum acordo entre os interessados de um território ou conjunto de

recursos amparados sob o estado de proteção para compartilhar com eles as funções do

manejo, direitos e responsabilidades.

É importante destacar que o envolvimento das partes interessadas (usuários de

recursos e grupos da comunidade) na gestão e tomada de decisão tem aumentado nas AMPs

(REED, 2008). Mas mesmo assim a governança tem legitimidade apenas quando aceita pela

maioria ou, pelo menos, por aqueles diretamente afetados, enquanto o governo pode operar

mesmo diante da oposição (ROSENAU; CZEMPIEL, 1992).

O modelo sobre manejo de recursos, conhecido como a “tragédia dos comuns”

(HARDIN, 1968), consiste na sobre-exploração dos recursos naturais usados em comum que

não estejam sob regime de propriedade particular ou governamental, pois o livre acesso e a

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inexistência de proprietários leva a sua degradação (FENNY et al., 1990); (OST (1997)

(HARDIN; BADEN, 1977). Assim, Hardin (1968) concluiu que os recursos comuns podem

ser privatizados ou mantidos como propriedade pública, à qual o direito de entrada e de

utilização poderia ser restrito.

Em contraposição a essa linha teórica, Feeny (1990) sugere que os usuários de tais

recursos são capazes de restringir o acesso a eles e estabelecer regras entre si para o seu uso

sustentável. Estudos afirmam que através da apropriação comunal de áreas e do conhecimento

ecológico local esses recursos podem ser manejados e usados em longo prazo (OSTROM,

1990; BERKES, 1985; JENTOFT, 1989; VIEIRA, 2005).

O conhecimento ecológico local pode ser de grande valor em propostas de manejo

fundamentadas em princípios de participação local e sustentabilidade (GADGIL et al., 1993,

HUNTINGTON, 2000). Comunidades de pesca em pequena escala em todo o mundo têm

desenvolvido há muito tempo procedimentos de gestão local que controlam os recursos

litorâneos com base no conhecimento tradicional ecológico (OSTROM, 1990; CORDEL,

1983; BERKES et al. 1998a; JOHANNES, 1998; SEIXAS et al. 2003; BORRINI-

FEYERABEND, 2004;(LOBE; BERKES 2004);CINTI, 2010;).

No Brasil, a gestão compartilhada tem sido estabelecida como uma forma mais efetiva

para o gerenciamento sustentável dos recursos pesqueiros, sendo implementados ao longo das

bacias hidrográficas e da zona costeira brasileira (KALIKOSKI et al., 2009). Assim, se

inserem as Reservas Extrativistas, que são exemplos de aplicação de instrumentos de gestão

compartilhada, visando à conservação dos recursos naturais atrelada à valorização da

diversidade cultural. Moura et al., (2009) e Seixas et al., (2003) reafirmam que a Resex pode

viabilizar tais processos de gestão, pois legalmente pode estabelecer suas próprias regras de

uso, desde que mais restritivas em relação às regras de instâncias superiores.

Reserva Extrativista pode ser classificada como um sistema complexo de governança

(BERKES, 2006), que incorpora componentes formais e informais e envolve vários níveis de

governança (local, municipal, estadual e nacional) e uma diversidade muito grande de atores.

3. REFERÊNCIAS

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AGRAWAL, A. Common resources and institutional sustainability. Pages 41-85 In E.

Ostrom, T. Dietz, N. Dolsak, P. C. Stern, S. Stonich, and E. U. Weber, editors. The drama of

the commons. National Academy Press, Washington. D. C., USA. 2002.

BENSUSAN, N. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas. Rio de janeiro. Ed.

FGV, 2006, 176 p.

BERKES, F. Fishermen and the "tragedy of the commons”. Environ. Conserv.1985.

12(3):193-212.

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_____ et al. Exploring the basic ecological unit: ecosystem-like concepts in traditional

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BORRINI, F. Manejo participativo de áreas protegidas: adaptando o método ao contexto. In:

Temas de Política Social. Quito: UICN Sur, 1997.

BORRINI-FEYERABEND, G. Governance of Protected Areas, Participation and Equity. In.:

Secretariat of the Convention on Biological Diversity. Biodiversity issues for consideration in

the planning, establishment and management of protected area sites and networks. (ISBN:

92-807-2414-2), Technical Series 15 (i-vii):100-105, Montreal, Quebec, Canadá, 2004.

Disponível em http://www.cbd.int/doc/publications/cbd-ts-15.pdf

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BRANNSTROM, C. South America‟s Neoliberal Agricultural Frontiers: Places of

Environmental Sacrifice or Conservation Opportunity? Ambio Vol. 38, No. 3, May 2009.

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Artigo 1 - ACORDOS DE PESCA, GOVERNANÇA E CONSELHO DELIBERATIVO DE RESERVA EXTRATIVISTA: CASO DA RESEX DE CASSURUBÁ, CARAVELAS, BAHIA, BRASIL

Danieli Marinho NOBRE 1 e Alexandre SCHIAVETTI 2

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo analisar o processo de atuação do Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista (RESEX) de Cassurubá, suas discussões e decisões sobre os acordos de pesca e suas implicações na governança local. A RESEX de Cassurubá é uma Unidade de Conservação de uso sustentável criada em 2009, localizada no sul da Bahia. O Conselho Deliberativo, espaço considerado democrático para decisões e resolução de conflitos, está sendo utilizado como um instrumento de governança local. Nesse sentido, houve a criação de regras de usos dos recursos pesqueiros através dos Acordos de Pesca, elaboradas pelos usuários. Foi utilizada a pesquisa qualitativa, por meio da participação em reuniões e análise das Atas e dos Princípios da Boa Governança. Esse diagnóstico possibilitou descrever as formas de construção dos Acordos de Pesca e atuação do Conselho e, em relação aos princípios da boa governança, predominou a Legitimidade e Voz.

Palavras chave: Área Marinha Protegida; pesca; gestão participativa

FISHERIES AGREEMENTS, GOVERNANCE AND DELIBERATIVE COUNCIL OF EXTRACTIVE RESERVE: THE CASE OF RESEX CASSURUBÁ, CARAVELAS, BAHIA

BRAZIL

ABSTRACT

This study aimed to analyze the operational process of the Deliberative Council of the Cassurubá Extractive Reserve (RESEX), its discussions and decisions regarding fisheries agreements, and the implications for local governance. The Cassurubá RESEX is a sustainable use conservation unit, established in 2009, located in southern Bahia. The Council is considered a democratic space for decision-making and conflict resolution and is utilized as an instrument of local governance. In this sense, there is the creation of rules of use of fisheries resources through fisheries agreements, drawn up by users. We applied qualitative research methods of record analysis, participation in Council meetings, and review of Good Governance Principles. This analysis made it possible to describe the forms of construction of Fisheries Agreements and the performance of the Council in relation to principles of good governance predominated by legitimacy and voice.

Keywords: Marine Protected Areas; fisheries; council

Relato de caso: Recebido em 05/03/2013 – Aprovado em 07/08/2013

1Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais (SAT), Campus Soane Nazaré Andrade. Rodovia Jorge Amado, km 16 -Salobrinho – CEP: 45.662-900 – Ilhéus – BA – Brasil. email: [email protected] (autora correspondente)

2Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, UESC. e-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

Reserva Extrativista (RESEX) é uma categoria

de Unidade de Conservação (UC) de Uso

Sustentável que apresenta a participação como um

princípio essencial de sua existência, desde as

etapas de criação, implantação e gestão (BRASIL,

2002; DAGNINO, 2002; ALMEIDA e PANTOJA,

2004; CUNHA, 2011). O Sistema Nacional de

Unidade de Conservação (SNUC), por meio do

Decreto Federal 5.758, regulamenta a inclusão da

sociedade na gestão de Áreas Protegidas como

condição essencial para que alcancem seus

objetivos (BRASIL, 2006).

As UCs são conhecidas na literatura mundial

como Áreas protegidas e, no caso das marinhas,

como Áreas Marinhas Protegidas (AMPs). A

RESEX de Cassurubá é uma AMP que, por

possuir regime especial, necessita de uma forma

de gestão que garanta que seus objetivos sejam

efetivamente alcançados. A gestão incide sobre a

utilização que se faz do espaço; desta forma, o

esforço da gestão visa resultados ao nível do

ambiente, regulamentando, de forma prática, as

atividades dos seus utilizadores (BORRINI-

FEYERABEND, et al., 2009).

As AMPs tornaram-se, para todo o Mundo, a

solução política preferida para os problemas de

grande repercussão da sobrepesca e degradação

de habitats marinhos, especialmente em áreas

costeiras (CAVEEN, et al., 2012).

A governança é considerada um fator chave

para o sucesso das AMPs (KELLEHER e

RECCHIA, 1998). GRAHAM et al. (2003) definem

a governança como “interações entre estruturas,

processos e tradições que determinam como o

poder e as responsabilidades são exercidos, como

as decisões são tomadas e como os cidadãos ou

outros grupos de interesse (stakeholders) podem

dar a sua opinião”. As estruturas são definidas

pelas instituições, os processos, pela legislação, e

as tradições dizem respeito aos diferentes usos em

prática. GRAHAM et al., (2003) apresentam, ainda,

um método de avaliação da governança em áreas

protegidas e empregam a denominação “boa

governança”, pela análise dos seguintes

princípios: (1) Legitimidade e voz: gestão da área

protegida no que se refere à participação dos

cidadãos nas tomadas de decisão; (2)

Direcionamento: visão estratégica da gestão,

expressa em acordos e convenções internacionais;

(3) Desempenho: capacidades para se atingir os

objetivos da gestão; (4) Responsabilidade e

Transparência nas Contas: clareza na definição de

responsabilidades e autoridade e também na

prestação de contas.

A governança aplicada às AMPs sugere a

cogestão, que significa compartilhar a tomada de

decisões entre o governo, seja nacional e/ou local,

e outras partes interessadas, que podem incluir os

usuários dos recursos, comunidades locais,

organizações ambientais não-governamentais

(ONGs) e cientistas (BOWN et al., 2012). Pode ser

considerada a forma mais aceitável de gestão

porque traz a participação dos interessados e,

portanto, legitimidade e responsabilidade, justiça

e transparência (ESCAP, 2009).

A RESEX de Cassurubá (Bahia) foi criada em

2009, entretanto, apenas a sua criação não garante

a seguridade dos ambientes existentes e muito

menos o acesso das populações tradicionais à

políticas públicas de conservação da

biodiversidade e inclusão social. Para a

implementação da AMP, um dos instrumentos

principais é a formação de um Conselho

Deliberativo, conforme preconiza a Lei 9.985/2000

(BRASIL, 2000), conhecida como SNUC. A

consolidação desse Conselho estabelece

mecanismos de governança local entre o órgão

gestor e os atores, que interagem direta e

indiretamente com a RESEX, e posteriormente

conduz a elaboração participativa de um Plano de

Manejo dos recursos a serem explorados.

Assim como as demais RESEX, a de

Cassurubá tem como objetivos básicos proteger os

meios de vida e a cultura das populações

tradicionais e assegurar o uso sustentável dos seus

recursos naturais, conforme estabelece o Artigo 18

do SNUC (BRASIL, 2002). De acordo com o

parágrafo 1º deste artigo, a área é de domínio

público, com uso concedido às populações

extrativistas tradicionais (PORTO-GONÇALVES,

1999; BRASIL, 2000; ALLEGRETTI, 2008).

O Conselho Deliberativo da Reserva

Extrativista de Cassurubá - CDREC, criado por

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meio da portaria nº 54, de 09 de Maio de 2012

(BRASIL, 2012), foi solicitado pela comunidade

tradicional da RESEX (Quadro 1). Considerando

que todas as deliberações do CDREC afetam

diretamente a vida dos beneficiários da RESEX e

podem afetar aqueles residentes no interior e no

entorno da mesma, as populações beneficiarias da

RESEX de Cassurubá devem estar representadas

no CDREC por pelo menos 50% + 1 de seus

membros, conforme a IN n°02/07 do ICMBio

(BRASIL, 2007).

O CDREC é o órgão de gestão da RESEX e

tem como principais objetivos: realizar, em

conjunto ao órgão Gestor, o Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICMBio, a gestão da RESEX de Cassurubá;

promover o desenvolvimento sustentável dos

beneficiários e a conservação dos recursos

naturais da RESEX e fomentar a valorização

cultural e socioeconômica da população

tradicional beneficiária; estimular e apoiar a

criação e/ou o fortalecimento e formalização das

organizações de base das populações tradicionais,

possibilitando o seu “empoderamento” no processo

de gestão da unidade. Entre estas formas de

organização de base, BATISTA et al. (2004)

referem-se aos Acordos de Pesca como

instrumentos que empoderam as comunidades e

suas formas de manejo de pesca. Esta forma de

gestão implica em um processo colaborativo e

participativo mais justo de regulação da tomada

de decisão (JENTOF, 2003).

Quadro 1. Configuração do Conselho Deliberativo da RESEX Cassurubá quanto à sua representação dos

conselheiros.

Representação da Comunidade Tradicional Representação Poder Público e sociedade Civil

Organizada (parceiros)

1. BARRA VELHA I 1. PREFEITURA MUNICIPAL DE CARAVELAS

2. BARRA VELHA II 2. PREFEITURA MUNICIPAL DE N. VIÇOSA

3. PEROBAS, TELHAS, TRIBAÚNA E BOM JARDIM 3. CEPENE

4. CARIBÊ DE CIMA, C. DO MEIO, C. DE BAIXO,

MARTINS, TUCUNZEIRO E LARGO 4. BAHIA PESCA

5. CARIBÊ DE CIMA, C. DO MEIO, C. DE BAIXO,

MARTINS, TUCUNZEIRO E LARGO 5. EBDA

6. MACACO, LOPES, JABURUNA, MASSANGANO; 6. STR – CARAVELAS

7. CASSURUBÁ 7. CI-BRASIL / IBJ

8. TAPERA, MIRINGABA E RIO DO POÇO 8. ARTE MANHA/ ECOMAR

9. ASSOCIAÇÃO DE MARISQUEIRAS E

PESCADORES DE NOVA VIÇOSA

9. ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE

FLORESTA PLANTADA DO ESTADO DA

BAHIA – ABAF (FIBRIA/ SUZANO)

10. CALABOUÇO E CUPIDO 10. ICMBIO

11. AMPAC - PONTA DE AREIA 11. CÂMARA DE VEREADORES DE CARAVELAS

12. REPRESENTANTE DE PESCADORES E

MARISQUEIRAS DA BARRA DE CARAVELAS.

12. INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E

RECURSOS HÍDRICOS DO ESTADO DA BAHIA

– INEMA/SEMA

13. COLÔNIA Z-29

14. COLÔNIA Z-24

15. APESCA/ COLÔNIA Z-25

De acordo com a Instrução Normativa nº 29,

de 31 de dezembro de 2002 – IBAMA, entende-se

por “Acordos de Pesca” o conjunto de medidas

específicas decorrentes de tratados consensuais entre os

diversos usuários e o órgão gestor dos recursos

pesqueiros em uma área definida geograficamente

(BRASIL, 2002) e que tem como objetivo ordenar as

práticas pesqueiras de forma participativa,

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considerando os interesses dos pescadores

beneficiários. Nesse sentido, o presente estudo

teve como objetivo analisar o processo de atuação

do Conselho Deliberativo da RESEX de Cassurubá

no que tange suas discussões e decisões sobre os

acordos de pesca e suas implicações na

governança local.

METODOLOGIA

Área de estudo

A RESEX de Cassurubá está localizada no

extremo Sul da Bahia e compreende territórios dos

municípios de Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa

(Figura 1). A AMP foi decretada em 5 de junho de

2009, com a presença, em Caravelas, do presidente

de república, um evento histórico que reafirmou a

importância da criação da RESEX para as

comunidades locais. A área total da RESEX é de

100.767,56 hectares, sendo 31.996 de estuário e

68.665 hectares de área marinha.

A região do extremo sul da Bahia destaca-se

no conjunto costeiro-marinho por abrigar um rico e

diverso mosaico de ecossistemas, composto por

fitofisionomias associadas à Mata Atlântica, e por

rios, mangues, praias, estuários, recifes de coral e

ilhas oceânicas, o que garante a manutenção da

biodiversidade e demonstra a importância ambiental

e socioeconômica da região (MMA, 2010).

A RESEX de Cassurubá tem ligação direta

com o Complexo dos Abrolhos, que abrange a

área mais extensa e biologicamente mais rica de

recifes de coral do Atlântico Sul (WERNER et al.,

2000), cuja conservação depende de uma gestão

integrada com os ambientes costeiros.

Figura 1. Localização da RESEX de Cassurubá, Caravelas, Bahia, Brasil.

Coleta e análise de dados

Foi realizada análise qualitativa, consistindo

na coleta de dados secundários (atas, jornais,

relatórios) e observação participante do Conselho

Deliberativo da Resex de Cassurubá, a qual diz

respeito ao que o pesquisador aprende sobre a

comunidade ao participar das atividades do seu

dia-a-dia. Esta técnica baseia-se na observação

direta e na experiência pessoal e é útil para

investigar os usos que são feitos dos recursos

(VIEIRA, 2005). A observação participante foi

resultado da participação nas reuniões do CDREC

durante o ano de 2012. Posteriormente, foi

realizada análise critica das Atas com base nos

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princípios da boa governança (GRAHAM et al.,

2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Acordo de pesca no Mar

Tendo em vista que os Acordos de Pesca são

instrumentos que amenizam conflitos sobre os

recursos pesqueiros, em abril de 2012, as

comunidades beneficiárias da RESEX de

Cassurubá viram a necessidade de iniciar as

propostas de manejo para as áreas de mar da

RESEX. Essas propostas se deram por meio da

criação de Acordos de Pesca, que tem sido uma

estratégia de gestão pesqueira muito utilizada na

gestão local dos recursos pesqueiros (McGRATH

et al., 1993; CASTRO e McGRATH, 2001;

REBOUÇAS et al., 2006; D’ARRIGO et al., 2006;

AQUINO, 2007). Nesse contexto, podem ser

positivos ou negativos (IBAMA, 2003), pois

podem causar conflitos ou garantir o manejo

sustentável dos recursos pesqueiros.

A iniciativa de mobilização das comunidades

foi inicialmente de responsabilidade do órgão

gestor, o ICMBIo. A metodologia adotada foi a

realização de oficinas participativas, reuniões de

esclarecimento, criação participativa de mapas de

usos dos recursos para com seus usuários e

assembleias em cada comunidade. Todos os

conselheiros foram convidados (sociedade civil,

poder público e extrativistas) para participarem das

reuniões e discussões acerca do Acordo de Pesca.

As comunidades que utilizam a área marinha

de pesca da RESEX pertencem aos municípios de

Caravelas, Nova Viçosa, Alcobaça. Nessas

comunidades foram feitas assembleias com os

pescadores para melhor compreender a pescaria,

conflitos e soluções para as dificuldades expostas.

Um dos motivos de se iniciar os Acordos de Pesca

pela porção marítima da RESEX é de que esta

representava a área potencialmente conflitante,

pois não era exclusiva da população residente na

atual RESEX, mas por outros usuários “que

sempre pescaram na área”.

Após essa etapa, dez regras de pesca (Quadro2)

foram criadas junto com os pescadores, principais

interessados nessas regras. A criação dessas

normas teve como objetivo evitar conflitos entre

os pescadores usuários e amenizar as atividades

que poderiam comprometer a disponibilidade dos

estoques pesqueiros, para o presente, bem como

para as gerações futuras. A falta de estratégias de

administração, adequadamente implantadas,

contribuiu para o decréscimo de alguns estoques

de peixes que, por seu alto valor econômico,

sofreram maior esforço pesqueiro (RUFFINO e

ISAAC, 1994).

Quadro 2. Regras estabelecidas no Acordo de Pesca elaborado pelo CDREC no ano de 2012.

1. Limitar a pesca com rede tainheira a 30 panos de rede por barco, no interior da Reserva Extrativista do

Cassurubá.

2. Proibir a pesca com rede tainheira, que possua malha menor que 35 mm, entre ângulos opostos, medida

esticada.

3.Proibir a pesca com rede tainheira no período de Defeso do Camarão na região.

4.Determinar que pescadores com rede Tainheira disponham a rede a “fio d’água”, quando houver barcos em

atividade de pesca de balão (Arrasto) na área;

5. Limitar a pesca com rede de caída para a captura de sarda a 40 panos de rede por barco.

6.Proibir a pesca com rede de caída para captura de sarda, que possua malha menor que 45 mm.

7.Proibir a pesca com barco motorizado numa faixa de 500 metros da linha de costa, na região compreendida

entre a Ponta do Catoeiro e a Barra de Nova Viçosa.

8. Proibir a pesca com rede de arrasto (manual ou motorizado) nos parcéis contidos na Zona de

Amortecimento da Resex do Cassurubá.

9. Proibir a pesca com rede feiticeira nos parcéis da Zona de Amortecimento da Resex do Cassurubá.

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10. Proibir, a captura, o desembarque, o transporte, o armazenamento, o beneficiamento e a comercialização

das espécies relacionadas a seguir, que forem capturadas na pesca de mergulho, cujos comprimentos sejam

inferiores aos estipulados: Mycteroper cabonaci, Epinephelus morio, Lutjanus jocu, Lutjanus synagris, Ocyurus

chrysurus Cabe ressaltar que os espaços para discussão

das regras do acordo de pesca foram abertos a todos

os interessados, sendo os mesmos convidados e

ouvidos, e pontos específicos, tais como conflitos,

pesca, fiscalização, foram discutidos em várias

comunidades. As regras propostas foram divulgadas

e mais detalhadamente discutidas pelas

comunidades e votadas em plenárias deliberativas

por representantes de cada comunidade de interesse.

Após as definições das regras de uso, o ICMBio

formalizou o acordo, através da Instrução

Normativa (Resolução nº 001, de 7 de agosto de 2012

– Aprova o Acordo de Pesca da porção Marítima da

RESEX de Cassurubá (ICMBIO/CDREC, 2012), as

quais, então, foram deliberadas e aprovadas pelo

Conselho Deliberativo. Na reunião do CDREC, em

agosto, estavam presentes nove representantes das

comunidades e oito da sociedade civil organizada,

os quais todos pactuaram que o acordo fosse

consolidado.

Dentro do CDREC, dos quinze representantes

da comunidade tradicional (Quadro 1) onze eram

pescadores atuantes. Os demais representantes ou

não pescavam/extraiam recursos, pois trabalham

em outras atividades, ou estavam aposentados.

Três meses após o Acordo de Pesca ser

regulamentado, a temática ressurgiu, agora

contestando-se as regras e limites criados. Desse

modo, durante uma reunião do CDREC do dia 03

de outubro de 2012, decidiu-se que os próprios

pescadores se articulariam para indagar o que

realmente suas comunidades queriam enquanto

regras de uso dos recursos. Um dos motivos da

recusa das regras foi sobre a fiscalização das

mesmas e que estas ainda poderiam prejudicá-los

no dia-a-dia. O quadro 3 apresenta os atores

envolvidos e os motivos do questionamento dos

termos do acordo de pesca.

Quadro 3. Características dos principais tipos de conflitos dos Acordos de pesca elaborados na RESEX Mar

Cassurubá no ano de 2012.

Atoresenvolvido

s Causas Locais Consequências

Ribeirinhos X

Conselheiros Exclusão de regra

Toda

ÁreaMarinha

Conservação das espécies ou diminuição da

renda dos pescadores

Petrecho de pesca prejudicial aos pescadores

Pescadores de

Nova Viçosa X

Pescadores de

Alcobaça

Territorialidade Área de Nova

Viçosa

Conflitos pela apropriação de áreas exclusivas

de uso

Nãocumprimento de

regras

Confrontos diretos (ameaças e destruição de

petrechos)

A regra 3 (“proibir a pesca com rede tainheira

no período de Defeso do Camarão na região” -

Quadro 2) foi a primeira a ser contestada pelos

conselheiros representantes da população

tradicional. Essa regra foi estabelecida pelo

CDREC com a justificativa de evitar que durante o

defeso as redes acabassem capturando os

camarões denominados de VGs

(Litopenaeusschmitti). Esta regra foi discutida,

avaliada e votada pelos representantes do

CDREC. O motivo para a solicitação de alteração

dessa regra foi que a mesma iria prejudicá-los,

pois os pescadores pescam durante o período de

defeso do camarão com a rede de emalhar, sendo

a segunda opção de economia dos mesmos. Por

fim, a mesma não foi alterada, pois durante a

reunião do CDREC, em 3 de outubro de 2012,

houve votação para exclusão ou não da regra.

Vale lembrar que os representantes presentes

eram poucos da comunidade, o que favoreceu a

opinião do terceiro setor e poder público. O

resultado da votação sobre a exclusão da regra foi

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31

que oito conselheiros (sociedade civil organizada)

votaram a favor, cinco conselheiros

(representantes da comunidade) votaram pela

exclusão e três se abstiveram (sociedade civil

organizada). Como resultado do processo

participativo a norma foi mantida.

Apesar de ser constante a presença dos

representantes do segmento pesqueiro nas

reuniões do CDREC, alguns deles ainda têm baixa

participação nas mesmas. Os motivos

apresentados para este não comparecimento dos

conselheiros foram por estarem em atividade de

pesca no dia e horário das reuniões ou

considerarem as mesmas não atrativas. Este não-

empoderamento mostra que alguns representantes

ainda não consideram suas opiniões decisivas

para a gestão da área e tendem a insistir na “falta

de apoio” por parte do poder público, e até

mesmo de algumas ONGs que atuam na região,

pelos problemas na gestão da RESEX. A votação

sobre a regra 3 mostra o resultado desse ainda

não-empoderamento local.

Após dois meses da discussão da primeira

norma, houve novamente uma manifestação de

recusa acerca de outra regra por um movimento

de cerca de 150 pescadores de Nova Viçosa, os

quais se reuniram e buscaram apoio dos

representantes do CDREC para rediscuti-la.

A segunda regra contestada foi a 4 (Quadro

2): “quando houver barcos baloando1, as redes

tainheira só poderão ser colocadas a “fio

d’agua””., ou seja, se não houver barcos fazendo

arrasto, as redes poderão ser colocadas

atravessadas. Essa norma motivou nova

discussão, entre os pescadores de Alcobaça e

Nova Viçosa. A questão era o não cumprimento

dessa regra e até supostas ameaças aos pescadores

em questão. Cabe ressaltar que somente depois de

regulamentada é que as regras foram

questionadas e, de acordo com FURTADO (2004),

os conflitos de pesca começam pela apropriação e

usos diferenciados dos territórios aquáticos, os

quais colocam em choque, de uma forma geral, o

uso para obtenção da subsistência e o uso

comercial.

1Baloando significa puxar a rede chamada balão, que é utilizada para capturar camarão; é chamada também de rede de arrasto.

Em 20 de dezembro de 2012, foi solicitada

pelos extrativistas de Nova Viçosa, uma reunião

extraordinária do Conselho, com o objetivo de

discutir novamente a regra 3 (Quadro 2) do

Acordo de Pesca. Nesse momento, a proposta era

a exclusão dos pescadores de Alcobaça das áreas

de pesca da Resex, que não respeitavam a regra

citada. O desfecho dessa reunião se deu com a

participação de 95 pescadores (ouvintes)

atingidos. Após discussões acerca da exclusão do

grupo de pescadores de Alcobaça, houve um

acordo entre os conselheiros presentes em se

manter a regra e o grupo de pescadores, onde

estavam presentes nove representantes da

comunidade e seis da sociedade civil organizada.

O resultado da reunião foi que o Conselho

deliberou sem a necessidade de votação, onde se

decidiu não excluir a regra, e nem excluir os

pescadores de Alcobaça (solicitação dos

pescadores de Nova Viçosa), e ainda criaram uma

comissão para sistematização das punições aos

descumpridores do “Acordo de Pesca”.

Esses exemplos demonstram a importância da

participação dos pescadores no processo de

construção e execução dos Acordos de Pesca,

mesmo que somente depois das decisões tomadas,

e que a efetividade dos mesmos, no que tange seu

cumprimento, bem como sua metodologia de

criação, é legitimada pelas iniciativas das

discussões, mesmo depois das regras serem

homologadas.

Além da implementação das regras do

Acordo de Pesca, o ICMBio, juntamente com o

CDREC, buscou definir o perfil das famílias

beneficiarias e cadastrá-las, para que possam

acessar as políticas públicas da RESEX. Outros

esforços também estão sendo realizados, através

de projetos que visam o fortalecimento das

lideranças comunitárias no que tange a cursos de

capacitação, bem como divulgando as

informações sobre as políticas públicas, direitos e

deveres dos beneficiários dentro de uma RESEX.

Governança local

A partir dos quatro princípios da boa

governança, as atas e reuniões do CDREC foram

analisadas. De acordo com esta análise pode ser

verificado que:

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Princípio (1) - Legitimidade e Voz: nas atas das

quatro reuniões foi assegurada a participação

local, que se deu por meio do poder de fala de

todos os representantes das comunidades, opinião

e decisão dos extrativistas no que tange assuntos

referentes às suas comunidades, durante as

reuniões do CDREC. A participação foi garantida

também pela facilitação do transporte das pessoas

para as comunidades onde as reuniões ocorreram

e aviso prévio das mesmas. A cogestão pode ser

observada, porém ainda não se pode comprovar

se esse cenário permanecerá, pois a UC é

relativamente recente (4 anos).

Princípio (2) - Direcionamento: observou-se, em

todas as Atas das reuniões do CDREC, o empenho

dos conselheiros para que a RESEX tenha um

plano de gestão participativo, que pode ser

afirmado pela iniciativa da construção das regras

do Acordo de Pesca, preliminares para a

elaboração do Plano de Manejo. Nesse sentido,

também estão sendo realizadas, através de três

comissões técnicas (Regimento Interno do

CDREC, Plano de Manejo e Políticas Públicas),

com a participação de extrativistas e parceiros,

discussões para a elaboração de políticas públicas

e do Plano de Manejo. As lideranças

representantes dos extrativistas estão se

organizando para a criação de uma Associação

“Mãe”, com o objetivo de exercer e compartilhar a

gestão da RESEX. O gestor da Unidade foi o

articulador e condutor de todas as reuniões,

cumprindo suas funções designadas (porém há

falta de recursos humanos e financeiros para atuar

em toda a área da RESEX).

Princípio (3) - Execução: verificou-se apenas por

meio da atuação dos Conselheiros para a execução

dos objetivos da RESEX, tendo em vista que a UC

está sendo implementada e tem seus instrumentos

recém-criados (2012), como é o caso do Conselho

Deliberativo (por exemplo, o regimento interno foi

recém aprovado e tem-se a proposta de realizar

um curso de capacitação para os conselheiros). O

atual gestor representante do ICMBio, trabalha

sozinho na RESEX, e isso faz com que tenha

algumas dificuldades de atuação, tendo em vista

as muitas demandas para uma área extensa, em

termos de fiscalização e execução de políticas

públicas. Os extrativistas ainda são conselheiros

inexperientes, pois o Conselho é recém formado,

porém, se esforçam para compreenderem a função

de uma RESEX e trocarem experiências com

outras RESEXs, através de intercâmbios e

participações em eventos direcionados a políticas

públicas e legislação especifica.

Princípio (4) - Responsabilidade: preliminarmente

pode ser identificada, porém, ainda está sendo

incorporada e conhecida por parte dos

conselheiros. Quanto ao gestor, pode-se inferir

que o mesmo exerce sua responsabilidade no que

tange ao cumprimento de suas funções. Contudo,

os extrativistas estão se organizando para que

consigam expor suas dúvidas e, na oportunidade,

fazer valer suas decisões em maioria.

Esclarecimentos e transparências no se refere às

informações relativas às comunidades, legislação

e outras, estão disponíveis a todos os cidadãos

interessados. Não se pode afirmar a autoridade

dos conselheiros pois ainda estão conhecendo

seus direitos e deveres. Em virtude de sua recente

criação, a UC está elaborando e implementando a

legislação vigente.

O CDREC deliberou sobre o Acordo de Pesca,

tendo o principio de voz e responsabilidade

expresso no que tange as ações e discussões para a

construção das regras. Porém, ainda é necessário

um maior empoderamento dos atores locais, para

que possam exercer os princípios de Execução e

Responsabilidade e, assim, reconhecer seus

direitos e obrigações enquanto a gestão dos

recursos.

Ha uma tendência à descentralização na

administração da RESEX, tais como formulação,

implementação e gestão de políticas públicas

pelos próprios usuários. Constatou-se a

participação de atores locais nos processos

decisórios, no que tange a solução de problemas

locais relacionados à utilização dos recursos.

CARDOZO et al. (2012 ) também constataram, na

RESEX de Canavieiras, a participação e interesse

dos atores em contribuir para soluções locais,

porém com apoio do poder público e sociedade

civil.

Por meio desta análise, fica evidenciada a

importância da participação dos atores locais nos

processos de discussão de decisão, para permitir

não só a conservação dos recursos naturais e

tradições, mas a continuidade e garantia do uso

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desses recursos. A governança deve viabilizar

uma melhoria da qualidade das decisões por

incorporar o conhecimento local (NEWIG e

FRITSCH, 2009).

CONCLUSÃO

O CDREC tem garantido e fortalecido a

participação das comunidades tradicionais

beneficiárias no que tange as decisões sobre a

utilização dos recursos e a construção para

implementação das políticas públicas especificas.

Os pescadores, por meio das discussões e

decisões no CDREC, estão garantindo sua

identidade e, através dos Acordos de Pesca,

baseados em técnicas e saberes artesanais,

legitimam o processo de aprendizagem dos

conselheiros. A construção participativa dos

Acordos de Pesca possibilita que os pescadores se

identifiquem com as regras criadas, o que facilita

o processo de cumprimento e reconhecimento das

mesmas.

De modo geral, os princípios da boa

governança exprimem maior Legitimidade e Voz,

e os outros princípios podem ser enfatizados

apenas como esforços para o alcance dos mesmos,

tendo em vista que a RESEX é relativamente nova

e que os atores sociais ainda estão se envolvendo e

reconhecendo suas responsabilidades e direitos.

Porém pode-se destacar a contribuição da análise

desses princípios para avaliar a efetividade da

governança.

Por fim, pode-se concluir que as ações dentro

do CDREC, por meio da criação dos Acordos de

Pesca, são peças fundamentais para o inicio de

uma gestão pautada na boa governança.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos às comunidades da Reserva

Extrativista de Cassurubá, à Universidade

Estadual de Santa Cruz e ao Projeto

CAPES/Ciências do Mar (UFF – UESC –

CENPAT). Ao CNPq pela bolsa de produtividade

do segundo autor (2010-2012).

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ARTIGO 2. ANÁLISE DO SISTEMA DE GOVERNANÇA DA RESERVA

EXTRATIVISTA DE CASSURUBÁ, CARAVELAS, BAHIA, BRASIL

RESUMO

Neste estudo foram analisados os sistemas de governança da Reserva Extrativista (RESEX)

de Cassurubá, localizada no extremo sul da Bahia, Brasil. A metodologia aplicada foi a

utilização de questionários semi-estruturados e observação participante, através da

participação em reuniões do Conselho Deliberativo (CD) e análise das Atas, com base nos

princípios de Ostrom. Os questionários foram aplicados a 23 representantes do CD, composto

por representantes dos segmentos extrativistas, sociedade civil e poder público. O resultado

permitiu a caracterização dos aspectos de governança, com ênfase nos instrumentos de gestão,

e a verificação da presença dos princípios que definem se RESEX é uma instituição robusta

(resiliente).

ABSTRACT

In this study the governance systems of the Extractive Reserve (RESEX) of

Cassurubá, located in Southern Bahia, Brazil, were analyzed. The methodology used semi-

structured questionnaires and participant observation, through participation in board meetings

(CD) and analysis of the meetings reports, based on the principles of Ostrom. Questionnaires

were done to 23 representatives from the CD, composed of representatives of the extractive

sectors, civil society and government. The result allowed the characterization of aspects of

governances, with emphasis on management tools, and verification of the presence of the

principles that define if the RESEX is a robust institution.

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1. INTRODUÇÃO

As áreas marinhas protegidas (AMPs) têm um apoio mais forte na política da

conservação do que do setor pesqueiro (JONES, 2007) e integrar os dois setores na gestão da

pesca é um grande desafio. As AMPs em geral funcionam por um processo que envolve

múltiplos atores de diferentes setores, um elemento essencial que acrescenta uma dimensão

desafiadora para a governança (JONES, 2011).

Kalikosk (2007) afirma que a criação e implementação de AMPs devem ser

estabelecidas a partir de um debate amplo com a sociedade civil organizada, envolvendo as

comunidades diretamente e potencialmente afetadas pela criação de tais instrumentos de

conservação.

A governança é considerada um fator importante de influência para que as áreas

protegidas atinjam seus objetivos (DEARDEN; BENNETT, 2005). Assim, se faz necessário

entender a governança que, num sentido mais amplo, pode ser definida como correspondente

à distribuição de poder, legitimidade e autoridade entre os mais diversos níveis e instituições,

onde há o estabelecimento de regras e normas sobre quem e como se detém o poder e como

são tomadas as decisões, assim como os níveis de corresponsabilidade entre os atores

(GRINDLE, 2004).

Comunidades de pesca artesanal, ao longo de muitas décadas, têm desenvolvido

acordos locais para gerenciar recursos costeiros com base no conhecimento tradicional

(JOHANNES, 2002). Essas comunidades foram identificadas por LOBE e BERKES (2004)

como sendo importantes exemplos para fornecer soluções locais ambientalmente sustentáveis

para gestão de recursos.

Ostrom (1990) afirma que o fechamento e/ou limitação e proibição da extração de um

recurso dentro de uma área especifica é a chave para a conservação dos recursos pesqueiros e

representa o primeiro passo no processo de gestão da pesca.

Assim, ao estabelecer regras de usos, os usuários poderão se beneficiar a médio e

longo prazo, sendo tomadas decisões para atingir seus interesses. Ainda segundo Ostrom

(1990), a inclusão dos usuários no processo de gestão aumenta sua a legitimidade o que, por

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sua vez, resulta em um maior respeito e obediência às regras e regulamentações. Ressalta-se

que a gestão de AMPs trata também da gestão de pessoas, e assim o seu sucesso depende da

forma que valores culturais, econômicos e sociais são integrados (CHADWICK; NICHOLS,

2002).

A classe de AMP abordada neste estudo é uma unidade de conservação de uso

sustentável, que insere as comunidades tradicionais em sua gestão por meio de

representatividade no conselho deliberativo. A Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, que

instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), define

Reservas Extrativistas como:

Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se

no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação

de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de

vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos

naturais da unidade (BRASIL, 2000).

As RESEXs buscam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável

de parcela de seus recursos naturais (GANEM, 2010), sendo que essa finalidade será efetuada

por populações extrativistas, que detêm conhecimento a respeito dos ecossistemas com os

quais desenvolveram práticas ao longo do tempo (GONÇALVES, 2003).

A RESEX se insere no contexto da chamada gestão dos commons. McKean e Ostrom

(2001) definem propriedade comum ou regime de propriedade comum como:

Arranjos de direitos de propriedade nos quais grupos de usuários dividem direitos e

responsabilidades sobre os recursos. O termo propriedade está relacionado a

instituições sociais e não a qualidades naturais ou físicas inerentes aos recursos.

(p.80).

Nesse contexto de gestão de recursos comuns, Scott (1995) define as instituições

como estruturas de tipo regulador, normativo e cognoscitivo que dão estabilidade, coerência e

significado ao comportamento social. As instituições são, portanto, regras, normas, costumes

estabelecidos em bases formais ou informais. Já as organizações são “entidades construídas

em torno de processos definidos que garantem o sucesso de objetivos determinados”.

A falta de legitimação ou reconhecimento de instituições no nível local é um dos

fatores que influenciam e dificultam a construção de instituições robustas (BERKES, 2005).

Ostrom (2005) definiu instituições robustas como aquelas que têm se mantido sustentáveis

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por um longo período de tempo, ou seja, constituem-se em um sistema que possui a

capacidade de se adaptar e manter sua performance diante de distúrbios. Para o presente

estudo utiliza-se a expressão de “resiliência” ao invés da palavra robusta.

De acordo com Ostrom (1990), existem oito princípios ou condições para que haja

sucesso no regime de propriedade comum, enquanto instituição. Nesse contexto o presente

trabalho visou analisar, na Resex de Cassurubá, a existência dos princípios da governança de

Ostrom (1990) para reconhecer se as instituições são robustas, bem como descrever os

principais aspectos relacionados aos instrumentos de governança e o grau de satisfação dos

conselheiros em relação aos temas relacionados com governança, norteadores para ações de

melhoria de gestão.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1.ÁREA DE ESTUDO

Este estudo foi realizado na Reserva Extrativista de Cassurubá (RESEX), localizada

no extremo sul da Bahia (Figura 1) nos municípios de Caravelas, Nova Viçosa e Alcobaça. A

UC foi criada em junho de 2009, abrange uma área de 100.687 hectares e é administrada pelo

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.

As UCs mais próximas a RESEX de Cassurubá são o Parque Nacional Marinho dos

Abrolhos, cuja zona de amortecimento inclui o setor oceânico (marinho) da RESEX, e a APA

Estadual Ponta da Baleia- Abrolhos, que inclui parte da área estuarina da RESEX. Ao norte,

ainda na zona costeira, existem a RESEX do Corumbau, o Parque Nacional do

Descobrimento, Parque do Pau-Brasil e Parque do Monte Pascoal (UMMUS, 2009).

A RESEX de Cassurubá está situada no Banco dos Abrolhos, a área mais extensa da

plataforma continental e com a maior biodiversidade do Atlântico Sul (WERNER et. al.,

2000) cuja conservação depende de uma gestão integrada com os ambientes costeiros.

Sua área abrange manguezais, que são consideradas extremamente importantes para a

manutenção dos ecossistemas costeiros e, também, por constituírem ambientes críticos para a

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reprodução e refúgio de inúmeras espécies da fauna aquática estuarina e marinha

(MARCHIORO et al., 2005).

A RESEX compreende áreas oceânicas, marinho-costeira e estuarina; nesse sentido há

diferentes formas de utilização dos recursos naturais que variam de acordo com a área

utilizada. CURADO et al., (2009) identificaram para a área oceânica e marinho-costeira de

Caravelas e Nova Viçosa o predomínio da pesca de balão, seguida pela pesca de linha com

anzol. Já para a região estuarina, o predomínio da utilização dos recursos se dá através da

atividade agrícola/agropecuária e a pesca; dentre as atividades agropecuárias estão o cultivo

de mandioca, dendê, frutas, coco, a produção de carvão e farinha, o tráfico de animais e o

extrativismo vegetal (HUMMUS, 2009). A pesca, nas suas diferentes artes, é praticada por

todos os ribeirinhos, o que garante sua segurança alimentar (CURADO et al., 2009).

Figura 1 – Localização da Reserva Extrativista de Cassurubá, Bahia, Brasil.

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Um cadastro realizado em 2011 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária (INCRA) em parceria com ICMBio identificou 668 famílias potenciais beneficiárias5.

O total de famílias que utiliza os recursos é estimado em 1200 famílias, de acordo com

SANTOS NETO 6 (informação pessoal). Dos dados coletados por esse cadastro para elaborar

o perfil inicial das famílias que usam os recursos, destacamos para o presente estudo as

seguintes informações e características:

Das 668 famílias, 516 disseram não participar de nenhuma entidade

associativa, sendo que apenas 152 responderam que participam de associações.

Dentre as associações, as Colônias de Pesca têm grande número de associados,

com 305 famílias identificadas. Mesmo assim, os números de associados são

baixos e poucos sentem que essas organizações os representam de modo

adequado (observação participante), o que torna cada vez menor a

participação dos usuários nessas organizações.

Dentre as atividades econômicas principais das famílias cadastradas se destaca

a pescaria, que para 437 famílias é tida como atividade principal e para 6

famílias como atividade secundária.

Outra atividade econômica importante, principalmente para os ribeirinhos, é a

extração de caranguejo, com 107 famílias sobrevivendo dela, e outras 3 tendo

como atividade secundária. As outras 115 famílias sobrevivem do cultivo e da

criação de animais.

2.2 MÉTODOS

5 Refere-se às famílias que utilizam os recursos e dependem deles para sua sobrevivência. Diferente dos

“usuários”. 6SANTOS NETO, J. R. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO analista da Resex

de Cassurubá.

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Esta pesquisa foi realizada com a autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Estadual de Santa Cruz, número 168.923(ANEXO 1) e do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, número 35596-1 (ANEXO 2).

A metodologia utilizou análise qualitativa e quantitativa. A pesquisa bibliográfica e

documental envolveu consulta a publicações especializadas, textos acadêmicos, artigos de

jornal e revistas e documentos de instituições oficiais, atas do Conselho Gestor da RESEX e

seu regimento interno.

Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas (VIERTLER,

2002). O questionário apresenta 30 questões (APÊNDICE 1), que abrangem a identificação

do entrevistado, o conhecimento do mesmo em relação aos instrumentos de gestão da

RESEX, como se dá a organização e atuação da mesma, qual o grau de satisfação em relação

alguns aspectos da governança, e sobre as necessidades da RESEX.

O desenho amostral inicial previa a aplicação dos questionários para todos os

membros do Conselho Deliberativo da RESEX de Cassurubá (CDRC) (N=27). O critério para

sua aplicação foi a frequência às reuniões do CDRC e de outras atividades da RESEX, e por

isso foram entrevistados apenas 23 membros. Foi também realizada observação participante

(VIERTLER, 2002) pela participação em seis reuniões do CDRC e revisão de atas de quatro

reuniões.

As entrevistas foram aplicadas entre março a setembro de 2013 e serviram para

caracterização dos conselheiros (gestor, líderes das comunidades). A observação participante

foi realizada durante os anos de 2012 e 2013, e adicionalmente houve visitas de campo e

acompanhamento de algumas assembleias de associações locais.

Os questionários foram elaborados de forma a permitir análise quantitativa, utilizando

uma escala de 5 pontos de Likert (Likert, 1932) – 1 Totalmente Insatisfeito; 2 Insatisfeito; 3

Indiferente; 4 Satisfeito; 5 Totalmente satisfeito. Outros estudos sobre governança em

comunidades de pescadores utilizaram esse método para avaliar as informações fornecidas

(GELCICH et al., 2006, CINTI, et al., 2010a) de forma satisfatória.

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Para análise da escala de Likert foi realizada análise de agrupamento hierárquico,

sendo a ligação entre grupos, utilizando o coeficiente de Jaccard e a correlação de Pearson,

realizado por meio do software SPSS.

Os dados qualitativos foram analisados com base no modelo das diversas

competências (HAYS, 1976) que consiste em considerar todas as informações fornecidas por

todos os entrevistados. Para análise dos dados foi empregada uma matriz de dados, uma

técnica de classificação de informações usadas em pesquisa participativa (contagem, opinião

e comparação).

Os dados obtidos com a pesquisa por observação e entrevistas semi-estruturadas e

pelas informações que surgiram ao longo das reuniões comunitárias, foram analisados através

de procedimentos estatísticos básicos (frequência, tabelas).

Com o intuito de identificar sistemas de gestão com instituições robustas, Ostrom

(1990) definiu oito princípios (“design principles” 7), os quais nortearam a análise

institucional da RESEX de Cassurubá, conforme mostra o Quadro 1:

Quadro 1 – Princípios propostos por Ostrom para caracterizar instituições robustas e

as características avaliadas nas Atas e na observação participante.

Princípios Significado

1 - Limites claramente definidos Devem ser claramente definidos quais são os recursos e seus

usuários.

2 - Congruências entre apropriação

e provisão de regras e condições

locais

As regras dotadas de restrição de tempo, lugar, tecnologia e/ou

quantidade de unidades de recurso devem estar relacionadas às

condições/características socioambientais locais.

3 - Arranjos de escolha coletiva Ampla participação na modificação das normas pelas pessoas

diretamente afetadas.

4 - Monitoramento Monitores desempenham função de auditoria quanto aos usos

dos recursos de propriedade comum, sendo responsáveis por

observar o comportamento dos usuários e/ou a evolução dos

recursos. Podem ser também usuários dos recursos.

5 - Sanções graduadas Existem sansões aplicadas aos usuários que divergirem da

7 (1) Clearly defined users and resource boundaries, (2) congruence between appropriation and provision rules

and local conditions, (3) collective-choice arrangements, (4) monitoring users and resources, (5) graduated

sanctions, (6) conflict-resolution mechanisms, (7) minimal recognition of rights to organize e (8) nested

enterprises.

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norma vigente.

6 - Mecanismos de resolução de

conflitos

Áreas de resolução de conflitos de baixo custo para resolver

conflitos entre os usuários.

7 - Reconhecimento mínimo dos

direitos de organização

Os direitos de organizar e gerenciar recursos são garantidos

pelos representantes oficiais externos.

8 – Conexões institucionais

transescalares

Quando os sistemas socioecológicos estão imersos em sistemas

maiores (ações distribuídas em múltiplas escalas).

3. RESULTADOS

A RESEX de Cassurubá é administrada pelo Instituto Chico Mendes para a

Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em consonância com o Conselho Deliberativo

composto por representantes da sociedade civil organizada, lideranças das comunidades e

poder público. Assim, um dos instrumentos de governança vigente é o Conselho Deliberativo,

onde as tomadas de decisões são realizadas localmente, sempre em conformidade com as leis

federais.

O Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista de Cassurubá é composto por 27

representantes, sendo 3 membros do poder público, 9 da sociedade civil organizada e 15 de

segmentos das comunidades. Está em vigência desde nove de maio de 2012, tendo realizado

quatro reuniões ordinárias (7 de agosto e 3 de outubro de 2012 e 26 de março e 16 de julho

de 2013), as quais tiveram suas atas revisadas. Seu regimento interno foi aprovado também

em 2012, tendo como meta subsidiar os conselheiros de regras e lei específicas para atuação e

desenvolvimento do CDRC.

1.1 Caracterização do conhecimento dos conselheiros acerca dos instrumentos e

aspectos de governança na Resex de Cassurubá.

Os resultados descritos a seguir caracterizam o conhecimento dos conselheiros em

relação aos instrumentos de gestão, bem como sua forma de atuação e organização dentro da

RESEX.

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A clareza dos conselheiros acerca da função do Conselho e dos instrumentos de

gestão8existentes é de fundamental importância para que as decisões tomadas sejam efetivas e

representativas. Nesse sentido, identificaram-se quais instrumentos os conselheiros conhecem

e consideram como tendo importância para a gestão (Tabela 1): do total dos conselheiros

entrevistados 46% identificaram como instrumento de gestão o Conselho Deliberativo, 27%

Plano de Manejo e 27% Acordos de Pesca. Esse resultado permite inferir que os instrumentos

de gestão da UC não são uniformemente apropriados pelo conjunto dos conselheiros.

Tabela 1 – Frequência das respostas dos grupos, referentes ao instrumento de gestão.

Instrumento de gestão

Categoria Conselho Deliberativo Acordo de Pesca Plano de Manejo

Extrativista 5 4 3

Sociedade Civil 2 1 0

Poder Público 4 2 2

% 46 27 27

A fim de verificar se de fato os Conselheiros sabem o que está vigente em relação a

instrumentos de gestão, foi feito o questionamento sobre a atual situação dos instrumentos de

gestão. Em relação ao Plano de Manejo (Tabela 2) 73% afirmam que o plano está em

preparação, o que pode ser entendido que os mesmos compreendem que o Acordo de Pesca é

um exercício para a elaboração do Plano de Manejo. Em contraposição, 27% dos

entrevistados afirmaram que o Plano de Manejo não existe, o que é verdadeiro. Essas

informações indicam que os instrumentos de gestão são compreendidos de diferentes formas

pelos conselheiros.

Tabela 2 – Frequência das respostas dos grupos, referentes a situação do Plano de

Manejo.

Situação do Plano de Manejo

Categoria Em preparação Não existe

Extrativista 9 3

8 São considerados instrumentos de gestão – Plano de Manejo, Plano de ação do Conselho, Plano de Proteção ou

de uso público, de integração com o entorno, entre outros. Brasil, 2000.

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46

Sociedade Civil 2 1

Poder Público 6 2

% 73 27

Outro questionamento foi em relação à área de aplicação do Acordo de Pesca, e 100%

dos entrevistados responderam que o acordo está vigente somente para a área marinha, e que

para a área de estuário e terrestre ainda não foi elaborado, o que procede. Isso aponta que os

conselheiros têm clareza sobre alguns temas abordados durante as reuniões do CDRC.

Pela importância do conceito de governança para atuação participativa dos

Conselheiros, foi realizado questionamento sobre o que é Governança (Tabela 3), sendo que

64% dos entrevistados demonstraram ter conhecimento acerca do conceito e 34% acertaram

parcialmente, ou seja, responderam com alguns dos elementos da governança e 2% não

sabiam sobre o conceito.

Tabela 3 – Frequência das respostas dos grupos, referentes ao conceito de governança.

Governança

Categoria Acertaram Acerta parcial Não responderam

Extrativista 7 4 1

Sociedade Civil 2 1 0

Poder Público 7 1 0

% 64 34 2

A participação dos conselheiros durante os processos de criação da RESEX (Tabela 4)

demonstra o grau de compromisso com as ações após a criação. Dos membros do conselho

entrevistados, 82% participaram da criação da RESEX e apenas 18% não participaram.

Tabela 4 – Frequência das respostas dos grupos, referente à participação na criação da

RESEX.

Participaram da criação da RESEX

Categoria Sim Não

Extrativista 11 1

Sociedade Civil 2 1

Poder Público 6 2

% 82 18

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Para uma representatividade efetiva, os representantes dos segmentos e comunidades

dentro do Conselho devem levar ao mesmo as suas demandas e, ao tomar decisões, seguir as

instruções de seus representados, construídas de forma participativa. Nesse sentido, foi feito

questionamento sobre se os representados (usuários dos recursos e associados) têm voz (se

podem opinar e se expressar) dentro do Conselho. Todos os entrevistados afirmaram que os

seus representados possuem voz no Conselho, o que sugere que de fato as comunidades são

ouvidas e que têm participação em relação aos seus anseios e atitudes.

Um fato preocupante em relação a processos participativos é o chamado “conflito de

interesses”, onde os representantes votam questões de interesse individual. Esse tipo de

conflito foi descartado pelos entrevistados, pois 100% dos entrevistados responderam que o

voto dentro do conselho é sempre institucional (ou representa o segmento dos usuários), não

sendo considerados votos de interesses pessoais. Outra questão foi em relação de como o voto

é decidido, sendo que 100% das respostas foram que os votos são decididos em conjunto com

sua instituição ou segmento dos extrativistas.

Quando se questionou sobre o repasse de informações e decisões aos representados

(Tabela 5), 20% dos entrevistados repassam as informações e decisões às vezes para seus

representados, e 80% repassam sempre as informações para seus representados.

Tabela 5 – Frequência das respostas dos grupos, referentes ao repasse das

informações.

Repasse das Informações

Categoria Sempre Às vezes

Extrativista 9 3

Sociedade Civil 2 1

Poder Público 7 1

% 80 20

Em questionamento sobre a frequência de reuniões (Tabela 6) 40% dos entrevistados

não realizam reuniões frequentes com seus representados, sendo que 60% disseram se reunir

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frequentemente. Isso sugere divergências nas informações, pois se não se reúnem e não

repassam informações frequentemente, fica comprometida a participação das

comunidades/representados nas tomadas de decisões.

Tabela 6 – Frequência das respostas dos grupos, referentes à frequência na realização

de reunião.

Reúnem-se com frequência

Categoria Sim Não

Extrativista 9 3

Sociedade Civil 2 1

Poder Público 5 3

% 60 40

1.2 Conselho da RESEX de Cassurubá: percentual de satisfação

Na escala de Likert para a questão da relação entres os parceiros envolvidos na

gestão da RESEX, 61% estavam satisfeitos, sendo que apenas 26% estavam insatisfeitos

(Figura 3). Este questionamento é de suma importância para verificar o grau de satisfação e

até mesmo concordância e parceria entre os representantes do Conselho, cuja principal função

é tomada de decisões acerca de ações e demandas da RESEX.

Uma demanda sempre questionada nas reuniões do CDRC é em relação ao repasse de

informações sobre as tomadas de decisões e ações que ocorrem na Resex, 61% dos

entrevistados estão satisfeitos em relação ao repasse de informações acerca da RESEX, sendo

que 26% estão insatisfeitos. Pode-se inferir que algumas pessoas não conseguem assimilar as

informações e tampouco repassá-las como informes e encaminhamentos para seus

representados.

Na construção do regimento interno do Conselho Deliberativo, optou-se por não levar

prestação de contas para a reunião do conselho, contudo, mesmo assim, os conselheiros

questionam o repasse e gastos da RESEX. Nesse sentido, 39% estão insatisfeitos em relação à

prestação de contas, sendo que 35%se mostraram indiferentes a essa questão. Vale ressaltar

que é prestados contas das informações e situação dos encaminhamentos do Conselho.

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No que tange ao desempenho do gestor em relação à execução de suas funções

atribuídas, 48% estão satisfeitos e 26% estão insatisfeitos. O que contribuiu para essa grande

satisfação pode estar atrelado à chegada de mais um analista à equipe, melhores condições de

trabalho (lancha, marinheiro, combustível) e também pelo fato do gestor atual ser natural de

Caravelas, tendo laços de amizade com os conselheiros.

Em relação à organização dos extrativistas/usuários da RESEX, 87% responderam

estar insatisfeitos e 13% se mostraram indiferentes a essa questão. Essa insatisfação pode

estar relacionada à baixa organização associativa dos usuários dos recursos, atribuídas a

fatores como baixa escolaridade, falta de empoderamento e falta de apoio de parceiros.

Em relação à composição do Conselho Deliberativo, 74% consideram-se satisfeitos,

seguidos por 13% totalmente satisfeitos e 13% insatisfeitos. O CDRC é composto em sua

maioria por comunitários, o que pode ser o motivo para a alta satisfação e em relação à

pequena insatisfação devida à não participação efetiva do Poder Público estadual e outros

órgãos.

Atuação do Conselho nas tomadas de decisões, 35% responderam estar insatisfeitos e

35% estavam satisfeitos. Em relação às tomadas de decisões do Conselho, 35% responderam

estar totalmente satisfeitos e 26% satisfeitos. A atuação dos conselheiros está diretamente

ligada à sua participação e envolvimento.

Uma demanda muito cobrada pelos extrativistas no início da criação da RESEX foi a

fiscalização, e essa continua sendo uma atividade primordial para a UC. Sobre essa questão,

35% responderam estar totalmente satisfeitos e 26% se mostraram indiferentes. A satisfação

está referendada pela atuação da fiscalização aos usuários não locais, o que reduziu a entrada

dessas pessoas na área da RESEX.

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Figura 2. Representação do percentual de satisfação dos Conselheiros acerca dos

aspectos de Governança.

Com base na análise do dendograma (Figura 3), os coeficientes de similaridade

separaram os representantes do Conselho Deliberativo (CD) em três grandes grupos (Corte

em 15 no eixo de similaridade). Sendo estes A (20, 23, 12, 19, 22, 10,11, 18, 9,

21,8,6,7,17,4,16,5), grupo B (3,14,15) e grupo C (2, 13, 1).

A configuração do dendograma nos informa sobre quais grupos assemelham-se em

relação ao grau de satisfação sobre aspectos da governança da RESEX. Permitem uma

inferência sobre quais indivíduos estão mais satisfeitos e quais não estão, sendo uma

informação importante para subsidiar ações de manejo.

A formação destes grupos e agregação de atores de diferentes categorias demonstra

que os conselheiros não possuem satisfação igual às categorias que representam.

As categorias do CD foram agrupados de forma heterogênea, tendo em vista a

similaridade entre os representantes dos diferentes segmentos, no caso representantes de

extrativista, poder público e sociedade civil estar em um mesmo subgrupo. Observa-se que o

representante de extrativista 1 é o que menos tem similaridade com outros em sua resposta

aos questionamentos, podendo inferir que possui características próprias, distintas de seus

companheiros de grupo.

3 1

6 6

9

6

20

3

8 5

6

3 3

8

3

3

4

6

14 14

3

11

17

8

4

6

3 3 3

8 8

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

A r

elaç

ão e

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e os

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ção

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CD

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dec

isões

na

RE

SE

X

% e

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evis

tados

Totalmente Satisfeito

Satisfeito

Indiferente

Insatisfeito

Totalmente Insatisfeito

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O dendograma baseou-se nas respostas dos conselheiros quanto ao grau de satisfação

aos aspectos da governança da RESEX.

De acordo com a análise o extrativista 1 é o mais diferente, sendo o mais insatisfeito

com a governança da RESEX não sendo satisfeito com nenhum dos itens questionado acerca

da RESEX. As suas características podem colaborar para esse alto grau de insatisfação, o

extrativista 1 participou da criação da RESEX, e possui conhecimento acerca dos

instrumentos de gestão e também demonstrou ser atuante em sua comunidade e repassar as

informações.

O grupo A é o distinto, pois estão mais insatisfeitos em relação a gestão da RESEX,

são de diversas categorias.

O grupo B (3,14 e 15) é muito similar entre si e muito diferentes dos demais grupos,

mesmo sendo de segmentos diferentes. Sendo estes com alto índice de insatisfação referentes

a governança da RESEX e apenas no item sobre a composição do conselho estão satisfeitos.

Possuem algumas características semelhantes quanto aos instrumentos de gestão e também

pela participação na criação da RESEX.

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Figura 3. Dendograma de similaridade entre os grupos do CD.

3.1 Análise da robustez institucional: design principles de Ostrom:

Através das entrevistas e observações foram identificadasas principais instituições que

regulam o acesso e controle sobre os recursos. Tendo como base os 8 principios de

governança de Ostrom (1990) foi possivel caracterizar e identificar os princípios ausentes e

presentes na RESEX de Cassurubá. O Quadro 2 demostra resumidamente quais princípios

estão presentes na Resex de Cassurubá.

Quadro2. Representação da presença dos princípios de Ostrom (2004) na RESEX de

Cassurubá

Princípios Formal Informal

1 - Limites claramente definidos SIM NÃO

2 - Congruência entre apropriação e provisão de

regras e condições locais

SIM SIM

3 - Arranjos de escolha coletiva SIM SIM

4 - Monitoramento SIM NÃO

5 - Sanções graduadas SIM NÃO

6 - Mecanismos de resolução de conflitos SIM SIM

7 - Reconhecimento mínimo dos direitos de

organização

SIM SIM

8 - Conexõesinstitucionais transescalares SIM SIM

3.1.1 Princípio 1: limites claramente definidos

Os limites fisicos da Resex de Cassurubá são definidos legalmente (formalmente), em

termos de decreto e mapa, porém para os usuários, esses limites “imaginários” ainda não são

facilmente identificados, pois há níveis diversos de entendimento por parte das pessoas

(informalmente).

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Quanto à questão da definição dos “usuários” (proposto pro Ostrom, 1990), ainda não

foi definido quem são os chamados beneficiários (termo usado para RESEX para identificar

que tem direito a usufruir dos recursos naturais e benefícios). Assim, é prioritário que se

construa o perfil do beneficiário9, cujo objetivo é permitir a identificação dos beneficiários

diretos da Resex, pessoas que terão acesso ao Contrato de Concessão de Direito Real de Uso

(CCDRU) 10

e que poderão criar as regras do Plano de Manejo a serem seguidas.

Os direitos de acesso aos recursos da RESEX se dão através do cadastro realizado

pelo ICMBio, que é votado pelo Conselho Deliberativo. É importante salientarque, embora

ainda não se tenha definido os beneficiarios, é legítimo considerar como beneficiárias

algumas famílias que residem dentro ou fora da área da Resex, mas que sempre dependeram

dos recursos da área.

3.1.2 Princípio 2: congruência entre apropriação e provisão de regras e condições locais

No caso da RESEX de Cassurubá ainda não há o Plano de Manejo, mesmo este sendo

um dos requisitos para o alcance de uma gestão efetiva.

Enquanto não é legitimado o Plano de Manejo, as regras de uso específicas estão

condicionadas ao Acordo de Pesca da Área Marinha, de 2013 (NOBRE; SCHIAVETTI,

2013). Além do Acordo de Pesca, há as determinações dos períodos de defeso válidas para o

Estado da Bahia. O acordo de pesca e os períodos de defeso são considerações instrumentos

formais e não foi identificada nenhuma regra ou norma utilizada de forma informal pelos

usuários.

O Acordo de pesca possui regras somente para a área marinha da RESEX e ainda está

sendo disseminada e colocada em prática pelos extrativistas.

3.1.3 Princípio 3: arranjos de escolha coletiva

9 É um contrato consuetudinário entre as populações beneficiárias da Reserva Extrativista e a União, previstas no

art.23 Lei 9985 (SNUC). 10

CCDRU – Trata-se do documento pelo qual o governo concede aos beneficiários o direito e exclusividade de

uso do território.

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Há diversos espaços de discussão coletiva na RESEX. O principal e mais abrangente,

conforme já descrito anteriormente é o Conselho Deliberativo, de caráter deliberativo (e

informativo). Mas cada segmento comunitário possui associações que os representam e que se

reúnem periodicamente. A Associação Mãe, assim chamada por englobar representantes de todas

as associações e segmentos da RESEX, foi criada em 2012, e pode colaborar para as discussões e

encaminhamentos mais gerais para o CDRC, ao invés de demandas específicas de cada

comunidade, infelizmente ainda não está atuando para alcançar esses objetivos. Nesse sentido há

espaços formais e informações para tomadas de decisões.

3.1.4 Princípios 4 e 5: monitoramento e sanções graduadas

Na Resex não há nenhuma forma de monitoramento, formal ou informal, entre os

extrativistas. Apenas iniciativas de projetos de instituições (ONGs e Universidades),

ocorreram para monitorar os recursos pesqueiros, ainda assim de maneira pontual durante os

anos de 2010 e 2011.

A fiscalização é a única forma de controle que existe na RESEX, que só pode ser

realizada pelos órgãos competentes (ICMBio, IBAMA, Marinha e até mesmo Polícia

Ambiental). As sansões são as previstas em lei, e sua gradação também é determinada para

cada caso seguindo a legislação.

A RESEX está sendo fiscalizada constantemente com ações mensais e atendimento de

demandas urgentes, porém o ICMBio conta com pouca infraestrutura em termos de pessoal:

apenas dois analistas e um marinheiro (contratado) e não possui sede. A Marinha também

fiscaliza as condições de documentação pessoal e da embarcação e outros itens necessários à

segurança no mar. Esta ação do ICMBio pode colaborar para os 36% de satisfação do CD em

relação a fiscalização.

As regras de uso, bem como a arte de pesca recém-proibida pelo Acordo de Pesca

(NOBRE; SCHIAVETTI, 2013), também estão sendo fiscalizadas. O aumento da

disponibilidade de pescado e a diminuição na ocorrência de conflitos estão começando a ser

observados pelos pescadores, mesmo porque o papel dos pescadores se torna fundamental

para o monitoramento e utilização das regras, pois eles podem auxiliar na verificação do

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cumprimento das regras acordadas e se o os objetivos diretos estão sendo alcançados, ainda

não é realizado nenhum monitoramento formal ou informal, apenas observações.

3.1.5 Princípio 6: mecanismos de resolução de conflitos

Todos os segmentos das comunidades possuem locais para discussão dos conflitos.

Mesmo não tendo sede, as associações costumam reunir-se em espaços abertos, escolas,

quintais, colônias, entre outros, e discutem e solucionam questões locais de suas

comunidades.

O espaço mais amplo de discussão e resolução de conflitos é o Conselho Deliberativo,

que tenta discutir questões mais gerais da RESEX e também as mais conflituosas. Porém, a

reunião do Conselho é longa, e sua periodicidade é pequena; segundo o regimento interno

deve-se ter no mínimo três reuniões por ano.

Nesse sentido há reuniões e encontros informações, onde os usuários discutem os

problemas e tentam solucionar conflitos.

3.1.6 Princípio 7: reconhecimento mínimo dos direitos de organização

As deliberações votadas no Conselho são acatadas pelo ICMBio e, se estiverem em

conformidade com a Legislação Federal, são normatizadas (formal e informal).

As decisões tomadas em relação ao uso dos recursos se deram notoriamente com a

criação das regras do Acordo de Pesca para a área Marinha da RESEX de Cassurubá e sua

Zona de Amortecimento.

3.1.7 Princípio 8: conexões institucionais transescalares

A RESEX foi criada por ato Federal e por isso possui instituições responsáveis por

questões que influenciam diretamente a atuação e organização da mesma.

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As instituições estão no âmbito municipal, estadual e federal, e o SNUC regulamenta

as unidades de Conservação e o Conselho Deliberativo da RESEX (e seu regimento interno).

Assim, há uma governança policêntrica na RESEX de Cassurubá.

Por mais que a RESEX seja um arranjo institucional cuja premissa é a participação

nas decisões acerca da sua gestão, na prática ela está dentro ou depende de sistemas mais

amplos que a influenciam diretamente, tanto de forma positiva como negativa.

4. DISCUSSÃO

4.1 Reservas Extrativistas

Gomes Filho et al., (2004), afirmam que mesmo após duas décadas da criação das

primeiras Resex, verificam-se relatos de dificuldades de organização comunitária que

resultem na formação de associações atuantes e representativas nessas áreas. Assim como

desafios enfrentados no que diz respeito à implementação de seus instrumentos de gestão

(CURADO et al., 2009).

Ainda não há regras para toda a área da RESEX e ficou evidenciado que as regras

construídas para a área marinha não são de conhecimento de todos. Mas, sabe-se que a

RESEX, por si só já limita muitas ações e usos, enfatizando, por exemplo, que se não

houvesse uma RESEX a situação do uso dos recursos estaria muito mais alarmante. O que é

confirmado por Berkes (2005) que diz que existe um consenso generalizado de que o livre

acesso é incompatível com a sustentabilidade, uma vez que não há instituições para regular o

uso do recurso. As tomadas de decisões são historicamente centralizadas quando diz respeito

à esfera governamental, ou seja, não atendem às demandas dos usuários locais por excluírem

sua participação ativa no processo de gestão (DIEGUES, 2004).

Na Resex de Corumbau o percentual de conhecimento sobre o Plano de utilização em

vigor é baixo, por exemplo, apenas 14% dos extrativistas em Cumuruxatiba - BA, declararam

ter conhecimento sobre as regras de uso (STORI, 2005).

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Um aspecto positivo é o fato de as populações extrativistas terem maioria de votos no

Conselho Deliberativo (50% + 1) (PRATES et al., 2007). Nesse sentido, este estudo

demonstra que a RESEX de Cassurubá fortalece, através do CDRC, de forma significativa as

instituições de gerenciamento local, se preocupando com a participação efetiva nas tomadas

de decisão e a distribuição de poder. Mesmo assim, ainda se limita aos membros do Conselho

decidir questões sem a participação de seus “representados” nos processos, sendo

considerado baixo o nível de participação nas atividades da RESEX.

As RESEX visam não só preservar o meio ambiente, como também as populações

locais utilizam os processos de produção tradicionais, não prejudiciais à natureza

(MURRIETA; RUEDA, 1995).

Lobão e Loto (2012) descrevem que de um total de 59 Reservas Extrativistas, somente

oito tem um Plano de Manejo decretado e todas elas são Resex Florestais. E das 28 Resex

Marinhas somente onze delas tem um Conselho Deliberativo decretado, nenhuma com Plano

de Manejo homologado pelo órgão ambiental. Este demostra que a RESEX de Cassurubá, por

ter um acordo de pesca pode estar mais fácil de iniciar o plano de manejo.

Siqueira (2006) diz que a RESEX é um veículo de co-manejo que associa os usuários

e a administração pública na gestão do uso e manutenção dos recursos naturais, buscando

soluções mais singulares e eficientes para gestão dos recursos pesqueiros, respeitando-se a

multiplicidade dos grupos de pescadores artesanais, suas diferenças culturais e distintas

trajetória históricas.

4.2 Governança de AMPs

No Chile um estudo mostrou que os pescadores percebem o empoderamento através

das responsabilidades de gestão dos recursos. E também, que o envolvimento em categorias

de AMPs pode ajudá-los a desempenhar um papel no planejamento do futuro da política

nessas áreas. Nesse sentido, as percepções desses pescadores, mostraram que possuem uma

compreensão básica de por que a política de áreas protegidas foi estabelecida, o seu papel no

processo e a sua finalidade principal (GELCICH, et al., 2009).

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Exemplos de casos de auto-governança no México ilustra diferenças entre as

comunidades. Em Puerto Penasco, grupos de pescadores descobriram que o desenvolvimento

de um novo conjunto de regras operacionais para controlar o acesso e utilização de seus

pesqueiros lhes traria mais benefícios do que o status de acesso aberto. Em relação à Sistema

de Governança, os pescadores tinham direitos de propriedade formal e informal e tinham

desenvolvido mecanismos de monitoramento sociais e formaram-se sistemas de sanção para

manter suas regras operacionais. Entretanto, no caso de outra comunidade a Kino Bay, este

sistema de governança era quase ausente, sendo que os pescadores não foram capazes de

encontrar incentivos suficientes a afastar-se do status de acesso aberto (BASURTO, et al.,

2013). Cinti et al., (2010b), também documentou tentativas frustradas de estabelecer

vigilância local e aplicação de comitês para controlar o acesso a pessoas de fora nas áreas de

pesca.

Uma análise dos princípios de Ostrom, em duas comunidades no entorno do Parque

Estadual da Serra do Mar, Brasil, verificou que o desempenho institucional dos dois casos

demonstra ser frágil. Também, verificou-se que os mecanismos de fiscalização são robustos,

as leis são claras e a prática demonstra insuficiência de organização e atuação efetiva da

comunidade no uso sustentável dos recursos naturais (SABBAGH, 2012).

4.3 Governança e recursos pesqueiros

É histórico o registro dos fracassos da gestão dos sistemas socioecológicos complexos,

a exemplo dos que envolvem a pesca marinha, passou-se a perceber a necessidade de mudar a

estrutura de governança (FAO, 2012).

Para proteger as zonas pesqueiras marinhas da pesca excessiva, e assegurar a

sustentabilidade da pesca futura, muitas medidas são necessárias, tais como, o

estabelecimento de limites para a pesca, alteração dos métodos de captura, redução dos

resíduos, expansão da aquicultura e, estabelecimento de áreas marinhas protegidas (CMIO,

1999).

Os autores KALIKOSKI; VASCONCELLOS (2008) sugerem que o SNUC seja

revisto e revisado em favor de áreas marinhas protegidas, que são mais inclusivas das

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populações locais, pois uma importante falha de gestão da pesca no Brasil tem sido o uso de

cima para baixo, as formas centralizadas de governança. A gestão de AMPs trata também da

gestão de pessoas, e assim o seu sucesso depende da forma que valores culturais, econômicos

e sociais são integrados (CHADWICK; NICHOLS, 2002).

Uma avaliação comparativa da disseminação de AMP nas Filipinas, mostra que

somente 20% das abordagens que implementaram tais áreas obtiveram sucesso em termos de

conservação dos recursos, pois foram implementadas com um suporte das comunidades de

pescadores que foram envolvidas no processo (KALIKOSKI, 2007). E no Brasil uma

avaliação do desempenho das áreas protegidas (terrestres e marinhos), indicou que cerca de

50% ainda têm baixa eficácia da gestão (PAVESE, 2008). Baixa eficácia implica que uma

área protegida não tem sido capaz de atingir os objetivos para os quais foi estabelecida, como

a protecção da biodiversidade e uso sustentável dos recursos.

Uma das maiores contribuições que pescadores podem exercer no estabelecimento de

AMPs é expandindo o entendimento coletivo dos ecossistemas marinhos e facilitando o

planejamento das AMPs para que estas se tornem ferramentas efetivas de conservação (NEIS

et al., 1994).

A capacidade de controlar seus próprios recursos é um poderoso incentivo para

regular os recursos, pois fortalece o senso de propriedade e, portanto, aumenta compromisso

de pescadores para manter os recursos (CHRISTY, 2000). Há uma necessidade de se

reconhecer a legitimidade de opções de exploração, devolvendo o poder de gerenciamento

das estruturas de governança das comunidades pesqueiras tradicionais (SANDERS et al.,

2011 ) sendo que deve-se aceitar o feedback para poder modificar a gestão, baseada em

pesquisas científicas, o conhecimento tradicional e experiência dessas comunidades.

Para avaliar a percepção dos pescadores sobre a utilidade das áreas de gestão para a

conservação dos recursos, foi realizado um estudo no Chile, onde 85% responderam que se

não tivesse essas áreas de gestão a situação dos recursos seria pior agora, reconhecendo assim

que essas áreas têm servido para preservar os recursos, além de colaboração econômica

(CINTI, 2006).

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Existem outras alternativas além de AMPs e devem ser consideradas em cada situação

de manejo, como a limitação do tamanho de captura, esforço de pesca, defesos sazonais

(COLEMAN et al., 1999).

O estado se mostra reticente a delegar poder de administração ás populações, apesar

das formas que propõem de “co-manejo” é o Estado em ultima instancia que decide a forma e

os grupos sociais que “protegerá” (LOBÃO; LOTO, 2012). Isso colabora para o principio 8

que incide sobre que a Resex está dentro de um outro sistema mais amplo e que ainda “decide

ou regulamenta” muitas atividades.

Lobão e Loto (2012) consideram as AMPs, mesmo algumas com falhas na execução e

finalidade, uma ferramenta importante disponível, como política pública, para a proteção de

grupos com formas de vidas diferenciadas, ameaçadas de desaparição de fronte ao avanço do

progresso. Isso colabora para a não observação de regras locais informais não serem

encontradas, pois o avanço e o “fácil” acesso as novas tecnologias fazem com que os

extrativistas não reconheçam mais instituições informais, não as colocando em pratica.

4.4. Satisfação de pescadores sobre aspectos de pesca

A análise de Jaccard mostrou-se uma ferramenta eficaz para identificar os membros

do CD que mais se assemelharam em relação à satisfação sobre os aspectos de governança da

RESEX. O conhecimento das necessidades e aspirações de cada membro possibilitará ao

gestor da RESEX oferecer tratamentos diferenciados e definir estratégias adequadas para o

alcance de uma governança efetiva. O que pode contribuir para isso é a realização de um

trabalho continuo de inserção e preparo da sociedade civil para participar dos processos

deliberativos com o conceito de aprendizagem social (REED, 2008).

Há muitos estudos no mundo sobre satisfação de pescadores sobre aspectos referentes

à atividade pesqueira (BAVINCK, 2012; MONNEREAU, 2010; POLLNAC et al . , 2001;

APÓSTOLO et al , 1985.).

A opinião de pescadores em relação à satisfação sobre áreas de manejo é tratada em

outros estudos (XAVIER, 2010), assim, grupos de pescadores possuem graus de satisfação

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diferentes entre si, por exemplo no litoral norte de São Paulo, pescadores que estão satisfeitos

com o aumento de áreas de proibição (52,5%) e os que estão insatisfeito e gostariam de

diminuir ou extingui-las (47,5%). Pode-se inferir que apesar das variações de pesquisas e

métodos utilizados, elas produzem resultados semelhantes, pois aqui se tratou de aspectos de

governança.

Monnerea et al. (2010) encontraram na República Dominicana, pescadores que se

mostraram insatisfeitos em relação a categoria gestão (questões relativas ao desempenho dos

funcionários do governo e das normas de pesca). E demonstraram preocupação sobre o

desempenho do governo na pesca do país.

Espera-se que as ideias e os resultados apresentados neste trabalho contribuam para as

práticas e tomadas de decisões pelos gestores e outros tomadores de decisão, ou seja, para

fazer avançar a satisfação dos conselheiros e, consequentemente a sustentabilidade e bem

estar de suas comunidades. Além disso, uma compreensão da satisfação da governança entre

os conselheiros irá ajudar no desenvolvimento de planos de gestão que podem fornecer

alternativas adequadas para o uso dos recursos naturais e acesso as políticas públicas.

5. CONCLUSÃO

Conclui-se de acordo com a observação participante que o CDRC é compreendido

pelos conselheiros como um espaço de construir, articular, solucionar conflitos e tomar

decisões. Sendo que o CDRC na sua forma de atuação, ou na interpretação de seus

conselheiros, nem sempre propicia o aprendizado coletivo sobre os instrumentos de gestão.

Ficou notório também que a falta de participação efetiva dos representantes

compromete o fortalecimento das ações do CDRC, por exemplo, no que tange, a condução do

CDRC ser somente realizada pelo órgão gestor e também pela atuação passiva, onde

transferem para o órgão gestor a responsabilidade pela execução das decisões, não sendo

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assim co-gestores atuantes e não se empoderando de suas atribuições. Porém, esforços para o

alcance dessa participação efetiva estão sendo feitos, por exemplo, a realização de comissões

técnicas que abordam temas específicos está funcionando e isso tende a concentrar mais

responsabilidades aos conselheiros na divisão de funções e os encaminhamentos e execução

das ações são assumidos como atuação coletiva.

Mesmo que os extrativistas agora tenham maior oportunidade de controlar os recursos

de que dependem, ainda não o fazem, por falta de informações, experiência e por muitas

responsabilidades ainda desconhecidas. Cabe ressaltar que a implantação de uma RESEX é

uma nova realidade, sendo necessária uma fase de adaptação.

No caso da Resex de Cassurubá as chamadas instituições informais não estão

formalizadas, sendo que não pode-se afirmar sobre quais regras informais existem ou

existiam, sendo que o acesso a novas tecnologias e instituições formais colabora para o não

reconhecimento das regras informais.

Os princípios de governança em sua grande maioria são encontrados na instituição

RESEX, mesmo esta sendo regida pela legislação vigente do governo. Assim, mesmo

havendo a participação do CDRC é necessário que haja conexões coesas para que o sistema

seja robusto (resiliente).

É possível notar que o grau de satisfação está distribuído entre todos os grupos do

conselho, sendo esta satisfação realizada de forma heterogênea. Mostrando que através dessas

opiniões similares, podem surgir parcerias entre os membros do conselho para uma maior

efetividade das ações decididas como relevantes para a RESEX.

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7. CONCLUSÃO GERAL

As regras do acordo de pesca para a área marinha foi uma importante iniciativa para o

incentivo na atuação dos atores sociais para o uso sustentável dos recursos naturais. Sendo

que estes participaram da construção dessas regras que levaram em conta os seus

conhecimentos tradicionais.

Os mecanismos de gestão formais são robustos, tais como a fiscalização, delimitação

das áreas e as leis que regem esses mecanismos, sendo considerados importantes para alterar

o comportamento dos atores da RESEX. Porém, ainda não são claros, pode-se observar

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ausência de atuação efetiva da comunidade no uso sustentável dos recursos naturais, no que

tange o uso de instituições informais.

Entretanto, os conselheiros levam ao CD, as demandas de suas comunidades acerca

das regras do acordo de pesca, e também denúncias na busca de colaborar com a utilização

sustentável dos recursos. Sendo este CD, considerado um espaço para compartilhamento e

discussão com esferas do governo e sociedade sobre a gestão da RESEX.

No caso da RESEX de Cassurubá, foi possível verificar, ao longo desse trabalho que a

criação do Conselho Deliberativo foi um importante instrumento de governança, no entanto o

seu fortalecimento depende da participação de seus atores e do reconhecimento dos valores

culturais e instituições dos mesmos. Sendo que a governança pode contribuir para a obtenção

de condições sociais mais justas por meio de um arranjo participativo e integrador.

Desta forma, observa-se insatisfação dos grupos do conselho, independente se é do

poder público, extrativista ou sociedade civil. O que colabora para maior integração entre

esses atores na busca de melhorias nas decisões e união para os interesses da RESEX, sendo

estes instrumentos necessários de empoderamento da comunidade que deve estimular a

participação e atuação do conselho.

Assim, se faz necessário a criação de uma estratégia de fortalecimento e de aumento

da qualidade da governança do Conselho, pois infelizmente ainda não é tido em sua totalidade

como canal de participação social na gestão da RESEX de Cassurubá. E também a proposta

de ter capacitações continua para os conselheiros tomar decisões de forma mais qualificada e

maior articulação com as organizações locais e regionais.

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ANEXO I

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ANEXO II

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ANEXO III

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APÊNDICE 1

ROTEIRO PARA ENTREVISTA AOS CONSELHEIROS DA RESEX DE

CASSURUBÁ

A – Caracterização e Identificação dos Entrevistados

Nome:

Idade:

Profissão:

1) Naturalidade: ( ) Caravelas ( ) Alcobaça( ) Nova Viçosa ( )Ribeirinho_______________

( ) Outro (fora da Área da Resex) - Quais as razões que o(a) fizeram vir para a região da Resex do

Cassurubá? Quandoveio?

2) A qualgrupopertence?_______________________________________________________

3) O que é governança?

4) Na sua opinião, a sociedade tem direito de voz? ( ) Sim ( ) Não( ) Parcialmente?

5) Quais são os instrumentos de gestão da Resex?

( ) Plano de manejo ( ) Conselho Deliberativo ( ) Acordo(s) de Pesca ( )

Outro(s)______________________________________________________________________

6) Como estão os instrumentos de gestão?

a) Plano de manejo: ( ) inexistente ( ) em preparação ( )em vigor

b) Conselho Deliberativo: ( ) inexistente ( ) em fase de implementação ( )implementado

c) Acordo de Pesca: ( ) inexistente ( ) em preparação ( )em vigor

Mar: ( ) inexistente fora ( ) em preparação fora ( ) em vigor fora

Dentro: ( ) inexistente dentro ( ) em preparação dentro ( ) em vigor dentro

7) Qual a função do Conselho Deliberativo?Plano de Manejo? Acordos de Pesca?

8) O Conselho Deliberativo possui Regimento Interno? ( ) Sim ( )Não ( ) em fase de

implementação ( )Não sei

9) Participou do processo de criação da Resex?

( ) Sim_______________________________________________________________________

( ) Não______________________________________________________________________

( ) Parcialmente_______________________________________________________________

10) Considerando 1=totalmente Insatisfeito, 2=Insatisfeito, 3=Indiferente, 4=Satisfeito e 5=

Totalmente satisfeito, que valor atribui a/ao:

QUESTÕES 1 2 3 4 5

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12.Qual o grupo/comunidade que você representa?

13. Qualquer cidadão pode filiar-se a sua instituição? Sim ( ) Não ( )

14. Seu grupo/instituto se reúne frequentemente? Sim ( ) Não ( ) Com que regularidade? Com

queobjetivo?

15. Você leva ao conhecimento das pessoas da sua instituiçãoe da suplente/titular os assuntos que

serão/são discutidos/deliberados no Conselho Deliberativo da Resex? Sim ( ) Não ( ) Às vezes(

)Como?

16. Como é decidido o voto de sua instituição para os assuntos deliberados pelo Conselho da Resex?(

) Decisãopessoal ( ) Decisãoinstitucional

17) Considerando 1=totalmente Insatisfeito, 2=Insatisfeito, 3=Indiferente, 4=Satisfeito e 5=

Totalmente satisfeito, que valor atribui a/ao:

18.Existem criticas da comunidade ao processo de gestão da RESEX? Quais?

19. O que poderia ser feito para aprimorar a gestão?

20. Para que servem comissões técnicas?

21. Existem comissões técnicas na Resex? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei

22. Estão sendo bem representadas? ( ) Sim ( )Não ( ) Não sei ( ) Outros

23. Participa de algum desses grupos (comissão, câmara, GT)?( ) Sim ( ) Não

A relação entre os parceiros envolvidos na gestão?

Repasse de informaçõesacerca da RESEX

Prestação de contas?

Desempenho do gestor?

Organização dos extrativistas da RESEX?

Composição do Conselho?

Atuação do Conselho Deliberativo?

Fiscalização?

Expectativas em relação a criação da RESEX?

Quanto às tomadas de decisões na RESEX?

QUESTÕES 1 2 3 4 5

Atuação dos representantes do Estado no CDRC

Atuação dos representantes do Município no CDRC

Atuação dos demais representantes da Sociedade Civil

no CDRC

Atuação dos extrativistas no CDRC

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24. Qual?

25. Qual a frequência de reuniões?

26. Quantas comissões técnicas existem? Quais são?

27. Quais seriam as principais demandas para a gestão da RESEX? (necessidades para priorizar ações

futuras)

28. A RESEX te prejudicou? Sim ( ) Não ( )

29. A RESEX te beneficiou? Em que?

30. Se a existência da Resex dependesse da sua opinião, ela existiria?